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Numero do processo: 13976.000039/2005-64
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Nov 28 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu May 24 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004
COFINS NÃO-CUMULATIVA. EMBALAGENS PARA TRANSPORTE, NÃO RETORNÁVEIS, ESSENCIAIS À GARANTIA DA INTEGRIDADE DO PRODUTO. DIREITO A CRÉDITO.
As embalagens, ainda para transporte (desde que não retornáveis), essenciais à garantia da integridade de seu conteúdo - como as que acondicionam partes de móveis -, vertem sua utilidade diretamente sobre os bens em produção (requisito trazido no Subitem 14, a.3, da Solução de Divergência Cosit nº 7/2016, para que se enquadre no conceito de insumo), os quais, sem elas, não se encontram ainda prontos para venda, gerando, assim, a sua aquisição pelo industrial, direito a crédito na sistemática de apuração da contribuição, conforme inciso II do art. 3º da Lei nº 10.833/2003.
Recurso Especial do Procurador Negado.
Numero da decisão: 9303-005.934
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento. Vencidos os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal e Jorge Olmiro Lock Freire (Suplente convocado), que lhe deram provimento.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire (Suplente convocado), Valcir Gassen (Suplente convocado), Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas.
Nome do relator: RODRIGO DA COSTA POSSAS
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ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004 COFINS NÃOCUMULATIVA. EMBALAGENS PARA TRANSPORTE, NÃO RETORNÁVEIS, ESSENCIAIS À GARANTIA DA INTEGRIDADE DO PRODUTO. DIREITO A CRÉDITO. As embalagens, ainda para transporte (desde que não retornáveis), essenciais à garantia da integridade de seu conteúdo como as que acondicionam partes de móveis , vertem sua utilidade diretamente sobre os bens em produção (requisito trazido no Subitem 14, “a.3”, da Solução de Divergência Cosit nº 7/2016, para que se enquadre no conceito de insumo), os quais, sem elas, não se encontram ainda prontos para venda, gerando, assim, a sua aquisição pelo industrial, direito a crédito na sistemática de apuração da contribuição, conforme inciso II do art. 3º da Lei nº 10.833/2003. Recurso Especial do Procurador Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento. Vencidos os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal e Jorge Olmiro Lock Freire (Suplente convocado), que lhe deram provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire (Suplente convocado), Valcir Gassen (Suplente convocado), Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 97 6. 00 00 39 /2 00 5- 64 Fl. 282DF CARF MF Processo nº 13976.000039/200564 Acórdão n.º 9303005.934 CSRFT3 Fl. 283 2 Relatório Tratase de Recurso Especial de Divergência (fls. 204 a 231), interposto pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional, contra o Acórdão 3803000.975, de 8/12/2010, proferido pela 3ª Turma Especial da 3ª Seção do CARF (fls. 193 a 198), sob a seguinte ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004 COFINS NÃOCUMULATIVA. CRÉDITOS. MATERIAL DE EMBALAGEM. TRANSPORTE DA MERCADORIA. Os créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins referentes a custos, despesas e encargos vinculados às receitas decorrentes das operações de exportação de mercadorias para o exterior, prestação de serviços a pessoa física ou jurídica domiciliado no exterior, com pagamento em moeda conversível, e vendas a empresa comercial exportadora, com o fim especifico de exportação, que não puderem ser deduzidos, poderão ser objeto de ressarcimento. O material de embalagem destinado ao acondicionamento para transporte dos produtos acabados gera direito a crédito na sistemática de apuração da Cofins não cumulativa. No seu Recurso Especial, ao qual foi dado seguimento (fls. 232 e 233), em apertada síntese, diz a PGFN, dentre outros argumentos secundários, que o conceito de insumo, a que se refere o inciso II do art. 3º da Lei nº 10.637/2002 (que regula a Contribuição para o PIS nãocumulativa), quando fala em “bens ... utilizados como insumo na ... produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda”, na falta de uma determinação da forma a ser adotada para a nãocumulatividade das contribuições para a seguridade social (art. 195, § 12, da Constituição Federal), deve ser buscado na legislação que historicamente vem determinando o seu alcance, que é a do Imposto sobre Produtos Industrializados. Isto está consubstanciado na IN/SRF nº 247/2002, sendo que o conceito de insumo que dá direito ao creditamento do IPI está minuciosamente delineado no Parecer Normativo CST nº 65/79, restringindoo a matériasprimas, produtos intermediários e material de embalagem, não estando contempladas nesta última “espécie” as embalagens para transporte, mas tão somente as de apresentação. O contribuinte apresentou Contrarrazões (fls. 239 a 246), alegando, basicamente, que o conceito de insumo para a apuração de créditos PIS/Cofins possui critérios que lhe são próprios, e que não devem se restringir ao da legislação do IPI, pois assim não o teria feito o legislador. Em transcrição literal diz o seguinte (os grifos são originais): “... a definição do bem ou serviço como insumo para fins de creditamento do PIS e da Cofins apóiase em critério que resulta da análise do grau de relevância que o bem ou serviço apresenta em determinada cadeia econômica, ou seja, do exame da sua Fl. 283DF CARF MF Processo nº 13976.000039/200564 Acórdão n.º 9303005.934 CSRFT3 Fl. 284 3 essencialidade ou pertinencialidade à realização/produção do bem ou do serviço disponibilizado pela pessoa jurídica. No caso dos autos, temse que a recorrida ..., para comercializar sua produção nela emprega material de embalagem, insumo essencial à venda do produto, eis que levam em seu interior os móveis desmontados, juntamente com o esquema de montagem, não se trata de mera embalagem para transporte, são embalagens feitas sob medida, com acabamento que valorizam e acompanham o produto até o consumidor final.” No que tange à matéria fática, entendo que se faz importante, para que este Colegiado possa formar a sua convicção, aqui transcrever o que diz o Auditor no Termo de Verificação e Encerramento da Análise Fiscal (fl. 134), quando faz referência às embalagens desconsideradas para fins de creditamento (o grifo é original): “... constatamos que os itens relacionados como matériaprima e material intermediário fazem, realmente, parte do processo produtivo. Entretanto, os materiais de embalagem indicados prestamse a compor embalagens de transporte (tratavamse de caixas de papelão e materiais de contenção, que, embora essenciais à garantia da integridade de seu conteúdo, não continham rótulos dispensáveis ou indicações promocionais que tenham implicado em despesas mais elevadas em sua elaboração com o fim de valorizar o produto nelas acondicionado), e não de apresentação ...” É o Relatório. Voto Conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, Relator Os requisitos para se admitir o Recurso Especial foram todos cumpridos e respeitadas a formalidades previstas no RICARF, pelo que dele conheço. Todos aqui certamente estão a par das inúmeras batalhas que se travam quase que diariamente no Contencioso (principalmente na área administrativa, mas também na judicial) sobre o conceito de insumos para fins de creditamento PIS/Cofins, e que tende hoje o CARF a adotar um conceito “intermediário”, entre o do IRPJ e o do IPI (que seria, este último, o defendido pela RFB, mas não é bem assim: ela defende um conceito para PIS/Cofins, conforme ainda será assentado). Mesmo neste conceito “intermediário”, a questão não está pacificada: uns consideram suficiente que o bem ou serviço seja utilizado na produção; outros que é necessário que o bem seja utilizado diretamente na produção; outros, que seja indispensável. Vejamos, a título de exemplo, um caso concreto: As indústrias, em regra, fornecem vestuário a seus operários da linha de produção. Os chamados “bluecollars” vestem roupas padronizadas nas montadoras de automóveis. São utilizadas na produção? Sim. São utilizadas diretamente na produção? Não. São indispensáveis? Não (ao menos de forma padronizada). Já os trabalhadores que fazem cortes de frango nas linhas de produção de frigoríficos usam “roupas” Fl. 284DF CARF MF Processo nº 13976.000039/200564 Acórdão n.º 9303005.934 CSRFT3 Fl. 285 4 (EPI) que são exigidas pelas autoridades sanitárias. Estas são utilizadas na produção, mas não diretamente, e são indispensáveis. Uns entendem que nenhuma das duas vestimentas dá direito a crédito, outros que ambas dão e outros que só as segundas. Então, efetivamente, não é pacífico. A discussão, neste Processo, restringese somente a se as embalagens para transporte dariam ou não direito a crédito. Invoco – conforme já implicitamente adiantado – a mais recente norma que trata do assunto no âmbito da RFB (com caráter vinculante para as Unidades de Origem e também para as DRJ), que é a Solução de Divergência Cosit nº 7/2016 (cujo inteiro teor anexo às fls. 250 a 281), trazendo alguns excertos de interesse (com grifos meus e invertendo a ordem dos itens, para melhor refletir o que pretendo deixar consignado): 46. Outro ponto que merece destaque é que se mostra equivocada a afirmação de que a adoção da interpretação restritiva acerca do conceito de insumo na legislação da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins corresponderia à utilização da legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). 47. Conforme se demonstrou acima, a adoção do conceito restritivo de insumo na legislação das aludidas contribuições decorre das regras constantes desta mesma legislação e não da adaptação da legislação de qualquer outro tributo. 48. Sem embargo, o ponto comum entre a legislação da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, acerca do conceito de insumo, e a legislação do IPI é a exigência, mutatis mutandis, de relação direta e imediata entre o bem ou serviço em relação ao qual se pretende apurar crédito e o produto ou serviço final disponibilizado ao público externo. 14. Analisandose detalhadamente as regras constantes dos atos transcritos acima e das decisões da RFB acerca da matéria, podese asseverar, em termos mais explícitos, que somente geram direito à apuração de créditos da não cumulatividade da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins a aquisição de insumos utilizados ou consumidos na produção de bens que sejam destinados à venda e de serviços prestados a terceiros, e que, para este fim, somente podem ser considerados insumo: a) bens que: a.1) sejam objeto de processos produtivos que culminam diretamente na produção do bem destinado à venda (matéria prima); (...) a.3) que vertam sua utilidade diretamente sobre o bem em produção ou sobre o bem ou pessoa beneficiados pela prestação de serviço (tais como produto intermediário, material de embalagem, material de limpeza, material de pintura, etc); ou ... Fl. 285DF CARF MF Processo nº 13976.000039/200564 Acórdão n.º 9303005.934 CSRFT3 Fl. 286 5 Como visto, a própria Fiscalização diz que as embalagens para transporte em questão são “essenciais à garantia da integridade de seu conteúdo”, pelo que entendo que se encaixam perfeitamente na exigência trazida na SD Cosit nº 7/2016, que é a de que os insumos “vertam sua utilidade diretamente sobre o bem em produção”. O contribuinte produz móveis. Não é de se imaginar, por exemplo, que um tampo de mesa – ou o que quer que seja da espécie – seja simplesmente colocado no caminhão sem uma embalagem que o proteja. Apenas na área de exposição das lojas é que se encontram os móveis montados e, obviamente, fora de qualquer embalagem. Não estamos aqui diante de um saquinho de batatas fritas, de maçãs, ou de uma lata de leite condensado. E nem precisamos ir tanto a extremos. Um televisor, uma geladeira, um fogão, são transportados em caixas, que em seu interior (ou exterior, ou em ambos) têm isopores ou outros materiais de acondicionamento/proteção. Não há como se conceber que uma geladeira, por exemplo, seja transportada fora da caixa, como se vê na área de exposição das lojas. E o cliente, quando a recebe em sua casa, também a recebe acondicionada na mesma caixa (caso contrário, eu, por exemplo, de imediato pediria a sua devolução, ainda que pelo simples fato de não estar lacrada – o que indicaria que, provavelmente, já esteve em exposição, o que poderia comprometer, no mínimo, o seu acabamento). No caso concreto, qual é o produto destinado à venda a que se refere o inciso II do art. 3º da Lei nº 10.637/2002? Os móveis ou (em regra) suas partes, devidamente embalados – sem que necessariamente este acondicionamento “objetive valorizar o produto em razão da qualidade do material nele empregado, da perfeição do seu acabamento ou da sua utilidade adicional” (conceito, a contrario sensu, da embalagem para apresentação, trazido no art. 6º, § 1º, I, do RIPI/2002, vigente à época dos fatos geradores). Assim, nesta vasta gama de produtos aqui citados – ou cujas características se amoldam à categoria a qual aqui se pretendeu caracterizar –, com a necessária redundância, o produto efetivamente só está acabado quando acondicionado nas embalagens em que vai ser transportado, pelo que elas fazem, sim, parte do processo produtivo, havendo portanto o direito ao creditamento na sua aquisição. Ressalvese, no entanto, que embalagens retornáveis, como pallets, as quais servem unicamente ao transporte de qualquer produto que seja, não se enquadram no conceito de bens utilizados como insumos, pois, sobre elas ou em seu interior, já estão perfeitamente acabados os produtos destinados à venda. À vista do exposto, voto por negar provimento ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Fl. 286DF CARF MF
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Numero do processo: 11080.728037/2014-83
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 20 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed May 30 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2010, 2011
IRPJ E REFLEXOS. NÃO INCIDÊNCIA.
Não há fundamentos para exigir da Recorrente qualquer valor a título de IRPJ, pois na situação fática versada nos autos não se trata de pagamentos a profissionais autônomos que tenham recebido por serviços prestados. A Recorrente não é contribuinte ou responsável tributária relativamente às obrigações principais. Razão pela qual, impossível dela exigir o pagamento do crédito tributário em questão. Devem ser preservados os efeitos da relação existente entre corretores, imobiliárias e construtoras e não tendo sido verificado o pagamento direto ou indireto pela imobiliária, a autuação fiscal deve ser considerada improcedente.
LUCRO PRESUMIDO. OMISSÃO DE RECEITA. LIMITE LEGAL ULTRAPASSADO. MUDANÇA NECESSÁRIA DE REGIME DE TRIBUTAÇÃO. ANO-CALENDÁRIO 2011.
Constatado que a receita bruta total superou o limite legal para permanência no regime de tributação pela regras do Lucro Presumido, eventual lançamento de ofício relativo a fato gerador posterior (ano-calendário seguinte) não pode se dar sob as regras deste regime. Lançamento que se cancela.
Numero da decisão: 1401-002.191
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, em por unanimidade de votos, afastar as argüições de nulidade. Por maioria de votos, dar provimento ao recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Em relação ao recurso de ofício, por unanimidade de votos, negar-lhe provimento. Neste ponto, o Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa votou pelas conclusões.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
Nome do relator: LUCIANA YOSHIHARA ARCANGELO ZANIN
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2010, 2011 IRPJ E REFLEXOS. NÃO INCIDÊNCIA. Não há fundamentos para exigir da Recorrente qualquer valor a título de IRPJ, pois na situação fática versada nos autos não se trata de pagamentos a profissionais autônomos que tenham recebido por serviços prestados. A Recorrente não é contribuinte ou responsável tributária relativamente às obrigações principais. Razão pela qual, impossível dela exigir o pagamento do crédito tributário em questão. Devem ser preservados os efeitos da relação existente entre corretores, imobiliárias e construtoras e não tendo sido verificado o pagamento direto ou indireto pela imobiliária, a autuação fiscal deve ser considerada improcedente. LUCRO PRESUMIDO. OMISSÃO DE RECEITA. LIMITE LEGAL ULTRAPASSADO. MUDANÇA NECESSÁRIA DE REGIME DE TRIBUTAÇÃO. ANO-CALENDÁRIO 2011. Constatado que a receita bruta total superou o limite legal para permanência no regime de tributação pela regras do Lucro Presumido, eventual lançamento de ofício relativo a fato gerador posterior (ano-calendário seguinte) não pode se dar sob as regras deste regime. Lançamento que se cancela.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, em por unanimidade de votos, afastar as argüições de nulidade. Por maioria de votos, dar provimento ao recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Em relação ao recurso de ofício, por unanimidade de votos, negar-lhe provimento. Neste ponto, o Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa votou pelas conclusões. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente. (assinado digitalmente) Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin - Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
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NÃO INCIDÊNCIA. Não há fundamentos para exigir da Recorrente qualquer valor a título de IRPJ, pois na situação fática versada nos autos não se trata de pagamentos a profissionais autônomos que tenham recebido por serviços prestados. A Recorrente não é contribuinte ou responsável tributária relativamente às obrigações principais. Razão pela qual, impossível dela exigir o pagamento do crédito tributário em questão. Devem ser preservados os efeitos da relação existente entre corretores, imobiliárias e construtoras e não tendo sido verificado o pagamento direto ou indireto pela imobiliária, a autuação fiscal deve ser considerada improcedente. LUCRO PRESUMIDO. OMISSÃO DE RECEITA. LIMITE LEGAL ULTRAPASSADO. MUDANÇA NECESSÁRIA DE REGIME DE TRIBUTAÇÃO. ANOCALENDÁRIO 2011. Constatado que a receita bruta total superou o limite legal para permanência no regime de tributação pela regras do Lucro Presumido, eventual lançamento de ofício relativo a fato gerador posterior (anocalendário seguinte) não pode se dar sob as regras deste regime. Lançamento que se cancela. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 72 80 37 /2 01 4- 83 Fl. 14768DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, em por unanimidade de votos, afastar as argüições de nulidade. Por maioria de votos, dar provimento ao recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Em relação ao recurso de ofício, por unanimidade de votos, negarlhe provimento. Neste ponto, o Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa votou pelas conclusões. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa. Fl. 14769DF CARF MF Processo nº 11080.728037/201483 Acórdão n.º 1401002.191 S1C4T1 Fl. 14.769 3 Relatório Tratase de Auto de Infração por Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), juntamente com os reflexos sobre a Contribuição Social sobre o Lucro – CSSL e PIS/COFINS acompanhado dos Juros de mora e multa de ofício qualificada, por falta de recolhimento dos tributos, decorrente da omissão de receitas de corretagem (remunerações pagas ou creditadas a título de comissão/premiação de venda na intermediação imobiliária). Aduz a fiscalização que a imobiliária fiscalizada deixa de registrar como receita de corretagem o valor das comissões pagas aos corretores autônomos que lhe prestam serviços diretamente pelos adquirentescompradores das unidades imobiliárias, razão pela qual ocorre redução indevida da base de cálculo do IRPJ, CSLL, PIS e COFINS. Relata ainda também que a fiscalizada deixou de promover a retenção do imposto de renda sobre as remunerações de seus prestadores de serviços. Segundo a acusação fiscal, as informações e esclarecimentos prestados pela própria fiscalizada como também por compradores, corretores e incorporadoras/construtoras, juntamente com os dados constantes na GFIP e na DIRF, evidenciaram a ausência de declaração dos pagamentos efetuados a título de comissões e premiações aos profissionais que realizavam o serviço de comercialização de imóveis e, por conseguinte, a falta de retenção na fonte e de pagamento do imposto de renda devido. Conforme descrito no Auto, o lançamento do IRPJ foi apurado sob as regras do Lucro Presumido e decorre de: 0001 OMISSÃO DE RECEITAS DA ATIVIDADE RECEITA BRUTA MENSAL NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM GERAL Omissão de receitas decorrentes de intermediação imobiliária, conforme descrição dos fatos constante no Termo de Verificação Fiscal, que constitui parte integrante e inseparável dos Autos de Infração lavrados em face do contribuinte fiscalizado Como lançamentos decorrentes da matéria tributável apontada no lançamento de IRPJ, foram lavrados também Autos de Infração nos quais se exigiram importâncias de R$ 2.915.881,77, a título de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, de R$ 658.098,31 a título de Contribuição para o PIS/PASEP e de R$ 3.037.376,86 a título de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, acrescidas de multa de ofício de 150% e juros de mora. Arrolados também como sujeitos passivos (responsáveis solidários) nos Autos de infração: LPS BRASIL – CONSULTORIA DE IMÓVEIS S/A (Responsabilidade Solidária de Fato: sujeição passiva solidária de pessoa jurídica integrante de grupo econômico, art.124, inciso I do CTN). Fl. 14770DF CARF MF 4 ANDRÉ GUSTAVO PESSOA DE OLIVEIRA (Responsabilidade Solidária por Excesso de Poderes, Infração de Lei, Contrato Social ou Estatuto Fato: sujeição passiva solidária de pessoa física integrante da diretoria da sociedade empresária fiscalizada, art.135, inciso III do CTN). MARCELLO RODRIGUES LEONE (Responsabilidade Solidária por Excesso de Poderes, Infração de Lei, Contrato Social ou Estatuto Fato: sujeição passiva solidária de pessoa física integrante da diretoria da sociedade empresária fiscalizada, art.135, inciso III do CTN). JOÃO PAULO SILVA GALVÃO (Responsabilidade Solidária por Excesso de Poderes, Infração de Lei, Contrato Social ou Estatuto Fato: sujeição passiva solidária de pessoa física integrante da diretoria da sociedade empresária fiscalizada, art.135, inciso III do CTN). LUCIANO PADILHA FARACO (Responsabilidade Solidária por Excesso de Poderes, Infração de Lei, Contrato Social ou Estatuto Fato: sujeição passiva solidária de pessoa física integrante da diretoria da sociedade empresária fiscalizada, art.135, inciso III do CTN). MARCELO HORN PEGORARO (Responsabilidade Solidária por Excesso de Poderes, Infração de Lei, Contrato Social ou Estatuto Fato: sujeição passiva solidária de pessoa física integrante da diretoria da sociedade empresária fiscalizada, art.135, inciso III do CTN). Apreciadas as impugnações, em decisão de Primeira Instância, a DRJ em Florianópolis, por unanimidade, manteve parcialmente o crédito em razão do cancelamento do lançamento na parte relativa ao anocalendário 2011, manteve a responsabilidade da LPS Brasil Consultoria e afastou a responsabilidade solidária de Luciano Padilha Faraco. Por maioria, manteve a responsabilidade solidária de Marcelo Horn Pegoraro, enquanto que, no voto de qualidade, excluíram a responsabilidade dos demais autuados André Gustavo Pessoa de Oliveira, Marcello Rodrigues Leone, João Paulo Silva Galvão e Robson Pereira Paim. De acordo com a decisão da DRJ, os valores exonerados foram os seguintes: Assim, houve RECURSO DE OFÍCIO, tendo em vista a exoneração do sujeito passivo do pagamento de tributo e encargo de multa em montante superior ao limite fixado no art. 1º da Portaria MF nº 3, de 3 de janeiro de 2008, do Ministro de Estado da Fazenda1. Em sede de RECURSO VOLUNTÁRIO, a recorrente LPS SUL alegou, em síntese, que o auto de infração é nulo em razão de sua iliquidez e incerteza, pois considerou como receita tanto as intermediações na venda/compra de imóveis novos (propriedade das construtoras/incorporadoras) quanto usados. Defende que a mudança de critério jurídico pela fiscalização é inadmissível, tendose em conta que já teria sido objeto de outra ação fiscal sobre a mesma matéria sobre fatos geradores anteriores nos quais nada foi apurado. Alega a necessidade de rateio da corretagem ainda que houvesse a contratação pelo incorporador (co corretagem) e a inexistência de contrato de corretagem entre incorporador e imobiliária posto que a autorização para alienação do imóvel não tem os efeitos de um contrato desse tipo. Fl. 14771DF CARF MF Processo nº 11080.728037/201483 Acórdão n.º 1401002.191 S1C4T1 Fl. 14.770 5 Entende que o modelo de negócios é totalmente compatível com a legislação do mercado imobiliário. Aduz que não houve terceirização da atividade fim considerandose que participa efetivamente na intermediação imobiliária. Entende não cabível a conclusão pela omissão de receitas posto que decorrente de uma presunção de fato indiciário. Tece considerações acerca do descabimento da multa qualificada e impossibilidade de cobrança de juros de mora sobra a multa de ofício. De outro lado, a LPS BRASIL arguiu, preliminarmente, a nulidade do termo de responsabilidade solidária por falta de motivação. Aduz inexistir responsabilidade tributária da recorrente posto que se tratariam de pessoas jurídicas distintas com personalidade jurídica próprias, bem como sustenta a ausência de interesse comum entre as recorrentes posto que a norma se dirige às pessoas que participam do fato gerador antecedente da regra matriz. Alega a impossibilidade de exigência de multa considerandose que não lhe foi imputada a prática de atos fraudulentos e que somente o infrator poderia responder. Em CONTRARRAZÕES, a PGFN defendeu a validade do trabalho fiscal – motivação, liquidez e certeza do auto de infração, ausência de mudança de critério jurídico e quanto ao mérito aduz que se verificou com clareza, por meio do trabalho fiscal, foi que a imobiliária fiscalizada realiza a atividade de intermediação por meio de corretores ditos “autônomos”, mas que, em verdade, atuam como "longa manus" da imobiliária, verdadeiros órgãos da sociedade na prestação de serviços realizando todos os atos materiais necessárias para concreção das alienações das unidades imobiliárias. E mais, extraise do conjunto probatório o caráter de exclusividade com que atuavam os corretores para a fiscalizada, derrubando, assim, a suposta autonomia. O pagamento indireto adotado pela recorrente como forma de remunerar seus corretores não desnatura sua sujeição passiva na relação jurídica tributária Era o essencial a ser relatado. Passo a decidir. Voto Conselheira Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin. Os recursos são tempestivos e preenchem os demais requisitos de admissibilidade, portanto deles conheço. Preliminares: Preliminar de nulidade pela inclusão da corretagem decorrente da intermediação de imóveis usados na base de cálculo das receitas supostamente omitidas. Relativamente à alegação preliminar de que “...tendo em vista que não há qualquer tipo de fundamentação para sustentar que as supostas irregularidades apuradas com relação à intermediação às incorporadoras se repetiriam quanto aos imóveis usados, as comissões dos corretores independentes referentes a essas operações não poderiam ter integrado a base de cálculo supostamente omitida”, entendo correto o entendimento da decisão Fl. 14772DF CARF MF 6 de piso no sentido de se dizer que as planilhas apresentadas (TAB Corretores Associados) e fornecidas pela Impugnante não discriminam a natureza do imóvel (se novo ou usado), entretanto, tal fato não me parece relevante, pois o deslinde da questão envolve a tributação dos valores pagos aos corretores independentes a título de corretagem, em situação onde atuava também a Recorrente. Nos termos da intimação de fls.5.903 a 5.945, a LPS Sul foi intimada a apresentar relação dos corretores de imóveis com quem participou, seja em regime de parceria ou coparticipação ou em regime de prestação de serviços, portanto, se o imóvel era usado e a LPS Sul não participou da negociação (intermediação na venda), cabia a Recorrente isto provar. Tal ausência não resta suprida pela planilhas com a relação de vendedores e imóveis mencionada no Recurso Voluntário, embora nela hajam nomes de pessoas físicas e construtoras e incorporadoras de renome, pois conforme esclarecido não discriminam os imóveis, se novos ou usados. Preliminar de nulidade por alteração do critério de fiscalização (art. 146 CTN). A recorrente reclama nulidade da autuação por modificação do critério de fiscalização, sob fundamento de que o modelo seu de negócios teria sido analisado num primeiro momento, durante o MPF 10101002011012729, que teve por objeto o período 2008 a 2009, que chegou ao seu final sem a verificação de qualquer irregularidade. vindo a empresa a ser revisitada em nova fiscalização durante o MPF 10101002013002208 que teve por objeto o período de 2010 a 2011, do qual sobreveio esta autuação. Embora demonstre a recorrente que o modelo de negócios objeto da autuação já era o mesmo desde 2008, o fato da primeira fiscalização ter tido como resultado a não aferição de irregularidades, infelizmente não representa uma garantia absoluta de lisura para o futuro. Realmente o art. 146 do CTN, determina que: "A modificação introduzida, de ofício ou em conseqüência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução". Contudo a impossibilidade de alteração dos critérios jurídicos resta limitada ao lançamento, razão pela qual tal dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o art. 142 e 144 do CTN, que remetem o lançamento a data do fato gerador. Portanto, considerando que os MPFs questionados tem por objeto períodos distintos, infelizmente, não entendo, cabível neste caso a aplicação do art. 146 do CTN para justificar a nulidade pretendida pela Recorrente. Do modelo de negócios demonstrado pela LPS: Fl. 14773DF CARF MF Processo nº 11080.728037/201483 Acórdão n.º 1401002.191 S1C4T1 Fl. 14.771 7 Esclarece a Recorrente que o modelo de negócios por ela adotado consiste no seguinte: "Quando a imobiliária é procurada pelo vendedor do imóvel, a intermediação abrange uma série de prestações acessórias (consultoria, divulgação via internet, desenvolvimento de estratégias comerciais etc.) que contribuem para o posicionamento mercadológico do produto do cliente isto é, contribuem pra o produto tornarse visível aos mercado (ou melhor, acessível ao mercado). Pode suceder, no entanto, de a imobiliária que recebeu, previamente uma simples autorização do vendedor do imóvel, para anunciar a oferta do negócio ao público ser procurada pelo comprador do imóvel, hipótese em que a intermediação, além de viabilizar o negócio (pois o comprador, em regra, não possui acesso direto ao vendedor) equivale a um atestado de qualidade quanto ao bem objeto da transação. A intermediação, de fato, não se concretiza apenas com o posicionamento de mercado ou atestado de qualidade (o patrocínio realizado pela imobiliária). Não se pode esquecer que todo o contrato é, antes de mais nada, uma relação que se estabelece entre pessoas (pessoas naturais, ou entre pessoas naturais e pessoas jurídicas) e, é por isso que o parágrafo único do artigo 3o. menciona o "atendimento" ao público. É nesta etapa que, como bem notado pelo legislador regulamentar, entra em ação o Corretor Independente. Realizado o corpo a corpo, o contado direto com o cliente comprador, o Corretor Independente concretiza a aproximação daquele com o vendedor (papel que não cabe à imobiliária "patrocinadora". [...] Nos casos em que há preposto, o risco da atividade de corretagem é sempre imputado ao preponente. Mas isso não se sucede na corretagem imobiliária. A imobiliária "patrocinadora não responde pelos atos do corretor independente que, agindo como mero corretor de imóveis não simples instrumento de outrem assume todos os riscos inerentes a sua atividade e, por isso, repitase, não podese tentar como fez a autoridade fiscal, associar a corretagem a mera prestação de serviços, nem identificar Corretor Independente, como simples preposto como se fosse um vendedor de uma loja de Shopping Center". Esse modelo de negócios adotado pela Recorrente se mostra perfeitamente legítimo, pois encontra amparo na legislação pertinente: Código Civil Art. 728. Se o negócio se concluir com a intermediação de mais de um corretor, a remuneração será paga a todos em partes iguais, salvo ajuste em contrário. Lei 6.530/78 Art 6º As pessoas jurídicas inscritas no Conselho Regional de Corretores de Imóveis sujeitamse aos mesmos deveres e têm os mesmos direitos das pessoas físicas nele inscritas. Fl. 14774DF CARF MF 8 § 1o As pessoas jurídicas a que se refere este artigo deverão ter como sócio gerente ou diretor um Corretor de Imóveis individualmente inscrito. § 2o O corretor de imóveis pode associarse a uma ou mais imobiliárias, mantendo sua autonomia profissional, sem qualquer outro vínculo, inclusive empregatício e previdenciário, mediante contrato de associação específico, registrado no Sindicato dos Corretores de Imóveis ou, onde não houver sindicato instalado, registrado nas delegacias da Federação Nacional de Corretores de Imóveis § 3o Pelo contrato de que trata o § 2o deste artigo, o corretor de imóveis associado e a imobiliária coordenam, entre si, o desempenho de funções correlatas à intermediação imobiliária e ajustam critérios para a partilha dos resultados da atividade de corretagem, mediante obrigatória assistência da entidade sindical. § 4o O contrato de associação não implica troca de serviços, pagamentos ou remunerações entre a imobiliária e o corretor de imóveis associado, desde que não configurados os elementos caracterizadores do vínculo empregatício previstos no art. 3o da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo DecretoLei nº 5.452, de 1o de maio de 1943. Tal modelo de negócios, foi inclusive referendado recentemente pelo STJ, em sede do julgamento do RESP 1.599.511, repetitivo com publicação em 06/09/2016, cuja ementa foi assim redigida: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICOIMOBILIÁRIA (SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA. I TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula contratual que transfere ao promitente comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 1.2. Abusividade da cobrança pelo promitentevendedor do serviço de assessoria técnicoimobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de promessa de compra e venda de imóvel. II CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da comissão de corretagem, tendo em vista a validade da cláusula prevista no contrato acerca da transferência desse encargo ao consumidor. Aplicação da tese 1.1. 2.2. Abusividade da cobrança por serviço de assessoria imobiliária, mantendose a procedência do pedido de restituição. Aplicação da tese. Fl. 14775DF CARF MF Processo nº 11080.728037/201483 Acórdão n.º 1401002.191 S1C4T1 Fl. 14.772 9 III RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. REsp 1599511 / SP Relator(a) Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144) S2 SEGUNDA SEÇÃO Data do Julgamento 24/08/2016 Data da Publicação/Fonte DJe 06/09/2016. Portanto, feita a análise acima e considerada a análise trazida no Parecer do Professor Marco Aurélio Greco anexado aos autos, verificase que o modelo de negócios praticado pela Recorrente era perfeitamente possível, não havendo que se falar em simulação. Parecer do qual, trago a colação trechos bastante pertinentes para esclarecimento do tema: ...Levada ao seu último grau, a tendência (natural do pensamento humano) é de imaginar que seria possível enquadrar todas as condutas, negócios, relações jurídicas etc., em tipos previstos em lei conduz a um engessamento das formas jurídicas que acabam se distanciando cada vez mais da realidade concreta e pode implicar até na perda de sua utilidade. ... Esquecese, nesta postura, o principal, qual seja que a base do ordenamento jurídico é a liberdade e que pessoas, físicas e jurídicas, podem exercêla para criar figuras que não estão expressamente contempladas em nenhum texto legal. ... Despirse também de preconceitos, dentre os quais o de aprioristicamente, assumir que sempre há algo de errado ou de escuso no que o contribuinte faz, a ponto de confundir o "não existir algo (p. ex., um pagamento) como um "escondêlo" ou disfarçálo". Nestes casos, a falta de uma regra expressa dispondo sobre determinado modelo não deve ser interpretada como vedando certo tipo de relação jurídica, assim como a superveniência de regra dispondo sobre determinado modelo deve ser vista como apenas formalizando relações jurídicas que já podiam e eram efetivamente adotadas pelos agentes do respectivo setor econômico. Ainda quanto à análise fática do contrato de associação constante do presente processo, mas destaco a principal conclusão: " ...Esta é a figura de reunião de esforços adotada pela consulente há anos. Somamse esforços de divulgação, exibição, informação tendo por objetivo comum intermediar negócios Fl. 14776DF CARF MF 10 imobiliários, sem que exista qualquer garantia de que o negócio final venha a ocorrer." Diante de tais argumentos, evidente a idéia de que a aplicação de cada corretagem corresponder um único credor, não corresponde à realidade fática e ao constante no artigo 728 do Código Civil (a saber, é fato incontroverso nos autos), o que, de pronto, afasta a aplicação estrita da regra constante do art. 123 do Código Tributário Nacional. Afinal, não está a falarse de convenções particulares sem a existência de lei. Aqui já havia a disposição do Código Civil, corroborada pela legislação específica Lei 13.097/2015 que reconhece a relação associativa há tempos existentes no setor imobiliário. Não há fundamentos para exigir da Recorrente qualquer valor a título de IRPJ, CSLL, Pis e Cofins, pois devem ser preservados os efeitos da relação existente entre corretores, imobiliárias e construtoras e não tendo sido verificado o pagamento direto ou indireto pela imobiliária, a autuação fiscal deve ser considerada improcedente. Isso porque, compete à Autoridade Administrativa apenas desconsiderar atos ou negócios que, exclusivamente, pretendam dissimular a ocorrência do fato gerador ou a natureza constitutiva da obrigação tributária, nos termos do art. 116, parágrafo único do Código Tributário Nacional. Aduz o fiscal que a Recorrente realizou pagamentos de forma indireta aos Corretores Autônomos, simulando o verdadeiro pagador da comissão. Ocorre que não há que se falar em simulação uma vez que toda a operação, mesmo as retificações da DIMOB, (conclusão que a fiscalização tem por definir o valor da comissão) foram realizadas de forma transparente, não havendo meios escusos que pusessem os atos acerca da operação à sombra da realidade. Como se pode perceber , não houve pagamento de remuneração por parte do recorrente aos corretores associados (os pagamentos foram realizados pelos compradores), assim, por consequência não houve omissão de receitas, já que a parcela da corretagem atribuída pela fiscalização à imobiliária é reconhecidamente devida aos corretores associados. Também, não podemos afirmar que tal modelo de negocio, seria um planejamento tributário fraudulento, com apenas o intuito de economizar tributo. Pois, esses valores pagos a titulo de comissão tem uma tributação efetiva de 11%, e caso a recorrente tivesse pago a referida comissão, esses gastos teriam passado pela contabilidade dessa, como despesa dedutível na base de calculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social Sobre o Lucro. Outrossim, esclareçase que o contrato avençado entre as partes, qual seja, o ônus do pagamento da comissão, não desnatura a posição do sujeito passivo da exação, haja vista que tratase de acordo prévio à prática do fato gerador, bem como por não desvirtuar a sua regramatriz de incidência, ao contrário, pautaramse pela autonomia privada e sua liberdade de contratar. Como esclarecido no Recurso Voluntário, não existe na associação de que se trata, qualquer delegação, pela imobiliária, de uma atividade fim ou atividade meio cuja titularidade necessariamente lhe incumbisse, pois as atividades entre corretor associado e imobiliária são distintas e complementares, conforme quadro que abaixo reproduzo: Fl. 14777DF CARF MF Processo nº 11080.728037/201483 Acórdão n.º 1401002.191 S1C4T1 Fl. 14.773 11 Portanto, resta clara a inexistência de relação de prestação de serviços entre corretores associados e a recorrente, até porque, corroborando tal informação existe no autos declaração prestada pelo Presidente do CRECI/RS, documento anexo à impugnação, no sentido desconhecer a existência de corretores de imóveis contratados pela imobiliária sob regime CLT. Portanto, entendo que merece provimento o recurso voluntário, uma vez que os pagamentos das comissões foram realizados pelos adquirentes dos imóveis destinados aos corretores associados, não caracterizando receita sujeita a tributação na recorrente. Favoráveis a legimitimidade do modelo de negócios praticado pela Recorrente, bem como a impossibilidade de sujeição passiva tributária por parte dela pelos valores de titularidade dos profissionais autônomos, temos os seguintes precedentes, inclusive desta Turma: Acórdão: 1401002.069 IRRF. FALTA DE RETENÇÃO/RECOLHIMENTO. MULTA ISOLADA. NÃO CABIMENTO. Não há fundamentos para exigir da Recorrente qualquer valor a título de IRRF, pois na situação fática versada nos autos não se trata de pagamentos a profissionais autônomos que tenham recebido por serviços prestados. A Recorrente não é contribuinte ou responsável tributária relativamente às obrigações principais ou mesmo IRRF. Razão pela qual, impossível dela exigir o pagamento do crédito tributário em questão. Acórdão 2403002.508 Fl. 14778DF CARF MF 12 ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/04/2008 a 31/12/2008 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. CORRETAGEM DE IMÓVEIS. PAGAMENTO INDIRETO POR PARTE DA VENDEDORA. NÃO VERIFICAÇÃO. PAGAMENTO ACORDADO E REALIZADO PELO COMPRADOR ADQUIRENTE. AUSÊNCIA DE PROVAS DE DESEMBOLSO FINANCEIRO DA VENDEDORA PARA ADIMPLEMENTO DE COMISSÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. Demonstrado nos autos que a comissão de corretores autônomos é realizada pelo comprador, mediante estipulação contratual, não há que se falar em lançamento em face da vendedora do imóvel, contra a qual não restou demonstrar a efetiva saída de recursos de seu caixa para adimplemento de tal parcela. DO RECURSO DE OFÍCIO. É objeto de recurso de ofício o acatamento pela DRJ da preliminar de nulidade (item II.2 da impugnação) do lançamento de IRPJ naquilo que se refere aos fatos geradores pertinentes ao anocalendário de 2011. Conforme art. 516 do RIR/99, segundo o qual, a pessoa jurídica cuja receita bruta total, no anocalendário anterior, tenha sido igual ou inferior a vinte e quatro milhões de reais, ou a dois milhões de reais multiplicado pelo número de meses de atividade no ano calendário anterior, quando inferior a doze meses, poderá optar pelo regime de tributação com base no lucro presumido. Referido valor foi atualizado ao longo do tempo. Até o anocalendário de 2013, podiam optar pelo Lucro Presumido as pessoas jurídicas que tivessem auferido, no anocalendário anterior, receita bruta total igual ou inferior a R$ 48.000.000,00 (alteração do art.13 da Lei 9.718/98, dada pela Lei 10.637, de 2002). Somente a partir do anocalendário de 2014, por meio da Lei n. 12.814, de 2013, é que o limite foi elevado para R$ 78.000.000,00. No caso dos autos, conforme bem considerado na decisão recorrida, percebe se que a autuação pertinente a fatos geradores ocorridos em 2010 alcançou um montante a título de receitas omitidas da ordem de R$ 55.782.182,42 (somatório do Valor Apurado, trimestral, que consta no Auto de Infração, Demonstrativo de Apuração do IRPJ – Lucro Presumido – 2010). Assim, no anocalendário seguinte (2011) eventual lançamento de ofício deveria ser feito sob as regras do Lucro Real ou Arbitrado, nunca pelo Lucro Presumido, como ora foi feito em relação à apuração do IRPJ relativo ao anocalendário de 2011. Foi apurada incorretamente, portanto, a base de cálculo do IRPJ relativa ao anocalendário de 2011, devendose manter o cancelamento desta exação, assim como as demais contribuições CSLL, PIS e COFINS, em face de sua decorrência. Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao Recurso de Ofício e por conhecer o recurso voluntário e darlhe provimento. Fl. 14779DF CARF MF Processo nº 11080.728037/201483 Acórdão n.º 1401002.191 S1C4T1 Fl. 14.774 13 (assinado digitalmente) Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin Relatora Fl. 14780DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10840.904917/2011-16
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Mar 22 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jun 11 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Ano-calendário: 2007
RESSARCIMENTO. PENDÊNCIA JUDICIAL.
É vedado o ressarcimento à pessoa jurídica com processo judicial em que a decisão definitiva a ser proferida pelo Poder Judiciário possa alterar o valor do ressarcimento solicitado.
RESSARCIMENTO. SALDO CREDOR.
Tendo o saldo credor de IPI do trimestre sido reduzido em decorrência de procedimento fiscal, é este (novo) saldo que deve ser usado para a compensação dos débitos apresentados em Dcomp.
Numero da decisão: 3301-004.469
Decisão: Recurso Voluntário Negado
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário, por concomitância entre as esferas administrativa e judicial, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado.
(ASSINADO DIGITALMENTE)
José Henrique Mauri - Presidente Substituto.
(ASSINADO DIGITALMENTE)
Liziane Angelotti Meira- Relatora.
Participaram da presente sessão de julgamento os Conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques DOliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semiramis de Oliveira Duro, Ari Vendramini, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Suplente convocada), Valcir Gassen e José Henrique Mauri (Presidente Substituto).
Nome do relator: LIZIANE ANGELOTTI MEIRA
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI Ano-calendário: 2007 RESSARCIMENTO. PENDÊNCIA JUDICIAL. É vedado o ressarcimento à pessoa jurídica com processo judicial em que a decisão definitiva a ser proferida pelo Poder Judiciário possa alterar o valor do ressarcimento solicitado. RESSARCIMENTO. SALDO CREDOR. Tendo o saldo credor de IPI do trimestre sido reduzido em decorrência de procedimento fiscal, é este (novo) saldo que deve ser usado para a compensação dos débitos apresentados em Dcomp.
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decisao_txt : Recurso Voluntário Negado Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário, por concomitância entre as esferas administrativa e judicial, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. (ASSINADO DIGITALMENTE) José Henrique Mauri - Presidente Substituto. (ASSINADO DIGITALMENTE) Liziane Angelotti Meira- Relatora. Participaram da presente sessão de julgamento os Conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques DOliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semiramis de Oliveira Duro, Ari Vendramini, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Suplente convocada), Valcir Gassen e José Henrique Mauri (Presidente Substituto).
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PENDÊNCIA JUDICIAL. É vedado o ressarcimento à pessoa jurídica com processo judicial em que a decisão definitiva a ser proferida pelo Poder Judiciário possa alterar o valor do ressarcimento solicitado. RESSARCIMENTO. SALDO CREDOR. Tendo o saldo credor de IPI do trimestre sido reduzido em decorrência de procedimento fiscal, é este (novo) saldo que deve ser usado para a compensação dos débitos apresentados em Dcomp. Recurso Voluntário Negado Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário, por concomitância entre as esferas administrativa e judicial, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. (ASSINADO DIGITALMENTE) José Henrique Mauri Presidente Substituto. (ASSINADO DIGITALMENTE) Liziane Angelotti Meira Relatora. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 84 0. 90 49 17 /2 01 1- 16 Fl. 357DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 358 2 Participaram da presente sessão de julgamento os Conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D’Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semiramis de Oliveira Duro, Ari Vendramini, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Suplente convocada), Valcir Gassen e José Henrique Mauri (Presidente Substituto). Relatório Por bem descrever os fatos, adoto o relatório elaborado pela decisão recorrida (fls. 187/193), abaixo transcrito: Tratase de manifestação de inconformidade, apresentada pela requerente, ante Despacho Decisório Eletrônico de autoridade da Delegacia da Receita Federal do Brasil que não homologou a compensação declarada, no valor de R$ 33.323,66, por ser inexistente o crédito utilizado nesta compensação, em decorrência de glosa de créditos considerados indevidos, em procedimento fiscal. O Fisco esclareceu que a ação fiscal, que deu origem ao auto de infração (processo administrativo nº 13603.724419/201174), teve por objeto a verificação de créditos e compensações referentes a diversos pedidos de ressarcimento de créditos de lPI apresentados pelo contribuinte. Relatou que a empresa em comento ingressou com Ação de Rito Ordinário com pedido de Antecipação de Tutela em face da União (Fazenda Nacional) distribuída perante a 6a vara da Justiça Federal de São Paulo em 16/10/2003, sob n° 2003.61.00.0295233, visando o não recolhimento do IPI incidente sobre os produtos destinados à alimentação de cães e gatos fabricados por ela e acondicionados em embalagens com capacidade superior a 10Kg, alegando flagrante ilegalidade e inconstitucionalidade do Decreto n° 4.542/02 e posteriores, que viessem em dissonância ao Decreto Lei n° 400/68. Obtida a tutela antecipada e sentença favorável, o Fisco decidiu proceder ao lançamento para evitar o transcurso do prazo decadencial, já que a empresa não fez o destaque nem escriturou o IPI devido nas saídas em comento. Os valores de IPI não destacados em cada período foram utilizados no procedimento de reconstituição da escrita fiscal do contribuinte, de modo a apurar os verdadeiros saldos devedores e/ou credores que deveriam estar escriturados nos Livros de Registro de Apuração do Imposto sobre Produtos Industrializados (LAIPI) no período fiscalizado.Os valores de IPI não destacados em cada período foram utilizados no procedimento de reconstituição da escrita fiscal do contribuinte, de modo a apurar os verdadeiros saldos devedores e/ou credores que deveriam estar escriturados nos Livros de Registro de Apuração do Imposto sobre Produtos Industrializados (LAIPI) no período fiscalizado. Em decorrência do auto de infração, verificouse alterações nos saldos da escrita fiscal, resultando no aparecimento de saldos devedores até então inexistentes ou na redução de saldos credores apurados pelo contribuinte, o que teve influência nos valores de ressarcimento pleiteados. Fl. 358DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 359 3 Regularmente cientificada da nãohomologação da compensação, a empresa apresentou manifestação de inconformidade, encaminhada pelo órgão de origem como tempestiva, na qual, em síntese, fez as seguintes considerações: 1. No que tange a saída de produtos destinados à alimentação de cães e gatos acondicionados em embalagens com capacidade superior a 10Kg, a requerente, a partir do 3o decêndio de outubro/03, buscou autorização judicial para não incidência do IPI sobre esses produtos, face a flagrante ilegalidade e inconstitucionalidade da legislação que o instituiu, qual seja, Decreto n° 4.542/02. Em razão disso, a requerente acumulou saldo credor de IPI, o que lhe permite, a cada trimestre calendário, utilizálo em compensações com débitos de outros tributos federais administrados pela Receita Federal do Brasil. Portanto é legítima a compensação, nos termos autorizados pelo artigo 170 do Código Tributário Nacional, combinado com o artigo 74 da Lei n° 9.430/96, com redação conferida pela Lei n° 10.637/02 e artigo n°. 26 e seguintes da Instrução Normativa SRF n° 600/2005, vigente à época das compensações. Deveria ser, portanto, declarada homologada a compensação dos créditos de IPI que a requerente efetuou com seu débito de COFINS de junho de 2006, vez que possuía saldo credor suficiente. 2. A Delegacia da Receita Federal, em 09/12/2011, lavrou o Auto de Infração e Imposição de Multa Processo Administrativo MPF n° 0611000/00639/11, visando prevenir a decadência do crédito tributário de IPI sobre produtos destinados à alimentação de cães e gatos fabricados pela requerente, acondicionados em embalagens com capacidade superiora 10Kg, sendo assim, imperioso que o julgamento da presente Manifestação de Inconformidade aguarde o julgamento da referida Impugnação Administrativa, pois, certamente a mesma será julgada totalmente procedente, com o conseqüente cancelamento do Auto de Infração e o restabelecimento da Escrita Fiscal, o que ensejará a homologação da presente compensação em sua integralidade. 3. A Ação Ordinária n° 2003.61.00.0295233 em nada poderá alterar os valor pleiteado na presente compensação, vez que, conforme bem demonstrado anteriormente, o saldo credor utilizado pela requerente foi derivado de aquisição de matérias primas, produtos industrializados e materiais de embalagem, nos termos do artigo 11 da Lei n° 9.779/99, não tendo nenhuma pertinência com a referida Ação. É certo que se ao final a Ação Ordinária n° 2003.61.00.0295233 for julgada improcedente, a DRF terá o direito de exigir os valores de IPI não destacados nas Notas Fiscais de saída, motivo pelo qual a legislação prevê a possibilidade de se lavrar o Auto de Infração com a exigibilidade suspensa, com a finalidade de prevenir a decadência. 4. Evidente que a requerente, mediante autorização judicial a qual foi concedida em sede de antecipação de tutela, não deveria proceder ao destaque do IPI em suas Notas Fiscais de saída e por conseqüência, deveria seguir com sua Escrita Fiscal, sob pena de perder o objeto a referida Ação. Totalmente descabida a Fl. 359DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 360 4 pretensão da DRF no sentido de que a Requerente não poderia utilizar os saldos credores apresentados ao final dos trimestres calendários, pois se assim fosse, estaria desconsiderando a decisão judicial que lhe foi concedida. 5. Da mesma forma, resta cristalino que a DRF está descumprindo determinação judicial contida na Ação Ordinária n° 2003.61.00.0295233, qual seja, absterse de exigir da Requerente o IPI sobre alimentação de cães e gatos acondicionados em embalagens acima de dez quilos. 6. Verificase que a compensação procedida pela Requerente está em consonância com a legislação pertinente sobre a matéria, haja vista ser o crédito legítimo. Por fim, solicitou seja recebida e acolhida a Manifestação de Inconformidade apresentada a fim de reformar integralmente o Despacho Decisório proferido nos autos, uma vez que amplamente comprovado que a Requerente possuía crédito de IPI passível de ser compensado e protestou pela produção de todas as demais provas admitidas em direito, inclusive, a oral. Analisada a manifestação de inconformidade, a Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto (SP), julgou improcedente, conforme Acórdão nº 1448.969 8ª Turma da DRJ/RPO , com a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Anocalendário: 2007 RESSARCIMENTO. PENDÊNCIA JUDICIAL. É vedado o ressarcimento à pessoa jurídica com processo judicial em que a decisão definitiva a ser proferida pelo Poder Judiciário possa alterar o valor do ressarcimento solicitado. RESSARCIMENTO. SALDO CREDOR. Tendo o saldo credor de IPI do trimestre sido reduzido em decorrência de procedimento fiscal, é este (novo) saldo que deve ser usado para a compensação dos débitos apresentados em Dcomp. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Foi apresentado Recurso Voluntário, no qual se alegou, em síntese: · que a Recorrente estava amparada por decisão judicial que autorizava a não incidência do IPI sobre produtos destinados à alimentação de cães e gatos acondicionados em embalagens com capacidade superior a 10 kg; · indevida reconstituição da escrita fiscal em razão da não incidência do IPI sobre produtos destinados à alimentação de cães e gatos acondicionados em embalagens com capacidade superior a 10 kg; · impossível a glosa dos créditos de IPI em razão da mencionada decisão judicial; e Fl. 360DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 361 5 · não incidência de IPI sobre produtos enquadrados na posição 2309.10.00 da TIPI; · inaplicabilidade do art. 20 da IN RFB no 600/2005; · necessidade de julgamento simultâneo ao processo no 0611000/639/11 Posteriormente, a Recorrente junta aos autos a informação de que, após a interposição do Recurso Voluntário, a Ação Anulatória no 0029523662003.4.03.6100 transitou em julgado de forma favorável às suas pretensões. É o relatório. Voto Conselheira Liziane Angelotti Meira O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais pressupostos legais de admissibilidade e deve ser conhecido. Quanto ao pedido de de julgamento simultâneo do processo no 0611000/639/11 (na verdade, este é o número do Mandado de Procedimento Fiscal), cumpre anotar que os processos conexos estão sendo julgamos neste mesma sessão, a saber: 13603.724419/201174 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904913/201120 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904915/201119 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904916/201163 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904917/201116 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904918/201152 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904919/201105 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904920/201121 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904921/201176 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904922/201111 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904923/201165 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904924/201118 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904925/201154 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904926/201107 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904927/201143 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904928/201198 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904929/201132 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA 10840.904930/201167 EVIALIS DO BRASIL NUTRICAO ANIMAL LTDA A Recorrente alegou que o fato de possuir tutela antecipada na Ação Ordinária n° 2003.61.00.0295233 lhe garante o não destaque do IPI nas notas fiscais, a não escrituração destes valores no livro de apuração de IPI e o conseqüente saldo credor nele Fl. 361DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 362 6 apurado para ressarcimento, ou seja, que tem o direito líquido e certo ao ressarcimento em discussão. Defende, nesse sentido, inaplicabilidade do art. 20 da IN RFB no 600/2005, e o seu direito de destacar o IPI em suas notas fiscais de saída, em decorrência da ação judicial. Cabe, contudo, colacionar o art. 20 da IN mencionada (que regulava a matéria na época): Art. 20. É vedado o ressarcimento a estabelecimento pertencente a pessoa jurídica com processo judicial ou com processo administrativo fiscal de determinação e exigência de crédito do IPI cuja decisão definitiva, judicial ou administrativa, possa alterar o valor a ser ressarcido. Parágrafo único. Ao requerer o ressarcimento, o representante legal da pessoa jurídica deverá prestar declaração, sob as penas da lei, de que a pessoa jurídica não se encontra na situação mencionada no caput. Importante também transcrever o artigo que exige, mesmo para o caso de decisão judicial definitiva, a habilitação do crédito: Art. 51. Na hipótese de crédito reconhecido por decisão judicial transitada em julgado, a Declaração de Compensação, o Pedido Eletrônico de Restituição e o Pedido Eletrônico de Ressarcimento, gerados a partir do Programa PER/DCOMP, somente serão recepcionados pela SRF após prévia habilitação do crédito pela Delegacia da Receita Federal (DRF), Delegacia da Receita Federal de Administração Tributária (Derat) ou Delegacia Especial de Instituições Financeiras (Deinf) com jurisdição sobre o domicílio tributário do sujeito passivo. § 1º A habilitação de que trata o caput será obtida mediante pedido do sujeito passivo, formalizado em processo administrativo instruído com: I o formulário Pedido de Habilitação de Crédito Reconhecido por Decisão Judicial Transitada em Julgado, constante do Anexo V desta Instrução Normativa, devidamente preenchido; II a certidão de inteiro teor do processo expedida pela Justiça Federal; III a cópia do contrato social ou do estatuto da pessoa jurídica acompanhada, conforme o caso, da última alteração contratual em que houve mudança da administração ou da ata da assembléia que elegeu a diretoria; IV cópia dos atos correspondentes aos eventos de cisão, incorporação ou fusão, se for o caso; V a cópia do documento comprobatório da representação legal e do documento de identidade do representante, na hipótese de pedido de habilitação do crédito formulado por representante legal do sujeito passivo; e Fl. 362DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 363 7 VI a procuração conferida por instrumento público ou particular e cópia do documento de identidade do outorgado, na hipótese de pedido de habilitação formulado por mandatário do sujeito passivo. § 2º O pedido de habilitação do crédito será deferido pelo titular da DRF, Derat ou Deinf, mediante a confirmação de que: I o sujeito passivo figura no pólo ativo da ação; II a ação tem por objeto o reconhecimento de crédito relativo a tributo ou contribuição administrados pela SRF; III houve reconhecimento do crédito por decisão judicial transitada em julgado; IV foi formalizado no prazo de 5 anos da data do trânsito em julgado da decisão; e V na hipótese de ação de repetição de indébito, houve a homologação pelo Poder Judiciário da desistência da execução do título judicial ou a comprovação da renúncia à sua execução, bem assim a assunção de todas as custas e os honorários advocatícios referentes ao processo de execução. § 3º Constatada irregularidade ou insuficiência de informações nos documentos a que se referem os incisos I a V do § 1º, o requerente será intimado a regularizar as pendências no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data de ciência da intimação. § 4º No prazo de 30 (trinta) dias, contado da data da protocolização do pedido ou da regularização de pendências de que trata o § 3º, será proferido despacho decisório sobre o pedido de habilitação do crédito. § 5º Será indeferido o pedido de habilitação do crédito nas seguintes hipóteses: I não forem atendidos os requisitos constantes nos incisos I a V do § 2º; ou II as pendências a que se refere o § 3º não forem regularizadas no prazo nele previsto. § 6º O deferimento do pedido de habilitação do crédito não implica homologação da compensação ou o deferimento do pedido de restituição ou de ressarcimento. Seguimos o entendimento da decisão recorrida de não há qualquer direito ao ressarcimento deferido pela sentença judicial não definitiva. De acordo com o art. 170A do CTN, é defeso efetuar compensações de débitos mediante aproveitamento de tributo objeto de contestação judicial em trâmite, ou seja, ainda não julgado definitivamente. Ou seja, só há crédito oponível à Fazenda Pública com o desfecho em definitivo favorável ao particular da demanda judicial. Fl. 363DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 364 8 Conforme se destacou na decisão recorrida, o direito pretendido com a ação judicial somente será liquido e certo quando a sentença, se favorável ao contribuinte, transitar em julgado e operar seus efeitos. No entanto, este direito, não respaldava o ressarcimento, que era expressamente vedado pelo art. 20 da IN SRF nº 600, de 2005 (disposição idêntica encontrase vigente no art. 42 da IN RFB nº 1717, de 2017). Dessa forma, adotase o entendimento da decisão recorrida de que somente é permitido o ressarcimento do imposto após a utilização dos créditos de IPI escriturados pelo contribuinte na dedução, em sua escrita fiscal, dos débitos de IPI decorrentes das saídas de produtos tributados, além de ser vedado o ressarcimento a estabelecimento pertencente a pessoa jurídica com processo judicial ou com processo administrativo fiscal de determinação e exigência de crédito do IPI cuja decisão definitiva, judicial ou administrativa, possa alterar o valor a ser ressarcido. Portanto, a matéria discutida na ação judicial altera o valor do saldo de IPI apurado nos trimestres em referência e, consequentemente, correto o procedimento do Fisco que refez a escrita fiscal, incluindo os débitos discutidos judicialmente, para calcular o real saldo (devedor/credor) dos trimestres analisados. Por outro lado, mesmo que se concordasse com a Recorrente, contrariamente a determinação expressa da legislação, que ela poderia utilizar créditos com fulcro em decisão judicial não transitada em julgado, ela estaria sujeita à habilitação do seu crédito, o que não efetuou. O cumprimento dessa obrigação acessória é imprescindível para que o Fisco tenha conhecimento e controle deste crédito e é condição para o exercício do direito de creditamento. Portanto, ainda que se adotasse este entendimento, defendido pela Recorrente o qual não adotamos deveria ser mantida a glosa por falta de habilitação do crédito. Dessarte, mantémse, por seus próprios fundamentos, o entendimento constante da decisão recorrida. Quanto à informação juntada pela Recorrente de que houve trânsito em julgado em seu favor na Ação Anulatória no 0029523662003.4.03.6100, não há efeito direto sobre o presente processo administrativo. Não se pode tratar aqui do mérito levado ao Judiciário, pois, conforme a Súmula nº 1 do CARF, importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. Diante do exposto, proponho manter integralmente a decisão recorrida e voto por negar provimento ao Recurso Voluntário. Liziane Angelotti Meira Relatora Fl. 364DF CARF MF Processo nº 10840.904917/201116 Acórdão n.º 3301004.469 S3C3T1 Fl. 365 9 Fl. 365DF CARF MF
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Numero do processo: 16327.720550/2013-29
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 06 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue May 22 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Data do fato gerador: 29/08/2008
INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. GANHO DE CAPITAL.
Na operação de incorporação de ações, a qual não se confunde com sub-rogação legal ou permuta, a transferência das ações da companhia incorporada para o patrimônio da companhia incorporadora caracteriza alienação, cujo valor, se superior ao custo de aquisição, é tributável, pela diferença a maior, como ganho de capital para os acionistas da companhia cujas ações são incorporadas.
GANHO DE CAPITAL AUFERIDO POR RESIDENTE NO EXTERIOR NA ALIENAÇÃO DE BENS LOCALIZADOS NO BRASIL. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE.
O adquirente, pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, fica responsável pela retenção e recolhimento do imposto de renda incidente sobre o ganho de capital auferido por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior que alienar bens localizados no Brasil.
IRRF. REAJUSTAMENTO DO RENDIMENTO BRUTO. RENDA DE NÃO RESIDENTE. ASSUNÇÃO DO ÔNUS PELA FONTE PAGADORA.
Quando a fonte paga rendimentos a domiciliado no exterior sem o desconto devido pelo beneficiário, deverá recolher o imposto correspondente com a base reajustada, eis que, para todos os efeitos legais, considera-se assumido o ônus do imposto.
EXCLUSÃO DE PENALIDADES E DE JUROS. REQUISITOS.
A exclusão de penalidades e juros com amparo no parágrafo único do art. 100 do CTN requer seja comprovada inobservância das normas complementares das leis, tratados e das convenções internacionais e dos decretos.
JUROS DE MORA E MULTA DE OFÍCIO. LEGALIDADE. CTN E LEGISLAÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES STJ.
A incidência de juros de mora sobre a multa de ofício encontra fulcro legal em diversos dispositivos do CTN e da legislação tributária federal, sendo acolhida também nas decisões do STJ a respeito do tema.
Numero da decisão: 2402-006.047
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, conhecer do recurso e, pelo voto de qualidade, negar-lhe provimento. Vencidos os Conselheiros Mário Pereira de Pinho Filho, Ronnie Soares Anderson e Mauricio Nogueira Righetti que conheceram parcialmente do recurso e os Conselheiros João Victor Ribeiro Aldinucci, Jamed Abdul Nasser Feitoza (Relator), Fernanda Melo Leal (Suplente convocada) e Gregório Rechmann Junior que deram provimento parcial. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Ronnie Soares Anderson. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto o Conselheiro João Victor Ribeiro Aldinucci. Ausente a Conselheira Renata Toratti Cassini.
(assinado digitalmente)
Mario Pereira de Pinho Filho - Presidente
(assinado digitalmente)
Jamed Abdul Nasser Feitoza - Relator
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Redator designado
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mario Pereira de Pinho Filho (Presidente), Ronnie Soares Anderson, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Luis Henrique Dias Lima, Joao Victor Ribeiro Aldinucci, Fernanda Melo Leal (suplente convocada em substituição a conselheira Renata Toratti Cassini), Gregório Rechmann Junior, Mauricio Nogueira Righetti.
Nome do relator: JAMED ABDUL NASSER FEITOZA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Data do fato gerador: 29/08/2008 INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. GANHO DE CAPITAL. Na operação de incorporação de ações, a qual não se confunde com sub rogação legal ou permuta, a transferência das ações da companhia incorporada para o patrimônio da companhia incorporadora caracteriza alienação, cujo valor, se superior ao custo de aquisição, é tributável, pela diferença a maior, como ganho de capital para os acionistas da companhia cujas ações são incorporadas. GANHO DE CAPITAL AUFERIDO POR RESIDENTE NO EXTERIOR NA ALIENAÇÃO DE BENS LOCALIZADOS NO BRASIL. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE. O adquirente, pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, fica responsável pela retenção e recolhimento do imposto de renda incidente sobre o ganho de capital auferido por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior que alienar bens localizados no Brasil. IRRF. REAJUSTAMENTO DO RENDIMENTO BRUTO. RENDA DE NÃO RESIDENTE. ASSUNÇÃO DO ÔNUS PELA FONTE PAGADORA. Quando a fonte paga rendimentos a domiciliado no exterior sem o desconto devido pelo beneficiário, deverá recolher o imposto correspondente com a base reajustada, eis que, para todos os efeitos legais, considerase assumido o ônus do imposto. EXCLUSÃO DE PENALIDADES E DE JUROS. REQUISITOS. A exclusão de penalidades e juros com amparo no parágrafo único do art. 100 do CTN requer seja comprovada inobservância das normas complementares das leis, tratados e das convenções internacionais e dos decretos. JUROS DE MORA E MULTA DE OFÍCIO. LEGALIDADE. CTN E LEGISLAÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES STJ. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 72 05 50 /2 01 3- 29 Fl. 19285DF CARF MF 2 A incidência de juros de mora sobre a multa de ofício encontra fulcro legal em diversos dispositivos do CTN e da legislação tributária federal, sendo acolhida também nas decisões do STJ a respeito do tema. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 19286DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.282 3 Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, conhecer do recurso e, pelo voto de qualidade, negarlhe provimento. Vencidos os Conselheiros Mário Pereira de Pinho Filho, Ronnie Soares Anderson e Mauricio Nogueira Righetti que conheceram parcialmente do recurso e os Conselheiros João Victor Ribeiro Aldinucci, Jamed Abdul Nasser Feitoza (Relator), Fernanda Melo Leal (Suplente convocada) e Gregório Rechmann Junior que deram provimento parcial. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Ronnie Soares Anderson. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto o Conselheiro João Victor Ribeiro Aldinucci. Ausente a Conselheira Renata Toratti Cassini. (assinado digitalmente) Mario Pereira de Pinho Filho Presidente (assinado digitalmente) Jamed Abdul Nasser Feitoza Relator (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Redator designado Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mario Pereira de Pinho Filho (Presidente), Ronnie Soares Anderson, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Luis Henrique Dias Lima, Joao Victor Ribeiro Aldinucci, Fernanda Melo Leal (suplente convocada em substituição a conselheira Renata Toratti Cassini), Gregório Rechmann Junior, Mauricio Nogueira Righetti. Fl. 19287DF CARF MF 4 Relatório Desde as peças vestibulares as manifestações apresentadas têm sido detalhadas e com qualidade técnica irretocável. Em razão disso, para relato dos fatos, fundamentos e eventos ocorridos no processo até o momento, adotaremos parte do relatório da decisão recorrida, seguida de resumo das manifestações recursais e contrarrazões da Fazenda Nacional. O auto de infração (fls. 18.638 a 18.642) foi lavrado tendo por objeto exigência de Imposto de Renda Retido na Fonte – IRRF, acrescido de multa de ofício e juros de mora, relativo a fato gerador ocorrido em 29/08/2008, no valor total de R$9.657.886.861,64. Os créditos foram detalhados no IA da seguinte forma: Crédito Tributário Enquadramento Legal Valor em R$ Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) Art. 3º, §3º, da Lei nº 7.713/88; art. 18 da Lei nº 9.249/95; art. 26 da Lei nº 10.833/2003; art. 682, 685 e 725 do RIR/99. 4.363.174.547.84 Juros de Mora (calculados até 06/2013) Art. 61, §3º da Lei nº 9.430/96 2.022.331.402,92 Multa Proporcional Art. 44 ,I, da Lei nº 9.430/96, com a redação dada pelo art. 14 da Lei nº 11.488/2007. 3.272.380.910,88 TOTAL 9.657.886.861,64 No termo de verificação fiscal (fls. 18.643 a 18.707), a fiscalização apresenta os argumentos de fato e de direito sintetizados a seguir. "1.1. Dos fatos A fiscalização relata que a autuação se refere ao ganho de capital auferido pela sociedade holandesa Sterrebeeck B.V. (“Sterrebeeck”), em razão da incorporação, pela contribuinte em epígrafe, das ações das sociedades brasileiras (na época detidas pela sociedade holandesa) Banco ABN AMRO Real S.A. (“Banco Real”), CNPJ 33.066.408/000115, e ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. (“AAB Dois Par”), CNPJ 05.515.360/000140. Alega que se trata de ganho de capital tributável a teor do disposto no art. 18 da Lei nº 9.249/95, sendo a contribuinte em epígrafe responsável pela obrigação tributária conforme previsto no art. 26 da Lei nº 10.833/2003. Informa a fiscalização que as incorporações de ações objetos da autuação foram as últimas de uma série de operações Fl. 19288DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.283 5 societárias, que podem ser resumidas em três momentos principais, descritos sucintamente a seguir: a) Aquisição da ABN AMRO Holding N.V. pela RFS Holdings B.V. A fiscalização informa que Banco Santander S.A., domiciliado na Espanha (“Banco Santander Espanha”), The Royal Bank of Scotland Group plc, domiciliado na Escócia, e Fortis N.V., domiciliado na Holanda, constituíram, na Holanda, a sociedade RFS Holdings B.V., tendo os sócios subscrito e integralizado capital nos seguintes montantes (valores em milhões de Euros): Banco Santander Espanha 20.615 27,9% Royal Bank of Scotland 28.271 38,3% Fortis 24.972 33,8% Acrescenta que a RFS Holdings B.V. adquiriu em oferta pública 98,8% das ações da ABN AMRO Holding N.V. (“ABN AMRO Holding”), holding do grupo ABN AMRO, tendo sido a oferta liquidada em 01/11/2007. b) Segregação dos ativos e unidades de negócio da ABN Holding Informa a fiscalização que, efetuada a aquisição da ABN AMRO Holding, a etapa seguinte consistiu na segregação dos negócios entre os adquirentes, conforme préacordado entre os membros do consórcio, cabendo ao Banco Santander Espanha: 100% das ações da ABN AMRO Asset Management Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. (“AAAM DTVM”), CNPJ 10.977.742/000125, domiciliada no Brasil; 97,62% das ações do Banco ABN AMRO Real S.A. (“Banco Real”), CNPJ 33.066.408/000115, domiciliado no Brasil; Fl. 19289DF CARF MF 6 99,99% das ações da ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. (“AAB Dois Par”), CNPJ 05.515.360/000140, domiciliada no Brasil; e 45% das ações da ABN AMRO Asset Management Italy SGR S.p.A. (“AAAM Italy”), domiciliada na Itália. Acrescenta que a transferência das participações acionárias ocorreu em duas etapas. A primeira etapa consistiu na transferência dessas participações para a sociedade Sterrebeeck, sediada na Holanda e controlada pela ABN AMRO Holding N.V., por intermédio das seguintes operações: em 28/03/2008, cisão parcial do ABN AMRO Asset Management Holding N.V., transferindose para a Sterrebeeck a totalidade das ações de emissão da AAAM DTVM; em 28/04/2008, cisão parcial do ABN AMRO Bank N.V., com versão da parcela cindida à Sterrebeeck, transferindose, pelo valor histórico contábil de € .156.623.000,00, as ações do Banco Real, AAB Dois Par e AAAM Italy: Descrição Valor (€) Banco Real 4.639.509.000,00 AAB Dois Par 481.832.000,00 AAAM Italy 35.282.000,00 Total 5.156.623.000,00 Além disso, em 20/05/2008, a Sterrebeeck adquiriu a totalidade das ações da Interbanca S.p.A. (“Interbanca”), situada na Itália, detidas pelo Banco Antonveneta S.p.A. Ao final dessas etapas, verificavase a seguinte estrutura societária: Fl. 19290DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.284 7 A fiscalização relata que a segunda etapa da transferência das participações acionárias para o Banco Santander Espanha se deu em 24/07/2008, com a venda da totalidade das ações da Sterrebeeck para o Banco Santander Espanha por €15.308.500.000,00. Acrescenta que esse valor é muito superior ao patrimônio líquido da Sterrebeeck, que era de €5.213.783.406,00, possibilitando ao Banco Santander Espanha: i) registrar a participação na Sterrebeeck pelo valor de €15.308.500.000,00 e ii) reconhecer o pagamento de uma mais valia (“fondo de comercio financiero”) pelo ativo adquirido, passível de amortização pela legislação espanhola (benefício fiscal previsto no artigo 12.5 do Real Decreto Legislativo 4/2004). Assim, houve a efetiva transferência das unidades de negócio do Grupo ABN AMRO para o Banco Santander Espanha. Fl. 19291DF CARF MF 8 c) Consolidação dos negócios do Banco Santander Espanha no Brasil, mediante a incorporação das ações do Banco Real e do AAB Dois Par ao patrimônio do Banco Santander Brasil A fiscalização relata que a terceira etapa do processo de aquisição de parcela do grupo ABN AMRO pelo grupo Santander ocorreu com a incorporação das ações do Banco Real e do AAB Dois Par ao patrimônio do Banco Santander Brasil S.A., operação realizada em 29/08/2008 e objeto da autuação em comento. Relata a fiscalização que as incorporações de ações foram feitas com base nos valores econômicos das companhias, conforme se observa no item 6.1 do “Instrumento Particular de Protocolo e Fl. 19292DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.285 9 Justificação da Incorporação de Ações do Banco ABN AMRO Real S.A. e da ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. ao Patrimônio do Banco Santander S.A.” (fls. 15.805 a 15.818): “6.1. As administrações das Companhias acordaram e decidiram estabelecer as relações de substituição de ações nas Incorporações de Ações com fundamento nas avaliações econômicas das Companhias...” Informa que os laudos de avaliação econômicofinanceira elaborados pela KPMG Corporate Finance Ltda., de acordo com o método de fluxo de caixa descontado a valor presente, fls. 15.921 a 16.038, chegaram aos seguintes valores: Empresa Valor Econômico Mínimo Máximo Banco ABN AMRO Real S.A. 38.745.595.000,00 37.189.800.000,00 40.301.389.000,00 AB AMRO Brasil Dois Participações S.A. 1.724.112.000,00 1.701.365.000,00 1.746.858.000,00 Por sua vez, os valores contabilizados na contribuinte fiscalizada (Banco Santander Brasil) depois da incorporação de ações (fls. 16.055 a 16.058) estão demonstrados no quadro abaixo: Empresa Valor do PL (R$) Ágio (R$) Total (R$) Banco ABN AMRO Real S.A. 11.196.260.921,55 25.994.267.591,43 40.301.389.000,00 AB AMRO Brasil Dois Participações S.A. 1.408.383.479,54 321.840.919,21 1.730.224.389,75 Assim, conclui a fiscalização que a fiscalizada incorporou as ações do Banco Real por R$37.190.528.512,98 e as ações do AAB Dois Par por R$1.730.224.398,75, registrando ágios de R$25.994.267.591,43 e R$321.840.919,21, respectivamente. Acrescenta que, em momento posterior (30/04/2009), a contribuinte autuada incorporou o Banco Real, passando a amortizar o ágio nos termos do art. 386 do RIR/99. Ressalta que não houve pagamento de tributos sobre os respectivos ganhos de capital. 1.2. Da natureza jurídica da incorporação de ações e de seus efeitos tributários Como relatado anteriormente, a autuação se refere ao imposto de renda incidente sobre o ganho de capital auferido pela sociedade estrangeira Sterrebeeck na incorporação das ações do Fl. 19293DF CARF MF 10 Banco Real e do AAB Dois Par de sua propriedade ao patrimônio do Banco Santander Brasil S.A. Ressalta a fiscalização que a incorporação de ações está prevista no art. 252 da Lei nº 6.404/76 (“Lei das SA”): “Art. 252. A incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertêla em subsidiária integral, será submetida à deliberação da assembleia geral das duas companhias mediante protocolo e justificação, nos termos dos artigos 224 e 225. § 1º A assembleia geral da companhia incorporadora, se aprovar a operação, deverá autorizar o aumento do capital, a ser realizado com as ações a serem incorporadas e nomear os peritos que as avaliarão; os acionistas não terão direito de preferência para subscrever o aumento de capital, mas os dissidentes poderão retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230.(Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) § 2º A assembleia geral da companhia cujas ações houverem de ser incorporadas somente poderá aprovar a operação pelo voto de metade, no mínimo, das ações com direito a voto, e se a aprovar, autorizará a diretoria a subscrever o aumento do capital da incorporadora, por conta dos seus acionistas; os dissidentes da deliberação terão direito de retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230.(Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) § 3º Aprovado o laudo de avaliação pela assembleia geral da incorporadora, efetivarseá a incorporação e os titulares das ações incorporadas receberão diretamente da incorporadora as ações que lhes couberem. § 4o A Comissão de Valores Mobiliários estabelecerá normas especiais de avaliação e contabilizarão aplicáveis às operações de incorporação de ações que envolvam companhia aberta.(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)” Relata que há basicamente duas correntes doutrinárias acerca da natureza jurídica da operação de incorporação de ações. Uma corrente, defendida por Bulhões Pedreira, Nelson Eizirik e Alberto Xavier, que considera a incorporação de ações uma simples substituição de ações em razão de subrogação real. E outra corrente, defendida por Fran Martins, Modesto Carvalhosa, Luís Eduardo Schoueri e Luiz Carlos de Andrade Jr., que vê na incorporação de ações uma operação semelhante ao aumento de capital mediante a conferência de bens, o que importa na alienação das ações incorporadas. Alega a fiscalização que é entendimento consolidado na doutrina que a incorporação de ações não se equipara à incorporação de sociedade, uma vez que, nessa última, ocorre a extinção da sociedade incorporada, enquanto a incorporação de ações torna a sociedade que tem as ações incorporadas subsidiária integral Fl. 19294DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.286 11 da sociedade “incorporadora”, com a manutenção de sua personalidade jurídica. Acrescenta que também é pacífico o entendimento de que a incorporação de ações envolve um aumento de capital da “incorporadora” e que a integralização desse aumento de capital se dá mediante a transferência das ações da “incorporada” para a “incorporadora”. Ressalta que as principais divergências doutrinárias se referem a: ocorrência de alienação ou de subrogação real; presença ou ausência de manifestação de vontade dos acionistas. No que tange à subrogação real, a fiscalização adota o conceito dado por SantoroPassareli: “A subrogação real é uma ficção, que deve ser, como tal determinada pela lei. E, em virtude da qual, uma coisa substituída por outra em uma qualidade particular ou como objeto de um direito real.” E, a partir desse conceito, conclui que, na incorporação de ações, não ocorre subrogação real, visto que: “o legislador não criou nenhuma ficção; as ações emitidas pela “incorporadora” em função da subscrição de capital apenas substituem as ações da “incorporada”, substituição esta irrelevante para o direito; a lei não estabeleceu a substituição das ações com vistas a uma relação jurídica particular, ou seja, não há uma relação jurídica particular que faça com que as ações emitidas pela “incorporadora” devam ser consideradas como as ações da “incorporada”; as ações tanto da “incorporada” como da “incorporadora” são tratadas em si e por si, já que as ações da “incorporadora”, emitidas em pagamento às ações da “incorporada”, não autorizam o sócio que as recebeu a exercer quaisquer direitos em face da “incorporada”, que se tornou subsidiária integral da “incorporadora”.” A fiscalização também rebate o entendimento de parte da doutrina de que, na incorporação de ações, há subrogação real e não aquisição, em razão de não haver manifestação de vontade dos sócios da “incorporada”. Alega a fiscalização que a incorporação de ações deve ser aprovada por assembleia geral da companhia cujas ações houverem de ser incorporadas, a teor do disposto no art. 252, §2º, da Lei das SA. Assim, os acionistas com direito a voto da “incorporada” têm o direito de manifestar a sua vontade na assembleia geral, prevalecendo a vontade da maioria e Fl. 19295DF CARF MF 12 assegurandose o direito dos dissidentes de se retirarem da companhia. Acrescenta que, uma vez atingida a maioria estipulada, a assembleia geral aprova a operação de incorporação de ações e autoriza a diretoria a subscrever o aumento de capital da “incorporadora” com as ações da “incorporada”, por conta de seus acionistas. Assim, a manifestação da assembleia geral passa a representar a vontade integral dos sócios em virtude do princípio majoritário. No caso específico aqui tratado, a fiscalização ressalta que a Sterrebeeck tinha o poder de decidir, visto que era acionista majoritária do AAB Dois Par e do Banco Real, detendo participações acionárias de 100% e 97,62%, respectivamente. A fiscalização também sustenta que, nos termos do art. 252, §2º, da Lei das SA, a diretoria recebe autorização da assembleia geral para subscrever o aumento de capital da “incorporadora” por conta de seus acionistas, tratandose, portanto, de representação indireta. Ad argumentandum, alega a fiscalização que, ainda que se considerasse a ocorrência de subrogação real na incorporação de ações, haveria a transferência da propriedade das ações. Assim, conclui a fiscalização que, na incorporação de ações, ocorre uma alienação, na qual há manifestação de vontade dos acionistas da companhia cujas ações são incorporadas, devendo o ganho de capital ser tributado pelo imposto de renda, como prevê o art. 3º, §3º, da Lei nº 7.713/88: “Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. (Vide Lei 8.023, de 12.4.90) (...) § 3º Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que importem alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa de cessão de direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, doação, procuração em causa própria, promessa de compra e venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos afins.” (g.n.) A fiscalização relata que, em função de o pagamento pelas ações da “incorporada” ser feito em ações da “incorporadora”, surgem algumas questões relacionadas à figura da realização do ganho de capital e de eventual equiparação da operação à permuta. Sustenta a fiscalização que o imposto de renda tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza, conforme previsto no art. 43 do CTN. Fl. 19296DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.287 13 Argumenta que, na incorporação de ações, o acionista da sociedade “incorporada” adquire disponibilidade econômica e jurídica sobre as ações recebidas da companhia “incorporadora”, podendo livremente fruir delas, visto que as mesmas passam a integrar seu patrimônio. A fiscalização também alega ser equivocada a equiparação da incorporação de ações à permuta. Argumenta que o objeto da permuta consiste no escambo de coisas, inexistindo preço definido em dinheiro. Por outro lado, na incorporação de ações, ocorre a subscrição, pela “incorporada”, de aumento de capital na “incorporadora”, sendo que deve ser fixado o preço de emissão das ações, expresso em moeda, conforme prevê o art. 170 da Lei das SA. Logo, no seu entendimento, a incorporação de ações envolve um elemento estranho à permuta, que é o preço, não podendo haver equiparação entre as duas operações. Ante o exposto, conclui a fiscalização que, na incorporação de ações, ocorre a subscrição de capital pela “incorporada” na “incorporadora”, com a integralização do capital em bens. Ressalta que, caso a transferência seja feita por valor superior ao contábil, a diferença a maior será tributável como ganho de capital, a teor do disposto no art. 23, §2º, da Lei nº 9.249/95: “Art. 23. As pessoas físicas poderão transferir a pessoas jurídicas, a título de integralização de capital, bens e direitos pelo valor constante da respectiva declaração de bens ou pelo valor de mercado. § 1º Se a entrega for feita pelo valor constante da declaração de bens, as pessoas físicas deverão lançar nesta declaração as ações ou quotas subscritas pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, não se aplicando o disposto no art. 60 do Decreto Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, e no art. 20, II, do DecretoLei nº 2.065, de 26 de outubro de 1983. § 2º Se a transferência não se fizer pelo valor constante da declaração de bens, a diferença a maior será tributável como ganho de capital.” Assim, conclui a fiscalização que, havendo ganho de capital para o acionista que tem suas ações incorporadas, o mesmo deverá sofrer a tributação pelo imposto de renda. Sustenta que a tributação do ganho de capital de nãoresidente é definitiva e se dá segundo as normas aplicáveis às pessoas físicas residentes no Brasil, conforme previsto no art. 26 da Instrução Normativa SRF nº 208/2002: “Art. 26. A alienação de bens e direitos situados no Brasil realizada por não residente está sujeita à tributação definitiva sob a forma de ganho de capital, segundo as normas aplicáveis às pessoas físicas residentes no Brasil.” Fl. 19297DF CARF MF 14 Ressalta que a tributação exclusiva na fonte é a mais adequada para se aplicar aos nãoresidentes, face à dificuldade prática de se controlar seus rendimentos globais. 1.3. Da apuração da base tributável A fiscalização alega que o art. 18 da Lei nº 9.249/95 estabelece que “o ganho de capital auferido por residente ou domiciliado no exterior será apurado e tributado de acordo com as regras aplicáveis a residentes no País.” Acrescenta que o art. 26, §1º, da Instrução Normativa SRF nº 208/2002 estabelece que “o ganho de capital é determinado pela diferença positiva entre o valor de alienação e o custo de aquisição do bem ou direito.” Relata a fiscalização que, a fim de comprovar o custo de aquisição das ações do Banco Real e do AAB Dois Par, a empresa fiscalizada apresentou os registros declaratórios eletrônicos de investimentos externos no País (Módulo RDE IED), integrantes do Sistema de Informações do Banco Central – Sisbacen (fls. 553 a 598). Acrescenta que o quadro abaixo contém a consolidação dos valores registrados no RDEIED: BANCO ABN AMRO REAL INVESTIMENTO REINVESTIMENTO TOTAL MOEDA FATOR DE CONVERSÃO PARA REAL (88) TOTAL EM REAIS 3.159.918.313,30 88.822,31 3.160.007.135,61 USD 1.634400 5.164.715.662,44 1.005.627.306,26 1.082.404.256,85 2.088.031.563,11 EUR 2.398480 5.008.101.943,49 1.468.151.435,03 600.042.510,19 2.068.193.945,22 REAL 1,000000 2.068.193.945,22 28.137,28 62.347,53 90.484,81 GBP 2,979180 269.570,54 15,23 1523 UYU 0,085125 1,30 346.432,52 346.432,52 PAB 1,634400 566.209,31 TOTAL 12.241.847.332,29 BANCO ABN AMRO REAL INVESTIMENTO REINVESTIMENTO TOTAL MOEDA FATOR DE CONVERSÃO PARA REAL (88) TOTAL EM REAIS 82.826.241,13 82.826.241,13 USD 1.634400 135.371.208,50 153.069.136,47 236.237.432 389.306.568,58 EUR 2.398480 933.744.018,61 REAL 1,000000 2.068.193.945,22 GBP 2,979180 269.570,54 30,56 30,56 UYU 0,085125 2,60 TOTAL 1.069.115.229,71 A fiscalização ressalta que as participações do Banco Real e do AAB Dois Par foram transferidas do ABN AMRO Bank N.V. PAB BALBOA PANAMENHO USD DOLAR AMERICADO UYU PESO URUGUAIO BRL REAL EUR EURO GBP LIBRA Fl. 19298DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.288 15 para a Sterrebeeck por seus valores históricos, ou seja, não houve reavaliação dos ativos transferidos nessa operação. Conforme já relatado, as ações do Banco Real e do AAB Dois Par foram adquiridas pela contribuinte autuada em 29/08/2008, por meio de incorporação de ações, tendo como base os valores econômicos das companhias determinados pelo método de fluxo de caixa descontado a valor presente. A fiscalização informa que os laudos de avaliação econômico financeira elaborados pela KPMG Corporate Finance Ltda (fls. 15.921 a 16.038) chegaram aos seguintes valores: Empresa Valor Econômico Mínimo (R$) Máximo (R$) Banco ABN AMRO Real S.A. 38.745.595.000,00 37.189.800.000,0 40.301.389.000,00 ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. 1.724.112.000,00 1.701.365.000,00 1.746.858.000,00 Por sua vez, os valores contabilizados no Banco Santander Brasil depois da incorporação de ações (fls. 16.055 a 16.058) estão demonstrados no quadro abaixo: Empresa Valor do PL (R$) Ágio (R$) Total (R$) Banco ABN AMRO Real S.A. 11.196.260.921,55 25.994.267.591,43 37.190.528.512,98 ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. 1.408.383.479,54 321.840.919,21 1.730.224.398,75 Assim, conclui a fiscalização que a impugnante incorporou 100% das ações do Banco Real por R$37.190.528.512,98 e 100% das ações do AAB Dois Par por R$1.730.224.398,75. Considerandose que a Sterrebeeck detinha 100% das ações do AAB Dois Par e 97,62% das ações do Banco Real, a fiscalização calculou o valor de alienação das ações pertencentes à Sterrebeeck (valores em Reais): Companhia Valor Total da Alienação Percentual Valor da Alienação pela Sterrebeeck Banco ABN AMRO Real S.A. 37.190.528.512,98 97,62% 36.305.393.934,37 ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. 1.730.224.398,75 100% 1.730.224.398,75 Fl. 19299DF CARF MF 16 De posse dos custos de aquisição e dos valores de alienação das ações, a fiscalização calculou o valor do ganho de capital auferido pela Sterrebeeck nas operações de incorporação de ações (valores em Reais) Companhia Custo de Aquisição Valor da Alienação pela Sterrebeeck Ganho de Capital Banco ABN AMRO Real S.A. 12.241.847.332,29 39.305.393.934,37 24.063.546.602,08 ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. 1.069.115.229,71 1.730.224.398,75 661.109.196,04 TOTAL 24.724.655.771,12 A fiscalização sustenta que a alíquota a ser aplicada no caso em tela é de 15%, como previsto no art. 685, I, do RIR/99, visto que a Holanda, país de domicílio da Sterrebeeck, não constava na lista de países com tributação favorecida constante da Instrução Normativa SRF nº 188/2002, vigente à época da ocorrência do fato gerador. A fiscalização alega que o ganho de capital deve ser reajustado para efeito de determinação da base de cálculo do IRRF devido, a teor do disposto no art. 725 do RIR/99: “Art.725. Quando a fonte pagadora assumir o ônus do imposto devido pelo beneficiário, a importância paga, creditada, empregada, remetida ou entregue, será considerada líquida, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto, sobre o qual recairá o imposto, ressalvadas as hipóteses a que se referem os arts. 677 e 703, parágrafo único (Lei nº 4.154, de 1962, art. 5º, e Lei nº 8.981, de 1995, art. 63, §2º).” Sustenta que, no caso de tributação exclusiva na fonte em que o beneficiário é domiciliado no exterior, deverá haver o reajustamento do rendimento bruto independentemente de haver convenção particular acerca da assunção do ônus do tributo. A esse respeito, cita acórdãos do Primeiro Conselho de Contribuintes, além do Parecer Normativo nº 1/2002. Assim, a fiscalização apurou a base de cálculo do IRRF no montante de R$29.087.830.318,96, calculando IRRF devido de R$4.363.174.547,84, a ser lançado de ofício. Sustenta que, no caso de tributação exclusiva na fonte em que o beneficiário é domiciliado no exterior, deverá haver o reajustamento do rendimento bruto independentemente de haver convenção particular acerca da assunção do ônus do tributo. A esse respeito, cita acórdãos do Primeiro Conselho de Contribuintes, além do Parecer Normativo nº 1/2002. Assim, a fiscalização apurou a base de cálculo do IRRF no montante de R$29.087.830.318,96, calculando IRRF devido de R$4.363.174.547,84, a ser lançado de ofício. 2. DA IMPUGNAÇÃO Fl. 19300DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.289 17 Cientificada da autuação em 07/06/2013 (fls. 18.638), a contribuinte apresentou, em 05/07/2013, a impugnação de fls. 18.721 a 18.821, acompanhada dos documentos de fls. 18.822 a 19.001, na qual aduz os argumentos a seguir sintetizados. 2.1. Dos fatos De início, a impugnante sintetiza os fatos que deram origem à autuação, ressaltando que a única operação que poderia ter gerado ganho de capital seria a aquisição da ABN AMRO Holding pela RFS Holdings, que não seria tributável no Brasil, haja vista ter sido realizada por empresas estrangeiras, envolvendo bens situados no exterior. Argumenta que as demais operações foram meras reorganizações societárias com vistas a: (i) segregar as unidades de negócio e ativos adquiridos na oferta pública entre os membros do consórcio e (ii) consolidar as unidades de negócio no Brasil transferidas ao Banco Santander Espanha. Alega que essas operações societárias não tiveram por finalidade o aproveitamento de benefícios fiscais, mas a aquisição e a consolidação no Brasil das unidades de negócio pertencentes anteriormente à ABN AMRO Holding N.V. 2.2. Preliminar – Da incorreta consideração da incorporação de ações como evento tributável Preliminarmente, a impugnante alega que o único evento que poderia ter gerado ganho de capital seria a alienação da ABN AMRO Holding para a RFS Holdings, momento em que os ativos foram efetivamente negociados. Alega que, nessa ocasião, o Banco Santander Espanha passou a ser, indiretamente, por meio da RFS Holdings, titular das participações no Banco Real e no AAB Dois Par. Sustenta que as operações subsequentes tiveram por finalidade precípua a separação das unidades de negócios entre os membros do consórcio conforme previamente acordado no “Consortium and Shareholder’s Agreement”, seguida da consolidação das atividades do Banco Real e do AAB Dois Par no Brasil por intermédio de incorporação de ações. Assim, alega que a análise acerca de eventual ganho de capital tributável não deveria recair sobre o evento da incorporação de ações, e sim sobre a alienação da ABN AMRO Holding por meio de oferta pública. Sustenta que tal operação não poderia ser tributada no Brasil, visto que foi realizada entre pessoas jurídicas não residentes, além de se tratar de bens localizados no exterior, mais precisamente na Holanda. Alega que o art. 26 da Lei nº 10.833/2003, que serviu de fundamento para a autuação, é aplicável apenas a alienação de bens localizados no Brasil, que não é o caso, visto que o objeto Fl. 19301DF CARF MF 18 da alienação foram ações emitidas pela ABN AMRO Holding, sediada na Holanda. Sustenta que o ativo adquirido na oferta pública foi a sociedade holandesa detentora de diversos ativos, entre eles as ações do Banco Real e do AAB Dois Par, motivo pelo qual não se pode admitir a exigência de tributo sobre evento de reorganização societária ocorrido em momento posterior, consubstanciado na incorporação de ações do Banco Real e do AAB Dois Par. A impugnante alega que, ainda que se considere que, na oferta pública, houve aquisição indireta de bens localizados no Brasil (ações do Banco Real e do AAB Dois Par), eventual ganho de capital teria sido auferido pelos acionistas da ABN AMRO Holding e não pela Sterrebeeck, sendo incorreta a identificação da Sterrebeeck como contribuinte do IRRF sobre o suposto ganho de capital auferido. Sustenta que, como consequência, não há como se atribuir a responsabilidade por eventual falta de retenção do tributo incidente na negociação sobre a impugnante, visto que não participou da operação e não é procuradora da RFS Holdings no Brasil. Alega restar evidente o erro na identificação do sujeito passivo, o que implica a nulidade absoluta do lançamento, a teor do disposto nos artigos 245, 267, VI e §3º, do Código de Processo Civil. Ademais, sustenta que a liquidação da oferta pública ocorreu em 01/11/2007, não podendo eventual ganho de capital ser objeto de lançamento de ofício em 2013 em razão da decadência. Assim, conclui que, ainda que se pudesse estar diante de ganho de capital decorrente da venda de ativos no Brasil, também não haveria que se falar em possibilidade de lançamento em face da impugnante em razão: (i) de erro na identificação do sujeito passivo e (ii) da decadência do direito de lançar o crédito tributário. Ante o exposto, requer seja declarada a nulidade do auto de infração. 2.3. Da não tributação da incorporação de ações A impugnante alega que a incorporação de ações não se caracteriza como alienação para fins de apuração de ganho de capital tributável, apresentando os argumentos sintetizados a seguir. 2.3.1. Da natureza jurídica da incorporação de ações Alega a impugnante que a incorporação de ações, prevista no art. 252 da Lei nº 6.404/76 (Lei das SA), é uma modalidade de concentração empresarial que possui natureza jurídica própria, distinta de uma incorporação de sociedades e de uma integralização de capital com bens, com efeitos próprios para as sociedades que a deliberam e seus respectivos acionistas. Fl. 19302DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.290 19 Ressalta que a incorporação de ações não deve ser confundida com a incorporação de sociedade, visto que na incorporação de ações não ocorre a extinção da sociedade cujas ações foram incorporadas. Alega também que a incorporação de ações não pode ser confundida com uma integralização de capital com bens. Argumenta que a integralização de capital com bens resulta de um contrato entre o acionista e a sociedade, enquanto a incorporação de ações decorre de um contrato entre as sociedades “incorporadora” e “incorporada”, não havendo manifestação de vontade individual dos acionistas. Sustenta que a operação de incorporação de ações é uma operação atípica, pois não corresponde integralmente a uma incorporação de sociedade, na medida em que somente as consequências para os acionistas das sociedades incorporadas são idênticos, e nem pode ser confundida com um aumento ou integralização de capital, haja vista tratarse de operação que se realiza somente entre sociedades, não havendo nenhuma manifestação de vontade individualizada dos acionistas. Ressalta que a incorporação de ações produz diferentes efeitos quando se analisa a operação da perspectiva das sociedades envolvidas e de seus acionistas. Argumenta que, no âmbito das sociedades que participam da operação de incorporação de ações, tratase de efetiva aquisição de participação societária na sociedade “incorporada” por parte da sociedade “incorporadora”, sendo que a esta última caberá, como contraprestação pelas ações adquiridas, a entrega das ações de seu capital que couberem aos titulares das ações incorporadas. A impugnante alega que, sob o ponto de vista dos acionistas da sociedade cujas ações são incorporadas, a incorporação de ações se caracteriza como uma subrogação real ou substituição das ações da sociedade “incorporada” por ações da “incorporadora”. Sustenta que, na incorporação de ações, está ausente o elemento volitivo dos acionistas da sociedade “incorporada”, visto que o negócio jurídico é realizado entre as sociedades “incorporadora” e “incorporada”, sendo as ações transferidas compulsoriamente independentemente do consentimento dos acionistas. Alega que a subrogação real consiste na troca de uma coisa por outra, mantendose as mesmas relações jurídicas previamente existentes em relação ao bem substituído. A respeito da matéria, cita o Parecer Normativo CST nº 39/81. No caso, alega que, sob a perspectiva da Sterrebeeck, houve a substituição das ações que esta detinha no Banco Real e no AAB Dois Par pelas novas ações de emissão da impugnante. Sustenta Fl. 19303DF CARF MF 20 que se trata de subrogação real, na medida em que apenas houve troca de ações, sem nenhum pagamento em dinheiro. 2.3.2. Do tratamento tributário da incorporação de ações Alega a impugnante que, do ponto de vista das sociedades envolvidas, a incorporação de ações constitui aquisição de participação societária pela sociedade que incorpora as ações, devendo esta adotar o método da equivalência patrimonial para a contabilizarão do investimento adquirido. Do ponto de vista dos acionistas, alega que a incorporação de ações possui a natureza jurídica de subrogação real, que não envolve transferência ou disponibilização de recursos financeiros e tampouco implica a realização de ganho. Sustenta que a subrogação real levada a efeito pela incorporação de ações assemelhase a uma operação de permuta sem torna, que não gera aumento patrimonial tributável. Alega que, na permuta, o custo do bem recebido é necessariamente o custo do bem que foi dado em permuta, pouco importando outros critérios de valoração e nem mesmo os valores que tais bens podem obter no mercado. Argumenta que, se o bem recebido em permuta tiver valor de mercado maior do que o do bem que foi dado em permuta, há um acréscimo patrimonial meramente potencial, possível de ser efetivado apenas se, e quando, o bem recebido em permuta for alienado por preço maior do que o custo, pois a incidência tributária pressupõe a realização do ganho. Sustenta que, para o permutante, o bem recebido tem o mesmo custo do bem dado. Assim, caso o bem recebido tenha valor de mercado maior do que o bem dado, somente seria possível a tributação no momento em que o ganho potencial se concretizasse em ganho efetivo pela alienação do bem. Assim, no seu entendimento, qualquer tentativa de tributação anterior à realização da renda consistiria em afronta ao princípio da capacidade contributiva, na medida em que se exigiria que o contribuinte se desfizesse de seu patrimônio para arcar com o ônus do tributo. A impugnante alega que, na incorporação de ações, há uma simples troca de ações da sociedade “incorporada” por ações emitidas pela sociedade “incorporadora”, como ocorre na permuta. Argumenta que, caso as ações incorporadas tenham custo inferior ao das ações recebidas em substituição, o ganho do acionista é meramente potencial. Acrescenta que pode haver ganho tributável apenas se, e quando, houver uma alienação das ações recebidas por preço maior do que o custo. No caso em comento, alega que, na incorporação de ações realizada em 29/08/2008, as ações da impugnante recebidas pela Sterrebeeck em troca das ações do Banco Real e do AAB Dois Par foram registradas no Sisbacen como “permuta de ações / quotas”, sem nenhuma alteração de valor, conforme impressões de tela do Sisbacen (fls. 18.763 e 18.764). Fl. 19304DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.291 21 Sustenta que, em relação à Sterrebeeck, não houve nenhuma alteração patrimonial, pois as ações da “incorporadora” foram recebidas pelo mesmo valor das ações das sociedades “incorporadas”. Acrescenta que a tributação dependeria de posterior realização do ganho, por meio de alienação das ações por valor superior ao custo. Ressalta que a ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional – PGFN manifestou entendimento de que as operações de permuta não geram ganhos de capital sujeitos à tributação pelo imposto de renda, conforme se verifica nos Pareceres PGFN nº 970/91 e nº 454/92. A impugnante cita o Parecer Normativo CST nº 504/71, que trata da tributação de permuta de ações, segundo o qual: “2. Para as pessoas físicas residentes no País, a permuta de ações, desde que não efetivada com a própria sociedade emitente, não ocasiona fato gerador do imposto sobre a renda, eis que o eventual acréscimo à riqueza pessoal constituirá maisvalia patrimonial, não alcançada pela tributação (vide Parecer Normativo CST nº 232/71).” Ressalta que, em decisão recente sobre o tema, proferida em 20/02/2013, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF reconheceu a inexistência de fato gerador de ganho de capital na operação de incorporação de ações (acórdão nº 2202002187). Ante o exposto, requer o cancelamento do auto de infração, visto que não foi realizado nenhum ganho de capital pela Sterrebeeck com a incorporação de ações detidas no Banco Real e no AAB Dois Par pela impugnante, uma vez que esse negócio jurídico possui efeitos correspondentes aos de uma operação de permuta sem torna, na qual nenhum ganho de capital é realizado. 2.3.3 Da não ocorrência do fato gerador do IRRF A impugnante alega que o fato gerador do IRRF é o pagamento, crédito, entrega, emprego ou remessa do ganho de capital ao não residente, conforme previsto no art. 685 do RIR/99: “Art. 685. Os rendimentos, ganhos de capital e demais proventos pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, por fonte situada no País, a pessoa física ou jurídica residente no exterior, estão sujeitos à incidência na fonte (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 100, Lei nº 3.470, de 1958, art. 77, Lei nº 9.249, de 1995, art. 23, e Lei nº 9.779, de 1999, arts. 7º e 8º): I à alíquota de quinze por cento, quando não tiverem tributação específica neste Capítulo, inclusive: (...) b) os ganhos de capital auferidos na alienação de bens ou direitos;” Fl. 19305DF CARF MF 22 Sustenta que, além de não ter havido ganho de capital no presente caso, conforme anteriormente demonstrado, também não houve nenhum pagamento, crédito, entrega, emprego ou remessa de quaisquer valores ao não residente que pudesse ensejar a incidência do IRRF. Acrescenta que o IRRF sobre ganhos auferidos por não residente incide somente no momento da efetiva disponibilização dos ganhos, o que não ocorreu no presente caso. Assim, também por essa razão, alega ser improcedente o auto de infração. 2.3.4. Da potencial dupla tributação sobre o ganho de capital Conforme já relatado, a impugnante alega que, somente na alienação das ações recebidas pela Sterrebeeck na incorporação de ações, poderia ser apurado ganho de capital tributável pelo imposto de renda. Ressalta que, antes disso, a eventual mais valia verificada na incorporação de ações não gera nenhum efeito tributário, visto que não foi realizada. Sustenta que a fiscalização calculou o ganho de capital como sendo a diferença positiva entre o valor das ações da impugnante recebidas pela Sterrebeeck e os custos de aquisição das ações do Banco Real e do AAB Dois Par. Ressalta a impugnante que a Receita Federal, por meio da Instrução Normativa RFB nº 1.022/2010, regulamentou o procedimento a ser adotado pelos acionistas na hipótese de substituição de ações em razão de incorporação, fusão ou cisão, determinando o ajuste do custo de aquisição das ações de acordo com a relação de substituição fixada pela assembleia que aprovou a operação. Argumenta que, em eventual futura alienação das ações da impugnante recebidas pela Sterrebeeck, os custos de aquisição serão os mesmos que serviram de base para a lavratura do auto de infração, o que implica a dupla tributação sobre o mesmo montante, situação vedada no ordenamento jurídico pátrio. Assim, também por essa razão, requer o cancelamento do auto de infração. 2.3.5. Da inaplicabilidade do artigo 23 da Lei nº 9.249/95 ao caso concreto A impugnante também alega ser inaplicável ao caso o disposto no art. 23 da Lei nº 9.249/95, que trata da integralização de capital por pessoas físicas em bens e direitos, visto que a incorporação de ações e a integralização de capital com bens não têm a mesma natureza jurídica, conforme já demonstrado. Além disso, alega que referido dispositivo legal trata apenas da integralização de capital em bens feita por pessoas físicas, não se aplicando à pessoa jurídica domiciliada no exterior. A impugnante alega que o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento dos embargos declaratórios no REsp nº 102.7799CE Fl. 19306DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.292 23 se pronunciou no sentido de que a integralização de capital com bens não implica apuração de ganho de capital para o acionista. Ante o exposto, requer seja afastada a aplicação do art. 23 da Lei nº 9.249/95. 2.4. Da não apuração de ganho de capital tributável pela Sterrebeeck em razão da manutenção do custo Sem prejuízo de tudo o que já foi exposto, a impugnante alega que não houve ganho de capital no presente caso, visto que não houve alteração no custo do investimento da Sterrebeeck no Brasil, considerado antes e depois da incorporação de ações, conforme registrado perante o Banco Central do Brasil – Bacen que instituiu, por meio de seu art. 3º, o registro de operações financeiras com o exterior, no qual são registradas, dentre outras operações, as de investimentos diretos em pessoas jurídicas sediadas no País. Argumenta que o registro não é apenas formal, pois importa em obrigação perante a autoridade cambial do Brasil, e também confere direitos subjetivos às pessoas a que se refere, no caso, aos investidores estrangeiros. Alega que é o registro no Sisbacen que comprova o custo do investimento, como regra, visto que é efetuado pelo único órgão governamental competente (art. 3º da Lei nº 4.131/62), devendo ser feito à luz do montante da moeda estrangeira efetivamente ingressado no País (art. 4º da Lei nº 4.131/62). A impugnante alega que, se o investidor não residente no País vender o investimento no Brasil para outra pessoa também não residente, por valor maior do que o registrado no Bacen, o que se dá é a manutenção da mesma base de cálculo para futura apuração de ganho de capital, com a postergação da tributação para o momento em que o ganho, se vier a ocorrer, se tornar efetivamente realizado. E essa consequência atinge o novo investidor, que paga mais, porém, fica com o custo menor. Argumenta que foi justamente isso que ocorreu no presente caso. No caso concreto, alega que são idênticos os valores registrados no Sisbacen antes da incorporação de ações (no Banco Real e no AAB Dois Par) e depois desta (na impugnante), havendo simples alteração na titularidade das pessoas jurídicas receptoras do investimento, conforme telas de impressão do Sisbacen constantes de fls. 18.786 a 18.789. A impugnante alega que referidas telas de impressão mostram que o investimento na impugnante registrado em dólares totaliza USD 3.244.891.412,42, valor equivalente à soma dos investimentos em dólares anteriormente detidos pela Sterrebeeck no Banco Real (USD 3.160.007.135,61) e no AAB Dois Par (USD 82.826.241,13). Logo, conclui que não houve nenhum ganho para a Sterrebeeck, mas simplesmente a troca das ações do Banco Real e do AAB Dois Par pelas ações da impugnante, pelo mesmo valor. Fl. 19307DF CARF MF 24 A impugnante alega que os registros contábeis da Sterrebeeck também evidenciam a inexistência de ganho, pois os valores lançados, antes e depois da incorporação de ações, permaneceram exatamente os mesmos. Argumenta que, analisandose os registros contábeis da Sterrebeeck, verificase que o montante contabilizado em razão da aquisição das participações no Banco Real e no AAB Dois Par (antes da incorporação de ações) é equivalente ao quanto passou a ser registrado como participação na impugnante (após a incorporação de ações). Alega que a Sterrebeeck recebeu as ações do Banco Real e do AAB Dois Par pelo valor contábil, em razão da incorporação da parcela cindida do ABN AMRO Bank, tendo contabilizado, na ocasião, o montante total de €5.121.341.00,00 (€4.639.509.000,00 pelo Banco Real e €481.832.000,00 pelo AAB Dois Par), conforme se verifica no relatório anual de 2008 da Sterrebeeck (fls. 18.790). Argumenta que as ações da impugnante recebidas pela Sterrebeeck foram por ela contabilizadas com o mesmo custo de aquisição de €5.121.344.216,00, de acordo com o relatório anual de 2009 (fls. 18.791). Assim, conclui a impugnante que, sendo o valor de alienação equivalente ao custo de aquisição, não há ganho de capital no caso concreto, ainda que se considere que a incorporação de ações implica tributação de ganho de capital. Ad argumentandum, ainda que se analise a questão sob a perspectiva do valor de mercado das ações do Banco Real e do AAB Dois Par, sustenta que não há ganho de capital. Ressalta que o investimento total do Banco Santander Espanha na RFS Holdings foi de mais de €21.000.000.000,00 dos quais aproximadamente €15.000.000.000,00 equivaliam ao valor de mercado do Banco Real e do AAB Dois Par, obtido mediante laudo de avaliação e utilizado para fins de integralização do aumento de capital da impugnante decorrente da incorporação de ações (R$38.020.752.911,73). Argumenta, que o valor pelo qual as ações do Banco Real e do AAB Dois Par foram entregues à impugnante corresponde ao valor de mercado dessas mesmas ações, obtido em transação realizada entre partes absolutamente independentes (oferta pública de aquisição de ações da ABN AMRO Holding pela RFS Holdings). Conclui, assim, que a Sterrebeeck não apurou ganho de capital tributável, visto que as ações incorporadas pela impugnante foram consideradas pelo seu valor de aquisição, na operação que efetivamente ensejou a transferência da titularidade do Banco Real e do AAB Dois Par para o Banco Santander Espanha, qual seja, a oferta pública de ações ocorrida em 2007. Por todo o exposto, requer o cancelamento do auto de infração. 2.5. Da ausência de responsabilidade por parte da impugnante Ad argumentandum, caso se entenda pela existência de ganho de Fl. 19308DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.293 25 capital tributável, alega a impugnante que o imposto de renda supostamente devido só poderia ser exigido da contribuinte, no caso a Sterrebeeck, sendo indevida a atribuição de responsabilidade à impugnante. Alega que o art. 45 do CTN estabelece que o contribuinte do imposto de renda é o titular da disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou do provento tributável. Acrescenta que tal dispositivo decorre do princípio da capacidade contributiva, pois o imposto de renda somente pode ser exigido daquele que efetivamente auferiu renda e obteve acréscimo patrimonial. A impugnante sustenta que o art. 128 do CTN estabelece que a responsabilidade só pode ser atribuída a terceira pessoa vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação: “Art. 128 Sem prejuízo do disposto neste Capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindoa a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.” Sustenta que a obrigação de dar é do contribuinte, que deve suportar o ônus do tributo. Acrescenta que somente a obrigação de fazer, ou seja, de entregar o dinheiro aos cofres públicos, pode ser transferida para um terceiro. Argumenta que a responsabilidade de terceiro pela retenção e recolhimento do tributo pressupõe disponibilidade do montante em dinheiro a ser retido e recolhido, única forma de se assegurar que o responsável pelo pagamento do tributo não desembolse seu próprio capital para pagar tributo devido por outra pessoa. Alega que a atribuição de responsabilidade a uma terceira pessoa que não possa reter financeiramente a quantia despendida acarretará uma injustificável diminuição do patrimônio de terceiro que não manifestou capacidade contributiva, importando na exigência de um verdadeiro tributo novo não previsto em lei. A impugnante sustenta que o art. 26 da Lei nº 10.833/2003, abaixo reproduzido, apenas pode ser aplicado aos casos em que houver ganho de capital decorrente da alienação de bens com pagamento em dinheiro passível de retenção na fonte. “Art. 26. O adquirente, pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, ou o procurador, quando o adquirente for residente ou domiciliado no exterior, fica responsável pela retenção e recolhimento do imposto de renda incidente sobre o ganho de capital a que se refere o art. 18 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, auferido por pessoa física ou jurídica Fl. 19309DF CARF MF 26 residente ou domiciliada no exterior que alienar bens localizados no Brasil.” Ressalta que, no presente caso, a fiscalização considerou como sendo tributável o ganho de capital auferido pela Sterrebeeck na incorporação de ações do Banco Real e do AAB Dois Par ao patrimônio da impugnante. Argumenta que não houve pagamento na referida operação, mas apenas substituição de ações, não havendo possibilidade de retenção de imposto. Alega que exigir que a impugnante pague, utilizando seus próprios recursos e sem qualquer possibilidade de retenção ou reembolso, o imposto devido pela Sterrebeeck implica a transferência do ônus financeiro a quem não é contribuinte do tributo, o que representa subversão de todos os princípios que devem reger a ordem tributária em um Estado de Direito. Ante o exposto, requer o cancelamento da autuação. 2.6. Do indevido reajustamento da base de cálculo Ad argumentandum, caso se entenda pela manutenção da exigência do IRRF em comento, alega a impugnante ser indevido o reajustamento da base de cálculo (Gross up) promovido pela fiscalização nos termos do art. 725 do RIR/99: “Art.725. Quando a fonte pagadora assumir o ônus do imposto devido pelo beneficiário, a importância paga, creditada, empregada, remetida ou entregue, será considerada líquida, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto, sobre o qual recairá o imposto, ressalvadas as hipóteses a que se referem os arts. 677 e 703, parágrafo único (Lei nº 4.154, de 1962, art. 5º, e Lei nº 8.981, de 1995, art. 63, §2º).” Alega que o Gross up somente pode ser efetuado quando a fonte pagadora assume o ônus do imposto devido pelo beneficiário, o que não ocorreu no presente caso. Ressalta que, em nenhum momento, assumiu qualquer ônus pelo imposto de renda supostamente devido pela Sterrebeeck. Conclui ser indevido o reajustamento da base de cálculo realizado pela fiscalização, o que torna o auto de infração nulo pela falta dos requisitos de liquidez e certeza. Alega que a certeza em relação ao montante exigido é intrínseca ao lançamento tributário, a teor do disposto no art. 142 do CTN, nos artigos 10 e 11 do Decreto nº 70.235/72. Assim, requer seja declarada a nulidade do auto de infração por falta de liquidez e certeza. 2.7. Da inexigibilidade de multa e juros Ad argumentandum, ainda que se entenda pela manutenção da exigência de IRRF, alega a impugnante que deveria, ao menos, ser cancelada a exigência de multa de ofício e de juros de mora, nos termos do parágrafo único do art. 100 do CTN. Fl. 19310DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.294 27 Alega que agiu de acordo com as orientações do Fisco constantes de pareceres normativos que tratavam de temas semelhantes ao caso concreto, bem como seguiu os critérios estabelecidos no art. 690 do RIR/99 e no art. 26 da Instrução Normativa SRF nº 208/2002. Argumenta que o próprio Fisco reconheceu, nos referidos atos normativos, que a quantificação de eventual ganho deveria ocorrer ou com base no valor do registro de investimento estrangeiro no Bacen, ou com base em documentação hábil e idônea (balanços da Sterrebeeck). No caso, alega que ambos os documentos provam a inexistência de ganho de capital, o que demonstra que a impugnante agiu em estrita observância das normas complementares da legislação tributária, devendo ser aplicado o disposto no parágrafo único do art. 100 do CTN, com a consequente exoneração da multa de ofício e dos juros moratórios. 2.8. Da ilegalidade da cobrança de juros sobre a multa Ad argumentandum, ainda que se entenda pela manutenção do lançamento, alega a impugnante que os juros calculados com base na taxa Selic não podem ser exigidos em relação à multa de ofício, por ausência de previsão legal. Argumenta que o art. 13 da Lei nº 9.065/95, que prevê a cobrança de juros moratórios com base na taxa Selic, remete ao art. 84 da Lei nº 8.981/95 que, por sua vez, estabelece a cobrança de tais acréscimos apenas sobre os tributos. Ressalta que multa é penalidade pecuniária, estando excluída do conceito de tributo previsto no art. 3º do CTN, pois tem natureza sancionatória. Ressalta que o art. 113, §1º, do CTN também diferencia tributo de penalidade pecuniária. Assim, a impugnante conclui que a cobrança de juros sobre a multa desrespeita o princípio da legalidade, previsto nos artigos 5º, II, e 37 da Constituição Federal, devendo ser cancelada sua cobrança. 2.9. Síntese conclusiva A impugnante assim sintetiza os argumentos apresentados em sua impugnação: “8. SÍNTESE CONCLUSIVA Em face de todo o exposto, podese concluir o seguinte: O único evento que poderia ter sido considerado pelo Sr. Agente Fiscal para tributação de ganho de capital consiste na aquisição, pela RFS (representante do consórcio), das ações da ABN Holding, detidas pelos acionistas do Grupo ABN, mediante oferta pública liquidada em 1º/11/2007. Tal evento, porém, não é passível de tributação no Brasil, tendo em vista tratarse de negociação de bem localizado no Fl. 19311DF CARF MF 28 exterior (participação societária na ABN Holanda), entre partes não residentes (RFS e acionistas do Grupo ABN). Ainda que se alegue que, em tal momento, houve a aquisição de bens localizados no Brasil (ações do Banco Real e AAB Dois Par), fato é que o contribuinte não seria a Sterrebeeck (eleita pelo Sr. Agente Fiscal como tal), mas sim a adquirente, RFS (sociedade holandesa), de forma que o Impugnante foi indevidamente apontado como responsável tributário. A operação de incorporação de ações gera efeitos tributários diferenciados para as companhias incorporadora e incorporada e para os acionistas da incorporada; estes últimos tem suas ações substituídas, em verdadeira subrogação real. A tributação da operação de incorporação de ações é ilegal, uma vez que não há, na legislação tributária, qualquer norma que atribua efeitos fiscais para tal ato jurídico. A subrogação real ocorrida no presente caso possui efeitos típicos de uma permuta, em que não se verifica a realização de qualquer ganho, como reconhecem a doutrina e a jurisprudência, não havendo, portanto, que se falar na apuração de ganho de capital; Não ocorreu o fato gerador do IRRF (pagamento, crédito, entrega, emprego ou remessa de ganhos de capital a residentes no exterior). A tributação, no caso concreto, somente poderá ocorrer quando da alienação, pela Sterrebeeck, das ações do Impugnante recebidas na incorporação de ações, o que acaba por resultar em duplicidade de tributação sobre os mesmos valores. O artigo 23 da Lei n° 9.249/95 não se aplica ao caso concreto, já que não se trata de operação de integralização de capital e, ademais, ele sequer tratou de não residentes. Seja pelas demonstrações contábeis da Sterrebeeck, seja pelos registros de capital estrangeiro no Bacen, notase que as ações do Impugnante foram recebidas pelo mesmo custo das ações incorporadas (Banco Real e AAB Dois Par), o que demonstra a ausência de ganho de capital. A responsabilidade pela retenção e recolhimento do IRRF não pode ser atribuída a uma terceira pessoa em situação na qual não seja possível reter financeiramente a quantia despendida, tal como é o caso do Impugnante face à incorporação de ações do Banco Real e do AAB Dois Par. É indevido o reajustamento da base de cálculo realizado pelo Sr. Agente Fiscal, uma vez que o Impugnante não assumiu expressamente o ônus financeiro do tributo que sequer entendia como devido. Tal procedimento representa uma ampliação da base de cálculo para montante superior, inclusive, àquele apurado em laudo de avaliação. Na medida em que o Impugnante observou estritamente as normas complementares da legislação tributária, devem ser Fl. 19312DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.295 29 cancelados, ao menos, a multa de ofício e os juros, nos termos do artigo 100 do Código Tributário Nacional. Por ausência de previsão legal e por não integrar o montante do tributo, não se pode admitir a incidência dos juros de mora sobre a multa.” 2.10. Do pedido Por todo o exposto, a impugnante requer o recebimento, o conhecimento e o provimento da impugnação, com a consequente desconstituição dos créditos tributários exigidos e o cancelamento integral do auto de infração. 2.11. Dos documentos juntados à impugnação Foram juntadas cópias dos seguintes documentos à impugnação: Doc. 1 documento de identidade dos advogados que subscrevem a impugnação, procuração, substabelecimento, atos societários; Doc. 2 auto de infração; Doc. 3 termo de verificação fiscal; Doc. 4 tradução juramentada de demonstrações financeiras de 2008 da pessoa jurídica Sterrebeeck B.V; Doc. 5 parecer elaborado por advogado acerca da autuação de que trata o presente processo administrativo; Doc. 6 telas de consulta ao sistema Sisbacen referentes à incorporação de ações; Doc. 7 consulta ao sistema Sisbacen sobre os registros do investimento estrangeiro da Sterrebeeck; Doc. 8 – atas relativas à incorporação de ações da AAAM DTVM pela impugnante em 14/08/2009; Doc. 9 – relatório anual de 2009 da Sterrebeeck B.V., redigido em inglês." Ao julgar a impugnação, os membros da 10ª Turma de Julgamento, por unanimidade de votos, firmaram entendimento quanto a improcedência da impugnação, mantendo o crédito tributário exigido em sua totalidade. Essencialmente, conforme ementa, os fundamentos adotado pela Delegacia de Julgamento foram: INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. GANHO DE CAPITAL. Na operação de incorporação de ações, a transferência das ações da companhia incorporada para o patrimônio da companhia incorporadora caracteriza alienação, cujo valor, se superior ao custo de aquisição, é tributável, pela diferença a maior, como Fl. 19313DF CARF MF 30 ganho de capital para os acionistas da companhia cujas ações são incorporadas. GANHO DE CAPITAL AUFERIDO POR RESIDENTE NO EXTERIOR NA ALIENAÇÃO DE BENS LOCALIZADOS NO BRASIL. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE. O adquirente, pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, fica responsável pela retenção e recolhimento do imposto de renda incidente sobre o ganho de capital auferido por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior que alienar bens localizados no Brasil. IRRF. REAJUSTAMENTO DO RENDIMENTO BRUTO. RENDA DE NÃO RESIDENTE. ASSUNÇÃO DO ÔNUS PELA FONTE PAGADORA. Quando a fonte paga rendimentos a domiciliado no exterior sem o desconto do imposto devido pelo beneficiário, qualquer que seja a razão, deverá recolher o tributo devido com a base de cálculo reajustada, eis que, para todos os efeitos legais, considerase assumido o ônus do tributo devido. MULTA DE OFÍCIO E JUROS DE MORA. ART. 100, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN. A exclusão de penalidades e de juros moratórios prevista no parágrafo único do art. 100 do Código Tributário Nacional pressupõe a observância das normas complementares discriminadas nos incisos I a IV do referido dispositivo. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. Sendo a multa de ofício classificada como débito para com a União, decorrente de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, é regular a incidência dos juros de mora calculados pela taxa Selic, a partir de seu vencimento. O autuado contesta o resultado do Acordam a quo interpondo Recurso Voluntário com os seguintes argumentos: DA AUTUAÇÃO. Apresenta breve retrospectiva dos elementos da autuação , dando ênfase a fundamentação jurídica para inclusão do Recorrente como responsável tributário, segunda registra, entendeu o agente fiscal com lastro no Art. 26 da Lei nº 10.833/03 que seria o caso de atribuição de responsabilidade ao Recorrente pelo recolhimento de IRRF incidente sobre o suposto ganho de capital auferido pela sociedade holandesa Sterrebeeck B.V. em razão da incorporação de ações das sociedades brasileiras (então detidas pela sociedade não residente) Banco ABN AMRO Real S.A. (Banco Real) e ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. em 29/08/2008. DOS FATOS. Reitera o objeto da demanda, tributar o ganho de capital oriundo das incorporações das ações do Banco ABN AMRO Real S.A. e AAB Dois Par por sociedade estrangeira, no entanto nega a ocorrência de tal fato. Fl. 19314DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.296 31 Relata que os fatos oriundos da operação sob outra perspectiva, indicando que a operação de incorporação de ações consolidase em 29/08/2008, contudo, este ato é decorrência de uma série de outros iniciados em 2007 no exterior, com a aquisição das unidades de negócios do Grupo AMRO por um consórcio integrado pelo Banco Santander Espanha. A respeito de tal operação, passa a ressaltar três principais momentos a serem considerados quanto a análise do alegado fato gerador da obrigação em lide: I Aquisição da ABN AMRO Holding N.V. por consorcio em oferta pública (inicio em 28/05/2007); II reestruturação societária para segregação dos ativos e unidades de negócios da ABN Holding entre os membros do consórcio, conforme previamente estabelecido em contrato (inicio em 28/04/2008); III consolidação dos negócios do Banco Santander Espanha no Brasil, mediante incorporação das ações do Banco Real e do AAB Dois Par pelo Recorrente. Em seguida passa a apresentar cada uma dessas fases em detalhes com gráficos e planilhas demonstrando as mutações estruturais e de valores ocorridas e indicando que a avaliação econômicofinanceira das ações incorporadas pelo Recorrente foi realizada por empresa especializada independente a KPMG Corporate Finance Ltda. com base no fluxo de caixa descontado. O valor atribuído é equivalente aos preços de aquisição indireta das ações do ABN Real realizada entre partes independentes numa transação contemporânea (oferta pública de aquisição). Portanto o valor atribuído reflete o efetivo custo de aquisição das referidas ações. Indica que para fins de concretização da incorporação de ações o capital do Banco Santander Brasil S.A. foi aumentado em R$ 38.020.752.911,73 passando para R$ 47.152.201.161,58. O valor gerado de aumento de capital em razão da incorporação das ações do Banco Real foi de R$ 36.290.528.512,98 enquanto que as ações da AAB Dois Par implementaram R$ 1.730.224.398,75 ao capital do Recorrente. Alega que toda a operação realizada foi motivada por interesses econômicos diversos da obtenção de benefícios fiscais sendo tal obtenção uma consequência da operação de aquisição da ABN Holding DAS PRELIMINARES. 1. DA INCORRETA CONSIDERAÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES COMO EVENTO TRIBUTÁVEL. Indica a alienação da ABN Holding para o referido consórcio adquirente como único evento passível de análise para verificação da incidência de imposto de renda por ganho de capital. Indica a alienação da ABN Holding para o referido consórcio adquirente como único evento passível de análise para verificação da incidência de imposto de renda por ganho de capital. Aponta que a alienação realizada em 1º/11/2007 seria a operação cuja análise interessaria para os fins tributários, uma vez que a incorporação agora realizada não teria Fl. 19315DF CARF MF 32 nenhum efeito fiscal, de modo que a negociação dos ativos em questão teria se dado em data anterior. Na fase atual, o que teria ocorrido seria apenas a separação das unidades de negócios , de acordo com o que fora previamente negociado, não havendo, na incorporação de ações, qualquer operação com valor superior ao da aquisição, o que não teria acarretado, portanto, aumento patrimonial. Desse modo, argumenta que o objeto da alienação não constitui bem localizado no Brasil, de tal forma, não haveria possibilidade de tributação no Brasil e, se superada tal tese, terseia que, se se desconsiderasse a venda de participação societário no exterior, para que se entenda que o Banco Real e o AAB Dois Par foram adquiridos pela RFS, o banco recorrente não deveria ser o sujeito passivo da presente demanda e, ainda, estaria decaído o direito da Fazenda de tributar. 1.1. DA INEXISTÊNCIA DE GANHO DE CAPITAL TRIBUTÁVEL NO BRASIL – AQUISIÇÃO DE BENS LOCALIZADOS NO EXTERIOR. Alinhava neste tópico que, conforme explicitado pela dogmática de Alberto Xavier, farseia necessário que fonte de produção e fonte de pagamento estivessem localizadas no Brasil, o que não seria o caso em comento, uma vez que tanto a fonte de produção (ABN Holding) quanto a fonte de pagamento (RFS), encontramse no exterior, e não teria havido sequer procurador no País, fazendo com que o Auto de Infração não desse pé à legislação. Ou seja: não estariam os elementos exigidos pelos art. 682, inc. I e art. 685 do Regulamento de Imposto de Renda – RIR 3.000/99. Portanto, em se tratando de alienação de bens fora do Brasil, a saber, as participações no banco Real e no AAB Dois Par, não haveria que se falar em tributação pela Fazenda Nacional. Mesmo porque, a operação de incorporação de ações de pessoas jurídicas brasileiras que integram o ativo da pessoa jurídica a que as ações alienadas se referem não teria gerado qualquer ganho, apenas a transferência igualitária das ações, posto que a alienação das ações teria ocorrido exclusivamente no exterior, por emissão da ABN Holding. Advoga no sentido de que o consórcio do qual participava o Banco Santander Espanha foi montado para aquisição da ABN Holding, não podendo se falar em aquisição direta do Banco Real e do AAB Dois Par, uma vez que houve a compra de uma holding que encampava os investimentos do Grupo ABN. Afia, nesse passo, que somente nesse momento poderia se falar em ganho de capital, todavia, como tal ação fora realizada fora do país, tal tributação não seria de competência da Fazenda brasileira e, por isso, o i. Fiscal teria deixado de abalizar tal situação. Em tal ponto, aponta que o ativo adquirido na oferta pública foi a holding holandesa (detentora de diversos ativos) e, por isso, como já esposado, não poderia se consubstanciar exigência de tributos. 1.2. AD ARGUMENTANDUM: AQUISIÇÃO DE BENS LOCALIZADOS NO BRASIL E ILEGITIMIDADE PASSIVA DO RECORRENTE. Nesse tópico, ad argumentandum tantum, aponta o banco recorrente que, por mais que tenha ocorrido aquisição indireta de bens, na medida em que a ABN Holding foi adquirida, não há que se falar em tributação. Fl. 19316DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.297 33 Isso porque, se houve eventual ganho de capital tributável no Brasil, decorrente das negociações firmadas, e pela compra das ações do Banco Real e AAB Dois Par, não teria sido auferido pela Sterrebeeck, mas, sim, pelos acionistas do Grupo ABN, alienantes das participações societárias, na oferta pública de aquisição realizada em 2007. Aponta, às fls. 19096: “É incorreta, portanto, a identificação da Sterrebeeck como contribuinte do IRRF sobre o suposto ganho de capital auferido: considerandose que a alienação que poderia ensejar a tributação do ganho de capital pelo imposto de renda ocorreu em 2007, envolvendo os acionistas do Grupo ABN e a RFS (consórcio), não pode prosperar qualquer menção à Sterrebeeck, já que esta empresa não participou da referida operação e, consequentemente, não auferiu qualquer ganho." E prossegue: “Isso porque, ainda que se considerasse que a venda teria sido dos bens situados no Brasil (banco Real e AAB Dois Par), fato é que o adquirente – RFS – está localizado no exterior e, assim sendo, a hipótese de responsabilidade pela retenção e recolhimento do tributo caberia ao seu procurador, uma vez que seria caso de alienação de bem, no Brasil, com alienante e adquirente não residentes. É o que dispõe o já citado artigo 26 da Lei nº 10.833/03: ‘Art. 26. O adquirente, pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no brasil, ou o procurador, quando o adquirente for residente ou domiciliado no exterior, fica responsável pela retenção e recolhimento do imposto de renda incidente sobre o ganho de capital a que se refere o art. 18 da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, auferido por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior que alienar bens localizados no Brasil.’” Sob tais argumentos, argui a ilegitimidade passiva do presente lançamento, afiando que há nulidade absoluta do lançamento, eis que, tal como preceitua os artigos 10 e 11 do Decreto 70.235 de 1972, bem como artigos 245, 267, inc. IV e §3º, do Código de Processo Civil, a legitimidade é requisito essencial do procedimento fiscal. Ainda em tal tópico, retoma o que anteriormente esposado, de modo que “eventual ganho apurado em 2007 não poderia ser objeto de lançamento de ofício em 2013, por já terem decorrido mais de cinco anos entre a data do suposto fato gerador do tributo e a data do lançamento”. Propugna, portanto, que houve decadência do direito Fazendário de exigir qualquer tributo sobre eventual ganho de capital auferido pelos acionistas do Grupo ABN na alienação do Banco real e do AAB Dois Par. Expressa, às fls. 19098: “Assim sendo, verificase que, ainda que se pudesse alegar que se está, no caso concreto, diante de ganho de capital decorrente Fl. 19317DF CARF MF 34 de venda de ativos no Brasil (participações societárias no banco Real e na AAB Dois Par), também não haveria que se falar em possibilidade de lançamento em face do ora recorrente, em razão (i) do erro na identificação do contribuinte (Sterrebeeck) e, também, do sujeito passivo por responsabilidade (Recorrente); e (ii) da decadência do crédito tributário, haja vista que o fato gerador ocorreu em 2007. Por tais motivos requerse a esse E. Conselho que declare a nulidade do auto de infração lavrado, desconstituindose o crédito tributário exigido no presente processo administrativo.” Nesse passo, a Impugnação protocolada, teria seguido caminho totalmente oposto ao que decidido pela d. DRJSP, apontando como certo que não teria havido ganho de capital da Sterrebeeck em relação ao custo de aquisição incorrido nos atos anteriores (fls. 1909). E, assim, não poderia ser o Recorrente responsabilizado por qualquer imposto que eventualmente tenha sido devido no evento em que pode ter havido ganho de capital, resultando na nulidade do auto, além de ter ocorrido, a seu ver, decadência do direito de qualquer lançamento sobre tal evento. 2. DA NÃO TRIBUTAÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. 2.1. NATUREZA JURÍDICA DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. Em tal subdivisão, explicita o Recorrente que, no Brasil, a incorporação de ações passou a ser expressamente regida como figura jurídica específica (ato jurídico típico, ou nominado), com efeitos jurídicos próprios, pelo artigo 252 da Lei nº 6.404/76, e suas alterações posteriores, conhecida como Lei das Sociedades por Ações (LSA). Às fls. 19.100 colacionou tal artigo: “Art. 252. A incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertêla em subsidiária integral, será submetida à deliberação da assembléiageral das duas companhias mediante protocolo e justificação, nos termos dos artigos 224 e 225. § 1º A assembléiageral da companhia incorporadora, se aprovar a operação, deverá autorizar o aumento do capital, a ser realizado com as ações a serem incorporadas e nomear os peritos que as avaliarão; os acionistas não terão direito de preferência para subscrever o aumento de capital, mas os dissidentes poderão retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230 § 2º A assembleiageral da companhia cujas ações houverem de ser incorporadas somente poderá aprovar a operação pelo voto de metade, no mínimo, das ações com direito a voto, e se a aprovar, autorizará a diretoria a subscrever o aumento do capital da incorporadora, por conta dos seus acionistas; os dissidentes da deliberação terão direito de retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230. § 3º Aprovado o laudo de avaliação pela assembleiageral da incorporadora, efetivarseá a incorporação e os titulares das ações incorporadas receberão diretamente da incorporadora as ações que lhes couberem." Em tais termos, e na dogmática de Nelson Eizirik, “se procede a uma modalidade de concentração empresarial em que se mantem a personalidade jurídica da Fl. 19318DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.298 35 companhia cujas ações são incorporadas, passando ela, porém a ter apenas um acionista”. (fls. 19.101) Com tal premissa assentada, descreve que, assim como determina a Lei acima transcrita, a incorporação de ações, tal como a incorporação de sociedades, iniciarseia pela aprovação de protocolo pelas assembleias gerais da sociedade incorporadora e da sociedade que terá suas ações incorporadas. Desse modo, a assembleia geral da incorporadora teria que aceitar o aumento de capital, a assembleia geral da incorporada teria de autorizar a subscrição do aumento de capital e, após avaliações técnicas feitas a partir de laudos, e a aprovação dos mesmos, os titulares das ações incorporadas receberiam as novas ações de emissão da incorporadora em substituição ás ações incorporadas – que passariam a ser de titularidade da incorporadora), em quantidade convencionada em protocolo. Tal condição teria o nome de “relação de troca”. Assim, a incorporação de ações seria apenas uma modalidade de concentração empresarial, com natureza pública distinta da incorporação de sociedades, bem como que se diferenciaria de mera integralização de capital com bens em simples aumento de capital. Defende haver diferença entre tais atos, uma vez que, ainda que haja aumento de haja aumento de capital na incorporação de ações, a partir da integralização em bens vindos para seu patrimônio, eles conservam suas identidades distintas, sendo que, na incorporação de ações “a causa é aquisição do controle total de outra companhia para tornála subsidiária integral da adquirente, sem extinguila e sem se dar sucessão universal” (fls. 19.103). A d. DRJ teria, nesse passo, confundido tais institutos, sendo a incorporação de ações e o aumento de capital totalmente díspares e dessemelhantes a seu ver, por assim determinar a Lei. Às fls. 1904 indigita: “E há mais uma diferença que precisa ser apresentada em destaque, pela sua importância ao ser enfrentado o problema tributário. No aumento de capital puro e simples, há subscrição individual de ações com a conferencia, por cada subscritor, de dinheiro ou bens em integralização das ações com a conferência, por cada subscritor, de dinheiro ou bens em integralização das ações que subscreve, ao passo que na incorporação de ações a subscrição do aumento de capital da incorporadora é feita pela diretoria da outra companhia em nome de todos seus acionistas, e a respectiva “integralização” é feita por incorporação da totalidade das ações desta companhia. Adianta serão tratados os aspectos em torno da manifestação de vontade e da alienação no ato de incorporação de ações, amas aqui o Recorrente destaca esta diferença essencial, consistente em que no aumento de capital com integralização mediante entrega de ações ou outros bens, estes passam para a pessoa jurídica que aumentou seu capital para que cada ação deste, subscrita individualmente pelo acionista, seja integralizada com as ações conferidas por ele em ato pessoal de disposição do seu patrimônio individual, ao passo que na incorporação de ações, a incorporadora incorpora todas as ações (todas, sem exceção) a ela transferidas pela emitente Fl. 19319DF CARF MF 36 destas para que esta pessoa jurídica emitente se torne subsidiária integral daquela que quer ser incorporada.” (g.o.) 2.1.1. INCORPORAÇÃO DE AÇÕES E INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADES: DIFERNÇAS E SEMELHANÇAS. Sob tal matéria, aponta o Banco apelante que se a própria Lei, em seus arts. 252, 224 e 225 diferencia a incorporação de ações de incorporação de sociedades, não haveria razão de considerálos como idênticos. Transcreve, nesse ponto, a doutrina de Egberto Lacerda Teixeira e José Alexandre Tavares Guerreiro: “Em nosso entender, a similitude da incorporação de ações (art. 252) com a incorporação de sociedades (art. 227) é mais de processo do que de substância, dado que, na incorporação de ações não se verifica extinção de sociedade, o que é de essência da incorporação a que se refere o art. 227.” Transcreve, em seguida, dogmática de Nelson Eizirik e de Alberto Xavier, no sentido de haver distinção entre incorporação de ações e sociedades. Explica: “De fato, enquanto na incorporação de sociedade, a incorporada deixa de existir e é sucedida universalmente pela incorporadora, na incorporação de ações, ocorre, regra geral, um aumento do capital da sociedade incorporadora, para a emissão de ações a serem entregues aos exacionistas da sociedade cujas ações foram incorporadas, com a finalidade de que a sociedade incorporadora passe a ter aquela outra (a sociedade cujas ações foram incorporadas) como sua subsidiária integral” (palavra por palavra, fls. 19.106) Prossegue aduzindo que os efeitos da incorporação de ações e de incorporação de sociedade seriam distintos, principalmente quando se olha pelo viés dos acionistas. 2.1.2. INCORPORAÇÃO DE AÇÕES E INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL COM BENS: PRINCIPAIS DIFERENÇAS. Transcrevendo novamente a doutrina de Alberto Xavier, explicita o recorrente que a natureza jurídica da incorporação de ações não poderia ser confundida com aumento de capital social e com sua integralização de bens. Reproduz ainda as lições de Sacha Calmon e Nelson Eizirik. Nesse caso, informa que, na incorporação de ações, a vontade seria manifestada pelas sociedades, mediante a deliberação de assembleias gerais de ambas, afastando, assim, a manifestação de vontade individual dos acionistas. Portanto, não haveria qualquer manifestação individual de vontade por parte dos acionistas, sendo negócio realizado no âmbito das pessoas jurídicas. Assim, no aumento de capital regido pelo art. 170 da LSA, cada acionista subscreveria ações e as integralizaria, diferentemente do que ocorreria na incorporação de ações, em que a “integralização” não seria um simples ato de contrapartida da subscrição, mas, sim, as ações da companhia incorporadas em sua totalidade. Fl. 19320DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.299 37 Salienta que, ainda que haja alienação, no sentido de transferência de propriedade, poderia não haver incidência de imposto de renda, posto que poderia não haver ganho de capital realizado, uma vez que haveria apenas substituição dos bens. Anota que, ainda que se considerasse a incidência de imposto de renda sobre ganho de capital na incorporação de ações, tal ganho deveria corresponder, necessariamente, à diferença entre o custo de aquisição das ações incorporadas e o valor atribuído a elas no ato, o que, neste caso, corresponderia à zero. 2.1.3. EFEITOS SOCIETÁRIOS DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES PARA AS SOCEIDADES E ACIONISTAS. Nesse tópico, apresenta o recorrente a distinção dos efeitos decorrentes da incorporação de ações para as sociedades e para os acionistas. 2.1.3.1. EFEITOS PARA AS SOCIEDADES ENVOLVIDAS NA OPERAÇÃO. Registrase, nesse tópico, que, no âmbito das sociedades que participam da operação de incorporação de ações, “tratase de efetiva aquisição de participação societária na sociedade cujas ações são incorporadas por parte da sociedade incorporadora, sendo que esta última deverá, como contraprestação pelas ações adquiridas, entregar ações de seu capital que couberem aos titulares das ações incorporadas, em substituição destas”. (fls. 19.112) Com efeito, sustenta o apelante que o acionista tem suas ações substituídas e não participa dessa operação de forma ativa, de modo que os efeitos da operação lhe seriam diferenciados. 2.1.3.2. EFEITOS PARA OS ACIONISTAS DA SOCIEDADE CUJAS AÇÕES SÃO INCORPORADAS. Assoma que, ao contrário do que explicitado no Termo de Verificação Fiscal, ocorreria, sim, uma alienação com subrogação real, com substituição das ações. Isso porque, haveria verdadeira troca de ações, sendo emitidas ações pela sociedade incorporadora, sendo certo que o acionista concorrido para tal substituição, eis que estaria inerte em tal operação, dado o mandato sem representação presente na incorporação de ações. Portanto, e como já anteriormente explicado, haveria troca de ações do Banco Real e do AAB Dois Par, por ações do Recorrente, mantendose as mesmas consequências das relações jurídicas previamente existentes com relação ao bem substituído, permanecendo o acionista nas mesmas posições patrimonial e econômica verificadas antes da operação. Colaciona doutrina e jurisprudência que, a seu ver, sustentariam sua tese de haver, no presente caso, subrogação real, tal como Acórdão 10517.322, advindo da e. 5º Câmara do 1º Conselho de Contribuintes, em que se teria reconhecido que a operação de cisão parcial de empresa controladora, com versão do investimento em controlada no exterior em outra pessoa jurídica, não implicaria emprego de efeito, para efeito de disponibilização de lucros de controlada no exterior. Fl. 19321DF CARF MF 38 Alvitra, nessa esteira, que, sob a perspectiva da Sterrebeeck, teria havido clara substituição das ações que ela detinha no Banco Real e no AAB Dois Par pelas novas ações de emissão do Recorrente. Entremostra que, na incorporação de ações, terseia operação específica, que, para a sociedade que incorpora, seria verdadeira aquisição de participação societária; pra os acionistas, haveria troca de ações, com subrogação real, que não geraria qualquer disponibilidade sobre eventual ganho porque simplesmente se trocariam ações. Às fls. 43 do seu Recurso, fls. 19117 do processo, afia: “É bom repisar este ponto, inclusive justificando a razão pela qual antes foi dito neste recurso que é secundária a discussão sobre haver ou não alienação, inclusive tendose em conta o aspecto volitivo. O que ocorre, indubitavelmente, é que as ações incorporadas passam para a propriedade da incorporadora, exatamente porque esta as adquire. Em vista disso, numa apreciação simplificada do ato jurídico, poderse ia concluir que, se houve aquisição com transferência de propriedade, a outra parte deve ter feito a alienação dos mesmos bens. Todavia, numa apreciação mais detida e profunda do ato, segundo sua disciplina jurídica, vaise perceber que, para o acionista, a perda da propriedade das ações incorporadas tem como contrapartida imediata e automática a aquisição das ações emitidas no ato pela sociedade incorporadora, ou seja, o acionista é ao mesmo tempo alienante (em sentido amplo e genérico) e adquirente (também em sentido amplo e genérico), porque, em sentido estrito, uma coisa fica no lugar da outra. E é por isto que, na perspectiva do acionista, ocorre uma substituição sou subrogação real. E é por isto mesmo que, tal como na permuta, o tratamento tributário atribuível à incorporação de ações não pode ser aquele que cabe para as alienação em geral, não obstante nem toda alienação seja apta a gerar ganho de capital (por exemplo, as alienações decorrentes de mútuo e doação não gerem ganho de capital)”. (Sic.) Em continuação, reprisa, uma vez mais, que, ao contrário do que defendeu a DRJ, a própria Lei determina expressamente que as ações aqui recebidas substituem as que foram incorporadas, e seria também por isso que o parecer Normativo CST nº 39/81, reconheceria as ações em substituição das que foram objeto da incorporação, fusão ou cisão, havendo subrogação, para todo os efeitos de direito. Portanto, no presente caso, e sustentando suas alegações em doutrina, haveria clara substituição das ações, uma vez que, em sua visão, o próprio instituto da subrogação explicitaria tal tema, eis que adviria do latim “subrogatio”, de “subrogare”, que significa “substituir”, “modificar”, o que designaria, claramente, a modificação de uma coisa pela outra. Em consequência disso, o patrimônio do acionistas, quanto às ações recebidas na incorporação, não teria se modificado, ficando na mesma posição em que antes se encontrava quanto ás ações que foram incorporadas, eis que não teria despendido nada para passar a ter as novas ações em luar das antigas. Destaca que, no presente caso, há de ser afastada a argumentação da DRJ, uma vez que, o que teria havido, seria a subrogação consensual, expressa no art. 421 do Código Civil, bem como por autores, notadamente De Plácido e Silva, que chamaria a presente Fl. 19322DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.300 39 situação de “subrogação convencional” ou “subrogação voluntária”, operada pela vontade do subrogado. Às fls. 19.123: “Assim, é inolvidável que na relação jurídica substitutiva, decorrente da subrogação, temos sujeitos de direito diferentes e/ou objetos diferentes, sem que tal alteração derive da imposição de qualquer outra obrigação ou condição nova e externa à própria subrogação. Daí a conservação da relação jurídica original em seus elementos não alterados.” Constata, assim, que, muito embora a subrogação possa acarretar uma nova relação jurídica, modificativa da anterior, aponta que não haveria abandono da originária, eis que, se fosse relação totalmente nova, não haveria que se cogitar subrogação, não havendo, portanto, modificação patrimonial positiva ou negativa, sendo esses os termos da incorporação de ações. Aponta que a argumentação levantada pela d. DRJ, advinda de inspiração doutrinária italiana, não se sustentaria, uma vez que a doutrina especializada facilmente a contestaria. Igualmente, assevera que, ao contrário do que assentado pela decisão recorrida, não estarseia falando sobre modificação de conceitos dos Códigos Civis de 1916 e 2002, eis que os conceitos de bens universais e coletivos não estariam empregados de forma diferente. Prossegue apontando que não poderia se amparar a decisão quanto à alegação de que “cada coisa tem sua identidade própria”, e que “uma não poderia substituir a outra” (fls. 19.125), eis que tal ideia poria fim na própria concepção de subrogação real, que teria por escopo a troca de coisas. 2.2. TRATAMENTO TRIBUTÁRIO DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. Nesse ponto, demonstra que a exigência fiscal em comento é indevida e deveria ser cancelada por esse e. Conselho, posto que não haveria que se falar em apuração de ganho de capital tributável pelo imposto de renda pela Sterrebeeck. 2.2.1. EFEITOS TRIBUTÁRIOS DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES PARA OS ACIONISTAS. Sustenta, nesse tópico, que não haveria transferência ou disponibilidade de recursos financeiros e tampouco implica a realização de qualquer outro ganho. Assim, “não existe alienação para feitos de incidência do imposto de renda e de que o custo de aquisição das novas ações é o mesmo da participação societária original (fls. 19.129). Dessa forma, na incorporação de ações, não haveria que se falar em apuração de ganho de capital tributável. 2.2.2. DA NÃO TRIBUTAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE PERMUTA. Ressalta o recorrente, nesse ponto, que a incorporação teria efeitos fiscais iguais ao da permuta de bens, inexistindo qualquer ganho passível de tributação, sendo certo que a posição patrimonial do acionista teria permanecido inalterada, a incorporação de ações Fl. 19323DF CARF MF 40 asemelharseia a uma operação de permuta, na medida em que nela haveria a mera troca de bens. Assinala: “Notese que o Recorrente nunca disse nem está dizendo que permuta e incorporação de ações sejam iguais, porque não são, dado que uma é negócio jurídico tipificado pelo direito brasileiro e outra é ato jurídico também tipificado por nossa lei, com as respectivas identidades (naturezas jurídicas) dadas pelas suas diferentes causas de atribuição patrimonial. Não obstante, como visto antes, diferentes atos jurídicos podem ter alguns efeitos iguais ou semelhantes, e no caso, tanto a permuta quanto a incorporação de ações geram o mesmo efeito de troca da propriedade de bens, o que se dá no âmbito do direito privado e adquire relevância no âmbito tributário porque neste, para fins do imposto de renda, o efeito fundamental que deve provir dos atos ou negócios jurídicos é o da produção da aquisição da disponibilidade de renda, isto é, a obtenção de renda realizada, o que não se verifica nem na permuta nem na incorporação de ações, porque em ambas trocam0se bens por bens.” (palavra por palavra, fls. 19.130) Seria, a seu ver, “amplamente dominante” o entendimento de não haver aumento patrimonial tributável na permuta sem torna, uma vez que se atribuiria ao bem recebido mesmo valor que, no balanço patrimonial da pessoa jurídica, tinha dado em permuta, observandose investimentos registrados perante o Banco Central do Brasil. Enfatiza que deveriam ser mantidos, para efeitos fiscais, os valores que correspondiam ao custo das ações incorporadas, não podendo haver incidência do imposto de renda sobre o acionista, ainda que a incorporação tenha sido feita a valor maior no âmbito da sociedade incorporadora. Assim seria, porque toda a legislação dos tributos sobre a renda se pautaria pelo princípio do custo de aquisição, segundo o qual se tomaria este elemento de valoração patrimonial como base para determinação e quantificação de toda e qualquer ocorrência individual que contribua para a ocorrência do acréscimo universal de patrimônio no final do períodobase de incidência daqueles tributos. Anota que, ainda que o permutante receba bem de maior valor do que o custo do bem dado, ocorreria para ele o fenômeno de “acréscimo patrimonial meramente potencial”, não havendo incidência tributária, eis que esta pressuporia ganho real e realizado, sendo tal ação decorrente do princípio da realização da renda. Em tais casos, somente poderia haver tributação em casos que o ganho potencial se caracterizasse em ganho efetivo e definitivo, ou seja, em que houvesse realização de renda pela alienação do bem . Destaca que não se poderia tributar a renda antes de tal realização, eis que se oneraria o patrimônio, e não a renda, eis que ainda não estaria adquirida e disponível, também não podendo vir a estar, assim sendo, o Fisco disporia de sua parte (imposto) antes de o contribuinte ter adquirido a disponibilidade dela. Em tal contexto, qualquer tentativa de exação consistiria em afronta ao princípio da capacidade contributiva, uma vez que se exigiria do contribuinte que sacrificasse seu patrimônio para que pudesse arcar com o ônus do tributo. Colaciona doutrina que, a seu ver, daria escorreita solução para a controvérsia, uma vez que coadunam a ideia de impossibilidade de imposição de imposto de Fl. 19324DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.301 41 renda sobre renda ficta ou virtual, no sentido de que não bastaria a “aparência de riqueza”, sendo necessário que a potencialidade econômica seja efetiva. Expressa que, no caso das ações incorporadas, dáse o mesmo fenômeno verificado nas permutas, em que se pode ter custo inferior ao valor das ações recebidas em sua substituição, mas, por se tratar de ganho potencial não tributável antes de haver uma alienação onerosa com preço maior do que o custo e que, pela diferença, concretize o ganho até então não realizado. Indica que, ainda que no ato da incorporação, a ação tenha valor maior do que o custo das ações incorporadas, segundo avaliação efetivada, não seria suficiente para a incidência do imposto de renda, sendo necessária que haja alienação das ações para que se suporte tal ônus, posto que a renda não realizada estaria fora do campo da incidência. Esclarece que o Parecer PGFN/PGA nº 454/91, aludindo ao anterior Parecer PGFN/PGA nº 970/91, teria explicitado não se referir ao artigo 65 da Lei nº 8383, por lhe ter sido antecedente, não deixando margem à dúvida quanto a se tratar de situação de não incidência de imposto de renda. Sustenta que o tratamento das operações de permuta já teria sido cuidado pelo art. 65 da Lei nº 8.383/91, em que se disporia, implicitamente, que não poderia se incidir imposto de renda sobre permuta ou os efeitos patrimoniais por ela gerados, partindo assim o caput do pressuposto de que a permuta não seria tributável, não pairando dúvidas quanto à abrangência do regime tributário exposto. Explana, com arrimo no Parecer PGFN/PGA nº 454/92, que não se poderia tributar as permutas sem torna no momento em que o negócio é realizado, conforme Parecer Normativo CST nº 504/71. Junta jurisprudência advinda deste e. Tribunal Administrativo que coadunam os argumentos apresentados. Averba que a decisão recorrida não tem como prosperar na medida em que não equipara a incorporação de ações à permuta, uma vez que, muito embora sejam atos com natureza jurídica distintas, tem causas e efeitos jurídicos que lhe são comuns, sendo que apenas um deles seria relevante para o trato da questão tributária: a troca ou substituição de bens sem ganho de capital realizado. Aduz que a avaliação feita, visaria apenas atender o pressuposto de que o aumento de capital deveria ter substância econômica efetiva no valor econômico das ações incorporadas, mas isso não poderia ser confundido com o preço de aquisição e de alienação e tais ações. Assim, não poderia haver confusão entre o preço de avaliação e aquele estampado no art. 19 da Lei 6.404, que utiliza o termo “preço de emissão”. Sustenta, às fls. 19.149/19.150: “Já no ato de incorporação de ações, não há apenas a consideração do valor da ação a ser incorporada, pois há a consideração do valor patrimonial econômico da companhia incorporadora, e também a consideração ao valor patrimonial econômico da companhia cujas ações vão ser incorporadas, Fl. 19325DF CARF MF 42 para que a totalidade dos acionistas resultantes do ato não ganhe e não perca. Por isso, na incorporação de ações ninguém subscreve individualmente uma a uma as ações do correspondente aumento de capital, pois este está vinculado antes de tudo ao valor patrimonial da entidade que se transformará em subsidiária integral, em confrontação com o valor patrimonial de que será a controladora após o ato, e a subscrição de capital é feita em bloco.” E prossegue: “...neste procedimento, os acionistas cujas ações vão ser incorporadas não fixam um preço para que elas sejam transferidas à sociedade incorporadora, mas, pela comparação de valores patrimoniais das duas companhias, recebem uma quantidade de ações que corresponde à justa relação de troca do que tinham, pelo que passam a ter, inclusive numa visão mais ampla do patrimônio social resultante do ato de incorporação.” Invoca, em seguida, o entendimento exposto pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 959050PR, em que teria restado decidida a não incidência de imposto de renda sobre a conferência de bens para a integralização de capital subscrito, posto que seriam recebidas “ações correspondentes ao valor dos bens, ainda que expressos nominalmente em quantias diversas, pela avaliação feita”. Calcado em tais argumentos, reproduz doutrina de Orlando Gomes e do sempre festejado Pontes de Miranda, para balizar seu entendimento, em que haveria no caso concreto a troca de “res” por “res”, e não de “res” por “pretium”. Assim, aponta que “como há mera substituição das ações, se na avaliação feita houver algum reconhecimento, para os fins da relação de troca, de valor superior ao do custo de aquisição, essa diferença representa mero ganho potencial, não ganho efetivo e não realizado, impossível de ser tributado, como asseverou com propriedade o Parecer PGFN/PGA nº 454/92“. 2.2.3 DA NÃO OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR DO IRRF (PAGAMENTO, CRÉDITO, ENTREGA, EMPREGO OU REMESSA). Nesse tópico, alinhava não ter ocorrido ganho de capital, eis que nenhum evento mencionado no art. 685 do RIR/99 teria ocorrido, sendo eles: pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter. Assim, em síntese, teria apenas procedido em momento na sua conta capital, com respectiva contrapartida, sem, no entanto, pagar, creditar remeter, empregar ou entregar qualquer rendimento seu, uma vez que a incorporadora teria apenas dado em troca das ações que recebeu, as ações que emitiu, tendo havido, para a Sterrebeeck, a perda da propriedade das ações incorporadas, havendo, em contrapartida – imediata e automática – a aquisição das ações emitidas no ato pelo ora Recorrente, sendo certo que a Sterrebeeck teria sido, ao mesmo tempo, alienante e adquirente das ações. 2.2.4. DA POTENCIAL DUPLA TRIBUTAÇÃO SOBRE O GANHO DE CAPITAL. Em tal rema, reprisa o recorrente que somente na alienação das ações recebidas pela Sterrebeeck na incorporação de ações do Banco Real e do AAB Dois Par poderia ser apurado ganho de capital tributável pelo imposto de renda. Posto que, a seu ver, se Fl. 19326DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.302 43 ocorresse antes disso, a eventual maisvalia verificada na incorporação de ações não geraria quaisquer efeitos tributários. Isso porque, repete, não houve a vontade (animus) do acionista, assim, para eles teria havido apenas uma troca, onde se manteria a participação societária de cada acionista, só que agora, na sociedade incorporadora. Agita que, segundo o art. 47, §6º da Instrução Normativa RFB nº 1.022/10, teria demonstrado exatamente o caso dos autos, onde a substituição, total ou parcial, de ações, em decorrência de incorporação, manteria o custo de aquisição das ações originalmente detidas. Assim, afiança, às fls. 19.161: “Deste modo, se mantida a cobrança no presente processo, poderia haver dupla tributação em virtude de que futuramente, se houver alienação das ações pela Sterrebeeck, o efetivo ganho de capital que então for apurado com base no mencionado custo de aquisição deverá ser oferecido á tributação. Ou ainda poderá ocorrer de não haver ganho de capital, mas mesmo assim já terá havido tributação de um suposto ganho de capital” Carreia, em seguida, julgado advindo deste e. Conselho que teria dado razão ao contribuinte em situações análogas à presente. 2.2.5. DA INAPLICABILIDADE DO ART. 23 DA LEI Nº 9.249/95. Reprisa as mesmas linhas apresentadas em sua Peça de Defesa, no sentido da inaplicabilidade do art. 23 da Lei nº 9.249/95, que trata da integralização de capital por pessoas físicas em bens e direitos. O entendimento levado a cabo pelo i. Agente Fiscal estaria equivocado, na medida em que a integralização de capital e a incorporação de ações não teriam a mesma natureza jurídica, fazendo com que o texto legal acima apresentado não acomodarseia ao presente caso. Defronta diversa doutrina para alicerçar seus argumentos, de que, embora na incorporação de ações haja aumento de capital, este seria meio para o atingimento do fim da norma do art. 252, e não se confundiria com os aumentos de capital que constituiriam a finalidade da norma do art. 170, também não devendo se confundir outros atos nos quais também haveria aumento de capital. Ademais, propugna que tanto o que prescrito pelo caput da norma, quanto o que passado em seu §2º, referemse a pessoas físicas domiciliadas no Brasil, o que não seria o caso dos autos, uma vez que o consórcio e a compra de ações teria ocorrido no exterior. Coteja o entendimento lançado pelo Superior Tribunal de Justiça nos autos do Resp. nº 102.7799/CE, da relatoria do em. Ministro Benedito Gonçalves, em que teria se entendido que, na integralização de capital de uma outra sociedade haveria apenas substituição da participação na empresa, sem alteração patrimonial da pessoa jurídica. Fl. 19327DF CARF MF 44 Advoga que, muito embora o caso citado tenha ocorrido com pessoa jurídica, onde teria havido o correto reconhecimento da diferença de valores como reavaliação não realizada, os fundamentos de tal julgado teriam caráter de ordem geral, atinentes ao próprio regime constitucional de tributação da renda. Relaciona, ainda, entendimentos emanados do Supremo Tribunal Federal, Tribunal Regional Federal da 5ª Região e, novamente, Superior Tribunal de Justiça que, teriam dado apurada decisão sobre o tema em comento, bem como dogmática que bem delinearam a matéria. 3. DA NÃO APURAÇÃO DE GANHO DE CAPITAL TRIBUTÁVEL PELA STERREBEECK EM RAZÃO DA MANUTENÇÃO DO CUSTO. Em tal esteira, afiança que não teria havido qualquer alteração do investimento estrangeiro da Sterrebeeck no Bacen antes e após a incorporação das ações. Destaca que tal registro é fundamental “e não apenas formal” para apuração de ganho de capital, conforme art. 690, inc. II do RIR/99, estando sob “evidência solar” que não há incidência no presente caso, eis que a “renda ou capital somente existe naquilo que o investido receber além do que investiu” (fls. 19.169) Cita que, conforme a Lei nº 4.131/62, teria sido disposto que o registro de operações financeiras com o exterior não seria apenas formal, dado que dele dependeriam futuros movimentos de remessas de lucros ou os seus investimentos. Portanto, o registro não seria mera formalidade pois importaria em obrigação das sociedades receptoras de investimentos, a ser cumprida perante a autoridade cambial do Brasil, e conferiria, ainda, direitos subjetivos às pessoas a que se refere, in casu, investidores estrangeiros. Transcreve o art. 690 do RIR/99, caracterizandoo como peremptório ao declarar que não estariam sujeitos à retenção do imposto de renda “os valores, em moeda estrangeira, registrados no Banco Central do Brasil, como investimentos ou reinvestimentos, retornados ao seu país de origem”. Desse modo, assenta que teria de haver a postergação da tributação para o momento em que o ganho, se viesse a ocorrer, se tornasse efetivamente realizado e não antes, quando ainda seria potencial e represado. Portanto, o não residente não deveria ser tributado enquanto não receber um retorno maior do que o investimento originalmente realizado. Acrescenta que a regra fundamental (e geral) a estas causas seria a de intributabilidade dos valores investidos em moeda estrangeira, conforme o já acima citado art. 690 do RIR/99, eis que, no presente caso, seriam idênticos os valores registrados antes da incorporação e depois desta, havendo simples alteração da titularidade das pessoas jurídicas receptoras do investimento, sem qualquer alteração de valor da moeda e, portanto, sem ganho de capital realizado. Junta os registros contábeis da Sterrebeeck antes e após a incorporação, que demonstraria não haver qualquer alteração. São eles: Fl. 19328DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.303 45 Fl. 19329DF CARF MF 46 E após a incorporação: Fl. 19330DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.304 47 Dessa forma, não teria havido qualquer mudança contábil, onde o custo de aquisição e o valor de “alienação” (que seria o valor pelo qual as ações do Recorrente foram recebidas pela Sterrebeeck), seriam equivalentes. De modo que, fosse pela rega do art. 26 da IN SRF nº 208/02, seja pelo artigo 690 do RIR/99, não haveria ganho de capital a ser tributado in casu. Posto que, em seu entender, o valor pelo qual as ações do Banco Real e do AAB Dois par foram entregues ao Recorrente corresponderiam ao valor de mercado destas mesmas ações, obtidos em transação realizada entre partes independentes (ABN holding pelo consórcio). Prossegue assentando que, como já afirmara em sua peça de bloqueio, houve erro a partir da autoridade fiscalizadora ao converter o montante do registro para moeda nacional, o que não seria o caso dos autos, conforme os arts. 9º da Lei nº 9.718/98, inc. II do art. 690 do RIR/99 e art. 24 da MP nº 2.158. Isso porque, o investimento continuaria registrado no Banco Central pelo mesmo valor anterior em moeda estrangeira, ou seja, às ações do Recorrente teria sido reconhecido o mesmo valor de custo das ações incorporadas, posto que teriam vindo em substituição daquelas. Dessarte, aponta que estaria errado o entendimento da d. DRJ posto que “se houvesse alguma alienação por valor igual ou inferior ao montante em moeda estrangeira investida, mas superior em moeda nacional, o acionista teria que pagar imposto sem ter tido ganho da capital, e não teria a garantia de retorno integral do seu investimento, como lhe é conferida pela lei nº 4131” (fls. 19.187). Assim, haveria perda de capital, mesmo com diferença positiva em reais, sendo esta sujeito à tributação. Afia que o sistema tributário brasileiro protege o Contribuinte em casos de investimentos originalmente feitos em moeda estrangeira, tomandoa como base para apuração de ganho ou perda de capital, comparandose os montantes de custo e alienação na moeda do Fl. 19331DF CARF MF 48 investimento, e quando apurado ganho, traduzilo em reais pela taxa de câmbio do fato gerador. Sustenta que, no presente caso, não teria sido apurado qualquer ganho em moeda estrangeira, dado que o investimento feito teria sido mantido no mesmo montante originário nas moedas do investimento, estando erra da a autoridade lançadora ao converter o investimento em moeda estrangeira para moeda nacional e comparar o resultado com o valor da avaliação em reais. Propugna, uma vez mais, pelo cancelamento do auto. 4. DA AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE POR PARTE DO RECORRENTE – INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 26 DA Lei nº 10.833/03 AO PRESENTE CASO. Afirma que, se no presente caso, ad argumentandum tantum, tivesse havido qualquer ganho de capital, o contribuinte no polo passivo deveria ser a própria Sterrebeeck, e não o Banco Santander, eis que a responsabilidade prevista no art. 26 da Lei nº 10833/03 apenas se aplicaria ás hipóteses em que o responsável tributário possa arcar com o ônus financeiro do tributo. Avaliza que, segundo o art. 45 do Código Tributário Nacional, o contribuinte do imposto de renda, seria aquele titular da disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou do provento tributável, ou seja, aquele diretamente vinculado ao fato gerador, conforme disporia também os artigos 121 e 128 do mesmo Diploma Legal. Das fls. 19.190 às fls. 19.196, junta farta jurisprudência no sentido da impossibilidade de transferência da responsabilidade quanto ao pagamento do imposto. Nesse passo, estaria equivocada a d. Fiscalização ao imputar ao Recorrente a responsabilidade pelo recolhimento do imposto supostamente devido pela sociedade Sterrebeeck em razão da incorporação de ações do banco Real e do AAB Dois Par, não sendo aplicável ao caso o art. 26 da Lei nº 10833/03, eis que, de acordo com as regras que regem a responsabilidade tributária, não haveria dúvidas de que tal artigo só seria aplicável nos casos em que há ganho de capital decorrente da alienação de bens com pagamento em dinheiro passível de retenção. Ratifica que, no presente caso, não teria havido qualquer pagamento em dinheiro e, por conseguinte, não haveria qualquer possibilidade de retenção do imposto “devido”, tendo havido, reprisa, mera substituição de ações, não podendo ser retidas para fins de pagamento de tributos. E completa: “A própria retenção de ações não seria possível, tendo em vista que o inciso I do artigo 224 da LSA determina a substituição integral das ações detidas pelos acionistas, vedando, portanto, eventual retenção das ações objeto da operação. Em outras palavras, a LSA exige que seja entregue ao acionista a totalidade das ações previstas nas deliberações societárias aplicáveis. No mesmo sentido, o §3º do artigo 252 da LSA determina que, aprovada a operação de incorporação de ações, ‘os titulares das ações incorporadas receberão diretamente da incorporadora as ações que lhes couberem’”. (fls. 19.197) Fia que a fiscalização teria transferido, em ultima análise, o ônus financeiro a quem não seria contribuinte do tributo, representando subversão dos princípios que regem a ordem tributária de Estado de Direito. Fl. 19332DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.305 49 Atenta ainda que, ainda a Sterrebeeck tivesse auferido ganho de capital tributável na operação de incorporação de ações do Banco Real e do AAB Dois Par, a responsabilidade pelo recolhimento jamais poderia ser atribuída ao Recorrente, eis que o tal ônus não poderia ser suportado pelo contribuinte, eis que não haveria disponibilidade de dinheiro passível para retenção, o que consumiria, na verdade, o patrimônio do recorrente. Arremata, às fls. 19.200: “(...) o Recorrente apenas procedeu a movimento na sua conta capital, com a respectiva contrapartida, e ninguém dirá que, quando uma sociedade recebe dinheiro ou bens para integralizar aumento do seu capital, está pagando, creditando, remetendo, empregando ou entregando rendimento”. 5. DO INDEVIDO REAJUSTAMETNO DA BASE DE CÁLCULO (GROSS UP). Nesse ponto, defende que houve indevido reajustamento da base de cálculo, nos termos do artigo 725 do RIR/99. Afirma que a presente exigência tributária é absolutamente improcedente, “seja porque a operação de incorporação de ações não decorreu a apuração de ganho de capital tributável pela Sterrebeeck, seja porque o Recorrente não pode suportar o ônus financeiro de eventual tributo devido pela sociedade residente, ante a ausência de responsabilidade de dinheiro passível de retenção na fonte”. (fls. 19.201) Apenas por amor ao debate, salienta que, ainda que fosse legítima a cobrança de IRRF ora perseguida, o reajustamento da base de cálculo permaneceria indevido, eis que tal reajustamento só seria justificável quando a fonte pagadora assumisse o ônus do imposto devido pelo beneficiário, sendo certo que em tal situação o imposto recolhido deve ser acrescido aos rendimentos auferidos pelo não residente, sendo parte da renda tributável deste, conforme preceituado pelo art. 5º da Lei nº 4.154/62 e artigo 725 do RIR/99. No caso em tela, o recorrente não teria assumido qualquer ônus pelo IRRF supostamente devido pela Sterrebeeck, não havendo, portanto, qualquer ajuste entre as partes a respeito da assunção do ônus financeiro do imposto pelo Banco apelante, não tendo como prosperar o entendimento do i. Fiscal, que ampliaria a base de cálculo de forma indevida e resultaria, em consequência, em apuração que não refletiria a realidade da operação, caso fosse tributável. 6. INEXIGIBILIDADE DE MULTA E JUROS, NOS TERMOS DO ARTIGO 100, PARÁGRAFO ÚNICO DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. Reagita os mesmos argumentos postos em sua Impugnação, no sentido de que o recorrente teria agido com estrita observância das normas complementares da legislação tributária, de modo que, se mantida a exigência fiscal, deveria ser cancelada a cobrança de multa e juros, eis que imporseia a aplicação do parágrafo único do artigo 100 do Código Tributário Nacional. 7. DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE JUROS SOBRE A MULTA. Fl. 19333DF CARF MF 50 Afiança que, ainda que haja a manutenção da autuação combatida, os juros calculados com base na taxa SELICA não poderiam ser exigidos sobre a multa de ofício lançada, por ausência de previsão legal, eis que, conforme artigo 13 da Lei nº 9.065/95 e artigo 84 da Lei nº 8.981/95, tais acréscimos seriam apenas sobre tributos. Assim, ainda que a multa tenha o objetivo de sancionar o comportamento advindo de infrações tributárias, ela em si mesma não constitui tributo e, portanto, não haveria previsão legal para que os juros calculados à taxa SELIC incidam sobre ela, constituindo desrespeito ao princípio constitucional da legalidade previsto nos artigos 5º, II e 37 da Constituição Federal, o que não poderia ser admitido por este Conselho. Articula doutrina e jurisprudência em defesa de sua tese, arrematando no sentido de que sejam acolhidos os fundamentos aduzidos para que se determine o cancelamento dos juros de mora, calculados com base na taxa SELIC, sobre a multa de ofício lançada no auto de infração originário. Em face de todo o exposto, requer o recebimento, conhecimento e provimento do recurso com a consequente desconstituição e cancelamento integral do auto de infração. Às fls. 19.224 usque 19.264, a Procuradoria da Fazenda Nacional junta suas contrarrazões em prestígio do julgado, requerendo que seja negado provimento ao recurso voluntário, mantendose incólume o lançamento fiscal questionado. É o relatório. Fl. 19334DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.306 51 Voto Vencido Conselheiro Jamed Abdul Nasser Feitoza Relator 1. ADMISSIBILIDADE. Recurso foi interposto tempestivamente, estando presentes as demais condições intrínsecas e extrínsecas de admissibilidade recursal, previstas no Decreto nº 70.235/72, voto por dele conhecer. 2. DO LANÇAMENTO. A presente demanda decorre da resistência a perfectibilização de lançamento tributário que considerou o Recorrente como responsável pelo Imposto de Renda Retido na Fonte de contribuinte domiciliado no exterior, apurado em razão de alegado ganho de capital em operação de incorporação de ações de Sociedades Anônimas sediadas no Brasil. Conforme consignado no relatório, a fiscalização considerou como evento tributável a incorporação de ações do Banco Real e do AAB Dois Par ao patrimônio da impugnante, realizada em 29/08/2008, tendo sido tal operação realizada no contexto da aquisição e consolidação das unidades de negócio do grupo ABN AMRO no Brasil pelo grupo Santander. Foram apurados Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) Art. 3º, §3º, da Lei nº 7.713/88; art. 18 da Lei nº 9.249/95; art. 26 da Lei nº 10.833/2003; arts. 682, 685 e 725 do RIR/99, no valor de R$ 4.363.174.547,84. Juros de Mora (calculados até 06/2013) Art. 61, § 3º da Lei nº 9.430/96 R$ 2.022.331.402,92 e Multa Proporcional Art. 44, I, da Lei nº 9.430/96, com a redação dada pelo art. 14 da Lei nº 11.488/2007 R$ 3.272.380.910,88, Totalizando R$ 9.657.886.861,64. Como resultado de sua impugnação, obteve decisão no sentido de considerar seus argumentos totalmente improcedentes, sendo mantida a integralidade do crédito originário. Assim, interpôs o presente Recursos Voluntário. Dada a natureza e valores envolvidos, a Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou contrarrazões, sendo ambas as manifestações objetos das análises e posições manifestadas no presente voto. 3. RAZÕES PRELIMINARES. O Recorrente inicia seus argumentos de resistência a perfectibilização do lançamento e busca de reforma da decisão referente com oposição de razões preliminares, o fazendo, resumidamente, nos seguintes termos: Incorreta consideração da incorporação de ações como evento tributável – Segundo sustenta não houve evento tributável no Brasil, pois tendo o Santander Espanha integrado consórcio adquirente da ABN Holding detinha a titularidade indireta dos negócios e ativos do Grupo ABN e segundo sustenta, o único evento tributável para fins de apuração de ganho de capital seria Fl. 19335DF CARF MF 52 a alienação, em 01/11/2007, da ABN Holding para o referido consórcio. Expondo tal fato, sustenta que mesmo essa operação ocorrida em 2007 consistiu na aquisição de ações de sociedade no exterior, ABN Holding, e ainda que tal fato econômico fosse compatível com a regra matriz de incidência do tributo em questão, não seria o Recorrente o sujeito passivo, mas a RFS Holding B.V. (“RFS”). Da inexistência de ganho de capital tributável no Brasil – Aquisição de bens localizados no exterior – Cita o Art. 26 da lei 10.833/03 destacando uma das condições para que o ganho de capital por não residente se submeta e exação brasileira, os bens alienados devem estar localizados no Brasil. Alegando que, no caso em tela, o Grupo ABN (alienante) e o RFS (adquirente) estavam localizados no exterior e o bem alienado (participação societária na ABN Holding), objeto de aquisição por oferta pública, também estava localizado no Exterior, não havendo qualquer base para incidência de tributo brasileiro sobre tal operação. Aquisição de Bens não localizados no Brasil e ilegitimidade Passiva do Recorrente – Como consequência lógica dos pontos anteriores, sendo os bens objeto de alienação localizados no exterior e as partes da operação também estrangeiras, não há que se falar em ganho de capital tributado no Brasil, por consequência, não poderia, ao Recorrente, ser imputada qualquer responsabilidade pela retenção de operação não tributável. Segue sustentando que, mesmo sendo vitorioso o entendimento de que ocorreu, indiretamente, o Santander Espanha adquiriu bens localizados no Brasil (Banco Real e AA Dois Par), uma vez que tal quinhão da operação da ABN Holding já lhe cabia desde de a origem das operações, ainda assim seria incabível a inclusão do Recorrente na relação tributária, eis que a única alienação que poderia ensejar ganho ocorreu em 2007 envolvendo os acionistas do Grupo ABN e a RFS, não podendo prosperar qualquer menção à Sterrebeeck, menos ainda admitir a responsabilidade do Recorrente pelo IRRF. Apresenta tais argumentos de modo vestibular buscando, com fundamento nos artigos 10 e 11 do Decreto 70.235/72 c/c Arts 245, 267, inciso VI e §3º do CPC ver declarada sua ilegitimidade passiva. Quanto a este ponto, cumpre registrar que, com as devidas adaptações ao Processo Administrativo Fiscal, entendo como aplicável no presente caso, a Teoria da Asserção ou prospettazione. Nesse sentido, a indicação do Recorrente, no auto de infração, como responsável tributário, não poderia ser afastada sem o exercício de uma análise de mérito. Somente após a dilação probatória e análise minuciosa das relações jurídicas, fatos e fundamentos do presente caso é que seria possível declarar, com segurança, a ilegitimidade alegada. A bem da verdade, a análise da ilegitimidade passiva redunda em incursão no mérito da demanda. Dizer que ausente a legitimidade passiva é o mesmo que julgar procedente Fl. 19336DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.307 53 o pedido sem analisar o mérito. Ora, os pontos indicados pelo Recorrente como prejudiciais ao mérito, se repetem, em parte, quando adentramos na análise meritória. Outrossim, um dos pontos centrais desta lide consistem, justamente, na avaliação da operação de incorporação de ações como situação jurídica apta a ser considerada fato gerador do tributo ao qual o Recorrente resiste. Logo, a discussão acerca da responsabilidade do recorrente situase na esfera meritória e nessa condição será analisada. 4. CONSIDERAÇÕES GERAIS, INDICAÇÕES METODOLÓGICAS E CONCEITOS ADOTADOS NO PRESENTE VOTO. O presente caso é marcado por um profundo debate conceitual. Os aspectos fáticos não estão em discussão, não se nega a ocorrência de incorporação de ações, o que está em lide é a percepção adequada de seus efeitos jurídicos do ponto de vista tributário e societário. Diferente do que ocorre em outras demandas enfrentadas por este colegiado, neste processo, os elementos conceituais ocupam posição central na lide. Assim, inicio o presente voto realizando uma incursão conceitual para firmar nossa posição em relação a cada um dos temas estruturais da demanda. A questão dos conceitos foi exaustiva e brilhantemente tratada pelo agente fiscal, pelos patronos, pela procuradoria e pelo relator da decisão recorrida, nos deixando uma excelente base de trabalho. Neste ponto do voto indicaremos a metodologia de análise e os conceitos com os quais trabalharemos para emitir nosso posicionamento no que se refere ao caso concreto. A investigação deve partir da natureza jurídica da operação de incorporação de ações e a existência de renda realizada, para somente após tal incursão, serem avaliados o conjunto de atos precedentes e contemporâneos a incorporação de ações realizada no presente caso, com vistas a revelar outros elementos como sujeito passivo, responsável, base de cálculo entre outro. É neste sentido que conduziremos nossa investigação e como primeiro ponto de apreciação vamos centrar atenção no desvelar a natureza jurídica da incorporação de ações e seus efeitos tributários, seguida do registro da posição deste relator. Em seguida, avançaremos para uma análise do conceito de realização de renda, culminando na confrontação destes conceitos aos fatos da presente lide. Vencida as etapas anteriores, pretendemos analisar os demais elementos do caso concreto e avaliar os impactos das operações pretéritas e contemporâneas ao fato em discussão para eventual revisão ou manutenção do lançamento, no todo ou em parte. Em que pese existirem precedentes neste colegiado, o presente caso tem elementos sui generis, com destaque especial para o fato do suposto beneficiário ser pessoa jurídica domiciliada no exterior, fazendo com que o tributo incidente siga a sistemática da retenção na fonte, transferindo a responsabilidade de seu recolhimento para a fonte pagadora. Fl. 19337DF CARF MF 54 Ainda não há pagamento, mas apenas suposto ganho de capital apurado pela fiscalização com base nas reavaliações de ativos. Como suposto metodológico à investigação conceitual que ora se promoverá, seguiremos os ensinamentos do professor Humberto Ávila1 que, ao tratar do tema, indicou a necessidade de realizar uma prévia distinção entre os dois tipos de conceitos jurídicos, "os conceitos lógicoformais e os conceitos jurídicopositivos." "Os conceitos lógicoformais são aqueles que dizem respeito a categorias lógicas pressupostas por qualquer ordenamento jurídico e que, por essa razão, têm validade geral, independentemente de estarem previstos em determinado ordenamento jurídico2. (...) Já os conceitos jurídicopositivos são aqueles que dizem respeito a categorias reguladas, direta ou indiretamente, por determinado ordenamento jurídico e que, por esse motivo, têm sua validade e seus contornos normativos condicionados ao modo como são estabelecidos pelo direito positivo.3" O referido autor apresenta tal argumentação para fincar as bases hermenêuticas adequadas à presente investigação e não permitir que se tome por lógicoformal um conceito que, em sua essência, é jurídicopositivo. O instituto da incorporação de ações está adstrito, em seus contornos legais, ao disposto em nosso ordenamento jurídico. Por consequência, sua classificação como ato com características de alienação ou subrogação depende inteiramente do modo como o Direito Positivo Brasileiro, do ponto de vista societário e tributário, regulou estes institutos. Sobre o tema, ainda na esteira das lições de Humberto Ávila, devemos partir e valorar com maior vigor a conotação legal atribuída aos institutos em questão, o fazendo antes de qualquer investigação de ordem jurisprudencial ou doutrinária, conforme passamos a relatar nos próximos tópicos. 5. INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. GANHO DE CAPITAL. 5.1. DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES NA LEGISLAÇÃO. A Lei 6.404/76 incutiu ao instituto da incorporação de ações um status de negócio jurídico típico, com contornos próprios e diversos de outros institutos do Direito. Sua disciplina consta do Capitulo XX da referida Lei, que tem por temática geral sociedade coligadas, controladoras e controladas. Seu regramento próprio consta como um subtítulo da Seção V do referido Capítulo. Tal seção regula a instituição das chamadas subsidiárias integrais, sendo a incorporação de ações uma forma típica e legalmente prevista para sua constituição. Os matizes do conceito de incorporação de ações constam do Art. 252 do diploma legal em foco. Assim são seus contornos jurídicopositivos: 1 Ávila, Humberto Contribuições e Impostos Sobre a Renda Estudos e Pareceres 2015, Editora Malheiros, Sãso Paulo SP Página 285. 2 Quanto aos conceitos LógicosFormais o autor indica como exemplos os conceitos de relação jurídica, direito subjetivo, norma jurídica. 3 Exemplos dados pelo autor são os conceitos de prescrição, decadência, atos e negócios jurídicos. Fl. 19338DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.308 55 "Art. 252. A incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertêla em subsidiária integral, será submetida à deliberação da assembléiageral das duas companhias mediante protocolo e justificação, nos termos dos artigos 224 e 225. § 1º A assembléiageral da companhia incorporadora, se aprovar a operação, deverá autorizar o aumento do capital, a ser realizado com as ações a serem incorporadas e nomear os peritos que as avaliarão; os acionistas não terão direito de preferência para subscrever o aumento de capital, mas os dissidentes poderão retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) § 2º A assembléiageral da companhia cujas ações houverem de ser incorporadas somente poderá aprovar a operação pelo voto de metade, no mínimo, das ações com direito a voto, e se a aprovar, autorizará a diretoria a subscrever o aumento do capital da incorporadora, por conta dos seus acionistas; os dissidentes da deliberação terão direito de retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) § 3º Aprovado o laudo de avaliação pela assembléiageral da incorporadora, efetivarseá a incorporação e os titulares das ações incorporadas receberão diretamente da incorporadora as ações que lhes couberem. § 4º A Comissão de Valores Mobiliários estabelecerá normas especiais de avaliação e contabilizarão aplicáveis às operações de incorporação de ações que envolvam companhia aberta. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)" O dispositivo transcrito, somando a outros que menciona, é claro e completo ao indicar as características essenciais do instituto, suas finalidades e o iter de sua realização, indicando tratarse de conceito próprio do ponto de vista jurídicopositivo e diverso de outros, como a incorporação de sociedades e o aumento do capital com bens, pontos que serão investigados nos próximos itens do voto. 5.2. INCORPORAÇÃO DE AÇÕES E INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADE DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS. Os institutos da incorporação de ações e incorporação de sociedades apresentam diferenças e semelhanças que merecem ser destacadas na presente investigação. São, assim, faces de uma mesma moeda, o que não as torna a mesma coisa, mas já é o suficiente para gerar alguns efeitos jurídicos semelhantes, como será visto adiante. Cabe registrar que tais operações estão tratadas objetivamente pela Lei das S.A., porém, em dispositivos diversos, não estando nem sob o mesmo alinhamento capitular. Fl. 19339DF CARF MF 56 A incorporação de sociedades é tema pertencente ao Capítulo XVIII que versa sobre Transformação, Incorporação, Fusão e Cisão de sociedades, enquanto que a incorporação de ações é tratada no âmbito das operações relativas às sociedades coligadas, controladoras e controladas, contidas no Capítulo XX. Em busca das diferenças e semelhanças, recorremos às orientações contidas na exposição de motivos da Lei das Sociedades Anônimas e, como era esperado, o texto indica os contornos comparativos entre os institutos, conforme passo a transcrever: " Seção V Subsidiária Integral (...) A incorporação de ações, regulada no artigo 253 é meio de tornar a companhia subsidiária integral, e equivale à incorporação de sociedade sem extinção da personalidade jurídica da incorporada. A disciplina legal da operação é necessária porque ela implica tal como na incorporação de uma companhia por outra em excepcionar o direito de preferência dos acionistas da incorporada de subscrever o aumento de capital necessário para efetivar a incorporação. Em compensação, para evitar que a subsidiária integral possa servir de instrumento para prejudicar acionistas minoritários da companhia controladora, o artigo 254 assegura direito de preferência para aquisição ou subscrição de ações do capital da subsidiária integral." (Grifamos) Sem deixar de indicar as diferenças dos institutos, o próprio legislador tratou de registrar serem a incorporação de ações e de sociedades, operações que guardam equivalência. No concernente às diferenças, o objeto da incorporação de sociedades implica na transmissão de todo o patrimônio da sociedade incorporada ao ativo da incorporadora, sendo uma transmissão de bens próprios da sociedade incorporada, enquanto que a incorporação de ações consiste na transmissão de todas as ações de uma companhia ao controle integral de outra, sem implicar na transmissão de bens da sociedade incorporada. No concernente às alterações na personalidade jurídica das sociedades envolvidas, os efeitos das operações são diametralmente opostos, pois, em suma, a incorporação de sociedades tem como efeito a extinção da sociedade incorporada (Art. 219, III), enquanto a incorporação de ações tem por consequência a continuidade da sociedade (Art. 252) objeto da operação, porém sob uma condição decisória centralizada, pois tornase uma subsidiária integral da sociedade que incorpora suas ações. No aspecto deliberativo, a incorporação de ações tem procedimento diverso da incorporação de sociedades. Na incorporação de ações caberá a Assembleia Geral da companhia incorporadora, se aprovar a operação, autorizar o aumento do capital, a ser realizado com as ações a serem incorporadas, devendo ainda nomear os peritos que as avaliarão. A assembleia geral da companhia cujas ações houverem de ser incorporadas somente poderá aprovar a operação pelo voto de metade, no mínimo, das ações com direito a voto, e se a aprovar, autorizará a diretoria a subscrever o aumento do capital da incorporadora, por conta dos seus acionistas. Fl. 19340DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.309 57 Os acionistas não terão direito de preferência para subscrever o aumento de capital, mas os dissidentes poderão retirarse da companhia, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230, (Art. 252, §1º), salvo se suas ações gozarem de liquidez e dispersão, situação que inibe o direito de retirada por meio de reembolso, cabendo aos dissidentes apenas exercer a faculdade de alienação de suas ações no mercado (Art. 137, II). Aprovado o laudo de avaliação pela assembléiageral da incorporadora, efetivarseá a incorporação e os titulares das ações incorporadas receberão diretamente da incorporadora as ações que lhes couberem. (Art. 252, §3º) O procedimento para se promover a incorporação de sociedades apresenta forma deliberativa diversa, parte de deliberação da Assembleia Geral da companhia incorporadora, que, se aprovar o protocolo da operação, deverá autorizar o aumento de capital a ser subscrito e realizado pela incorporada mediante reversão do seu patrimônio líquido, e nomear os peritos que o avaliarão. (Art. 227, §1º) A sociedade que houver de ser incorporada, se aprovar o protocolo da operação, autorizará seus administradores a praticarem os atos necessários à incorporação, inclusive a subscrição do aumento de capital da incorporadora. (Art. 227, §2º) Aprovados pela assembléiageral da incorporadora o laudo de avaliação e a incorporação, extinguese a incorporada, competindo à primeira promover o arquivamento e a publicação dos atos da incorporação. (Art. 227, §3º) Notese que, nos termos do Art. 252, §2º da Lei das S.A. a incorporação de ações se processa por meio de um conjunto de obrigações que se aproxima de um mandato sem representação4, já que caberá à Diretoria da incorporadora, por conta de seus sócios, não em nome destes, subscrever o aumento de capital. Em contraponto a essa característica, na incorporação de sociedades, o que prevalece é o mandato com representação, na medida em que a sociedade age em nome e a conta dos acionistas. É interessante notar que, no caso da incorporação de sociedades, a manifestação de vontade individual dos sócios é uma realidade, na medida em que são representados; já na incorporação de ações não há representação, denotando uma ausência de vontade. Na incorporação de ações o ato é praticado integralmente entre sociedades, na incorporação de sociedades os sócios têm participação. Este é um ponto que causa espécie, pois, como veremos, um dos fundamentos para considerar a incorporação de ações como ato de alienação passa por uma discussão a respeito da manifestação de vontade dos sócios. 4 Christiano Cassettari explica o conceito nos seguintes termos: "No mandato sem representação, o mandatário, apesar de intervir por conta e no interesse do mandante, não aparece revestido da qualidade de seu representante, agindo, pelo contrário, em nome próprio, e não em nome do mandante, pelo que é ele, mandatário, que adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes dos negócios que celebra. O mandato sem representação pressupõe: a) o interesse de certa pessoa na realização de determinado negócio sem intervenção pessoal própria ou por intermédio de representante; b) a interposição de outra pessoa para esse efeito por incumbência não aparente do titular daquele interesse; c) a celebração do negócio pela pessoa interposta com exclusão de qualquer referência ao verdadeiro interessado na produção dos efeitos conseguidos por essa pessoa; d) a transmissão para o mandante dos direitos adquiridos pelo mandatário na execução do mandato." Fl. 19341DF CARF MF 58 Apesar de, já adiantando nosso posicionamento sobre o tema, não existir manifestação de vontade dos acionistas na operação de incorporação de ações, eis que as personalidades da sociedade e sócios são inconfundíveis, ainda que esta manifestação de vontade estivesse presente, não seria suficiente para gerar resultados tributários diversos daqueles atribuídos aos acionistas de sociedades incorporadas. A Lei claramente os abnuiu os institutos, mas, como fato reconhecido na própria exposição de motivos, há uma equivalência entre os institutos e ainda, uma intercessão normativa quanto ao modo de efetivação dos efeitos jurídicopatrimoniais de ambos os institutos em relação aos acionistas. Ambos os institutos são regidos, quanto a consolidação da situação patrimonial dos acionistas, pelo disposto nos artigos 224, 225 e 264 da Lei das Sociedades Anônimas. Para ambos os casos, o efeito jurídico definido pelo legislador foi o de substituição de títulos e, por consequência, apesar de não serem idênticos, do ponto de vista dos sócios, tem os mesmos efeitos patrimoniais definidos em Lei. 5.3. INCORPORAÇÃO DE AÇÕES E A OPERAÇÃO DE AUMENTO DE CAPITAL COM SUBSCRIÇÃO EM BENS. Alguns doutrinadores argumentam proximidade entre o instituto da incorporação de ações e de aumento do capital com subscrição de bens. Este foi o entendimento adotado pelo Ilustríssimo Agente Fiscal como um dos fundamentos para realização do presente lançamento. Este também é o entendimento manifestado pela COSIT através da Solução de Consulta 224/14. Em artigo sobre o tema, o Professor Pablo Arruda5 resumiu o entendimento do órgão na ocasião: "No âmbito desta competência, proferiu a Solução de Consulta 224, de 14 de agosto de 201438, cujo consulente declarou ser acionista minoritário de sociedade em vias de tornarse subsidiária integral de outra, questionando se haveria a incidência de obrigação tributária em decorrência da operação e se a incorporação de ações caracterizaria uma transferência de bens a título de integralização de capital. Entendeu a Cosit consistir a incorporação de ações em “operação de integralização de capital mediante entrega de bens, tendo em vista os efeitos patrimoniais para o sócio, o qual, ao adquirir participação societária atual, entrega ações anteriormente possuídas”. E, por considerar existente a alienação de bens, a operação estaria sujeita à apuração de ganho de capital, nos termos do art. 3º da lei 7.713, de 22 de dezembro de 1988." Ora, registro, uma vez mais, que, de fato, não se pode confundir ou equiparar aquilo que o legislador claramente diferenciou. Em que pese a Sociedade que incorpora ações de outra ter como consequência um aumento em seu capital, tal aumento é mera decorrência da operação de 5 http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI260875,61044 A+Natureza+Juridica+da+Incorporacao+de+acoes+segundo+a+doutrina Fl. 19342DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.310 59 trasladação de ações da sociedade transformada em subsidiária integral, tal fenômeno jurídico não tem equivalência com a operação de aumento de capital prevista nos Art. 07 a 10 da Lei das Sociedades Anônimas. "SEÇÃO II Formação Dinheiro e Bens Art. 7º O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Avaliação Art. 8º A avaliação dos bens será feita por 3 (três) peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembléiageral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalandose em primeira convocação com a presença de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número. § 1º Os peritos ou a empresa avaliadora deverão apresentar laudo fundamentado, com a indicação dos critérios de avaliação e dos elementos de comparação adotados e instruído com os documentos relativos aos bens avaliados, e estarão presentes à assembléia que conhecer do laudo, a fim de prestarem as informações que lhes forem solicitadas. § 2º Se o subscritor aceitar o valor aprovado pela assembléia, os bens incorporarseão ao patrimônio da companhia, competindo aos primeiros diretores cumprir as formalidades necessárias à respectiva transmissão. § 3º Se a assembléia não aprovar a avaliação, ou o subscritor não aceitar a avaliação aprovada, ficará sem efeito o projeto de constituição da companhia. § 4º Os bens não poderão ser incorporados ao patrimônio da companhia por valor acima do que lhes tiver dado o subscritor. § 5º Aplicase à assembléia referida neste artigo o disposto nos §§ 1º e 2º do artigo 115. § 6º Os avaliadores e o subscritor responderão perante a companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que lhes causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens, sem prejuízo da responsabilidade penal em que tenham incorrido; no caso de bens em condomínio, a responsabilidade dos subscritores é solidária. Transferência dos Bens Art. 9º Na falta de declaração expressa em contrário, os bens transferemse à companhia a título de propriedade. Fl. 19343DF CARF MF 60 Responsabilidade do Subscritor Art. 10. A responsabilidade civil dos subscritores ou acionistas que contribuírem com bens para a formação do capital social será idêntica à do vendedor. Parágrafo único. Quando a entrada consistir em crédito, o subscritor ou acionista responderá pela solvência do devedor." Para além da questão normativa, já suficiente para diferenciar os institutos, o professor Humberto Ávila indica elementos aptos a demonstrar a diferenciação entre a incorporação de ações e a operação de aumento de capital com subscrição de bens. O primeiro deles consiste no fato das partes serem diferentes, pois na incorporação de ações se estabelece um negócio jurídico entre duas sociedades, enquanto que no aumento de capital a relação estabelecida é entre acionista e sociedade, através de negócios jurídicos bilaterais cujo objeto é a transferência de um bem ao patrimônio da sociedade emitindose ações de valor equivalente. Chama atenção para o fato de que a própria Lei das Sociedades Anônimas equipara o aumento de capital com subscrição de bens a uma operação de alienação ao dispor: "Art. 9º Na falta de declaração expressa em contrário, os bens transferemse à companhia a título de propriedade." Segundo o autor, isso ocorre exatamente porque a manifestação de vontade do acionista é essencial ao negócio, devendo este aceitar e aprovar o valor indicado pela Assembleia para que a operação se torne perfeita. Já na incorporação de ações tal manifestação de vontade individual é irrelevante, sendo a vontade a Sociedade, por maioria reunida em Assembleia Geral, a que prevalecerá. Diferente do que ocorre com a incorporação de ações, não há qualquer intercessão normativa entre o instituto do aumento de capital com bens e a incorporação de ações, sendo insustentáveis as teses nesse sentido, porquanto não há como equiparar o que a lei abnuiu. 5.4. AUTONOMIA CONCEITUAL DO INSTITUTO DA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. Como se pode perceber, além de regramentos próprios, a Incorporação de Ações possui características únicas e capazes de diferenciála de outros institutos do Direito Societário Brasileiro. Daí sua conceituação não poder ser realizada a partir de outros institutos, mas de modo autônomo e com base em seus próprios normativos delineadores, tendo também efeitos jurídicos próprios e diversos dos demais institutos analisados. Ainda seguindo as lições do professor Humberto Ávila, que desenhou muito bem a aplicação técnica hermenêutica mais adequada ao presente caso, não se pode ignorar o postulado exegético da razão suficiente que procura demonstrar que o legislador persegue algum objetivo quando usa termos iguais ou diferentes, ficando o intérprete, na busca desta finalidade, obrigado a atribuir o mesmo sentido a termos diferentes e sentidos diversos a termos iguais. Fl. 19344DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.311 61 Outro postulado hermenêutico citado pelo autor é o da não redundância, pois, se a Lei, na mesma fonte normativa, tratou de institutos diversos, não pode o aplicador do direito atribuir significado no todo ou em parte idênticos. Caminhando para afastar derradeiramente qualquer confusão doutrinária que se possa criar quanto às características e conceituação única da Incorporação de Ações, bastaria se ater ao postulado contido na Lei de Introdução ao Direito Brasileiro, requisito da especialidade, para concluir que a norma específica prevalece sobre a geral. Pois bem, no que concerne ao uso de termos semelhantes para designar incorporação de ações e de sociedade, quis o legislador deixar claro serem operações semelhantes em alguns aspectos, sem deixar de especificar suas diferenças. Indicou que tais operações partilham de resultado patrimonial semelhante em relação aos acionistas, em que pese terem procedimentos e finalidades diversas. Já quanto ao aumento de capital com bens, tal instituto é regra geral que se deixa de aplicar ante a especialidade normativa contida no Art. 252. O único ponto que tais institutos partilham é o aumento do capital, porém, de modos, com finalidades, partes e efeitos jurídicos totalmente diversos. Desse modo, restaram afastadas as eventuais confusões comparativas entre os institutos. Não sendo adequado equiparar tal operação ao aumento de capital com bens, norma geral em relação a qual o legislador excepcionou a sua aplicabilidade no que diz respeito a incorporação de ações, pois não há termos semelhantes tão pouco partilham de dispositivos legais, procedimentos, partes ou finalidades, seguindo, reprisese, o postulado de que a norma especial prevalece sobre a geral. O consequente aumento de capital com bens aferido na incorporação de ações também se verifica na incorporação de sociedade, e nem por isso se pode dizer serem a mesma coisa, pois estaríamos ferindo uma série de postulados hermenêuticos básicos como as já citadas não redundância, razão suficiente e especialidade. Também não se pode dizer que incorporação de ações e de sociedades são a mesma operação. Obviamente são diferentes. O legislador nomeou esses institutos com termos semelhantes e indicou uma intercessão normativa representada, justamente, pelos Art. 224, 225, dispositivos especiais que indicam os efeitos decorrentes das operações em estudo. Apesar de não serem a mesma coisa, partilham do mesmo destino, mais uma vez: "incorporação de ações, regulada no artigo 253 é meio de tornar a companhia subsidiária integral, e equivale à incorporação de sociedade sem extinção da personalidade jurídica da incorporada." Nos próximos itens, investigaremos os efeitos jurídicos da operação de incorporação de ações pelo que é, dada suas características próprias, definidas a partir de seus contornos jurídicopositivos. 5.5. INCORPORAÇÃO DE AÇÕES ALIENAÇÃO OU SUBROGAÇÃO? As análises promovidas até este ponto visavam demonstrar a diferença entre os institutos do aumento de capital com bens, a incorporação de sociedades e a incorporação de Fl. 19345DF CARF MF 62 ações, o primeiro com clara natureza alienatória, o segundo inquestionavelmente subrogatória, já este último merece ser investigado por seus próprios contornos legais. Sendo o que pretendemos realizar deste ponto em diante. De modo preambular, cabe registrar que o professor Pablo Gonçalves e Arruda, em conjunto com a Dra. Natalia de Moura Soares, publicou um excelente artigo abordando as dissensões doutrinárias sobre o tema. Segundo seus registros, a declaração da adequada natureza jurídica da Incorporação de Ações vem sendo disputada por três correntes doutrinárias: "Capitaneada pelo Professor Dr. Nelson Eizirik, a primeira corrente trata a incorporação de ações como subrogação real, ou (mera) substituição de ativos de igual valor econômico, que não gera, portanto, ganho de capital, sendo tampouco tributável essa operação, sob o ponto de vista do patrimônio pessoal do ex acionista da incorporada. Numa segunda corrente doutrinária, defende o insigne Professor Modesto Carvalhosa, que a operação consiste em “negócio sui generis”, que importa em concomitantes incorporação e alienação fictas das ações da companhia incorporada, podendo levar à verificação de ganho de capital, hipótese de operação tributável. De maneira semelhante ao último entendimento, posicionamse Luís Eduardo Schoueri e Luiz Carlos de Andrade Júnior, que sustentam que a incorporação de ações é um negócio societário típico, que, consequentemente, enseja a apuração de ganho de capital tributável. Esta posição, assim como a defendida por Modesto Carvalhosa, pressupõe que há, na incorporação de ações, a concomitância das operações de alienação e de aquisição de ações, ainda que de maneira ficta, divergindo aquela corrente desta, apenas no que diz respeito ao caráter involuntário da transferência das ações por parte dos acionistas minoritários, atribuído por esta terceira posição doutrinária." O Professor Pablo Arruda conclui seu artigo se filiando à corrente capitaneada pelo Doutor Nelson Eizirik, e usa um argumento realmente interessante, observando que, a prevalecer o entendimento de que a Incorporação de Ações não representaria subrogação, estaríamos pondo em xeque o próprio instituto da subrogação: "A despeito das rigorosas críticas travadas por Schoueri e Andrade Júnior e do seu recente abandono pelos órgãos decisórios fiscais, filiamonos à corrente liderada por Nelson Eizirik. Entendemos ser mais adequado categorizar a incorporação de ações prevista no art. 252 da LSA como sub rogação real, na medida em que a operação tem o claro intuito de viabilizar que uma companhia passe à condição de subsidiária integral daquela que adquire suas ações, sobressaindose sua vocação para a concentração empresarial. Assim, não buscam os acionistas ou a sociedade adquirente (figuras afetadas pela aquisição ou perda de titularidade das ações incorporadas) lucrar com a compra ou venda de títulos de participação societária – senão com o desenvolvimento das atividades de ambas as sociedades, que passam a atuar em Fl. 19346DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.312 63 grupo. Isto é, tanto os detentores das ações adquiridas por outra companhia como a companhia adquirente vislumbram na incorporação de ações um instrumento para viabilizar a integração das duas companhias. Feita esta observação, concluímos que a operação não pressupõe, necessariamente, que o valor atribuído às ações da companhia incorporadora recémemitidas e entregues aos acionistas que detinham ações da companhia cujas ações são incorporadas seja superior ao conferido às ações que eles detinham em primeiro lugar. A relação de substituição deve ser considerada como ponto crucial da análise. Ela faz com que a participação que contribui para o capital da controladora reflita o percentual que proporcional no capital social da controladora. Haverá interesse pessoal e social – ou seja, dos acionistas individualmente considerados e da AssembleiaGeral constituída por tais acionistas – na incorporação de ações independentemente de o valor ofertado pela companhia incorporadora ser superior à somatória de todas as ações da companhia cujas ações são incorporadas, isto é, independentemente de ágio na operação. No entanto, não é este o cerne da questão, pois mesmo que o ágio exista, não há, na incorporação de ações, alienação, de forma a inviabilizarse a tributação de eventual diferença patrimonial positiva na propriedade dos acionistas. Há, como já apresentado em tópicos anteriores, a subrogação real: o acionista, que antes titularizava ações de uma companhia, passa a titularizar ações de outra companhia, mantendose na condição de acionista indireto daquela primeira. Certamente que a substituição de um bem por outro acarreta mudanças, já que as duas companhias podem ter distinções, como de objeto social, política, valores, mas a condição de titular de participação societária é preservada. Além disso, a prevalecer o argumento de que não se pode conceber a incorporação de ações como subrogação real simplesmente porque o acionista passa a ter participações em companhia diversa daquela de que inicialmente participava, colocase em xeque o próprio instituto da subrogação, já que qualquer mudança (quer de partes em uma relação, quer de objeto) acarretará, a rigor, uma nova relação. Sendo assim, o acionista de companhia cujas ações são incorporadas para que esta se torne subsidiária integral da companhia que adquire a totalidade das suas ações, ao receber ações recémemitidas pela sociedade “incorporadora” não troca a relação jurídica, senão apenas o objeto de tal relação (daí a natureza de subrogação real)." Ante as dissensões postas, acreditamos ser necessário expor o conceito de subrogação real com o qual trabalharemos neste voto, eis que não se trata de conceito de amplo conhecimento e lida comum no diaadia como ocorre com a alienação. Fl. 19347DF CARF MF 64 Como diapasão, vamos nos referenciar em definição emitida pelo próprio Fisco através do Parecer Normativo CST nº 39 de 19/10/1981, que, apesar de antigo, continua atual, dado que estamos tratando de conceitos: "Como a define Pedro Nunes, a subrogação real ocorre no caso de substituição de uma coisa por outra, que fica em lugar da primeira com a transferência implícita, para o subrogado, de todos os direitos e ações do subrogante ("Dicionário de Técnica Jurídica"). Por outras palavras, um bem fica no lugar de outro, juridicamente, sem que o patrimônio, ou os patrimônios, tenham deixado de ser, em qualquer momento, universalidades (...)" E quanto à importância deste conceito para a presente lide, bastar ter em conta que, em se tratando de uma mera substituição de determinada coisa por outra equivalente, não haveria alterações no estado patrimonial capaz de ensejar o surgimento de lançamento relativo a Imposto de Renda, daí surgindo os conflitos doutrinários quanto a sua condição de operação com viés subrogatório ou alienatório. De nossa parte, sem qualquer receio e com a devida vênia, não vislumbramos sustentabilidade em teses que buscam promover o enquadramento de tal operação como uma espécie de alienação de ações, tão pouco entendemos ser possível promover uma equiparação ao aumento de capital com bens como pretendeu o ilustríssimo Agente Fiscal. A Incorporação de Ações não se equipara à alienação de bens. Alienar tem como base a perda de propriedade, o rompimento definitivo do liame jurídico real estabelecido com o objeto de domínio, sendo o que dispõe o próprio Código Civil de 2002 em seu Art. 1.275, inciso I: "Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde se a propriedade: I Por alienação;" E, no presente caso, como bem definiu Pablo Arruda ao tratar da operação de Incorporação de Ações, "o acionista, que antes titularizava ações de uma companhia, passa a titularizar ações de outra companhia, mantendose na condição de acionista indireto daquela primeira", não havendo perda da propriedade, não se rompe a relação jurídica, senão apenas mudança do objeto de tal relação. Cabe observar ainda que a concretização de uma alienação pressupõe a realização de um negócio jurídico bilateral cujo objeto seja a transferência, a título gratuito ou oneroso, de um direito ou bem a terceiro. Para que um negócio seja bilateral, é preciso haver manifestação de vontade das partes e tal situação não se verifica na incorporação de ações. Tratase de operação entre sociedades cujo objeto tem como resultado a intervenção na propriedade alheia, conforme autorizado por Lei Especial. Com efeito, não há como confundir a manifestação de vontade social com a manifestação de vontade dos sócios. A autonomia da personalidade jurídica é princípio basilar de nosso direito empresarial. Tal situação é tão forte que tem reflexos contábeis, pois o princípio da entidade também é estrutural em tal ciência. Fl. 19348DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.313 65 O ordenamento jurídico brasileiro prima pela adoção da teoria institucional do direito de voto, em que o exercício do direito de voto pelo sócio não representa, necessariamente, sua vontade. O alinhamento entre a vontade da sociedade e do sócio pode até ocorrer, mas não é uma exigência essencial ao exercício do direito de voto. Outrossim, é preciso lembrar que existe parcela de acionistas que não possuem direito de voto mas são atingidos pela deliberação assemblear. Não raro, os sócios são obrigados a votar de forma diversa aos seus interesses pessoais pois deve prevalecer os interesses da sociedade, sob pena de abuso do direito de voto. Por fim, tratase de uma decisão de maioria e não unanimidade ou mesmo de 2/3 dos sócios, portanto, não há como confundir a decisão assemblear com manifestação de vontade dos sócios, tão pouco é factível pressupor que ao aderir ao Estatuto Social, estes manifestam sua vontade de modo antecipado, pois, em muitos casos, tal manifestação de vontade individual é condição basilar da operação, como é o caso do aumento de capital, por exemplo. Não havendo manifestação de vontade dos sócios, já que a vontade da Sociedade é inconfundível com a do sócio, tão pouco havendo o rompimento de uma relação jurídica estabelecida, já que esta se mantém, ainda que indiretamente, não é possível admitir a classificação da operação de incorporação de ações como uma espécie de alienação, por absoluta incompatibilidade entre os institutos. Quanto a definição de sua natureza subrogatória, aplicando o método hermenêutico que elegemos para a presente investigação e priorizando o disposto em Lei especial, dado o fato de estarmos diante de um conceito jurídicopositivo, logo se percebe que o único verbo relacionado ao ajuste patrimonial incidente sobre o patrimônio dos acionistas é SUBSTITUIR. Vejamos, uma vez mais, o que diz a Lei das Sociedades Anônimas sobre o tema: "Art. 252. A incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertêla em subsidiária integral, será submetida à deliberação da assembléiageral das duas companhias mediante protocolo e justificação, nos termos dos artigos 224 e 225" (grifamos) O dispositivo base da operação em comento faz remissão ao iter disposto nos Artigos 224 e 225, assim, vejamos o que a Lei elencou como resultado da deliberação de que trata o Art. 252: "Art. 224. As condições da incorporação, fusão ou cisão com incorporação em sociedade existente constarão de protocolo firmado pelos órgãos de administração ou sócios das sociedades interessadas, que incluirá: I o número, espécie e classe das ações que serão atribuídas em substituição dos direitos de sócios que se extinguirão e os critérios utilizados para determinar as relações de substituição; (destaque nosso) Fl. 19349DF CARF MF 66 (...) Art. 225. As operações de incorporação, fusão e cisão serão submetidas à deliberação da assembléiageral das companhias interessadas mediante justificação, na qual serão expostos: (...) III a composição, após a operação, segundo espécies e classes das ações, do capital das companhias que deverão emitir ações em substituição às que se deverão extinguir; (destacamos) E o Art. 264 da mesma Lei complementa o quadro interpretativo, esclarecendo de vez qual o ato jurídico a ser praticado, no que se refere as ações a serem incorporadas: "Art. 264. Na incorporação, pela controladora, de companhia controlada, a justificação, apresentada à assembléiageral da controlada, deverá conter, além das informações previstas nos arts. 224 e 225, o cálculo das relações de substituição das ações dos acionistas não controladores da controlada com base no valor do patrimônio líquido das ações da controladora e da controlada, avaliados os dois patrimônios segundo os mesmos critérios e na mesma data, a preços de mercado, ou com base em outro critério aceito pela Comissão de Valores Mobiliários, no caso de companhias abertas. (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001) (grifamos) E a palavra "substituir", em seu sentido vernacular, significa pôr uma coisa em lugar de outra, trocar, permutar, subrogar. A Lei é clara e, com toda vênia, entendemos que não cabe ao intérprete alterar o significado do texto legal neste caso. Para além da clareza normativa, as características e efeitos da operação se amoldam a significado do termo substituir, subrogar. O próprio legislador já indicou na exposição de motivos as razões de dispor em pontos diversos da Lei os contornos dos institutos da incorporação de ações e de sociedades, contudo, deixou clara a ligação entre eles evocando sua condição de equivalência e os fazendo partilhar dos mesmos dispositivos quanto aos efeitos patrimoniais relacionados aos acionistas. Sendo o resultado final para o acionista a substituição de título por título e com valores equivalentes, não há como atribuir tratamento jurídico diversos daquele atribuído a incorporação de sociedades no que tange a situação patrimonial dos sócios. Vejase: "547 — Qual é o tratamento tributário na substituição de ações ocorrida em virtude de cisão, fusão ou incorporação? A substituição de ações, na proporção das anteriormente possuídas, ocorrida em virtude de cisão, fusão ou incorporação, pela transferência de parcelas de um patrimônio para o de outro, não caracteriza alienação para efeito da incidência do imposto sobre a renda. A data de aquisição é a de compra ou subscrição originária, não tendo havido emissão ou entrega de novos títulos representativos da participação societária. Atenção: O montante das novas participações societárias deve Fl. 19350DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.314 67 ser igual ao custo de aquisição da participação societária originária. (Parecer Normativo CST nº 39, de 1981). 6" Assim, reforçamos nosso entendimento no sentido de que o resultado da operação de incorporação de ações é a subrogação real, troca de título por título. O próprio Conselho Superior de Recursos Fiscais já se posicionou no sentido do voto ora exposto: “A figura da incorporação de ações, prevista no artigo 252 da Lei n° 6.404/76, difere da incorporação de sociedades e da subscrição de capital em bens. Com a incorporação de ações, ocorre a transmissão da totalidade das ações (e não do patrimônio) e a incorporada passa a ser subsidiária integral da incorporadora, sem ser extinta, ou seja, permanecendo com direitos e obrigações. Neste caso, se dá a substituição no patrimônio do sócio, por idêntico valor, das ações da empresa incorporada pelas ações da empresa incorporadora, sem sua participação, pois quem delibera são as pessoas jurídicas envolvidas na operação.” (Acórdão 9202003.579 – 2ª Turma – CSRF)" Nessa toada, o entendimento do c. Tribunal Regional Federal da 4ª Região, da lavra do e. Desembargador Federal Otávio Roberto Pamplona, in verbis: TRIBUTÁRIO. SOCIETÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. PESSOA FÍSICA. SUBSTITUIÇÃO DE AÇÕES NA CONVERSÃO EM SUBSIDIÁRIA INTEGRAL. GANHO DE CAPITAL. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE RECEBIMENTO DE VALORES. HIPÓTESE DE NÃO INCIDÊNCIA. IRRELEVÂNCIA DE SE CONSIDERAR A HIPÓTESE COMO ALIENAÇÃO. DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCAL. DECISÃO POR MAIORIA. 1. Há uma diferença de natureza entre a incorporação de sociedades e a incorporação de ações. No caso da primeira, há uma transferência integral do patrimônio da empresa incorporada, inclusive de seus direitos e obrigações, que deixa de existir. No caso da incorporação de ações, a empresa incorporada não deixa de existir, havendo a transferência apenas das ações para a incorporadora. No caso da conversão da empresa em subsidiária integral, a incorporadora passa a ser sua única sócia. 2. No caso dos autos, a parte autora detinha 92% das ações da empresa incorporada, transferidas à incorporadora, que, em contrapartida, entregou aos acionistas da incorporada a mesma proporção de ações que estes detinham antes. Na prática, as ações da parte autora subrogaramse nas novas ações, tendo sido mantido, na sua declaração de bens, o valor de custo das ações e não o valor da avaliação mercadológica, esta imposta pela Lei das Sociedades Anônimas. (Lei . 6.404/76) 6 http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaFisica/IRPF/2010/Perguntas/GanhoCapital.htm Fl. 19351DF CARF MF 68 3. Hipótese em que a mais valia decorrente da avaliação das ações dadas em substituição, determinada pelo art. 252 e §§ da Lei das Sociedades Anônimas, não está sujeita à incidência do Imposto de Renda da Pessoa Física, mormente se a pessoa física manteve em sua declaração de bens o valor de custo das ações. 4. No caso, da análise da situação fática, da doutrina e da parca jurisprudência administrativa e judicial a respeito, podese chegar as seguintes conclusões: (a) a conversão em subsidiária integral foi tida pelo Fisco como legítima, não se caracterizando como abuso de direito ou ato fraudulento, embora não se possa ser ingênuo, do ponto de vista tributário, e desconsiderar que se tratou de uma ação de planejamento fiscal; porém, legítima, tanto que não aplicada a multa de 150%, prevista para as situações fraudulentas; considerouse, em relação à pessoa física, ter ocorrido apenas omissão do ganho de capital na declaração de ajuste; (b) a avaliação das ações da empresa para a obtenção do valor de mercado é decorrência de uma imposição legal (art. 252, § 1º, da Lei 6.404/76); (c) o contribuinte pessoa física autuado manteve em sua declaração de ajuste o valor que dela já constava, não considerando a mais valia decorrente da avaliação que, frise se, decorre de imposição legal; (d) a incorporação de ações, no caso, mesmo que se considere uma alienação, não implicou em recebimento de valores em dinheiro, tendo ocorrido, segundo a doutrina que aderiu a maioria do colegiado, mera substituição de ações, sendo o aumento de capital daí decorrente apenas meio e não fim; (e) a substituição de ações, portanto, não gera ganho de capital tributável pelo IRPF, por se constituir em mera troca de ações. Não se aplica, por conseguinte, na espécie, a regra constante no artigo 3º, § 3º, da Lei n. 7.713/88, nem tampouco a inserta no artigo 23 da Lei nº 9.249/95, esta última um dos fundamentos básicos do ato fiscal; (f) a tributação pelo imposto de renda pessoa física, na hipótese, representaria tributação sobre renda virtual, transformandose em tributação sobre o patrimônio e não sobre renda efetivamente auferida, ofendendo, ainda, o princípio da capacidade contributiva e o regime de caixa, regra geral de tributação do imposto de renda da pessoa física. 5. Análise da situação sob a perspectiva da pessoa física. 6. Quanto à verba honorária, arbitrada em quantia fixa, fica mantida, na linha dos precedentes desta Turma, considerandose os parâmetros do art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC, pois, vencida a Fazenda Pública, a mesma se apresenta consentânea, na medida em que o julgamento da causa ocorreu sem maiores incidentes processuais, não tendo ocorrido instrução probatória delongada, sendo o feito sentenciado com base nos documentos adunados aos autos pelas partes, cingindose a discussão a questão Fl. 19352DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.315 69 jurídica pontual, a despeito de relativamente nova no âmbito judicial a matéria. Fica mantida, também neste particular, a sentença. Recurso da parte autora improvido. 7. Sentença de procedência mantida, inclusive quanto aos ônus sucumbenciais, por maioria, e, nessa linha, afastada a autuação fiscal. 5.6. DA AUSÊNCIA DE REALIZAÇÃO DA RENDA NA INCORPORAÇÃO DE AÇÕES. Em nossa investigação quanto a natureza jurídica da incorporação de ações, concluímos por sua essência subrogatória real, mas ainda que estivéssemos diante de uma operação de alienação, um outro elemento precisaria estar presente para que tivéssemos a possibilidade de enquadrar o evento como tributável pelo Imposto Sobre a Renda, qual seja, a realização de renda. Importante registrar que o conceito de renda é aberto e, por tal razão, está em constante transformação, sendo uma construção doutrinária e jurisprudencial balizada pelo disposto na Constituição Federal e Código Tributário Nacional. O Código Tributário Nacional, conforme disposições contidas em seu Art. 43, apresenta maiores detalhamentos quanto aos elementos que compõem o conceito de renda e o fato gerador do Imposto referente: "SEÇÃO IV Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. §1º A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção. (Incluído pela Lcp nº 104, de 2001) §2º Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo. (Incluído pela Lcp nº 104, de 2001)" Renda é um conceito dinâmico que se opõem ao de capital, este estático. Segundo Edwin R. A. Seligman citado por Henry Tilbery7, caracterizase capital como "fundo" e a renda como "fluxo de riqueza". 7 Martins Silva, Ives Grandra Comentários ao Código Tributário Nacional 5ª Edição Volume I Ed. Saraiva SP Pag. 345. Fl. 19353DF CARF MF 70 Da leitura do dispositivo, verificamos que consta como fato gerador a "aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica" de renda, ou seja, incidência sobre o fluxo de riquezas com exclusão do fundo originário, o que se coaduna com a Teoria do Acréscimo Patrimonial (increment of wealth theory) adotada por nosso sistema tributário para a tributação da renda. Ou seja, somente deve ser tributada a nova riqueza acrescida ao patrimônio do contribuinte, sob pena de se tributar o capital, o fundo que deu origem a riqueza em foco. Hugo de Brito Machado8 entende que: "I) disponibilidade econômica nasce do recebimento do valor que se vem acrescentar ao patrimônio do contribuinte; II) disponibilidade Jurídica nasce do simples crédito de valor do qual o contribuinte passa, juridicamente, a dispor, embora este não lhe esteja ainda nas mãos." Importante observar que não são fatos geradores do IR a renda ou proventos de qualquer natureza, tão pouco a sua disponibilidade econômica ou jurídica, mas sim a aquisição de renda com disponibilidade econômica ou jurídica, ou seja, somente o acréscimo patrimonial realizado é capaz de fazer surgir a obrigação tributária em questão. E justamente essa nuance jurídica revelou um princípio que deve ser observado na determinação da existência ou não de fato gerador do Imposto Sobre a Renda, o chamado Princípio da Realização da Renda. Para Fernando Aurélio Zilvetti, citado por Elidie P. Bifano9 "o princípio da realização da renda assenta na identificação, antes de impor ao contribuinte uma obrigação de pagar o tributo, que a renda tenha sido realizada. A realização da renda somente ocorre quando o contribuinte tem condições de considerar como separado de seu patrimônio, o bem ou direito cuja realização lhe dará condições de assegurar a riqueza objeto da tributação. A separação em referência há de ser além de um direito, disponível imediatamente, o que não ocorre, necessariamente, quando se configura a disponibilidade econômica e a jurídica de que cuida a lei brasileira, pois nenhuma deles assegura ao contribuinte a certeza da renda realizada." E prossegue Fernando Aurélio Zilvetti, lecionando que a incidência do imposto de renda somente deve se efetivar sobre os acréscimos destacados do patrimônio original do contribuinte, apenas quando realizada a renda, pois esse acréscimo realizado é que lhe permitirá pagar o tributo, sob pena de ter de vir a pagar o tributo embora não tenha renda disponível. Nas operações de incorporação de ações a reavaliação do patrimônio é um mandamento legal da Lei das Sociedades Anônimas. Este procedimento traz o valor presente e corrente os títulos que serão objeto de substituição para assim achar a justa medida da equivalência que dará lastro a operação. Para este ponto é que devemos voltar nossa atenção, pois é fato que, com a realização de uma reavaliação dos ativos em questão, novos valores surgirão, o que representa sim um ganho de capital. Dada a natureza do objeto desta operação também não se pode dizer que não há disponibilidade jurídica ou econômica desta renda, porém, chamando atenção para este ponto, isto não implica necessariamente em aquisição de renda nova, menos ainda em renda destacada do patrimônio original do contribuinte ou certeza de sua justa medida. 8 Machado, Hugo de Brito Curso de Direito Tributário Pagina 315 9 Bifano, Elidie Palma O mercado financeiro e o Imposto Sobre a Renda Quartier Latin Pag. 131 Fl. 19354DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.316 71 Notem que ao adquirirmos uma ação com liquidez e dispersão no mercado, ela oscila diariamente, em determinados momentos seu valor pode superar 100, 200, 1 milhão de vezes o valor originário de aquisição de tais ações. Contudo, em que pese ser possível verificar um ganho de capital com disponibilidade jurídica e econômica em cada um destes momentos em que as ações tiveram uma variação, a riqueza não se realizou, razão pela qual não temos a conformação plena ao fato gerador do Imposto de Renda ao longo de tais períodos. No exemplo citado, a aquisição de renda somente será realizada, ou seja, será uma parcela nova e destacada do patrimônio original do contribuinte, no momento de sua alienação. Até que tal ato seja praticado, o que existe é apenas uma potencial aquisição de renda ou ganho potencial de capital. Nas operações de incorporação de ações, ao se elaborar uma reavaliação dos ativos em questão, temos uma representação do fluxo de riqueza naquele momento. Riqueza esta que é integrada ao patrimônio do contribuinte atingido pelos efeitos da operação em análise. Ao se consolidar a substituição dos títulos por novos, não há como identificar a parcela de riqueza adicional ao patrimônio original e deste destacado. Notem que valor contábil ou de registro e valor econômico ou de mercado são grandezas que não caminham sob a mesma dinâmica. Uma sociedade pode apresentar valor de registro e contábil bem inferior ao seu valor de mercado, pois existem fatores no tempo que impactam esta condição. Tomando este fato, devemos centrar nossas atenções a um ponto, o de que não é o ganho de capital, sua disponibilidade jurídica ou econômica que gera a obrigação de pagar o tributo em lide, mas a aquisição de tal elementos. Admitir o contrário, implicaria em permitir que o fisco, a qualquer momento, proceda a uma reavaliação de empresas e bens para fazer incidir o imposto de renda em testilha, pois, inquestionavelmente, seria verificável diferenças entre o valor de registro e o de mercado, havendo disponibilidade jurídica e econômica de tais riquezas. Porém, o que não há no exemplo citado é renda realizada, pois não há a certeza de que, no momento em que o contribuinte resolva, por qualquer meio admitido em direito, alienar, romper, sua relação jurídica com o bem ou direito que corporifica o suposto ganho de capital, a diferença entre o valor de registro ou aquisição e o de avaliação em determinado momento, pode ser bem superior àquele apurado na realização da renda. De volta ao tema, o art. 43 do CTN é claro ao indicar que não basta a existência de renda, de disponibilidade jurídica ou econômica, é necessário a sua aquisição de modo realizado com identificação de parcela destacada do patrimônio originário do contribuinte, situação que será verificada no momento da alienação das ações, caracterizada pelo rompimento definitivo de relação jurídica com o conjunto de riquezas objeto da incorporação de ações. No contexto em análise, o que toca o nosso convencimento é o fato de não existir renda realizada em operações de incorporação de ações. A prevalecer tese diversa, correse o risco de se tributar o capital ou renda potencial, situações jurídicas que não compõem a hipótese de incidência do IR. Fl. 19355DF CARF MF 72 Na incorporação de ações, verificase a ausência de rompimento efetivo com o objeto da relação jurídica patrimonial, portanto, as grandezas de riqueza que devem ser utilizadas para construção de uma base adequada de troca são aquelas representadas pelo valor de mercado das ações no momento da reavaliação. A apuração de diferenças entre o valor de registro e o de mercado, na medida em que não se rompe relação com a universalidade patrimonial originaria, é irrelevante para fins de incidência do imposto de renda, por não denotar nova riqueza, tão pouco ser riqueza realizada, não passando de ganho potencial de capital verificável apenas no momento de uma efetiva alienação das ações referentes, o que somente ocorrerá no futuro. Notem que o valor de registro originário dos bens em questão foram mantidos na declaração original do contribuinte, portanto, em uma alienação futura das ações, momento em que haverá rompimento de relação definitiva com o bem e definitividade do valor do patrimônio é que se apurará ganho de capital e renda realizada. 5.7. DO CASO. Postos os conceitos com os quais trabalharemos, passamos ao voto, levando em consideração a conformação destes conceitos ao presente caso com indicação de suas consequências tributárias, segundo o convencimento deste relator. 5.7.1. INCORPORAÇÃO DE AÇÕES DO BANCO REAL E DA AAB DOIS PAR AO PATRIMÔNIO DO BANCO SANTANDER BRASIL S.A. A incorporação de ações do Banco Real e da AAB Dois Par é a última de uma série de outras operações de organização societária que assim podem ser resumidas: 1ª Fase Em 01/11/2007, por oferta pública, aquisição da ABN AMRO Holding N.V., pela RFS Holdings B.V., grupo formado pelo Banco Santander S.A., domiciliado na Espanha (“Banco Santander Espanha”), The Royal Bank of Scotland Group plc, domiciliado na Escócia, e Fortis N.V., domiciliado na Holanda, constituíram, na Holanda, a sociedade RFS Holdings B.V., tendo os sócios subscrito e integralizado capital nos seguintes montantes (valores em milhões de Euros): Sócio Capital Subscrito Percentual Banco Santander Espanha 20.615 27,9% Royal Bank of Scotland 28.271 38,3% Fortis N.V. 24.972 33,8% 2ª Fase Segregação dos ativos e unidades de negócio da ABN Holding, ao Santander Espanha, efetivada em duas etapas. A primeira consistiu na transferência de 100% das ações da ABN AMRO Asset Management Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. (“AAAM DTVM”), CNPJ 10.977.742/000125, domiciliada no Brasil; 97,62% das ações do Banco ABN AMRO Real S.A. (“Banco Real”), CNPJ 33.066.408/000115, domiciliado no Brasil; 99,99% das ações da ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. (“AAB Dois Par”), CNPJ 05.515.360/000140, domiciliada no Brasil; e Fl. 19356DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.317 73 45% das ações da ABN AMRO Asset Management Italy SGR S.p.A. (“AAAM Italy”), domiciliada na Itália para a Sterrebeeck sediada na Holanda e controlada pela ABN AMRO Holding N.V., por meio de, em 28/03/2008, cisão parcial do ABN AMRO Asset Management Holding N.V., transferindose para a Sterrebeeck a totalidade das ações de emissão da AAAM DTVM e, em 28/04/2008, cisão parcial do ABN AMRO Bank N.V., com versão da parcela cindida à Sterrebeeck, transferindose, pelo valor histórico contábil de €5.156.623.000,00, as ações do Banco Real, AAB Dois Par e AAAM Italy: Descrição Valor (€) Banco Real 4.639.509.000,00 AAB Dois Par 481.832.000,00 AAAM Italy 35.282.000,00 Total 5.156.623.000,00 Além disso, em 20/05/2008, a Sterrebeeck adquiriu a totalidade das ações da Interbanca S.p.A. (“Interbanca”), situada na Itália, detidas pelo Banco Antonveneta S.p.A. A fiscalização relata que a segunda etapa da transferência das participações acionárias para o Banco Santander Espanha se deu em 24/07/2008, com a venda da totalidade das ações da Sterrebeeck para o Banco Santander Espanha por €15.308.500.000,00. Acrescenta que esse valor é muito superior ao patrimônio líquido da Sterrebeeck, que era de €5.213.783.406,00, possibilitando ao Banco Santander Espanha: I) registrar a participação na Sterrebeeck pelo valor de €15.308.500.000,00 e II) reconhecer o pagamento de uma maisvalia (“fondo de comercio financiero”) pelo ativo adquirido, passível de amortização pela legislação espanhola (benefício fiscal previsto no artigo 12.5 do Real Decreto Legislativo 4/2004). Desta maneira, registra o próprio agente fiscal, o Banco Santander Espanha, por intermédio da aquisição da Sterrebeeck efetivou a aquisição das unidades de negócio do Grupo ABN AMRO, inclusive no Brasil: 3ª Fase Consolidação dos negócios do Banco Santander Espanha no Brasil, mediante a incorporação das ações do Banco Real e do AAB Dois Par ao patrimônio do Banco Santander Brasil Registrase que não há controvérsia quanto a ocorrência de Incorporação de Ações do Banco Real e da AAB Dois Par ao patrimônio do Banco Santander Brasil S.A., tais Fl. 19357DF CARF MF 74 fatos são aceitos e relatados pelo agente fiscal e pelo recorrente. A lide centrase na discussão dos efeitos tributários decorrentes de tal operação. Quanto às alegações de que, se ocorrido o fato gerador, esse teria ocorrido na primeira fase da operação, sendo a RFS a contribuinte e não a Sterrebeeck, não seriam estas procedentes, tendo em vista que o presente processo trata das questões que precederam a incorporação de ações apenas para demonstrar o iter que culminou nesta última operação e indiciar que a motivação da mesma não seria uma mera reorganização societária, mas parte de um planejamento fiscal elaborado. Ocorre que, apesar de consideradas no Relatório Fiscal para esclarecer o iter e possível motivação da operação e indicadas na defesa como situações impeditivas do lançamento, tais operações não foram objeto de autuação, tão pouco são situações aptas a gerar impactos no lamento ora discutido. A fiscalização escolheu um momento, operação e local para dar base ao lançamento, sendo as demais questões irrelevantes para firmar ou informar a validade o lançamento ora combatido, eis que a operação de incorporação de ações por si, a depender do entendimento quanto a sua natureza, é situação jurídica suficiente para, de modo autônomo das demais operações, dar base ao lançamento. Por tal razão, vamos centrar nossa atenção na operação realizada na terceira fase do processo de organização dos negócios e que, de fato, culminou na exação, conforme passamos a fazer nos próximos itens. 5.7.2. DA AUSÊNCIA DE FATO GERADOR NO PRESENTE CASO. Em procedimento fiscalizatório, o agente fiscal entendeu estarem presentes os elementos necessários a realização de lançamento de imposto de renda retido na fonte incidente sobre suposto ganho de capital decorrente da operação de incorporação de ações do Banco Real e da AAB Dois Par efetivada tendo em conta serem esta operação uma espécie de aumento de capital com bens. Este também foi o entendimento manifestado na decisão recorrida e reforçado pelas contrarrazões da Procuradoria. Com toda vênia, tomados os fundamentos já expostos, nosso alinhamento se coaduna com a tese defendida pelo Recorrente de que estamos diante de uma operação com características de subrogação e ausência de realização de renda que em nada se equivale a operação de aumento de capital com integralização de bens. No caso concreto os acionistas do Banco Real e AAB Dois Par, tiveram suas ações substituídas por outras emitidas pelo Banco Santander Brasil em número e valor equivalentes, apurados com base em reavaliação promovida pela KPMG. A reavaliação promovida pela KPMG foi realizada com base no método de fluxo de caixa descontado trazido a valor presente. Tal metodologia de valoração de empreendimentos é calculada tendo como parâmetros quatro elementos fundamentais da gestão financeira de uma empresa: I) Estimativa de fluxo de caixa montante de caixa recebido e gasto por uma empresa em determinado tempo; II) Determinação da taxa de Desconto custo médio ponderado de capital e pelos riscos de investimento. III) Cálculo do valor residual valor estimado do ativo ao final de sua vida útil. IV) Cálculo de valor da empresa. O método cria uma projeção de valor futuro da empresa aplicando os descontos do tempo que isso levará para se efetivar e dos riscos assumidos. Em resumo, apenas Fl. 19358DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.318 75 cálculos potenciais que são indicativos para uma base de troca aceitável, mas não implicam em realização de renda efetiva. O agente fiscal registra, com base no Art. 26 §1º da IN SRF nº 208, que o ganho de capital "é determinado pela diferença positiva entre o valor da alienação e o custo de aquisição do bem ou direito". E assim, para apuração do suposto ganho de capital, no presente caso, tomou a diferença entre o valor histórico contábil de aquisição de ações e aquele apontado na reavaliação dos ativos do Banco Real e da AAB Dois Par, não realizando qualquer contraposição com o valor das ações do Banco Santander Brasil, dadas em substituição as do Grupo Real ABN. (Itens 5.1.1. a 5.1.3. do TVF). Portanto, o que consta do presente lançamento como suposto ganho de capital revelador do fato gerador e base de cálculo é o resultado da subtração do valor de aquisição das ações em contraposição a reavaliação das próprias ações dos acionistas do Banco Real e AAB Dois Par. Os elementos quantitativos adotados pelo Ilustre Agente Fiscal para o presente lançamento, tomam por base o valor de aquisição e o valor de avaliação das ações do Banco Real e AAB Dois Par, deixando de lado o valor das ações do próprio Santander Brasil, que foram dadas em substituição. O lançamento está fincado em uma projeção de ganho potencial, retratada em um determinado momento econômico e que não teve sua origem em razão da operação de incorporação de ações. A operação de incorporação de ações não agregou valor ao patrimônio dos acionistas, não adicionou riqueza nova, riqueza que já não estivesse potencialmente integrada ao patrimônio original destes contribuintes. Tal operação, por via da reavaliação, apenas revelou aquilo que estava oculto, já que não há indicação de um único centavo decorrente da troca das ações do Grupo Real ABN pelas do Santander Brasil, não há torna na presente operação. Notem que a questão da potencialidade de realização de renda é tão forte no presente caso que a base de cálculo adotada pelo agente fiscal para o lançamento consistiu na diferença entre os valores da reavaliação promovida pela KPMG com base no método de fluxo de caixa descontado trazido a valor presente, estimativas, projeções. Renda potencial não se tributa, do contrário, deveríamos estar tributando todas as variações ocorridas no valor das ações ao longo do tempo, tributando o potencial ganho de capital decorrente da valorização de um imóvel ou de qualquer outra valoração de bem POTENCIALMENTE geradora de ganho de capital. Em momento algum foi objeto de comparação o valor das ações dadas em substituição e aquelas recebidas na operação de trasladação decorrente de incorporação de ações. De certo, se nesta contraposição fosse apurado algum ganho, a incidência do IR seria inquestionável. Fl. 19359DF CARF MF 76 A ideia de ganho de capital utilizada no presente lançamento não finca suas raízes no fluxo de riqueza (renda), mas no fundo (Capital) préexistente e já integrante do patrimônio dos acionistas. E mesmo este capital (fundo) representa uma riqueza potencial que pode não se realizar no futuro. Ademais, está claro que o presente lançamento não incidiu sobre parcela nova e destacada do patrimônio original do contribuinte, mas sobre aquilo que este já possuía, porém, sem realização. Percebam que, do ponto de vista econômico, o valor tomado por base poderia ser apurado a qualquer tempo e independente de qualquer operação. No caso do Banco Real, por exemplo, bastaria realizar uma reavaliação para descobrir que as ações em questão deixaram de valer R$ 12.241.847.332,29 (valor de aquisição) e passaram a valer R$ 36.305.393.934,37 (valor estimado na reavaliação), mas somente o fato econômico valoração é suficiente para a incidência do tributo? Em realidade, o que geraria a obrigação tributária em questão é a aquisição de disponibilidade jurídica ou econômica de renda ou proventos de qualquer natureza. Por aquisição, repriso, entendese a apuração de riqueza nova e destacada do patrimônio original do contribuinte, o que claramente não se verifica no presente caso. A incorporação de ações não altera o estado econômico do contribuinte com a adição de nova riqueza, tão pouco esta riqueza se destacou do patrimônio original do contribuinte de modo a se quantificar aquilo que foi gerado em razão da operação de incorporação de ações e aquilo que decorreu da variação normal de preço dos seus ativos originais. Neste operação, assim como ocorre na incorporação de sociedades, a universalidade patrimonial e a relação com esta se mantém, havendo apenas troca do objeto que corporifica tal direito. Tal fato só reforça o entendimento de que a incorporação de ações, como claramente consta da legislação, em relação aos acionistas, partilha dos mesmos efeitos da incorporação de empresas, não guardando nenhuma relação com a operação de aumento de capitais. Sua realização implica em mera substituição do objeto da relação, sem alteração de grandeza ou rompimento com a universalidade patrimonial préexistente, sem alteração do status patrimonial dos acionistas do ponto de vista econômico, pois, quando realizada com equivalência, implica em mera subrogação real sem qualquer realização de renda tributável. No presente caso há um potencial ganho de capital apurável pela reavaliação das empresas que tiveram ações incorporadas, há disponibilidade jurídica e econômica deste ganho mas são situações préexistentes à incorporação de ações, situações patrimoniais reveladas mas não geradas por essa operação. Tratase de uma mera valorização dos ativos no tempo e não de um resultado de ato negocial de qualquer espécie, tão pouco de aquisição de algo novo. A operação de incorporação de ações em si não gerou qualquer aquisição de nova parcela individualizável e destacável do patrimônio originário dos acionistas. Não teve o condão de geração de valor por si. Não possibilitou a realização de qualquer renda tributável. Não promoveu alterações na situação patrimonial dos acionistas, salvo pela trasladação do objeto que corporifica seus direitos, assim, economicamente, nada mudou. Fl. 19360DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.319 77 A confirmação de renda realizável e quantificável não se extrai de projeções, e somente se realizará quando efetivamente os acionistas alienarem suas ações no mercado, deixando de manter relação jurídica com as mesmas, o que não ocorreu no presente caso. Por todo exposto, em consideração da presente operação de incorporação de ações, voto por dar provimento ao recurso quanto ao reconhecimento de ausência de ganho de capital realizado e passível de tributação, eis que a operação em foco consistiu em mera substituição de título por título, sem agregação de riqueza nova ao patrimônio dos acionistas ou rompimento efetivo ou alteração para maior da universalidade patrimonial preexistente. 5.7.3. DA POTENCIAL DUPLA TRIBUTAÇÃO SOBRE O GANHO DE CAPITAL. Considerando que tema não é pacífico, outros pontos da demanda devem e serão analisados neste voto. A prevalecer o entendimento de que há ganho de capital passível de tributação, é necessário analisar o risco de dupla tributação. Por entender que a operação de incorporação de ações e de sociedade, apesar de diferentes entre si, dada sua equivalência, frente ao patrimônio dos acionistas, compartilham dos mesmos dispositivos legais no que se refere ao consolidação dos ajustes patrimoniais decorrentes, pois, ambas as operações seguem o rito dos Art. 224, 225 e 262 da Lei das Sociedades Anônimas. Ante a esta condição, existindo regramento próprio para o registro dos custos de aquisição, não há como adotar procedimento diverso. A Instrução Normativa RFB nº 1.585, de 31 de Agosto de 2015, em seu Artigo 58, §6º, disciplina a forma de registro do valor das operações em análise. Vejamos como dispõe: "Art. 58. Nos mercados à vista, o ganho líquido será constituído pela diferença positiva entre o valor de alienação do ativo e o seu custo de aquisição, calculado pela média ponderada dos custos unitários. (...) § 6º No caso de substituição, total ou parcial, de ações ou de alteração de quantidade, em decorrência de incorporação, fusão ou cisão de empresas, o custo de aquisição das ações originalmente detidas pelo contribuinte será atribuído às novas ações recebidas com base na mesma proporção fixada pela assembleia que aprovou o evento." Com efeito, não há como exigir do contribuinte adoção de tratamento diverso para procedimentos que na Lei societária são regulados exatamente pelos mesmos dispositivos legais. Não cabe ao interprete da Lei tributária alterar o sentido e a aplicação daquilo que está fora de seu âmbito, é o que determina o Art. 110 do CTN: "Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Fl. 19361DF CARF MF 78 Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias." Por consequência, se a Lei das Sociedades Anônimas claramente vinculou os efeitos da incorporação de ações frente aos acionistas ao que dispõem os artigos 224 e 225 do diploma legal referente, estamos diante de uma substituição de ações, portanto, aplicável ao presente caso os que dispõe o §6º do Art. 58 da IN RFB nº 1.585, de 31 de Agosto de 2015 que revogou a Instrução Normativa RFB nº 1.022/10 que, em seu Art. 47, §6º, continha disposição no mesmo sentido. Tanto incorporação de ações quanto de sociedades tem como efeito um aumento de capital, o que não implica em equiparação a operação típica de aumento de capital com integralização de bens, como entendeu o Ilustre Agente Fiscal e a r. decisão recorrida. Segundo o Agente fiscal, por ser operação equiparável a de aumento de capital com bens, seria atraída a incidência do Art. 23 da Lei 9.249/95: "Art. 23. As pessoas físicas poderão transferir a pessoas jurídicas, a título de integralização de capital, bens e direitos pelo valor constante da respectiva declaração de bens ou pelo valor de mercado. §1º Se a entrega for feita pelo valor constante da declaração de bens, as pessoas físicas deverão lançar nesta declaração as ações ou quotas subscritas pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, não se aplicando o disposto no art. 60 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, e no art. 20, II, do DecretoLei nº 2.065, de 26 de outubro de 1983. §2º Se a transferência não se fizer pelo valor constante da declaração de bens, a diferença a maior será tributável como ganho de capital." Quanto a tal entendimento temos duas incongruências que o tornam inválido: a primeira diz respeito ao já referido fato da Lei das S.A. registrar com clareza ímpar que, após a incorporação de ações, se promoverá a substituição dos títulos dos acionistas. E a segunda incongruência consiste no fato deste dispositivo referirse a pelo "valor constante da respectiva declaração de bens". No presente caso, temos como contribuinte pessoa jurídica domiciliada no exterior, portanto, não sujeito a declaração de bens e apenas equiparado a pessoa física quanto à sistemática de pagamento do tributo supostamente devido. Assim, o único registro possível ao caso é aquele referente ao valor histórico constante dos informes ao Banco Central. E como bem sustentou o Recorrente: "a declaração de bens faz parte da hipótese de incidência da norma, de tal modo que pessoas residentes no exterior, e por isso não submetidas à tal declaração, não estão subsumidas à norma." A consequência, para o contribuinte em uma futura alienação, será, inevitavelmente, uma dupla tributação sobre a mesma riqueza, pois, o único registro ao qual o contribuinte estaria submetido e que serviria de prova hábil e idônea para apuração do ganho de capital é aquele constante do Banco Central, portanto, o de valor histórico da operação. O que reforça a coerência da tese adotada por este relator quanto a natureza da operação de incorporação de ações. Ante a tal questão, também por esta razão, o recurso deve ser provido. Fl. 19362DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.320 79 5.7.4. INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL EM BENS NÃO É, POR SI, SUPEDANEO DE FATO GERADOR DO IMPOSTO DE RENDA. Ainda que fosse admitida a tese fiscal de que a operação de incorporação de ações equivale a integralização de capital com bens, a apuração de ganho de capital não seria uma condição inerente ao negócio. Tal entendimento é decorrência da própria norma indicada pelo Agente Fiscal para fundamentar o lançamento. O §1º, do Art. 23 indica que "Se a entrega for feita pelo valor constante da declaração de bens, as pessoas físicas deverão lançar nesta declaração as ações ou quotas subscritas pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, não se aplicando o disposto no art. 60 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, e no art. 20, II, do DecretoLei nº 2.065, de 26 de outubro de 1983." Ou seja, neste caso o legislador reconheceu que, mesmo neste tipo de operações, a realização de renda não é um pressuposto, não ocorre de modo automático. O legislador escolheu não tributar ganho de capital potencial. Mais uma vez estamos diante situação em que não há ganho de capital tributável, apenas uma expectativa de renda realizável. A substituição do objeto que corporifica a situação patrimonial do contribuinte, ainda que com valor estimado superior ao de aquisição, não implica em acréscimo patrimonial tributável, se a base de troca é o valor de registro. Mesmo admitindo a tese fiscal, para este relator, não é a operação de integralização de capital em si capaz de gerar um acréscimo patrimonial novo e destacado do patrimônio originário do contribuinte, eis que economicamente, ainda que o registro histórico de aquisição tenha valor menor, o que ocorre é uma mutação do objeto que corporifica o valor de tal patrimônio. Novamente, mesmo nesses casos, a diferença entre o valor histórico e o valor estimado de mercado é potencial e pode não se realizar. Razão pela qual, ainda que admissível a tese fiscal, não seria possível vislumbrar uma nova riqueza decorrente da operação em lide, pois, potencialmente tal riqueza já integrava o patrimônio do contribuinte, a universalidade econômica representada por tais ações não se alterou e a base de troca se deu pelo valor de registro. Assim, uma mera mutação sem aumento da disponibilidade econômica preexistente e levada a registro pelo valor histórico, mesmo em casos de integralização de capital com bens, não implica em qualquer aquisição de nova renda. Há precedentes neste sentido, RE 102.7799CE que, apesar de não confirmado em decisão final, aponta, em seu relatório, o mesmo entendimento. Também o RE nº 23841CE citando pelo Recorrente segue alinhando a esse racional: "Sendo a incorporação de bens ao capital da empresa um ato típico regulado por lei especial, não se traduzindo em dinheiro, mas em ações correspondentes ao valor daqueles bens, afastada a idéia de lucro" O patrimônio é passível de avaliação pelos seus aspectos registrais (estáticos) ou por seu valor econômico (dinâmico), a realização de renda somente ocorre quando o Fl. 19363DF CARF MF 80 elemento dinâmico se confirma e se torna estático, fato decorrente do rompimento da relação jurídica do contribuinte com o elemento revelador de riqueza. Daí a previsão em Lei quanto a opção de registro da operação de integralização de capital com bens por seu valor histórico ou seu valor de mercado. O legislador deu ao contribuinte a possibilidade de antecipar a tributação sobre um ganho de capital potencial ou de aguardar sua efetiva realização, tributando a diferença entre o valor de aquisição e o de venda quando tal evento ocorrer. Mesmo com a integralização de capital em bens, uma vez realizada por seu valor histórico de aquisição, não há alteração da situação econômica patrimonial do contribuinte ou acréscimo tributável gerado por tal operação dada a manutenção de relação jurídica, ainda que indireta com o objeto do direito, e a ausência de alteração nas grandezas patrimoniais universais. Caso seja aceita a tese autoral, ainda assim o entendimento mais adequado ao presente caso consistiria em verificar que houve apenas a revelação de uma estimativa de ganho futuro trazido a valor presente e, em relação ao qual o contribuinte tinha a opção de antecipar a incidência sobre um valor futuro de realização do ganho (art. 23, §2º da Lei 9.249/95) ou manter no futuro a incidência (§1º, Art. 23), momento em que se verificaria a apuração real e efetiva sobre renda realizada. Assim, apesar da impropriedade técnica de aplicação do Art. 23 da 9.249/95 ao caso, o rito da registro da operação estaria mais afeto ao disposto no §1º que no §2º do citado artigo, gerando um diferimento do momento de apuração para o futuro, quando venha a ocorrer a efetiva alienação das ações pela Sterrebeeck. Mais uma razão para comungar com a tese recursal e votar pela não incidência do tributo, ainda que o entendimento prevalente quanto a natureza jurídica da incorporação de ações seja pela equiparação a integralização de capital com bens e consequentemente alienação. 5.7.5. DA NÃO APURAÇÃO DE GANHO DE CAPITAL PELA STERREBEECK. O presente caso possui especificidades que devem ser consideradas. O lançamento realizado consistiu em Imposto de Renda Retido na Fonte, considerando que o acionista não tem domicilio fiscal em território Brasileiro esta seria a sistemática a ser adotada. Para esses casos aplicase o art. 18 da Lei 9.249/95 que assim dispõe: "Art. 18. O ganho de capital auferido por residente ou domiciliado no exterior será apurado e tributado de acordo com as regras aplicáveis aos residentes no País." O recorrente ressalta que: "As regras aplicáveis no país determinam que quando um capital for originado de moeda estrangeira, o ganho é apurado nesta moeda e é convertido para o real na data do fato gerador, ou seja, o ganho não é apurado em reais. Essa constatação é relevante porque demonstra não poder haver incidência do imposto pela maneira como foi calculado pela fiscalização o suposto ganho de capital (diferença em reais apontados no RTE), uma vez que o Recorrente demonstrou que, Fl. 19364DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.321 81 após a incorporação das ações, o registro no Bacen, na moeda estrangeira, para as ações recebidas em substituição pela acionista Sterrebeeck, foi feito pelo mesmo valor das ações substituídas e existentes antes. Realmente, no caso dos ganhos de capital auferidos por não residentes, o valor do registro no Bacen possui papel fundamental e não apenas formal. Não é por outra razão que o art. 690, inciso II, do RIR/99, tratou da não incidência do imposto de renda na fonte para os repatriamentos de capitais estrangeiros, fazendo referência expressa ao registro no Bacen. Vejase: “Art. 690. Não se sujeitam à retenção de que trata o art. 682 as seguintes remessas destinadas ao exterior: (...) II os valores, em moeda estrangeira, registrados no Banco Central do Brasil, como investimentos ou reinvestimentos, retornados ao seu país de origem;” Uma vez mais, reprisase que o conceito de renda se coaduna com fluxo de riqueza e o de capital de capital com o de fundo. Se o fundo aplicado na busca da geração de um fluxo de riqueza foi realizado em moeda estrangeira, para o contribuinte domiciliado no exterior, qualquer ganho apurado somente pode o ser apurado em moeda estrangeira, sob pena de tributação do investimento (fundo) e não da renda (fluxo), o que não compõe a hipótese de incidência do tributo. O disposto no Art. 690, II do RIR pode ser visto como uma forma de não desincentivar o investimento do capital estrangeiro no Brasil ou de não se tributar, com base em mera variação cambial, o capital investido ao invés da renda gerada. Tratase de indicação de não incidência positivada no Regulamento do Imposto de Renda. Para exemplificar a questão, vamos recorrer à situação narrada pelo próprio Recorrente em memoriais: "Neste caso, o imposto de renda incide não porque o investidor ganhou mais do que investiu, mas sobre a desvalorização da moeda nacional. Exemplo: investimento de US$ 1.000.000, à taxa cambial do dia do investimento de R$ 1,00 redunda em valores iguais de investimento em moeda estrangeira (US$ 1.000.000) e o resultado de sua conversão em reais (R$ 1.000.000) (conf. RDE Bacen); já a alienação do investimento por US$ 1.000.000, à taxa cambial do dia da venda de R$ 1,30, resulta em ganho de capital zero, em dólar, e diferença de R$ 300.000,00 em reais, a qual não é ganho, mas reflete a quantidade de moeda brasileira necessária para pagar o mesmo milhão do investidor; se se tributar os R$ 300.000,00, o imposto incidirá sobre a desvalorização do real e não sobre ganho existente, resultando Fl. 19365DF CARF MF 82 que o investidor receberá menos do que investiu: R$ 300.000,00 x 15% = R$ 45.000,00 (IR), convertido à taxa de R$ 1,30 = U$ 34.615,00; ou seja, o investidor receberá US$ 965.385,00. A questão da variação cambiária é extremamente relevante para esse caso e nesse ponto damos razão ao Recorrente: "O fundamento de validade do RIR é a Lei n. 4131, que garante aos investidores a repatriação dos valores investidos em moeda estrangeira registrada no Bacen. Assim, se houver pagamento do imposto de renda sobre os valores em moeda nacional independentemente dos valores em moeda estrangeira, há redução do valor repatriável." No presente caso restam comprovados pelos registros realizados junto ao Banco Central que os valores em moeda estrangeira não sofreram qualquer alteração, portanto, além de não haver alienação ou alteração tributável da situação patrimonial do contribuinte, no presente caso, estaria sendo prejudicado o próprio retorno do capital investido. Estaria sendo tributada a desvalorização da moeda nacional frente as moedas originárias do investimento. Novamente, para o presente caso, esta com a razão o Recorrente. A base de calculo indicada não evidencia, em momento algum, a aquisição de nova riqueza pelo contribuinte, eis que, os registros da operação em moeda estrangeira não se alteraram em momento algum. Tal fato denota ausência de renda realizada e ganho de capital. O Recorrente demonstrou que após a incorporação das ações o registro no Bacen, na moeda estrangeira, para as ações recebidas em substituição, é de mesmo valor das ações substituídas existentes antes da incorporação, razão pela qual, também neste ponto, votamos pelo provimento do recurso. 6. GANHO DE CAPITAL AUFERIDO POR RESIDENTE NO EXTERIOR NA ALIENAÇÃO DE BENS LOCALIZADOS NO BRASIL. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE. A responsabilidade do Recorrente é um consectário do entendimento adotado pela fiscalização, pois, havendo alienação na operação em análise caberia ao adquirente promover a retenção do tributo eis que o alienante é residente no exterior. O relatório fiscal consignado que o auto de infração foi lavrado tendo como sujeito passivo o Banco Santander Brasil S.A., na qualidade de responsável tributário, em razão de ser o adquirente das ações do Banco Real e do AAB Dois Par, anteriormente pertencentes à sociedade holandesa Sterrebeeck, e que foram incorporadas ao seu patrimônio em operação de incorporação de ações. A fundamentação quanto a responsabilidade atribuída ao Recorrente pela fiscalização estaria ancorada no art. 121, parágrafo único, inciso II, do CTN e o art. 26 da Lei nº 10.833/2003: Código Tributário Nacional: “Art. 121 Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz se: Fl. 19366DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.322 83 I contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.” Lei nº 10.833/2003: “Art. 26. O adquirente, pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, ou o procurador, quando o adquirente for residente ou domiciliado no exterior, fica responsável pela retenção e recolhimento do imposto de renda incidente sobre o ganho de capital a que se refere o art. 18 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, auferido por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior que alienar bens localizados no Brasil.” O recorrente sustenta que é indevida tal atribuição de responsabilidade, visto que não se pode impor o ônus pelo pagamento do imposto de renda a quem não auferiu rendimento nem obteve acréscimo patrimonial. No caso do IRRF, sustenta que não pode ser atribuída responsabilidade a uma terceira pessoa em situação na qual não seja possível reter financeiramente a quantia despendida. Argumenta que o art. 26 da Lei nº 10.833/2003 só pode ser aplicado quando houver ganho de capital decorrente da alienação de bens com pagamento em dinheiro, passível de ser retido pelo adquirente. A decisão recorrida sustenta por sua vez que não há na legislação tributária regra que contemple as restrições alegadas pela impugnante, no sentido de que a responsabilidade só poderia ser atribuída à fonte pagadora se esta tivesse a posse dos recursos financeiros que resultariam no ganho de capital. A questão depende integralmente do pressuposto de base para ocorrência do fato gerador da obrigação principal, pois, não havendo alienação não há subsunção a hipótese normativa que prevê a responsabilidade do adquirente no presente caso. Ainda que o entendimento desta turma caminhe no sentido de considerar a operação como sendo uma alienação, é de se registrar que tal posicionamento decorreria de uma mudança de entendimento adotado pelo fisco até o ano de 2009 o que importaria em exigência de adoção de conduta, pelo Recorrente, diversa da exigível a época dos fatos, sendo desarrazoada a imposição de responsabilidade neste caso. Notem que a questão, mais uma vez, é de pressuposto de subsunção. De fato, em sendo uma alienação, no que se refere a responsabilidade do alienante, a tese fiscal estaria totalmente adequada ao previsto no ordenamento jurídico. Mas esse não é o caso e, ainda que tal racional reste vencido, considerando a conformação jurídica vigente a época, não se poderia exigir do Recorrente uma conduta diversa da adotada. Não haveria como este adivinhar que seria surpreendido com a exigência objeto de controvérsia. Fl. 19367DF CARF MF 84 No sentido do que sustentamos cabe observar o que dispõe o julgado de relatoria da Ministra Ellen Gracie, RE nº 603.191/MT, onde o Pleno do Tribunal ratificou o entendimento pela constitucionalidade da retenção em discussão, mas indicou que sua aplicabilidade deve respeitar "os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, não se lhe podendo impor deveres inviáveis, excessivamente onerosos, desnecessários ou ineficazes". “DIREITO TRIBUTÁRIO. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. RETENÇÃO DE 11% ART. 31 DA LEI 8.212/91, COM A REDAÇÃO DA LEI 9.711/98. CONSTITUCIONALIDADE. 1. Na substituição tributária, sempre teremos duas normas: a) a norma tributária impositiva, que estabelece a relação contributiva entre o contribuinte e o fisco; b) a norma de substituição tributária, que estabelece a relação de colaboração entre outra pessoa e o fisco, atribuindolhe o dever de recolher o tributo em lugar do contribuinte. 2. A validade do regime de substituição tributária depende da atenção a certos limites no que diz respeito a cada uma dessas relações jurídicas. Não se pode admitir que a substituição tributária resulte em transgressão às normas de competência tributária e ao princípio da capacidade contributiva, ofendendo os direitos do contribuinte, porquanto o contribuinte não é substituído no seu dever fundamental de pagar tributos. A par disso, há os limites à própria instituição do dever de colaboração que asseguram o terceiro substituto contra o arbítrio do legislador. A colaboração dele exigida deve guardar respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, não se lhe podendo impor deveres inviáveis, excessivamente onerosos, desnecessários ou ineficazes. 3. Não há qualquer impedimento a que o legislador se valha de presunções para viabilizar a substituição tributária, desde que não lhes atribua caráter absoluto. 4. A retenção e recolhimento de 11% sobre o valor da nota fiscal é feita por conta do montante devido, não descaracterizando a contribuição sobre a folha de salários na medida em que a antecipação é em seguida compensada pelo contribuinte com os valores por ele apurados como efetivamente devidos forte na base de cálculo real. Ademais, resta assegurada a restituição de eventuais recolhimentos feitos a maior. 5. Inexistência de extrapolação da base econômica do art. 195, I, a , da Constituição, e de violação ao princípio da capacidade contributiva e à vedação do confisco, estampados nos arts. 145, § 1º, e 150, IV, da Constituição. Prejudicados os argumentos relativos à necessidade de lei complementar, esgrimidos com base no art. 195, § 4º, com a remissão que faz ao art. 154, I, da Constituição, porquanto não se trata de nova contribuição. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento. 7. Aos recursos sobrestados, que aguardavam a análise da matéria por este STF, aplicase o art. 543B, § 3º, do CPC.” (Dje 5/9/11) A operação em questão possuí contornos controversos quanto a sua natureza, controvérsia que se acentua no sentido contrário aos procedimento adotado pelo contribuinte após o ano de 2009, o que inviabilizou a adoção de conduta diversa pelo mesmo. Ainda que o entendimento seja por considerar a operação de incorporação de ações como uma espécie de alienação, haveria dificuldades para realização do dever colaborativo que se exige do alienante nestes casos, pois, a operação se processa com base em Fl. 19368DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.323 85 uma troca equivalente de titulo por título, não havendo pagamento, o que importância em duas posturas: 1 Exigir do adquirente um pagamento adicional para fazer frente aos custos tributários, o que importaria numa inversão do fluxo de capital eis que o alienante passaria a ter um ganho de capital na medida em que, por suas ações receberia valor a maior que o efetivamente apurado na operação; 2 Reduzir o valor de troca, deixando o adquirente em situação politica societária proporcionalmente inferior a que possuía na sociedade incorporada. Para este relator, a lógica da operação de incorporação de ações é incompatível com a sistemática de retenção na fonte, pois inviabiliza a realização de troca equivalente, portanto, não havendo subsunção quanto a hipótese de atribuição de responsabilidade, pois lhes seriam impostos deveres inviáveis, excessivamente onerosos, desnecessários ou ineficazes. Por todo exposto, dado o fato de tal operação não implicar em alienação ou, ainda que tal entendimento seja oposto ao da turma, considerando a inadequação da sistemática da retenção frente a operação em lide, dou provimento ao recurso neste ponto. 7. IRRF. REAJUSTAMENTO DO RENDIMENTO BRUTO. RENDA DE NÃO RESIDENTE. ASSUNÇÃO DO ÔNUS PELA FONTE PAGADORA. Entendeu o Agente Fiscal que (...) "no caso de tributação exclusiva na fonte em que o beneficiário é domiciliado no exterior, quando a fonte paga rendimento sem o desconto do imposto devido, deverá haver o reajustamento do respectivo rendimento bruto para efeito de determinação de base de cálculo do lançamento de oficio." E assim foi procedido, além do lançamento ter seguido a sistemática de rendimento retido na fonte, ao presente caso foi aplicado reajustamento da base de cálculo, cujo valor inicial apurado era de R$ 24.724.665.771,12, sendo majorado para R$ 29.087.830.318,96. O entendimento manifestado por este relator considerou o lançamento improcedente, entretanto, ainda que o lançamento seja mantido por este colegiado, dada algumas particularidades do caso, há equívocos quanto a adoção da sistemática em questão e ao reajustamento da base de calculo que não devem prosperar. O Art. 685 do RIR/99 elegeu como critério central para o surgimento da obrigação de retenção na fonte as condutas de pagar, creditar, remeter, empregar ou entregar o rendimento ao beneficiário. Entretanto, em decorrência da operação de incorporação de ações, não é possível verificar qualquer das condutas indicadas na legislação de referência. Como bem asseverou o Recorrente: "Nas hipóteses de incidência do IRF, há o reconhecimento contábil de passivo a pagar, à disposição do beneficiário, e do valor bruto desse passivo se desconta o imposto de renda quando a fonte paga efetivamente, credita em favor do beneficiário, remete a ele o rendimento, emprega o rendimento em seu favor, ou entrega o rendimento a outrem segundo a ordem recebida do beneficiário. Fl. 19369DF CARF MF 86 Mas no aumento de capital não há um reconhecimento de obrigação no passivo, e apenas um crédito à conta de capital com um débito à conta de investimento. Mais um detalhe é que, se a fonte não tem como descontar o imposto no aumento de capital e tiver que pagar o imposto, tem que reajustar o rendimento bruto e recolher com recursos do seu caixa, o que implicaria em quebrar a relação de substituição justa das ações, afrontando a própria sistemática legal prevista para a incorporação de ações. De fato, o rendimento bruto tributável se acresceria ao valor atribuído às ações incorporadas." De fato, o entendimento quanto a incidência do Imposto de Renda Retido na fonte inviabilizaria o próprio instituto da incorporação de ações eis que inviabiliza a realização de troca equivalente de título por título. Noutra perspectiva, se do valor apurado como adequado para a base de substituição dos títulos houver de ser reduzido para pagamento do tributo em questão, aos acionistas da sociedade que tiveram suas ações incorporadas restaria o ingresso na nova sociedade em situação econômica e solitariamente inferior a que possuíam no âmbito da sociedade convertida em subsidiária integral. O entendimento tributário em foco levaria ao fim do instituto da incorporação de ações quando uma das partes for domiciliada no exterior. Tal afirmação não toma por base somente o fato da operação tornarse extremamente prejudicial aos acionistas da sociedade transformada em subsidiária integral, mas, principalmente, pela absoluta impossibilidade de realizar uma troca equivalente, pois, ou os acionistas, para fazer frente aos custos tributários, teriam de aportar mais capital para manter equivalência em termos de ações ou aceitar receber menos ações para que parte de seu patrimônio venha a custear o tributo exigido. E registrase, o que estaria sendo objeto de retenção não seria o pagamento, o crédito, remessa, o emprego ou a entrega de renda, eis que não se verificam qualquer destes atos no presente caso, mas o próprio capital integrante do patrimônio originário do contribuinte. Noutras palavras, no presente caso, para promover uma troca de título por título que resguardasse a situação econômica e societária, aí incluído o poder decisório dos acionistas que integravam a sociedade transformada em subsidiaria integral, estes teriam de realizar um pagamento adicional pela mesma quantidade de títulos, no valor de R$ 4.363.164.539,84. Seguindo o racional da fiscalização, a Sterrebeeck possuía títulos, para fins de troca, avaliados em R$ 24.724.665.771,12 e recebeu em títulos do Banco Santander Brasil outros equivalentes a R$ 24.724.665.771,12. A tese fiscal sustenta que teria ocorrido uma alienação sendo o valor de R$ 24.724.665.771,12 parcela líquida da operação que, após reajustamento, seria de R$ 29.087.830.318,96. É um fato que não houve pagamento a maior por parte do Banco Santander Brasil, eis que os documentos de registro da operação junto ao Banco Central nada indicam. Fl. 19370DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.324 87 Mesmo se tratando de um reajustamento com base em pagamento ficto, a ausência de tais dados, corroborados por documentos hábeis e idôneos que levassem a tal conclusão, somados ao fato da Sterrebeeck ter recebido em títulos exatos R$ 24.724.665.771,12, indicam que, se houve pagamento a maior, este se deu por parte da Sterrebeeck. Se na operação de incorporação de ações, segundo a tese fiscal, a Sterrebeeck estaria sujeita ao imposto de renda, é de se supor que, sabendo deste fato duas condutas fossem adotadas, ou negociaria a assunção do custo tributário pelo adquirente ou efetuaria pagamento a maior para que o resultado da operação não implicasse em participação societária proporcionalmente menor que a originária. Como não há qualquer registro de transferência do ônus tributário para o suposto adquirente, tão pouco pagamento no valor equivalente ao tido por bruto pela fiscalização, também é possível supor ter a Sterrebeeck efetuado tal pagamento. Estamos aqui trabalhando com hipóteses, pois de concreto, a única coisa que existiu de modo comprovado documentalmente foi a substituição de título por título, tendo as partes tomado a operação por subrogação real, mas, se houvesse qualquer pagamento a maior, o principal interessado em efetuar a troca com equivalência, não necessariamente por questões ligadas ao valor das ações em si, mas também pelos aspectos políticos societários da operação, seria a própria Sterrebeeck. Portanto, já que o reajustamento de base de calculo esta construído com base em presunções doutrinárias e jurisprudenciais eis que a lei somente autoriza a aplicação do Gross Up quando a fonte pagadora comprovadamente assume tal encargo, não seria possível supor a hipótese em questão. Neste caso, haveria a inversão de papéis, adquirente se tornaria alienante e alienante adquirente, por consequência, não haveria pagamento a maior por parte do Banco Santander Brasil, mas, recebimento, o que inviabilizaria a sua classificação como fonte pagadora. Quanto ao Gross Up, o Art. 725 do RIR/99 assim direciona: "Art. 725. Quando a fonte pagadora assumir o ônus do imposto devido pelo beneficiário, a importância paga, creditada, empregada, remetida ou entregue, será considerada líquida, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto, sobre o qual recairá o imposto, ressalvadas as hipóteses a que se referem os arts. 677 e 703, parágrafo único (Lei nº 4.154, de 1962, art. 5º, e Lei nº 8.981, de 1995, art. 63, § 2º )" De certo, as ilações feitas aqui servem apenas demonstrar que, a prevalecer a tese fiscal quanto a natureza das operações de incorporação de ações, não seria possível presumir de forma absoluta que o pagamento da eventual diferença a maior, quando a operação se der por equivalência de títulos, teria origem na sociedade incorporadora, pois a incorporada tem outros interesses que a levariam a pagar tal diferença. De toda forma, se qualquer das hipóteses narradas ocorrer, já não estaríamos mais diante de uma operação de incorporação de ações, mas sim de uma operação de integralização de capital com bens, ou com bens e dinheiro, como quer fazer crer a tese fiscal. Fl. 19371DF CARF MF 88 Mais do que um entendimento, a tese fiscal impõe a prática do ato sustentado pelo Fisco, força a alteração da natureza jurídica da incorporação de ações por meio da tributação. No presente caso, entendemos não ser possível a aplicação do reajustamento pois, não há prova hábil e idônea de que o valor a maior foi pago pelo Banco Santander Brasil, não há estipulação contratual que, nos termos do RIR/99 Art. 725 indique que a fonte pagadora assumiu o ônus do imposto devido. A ausência de retenção não é razão suficiente para se presuma ter o Recorrente assumido o ônus tributário. Até porque, a falta de previsão contratual quanto a isso impediria inclusive a busca de eventual ressarcimento pelos custos tributários que seriam da Sterrebeeck, por derradeiro, importaria em aumento do valor de avaliação das ações em questão consolidando um ganho de capital construído em bases irreais. Do exposto, mesmo que venha a ser vencido no ponto em que consideramos inexistente o ganho de capital tributável decorrente da incorporação de ações, ainda assim votamos por considerar indevida a aplicação do reajustamento (Gross up) no presente caso por falta de previsão contratual de assunção dos custos tributários e, pelo fato da conduta adotada pelo recorrente estar ajustada ao entendimento vigente a época do fato (Art. 100, Paragrafo único do CTN) não há como presumir tal assunção de ônus pelo adquirente. 8. MULTA DE OFÍCIO E JUROS DE MORA. ART. 100, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN. Quanto a este ponto é preciso registrar que nos últimos anos houve uma profunda alteração de entendimentos relacionados a operação de incorporação de ações. No âmbito da Receita Federal, as mudanças de posicionamento quanto a incorporação de ações tiveram inicio a partir de 2013 e se consolidaram em 2014 com a publicação da Solução de Consulta 224, de 14 de agosto de 2014, cujo consulente declarou ser acionista minoritário de sociedade em vias de tornarse subsidiária integral de outra, questionando se haveria a incidência de obrigação tributária em decorrência da operação e se a incorporação de ações caracterizaria uma transferência de bens a título de integralização de capital. Entendeu a Cosit consistir a incorporação de ações em “operação de integralização de capital mediante entrega de bens, tendo em vista os efeitos patrimoniais para o sócio, o qual, ao adquirir participação societária atual, entrega ações anteriormente possuídas”. E, por considerar existente a alienação de bens, a operação estaria sujeita à apuração de ganho de capital, nos termos do art. 3º da lei 7.713, de 22 de dezembro de 1988. Em sentido oposto a CVM manifestou formalmente entendimento alinhado a corrente doutrinária capitaneada por Nelson Eizirik, pois, em parecer destinado a responder consulta formulada pelo SINDCOR – Sindicato das Corretoras de Valores do Estado de São Paulo nos autos do Processo CVM RJ20142584, se posicional no sentido de que a incorporação de ações é distinta do aumento de capital, com lastro em posicionamento já adotado pelo mesmo órgão no âmbito do processo CVM RJ201013425. Destacouse, à ocasião do voto vencedor em 2011, que a “incorporação de ações é compulsória e determinada pela maioria do capital votante de cada uma das companhias envolvidas em deliberação assemblear”, caracterizandose a operação como subrogação legal real. Fl. 19372DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.325 89 E neste CARF, em março de 2015, ao julgar o Recurso Voluntário 2202002.187 (Processo 10680.726772/201188), sua 2ª Câmara proferiu o Acórdão 9202003.579 acolhendo a tese de que a incorporação de ações consiste em subrogação real: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2008 IRPF OPERAÇÃO DE INCORPORAÇÃO DE AÇÕES INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO DE GANHO DE CAPITAL. A figura da incorporação de ações, prevista no artigo 252 da lei 6.404/76, difere da incorporação de sociedades e da subscrição de capital em bens. Com a incorporação de ações, ocorre a transmissão da totalidade das ações (e não do patrimônio) e a incorporada passa a ser subsidiária integral da incorporadora, sem ser extinta, ou seja, permanecendo com direitos e obrigações. Neste caso, se dá a substituição no patrimônio do sócio, por idêntico valor, das ações da empresa incorporada pelas ações da empresa incorporadora, sem sua participação, pois quem delibera são as pessoas jurídicas envolvidas na operação. Os sócios, pessoas físicas, independentemente de terem ou não aprovado a operação na assembleia de acionistas que a aprovou, devem, apenas, promover tal alteração em suas declarações de ajuste anual. Ademais, nos termos do artigo 38, § único, do RIR/99, a tributação do imposto sobre a renda para as pessoas físicas está sujeita ao regime de caixa, sendo que, no caso, o contribuinte não recebeu nenhum numerário em razão da operação autuada. Não se aplicam à incorporação de ações o artigo 3°, § 3°, da lei 7.713/88, nem tampouco o artigo 23 da lei 9.249/95. Inexistência de fundamento legal que autorize a exigência de imposto de renda pessoa física por ganho de capital na incorporação de ações em apreço.Recurso especial negado." Contudo, em dezembro do mesmo ano, a 3ª Câmara do mesmo órgão proferiu o acórdão 1301001.85641, em que adotou posição diametralmente oposta. Na ocasião, entendeuse que a transferência de ações decorrente da incorporação prevista no art. 252 da LSA é espécie do gênero alienação e que, havendo diferença positiva entre os valores atribuídos à ação, há ganho de capital a ser tributado. Portanto, restou demonstrado que a época dos fatos, independente da posição que este colegiado manifeste quanto ao presente julgado, a conformação normativa, doutrinaria e jurisprudencial indicava como interpretação mais acertada ser a incorporação de ações efeitos subrogatórios equivalentes a incorporação de sociedades, portanto não tributados. Notem que o auto de infração é datado do final de 2013, portanto, momento em que a administração fazendária iniciou os movimentos de mudança de praticas quanto ao tema, culminando a referida solução de consulta. Fl. 19373DF CARF MF 90 Como bem indicado pelo Recorrente, o parágrafo único do Art. 100 do Código Tributário Nacional, prestigiando a segurança jurídica nas relações tributárias, excluí a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo, para os casos em que haja a observância das normas referidas no Artigo em questão. "Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo." Assim, por todo exposto, restou claro que o Recorrente agiu com estrita observância da conformação jurídica vigente a época dos fatos, de tal maneira que mesmo vencido quanto aos demais ponto deste voto, não há como prevalecer a aplicação de multa e juros, devendo ser cancelados com base na previsão do Parágrafo Único do Art. 100 do CTN. 9. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO O Recorrente, no item 7 de seu Recurso, alega, a título argumentativo, que "os juros calculados com base na taxa Selic não poderão ser exigidos sobre a multa de oficio lançada, por absoluta ausência de previsão legal." Neste ponto, cumpre registrar as alegações do Recorrente sustentando que a aplicação de juros de mora com base na taxa SELIC é uma decorrência da interpretação combinada dos Art. 13 da Lei 9.065/95, com o Art. 84 da Lei 8.981/95: Lei 8.981/95: "Art. 84. Os tributos e contribuições sociais arrecadados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores vierem a ocorrer a partir de 1º de janeiro de 1995, não pagos nos prazos previstos na legislação tributária serão acrescidos de: I juros de mora, equivalentes à taxa média mensal de captação do Tesouro Nacional relativa à Dívida Mobiliária Federal Interna; (Vide Lei nº 9.065, de 1995 II multa de mora aplicada da seguinte forma:" Lei 9.065/95: "Art. 13. A partir de 1º de abril de 1995, os juros de que tratam a alínea c do parágrafo único do art. 14 da Lei nº 8.847, de 28 de Fl. 19374DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.326 91 janeiro de 1994, com a redação dada pelo art. 6º da Lei nº 8.850, de 28 de janeiro de 1994, e pelo art. 90 da Lei nº 8.981, de 1995, o art. 84, inciso I, e o art. 91, parágrafo único, alínea a.2, da Lei nº 8.981, de 1995, serão equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente." Alega que a lei em momento algum tratou de aplicação de taxa Selic sobre multas, limitou sua aplicação aos tributos e contribuições. Razão pela qual, não havendo base normativa para tal aplicação, tal incidência é ilegal. Ocorre que a jurisprudência do STJ segue consolidada quanto a possibilidade de incidência de juros sobre multa, conforme se depreende da leitura da ementa do acórdão do AgRg no REsp n. 1.335.688/PR (1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 10/12/2012): "PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DESEGURANÇA. JUROS DE MORA SOBRE MULTA. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMAS QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. 1. Entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: "É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário." (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010". (grifei) 2. Agravo regimental não provido E quanto ao incide incidente, este conselho já pacificou entendimento quanto a aplicabilidade da taxa Selic conforme Súmula CARF nº 4: "Súmula CARF nº 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais" Ante ao exposto, caso vencido quanto aos demais pontos, quanto à incidência de juros sobre multa, voto por negar provimento ao recurso. Conclusão Pelo exposto, voto por conhecer do recurso, e no mérito, darlhe parcial provimento. (assinado digitalmente) Jamed Abdul Nasser Feitoza Fl. 19375DF CARF MF 92 Voto Vencedor Conselheiro Ronnie Soares Anderson Redator Designado Não obstante as considerações do D. Relator acerca da controvérsia, tenho entendimento diverso. Havendo sido vencido no meu encaminhamento no sentido de não conhecer dos argumentos embasados no art. 24 da MP nº 2.15835/01, em virtude de preclusão, e acompanhando a abordagem do relator quanto ao tratamento das preliminares no restante, no que diz respeito à questão de fundo, cabe reproduzir de início, o art. 43 do CTN: Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. § 1oA incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção. A norma em apreço revela que o legislador adotou conceito bastante abrangente de renda, sendo que no inciso I temse espelhada a chamada rendaproduto10, e no inciso II são previstos como fatos geradores os demais acréscimos patrimoniais, a dita renda acréscimo, os quais podem ser definidos como mutações patrimoniais líquidas positivas aferidas entre dois momentos do tempo. Assim, essa concepção do fenômeno renda mostrase bastante compatível com a prevista no modelo SHS11, concebido pelo doutrina americana e alemã, e reconhecido amplamente como paradigma do que seria o conceito de renda ideal, apto a atingir todas as manifestações de capacidade contributiva. O art. 43 do CTN estabelece então os contornos do que seria renda tributável, observados, é claro, os princípios firmados na CF, com destaque para os princípios da universalidade, generalidade, progressividade, e, em especial, da capacidade contributiva. Não há como se olvidar, além disso, do princípio da praticabilidade, bem desenvolvido nas lições de Mizabel Derzi e Regina Helena Costa, e do princípio da realização da renda, o qual será objeto de menção mais detalhada adiante, haja vista o desenvolvimento do voto do relator a seu respeito. Observadas tais fronteiras, o legislador ordinário pôde, no exercício de suas atribuições constitucionais, apontar as hipóteses de incidência do imposto de renda em uma série de situações, dentre as quais se sobressai, no particular, as previstas nos arts. 1º a 3 º da Lei nº 7.713/88: 10 Conforme as lições da doutrina alemã, na qual se desenvolveu a denominada "Teoria das Fontes". 11 Modelo SchanzHaigSimons Fl. 19376DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.327 93 Art. 1º Os rendimentos e ganhos de capital percebidos a partir de 1º de janeiro de 1989, por pessoas físicas residentes ou domiciliados no Brasil, serão tributados pelo imposto de renda na forma da legislação vigente, com as modificações introduzidas por esta Lei. Art. 2º O imposto de renda das pessoas físicas será devido, mensalmente, à medida em que os rendimentos e ganhos de capital forem percebidos. Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. § 1º Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados. § 2º Integrará o rendimento bruto, como ganho de capital, o resultado da soma dos ganhos auferidos no mês, decorrentes de alienação de bens ou direitos de qualquer natureza, considerandose como ganho a diferença positiva entre o valor de transmissão do bem ou direito e o respectivo custo de aquisição corrigido monetariamente, observado o disposto nos arts. 15 a 22 desta Lei. § 3º Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que importem alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa de cessão de direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, doação, procuração em causa própria, promessa de compra e venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos afins. § 4º A tributação independe da denominação dos rendimentos, títulos ou direitos, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem dos bens produtores da renda, e da forma de percepção das rendas ou proventos, bastando, para a incidência do imposto, o benefício do contribuinte por qualquer forma e a qualquer título.(grifei) A leitura dos dispositivos encimados denota que quaisquer operações que importem alienação algumas das quais exemplificadas no § 3º são consideradas para fins de apuração de eventual existência de ganho de capital, desde que, por óbvio, delas resultem acréscimo patrimonial para o contribuinte. Atentese para a necessidade, outrossim, de que haja disponibilidade jurídica ou econômica do acréscimo patrimonial, sendo que a distinção entre os respectivos conceitos seara tormentosa, dividindose a doutrina em correntes minoritárias, que a vinculam aos binômios posse/propriedade e ato lícito/ato lícito, bem como realização/separação, e o que pode ser chamado de posicionamento preponderante, o qual associa a disponibilidade jurídica ao regime de competência, e a disponibilidade econômica ao regime de caixa. Fl. 19377DF CARF MF 94 Nessa esteira, cabe desde já afastar a associação por vezes efetuada, mas amplamente minoritária na doutrina, e rechaçada pela jurisprudência12, entre regime de caixa e fluxo financeiro, pois a disponibilidade concernente ao regime de caixa pode ser perfeitamente apreendida por meio da percepção de bens, direitos, etc, não necessariamente já transformados em pecúnia ver ilustrativamente, nesse sentido, as disposições do inciso IV do art. 55 do Decreto nº 3.000/9913, e do art. 31 do DecretoLei nº 1.598/77. Ainda a título introdutório, necessário dizer que o princípio da realização da renda requer a identificação do momento em que aquela, como indicativo de capacidade contributiva, pode ser concreta e seguramente tributada. Não há como se partilhar, contudo, da visão do D. Relator a respeito do tema, ao considerar, segundo se extrai de suas razões, que haveria necessidade de identificação de parcela destacada do patrimônio para a verificação de disponibilidade jurídica ou econômica. Tal perspectiva parece estar calcada na teoria da renda separada do capital, colhida dos ensinamentos da doutrina do americano Edwin Sigelman, do início do século passado, e referida no precitado voto. Foi esse estudioso o grande difusor da noção de que a renda é algo separado do capital que a produz, dependendo a tributação da verificação dos atributos de realização e separação14. Não obstante, mesmo em seu país de origem essa visão, em seu sentido restritivo, vem sendo superada há bastante tempo. Com efeito, ao menos desde 1940, quando do julgamento pela Suprema Corte do caso Helvering v. Bruun (309 U.S. 46115), no qual decidiuse que um ganho pode ser tributável ainda que não esteja separado do capital16. 12 Vejase, por exemplo, o REsp nº 981.134/RS, j. 3/4/2008, do qual se extrai o seguinte trecho da ementa (ver também AgRg nos EDcl no REsp 1.232.796/RS, j. 2/2/2012, dentre outros): (...) 4. Não se deve confundir disponbilidade econômica com disponibilidade financeira da renda ou dos proventos de qualquer natureza. Enquanto esta última se refere à imediata "utilidade" da renda, a segunda está atrelada ao simples acréscimo patrimonial, independentemente da existência de recursos financeiros. 5. Não é necessário que a renda se torne efetivamente disponível (disponibiidade financeira) para que se considere ocorrido o fato gerador do acrésimo patrimonial (disponibilidade econômica). (...) 13 Art. 55. São também tributáveis (Lei nº 4.506, de 1964, art. 26, Lei nº 7.713, de 1988, art. 3º, § 4º, e Lei nº 9.430, de 1996, arts. 24, § 2º, inciso IV,e 70, § 3º, inciso I): (...) IV os rendimentos recebidos na forma de bens e direitos, avaliados em dinheiro, pleo valor que tiverem na data da percepção; 14 Cf. SELIGMAN, Edwin. Are stock dividends income? In Studies in public finance. New York: Augustus M. Kelley, 1969 (reimpressão), pp. 98/103. 15 Vale anotar o conteúdo daquele fundamental entendimento na história da evolução do imposto de renda, em trecho da decisão mencionado por Heloísa Helena Rocha Maia, no artigo 'O princípio da realização da receita:passado, presente e perspectivas futuras': "A Corte estabeleceu: 'Enquanto é verdade que o ganho econômico não é sempre tributável como lucro, é estabelecido que a realização do ganho não precisa ser em dinheiro derivado da venda de um ativo. Ganho pode ocorrer como um resultado da troca da propriedade, baixa de um débito do contribuinte, desobrigação de um passivo, ou outro lucro realizado da conclusão de uma transação. O fato que o ganho é uma parcela do valor da propriedade recebida pelo contribuinte não nega sua realização. Não é necessário para o reconhecimento de um ganho tributável que o contribuinte deva ser capaz de separar a melhoria gerada pelo ganho de cpaital original. Se isto fosse necessário, nenhum lucro poderia surgir na troca de propriedade; desde que sempre tivesse sido reconhecido como um ganho tributável realizado' (Windal, 1963, p.34)." Disponível em http://revistas.face.ufmg.br/index.php/contabilidadevistaerevista/article/download/110/105 16 Leciona a respeito Victor Borges Polizelli, em 'O princípio da realização da renda e sua aplicação on imposto de renda de pessoas jurídicas': Fl. 19378DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.328 95 De fato, limitações do gênero tolhem consideravelmente a possibilidade de se alcançar as manifestações de capacidade contributiva nas situações em que elas ocorrem, particularmente à luz dos inúmeros tipos de negócios jurídicos firmados em uma economia globalizada. Na verdade, algumas das grandes questões em discussão nos sistemas tributários modernos vão em sentido diametralmente oposto, a saber, como se tributar, haja vista as dificuldades de cunho prático, os ganhos decorrentes de mera detenção dos ativos. Isso porque a usual apreensão temporal do resultado com base em transações com terceiros causa severas distorções no comportamento econômico e onerosidade discrepante para os contribuintes que não dispõem, como aqueles dotados de elevada capacidade contributiva, de mecanismos hábeis para diferir significativamente o momento de realização. Debates à parte, deve ser destacado que a ampla maioria dos administrações tributárias associa, por meio das normas adequadas, a percepção da renda/acréscimo patrimonial a eventos críticos envolvendo terceiros, situações em que eventual ganho já incorporado no ativo, ou à ocasião obtido, revelase objetivamente, por assim dizer, de modo definitivo e apreciável monetariamente. É o que se passou, como será visto, no bojo da incorporação de ações do Banco Real e do AAB Dois Par. A par dessa exposição de caráter geral, necessário passar ao exame mais próximo da lide posta nos autos, sendo de rigor advertir que não se reprisará todas as minúcias das operações abordadas, visto tal feito ter sido efetuado com maestria no relatório deste Acórdão. Observo de início que não divirjo das conclusões do encaminhamento do voto do relator no que concerne à adequação do momento eleito como evento tributável, ou seja, de que o ganho de capital objeto de lançamento deuse na incorporação das ações do Banco Real e do AAB Dois Par pelo recorrente, em operação que visou lhe transferir, da sociedade holandesa Sterrebeeck B.V., a propriedade dessas ações, tornando aquelas sociedades subsidiárias integrais suas. Cumpre então focar nas disposições legais específicas que importam para o deslinde da controvérsia. A incorporação de ações é regrada pelo art. 252 da Lei nº 6.404/76 (Lei das S.A.): Art. 252. A incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertêla em subsidiária integral, será submetida à deliberação da assembléiageral das duas companhias mediante protocolo e justificação, nos termos dos artigos 224 e 225. § 1º A assembléiageral da companhia incorporadora, se aprovar a operação, deverá autorizar o aumento do capital, a ser realizado com as ações a serem incorporadas e nomear os "A partir da decisão deste caso, foi assentado que a realização não requer separação efetiva do ganho com relação à propriedade que o produziu, mas simplesmente exige um evento que congele ou fixe o ganho com um nível apropriado de certeza que justifique a imposição tributária. Basta existir algum evento uma transação compleata que manifeste objetivamente o ganho." Disponível in www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2133/tde18112011145517/ Fl. 19379DF CARF MF 96 peritos que as avaliarão; os acionistas não terão direito de preferência para subscrever o aumento de capital, mas os dissidentes poderão retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230. § 2º A assembléiageral da companhia cujas ações houverem de ser incorporadas somente poderá aprovar a operação pelo voto de metade, no mínimo, das ações com direito a voto, e se a aprovar, autorizará a diretoria a subscrever o aumento do capital da incorporadora, por conta dos seus acionistas; os dissidentes da deliberação terão direito de retirarse da companhia, observado o disposto no art. 137, II, mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 230.(Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) § 3º Aprovado o laudo de avaliação pela assembléiageral da incorporadora, efetivarseá a incorporação e os titulares das ações incorporadas receberão diretamente da incorporadora as ações que lhes couberem. § 4o A Comissão de Valores Mobiliários estabelecerá normas especiais de avaliação e contabilização aplicáveis às operações de incorporação de ações que envolvam companhia aberta. Tratase, assim, de instituto específico, que não se confunde com a incorporação de sociedades (art. 227 da Lei nº 6.404/76), tampouco com permuta (art. 533 do Código Civil), visto estar regrado pelas normas próprias de direito societário acima transcritas. É, em síntese, operação por meio da qual a totalidade das ações de uma ou mais sociedades anônimas (Banco Real e AAB Dois Par) é incorporada ao patrimônio de outra companhia (Banco Santander Brasil), tornandose suas subsidiárias integrais, em procedimento conforme o qual há o aumento do capital da sociedade incorporadora, com a subscrição desse por conta dos acionistas das sociedades incorporadas. Para viabilizar tal subscrição, os sócios se desfazem das ações que detinham das incorporadas, recebendo em contrapartida as ações da incorporadora. A partir desse ponto, deve ser averiguado se a operação em tela traz em seu bojo espécie do gênero alienação. Tragase à colação esse conceito, aqui retirado do Vocabulário Jurídico17: A alienação, também chamada de alheação e alheamento, é o termo jurídico de caráter genérico, pelo qual se designa todo e qualquer ato que tem o efeito de transferir o domínio de uma coisa para outra pessoa, seja por venda, por troca ou por doação. Ora, inegavelmente, no decorrer de uma incorporação de ações ocorre alienação, pois em dado momento as ações da sociedade incorporada saem do domínio dos seus sócios, para a propriedade da controladora, com vistas a que a primeira passe a constituir se em subsidiária integral da segunda. A controladora fica, daí, com a obrigação de disponibilizar ações suas a esses sócios, o que é realizado mediante aumento de capital e emissão de novas ações a um certo preço, as quais são então entregues aos sócios da incorporada. 17 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico/atualizadores : Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho. 23ª Edição. Rio de Janeiro, 2003, p. 94. Fl. 19380DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.329 97 Vale salientar mais uma vez que a incorporação de ações não se trata de subespécie do gênero compra e venda, permuta, incorporação de sociedades, etc., mas sim de instituto societário de caráter único e dotado de certa complexidade, sendo composto de diversas etapas consecutivas e necessárias, dentre as quais se destaca, como de especial interesse para o caso vertente, a realização de alienação das ações detidas pelos sócios da sociedade incorporada. Mister chamar a atenção, nesse passo, para o fato de que a situação abordada não se confunde com subrogação real legal. Essa diz respeito à situação na qual, no seio de uma determinada relação jurídica, há substituição de um objeto por outro, que não apenas toma o lugar do substituído, mas também se submete ao seu regime jurídico. Não foi destinado capítulo específico ao instituto no Código Civil, que porém regulamentou diversas aplicações da subrogação real, como no art. 1.659, incisos I e II, no art. 1.719 e no art. 1.425, § 1º, o qual preceituou, no pertinente aos princípios gerais dos direitos reais de garantia, que, nos casos de perecimento da coisa dada em garantia, esta se subrogará na indenização do seguro, ou no ressarcimento do dano, em benefício do credor, a quem assistirá sobre ela preferência até seu completo reembolso. Ou seja, a substituição que acontece na subrogação real se dá dentro do contexto de uma relação jurídica na qual o bem original tinha uma destinação certa, como ocorre quando um bem dado em garantia está ameaçado de perecer, ou mesmo se torna de manutenção dispendiosa para o devedor, vindo a ser substituído por outro que satisfaça a função original. Na incorporação de ações, porém, a relação jurídica original existente entre os sócios e uma determinada pessoa jurídica é desfeita, estabelecendose novo vínculo societário entre aqueles e a pessoa jurídica incorporadora, a qual pode atuar em outros mercados/atividades e geralmente possui outros sócios, além daqueles da companhia incorporada. É outra relação jurídica que exsurge, envolvendo outros sujeitos de direitos e bens, podendo haver, por exemplo, políticas de distribuição de dividendos bastantes distintas entre as companhias. Sobre o tema, aliás, Luis Eduardo Schoueri18 com argúcia refletiu: Nesse contexto, não vislumbramos a previsão de subrogação real no artigo 252 da Lei das Sociedades Anônimas. Ali, não criou, o legislador, qualquer ficção. Em momento algum o dispositivo dá a entender que as ações de 'B' deveriam ser consideradas como ações de 'A'. Não vemos, ademais, que a lei tenha estabelecido a substituição das ações mediante um juízo relativo, ou seja, com vistas a uma relação jurídica particular. Pelo contrário, as ações, tanto as da companhia 'incorporada' como as da companhia 'incorporadora' são tratadas em si e por si. Prova disso é, como se disse acima, que as ações de 'B' não autorizam o sócio a exercer quaisquer direitos em face de 'A', o 18 SCHOUERI, Luís Eduardo. Incorporação de ações; natureza jurídica societária e efeitos tributários, in Revista Dialética de Direito Tributário, n. 200, São Paulo, Dialética, maio de 2012, p. 52. Fl. 19381DF CARF MF 98 que decorre da relação jurídica particular em que se encontram insertas as ações desta. Acrescentese, ainda, que não se vislumbra incompatibilidade entre a sub rogação real e a alienação. É perfeitamente possível que se aliene bem com o escopo de viabilizar sua substituição por outro que assuma o seu lugar em uma certa relação jurídica, via subrogação; mesmo assim, não deixa de ocorrer alienação. Em outras palavras, não são conceitos ou institutos reciprocamente excludentes, como a uma vista desavisada pode parecer. Impõese, nesse átimo, sublinhar também a compreensão de que a incorporação de ações não se confunde com permuta, como já mencionado anteriormente neste voto. As ações da sociedade que incorpora são conferidas aos acionistas da incorporada considerandose prévia avaliação do valor patrimonial das ações incorporadas digase mais claramente, se preciso: mediante o estabelecimento de um preço definido de emissão das ações da incorporadora, a serem subscritas para fins de integralização do capital, proceder esse efetivado seja em bens, seja em dinheiro. Destarte, restam perfeitamente certos, delimitados e mensuráveis os termos em que efetuada a alienação ocorrida. Como bem salientado pela PGFN, "é inegável que a operação de incorporação de ações implica a circulação de riquezas entre as partes envolvidas, mormente os antigos acionistas da incorporada e a incorporadora". Nessa toada, a Fazenda Nacional alude (fl. 19238) ao que asseveram Luiz Carlos de Andrade Júnior e Luiz Eduardo Schoueri: É relevante notar que a companhia poderá cobrar do acionista as 'importâncias devidas', o que põe em destaque o caráter monetário da obrigação decorrente da subscrição. Apenas para se traçar um paralelo, fosse a obrigação decorrente de subscrição centrada numa coisa (como na permuta), a companhia teria o direito de exigir a entrega desta, ou, quando muito, pleitear judicialmente uma indenização pelas perdas e danos sofridos. Jamais poderia a companhia (também a exemplo do que ocorre na permuta) exigir o pagamento do próprio preço (que somente é 'importância devida' na compra e venda). Há que se ter em mente, sobretudo, que a relação de "mera substituição" que se opera na verdade se dá entre patrimônios de diferentes companhias, em apreciação com conteúdo nitidamente monetário. Se, devidamente avaliado, se constata que determinado patrimônio supera o registro contábil, o evento subscrição de ações simplesmente serve de condutor, na forma de títulos mobiliários, para viabilizar a equivalência final que se pretende alcançar, a qual pode acarretar, consoante se verificou na espécie, em acréscimo patrimonial para os acionistas da sociedade incorporada. Sob outro prisma, ainda que se admitisse tratarse de permuta, ou ainda, que esta tivesse efetivamente ocorrido durante o procedimento em comento, não se vislumbraria maiores empecilhos para a incidência do imposto de renda, pois, como é cediço, há previsão legal expressa para a tributação da alienação acontecida na forma de permuta, veiculada no art. 3º da Lei nº 7.713/88. E, como vetusto princípio de hermenêutica há muito consagrado, é sabido que a lei não contém palavras inúteis, só sendo adequada a interpretação que encontrar um significado útil e efetivo para cada expressão contida na norma, sendo dever do intérprete buscar a eficácia do conjunto de suas prescrições. Fl. 19382DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.330 99 Tirante as situações em que não há com aferir a correspondência dos bens sujeitos a permuta com equivalentes monetários precisos, ou seja, hipóteses singulares, não há óbices para que seja dimensionada com a desejável segurança a apuração de eventual ganho de capital nas permutas caso verificado acréscimo patrimonial, ainda que em certos casos, por razões de política fiscal a saber, a permuta sem torna de unidades imobiliárias regrada no art. 121 do Decreto nº 3.000/99 haja previsão para que não seja tributado tal ganho. Em outros termos, no evento consubstanciado na permuta, realizase a avaliação do ativo detido, por meio de troca com terceiros por outro bem, sendo que possível problema de liquidez no adimplemento da obrigação, decorrente da apuração do ganho de capital, teria de ser sopesado à luz da apreensão da capacidade contributiva do contribuinte, não se constituindo em obstáculo a priori à incidência tributaria. Anotese, como remate dessas breves linhas sobre a permuta, que o Parecer PGFN/CAT 1722/13 superou as considerações trazidas nos anteriores Pareceres PGFN/CAT nº 970/91 e 454/92 acerca de permutas, os quais foram exarados e voltados especificamente ao contexto das privatizações de ativos estatais então em curso. Melhor sorte não favorece ao argumento de que não se apresenta elemento volitivo face à ausência de manifestação expressa por parte dos acionistas quanto às operações realizadas. Notese que esteve presente manifestação de vontade dos acionistas das empresas incorporadas, pois houve deliberação em assembléiageral aprovando as operações societárias analisadas, de acordo com os elementos de prova constantes nos autos. Anotese, por pressuposto, que os sócios de uma companhia aberta estão sujeitos à observância, por força de lei, da sistemática de decisões majoritárias. Havendo discordância com respeito às tratativas levadas a efeito, aos acionistas insatisfeitos era possibilitado o exercício, sem empecilhos, do seu direito de retirada, previsto no § 2º do art. 252 da Lei das S.A. Não o exercendo, estavam sim, assentindo com os termos das operações, por lhes serem de interesse, concordância essa que se estende também, por decorrência lógica, às etapas necessárias à consecução do procedimento, que incluíam a alienação/transferência da propriedade de suas ações ao recorrente. Devem ser afastadas, também, as aduções recursais que induzem à conclusão de que teria a fiscalização confundido a incorporação de ações com integralização de capital em bens ou direitos, previsto no art. 23 da Lei nº 9.249/95 : Art. 23. As pessoas físicas poderão transferir a pessoas jurídicas, a título de integralização de capital, bens e direitos pelo valor constante da respectiva declaração de bens ou pelo valor de mercado. § 1º Se a entrega for feita pelo valor constante da declaração de bens, as pessoas físicas deverão lançar nesta declaração as ações ou quotas subscritas pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, não se aplicando o disposto no art. 60 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, e no art. 20, II, do DecretoLei nº 2.065, de 26 de outubro de 1983. Fl. 19383DF CARF MF 100 § 2º Se a transferência não se fizer pelo valor constante da declaração de bens, a diferença a maior será tributável como ganho de capital. A autoridade lançadora, conforme pode ser lido no Termo de Verificação Fiscal às fls. 18684 e seguintes, em momento algum confundiu os dois institutos, até mesmo porque, além de estarem previstos em dispositivos normativos distintos, possuem eles causas jurídicas e outras características distintas, conforme exaustivamente mencionado no recurso. Na verdade, procurou aquela apenas salientar que em ambas as situações ocorre um mesmo fenômeno fáticojurídico, a subscrição/integralização do capital de uma pessoa jurídica pelos acionistas, a qual pode ser realizada na forma de bens no caso do art. 252 da Lei das S.A., da espécie ações com a transferência de um patrimônio de uma determinada esfera pessoal para outra. O raciocínio subjacente, e com o qual se comunga, é que não há, portanto, motivos para que o tratamento tributário consequente seja distinto. Pelo contrário, é um dever de isonomia e, em última análise, de observância ao princípio da igualdade, que seja ele equivalente, sem cogitarse, por isso, de estarse realizando "equiparação" não prevista em lei. Como visto, as administrações tributárias, aqui e alhures, tomam determinados eventos de "troca", em sentido amplo, com terceiros, como momentos ótimos no tempo para aferir a realização de dado acréscimo patrimonial, em cumprimento do chamado princípio da realização do resultado. E, diante de tais eventos críticos, é por vezes facultado ao contribuinte diferir o efeito do aparecimento de acréscimo tributável na renda, possibilitandolhe que a transferência/alienação seja realizada pelo preço/custo histórico contabilizado ou declarado. E a partir do momento em que assim não o seja feito, pode ser constatada a chamada "marcação a mercado" no preço do ativo transferido, a qual revela o acréscimo patrimonial latente. A autoridade lançadora então apenas explicitou o critério jurídico aplicável na alienação ocorrida no curso da incorporação de ações, para fins de apurar o ganho de capital diferença entre o custo de aquisição e, verificada a situação concretamente, o valor de mercado/avaliação. Tratase de procedimento reconhecido e utilizado em situações onde ocorre subscrição de capital em bens, sendo que sua aplicação no particular não implica, de forma alguma, no reconhecimento de que incorporação de ações e integralização de capital sejam similares em todos as demais nuances, muito menos aventar a existência de mácula na autuação fiscal sob esse enfoque. Vale ressaltar que tal técnica de apuração do resultado realizado é utilizada em diversas outras situações previstas na legislação tributária, dentre as quais pode se citar, por ser de amplo conhecimento, as transmissões de bens e direitos causa mortis, vide art. 23 da Lei nº 9.249/95. Portanto, entendese que a transação efetuada com terceiros, na forma da substituição e integralização efetuada quando da incorporação de ações, é sinal claro e suficiente a revelar o acréscimo patrimonial realizado. É o reconhecimento, por parte do alienante, no bojo daquele evento, da percepção de uma riqueza que deixa então de ser meramente "potencial" e aqui se expressa visão bastante distinta da do relator e realizase Fl. 19384DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.331 101 em sua plenitude, com os atributos de mensurabilidade e liquidez19, estando assim sujeita à incidência tributária nos termos da legislação aplicável. Estabelecido que a apuração do ganho de capital em tela envolve a mensuração da diferença entre o valor de alienação e o custo de aquisição, como sói acontecer, forçoso relembrar alguns aspectos dos eventos em questão. A sociedade não residente Sterrebeeck H.V., em razão de sua obrigação acordada/deliberada de subscrever e integralizar ações do Banco Santander no Brasil, nos termos dos arts. 252 e 106 da Lei nº 6.404/76, assim o fez transferindo ações do Banco Real e do AAB Dois Par as quais lhe haviam custado cerca de R$ 13 bilhões (custo histórico registrado), pelo valor de R$ 37 bilhões, correspondente ao valor de mercado desses ativos, amparada por laudos técnicos. Tal operação de alienação resultou no reconhecimento pela sociedade estrangeira da mais valia obtida graças ao incremento no valor dos ativos representados pelas ações transferidas, que a despeito de historicamente terem um determinado valor de registro, já haviam em muito superado tal montante, tendo em vista as atividades das sociedades envolvidas e a apreciação, pelo mercado, do retorno por elas proporcionado aos seus acionistas, tanto efetivo, quanto potencial. Concluise então não ser cabível falar em dupla tributação, quando da ulterior alienação das ações do Santander pela Sterrebeeck, pois esse negócio, caso fosse se efetivar, deveria levar em conta esse novo custo de R$ 37 bilhões, sendo daí sim calculado um novo ganho de capital. De qualquer sorte, tratase de situação em tese, com relação a qual só se poderia fazer um juízo melhor estruturado caso examinada a legislação do país estrangeiro sede da Sterrebeeck Holanda , os tratados acerca de tributação existentes entre esse país e o Brasil, dentre outras variáveis. Aventar situação hipotética, sem maior respaldo documental, finda por revelarse mero argumento retórico, desvinculado da realidade concreta com a que ora se depara, em discussão que extrapola os limites da lide constante deste processo. Isso posto, é de se destacar que sendo a proprietária (Sterrebeeck B.V.) das ações alienadas, bens situados no Brasil, pessoa jurídica não residente no país, incide o disposto no art. 682 do Decreto nº 3.000/99, o qual prescreve a sujeição do ganho de capital obtido na alienação à alíquota de 15% de imposto de renda retido na fonte. Mais especificamente, o art. 26 da Lei nº 10.833/03 (c/c o art. 18 da Lei nº 9.249/9520), deixou claro ser do adquirente a responsabilidade pelo recolhimento desse imposto, valendo transcrever as normas em evidência: Lei nº 9.249/95 19 Bulhões Pedreira associava (em Imposto Sobre a Renda: pessoa jurídicas. Rio de Janeiro, Justec, 1979, p. 292) o 'princípio da realização do lucro' à presença de quatro elementos: (a) sua conversão em direitos que acresçam ao patrimônio da empresa, (b) processamento desta conversão mediante troca no mercado, (c) cumprimento, pela empresa, das obrigações que decorrem dessa troca, e (d) mensurabilidade e liquidez dos direitos recebidos na troca. Consideramse perfeitamente preenchidos e evidenciados, no presente caso, tais requisitos. 20 Em períodos anteriores ao advento de tais normas, o Decreto Lei nº 5.844/43, em seus arts. 97 e 100, previa tão somente responsabilidade genérica da fonte pagadora pela retenção do imposto de renda no caso de remessa, pagamento, etc., de rendimentos a residente no exterior. Fl. 19385DF CARF MF 102 Art. 18. O ganho de capital auferido por residente ou domiciliado no exterior será apurado e tributado de acordo com as regras aplicáveis aos residentes no País. Lei nº 10.833/03 Art. 26. O adquirente, pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, ou o procurador, quando o adquirente for residente ou domiciliado no exterior, fica responsável pela retenção e recolhimento do imposto de renda incidente sobre o ganho de capital a que se refere o art. 18 da Lei no9.249, de 26 de dezembro de 1995, auferido por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior que alienar bens localizados no Brasil. Merece colação também o seguinte trecho da MP nº 135/03, cuja conversão deu origem à Lei nº 10.833/03: 21. O art 24 [26] tem por objetivo reduzir a possibilidade de não pagamento pelo contribuinte não residente do imposto de renda incidente sobre os ganhos de capital apurados na alienação de seus bens localizados no Brasil, pois atualmente cabe ao alienante a apuração e recolhimento do tributo, o que dificulta a fiscalização do cumprimento da obrigação tributária, sobretudo pela não residência do contribuinte em território nacional (...) Conforme bem enfatizado pela autoridade lançadora, a eleição do adquirente como responsável pela retenção é medida de praticabilidade, que visa alcançar a renda auferida no Brasil, por nãoresidente. Reproduzase trecho do escólio de Henry Tilbery sobre o assunto, constante às fls. 18686/18687 do relato fiscal: A aplicabilidade aos residentes no estrangeiro das normas vigentes para tributação das pessoas físicas residentes no país tem, todavia, algumas limitações que resultam da própria natureza da tributação dos residentes no exterior. Considerando que o sistema vigente no país é o princípio da fonte em relação à renda produzida no país, auferida por empresas ou pessoas naturais domiciliadas no exterior, pelo motivo de sua produção no país, a sujeição desta renda à soberania tributária brasileira só pode, na prática, ter eficácia quando imposta pela retenção na fonte no exato momento quando for auferida. Uma vez que não é possível atingir o residente no estrangeiro, a arrecadação deve ser realizada dentro das fronteiras territoriais sob jurisdição brasileira sendo o único modo viável o de se impor à fonte pagadora a responsabilidade pela retenção. Evidenciase, daí, que o recorrente, na qualidade de adquirente das ações pertencentes a sociedade não residente, deveria ter apurado e recolhido na fonte o imposto incidente sobre o ganho de capital auferido pelo alienante, e, não o fazendo, sujeitase ao lançamento de ofício, pois sua responsabilidade subsiste, ainda que não tenha o tributo sido recolhido, exvi do inciso II do art. 121 c/c o inciso II do parágrafo único do art. 128, ambos do CTN, e legislação correlata (art. 103 do DecretoLei nº 5.844/43, art. 26 da Lei nº 10.833/03 vide também IN SRF nº 407/07). Nessa esteira, devese atentar para que o fato de o acréscimo patrimonial granjeado pela sociedade alienante não se traduzir em moeda em espécie não impede a operação da consagrada técnica de retenção na fonte. Temse como muito bem colocadas, a respeito, as ponderações tecidas pelo relator do Acórdão nº 2202003.012 j. 10/03/2015, Conselheiro Antonio Lopo Martinez: Fl. 19386DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.332 103 Não cabe também a alegação de que o recorrente não teria como reter o valor do beneficiário, arcando com o ônus com seu patrimônio. Esclareçase que além da retenção existem outros mecanismos mediante o qual o responsável pode se ressarcir do imposto pago. Pode, por exemplo, o responsável assumir o ônus do tributo pelo contribuinte, oportunidade em que a importância paga será considerada líquida e haverá reajustamento do valor bruto sobre o qual recairá o imposto (art. 725 do RIR/99). Observar que esse valor de imposto pago pelo adquirente é dedutível na determinação do lucro real da pessoa jurídica tal como prescreve o § 3º do artigo 344 do RIR/99. Pessoalmente, entendo que não há impedimentos a retenção no caso de incorporação de ações, tal como argumenta o recorrente. Em que pese o pagamento se dar em bens, estes tem valor determinado por laudo de avaliação e podem ser retidos. O responsável, poderia realizar a retenção de partes das ações incorporadas. Uma vez que a norma de retenção é autorizativa, o responsável tem a opção alternativa de assumir o ônus e manejálo em sua escrita fiscal. Entendese que esse regime de retenção em bens, possa parecer estranho, entretanto isso não é novidade no nosso sistema, observese, por exemplo, o caso do artigo 63 da Lei nº 8.981/95, com redação da Lei nº 9065/95, que submete o pagamento de prêmios distribuídos sob forma de bens e serviços, em virtudes de concursos e sorteios, à incidência do imposto de renda na fonte. Em suma, a retenção seria a oportunidade de transferência do ônus econômico do tributo ao contribuinte de direito e não ao responsável. O pagamento em bens é possível. Ainda que não se efetue a retenção, poderá o responsável aproveitar o ônus econômico como despesa na apuração da base de cálculo do próprio imposto de renda. Sob esse prisma, ressaltese que não haveria impeditivo fático para que o autuado realizasse o adimplemento das obrigações tributárias decorrentes de sua responsabilidade na retenção. Poderia ter sido veiculada nos atos societários que regeram a incorporação, além da retenção dos bens/ações suficientes para liquidar o valor pecuniário correspondente com o ajuste no preço das ações emitidas de modo a considerar tal fator a previsão de remessa dos recursos necessários para tanto pela alienante, caso deles não dispusesse a adquirente, ainda mais tratandose de sociedades do mesmo grupo econômico. Ademais, a tese do autuado de que não haveria incidência de imposto de renda na fonte posto que não ocorreu pagamento, creditamento, entrega, emprego ou remessa de valores ao não residente conforme previsto no caput do art. 685 do RIR/99, tem esteio na associação descabida entre disponibilidade jurídica/econômica e fluxo financeiro, a qual no começo deste voto já foi devidamente refutada. Houve, é fato, entrega, no caso de bens, na forma de ações, ensejando a incidência de imposto de renda na fonte nessa operação que importou em ganho de capital, em consonância com o percuciente entendimento anotado no acórdão acima referido. Já no que diz respeito às questões envolvendo o registro do investimento no Banco Central, não é convincente a argumentação recursal. De acordo com os registros do Sisbacen (módulo RDEIED), efetuados com base nos arts. 3º e 4º da Lei nº 4.131/62, o custo de aquisição dos investimentos da Sterrebeeck no Banco Real e na AAB Dois Par alcançavam a cifra de R$ 13.310.962.562,00, não havendo notícia de reinvestimento adicional a ser registrado. Fl. 19387DF CARF MF 104 Cabe ressalvar que ainda que se concorde com a feição precipuamente declaratória de tal registro, dado que ele não parece se dar acompanhado de arcabouço probatório robusto o suficiente a atestar as informações prestadas à autoridade monetária, isso não lhe dá a feição de simples formalidade. Por outra via, dadas essas restrições, as informações ali contidas têm de ser cotejadas e sopesadas, por suposto, com os demais elementos carreados nos autos. Consequentemente, é natural que ali conste, associado à incorporação de ações, o registro de "permuta de ações/quotas no país na receptora", pois essa é justamente a tese defendida pelo recorrente. Mas, como visto, o entendimento do Fisco, com o qual se partilha neste voto, é bastante diverso. Face às provas colacionadas, temse que tal registro não se sustenta, eis que as Atas das Assembléias Gerais Extraordinárias do Banco Real, do AAB Dois Par e do recorrente, realizadas em 29/08/2008, que aprovaram a incorporação de ações, bem como o “Instrumento particular de protocolo e justificação de incorporação de ações do Banco ABN AMRO Real S.A. e da ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. ao patrimônio do Banco Santander S.A.”, firmado em 29/07/2008 (fls. 15805/15818), c/c o laudo de avaliação econômicofinanceira elaborado por KPMG Corporate Finance Ltda (fls. 15921/16038) comprovam que houve alienação por parte da Sterrebeeck e aumento de capital no recorrente, na quantia de R$ 38.920.752.911,73. Entendese, desse modo, que a manutenção do investimento perante os registros mantidos no Bacen pelo mesmo valor em moeda estrangeira, a despeito das operações examinadas, não reflete a realidade documentada nos autos, não podendo nortear o convencimento do julgador administrativo a respeito dos fatos em apreço. No atinente à afirmação de que a contabilidade da Sterrebeeck faz prova da manutenção do custo de aquisição dos investimentos, temse como precisa a manifestação da PGFN: (...) destacase que, primeiro, uma vez não sendo possível aferir as normas contábeis aplicáveis na Holanda, não há como concluir se era ou não possível o registro da subscrição do capital do BANCO SANTANDER pela STERREBEECK sem o aporte de novos recursos. E, segundo, o registro ou não desse custo em sua contabilidade, em nada afeta a existência do ganho auferido por essa empresa no Brasil, ou seja, é irrelevante para fins de aplicação da legislação tributária brasileira. Importa assinalar que não houve circulação de moeda estrangeira na operação, mas sim alienação de um ativo detido por não residente, valorado e registrado em reais, por preço mensurado também em reais, ao recorrente, preço esse superior ao de aquisição, tendo em vista a "marcação" a mercado efetuada com base na avaliação econômico financeira. Tal operação acarretou um ganho de capital em reais para o alienante, a ensejar a tributação do imposto de renda na fonte de responsabilidade do contribuinte, conforme já explanado. Não houve, assim, remessa destinada ao exterior a justificar a aplicação do art. 690 do Decreto nº 3.000/99, como demanda o caput dessa norma "Art. 690. Não se sujeitam à retenção as seguintes remessas ao exterior: (...)". Tampouco houve retorno de moeda estrangeira ao país de origem, como requer o inciso II desse mesmo artigo "investimentos ou reinvestimentos, retornados ao seu país de origem". Fl. 19388DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.333 105 Assim, temse como inadequadas as aduções recursais amparadas nesses dispositivos, posto tratarem, à evidência, de situação diversa da ora analisada. Não parece se sustentar, por outra senda, o intento de cancelamento da autuação por ter sido realizado o cálculo do ganho de capital em reais e não em moeda estrangeira. Bem aponta a PGFN que é duvidosa a aplicação do art. 24 da MP nº 2.15835 no caso, pois a transação deuse no Brasil, envolvendo a incorporação de ações exclusivamente brasileiras, as quais tiveram seus valores apurados por laudos técnicos na moeda brasileira, o que deu embasamento para a autoridade fiscal apurar o custo em reais das ações das empresas brasileiras registrado pela Sterrebeeck quando da aquisição desses títulos, o qual estava registrado no Bacen, e o valor em reais pelo qual essas ações aumentaram o capital social do Banco Santander. Cabe notar, aliás, que ainda que se admitisse a aplicação do precitado dispositivo ao caso concreto, não resultaria tal feito em cancelamento da autuação, como cogitado na peça recursal. Caracterizado o fato gerador do imposto de renda retido na fonte e o responsável tributário na operação que resultou na alienação das ações da Sterrebeeck, o dimensionamento da base de cálculo atémse ao aspecto quantitativo do consequente normativo da regra de incidência tributária. Nesse diapasão, necessário enfatizar estar bem firmado no auto de infração, em consonância com a legislação, que o ganho de capital se verifica quando a alienação se dá por valor superior ao custo de aquisição, sendo essa diferença a base de cálculo, e também estabelecido naquele o momento de ocorrência do fato gerador e a alíquota a incidir. Na prática, a distinção entre o procedimento levado a efeito pelo Fisco para a mensuração do tributo diverge do proposto pelo recorrente apenas no que concerne às taxas de câmbio utilizadas nas conversões, já que configurados os momentos de aquisição e de alienação das ações, bem como o modo de apuração da base de cálculo (eventual diferença positiva extraída da subtração entre o valor de alienação e o custo de aquisição) e a alíquota. Em outras palavras, a diferença que poderia daí surgir seria decorrente da variação da taxa de câmbio entre esses dois momentos. Tal mensuração irregular implicaria na necessidade, eventualmente, da realização de ajuste nessa conversão conforme os critérios estabelecidos naqueles regramentos, e tão somente se revelado prejuízo para o contribuinte face ao supostamente equivocado proceder do Fisco, o que não foi comprovado pelo recorrente. Isso porque, inexistindo vício de incompetência ou preterição ao direito de defesa, incidiria na espécie o disposto no art. 60 do Decreto nº 70.235/72, o qual prescreve que "as irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio". Não havendo sido demonstrado, sob qualquer prisma, ter o procedimento do Fisco na conversão de moedas para fins de apuração do ganho de capital, causado prejuízo ao recorrente ou lhe ter sido mais desfavorável que o previsto na legislação invocada, não há como prosperar, também por essa via, a pretensão recursal. Fl. 19389DF CARF MF 106 Outro ponto objeto de controvérsia é o reajustamento da base de cálculo do imposto efetuado com supedâneo nas disposições do art. 725 do RIR/99, e, mais uma vez, razão não assiste ao recorrente. Transcrevase o dispositivo em relevo: Art.725.Quando a fonte pagadora assumir o ônus do imposto devido pelo beneficiário, a importância paga, creditada, empregada, remetida ou entregue, será considerada líquida, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto, sobre o qual recairá o imposto, ressalvadas as hipóteses a que se referem os arts. 677 e 703, parágrafo único (Lei nº 4.154, de 1962, art. 5º, e Lei nº 8.981, de 1995, art. 63, §2º). Sendo o ônus do pagamento arcado exclusivamente por terceiro, como consequente da imputação de responsabilidade ao adquirente das ações, é natural que seja realizado o cálculo "por dentro" do imposto, no mecanismo denominado de grossup. À evidência, o fato de o contribuinte não ter efetuado a retenção, dado seu entendimento acerca dos eventos em questão, não tolhe a necessidade de que seja efetuado o necessário ajuste, quando da apuração da infração. A assunção do ônus, conforme compreensão que aqui se partilha, deveria ter sido efetuada; impondose o reajustamento, de qualquer forma, por força de expressa previsão legal, face às regras dos arts. 722 e 725 do Decreto nº 3000/99. Não haveria falar em nulidade aliás, caso prevalecesse posicionamento diverso, pois bastaria o ajuste correspondente na base de cálculo; não bastasse, tratase de nítida matéria de mérito, inexistindo preterição ao direito de defesa do recorrente ou ocorrência de semelhante quilate a dar azo à decretação de nulidade do lançamento, nos termos do já referido art. 60 do Decreto nº 70.235/72. Denotese que caso o procedimento questionado não seja levado a efeito, o valor líquido do acréscimo patrimonial consubstanciado em bens (ações) será reduzido. E, reajustandose a base de cálculo, conseguese chegar ao valor correto sobre o qual recairá o imposto, o que, observese, deverá ser refletido contabilmente. Nesse sentido, vem reiteradamente sendo decidido no contencioso administrativo, citese os Acórdãos nº 10418034 (j. 24/05/2001), nº 10247754 (j. 26/07/2006), e nº 3102002.141 (j. 25/02/2014). Aduz o autuado, outrossim, serem indevidos os juros de mora e a multa de ofício, face ao disposto no parágrafo único do art. 100 do CTN, abaixo reproduzido: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de Fl. 19390DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.334 107 mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. O arrazoado parte de uma premissa equivocada, ou seja, a de que teriam sido por ele observadas as normas complementares referidas nos incisos I a IV do enunciado normativo supra, o que, como visto à saciedade, não aconteceu. A existência de alguns julgamentos do CARF que vão ao encontro dos argumentos recursais não se traduzem em praticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas, visto que a tais julgamentos não se pode atribuir o predicado de reiterados; acrescentese que tais decisões são de todo destituídas de eficácia normativa, para fins legais. Também não parece sequer razoável considerar que entendimentos contidos em Pareceres antigos da SRF, datados de 1971 e 1981, cuja força vinculante até o presente é deveras questionável, e que abordam aspectos pontuais apenas indiretamente relacionados à controvérsia posta, possam refletir ou tolher a compreensão do Fisco acerca dos fatos sob exame, principalmente quando compreendidos e analisados em seu conjunto, sob o lume das manifestações administrativas, e das inovações legislativas ulteriores. Por exemplo, o Parecer Normativo CST nº 39, exarado em 1981, não versa sobre a apuração de ganho de capital em incorporação de ações, mas sim sobre "a incidência de imposto de renda sobre o lucro auferido na alienação de participações societárias efetuada após decorrido o período de 5 anos da data da subscrição ou aquisição". Ora, na época, como se constata, sequer vigia o § 3º do art. 3º da Lei nº 7.713/88, que estabeleceu a incidência do ganho de capital sobre alienações a qualquer título, de bens e direitos. Como pretender utilizar as conclusões de tal vetusto Parecer a ordenamento jurídico destacadamente distinto, no que concerne às questões ora debatidas? Resta hialina a impropriedade da pretensão recursal, pois, à evidência, são inaplicáveis os termos do art. 100 do CTN no particular. Ao final, registro que acompanho o encaminhamento do Relator no tocante à incidência de juros sobre a multa de ofício. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 19391DF CARF MF 108 Declaração de Voto Conselheiro João Victor Ribeiro Aldinucci Esta declaração de voto visa apenas a explicitar, de forma pretensamente sucinta, o entendimento deste conselheiro a respeito da matéria posta em discussão: ganhos de capital na incorporação de ações. Conforme se verifica nos votos vencido e vencedor, que abordaram o tema de forma bastante exaustiva, há notórios e antagônicos posicionamentos doutrinários a seu respeito, inclusive aquele do ilustre patrono do banco, constante da importante obra "Incorporação de Ações no Direito Tributário"21. Tais posicionamentos não serão abordados no transcorrer desta declaração, a fim de tornála a mais objetiva possível. Pois bem. A incidência do IRPF sobre ganhos de capital na alienação de bens ou direitos está fundamentada nos arts. 117 e seguintes do Regulamento do Imposto de Renda (RIR), com a redação da Lei 7713/88. Basicamente, o ganho de capital é determinado pela diferença positiva entre o valor de alienação e o custo de aquisição (art. 138) e está sujeito ao pagamento do imposto à alíquota de quinze por cento (art. 142). O art. 21 da Lei 8981/95, com a redação da Lei 13259/16, estabeleceu alíquotas progressivas para o imposto, quanto maior for o ganho auferido22. Já o art. 40 da Lei 11196/05 ainda estabelece fatores de redução do ganho de capital por ocasião da alienação, a qualquer título, de bens imóveis realizada por pessoa física residente no País (FR1 e FR2), ao passo que, em relação aos imóveis adquiridos até 31 de dezembro de 1988, o Regulamento, em seu art. 139, estabelece um percentual fixo de redução sobre o ganho de capital, segundo o ano de aquisição ou incorporação do bem. A IN SRF 84/01 regulamenta, no plano infralegal, a apuração e a tributação dos ganhos auferidos por pessoas físicas. Quanto aos ganhos de capital auferidos por não residentes no Brasil, a legislação preleciona que o seu tratamento é o mesmo dos ganhos auferidos por pessoas físicas residentes, impondo, ainda, à fonte pagadora dos rendimentos a responsabilidade pela retenção e recolhimento do imposto. 21 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Incorporação de Ações no Direito Tributário: Conferência de bens, permuta, dação em pagamento e outros negócios jurídicos. São Paulo: Quartier Latin, 2014. 22 I 15% (quinze por cento) sobre a parcela dos ganhos que não ultrapassar R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais); II 17,5% (dezessete inteiros e cinco décimos por cento) sobre a parcela dos ganhos que exceder R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) e não ultrapassar R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais); III 20% (vinte por cento) sobre a parcela dos ganhos que exceder R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) e não ultrapassar R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais); e IV 22,5% (vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento) sobre a parcela dos ganhos que ultrapassar R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais). Fl. 19392DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.335 109 Nesse tocante, e ao menos no caso concreto, não há a menor celeuma jurídica, como se depreende da autuação, da impugnação, do recurso e dos votos vencido e vencedor. A controvérsia reside em saber se a operação é tributável, isto é, se há e se houve, efetivamente, ganhos de capital passíveis de incidência do imposto de renda. Como já afirmado, a existência de ganhos de capital pressupõe, inevitavelmente, diferença positiva entre o valor de alienação e o custo de aquisição. Exemplificativamente, em sendo o valor de alienação igual ao custo de aquisição, não há ganho de capital, pois o resultado dessa operação aritmética é igual a zero. Por outro lado, se o valor de alienação é inferior ao custo, igualmente não há resultado tributável, pois tal resultado é negativo. Desta forma, somente pode ser identificada a base de cálculo do imposto se o valor de alienação for superior ao custo de aquisição. Na incorporação de ações (operação típica regulada pelo art. 25223 da Lei da Lei 6404/76 Lei das S.A.), o suposto alienante entrega sua participação no capital da empresa incorporada para receber, em substituição ou troca ou permuta, parte do capital da empresa incorporadora. Ocorre que essa alienação ou entrega é feita exatamente pelo mesmo valor do custo de aquisição histórico das ações, inclusive porque, numa das etapas da incorporação (talvez uma de suas etapas finais, dentro de um ponto de vista cronológico), há mera permuta de ações da empresa incorporada por ações da empresa incorporadora (nos termos do § 3º do citado art. 252, os titulares das ações incorporadas receberão diretamente da incorporadora as ações que lhes couberem). Não há, como não houve no caso vertente, qualquer fluxo financeiro, mas apenas recebimento de ações da empresa incorporadora em troca (ou substituição ou permuta) das ações incorporadas (insistase, o encimado § 3º fala expressamente em recebimento de ações, óbvio que em substituição das ações incorporadas). A reavaliação empreendida por peritos nomeados pela assembleiageral da companhia incorporadora (reavaliação efetuada por terceiro contratado, o que inclusive afasta, por completo, a constatação de um preço fixado pelas próprias partes, como usualmente ocorre nos demais negócios jurídicos tipificados no Código Civil brasileiro), para efeito de levar a cabo a incorporação, é tãosomente uma exigência legal. Todavia, o fato é que a pessoa física alienante, a rigor, mantém e deve manter inalterado o valor patrimonial dos bens ou direitos em sua declaração (DIRPF). Há, portanto, mera mutação patrimonial sem qualquer fluxo financeiro: a pessoa física A era acionista da empresa B, titular de um valor patrimonial R$ X, mas passa a ser acionista da empresa C, titular do mesmo valor patrimonial R$ X. Vejase que, embora seja feita uma reavaliação patrimonial por exigência da lei, o alienante não recebe qualquer parcela complementar em dinheiro (torna) na operação de incorporação de ações, muito embora a fiscalização lhe atribua um ganho tributável. 23 Art. 252. A incorporação de todas as ações do capital social ao patrimônio de outra companhia brasileira, para convertêla em subsidiária integral, será submetida à deliberação da assembléiageral das duas companhias mediante protocolo e justificação, nos termos dos artigos 224 e 225. Fl. 19393DF CARF MF 110 Parece inquestionável, pois, que como o valor de alienação é igual ao custo de aquisição (sem olvidar, também, a forte tese que sequer vislumbra a existência de valor efetivo de alienação, ante a falta de estipulação de um preço pelas partes), e que como há mera mutação patrimonial sem fluxo financeiro, não há ganho de capital. Imaginese, exemplificativamente, (i) que a senhora A seja acionista da empresa Incorporada S.A. desde 1970, com capital registrado em sua DIRPF, no valor de R$ 100.000,00; (ii) que a senhora A viva basicamente de uma aposentadoria e dos lucros/dividendos que aufere dessa empresa; (iii) que, por razões de mercado, a assembleia geral da empresa Incorporada S.A. aprove a incorporação de suas ações pela empresa Incorporadora S.A.; (iv) que as ações da senhora A sejam reavaliadas em R$ 7.100.000,00, sobretudo porque já transcorrido largo tempo desde a aquisição da participação societária da empresa incorporada, que, ademais, tem vasto sucesso empresarial. Nesse exemplo hipotético, que muitas vezes se concretiza na vida real, a senhora A teria, na visão do Fisco, um ganho tributável de R$ 7.000.000,00, com imposto apurado de R$ 1.050.000,00 (desconsiderandose, para simplificar, tanto eventuais fatores de redução da base de cálculo, quanto a própria progressividade das alíquotas dos ganhos de capital). Desta forma, e diante da inexistência de recebimento de parcela complementar em dinheiro, a senhora A teria que vender parte de suas ações para quitar o imposto indevidamente apurado pelo Fisco (situação esta agravada pelo fato de que as suas ações foram avaliadas por laudo, e não pelo mercado). Contudo, vejase que ela apenas participou de uma operação que implicou uma mutação no seu patrimônio, e que ela não foi agraciada com qualquer recebimento de parcela complementar em dinheiro que propiciasse o pagamento do imposto, sem confisco de seus bens. O correto, no entender deste conselheiro, é considerar que a senhora A passou ser acionista da empresa Incorporadora S.A., pelo mesmo valor histórico de R$ 100.000,00, para ter ganhos de capital tributáveis quando ela vier a efetivamente alienar suas ações, total ou parcialmente. Ela, inclusive, terá um baixo custo de aquisição de suas novas ações, de forma que o imposto, ora diferido por força da própria legislação tributária, terá um alto valor quando vier a ocorrer o seu fato gerador. Sobreleva ressaltar, nesse contexto, que a incidência do imposto de renda sobre os ganhos de capital na incorporação de ações fica diferido para o momento/tempo em que as novas ações vierem a ser alienadas. Embora a incorporação seja uma operação típica, visto que especificamente regulada pelo art. 252 da Lei das S.A., e não propriamente uma permuta, e embora o art. 19, inc. V, da IN SRF 84/0124, trate efetivamente de permuta, observese que essa normativa é elucidativa a respeito das operações em que não há o recebimento de parcela complementar em dinheiro. 24 Valor de Alienação Art. 19. Considerase valor de alienação: V no caso de permuta com recebimento de torna, o valor da torna; Fl. 19394DF CARF MF Processo nº 16327.720550/201329 Acórdão n.º 2402006.047 S2C4T2 Fl. 19.336 111 Tal dispositivo preleciona que no caso de permuta com recebimento de torna, considerase valor de alienação o valor da torna. Mais ainda, o art. 19 trata do valor de alienação nas alienações de bens e direitos em geral (a citada Instrução disciplina os bens e direitos em geral e não há nenhuma restrição no art. 19 e nem mesmo no capítulo no qual ele está inserido). No caso in concreto, é incontroverso que não houve o recebimento de qualquer parcela complementar em dinheiro pela empresa não residente no Brasil, não havendo, ainda, registro de que tenha sido alterado o valor de sua participação societária na empresa incorporadora. Por tais razões, este conselheiro entende que o recurso voluntário deve ser provido. E mais, como o imposto está sendo cobrado da suposta fonte pagadora dos rendimentos, que, em verdade, não efetuou a remessa de qualquer recurso em dinheiro para o exterior, parece igualmente inquestionável que ela não teria como se ressarcir do imposto apurado na fonte. Se houvesse remessa em dinheiro, ela faria a retenção da parte correspondente ao imposto e faria o recolhimento aos cofres públicos. Entretanto, como houve apenas entrega de ações (sem pagamento, crédito, remessa, emprego ou entrega de rendimento), é indubitável que o banco não teria como se ressarcir automaticamente do imposto apurado. Noutro giro verbal, na incorporação de ações, a empresa incorporadora (que sequer poderia ser chamada de fonte) entrega ações em substituição das ações incorporadas, sem qualquer pagamento, creditamento, remessa, emprego ou entrega de rendimentos. Qualquer tese, ademais, de possibilidade de ressarcimento porque o recorrente e a empresa estrangeira integrariam o mesmo grupo econômico não resiste ao fato de que tais empresas têm personalidade jurídica distinta e, consequentemente, autonomia patrimonial. De outro vértice, e por fim, quaisquer lições de direito comparado devem ser de pronto afastadas (ou ao menos sopesadas com as devidas ressalvas), pois desconsideram os princípios e as regras próprias do direito tributário brasileiro, dentre as quais se destaca o princípio da legalidade e o princípio da realização da renda. Forte nessas razões, este conselheiro diverge do notável voto vencedor, para dar provimento ao recurso voluntário e cancelar o crédito tributário indevidamente constituído. (assinado digitalmente) João Victor Ribeiro Aldinucci Fl. 19395DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10983.902558/2008-24
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Feb 23 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed May 02 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2004
PERDCOMP. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. INAPLICABILIDADE.
A denúncia espontânea requer o pagamento do tributo. Considerando que o pagamento e a compensação são modalidades distintas de extinção do crédito tributário, no caso em que o contribuinte promove a extinção do débito por compensação, a denúncia espontânea não resta caracterizada e a multa moratória é devida estando o débito em atraso na data da compensação
Numero da decisão: 1301-002.789
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em negar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros José Eduardo Dornelas Souza, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Amélia Wakako Morishita Yamamoto e Eduardo Morgado Rodrigues que votaram por dar provimento ao recurso. Conselheiro Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro manifestou interesse em apresentar declaração de voto. Ausente momentânea e justificadamente a Conselheira Bianca Felícia Rothschild. Participou do julgamento o Conselheiro Suplente Eduardo Morgado Rodrigues.
(assinado digitalmente)
Fernando Brasil de Oliveira Pinto - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Bianca Felícia Rothschild, Fernando Brasil de Oliveira Pinto, José Eduardo Dornelas Souza, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Milene de Araújo Macedo, Nelso Kichel e Roberto Silva Junior.
Nome do relator: FERNANDO BRASIL DE OLIVEIRA PINTO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em negar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros José Eduardo Dornelas Souza, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Amélia Wakako Morishita Yamamoto e Eduardo Morgado Rodrigues que votaram por dar provimento ao recurso. Conselheiro Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro manifestou interesse em apresentar declaração de voto. Ausente momentânea e justificadamente a Conselheira Bianca Felícia Rothschild. Participou do julgamento o Conselheiro Suplente Eduardo Morgado Rodrigues. (assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto - Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Bianca Felícia Rothschild, Fernando Brasil de Oliveira Pinto, José Eduardo Dornelas Souza, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Milene de Araújo Macedo, Nelso Kichel e Roberto Silva Junior.
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DENÚNCIA ESPONTÂNEA. INAPLICABILIDADE. A denúncia espontânea requer o pagamento do tributo. Considerando que o pagamento e a compensação são modalidades distintas de extinção do crédito tributário, no caso em que o contribuinte promove a extinção do débito por compensação, a denúncia espontânea não resta caracterizada e a multa moratória é devida estando o débito em atraso na data da compensação Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em negar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros José Eduardo Dornelas Souza, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Amélia Wakako Morishita Yamamoto e Eduardo Morgado Rodrigues que votaram por dar provimento ao recurso. Conselheiro Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro manifestou interesse em apresentar declaração de voto. Ausente momentânea e justificadamente a Conselheira Bianca Felícia Rothschild. Participou do julgamento o Conselheiro Suplente Eduardo Morgado Rodrigues. (assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Bianca Felícia Rothschild, Fernando Brasil de Oliveira Pinto, José Eduardo Dornelas Souza, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Milene de Araújo Macedo, Nelso Kichel e Roberto Silva Junior. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 98 3. 90 25 58 /2 00 8- 24 Fl. 174DF CARF MF Processo nº 10983.902558/200824 Acórdão n.º 1301002.789 S1C3T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto em face de Acórdão que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade da contribuinte, para manter na íntegra o Despacho Decisório que homologou parcialmente as compensações pleiteadas, em razão da insuficiência de crédito para quitação dos débitos informados no PER/DCOMP. O presente processo decorre de pedido de compensação, cujo crédito tem origem em pagamento a maior de estimativa de IRPJ, com débitos de estimativas de IRPJ referentes a períodos de apuração posteriores, transmitido após a data de vencimento dessas estimativas. O Despacho Decisório proferido pela da unidade de origem reconheceu o valor do crédito pretendido e homologou, parcialmente, a compensação declarada. O valor reconhecido revelouse insuficiente para quitar os débitos informados no PER/DCOMP, porque referida declaração foi enviada após o vencimento dos débitos nela informados, fato este que ensejou a cobrança pela autoridade fiscal da multa de mora sobre os débitos declarados/compensados em atraso. Em sua Manifestação de Inconformidade a contribuinte afirma que o reconhecimento do débito, bem como, dos juros de mora foram efetuados voluntariamente, o que torna indiscutível a aplicação do instituto da denúncia espontânea, previsto no art. 138 do CTN, e exime o contribuinte da responsabilidade pelo pagamento da multa de mora, pois a efetivação das compensações se deu antes de qualquer procedimento de fiscalização. O Acórdão recorrido entendeu pela inaplicabilidade da denúncia espontânea ao caso concreto, fundamentando sua decisão na Nota Técnica nº 19 Cosit, de 12/06/2012, a qual conclui que nos casos em que o sujeito passivo compensa o débito mediante a apresentação de DCOMP, não se considera ocorrida a denúncia espontânea. No Recurso Voluntário apresentado a recorrente defende que não há insuficiência de crédito porque, apesar da compensação ter sido realizada depois do vencimento do débito, não há incidência de multa de mora, mas tão somente juros de mora, pois a quitação dos débitos (principal + juros de mora) ocorreu antes de qualquer notificação da Receita Federal. Acrescenta que o débito vencido quitado pela compensação não foi previamente confessado em declaração (DCTF), de modo que não seria aplicável a Súmula 306 do STJ, a qual estabelece que não há denúncia espontânea quando a compensação for feita depois que o débito estiver vencido e houver sido lançado por homologação mediante declaração do contribuinte. Com o intuito de corroborar suas alegações, cita o Acórdão nº 340101.045, que deu provimento a recurso por ela apresentado, sob o entendimento de que o débito vencido, não declarado e nem confessado por meio de DCTF, mas quitado, mediante o acréscimo apenas dos juros de mora, por meio de DCOMP, caracteriza o instituto da denúncia espontânea, o que implica no afastamento da multa de mora. É o relatório. Fl. 175DF CARF MF Processo nº 10983.902558/200824 Acórdão n.º 1301002.789 S1C3T1 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Fernando Brasil de Oliveira Pinto Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1301002.787, de 23.02.2018, proferido no julgamento do Processo nº 10983.900843/201025, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1301002.787): O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Alega a recorrente que inexiste suficiência de crédito objeto da DCOMP, pois, apesar da compensação ter sido realizada depois do vencimento do débito, não haveria de incidir multa de mora, mas tão somente os juros de mora. Acrescenta que o débito liquidado mediante compensação, nele inclusos o principal e os juros de mora, antes de qualquer notificação ou procedimento fiscal da Receita Federal, afasta a incidência da multa de mora frente ao instituto da denúncia espontânea previsto no art. 138 do CTN. A solução da lide reside em determinar se a quitação do tributo por meio de compensação preenche os requisitos necessários à caracterização da denúncia espontânea, prevista no art. 138 do CTN. Veja o dispõe referido dispositivo legal: Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração. (grifei) Verificase, portanto, que o instituto da denúncia espontânea está condicionado a duas exigências: a declaração do débito, espontaneamente, antes de qualquer procedimento de ofício e o pagamento do tributo devido acrescido dos juros de mora. No caso dos autos, a recorrente não promoveu qualquer pagamento de tributo, mas sim a compensação deles com créditos. De fato, a compensação e o pagamento são formas de extinção do crédito tributário elencadas no art. 156 do CTN, todavia, diversamente do pagamento que extingue o crédito a partir do momento em que realizado, a compensação está sujeita Fl. 176DF CARF MF Processo nº 10983.902558/200824 Acórdão n.º 1301002.789 S1C3T1 Fl. 5 4 a posterior homologação, sob condição resolutória, podendo ser confirmada ou não a quitação do tributo, a depender da homologação da compensação. O art. 138 do CTN é taxativo ao estabelecer a necessidade do pagamento para caracterização da denúncia espontânea e, apesar da compensação também ser uma das formas de extinção do crédito tributário, ela não foi contemplada pelo instituto da denúncia espontânea. Nesse sentido, a recente decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, no AgInt no REsp 1.568.857, em julgamento realizado em 16/05/2017, conforme ementa a seguir transcrita: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DEFICIÊNCIA NA ALEGAÇÃO DE CONTRARIEDADE AO ART. 535 DO CPC/73. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA. ART. 138 DO CTN. DENÚNCIA ESPONTÂNEA NÃO CARACTERIZADA. 1. É deficiente a fundamentação do recurso especial em que a alegação de ofensa ao art. 535 do CPC/73 se faz de forma genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão incorreu em omissão, contradição ou obscuridade. Aplicase, na hipótese, o óbice da Súmula 284 do STF. 2. A compensação tributária não se equipara a pagamento de tributo para fins de aplicabilidade do instituto da denúncia espontânea regido pelo art. 138 do CTN. Precedentes: EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1.375.380/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 30/11/2016; AgRg no REsp 1.461.757/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 17/9/2015; AgRg no AREsp 174.514/CE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 10/9/2012. 3. Agravo interno a que se nega provimento. Também neste órgão julgador várias são as decisões que se manifestam contrariamente à aplicabilidade da denúncia espontânea nos casos de débitos extintos por compensação: COMPENSAÇÃO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. EXCLUSÃO DA MULTA DE MORA. INOCORRÊNCIA Pagamento e compensação são modalidades de extinção do crédito tributário distintas, não apenas pela doutrina mas pelo próprio texto legal. A denúncia espontânea, para que se configure, requer o pagamento do tributo. Assim, no caso em que o contribuinte promove a extinção do débito pela via da compensação, a denúncia espontânea não resta caracterizada, e a multa moratória é devida, nos termos da lei, estando o débito em atraso na data da compensação. (Acórdão n° 1301001.991, sessão de 03/05/2016) COMPENSAÇÃO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. APLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE À compensação, que extingue o crédito tributário sob condição resolutória da ulterior homologação por parte da autoridade Fl. 177DF CARF MF Processo nº 10983.902558/200824 Acórdão n.º 1301002.789 S1C3T1 Fl. 6 5 administrativa competente, não se aplica o instituto da denúncia espontânea de que trata o art. 138 do CTN. (Acórdão nº 1301001.511, sessão de 07/05/2014) CONCLUSÃO Diante de todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto Declaração de Voto Conselheiro Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro Redator Com a devida vênia, divirjo do voto da Ilustre Relatora no que tange à apreciação da aplicabilidade da denúncia espontânea nos casos de débitos extintos por compensação: A denúncia espontânea de infrações é um instituto que afasta a aplicação de multas quando o contribuinte paga e confessa sua dívida antes de iniciado qualquer procedimento de fiscalização. Com efeito, verificase que a denúncia espontânea se constitui na declaração prestada pelo sujeito passivo da obrigação tributária de que havia cometido um ilícito tributário, mas que, em razão de seu arrependimento, procedese, de forma espontânea, a realização da referida obrigação, com os encargos que lhes são devidos, situação na qual o Fisco restará impedido de lhe aplicar tais sanções. Nesse sentido, a denúncia espontânea evita que o fato moratório seja constituído pela autoridade administrativa, ou seja, impede a constituição, de norma individual e concreta, do descumprimento de um dever, o que ocasionaria a implicação das multas. Desse modo, considerando que a Recorrente apresentou a DCOMP, antes de iniciado qualquer procedimento fiscal, de tal sorte a extinguir o crédito tributário em questão, bem como arcou com os encargos (juros de mora) de forma voluntária, devese, portanto, aproveitar das benesses trazidas pela denúncia espontânea, nos termos artigo 138 do CTN. Ademais, considerando que o processo administrativo fiscal regese pelo princípio da verdade material, segundo o qual fatos inexistentes ou erros evidentes não devem prosperar em detrimento da verdade material, inobstante a presunção de veracidade relativa dos atos administrativos. Igualmente, em decorrência deste princípio, impõese sejam sanadas as falhas, omissões e enganos eventualmente cometidos pelo Fisco. Fl. 178DF CARF MF Processo nº 10983.902558/200824 Acórdão n.º 1301002.789 S1C3T1 Fl. 7 6 Desta feita, uma vez confirmado o direito do contribuinte, entendo que deve ser aceito o instituto da denúncia espontânea, por meio de compensação. Por conseqüência, deve ser afastada a multa de mora. Diante disso, voto no sentido de dar provimento ao recurso voluntário, devendo ser homologada a compensação pleiteada. É como voto. (assinado digitalmente) Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro Fl. 179DF CARF MF
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Numero do processo: 10735.900002/2011-21
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Apr 11 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri May 11 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 1302-000.577
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do relatório e voto do relator.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo Rogério Aparecido Gil, Lizandro Rodrigues de Sousa (Suplente convocado), Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
Relatório
Nome do relator: LUIZ TADEU MATOSINHO MACHADO
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Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do relatório e voto do relator. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo Rogério Aparecido Gil, Lizandro Rodrigues de Sousa (Suplente convocado), Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias e Luiz Tadeu Matosinho Machado. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 07 35 .9 00 00 2/ 20 11 -2 1 Fl. 397DF CARF MF Processo nº 10735.900002/201121 Resolução nº 1302000.577 S1C3T2 Fl. 398 2 Relatório Tratase de recurso voluntário interposto em face do Acórdão nº 1241.406, proferido pela DRJRJOI, em 13/10/2011, que julgou improcedente a manifestação de inconformidade contra o Despacho Decisório da DRFNova Iguaçu/RJ que indeferiu parcialmente o Pedido de Compensação de Saldo Negativo de IRPJ, efetuado através do PER/Dcomp nº 10974.88360.270406.1.3.031724 por meio do qual a interessada pleiteia compensar crédito que alega possuir decorrente de saldo negativo de CSLL referente ao 2º trimestre de 2005 com débitos nele declarados. O acórdão recorrido tem a seguinte ementa: Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL Período de apuração: 01/04/2005 a 30/06/2005 DCOMP. COMPROVAÇÃO DA CERTEZA E LIQUIDEZ DO CRÉDITO. Incumbe ao contribuinte a demonstração, com documentação comprobatória, da existência do crédito, líquido e certo, que alega possuir junto à Fazenda Nacional. CSLL RETIDA NA FONTE. COMPROVANTE DE RETENÇÃO. Incabível a dedução, na declaração de rendimentos, de CSLL retida na fonte que não tenha sido informada em DIRF e, ainda, que não esteja confirmada por comprovante de retenção. Cientificada do acórdão recorrido em 12/04/2013 (fls. 257), a recorrente apresentou recurso voluntário em 19/04/2013 (fls. 258/270), no qual apresenta, em síntese, as seguintes razões recursais; i. apesar da minuciosa demonstração das retenções na fonte que elaborou, a DRJ preferiu a forma ao conteúdo, entendendo que apenas as DIRF's e Informe de Rendimentos seriam hábeis a fazer a prova necessária; ii. aduziu que em nenhum momento foi negada a existência do direito creditório e, portanto, sob a égide da Verdade Material deveria ter sido aceita a robustez das provas apresentadas com a manifestação de inconformidade; iii. as DIRFs estão sujeitas a erros, especialmente no caso de contratantes do setor público; iv. a Recorrente não poderia depender de informações apresentadas por terceiros, as quais não tem acesso; Fl. 398DF CARF MF Processo nº 10735.900002/201121 Resolução nº 1302000.577 S1C3T2 Fl. 399 3 v. as notas fiscais apresentadas veiculariam informações sobre o recebimento, data, retenções de tributos e não detêm natureza contábil, porém, fiscal, com reflexos contábeis; vi. não era condição para reconhecimento do direito à compensação da contribuição retida na fonte o recolhimento do tributo retido pela fonte pagadora; vii. seja no despacho decisório, ou na decisão da DRJ, não foram invalidadas as informações prestadas na DIPJ referente ao período, não recebeu intimação sobre a sua irregularidade, o valor total das receitas sujeitas a retenções na fonte apresentadas no “anexo B” são compatíveis com as informações apresentadas na DIPJ e com o saldo negativo informado; viii. o art. 923/RIR determina que a contabilidade faz prova a favor do contribuinte, de sorte que não prosperaria a alegação de falta de comprovação das retenções, exceto se considerada a inércia e/ou falta de investigação da fiscalização, que não teria contestado as informações da DIPJ; ix. para corroborar as suas alegações, faz referência a diversos julgados dessa Corte Administrativa, em que se entende que a comprovação de retenções na fonte não se limita às DIRFs, sendo possível ao contribuinte demonstrar o seu direito creditório por outros elementos de convicção; x. afirma que, muito embora entenda que tenha apresentado suficientes provas para lastrear o seu direito, tendo em vista o fundamento inovador da decisão relativo à “tributação de receitas”, e que a efetividade das retenções poderia ser aferida nos seus registros, pugnou pela realização de perícia, formulando três quesitos a serem complementados no curso da demanda e indicando assistente técnico. Juntou ao recurso voluntário a respectiva DIPJ. É o relatório. Fl. 399DF CARF MF Processo nº 10735.900002/201121 Resolução nº 1302000.577 S1C3T2 Fl. 400 4 Voto Conselheiro Luiz Tadeu Matosinho Machado Relator O recurso voluntário é tempestivo e atende aos pressupostos regimentais. Assim dele conheço. A controvérsia instaurada gira em torno da comprovação de IRRF retido pelas fontes pagadoras, no montante informado pela recorrente em suas PER/Dcomp's, que compõe o saldo negativo de IRPJ pleiteado para utilização nas compensações declaradas. A autoridade administrativa que analisou o pleito entendeu que, no cotejo entre os valores informados pela contribuinte e as informações prestadas pelas fontes pagadoras em suas DIRF's, restou confirmado o montante de CSLL retida de R$ 209.253,58, de um total pleiteado de R$ 222.483,07, resultando em uma glosa no valor de R$ 13.229,89, o que reduziu o saldo negativo apurado e declarado pela contribuinte de R$ 198.380,43 para R$ 185.150,54. A recorrente apresentou junto com sua manifestação de inconformidade, além das notas fiscais emitidas com destaque dos tributos retidos na fonte (Anexo C fls. 84/228), diversas planilhas de controle que demonstram individualizadamente as retenções sofridas em cada operação e a data de recebimento de cada fatura de serviços (Anexo A fls. 69/72 e Anexo B fls. 74/92). Além disso, verificase nas notas fiscais anexadas o valor líquido de cada operação e, em parte delas, os dados bancários para o pagamento das faturas. Embora a recorrente não tenha trazido aos autos os documentos previstos nas instruções normativas instituídas pela administração tributária federal, apresenta outros elementos, de forma sistematizada, que servem ao menos como início de prova a favor do sujeito passivo. Especialmente, levandose em consideração que a maior parte delas, foi confirmada pela própria RFB por meio das DIRFs disponíveis no sistema. É fato que o contribuinte para ter direito a abater do valor da contribuição social devida ao final do período de apuração os montantes retidos pelas fontes pagadoras, incidentes sobre receitas auferidas e oferecidas à tributação nesse mesmo período deve apresentar o comprovante de retenção, emitido em seu nome pela fonte pagadora, conforme o disposto no art.55 da Lei nº 7.450/1985, verbis: Art 55. O imposto de renda retido na fonte sobre quaisquer rendimentos somente poderá ser compensado na declaração de pessoa física ou jurídica, se o contribuinte possuir comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora dos rendimentos. Todavia, essa exigência tem sido relativizada nas hipóteses em que o contribuinte não tenha recebido esse comprovante e/ou não tenha como obtêlo, desde que consiga fazer prova, por outros meios ao seu dispor, de que efetivamente sofreu as retenções que alega,conforme a jurisprudência deste CARF, verbis: Fl. 400DF CARF MF Processo nº 10735.900002/201121 Resolução nº 1302000.577 S1C3T2 Fl. 401 5 Acórdão nº 130100.769, de 24/11/2011– 3ª Câmara/1ªTO SALDO NEGATIVO DE IRPJ. IRRF. COMPROVANTE DE RENDIMENTOS.AUSÊNCIA. FALTA DE COMPROVAÇÃO. VALORES CONSTANTES DA DIRF. O contribuinte tem direito a abater do valor do imposto devido ao final do período de apuração os montantes retidos pelas fontes pagadoras, incidentes sobre receitas auferidas e oferecidas à tributação nesse mesmo período. Para tanto, deve apresentar o comprovante de rendimentos fornecido pelas fontes pagadoras, ou fazer prova da efetividade das retenções mediante quaisquer outros meios ao seu alcance. Em assim não sendo,correta a decisão de primeira instância que considerou comprovados apenas os valores declarados pelas fontes pagadoras em DIRF. Acórdão nº 130200.945 – 05/07/2012 3ª Câmara/2ªTO IRRF. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. COMPROVANTES DE RETENÇÃO. O sujeito passivo tem direito à dedução do imposto retido pelas fontes pagadoras incidentes sobre receitas auferidas e oferecidas à tributação, do valor do imposto devido ao final do período de apuração,ainda que não tenha recebido o comprovante de retenção ou não possa mais obtêlo, desde que consiga provar, por quaisquer outros meios ao seu dispor, que efetivamente sofreu as retenções que alega. No caso em apreço, entendo que, embora não estejam devidamente comprovadas as retenções existem fortes indícios de sua ocorrência e, tendo em conta os princípios da razoabilidade e da verdade material, que é justificável a conversão do julgamento em diligência com vistas a permitir à recorrente a apresentação de elementos complementares que demonstrem a efetividade das operações. Com efeito, tem razão a recorrente quando aponta que não pode ser responsabilizada pela falta ou incorreção de informações nas DIRF's pelas fontes pagadoras, ou mesmo, pela falta de recolhimento dos tributo retidos, se comprovados por outros meios que efetivamente ocorreu a retenção. Conforme acima destacado, a recorrente apresentou a cópia de cada nota fiscal/fatura contendo os valores brutos e líquidos de cada operação e informou a data do recebimento de cada uma delas. Assim, entendo que é perfeitamente possível que esta possa identificar e comprovar o recebimento dos valores de cada operação pelos seus montantes líquidos, a denotar a efetividade da retenção dos tributos pelas fontes pagadoras. Tais comprovações podem ser feitas mediante extratos ou avisos bancários e ainda pelos registros contábeis dos respectivos recebimentos nos livros Diário/Razão. E, ainda, que a própria fiscalização possa intimar as fontes pagadoras a confirmar as operações e respectivas retenções na fonte. Fl. 401DF CARF MF Processo nº 10735.900002/201121 Resolução nº 1302000.577 S1C3T2 Fl. 402 6 Noutro giro, é possível até mesmo que, tendo decorrido um prazo razoável entre a data de prolação do despacho decisório e a interposição do presente recurso, que as próprias fontes pagadoras tenham apresentados DIRF's retificadoras, que possam comprovar total ou parcialmente os valores anteriormente glosados. Assim, voto no sentido de converter o presente julgamento em diligências, encaminhandose os autos à unidade preparadora, para que: a) seja designada autoridade fiscal competente para: a.1) intimar a interessada a apresentar a comprovação do recebimento dos valores informados nas notas fiscais, cujos montantes não foram reconhecidos (conforme as planilhas por ele apresentadas Anexos A, B e C da manifestação de inconformidade) pelos valores líquidos dos tributos retidos, mediante a apresentação de extratos ou avisos bancários respectivos (quando for o caso) e dos respectivos registros contábeis (livros Diário e/ou Razão) nas contas pertinentes; a.2) intimar, se necessário, as fontes pagadoras a confirmar a retenção dos valores que deixaram de ser reconhecidos, em face da ausência de informação em Dirf e da ausência de Comprovantes de Rendimentos; a.3) efetuar outras averiguações que julgar convenientes, inclusive nos sistemas da RFB, com vistas a identificar o montante efetivo de contribuição social retida pelas fontes pagadoras à contribuinte, no período ora examinado; a.4) elaborar relatório circunstanciado, detalhando as apurações realizadas e informando os novos valores que tenham sido comprovados pela contribuinte ou pelas fontes pagadoras, indicando o saldo adicional passível de reconhecimento, se for o caso. a.5) dar ciência do relatório à interessada para que esta, querendo, se manifeste sobre suas conclusões no prazo de 30 (dias), findo o qual o processo deve retornar a este colegiado para prosseguimento. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Fl. 402DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10855.000531/2009-41
Turma: Primeira Turma Extraordinária da Segunda Seção
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Sep 28 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Jun 25 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2007
GLOSA COM DEDUÇÃO DE DESPESAS MÉDICAS. COMPROVAÇÃO INSUFICIENTE. INDEDUTIBILIDADE.
São dedutíveis na declaração de ajuste anual, a título de despesas com médicos e planos de saúde, os pagamentos comprovados mediante documentos hábeis e idôneos, dentro dos limites previstos na lei. Inteligência do art. 80 do Decreto 3.000/1999 (Regulamento do Imposto de Renda - RIR).
A dedução de despesas médicas na declaração de ajuste anual do contribuinte está condicionada à comprovação hábil e idônea no mesmo ano-calendário da obrigação tributária.
Numero da decisão: 2001-000.022
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário, vencido o conselheiro José Alfredo Duarte Filho que lhe deu provimento.
(assinado digitalmente)
Jorge Henrique Backes - Presidente
(assinado digitalmente)
Fernanda Melo Leal - Relatora.
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Fernanda Melo Leal, Jorge Henrique Backes, Jose Alfredo Duarte Filho e Jose Ricardo Moreira.
Nome do relator: FERNANDA MELO LEAL
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Exercício: 2007 GLOSA COM DEDUÇÃO DE DESPESAS MÉDICAS. COMPROVAÇÃO INSUFICIENTE. INDEDUTIBILIDADE. São dedutíveis na declaração de ajuste anual, a título de despesas com médicos e planos de saúde, os pagamentos comprovados mediante documentos hábeis e idôneos, dentro dos limites previstos na lei. Inteligência do art. 80 do Decreto 3.000/1999 (Regulamento do Imposto de Renda - RIR). A dedução de despesas médicas na declaração de ajuste anual do contribuinte está condicionada à comprovação hábil e idônea no mesmo ano-calendário da obrigação tributária.
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COMPROVAÇÃO INSUFICIENTE. INDEDUTIBILIDADE. São dedutíveis na declaração de ajuste anual, a título de despesas com médicos e planos de saúde, os pagamentos comprovados mediante documentos hábeis e idôneos, dentro dos limites previstos na lei. Inteligência do art. 80 do Decreto 3.000/1999 (Regulamento do Imposto de Renda RIR). A dedução de despesas médicas na declaração de ajuste anual do contribuinte está condicionada à comprovação hábil e idônea no mesmo anocalendário da obrigação tributária. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário, vencido o conselheiro José Alfredo Duarte Filho que lhe deu provimento. (assinado digitalmente) Jorge Henrique Backes Presidente (assinado digitalmente) Fernanda Melo Leal Relatora. Participaram do presente julgamento os conselheiros: Fernanda Melo Leal, Jorge Henrique Backes, Jose Alfredo Duarte Filho e Jose Ricardo Moreira. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 85 5. 00 05 31 /2 00 9- 41 Fl. 141DF CARF MF 2 Relatório Tratase de Notificação de Lançamento, relativa ao Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), por meio da qual se exige crédito tributário do exercício de 2007, ano calendário de 2006, onde foram glosadas dedução de despesas médicas no valor de R$ 49.863,13 bem como Omissão de Rendimentos, no valor de R$ 7.800,00 e glosa de compensação indevida de IRRF no valor de R$100,00. Na impugnação apresentada, o Impugnante alega, em síntese, que foi cumprida a exigência do disposto''no . art. 80 do RIR/99, com a apresentação dos recibos originais de pagamentos emitidos pelos prestadores de serviços, bem como requer seja realizada perícia contábil a fim de verificar se as pessoas mencionadas no lançamento receberam os valores declarados pelo requerente; que os prestadores dos serviços sejam ouvidos neste procedimento administrativo. Quanto à omissão de rendimentos não há contestação neste ponto, bem como não há defesa quanto à compensação indevida. Inclusive verificase às fls. 57 um DARF recolhido em 26/02/2009, portanto, após a ciência da notificação de lançamento ocorrida em 28/01/2009, fls. 02. A decisão de primeira instância julgou improcedente a impugnação, mantendose as glosas apontadas pelo Fisco. Cientificado da decisão de primeira instância em 07/12/2010 (fl. 101), o interessado interpôs, em 23/12/2010, o recurso de fls. 102/116. Nas razões recursais aduz preliminarmente a nulidade do processo por suposta violação aos princípios da ampla defesa, contraditório e devido processo legal e , no mérito, roga que seja desconsiderado o lançamento fiscal objeto da notificação aqui ventilada impedindo, assim, a glosa dos valores declarados pelo contribuinte, tendo em vista que apresentou em oportunidade anterior os recibos originais de pagamentos efetuados, com indicação do nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas CPF de quem os recebeu, bem como as respectivas declarações que atestam a prestação de serviços médicos, de modo que sejam mantidos os dados e os lançamentos de sua declaração de renda do ano de 2007, anocalendário 2006. Ao fim, requer seja acolhido o presente recurso para cancelar o débito fiscal reclamado. É o relatório. Voto Conselheira Fernanda Melo Leal Relatora. O recurso é tempestivo e atende às demais condições de admissibilidade. Portanto, merece ser conhecido. Preliminar Violação dos princípios da ampla defesa , contraditório e devido processo legal Fl. 142DF CARF MF Processo nº 10855.000531/200941 Acórdão n.º 2001000.022 S2C0T1 Fl. 3 3 O Recorrente teve garantida as suas oportunidades de manifestação, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. Não há comprovação nos autos de cerceamento de defesa. Ao reverso, o contribuinte teve as chances para a produção de provas ao seu favor em diversos momentos, e a usufruiu. A autoridade lançadora não violou qualquer princípio constitucional ou cláusula pétrea, mas tão somente entendeu não ser fundamental a produção de determinadas provas para a formação do seu convencimento. Menciono aqui trecho da decisão da DRJ/SP2, qual me amparo para fundamentar a análise desta preliminar: "Assim, o rito estabelecido na legislação vigente para o processo administrativofiscal é: a) não concordando com a exigência fiscal, o autuado tem direito de apresentar sua inconformidade através da impugnação, dentro do prazo de 30 dias contados da data em que for feita a intimação da exigência, formalizada por escrito e instruída com os documentos em que se fundamentar (art. 15 do PAF); b) a prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazê lo em outro momento processual, a menos que fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior, ou, refirase a fato ou direito superveniente, ou, destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos (art. 16 e § 4° do PAF); c) dentro dos trinta dias seguintes à ciência da decisão de primeira instância, o contribuinte, não concordando com a mesma, poderá interpor recurso voluntário. Tendo em vista que o pedido genérico para produção de novas provas, depois de apresentada a impugnação, ou seja, extemporaneamente, não se enquadra nas exceções previstas no § 40 do art. 16 do Decreto 70.23511972, é de se indeferir o referido pedido. Destaquese, ainda, que o processo administrativo fiscal, calcado no Decreto 70.235/1972, com alterações posteriores, não admite a produção de prova testemunhal. Por isso, acrescentese às razões do indeferimento acima, a ausência de previsão legal para que sejam ouvidas as pessoas prestadoras dos serviços médicos. No tocante ao pedido de'prova pericial, cumpre esclarecer que, apesar de ser facultado ao Sujeito Passivo o direito de pleitear a sua realização, em conformidade com o art.16, inciso IV, do Decreto n° 70.235/72 Processo Administrativo Fiscal PAF , com a redação dada pelo art. 1° da Lei n° 8.748/93, compete à Autoridade Julgadora decidir sobre sua efetivação, podendo ser indeferidas as que considerar prescindíveis ou impraticáveis (art. 18,"caput ", do Decreto n° 70.235/72, com a redação dada pelo art. 1° da Lei n° 8.748/93). A realização de diligências e/ou perícia pressupõe que o fato a ser provado necessite de comprovantes hábeis e/ou esclarecimentos adicionais, que, por algum motivo justificável, Fl. 143DF CARF MF 4 não é possível ao impugnante fazêlo quando de sua impugnação, fato este que não se aplica à presente situação, tendo em vista que o contribuinte não anexou aos autos nenhum elemento inovador que necessitasse de sua efetivação, deixando, portanto, de atender o disposto no inciso IV, do art. 16, do PAF." Desta feita, não acolho a preliminar de nulidade, passando, assim, à análise do mérito. Mérito Glosa de despesas médicas . Nos termos do artigo 8°, inciso II, alínea "a", da Lei 9.250/1995, com a redação vigente ao tempo dos fatos ora analisados, são dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda pessoa física as despesas a título de despesas médicas, psicológicas e dentárias, quando os pagamentos são especificados e comprovados. Lei 9.250/1995: Art. 8°. A base de cálculo do imposto devido no anocalendário será a diferença entre as somas: I de todos os rendimentos percebidos durante o anocalendário, exceto os isentos, os nãotributáveis, os tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação definitiva; II das deduções relativas: a) aos pagamentos efetuados, no anocalendário, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias. (...) § 2º O disposto na alínea ‘a’ do inciso II: (...) II restringese aos pagamentos feitos pelo contribuinte, relativos ao seu próprio tratamento e ao de seus dependentes; III limitase a pagamentos especificados e comprovados, com indicação do nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro de Pessoas Jurídicas de quem recebeu, podendo, na falta de documentação, ser feita indicação do cheque nominativo pelo qual foi efetuado o pagamento.” O Recorrente apresentou recibos originais dos pagamentos efetuados, relativos ao próprio tratamento, com indicação do nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas CPF de quem os recebeu, além de declaração dos próprios prestadores de serviço, ratificando a existência dos fatos. A decisão de primeira instancia entendeu que o Recorrente não comprovou as despesas médicas, nos seguintes termos: Fl. 144DF CARF MF Processo nº 10855.000531/200941 Acórdão n.º 2001000.022 S2C0T1 Fl. 4 5 “[...] Conforme se depreende dos dispositivos supracitados, cabe ao beneficiário dos recibos provar que realmente efetuou o pagamento no valor constante no comprovante, bem como à época em que o serviço foi prestado, para que fique caracterizada a efetividade da despesa passível de dedução, no período assinalado. Em princípio, admite se como prova idônea de pagamentos os recibos fornecidos por profissional competente, legalmente habilitado. Essa é a regra. Entretanto, o Fisco, pode solicitar provas não só dos pagamentos, mediante cópia de cheques nominativos e de extratos bancários, mas também provas de que os serviços foram prestados pelos profissionais. Este foi o procedimento adotado pela Fiscalização no caso em exame. A norma acima citada não dá aos comprovantes, ainda que revestidos de todas as formalidades, valor probante absoluto . A apresentação de recibos tem potencialidade probatória relativa e esta deve ser limitada por todos os elementos de convicção coletados pelo Auditor Fiscal no decorrer da ação fiscal, desde que o contribuinte os forneça. Face a alegação do impugnante, destacase que não há nenhum impedimento de que se façam pagamentos em moeda corrente, desde que o mesmo comprove tal fato, quando exigido, como, por exemplo, com apresentação de extratos onde constem os saques coincidentes em datas e valores dos recibos. O contribuinte, em que pesem os esforços expendidos, não logrou demonstrar a efetiva transferência dos valores correspondentes, sua justificativa, no entanto, é de que tãosomente efetuava os pagamentos em dinheiro. Tal afirmação à luz do bom senso, carece de razoabilidade, pois, tratando neste item somente de glosa de despesas médicas,no valor de R$ 49.863,13, ou seja, a despeito de tal demanda financeira, quer nos convencer ò impugnante que, sem qualquer exceção, em nenhum momento houve transferência de valor econômico por outro meio se não o de pagamento em espécie. “[...] A exigência, pela autoridade fiscal, de comprovação de pagamento dos serviços contratados pelo Recorrente, através de a apresentação de cópias dos cheques, ordens de pagamento, transferências bancárias, saques e extratos bancários que registrem tais operações, coincidentes em datas e valores com as prestações de serviços, de fato me parece ser coerente diante do fato concreto, tendo em vista, principalmente, o valor envolvido em relação às despesas médicas. Nesta senda, entendo, ademais, que a fundamentação fiscal a qual deu amparo ao lançamento aqui analisado está em perfeita consonância com o ordenamento jurídico. Senão vejamos o que dispõe o art.73 do Decreto nº 3.000, de 1999 : Art. 73. Todas as deduções estão sujeitas a comprovação ou justificação, a juízo da autoridade lançadora (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 3º). Fl. 145DF CARF MF 6 § 1º Se forem pleiteadas deduções exageradas em relação aos rendimentos declarados, ou se tais deduções não forem cabíveis, poderão ser glosadas sem a audiência do contribuinte (Decreto Lei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 4º). Tal artigo indica que determinados documentos não fazem prova absoluta, podendo ser solicitados elementos adicionais de comprovação. Por fim, ratifico a necessidade de fundamento pela autoridade fiscal, dos fatos e do direito que consubstancia o lançamento. Tal obrigação, a motivação na edição dos atos administrativos, encontrase tanto em dispositivos de lei, como na Lei nº 9.784, de 1999, como talvez de maneira mais importante em disposições gerais em respeito ao Estado Democrático de Direito e aos princípios da moralidade, transparência, contraditório e controle jurisdicional. Por isso mesmo, mais uma vez, entendo pela manutenção do crédito lançado, o qual restou claramente respaldado e fundamentado pela autoridade lançadora. CONCLUSÃO: Diante tudo o quanto exposto, voto no sentido de CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, declarando, pois, a manutenção do crédito fiscal pretendido pela autoridade lançadora. (assinado digitalmente) Fernanda Melo Leal. Fl. 146DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12448.729157/2014-54
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 03 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon May 14 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/05/2005 a 31/07/2006
RESTITUIÇÃO. EXTINÇÃO DO DIREITO. OCORRÊNCIA.
O direito de pleitear administrativamente restituição de contribuições recolhidas extingue-se em 5 anos contados da data do pagamento ou da decisão definitiva que reconheceu ser o recolhimento indevido.
Numero da decisão: 2201-004.408
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguidas e, no mérito, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim (Relator) e Carlos Alberto do Amaral Azeredo, que negaram provimento ao recurso. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira.
(assinado digitalmente)
Carlos Henrique de Oliveira - Presidente e Redator designado.
(assinado digitalmente)
Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), Douglas Kakazu Kushiyama, Marcelo Milton da Silva Risso, Dione Jesabel Wasilewski, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim
Nome do relator: RODRIGO MONTEIRO LOUREIRO AMORIM
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/05/2005 a 31/07/2006 RESTITUIÇÃO. EXTINÇÃO DO DIREITO. OCORRÊNCIA. O direito de pleitear administrativamente restituição de contribuições recolhidas extingue-se em 5 anos contados da data do pagamento ou da decisão definitiva que reconheceu ser o recolhimento indevido.
turma_s : Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguidas e, no mérito, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim (Relator) e Carlos Alberto do Amaral Azeredo, que negaram provimento ao recurso. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira. (assinado digitalmente) Carlos Henrique de Oliveira - Presidente e Redator designado. (assinado digitalmente) Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), Douglas Kakazu Kushiyama, Marcelo Milton da Silva Risso, Dione Jesabel Wasilewski, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 12; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1576; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S2C2T1 Fl. 155 1 154 S2C2T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 12448.729157/201454 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 2201004.408 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 03 de abril de 2018 Matéria CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. RESTITUIÇÃO Recorrente MARCIO JOSE GURJAO COTRIM Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/05/2005 a 31/07/2006 RESTITUIÇÃO. EXTINÇÃO DO DIREITO. OCORRÊNCIA. O direito de pleitear administrativamente restituição de contribuições recolhidas extinguese em 5 anos contados da data do pagamento ou da decisão definitiva que reconheceu ser o recolhimento indevido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguidas e, no mérito, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim (Relator) e Carlos Alberto do Amaral Azeredo, que negaram provimento ao recurso. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira. (assinado digitalmente) Carlos Henrique de Oliveira Presidente e Redator designado. (assinado digitalmente) Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), Douglas Kakazu Kushiyama, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 44 8. 72 91 57 /2 01 4- 54 Fl. 155DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 156 2 Marcelo Milton da Silva Risso, Dione Jesabel Wasilewski, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim Relatório Cuidase de Recurso Voluntário de fls. 127/130, interposto contra decisão da DRJ em Ribeirão Preto/SP, de fls. 115/120, a qual julgou parcialmente procedente a manifestação de inconformidade do contribuinte e reconheceu o direito creditório somente referente à competência 08/2016. O RECORRENTE apresentou em 25/09/2014 Pedido de Restituição de Valores Indevidos Relativos a Contribuição Previdenciária (fls. 02/03), alegando que houve exigência equivocada por parte do INSS. Em breve síntese, afirma ter solicitado ao INSS, em 22/12/2004, o pedido de aposentadoria por tempo de serviço (processo nº 42/133.118.0900). Em 18/08/2006 a primeira instância administrativa julgou procedente o pleito do RECORRENTE e afirmou não ser mais necessária a realização de qualquer contribuição a partir daquele momento, pois o segurado já havia ultrapassado os 35 anos de contribuição. Por esta razão, deixou de recolher a contribuição previdenciária a partir daquele momento. Após análise recursal, o Conselho Pleno do CRPS deferiu o pleito do RECORRENTE, com data de início do benefício em 18/05/2005. Assim, o RECORRENTE alega ter recolhido indevidamente valores como contribuinte individual – código de GPS 1007 – de 05/2005 a 08/2006, no valor de R$ 9.035,79 (nove mil e trinta e cinco reais e setenta e nove centavos) e pleiteia a restituição de tal montante (discriminado às fls. 04/06) com as respectivas correções monetárias. Por fim, afirmou que somente apresentou o pedido de restituição em 2014 pois, em razão da tramitação do processo de pedido de aposentadoria perante o INSS, o RECORRENTE ainda não tinha uma decisão final sobre o aproveitamento dos meses recolhidos ao INSS e estaria impedido de efetuar qualquer solicitação. Ao analisar o caso, a Superintendência Regional da 7ª Região Fiscal indeferiu o pleito do RECORRENTE fundamentando sua decisão no fato de o cadastro do RECORRENTE, como contribuinte individual, não ter sido encerrado. Desta forma, afirmou que "o aposentado pelo regime Geral da Previdência Social que voltar a exercer atividade abrangida por este regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito às contribuições de que trata o regulamento". Portanto, entendeu como devida a contribuição recolhida pelo RECORRENTE, pois "o recolhimento de contribuições previdenciárias de forma regular faz presumir o exercício de atividade remunerada e, por conseqüência, o enquadramento como segurado obrigatório da Previdência Social" (fls. 56/58). Inconformado, o RECORRENTE apresentou a Manifestação de Inconformidade de fls. 64/68, cujas razões foram assim sintetizadas pela DRJ de origem: Fl. 156DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 157 3 " Que, de fato, seu cadastro como contribuinte individual não havia sido encerrado por total falta de orientação do INSS de que assim deveria proceder e que, ao tomar conhecimento da necessidade desse procedimento, imediatamente solicitou o respectivo encerramento a partir de 19/05/2005, conforme documento emitido em 15/05/2015 pelo INSS anexado ao processo à fl. 71, tendo comprovado junto à autarquia previdenciária a inexistência de vínculo laboral posterior à aposentadoria. Junta diversos emails enviados ao INSS e CRPS em que solicita orientações relativas à presente restituição pleiteada assim como de seu processo de aposentadoria, não tendo recebido qualquer informação de que deveria proceder ao cancelamento de seu cadastro de contribuinte individual junto ao INSS. Discorre fartamente sobre diversos erros materiais cometidos por servidores do INSS, dispõe que em nenhum momento o INSS fez qualquer ressalva sobre a forma que deveria ser feita a contribuição, na condição de segurado facultativo e não como contribuinte individual, que apenas deu continuidade à forma de recolhimento feita até então. Informa que em agosto de 2006, em decisão da 12ª Junta de Recursos do RJ, foi orientado a parar de recolher por já ter ultrapassado os 35 anos de contribuição, decisão ratificada pela 1ª CAJ do CRPS. Diante disso, não recolheu em época própria a competência 08/2006, que posteriormente foi exigida pelo INSS, e então recolhida em 10/2011, com os devidos acréscimos legais. Na seqüência, foi deferida sua aposentadoria com início do benefício em 08/2006, tendo ainda, posteriormente, em função de decisão do Conselho de Recursos da Previdência Social – CRPS – Conselho Pleno, datada de 20/11/2013 e do Despacho DIJUR/DAR nº 73/2014, sido finalmente modificada a data de início de benefício para 18/05/2005, sem o aproveitamento dos recolhimentos efetuados relativos às competências 05/2005 a 08/2006. Reforça que não exerceu nenhuma atividade remunerada desde 2004, conforme documentação apresentada ao INSS, inclusive recibos de Imposto de Renda de 2005 a 2013, onde se constata inexistência de qualquer rendimento recebido diferente do benefício pago pelo INSS. Repete informações acerca das contribuições previdenciárias recolhidas indevidamente diante de exigência do INSS e sobre as diversas fases de seu processo de aposentadoria. Assevera que é impossível ao cidadão comum, leigo no assunto, ter conhecimento de todos os procedimentos, Leis, Decretos e artigos vigentes se não for orientado pelos órgãos públicos. Junta diversos documentos aos autos conforme lista de anexos de fls. 69. Requer, por fim, que seja deferido integralmente o presente pedido de restituição, levandose em conta todos os documentos juntados à manifestação de inconformidade, que comprovam não ter havido atividade econômica, já que encerrou seu cadastro como contribuinte individual a partir de 19/05/2005." Fl. 157DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 158 4 Da Decisão da DRJ Ao analisar a Manifestação de Inconformidade apresentada, a DRJ em Ribeirão Preto/SP a julgou parcialmente procedente, em decisão assim emendada (fls. 115/120): ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/05/2005 a 31/08/2006 PAGAMENTOS INDEVIDOS. CARACTERIZAÇÃO. OCORRÊNCIA. São indevidas as contribuições previdenciárias pagas pelo segurado aposentado sem atividade que o caracterize como segurado obrigatório da Previdência Social, mesmo que incorretamente recolhida em código GPS de contribuinte individual. RESTITUIÇÃO. EXTINÇÃO DO DIREITO. OCORRÊNCIA. O direito de pleitear administrativamente restituição de contribuições recolhidas extinguese em 5 anos contados da data do pagamento ou recolhimento indevido. Manifestação de Inconformidade Procedente em Parte Direito Creditório Reconhecido em Parte. A autoridade julgadora de primeira instância, preliminarmente, afirmou não ser relevante as alegações de ocorrência de erros formais, equívocos e falta de informações por parte dos servidores do INSS, haja vista o disposto no art. 3º da Lei de Introdução às normas de direito Brasileiro, que dispõe que ninguém se escusa a cumprir a lei alegando que não a conhece. No mérito, ponderou que, apesar de a legislação presumir a condição de contribuinte individual enquanto o segurado não encerrar sua inscrição no INNS, o interessado pode comprovar a qualquer tempo sua condição de não mais ser segurado obrigatório do RGPS (art. 54 da IN MPS nº 03/2005). Assim, diante do documento emitido pelo INSS em 15/05/2015 (apresentado pelo RECORRENTE à fl. 71), onde se constata a informação do fim da atividade de contribuinte individual do requerente desde 19/05/2005, a autoridade julgadora de primeira instância entendeu que deixaram de existir as razões que levaram ao indeferimento por parte da DIORT da Superintendência Regional da 7ª Região Fiscal da restituição pleiteada. Assim, entendeu ser passível de restituição as contribuições previdenciárias recolhidas entre 05/2005 e 08/2006, haja vista o reconhecimento pelo INSS de que ocorreu erro formal no presente caso que levou o RECORRENTE a recolher as GPS sob o código 1007, e não como segurado facultativo sob o código 1406. Contudo, entendeu ter ocorrido a decadência do direito de pleitear a restituição referente às competências de 05/2005 a 07/2006, pois dentre a data de pagamento e o pedido de restituição (25/09/2014) transcorreram mais de 05 (cinco) anos. Por outro lado, deferiu a restituição do valor relativo à competência de 08/2006 uma vez que o mesmo foi Fl. 158DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 159 5 recolhido pelo RECORRENTE somente em 03/10/2011, encontrandose dentro do prazo decadencial para pleitear a restituição. Do Recurso Voluntário O RECORRENTE, devidamente intimado da decisão da DRJ em 24/05/2016 (fl. 123), apresentou o recurso voluntário de fls. 126/130 em 03/06/2016. Em suas razões alega, em síntese, que: o "dies a quo" para pleitear a restituição da contribuição recolhida indevidamente deuse a partir da data da decisão final do processo de reconhecimento de sua aposentadoria, qual seja, 20/11/2013; seria absolutamente impossível interpor o pedido de restituição sem que a decisão fosse devidamente proferida; afirma que não pode ser penalizado pela demora na apreciação do seu pedido de aposentadoria (apresentado em 22/12/2004) e que a DRJ não levou em conta que a conclusão de seu processo de aposentadoria ocorreu somente em 20/11/2013. Voto Vencido Conselheiro Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim – Relator O recurso voluntário é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade. Portanto, dele conheço. Apesar das alegações de erro material feita pelo RECORRENTE em desfavor aos servidores INSS e CRPS, toda fundamentação jurídica da decisão recorrida foi na ocorrência da decadência do direito de pleitear a restituição do indébito. Desta forma, tal tema não é relevante para solução do deslinde. Da ocorrência da decadência Alega o contribuinte que não ocorreu a decadência para pleitear a restituição de valores recolhidos em relação às competências de 05/2005 a 07/2006. Sobre o tema, o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n° 3.048/99, em seu artigo 253, I, define que o direito de pleitear a restituição extinguese em cinco anos, contados do pagamento ou do recolhimento indevido: Art. 253. O direito de pleitear restituição ou de realizar compensação de contribuições ou de outras importâncias extinguese em cinco anos, contados da data: I do pagamento ou recolhimento indevido; ou Fl. 159DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 160 6 II em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a sentença judicial que tenha reformado, anulado ou revogado a decisão condenatória. Por sua vez, tornase imperativo tecer algumas considerações acerca da legislação de regência dos prazos decadenciais previstos no Código Tributário Nacional CTN, cujo art. 168, inciso I, fixa o prazo de cinco anos para o interessado pleitear restituição, contado da data da extinção do crédito tributário, no caso de cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou a maior que o devido, conforme art. l65, inciso I do CTN: Art. 168. O direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: I nas hipóteses dos incisos 1 e II do artigo 165, do data da extinção do crédito tributário; Art. 165. O sujeito passivo tem direito. independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do art. 162, nos seguintes casos: I cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; Nos termos do art. 150, § l°, do CTN, o pagamento antecipado do tributo extingue o crédito, sob condição resolutória de ulterior homologação ao lançamento: Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. § 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue o crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento. Com a finalidade de espancar as dúvidas quanto à interpretação dos artigos do CTN arrolados neste capitulo, o legislador qualificado fez publicar a Lei Complementar n° 118, de 09/02/2005, com entrada em vigor em 09/06/2005, estatuindose a seguinte redação no seu art. 3°: Art. 3º Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, no momento do pagamento antecipado de que trata o § 1º do art. 150 da referida lei. Fl. 160DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 161 7 Portanto, temse que a decadência se fez presente em relação ao pedido de restituição da competência 05/2005 a 07/2006, uma vez que o RECORRENTE somente pleiteou a restituição em 25/09/2014 (fl. 02) e o pagamento dos tributos deuse entre 15/06/2005 e 14/08/2006 (fls. 52/53). Sobre a competência de 08/2006, andou bem a decisão recorrida ao observar que o pagamento de tal exação somente ocorreu em 03/10/2011 (fl. 53), dentro, portanto, do prazo decadencial de 05 anos quando da apresentação do pleito pelo RECORRENTE. Sobre a alegação do contribuinte de que o "dies a quo" para pleitear a restituição da contribuição recolhida indevidamente teria ocorrido em 20/11/2013, ou seja, quando da decisão final do processo de reconhecimento de sua aposentadoria, entendo que ela não merece prosperar por absoluta falta de amparo legal. A despeito das razões de inconformismo apresentadas pelo RECORRENTE, no sentido de não poderia ser penalizado pela demora na apreciação do seu pedido de aposentadoria (apresentado em 22/12/2004 e somente concluído em 20/11/2013), a legislação que rege a matéria é assertiva ao determinar que o direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados da data do pagamento reputado como indevido, conforme acima demonstrado. Portanto, a decisão recorrida não merece qualquer alteração. Esclareço que no caso de reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória, o art. 168, II, c/c o art. 165, III, ambos do CTN, estabelecem a possibilidade de pleitear a restituição de valores em até 05 anos contados da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória: Art. 168. O direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: (...) II na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória. Art. 165. O sujeito passivo tem direito. independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do art. 162, nos seguintes casos: (...) III reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória. Contudo, entendo que os dispositivos acima não se aplicam ao caso concreto, pois o RECORRENTE não estava recolhendo as contribuições previdenciárias por força de qualquer decisão condenatória; o recolhimento era realizado espontaneamente em face da Fl. 161DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 162 8 legislação tributária aplicável, de modo que aplicase ao caso o "dies a quo" estabelecido nos termos do art. 168, I, c/c o art. 165, I, do CTN, qual seja: 05 anos a contar a partir do pagamento do tributo. Portanto, não merece prevalecer as alegações do RECORRENTE. Conclusão Ante o exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, devendo ser mantida a decisão da DRJ. (assinado digitalmente) Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim Relator Voto Vencedor Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira, Redator designado. Em que pese a argumentação e logicidade jurídica do voto do ilustre Relator, ouso, com a devida permissão, dele discordar. Explico. O prazo para que o contribuinte peça a restituição de valores recolhidos indevidamente começa a fluir da data do pagamento ou da decisão que reconhece a improcedência dos valores pagos. Recordemos o voto do Conselheiro Rodrigo Amorim, no ponto que expressa seu entendimento: " A despeito das razões de inconformismo apresentadas pelo RECORRENTE, no sentido de não poderia ser penalizado pela demora na apreciação do seu pedido de aposentadoria (apresentado em 22/12/2004 e somente concluído em 20/11/2013), a legislação que rege a matéria é assertiva ao determinar que o direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados da data do pagamento reputado como indevido, conforme acima demonstrado. Portanto, a decisão recorrida não merece qualquer alteração. Esclareço que no caso de reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória, o art. 168, II, c/c o art. 165, III, ambos do CTN, estabelecem a possibilidade de pleitear a restituição de valores em até 05 anos contados da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória: Fl. 162DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 163 9 Art. 168. O direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: (...) II na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória. Art. 165. O sujeito passivo tem direito. independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do art. 162, nos seguintes casos: (...) III reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória. Contudo, entendo que os dispositivos acima não se aplicam ao caso concreto, pois o RECORRENTE não estava recolhendo as contribuições previdenciárias por força de qualquer decisão condenatória; o recolhimento era realizado espontaneamente em face da legislação tributária aplicável, de modo que aplica se ao caso o "dies a quo" estabelecido nos termos do art. 168, I, c/c o art. 165, I, do CTN, qual seja: 05 anos a contar a partir do pagamento do tributo." (negritos não constam do voto) Aqui o ponto fulcral da minha discordância com a posição esposada pelo ínclito Relator. Não se pode fazer uma leitura tão estreita das disposições codicistas. Consoante alegado pelo Recorrente os valores pleiteados no presente pedido de restituição decorrem de recolhimento indevido em razão do indeferimento do pedido de aposentadoria formulado pelo contribuinte. Tal afirmação se encontra comprovada pela decisão proferida pelo Pleno do Conselho de Recursos da Previdência Social, CRPS, em 20 de novembro de 2013, anexada às efolhas 72/78, de onde se extrai o seguinte excerto (fls. 78): Fl. 163DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 164 10 A conclusão do voto, acima transcrita, é claríssima em reconhecer que o direito à aposentadoria deve ser concedido a partir da data do requerimento (22/12/2004), com consequente desobrigação de recolhimento de contribuições previdenciárias em competências subsequentes, salvo, como determina a Lei, no caso de exercício de nova atividade laboral. Logo, por ser imprescindível a análise da existência de atividade laboral no período do pedido de restituição, mister enfrentarmos a questão. Importa realçar que tal exceção, ou seja, obrigação de recolhimento do tributo no caso de exercício de atividade remunerada pelo Requerente, foi mencionada na decisão de piso (fls. 58). Buscando comprovar, na manifestação de inconformidade que aqui se aprecia, a inexistência de relação de trabalho no período do pedido de restituição, o contribuinte anexa documentos que atestam suas alegações. Tal situação não passou despercebida pelo julgador de piso. Observo às folhas 119: "Isto posto, diante dos atos normativos vigentes em cada época e o documento emitido pelo INSS em 15/05/2015, onde se constata a informação do fim da atividade de contribuinte individual do requerente desde 19/05/2005, deixam de existir as razões que levaram ao indeferimento por parte da DIORT DRF I/RJO da restituição aqui pleiteada, uma vez que é entendimento deste julgador que, nesta condição atualmente demonstrada, passa ser apenas um erro formal o recolhimento das GPS em código 1007, e não como segurado facultativo código 1406, esse sim o código correto. Não mais há que se falar aqui em continuidade da atividade que caracterizava o interessado como segurado obrigatório do RGPS e passam, por essa razão, a serem passíveis de restituição as contribuições previdenciárias recolhidas pelo requerente entre 05/2005 a 08/2006, mesmo que em código GPS indevido." Fl. 164DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 165 11 Claríssimo que a decisão de piso entendeu pelo comprovação da inexistência de atividade laboral do Recorrente no período do recolhimento que se pretende restituir. Há trânsito em julgado de tal matéria, posto que não consta do Voluntário que aqui se examina Porém, assim como o ínclito Relator, o julgador de primeira instância entendeu haver decadência de seu direito de pleitear a restituição, posto que em sua opinião a contagem do prazo deve ser realizada a partir do pagamento indevido. Voltemos, assim, ao ensejador da divergência Como bem relatado, e transcrito acima, a decisão definitiva sobre a concessão do benefício de aposentadoria se dá em novembro de 2013, e dela, como também reproduzido acima, consta expressamente que a concessão se dá em razão da contagem de prazo de trabalho em atividade especial, com consequente concessão do benefício na data de seu requerimento, ou seja, dezembro de 2004. Ora, como bem explicitado no voluntário, e ao longo de todo o processo, o recolhimento das contribuições relativas às competências compreendidas entre 05/2005 e 08/2006, foram realizadas em razão de decisões administrativas que denegaram o reconhecimento do período de trabalho em atividade especial do segurado, aqui Recorrente, o que ensejou segundo orientação recebida por ele na Autarquia Previdenciária o pagamento dos valores que se pretende restituir. Tal situação é determinante para que se verifique o direito à restituição só se consubstancia quando da decisão administrativa que concede a aposentadoria, posto que essa decisão se funda, justamente, no reconhecimento da atividade especial e, portanto, na desnecessidade de período de contribuição adicional, em razão da contagem acelerada de tempo de serviço que a lei previdenciária concedia em tal situação. Destarte, o direito à restituição só surge para o segurado quando do trânsito em julgado de tal decisão administrativa, por óbvio que de índole declaratória e não condenatória, mas como dito e explicado de cunho determinante para o surgimento do direito de reembolso dos pagamentos que após tal decisão se tornam indevidos e, portanto, ensejadores da restituição pleiteada. Assim, forçoso reconhecer a aplicação das disposições constantes nos artigos 165, III, combinado com 168, II do Código Tributário Nacional, para determinar a restituição dos valores pagos indevidamente a título de contribuição previdenciária relativa ao período de maio de 2005 a julho de 2006, posto que a restituição da competência de agosto de 2006 foi deferida pela decisão 'a quo' (fls. 120); CONCLUSÃO Diante do exposto e pelos fundamentos apresentados, voto em rejeitar as preliminares arguídas, e no mérito, em dar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Carlos Henrique de Oliveira, Redator designado. Fl. 165DF CARF MF Processo nº 12448.729157/201454 Acórdão n.º 2201004.408 S2C2T1 Fl. 166 12 Fl. 166DF CARF MF
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Numero do processo: 10925.003010/2009-75
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Mar 22 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jun 11 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/04/2006 a 30/06/2006
COFINS. NÃO-CUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO.
Para fins de apuração de crédito de COFINS não-cumulativa, há de se observar o rol de deduções previstos no art. 3º da Lei nº 10.833/2003, adotando-se, no que tange ao seu inciso II, a interpretação intermediária construída no CARF quanto ao conceito de insumo, tornando-se imperativa para o reconhecimento do direito ao crédito a análise acerca da sua essencialidade.
No caso concreto analisado, há de ser reconhecido o direito ao crédito relativo às despesas com (a) embalagens e (b) fretes, porém, mantida a glosa no que tange às despesas com condomínio.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 3301-004.488
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do Colegiado em dar provimento parcial ao recurso voluntário, nos seguintes termos: por unanimidade de votos, em dar provimento para admitir o creditamento de embalagens e fretes das embalagens e, por maioria de votos, em negar provimento para manter a glosa relativa à despesa com condomínio, vencidos os Conselheiros Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Relatora) e Semíramis de Oliveira Duro. Designada como redatora a Conselheira Liziane Angelotti Meira.
(assinado digitalmente)
José Henrique Mauri - Presidente.
(assinado digitalmente)
Maria Eduarda Alencar Câmara Simões - Relatora.
(assinado digitalmente)
Liziane Angelotti Meira - Redatora designada (voto vencedor).
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: José Henrique Mauri (Presidente), Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Ari Vendramini, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen.
Nome do relator: MARIA EDUARDA ALENCAR CAMARA SIMOES
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Período de apuração: 01/04/2006 a 30/06/2006 COFINS. NÃO-CUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO. Para fins de apuração de crédito de COFINS não-cumulativa, há de se observar o rol de deduções previstos no art. 3º da Lei nº 10.833/2003, adotando-se, no que tange ao seu inciso II, a interpretação intermediária construída no CARF quanto ao conceito de insumo, tornando-se imperativa para o reconhecimento do direito ao crédito a análise acerca da sua essencialidade. No caso concreto analisado, há de ser reconhecido o direito ao crédito relativo às despesas com (a) embalagens e (b) fretes, porém, mantida a glosa no que tange às despesas com condomínio. Recurso Voluntário Provido em Parte.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 14; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1784; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3C3T1 Fl. 169 1 168 S3C3T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 10925.003010/200975 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 3301004.488 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 22 de março de 2018 Matéria COFINS Recorrente POMAGRI FRUTAS LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/04/2006 a 30/06/2006 COFINS. NÃOCUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO. Para fins de apuração de crédito de COFINS nãocumulativa, há de se observar o rol de deduções previstos no art. 3º da Lei nº 10.833/2003, adotandose, no que tange ao seu inciso II, a interpretação intermediária construída no CARF quanto ao conceito de insumo, tornandose imperativa para o reconhecimento do direito ao crédito a análise acerca da sua essencialidade. No caso concreto analisado, há de ser reconhecido o direito ao crédito relativo às despesas com (a) embalagens e (b) fretes, porém, mantida a glosa no que tange às despesas com condomínio. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do Colegiado em dar provimento parcial ao recurso voluntário, nos seguintes termos: por unanimidade de votos, em dar provimento para admitir o creditamento de embalagens e fretes das embalagens e, por maioria de votos, em negar provimento para manter a glosa relativa à despesa com condomínio, vencidos os Conselheiros Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Relatora) e Semíramis de Oliveira Duro. Designada como redatora a Conselheira Liziane Angelotti Meira. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 5. 00 30 10 /2 00 9- 75 Fl. 169DF CARF MF 2 José Henrique Mauri Presidente. (assinado digitalmente) Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Relatora. (assinado digitalmente) Liziane Angelotti Meira Redatora designada (voto vencedor). Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: José Henrique Mauri (Presidente), Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Ari Vendramini, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen. Fl. 170DF CARF MF Processo nº 10925.003010/200975 Acórdão n.º 3301004.488 S3C3T1 Fl. 170 3 Relatório Por bem relatar os fatos, adoto o relatório da decisão da DRJ, às fls. 106/108 dos autos: Tratase de Manifestação de Inconformidade interposta contra Despacho Decisório que deferiu parcialmente pedido de ressarcimento formulado no PER nº 09940.94610.021006.1.3.115338, relativo a crédito da Cofins Não Cumulativa/Mercado Interno, vinculado a receitas de venda submetidas à alíquota zero (produção e comercialização de maçãs), referente ao 2º trimestre de 2006. Do valor pleiteado de R$ 18.605,11, foi reconhecido o crédito de R$ 2.902,72. Dessa forma, apenas parte das compensações declaradas foi homologada (fls 71/72). 2. Conforme Termo de Verificação e Encerramento da Análise Fiscal, o reconhecimento parcial do crédito decorreu de glosas efetuadas em itens de custo e despesa que compunham o crédito demonstrado pelo contribuinte no Dacon (fls 45/70): (i) materiais de embalagem utilizados precipuamente para transporte de maçãs, tais como caixas de papelão, bandejas de polpa, pallets, cantoneiras, plásticos bolha, sacos plásticos lisos, cola, filme, fitas adesivas, termógrafo; (ii) serviço de transporte de material não considerado insumo na produção da maçã, tais como papelseda, fitas, cantoneira, cola, filme, termógrafo; (iii) despesas de condomínio. 3. Segundo o art. 8º da Instrução Normativa SRF nº 404, de 2004, “para que bens e serviços utilizados se enquadrem no conceito de insumo é requisito que sejam utilizadas na fabricação de produtos destinados à venda ou na prestação de serviços. O conceito de processo produtivo capaz de gerar créditos restringese à matéria prima e aos produtos intermediários submetidos a alterações em função de ação direta sobre o produto, tais como desgaste, dano ou perda de propriedades físicas ou químicas durante os processos de fabricação, e não após ele. Os insumos participam do processo no qual há uma entrada de materiais e de serviços, um acréscimo de valor e a saída do produto. Como conclusão lógica, subentendese que a legislação está a fazer distinção entre aqueles bens e serviços incorporados ao produto durante o processo de industrialização e aqueles outros incorporados apenas depois de concluído o processo produtivo e que se destinam, por conta disso, tão somente ao transporte ou distribuição dos produtos acabados. Como para o PIS/Pasep e para a Cofins é insumo aquele utilizado no processo de industrialização em termos similares ao disciplinado na legislação do IPI, importa aplicar o conceito de embalagem do regulamento deste imposto (arts. 4º e 6º do Decreto nº 4.544, de 2002). Dessa forma, não podem gerar créditos, as embalagens que se destinam precipuamente ao transporte dos produtos elaborados. São assim entendidos os acondicionamentos feitos em caixas, caixotes, engradados, barricas, latas, tambores, sacos, embrulhos e semelhantes, sem acabamento e rotulagem de função promocional e que não objetive valorizar o produto em razão da qualidade do material nele empregado, da perfeição do seu acabamento ou da sua utilidade adicional, Fl. 171DF CARF MF 4 bem assim o acondicionamento feito em embalagem de capacidade superior àquela em que o produto é comumente vendido no varejo”. 4. Quanto ao crédito decorrente de serviço de transporte, assevera que “somente dão direito a crédito no âmbito do regime da nãocumulatividade, as aquisições de serviços de frete que: (a) estejam relacionados à aquisição de bens para revenda [art. 3º, I, das Leis nº 10.637, de 2002, e 10.833, de 2003]; (b) sejam tidos como um serviço utilizado como insumo na prestação de serviço ou na produção de um bem [como as despesas com transporte de produtos em elaboração efetuado entre estabelecimentos da mesma pessoa jurídica]; (c) estejam associadas à operação de venda, quando o ônus for suportado pelo vendedor [arts. 3º, IX, e 15, da Lei nº 10.833, de 2003]”. 5. No que concerne ao crédito sobre despesa de aluguel, foi glosada apenas a que restara sem comprovação documental, como especifica o Relatório Fiscal. 6. Por fim, a despesa de condomínio foi excluída da apuração do crédito das contribuições, por não configurarem despesas com aluguel, nos termos da legislação. 7. Cientificado do decisório em 10.01.2011 (fl 74), o contribuinte manifestou inconformidade em 26.01.2011 (fls 26.01.2011), na qual pede o reconhecimento integral do crédito de ressarcimento, com base nas seguintes razões: (i) Os materiais de embalagens (cantoneiras, bandejas, fitas adesivas, pallets, papelseda, plástico bolha, tampas, fundos, caixas de papelão etc) são indispensáveis ao acondicionamento do produto, não exclusivamente com o fim de transporte, porquanto utilizados para assegurar a integridade da fruta até o seu destino; (ii) O papelseda, fita, cantoneira e outros são insumos na produção da maçã, conforme item acima, de modo que gera creditamento a despesa com o serviço de transporte para adquirilos; (iii) A despesa com condomínio deve ser creditada da mesma forma que a despesa com aluguel, pois o acessório segue o principal; (iv) Não existe lei formal determinando a aplicação do conceito de insumo do IPI à apuração das contribuições não cumulativas; (v) O critério de insumo utilizado na decisão recorrida não está em conformidade com Soluções de Consulta emanadas das Superintendências da Receita Federal do Brasil (Processo de Consulta nº 99/09 da SRRF6ªRF), com decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Recurso Voluntário nº 146.778) e com a jurisprudência judicial (Acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, de 26 de março de 2009; Agravo Regimental no REsp nº 1.125.253/SC, de 15 de abril de 2010). Ao analisar o caso, a DRJ entendeu por julgar improcedente a impugnação apresentada pelo contribuinte, conforme decisão que restou assim ementada: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/04/2006 a 30/06/2006 RESSARCIMENTO. INSUMO CORPÓREO. Para configurar insumos para os fins de creditamento na forma do disposto no art. 3º, II, da Lei nº 10.637, de 2002, e do art. 3º, II, da Lei nº 10.833, de 2003, as matérias primas, os produtos intermediários e o material de embalagem, utilizados na fabricação de bens destinados à venda, devem sofrer alterações, tais como o desgaste, o dano, ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, e, ainda, não podem representar acréscimo de vida útil superior a um ano ao bem em que forem aplicadas. Fl. 172DF CARF MF Processo nº 10925.003010/200975 Acórdão n.º 3301004.488 S3C3T1 Fl. 171 5 RESSARCIMENTO. SERVIÇO. INSUMO. Na apuração do PIS/Pasep e da Cofins, a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados sobre gastos incorridos com serviços utilizados como insumo, desde que pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. CONCEITO DE INSUMO. MATERIAL DE EMBALAGEM. O conceito de insumo abrange somente a embalagem incorporada ao produto durante o processo de industrialização, que agregue valor comercial ao produto através de sua apresentação ou que objetive valorizar o produto em razão da qualidade do material nele empregado, da perfeição do seu acabamento ou da sua utilidade adicional. FRETE. AQUISIÇÃO. INSUMO. O gasto com frete pago ou creditado pelo comprador a pessoa jurídica domiciliada no País incorporase ao custo de aquisição do insumo. INCIDÊNCIA NÃO CUMULATIVA. DESPESAS DE CONDOMÍNIO O valor pago a título de despesa de condomínio está fora do conceito de insumo, não dando direito a crédito a ser descontado na apuração não cumulativa da contribuição. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido O contribuinte foi intimado acerca desta decisão em 25/06/2015 (vide termo de ciência por abertura de mensagem à fl. 119 dos autos) e, insatisfeito com o seu teor, interpôs em 14/07/2015 Recurso Voluntário (fls. 122/133), através do qual requereu: (i) recebimento do recurso voluntário; ii) procedência do recurso para reformar o acórdão recorrido, com o reconhecimento do direito ao crédito de COFINS requerido no pedido de ressarcimento. Os autos, então, vieramse conclusos para fins de análise do Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte. É o breve relatório. Fl. 173DF CARF MF 6 Voto Vencido Conselheira Maria Eduarda Alencar Câmara Simões: O Recurso Voluntário é tempestivo e reúne os demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. 1) Do direito ao creditamento de COFINS linhas gerais Consoante acima indicado, a presente demanda versa sobre o direito ao creditamento de COFINS em razão da análise do conceito de insumos disposto na legislação de regência. A DRJ seguiu a legislação do IPI, entendendo que, para que fosse concedido o crédito, seria essencial o desgaste físico no produto no processo produtivo da empresa. Esse entendimento, contudo, encontrase superado por este Conselho, que construiu uma corrente intermediária própria, fugindo tanto às normas atinentes ao IPI quanto às normas atinentes ao IRPJ. E é com base nesta corrente intermediária, com a qual me alinho, que serão analisados a seguir os itens que foram objeto de glosa por parte da fiscalização. Importante destacar que o embasamento da glosa realizada pela fiscalização foi a ausência de previsão legal para autorização do creditamento realizado, e não a falta de comprovação da sua origem. Logo, a questão deve ser apreciada sobre o aspecto de direito. Sobre o creditamento, o art. 3º da Lei nº 10.833/2003 assim dispõe: Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: a) no inciso III do § 3o do art. 1o desta Lei; e b) nos §§ 1o e 1oA do art. 2o desta Lei; II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; III (VETADO) IV – aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa; V valor das contraprestações de operações de arrendamento mercantil de pessoa jurídica, exceto de optante pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte SIMPLES; VI máquinas, equipamentos e outros bens incorporados ao ativo imobilizado, adquiridos ou fabricados para locação a terceiros ou para utilização na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços. Fl. 174DF CARF MF Processo nº 10925.003010/200975 Acórdão n.º 3301004.488 S3C3T1 Fl. 172 7 VII edificações e benfeitorias em imóveis de terceiros, quando o custo, inclusive de mãodeobra, tenha sido suportado pela locatária; VIII bens recebidos em devolução, cuja receita de venda tenha integrado faturamento do mês ou de mês anterior, e tributada conforme o disposto nesta Lei. IX energia elétrica consumida nos estabelecimentos da pessoa jurídica. IX energia elétrica e energia térmica, inclusive sob a forma de vapor, consumidas nos estabelecimentos da pessoa jurídica. X valetransporte, valerefeição ou valealimentação, fardamento ou uniforme fornecidos aos empregados por pessoa jurídica que explore as atividades de prestação de serviços de limpeza, conservação e manutenção. XI bens incorporados ao ativo intangível, adquiridos para utilização na produção de bens destinados a venda ou na prestação de serviços. (Grifos apostos). No que tange à alínea II acima, embora ciente que alguns julgadores deste Conselho adotam interpretação restritiva do conceito de insumos para fins de admissão do crédito, inclusive acolhendo em alguns casos o conceito de insumos inserto na legislação do IPI, tem prevalecido nas decisões proferidas por este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais uma posição menos engessada, por meio da análise dos créditos aplicáveis em cada caso concreto, em razão da atividade desempenhada pela empresa. A análise do presente caso, portanto, em determinadas situações, perpassa pela definição do conceito de insumos para o PIS e a COFINS. Nos termos dos recentes julgados proferidos por este Conselho, o conceito de insumos para efeitos do art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637/2002 e do art. 3º, inciso II da Lei 10.833/2003, deve ser interpretado com critério próprio: o da essencialidade. Referido critério traduz uma posição "intermediária" construída pelo CARF, na qual, para definir insumos, buscase a relação existente entre o bem ou serviço, utilizado como insumo e a atividade realizada pelo Contribuinte. Logo, para que determinado bem ou prestação de serviço seja considerado insumo gerador de crédito de PIS e COFINS, imprescindível a sua essencialidade à atividade desempenhada pela empresa, direta ou indiretamente. Esta, inclusive, também é a posição predominante no Superior Tribunal de Justiça, o qual reconhece, para a definição do conceito de insumo, critério amplo/próprio em função da receita, a partir da análise da pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo ou à prestação do serviço. O entendimento daquela Corte pode ser visualizado no voto do Ministro Relator Mauro Campbell Marques, proferido nos autos do Recurso Especial nº 1.246.317MG: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. VIOLAÇÃO AO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 98/STJ. CONTRIBUIÇÕES AO PIS/PASEP E COFINS NÃOCUMULATIVAS. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. ART. 3º, II, DA LEI N. 10.637/2002 E ART. 3º, II, DA LEI N. 10.833/2003. ILEGALIDADE DAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS SRF N. 247/2002 E 404/2004. Fl. 175DF CARF MF 8 1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma suficientemente fundamentada a lide, muito embora não faça considerações sobre todas as teses jurídicas e artigos de lei invocados pelas partes. 2. Agride o art. 538, parágrafo único, do CPC, o acórdão que aplica multa a embargos de declaração interpostos notadamente com o propósito de prequestionamento. Súmula n. 98/STJ: "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório". 3. São ilegais o art. 66, §5º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 247/2002 Pis/Pasep (alterada pela Instrução Normativa SRF n. 358/2003) e o art. 8º, §4º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 404/2004 Cofins, que restringiram indevidamente o conceito de "insumos" previsto no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e n. 10.833/2003, respectivamente, para efeitos de creditamento na sistemática de nãocumulatividade das ditas contribuições. 4. Conforme interpretação teleológica e sistemática do ordenamento jurídico em vigor, a conceituação de "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, não se identifica com a conceituação adotada na legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados IPI, posto que excessivamente restritiva. Do mesmo modo, não corresponde exatamente aos conceitos de "Custos e Despesas Operacionais" utilizados na legislação do Imposto de Renda IR, por que demasiadamente elastecidos. 5. São "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, todos aqueles bens e serviços pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. 6. Hipótese em que a recorrente é empresa fabricante de gêneros alimentícios sujeita, portanto, a rígidas normas de higiene e limpeza. No ramo a que pertence, as exigências de condições sanitárias das instalações se não atendidas implicam na própria impossibilidade da produção e em substancial perda de qualidade do produto resultante. A assepsia é essencial e imprescindível ao desenvolvimento de suas atividades. Não houvessem os efeitos desinfetantes, haveria a proliferação de microorganismos na maquinaria e no ambiente produtivo que agiriam sobre os alimentos, tornandoos impróprios para o consumo. Assim, impõese considerar a abrangência do termo "insumo" para contemplar, no creditamento, os materiais de limpeza e desinfecção, bem como os serviços de dedetização quando aplicados no ambiente produtivo de empresa fabricante de gêneros alimentícios. 7. Recurso especial provido. (REsp 1246317/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/05/2015, DJe 29/06/2015) (grifouse) Quanto ao tema, filiome à corrente intermediária acima indicada, pelo que entendo merecer reforma a decisão recorrida quanto aos seus fundamentos, uma vez que, para a compreensão do direito à apuração de créditos de PIS e COFINS no sistema da não cumulatividade, não deve ser adotado o conceito estrito de insumos constante da decisão recorrida. Fl. 176DF CARF MF Processo nº 10925.003010/200975 Acórdão n.º 3301004.488 S3C3T1 Fl. 173 9 2) Dos itens em que o direito ao creditamento restou afastado pela DRJ A empresa em questão planta, produz e comercializa frutas. O recorrente se insurge contra o entendimento da DRJ, argumentando que as despesas com aquisições de embalagens, frete das embalagens e condomínio devem gerar crédito de COFINS por serem todas diretamente necessárias à comercialização do produto. Afirma que tais despesas se relacionam diretamente com a preservação da integridade do produto, transporte de insumos e armazenamento. Com relação ao condomínio, afirma que este é acessório que deve seguir a sorte do principal, que é o aluguel, devendo todas essas despesas gerar créditos de COFINS. A decisão da primeira instância analisou a legislação que trata do conceito de insumo para fins de creditamento da COFINS, e concluiu que o caso dos presentes autos não se enquadra no conceito legal, visto que as embalagens utilizadas pelo contribuinte têm a finalidade única de servir ao transporte das frutas, não havendo comprovação de que acompanham o produto em sua apresentação final ao consumidor, de modo a agregarlhe valor. Manteve a glosa do crédito referente ao frete das embalagens por terem sido desconsideradas como insumo. Quanto aos gastos com condomínio, rejeitou o argumento de que o acessório segue o principal em razão de não haver a alegada relação de acessoriedade, visto que o pagamento do condomínio independe da existência de relação locatícia, e que o acolhimento de um brocardo para alargar a hipótese de creditamento iria de encontro ao princípio da legalidade. Além disso, a utilidade decorrente do condomínio é deslocada espaço temporalmente do processo produtivo da maçã. Por fim, manteve as glosas dos créditos sobre as despesas com gás combustível para as empilhadeiras, por não ter havido a desconstituição pelo contribuinte da constatação de que as empilhadeiras possuem uso geral para transporte de objetos, não estando sua utilidade adstrita à produção das maçãs. Entendo que assiste razão ao contribuinte em seus argumentos, consoante restará devidamente demonstrado nos tópicos a seguir. 2.1. Das embalagens As embalagens aqui analisadas são as seguintes: bandejas (utilizadas nas caixas de papelão para separar e acondicionar as maçãs), cantoneiras (utilizadas nas caixas de papelão, para proteger o produto, durante o transporte até o cliente, evitando o amassamento da caixa e das maçãs), fitas adesivas (para lacrar o fundo das caixas), pallets e seus acessórios (tais como pregos e etiquetas, utilizados no armazenamento e transporte das caixas de maçãs), papelseda (utilizado para embrulhar a maçã), plástico bolha (empregado para envolver a maçãs, evitando o atrito entre elas), caixa e fundos (usados no acondicionamento das frutas), tampas (utilizadas para proteger a fruta do contato com o ambiente externo), cola (utilizada para colar os rótulos nas caixas de madeira), filme PVC (usado para segurar as caixas nos pallets), termógrafo (usado para controlar a temperatura das caixas quando transportadas). Quanto às embalagens, entendo que a legislação admite o direito ao crédito no caso concreto ora analisado, ainda que as embalagens utilizadas. Isso porque, em razão da especificidade dos produtos produzidos pela Recorrente, é inconteste que as embalagens Fl. 177DF CARF MF 10 servem não apenas para o mero transporte, mas também para o seu acondicionamento, apresentandose essenciais à conservação da integridade e qualidade do produto. Conforme fundamentos constantes do tópico anterior, entendo desnecessário que as embalagens sejam incorporadas ao produto durante o processo de industrialização para que seja reconhecido o seu direito ao crédito. É imprescindível, na verdade, identificar se o insumo em questão é essencial à atividade produtiva desempenhada pela empresa, direta ou indiretamente, tendo concluído no caso dos presentes autos que sim. Até porque, ainda que se entendesse que as embalagens em questão seriam destinadas apenas ao transporte, o que não é o caso, a legislação atinente à COFINS não acoberta a restrição realizada pela fiscalização para fins de tomada de crédito, a qual levou em consideração a legislação do IPI, cuja aplicável há de ser afastada. Estes custos com embalagens para acondicionamento e transporte, em razão da especificidade dos produtos que a Recorrente comercializa, são essenciais a que o produto produzido pela empresa seja colocado à venda, pelo que se insere no conceito de insumo que adoto, nos termos acima analisados. Entendo, ainda, que este item específico também se insere no inciso IX, que expressamente autoriza o creditamento relativo à armazenagem de mercadoria e frete na importação de vendas, quando o ônus for suportado pelo vendedor. Isso porque, verificase que a adoção da embalagem em questão é necessária tanto para a armazenagem quanto para o transporte dos produtos que a recorrente industrializa e comercializa, em razão das suas especificidades. Há de se destacar, inclusive, que a Câmara Superior de Recursos Fiscais, em caso análogo, já se manifestou pelo direito ao crédito em tal caso. É o que se infere da decisão a seguir transcrita: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/01/2007 a 31/12/2007 PIS/PASEP. REGIME NÃOCUMULATIVO. INSUMOS. CREDITAMENTO. Para se verificar se determinado bem ou serviço prestado pode ser caracterizado como insumo para fins de creditamento do PIS/PASEP, impende analisar se há: pertinência ao processo produtivo (aquisição do bem ou serviço especificamente para utilização na prestação do serviço ou na produção, ou, ao menos, para tornálo viável); essencialidade ao processo produtivo (produção ou prestação de serviço depende diretamente daquela aquisição) e possibilidade de emprego indireto no processo de produção (prescindível o consumo do bem ou a prestação de serviço em contato direto com o bem produzido) TAMBORES UTILIZADOS COMO EMBALAGEM PARA TRANSPORTE. GÁS EMPREGADO EM EMPILHADEIRAS. É legítima a apropriação do crédito da contribuição ao PIS/PASEP nãocumulativo em relação às aquisições de tambores empregados como embalagem de transporte e sobre o gás empregado em empilhadeiras, tendo em vista a relação de pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo. Fl. 178DF CARF MF Processo nº 10925.003010/200975 Acórdão n.º 3301004.488 S3C3T1 Fl. 174 11 Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Período de apuração: 01/01/2007 a 31/12/2007 COFINS. REGIME NÃOCUMULATIVO. INSUMOS. CREDITAMENTO. Para se verificar se determinado bem ou serviço prestado pode ser caracterizado como insumo para fins de creditamento da COFINS, impende analisar se há: pertinência ao processo produtivo (aquisição do bem ou serviço especificamente para utilização na prestação do serviço ou na produção, ou, ao menos, para tornálo viável); essencialidade ao processo produtivo (produção ou prestação de serviço depende diretamente daquela aquisição) e possibilidade de emprego indireto no processo de produção (prescindível o consumo do bem ou a prestação de serviço em contato direto com o bem produzido) TAMBORES UTILIZADOS COMO EMBALAGEM PARA TRANSPORTE. GÁS EMPREGADO EM EMPILHADEIRAS. É legítima a apropriação do crédito da contribuição à COFINS nãocumulativa em relação às aquisições de tambores empregados como embalagem de transporte e sobre o gás empregado em empilhadeiras, tendo em vista a relação de pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo. (Acórdão n. 9303004.192, de 04/08/2016). Logo, entendo que a decisão recorrida também deverá ser reformada neste ponto, para fins de admitir o direito ao crédito também no que concerne aos tambores utilizados para acondicionamento e transporte. Sendo assim, entendo que deverá ser reconhecido o direito ao crédito no que concerne às embalagens. 2.2. Dos fretes das embalagens A segunda glosa objeto da presente demanda incidiu sobre o serviço de transporte de material não considerado insumo na produção da maçã, tais como papelseda, fitas, filmes, cantoneira, cola, termógrafo etc. O contribuinte defende que, uma vez considerado insumo o material de embalagem utilizado, a despesa com frete na sua aquisição é capaz de gerar creditamento. No que tange aos fretes das embalagens, uma vez admitido o crédito no que concerne às embalagens, entendo que há de ser admitido o direito ao crédito também no que tange aos fretes das referidas embalagens. Até porque, penso que o gasto com frete pago ou creditado pelo comprador à pessoa jurídica domiciliada no País incorporase ao custo de aquisição do insumo, além de encontrar previsão de desconto de crédito no artigo 3º, inciso IV da Lei nº 10.833/2003, cumulado com o inciso II deste mesmo dispositivo legal. 2.3. Do condomínio Fl. 179DF CARF MF 12 Quanto às despesas com condomínio, entendo que também deverá ser reconhecido o direito ao crédito em tal caso, por entender aplicável ao caso a regra de que o acessório deverá seguir o principal. Uma vez que a legislação admite expressamente no inciso IV do art. 3º da Lei nº 10.833/2003 o direito ao crédito no que tange às despesas com aluguel, há de ser admitido o crédito também no que concerne às despesas com condomínio, por serem delas necessariamente decorrentes. 3. Da conclusão Diante do acima exposto, voto no sentido de dar provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte no presente caso. É como voto. Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Relatora Fl. 180DF CARF MF Processo nº 10925.003010/200975 Acórdão n.º 3301004.488 S3C3T1 Fl. 175 13 Voto Vencedor Liziane Angelotti Meira: Quanto às despesas com condomínio, concluise que não assiste razão ao contribuinte em seu pleito, em razão da ausência de respaldo legal para o creditamento de tal despesa. Por concordar com os fundamentos constantes da decisão recorrida no que concerne a tal despesa, transcrevoo a seguir: 42. Em contraparte, o manifestante sustenta a possibilidade de creditamento com base nas despesas de condomínio, à semelhança do que sucede em relação às despesas de aluguel, invocado o velho brocardo de que o acessório segue o principal (accessorium seguitur principale). 43. De fato, o inciso IV do art. 3º das Leis nº 10.637, de 2002, e 10.833, de 2003, prevê a possibilidade de as despesas incorridas com aluguel gerarem crédito na apuração nãocumulativa das contribuições. Entretanto, a máxima não se aplica à espécie, por dois motivos básicos. 44. Em primeiro lugar, não há acessoriedade entre aluguel e encargo de condomínio, uma vez ausente vínculo de causalidade entre eles. Com efeito, pagase condomínio não porque o imóvel é alugado, mas porque se usufrui de utilidades compartilhadas pelos proprietários ou usuários de prédios. 45. Pelo contrato de locação, uma das partes se obriga a ceder o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição. As despesas de condomínio, por sua vez, são destinadas a gastos relativos ao imóvel respectivo como, por exemplo, salários de empregados, materiais de consumo, equipamentos, serviços prestados ao condomínio, podendo, até mesmo, haver sobra em um mês determinado. Dessa forma, percebese que despesas de condomínio não se relacionam com aluguel. 46. Em segundo lugar, a aplicação de um brocardo não pode resultar na ampliação, por analogia, de hipóteses de creditamento que interferem na determinação da base de cálculo da contribuição, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade tributária. 47. Resta verificar se os gastos com condomínio podem ser considerados insumo. 48. Dado que deles resultam utilidades imateriais para o contribuinte, seriam insumos se assim caracterizados sob o aspecto funcional. Entretanto, os serviços de condomínio são completamente deslocados espaçotemporalmente do processo produtivo da maçã. 49. Por essa razão, correta está a glosa das despesas de condomínio. Nesse mesmo sentido, já se manifestou este Conselho, consoante se extrai do Acórdão nº 3302.001.491, a seguir colacionado: Fl. 181DF CARF MF 14 (...). COFINS NÃO CUMULATIVA. DIREITO DE CRÉDITO. INSUMO. CONCEITO. Os bens e serviços que geram direito a crédito da contribuição são aqueles conceituados como insumos, assim entendidos os que sejam diretamente utilizados ou consumidos na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda. Despesa de condomínio incorrida por indústria de beneficiamento de carnes não enquadra neste conceito. Nego, portanto, o direito creditório quanto a tal item. (assinado digitalmente) Liziane Angelotti Meira Redatora designada Fl. 182DF CARF MF
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Numero do processo: 19311.000019/2010-51
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Apr 05 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon May 14 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2009
AUTO DE INFRAÇÃO. FORMALIDADES LEGAIS. NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
Auto de Infração lavrado de acordo com os dispositivos legais e normativos que disciplinam o assunto, apresentando adequada motivação jurídica e fática, goza dos pressupostos de liquidez e certeza, podendo ser exigido nos termos da lei.
CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA.
Inexiste cerceamento de defesa quando os valores lançados são obtidos em documentos elaborados pela própria empresa, e os relatórios integrantes do Auto de Infração oferecem as condições necessárias para que o contribuinte conheça o procedimento fiscal e apresente a sua defesa contra o lançamento fiscal efetuado.
DENÚNCIA ESPONTÂNEA. NÃO CONFIGURAÇÃO
Não se cogita da aplicação do art. 138 do CTN quando não há pagamento.
MULTA DE OFÍCIO. NÃO CONFISCO. INCONSTITUCIONALIDADE. ILEGALIDADE
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF nº 2).
JUROS À TAXA SELIC
A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais (Súmula CARF nº 4).
GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO.
A isenção prevista no artigo 4º do Decreto-Lei nº 1.510, de 1976, por ter sido expressamente revogada pelo artigo 58 da Lei nº 7.713, de 1988, não se aplica a fato gerador (alienação) ocorrido a partir de 1º de janeiro de 1989 (vigência da Lei nº 7.713, de 1988), pois inexiste direito adquirido a regime jurídico.
INTIMAÇÃO NO ENDEREÇO DO ADVOGADO.
O domicílio tributário do sujeito passivo é o endereço postal, fornecido pelo contribuinte à Secretaria da Receita Federal do Brasil para fins cadastrais, ou o eletrônico por ele autorizado. Inexiste previsão legal para encaminhamento das intimações ao endereço dos procuradores.
Numero da decisão: 2202-004.351
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares. No mérito, pelo voto de qualidade, dar provimento parcial ao recurso para reduzir o crédito tributário nos termos do voto da Relatora. Vencidos os Conselheiros Martin da Silva Gesto, Junia Roberta Gouveia Sampaio e Dílson Jatahy Fonseca Neto, que deram provimento integral ao recurso.
(assinado digitalmente)
Waltir de Carvalho - Presidente.
(assinado digitalmente)
Rosy Adriane da Silva Dias - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Waltir de Carvalho, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Paulo Sergio Miranda Gabriel Filho, Rosy Adriane da Silva Dias e Martin da Silva Gesto.
Nome do relator: ROSY ADRIANE DA SILVA DIAS
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FORMALIDADES LEGAIS. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. Auto de Infração lavrado de acordo com os dispositivos legais e normativos que disciplinam o assunto, apresentando adequada motivação jurídica e fática, goza dos pressupostos de liquidez e certeza, podendo ser exigido nos termos da lei. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. Inexiste cerceamento de defesa quando os valores lançados são obtidos em documentos elaborados pela própria empresa, e os relatórios integrantes do Auto de Infração oferecem as condições necessárias para que o contribuinte conheça o procedimento fiscal e apresente a sua defesa contra o lançamento fiscal efetuado. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. NÃO CONFIGURAÇÃO Não se cogita da aplicação do art. 138 do CTN quando não há pagamento. MULTA DE OFÍCIO. NÃO CONFISCO. INCONSTITUCIONALIDADE. ILEGALIDADE O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF nº 2). JUROS À TAXA SELIC A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais (Súmula CARF nº 4). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 31 1. 00 00 19 /2 01 0- 51 Fl. 1271DF CARF MF 2 GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO. A isenção prevista no artigo 4º do DecretoLei nº 1.510, de 1976, por ter sido expressamente revogada pelo artigo 58 da Lei nº 7.713, de 1988, não se aplica a fato gerador (alienação) ocorrido a partir de 1º de janeiro de 1989 (vigência da Lei nº 7.713, de 1988), pois inexiste direito adquirido a regime jurídico. INTIMAÇÃO NO ENDEREÇO DO ADVOGADO. 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Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Waltir de Carvalho, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Paulo Sergio Miranda Gabriel Filho, Rosy Adriane da Silva Dias e Martin da Silva Gesto. Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra o acórdão nº 0264.314, proferido pela 9a Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Belo Horizonte (DRJ/BHE), que julgou procedente o lançamento, mantendo a cobrança do crédito tributário. Fl. 1272DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.272 3 Foi lançado o Imposto sobre a Renda de Pessoa Física, decorrente de omissão de ganhos de capital na alienação de bens e direitos, relativo ao ano calendário 2008, no montante de R$ 5.590.559,02 (cinco milhões, quinhentos e noventa mil, quinhentos e cinquenta e nove reais e dois centavos), incluídos multa de ofício e juros de mora. Pela clareza, reproduzo o relatório do acórdão recorrido, na parte relativa ao procedimento fiscal: Do Procedimento Fiscal De acordo com o TVF a ação fiscal teve origem depois de analisada a Declaração de Ajuste Anual do exercício 2009, na qual a contribuinte informou ter recebido no anocalendário 2008 como rendimentos isentos e não tributáveis a importância de R$22.336.290,71. Procedeuse então à intimação da contribuinte em 28/10/2009, por meio do Termo de Início do Procedimento Fiscal, fls. 442 e 443, para apresentar diversos documentos relacionados aos rendimentos declarados. Em 16/11/2009 o fiscalizado protocolou na DRF/Jundiaí o documento de fl. 445 a 459 no qual esclarece que os rendimentos declarados como isentos na DAA/2009 são originários da venda de participações societárias nas sociedades Comercial Guilherme Mamprim Ltda (posteriormente denominada Comercial Frango Assado), Centro de Serviços Frango Assado Norte Ltda, Centro de Serviços Frango Assado Suleste Ltda, Centro de Serviços Frango Assado Sudoeste Ltda e Carvalho Pinto Automotivos e Conveniências Ltda. Para fins de melhor entendimento as referidas empresas serão aqui tratadas respectivamente como: "COMERCIAL", "FRANGO ASSADO NORTE", "FRANGO ASSADO SUDOESTE", "FRANGO ASSADO SULESTE" e "CARVALHO PINTO". Na resposta discorreu sobre o histórico da participação na COMERCIAL e sua cisão parcial, com reversão de parte do capital social para criação da Frango Assado Empreendimentos e Participações S/A (FASPAR), do ingresso nas outras quatro sociedades e da alienação das participações nas empresas. Juntou contratos, alterações contratuais e asseverou que o ganho de capital obtido na alienação está protegido pelo manto da isenção prevista no artigo 4o, alínea "d" do DecretoLei 1510/76 e nem mesmo com a revogação do dispositivo pela Lei 7.713/88 ele teria perdido o direito alegado. No item 3.2 e subitens do TVF a autoridade lançadora tece considerações acerca da inexistência de direito adquirido e conclui que o ganho de capital auferido corresponde a rendimento que deveria ter sido oferecido à tributação. Informa a fiscalização que buscou identificar qual parcela e quantidade do montante total de cotas possuía a contribuinte no momento da alienação e que havia cumprido a condição do Fl. 1273DF CARF MF 4 artigo 4o, alínea d, do DecretoLei 1.510/76, durante sua vigência. Esta apuração consta da Tabela 1 Evolução do Capital Social da COMERCIAL, fl. 977. Da análise dos dados examinados conclui que a grande maioria do capital social da COMERCIAL é composta por quotas que não compunham o patrimônio da fiscalizada na vigência do citado dispositivo legal, uma vez que foram subscritas e integralizadas posteriormente à revogação daquele normativo. As sociedades FRANGO ASSADO NORTE, FRANGO ASSADO SULESTE e FRANGO ASSADO SUDOESTE foram constituídas em 09/10/1998, com capital vertido da COMERCIAL (conforme 32a alteração contratual da COMERCIAL, de 09/10/1998, e contratos sociais de constituição das pessoas jurídicas). A CARVALHO PINTO foi constituída em 01/02/1999, conforme contrato social de constituição da pessoa jurídica. Os sócios fundadores da pessoa jurídica são Gabriel Álfio Tomaselli, CPF 365.992.55868, e Márcia Galucci Tomaselli, CPF 258.301.718 26, e seu capital social, de RS 12.000,00, foi integralizado em moeda corrente por tais sócios. Apenas em 29/11/2005 a empresa foi adquirida pela FASPAR. A autoridade lançadora refutou a tese apresentada, segundo a qual, apesar de constituídas após a revogação do DecretoLei 1.510/76, as participações nas empresas mencionadas anteriormente também estariam abrangidas pela isenção daquele dispositivo legal, uma vez que a FASPAR originouse de cisão parcial da COMERCIAL e que as outras sociedades empresárias possuíam como sócio principal a FASPAR, tendo sido mantida a mesma proporção de participação de cada sócio. A não aceitação desse argumento reside no fato de que no universo de cotas da COMERCIAL, somente pequena parcela enquadravase no dispositivo citado, pois de acordo com a Tabela 1, as cotas cindidas para a formação do capital social da FASPAR não gozavam da isenção. Ressalta a autoridade fiscal que do total de cotas alienadas, 15.770.000, apenas 436 cumpriam o prazo de cinco anos descrito no citado DecretoLei. Ainda que o contribuinte possuísse as ações por mais de 5 (cinco) anos no inicio da vigência da Lei 7.713, de 1988, se ele não alienou a participação societária até esse momento, não ocorreu o fato gerador do IRPF. Conforme documentação apresentada pela fiscalizada verificou a autoridade autuante que a planilha de fl. 455 contém a correta apuração do ganho de capital obtido por ele na operação objeto do procedimento fiscal com base no Contrato de Compra e Venda de Quotas e outras Avenças, firmado em 23 de setembro de 2008 entre a contribuinte e os demais sócios, de um lado, e Yami Comércio de Alimentos Ltda, CNPJ 07.757.091/000153, de outro, onde constam os valores da operação, a corretagem paga pela intermediação do negócio e o montante recebido pelo fiscalizada, na proporção de sua participação societária. Fl. 1274DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.273 5 Sociedade Empresária Preço de Alienação (RS) Custo de Aquisição (RS) Comissão (RS) Ganho de Capital (RS) Comercial Frango Assado 17.417.500,00 1.913.748,00 297.869,00 15.205.883,00 Frango Assado Norte 1.491.250,00 20.870,00 26.234,00 1.444.146,00 Frango Assado Sudoeste 1.465.000,00 14.874,00 26.302,00 1.423.824,00 Frango Assado Suleste 856.250,00 20.248,00 11.892,00 824.110,00 Carvalho Pinto 1.082.500,00 1.500,00 18.828,00 1.062.172,00 Total 22.312.500,00 1.971.240,00 381.125,00 19.960.135,00 Cientificada da autuação, Ana Thomé Mamprin apresentou impugnação (fls. 989/1154), que foi julgada improcedente pela DRJ/BHE, cuja decisão teve a seguinte ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal Exercício: 2009 PRELIMINAR. NULIDADE. Uma vez que o auto de infração foi lavrado com estrita observância das normas reguladoras da atividade de lançamento, não há que se cogitar de nulidade. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. NECESSIDADE DE SER ACOMPANHADA DE PAGAMENTO DO TRIBUTO DEVIDO. O instituto da denúncia espontânea está previsto no artigo 138 do Código Tributário Nacional e exige que esta seja acompanhada, se for o caso, do pagamento devido e dos juros de mora. Na ausência do pagamento do tributo devido fica descaracterizada a denúncia espontânea. Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2009 OMISSÃO DE RENDIMENTOS. GANHO DE CAPITAL. PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. ALIENAÇÃO. ISENÇÃO. DIREITO ADQUIRIDO. A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, nos termos do art. 178 do Código Tributário Nacional, pode ser revogada ou modificada a qualquer tempo, sem que gere direito adquirido ao contribuinte. As vendas de ações efetuadas por pessoas físicas após 1º de janeiro de 1989 estão sujeitas ao imposto de renda sobre o lucro auferido, ainda que, na data da alienação, a participação societária já conte com mais de cinco anos no domínio do alienante. Inaplicável a isenção contida no artigo. 4o do Decreto lei nº 1.510, de 1976, por se encontrar revogada no momento da ocorrência do fato gerador. Fl. 1275DF CARF MF 6 MOMENTO DE OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. APLICAÇÃO DE LEI VIGENTE. O lançamento reportase à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e regese pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada. CUSTO DE AQUISIÇÃO. QUOTAS RECEBIDAS EM BONIFICAÇÃO. No caso de quotas distribuídas em decorrência de aumento de capital por incorporação de lucros apurados a partir do mês de janeiro de 1996, ou de reservas constituídas com esses lucros, o custo de aquisição será igual à parcela do lucro ou reserva capitalizado, que corresponder ao sócio. MULTA DE OFÍCIO. PREVISÃO LEGAL. REDUÇÃO IMPOSSIBILIDADE. Nos lançamentos de ofício, a aplicação da multa de 75% sobre o tributo não pago no vencimento ou pagamento a menor, foi estabelecida por lei, cuja validade não pode ser contestada na via administrativa. A redução da multa de ofício somente é concedida se cumpridos os requisitos previstos na legislação tributária. JUROS DE MORA. PREVISÃO LEGAL. Os juros de mora incidem sobre o imposto apurado no lançamento fiscal por expressa disposição legal. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEIS. A instância administrativa é incompetente para se manifestar sobre a constitucionalidade de leis. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Em 19/03/2015, foi emitida a Intimação SECAT 212/15LFAC (fls. 1178), a fim de dar ciência à contribuinte da decisão da DRJ/BHE. A data de recebimento da Intimação foi 30/03/2015 (fls. 1180). Em 10/04/2015, o espólio de Ana Thomé Mamprin apresentou Recurso Voluntário (fls.1179/1228), repisando os argumentos da impugnação apresentada por Ana Thomé Mamprin, que são por aquele resumidos nos seguintes trechos: 2.1. A nulidade "ab initio" do Auto de Infração, via acolhimento das seguintes preliminares arguidas: a) Cerceamento do direito de defesa em face da impossibilidade de compreensão e entendimento da metodologia e critérios técnicos utilizados na elaboração da Tabela 1 anexa ao Termo de Verificação Fiscal, intitulada "Evolução do Capital Social da Comercial Guilherme Mamprim Ltda", devendo o Auto de Infração ser cancelado em sua totalidade pela cominação de nulidade; b) Ilegitimidade da aplicação das multas moratórias e das multas punitivas, correspondentes à multa de ofício de 75% e aos juros de mora em percentual equivalente à taxa SELIC, Fl. 1276DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.274 7 mormente por estarem presentes os pressupostos necessários para acionamento do benefício fiscal emergente do instituto jurídico da denúncia espontânea, devendo o Auto de Infração ser cancelado ou refeito, para exclusão de tais valores do crédito tributário reclamado no referido Auto de Infração; c) Anulação integral do lançamento fiscal em caso de reconhecimento do "direito adquirido" ao não pagamento do IRPF, restando (i) afastada qualquer possibilidade de nulidade parcial do lançamento; e (íi) prejudicada qualquer análise do questionamento relativo à forma de apuração dos valores lançados. 2.2. Caso não seja esse o entendimento dos E. Julgadores, o que nos afigura improvável "vénia máxima rogata", quanto ao mérito, via acolhimento das razões de reforma articuladas, requer seja decretada a nulidade ou a extinção do Auto de Infração ora inquinado, com o conseqüente cancelamento do débito fiscal reclamado. 2.3. Com base no instituto jurídico da preclusão, requer seja reconhecida a perda do direito da Fazenda Nacional em realizar qualquer exame ou questionamento quanto (i) à eventual existência de novas subscrições ou aquisições ocorridas a partir de 25/09/1996 e suas respectivas bonificações, tratandose de período não considerado no Auto de Infração ora inquinado;(ii) à qualquer outro ato, evento ou operação ocorrido a partir de 25/09/1996, que implique na eventual descaracterização dos requisitos exigidos para enquadramento na condição insculpida no art. 4o, alínea "d", do DecretoLei nº 1.510/76, ensejando a perda do benefício fiscal previsto naquele diploma legal. Em relação ao mérito, em apertada síntese, os argumentos do recorrente foram desenvolvidos nos seguintes tópicos: · Do direito adquirido à isenção (ou não pagamento) do imposto de renda sobre o ganho de capital auferido na alienação das "participações societárias" · Da aplicação do disposto no art. 178 do CTN, visto tratarse "in casu" de isenção onerosa. concedida por prazo certo e em função de determinadas condições · Das bonificações e filhotes adquiridas a custo zero. e que se referem às aquisições e subscrições originariamente havidas em agosto de 1983 · Da preclusão quanto ao direito da fazenda nacional examinar e/ou questionar as aquisições e respectivas bonificações ocorridas a partir de 25/09/1996 · Dos aumentos de capital e das aquisições e subscrições e respectivas bonificações ocorridas a partir de 25/09/1996 Fl. 1277DF CARF MF 8 · Das mutações ocorridas no quinhão societário do contribuinte no período de 08/08/1983 a 25/09/1996 · Das bonificações adquiridas a custo zero e que são decorrentes das mesmas aquisições e subscrições ordinariamente havidas em agosto de 1983. Dos pedidos O recorrente requer reforma da decisão recorrida; nulidade do auto de infração e cancelamento do débito fiscal; caso prevaleça o lançamento, que seja refeito o cálculo para incluir o valor de R$ 2.128.926,12, corrigido e atualizado até 09/2008, no custo de aquisição das quotas alienadas; intimação no endereço do advogado; consideração dos argumentos da impugnação. É o relatório. Voto Conselheira Rosy Adriane da Silva Dias Relatora O Recurso Voluntário é tempestivo, e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Preliminares. Nulidade. Inocorrência Cerceamento do direito de defesa. Preterição do direito de defesa Aduz o recorrente que a decisão da DRJ/BHE concordou que a Tabela 01 “Evolução do Capital Social da Comercial Guilherme Mamprim Ltda.” foi elaborada de forma equivocada. Diz que nem o julgador conseguiu entender e explicar a metodologia e os critérios técnicos utilizados pelo Auditor Fiscal na elaboração da Planilha, e mesmo assim faz ilações para disfarçar sua incompreensão, ignorando que essa confusa e inexplicável tabela impossibilitou seu direito de defesa e contraditório. Acrescenta que ficou sem saber como o autuante chegou à conclusão de que apenas 436 quotas estavam enquadradas nas regras de isenção, e que o valor do capital inicial considerado em um período não coincide com o valor do capital social final do período anterior, mesmo após a conversão da moeda, havendo dificuldade em reconstituir os quantitativos de quotas, inclusive para apurar a ocorrência de novas subscrições ou aquisições. Assevera que o Auditor Fiscal utilizou critério subjetivo inservível como elemento de prova. Infirma que se uma quota cumpriu os requisitos de isenção, por lógica todas cumpriram. Aduz que aparentemente o autuante dividiu quantitativos de quotas por índices de conversão da moeda vigente no país, o que é inadmissível, e que não sabe porque ele utilizou como fator de redução o índice de 2,75, para chegar às 436 quotas, que nada mais é que um fator de conversão da moeda, decorrente dos diversos planos econômicos. Faz algumas indagações: Fl. 1278DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.275 9 Porque adotou como ponto de partida o capital social vigente em 01/10/1993, e não o capital social existente em 1983, quando originariamente as quotas foram havidas pelo Contribuinte? Porque não aplicou este fator sobre o capital social de CR$ 300.000.000,00, existente em 1983? Ou então, porque não retroagiu à data de aquisição ou subscrição das quotas para fins de demonstrar fundamentadamente a evolução do capital social e as mutações patrimoniais ocorridas nas quotas detidas pelo Contribuinte? Qual o embasamento técnicojurídico e legal para se aplicar índices de conversão da moeda sobre quantidades de quotas? Como pôde afirmar, com tão mínima e ilegítima fundamentação, que as restantes 3.839.564 quotas (considerando o montante de 3.840.000 quotas existente em 25/09/1996) não estariam legalmente referenciadas às quotas havidas originariamente pelo Contribuinte em agosto de 1983? Afirma que a quantidade de quotas foi obtida, pelo Auditor Fiscal, por simples cálculo matemático, e que a tentativa para apurar o enquadramento das quotas na condição prevista no art. 4º, alínea “b”, do Decretolei nº 1.510/76 deveria levar em conta a data em que as quotas foram originariamente adquiridas ou subscritas (08/08/1983), para verificar a sua permanência no patrimônio do contribuinte pelo período condicional de 5 (cinco) anos. Ressalta que o desconhecimento do contribuinte sobre a razão de as únicas quotas por ele subscritas ou adquiridas de 08/1983 a 09/2008 não estarem enquadradas na condição de isenção do imposto de renda, pela forma de elaboração da tabela, prejudicou seu exercício ao contraditório e ampla defesa, sendo nulo Auto de Infração por ter sido lavrado sem clareza a matéria fática que o ensejou. Nesse sentido cita jurisprudência do Conselho de Contribuintes. Sem razão o recorrente. Percebese que o cerceamento de defesa alegado por ele, está baseado na tabela 1 (fls. 977), ao afirmar que esta é incompreensível, não demonstrando de onde o Auditor Fiscal tirou os valores, para fins de lançamento fiscal. Pois bem, então vamos à análise da tabela, motivo de insatisfação do recorrente. Analisando os documentos apresentados por Ana Thomé Mamprin durante a fiscalização, às fls. 461/958, percebese que a tabela a que o recorrente se refere apenas resume as alterações contratuais desses documentos, com os exatos números e valores das quotas pertencentes aos sócios da empresa, de acordo com cada mutação contratual, pois a primeira parte da tabela repete os valores constantes às fls. 461/465: SITUAÇÃO EM 08/08/1983 COMERCIAL GUILHERME MAMPRIM LTDA. COTAS VALOR (CR$) PARTICIPAÇÃO CAPITAL TOTAL 30.000.000 300.000.000,00 ANA THOMÉ MAMPRIM 3.750.000 37.500.000,00 12,50% ARNALDO MAMPRIM 7.500.000 75.000.000,00 25,00% JOSE CESAR TRIVELATO 5.000.000 50.000.000,00 16,67% SIMONE ROSA TRIVELATO 2.500.000 25.000.000,00 8,33% ANTONIO ROMILDO ROVERE 1.500.000 15.000.000,00 5,00% Fl. 1279DF CARF MF 10 IVONE ROVERE 1.500.000 15.000.000,00 5,00% IVETE ROVERE CHIQUETTO 1.500.000 15.000.000,00 5,00% IZILDINHA ROVERE CHIQUETTO 1.500.000 15.000.000,00 5,00% IVANA ROSA ROVERE ZILLETI 1.500.000 15.000.000,00 5,00% EDNA MARIA MAMPRIM BRUNELLO 937.500 9.375.000,00 3,13% ELINOR CELIA MAMPRIM MARINI 937.500 9.375.000,00 3,13% MARLENE MAMPRIM FORATO 937.500 9.375.000,00 3,13% VALMIK ANTONIO MAMPRIM 937.500 9.375.000,00 EUNICE ROSA MAMPRIM MIRIAM THIVELATO VALOR UNITÁRIO DA COTA CR$ 10,00 A tabela discrimina por sócio, a quantidade de quotas, o valor delas e o percentual de cada sócio no patrimônio da sociedade. Além disso, o Auditor Fiscal esclarece na própria tabela que essa era a situação em 08/08/1983. Assim, para a determinação do custo de aquisição o autuante considerou as quotas desde a aquisição (08/08/1983), ao contrário do que afirma o recorrente. A tabela é bem didática, pois separa as quotas que Ana Thomé Mamprin tinha antes da revogação do Decretolei, e na sequência as compara de acordo com os aumentos de capital ocorridos em 01/10/1993 e 25/09/1996. Pela tabela vêse que o capital social da empresa Comercial Guilherme Mamprim Ltda, em 08/08/1983 era constituído por 30 (trinta) milhões de quotas, no valor de 10,00 cada uma. Continuemos a análise pela segunda parte da tabela: AUMENTO DE CAPITAL OCORRIDO EM 01/10/1993 AUMENTO DO CAPITAL CAPITAL APOS AUMENTO VALOR ORIGINAL EM CRUZEIROS VL. CONVERTIDO P/ CRUZEIRO REAL COTAS ORIGINAIS ISENTAS VALOR COTAS VALOR COTAS PART. 1.200.000.000,00 1.200.000,00 120.000 46.800.000,00 4.680.000 48.000.000,00 4.800.000 150.000.000,00 150.000,00 15.000 5.850.000,00 585.000 6.000.000,00 600.000 12,50% 300.000.000,00 300.000,00 30.000 5.700.000,00 570.000 6.000.000,00 600.000 12,50% 200.000.000,00 200.000,00 20.000 3.800.000,00 380.000 4.000.000,00 400.000 8,33% 100.000.000,00 100.000,00 10.000 3.900.000,00 390.000 4.000.000,00 400.000 8,33% 60.000.000,00 60.000,00 6.000 2.340.000,00 234.000 2.400.000,00 240.000 5,00% 60.000.000,00 60.000,00 6.000 2.340.000,00 234.000 2.400.000,00 240.000 5,00% 60.000.000,00 60.000,00 6.000 2.340.000,00 234.000 2.400.000,00 240.000 5,00% 60.000.000,00 60.000,00 6.000 2.340.000,00 234.000 2.400.000,00 240.000 5,00% 60.000.000,00 60.000,00 6.000 2.340.000,00 234.000 2.400.000,00 240.000 5,00% 37.500.000,00 37.500,00 3.750 1.462.500,00 146.250 1.500.000,00 150.000 3,13% 37.500.000,00 37.500,00 3.750 1.462.500,00 146.250 1.500.000,00 150.000 3,13% 37.500.000,00 37.500,00 3.750 1.462.500,00 146.250 1.500.000,00 150.000 3,13% 37.500.000,00 37.500,00 3.750 1.462.500,00 146.250 1.500.000,00 150.000 3,13% 6.000.000,00 600.000 6.000.000,00 600.000 12,50% 4.000.000,00 400.000 4.000.000,00 400.000 8,33% CR$ 10,00 Neste ponto, cabe abrir um parêntese para observar que na primeira parte da tabela o capital social era de Cr$ 300.000.000,00, e na segunda parte da tabela, aparece no valor de Cr$ 1.200.000.000,00. Isso ocorreu em função da alteração contratual de 06/10/1992 (fls. 370), na qual o capital social foi elevado a esse patamar. Fl. 1280DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.276 11 Aliás, às fls. 438/441, é possível ver os aumentos de capital social, desde 08/06/1970, partindo de NCr$ 280.000,00, em sequência 5.600.000,00 (18/03/1976), 14.000.000 (13/04/78), 41.400.000,00 (28/09/79), 60.000.000,00 (23/10/80), 76.000.000,00 (02/10/81), 150.000.000,00 (01/09/1982), 300.000.000,00 (06/06/1983), 600.000.000,00 (30/07/1984), 1.200.000.000 (20/06/1985), NCZ$ 480.000,00 (15/08/1989), CR$ 120.000.000,00 (24/09/91). Essa informação é importante porque o recorrente alega que o Auditor Fiscal deveria levar em conta a data em que as quotas foram originariamente adquiridas ou subscritas (08/08/1983). E o pequeno histórico demonstra que isso foi considerado pela fiscalização. A segunda parte da tabela resume o aumento do capital social (fls. 473) de Cr$ 1.200.000.000,00 (um bilhão e duzentos milhões de cruzeiros) para CR$ 48.000.000 (quarenta e oito milhões de cruzeiros reais), decorrente do aproveitamento das cotas de lucros acumulados representadas por 4.800.000 cotas ao valor de 10,00, conforme trecho abaixo, fls. 473/483: 1) O capital social inteiramente realizado fica aumentado de Cr$ 1.200.000,000,00 (hum bilhão e duzentos milhões de cruzeiros) para CR$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de cruzeiros reais) com aproveitamento das cotas de lucros acumulados representadas por 4.800.000 de cotas no valor de CR$ 10,00 cada uma, distribuídas na proporção de suas cotas a saber: Como se vê, o Auditor Fiscal converteu as quotas antigas que valiam Cr$ 1.200.000,000,00 (um bilhão e duzentos milhões de cruzeiros) para cruzeiros reais (CR$) que resultou no valor de CR$ 1.200.000,00 (um milhão de duzentos cruzeiros reais), conforme consta na tabela. Veja que o Auditor é didático ao apresentar que 1.200.000.000,00 cruzeiros era o valor original, e na coluna ao lado ele coloca esse mesmo valor só que convertido para 1.200.000,00 cruzeiros reais, ou seja, para que não reste dúvidas: Cr$ 1.200.000.000,00 = CR$ 1.200.000,00. Na coluna seguinte ele conclui que o número de quotas isentas era 120.000, POR QUE? Porque a empresa estipulou, conforme trecho acima transcrito, que o valor de cada quota era CR$ 10,00, e para que não reste dúvidas 1.200.000,00/10,00 = 120.000. Assim, se CR$ 1.200.000,00 era o valor das quotas antigas, então 120.000 era o número de quotas antigas, existentes ANTES do aumento de capital social para CR$ 48.000.000,00, proveniente dos lucros acumulados. Fl. 1281DF CARF MF 12 Veja que se a empresa tem CR$ 1.200.000,00 de capital social e o aumenta para CR$ 48.000.000,00, o valor acrescido ao capital existente é CR$ 48.000.000,00 1.200.000,00 = 46.800.000,00, conforme demonstrado na tabela. Aliás o Auditor Fiscal separa muito bem esses valores, ao apresentar na tabela o VALOR DO AUMENTO DO CAPITAL e o VALOR DO CAPITAL APÓS O AUMENTO: E dessa forma ele discrimina as QUOTAS ISENTAS, que correspondiam aos CR$ 1.200.000,00 existentes antes da capitalização, e QUOTAS NÃO ISENTAS, decorrentes da capitalização de 46.800.000,00, que somadas dá o valor do capital social da empresa em 01/10/1993: 48.000.000,00. E, por que o Auditor Fiscal chamou de isentas as 120.000 quotas? Porque elas representavam os Cr$ 1.200.000.000,00 (um bilhão e duzentos milhões de reais) existentes antes de 01/10/1993. Veja que o DecretoLei nº 1.510/76 foi revogado em 22/12/1988, então se a empresa tinha as quotas desde 08/08/1983 ela permaneceu com elas por mais de 5 anos que era a condição para a isenção. Como o aumento decorreu de lucros acumulados é certo que houve aumento do valor de quotas. Se antes existiam 120.000 quotas, depois da distribuição de lucros acumulados passou a existir 4.800.000, dentro das quais 4.680.000 foram consideradas pela fiscalização como quotas não isentas, porque emitidas após a revogação do DecretoLei de isenção. Agora vamos para a terceira parte da Tabela: AUMENTO DO CAPITAL OCORRIDO EM 25/09/1996 COMERCIAL GUILHERME MAMPRIM LTDA. VALOR CONVER TIDO PARA REAL AUMENTO DE CAPITAL CAPITAL TOTAL VALOR COTAS ISENTA S VALOR DEMAIS COTAS COTAS ISENT AS DEMAIS COTAS CAPITAL TOTAL 17.454,55 3.822.545,45 3.840.000,00 436,36 3.839.563,63 436 3.839.564 ANA THOMÉ MAMPRIM 2.181,82 477.818,18 480.000,00 54,55 479.945,45 55 479.945 ARNALDO MAMPRIM 2.181,82 477.818,18 480.000,00 109,09 479.890,91 109 479.891 JOSE CESAR TRIVELATO 1.454,55 318.545,45 320.000,00 72,73 319.927,27 73 319.927 SIMONE ROSA TRIVELATO 1.454,55 318.545,45 320.000,00 36,36 319.963,64 36 319.964 ANTONIO ROMILDO ROVERE 872,73 191.127,27 192.000,00 21,82 191.978,18 22 191.978 IVONE ROVERE 872,73 191.127,27 192.000,00 21,82 191.978,18 22 191.978 IVETE ROVERE CHIQUETTO 872,73 191.127,27 192.000,00 21,82 191.978,18 22 191.978 ZILDINHA ROVERE CHIQUETTO 872,73 191.127,27 192.000,00 21,82 191.978,18 22 191.978 IVANA ROSA ROVERE ZILLETI 872,73 191.127,27 192.000,00 21,82 191.978,18 22 191.978 EDNA MARIA MAMPRIM BRUNELLO 545,45 119.454,55 120.000,00 13,64 119.986,36 14 119.986 ELINOR CELIA MAMPRIM MARINI 545,45 119.454,55 120.000,00 13,64 119.986,36 14 119.986 MARLENE MAMPRIM FORATO 545,45 119.454,55 120.000,00 13,64 119.986,36 14 119.986 VALMIK ANTONIO MAMPRIM 545,45 119.454,55 120.000,00 13,64 119.986,36 14 119.986 EUNICE ROSA MAMPRIM 2.181,82 477.818,18 480.000,00 0,00 480.000,00 0 480.000 MIRIAM THIVELATO 1.454,55 318.545,45 320.000,00 0,00 320.000,00 0 320.000 VALOR UNITÁRIO DA COTA 1,00 Fl. 1282DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.277 13 Veja que ela apresenta o aumento de capital ocorrido em 25/09/1996. Lembro que a unidade monetária dessa época era o Real. Por consequência, os CR$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de cruzeiros reais) quando convertidos para reais, resultaram em R$ 17.454,55 (dezessete mil, quatrocentos e cinquenta e quatro reais e cinquenta e cinco centavos), que é o mesmo valor que aparece na tabela, e consta na 26ª alteração contratual (fls. 489): "CLÁUSULA PRIMEIRA" DO AUMENTO DO CAPITAL SOCIAL (I) Resolvem os atuais sóciosquotistas, por unanimidade, aumentar o Capital Social da Sociedade, que é atualmente de R$ 17.454,55 (dezessete mil, quatrocentos e cinquenta e quatro reais e cinquenta e cinco centavos) para R$ 3.840.000,00 (três milhões, oitocentos e quarenta mil reais), ou seja, um aumento de R$3.822.545,45 (três milhões, oitocentos e vinte e dois mil, quinhentos e quarenta e cinco reais e quarenta e cinco centavos) totalmente integralizado neste ato mediante o aproveitamento e capitalização dos recursos e reservas abaixo identificados, apurados de conformidade com o Balanço Patrimonial e demais Demonstrações Financeiras encerrado em 31/08/96, a saber: (a) R$ 1.693.619,33 (um milhão, seiscentos e noventa e três mil, seiscentos e dezenove reais e trinta e três centavos) do saldo existente na conta de "Reservas de Capital C. Monetária do Capital Social". (b) R$ 352,10 (trezentos e cinquenta e dois reais e dez centavos) do saldo existente na conta de "Lucros Acumulados" de exercícios anteriores a 1989; e (c) R$ 2.128.574,02 (dois milhões, cento e vinte e oito mil, quinhentos e setenta e quatro reais e dois centavos) de parte do saldo existente na conta de "Lucros Acumulados" de exercícios posteriores a 1.989. (grifei) Pelo trecho acima transcrito, a própria empresa converteu o valor de CR$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de cruzeiros reais) para R$ 17.454,55 (dezessete mil, quatrocentos e cinquenta e quatro reais e cinquenta e cinco centavos). Portanto, O Auditor Fiscal procedeu da mesma forma que a empresa, converteu os valores de cruzeiros reais para reais, mantendo o custo originário, tanto é que o valor das quotas isentas que era de CR$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil cruzeiros de reais) virou R$ 436,36 (quatrocentos e trinta e seis reais, e trinta e seis centavos), que é o valor que o recorrente diz não saber de onde veio. Veja ainda que, o aumento de capital ocorrido em 25/09/1996, no valor de R$ 3.822.545,45 (três milhões, oitocentos e vinte e dois mil, quinhentos e quarenta e cinco reais e quarenta e cinco centavos) foi posterior à revogação do Decretolei de isenção, por isso, o Auditor Fiscal não considerou que as quotas emitidas em decorrência desse aumento estavam amparadas pela isenção, razão pela qual as QUOTAS ISENTAS aparecem separadas das DEMAIS QUOTAS (quotas não isentas), cujo somatório resulta no valor do capital total da empresa. Fl. 1283DF CARF MF 14 Portanto, como se vê a tabela que o recorrente diz ser incompreensível, só contém valores constantes, nos próprios arquivos societários da empresa Comercial Guilherme Mamprim Ltda. Reproduzindo os exatos termos do Contrato e Alterações Contratuais. Além disso, a metodologia utilizada pela fiscalização para determinação do custo de aquisição das quotas, foi o mesmo utilizado pela empresa, qual seja, converteu o valor do capital social à unidade monetária vigente à época dos aumentos de capital. E mais, o recorrente diz não saber de onde o autuante tirou o índice de 2,75, para chegar às 436 quotas. Ora, a resposta está contida na própria 26ª Alteração do Contrato Social da Comercial Guilherme Mamprim Ltda, fls. 490: (II) Em face do aumento do Capital Social efetivado na forma do TÍTULO (I) desta "CLÁUSULA PRIMEIRA", e, considerandose ainda as alterações havidas na política econômicamonetária do país, a qual Implementou o "Programa de Estabilização Econômica" alterandose a Unidade do Sistema Monetário Nacional, a qual passou a denominarse o "REAL R$" a partir de 1º de Julho de 1.994, observada a paridade de CR$ 2.750,00 (dois mil, setecentos e cinquenta cruzeiros reais) para cada "UM REAL" (ou) para cada uma URV), o Capital Social de RS 3.840.000,00 (três milhões, oitocentos e quarenta mil reais), totalmente integralizado, representado por 3.840.000 (três milhões, oitocentas e quarenta mil) quotas, no valor nominal de R$ 1,00 (um real) cada uma, fica distribuído e detido pela própria Sociedade (quotas mantidas em tesouraria) e pelos atuais SÓCIOSOUOTISTAS componentes de cada "GRUPO FAMILIAR", da seguinte forma: (Grifei). Aqui, retomando os questionamentos do recorrente no início deste tópico, entendo que a fiscalização adotou como ponto de partida o capital vigente em 1983. Verificase do histórico de aumentos de capital que a própria empresa já aplicava o fator de conversão das moedas a cada alteração contratual, até chegar ao valor de Cr$ 1.200.000.000,00 (06/10/1992) apresentado na tabela, e utilizado pelo Auditor Fiscal para demonstração das parcelas que estavam inclusas na isenção. Não foi utilizado o índice de conversão sobre o número de quotas, mas sobre o valor das quotas, e a partir dele, encontrado o número de quotas pela divisão do valor total delas, pelo valor unitário atribuído pela própria empresa. Por fim, a demonstração de que as 3.839.564 quotas, que o Auditor Fiscal entendeu não estarem abrangidas pela isenção, está apresentada na tabela, conforme exposto ao longo deste tópico. Ademais, o direito constitucional à ampla defesa e ao contraditório, disposto no inciso LV do art. 5º, da Constituição Federal de 1988, tem por finalidade possibilitar aos litigantes, seja em processo judicial ou administrativo, o direito à reação contra atos desfavoráveis, momento esse em que a parte interessada exerce o direito à ampla defesa e ao contraditório. Dessa forma, quando a Administração, antes de decidir o mérito de uma questão administrativa, dá à parte contrária oportunidade de impugnar da forma mais ampla que entender, em hipótese alguma, pode ser acusada de negar ao contribuinte o exercício do direito à ampla defesa e ao contraditório. Fl. 1284DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.278 15 Logo, concluise que não houve qualquer tipo de cerceamento do direito de defesa, pois os Autos de Infração foram lavrados em obediência ao princípio da estrita legalidade, expondo com objetividade e clareza a origem do lançamento de crédito, sua composição, bem como os dispositivos legais e os documentos que o fundamentaram, atendendo a todos os dispositivos normativos sobre a matéria, permitindo assim, o exercício do direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa do contribuinte. Anulação integral do lançamento fiscal em face do reconhecimento do "direito adquirido" ao não pagamento do IRPF. O recorrente pugna pela nulidade total do lançamento, e diz que o Auditor Fiscal se limitou a: [...] analisar a evolução do capital social da Comercial Guilherme Mamprim Ltda, apenas no período de 08/08/1983 a 25/09/1996, deixando de examinar e/ou de questionar as alterações contratuais e/ou as mutações patrimoniais ocorridas nas participações societárias do Contribuinte posteriormente à 25/09/1996, ou seja, desde 25/09/1996 até setembro de 2008 (data de alienação das quotas). Portanto, está precluso o direito da Fazenda Nacional questionar eventual descumprimento da condição prevista no art. 4º. alínea "d", do DecretoLei 1.510/76, em relação às mutações patrimoniais ocorridas nas participações societárias a partir de 25/09/1996, isto é, a partir do quantitativo equivalente a 3.840.000 quotas. Acrescenta que se reconhecido o direito adquirido ao não pagamento de IRPF, fica prejudicado o questionamento sobre existência de novas subscrições, aquisições ou eventos ocorridos a partir de 25/09/1996, que levem à perda do benefício fiscal da isenção. Cita jurisprudência do STJ sobre a impossibilidade de nulidade parcial quando o vício compromete todo o lançamento, e diz que se reconhecido direito adquirido nulo estará todo o lançamento. Requer sejam considerados os argumento constantes no item 3.1, subitem 3.1.1 da impugnação (3.1.1. DA CONFUSA E FANTASIOSA TABELA 1 ANEXA AO TERMO DE VERIFICAÇÃO FISCAL:), fls. 1018/1020. Ora, a alegação do recorrente não tem qualquer fundamento, dado que o Auditor Fiscal apresentou a evolução do capital da Comercial Guilherme Mamprim Ltda, para demonstrar quais quotas entendia estarem albergadas pela isenção e quais as que não estavam. E, a partir dela efetuou o lançamento de acordo com o custo de aquisição declarado por Ana Thomé Mamprin. Ademais, qualquer análise posterior para verificação da isenção arguida pelo recorrente, não pode deixar de considerar o histórico de evolução das quotas da empresa, a fim de apurar o custo de aquisição das cotas e do respectivo ganho de capital na alienação delas. Ressalto que, o processo administrativofiscal de exigência de crédito tributário referente às contribuições previdenciárias é regido pelo Decreto nº 70.235/72, que dispõe sobre a nulidade dos atos nos seguintes termos: Art. 59. São nulos: I – os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; Fl. 1285DF CARF MF 16 II – os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. Nesse aspecto, o Auto de Infração contém todos os elementos e requisitos necessários de formação válida, tendo sido lavrado de acordo com os dispositivos legais e normativos que disciplinam o assunto, observado o art. 142 e seu parágrafo único, da Lei nº 5.172/66, não havendo, portanto, que se falar de nulidade do lançamento. A questão do direito adquirido, por se referir ao próprio mérito, será analisada, em momento oportuno. Denúncia espontânea. Multa de ofício. Juros à taxa Selic O recorrente arrazoa que, antes do início do procedimento fiscal, Ana Thomé Mamprin declarou expressamente a alienação da totalidade das quotas e participações societárias que detinha nas sociedades do Grupo “Frango Assado”, e a comissão paga à “IGC Partners”, tendo apurado e informado corretamente o ganho de capital decorrente da operação, que foi lançado como rendimentos isentos e não tributáveis, conforme Declaração de Ajuste Anual do AnoCalendário de 2008, e não agiu com máfé, por entender que tinha direito adquirido à isenção do imposto de renda, nos termos do art. 4º, alínea “d”, do Decretolei nº 1.510, de 27/12/1976, e ainda com a existência de decisões administrativas e judiciais reconhecendo seu direito adquirido ao benefício fiscal decorrente desse dispositivo legal, não podendo ser penalizada com aplicação de multas confiscatórias e juros de mora. Cita o art. 138 do CTN, e interpreta que não há obrigatoriedade de pagar o tributo declarado para que reste caracterizada a denúncia espontânea, e a expressão "se for o caso", não tem o significado dado pelo julgador a quo, nem concorda com a afirmação deste de que teria efetuado a classificação indevida de rendimentos, e diz não se aplicar ao caso a norma do art. 841 do RIR, porque não fez declaração inexata, nem omitiu qualquer elemento sobre a alienação de quotas e participações societárias, e deixou de efetuar o recolhimento porque baseado em dispositivo legal, doutrina e jurisprudência. Cita jurisprudência e doutrina sobre denúncia espontânea e inexigibilidade de multa punitiva, e sobre o entendimento de que a multa moratória tem natureza punitiva. Arrazoa ser ilegítima a aplicação da multa de ofício de 75% e aos juros de mora em percentual equivalente à taxa SELIC. Não assiste razão à defendente, a perda da espontaneidade se deu em 28/10/2009, data em que o recorrente tomou ciência do Termo de Início do Procedimento Fiscal, nos termos do parágrafo único do art. 138 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional – CTN) e do art. 7º do Decreto nº 70.235, de 06 de março de 1972: Código Tributário Nacional Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração. (Grifouse) Decreto nº 70.235/72 Fl. 1286DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.279 17 Art. 7º O procedimento fiscal tem início com:(Vide Decreto nº 3.724, de 2001) I o primeiro ato de ofício, escrito, praticado por servidor competente, cientificado o sujeito passivo da obrigação tributária ou seu preposto; II a apreensão de mercadorias, documentos ou livros; III o começo de despacho aduaneiro de mercadoria importada. § 1° O início do procedimento exclui a espontaneidade do sujeito passivo em relação aos atos anteriores e, independentemente de intimação a dos demais envolvidos nas infrações verificadas. (Grifouse) Portanto, conforme dispositivos acima transcritos, enquanto estiver abrigado sob o manto da espontaneidade, o sujeito passivo poderá confessar débitos não declarados, retificar declarações e formular consultas, ficando a salvo da imposição de multa de ofício desde que efetue o recolhimento dos tributos devidos com os acréscimos moratórios cabíveis. Excluída, por outro lado, a espontaneidade do interessado, ele ficará sujeito à imposição de multa de ofício, ainda que reconheça a procedência do lançamento. Da mesma forma, não serão acolhidas como eficazes as declarações entregues após o início da ação fiscal, conforme art. 147, § 1º do CTN: “A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento”. Portanto, o início do procedimento de fiscalização, mediante termo próprio ou qualquer outro ato escrito que o caracterize, retira do sujeito passivo a espontaneidade em denunciar irregularidades para os fins de declarar e retificar declarações referentes aos tributos objeto do procedimento fiscal a que está submetido. Ana Thomé Mamprin, ao informar em sua Declaração de Ajuste Anual (DAA), como isento rendimento que não estava alcançado pelo instituto da isenção, deixou de oferecêlo à tributação, e, consequentemente, não houve o recolhimento do imposto devido, portanto, não se trata de caso de denúncia espontânea. Esclarecese ainda à impugnante que, a responsabilidade por infrações fiscais independe da intenção do agente, conforme art. 136 do Código Tributário Nacional: Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Em relação ao argumento do recorrente de que é ilegal a multa de ofício, lembro que a este Conselho não é dado se pronunciar sobre ilegalidade e inconstitucionalidade de Lei em plena vigência, ou deixar de aplicála, nos termos do art. 26A do Decreto nº 70.235/72 e Súmula CARF nº 2: Fl. 1287DF CARF MF 18 Art. 26A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. Súmula CARF n° 2: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Quanto à alegação sobre juros à taxa Selic, a questão se encontra pacificada neste Conselho, sendo objeto da Súmula CARF nº 4: Súmula CARF n° 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. Do mérito Da aplicação do disposto no art. 178 do CTN, visto tratarse "in casu" de isenção onerosa, concedida por prazo certo e em função de determinadas condições O recorrente argumenta que quando da publicação da Lei nº 7.713/88, Ana Thomé Mamprin já possuía as participações societárias por mais de 5 anos, tendo direito adquirido ao benefício fiscal conferido pelo Decretolei nº 1.510/76, independente da data de alienação das participações societárias. Assevera que se implementada a condição à isenção antes da revogação da lei, a isenção se mantém mesmo se a alienação ocorrer na vigência da lei revogadora, pois no caso se trata de isenção concedida sob condição onerosa. Cita Súmula nº 544/STF, e diz que o caso se amolda a ela, sendo vedada a revogação dessa isenção, acrescenta jurisprudência do STJ sobre cumulação dos requisitos previstos no art. 178 do CTN para se considerar a isenção irrevogável, e julgados do CSRF sobre direito adquirido à isenção em decorrência do Decreto Lei nº 1.510/76 (102134080, CSRF/0400.215, CSRF/0103.266, CSRF/0102.973, CSRF/01 02.974, CSRF/01 03.349 e CSRF/0103.725). Discorre sobre o caráter de onerosidade da isenção pleiteada, acrescentando julgados do Superior Tribunal de Justiça, Tribunais Regionais Federais, e CARF (acórdãos 2102002.966, 2102002.967, 2202002.468, 9202003.542, 9202002.805). A controvérsia cingese à extensão da isenção concedida pelo Decretolei nº 1.510/76, revogada pela Lei nº 7.713/88, quanto às quotas alienadas em períodos em que vigia a lei revogadora, sendo esse o objeto do lançamento fiscal. Então vamos analisar essa isenção: Art 1º O lucro auferido por pessoas físicas na alienação de quaisquer participações societárias está sujeito à incidência do imposto de renda, na cédula "H" da declaração de rendimentos. Art 2º O rendimento tributável de acordo com o artigo anterior será determinado pela diferença entre o valor da alienação e o custo de subscrição ou aquisição da participação societária, corrigido monetariamente segundo a variação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional.(Revogado pela Lei nº 7.713, de 1988) [...] Fl. 1288DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.280 19 Art 4º Não incidirá o imposto de que trata o artigo 1º: (Revogado pela Lei nº 7.713, de 1988) [...] d) nas alienações efetivadas após decorrido o período de cinco anos da data da subscrição ou aquisição da participação. A Lei nº 7.713/88 revogou expressamente os dispositivos acima transcritos: Art. 1º Os rendimentos e ganhos de capital percebidos a partir de 1º de janeiro de 1989, por pessoas físicas residentes ou domiciliados no Brasil, serão tributados pelo imposto de renda na forma da legislação vigente, com as modificações introduzidas por esta Lei. [...] § 5º Ficam revogados todos os dispositivos legais concessivos de isenção ou exclusão, da base de cálculo do imposto de renda das pessoas físicas, de rendimentos e proventos de qualquer natureza, bem como os que autorizam redução do imposto por investimento de interesse econômico ou social. [...] Art. 58. Revogamse o art. 50 da Lei nº 4.862, de 29 de novembro de 1965, os arts. 1º a 9º do DecretoLei nº 1.510, de 27 de dezembro de 1976, os arts. 65e66 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, os arts. 1º a 4º do DecretoLei nº 1.641, de 7 de dezembro de 1978, os arts. 12e13 do DecretoLei nº 1.950, de 14 de julho de 1982, os arts. 15e100 da Lei nº 7.450, de 23 de dezembro de 1985, o art. 18 do DecretoLei nº 2.287, de 23 de julho de 1986, o item IV e o parágrafo único do art. 12 do DecretoLei nº 2.292, de 21 de novembro de 1986, o item III do art. 2º do DecretoLei nº 2.301, de 21 de novembro de 1986, o item III do art. 7º do DecretoLei nº 2.394, de 21 de dezembro de 1987, e demais disposições em contrário. O art. 178 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional CTN), dispõe sobre a possibilidade da revogação da isenção nos seguintes termos: Art. 178 A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.(Redação dada pela Lei Complementar nº 24, de 1975) Como o recorrente se firma no direito adquirido à isenção, entendo que o art. 178 do CTN claramente derruba essa tese, à exceção de a isenção ter sido por prazo certo E sob determinadas condições. Em função da exceção disposta no CTN, é oportuno analisar se a isenção de que tratava a alínea "d" do art. 4º do Decretolei nº 1.510/76 atendia aos requisitos para que essa isenção não fosse revogada a qualquer tempo. Ora, não vejo no trecho do Decretolei qualquer dispositivo que diga por quanto tempo essa isenção se estenderá, o que diz o Decreto lei é que as quotas tinham que ficar em poder dos sócios por 5 anos, para que Fl. 1289DF CARF MF 20 tivessem direito à isenção, mas não diz, por exemplo, que a isenção albergada em função desse dispositivo vigorará por 5, 10 ou 20 anos, assim, não havia um tempo estimado para que a pessoa física gozasse dela. De outro lado, vejo apenas presente o segundo trecho do CTN, sob "determinadas condições", sendo esse, de caráter oneroso, porque, se quisesse gozar da isenção, a pessoa física ficaria impedida de alienar as participações por um determinado prazo, ou seja, ela não teria as participações disponíveis para venda. Assim, não estando presentes todos os elementos para impedir que a isenção pudesse ser revogada ou modificada a qualquer tempo, entendo que não há direito adquirido a essa isenção. Aliás esse foi o entendimento dos acórdãos 9202004.507 e 9202004.506, ambos de 25/10/2016: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2004 GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO. A isenção prevista no artigo 4o do DecretoLei nº 1.510, de 1976, por ter sido expressamente revogada pelo artigo 58 da Lei n° 7.713, de 1988, não se aplica a fato gerador (alienação) ocorrido a partir de 1o de janeiro de 1989 (vigência da Lei nº 7.713, de 1988), pois inexiste direito adquirido a regime jurídico. Recurso Especial Negado. Acrescento que, a lei vigente à data da alienação das participações societárias era a Lei nº 7.713/88, e, portanto, nos termos do art. 144 do CTN, era ela que deveria ser aplicada. Em relação à Súmula nº 544/STF, citada pelo recorrente, ela foi aprovada na Sessão Plenária de 03/12/1969, portanto, anterior à nova redação do art. 178 do CTN, dada pela Lei Complementar nº 24, de 07 de janeiro de 1975. Dessa forma, só pode ser interpretada diante do novo texto, pois Súmula do STF não pode vir em contrariedade à Lei. Aliás, uma simples leitura ao art. 178 do CTN antes e depois da Lei Complementar 24/75 já demonstra a nova interpretação que deve ser feita à Súmula citada pelo recorrente: Art. 178. A isenção, salvo se concedida por prazo certo ou em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do artigo 104. (Ressaltei) Art. 178 A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104. (Redação dada pela Lei Complementar nº 24, de 1975) (Ressaltei) Neste ponto, esclareço que a auditoria considerou que as quotas isentas, conforme demonstrado nas tabelas acima, por terem sido alienadas após a revogação da Lei de isenção não gozavam do instituto do direito adquirido. Portanto, o lançamento fiscal se refere ao imposto sobre ganho de capital na alienação das participações societárias adquiridas: 1) após a revogação da Lei de isenção, 2) antes da revogação da Lei de isenção; nos dois casos alienadas após essa revogação, pois como visto acima é perfeitamente possível a revogação de Fl. 1290DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.281 21 isenção que não seja concedida por prazo certo E sob determinadas condições. Portanto, não cabe a aplicação da referida Súmula ao presente caso. Das bonificações e filhotes adquiridos a custo zero, e que se referem às aquisições e subscrições originariamente havidas em agosto de 1983 O recorrente arrazoa não proceder o argumento do julgador a quo "que as disposições do Parecer Normativo CST nº 68/77 não se aplicam às bonificações emergentes das aquisições e subscrições originariamente havidas em 1983, mesmo que se tratem de bonificações decorrentes de aumento de capital ocorrido após a vigência da Lei revogadora, ou seja, após a vigência da Lei nº 7.713/88". Diz que o parecer teve por objetivo esclarecer as questões sobre as bonificações decorrentes das participações societárias enquadradas na isenção aqui discutida, acrescentando que o parecer: é absolutamente claro quanto à definição para efeitos da tributação do Art. 1º do referido DecretoLei, que as bonificações são adquiridas a custo zero nas datas das subscrições ou aquisições a que correspondem, estendendose tal definição para todas e quaisquer bonificações emergentes das participações societárias originariamente havidas a partir de 1983, mesmo aquelas havidas após a sua revogação, mas originárias das participações societárias mantidas pelo Contribuinte desde 1983. Com efeito, se o recebimento das bonificações relativas às aquisições e subscrições originariamente havidas em 1983 está isento do imposto nada mais racional tenha o DecretoLei nº 1.510/76 disposto que elas só podem ser computadas a custo zero, ou seja, tais bonificações não podem ser consideradas nova aquisição ou nova subscrição de quotas. Por sua vez, não se aplica ao presente caso, a alegação do D. Julgador "a quo" de que, em face do disposto no parágrafo único, do Art. 10 da Lei nº 9.249/95, no caso de quotas ou ações distribuídas em decorrência de aumento de capital por incorporação de lucros apurados a partir do mês de janeiro de 1996, ou de reservas constituídas com esses lucros, o custo de aquisição será igual à parcela do lucro ou reserva capitalizado, que corresponder ao sócio ou acionista. Sem, razão o recorrente. A meu ver correto o entendimento do julgador a quo, o Parecer Normativo CST nº 68/77, que tinha caráter interpretativo, considerou as regras vigentes à época de sua emissão. Não se pode esquecer que a cada alteração da legislação há necessidade de nova interpretação à luz dos dispositivos então vigentes. E nesse aspecto, estou de acordo com os argumentos esboçados no acórdão recorrido, por isso, adotoos como razões de decidir: Verificase que a autuada considerou que as bonificações, mesmo que distribuídas posteriormente a 31/12/1983, estariam isentas por terem origem daquelas que supostamente gozavam de isenção. De fato, o artigo 5o do Decretolei nº 1.510/1976 trazia regramento para apuração do ganho de capital, especialmente Fl. 1291DF CARF MF 22 sobre o rateio das bonificações, tanto que remetia ao artigo 1o, ambos revogados pela Lei nº 7.713/1988. Já o Parecer Normativo CST nº 68/1977, ato normativo de caráter interpretativo, tinha o propósito de esclarecer o tratamento a ser dado às bonificações recebidas e a forma de cômputo delas na apuração de eventuais ganhos de capital. Referido artigo definia que para efeitos da tributação do artigo 1o do mesmo DecretoLei, as bonificações são adquiridas a custo zero nas datas das subscrições ou aquisições a que correspondem, mas a validade do dispositivo perdurou até a vigência da lei revogadora, Lei nº 7.713/1988. Portanto, desde 1º de janeiro de 1989 o tratamento tributário a ser considerado em relação às bonificações possui regramento nos §§ 3o e 4o do artigo 16 da Lei nº 7.713/1988: Art. 16. O custo de aquisição dos bens e direitos será o preço ou valor pago, e, na ausência deste, conforme o caso: (...) § 3o No caso de participação societária resultantes de aumento de capital por incorporação de lucros e reservas, que tenham sido tributados na forma do art. 36 desta Lei, o custo de aquisição é igual à parcela do lucro ou reserva capitalizado, que corresponder ao sócio ou acionista beneficiário. § 4o O custo é considerado igual a zero no caso das participações societárias resultantes de aumento de capital por incorporação de lucros e reservas, no caso de partes beneficiárias adquiridas gratuitamente, assim como de qualquer bem cujo valor não possa ser determinado nos termos previsto neste artigo. Por sua vez, o parágrafo único do artigo 10 da Lei nº 9.249/1995 estabelecia a forma de cálculo do custo de aquisição das ações distribuídas em decorrência do aumento do capital por incorporação do lucro e de reservas, como segue: Art. 10. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior. Parágrafo único. No caso de quotas ou ações distribuídas em decorrência de aumento de capital por incorporação de lucros apurados a partir do mês de janeiro de 1996, ou de reservas constituídas com esses lucros, o custo de aquisição será igual à parcela do lucro ou reserva capitalizado, que corresponder ao sócio ou acionista. Disto depreendese que não há qualquer razão legal para ratear as bonificações adquiridas posteriormente a 31/12/1983 na forma estabelecida pelo Decretolei nº 1.510/1976 visto que no regramento tributário atual as bonificações/quotas distribuídas pela empresa mediante incorporação de lucros ou reservas são Fl. 1292DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.282 23 consideradas ações novas cujo custo de aquisição é dado em função da origem das reservas que resultaram na distribuição das ações a titulo de bonificação. (grifei) Acrescento que, se compararmos os trechos do revogado art. 5º do Decreto lei nº 1.510/76, e os parágrafos 3º e 4º do art. 16 da Lei nº 7.713/1988, iremos ver que a troca da palavra "bonificações" por "participações societárias resultantes de aumento de capital por incorporação", nos dará a certeza de que esses aumentos de capital originam novas participações, e não são filhotes, como entende o recorrente. Decretolei nº 1.510/76 Lei nº 7.713/1988 Art 5º Para os efeitos da tributação prevista no artigo 1º deste Decretolei, presumese que as alienações se referem às participações subscritas ou adquiridas mais recentemente e que as bonificações são adquiridas, a custo zero, às datas de subscrição ou aquisição das participações a que corresponderem. (Revogado pela Lei nº 7.713, de 1988) Art. 16 [...] § 3o No caso de participação societária resultantes de aumento de capital por incorporação de lucros e reservas, que tenham sido tributados na forma do art. 36 desta Lei, o custo de aquisição é igual à parcela do lucro ou reserva capitalizado, que corresponder ao sócio ou acionista beneficiário. § 4o O custo é considerado igual a zero no caso das participações societárias resultantes de aumento de capital por incorporação de lucros e reservas, no caso de partes beneficiárias adquiridas gratuitamente, assim como de qualquer bem cujo valor não possa ser determinado nos termos previsto neste artigo. O argumento do recorrente, de que as bonificações emergentes das participações societárias originariamente havidas a partir de 1983, eram computadas a custo zero, e que isso se estenderia às bonificações decorrentes daquelas participações, mesmo após a revogação do DecretoLei de isenção, fazme relembrar o histórico da legislação sobre a tributação dos lucros distribuídos, brilhantemente narrado pelo ilustre conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos, relator do Processo 12448.736152/201135, Acórdão nº 9202 003.700, julgado em 27 de janeiro de 2016, e que aqui é trazido para esclarecer ao recorrente da razão de àquela época as bonificações serem computadas a custo zero, e porque, posteriormente, passaram a compor o custo das participações pelo valor da capitalização decorrente dos lucros acumulados: Para fins de contextualização histórica da questão, cumpre referir que, nos termos da legislação anteriormente vigente, a capitalização de lucros, assim como a distribuição de ações bonificadas, não tinha qualquer efeito na determinação do custo de aquisição da participação societária dos proprietários da pessoa jurídica. Com efeito, naquele período: o lucro distribuído era passível de tributação; e consequentemente, o custo de aquisição das participações societárias não era alterado quando da capitalização de lucros pela pessoa jurídica, inclusive no caso de distribuição de ações bonificadas, cujo valor de aquisição devia ser considerado como igual a zero. Nesse sentido, cabe referência aos arts. 727 e 810 do Decreto 1.041, de 1994. (a) Art. 727 — lucros distribuídos até 1988 eram tributados: Fl. 1293DF CARF MF 24 Art. 727. Os dividendos, bonificações em dinheiro, lucros e outros interesses, apurados em balanço de periodobase encerrado até 31 de dezembro de 1988, pagos por pessoa jurídica, inclusive sociedade em conta de participação, a pessoa física residente ou domiciliada no Pais, estão sujeitos à incidência de imposto exclusivamente na fonte, à alíquota de (DecretosLeis n°s 1.790/80, art. 1o, 2.065/83, art. 1o, 1, a, e 2.303/86, art. 7oparágrafo único): ... (b) Art. 810 — o custo de participações societárias resultantes de aumento de capital por incorporação de lucro era igual a zero: Art. 810. O custo de aquisição de títulos e valores mobiliários, de quotas de capital... § 2o O custo é considerado igual a zero (Lei n° 7.713/88, art. 16, §4e): a) no caso de participações societárias resultantes de aumento de capital por incorporação de lucros ou reservas, apurados até 31 de dezembro de 1988; Reparase aqui a coerência dos dispositivos acima referidos. Como, na época, a distribuição de lucros era tributada, a capitalização do lucro não alterava o custo de aquisição da participação societária. Assim, quando a participação societária fosse alienada, o valor do lucro capitalizado seria alcançado pelo ganho de capital. Ora, a partir de 1996, temos uma clara mudança de tratamento na distribuição de lucro, que passou a não ser tributada, nem na fonte, nem na declaração de ajuste, nos termos do disposto no art. 10, da Lei nº 9.249, de 1995. Assim: o lucro distribuído deixou de ser tributado; e consequentemente, o custo de aquisição das participações societárias passou a ser alterado quando da capitalização de lucros distribuíveis pela pessoa jurídica, inclusive no caso de distribuição de ações bonificadas, cujo valor de aquisição devia ser considerado igual ao desse lucro capitalizado. A seguir, encontrase reproduzido o caput do art. 10 da Lei n° 9.249, de 1995, e seu respectivo parágrafo. [...] Reparase. da mesma forma que no sistema vigente anteriormente, a coerência dos dispositivos acima referidos. Como a distribuição de lucros deixou de ser tributada, a capitalização do lucro distribuível passou a alterar o custo de aquisição da participação societária. Assim, quando a participação societária fosse alienada, o valor do lucro (distribuível isento e capitalizado) não seria alcançado pelo ganho de capital. Fl. 1294DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.283 25 Como se percebe, as bonificações tinham um motivo para serem computadas a custo zero, que era permitir a tributação dos lucros quando as participações societárias fossem alienadas; posteriormente quando o lucro distribuído passou a ser isento, o custo de aquisição das participações decorrentes dos aumentos de capital por incorporação de lucros passou a ser a parcela do lucro capitalizado, ou seja elas deixaram de ser computadas a custo zero. Essa disposição também constava nos revogados arts. 1º e 5º do DecretoLei nº 1.510/76: Art 1º O lucro auferido por pessoas físicas na alienação de quaisquer participações societárias está sujeito à incidência do imposto de renda, na cédula "H" da declaração de rendimentos.(Revogado pela Lei nº 7.713, de 1988) [...] Art 5º Para os efeitos da tributação prevista no artigo 1º deste Decretolei, presumese que as alienações se referem às participações subscritas ou adquiridas mais recentemente e que as bonificações são adquiridas, a custo zero, às datas de subscrição ou aquisição das participações a que corresponderem.(Revogado pela Lei nº 7.713, de 1988) Veja que, o custo zero a que se refere o art. 5º é aplicável para os efeitos do art. 1º, que tratava da tributação do lucro auferido pelas pessoas físicas, e não à alínea "d" do art. 4º desse Decretolei. Portanto, não vejo fundamento na afirmação do recorrente de que o DecretoLei tenha estabelecido que as bonificações decorrentes de aquisições e subscrições originariamente havidas em 1983 devem ser computadas com custo zero e por isso não poderiam ser consideradas nova aquisição ou nova subscrição de quotas. O que entendo é que, a lei revogadora trouxe uma nova sistemática para a apuração do custo de aquisição das participações societárias e respectivo ganho de capital quando da alienação dessas participações, e foi justamente a legislação vigente à época dos fatos geradores que o Auditor Fiscal corretamente aplicou, qual seja, o § 3º do Art. 16 da Lei nº 7.713/1988, que também está disposto no parágrafo único do Art. 10 da Lei nº 9.249/95. Da preclusão quanto ao direito da Fazenda Nacional examinar e/ou questionar as aquisições e respectivas bonificações ocorridas a partir de 25/09/1996 O recorrente arrazoa que, como o Auditor Fiscal se limitou a analisar a evolução do capital social do período de 08/08/1983 a 25/09/1996, estaria precluso o direito de o julgador a quo realizar qualquer exame quanto às eventuais novas subscrições ou aquisições a partir de 25/09/1996, que implicasse em descaracterizar os requisitos para gozo da isenção do art. 4º, alínea "d", do Decretolei nº 1.510/76. Sem razão o recorrente, conforme debatido quando da análise das preliminares, o Auditor Fiscal apenas discriminou na tabela 1, a evolução do capital social, de acordo com as alterações contratuais, como forma de demonstrar as quotas que estavam amparadas pela isenção pleiteada pelo recorrente, não estabelecendo qualquer limite ao julgador a quo, para analisar se as quotas adquiridas após 25/09/1996 estavam ou não isentas, e o custo de aquisição considerado pela fiscalização, de acordo com o que estabelece a legislação vigente a respeito. Aliás, insta lembrar que o lançamento teve como partida, o custo de aquisição informado pelo próprio sujeito passivo, e constante nos arquivos societários da Comercial Guilherme Mamprim Ltda. Fl. 1295DF CARF MF 26 Dos aumentos de capital e das aquisições e subscrições e respectivas bonificações ocorridas a partir de 25/09/1996 O recorrente aduz que Ana Thomé Mamprin se retirou da Comercial Guilherme Mamprim Ltda. em 30/12/1996, e a partir dessa data ela não recebeu bonificação nos aumentos de capital dessa empresa, não fez subscrição, aquisição de novas quotas, aporte ou injeção de recursos, e não possui créditos ou adiantamento para aumento de capital nessa empresa, e considera que os eventos ocorridos a partir dessa data são de exclusiva titularidade da controladora FASCAR, que não se confundem com as mutações ocorridas no patrimônio de Ana Thomé Mamprin. Acrescenta que: [...] no período de 25/09/1996 a 11/08/2008, as únicas quotas recebidas em bonificação pelo Contribuinte, oriundas da capitalização de lucros acumulados, foram decorrentes do aumento de capital social da COMERCIAL GUILHERME MAMPRIM ocorrido conforme 26a. Alteração Contratual, firmada aos 25/09/1996, o que nos leva à inevitável conclusão de que: • O valor de R$ 2.128.926,12, oriundo da capitalização de lucros acumulados não representa, em hipótese alguma, quaisquer outras subscrições ou aquisições de novas quotas, tratandose "in casu" de filhotes ou bonificações adquiridas a custo zero. • As referidas quotas recebidas em bonificação, em virtude da capitalização de lucros, adquiridas a custo zero, são decorrentes de aumento de capital, não por subscrição pública ou particular de quotas, mas por força de simples capitalização de lucros e/ou reservas, com aumento ou ajuste nos quantitativos de quotas, as quais foram atribuídas ao Contribuinte sem a necessidade de aportes de capital e na mesma proporção do número de quotas que possuía (art. 169 da Lei das Sociedades Anônimas). Assevera que se o valor de R$ 2.128.926,12 for considerado como subscrição e aquisição de novas quotas, ele deverá ser computado no custo de aquisição das participações/quotas alienadas e deduzido do ganho de capital auferido pelo contribuinte. Sem razão o recorrente, observase que, o lançamento fiscal foi efetuado com as informações prestadas pelo próprio sujeito passivo durante a ação fiscal, onde ele apontou qual o valor do ganho de capital obtido com a alienação de suas participações societárias, conforme fls. 976. O aumento de capital de R$ 2.128.926,12 já está incluso no custo de aquisição apurado por Ana Thomé Mamprin, pois, conforme se verifica às fls. 485, pela 26ª Alteração Contratual da Comercial Guilherme (25/09/1996), houve um aumento no capital social para R$ 3.840.000,00. Ocorre que, em 11/08/2008 houve outro aumento de capital de 14.740.000,00 para 15.310.000,00 (fls. 761), sendo que desse valor, R$ 1.913.748,00 é o valor das quotas de Ana Thomé Mamprin, que foi utilizado por ela para apuração do custo de aquisição, e também da fiscalização (fls. 976). Portanto, nenhum recálculo tem que ser feito no lançamento fiscal, visto que o custo de aquisição está de acordo com o declarado pelo sujeito passivo e de acordo com os contratos sociais e alterações contratuais. Demais argumentos: Fl. 1296DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.284 27 · Das mutações ocorridas no quinhão societário do contribuinte no período de 08/08/1983 a 25/09/1996: Aduz que em relação aos 12,5% de participação societária que tinha no Grupo Frango Assado, em 08/08/1983, equivalente às 3.750.000 quotas, entre essa data e 25/09/1996 não ocorreram quaisquer atos ou eventos que implicassem na mutação desse percentual, sendo que as havidas decorreram de adequação do capital social à unidade monetário vigente no país e/ou são filhotes ou bonificações adquiridas a custo zero, face a capitalização de lucros e ou reservas. Todas as participações societárias alienadas em 2008 (1.971.240) já faziam parte de seu patrimônio em 08/1983, e eram isentas pelo Decretolei nº 1.510/76, e referemse às mesmas 480.000 quotas que ele detinha em 25/09/1996, que por sua vez são as 3.750.000 quotas que tinha em 08/1983. · Das bonificações adquiridas a custo zero, e que são decorrentes das mesmas aquisições e subscrições originariamente havidas em agosto de 1983: Cita Parecer Normativo CST nº 68. de 23/09/1977 e Parecer Normativo CST n° 39, de 19/10/1981, e diz que eles deixam claro que as bonificações decorrentes de aumento de capital por incorporação de lucros apurados ou reservas constituídas com esses lucros não são consideradas nova aquisição ou subscrição de quotas, para que fossem deveria haver dupla transferência, das reservas da sociedade para os sócios, a título de dividendos e destes para a sociedade a título de novos aportes. Os aumentos de capital corridos na Comercial Guilherme decorreram de incorporação de Reserva de Correção Monetária do Capital Social e de Reservas de Lucros. Cita art. 2º da Lei nº 9.064/95, que alterou a Lei nº 8.849/94. Requer consideração do item 3.1, subitem 3.1.2 da Impugnação (3.1.2. DAS BONIFICAÇÕES E FILHORES ADQUIRIDAS A CUSTO ZERO, E QUE SE REFEREM ÀS AQUISIÇÕES E SUBSCRIÇÕES ORIGINALMENTE HAVIDAS EM AGOSTO DE 1983:), fls. 1028/1033. Os argumentos já foram analisados ao longo deste voto, de onde se conclui que a isenção pleiteada pelo recorrente não se aplica à alienação de participações societárias adquiridas após a revogação da alínea "d" do art. 4º do Decretolei nº 1.510/76. Da apuração da base de cálculo Como vimos, o Auditor Fiscal apurou o imposto devido com base nos dados informados pela fiscalizada, conforme tabela abaixo (fls. 976): Fl. 1297DF CARF MF 28 Entretanto, observei que, ao lançar o valor tributável (fls. 964), o Auditor Fiscal digitou R$ 19.969.135,00 ao invés de R$ 19.960.135,00. Ou seja, um erro de digitação, que deve ser corrigido neste Colegiado. Diante disso, o valor tributável deve ser reduzido de R$ 19.969.135,00 para R$ 19.960.135,00, resultando na redução do imposto devido de R$ 2.995.370,25 para R$ 2.994.020,25, e na redução da multa para R$ 2.245.515,19. Intimação no endereço do advogado Por fim, o recorrente requereu que todas as intimações atinentes ao recurso voluntário fossem realizadas em nome de seu advogado no endereço lá constante. O artigo 23 do Decreto nº 70.235/72 disciplina integralmente a matéria. Seus incisos I, II e III configuram as modalidades de intimação, atribuindo ao Fisco a discricionariedade de escolher qualquer uma delas. Nesse sentido, o § 3º estipula que os meios de intimação previstos nos incisos do caput do artigo 23 não estão sujeitos a ordem de preferência. O inciso II considera que a intimação via postal deve acontecer no domicílio tributário apenas do sujeito passivo. Já o § 4º dispõe que, para fins de intimação, o domicílio tributário do contribuinte pode ser apenas em dois locais: no endereço postal por ele fornecido, para fins cadastrais, à administração tributária; ou no endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, desde que autorizado pelo sujeito passivo. De tais regras, concluise pela inexistência de intimação postal na figura do procurador do sujeito passivo. Assim, a intimação via postal, no endereço dos procuradores, não acarretaria qualquer efeito jurídico de intimação, pois estaria em desconformidade com o artigo 23, inciso II e §§ 3º e 4º, do Decreto n° 70.235/72. Sendo assim, é de indeferir o pleito do recorrente. Conclusão Diante do exposto, voto por conhecer do recurso para, rejeitar as preliminares, e no mérito, darlhe parcial provimento para reduzir o crédito tributário nos seguintes termos: Imposto (R$) Multa de ofício (R$) EXIGIDO 2.995.370,25 2.246.527,69 EXONERADO 1.350,00 1.012,50 MANTIDO 2.994.020,25 2.245.515,19 Fl. 1298DF CARF MF Processo nº 19311.000019/201051 Acórdão n.º 2202004.351 S2C2T2 Fl. 1.285 29 (assinado digitalmente) Rosy Adriane da Silva Dias Relatora Fl. 1299DF CARF MF
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