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Numero do processo: 13877.000123/2005-04
Turma: Terceira Câmara
Seção: Terceiro Conselho de Contribuintes
Data da sessão: Thu Dec 06 00:00:00 UTC 2007
Ementa: Obrigações Acessórias
Ano-calendário: 2004
Ementa: DCTF. MULTA POR ATRASO NA ENTREGA. NÃO CABIMENTO DA DENÚNCIA ESPONTÂNEA.
É cabível a aplicação da multa pelo atraso na entrega da DCTF à vista do disposto na legislação de regência (Inteligência da Medida Provisória n° 16 de 27.12.2001, convertida na Lei n° 10.426, de 24.04.2002 c/c Instrução Normativa SRF n° 583, de 20.12.2005).
Devida a multa ainda que a apresentação da declaração tenha se efetivado antes de qualquer procedimento de oficio.
Recurso Voluntário Negado
Numero da decisão: 303-35.015
Decisão: ACORDAM os Membros da TERCEIRA CÂMARA do TERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator.
Matéria: DCTF - Multa por atraso na entrega da DCTF
Nome do relator: Nilton Luiz Bartoli
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COM. IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS PLASTICOS LTDA Recorrida DRJ-RIBEIRÃO PRETO/SP Assunto: Obrigações Acessórias Ano-calendário: 2004 Ementa: DCTF. MULTA POR ATRASO NA ENTREGA. NÃO CABIMENTO DA DENÚNCIA ESPONTÂNEA. cabível a aplicação da multa pelo atraso na entrega da DCTF à vista do disposto na legislação de regência (Inteligência da Medida Provisória n° 16 de 27.12.2001, convertida na Lei n° 10.426, de 24.04.2002 c/c Instrução Normativa SRF n° 583, de 20.12.2005). Devida a multa ainda que a apresentação da declaração tenha se efetivado antes de qualquer procedimento de oficio. Recurso Voluntário Negado Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os Membros da TERCEIRA CÂMARA do TERCEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. O Processo n.° 13877.000123/2005-04 Acórdão n.° 303-35.015 CC03/CO3 Fls. 128 ANEL E DAUDT PRIETO Presidente BARTO Relator Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros Nanci Gama, Silvio Marcos Barcelos Fiúza, Marciel Eder Costa, Luis Marcelo Guerra de Castro, Tarásio Campelo Borges e Zenaldo Loibman. Processo n.° 13877.000123/2005-04 Acórdão n.° 303-35.015 CC03/CO3 Fls. 129 Relatório Trata-se de Auto de Infração constante às fls. 16, referente à multa por entrega fora do prazo de Declarações de Débitos e Créditos Federais — DCTF's, referentes aos 1° e 2° trimestres de 2004, fundamentada no art. 113, § 3 0 e 160, Lei 5172/66 do CTN, art. 4° e 2° da SRF 126/98, combinado com o item Ida Portaria MF 118/84, art. 5° do DL no 2124/84 e art. 70 da MP 16/2001 convertida na Lei 10.426/02. Inconformado com o lançamento, o contribuinte apresentou Impugnação As fls. 01/15, na qual alega, em suma, que: O lançamento fere o disposto no art. 142 do CTN. e também os princípios da razoabilidade, isonomia e proporcionalidade, quando utiliza como base de cálculo da multa o valor do tributo declarado na DCTF, não devendo, portanto, ser considerado; Ao efetuar o lançamento, a autoridade administrativa demonstrou apenas de forma incompleta os motivos da autuação — não há relatório fiscal, o que fere o principio da ampla defesa; Há ofensa aos princípios da moralidade e da eficiência decorrente de aplicação de multa inconstitucional o que acarreta ilegitimidade da atividade pública. Diante do exposto, requer o acolhimento de suas alegações e cancelamento do lançamento em foco. Encaminhados os autos A Delegacia da Receita Federal de Julgamento de Ribeirao Preto (SP), esta indeferiu a solicitação As fls. 53/56, nos termos da seguinte ementa: "Assunto: Obrigações Acessórias Ano-calendário: 2004 Ementa: DECLARAÇÃO DE DÉBITOS E CRÉDITOS TRIBUTA RIOS FEDERAIS. APRESENTAÇÃO EXTEMPORÁIVEA. O cumprimento intempestivo da obrigação de apresentar DCTF sujeita a contribuinte ao pagamento de multa prevista na legislação tributária. Assunto. - Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 2004 Ementa: 1NCONSTITUCIONALIDADE A autoridade administrativa não possui competência para se manifestar sobre a constitucionalidade das leis, atribuição reservada constitucionalmente ao Poder Judiciário. Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ano-calendário: 2004 Processo n.° 13877.000123/2005-04 Acórdão n.° 303-35.015 CC03/CO3 Fls. 130 Ementa: NULIDADE Somente são nulos os atos e termos lavrados por pessoa incompetente, bem como os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou corn preterição do direito de defesa. CERCEAMENTO DE DEFESA. Não cabe falar em cerceamento do direito de defesa quando não comprovado o prejuízo ao contribuinte. Lançamento Procedente." Ciente da decisão proferida à fl. 62, o contribuinte apresentou tempestivamente o Recurso Voluntário its fls. 63/80, no qual reitera os argumentos já apresentados e acrescenta os seguintes: em nenhum momento pleiteou a declaração de inconstitucionalidade, conforme entendeu a Receita, e sim a reforma da decisão em primeira instância, com a inaplicabilidade das restrições ilegais e inconstitucionais; configura desvio da finalidade a utilização de leis ou instrumentos infralegais em desacordo com a CF. Corroborando suas alegações, menciona doutrina sobre o assunto em foco. Requer o acolhimento de suas alegações e extinção do lançamento exarado. Trouxe aos autos os documentos de fls. 82/125, entre os quais, Extrato do Termo de Arrolamento, Relação de Bens e Direitos para Arrolamento, cópias referentes a Mandado de Segurança. Não efetuado arrolamento de Bens e Direitos, para seguimento do Recurso Voluntário, devido a liminar concedida no Mandado de Segurança impetrado pela contribuinte, por orientação da CORAT, conforme IN 264/2002. Os autos foram distribuídos a este Conselheiro em 06/11/2007, em um único volume, constando numeração até A fl. 126, última. Desnecessário o encaminhamento do processo à Procuradoria da Fazenda Nacional para ciência quanto ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte, nos termos da Portaria MF n°. 314, de 25/08/99. o Relatório. Processo n.° 13877.000123/2005-04 Acórdão n. ° 303-35.015 CC03/CO3 Fls. 131 Voto Conselheiro NILTON LUIZ BARTOLI, Relator Por conter matéria deste E. Conselho, conheço do Recurso Voluntário, tempestivamente, interposto pelo contribuinte. Em inúmeras oportunidades já externei meu entendimento acerca da inaplicabilidade de multa minima por atraso na entrega da DCTF, com respaldo na Instrução Normativa n° 129, de 19.11.1986, posteriormente alterada pela Instrução Normativa n° 73, de 19.12.1996. Sendo, vejamos: Todo ato realizado segundo um determinado sistema de direito positivo, com o fim de nele se integrar, deve, obrigatoriamente, encontrar fundamento de validade em norma hierarquicamente superior a esta, que, por sua vez, também deve encontrar fundamento de validade em norma hierarquicamente superior, e assim por diante, até que se encontre o fundamento de validade na Constituição Federal. Nestes termos, qualquer que seja a norma deve-se confrontá-la com a Constituição Federal, pois não estando com ela compatível, não estará compativel com o sistema. Segundo se verifica, a fonte formal da Instrução Normativa n° 129, de 19.11.1986, posteriormente alterada pela Instrução Normativa n° 73, de 19.12.1996, é a Portaria do Ministério da Fazenda n° 118, de 28.06.84, que delegou ao Secretário da Receita Federal a competência para eliminar ou instituir obrigações acessórias. Já o Ministro da Fazenda foi autorizado a eliminar ou instituir obrigações acessórias relativas a tributos federais, por força do Decreto-lei n° 2.124, de 13.06.84. 0 Decreto-Lei n° 2.124, de 13.06.1984, encontra fundamento de validade na Constituição Federal de 1967, alterada pela Emenda Constitucional n° 01/69, que em seu art. 55, cria a competência para o Presidente da República editar Decretos-Leis, em casos de urgência ou de interesse público relevante, em relação As matérias que disciplina, inclusive a tributária, mas não se refere à delegação de competência ao Ministério da Fazenda para criar obrigações, sejam tributárias ou, não. Afora isto, a antiga Constituição também privilegiava o principio da legalidade e da vinculação dos atos administrativos à lei, o que de plano criaria um conflito entre a norma editada no Decreto-Lei n°2.124, de 13.06.1984 e a Lei Maior de 1967 (art. 153, §2°). Da análise do artigo 97, inciso V, do Código Tributário Nacional, também não resta dúvida que somente A lei é dada autorização para criar deveres e direitos, não escapando A regra as obrigações acessórias. Por outro lado, incabível dar ao artigo 100, do mesmo diploma, a conotação de que está aberta a possibilidade de um ato normativo vir a substituir a função da lei, ou por falha da lei cobrir sua lacuna ou vicio. Processo n.° 13877.00012312005-04 Acórdão n.° 303-35.015 CC03/CO3 Fls. 132 No mais, atos normativos de caráter normativo são assim caracterizados por introduzirem normas atinentes ao "modus operandi" do exercicio da função administrativa tributária, tendo força para normatizar a conduta da própria administração em face do contribuinte, e em relação As condutas do contribuinte, servem, tão somente, para explicitar o que fora estabelecido em lei. E nesse contexto que os atos normativos cumprem sua função de complementaridade das leis. Ressalte-se que todo ato administrativo tem por requisito de validade cinco elementos: objeto licito, motivação, finalidade, agente competente e forma prescrita em lei. Ocorre que, a Instrução Normativa n° 129, de 19.11.1986 cumpriu os designios orientadores da validade do ato administrativo no concernente aos três primeiros elementos, vez que a exigência de entrega de Declaração de Contribuições e Tributos Federais — DCTF, com o fim de informar A Secretaria da Fazenda Nacional o montante de tributos devidos e suas respectivas bases de calculo, é de materialidade licita, motivada pela necessidade de a Fazenda ter o controle dos fatos geradores que fazem surgir cada relação jurídica tributária entre o contribuinte e o Fisco, tendo por finalidade o controle do recolhimento dos respectivos tributos. Porém, no que tange ao agente competente, o mesmo não se verifica, uma vez que o Secretário da Receita Federal não tem a competência legiferante, privativa do Poder Legislativo, para criar normas constituidoras de obrigações de caráter pessoal ao contribuinte, cuja cogência é imposta pela cominação de penalidade. Ainda que se admitisse que o Decreto-lei n° 2.124, de 13.06.1984, fosse o veiculo introdutório para outorgar competência ao Ministério da Fazenda para que criasse deveres instrumentais, o Decreto-lei não poderia autorizar ao Ministério da Fazenda a delegar tal competência, como na realidade não o fez, tendo em vista o principio da indelegabilidade da competência tributária (art. 7° do Código Tributário Nacional) e até mesmo o principio da indelegabilidade dos poderes (art. 2° da CF/88). Assim, se o Ministério da Fazenda não tinha a competência para delegar a competência que recebera com exclusividade do Decreto-lei n° 2.124, de 13.06.1984, a Portaria MF n° 118, de 28/06/1984, extravasou os limites do poder outorgados pelo Decreto- Lei. Quanto à forma prescrita em lei, a instituição da obrigação de entrega da DCTF, por instrução normativa, também não cumpre o requisito de validade do ato administrativo, uma vez que tal instituição é reservada A Lei. Somente a Lei pode criar um vinculo relacional entre o Fisco e o contribuinte e a penalidade pelo descumprimento da obrigação fulcral desse vinculo. E tal poder é indelegavel, com o fim de que sejam garantidos o Estado de Direito Democrático e a Segurança Juridica. Ademais, a delegação de competência legiferante introduzida pelo Decreto-Lei n° 2.124, de 13.06.1984, não encontra supedâneo jurídico na nova ordem constitucional instaurada pela Constituição Federal de 1988, uma vez que o art. 25 estabelece o seguinte: "Art. 25 — Ficam revogados a partir de cento e oitenta dias da promulgação da Constituição, sujeito este prazo a prorrogação por lei, todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órglio do Processo n.° 13877.000123/2005-04 Acórdão n.° 303-35.015 CC03/CO3 Rs. 133 Poder Executivo competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional, especialmente no que tange a: I— ação normativa; II — alocação ou transferência de recursos de qualquer espécie" (Grifei) Assim, a competência de legislar sobre a matéria pertinente ao sistema tributário é do Congresso Nacional, como determina o art. 48 da Constituição Federal, sendo que a delegação outorgada pelo Decreto-Lei n° 2.124, de 13.06.1984, ato do Poder Executivo auto disciplinado, que ainda que pudesse ter validade na vigência da constituição anterior, perdeu sua vigência 180 dias após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Tendo a norma que dispõe sobre a delegação de competência perdido sua vigência, a Instrução Normativa n° 129, de 19.11.1986, ficou sem fonte material que a sustente e, consequentemente, também perdeu sua vigência em abril de 1989. Quanto à cominação da penalidade estabelecida no próprio texto da Instrução Normativa n° 129, de 19.11.1986, Anexo II — 1.1 (e, posteriormente, na Instrução Normativa n° 73, de 19.12.1996, que a alterou), entendo que os argumentos retro mencionados são plenamente aplicáveis, isto 6, a imposição de qualquer tipo de multa só poderá ser prevista em Lei. Desta feita, a ausência de perfeita tipicidade na lei de conduta do contribuinte, implica a carência da ação fiscal e, como tais elementos estão ausentes no presente caso, dai também não ser punível a conduta do agente. Tudo isto para dizer que a Instrução Normativa n° 129, de 19.11.1986 não constitui o veiculo próprio a criar, alterar ou extinguir direitos, seja porque não encontra em lei seu fundamento de validade material, seja porque inova o ordenamento jurídico extrapolando sua própria competência. Tal assertiva veio a ser confirmada com a edição da Lei n° 10.426, de 25.04.2002 (conversão da Medida Provisória n° 16 de 27.12.2001) que assim dispõe: "Art. 7 0 0 sujeito passivo que deixar de apresentar Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica ('DIP..)), Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), Declaração Simplificada da Pessoa Jurídica e Declaração de Imposto de Renda Retido na Fonte (Did), nos prazos fvcados, ou que as apresentar com incorreções ou omissões, será intimado a apresentar declaração original, no caso de não-apresentação, ou a prestar esclarecimentos, nos demais casos, no prazo estipulado pela Secretaria da Receita Federal, e sujeitar-se-á às seguintes multas: — de dois por cento ao mês calendário ou fração, incidente sobre o montante dos tributos e contribuições informados na DCTF, na Declaração Simplificada da Pessoa Jurídica ou na Dirf ainda que integralmente pago, no caso de falta de entrega desta Declarações ou Processo n.° 13877.000123/2005-04 Ada-a° n.° 303-35.015 CC03/CO3 Fls. 134 entrega após o prazo, limitada a vinte por cento, observado o disposto no §.3°. Com efeito, a adoção da Medida Provisória n° 16, posteriormente convertida na Lei n° 10.426/02, determinando sanções para a não apresentação, pelo sujeito passivo, da Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), atesta cabalmente a inexistência de legislação válida ate a sua edição, uma vez que não haveria lógica em se editar norma, de caráter extraordinário, que simplesmente repetisse a legislação anterior. Ao adotar Medida Provisória, o Poder Executivo Federal reconheceu a necessidade de disciplinar a instituição de deveres instrumentais e penalidades para seu descumprimento, que até então não se encontrava (validamente) regulada pelo direito pátrio. Assim, após a entrada ern vigor da Medida Provisória n° 16/2001, convertida na Lei n° 10.426, de 24.04.2002, surgiu a disciplina válida ou vigente no sistema tributário nacional para o cumprimento do dever acessório de entrega da DCTF, e, consequentemente, para a cominação de sanções para sua não apresentação, vindo a confirmar todo o entendimento exposto com relação à Instrução Normativa n° 129, de 19.11.1986. Assim, consubstanciada na Lei n° 10.426, de 24.04.2002 (conversão da Medida Provisória n° 16 de 27.12.2001), a Instrução Normativa SRF n° 583, de 20.12.2005 (a qual revogou a IN SRF no 532, de 30.03.2005, que alterou a IN SRF n° 482, de 21.12.2004), validamente, estabelece quanto à multa a ser aplicada, que: "Art. 10. A pessoa jurídica que deixar de apresentar a DCTF no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimada a apresentar declaração original, no caso de não- apresentação, ou a prestar esclarecimentos, nos demais casos, no prazo estipulado pela SRF, e sujeitar-se-á às seguintes multas: I — de dois por cento ao mês-calendário ou fração, incidente sobre o montante dos impostos e contribuições informados na DCTF, ainda que integralmente pago, no caso de falta de entrega dessa declaração ou entrega após o prazo, limitada a vinte por cento, observado o disposto no §30; §3 0 A multa minima a ser aplicada será de: I R$200,00 (duzentos reais) tratando-se de pessoa jurídica inativa; II — R$500,00 (quinhentos reais), nos demais casos. Desta forma, como mencionado anteriormente, atos normativos, tal como a vigente Instrução Normativa SRF no 583, de 20.12.2005, são para explicitar o que fora estabelecido ern Lei (Lei n° 10.426, de 24.04.2002, conversão da Medida Provisória n° 16 de 27.12.2001), cumprindo, nesse contexto, sua função de complementaridade da Lei. Quanto ao aspecto da denúncia espontânea, adoto entendimento que é pacifico no Superior Tribunal de Just*, no sentido de que não é cabível tal beneficio quando se trata de DCTF, conforme se depreende dos julgamentos dos seguintes recursos, entre outros: RESP Processo n. 0 13877.000123/2005-04 Acórdão n.° 303-35.015 CC03/CO3 Fls. 135 357.001-RS, julgado em 07/02/2002; AGRESP 258.141-PR, DJ de 16/10/2000 e RESP 246.963-PR, DJ de 05/06/2000. Descabe a alegação de denúncia espontânea quando a multa decorre tão somente da impontualidade do contribuinte quanto a uma obrigação de fazer, cuja sanção da norma jurídico-tributária é precisamente a multa. Destaco decisão proferida pela Egrégia la Turma do STJ, através do Recurso Especial n°195161/GO (98/0084905-0), relator Ministro José Delgado (DJ de 26.04.99): "TRIBUTÁRIO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. ENTREGA COM ATRASO DA DECLARAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA. MULTA. INCIDÊNCIA ART. 88 DA LEI 8.981/95. A entidade 'denúncia espontânea' não alberga a prática de ato puramente formal do contribuinte de entregar, com atraso, a declaração do imposto de renda. (grifo nosso). As responsabilidades acessórias autônomas, sem qualquer vinculo direto com a existência do fato gerador do tributo, não estão alcançadas pelo art.138, do CTN. Há de se acolher a incidência do art. 88 da Lei 8.981/95, por não entrar em conflito com o art.138 do CTN. Os referidos dispositivos tratam de entidades jurídicas diferentes. Recurso provido". Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao Recurso Voluntário, tendo em vista que a DCTF do presente caso, refere-se ao ano-calendário 2004, isto 6, após o surgimento da disciplina válida ou vigente para o cumprimento do dever acessório de sua entrega. Sala das Sessões, em 6 de dezembro de 2007 ON LU ARTOLI Relator
score : 1.0
Numero do processo: 10840.004967/92-51
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 27 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Feb 22 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/12/1990 a 01/12/1991
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA
Os embargos de declaração se prestam ao questionamento de omissão em acórdão proferido pelo CARF. Não identificado tal pressuposto, incabíveis os embargos, especialmente quando pretende dar aos embargos efeitos infringentes
Embargos Rejeitados.
Numero da decisão: 3201-002.007
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar os embargos. Fez sustentação oral, pela Recorrente, o advogado Alberto Daudt, OAB/RJ nº 50932.
(assinado digitalmente)
CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA - Presidente.
(assinado digitalmente)
MÉRCIA HELENA TRAJANO DAMORIM - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Mércia Helena Trajano Damorim, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, Winderley Morais Pereira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Carlos Alberto Nascimento e Silva Pinto, Tatiana Josefovicz Belisario e Cássio Schappo.
Nome do relator: MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM
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OMISSÃO. INEXISTÊNCIA Os embargos de declaração se prestam ao questionamento de omissão em acórdão proferido pelo CARF. Não identificado tal pressuposto, incabíveis os embargos, especialmente quando pretende dar aos embargos efeitos infringentes Embargos Rejeitados. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar os embargos. Fez sustentação oral, pela Recorrente, o advogado Alberto Daudt, OAB/RJ nº 50932. (assinado digitalmente) CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA Presidente. (assinado digitalmente) MÉRCIA HELENA TRAJANO DAMORIM Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Mércia Helena Trajano Damorim, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, Winderley Morais Pereira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Carlos Alberto Nascimento e Silva Pinto, Tatiana Josefovicz Belisario e Cássio Schappo. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 84 0. 00 49 67 /9 2- 51 Fl. 685DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 1 9/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 20/02/2016 por CHARLES MAYER D E CASTRO SOUZA 2 Relatório Em sessão transcorrida em 23 de abril de 2008, a segunda Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, por unanimidade de votos, rejeitou a preliminar arguida pela recorrente, e pelo voto de qualidade rejeitou a preliminar de nulidade material arguida pela Conselheira Rosa Maria de Jesus da Silva Costa de Castro, vencidos também os Conselheiros Luciano Lopes de Almeida Moraes, Marcelo Ribeiro Nogueira e Beatriz Veríssimo de Sena e por maioria de votos, acolheu a preliminar de nulidade formal arguida pela Conselheira Rosa Maria de Jesus da| Silva Costa de Castro. Vencidos os Conselheiros Corintho Oliveira Machado, relator, e Mércia Helena Trajano D'Amorim. Recurso voluntário, interposto pelo sujeito passivo nos termos do acórdão nº 30239.347, assim ementado: Assunto:Outros Tributos ou Contribuições Período de apuração: 01/12/1990 a 01/12/1991 NULIDADES. VÍCIO FORMAL. Anulase por vício de forma o auto de infração no qual estejam ausentes os motivos de fato e de direito determinantes de sua existência. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO. Cientificada da referida decisão, o sujeito passivo, tempestivamente, interpôs embargos de declaração, onde alega omissão ao julgado, tendo em vista inexistir fundamento para conclusão pelo vício formal. Complementa, ainda, que além de não ter qualquer fundamentação sobre o vício formal. Pelo contrário, toda a fundamentação do voto vencedor é no sentido do de vício material e, apenas, se concluiu pelo vício de forma em razão de que o vício material não teria alcançado o quórum vencedor. Diante do exposto, requer seja dado provimento aos embargos de declaração. Os embargos declaratórios foram conhecidos por decisão do Presidente da Turma, na forma do art. 65, caput, Anexo II, do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF n° 343, de 9 de junho de 2015. Foi determinada, assim, a inclusão do processo em pauta para julgamento do Colegiado. É o relatório. Voto Conselheiro MÉRCIA HELENA TRAJANO DAMORIM USINA SÃO FRANCISCO, inconformada com o desfecho da decisão no julgamento em apreço, opõe embargos, argumentando omissão ao julgado, tendo em vista inexistir fundamento para conclusão pelo vício formal, pois, toda a fundamentação do voto vencedor é no sentido do de vício material e, apenas, se concluiu pelo vício de forma em razão de que o vício material não teria alcançado o quórum vencedor. Fl. 686DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 1 9/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 20/02/2016 por CHARLES MAYER D E CASTRO SOUZA Processo nº 10840.004967/9251 Acórdão n.º 3201002.007 S3C2T1 Fl. 686 3 Versa o presente de Auto de Infração para exigência da Contribuição e Adicional ao Instituto do Açúcar e do Álcool IAA, acrescida de juros de mora e multa, por violação ao artigo 3° do DecretoLei n° 308/67, com as alterações introduzidas pelos artigos 1° e 2° do DecretoLei n° 1.712/79, e aos artigos 1° e 3° do DecretoLei n° 1.952/82, c/c o Decreto n° 86.022/88, e artigo 3°do DecretoLei n° 2.741/88, no período compreendido entre dezembro de 1990 a dezembro de 1991. Registrese que este processo, já incidiram Embargos de Declaração, em face da decisão judicial expressando claramente que determinação anterior do Poder Judiciário era de que o Conselho de Contribuintes apreciasse o mérito do recurso voluntário, anulandose o processo a partir do acórdão do Segundo Conselho de Contribuintes e determinasse o retomo dos autos ao Terceiro Conselho, ora detentor da competência para proferir novo julgado. Depreendese dos autos, que a Conselheira Rosa Maria de Jesus da Silva Costa de Castro levantou questão preliminar, no decorrer do julgamento do recurso voluntário, quanto à existência de vício material no lançamento, que foi rejeitada pelo voto de qualidade, e, eventualmente, quanto à presença de vício formal na autuação, a qual, desta feita, restou acolhida pela maioria, sob o fundamento de que " o auto de infração não aponta a base de cálculo da exigência fiscal, isto é, não aponta exatamente aqueles atos administrativos que fixaram o valor da contribuição." Em seguida, a Procuradoria da Fazenda Nacional, interpôs embargos de declaração, os quais foram rejeitados, por entender a turma não possuir qualquer omissão. A PGFN embargou nos termos abaixo: ....... De fato, conforme se consegue depreender dos autos, a Conselheira Rosa Maria de Jesus da Silva Costa de Castro levantou questão preliminar, no decorrer do julgamento do recurso voluntário, quanto à existência de vício material no lançamento, que foi rejeitada pelo voto de qualidade, e, eventualmente, quanto à presença de vício formal na autuação, a qual, desta feita, restou acolhida pela maioria, sob o fundamento de que " O AUTO DE INFRAÇÃO N Ã O A P O N T A A B A S E DE CÁLCULO D A EXIGÊNCIA FISCAL, ISTO É, N Ã O A P O N TA EXATAMENTE AQUELES ATOS ADMINISTRATIVOS QUE FIXARAM O VALOR DA CONTRIBUIÇÃO." (fl. 596). 4. Diante do acolhimento da preliminar de vício formal, foi lavrado o Voto vencedor neste capítulo, de fls. 596/598. 5. Nesse ponto, segundo o que se pode colher da conclusão da decisão impugnada, o Relator, vencido na questão preliminar levantada pela i. Conselheira, teria se posicionado pela apreciação do mérito do apelo da contribuinte. 6. Ressaltese, entretanto, que, embora se consiga extrair tal entendimento da leitura da conclusão do acórdão citado, o voto vencido quanto à questão preliminar não expôs as razões pelas quais não reconhecia a existência de vício no lançamento efetuado, ao passo que optava pela apreciação do mérito recursal. Fl. 687DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 1 9/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 20/02/2016 por CHARLES MAYER D E CASTRO SOUZA 4 ........... Ante o exposto, requer a União sejam conhecidos os presentes Embargos, reconhecendose a omissão apontada, para o fim de pronunciarse quanto à divergência existente entre o voto vencido e o voto vencedor acerca da existência ou inexistência de vício no lançamento analisado, tornandoa expressa na conclusão do acórdão embargado, assim como nas razões levantadas pelo voto vencido. Portanto, a Conselheira relatora Rosa Maria de Jesus da Silva Costa de Castro apreciou da seguinte forma: Assim sendo, entendo que a decisão embargada não possui qualquer omissão passível de prejudicar o direito de a Procuradoria interpor o Recurso Especial previsto pelo art.67 do atual Regimento Interno e, portanto, voto por conhecer dos Embargos apresentados para negarlhes provimento. Em sendo assim, a embargante, frente a esta decisão, apresentou embargos de declaração, aludindo que o acórdão seria omisso em relação à classificação do vício formal, pois o voto (voto vencedor) foi conduzido pelo vício material. Observo, contudo, que a matéria suscitada pela ora embargante, para todo efeito, de certa forma, já foi apreciada quando dos embargos interpostos pela Fazenda Nacional, quando rejeitou os mesmos, esclarecendo que não havia qualquer tipo de omissão. No entanto, vide trecho do voto vencedor (da relatora): ..... (....) À vista do exposto, entendi, a princípio, que a ausência da indicação no auto de infração da base de cálculo do crédito tributário conduziria a sua nulidade por vício material. Todavia, em que pese a maioria da Câmara reconhecer o defeito do auto de infração, fui vencida apenas em relação à minha conclusão, motivo pelo qual levantei, também de ofício, a nulidade por vício formal, ao final, acatada. Percebese que a arguição da embargante tem por objetivo verificar a possibilidade de reverter o julgado para o vício material, para não ser aplicado, ao caso, o art. 173, II do CTNCódigo Tributário Nacional, que estabelece o prazo decadencial para a constituição do crédito tributário em relação à lançamento anulado por vício formal, mas pelo trecho do voto acima, a relatora indica que a turma reconheceu o defeito no auto de infração e concluiu pela nulidade por vício formal. Convém salientar que a adoção da regra especial de decadência do art. 173, II, do CTN, no plano do vício formal, que autoriza um segundo lançamento sobre o mesmo fato, exige que a obrigação tributária tenha sido plenamente definida no primeiro lançamento. Então, transcrevendo Ives Gandra Martins, o segundo lançamento visa "preservar um direito já previamente qualificado, mas inexeqüivel pelo vício formal detectado". Ora, se o direito já estava previamente qualificado, o segundo lançamento, suprida a formalidade antes não observada, deve basearse nos mesmos elementos probatórios do primeiro lançamento. Fl. 688DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 1 9/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 20/02/2016 por CHARLES MAYER D E CASTRO SOUZA Processo nº 10840.004967/9251 Acórdão n.º 3201002.007 S3C2T1 Fl. 687 5 Com a devida vênia, não há que se falar em omissão no referido acórdão, fundado que está em legítima interpretação da norma por parte do colegiado que julgou a lide, não obstante ter sido de forma sucinta e pela conclusão a que se chegoupara anular o lançamento por vício de forma. Se a embargante não se conforma com aludido entendimento, tem a seu dispor a possibilidade de interpor recurso especial, como faculta o artigo 67 do anexo II do Regimento do CARF. Destarte, não se acolhem os embargos de declaração, por omissão a que alude a embargante, quando pretende dar aos embargos efeitos infringentes. Da conclusão Diante do exposto, voto para que seja conhecido e rejeitado o recurso formulado pela embargante. (assinado digitalmente) MÉRCIA HELENA TRAJANO DAMORIM Relator Fl. 689DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 1 9/02/2016 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM, Assinado digitalmente em 20/02/2016 por CHARLES MAYER D E CASTRO SOUZA
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Numero do processo: 10510.001918/2003-21
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Dec 10 00:00:00 UTC 2015
Data da publicação: Thu Dec 31 00:00:00 UTC 2015
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Data do fato gerador: 10/04/1998, 15/05/1998
DECADÊNCIA PARA LANÇAR.
As decisões do Superior Tribunal de Justiça, em sede de recursos repetitivos, por força do art. 62-A do Regimento Interno do CARF, devem ser observadas no Julgamento deste Tribunal Administrativo.
O prazo decadencial para a Fazenda Nacional constituir o crédito pertinente ao Imposto sobre Operações Financeiras é de 05 anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento já poderia haver sido efetuado, na ausência de antecipação de pagamento.
Recurso Especial do Procurador Provido.
Numero da decisão: 9303-003.325
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso especial, determinando o retorno dos autos ao colegiado recorrido para análise das demais matérias trazidas no recurso voluntário. Vencidas as Conselheiras Tatiana Midori Migiyama, Vanessa Marini Cecconello e Maria Teresa Martínez López, que negavam provimento.
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente
Henrique Pinheiro Torres - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Henrique Pinheiro Torres, Tatiana Midori Migiyama, Gilson Macedo Rosenburg Filho, Demes Brito, Rodrigo da Costa Pôssas, Valcir Gassen, Joel Miyazaki, Vanessa Marini Cecconello, Maria Teresa Martínez López e Carlos Alberto Freitas Barreto.
Nome do relator: HENRIQUE PINHEIRO TORRES
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Data do fato gerador: 10/04/1998, 15/05/1998 DECADÊNCIA PARA LANÇAR. As decisões do Superior Tribunal de Justiça, em sede de recursos repetitivos, por força do art. 62-A do Regimento Interno do CARF, devem ser observadas no Julgamento deste Tribunal Administrativo. O prazo decadencial para a Fazenda Nacional constituir o crédito pertinente ao Imposto sobre Operações Financeiras é de 05 anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento já poderia haver sido efetuado, na ausência de antecipação de pagamento. Recurso Especial do Procurador Provido.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso especial, determinando o retorno dos autos ao colegiado recorrido para análise das demais matérias trazidas no recurso voluntário. Vencidas as Conselheiras Tatiana Midori Migiyama, Vanessa Marini Cecconello e Maria Teresa Martínez López, que negavam provimento. Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente Henrique Pinheiro Torres - Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Henrique Pinheiro Torres, Tatiana Midori Migiyama, Gilson Macedo Rosenburg Filho, Demes Brito, Rodrigo da Costa Pôssas, Valcir Gassen, Joel Miyazaki, Vanessa Marini Cecconello, Maria Teresa Martínez López e Carlos Alberto Freitas Barreto.
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As decisões do Superior Tribunal de Justiça, em sede de recursos repetitivos, por força do art. 62A do Regimento Interno do CARF, devem ser observadas no Julgamento deste Tribunal Administrativo. O prazo decadencial para a Fazenda Nacional constituir o crédito pertinente ao Imposto sobre Operações Financeiras é de 05 anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento já poderia haver sido efetuado, na ausência de antecipação de pagamento. Recurso Especial do Procurador Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso especial, determinando o retorno dos autos ao colegiado recorrido para análise das demais matérias trazidas no recurso voluntário. Vencidas as Conselheiras Tatiana Midori Migiyama, Vanessa Marini Cecconello e Maria Teresa Martínez López, que negavam provimento. Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente Henrique Pinheiro Torres Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 51 0. 00 19 18 /2 00 3- 21 Fl. 478DF CARF MF Impresso em 31/12/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/12/2015 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 23/12/2015 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES, Assinado digitalmente em 28/12/2015 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10510.001918/200321 Acórdão n.º 9303003.325 CSRFT3 Fl. 479 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros Henrique Pinheiro Torres, Tatiana Midori Migiyama, Gilson Macedo Rosenburg Filho, Demes Brito, Rodrigo da Costa Pôssas, Valcir Gassen, Joel Miyazaki, Vanessa Marini Cecconello, Maria Teresa Martínez López e Carlos Alberto Freitas Barreto. Relatório Tratase de auto de infração lavrado para exigência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), acrescidos de multa de ofício, juros de mora, multa isolada, multa de mora paga a menor e juros de mora pagos a menor ou não pagos. Segundo a alegação fiscal, o imposto corresponde a pagamentos declarados em DCTF e não confirmados, a multa de mora e os juros de mora a pagamentos em valores menores do que os devidos e multa isolada pelos pagamentos a destempo sem o acréscimo da multa moratória. Cientificada da exigência fiscal em 02/07/2003, a recorrente impugnou o lançamento sob as razões que foram assim sintetizadas pela DRJ em São Paulo: (i) Os débitos n" 9933275 e 9933276 foram pagos, conforme fotocópias dos DARF à fl.32; (ii) O débito com vencimento em 08/07/1998 foi pago em 09/07/1998 em face de feriado estadual previsto no art. 269 da Constituição do Estado de Sergipe; (iii) O débito com vencimento em 08/12/1998 também foi pago corretamente, em 09/12/1998, em face de feriado municipal; (iv) O débito no valor de R$ 107,64 foi compensado com pagamento efetuado a maior (débito de R$ 184.824,76 e pagamento no valor de R$ 184.932,40), nos termos da IN SRF n°21, de 1997, conforme DARF à fl. 33; (v) Quanto aos demais débitos, devese proceder a correção dos per/ac/os de apuração informados nos respectivos DARF (fls. 33/43). Analisada a impugnação, a DRJ julgou o lançamento procedente em parte, excluindo do seu total, a multa de mora e os juros moratórios recolhidos a menor, a multa isolada e parte do tributo lançado, mantendose apenas a exigência de R$ 100,19 (cem reais e dezenove centavos) a título de imposto, acrescido de multa de oficio e juros de mora, conforme Acórdão 1510.642, de 25/07/2006, assim ementado: DCTF. ERRO NO PREENCHIMENTO. Constatado erro no preenchimento da DCTF, exonerase o lançamento de oficio. ATRASO NO RECOLHIMENTO. MULTA DEMORA. Restando comprovado que o recolhimento foi efetuado no 3" dia útil da semana subseqüente a ocorrência do fato gerador, não há razão para que subsista o lançamento. Inconformada com essa decisão, a requerente interpôs recurso voluntário, requerendo o cancelamento do lançamento efetuado ao então Segundo Conselho de Fl. 479DF CARF MF Impresso em 31/12/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/12/2015 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 23/12/2015 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES, Assinado digitalmente em 28/12/2015 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10510.001918/200321 Acórdão n.º 9303003.325 CSRFT3 Fl. 480 3 Contribuintes, alegando, em síntese, que os valores foram pagos por meio de compensação. Apresentou comprovante de recolhimento dos valores, efetuados por outra empresa e posteriormente restituídos à mesma, a partir do Pedido de Restituição e Pedido de Compensação com Débitos de Terceiros, protocolados no dia 02.02.1999 no processo 10510.000281/9917. O pedido foi deferido pela Delegacia da Receita Federal de Aracaju/SE, em 13.08.1999, através do Parecer n° 592/1999 (fls. 282 a 284). Julgando o feito, a 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara, em sessão de julgamento de 04 de junho de 2009, deu provimento parcial ao recurso voluntário, em acórdão assim ementado (Acórdão 220100.281): ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 10/04/1998, 15/05/1998 DECADÊNCIA O prazo para a Fazenda Nacional exigir crédito tributário é de 05 (cinco) anos, contados a partir dos respectivos fatos geradores. Recurso provido. Inconformada, a Fazenda Nacional apresentou recurso especial de divergência, fls. 409 a 425, onde requer o afastamento da decadência e o consequente restabelecimento da exação fiscal. Segundo seu entendimento, como o contribuinte não teria efetuado nenhum pagamento de tributo, para fins de contagem de prazo decadencial não deveria ser aplicado o art. 150, § 4º, do CTN, e sim, o art. 173, I, do CTN. O especial foi admitido pelo Presidente da 4ª Câmara, nos termos do despacho de fl. 434. Regularmente cientificado, o sujeito passivo suas contrarrazões às fls. 453 a 469. É o relatório. Voto Conselheiro Henrique Pinheiro Torres, Relator O recurso é tempestivo e atende aos requisitos de admissibilidade, dele conheço. A teor do relatado, a questão submetida a debate cingese a do prazo extintivo para a Fazenda Pública constituir o crédito tributário. Segundo o julgador a quo, o lançamento foi cancelado pela constatação de que na data da constituição do crédito tributário, em 02/07/2003, já havia decorrido o prazo quinquenal de que a Fazenda Pública dispunha para exercer seu direito (data limite 20/05/2003). A Fazenda Nacional alega que o prazo decadencial deveria ser contado a partir do primeiro dia do exercício subsequente, conforme previsto no art. 173, I, do CTN, pela Fl. 480DF CARF MF Impresso em 31/12/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/12/2015 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 23/12/2015 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES, Assinado digitalmente em 28/12/2015 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10510.001918/200321 Acórdão n.º 9303003.325 CSRFT3 Fl. 481 4 inexistência de pagamento do tributo, afastando a decadência, e restabelecendose a exação fiscal. A questão do termo inicial dos 5 anos previstos no Código Tributário, se é da data da ocorrência do fato gerador ou se do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento já poderia haver sido efetuado, já foi decidida pelo STJ, e seu entendimento deve ser obrigatoriamente seguido pelas turmas julgadoras do CARF. Em situação similar, o STJ, em sede de recurso repetitivo, decidiu que, nos tributos cujo lançamento é por homologação, o prazo para constituição do crédito tributário é de 5 anos, contados a partir da ocorrência do fato gerador, quando houver antecipação de pagamento, e do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento já poderia ter sido efetuado, no caso de ausência de antecipação de pagamento, ou na ocorrência de dolo, fraude ou simulação. Portanto, para o deslinde da questão importanos identificar a existência ou não de pagamento do tributo, ainda que parcial, de forma a configurar a situação prevista no art. 150, § 4º, do CTN, que determina a contagem do prazo decadencial a partir da ocorrência do fato gerador, para aqueles tributos sujeitos a lançamento por homologação. Pelos elementos que constam dos autos, não restam dúvidas que o contribuinte autuado, BANCO DO ESTADO DO SERGIPE (CNPJ 13.009.717/000146), não efetuou o recolhimento dos valores que ainda estão em litígio (fatos geradores ocorridos em 10/04/1998 e 15/05/1998). Também se constata que o Fundo de Investimento administrado pelo BANESE (FUNDO BANESE DE INVESTIMENTOS, CNPJ 32.896.961/000112) efetuou diversos recolhimentos que posteriormente foram restituídos e compensados, conforme Processo 10510.000281/9917. Dessa forma, verificase que não houve antecipação de pagamento, o que leva, inexoravelmente, à aplicação da regra prevista no inciso I do art. 173 do CTN. Nem mesmo a compensação alegada pela interessada foi efetuada tempestivamente (foi solicitada apenas em 02/02/1999), de forma a determinar como termo inicial do prazo decadencial a data do fato gerador. Não se pode punir o Fisco por uma inércia inexistente à época. De outro lado, constatase da documentação acostada aos autos que a exigência se refere a crédito tributário cujos fatos geradores ocorreram nos períodos de apuração compreendidos em abril e maio de 1998. De outro turno, a ciência do auto de infração ocorreu em 02 de julho de 2003. Assim, nessa data, o crédito tributário relativo aos fatos geradores ocorridos em abril e maio de 1998 ainda não tinham sido alcançados pela decadência, visto que o termo inicial se iniciou em 1º de janeiro de 1999 (primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento já poderia ter sido efetuado), e o final, 31 de dezembro de 2003. Com essas considerações, voto no sentido de dar provimento ao recurso da Fazenda Nacional para afastar a decadência do direito de a Fazenda constituir crédito relativo a fatos geradores ocorridos em abril e maio de 1998, determinando o retorno dos autos ao colegiado recorrido, para análise das demais matérias trazidas no recurso voluntário. Henrique Pinheiro Torres Fl. 481DF CARF MF Impresso em 31/12/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/12/2015 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 23/12/2015 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES, Assinado digitalmente em 28/12/2015 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO
score : 1.0
Numero do processo: 10380.014870/2002-62
Turma: Segunda Turma Ordinária da Primeira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Primeira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 11 00:00:00 UTC 2012
Ementa: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Exercício: 2003
Ementa: DECADÊNCIA. Mantida a qualificadora da penalidade de ofício, impõe-se aplicar ao caso o prazo decadencial previsto pelo art. 173, I do CTN, segundo o qual o termo a quo para a constituição do crédito tributário é o primeiro dia útil do exercício seguinte àquele que o lançamento poderia ter sido constituído. No caso, consideradas as datas de ciência do lançamento (13.11.2002) e de ocorrência do fato gerador (31.12.1996), rejeita-se a preliminar de decadência arguida pela Contribuinte.
MULTA QUALIFICADA. OMISSÃO DE RECEITAS. Coerentemente com o entendimento firmado pela maioria dos integrantes da Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, segundo o qual haveria no caso prova direta de omissão de receitas, impõe-se manter a qualificadora da multa de ofício aplicada ante o disposto no art. 71 da Lei n. 4.502/64 e a relevância dos montantes omitidos.
Recurso voluntário a que se nega provimento.
Numero da decisão: 1102-000.792
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de decadência e, no mérito, NEGAR provimento ao recurso. O Conselheiro José Sérgio Gomes acompanhou pelas conclusões em relação à qualificação da multa de ofício.
Matéria: IRPJ - AF- lucro presumido(exceto omis.receitas pres.legal)
Nome do relator: Antonio Carlos Guidoni Filho
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Recorrida FAZENDA NACIONAL Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Exercício: 2003 Ementa: DECADÊNCIA. Mantida a qualificadora da penalidade de ofício, impõese aplicar ao caso o prazo decadencial previsto pelo art. 173, I do CTN, segundo o qual o termo a quo para a constituição do crédito tributário é o primeiro dia útil do exercício seguinte àquele que o lançamento poderia ter sido constituído. No caso, consideradas as datas de ciência do lançamento (13.11.2002) e de ocorrência do fato gerador (31.12.1996), rejeitase a preliminar de decadência arguida pela Contribuinte. MULTA QUALIFICADA. OMISSÃO DE RECEITAS. Coerentemente com o entendimento firmado pela maioria dos integrantes da Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, segundo o qual haveria no caso prova direta de omissão de receitas, impõese manter a qualificadora da multa de ofício aplicada ante o disposto no art. 71 da Lei n. 4.502/64 e a relevância dos montantes omitidos. Recurso voluntário a que se nega provimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de decadência e, no mérito, NEGAR provimento ao recurso. O Conselheiro José Sérgio Gomes acompanhou pelas conclusões em relação à qualificação da multa de ofício. – (assinado digitalmene) Albertina Silva Santos De Lima Presidente. (assinado digitalmene) Antonio Carlos Guidoni Filho Relator. Fl. 1493DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 2 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Albertina Silva Santos de Lima, Antonio Carlos Guidoni Filho, João Otávio Opperman Thomé, Silvana Rescigno Guerra Barreto, José Sérgio Gomes, João Carlos de Figueiredo Neto. Relatório Por representar bem a controvérsia em exame, peço vênia para adotar trecho do relatório constante do acórdão proferido pela extinta Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes em exame de recurso voluntário, verbis: ACCARD ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE SERVIÇOS S/A, já qualificada nestes autos, recorre a este Colegiado, através da petição de fls. 543/586, do Acórdão nº 1.439, de 27/06/2002 (fls. 501/531), prolatado pela e. 3ª Turma de Julgamento da DRJ em Fortaleza CE, que julgou procedente o crédito tributário constituído nos autos de infração de IRPJ, fls. 16; PIS, fls. 20; CSLL, fls. 24; e COFINS, fls. 28. A infração fiscal apurada encontrase relatada no Termo de Constatação e Verificação Fiscal (fls. 32/64), conforme abaixo: Omissão de Receitas caracterizada pela não apropriação em contas de resultado, dos valores recebidos da empresa Hannover Comércio, Representação e Marketing Ltda., nos meses de julho (dias 05 e 09) e agosto (dia 09) do anocalendário de 1996. Fato GeradorValor Tributável 31/12/1996R$ 1.000.000,00 31/12/1996R$ 1.075.000,00 31/12/1996R$ 1.000.000,00 Enquadramento Legal: Arts. 193, 195, inciso II, 197 e parágrafo único, 225, 226 e 227, do RIR/94; Art. 24 da Lei n º 9.249/95; Arts. 6 e 8 da Lei nº 8.846/94; e Art. 31 da Lei nº 8.981/95. Diante da irregularidade apurada, os autuantes procederam a aplicação da multa qualificada de 150%. Tempestivamente a contribuinte insurgiuse contra a exigência, nos termos da impugnação de fls. 463/497. A Turma de Julgamento de primeira instância decidiu pela procedência do lançamento, conforme acórdão citado, cuja ementa tem a seguinte redação: “Normas Gerais de Direito Tributário Exercício: 1997 Fl. 1494DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 3 3 DECADÊNCIA Para o lançamento de ofício do imposto de renda, a decadência se opera pelo decurso do prazo de cinco anos da entrega da declaração. Para as contribuições sociais, a decadência ocorre após dez anos do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o crédito poderia ter sido constituído. Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 1996 OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. O depósito bancário há de, comprovadamente, ser satisfeito quanto à origem dos recursos, sob pena de têlos por receitas omitidas, se não forem apresentadas provas documentais incontestáveis. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. Fica configurado evidente intuito de fraude, implicando a qualificação da multa de ofício, se o contribuinte dolosamente retarda o conhecimento, pelo fisco, da ocorrência do auferimento de receita, provada pela movimentação em contas bancárias, cuja identificação (e, portanto, exame) tentou esconder, encobrindo a verdadeira natureza da operação bancária. JUROS DE MORA. TAXA SELIC A partir de abril de 1995, o crédito tributário não integralmente pago no vencimento será acrescido de juros de mora, equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente. A exigência de juros de mora com base na Taxa Selic está em total consonância com o Código Tributário Nacional, haja vista a existência de leis ordinárias que expressamente a determina. JULGAMENTO ADMINISTRATIVO. ALCANCE. A função das Delegacias da Receita Federal de Julgamento, como órgãos de jurisdição administrativa, consiste em examinar a consentaneidade dos procedimentos fiscais com as normas legais vigentes, não lhes sendo facultado pronunciarse a respeito da conformidade da lei, validamente editada, com os demais preceitos emanados pela Constituição Federal. Processo Administrativo Fiscal Anocalendário: 1996 NULIDADE Não provada violação das disposições contidas no art.142 do CTN, nem dos arts. 10 e 59 do Decreto nº 70.235/72, não há que Fl. 1495DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 4 4 se falar em nulidade do lançamento formalizado através de auto de infração. TRIBUTAÇÃO REFLEXA Contribuição para o Programa de Integração Social – PIS. Contribuição para Financiamento da Seguridade Social – COFINS. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL. Dada a íntima relação de causa e efeito que vincula um ao outro, a decisão proferida no lançamento principal é aplicável aos lançamentos decorrentes. Lançamento Procedente” Ciente da decisão de primeira instância em 14/08/02 (fls. 537), a contribuinte interpôs tempestivo recurso voluntário em 13/09/02 (fls. 542), sob os seguintes fundamentos: a) que o art. 150 do CTN prevê de maneira expressa que o prazo conferido à Fazenda para a constituição do crédito tributário, relativo aos impostos sujeitos ao lançamento por homologação é de cinco anos, contados da ocorrência do fato gerador, findo o qual considerase homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito tributário; b) que os lançamentos decorrentes, de PIS, COFINS e CSLL também têm como regra de decadência o que determina o art. 150 do CTN, ou seja, tais tributos são da modalidade por homologação, e o Fisco tem cinco anos, a contar do fato gerador, para efetuar qualquer lançamento de ofício; c) que o enquadramento legal aplicado (arts. 6º e 8º da Lei 8.846/94), relativo à omissão de receitas não condiz com a descrição dos fatos apresentados – omissão de receitas com base em depósitos bancários de origem não comprovada. Caso os depósitos não tivessem sua origem justificada e afastada a decadência, o lançamento não teria base legal, já que a suposta omissão de receitas com base em depósitos não justificados só veio fazer parte do mundo jurídico com o advento da Lei 9430/96, produzindo efeitos a partir de 01/01/97, portanto, posteriormente aos fatos geradores do pretenso lançamento, tornando o auto de infração nulo; d) que, utilizandose de prova emprestada, a fiscalização lavrou o auto de infração, prova essa que nada mais é do que anotações feitas a mão, no verso de dois cheques, cuja emissão é de uma empresa denominada Hannover. No verso desses dois cheques constam anotações de transferências de recursos via DOCs; e) que os valores questionados pelo Fisco estão demonstrados por DOCs e livros Diário e Razão, devidamente contabilizados. A prova não passa de um mero indicador de numeração de conta bancária de uma empresa denominada Hannover, e apenas com base nessa suspeita, quer o Fisco considerar os valores integrais dos DOCs, como sendo omissão de receitas; Fl. 1496DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 5 5 f) que os valores questionados pelos fiscais estão devidamente registrados na contabilidade da recorrente e nos extratos bancários correspondentes. Até mesmo os depósitos não contabilizados (o que não é o caso da recorrente) não devem ser tidos como omissão de receitas; g) que a decisão recorrida afirma que o depósito bancário constitui riqueza nova, aumentando o patrimônio da autuada. É óbvio que só se aplica tal raciocínio quando o depósito não está contabilizado e é encontrado pelo Fisco; h) que não há como concordar com os julgadores de primeira instância. Se na hipótese de uma fiscalização, for constatado que há no balanço uma duplicata a pagar, e se esta duplicata tem o registro mecânico do banco, indicando que o pagamento ocorreu antes da data do encerramento do balanço, está caracterizada, provada a ocorrência de um passivo fictício; i) que os fiscais e os julgadores não entenderam ou não quiseram entender as explicações apresentadas. A empresa tem como atividade principal pagar a folha de salários de seus clientes, mediante recursos por eles fornecidos. Referido serviço exige sempre o uso de moeda corrente em grande quantidade e de maneira urgente. Essa é a razão porque a conta Caixa mostra uma elevada movimentação de dinheiro, o que pode ser comprovado através do livro Razão. É comum a troca de cheques de terceiros por dinheiro da recorrente. Nestes casos não há registro contábil pois, na esmagadora das vezes a devolução se dá imediatamente; j) que fez a prova dos depósitos realizados pela entrega dos comprovantes originais (DOCs), bem como os livros Diário e Razão, onde se assentaram os lançamentos contábeis de tais depósitos, tudo de conformidade com os extratos bancários. A farta jurisprudência administrativa e judicial é unânime ao afirmar que descabe lançamento por presunção de omissão de receitas, com base exclusivamente em depósitos bancários, a menor que comprovado o nexo causal entre o depósito e a receita. No presente processo, não há nada que indique ter havido qualquer tipo de receita; k) que não houve uma única ação ou qualquer tipo de omissão por parte da recorrente que, com dolo, tenha impedido ou retardado qualquer obrigação tributária, ou mesmo modificado qualquer fato gerador, no intuito de evitar ou postergar o pagamento de qualquer tipo de tributo, portanto, não há que se falar em multa qualificada; l) que é ilegal a cobrança de juros moratórios com base na taxa SELIC. Às fls. 639, o despacho da DRF em Fortaleza CE, com encaminhamento do recurso voluntário, tendo em vista o atendimento dos pressupostos para a admissibilidade e seguimento do mesmo.” Fl. 1497DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 6 6 Em exame ao recurso voluntário interposto pela Contribuinte, a extinta Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes deu provimento ao recurso voluntário da Interessada para cancelar os autos de infração de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS fundamentados em acusação de omissão de receita consubstanciada em depósitos bancários de alegada origem não comprovada. Entendeu o Colegiado a quo, por maioria de votos, que o Fisco não reuniu elementos suficientes para demonstrar que referidos depósitos de fato se tratavam de receitas não contabilizadas pela Interessada decorrentes de eventual prestação de serviços desta em favor de Hannover Comércio, Representação e Marketing Ltda.. Segundo o acórdão recorrido, “apesar de a escrita da recorrente e da HANNOVER haver sido submetida a rigorosa fiscalização por mais de dois anos, quando foram examinadas todas as operações, tendo em vista que o sigilo fiscal desta última, inclusive, já havia sido quebrado e repassado à autoridade fiscal por uma CPI do Congresso, NÃO FOI APURADA nenhuma prestação de serviço da Recorrente com a HANNOVER que pudesse dar ensejo ao valor que a Fiscalização supôs dar origem à emissão dos DOCs, onde constou como remetente e destinatária a recorrente. Do mesmo modo, examinada a escrita da HANNOVER também o Fisco não arrolou qualquer obrigação por operação ou prestação de serviço daquela para com a recorrente. Acrescentese que, ad argumentandum, evidentemente embora fosse admitido que a origem dos recursos que deram lastro à emissão dos referidos DOCs tivesse origem com recursos da HANNOVER, a tal conclusão se contraporia o fato de que não pode ficar oculta uma prestação de serviços que teria dado origem ao pagamento de R$ 3.075.000,00, no intervalo de um mês. No mínimo que se pode dizer é que se alguma prestação de serviços desse montante ocorreu, o Fisco, mesmo de posse de um indício que considerou relevante a ponto de utilizálo para fazer uma acusação tão grave de sonegação fiscal, com todas as suas implicações, não se aprofundou o necessário no exame da escrita de duas empresas.” Com base em tais premissas, o acórdão recorrido reconheceu a improcedência do lançamento sob o fundamento de que, anteriormente à edição da Lei n. 9.430/96, inexistia fundamento legal para presumir omissão de receita em face da mera existência de depósitos bancários, mormente quando o contribuinte apresenta escrituração regular de suas contas bancárias. Vejase, a título ilustrativo, ementa do v. acórdão em referência, verbis: “PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. NULIDADE – IMPROCEDÊNCIA – Não há que se falar em nulidade do auto de infração quando o mesmo possui todos os elementos necessários à compreensão inequívoca da exigência e dos fatos que o motivaram, encontrandose ainda, com o correto enquadramento legal da infração fiscal. Fl. 1498DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 7 7 IRPJ – OMISSÃO NO REGISTRO DE RECEITAS – DEPÓSITOS BANCÁRIOS. – A existência de depósitos bancários se traduz como mero indício, podendo vir a evidenciar omissão no registro de receitas, caso a Fiscalização comprove no nexo causal entre o fato e cada um dos créditos em conta corrente bancária. A simples existência de anotação no verso do cheque, indicando eventual destinação de parte do valor como lastro para emissão de DOC em favor da pessoa jurídica, não é bastante para autorizar a conclusão de que teria ocorrido omissão no registro de receitas. MULTA QUALIFICADA Se as provas carreadas aos autos pelo fisco, não evidenciam a intenção dolosa de evitar a ocorrência do fato gerador, descabe a aplicação da multa qualificada. Ademais, não é cabível a penalidade exasperada quando o fato apurado derivar de presunção legal relativa.” TRIBUTAÇÃO REFLEXA PIS COFINS CSLL Em se tratando de contribuições lançadas com base nos mesmos fatos apurados no lançamento relativo ao Imposto de Renda, a exigência para sua cobrança é decorrente e, assim, a decisão de mérito prolatada no procedimento matriz constitui prejulgado na decisão dos créditos tributários relativos às citadas contribuições. Recurso conhecido e provido.” Contra referido acórdão a Fazenda Nacional interpôs recurso especial à Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, ao qual foi dado provimento parcial por meio do Acórdão n. 910100.625, assim ementado, verbis: Assunto: NORMAS GERIAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ementa: DECADÊNCIA Nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação, o termo inicial para a contagem do prazo qüinqüenal de decadência para constituição do crédito é a ocorrência do respectivo fato gerador, a teor do art. 150, § 4o do CTN. Precedentes da CSRF. IRPJ OMISSÃO DE RECEITAS TRANSFERÊNCIAS BANCÁRIAS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA Anteriormente a instituição da presunção legal de que trata o art. 42 da Lei n° 9.430/1996 era, sim, possível tributar omissão de receitas com base em movimentação bancária de origem não comprovada, desde que a fiscalização aprofundasse suas investigações e colhesse elementos probantes suficientes a sua caracterização, conforme ocorreu no presente caso, porquanto a presunção legal deve ser entendida como sendo uma autorização para que o lançamento de oficio seja efetuado com base apenas em prova Fl. 1499DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 8 8 indiciária, significando dizer que o ônus de apresentála passa a ser do sujeito passivo e não mais da fiscalização.” A par do provimento parcial da insurgência da Fazenda Nacional, determinouse por meio do citado acórdão o retorno dos autos à instância a quo para exame da “das demais questões de mérito” que não teriam sido apreciadas pelo Colegiado a quo naquela oportunidade. Verbis: “Por essas razões é que votei por DAR provimento ao Recurso Especial da Procuradoria da Fazenda Nacional — PFN, quanto A. infração fiscal descrita no item 002 — OMISSÃO DE RECEITAS do Auto de Infração (fls. 20), determinandose o retorno dos autos à câmara a quo para análise das demais questões de mérito.” É o relatório. Voto Conselheiro ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO O recurso voluntário é tempestivo e interposto por parte legítima, pelo que dele tomo conhecimento. Conforme se depreende do cotejo entre os atos decisórios proferidos neste processo administrativo e as petições apresentadas pela Contribuinte, verificase que “as demais questões de mérito” a que alude o acórdão proferido pela Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais são: (i) existência ou não de intuito de fraude quanto ao item 2 do auto de infração (omissão de receitas), com reflexos na definição do termo a quo do prazo decadencial e na multa de ofício; e (ii) legitimidade da exigência de juros moratórios equivalentes à taxa selic. Conforme salientado em sede de relatório, a autuação está fundamentada em acusação de suposta omissão de receitas caracterizada pela não apropriação em contas de resultado, dos valores recebidos da empresa Hannover Comércio, Representação e Marketing Ltda., nos meses de julho e agosto do anocalendário de 1996, cujos valores encontramse informados nos Termos de Intimação de n. 13 e 14 (fls. 493 e seguintes). Tal como já ocorrera em caso análogo ao presente (Processo n. 10380.006289/200277), do qual fui Relator, o lançamento foi lavrado após longo período de fiscalização na Interessada (03.02.1999 a 13.11.2002) e tomou por base documentos remetidos pela CPI dos títulos públicos relativos a quebra de sigilo bancário da empresa Hannover Comércio, Representação e Marketing Ltda. Dentre tais documentos, a Fiscalização localizou cheques emitidos pela Hannover em cujos versos constavam números de DOCs bancários cuja beneficiária era a Contribuinte. Em tais DOCs, a Contribuinte constava como remetente e beneficiária dos recursos respectivos. Fl. 1500DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 9 9 No exame do caso em julgamento realizado pela Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, assim me posicionei, verbis: Das intimações acima referidas e do trecho do termo de verificação acima transcrito, verificase que a Fiscalização preocupouse em buscar indícios que indicassem a Hannover como a verdadeira remetente dos valores depositados na conta corrente da Interessada. Contudo, a Fiscalização não apresentou nenhum outro indicio de omissão de receita que não fosse a própria existência de depósitos bancários cuja origem não tinha sido adequadamente comprovada pela Contribuinte, apesar de regularmente intimada para essa finalidade. A Fiscalização não trouxe outros elementos aos autos que pudessem demonstrar a preexistência de prestação de serviços ou de operação comercial entre as partes que justificasse o aferimento de receita pela Interessada. Em síntese, não houve a apresentação de indícios pelo Fisco que pudessem indicar que tais depósitos significavam, de fato, um acréscimo patrimonial omitido pela Interessada. No particular, merece ser transcrito o trecho do acórdão recorrido sobre o tema, verbis: Como dito anteriormente, a exigência tem como único suporte a anotação constante no verso daqueles. Apesar de a escrita da recorrente e da HANNOVER haver sido submetida a rigorosa fiscalização por mais de dois anos, quando foram examinadas todas as operações, tendo em vista que o sigilo fiscal desta última, inclusive, já havia sido quebrado e repassado a autoridade fiscal por uma CPI do Congresso, NÃO FOI APURADA nenhuma prestação de serviço da Recorrente com a HANNOVER que pudesse dar ensejo ao valor que a Fiscalização supôs dar origem a emissão dos DOCs, onde constou como remetente e destinatária a recorrente. Do mesmo modo, examinada a escrita da HANNOVER também o Fisco não arrolou qualquer obrigação por operação ou prestação de serviço daquela para com a recorrente. Acrescentese que, ad argumentandum, evidentemente embora fosse admitido que a origem dos recursos que deram lastro a emissão dos referidos DOCs tivesse origem com recursos da HANNOVER, a tal conclusão se contraporia o fato de que não poderia ficar oculta uma prestação de serviços que teria dado origem ao pagamento de R$ 3.075.000,00, no intervalo de um mês. No mínimo que se pode dizer é que se alguma prestação de serviços desse montante ocorreu, o Fisco, mesmo de posse de um indicio que considerou tão importante aponto de utilizálo para fazer uma acusação tão grave de sonegação fiscal, com todas as suas implicações, não se aprofundou o necessário no exame da escrita das duas empresas. Não tendo sido demonstrado pela Fiscalização correlação entre os depósitos bancários e outros elementos internos e externos relativos a uma possível operação comercial entre a Interessada Fl. 1501DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 10 10 e a Hannover, ou quaisquer outros indícios (além do próprio depósito bancário) que pudessem evidenciar a omissão de receitas, é incabível o lançamento efetuado com suporte exclusivamente em valores de depósitos bancários, por não caracterizarem, por si sós, disponibilidade econômica de renda em períodos anteriores à vigência da Lei n. 9.430/96. A jurisprudência da Primeira Turma da Camara Superior de Recursos Fiscais é pacifica neste sentido, verbis: (...) Por tais fundamentos, oriento meu voto no sentido de negar provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional nessa parte.” Coerentemente com o entendimento firmado pela maioria dos integrantes da Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, segundo o qual haveria no caso provas diretas de omissão de receitas no caso concreto, entendo não ser possível afastar a qualificadora da multa de ofício aplicada ante o disposto no art. 71 da Lei n. 4.502/64. De fato, conforme se depreende do exame dos autos, o item 2 do auto de infração contempla acusação de omissão de receita correspondente a valor de aproximadamente R$ 29.000.000,00 (vinte e nove milhões de reais) em apenas 2 (dois) meses (agosto e setembro de 1996). Embora a quantidade de lançamentos omitida pela Contribuinte não seja expressiva visàvis suas atividades regulares, é certo que o volume de recursos tidos como omitidos pela Fiscalização é bastante significativo e mereceria justificativa mais contundente da Contribuinte quanto a origem e tributação dos recursos respectivos. Ausente tal justificativa, não me parece possível afastar a acusação fiscal de que a Contribuinte de fato pretendia voluntariamente afastar o conhecimento da ocorrência do fato gerador da D. Autoridade Fazendária. Assim, no meu entender, não merece reparos a assertiva da decisão de primeira instância, no sentido de que: Diferentemente do que entende a requerente em sua impugnação, confrontando o texto legal supra com os fatos não só relatados mas também comprovados pelos autuantes, somos forçados a reputar que ficou caracterizado, em tese, o evidente intuito de fraude, considerando, para ilustração, apenas a operação acima descrita, do suprimento da conta corrente no BIC Banco em 1°107/96 , dentre as inúmeras realizadas com a empresa Hannover o que caracteriza, portanto, o intuito'de elidir a verdadeira natureza da operação, ou seja, encobrir de forma dissimulada a atividade operacional envolvendo referidas empresas, indo, portanto, ao encontro das determinações contidas nos artigos 71, 72 e 73 da Lei No. 4.502/64. Os autores de direito penal costumam dividir o dolo em duas categorias: o dolo determinado ou especifico e o dolo indeterminado. 0 primeiro distinguese pela vontade do agente de obter o resultado de sua ação; o segundo, por não visar o agente ao resultado, mas tãosomente assumir o risco de o produzir. A distinção é de somenos importância para a Fl. 1502DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO Processo nº 10380.014870/200262 Acórdão n.º 110200.792 S1C1T2 Fl. 11 11 caracterização do ilícito penal. Primeiro porque, de acordo com o artigo 18 do Código Penal, considerase doloso o crime seja quando o agente quis o resultado, seja quando simplesmente assumiu o risco de o produzir. Segundo porque, como vimos, na definição de intuito de fraude dada pela Lei n° 4.502, de 1964, tampouco se faz distinção alguma entre dolo especifico e dolo indeterminado. 0 texto legal emprega apenas a expressão "ação dolosa". Basta, em suma, para o fim de aplicar a multa qualificada que fique evidenciado o intuito de fraude. E esse intuito, repitase, inferese sem esforço dos fatos mencionados. Esses mesmos fatos desdizem também a afirmação da impugnante de que a autuada não teria retardado qualquer obrigação tributária, nem impedido o fato gerador. Por amor â exatidão, devese lembrar que o texto legal considera ação dolosa não só o retardamento ou o impedimento do fato gerador, sendo também o retardar ou impedir o conhecimento, pela autoridade tributária, da ocorrência do fato gerador. Ora, no presente caso, as ações da autuada surtiram tal efeito, notadamente a intenção de encobrir a verdadeira natureza da operação de transferência bancária, conforme já comentada. Mantida a qualificadora da penalidade de ofício, impõese aplicar ao caso o prazo decadencial na forma em que prevista pelo art. 173, I do CTN, segundo o qual o termo a quo para a constituição do crédito tributário é o primeiro dia útil do exercício seguinte àquele que o lançamento poderia ter sido constituído. No caso, consideradas as datas de ciência do lançamento (13.11.2002) e de ocorrência do fato gerador (31.12.1996), impõese rejeitar a preliminar de decadência arguida pela Contribuinte. Por fim, digase que é legítima a exigência de juros moratórios equivalentes à taxa selic, conforme entendimento também sumulado por este Conselho. Por tais fundamentos, oriento meu voto no sentido de conhecer do recurso voluntário para rejeitar a preliminar de decadência e, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Antonio Carlos Guidoni Filho Relator Fl. 1503DF CARF MF Impresso em 10/12/2012 por JOSE ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 07/11/2012 por MARIA CONCEICAO RODRIGUES DE FREITAS, Assinado digitalmen te em 13/11/2012 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 07/11/2012 por ANTONIO CARLOS GUIDONI FILHO
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Numero do processo: 10480.000288/96-27
Turma: Quarta Câmara
Seção: Primeiro Conselho de Contribuintes
Data da sessão: Tue Mar 20 00:00:00 UTC 2001
Ementa: IRPF — PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS — AQUISIÇÃO SOBRE OS
EFEITOS DA HIPÓTESE DE NÃO INCIDÊNCIA PREVISTOS NO
ART.. 4°, ALÍNEA "d” DO DECRETO-LEI 1.510/76 — DIREITO
ADQUIRIDO A ALIENAÇÃO SEM TRIBUTAÇÃO MESMO NA
VIGÊNCIA DE LEGISLAÇÃO POSTERIOR ESTABELECENDO A
HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA (LEI 7 713/88) — Se a pessoa física
titular da participação societária, sob a égide do art 4°, "d", do Decreto-Lei 1510/76, subsequentemente ao período de 5 (cinco)
anos da aquisição da participação, alienou-a, ainda que legislação posterior ao decurso do prazo de 5 (cinco) anos tenha transformado a hipótese de não incidência em hipótese de incidência, não torna aquela alienação tributável, prevalecendo, sob o manto constitucional do direito adquirido o regime tributário completado na vigência da legislação anterior que afastava qualquer hipótese de tributação.
Numero da decisão: CSRF/01-03.266
Decisão: ACORDAM os Membros da Primeira Turma da Câmara Superior de
Recursos Fiscais, por maioria de votos, em NEGAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado Vencidos os Conselheiros Antonio de Freitas Dutra (Relator), Cândido Rodrigues Neuber, Leila Maria Scherrer Leitão, Verinaldo Henrique da Silva e lacy Nogueira Martins Morais Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Victor Luis de Salles Freire.
Nome do relator: Victor Luiz De Salles Freire
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ementa_s : IRPF — PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS — AQUISIÇÃO SOBRE OS EFEITOS DA HIPÓTESE DE NÃO INCIDÊNCIA PREVISTOS NO ART.. 4°, ALÍNEA "d” DO DECRETO-LEI 1.510/76 — DIREITO ADQUIRIDO A ALIENAÇÃO SEM TRIBUTAÇÃO MESMO NA VIGÊNCIA DE LEGISLAÇÃO POSTERIOR ESTABELECENDO A HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA (LEI 7 713/88) — Se a pessoa física titular da participação societária, sob a égide do art 4°, "d", do Decreto-Lei 1510/76, subsequentemente ao período de 5 (cinco) anos da aquisição da participação, alienou-a, ainda que legislação posterior ao decurso do prazo de 5 (cinco) anos tenha transformado a hipótese de não incidência em hipótese de incidência, não torna aquela alienação tributável, prevalecendo, sob o manto constitucional do direito adquirido o regime tributário completado na vigência da legislação anterior que afastava qualquer hipótese de tributação.
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O Código Tributário Nacional é claro ao dispor que "a isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo" (art. 178). //r 3 , , Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 6 Ora, a isenção do art.. 40 , alínea "d", do DL — 1.510/76 nem foi concedida por prazo certo, nem o foi em função de determinadas condições, sendo portanto revogável a qualquer tempo 7 Nem se diga que, na espécie dos autos, haveria limitação constitucional ao alcance desta revogação por força de direito adquirido Preliminarmente deve-se considerar que o tributo cuja incidência foi excluída por aquela isenção realizava-se na alienação da participação societária, não em sua aquisição (por óbvio, pois somente aí haveria o ganho de capital caracterizando disponibilidade de renda, conforme a moldura geral do art 43 do CTN) Em segundo lugar, somente há direito adquirido quando implementadas, à luz da legislação concedente, todos os requisitos à realização da situação de fato ensejadora da vantagem legal realização parcial (ainda que "quase completa") dos requisitos fáticos não caracteriza "direito adquirido" 8. Fácil é, assim, perceber que somente a realização dos dois requisitos fáticos ao gozo da isenção deferida pelo DL — 1 510/76 (a saber, posse da participação acionária por mais de cinco anos e implemento da alienação) ensejaria o direito adquirido, sendo que a falta de qualquer deles impreterivelmente excluiria a alegada proteção de intangibilidade jurídica 9. Na hipótese dos autos existe o primeiro dos requisitos fáticos (posse por prazo superior a cinco anos), mas não o segundo (implemento da alienação), e, carente este último, resta insubsistente o argumento de "direito adquirido" ir 4 Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 10 Frente ao exposto, demonstrada a equivocada interpretação do DL — 1510/76 e a violação ao comando da Lei n° 7.713/88 e dos arts 176 e 178 do CTN, requer a Fazenda Nacional, após tempestiva manifestação do recorrido, o conhecimento e provimento deste recurso junto à Câmara Superior de Recursos Fiscais, para descaracterizar o alegado direito adquirido e manter a tributação incidente na espécie, nos limites e com os ajustes decorrentes da própria decisão naquilo em que unânime (conforme destacado na ementa do julgado).." A Sra. Presidente da Câmara recorrida deu admissibilidade ao recurso especial pelo despacho n° 104-0.120/99 de fls.. 162/164 Cientificado do recurso especial, o contribuinte ingressou com contra-razões de fls 185/189 utilizando basicamente a mesma argumentação dispendida no recurso. É o relatório 5 Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03.266 VOTO VENCIDO Conselheiro ANTONIO DE FREITAS DUTRA, Relator. O recurso preenche as formalidades legais, dele conheço A matéria trazida a julgamento desta Câmara Superior de Recursos Fiscais diz respeito a exigência de imposto de renda de pessoa física sobre ganhos de capital na alienação de participações societárias nos exercícios de 1992 e 1993. A exigência se funda com base no artigo 1°, artigo 3° e parágrafos 1°, 2° e 3° da Lei 7.713/88 que determina textualmente: "Art. 1 0 - Os rendimentos e ganhos de capital percebidos a partir de 10 de janeiro de 1989, por pessoas físicas residentes ou domiciliadas no Brasil, serão tributadas pelo imposto de renda na forma da legislação vigente, com as modificações introduzidas por esta Lei. Art.. 2° omissis Art, 3° - O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos artigos 9° a 14° desta Lei. § 1° - Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho, ou da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados," § 2° - Integrará o rendimento bruto, como ganho de capital, o resultado da soma dos ganhos auferidos no mês, decorrentes de alienação de bens ou direitos de qualquer natureza, considerando-se como ganho a diferença positiva entre o valor de transmissão do bem ou direito e o respectivo custo de aquisição corrigido monetariamente, observado o disposto nos arts. 15 a 22 desta Lei (Grifo nosso) A 6 ' Processo n° 10480000288196-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 § 30 - Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que importem alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa de cessão de direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, doação, procuração em causa própria, promessa de compra e venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos afins.." Ora, o fato gerador do tributo é a percepção dos ganhos de capital pela alienação da participação societária, tal fato ocorreu efetivamente sob a vigência da Lei acima transcrita e satisfaz plenamente a hipótese de incidência nela descrita Conforme consta dos documentos de fls.. 28/32 a alienação deu-se em maio de 1.991.. Ressalto que as ações motivadoras da autuação foram adquiridas nas datas indicadas no Termo de Encerramento de Acão Fiscal de fls, 80/81 O Relator do Acórdão recorrido labora em grave equívoco ao centrar suas razões de decidir na questão do direito adquirido que não é o cerne do litígio O litígio circunscreve-se a uma questão basilar, qual seja ocorreu ou não o fato gerador da obrigação? E a resposta é positiva Ocorreu sim Com efeito, em termos específicos a legislação anterior estabelecia a não incidência do imposto de renda nas alienações efetivadas após cinco anos da subscrição ou aquisição da participação societária Para maior clareza transcrevo os artigos 1° e 4°, alínea "d" do Decreto-Lei 1.510 de 27/12/76, 7 Processo n° . 10480 000288/96-27 Acórdão n° : CSRF/01-03.266 "Art. 1 0 - O lucro auferido por pessoas físicas na alienação de quaisquer participações societárias está sujeito à incidência do Imposto de Renda, na Cédula "H" da declaração de rendimentos Art.. 4° Não incidirá o imposto de que trata o artigo 1°: a) omissis. b) omissis c) omissis.... d) nas alienações efetivadas após decorrido o período de 5 (cinco) anos da data da subscrição ou aquisição da participação." A despeito do contribuinte preencher as condições acima a questão navega por outros mares, ou seja, a revogação expressa da não incidência, determinada pela Lei 7.713/88 e já mencionado linhas acima, Com o advento da nova lei, aquela ficou sem vigor, nos exatos termos do Decreto-Lei n° 4 657, de 04 de setembro de 1942, Lei de Introdução ao Código Civil, que dispõe: "Art, 2° - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1° - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior." Sabe-se que isenção, não incidência e quaisquer outras renúncias fiscais decorrem do poder de império do Estado que a qualquer tempo pode revê-la sem se falar na figura do direito adquirido posto que a renúncia fiscal é ato unilateral. 8 , Processo n° 10480,000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Ademais, só há direito adquirido quando implementadas, à luz da legislação concedente, todos os requisitos à realização da situação de fato ensejadora da vantagem legal, quais sejam, a posse da participação acionária por mais de cinco anos e o implemento da alienação„ Na espécie dos autos, na vigência da norma isencional, existia apenas o primeiro dos requisitos, o que torna insubsistente o argumento de "direito adquirido". No que tange especificamente a essa revogação, a análise do tema haverá necessariamente que passar pelo exame da norma inserta no artigo 178, do CTN, que traz a seguinte redação,: "Art. 178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art, 104." A principal regra que emana do dispositivo diz respeito à revogabilidade da isenção a qualquer tempo, surgindo a seu lado a importante ressalva relacionada com as concessões por prazo certo ou em função de determinadas condições e, por último, mas não menos importante, a recomendação quanto à observância do princípio da anterioridade da lei. Na análise das aludidas ressalvas, de plano, emerge nítida a inaplicabilidade à espécie dos autos, daquela voltada para as concessões por prazo certo, posto que o favor fiscal de que cuida os autos foi concedido de forma genérica e vigeu por prazo indeterminado enquanto não revogado pela Lei n° 7 713/88, ou seja, de 1° de janeiro de 1977 a 31 de dezembro de 1988, doze anos portanto Quanto ao enunciado subjetivo contido na expressão "em função de determinadas condições", me louvo na jurisprudência ditada pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal para buscar a compreensão do seu real significado e 9 Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 alcance, pois a Suprema Corte deixou entendido que a condição ali referida é de cunho econômico e tem conotação onerosa Com efeito, assim ficou assentado na Súmula 544 do STF "Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas " Sob inspiração da matéria sumulada, vieram vários acórdãos, dentre eles o prolatado no AMS n° 95 04 33717-1/SC e, mais recentemente, o decidido no RE n° 198 331, trazendo este último a seguinte ementa. TRIBUTÁRIO - ISENÇÃO - IMPORTAÇÃO - LEI N° 8.032/90 - IPI E IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO - DECRETO-LEI N° 2.324/97. A isenção, quando concedida por prazo certo e sob condição onerosa, não pode ser revogada." É a própria jurisprudência do STF que nos dá, também, a noção do que seja condição onerosa O tema é tratado no Acórdão proferido no RE n° 164161-4, de março de 1997, cuja ementa, no pertinente a esta análise, está assim redigida. " Regime isentivo concedido pela União Federal na vigência da Constituição pretérita, em face do Programa de Exportação BEFIEX, que teve sua vigência assegurada no art., 41, § 1°, do ADCT, até outubro de 1990 Direito adquirido reconhecido pelo acórdão, com base no ar 41, § 2° , da disposição transitória e na Súmula 544 - STF, tendo em vista tratar-se de incentivo concedido por prazo certo e mediante condições Recurso Extraordinário que não se conhece " Ressalta claro, portanto, que a isenção não revogável a qualquer tempo, é aquela concedida a termo e sob condições onerosas, condições estas, conforme deixou entendido a ementa transcrita, referentes ao comprometimento de recursos com projetos apoiados pelo Governo, a exemplo do que ocorre com os empreendimentos na área da SUDENE e da SUDAM, bem assim com aqueles lo Processo n° 10480000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 relacionados com o BEFIEX, este especificamente citado no julgado do STF trazido a lume Nessa esteira de raciocínio, tem-se que a isenção em apreço, pelas razões expostas, além de não ser concedida a termo, também não guarda relação com aquelas outorgadas em função de determinadas condições, se amoldando por conseguinte, à regra geral que é a revogabilidade a qualquer tempo. Tal conclusão tem o escopo de direcionar a análise para o estudo da natureza e dos efeitos da revogação desse tipo de isenção Apenas para melhor aclarar a questão trago à baila dois fatos contemporâneos que por certo é do conhecimento de todos O primeiro deles é que até o advento da Constituição Federal de 1988 . várias categorias profissionais gozavam de isenção de imposto de renda tais como juízes, militares e parlamentares Com a edição da nova carta magna aquelas isenções feneceram e não se tem notícias de protestos ou até mesmo ações judiciais que objetivassem o reestabelecimento daquelas excrecências, sob o manto do instituto do direito adquirido E ressalte-se que aquelas isenção sobreviveram durante várias décadas O outro fato notório e até mesmo mais recente, deu-se no governo do então Presidente Fernando Collor de Mello que de uma só vez e em um único ato revogou todos os incentivos fiscais, tendo todavia recuado daquele ato embora que paulatinamente tendo em vista as pressões políticas Também neste episódio não se cogitou do instituto do direito adquirido No caso em exame, caberia ao contribuinte exercer seu direito de alienação das ações sem incidência de imposto de renda antes da entrada em vigor da Lei 7.713/88 que expressamente revogou a não incidência da qual ele fazia jus Não sendo assim, a razão está com o Fisco. ir Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Desta forma, pelo acima exposto e por tudo mais que dos autos consta, voto por DAR provimento ao recurso da FAZENDA NACIONAL É como voto. Sala das Sessões-DF, em 20 de março de 2.001 ANTONIO D FREITAS DUTRA RELATOR 12 Processo n° 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03,266 VOTO VENCEDOR Conselheiro VICTOR LUIS DE SALLES FREIRE:: 1. Ouso discordar do 1. Relator, o Conselheiro Antonio de Freitas Dutra, quando, examinando o Recurso originário da Douta Fazenda Nacional contra o V.Acórdão 106-09,494, emanado da Colenda 6a Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, no âmbito da corrente vencedora liderada pelo I. Relator então designado, Conselheiro Genésio Deschamps, para prover o Recurso Voluntário do Contribuinte, assim deixou ementado o seu entendimento: "IRPF — ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS — DIREITO ADQUIRIDO — Não há incidência de imposto de renda sobre ganhos de capital apurados na alienação de participações societárias ocorridas após 01 01.89, adquiridas até 31.12 83, a teor da alínea "d" do art 4° do Decreto-lei n° 1.510/76, face ao princípio do direito adquirido." 2. De início parece-me importante transcrever as considerações da corrente vencedora, no âmbito daquela 6 a Câmara, lideradas pelo Conselheiro Genésio Deschamps e subscrita pelos Conselheiros Mário Albertino Nunes, Wilfrido Augusto Marques, Ana Maria Ribeiro dos Reis, Romeu Bueno de Camargo e Adonias dos Reis Santiago, assim deduzidas: "Analisando-se o presente processo, verifica-se que o mesmo versa sobre exigência de imposto de renda de pessoa física sobre ganhos de capital, apurados pela fiscalização, no exercício de 1992 e 1993 (anos-base de 1991 e 1992). Do seu contexto, há um aspecto, levantado pelo RECORRENTE, que mereceu uma melhor análise Ele diz respeito sobre a exigência do imposto de renda, sobre ganhos de capital, com base no art. 3° da Lei n° 7.713/88, com renda, sobre ganhos de capital, com base no art 30 da Lei n° 7,713/88, com observância do disposto nos arts. 15 a 22 do mesmo diploma, em confronto com a sistemática anterior a esta lei. Que estabelecia que não haveria 13 Processo n° 10480000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 incidência de imposto nas alienações efetivadas após decorrido o período de 5 (cinco) anos da data da subscrição ou aquisição da participação (alínea "d" do art. 4° do Decreto-lei n° 1.510/76), extensivo às bonificações de ações, delas decorrentes, Com efeito o art 3° da Lei n° 7.713/88 prescreve a incidência do imposto de renda sobre ganhos de capital auferidos por pessoas físicas nas alienações de bens e direitos de sua propriedade, definindo o seu § 30 o seu conceito e a forma de apuração, como se vê, "§ 3° - Integrará o rendimento bruto, como ganho de capital, o resultado da soma dos ganhos auferidos de qualquer natureza, considerando-se como ganho a diferença positiva entre o valor de transmissão do bem ou direito e o respectivo custo de aquisição corrigido monetariamente, observado o disposto nos arts. 15 a 22 desta Lei." (destaques nossos) Os artigos 15 a 22 da lei em comento, regulam a determinação do custo de aquisição dos bens e direitos, o valor de transmissão, as exclusões de incidência, inclusive no caso de imóveis os percentuais de redução em função das datas de aquisições e forma de pagamento do imposto. Ressalte que dentre as exclusões não estão contempladas as aquisições de participações efetivadas há mais de 5 (cinco) anos antes da data da alienação. O RECORRENTE em sua impugnação, cujos termos reiterou como parte integrante de seu recurso, ao contrário do que mencionou o eminente Relator, questiona a exigência alegando ser aplicável o disposto no art. 4° do Decreto-lei n° 1.510/76 (fls. 138) Com efeito, em termos específicos, a legislação anterior (Decreto Lei n° 1.510/76 — regulado pelo art.. 40 do RIR/80, baixado com o Decreto n° 85 450/80), para apuração do lucro na alienação de participações, estabelecida as mesmas regras impostas pela Lei n° 7113/88, com pequenas alterações que são irrelevantes para análise do presente caso, Mas esta legislação, dentre outras exclusões, estabelecia a não incidência do imposto nas alienações efetivadas após decorrido o período de 5 (cinco) anos da data subscrição ou aquisição da participações É isto o que prescrevia a alínea "d" do art. 40 do Decreto-lei n° 1.510/76, "in verbis" "Art. 4° - Não incidirá o imposto de que trata o art 1° 14 Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 a) nas negociações, realizadas em Bolsa de Valores, com ações de sociedades anônimas; b) pelo espólio, nas alienações "mortis causa", c) nas alienações em virtude de desapropriações por órgãos públicos; d) nas alienações efetivadas após decorrido o período de 5 (cinco) anos da data da subscrição ou aquisição da participação." (destaques nossos). Vale acrescentar, ainda, para melhor entendimento e aplicação do previsto nos arts 1° e 4°, ainda, o que prescrevia o art. 50 do mesmo diploma legal, a saber, "Art, 50 - Para efeitos da tributação prevista no art. 1° deste Decreto-lei, presume-se que as alienações referem- se às participações subscritas ou adquiridas mais recentemente e que as bonificações são adquiridas a custo zero, às datas de subscrição ou aquisição das participações a que correspondem." (destaque nosso) Fundamentado nestas disposições e no fato de que as aquisições das ações da FUMOSSUL S.A. haviam sido adquiridas em 23,05 83, o RECORRENTE alegou não proceder a exigência, pois que "as alienações societárias havidas até 22,12,83 permanecem abrangidas pela "não incidência" do imposto de renda, pois não é crível, nem admissivel que, depois de reconhecida a não incidência em relação à alienação de tais participações, viesse o novo texto legal simplesmente desconsiderar esta situação que se consolidara". Tal argumentação não foi aceita em primeira instância, tendo o RECORRENTE, em seu recurso, pedido o reexame da matéria, ratificando integralmente os termos de sua defesa, dando-as por integralmente reproduzidas no ato recursal (fls. 159), além de aduzir outras considerações. Muito embora o RECORRENTE não tenha se aprofundado na sua argumentação a respeito deste aspecto, ela deixar entrever em seus termos, que a não incidência do imosto que pleiteia já havia sido incorporada ao seu patrimônio e que não poderia ser modificada por legislação posterior Ou seja, a questão se vincula a existência ou não do direito adquirido frente a legislação posterior. 15 Processo n° 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Num primeiro momento, a par de ser erigido como princípio constitucional fundamental (art.. 5°, inciso X)(XVI, da Constituiçõ Federal vigente) deve-se atentar, para o caso, o que preceitua o art. 6° da Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro (Decreto n° 4.657, de 04.09.42), quanto a vigência de lei nova e, em especial, no que diz respeito a definição legal de direito adquirido. Assim reza tal dispositivo Art, 6° - A lei em vigor terá efeito imediato e geral respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, § 1°.... § 2° - Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem (destaques nossos) Também, buscando-se o conceito de "direito adquirido", encontramos no "Vocabulário Jurídico", de autoria do eminente "De Plácido e Silva" (Ed.. Forense, 1989 — edição universitária — vol II, 1° edição, pg.. 77), o seguinte "Direito adquirido — derivado de acquisitus, do verbo latino acquirire (adquirir, alcançar, obter), adquirido quer dizer obtido, já conseguido, incorporado Por essa forma, direito adquirido quer significar o direito que já se incorporou ao patrimônio da pessoa, já de sua propriedade, já se constitui um bem, que deve juridicamente ser protegido contra qualquer ataque exterior, que ouse ofendê-lo ou turbá-lo, (.. ) Mas, para que se considere, direito adquirido é necessário que. a) sucedido o fato jurídico, de que se originou o direito, nos termos da lei, tenha sido integrado no patrimônio de quem o adquiriu, b) resultado de um fato idôneo, que o tenha produzido em face da lei vigente ao tempo, em que tal fato se realizou, embora não tenha apresentado ensejo para fazê-lo valer, antes da atuação de uma lei nova sobre o mesmo fato jurídico já sucedido 16 Processo n° , 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03.266 O direito adquirido tira a sua existência dos fatos jurídicos passados e definitivos, quando o seu titular os pode exercer. No entanto, não deixa de ser adquirido o direito, mesmo quando o seu exercício dependa de um termo prefixado ou de condição preestabelecida, inalterável a arbítrio de outrem" (em itálico, do autor) Por sua vez, o insigne R Limongi França em sua obra "A lrretroatividade das Leis e o Direito Adquirido", ao analisar a definição constante do texto legal, sobre direito adquirido, assim expressou: decompondo-se os termos do preceito em foco, chegamos a conclusão de que, para o legislador, são Direitos Adquiridos, 1. o direito que seu titular possa exercer, 2, o direito que alguém, como representante de seu titular, possa exercer, 3, o direito cujo começo de exercício tenha termo fixo, 4 o direito cujo começo de exercício tenha condição preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem, A nosso ver, a substância do conceito está unicamente no primeiro elemento da análise acima exposta Direito Adquirido, em suma, para o legislador, é aquele que o seu titular pode exercer Já o eminente José Afonso da Silva (in "Curso de Direito Constitucional Positivo", Malheiros Editores, 1995, 10' edição, pag. 413), ao tratar da vinculação dos conceitos de Direito Subjetivo e Direito Adquirido, assim expressou ". . cumpre relembrar o que se disse acima sobre o direito subjetivo. é um direito exercitável segundo a vontado do titular e exigível na via jurisdicional quando o seu exercício é obstado pelo sujeito obrigado a prestação correspondente. Se tal direito é exercido, foi devidamente prestado, tornou-se situação jurídica consumada (direito consumado), direito satisfeito, extinguiu-se a relação jurídica que o fundamentava Por exemplo, quem tinha o direito de casar de acordo com as norma de uma lei, e - casou-se, seu direito foi exercido, consumou-se A lei 17 1 Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 nova não tem o poder de desfazer a situação jurídica consumada A lei nova não pode descasar o casado, porque estabeleceu regras diferentes para o casamento Se o direito subjetivo não foi exercido, vindo lei nova, transformou-se em direito adquirido, porque era direito exercitável e exigível à vontade de seu titular Incorporou- se no seu patrimônio, para ser exercido quando convier A lei nova não pode prejudicá-lo, só pelo fato de o titular não o ter exercido antes Vejamos agora a situação do RECORRENTE, ora em análise, frente a estes aspectos doutrinários e legais Está bem evidenciado que o RECORRENTE era proprietário de participações societárias, adquiridas em 23 05 83 em 23.05 88, completou o prazo de cinco anos A partir desse momento, então, adquiriu o direito de promover a alienação das mesmas sem que houvesse qualquer incidência do imposto de renda sobre o resultado apurado na operação. E mais, a partir do término do prazo quinquenal estabelecido, o RECORRENTE poderia, por sua livre e espontânea vontade, promover a alienação das participação em comento, no momento que fosse de seu interesse, sem que a lei impusesse qualquer condição ou prazo para a sua realização Portanto, dentro dessa situação, o direito de alienar as ações da FUMOSSUL sem incidência do imposto de renda já integrara o patrimônio do RECORRENTE, e não mais lhe poderia ser tirado por uma lei posterior A nova lei somente se aplicaria às situações em que não tivesse havido ainda essa integração Não era o caso de mera expectativa de direito, mas sim de direito consolidado, como arguiu o RECORRENTE Somente para complementar e exemplificar, a questão do direito adquirido e sua integração ao patrimônio individual das pessoas já foi muito apreciado no campo do direito público, e muito especialmente na questão de vantagens deferidas aos funcionários públicos, não usufruídas, e de aposentadorias As lições e conclusões sobre o tema, são taxativas e "mutatis mutandis", se aplicam como uma luva também ao caso analisado Vale aqui citar, inicialmente, o raciocínio prático trazido pelo ilustre doutrinador Celso Antonio Bandeira de Mello (in "Ato Administrativo e Direitos dos Administrados", Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1981, pags 112/113), que diz 18 Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 "Segue daí que uma vantagem funcional, por exemplo, constituída no passado e cujos efeitos juridicamente se perfizeram, consumando-se, está consolidada, ainda que não tenha sido fruída Isto é, os efeitos materiais podem não ter sucedido, mas se os efeitos jurídicos já se completaram, nenhuma regra nova pode alcançá-la, pois, de direito a situação já estará definida " ( ) Os efeitos do direito se perfizeram totalmente, no sentido de que a integridade do direito já era, no passado disponível para o funcionário, isto é, o momento da efetiva percepção da utilidade proporcionada pelo direito (descanso por um trimestre) se localizava inteiramente em tempo de regresso" É o que acontece no caso, a lei previa uma hipótese de exclusão de incidência de imposto de renda, para o caso de alienação de participações societárias, que consistia no implemento de um prazo durante o qual ela devia permanecer na propriedade do contribuinte, findo o qual passava a ter o gozo de um benefício estipulado por lei, e o mesmo tinha inteira liberdade para exercê-lo, sem prazo específico para fazê-lo. A partir do momento em que se implementou este prazo, que era uma condição imposta pela lei, adquiriu o contribuinte o direito de ter a não incidência do imposto de renda sobre a operação que realizasse Aqui vale ressaltar a lição do emérito Francisco Gerson Marques de Lima, na sua obra "Lei de Introdução ao Código Civil e a aplicação ao Direito do Trabalho" (Malheiros Editores, São Paulo, 1996, pag 190), que embora dirigida a outro campo do direito, também se ajusta como uma luva ao presente caso, e que assim expressa. " não há confundir a aquisição do direito com o seu exercício O direito está adquirido quando alguém possa exercer, mesmo que não o tenha exercido, quer por conveniência própria ou por outro motivo fático (não jurídico)" Ou seja, a aquisição do direito é um fato independente do seu exercício após a sua aquisição E essa aquisição (do direito) dá o direito de exercê-la, independentemente de condições ou prazos, 19 4(j) Processo n° • 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 salvo se a lei instituidora expressamente preveja hipóteses dessa natureza Nesse ponto é incisivo o Acórdão exarado no Recurso de Mandado de Segurança n° 11.395, pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, em 18 03 65, no qual a matéria do direito adquirido foi exaustivamente analisada pelos renomados Ministros daquela Corte, tendo por relator o culto Ministro Luís Galotti (RDA 82/186), dizendo respeito a aposentaria, de cujo voto vale destacar a seguinte parte (pg. 191) "Aí é que, data vênia, divirjo Um direito adquirido não se pode transmudar-se em expectativa de direito, só porque o titular preferiu continuar trabalhando e não requerer a aposentadoria antes de revogada a lei em cuja vigência ocorrera a aquisição de direito Expectativa de direito é algo que antecede a sua aquisição; não pode ser posterior a esta. Uma coisa é aquisição de direito; outra diversa, é o seu uso ou exercício. Não devem ser as duas confundidas E convém ao interesse público que não o sejam, porque, assim, quando pioradas pela lei as condições de aposentadoria, se permitirá que aqueles eventualmente atingidos por ela, mas já então com os requisitos para se aposentarem de acordo com a lei anterior, em vez de o fazerem imediatamente, em massa, como costuma ocorrer, com graves ônus para os cofres públicos, continuem trabalhando, sem que o tesouro tenha de pagar, em cada caso, a dois, ao novo servidor em atividade e ao inativo " (destaques nossos) No caso, a data limite fixado pela lei era o decurso do prazo de 5 (cinco), durante o qual, o contribuinte devia manter em sua propriedade as participações societárias, para fazerem jus a não incidência do imposto de renda. Decorrido este prazo houve inequívoca aquisição de direito, factualmente consolidada e que não podia mais ser modificada por nova lei, sob pena de violação deste princípio, conjugado com o da irretroatividade da lei, que tem estreita vinculação com o primeiro Consequentemente não mais era uma expectativa de direito, como deixou bem claro o eminente Ministro acima citado E, vale ressaltar, que a justificativa do princípio da irretroatividade da lei tributária deflui da necessidade de assegurar- se, às pessoas, a segurança e certeza quanto aos seus atos 20 Processo n° 10480,000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 pretéritos em face da lei E existência desse princípio, junto com outros princípios, obriga aos Poderes, especialmente o Executivo, a planejaram com um mínimo de seriedade e antecedência a política tributária Ademais, no caso em espécie, deve-se deixar bem claro de que a disposição da Lei n° 7.713/88, em que se funda a exigência, não está sendo inquinada de inconstitucional, o que efetivamente não é A questão é meramente de interpretação, para sua aplicação em relação a fatos pretéritos face ao princípio de direito adquirido, previsto tanto na legislação constitucional como na infra- constitucional Em relação a observância do "direito adquirido" pela Lei n° 7.713/88, vale também destacar que este aspecto o legislador pretendia manter, embora não tenha deixado expresso Este ponto pode ser evidenciado, quando se tratou também sobre incidência do imposto de renda sobre ganhos de capital auferidos na alienação de imóveis É que no art.. 18 do referido diploma manteve, taxativamente, a situação anterior prescrita até a data da vigência da nova Lei (7.713/88), em sua integridade E a manutenção desse direito era intenção do legislador, como se depreende dos termos do item 26 da exposição de motivos (n° 351, de 14 10 88 — DCN — Seção I, 21 09 88, pag 3.334) que acompanhou o "projeto de lei" em questão remetido pelo Poder Executivo para apreciação pelo Poder Legislativo, e que assim expressa "26 — Segundo o projeto, serão tributados os ganhos de capital decorrentes da alienação de bens e direitos diversos Para se proceder à passagem da sistemática anterior para a pretendida, o art. 18 preserva o direito de se considerar, como redução da base tributável, o percentual de 5% por ano de posse do bem para os imóveis possuídos até 31 12 88" (destaque nosso). Efetivamente, essa situação, por suas características, ao contrário das regras relativas à alienação de participações, não poderia ficar simplesmente ao sabor da legislação anterior A sua situação era "sui generis" com uma redução do ganho de capital em função da quantidade de anos de propriedade, a contar do ano de aquisição, que na sistemática anterior era fixado em percentual de 5% para cada ano decorrido 21 ( Ji( Processo n° 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Já no caso das participações, a questão era fixa, ou seja, em 31,12 88 dever-se-ia, simplesmente, verificar se haviam ou não decorridos os 5 (cinco) estabelecidos pela legislação anterior, para gozo da não incidência. Se até aquela data o contribuinte se encontrava de posse de participações há mais de 5 (cinco) anos, seu direito automaticamente estaria preservado, sem necessidade de edição de qualquer outra disposição legal posterior específica para assegurar um direito que já integrara seu patrimônio, pois já assegurado por leis vigentes. Assim, vejo como improcedente a exigência fiscal objeto deste processo, não só em relação à alienação das ações da FUMOSSUL S.A. — Indústria e Comércio, que possuem sua data de aquisição perfeitamente determinadas, como também em relação as ações da LOSEPART — Participações Societárias S A., que o ato fiscal diz terem sido todas derivadas de aquisição a custo "zero" (0), sem especificação das datas em que houvessem sido adquiridas. Em relação a estas explico O RECORRENTE deixou bem claro na Declaração de Bens, que anexou à sua Declaração de Rendimentos do exercício de 1992 (ano-base de 1991) (fls. 06) que era detentor, em 31 12 90 de 100.000 (cem mil) ações da FUMOSSUL, que sofreram a seguinte movimentação a) a FUMOSSUL foi cindida, em 22 01,91, de cuja operação a RECORRENTE passou a ser titular de 105,000 ações da cindenta LOSEPART, que foram vendidas, b) as ações da FUMOSSUL foram vendidas Do documento relativo à cisão da FUMOSSUL, com a versão do patrimônio para a nova sociedade constituída LOSEPART, nas deliberações sobre a composição do capital da primeira ficou determinado que em decorrência da cisão, o seu capital seria reduzido, mas permanecia com a mesma quantidade de ações, já que as mesmas não possuíam valor nominal e, consequentemente, o número de ações de que cada acionista da sociedade é titular permanecerá inalterável Já, por força da cisão, a nova sociedade (LOSEPART) teria um capital com a mesma quantidade de ações da empresa cindida e seriam atribuídas aos seus acionistas a mesma quantidade de ações que também possuíam nesta, obedecidos os percentuais de participação (fls. 60). 22 (1) Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03.266 Em outras palavras, no caso do RECORRENTE, como esta possuía 100.000 ações na FUMOSSUL, continuaria a possuir a mesma quantidade, observados os critérios de redução do capital da sociedade sem modificação da quantidade de ações, e receberia, em função do patrimônio vertido, 105 000 ações da LOSEPART Ou seja, continuou a ter 80,000 ações da FUMOSSUL e passou a ter mais 105.000 ações da LOSEPART. Essa foi a situação aprovada através da operação da cisão Então a RECORRENTE possuía essas quantidades de ações para alienar, como o fez, e foi reconhecido na Notificação de Lançamento (fls 104 e 105). Pelo que acima foi exposto, se nota perfeitamente que as ações da LOSEPART são derivadas da ações da FUMOSSUL, em decorrência de um processo de cisão, e que a defesa no que diz respeito à aplicação do Decreto-lei n° 1.510/76, que acima foi analisado, foi enfocado exclusivamente em função das ações da FUMOSSUL, que tiveram uma data de aquisição perfeitamente identificada (25 03 91), sem qualquer questionamento pela fiscalização, que inclusive adotou esta data, Ora, como já se evidenciou anteriormente, o art. 50 do Decreto- lei n° 1.510/76, é taxativo no sentido de que para efeitos da tributação nele prevista, presume-se que as alienações referem-se à participações subscritas ou adquiridas mais recentemente e que as bonificações são adquiridas a custo zero, às datas de subscrição ou aquisição das participações a que corresponderem Por sua vez, a Portaria Ministerial n° 454/77, em seu item 5, esclareceu o conteúdo do art, 5° do Decreto-lei n° 1 510/76, para sua aplicação prática, dizendo que "presume-se que as alienações se referem às participações subscritas ou adquiridas mais recentemente e as bonificações recebidas devem ser rateadas segundo as datas e quantidades originariamente subscritas ou adquiridas, já acrescidas dos rateios de bonificações anteriores" No caso, está evidente no processo que houve apensa uma aquisição de ações da FUMOSSUL em 23.05.83, pelo que deve-se reputar, como realmente foi feito, que as bonificações que a ela correspondem, à mesma data devem remeter, não importando se seu custo foi zero, já que está-se diante de uma situação de não incidência 23 12y Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 De outro lado, como as ações da LOSEPART derivam das ações da FUMOSSUL, devem receber o mesmo tratamento e devem ser tidas como adquiridas naquela mesma data, mesmo que a operação de cisão tenha ocorrido a posteriori Essa inclusive é a orientação da Secretaria da Receita Federal, através do Parecer Normativo CST n° 39/81, cuja ementa é bem clara e assim estabelece "O prazo de cinco anos, a que se refere o art 4°, alínea "d", do Decreto-lei n° 1.510/76, é contado da data da subscrição ou aquisição originárias, não tendo relevância, para fins tributários, a data em que, em virtude d fusão, incorporação ou cisão, tenha havido a emissão ou entrega de novos títulos representativos da participação societária, ou em que a eles se tenha feito jus, desde que em substituição e na mesma proporção da participação anteriormente possuída. .) Ora, no caso, nem estava o direito subordinado a condição, pois, ao entrar em vigor a nova lei, o impetrante já satisfizera todos os requisitos, exigidos pela lei antes vigente, para aquisição do direito" Portanto, à vista do acima exposto, as ações da LOSEPART, de propriedade do RECORRENTE, por terem advindo da cisão da FUMOSSUL, devem ser consideradas como adquiridas, não na data em que a operação de cisão ocorreu, mas sim na data em que foram subscritas ou adquiridas as ações da FUMOSSUL Vale aqui ressaltar, que se prevalecesse a exigência tributária imposta através da Notificação Fiscal que deu origem a este processo, verificar-se-á que, na apuração do ganho de capital, não foram observados estes aspectos, já que consideram de custo zero as aquisições da LOSEPART e o custo de aquisição somente foi considerado nas ações da FUMOSSUL Em todo o caso, fica evidente que as ações da LOSEPART foram adquiridas em 23.05.83, ou seja na mesma data de aquisição das ações da FUMOSSUL, das quais derivam em razão da operação de cisão, mesmo que esta tenha sido realizado em 22.01 91 Em assim sendo, a elas se aplicam os mesmos argumentos relativos a aplicação do princípio adquirido, pelo que, tanto à alienação das ações da FUMOSSUL quanto às ações da 24 C't), Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03,266 LOSEPART se aplicam o regime de não incidência do imposto de renda sobre o resultado ou ganho de capital apurado nas operações realizadas, pois esse aspecto já havia se incorporado ao patrimônio da RECORRENTE sob a égide da legislação anterior (Decreto-lei n° 1510/76). Pelo exposto e por tudo o mais que do processo consta, conheço do recurso por tempestivo e apresentado na forma da lei, e lhe dou provimento" 3, A seguir, na mesma linha de considerações, para maior entendimento da matéria parece-me necessário transcrever o voto vencido do I Conselheiro Antonio de Freitas Dutra, contrapondo-se minoritariamente à corrente vencedora na Câmara Superior de Recursos Fiscais, que me honrou com a feitura do voto vencedor, e que transcrevo em abaixo "O recurso preenche as formalidades legais, dele conheço A matéria trazida a julgamento desta Câmara Superior de Recursos Fiscais diz respeito a exigência de imposto de renda de pessoa física sobre ganhos de capital na alienação de participações societárias nos exercícios de 1992 e 1993 A exigência se funda com base no art 1°, art. 3° e parágrafos 1°, 2° e 30 da Lei 7.713/88 que determina textualmente Art. 1° - Os rendimentos e ganhos de capital percebidos a partir de 1° de janeiro de 1989, por pessoas físicas residentes ou domiciliadas no Brasil, serão tributadas pelo imposto de renda na forma da legislação vigente, com as modificações introduzidas por esta Lei. Art 2° omissis Art.. 3° - O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos artigos 9° a 14° desta Lei 25 Processo n° 10480000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 § 1° - Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho, ou da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos em dinheiro e, ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados" § 2° - Integrará o rendimento bruto, como ganho de capital, o resultado da soma dos ganhos auferidos no mês, decorrentes de alienação de bens ou direitos de qualquer natureza, considerando-se como ganho a diferença positiva entre o valor de transmissão do bem ou direito e o respectivo custo de aquisição corrigido monetariamente, observado o disposto nos arts. 15 a 22 desta Lei (Grifo nosso) § 3° - Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que importem alienação, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa de cessão de direitos à sua aquisição, tais como as realizadas por compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, doação, procuração em causa própria, promessa de compra e venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos afins " Ora, o fato gerador do tributo é a percepção dos ganhos de capital pela alienação da participação societária, tal fato ocorreu efetivamente sob a vigência da Lei acima transcrita e satisfaz plenamente a hipótese de incidência nela descrita Conforme consta do Auto de Infração às fls.. 116 e 118, as alienações foram feitas em 06/06/91 e 28/06/91 Ressaltado que as ações motivadoras da autuação foram adquiridas nas datas indicadas no Auto de Infração de fls.. 116/118 O Relator do Acórdão recorrido labora em grave equívoco ao centrar suas razões de decidir na questão do direito adquirido que não é o cerne do litígio. O litígio circunscreve-se a uma questão basilar, qual seja ocorreu ou não o fato gerador da obrigação? E a resposta é positiva Ocorreu sim. 26 („) Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Com efeito, em termos específicos a legislação anterior estabelecia a não incidência do imposto de renda nas alienações efetivadas após cinco anos da subscrição ou aquisição da participação societária Para maior clareza transcrevo os artigos 1° e 4°, alínea "d" do Decreto-lei 1 510 de 27/12/76 "Art 1° - O lucro auferido por pessoas físicas na alienação de quaisquer participações societárias está sujeito à incidência do Imposto de Renda, na Cédula "H" da declaração de rendimentos Art 4° Não incidirá o imposto de que trata o artigo 1° a) omissis . b) omissis c) omissis d) nas alienações efetivadas após decorrido o período de 5 (cinco) anos da data da subscrição ou aquisição da participação," A despeito do contribuinte preencher as condições acima a questão navega por outros mares, ou seja, a revogação expressa da não incidência, determinada pela Lei 7.713/88 e já mencionado linhas acima Com o advento da nova lei, aquela ficou sem vigor, nos exatos termos do Decreto-Lei n° 4 657, de 04 de setembro de 1942, Lei de Introdução ao Código Civil, que dispõe. "Art. 2° - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue § 1° - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior" Sabe-se que isenção, não incidência e quaisquer outras renúncias fiscais decorrem do poder de império do Estado que a qualquer tempo pode revê-la sem se falar na figura do direito adquirido posto que a renúncia fiscal é ato unilateral 7-, 27 Processo n° 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Ademais, só há direito adquirido quando implementadas, à luz da legislação concedente, todos os requisitos à realização da situação de fato ensejadora da vantagem legal, quais sejam, a posse da participação acionária por mais de cinco anos e o implemento da alienação. Na espécie dos autos, na vigência da norma isencional, existia apenas o primeiro dos requisitos, o que torna insubsistente o argumento de "direito adquirido" No que tange especificamente a essa revogação, a análise do tema haverá necessariamente que passar pelo exame da norma inserta no artigo 178, do CTN, que traz a seguinte redação: "Art. 178 — A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no incido III d art 104." A principal regra que emana do dispositivo diz respeito à revogabilidade da isenção a qualquer tempo, surgindo a seu lado a importante ressalva relacionada com as concessões por prazo certo ou em função de determinadas condições e, por último, mas não menos importante, a recomendação quanto à observância do princípio da anterioridade da lei Na análise das aludidas ressalvas, de plano, emerge nítida a inaplicabilidade à espécie dos autos, daquela voltada para as concessões por prazo certo, posto que o favor fiscal de que cuida os autos foi concedido de forma genérica e vigeu por prazo indeterminado enquanto não revogdo pela Lei n° 7,713/88, ou seja, de 1° de janeiro de 1977 a 31 de dezembro de 1988, doze anos portanto. Quanto ao enunciado subjetivo contido na expressão "em função de determinadas condições", me louvo na jurisprudência ditada pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal para buscar a compreensão do seu real significado e alcance, pois a Suprema Corte deixou entendido que a condição ali referida é de cunho econômico e tem conotação onerosa. Com efeito, assim, ficou assentado na Súmula 544 do STF "Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas " 28 ( Processo n° . 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Sob inspiração da matéria sumulada, vieram vários acórdãos, dentre eles o prolatado no AMS n° 95 044 33717- 1/SC e, mais recentemente, o decidido no RE n° 198 331, trazendo este último a seguinte ementa TRIBUTÁRIO — ISENÇÃO — IMPORTAÇÃO — LEI N° 8,032/90 — IPI E IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO — DECRETO-LEI N° 2.324/97. A isenção, quando concedida por prazo certo e sob condição onerosa, não pode ser revogada " É a própria jurisprudência do STF que nos dá, também, a noção do que seja condição onerosa O tema é tratado no Acórdão proferido no RE n° 164 161-4, de março de 1997, cuja ementa, no pertinente a esta análise, está assim redigida " . Regime isentivo concedido pela União Federal na vigência da Constituição pretérita, em face do Programa de Exportação BEFIEX, que teve sua vigência assegurada no art.. 41, § 1°, do ADCT, até outubro de 1990 Direito adquirido reconhecido pelo acórdão, com base no ar 41, § 2°, da disposição transitória e na Súmula 544 — STF, tendo em vista tratar-se de incentivo concedido por prazo certo e mediante condições. Recurso Extraordinário que não se conhece " Ressalta claro, portanto, que a isenção não revogável a qualquer tempo, é aquela concedida a termo e sob condições onerosas, condições estas, conforme deixou entendido a ementa transcrita, referentes ao comprometimento de recursos com projetos apoiados pelo Governo, a exemplo do que ocorre com os empreendimentos na área da SUDENE e da SUDAM, bem assim com aqueles relacionados com o BEFIEX, este especificamente citado no julgado do STF trazido a lume Nessa esteira de raciocínio, tem-se que a isenção em apreço, pelas razões expostas, além de não ser concedida a termo, também não guarda relação com aquelas outorgadas em função de determinadas condições, se amoldando por conseguinte, à regra geral que é a revogabilidade a qualquer tempo Tal conclusão tem o escopo de direcionar a análise para o estudo da natureza e dos efeitos da revogação desse tipo de isenção 29 /.t., Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 Apenas para melhor aclarar a questão trago à baila dois fatos contemporâneos que por certo é do conhecimento de todos O primeiro deles é que até o advento da Constituição Federal de 1,998 várias categorias profissionais gozavam de isenção de imposto de renda tais como juízes, militares e parlamentares Com a edição da nova carta magna aquelas isenções feneceram e não se tem notícias de protestos ou até mesmo ações judiciais que objetivassem o reestabelecimento daquelas excrecências, sob o manto do instituto do direito adquirido E ressalte-se que aquelas isenção sobreviveram durante várias décadas. O outro fato notório e até mesmo mais recente, deu-se no governo do então Presidente Fernando Collor de Mello que de uma só vez e em um único ato revogou todos os incentivos fiscais, tendo todavia recuado daquele ato embora que paulatinamente tendo em vista as pressões políticas. Também neste episódio não se cogitou do instituto do direito adquirido. No caso em exame, caberia ao contribuinte exercer seu direito de alienação das ações sem incidência de imposto de renda antes da entrada em vigor da Lei 7.713/88 que expressamente revogou a não incidência da qual ele fazia jus Não sendo assim, a razão está com o Fisco. Desta forma, pelo acima exposto, e por tudo mais que dos autos consta voto por DAR provimento ao recurso da FAZENDA NACIONAL" 4 De início não posso compactuar com o entendimento do I. Relator vencido, quando entende que a questão deva ser centrada na ocorrência ou não do fato gerador, com total desprezo à teoria do direito adquirido "En passant" louvo que S Exa , diferentemente de outros pares, considere a hipótese do art. 40, "d" do Decreto-Lei 1.510/76, já transcrito, como hipótese de imunidade. Isto porque, no curso das discussões, cheguei a registrar, até, que o dispositivo em causa cuidaria de hipótese de isenção e não incidência 30 O/' Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 (ou imunidade), o que é bastante diverso A propósito, para desde logo situar os temas "incidência", "não incidência" e "isenção", valho-me da precisa lição de Ruy Barbosa Nogueira, in "Curso de Direito Tributário", São Paulo, ed. Saraiva, 1994, 128 edição "Incidência — é o fato de a situação previamente descrita na lei ser realizada e incidir no tributo, dar nascimento à obrigação tributária Neste caso a situação está incluída no campo da tributação Tecnicamente se diz que é a ocorrência do fato gerador do tributo, ou que o tributo, como expressão da lei, incide na relação fática previamente tipificada e efetivamente realizada,. A expressão incidência tributária, em nosso país, pode-se dizer histórica, pois com os trabalhos de Gaston Jèze (fait generateur d'impôt), aqui muito divulgados e mesmo traduzidos e a inclusão nos textos do CTN de 1966 e na Constituição, da expressão "fato gerador", hoje mais tecnicamente se diz "ocorrência do fato gerador", em vez de incidência. Não incidência — é o inverso, isto é, o fato de a situação ter ficado fora dos limites do campo tributário, ou melhor, a não ocorrência do fato gerador, porque a lei não descreve a hipótese de incidência. Isenção — é a dispensa do pagamento do tributo devido, feita por disposição expressa da lei e por isso mesmo excepcionada da tributação" A seguir, conectando as expressões "não incidência e imunidade", diz o tratadista que esta, "no dizer de Amilcar Falcão, é "uma forma qualificada ou especial de não incidência, por supressão, na Constituição, da competência impositiva ou do poder de tributar, quando se configuram certos pressupostos, situações ou circunstâncias previstos pelo estatuto supremo. E continua Nogueira dizendo que esquematicamente "poder-se-ia exprimir a mesma idéia do modo seguinte a Constituição faz, originariamente, a distribuição da competência impositiva ou do poder de tributar, ao fazer a outorga dessa competência, condiciona-a, ou melhor, clausula-a declarando os casos em que ela não poderá ser 31 7-`) Processo n° 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 exercida", para arrematar que a "imunidade é, assim, uma forma de não incidência pela supressão da competência impositiva para tributar certos fatos, situações ou pessoas, por disposição constitucional " Na espécie em causa, o legislador infra-constitucional, ao utilizar-se da expressão "não incidirá o imposto de que trata o art, 1° nas alienações efetivadas após decorrido o período de 5 (cinco) anos da data da subscrição ou aquisição da participação", prevista no Decreto-Lei 1.510/76, criou uma hipótese de não incidência que, a rigor, a teor do ensinamento de Ruy Barbosa Nogueira é, pelo visto, uma forma qualificada ou especial de não incidência." Logo, a primeira questão que surge é se a hipótese em tela seria uma hipótese de imunidade ou isenção, para então se buscar os meios e possibilidades eventuais de revogação no curso do tempo, até porque, sabidamente, à luz do art 178 do CTN, com a redação do art 13 da Lei Complementar n° 24/75, a isenção pode ser revogada salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições. Preferimos admitir que a hipótese, talvez não seja da imunidade, esta inequivocamente de competência da Constituição Federal, mas que de não incidência se cuida e não especificamente de isenção Em se tratando de hipótese de não incidência, ainda aproveitando a lição do doutrinador, podemos concluir que "o fato de a situação ter ficado fora dos limites do campo tributário, ou melhor, a não ocorrência do fato gerador" não significa que esta situação se possa perpetuar no tempo: uma legislação ordinário infra-constitucional nova pode transferí-la do campo na não incidência para o campo da incidência e assim tributá-la E nesse aspecto o que cabe verificar é a definição dos efeitos jurídicos da mudança da situação tributária para o contribuinte, o que a seguir definiremos Apenas ressaltamos que, diversamente do Relator, nesse diapasão, entendemos que o enfrentamento da matéria, neste passo, deve ser feito 32 Ç/,) Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 em razão da ocorrência ou não do direito adquirido para aquele que, no tempo, e antes da revogação da hipótese de não incidência, se habilitou às benesses do art 4°, "d" do Decreto-Lei 1 510/76, possuindo em carteira participações societárias após decorrido o período de 5 (cinco) anos da data da subscrição ou aquisição Somente superada esta questão é que se pode enfrentar a tese da ocorrência do fato gerador da obrigação já que, reconhecidamente, no primeiro momento, com a edição do Decreto-Lei 1510/76 o fato gerador não existia e somente passou a existir com a revogação introduzida muito tempo depois pelo art.. 58 da Lei 7.713/88 (ou seja, decorridos 12 anos entre o diploma que criou a não incidência e o diploma que instituiu a incidência) 5 Ainda não abandonando a hipótese de não incidência prevista no art 40, "d", do Decreto-Lei 1.510/76, pensa este Relator que o objetivo maior do mesmo foi, sem sombra de dúvida, incentivar a permanência de participações acionárias nas mãos de um único investidor, criando-lhe condições, de um lado para proporcionar o acréscimo às mesmas participações por inversões monetárias no curso do tempo e, de outro lado, na hipótese de desejar vendê-las no futuro, compensá-lo tributariamente pelo afastamento da incidência tributária Lamentavelmente os tempos mudaram e o desejo do legislador subverteu-se totalmente, não somente no campo do tratamento tributário aplicável às participações societárias, mas no geral, e hoje o objetivo único e precípuo do legislador se centra no apetite do aumento da arrecadação tributária para fazer frente aos déficts contínuos e acumulados do Erário Público É uma pena! A instituição da hipótese de incidência nos ganhos de capital, introduzidos com a revogação das benesses do art 40 , "d" do Decreto-Lei 1 510/76, entre outras causas, é o elemento gerador da dissolução das participações societárias familiares, para não se falar no incremento das atividades especulativas nas inversões bursáteis 33 Processo n° 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 6. Mas, voltando à hipótese em tela, se a questão não cuida efetivamente de revogação da isenção, mas instituição de uma nova incidência tributária, despiciendas maiores considerações a respeito da norma do art. 178 do Código Tributário Nacional e despicienda assim a consideração se a hipótese anterior de não incidência era ou não era por prazo certo, era ou não era em função de determinadas condições. Com isto parte do problema já fica eliminado, e não precisa ser examinado neste voto porque a regra do art. 178 comporta, observados cumulativamente os dois requisitos a revogação a qualquer tempo, sem a emergência dos chamados direitos adquiridos ao contribuinte que, de certa feita, dela pode ter usufruído mas, afinal não gozado, pelo não implemento do negócio, no momento da realização já não mais fruidor da regra da isenção. 7 Na hipótese dos autos, para repetir-se, foi-se do campo da não incidência para o campo da incidência e desgraçadamente para o contribuinte, entre um e outro momento, quando de rigor já poderia se beneficiar da hipótese de não incidência do art. 4°, "d", do Decreto-Lei 1„510/76, surpreendeu-se com a nova lei reguladora antes que tivesse feito a alienação e, realizando-a posteriormente, quis o Fisco tributá-la, assim materializando o lançamento sob guerreamento. Não ousamos discutir que ao legislador ordinário caberia criar uma hipótese de incidência em substituição à anterior hipótese de não incidência, porém, a partir daí, concluir-se simplesmente que com o "advento da nova lei, aquela ficou sem vigor", a teor do art. 2° da Lei de Introdução ao Código Civil, nos termos do entendimento do Relator vencido, é, data venia, conclusão que não se afigura correta dentro do texto constitucional Se a carta maior diz que a lei não prejudicará o direito adquirido (Constituição, art. 50 . )OX(VI) e é óbvio que o direito adquirido haverá de repousar' sempre numa lei pré-existente já que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo em virtude de lei, não podemos comungar com o entendimento do Conselheiro 34 a Processo n° 10480.000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03.266 Antonio de Freitas Dutra de que, apesar de as "renúncias fiscais decorrerem do poder de império do Estado", se possa abstrair a figura do direito adquirido de quem já teve a aquisição do direito antes do ato imperativo 8. Insistindo na tese de que a hipótese dos autos não cuida de revogação de isenção, mas de instituição de incidência outrora não cogitada, tornando assim inválidas as considerações de mérito do I Relator vencido, também não posso comungar com o seu pensamento no sentido de que o contribuinte, tendo adquirido um direito, tem prazo de gozo para fruí-lo, sob pena de perdê-lo. A hipótese de não incidência foi ampla e teve apenas limite de alcance de vigência, e não limite de fim de vigência. Por outras palavras, quando o sábio legislador da hipótese de não incidência instituída pelo art 4°, "d", do Decreto 1 510/76, por sinal o legislador excepcional, no caso o Poder Executivo fundado em ato revolucionário, arvorou-se na condição de legislador ordinário, estabeleceu a condição da não incidência, fê-lo apenas para dizer que as alienações das participações adquiridas após 5 (cinco) anos não estariam sujeitas a qualquer incidência na venda, mas não que para a fruição desse benefício estaria obrigado a vendê-las no primeiro dia seguinte ao decurso do período de 5 (cinco) anos 9. E aí a sapiência do voto do Conselheiro Genésio Deschamps, ao tempo em que escreveu o seu voto vencedor na Colenda 6a Câmara, acompanhado pela maioria dos membros votantes, quando se arrimou exatamente no art. 6° da Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, para defender a tese de que a alienação posterior, já adquirido o direito à hipótese de não incidência, se arrima no direito adquirido "Art. 6° - A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada § 2° - Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo 35 Processo n° 10480 000288/96-27 Acórdão n° CSRF/01-03 266 começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem" 9 E para concluir, é sempre válida a lição de Carlos Maximiliano, Editora Forense, 1 0a edição, in "Hermenêutica e Aplicação do Direito", quando deixa assente magistralmente no capítulo "Revogação do Direito" "A revogação distingue-se da anulação, nos seus efeitos: esta age sobre o passado; aquela, sobre o futuro, obediente ao princípio da irretroatividade. Os fatos novos não são regidos pela norma revogada, mas os anteriores continuam a sê-lo." 10 Com tais considerações e impetrando novamente a devida vênia ao I Relator Antonio de Freitas Dutra, nego provimento ao Recurso da Fazenda para manter o V Acórdão recorrido, por seus jurídicos fundamentos É como Mo I Saia das/Sessões-DF, em 20 de março de 2 001 ( jr (4:/ I 1 tik1\ VICTOR LUIS ' E SALLES FREIRE RELATOR C)E. IGNADO _ 36 Page 1 _0000200.PDF Page 1 _0000300.PDF Page 1 _0000400.PDF Page 1 _0000500.PDF Page 1 _0000600.PDF Page 1 _0000700.PDF Page 1 _0000800.PDF Page 1 _0000900.PDF Page 1 _0001000.PDF Page 1 _0001100.PDF Page 1 _0001200.PDF Page 1 _0001300.PDF Page 1 _0001400.PDF Page 1 _0001500.PDF Page 1 _0001600.PDF Page 1 _0001700.PDF Page 1 _0001800.PDF Page 1 _0001900.PDF Page 1 _0002000.PDF Page 1 _0002100.PDF Page 1 _0002200.PDF Page 1 _0002300.PDF Page 1 _0002400.PDF Page 1 _0002500.PDF Page 1 _0002600.PDF Page 1 _0002700.PDF Page 1 _0002800.PDF Page 1 _0002900.PDF Page 1 _0003000.PDF Page 1 _0003100.PDF Page 1 _0003200.PDF Page 1 _0003300.PDF Page 1 _0003400.PDF Page 1 _0003500.PDF Page 1 _0003600.PDF Page 1
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Numero do processo: 10925.000388/2008-36
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 23 00:00:00 UTC 2013
Data da publicação: Thu Sep 24 00:00:00 UTC 2015
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 01/04/2006 a 30/06/2006
NÃO-CUMULATIVIDADE. INSUMOS.
O termo insumo utilizado pelo legislador na apuração de créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins denota uma abrangência maior do que MP, PI e ME relacionados ao IPI. Por outro lado, tal abrangência não é tão elástica como no caso do IRPJ, a ponto de abarcar todos os custos de produção e as despesas necessárias à atividade da empresa. Sua justa medida caracteriza-se como elemento diretamente responsável pela produção dos bens ou produtos destinados à venda, ainda que este elemento não entre em contato direto com os bens produzidos, atendidas as demais exigências legais.
AGROINDÚSTRIA. RESSARCIMENTO. POSSIBILIDADE.
A Lei nº. 12.058/2009 permitiu o ressarcimento e a compensação dos créditos presumidos apurados na forma do § 3º do art. 8º da Lei 10.925, de 23 de julho de 2004.
COFINS NÃO CUMULATIVA. CUSTO DE FRETE REFERENTE AO TRANSPORTE ENTRE ESTABELECIMENTOS DA MESMA EMPRESA. POSSIBILIDADE DE CRÉDITO.
O custo referente ao frete pago pelo transporte de produtos entre estabelecimentos da mesma empresa integra a base de cálculo para o crédito previsto para a COFINS não cumulativos.
AGROINDÚSTRIA. PERCENTUAL DO CRÉDITO PRESUMIDO.
O montante de crédito presumido é determinado pela aplicação da alíquota de 60% (sessenta por cento) quando se tratar de produtos de origem animal classificados nos Capítulos 2 a 4, 16, e nos códigos 15.01 a 15.06, 1516.10, e as misturas ou preparações de gorduras ou de óleos animais dos códigos 15.17 e 15.18. Aplica-se a alíquota de 50 % para a soja e seus derivados classificados nos Capítulos 12, 15 e 23, todos da TIPI. Para os demais produtos agropecuários a alíquota aplicável é de 35 %.
NÃO CUMULATIVIDADE. RESSARCIMENTO DE SALDO CREDOR. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA E JUROS.
O artigo 15, combinado com o artigo 13, ambos da Lei nº 10.833, de 2003, vedam expressamente a aplicação de qualquer índice de atualização monetária ou de juros para este tipo de ressarcimento.
Numero da decisão: 3402-002.113
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso nos termos do voto do relator e do redator designado. Vencido conselheiro Gilson Macedo Rosenburg Filho quanto ao aproveitamento dos custos com etiquetas, com fretes internos de produto acabado e com as aquisições de ovos incubáveis de pessoas físicas e a Conselheira Silvia de Brito Oliveira (relatora) quanto ao aproveitamento dos fretes internos de produto acabado. Designado conselheiro Leonardo Mussi da Silva (suplente) para redigir o voto vencedor.
(assinado digitalmente)
Gilson Macedo Rosenburg Filho Presidente Substituto
(assinado digitalmente)
Fenelon Moscoso de Almeida Redator e Relator designado ad hoc
Participaram do presente julgamento GILSON MACEDO ROSENBURG FILHO (Presidente Substituto), FERNANDO LUIZ DA GAMA LOBO DEÇA, WINDERLEY MORAIS PEREIRA (Substituto), SILVIA DE BRITO OLIVEIRA, LEONARDO MUSSI DA SILVA (Suplente) e JOÃO CARLOS CASSULI JUNIOR, a fim de ser realizada a presente Sessão Ordinária. Ausentes, justificadamente, os conselheiros FRANCISCO MAURÍCIO R. DE ALBUQUERQUE e NAYRA BASTOS MANATTA.
Nome do relator: SILVIA DE BRITO OLIVEIRA
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INSUMOS. O termo “insumo” utilizado pelo legislador na apuração de créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins denota uma abrangência maior do que MP, PI e ME relacionados ao IPI. Por outro lado, tal abrangência não é tão elástica como no caso do IRPJ, a ponto de abarcar todos os custos de produção e as despesas necessárias à atividade da empresa. Sua justa medida caracterizase como elemento diretamente responsável pela produção dos bens ou produtos destinados à venda, ainda que este elemento não entre em contato direto com os bens produzidos, atendidas as demais exigências legais. AGROINDÚSTRIA. RESSARCIMENTO. POSSIBILIDADE. A Lei nº. 12.058/2009 permitiu o ressarcimento e a compensação dos créditos presumidos apurados na forma do § 3º do art. 8º da Lei 10.925, de 23 de julho de 2004. COFINS NÃO CUMULATIVA. CUSTO DE FRETE REFERENTE AO TRANSPORTE ENTRE ESTABELECIMENTOS DA MESMA EMPRESA. POSSIBILIDADE DE CRÉDITO. O custo referente ao frete pago pelo transporte de produtos entre estabelecimentos da mesma empresa integra a base de cálculo para o crédito previsto para a COFINS não cumulativos. AGROINDÚSTRIA. PERCENTUAL DO CRÉDITO PRESUMIDO. O montante de crédito presumido é determinado pela aplicação da alíquota de 60% (sessenta por cento) quando se tratar de produtos de origem animal classificados nos Capítulos 2 a 4, 16, e nos códigos 15.01 a 15.06, 1516.10, e as misturas ou preparações de gorduras ou de óleos animais dos códigos 15.17 e 15.18. Aplicase a alíquota de 50 % para a soja e seus derivados AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 5. 00 03 88 /2 00 8- 36 Fl. 1527DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 2 classificados nos Capítulos 12, 15 e 23, todos da TIPI. Para os demais produtos agropecuários a alíquota aplicável é de 35 %. NÃO CUMULATIVIDADE. RESSARCIMENTO DE SALDO CREDOR. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA E JUROS. O artigo 15, combinado com o artigo 13, ambos da Lei nº 10.833, de 2003, vedam expressamente a aplicação de qualquer índice de atualização monetária ou de juros para este tipo de ressarcimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso nos termos do voto do relator e do redator designado. Vencido conselheiro Gilson Macedo Rosenburg Filho quanto ao aproveitamento dos custos com etiquetas, com fretes internos de produto acabado e com as aquisições de ovos incubáveis de pessoas físicas e a Conselheira Silvia de Brito Oliveira (relatora) quanto ao aproveitamento dos fretes internos de produto acabado. Designado conselheiro Leonardo Mussi da Silva (suplente) para redigir o voto vencedor. (assinado digitalmente) Gilson Macedo Rosenburg Filho – Presidente Substituto (assinado digitalmente) Fenelon Moscoso de Almeida – Redator e Relator designado ad hoc Participaram do presente julgamento GILSON MACEDO ROSENBURG FILHO (Presidente Substituto), FERNANDO LUIZ DA GAMA LOBO DEÇA, WINDERLEY MORAIS PEREIRA (Substituto), SILVIA DE BRITO OLIVEIRA, LEONARDO MUSSI DA SILVA (Suplente) e JOÃO CARLOS CASSULI JUNIOR, a fim de ser realizada a presente Sessão Ordinária. Ausentes, justificadamente, os conselheiros FRANCISCO MAURÍCIO R. DE ALBUQUERQUE e NAYRA BASTOS MANATTA. Fl. 1528DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.529 3 Relatório Como forma de elucidar os fatos ocorridos, colaciono o relatório da decisão recorrida, verbis: A Delegacia da Receita Federal em Joaçaba/SC manifestouse pelo reconhecimento parcial do direito creditório postulado, com base no não acatamento da apuração de créditos em relação a: a) mercadorias para revenda adquiridas de pessoas físicas; b) aquisições de bens e serviços não enquadrados com insumos, como: b.1) material de uso geral; b.2) material de embalagem e etiquetas, utilizadas no acondicionamento para transportes das mercadorias; b.3) peças de reposição e serviços gerais; b.4) material de segurança; b.5) conservação e limpeza; b.6) manutenção predial; b.7) ovos incubáveis, considerados como serviços adquiridos de pessoas físicas; b.8) outros itens; c) gastos com transporte de produtos entre filiais, classificados pela cooperativa como despesas de armazenagem de mercadorias e frete na operação de venda; d) crédito presumido decorrente de atividades agroindustriais, tendo em vista não serem passíveis de ressarcimento, apenas de desconto, ou ainda decorrente da aplicação incorreta do percentual de 60% incidente sobre os insumos adquiridos, quando o percentual correto seria 35%; e) créditos a descontar na importação — foram incluídas importações com cujo pagamento foi suspenso devido a operação de DRAWBACK; A interessada apresenta manifestação de inconformidade frente esta decisão, com os argumentos abaixo expostos. Em relação A glosa dos créditos referentes a mercadorias para revenda adquiridas de pessoas físicas, a interessada confirma ter se equivocado na apropriação destes créditos. Requer, tendo em vista estas aquisições se referirem a animais para reprodução, e gerarem crédito presumido das contribuições, que seja reconhecido o direito ao crédito presumido sobre as referidas aquisições. No tocante aos bens e serviços não enquadráveis como insumos, salienta que a decisão considera o conceito de insumo de forma restrita, excluindo incontáveis insumos que a seu ver não são aplicados no produto. Aduz que, em atenção ao artigo 3 0 da Lei n° 10.833/04, todas as aquisições de bens e serviços utilizados diretamente como insumo na fabricação de produtos destinados à venda geram direito ao crédito. Fl. 1529DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 4 Desta forma, os valores glosados se enquadrariam perfeitamente como insumos, tanto na ótica da Lei n° 10.833/04 quanto da IN/SRF n°404/2004, artigo 8°. Em relação as peças de reposição de máquinas e equipamentos, sustenta o direito A compensação baseado na similaridade com os créditos decorrentes de depreciação de máquinas, combustíveis e lubrificantes e energia consumida, anexando solução de consulta n° 80, de 13/06/08, que permitiria o creditamento. Em relação às aquisições de caixas de papelão e etiquetas, aduz em primeiro lugar que é equivocada a afirmação da autoridade fiscal de que estes materiais foram utilizados no acondicionamento para transporte. Informa que o material utilizado nas embalagens tem por finalidade garantir a proteção adequada ao produto para minimizar a contaminação, prevenir danos e acomodar o rótulo. Explicita particularidades de algumas embalagens especiais, afirmando que as embalagens são colocadas com fins comerciais. No que tange as aquisições de material de segurança, produtos de conservação e limpeza e bens destinados A manutenção predial, defende o mesmo entendimento exposto em relação ao conceito de insumo, agregando a informação de que, no caso de equipamentos de proteção individual, os mesmo são obrigatórios nos termos da NR 6 e 8. Quanto à aquisição de ovos incubáveis, salienta que não se trata de remuneração de serviço prestado por pessoa física. Informa a adoção do modelo de produção integrado ou verticalizado, que consiste em uma combinação de dois ou mais estágios sucessivos de produção e ou distribuição em propriedade da empresa ou terceiros, mas sob o controle da empresa proprietária. Neste modelo, a agroindústria, por meio de contrato de parceria, fornece ao produtor rural lotes de matrizes poedeiras e ou reprodutores de suínos, lotes de pinto de um a dois dias de vida, assim como leitões. O produtor rural pessoa física, chamado de integrado ou parceiro integrado cuida das matrizes poedeiras, até a fase anterior à incubação dos ovos. 0 parceiro integrado, de igual modo cria os pintos de um dia e ou leitões até a época do abate, recebendo assistência técnica, ração e medicamentos. O parceiro produtor, em contrapartida, recebe da empresa uma parcela da produção, em cada lote, obtendo para si uma parcela do que foi produzido. A parcela pertencente ao parceiro produtor, após apurada a sua participação no lote, normalmente é vendida para a empresa. É o caso dos autos, ou seja, a parcela recebida pelo parceiro produtor corresponde a sua quota no lote de ovos produzidos para incubação, que foi vendida a empresa. Fl. 1530DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.530 5 Assim, não se trataria de remuneração paga à pessoa física e sim de compra e venda de ovos para incubação. Desta forma, a decisão deve ser reformada para, no mínimo, reconhecer o direito ao crédito presumido sobre as compras de ovos para incubação. No tocante às despesas de armazenagem de mercadorias e fretes na operação de venda, aduz que o frete incidente sobre as transferências de uma unidade produtora para outra unidade produtora deve ser considerado insumo de produção. Explica que na granja de aves são produzidos ovos, que é um produto semiacabado para o incubat6rio. No incubatório são produzidos pintos de um dia que é um produto semiacabado para o produtor. No estabelecimento do produtor são produzidas aves terminadas que é um produto semiacabado para o abatedor. E o processo se encerra apenas no estabelecimento industrializador, de onde sai o produto acabado para o estabelecimento comercial. Em relação aos dispêndios com frete de produtos acabados entre estabelecimentos da empresa, para fins de comercialização, sustenta a possibilidade do creditamento, salientando o posicionamento da 9' Regido Fiscal (solução de consulta n° 71, de 28/02/05). No tocante aos valores creditados a titulo de crédito presumido e alocados no campo de receita de exportação, a recorrente salienta que, em que pese a utilização da interpretação literal leve ao entendimento exposado pela autoridade fiscal, esta interpretação não é única nem isolada. Afirma que os créditos presumidos deixaram de figurar nas disposições do artigo 3° das leis 10.637/02 e 10.833/03 pela simples necessidade de adequálos à realidade da não cumulatividade, e não com o objetivo de impedir a compensação ou o ressarcimento de créditos presumidos. Afirma ainda que mesmo na vigência da Lei n° 10.925/04 os créditos presumidos são passíveis de compensação ou ressarcimento, em razão de que os artigos 5° e 6° das leis 10.637/02 e 10.833/03, em seu §1°, regulam a utilização dos créditos apurados na forma do respectivo artigo 3°, e não dizem que são exclusivamente os créditos relacionados no artigo 3° de ambas as leis. 0 inciso II do caput do artigo 3° das leis em questão, permitem, pois duas formas de apropriação de créditos sobre bens utilizados como insumos na produção ou fabricação de bens: uma de forma direta, que são os denominados créditos ordinários pagos pelos respectivos fornecedores daqueles bens; outra de forma presumida, nas limitações estabelecidas pelo artigo 8° da Lei n° 10.925/04. Fl. 1531DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 6 Tanto os créditos ordinários com o os presumidos vincularse iam à forma dos créditos estabelecida pelo artigo 3° de ambas as leis, e por isso mesmo seriam passíveis de compensação com outros tributos, ou de ressarcimento em espécie. Defende, caso não seja acatado sua argumentação, que isto provocaria o desrespeito da norma constitucional que veda a incidência das contribuições sobre as receitas de exportação, pois somente reconhecer a manutenção dos créditos sem possibilitar sua utilização ou recuperação implicaria em onerar os produtos exportados. Argumenta que o crédito presumido do Pis e da Cofins constitui forma de subvenção, espécie de estimulo financeiro, para reduzi ro impacto tributário existente sobre a produção. Aduz, após explicar a sistemática da dedução, compensação e ressarcimento dos créditos do tributo em tela, afirma que, frustradas as outras formas de ressarcimento, a Unido deve efetuar o pagamento, mediante a entra ao beneficiário da respectiva soma em dinheiro. Defende que, embora não esteja prevista expressamente no texto do artigo 8°, da Lei n° 10.925/04, há que se reconhecer a possibilidade de ressarcimento em relação ao crédito presumido do PIS/COFINS. No que tange a aplicação do percentual de 60% sobre os insumos adquiridos, quando deveriam ter sido aplicado o percentual de 35%, aduz que, em relação às aquisições de suíno padrão, leitões para terminação e aves para abate, o artigo 8° da Lei n° 10.925/04 estabelece o percentual de 60% sobre o valor das aquisições. Argumenta que a Solução de Consulta n° 39, de 27/04/2006, apresenta decisão dos órgãos fazendários neste sentido. No tocante as aquisições de milho inteiro e quebrado, deve, de igual modo, ser reconhecido o direito ao crédito presumido tendo por base o percentual de 60%, em razão de que tais insumos são destinados à alimentação de aves e suínos. Por derradeiro, em relação à glosa da Cofins paga em razão do registro das declarações de importação ter sido efetuado por meio do regime aduaneiro drawback, a interessada não contesta tal vedação a seus créditos. A interessada, todavia, expõe que não se creditou de algumas aquisições feitas por meio de declarações de importação referentes aos meses d janeiro a março de 2006. Desta forma, requer que sejam incluídos no cálculo deste período o valores correspondentes a estas importações. Requer, por fim, a reforma da decisão prolatada, a produção de todas as provas em direito admitido, que o presente recurso seja recebido com efeitos suspensivo e devolutivo, bem como seja determinada a aplicação da taxa Selic entre a data do pedido de restituição até a data da completa satisfação do crédito. Fl. 1532DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.531 7 A 2ª Turma da 4ª Câmara da 3ª Seção do CARF converteu o julgamento em diligência para que fossem verificados: a) Se na redistribuição das Declarações de Importação (DI), em função das datas de registro, foram excluídas DI registradas no período de janeiro a março de 2006, cujo crédito não tenha sido utilizados em outros períodos, anteriores ou posteriores ao período objeto do pedido de ressarcimento deste processo; b) Na hipótese de haver DI registrada no período de janeiro a março de 2006, objeto de exclusão do pedido de que aqui se trata, cujo crédito ainda não tenha sido utilizado, solicitouse que fosse apurado o novo valor do ressarcimento de que tratam estes autos. A Delegacia da Receita Federal do Brasil em Joaçaba/SC realizou a diligência e os autos retornaram para análise deste Colegiado. Cientificado o interessado, não se manifestou É o Relatório. Fl. 1533DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 8 Voto Vencido Conselheiro Fenelon Moscoso de Almeida, Relator designado ad hoc. Preliminarmente, ressalto que a conselheira original, Silvia de Brito Oliveira, não mais exerce mandato, fato que determinou a minha designação para redigir o voto. Contudo, a conselheira não deixou o voto confeccionado. Utilizo razões de decidir convergentes com seu entendimento sobre o tema. O recurso foi apresentado com observância do prazo previsto, bem como dos demais requisitos de admissibilidade. Sendo assim, dele tomo conhecimento e passo ao mérito. Tratase de processo de pedido de ressarcimento da Cofins nãocumulativa referente ao 2º trimestre de 2006. BENS E SERVIÇOS INSUMOS A 2ª Turma da 4ª Câmara da 3ª Seção do Carf entendeu que os autos não estavam maduros para julgamento e retornouos para fase instrutória com o fim de sanar dúvidas que assombravam as mentes dos componentes do Colegiado. A Delegacia da Receita Federal do Brasil em Joaçaba realizou o trabalho de campo, ao final produziu um relatório fiscal, o qual o recorrente teve ciência em 23/04/2012 e não se manifestou. Reproduzo as conclusões da Autoridade Fiscal no âmbito da diligência proposta. Item a – Se na redistribuição das Declarações de Importação (DI), em função das datas de registro, foram excluídas DI registradas no período de janeiro a março de 2006, cujo crédito não tenha sido utilizados em outros períodos, anteriores ou posteriores ao período objeto do pedido de ressarcimento deste processo. Apuração do Fisco: Assim, a indagação: “se na redistribuição foram excluídas DI registradas no período de janeiro a março de 2006 cujo crédito não tenha sido utilizado em outros períodos, anteriores ou posteriores ao período objeto do pedido”. Podese responder, SIM. Foram desconsideradas as importações discriminadas pela contribuinte no mês de Abril e relacionadas na planilha eletrônica/DACON, sendo: DI nº 06/03243759 com data de registro – 21/03/2006 e DI nº 06/03249544 com dada de registro – 21/03/2006. As demais, apenas foram redistribuídas para os meses de maio e junho, observando a data de registro da importação. Não foram encontradas DI com data de registro dos meses de janeiro e fevereiro, constando apenas as duas citadas do parágrafo anterior, com data de registro para o mês de março de 2006. Fl. 1534DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.532 9 Item b – Na hipótese de haver DI registrada no período de janeiro a março de 2006, objeto de exclusão do pedido de que aqui se trata, cujo crédito ainda não tenha sido utilizado, solicitouse que fosse apurado o novo valor do ressarcimento de que tratam estes autos. Apuração do Fisco: Quanto ao fato de verificarse: “se os créditos não teriam sido utilizados em outros períodos, anteriores ou posteriores ao período objeto do pedido de ressarcimento”, não se pode concluir afirmativamente. No entanto, há grandes possibilidades de que não teria ocorrido a apropriação em meses anteriores, até porque o fundamento da glosa não foi duplicidade de utilização dos créditos, mas adequação para utilização no mês de registro da DI. Sobre esta questão, em resposta a Intimação Saort 20120172 (diz respeito ao processo fiscal nº 10.905 000360/200980 ref. Ao 3º tri/2007) que lhe foi endereçada, a contribuinte respondeu o seguinte: ...”a empresa manteve o procedimento de escriturar os créditos relativos a importação de bens utilizados como insumos no mês de registro fiscal da correspondente nota fiscal de entrada. Tal registro geralmente ocorre em data posterior ao do registro da DI, podendo ocorrer que a DI é registrada em determinado trimestre e a nota fiscal no trimestre seguinte. Em relação as DIs mencionadas no Anexo I, a requerente informa que escriturou os créditos incidentes sobre as mesmas no mês de julho e agosto de 2007”. Assim, o fundamento para a glosa, como se disse deveuse ao fato de terem sido utilizadas em período posterior ao da ocorrência do mês do fato gerador do II –Imposto de Importação e também pelo fato de que parte dos insumos foi adquirida sem o pagamento das indigitadas contribuições sociais, não gerando crédito físico, uma vez que a legislação fiscal não prevê a hipótese de crédito presumido para estes casos. Conforme relatado, o Sujeito Passivo não se manifestou sobre o resultado da diligência. Esses, somados aos demais fatos contidos nos autos, servirão de base para análise da subsunção dos serviços/aquisição de mercadorias ao conceito de “insumo” contido nas leis que instituíram o regime da nãocumulatividade do PIS e da Cofins. Fl. 1535DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 10 Para melhor retratar o posicionamento da Turma, trago as razões de decidir no Acórdão n.º 3402002.173, de 22/08/2013 (10925.000361/200924), perfeitamente adequado ao caso, por tratase de decisão proferida em processo semelhante da própria Recorrente, envolvendo os mesmos tributo, matérias e período de apuração logo posterior. Cita o relator do supracitado processo que o Conselheiro Mauricio Taveira e Silva, no processo nº 16707.002127/200565 de sua relatoria, enfrentou o tema com maestria, profundidade e didática, de sorte que reproduzo seu voto para embasar minha razão de decidir, in verbis: O tema em questão enseja as maiores polêmicas acerca do PIS e Cofins não cumulativos em decorrência do termo “insumo” utilizado pelo legislador, sem a devida definição de sua amplitude, ou seja, se o insumo a ser considerado deva ser somente o “direto” ou se o termo deve abarcar, também, os insumos “indiretos”. Nesse contexto, tornase necessária uma maior reflexão sobre o tema. Os arts 3º, inciso II das Leis nos 10.637/02 e 10.833/03, dispõem sobre a possibilidade de a pessoa jurídica descontar créditos relacionados a bens e serviços, utilizados como “insumo” na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda. Visando normatizar o termo “insumo” a Receita Federal editou as Instruções Normativas, IN SRF nº 247/02, art. 66, § 5º, no caso do PIS e IN SRF nº 404/04, art. 8º, § 4º para a Cofins. Nelas, o fisco limitou a abrangência do termo “insumos” utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda, à matériaprima, ao produto intermediário, ao material de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação. Em se tratando de serviços, os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços. Necessário, ainda, que os bens não estejam incluídos no ativo imobilizado, bem assim, os serviços sejam prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, sendo aplicados ou consumidos na produção ou fabricação do produto ou prestação do serviço. De modo a esclarecer o alcance de tais normas em relação a casos concretos, foram editadas diversas Soluções de Consultas, por vezes conflitantes, as quais acabaram por ensejar a elaboração de inúmeras Soluções de Divergência. Na seqüência dos acontecimentos, decorridos alguns anos desde a edição das leis criadoras do PIS e da Cofins na sistemática não cumulativa, percebese ser cada vez mais intenso o coro a rejeitar a não cumulatividade dessas contribuições de modo tão restritivo, nos moldes do IPI. Nesse sentido, na doutrina preconizada por Fábio Pallaretti Calcini, a não cumulatividade vinculada ao produto (IPI) ou mercadoria (ICMS) não se presta a fundamentar a não cumulatividade do PIS e da Cofins, cujo pressuposto é a receita, Fl. 1536DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.533 11 ensejando, assim, uma maior amplitude para a obtenção dos créditos. A falta de pertinência se evidencia em se tratando de prestador de serviços. As restrições legalmente impostas cingemse ao art. 3º, § 2º, incisos I e II, das Leis nos 10.637/02 e 10.833/03, que tratam de vedação de crédito decorrente de mão de obra paga a pessoa física e aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição. Releva observar, em conformidade com o art. 3º, § 3º, incisos I e II, dos mesmos diplomas legais, a necessidade de que, tanto os bens e serviços adquiridos, como também os custos e despesas incorridos, pagos ou creditados, tenham como destino pessoa jurídica domiciliada no País. Desse modo, proclama o referido autor; vez que as restrições, com caráter de excepcionalidade, estão expressamente consignadas em lei, os demais dispositivos normativos não poderiam ser elaborados de forma restritiva. Conforme assevera Natanael Martins, levando em consideração o fato de que no caso das contribuições para o PIS e para a Cofins pelo regime não cumulativo a materialidade é a receita e não somente a atividade fabril, mercantil ou de serviços, constata que há a eleição de ‘outras hipóteses creditórias desvinculadas da atividade desenvolvida pelo contribuinte como é o caso das despesas financeiras decorrentes de empréstimos, financiamentos e contraprestações de operações de arrendamento mercantil’48, razão pela qual constata que, diante deste contexto, a noção de insumo ‘erigido pela nova sistemática do PIS e da Cofins não guarda simetria com aquele delineado pelas legislações do IPI e do ICMS, visto não estar limitado apenas a operações realizadas com mercadorias ou produtos industrializados, sendo, inclusive, aplicado aos prestadores de serviços. Nessa linha registra Pallaretti Calcini que as limitações à utilização do crédito são exaustivamente descritas nas duas leis, não comportando acréscimos. Assim, sustenta que a expressão insumo deve estar vinculada aos dispêndios realizados pelo contribuinte que, de forma direta ou indireta, contribuam para o pleno exercício de sua atividade econômica (indústria, comércio ou serviços) visando à obtenção de receita. Logo, os parâmetros trazidos pela Receita Federal seriam claramente restritivos, não se coadunando com o disposto nas Leis nos 10.637/02 e 10.833/03. No âmbito do CARF as decisões têm caminhado no sentido de se flexibilizar o entendimento acerca do que deva ser considerado como insumo. Nesse contexto, relevantes as considerações do Conselheiro Henrique Pinheiro Torres no voto condutor, na CSRF, do acórdão nº 930301.035 de 23/08/2010, processo nº 11065.101271/200647, conforme se observa de sua transcrição: A questão que se apresenta a debate diz respeito à possibilidade ou não de se apropriar como crédito de Pis/Pasep dos valores Fl. 1537DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 12 relativos a custos com combustíveis, lubrificantes e com a remoção de resíduos industriais. O deslinde está em se definir o alcance do termo insumo, trazido no inciso II do art. 3º da Lei 10.637/2002. A Secretaria da Receita Federal do Brasil estendeu o alcance do termo insumo, previsto na legislação do IPI (o conceito trazido no Parecer Normativo CST n° 65/79), para o PIS/Pasep e a para a Cofins não cumulativos. A meu sentir, o alcance dado ao termo insumo, pela legislação do IPI não é o mesmo que foi dado pela legislação dessas contribuições. No âmbito desse imposto, o conceito de insumo restringese ao de matériaprima, produto intermediário e de material de embalagem, já na seara das contribuições, houve um alargamento, que inclui até prestação de serviços, o que demonstra que o conceito de insumo aplicado na legislação do IPI não tem o mesmo alcance do aplicado nessa contribuições. Neste ponto, socorrome dos sempre precisos ensinamentos do Conselheiro Julio Cesar Alves Ramos, em minuta de voto referente ao Processo n° 13974.000199/200361, que, com as honras costumeiras, transcrevo excerto linhas abaixo: “Destarte, aplicada a legislação do ao caso concreto, tudo o que restaria seria a confirmação da decisão recorrida. Isso a meu ver, porém, não basta. É que, definitivamente, não considero que se deva adotar o conceito de industrialização aplicável ao IPI, assim como tampouco considero assimilável a restritiva noção de matérias primas, produtos intermediários e material de embalagem lá prevista para o estabelecimento do conceito de ‘insumos’ aqui referido. A primeira e mais óbvia razão está na completa ausência de remissão àquela legislação na Lei 10.637. Em segundo lugar, ao usar a expressão ‘insumos’, claramente estava o legislador do PIS ampliando aquele conceito, tanto que ai incluiu ‘serviços’, de nenhum modo enquadráveis como matérias primas, produtos intermediários ou material de embalagem. Ora, uma simples leitura do artigo 3º da Lei 10.637/2002 é suficiente para verificar que o legislador não restringiu a apropriação de créditos de Pis/Pasep aos parâmetros adotados no creditamento de IPI. No inciso II desse artigo, como asseverou o insigne conselheiro, o legislador incluiu no conceito de insumos os serviços contratados pela pessoa jurídica. Esse dispositivo legal também considerou como “insumo” combustível e lubrificante, o que, no âmbito do IPI, seria um verdadeiro sacrilégio. Mas as diferenças não param aí, nos incisos seguintes, permitiuse o creditamento de aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa, máquinas e equipamentos adquiridos para utilização na fabricação de produtos destinados à venda, bem como a outros bens incorporados ao ativo imobilizado etc. Isso denota que o legislador não quis restringir o creditamento do Pis/Pasep as aquisições de matériasprimas, produtos intermediários e ou material de embalagens (alcance de insumos na legislação do IPI) utilizados, diretamente, na Fl. 1538DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.534 13 produção industrial, ao contrario, ampliou de modo a considerar insumos como sendo os gastos gerais que a pessoa jurídica precisa incorrer na produção de bens ou serviços por ela realizada. Vejamos o dispositivo citado: (...) As condições para fruição dos créditos acima mencionados encontramse reguladas nos parágrafos desse artigo. Voltando ao caso dos autos, os gastos com aquisição de combustíveis e com lubrificantes, junto à pessoa jurídica domiciliada no País, bem como as despesas havidas com a remoção de resíduos industriais, pagas a pessoa jurídica nacional prestadora de serviços, geram direito a créditos de Pis/Pasep, nos termos do art. 3º transcrito linhas acima. Com essas considerações, voto no sentido de negar provimento ao recurso apresentado pela Fazenda Nacional”. Mais recentemente fora prolatado o acórdão nº 320200.226, em 08/12/2010, processo nº 11020.001952/200622, de relatoria do Conselheiro Gilberto de Castro Moreira Júnior que, após fazer diversas referências e citações doutrinárias, além de colacionar decisões administrativas, todas no sentido de que o conceito de “insumo” deve ser entendido em sentido menos restritivo do que o preconizado pelas normas editadas pelo Fisco Federal, arremata: É de se concluir, portanto, que o termo "insumo" utilizado para o cálculo do PIS e COFINS não cumulativos deve necessariamente compreender os custos e despesas operacionais da pessoa jurídica, na forma definida nos artigos 290 e 299 do RIR/99, e não se limitar apenas ao conceito trazido pelas Instruções Normativas n° 247/02 e 404/04 (embasadas exclusivamente na (inaplicável) legislação de IPI). No caso dos autos foram glosados pretendidos créditos relativos a valores de despesas que a Recorrente houve por bem classificar como insumos (materiais utilizados para manutenção de máquinas e equipamentos), em virtude da essencialidade dos mesmos para a fabricação dos produtos destinados à venda. Ora, constatase que sem a utilização dos mencionados materiais não haveria a possibilidade de a Recorrente destinar seus produtos à venda, haja vista a inviabilidade de utilização das máquinas. Frisese que o material utilizado para manutenção sofre, inclusive, desgaste com o tempo. Em virtude doa argumentos expostos, em que pese o respeito pela I. decisão proferida pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Porto Alegre (RS), ao não admitir a apuração de créditos sobre os bens adquiridos pela Recorrente, entendo que tal glosa não deve prosperar, uma vez que os equipamentos Fl. 1539DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 14 adquiridos caracterizamse como despesas necessárias ao desenvolvimento de suas atividades, sendo certo o direito ao crédito sobre tais valores para desconto das contribuições para o PIS e COFINS. Em relação ao tema, o referido acórdão restou assim ementado: [...]REGIME NÃO CUMULATIVO. INSUMOS. MATERIAIS PARA MANUTENÇÃO DE MÁQUINAS. O conceito de insumo dentro da sistemática de apuração de créditos pela não cumulatividade de PIS e Cofins deve ser entendido como toda e qualquer custo ou despesa necessária à atividade da empresa, nos termos da legislação do IRPJ, não devendo ser utilizado o conceito trazido pela legislação do IPI, uma vez que a materialidade de tal tributo é distinta da materialidade das contribuições em apreço. Feitas estas colocações, passo a expressar meu posicionamento acerca da matéria. Conforme dito anteriormente, o cerne da questão reside no significado e abrangência do termo “insumo” consignado nos arts 3º, inciso II das Leis nos 10.637/02 e 10.833/03, cuja semelhante redação assim dispõem: Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) (destaquei) Em que pese a judiciosa motivação apresentada pelo conselheiro relator em seu brilhante voto condutor do aresto precitado, ouso discordar de sua conclusão assinalada na ementa, como segue: “O conceito de insumo dentro da sistemática de apuração de créditos pela não cumulatividade de PIS e Cofins deve ser entendido como toda e qualquer custo ou despesa necessária à atividade da empresa, nos termos da legislação do IRPJ...” Travase aqui, a mesma discussão do crédito presumido de IPI de que trata a Lei nº 9.363/96, ou seja, se o insumo deve ser compreendido em seu sentido lato, abrangendo, portanto, toda e qualquer matériaprima e produto intermediário, cuja utilização na cadeia produtiva seja necessária à consecução do produto final, ou não. O art. 290 do RIR/99 mencionado no acórdão referencia o método de custeio por absorção o qual apropria todos os custos de produção dos bens, sejam diretos ou indiretos, variáveis ou fixos. Assim, o custo de produção dos bens ou serviços deverá Fl. 1540DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.535 15 compreender o custo de aquisição das matériasprimas e secundárias, o custo de mão de obra direta e indireta e os gastos gerais de fabricação, inclusive os custos fixos tais como os encargos de depreciação dos bens utilizados na produção. Já o art. 299, também do RIR/99, trata das despesas operacionais dedutíveis na determinação do lucro real como sendo as despesas necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora de receitas. Suas matrizes legais são: DecretoLei nº 1.598/77, art. 13, §§ 1º e 2º (art. 290 do RIR/99), que assim dispõe: Art. 13 O custo de aquisição de mercadorias destinadas à revenda compreenderá os de transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte e os tributos devidos na aquisição ou importação. § 1º O custo de produção dos bens ou serviços vendidos compreenderá, obrigatoriamente: a) o custo de aquisição de matériasprimas e quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção, observado o disposto neste artigo; b) o custo do pessoal aplicado na produção, inclusive de supervisão direta, manutenção e guarda das instalações de produção; c) os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de depreciação dos bens aplicados na produção; d) os encargos de amortização diretamente relacionados com a produção; e) os encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção. § 2º A aquisição de bens de consumo eventual, cujo valor não exceda de 5% do custo total dos produtos vendidos no exercício social anterior, poderá ser registrada diretamente como custo. Por outro lado, o art. 299 do RIR/99 tem como matriz legal o art. 47, §§ 1º e 2º, da Lei nº 4.506/64, com o seguinte teor: Art. 47. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e a manutenção da respectiva fonte produtora. § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa. Tendo em vista a extensa redação levada a efeito no caso do Imposto de Renda, não posso compreender que o simples termo “insumo” utilizado na norma tenha a mesma amplitude do Fl. 1541DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 16 citado imposto. Acaso o legislador pretendesse tal alcance do referido termo teria aberto mão deste vocábulo, “insumo”, assentando que os créditos seriam calculados em relação a “todo e qualquer custo ou despesa necessários à atividade da empresa ou à obtenção de receita”. Dispondo desse modo o legislador, sequer, precisaria fazer constar “inclusive combustíveis e lubrificantes”. Creio que o termo “insumo” foi precisamente colocado para expressar um significado mais abrangente do que MP, PI e ME, utilizados pelo IPI, porém, não com o mesmo alcance do IRPJ que possibilita a dedutibilidade dos custos e das despesas necessárias à atividade da empresa. Precisar onde se situar nesta escala é o cerne da questão. De se registrar que o próprio fisco vem flexibilizando seu conceito de insumo. Como exemplo temse que, em relação ao citado acórdão, o qual tratou de créditos de aquisições de materiais para manutenção de máquinas e equipamentos, a própria administração tributária já havia se manifestado favoravelmente à utilização de tais créditos, por meio da Solução de Divergência nº 35/08. Nela a Cosit registra a desnecessidade de contato direto com os bens que estão sendo fabricados, conforme segue: 17. Isso posto, chegase ao entendimento, de que todas as partes e peças de reposições utilizadas em máquinas e equipamentos diretamente responsáveis pela produção dos bens ou produtos destinados à venda, aqui descritos ou exemplificados, que sofram desgaste ou dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida em todo o processo de produção ou de fabricação, independentemente, de entrarem ou não contato direto com os bens que estão sendo fabricados destinados à venda, ou seja, basta que referidas partes e peças sejam incorporadas às máquinas e equipamentos que estejam atuando no processo de fabricação ou produção dos referidos bens, geram direito à apuração de créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desde que não estejam escriturados no ativo imobilizado. (grifei) Em conclusão a Solução registra: 18.Diante do exposto, solucionase a presente divergência dandose provimento ao recurso interposto, orientando à recorrente que as despesas efetuadas com a aquisição de partes e peças de reposição, que sofram desgaste ou dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, utilizadas em máquinas e equipamentos que efetivamente respondam diretamente por todo o processo de fabricação dos bens ou produtos destinados à venda, pagas à pessoa jurídica domiciliada no País, a partir de 1º de dezembro de 2002, e a partir de 1º de fevereiro de 2004, geram direito à apuração de créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, respectivamente, desde que às partes e peças de reposição não estejam obrigadas a serem incluídas no ativo imobilizado, nos termos da legislação vigente. Fl. 1542DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.536 17 Destarte, entendo que o termo “insumo” utilizado pelo legislador na apuração de créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins denota uma abrangência maior do que MP, PI e ME relacionados ao IPI. Por outro lado, tal abrangência não é tão elástica como no caso do IRPJ, a ponto de abarcar todos os custos de produção e as despesas necessárias à atividade da empresa. Sua justa medida caracterizase como elemento diretamente responsável pela produção dos bens ou produtos destinados à venda, ainda que este elemento não entre em contato direto com os bens produzidos, atendidas as demais exigências legais. Com base nas brilhantes linhas traçadas pelo Conselheiro Mauricio Taveira, entendo que em todo processo administrativo que envolver créditos referentes a não cumulatividade do PIS ou da Cofins, deve ser analisado cada item relacionado como “insumos” e o seu envolvimento no processo produtivo, para então definir a possibilidade de aproveitamento do crédito. Regressando a lide, passo ao exame dos itens reclamados pelo recorrente, tendo por base a diligência realizada e o conceito de insumo alhures detalhado. 1 Bens e Serviços material de uso geral, material de embalagens e etiquetas, peças de reposição e serviços gerais, material de segurança, material de conservação e limpeza, material de manutenção predial, ovos incubáveis, fretes e outros itens. Quanto à imensa lista de elementos que não foram considerados para o cálculo do crédito da Cofins, me reservo a analisar apenas aqueles que o recorrente buscou demonstrar participar de seu processo produtivo. Para os demais, nego de pronto sua inclusão no cálculo do crédito em virtude das alegações estarem órfãs de informações que sustentem seu direito. É bom lembrar que a lide versa sobre pedido de ressarcimento, cujo ônus da prova é do recorrente. a) Material de uso geral avental plástico, bota de borracha, camisa, camiseta impermeável, calça proteção, desinfetante, creme protetor microbiológico, detergentes, lenha de eucalipto, luva, óleos lubrificantes, papel toalha, peças para máquinas, protetor auricular, correias industriais. Entendo que os valores gastos com o avental plástico, camisa, desinfetante, luva, a bota de borracha, a camiseta impermeável, a calça de proteção, o creme protetor microbiológico, o protetor auricular, os óleos lubrificantes e as peças para as máquinas do parque fabril subsumem ao conceito de insumo, devendo fazer parte do cálculo do crédito da Cofins. Quanto aos demais elementos mencionados neste item nego seu aproveitamento por falta de prova. b) Material de Embalagens e Etiquetas caixas de papelão e etiqueta. Quanto a esse item, as caixas de papelão utilizadas no acondicionamento dos produtos para fins de proteção contra ataque ambientais, choques, vibrações impróprias, esmagamento, etc, fazem parte do processo produtivo do recorrente, de forma que devem ser incluídos nos cálculos dos créditos como sendo insumos. Mesma sorte teve o elemento “etiqueta”. Fl. 1543DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 18 c) Material de Conservação e Limpeza Os serviços de limpeza compreendem a lavagem e desinfecção das instalações, máquinas e equipamentos industriais; lavanderia industrial (lavagem dos uniformes utilizados pelos funcionários que atuam no processo produtivo). Portanto, em vista da atividade desenvolvida pela sociedade ser de cunho alimentício, entendo que os valores referentes a estes custos devem fazer parte do cálculo do crédito da Cofins, por estarem contemplados no conceito de insumo. d) Manutenção Predial, Serviço de Pintura e de Construção Civil A manutenção predial e os serviços de pintura e construção civil foram realizados no estabelecimento fabril e a compra de todos os itens foi utilizada nos estabelecimentos industriais, conforme demonstrado através das cópias dos documentos fiscais e razão contábil. Os serviços de pintura foram realizados no acesso a indústria e lateral do prédio bloco administrativo II, pintura circulação de acesso aos vestiários parede/platib, pintura na sala de manutenção de baterias, pintura em calhas, teto, tirantes, suporte de expedição, pintura no setor Mec preparação e piso da oficina, pintura no setor abt, serviço de manutenção civil no setor abt, serviço manutenção civil piso setor Produtivo. Neste caso apenas os custos com a manutenção predial do setor fabril e os serviços de pintura deste mesmo setor tem o direito de fazer parte do cálculo do crédito da exação. Os custos com a manutenção e pintura dos prédios administrativos e outros setores não podem compor o referido crédito. e) Fretes Em relação ao frete, o valor total glosado no 3º trimestre de 2007, corresponde a transporte de produtos acabados em operação de venda; a despesas com armazenagem de produto final para venda; a transporte de produtos acabados entre estabelecimentos para venda (frete transferência); e ao frete sobre compra de produtos/insumos para industrialização (frete sobre compras). Concluise que as despesas com fretes estão divididas entre as relativas ao transporte de produtos acabados em operação de venda, ao transporte entre estabelecimentos de produtos acabados e ao frete sobre as compras dos insumos utilizados para industrialização dos produtos a serem comercializados. O aproveitamento do custo com frete relativo ao transporte de produto acabado para venda está previsto na Lei que instituiu a nãocumulatividade. Ressalto apenas que o ônus deve ser suportado pelo vendedor. Os custos dos fretes referentes à aquisição dos insumos incorporam ao custo dos insumos, desde que estejam descriminados na nota fiscal de compra e assumidos pelo comprador. Cumpridos esses requisitos, estarão acobertados pela legislação. Assim, o único problema a ser resolvido se refere ao frete correspondente ao transporte de bens acabados entre estabelecimentos da mesma sociedade. Conforme já mencionado o conceito de insumo para fins de creditamento do PIS e da Cofins tem um alcance maior do que matériaprima, produto intermediário e material de embalagem relacionados ao IPI e menor que os custos de produção do IRPJ. Contudo, defendo que nos casos em que a Lei previu, expressamente, o tipo do bem ou o do serviço que poderá ser utilizado para descontar créditos das exações, aplico os cânones legais. Fl. 1544DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.537 19 É o caso da despesa com fretes, o inciso IX do art. 3º da Lei nº 10.833/2003 prevê que apenas os fretes utilizados na operação de venda poderão servir de créditos a serem descontados do valor apurado de exação. No caso em questão, o transporte de produto acabado de um estabelecimento a outro da mesma sociedade não dá direito ao crédito, pois falta previsão legal. Se fosse produto semiacabado, meu entendimento seria diverso, uma vez que esse frete faria parte do processo produtivo da empresa. Portanto, quanto a esse custo, mantenho afastados os valores da base de cálculo do crédito da Cofins. No caso em questão, o transporte de produto acabado de um estabelecimento a outro da mesma sociedade não dá direito ao crédito, pois falta previsão legal. Se fosse produto semiacabado, meu entendimento seria diverso, uma vez que esse frete faria parte do processo produtivo da empresa. Portanto, quanto a esse custo, mantenho afastados os valores da base de cálculo do crédito da Cofins. f) Armazenagem As despesas com armazenagem também foi prevista no inciso IX do art. 3º da Lei nº 10.833/2003 como integrante dos créditos descontáveis da exação. De sorte que afasto a glosa efetuada pela fiscalização e mantida pela instância a quo. g) Ovos incubáveis Relativamente aos ovos incubáveis, a recorrente afirmou que não se trata de pagamento por serviços prestados por pessoa física, mas, sim, de aquisição, de pessoa física, de ovos para incubação, pois adotou um modelo de produção verticalizado, em que, nesse caso, fornece ao produtor rural, pessoa física, matrizes poedeiras, bem como assistência técnica, ração e medicamentos necessários, para o produtor rural cuidar dessas matrizes até a fase anterior à incubação dos ovos. Nesse modelo, a pessoa física participa com as instalações, água, luz, mãode obra para alimentação e manutenção do lote de animais recebidos e, como pagamento, recebe uma parcela do que foi produzido (no caso, os ovos incubáveis), essa parcela normalmente é vendida para a própria empresa. Assim, os pagamentos efetuados à pessoa física referemse à compra da parcela da produção de ovos incubáveis pertencente ao produtor rural. Diante dessa situação, comprovada por cópia de contrato entre produtor rural e a recorrente, para os casos em que há recibo ou nota fiscal que ampara a venda à recorrente por produtor rural, pessoa física, de ovos incubáveis, o que se tem é a aquisição de insumos de pessoa física, o que faculta à recorrente a apropriação de crédito presumido calculado com base nessas aquisições, na forma do art. 8º da Lei nº 10.925, de 2004. Por essas razões, voto pelo provimento parcial do recurso (parcial porque reconhecese como passível de gerar crédito presumido apenas as aquisições comprovadas) para que seja, quanto a este item, permitida a apropriação do crédito presumido previsto no precitado dispositivo legal sobre as aquisições comprovadas de ovos incubáveis de pessoa física. Fl. 1545DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 20 AGROINDÚSTRIA – RESSARCIMENTO A Autoridade Fiscal glosou o crédito presumido decorrente de atividades agroindustriais pelo entendimento de serem passíveis de ressarcimento, apenas de desconto com a própria Cofins na apuração do quantum debeatur. Já o recorrente defende que, embora não esteja prevista expressamente no texto do artigo 8°, da Lei n° 10.925/04, há que se reconhecer a possibilidade de ressarcimento em relação ao crédito presumido do PIS/COFINS. Assim, o cerne da questão é definir se os créditos presumidos da agroindústria podem ser objeto de processo de ressarcimento ou de compensação tributária. A solução da lide passa necessariamente pelas irradiações das modificações impostas pela Lei nº 10.925/2005 ao regime da nãocumulatividade do PIS e da Cofins. Diante desse quadro convém identificar as respectivas mudanças e seus reflexos no caso em questão. A Lei nº 10.637/2002, assim dispõe sobre o assunto: Art. 2o Para determinação do valor do PIS aplicarseá, sobre a base de cálculo apurada conforme o disposto no art. 1o, a alíquota de 1,65. (...) Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: (...) (...) § 10.Sem prejuízo do aproveitamento dos créditos apurados na forma deste artigo, as pessoas jurídicas que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2 a 4, 8 a 12 e 23, e nos códigos 01.03, 01.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, 15.07 a 15.14, 1515.2, 1516.20.00, 15.17, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da Nomenclatura Comum do Mercosul, destinados à alimentação humana ou animal poderão deduzir da contribuição para o PIS/Pasep, devida em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens e serviços referidos no inciso II do caput deste artigo, adquiridos, no mesmo período, de pessoas físicas residentes no País. § 11. Relativamente ao crédito presumido referido no § 10: (Incluído pela Lei nº 10.684, de 30.5.2003) (Revogado pela Lei nº 10.925, de 2004) Iseu montante será determinado mediante aplicação, sobre o valor das mencionadas aquisições, de alíquota correspondente a setenta por cento daquela constante do art. 2o; (Incluído pela Lei nº 10.684, de 30.5.2003) (Revogado pela Lei nº 10.925, de 2004) II o valor das aquisições não poderá ser superior ao que vier a ser fixado, por espécie de bem ou serviço, pela Secretaria da Receita Federal. Fl. 1546DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.538 21 Assim, a agroindústria poderia aproveitar os créditos presumidos para dedução do valor a recolher resultante de operações no mercado interno, compensar com débitos próprios de tributos administrados pela SRF e, caso não conseguisse utilizálos até o final de cada trimestre, pleitear seu ressarcimento. Ocorre que os §§ 10 e 11 do art. 3º supra foram revogados pela Medida Provisória nº 183, de 30 de abril de 2004 (publicada nessa mesma data em Edição extra do Diário Oficial da União), verbis: Art.3° Os efeitos do disposto nos arts. 1º e 5º darseão a partir do quarto mês subseqüente ao de publicação desta Medida Provisória. Art. 4° Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação. Art.5° Ficam revogados os §§ 10 e 11 do art. 3º da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e os §§ 5º, 6º, 11 e 12 do art. 3º da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003. A partir de agosto de 2004 produziria efeitos, portanto, a revogação desses créditos presumidos da agroindústria. Sobreveio a conversão dessa Medida Provisória na Lei nº 10.925, de 23 de julho de 2004 (Diário Oficial de 26/07/2004), reinstituindo os créditos presumidos da agroindústria com alterações, conforme arts. 8º e 15: Art. 8º As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2, 3, exceto os produtos vivos desse capítulo, e 4, 8 a 12, 15, 16 e 23, e nos códigos 03.02, 03.03, 03.04, 03.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, exceto os códigos 0713.33.19, 0713.33.29 e 0713.33.99, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.01, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da NCM, destinadas à alimentação humana ou animal, poderão deduzir da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004). (...) Art. 15. As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem vegetal, classificadas no código 22.04, da NCM, poderão deduzir da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3º das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. Fl. 1547DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 22 (...) Art. 17. Produz efeitos: (...) II na data da publicação desta Lei, o disposto: a) nos arts. 1º, 3º, 7º, 10, 11, 12 e 15 desta Lei; (...) III a partir de 1o de agosto de 2004, o disposto nos arts. 8º e 9º desta Lei Observe que a Lei nº 10.925/2004 instituiu novas hipóteses de créditos presumidos com vigência a partir de 01/08/2004, tanto nas especificidades de seu cálculo quanto na forma de seu aproveitamento. Importa notar que, quanto ao aproveitamento, essa Lei dispôs apenas sobre a possibilidade da pessoa jurídica, indicada no caput dos arts. 8º e 15, “deduzir da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física.” De outro lado, a mesma Lei nº 10.925 manteve as revogações promovidas pela MP nº 183, verbis: Art. 16. Ficam revogados: I a partir do 1o (primeiro) dia do 4o (quarto) mês subseqüente ao da publicação da Medida Provisória no 183, de 30 de abril de 2004: a) os §§ 10 e 11 do art. 3o da Lei no 10.637, de 30 de dezembro de 2002; e b) os §§ 5o, 6o, 11 e 12 do art. 3o da Lei no 10.833, de 29 de dezembro de 2003; Assim, como os créditos previstos no art. 3º, §§ 10 e 11 da Lei nº 10.637/2002 e no art. 3º, §§ 11 e 12 da Lei nº 10.833/2003 foram expressamente revogados pelo art. 16 da Lei nº 10.925/2004, não sendo mais apurados na forma do art. 3º daquelas leis, não há mais possibilidade de efetuar compensação ou pedido de ressarcimento em dinheiro em relação a aqueles créditos, por falta de previsão legal. Pelo mesmo motivo, não é possível a compensação e o ressarcimento em relação aos créditos estabelecidos pelos arts. 8º e 15 da Lei nº 10.925/2004. Em função da revogação promovida pela Medida Provisória nº 183 não ter produzido efeitos antes da reinstituição dos créditos presumidos da agroindústria pela Lei nº 10.925, podese concluir que o aproveitamento de tais créditos não sofreu solução de continuidade. Deste modo, em que pese a reinstituição de créditos presumidos para a agroindústria pela Lei 10.925, não houve mudanças nas formas de aproveitamento para dedução, compensação e ressarcimento previstas nas Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003, que contemplam apenas os créditos apurados “na forma do art. 3º e não esses “novos” créditos. Com efeito, não é despiciendo reiterar que a compensação e o ressarcimento admitidos pelo art. 5º da Lei nº 10.637, de 2002, e pelo art. 6º da Lei nº 10.833, de 2003, respeitam unicamente aos créditos apurados na forma do art. 3º das mesmas Leis: Fl. 1548DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.539 23 Art. 5o A contribuição para o PIS/Pasep não incidirá sobre as receitas decorrentes das operações de: [...]; § 1º Na hipótese deste artigo, a pessoa jurídica vendedora poderá utilizar o crédito apurado na forma do art. 3º, para fins de: I – dedução do valor da contribuição a recolher, decorrente das demais operações no mercado interno; II – compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, observada a legislação específica aplicável à matéria. § 2º A pessoa jurídica que, até o final de cada trimestre do ano civil, não conseguir utilizar o credito por qualquer das formas previstas no § 1º poderá solicitar o seu ressarcimento em dinheiro, observada a legislação específica aplicável à matéria. [...]; Art. 6º A COFINS não incidirá sobre as receitas decorrentes das operações de: [...];§ 1o Na hipótese deste artigo, a pessoa jurídica vendedora poderá utilizar o crédito apurado na forma do art. 3o, para fins de: I dedução do valor da contribuição a recolher, decorrente das demais operações no mercado interno; II compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, observada a legislação específica aplicável à matéria. § 2o A pessoa jurídica que, até o final de cada trimestre do ano civil, não conseguir utilizar o crédito por qualquer das formas previstas no § 1o poderá solicitar o seu ressarcimento em dinheiro, observada a legislação específica aplicável à matéria. [...]; Neste diapasão, a IN SRF nº 600, de 28 de dezembro de 2005, dispõe seu art.21, caput: “Art. 21. Os créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins apurados na forma do art. 3º da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e do art. 3º da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, que não puderem ser utilizados na dedução de débitos das respectivas contribuições, poderão sêlo na compensação de débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições de que trata esta Instrução Normativa, se decorrentes de: Fl. 1549DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 24 Como se pode notar o legislador não fez tal alteração, nem previu na própria Lei n° 10.925/2004 outra forma de aproveitamento desse crédito presumido que não a dedução da própria contribuição devida em cada período. Portanto, desejou que apenas essa forma de aproveitamento fosse possível. Por derradeiro, ao analisarmos o caput do art. 16, da Lei nº 11.116/2005, notamos que este dispositivo trata especificamente do saldo credor apurado na forma do art. 3º das Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003, e do art. 15 da Lei nº 10.865/2004, senão vejamos: “Art. 16. O saldo credor da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins apurado na forma do art. 3o das Leis nºs 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, e do art. 15 da Lei nº 10.865, de 30 de abril de 2004, acumulado ao final de cada trimestre do anocalendário em virtude do disposto no art. 17 da Lei nº 11.033, de 21 de dezembro de 2004, poderá ser objeto de: I compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, observada a legislação específica aplicável à matéria; ou II pedido de ressarcimento em dinheiro, observada a legislação específica aplicável à matéria.” Noutro giro, não se pode perder de vista que a vedação do art. 8º, § 4º, da Lei nº 10.925, de 2004, constitui norma especial, porquanto se refere unicamente à situação específica ali descrita. Destarte, apenas excepciona, sem, contudo, conflitar com a norma geral do art. 17 da Lei nº 11.033, de 21 de dezembro de 2004, que permite ao vendedor manter os créditos vinculados às operações de venda efetuadas com suspensão, isenção, alíquota zero ou não incidência da contribuição ao PIS, previsão esta genérica e atinente às operações em geral. Observese, ainda, que a previsão contida no caput dos arts. 8º e 15 da Lei nº 10.925, de 2004, admite que as pessoas jurídicas aludidas “poderão deduzir da contribuição para o PIS/PASEP, devidas em cada período de apuração” o crédito presumido ali tratado. Neste passo, entendo que prevalecem as vedações contidas no § 4º do art. 8º da Lei nº 10.925, de 2004, em relação às situações específicas previstas naquele artigo. Posteriormente, a Lei nº. 12058, de 13 de outubro de 2009 aduziu importantes modificações no tema, a saber: a) Permitiu a compensação dos saldos dos créditos presumidos em discussão com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos administrados pela RFB; b) Autorizou o ressarcimento em dinheiro destes mesmos créditos, sob a ressalva de que o pedido só poderia ser efetuado para créditos apurados nos anoscalendário de 2004 a 2007, a partir do mês subseqüente ao da publicação da lei. E o pedido referente aos créditos apurados no anocalendário de 2008 e no período compreendido entre 01/2009 e o mês de publicação da lei, a partir de 01/01/2010. Por fim, a Lei nº. 12.350, de 20 de dezembro de 2010, ratificou os direito concedidos pela Lei nº. 12058/2009, no sentido de manter a permissão ao ressarcimento e a compensação dos créditos presumidos apurados na forma do §3º do art. 8º da Lei 10.925, de 23 de julho de 2004. Fl. 1550DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.540 25 Não se pode esquecer que o art. 106 do CTN autoriza a aplicação de lei nova a ato não definitivamente julgado, quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo. Pelas assertivas feitas, afluem razões jurídicas para as seguintes conclusões: 1 A Lei nº 10.925/2004 instituiu novas hipóteses de créditos presumidos com vigência a partir de 01/08/2004, tanto nas especificidades de seu cálculo quanto na forma de seu aproveitamento; 2 A partir de agosto de 2004, a legislação deixa de possibilitar a compensação ou o ressarcimento de créditos presumidos de agroindústria de PIS/COFINS de operações de exportação, podendo apenas servir para abater o PIS/Cofins devido na sistemática da não cumulatividade. Ou seja, o valor do crédito presumido previsto na Lei nº 10.925, de 2004, art. 8º, somente pode ser utilizado para deduzir da contribuição para o PIS/Cofins apurado no regime de incidência nãocumulativa; 3 A partir de 13/10/2009, a legislação retornou com a possibilidade de ressarcir ou compensar os créditos referentes à agroindústria. Após esse singelo passeio pela legislação da não cumulatividade aplicada às agroindústrias, retornando ao caso em questão, conforme consta nos autos, a sociedade buscou compensar créditos presumidos de agroindústria da Cofins em operações de exportação com débitos de outros tributos. Partindo das premissas acima cravadas, não é necessário empreender qualquer esforço de interpretação para concluir que os créditos adquiridos de agroindústria são considerados créditos presumidos, podendo ser objeto de pedido de ressarcimento. Portanto o ressarcimento pretendido pelo contribuinte deve prosperar sendo imperiosa a reforma da decisão proferida em primeira instância. PERCENTUAL DO CRÉDITO PRESUMIDO O recorrente afirmar que houve erro na aplicação do percentual sobre os insumos adquiridos – suíno padrão, leitões para terminação e aves para abate – em seu julgamento o percentual do crédito presumido deveria ser de 60% e não de 35% como foi feito pela DRJ/Joaçaba. Mesma sorte deveria ter as aquisições de milho inteiro e quebrado em razão de que tais insumos são destinados à alimentação de aves e suínos. Sobre esse assunto, entendo que a DRJ enfrentou de forma simples, contudo eficiente, devendo ser mantida sua decisão pelos seus próprios fundamentos, que abaixo transcrevo, verbis: Relativamente à COFINS, a normatização relativa à apuração de créditos presumidos foi estabelecida pelo art. 8° da Lei n° 10.925, de 2004, que assim dispôs: “Art. 8° As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2, 3, exceto os produtos vivos desse capítulo, e 4, 8 a 12, 15, 16 e 23, e nos códigos 03.02, 03.03, Fl. 1551DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 26 03.04, 03.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07. 14, exceto os códigos 0713.33.19, 0713.33.29 e 0713.33.99, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.01, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da NCM, destinadas à alimentação humana ou animal, poderão deduzir da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3º das Leis n's 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. (Redação dada pela Lei n°11.051, de 2004) § 1° O disposto no caput deste artigo aplicase também às aquisições efetuadas de: I cerealista que exerça cumulativamente as atividades de limpar, padronizar, armazenar e comercializar os produtos in natura de origem vegetal, classificados nos códigos 09.01, 10.01 a 10.08, exceto os dos códigos 1006.20 e 1006.30, 12.01 e 18.01, todos da NCM; (Redação dada pela Lei n°11.196, de 21/11/2005); II pessoa jurídica que exerça cumulativamente as atividades de transporte, resfriamento e venda a granel de leite in natura; e III pessoa jurídica que exerça atividade agropecuária e cooperativa de produção agropecuária. (Redação dada pela Lei n°11.051, de 2004). § 2° O direito ao crédito presumido de que tratam o caput e o § 1º deste artigo só se aplica aos bens adquiridos ou recebidos, no mesmo período de apuração, de pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no País, observado o disposto no § 4° do art. 3° das Leis n's 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003. § 3° O montante do crédito a que se referem o caput e o § 1° deste artigo será determinado mediante aplicação, sobre o valor das mencionadas aquisições, de alíquota correspondente a: I 60% (sessenta por cento) daquela prevista no art. 2° das Leis nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, para os produtos de origem animal classificados nos Capítulos 2 a 4, 16, e nos códigos 15.01 a 15.06, 1516.10, e as misturas ou preparações de gorduras ou de óleos animais dos códigos 15.17e 15.18; e II 50% (cinqüenta por cento) daquela prevista no art. 2° das Leis nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, para a soja e seus derivados classificados nos Capítulos 12, 15 e 23, todos da TIPI; e (Redação dada pela Lei n°11.488, de 15 de junho de 2007) III 35% (trinta e cinco por cento) daquela prevista no art. 2° das Leis n's 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, para os demais produtos. (Renumerado pela Lei n°11.488, de 15 de junho de 2007) § 4º É vedado às pessoas jurídicas de que tratam os incisos I a III do § 1º deste artigo o aproveitamento: Fl. 1552DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.541 27 I do crédito presumido de que trata o caput deste artigo; II de crédito em relação às receitas de vendas efetuadas com suspensão às pessoas jurídicas de que trata o caput deste artigo.” Contatase, portanto, que o montante de crédito presumido é determinado pela aplicação da alíquota de 60% (sessenta por cento) apenas quando se tratar de produtos de origem animal classificados nos Capítulos 2 a 4, 16, e nos códigos 15.01 a 15.06, 1516.10, e as misturas ou preparações de gorduras ou de óleos animais dos códigos 15.17 e 15.18. Os itens que tiveram sua alíquota alterada pela autoridade fiscal, milho (1005.90.10), milho quebrado (1005.90.10), suíno padrão (0103.91.00), leitões p/term suicooper (0103.91.00) e aves para abate (0105.99.00), constam todos do capítulo 1 da TIPI, não se enquadrando, portanto, nos critérios definidos pelo legislador para aplicação do percentual de 60%. Enquadramse, todavia, no inciso III do parágrafo terceiro do artigo em comento, razão pela qual considerase correto o entendimento da DRF/Joaçaba. Forte nestes argumentos, mantenho o teor da decisão da Delegacia de Julgamento no sentido da aplicação do percentual de 35% sobre as aquisições de suíno padrão, leitões para terminação, aves para abate, milho inteiro e quebrado. CRÉDITOS A DESCONTAR A Delegacia da Receita Federal do Brasil em Joaçaba realizou diligência fiscal sobre a matéria, ao final produziu um relatório fiscal, o qual o recorrente teve ciência em 23/04/2012 e não se manifestou. Das conclusões da Autoridade Fiscal e dos argumentos apresentados pelo recorrente no âmbito da diligência proposta, entendo devese admitir a inclusão dos valores constantes das Declarações de Importação (DI) excluídas, nos exatos termos apurados e cientificados ao contribuinte por meio da INFORMAÇÃO FISCAL SAORT 20120218 CCV, de 20/04/2012 (fls. 1460/1512). TAXA SELIC A interessada requer que seja determinada a aplicação da taxa Selic entre a data do pedido de restituição até a data da completa satisfação do crédito. Quanto à possibilidade de aplicação de juros compensatórios sobre o ressarcimento de créditos fiscais referentes ao PIS e a Cofins nãocumulativos, entendo que não há amparo legal, muito pelo contrário, a Lei nº 10.833/2003 veda expressamente a aplicação de juros compensatórios sobre o ressarcimento de créditos fiscais nela previstos, assim dispondo: Art. 13. O aproveitamento de crédito na forma do § 4° do art 3°, do art. 4° e dos §§ 1° e 2° do art. 6°, bem como do § 2° e inciso II do § 4° e §5° do art. 12, não ensejará atualização monetária ou incidência de juros sobre os respectivos valores. Fl. 1553DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 28 Art. 15. Aplicase à contribuição para o P1S/PASEP não cumulativa de que trata a Lei n° 10.637, de 30 de dezembro de 2002, o disposto nos incisos I e lido § 3° do art. 1°, nos incisos VI, VII e IX do caput e nos §§ 1°, incisos II e III, 10 e 11 do art. 3°, nos §§ 3° e 4° do art. 6°, e nos arts. 7º, 8°, 10, incisos XI a XIV, e 13. Portanto, pela regra acima reproduzida, é vedada a aplicação da taxa Selic ao valor do crédito de PIS e de Cofins não cumulativos. Ex positis, dou provimento parcial ao recurso voluntário para admitir a inclusão dos valores constantes das Declarações de Importação (DI) excluídas, nos exatos termos apurados e cientificados ao contribuinte por meio da INFORMAÇÃO FISCAL SAORT 2012 0218 CCV, de 20/04/2012 (fls. 1460/1512); além dos custos abaixo relacionados, no valor a ser descontado da contribuição devida na forma da Lei n° 10.833/2003: a) aquisição de avental plástico, desinfetante, luva, camisa, de bota de borracha, de camiseta impermeável, de calça de proteção, de creme protetor microbiológico, de protetor auricular, de óleos lubrificantes para as máquinas fabris, de peças para as máquinas do parque fabril e de etiquetas e caixas de papelão utilizadas para o acondicionamento dos produtos finais; b) prestação de serviços de limpeza que compreendam a lavagem e desinfecção das instalações, máquinas e equipamentos industriais; c) prestação de serviço de lavanderia industrial que efetue a lavagem dos uniformes utilizados pelos funcionários que atuam no processo produtivo; d) manutenção predial do setor fabril; e) transporte dos produtos acabados para venda, desde que o vendedor arque com o ônus; f) frete referente a aquisição dos insumos utilizados no processo produtivo, desde que o comprador arque com o custo; g) despesas com armazenagem para venda do produto acabado; h) aquisições de ovos incubáveis de pessoas físicas. É como voto. (assinado digitalmente) Fenelon Moscoso de Almeida – Relator designado ad hoc Fl. 1554DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.542 29 Voto Vencedor Conselheiro Fenelon Moscoso de Almeida, Redator designado. Da mesma forma, ressalto que o conselheiro original, Leonardo Mussi da Silva, não mais exerce mandato, fato que determinou a minha designação para redigir o voto vencedor. Contudo, o conselheiro também não deixou o voto confeccionado. Utilizo razões de decidir convergentes com seu entendimento sobre o tema, também, extraídos do mesmo Acórdão n.º 3402002.173, de 22/08/2013 (10925.000361/200924). A decisão de piso decidiu que o frete entre estabelecimentos da empresa não poderia gerar crédito na apuração das contribuições não cumulativas. Em que pese o respeitável voto do e. relator, entendo que as despesas com o frete para transporte de produtos entre estabelecimentos da mesma empresa podem ser utilizados no cálculo do crédito das contribuições não cumulativas. Antes de adentrar o mérito da questão, faço um breve histórico da legislação que trata da não cumulatividade do PIS e da COFINS que foi trazida ao ordenamento jurídico com a Emenda Constitucional nº 42/2002, que incluiu o § 12º no art. 195 da CF, verbis: “§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão nãocumulativas.” As alterações promovidas pela EC nº 42 deixou à legislação infraconstitucional definir quais setores econômicos poderiam utilizar a forma de apuração não cumulativa das contribuições. A regulamentação efetiva da utilização da não cumulatividade veio com a edição da Medida Provisória nº 66, de 29 de agosto de 2002, convertida posteriormente na Lei nº 10.637/2002 para o PIS e tratando da COFINS foi editado a Medida Provisória 135, de 30 de outubro de 2003, posteriormente convertida na Lei nº 10.833/2003. As alegações da Recorrente ao afirmar que a norma constitucional não definiu quaisquer restrições não podem prevalecer. O § 12º do art. 195 da CF atribui a legislação infraconstitucional determinar quais setores econômicos poderiam utilizar a não cumulatividade. Destarte, a própria norma constitucional definiu a existência de limites e restrições para a utilização da não cumulatividade. A possibilidade de utilização de créditos para redução da contribuição devida das aquisições de bens e serviços utilizados como insumo, foi prevista no art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.833/2003, verbis: “II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da Tipi; ” Fl. 1555DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 30 O conceito de insumo constante da Lei nº 10.833/2003 não foi perfeitamente delimitado na norma, surgindo desta indeterminação, uma grande discussão sobre o alcance da palavra “insumo” inserida no texto da norma, gerando diversos entendimentos sobre a matéria. As interpretações adotadas ocupam um vasto campo entre duas posições extremas. A primeira defendida em normas da Receita Federal, criando posições restritivas a utilização do conceito de insumo, conforme previsto no § 4º, do art. 8º, da Instrução Normativa SRF nº 404/2004. “§ 4º Para os efeitos da alínea "b" do inciso I do caput, entende se como insumos: I utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda: a) a matériaprima, o produto intermediário, o material de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado; b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na produção ou fabricação do produto; II utilizados na prestação de serviços: a) os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços, desde que não estejam incluídos no ativo imobilizado; e b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na prestação do serviço.” Outra linha de pensamento aborda o conceito de insumo da forma mais abrangente possível, estendendo o seu conceito a toda e qualquer despesa realizada pela empresa para realização do suas atividades. A Recorrente alega que o conceito da palavra insumo contida no inciso II, do art. 3º, da Lei nº 10.833/2003 teria este caráter geral e extensivo, onde todos os custos e despesas incorridos pela empresa ensejariam a possibilidade de utilização de créditos. A posição que vem sendo adotada nas turmas do CARF vai no sentido da análise restritiva do conceito de insumo, como pode ser visto na decisão adotada no Acórdão nº 330100.423, que foi assim ementado: Acórdão n° 330100.423 3 ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 03 de fevereiro de 2010 Matéria Cofins NãoCumulativa ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL – COFINS Período de apuração: 01/02/2004 a 31/03/2004 INSUMOS. CRÉDITOS NA INCIDÊNCIA NÃO CUMULATIVA O conceito de insumo previsto no inciso II do art. 3° da Lei n° 10.637/02 e normalizado pela IN SRF n° 247/02, art. 66, § 5°, inciso I, na apuração de créditos a descontar do PIS não cumulativo, não pode ser interpretado como todo e qualquer bem ou serviço que gera despesa necessária à atividade da empresa, mas tão somente aqueles adquiridos de pessoa jurídica, Fl. 1556DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.543 31 intrínsecos à atividade, que efetivamente sejam aplicados ou consumidos na produção de bens destinados à venda ou na prestação do serviço, desde que não estejam incluídos no ativo imobilizado. AQUISIÇÃO DE PESSOA FÍSICA. CRÉDITOS NA INCIDÊNCIA NÃO CUMULATIVA. IMPOSSIBILIDADE. A Lei n° 10.637102 que instituiu o PIS nãocumulativo, em seu art. 3°, § 3°, inciso I, de modo expresso, como regra geral, vedou o aproveitamento de créditos decorrentes de aquisições de pessoas físicas. FRETE INCIDÊNCIA NÃO CUMULATIVA. CUSTO DE PRODUÇÃO. Gera direito a créditos do PIS e da Cofins nãocumulativos o dispêndio com o frete pago pelo adquirente à pessoa jurídica domiciliada no País, para transportar bens adquiridos para serem utilizados como insumo na fabricação de produtos destinados à venda, bem assim o transporte de bens entre os estabelecimentos industriais da pessoa jurídica, desde que estejam estes em fase de industrialização, vez que compõe o custo do bem. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. IMPOSSIBILIDADE. São incabíveis alegações genéricas. Os argumentos aduzidos deverão ser acompanhados de demonstrativos e provas suficientes que os confirmem.” Neste sentido tem caminhado diversos julgados do CARF, ao se ater essencialmente aos conceitos definidos na norma ordinária para definir a procedência do crédito alegado pelos contribuintes, de outra forma não há o que trabalhar, pois se identificássemos a existência da não cumulatividade integral ao PIS e COFINS todo e qualquer despesa, sendo de serviço ou aquisição de insumos, comporia o quadro de créditos possíveis de redução da contribuição devida e não é o que observamos em todo arcabouço de legislação ordinária em vigência para o cálculo do PIS e da COFINS, que lista uma série de definições e regras para fruição dos créditos. Se afastar por completo as restrições legais não é possível, utilizar o conceito restritivo previsto na IN SRF 404/2004, ao meu sentir, também não é melhor solução para a questão, visto a Instrução Normativa copiar o conceito do insumo do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI e aplicar este conceito às Contribuições, que incidem sobre o faturamento, gera uma distorção na utilização daquele conceito para a não cumulatividade do PIS e da COFINS. Acredito que o caminho, para delimitar se as despesas incorridas geram ou não o crédito, passa pela definição da atividade geradora da despesa e sua interferência na prestação de serviços ou produção de bens. O ônus que se apresenta ao julgador será para cada caso, delimitar o serviço prestado e o processo produtivo do contribuinte e dele extrair as atividades essenciais e necessárias a sua realização e partindo deste universo, identificar os custos e despesas que possibilitariam a utilização do crédito. Fl. 1557DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO 32 Neste caminho de definir a situação típica de cada contribuinte em que é necessário delimitar a conceito de produção identificando o momento a considerar iniciada a produção e o momento em que ocorre o fim desta etapa e ainda, em que momentos é possível que as despesas gerem créditos. O CARF tem adotado um conceito mais amplo, em que os dispêndios não se restringem à etapa da industrialização, sendo permitido o creditamento de despesas em momento anterior e posterior à atividade realizada dentro da fábrica. Os Acórdãos 3302002.308, 3301001.289, 310201.272 são exemplos destes julgados. Este mesmo entendimento é confirmado na legislação, que incluiu entre as possibilidades de crédito, as despesas referentes à armazenagem e o frete de transporte nas operações de venda, ou seja, aos custos referentes a guarda e o transporte até o momento em que possa ser entregue ao adquirente o produto industrializado, conforme previsto no art. 3º, inciso IX, da Lei nº 10.833/2003, verbis: “Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: ... IX armazenagem de mercadoria e frete na operação de venda, nos casos dos incisos I e II, quando o ônus for suportado pelo vendedor." Por obvio, apesar da legislação citar especificamente o termo armazenagem, entendo que as despesas associadas a estas operações também compõe o custo final da armazenagem. Destarte, entendo que o frete entre estabelecimentos da mesma empresa, configura uma despesa vinculada a armazenagem e operação de venda e portanto incluída nos cálculos do crédito das contribuições não cumulativas. A matéria foi objeto de discussão no CARF, no Acórdão nº 330101.470, de 23/05/2012, em que a Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara desta Terceira Seção decidiu pela inclusão do frete entre estabelecimentos da mesma empresa no cálculo do crédito dos PIS e da Cofins não cumulativos. "ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/04/2005 a 30/06/2005 CRÉDITOS. DESCONTOS. INSUMOS. Os custos e despesas incorridos com combustíveis e lubrificantes utilizados em veículos e embarcações para transporte de celulose; com óleos lubrificantes, agentes de limpeza e outros produtos utilizados na retifica de faca e manutenção de máquinas; com transporte, inclusive, fretes marítimos, ferroviários e rodoviários para a movimentação de mercadorias (produtos acabados) comercializadas, constituem insumos e geram créditos passíveis de desconto da contribuição apurada no mês e/ ou de ressarcimento do saldo credor trimestral. CRÉDITOS. DESCONTOS. INSUMOS. NÃO TRIBUTADOS. ALÍQUOTA ZERO Os custos com aquisições de insumos não tributados e/ ou tributados à alíquota zero não geram créditos, como se devido fossem, para desconto da contribuição apurada mensalmente e/ ou ressarcimento de saldo trimestral. Fl. 1558DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO Processo nº 10925.000388/200836 Acórdão n.º 3402002.113 S3C4T2 Fl. 1.544 33 CRÉDITOS. DESCONTOS. CUSTOS E DESPESAS PRESCINDÍVEIS AO PROCESSO PRODUTIVO. Os custos e despesas incorridos com aquisições de bens e serviços prescindíveis ao processo produtivo do produto fabricado e comercializado não constituem insumos e não geram créditos dedutíveis da contribuição apurada no mês nem ressarcimento trimestral. FLORESTAS. FORMAÇÃO. CUSTEIO Os custos inerentes à produção de toras (madeira), ou seja, o custeio agrícola, incluindo, correção de solo, adubação e fertilizantes, tratos culturais, etc., são contabilizados no ativo permanente e, portanto, não geram créditos de Cofins. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 04/10/2006 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO (DCOMP). HOMOLOGAÇÃO O reconhecimento suplementar de parte do crédito financeiro declarado no respectivo Pedido de Ressarcimento/Declaração de Compensação (Per/Dcomp) implica homologação da compensação de parte do débito declarado até o limite reconhecido. RECURSO PROVIDO EM PARTE" Diante do exposto, voto no sentido de incluir as despesas referentes a fretes de produtos acabados, entre estabelecimentos da mesma empresa, nos créditos da Cofins não cumulativos. (assinado digitalmente) Fenelon Moscoso de Almeida Redator designado Fl. 1559DF CARF MF Impresso em 24/09/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 04/09/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 04/0 9/2015 por FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA, Assinado digitalmente em 22/09/2015 por GILSON MACEDO ROSENBU RG FILHO
score : 1.0
Numero do processo: 10120.000149/90-61
Turma: Terceira Câmara
Seção: Primeiro Conselho de Contribuintes
Data da sessão: Mon Apr 27 00:00:00 UTC 1992
Ementa: CORREÇÃO DE INSTÂNCIA - Agravada a
exigência em decisão de primeira instância, por alteração do
percentual empregado no arbitramento dó lucro, o apelo dirigido ao Conselho de Contribuintes deve ser considerado
como impugnação apenas quanto a essa questão, cabendo a sua a
preciação e julgamento á Autorida de da Instância Singular.
Numero da decisão: 103-12.148
Decisão: ACORDAM os Membros da Terceira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por unanimidade de votos, em DETERMINAR a remessa dos autos ã repartição de origem para que a petição de fls. 56/69 seja apreciada como impugnação na parte inovada,nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado
Nome do relator: Paulo Affosnseca De Barros Faria Júnior
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Recorrida:: DRF EM GOIÂNIA - GO CORREÇÃO DE INSTANCIA - Agravada a exigencia em decisao de primeira instãncia, por alteração do percen tual empregado no arbitramento dó lucro, o apelo dirigido ao Conse- lho de Contribuintes deve ser con- siderado como impugnação apenas quan to a essa questão, cabendo a sua a preciação e julgamento ã Autorida= de da Instãncia Singular. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto por LABORATÓRIO DE ANALISES CLINICAS EVANGÉ LICO LTDA., ACORDAM os Membros da Terceira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por unanimidade de votos, em DETERMI- NAR a remessa dos autos ã repartição de origem para que a petição de fls. 56/69 seja apreciada como impugnação na parte inovada,nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julga do. Sala das Sessões, em 27 de abril de 1992 s- çirwr ROD • Él>10.--6B R - PRESIDENTE ti2flry, PAU e AF,Civiwv• : • -rai•t; ARTA JUNIOR - RELATOR 19 I1/4/(1 VISTO EM Ni O HOLAND . 33' , GA - PROCURADOR DA SESSÃO DE: 23 j u t 19' n FAZENDA NPCICNAL V : V: DAMEFP/OF- SECOS M S 0641/90 Participaram,ainda, do presente julgamento, os seguintes Conselhei- ros: Luiz Henrique Barros de Arruda, Victor Luis de Salles Freire, Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo, Sonia Nacinotic, Ilcenil Franco e Dícler de Assunção. e ,\ '4Aják 4,,:1101= • —) • or. SERVIÇO PUBLICO FEDERAL PROCESSO N? 10120/000.149/90-61 /inumo: : 99.418 ACORO;i0SR: : 103-12.148 RECORRENTE: : LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLINICAS EVANGUICO LTDA. RELATÓRIO Em Termo de Início de Fiscalização, lavrado em 11.12.89, (2 is. 01) foram solicitados documentos relativos ao pe 3 odo-base 1984 - exercício financeiro 1985. As fls. 04 surge informação da empresa . dizendo que não foi possível apresentar Declaraão do IRPJ referente ao• período retro citado em virtude de o INAMPS não ter fornecido o comprovante do IR Fonte, apesar de reiteradas solicitações e que só naquela data (12.12.89) estava providenciando tal documento.A presentava nessa oportunidade o Contrato Social e Declaração de IRPF dos sécios referentes ao exercício de 1985. Pelo que consta dos Autos, dos elementos requisi tados pela fiscalização somente o Contrato Social tinha sido for necido. Foi lavrado AI em 26.01.90, tendo sido arbitrado o lucro do período-base em 30% da receita bruta conhecida, devi- do ã ausência total de escrituração conforme termo de esclareci- mento do contribuinte, impondo crédito tributário, já com atuali zação monetária legal, referente a: - IRPJ 462,3794 BTNF; - Multa (50%) 231,1897 BTNF e - Juros de mora . 268,1794 BTNF, MI fr) "ritiIf tQ 4.11. unoconsucon" PROCESSO N9 10120/000.149/90-61 3. ACÓRDÃO N9 103-12.148 c / Com a seguinte capitulação legal: Arts. 125, § 39, 154, 156, 157. 159, 161, 399,1, e 400 do RIR mais o enquadramento complementar: - Lançamento de ofício: Arts. 676 e 678 do RIR; - Multa de ofício: Arts. 728 do RIR, 11 do DL 2.470/88 e 29 do DL 2.477/88; - Juros de mora: Arts. 726 do RIR, 16, 18 e 26 do DL 1.967/82, 16 do DL 2.323/87 e 69 do DL 2.331/87; - Base de cálculo em ORTN/OTN: Arts. 29 ao 69, 18, 20 e 26 do DL 1.967/82, 69 do DL 2.284/86, 69, 79 e 99 do DL 1.323/87 e 61, § 19, da Lei ,7.799/89; ‘w Base de cálculo em Cz$: Arts. 704 e §§ do RIR, 20 dá Lei 7.450/85, 49 do DL 2.323/87 e 61, § 19 da Lei 7.799/89 e - Conversão para NCZ$: Arts. 39 da Lei 7.730/81 Tempestivamente, em 09.03.90, a autuada impugna os valores lançados por não ter sido feita compensação do IR retido pela fonte pagadora e, à vista dos comprovantes de reten ção que anexa, requer tal compensação, atualizando-se o saldo devedor para a devida quitação, nada mais alegando quanto ao AI, nem mesmo de forma genérica. Na informação fiscal de fls. 38 é falado que a compensação não é possível em razão de se tratar de arbitramen- to, por omissão de apresentação de Declaração de IRPJ, com base no lucro real, só sendo ela cabível quando acontece Auto , Lan çamento, ou seja, quando da apresentação da Declaração. É aduzi do que as regras do arbitramento, ART. 400 do RIR, estatuem que ele é feito com base em percentual da renda bruta, quando conhe cida, ignorando-se a ocorrência ou não de retenção na fonte e que todo arbitramento dessa natureza não tem reflexo no IR Fon- te. SERVIÇO /IMMO IEDENAL PROCESSO N9 10120/000.149/90-61 4. ACÓRDÃO N9 103-12.148 Em despacho da DIVITRI ao Sr. Delegado, que o eu dossou, é proposto refazer-se o lançamento de acordo com o esta- belecido na Portaria ME 264/81, inciso II, alínea D e que, quan- to a compensação do IRRF, seja adotado o que prescreve a IN SRF 17/85, reabrindo-se prazo para pagamento ou impugnação (f is. 39). OsSrs. AFTNa autuantes (fls. 48 e 49) propõem o retorno do feito à DIVITRI afirmando: 1 - O inciso II da Portaria MF 264/81 reza queas sociedades civis para prestação de serviços terão seus lucros ar bitrados mediante a aplicação, sobre as receitas de prestação des ses servicos, de percentual de 50%. O presente lançamento utili- zou o percentual de 30% por não se tratar de sociedade oitil e, sim, comercial. 2 - Quanto a compensação do imposto retido, não é ela possível pois o item 1 da IN SRF 17/85 diz: "O imposto de renda que tenha sido retido na fonte sobre quaisquer rendimentos poderá ser compensado na declaração de rendimentos desde que sa- tisfeitaiasseguintes condições: a) o contribuinte possua compro vante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora dos rendimentos e b) os rendimentos correspondentes estiverem sendo oferecidos a tributação na declaração de rendimentos ou já te- nham sido tributados em declaração de exercício anterior". O item 3 fala: "A compensação somente poderá ser pleiteada por pessoa jurídica: I - que mantenha escrituração con tábil completa, de acordo com as leis comerciais e fiscais; II - que tenha o lucro apurado mediante arbitramento e o imposto reti do decorra de: a) receita bruta operacional das sociedades civis; ..•". Não pode, pois, a defendente pleitear a compensação. É in- cabivel,desse modo, a •correção do lançamento. Encaminhado o processo à DIVITRI, essa o conside rou em condições para ser julgado e o remeteu ao SR.Delegado. Em sua decisão (fls. 51a 53) , datada de 05.12.90, Morena Nacional ,P SERVX0 PUBLICO FEDERAL PROCESSO N9 10120/000.149/90- 61 ACÓRDÃO 119 103-12.148 a autoridade de 19 Instãncia considera que a IN 17/85, ao reví, gar a de. n9 110/84, facultou às sociedades civis que tenham ,o seu lucro apurado mediante arbitramento,compensumm, o imposto re tido de sua receita bruta operacional. Salienta que o .; subitem 3.1 da IN 17/85 veio orientar no preenchimento da • .declaraçÃo IRPJ/85, uma vez que o formulário não possuía campo .apropriado para a compensação. E não se deve interpretar rest ritivamente a Instrução no sentido de que somente as empresas que entreguem as declarações possam pleitear a compensação. Com referência ao percentual utilizado mo arbi- tramento do lucro deve ser retificado de 30 para 50%, nos , ter- mos da Portaria MF 264/81, inciso II, alínea "D" pois: a) a empresa de serviços é constituída por pro- fissionais habilitados, o que confirma sua situação de socieda- de civil de prestação de serviços; e b) o fato de estar ela constituída sob a forma de sociedade por quotas de responsabilidade limitada não desvir tua sua natureza meramente civil, o que já foi objeto de mani,-- festação por parte da CST através do Parecer Normativo 15 de 21.09.83, especificamente em seu subitem 2.1. Voltando ã compensação do tributo retido na fon te, o que foi no ano de 1983 não poderá ser compensado com o IRPJ ora em litígio porque o rendimento a ele correspondente não foi oferecido ã tributação (vide fls. 02). Resolveu, então, o Sr. Delegado alterar o valor do debito fiscal, face ao erro de lançamento, no mérito, julgou procedente em parte a ação fiscal e declarou a empresa devedora de 494,52 BTNF de IPRJ e 247,26 BTNF de multa, além dos juros demora. E determinou ã Divisão de Arrecadação dar ciên- cia ã. interessada da decisão, intimando-Lao recolhimento do de SERVIÇO PUBLICO FEDERAL PROCESSO N9 10120/000.149/90-61 6. ACÓRDÃO N9 103-12.148 bito em 30 dias, ressalvando: "A) direito ã impugnação, dentro deste prazo,cam relação ao agravamento'do quantum do débito fis cal efetivado atraVels desta decisão e B) no caso de a autuada concordar com a legali- dade de agravamento, direito a recurso, no pra- zo de trintas dias, contado da ciência desta de cisão, ao Egrégio Primeiro Conselho de Contri- buintes." De fls. 56 a 69 é apresentada a este _ Conselho tempestivamente, peça que leio em Sessão destacando os seguin- tespontos, a qual entendo como Recurso. .Explica. não ter concluido suas demcnstrações con tãbeis e apresentado suas declarações até o inicio da ação fis cal por falta dos comprovantes regularmente informados pela fon te pagadora, que o INAMPS não entregou, e a exigência para pre- enchimento do Anexo 3 da Declaração do Exercício de 1985,.anc›- base 1984, mas mantinha a escrituração de seus atos, -faltando apenas os registros das retenções do IR. Tanto as sociedades mercantis ou comerciais co- mo as chamadas civis de prestação de serviços incorrem nos mes- mos tipos de custos para alcançar seu objetivo, descabendo esta belecer-se previamente parâmetros uniformes para determinar o custo das civis e não tendo mais cabimento ainda serem tais pa- râmetros diferenciadamte mais onerosos que as sociedades ditas mercantis. A natureza jurídica da sociedade civil ou mercantil explorando a mesma atividade não altera os custos efetivos da-, quela atividade. Ela possuia escrituração regular,portanto não haveria necessidade de arbitramento do resultado. A firma que a legislação e a técnica contãbilem vigor consagravam o regime de competência do exercício para apu rar a receita e a despesa para determinação do resultado do e-. 1) Impfla Nacional _ _ SIERVICO MILICO FEDUIAL PROCESSO N9 10120/000.149/90-61 7. ACÓRDÃO N9 103-12.148 xercício. Tanto-o AI quanto a decisão usam receitas de dois anos base diferentes e ferem o regime de competência do exercício. Finalizando, impugna a decisão e mantém a impus nação do AI dizendo que: - as causas que motivaram o feito não são de sua responsabilidade; - o poder tributante não regulamentou a tempo a obrigatoriedade de fornecimento de comprovantes de retenção do IR Fonte, porém exigia a comprovação por parte do contribuinte; - suas demonstrações contábeis exibem prejuízo e,por.causa que a_Recorerente não motivou, teve arbitrado um lucro, sofrendo uma punição; - houve desrespeito à observãncia do regime de competência; - existe escrituração contábil, demonstrações contábeis e escrituração fiscal (LALUR); - inexistiu lucro; - pleitea a restituição de impostos retidos e os já pagos; e - o presente processo deve ser arquivado. Entre os documentos anexados a esse apelo, en- contramse, às fls. 79 e 80, cõpiasiwrográficas de DARF's pe- los quais teriam sido recolhidos valores em 13.03.90, no Banco I do Brasil S/A, referent4-a: - Processo 10120/000.149/90-61 (é o presente pra cesso) B1N IfINF IRPJ 180;0999 (vaiar no AI = 462,3790 Multa (paga c/re, _duCiode 50%) 90,0498 (valor no AI = 231,1897) Juros de • mora (até 3/90) 108,0600 (vaiar no AI = 268,1794) mais os relativos aos decorrentes: - Processo 10120/000.150/90-41 rrammomd • SERVIÇO PueLICO FEDERAL PROCESSO N9 10120/000.149/90-61 8. ACÓRDÃO N9 103-12.148 .BTN BINF PIS/Dedução 22,7280 (valor no AI 22,7280) Multa 0,0026 (valor no AI 0,0026) Juros de Mora (até 3/90) 8,1833 (valor no Al 7,7287) - Processo 10120/000.151/90-11 DIN BINF PIS/Repique 22,7280 (valor no AI 22,7280) Multa 0,0026 (valor no AI 0,0026) Juros de Mora (até 3/90) 8,1833 (v-alori.no AI 7,7287) - Processo 10120/000.152/90-75 B1N BINE FINSCCIAL 22,7280 (valor rio AI 22,7280) Multa 0,0022 (valor no AI 0,0026) Juros de Mora (até 3/90) 8,1833 (valor no AI 7.7287) É o relatório. @):? ~nua ~Mn& „ SERVIÇO PUBLICO FEDEAM PROCESSO N9 10120/000.149/90-61 9. ACÓRDÃO N9 103-12.148 VOTO Conselheiro PAULO AFFONSECA DE BARROS FARIA JÚNIOR, Relator A impugnação ao lançamento do crédito tributário apenas se ateve aos valores relativos ao IRPJ a pagar, pois a fiscalização não procedeu à compensação das quantias referentes ao IR retido pela fonte pagadora dos rendimentos. Portanto só foi instaurado litígio quanto a esse aspecto do procedimento fiscal, restando, assim, preclusas as de mais questões atinentes a este feito. A decisão monocrática acolheu parcialmente essa argüição, pois não entendeu como compensáveis parte dos 'valores declarados como IR retido pela fonte, pois referem-4 á a exerci— cio anterior ao objeto deste feito. Todavia a Autoridade de 19 Instância procedeu ao agravamento do lançamento por entender que o percentual correto para arbitramento do lucro, "in casu", é 50 e não 30% utiliza- do na autuação, tendo ressalvado ao contribuinte_ direito à im- pugnação quanto a essa matéria. . Face ao exposto, devem estes autos retornar ã Repartição de origem para que o apelo dirigido a este Primeiro Conselho de Contribuintes seja apreciado como impugnação, apenas com relação ao agravamento do crédito tributário lançado, em ob- servância ao duplo grau de jurisdição, prolatando-se nova decisão. A autoridade da instância singular deverá exami- nar a efetividade e adequação dos valores apontados às fls. 79 e 80 como recolhidos, relativos a este Processo e aos de n9s 10120/000.150/90-41, 10120/000.151/90-11 e 10120/000.152/90-75 des te decorrentes. Brasília (DF) ^ em 2 e abril de 1992 AS2. ... .7? k PAULO AFFONSECA DE BARRO V IA JONIOR -RELATOR rprensaNadonM Page 1 _0056600.PDF Page 1 _0056700.PDF Page 1 _0056900.PDF Page 1 _0057100.PDF Page 1 _0057300.PDF Page 1 _0057500.PDF Page 1 _0057700.PDF Page 1 _0057900.PDF Page 1 _0058100.PDF Page 1
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Numero do processo: 16643.720060/2013-40
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jan 21 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Feb 19 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2009
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. IN SRF Nº 243/2002. LEGALIDADE.
A Instrução Normativa SRF nº 243/02 não viola o princípio da legalidade tributária, estando em consonância com o que preconiza o art. 18 da Lei nº 9.430/96, na redação dada pela Lei nº 9.959/00.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. FRETES, SEGUROS E TRIBUTOS INCIDENTES NA IMPORTAÇÃO.
O valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador, e os tributos incidentes na importação, devem ser considerados no preço praticado para fins de apuração dos ajustes dos preços de transferência segundo o método PRL, nos termos do art. 18 da Lei nº 9.430/96, em sua redação original.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. PREÇO PARÂMETRO. IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES SOBRE AS VENDAS. PIS E COFINS. DEDUÇÃO.
No método PRL, uma das parcelas a ser deduzida da média aritmética dos preços de revenda para a obtenção do preço-parâmetro são os impostos e contribuições incidentes sobre as vendas, entre eles, o PIS e a COFINS. O benefício previsto no artigo 3º da Lei nº 10.147/2000 consiste, simplesmente, no direito do contribuinte, enquadrado nesse regime especial, de deduzir, do montante devido a título de PIS e COFINS, um crédito presumido, não tendo nenhuma repercussão na apuração dos preços de transferência.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. ERROS DE CÁLCULO. INEXISTÊNCIA.
Não comprovados nenhum dos supostos erros materiais apontados pela recorrente, ratificam-se os cálculos feitos pela fiscalização.
CSLL. LANÇAMENTO DECORRENTE.
Aplica-se ao lançamento decorrente, no que couber, o decidido com relação ao lançamento do IRPJ, em razão da íntima relação de causa e efeito que os vincula.
Numero da decisão: 1201-001.284
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em NEGAR provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado, vencidos: (i) o Conselheiro Luis Fabiano, que votou pela ilegalidade da Instrução Normativa SRF nº 243/2002 e também por considerar o crédito presumido de PIS/Cofins no cálculo do preço parâmetro, e; (ii) o Conselheiro João Figueiredo que votou por considerar o crédito presumido de PIS/Cofins no cálculo do preço parâmetro.
Documento assinado digitalmente.
Marcelo Cuba Netto - Presidente.
Documento assinado digitalmente.
João Otávio Oppermann Thomé - Relator.
Participaram do julgamento os Conselheiros: Marcelo Cuba Netto, João Otávio Oppermann Thomé, Luis Fabiano Alves Penteado, Roberto Caparroz de Almeida, João Carlos de Figueiredo Neto e Ester Marques Lins de Sousa.
Nome do relator: JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME
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MÉTODO PRL. IN SRF Nº 243/2002. LEGALIDADE. A Instrução Normativa SRF nº 243/02 não viola o princípio da legalidade tributária, estando em consonância com o que preconiza o art. 18 da Lei nº 9.430/96, na redação dada pela Lei nº 9.959/00. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. FRETES, SEGUROS E TRIBUTOS INCIDENTES NA IMPORTAÇÃO. O valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador, e os tributos incidentes na importação, devem ser considerados no preço praticado para fins de apuração dos ajustes dos preços de transferência segundo o método PRL, nos termos do art. 18 da Lei nº 9.430/96, em sua redação original. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. PREÇO PARÂMETRO. IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES SOBRE AS VENDAS. PIS E COFINS. DEDUÇÃO. No método PRL, uma das parcelas a ser deduzida da média aritmética dos preços de revenda para a obtenção do preçoparâmetro são os impostos e contribuições incidentes sobre as vendas, entre eles, o PIS e a COFINS. O benefício previsto no artigo 3º da Lei nº 10.147/2000 consiste, simplesmente, no direito do contribuinte, enquadrado nesse regime especial, de deduzir, do montante devido a título de PIS e COFINS, um crédito presumido, não tendo nenhuma repercussão na apuração dos preços de transferência. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. ERROS DE CÁLCULO. INEXISTÊNCIA. Não comprovados nenhum dos supostos erros materiais apontados pela recorrente, ratificamse os cálculos feitos pela fiscalização. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 64 3. 72 00 60 /2 01 3- 40 Fl. 3757DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 3 2 CSLL. LANÇAMENTO DECORRENTE. Aplicase ao lançamento decorrente, no que couber, o decidido com relação ao lançamento do IRPJ, em razão da íntima relação de causa e efeito que os vincula. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em NEGAR provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado, vencidos: (i) o Conselheiro Luis Fabiano, que votou pela ilegalidade da Instrução Normativa SRF nº 243/2002 e também por considerar o crédito presumido de PIS/Cofins no cálculo do preço parâmetro, e; (ii) o Conselheiro João Figueiredo que votou por considerar o crédito presumido de PIS/Cofins no cálculo do preço parâmetro. Documento assinado digitalmente. Marcelo Cuba Netto Presidente. Documento assinado digitalmente. João Otávio Oppermann Thomé Relator. Participaram do julgamento os Conselheiros: Marcelo Cuba Netto, João Otávio Oppermann Thomé, Luis Fabiano Alves Penteado, Roberto Caparroz de Almeida, João Carlos de Figueiredo Neto e Ester Marques Lins de Sousa. Relatório Tratase de recurso voluntário interposto por SCHERING DO BRASIL QUÍMICA E FARMACÊUTICA LTDA, contra acórdão proferido pela 5ª Turma de Julgamento da DRJ/São Paulo ISP, cuja ementa a seguir se transcreve: “Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ Anocalendário: 2009 PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL60. PREÇOSPARÂMETRO. ILEGALIDADE DA INSTRUÇÃO NORMATIVA. Não compete à esfera administrativa a análise da legalidade ou inconstitucionalidade de normas jurídicas. MÉTODO PRL. PREÇOPARÂMETRO. DEDUÇÃO DO PIS E DA CONFINS. No método PRL, uma das parcelas a ser deduzida da média aritmética dos preços de revenda para a obtenção do preçoparâmetro são os impostos e Fl. 3758DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 4 3 contribuições incidentes sobre as vendas (entre eles, o PIS e a COFINS). O benefício previsto no artigo 3º da Lei nº 10.147/2000 consiste, simplesmente, no direito do contribuinte, enquadrado nesse regime especial, de deduzir, do montante devido a título de PIS e COFINS, um crédito presumido, não tendo nenhuma repercussão na apuração dos preços de transferência. MÉTODO PRL. PREÇOS PRATICADOS. FRETE, SEGURO E TRIBUTOS. Na apuração dos preços praticados segundo o método PRL, devese incluir o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador, e os tributos incidentes na importação. MÉTODO PRL. PREÇOS PRATICADOS. ERRO DE CÁLCULO. INEXISTÊNCIA. Na apuração dos preços praticados (custos de aquisição), foram consideradas, corretamente, todas as importações realizadas durante o anocalendário e os valores e as quantidades relativos aos estoques existentes no início do período de apuração, inexistindo, assim, qualquer irregularidade. CSLL. DECORRÊNCIA. O decidido quanto ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica aplicase à tributação decorrente dos mesmos fatos e elementos de prova.” O caso foi assim relatado pela autoridade julgadora a quo: “DA AUTUAÇÃO Conforme Termo de Constatação Fiscal de fls. 3534/3542, em fiscalização empreendida junto à contribuinte acima identificada, no tocante à legislação dos preços de transferência na importação de bens (verificações relativas ao ano calendário de 2009), constatouse o seguinte: DO CONTEXTO Na DIPJ/2010 (anocalendário de 2009), a empresa informou nas Fichas 32 um ajuste de preço de transferência referente às importações de diversos itens, no valor total de R$ 1.111.533,70 (fls. 3467/3516). À fl. 2892/2893, encontrase o demonstrativo resumo da apuração dos preços de transferência apresentado pela empresa, no qual consta a relação de produtos importados sujeitos ao preço de transferência, e os respectivos métodos aplicados, preço praticado e preçoparâmetro, quantidades vendidas e os ajustes devidos, constante do arquivo "Ajustes de Importação do Ano Fiscalizado". As memórias de cálculo dos preços de transferência, apresentadas pela empresa, mostram que ela optou pelos métodos PRL (Preço de Revenda menos Lucro) e PIC (Preços Independentes Comparados). Apenas os produtos ajustados pelo método PRL apresentaram cálculos divergentes dos elaborados pela fiscalização. DO PREÇO PRATICADO NA IMPORTAÇÃO Fl. 3759DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 5 4 No cálculo do preço praticado do método PRL, a empresa utilizou o valor FOB + Imposto de Importação, sem considerar os valores relativos ao frete e ao seguro. Esse procedimento contraria o que expressamente determina o artigo 4°, § 4°, da IN SRF n° 243/2002. Também devem ser computados os valores e as quantidades relativos aos estoques existentes no início do período de apuração (artigo 12, § 3°, da IN SRF nº 243/2002). As informações sobre os estoques foram informadas pela contribuinte no arquivo "Inventário" (fls. 2924/2930 e 3309). A fiscalização elaborou, então, o “Demonstrativo de apuração Preço Praticado PRL” (Anexo 1), válido para PRL20 e PRL60. DO PREÇOPARÂMETRO MÉTODO PRL20 Após as análises de todas as informações prestadas pela empresa, a fiscalização verificou que os produtos relacionados às fls 3536/3537 são produtos importados de pessoas vinculadas prontos para a revenda, os quais tiveram seus preços de transferência apurados com a adoção do método PRL20 (método PRL, com margem de 20%), de acordo com o determinado no artigo 12, inciso IV, alínea "a", da IN SRF n° 243/2002. No cálculo do preçoparâmetro, não foram consideradas as saídas de produtos para amostras grátis, Zona Franca de Manaus e para empresa vinculadas. A fiscalização verificou que, em alguns casos, o valor deduzido dos tributos incidentes sobre as vendas, referente às contribuições do PIS e da COFINS, era nulo. Tratase de produtos enquadrados no artigo 3° da Lei nº 1 0.147/2000, que dispõe sobre o crédito presumido do PIS e COFINS. No entendimento da fiscalização, ao aderir ao regime especial da Lei nº 10.147/2000, a empresa apenas passa a ter o direito de deduzir um crédito presumido do montante devido, mas a incidência das contribuições permanece. Portanto, é necessário calcular o valor das contribuições e deduzilo do preço de revenda para fins de apuração do preçoparâmetro, conforme determina a legislação. Conforme previsto no inciso II do artigo 18 da Lei n° 9.430/96, regulamentado pelo artigo 12 da IN SRF n° 243/2002, devem ser deduzidos todos os impostos e contribuições incidentes sobre as vendas: Assim, foram calculadas as contribuições do PIS e da COFINS para todos os produtos farmacêuticos que foram informados com valores nulos destas contribuições. Analisando o DACON Demonstrativo de Apuração das Contribuições Sociais (fl. 3330), a fiscalização verificou que a empresa informou na Ficha 04A Cadastro de produtos sujeitos a alíquota diferenciada, a alíquota de 2,10% para o PIS e 9,90% para a COFINS. Com base nas informações apresentadas pela empresa foram apurados os preçosparâmetro de cada um dos produtos revendidos, deduzindose o valor das contribuições do valor das vendas. Utilizando o demonstrativo de vendas elaborado pela empresa, que contém o valor bruto da venda e os tributos incidentes sobre as vendas, inclusive com a correção efetuada no PIS e na COFINS, obtevese novo valor líquido de vendas. Desse valor, foi excluída a margem de lucro de 20%, calculada sobre o valor bruto. Fl. 3760DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 6 5 O resultado foi dividido pela quantidade vendida, encontrandose assim o preço parâmetro unitário, conforme se observa no “Demonstrativo de apuração Preço Parâmetro PRL 20%” (Anexo 2). DO PREÇOPARÂMETRO MÉTODO PRL60 Após a análise de todas as informações prestadas, a fiscalização verificou que parte dos produtos importados foi utilizada como insumo na produção de medicamentos. Por isso, na apuração do preço de transferência pelo método PRL, deve ser aplicada a margem de lucro de 60% (PRL60), de acordo com o determinado no artigo 12, inciso IV, alínea "b", da IN SRF n° 243/2002. Está detalhado no artigo 12, § 11, da IN SRF nº 243/2002 o procedimento que deve ser adotado para cálculo do PRL60. A empresa foi intimada a apresentar o custo de produção do produto acabado e a relação insumo produto anual. Nas memórias de cálculo, a fiscalizada informou a relação de produção. O demonstrativo do cálculo do percentual de participação da matériaprima importada no produto acabado está no Anexo 3 (“Demonstrativo de apuração % Participação Matéria Prima no produto Acabado”). Não foram consideradas no cálculo do preçoparâmetro as saídas de produtos para amostras grátis, Zona Franca de Manaus e para empresas vinculadas. Obtevese, assim, o preçoparâmetro, conforme “Demonstrativo de apuração Preço Parâmetro PRL 60%” (Anexo 4). DA APURAÇÃO DOS AJUSTES A apuração dos ajustes de preço de transferência dos produtos importados para revenda foi feita pela empresa comparandose o preço praticado com o preço parâmetro, cabendo ajuste nos casos em que este último foi inferior ao preço praticado, observada a margem de divergência de 5% prevista no artigo 38 da IN SRF 243/2002. A apuração dos ajustes de preços de transferência foi refeita, comparandose os preços praticados com os preçosparâmetro apurados pela fiscalização, cabendo ajuste nos casos em que este último foi inferior, observada a margem de divergência de 5% prevista no artigo 38 da IN SRF nº 243/2002. Assim, obtevese o novo valor total de ajuste de R$ 46.719.713,94, conforme consta do Anexo 5 (“Consolidação PRL20 e PRL60”). DO CÁLCULO DO CONSUMO Nos cálculos efetuados pela fiscalização, foram utilizados os dados fornecidos pela própria contribuinte. DO AJUSTE TOTAL APURADO – BASE DE CÁLCULO Em resumo, o total do ajuste a tributar, apurado pela fiscalização, será de R$ 45.369.146,06, já deduzido o valor oferecido à tributação na DIPJ, conforme tabela a seguir (valores em reais): Fl. 3761DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 7 6 DOS LANÇAMENTOS Em face do acima exposto, foram efetuados os seguintes lançamentos, relativos ao anocalendário de 2009: DA IMPUGNAÇÃO Cientificada dos lançamentos em 25/12/2013 (fl. 3569), a contribuinte, por meio de seus advogados, regularmente constituídos, apresentou, em 09/01/2014, a impugnação de fls. 3571/3603, alegando, em síntese, o seguinte: DOS FATOS Durante o ano de 2009, a contribuinte importou matéria prima e produtos acabados de sua matriz na Alemanha, pessoa considerada vinculada, razão pela qual estava sujeita às regras de preços de transferência, previstas no artigo 18 e seguintes da Lei n° 9.430/96, com alterações dadas pela Lei n° 9.959/20 00. Para a obtenção do preçoparâmetro a contribuinte utilizou os métodos PIC, PRL20 e PRL60, calculandoos na forma da IN SRF nº 32/2001, cuja disciplina observava fielmente o disposto na Lei n° 9.430/96, com altera ções dadas pela Lei n° 9.959/2000. Utilizandose primordialmente do método PRL na forma da IN SRF nº 243/2002 (editada em 11/11/2002, trazendo disposições quanto à forma de cálculo Fl. 3762DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 8 7 pelo método PRL (20% e 60%) que divergiam substancialmente das disposições da Lei n° 9430/96, com redação dada pela Lei n° 9.959/2000) a Agente Fiscal apurou exorbitante exigência tributária. No entanto, o Auto de Infração deve ser integralmente cancelado por conter erros conceituais e de cálculo, bem como pela inaplicabilidade da IN SRF nº 243/2002 ao método PRL. DO MÉTODO PRL NA LEI N° 9.430/96 E NA IN SRF Nº 32/ 2001 No que interessa a esta defesa, a apuração do preçoparâmetro pelo método PRL, na definição original da Lei n° 9.430/96, seria obtido por meio da apuração da média aritmética dos preços de revenda dos bens ou insumos importados, diminuídos: a) dos descontos incondicionais concedidos; b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; c) das comissões e corretagens pagas; e d) de margem de lucro de 20%. calculada sobre o preço de revenda. No ano 2000, com a edição da Lei n° 9.959/2000, estabeleceuse uma margem de lucro diferenciada de 60%, aplicável aos insumos importados destinados à produção de novo bem em território nacional (o chamado PRL60). Os demais produtos de revenda importados, que não fossem sujeitos à nova etapa produtiva no Brasil, continuaram a se sujeitar ao PRL20. Embora o percentual de margem de lucro nas importações de insumos tenha sido aumentado de 20% para o irreal percentual de 60%, o legislador, como forma de compensação, estabeleceu expressamente a possibilidade de dedução do valor agregado no país ao preço final do método PRL. Ocorre que a indevida manipulação na metodologia de cálculo pretendida pela Agente Fiscal acarretou um preçoparâmetro menor que o preço de venda efetivamente praticado e, assim, um suposto maior ajuste na base tributária. A impugnante demonstrará a seguir que, corrigindose tais erros de cálculo, o valor de ajuste e da respectiva exigência fiscal seria muito menor; e que, ainda assim, tal exigência não existiria caso fosse aplicada apenas a metodologia da Lei n° 9.430/96, em oposição à malfadada IN SRF nº 243/2002. DA INDEVIDA DEDUÇÃO DE VALORES DE PIS E COFINS NO CÁLCULO DO PREÇOPARÂMETRO O Auto de Infração equivocadamente utiliza valores de contribuição ao PIS e à COFINS, às alíquotas de 2,1% e 9,9%, respectivamente, calculadas sobre o preço de venda de todos os medicamentos constantes na planilha de cálculo Auditora Fiscal, a fim de apuração do preçoparâmetro. No entanto, a contribuinte não recolhe a contribuição ao PIS e à COFINS sobre seus medicamentos, por força do disposto nos artigos 1° e 3° da Lei n° 10.147/2000, motivo pelo qual o valor de tais contribuições não integra os preços dos medicamentos. A referida Lei n° 10.147/2000 permite às fabricantes de medicamentos a obtenção de regime especial que lhe concede créditos presumidos da contribuição ao PIS e à COFINS, a fim de que as referidas contribuições não integrem os preços finais dos medicamentos. Fl. 3763DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 9 8 Esse crédito presumido foi instituído com o claro e inequívoco propósito do Governo em desonerar a fabricação e/ou importação dos medicamentos das referidas contribuições, de forma que estas não repercutem nos respectivos preços de venda da contribuinte. Diversamente do que entende a fiscalização, as normas da Receita Federal, que regulamentam as regras de preços de transferência, são claras e expressas em determinar que somente são considerados "tributos incidentes na venda" aqueles que "integram o preço de venda". Assim, como as contribuições ao PIS e à COFINS não integram o preço de venda, o valor da receita bruta, informado pela contribuinte à fiscalização e em suas declarações fiscais, é líquido de tais contribuições. Assim, no cálculo de preços de transferência da contribuinte quanto ao item "média aritmética dos preços de revenda" foi utilizado o valor líquido dos preços de venda. Caso realmente o entendimento do Auto de Infração prevaleça, de que sobre o cálculo do preçoparâmetro devem ser deduzidos os valores de PIS e COFINS que "incidiram" sobre a venda, deverseia também, pelo mesmo critério, adicionar os mesmos montantes das referidas contribuições à média aritmética dos preços de revenda, para fins de cálculo de preços de transferência. O que não pode ser admitido é a fiscalização utilizar o critério da "incidência" para justificar a dedução no cálculo e, ao mesmo tempo, utilizar os valores líquidos das vendas, sem a "incidência", acarretando uma nítida e indevida distorção da finalidade legal de se comparar preços pelos mesmos critérios. Tal erro, caso não seja sanado por meio da baixa dos autos em diligência para o necessário recálculo, tornará o Auto de Infração nulo. DO ERRO NO CÁLCULO DOS CUSTOS DE AQUISIÇÃO O Auto de Infração também contém erro quanto à apuração dos custos dos insumos importados sujeitos ao método PRL60, mesmo aplicandose as regras do § 11 da IN SRF nº 243/2002. Conforme previsto no referida instrução normativa, a apuração da margem de lucro de 60% se dará mediante o cálculo proporcional do conteúdo agregado no país, que leva em consideração o custo total do bem produzido. Para tanto, é necessário conhecer os montantes em estoques (iniciais e finais) e os valores das compras de insumos importadas / adquiridas no ano, a fim de que se apurar o preço médio de aquisição. O equívoco cometido pela Agente Fiscal se refere aos valores utilizados no Auto de Infração quanto ao "preço médio de aquisição". A Agente Fiscal considerou no cálculo do referido item todas as compras do anocalendário, sem ter se atentado para os valores efetivamente consumidos nas respectivas operações de revenda. Em outras palavras, a fiscalização desconsiderou a existência dos valores contidos em estoques (iniciais e finais), ignorando a previsão contida nos §§ 3º e § 4º do artigo 12 da IN SRF nº 243/2002. Tal equívoco, caso não seja sanado por meio da baixa dos autos em diligência para recálculo, tornará o Auto de Infração nulo. Fl. 3764DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 10 9 DA INDEVIDA DEDUÇÃO DE VALORES DE FRETE E SEGURO NO VALOR DO PREÇO PRATICADO E/OU NO CÁLCULO DO PREÇO PARÂMETRO A fiscalização considerou no cálculo da exigência fiscal que o preço praticado corresponderia ao preço contido no documento de importação, incluídos os valores de transporte, seguro e impostos não recuperáveis, conforme dispunha o artigo 4o, § 4o da IN SRF nº 243/2002. Ocorre, todavia, que a inclusão de valores de frete, seguro e tributos não recuperáveis no conceito de preço praticado não encontra fundamento legal na Lei n° 9.430/96. Permitir tal interpretação extensiva com base exclusivamente no disposto na IN SRF nº 243/2002 equivale a agravar a exigência fiscal sem lei que a estabeleça. Tanto é assim que a disciplina sobre o assunto somente foi trazida pela Lei n° 12.715/2012, que deu nova redação ao artigo 18 e §§ da Lei n° 9.430/96. Antes da edição dos referidos dispositivos legais, a inclusão dos valores de frete, seguro e impostos não recuperáveis da importação não estava disciplinada em lei e não poderia ser utilizada para o cálculo do preçoparâmetro. Dessa forma, a definição dos valores que poderiam ser incluídos no conceito de preço praticado era meramente interpretativa, razão pela qual a nova disciplina legal acima transcrita pode e deve ser aplicada retroativamente à contribuinte, conforme disposto no artigo 106, inciso I, do CTN. A não utilização dos valores de frete, seguro e impostos não recuperáveis da importação na apuração do preço praticado, bem como no cálculo dos custos relativos ao preçoparâmetro, é uma medida lógica, quando se verifica o pagamento a partes independentes e que sejam domiciliadas no país. Dessa forma, imperioso que haja o recálculo das exigências fiscais contidas no Auto de Infração, sob pena de nulidade insanável. DA IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA IN SRF N° 243/2002 COMO FUNDAMENTO LEGAL DO AUTO DE INFRAÇÃO A lógica e motivação da Lei n° 9.430/96, com redação dada pela Lei n° 9.959/2000, que tentou privilegiar a geração de valor no país, foi totalmente invertida e desvirtuada pela IN SRF nº 243/2002, que penaliza indevidamente o setor industrial brasileiro e contribui para o perigoso processo de desindustrialização da economia brasileira. Isso porque a IN SRF nº 243/2002, ao criar um custo médio ponderado e uma média aritmética ponderada, simplesmente excluiu o uso do fator "valor agregado no país" da metodologia de cálculo do preçoparâmetro. Assim, é sempre garantida a aplicação da margem de lucro arbitrada em 60%, independentemente do valor agregado no país. A IN SRF nº 243/2002 extrapola as regras previstas na Lei n° 9.430/96, com redação dada pela Lei n° 9.959/2000, não podendo se r aplicada para fundamentar as exigências fiscais contidas no Auto de Infração, sob pena de violação do princípio da estrita legalidade tributária. Na exposição de motivos da Medida Provisória n° 478 /2009, que não foi convertida em lei, o próprio Poder Executivo reconhece expressamente que o Fl. 3765DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 11 10 método de cálculo da IN SRF nº 243/2002 não tem fundamento em lei, razão pela qual tentou, sem sucesso, corrigir tal equívoco. Isso também fica evidenciado com a recente edição da Lei n° 12.715/2012. DA JURISPRUDÊNCIA DO CARF A exemplo da IN SRF nº 38/96, cuja aplicação foi afastada pelo CARF por conter regulamentação em sentido divergente da Lei n° 9.430/96, a IN SRF nº 243/2002 também deve ser afastada pelo mesmo motivo de ilegalidade; Vide decisões do CARF nesse sentido às fls. 3595/3598. DAS PROVAS, DILIGÊNCIAS E JUNTADA DE NOVOS DOCUMENTOS Em razão do princípio da busca da verdade material, os autos devem ser baixados em diligência, para que a exigência fiscal contida no Auto de Infração seja recalculada para a correção dos equívocos mencionados nesta impugnação. A grande parte das informações já se encontra nos autos, sendo a revisão fiscal ora pleiteada baseada apenas na sua correta interpretação e alocação na metodologia de cálculo. De toda sorte, caso se considere os atuais elementos técnicos não sejam suficientes para elucidar a questão, a impugnante, com fulcro no inciso IV, do artigo 16 do Decreto n° 70.235/72, protesta pela realização de perícia técnico contábil acerca dos produtos e matérias primas importados, a fim de comprovar que seus cálculos de preços de transferência obedeceram exatamente ao disposto na Lei n° 9.430/9 6. De forma exemplificativa, para melhor ilustrar os equívocos do cálculo cometidos pela fiscalização, a impugnante refez os cálculos dos dois principais insumos que a Agente Fiscal apontou ajuste, quais sejam: (1) "drospirenona" (código 3124278) e (2) acetato de ciproterona (código 3277126), conforme fls. 3599/3601 e docs. 9 e 10. Por fim, a impugnante protesta pela apresentação posterior de novos documentos, provas e alegações para perfeita elucidação dos fatos. DA CONCLUSÃO E DO PEDIDO Às fls. 3601/3602, a impugnante sintetiza sua impugnação e pleiteia que seja (1) baixados os autos em diligência para recálculo do Auto de Infração; e (2) julgado improcedente o Auto de Infração lavrado, cancelandose integralmente as exigências fiscais nele contidas.” A DRJ indeferiu o pedido de realização de diligência, e, no mérito, pelos fundamentos sinteticamente expostos na ementa ao norte transcrita, julgou improcedente a impugnação, mantendo integralmente o crédito tributário lançado. Em sede de recurso, o contribuinte renova integralmente os seus argumentos apresentados na inicial, os quais sintetiza ao final, nos seguintes termos, verbis: “Diante do exposto, quanto a suas operações sujeitas às regras de preço de transferência do ano calendário de 2009, a Recorrente demonstrou que: (i) a lógica e motivação da Lei n° 9.430/96, com redação dada pela Lei n° 9.959/2000, que tentou privilegiar a geração de valor no país (como contrapartida ao aumento da margem de lucro arbitrada), foi totalmente invertida e desvirtuada pela INRFB n° 243/2002; Fl. 3766DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 12 11 (ii) a INRFB n° 243/2002 extrapola as regras previstas na Lei n° 9.430/96, com redação dada pela Lei n° 9.959/2000, não podendo ser aplicada para fundamentar as exigências fiscais contidas no Auto de Infração, sob pena de violação do princípio da estrita legalidade tributária; (iii) a exemplo da IN n° 38/1996, cuja aplicação foi afastada pelo E. CARF por conter regulamentação em sentido divergente da Lei n° 9.430/96, a INRFB n°243/2002 também deve ser afastada pelo mesmo motivo de ilegalidade; e (iv) na exposição de motivos da Medida Provisória n° 478/2009, que não foi convertida em lei, o próprio Poder Executivo reconhece expressamente que o método de cálculo da INRFB n° 243/2002 não tem fundamento em lei, razão pela qual tentou, sem sucesso, corrigir tal equívoco; (v) a Lei n° 1312/2012, que recentemente formalizou a criação do método PRL baseado em médias proporcionais, não é capaz de retroagir para conferir fundamento de validade à INRFB 243/2002, sendo uma forte prova de que a referida IN não contava com fundamento de validade em lei quando editada; (vi) por fim, mesmo aplicandose a INRFB 243/2002, é preciso que haja o recálculo do auto de infração para que o mesmo critério (CIF ou FOB), relativo os valores de frete e seguros, seja aplicado tanto no "preço praticado" como no "preço parâmetro"; bem como sejam excluídos do cálculo do "preço parâmetro" os valores de PIS/COFINS que não integraram o preço de venda e, que, todavia, foram indevidamente arbitrados pelo autos de infração.” É o relatório. Voto Conselheiro João Otávio Oppermann Thomé O recurso é tempestivo e preenche os requisitos de admissibilidade, dele tomo conhecimento. Conforme visto, a recorrente defende, precipuamente, a ilegalidade/inadequação da metodologia de cálculo dos preços de transferência, pelo método PRL, estabelecida pela Instrução Normativa SRF n° 243/2002. Noutro giro, acaso acolhida pelo colegiado a metodologia prevista na IN SRF n° 243/2002, aponta erros na apuração que seriam causa de nulidade ou cancelamento dos autos de infração. Assim, abordaremos primeiro a questão da legalidade da IN SRF n° 243/2002, para, a seguir, analisar os demais pontos suscitados. 1. Legalidade da Instrução Normativa n° 243/2002 Fl. 3767DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 13 12 De acordo com a recorrente, a fórmula de cálculo determinada pela Instrução Normativa SRF n° 243/2002 para o método conhecido como “PRL60” padeceria de legalidade, pois chega a resultados distintos daqueles que seriam obtidos a partir da mera aplicação da Lei n° 9.430/96, impondo ao contribuinte ajustes maiores do que os que seriam devidos, ou seja, exigindo indevidamente tributo sem lei. Afirma que a fórmula contida na IN SRF n° 243/2002 contém um paradoxo matemático, pois sempre levará a ajustes a serem efetuados, exceto se o contribuinte operar com uma margem de lucro operacional superior a 150% do custo do produto, o que, além de irrazoável, fere o espírito da própria lei, pois desvirtua a lógica e motivação da Lei n° 9.430/96, e gera desincentivo à produção nacional. Demonstra seus argumentos por meio de exemplos numéricos. Argumenta que a referida IN violou o princípio da estrita legalidade, ao criar regras não previstas na Lei n° 9.430/96, fato tornado ainda mais evidente com a posterior edição da Lei n° 12.715/2012, que veio a instituir legalmente a metodologia de cálculos proporcionais anteriormente prevista naquele normativo, contudo, com efeitos somente a partir do ano calendário de 2013. Apesar da força dos argumentos, entendo de forma diversa, conforme já tive oportunidade de manifestar em outras ocasiões. Ao proferir declaração de voto no acórdão 110200.419, na sessão de 30 de março de 2011, por meio de diversos exemplos numéricos, busquei demonstrar que, ao contrário do que alegava a recorrente, a utilização da fórmula instituída pela Instrução Normativa SRF n° 243/2002 não resultava em ajustes superiores aos que seriam determinados pela Lei n° 9.430/96. É que, no caso, a interpretação conferida pela recorrente quanto ao que efetivamente estaria contido na Lei n° 9.430/96 se revelava incorreta. Adotandose outra interpretação para o comando contido na Lei n° 9.430/96 (adiante se discorrerá com mais propriedade sobre esta questão), demonstrei que, na verdade, os ajustes determinados pela Instrução Normativa SRF n° 243/2002 se revelariam inferiores àqueles determinados pela lei, de sorte que não se haveria de falar em exigência de tributo sem base legal. Recentemente, em julgamento realizado pela ora extinta 2a Turma Ordinária da 1a Câmara, aquele colegiado novamente apreciou a questão jurídica aqui posta em discussão, tendo o relator daquele caso, o ilustre conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio, feito uma pertinente digressão sobre o assunto, de uma perspectiva histórica do seu desenvolvimento no âmbito internacional, e, posteriormente, no Brasil, a qual peço vênia para aqui reproduzir1: “O desenvolvimento do controle dos preços de transferência no âmbito internacional: Historicamente, o arm’s length consolidouse como o critério preferido para a alocação de lucros nas transações realizadas entre empresas relacionadas. Tanto a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE, por meio de seu Comitê de Assuntos Fiscais, quanto a Organização das Nações Unidas ONU, por meio de seu Comitê de Especialistas para a Cooperação Internacional em Matéria Tributária, já deixaram claras suas posições favoráveis ao arm’s length ao rechaçar 1 Acórdão 1102001.100, sessão de 06 de maio de 2014, redator designado Ricardo Marozzi Gregório. O conselheiro é também autor do livro "Preços de Transferência – Arm’s Length e Praticabilidade" (São Paulo: Quartier Latin, 2011), sobre este assunto. Fl. 3768DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 14 13 qualquer discussão sobre a possibilidade de adoção de iniciativas que buscavam o estabelecimento de outro padrão para o tratamento do tema, como, por exemplo, a utilização de fórmulas predeterminadas. Afora os Estados Unidos, que foram seus idealizadores, o arm’s length foi sendo paulatinamente incorporado, explícita ou implicitamente, na legislação interna dos diversos países. Internacionalmente, a definição desse padrão costuma ser fundamentada pelo que é indiretamente depreendido no que está estipulado nos parágrafos 1º dos artigos 9º das ConvençõesModelo da OCDE da ONU e dos Estados Unidos. Confirase: [Quando] ... as duas empresas [associadas], nas suas relações comerciais ou financeiras, estiverem ligadas por condições aceitas ou impostas que difiram das que seriam estabelecidas entre empresas independentes, os lucros que, se não existissem essas condições, teriam sido obtidos por uma das empresas, mas não o foram por causa dessas condições, podem ser incluídos nos lucros dessa empresa e tributados em conformidade. Foi justamente os Estados Unidos o primeiro país que vivenciou enormes dificuldades quando tentou implementar o controle dos preços de transferência a partir da mera enunciação de uma cláusula tão genérica para o trato da matéria. Foram necessários alguns anos de maturação para se perceber que era preciso desenvolver uma metodologia específica. Por isso, em 1968, foi editada a regulamentação da Seção 482 do Internal Revenue Code (a qual dispunha sobre o arm’s length naquele País), incorporando os chamados métodos tradicionais, para a apuração do padrão na seguinte ordem de prioridade: o comparable uncontrolled price (CUP), o resale price method e o cost plus method. Além destes, abriuse possibilidade para a utilização de qualquer outro método (quarto método), desde que ele chegasse a resultados considerados arm’s length. Os métodos apresentados eram fundamentalmente baseados na comparabilidade entre transações realizadas pelas empresas relacionadas (controlled transactions) e transações realizadas por empresas independentes (comparable transactions). O CUP comparava os preços das transações, o resale price comparava as margens brutas a partir dos preços de revenda (resale margins) e o cost plus comparava margens brutas a partir dos custos de produção (mark ups). Os métodos foram desenvolvidos para o tratamento preferencial de transações envolvendo bens tangíveis. O período entre 1968 e 1986 foi marcado pela insistência do Internal Revenue Service (IRS) e dos tribunais americanos em afirmar a consistência dos métodos estabelecidos na regulamentação da Seção 482. Contudo, os casos difíceis (hard cases) submetidos às cortes daquele País pareciam demonstrar que a ausência de comparáveis, principalmente para intangíveis, era uma realidade muito mais frequente que se poderia supor. Depois de muitas críticas e de um conjunto de propostas e regulamentações temporárias, em 1994, foi editada a regulamentação da Seção 482 que está até hoje vigente. Surgiram o comparable profits method (CPM) e o profit split. O CPM compara margens líquidas (profit level indicators) entre partes controladas e não controladas apropriadamente selecionadas. Por sua vez, o profit split deve ser aplicado quando ambas as partes controladas operam com complexas funções econômicas e expressivos riscos e intangíveis de titularidade própria. A possibilidade de utilização de métodos não especificados (não mais tratada na condição de quarto método) foi também contemplada. Fl. 3769DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 15 14 Diante dos avanços na legislação americana, o Comitê de Assuntos Fiscais da OCDE aprofundou seus estudos sobre o tema do controle de preços de transferência. Em 1995, a partir dos relatórios que havia publicado em 1979 e 1984 e das novas ideias inseridas nas propostas e na regulamentação final da Seção 482 do IRC, foi publicado o relatório Transfer Pricing Guidelines for Multinational Enterprises and Tax Administrations. Depois da sua ConvençãoModelo, os Guidelines, como ficou conhecido o relatório, transformaramse no mais importante desenvolvimento da OCDE na área tributária nos últimos 50 anos. A ideia dos Guidelines é confirmar a adesão da OCDE ao padrão arm’s length estabelecido no artigo 9º da ConvençãoModelo. Sua função é ajudar as administrações tributárias (de países membros ou nãomembros da OCDE) e os grupos multinacionais a encontrar soluções mutuamente satisfatórias para o controle dos preços de transferência. Os Guidelines, no tocante aos métodos sugeridos para a apuração do arm’s length, basicamente repetem aqueles que foram desenvolvidos nos Estados Unidos. Destaquese, de forma mais relevante, a criação do transactional net margin method (TNMM) em substituição ao CPM americano. Uma questão primordial, quando se aborda o tratamento metodológico que visa a apurar o arm’s length, é o critério de escolha do método. Cada método possui um campo de aplicação típico. O CUP é tipicamente utilizado quando as características dos bens e serviços são comparáveis e, por isso, é possível a determinação direta do preço arm’s length, tais como nas hipóteses de comparação interna e nas situações que envolvem commodities e taxas de juros. O resale price, quando empresas comerciais preponderantemente distribuidoras (stripped distributors) ou agentes comissionados (comissioned agents) configuram uma das partes da transação controlada. O cost plus, quando as empresas que configuram uma das partes da transação controlada são do tipo industriais e com a produção preponderantemente vinculada a contratos de encomenda (contract manufacturers), contratos de remuneração continuada (toll manufacturers) e montagens de baixo risco (low risk assemblers) ou do tipo provedoras de serviços (service providers). Os métodos TNMM e CPM, quando as características dos bens e serviços, bem como as funções, ativos, riscos e bases de custos, não são comparáveis. Por fim, o profit split é tipicamente utilizado nas mesmas condições que o TNMM e o CPM, porém, agregamse, ainda, as exigências de que as partes controladas realizem transações intimamente relacionadas e funções complexas ou possuam intangíveis valiosos ou ativos exclusivos. Por essa razão, enquanto que a regulamentação americana, desde a sua criação, preferiu adotar a regra do melhor método (best method rule), a OCDE só recentemente alterou seus Guidelines, abandonando um critério hierárquico que veladamente reconhecia ser impossível a plena aplicabilidade dos métodos, para adotar o critério do “método mais apropriado”. Em ambos os casos, importa notar que o resultado arm’s length deve ser determinado pelo método que, diante dos fatos e circunstâncias, produza a medida mais confiável. Mais especificamente sobre o método resale price, é pertinente dispensar também algumas poucas linhas. Tal método tem como ponto de partida o preço de revenda para uma empresa independente de um bem ou serviço adquirido de uma empresa relacionada. Deste preço de revenda é deduzido um lucro bruto apropriado para se chegar ao preço arm’s length que servirá de parâmetro para a transação controlada. O lucro bruto apropriado é calculado em função da margem de lucro (margem de revenda) arm’s length. Por exemplo, se o preço de revenda de uma mercadoria é $100 e a margem Fl. 3770DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 16 15 de lucro arm’s length é de 20%, o lucro bruto apropriado será $20 (20% x $100) e o preço arm’s length será $80. A racionalidade do método pode ser ilustrada pela seguinte fórmula: Preço arm’s length = Preço de Revenda – Margem de Revenda x Preço de Revenda A margem de lucro arm’s length deve ser suficiente para gerar um lucro bruto capaz de cobrir os custos e despesas operacionais da operação de revenda, considerando as funções realizadas, os ativos empregados e os riscos assumidos, e, ainda assim, conferir um lucro líquido apropriado para o revendedor. Esta margem de lucro deve ser determinada com base em margens verificadas em operações de revenda realizadas em circunstâncias comparáveis. Tratase de tomar como referência as margens praticadas quando bens e serviços adquiridos em transações não controladas são revendidos para empresas independentes. Os preços arm’s length são calculados, portanto, a partir de margens arm’s length. Estas, por sua vez, são constituídas sobre uma base de preços praticados em operações de revenda para empresas independentes. Impõese perceber a necessidade de um teste de comparabilidade envolvendo as circunstâncias das transações. As operações de revenda das transações não controladas devem ser realizadas em circunstâncias comparáveis às da operação de revenda da transação controlada. Se nenhuma das diferenças existentes entre as circunstâncias for suficiente para afetar materialmente a margem de lucro no mercado aberto ou se razoáveis ajustes puderem ser feitos para eliminar os efeitos materiais destas diferenças, considerase que há comparabilidade. As margens de lucro das transações não controladas aprovadas no teste da comparabilidade comporão uma amostra que consubstanciará o resultado arm’s length. A qualidade e o tamanho da amostra de transações aprovadas no teste da comparabilidade são importantes fatores diretamente relacionados à confiabilidade do método. A qualidade está relacionada com os ajustes efetuados. O tamanho permite empregar técnicas estatísticas capazes de refletir a distribuição das margens das transações não controladas aprovadas no teste. A confiabilidade será tanto maior quanto maior for o tamanho da amostra e mais próxima da curva normal for sua distribuição. Inferese da própria estruturação do resale price que ele é usado quando é possível constatar que uma das partes na transação controlada realiza operações de revenda. Entretanto, a confiabilidade do método é condicionada às situações em que a empresa revendedora não agrega valor significativo aos bens e serviços revendidos. Por isso, tratase de um método tipicamente usado quando empresas comerciais preponderantemente distribuidoras (stripped distributors) ou agentes comissionados (comissioned agents) configuram uma das partes da transação controlada. A OCDE admite que alguma alteração do produto pode ser feita pelo revendedor. Contudo, reconhece que a aplicação do método será bastante dificultada nas situações em que houver processamento ou incorporação do produto adquirido em produtos mais complexos e quando o revendedor contribuir substancialmente para a criação ou manutenção de intangíveis que são agregados aos produtos revendidos. Quanto maior as funções realizadas, os ativos empregados e os riscos assumidos pelo revendedor, maior deverá ser a remuneração pela margem de lucro e mais difícil de se encontrar circunstâncias comparáveis. Para a OCDE, o uso do resale price será provavelmente inapropriado em tais circunstâncias, mas, para a regulamentação americana, a confiabilidade do método estará a tal ponto comprometida que ele poderá ter que ser afastado por não atender à regra do melhor método (best method rule). Fl. 3771DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 17 16 Cumpre destacar que o método poderá ser utilizado no controle do preço de transferência exercido sobre a empresa que representa a parte testada (empresa revendedora importadora) ou no controle do preço de transferência exercido sobre a outra parte da transação controlada (empresa relacionada exportadora). Entretanto, o resultado arm’s length observado nas margens de lucro das transações não controladas só pode ser utilizado para o cálculo do preço arm’s length a partir do preço de revenda da empresa revendedora. Por isso, só um dos lados da transação controlada corresponde à parte testada (onesided analysis). Em regra, será o lado que desempenha funções menos complexas e que configure a utilização típica do método, ou seja, operações de revenda. Além disso, as margens de lucro utilizadas para a determinação do resultado arm’s length não devem ser diretamente retiradas das demonstrações financeiras de empresas que realizam transações não controladas. Ainda que sejam margens brutas calculadas com base no lucro bruto, o qual, por definição, apenas sustenta os custos e despesas operacionais da revenda, e acrescenta uma devida remuneração ao revendedor, é sempre possível que alguns itens de custo ou de despesa sofram tratamento diferenciado nos diversos países, tornando incompatíveis as margens meramente calculadas a partir daqueles demonstrativos. Há necessidade, então, de se promover ajustes adequados para garantir consistência contábil entre as variadas fontes.” Sintetizando o quanto exposto a partir da experiência internacional, colhese os seguintes preceitos básicos: a) cada método possui um campo de aplicação típico; b) o resale price, no caso, é tipicamente utilizado quando empresas comerciais preponderantemente distribuidoras (stripped distributors) ou agentes comissionados (comissioned agents) configuram uma das partes da transação controlada; c) embora admissível que alguma alteração do produto possa ser feita pelo revendedor, a confiabilidade do método é condicionada às situações em que a empresa revendedora não agrega valor significativo aos bens e serviços revendidos. Seguimos com a análise feita pelo conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio a respeito da evolução da legislação a respeito da questão no Brasil. “O desenvolvimento do controle dos preços de transferência no Brasil: Feita essa digressão no contexto histórico do desenvolvimento da disciplina no âmbito internacional, passo, então, à descrição do tema no contexto interno, particularmente com destaque para o objeto da presente análise, qual seja, o método que foi criado no Brasil, para as operações de importação, tendo como inspiração o resale price. O item 12 da exposição de motivos que acompanhou o projeto que resultou na Lei n° 9.430/96 foi bastante claro sobre os objetivos pretendidos com a inserção da nova matéria em nosso sistema tributário. Leiase: 12. As normas contidas nos arts. 18 a 24 representam significativo avanço da legislação nacional face ao ingente processo de globalização, experimentado Fl. 3772DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 18 17 pelas economias contemporâneas. No caso específico, em conformidade com regras adotadas nos países integrantes da OCDE, são propostas normas que possibilitam o controle dos denominados “Preços de Transferência”, de forma a evitar a prática, lesiva aos interesses nacionais, de transferências de resultados para o exterior, mediante a manipulação dos preços pactuados nas importações ou exportações de bens, serviços ou direitos, em operações com pessoas vinculadas, residentes ou domiciliadas no exterior. (grifei) Como se pode observar, a intenção expressamente declarada na exposição de motivos para se introduzir os dispositivos sobre preços de transferência na Lei nº 9.430/96 foi “evitar a prática, lesiva aos interesses nacionais, de transferências de resultados para o exterior”. Por conseguinte, fica clara a motivação antielisiva da introdução do controle de preços de transferência no País. Isto corrobora o entendimento que qualifica as regras consubstanciadas pela Lei nº 9.430/96 como cláusulas específicas antielisivas. Percebese também a insinuação de que a legislação que acompanhava a exposição de motivos se apresentava “em conformidade com regras adotadas nos países integrantes da OCDE”. Apesar de o Brasil não ser um país integrante daquela organização internacional, há que se notar o paradigma utilizado como pretexto pelo legislador. Como noticiado, àquela época, os Guidelines haviam sido recentemente divulgados. Eram, portanto, o instrumento mais autorizado para exprimir o pensamento dos países integrantes da OCDE em matéria de preços de transferência. Era de se esperar, então, que a lei brasileira seguisse de perto as recomendações contidas nos Guidelines. Para iniciar a análise do regime brasileiro dos preços de transferência, cumpre investigar a técnica adotada para aferir o controle dos preços praticados nas transações controladas. Nesse sentido, destacamse as ideias de “preço praticado” e “preço parâmetro”. O “preço praticado” é a média aritmética ponderada dos preços efetivamente praticados nas transações controladas no período de apuração do tributo, enquanto que o “preço parâmetro” é aquele calculado segundo um dos métodos previstos na legislação. Assim, a legislação de preços de transferência instituiu a seguinte ficção: se o “preço praticado é superior, nas importações, ou inferior, nas exportações, ao preço parâmetro”, devese “tributar a renda auferida”. Tratase do ajuste primário consagrado pela matéria em âmbito internacional. O mecanismo utilizado para operacionalizar este ajuste é a figura da adição ao lucro real prevista na legislação do imposto de renda. No que diz respeito aos métodos criados para o cálculo do chamado “preço parâmetro”, o legislador brasileiro reconhecidamente temeu trazer para o País a complexidade da metodologia internacional. Por isso, apesar de se inspirar nos trabalhos da OCDE, adotou uma variedade de mecanismos que tiveram o intuito de promover maior praticabilidade no trato da matéria. Nesse sentido, conquanto, no exterior, o enfoque dos métodos tradicionais resida na comparabilidade de preços (CUP) ou margens brutas (cost plus e resale price), no Brasil, o legislador preferiu manter a comparabilidade apenas para os métodos inspirados no CUP. Quanto aos métodos inspirados no cost plus e no resale price, o legislador inovou ao predeterminar as margens brutas que deverão ser aplicadas. Ademais, ignorou completamente a recomendação de que cada método deve ter um campo de aplicação específico ao conceder uma plena liberdade de escolha do método desde que dentre esses três tradicionais. Outrossim, não aceitou trazer para o País os métodos que foram posteriormente criados para o trato dos casos mais difíceis, como o TNMM e o profit split, e não concordou com a Fl. 3773DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 19 18 possibilidade de que o contribuinte apure o preço parâmetro por intermédio de outros métodos não especificados. No que tange à denominação empregada, a lei brasileira nominou de forma diferenciada os métodos caso eles se apliquem à importação ou à exportação. Assim, especificamente com base no resale price, foram criados: na importação (artigo 18, inciso II), o método do Preço de Revenda menos Lucro – PRL; e na exportação (artigo 19, § 3º, incisos II e III), os métodos do Preço de Venda por Atacado no País de Destino, Diminuído de Lucro –PVA – e do Preço de Venda a Varejo no País de Destino, Diminuído de Lucro – PVV.” Desta análise introdutória, devese ressaltar que, muito embora a legislação brasileira tenha trilhado um caminho próprio que, em muitos aspectos, acabou por se distanciar da experiência internacional sobre a matéria, não há dúvidas de que a finalidade da legislação em questão é uma só: controlar os preços de transferência na importação e na exportação, como forma de evitar a transferência de resultados para o exterior, mediante a manipulação dos preços pactuados. Neste sentido, as possíveis interpretações que se possam extrair do comando legal hão de ter em conta este objetivo, devendo ser afastadas as interpretações que possam conduzir ao total desvirtuamento da finalidade da lei. Conforme já antecipado, e adiante se verá, há na Lei n° 9.430/96, a partir da alteração promovida pela Lei n° 9.959/00, uma impropriedade, que para uns é tida como um erro gramatical, para outros como técnica redacional inapropriada, e que permite que se extraiam, do comando legal, a priori, duas distintas interpretações. Mas, antes de nela entrar, vamos inicialmente ver como a Lei n° 9.430/96 tratava o método PRL na sua redação original: “Art. 18. (...) II – Método do Preço de Revenda menos Lucro – PRL: definido como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: a) dos descontos incondicionais concedidos; b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; c) das comissões e corretagens pagas; d) de margem de lucro de vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda;” Na redação original, portanto, a Lei nº 9.430/96 estabelecia um único percentual, equivalente a 20%, a ser aplicado sobre o preço de revenda dos bens ou direitos importados para o cálculo da margem de lucro. Apesar das especificidade da lei brasileira (ao fixar a margem de 20%, presumindoa suficiente para gerar um lucro bruto capaz de cobrir os custos e despesas operacionais da operação de revenda), a fórmula de cálculo que pode ser daí extraída é absolutamente coerente com a idéia do resale price, e pode ser assim ilustrada: Preço Parâmetro = Preço de Revenda – 0,2 x Preço de Revenda Fl. 3774DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 20 19 Justamente pela coerência do método e de sua fórmula com a noção de simples revenda, é que a Instrução Normativa SRF nº 38/97 procurou explicitar a vedação à utilização deste método no caso de bens aplicados à produção. Tal vedação, contudo, por não estar expressamente contida no texto da lei (embora, com a devida vênia dos que entendem em contrário, pudesse ser dela extraída), foi objeto de muita contestação por parte dos contribuintes. Ao tempo em que a jurisprudência do CARF dava sinais de que a interpretação iria consolidarse no sentido de que a IN SRF nº 38/97 havia de fato instituído uma vedação não prevista em lei, houve a alteração da lei, para expressamente permitir a utilização do método PRL à produção, contudo, com a imposição de uma margem de lucro diferenciada, de 60%. Assim, uma empresa que, por hipótese, importasse um determinado bem que pudesse tanto ser revendido, quanto utilizado na produção, poderia utilizar o mesmo método (PRL), contudo, teria de aplicar margens de lucro distintas para o cálculo do preço parâmetro na importação daquele bem, conforme o destino que a ele fosse dar (20% na simples revenda, e 60% quando usado na produção). Muito se debateu acerca da irrazoabilidade da margem adotada (60%), contudo, cediço que tais questões desbordam completamente do âmbito do julgamento administrativo. Legislação posterior (Lei n° 12.715/2012) de fato cuidou de reduzir este percentual, ajustandoo à realidade de cada setor da economia. Não há dúvidas, contudo, de que a fixação de um percentual de margem de lucro diferenciado para a atividade produtiva, com relação à atividade de simples revenda, é perfeitamente possível e justificável, não sendo possível, neste aspecto, questionarse a opção legislativa feita. Confirase como ficou o texto da Lei n° 9.430/96, a partir da alteração promovida pela Lei n° 9.959/00. Na transcrição abaixo, já destacamos em negrito sublinhado a impropriedade de que falamos: “Art. 18. (...) “II Método do Preço de Revenda menos Lucro PRL: definido como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: a) dos descontos incondicionais concedidos; b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; c) das comissões e corretagens pagas; d) da margem de lucro de: (Redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000) 1. sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção; (Incluído pela Lei nº 9.959, de 2000) 2. vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda, nas demais hipóteses. (Incluído pela Lei nº 9.959, de 2000)” Fl. 3775DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 21 20 Percebase que não é possível a concordância (em ‘d.1’) entre a expressão “os valores referidos nas alíneas anteriores” e a expressão “e do valor agregado no País”, ou seja, não é possível, em bom português, deduzir “os valores e do valor” de uma mesma base, que seria, no caso, o preço de revenda. Por outro lado, é clara a concordância entre todas as expressões constantes das alíneas ‘a’, ‘b’, ‘c’, ‘d’, e da segunda parte do item ‘d.1’ (“e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção”), como se fossem todos valores a serem subtraídos diretamente do “preço de revenda” citado no inciso II. Em outras palavras, o preço parâmetro, de acordo com esta interpretação, seria obtido a partir da média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: (i) dos descontos incondicionais concedidos; (ii) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; (iii) das comissões e corretagens pagas; (iv) da margem de lucro de sessenta por cento; e (v) do valor agregado no País. Desconsiderados, para fins da análise que se faz relevante, os itens ‘i’, ‘ii’, e ‘iii’ acima, ou seja, considerando como “preço de revenda” já o valor líquido, deduzido desses mencionados itens, terseia a seguinte fórmula: Preço Parâmetro = Preço de “Revenda” – 0,6 x Preço de “Revenda” – Valor Agregado Certo que, para chegarse a esta interpretação do texto legal, não se pode deixar de reconhecer que a disposição da norma, entre as suas alíneas e itens, não atendeu à melhor técnica legislativa, na medida em que a segunda parte do item ‘d.1’ (“e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção”) exerceria a função, em verdade, de uma alínea ‘e’ à parte, totalmente dissociada do cálculo da margem de lucro, e aplicável somente no caso de bens importados aplicados à produção. Neste mesmo sentido observou o conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio no já mencionado acórdão de sua lavra: “A técnica redacional inapropriada, identificada por Victor Polizelli2, decorre da percepção de que a expressão ‘do valor agregado’ não se refere à palavra ‘deduzidos’, presente no mesmo item ‘1’ da alínea ‘d’, mas sim à palavra ‘diminuídos’, que consta no caput do próprio inciso II. Esta técnica seria justificada pela intenção de se evitar a inserção de uma alínea ‘e’, pois a exclusão do valor agregado só se aplicaria na hipótese de bens aplicados à produção.” A outra possível interpretação do imperfeito texto legal ao norte transcrito é aquela que parte da premissa de que houve um erro gramatical na redação do item ‘d.1’: em vez de “e do valor agregado no País”, o legislador quis dizer “e o valor agregado no País”. Ou, então, em vez de “após deduzidos os valores”, quis dizer “após a dedução dos valores”. Nesta interpretação, o preço parâmetro seria obtido a partir da média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: (i) dos descontos incondicionais concedidos; (ii) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; (iii) das comissões e corretagens pagas; e, por fim (iv) da margem de lucro de sessenta por cento, onde o item ‘d.1’ teria uma das seguintes redações: 2 Cf. “Parâmetros para a Definição de Valor Agregado e Interpretações Possíveis da Lei nº 9.959/2000 quanto ao Método PRL de Preços de Transferência”. In: Revista de Direito Tributário Internacional nº 2. São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 227. Fl. 3776DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 22 21 “1. sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e o valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção.” ou: “1. sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após a dedução dos valores referidos nas alíneas anteriores e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção.” É verdade que a Receita Federal, em suas primeiras normatizações do tema, trilhou um caminho semelhante ao da segunda redação acima exposta, gerando a fórmula que a recorrente defende no recurso, e que pode ser assim representada: Preço Parâmetro = Preço de “Revenda” – 0,6 x (Preço de “Revenda” – Valor Agregado) Inicialmente a Instrução Normativa (IN) SRF nº 113/00, e, a seguir, a IN SRF nº 32/01, que regulou inteiramente a matéria dos preços de transferência, revogando a anterior IN SRF nº 38/97, assim dispuseram: “§ 11. Na hipótese do parágrafo anterior, o preço a ser utilizado como parâmetro de comparação será a diferença entre o preço líquido de venda e a margem de lucro de sessenta por cento, considerandose, para este fim: I – preço líquido de venda, a média aritmética dos preços de venda do bem produzido, diminuídos dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas e das comissões e corretagens pagas; II – margem de lucro, o resultado da aplicação do percentual de sessenta por cento sobre a média aritmética dos preços de venda do bem produzido, diminuídos dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas, das comissões e corretagens pagas e do valor agregado ao bem produzido no País.” Ocorre que a referida interpretação dá azo a que se descaracterize por completo a finalidade da lei, que é, no caso, o controle dos preços de transferência na importação de bens aplicados na produção. O conselheiro Leonardo de Andrade Couto3 dá um exemplo simples que permite ilustrar esta constatação, além de discorrer com propriedade sobre a questão: “Na interpretação equivocada que se dá ao art. 18 da Lei nº 9.430/95, o preço parâmetro do bem importado seria obtido após a subtração da margem de lucro de 60% do preço líquido de venda do produto final, sendo que a margem de lucro seria calculada sobre o próprio preço líquido de venda menos o valor agregado no País. Lembrando que a operação a ser submetida ao ajuste é a importação do insumo, ao se excluir do preço líquido de venda a margem de lucro calculada sobre 3 Acórdão 1402001.467, sessão de 8 de outubro de 2013. Fl. 3777DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 23 22 o preço líquido de venda menos o valor agregado, obtémse o custo do insumo acrescido de percentual da margem de lucro praticada na revenda, mas não se alcança o custo do bem importado. Num exemplo hipotético teríamos (Exemplo 1): Preço líquido de venda (PLV) = 500,00 Custo total (custo do bem importado + valor agregado) = 230,00 Bem importado = 80,00 Valor agregado (VA) = 150,00 Margem de lucro 60% sobre (PLV – VA) = 60% (500,00 – 150,00) = 210,00 Preço parâmetro = PLV – ML 60% (PLV – VA) PP = 500,00 – 210,00 Preço parâmetro = 290,00 Pareceme claro que nesse cálculo o preço parâmetro obtido não guarda relação com o custo efetivo do bem importado. A questão é a exclusão indevida do valor agregado na apuração da margem de lucro, reduzindoa e aumentando artificialmente o preço parâmetro. A distorção trazida por essa sistemática permitiria manipulação da margem de lucro na revendas dos bens produzidos com os insumos importados. No mesmo exemplo, a cada vez que se diminuísse a margem de lucro – em desacordo com a norma – mesmo implicando em aumento indevido no custo do insumo, o preço parâmetro obtido não geraria qualquer ajuste a ser feito (Exemplo 2): Preço líquido de venda (PLV) = 500,00 Margem de lucro efetiva de 20% (exemplo hipotético) sobre o PLV = 100,00 Custo total (custo do bem importado + valor agregado) = 400,00 Bem importado (custo manipulado) = 250,00 Valor agregado (VA) = 150,00 Margem de lucro 60% sobre (PLV – VA) = 60% (500,00 – 150,00) = 210,00 Preço parâmetro = 500,00 – ML 60% (PLV – VA) Preço Parâmetro = 290,00 O correto, para se alcançar o preço parâmetro do insumo importado, consiste em excluir do preço líquido de venda a margem de lucro de 60% e o valor agregado no País, sendo que a margem de lucro deve ser calculada exclusivamente sobre o preço líquido de venda. No mesmo exemplo teríamos (Exemplo 3): Preço líquido de venda (PLV) = 500,00 Custo total (custo do bem importado + valor agregado) = 230,00 Bem importado = 80,00 Valor agregado (VA) = 150,00 Margem de lucro 60% sobre (PLV ) = 60% (500,00) = 300,00 Preço parâmetro = PLV – ML 60% (PLV) – VA PP = 500,00 – 300,00 – 150,00 Preço parâmetro = 50,00 (haveria um ajuste de 30,00) Ressaltese que nesse cálculo ainda não se leva em consideração a proporcionalidade do preço do bem importado no preço líquido de venda, o que daria ainda mais precisão ao cálculo, conforme se verá posteriormente neste voto. Confirase abaixo como a aplicação correta do método impediria a manipulação da margem de lucro. Nos termos do exemplo supra citado com margem de lucro de 20%, fora do padrão (Exemplo 4): Preço líquido de venda (PLV) = 500,00 Margem de lucro efetiva de 20% sobre o PLV = 100,00 Fl. 3778DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 24 23 Custo total (custo do bem importado + valor agregado) = 400,00 Bem importado (custo manipulado) = 250,00 Valor agregado (VA) = 150,00 Margem de lucro 60% sobre (PLV) = 60% (500,00) = 300,00 Preço parâmetro = PLV – ML 60% (PLV) – VA PP = 500,00 – 300,00 – 150,00 Preço parâmetro = 50,00 (haveria uma ajuste de 200,00)” Conforme acima demonstrado, somente com a aplicação da fórmula obtida a partir da interpretação de que teria havido “técnica redacional inapropriada” na Lei nº 9.430/96 é que se preserva a finalidade da norma em questão. A fórmula defendida pela recorrente, e inicialmente prevista pela IN SRF nº 32/01, faz com que a norma, em larga medida, se revele absolutamente ineficaz para os fins a que se destina. Conforme registrou o conselheiro Leonardo de Andrade Couto, com a fórmula da IN SRF nº 32/01 obtémse como preço parâmetro o custo do bem importado acrescido de parcela da margem de lucro praticada na revenda, mas não se alcança o custo do bem importado (no exemplo por ele dado, o preço parâmetro [290,00], corresponde ao custo do bem importado [80,00], mais a margem de lucro praticada na revenda de acordo com a equivocada leitura que se faz da IN 32 [210,00]). O conselheiro Antonio Bezerra Neto4, com muita propriedade, faz as seguintes observações ao discorrer sobre a total impropriedade da fórmula defendida pela recorrente e albergada pela IN SRF nº 32/01: “Essa mesma intuição não passou despercebida de Polizelli5: A aceitação da fórmula 60% sobre ( o valor integral do preço líquido de venda do produto menos o valor agregado no País) implicaria em se vencer um verdadeiro desafio interpretativo, pois cria um novo método de determinação de preço parâmetro distinto do método do Preço de Revenda menos Lucro – PRL, cuja previsão legal determina que as margens de lucro sejam sempre sobre o produto ou parcela importada ou revendida. Por outras palavras, com essa interpretação perdese uma característica básica do método que é o “isolamento”. O método de cálculo é feito de “frente para trás”. Intuitivamente partimos do Preço de Revenda e vamos retirando tudo aquilo que seja possível até chegarmos, até isolarmos o preço parâmetro de importação para subseqüente comparação com o preço real importado. Uma vez isolado o preço de importação é que sobre ele deve incidir a margem bruta de lucro de 60%. Somente a fórmula da IN 243/2002 persegue esse desiderato e faz o isolamento de forma perfeita, pois ela retira todo o valor agregado, que é uma variável complicadora e muito peculiar do caso concreto e como tal deve ser expurgada, mesmo porque a margem bruta de 60% vem justamente substituíla. A fórmula da IN 32/2001 ela não expurga o valor agregado, ela faz algo diferente, ela adiciona 60% do valor agregado! PP1= PLV – 60%(PLV – VA) ou PP1= 40% PLV + 60% VA 4 Acórdão 1401000.800, sessão de 12 de junho de 2012. 5 “Parâmetros para a definição de valor agregado e interpretações possíveis da Lei nº 9.959/2000 quanto ao método PRL de preços de transferência”. Revista de Direito Tributário Internacional. Ano 1, nº 2. São Paulo: Quartier Latin, 2006. Fl. 3779DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 25 24 Como se vê ela falha em simplicidade, na medida em que a referida fórmula contempla a subtração do Valor Agregado que por sua vez diminui o Preço de Revenda isso tudo no contexto de uma outra diminuição realizada sobre o Preço de Revenda, o que redunda em uma adição “disfarçada” do Valor Agregado para a formação do Preço Parâmetro. Ora, afora a questão de falta de simplicidade da fórmula, por que motivo adicionar e não subtrair, e apenas parte do valor agregado e por que nesse percentual de sessenta por cento? Afinal o percentual de 60% seria apenas para cobrir a margem de lucro bruta? Todos os termos de uma fórmula matemática tem que ter uma razão de ser bem objetiva e explicável. Não há razão lógica alguma para esse fato, a não ser admitirmos que essa interpretação é produto de um erro dando origem a essa fórmula por acaso. A fórmula da IN 32/2001 ao deixar de subtrair o valor agregado como era de se esperar para atingir o isolamento do valor importado a ser comparado, e ir pelo caminho ilógico de adicionar 60% do valor agregado para apurar o preço parâmetro, faz com que a fórmula deixe de funcionar adequadamente, deixando de fazer os ajustes necessários nos casos de manipulação de preços importados entre partes relacionadas, objetivo maior do Preço de Transferência. E essa distorção acontece, justamente porque a variável independente Preço Parâmetro ((PP) a ser calculada aumenta diretamente proporcional a 60% do Valor agregado (VA). Ou seja, quanto maior o valor agregado no país maior se torna o PP e consequentemente menores vão ficando os ajustes até o ponto de não ter mais ajuste nenhum, independente de se fazer manipulação no Preço de importação. Um comportamento absurdo. Nunca esperado para essa fórmula. Outrossim, os Preços Parâmetros calculados com base nessa metodologia distorcida não guarda a mínima correspondência com o valor do bem importado, o que é outro absurdo e precisaria ser explicado. (...) Outro aspecto da fórmula não explicado pelos defensores da lógica da IN 32/2001 seria o porquê do legislador se utilizar da expressão matemática (PL – VA) na fórmula PP=PLV – 60%( PL – VA). Ora, (PL – VA) nada mais é do que Preço do Produto Importado (PPI) + Lucro. Então a margem bruta é uma expressão que faz incidir o percentual de 60% não sobre o valor agregado, mas sobre o próprio preço do produto importado mais o lucro. Ora, por que então não se fez referência direta a essas variáveis. E outra coisa, como explicar que a Margem Bruta seja uma grandeza que dependa do “Preço do bem importado”, se o Preço Parâmetro, que tem paralelismo com o Preço do bem importado, é justamente o que se pretende encontrar? Questão prenhe de questões, todas elas não elucidadas. Por que? Porque é produto da escolha por acaso da interpretação literal equivocada que só pode redundar em irracionalidade na fórmula produzida.” Uma outra forma de demonstrar, ainda, a total inadequação da fórmula defendida pela recorrente e albergada pela IN SRF nº 32/01, se encontra em obra de Ricardo Fl. 3780DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 26 25 Marozzi Gregorio, ao também reproduzir demonstração e raciocínio desenvolvido por Victor Borges Polizelli6 (grifei): “Com bastante perspicácia, Victor Polizelli demonstrou que o valor agregado da fórmula prestigiada pelas instruções normativas (IN nº 113/00 e IN SRF nº 32/01) fará parte integral do preço parâmetro. Para melhor entendimento, reproduzse aqui seu procedimento simplificativo da fórmula: Sendo: PL = BI + VA + L PP = PL – 0,6 (PL – VA) Então: PP = (BI + VA + L) – 0,6 (BI + VA + L – VA) PP = BI + VA + L – 0,6 BI – 0,6 L PP = 0,4 BI + 0,4 L + VA. Portanto, a conclusão é que quanto maior a agregação de valor no País, tanto maior será o preço parâmetro e, portanto, menor será a necessidade de ajuste fiscal.” Na fórmula acima, os seus elementos tem os seguintes significados: PL = Preço Líquido de Revenda do produto BI = valor do Bem Importado VA = Valor Agregado no País L = Lucro efetivo praticado na revenda PP = preço parâmetro. Aplicandose a demonstração acima aos valores utilizados pelo conselheiro Leonardo de Andrade Couto no seu exemplo ao norte reproduzido, é possível confirmar a correção do raciocínio: Dados do exemplo: BI = 80,00 VA = 150,00 L (Lucro efetivo praticado na revenda) = 500,00 – 80.00 – 150,00 = 270,00 Aplicação da demonstração de Polizelli: PP = 0,4 BI + 0,4 L + VA PP = 0,4 (80,00) + 0,4 (270,00) + 150,00 PP = 32,00 + 108,00 + 150,00 PP = 290,00 A demonstração evidencia a assertiva de que quanto maior a agregação de valor no País, tanto maior será o preço parâmetro e, portanto, menor será a necessidade de ajuste fiscal. Argumentam alguns, dentre os quais os renomados tributaristas Luís Eduardo Schoueri e Eurico M. Diniz de Santi, que isto seria na verdade um efeito indutor contido na norma, como forma de estimular a agregação de valor no país. 6 GREGORIO, Ricardo Marozzi. Preços de Transferência: uma avaliação da sistemática do método PRL. In: SCHOUERI, Luís Eduardo (Coord.). Tributos e Preços de Transferência. 3. vol. São Paulo: Dialética, 2009. p. 178. Fl. 3781DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 27 26 Com a devida vênia, não é razoável que se pretenda incentivar a produção nacional por meio de mecanismos que possibilitem a transferência de lucros para o exterior sem a devida tributação em nosso território, nem tampouco imaginar que o legislador tenha efetivamente se proposto a criar uma efeito indutor da produção nacional em norma que se destina especificamente ao controle dos preços de transferência em operações de importação de bens. O conselheiro Antonio Bezerra Neto, no já mencionado acórdão de sua lavra7, repudiou com veemência e propriedade este argumento do suposto “efeito indutor”: “Ora, mas o objetivo do mecanismo de preço de transferência é outro completamente diferente não podendo se amoldar a tal desiderato. Na verdade o que se tenta justificar é um efeito errático da fórmula, se seguida uma interpretação errônea, que coincidentemente dá ensejo a um efeito indutor, mas que por óbvio não pode ser considerado um objetivo maior do Preço de Transferência, mormente quando esse efeito indutor torna a fórmula inútil para evitarse manipulação de preços importados advindos de aquisições entre partes relacionadas, finalidade maior desse instituto.” Além de a interpretação conferida pela IN SRF nº 32/01 distorcer completamente a finalidade da lei, conforme restou sucintamente demonstrado pelo quanto até aqui exposto, é conveniente registrar que a referida regulamentação administrativa não se limitou a reproduzir as disposições legais. Não é correto, portanto, afirmar, como muitas vezes se faz, que “a fórmula prevista na IN SRF nº 32/01 corresponde à fórmula prevista na Lei nº 9.430/96”. Na verdade, a IN SRF nº 32/01 promoveu uma alteração significativa na estrutura gramatical do texto da lei, de modo a permitir a concordância da expressão “do valor agregado” com a palavra “diminuídos”, ou seja, para viabilizar a inserção do valor agregado no cálculo da margem de lucro. É pelos motivos expostos que se diz que a Lei nº 9.430/96, na sua redação após as alterações promovidas pela Lei nº 9.959/00, não possuía uma fórmula pronta e acabada, mas que, em verdade, abrigava uma norma plurívoca, abrindose, assim, o caminho para que o seu esclarecimento fosse feito mediante regulamentação administrativa. Após perceber os problemas que a equivocada interpretação conferida pela IN SRF nº 32/01 trazia para o controle dos preços de transferência nas hipóteses de importação de bens para aplicação na produção, a Receita Federal editou nova regulamentação sobre a matéria (IN SRF nº 243/02), revogando a anterior IN SRF nº 32/01. Transcrevese a seguir o art. 12 da IN SRF nº 243/02, no que interessa à análise: “Art. 12. A determinação do custo de bens, serviços ou direitos, adquiridos no exterior, dedutível da determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, poderá, também, ser efetuada pelo método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL), definido como a média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens, serviços ou direitos, diminuídos: 7 Acórdão 1401000.800, sessão de 12 de junho de 2012. Fl. 3782DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 28 27 I dos descontos incondicionais concedidos; II dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; III das comissões e corretagens pagas; IV de margem de lucro de: a) vinte por cento, na hipótese de revenda de bens, serviços ou direitos; b) sessenta por cento, na hipótese de bens, serviços ou direitos importados aplicados na produção. (...) § 10. O método de que trata a alínea "b" do inciso IV do caput será utilizado na hipótese de bens, serviços ou direitos importados aplicados à produção. § 11. Na hipótese do § 10, o preço parâmetro dos bens, serviços ou direitos importados será apurado excluindose o valor agregado no País e a margem de lucro de sessenta por cento, conforme metodologia a seguir: I preço líquido de venda: a média aritmética ponderada dos preços de venda do bem produzido, diminuídos dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas e das comissões e corretagens pagas; II percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no custo total do bem produzido: a relação percentual entre o valor do bem, serviço ou direito importado e o custo total do bem produzido, calculada em conformidade com a planilha de custos da empresa; III participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem produzido: a aplicação do percentual de participação do bem, serviço ou direito importado no custo total, apurado conforme o inciso II, sobre o preço líquido de venda calculado de acordo com o inciso I; IV margem de lucro: a aplicação do percentual de sessenta por cento sobre a "participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido", calculado de acordo com o inciso III; V preço parâmetro: a diferença entre o valor da "participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido", calculado conforme o inciso III, e a margem de lucro de sessenta por cento, calculada de acordo com o inciso IV.” De pronto, fica evidente que a Instrução Normativa SRF nº 243/2002, ao detalhar a fórmula de cálculo, inseriu elementos ou conceitos que não estavam — ao menos expressamente — previstos na Lei nº 9.430/96. Fl. 3783DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 29 28 Esta é justamente uma das principais críticas que se faz à regulamentação feita. Dizse que o texto da lei não trata em absoluto de “percentual de participação do bem importado no custo total do bem produzido”, de sorte que a fórmula especificada pela IN SRF nº 243/2002 caracterizaria uma ofensa à estrita legalidade vigente no ordenamento jurídico pátrio. Ademais, na fórmula proposta pela IN SRF nº 243/2002, o “valor agregado” simplesmente “desaparece”, não havendo nela qualquer menção a este item expressamente mencionado pela Lei nº 9.430/96. A jurisprudência do CARF que não reconhece a existência de qualquer violação, pela IN SRF nº 243/2002, ao princípio da estrita legalidade, erigiuse, em grande parte, a partir de precedente de lavra da ilustre conselheira Sandra Faroni8, que peço vênia para transcrever parcialmente, pela clareza e precisão de sua exposição: “Nos casos em que o produto é revendido sem ser na forma em que foi adquirido, seu preço de revenda é aquele líquido dos valores agregados. Melhor dizendo, se o que está sendo revendido é um produto em que se encontram incorporados vários insumos, no preço de venda do produto estão compreendidos os preços de revenda dos vários insumos que o integram. A lei fala em preço de revenda, e, no exemplo erigido pelo Auditor e mencionado pelo Procurador, não se pode dizer que o limpador de párabrisa importado esteja sendo revendido por R$ 40.000,00. O que está sendo vendido por esse preço é o automóvel. Um ato normativo que estabelecesse a forma de apurar o preço de revenda, nos casos de o produto ser revendido com agregação de outros insumos, estaria cumprindo seu papel de regulamentar a lei, não padecendo de qualquer ilegalidade, pois não estaria limitando onde a lei não limitou. Na falta de ato normativo nesse sentido, caberia ao contribuinte demonstrar, segundo um critério razoável, a ser analisado pela fiscalização, que o preço de revenda por ele adotado para aplicação do método PRL corresponde ao do insumo importado aplicado no produto industrializado. A meu ver, a única forma possível de determinar o preço de revenda de qualquer insumo é aplicando, sobre o preço de venda do produto final, a mesma proporção que o custo do insumo representa no custo total do produto. A utilização desse critério independe da existência de ato normativo prevendoo, porque está rigorosamente dentro da lei. A lei determina a aplicação de margem de lucro sobre o preço de revenda do produto importado. Inexistindo preço de revenda determinado sobre cada elemento integrante do produto final, cabe determinálo, a partir dos elementos conhecidos. Ora, os elementos conhecidos são os custos individuais dos insumos (inclusive mão de obra) aplicados na produção, o custo do produto final (somatório dos custos dos insumos) e o preço de venda do produto final. É elementar que a única forma de isolar o valor de venda de cada componente é ratear o valor total de venda entre todos os componentes do custo total do produto na mesma proporção em que participam desse custo. Existindo ou não ato normativo nesse sentido, se o contribuinte faz essa segregação, a fiscalização não tem como rejeitar o cálculo pelo PRL. Por outro lado, não feita a segregação, cabe à fiscalização intimar o contribuinte a refazer o cálculo a partir do valor assim segregado.” De fato, conforme bem registrou a conselheira Sandra Faroni, é elementar e intuitivo que a única forma de se determinar o preço de “revenda” de certo bem aplicado na produção é por meio da aplicação, sobre o preço de venda do produto final, da mesma 8 Acórdão 10194.888, sessão de 17 de março de 2005. Fl. 3784DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 30 29 proporção que o custo daquele bem aplicado representa no custo total do produto. E é exatamente esta que foi a proposição adotada pela IN SRF nº 243/2002. Interessante mencionar que, a bem da verdade, no precedente citado, sequer estava em julgamento a legalidade ou não da IN SRF nº 243/2002, posto que o litígio envolvia apenas a aplicação da legislação de preços de transferência anterior à edição deste normativo. Mas a exposição feita pela conselheira Sandra Faroni demonstra com precisão como a regulamentação prevista por este normativo se encontra em perfeita sintonia com o quanto disposto na lei. Seguindose estritamente o que está estipulado no texto da IN SRF nº 243/2002, podese representar o cálculo do preço parâmetro pela seguinte fórmula: Preço Parâmetro = Ci/Ct x Preço de “Revenda” – 0,6 x (Ci/Ct x Preço de “Revenda”) Onde: Ci = custo do bem importado Ct = custo total do bem produzido Assim, temos que a expressão “Ci/Ct” representa a proporção que o custo do bem importado, e aplicado na produção, representa no custo total do produto. E a expressão “Ci/Ct x Preço de Revenda” (contida dentro do parênteses, na fórmula) representa o valor da participação do bem importado no preço de venda do bem produzido. Consoante bem registrou a conselheira Sandra Faroni, o preço de “revenda” de um bem aplicado na produção é aquele líquido dos valores agregados. A aplicação do critério da proporcionalidade com os custos é o meio de se alcançar a dedução dos valores agregados. Neste sentido também registrou o conselheiro Antonio Bezerra Neto, no mencionado acórdão de sua lavra9: “Por outras palavras, a participação do componente importado no preço de revenda líquido (%n x PL) é igual ao preço de revenda líquido do produto final (PLV) subtraído do valor agregado: (%n x PL) = PL – VA Nesse passo, Victor Borges Polizelli no seu excelente artigo muito bem divisou essa identidade entre a fórmula genérica da IN 243/2002 (PP= PLV – 60%PLV – VA) e a fórmula derivada, verdadeiramente expressa na IN 243/2002 que contém a técnica da ponderação de custos (PPn=%nPL –60%(%nPL)). Eis abaixo a prova matemática estabelecida pelo referido autor entre a variável Valor Agregado e tudo aquilo que não representa a participação do componente importado “n” no preço de revenda líquido: Neste sentido, o valor agregado poderia então ser identificado como tudo o que não representar a participação do componente importado "n" no preço de revenda líquido ([1 – % n] x PL). Aplicando esta identidade à proposição supra: 9 Acórdão 1401000.800, sessão de 12 de junho de 2012. Fl. 3785DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 31 30 (%n x PL) + ([1 – % n] x PL) = PL %n x PL + PL – % n x PL = PL PL = PL → Proposição Verdadeira O sentido aqui identificado para o valor agregado é perfeitamente admissível na medida em que reflete a evolução histórica do método PRL (grifei). 10 (...)” Do quanto exposto, é possível ver que a metodologia da IN SRF nº 243/02 está em consonância com a interpretação extraída da Lei nº 9.430/96 e representada pela fórmula “Preço Parâmetro = Preço de ‘Revenda’ – 0,6 x Preço de ‘Revenda’ – Valor Agregado” (sinteticamente, PP = PLV – 0,6 PLV – VA). A diferença entre esta fórmula e a fórmula da IN SRF nº 243/02 reside apenas na forma pela qual o valor agregado é expurgado do preço parâmetro para fins de isolar o insumo importado e permitir a adequada apuração do seu valor dedutível. Enquanto na fórmula “PP = PLV – 0,6 PLV – VA”, o valor agregado é subtraído diretamente do preço líquido de “revenda”, na fórmula da IN SRF nº 243/02, o valor agregado é subtraído por meio da técnica da ponderação. A perfeita conformação da IN SRF nº 243/2002 aos ditames da Lei nº 9.430/96, foi também manifesta pelo conselheiro Leonardo de Andrade Couto no já mencionado acórdão de sua lavra11, no qual demonstrou, ainda, que os ajustes (adição ao lucro líquido) determinados pela IN SRF nº 243/2002 se mostravam inferiores aos que seriam obtidos a partir da mera aplicação da fórmula “PP = PLV – 0,6 PLV – VA”, sem qualquer proporcionalização: “Foi exatamente nessa linha que se manifestou a IN nº 243/2001 através do §11, do art. 12, transcrito na decisão recorrida que, além de introduzir a fórmula supra mencionada pela qual não se deduz o valor agregado da margem de lucro, mas diretamente do preço líquido de venda., estabeleceu que a margem de lucro deveria ser calculada não sobre a diferença entre o preço líquido de venda do produto e o valor agregado no País, mas sobre a parcela do preço líquido de venda que corresponde ao bem importado, ou seja, a participação do bem importado no preço de venda do bem produzido, o que possibilita a apuração do preço parâmetro do bem importado com maior exatidão, em consonância ao objetivo do método PRL 60 e à finalidade do controle dos preços de transferência. No exemplo já utilizado neste voto (Exemplo 5): Preço líquido de venda (PLV) = 500,00 Custo total (custo do insumo importado + valor agregado) = 230,00 Bem importado = 80,00 Valor agregado (VA) = 150,00 % de participação do insumo importado no custo total do bem: 34,78% Particip. do insumo no preço líquido de venda do produto final (PBI): 173,90 Preço parâmetro = PBI – ML 60% (PBI) PP = 173,90 – 104,34 Preço parâmetro = 69,56 (haveria um ajuste de 10,44) A aplicação da proporcionalização do bem no preço final nos termos determinados pela IN 243/202, geraria um valor de ajuste menor (RS 10,44 contra 10 “Parâmetros para a definição de valor agregado e interpretações possíveis da Lei nº 9.959/2000 quanto ao método PRL de preços de transferência”. Revista de Direito Tributário Internacional. Ano 1, nº 2. São Paulo: Quartier Latin, 2006. 11 Acórdão 1402001.467, sessão de 8 de outubro de 2013. Fl. 3786DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 32 31 R$ 30,00, obtida no exemplo 3). Assim, as regras da norma levandose em consideração a participação do insumo importado no preço de venda do bem produzido não implica necessariamente, em ajuste maior.” As conclusões do conselheiro Leonardo de Andrade Couto, no sentido de que a fórmula adotada pela IN SRF nº 243/02 representaria inequivocamente um ajuste (adição ao lucro líquido) menor do que aquele que seria obtido pela aplicação da fórmula “PP = PLV – 0,6 PLV – VA”, sem qualquer proporcionalização, encontrase em plena consonância com os exemplos que desenvolvi desde a prolação de meu voto no acórdão 110200.419, na sessão de 30 de março de 2011. Mais recentemente, a PGFN elaborou memoriais que utilizou na sustentação de diversos outros casos concretos analisados no CARF, nos quais inseriu demonstrações muito mais completas e esclarecedoras do que aquelas que eu havia desenvolvido. Peço vênia para transcrever as referidas demonstrações em anexo ao final deste voto (Anexos I e II). Desde já esclareço que, nos referidos anexos, a fórmula “PP = PLV – 0,6 PLV – VA” é referida como “fórmula decorrente da ‘segunda leitura’ da Lei nº 9.430/96”. Consoante os exemplos desenvolvidos, a PGFN logrou demonstrar, em síntese, que: a) a fórmula da IN SRF nº 32/01 simplesmente inutiliza o PRL 60 (não gera qualquer ajuste) nos casos em que o valor agregado é igual ou superior a 37,5% do custo total do produto; além de reduzir bastante a sua eficácia nas situações onde o valor agregado é inferior a esse percentual; b) mesmo nos casos em que o valor agregado é inferior a 37,5% do custo total, a fórmula da IN SRF nº 32/01 pode não produzir nenhum ajuste, a depender da margem de lucro praticada, sendo que pode não produzir nenhum ajuste mesmo quando a margem de lucro praticada for bastante inferior ao patamar estabelecido pelo legislador (60%); c) independentemente do nível de agregação de valor, a fórmula decorrente da “segunda leitura” da Lei nº 9.430/96 cumpre a sua finalidade, pois gera ajustes sempre que a margem de lucro praticada na revenda é inferior ao patamar estabelecido pelo legislador (60%); d) o preço parâmetro obtido pela fórmula da IN SRF nº 243/02 é sempre superior ou igual ao preço parâmetro decorrente da “segunda leitura” da Lei nº 9.430/96, o que comprova que seus ajustes são sempre benéficos ao contribuinte, em comparação à “segunda leitura”. Além disto, para rebater uma das distorções geradas pela fórmula decorrente da “segunda leitura” da Lei nº 9.430/96 — que é comumente referida pelos defensores da fórmula adotada pela revogada IN SRF nº 32/01 — no sentido de que ela produziria, sob certas circunstâncias, preço parâmetro negativo, os quadros elaborados pela PFGN demonstram que: e) a fórmula decorrente da “segunda leitura” da Lei não gera preço parâmetro negativo nos casos em que o valor agregado é igual ou inferior a 40% do custo total do produto, mesmo se o contribuinte estiver operando com margens de lucro zeradas na revenda; Fl. 3787DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 33 32 f) a fórmula decorrente da “segunda leitura” da Lei só gera preço parâmetro negativo nos casos em que o valor agregado é superior a 40% do custo total do produto, e, ao mesmo tempo, o contribuinte opera com margens de lucro efetivas inferiores ao patamar estabelecido pelo legislador (60%). g) a metodologia adotada pela IN SRF nº 243/02, além de produzir ajustes benéficos ao contribuinte, conforme já antes mencionado, jamais provoca preço parâmetro negativo. Por todo o quanto exposto, concluise que a fórmula de cálculo adotada pela IN SRF nº 243/02, longe de perpetrar qualquer ilegalidade, de fato confere efetividade ao quanto disposto no art. 18, inciso II, da Lei nº 9.430/96, na redação que lhe foi dada pela Lei n° 9.959/00, em coerência com a intenção do legislador plasmada na Exposição de Motivos (controle dos preços de transferência como forma de evitar a prática lesiva de transferência de resultados para o exterior, mediante a manipulação dos preços pactuados), o que demonstra a sua legalidade. Superada esta questão, passamos a abordar os demais pontos levantados pela recorrente. 2. Inclusão do frete, seguro e tributos no cálculo do preço praticado Argumenta a recorrente que, se o Fisco considera que os custos de frete e seguro devam ser incluídos no cálculo do preço parâmetro, por força do disposto no artigo 4º, § 4º da IN SRF nº 243/02, "é imperioso que sejam também incluídos os valores de frete e seguro no preço unitário praticado, o que não ocorreu no caso dos autos". Sustenta que a comparação de preços deve ocorrer com grandezas da mesma espécie e natureza, sob pena de indevida majoração da exigência fiscal, e que, no caso, "o Fisco se utilizou de dois critérios distintos para a mesma medida (frete e seguro), causando indevidamente o aumento da diferença entre preço praticado e preço parâmetro e, com isso, um indevido aumento da carga tributária. Em outras palavras, a Receita Federal considera o preço FOB no preço praticado, enquanto que se utiliza do preço CIF no preço parâmetro." Observa que a divergência de critério é fruto da própria falta de clareza do art. 18, § 6º, da Lei n° 9.430/96, que mencionava apenas que tais parcelas "integrariam o custo para efeito de dedutibilidade". E que as dúvidas quanto ao assunto foram dissipadas apenas pela Lei no 12.715/2012, que deu nova redação ao artigo 18 e parágrafos da Lei nº 9.430/96, nos seguintes termos: “§ 6o Não integram o custo, para efeito do cálculo disposto na alínea b do inciso II do caput, o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador, desde que tenham sido contratados com pessoas: I não vinculadas; e Fl. 3788DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 34 33 II que não sejam residentes ou domiciliadas em países ou dependências de tributação favorecida, ou que não estejam amparados por regimes fiscais privilegiados. § 6oA. Não integram o custo, para efeito do cálculo disposto na alínea b do inciso II do caput, os tributos incidentes na importação e os gastos no desembaraço aduaneiro.” Embora se apresente, com a devida vênia, relativamente incompreensível a parte da defesa em que sustenta que o fisco teria utilizado "critérios distintos para a mesma medida" (conforme os dois primeiros parágrafos deste tópico, acima), é possível depreender que a recorrente, em síntese, não concorda com a inclusão do frete, seguro, e tributos devidos na importação, no cálculo do preço praticado. A inconformidade da recorrente, contudo, não merece prosperar. O art. 18 da Lei nº 9.430/96, ao tempo dos fatos geradores aqui discutidos, possuía a seguinte redação: “Art. 18. Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e direitos, constantes dos documentos de importação ou de aquisição, nas operações efetuadas com pessoa vinculada, somente serão dedutíveis na determinação do lucro real até o valor que não exceda ao preço determinado por um dos seguintes métodos: (...) § 6º Integram o custo, para efeito de dedutibilidade, o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador e os tributos incidentes na importação.” A alegação de que o frete, seguro e impostos de importação integrariam o custo somente para fins de dedutibilidade do lucro real, e não para fins de compor o valor do preço praticado implica considerar que o §6o em questão seria norma vazia de conteúdo próprio, uma vez que a dedutibilidade de tais parcelas, para fins de apuração do lucro real, já de há muito havia sido estabelecida pelo DecretoLei n° 1.598/77, cujo art. 13 possui a seguinte redação: “Art 13 O custo de aquisição de mercadorias destinadas à revenda compreenderá os de transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte e os tributos devidos na aquisição ou importação.” Tal norma encontrase incorporada ao Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99, no seu art. 289. Assim, não faria nenhum sentido que o legislador tivesse de novamente garantir a dedutibilidade dessas parcelas na disciplina normativa específica dos preços de transferência. O parágrafo 6°, portanto, serve para deixar claro que o custo a ser confrontado contra o preço parâmetro, para apuração do limite de sua dedutibilidade, nos termos do caput do art. 18, não é apenas o correspondente ao valor da mercadoria importada, Fl. 3789DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 35 34 como poderia alguém, no silêncio da lei, interpretar, mas sim o efetivo custo de aquisição, que engloba frete, seguro, e tributos devidos na importação. A esta mesma conclusão chegou também o ilustre conselheiro Antonio Carlos Guidoni Filho, no Acórdão 1102001.100, proferido na sessão de 6 de maio de 2014: “Ora, a alegação de que o frete, seguro e impostos de importação integram o custo somente para fins de dedutibilidade e não para fins de compor o valor do preço praticado é improcedente, pois a regra estabelecida pelo “caput” do artigo é que os custos “somente serão dedutíveis” até o valor do preço parâmetro. Por obvio, o preço parâmetro é apenas uma ficção, o que resulta em dizer que, de fato, o que é dedutível é o preço praticado, dedutibilidade este limitada por um parâmetro, denominado “preço parâmetro”. Com efeito, não há como desvincular o conceito de custo dedutível do conceito de preço praticado, sob a alegação de que a regra somente se aplicaria ao primeiro conceito, já que o “caput” do artigo 18, ao mencionar o custo, faz referência ao próprio preço praticado.” Ademais, é da essência das regras de preços de transferência que a comparação ocorra entre grandezas semelhantes. Assim, se os valores de tais parcelas estão ordinariamente contidos (computados) na apuração do preço de revenda, não se justificaria, a priori, a sua exclusão no preço praticado, sob pena de comprometer a comparabilidade das grandezas. No que toca ao fato de a Lei no 12.715/2012 ter disposto de forma diversa, dando nova conformação à determinação relativa à inclusão (ou não) dos valores das referidas parcelas no preço praticado (conforme sejam atendidas, ou não, determinadas condições), trata se de opção legislativa que, evidentemente, não pode ser desconsiderada pelas autoridades julgadoras administrativas. Contudo, cediço que seus efeitos são prospectivos, i.e., aplicamse aos fatos geradores posteriores à edição da lei, não atingindo, portanto, os fatos geradores aqui em discussão. Improcedentes, portanto, os argumentos recursais, devendo ser mantida a inclusão, no preço praticado, dos valores do frete, seguro, e tributos não recuperáveis, devidos na importação. 3. Dedução, no cálculo do preço parâmetro, dos valores de PIS/COFINS Segundo a recorrente, a fiscalização utilizou, indevidamente, no cálculo do preço parâmetro, os valores das contribuições PIS e COFINS, às alíquotas de 2,1% e 9,9%, respectivamente, calculadas sobre o preço de venda de todos os medicamentos. Afirma a recorrente que não recolhe as contribuições PIS e COFINS sobre os seus medicamentos, por força do disposto nos artigos 1º e 3º da Lei n° 10.147/2000. Referida lei instituiu regime especial de tributação às fabricantes de medicamentos, o qual lhes concede créditos presumidos da contribuição ao PIS e da COFINS, justamente a fim de que as referidas contribuições não integrem os preços finais dos medicamentos. Fl. 3790DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 36 35 Transcreve o art. 12 da Instrução Normativa editada pela própria Receita Federal para destacar que, no cálculo do preço parâmetro, devem ser diminuídos do preço de revenda dos bens somente os "impostos e contribuições incidentes sobre as vendas", assim entendidos apenas aqueles "integrantes do preço". Aduz que a norma editada deixa claro que a palavra "incidência" foi utilizada no seu sentido econômico, pois "incidente" é o valor que "integra o preço". E, no caso, em face da Lei n° 10.147/2000, fica claro que tais contribuições não integram os preços dos medicamentos. Portanto, não deveriam ter sido subtraídos, no cálculo fiscal do preço parâmetro, os valores indevidamente arbitrados pelo fisco, relativos ao PIS e à COFINS. E que tal erro, se não sanado, torna o auto de infração nulo, por macular as bases de cálculo das exigências. Demonstra seus argumentos por meio de exemplo com o insumo "drospirenona", utilizado nos contraceptivos YAS e YASMIN, cujos preços de venda, conforme seu raciocínio, não contêm PIS/COFINS (fls. 3692). Por meio do cálculo apresentado pretende demonstrar que, mesmo se utilizando da metodologia de médias proporcionais prevista somente na IN SRF nº 243/02, não haveria ajuste de preço de transferência, se desconsiderada a indevida dedução de PIS e de COFINS. Os argumentos da recorrente, contudo, não merecem prosperar. Dispõe a Lei nº 9.430/96, no seu art. 18, na redação vigente à época dos fatos, com relação ao método PRL (grifei): “Art. 18. (...) II Método do Preço de Revenda menos Lucro PRL: definido como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: (...) b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; (...)” Nesta conformidade, também a IN SRF nº 243/02 assim dispunha a respeito (grifei): “Art. 12. A determinação do custo de bens, serviços ou direitos, adquiridos no exterior, dedutível da determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, poderá, também, ser efetuada pelo método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL), definido como a média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens, serviços ou direitos, diminuídos: (...) II dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; Fl. 3791DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 37 36 (...) § 7º Para efeito deste artigo, serão considerados como: (...) II impostos, contribuições e outros encargos cobrados pelo Poder Público, incidentes sobre vendas, aqueles integrantes do preço, tais como ICMS, ISS, PIS/Pasep e Cofins; (...)” A Lei n° 10.147/2000, por sua vez, em nenhum momento definiu a não incidência de PIS e de COFINS nas operações de venda efetuadas pela recorrente, ao contrário, expressamente definiu a incidência dessas contribuições sobre as vendas, e justamente às alíquotas de 2,1% e 9,9%, respectivamente. Confirase (grifei): “Art. 1º A contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS/Pasep e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins, devidas pelas pessoas jurídicas que procedam à industrialização ou à importação dos produtos classificados nas posições 30.01, 30.03, exceto no código 3003.90.56, 30.04, exceto no código 3004.90.46 e 3303.00 a 33.07, nos itens 3002.10.1, 3002.10.2, 3002.10.3, 3002.20.1, 3002.20.2, 3006.30.1 e 3006.30.2 e nos códigos 3002.90.20, 3002.90.92, 3002.90.99, 3005.10.10, 3006.60.00, 3401.11.90, 3401.20.10 e 9603.21.00, todos da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados TIPI, aprovada pelo Decreto nº 4.070, de 28 de dezembro de 2001, serão calculadas, respectivamente, com base nas seguintes alíquotas: I – incidentes sobre a receita bruta decorrente da venda de: a) produtos farmacêuticos classificados nas posições 30.01, 30.03, exceto no código 3003.90.56, 30.04, exceto no código 3004.90.46, nos itens 3002.10.1, 3002.10.2, 3002.10.3, 3002.20.1, 3002.20.2, 3006.30.1 e 3006.30.2 e nos códigos 3002.90.20, 3002.90.92, 3002.90.99, 3005.10.10, 3006.60.00: 2,1% (dois inteiros e um décimo por cento) e 9,9% (nove inteiros e nove décimos por cento);” O fato de a mesma lei prever, no seu art. 3º, a possibilidade de apuração de um crédito presumido de PIS e de COFINS, mesmo que tenha tido a intenção de "assegurar a repercussão nos preços da redução da carga tributária em virtude do disposto neste artigo", conforme estatuído no caput do próprio art. 3º, não possui o condão de caracterizar como "não incidente" o PIS e a COFINS sobre as suas vendas, conforme quer a recorrente. A mera circunstância de, eventualmente, inexistirem valores a pagar de PIS ou COFINS, seja por força dos citados créditos presumidos, seja por força destes em conjunto com quaisquer outros créditos afetos a essas contribuições, não confere ao argumento de "incidência econômica", apresentado pela recorrente, qualquer embasamento, tendose em conta os textos da lei e da sua regulamentação normativa, conforme transcrições acima feitas. Fl. 3792DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 38 37 Não apenas o PIS e a COFINS, mas também o ICMS possui, na sua legislação de regência, a previsão de créditos, diretos ou mesmo presumidos. Contudo, nunca houve qualquer confusão entre o conceito de ICMS (incidente) sobre as vendas e ICMS a pagar, que é sempre inferior ao valor do ICMS sobre as vendas, justamente em razão dos citados créditos. O conceito de "incidência", portanto, está vinculado tão somente à aplicação de uma alíquota sobre o valor da receita de vendas. E a incidência do PIS e da COFINS, nos termos do artigo 1º da Lei nº 10.147/2000, se dá mediante a aplicação, respectivamente, das alíquotas de 2,1% e 9,9%, conforme consta, inclusive, no DACON Demonstrativo de Apuração das Contribuições Sociais, apresentado pela própria recorrente (fls. 3329 e seguintes), pelo que se afigura absolutamente impróprio falar em valores de PIS e de COFINS supostamente arbitrados pelo fisco. Portanto, corretos os cálculos do fisco, neste aspecto. 4. Outros alegados erros materiais de apuração Ao abordar a questão relativa ao PIS e à COFINS, e apresentar o exemplo relativo ao insumo "drospirenona", verificase no quadro elaborado pela recorrente, na coluna "Observação" a referência a outros alegados erros contidos no cálculo fiscal. Afirma a recorrente que o auto de infração "considerou o total das compras importadas ao invés de o valor das compras consumidas (desconsiderou os estoques iniciais e finais)", alegação que também se encontra mencionada em outro trecho do recurso, em que diz que "o Auto de Infração (...) equivocouse quanto ao cálculo do preço parâmetro da exigência fiscal, por (...) (iii) desconsiderar a existência dos estoques iniciais e finais no cálculo do 'preço médio de aquisição', para efeito do cálculo da margem de valor agregado". Não se verifica, contudo, nenhum equívoco no cálculo fiscal. Em primeiro lugar, para o cálculo do preço médio de aquisição só possuem importância os estoques iniciais, e não os finais, conforme conhecimentos básicos de contabilidade de custos. E, ao contrário do que alega a recorrente, é evidente que a autoridade fiscal considerou os estoques iniciais no cálculo do preço médio praticado, conforme se evidencia nas planilhas de fls. 3543, em que os valores das importações e do estoque inicial são somados, e então divididos pela soma das quantidades importadas com as do estoque inicial. Outro suposto erro, apontado na mencionada coluna "observação" seria o de que o auto de infração "aponta valor inferior sem qualquer justificativa" para as grandezas "quantidades vendidas" e "valor bruto das vendas", com relação aos valores que ele, contribuinte, entende corretos. Em que pese não haver uma única linha sobre o assunto no corpo do recurso, sendo tais supostos erros mencionados tão somente nessas letras miúdas inseridas na mencionada coluna "observação" da planilha relativa ao insumo "drospirenona", para que não Fl. 3793DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 39 38 se venha a eventualmente alegar qualquer espécie de omissão por parte do colegiado, ou de cerceamento do direito de defesa, cumpre refutar a alegação. Conforme já mencionado no relatório ao norte, todos os cálculos efetuados pela fiscalização partiram dos dados fornecidos pela própria contribuinte. E todos os ajustes que eventualmente tenham sido feitos, com relação aos dados informados, foram esclarecidos no Termo de Verificação Fiscal. Com relação às quantidades vendidas, e valor bruto das vendas, por exemplo, o relatório fiscal consignou (fls. 3537): “Os registros das vendas, assim como o resumo, constam no arquivo "Vendas" (fls. 2502/2864), de 14/02/2013.” Este mencionado arquivo “Vendas” foi fornecido pelo contribuinte em atendimento ao Termo de Intimação nº 04 (fls. 2174). Logo a seguir, o relatório fiscal aponta os motivos dos ajustes feitos com relação às grandezas questionadas pela recorrente (fls. 3537, grifei): “No cálculo do preço parâmetro, não foram consideradas as saídas de produtos para amostras grátis, Zona Franca de Manaus e para empresa vinculadas. Verificouse que, em alguns casos, o valor deduzido dos tributos incidentes sobre as vendas, referente às contribuições do PIS/Pasep e da Cofins, era nulo. Tratase de produtos enquadrados no artigo 3° da Lei 10.147/00, que dispõe sobre o crédito presumido do PIS e COFINS. (...)” Portanto, completamente despropositada a alegação de que a fiscalização teria utilizado valores distintos dos informados pelo contribuinte "sem qualquer justificativa". As justificativas foram dadas, e a própria contribuinte defendeuse de uma das questões postas (dedução do PIS e da COFINS, já ao norte analisada), mas não apresentou objetivamente qualquer erro de cálculo, nem sequer alegação, com relação ao outro ponto (saídas não consideradas no cálculo, em razão dos motivos explicitados pelo fisco). A mesma observação feita pela fiscalização, ao detalhar os cálculos relativos ao PRL20 (e acima reproduzida), também foi feita no relatório fiscal, ao detalhar os cálculos relativos ao PRL60, verbis: “Não foram consideradas no cálculo do preço parâmetro as saídas de produtos para amostras grátis, Zona Franca de Manaus e para empresas vinculadas.” Portanto, mais uma vez, nenhum erro material se constata nos cálculos efetuados pelo fisco. 5. Lançamento reflexo e conclusão Fl. 3794DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 40 39 Para finalizar, registrese que tudo o quanto exposto no presente voto aplica se de igual modo tanto para o IRPJ quanto para o lançamento reflexo de CSLL, em face da relação de causa e efeito que os une. Por todo o exposto, nego provimento ao recurso voluntário. Documento assinado digitalmente. João Otávio Oppermann Thomé – Relator ANEXO I Demonstração das situações em que a “segunda leitura” da Lei nº 9.430/96 causa a indedutibilidade total do custo do bem importado. A recorrente afirma que a fórmula da “segunda leitura” da Lei gera preço parâmetro negativo sempre que a margem de lucro praticada pela empresa brasileira não alcança 60%, o que causaria a indedutibilidade total do custo do bem importado. Essa afirmação não é exata, por duas razões: (1) nos casos em que o valor agregado no País é igual ou inferior a 40% do custo total do produto, a “segunda leitura” jamais gera preço parâmetro negativo, independentemente da margem de lucro praticada na revenda; e (2) mesmo nas hipóteses onde o valor agregado é superior a 40% do custo total, há diversas situações em que a margem de lucro é inferior a 60% e, ainda assim, a “segunda leitura” não provoca preço parâmetro negativo. É o que se comprova na sequência: 1) Hipóteses em que o valor agregado é igual ou inferior a 40% do custo total do produto: inocorrência de preço parâmetro negativo, mesmo com margens de lucro zeradas na revenda. Valor agregado = 40% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 40 40 40 40 Custo do bem importado 60 60 60 60 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 0 10 26,668 60 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 24 30 40,0008 60 Valor agregado = 30% do custo total Fl. 3795DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 41 40 Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 30 30 30 30 Custo do bem importado 70 70 70 70 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 10 20 36,668 70 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 28 35 46,6676 70 Valor agregado = 20% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 20 20 20 20 Custo do bem importado 80 80 80 80 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 20 30 46,668 80 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 32 40 53,3344 80 Valor agregado = 10% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 10 10 10 10 Custo do bem importado 90 90 90 90 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 30 40 56,668 90 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 36 45 60,0012 90 Conclusões: 1) Não há preço parâmetro negativo mesmo com a margem de lucro zerada, ou seja, se a empresa brasileira praticar qualquer margem de lucro positiva (i.e., preço líquido de revenda Fl. 3796DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 42 41 > custo total do produto), não estará sujeita à indedutibilidade total do custo do bem importado. 2) Notese, além disso, que o preço parâmetro obtido pela fórmula da IN SRF nº 243/02 é superior ou igual (quando a margem de lucro efetiva = 60%) ao preço parâmetro decorrente da “segunda leitura”, o que comprova que seus ajustes sempre são benéficos ao contribuinte, em comparação à “segunda leitura” da Lei nº 9.430/96. 2) Hipóteses em que o valor agregado é superior a 40% do custo total do produto: ocorrência de preço parâmetro negativo, a depender da margem de lucro praticada na revenda. Valor agregado = 50% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 150 175 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 33,333% 42,86% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 50 50 50 50 50 Custo do bem importado 50 50 50 50 50 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 10 0 10 20 50 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 20 25 30 35 50 Valor agregado = 60% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 150 175 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 33,333% 42,86% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 60 60 60 60 60 Custo do bem importado 40 40 40 40 40 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 20 10 0 10 40 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 16 20 24 28 40 Fl. 3797DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 43 42 Valor agregado = 70% do custo total Preço líquido de revenda 100 150 175 200 250 Margem de lucro efetiva 0 33,333% 42,86% 50% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 70 70 70 70 70 Custo do bem importado 30 30 30 30 30 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 30 10 0 10 30 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 12 18 21 24 30 Valor agregado = 80% do custo total Preço líquido de revenda 100 175 200 225 250 Margem de lucro efetiva 0 42,86% 50% 55,555% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 80 80 80 80 80 Custo do bem importado 20 20 20 20 20 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 40 10 0 10 20 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 8 14 16 18 20 Valor agregado = 90% do custo total Preço líquido de revenda 100 175 200 225 250 Margem de lucro efetiva 0 42,86% 50% 55,555% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 90 90 90 90 90 Custo do bem importado 10 10 10 10 10 Preço parâmetro (“segunda leitura”) 50 20 10 0 10 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 4 7 8 9 10 Conclusões: Fl. 3798DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 44 43 1) Independentemente do nível de agregação de valor, a metodologia da “segunda leitura” cumpre a finalidade da Lei nº 9.430/96, pois gera ajustes sempre que a margem de lucro praticada na revenda é inferior ao patamar estabelecido pelo legislador. 2) A indedutibilidade total do custo do bem importado ocorre com margens de lucro iguais ou inferiores àquelas grifadas nos exemplos (preço parâmetro igual a zero, com lucro na revenda). Com margens superiores, o preço parâmetro será positivo. 3) A metodologia da IN SRF nº 243/02, além de produzir ajustes benéficos ao contribuinte, jamais provoca preço parâmetro negativo. 3) Quadroresumo. Na tabela abaixo, estão indicadas as situações em que a metodologia da “segunda leitura” da Lei nº 9.430/96 gera a indedutibilidade total do custo do insumo importado (preço parâmetro negativo ou igual a zero, havendo margem de lucro na revenda): Valor Agregado (% do custo total) Margem de lucro na revenda (igual ou inferior) 50% 20% 60% 33,33% 70% 42,86% 80% 50% 90% 55,55% Concluise, portanto, que a “segunda leitura” não causa a indedutibilidade total “sempre” que a margem de lucro da empresa brasileira não alcança 60%, mas apenas nas situações em que o valor agregado é superior a 40% do custo total do produto e, em concomitância, a margem de lucro efetiva é igual ou inferior aos percentuais da tabela. Por exemplo, numa hipótese onde o valor agregado representa 50% do custo total, se a empresa brasileira praticar margens superiores a 20%, não estará sujeita à indedutibilidade total do custo do bem importado (i.e., o preço parâmetro será positivo). 4) Demonstrativo gráfico. No gráfico a seguir, visualizase as situações em que a “segunda leitura” provoca preço parâmetro negativo (área marcada): Fl. 3799DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 45 44 0 10 20 30 40 50 60 70 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 M A RG EM D E LU CR O (% D O P LV ) VALOR AGREGADO (% DO CUSTO TOTAL) Área de ocorrência de preço parâmetro negativo A área em branco representa as hipóteses em que a metodologia da “segunda leitura” funciona sem produzir a suposta distorção apontada pela recorrente. Notese que há diversas situações em que, mesmo com margem de lucro inferior a 60%, a “segunda leitura” não gera preço parâmetro negativo (ou preço parâmetro zero, com margem de lucro na revenda). ANEXO II Demonstração das situações em que a fórmula da IN SRF nº 32/01 não provoca ajustes. Como admite a recorrente, a fórmula da IN SRF nº 32/01 causa distorções nas hipóteses de alto valor agregado no País, tendo em vista que essa metodologia não provoca ajustes nessas situações (independentemente da margem de lucro praticada na revenda), o que esvazia o controle dos preços de transferência. Não obstante, é preciso ressaltar que a ineficácia da sistemática defendida pela recorrente não se restringe aos casos de elevada agregação de valor. De fato, a metodologia da IN SRF nº 32/01 é absolutamente ineficaz para controlar os preços de transferência nas situações em que o valor agregado é igual ou superior a 37,5% do custo total do produto. Nas hipóteses de baixa agregação de valor no País, a fórmula defendida pela recorrente também produz distorções, na medida em que não preserva a margem de lucro pressuposta pelo legislador em uma série de situações. É o que se verifica a seguir. 1) Hipóteses em que o valor agregado é igual ou superior a 37,5% do custo total do produto: inocorrência de ajustes, mesmo com margens de lucro zeradas na revenda. Valor agregado = 37,5% do custo total Preço líquido de 100 125 166,67 250 Fl. 3800DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 46 45 revenda Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 37,5 37,5 37,5 37,5 Custo do bem importado 62,5 62,5 62,5 62,5 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 62,5 72,5 89,168 122,5 Preço parâmetro (IN SRF nº 243/02) 25 31,25 41,6675 62,5 Valor agregado = 50% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 50 50 50 50 Custo do bem importado 50 50 50 50 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 70 80 96,668 130 Preço parâmetro (IN SRF nº 243/02) 20 25 33,334 50 Valor agregado = 60% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 60 60 60 60 Custo do bem importado 40 40 40 40 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 76 86 102,668 136 Preço parâmetro (IN SRF nº 243/02) 16 20 26,6672 40 Valor agregado = 70% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro 0 20% 40% 60% Fl. 3801DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 47 46 efetiva Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 70 70 70 70 Custo do bem importado 30 30 30 30 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 82 92 108,668 142 Preço parâmetro (IN SRF nº 243/02) 12 15 20,0004 30 Valor agregado = 80% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 80 80 80 80 Custo do bem importado 20 20 20 20 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 88 98 114,668 148 Preço parâmetro (IN SRF nº 243/02) 8 10 13,3336 20 Valor agregado = 90% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 Valor agregado 90 90 90 90 Custo do bem importado 10 10 10 10 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 94 104 120,668 154 Preço parâmetro (IN SRF nº 243/02) 4 5 6,6668 10 Conclusão: Nos casos em que o valor agregado é igual ou superior a 37,5% do custo total do produto, a fórmula da IN SRF nº 32/01 é ineficaz para controlar os preços de transferência. A Fl. 3802DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 48 47 metodologia não produz ajuste em nenhum dos exemplos (preço parâmetro é igual ou superior ao custo do bem importado), mesmo nas hipóteses de “margem de lucro zero” na revenda. 2) Hipóteses em que o valor agregado é inferior a 37,5% do custo total do produto: ocorrência de ajustes em determinadas situações, a depender da margem de lucro praticada na revenda. Valor agregado = 30% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 130 166,67 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 23,08% 40% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 30 30 30 30 30 Custo do bem importado 70 70 70 70 70 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 58 68 70 84,668 118 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 28 35 36,4 46,6676 70 Valor agregado = 20% do custo total Preço líquido de revenda 100 125 166,67 170 250 Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 41,18% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 20 20 20 20 20 Custo do bem importado 80 80 80 80 80 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 52 62 78,668 80 112 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 32 40 53,3344 54,4 80 Valor agregado = 10% do custo total Preço líquido de 100 125 166,67 210 250 Fl. 3803DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 49 48 revenda Margem de lucro efetiva 0 20% 40% 52,38% 60% Custo total do produto 100 100 100 100 100 Valor agregado 10 10 10 10 10 Custo do bem importado 90 90 90 90 90 Preço parâmetro (IN SRF nº 32/01) 46 56 72,668 90 106 Preço parâmetro IN SRF nº 243/02 36 45 60,0012 75,6 90 Conclusões: 1) Mesmo em situações de baixo valor agregado, a fórmula da IN SRF nº 32/01 não produz ajustes em todos os casos necessários. A metodologia “funciona” até a margem de lucro grifada em cada exemplo (preço parâmetro = custo do bem importado). Com margens superiores, não há ajustes, pois preço parâmetro > custo do bem importado. 2) A fórmula da IN SRF nº 243/02, por sua vez, produz ajustes sempre que necessário, ou seja, sempre que a margem de lucro efetiva é inferior à margem pressuposta pela Lei nº 9.430/96, independentemente do nível de agregação de valor no País. 3) Quadroresumo. Na tabela abaixo, estão indicadas as situações em que a metodologia da IN SRF nº 32/01 não produz ajustes, apesar da baixa agregação de valor no País: Valor Agregado (% do custo total) Margem de lucro na revenda (igual ou superior) 35% 9% 30% 23,08% 20% 41,18% 10% 52,38% Concluise, portanto, que a fórmula defendida pela contribuinte não causa distorções apenas nas situações de elevada agregação de valor, mas também nos casos em que o valor agregado é inferior a 37,5% do custo total do produto e, em concomitância, a margem de lucro efetiva é igual ou superior aos percentuais da tabela. Por exemplo, numa hipótese onde o valor agregado representa 35% do custo total, se a empresa brasileira praticar margens superiores a 9%, não estará sujeita a ajustes nos preços de transferência com base na IN SRF nº 32/01 (i.e., o preço parâmetro será igual ou superior ao custo do bem importado). Fl. 3804DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO Processo nº 16643.720060/201340 Acórdão n.º 1201001.284 S1C2T1 Fl. 50 49 4) Demonstrativo gráfico. No gráfico a seguir, visualizase os únicos casos em que a fórmula defendida pela recorrente produz ajustes (área marcada). É importante frisar que tais ajustes sempre são reduzidos, ou seja, são insuficientes para recompor integralmente a margem de lucro de 60%. Logo, mesmo nas hipóteses restritas em que a metodologia da IN SRF nº 32/01 gera ajustes, a finalidade do Método PRL 60 não é concretizada. 0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 37,5 40 50 60 70 80 90 100 M A RG EM D E LU CR O (% D O P LV ) VALOR AGREGADO (% DO CUSTO TOTAL) Limites de "funcionalidade" da IN SRF 32/01 Notese que, na área em branco, a fórmula defendida pela recorrente simplesmente não funciona. A metodologia não produz qualquer ajuste na maior parte das situações, ainda que a empresa brasileira não observe a margem de lucro pressuposta pela Lei nº 9.430/96, ou, pior, mesmo que não haja qualquer lucro na revenda do produto. Fl. 3805DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 16/ 02/2016 por JOAO OTAVIO OPPERMANN THOME, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por MARCELO CUBA NETTO
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Numero do processo: 10410.722603/2012-30
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jan 26 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Mar 21 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/06/2009 a 31/12/2009
AUTO DE INFRAÇÃO. OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. EXTINÇÃO DO DIREITO.
O direito de pleitear restituição ou reembolso ou de realizar compensação de contribuições ou de outras importâncias extingue-se em cinco anos contados do recolhimento ou do pagamento indevido.
O STJ, no julgamento do REsp 1.002.932/SP, sujeito ao regime dos "recursos repetitivos", reafirmou o entendimento de que relativamente aos pagamentos efetuados a partir da sua vigência da LC 118/2005 o prazo para a repetição do indébito é de cinco anos a contar da data do pagamento; e relativamente aos pagamentos anteriores, a prescrição obedece ao regime previsto no sistema anterior, limitada, porém, ao prazo máximo de cinco anos a contar da vigência da lei nova.
CRÉDITO TRIBUTÁRIO INEXISTENTE. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. GLOSA.
É vedada a compensação de contribuições previdenciárias se ausentes os atributos de liquidez e certeza do crédito compensado. A compensação de contribuições previdenciárias com créditos não materialmente comprovados ou prescritos será objeto de glosa e consequente lançamento tributário, revertendo ao sujeito passivo o ônus da prova em contrário.
LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO. AUTO DE INFRAÇÃO. ATO ADMINISTRATIVO. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE E LEGALIDADE. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
Tendo em vista o consagrado atributo da presunção de veracidade que caracteriza os atos administrativos, gênero do qual o lançamento tributário é espécie, opera-se a inversão do encargo probatório, repousando sobre o Autuado o ônus de desconstituir o lançamento ora em consumação. Havendo um documento público com presunção de veracidade não impugnado eficazmente pela parte contrária, o desfecho há de ser em favor dessa presunção.
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COMPENSAÇÃO. TITULARIDADE DO CRÉDITO.
Somente poderão ser utilizados na compensação de contribuições previdenciárias os créditos líquidos e certos de titularidade do próprio sujeito passivo em face da Fazenda pública decorrentes do recolhimento indevido ou a maior que o devido das parcelas referidas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91.
MULTA ISOLADA. NÃO COMPROVAÇÃO DA FALSIDADE DA DECLARAÇÃO. ELEMENTO CONSTITUTIVO DO TIPO OBJETIVO DA INFRAÇÃO. INSTRUÇÃO DEFICIENTE DO PROCESSO.
Sendo a comprovação da falsidade da declaração um elemento constitutivo do tipo objetivo infracional previsto no art. 89, §10 da Lei nº 8.212/91, o auto de infração tem que vir instruído, necessariamente, com os elementos de convicção que conduziram o auditor fiscal a inferir a presença do dolo na conduta infracional, até porque o exame da legalidade e legitimidade da autuação pelos órgãos judicantes administrativos depende da análise de tais meios de prova para sindicar a efetiva falsidade da declaração, os quais não são supríveis pela mera presunção de veracidade inerente ao ato administrativo.
Recurso Voluntário Provido em Parte
Numero da decisão: 2401-004.031
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros da 1ª TO/4ª CÂMARA/2ª SEJUL/CARF/MF/DF em conhecer do Recurso Voluntário para, no mérito, por maioria de votos, DAR-LHE PROVIMENTO PARCIAL, para excluir do lançamento, tão somente, a multa isolada aplicada mediante o Auto de Infração nº 51.000.594-2, e mantendo o lançamento tributário constituído mediante o Auto de Infração nº 51.000.595-0 em sua integralidade. Vencidas na votação as conselheiras Miriam Denise Xavier Lazarini e Luciana Matos Pereira Barbosa.
Maria Cleci Coti Martins Presidente-Substituta de Turma.
Arlindo da Costa e Silva Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Maria Cleci Coti Martins (Presidente-Substituta de Turma), Luciana Matos Pereira Barbosa, Carlos Henrique de Oliveira, Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Rayd Santana Ferreira e Arlindo da Costa e Silva.
Nome do relator: ARLINDO DA COSTA E SILVA
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OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. EXTINÇÃO DO DIREITO. O direito de pleitear restituição ou reembolso ou de realizar compensação de contribuições ou de outras importâncias extinguese em cinco anos contados do recolhimento ou do pagamento indevido. O STJ, no julgamento do REsp 1.002.932/SP, sujeito ao regime dos "recursos repetitivos", reafirmou o entendimento de que relativamente aos pagamentos efetuados a partir da sua vigência da LC 118/2005 o prazo para a repetição do indébito é de cinco anos a contar da data do pagamento; e relativamente aos pagamentos anteriores, a prescrição obedece ao regime previsto no sistema anterior, limitada, porém, ao prazo máximo de cinco anos a contar da vigência da lei nova. CRÉDITO TRIBUTÁRIO INEXISTENTE. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. GLOSA. É vedada a compensação de contribuições previdenciárias se ausentes os atributos de liquidez e certeza do crédito compensado. A compensação de contribuições previdenciárias com créditos não materialmente comprovados ou prescritos será objeto de glosa e consequente lançamento tributário, revertendo ao sujeito passivo o ônus da prova em contrário. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO. AUTO DE INFRAÇÃO. ATO ADMINISTRATIVO. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE E LEGALIDADE. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. Tendo em vista o consagrado atributo da presunção de veracidade que caracteriza os atos administrativos, gênero do qual o lançamento tributário é espécie, operase a inversão do encargo probatório, repousando sobre o Autuado o ônus de desconstituir o lançamento ora em consumação. Havendo um documento público com presunção de veracidade não impugnado eficazmente pela parte contrária, o desfecho há de ser em favor dessa presunção. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 41 0. 72 26 03 /2 01 2- 30 Fl. 117DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 2 CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COMPENSAÇÃO. TITULARIDADE DO CRÉDITO. Somente poderão ser utilizados na compensação de contribuições previdenciárias os créditos líquidos e certos de titularidade do próprio sujeito passivo em face da Fazenda pública decorrentes do recolhimento indevido ou a maior que o devido das parcelas referidas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91. MULTA ISOLADA. NÃO COMPROVAÇÃO DA FALSIDADE DA DECLARAÇÃO. ELEMENTO CONSTITUTIVO DO TIPO OBJETIVO DA INFRAÇÃO. INSTRUÇÃO DEFICIENTE DO PROCESSO. Sendo a comprovação da falsidade da declaração um elemento constitutivo do tipo objetivo infracional previsto no art. 89, §10 da Lei nº 8.212/91, o auto de infração tem que vir instruído, necessariamente, com os elementos de convicção que conduziram o auditor fiscal a inferir a presença do dolo na conduta infracional, até porque o exame da legalidade e legitimidade da autuação pelos órgãos judicantes administrativos depende da análise de tais meios de prova para sindicar a efetiva falsidade da declaração, os quais não são supríveis pela mera presunção de veracidade inerente ao ato administrativo. Recurso Voluntário Provido em Parte Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros da 1ª TO/4ª CÂMARA/2ª SEJUL/CARF/MF/DF em conhecer do Recurso Voluntário para, no mérito, por maioria de votos, DARLHE PROVIMENTO PARCIAL, para excluir do lançamento, tão somente, a multa isolada aplicada mediante o Auto de Infração nº 51.000.5942, e mantendo o lançamento tributário constituído mediante o Auto de Infração nº 51.000.5950 em sua integralidade. Vencidas na votação as conselheiras Miriam Denise Xavier Lazarini e Luciana Matos Pereira Barbosa. Maria Cleci Coti Martins – PresidenteSubstituta de Turma. Arlindo da Costa e Silva – Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Maria Cleci Coti Martins (PresidenteSubstituta de Turma), Luciana Matos Pereira Barbosa, Carlos Henrique de Oliveira, Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Rayd Santana Ferreira e Arlindo da Costa e Silva. Fl. 118DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 117 3 Relatório Período de apuração: 01/06/2009 a 31/12/2009. Data da lavratura dos AIOP: 28/05/2012. Data da ciência dos AIOP: 30/05/2012. Temse em pauta Recurso Voluntário interposto em face de Decisão Administrativa de 1ª Instância proferida pela DRJ no Rio de Janeiro I/RJ, que julgou improcedente a impugnação oferecida pelo sujeito passivo do crédito tributário lançado por intermédio dos Autos de Infração de Obrigação Principal nº 51.000.5950 e 51.000.5942 decorrentes de glosa de compensação indevida de contribuições previdenciárias, conforme descrito no Relatório Fiscal a fls. 17/18. De acordo com o Relatório Fiscal, o presente lançamento decorre do descumprimento de obrigações tributárias representadas pelos seguintes Autos de Infração: • 51.000.5950 Relativo à glosa de compensações indevidas, ocorridas nas competências de 06/2009 a 12/2009; • 51.000.5942 Relativo à multa isolada, à alíquota de 150% incidente sobre o valor indevidamente compensado. Consta do Relatório Fiscal que a glosa das compensações deveuse ao fato de não ter sido lavradas NFLD (Notificação Fiscal de Lançamento de Débito), LDC (Lançamento de Débito Confessado) e/ou CDF ( Confissão de Débito Fiscal) entre 02/98 a 09/04, relativas aos segurados exercentes de mandatos eletivos, período, atos administrativos e fatos geradores que poderiam ensejar compensações, nem prestados os esclarecimentos solicitados pelo Termo de Início de Ação Fiscal. Em consequência, houvese por aplicada multa isolada de 150% por falsidade na declaração. Irresignado com o supracitado lançamento tributário, o sujeito passivo apresentou impugnação a fls. 38/61. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento no Rio de Janeiro I/RJ lavrou Decisão Administrativa textualizada no Acórdão nº 1263.015 13ª Turma da DRJ/RJ1, a fls. 70/76 julgando procedente o lançamento e mantendo o Crédito Tributário em sua integralidade. O Sujeito Passivo foi cientificado da decisão de 1ª Instância no dia 27/02/2014, conforme Aviso de Recebimento a fl. 78. Fl. 119DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 4 Inconformado com a decisão exarada pelo órgão administrativo julgador a quo, o ora Recorrente interpôs recurso voluntário, a fls. 81/107, respaldando sua inconformidade em argumentação desenvolvida nos seguintes termos: · Que o recolhimento ao INSS da parte patronal dos agentes políticos foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal no recurso Extraordinário n° 351.717/PR; · Que não restou demonstrada a ocorrência de fraude a justificar a aplicação da multa isolada; Ao fim, requer o provimento do Recurso Voluntário; Relatados sumariamente os fatos relevantes. Fl. 120DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 118 5 Voto Conselheiro Arlindo da Costa e Silva, Relator. 1. DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE 1.1. DA TEMPESTIVIDADE O sujeito passivo foi válida e eficazmente cientificado da decisão recorrida em 27/02/2014. Havendo sido o recurso voluntário postado na Agência de Correios no dia 26/03/2014, há que se reconhecer a tempestividade do recurso interposto. Presentes os demais requisitos de admissibilidade do recurso, dele conheço. Ante a inexistência de questões preliminares, passamos ao exame do mérito. 2. DO MÉRITO Cumpre de plano assentar que não serão objeto de apreciação por este Colegiado as matérias não expressamente impugnadas pelo Recorrente, as quais serão consideradas como verdadeiras, assim como as matérias já decididas pelo Órgão Julgador de 1ª Instância não expressamente contestadas pelo sujeito passivo em seu instrumento de Recurso Voluntário, as quais se presumirão como anuídas pela Parte. Também não serão objeto de apreciação por esta Corte Administrativa as questões de fato e de Direito referentes a matérias substancialmente alheias ao vertente lançamento, eis que em seu louvor, no processo de que ora se cuida, não se houve por instaurado qualquer litígio a ser dirimido por este Conselho, assim como as questões arguidas exclusivamente nesta instância recursal, antes não oferecida à apreciação do Órgão Julgador de 1ª Instância, em razão da preclusão prevista no art. 17 do Decreto nº 70.235/72. 2.1. DA GLOSA DE COMPENSAÇÃO INDEVIDA Alega o Recorrente que o recolhimento ao INSS da parte patronal dos agentes políticos foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal no recurso Extraordinário n° 351.717/PR. De fato o foi, mas a compensação de Contribuições Previdenciárias somente é permitida com créditos líquidos e certos decorrentes de recolhimentos indevidos das parcelas referidas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do Art. 11 da Lei nº 8.212/91, recolhimento esse não demonstrado pelo Recorrente. Fl. 121DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 6 Mostrase valioso, neste momento, trazer a lume que os atos administrativos, assim como seu conteúdo, gozam de presunção legal iuris tantum de legalidade, legitimidade e veracidade. Na arguta visão de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a presunção de veracidade e legitimidade consiste na "conformidade do ato à lei. Em decorrência desse atributo, presumemse, até prova em contrário, que os atos administrativos foram emitidos com observância da lei" (Direito Administrativo, 18ª Edição, 2005, Atlas, São Paulo). Ainda de acordo com a citada autora, "A presunção de veracidade diz respeito aos fatos. Em decorrência desse atributo, presumemse verdadeiros os fatos alegados pela Administração." (op. cit. pág. 191). Dessarte, a aplicação da presunção de veracidade tem o condão de inverter o ônus da prova, cabendo ao particular comprovar de forma cabal a inocorrência dos fatos descritos pelo agente público no Ato Administrativo trazido aos autos, nos termos dos art. 334, inciso IV, do Código de Processo Civil. Deflui da interpretação sistemática dos dispositivos encartados nos artigos 19, II, da CF/88 e 364 do CPC que os fatos consignados em documentos públicos carregam consigo a presunção de veracidade atávica aos atos administrativos, ostentando estes fé pública, a qual não pode ser recusada pela Administração Pública, devendo ser admitidos como verdadeiros até que se produza prova válida em contrário. Constituição Federal de 1988 Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II recusar fé aos documentos públicos; (...) Código de Processo Civil Art. 364. O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o escrivão, o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença. Nessa prumada, existindo no mundo jurídico um ato administrativo comprovado por documento público, passa a militar em favor do ente público a presunção de legitimidade e veracidade das informações nele assentadas. Como prerrogativa inerente ao Poder Público, presente em todos os atos de Estado, a presunção de veracidade subsistirá no processo administrativo fiscal como meio de prova hábil a comprovar as alegações do órgão tributário, cabendo à parte adversa demonstrar, ante a sua natureza relativa, por meio de documentos idôneos, a desconformidade com a realidade dos assentamentos em realce. Configurandose o Auto de Infração um documento público representativo de Ato Administrativo formado a partir da manifestação da Administração Tributária, levada a efeito através de agentes públicos, não há como se negar a veracidade do seu conteúdo. Ostentando, todavia, tal presunção eficácia relativa, esta admite prova em sentido contrário a ônus da parte interessada, encargo este que deve ser adimplido pelo Fl. 122DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 119 7 Interessado, de molde a se afastar a suposta fidedignidade do teor do Ato Administrativo em xeque. Com efeito, no capítulo reservado ao Sistema Tributário Nacional, a Carta Constitucional outorgou à Lei Complementar a competência para estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre crédito tributário, dentre outras. Constituição Federal, de 03 de outubro de 1988 Art. 146. Cabe à lei complementar: (...) III estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: (...) b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; Nessa vertente, no exercício da competência que lhe foi outorgada pelo Constituinte Originário, o Código Tributário Nacional CTN conferiu ao instituto da compensação os contornos jurídicos de modalidade de extinção do crédito tributário da fazenda pública em face do sujeito passivo da obrigação tributária, nos termos dos seus artigos 156, II ; 170 e 170A. CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL – CTN Art. 156. Extinguem o crédito tributário: (...) II a compensação; Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública. (grifos nossos) Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará, para os efeitos deste artigo, a apuração do seu montante, não podendo, porém, cominar redução maior que a correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo tempo a decorrer entre a data da compensação e a do vencimento. Art. 170A. É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. (Artigo incluído pela LC nº 104, de 10.1.2001) Notese que, ao estabelecer normas gerais em matéria de crédito tributário, através do regramento de uma de suas modalidades de extinção, o art. 170 do CTN estatuiu que a lei poderia, nas condições e sob as garantias que estipulasse, ou cuja estipulação em cada caso atribuísse à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários Fl. 123DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 8 com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública. Dessarte, o instituto da compensação, no Direito Tributário, depende pois de previsão legal. Em se tratando de contribuições sociais destinadas ao financiamento da Seguridade Social, o instituto da compensação tributária foi regulamentado pelo Art. 89 da Lei Nº 8.212/91, o qual reproduzimos, in totum, a seguir : LEI Nº 8.212, de 24 de julho de 1991 Art. 89. Somente poderá ser restituída ou compensada contribuição para a Seguridade Social arrecadada pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS na hipótese de pagamento ou recolhimento indevido. (Redação dada pela Lei nº 9.129/95) (grifos nossos) §1º Admitirseá apenas a restituição ou a compensação de contribuição a cargo da empresa, recolhida ao INSS, que, por sua natureza, não tenha sido transferida ao custo de bem ou serviço oferecido à sociedade. (Redação dada pela Lei nº 9.129/95) §2º Somente poderá ser restituído ou compensado, nas contribuições arrecadadas pelo INSS, o valor decorrente das parcelas referidas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 9.129/95) §3º Em qualquer caso, a compensação não poderá ser superior a trinta por cento do valor a ser recolhido em cada competência. (Redação dada pela Lei nº 9.129/95) §4º Na hipótese de recolhimento indevido, as contribuições serão restituídas ou compensadas atualizadas monetariamente. (Redação dada pela Lei nº 9.129/95) §5º Observado o disposto no § 3º, o saldo remanescente em favor do contribuinte, que não comporte compensação de uma só vez, será atualizado monetariamente. (Redação dada pela Lei nº 9.129/95) §6º A atualização monetária de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo observará os mesmos critérios utilizados na cobrança da própria contribuição. (Redação dada pela Lei nº 9.129/95) §7º Não será permitida ao beneficiário a antecipação do pagamento de contribuições para efeito de recebimento de benefícios.(Redação dada pela Lei nº 9.129/95) §8º Verificada a existência de débito em nome do sujeito passivo, o valor da restituição será utilizado para extinguilo, total ou parcialmente, mediante compensação. (Incluído pela Lei nº 11.196/2005) Sob o prisma do art. 170 do CTN, a redação do caput do Art. 89 da lei 8212/91 é de uma clareza solar ao dispor que somente os créditos líquidos e certos do sujeito passivo em face da fazenda pública, decorrentes de pagamento ou recolhimento indevido de contribuições sociais destinadas ao financiamento da Seguridade Social, é que podem ser objeto de compensação ou de restituição. Para tornar esse entendimento o mais livre de dúvidas possível, o parágrafo segundo do mesmo art. 89 complementou o respectivo caput dispondo que somente pode ser restituído ou compensado, nas contribuições arrecadadas pelo INSS, o valor decorrente das Fl. 124DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 120 9 parcelas referidas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do Art. 11 da Lei nº 8.212/91, ou seja, as contribuições sociais destinadas ao financiamento da seguridade social: a) A cargo da empresa, incidentes sobre a remuneração paga ou creditada aos segurados a seu serviço, nos termos do Art. 22, I, II e III da Lei Nº 8.212/91. b) As contribuições sociais a cargo dos empregadores domésticos, de acordo com o Art. 24 da Lei Nº 8.212/91. c) As contribuições sociais a cargo dos trabalhadores, incidentes sobre o seu saláriodecontribuição, conforme Art. 20 da Lei Nº 8.212/91. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991 Art. 11. No âmbito federal, o orçamento da Seguridade Social é composto das seguintes receitas: I receitas da União; II receitas das contribuições sociais; III receitas de outras fontes. Parágrafo único. Constituem contribuições sociais: a) as das empresas, incidentes sobre a remuneração paga ou creditada aos segurados a seu serviço; b) as dos empregadores domésticos; c) as dos trabalhadores, incidentes sobre o seu saláriode contribuição; A compensação tributária, a ser realizada nas condições de contorno fixadas na lei, é um direito subjetivo do sujeito passivo. Tratase de uma faculdade de que dispõe o titular de um crédito tributário em face da fazenda pública para extinguir um débito que lhe é imposto pelo fisco. Diante dos aludidos dispositivos, avulta, por decorrência lógica, que a iniciativa e condução do procedimento de compensação são prerrogativas exclusivas do titular do crédito tributário líquido e certo decorrente do recolhimento indevido ou a maior das contribuições previdenciárias referidas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91. O exercício do direito à compensação, entretanto, não se revela incondicionado, haja vista encontrarse circunscrito ao preenchimento de determinados requisitos legais, a ônus do Interessado, consistentes, dentre outros, na efetiva demonstração e comprovação da existência e titularidade do crédito tributário que se almeja compensar. De outro eito, o Interessado dispõe de prazo peremptório para o exercício do seu direito creditório, sob pena de prescrição. A Primeira Seção do STJ, quando do julgamento do REsp 1.002.932/SP, sujeito ao regime dos "recursos repetitivos", reafirmou o entendimento de que "O advento da LC 118/05 e suas consequências sobre a prescrição, do ponto de vista prático, implica dever a mesma ser contada da seguinte forma: relativamente aos pagamentos efetuados a partir da sua vigência (que ocorreu em 09.06.05), o prazo para a repetição do indébito é de cinco anos Fl. 125DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 10 a contar da data do pagamento; e relativamente aos pagamentos anteriores, a prescrição obedece ao regime previsto no sistema anterior, limitada, porém, ao prazo máximo de cinco anos a contar da vigência da lei nova." (RESP 1.002.932/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 25/11/2009) (os grifos são nossos) REsp 1.153.433 / RS Rel. Min. CASTRO MEIRA DJe de 22/03/2010 TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO AO INCRA. PRESCRIÇÃO. 1. Extinguese o direito de pleitear a restituição de tributo sujeito a lançamento por homologação – não sendo esta expressa – somente após o transcurso do prazo de cinco anos contados da ocorrência do fato gerador, acrescido de mais cinco anos contados da data em que se deu a homologação tácita (EREsp 435.835/SC, julgado em 24.03.04). 2. Na sessão do dia 06.06.07, a Corte Especial acolheu a arguição de inconstitucionalidade da expressão "observado quanto ao art. 3º o disposto no art. 106, I, da Lei n. 5.172/1966 do Código Tributário Nacional", constante do art. 4º, segunda parte, da LC 118/05 (EREsp 644.736PE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki). 3. Nessa assentada, firmouse o entendimento de que, "com o advento da LC 118/05, a prescrição, do ponto de vista prático, deve ser contada da seguinte forma: relativamente aos pagamentos efetuados a partir da sua vigência (que ocorreu em 09.06.05), o prazo para a ação de repetição de indébito é de cinco a contar da data do pagamento; e relativamente aos pagamentos anteriores, a prescrição obedece ao regime previsto no sistema anterior, limitada, porém, ao prazo máximo de cinco anos a contar da vigência da lei nova". 4. Esse entendimento foi ratificado no julgamento do REsp nº 1.002.932/SP, Rel. Min. Luiz Fux (DJe de 18.12.09), submetido ao colegiado pelo regime da Lei nº 11.672/08 (Lei dos Recursos Repetitivos), que introduziu o art. 543C do CPC. 5. Recurso especial provido. No caso ora em apreciação, os alegados pagamentos efetuados pelo Sujeito Passivo que supostamente deram origem ao crédito utilizado na compensação ocorreram em período anterior à data de vigência da LC nº 118/2005, de maneira que, nos termos da jurisprudência consolidada do STJ, sob o regime do art. 543C do CPC, “a prescrição obedece ao regime previsto no sistema anterior, limitada, porém, ao prazo máximo de cinco anos a contar da vigência da lei nova”. Nessa prumada, sendo 09 de junho de 2005 a data de vigência da LC nº 118/2005, e sendo de junho a dezembro/2009 o período em que se realizou a compensação ora em debate, avulta que para tal compensação o Recorrente apenas poderia aproveitar os créditos líquidos e certos decorrentes de recolhimentos indevidos ou a maior que o devido das contribuições previstas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91 efetiva e comprovadamente recolhidas a contar de dezembro/1999. No caso presente, contudo, o Recorrente não logrou demonstrar a efetiva ocorrência de recolhimentos indevidos ou a maior que o devido, das Contribuições Sociais de Fl. 126DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 121 11 que tratam as alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91 incidentes sobre as remunerações pagas, creditadas ou devidas a agentes políticos no período a contar de dezembro de 1999. Não basta para a concretização do direito à compensação o mero fato de as contribuições sociais incidentes sobre as remunerações dos exercentes de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência social, nos moldes da alínea ‘h’ do inciso I do art. 12 da Lei nº 8.212/91, terem sido declaradas inconstitucionais pelo STF, conforme Recurso Extraordinário nº 351.717/PR. É imprescindível que o Interessado demonstre, mediante documentos idôneos, a efetiva ocorrência de recolhimentos das contribuições sociais em apreço, pois de tal comprovação é que se poderá apurar os créditos líquidos e certos do Sujeito Passivo hábeis à compensação pleiteada, inclusive o montante compensável. Nessa perspectiva, havendo o Autuado procedido à compensação de Contribuições Previdenciárias, recai sobre ele o ônus de demonstrar a origem, a certeza e a liquidez dos créditos declarados em GFIP a seu favor, bem como a observância de todos os critérios de atualização dos valores vertidos indevidamente, viabilizando a aferição da regularidade do procedimento pelos Auditores do Fisco. Isso porque a homologação da compensação promovida pelo Contribuinte depende da comprovação do recolhimento indevido das Contribuições Sociais de que tratam as alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91 incidentes sobre as remunerações pagas, creditadas ou devidas a agentes políticos no período a contar de dezembro de 1999, da quantificação monetária do indébito e do cumprimento de todas as normas legais pertinentes à compensação levada a efeito pelo Interessado. Na situação ora em estudo, a Fiscalização relata que o Autuado não logrou demonstrar a existência de tais recolhimentos indevidos, e que inexistem quaisquer documentos fiscais de lançamento de crédito (NFLD, LDC, CDF) , em favor do Fisco e em face do Autuado, relativos a tais exações, lavrados entre fevereiro/1998 e setembro/2004. De outro eito, a Fiscalização informa que, apesar de formalmente intimado mediante Termo Próprio, o Autuado igualmente, não prestou qualquer esclarecimento a respeito da origem dos créditos utilizados para suportar as compensações por ele declaradas nas GFIP de junho a dezembro/2009. Conforme destacado na Decisão de 1ª Instância, “o contribuinte também não trouxe aos autos uma única planilha de cálculo que permitisse a aferição da regularidade do encontro de contas levado a efeito, revelandose legítimo o lançamento. Observese que no lançamento não houve indicação de quaisquer restrições à compensação, visto que sequer foi comprovada a existência de créditos contra a Fazenda Pública. A declaração da inconstitucionalidade das contribuições incidentes sobre os subsídios dos ocupantes de mandato eletivo, exigidas com fulcro na alínea “h”, inciso I, art. 12 da Lei nº 8.212/91, por si só, não implica em reconhecimento de crédito favorável ao sujeito passivo”. Aditese que o Recorrente também não honrou demonstrar a efetiva retificação das GFIP originais das competências em que se realizou o alegado recolhimento indevido, como assim determina o inciso I e o §4º do art. 6º da IN SRP nº 15/2006. Fl. 127DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 12 Instrução Normativa SRP nº 15, de 12/09/2006 Art. 1º Dispor sobre a devolução de valores arrecadados pela Previdência Social com base na alínea “h” do inciso I do art. 12 da Lei nº 8.212, de 1991, acrescentada pelo §1º do art. 13 da Lei nº 9.506, de 1997, bem como sobre procedimentos relativos aos créditos constituídos com base no referido dispositivo. Art. 6º É facultado ao ente federativo, observado o disposto no art. 3º, compensar os valores pagos à Previdência Social com base no dispositivo referido no art. 1º, observadas as seguintes condições: I a compensação deverá ser precedida de retificação das GFIP, para excluir destas todos os exercentes de mandato eletivo informados, bem como, a remuneração proporcional ao período de 1º a 18 na competência setembro de 2004 relativa aos referidos exercentes; (grifos nossos) II deverá ser realizada com contribuições previdenciárias declaradas em GFIP; (Redação dada pela IN RFB nº 909/2009) III o ente federativo deverá estar em situação regular, considerando todos os seus órgãos e obras de construção civil executadas com pessoal próprio, em relação às contribuições sociais previstas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 1991, e das contribuições instituídas a título de substituição; (Redação dada pela IN RFB nº 909/2009) IV o ente federativo deverá estar em dia com parcelas relativas a acordos de parcelamento de contribuições objeto dos lançamentos de que trata o inciso III, considerados todos os seus órgãos e obras de construção civil executadas com pessoal próprio; V somente é permitida a compensação de valores que não tenham sido alcançados pela prescrição; VI a compensação somente poderá ser realizada em recolhimento de importância correspondente a períodos subsequentes àqueles a que se referem os valores pagos com base na alínea "h" do inciso I do art. 12 da Lei 8.212, de 1991, acrescentada pelo § 1º do art. 13 da Lei nº 9.506, de 1997; §1º O ente federativo poderá efetuar a compensação dos valores descontados do exercente de mandato eletivo e efetivamente recolhidos, desde que: I seja precedida de declaração do exercente de mandato eletivo de que está ciente que esse período não será computado no seu tempo de contribuição para efeito da concessão de benefícios do Regime Geral de Previdência Social RGPS, conforme modelo constante do Anexo I desta Instrução Normativa; e II possa comprovar o ressarcimento de tais valores ou possua uma procuração por instrumento particular, com firma reconhecida em cartório, ou por instrumento público, outorgada pelo exercente de mandato eletivo, autorizandoo a efetuar a compensação, conforme modelo constante do Anexo II desta Instrução Normativa. §2º Caso seja constatado, em procedimento fiscal, a inobservância ao disposto no §1º, os valores compensados serão glosados. §3º Os documentos referidos no §1º deverão ser mantidos sob a guarda do ente federativo para exibição à fiscalização da SRP, quando solicitados. Fl. 128DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 122 13 §4º É obrigatória a retificação da GFIP, por parte do dirigente do ente federativo, independentemente de efetivação da compensação. (grifos nossos) §5º O descumprimento do disposto no §4º sujeitará o infrator à multa prevista no §6º do art. 32 da Lei 8.212, de 1991, e configura crime, conforme previsto no inciso III do § 3º do art. 297 do Código Penal Brasileiro. O Órgão Julgador de 1ª Instância, de forma fundamentada e devidamente consignada em seu acórdão, apreciando as alegações de defesa e os elementos de prova contidos nos autos, já havia refutado as razões de impugnação e rechaçado a pretensão do Autuado ao fundamento de que este não houvera comprovado o efetivo recolhimento indevido das contribuições sociais incidentes sobre os subsídios dos ocupantes de mandato eletivo, nem prestado quaisquer esclarecimentos acerca do procedimento compensatório informado em GFIP, no período de 06/2009 a 13/2009, embora regularmente intimado para tanto, ratificando a procedência do lançamento. Nada obstante, mesmo ciente de que seu pedido houvera sido negado em razão da carência da comprovação material do Direito alegado, o Recorrente quedouse inerte no sentido de suprir a falta em destaque, retornando à carga, agora em grau de Recurso Voluntário, formulando exatamente os mesmos argumentos de defesa, sem fazer acostar aos autos qualquer elemento de convicção, tão menos indícios de prova material, com aptidão de demonstrar o efetivo recolhimento indevido das Contribuições Sociais de que tratam as alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91 incidentes sobre as remunerações pagas, creditadas ou devidas a agentes políticos no período a contar de dezembro de 1999, da quantificação monetária do indébito e do cumprimento de todas as normas legais pertinentes à compensação por ele realizada, gravitando a larga distância do núcleo fático jurídico sensível do qual se irradiaram os fundamentos legais e constitucionais que fornecem esteio à glosa de compensação ora em debate, não logrando se desincumbir, dessarte, do ônus probatório que lhe era avesso, nem, tampouco ilidir o lançamento que lhe fora infligido pela Fiscalização previdenciária. A defesa por negativa geral não se apruma com a dinâmica do Processo Administrativo Fiscal cujo mecanismo de contradita às autuações do Fisco exige que o sujeito passivo instrua o instrumento de bloqueio à imputação fiscal com todos os motivos de fato e de direito em que se fundamentar a defesa, os pontos de discordância, as razões e as provas que possuir. Mas não pára por aí: Impõe ao impugnante o ônus de rechear a peça de defesa com todas as provas documentais garantidoras de seu direito, sob pena de preclusão do direito de fazêlo em momento futuro, ressalvadas, excepcionalmente, as hipóteses taxativamente arroladas em lei. Nas oportunidades em que teve para se manifestar nos autos do processo, em sede de Impugnação e agora, em grau de Recurso Voluntário, o Sujeito Passivo não honrou produzir as provas necessárias à contradita das razões erigidas pelo Órgão Julgador a quo para o não acatamento de suas pretensões de defesa, tampouco desobstruir o óbice probatório apontado pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento. Fl. 129DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 14 Tal vazio, não permite a lei que seja preenchido com alegações filosóficas ou principiológicas, tampouco com argumentações de fatos e de ações desprovidas de esteio em indício de prova material idônea. Como é cediço, no Processo Administrativo Fiscal a voz de defesa do sujeito passivo em matéria tributária se propaga em ondas documentais, falando ao vácuo as alegações recursais não acompanhadas pelos indícios de prova material que lhes forneçam o devido esteio probatório. Allegatio et non probatio, quasi non allegatio. Tendo em vista o consagrado atributo da presunção de veracidade que caracteriza os atos administrativos, gênero do qual o lançamento tributário é espécie, operase a inversão do encargo probatório, repousando sobre o Autuado o ônus de desconstituir o lançamento ora em consumação. Ostentando, todavia, a presunção de veracidade dos Atos Administrativos eficácia relativa, esta admite prova em contrário a ônus da parte interessada, encargo este não adimplido pelo Autuado, o qual não logrou afastar a fidedignidade do conteúdo dos Autos de Infração em debate. Assim, havendo um documento público com presunção de veracidade não impugnado eficazmente pela parte contrária, o desfecho há de ser em favor dessa presunção. 2.2. DA MULTA ISOLADA O Recorrente alega que não restou demonstrada a ocorrência de fraude a justificar a aplicação da multa isolada. Ocorre, todavia, que a inflição da multa isolada prevista no §10 do art. 89 da Lei nº 8.212/91 independe da existência/comprovação de fraude, se contentando a Lei, tão apenas, com a comprovação da falsidade da declaração da compensação indevida. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991 Art. 89. As contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 desta Lei, as contribuições instituídas a título de substituição e as contribuições devidas a terceiros somente poderão ser restituídas ou compensadas nas hipóteses de pagamento ou recolhimento indevido ou maior que o devido, nos termos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009). (...) §9o Os valores compensados indevidamente serão exigidos com os acréscimos moratórios de que trata o art. 35 desta Lei. (Incluído pela Medida Provisória nº 449/2008) §10. Na hipótese de compensação indevida, quando se comprove falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo, o contribuinte estará sujeito à multa isolada aplicada no percentual previsto no inciso I do caput do art. 44 da Lei no 9.430, de 1996, aplicado em dobro, e terá como base de cálculo o valor total do débito indevidamente compensado. (Incluído pela Medida Provisória nº 449/2008) Fl. 130DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 123 15 Em verdade, da mera leitura dos dispositivos suso transcritos, percebemos a cominação de duas penalidades pecuniárias para a conduta consistente na compensação indevida de contribuições previdenciárias: · A multa de mora, calculada segundo a memória de cálculo descrita no art. 61 da Lei nº 9.430/96. (art. 89, §9º da Lei nº 8.212/91) · Multa isolada, no valor correspondente ao dobro do previsto no art. 44, I da Lei nº 9.430/96. (art. 89, §10 da Lei nº 8.212/91) Em razão da duplicidade de penalidades cominadas a uma mesma conduta, pipocam alguns questionamentos a exigir nossa digressão, dentre outros: a) As penalidades indicadas são aplicáveis de forma alternativa ou de maneira cumulativa? b) Em que hipóteses será aplicada a multa de mora? E a multa isolada? c) O que se entende por “falsidade da declaração” e qual a abrangência de tal termo? d) Quais seriam os elementos de convicção com aptidão para se comprovar a falsidade de declaração? Entendo que a resposta a tais indagações deve ser formulada levandose em consideração uma interpretação sistemática e teleológica das normas tributárias em realce, realizada de acordo com o balizamento encartado no Capítulo IV do Título I do CTN, observado o princípio da proporcionalidade implicitamente permeado na Escritura Constitucional. Nessa perspectiva, se nos afigura que a pedra de toque a impingir um diferencial significativo entre as penalidades previstas nos §§ 9º e 10 do aludido art. 89 encontrase assentado na comprovação da falsidade da declaração, circunstância essencial e indispensável para a inflição da penalidade mais severa. Do que se extrai da dicção do §10 do art. 89 da Lei nº 8.212/91, a aplicação da multa isolada encontrase subjugada à ocorrência simultânea de duas condicionantes inafastáveis, sendo a primeira a própria compensação indevida (“na hipótese de compensação indevida”) e a segunda, a comprovada falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo (“quando se comprove falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo”). Ambos assumem, dessa maneira, cunho de aplicação cumulativa, de modo que a ausência de uma ou de outra não se rende ensejo à aplicação da penalidade em relevo. Nessa perspectiva, a mera compensação indevida de contribuições previdenciárias configurase, tão somente, inadimplemento de tributo devido e não recolhido, em relação aos quais, na constituição de ofício do crédito tributário, além do principal, o Fl. 131DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 16 lançamento deverá contemplar os acréscimos legais de caráter moratório, nos termos fixados no §9º do art. 89 da Lei nº 8.212/91. Fato diametralmente diverso se configura com o emprego de meio fraudulento, aqui incluída a falsidade, visando a iludir o Fisco Federal sobre a efetiva ocorrência do fato jurígeno tributário, ou a excluir ou modificar suas características essenciais e/ou efeitos, ocultandoo, assim, de forma ardilosa. Na apreciação do caso concreto, uma vez caracterizada a compensação indevida, a configuração da hipótese de incidência da multa isolada exige, para a sua consumação, a demonstração da falsidade, eis que elemento objetivo do tipo, sendo necessária e imprescindível sua comprovação, a teor do §10 do art. 89 da Lei nº 8.212/91. Indispensável, pois, se perquirir onde se encontra a falsidade ou fraude na declaração das compensações indevidas efetuadas pelo sujeito passivo, e se fazer coligir aos autos os elementos de convicção da efetiva ocorrência da falsia em relevo. Ora, mas o que se entende por falsidade de declaração? Um mero erro material de digitação na GFIP, resultando num montante de compensação a maior que as forças do crédito de titularidade do sujeito passivo, já se consumaria numa falsidade de declaração? Uma declaração a maior do montante compensável, em GFIP, resultante do emprego de metodologia de atualização do crédito e de acumulação de juros moratórios diferente da adotada pela RFB, seria suficiente para enquadrala como acometida de falsidade? Ou seria necessário, para a consumação da conduta típica em tela, que o infrator, consciente de que não possui qualquer direito creditório, informe dolosamente no documento em apreço compensação de créditos previdenciários sabidamente inexistentes (ou a menor) visando à redução do montante a ser recolhido? A Lei nº 8.212/91 não define, para fins de enquadramento na conduta tipificada no §10 do seu art. 89, o conceito do termo “falsidade de declaração”, tampouco sua abrangência e alcance. Nessas situações, ante a ausência de disposição expressa, o codex tributário impõese a integração legislativa mediante a analogia, os princípios gerais de direito tributário, os princípios gerais de direito público e a equidade. Código Tributário Nacional CTN Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I a analogia; II os princípios gerais de direito tributário; III os princípios gerais de direito público; IV a equidade. §1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. §2º O emprego da equidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido. Fl. 132DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 124 17 Tratandose de normas que impingem ao infrator uma penalidade decorrente da transgressão de uma norma de conduta, nada mais natural do que a integração analógica com as normas que dimanam do Direito Penal. Sob tal prisma, há que se perquirir se, para a caracterização de falsidade de declaração, seria necessária a tipificação de falsidade de documento público ou, numa gradação mais branda, suficiente seria a mera falsidade ideológica? Cumpre salientar que, para os efeitos da incidência da lei penal, a GFIP equiparase a documento público, a teor dos §§ 2º e 3º do art. 297 do Código Penal. DecretoLei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal Falsificação de documento público Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena reclusão, de dois a seis anos, e multa. §1º Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendose do cargo, aumentase a pena de sexta parte. §2º Para os efeitos penais, equiparamse a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. (grifos nossos) §3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983/ 2000) I na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; (Incluído pela Lei nº 9.983/2000) (grifos nossos) II na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983/2000) III em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983/2000) (grifos nossos) §4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no §3º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. (Incluído pela Lei nº 9.983/2000) (grifos nossos) Falsidade ideológica Art. 299 Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: (grifos nossos) Pena reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Fl. 133DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 18 Parágrafo único Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendose do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumentase a pena de sexta parte. Seja num caso, seja no outro, os princípios de direito público atávicos ao Direito Penal exigem, para a subsunção à conduta típica, não somente a coincidência objetiva de condutas, mas, também, a presença do elemento subjetivo consubstanciado no dolo ou na culpa, esta, quando expressamente prevista no corpo do tipo, a teor do Parágrafo Único do art. 18 do Código Penal. DecretoLei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal Art. 18 Dizse o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209/84) Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209/84) I doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzilo;(Incluído pela Lei nº 7.209/84) Crime culposo(Incluído pela Lei nº 7.209/84) II culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209/84) Parágrafo único Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209/84) Assim, sob o prisma da norma que pespega penalidades, indispensável para a caracterização da conduta típica de falsidade de documento público e de falsidade ideológica a comprovação da coexistência do elemento subjetivo do tipo consistente na consciência e vontade de concretizar os requisitos objetivos do tipo. Mostrase valioso revisitar também os conceitos jurídicos assentados na Lei nº 4.502/64, verbatim: Lei nº 4.502/64 Art. 68. A autoridade fixará a pena de multa partindo da pena básica estabelecida para a infração, como se atenuantes houvesse, só a majorando em razão das circunstâncias agravantes ou qualificativas provadas no processo. (Redação dada pelo DecretoLei nº 34/66) (...) §2º São circunstâncias qualificativas a sonegação, a fraude e o conluio. (Redação dada pelo DecretoLei nº 34/66) (...) Art. 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Fl. 134DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 125 19 Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art. 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. Notese, ainda, que a falsidade ideológica se qualifica como um tipo penal incongruente, exigindo para a sua caracterização, além do dolo genérico, uma intenção especial do agente, um requisito subjetivo transcendental denominado dolo específico, consubstanciado num especial fim de agir, in casu, a intenção de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Pintado nesse matiz o quadro fáticojurídico, se nos antolha que, para que se configure a ocorrência do tipo infracional previsto no §10 do art. 89 da Lei nº 8.212/91, necessária é a presença do elemento subjetivo associado à conduta típica descrita na norma, consistente na consciência do agente de que, mesmo sabedor de que não possui direito creditório à altura, mesmo assim informa na GFIP compensação de contribuições previdenciárias visando a esquivarse do recolhimento da exação devida. Por esse motivo, exige a regra tributária em realce que, para a caracterização do tipo infracional em debate, o agente fiscal tem que demonstrar a falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. A tal conclusão também se converge, ao se apreciar, pelo crivo da proporcionalidade, a dualidade de imputações fixadas nos parágrafos 9º e 10 do art. 89 da Lei nº 8.212/91: Tratandose de compensação indevida, nas hipóteses em que o agente não teve a intenção de fraudar a norma tributária, a penalidade pecuniária a ser aplicada será a mais branda, nos termos fixados no §9º do suso mencionado art. 89, consistente na multa de mora graduada na forma do art. 61 da Lei nº 9.430/96, além dos juros moratórios. Tratandose, por outro viés, de tentativa de fraude mediante a consciente e inescusável inserção de informações falsas na GFIP, visando dolosamente a reduzir tributo, rigorosa deverá ser a punição a ser infligida ao infrator, consistente na multa de 150% sobre o valor total do débito indevidamente compensado. Nestes casos, assentado que a penalidade estabelecida na lei é por demais severa, deve o agente fiscal se certificar de que a conduta perpetrada pelo sujeito passivo, de fato, reuniu todos elementos objetivos e subjetivos do tipo, de molde a se evitar, ao máximo, a imputação de penalidade indevida. Não por outra razão, a hipótese típica em debate exige do agente fiscal, além da descrição do fato e da disposição legal infringida (art. 10 do Decreto nº 70.235/72), a comprovação da falsidade da declaração. Não se pode perder de vista que a interpretação defendida nos parágrafos antecedentes também se coaduna à regra de hermenêutica plantada no art. 112 do CTN, do qual floresce o princípio da interpretação mais benéfica ao infrator da lei que definir infrações ou cominar penalidades em caso de dúvida quanto à capitulação legal do fato, à natureza ou às Fl. 135DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 20 circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos, à autoria, imputabilidade, ou punibilidade ou à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. Código Tributário Nacional CTN Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpretase da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto: I à capitulação legal do fato; II à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; III à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; IV à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. Tal interpretação, indubitavelmente, se revela como a mais benéfica ao acusado, uma vez que exclui do tipo infracional mais severo as compensações indevidas nas quais o agente não teve o dolo de fraudar a Lei de Custeio da Seguridade Social, conduzindo tais casos à hipótese genérica e abstrata assentada no §9º do citado art. 89 da Lei nº 8.212/91, que prevê, tão somente, a incidência de juros e multa moratória sobre o montante indevidamente compensado. Corrobora o entendimento acima externado as disposições inscritas na Seção V DA COMPENSAÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS, do Capítulo V da IN RFB nº 900/2008, cujo art. 45 prevê que o sujeito passivo deve recolher o valor indevidamente compensado, acrescido de juros e multa de mora devidos, mesmo na hipótese de a compensação considerada como indevida ser decorrente de informação incorreta em GFIP. Instrução Normativa RFB nº 900/2008 SEÇÃO V DA COMPENSAÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS Art. 44. O sujeito passivo que apurar crédito relativo às contribuições previdenciárias previstas nas alíneas "a" a "d" do inciso I do parágrafo único do art. 1º, passível de restituição ou de reembolso, poderá utilizálo na compensação de contribuições previdenciárias correspondentes a períodos subsequentes. (...) Art. 45. No caso de compensação indevida, o sujeito passivo deverá recolher o valor indevidamente compensado, acrescido de juros e multa de mora devidos. Parágrafo único. Caso a compensação indevida decorra de informação incorreta em GFIP, deverá ser apresentada declaração retificadora. Art. 46. Na hipótese de compensação indevida, quando se comprove falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo, o contribuinte estará sujeito à multa isolada aplicada no percentual previsto no inciso I do caput do art. 44 da Lei no 9.430, de 1996, aplicado em dobro, e terá como base de cálculo o valor total do débito indevidamente compensado. Fl. 136DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 126 21 Da conjugação dos termos alinhados nos artigos 45 e 46 extraise que a mera constatação de informação incorreta em GFIP da qual decorra compensação indevida de contribuições previdenciárias não implica, automaticamente, a imputação da multa isolada prevista no art. 46 da mesma Instrução Normativa em foco, eis que tal increpação depende da efetiva comprovação da falsidade da declaração. Deflui daí o reconhecimento do próprio Poder Executivo de que a simples informação incorreta na GFIP da qual decorra compensação indevida não importa de per se em falsidade da declaração, sendo necessária a comprovação do elemento subjetivo do tipo, consistente na consciência e vontade de fraudar a lei visando a reduzir o montante de tributo devido. Daí a necessidade de se instruir o processo com os elementos de convicção que conduziram o auditor fiscal a inferir o dolo da conduta infracional. Avulta, de todo o exposto, que a aplicação de penalidade mais severa, mediante a majoração da multa, só tem cabimento em situações específicas, onde fique evidenciado, de maneira inequívoca, o comportamento ardiloso e intencional do sujeito passivo, seja no tocante à falsidade na declaração, conforme remissão expressa do §10 do art. 89 da Lei nº 8.212/91, seja pela configuração de sonegação, conluio ou fraude, nos termos acima comentados , situações que, por sua gravidade, devem ensejar reprimenda punitiva de maior envergadura, com o propósito não somente de punir o infrator pela conduta perpetrada, extrapolando o evento do mero inadimplemento, como, também, de reprimir e desestimular comportamentos futuros de idêntico jaez. Olhando com os olhos de ver, o fato agravado na hipótese do §10 do dispositivo legal em realce não é a mera compensação indevida, mas, sim, a ação dolosa e consciente de falsear a forma ou o conteúdo da declaração de compensação visando a iludir o Fisco Federal quanto à efetiva ocorrência dos fatos geradores. Daí a necessidade de efetiva comprovação, pela Fiscalização, da falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. No caso ora em apreciação, a fiscalização, ao sindicar a regularidade da compensação levada a cabo pelo Município em foco, concluiu que a compensação assim conduzida pelo sujeito passivo não se encontrava em consonância com a lei, procedendo à glosa dos valores indevidamente compensados, nos termos do Auto de Infração nº 51.000.595 0, aplicandolhe a penalidade prevista no §9º do art. 89 da Lei nº 8.212/91, além do lançamento de ofício do principal, indevidamente compensado. Além da autuação referida no parágrafo anterior, a fiscalização procedeu à imputação, pela mesma conduta, da multa isolada prevista no §10 do já citado art. 89 da Lei de Custeio da Seguridade Social. Chamamos a atenção para o fato de que, nas autuações convencionais, a mera descrição do fato e da disposição legal infringida no Relatório Fiscal da Infração, ante a reconhecida presunção de veracidade dos atos administrativos, já se configura como prova dos fatos infirmados pelos agentes públicos do fisco, a qual, dada a sua natureza iuris tantum, admite prova em contrário a ônus do sujeito passivo. Fl. 137DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS 22 Ocorre, todavia, que, na hipótese infracional ora em debate, conforme já salientado alhures, a lei expressamente exige, na lavratura de Auto de Infração do vertente jaez, além da descrição do fato e da disposição legal infringida, um plus extra a mais (a redundância é proposital) consubstanciado na comprovação da falsidade da declaração por parte da Autoridade Lançadora, não se mostrando suficiente para fazer prova dos fatos, por força da própria lei, a mera presunção de veracidade do ato administrativo. Acontece que, compulsando os autos, não logramos deparar com qualquer elemento de convicção tendente a demonstrar a falsidade de declaração, além das cópias das próprias GFIP onde a compensação tida como por indevida houvese por declarada. Diz o Relatório Fiscal a fl. 17: “Constituem fatos geradores da g1osa, os recolhimentos Compensados informados nas GFIP'S anexa, nas competências 06, 07, 08, 09, 11, 12 e 13 de 2009. O débito lançado (valor originário, juros e multa) encontrase fundamentado na legislação constante do Relatório Fundamentos Legais do Débito FLD, anexo à Auto de Infração AI. Foi aplicada a multa qualificada de 150% por falsidade da declaração, conforme planilha anexa”. NADA MAIS !!! Registrese que, sendo a comprovação da falsidade da declaração um elemento constitutivo do tipo objetivo infracional em apreço, o auto de infração tem que vir instruído, necessariamente, com os elementos de convicção que conduziram o auditor fiscal a inferir a presença do dolo na conduta infracional, até porque o exame da legalidade e legitimidade da autuação, pelos órgãos judicantes administrativos, depende da análise de tais meios de prova para sindicar a efetiva falsidade da declaração, os quais, reiterese, não são supríveis pela mera presunção de veracidade inerente ao ato administrativo. A Fiscalização aplicou a multa isolada de 150% como consequência imediata da compensação indevida, não se preocupando em demonstrar no corpo do Auto de Infração as razões de fato e de Direito que desaguaram na ilação de dolo de se preencher as GFIP com informações incorretas ou sabidamente não verdadeiras. Aditese que não se está aqui a insinuar que não tenha havido a volitiva e consciente inserção em GFIP de declarações sabidamente inverídicas, mas tão somente, de que o Auto de Infração não tece qualquer consideração em tal louvor, descumprindo assim requisito essencial previsto na lei para a imputação de penalidade de tamanho rigor. Avulta, de todo o exposto, que o vertente Auto de Infração houvese por instruído de maneira abominável, não honrando a Autoridade Fiscal demonstrar e comprovar o elemento subjetivo da falsidade da declaração, elemento constitutivo do tipo, carência esta que implica a não subsunção do fato espécie à hipótese abstrata e genérica prevista no §10 do art. 89 da Lei nº 8.212/91, circunstância que importa na improcedência da multa isolada aviada no Auto de Infração nº 51.000.5942. Fl. 138DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS Processo nº 10410.722603/201230 Acórdão n.º 2401004.031 S2C4T1 Fl. 127 23 3. DECISÃO Pelas razões ora expendidas, CONHEÇO do recurso para, no mérito, DAR LHE PROVIMENTO PARCIAL, para excluir do lançamento, tão somente, a multa isolada aplicada mediante o Auto de Infração nº 51.000.5942, e mantendo o lançamento tributário constituído mediante o Auto de Infração nº 51.000.5950 em sua integralidade. É como voto. Arlindo da Costa e Silva, Relator. Fl. 139DF CARF MF Impresso em 21/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/02/2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 25/02/ 2016 por ARLINDO DA COSTA E SILVA, Assinado digitalmente em 01/03/2016 por MARIA CLECI COTI MARTINS
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Numero do processo: 10140.721460/2012-76
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 27 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Feb 17 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2008 a 31/12/2008
CERCEAMENTO DE DEFESA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
Se o Relatório Fiscal e as demais peças dos autos demonstram de forma clara e precisa a origem do lançamento, não há que se falar em nulidade oriunda de obscuridade na apuração dos valores lançados.
VERBA PAGA A TÍTULO DE DÉCIMO-TERCEIRO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. PREVISÃO LEGAL.
A parcela paga aos segurados a título de décimo-terceiro configura remuneração e não indenização. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF). Previsão legal (Lei 8.620/93).
JUROS(SELIC. MULTA. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE.
O sujeito passivo inadimplente tem que arcar com o ônus de sua mora, ou seja, os juros e a multa legalmente previstos.
Nos termos do enunciado no 4 de Súmula do CARF, é cabível a cobrança de juros de mora com base na taxa SELIC para débitos relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal.
CARÁTER CONFISCATÓRIO DA MULTA. INOCORRÊNCIA.
A vedação ao confisco pela Constituição Federal é dirigida ao legislador, cabendo à autoridade administrativa apenas aplicar a penalidade de multa nos moldes da legislação em vigor.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 2402-004.901
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário.
Ronaldo de Lima Macedo - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Ronaldo de Lima Macedo, Kleber Ferreira Araújo, Ronnie Soares Anderson, Marcelo Oliveira, Lourenço Ferreira do Prado, João Victor Ribeiro Aldinucci e Natanael Vieira dos Santos.
Nome do relator: RONALDO DE LIMA MACEDO
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NULIDADE. INOCORRÊNCIA. Se o Relatório Fiscal e as demais peças dos autos demonstram de forma clara e precisa a origem do lançamento, não há que se falar em nulidade oriunda de obscuridade na apuração dos valores lançados. VERBA PAGA A TÍTULO DE DÉCIMOTERCEIRO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. PREVISÃO LEGAL. A parcela paga aos segurados a título de décimoterceiro configura remuneração e não indenização. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF). Previsão legal (Lei 8.620/93). JUROS/SELIC. MULTA. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE. O sujeito passivo inadimplente tem que arcar com o ônus de sua mora, ou seja, os juros e a multa legalmente previstos. Nos termos do enunciado no 4 de Súmula do CARF, é cabível a cobrança de juros de mora com base na taxa SELIC para débitos relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal. CARÁTER CONFISCATÓRIO DA MULTA. INOCORRÊNCIA. A vedação ao confisco pela Constituição Federal é dirigida ao legislador, cabendo à autoridade administrativa apenas aplicar a penalidade de multa nos moldes da legislação em vigor. Recurso Voluntário Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 14 0. 72 14 60 /2 01 2- 76 Fl. 193DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário. Ronaldo de Lima Macedo Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros: Ronaldo de Lima Macedo, Kleber Ferreira Araújo, Ronnie Soares Anderson, Marcelo Oliveira, Lourenço Ferreira do Prado, João Victor Ribeiro Aldinucci e Natanael Vieira dos Santos. Fl. 194DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO Processo nº 10140.721460/201276 Acórdão n.º 2402004.901 S2C4T2 Fl. 3 3 Relatório Tratase de lançamento fiscal decorrente do descumprimento de obrigação tributária principal, referente às contribuições devidas à Seguridade Social, incidentes sobre a remuneração dos segurados empregados e contribuintes individuais, concernente à parcela patronal, incluindo as contribuições para o financiamento das prestações concedidas em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho (SAT/GILRAT) e as contribuições destinadas a outras Entidades/Terceiros. Há também lançamento pelo descumprimento de obrigação acessória. O período de lançamento dos créditos previdenciários é de 01/2008 a 13/2008. O Relatório Fiscal (fls. 27/32) informa que o fato gerador decorre da remuneração de diversos trabalhadores que prestaram serviços para a empresa como segurados obrigatórios. Informa que a empresa teve o indeferimento da opção ao Simples Nacional por problemas fiscais, conforme consulta do histórico da empresa no Simples Nacional, em anexo (fls. 91/96). Assim, foram constituídos os seguintes lançamentos: 1. AIOA DEBCAD 37.372.0777 à relativo à infração por descumprimento de obrigação acessória, pela omissão, em Guias de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social, no período de 01/2008 a 11/2008, de todas as contribuições previdenciárias, conforme estabelecido no art. 32, IV, §5º, da Lei 8.212/1991 (Fundamento Legal 68); 2. AIOP DEBCAD 37.372.0785 à relativo às contribuições previdenciárias patronais, incluindo as destinadas ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, apuradas nas folhas de pagamentos e recibos de pagamentos; 3. AIOP DEBCAD 37.372.0793 à relativo às contribuições destinadas a outras entidades e fundos (Salário Educação, INCRA, SESC, SENAC e SEBRAE), apuradas nas folhas de pagamentos. A ciência do lançamento fiscal ao sujeito passivo deuse em 29/06/2012 (fls. 01 e 02). A autuada apresentou impugnação tempestiva (fls. 62/176), alegando, em síntese, que não recebeu qualquer tipo de notificação informando a sua exclusão do Simples Nacional, e não estava pagando a contribuição da parte da empresa porque tinha amparo legal, conforme a Lei Complementar 123/2006. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento (DRJ) em Juiz de Fora/MG – por meio do Acórdão 0946.706 da 5a Turma da DRJ/JFA – considerou o lançamento fiscal procedente em sua totalidade. Fl. 195DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO 4 A Notificada apresentou recurso, manifestando seu inconformismo pela obrigatoriedade do recolhimento dos valores lançados na notificação e alegando: 1. nulidade decorrente de cerceamento ao seu direito de defesa; 2. seja excluída da utilização dos cálculos a Taxa Selic, ante a sua ilegalidade e inconstitucionalidade, e fixar os juros moratórios em percentual não superior a 1% ao mês, conforme determina o art. 161, parágrafo 1o, do CTN e art. 192, parágrafo 39 da CF; 3. determine a adequação da muita à nova ordem econômica, afastando o seu caráter confiscatório, fixandoa em percentual não superior a 2%; e 4. seja afastada dos cálculos a cobrança de contribuições previdenciárias sobre o 13o salário. A Delegacia da Receita Federal do Brasil em Campo Grande/MS informa que o recurso interposto é tempestivo e encaminha os autos ao CARF para processamento e julgamento. É o relatório. Fl. 196DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO Processo nº 10140.721460/201276 Acórdão n.º 2402004.901 S2C4T2 Fl. 4 5 Voto Conselheiro Ronaldo de Lima Macedo, Relator Recurso tempestivo. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço, em parte, do recurso interposto. A Recorrente alega que não houve a devida identificação dos valores lançados e o auto de infração não contém todos os elementos que possibilitem a identificação clara dos fatos. Assim, diante de tais irregularidades, deve ser declarado nulo o lançamento fiscal. Tal alegação não será acatada, pois os elementos probatórios que compõem os autos são suficientes para a perfeita compreensão da legislação aplicada e dos valores lançados. Os documentos acostados ao relatório fiscal (fls. 91/96) apontam que houve apenas solicitações de opção pelo Simples Nacional, efetuadas pela empresa, e todas foram indeferidas, conforme Termos de Indeferimento emitidos. Logo, a Recorrente não foi excluída do Simples Nacional, mas, na verdade, ela nunca foi optante desse referido sistema. Diante desse fato, os valores lançados decorrem das remunerações pagas aos segurados empregados e contribuintes individuais que prestaram serviços à Recorrente, constantes em folhas de pagamentos e recibos pagamentos. Verificase ainda que o lançamento fiscal ora analisado atende aos pressupostos essenciais para sua lavratura, contendo de forma clara os elementos necessários para a sua configuração e caracterização. Com isso, não há que se falar em vícios no lançamento fiscal, eis que estão estabelecidos de forma transparente nos autos (fls. 01/144) todos os seus requisitos legais, conforme preconizam o art. 142 do CTN e o art. 10 do Decreto 70.235/1972, tais como: local e data da lavratura; caracterização da ocorrência da situação fática da obrigação tributária (fato gerador); determinação da matéria tributável; montante da contribuição previdenciária devida; identificação do sujeito passivo; determinação da exigência tributária e intimação para cumprila ou impugnála no prazo de 30 dias; disposição legal infringida e aplicação das penalidades cabíveis; dentre outros. Lei 5.172/1966 – Código Tributário Nacional (CTN): Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. ......................................................................................................... Decreto 70.235/1972: Fl. 197DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO 6 Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente: I a qualificação do autuado; II o local, a data e a hora da lavratura; III a descrição do fato; IV a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; V a determinação da exigência e a intimação para cumprila ou impugnála no prazo de trinta dias; VI a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. O Relatório Fiscal (fls. 27/32) e seus anexos (fls. 01/26 e 32/144) são suficientemente claros e relacionam os dispositivos legais aplicados ao lançamento fiscal ora analisado, bem como descriminam o fato gerador da contribuição devida. A fundamentação legal aplicada encontrase no Relatório de Fundamentos Legais do Débito FLD, que contém todos os dispositivos legais por assunto e competência. Há o Discriminativo Analítico de Débito (DAD), que contém todas as contribuições sociais devidas, de forma clara e precisa. Ademais, constam outros relatórios que complementam essas informações, tais como: Relatório de Lançamentos (RL); Discriminativo Sindético de Debito (DSD); planilhas de cálculos comparativos da aplicação da multa; dentre outros. Esses documentos, somados entre si, permitem a completa verificação dos valores e cálculos utilizados na constituição do crédito tributário. Com isso, ao contrário do que afirma a Recorrente, o lançamento fiscal foi lavrado de acordo com os dispositivos legais e normativos que disciplinam a matéria, tendo o agente fiscal demonstrado, de forma clara e precisa, a ocorrência do fato gerador das contribuições previdenciárias incidentes sobre a remuneração dos segurados empregados e contribuintes individuais, fazendo constar nos relatórios que o compõem (fls. 01/144) os fundamentos legais que amparam o procedimento adotado e as rubricas lançadas. Logo, essas alegações da Recorrente de nulidade do lançamento fiscal são genéricas, ineficientes e inócuas, não se permitindo configurar qualquer nulidade e não serão acatadas. Com relação à verba paga a título de décimoterceiro, o STJ tem jurisprudência no sentido de que o recebimento dessa, para efeitos de incidência de contribuição previdenciária, configura remuneração e não indenização. Processo: AgRg no REsp 1477306 RS 2014/02142758. Relator(a): Ministra ASSUSETE MAGALHÃES. Julgamento: 23/10/2014. Publicação: DJe 04/11/2014 Ementa: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO. INCIDÊNCIA. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, CONFIRMADA NO JULGAMENTO DO RECURSO ESPECIAL REPETITIVO 1.066.682/SP, E NO MESMO SENTIDO DAS SÚMULAS 207 E 688, DO STF. APRECIAÇÃO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS, EM Fl. 198DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO Processo nº 10140.721460/201276 Acórdão n.º 2402004.901 S2C4T2 Fl. 5 7 ÂMBITO ESPECIAL. INADMISSIBILIDADE. REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA RECONHECIDA, PELO STF. INEXISTÊNCIA DE FUNDAMENTO PARA REFORMA DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. I O entendimento sufragado pelo Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que deve incidir contribuição previdenciária sobre a gratificação natalina, por possuir esta verba caráter permanente, integrando o conceito de remuneração, foi confirmado no julgamento do Recurso Especial 1.066.682/SP, efetuado pela Primeira Seção, sob o rito do art. 543C do CPC. Precedentes do STJ: AgRg no REsp 1.459.519/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 10/10/2014; AgRg no AREsp 509.719/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 20/06/2014. II A incidência de contribuição previdenciária sobre o décimo terceiro salário foi, inclusive, objeto da Súmula 207/STF ("as gratificações habituais, inclusive a de natal, consideramse tacitamente convencionadas, integrando o salário") e da Súmula 688/STF ("é legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o 13º salário"). III A via especial, destinada à uniformização da interpretação do direito federal, não se presta à análise de dispositivos da Constituição da República, ainda que para fins de prequestionamento. Precedentes do STJ. IV O reconhecimento da repercussão geral da matéria, pela Suprema Corte, não é fundamento suficiente para a reforma da decisão impugnada, até porque sequer enseja o sobrestamento dos recursos especiais que tramitam no Superior Tribunal de Justiça. V Agravo Regimental improvido. ......................................................................................................... Processo: ARE 844340 SC. Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO. Julgamento: 09/12/2014Órgão Julgador: Primeira Turma. Publicação: DJe021 DIVULG 30012015 PUBLIC 0202 2015. Ementa: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL – DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO. É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o décimo terceiro salário – Verbete nº 688 da Súmula do Supremo. O STF, em sua Súmula 688, entende que “É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o 13o salário”. Nesse caminhar, após a Lei 8.620/1993, é válida a incidência da contribuição previdenciária em separado sobre a gratificação natalina (décimoterceiro), pois passou a existir a existir previsão legal, a teor de seu art. 7o, § 2o. Por sua vez, o STJ assentou que “a Lei 8.620/93, em seu art. 7o, § 2o, autorizou expressamente a incidência da contribuição Fl. 199DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO 8 previdenciária sobre o valor bruto do 13o salário, cuja base de cálculo deve ser calculada em separado do salárioderemuneração do respectivo mês de dezembro” (REsp 1.066.682, de 09/12/2009). Dessa forma, os valores concedidos aos segurados a título de décimoterceiro configuram uma remuneração vinculada ao salário, nos termos do art. 28, incisos I e III, da Lei 8.212/1991. Lei 8.212/1991: Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97) (...) III para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, observado o limite máximo a que se refere o § 5°; (Redação dada pela Lei n° 9.876, de 1999). Com isso, no que diz respeito à verba paga a título de décimoterceiro, a alegação da Recorrente não será acatada, eis que tal verba está sujeita à incidência da contribuição previdenciária, nos termos do art. 28, incisos I e III, da Lei 8.212/1991 c/c o artigo 201, §111, da Constituição Federal de 1988, e da jurisprudência dos Tribunais Superiores (STJ e STF). No que tange à arguição de inconstitucionalidade ou ilegalidade da legislação previdenciária que dispõe sobre a utilização da taxa de juros (taxa SELIC) e da multa aplicada, frisese que incabível seria sua análise na esfera administrativa. Não pode a autoridade administrativa recusarse a cumprir norma cuja constitucionalidade vem sendo questionada, razão pela qual são aplicáveis as normas reguladas na Lei 8.212/1991. Isso está em consonância com o Enunciado nº 2 de Súmula do CARF: “O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária”. Cumpre esclarecer que foi correta a aplicação do índice pelo Fisco, pois o art. 144 do CTN dispõe que o lançamento reportase à data da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária e regese pela lei então vigente, ainda que modificada ou revogada, e a cobrança de juros (taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC) estava prevista em lei específica da previdência social, art. 342 da Lei 8.212/1991. 1 Artigo 201, §11, CF/1988: Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. 2 Art. 34. As contribuições sociais e outras importâncias arrecadadas pelo INSS, incluídas ou não em notificação fiscal de lançamento, pagas com atraso, objeto ou não de parcelamento, ficam sujeitas aos juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de CustódiaSELIC, a que se refere o art. 13 da Lei nº 9.065, Fl. 200DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO Processo nº 10140.721460/201276 Acórdão n.º 2402004.901 S2C4T2 Fl. 6 9 Nesse sentido já se posicionou o STJ no Recurso Especial n° 475904, publicado no DJ em 12/05/2003, cujo relator foi o Min. José Delgado: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. CDA. VALIDADE. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 07/STJ. COBRANÇA DE JUROS. TAXA SELIC. INCIDÊNCIA. A averiguação do cumprimento dos requisitos essenciais de validade da CDA importa o revolvimento de matéria probatória, situação inadmissível em sede de recurso especial, nos termos da Súmula 07/STJ. No caso de execução de dívida fiscal, os juros possuem a função de compensar o Estado pelo tributo não recebido tempestivamente. Os juros incidentes pela Taxa SELIC estão previstos em lei. São aplicáveis legalmente, portanto. Não há confronto com o art. 161, § 1º, do CTN. A aplicação de tal Taxa já está consagrada por esta Corte, e é devida a partir da sua instituição, isto é, 1º/01/1996 (REsp 439256/MG). Recurso especial parcialmente conhecido, e na parte conhecida, desprovido. A propósito, convém mencionar que o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) uniformizou a jurisprudência administrativa sobre a matéria por meio do enunciado da Súmula nº 4 (Portaria MF no 383, publicada no DOU de 14/07/2010), nos seguintes termos: Súmula CARF nº 4: A partir de 1o de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia Selic para títulos federais. Não tendo o contribuinte recolhido à contribuição previdenciária em época própria, tem por obrigação arcar com o ônus de seu inadimplemento. Caso não se fizesse tal exigência, poderseia questionar a violação ao principio da isonomia, por haver tratamento similar entre o contribuinte que cumprira em dia com suas obrigações fiscais, com aqueles que não recolheram no prazo fixado pela legislação. Dessa forma, não há que se falar em ilegalidade de cobrança de juros, estando os valores descritos no lançamento fiscal, em consonância com o prescrito pela legislação previdenciária, já que o art. 34 da Lei 8.212/1991 dispunha que as contribuições sociais não recolhidas à época própria ficavam sujeitas aos juros SELIC e multa de mora, todos de caráter irrelevável. Isso está em consonância com o próprio art. 161, § 1°, do CTN3, pois havendo legislação especifica dispondo de modo diverso, abrese a possibilidade de que seja aplicada de 20 de junho de 1995, incidentes sobre o valor atualizado, e multa de mora, todos de caráter irrelevável. (Artigo restabelecido, com nova redação dada e parágrafo único acrescentado pela Lei nº 9.528, de 10/12/97) Parágrafo único. O percentual dos juros moratórios relativos aos meses de vencimentos ou pagamentos das contribuições corresponderá a um por cento. 3 Lei 5.172/1966 – Código Tributário Nacional (CTN): Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º. Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. Fl. 201DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO 10 outra taxa e, no caso das contribuições previdenciárias pagas com atraso, a taxa utilizada é a SELIC. O disposto no art. 161 do CTN não estabelece norma geral em matéria de legislação tributária. Portanto, sendo materialmente lei ordinária pode ser alterado por outra lei de igual status, não havendo necessidade de lei complementar. Ainda, conforme estabelecia os arts. 34 e 354 da Lei 8.212/1991, sem as alterações da Lei 11.941/2009, a multa de mora é bem aplicável pelo não recolhimento em época própria das contribuições previdenciárias. Além disso, o art. 136 do CTN descreve que a responsabilidade pela infração independe da intenção do agente ou do responsável, e da natureza e extensão dos efeitos do ato. Dessa forma, não há que se falar em ilegalidade de cobrança da multa, estando os valores descritos no lançamento fiscal, bem como os seus fundamentos legais, em consonância com o prescrito pela legislação previdenciária. Quanto ao argumento de que a multa aplicada tem caráter confiscatório, o que é vedado pela Constituição Federal, já que ela seria abusiva e desproporcional, e deveria ser relevada, razão não confiro ao Recorrente, já que a multa foi aplicada em conformidade à legislação previdenciária descrita acima. Ademais, conforme registramos anteriormente, a verificação de inconstitucionalidade de ato normativo é inerente ao Poder Judiciário, não podendo ser apreciada pelo órgão do Poder Executivo. Logo, essa verificação de que a multa aplicada vai de encontro ao princípio constitucional da isonomia e teria caráter confiscatório, ora pretendida pela Recorrente, exacerba a competência originária dessa Corte administrativa, que é a de órgão revisor dos atos praticados pela Administração, bem como invade competência atribuída especificamente ao Judiciário pela Constituição Federal. Registramos que a vedação constitucional quanto ao caráter confiscatório se dá em relação ao tributo e não à multa pecuniária ora discutida pela recorrente, sendo esta última a apreciada no caso concreto. Nesse sentido preceitua o art. 150, IV, da Constituição Federal de 1988: 4 Art. 35. Sobre as contribuições sociais em atraso, arrecadadas pelo INSS, incidirá multa de mora, que não poderá ser relevada, nos seguintes termos: (Redação dada pelo art. 1º, da Lei nº 9.876/99) (...) II para pagamento de créditos incluídos em notificação fiscal de lançamento: a) vinte e quatro por cento, em até quinze dias do recebimento da notificação; (Redação dada pelo art. 1º, da Lei nº 9.876/99). b) trinta por cento, após o décimo quinto dia do recebimento da notificação; (Redação dada pelo art. 1º, da Lei nº 9.876/99). c) quarenta por cento, após apresentação de recurso desde que antecedido de defesa, sendo ambos tempestivos, até quinze dias da ciência da decisão do Conselho de Recursos da Previdência Social CRPS; (Redação dada pelo art. 1º, da Lei nº 9.876/99). d) cinqüenta por cento, após o décimo quinto dia da ciência da decisão do Conselho de Recursos da Previdência Social CRPS, enquanto não inscrito em Dívida Ativa; (Redação dada pela Lei nº 9.876/99). (...) § 4º Na hipótese de as contribuições terem sido declaradas no documento a que se refere o inciso IV do art. 32, ou quando se tratar de empregador doméstico ou de empresa ou segurado dispensados de apresentar o citado documento, a multa de mora a que se refere o caput e seus incisos será reduzida em cinqüenta por cento. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 9.876/99) Fl. 202DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO Processo nº 10140.721460/201276 Acórdão n.º 2402004.901 S2C4T2 Fl. 7 11 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) IV utilizar tributo com efeito de confisco; Portanto, não possui natureza de confisco a exigência da multa moratória, conforme prevê o art. 35 da Lei 8.212/1991, já que se trata de uma multa pecuniária. Não recolhendo na época própria o sujeito passivo tem que arcar com o ônus de seu inadimplemento. CONCLUSÃO: Voto no sentido de CONHECER do recurso e NEGARLHE PROVIMENTO, nos termos do voto. Ronaldo de Lima Macedo. Fl. 203DF CARF MF Impresso em 17/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por RONALDO DE LIMA MACEDO, Assinado digitalmente em 12/02/20 16 por RONALDO DE LIMA MACEDO
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