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Numero do processo: 10880.959862/2009-82
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 25 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Oct 02 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Data do fato gerador: 18/10/2004
COFINS. COMPENSAÇÃO. NÃO HOMOLOGAÇÃO. DCTF RETIFICADORA. EFEITOS.
A apresentação espontânea de DCTF retificadora antes da edição do despacho decisório, nas hipóteses em que é admitida pela legislação, substitui a original em relação aos débitos e vinculações declarados, devendo por tanto ser considerada.
INTIMAÇÃO DIRIGIDA AO PATRONO DA EMPRESA NO ENDEREÇO DAQUELE. IMPOSSIBILIDADE.
É descabida a pretensão de intimações, publicações ou notificações dirigidas ao Patrono da Impugnante em endereço diverso do domicilio fiscal do contribuinte tendo em vista o § 4° do art. 23 do Decreto 70.235/72.
Recurso Voluntário Provido em Parte
Numero da decisão: 3201-004.075
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao Recurso, para que os autos retornem à unidade preparadora, a fim de que se reexamine o pleito do PER/DCOMP, considerando-se a DCTF retificadora como original para análise e prolação de novo despacho decisório.
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza (Presidente), Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisario, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior.
Nome do relator: CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Data do fato gerador: 18/10/2004 COFINS. COMPENSAÇÃO. NÃO HOMOLOGAÇÃO. DCTF RETIFICADORA. EFEITOS. A apresentação espontânea de DCTF retificadora antes da edição do despacho decisório, nas hipóteses em que é admitida pela legislação, substitui a original em relação aos débitos e vinculações declarados, devendo por tanto ser considerada. INTIMAÇÃO DIRIGIDA AO PATRONO DA EMPRESA NO ENDEREÇO DAQUELE. IMPOSSIBILIDADE. É descabida a pretensão de intimações, publicações ou notificações dirigidas ao Patrono da Impugnante em endereço diverso do domicilio fiscal do contribuinte tendo em vista o § 4° do art. 23 do Decreto 70.235/72. Recurso Voluntário Provido em Parte
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COMPENSAÇÃO. NÃO HOMOLOGAÇÃO. DCTF RETIFICADORA. EFEITOS. A apresentação espontânea de DCTF retificadora antes da edição do despacho decisório, nas hipóteses em que é admitida pela legislação, substitui a original em relação aos débitos e vinculações declarados, devendo por tanto ser considerada. INTIMAÇÃO DIRIGIDA AO PATRONO DA EMPRESA NO ENDEREÇO DAQUELE. IMPOSSIBILIDADE. É descabida a pretensão de intimações, publicações ou notificações dirigidas ao Patrono da Impugnante em endereço diverso do domicilio fiscal do contribuinte tendo em vista o § 4° do art. 23 do Decreto 70.235/72. Recurso Voluntário Provido em Parte Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao Recurso, para que os autos retornem à unidade preparadora, a fim de que se reexamine o pleito do PER/DCOMP, considerandose a DCTF retificadora como original para análise e prolação de novo despacho decisório. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza (Presidente), Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisario, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 95 98 62 /2 00 9- 82 Fl. 137DF CARF MF Processo nº 10880.959862/200982 Acórdão n.º 3201004.075 S3C2T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra decisão de primeira instância que julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada, mantendo a decisão da repartição de origem de não homologação da compensação de créditos da Cofins, decisão essa lastreada na ausência de direito creditório disponível, uma vez que os pagamentos declarados já haviam sido integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte. Em sua Manifestação de Inconformidade, o contribuinte havia alegado que efetuara pagamento a maior da Cofins, tendo, por equívoco, informado na DCTF original valor incorreto, decorrendo daí a apresentação de declaração retificadora, em data anterior à da prolação do despacho decisório. A Delegacia de Julgamento, por meio do acórdão nº 1633.735, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade, por ausência de comprovação da certeza e liquidez do indébito. Em seu Recurso Voluntário, o contribuinte requereu a reforma da decisão de primeira instância, repisando os argumentos de defesa, sendo arguida a nulidade do acórdão a quo por violação aos princípios da verdade material, da proporcionalidade e da razoabilidade. É o relatório. Voto Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF 343, de 9 de junho de 2015, aplicandose, portanto, ao presente litígio o decidido no Acórdão 3201004.069, de 25/07/2018, proferido no julgamento do processo 10880.919993/200927, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3201004.069): O recurso atende a todos os requisitos de admissibilidade previstos em lei, razão pela qual dele se conhece. A seguir passo a análise do Recurso Voluntário. Em apertada síntese, a essência da lide está na apresentação da DCTF retificadora antes do despacho decisório que denegou a compensação do pagamento de COFINS. De fato, a DCTF retificadora data de 23/3/2009 (e fls. 66 a 70), enquanto o despacho decisório denegando a PER/DCOMP data de 25/3/2009 (efl. 4). Fl. 138DF CARF MF Processo nº 10880.959862/200982 Acórdão n.º 3201004.075 S3C2T1 Fl. 4 3 A fundamentação do despacho decisório denegatório seria a inexistência de crédito disponível, tendo sido o DARF discriminado na DCOMP integralmente utilizado para a quitação de débitos do contribuinte, que estavam declarados em DCTF. 3FUNDAMENTAÇÃO, DECISÃO E ENQUADRAMENTO LEGAL Limite do crédito analisado, correspondente ao valor do crédito original na data de transmissão informado no PER/DCOMP: 617.278,60. A partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, abaixo relacionados, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP. (efl. 4) Da leitura dos autos, percebese que, muito provavelmente, a DCTF analisada quando do despacho decisório foi a DCTF original e não a DCTF retificadora. O sistema informatizado de processamento da DCTF fez, portanto, uso de um dado desatualizado. A IN RFB nº 903/2008 dispõe em ser art. 11 e parágrafos sobre a natureza da DCTF retificadora, ensinando que a mesma substitui integralmente a declaração original, servindo para declarar novos débitos, aumentar ou reduzir, os valores de débitos já informados ou efetivar qualquer alteração nos créditos vinculados. IN RFB nº 903/2008 Art. 11. A alteração das informações prestadas em DCTF será efetuada mediante apresentação de DCTF retificadora, elaborada com observância das mesmas normas estabelecidas para a declaração retificada. § 1º A DCTF retificadora terá a mesma natureza da declaração originariamente apresentada, substituindoa integralmente, e servirá para declarar novos débitos, aumentar ou reduzir os valores de débitos já informados ou efetivar qualquer alteração nos créditos vinculados. § 2º A retificação não produzirá efeitos quando tiver por objeto alterar os débitos relativos a impostos e contribuições: I cujos saldos a pagar já tenham sido enviados à ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN) para inscrição em DAU, nos casos em que importe alteração desses saldos; II cujos valores apurados em procedimentos de auditoria interna, relativos às informações indevidas ou não comprovadas prestadas na DCTF, sobre pagamento, parcelamento, compensação ou suspensão de exigibilidade, já tenham sido enviados à PGFN para inscrição em DAU; ou III em relação aos quais a pessoa jurídica tenha sido intimada de início de procedimento fiscal. (...) A substituição da DCTF original pela DCTF retificadora é vedada apenas nos casos previstos no § 2º, onde há participação da PGFN para inscrição em DAU e quando a pessoa jurídica tenha sido intimada de início de procedimento fiscal. O presente caso enquadrase, portanto, na hipótese geral, onde a DCTF retificadora substitui integralmente a DCTF original. Fl. 139DF CARF MF Processo nº 10880.959862/200982 Acórdão n.º 3201004.075 S3C2T1 Fl. 5 4 O julgamento da manifestação de inconformidade em primeira instância se ateve a questões de certeza e liquidez, bem como à falta de elementos de prova que deveriam ser apresentados pela recorrente. Logo, acabou por julgar improcedente a manifestação do direito creditório. Ora, tendo em vista a regulamentação constante da IN RFB nº 903/2008, para que a DCTF retificadora substitua integralmente a DCTF original, ficaria dispensada a questão dos elementos de prova. Ocorre que o julgamento em primeira instância deveria ter efetuado uma análise mais detalhada assegurando a prevalência da verdade material. Sobre a importância da verdade material no julgamento em primeira instância em caso semelhante, reproduzo trecho do Acórdão 3403002.456 do relator Rosaldo Trevisan, decidido por unanimidade. Acórdão 3403002.456 – 4ª Câmara / 3ª Turma Ordinária Assim, diante dos despachos decisórios eletrônicos, o julgador de primeira instância tem um papel especial, porque efetuará a primeira análise humana do processo, devendo assegurar a prevalência da verdade material. Não pode o julgador (humano) atuar como a máquina, simplesmente cotejando o valor declarado na DCTF original com o pago, ignorando a existência de retificação efetuada tempestivamente, dentro das regras estabelecidas pelo próprio Fisco. A nova realidade estampada na DCTF retificadora tem de ser devidamente avaliada pela autoridade fiscal, quanto à sua liquidez e certeza. Somente após tal providência é que eventualmente poderá ser denegada a repetição e não homologada a compensação, seja pela autoridade lançadora, seja pelo julgador a quo. (efl. 193) A realidade da DCTF retificadora que passou a ser a original precisa ser avaliada pela autoridade fiscal. No presente caso, a DCTF retificadora parece ter sido ignorada no processamento eletrônico, bem como colocada em segundo plano no julgamento em primeira instância. Em casos semelhantes, o posicionamento deste CARF tem sido o de anular o processo ab ovo, ou seja, desde o princípio. Acórdão 3403002.456 – 4ª Câmara / 3ª Turma Ordinária / 25 de setembro de 2013 CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP. COMPENSAÇÃO. DCTF RETIFICADORA ANTES DO DESPACHO DECISÓRIO. ACEITAÇÃO. A DCTF retificadora espontaneamente apresentada antes da veiculação do despacho decisório, nos casos normativamente permitidos, substitui a DCTF original em relação aos débitos e vinculações declarados. Acórdão nº 3403002.223 – 4ª Câmara / 3ª Turma Ordinária / 22 de maio de 2013 COMPENSAÇÃO. NÃO HOMOLOGAÇÃO. DCTF RETIFICADORA. EFEITOS. A apresentação espontânea DCTF retificadora antes da edição do despacho decisório, nas hipóteses em que é admitida pela legislação, substitui a original em relação aos débitos e vinculações declarados, devendo por tanto ser nele considerada. Finalmente, quanto ao requerimento de que todas as intimações sejam enviadas inclusive ao Patrono e encaminhadas a endereço diverso do contribuinte que se encontra em litígio, cabe informar da limitação contida Fl. 140DF CARF MF Processo nº 10880.959862/200982 Acórdão n.º 3201004.075 S3C2T1 Fl. 6 5 no comando do §4º, do art. 23 do Decreto 70.235/72 que dispõe sobre o endereço fornecido para fins cadastrais a SRF. Conclusão Por todo o exposto, voto por DAR PROVIMENTO PARCIAL ao Recurso Voluntário, para que os autos retornem à unidade preparadora, a fim de que reexamine o pleito do PER/DCOMP, considerandose a DCTF retificadora como original para análise e prolação de novo despacho decisório. Importa registrar que, nos presentes autos, as situações fática e jurídica encontram correspondência com as verificadas no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Portanto, aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, determinando o retorno dos autos à unidade preparadora para reexame do pleito (PER/DCOMP), considerandose a DCTF retificadora como original na análise e prolação de novo despacho decisório. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 141DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10830.721068/2009-53
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jul 11 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Sep 04 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/10/2008 a 31/12/2008
PIS/PASEP E COFINS. REGIME DA NÃO-CUMULATIVIDADE. CONCEITO DE INSUMOS.
O conceito de insumos para efeitos do art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637/2002, deve ser interpretado com critério próprio: o da essencialidade. Referido critério traduz uma posição "intermediária", na qual, para definir insumos, busca-se a relação existente entre o bem ou serviço, utilizado como insumo e a atividade realizada pelo Contribuinte.
Não é diferente a posição predominante no Superior Tribunal de Justiça, o qual reconhece, para a definição do conceito de insumo, critério amplo/próprio em função da receita, a partir da análise da pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo ou à prestação do serviço.
FRETE DE INSUMOS E PRODUTOS SEMI-ELABORADOS ENTRE ESTABELECIMENTOS.
A transferência de matérias-primas extraídas das minas para as fábricas constitui-se em etapa essencial do ciclo produtivo, ainda mais quando se considera a distância que separa as unidades mineradoras dos complexos industriais e a diversidade de locais onde as minas estão situadas. Além disso, é característica da atividade da Recorrida a produção do próprio insumo, até mesmo como forma de ter a segurança de não interrupção do processo produtivo dos fertilizantes. Nesse cenário, portanto, mostra-se imprescindível a contratação do frete junto à terceira pessoa jurídica para transferência entre estabelecimentos da mesma empresa - frete pago em decorrência do transporte dos minerais das minas até o complexo industrial local onde é produzido o fertilizante, inserindo-se no conceito de insumo.
Assim, os valores decorrentes da contratação de fretes de insumos (matérias-primas), produtos semi-elaborados e produtos acabados entre estabelecimentos da própria empresa geram direito aos créditos das contribuições para o PIS e para a COFINS na sistemática não-cumulativa, pois são essenciais ao processo produtivo da Recorrente e se constituem em insumos essenciais no seu processo de industrialização.
Nos termos do §8º, do art. 63 do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, importa consignar ser o entendimento da maioria do Colegiado, que acompanhou a Relatora pelas conclusões, que o conceito de insumo é mais restritivo, podendo ser reconhecido o direito ao crédito de PIS e COFINS não-cumulativos quando o bem ou serviço a ser considerado como insumo estiver estritamente vinculado à produção da mercadoria.
Numero da decisão: 9303-007.081
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento. Votaram pelas conclusões os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Jorge Olmiro Lock Freire e Rodrigo da Costa Pôssas.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício).
Nome do relator: RODRIGO DA COSTA POSSAS
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/10/2008 a 31/12/2008 PIS/PASEP E COFINS. REGIME DA NÃO-CUMULATIVIDADE. CONCEITO DE INSUMOS. O conceito de insumos para efeitos do art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637/2002, deve ser interpretado com critério próprio: o da essencialidade. Referido critério traduz uma posição "intermediária", na qual, para definir insumos, busca-se a relação existente entre o bem ou serviço, utilizado como insumo e a atividade realizada pelo Contribuinte. Não é diferente a posição predominante no Superior Tribunal de Justiça, o qual reconhece, para a definição do conceito de insumo, critério amplo/próprio em função da receita, a partir da análise da pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo ou à prestação do serviço. FRETE DE INSUMOS E PRODUTOS SEMI-ELABORADOS ENTRE ESTABELECIMENTOS. A transferência de matérias-primas extraídas das minas para as fábricas constitui-se em etapa essencial do ciclo produtivo, ainda mais quando se considera a distância que separa as unidades mineradoras dos complexos industriais e a diversidade de locais onde as minas estão situadas. Além disso, é característica da atividade da Recorrida a produção do próprio insumo, até mesmo como forma de ter a segurança de não interrupção do processo produtivo dos fertilizantes. Nesse cenário, portanto, mostra-se imprescindível a contratação do frete junto à terceira pessoa jurídica para transferência entre estabelecimentos da mesma empresa - frete pago em decorrência do transporte dos minerais das minas até o complexo industrial local onde é produzido o fertilizante, inserindo-se no conceito de insumo. Assim, os valores decorrentes da contratação de fretes de insumos (matérias-primas), produtos semi-elaborados e produtos acabados entre estabelecimentos da própria empresa geram direito aos créditos das contribuições para o PIS e para a COFINS na sistemática não-cumulativa, pois são essenciais ao processo produtivo da Recorrente e se constituem em insumos essenciais no seu processo de industrialização. Nos termos do §8º, do art. 63 do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, importa consignar ser o entendimento da maioria do Colegiado, que acompanhou a Relatora pelas conclusões, que o conceito de insumo é mais restritivo, podendo ser reconhecido o direito ao crédito de PIS e COFINS não-cumulativos quando o bem ou serviço a ser considerado como insumo estiver estritamente vinculado à produção da mercadoria.
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decisao_txt : Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento. Votaram pelas conclusões os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Jorge Olmiro Lock Freire e Rodrigo da Costa Pôssas. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício).
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CRÉDITO. FRETE NO TRANSPORTE DE INSUMOS ENTRE ESTABELECIMENTOS. Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado GALVANI INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS S.A. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/10/2008 a 31/12/2008 PIS/PASEP E COFINS. REGIME DA NÃOCUMULATIVIDADE. CONCEITO DE INSUMOS. O conceito de insumos para efeitos do art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637/2002, deve ser interpretado com critério próprio: o da essencialidade. Referido critério traduz uma posição "intermediária", na qual, para definir insumos, buscase a relação existente entre o bem ou serviço, utilizado como insumo e a atividade realizada pelo Contribuinte. Não é diferente a posição predominante no Superior Tribunal de Justiça, o qual reconhece, para a definição do conceito de insumo, critério amplo/próprio em função da receita, a partir da análise da pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo ou à prestação do serviço. FRETE DE INSUMOS E PRODUTOS SEMIELABORADOS ENTRE ESTABELECIMENTOS. A transferência de matériasprimas extraídas das minas para as fábricas constituise em etapa essencial do ciclo produtivo, ainda mais quando se considera a distância que separa as unidades mineradoras dos complexos industriais e a diversidade de locais onde as minas estão situadas. Além disso, é característica da atividade da Recorrida a produção do próprio insumo, até mesmo como forma de ter a segurança de não interrupção do processo produtivo dos fertilizantes. Nesse cenário, portanto, mostrase imprescindível a contratação do frete junto à terceira pessoa jurídica para transferência entre estabelecimentos da mesma empresa frete pago em decorrência do transporte dos minerais das minas até o complexo industrial local onde é produzido o fertilizante, inserindose no conceito de insumo. Assim, os valores decorrentes da contratação de fretes de insumos (matérias primas), produtos semielaborados e produtos acabados entre AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 83 0. 72 10 68 /2 00 9- 53 Fl. 251DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 3 2 estabelecimentos da própria empresa geram direito aos créditos das contribuições para o PIS e para a COFINS na sistemática nãocumulativa, pois são essenciais ao processo produtivo da Recorrente e se constituem em insumos essenciais no seu processo de industrialização. Nos termos do §8º, do art. 63 do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, importa consignar ser o entendimento da maioria do Colegiado, que acompanhou a Relatora pelas conclusões, que o conceito de insumo é mais restritivo, podendo ser reconhecido o direito ao crédito de PIS e COFINS nãocumulativos quando o bem ou serviço a ser considerado como insumo estiver estritamente vinculado à produção da mercadoria. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. Votaram pelas conclusões os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Jorge Olmiro Lock Freire e Rodrigo da Costa Pôssas. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em Exercício e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício). Fl. 252DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 4 3 Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela FAZENDA NACIONAL com fulcro nos artigos 67 e seguintes do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, buscando a reforma do Acórdão nº 3302002.983 proferido pela 2ª Turma Ordinária da 3ª Câmara da Terceira Seção de Julgamento. Na parte de interesse ao presente julgamento, o colegiado a quo reconheceu o direito de crédito da contribuição sobre o frete pago no transporte de insumos entre estabelecimentos da empresa. A Fazenda Nacional alega divergência com relação ao entendimento adotado no acórdão recorrido de que existe previsão legal para crédito de PIS e COFINS nãocumulativos sobre valores de fretes pagos, pelo transporte entre estabelecimentos do mesmo proprietário, de insumos minérios extraídos de minas e enviados a complexos industriais. Sustenta existir direito ao crédito somente com relação ao frete na operação de venda, e quando o ônus for suportado pelo vendedor. Foi dado seguimento ao recurso especial mediante despacho de admissibilidade proferido pelo Presidente da 3ª Câmara da Terceira Seção de Julgamento, por se ter entendido como comprovada a divergência jurisprudencial. A Contribuinte apresentou contrarrazões ao recurso especial postulando a negativa de provimento. É o Relatório. Fl. 253DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 5 4 Voto Conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9303007.071, de 11/07/2018, proferido no julgamento do processo 10830.721056/200929, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 9303007.071): "Admissibilidade O recurso especial de divergência interposto pela Fazenda Nacional atende aos pressupostos de admissibilidade constantes no art. 67 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015, devendo, portanto, ter prosseguimento. Mérito A discussão principal posta nos autos referese ao conceito de insumos para determinação se pode ser utilizado pela Contribuinte como crédito de PIS e COFINS não cumulativos os gastos incorridos com o pagamento de frete de insumos (minério e matéria prima) entre seus estabelecimentos industriais. A priori, explicitase o conceito de insumos adotado no presente voto, para posteriormente adentrarse à análise dos itens individualmente. A sistemática da nãocumulatividade para as contribuições do PIS e da COFINS foi instituída, respectivamente, pela Medida Provisória nº 66/2002, convertida na Lei nº 10.637/2002 (PIS) e pela Medida Provisória nº 135/2003, convertida na Lei nº 10.833/2003 (COFINS). Em ambos os diplomas legais, o art. 3º, inciso II, autorizase a apropriação de créditos calculados em relação a bens e serviços utilizados como insumos na fabricação de produtos destinados à venda.1 1 Lei nº 10.637/2002 (PIS). Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; [...]. Lei nº 10.8332003 (COFINS). Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...]II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante Fl. 254DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 6 5 O princípio da nãocumulatividade das contribuições sociais foi também estabelecido no §12º, do art. 195 da Constituição Federal, por meio da Emenda Constitucional nº 42/2003, consignandose a definição por lei dos setores de atividade econômica para os quais as contribuições sociais dos incisos I, b; e IV do caput, dentre elas o PIS e a COFINS. 2 A disposição constitucional deixou a cargo do legislador ordinário a regulamentação da sistemática da nãocumulatividade do PIS e da COFINS. Por meio das Instruções Normativas nºs 247/02 (com redação da Instrução Normativa nº 358/2003) (art. 66) e 404/04 (art. 8º), a Secretaria da Receita Federal trouxe a sua interpretação dos insumos passíveis de creditamento pelo PIS e pela COFINS. A definição de insumos adotada pelos mencionados atos normativos é excessivamente restritiva, assemelhandose ao conceito de insumos utilizado para utilização dos créditos do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, estabelecido no art. 226 do Decreto nº 7.212/2010 (RIPI). As Instruções Normativas nºs 247/2002 e 404/2004, ao admitirem o creditamento apenas quando o insumo for efetivamente incorporado ao processo produtivo de fabricação e comercialização de bens ou prestação de serviços, aproximandose da legislação do IPI que traz critério demasiadamente restritivo, extrapolaram as disposições da legislação hierarquicamente superior no ordenamento jurídico, a saber, as Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003, e contrariaram frontalmente a finalidade da sistemática da nãocumulatividade das contribuições do PIS e da COFINS. Patente, portanto, a ilegalidade dos referidos atos normativos. Nessa senda, entendese igualmente impróprio para conceituar insumos adotarse o parâmetro estabelecido na legislação do IRPJ Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, pois demasiadamente amplo. Pelo raciocínio estabelecido a partir da leitura dos artigos 290 e 299 do Decreto nº 3.000/99 (RIR/99), poderseia enquadrar como insumo todo e qualquer custo da pessoa jurídica com o consumo de bens ou serviços integrantes do processo de fabricação ou da prestação de serviços como um todo. Em Declaração de Voto apresentada nos autos do processo administrativo nº 13053.000211/200672, em sede de julgamento de recurso especial pelo Colegiado da 3ª Turma da CSRF, o ilustre Conselheiro Gileno Gurjão Barreto assim se manifestou: [...] permaneço não compartilhando do entendimento pela possibilidade de utilização isolada da legislação do IR para alcançar a definição de "insumos" pretendida. Reconheço, no entanto, que o raciocínio é auxiliar, é instrumento que pode ser utilizado para dirimir controvérsias mais estritas. Isso porque a utilização da legislação do IRPJ alargaria sobremaneira o conceito de "insumos" ao equiparálo ao conceito contábil de "custos e despesas operacionais" que abarca todos os custos e despesas que contribuem para a atividade de uma empresa (não apenas a sua produção), o que distorceria a interpretação da legislação ao ponto de tornála inócua e ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da Tipi; [...] 2 Constituição Federal de 1988. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: [...] b) a receita ou o faturamento; [...] IV do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. [...]§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão nãocumulativas. (grifouse) Fl. 255DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 7 6 de resultar em indesejável esvaziamento da função social dos tributos, passando a desonerar não o produto, mas sim o produtor, subjetivamente. As Despesas Operacionais são aquelas necessárias não apenas para produzir os bens, mas também para vender os produtos, administrar a empresa e financiar as operações. Enfim, são todas as despesas que contribuem para a manutenção da atividade operacional da empresa. Não que elas não possam ser passíveis de creditamento, mas tem que atender ao critério da essencialidade. [...] Estabelece o Código Tributário Nacional que a segunda forma de integração da lei prevista no art. 108, II, do CTN são os Princípios Gerais de Direito Tributário. Na exposição de motivos da Medida Provisória n. 66/2002, in verbis, afirmase que “O modelo ora proposto traduz demanda pela modernização do sistema tributário brasileiro sem, entretanto, pôr em risco o equilíbrio das contas públicas, na estrita observância da Lei de Responsabilidade Fiscal. Com efeito, constitui premissa básica do modelo a manutenção da carga tributária correspondente ao que hoje se arrecada em virtude da cobrança do PIS/Pasep.” Assim sendo, o conceito de "insumos", portanto, muito embora não possa ser o mesmo utilizado pela legislação do IPI, pelas razões já exploradas, também não pode atingir o alargamento proposto pela utilização de conceitos diversos contidos na legislação do IR. Ultrapassados os argumentos para a não adoção dos critérios da legislação do IPI nem do IRPJ, necessário estabelecerse o critério a ser utilizado para a conceituação de insumos. Diante do entendimento consolidado deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, inclusive no âmbito desta Câmara Superior de Recursos Fiscais, o conceito de insumos para efeitos do art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637/2002 e do art. 3º, inciso II da Lei 10.833/2003, deve ser interpretado com critério próprio: o da essencialidade. Referido critério traduz uma posição "intermediária" construída pelo CARF, na qual, para definir insumos, buscase a relação existente entre o bem ou serviço, utilizado como insumo e a atividade realizada pelo Contribuinte. Conceito mais elaborado de insumo, construído a partir da jurisprudência do próprio CARF e norteador dos julgamentos dos processos, no referido órgão, foi consignado no Acórdão nº 9303003.069, resultante de julgamento da CSRF em 13 de agosto de 2014: [...] Portanto, "insumo" para fins de creditamento do PIS e da COFINS não cumulativos, partindo de uma interpretação histórica, sistemática e teleológica das próprias normas instituidoras de tais tributos (Lei no. 10.637/2002 e 10.833/2003), deve ser entendido como todo custo, despesa ou encargo comprovadamente incorrido na prestação de serviço ou na produção ou fabricação de bem ou produto que seja destinado à venda, e que tenha relação e vínculo com as receitas tributadas (critério relacional), dependendo, para sua identificação, das especificidades de cada processo produtivo. Nessa linha relacional, para se verificar se determinado bem ou serviço prestado pode ser caracterizado como insumo para fins de creditamento do PIS e da COFINS, impende analisar se há: pertinência ao processo produtivo (aquisição do bem ou serviço especificamente para utilização na prestação do serviço ou na produção, ou, ao menos, para Fl. 256DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 8 7 tornálo viável); essencialidade ao processo produtivo (produção ou prestação de serviço depende diretamente daquela aquisição) e possibilidade de emprego indireto no processo de produção (prescindível o consumo do bem ou a prestação de serviço em contato direto com o bem produzido). Portanto, para que determinado bem ou prestação de serviço seja considerado insumo gerador de crédito de PIS e COFINS, imprescindível a sua essencialidade ao processo produtivo ou prestação de serviço, direta ou indiretamente, bem como haja a respectiva prova. Não é diferente a posição predominante no Superior Tribunal de Justiça, o qual reconhece, para a definição do conceito de insumo, critério amplo/próprio em função da receita, a partir da análise da pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo ou à prestação do serviço. O entendimento está refletido no voto do Ministro Relator Mauro Campbell Marques ao julgar o recurso especial nº 1.246.317MG, sintetizado na ementa: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. VIOLAÇÃO AO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 98/STJ. CONTRIBUIÇÕES AO PIS/PASEP E COFINS NÃOCUMULATIVAS. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. ART. 3º, II, DA LEI N. 10.637/2002 E ART. 3º, II, DA LEI N. 10.833/2003. ILEGALIDADE DAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS SRF N. 247/2002 E 404/2004. 1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma suficientemente fundamentada a lide, muito embora não faça considerações sobre todas as teses jurídicas e artigos de lei invocados pelas partes. 2. Agride o art. 538, parágrafo único, do CPC, o acórdão que aplica multa a embargos de declaração interpostos notadamente com o propósito de prequestionamento. Súmula n. 98/STJ: "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório". 3. São ilegais o art. 66, §5º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 247/2002 Pis/Pasep (alterada pela Instrução Normativa SRF n. 358/2003) e o art. 8º, §4º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 404/2004 Cofins, que restringiram indevidamente o conceito de "insumos" previsto no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e n. 10.833/2003, respectivamente, para efeitos de creditamento na sistemática de nãocumulatividade das ditas contribuições. 4. Conforme interpretação teleológica e sistemática do ordenamento jurídico em vigor, a conceituação de "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, não se identifica com a conceituação adotada na legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados IPI, posto que excessivamente restritiva. Do mesmo modo, não corresponde exatamente aos conceitos de "Custos e Despesas Operacionais" utilizados na legislação do Imposto de Renda IR, por que demasiadamente elastecidos. 5. São "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, todos aqueles bens e serviços pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. 6. Hipótese em que a recorrente é empresa fabricante de gêneros alimentícios sujeita, portanto, a rígidas normas de higiene e limpeza. No ramo a que pertence, as exigências de condições sanitárias das instalações Fl. 257DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 9 8 se não atendidas implicam na própria impossibilidade da produção e em substancial perda de qualidade do produto resultante. A assepsia é essencial e imprescindível ao desenvolvimento de suas atividades. Não houvessem os efeitos desinfetantes, haveria a proliferação de microorganismos na maquinaria e no ambiente produtivo que agiriam sobre os alimentos, tornandoos impróprios para o consumo. Assim, impõe se considerar a abrangência do termo "insumo" para contemplar, no creditamento, os materiais de limpeza e desinfecção, bem como os serviços de dedetização quando aplicados no ambiente produtivo de empresa fabricante de gêneros alimentícios. 7. Recurso especial provido. (REsp 1246317/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/05/2015, DJe 29/06/2015) (grifouse) Portanto, são insumos, para efeitos do art. 3º, II da Lei nº 10.637/2002 e do art. 3º, II da Lei nº 10.833/2003, todos os bens e serviços pertinentes ao processo produtivo e à prestação de serviços, ou ao menos que os viabilizem, podendo ser empregados direta ou indiretamente, e cuja subtração implica a impossibilidade de realização do processo produtivo e da prestação do serviço, objetando ou comprometendo a qualidade da própria atividade da pessoa jurídica. Ainda no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, o tema foi recentemente julgado pela sistemática dos recursos repetitivos nos autos do recurso especial nº 1.221.170 PR, no sentido de reconhecer a ilegalidade das Instruções Normativas SRF nºs 247/2002 e 404/2004 e aplicação de critério da essencialidade ou relevância para o processo produtivo na conceituação de insumo para os créditos de PIS e COFINS no regime não cumulativo. Até a presente data da sessão de julgamento desse processo não houve o trânsito em julgado do acórdão do recurso especial nº 1.221.170PR pela sistemática dos recursos repetitivos, pois pendente de julgamento de embargos de declaração interpostos pela Fazenda Nacional. Fazse a ressalva do entendimento desta Conselheira, que não é o da maioria do Colegiado, que conforme previsão contida no art. 62, §2º do RICARF aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, os conselheiros já estão obrigados a reproduzir referida decisão. A controvérsia em exame gravita em torno da possibilidade de ser considerados como insumos os gastos decorrentes da contratação de fretes de matériasprimas entre estabelecimentos da mesma empresa, de fretes de insumos e de produtos em elaboração para transferência entre estabelecimentos da Contribuinte. Os minerais, principal insumo da produção dos fertilizantes, são extraídos pela Recorrida de minas distantes do complexo industrial, havendo a necessidade de seu transporte, por meio de frete pago a terceira pessoa jurídica, até o local da produção do fertilizante. A Contribuinte sustenta desenvolver atividade econômica em toda a cadeia de produção de fertilizantes, sendo responsável não só pela fabricação do mesmo, como também pela extração dos minerais e o beneficiamento de uma parte dos insumos utilizados no processo produtivo. Por isso, defende que as despesas com frete contratado na aquisição dos insumos, bem como para a realização das transferências de matériasprimas dos estabelecimentos mineradores para as unidades industriais são essenciais para o processo produtivo e confecção do produto fertilizantes. No caso dos autos, temse que a extração dos minerais ocorre em minas da própria Contribuinte que é a produtora dos fertilizantes, sendo que o principal insumo para a fabricação do seu produto são os minerais, portanto, necessários e essenciais à atividade da empresa. Para a movimentação da matériaprima até o estabelecimento onde é produzido o fertilizante, é preciso contratar frete pago a terceira pessoa jurídica. Tal frete, por estar diretamente ligado ao processo produtivo/fabril, deve ser considerado como insumo. Fl. 258DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 10 9 Conforme se verifica da descrição do processo produtivo efetuada pela Recorrida, a mesma atua em toda a cadeia de produção de fertilizantes, sendo responsável pela fabricação do mesmo e também pela extração e beneficiamento de parte dos insumos utilizados no processo produtivo. Traz como exemplo, o concentrado de fosfático pó, que [...] é gerado e encaminhado de sua unidade de Lagamar, em Minas Gerais, para o Complexo Industrial da Paulínia, em São Paulo, onde, agregado a outros insumos, alguns dos quais adquiridos de terceiros, dá origem ao fertilizante, produto final daquela. A transferência de matériasprimas extraídas das minas para as fábricas constituise em etapa essencial do ciclo produtivo, ainda mais quando se considera a distância que separa as unidades mineradoras dos complexos industriais e a diversidade de locais onde as minas estão situadas. Além disso, é característica da atividade da Recorrida a produção do próprio insumo, até mesmo como forma de ter a segurança de não interrupção do processo produtivo dos fertilizantes. Nesse cenário, portanto, mostrase imprescindível a contratação do frete junto à terceira pessoa jurídica para transferência entre estabelecimentos da mesma empresa frete pago em decorrência do transporte dos minerais das minas até o complexo industrial local onde é produzido o fertilizante, inserindose no conceito de insumo. Assim, os valores decorrentes da contratação de fretes de insumos (matérias primas), produtos semielaborados e produtos acabados entre estabelecimentos da própria empresa geram direito aos créditos das contribuições para o PIS e para a COFINS na sistemática nãocumulativa, pois são essenciais ao processo produtivo da Recorrente e se constituem em insumos essenciais no seu processo de industrialização. No mesmo sentido, já se pronunciou essa 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais no julgamento que resultou no Acórdão n.º 9303005.156, de relatoria da nobre conselheira Tatiana Midori Migiyama: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/01/2008 a 30/09/2008 CRÉDITO. FRETES NA TRANSFERÊNCIA DE PRODUTOS ACABADOS ENTRE ESTABELECIMENTOS DA MESMA EMPRESA. Cabe a constituição de crédito de PIS/Pasep sobre os valores relativos a fretes de produtos acabados realizados entre estabelecimentos da mesma empresa, considerando sua essencialidade à atividade do sujeito passivo. Não obstante à observância do critério da essencialidade, é de se considerar ainda tal possibilidade, invocando o art. 3º, inciso IX, da Lei 10.833/03 e art. 3º, inciso IX, da Lei 10.637/02 eis que a inteligência desses dispositivos considera para a r. constituição de crédito os serviços intermediários necessários para a efetivação da venda quais sejam, os fretes na operação” de venda. O que, por conseguinte, cabe refletir que tal entendimento se harmoniza com a intenção do legislador ao trazer o termo frete na operação de venda”, e não “frete de venda” quando impôs dispositivo tratando da constituição de crédito das r. contribuições. CRÉDITO. FRETES NA TRANSFERÊNCIA DE MATÉRIASPRIMAS ENTRE ESTABELECIMENTOS Os fretes na transferência de matériasprimas entre estabelecimentos, essenciais para a atividade do sujeito passivo, eis que vinculados com as etapas de industrialização do produto e seu objeto social, devem ser enquadrados como insumos, nos termos do art. 3º, inciso II, da Lei 10.833/03 e art. 3º, inciso II, da Lei 10.637/02. Cabe ainda refletir que tais custos nada diferem daqueles relacionados às máquinas de esteiras que levam a matériaprima de um lado para o outro na fábrica para a continuidade da produção/industrialização/beneficiamento de determinada mercadoria/produto. PIS. COFINS. CRÉDITO. NÃO CUMULATIVIDADE. FRETES NA AQUISIÇÃO DE INSUMOS TRIBUTADOS COM ALÍQUOTA ZERO OU ADQUIRIDOS COM SUSPENSÃO DO PIS E DA COFINS. IMPOSSIBILIDADE. Fl. 259DF CARF MF Processo nº 10830.721068/200953 Acórdão n.º 9303007.081 CSRFT3 Fl. 11 10 Não há previsão legal para aproveitamento dos créditos sobre os serviços de fretes utilizados na aquisição de insumos não onerados pelas contribuições ao PIS e a Cofins. Por fim, nos termos do §8º, do art. 63 do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, importa consignar ser o entendimento da maioria do Colegiado, que acompanhou a Relatora pelas conclusões, que o conceito de insumo é mais restritivo, podendo ser reconhecido o direito ao crédito de PIS e COFINS nãocumulativos quando o bem ou serviço a ser considerado como insumo estiver estritamente vinculado à produção da mercadoria. Diante do exposto, negase provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o recurso especial da Fazenda Nacional foi conhecido e, no mérito, o colegiado negoulhe provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Fl. 260DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16349.000357/2010-77
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon Aug 27 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Oct 01 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ano-calendário: 2006
CRÉDITO. FRETE NA COMPRA DE BENS. BENS ADQUIRIDOS DE PESSOAS FÍSICAS SUJEITAS AO CRÉDITO PRESUMIDO PREVISTO NA LEI FEDERAL 10.925/2004.
Para fins de apropriação dos créditos sobre o frete na aquisição de insumos, é irrelevante que os insumos objeto do transporte tenham sido adquiridos de pessoas física e que o adquirente tenha apropriado créditos de PIS/COFINS na modalidade prevista na Lei Federal 10.925/2004, em seu artigo 8º, de modo que o creditamento sobre o frete deve observar única e exclusivamente as demais regras previstas na Lei Federal 10.833/2003.
Numero da decisão: 3401-005.281
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, vencidos os Cons. Lazaro Antonio Souza Soares, Mara Cristina Sifuentes e Marcos Roberto da Silva, em dar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
ROSALDO TREVISAN - Presidente.
(assinado digitalmente)
TIAGO GUERRA MACHADO - Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente da turma), Leonardo Ogassawara de Araujo Branco (vice-presidente), Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Marcos Roberto da Silva (suplente convocado), André Henrique Lemos, Lázaro Antonio Souza Soares e Cássio Schappo.
Nome do relator: TIAGO GUERRA MACHADO
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Ano-calendário: 2006 CRÉDITO. FRETE NA COMPRA DE BENS. BENS ADQUIRIDOS DE PESSOAS FÍSICAS SUJEITAS AO CRÉDITO PRESUMIDO PREVISTO NA LEI FEDERAL 10.925/2004. Para fins de apropriação dos créditos sobre o frete na aquisição de insumos, é irrelevante que os insumos objeto do transporte tenham sido adquiridos de pessoas física e que o adquirente tenha apropriado créditos de PIS/COFINS na modalidade prevista na Lei Federal 10.925/2004, em seu artigo 8º, de modo que o creditamento sobre o frete deve observar única e exclusivamente as demais regras previstas na Lei Federal 10.833/2003.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, vencidos os Cons. Lazaro Antonio Souza Soares, Mara Cristina Sifuentes e Marcos Roberto da Silva, em dar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) ROSALDO TREVISAN - Presidente. (assinado digitalmente) TIAGO GUERRA MACHADO - Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente da turma), Leonardo Ogassawara de Araujo Branco (vice-presidente), Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Marcos Roberto da Silva (suplente convocado), André Henrique Lemos, Lázaro Antonio Souza Soares e Cássio Schappo.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Anocalendário: 2006 CRÉDITO. FRETE NA COMPRA DE BENS. BENS ADQUIRIDOS DE PESSOAS FÍSICAS SUJEITAS AO CRÉDITO PRESUMIDO PREVISTO NA LEI FEDERAL 10.925/2004. Para fins de apropriação dos créditos sobre o frete na aquisição de insumos, é irrelevante que os insumos objeto do transporte tenham sido adquiridos de pessoas física e que o adquirente tenha apropriado créditos de PIS/COFINS na modalidade prevista na Lei Federal 10.925/2004, em seu artigo 8º, de modo que o creditamento sobre o frete deve observar única e exclusivamente as demais regras previstas na Lei Federal 10.833/2003. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, vencidos os Cons. Lazaro Antonio Souza Soares, Mara Cristina Sifuentes e Marcos Roberto da Silva, em dar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) ROSALDO TREVISAN Presidente. (assinado digitalmente) TIAGO GUERRA MACHADO Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 34 9. 00 03 57 /2 01 0- 77 Fl. 403DF CARF MF 2 Participaram do presente julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente da turma), Leonardo Ogassawara de Araujo Branco (vicepresidente), Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Marcos Roberto da Silva (suplente convocado), André Henrique Lemos, Lázaro Antonio Souza Soares e Cássio Schappo. Relatório Cuidase de Recurso Voluntário (fls. 360 e seguintes) contra decisão da 6ª Turma, DRJ/SP1, que considerou improcedente, em parte, as razões da Recorrente em sua Manifestação de Inconformidade referente ao despacho decisório que não reconheceu o direito creditório da contribuinte relativo à COFINS relativa ao ano calendário 2006. Do Pedido de Compensação e do Despacho Decisório A contribuinte enviou PERDCOMP pleiteando crédito no valor de R$ 1.268.463,44, relativo à COFINS nãocumulativa, vinculado às receitas de exportação, apurado no 2º trimestre de 2006. Por seu turno, no exame do pedido, a DERATSP proferiu Despacho Decisório reconhecendo crédito no valor de R$ 1.258.824,71, de modo que não foram reconhecidos créditos no valor total de R$ 9.638,73, originários da contratação de fretes na aquisição de insumos sujeitos ao crédito presumido a que se refere a Lei Federal 10925/2004. Assim, as razões para o nãoreconhecimento foram: 58. Integrando os fretes sobre compras o custo de aquisição dos insumos, o crédito calculado deve ser dividido em dois tipos: insumos com direito a crédito integral e com direito a crédito presumido. Sobre os fretes de compras de insumos com direito a crédito presumido deve ser aplicada a alíquota reduzida do crédito presumido (0,5775% e 2,66%) e seus valores devem compor a base de cálculo dos insumos com direito a crédito presumido. Desta forma, excluímos esses valores da base de cálculo do crédito integral e os transportamos para a base do crédito presumido. (...) Ou seja, o despacho decisório entendeu que as despesas com os fretes contratados pela Contribuinte para a aquisição de insumos adquiridos de pessoa físicas ou cooperativas agrícolas devem obedecer às regras de apropriação de crédito presumido das contribuições sociais, ainda que pagos a pessoas jurídicas, de modo que não fariam jus ao crédito integral sobre o custo de tais fretes. Da Manifestação de Inconformidade Fl. 404DF CARF MF Processo nº 16349.000357/201077 Acórdão n.º 3401005.281 S3C4T1 Fl. 404 3 Irresignada, a contribuinte apresentou sua Manifestação de Inconformidade (fls. 295 e seguintes) alegando, em síntese, que: a “conforme reportado no item 13 acima, que a EQAUD excluiu R$ 103.109,09 da base de cálculo do crédito integral referentes a "serviços utilizados como insumos"; b “o procedimento adotado pela EQAUD não se sustenta, uma vez que o credito presumido de que trata o art. 8° da Lei n° 10.925, de 2004, aplicase, única e exclusivamente, sobre o valor de BENS adquiridos de pessoa física e/ou de cooperado pessoa física, nos termos do caput do art. 8°, como também sobre o valor de certos BENS adquiridos de pessoas jurídicas, nos termos dos incisos I a III do § 1° do mesmo art. 8° da Lei n° 10.925”; c esta regra não se aplicaria aos serviços de transporte prestados por pessoas jurídicas. Neste caso, deveria ser concedido o crédito integral; d nenhum montante relativo a crédito presumido teria sido incluído no pedido de ressarcimento; e “muito embora a EQAUD não questione/glose valores de crédito presumido indicados no DACON, até porque a Requerente não pleiteou, repitase, ressarcimento de crédito presumido, é fato que o quadro apresentado no item 72 do relatório contem erro material, tendo em vista que os valores de crédito presumido indicados nas linhas "credito presumido — 0,5775%" e "crédito presumido — 2,66%" resultam da aplicação dos referidos percentuais de 0,5775% (PIS) e 2,66% (Cofins) sobre os valores que estão indicados na linha BASE DE CALCULO do referido quadro e que correspondem à soma dos valores obtidos pela EQAUD como componentes da base de cálculo do crédito integral.”; f “Considerando, entretanto, conforme mencionado acima, que a Requerente não pleiteou ressarcimento de crédito presumido, qualquer diferença que a Requerente tivesse apropriado a maior, o que não foi o caso e que se coloca apenas para fins de compreensão da linha de argumentação, deverá ser discutida em procedimento administrativo apartado destes autos. Da Decisão de 1ª Instância Sobreveio Acórdão 1669.871, exarado pela 6ª Turma, da DRO/SP1, , através do qual foi mantida a glosa do crédito pleiteado nos seguintes termos: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Anocalendário: 2006 CRÉDITO. FRETE NA COMPRA DE BENS. A natureza do crédito com despesas de frete na aquisição de bens segue a natureza do crédito do bem transportado. Fl. 405DF CARF MF 4 Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Dessa decisão, importante destacar os seguintes excertos: 11. Portanto, em princípio, poderia o contribuinte apurar crédito de COFINS nãocumulativa calculado somente sobre os gastos com fretes na venda de produtos, desde que o ônus fosse suportado pelo vendedor. 12. Ocorre que os incisos I e II do artigo 3º da lei nº 10.833/2003 preveem a hipótese de cálculo de crédito de COFINS nãocumulativa na compra de bens adquiridos para revenda e utilizados como insumo. Nestes casos, de acordo com o artigo 289 do RIR/1999, o valor do frete integra o custo de aquisição dos bens, desta forma, o frete vinculado à operação de aquisição de bens para revenda e utilizados como insumo também deve originar crédito de PIS: (...) 13. Portanto, a despesa com frete na aquisição de bens, não gera crédito por si só, mas sim porque integra o custo da mercadoria revendida e da matériaprima utilizada. 14. Nesta toada, é correto afirmar que a natureza do crédito com despesas de frete na aquisição de bens segue a natureza do crédito do bem transportado, em outras palavras, caso o bem transportado se submeta à apuração de crédito presumido este também será a natureza do crédito relativo ao frete. 15. Desta forma, não se está apurando crédito presumido sobre o valor de serviços, como faz crer o manifestante, mas sim sobre o valor do bem adquirido, tendo em mente que o frete está inserido neste montante. 16. Em consequência, agiu de forma acertada a autoridade fiscal ao glosar o crédito integral de COFINS relacionado ao frete na aquisição de produtos, tendo em vista que o correto seria a apuração do crédito presumido. Em assim sendo, o crédito pleiteado pelo contribuinte abrangia sim crédito presumido. Com isto afastase a indagação do interessado sobre a necessidade de um procedimento específico para a análise da matéria. Do Recurso Voluntário A Contribuinte apresentou Recurso Voluntário, que veio a repetir os argumentos apresentados na impugnação. É o relatório. Voto Conselheiro TIAGO GUERRA MACHADO Fl. 406DF CARF MF Processo nº 16349.000357/201077 Acórdão n.º 3401005.281 S3C4T1 Fl. 405 5 Da Admissibilidade O Recurso é tempestivo, uma vez que a ciência do Acordão ocorreu em 07.04.2015 e o Recurso Voluntário foi protocolado em 06.05.2015, e reúne os demais requisitos de admissibilidade constantes na legislação; de modo que lhe tomo conhecimento. O Recurso de Oficio igualmente merece ser conhecido, haja vista o montante desonerado em primeira instancia superar o limite de alçada atual. Do Mérito A razão para o crédito haver sido glosado – referendada pela decisão ora recorrida – decorre do entendimento de que o frete na aquisição de insumos compõe o custo desses últimos, de maneira que, ao integrálo, tal dispêndio estaria submetido ao regime específico para apropriação de créditos desses. Como, no caso, os insumos do qual os fretes foram contratados estavam sujeitos aos limites impostos pela Lei Federal 10.925/2004, haja vista serem oriundos de pessoas físicas, os créditos referentes aos fretes contratados perante pessoas jurídicas foram limitados da mesma forma. Na verdade, tanto a Fiscalização quanto a decisão da DRJ, em meu entender, aplicaram uma extensão não prevista no texto legal para reduzir o crédito utilizado pela Recorrente para abater da base de cálculo das contribuições sociais, e, como consequência disso, exigir montante do tributo que não guardar respaldo em lei. Vejamos. O credito presumido previsto na Lei Federal 10.925/2004 é um incentivo fiscal para estimular diversas atividades econômicas vinculadas ao agronegócio. Sua existência se justifica porque a informalidade do setor é grande e ainda é comum que os produtores de produtos primários não tenham constituído entidade jurídica para o perfazimento de seus negócios. Diante disso, decidiuse por desonerar o custo de aquisição dessas pessoas físicas para que o PIS/COFINS nas demais etapas da cadeia econômica sofressem uma incidência sobre o valor agregado, ainda que parcialmente. Por outro lado, o direito ao crédito sobre o frete na aquisição de insumos decorre de uma construção jurisprudencial, amplamente aceita nessa Corte, diante do reconhecimento de que sua contratação compõe o custo de aquisição do estoque de revenda ou de insumos para produção. Porém esse reconhecimento não implica vincular a forma e cálculo de créditos de PIS/COFINS sobre o frete ao crédito sobre o insumo, mesmo porque, conforme adiantado acima, a regra de apropriação presumida é específica para aqueles produtos adquiridos de pessoa física. Fl. 407DF CARF MF 6 No caso, os fretes foram adquiridos pessoa jurídica e sofreram incidência das contribuições, fato não confrontado pela fiscalização, de modo que a aplicação do percentual previsto na Lei Federal 10.925/2004 não guardaria qualquer respaldo e colocaria em xeque o objetivo da norma que é o de conceder um crédito presumido para os casos em que o fornecedor é pessoa física e não o de restringir o direito ao crédito integral das contribuições sociais quando o fornecedor é pessoa jurídica. Diante disso, e tendo em vista que a Fiscalização deve estar adstrita ao previsto na legislação que rege as contribuições sociais, devendo interpretála e aplicála com obediência ao artigo 108, I, e seu parágrafo primeiro, do Código Tributário Nacional, acolho o Recurso Voluntário para reconhecer o crédito integral sobre o frete contratado na aquisição de insumos, sendo, nesse caso, irrelevante que os insumos foram adquiridos de pessoas físicas. Por todo o exposto, conheço do Recurso e com relação ao mérito do julgamento. (assinado digitalmente) TIAGO GUERRA MACHADO Relator Fl. 408DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10580.733827/2012-15
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 24 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Sep 27 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2007, 2008, 2009
AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE.
A nulidade inexiste quando preenchidos os requisitos legais do auto de infração, garantindo o exercício do contraditório e da ampla defesa durante o processo administrativo fiscal.
RECURSO DE OFÍCIO. LIMITE DE ALÇADA.
Não se conhece do recurso de ofício quando o valor exonerado não supera o limite de alçada.
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA
Não comprovado a simulação, dolo ou fraude na prestação de serviços por outra empresa do grupo econômico, exclui-se a responsabilidade solidária e reduz a multa qualificada de 150% para multa de ofício de 75%.
DESPESAS NÃO COMPROVADAS. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. GLOSA.
As despesas consideradas necessárias ou operacionais devem ser comprovadas pelo contribuinte com documentação hábil e idônea, sob pena de glosa.
No âmbito de prestação de serviços, não basta apresentar um contrato de prestação de serviço e notas fiscais genéricas, ainda mais no bojo de uma reestruturação para alocação de gastos comuns e compartilhados com empresas do mesmo grupo. Nesta hipótese, a simples apresentação da nota fiscal e da comprovação dos pagamentos efetuados não é suficiente para comprovar a prestação de serviços, devendo o contribuinte demonstrar a causa exata da operação, bem como justificar o preço.
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. CONHECIMENTO. LEGALIDADE DA COBRANÇA.
A matéria relativa à incidência de juros de mora sobre a multa de ofício faz parte do lançamento e deve ser conhecida por este órgão julgador, entendendo-se que a multa de ofício, como parcela integrante do crédito tributário, está sujeita aos juros de mora, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao do vencimento.
MULTA ISOLADA.
Aplica-se a multa isolada no caso de pessoa jurídica sujeita ao pagamento do imposto de renda deixar de fazê-lo, ainda que tenha apurado prejuízo fiscal no ano-calendário correspondente.
TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL.
Tratando- se de lançamentos reflexos, aplica-se a decisão prolatada no lançamento matriz às demais exigências.
Numero da decisão: 1201-002.287
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário para reduzir a multa de 150% para 75%, e afastar os responsáveis solidários. Vencidos os conselheiros Rafael Gasparello Lima (relator), Luis Fabiano Alves Penteado e Gisele Barra Bossa que davam total provimento; vencidos os conselheiros José Carlos de Assis Guimarães, Eva Maria Los (presidente em exercício) e Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada), que negavam provimento aos recursos voluntários. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Luis Henrique Marotti Toselli.
(assinado digitalmente)
Eva Maria Los - Presidente em exercício.
(assinado digitalmente)
Rafael Gasparello Lima - Relator.
(assinado digitalmente)
Luis Henrique Marotti Toselli - Redator Designado.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los (Presidente em exercício), Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Gisele Barra Bossa, Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada). Ausente, justificadamente, Ester Marques Lins de Sousa.
Nome do relator: RAFAEL GASPARELLO LIMA
1.0 = *:*
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camara_s : Segunda Câmara
ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ano-calendário: 2007, 2008, 2009 AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. A nulidade inexiste quando preenchidos os requisitos legais do auto de infração, garantindo o exercício do contraditório e da ampla defesa durante o processo administrativo fiscal. RECURSO DE OFÍCIO. LIMITE DE ALÇADA. Não se conhece do recurso de ofício quando o valor exonerado não supera o limite de alçada. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA Não comprovado a simulação, dolo ou fraude na prestação de serviços por outra empresa do grupo econômico, exclui-se a responsabilidade solidária e reduz a multa qualificada de 150% para multa de ofício de 75%. DESPESAS NÃO COMPROVADAS. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. GLOSA. As despesas consideradas necessárias ou operacionais devem ser comprovadas pelo contribuinte com documentação hábil e idônea, sob pena de glosa. No âmbito de prestação de serviços, não basta apresentar um contrato de prestação de serviço e notas fiscais genéricas, ainda mais no bojo de uma reestruturação para alocação de gastos comuns e compartilhados com empresas do mesmo grupo. Nesta hipótese, a simples apresentação da nota fiscal e da comprovação dos pagamentos efetuados não é suficiente para comprovar a prestação de serviços, devendo o contribuinte demonstrar a causa exata da operação, bem como justificar o preço. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. CONHECIMENTO. LEGALIDADE DA COBRANÇA. A matéria relativa à incidência de juros de mora sobre a multa de ofício faz parte do lançamento e deve ser conhecida por este órgão julgador, entendendo-se que a multa de ofício, como parcela integrante do crédito tributário, está sujeita aos juros de mora, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao do vencimento. MULTA ISOLADA. Aplica-se a multa isolada no caso de pessoa jurídica sujeita ao pagamento do imposto de renda deixar de fazê-lo, ainda que tenha apurado prejuízo fiscal no ano-calendário correspondente. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. Tratando- se de lançamentos reflexos, aplica-se a decisão prolatada no lançamento matriz às demais exigências.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário para reduzir a multa de 150% para 75%, e afastar os responsáveis solidários. Vencidos os conselheiros Rafael Gasparello Lima (relator), Luis Fabiano Alves Penteado e Gisele Barra Bossa que davam total provimento; vencidos os conselheiros José Carlos de Assis Guimarães, Eva Maria Los (presidente em exercício) e Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada), que negavam provimento aos recursos voluntários. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Luis Henrique Marotti Toselli. (assinado digitalmente) Eva Maria Los - Presidente em exercício. (assinado digitalmente) Rafael Gasparello Lima - Relator. (assinado digitalmente) Luis Henrique Marotti Toselli - Redator Designado. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los (Presidente em exercício), Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Gisele Barra Bossa, Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada). Ausente, justificadamente, Ester Marques Lins de Sousa.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 80; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1870; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S1C2T1 Fl. 5.371 1 5.370 S1C2T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS PRIMEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 10580.733827/201215 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 1201002.287 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 24 de julho de 2018 Matéria IRPJ E CSLL GLOSA DE DESDESAS Recorrente MORENA VEÍCULOS LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2007, 2008, 2009 AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. A nulidade inexiste quando preenchidos os requisitos legais do auto de infração, garantindo o exercício do contraditório e da ampla defesa durante o processo administrativo fiscal. RECURSO DE OFÍCIO. LIMITE DE ALÇADA. Não se conhece do recurso de ofício quando o valor exonerado não supera o limite de alçada. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA Não comprovado a simulação, dolo ou fraude na prestação de serviços por outra empresa do grupo econômico, excluise a responsabilidade solidária e reduz a multa qualificada de 150% para multa de ofício de 75%. DESPESAS NÃO COMPROVADAS. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. GLOSA. As despesas consideradas necessárias ou operacionais devem ser comprovadas pelo contribuinte com documentação hábil e idônea, sob pena de glosa. No âmbito de prestação de serviços, não basta apresentar um contrato de prestação de serviço e notas fiscais genéricas, ainda mais no bojo de uma reestruturação para alocação de gastos comuns e compartilhados com empresas do mesmo grupo. Nesta hipótese, a simples apresentação da nota fiscal e da comprovação dos pagamentos efetuados não é suficiente para comprovar a prestação de serviços, devendo o contribuinte demonstrar a causa exata da operação, bem como justificar o preço. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 58 0. 73 38 27 /2 01 2- 15 Fl. 5371DF CARF MF 2 JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. CONHECIMENTO. LEGALIDADE DA COBRANÇA. A matéria relativa à incidência de juros de mora sobre a multa de ofício faz parte do lançamento e deve ser conhecida por este órgão julgador, entendendose que a multa de ofício, como parcela integrante do crédito tributário, está sujeita aos juros de mora, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao do vencimento. MULTA ISOLADA. Aplicase a multa isolada no caso de pessoa jurídica sujeita ao pagamento do imposto de renda deixar de fazêlo, ainda que tenha apurado prejuízo fiscal no anocalendário correspondente. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. Tratando se de lançamentos reflexos, aplicase a decisão prolatada no lançamento matriz às demais exigências. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário para reduzir a multa de 150% para 75%, e afastar os responsáveis solidários. Vencidos os conselheiros Rafael Gasparello Lima (relator), Luis Fabiano Alves Penteado e Gisele Barra Bossa que davam total provimento; vencidos os conselheiros José Carlos de Assis Guimarães, Eva Maria Los (presidente em exercício) e Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada), que negavam provimento aos recursos voluntários. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Luis Henrique Marotti Toselli. (assinado digitalmente) Eva Maria Los Presidente em exercício. (assinado digitalmente) Rafael Gasparello Lima Relator. (assinado digitalmente) Luis Henrique Marotti Toselli Redator Designado. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los (Presidente em exercício), Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Gisele Barra Bossa, Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada). Ausente, justificadamente, Ester Marques Lins de Sousa. Relatório A Colenda 2ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Salvador/BA (DRJ/SDR) deu parcial provimento às impugnações Fl. 5372DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.372 3 administrativas da contribuinte, Morena Veículos Ltda., e dos devedores solidários, conforme se observa da ementa do acórdão nº 15035.144: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2007, 2008, 2009 AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. Tendo os autos de infração preenchido os requisitos legais e o processo administrativo proporcionado plenas condições à interessada de impugnar os lançamentos, descabe a alegação de nulidade. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2007, 2008, 2009 SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. Comprovado que o autuado simulou a prestação de serviços por empresa que, apesar de criada atendendo às formalidades legais, de fato não existe, cabe a responsabilização dos diretores da empresa autuada por infração de lei e do contrato social, restando caracterizada a solidariedade e justificada a reunião da empresa e das pessoas físicas indicadas nos autos de infração no mesmo pólo passivo da obrigação tributária. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007, 2008, 2009 DESPESAS OPERACIONAIS. INDEDUDITIBILIDADE. GLOSA. As despesas operacionais devem estar lastreadas em documentação hábil e idônea, bem como sua dedutibilidade condicionas e à comprovação de que são necessárias às atividades da empresa. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. SIMULAÇÃO. SONEGAÇÃO. FRAUDE. CONLUIO. Os atos ilícitos praticados pelo contribuinte e pelos responsáveis tributários, dentre os quais a simulação, por interposição de pessoa, configuram procedimento doloso, visando a impedir ou retardar, total ou parcialmente, que a autoridade fazendária tomasse conhecimento da ocorrência do fato gerador, ou ainda visando a modificar as características essenciais do fato gerador, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a evitar o seu pagamento, demonstrando o objetivo de sonegação de tributos, e sujeitam a pessoa jurídica à multa de ofício qualificada, no percentual de 150%. Fl. 5373DF CARF MF 4 JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. CONHECIMENTO. LEGALIDADE DA COBRANÇA. A matéria relativa à incidência de juros de mora sobre a multa de ofício faz parte do lançamento e deve ser conhecida por este órgão julgador, entendendose que a multa de ofício, como parcela integrante do crédito tributário, está sujeita aos juros de mora, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao do vencimento. MULTA ISOLADA. Aplicase a multa isolada no caso de pessoa jurídica sujeita ao pagamento do imposto de renda deixar de fazêlo, ainda que tenha apurado prejuízo fiscal no anocalendário correspondente. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2007, 2008, 2009 DESPESAS OPERACIONAIS. INDEDUDITIBILIDADE. GLOSA. As despesas operacionais devem estar lastreadas em documentação hábil e idônea, bem como sua dedutibilidade condicionase à comprovação de que são necessárias às atividades da empresa. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. SIMULAÇÃO. SONEGAÇÃO. FRAUDE. CONLUIO. Os atos ilícitos praticados pelo contribuinte e pelos responsáveis tributários, dentre os quais a simulação, por interposição de pessoa, configuram procedimento doloso, visando a impedir ou retardar, total ou parcialmente, que a autoridade fazendária tomasse conhecimento da ocorrência do fato gerador, ou ainda visando a modificar as características essenciais do fato gerador, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a evitar o seu pagamento, demonstrando o objetivo de sonegação de tributos, e sujeitam a pessoa jurídica à multa de ofício qualificada, no percentual de 150%. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. CONHECIMENTO. LEGALIDADE DA COBRANÇA. A matéria relativa à incidência de juros de mora sobre a multa de ofício faz parte do lançamento e deve ser conhecida por este órgão julgador, entendendose que a multa de ofício, como parcela integrante do crédito tributário, está sujeita aos juros de mora, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao do vencimento. MULTA ISOLADA. Aplicase a multa isolada no caso de pessoa jurídica sujeita ao pagamento da contribuição social deixar de fazêlo, ainda que tenha apurado base de cálculo negativa no anocalendário correspondente. Fl. 5374DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.373 5 Impugnação Procedente em Parte. Crédito Tributário Mantido em Parte. O acórdão recorrido narrou com exatidão os fatos, tal como a seguir reitero: Trata se dos autos de infração de fls. 3/19 e 23/39, relativos aos anoscalendário de 2007 a 2009, lavrados em 27/12/2012, que pretendem a cobrança, respectivamente: • do Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ, no valor de R$ 634.073,22 (seiscentos e trinta e quatro e mil, setenta e três reais e vinte e dois centavos), além da multa de ofício e dos juros de mora, sendo a multa de ofício no percentual de 150% para a parcela do imposto decorrente da infração “Despesas não comprovadas” (anoscalendário 2008 e 2009) e no percentual de 75% para a parcela do imposto decorrente da infração “Resultados escriturados e não declarados” (ano calendário 2008), e da Multa Isolada, decorrente da falta de recolhimento do IRPJ sobre base de cálculo estimada (anos calendário 2007, 2008 e 2009), no valor de R$ 662.116,05 (seiscentos e sessenta e dois mil, cento e dezesseis reais e cinco centavos); • da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, no valor de R$ 268.041,39 (duzentos e sessenta e oito mil, quarenta e um reais e trinta e nove centavos), além da multa de ofício e dos juros de mora, sendo a multa de ofício no percentual de 150% para a parcela da contribuição decorrente da infração “Despesas não comprovadas” (anoscalendário 2008 e 2009) e no percentual de 75% para a parcela da contribuição decorrente da infração “Resultados escriturados e não declarados” (ano calendário 2008), e da Multa Isolada, decorrente da falta de recolhimento da CSLL sobre base de cálculo estimada (anos calendário 2007, 2008 e 2009), no valor de R$ 245.789,76 (duzentos e quarenta e cinco mil, setecentos e oitenta e nove reais e setenta e seis centavos); No Termo de Verificação Fiscal de fls. 43 a 77, parte integrante dos autos de infração, o autuante apresenta as informações a seguir. DO HISTÓRICO a) em 03/04/2012, o contribuinte foi intimado a apresentar os livros e documentos listados no Termo de Início de Ação Fiscal (fls. 83/85): arquivos digitais relativos aos registros contábeis de 2006 e 2007, e de notas fiscais de 2006 a 2010; contrato social/estatuto e suas alterações/consolidações; atas de reuniões diversas; LALUR; balanço patrimonial e DRE; declaração expressa acerca da existência de ação judicial relativa a IRPJ e demais tributos administrados pela Receita Federal do Brasil RFB; contratos de prestação de serviços com a empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., CNPJ 08.578.708/000136, bem como, notas fiscais e comprovantes de Fl. 5375DF CARF MF 6 pagamento com a indicação/apresentação do documento de liquidação; demonstrativo em papel e meio magnético contendo a relação das notas fiscais do item 12, as datas das respectivas prestações de serviços, os valores dos respectivos pagamentos e as retenções dos tributos administrados pela RFB. Após dilação do prazo para a apresentação do quanto requerido, a solicitação foi atendida em 01/06/2012 (fls. 91/97); b) no momento da ciência pessoal da intimação, constatou se que os funcionários da MC Assessoria estão fisicamente lotados no mesmo endereço do contribuinte, constatação esta que foi corroborada pela Sra. Rita dos Santos Campos, supervisora contábil do Grupo empresarial; c) em 04/05/2012 o contribuinte apresentou parte do quanto solicitado, restando pendente os arquivos digitais, peças judiciais, entre outros; d) em 18/05/2012, o contribuinte foi intimado (Termo de Intimação Fiscal nº 0001, de fls. 88/89) a apresentar arquivos digitais referentes à folha de pagamento, livros registros de empregados, entre outros, e após dilação de prazo para apresentação do quanto requerido, a solicitação foi atendida em 14/06/2012; e) em 29/06/2012, o contribuinte foi intimado, mediante Termo de Intimação Fiscal nº 0002 (fls. 105/106) a apresentar, entre outros, arquivos digitais relativos aos registros contábeis de 2006 e 2007, em consonância com legislação em vigor, demanda não atendida desde o Termo de início; cópias da inicial e das decisões ocorridas nos processos em que litiga, bem como certidão de objeto e pé; demonstrativos indicando rubricas que compuseram o cálculo dos créditos de PIS e Cofins, referentes aos anos 2007 a 2009. Em 12/07/2012 o contribuinte apresentou mídia contendo arquivos diversos, inclusive os registros contábeis, todavia sem sucesso, mormente exibir erros nestes registros referentes ao ano de 2007, e entre os dias 12 e 20/07/2012, apresentou parte do quanto requerido neste Termo de julho; f) em 27/08/2012, o contribuinte foi intimado (Termo de Intimação Fiscal nº 0003, de fls. 125/126) a apresentar demonstrativo identificando as rubricas que compuseram o cálculo dos débitos e créditos de PIS e COFINS, referentes aos anoscalendário 2007 a 2009, e a informar rubrica contábil referente aos lançamentos de retorno de financiamento, bem como classificação destas receitas, entre outros; g) decorrido o prazo legal, inclusive a dilação do prazo deferida, constatouse que o contribuinte não cumprira o pactuado, por isso, em 08/10/2012 foi reintimado pessoalmente, mediante Termo de Reintimação Fiscal nº 0001 (fls. 128/129) a apresentar o quanto requerido, tendo apresentado no prazo pactuado, o quanto solicitado; h) em 19/11/2012, o contribuinte foi intimado (Termo de Intimação Fiscal nº 0004, de fls. 248/249) a apresentar notas fiscais relativas aos serviços tomados ante a empresa MC Assessoria, entre outros. Na referida intimação foi integrada a Fl. 5376DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.374 7 constatação realizada nas sedes das empresas Anira Veículos Ltda., Morena Veículos Ltda. e MC Assessoria. No curso do mês de dezembro de 2012 o contribuinte apresentou o quanto solicitado; i) em 19/12/2012, o contribuinte foi cientificado pessoalmente (Termo de Constatação Fiscal nº 0001, de fl. 242, da inclusão, na presente Fiscalização, dos tributos PIS e COFINS, referentes aos anoscalendário 2008 e 2009, bem como do IRPJ e da CSLL, anocalendário 2007. A empresa MC Assessoria foi intimada a retificar DCTF relativa ao 2º trimestre de 2009, referente ao IRPJ e CSLL, e assim o fez. DO DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO FISCAL. A auditoria realizada demonstrou a ligação entre as empresas Morena Veículos Ltda. e MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., bem como os efeitos tributários no que se refere à dedução de despesas com prestação de serviços tomados da MC Assessoria. Do controle direto exercido pela Morena Veículos Ltda. em relação à MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda: Após diversas alterações e consolidações contratuais, em 22 de dezembro de 2006, mediante a 11ª alteração do Contrato Social da Morena Veículos, as participações na empresa ficaram consolidadas da forma indicada na tabela de fl. 46 e diagrama de fl. 47. Ainda de acordo com a cláusula 7ª da citada alteração contratual, a sociedade era administrada pelos sócios Srs. Modezil Ferreira de Cerqueira, Florisberto Ferreira de Cerqueira, Luiz José Pimenta, Modezil Rodrigues Ferreira e Cerqueira e Myllene Rodrigues de Cerqueira Telles de Souza, com as funções respectivas de Diretor Presidente, Diretor Superintendente, Diretor Financeiro, Diretor Comercial e Diretora Administrativa. Observase que entre a 11ª alteração do Contrato Social, datada de 22 de dezembro de 2006, e a 13ª alteração do Contrato Social, datada de 24 de julho de 2009, portanto, a última com impactos nesta Auditoria (de 2007 a 2009), não houve modificação significativa no quadro societário da empresa. Da Constituição da empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda.: A empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. foi constituída em 29/09/2006 e registrada na JUCEB em 12/01/2007, data esta também indicada nos dados cadastrais na Receita Federal do Brasil – RFB. Observase que a empresa está situada em endereço similar ao da Anira Veículos Ltda. (empresa controlada pela Morena Veículos) e tem como objeto a prestação de serviços de assessoria em gestão empresarial e possuía o quadro societário formado pela Morena Veículos Ltda., Jacuípe Veículos Ltda., Norauto Veículos Ltda., Anira Veículos Ltda e Norauto Caminhões Ltda, com os percentuais indicados na tabela de fl. 47. Fl. 5377DF CARF MF 8 Em 10/07/2007, de acordo com a 1ª alteração do Contrato Social da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., os sócios acima mencionados retiraramse da sociedade, cedendo suas cotas para as seguintes pessoas físicas: Modezil Ferreira de Cerqueira (30%), Florisberto Ferreira de Cerqueira (30%), Modezil Rodrigues Ferreira de Cerqueira (15%), Myllene Rodrigues de Cerqueira (15%) e Luiz José Pimenta (10%). Esta alteração contratual foi a última a ter efeito nos períodos compreendidos nesta auditoria. Constatase que a empresa MC Assessoria possui sócios idênticos aos da Morena Veículos Ltda, exceção feita à Srª Solange Rodrigues de Souza, exesposa do Sr. Modezil Ferreira de Cerqueira, diretor presidente desta. Resumese esta situação no diagrama de fl. 48. Resta claro que o controle das empresas Morena Veículo Ltda e MC Assessoria, no período compreendido por esta Auditoria, é exercido pelos mesmos quotistas, exceção feita à Srª Solange Rodrigues de Souza, e que a gestão dos negócios é realizada pelos Srs. Modezil Ferreira de Cerqueira, Florisberto Ferreira de Cerqueira, Modezil Rodrigues Ferreira de Cerqueira, Myllene Rodrigues de Cerqueira e Luiz José Pimenta. Da artificialidade na constituição da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. Conforme já mencionado, a empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. foi constituída em janeiro de 2007, todavia, apenas em 15 de junho do corrente ano houve integralização de capital no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), de acordo com Razão da conta “Capital Registrado”, código 2301010001. De acordo com análise realizada nos arquivos digitais de folha de pagamento apresentados pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. é possível perceber que a empresa iniciou suas atividades com 46 funcionários (dados limitados até 11/06/2007), sendo que 42 deles oriundos do próprio grupo econômico, conforme mostra a planilha de fls. 49/50. Ainda de acordo com os citados arquivos de folha de pagamento, os funcionários transferidos das empresas do grupo econômico para a empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., continuaram a receber, em sua grande maioria, os mesmos proventos. No caso específico da Morena Veículos Ltda., os 24 funcionários transferidos receberam proventos, em maio de 2007, no valor de R$ 33.675,93 (trinta e três mil, seiscentos e setenta e cinco reais e noventa e três centavos) ao tempo em que é possível verificar que estes mesmos funcionários passaram a auferir, após a transferência para a empresa MC Assessoria, o equivalente a R$ 36.049,19 (trinta e seis mil, quarenta e nove reais e dezenove centavos), gerando aumento de 6,58% nas despesas com pessoal. Frisase que não houve alteração dos cargos após as transferências. Resta claro ter havido apenas transferência de funcionários entre empresas do próprio grupo, principalmente quando se observa a data de admissão destes na MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., anterior a sua constituição de fato. Observase ainda que todos os funcionários transferidos, bem como os novos contratados pela MC trabalham fisicamente nas Fl. 5378DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.375 9 dependências da empresa Morena Veículos Ltda, que inicialmente a constituiu e, posteriormente, mantém sócios e diretoria comuns com a MC, demonstrando cabalmente que as três empresas são parte integrante do mesmo grupo econômico, formado ainda por Anira Veículos Ltda., Jacuípe Veículos Ltda., Norauto Veículos Ltda., Norauto Caminhões Ltda., Jubiabá Veículos Ltda., Brune Veículos Ltda. e Jubiabá Autos e Comércio Ltda. Em 3 de abril de 2012, esta auditoria compareceu ao endereço cadastral da empresa Anira Veículos Ltda. e constatou que a empresa MC Assessoria está localizada fisicamente nas dependências daquela, no segundo andar. Inquirido, o Sr. Aurivalter C. P. Silva Júnior, Diretor Executivo da Anira Veículos Ltda., acerca da localização da empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., se limitou a dizer que a mesma funciona numa sala, com uma mesa e algumas cadeiras e, que não há responsável pela gerência naquele local. Ressaltase que esta Auditoria lavrou Termo de Intimação Fiscal n° 0004, cuja ciência ao contribuinte (Morena) se deu de forma pessoal, contendo constatação acerca do que fora observado na visita retromencionada, todavia, não houve qualquer manifestação por parte da empresa. Salientase que a Sra. Rita dos Santos Campos, Supervisora Contábil do grupo, corroborou a informação de que os funcionários lotados na área contábil/financeira, inclusive staff, das empresas investigadas nesta auditoria trabalham nas dependências da empresa Morena Veículos Ltda., exceção feita aos funcionários da empresa TV Subaé Ltda., localizada no município de Feira de Santana Bahia. A empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda foi intimada pessoalmente, através de Termo de Intimação Fiscal n° 0004, a apresentar cópias das contas de luz e aluguel, bem como informar motivo da constituição da empresa, já que funciona no mesmo local e dispõe de quadros societário idêntico ao das empresas tomadoras do serviço. Em resposta a intimação fiscal, a empresa MC informa que não possui contas de luz, utilizando, portanto, a energia da cedente Anira Veículos Ltda. Apresenta ainda, contrato de cessão de uso sem ônus do espaço físico referente ao imóvel localizado a Via Urbana, n° 5.520, Centro Industrial de Aratu, Cia Sul, Simões Filho Bahia, de propriedade da empresa Anira Veículos Ltda. Em relação ao motivo da constituição da citada empresa, o contribuinte alega que a sociedade foi criada para promover gestão integrada dos partícipes do grupo econômico, entre outros. Da análise da escrita contábil da empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda, é possível perceber que os saldos das contas de luz e aluguéis estão zerados, ou seja, não apresentaram movimentação. Ressaltase que estas contas apresentaram o mesmo padrão em 2008 e 2009. Fl. 5379DF CARF MF 10 Em 19 de novembro de 2012, a empresa Morena Veículos Ltda. foi intimada, através de Termo de Intimação Fiscal n° 0004, a apresentar o relatório de atividades desenvolvidas pela empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., respondendo inicialmente, de modo verbal, através do procurador Sr. José Carlos dos Santos Campos, que não dispunha de tal controle essencial para existência/dedutibilidade de despesas contabilizadas e deduzidas da base de cálculo do lucro tributável. Todavia, após diversos contatos, em 29 de novembro de 2012, o contribuinte apresentou arrazoado apócrifo cujo teor versava sobre rol de serviços genericamente prestados referente a cada área operacional da empresa, tais como, Contabilidade, Escritório pósvendas, entre outros. Frisase que as notas fiscais emitidas pela prestadora para a contratante não discriminam os serviços desenvolvidos, contendo apenas indicação genérica de prestação de serviços. Concluise, portanto, que o arrazoado produzido não demonstra quais serviços são realizados, os custos, tampouco a mão de obra envolvida, não se prestando a comprovar a efetividade da prestação. Outrossim, não se pode olvidar que as tarefas elencadas no arrazoado, genericamente, são idênticas as prestadas por qualquer funcionário em uma empresa. Analisandose as DIPJ, ano calendário 2007, das diversas empresas do grupo, constatase que a responsável pelo preenchimento das informações ali contidas é a Sra. Rita dos Santos Campos, Supervisora Contábil do grupo, anteriormente lotada na empresa Morena Veículos Ltda. e transferida para a empresa MC Assessoria. Frisase que o correio eletrônico informado nas DIPJ citadas é idêntico, qual seja, CONTABILIDADE@MORENAVEICULOS.COM.BR. Converge ainda, na linha de artificialidade na constituição da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., o fato do responsável pelo envio das GFIP desta ser a empresa Morena Veículos Ltda., personificada pela Sra. Rosane Ferreira Andrade, Supervisora de Pessoal, admitida no quadro de funcionários desta em 17/06/1997 e transferida para aquela em 01/06/2007. Ressaltase que esta situação (envio das GFIP da MC pela Morena Veículos) se manteve até o mês de outubro de 2007, voltando a acontecer em novembro de 2009 e nas informações do 13º do mesmo ano. Estas constatações demonstram cabalmente, no mínimo, a confusão patrimonial que existia entre as empresas acima citadas. Salientase, ainda, que a responsável pelo envio das GFIP da empresa Morena Veículos Ltda também ser a Sra. Rosane Ferreira Andrade. Diante do exposto, restou comprovado que a empresa MC Assessoria possui endereço cadastral no mesmo local da Anira Veículos Ltda., não possui qualquer estrutura física/operacional condizente com uma empresa prestadora de serviços, tais como despesas de luz, aluguel, ou qualquer outra comum à atividade empresarial. Ressaltase que de acordo com a DRE 2007, apresentada pela empresa MC Assessoria, só é possível observar despesas com pessoal (ordenados da administração e bolsa de estagiários) e seus encargos, bem como pagamento de tributos. Fl. 5380DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.376 11 Constatouse, ainda, que a MC Assessoria iniciou suas atividades com a transferência de funcionários das empresas para as quais prestaria serviço, cuja remuneração destes alterou infimamente, com auferimento de receitas e elevada margem de lucro. Observase, por fim, mas não de forma exaustiva, que a empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. utiliza as dependências físicas da empresa Morena Veículos Ltda, bem como presta os mesmos serviços que os funcionários transferidos prestavam na lotação anterior (empresas do grupo econômico), inclusive com mesmos proventos. Merece ainda atenção o fato de que todo o atendimento a esta Auditoria para prestação de informações foi realizado pela mesma pessoa, qual seja, Rita dos Santos Campos, Supervisora Contábil do grupo. Estas afirmações estão corroboradas, entre outros, pelos seguintes fatos: a) envio das GFIP por pessoa comum ao grupo (Rosane Ferreira Andrade); b) envio das DIPJ por pessoa comum ao grupo (Rita dos Santos Campos); c) manutenção dos proventos pagos (diferença de 6,58%) antes da constituição da MC e após a transferência dos funcionários acima mencionados em planilha; d) data de admissão dos funcionários na empresa MC Assessoria convergente com a data de admissão na antiga lotação conforme dados obtidos nos arquivos de folha de pagamento apresentado pelas empresas do grupo investigado; e) ausência de relatórios de atividades comprovando a efetividade dos serviços prestados, requisito essencial à idoneidade da despesa contabilizada e deduzida do lucro tributável, bem como, identificação genérica dos serviços prestados no corpo das notas fiscais; f) gestão dos negócios realizada pelos mesmos responsáveis, quais sejam, Srs. Modezil Ferreira de Cerqueira; Florisberto Ferreira de Cerqueira, Luiz José Pimenta, Myllene Rodrigues de Cerqueira Telles de Souza e Modezil Rodrigues Ferreira de Cerqueira, todos quotistas das empresas investigadas por esta Auditoria; g) prestação de serviços pela empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. apenas a empresas do grupo econômico com elevada margem de lucro. Esta Auditoria comprova ao término deste Termo de Verificação Fiscal que a empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., não existe de fato, tendo sido constituída apenas com fito de reduzir tributos e maximizar distribuição de lucros aos quotistas, utilizandose do instituto da simulação para consecução dos objetivos. Fl. 5381DF CARF MF 12 Da consolidação das operações de prestação de serviços entre as Empresas MC Assessoria Gestão Empresarial Ltda (prestadora) e a Morena Veículos Ltda (tomadora) e a consequente infração de glosa de despesas não necessárias/existentes: Nos tópicos anteriores, esta Auditoria demonstrou que os quotistas da empresa Morena Veículos Ltda. controlam a MC Assessoria bem como a administram, conforme Contrato Social. Ainda de acordo com o que já foi constatado, a empresa MC Assessoria foi constituída em endereço idêntico ao da Anira Veículos Ltda. (controlada pela Morena Veículos), sem capacidade operacional, com o objetivo de oferecer os mesmos serviços que já eram prestados pelos funcionários nas lotações anteriores, repisese, empresas do mesmo grupo econômico. Ademais, constatouse ainda que os proventos dos funcionários transferidos das empresas do grupo econômico para a empresa MC Assessoria não se modificaram na grande maioria. Analisandose a questão profundamente, é possível perceber que a empresa Morena Veículos Ltda. possuía gasto com pessoal (proventos verificados nos arquivos de folha de pagamento apresentados, referentes ao 24 funcionários transferidos) no valor de R$ 171.061,61 (cento e setenta e um mil, sessenta e um reais e sessenta e um centavos) até maio de 2007, ou seja, antes do início das atividades da empresa MC Assessoria. Observase que após o citado início de atividades da MC, a Morena Veículos Ltda. transferiu 24 funcionários para a MC, cujos proventos, após a transferência, totalizaram R$ 300.076,65 (trezentos mil, setenta e seis reais e sessenta e cinco centavos), em oito meses. Todavia, constatouse que a despesa contabilizada, com a tomada de serviços, na empresa Morena Veículos Ltda., totalizou R$ 1.525.624,39 (um milhão, quinhentos e vinte e cinco mil, seiscentos e vinte e quatro reais e trinta e nove centavos). Da análise realizada nos arquivos de folha de pagamento apresentada pela empresa Morena Veículos Ltda., é possível perceber que todos os funcionários da área contábil/financeira, inclusive staff, estão lotados ali, sugerindo então que toda despesa com pessoal estava sendo registrada e deduzida dos resultados auferidos por esta empresa. As notas fiscais de prestação dos serviços emitidas pela empresa MC Assessoria sequer discriminam os serviços prestados e, em resposta a intimação, a empresa Morena Veículos Ltda. se limitou a apresentar arrazoado contendo rol de atividades, em tese, realizadas por setores da empresa. Por si só, este preâmbulo já seria suficiente para glosar as despesas com a citada prestação de serviços, pela falta de sua efetiva comprovação, através dos relatórios de atividades desenvolvidas na atividade comercial, que se tornam mais importantes, sobretudo, por se tratar de empresas de um mesmo grupo econômico. Todavia, demonstraremos, em detalhe, a real intenção das empresas ao constituir uma empresa de prestação de serviços sob controle comum. Inicialmente, observase que a Morena Veículos Ltda. é tributada pelo Lucro Real Anual, com recolhimento de Fl. 5382DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.377 13 estimativas mensais, conforme se depreende da ficha 01 da DIPJ ano calendário 2007, portanto, tem seu lucro tributável reduzido pelas despesas contabilizadas e não adicionadas ao Livro de Apuração do Lucro Real – LALUR. Notase, no caso em tela, que não se verifica qualquer adição a título de despesas com prestação de serviços no referido livro. Da análise realizada na escrita contábil, relativa ao ano calendário 2007, apresentada pela Morena Veículos Ltda., percebese que as citadas despesas estão contabilizadas na conta "LEGAIS E PROFISSIONAIS", código n° 462101010121, e, que reduzem o lucro tributável no montante de R$ 1.525.624,39. No outro lado desta questão surge a constituição, em tese, da empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., que de acordo com a DIPJ ficha 01, página 01, fez opção por tributar seu lucro de forma presumida, com recolhimentos trimestrais. Da análise do artigo 51, parágrafo 2º, da Instrução Normativa SRF n° 11, de 21 de fevereiro de 1996, constatase que, no caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido ou arbitrado, a parcela dos lucros ou dividendos que exceder o valor da base de cálculo do imposto, diminuída de todos os impostos e contribuições a que estiver sujeita a pessoa jurídica, também poderá ser distribuída sem a incidência do imposto, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pela qual houver optado, ou seja, o lucro presumido ou arbitrado. De acordo com o regramento acima descrito, o lucro contábil pode ser distribuído sem a incidência de impostos. No caso concreto, conforme já mencionado, a empresa Morena Veículos Ltda. transferiu 24 funcionários para a empresa MC Assessoria, cujos ganhos em sete meses (junho a dezembro), nesta, equivaleram aproximadamente a R$ 300.076,65 (trezentos mil, setenta e seis reais e sessenta e cinco centavos), portanto, incorrendo em despesas deste montante, em contrapartida auferindo receitas R$ 1.525.624,39 (um milhão, quinhentos e vinte e cinco mil, seiscentos e vinte e quatro reais e trinta e nove centavos). Ocorre que com a constituição da empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., este ganho é tributado para fins de IRPJ e CSLL de forma mais benéfica, conforme se observa nos demonstrativos 1 e 2, de fls. 55/56. Observando os demonstrativos citados, percebese que a despesa transferida para a empresa MC Assessoria (24 funcionários) não tem efeito na tributação no primeiro momento (Lucro Real negativo), todavia, reduz as compensações futuras de prejuízos fiscais, que ocorreram a partir de março de 2008, conforme se verifica no LALUR apresentado. O demonstrativo nº 2 (fl. 56) mostra o benefício auferido com a constituição da empresa MC Assessoria, que, além de reduzir a tributação do grupo econômico, apura um lucro contábil bem Fl. 5383DF CARF MF 14 superior ao lucro presumido, possibilitando uma distribuição favorecida aos sócios. Constatase que o lucro a distribuir representa cerca de 83% da receita auferida, da forma que a operação foi realizada, e que a relação entre tributos a recolher e Lucro Líquido a distribuir equivale a aproximadamente 20,00%. Após estes esclarecimentos, resta claro que o objetivo da constituição da empresa MC Assessoria é transformar despesas com pessoal de empresas optantes pelo Lucro Real em receitas de prestação de serviço com tributação favorecida e alta margem de lucro para distribuílo aos quotistas comuns. Outrossim, ressaltase que há vantagem econômico/financeira substancial, no que se refere à redução da tributação das empresas optantes pelo Lucro Real, em face da criação de despesas elevadas com prestação de serviços. Do todo acima exposto, concluise que a constituição da empresa MC Assessoria se deu apenas no papel, respeitando as formalidades legais, todavia, restou comprovado que de fato a empresa não existe e cumpre apenas seu objetivo de redução da tributação e aumento da distribuição de lucros de forma ilícita. Insta salientar que esta conduta perpetrada pela empresa Morena Veículos Ltda. tem como consequência a glosa de despesas com a referida prestação de serviços e lavratura de Auto de Infração, referentes aos anos calendário 2007 a 2009, conforme planilha a seguir. Conforme mencionado acima, de acordo com os arquivos digitais de folha de pagamento apresentados pela empresa Morena Veículos Ltda, todos os funcionários da área contábil/financeira estavam ali lotados, todavia, estes prestavam serviços para todas as empresas do grupo, exceto a TV Subaé Ltda. Por isso, entende esta Auditoria que existem despesas de pessoal a serem rateadas por todas as empresas do grupo. O critério utilizado por esta auditoria é reduzir o montante relativo a lavratura do Auto de Infração dos tributos (IRPJ e CSLL) efetivamente declarados em DCTF e/ou pagos pela empresa MC Assessoria, que de fato não existe, proporcionalmente ao faturamento das referidas empresas, situação que se encontra sintetizada nos demonstrativos de fl. 57. Da simulação e consequente glosa das despesas com a prestação de serviços tomados da empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda, inexistente de fato. De acordo com todo o acima exposto, não resta qualquer dúvida que a empresa MC Assessoria não existe de fato, e, que foi Fl. 5384DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.378 15 constituída com objetivo de reduzir a carga tributária do grupo econômico e maximizar a distribuição de lucros/dividendos. Esta afirmação se baseia em diversos aspectos já pormenorizados neste Termo de Verificação Fiscal, cuja consequência é a glosa da referida despesa. Anteriormente à constituição da empresa MC Assessoria, a empresa Morena Veículos Ltda. deduzia do lucro tributável suas despesas com pessoal, entre outras. Posteriormente à constituição daquela foi possível planejar, de forma ilícita, o montante a deduzir do lucro real, cuja consequência é a redução da carga tributária desta, bem como a elevação da distribuição de dividendos, mediante apuração de altos lucros na empresa recém criada, a MC, optante pelo Lucro Presumido. No curso deste procedimento fiscal, ficou comprovado, consoante conjunto probatório vasto, que a empresa MC Assessoria presta os mesmos serviços outrora prestados pelos funcionários integrantes do grupo econômico, porém, com elevado custo para os optantes do lucro real. Ressaltase que o mais importante é que os serviços prestados não foram devidamente comprovados, através de relatórios de atividades, requisito essencial para dedução das despesas nas empresas optantes pelo lucro real. Outrossim, percebese que a indicação dos serviços prestados no corpo das notas fiscais fora feita de forma genérica. Não se pode olvidar que o contribuinte simulou a prestação dos referidos serviços cumprindo as formalidades legais, com objetivo claro de redução da carga tributária e maximização da distribuição dos lucros e dividendos. Neste caso, observase claramente que substância e forma das operações, como foram realizadas, não se coadunam. Concluise que o negócio realizado aparentemente, ou, simulado, não subsistirá, ou seja, a prestação dos serviços realizados pela MC Assessoria de fato não ocorreu, consequentemente, impondose a glosa das despesas respectivas. O Código Civil do Brasil, aprovado pela Lei n° 10.406, de 2002, estabelece que: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; (...) A essência do negócio jurídico ocorrido foi a criação de despesas não comprovadas, através de atos simulados, cujo objetivo maior era a redução da carga tributária, conforme relato. Fl. 5385DF CARF MF 16 A simulação, tal qual se verifica na espécie, pressupõe que se procure fingir, disfarçar, mostrar o irreal como verdadeiro, dissimular a verdade. No campo eminentemente privado, os atos anuláveis podem ser retificados, ou seja, as partes podem corrigir os vícios neles existentes, de forma a se compatibilizarem com a vontade da lei. De outra parte, o ato nulo é insanável, de modo que o ato simulado é nulo, não podendo produzir qualquer efeito, nem ser sanado. O artigo 109 do Código Tributário Nacional dispõe, in verbis: Os princípios gerais de direito privado utilizamse para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários. (...) Art. 118, do referido Código dispõe, in verbis: A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindose: I da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos; II dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. O texto reproduzido traz as linhas gerais de interpretação e aplicação da legislação tributária aos fatos econômicos, quando intervém atos jurídicos simulados. O artigo 109 determina que os princípios gerais de direito privado não devem ser utilizados para definir ou conformar os efeitos tributários de seus institutos, conceitos e formas. Portanto, os fatos relevantes para o nascimento da obrigação tributária (fatos econômicos, essencialmente) devem ser analisados com abstração das formas jurídicas sob as quais se apresentarem, sempre que a realidade econômica dos fatos, subjacentes à forma jurídica utilizada, se mostrarem vigorosamente distintos da roupagem jurídica que lhes foi imposta, mormente com artificialidade evidente. Ainda é possível observar que o artigo 149, inciso VII, do referido Código dispõe que o lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação. Neste contexto impõese a glosa das despesas com a tomada de serviços prestados, em tese, pela empresa MC Assessoria, mormente inexistir tal operação. As alterações nos valores das bases de cálculo do IRPJ e CSLL após a apropriação dos resultados desta fiscalização (infrações apuradas), bem como suas respectivas compensações, estão detalhadas nos demonstrativos do Sistema de Acompanhamento Fl. 5386DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.379 17 de Prejuízo, Lucro Inflacionário e Base de Cálculo Negativa da CSLL SAPLI da RFB. Observase, ainda, que o contribuinte informou em DIPJ 2009, anocalendário 2008, prejuízo fiscal no valor de R$ 11.068,96, todavia constatouse divergência em relação ao LALUR que apresenta Lucro Real no montante de R$ 41.236,67, por isso esta Auditoria constitui crédito tributário cuja infração foi a não declaração deste resultado operacional. Do Enquadramento Legal: Infração Glosa de Despesa não comprovada/existente na apuração do IRPJ: • Artigos 247; 248; 249, inciso I; 251; 277; 278; 299 e 300 do RIR/99; • Artigos 109; 116; 118 e 149 do CTN. Infração Glosa de Despesa não comprovada/existente na apuração da CSLL: • Artigo 2º e 3º, inciso II, da lei 7.689 de 15 de dezembro de 1988 e alterações posteriores; • Artigo 57, da Lei 8.981 de 20 de janeiro de 1995 e alterações posteriores; • Artigo 1º da Lei 9.316 de 22 de novembro de 1996; • Artigo 28, da Lei 9.430 de 27 de dezembro de 1996. Da qualificação da multa de ofício pela prática de Sonegação, Fraude e Conluio: A Morena Veículos Ltda. apura seu resultado fundamentado no Lucro Real Anual com pagamento de estimativas mensais calculadas com base em balanços de redução/suspensão. Este resultado é composto por contas de resultado representado por receitas, despesas e custos, cujo confronto ajustado concebe o fato gerador do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. As condutas supracitadas do contribuinte tiveram a finalidade, de impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais, além de excluir ou modificar as características essenciais do fato gerador, de modo a reduzir o montante do imposto devido, a evitar ou diferir o seu pagamento, conforme descrição abaixo. De acordo com todo arrazoado produzido, não resta qualquer dúvida que a empresa Morena Veículos Ltda. participou, inicialmente, da constituição da empresa MC Assessoria, todavia, em seguida cedeu suas quotas para seus gestores, que Fl. 5387DF CARF MF 18 por sua vez a controlam diretamente, configurando assim o supracitado grupo econômico. Ato contínuo à constituição da referida empresa, observase que os serviços anteriormente executados por funcionários próprios passaram a ser executados por valores muito superiores pela empresa recém criada. Contudo, constatouse que os funcionários desta vieram transferidos das empresas agora tomadoras dos serviços. Restou comprovado ainda que a prestadora de serviços não existe de fato, sendo constituída de forma simulada, para atender a objetivos específicos do grupo econômico. O processo de constituição da empresa MC Assessoria se baseou nas benesses concedidas pelo artigo 51, parágrafo 2º, da Instrução Normativa SRF n° 11, de 21 de fevereiro de 1996, que possibilita a distribuição do lucro contábil quando superior ao presumido. Diante deste regramento, algumas empresas pertencentes ao grupo econômico, quais sejam, Morena Veículos Ltda., Norauto Veículos Ltda.; Jacuípe Veículos Ltda.; Morena Veículos Ltda.; Anira Veículos Ltda. e Norauto Caminhões Ltda., estabeleceram que deveriam criar uma situação jurídica para se beneficiar diante do universo legal posto. A forma encontrada para conseguir o intento foi constituir fictamente uma empresa optante pelo lucro presumido para prestar serviços apenas a empresas ligadas com elevada margem de lucro. Percebese que o grupo econômico demonstrou no papel, através de operações formais, uma intenção que não foi corroborada com os atos efetivamente praticados, ou seja, essência e forma não se coadunam. Os atos públicos praticados não tiveram outra finalidade, se não esconder/dissimular os verdadeiros. Após a leitura deste Termo de Verificação Fiscal não resta qualquer dúvida que a empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. não existe de fato e que seus atos são nulos. Esta conduta intencional de criar operações sem qualquer substância econômica ou propósito negocial, a não ser o de elidir tributos, aumentou as despesas operacionais da Morena Veículos Ltda., reduzindo sensivelmente o valor do tributo a recolher, mediante comportamento doloso, tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais, bem como alteração das características fundamentais do fato gerador, qual seja, o lucro tributável. O artigo 71, da Lei 4.502 de 30 de novembro de 1964, dispõe o seguinte, in verbis: Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: Fl. 5388DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.380 19 I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. O artigo 72, da Lei 4.502 de 30 de novembro de 1964, dispõe o seguinte, in verbis: Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Neste cenário observase ainda que o artigo 73, da referida Lei, dispõe o seguinte, in verbis: Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. Entende esta Auditoria, consoante arrazoado elaborado neste item e em todo o trabalho realizado, que a conduta intencional adotada pela Morena Veículos Ltda. para reduzir seu lucro tributável encaixase com perfeição nos conceitos acima mencionados. Assim, concluise que de acordo com artigo 44, inciso II, da lei 9.430 de 27 de dezembro de 1996, com nova redação dada pela lei 11.488, de 15 de junho de 2007, a multa de ofício será duplicada, mormente ter havido Sonegação, Fraude e Conluio praticada pelas empresas Morena Veículos Ltda, MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. e demais partícipes do grupo econômico. Da Infração referente à Multa pelo não pagamento de estimativas mensais de IRPJ e CSLL: Tendo em vista que, para os anos calendário de 2007 a 2009, a empresa optou pela forma de tributação do IRPJ e da CSLL com base no lucro real anual, com pagamento de estimativas mensais, e, em se considerando as infrações apuradas por esta fiscalização que alteram os resultados fiscais dos períodos e das estimativas citados, constatase que a empresa deixou de efetuar diversos pagamentos do IRPJ e da CSLL estimados. A falta do pagamento do IRPJ e da CSLL devidos mensalmente por estimativa está sujeita a multa de 50% sobre o valor que deixou de ser pago, conforme disposto no artigo 44 da Lei n° 9.430/1996, inciso II, alínea b, com a redação dada pelo artigo 14 da Lei n° 11.488, de 15/06/2007 (conversão da Medida Provisória n° 351 de 22/01/2007), que diz: Fl. 5389DF CARF MF 20 Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas multas: ... II – de 50% (cinquenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: ... na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. Corroborando entendimento do citado diploma legal, em 24 de dezembro de 1997, a Receita Federal do Brasil publicou Instrução Normativa SRF n° 93, cujo artigo 16, determina o seguinte: Art. 16. Verificada a falta de pagamento do imposto por estimativa, após o término do anocalendário, o lançamento de ofício abrangerá: I – a multa de ofício sobre os valores devidos por estimativa e não recolhidos; II o imposto devido com base no lucro real apurado em 31 de dezembro, caso não recolhido, acrescido de multa de ofício e juros de mora, contados do vencimento da quota única do imposto. Do todo acima exposto, serão cobradas as multas isoladas pela falta dos pagamentos das estimativas mensais do IRPJ e da CSLL, conforme constatação nos Demonstrativos de Apuração dos anoscalendários específicos, parte integrante deste Auto de Infração. DA CONCLUSÃO: Da analise da escrita contábil/fiscal e dos fatos acima expostos concluise que a despesa com prestação de serviços tomados da empresa MC Assessoria, nos moldes utilizados pela Morena Veículos Ltda, é indevida consoante diplomas legais vigentes. Em função desta constatação, foram recompostas as bases de cálculo do IRPJ e CSLL, glosandose as despesas acima citadas. A multa de ofício referente a esta infração foi duplicada nos termos do artigo 44, inciso II, da Lei 9.430/96, com nova redação dada pela Lei 11.488/2007, por entender esta Auditoria que houve Sonegação, Fraude e Conluio nas operações intragrupo realizadas. Ainda neste contexto, observase outra infração cometida pelo contribuinte cuja penalidade é a aplicação de multa isolada pelo não pagamento de estimativas mensais de IRPJ e CSLL. Dos Termos de Sujeição Passiva Solidária. Fl. 5390DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.381 21 Em razão da infração cometida pelo contribuinte, já descrita no Termo de Verificação Fiscal, foram lavrados os Termos de Sujeição Passiva Solidária contra os diretores da Morena Veículos Ltda.: Modezil Ferreira de Cerqueira Diretor Presidente (fls. 977/982), Florisberto Ferreira de Cerqueira Diretor Superintendente (fls. 983/988), Luiz José Pimenta Diretor Financeiro (fls. 989/994), Modezil Rodrigues Ferreira e Cerqueira Diretor Comercial (fls. 995/1000) e Myllene Rodrigues de Cerqueira Telles de Souza Diretora Administrativa (fls. 1001/1006). Nos referidos Termos encontrase descrita a conduta da empresa que resultou na autuação fiscal, já pormenorizadamente detalhada no Termo de Verificação Fiscal anteriormente citado e a razão da lavratura dos Termos de Solidariedade Passiva: • de acordo com a cláusula 7ª da 11ª alteração contratual a Morena Veículos Ltda. era administrada pelos Srs. Modezil Ferreira de Cerqueira, Florisberto Ferreira de Cerqueira, Luiz José Pimenta, Modezil Rodrigues Ferreira e Cerqueira e Myllene Rodrigues de Cerqueira Telles, com as funções respectivas de Diretor Presidente, Diretor Superintendente, Diretor Financeiro, Diretor Comercial e Diretora Administrativa; • entre a 11ª alteração do Contrato Social, datada de 22/12/2006 (fls. 348/354) e a 13ª alteração do Contrato Social, datada de 24/07/2009 (fls. 363/377), a última com impactos nesta Auditoria (anos de 2007 a 2009), não houve modificação significativa no quadro societário da empresa; • os artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30/11/1964, tratam da sonegação, fraude e conluio que consoante arrazoado elaborado neste item e em todo o trabalho fiscal realizado se encaixa com perfeição na conduta materializada; • a cláusula 17ª da 13ª alteração do Contrato Social dispõe que compete à Diretoria cumprir e fazer cumprir as cláusulas e condições deste contrato, com poder legal para garantir o regular funcionamento da sociedade, investidos de mais os seguintes: (a) Manter, sob sua guarda e responsabilidade, todos os títulos e valores mobiliários da sociedade; (b) Decidir sobre a celebração de contratos, convênios, acordos, empréstimos e financiamentos do interesse da sociedade; (c) Decidir sobre aquisição, locação, alienação, oneração ou gravame de bens imóveis; (d) Decidir sobre a lotação de pessoal; (e) Praticar todos os demais atos necessários ao exercício da administração social, exceto os que por lei sejam contrários aos Fl. 5391DF CARF MF 22 interesses da sociedade ou que, por esse contrato sejam de atribuição da Reunião de Quotistas. (grifos nossos). • a ata de reunião de sócios quotistas da Morena Veículos, datada de 24/04/2006, corroborada pela Ata de 30/04/2008, deliberou por votação unânime, eleger os diretores supracitados, por um período de dois anos renováveis, com início em 01/05/2006 e término em 01/05/2010; • de todo o exposto nos Termos de Solidariedade Passiva e no Termo de Verificação Fiscal, concluise que houve infração a lei em face do não cumprimento da legislação em vigor, mediante conduta simulada dos diretores empossados; • O artigo 135 do Código Tributário Nacional – CTN (Lei nº 5.172, de 25/10/1966), dispõe in verbis: Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I – as pessoas referidas no artigo anterior; II – os mandatários, prepostos e empregados; III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. Grifos nossos. • ante o exposto, restou caracterizada a sujeição passiva pessoal dos Modezil Ferreira de Cerqueira, Florisberto Ferreira de Cerqueira, Luiz José Pimenta, Modezil Rodrigues Ferreira e Cerqueira e Myllene Rodrigues de Cerqueira Telles, com as funções respectivas de Diretor Presidente, Diretor Superintendente, Diretor Financeiro, Diretor Comercial e Diretora Administrativa da Morena Veículos Ltda., nos termos do art. 135 da Lei nº 5.172, de 1966 (CTN). IMPUGNAÇÃO O contribuinte tomou ciência dos autos de infração em 27/12/2012 e apresentou a impugnação em 28/01/2013 (fls. 2123/2222), alegando, em síntese: • a nulidade da autuação, pela incompetência da autoridade administrativa para decretar a desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria e Gestão Empresarial Ltda, empresa prestadora de serviços, haja vista a necessidade de lei regulamentadora prevendo o procedimento para a decretação; • o impugnante integra um grupo de empresas estruturadas a partir de sistema de gestão pelo qual há uma empresa, a MC Assessoria, especificamente dedicada a prover as demais empresas nas necessidades de serviçosmeio e back office (serviços contábeis, de recursos humanos, tecnologia da informação, serviços gerais, dentre outros tipicamente abrangidos sobre uma estrutura de serviços compartilhados), Fl. 5392DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.382 23 através de uma Central de Serviços Compartilhados e Central de Compras; • a autoridade fiscal, compondo um cenário em que tal estrutura de serviços compartilhados consubstancia um suposto estratagema fraudulento, decretou a desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria, reputandoa "inexistente" e atribuindo suas atividades às empresas que contratam os seus serviços, ou seja, as empresas operacionais do grupo empresarial, dentre as quais o impugnante. Após cerca de nove meses de auditoria na contabilidade, documentos e atividades da contribuinte, a fiscalização, iniciada em 29/03/2012, restou concluída via lavratura de auto de infração que decretou a "inexistência" de uma terceira empresa fornecedora do impugnante e glosou as despesas contratadas pelo impugnante junto à MC Assessoria, para efeito de apuração do IRPJ e CSLL; • a autoridade autuante desconsiderou a existência jurídica da empresa MC Assessoria como ente personalizado, decretando a ineficácia dos seus atos constitutivos, e, conseguintemente, dos atos civis praticados pela empresa, inclusive o contrato de prestação de serviços celebrado com o impugnante, seus consectários obrigacionais e fiscais; • a decretação da desconsideração da personalidade jurídica para efeitos tributários, pela Autoridade Administrativa, é matéria regida pelo Código Tributário Nacional, em seu art. 116, parágrafo único, inserido pela Lei Complementar n° 104/2001. Ocorre que, consoante se infere da redação do dispositivo, a forma de decretação da desconsideração de atos ou negócios jurídicos visando dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo deverá observar "os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária". A norma, como se vê, carece de regulamentação. Sem a lei estabelecendo o procedimento, resta inaplicável a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos supostamente dissimulados; • em dado momento, foi editada a Medida Provisória n° 66/02, em cujos artigos 13 a 19 foram editados os dispositivos estabelecendo "Procedimentos Relativos à Norma Geral Anti Elisão", regulamentando, assim, a regra do art. 116 do CTN, mas durante o trâmite do diploma normativo nas instâncias legislativas, contudo, até a sua conversão na Lei n° 10.637/02, o texto referente à regulamentação do procedimento relativo à desconsideração foi suprimido, de modo que esta possibilidade de atuação da Autoridade Administrativa continua pendente de autorização no direito positivo. A propósito, é reiterado entendimento do CARF quanto à natureza do dispositivo do art. 116 do CTN, que, de eficácia limitada, queda inaplicável enquanto não sobrevier sua regulamentação; • pretender fugir ao regime jurídico do art. 116 do CTN e aplicar regras análogas a do Código Civil, para elidir a inaplicabilidade do regime fiscal de desconsideração, tampouco traz melhor sorte Fl. 5393DF CARF MF 24 à pretensão fiscal, pois, de logo, já se reputa prejudicada a aplicabilidade da legislação civil geral para a espécie, na medida em que a lei tributária é norma especial, quando se trata de ato de lançamento de obrigação tributária, não podendo, ante o princípio da especialidade, recusar a sua aplicação em prol de norma geral, tal qual a lei civil. Por sua vez, o regime de desconsideração da personalidade jurídica do direito civil, sobre não se aplicar preferencialmente ao regime tributário, ante o postulado da especialidade, requer, ainda mais, a decretação pela autoridade judicial, consoante se infere do art. 50 da codificação privada, a saber: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. • na mesma esteira, o regime jurídico de simulação, do art. 167 da lei civil, evocado pela autoridade autuante para fundamentar o seu ato de desconsideração da personalidade jurídica, também requer a intervenção do órgão do Poder Judiciário. De efeito, a simulação, enquanto vício, da vontade na produção do ato jurídico, é hipótese de nulidade, e como tal, não pode ser reconhecida senão por decisão do órgão jurisdicional, conforme determinado no art. 168, parágrafo único, do Código Civil; • demonstrase que nem mesmo a aplicação do regime geral de desconsideração, tampouco a hipótese de simulação, enquanto vício de vontade passível de macular o ato jurídico, ambos da lei civil, lastreiam a atuação da autoridade autuante no caso concreto, ao arrogarse competência para decretar veredicto normativo que, nos termos da lei, é privativo da autoridade judicial; • a autoridade fiscal decretou a desconsideração da personalidade jurídica da MC ASSESSORIA, reputandoa "inexistente", ao supostamente vislumbrar nesta estrutura de gestão de redundâncias e sinergias, com a otimização do atendimento às necessidades comuns de todas as empresas através de uma única estrutura hospedada por uma empresa focada exclusivamente em tais atividades meio, um suposto engenhoso esquema fraudulento, que pretendeu combater com o presente Auto de Infração; • ocorre que o procedimento administrativo em pauta, no qual se operou a análise das atividades do impugnante, que teve a sua contabilidade auditada e os recolhimentos tributários escrutinados, corresponde a procedimento administrativo em que o contribuinte fiscalizado, e, assim, parte no PAF que daí foi instaurado, é o próprio Impugnante, e não a MC Assessoria; • todas as alegações e supostos elementos que conduziram à autuação não se referem ao autuado, mas sim à MC Assessoria: quais as atividades da MC Assessoria? Ela prestava serviços? Ela tinha conta em banco? Ela tinha empregados em folha, Fl. 5394DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.383 25 quantos e desenvolvendo quais atividades? Ela tinha contratos com fornecedores? Quais os custos e despesas da MC Assessoria? Os custos e despesas estavam contabilizados? A MC Assessoria detinha contrato de prestação de serviços com as empresas do grupo? Ela emitia nota fiscal? A MC Assessoria declarava e recolhia os tributos sobre as receitas auferidas? Essas são as questões fundamentais para o deslinde do feito, porém, nenhuma dessas questões foi respondida pela auditoria realizada pela Autoridade Fiscal, exatamente porque sua análise se centrou na empresa fiscalizada e autuada e não a MC Assessoria; • demonstrase, destarte, a total incongruência do ato de lançamento: decreta a desconsideração da personalidade jurídica de uma empresa dentro de um procedimento fiscalizatório que tem como objeto uma outra empresa. Mutatis mutandis, é como se o Ministério Público movesse uma denúncia criminal contra Fulano de Tal, e, na peça acusatória, descrevesse como fundamento um ato cometido por Beltrano; • a incongruência, verdadeira inépcia do ato de lançamento, está expressa e simbolizada em uma constatação: um ato jurídico, ou é válido ou não é; ou é nulo ou não é. Não pode ser um e outro ao mesmo tempo. Temos, porém, que este mesmo Auto de Infração que decreta a nulidade da constituição da MC Assessoria foi lavrado contra 4 empresas, dentre as quais o impugnante, e deverá ainda ser, certamente, lavrado contra outras tantas, na medida em que o mesmo grupo empresarial é composto por mais 6 empresas que contratam os mesmos serviços junto à MC Assessoria; • lógico e coerente, do ponto de vista formal/procedimental, seria que fosse instaurado um procedimento de desconsideração contra a própria MC Assessoria, e, caso fosse afinal consumada a desconsideração, os lançamentos contra as empresas que contrataram seus serviços seriam meros reflexos. Agora, contudo, correse o risco, completamente inusitado, de que a MC Assessoria tenha decretada sua nulidade em um auto lavrado contra uma determinada empresa; e seja mantida, na apreciação dos outros autos de Infração, válida para as demais, ou vice versa!; • medida excepcional que é, a desconsideração da personalidade jurídica, inclusive na hipótese de alegada simulação, exige, como premissa fundamental de segurança, como método de máximo suporte fático e probatório do ato de desconsideração e a oferta do contraditório à pessoa cuja desconsideração é pretendida; • fato é que o procedimento administrativo instaurado contra um determinado contribuinte não é idôneo para decretar a desconsideração da personalidade jurídica de um outro contribuinte, totalmente alheio ao procedimento fiscalizatório epigrafado. Tratase de absoluta ineficácia do procedimento administrativo fiscal que pretende afetar a esfera jurídica de Fl. 5395DF CARF MF 26 outrem além daquele sujeito passivo que é objeto da auditoria, ficando patente o desvio de forma que enseja a nulidade. Vale ainda ressaltar que este auto de infração é modelo idêntico para as diversas empresas do grupo empresarial em epígrafe, que contratam serviços compartilhados nos mesmos moldes, perante a mesma MC Assessoria; • o fato é que o impugnante integra grupo empresarial composto por mais de uma dezena de empresas, preponderantemente do ramo do varejo automotivo. Tal cenário, que o fiscal autuante falhou em descrever com precisão, demanda, como um paradigma de gestão, eficiência e plataforma para a expansão das atividades e negócios do grupo empresarial, a instalação de uma central de serviços compartilhados para atender a todos os negócios existentes e àqueles a serem futuramente instalados; • as necessidades de um ambiente econômico crescentemente competitivo, em que os negócios, sobretudo aqueles que operam no varejo, via mera revenda, trabalham com margens de lucro cada vez mais exíguas, exigem uma estrutura de compartilhamento de serviçosmeio, ou seja, serviços que não dizem respeito ao negócio principal da empresa e geram redundâncias quando instalados em cada uma das unidades do grupo isoladamente. Uma empresa do grupo hospeda a central de serviços e fornece às demais unidades de negócio tais utilidades que geram demanda comum a todas elas, de modo que aquilo que o fiscal autuante pretendeu caracterizar como fraude não é senão o paradigma do mercado quando se trata de estrutura de gestão de serviçosmeio, administrativos e back office em grupos empresariais; • o autuante, revelando, reiteradamente, pouco rigor e descompromisso com a verdade material, sobre não escrutinar as bases econômicas e fáticas que pautaram a estrutura de serviços compartilhados fornecida pela MC Assessoria, tampouco, mantevese fiel à realidade, inclusive fiscal e contábil, dos fatos, quando pretendeu apurar o IRPJ e a CSLL do impugnante partindo da "inexistência" da MC Assessoria. De fato, para neutralizar a existência da MC Assessoria como pessoa jurídica autônoma, o autuante imputou os valores de IRPJ e CSLL pagos por esta empresa às empresas contratantes, inclusive o impugnante. Deveria, porém, além de haver imputado tais valores de IRPJ, fazêlo igualmente quanto aos demais tributos federais, inclusive PIS/Cofins e contribuições sociais, além de, igualmente, atribuir às contratantes também as despesas incorridas pela própria MC Assessoria, inclusive despesas com pessoal, fornecedores, e todas aquelas assim admitidas, como dedutíveis, pela legislação do IRPJ; • os dispêndios incorridos pela pessoa jurídica são, ou não, dedutíveis para efeito de apuração de IRPJ e CSLL na estrita medida em que se conformam aos critérios do art. 299 do Regulamento do Imposto sobre a Renda, aprovado pelo Decreto n° 3000/99 (RIR/99). Tratase de aspectos técnicos, de fundamental relevância, que a lavratura em momento algum considerou; Fl. 5396DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.384 27 • o lançamento manteve a sua verve persecutória quando determinou a aplicação da multa qualificada. Para tanto, atribuiu ao impugnante atos de sonegação e fraude com a aplicação da multa em dobro do art. 44, §1°, da Lei n° 9.430/96. A mansa jurisprudência do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), entende que a aplicação da multa qualificada requer a demonstração específica e inequívoca do dolo do contribuinte sob a forma da intenção de fraudar o Erário, logro probatório do qual a lavratura sequer se aproxima; • a lavratura está permeada de uma má compreensão generalizada da estrutura negocial e de gestão do impugnante, e do grupo de empresas que integra, o que, refletindo diretamente o modelo amplamente adotado no mercado, e reconhecido pela própria Receita Federal do Brasil, fornece o grau de incompatibilidade que a lavratura aufere a partir dos fatos que pautam a lide e das normas jurídicas que regem o tema, tudo o que, subsequente e especificamente, nas suas diversas nuanças e vertentes, restará demonstrado, como suficiente para o cancelamento da autuação; • o estabelecimento de uma estrutura de serviços compartilhados na MC ASSESSORIA não consubstancia mero capricho, muito menos engenho fraudulento como surpreendentemente pretendeu caracterizar o autuante, mas sim um passo do grupo empresarial, e da Impugnante como unidade de negócio nele inserida, visando atender a exigências inexoráveis da realidade de mercado, quanto à otimização dos custos do negócio via capitalização das sinergias e ganhos de escala tão necessários em um mercado que pratica margens cada vez mais estreitas, conforme relata no item III da impugnação “A racionalidade econômica e o propósito negocial da estruturação de central de serviços compartilhados, via MC Assessoria (fls. 2.144/2.168); • salta aos olhos que, após nove meses de auditoria dentro das diversas empresas do grupo empresarial, a fiscalização tenha passado ao largo das atividades e negócios realizados pela MC ASSESSORIA e, conseguintemente, da constatação do valor agregado pela empresa à estrutura do grupo. A mensagem que o Termo de Verificação Fiscal transmite para aquele que o lê é de que a MC Assessoria não detém custos nem despesas, não tem qualquer legitimidade contratual perante terceiros, não realiza qualquer operação ou negociação em prol do grupo de empresas, enfim, não desenvolve qualquer atividade; • apesar de haver sido objeto das diligências da autoridade fiscal, conforme atestam os Termos de Intimação anexos, endereçados pela fiscalização diretamente à MC Assessoria, em momento algum esta empresa foi, ela própria, retratada nos autos do PAF como uma entidade per se, com sua contabilidade, custos, despesas, contratos, ativos e passivos, analisados e auditados. Tal circunstância, ou seja, a virtual ausência da MC Assessoria do PAF, observase, foi utilizada pela fiscalização como plataforma de sustentação da pretensão fiscal empunhada Fl. 5397DF CARF MF 28 na autuação, baseada na desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria, por suposta "inexistência", o que explica porque a MC Assessoria não foi autuada, fosse a título de alvo da desconsideração, como codevedora ou qualquer outra modalidade; • a auditoria, dado que teve como alvo o impugnante, não analisou a contabilidade da MC Assessoria, que é empresa distinta, não arrolou os negócios em que esta figura, não abriu seus custos e despesas, que são insumos para a prestação dos serviços às demais empresas do grupo e justificam o preço cobrado e as despesas incorridas nas contratantes. A única referência, no Termo de Verificação Fiscal, às atividades da MC Assessoria, é o seu quadro de funcionários. E assim o faz a fiscalização no afã de comprovar a sua tese de que a MC Assessoria é mero repositório de empregados, sem qualquer atividade. Observase que a própria auditoria, ao identificar o quadro de empregados da MC Assessoria, e as funções que exercem, demonstra e reconhece que a empresa presta serviços e, mais ainda, quais os serviços que presta, exatamente aqueles que são objeto da função das pessoas ali arroladas e de cada uma das equipes que, podemos identificar, ali estão descritas. • é natural que, em se tratando da implementação de um compartilhamento intragrupo, os empregados que serão alocados à empresa hospedeira da Central de Serviços Compartilhados – CSC, sejam oriundos de cada uma das unidades que serão atendidas pela provedora dos serviços, dado que não há ruptura no relacionamento de um lado ou de outro, aproveitase a experiência acumulada pelo colaborador, garantese a sucessão trabalhista e os direitos dos empregados, e se alavanca o vínculo patrãoempregado a partir de uma relação pessoal já consolidada, pelo empregado, dentro do próprio grupo; • é de estranhar o questionamento da fiscalização quanto ao local de trabalho dos empregados da MC Assessoria, que se encontram baseados nas empresas contratantes. Se uma determinada empresa contrata com a KPMG, por exemplo, um outsourcing de compliance fiscal, onde será que os colaboradores cedidos vão trabalhar, escriturando os lançamentos, preenchendo as declarações, gerando os documentos de arrecadação e efetuando os recolhimentos? É evidente que as pessoas cedidas ficarão alocadas dentro do cliente, onde toda a documentação que é utilizada no diaadia do trabalho está baseada. A lógica utilizada pela fiscalização, para questionar os serviços contratados pelo impugnante e prestados pela MC Assessoria, diferente da lógica que pautou as empresas na estruturação da CSC, não guarda qualquer compromisso com a racionalidade econômica e o propósito negocial, não podendo se considerar compreensível sob uma perspectiva empresarial de desempenho e eficiência; • são inúmeras as transações, despesas, custos e negócios em geral que a MC ASSESSORIA celebra no mercado, sempre com a finalidade de prover serviços e centralizar despesas das empresas operacionais que compõem o Grupo MC. Apenas revendedoras de veículos, como já descrito nesta impugnação, Fl. 5398DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.385 29 são 14 unidades e estabelecimentos, cuja demanda por serviços de back office e fornecimento de insumos e outras utilidades, cada vez maior, é atendida pela MC Assessoria; • a MC Assessoria provê, efetivamente, utilidades às contratantes, via prestação de serviços realizada por seu quadro de empregados, cujas equipes e respectivas funções são identificadas e descritas no relatório da própria auditoria. Assim, no intuito de exaurir as informações relativas às atividades da MC Assessoria é de se escrutinar, e trazer a lume e ao crivo do julgador administrativo, suprindo omissão da auditoria fiscal neste ponto fundamental e caro à pretensão fiscal, as despesas, custos e atividades especificamente desenvolvidas pela citada empresa, demonstradas a partir da escrituração contábil, documentos e evidências que, disponibilizadas à fiscalização, foram ignoradas na lavratura. Objetivamente, temos que as atividades da MC Assessoria se centram em: Central de Serviços Compartilhados, prestados pela própria MC Assessoria via fornecimento de mãodeobra em serviçosmeio e central de compras e contratação de fornecedores comuns às diversas empresas do grupo; • todas as despesas, custos, contratos, negócios e atividades em geral, promovidas pela MC Assessoria, estão amparados e lastreados em documentos anexos, notadamente a contabilidade da empresa (Doc. N° 05), além de instrumentos, notas fiscais e documentos que formalizam as transações respectivas (Doc. N° 06). Finalmente, acompanha a presente impugnação Relatório de Especialista elaborado pela consultoria Ernst & Young Terco, avaliando e atestando todas as atividades desenvolvidas pela MC Assessoria, desde o seu estabelecimento até 2011, conforme anexo (Doc. N° 07); • a descrição do quadro de funcionários da MC Assessoria, com destaque para a função exercida, e a composição das equipes setoriais, representadas na folha de pagamento da empresa, comprovam e identificam os serviços prestados pela MC Assessoria, que compõem a Central de Serviços Compartilhados, tudo conforme descrição realizada pelo próprio autuante; • demonstrase, conforme relatório transcrito no Termo de Verificação Fiscal e folha de pagamento da MC Assessoria (anexa em Doe. N° 02), a prestação, a partir da força de trabalho da própria prestadora, dos seguintes serviços compartilhados, às demais empresas do grupo: (a) serviço de contabilidade; (b) serviço de compliance fiscal; (c) serviço de consultoria em recursos humanos; (d) serviço de tecnologia da informação; (e) serviço de crédito e cobrança; Fl. 5399DF CARF MF 30 (f) serviço de consultoria financeira e securitária (F&I). • o volume de serviços prestados pela MC Assessoria expandiu se significativamente desde a sua instalação, exigindo o aumento do seu quadro de empregados, ao longo dos anos. A empresa saiu de 46 empregados em 2007 para 127 empregados em 2011, conforme demonstram as folhas de pagamento anexas (Doc. N° 02), e destacado ainda pelo Relatório da Ernst & Young Terco, também anexo à presente (Doc. N° 07); • observase que, na linha de uma estrutura típica de serviços compartilhados, não se identifica a alocação ao CSC de atividades vinculadas ao negócio principal das empresas operacionais, ou seja, não houve incorporação, ao quadro de pessoal da MC Assessoria, de vendedores, gerentes de vendas, consultores de oficina, mecânicos e demais colaboradores vinculados ao core business das empresas. A estrutura de back office e serviços compartilhados deve se resumir a atividades meio, e assim se dá na MC Assessoria; • por meio da centralização dos relacionamentos com fornecedores diversos, de insumos, mercadorias e serviços comuns às empresas do Grupo MC, a MC Assessoria viabiliza ganho de escala e gestão uniformizada e centralizada dos processos de compras, agregando valor ao grupo via estruturação de uma central de compras e contratação de fornecedores comuns; • todas estas transações, operações, negociações e contratações estão devidamente documentadas e contabilizadas na empresa, e demonstram, reiteradamente, e em conjunto com as demais evidências já apontadas, a existência, necessidade e o valor da MC Assessoria dentro do grupo empresarial, como prestadora de serviços ao impugnante e às demais empresas do Grupo MC; • conforme lançamentos contábeis (Doc. N° 05 anexo), lastreados em instrumentos, notas fiscais e documentos que formalizam as transações respectivas, também colacionados aos autos (Doc. N° 06 anexo), identificamse diversas áreas de atuação da central de compras, como estrutura proporcionadora de escala na aquisição de insumos e contratação de fornecedores, dentre as quais podemos indicar as seguintes: (a) serviço de assistência médica aos colaboradores do grupo; (b) aquisição de vestuário padronizado para os colaboradores do grupo; (c) serviço de catering e alimentação para os colaboradores do grupo; (d) serviço de consultoria em tecnologia da informação para as empresas do grupo; (e) serviços de auditoria e consultoria para as empresas do grupo; (f) aquisição de insumos de informática; (g) aquisição de material de escritório; Fl. 5400DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.386 31 (h) contratação de financiamento para as empresas do grupo junto a instituições financeiras; (i) contratação de escritórios de advocacia para as empresas do grupo; (j) contratação de serviços de propaganda e marketing para as empresas do grupo. • não passa despercebido que figuram entre as fornecedoras da MC Assessoria empresas de reconhecida credibilidade no mercado, dentre outras entidades que negociaram e entabularam com a MC Assessoria negócios jurídicos válidos e representativos operacional e economicamente. Desnecessário afirmar que tais entidades nunca se prestariam a colaborar com um teatro fraudulento como aquele roteirizado pela fiscalização no Auto de Infração em epígrafe; • salta aos olhos a disparidade que se identifica do cotejo entre o cenário idealizado pelo autuante, em que a operação da MC Assessoria é fictícia, e a realidade negocial, em que a empresa detém volume significativo de operações, com múltiplos e idôneos fornecedores, legitimadas jurídica e economicamente a partir de uma estrutura racional, imposta pelo mercado, baseada na eficiência e na redução de custos; • queda assim demonstrada, mais uma vez, a precariedade da lavratura, quanto ao suporte fático que pretende construir, na medida em que, ao resumir as atividades da empresa à folha de pagamento, ignora vertente relevante e estratégica da atuação da MC Assessoria, que é a operação de centro de compras e contratação de fornecedores comuns; • sendo esta estrutura uma opção racional do contribuinte, consectário do direito à autonomia privada e livre exercício da atividade econômica, visando a maior eficiência de sua atividade econômica, veremos afinal a caracterização jurídica desta estrutura, que, verseá, não representa novidade para o Fisco, cujo entendimento em nada reprime a autonomia privada do contribuinte ao formatar as suas operações baseado em critérios de eficiência, fazendo uso do formato dos serviços compartilhados intragrupo; • neste contexto, o contrato de prestação de serviços compartilhados provê ao grupo empresarial integrado por interesse comum uma estrutura jurídica que viabiliza uma gestão integrada de custos e despesas, incrementando a eficiência dos processos vinculados aos serviçosmeio, entre empresas do grupo, e, por consquência, a eficiência da própria gestão do core business de cada unidade empresarial; • o contrato de prestação de serviços compartilhados é um negócio jurídico que implementa a gestão centralizada de serviços administrativos, back office, custos e/ou despesas comuns a todas as empresas do grupo, de modo que uma entidade empresarial otimize as sinergias e agregue escala às Fl. 5401DF CARF MF 32 operações redundantes das empresas, centralizandoas e, afinal, reduzindo custos e agregando valor ao grupo como um todo. São objeto de contrato de prestação de serviços compartilhados, dentre outros, serviços de assessoria contábil, assessoria jurídica, programação, coordenação, controle orçamentário, consultoria financeira, serviços de informática, assistência no domínio da produção, das compras, serviços de recrutamento e treinamento, prestados pela própria Central de Serviços Compartilhados; e também a centralização de despesas comuns e compartilhadas entre as empresas do grupo, a exemplo de despesas com pessoal terceirizado, relativas a publicidade, marketing, divulgação, informação de conjuntura, métodos de gestão, assistência de cobrança, consultorias especializadas, serviços gerais, serviços legais, dentre outros, contratados de forma centralizada em fornecedores terceiros; • o contrato de prestação de serviços compartilhados não se confunde, ressaltese, com o contrato de rateio de despesas. Malgrado tenham objeto semelhante, o contrato de rateio de despesas e o contrato de prestação de serviços compartilhados guardam diferença em elemento fundamental, que é a causa do negócio. O contrato de rateio de despesas é transação fora do mercado, que tem como objeto prestações que são marginais ao objeto social da prestadora, e visa atender exclusivamente a entidades sob controle comum e sem auferir qualquer mais valia; ao passo que o contrato de prestação de serviços compartilhados é prestação de serviços a mercado, tendo como objeto prestações que constituem a própria expertise da prestadora, ou seja, seu objeto social, o que faz com fito de lucro, podendo oferecêlos não apenas a unidades do mesmo grupo de empresas, mas também, eventualmente, a outras empresas alheias ao grupo empresarial. Daí porque sua prestação é formalizada via emissão de nota fiscal, e os pagamentos pelos serviços prestados consubstanciam receita e são tributáveis na empresa prestadora, inclusive por IRPJ, CSLL e PIS/Cofins. • esta última é, efetivamente, a estrutura implementada pela MC Assessoria, que presta serviços em condições de mercado e, sobre o preço cobrado, emite nota fiscal e recolhe todos os tributos incidentes, inclusive IRPJ, CSLL e PlS/Cofins, nos termos de DIPJs anexas (Doc. N° 08). Daí porque, na medida em que não realiza rateio, mas sim desenvolve atividade econômica como qualquer outra, com fito de lucro, a MC Assessoria agrega margens de lucro (markup) aos seus preços, como retribuição, ou contraprestação, à maisvalia gerada às empresas contratantes, pelo valor que lhes agrega a partir da estrutura que disponibiliza, da expertise consolidado sobre os serviços oferecidos, da uniformização de padrões e procedimentos, da centralização e otimização de processos, e da redução de custos; • não há qualquer grau de ilicitude na contratação com empresas do mesmo grupo econômico, muito menos em uma estrutura em que uma das causas da sua criação uma causa reside justamente no fato de se tratar de empresas do mesmo grupo; do contrário, não seria compartilhamento, centralizado e com padrões uniformes. O contrato intragrupo é, per se, negócio jurídico lícito e válido; Fl. 5402DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.387 33 • sabese, sim, que os negócios jurídicos realizados entre empresas do mesmo grupo econômico sofrem, quanto às margens de lucro aplicáveis, o controle das normas de distribuição disfarçada de lucros "DDL", do art. 60 do Decreto Lei n° 1.598/77 e art. 464 do RIR/99, que exigem que tais transações sejam concretizadas em condições análogas às de mercado. Em nenhum momento, porém, as margens de lucro empregadas na prestação de serviços realizada pela MC Assessoria foram objeto de questionamento por parte da auditoria, o que só reitera a regularidade da estrutura implementada sob todos os aspectos, inclusive sob o controle fiscal das margens de lucro nas transações intragrupo, proporcionado pelas regras de DDL. E se a auditoria não aplicou as regras de DDL, ou seja, não utilizou os controles fiscais de markup intragrupo, é porque os preços da prestação realizada pela MC Assessoria são absolutamente normais e razoáveis, por compatíveis com a realidade de mercado; • em dado momento, algo que en passant, a Autoridade Fiscal pretende apontar, sem exatamente quantificar, ou melhor, sem questionar tecnicamente, nas despesas contraídas, bases de preço superiores às que entende adequadas na prestação de serviços da MC Assessoria, entretanto, tal juízo, equivocado, decorre exatamente da total subrepresentação da realidade contábil, financeira e jurídica da MC Assessoria nos autos do PAF, do qual consta, dentre as diversas atividades, custos e despesas da entidade, apenas a folha de pagamento. De fato, a Autoridade Fiscal, quando analisa os cenários de despesas do impugnante pré e pós MC, compõe um quadro distorcido, exatamente porque a sua visão estava limitada à despesa com empregados, quando os custos, e, portanto, os serviços, da MC Assessoria, não se referem apenas a empregados (cessão de mãodeobra especializada), mas também e, substancialmente, em valores, a serviços, insumos e utilidades diversas que adquire, como central de compras, de terceiros no mercado para fornecer às empresas do Grupo MC; • não procede a tese, da auditoria, de que os trabalhadores após migrarem para a MC Assessoria passaram a custar mais caro, mas sim que, entre os custos faturados pela MC Assessoria às empresas operacionais, estão não apenas na mãodeobra cedida, mas também inúmeros outros custos e despesas compartilhados entre o grupo através da estrutura criada, a exemplo da contratação de escritórios de advocacia, assistência médica para os colaboradores do grupo, consultorias e auditorias, e até mesmo aquisição de vestuário padronizado para todo o grupo. Tal circunstância exigiria, para o comparativo, proposto pela fiscalização, ser fiel à realidade, que, às despesas de empregados anteriores à migração, fossem acrescentadas as despesas outras incorridas na MC que compuseram os custos desta empresa na prestação de serviços compartilhados ao impugnante; • a comprovar que os níveis de preço praticados pela MC Assessoria são absolutamente razoáveis, e mesmo módicos, está Fl. 5403DF CARF MF 34 a proporção entre o custo da MC e o faturamento das empresas do grupo, cujos serviços de back office, administrativos, centrais de compras e fornecedores comuns estão todos concentrados e custeados na MC Assessoria. Vêse que as despesas que a MC Assessoria fatura às empresas operacionais corresponde, no período fiscalizado, a um percentual anual médio de 0,97% da receita bruta das empresas, conforme mostra demonstrativo de fl. 3381, número que se pode de plano afirmar é pequeno para o nível de serviço demandado pelas empresas do grupo, e o escopo abrangente dos serviços prestados, como já retratado acima. Decerto que, caso se almejasse engendrar um estratagema fraudulento para drenar recursos das empresas e escapar à tributação, não soaria compreensível tamanha exposição, com riscos legais de toda ordem, para lograr um benefício de meros 0,97%; • a MC Assessoria, portanto, como qualquer outra empresa, prestando serviços, cobra preço, no qual está incluída margem de lucro que viabilizará a continuidade das suas atividades, a expansão e a evolução do negócio, investimentos no aprimoramento dos serviços prestados e contratação de mais quadros, cenário que, como já retratado nesta impugnação e demonstram as folhas de pagamento anexas (Doc. N° 02), caracterizou, desde o surgimento, a dinâmica da MC Assessoria, que iniciou com folha de 46 empregados e em 2011 passou abrigar 127 pessoas em seus quadros; • de todo o exposto, fica caracterizada: I) a existência da MC Assessoria como entidade dotada de substância jurídica e de fato, figurando como sujeito contratante em negócios jurídicos entabulados com inúmeros fornecedores, empregados, pessoas físicas e pessoas jurídicas, terceiros em geral sem qualquer vinculação com a empresa, muitos deles instituições reconhecidamente idôneas e rigorosas em seus relacionamentos no mercado; II) a validade do contrato de prestação de serviços compartilhados, como ato jurídico dotado de propósito negocial e racionalidade econômica, e executado através de efetiva prestação de serviços realizada pela MC Assessoria. • demonstrase, com base em todas as evidências acima referidas, inclusive aquelas descritas pela própria auditoria no Termo de Verificação Fiscal, que a vontade manifestada e consumada contratualmente, seja na constituição da MC Assessoria, como ente personalizado, seja na celebração e cumprimento do contrato de prestação de serviços compartilhados e central de custos e despesas, celebrado entre esta empresa e as demais que compõem o grupo empresarial, guarda perfeita e absoluta consonância e correspondência com a realidade dos fatos, tanto objetiva quanto subjetivamente, ou seja, tanto pela prestação contratada quanto pelas pessoas obrigadas, sendo inaplicável a desconsideração da personalidade jurídica, pretendida pelo autuante, como também o art. 167 do Código Civil, sendo absolutamente despropositado falarse em simulação, quando o ato jurídico reflete exatamente a vontade manifestada e as pessoas que nele intervieram, com as respectivas obrigações; Fl. 5404DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.388 35 • a jurisprudência do CARF é absolutamente rigorosa no sentido de que a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, inclusive sob alegação de simulação, deve ser acompanhada de demonstração robusta e inequívoca, por parte da autoridade fiscal, da fraude alegada. Análise criteriosa dos autos do PAF revela que em momento algum a autoridade fiscal se vale de provas efetivas, muito menos contundentes, da fraude ou simulação que alega. Sua pretensão, de desconsideração da personalidade jurídica, pautase efetivamente numa pré concepção de máfé do contribuinte, que impregna o juízo da auditoria, e a impede de realizar um escrutínio isento e técnico da realidade negocial do impugnante e do grupo econômico que integra; • todos os elementos que a autoridade autuante pretende utilizar para caracterizar o suposto enredo fraudulento na verdade são dados e circunstâncias de fato que, pelo contrário, justificam, do ponto de vista negocial, e, mais ainda, exigem a implementação da estrutura de serviços compartilhados adotada pela Impugnante: a existência de um grupo de empresas sob controle comum; a alocação de funcionários das empresas operacionais numa Central de Serviços Compartilhados recém instalada, na MC Assessoria; a cessão dos empregados para prestação de serviços de back office e administrativos nas dependências das empresas operacionais; a centralização da contratação de despesas e aquisição de insumos numa central de compras que atende a todo o grupo; • demonstrada a substância negocial e econômica, além da formal e jurídica, do negócio sob o qual a MC Assessoria presta serviços compartilhados ao impugnante e demais empresas do Grupo MC, não pode subsistir a glosa de despesas decretada pela autoridade fiscal, impondose o cancelamento de lavratura, o que se requer desde já;. • para constituir crédito tributário referente a IRPJ e CSLL, como levou a cabo na lavratura em epígrafe, o autuante glosou as despesas contratadas pelo impugnante junto à MC Assessoria, reputandolhes indedutíveis para efeito de apuração dos tributos sobre a renda e o lucro da pessoa jurídica. A lavratura simplesmente decretou, genericamente, a desnecessidade ou inexistência de despesa dedutível. Eximiuse de escrutinar os critérios de dedutibilidade da legislação do IRPJ, ou cotejálos com a atividade desenvolvida pela prestadora, MC Assessoria, no caso concreto; • efetivamente, não existe despesa dedutível ou indedutível per se, mas sim despesas que, individualmente consideradas, subsumemse ou não aos critérios do art. 299 do RIR/99, que em seu caput e §§1° e 2º, enuncia cláusula geral de dedutibilidade dos dispêndios não ativáveis, verbis: Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei n° 4.506, de 1964, art. 47). Fl. 5405DF CARF MF 36 § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei n°4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei n° 4.506, de 1964, art. 47, §2°). • as despesas dedutíveis são aquelas necessárias às atividades da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, ou seja, são as despesas usuais ou normais para a realidade negocial, operacional e empresarial da pessoa jurídica. A definição de despesa necessária, e, portanto, dedutível, é complementada via contraposição à mera liberalidade, que é exatamente a despesa não necessária: o ato gracioso e de mero favor que a empresa realiza e, assim, não guarda coerência com a lógica segundo a qual a atuação empresarial deve visar a maisvalia, o lucro. Todos os dispêndios que, não sendo custos, são realizados dentro da perspectiva de destinarse a produzir e gerar resultado positivo na atividade econômica da pessoa jurídica, sendo inerentes ao contexto empresarial e compreensíveis dentro dessa moldura, são considerados despesas dedutíveis. Fixada tal premissa, não requer grande esforço para constatar que os serviços prestados ao impugnante pela MC Assessoria consubstanciam despesas necessárias às atividades do impugnante, na medida em que provêem de utilidades absolutamente necessárias para o desenvolvimento de suas atividades empresariais, conforme já relatado nesta impugnação; • do conteúdo dos serviços prestados ao impugnante pela MC Assessoria já citados, deflui claramente que os dispêndios a eles relacionados consubstanciam despesas necessárias às atividades do impugnante, na medida em que a provêem de utilidades absolutamente necessárias para o desenvolvimento de suas atividades. Sem poder contar com serviços de contabilidade, recursos humanos e tecnologia da informação, por exemplo, o impugnante não terá a mínima estrutura para poder desenvolver a sua atividade fim que é a venda a varejo de veículos automotores, partes e acessórios, e prestação de serviço de manutenção e instalação de peças em veículos automotores; • os serviços prestados pela MC Assessoria, que compõem a Central de Serviços Compartilhados são comprovados e identificados a partir da descrição, realizada pelo próprio auditor fiscal, do quadro de funcionários da MC Assessoria, apontando a função que cada um exerce, e permitindo identificar, pelo cotejo da função e o cargo, a composição das equipes setoriais, representadas na folha de pagamento da empresa, conforme reprodução digitalizada de passagem do Termo de Verificação Fiscal e folha de pagamento da MC Assessoria, anexa à presente. Ali estão demonstrados os serviços de contabilidade; serviço de compliance fiscal; serviço de consultoria em recursos humanos; serviço de tecnologia da informação; serviço de crédito e cobrança; serviço de consultoria financeira e securitária (F&I); dentre outros; Fl. 5406DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.389 37 • o fornecimento de utilidades e serviços comuns contratados pela MC Assessoria perante terceiros, via central de compras, para provimento de despesas e custos comuns do impugnante e demais empresas do Grupo MC, encontramse demonstradas e comprovadas via lançamentos contábeis (Doc. N° 05 anexo), instrumentos contratuais, notas fiscais e documentos que formalizam as transações respectivas (Doc. N° 06 anexo), identificamse diversas as áreas de atuação da central de compras, como estrutura proporcionadora de escala na aquisição de insumos e contratação de fornecedores, dentre as quais podemos indicar as seguintes: serviço de assistência médica aos colaboradores do grupo; aquisição de vestuário padronizado para os colaboradores do grupo; serviço de catering e alimentação para os colaboradores do grupo; serviço de consultoria em tecnologia da informação para as empresas do grupo; serviços de auditoria e consultoria para as empresas do grupo; aquisição de insumos de informática; aquisição de material de escritório; contratação de financiamento para as empresas do grupo junto a instituições financeiras; contratação de escritórios de advocacia para as empresas do grupo; • comprovada a efetiva realização dos serviços pela MC Assessoria, via fornecimento das utilidades e atendimento das demandas de serviços administrativos, back office e central de compras, do impugnante e demais empresas operacionais do grupo empresarial, incumbiria à fiscalização, como motivação absolutamente imprescindível à glosa das despesas, apontar e demonstrar, especificamente, dentro do universo de despesas contratadas e dedutíveis, qual a parcela, fração ou item que efetivamente não foi prestado, no seu julgamento; • falta à autoridade fiscal competência para, e tampouco é ato compatível com a regramatriz do imposto sobre a renda e o modo de sua apuração, glosar genericamente despesas, por supostamente inexistentes, quando se sabe, e a própria fiscalização em seu relatório reconhece, que existiu volume substancioso de serviços que foi prestado, senão todo ele, pela MC Assessoria; • na ausência de demonstração precisa, via elementos de prova, da inidoneidade de despesas específicas, mediante a comprovação da sua inexistência ou da sua indedutibilidade, à luz do art. 299 do RIR/99, não subsiste glosa genérica, nos moldes pretendidos pela autoridade fiscal, que não pode arrogarse soberana para além da Lei e dos fatos, como aparentemente pretendeu colocarse. Assim tem se manifestado o CARF em seu entendimento sobre a matéria, exigindo da fiscalização, como fundamento à pretensão de glosa e desconsideração, a demonstração e comprovação das operações especificamente apontadas como supostamente irregulares, como se infere dos acórdãos citados nesta impugnação; • a fiscalização, de fato, não conseguiu reunir qualquer elemento de prova, apenas se apegou, como em todo o curso da peça de lavratura, a uma idéia préconcebida, verdadeira presunção ad Fl. 5407DF CARF MF 38 hoc, de que toda a atividade do contribuinte é fraudulenta, o que, à luz da dialética do PAF, não é expediente idôneo a fundamentar, com suporte fático e probatório suficiente, a sua pretensão fiscal; • é inaplicável, no caso, a multa qualificada de 150%, a título de penalidade, pelo não recolhimento dos valores apurados como devidos, após a desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria, com arrimo no art. 957, II do RIR/99 e no art. 44, inciso I e §1°, da Lei n° 9.430/96, sob alegação de atuação com evidente intuito de fraude. Decerto, a Autoridade Fiscal, conquanto tenha se referido aos dispositivos legais que instituem a referida multa, não reuniu elementos probatórios que são essenciais à caracterização dessa figura excepcional da legislação. A aplicação da multa qualificada pressupõe o dolo, a intenção inequívoca para praticar especificamente o ilícito tributário, de impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sendo, para tanto, absolutamente irrelevante, a bem de fundamentar a válida aplicação da sanção epigrafada, ter o contribuinte optado por uma estrutura negocial mais eficiente, inclusive quanto aos custos fiscais incidentes; • a mera alegação de fraude, sem descrever os elementos de fato, especialmente o dolo, o ânimo de fraudar, e sem apresentar elementos de prova, não tem o condão de lastrear a aplicação da multa agravada. De fato, em momento algum aponta o Fisco dados ou subsídios que demonstrem a intenção do contribuinte de se esvair da imposição fiscal. E a mera remissão a uma estrutura negocial, que, ademais, é padrão no mercado e paradigma de eficiência na gestão de grupos empresariais, não autoriza, per se, a imposição da multa qualificada. Sobre o tema, há jurisprudência torrencial do Egrégio CARF (transcreve ementas de Acórdãos); • a propósito da exigência da multa agravada nos lançamentos em que se empunha pretensão de desconsideração da personalidade jurídica, inclusive por alegada simulação, o CARF também mantém mesma linha de entendimento, de que não se pode presumir a fraude ou simulação, com base em meras conjecturas, devendo ser provada especificamente a intenção dolosa, conforme mostra acórdãos transcritos. Não destoa dos argumentos trazidos pelo Impugnante as lições que a doutrina nos presta acerca da indigitada penalidade, a fraude fiscal e a sua prova (transcreve excertos doutrinários); • o impugnante não praticou qualquer ato que induzisse a erro a fiscalização, ou terceiro, tendo colaborado, de forma ampla e irrestrita, com a fiscalização, fornecendo toda a documentação solicitada e ao seu alcance, o que provam as respostas à miríade de intimações fiscais fornecidas pelo impugnante, em atendimento às requisições, do fisco, e que integram o PAF nos autos originariamente formados pela autoridade autuante; • em nenhum ponto da lavratura restou demonstrada a concorrência dos elementos da fraude, conforme a sua definição legal. Não se desincumbiu o autuante do ônus de construir o suporte fático da fraude no caso concreto, haja vista que não Fl. 5408DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.390 39 descreveu fatos específicos de cunho fraudulento, muito menos reuniu elementos de prova a eles relativos; • ainda que não se entenda pela integral improcedência do auto de infração, o que se admite apenas para argumentar, há que se reconhecer a improcedência da exigência de juros de mora sobre a multa de ofício. Havendo lançamento de ofício, há a incidência de multa à razão de 75%, na forma prevista no art. 44 da Lei n.° 9.430/96. Tal sanção ocorre quando o contribuinte não declara o seu débito, fato este que obrigará o fisco a apurar de ofício o crédito tributário respectivo. Na seara tributária, há espaço somente para a incidência de juros de natureza moratória. Afinal, o Estado, no exercício de sua competência tributária, não empresta dinheiro ao contribuinte, não havendo, portanto, como cobrarlhe juros compensatórios; • não há previsão legal para a incidência de juros sobre multa. O §3º do artigo 61 da Lei n° 9.430/96 determina que "sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o §3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. À evidência, a expressão "sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora", que inaugura o dispositivo supra citado, diz respeito somente ao valor do principal relativo à obrigação tributária não paga no vencimento; • quando o legislador ordinário pretendeu autorizar a incidência de juros sobre a multa decorrente de lançamento de ofício, fêlo expressamente. Nesse sentido, vejamos o quanto determinado pelo artigo 43 da Lei 9.430/96, cujo parágrafo único determina a incidência de juros moratórios sobre as multas e os juros exigidos isoladamente. Feita esta análise, mostrase inafastável concluir que não há previsão legal para a cobrança de juros de mora sobre a multa lançada de ofício nos casos que não foram abrangidos pelo artigo 43 da Lei n° 9.430/96, como já decidido pela C. Câmara Superior de Recursos Fiscais nos autos do processo administrativo n° 10680.002472/200723; • pelo princípio da eventualidade, e a bem do dever de concentração e exaustão de todos os elementos de defesa na peça impugnatória, o contribuinte vem protestar por elementos de defesa na hipótese, que não se espera em qualquer circunstância, em que a controvertida desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria seja mantida por este Colegiado Julgador. Abstraindose o mérito da desconsideração, já ampla e robustamente impugnada e contraditada nesta impugnação, temse que, a se admitir a inexistência da MC Assessoria, os atos por ela praticados, com seus reflexos fiscais, devem sim, inexoravelmente, ser imputados àquelas entidades que a fiscalização aponta como as entidades que, na suposta simulação subjetiva, eram responsáveis por aquelas atividades, e que estariam se utilizando da entidade desconsiderada como um instrumento de ardil; Fl. 5409DF CARF MF 40 • o autuante aplicou esse raciocínio quando, ao apurar o IRPJ e a CSLL do impugnante, após a glosa das despesas, imputou o IRPJ e a CSLL recolhidos pela MC Assessoria às diversas empresas operacionais, inclusive o impugnante, em cujas apurações esses valores foram compensados em benefício de cada uma das empresas, conforme reprodução da fl. 57 dos autos, a saber: que existem despesas de pessoal a serem rateadas por todas as empresas do grupo. O critério utilizado por esta auditoria é reduzir o montante relativo a lavratura do auto de infração dos tributos (IRPJ e CSLL) efetivamente declarados em DCTF e/ou pagos pela empresa MC Assessoria, que de fato não existe, proporcionalmente pelo faturamento das referidas empresas, conforme sintetizado nos demonstrativos; • considerando que são várias as empresas do grupo às quais a MC Assessoria presta serviços, a fiscalização utilizou como critério de rateio, para imputação, a cada uma das empresas, dos valores pagos a título de IRPJ e CSLL pela empresa desconsiderada, o faturamento de cada uma em face da soma total de todas, o que, decerto, é um critério razoável, admitido, inclusive, pela própria Receita Federal, como critério para rateio de despesas. Por tal critério, ao impugnante, dentre as demais empresas autuadas, conforme se vê nas planilhas produzidas no Termo de Verificação Fiscal, foi atribuída com os percentuais de participação no rateio, correspondentes à sua participação no total da receita bruta auferida pelas empresas, por ano. Ocorre que a imputação rateada que o autuante realizou sobre as atividades da MC Assessoria restringiuse apenas ao IRPJ e a CSLL, de sorte que, conforme itens subsequentes, a bem de manterse coerente com a decretação da desconsideração, fazse necessário imputar também, para efeito dos tributos federais auditados e apurados, as despesas realizadas pela MC Assessoria e os demais tributos federais recolhidos pela empresa; • ocorre que esta imputação, rateada segundo percentuais acima descritos, foi realizada pela autoridade fiscal de forma apenas parcial, restrita aos IRPJ e CSLL recolhidos pela MC Assessoria. Esta empresa, porém, efetuou vasta gama de despesas no período, que devem ser consideradas, no cenário da despersonalização, como despesas do impugnante e demais empresas operacionais. Para começar, a própria despesa com empregados da MC Assessoria, que a autoridade fiscal, repetidamente, indica que em verdade se trata de empregados do próprio impugnante e das outras empresas operacionais. A propósito, quando vai apurar o IRPJ e a CSLL, o próprio autuante reconhece que existem despesas de pessoal a serem rateadas entre as empresas; • na apuração dos tributos referidos não foi efetuado o rateio dessas despesas em momento algum, de modo que a lavratura, para se manter coerente, ou seja, para que a apuração quantitativa dos tributos guarde consonância com o ato concreto de lançamento, baseado na despersonalização, deve efetivamente promover o rateio, não apenas das despesas de pessoal, mas de todas as despesas incorridas pela MC Assessoria, inclusive despesas com tributos, despesas com fornecedores, enfim, todas as despesas dedutíveis assim contabilizadas na MC Assessoria e Fl. 5410DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.391 41 declaradas ao fisco. Dessa forma, considerando o erro apontado, o impugnante refez os cálculos de IRPJ e CSLL, rateando todas as despesas dedutíveis contabilizadas na MC Assessoria, devidamente declaradas em DIPJ, com base no mesmo critério e nos mesmos percentuais de rateio utilizados pelo fiscal autuante, resultando nos valores demonstrados nas planilhas de fls. 2.203/2.208; • a imputação ampla de todas as despesas, como se viu no item anterior, implicou a correção das bases de cálculo de IRPJ e CSLL, quanto ao lucro apurado no final do exercício. Ocorre que idêntica correção deve ser promovida quanto aos recolhimentos das estimativas mensais, apropriandose os saldos de despesas mensais da MC na proporção do rateio, ou seja, na proporção da participação da empresa na receita bruta total. Decorrente disso, a imputação das despesas na apuração das estimativas mensais implicará redução da multa isolada aplicada, o que desde logo se requer; • em qualquer hipótese é inexigível a multa isolada na hipótese em que, ao final ao exercício, a base de cálculo efetivamente apurada é inferior aos valores mensais de estimativa, um exemplo típico do que é exatamente a hipótese em que é apurado prejuízo ao final do exercício prejuízo, ou seja, não há lucro tributável sujeito à incidência de IRPJ ou CSLL. Tendo em vista que o impugnante é sujeito ao lucro real anual para efeito da apuração do IRPJ e da CSLL, as estimativas mensais que a empresa recolhe, apuradas com base na receita bruta ou balanços de suspensão/redução, consubstanciam, em verdade, antecipações relativamente ao imposto que será apurado sobre o lucro eventualmente auferido no final do exercício. Inexistente o lucro ao final do exercício, ou sendo o lucro anual inferior às estimativas exigidas, não há falarse em IRPJ ou CSLL devidos a título de estimativa mensal, quanto ao valor que supera o lucro real anual, de sorte que resta inaplicável a multa pela falta do recolhimento antecipado. A propósito, é reiterada a jurisprudência do CARF a esse propósito. Na hipótese em que os valores mensais de estimativa são superiores à base de cálculo efetivamente devida ao final do exercício, inclusive, mas não apenas, na hipótese de apuração de prejuízo, não se pode considerar aplicável a multa isolada, na medida em que não há saldo de crédito tributário devido em favor do fisco; • considerando a imputação e o rateio das despesas da MC Assessoria no cálculo das estimativas mensais de IRPJ e CSLL do impugnante e a inexigibilidade das estimativas mensais naquilo que superam, em valor, o lucro real apurado ao final do exercício, deve ser excluída, ou, se for o caso, reduzida a multa isolada aplicada; • não se limitam às despesas rateadas os reflexos fiscais da decretação da desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria. De fato, a desconsideração, a determinar a inexistência da empresa, implica que os eventos contábeis registrados em sua escrituração passem a ser atribuídos às Fl. 5411DF CARF MF 42 empresas operacionais, que contrataram sua prestação de serviços. Levantando o véu que representa a suposta e alegada pessoa simulada, surgem os supostos efetivos protagonistas das operações, e, tal se aplica a todos os eventos, o que, para efeito de apuração de tributos federais, tem reflexo não apenas no que se refere às despesas incorridas pelo ente despersonalizado, como descrito no item anterior, mas também quanto aos tributos federais recolhidos pela MC Assessoria;. • a auditoria considerou os valores de IRPJ e CSLL recolhidos pela MC Assessoria e efetuou o rateio e a compensação desses valores em benefício das empresas operacionais. Efetivamente, se a MC Assessoria não existe, e os serviços não foram prestados, como pretende a lavratura, os pagamentos realizados não têm relevância para efeitos jurídicofiscais, e assim não houve receita apurada e os tributos recolhidos pela MC Assessoria são indevidos. Ocorre que os mesmos efeitos que tiveram os recolhimentos de IRPJ e CSLL, aplicamse aos recolhimentos de PIS/Cofins realizados pela empresa despersonalizada, o que o autuante, equivocadamente, não considerou ao efetuar o rateio e a compensação dos tributos federais recolhidos pelo ente que teve a despersonalização decretada; • não sendo considerados eficazes para efeitos jurídicofíscais as receitas de prestação de serviço da MC Assessoria, mas sim considerados pagamentos das empresas contratantes, inclusive a Impugnante, para elas próprias, não há incidência de PIS/Cofins, e os valores recolhidos a este título são indevidos e devem ser compensados ou, se for o caso, restituídos. A propósito, considerando o erro apontado, a Impugnante, a partir das DIPJ e DARF de PIS/Cofins, em anexo, recolhidos pela MC ASSESSORIA, rateou tais valores entre as empresas contratantes, inclusive o impugnante, com base no mesmo critério e nos mesmos percentuais de rateio utilizados pelo fiscal autuante, resultando nos valores indicados na fl. 2.214, os quais devem ser compensados ou restituídos em benefício do impugnante. Na parte final da sua contestação protesta o impugnante pela produção de todas as provas em Direito admitidas. Às fls. 3.842 a 3.949, 3.952 a 4.062, 4.068 a 4.178, 4.183 a 4.292 e 4.298 a 4.406, respectivamente, os Srs. Luiz José Pimenta, Modezil Ferreira de Cerqueira, representado pelo seu curador Modezil Rodrigues Ferreira de Cerqueira, Florisberto Ferreira de Cerqueira, Myllene Rodrigues de Cerqueira Telles de Souza e Modezil Rodrigues Ferreira e Cerqueira apresentaram impugnações aos autos de infração e aos termos de sujeição passiva. Contestam os autos de infração com os mesmos argumentos apresentados pela Morena Veículos Ltda., já mencionados neste relatório. Quanto aos termos de sujeição passiva, acrescentam as seguintes alegações: I. Srs. Modezil Ferreira de Cerqueira, Florisberto Ferreira de Cerqueira, Luiz José Pimenta, Myllene Rodriguers de Cerqueira e Modezil Rodrigues Ferreira e Cerqueira alegam: Fl. 5412DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.392 43 • a ilegitimidade passiva como devedor solidário, por ausência de demonstração de sua atuação pessoal nas circunstâncias de fato que embasaram a pretensão fiscal: • a autoridade autuante considerou que o estabelecimento de uma central de serviços compartilhados e central de compras na MC Assessoria, para atender à pessoa jurídica autuada e às demais empresas do grupo empresarial que integra, composto por 14 concessionárias de veículos e outras empresas de ramo distinto de atividade, consubstanciaria uma articulação de suposta arquitetura fraudulenta, visando sonegar tributos e lesar o Fisco; • decerto que o estabelecimento de uma central de serviços compartilhados e central de compras, através de empresa especificamente constituída para desenvolver tal expertise, dotada de estrutura própria de empregados, contratos com fornecedores diversos, regularmente operantes, com toda receita declarada e tributada, e, ainda mais, efetivamente prestando os serviços para as empresas clientes, focadas no negócio principal do grupo, nem de longe pode consubstanciar engenho ardiloso, muito menos para fraudar o Fisco, senão estrutura de gestão de redundâncias e sinergias em grupos empresariais que todo o mercado utiliza, visando a eficiência administrativa e redução de custos; • a autoridade fiscal não apenas atribuiu natureza fraudulenta à atividade da pessoa jurídica autuada, no que se refere à contratação da MC Assessoria, como também imputou responsabilidade pessoal ao impugnante, sob o fundamento de que a mera existência do suposto esquema fraudulento implicaria responsabilização dos impugnantes pelo mero fato de serem membros da diretoria da pessoa jurídica, pela prática de atos com infração à lei, nos termos do art. 135 da Lei nº 5.172, de 1966, Código Tributário Nacional – CTN; • a responsabilidade tributária do art. 135 do CTN, contudo, é pessoal, consoante expressamente dispõe a norma, e é aquela imputada à pessoa por atos por ela praticados, comprovada e demonstradamente. A mera condição de membro da diretoria não fornece o liame subjetivo entre a conduta apontada como fraudulenta e a pessoa reputada responsável: imperiosa é (i) a descrição do protagonismo da pessoa responsabilizada no fato infracional; e também (ii) a demonstração, com provas e documentos idôneos, de que os fatos supostamente ilícitos tenham sido praticados pela imputada pessoa. A necessidade de descrição e comprovação das hipóteses do art. 135 do CTN é requisito reiteradamente exigido pela jurisprudência quanto à responsabilização dos gestores, consoante julgados do CARF e do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, cujas ementas transcreve; • nos autos, a autoridade autuante nem descreveu em que medida o impugnante atuou com finalidade de sonegar tributo, nem tampouco demonstrou tal intenção com os indispensáveis Fl. 5413DF CARF MF 44 elementos de prova. Fundamentar a responsabilidade pessoal na mera condição formal de membro da diretoria da pessoa jurídica autuada não atende decerto aos requisitos legais da responsabilidade tributária do art. 135 do CTN, e implica derrogar, por vias oblíquas, o regime legal que é de responsabilidade limitada, para que seja ilimitada a responsabilidade dos sócios e administradores. A simples figuração na diretoria da pessoa jurídica não vincula o administrador a todos os atos praticados pela empresa, sendo necessário demonstrar que tal tenha ocorrido relativamente aos supostos atos fraudulentos em que a fiscalização pretende fundamentar o ato de lançamento. • há anos, o Sr. Modezil Ferreira de Cerqueira vem sofrendo de problemas de saúde que afetam o seu discernimento e impedem que exerça uma atividade profissional, afigurase, por decisão do Exmo Juízo da 1ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Salvador, conforme documento de fl. 3.959, subtraído da sua plena capacidade civil, sendo representado pelo seu curador, que é seu filho Modezil Rodrigues Ferreira de Cerqueira. O impugnante está, portanto, há anos afastado do diaadia das empresas de que é sócio, não podendo a ele ser imputado, em hipótese alguma, qualquer ato de cunho positivo ou negativo, praticado pelas empresas (esta alegação consta apenas das impugnações dos Srs. Modezil Ferreira de Cerqueira e Florisberto Ferreira de Cerqueira); • resta demonstrado que a responsabilização em pauta não prescinde da descrição e comprovação da atuação específica do reputado responsável nos atos inquinados de infringentes à lei. Falhando a lavratura em apontar os elementos de fato assim necessários para atender à aplicabilidade do art. 135 do CTN, e, ainda mais, em comproválos via suporte documental idôneo, fica descaracterizada a responsabilidade tributária do impugnante, havendo de ser acolhida a presente preambular para reconhecer a sua ilegitimidade passiva, como se requer; • para determinar a aplicação da responsabilização, o fiscal autuante partiu da estrutura de serviços compartilhados intragrupo, providos pela MC Assessoria à pessoa jurídica autuada e demais empresas do grupo empresarial, como fato suficiente para caracterizar a fraude descrita na lei, conforme se infere de descrição nos autos do PAF; • a aplicação do regime de responsabilidade pessoa, do art. 135, do CTN pressupõe o dolo, a intenção inequívoca para praticar especificamente o ilícito tributário, de impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sendo, para tanto, absolutamente irrelevante, a bem de fundamentar a válida aplicação da sanção epigrafada, ter o contribuinte optado por uma estrutura negocial mais eficiente, inclusive quanto aos custos fiscais incidentes; • em momento algum aponta o Fisco dados ou subsídios que demonstrem a intenção da empresa autuada de se esvair da imposição fiscal; muito menos qualquer contribuição do impugnante, via atos específicos de sua autoria, neste sentido. E a mera remissão a uma estrutura negocial, que, ademais, é Fl. 5414DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.393 45 padrão no mercado e paradigma de eficiência na gestão de grupos empresariais, não autoriza, per se, a caracterização de fraude. O autuante sequer descreveu onde está ou qual foi a fraude praticada pelo contribuinte, que teve todos os seus documentos escrutinados, tem toda a sua documentação idônea e em momento algum deixou de atender à fiscalização, havendo contribuído com pletora de documentos e atendido a todas as demandas da fiscalização. • a estrutura apontada como fraudulenta, consoante resta demonstrado à saciedade na presente impugnação, está absolutamente calcada em critérios de eficiência e de desempenho financeiro e administrativo do autuado e das demais pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo empresarial. O acórdão recorrido foi parcialmente procedente à Recorrente, admitindo que "as despesas que a própria autoridade fiscal reconhece que existem e que devem ser rateadas pelas empresas do grupo, devem ser a estas imputadas segundo o mesmo critério utilizado para o rateio do IRPJ e CSLL." (efl 4.469). Assim sendo, existiu a revisão do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), apurado pela glosa das controvertidas despesas, reduzindo a exigência consoante os demonstrativos a seguir (efls. 4.469 a 4.471): Fl. 5415DF CARF MF 46 Fl. 5416DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.394 47 A dedutibilidade parcial das despesas glosadas, reconhecida no acórdão nº 15035.144, influenciou nas multas isoladas, constituídas pela ausência de pagamento antecipado (estimativas mensais) do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), como indicado nas Tabelas 1 a 6 (efls. 4.472 a 4.471): Fl. 5417DF CARF MF 48 Fl. 5418DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.395 49 Fl. 5419DF CARF MF 50 A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Salvador/BA (DRJ/SDR), considerando o valor exonerado pelo acórdão recorrido, efetivou a remessa necessária do Recurso de Ofício para este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF). A Morena Veículo Ltda. e os responsáveis solidários, Luiz José Pimenta, Modezil Ferreira de Cerqueira, Florisberto Ferreira de Cerqueira, Modezil Rodrigues Ferreira e Cerqueira e Myllene Rodrigues de Cerqueira Telles de Souza, interpuseram os recursos voluntários, em síntese, reiterando a exposição das impugnações administrativas. Cada sujeito passivo foi intimado e recorreu do acórdão nº 15035.144, como noticiado pelo despacho do Serviço de Controle e Acompanhamento Tributário da Delegacia da Receita Federal do Brasil em Salvador (SECAT/DRF/SDR): É o relatório. Voto Vencido Fl. 5420DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.396 51 Conselheiro Rafael Gasparello Lima Relator. De acordo com artigo 1º da Portaria MF nº 63, de 09 de setembro de 2017, "O Presidente de Turma de Julgamento da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento (DRJ) recorrerá de ofício sempre que a decisão exonerar sujeito passivo do pagamento de tributo e encargos de multa, em valor total superior a R$ 2.500.000,00". Entretanto, o crédito tributário exonerado é inferior a esse limite, impedindo o conhecimento do Recurso de Ofício. Os recursos voluntários são tempestivos, havendo os demais pressupostos de admissibilidade, portanto, deles tomo conhecimento. I. NULIDADE DO LANÇAMENTO DE OFÍCIO O acórdão nº 15035.144 contraditou a nulidade argumentada pelas recorrentes, como transcrevo adiante (efl. 4.451): O contribuinte e os responsáveis solidários alegam, em síntese, que a autoridade fiscal, compondo um cenário em que a estrutura de serviços compartilhados consubstancia um suposto estratagema fraudulento, decretou a desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria e Gestão Empresarial Ltda, reputandoa "inexistente" e atribuindo suas atividades às empresas que contratam os seus serviços, ou seja, às empresas do grupo econômico, dentre as quais o impugnante. Alegam que o procedimento administrativo instaurado contra um determinado contribuinte não é idôneo para decretar a desconsideração da personalidade jurídica de um outro contribuinte, totalmente alheio ao procedimento fiscalizatório epigrafado. Entende tratarse de absoluta ineficácia do procedimento administrativo fiscal que pretende afetar a esfera jurídica de outrem, além daquele sujeito passivo que é objeto da auditoria, ficando patente o desvio de forma que torna a autuação nula, em razão da incompetência do autuante para decretar a desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria, empresa prestadora de serviços, haja vista que nos termos da lei, a competência para decretar a desconsideração da personalidade jurídica da empresa é privativa da autoridade judicial. Destaquese que a hipótese prevista de nulidade dos atos processuais está perfeitamente definida no inciso I do artigo 59 do Decreto nº 70.235, de 1972, e referese ao caso em que sua lavratura tenha sido feita por pessoa incompetente, o que não veio a ocorrer na situação presente. Ademais, os motivos invocados pelos impugnantes para pleitear a nulidade do feito fiscal são inconsistentes e insustentáveis, pois, no caso presente, a autoridade fiscal não operou qualquer desconsideração da personalidade jurídica da MC Assessoria, tampouco fundamentou sua autuação no parágrafo único do art. 116 do CTN, mas apenas efetuou a glosa das despesas contabilizadas pelo autuado, referentes à prestação dos serviços Fl. 5421DF CARF MF 52 realizados pela MC Assessoria, por ter sido verificado que tal prestação de serviços não ocorreu de fato, haja vista que embora a MC Assessoria tenha sido formalmente constituída, ela não existe de fato, tendo decorrido de uma simulação engendrada por empresas do Grupo Empresarial, dentre as quais a Morena Veículos Ltda., como será demonstrado neste voto, na análise do mérito. Notese que a fiscalização, que conduziu à lavratura dos presentes autos de infração encontrase devidamente amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal (MPF) nº 0500100.2012.00013, cujo código de acesso é 46981625, obedeceu rigorosamente ao estabelecido nos pertinentes atos normativos, tendo o contribuinte tomado conhecimento do termo de inicio da ação fiscal. No caso, foi dada aos impugnantes a possibilidade de se defenderem amplamente das imputações que lhe foram feitas, tendo todos demonstrado nas suas impugnações perfeita compreensão do ocorrido. Portanto, inferese de todo o acima exposto que, no caso em exame, não há que se falar em nulidade dos autos de infração. Realmente, existiu a glosa das despesas, concluindo pela falta dos requisitos necessários do artigo 299 do Regulamento de Imposto de Renda (RIR), não implicando na desconsideração da personalidade jurídica da prestadora de serviços, MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., nem dos seus "atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária", conforme o artigo 116, parágrafo único, do Código Tributário Nacional, que aguarda sua regulamentação por lei ordinária, ainda não promulgada. Logo, não vislumbro quaisquer das hipóteses dos artigos 59 e 60 do Decreto nº 70.235/19721, ratificando a inexistência de nulidade e prevalecendo a validade da constituição do crédito tributário, tal como formalizado. II. CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Em Termo de Verificação Fiscal (TFV), constatouse que foi escriturado o lucro de R$ 41.236,67 no Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR), anocalendário de 2008, enquanto a respectiva Declaração de Informações Econômicofiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ/2009) informou prejuízo fiscal de R$ 11.068,96 (efls 60). 1 “Art. 59. São nulos: I os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. § 1º A nulidade de qualquer ato só prejudica os posteriores que dele diretamente dependam ou sejam conseqüência. § 2º Na declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos alcançados, e determinará as providências necessárias ao prosseguimento ou solução do processo. § 3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio” Fl. 5422DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.397 53 As recorrentes não impugnaram o Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) incidente sobre o resultado escriturado e não declarado, como esclarecido pelo acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento (efls. 4.452). Igualmente, os recursos voluntários não contraditaram, especificamente, o crédito tributário proveniente desta omissão, concordando com sua exigibilidade, incluindo todos os acréscimos oriundos da infração. Neste sentido, quanto ao juros de mora sobre a multa de ofício, incidente sobre o crédito tributário escriturado (R$ 41.236,67), ressalto que não havia tal determinação no artigo 84 da Lei nº 8.981/1995. Posteriormente, o artigo 43, parágrafo único, e 61, da Lei nº 9.430/1996, modificou a imposição de penalidades e os respectivos juros de mora: Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o §3º do artigo 5º, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. (...) § 3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Fl. 5423DF CARF MF 54 O artigo 3º do Código Tributário Nacional conceitua tributo como "toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito", proporcionando a interpretação de não haveria incidência de juros moratórios sobre a multa de ofício. Esta incongruência gramatical foi comentada por Luciano Amaro: A circunstância de o sujeito passivo sofrer imposição de penalidade (por descumprimento de obrigação acessória, ou por falta de recolhimento de tributo) não dispensa o pagamento integral do tributo devido, vale dizer, a penalidade é punitiva da infração à lei; ela não substitui o tributo, acrescese a ele, quando seja o caso. O art. 157 diz que a penalidade não ilide o pagamento integral “do crédito tributário”, mas como, na conceituação dos arts. 113, §1º, e 142, a obrigação e o crédito tributário englobariam a penalidade pecuniária, o que o Código teria que ter dito, se tivesse a preocupação de manter sua coerência interna, é que a penalidade não ilide o pagamento integral “do tributo”, pois não haveria sequer possibilidade lógica de uma penalidade excluir o pagamento de quantia correspondente a ela mesma.(Amaro, Luciano.Direito Tributário Brasileiro. 10ª edição. São Paulo: Atual, pág. 379). O acórdão recorrido endossa a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício, convergindo com meu posicionamento atual e, por isso, transcrevo a seguir: Não é preciso grande esforço de interpretação, portanto, para se concluir que o crédito tributário compreende o tributo e a penalidade pecuniária, interpretação que harmoniza os diversos dispositivos do CTN, ao contrário da tese oposta. Concluo, assim, no sentido de que o art. 161 do CTN autoriza a cobrança de juros sobre a multa de ofício. (...) Que a lei prevê a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício exigida isoladamente, não se discute, dada a clareza cristalina do texto do artigo 43. A controvérsia é sobre a previsão legal de incidência dos juros sobre a multa exigida conjuntamente com o tributo e gira em torno do sentido e alcance da sentença “débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal”. O verbete “decorrente” é desses que comportam diferentes significações, tais como “advindo, originado, derivado, resultado, nascido, procedente”, como se colhe dos dicionários e, portanto, a expressão “débitos decorrentes de tributos e contribuições”, do ponto de vista gramatical e etimológico, tanto poderia se referir aos próprios débitos do tributo ou contribuição como àqueles relacionados com eles, derivados deles, originados deles, como é o caso da multa pelo seu não pagamento. Sustentam os que defendem a interpretação de que o artigo 61 da Lei nº 9.430, de 1996, dirigese apenas aos tributos e contribuições, que, a se entender que a multa de ofício está Fl. 5424DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.398 55 contida no termo “débitos decorrentes de tributos e contribuições”, o dispositivo estaria prevendo a incidência de multa de mora sobre a multa de ofício. Assim como quando da análise do artigo 161 do CTN, aqui, da mesma forma, esse argumento está associado a um critério de interpretação do texto legal com base na leitura que melhor harmoniza, do ponto de vista gramatical, o próprio texto, o que, como se viu, não é a melhor forma de se apreciar a questão. De fato, ao prever que sobre os débitos incidirá multa de mora, entendendose que a multa de ofício integra o débito, a análise meramente gramatical do texto leva à conclusão de que o dispositivo prescreve a incidência da multa de mora sobre a multa de ofício. Superandose, entretanto, a mera leitura gramatical do texto e examinandoo como parte de um conjunto normativo mais amplo, verseá que tal conclusão não é possível, o que afasta a contradição. É que, como se sabe, a multa de mora e a multa de ofício se excluem mutuamente, de modo que uma não se aplica quando se aplica a outra. Assim, não haveria hipótese de que, quando da aplicação da multa de mora, na sua base esteja a multa de ofício. Portanto, não há como se concluir que o artigo 61, ao prever a aplicação da multa de mora no caso de pagamento de débitos decorrentes de tributos e contribuições em atraso, inclusive a multa de ofício, estaria determinando a incidência daquela sobre esta, muito embora o texto da lei, se examinado apenas no seu aspecto puramente gramatical, possa indicar o contrário. Sendo assim, se os débitos de tributos e contribuições que serviram de base para o lançamento de ofício integram o caput do artigo 61 da Lei nº 9.430, de 1996, e, portanto, sobre eles incidem juros de mora, não há qualquer razão para não se admitir, sob o argumento da impropriedade gramatical, que a multa de ofício também integra o dispositivo, estando igualmente sujeita à incidência de juros de mora. Outro lançamento de ofício se constituiu pela indedutibilidade das despesas foi fundamentada na modificação societária do grupo econômico, concentrando a prestação de serviços administrativos intragrupo na MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., favorecendo o aumento da distribuição de lucros com isenção tributária, ante seu regime de incidência pelo lucro presumido, enquanto reduzia o lucro real tributável das tomadoras de serviços, em especial, da Morena Veículos Ltda.. O Termo de Verificação Fiscal (TFV) concluiu pela artificialidade da estrutura societária e das despesas ocasionadas pelos serviços contratados, evidenciando o único propósito de vantagem tributária indevida (efl. 61): Fl. 5425DF CARF MF 56 A autoridade fiscal explanou que esta "conduta intencional de criar operação sem qualquer substância econômica ou propósito negocial, a não ser elidir tributos, aumentou as despesas operacionais da Morena Veículos Ltda., reduzindo sensivelmente o valor do tributo a recolher, mediante comportamento doloso, tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais, bem como alteração das características fundamentais do fato gerador, qual seja, o lucro tributável." (efls. 61) Diferentemente, os recursos voluntários justificam que a constituição da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. foi motivada pela necessidade de reestruturação do grupo empresarial, porventura do crescimento do seu faturamento e o propósito de diminuir custos administrativos, preservando a atividade lucrativa: Fl. 5426DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.399 57 Graficamente, entre os anoscalendário de 2000 e 2012, vemos o aumento exponencial do faturamento do referido grupo econômico: Fl. 5427DF CARF MF 58 Em suma, as recorrentes criticam a acusação de evasão fiscal, alegando que a estrutura empresarial e a centralização dos serviços administrativos em uma única sociedade foi uma exigência operacional e econômica do grupo, inexistindo qualquer vedação legal. III. ESTRUTURA SOCIETÁRIA. O acórdão recorrido, reproduzindo o Termo de Verificação Fiscal (TVF), sintetizou o controle societário exercido pela Morena Veículos Ltda., ora Recorrente, quanto à MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda.: Fl. 5428DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.400 59 Fl. 5429DF CARF MF 60 O relato supracitado, inicialmente, não comprova o ilícito tributário, noticiando uma estrutura típica de grupo empresarial, inclusive quando assevera que MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. "funciona no mesmo local e dispõe de quadro societário e administração idênticos aos das empresas tomadoras de serviço". Frisese que a sede da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. foi cadastrada no imóvel de propriedade de outra sociedade do grupo, Anira Veículos Ltda., diversa da principal Recorrente, Morena Veículos Ltda., havendo a cessão de uso, sem ônus, referente ao imóvel, possibilitando a emissão do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica do Ministério da Fazenda (CNPJ/MF). O compartilhamento de custos e prestação de serviços intragrupo é um tema controvertido, tanto que, após ao período analisado in casu, a CoordenaçãoGeral de Tributação editou a Solução de Divergência nº 23, de 23 de setembro de 2013, norma tributária complementar2. A Solução de Divergência nº 23/2013 validou compartilhamento de custos dentro de um grupo econômico, opinando pela dedutibilidade de despesas usuais e necessárias, uniformizando o entendimento administrativo sobre esse planejamento empresarial. À guisa de esclarecimento, importante ressaltar a seguinte parte da mencionada norma complementar, que se assemelha à exposição das recorrentes: 2 Código Tributário Nacional, art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. Fl. 5430DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.401 61 Fl. 5431DF CARF MF 62 A abrangência da Solução de Divergência nº 23/2013 é limitada em seu sétimo parágrafo, excluindo a "inexatidão quanto ao período de apuração de escrituração de receita, rendimento, custo ou dedução, ou do reconhecimento de lucro" que resulte na "redução indevida do lucro real em qualquer período de apuração". Todavia, essa restrição não compromete a validade da reorganização societária promovida pelo grupo econômico, em que se insere tanto a Recorrente, Morena Veículos Ltda., como sua prestadora de serviços, MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. IV. MÃO DE OBRA EMPREGADA NA EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS. O artigo 448 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) prevê que "a mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados." A transferência de empregado para outra sociedade do mesmo grupo econômico não é vedada pelo artigo 469 da Consolidação das Leis Trabalhistas, exceto para outra localidade, quando se exige prévia anuência: Art. 469 Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio . § 1º Não estão compreendidos na proibição deste artigo: os empregados que exerçam cargo de confiança e aqueles cujos contratos tenham como condição, implícita ou explícita, a transferência, quando esta decorra de real necessidade de serviço. § 2º É licita a transferência quando ocorrer extinção do estabelecimento em que trabalhar o empregado. § 3º Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação. Entretanto, o Termo de Verificação Fiscal (TVF) ressalta a artificialidade da constituição da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., vez que sua mão de obra foi transferida de outras empresas do grupo econômico, não havendo modificação do serviço, nem do local da sua execução (efls 49 a 51): Fl. 5432DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.402 63 (...) Por sua vez, o acórdão recorrido, consubstanciado no Termo de Verificação Fiscal (TVF), avalia que o gasto com pessoal, incluindo 24 (vinte e quatro) empregados, foi transferido para MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. em maio do anocalendário de 2007, proporcionando um aumento do respectivo custo de R$ 171.061,61 para R$ 300.076,65 nos próximos oito meses. Contudo, a Morena Veículos Ltda., ora Recorrente, contabilizou uma despesa de serviços contratados de R$ 1.525.624,39, assim sendo, não proporcionando a intentada redução do custo administrativo. Fl. 5433DF CARF MF 64 Cada empregado que integrou a MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. foi identificado através de planilha anexada pelas Recorrentes, descrevendo o vínculo empregatício anterior em outra sociedade do grupo e a função desempenhada, compatível com uma central de serviços compartilhados. . Fl. 5434DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.403 65 O parecer emitido pela Ernst & Young, firma de auditoria independente, endossou o crescimento de mão de obra direta utilizada pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., entre os anoscalendário de 2007 e de 2011, quando, igualmente, houve um aumento da receita das sociedades do grupo empresarial. Fl. 5435DF CARF MF 66 Frisese que no anocalendário de 2007, quando 24 (vinte e quatro) empregados foram transferidos da Morena Veículos Ltda. para MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., essa finalizou o exercício com 61 (sessenta e um) funcionários, segundo a mesma firma de auditoria. A constituição da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., com a transferência de empregados de setores administrativos da Morena Veículos Ltda., ora Recorrente, e outras sociedades do grupo econômico, convalida o propósito inicial de racionalização de custos administrativos, mediante uma nova estrutura para prestação de serviços administrativos, necessários e usuais às atividades de cada contratante. V. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E COMPARTILHAMENTO DE CUSTOS. O serviço prestado pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. era dividido em "Central de Serviços Compartilhados" e "Central de Compras". A "Central de Serviços Compartilhados" executava as seguintes atividades, especificadas pelas Recorrentes: Fl. 5436DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.404 67 O mesmo parecer da Ernst & Young relata metodologia desenvolvida pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., novamente, certificando serviços relacionados à demanda administrativa da Morena Veículos Ltda. e do grupo econômico: Fl. 5437DF CARF MF 68 A "Central de Compras" foi implementada pela consultoria de outra firma independente, Delloite Touche Tohmatsu, desempenhando as atividades a seguir, mencionadas nos recursos voluntários: De acordo com as recorrentes, esta "Central de Compras" é comprovada pelas notas fiscais anexadas à impugnação, bem como pelo parecer exarado pela Ernst & Young: O plano geral de contas contábeis identifica despesas inerentes ao desenvolvimento do serviço administrativo prestado pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. e seu relacionamento com outras empresas, não integrantes do seu grupo econômico, como reportado pela Ernst & Young, demonstrando a existência de uma "Central de Serviços Compartilhados" e uma "Central de Compras": Fl. 5438DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.405 69 Fl. 5439DF CARF MF 70 Fl. 5440DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.406 71 Não há controvérsia que a MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. foi constituída com propósito específico de assessorar as empresas do grupo econômico nos seus serviços administrativos (atividadesmeio), inclusive a Recorrente, Morena Veículos Ltda.. Nesse sentido, não se limitando à folha salarial, presumível que as outras despesas eram de interesse das contratantes e antecipadas pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda.. Por exemplo, a MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. escriturou o pagamento do seguro de edifícios, embora não sendo proprietária de imóveis, conforme o opinativo da Ernst & Young, esclarecendo que "o rateio das despesas é realizado com base na metragem da área pelas empresas". Adicionalmente, as recorrentes afirmaram que "figuram entre as fornecedoras da MC ASSESSORIA empresas de reconhecida credibilidade no mercado, a exemplo de HSBC S/A, SODEXHO PASS DO BRASIL E COMÉRCIO LTDA., DELOITTE CONSULTING, PROMEDICA PROTEÇÃO MÉDICA A EMPRESAS LTDA., dentre outras entidades que negociaram e entabularam com a MC ASSESSORIA negócios válidos e representativos operacional e economicamente.", inexistindo prova ou indício em contrário. Fl. 5441DF CARF MF 72 A Ernst & Young declarou a seguinte conclusão sobre sua auditoria, compreendendo ao anoscalendário de 2007 e 2011: Portanto, notase que a atividade exercida pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. é típica de um centro de serviço compartilhado, reconhecido como válido pela Solução de Divergência da CoordenaçãoGeral de Tributação (COSIT) nº 23, de 23 de setembro de 2013, não havendo impedimento normativo para uma reorganização societária com essa finalidade. VI. DEDUTIBILIDADE DAS DESPESAS. A autoridade fiscal admitiu, parcialmente, a dedutibilidade dos pagamentos dos serviços contratados da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., impondo um critério de rateio e diminuindo o valor, segundo o faturamento de cada sociedade, integrante do mesmo grupo econômico. Ressalvase que não existiu questionamento sobre a efetiva prestação de serviços, necessária e usual, nem do seu pagamento para MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda.. Limitase a discordância quanto ao valor do serviço contratado, presumindo um sobrefaturamento, que aumentaria a dedutibilidade das despesas para as contratantes, submetidas ao lucro real, constituindo uma estrutura societária artificial com único propósito de obter vantagem tributária indevida. As despesas operacionais são "necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora", conforme prevê o artigo 299 do Regulamento de Imposto sobre a Renda (RIR), instituído pelo Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999: Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º). § 3º O disposto neste artigo aplicase também às gratificações pagas aos empregados, seja qual for a designação que tiverem. Fl. 5442DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.407 73 Em Termo de Verificação Fiscal (efls. 57), a auditoria reconhece "que existem despesas de pessoal a serem rateadas por todas as empresas do grupo", porém, estabeleceu um critério para "reduzir o montante relativo a lavratura do Auto de Infração dos tributos (IRPJ e CSLL) efetivamente declarados em DCTF e/ou pagos pela empresa MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., que de fato não existe, proporcionalmente pelo faturamento das referidas empresas", por exemplo, quanto ao anocalendário de 2007, elaborando o demonstrativo abaixo: A autoridade fiscal presumiu a existência de simulação, não identificando qualquer propósito empresarial na comentada reestruturação societária do grupo econômico, que centralizou a execução dos serviços administrativos pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. (efls. 58): Fl. 5443DF CARF MF 74 A reorganização societária, com prévia transferência de empregados, posteriormente, havendo crescimento da mão de obra direta e incremento da receita bruta do grupo econômico, não possibilitaria a acusação fiscal de que o interesse exclusivo consistia na redução do custo tributário e o aumento do lucro disponível aos sócios. Imprescindível, avaliar se na citada reestruturação foi revestida de "clareza, razoabilidade, formalidade, assentamento contábil e legalidade fiscal a ser conferido a toda a operação concentrada", tal como preconiza a ulterior Solução de Divergência da CoordenaçãoGeral de Tributação (COSIT) nº 23/2013. A ação fiscal se concentrou na tomadora dos serviços prestados pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., incluindo a Recorrente, Morena Veículos Ltda., ignorando a capacidade operacional daquela pessoa jurídica que executava os serviços administrativos incontroversos, com escrituração fiscal própria, despesas compatíveis com suas atividades e faturamento para diversas integrantes do grupo econômico. Bastante elucidativo foi parecer da Ernst & Young, anexado pela Recorrente, que comprova a existência real das atividades estruturadas pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., por exemplo, descrevendo sua escrituração contábil, própria de um centro compartilhado de serviços administrativos e de compras. O acórdão nº 10323.357, proferido pela outrora 3º Câmara do extinto 1º Conselho de Contribuintes, diverge de uma das premissas da acusação fiscal para presumir a existência de simulação: SIMULAÇÃO – INEXISTÊNCIA – Não é simulação a instalação de duas empresas na mesma área geográfica com o desmembramento das atividades antes exercidas por uma delas, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. (...) Por isso, o fisco, a quem incumbe desconstituir a presunção de legitimidade de que gozam os atos e negócios jurídicos atacados, provando que não passam de mera aparência ou ocultam uma outra relação jurídica de natureza diversa, escamoteando a ocorrência do fato gerador, há de se valer da prova indireta, de indícios, que hão de ser graves, precisos, concordantes entre si, resultantes de uma forte probabilidade e indutores de ligação direta do fato desconhecido como fato conhecido. Fl. 5444DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.408 75 A meu sentir, disso não se desincumbiu o fisco. A falta de aprofundamento da ação fiscal faz com que os fatos apontados como indícios de simulação, quais sejam, a instalação das duas empresas na mesma área geográfica e as alterações dos seus objetivos sociais, reservandose a uma a fabricação do casco e à outra os serviços de montagem da embarcação, possam ser tidos como desdobramento da atividade antes exercida por uma delas, objetivando racionalizar as operações e minorar a carga tributária. A conclusão diversa chegaria se a fiscalização comprovasse que a empresa desqualificada não mantinha registros e inscrições fiscais próprias, que não possuía quadro próprio de empregados, que não celebrava negócios, que não emitia documentação, que não mantinha escrituração fiscal relativa a seus negócios. (grifei) As despesas questionadas equivalem ao percentual médio 1,53% da receita bruta de todas as sociedades do grupo econômico: Especificamente, quanto à Morena Veículos Ltda., as despesas administrativas com a MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. representaram o percentual aproximado de 0,70% sobre a receita bruta do anocalendário de 2007. Não obstante, essas despesas administrativas consistiram no percentual aproximado de 2,01% da receita bruta dos anoscalendário de 2008 e 2009. ANOCALENDÁRIO RECEITA BRUTA DE VENDAS DESPESAS PERCENTUAL APROXIMADO 2007 163.283.087,00 1.143.901,00 0,70% 2008 175.355.745,00 3.541.960,00 2,01% MORENA VEÍCULOS LTDA. 2009 163.283.087,00 3.282.420,00 2,01% Divergindo da exposição do Termo de Verificação Fiscal, não vislumbro que tais percentuais caracterizariam um sobrefaturamento, ilicitamente, aumentando as despesas dedutíveis da Recorrente, exigindo outras diligências para validar essa presunção de simulação Fl. 5445DF CARF MF 76 no negócio jurídico firmado com a MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. Os percentuais acima são compatíveis com as despesas administrativas de qualquer sociedade, principalmente, considerando as "Central de Serviços Compartilhados" e "Central de Compras" relatada pela Recorrente, ratificada pelo opinativo da Ernst & Young. De acordo com prof. Ricardo Mariz de Oliveira, “É essencial compreender que o negócio indireto diferenciase da simulação porque nesta há desconformidade entre o desejado e o praticado, o que obriga as partes a realizar atos paralelos ocultos de desfazimento ou neutralização dos efeitos do praticado ostensivamente, ao passo que no negócio indireto as partes desejam e mantêm o ato praticado e se submetem por inteiro ao seu regime jurídico e a todas as suas consequências.”(Questões Relevantes, Atualidades e Planejamento com Imposto sobre a Renda, 11º Simpósio, IOB de Direito Tributário). O prof. Paulo Ayres Barreto ensina sobre "a efetiva e real intenção do contribuinte que pratica certos atos que geram economia fiscal ou redução dos tributos devidos", que " Se os seus atos tiveram motivações outras, e não as de natureza tributária, a operação se legitima. Na hipótese contrária, ou seja, se restar comprovado que o único propósito de seus atos foi alcançar um ganho fiscal ou a redução de tributos, os efeitos desta natureza não se legitimam"(BARRETO, Paulos Ayres. Elisão tributária limites normativos. Tese apresentada ao concurso à livre docência do Departamento de Direito Econômico e Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 2008, p. 232233). A concentração dos serviços administrativos em uma pessoa jurídica do mesmo grupo econômico é uma alternativa conhecida para redução do custo operacional e aumento da eficiência, não evidenciando reorganização societária artificial, com interesse único no ganho tributário e ausência de propósito negocial. O Ilmo. Conselheiro, Luís Eduardo Garrossini Barbieri, quando da relatoria do acórdão nº 3202000.633, esclareceu que a motivação do lançamento de ofício é relacionada a "descrição dos pressupostos de fato (motivo)", assim sendo o "Fisco deve demonstrar (e provar!) que a situação fática enquadrouse perfeitamente no pressuposto de direito (dispositivo legal)": A “motivação” está relacionada com a descrição dos pressupostos de fato (“motivo”). O Fisco deve demonstrar (e provar!) que a situação fática enquadrouse perfeitamente no pressuposto de direito (dispositivo legal) que serve de fundamento ao ato administrativo. Em outras palavras, devese demonstrar que houve a subsunção do fato à norma, que o evento do mundo fenomênico, relatado na linguagem competente – fato jurídico, enquadrase na situação na hipótese de incidência tributária (antecedente da norma), dando ensejo ao fato jurídicotributário (consequente da norma). Por fim, a acusação fiscal de que a MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. sobrefaturou seus serviços para outra pessoa jurídica do mesmo grupo econômico, necessitaria da comprovação da distribuição disfarçada de lucros, observando a previsão normativa específica do artigo 464, incisos V e VI, do Regulamento de Imposto sobre a Renda (RIR Decreto nº 3.000/1999): Fl. 5446DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.409 77 Art. 464. Presumese distribuição disfarçada de lucros no negócio pelo qual a pessoa jurídica (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 60, e DecretoLei nº 2.065, de 1983, art. 20, inciso II): (...) V paga a pessoa ligada aluguéis, royalties ou assistência técnica em montante que excede notoriamente ao valor de mercado; VI realiza com pessoa ligada qualquer outro negócio em condições de favorecimento, assim entendidas condições mais vantajosas para a pessoa ligada do que as que prevaleçam no mercado ou em que a pessoa jurídica contrataria com terceiros. (grifei). Entendo pela dedutibilidade das despesas administrativas, oriundas da prestação de serviços contratado da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., eis que necessárias e usuais às atividades da Recorrente, consoante o artigo 299 do Regulamento de Imposto sobre a Renda (RIR Decreto nº 3.000/1999), não havendo prova em contrário de sobrefaturamento ou pretensa distribuição disfarça de lucros. Isto posto, voto pelo não conhecimento do Recurso de Ofício e pelo conhecimento do Recurso Voluntário e, no mérito, DOU PROVIMENTO aos recursos voluntários, reconhecendo a deduditibilidade das despesas com serviços prestados pela MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda.. (assinado digitalmente) Rafael Gasparello Lima Relator, Relator Voto Vencedor Conselheiro Luis Henrique Marotti Toselli, Redator Designado. Em que pesem os argumentos expendidos pelo Ilustre Conselheiro Relator, peço vênia para, respeitosamente, divergir de seu voto apenas no que diz respeito à glosa dos dispêndios, afinal entendo que o critério de rateio de despesas que teria norteado as cobranças mensais dos serviços não restou devidamente comprovado pelo contribuinte. Relata o voto do I. Relator, no tópico VI Dedutibilidade das Despesas, ponto de divergência, que: Ressalvase que não existiu questionamento sobre a efetiva prestação de serviços, necessária e usual, nem do seu pagamento para MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda.. Limitase a discordância quanto ao valor do serviço contratado, presumindo um sobrefaturamento, que aumentaria a dedutibilidade das Fl. 5447DF CARF MF 78 despesas para as contratantes, submetidas ao lucro real, constituindo uma estrutura societária artificial com único propósito de obter vantagem tributária indevida. Após tecer comentários sobre a legitimidade da estrutura da prestadora de serviços MC, mas não propriamente do controle e critério para definição dos valores faturados, o voto ora vencido teceu as seguintes considerações: Divergindo da exposição do Termo de Verificação Fiscal, não vislumbro que tais percentuais caracterizariam um sobrefaturamento, ilicitamente, aumentando as despesas dedutíveis da Recorrente, exigindo outras diligências para validar essa presunção de simulação no negócio jurídico firmado com a MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda. Os percentuais acima são compatíveis com as despesas administrativas de qualquer sociedade, principalmente, considerando as "Central de Serviços Compartilhados" e "Central de Compras" relatada pela Recorrente, ratificada pelo opinativo da Ernst & Young. [...] A concentração dos serviços administrativos em uma pessoa jurídica do mesmo grupo econômico é uma alternativa conhecida para redução do custo operacional e aumento da eficiência, não evidenciando reorganização societária artificial, com interesse único no ganho tributário e ausência de propósito negocial. E arremata: Entendo pela dedutibilidade das despesas administrativas, oriundas da prestação de serviços contratado da MC Assessoria em Gestão Empresarial Ltda., eis que necessárias e usuais às atividades da Recorrente, consoante o artigo 299 do Regulamento de Imposto sobre a Renda (RIR Decreto nº 3.000/1999), não havendo prova em contrário de sobrefaturamento ou pretensa distribuição disfarça de lucros. De fato, não há que se falar em simulação da empresa prestadora de serviços MC. E também é possível e usual a prestação de serviços compartilhados no bojo de um mesmo grupo econômico. Mas daí a afirmar que a prestação dos serviços teria sido confirmada em tese, entendo existir uma grande distância. A glosa não decorre apenas da suposta simulação, mas, antes disso, da não comprovação das despesas faturadas e que seriam manipuladas pela MS Assessoria em favor de um grupo mais amplo. Questionase, nesse ponto, não a estrutura operacional da MC propriamente dita isto foi afastado junto com a simulação mas sim a ausência de comprovação dos Fl. 5448DF CARF MF Processo nº 10580.733827/201215 Acórdão n.º 1201002.287 S1C2T1 Fl. 5.410 79 critérios que teriam norteado a atribuição dos valores que geraram as deduções das despesas nas empresas participantes dos "gastos compartilhados". Com efeito, de acordo com o artigo 299, são operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, e necessárias as despesas usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa. Não basta justificar somente a necessidade do gasto. Para que a despesa seja dedutível, é imprescindível a sua comprovação, isto é, a despesa dedutível deve possuir suporte em elementos probatórios convincentes da operação que lhe deu causa, notadamente no caso de contratos de rateio de despesas (cost sharing) e/ou de prestação de serviços. Nesse sentido é a jurisprudência administrativa. Veja, a título ilustrativo, as ementas de alguns julgados: REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. PROVA DE SERVIÇOS PRESTADOS. REQUISITOS. Para que qualquer parcela seja dedutível na apuração do lucro real e do lucro liquido, é necessário que haja elementos convincentes da efetividade da operação, mormente no caso de prestação de serviços. A apresentação de contrato firmado com empresa estrangeira, estipulando obrigações de forma genérica é insuficiente. (CARF 1a. Seção / 1a. Turma da 1a. Câmara / ACÓRDÃO 110100.468 em 26/05/2011) GLOSA DE CUSTOS. FALTA DE COMPROVAÇÃO. CONSÓRCIO. Deve ser mantida a glosa dos custos se não foi apresentada documentação hábil e idônea a comprovar as prestações específicas de cada participante no consórcio, bem como os critérios de partilha das receitas e despesas. (CARF. 1a SEÇÃO. ACÓRDÃO 1803001.484 em 10/12/2012). GLOSA DE DESPESAS NÃO COMPROVADAS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA EFETIVA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. A comprovação das despesas passa pela apresentação da documentação Contábil e fiscal exigidas legalmente para a operação examinada, bem como pela demonstração da efetiva prestação dos serviços ou entrega das mercadorias a que se referem. Serviços de consultoria para análise de aquisição e alienação de participação societária, ou para viabilizálas, pressupõe que existam relatórios conclusivos, comunicados e pareceres escritos, em consonância com o que determinam e Fl. 5449DF CARF MF 80 prevêem as cláusulas dos contratos apresentados. (CARF. Acórdão 1302002.542. Sessão de 19/02/2018) Nessa linha de raciocínio, não basta, para comprovar uma prestação de serviços rateados, apresentar um contrato amplo, que abrange dezenas de atividades, mas que são controlados exclusivamente por meio de notas fiscais e planilhas genéricas (fls. 528/532 e 533/639), ainda mais no bojo de uma reestruturação para alocação de gastos comuns e compartilhados com empresas do mesmo grupo. Ora, a simples apresentação de planilhas e faturas que não permitem averiguar os componentes do montante faturado, sua natureza e como foi quantificado não é suficiente para comprovar o serviço tido por contratado. Frisase que as notas fiscais emitidas pela prestadora para as contratantes (dentre elas a Recorrente), além de não discriminarem os serviços desenvolvidos, contendo apenas indicação genérica, também não permitem compreender o que de fato foi executado. Não é possível fazer uma relação entre as tarefas realizadas, o item do contrato e formação dos preços finais mensais, impedindo a análise do que foi exatamente faturado e como houve a formação da despesa para cada uma das empresas tomadoras. De se registrar, aqui, que a Recorrente não faz menção a qualquer memoriais de cálculos, relatórios de horas gastas, time sheet ou materiais utilizados ou consumidos que atestem a efetividade da prestação dos serviços, apresentando apenas um contrato e notas genéricas desprovidos de articulação lógica ou corelação e que não provam os montantes contidos nas notas fiscais que levaram a glosa. Dessa forma, abro divergência para manter a glosa de despesas. Pelo exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO aos RECURSOS VOLUNTÁRIOS para: (i) afastar a multa qualificada, reduzindoa de 150% para 75%; e (ii) afastar a responsabilidade solidária do Recorrente Sr. Florisberto Ferreira de Cerqueira. É como voto. (assinado digitalmente) Luis Henrique Marotti Toselli Redator Designado. Fl. 5450DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13706.000799/2008-02
Turma: Segunda Turma Extraordinária da Segunda Seção
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Aug 28 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Sep 18 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2004
ANISTIADOS POLÍTICOS. ISENÇÃO INSTITUÍDA PELA LEI Nº 10.599/2002.
Os valores pagos a título de indenização a anistiados políticos são isentos do Imposto de Renda, nos termos do parágrafo único do art. 9º da Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002. O benefício alcança as aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza pagos aos já anistiados políticos, civis ou militares, nos termos do art. 19 da Lei n°10.559. de 2002
Numero da decisão: 2002-000.271
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso, para, no mérito, dar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez - Presidente e Relatora
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez, Fábia Marcília Ferreira Campêlo, Thiago Duca Amoni e Virgílio Cansino Gil.
Nome do relator: CLAUDIA CRISTINA NOIRA PASSOS DA COSTA DEVELLY MONTEZ
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 2004 ANISTIADOS POLÍTICOS. ISENÇÃO INSTITUÍDA PELA LEI Nº 10.599/2002. Os valores pagos a título de indenização a anistiados políticos são isentos do Imposto de Renda, nos termos do parágrafo único do art. 9º da Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002. O benefício alcança as aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza pagos aos já anistiados políticos, civis ou militares, nos termos do art. 19 da Lei n°10.559. de 2002
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso, para, no mérito, dar-lhe provimento. (assinado digitalmente) Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez - Presidente e Relatora Participaram do presente julgamento os conselheiros: Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez, Fábia Marcília Ferreira Campêlo, Thiago Duca Amoni e Virgílio Cansino Gil.
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OMISSÃO DE RENDIMENTOS. ANISTIADO POLÍTICO. Recorrente LUIZA DE SIQUEIRA CAMPOS CORREA DE OLIVEIRA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2004 ANISTIADOS POLÍTICOS. ISENÇÃO INSTITUÍDA PELA LEI Nº 10.599/2002. Os valores pagos a título de indenização a anistiados políticos são isentos do Imposto de Renda, nos termos do parágrafo único do art. 9º da Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002. O benefício alcança as aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza pagos aos já anistiados políticos, civis ou militares, nos termos do art. 19 da Lei n°10.559. de 2002 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso, para, no mérito, darlhe provimento. (assinado digitalmente) Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez Presidente e Relatora Participaram do presente julgamento os conselheiros: Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez, Fábia Marcília Ferreira Campêlo, Thiago Duca Amoni e Virgílio Cansino Gil. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 70 6. 00 07 99 /2 00 8- 02 Fl. 92DF CARF MF Processo nº 13706.000799/200802 Acórdão n.º 2002000.271 S2C0T2 Fl. 93 2 Relatório Tratase de recurso voluntário interposto em face de decisão da 1ª Turma da DRJ/RJ2, que considerou improcedente a impugnação, em decisão assim ementada (fls.60/64): ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2005 Ementa: OMISSÃO DE RENDIMENTOS. ANISTIA POLÍTICA. As aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza percebidos pelos já anistiados políticos, civis ou militares, a partir de 29 de agosto de 2002 são isentos do Imposto de Renda, desde que o beneficiário tenha solicitado, mediante requerimento ao Ministério da Justiça, a sua substituição pelo regime de reparação econômica. Se houve retenção de imposto de renda na fonte, os rendimentos deverão ser informados como tributáveis na Declaração de Ajuste Anual, enquanto não verificada a substituição de regime. Em face do sujeito passivo foi emitida a Notificação de Lançamento de fls. 24/27, relativa ao anocalendário 2004, decorrente de procedimento de revisão de Declaração de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF), em que a fiscalização apurou omissão de rendimentos do trabalho com e/ou sem vínculo empregatício, no valor de r$166.870,60. A Notificação de Lançamento alterou o resultado de saldo de imposto a restituir declarado de R$28.709,36, para saldo de imposto a pagar de R$9.259,15. Cientificada da notificação em 17/1/2008 (fls.49), a contribuinte impugnou a exigência fiscal em 14/2/2008 (fls. 3/47), alegando, em síntese, que os rendimentos considerados omitidos seriam isentos por força do parágrafo único, artigo 9º, da Lei nº 10.559, de 2002. Intimada da decisão do colegiado de primeira instância em 22/11/2011 (fl. 66), a recorrente, por intermédio de representante legal (fls.84/85), apresentou recurso voluntário em 13/12/2011 (fls. 68/85), em que alega os seguintes argumentos de defesa: é pensionista do Exército brasileiro, recebendo o benefício por ser viúva de anistiado político, conforme Emenda Constitucional nº 26, de 1985 e artigo 8º e parágrafos do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. os valores recebidos se configuram em uma indenização, por dano patrimonial, e não devem ser submetidas à incidência do IR. Cita jurisprudência e doutrina acerca do tema e a Lei nº 10.559, de 2002. Fl. 93DF CARF MF Processo nº 13706.000799/200802 Acórdão n.º 2002000.271 S2C0T2 Fl. 94 3 menciona medida liminar a ela favorável concedida pelo STJ no mandado de segurança nº 11.038. Processo distribuído para julgamento em Turma Extraordinária, tendo sido observadas as disposições do artigo 23B, do RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 2015, e suas alterações (fl.86). Fl. 94DF CARF MF Processo nº 13706.000799/200802 Acórdão n.º 2002000.271 S2C0T2 Fl. 95 4 Voto Conselheira Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez Relatora Admissibilidade O recurso é tempestivo e atende aos requisitos de admissibilidade, assim, dele tomo conhecimento. Mérito O litígio recai sobre rendimentos recebidos pela recorrente, os quais ela alega serem isentos por se tratar de indenização paga a anistiado político. Inicialmente, cabe registrar que o mandando de segurança nº 2005/0161747 5, citado no recurso voluntário, não se aplica a situação aqui analisada, visto que foi ajuizado pela recorrente visando o fim do desconto na fonte do IR sobre a pensão por ela recebida. A ação foi ajuizada em 2005 e aqui está se tratando do anocalendário 2004 quando o IRRF já fora descontado por ocasião do pagamento da pensão a ela ao longo do ano de 2004. Assinale se ainda que, em consulta ao sítio do STJ, constatase que foi declarada a ilegitimidade passiva da RFB para figurar no pólo passivo da ação, conforme trecho da decisão a seguir reproduzido: Inicialmente, acolho a alegação de ilegitimidade passiva ad causam do Sr. SecretárioGeral da Receita Federal, considerando que os procedimentos tidos como ilegais não resultam nem dependem de sua conduta, mas sim dos órgãos administrativos responsáveis pelo pagamento da pensão, isto é, o Comando do Exército e o Ministério da Defesa. Quanto ao mérito da questão, o colegiado de primeira instância considerou improcedente a impugnação, consignando: A Lei n° 10.559, de 13 de novembro de 2002 (resultante da conversão da Medida Provisória n° 65, de 28 de agosto de 2002, publicada no Diário Oficial da Unido —DOU de 29.08.2002), ao regulamentar o art. 8° do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, estabelecendo o Regime do Anistiado Político, garantiu ao anistiado político, entre outros direitos, o da reparação econômica, de caráter indenizatório, em prestação única ou em prestação mensal, permanente e continuada (art. 1°, inciso II), e também dispôs que os valores pagos a titulo de Fl. 95DF CARF MF Processo nº 13706.000799/200802 Acórdão n.º 2002000.271 S2C0T2 Fl. 96 5 indenização ao anistiado político são isentos do imposto de renda (art.9°, parágrafo único): ... No que toca aos pagamentos de aposentadoria ou pensão excepcional relativa aos já anistiados políticos, que vinham sendo efetuados pelo INSS e demais entidades públicas, a referida Lei, dispôs o seguinte: Art. 19. O pagamento de aposentadoria ou pensão excepcional relativa aos já anistiados políticos , que vem sendo efetuado pelo INSS e demais entidades públicas, bem como por empresas, mediante convênio com o referido instituto, será mantido, sem solução de continuidade, até a sua substituição pelo regime de prestação mensal, permanente e continuada, instituído por esta Lei, obedecido o que determina o art. 11. (Grifouse.) O Decreto n° 4.897, de 25 de novembro de 2003, ao regulamentar o parágrafo único do art. 9° da Lei n° 10.559, de 2002, determinou expressamente que também estão isentos do imposto de renda as aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza pagos aos já anistiados políticos, civis ou militares, nos termos do art. 19 da Lei n° 10.559, de 2002: Art. 10 Os valores pagos a titulo de indenização a anistiados políticos são isentos do Imposto de Renda, nos termos do parágrafo único do art. 9° da Lei n°10.559, de 13 de novembro de 2002. § 1º O disposto no caput inclui as aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza pagos aos já anistiados políticos, civis ou militares, nos termos do art. 19 da Lei n°10.559. de 2002. Entretanto, conforme se depreende da leitura dos arts. 10 e 12 da Lei n° 10.559, de 2002, bem como do item 1 da Exposição de Motivos n° 197 do Ministério da Justiça, de 8 de dezembro de 2003 (publicada no DOU de 09.12.2003), transcritos a seguir, a isenção do art. 9° da referida lei é condicionada à existência prévia de requerimento: Art. 10. Caberá ao Ministro de Estado da Justiça decidir a respeito dos requerimentos fundados nesta Lei. (..) Art. 12. Fica criada, no âmbito do Ministério da Justiça, a Comissão de Anistia, com a finalidade de examinar os requerimentos referidos no art. 10 desta Lei e assessorar o respectivo Ministro de Estado em suas decisões. (...) Exposição de Motivos n°197, do Ministério da Justiça: Fl. 96DF CARF MF Processo nº 13706.000799/200802 Acórdão n.º 2002000.271 S2C0T2 Fl. 97 6 CONCLUSÕES DA COMISSÃO INTERMINISTERIAL Em atendimento ao disposto no art. 3° do Decreto de 27 de agosto de 2003, que instituiu Comissão Interministerial para estabelecer critérios e forma de pagamento da reparação econômica aos anistiados políticos de que trata a Lei n° 10.559, de 13 de novembro de 2002, o Ministro de Estado da Justiça, na condição de coordenador daquela Comissão, torna públicas as conclusões dos trabalhos por ela realizados. 1. O art. 9º, parágrafo único, da Lei n° 10.559, de 2002, concedeu isenção do imposto de renda aos valores pagos a titulo de indenização aos anistiados políticos e deve ser observado independentemente da análise do requerimento de substituição pelo regime de reparação econômica pelo Ministério da Justiça. Neste sentido, foi editado o Decreto n°4.897, de 25 de novembro de 2003. Sendo assim, as aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza percebidos pelos já anistiados políticos, civis ou militares, nos termos do art. 19 da referida Lei n2 10.559 de 2002, a partir de 29 de agosto de 2002, são isentos do imposto de renda, desde que exista o prévio requerimento de substituição pelo regime de reparação econômica, ainda que pendente de deferimento. Ressaltese que se a fonte pagadora efetuou retenção de imposto de renda, há que se observar, ainda, o disposto no parágrafo único do art. 22 do Decreto 4.897, de 2003: Art. 2° O disposto neste Decreto produz efeitos a partir de 29 de agosto de 2002, nos termos do art. 106, inciso I, da Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966 —Código tributário Nacional. Parágrafo único. Eventual restituição do Imposto de Renda já pago até a publicação deste Decreto efetivarse6 após deferimento da substituição de regime prevista no art. 19 da Lei n°10.559. de 2002. (Grifouse). Portanto, eventual restituição de imposto de renda já recolhido somente poderá ser efetivada após deferimento da mencionada substituição de regime. (destaques acrescidos) Assim, a decisão de piso não reconhece a isenção pleiteada pelo fato de a recorrente não ter apresentado requerimento junto ao Ministério da Justiça para substituição da pensão recebida pelo regime de reparação econômica. Nesse tocante, cabe reproduzir o Decreto nº 4.897, de 2003: Art. 1º Os valores pagos a título de indenização a anistiados políticos são isentos do Imposto de Renda, nos termos do parágrafo único do art. 9º da Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002. Fl. 97DF CARF MF Processo nº 13706.000799/200802 Acórdão n.º 2002000.271 S2C0T2 Fl. 98 7 § 1º O disposto no caput inclui as aposentadorias, pensões ou proventos de qualquer natureza pagos aos já anistiados políticos, civis ou militares, nos termos do art. 19 da Lei nº 10.559, de 2002. § 2º Caso seja indeferida a substituição de regime prevista no art. 19 da Lei nº 10.559, de 2002, a fonte pagadora deverá efetuar a retenção retroativa do imposto devido até o total pagamento do valor pendente, observado o limite de trinta por cento do valor líquido da aposentadoria ou pensão. Art. 2º O disposto neste Decreto produz efeitos a partir de 29 de agosto de 2002, nos termos do art. 106, inciso I, da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código tributário Nacional. Parágrafo único. Eventual restituição do Imposto de Renda já pago até a publicação deste Decreto efetivarseá após deferimento da substituição de regime prevista no art. 19 da Lei nº 10.559, de 2002.” O §2º, do artigo 1º, acima destacado, estabelece regras para a retenção retroativa do IR devido no caso de indeferimento da substituição do regime. Essa regra se mostra incompatível com o entendimento da decisão de piso, de reconhecimento da isenção somente após o requerimento da substituição de regime ao Ministério da Justiça. Ao prever a retenção retroativa, é de se concluir que o decreto reconhece a não incidência do imposto no momento do pagamento, sem condicionar a isenção à existência de pedido ou portaria ministerial. Conclusão Pelo exposto, voto por conhecer do recurso, para, no mérito, darlhe provimento, cancelando a omissão de rendimentos apontada no lançamento. (assinado digitalmente) Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez Fl. 98DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10872.720094/2016-05
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 15 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Sep 10 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2011
OMISSÃO DE RECEITA. PASSIVO FICTÍCIO.
A manutenção no passivo de obrigações cuja origem e a exigibilidade não sejam comprovadas caracteriza a omissão no registro de receita, ressalvada ao contribuinte a prova da improcedência da presunção.
CUSTOS. DESPESAS. COMPROVAÇÃO.
A procedência ou improcedência das glosas de custos e despesas deve ser aferida, primeiramente, a partir da comprovação por parte do sujeito passivo da efetiva existência das operações e prestação dos serviços contratados, mediante documentação hábil e idônea.
Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2011
CSLL. LANÇAMENTO REFLEXO.
O decidido para o lançamento de IRPJ estende-se ao lançamento de CSLL que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso.
Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ano-calendário: 2011
COFINS. LANÇAMENTO REFLEXO.
O decidido para o lançamento de IRPJ estende-se ao lançamento de Cofins que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso.
Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Ano-calendário: 2011
PIS/PASEP. LANÇAMENTO REFLEXO.
O decidido para o lançamento de IRPJ estende-se ao lançamento da Contribuição ao PIS/Pasep que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso.
Numero da decisão: 1302-003.009
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso de ofício e, quanto ao recurso voluntário, em rejeitar as preliminares de nulidade e em indeferir pedido de perícia e, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto do relator.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente.
(assinado digitalmente)
Paulo Henrique Silva Figueiredo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias, Maria Lúcia Miceli e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
Nome do relator: PAULO HENRIQUE SILVA FIGUEIREDO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2011 OMISSÃO DE RECEITA. PASSIVO FICTÍCIO. A manutenção no passivo de obrigações cuja origem e a exigibilidade não sejam comprovadas caracteriza a omissão no registro de receita, ressalvada ao contribuinte a prova da improcedência da presunção. CUSTOS. DESPESAS. COMPROVAÇÃO. A procedência ou improcedência das glosas de custos e despesas deve ser aferida, primeiramente, a partir da comprovação por parte do sujeito passivo da efetiva existência das operações e prestação dos serviços contratados, mediante documentação hábil e idônea. Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL Ano-calendário: 2011 CSLL. LANÇAMENTO REFLEXO. O decidido para o lançamento de IRPJ estende-se ao lançamento de CSLL que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso. Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Ano-calendário: 2011 COFINS. LANÇAMENTO REFLEXO. O decidido para o lançamento de IRPJ estende-se ao lançamento de Cofins que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso. Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Ano-calendário: 2011 PIS/PASEP. LANÇAMENTO REFLEXO. O decidido para o lançamento de IRPJ estende-se ao lançamento da Contribuição ao PIS/Pasep que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso.
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PASSIVO FICTÍCIO. A manutenção no passivo de obrigações cuja origem e a exigibilidade não sejam comprovadas caracteriza a omissão no registro de receita, ressalvada ao contribuinte a prova da improcedência da presunção. CUSTOS. DESPESAS. COMPROVAÇÃO. A procedência ou improcedência das glosas de custos e despesas deve ser aferida, primeiramente, a partir da comprovação por parte do sujeito passivo da efetiva existência das operações e prestação dos serviços contratados, mediante documentação hábil e idônea. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2011 CSLL. LANÇAMENTO REFLEXO. O decidido para o lançamento de IRPJ estendese ao lançamento de CSLL que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Anocalendário: 2011 COFINS. LANÇAMENTO REFLEXO. O decidido para o lançamento de IRPJ estendese ao lançamento de Cofins que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 87 2. 72 00 94 /2 01 6- 05 Fl. 709DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 710 2 Anocalendário: 2011 PIS/PASEP. LANÇAMENTO REFLEXO. O decidido para o lançamento de IRPJ estendese ao lançamento da Contribuição ao PIS/Pasep que com ele compartilha o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso de ofício e, quanto ao recurso voluntário, em rejeitar as preliminares de nulidade e em indeferir pedido de perícia e, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto do relator. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente. (assinado digitalmente) Paulo Henrique Silva Figueiredo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias, Maria Lúcia Miceli e Luiz Tadeu Matosinho Machado. Relatório Tratamse de Recurso Voluntário e Recurso de Ofício frente ao Acórdão nº 1464.779, proferido pela 13ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto/SP (fls. 603 a 628), que julgou procedente em parte a impugnação apresentada pelo sujeito passivo, e cuja ementa é a seguinte: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2011 CUSTOS OU DESPESAS NÃO COMPROVADAS. GLOSA DE CUSTOS. Cabível o lançamento de ofício de ajuste de base de cálculo do imposto quando a fiscalização comprova se tratar de custos apropriados com base em notas fiscais inidôneas, ao passo que a contribuinte, regularmente intimada, não logra comprovar, arrimada em documentação hábil e idônea, a efetividade do ingresso das mercadorias. Fl. 710DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 711 3 IRPJ. OMISSÃO DE RECEITA. PRESUNÇÕES LEGAIS. PASSIVO FICTÍCIO. Nas presunções legais, o Fisco não precisa provar a omissão de receitas, mas é imprescindível que a ocorrência do fato indiciário (passivo fictício) esteja provado de forma a não permitir incertezas. Não prevalece a omissão de receitas com base no passivo fictício, quando a fiscalização tributa o saldo da conta passiva, englobando todas os fornecedores listados, sem determinar quais as obrigações e/ou exigibilidades que se encontram pagas e mantidas no passivo, bem como, deixa de apontar quais as exigibilidades que não foram comprovadas. GLOSA DE DESPESAS. DESPESAS NÃO INCORRIDAS. Correta a fiscalização ao glosar despesas de serviços devidamente escriturados nos livros contábeis da contribuinte, quando a própria empresa confirma jamais terem sido prestados ou pagos. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL, COFINS E PIS. A decisão pertinente ao lançamento do IRPJ deve nortear as inferências correlatas ao auto de infração de contribuições, tendo em vista que provêm de infração legal análoga, mantendo íntima relação de causa e efeito. " O presente processo decorre de procedimento fiscal realizado junto à ARCO SUL DISTRIBUIDORA DE ALIMENTOS LTDA ME, em relação ao anocalendário de 2011, tendo sido, conforme descrição contida do Termo de Verificação Fiscal de fls. 139 a 151, e transcrita no Acórdão recorrido do seguinte modo: "Na fase de preparo da fiscalização, foi apurado o seguinte: 1) em 2011, o contribuinte comprou R$ 13.927.397,33 de mercadorias através de notas fiscais eletrônicas emitidas pela Brookmarquex Comercio de Gêneros Alimentícios Ltda, CNPJ 13.386.546/000174; 2) contrário senso, no mesmo ano, as compras efetuadas pela Brookmarquex através de NFE e sua movimentação financeira bancária foram insignificantes, não havendo, portanto, suporte para seu expressivo volume de vendas de aproximadamente RS 24 milhões; 3) a Brookmarquex foi constituída em 10/03/11 e já em 11/04/12 não foi localizada no seu endereço na Rua Araticum, 505, loja A Anil Rio de Janeiro/RJ, como foi constatado pela RFB em diligência realizada no local e levou à declaração de sua inaptidão (processo 10074722029/201288); 4) foram apropriadas pelo contribuinte despesas operacionais de R$ 1.532.601,00 na conta de Serviços Prestados PJ 41102003 em nome de Luage Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda; Fl. 711DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 712 4 5) a cronologia de apropriação das despesas referentes à Luage não seguiu a ordem de numeração das notas fiscais citadas nos históricos dos próprios lançamentos contábeis; 6) durante o ano de 2011, o saldo das contas a pagar do contribuinte, incluindo a conta de fornecedores, se elevou de R$ 7.448.183,59 para R$ 31.117.003,53, indicando possíveis obrigações pagas e não baixadas na contabilidade. II Infrações Apuradas na Fiscalização II1 Brookmarquex Em adição aos exames preliminares, a fiscalização verificou nos sistemas da RFB que a Brookmarquex não pagou (Conta Corrente) ou sequer declarou (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF) quaisquer tributos ou contribuições federais, não tendo também quitado (Conta Corrente) ou declarado contribuições previdenciárias, além de não ter empregados registrados (Guias de Recolhimento do FGTS e Informações â Previdência Social GFIP). A isto ainda se soma o fato de que seus sócios não têm capacidade econômica ou administrativa para gerir seu expressivo volume de negócios (Declarações de Ajuste Anual e Declarações do Imposto de Renda Retido na Fonte DIRF). O contribuinte foi intimado a justificar as compras efetuadas junto a Brookmarquex, o que incluía a comprovação dos pagamentos efetuados, ao mesmo tempo em que foi cientificado, expressamente, dos fatos que já haviam sido apurados pela RFB. Em suas respostas, o contribuinte limitouse a dizer que as compras efetuadas junto a Brookmarquex estavam registradas em seus livros contábeis e fiscais e que as mercadorias adquiridas foram revendidas de imediato, no próprio período de aquisição, conforme o curso normal de seus negócios. A fiscalização constatou que, de fato, as notas fiscais emitidas pela Brookmarquex foram contabilizadas em contas de estoque e de PIS, COFINS e ICMS a recuperar, tendo como contrapartida a conta de fornecedores, além de que foram lançadas nos livros fiscais. Os valores lançados na conta de estoque foram baixados pelo custo trimestral e os lançados na conta de tributos a recuperar foram baixados contra o PIS, a COFINS e o ICMS a pagar. Quanto aos valores lançados na conta de fornecedores, o contribuinte não apresentou quaisquer documentos que comprovassem seus pagamentos, como já foi dito anteriormente. Assim, a falta de apresentação por parte do contribuinte de qualquer elemento fático que comprove as compras feitas junto à Brookmarquex evidencia o apontamento já feito na fase de preparo da fiscalização de uso de documentos falsos para reduzir ou não pagar tributos federais. Fl. 712DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 713 5 Impõese, portanto, a glosa dos custos deduzidos das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL a título de custo de mercadorias vendidas, bem como a glosa do aproveitamento indevido de créditos de PIS e COFINS, com os decorrentes lançamentos de ofício, aplicandose a multa qualificada de 150% prevista no § 1º do art. 44 da Lei 9.430/96. No quadro abaixo são relacionadas as NFE emitidas pela Brookmarquex em favor do contribuinte extraídas do Sistema Público de Escrituração Digital e demonstrados os seus totais mensais: (...) Neste outro quadro são mostrados os valores das notas fiscais emitidas pela Brookmarquex registrados na Escrituração Fiscal Digital, fonte dos lançamentos contábeis em totais mensais que deram origem aos custos deduzidos das bases de cálculo de IRPJ e CSLL e aos créditos de PIS, COFINS e ICMS utilizados, como se pode ver no razão das contas: (...) Cabe ainda consignar que a conduta do contribuinte no caso está tipificada no artigo 1o, inciso IV, da Lei 8.137/90, o que motiva a representação fiscal para fins penais nos moldes do caput do art. 1º da Portaria RFB 2.439/10. II2 Pagamentos Sem Causa A fiscalização encontrou nas contas de fornecedores e adiantamentos a fornecedores alguns registros contábeis cujos históricos identificam a Brookmarquex como beneficiária de pagamentos. Estes registros são mostrados no quadro abaixo: (...) Não é demais repetir que a fiscalização intimou o contribuinte a comprovar todos os pagamentos efetuados à Brookmarquex, não tendo sido em nada atendida neste sentido. Ademais, não se cogita que notas fiscais falsas possam dar suporte documental a tais pagamentos que, assim, ficam perfeitamente caracterizados como sem causa na forma já sedimentada na legislação do Imposto de Renda, se sujeitando à incidência na fonte do art. 674 e seus parágrafos do RIR/99. II3 Luage O contribuinte foi intimado a apresentar as notas fiscais da Luage mencionadas nos históricos dos seguintes registros contábeis: Fl. 713DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 714 6 Em 29/10/14, o contribuinte respondeu à intimação dizendo que os serviços não foram efetivamente prestados, não tendo havido, por isto, qualquer pagamento, justificando os registros contábeis em erro decorrente de troca de contador. É, portanto, incontroversa a questão, devendo ser glosadas as deduções das bases de cálculo de IRPJ e CSLL a título de despesas operacionais, bem como efetuados os correspondentes lançamentos de ofício. Cabe anotar que dos exames efetuados pela fiscalização verificouse que as notas fiscais da Luage ficaram, de fato, pendentes de pagamento e não geraram créditos de PIS e COFINS, não havendo, por isto, lançamentos de Imposto de Renda na Fonte, PIS e COFINS a serem efetuados em relação às mesmas. II4 Passivo Fictício O contribuinte foi intimado reiteradamente a comprovar os saldos da conta 21101001 Fornecedores a Pagar, tendo sido cientificado de que a falta de atendimento às intimações caracterizaria a omissão de receitas prevista no inciso III do art. 281do RIR/99. Em suas respostas, o contribuinte se limitou a apresentar o razão da conta e a dizer que os documentos de comprovação estavam à disposição da fiscalização. Ora, a fiscalização solicitou ao contribuinte que comprovasse os débitos com os fornecedores registrados na contabilidade, considerando o que estabelece o inciso III do art. 281 do RIR/99, o que implica na identificação dos credores, na quantificação dos valores devidos a cada um deles e na apresentação dos documentos de comprovação da exigibilidade dos valores devidos. Obviamente, a resposta do contribuinte não comprova em nada a exigibilidade das obrigações registradas na sua contabilidade, como é de sua responsabilidade por expressa determinação do precitado dispositivo legal, ainda mais quando o saldo da conta inclui os valores das NFE da Brookmarquex, sabidamente falsas como já visto aqui anteriormente. Assim, fica perfeitamente caracterizada a presunção de omissão de receitas prevista naquele dispositivo legal, o que dá ensejo ao lançamento de ofício de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS. O saldo da conta Fornecedores a Pagar em 31/12/11 precisa ser ajustado pelo expurgo dos valores das NFE da Brookmarquex Fl. 714DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 715 7 nele inclusos, os quais não podendo ser considerados como devidos pelos motivos aqui já expostos, muito menos podem ser considerados como pagos com recursos mantidos à margem da contabilidade, não sofrendo, por isto, os efeitos do dispositivo legal. No quadro abaixo é mostrado o saldo original da conta em 31/12/11 ajustado pela exclusão dos totais mensais das NFE da Brookmarquex: " Cabe registrar que o lançamento referente ao IRRF, baseado em infração de pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, não consta destes autos, mas sim do processo administrativo nº 10872.720093/201652. Cabe destacar, ainda, que consta dos Autos de infração de fls. 199/217 e 218/234 as infrações de compensação indevida de prejuízo operacional e base de cálculo negativa de CSLL, respectivamente, em decorrência de o sujeito passivo haver realizado compensações em montante superior aos saldos existentes. Não tendo havido contestação específica quanto a tais pontos, aplicase o art. 17 do Decreto nº 70.235, de 1972, considerandose não impugnada as matérias. Cientificado do lançamento, o sujeito passivo apresentou Impugnação (fls. 313 a 410), por meio da qual: a) teceu considerações acerca dos princípios que informam o processo administrativo fiscal e suscitou que, ao se promover glosas de custos e tributação de omissões em um total de R$ 24.000,000,00, sobre um custo total de R$ 58.000.000,00, deveria ter havido o arbitramento do lucro; b) quanto à glosa das notas fiscais relacionadas com a Brookmarquex, sustentou que, durante o anocalendário de 2011, a situação da referida pessoa jurídica era de empresa ativa regular, e os documentos por ela emitidos se revestem das "condições de idoneidade e legalidade"; c) afirma que as mercadorias relativas às operações questionadas ingressaram no seu patrimônio, conforme comprovam os registros de entrada, juntados por amostragem, devido à grande quantidade; d) aduz, ainda, que as mercadorias foram vendidas, com a correspondente declaração das receitas auferidas, conforme planilhas de controle de estoque e notas fiscais de saída, juntadas, também, por amostragem; Fl. 715DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 716 8 e) requer a realização de perícia/diligência, para a qual apresenta as questões a serem respondidas; f) no que diz respeito à infração de pagamentos sem causa, afirma que, tendo as mercadorias sido efetivamente adquiridas, não poderia subsistir o lançamento; g) alega a existência de bitributação, posto que os valores elencados nessa exigência "já o foram quando do cálculo relativo à glosa de custos"; h) quanto à multa qualificada de 150%, argumenta que "não houve a intenção dolosa de reduzir tributo ou omitir fato tendente que possa alterar ou ocultar o fato gerador da obrigação tributária"; i) afirma, ainda, que "comercializou as mercadorias que constam das notas de aquisição emitidas pela empresa Brookmarquex e que ingressaram em seu estoque, apurou os tributos incidentes sobre as receitas auferidas e os recolheu", sendo que, para a aplicação da multa qualificada, "não basta apenas a arguição de que a documentação é presumidamente inidônea"; j) no que tange às notas fiscais emitidas pela empresa Luage Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda, teria informado que os serviços não foram prestados e os pagamentos correspondentes a tais notas fiscais não teriam sido pagos, de modo que não teria ocorrido a redução da base de cálculo dos tributos e contribuições, devendo esta parcela ser excluída da tributação; k) por fim, quanto à infração baseada na constatação de passivo fictício, argumenta que a autoridade fiscal "glosou todo o passivo, representado pela conta fornecedores. Não indicou quais as obrigações que teriam sido pagas no correr do ano de 2011 e que não teriam sido baixadas da referida conta fornecedores. Também não indicou as parcelas não comprovadas do citado passivo". A decisão de primeira instância manteve a autuação referente às notas fiscais relativas à Brookmarquex, uma vez que a fiscalização teria comprovado que a citada empresa jamais teve qualquer atividade e que a ArcoSul se limitou a "afirmar que as compras seriam comprovadas tãosó através das notas fiscais e de sua respectiva escrituração nos livros contábeis", sendo que a escrituração contábil somente constitui prova "quando lastreadas em documentação hábil e idônea que comprove de forma inquestionável os fatos registrados". Entendeu, ainda, que não havia provas de vendas das mercadorias que supostamente teriam sido adquiridas da Brookmarquex, portanto incabível a desconsideração das referidas receitas e desnecessária a realização de perícia. O Acórdão manteve, também, a multa qualificada, por julgar presente o dolo da contribuinte, que "não só tinha conhecimento da inidoneidade das notas fiscais usadas, como participou de forma ativa das operações com vistas a reduzir seu lucro tributável, por meio da apuração de um custo de mercadorias vendidas (CMV) que se revelou em muito inflado". Quanto aos serviços supostamente prestados pela Luage, tendo o sujeito passivo confirmado a inexistência das despesas escrituradas, manteve a glosa dos citados dispêndios. Fl. 716DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 717 9 Em relação à infração de omissão de receitas por presunção legal com base em constatação de passivo fictício, entenderam os julgadores que "caberia à fiscalização uma investigação mais aprofundada quanto aos fornecedores listados e a demonstração de valores constantes da referida conta que já teriam sido pagos ou que jamais teriam existido", de modo que cancelaram a autuação neste ponto. Finalmente, o Acórdão recorrido considerou inexistentes razões para a apuração com base no Lucro Arbitrado, uma vez que os lançamentos questionados não maculariam toda a contabilidade. Cientificado do lançamento, o sujeito passivo apresentou Recurso Voluntário (fls. 661 a 686), no qual: a) reiterou os termos da Impugnação, em especial o pedido de perícia, que teria sido indeferido, sem fundamentação clara pelo julgador a quo; b) alegou que a autuação referente a glosa de custos estaria fundada apenas na alegação de inidoneidade dos documentos que embasaram os lançamentos contábeis, e que "a Fiscalização não logrou demonstrar a ocorrência do fato gerador e nem conseguiu determinar a matéria tributável"; c) quanto à mesma infração, sustentou, ainda, que "a Fiscalização dispunha dos meios para constatar o efetivo ingresso das mercadorias adquiridas no estoque da Recorrente e a venda desses mesmos bens, porquanto lhe foram fornecidos, em mídia, os movimentos dos estoques da empresa" e que não estaria devidamente demonstrado que os custos glosados teriam composto o custo dos produtos vendidos; d) adicionalmente, juntou documentos que comprovariam o efetivo ingresso das mercadorias no estoque e a venda desses mesmo bens, e pleiteou a realização de perícia; e) em relação às despesas referentes à Luage, sustentou que "as notas fiscais emitidas pela empresa Luage foram contabilizadas, entretanto, como os serviços não foram realizados os valores não foram pagos ao prestador"; f) e, ainda, que não teria sido provada que os referidos valores teriam sido levados à apuração dos resultados, o que, de fato, não teria ocorrido, pois a conta de apropriação das despesas teria sido encerrada contra a conta Fornecedores; g) no que diz respeito à multa qualificada, alega a nulidade do lançamento, direito, por não terem sido demonstrados os elementos determinados pelos artigos 142 do CTN e 10 do Decreto nº 70.235, de 1972; h) defende, ainda, que a utilização inidônea de documentação não teria sido comprovada, e que as mercadorias teriam efetivamente ingressado em seu estoque, inexistindo qualquer ação dolosa no sentido de "ocultar o fato gerador da obrigação tributária ou reduzir o montante de tributos e contribuições devidos"; i) por fim, que não teria sido comprovada ação dolosa, fraude, conluio ou sonegação; Fl. 717DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 718 10 j) argumentou, ainda, que o Supremo Tribunal Federal teria pacificado "o entendimento de que o percentual de multa aplicável não pode ser superior ao valor do imposto, limitandose ao percentual de100% do tributo, conforme consta da decisão prolatada no RE nº 657.372/RS". É o Relatório. Voto Conselheiro Paulo Henrique Silva Figueiredo Relator I DO RECURSO DE OFÍCIO I.1. Do conhecimento do Recurso Como relatado, por meio do Acórdão Recorrido, houve a exoneração parcial do crédito tributário, com o afastamento da infração de omissão de receitas por presunção legal com base em constatação de passivo fictício. Nos termos Súmula CARF nº 103, "Para fins de conhecimento de recurso de ofício, aplicase o limite de alçada vigente na data de sua apreciação em segunda instância". Neste sentido, o recurso de ofício deve ser conhecido, pois o valor exonerado extrapola o limite fixado pelo Ministro da Fazenda, por meio da Portaria nº 63, de 09 de fevereiro de 2017 (créditos de tributos e encargos de multa superior a R$ 2.500.000,00). Assim passo a apreciar a parcela do crédito tributário exonerada, devolvida a este colegiado por meio do citado Recurso. I.2. Do Passivo Fictício A infração foi descrita no Termo de Verificação Fiscal nos seguintes termos: "O contribuinte foi intimado reiteradamente a comprovar os saldos da conta 21101001 Fornecedores a Pagar, tendo sido cientificado de que a falta de atendimento às intimações caracterizaria a omissão de receitas previstas no inciso III do art. 281 do RIR/99. Em suas respostas, o contribuinte se limitou a apresentar o razão da conta e a dizer que os documentos de comprovação estava à disposição da fiscalização. Ora, a fiscalização solicitou ao contribuinte que comprovasse os débitos com os fornecedores registrados na contabilidade, considerando o que estabelece o inciso III do art. 281 do RIR/99, o que implica na identificação dos credores, na quantificação dos valores devidos a cada um deles e na apresentação dos documentos de comprovação da exigibilidade dos valores devidos. Fl. 718DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 719 11 Obviamente, a resposta do contribuinte não comprova em nada a exigibilidade das obrigações registradas na sua contabilidade, como é de sua responsabilidade por expressa determinação do precitado dispositivo legal, ainda mais quando o saldo da conta inclui os valores das NFE da Brookmarquex, sabidamente falsas como já visto aqui anteriormente. Assim, fica perfeitamente caracterizada a presunção de omissão de receitas prevista naquele dispositivo legal, o que dá ensejo ao lançamento de ofício de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS." O montante da infração foi então apurado a partir do saldo da conta Fornecedores em 31/12/2011, deduzido do valor das Notas Fiscais referentes à Brookmarquex, totalizando R$ 14.816.412,66. A decisão de primeira instância entendeu improcedente o lançamento, uma vez que: "A propósito, examinando os autos, verificase que a autoridade lançadora tributou o passivo no início e encerramento do períodobase, meramente tomandose como referência os saldos finais da conta FORNECEDORES no período, excluindo, tão só os valores escriturados como devidos à empresa Brookmarquex, sem considerar, contudo, eventuais pagamentos realizados pela entidade durante o anocalendário ou elaborar demonstrativo da composição mensal dos saldos das contas patrimoniais, bem como do exame e cotejo com os dados correlatos aos respectivos títulos vinculados às operações mercantis e o conteúdo intrínseco à contabilidade da entidade. Impende registrar, por conseguinte, que não se sustenta presumir o fato probante da ocorrência da hipótese de manutenção no passivo de obrigações já pagas ou cuja exigibilidade não foi comprovada, mas, sim, tornálas patentes e de todo demonstráveis a fim de constituir material probatório que ampare fidedignamente a configuração da infração prevista na norma, assim, viabilizando a eficácia da aplicação da presunção de legal que fundamenta sua extensão conceitual à condição de omissão de receita. A contribuinte logrou apresentar o Razão da conta, listando inúmeros fornecedores, além de débitos realizados na conta durante todo o anocalendário, relativos aos pagamentos efetuados. Assim, inviável supor que todos os valores contidos em sua conta FORNECEDORES se encaixariam na condição necessária para a presunção legal ora em análise. (...) Caberia à fiscalização uma investigação mais aprofundada quanto aos fornecedores listados e a demonstração de valores constantes da referida conta que já teriam sido pagos ou que jamais teriam existido." Fl. 719DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 720 12 Ao contrário do decidido, entendo que a autoridade fiscal adotou os procedimentos necessários para a verificação da exigibilidade das obrigações registradas contabilmente pelo sujeito passivo. Por meio do Termo de Intimação de fl. 76, lavrado em 12/03/2014, a autoridade fiscal intimou o sujeito passivo não apenas a demonstrar a composição dos saldos finais da conta Fornecedores em cada trimestre de 2011, mas a apresentar os documentos de comprovação dos referidos saldos. Nos Termos de Intimação de fls. 77 e 85, lavrados, respectivamente, em 08/05/2014 e 05/05/2015, foi reiterada a Intimação para a apresentação dos citados documentos comprobatórios, sendo que, no último Termo, foi explicitada a advertência que a ausência de atendimento implicaria a caracterização de omissão de receitas na forma do art. 281, inciso III, do RIR/99. Na resposta ao Termo de fl. 77 (fls. 121 e 122), a Recorrente se limitou a informar que os referidos documentos estavam à disposição da autoridade fiscal. Resposta de mesmo teor foi apresentado às fls. 125 e 126, em resposta ao Termo de fl. 85. Não tendo sido apresentada pelo sujeito passivo a documentação comprobatória dos valores registrados em sua contabilidade, considero presentes as condições para a incidência da presunção legal prevista no art. 281, inciso III, do RIR/99. In verbis: "Art.281.Caracterizase como omissão no registro de receita, ressalvada ao contribuinte a prova da improcedência da presunção, a ocorrência das seguintes hipóteses (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 12, §2º, e Lei nº 9.430, de 1996, art. 40): (...) IIIa manutenção no passivo de obrigações já pagas ou cuja exigibilidade não seja comprovada." (Destacouse) Ou seja, tendo o sujeito passivo, apesar de reiteradamente intimado para tanto, deixado de apresentar a comprovação das obrigações constantes da conta contábil Fornecedores, impõese considerar todo o valor não comprovado como receitas omitidas por presunção legal, já que a exigibilidade das referidas obrigações não foi comprovada. O precedente do CARF trazido pelo sujeito passivo e utilizado pela DRJ, para fundamentar a sua decisão, Acórdão nº 10195.392, de 28 de março de 2006, referese a caso em que o sujeito passivo apresentou documentos hábeis e idôneos de que os pagamentos das obrigações ocorreram no períodobase seguinte ao da autuação. Deste modo, voto por dar provimento ao Recurso de Ofício, para restaurar inteiramente a tributação relativa à referida infração. II DO RECURSO VOLUNTÁRIO II.1. Do conhecimento do Recurso Fl. 720DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 721 13 O sujeito passivo foi cientificado, por via postal, em 25 de maio de 2017 (fl. 656), tendo apresentado Recurso Voluntário em 21 de junho de 2017, dentro, portanto, do prazo de 30 (trinta) dias previsto no art. 33 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972. O Recurso é assinado eletronicamente pela própria pessoa jurídica. A matéria objeto do Recurso está contida na competência da 1ª Seção de Julgamento do CARF, conforme Art. 2º, incisos I e IV, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RI/CARF), aprovado pela Portaria MF nº 343, de 9 de junho de 2015. Isto posto, o Recurso é tempestivo e preenche os requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. II.2. Da preliminar de nulidade e do pedido de perícia A Recorrente sustenta nulidade do lançamento por não ter sido demonstrados os elementos determinados pelos artigos 142 do CTN e 10 do Decreto nº 70.235, de 1972. Como relatado, sustenta que "a Fiscalização não logrou demonstrar a ocorrência do fato gerador e nem conseguiu determinar a matéria tributável". A alegação é totalmente improcedente. O crédito tributário foi devidamente constituído com todos os elementos exigidos nos citados dispositivos legais. A autuação, ao contrário do alegado, não se embasou apenas na inidoneidade de documentos. A autoridade fiscal adotou todas as providências necessárias à apuração das infrações, que são minuciosamente descritas no Termo de Verificação Fiscal, oportunizou fartas oportunidades para o sujeito passivo apresentar documentos comprobatórios que elidissem as presunções legais apontadas, porém a Recorrente é que não logrou apresentar qualquer prova capaz de cumprir tal exigência. Igualmente, não procede a arguição de que a autoridade julgadora teria rechaçado a realização de perícia sem fundamentar adequadamente sua decisão. O art. 18 do Decreto nº 70.235, de 1972, coloca o atendimento ao requerimento de diligências ou perícias sob a análise da autoridade julgadora. In verbis: "Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observando o disposto no art. 28, in fine." (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) No mesmo sentido, o art. 29 do citado Decreto dispõe que "Na apreciação da prova, a autoridade julgadora formará livremente sua convicção, podendo determinar as diligências que entender necessárias". Fl. 721DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 722 14 Tratando do tema, James Marins (Direito Processual Tributário Brasileiro, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 10. ed. rev. atual. e ampl., 2017, fls. 289/290), leciona: "Como o impulso do processo compete à Administração (princípio da impulsão oficial, em conformidade com o art. 19 da LGPAF), cumprirá à autoridade julgadora de primeira instância apreciar os requerimentos de produção de provas, apreciar sua pertinência e determinar a realização daquelas que seja em virtude de terem sido requeridas ou por deliberação ex officio da autoridade de primeira instância sejam necessárias para que a instrução se complete. O juízo de pertinência probatória será feito principalmente com base nos critérios de imprescindibilidade e praticabilidade." O Acórdão recorrido rejeitou o pedido formulado pelo sujeito passivo, uma vez que "considerou suficientes as provas carreadas aos autos para a formação da convicção do julgador". De fato, não vislumbro no presente caso qualquer necessidade de que seja realizada a perícia requerida. Os autos se encontram adequadamente instruídos. A autoridade fiscal foi extremamente cuidadosa na reunião dos elementos probatórios e, à Recorrente, foram ofertadas fartas ocasiões para a apresentação dos documentos que entendesse necessários para afastar as infrações a ela imputadas, bem como para robustecer os seus argumentos de defesa. Isto posto, rejeito a preliminar de nulidade e indefiro o pedido de perícia. II.3. Das notas fiscais relativas à Brookmarquex A constatação referente a tais documentos foi descrita no Termo de Verificação Fiscal do seguinte modo: "Na fase de preparo da fiscalização, foi apurado o seguinte: 1) em 2011, o contribuinte comprou R$ 13.927.397,33 de mercadorias através de notas fiscais eletrônicas emitidas pela Brookmarquex Comercio de Gêneros Alimentícios Ltda, CNPJ 13.386.546/000174; 2) contrário senso, no mesmo ano, as compras efetuadas pela Brookmarquex através de NFE e sua movimentação financeira bancária foram insignificantes, não havendo, portanto, suporte para seu expressivo volume de vendas de aproximadamente RS 24 milhões; 3) a Brookmarquex foi constituída em 10/03/11 e já em 11/04/12 não foi localizada no seu endereço na Rua Araticum, 505, loja A Anil Rio de Janeiro/RJ, como foi constatado pela RFB em diligência realizada no local e levou à declaração de sua inaptidão (processo 10074722029/201288); (...) Fl. 722DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 723 15 Em adição aos exames preliminares, a fiscalização verificou nos sistemas da RFB que a Brookmarquex não pagou (Conta Corrente) ou sequer declarou (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF) quaisquer tributos ou contribuições federais, não tendo também quitado (Conta Corrente) ou declarado contribuições previdenciárias, além de não ter empregados registrados (Guias de Recolhimento do FGTS e Informações â Previdência Social GFIP). A isto ainda se soma o fato de que seus sócios não têm capacidade econômica ou administrativa para gerir seu expressivo volume de negócios (Declarações de Ajuste Anual e Declarações do Imposto de Renda Retido na Fonte DIRF). O contribuinte foi intimado a justificar as compras efetuadas junto a Brookmarquex, o que incluía a comprovação dos pagamentos efetuados, ao mesmo tempo em que foi cientificado, expressamente, dos fatos que já haviam sido apurados pela RFB. Em suas respostas, o contribuinte limitouse a dizer que as compras efetuadas junto a Brookmarquex estavam registradas em seus livros contábeis e fiscais e que as mercadorias adquiridas foram revendidas de imediato, no próprio período de aquisição, conforme o curso normal de seus negócios. A fiscalização constatou que, de fato, as notas fiscais emitidas pela Brookmarquex foram contabilizadas em contas de estoque e de PIS, COFINS e ICMS a recuperar, tendo como contrapartida a conta de fornecedores, além de que foram lançadas nos livros fiscais. Os valores lançados na conta de estoque foram baixados pelo custo trimestral e os lançados na conta de tributos a recuperar foram baixados contra o PIS, a COFINS e o ICMS a pagar. Quanto aos valores lançados na conta de fornecedores, o contribuinte não apresentou quaisquer documentos que comprovassem seus pagamentos, como já foi dito anteriormente. Assim, a falta de apresentação por parte do contribuinte de qualquer elemento fático que comprove as compras feitas junto à Brookmarquex evidencia o apontamento já feito na fase de preparo da fiscalização de uso de documentos falsos para reduzir ou não pagar tributos federais." Deste modo, foi realizada "a glosa dos custos deduzidos das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL a título de custo de mercadorias vendidas, bem como a glosa do aproveitamento indevido de créditos de PIS e COFINS, com os decorrentes lançamentos de ofício, aplicandose a multa qualificada de 150% prevista no § 1ºdo art. 44 da Lei 9.430/96". Como já dito, não é verdadeira a defesa da Recorrente no sentido de que a autuação se embasou apenas em suposição de inidoneidade dos documentos fiscais. Como bem descrito no Termo de Verificação Fiscal e referendado no Acórdão recorrido, a autoridade fiscal colheu diversos elementos de prova no sentido da inidoneidade das notas fiscais emitidas pela Brookmarquex, e ofertou oportunidade ao sujeito Fl. 723DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 724 16 passivo para comprovar a regularidade das operações e pagamentos relacionados a tais documentos. A Recorrente, contudo, limitouse a apresentar os seus registros contábeis, os quais, como sabido, inclusive pelo teor do art. 923 do RIR/99, tem o seu efeito probatório vinculado à existência e exibição de documentos hábeis e idôneos que os suportem. No caso, o sujeito passivo não logrou apresentar os referidos documentos, de modo que seria plenamente justificável a glosa dos custos relacionados com as notas fiscais em questão. De outra parte, não podem ser acatadas as alegações de que haveria falhas na conduta da autoridade fiscal, que teria se baseado apenas em aspectos documentais, ou no somatório das compras realizadas. Ou, ainda, de que as referidas "aquisições não compuseram o custo". Em oposição ao alegado no Recurso Voluntário, o próprio sujeito passivo reconhece (ainda que parcialmente), às fls. 128 a 138, que os valores referentes às Notas Fiscais emitidas em seu favor pela Brookmarquex foram aproveitadas como custos, no ano calendário de 2011. Estranhamente, apresenta o detalhamento apenas até a Nota Fiscal nº 27, quando nos anexos ao Recurso Voluntário apresenta informações de todas as notas fiscais apontadas no Termo de Verificação Fiscal. Além disso, no Termo de Verificação Fiscal, tevese o cuidado de apresentar em separado as notas fiscais de compras referentes à Brookmarquex e os custos associados às referidas notas fiscais. Por fim, o próprio sujeito passivo junta ao Recurso Voluntário a comprovação da saída das mercadorias relativas às aquisições à Brookmarquex, de modo também a se contrapor às suas alegações. Isto posto, deve ser negado provimento ao Recurso Voluntário, mantendose integralmente o lançamento. II.4. Das despesas referentes a Luage Conforme o Termo de Verificação Fiscal, em relação a tal ponto, o próprio sujeito passivo, em resposta a Termo de Intimação reconheceu "que os serviços não foram efetivamente prestados, não tendo havido, por isto, qualquer pagamento, justificando os registros contábeis em erro decorrente de troca de contador". De fato, afirmações neste sentido são constatadas no documentos de fls. 123 e 124. A alegação da Recorrente é que as referidas despesas não foram levadas ao resultado. O Razão juntado à fl. 198, contudo, comprova cabalmente que todos os valores glosados pela autoridade fiscal foram considerado na apuração do resultado nos 2º e 3º trimestres de 2011, de modo que acertada a glosa. Fl. 724DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 725 17 Deve, portanto, ser negado provimento ao Recurso Voluntário, quanto a este tema. II.5. Da multa qualificada Conforme Autos de Infração de fls. 199 a 246, a única infração que sofreu a incidência da multa de ofício qualificada de 150% foi aquela referente à glosa de custos relacionados com as notas fiscais relacionadas com a pessoa jurídica Brookmarquex. A penalidade foi mantida pela decisão de primeira instância, sob os seguintes fundamentos: "Diante das muitas informações trazidas aos autos, demonstrando de forma extensa a inexistência da empresa Brookmarquex e, por conseguinte, a inocorrência das operações registradas na escrituração da contribuinte, e não logrando a Impugnante comprovar as compras de mercadorias lançadas, não há como afastar o dolo da contribuinte. Resta claro que ela não só tinha conhecimento da inidoneidade das notas fiscais usadas, como participou de forma ativa das operações com vistas a reduzir seu lucro tributável, por meio da apuração de um custo de mercadorias vendidas (CMV) que se revelou em muito inflado. E aqui, ficou perfeitamente caracterizada a conduta dolosa da fiscalizada, por tudo que se mostrou no Voto: a contabilização de centenas de valores decorrentes de pagamentos pela contribuinte na conta Caixa, como se destinado àquelas empresas – fornecedores , mas que se revelaram, na verdade, terem outros fins: pagamentos efetuados ou recursos entregues a terceiros de operação ou causa não comprovada. Expõe a fiscalização, em seu Termo de Verificação, que ao longo dos meses do ano de 2011, a contribuinte manipulou de maneira fraudulenta sua contabilidade, ou seja, reiteradamente ela registrou compras jamais ocorridas, com valores em muito superiores aos das demais compras efetuadas junto aos muitos fornecedores da Impugnante, de forma a evidenciar a existência, não de meros e localizados erros materiais ou de impossibilidade de explicação por falta de elementos contábeis ou declaração inexata, mas de comportamento consistente no tempo, destinado a não levar à tributação grande parte dos valores tributáveis por meio da redução indevida de seu lucro líquido. Caracterizada, portanto, a conduta deliberada (dolosa) da fiscalizada, passível, assim, a qualificação da multa de ofício, com base no art.44 da Lei n. 9.430, de 27 de dezembro de 1996, com a redação dada pelo art.14 da Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007 (conversão da Medida Provisória n. 351, de 22 de janeiro de 2007)" De fato, as condutas descritas pela autoridade fiscal no Termo de Verificação Fiscal, ao contrário do alegado pela Recorrente, amoldamse perfeitamente às descrições de Fl. 725DF CARF MF Processo nº 10872.720094/201605 Acórdão n.º 1302003.009 S1C3T2 Fl. 726 18 fraude e sonegação, conforme arts. 71 e 72 da Lei nº 4.502, de 1964, de modo a ensejar a aplicação da multa qualificada, nos termos do art. 44, §1º, da Lei nº 9.430, de 1996. Em relação a alegação de que, conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nº 657.372/RS, o percentual de multa aplicável não pode ser superior ao valor do imposto, tratase de decisão com efeitos apenas entre as partes, de modo que não beneficia a Recorrente. Ademais, como sabido, por força do art. 62 do RI/CARF, é vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar lei, sob fundamento de inconstitucionalidade. Estando o dispositivo legal que fundamentou a constituição da multa de ofício plenamente em vigor, deve ser observado. Deve ser mantida, portanto, a multa qualificada. III DOS DEMAIS TRIBUTOS O decidido para o lançamento de IRPJ estendese ao lançamento de CSLL, Cofins e Contribuição ao PIS/Pasep que com ele compartilham o mesmo fundamento factual e para o qual não há nenhuma razão de ordem jurídica que lhe recomende tratamento diverso. Cabe lembrar que, no caso de apuração de omissão de receitas, estas serão consideradas na determinação da base de cálculo para o lançamento dos tributos acima referidos, por expressa disposição do art. 24, §2º, da Lei nº 9.249, de 1995. IV CONCLUSÃO Por todo o exposto, voto por não acolher a preliminar de nulidade, indeferir o pedido de perícia e NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. A par disso, voto por DAR PROVIMENTO ao Recurso de Ofício, para restabelecer a tributação referente a infração de omissão de receitas por passivo fictício. Deste modo, fica integralmente mantido o lançamento, na forma constante dos autos de infração lavrados. (assinado digitalmente) Paulo Henrique Silva Figueiredo Fl. 726DF CARF MF
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Numero do processo: 10821.000128/2005-86
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jun 30 00:00:00 UTC 2011
Ementa: FRANQUEADA DOS CORREIOS – ACT – RECEITA BRUTA – COMISSÕES As
agências de correio franqueadas, as ACT, são meras intermediárias na venda de serviços dos Correios, ECT, aos clientes finais.
Nessa medida, a receita bruta tributável das ACT é o valor das comissões contratuais recebidas da ECT pelo serviço de venda. Os demais valores pagos pelos clientes remuneram o serviço de correio prestado diretamente pela ECT e a ACT é mera intermediária na recepção e repasse dos valores.
Numero da decisão: 1302-000.634
Decisão: ACORDAM os membros da 3ª câmara / 2ª turma ordinária da primeira SEÇÃO DE JULGAMENTO, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário nos termos do relatório e do voto que deste formam parte integrante.
Matéria: Simples - ação fiscal - insuf. na apuração e recolhimento
Nome do relator: LAVINIA MORAES DE ALMEIDA NOGUEIRA JUNQUEIRA
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Nessa medida, a receita bruta tributável das ACT é o valor das comissões contratuais recebidas da ECT pelo serviço de venda. Os demais valores pagos pelos clientes remuneram o serviço de correio prestado diretamente pela ECT e a ACT é mera intermediária na recepção e repasse dos valores. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros da 3ª câmara / 2ª turma ordinária da primeira SSEEÇÇÃÃOO DDEE JJUULLGGAAMMEENNTTOO, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário nos termos do relatório e do voto que deste formam parte integrante. “documento assinado digitalmente” MARCOS RODRIGUES DE MELLO Presidente. “documento assinado digitalmente” LAVINIA MORAES DE ALMEIDA NOGUEIRA JUNQUEIRA Relatora. Participaram, do presente julgamento, os Conselheiros Marcos Rodrigues de Mello(presidente), Irineu Bianchi (vicepresidente), Wilson Fernandes Guimarães, Eduardo de Andrade, Lavinia Moraes de Almeida Nogueira Junqueira, Daniel Salgueiro da Silva. Fl. 1DF CARF MF Impresso em 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES DE ALMEIDA NOGUEI, Assinado digitalmente e m 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO, Assinado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES D E ALMEIDA NOGUEI 2 Relatório A empresa é franqueada dos Correios. Em fiscalização, a autoridade fiscal averiguou que o valor das receitas escrituradas pela empresa em seu Livro Diário divergia do valor das receitas objeto de emissão de nota fiscal, a autoridade fiscal apurou a diferença e intimou a empresa a fornecer esclarecimentos. Vide termo de intimação fiscal de fls.191: “Foram verificadas divergências, no exercício de 2000, entre a receita bruta de prestação de serviços obtida pela empresa de acordo com as notas fiscais apresentadas, somadas más a mês, e a receita bruta escriturada no livro Diário a cada mês, cf. planilha anexa a este termo. Exceto pelo mês de abril, o valor da receita de prestação de serviços foi sempre escriturado a menor do que a soma dos valores das notas fiscais de prestação de serviços emitidas no mês. Resultou daí a ocorrência de recolhimento a menor do Simples, visto que a base de cálculo utilizada foi o valor escriturado e não a receita efetivamente obtida, cf. indicada nas notas fiscais emitidas noperíodo. Ante o exposto, caso o contribuinte possua documentos que justifiquem, contestem, modifiquem ou complementem os fatos acima especificados, deverá apresentálos (originais) no prazo de 05 (cinco) dias úteis, justificando por escrito.” Em resposta, a recorrente apresentou o Contrato de Franquia que assinou com os Correios e o demonstrativo das arrecadações repassadas aos Correios. A autoridade fiscal analisou esses documentos e assim concluiu no Termo de Verificação Fiscal: “Da leitura da cláusula sexta do contrato (f is. 207 a 221, denominada "Acerto de Contas", depreendese que, quinzenalmente, a arrecadação da agência franqueada deve ser repassada a franqueadora. Esta, por sua vez, paga à franqueada um valor denominado comissão, calculado sobre tal receita cf. a cláusula sétima do contrato, constituindo o restante da arrecadação a remuneração da franqueadora. Tais acertos são realizados através dos relatórios supra citados; nos quais a comissão repassada pela ECT à sua franqueada aparece listada sob os códigos 2496 (até julho) e 868 (a partir de 1 agosto). Ora, a soma das duas comissões quinzenais em um determinado mês resulta no valor lançado no Diário sob a rubrica "Receita de Prestação de Serviços", naquele mês, sendo este valor utilizado como base de cálculo do SIMPLES. As parcelas que constituíram a remuneração, contratualmente estabelecida, da franqueadora, não foram consideradas como receita bruta, tendo sido excluídas da base de cálculo.” Nessa medida, a autoridade fiscal entendeu que os valores repassados pela empresa aos Correios representavam receitas da empresa que foram omitidas da tributação. Em 09032005 a contribuinte foi intimada de lançamento fiscal de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS sobre esses valores nos meses calendários do ano de 2000. Inconformada, a interessada impugnou tempestivamente o lançamento, alegando vício, pois o auditor fiscal não era contador registrado no CRC e lavrou o auto eletronicamente, fora do estabelecimento da autuada, sem precedente ação fiscal. No mérito, alegou a interessada que a autoridade fiscal usou documento inepto para fazer o lançamento, qual seja, notas fiscais que englobavam o valor de receitas da empresa ECT, pelos serviços de correio por ela prestados, devidamente repassadas a ela. Os documentos contábeis e contratuais da empresa autuada, bem como prestação de contas, estiveram disponíveis para a autoridade fiscal. Fl. 2DF CARF MF Impresso em 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES DE ALMEIDA NOGUEI, Assinado digitalmente e m 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO, Assinado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES D E ALMEIDA NOGUEI Processo nº 10821.000128/200586 Acórdão n.º 1302000.634 S1C3T2 Fl. 454 3 Assim, protestou a impugnante afirmando que o lançamento teve bases presumidas não correspondendo a receitas da impugnante, restando identificado, quantificado, qualificado com provas materiais da ocorrência do fato gerador, sendo o lançamento nulo e insubsistente. Afirmou ainda que os juros de mora SELIC não podem ser aplicados e a multa é confiscatória A Delegacia da Receita Federal de Julgamento de Campinas, SP, proferiu decisão em 10082009 mantendo em parte o lançamento fiscal (fls. 400). A DRJ entendeu que o lançamento é plenamente válido nos termos do Decreto 70.23572 e que foi lavrado por autoridade competente. Manteve o julgador o lançamento por omissão de receitas considerando a existência de notas fiscais fornecidas pela própria empresa e cujo valor não restou corretamente escriturado no Livro Diário, que foi base para tributação no regime Simples. A DRJ esclareceu que a empresa é franqueada dos Correios e não hotel e que a base de cálculo do Simples é a receita bruta, antes de qualquer pagamento ou transferência a terceiros, incluindo a ECT. Nesse sentido, os valores objeto de nota fiscal de prestação de serviços, posteriormente pagos pela franqueada aos Correios (ECT) fazem parte da receita bruta tributável no regime Simples. Entendeu a autoridade julgadora que parte do lançamento restou decaído, consoante o artigo 150, parágrafo 4º. Do Código Tributário Nacional. No mais, afirmou a DRJ que não é competente para analisar a inconstitucionalidade de Lei, quanto aos juros Selic e à multa, e manteve essas obrigações legais. Ciente da decisão em 040909 a interessada recorreu em 011009 (fls. 124 e seguintes), alegando que as autoridades fiscal e julgadora entenderam incorretamente a atividade da empresa. Na realidade, nos Correios assim como nas Lotéricas a empresa tem direito, como comissão sua, apenas a um determinado percentual da arrecadação total, sendo incorreto tributar a arrecadação total. Além disso, houve dupla tributação dos valores de notas fiscais emitidas para Sabesp e Prefeituras na medida em que o valor dessas notas fiscais já fora antes oferecido à tributação como cupons fiscais, a nota fiscal é documento exigido pelos órgãos públicos, mas está em duplicidade com os cupons fiscais já tributados. Pediu assim a empresa o recebimento do recurso e provimento, para cancelar o lançamento fiscal. É o relatório. Voto Conselheira Lavinia Moraes de Almeida Nogueira Junqueira. O recurso é tempestivo e dele conheço. Nas cláusulas 6 e 7 do contrato que a contribuinte firmou com os Correios, a ECT, (fls. 214 e 215) consta a remuneração da franqueada, equivalente a um determinado percentual de comissão a ser aplicado sobre o valor total arrecadado com serviços de correio oferecidos a terceiros, sendo que o percentual varia dependendo do serviço prestado. A leitura desse contrato deixa evidente que se trata de uma parceria comercial, segundo a qual ambas as empresas, franqueadora e franqueada, prestam serviços aos clientes finais. A franqueadora ECT presta o serviço de logística e distribuição das correspondências dos Correios, ou seja, retira a correspondência e a entrega no destino final, nos termos contratados pelo cliente final. A agência de correios franqueada presta o serviço relacionado ao atendimento do cliente, validação da correspondência para envio ou retirada nos padrões dos correios. Os serviços de correio a serem prestados aos clientes finais, seus termos e condições, e o respectivo preço são todos definidos e Fl. 3DF CARF MF Impresso em 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES DE ALMEIDA NOGUEI, Assinado digitalmente e m 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO, Assinado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES D E ALMEIDA NOGUEI 4 conduzidos pela ECT, que também define o percentual de comissão da agência de correios franqueada, a ACT. A franqueada tem o relacionamento comercial com o cliente final, arrecada a integralidade dos valores relativos a esses serviços dos clientes e presta contas à franqueadora, entregando os recursos a ela. É então que a franqueadora repassa à franqueada sua comissão. Para mim fica claro que a agência de correios franqueada, a ACT, atua como mera intermediária na venda dos serviços da ECT para os clientes finais e na cobrança do preço desses clientes e repasse à ECT. A receita bruta do serviço de venda prestado pela ACT é apenas sua comissão contratual. Quando um cliente se dirige ao ponto de venda franqueado, ele tem o manifesto interesse de adquirir vários serviços: (1) ser atendido e ter sua carta ou encomenda recebida e validada para fins de remessa pelos Correios, serviços acessórios ao principal, prestados pela franqueada; (2) principalmente, ter sua correspondência retirada na agência de correios e entregue no seu destino final, nas condições pactuadas, serviços prestados pela franqueadora, a ECT. À parte do atendimento inicial, o cliente claramente contrata de fato os serviços da franqueadora, diretamente. De fato, havendo qualquer desvio ou extravio da correspondência, por exemplo, o cliente reclamará junto aos Correios, à ECT, e não junto à agência franqueada, que é nessa relação mera intermediária facilitadora da venda dos serviços da ECT. O cliente buscará o ressarcimento das perdas junto à ECT, assim como a devolução de seus recursos. Nesse sentido, concluo que a receita bruta da contribuinte consiste apenas na receita de comissão recebida da ECT pela intermediação na venda do serviço da ECT aos clientes finais. Está incorreto considerar o produto integral da arrecadação junto aos clientes como receita de serviços prestados pela agência de correios. Seria o mesmo que entender que a ACT é responsável por toda a logística de entrega das encomendas e correspondências e que a ECT trabalha para a ACT, não para o cliente final, quando busca e entrega correspondências! É uma inversão da ordem, na medida em que é a ECT que faz licitação e angaria novos interessados em franquia para “trabalhar” em seu benefício. A autoridade fiscal, no Termo de Verificação Fiscal, observou que a contribuinte registrou em seu Livro Diário e tributou a integralidade da receita de comissões. Esses valores foram confrontados com os Acertos de Conta efetuados com os Correios, ECT. A autoridade fiscal verificou que o valor da receita contabilizada e tributada equivalia exatamente ao percentual contratual de comissão aplicado sobre o valor total da arrecadação junto aos clientes finais, valor esse repassado à ECT. Ocorre que a autoridade fiscal entendeu por bem tributar, como se receita da ACT fosse, o valor total das arrecadações junto aos clientes finais, entendendo que os repasses para a ECT seriam custos da ACT, não passíveis de exclusão ou dedução no regime Simples. Ocorre que não se trata aqui de custos, mas sim de repasse de valores que a ACT recebeu dos clientes finais por conta e ordem e em nome da ECT, contratada para o serviço de correio! Os clientes finais contrataram os serviços da ECT diretamente, como já expliquei, sendo a ACT mera intermediária facilitadora. Se a contribuinte emitiu notas fiscais pelo valor total dos serviços de correio arrecadados junto aos clientes finais, incluindo os serviços prestados pela ECT, fez isso de forma equivocada, pois ela deveria emitir notas fiscais apenas pelo valor de suas comissões de venda. O fato gerador do tributo é a receita de serviço prestado, que no caso é o serviço de venda e a receita é o valor das comissões de venda, disciplinadas em contrato com a ECT. O preenchimento e emissão equivocados de nota fiscal não são, em si, fatos geradores de tributos federais. Neste caso, deve ser alcançada pela tributação apenas a receita correta da empresa, a comissão. Fl. 4DF CARF MF Impresso em 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES DE ALMEIDA NOGUEI, Assinado digitalmente e m 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO, Assinado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES D E ALMEIDA NOGUEI Processo nº 10821.000128/200586 Acórdão n.º 1302000.634 S1C3T2 Fl. 455 5 Considerando que foi devidamente verificado em sede de fiscalização que a contribuinte em questão registrou e tributou corretamente a receita bruta de suas comissões, acolho e julgo procedente o recurso voluntário. É como voto. “documento assinado digitalmente” Lavinia Moraes de Almeida Nogueira Junqueira Relatora Fl. 5DF CARF MF Impresso em 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES DE ALMEIDA NOGUEI, Assinado digitalmente e m 04/04/2012 por MARCOS RODRIGUES DE MELLO, Assinado digitalmente em 24/11/2011 por LAVINIA MORAES D E ALMEIDA NOGUEI
score : 1.0
Numero do processo: 10880.662135/2012-09
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Sep 21 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Oct 29 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Ano-calendário: 2007
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL E PROCESSO JUDICIAL. CONCOMITÂNCIA. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO.
A propositura, pelo contribuinte, de ação judicial com o mesmo objeto do processo administrativo fiscal, implica renúncia à discussão da matéria na via administrativa.
Numero da decisão: 1201-002.530
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário, nos termos do voto da relatora.
(assinado digitalmente)
Ester Marques Lins de Sousa - Presidente e Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Gisele Barra Bossa, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente). Ausente, justificadamente, o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado
Nome do relator: ESTER MARQUES LINS DE SOUSA
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CONCOMITÂNCIA. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO. A propositura, pelo contribuinte, de ação judicial com o mesmo objeto do processo administrativo fiscal, implica renúncia à discussão da matéria na via administrativa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário, nos termos do voto da relatora. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Presidente e Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Gisele Barra Bossa, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente). Ausente, justificadamente, o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 66 21 35 /2 01 2- 09 Fl. 207DF CARF MF Processo nº 10880.662135/201209 Acórdão n.º 1201002.530 S1C2T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de processo administrativo decorrente de Pedido de Restituição eletrônico PER/DCOMP, transmitido pelo contribuinte a fim de compensar pretenso saldo credor de CSLL referente ao 3º trimestre/2007. Por meio do despacho decisório de fls., o pedido foi indeferido, sob a alegação de que o DARF informado como origem do crédito já teria sido integralmente utilizado para quitar outro débito declarado. O contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade. Alega, em síntese: (i) que o crédito é legítimo, uma vez que, por exercer atividade consistente na prestação de serviço hospitalar, faria jus ao direito de aplicação do percentual de presunção do lucro de 12% para CSLL, e não de 32%, como equivocadamente considerou nas suas apurações; e (ii) que retificou as declarações (DIPJ e DCTF), ainda que em momento posterior ao despacho decisório. A DRJ, por unanimidade de votos, julgou improcedente a manifestação de inconformidade, por entender que o contribuinte não faria jus ao enquadramento do percentual de presunção de 12%. Cientificada da decisão de piso, a empresa interpôs recurso voluntário por meio do qual reitera as razões de defesa, bem como alega que possui decisão judicial que reconheceu o direito de aplicar o percentual de 12%, e não 32%. É o relatório. Fl. 208DF CARF MF Processo nº 10880.662135/201209 Acórdão n.º 1201002.530 S1C2T1 Fl. 4 3 Voto Conselheira Ester Marques Lins de Sousa Relatora O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1201002.511, de 21/09/2018, proferido no julgamento do Processo nº 10880.662116/2012 74, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1201002.511): Conforme visto no tópico do relatório, o presente litígio diz respeito ao enquadramento ou não do objeto social da Recorrente no conceito de serviços hospitalares. Assim, caso seja verificado que a empresa presta serviço hospitalar, cabível o reconhecimento do direito creditório. Caso contrário, ou seja, uma vez verificado que a atividade desenvolvida é outra, correto o indeferimento do pedido de restituição. Nesse contexto, e por mais esforços que a autoridade fiscal responsável pelo lançamento e a decisão da DRJ tenham empreendido no sentido de afastar o enquadramento da atividade da empresa enquanto serviço hospitalar, o fato é que a Recorrente ajuizou ação judicial que tem por objeto justamente o reconhecimento do direito de se valer do referido percentual de 8% às suas atividades. De fato, o contribuinte possui sentença que deu provimento à ação judicial por ele ajuizada e, inclusive, já transitou em julgado o reconhecimento do direito de se valer do percentual de 8% para fins de lucro presumido. Abaixo copio o quadro do movimento do processo disponibilizado eletronicamente e transcrevo o resumo da demanda, respectivamente: PROCESSO 002259987.2013.4.03.6100 MOVIMENTAÇÃO PROCESSUAL Todas as Movimentações Seq Data Descrição 40 23/01/2015 ARQUIVAMENTO DOS AUTOS Receb.Guia: 542/2014 (7a. Vara) Pac.: 610007000412 39 05/12/2014 BAIXA DEFINITIVA ARQUIVO conf. Guia n.542/2014 (7a. Vara) Fl. 209DF CARF MF Processo nº 10880.662135/201209 Acórdão n.º 1201002.530 S1C2T1 Fl. 5 4 38 28/11/2014 DECURSO DE PRAZO Nome da Parte: AUTORA Complemento Livre: DESPACHO DE FLS. 91 37 30/10/2014 DISPONIBILIZACAO D. ELETRONICO DE DESPACHO/DECISAO ,PAG. 39/41 36 08/10/2014 REMESSA PARA PUBLICACAO DE DESPACHO/DECISAO 35 08/10/2014 RECEBIMENTO DO JUIZ C/ DESPACHO/DECISAO 34 06/10/2014 AUTOS COM (CONCLUSAO) JUIZ PARA DESPACHO/DECISAO 33 06/10/2014 TRANSITO EM JULGADO Data do Último Prazo: 23/09/2014 Complemento Livre: PARA PARTES 32 27/08/2014 RECEBIMENTO DA FAZENDA NACIONAL 31 27/08/2014 RECEBIMENTO NA SECRETARIA 30 18/08/2014 REMESSA EXTERNA PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL VISTA 29 12/08/2014 DECURSO DE PRAZO Nome da Parte: AUTORA Complemento Livre: 28 16/07/2014 DISPONIBILIZACAO D. ELETRONICO DE SENTENCA ,PAG. 35/55 27 02/07/2014 REMESSA PARA PUBLICACAO DE SENTENCA Tratase de ação ordinária, com pedido de tutela antecipada, em que postula a autora a inexigibilidade do percentual de presunção de 32% na aplicação do Imposto de Renda sobre a Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido pelo regime de apuração do lucro presumido às atividades hospitalares, reconhecendose como corretos os percentuais de 8% e 12%, respectivamente.Alega que, por se tratar de pessoa jurídica prestadora de serviços médicos de pronto socorro junto ao Hospital São Luiz Unidade Itaim, atendendo em média 7.600 pacientes por mês, tem direito ao recolhimento dos tributos pelas alíquotas menores asseguradas aos prestadores de serviços hospitalares.Sustenta que a Receita Federal vinha reconhecendo às clínicas médicas o enquadramento tributário na qualidade de prestadores de serviços hospitalares, entendimento que foi alterado após a edição do Ato Declaratório Interpretativo 19/2007 e da Instrução Normativa RFB n 791/2007, com as alterações da IN n 1234/2012, que restringiram a possibilidade de enquadramento da grande maioria das clínicas na tributação presumida da renda sob os percentuais minorados.Entende que a Receita Federal não poderia criar um novo conceito de serviços hospitalares dissociado do Direito Privado, o que determina sejam afastados os atos impugnados. Como se nota, a discussão que foi travada no processo judicial direito à aplicação do percentual de 8% para fins de IRPJ no lucro presumido tem o mesmo objeto do que se postula no recurso voluntário ora interposto. Fl. 210DF CARF MF Processo nº 10880.662135/201209 Acórdão n.º 1201002.530 S1C2T1 Fl. 6 5 Nesses casos, cabível a aplicação da Súmula CARF nº 1, que assim dispõe: importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. Em razão, então, da concomitância apontada, NÃO CONHEÇO do RECURSO VOLUNTÁRIO. É como voto. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por não conhecer do recurso voluntário, nos termos do voto acima transcrito. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Fl. 211DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13609.901718/2010-06
Turma: Segunda Turma Extraordinária da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Sep 13 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Sep 27 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Exercício: 2007
PEDIDO ELETRÔNICO DE RESTITUIÇÃO E DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PER/DCOMP. CRÉDITO INFORMADO DECORRENTE DE PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR A TÍTULO DE ESTIMATIVA MENSAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 84 DO CARF. NULIDADE DO ACÓRDÃO.
O crédito informado no PER/DCOMP, por tratar-se de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, pode ser objeto de compensação, não sendo apenas utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Liquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período. Nos termos da Súmula CARF n.º 84, o pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação.
Não sendo analisado a contento o direito creditório do contribuinte, especialmente por ter se firmado posição precedente baseada em argumento superado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, já constante de verbete sumular, é nulo o acórdão da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento.
Recurso Voluntário Provido Parcialmente
Aguardando Nova Decisão
Numero da decisão: 1002-000.404
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao Recurso Voluntário, e declarar a nulidade da decisão de primeiro grau do contencioso administrativo fiscal, determinando o retorno dos autos à DRJ para que se profira nova decisão.
(assinado digitalmente)
Ailton Neves da Silva - Presidente.
(assinado digitalmente)
Leonam Rocha de Medeiros - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ailton Neves da Silva (Presidente), Ângelo Abrantes Nunes, Breno do Carmo Moreira Vieira e Leonam Rocha de Medeiros.
Nome do relator: LEONAM ROCHA DE MEDEIROS
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ementa_s : Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL Exercício: 2007 PEDIDO ELETRÔNICO DE RESTITUIÇÃO E DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PER/DCOMP. CRÉDITO INFORMADO DECORRENTE DE PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR A TÍTULO DE ESTIMATIVA MENSAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 84 DO CARF. NULIDADE DO ACÓRDÃO. O crédito informado no PER/DCOMP, por tratar-se de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, pode ser objeto de compensação, não sendo apenas utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Liquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período. Nos termos da Súmula CARF n.º 84, o pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação. Não sendo analisado a contento o direito creditório do contribuinte, especialmente por ter se firmado posição precedente baseada em argumento superado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, já constante de verbete sumular, é nulo o acórdão da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento. Recurso Voluntário Provido Parcialmente Aguardando Nova Decisão
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PER/DCOMP. CRÉDITO INFORMADO DECORRENTE DE PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR A TÍTULO DE ESTIMATIVA MENSAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 84 DO CARF. NULIDADE DO ACÓRDÃO. O crédito informado no PER/DCOMP, por tratarse de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, pode ser objeto de compensação, não sendo apenas utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Liquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período. Nos termos da Súmula CARF n.º 84, o pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação. Não sendo analisado a contento o direito creditório do contribuinte, especialmente por ter se firmado posição precedente baseada em argumento superado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, já constante de verbete sumular, é nulo o acórdão da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento. Recurso Voluntário Provido Parcialmente Aguardando Nova Decisão Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 60 9. 90 17 18 /2 01 0- 06 Fl. 64DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 65 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao Recurso Voluntário, e declarar a nulidade da decisão de primeiro grau do contencioso administrativo fiscal, determinando o retorno dos autos à DRJ para que se profira nova decisão. (assinado digitalmente) Ailton Neves da Silva Presidente. (assinado digitalmente) Leonam Rocha de Medeiros Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ailton Neves da Silva (Presidente), Ângelo Abrantes Nunes, Breno do Carmo Moreira Vieira e Leonam Rocha de Medeiros. Relatório Cuidase, o caso versando, de Recurso Voluntário (efls. 46/56) ― autorizado nos termos do art. 33 do Decreto n.º 70.235, de 6 de março de 1972, que dispõe sobre o processo administrativo fiscal, interposto com efeito suspensivo e devolutivo ―, protocolado pela recorrente, indicada no preâmbulo, devidamente qualificada nos fólios processuais, relativo ao inconformismo com a decisão de primeira instância (efls. 35/41), proferida em sessão de 20 de julho de 2011, consubstanciada no Acórdão n.º 0233.540, da 3.ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Belo Horizonte/MG (DRJ/BHE), que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a manifestação de inconformidade (efls. 02/12) que pretendia desconstituir o Despacho Decisório (DD), emitido em 06/09/2010 (efl. 24), emanado pela Autoridade Administrativa que analisou o Pedido Eletrônico de Restituição e a Declaração de Compensação (PER/DCOMP) n.º 27685.19357.300307.1.3.041026, transmitido em 30/03/2007, e não homologou a compensação declarada, por não reconhecer o direito creditório, cujo acórdão restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Data do fato gerador: 28/02/2007 COMPENSAÇÃO ESTIMATIVA MENSAL PAGA A MAIOR A pessoa jurídica tributada pelo lucro real anual que efetuar pagamento indevido ou a maior de imposto de renda ou de CSLL a título de estimativa mensal, somente poderá utilizar o valor pago na dedução do IRPJ ou da CSLL devida ao final do período de apuração em que houve o pagamento indevido ou para compor o saldo negativo anual de IRPJ ou de CSLL. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Vejase o contexto fático dos autos, incluindo seus desdobramentos e teses da manifestação de inconformidade, conforme se extrai do relatório constante no Acórdão do juízo a quo: Fl. 65DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 66 3 Contra o interessado acima identificado foi emitido o despacho decisório de fl. 18 [efl. 24] por meio do qual a compensação declarada no PER/DCOMP n.º 27685.19357.300307.1.3.041026 transmitido em 30/03/2007, não foi homologada. A não homologação foi motivada pela inexistência do crédito utilizado na compensação pretendida. Tal crédito se refere a recolhimento de CSLL de código 2484 (estimativa mensal), no valor de R$ 4.000,00, efetuado em 28/02/2007. Consta do despacho decisório, que os pagamentos efetuados a esse título só podem ser usados como dedução do devido no final do período de apuração, ou para compor o saldo negativo do período. O valor do débito indevidamente compensado é igual a R$ 3.713,00 (principal). Como enquadramento legal são citados os seguintes dispositivos: arts. 165 e 170 da Lei n.º 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional CTN), art. 74 da Lei n.º 9.430, de 27 de dezembro de 1996. A ciência do despacho se deu em 23/09/2010 (fl. 23) [efl. 31]. Em 20/10/2010 foi postada a manifestação de inconformidade de fls. 01 a 11 [efls. 02/12]. Nela constam os seguintes argumentos: Em 30/03/2007 a defendente transmitiu PER/DCOMP para compensação e extinção de débitos próprios de IRPJ apurados no mês de janeiro de 2007 com créditos próprios decorrentes de pagamentos indevidos com o recolhimento de estimativas no período. A Autoridade Administrativa indeferiu a compensação fundamentada nos arts. 165 e 170, do CTN, art. 10 da IN n.º 600, de 2005, e art. 74 da Lei n.º 9.430, de 1996. Em seguida exige o recolhimento do imposto no valor de R$ 3.713,00, multa de R$ 742,60 e juros no valor de R$ 1.356,73. Examinandose a legislação citada na fundamentação podese enxergar sua incompatibilidade com o ato decisório, haja vista, neles inexistir proibição à utilização de imposto ou contribuição paga em virtude de antecipação (estimativa) com o devido apurado em cada mês. Para melhor entendimento da questão, transcreve a legislação de regência identificada no despacho decisório. O art. 10 da Instrução Normativa SRF n.º 600, de 2005, vai além da lei, porquanto institui óbice não previsto em lei, portanto, contraria frontalmente o princípio da legalidade, o qual é reprimido pelo CTN, art 97, V, e arts. 5.º, II, e 146, III, b, da Constituição Federal. Decreto, Portaria, Instrução Normativa, e outros atos infralegais não são instrumentos hábeis para disciplinar a matéria aqui tratada, mormente quanto à extinção, suspensão e compensação de créditos tributários, como pretendeu fazer o art. 10 da IN SRF n.º 600, de 2005. Adiantese que o art. 26, § 3.º, da IN SRF n.º 600, de 2005, e o art. 74, § 3.º, trazem dispositivos expressos disciplinando as hipóteses em que não é permitida a compensação mediante a Fl. 66DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 67 4 entrega da DCOMP e, ali não há nenhuma contemplação da hipótese vertente, ou seja, pagamentos a maior em decorrência de antecipação do IRPJ ou CSLL estimativas. Destaca estes tópicos por ser a base legal e motivação da PER/DCOMP. Não há óbice à utilização de DCOMP para aproveitamento de imposto ou contribuição paga a maior a título de estimativa de um período em outro que a MP n.º 449, de 03 de dezembro de 2008, tentou incluir essa proibição no art. 74 da Lei n.º 9.430, de 1995, e não obteve sucesso quando de sua conversão na Lei n.º 11.941, de maio de 2009, não tendo o Congresso Nacional acatado o pleito do Poder Executivo por infringir o art. 150 da Constituição Federal. Logo, o ato decisório de não homologação da compensação objeto da DCOMP transmitida pela defendente carece de base legal, devendo ser julgada insubsistente para homologar a compensação na forma pedida e declarada. Assim posto, a defendente pede o acolhimento de sua Manifestação de Inconformidade para anular o ato declaratório de não homologação da compensação declarada via PER/DCOMP n.º 27685.19357.300307.1.3.041026, transmitida em 30/03/2007, substituindoo por outro mandando homologar a compensação declarada e consequentemente a extinção de seus débitos. O Despacho Decisório informa que o limite do crédito analisado, para fins de restituição, era da ordem de R$ 4.000,00, correspondente ao valor do crédito original na data de transmissão, o qual seria utilizado para efetivar a compensação, no entanto, analisadas as informações prestadas na declaração, foi constatada a improcedência do crédito informado no PER/DCOMP por tratarse de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, caso em que o recolhimento somente pode ser utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período, razão pela qual não se homologou a compensação, pelo que o débito informado para compensar não foi extinto, isto é, não foi compensado. Temse o seguinte quadro sintético no Despacho Decisório: Características do DARF discriminado no PER/DCOMP Período de Apuração (PA) Código de Receita Valor total do DARF Data de Arrecadação 31/01/2007 2484 R$ 4.000,00 28/02/2007 Débitos indevidamente compensados, para pagamento até 30/09/2010 Principal: R$ 3.713,00 Multa: R$ 742,60 Juros: R$ 1.356,73 A tese de defesa não foi acolhida pela DRJ, mantendose o não reconhecimento do crédito e, por conseguinte, não homologando a compensação, eis, em síntese, nas palavras do juízo de primeira instância, as razões de decidir do meritum causae: Inicialmente, levando em conta que a defendente requer que o ato de não homologação seja declarado nulo, impõese, desde logo, rechaçar tal suscitação. Ora, ainda que fosse o caso de suposta inexatidão, e não é, de tal fato não adviria, como conseqüência jurídica imediata, a nulidade do feito. Não se pode Fl. 67DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 68 5 olvidar que emana da própria legislação de regência do processo administrativo fiscal (art. 60 do decreto n.º 70.235, de 1972), que quaisquer irregularidades, incorreções e omissões não contempladas no escopo do art. 59, não importarão em nulidade do feito. Diante do exposto, afastase, pois, a suscitada nulidade, mesmo porque, no processo administrativo fiscal, o feito somente pode ser acoimado de nulidade, na hipótese de se verificarem os estritos casos enumerados no art. 59 do Decreto n.º 70.235, de 1972, quais sejam a ocorrência de atos e termos lavrados por pessoa incompetente para tal e a existência de despachos e decisões proferidas por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa, vícios esses que, definitivamente, não são a hipótese do presente Despacho Decisório. Sustenta a manifestante que o art. 10 de Instrução Normativa SRF n.º 600, de 2005, vai além da lei, porquanto institui óbice não previsto em lei, contrariando o princípio da legalidade, o qual é reprimido pelo CNT, art. 97, VI, e arts. 5.º, II, e 146, III, "b" da Constituição Federal. Acrescenta que Decreto, Portaria, Instrução Normativa, e outros atos infralegais não são instrumentos hábeis para disciplinar a matéria aqui tratada. Atinente aos argumentos da Manifestante sobre a ilegalidade do art. 10 da Instrução Normativa SRF n.º 600, de 2005 e demais atos infralegais, cabe considerar que têm por destinatário o legislador ordinário que os deve observar quando da elaboração das disposições legais, e não ao aplicador dos atos. A este nada resta senão a correta aplicação da norma regularmente editada, quando constatada a hipótese nela prevista, não lhe cabendo discricionariedade quanto à aplicação ou não do dispositivo legal. À autoridade fiscal cabe verificar o fiel cumprimento da legislação em vigor, independentemente de questões de discordância, pelos contribuintes, acerca de possíveis inconstitucionalidades ou ilegalidades das normas vigentes, sendo a atividade de lançamento vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional, como previsto no art. 142, parágrafo único do CTN. Por sua vez, a Portaria MF n.º 58, de 17 de março de 2006, que disciplina o funcionamento das Delegacias de Julgamento, prevê, em seu art. 7.º que o julgador deve observar o entendimento da SRF expresso em atos normativos. Observese que o controle jurisdicional de constitucionalidade é matéria privativa do Poder Judiciário e ultrapassa os limites da competência administrativa, consoante orientação do Parecer Normativo n.º 329, de 1970, da Coordenação do Sistema Tributário, que assim expressouse: "Iterativamente tem esta Coordenação se manifestado no sentido de que a arguição de inconstitucionalidade não pode ser oponível na esfera administrativa, por transbordar os limites de sua competência o julgamento da matéria, do ponto de vista constitucional. " Como ficará demonstrado adiante, cumpre deixar assente que o regramento expresso no art. 10 da Instrução Normativa SRF n.º 600, de 2005, que já se estampava no art. 10 da Fl. 68DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 69 6 Instrução Normativa SRF n.º 460, de 2004, não constitui inovação nem restrição de direito não prevista em lei. O que ocorre é que as estimativa mensais não são passíveis de restituição, vez que constituem mera antecipação do tributo a ser apurado ao final do anocalendário. Quando, apuráse saldo negativo do tributo, resta então configurado o pagamento indevido ou a maior, aí sim passível de restituição ou compensação. Como se vê, pagamentos a maior a título de estimativa em determinado mês, por constituírem mera antecipação da contribuição devida, não estão aptos a ser restituídos e não se revestem dos atributos de liquidez e certeza, razão pela qual não podem ser utilizados para extinguir créditos tributários por via da compensação conforme o art. 170 do CTN. A utilização desses valores somente poderá se dar na dedução da CSLL devida ao final do ano ou na composição do saldo negativo, o qual poderá ser restituído ou compensado a partir de janeiro do ano seguinte ao do encerramento do período de apuração. No presente caso, mesmo que se confirme a diferença entre o valor do débito de estimativa de CSLL e o respectivo recolhimento, tampouco que se retifique a DCTF ou a DIPJ, não se pode homologar a compensação pretendida na DCOMP objeto deste processo. O recolhimento apontado como a maior do que o devido têm código de receita 2484, ou seja, é de antecipação mensal por estimativa. A matéria é regida pela Lei n.º 9.430, de 1996. De acordo com o seu art. 28, aplicamse à apuração da base de cálculo e ao pagamento da contribuição social sobre o lucro líquido as normas da legislação vigente e as correspondentes aos arts. 1.º a 3.º, 5.º a 14, 17 a 24, 26, 55 e 71 daquela Lei. Abaixo, são transcritas partes relevantes do art. 2.º e 6.º: (...). Verificase que o art. 2.º da Lei n.º 9.430, 27 de dezembro de 1996, remete aos artigos 29, 30 a 32, 34 e 35 da Lei n.º 8.981, de 20 de janeiro de 1995, com as alterações da Lei n.º 9.065, de 20 de junho de 1995. Os artigos 30, 31, 32 e 34 tratam da apuração da base estimada. O art. 35 permite a redução ou suspensão de pagamento, assim dispondo: (...). Do dispositivo acima, temse que a pessoa jurídica pode suspender ou reduzir o pagamento da contribuição devida em cada mês, desde que demonstre, com base em balancetes de suspensão ou redução, que os "valores acumulados já pagos" excedem a contribuição calculada com base no lucro real do período em curso. O período de apuração compreendido no balancete vai de janeiro até o mês a que ele se referir. Portanto, todos os recolhimentos de antecipações mensais efetuados no anocalendário até o mês do balancete representam pagamentos com DARF da contribuição incidente sobre o resultado nele apurado, referente ao período de apuração em curso. Independe, para serem assim considerados, que os valores anteriormente pagos tenham sido calculados com base em receita bruta ou em balancete. Portanto, a lei não admite a imediata restituição de valores pagos a título de antecipação mensal, quer com base na receita Fl. 69DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 70 7 bruta, quer com base em balancete, mas cria sistema que permite ao contribuinte administrar as antecipações de maneira a quitar, durante o ano, valor o mais próximo possível do tributo devido sobre o lucro real anual. Foi nesse sentido que a norma permitiu a suspensão ou a redução dos pagamentos de antecipações, com base em balanços ou balancetes mensais. Só é possível avaliar a existência de crédito passível de restituição ou compensação comparandose o valor do tributo apurado sobre o lucro real anual com as deduções admitidas na ficha 17 da DIPJ, entre as quais estão as antecipações mensais pagas. Ao final do ano, apurase a CSLL anual e dela é deduzido, entre outras parcelas, o valor da CSLL mensal efetivamente paga. Se a soma dos valores pagos durante o ano acrescido das demais deduções superar a contribuição calculada com base no lucro real anual, apurase saldo negativo de CSLL a pagar. Só este saldo negativo é passível de restituição ou compensação. De acordo com o art. 10 da Instrução Normativa SRF n.º 460, de 18 de outubro de 2004, a pessoa jurídica tributada pelo lucro real anual que efetuar pagamento indevido ou a maior de imposto de renda ou de CSLL a título de estimativa mensal, somente poderá utilizar o valor pago ou retido na dedução do IRPJ ou da CSLL devida ao final do período de apuração em que houve a retenção ou pagamento indevido ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou de CSLL do período. Idêntica disposição foi mantida no art. 10 da Instrução Normativa SRF n.º 600, de 28 de dezembro de 2005. O art. 74 da Lei n.º 9.430, 27 de dezembro de 1996, autoriza usar crédito passível de restituição para compensação de débitos próprios. Só o saldo negativo de CSLL é passível de restituição ou compensação. O recolhimento de antecipação mensal não caracteriza pagamento indevido ou a maior, que dê direito à restituição. Portanto, no caso, não se tendo utilizado crédito passível de restituição, o art. 74 da Lei n.º 9.430 não se aplica. Em face do exposto, voto por rejeitar a nulidade suscitada, e no mérito, por julgar improcedente a manifestação de inconformidade, para não homologar a compensação declarada. No recurso voluntário, em síntese, o contribuinte, pessoa jurídica tributada pelo lucro real, reitera os termos da impugnação. Nesse contexto, os autos foram encaminhados para este Egrégio Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), sendo, em seguida, distribuído para este relator. Posteriormente, o contribuinte requereu a juntada de nova procuração e atos constitutivos (efls. 61/62), esclareceuse que a Bramex Brasil Indústria e Comércio Exterior Ltda passou por processo sucessório, sendo, atualmente, após referido processo, nominada de Orguel Locação de Equipamentos S/A. Requereu que as intimações fossem dirigidas exclusivamente a seus advogados, neste ponto o requerimento de intimação pessoal dos patronos do contribuinte foi indeferido (efl. 60), por não haver previsão legal no Decreto n.º 70.235, de 1972, que rege as intimações sendo dirigidas diretamente ao sujeito passivo. Fl. 70DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 71 8 É o que importa relatar. Passo a devida fundamentação analisando os juízos de admissibilidade e de mérito para, posteriormente, finalizar em dispositivo. Voto Conselheiro Leonam Rocha de Medeiros, Relator Admissibilidade O Recurso Voluntário atende aos pressupostos de admissibilidade intrínsecos, uma vez que é cabível, há interesse recursal, a recorrente detém legitimidade e inexiste fato impeditivo, modificativo ou extintivo do poder de recorrer. Outrossim, atende aos pressupostos de admissibilidade extrínsecos, pois há regularidade formal, inclusive estando adequada a representação processual, e apresentase tempestivo (intimação em 26/08/2011, sextafeira, efls. 42 e 44/45, e protocolo em 26/09/2011, efl. 57), tendo respeitado o trintídio legal, na forma exigida no art. 33 do Decreto n.º 70.235, de 1972, que dispõe sobre o processo administrativo fiscal. Demais disto, observo a plena competência deste Colegiado, na forma do art. 23B, do Regimento Interno do CARF, com redação da Portaria MF n.º 329, de 2017. Portanto, conheço do Recurso Voluntário. Mérito Quanto ao mérito, observo nulidade no acórdão vergastado, inclusive seguindo os precedentes constantes dos Acórdãos ns.º 1302002.855 e 1302002.866, ambos de 13/06/2018, bem como o Precedente deste Colegiado da 2.ª Turma Extraordinária, da sessão de 09 de agosto de 2018, Acórdão n.º 1002000.359. Explico. Trata o presente caso de pedido de restituição (CTN, art. 165, I), alegando o contribuinte que possui crédito contra a Administração Tributária, combinado com pedido de declaração de compensação, na qual o contribuinte confessa débito (Lei 9.430, art. 74, § 6.º) ao mesmo tempo em que efetua o encontro de contas, sob condição resolutória de sua ulterior homologação pela Autoridade Fiscal (Lei 9.430, art. 74, caput, §§ 1.º e 2.º), para fins de extinção do crédito tributário (CTN, art. 156, II). Afinal, como reza o Código Civil, se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguemse, até onde se compensarem (CC, art. 368). O regime jurídico da compensação tem fundamento no art. 170 do Código Tributário Nacional (CTN) dispondo que a lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública. Neste diapasão, inicialmente, o instituto da compensação tributária foi regido pelo art. 66 da Lei n.º 8.383, de 1991, sendo, posteriormente, fixadas novas regras para compensação de tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil no art. 74 da Lei n.º 9.430, de 1996, com suas alterações. Fl. 71DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 72 9 Para que se tenha a compensação tornase necessário que o contribuinte comprove que o seu crédito (montante a restituir) é líquido e certo. Cuidase de conditio sine qua non, isto é, sem a qual não pode ocorrer a compensação. O ônus probatório do crédito alegado pelo contribuinte contra a Administração Tributária é especialmente dele, devendo comprovar a liquidez e certeza de seu direito creditório. Pois bem. No caso em comento, entendendo possuir crédito, decorrente de pagamento indevido ou a maior a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, o contribuinte transmitiu PER/DCOMP objetivando a extinção das obrigações por força do instituto da compensação. No entanto, o despacho decisório negou o direito creditório, sob o fundamento de que as estimativas pagas a maior só poderiam ser utilizadas na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Liquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período. Desta forma, em verdade, com tal conclusão, o direito creditório não chegou a ser efetivamente analisado e, neste sentido, a decisão da DRJ, de igual modo, também não se aprofundou acerca do crédito, o que, no meu entender e seguindo os precedentes anteriormente citados, ocasiona a nulidade da decisão da primeira instância recursal. Vejase que nos precedentes citados as conclusões foram as mesmas: Acórdão n.º 1302002.866 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Data do fato gerador: 28/12/2006 COMPENSAÇÃO ESTIMATIVAS. POSSIBILIDADE. NULIDADE ACÓRDÃO Nos termos da súmula 84 do CARF, é possível a compensação de estimativas pagas indevidamente ou a maior. Não sendo analisado o direito creditório do contribuinte, sob o argumento já superado pelo CARF, é nulo o acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento. Acórdão n.º 1302002.855 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Data do fato gerador: 08/08/2006 COMPENSAÇÃO ESTIMATIVAS. POSSIBILIDADE. NULIDADE ACÓRDÃO Nos termos da súmula 84 do CARF, é possível a compensação de estimativas pagas indevidamente ou a maior. Não sendo analisado o direito creditório do contribuinte, sob o argumento já superado pelo CARF, é nulo o acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento. Acórdão n.º 1002000.359 ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL AnoCalendário: 2004 Fl. 72DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 73 10 PEDIDO ELETRÔNICO DE RESTITUIÇÃO E DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PER/DCOMP. CRÉDITO INFORMADO DECORRENTE DE PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR A TÍTULO DE ESTIMATIVA MENSAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 84 DO CARF. NULIDADE DO ACÓRDÃO. O crédito informado no PER/DCOMP, por tratarse de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, pode ser objeto de compensação, não sendo apenas utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Liquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período. Nos termos da Súmula CARF n.º 84, o pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação. Não sendo analisado o direito creditório do contribuinte, sob argumento superado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais já constante de verbete sumular, é nulo o acórdão da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento. Recurso Voluntário Provido Parcialmente Aguardando Nova Decisão Efetivamente, nos termos da Súmula CARF n.º 84, a última instância recursal já pacificou entendimento no sentido de que "o pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação." O enunciado sumular acima transcrito foi confeccionado a partir dos seguintes paradigmas: Acórdão n.º 120100.404, de 23/2/2011; Acórdão n.º 120200.458, de 24/1/2011; Acórdão n.º 110100.330, de 09/7/2010; Acórdão n.º 910100.406, de 02/10/2009; Acórdão n.º 10515.943, de 17/8/2006. Ressaltese, ademais, que o art. 10 da Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF) n.º 600, de 2005 (originalmente constante no art. 10 da IN SRF n.º 460, de 2004), que proibia expressamente a compensação da estimativa fiscal nos termos defendidos pelo despacho decisório e pela decisão recorrida, foi posteriormente revogado pela Instrução Normativa SRF n.º 900, de 2008, que não trouxe igual disciplina proibitiva, inexistindo, para o contexto destes autos, dúvidas quanto a possibilidade de utilização de crédito decorrente de pagamento indevido ou a maior de estimativa fiscal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real. No mais, destacando que o fato discutido nos autos é a não homologação da compensação do débito de estimativa mensal, declarada em PER/DCOMP, sob o fundamento de que o crédito utilizado referese, de igual modo, a pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, entendo por bem destacar que o art. 6.º da Lei n.º 13.670, de 30 de maio de 2018, que deu nova redação ao inciso IX do § 3.º do art. 74 da Lei n.º 9.430, de 1996, para estabelecer que não poderão ser objeto de compensação os débitos relativos ao recolhimento mensal por estimativa do IRPJ e da CSLL, não é aplicável na regulamentação das Declarações de Compensação transmitidas Fl. 73DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 74 11 antes da publicação da referida nova lei, na forma do art. 11, inciso II, da Lei n.º 13.670, de 30 de maio de 2018. Além disto, como consta daqueles precedentes citados no início deste voto, a própria Secretaria da Receita Federal do Brasil, através da Divisão de Tributação da 9.ª Região Fiscal da Superintendência Regional da Receita Federal do Brasil da 9.ª Região Fiscal, já se posicionou no sentido de admitir o procedimento adotado pela recorrente, por meio da Solução de Consulta n.º 285 SRRF/9.ª RF/Disit, de 17 de julho de 2009, eis a ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ SALDO NEGATIVO. PAGAMENTO A MAIOR. COMPENSAÇÃO. (...) A diferença a maior, decorrente de erro do contribuinte, entre o valor efetivamente recolhido e o apurado com base na receita bruta ou em balancetes de suspensão/redução, está sujeito à restituição ou compensação mediante entrega do PER/Dcomp. Dispositivos Legais: Lei n.º 9.430, de 1996, arts. 2.º e 6.º; Lei n.º 8.981, de 1995, art. 35; ADN SRF n.º 3, de 2000; IN RFB n.º 900, de 2008, arts. 2.º a 4.º e 34. Acrescentese, outrossim, que a CoordenaçãoGeral de Tributação, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, aprovou a Solução de Consulta COSIT n.º 19, de 05 de dezembro de 2011, apreciando indagação interna relacionada ao mesmo objeto ora em discussão, tendo concluído que: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO ESTIMATIVAS. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RESTITUIÇÃO E COMPENSAÇÃO. O art. 11 da IN RFB n.º 900, de 2008, que admite a restituição ou a compensação de valor pago a maior ou indevidamente de estimativa, é preceito de caráter interpretativo das normas materiais que definem a formação do indébito na apuração anual do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, aplicandose, portanto, aos PER/DCOMP originais transmitidos anteriormente a 1.º de janeiro de 2009 e que estejam pendentes de decisão administrativa. Caracterizase como indébito de estimativa inclusive o pagamento a maior ou indevido efetuado a este título após o encerramento do período de apuração, seja pela quitação do débito de estimativa de dezembro dentro do prazo de vencimento, seja pelo pagamento em atraso da estimativa devida referente a qualquer mês do período, realizado em ano posterior ao do período da estimativa apurada, mesmo na hipótese de a restituição ter sido solicitada ou a compensação declarada na vigência das IN SRF n.º 460, de 2004, e IN SRF n.º 600, de 2005. A nova interpretação dada pelo art. 11 da IN RFB n.º 900, de 2008, aplicase inclusive aos PER/DCOMP retificadores apresentados a partir de 1.º de janeiro de 2009, relativos a Fl. 74DF CARF MF Processo nº 13609.901718/201006 Acórdão n.º 1002000.404 S1C0T2 Fl. 75 12 PER/DCOMP originais transmitidos durante o período de vigência da IN SRF n.º 460, de 2004, e IN SRF n.º 600, de 2005, desde que estes se encontrem pendentes de decisão administrativa. Dispositivos Legais: Lei n.º 9.430, de 27 de dezembro de 1996, arts. 2.º e 74; IN SRF n.º 460, de 18 de outubro de 2004; IN SRF n.º 600, de 28 de dezembro de 2005; IN RFB n.º 900, de 30 de dezembro de 2008. Portanto, não sendo analisado o direito creditório do contribuinte, sob argumento superado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais já constante de verbete sumular, concluo que é nulo o acórdão da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento. Destaquese que o entendimento deflagrado no Despacho Decisório, o qual estava equivocado, conforme enunciado sumular do CARF, foi, posteriormente, ratificado pela decisão recorrida, de modo que, efetivamente, não houve uma efetiva análise da legitimidade do direito creditório indicado no PER/DCOMP, pelo que se dá provimento parcial ao recurso para reconhecer a possibilidade de se compensar pagamento indevido ou a maior de estimativas mensais, reformandose o acórdão neste ponto, devendo a DRJ proceder a análise do direito creditório. Aliás, a DRJ pode, inclusive de ofício, independentemente de requerimento expresso do sujeito passivo, na forma do art. 18 do Decreto n.º 70.235, de 1972, determinar a realização de diligências para aferir a autenticidade, ou não, do crédito declarado pelo contribuinte. Considerando o até aqui esposado e reconhecendo a possibilidade de se compensar o pagamento indevido ou a maior das estimativas, entendo pela nulidade do julgamento da DRJ, devendo ser proferida nova decisão. Dispositivo Ante o exposto, de livre convicção, relatado, analisado e por mais o que dos autos constam, voto em conhecer do recurso voluntário e, no mérito, em lhe dar provimento parcial para anular o acórdão proferido, determinando o retorno dos autos à instância a quo para que esta análise o direito creditório do Recorrente, podendo, inclusive, determinar a realização de diligências, em busca da verdade material, para um melhor entendimento do crédito indicado no pedido de compensação. É como Voto. (assinado digitalmente) Leonam Rocha de Medeiros Relator Fl. 75DF CARF MF
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Numero do processo: 12585.000262/2010-18
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 30 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Oct 11 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 3301-000.811
Decisão: Vistos relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência, nos termos do relatório e voto que integram presente julgado.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira Presidente
(assinado digitalmente)
Ari Vendramini - Relator
Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente), Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Valcir Gassen, Liziane Angelotti Meira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Salvador Cândido Brandão Junior, Semíramis de Oliveira Duro e Ari Vendramini (Relator).
Nome do relator: ARI VENDRAMINI
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Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência, nos termos do relatório e voto que integram presente julgado. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira – Presidente (assinado digitalmente) Ari Vendramini Relator Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente), Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Valcir Gassen, Liziane Angelotti Meira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Salvador Cândido Brandão Junior, Semíramis de Oliveira Duro e Ari Vendramini (Relator). Relatório 1. Tratam os presentes autos de análise e acompanhamento de Pedido Eletrônico de Ressarcimento (PER) de créditos de PIS/PASEP NÃO CUMULATIVO, vinculados á receitas de exportação relativas ao 1º trimestre de 2008 (01/01/2008 a 31/03/2008), no valor total de R$ 1.263.667,58 e de Declarações de Compensação (DCOMPs) onde se pretendem compensar vários débitos com o crédito oriundo do ressarcimento. 2. Conforme Despacho Decisório de fls. 6.111/6.141 dos autos digitais, exarado pela DERAT/SP, estes autos tratam da análise dos seguintes documentos eletrônicos : RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 25 85 .0 00 26 2/ 20 10 -1 8 Fl. 6782DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.782 2 PER/DCOMP Nº TIPO DE DOCUMENTO ELETRÔNICO 10853.30999.080808.1.5.084849 Pedido de Ressarcimento 06842.21793.080808.1.7.089808 18178.80524.080808.1.7.086875 32097.71560.140808.1.3.089130 23124.62068.130209.1.3.086744 33164.78559.020309.1.3.084367 22651.18061.280709.1.3.087432 41871.82352.110809.1.3.081668 37640.29665.290909.1.3.080500 39909.36322.270110.1.3.089146 Declarações de Compensação 3. Após realizar as devidas análises e verificações, a DERAT/SP exarou Despacho Decisório indeferindo o pedido de ressarcimento e não homologando as compensações declaradas, vinculadas ao pretenso crédito. 4. Houve, por parte da contribuinte, apresentação de manifestação de inconformidade contra tal despacho decisório. 5. O relatório do Acórdão DRJ/PORTO ALEGRE nº 1050.021, da sua 2ª Turma, assim resumiu os argumentos de defesa da contribuinte : Desse Despacho Decisório a contribuinte tomou ciência em 25/05/2012 (Termo de fl. 6.148) e, não se conformando, apresentou, através de procuradores, longa manifestação de inconformidade onde, inicialmente, referiu à tempestividade e aos fatos,aduzindo a seguir (de forma sintética): 1) Índice de rateio proporcional relativamente às receitas de exportação e do mercado interno: a Fiscalização alterou o índice de rateio proporcional dos créditos da COFINS calculados sobre custos e despesas comuns à receita do mercado interno e de exportação. Seu entendimento era de que o momento do embarque da mercadoria é o paramento a ser considerado para a apuração dos valores exportados a cada mês, conforme o artigo 1° do Ato Declaratório Interpretativo SRF n° 22, de 5 de novembro de 2002. Considerou como receita de exportação os valores constantes no SISCOMEX conforme a data de embarque das mercadorias, extraindo os dados do sistema DWAduaneiro. Contudo, resta totalmente equivocado o entendimento fiscal, quer em razão de que o ADI SRF n° 22/2002 não é aplicável na apuração de créditos de COFINS nãocumulativa, quer por este entendimento não possuir base legal, bem como violar as normas de apuração da contribuição. Ademais, a interpretação fiscal colidiria com o § 3º do art. 6º, c/c § 8º do art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003, que dispõe que o rateio será proporcional ao auferimento de receitas, sem impor que tenha havido o embarque da mercadoria ao exterior para que as receitas auferidas fossem consideradas de exportação. 2) Momento de apuração de créditos decorrentes de bens e serviços utilizados como insumos: no DD foram glosados créditos de COFINS ao fundamento de que a empresa teria reconhecido o crédito fora do período de sua apuração. A Fiscalização sustenta que a data da emissão da Nota Fiscal é o parâmetro correto para a apuração mensal dos créditos (...) referentes a bens e serviços utilizados como insumo. No entanto, no momento da emissão de uma NF não há como sustentar que o bem foi adquirido pela empresa, pois esta aquisição somente se dará no momento da efetiva entrega material do bem, quando ocorre a tradição da coisa, sendo manifestamente ilegítimo considerar este momento como sendo a data em que se adquire o bem, notadamente para fins tributários. O procedimento da empresa está correto ao reconhecer o crédito Fl. 6783DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.783 3 da COFINS no regime da nãocumulatividade no momento da entrada em seu estabelecimento do insumo adquirido, quando efetivamente recebe a NF emitida pelo vendedor. É nesse momento que há a efetiva tradição da coisa, podendo ser considerado o bem adquirido. No que tange aos serviços,somente após a efetiva conclusão dos serviços é que o prestador passa a ter o direito à retribuição que é imanente a este tipo de contrato. Apenas com a prestação encerrada é que se pode considerar como adquiridos os serviços. No caso concreto, a empresa reconheceu o crédito de eventuais serviços no momento em que recebeu do prestador a NF demonstrando a conclusão do trabalho. É neste momento que o serviço é adquirido pelo contratante e surge para o prestador o direito de receber a retribuição. Antes do trabalho finalizado somente existe uma expectativa de direito sobre a prestação de serviços, até porque em caso de inadimplência o contratante não poderá exigir do contratado a obrigação de fazer, mas tão somente uma indenização. Desta forma, o procedimento da empresa atendeu de forma precisa a legislação em comento, razão pela qual deve ser acolhida sua manifestação de inconformidade. 3) Aproveitamento do crédito em meses subseqüentes. Desnecessidade de retificação de DACON e DCTF: o Fisco nega a possibilidade de aproveitamento do crédito em período subsequente, denominando aproveitamento de créditos extemporâneos. Depois diz ser possível esse aproveitamento, condicionandoo,entretanto, à retificação de DACON/DCTF pela empresa. Neste particular o equívoco da autuação é manifesto. As leis da nãocumulatividade em momento algum fixaram período para o contribuinte exercer o direito potestativo de descontar o crédito. Não há obrigação de realização do desconto/aproveitamento no mesmo mês de referência de determinação do crédito. A referência a determinado mês (§ 1º do art. 3º da Lei nº 10.833/2003) delimita apenas o valor do crédito apurado naquele mês, mas não limita o aproveitamento do crédito mediante o desconto com o débito àquele mês. A norma legal é expressa ao dizer que o aproveitamento do crédito pode se dar em determinado mês, sendo este o mês de aquisição dos bens/serviços utilizados como insumo – quando efetivamente surge o direito ao crédito – ou, se não utilizado naquele mês, poderá sêlo nos meses subsequentes. Não há nenhuma regra determinando a escrituração e, consequentemente, o aproveitamento do crédito em determinado mês. Simplesmente não existe norma jurídica neste sentido. Na não cumulatividade não se pode dizer que há aproveitamento extemporâneo de créditos, visto que inexiste um período definido para o aproveitamento, podendo este se dar no mês em que surgiu o direito ao crédito, no mês de aquisição dos bens/serviços utilizados como insumo, ou em meses subseqüentes, dependendo dos contribuintes. Além disso, o DACON, por ser de natureza declaratória e não constitutiva, não pode restringir o direito da empresa ao crédito, razão pela qual deve ser acolhida a manifestação da empresa. 4) Glosa de créditos sobre bens e serviços utilizados como insumos: a) inaplicabilidade das INs SRF nºs 247/2002 e 404/2004: por não considerar vários bens e serviços abarcados pelo conceito de insumo previsto nas INs SRF nºs 247/2002 e 404/2004, inclusive os dispêndios necessários à produção florestal, isto é, custos para a formação e manutenção de florestas destinadas à fabricação de celulose, deve ser acolhida a manifestação da empresa. Essas INs trazem em seu bojo equivocado conceito de insumo, pois adotam analogicamente o conceito de insumo relativo a não cumulatividade do IPI, restringindo, sem qualquer base legal, o direito creditório da empresa. Deve ser reformado o DD. b) créditos sobre bens/serviços insumos: considerando que a madeira é o principal insumo para a fabricação da pasta da celulose, todos os dispêndios com bens e serviços adquiridos para o plantio, corte, colheita, transporte das toras de madeira possuem classificação jurídica e contábil como custos de produção, razão pela qual o ato Fl. 6784DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.784 4 praticado pelo Fisco está ao arrepio da lei. O termo custo ou custo de produção abarca todos os gastos despendidos pela empresa, necessários e indispensáveis à produção de bens e serviços destinados à venda. Os custos de produção são todos os gastos com os insumos, com fatores de produção que agregam valor ao produto a ser vendido, diferente de despesas. Insumo e custo possuem o mesmo sentido e refletem a mesma realidade, razão pela qual, todos os itens que compõem o custo de produção ensejam o direito ao crédito de COFINS, a menos que sejam vedados expressamente pela Lei n° 10.833/2003, como é o caso, por exemplo, de custos incorridos com a aquisição de bens e serviços de pessoa física ou de pessoas jurídicas estrangeiras (§ 3º do art. 3º). Mesmo sendo custo de produção, os créditos sobre tais dispêndios são vedados, pois não implicariam na cumulatividade dos contribuintes. No caso dos autos, todos os créditos que foram glosados decorrem de bens e serviços adquiridos que representam efetivamente um custo de produção, pois são eles utilizados como insumo e indispensáveis à produção dos produtos destinados à venda pela empresa, sendo legítimo o crédito apropriado, razão pela qual deve ser dado provimento à presente manifestação. c) insumos glosados indevidamente: refere ao DD, reclamando do entendimento exposto acerca de glosas de diversos insumos, dentre outros: ferramentas de trabalho para manutenção, calços para alinhamento da altera de equipamentos rotativos, pistola de ar comprimido, serviços relacionados ao sistema de alarmes de emergências, serviços logísticos, serviços de movimentação de materiais e insumos, locação de guindastes, correias utilizadas para transporte de fardos de celulose, estrados de madeira, pallets (palete), caixas de papelão, despesas com equipamento de proteção individual, etiquetas adesivas de escritório, rolos de pintura, lonas de plástico para efetuar manutenções, insumos utilizados em análises químicas em laboratório, baterias, pilhas, rádios transceptores, projetores de apresentação, manutenção de PABX, manutenção de nobreaks,encadernação de NFs, copos para água mineral, almofada para carimbo, binóculos,borrachas para lápis, brindes e camisas promocionais, brinquedos para filhos de funcionários, café expresso em grãos, CDR graváveis, cestas de natal, coffebreak, serviços de cópias de chaves, coroas de flores, desjejum, custos de eventos festivos, lanches, livros de literatura, locação de máquinas de café, marmitex, medicamentos, palestras, óculos de segurança Bandido, tijolo comum, tinta para utilização em pisos em geral, placa de gail para piso, lâmpadas de iluminação em geral e pedra brita. Contudo, os bens e serviços glosados pelo Fisco são parte essencial no processo produtivo, tendo sido desconsiderados esses insumos sem qualquer critério legal, sem qualquer embasamento jurídico. Deve ser reformado o DD para deferir os pedidos de restituição e homologar as compensações pleiteadas, relativamente aos bens e serviços utilizados como insumo. Estes bens e serviços são utilizados no processo de produção e são, sem dúvida, o custo de produção do bem – celulose – bem como de outros que tenha a mesma natureza de custo de produção, descritos nas planilhas Auditoria DACON (ano) (trimestre) elaboradas pela Fiscalização. Requer, em razão do grande número de insumos e o exíguo prazo para a manifestação de inconformidade, a realização de diligência para a comprovação de que os bens e serviços adquiridos pela empresa são efetivamente custos ligados à sua produção ou fabricação. d) crédito sobre a formação de florestas – ativo imobilizado exaustão: o Fisco glosou créditos referentes a gastos com insumos florestais, isto é, valores dispendidos necessários à formação e desenvolvimento de florestas. Disse que todo bem ou serviço utilizado pela empresa antes do tratamento físicoquimico da madeira em si não podem ser classificados como insumo para fins de creditamento do PIS/PASEP e do COFINS não cumulativos. Ao invés disso, as reservas florestais devem ser tratadas como sendo um ativo Imobilizado da empresa. Mas o art. 1º da Lei n° 10.833/2003, preceitua que a COFINS na incidência nãocumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal,assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. No caso das empresas de celulose, os custos de produção se iniciam com o desenvolvimento de mudas de eucalipto, se intensificam na formação das florestas e, se encerram após a transformação da madeira em celulose. Todos os dispêndios com bens e serviços Fl. 6785DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.785 5 adquiridos para o plantio, corte, colheita, transporte das toras de madeira possuem a natureza jurídica de insumo, visto que são indispensáveis à elaboração da pasta de celulose, que é o produto final da empresa destinado à venda, razão pela qual a glosa dos créditos se encontra ao arrepio da lei. Assim, todos os gastos listados nas planilhas elaboradas pela fiscalização (Auditoria DACON (ano) (trimestre) que tiverem ligação à formação de florestas ou silvicultura, por constituírem insumo na produção da celulose, devem gerar direito a crédito de PIS/COFINS. Portanto, o DD deve ser reformado de modo a restabelecer os créditos da empresa. e) crédito decorrente de produtos adquiridos de terceiros: a Fiscalização afirma que não dá direito a crédito itens tais como clonagem, pesquisa,tratamento do solo, adubação, irrigação, controle de pragas, combate a incêndio e colheita. Mas a empresa só apropria créditos decorrentes de bens/serviços adquiridos de terceiros,não se apropriando de créditos sob sua própria mão de obra. Todos os serviços citados só compuseram a base de cálculo dos créditos porque foram adquiridos de terceiros. As próprias planilhas elaboradas pela Fiscalização comprovam a assertiva, ao indicarem o prestador de serviço e número da respectiva NF cujos créditos foram glosados. Desta forma, resta patente a improcedência da glosa sob essa rubrica, devendo ser reformado o DD. f) crédito sobre fretes: disse o Fisco que quaisquer serviços de transporte não relacionados à entrega de mercadorias diretamente aos clientes não podem ser onsiderados como sendo insumo. Seguindo esta orientação dada pela COSIT acerca do termo, entre outros, não foram considerados como insumo: armazenagem/transporte de papel e logística. Tal argumento é improcedente. Neste item não há diferença entre o frete pago na aquisição de insumos, na transferência de produtos em elaboração ou para colocação do produto acabado no estabelecimento vendedor. Todos estes gastos são tidos como custo de produção (art. 187, II, da Lei n° 6.404/1976), constituindo insumos, cujo crédito é assegurado pelo inciso II do art. 3º das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003. O inciso IX do art. 3º dessas leis assegura apenas o frete que constitui uma despesa de venda, que é o frete pago pelo vendedor para entregar o produto ao comprador. Os gastos de frete da empresa, portanto, até o momento em que o produto está colocado à venda, mesmo se este frete for despendido após o produto estar acabado, irão integrar o custo da mercadoria ou produto vendido (art. 187, II, da Lei nº 6.404/1976). Em todos os casos, o frete é tido como custo de produção ou fator de produção, enquadrandose no conceito de insumo. Deve ser reparado o DD de modo a restabelecer na integralidade os créditos da empresa que foram glosados referentes a fretes, sem qualquer exceção. 5) Créditos vinculados à receita de exportação: é inequívoco o direito ao crédito de COFINS em relação à parcela de insumos que se encontram vinculados à receita de exportação. O creditamento de COFINS sobre os custos, despesas e encargos vinculados à receita de exportação é assegurado de forma ampla pelo art. 6º, § 3° e art. 15,inciso II, da Lei n° 10.833/2003, que não impõem qualquer condição adicional para o gozo do direito. Tratase de empresa exportadora de pasta de celulose, sendo que todos os custos que estejam vinculados à receita de exportação, o que sem dúvida incluem os insumosflorestais e os fretes, conferem crédito de COFINS nos moldes dos dispositivos aludidos. 6) Conclusões: a) é inaplicável ao caso o ADI SRF nº 22/2002 para apuração do índice de rateio proporcional no que tange às receitas de exportação e mercado interno, haja vista que referida norma trata de norma isentiva; b) a empresa reconheceu créditos de bens e serviços utilizados como insumo no seu processo produtivo no momento oportuno, ou seja, no momento da entrada em seu estabelecimento, do insumo adquirido, pois operouse a tradição da coisa; c) ainda que assim não fosse, a legislação faculta ao contribuinte a possibilidade de aproveitar os créditos de bens e serviços em meses subsequentes (§ 4º do art. 3º das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003), o que foi desconsiderado pelo Fisco; d) é inaplicável ao caso as INs SRF nºs 247/2002 e 404/2004, pois trazem em seu bojo equivocado conceito de insumo, pois adotam analogicamente o conceito de insumo Fl. 6786DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.786 6 relativo a nãocumulatividade do IPI, restringindo, sem qualquer base legal, o direito creditório da empresa; e) a empresa tem direito a créditos de PIS/COFINS, seja em razão dos bens e serviços serem parte indispensável do processo produtivo (insumos), seja em razão das reservas florestais, mesmo estando classificadas contabilmente como ativo imobilizado, sujeitos à exaustão, pois quando da sua utilização, serão também insumos; f) também ensejam créditos aqueles bens ou serviços adquiridos de terceiros, inclusive no caso vertente; g) os fretes suportados durante todo o processo de produção ensejam direito ao crédito, inclusive aqueles destinados à aquisição de matériaprima, destinados à transporte dos produtos em fase de produção entre os estabelecimentos da própria empresa,bem como aqueles que foram realizados durante o processo de formação das reservas florestais que compõe o ativo imobilizado, pois esse constituemse custos de produção; h) todos os custos vinculados à receita de exportação, considerando que se trata de empresa exportadora de pasta de celulosa, conferem crédito de PIS/COFINS. 7) Pedidos: a) requer a realização de diligência e perícia, nos termos do inciso IV do art. 16 do Decreto nº 70.235/1972. Tal diligência/perícia é necessária para a comprovação da real natureza de cada bem/serviço adquiridos pela empresa, como eles são empregados no processo produtivo, que estes são efetivamente usados nos estabelecimentos produtores e industriais, que são custos de produção, que foram contabilizados como tal, dentre outras informações indispensáveis para assegurar o direito ao crédito, bem como buscar a verdade material. Indica peritos e formula quesitos; b) diante da robusta comprovação de que os gastos realizados pela empresa são efetivamente indispensáveis, necessários à produção de seus bens destinados à venda, requer, em preliminar, a nulidade do DD e, por conseguinte, o acolhimento de sua manifestação. Devem ser reconhecidos na integralidade os créditos que foram glosados, seja com fundamento no valor de aquisição dos bens/serviços utilizados como insumos para a produção da celulosa, seja baseado nos encargos de exaustão. 6. Assim restou ementado o Acórdão exarado pela DRJ/PORTO ALEGRE : ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/01/2008 a 31/03/2008 PEDIDO DE DILIGÊNCIA OU PERÍCIA. PRESCINDIBILIDADE. Não se justifica a realização de perícia/diligência quando presentes nos autos elementos suficientes para formar a convicção do julgador. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. COMPROVAÇÃO DO DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. CONTRIBUINTE. No âmbito específico dos pedidos de restituição, compensação ou ressarcimento, é ônus do contribuinte/pleiteante a comprovação minudente da existência do direito creditório pleiteado. DESPACHO DECISÓRIO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. Restando consignado no Despacho Decisório, de forma clara e concisa, o motivo do não reconhecimento do direito creditório pleiteado, bem como da não homologação das compensações tencionadas, deve ser afastada a pretensão de declaração de nulidade do ato administrativo. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/01/2008 a 31/03/2008 ENTENDIMENTOS ADMINISTRATIVOS E MANIFESTAÇÕES DOUTRINÁRIAS. EFEITOS. NÃO VINCULAÇÃO. Fl. 6787DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.787 7 As referências a entendimentos de segunda instância administrativa ou a manifestações da doutrina especializada, não vinculam os julgamentos emanados pelas Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2008 a 31/03/2008 REGIME NÃOCUMULATIVO. INSUMOS. CONCEITO. Para ser considerado insumo, o bem ou o serviço, desde que adquirido de pessoa jurídica, deve ter sido consumido, desgastado, ou ter perdidas as suas propriedades físicas ou químicas em razão de ação diretamente exercida sobre o produto em elaboração. REGIME NÃOCUMULATIVO. APURAÇÃO DE CRÉDITOS. RATEIO PROPORCIONAL. Na determinação dos créditos da nãocumulatividade passíveis de ressarcimento/compensação, há de se fazer o rateio proporcional entre as receitas obtidas com operações de exportação e de mercado interno (tributadas e NT). REGIME NÃOCUMULATIVO. EXPORTAÇÃO. FATO GERADOR. ASPECTO TEMPORAL. A receita de exportação deve ser reconhecida na data do embarque dos produtos vendidos para o exterior. REGIME NÃOCUMULATIVO. INSUMOS PARA FORMAÇÃO DE FLORESTAS. INCORPORAÇÃO AO ATIVO IMOBILIZADO. DESCONTO DE CRÉDITO COMO EXAUSTÃO. IMPOSSIBILIDADE. Os custos de formação de floresta são incorporados ao valor desse bem registrado no ativo imobilizado, valor que, na medida da utilização da floresta, deve ser objeto de encargos de exaustão, que não dão direito a crédito por falta de previsão legal. REGIME NÃOCUMULATIVO. DESPESAS COM FRETES. CONDIÇÕES DE CREDITAMENTO. Observada a legislação de regência, a regra geral é que em se tratando de despesas com serviços de frete, somente dará direito à apuração de crédito o frete contratado relacionado a operações de venda, onde ocorra a entrega de bens/mercadorias vendidas diretamente aos clientes adquirentes, desde que o ônus tenha sido suportado pela pessoa jurídica vendedora. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido 7. Inconformada com a decisão, a empresa, após ter ciência do Acórdão em 26/05/2015 conforme Termo de Ciência por Abertura de Mensagem, ás fls. 6433 dos autos digitais, apresentou Recurso Voluntário, tempestivamente, aos 26/06/2015, conforme Termo de Solicitação de Juntada, ás fls. 6435 dos autos digitais, onde reitera seus argumentos da manifestação de inconformidade, combatendo ponto a ponto a decisão de piso e especificando a essencialidade de cada insumo glosado. Juntou laudo técnico da Escola Superior de Agricultura da USP, que descreve todo o processo produtivo da operação florestal e da fase de indústria da celulose, tratando as duas como interdependentes. Fl. 6788DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.788 8 É o relatório. Voto Conselheiro Ari Vendramini, Relator O recurso voluntário reúne os pressupostos legais de interposição, dele, portanto, tomo conhecimento. Na origem, a controvérsia originouse da análise dos créditos pleiteados de PIS/COFINS nãocumulativos, vinculados à receita de exportação (art. 3º e 5º da Lei nº 10.637/2002 e art. 3º e 6º da Lei nº 10.833/2003). A fiscalização procedeu à auditoria das rubricas das receitas e despesas, em especial os bens para revenda, bens utilizados como insumos, serviços utilizados como insumos, fretes e combustíveis. Para tanto, informou a fiscalização que a empresa apresentou toda a documentação solicitada: Para tal, foram confrontadas: as apurações e declarações transmitidas pela empresa (DACON, DCTF, PER/DCOMP, DIPJ); os livros, documentos e arquivos eletrônicos fiscais e contábeis; e as notas fiscais eletrônicas e originais apresentadas em conformidade com a Instrução Normativa SRF nº 86, de 22 de Outubro de 2001, por meio da utilização do ContÁgil, aplicativo de auxílio ao AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil no exercício das atividades de fiscalização. Ademais, foram ainda solicitados ao longo da fiscalização: as notas fiscais de compras de insumos, prestação de serviços utilizados como insumos; o descritivo do processo produtivo da empresa e principais insumos utilizados na industrialização, com a respectiva classificação fiscal; os laudos de utilização dos diversos tipos de combustíveis, objeto do pedido de creditamento e documentos de constituição de participação em Consórcios. Conforme relatado, foram diversos os motivos das glosas dos créditos pleiteados pela Recorrente, que podem ser separadas em quatro grandes grupos: i. Método de Apropriação de Custos – Rateio proporcional ii. Momento de apuração dos insumos e serviços como créditos iii. Aproveitamento de créditos extemporâneos iv. Insumos da nãocumulatividade Como se vê, um dos pontos controvertidos nestes autos é o conceito de insumo para fins de creditamento no âmbito do regime de apuração nãocumulativa das contribuições do PIS e da COFINS. A Recorrente pleiteia todos créditos por entendêlos como essenciais para sua atividade. Entretanto, o conceito de insumo que norteou a análise fiscal na origem foi o restrito, veiculado pelas Instruções Normativas da RFB n° 247/2002 e 404/2004, segundo as quais o termo “insumo” não pode ser interpretado como todo e qualquer bem ou serviço que gera despesa necessária para a atividade da empresa, mas, sim, tão somente, como aqueles que, adquiridos de pessoa jurídica, efetivamente sejam aplicados ou consumidos na produção de bens destinados à venda ou na prestação do serviço da atividade. Fl. 6789DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.789 9 O mesmo critério foi utilizado no julgamento da decisão de piso. Por outro lado, para a Recorrente, o conceito de insumo é amplo, implicando na assertiva de que insumo equivale a “custo de produção”. Esta 1ª Turma Ordinária de Julgamento adota a posição de que o conceito de insumo para fins de creditamento do PIS e da COFINS, no regime da nãocumulatividade, não guarda correspondência com o utilizado pela legislação do IPI, tampouco pela legislação do Imposto sobre a Renda. Dessa forma, o insumo deve ser necessário e essencial ao processo produtivo e, por conseguinte, à execução da atividade empresarial desenvolvida pela empresa. Em razão disso, deve haver a análise individual da natureza da atividade da pessoa jurídica que busca o creditamento segundo o regime da nãocumulatividade, para se aferir o que é insumo. As atividades desenvolvidas pela Recorrente são: a) a indústria e o comércio, no atacado e no varejo de celulose, papel, papelão e quaisquer outros produtos derivados desses materiais, próprios ou de terceiros; b) comércio, no atacado e no varejo, de produtos destinados ao uso gráfico em geral; c) a exploração de todas as atividades industriais e comerciais que se relacionarem direta ou indiretamente com seu objetivo social; d) a importação de bens e mercadorias relativos aos seus fins sociais; e) a exportação dos produtos de sua fabricação e de terceiros; f) a representação por conta própria ou de terceiros; g) a participação em outras sociedades, no país ou no exterior, qualquer que seja a sua forma e objeto, na qualidade de sócia, quotista ou acionista; h) a prestação de serviços de controle administrativo, organizacional e financeiro às sociedades ligadas ou a terceiros; i) a administração e implementação de projetos de florestamento e reflorestamento, por conta própria ou de terceiros, incluindo o gerenciamento de todas as atividades agrícolas que viabilizem a produção, fornecimento e abastecimento de matéria prima para indústria de celulose, papel, papelão e quaisquer outros produtos derivados desses materiais; e j) a prestação de serviços técnicos, mediante consultoria e assessoria às suas controladas ou a terceiros. Ressaltese que há fato novo nos autos: a juntada de laudo técnico produzido pela Escola Superior de Agricultura da USP, em sede de recurso voluntário. Tal documento teve a finalidade de descrever o processo produtivo da Recorrente, desde a operação florestal até a entrega da madeira para a indústria, bem como as etapas industriais da celulose e do papel: Fl. 6790DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.790 10 De antemão já se configura a necessidade de conversão do julgamento em diligência, em razão de o laudo ser um fato novo, o que demanda a manifestação da autoridade fiscal, em respeito ao princípio do contraditório. Todavia, há outros pontos que demandam esclarecimento. A seguir, analisa se uma a uma as glosas para delimitar o objeto da diligência proposta. MÉTODO DE APROPRIAÇÃO DOS CUSTOS – RATEIO PROPORCIONAL (Lei nº 10.637/2002, art. 3º e art. 3°, 6º e 15 da Lei nº 10.833/2003) Ao longo de todo o período fiscalizado, a empresa utilizou o método do rateio proporcional para todos os custos. Ao final, a fiscalização: Através do levantamento dos valores referentes às Receitas do Mercado Interno e do Mercado Externo levantados anteriormente, chegouse a novos índices de rateio detalhados nos memoriais de cálculo desta auditoria. Para a autoridade fiscal, o momento do embarque da mercadoria é o parâmetro a ser considerado para a apuração dos valores exportados a cada mês, nos termos do art. 1º do Ato Declaratório Interpretativo SRF nº 22, de 5 de Novembro de 2002: Art. 1º Para fins de isenção da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, considerase exportado para o exterior o bem que tenha saído do território nacional. Diante disso, os valores constantes no SISCOMEX (data do embarque) foram utilizados para fins de apuração dos índices de rateio e retificação dos DACON. Os dados foram extraídos pelo sistema DWAduaneiro. Por conseguinte, parte do crédito pretendido pela empresa não foi integralmente admitido, por conta do referido ajuste no percentual de rateio das receitas oriundas de exportação/mercado interno. Por outro lado, para a Recorrente, o reconhecimento da receita deve ser na emissão da Nota Fiscal. Fl. 6791DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.791 11 Ademais, há ponto de extrema importância levantado pelo contribuinte em sua defesa: A lide e o que tem quer ser decidido nos presentes autos é: A receita decorrente de exportação indireta (venda no mercado interno para trading, com fim específico de exportação) deve ser contabilizada como receita de exportação para fins de cálculo do rateio proporcional dos créditos, ou apenas devem ser considerados os valores constantes do SISCOMEX? Todo o arcabouço legal que regula a exportação indireta vigente leva a única conclusão possível de que os valores relativos a tais operações compõem a receita de exportação e, portanto, o índice do rateio. As empresas comerciais têm por objeto social a comercialização de mercadorias, podendo comprar produtos fabricados por terceiros para revender no mercado interno ou destinálos à exportação, bem como importar mercadorias e efetuar sua comercialização no mercado doméstico, ou seja, exercem atividades típicas de uma empresa comercial. A expressão trading company não é utilizada na legislação brasileira e na doutrina há confusão entre as definições de “empresa comercial exportadora” e “trading company”. A distinção se faz entre as empresas comerciais exportadoras (ECE) que possuem o Certificado de Registro Especial e as que não o possuem. As empresas comerciais exportadoras são reconhecidas no Brasil pelo Decretolei nº 1.248/1972, que dispõe sobre o tratamento tributário das operações de compra de mercadorias no mercado interno, para o fim específico de exportação, essa norma assegura os benefícios fiscais concedidos por lei para incentivo à exportação, tanto ao produtor vendedor quanto à ECE. Pelo Decretolei nº 1.248/1972, apenas as empresas comerciais exportadoras que obtivessem o Certificado de Registro Especial seriam beneficiadas com os incentivos fiscais à exportação, entretanto, a legislação atual não faz essa distinção. De acordo com a legislação tributária atual, existem duas espécies de Empresas Comerciais Exportadoras (ECE): 1) as que possuem o Certificado de Registro Especial e 2) as que não o possuem. Entretanto, os benefícios fiscais quanto ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), às Contribuições Sociais (PIS/PASEP e COFINS) e ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aplicamse, atualmente, às duas espécies, sem distinção alguma. A própria Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) expressa esse entendimento, por meio da Solução de Consulta nº 40, de 4 de maio de 2012, publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 7 de maio de 2012: A não incidência do PIS/Pasep e Cofins e a suspensão do IPI aplicam se a todas as empresas comerciais exportadoras que adquirirem produtos com o fim específico de exportação. Duas são as espécies de empresas comerciais exportadoras: a constituída nos termos do DecretoLei nº 1.248, de 29 de novembro de 1972, e a simplesmente registrada na Secretaria de Comércio Exterior. Portanto, atualmente, há duas categorias de Empresas Comerciais Exportadoras (ECE), sem diferenciação com relação aos incentivos fiscais. Essencialmente, as comerciais exportadoras são classificadas em dois grandes grupos: 1) as que possuem o Certificado de Registro Especial, denominadas “trading companies”, regulamentadas pelo De cretolei nº 1.428/1972, recepcionado pela Constituição Federal de 1988 com status de lei Fl. 6792DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.792 12 ordinária; e 2) as comerciais exportadoras que não possuem o Certificado de Registro Especial e são constituídas de acordo com Código Civil Brasileiro. As ECE devem atender certos requisitos: de acordo com o art.5º, caput, do DecretoLei nº 1.248/1972, e o art. 231 do Decreto nº 6.759/2009 ( Regulamento Aduaneiro Brasileiro), os impostos que forem devidos, bem como os benefícios fiscais de qualquer natureza, auferidos pelo produtorvendedor, com os acréscimos legais cabíveis, passarão a ser de responsabilidade da empresa comercial exportadora no caso de: a) não se efetivar a exportação dentro do prazo de cento e oitenta dias, contados da data da emissão da nota fiscal pela vendedora, na hipótese de mercadoria submetida ao regime extraordinário de entreposto aduaneiro na exportação; b) revenda das mercadorias no mercado interno; ou c) destruição das mercadorias. para obter o Certificado de Registro Especial, a Empresa Comercial Exportadora (ECE) deve atender alguns requisitos, como ser constituída na forma de sociedade por ações (S.A.) e possuir capital social mínimo, já a ECE que não se enquadra nas exigências do DecretoLei nº 1.248/1972, pode ser constituída sob qualquer forma e não precisa ter capital mínimo. Regese, pois, pelo Código Civil Brasileiro. Porém, para ser caracterizada como ECE, dever ter o fim comercial em seu objeto social, realizar operações de comércio exterior, estar habilitada na Receita Federal (RFB) para operar no SISCOMEX (Instrução Normativa RFB nº 1.288/2012) e estar inscrita no Registro de Importadores e Exportadores da SECEX/MDIC (Portaria SECEX nº 23/2011, art. 8º). atualmente, as empresas que desejam atuar como empresas comerciais exportadoras devem estar habilitadas no registro especial na Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) e na Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), de acordo com as normas aprovadas pelos Ministros de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Fazenda (MF), respectivamente, além de outros requisitos. Tratase de exigência contida no art. 229 do Regulamento Aduaneiro Brasileiro (Decreto nº 6.759/2009), que reproduz exigência prevista no DecretoLei nº 1.248/1972, que possui status de lei ordinária. De acordo com os arts. 228 e 229 do Regulamento Aduaneiro as operações decorrentes de compra de mercadorias no mercado interno, quando realizadas por empresa comercial exportadora, para o fim específico de exportação, terão o seguinte tratamento : serão consideradas destinadas ao fim específico de exportação as mercadorias que forem diretamente remetidas do estabelecimento do produtor vendedor para embarque de exportação, por conta e ordem da empresa comercial exportadora ou para depósito sob o regime extraordinário de entreposto aduaneiro na exportação. Tal tratamento aplicase às empresas comerciais exportadoras que estiverem registradas no registro especial da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) e na Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF), de acordo com as normas aprovadas pelos Ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Fazenda; estar constituída sob a forma de sociedade por ações, devendo ser nominativas as ações com direito a voto e possuir capital mínimo fixado pelo Conselho Monetário Nacional. O inciso VII do artigo 20 do Anexo I do Decreto nº 7.096/2010, dispõe sobre as prerrogativas de exame e análise de solicitações de inscrição, atualização e cancelamento de registro de “trading companies”. Registrada a sistemática da exportação indireta, é de se concluir que as alegações da Recorrente são pertinentes. Fl. 6793DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.793 13 Logo, quanto aos índices de rateio, é necessária a conversão do julgamento em diligência, para que a autoridade fiscal verifique se as receitas decorrentes de vendas a empresas comerciais exportadoras com o fim específico de exportação restaram caracterizadas ou se foram apenas realizadas no mercado interno. Dito de outra forma, a autoridade fiscal deve investigar o valor da receita de exportação, decorrente também de exportação indireta (via trading), para que sejam computadas no rateio. Ressaltese que toda a documentação foi disponibilizada à fiscalização, como já mencionado. E, em sede de manifestação de inconformidade, a empresa juntou suas demonstrações contábeis, acompanhadas de parecer de auditores independentes. MOMENTO DE APURAÇÃO DOS INSUMOS E SERVIÇOS COMO CRÉDITOS (art. 3°, II, §1, I das Leis de regência) Transcrevese o relato da fiscalização: 40. A metodologia de apuração das entradas de mercadorias e serviços feita pela empresa baseiase no momento de lançamento da Nota Fiscal, em afronta à legislação citada acima: “dos itens (...) adquiridos no mês”. 41. Foram levantados casos, como por exemplo, a Nota Fiscal 000651 000 com emissão em 02/01/2006 cujo lançamento e crédito se deu apenas em 10/2006 (documento 4300104789). 42. Em estrito cumprimento às leis citadas acima, as notas fiscais constantes nas memórias de cálculo das apurações do PIS e da COFINS cujas emissões se deram fora do período da sua apuração foram glosadas. 43. A data da emissão da Nota Fiscal é o parâmetro correto para a apuração mensal dos créditos (critério este idêntico ao adotado pelo sistema ContÁgil, aplicativo de auxílio ao AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil devidamente homologado pelos órgãos centrais da RFB para o auxílio do exercício das atividades de fiscalização). 44. Não cabe à Autoridade Fiscal flexibilizar o critério temporal de apropriação dos insumos, alargandoo em decorrência das tramitações das Notas Fiscais dentro da empresa. Desta forma, mesmo as notas fiscais emitidas ao final de um determinado mês devem ser apropriadas neste mesmo mês, e não no mês seguinte. O prazo para se apresentar o DACON é suficientemente dilatado para que a empresa efetue tais ajustes. 45. Vale ressaltar ainda que não cabe à Autoridade Fiscal realocar as notas fiscais nos meses corretos da sua emissão, e sim tão somente verificar a sua correta apropriação no DACON analisado, cabendo a sua simples glosa em caso contrário. Por sua vez, a Recorrente entende ser irrelevante a data (momento) de emissão da nota fiscal para fins de apuração dos créditos de PIS, por não ser aquele o momento Fl. 6794DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.794 14 da produção dos efeitos patrimoniais decorrentes da aquisição dos insumos (ou dos serviços). Entende que os efeitos somente se produzem no momento da entrega do bem/serviço, momento em que se dá a contabilização. Percebese falha na conduta da fiscalização ao glosar a integralidade das notas fiscais constantes nas memórias de cálculo das apurações do PIS e da COFINS emitidas fora do período de sua apuração. É lícito ao contribuinte ter seu direito creditório analisado, sob pena de enriquecimento ilícito do Estado. Aplicase aqui o CPC 30, que trata do preço justo para efeitos contábeis, hoje substituído pelo CPC 47. O CPC 30 era claro em seus itens 14 e seguintes, que diziam em síntese que a receita de venda de bens deve ser reconhecida quando forem satisfeitas as condições: a entidade tenha transferido para o comprador os riscos e benefícios inerentes à propriedade dos bens, a entidade não tenha envolvimento na gestão dos bens vendidos, o valor da receita possa ser mensurado com confiabilidade, for provável que os benefícios econômicos associados à transação fluirão para a entidade e as despesas incorridas referentes à transação possam ser mensuradas com confiabilidade. Na maioria dos casos, a transferência dos riscos e dos benefícios inerentes à propriedade coincide com a transferência da titularidade legal ou da transferência da posse do ativo para o comprador. Se a entidade retiver riscos significativos da propriedade, a transação não é uma venda e a receita não pode ser reconhecida. Já na prestação de serviços a receita associada à transação deve ser reconhecida tomando por base o estágio de execução (stage of completion) da transação ao término do período de reporte. O desfecho de uma transação pode ser estimado com confiabilidade quando o valor da receita puder ser mensurado com confiabilidade, for provável que os benefícios econômicos associados à transação fluirão para a entidade, o estágio de execução (stage of completion) da transação ao término do período de reporte puder ser mensurado com confiabilidade e as despesas incorridas com a transação puderem ser mensuradas com confiabilidade. O reconhecimento da receita com referência ao estágio de execução de uma transação é usualmente denominado como o método da percentagem completada. Por esse método, a receita é reconhecida nos períodos contábeis em que os serviços são prestados. Para fins práticos, quando os serviços prestados correspondam a um número indeterminado de etapas, durante um período específico de tempo, a receita deve ser reconhecida pelo método linear durante tal período, a menos que haja evidências de que outro método represente melhor o estágio de execução da transação. Quando determinada etapa for muito mais significativa de outras, o reconhecimento da receita deve ser adiado até que essa etapa seja executada. Inclusive, a Solução de Consulta COSIT nº 111, de 22/04/2014 reconheceu a aplicação do CPC 30: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. REGIME DE COMPETÊNCIA. CANCELAMENTO DE NOTAS FISCAIS. NÃO REALIZAÇÃO DE RECEITAS. NÃO AUFERIMENTO DE RECEITA. VENDAS CANCELADAS. O fato gerador da Cofins no regime de apuração não cumulativa é o auferimento de receitas pelas pessoas jurídicas, o que ocorre quando Fl. 6795DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.795 15 as receitas são consideradas realizadas. A receita é considerada realizada e, portanto, passível de registro pela Contabilidade, quando produtos ou serviços produzidos ou prestados pela entidade são transferidos para outra entidade ou pessoa física com a anuência destas e mediante pagamento ou compromisso de pagamento especificado perante a entidade produtora. No que diz respeito à prestação de serviços, no regime de competência, a receita é considerada realizada e, portanto, auferida quando um serviço é prestado com a anuência do tomador e com o compromisso contratual deste de pagar o preço acertado, sendo irrelevante, nesse caso, a ocorrência de sua efetiva quitação. Não integram a base de cálculo da Cofins, no regime de apuração não cumulativa, as receitas referentes a vendas canceladas. No que diz respeito à prestação de serviços, vendas canceladas correspondem à anulação de valores registrados como receita bruta de serviços, fato que ocorre quando o contratante não concorda com o valor cobrado (no todo ou em parte), seja porque os serviços não foram prestados de acordo com o contrato, seja porque os serviços prestados, sem a sua anuência, não foram contratados, ou seja porque o valor cobrado não tem previsão contratual. Nesse caso a contratada não é detentora do direito de receber pagamento (no todo ou em parte) pelos serviços prestados. Consequentemente, ainda que ela registre esses valores como receita, eles não passam a assumir tal condição, já que não se consideram como receitas realizadas e, por conseguinte, como receitas auferidas. No regime de competência, o cancelamento de notas fiscais, seja no mês da prestação de serviço ou em outro mês qualquer, por si só, não afeta a ocorrência do fato gerador ou a apuração da base de cálculo da Cofins. Todavia, se as causas que motivarem tal cancelamento, configurarem vendas canceladas, o correspondente valor, registrado como receita de serviços, é passível de exclusão da base de cálculo dessa Contribuição no mês da devolução. DISPOSITIVOS LEGAIS: Instrução Normativa SRF nº 404, de 2004, arts. 3º e 4º, caput, e § 1º; Lei nº 6.404, de 1976, art. 187, § 1º, “a” e “b”; Instrução Normativa SRF nº 51, de 1978, item 4.1; Norma Brasileira de Contabilidade TG 30 Receitas (com a redação dada pela Resolução CFC nº 1.412, de 2, de outubro de 2012), item 21. Diante do acima exposto, deve ser afastada a glosa integral das notas fiscais constantes nas memórias de cálculo das apurações do PIS e da COFINS, sob a justificativa de que as “emissões se deram fora do período da sua apuração”. Como os créditos não foram sequer objeto de devida análise, deve ser esclarecido em diligência fiscal a natureza desses créditos, para que se possa aferir se são insumos ou não, com a devida quantificação. APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS EXTEMPORÂNEOS Fl. 6796DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.796 16 Observese a manifestação da fiscalização: 100. Identificado pelo contribuinte que um determinado crédito não foi utilizado no passado, existe a possibilidade do seu aproveitamento de forma extemporânea, ou seja, realizado fora de seu tempo normal. 101. Todavia, não há como acolher a pretensão de utilizar eventuais créditos apurados extemporaneamente sem retificar os Dacon e DCTF correspondentes, ou seja, retificar as declarações do mesmo período dos créditos, em face do disposto na Instrução Normativa SRF nº 590, de 22 de dezembro de 2005: “Art.11. Os pedidos de alteração nas informações prestadas no Dacon serão formalizados por meio de Dacon retificador, mediante a apresentação de novo demonstrativo elaborado com observância das mesmas normas estabelecidas para o demonstrativo retificado. §1º O Dacon retificador terá a mesma natureza do demonstrativo originariamente apresentado, substituindoo integralmente, e servirá para declarar novos débitos, aumentar ou reduzir os valores de débitos já informados ou efetivar qualquer alteração nos créditos informados em demonstrativos anteriores. (...) §4º A pessoa jurídica que entregar o Dacon retificador, alterando valores que tenham sido informados em DCTF, deverá apresentar, também, DCTF retificadora.” (grifos nossos) 102. Em suma, caso o contribuinte identifique em dez/2006 um crédito não utilizado em jan/2005, deve proceder a retificação do DACON jan/2005. 103. Devese salientar que, no caso de ter havido recolhimento das aludidas contribuições pela Consulente, a retificação dos Dacon e DCTF correspondentes é o único procedimento que permite a restituição de eventuais valores recolhidos indevidamente ou a maior devidamente corrigidos pela Taxa Referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) para Títulos Federais, haja vista que os créditos extemporâneos não admitem a incidência de atualização monetária ou juros de mora, consoante dispõe o art. 13 c/c art. 3o, § 4o, da Lei nº 10.833, de 2003: “Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: (...) § 4° O crédito não aproveitado em determinado mês poderá sêlo nos meses subseqüentes. (...) Art. 13. O aproveitamento de crédito na forma do § 4° do art. 3, do art. 4° e dos §§ 1° e 2° do art. 6°, bem como do § 2° e inciso II do § 4° e § 5° do art. 12, não ensejará atualização monetária ou incidência de juros sobre os respectivos valores.” Fl. 6797DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.797 17 105. Finalmente, devese salientar que a apuração de créditos, bem como a retificação de declarações, relativos a períodos de apuração anteriores, deve respeitar o prazo decadencial de cinco anos. 106. Todavia, o critério temporal explicitado anteriormente (retificar as declarações do mesmo período dos créditos) não foi obedecido, de forma que as rubricas contendo créditos extemporâneos de períodos diferentes das da apuração de cada DACON foram glosadas. Como exemplo, podemos citar a auditoria realizada pela Ernst & Young em 03/2010 apropriando créditos de PIS e COFINS cuja base de cálculo foi de R$ 167.052.349,09 (referente aos períodos de apuração de 2005 e 2006), valor este devidamente glosado por esta fiscalização. 107. Acerca dos Créditos Extemporâneos VCP – Jacareí apropriados no 4º Trimestre de 2006, a empresa foi intimada a informar o período dos referidos créditos, todavia, não apresentou documentação comprobatória dos mesmos, nem de que período os mesmos foram apurados. Desta forma, os valores foram devidamente glosados. Assiste razão à Recorrente, quando afirma que a utilização de créditos extemporâneos não está vinculada à retificação de DCTF/DACON. Há claro equívoco na conclusão da fiscalização de que a apuração extemporânea de créditos somente poderia ser admitida mediante retificação das declarações e demonstrativos correspondentes, diante da ausência de previsão legal para tal exigência. A 3ª Turma da Câmara Superior, acórdão n° 9303006.248, já se manifestou quanto à utilização de créditos extemporâneos independentemente de retificação da DCTF e do DACON: CRÉDITOS DA CONTRIBUIÇÃO NÃO CUMULATIVA. RESSARCIMENTO. CRÉDITOS EXTEMPORÂNEOS. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. Na forma do art. 3º, § 4°, da Lei nº 10.833/2003, desde que respeitado o prazo de cinco anos a contar da aquisição do insumo, o crédito apurado nãocumulatividade do PIS e Cofins pode ser aproveitado nos meses seguintes, sem necessidade prévia retificação do Dacon por parte do contribuinte ou da apresentação de PER único para cada trimestre. As Linhas 06/30 e 06/31 do DACON, denominadas respectivamente de “Ajustes Positivos de Créditos” e de “Ajustes Negativos de Créditos”, contemplam a hipótese de o contribuinte lançar ou subtrair outros créditos, além daqueles contemporâneos à declaração. Também a EFDPIS/Cofins, constante do Anexo Único do Ato Declaratório Executivo COFIS nº 34/2010, prevê expressamente a possibilidade de lançar créditos extemporâneos, nos registros 1101/1102 (PIS) e 1501/1502 (Cofins). Com isso, é imperiosa a análise pela fiscalização da pertinência dos créditos apropriados extemporaneamente. Mais uma vez, é necessário apontar que a empresa apresentou o suporte documental à fiscalização, como já mencionado no início deste voto. Fl. 6798DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.798 18 Com isso, a unidade de origem deve analisar a origem, natureza, validade e pertinência dos créditos apropriados extemporaneamente, para quantificálos. INSUMOS DA NÃOCUMULATIVIDADE (Arts. 3º das Leis de regência) Segundo a fiscalização, para que um bem seja considerado insumo à fabricação, além de não estar incluído no ativo imobilizado, deve enquadrarse em uma das quatro situações: ser matériaprima, produto intermediário, material de embalagem ou qualquer outro bem que sofra alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação. Logo, entre outros, não foram considerados como insumos: ferramentas de trabalho para manutenção, calços para alinhamento da altura de equipamentos rotativos, pistola de ar comprimido, serviços relacionados ao sistema de alarmes de emergências, serviços logísticos, serviços de movimentação de materiais e insumos e locação de guindastes. Prosseguindo, para a fiscalização, as despesas com a constituição da floresta compõem o ativo imobilizado da empresa. Por isso, na análise dos insumos, foi aplicado o seguinte critério na auditoria: “Todo bem ou serviço utilizado pela empresa antes do tratamento físicoquímico da madeira em si não podem ser classificados como insumo para fins de creditamento do PIS/PASEP e do COFINS nãocumulativos. Ao invés disso, as reservas florestais devem ser tratadas como sendo ativo imobilizado da empresa.” Por isso, apontou: 58. Resta claro que os empreendimentos florestais destinados ao corte para comercialização, consumo ou industrialização devem ser classificados no ativo imobilizado. Em relação à floresta plantada, as despesas de qualquer natureza, incorridas para a constituição da floresta devem ser contabilizadas no ativo imobilizado. O bem (floresta) sofrerá então exaustão à medida que suas árvores forem sendo derrubadas. Evidentemente que o valor da terra nua não deve aparecer na mesma conta do ativo imobilizado em que estiverem os recursos florestais, uma vez que a terra nua não pode ser objeto de exaustão. 59. Com isso, é fácil concluir que as despesas com a constituição da floresta não podem ser utilizadas como base para cálculo de créditos da Contribuição para o PIS/PASEP e da Cofins, na qualidade de insumos de seu produto final, já que o custo de constituição da floresta não é considerado custo de insumo à produção, mas custo de bem a ser incorporado ao ativo imobilizado. 60. Entre outros, não foram considerados como insumos: corrente de corte (motosserra), picadores (desgastador de madeira), sabres (manejo florestal), insumos utilizados no corte de cavacos , serviços florestais de silvicultura/trato cultural das florestas próprias, serviços de inventário florestal, serviços de viveiros, serviço florestal de colheita, serviço de manutenção/construção de estrada e pontes, serviços topográficos, controle de qualidade de madeiras, Fl. 6799DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.799 19 monitoramento florestal, irrigação, terraplenagem, sensoriamento remoto e peças e reparos em maquinários relacionados com a área de silvicultura (marcas de tratores e outros veículos como a Komatsu, Volvo e John Deere). Em seguida, aduz a impossibilidade de desconto de créditos de exaustão, por não haver previsão legal para a apuração de créditos sobre encargos de exaustão incorridos sobre bens incorporados ao ativo imobilizado do contribuinte. Quanto à necessidade da aquisição dos insumos de terceiros, a fiscalização glosou as despesas relacionadas com a obtenção de madeira dos terrenos da empresa, a chamada Operação Florestal (clonagem, pesquisa, plantio, tratamento do solo, adubação, irrigação, controle de pragas, combate à incêndios e colheita). Na mesma esteira, uma vez entendido que todos os esforços despendidos na Operação Florestal compõem o ativo imobilizado, glosou os fretes pagos na aquisição dos bens que compõem o ativo imobilizado. Por outro lado, a Recorrente aduz que é devida a tomada de crédito sobre a formação de florestas: plantio, silvicultura, corte, colheita, logística e transporte de toras de madeira e etc. por indispensáveis à elaboração da celulose. Aponta as efls. 19, 78, 90, 131 e 132 do laudo técnico da USP. Acrescenta que os serviços glosados estão elencados no laudo como indispensáveis ao processo produtivo da celulose, conforme itens 4 e 5 do documento, também ligados à formação das florestas. E ainda, que os dispêndios com clonagem, pesquisa, plantio, tratamento do solo, adubação, irrigação, controle de pragas, combate a incêndios e colheita são prestados por terceiros, pessoas jurídicas. a) Embalagem de apresentação e de transporte A fiscalização aceitou como insumo a embalagem de apresentação, entendendo que sua colocação determina a fase final da produção. Por outro lado, não considerou a embalagem para transporte como insumo. Assim, entre outros, não foram considerados como insumos: correias utilizadas para transporte de fardos de celulose, estrados de madeira, pallet (palete) e caixas de papelão. O contribuinte defende o creditamento por entender que essas embalagens de transporte acondicionam as folhas de celulose produzidas, conforme descrição no laudo técnico. b) Insumos – Caracterização – SD 200815 Foram considerados como insumos: toras de madeira, produtos químicos utilizados no processo produtivo, tintas, feltros e telas (formação e desaguação da folha de papel) e telas de lavagem de polpa de celulose. E anda, foram considerados como insumos os “bens ou serviços adquiridos de pessoa jurídica, intrínsecos à atividade, aplicados ou consumidos na fabricação do produto ou no serviço prestado”, ocorrendo o contato direto com o produto final e/ou desgaste na sua utilização, como por exemplo: lâminas para remoção de resíduos em rolos da máquina de papel, esferas de vidro utilizadas no processo de pigmentação, pastilhas de frenagem de máquinas de papel, facas para corte de folha de celulose e de bobinas e correias de acionamento de equipamentos rotativos. Fl. 6800DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.800 20 Todavia, foram glosados os seguintes: despesas com equipamento de proteção individual, etiquetas adesivas de escritório, rolos de pintura, lonas de plástico para efetuar manutenções, insumos utilizados em análises químicas em laboratório, baterias, pilhas, rádios transceptores, projetores de apresentação, manutenção de PABX, manutenção de no breaks, encadernação de notas fiscais, copos para água mineral, almofada de carimbo, binóculos, borrachas para lápis, brindes e camisas promocionais, brinquedos para filhos de funcionários, café expresso em grãos, CDR graváveis, cestas de natal, coffebreak, serviços de cópias de chaves, coroas de flores, desjejum, custos de eventos festivos, lanches, livros de literatura, locação de máquinas de café, marmitex, medicamentos, palestras e óculos de segurança Bandido. A Recorrente, com suporte no laudo técnico, aduz que estão descritos no laudo como essenciais: os equipamentos de proteção individual (efls. 19/20, 35 do laudo); a utilização de rádios comunicadores (efls. 27 do laudo) e insumos utilizados para análises químicas em laboratório (efls. 128 e 131 do laudo). c) Insumos – Passagens, hospedagens e despesas de veículos – SD 200815 Não foram considerados insumos: serviço com pagamento de estadia e translado, locação de veículos e despesas de transporte de supervisores. Aponta a empresa que tais dispêndios são essenciais, por se referirem à locomoção, ida e volta, até a floresta. d) Insumos Partes e Peças de Reposição – SD 200835 Apontou a fiscalização que as partes e peças de reposição adquiridas de pessoa jurídica para manutenção de máquinas e equipamentos componentes do ativo imobilizado, utilizados diretamente na fabricação dos produtos destinados à venda (papel e celulose), são consideradas insumos para efeito de apuração de créditos relativos à contribuição para o PIS/Pasep e a Cofins nãocumulativas, desde que referidas partes e peças sofram alterações decorrentes de ação diretamente exercida sobre o bem fabricado e, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado. Foram considerados insumos: chapas de aço para reparos em caldeiras, cabos, barras e tubos metálicos utilizados em reparos de equipamentos, eletrodos de solda, bicos de chuveiro de lavagem de tela de máquina de secagem, peças hidráulicas de reposição (luvas, cotovelos e válvulas), graxas, óleos lubrificantes e óleos refrigerantes. Entretanto, foram glosados despesas com: as partes e peças de reposição, bem como o serviço aplicados na manutenção de máquinas e equipamentos utilizadas no corte, no tratamento e no transporte da madeira a qual será, em uma 2ª etapa, transformada em celulose, papel e papelão. Da mesma forma, as partes e peças de reposição, bem como o serviço aplicados na manutenção de máquinas e equipamentos utilizadas na área logística da empresa, seja antes ou depois da obtenção do produto final, foram glosados. Dentre outros, não foram considerados como insumos uma vez que não são relativos aos maquinários utilizados diretamente na obtenção do produto final: reparos em veículos de carga e peças de reposição de transpaleteiras. A Recorrente, com suporte no laudo técnico, aduz que estão descritos no laudo como essenciais as partes e reposição de peças (efls. 87 e 130 do laudo). Fl. 6801DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.801 21 e) Materiais de Construção Civil utilizados como insumos Não foram considerados como insumos, uma vez que seriam incorporados ao ativo imobilizado edificações: tijolo comum, tintas para utilização em pisos em geral, placa de gail para piso, lâmpadas de iluminação em geral, pedra brita, etc. Segundo a empresa, tratamse de reparos realizados na unidade fabril, essenciais. f) Fretes Hipóteses de Crédito – SD 200711 e g) Frete Transporte Intercompany Vedação de Crédito SD 200812 Neste tópico, entendeu a fiscalização que quaisquer serviços de transporte não relacionados à entrega de mercadoria diretamente aos clientes não podem ser considerados como insumo. Então, não foram considerados: armazenagem/transporte de papel e logística. Mas foi considerado como insumo os referentes às despesas de exportação. E não os fretes relacionados a transporte de produto acabado (ou em elaboração) entre estabelecimentos industriais; destes para os centros de distribuição ou de um centro de distribuição para outro. Já a Recorrente sustenta que todos os fretes de aquisição de matériaprima, os intercompany e o de aquisição de bens do ativo imobilizado integram o custo do produto, o que permite o creditamento. h) Combustíveis utilizados como Insumos SD 200837 A fiscalização acatou como insumo, o combustível utilizado no processo de fabricação do produto destinado à venda pela empresa; ou, em outras palavras, o empregado em máquinas e equipamentos utilizados diretamente na produção da celulose industrializada e vendida pela contribuinte. Descartou como insumo os combustíveis utilizados para o transporte e manejo dos insumos: GLP utilizado em empilhadeiras, gasolina utilizado no transporte de pessoal, Óleo diesel, Óleo biodiesel e GLP granel. Quanto aos combustíveis, a alegação da empresa é de que são fornecidos por ela e, são utilizados nas máquinas e em veículos de transporte aplicados ao processo produtivo da Operação Florestal (conforme itens 5.65 e 6.6 do laudo). Síntese do tópico “Insumos da nãocumulatividade” O laudo apresentado pela Recorrente em seu recurso voluntário teve o objetivo de demonstrar a essencialidade dos custos incorridos na formação, manutenção e exploração das florestas, afastando, por conseguinte, as glosas. Descreveu também as etapas industriais até o consumidor. Confirase a síntese do processo produtivo descrito no laudo técnico da USP: Fl. 6802DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.802 22 Fl. 6803DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.803 23 Fl. 6804DF CARF MF Processo nº 12585.000262/201018 Resolução nº 3301000.811 S3C3T1 Fl. 6.804 24 Na apuração de PIS/COFINS nãocumulativos, a prova da existência do direito de crédito indicado incumbe ao contribuinte. Consequentemente, confrontando o motivo das glosas, os elementos trazidos aos autos e o laudo técnico, vislumbrase como desnecessários novos esclarecimentos em sede de diligência fiscal, restando para julgamento a matéria referente à extensão do conceito de insumo e os reflexos da classificação das florestas como ativo imobilizado. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto pela conversão do julgamento em diligência, para que a unidade de origem: a) Por ser o laudo da Escola Superior da Agricultura da USP fato novo, manifestese a autoridade fiscal sobre ele; b) Verifique se as receitas decorrentes de vendas a empresas comerciais exportadoras com o fim específico de exportação restaram caracterizadas ou se foram apenas realizadas no mercado interno; c) Analise a origem dos créditos registrados fora da competência da emissão da nota fiscal, para que se possa aferir se são insumos ou não, com a devida quantificação; d) Analise a origem, natureza, validade e pertinência dos créditos extemporâneos apropriados, mesmo sem as DACON/DCTF retificadoras, para quantificálos; e) Elabore relatório circunstanciado e conclusivo a respeito dos procedimentos realizados; f) Cientifique a interessada do resultado da diligência, concedendolhe prazo para manifestação; Após, que retorne o processo ao CARF para julgamento. (assinado digitalmente) Ari Vendramini Relator Fl. 6805DF CARF MF
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