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Numero do processo: 10880.909050/2009-96
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon Nov 26 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Feb 15 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/12/2002 a 31/12/2002
PEDIDOS DE COMPENSAÇÃO/RESSARCIMENTO. ÔNUS PROBATÓRIO DO POSTULANTE. LIQUIDEZ E CERTEZA DO CRÉDITO VINDICADO.
Nos processos que versam a respeito de compensação ou de ressarcimento, a comprovação da liquidez e certeza do direito creditório recai sobre aquele a quem aproveita o reconhecimento do fato, que deve apresentar elementos probatórios aptos a comprovar as suas alegações. Não se presta a diligência, ou perícia, a suprir deficiência probatória, seja do contribuinte ou do fisco.
Numero da decisão: 3401-005.550
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Rosaldo Trevisan - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros Carlos Alberto da Silva Esteves (suplente convocado), Tiago Guerra Machado, Lazaro Antônio Souza Soares, André Henrique Lemos, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Cássio Schappo, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (Vice-Presidente) e Rosaldo Trevisan (Presidente). Ausente, justificadamente, a conselheira Mara Cristina Sifuentes.
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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ÔNUS PROBATÓRIO DO POSTULANTE. LIQUIDEZ E CERTEZA DO CRÉDITO VINDICADO. Nos processos que versam a respeito de compensação ou de ressarcimento, a comprovação da liquidez e certeza do direito creditório recai sobre aquele a quem aproveita o reconhecimento do fato, que deve apresentar elementos probatórios aptos a comprovar as suas alegações. Não se presta a diligência, ou perícia, a suprir deficiência probatória, seja do contribuinte ou do fisco. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros Carlos Alberto da Silva Esteves (suplente convocado), Tiago Guerra Machado, Lazaro Antônio Souza Soares, André Henrique Lemos, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Cássio Schappo, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (VicePresidente) e Rosaldo Trevisan (Presidente). Ausente, justificadamente, a conselheira Mara Cristina Sifuentes. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 90 90 50 /2 00 9- 96 Fl. 348DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de declaração de compensação, realizada com base em suposto crédito de contribuição social originário de pagamento indevido ou a maior, que restou não homologada pela autoridade jurisdicionante face a ausência de crédito disponível. Cientificada da decisão denegatória de seu pleito, a recorrente apresentou manifestação de inconformidade, alegando o que segue: Preliminarmente requer a nulidade do Despacho Decisório que indeferiu a compensação, sob os seguintes argumentos: " o despacho decisório ora recorrido é absolutamente NULO por (i) cercear o direito de defesa do contribuinte, na medida em que não descreve adequadamente as irregularidades supostamente apuradas e busca conveniente inversão do ônus da comprovação (o que via de regra é um em dever do fisco e não do contribuinte), e (ii) não conter uma descrição adequada dos valores que poderiam ser devidos pela Requerente, em prejuízo do disposto nos incisos III e IV do artigo lº do Decreto n° 70.235/72, e nos artigos 113, § 10 , e 142 do Código Tributário Nacional ("CTN")". No mérito afirma que, em razão das atividades que pratica, realiza diversas operações estaduais que envolvem o pagamento do ICMS, pelo regime de substituição tributária. O art. 7º da Portaria CAT nº 17/99, bem como os artigos 269 e 270 do Regulamento do ICMS do Estado de São Paulo (Decreto 45.900/2000) autorizam ao contribuinte se restituir do montante indevidamente pago do tributo. Nos anos de 2001 a 2003 a empresa procedeu ao creditamento do ICMSST, retido a maior pelo fornecedor, na compra de mercadorias, tendo em vista o diferencial de margem por ela efetivamente praticada e aquela utilizada pelo fornecedor para fins de cálculo do ICMSST, conforme atestam as anexas Guias de Informação e Apuração do ICMS (GIA's). Com base no creditamento dos montantes de ICMSST (principal pago indevidamente, acrescido de juros), a Requerente ofereceu tais valores à tributação pelo(a) COFINS. Contudo, o ICMSST restituído pelo Fisco Estadual à Requerente não pode integrar a base de cálculo da COFINS: a um porque não configura receita do comerciante (mas sim do Estado) e, a dois, porque, não sendo o ICMS parte do faturamento próprio da empresa, não representa acréscimo patrimonial positivo, para fins de incidência do(a) COFINS. De acordo com o entendimento preponderante da doutrina, o termo receita corresponde a um fato que venha a modificar positivamente o patrimônio da pessoa jurídica. Fl. 349DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 4 3 Em linhas gerais, o acréscimo patrimonial de uma pessoa jurídica ocorre com a incorporação de um novo direito, definido como tal pela norma jurídica, ao seu patrimônio. Em sendo assim, a princípio, poderseia dizer que a restituição de tributos configura receita para a pessoa jurídica que recebe tais valores. Contudo, por mais que seja caracterizado como um direito novo, a restituição de tributo pago indevidamente guarda intrínseca relação com um direito existente anteriormente no patrimônio da pessoa jurídica, qual seja, o caixa utilizado para efetuar o pagamento do tributo. Logo, em última análise, o direito à restituição nada mais é do que o próprio direito ao caixa utilizado para o pagamento do tributo, que já se encontrava incorporado ao patrimônio da sociedade. Poderseia equiparar a restituição de tributos pagos indevidamente a uma operação de mútuo, sendo o mutuário o Governo, enquanto o mutuante é a pessoa jurídica que tenha recolhido o tributo indevidamente. Como se sabe, em uma operação de mútuo, a devolução do valor do principal configura uma mera recomposição patrimonial. Assim, não há que se falar que a restituição de tributos recolhidos indevidamente é receita, já que lhe falta um dos elementos característicos do conceito de receita, qual seja, acréscimo patrimonial. O próprio legislador tributário já admite, ainda que não expressamente, que o ingresso de direito novo, vinculado a direito previamente existente com caráter de mera recomposição patrimonial, não configura receita. Tal entendimento estaria implicitamente previsto no artigo 30, §2°, II, da Lei 9.718/98 e no artigo 10, § 30, inciso V, alínea "b" da Lei n° 10.833/03. A Superintendência Regional da Receita Federal SRRF/9a. Regido Fiscal, nos autos do Processo de Consulta nº 222/02 já se manifestou no sentido de que a mera restituição de tributos não é receita e, portanto, não está sujeita à incidência do PIS/COFINS. Também o Ato Declaratório Interpretativo nº 25, de 23/12/2003 manifestouse no sentido de que não há incidência de PIS e de COFINS sobre valores de tributos pagos indevidamente. Consequentemente, os pagamentos efetuados a esse título configuram crédito da Requerente, passível de compensação. Os valores relativos ao ICMSST restituídos à Requerente, cuja incidência tem por fundamento o disposto no artigo 155 caput, inciso II, e § 2° da CF/88, foram incluídos na composição da base de cálculo da aludida contribuição, como faz prova as GIA's anexadas a estes autos. Fl. 350DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 5 4 O C. STF, recentemente, por entender que a matéria tem cunho constitucional, iniciou o julgamento da constitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo da COFINS (Recurso Extraordinário n° 240785). O julgamento foi paralisado com 6 (seis) votos favoráveis aos contribuintes, nos quais se reconheceu que o ICMS não deve ser incluído na base de cálculo da COFINS. Não sendo faturamento e nem receita, o valor do ICMS pago pelo contribuinte não representa medida de riqueza para fins de incidência de contribuição social instituída com fundamento no artigo 195, inciso I, alínea "b", da CF/88, antes ou depois da EC 20/98. Por esse motivo, a sua inclusão é indevida, uma vez que se está tributando algo que não carrega um signo presuntivo de riqueza para o contribuinte, mas representa uma receita apenas para o Estado. Assim, caso não seja reconhecido que a restituição de tributo indevidamente pago deva ser excluída da base de cálculo do PIS e da COFINS, a Requerente entende que, nos termos em que já reconhecido pela jurisprudência é indevida a inclusão do ICMS na base de cálculo das referidas contribuições. Além disso, a não homologação das compensações pretendida pela Fiscalização não poderia ser acompanhada da cobrança de multa e juros moratórios, em razão da comprovada suspensão da exigibilidade dos créditos tributários objeto dos referidos processos administrativos. Para que haja a exigência de multa e juros de mora, é condição necessária que o contribuinte encontrese em atraso com o pagamento do crédito tributário. No caso, a empresa só estaria em mora se houvesse transcorrido o prazo de 30 (trinta) dias, contados da ciência do despacho decisório de não homologação da compensação. Diante da Manifestação de Inconformidade, que suspende a exigibilidade do crédito tributário nos termos do artigo 151, inciso III, do CTN, mesmo depois de findo o referido prazo, nenhum valor a título de multa e juros de mora poderá ser exigido enquanto o processo administrativo encontrarse em curso. Uma vez que a Requerente, ao proceder a compensação, observou todas as normas e atos normativos expedidos pelas Autoridades Fiscais, de acordo com o artigo 100, parágrafo único do CTN, deve ser excluída da base de cálculo do tributo "a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário". Por todo o exposto, requerse o acolhimento da Manifestação de Inconformidade, com a suspensão da exigibilidade do crédito tributário objeto da compensação, a homologação integral procedimento e o consequente cancelamento da exigência, seguido do arquivamento do processo administrativo. Fl. 351DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 6 5 Requer também, enquanto não houver julgamento final do Processo Administrativo, que os débitos compensados não obstem a expedição de CND conjunta da Receita Federal do Brasil/Procuradoria da Fazenda Nacional. Protesta provar, por todos os meios de prova admitidos, a total improcedência da decisão recorrida, inclusive pela posterior e oportuna juntada de documentos" (seleção e grifos nossos). O colegiado a quo julgou improcedente a manifestação de inconformidade, nos termos do Acórdão DRJ nº 02063.087. Devidamente cientificada desta decisão, a recorrente interpôs, tempestivamente, o Recurso Voluntário ora em apreço, no qual reiterou as razões vertidas em sua impugnação. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3401005.548, de 26 de novembro de 2018, proferido no julgamento do processo 10880.909051/200931, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevemse, como solução deste litígio, nos termos regimentais, os entendimentos que prevaleceram naquela decisão (Acórdão 3401005.548): "O recurso voluntário é tempestivo e preenche os requisitos formais de admissibilidade e, portanto, dele tomo conhecimento. Reproduzse, abaixo, a decisão recorrida proferida pelo julgador de primeiro piso: I Preliminares I.1 Nulidade do Despacho Decisório Em sede de preliminares a Manifestante aduz a nulidade do despacho decisório combatido, por falta de descrição clara e precisa dos elementos que redundaram na não homologação da compensação efetuada, fato que lhe teria prejudicado o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, além de macular o princípio da legalidade. O argumento não merece guarida. De início, importa destacar que o tratamento da DCOMP sob exame se deu de forma eletrônica. Fl. 352DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 7 6 A partir da redação conferida pela Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002 ao art. 74 da Lei nº 9.430, de 1996, a compensação tributária passou a ser implementada pelo sujeito passivo mediante a entrega de declaração de compensação eletrônica (DCOMP), na qual constam informações relativas aos créditos utilizados e aos respectivos débitos. O efeito imediato dessa declaração é a extinção do crédito tributário, ainda que sob condição resolutória de ulterior homologação. Nesses termos, ao contribuinte cabe a responsabilidade pelas informações sobre os créditos e os débitos informados em DCOMP e, à autoridade fazendária, compete a verificação e a validação dessas informações. Estando em conformidade, sobrevém a homologação do procedimento compensatório, confirmando a extinção dos débitos compensados; do contrário, invalidadas as informações prestadas pelo declarante, o inverso se verifica. No caso em tela, a Contribuinte transmitiu a DCOMP nº 01940.15106.110205.1.3.041500 para compensar suposto crédito de COFINS (Código 2172) decorrente de pagamento indevido ou a maior, apontando um documento de arrecadação (DARF), recolhido em 14/06/2002, no valor de R$ 6.154.433,30, como origem desse crédito. Como se cuida de tratamento eletrônico, a verificação dos dados informados pela Contribuinte em DCOMP realiza se de forma eletrônica, em cotejo com as demais informações por ela prestadas à RFB em outras declarações (DCTF, DACON, DIPJ, por exemplo), bem como com outras bases de dados desse órgão (pagamentos, etc),e resulta num despacho decisório de homologação/não homologação/homologação parcial da compensação declarada. Do cotejo dessas informações, o despacho decisório resultou na não homologação da DCOMP nº 01940.15106.110205.1.3.041500, tendo em vista que, embora localizado nos sistemas da RFB o pagamento informado como origem do direito creditório, este se encontra integralmente utilizado na quitação de outros débitos da contribuinte, de forma que não existe saldo de crédito disponível para a compensação declarada na citada DCOMP. Equivale a dizer que, do exame das declarações apresentadas pela própria Interessada à Administração Tributária, é possível concluir pela inexistência de crédito passível de utilização na Dcomp ora analisada. Via de consequência, é de se reconhecer que o Despacho Decisório foi emitido corretamente, vez que baseado nas informações disponíveis para a Administração Tributária. Fl. 353DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 8 7 Portanto, clara está a motivação do ato administrativo guerreado, que reside nas próprias declarações e documentos produzidos pela Contribuinte. Estas são, portanto, a prova e o motivo do ato administrativo, não havendo que se falar em intimação prévia, nem violação ao contraditório, ou cerceamento de defesa. A empresa foi devidamente cientificada do despacho decisório, lavrado por autoridade competente, com observância de todas as prescrições legais; tendolhe sido oportunizada a apresentação de defesa e a produção de provas, no prazo legal. Ademais, as razões suscitadas na peça de defesa demonstram amplo conhecimento dos motivos que levaram à não homologação do procedimento compensatório. (...) II Mérito II.1 Da não incidência do Pis e da Cofins sobre a Restituição de Tributos Pagos Indevidamente O Ato Declaratório Interpretativo SRF nº 25, de 24/12/2003, que dispõe sobre a tributação de valores restituídos ao contribuinte pessoa jurídica, por força de sentença judicial em ação de repetição de indébito, prescreve: Art. 1º Os valores restituídos a título de tributo pago indevidamente serão tributados pelo Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), se, em períodos anteriores, tiverem sido computados como despesas dedutíveis do lucro real e da base de cálculo da CSLL. Art. 2º Não há incidência da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição para o PIS/Pasep sobre os valores recuperados a título de tributo pago indevidamente. Art. 3º Os juros incidentes sobre o indébito tributário recuperado é receita nova e, sobre ela, incidem o IRPJ, a CSLL, a Cofins e a Contribuição para o PIS/Pasep. (...)Do acima transcrito, verificase que o citado Ato Declaratório Interpretativo explicita claramente que não há incidência da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição para o PIS/Pasep sobre os valores recuperados a título de tributo pago indevidamente. Todavia, por configurarem receita nova, os juros incidentes sobre o indébito devem compor a base de cálculo das contribuições para o Pis/PASEP e da Cofins, bem como do IRPJ e da CSLL. Fl. 354DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 9 8 Além disso, há que se observar o período de apuração sobre o qual a Requerente argúi a existência do direito creditório (Maio/2002). Nesse período de apuração, a exigência da Cofins era regida pela Lei nº 9.718/98, cujo § 1º do art. 3º foi tido por inconstitucional, em decisão plenária do STF que reconheceu, inclusive, a repercussão geral da matéria (RE nº 585.235, Relator: Min. Cezar Peluso, Data de julgamento: 10/09/2008). Em função dos efeitos das decisões emanadas do STF foram editados, pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional, o Parecer PGFN/CRJ/Nº 492, de 22/03/2010 e a Portaria PGFN nº 294, de 2010, prevendo a dispensa de apresentação de recurso, ordinário e extraordinário, nos casos em que os precedentes sobre determinados assuntos, divulgados por meio de listas atualizadas periodicamente, oriundos do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, forem julgados com base nos artigos 543B (repercussão geral) e 543C (repetitivos). E, da lista de temas julgados pelo STF sob a forma do art. 543B do CPC, e que não mais serão objeto de contestação/recurso pela PGFN, encontrase aquele objeto do RE nº 585.235, que considerou inconstitucional o alargamento da base de cálculo do PIS e da COFINS, promovido pelo art. 3º, §1º da Lei n. 9.718/98. Portanto, resta atingido o objetivo pretendido no texto do art. 26A do Decreto 70.235/72, que trata da não aplicação, pelo julgador administrativo, de dispositivo legal declarado inconstitucional por decisão plenária definitiva do STF, resguardando a Fazenda Nacional de futuros prejuízos quando da fase de execução fiscal do crédito tributário. Afastado o disposto no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, a base de cálculo da contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins, até a vigência da Lei 10.833/2003, voltou a ser o faturamento, assim compreendido a receita bruta da venda de mercadorias, de serviços e de mercadorias e de serviços. Não obstante o reconhecimento, em tese, do direito vindicado pela Interessada, é preciso examinar a certeza e a liquidez do crédito pretendido, à vista do que dispõe o art. 170 do CTN, verbis: Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública. (g.n) Os documentos trazidos à colação não são suficientes à comprovação do alegado. As Guias de Informação e Apuração do ICMS acostadas não se prestam a comprovar Fl. 355DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 10 9 que, no período requerido, os valores escriturados a título de ressarcimento do ICMSST (Cód. 007.19) compuseram, inequivocamente, a base de cálculo do(a) COFINS, como receitas. Tais documentos demonstram, somente, o quantum recuperado a título de ICMSST. Com efeito, a legislação processual administrativo tributária inclui disposições que, em regra, reproduzem aquele que é, por assim dizer, o princípio fundamental do direito probatório, qual seja, o de que quem acusa e/ou alega deve provar. Nos termos do art. 333 do CPC, o ônus da prova cabe: I ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Adaptandose essa regra ao Processo Administrativo Fiscal, constróise o seguinte raciocínio: por autor, deve ser identificado como a parte, na relação fisco contribuinte, titular de determinado direito, que toma a iniciativa de postulálo, mediante a adoção de algum procedimento; e por réu, a parte oposta, que apresenta resistência ao direito do autor. Nos casos de restituição/compensação ou ressarcimento de créditos tributários, incumbe ao sujeito passivo a demonstração da efetiva existência do crédito, posto que é dele a iniciativa de viabilizar seu direito ao aproveitamento, quer por pedido de restituição ou ressarcimento, quer por compensação, em ambos os casos mediante a apresentação do Per/Dcomp. De forma que, se a RFB resistir à pretensão do interessado, indeferindo o pedido ou não homologando a compensação, caberá a ele o contribuinte , na qualidade de autor, demonstrar seu direito. Quando a DRF nega o pedido de compensação com base em declaração apresentada (DCTF) que aponta para a inexistência ou insuficiência de crédito, cabe ao contribuinte, caso queira contestar a decisão a ele desfavorável, cumprir o ônus que a legislação lhe atribui, trazendo ao contraditório os elementos de prova que demonstrem a existência do indébito. À obviedade, documentos comprobatórios são documentos que atestem, de forma inequívoca, o direito creditório, visto que, sem tal evidenciação, o pedido fica inarredavelmente prejudicado. No caso, não tendo sido apresentadas pelo contribuinte provas inequívocas quanto à certeza e liquidez do direito creditório não se pode acatar o pedido. (...) Fl. 356DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 11 10 A Reclamante insurgese, também, contra a cobrança de acréscimos legais (multa e juros moratórios) aos débitos compensados, aduzindo não estar em mora, eis que a Manifestação de inconformidade apresentada teria o condão de suspender a exigibilidade dos débitos alvo da compensação. Neste ponto, releva esclarecer que o objeto do presente litígio é a não homologação das compensações declaradas na DCOMP nº 01940.15106.110205.1.3.041500, através do Despacho Decisório nº 821113075, expedido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Administração Tributária em São Paulo. Não se trata de apreciação quanto à exigência de penalidades (ou mesmo quanto à cobrança dos débitos indevidamente compensados), mas apenas quanto ao não reconhecimento do direito creditório e à não homologação das compensações. (...) Nada obstante, merece esclarecer que os acréscimos moratórios decorrem da falta de recolhimento tempestivo do tributo devido, evidenciada a partir da não homologação das compensações efetuadas e têm por fundamento legal o art. 61, da Lei nº 9.430, de 1996. (...) Quanto aos juros de mora, estes são devidos mesmo que a manifestação de inconformidade tenha suspendido a exigibilidade dos créditos tributários compensados, conforme disposto no artigo 161 do CTN, que tem o seguinte teor: Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantias previstas nesta Lei ou em lei tributária. (destaque acrescido). Ademais, no caso específico de compensação, assim estabelece a IN 1.300/2012: Art. 45. O tributo objeto de compensação não homologada será exigido com os respectivos acréscimos legais. Sobre o requerimento para a produção de todos os meios de prova em direito admitidas, cumpre ressaltar que o diploma processual tributário (Decreto nº 70.235/1972) dispõe, em seu art. 16, §4º, que a prova documental será apresentada na impugnação (no caso, na manifestação de inconformidade), precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, sendo estipulado, no §5º, ainda, que a juntada de documentos após a Fl. 357DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 12 11 impugnação deverá ser requerida à autoridade julgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas nas alíneas do §4º (alíneas essas que apresentam as exceções à regra de preclusão). Não havendo as exceções (fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação por motivo de força maior; refirase a fato ou a direito superveniente; destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidos aos autos), ocorre a preclusão temporal e o contribuinte não pode carrear aos autos provas ou alegações suplementares. Assim, caso queira o contribuinte apresentar provas em período posterior, poderá fazêlo desde que demonstre a ocorrência de uma das razões acima indicadas, sob pena de em assim não o fazendo, ter seu pleito de juntada indeferido. De qualquer forma, esta é questão a ser apreciada, concretamente, apenas quando do eventual encaminhamento ou produção de prova nova. À evidência, não é matéria a ser apreciada em tese" (seleção e grifos nossos). Ressaltase, ademais, que, nos pedidos de compensação ou de restituição, como o presente, o ônus de comprovar o crédito postulado permanece a cargo da contribuinte, a quem incumbe a demonstração do preenchimento dos requisitos necessários para a compensação, pois "(...) o ônus da prova recai sobre aquele a quem aproveita o reconhecimento do fato",1 postura consentânea com o art. 36 da Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. 2 Neste sentido, já se manifestou esta turma julgadora em diferentes oportunidades, como no Acórdão CARF nº 3401 003.096, de 23/02/2016, de relatoria do Conselheiro Rosaldo Trevisan: VERDADE MATERIAL. INVESTIGAÇÃO. COLABORAÇÃO. A verdade material é composta pelo dever de investigação da Administração somado ao dever de colaboração por parte do particular, unidos na finalidade de propiciar a aproximação da atividade formalizadora com a realidade dos acontecimentos. PEDIDOS DE COMPENSAÇÃO/RESSARCIMENTO. ÔNUS PROBATÓRIO. DILIGÊNCIA/PERÍCIA. Nos processos derivados de pedidos de compensação/ressarcimento, a comprovação do direito 1 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; e DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros Editores, 26ª edição, 2010, p. 380. 2 Lei nº 9.784/1999 Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão registrados em documentos existentes na própria Administração responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o órgão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou das respectivas cópias. Fl. 358DF CARF MF Processo nº 10880.909050/200996 Acórdão n.º 3401005.550 S3C4T1 Fl. 13 12 creditório incumbe ao postulante, que deve carrear aos autos os elementos probatórios correspondentes. Não se presta a diligência, ou perícia, a suprir deficiência probatória, seja do contribuinte ou do fisco. Verificase, portanto, a completa inviabilidade do reconhecimento do crédito pleiteado em virtude da carência probatória do pedido formulado pela contribuinte recorrente, que não logrou êxito em demonstrar a liquidez e a certeza do crédito vindicado. Assim, voto por conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário." Importa registrar que nos autos ora em apreço, a situação fática e jurídica encontra correspondência com a verificada no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu por conhecer e, no mérito, negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan Fl. 359DF CARF MF
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Numero do processo: 14090.720754/2017-89
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Nov 28 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Jan 15 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/10/2012 a 31/12/2013
COISA JULGADA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE EM INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA ACERCA DA MATÉRIA SOLIDIFICADA. PREJUDICIAL AO MÉRITO
A existência de coisa julgada permitindo o crédito de IPI na aquisição de produtos isentos oriundos da Zona Franca de Manaus impede a análise do crédito presumido na instância administrativa.
CRÉDITO PRESUMIDO. PRODUTOS ADQUIRIDOS COM ERRO DE CLASSIFICAÇÃO FISCAL E ALÍQUOTA. GLOSA DOS VALORES INDEVIDAMENTE APROPRIADOS. POSSIBILIDADE.
A apropriação de créditos incentivados ou fictos, calculados sobre produtos isentos adquiridos de estabelecimentos localizados na ZFM, somente é admitida se houver alíquota positiva do IPI para o produto/insumo adquirido para industrialização. No caso de identificação de erro na classificação fiscal, cuja classificação correta revela que os produtos adquiridos estavam sujeitos à alíquota zero, não há possibilidade de geração de crédito.
COMPETÊNCIA. RECEITA FEDERAL. FISCALIZAÇÃO. ZONA FRANCA DE MANAUS.
É competência da Receita Federal a verificação da legitimidade dos créditos apropriados pela contribuinte em sua escrita fiscal, inclusive, relativamente à verificação se os produtos adquiridos com isenção estão devidamente classificados na posição NCM da TIPI, não afastando esta competência da RFB a circunstância de o projeto de produção ter sido aprovado pela SUFRAMA.
MUDANÇA DE CRITÉRIO JURÍDICO. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. INOCORRÊNCIA.
Para que se caracterize como mudança de critério jurídico, é preciso que a Administração Tributária tenha analisado um fato e o qualificado juridicamente. Não representa mudança de critério de jurídico o auto de infração, cujo lançamento decorreu da glosa de créditos incentivados/fictos, por erro de enquadramento na classificação fiscal da TIPI, quando não houve manifestação anterior da Administração neste sentido nem mesmo um lançamento de ofício anterior, cuja conclusão fiscal foi por outra classificação fiscal do produto.
CLASSIFICAÇÃO FISCAL DADA PELO FORNECEDOR DOS PRODUTOS. NECESSIDADE DE CONFERÊNCIA PELO ADQUIRENTE.
Em razão da não cumulatividade do IPI e de sua sistemática imposto sobre imposto, o adquirente de produtos industrializados deve conferir se a nota fiscal atende todas as prescrições legais e regulamentares, conforme art. 62 da Lei nº 4.502/1964, aí se incluindo a classificação fiscal.
Numero da decisão: 3301-005.546
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer em parte o recurso voluntário e na parte conhecida negar provimento, nos termos do relatorio e votos que integram o presente julgado.
WINDERLEY MORAIS PEREIRA - Presidente.
(assinado digitalmente)
SALVADOR CÂNDIDO BRANDÃO JUNIOR - Relator.
(assinado digitalmente)
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (presidente da turma), Valcir Gassen (vice-presidente), Marcos Roberto da Silva (Suplente Convocado), Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Semíramis de Oliveira Duro, Ari Vendramini, Salvador Cândido Brandão Junior
Nome do relator: SALVADOR CANDIDO BRANDAO JUNIOR
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IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE EM INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA ACERCA DA MATÉRIA SOLIDIFICADA. PREJUDICIAL AO MÉRITO A existência de coisa julgada permitindo o crédito de IPI na aquisição de produtos isentos oriundos da Zona Franca de Manaus impede a análise do crédito presumido na instância administrativa. CRÉDITO PRESUMIDO. PRODUTOS ADQUIRIDOS COM ERRO DE CLASSIFICAÇÃO FISCAL E ALÍQUOTA. GLOSA DOS VALORES INDEVIDAMENTE APROPRIADOS. POSSIBILIDADE. A apropriação de créditos incentivados ou fictos, calculados sobre produtos isentos adquiridos de estabelecimentos localizados na ZFM, somente é admitida se houver alíquota positiva do IPI para o produto/insumo adquirido para industrialização. No caso de identificação de erro na classificação fiscal, cuja classificação correta revela que os produtos adquiridos estavam sujeitos à alíquota zero, não há possibilidade de geração de crédito. COMPETÊNCIA. RECEITA FEDERAL. FISCALIZAÇÃO. ZONA FRANCA DE MANAUS. É competência da Receita Federal a verificação da legitimidade dos créditos apropriados pela contribuinte em sua escrita fiscal, inclusive, relativamente à verificação se os produtos adquiridos com isenção estão devidamente classificados na posição NCM da TIPI, não afastando esta competência da RFB a circunstância de o projeto de produção ter sido aprovado pela SUFRAMA. MUDANÇA DE CRITÉRIO JURÍDICO. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. INOCORRÊNCIA. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 14 09 0. 72 07 54 /2 01 7- 89 Fl. 10355DF CARF MF 2 Para que se caracterize como mudança de critério jurídico, é preciso que a Administração Tributária tenha analisado um fato e o qualificado juridicamente. Não representa mudança de critério de jurídico o auto de infração, cujo lançamento decorreu da glosa de créditos incentivados/fictos, por erro de enquadramento na classificação fiscal da TIPI, quando não houve manifestação anterior da Administração neste sentido nem mesmo um lançamento de ofício anterior, cuja conclusão fiscal foi por outra classificação fiscal do produto. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DADA PELO FORNECEDOR DOS PRODUTOS. NECESSIDADE DE CONFERÊNCIA PELO ADQUIRENTE. Em razão da não cumulatividade do IPI e de sua sistemática imposto sobre imposto, o adquirente de produtos industrializados deve conferir se a nota fiscal atende todas as prescrições legais e regulamentares, conforme art. 62 da Lei nº 4.502/1964, aí se incluindo a classificação fiscal. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer em parte o recurso voluntário e na parte conhecida negar provimento, nos termos do relatorio e votos que integram o presente julgado. WINDERLEY MORAIS PEREIRA Presidente. (assinado digitalmente) SALVADOR CÂNDIDO BRANDÃO JUNIOR Relator. (assinado digitalmente) Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (presidente da turma), Valcir Gassen (vicepresidente), Marcos Roberto da Silva (Suplente Convocado), Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Semíramis de Oliveira Duro, Ari Vendramini, Salvador Cândido Brandão Junior Relatório Tratase de auto de infração (fls. 0215) lavrado em 15/09/2017 para constituição de crédito tributário de IPI na monta de 63.270.378,60 (sessenta e três milhões, duzentos e setenta mil, trezentos e setenta e oito reais e sessenta centavos) para o período que compreende o 04º trimestre de 2012 até 04º trimestre de 2013. A acusação fiscal reside na utilização de crédito indevido, sob a rubrica "outros créditos", decorrentes da aquisição de insumos (kits de concentrados) da RECOFARMA INDÚSTRIA DO AMAZONAS LTDA, CNPJ nº 61.454.939/000106, para a fabricação de refrigerantes. As verificações acerca da correta apuração do IPI devido, objeto deste Auto de Infração, foram realizadas quando da análise de 05 Pedidos de Ressarcimento (PERDCOMP) referentes aos Períodos de Apuração (PA) 4º Trimestre/2012 a 4º Trimestre/2013, apresentando também pedidos de compensação DCOMP para utilização dos supostos créditos referentes ao Ressarcimento de IPI para quitação de débitos tributários junto à Fazenda Nacional. Fl. 10356DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.356 3 Depreendese do relatório fiscal de fls. 1642 que a análise dos créditos pleiteados no PER foram confrontados e confirmados com a Escrituração Fiscal Digital – EFD IPI do contribuinte, onde se verificou que a maior parte dos créditos do IPI escriturados é oriunda de insumos destinados à fabricação de bebidas (refrigerantes, especialmente) adquiridos de RECOFARMA INDÚSTRIA DO AMAZONAS LTDA (doravante RECOFARMA), CNPJ 61.454.393/000106, empresa situada na Zona Franca de Manaus. Consta ainda deste relatório que se tomou prova emprestada do processo nº 10010.038171/061691 quanto às informações detalhadas do processo produtivo do contribuinte, quanto à auditoria in loco no estabelecimento do sujeito passivo, bem como em relação às informações prestadas pelo seu principal fornecedor de matériasprimas, a empresa RECOFARMA. Afirma a autoridade fiscal que a autuação fundamentase em duas partes distintas e independentes, a PARTE I, correspondente aos créditos incentivados indevidos do IPI oriundos de produtos não elaborados com matériasprimas extrativas vegetais de produção regional e a PARTE II, correspondente aos créditos incentivados do IPI aproveitados indevidamente em função de erro de classificação fiscal e alíquota. Parte I créditos incentivados indevidos do IPI oriundos de produtos não elaborados com matériasprimas extrativas vegetais de produção regional A fiscalização afirmou que a maior parte dos créditos de IPI escriturados pela fiscalizada no período sob análise (4º trimestre/2012 a 4º trimestre/2013) é oriunda de insumos destinados à fabricação de refrigerantes, descritos na NF como “concentrados” ou "kits de concentrados" (NCM 2106.90.10), adquiridos da empresa RECOFARMA localizada na Zona Franca de Manaus. Os produtos são comercializados por RECOFARMA em forma de kits constituídos de dois ou mais componentes, sendo que cada componente sai do estabelecimento industrial em embalagem individual. Fl. 10357DF CARF MF 4 Todavia, não há destaque de IPI nas notas fiscais de saída emitidas pela RECOFARMA, pois entendese que os produtos estariam isentos do imposto com base no art. 81, incisos I e II; e art. 95, inciso III (c/c art. 237) do RIPI/2010 – Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados, instituído pelo Decreto nº 7.212, de 15/06/2010. A autuada, ora Recorrente, escriturou crédito por estas aquisições isentas dos kits de concentrado, como se tributado fosse. A alíquota de IPI vigente à época dos fatos (4º Trim./2012 a 4º Trim./2013) para os produtos enquadrados no Ex 01 do código 2106.90.10 era de 20% (Decreto nº 7.660, de 23/12/2011, alterado pelos Decreto nº 7.742, de 30/05/2012, e Decreto nº 8.017, de 17/05/2013). Estes concentrados adquiridos de fornecedores localizados na ZFM, gozam da isenção prevista no art. 81, II do RIPI/2010. Em razão deste dispositivo, os produtos industrializados na Zona Franca de Manaus, por estabelecimentos com projetos aprovados pelo Conselho de Administração da Superintendência da Zona Franca de Manaus SUFRAMA, destinados à comercialização em qualquer outro ponto do território nacional, estarão isentos se produzidos com utilização de matériasprimas da fauna e flora regionais, em conformidade com processo produtivo básico. Para este benefício fiscal, não há previsão legal permitindo o crédito de IPI, aplicandose a alíquota correspondente na TIPI para a classificação fiscal do produto. Assim, não haveria possibilidade de crédito para estas aquisições. Intimada para justificar a razão do creditamento, a Recorrente informou a existência de coisa julgada formada no Mandado de Segurança Coletivo MSC nº 91.00477834 que assegurou aos associados da Associação dos Fabricantes Brasileiros de CocaCola (AFBCC), da qual a Recorrente faz parte, o direito ao crédito de IPI relativo à aquisição de insumos isentos oriundos da ZFM (petição inicial do MSC em fls. 166184) e também em razão do o entendimento do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), exposto no julgamento do Recurso Extraordinário RE nº 212.484RS, que asseguraria o mesmo direito. A fiscalização descartou a argumentação e entendeu que o crédito é indevido, isso porque o RE 212.484RS citado tem aplicação apenas entre as partes e não alcança a Recorrente. Quanto ao Mandado de Segurança Coletivo MSC nº 91.00477834, impetrado pela Associação dos Fabricantes de CocaCola (AFBCC) perante a Justiça Federal do Rio de Janeiro, a fiscalização também afastou os efeitos da coisa julgada no caso, porque, nos termos do que declarado pelo STF, em sessão Plenária realizada em 30/04/2014, em que se julgou o Agravo Regimental na Reclamação nº 7778, que por sua vez foi ajuizada em face do suposto descumprimento da decisão proferida naquele Mandado de Segurança Coletivo, o provimento judicial proferido naquela ação coletiva teve seus efeitos restritos aos associados domiciliados no Rio de Janeiro, território do órgão prolator da decisão, nos termos do art. 2ºA da Lei 9.494, o que não alcança a autuada (domiciliada fora do RJ). Esta Parte I do relatório fiscal também analisa a possibilidade de créditos decorrentes do art. 237 e 95, III, do RIPI/2010. Este permissivo legal garante o direito ao crédito pelas aquisições de produtos isentos, como se devido fosse, desde que sejam produtos elaborados com matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, exclusive as de origem pecuária, por estabelecimentos industriais localizados na Amazônia Ocidental, desde que os projetos tenham sido aprovados pelo Conselho de Administração da SUFRAMA e desde que o bem seja empregado pelo adquirente como matériaprima, produto intermediário ou material de embalagem, na industrialização de produtos sujeitos ao imposto. Fl. 10358DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.357 5 A fiscalização entendeu que a Recorrente atendeu todos os requisitos exigidos por este dispositivo legal, exceto a condição de ser matériaprima agrícola e extrativa vegetal de produção regional. Intimada a prestar esclarecimentos sobre se utiliza matéraprima agrícola e extrativa vegetal de produção regional para a produção dos kits, a Recorrente afirmou que estas aquisições se referiam ao açúcar utilizado na produção do caramelo e do ácido cítrico, álcool neutro, também proveniente da canadeaçúcar e o extrato de guaraná, proveniente da semente do guaraná. Afirmou que toda a canadeacúcar e semente de guaraná utilizados são produzidas por Agropecuária Jayoro, localizada na Amazônia Ocidental. A fiscalização entendeu que nenhum dos três itens informados pela RECOFARMA pode ser caracterizado como matériaprima agrícola e extrativa vegetal, pois nenhum deles é resultado de processo de extração de um vegetal. Tratamse, efetivamente, de produtos industrializados a oriundos da matériaprima vegetal canadeaçúcar (açúcar e álcool neutro) e da semente de guaraná (extrato de guaraná). Assim, levandose em conta que a Lei determina, para o gozo da isenção (art. 6º, caput, do DL 1435/72, base legal p/ isenção do art. 95, III, do RIPI/2010), que os produtos sejam produzidos com MATÉRIA PRIMA agrícola ou extrativa, e não com PRODUTO INTERMEDIÁRIO, a fiscalização realizou a glosa dos créditos indevidamente escriturados no RAIPI. Afirmou a fiscalização que para esta isenção do art. 95 do RIPI/2010 e art. 6º do DL 1.435/1972, não é exigido o despacho da autoridade administrativa de que trata o art. 179 do Código Tributário Nacional. O papel da SUFRAMA é aprovar os projetos para fruição do benefício fiscal, no entanto, inexiste na legislação qualquer norma que limite total ou parcialmente o exercício da competência da RECEITA FEDERAL na fiscalização do benefício sob análise, pois, para usufruir do benefício, as empresas precisam atender a todos os requisitos previstos na legislação, e não só aquele constante do § 2º do art. 6º do DL nº 1.435/75. PARTE II – Créditos incentivados do IPI aproveitados indevidamente em função de erro de classificação fiscal e alíquota Como acusação independente da parte I, afirmou que houve erro na classificação fiscal do produto fornecido pela RECOFARMA, o que permite a glosa, pois a classificação correta tem uma alíquota igual a zero. Assim, não haveria crédito, já que o valor do IPI calculado sobre os produtos em questão, como se devido fosse, seria zero. A fiscalização realizou a coleta dos kits elaborados pela RECOFARMA, bem como juntou aos autos fotos dos kits (fls. 302313; 343359) e pediu a elaboração de laudo pericial pelo Centro Tecnológico de Controle de Qualidade Falcão Bauer. Assim, solicitou exame laboratorial para que os Laudos de Análise apresentassem dados técnicos sobre os produtos, em especial a identificação dos ingredientes contidos em cada parte dos kits. Os resultados dos exames laboratoriais solicitados pela fiscalização constam de Laudos de Análise que foram anexados ao presente processo (fls. 64101). Afirmou a fiscalização que os "kits de concentrado" não é uma mercadoria única. Os kits (concentrados) para fabricação de refrigerantes são constituídos de dois ou mais componentes (ou partes), sendo que cada componente está acondicionado em embalagem Fl. 10359DF CARF MF 6 individual (bombona, saco, garrafão, caixa ou contêiner), cujo conteúdo de cada parte pode ser líquido ou sólido. Esses componentes dos kits são misturados, operação de industrialização em que o engarrafador adiciona água e açúcar, adicionando cada parte do kit por vez. A preparação líquida, então, se torna um xarope composto que passa por tratamento complementar, adicionandose água e gás carbônico, resultando o refrigerante pronto para ser consumido. A fiscalização afirmou que as empresas tratam os kits como uma mercadoria única por uma decisão comercial, denominada de “concentrado”, aplicando a alíquota prevista para o Ex 01 do código 2106.90.10 da TIPI, e não por uma imposição da realidade técnica e/ou mercadológica. Neste sentido, não haveria impedimento para que cada componente de kits para fabricação de bebidas fosse fabricado e vendido por um estabelecimento diferente, nem para que o fornecedor efetuasse remessas em separado dos componentes dos kits, e nem para que fosse especificado o preço cobrado por cada componente. A fiscalização questionou a classificação fiscal no Ex 01 do código 2106.90.10, estabelecendo que para este enquadramento o produto deve satisfazer os seguintes requisitos: a) Que seja uma preparação composta. b) Que não seja alcoólica. c) Que se caracterize como extrato concentrado ou sabor concentrado d) Que seja própria para elaboração de bebida da posição 22.02 e) Que tenha capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado. No entendimento da fiscalização, tais preparações não atendem às condições citadas nas letras “c” e “e”, acima. Nenhum componente dos kits, isoladamente considerado, nem em conjunto como um kit, pode ser identificado como um extrato ou sabor concentrado. Para que ficasse caracterizado um produto chamado de "concentrado", o conteúdo das diversas partes que compõem cada kit deveria estar reunido numa única parte, tanto que as empresas criaram a ficção de que para fins de classificação fiscal os kits formam uma mercadoria única. Afirmou que não se pode atribuir capacidade de diluição a nenhum componente dos kits para fabricação de bebidas. Se o conteúdo de qualquer embalagem individual fosse diluído, não apresentaria as mesmas características sensoriais e físicoquímicas da bebida que se pretende comercializar. Afirmou que o laudo pericial, elaborado pelo Centro Tecnológico de Controle de Qualidade Falcão Bauer, aos responder os quesitos, afirmou que as partes dos kits concentrados vendidos pela RECOFARMA não podem ser considerados como extrato concentrado ou sabor concentrado. A fiscalização ainda afirmou que nenhuma das partes que compõe os kits adquiridos pela autuada, quando individualmente considerada, pode ser classificada na Ex 01 do código 2106.90.10 da TIPI, já que o concentrado só surge quando o conteúdo das diversas partes que compõem cada kit é misturado, ou seja, por meio de um processo de industrialização (transformação) realizado depois da venda. Fl. 10360DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.358 7 Concluiu também pelo não atendimento do requisito arrolado no item “e", que tenha capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado”, pois pela mera diluição do produtos não se alcança a bebida final. Por isso, os produtos vendidos pela RECOFARMA não podem ser considerados "concentrados", pois, se diluídos, não apresentam mais as mesmas características de identidade e qualidade da bebida, conforme § 4º do artigo 13 e artigo 30 da Lei nº 8.918/1994. Para a classificação fiscal, a autoridade fiscal assim concluiu: Em procedimentos fiscais recentes, constatouse que os componentes mais importantes dos kits para fabricação de bebidas são aqueles que contêm extratos e ingredientes aromatizantes específicos para a bebida a ser industrializada (por exemplo, componentes que contenham extrato de cola ou extrato de guaraná), devendo ser classificados no código 2106.9010 , como uma “ Preparação do tipo utilizado para elaboração de bebidas ”, cuja alíquota do IPI é zero . Essa preparação, porém, não se classifica no Ex 01 do código 2106.90.10, pois, conforme já explicado, a embalagem individual não contém todos os ingredientes necessários para caracterizar um produto chamado de “concentrado”. No caso de componentes que correspondam a uma mistura de ingredientes comumente utilizados em diversos produtos da indústria alimentícia, tais como sais, acidulantes e conservantes, deve ser aplicado o código 2106.90.90, reservado às “Preparações alimentícias não especificadas nem compreendidas noutras posições Outras Outras”, também tributado à alíquota zero do IPI . (grifei) A partir das glosas de crédito realizadas pela fiscalização a apuração do IPI foi refeita, encontrandose um saldo de IPI a pagar, culminando neste auto de infração. Intimada do auto de infração, a Recorrente apresentou impugnação de fls. 9.6709.740, argumentando pelo cancelamento do auto de infração conforme se resume abaixo: os concentrados adquiridos pela impugnante são beneficiados pela isenção do art. 81, II do RIPI/2010, com base legal no art. 9º do DL nº 288/1967. Com base nesta isenção, por ser produto adquirido da ZFM, a contribuinte faz jus ao crédito presumido de IPI, calculandose o crédito como se devido fosse, com base na coisa julgada formada no MSC nº 91.00477835, bem como no RE nº 212.484 julgado pelo STF; caso assim não se entenda, os produtos adquiridos pela autuada podem também ser enquadrados em outra isenção, prevista no art. 95, III do RIPI/2010, permissivo legal do art. 6º do DL 1.435/1975, que concede isenção para matériaprima agrícola e extrativa vegetal adquirida de produtor situado Amazônia Ocidental e a possibilidade de crédito presumido de IPI para estas aquisições decorre da própria disposição do art. 239 do RIPI/2010, não necessitando da coisa julgada. explica a atual situação da coisa julgada, em que por um momento havia uma reclamação no STF limitando a abrangência da decisão para os limites territoriais do órgão julgador com base no art. 2ºA da Lei 9.497/1997 (TRF da 2ª Região), mas que em Fl. 10361DF CARF MF 8 23/02/2017 transitou em julgado nova decisão do STJ, proferida nos autos do próprio MSC nº 91.00477834, reconhecendo que a coisa julgada é aplicável a todos os associados da AFBCC, independentemente do Estado em que estão localizados; explica que o STF também julgou extinta a Reclamação nº 7.778 por perda superveniente de objeto; afirma que mesmo que não se aceite a coisa julgada, os produtos que adquire são considerados matériaprima agrícola e extrativa vegetal produzidos na Amazônia Ocidental, gozando da isenção do art. 95, III do RIPI/2010 na qual a própria legislação assegura a possibilidade de escrituração do crédito; quanto à alíquota utilizada para fins de apuração do seu crédito presumido e acusação de erro na classificação fiscal, em razão de que tais concentrados adquiridos deveriam ser classificados por suas partes, a contribuinte argumenta que a autoridade fiscal não indicou os componentes do concentrado que deveriam ser classificados separadamente e em quais posições da TIPI, o que, por si só, gera nulidade do auto de infração neste ponto; afirma ainda que a impugnante é terceiro, adquirente dos concentrados para refrigerantes. A classificação fiscal dos produtos adquiridos é realizada pela fornecedora, RECOFARMA, não podendo este suposto erro ser imputado à impugnante; cita o art. 62 da Lei 4.502/1964 que determina que o adquirente verifique se os documentos fiscais dos produtos adquiridos atendem as prescrições legais e regulamentares, não se incluindo nestas obrigações a verificação da classificação fiscal adotada pelo fornecedor, nem mesmo pelo art. 327 do RIPI/2010. Como a classificação fiscal foi feita pela fornecedora, a impugnante agiu lícita e corretamente ao adotar tal classificação fiscal para cálculo do crédito de IPI; em relação aos concentrados para refrigerante, a apuração do crédito é simples cálculo aritmético, calculandose o crédito de IPI segundo a alíquota decorrente da classificação fiscal feita pelo fornecedor do insumo, na época, de 20%; a alteração da classificação fiscal também não pode ser realizada pela fiscalização por representar alteração de critério jurídico, violando o disposto no art. 146, CTN. Isso porque, em verificações fiscais anteriores, não houve qualquer questionamento relativo à classificação fiscal do concentrado para refrigerantes e a Recorrente sempre aproveitou os créditos de IPI decorrentes da aquisição de concentrados isentos para refrigerantes da posição 21.06.90.10 EX. 01 da TIPI; afirma que no processo administrativo 10183.721209/201396, em que se discutiu outro auto de infração lavrado em 15/03/2013 em face da impugnante, a glosa do crédito foi levada a efeito apenas em razão do entendimento de que os produtos adquiridos não eram produtos agrícolas e extrativa vegetal do art. 6º do DL 1.435/1975, sem nada mencionar acerca da classificação; no procedimento de lançamento, nos termos do art. 142, CTN, a autoridade tem o dever de examinar todos os aspectos legais formadores do fato gerador da obrigação tributária, inclusive a classificação fiscal; a revisão da classificação fiscal só foi realizada em setembro de 2016, processo administrativo 14090.720284/201672, em outro auto de infração, onde se afirmou que a classificação fiscal na posição 21.06.90.10 Ex. 01 para os kits concentrados estava incorreta. Portanto, somente para os fatos geradores que viessem a ocorrer a partir desta Fl. 10362DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.359 9 mudança de critério jurídico (27.09.2016) é que esta mudança na classificação poderia ser aplicada, por hipótese; na pior das hipóteses, afirma que este novo critério jurídico deve ser aplicados apenas a partir de 22/12/2014, data em que a RECOFARMA foi notificada de um auto de infração, onde se exigiu multa por erro na classificação fiscal do kit concentrado; ainda que não sejam aceitos estes argumentos, defende a competência da SUFRAMA para definir a classificação fiscal dos produtos objeto de projetos industriais aprovados por este órgão para fruição de benefícios fiscais; a SUFRAMA tem competência para aprovar os projetos industriais para fruição dos benefícios previstos no art. 9º do DL n° 288/67 e no art. 6º do DL n° 1.435/75, conforme se verifica dos dispositivos a seguir do Decreto n° 7.139/2010, Anexo I. E, para aprovar o projeto industrial, a SUFRAMA define o respectivo PPB do produto incentivado; eis os arts. 13, 15 e 23 da Resolução do CAS n° 202/2006; ao definir o PPB do produto incentivado, para fins de fruição de benefícios fiscais, é necessário que a SUFRAMA identifique qual é a classificação fiscal do produto incentivado, porque, para fins de IPI, definir o produto é efetuar sua classificação fiscal. Portanto, é inerente à sua competência para aprovação do PPB a definição da classificação fiscal do referido produto beneficiado; afirmou que o STJ já decidiu que a RFB não tem competência exclusiva para proceder à classificação fiscal de produto, prevalecendo a classificação fiscal definida pelo órgão técnico, naquele caso a ANVISA, não cabendo à RFB questionar; afirmou que a SUFRAMA definiu a classificação fiscal para o concentrado produzido pela RECOFARMA, por intermédio da Resolução do CAS n° 298/2007, integrada pelo Parecer Técnico n° 224/2007, consta que a caracterização do produto é de concentrados para bebidas não alcóolicas, com enquadramento na NCM 2106.90.10 Ex. 01; a partir da definição dada pela SUFRAMA ao produto fabricado pela RECOFARMA, a própria SUFRAMA reconhece que o concentrado, por configurar "preparações químicas", pode ser entregue desmembrado em partes/kits, sem que isso desnature a sua condição de produto único (de concentrado para refrigerantes), classificado na posição 21.06.90.10 EX. 01 da TIPI/2011, qual seja, preparações compostas para bebidas com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada concentrado por isso classificado no EX. 01; quanto à classificação fiscal a ser definida pelas regras gerais de interpretação do sistema harmonizado e NESH, afirmou que, ao contrário do afirmado pela autoridade fiscal, a interpretação histórica das TIPIs e a aplicação das Regras Gerais de Interpretação do Sistema Harmonizado, aprovadas pelo Decreto n° 97.409/88, e das NESH, aprovadas pelo Decreto n° 435/92, levam à conclusão de que está correta a classificação fiscal do concentrado de refrigerantes como mercadoria única na posição 21.06.90.10 Ex. 01 da TIPI/2010, a mesma classificação dada pela SUFRAMA e reconhecida no Parecer PGFN nº 405/2003; Fl. 10363DF CARF MF 10 pelo histórico das TIPIs, desde 1988, contatase que o concentrado para refrigerantes sempre foi classificado como uma mercadoria única constituída por diversos componentes; Na TIPI de 1988 estava na posição 21.06.90.01, alíquota de 36%; a Resolução do Comitê Brasileiro de Nomenclatura nº 78/1989, manteve a descrição de concentrados como preparações compostas, não alcoólicas, para elaboração de bebidas na posição 21.06.90, tratando estas preparações compostas como mercadoria única. Alíquota de 40%; em 1996 a posição 21.06.90.10 continuou compreendendo as preparações compostas não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), evidenciando que a mercadoria é composta de várias partes, passando a enfatizar nos Ex. 01 e Ex. 02 a relevância de sua destinação. Alíquota de 27%; na TIPI de 2002 mantevese a mesma descrição, alterandose a alíquota para 20%; o item XI da nota explicativa referente à regra geral de interpretação 3 b) reforça o argumento de que os concentrados de refrigerantes, "kits", são tratados como produtos únicos, mercadoria unitária integrada por diferentes componentes; as posições Ex. 01 e Ex. 02 são mais específicas, e se há uma posição mais específica para classificar a mercadoria, esta que deve prevalecer; a adição de outros ingredientes não descaracteriza os concentrados para refrigerantes como produtos prontos para uso. Se houvesse qualquer dúvida quando à aplicação da posição NCM, a RECOFORMA deveria recorrer à classificação fiscal dada pela SUFRAMA; afirma que o produto concentrado produzido, distribuído e comercializado pela RECOFARMA é uma preparação composta, para atender um fim específico. A comercialização em kits é uma decisão técnica que visa preservar a qualidade do concentrado, manter a proporcionalidade dos insumos e evitar a ocorrência de alterações físicoquímica, facilitando a preparação e conservando ao máximo seus componentes. Portanto, tratase de mercadoria unitária, pois não há possibilidade de comercialização individual das partes que o compõem. a multa, os juros de mora e a correção monetária também não são devidos em razão do disposto no art. 100, parágrafo único, do CTN, que estabelece que a observância de atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas tem o condão de excluir a cobrança de multa, juros de mora e correção monetária; No caso, a SUFRAMA tem competência para aprovar projeto industrial para fruição da isenção prevista no art. 9o do DL n° 288/67 e no art. 6° do DL n° 1.435/75 e, pois, para classificar o produto beneficiado, nos termos do Decreto n° 7.139/2010 c/c a Resolução do CAS n° 202/2006. A Resolução do CAS n° 298/2007, integrada pelo Parecer Técnico n° 224/2007, aprovou o projeto industrial para fruição do beneficio do art. 9o do DL n° 288/67 e do art. 6o do DL n° 1.435/75 ao concentrado fabricado pela RECOFARMA, bem como o classificou na posição 21.06.90.10 EX. 01; ao utilizar o crédito de IPI à alíquota de 20% decorrente da aquisição de concentrados isentos para refrigerantes oriundos da Zona Franca de Manaus e elaborados com Fl. 10364DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.360 11 matériaprima adquirida de produtor situado na Amazônia Ocidental, a IMPUGNANTE agiu de acordo com a Resolução do CAS n° 298/2007, integrada pelo Parecer Técnico n° 224/2007. defende a impossibilidade de exigência da multa com base no art. 76, II, "a", da Lei n° 4.502/64, diante da existência de decisões irrecorríveis de última instância administrativa proferidas em processos fiscais no sentido de que não cabe ao adquirente do produto verificar a sua correta classificação fiscal (Acórdãos: 0202.895, de 28.01.2008, relator Conselheiro ANTONIO CARLOS ATULIM; 0202.752, de 02.07.2007, relator Conselheiro ANTONIO BEZERRA NETO e 020.683, de 18.11.1997, relator Conselheiro MARCOS VINÍCIUS NEDER DE LIMA) defende a impossibilidade da exigência de juros sobre a multa de ofício por implicar numa indireta majoração da própria penalidade e não se pode falar em mora na exigência de multa; se a intenção do legislador fosse exigir juros sobre a multa de oficio teria previsto expressamente em lei que os juros de mora incidiriam sobre os débitos e sobre as respectivas multas deles decorrentes; Em 20/02/2018, a 8ª Turma da DRJ/RPO proferiu o Acórdão n.º 1476.152 (fls. 10.02810.063), julgando improcedente a impugnação apresentada, assim ementado: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Anocalendário: 2012, 2013 CRÉDITOS DE IPI. AQUISIÇÕES DE PRODUTOS ISENTOSORIUNDOS DA AMAZÔNIA OCIDENTAL. DESCUMPRIMENTO DE REQUISITOS. GLOSAS. São insuscetíveis de apropriação na escrita fiscal os créditos concernentes a produtos isentos adquiridos para emprego no processo industrial, mas não elaborados com matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, exclusive as de origem pecuária, por estabelecimentos industriais localizados na Amazônia Ocidental. ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS Anocalendário: 2012, 2013 CLASSIFICAÇÃO FISCAL. KITS PARA PRODUÇÃO DE REFRIGERANTES. Nas hipóteses em que a mercadoria descrita como “kit ou concentrado para refrigerantes” constituise de um conjunto cujas partes consistem em diferentes matériasprimas e produtos intermediários que só se tornam, efetivamente, uma preparação composta para elaboração de bebidas em decorrência de nova etapa de industrialização, ocorrida no estabelecimento adquirente, cada um dos componentes desses “kits” deverá ser classificado no código próprio da TIPI. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Fl. 10365DF CARF MF 12 Anocalendário: 2012, 2013 ILEGALIDADE DO LANÇAMENTO. DESCONSIDERAÇÃO DE CRÉDITO DE IPI NA APURAÇÃO DO SALDO DEVEDOR. INOCORRÊNCIA. Tendo a autoridade fiscal afastada, expressa e indubitavelmente, a possibilidade de apropriação de crédito de IPI, e não se vislumbrando, nos autos, a presença de elementos que autorizem imaginar o reconhecimento da existência de parcela de algum tipo de crédito, não cabe cogitar de qualquer ilegalidade na apuração dos saldos devedores, fundamentada na desconsideração de crédito de IPI na referida apuração. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ALTERAÇÃO DO CRITÉRIO JURÍDICO. INOCORRÊNCIA. A alteração de critério jurídico deve ser entendida como uma mudança de posição interpretativa da Administração a respeito de determinada norma. Não ocorre alteração de critério jurídico nem ofensa ao art. 146 do CTN se a Fiscalização promove autuação baseada em entendimento distinto daquele que seguidamente adota o contribuinte, mas que jamais foi objeto de manifestação expressa por parte da Administração Tributária. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITOS. DOCUMENTOS FISCAIS IDÔNEOS. CLASSIFICAÇÃO EQUIVOCADA. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE. Em matéria tributária, a culpa do agente é irrelevante para que se configure descumprimento à legislação tributária, posto que a responsabilidade pela infração tributária é objetiva, nos termos do art. 136 do CTN. Na situação, as notas fiscais de aquisição das mercadorias que originaram o suposto crédito, ao consignarem classificação fiscal equivocada que não se aplica ao produto comercializado, deixam de ostentar o amparo necessário a respaldar o crédito ficto escriturado, sendo cabível a glosa. DECISÕES DO STF EM SEDE DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EFEITOS ERGA OMNES. DECRETO Nº 2.346, DE 1997. As decisões judiciais atinentes a casos concretos possuem apenas efeitos inter partes e não vincula os atos da Administração Tributária. Uma decisão emanada do Supremo Tribunal Federal somente alcançaria terceiros não participantes da lide se observadas as condições descritas pelo Decreto nº 2.346, de 1997. AÇÃO JUDICIAL. ALCANCE. O provimento jurisdicional abrange o objeto da demanda judicial, vale dizer, o conteúdo do pedido da petição, e seu alcance restringese aos associados da impetrante domiciliados no âmbito da competência territorial do órgão prolator. Fl. 10366DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.361 13 OBSERVÂNCIA DOS ATOS NORMATIVOS EXPEDIDOS PELAS AUTORIDADES ADMINISTRATIVAS. AFASTAMENTO DA INCIDÊNCIA DOS ACRÉSCIMOS LEGAIS. Atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas, a que se refere o inciso I do art. 100 do CTN, são normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos que versem sobre matéria tributária. São atos gerais e abstratos, tais como portarias, instruções, etc, editadas com a finalidade de explicitar preceitos legais ou de instrumentar o cumprimento das obrigações tributárias. É a observância destes tipos de atos normativos que têm o condão de excluir a cobrança dos consectários legais, nos termos de parágrafo único do art. 100 do CTN. MULTA DE OFÍCIO. EFICÁCIA NORMATIVA DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS. INEXISTÊNCIA DE LEI. EXIGÊNCIA. Não há que se falar em aplicação do disposto no art. 76, II, a, da Lei nº 4.502, de 1964, c/c o art. 100, II e parágrafo único, do CTN, para a exclusão de penalidades e juros de mora, pela inexistência de lei que atribua eficácia normativa às decisões administrativas em processos nos quais um terceiro não seja parte. JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO. Sendo a multa de ofício classificada como débito para com a União, decorrente de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, é regular a incidência dos juros de mora, a partir de seu vencimento. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Inconformada com a r. decisão, a contribuinte apresentou, no prazo, Recurso Voluntário (fls. 10078 10155), devolvendo a análise de todas as matérias já ventiladas em sede de impugnação, juntando laudo do INT Instituto Nacional de Tecnologia (fls. 10.245 10.275) para atestar a condição de produto único dos kits. A Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou contrarrazões em fls. 10.30710.344, contraditando todos os argumentos do Recurso Voluntário e pugnando pela manutenção do auto de infração pelos fundamentos do TVF. É o relatório Voto Conselheiro SALVADOR CÂNDIDO BRANDÃO JUNIOR O recurso é tempestivo e atende os demais requisitos legais, merecendo ser conhecido. Fl. 10367DF CARF MF 14 1. DA COISA JULGADA Há nos autos relevante controvérsia acerca do trânsito em julgado do Mandado de Segurança Coletivo MSC nº 91.00477834, impetrado pela Associação dos Fabricantes de CocaCola perante a Justiça Federal do Rio de Janeiro, onde restou garantido o direito de crédito de IPI, como se tributado fosse, presumido portanto, de produtos isentos adquiridos de fornecedores localizados na Zona Franca de Manaus. Ressaltese que, caso no aspecto subjetivo se constate que todos seus associados são beneficiários, inclusive a ora Recorrente, o deslinde da causa depende da análise desta prejudicial. A autoridade fiscal afirmou não ser possível a aplicação desta coisa julgada em benefício da Recorrente, em razão da Reclamação no STF nº 7778. Esta Reclamação foi interposta no STF por uma das associadas, localizadas no Estado de São Paulo, para ver garantida esta mesma coisa julgada, tendo em vista que vinha sofrendo autuações no Estado de São Paulo sob o argumento de que a coisa julgada tinha aplicação restrita aos limites territoriais do órgão judiciário que proferiu a decisão, qual seja, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Isso porque no MSC, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região havia feito esta limitação territorial com base no art. 2ºA da Lei nº 9.494/1997. No entanto, este capítulo da decisão ainda não estava transitado, pois foi interposto recurso aos tribunais superiores. Diante deste cenário, o STF, na Reclamação citada, afirmou não haver inconstitucionalidade no art. 2ºA da Lei 9.494/997, sendo válida a limitação territorial da coisa julgada. Neste diapasão, a autoridade fiscal afirmou não ser possível aplicar esta coisa julgada ao caso concreto, tendo em vista que a Recorrente se localiza no Estado do Mato Grosso. Referido dispositivo legal possui a seguinte redação: Lei nº 9.494/1997. Art. 2oA. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.18035, de 2001) A d. DRJ, na decisão ora recorrida, acrescentou que a coisa julgada não poderia ser estendida à Recorrente, pois não era parte no processo. No entanto, a análise da coisa julgada merece mais detida reflexão. Cumpre destacar, de início, que o Mandado de Segurança Coletivo constitui hipótese de substituição processual e, nos termos da Súmula STF nº 629, "a impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes". Isto significa que a Recorrente, por ser associada da Associação Impetrante (AFBCC), é beneficiária da coisa julgada obtida em favor da entidade no MSC. Em relação à limitação territorial da coisa julgada, conforme narração da Recorrente, bem como das cópias das decisões juntadas aos autos (fls. 9.8089.882), e ainda da decisão proferida pelo TRF 2º, limitando o efeito territorial, foi apresentado Recurso Especial ao STJ e Recurso Extraordinário ao STF. O Recurso Especial é o REsp nº 1438361. A decisão já foi proferida e transitada em julgado em 23/02/2017, pouco antes da lavratura do presente auto de infração. Houve reforma da decisão do TRF da 2ª Região na parte em que houve a limitação territorial, Fl. 10368DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.362 15 para afirmar que o art. 2ºA da Lei n. 9.497/97, introduzido em 1999 pela MP n. 1.7981/99, o qual prevê que a sentença proferida "abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator", não pode ser aplicada aos casos em que a ação coletiva foi ajuizada antes da entrada em vigor do mencionado dispositivo, sob pena de perda retroativa do direito de ação das associações. Como o referido MSC foi impetrado em 14/08/1991, anos antes da publicação deste dispositivo, assim, coisa julgada ora em análise teria abrangência nacional. Diante desta decisão, o STF julgou prejudicado o Recurso Extraordinário interposto, por perda superveniente do objeto, conforme acórdão juntando aos autos em fls. 9.8529.855, tendo em vista que o STJ pacificou a questão. O mesmo destino teve a malfadada Reclamação nº 7778, sendo extinta por perda superveniente do objeto em razão da decisão do STJ, que garantiu a aplicação da coisa julgada em âmbito nacional para este caso concreto em específico. Assim, devese reconhecer a aplicação da coisa julgada ao presente caso, em homenagem à segurança jurídica e ao disposto no art. 5º, XXXVI da Constituição. Com o processo judicial onde se obteve a coisa julgada em análise, garantiuse o direito à Recorrente de escriturar créditos de IPI decorrentes de produtos isentos adquiridos de fornecedores localizados na ZFM. Como a isenção é aplicada em razão do critério espacial da hipótese de incidência, para o cálculo deste crédito presumido devese levar em consideração a alíquota aplicável nas operações realizadas fora da zona beneficiada, de acordo com a classificação fiscal específica do produto negociado prevista na TIPI. A classificação fiscal utilizada pela fornecedora da Recorrente foi a NCM 2106.90.10 Ex 01 da TIPI, cuja alíquota era de 20%. Assim, o crédito presumido apurado pela Recorrente nesta aquisições isentas teve por base este percentual de alíquota. Neste ponto, mais uma controvérsia precisa ser debatida. Isso porque a autuação fiscal também argumentou que a classificação fiscal adotada pelo fornecedor da Recorrente, in casu, a RECOFARMA, estava incorreta, devendose adotar outra classificação fiscal para fins de apuração do crédito de IPI. Afirma a fiscalização que a classificação fiscal correta que deveria ser adotada pelo fornecedor dos produtos possui alíquota zero. Como isso, mesmo que se reconheça a aplicação da coisa julgada, na qual resta o entendimento de que o produto adquirido com isenção por ser proveniente da ZFM gera o direito ao crédito de IPI para o adquirente, mesmo assim, a autuada não poderia ter escriturado o crédito, tendo em vista que a classificação fiscal do produto fornecido tem alíquota zero. Desta feita, passase à análise da classificação fiscal. 2. DA CLASSIFICAÇÃO FISCAL Como dito, consta do relatório fiscal que a RECOFARMA, em relação aos produtos "concentrados" para preparo de bebidas não alcoólicas fornecidos para a Recorrente, enquadrou estes produtos no Ex 01 do código 2106.90.10 da TIPI, cuja alíquota de IPI vigente à época dos fatos (4º Trim./2012 a 4º Trim./2013) era de 20%, conforme Decreto nº 7.660, de 23/12/2011,do alterado pelos Decreto nº 7.742, de 30/05/2012, e Decreto nº 8.017, de 17/05/2013. Esta classificação fiscal tem a seguinte redação: Fl. 10369DF CARF MF 16 Por sua vez, a autoridade fiscal contesta esta classificação fiscal elaborando um arrazoado para concluir pela impossibilidade de adotar a "Ex 01", ou mesmo da "Ex 02", tendo em vista que este produto adquirido pela Recorrente como um "kit concentrado", não é um concentrado e nem pode ser diluído, além de constituirse em kit com produtos que poderiam ser vendidos em separado, mas comercializados como mercadoria única, na forma de kit, por uma questão mercadológica. No entendimento da fiscalização, para este enquadramento em Ex 01 ou Ex 02 o produto deve satisfazer os seguintes requisitos: a) Que seja uma preparação composta. b) Que não seja alcoólica. c) Que se caracterize como extrato concentrado ou sabor concentrado d) Que seja própria para elaboração de bebida da posição 22.02 e) Que tenha capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado. Concluiu no TVF que tais preparações não atendem às condições citadas nas letras “c” e “e”, acima. Nenhum componente dos kits pode ser identificado como um extrato ou sabor concentrado. Para que ficasse caracterizado um produto chamado de "concentrado", o conteúdo das diversas partes que compõem cada kit deveria estar reunido numa única parte, tanto que as empresas criaram a ficção de que para fins de classificação fiscal os kits formam uma mercadoria única. A fiscalização encomendou a elaboração de laudo pericial para o Centro Tecnológico de Controle de Qualidade Falcão Bauer, para analisar amostras dos produtos "kit concentrado" coletados, em especial a identificação dos ingredientes contidos em cada parte dos kits. (laudos de fls. 64101) Ao responder os quesitos, restou constatado que os produtos vendidos pela RECOFARMA não podem ser considerados como extrato concentrado ou sabor concentrado. Por isso, a fiscalização afirmou que não podem ser "Ex", já que lhe falta o requisito de ser um produto concentrado, na medida em que, ao ser diluído, perde suas características originais. Assim, para a fiscalização, nenhum componente dos kit podem ser, em conjunto ou isoladamente, considerados como um extrato ou sabor concentrado. Para que ficasse caracterizado um produto como "concentrado", o conteúdo das diversas partes que compõem cada kit deveria estar reunido numa única parte, sem perder suas características fixadas nos padrões de identidade e quantidade após sua diluição, nos termos do art. 13 do Decreto 6.871/2009 que regulamenta a Lei nº 8.918/1994, e isto só é Fl. 10370DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.363 17 obtido em momento posterior do processo produtivo, quando estas partes dos Kits são misturadas, de acordo com especificações técnicas. Desta feita, este concentrado só surge quando o conteúdo das diversas partes que compõem cada kit é misturado, ou seja, por meio de um processo de industrialização (transformação) realizado depois da venda. Com este raciocínio, a fiscalização concluiu que estes produtos devem ser classificados no código 2106.9010 , como uma “ Preparação do tipo utilizado para elaboração de bebidas ”, cuja alíquota é ZERO. Neste ponto, penso ser importante voltar para o mérito do Mandado de Segurança Coletivo MSC nº 91.00477834 para identificar a causa do litígio. Analisando a petição inicial, fls. 166184. Constatase que o pedido de segurança formulado pela associação não foi genérico, no sentido de obter o direito um direito de crédito de IPI para qualquer produto isento adquirido de fornecedor localizado na Zona Franca de Manaus. Na causa de pedir, conforme se vê de fls. 167, a AssociaçãoImpetrante argumenta que suas associadas produzem refrigerante sujeitos ao IPI, classificados no Código TIPI 2202.90. Argumentou que para produzir estes produtos, adquire matériaprima com isenção do IPI, "um produto concentrado", de fornecedor estabelecido na ZFM. Este concentrado adquirido pelos associados são classificados na posição 2106.90 da TIPI, sujeitos, na época, à alíquota de 40%, nos termos do Decreto nº 97.410/1988, atualizado pelo Decreto nº 99.182/1990. Note que a impetrante afirma, em sua petição, adquirir produto "concentrado" da classificação 2106.90, que estava isento conforme dicção do art. 9º do DecretoLei nº 288/1967, que detinha a seguinte redação na época do MSC e regulamentado pelo art. 81 e seu inciso II do RIPI/2010, Decreto nº 7.212/2010: Art 9º Estão isentas do impôsto sôbre produtos industrializados tôdas as mercadorias produzidas na Zona Franca de Manaus, quer se destinem ao seu consumo interno, quer a comercialização em qualquer ponto do território nacional. Nas decisões judiciais que se seguem, inclusive no acórdão de mérito proferido pelo TRF da 2ª Região (fls. 209233), este em que se concedeu o direito e formou a coisa julgada material, consta do voto da relatora a menção expressa à aquisição de produto concentrado da classificação fiscal 2106.90. No entanto, constatase que não há nenhuma discussão acerca da correção desta classificação fiscal, nem mesmo uma análise da natureza do produto, sua composição e uma discussão sobre se o produto é concentrado ou não. Partese da classificação fiscal e informação dada pela própria impetrante em sua petição inicial, assumindose como produto isento produzido na ZFM. O que se discutiu nas decisões judiciais e isso foi objeto do mérito, foi uma discussão jurídica acerca da não cumulatividade do imposto, isto é, acerca da possibilidade de crédito de IPI na aquisição destes produtos isentos, utilizados como insumo na produção de refrigerantes, como corolário do princípio da não cumulatividade. Portanto, a coisa julgada não solidifica a discussão acerca da classificação fiscal. Fl. 10371DF CARF MF 18 Ressalto que, nesta época, a posição da TIPI que previam a alíquota de 40% tinha uma redação pouco diversa da atual, não havia nem mesmo as posições Ex atualmente utilizadas pela Recorrente. No entanto, dentre estas, as que se referiam aos produtos de extratos concentrados para preparação de bebidas não alcoólicas, as posições TIPI existentes eram as 2106.90.0101 e 2106.90.0101: 2106.90 Outras 01 Preparações compostas, não alcoólicas, para elaboração de bebidas (extratos concentrados ou sabores concentrados) 0101 Constituídas por um xarope ao qual se juntou um extrato concentrado desta posição, contendo principalmente extrato de coca e ácido cítrico, corados com ajuda de açúcar caramelizado......... 40% 0102 Constituídas por um xarope ao qual se juntou um extrato concentrado desta posição, contendo principalmente cítrico e óleos essenciais de frutos (limão e laranja)......... 40% A Resolução do Comitê Brasileiro de Nomenclatura nº 78/1989, alterou a TIPI de 1988 para adequar a descrição do subitem 2106.90.11 para preparações compostas, não alcoólicas, para elaboração de bebidas (extratos concentados ou sabores concentrados) constituídas por xarope ao qual se juntou um extrato concentrado desta posição, contendo principalmente extrato de coca e ácido cítrico, corados com ajuda de açúcar caramelizado. A descrição do item 2106.9012 passou a ser preparações compostas, não alcoólicas, para elaboração de bebidas (extratos concentados ou sabores concentrados) constituídas por xarope ao qual se juntou um extrato concentrado desta posição, contendo principalmente ácido cítrico e óleos essenciais de frutos (limão e laranja). A descrição TIPI atual, para a posição 21.06, prestase para a classificação fiscal de "Preparações alimentícias não especificadas nem compreendidas noutras posições". O subitem 90 é aplicado para outras bebidas não dispostas nas outras posições. Dentro desta posição há o subitem 10, destinada para "Preparações do tipo utilizado para elaboração de bebidas". Esta posição, 21.06.90.10, é entendida pela fiscalização como a correta e possui alíquota zero. No entanto, dentro desta posição temos as classificações ex tarifário 01 e 02, para produtos concentrados, alterandose apenas o fator de diluição do produto, cujas alíquotas eram de 20% na época dos fatos. A Ex 01 é a posição adotada pela fornecedora da Recorrente. A disputa reside em identificar, portanto, qual destas posições deve ser aplicada ao kit concentrado para fins de determinação da alíquota para apuração ou não do crédito presumido. 2.1. Do Laudo produzido pelo Centro Tecnológico de Controle de Qualidade Falcão Bauer No ano de 2014, o Fisco efetuou em Manaus a coleta de kits elaborados por RECOFARMA, além de muitas fotos dos produtos, tendo providenciado a realização de exame laboratorial pelo Centro Tecnológico de Controle de Qualidade Falcão Bauer. Como dito, os denominados "kits de concentrado" é um kit formado por diversos produtos, individuais, líquidos e/ou sólidos, utilizados como base para a preparação de bebidas não alcoólicas, os refrigerantes. Percebese, a partir do laudo e do arrazoado da Fl. 10372DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.364 19 fiscalização no TVF, que nenhum componente dos kits pode ser identificado como um extrato ou sabor concentrado. A fiscalização afirma que para que ficasse caracterizado um produto como um "concentrado", o conteúdo das diversas partes que compõem cada kit deveria estar reunido numa única parte, o que só ocorre numa etapa posterior do processo de industrialização. Mas para tratar como um produto único, as empresas criaram a ficção de que para fins de classificação fiscal os kits formam uma mercadoria única. Os produtos são separados em embalagens individuais, possuindo cada um deles uma utilidade específica em cada etapa do preparo, devendose seguir as especificações do fabricante. Pela análise dos laudos, é possível perceber que não há como atribuir capacidade de diluição a nenhum componente dos kits para fabricação de bebidas, pois cada item do kit tem uma função específica no preparo da bebida, que, uma vez diluído, transforma se. Se o conteúdo de qualquer embalagem individual fosse diluído, não apresentaria as mesmas características sensoriais e físicoquímicas da bebida que se pretende comercializar. O aroma, o sabor e a coloração (elementos das características sensoriais), bem como as características físicoquímicas não seriam iguais. Se assim não fosse, seriam desnecessárias as outras partes que compõem cada kit, pois bastaria desde o início juntar cada item num produto só. No entanto, eles precisam ser separados, pois cada um deles tem uma função específica no preparo da bebia. Assim, estes itens do kit são produtos intermediários do processo de industrialização, alcançandose o concentrado após sua mistura com água e açúcar no processo produtivo. O laudo de análise nº 1266/20131.0 de fls. 6467 analisa as partes 1 e 2 do kit concentrado sabor cocacola. Para a parte 1 do kit, observese os quesitos 7, 8, 11, 12 e 13, descritos em fl. 96: 7) Identificar se na composição do produto há aromatizante na acepção dada pelo Regulamento Técnico Sobre Aditivos Aromatizantes/Aromas aprovado pela Resolução nº 104, de 14 de maio de 1999, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA. De acordo com análises realizadas foi detectado a presença de Cimeno, Pineno e Limoneno substâncias utilizadas como aromatizantes. 8) Identificar se o aromatizante de que trata o item anterior é constituído basicamente de semente de noz de cola ou extrato de noz de cola (Cola acuminata). De acordo com análises realizadas foi detectado a presença de Extrato de Noz de Cola. 11) O produto pode ser descrito como preparação composta? Tratase de Preparação, na forma de Solução Aquosa. à base de Extrato de Noz de Cola, Cafeína, Caramelo, Ácido Fosfórico, Cimeno, Pineno e Limoneno, uma Preparação do tipo utilizada para a elaboração de bebidas, Outra Preparação Alimentícia não especificada nem compreendida em outras posições. 12) O produto pode ser descrito como extrato concentrado? Não. Fl. 10373DF CARF MF 20 13) O produto pode ser descrito como sabor concentrado? Não Para a análise da parte 2 do kit cocacola, observese os quesitos 10, 11 e 12, descritos em fl. 96: 10) O produto pode ser descrito como preparação composta? Tratase de Preparação, na forma de Solução Aquosa. à base de Extrato de Noz de Cola, Cafeína, Caramelo, Ácido Fosfórico, Cimeno, Pineno e Limoneno, uma Preparação do tipo utilizada para a elaboração de bebidas, Outra Preparação Alimentícia não especificada nem compreendida em outras posições. 11) O produto pode ser descrito como extrato concentrado? Não. 12) O produto pode ser descrito como sabor concentrado? Não Todos estes testes foram realizados em todos os componentes de cada "kit concentrado" (cocacola, cocacola zero, sprite, sprite zero), cuja resposta para todos os componentes foi de que se trata de um preparado para elaboração de bebidas, mas não pode ser considerado um sabor concentrado ou um extrato concentrado. Perceba que o laudo de análise laboratorial elaborado pelo Centro Tecnológico de Controle de Qualidade Falcão Bauer, concluiu que todas as partes de todos os kits concentrados comercializados por RECOFARMA e que foram objeto de análise não são produtos concentrados. Com base nisso e analisando a classificação fiscal 2106.90.10 Ex 01, utilizada pela RECOFARMA para os kits, a fiscalização concluiu que esta NCM requer que o produto se caracterize como um extrato concentrado ou sabor concentrado e que tenha capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado. Como o produto não é um concentrado, nem pode ser uma preparação composta passível de diluição sem que isso altere os aspectos físicoquimicos, sendo meras partes utilizadas como composto para preparação da bebida, sua classificação fiscal deve ser a NCM 2106.90.10. A Recorrente apresenta um laudo do Instituto Nacional de Tecnologia para fundamentar a possibilidade de tratar estes "kits de concentrado" como uma mercadoria única. No laudo, constatase que foi realizada uma análise in loco do processo produtivo dos "kits de concentrado" bem como a etapa posterior de preparo do refrigerante "cocacola" a partir destes kits em uma das fábricas da CocaCola. Foram realizados testes técnicos em laboratório com os kits, atestando que cada parte do kit tem um função específica e determinada na composição e no preparo da bebida no processo produtivo na sede da Recorrente quando do preparo do refrigerante, não podendo esta mistura ocorrer em momento anterior, misturandose as partes dos kits ainda na sede da RECOFARMA para vender o produto já homogeneizado, como um só, sob pena de o Fl. 10374DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.365 21 produto sofrer alterações físicoquímicas indesejadas, alterandose suas características e impossibilitando a obtenção do produto final o refrigerante. Esta constatação não é contestada pela fiscalização, ao contrário, é afirmada, como se pode ver do TVF especialmente em fls. 2832, no sentido de que estas partes são separadas e compõem o kit, já que cada uma terá uma aplicação em proporções fixas, sendo misturadas e diluídas de acordo com especificação técnica do fabricante do refrigerante. Assim, estes kits (considerandose suas partes) consistem em produtos intermediários de um processo produtivo em que apenas em etapa posterior da produção, já na fábrica da Recorrente, adicionandose outros produtos químicos, como água e massa de açúcar, é que se alcançará o produto concentrado (xarope composto). As constatações do laudo do INT não responde, especificamente, qual a classificação fiscal do "kit de concentrado", nem mesmo se é concentrado. Sua conclusão corrobora a conclusão do laboratório Falcão Bauer. Convém salientar, por oportuno, que o laudo do INT, ao responder um dos quesitos, afirmou que (fls. 10.27410.275) "tanto a parte A como a parte B são preparações compostas, ou seja, preparações formadas com mais de um componente. Quimicamente, existem preparações simples e compostas.Uma preparação simples é um único composto diluído em solução. Já a preparação composta é formada por mais de um componente em solução. Portanto, a parte A e B são preparações líquidas constituídas de mais de um componente formando uma preparação composta.(...)". Ademais, em nenhum momento a fiscalização afirma que as partes do "kit de concentrado" podem ser vendidos misturados, ou que podem ser desobedecidas as proporções de mistura e de cada item do kit no preparo do refrigerante, ou mesmo que as partes podem ser vendidas separadamente porque podem ter outras funções mercadológicas. Frisese, em momento algum há esta afirmação, mas apenas que cada parte do kit é um produto único e com função e característica específica para o preparo da bebida, sendo vendido em kit por questões mercadológicas. Ainda, o laudo do INT, em outra passagem, afirma que "o produto sob análise ainda que denominado comercialmente de "concentrado", não é um preparado líquido ou concentrado líquido, destinado à comercialização direta ao consumidor final ou a restaurantes, pois conforme observado durante as visitas técnicas essa preparação constituída de parte A e parte B saem em seus respectivos IBCs (...) da Recofarma Manaus para as fábricas da CocaCola onde entrarão como matéria prima principal no processo produtivo junto com a massa de açúcar, água de processo e CO², seguindo as etapas da receita para obtenção do produto final, CocaCola, que será destinado à comercialização para o consumidor final". (fl. 10.272) Em síntese, o laudo do INT não infirma e nem contradiz o laudo elaborado pelo laboratório Falcão Bauer ou da acusação fiscal de que estas partes do kit não são um concentrado. Ao contrário, corrobora o entendimento de cada parte que forma o kit é um preparado composto alimentício para o preparo de bebidas não alcoólicas. Portanto, a classificação fiscal a ser adotada é a NCM 2106.90.10, como uma “Preparação do tipo utilizado para elaboração de bebidas ”, cuja alíquota do IPI é zero , da qual estou de acordo. Sendo assim, por ser alíquota zero, não é possível calcular crédito sobre o valor das operações de aquisição destes insumos. 2.2. Da modificação do critério jurídico Fl. 10375DF CARF MF 22 Ainda, afirma a Recorrente que a alteração da classificação fiscal dos kit concentrado neste auto de infração representa alteração de critério jurídico, não podendo ser levada a efeito pela fiscalização para os fatos geradores ocorridos antes da data em que o critério jurídico foi modificado. Segundo a Recorrente (fls. 10.11210.114) durante todos anos em que sofreu fiscalização, nunca teve a classificação fiscal objetada pelo Fisco. Esta aceitação passiva da classificação fiscal adotada por anos, representa sua aceitação. A revisão da classificação fiscal só foi realizada em setembro de 2016, nos autos do processo administrativo 14090.720284/201672, no qual em outro auto de infração se afirmou que a classificação fiscal na posição 21.06.90.10 Ex. 01 para os kits concentrados estava incorreta. Portanto, na pior das hipóteses, diz a Recorrente, somente para os fatos geradores que viessem a ocorrer a partir desta mudança de critério jurídico (27.09.2016) é que esta mudança na classificação poderia ser aplicada, por hipótese. Assim afirmou a Recorrente: 5.4.6. Ora, no lançamento tributário, a atividade da autoridade administrativa é vinculada, nos termos do art. 142 do CTN, e, ao fiscalizar um contribuinte e examinar a sua escrita fiscal de IPI, a AUTORIDADE tem o dever de examinar todos os aspectos legais formadores do fato gerador da obrigação tributária de IPI, a saber: o direito ao crédito de IPI, a classificação fiscal do produto adquirido, sua respectiva alíquota etc. (...)5.4.9. Ora, a questão da natureza do produto e sua respectiva classificação fiscal é nova e diversa das demais questões ! ! Neste ponto, também não assiste razão a Recorrente. Nas citadas autuações não houve análise da classificação fiscal dos produtos e a glosa dos créditos presumidos foi realizada por motivo distinto do consignado na presente autuação, qual seja, a ausência de aquisição sob o regime de isenção prevista no art. 237 e 95, III, do RIPI/2010 para matéria prima agrícola e extrativa vegetal produzida na Amazônia Ocidental. Para a aplicação do art. 146 do CTN, como instrumento de proteção do contribuinte, em homenagem à boafé e segurança jurídica, é preciso que tenha havido uma manifestação expressa da administração tributária acerca da interpretação dada à aplicação jurídica sobre determinada situação regida por legislação tributária. Tratase da qualificação jurídica dada pelo intérprete que, ao rever sua posição, altera o critério jurídico. Esta mudança só pode ter aplicação para os fatos geradores praticados após a alteração do critério, verbis: CTN. Art. 146. A modificação introduzida, de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução. Verificase dos autos e da outra autuação juntada pela Recorrente, que não houve uma manifestação da fiscalização acerca da aplicação de uma dada NCM sobre estas operações, não havendo que se falar, portanto, em alteração do critério jurídico. Este entendimento também é manifestado por Luís Eduardo Schoueri1 quando leciona que se em lançamentos anteriores a autoridade administrativa adotou determinada interpretação da lei tributária, pode o contribuinte, (...), seguir o mesmo entendimento, até que ele seja informado diretamente ou por meio de ato administrativo público, de que diverso será o entendimento da fiscalização. 1 SCHOUERI, Luís Eduardo. 6ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2016. p. Fl. 10376DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.366 23 Neste sentido, para que houvesse modificação de critério jurídico, seria necessário que em lançamentos anteriores a autoridade administrativa tivesse adotado determinada interpretação da lei tributária, adotando, por exemplo, determinada classificação fiscal para a identificação da alíquota de IPI aplicável ao produto industrializado. Com isso, em uma a adoção posterior de outra classificação fiscal, reavaliandose o produto para fins de nova interpretação acerca de sua classificação jurídica, não haveria dúvida de que se está diante de uma mudança de interpretação jurídica sobre o mesmo fato que antes se dava outro tratamento jurídico. Leandro Paulsen2, comentando este artigo do CTN, assevera: O art. 146 do CTN positiva, em nível infraconstitucional, a necessidade de proteção da confiança do contribuinte na Administração Tributária, abarcando, de um lado, a impossibilidade de retratação de atos administrativos concretos que implique prejuízo relativamente a situação consolidada à luz de critérios anteriormente adotados e, de outro, a irretroatividade de atos administrativos normativos quando o contribuinte confiou nas normas anteriores. Não houve, ao menos não consta dos autos, uma análise destes produtos para fins de determinação, pelo Fisco, de sua classificação fiscal no sentido adotado pela Recofarma ou pela Recorrente para, agora, nesta nova autuação, a fiscalização pretendesse alterar o critério jurídico. Ressaltese que a administração tributária, desde 2010, já analisou estes produtos e concluiu por uma determinada classificação fiscal. Assim, ao contrário do que afirma a Recorrente, há uma solução de consulta afirmando a classificação fiscal 2106.90.10, tal qual dada pela fiscalização nestes autos. Tratase da Solução de Consulta SRRF02/Diana nº 5/2010, de 20/05/2010, ratificada pela Informação Coana/Ceclam nº 8/2015, de 12/03/2015, onde classificouse da seguinte maneira os componentes de kit para preparação de bebida refrigerante sabor laranja: a) NCM 2106.90.10 Preparação para aromatização de bebida refrigerante, com sabor laranja, constituída de água potável (70%), gomas naturais de laranja (20,44%), aromatizante sabor laranja (5,8%), corantes, ácido cítrico anidro e conservantes, em embalagem de 50kg; b) NCM 2916.31.21 Benzoato de sódio, em embalagem de 15kg, e; c) NCM 2918.14.00 Ácido cítrico anidro, em embalagem de 67kg. Além de suas embalagens individuais, os componentes do kit também se encontram acondicionados conjuntamente em uma segunda embalagem, formando um único volume. Dispositivos Legais: 1ª RGI/SH (texto das posições 2106, 2916 e 2918 e texto da nota 5C, do capítulo 29), 6ª RGI/SH (texto das subposições 2106.90, 2916.31 e 2918.14) e 1ª Regra Geral Complementar (texto do item 2916.31.2 e dos subitens 2 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 15ª Edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, p. 1.049 Fl. 10377DF CARF MF 24 2106.90.10 e 2916.31.21), da Tarifa Externa Comum, do Mercosul, aprovada pela Resolução Camex nº 43/2006, e suas alterações, e com subsídios das Notas Explicativas do Sistema (grifei) Pelas mesmas razões, rejeitase o argumento de ao menos reconhecer prática reiterada da Administração Tributária e, nessa qualidade, norma complementar à legislação tributária (art. 100, III, do CTN), cuja observância implicaria, na pior das hipóteses, o afastamento da multa, dos juros e da correção monetária exigidos para reclassificação fiscal para o código para o qual é atribuído alíquota zero do IPI. Também não assiste razão os argumentos acerca da competência da SUFRAMA para definir a classificação fiscal dos produtos objeto de projetos industriais aprovados por este órgão para fruição de benefícios fiscais. Isso porque é atribuição da Receita Federal do Brasil o desenvolvimento desta tarefa, nos termos do art. 30 do Decreto nº 70.235/1972. Ademais, o Fisco, no TVF, consignou que a SUFRAMA não se pronunciou sobre o enquadramento na TIPI dos produtos em questão, tendo a classificação fiscal sido colocada no projeto e avaliação técnica trazida pela própria RECOFARMA para aprovação do projeto e obtenção da sua aprovação pela SUFRAMA. Compete à SUFRAMA a fiscalização do atendimento aos requisitos para gozo da isenção, mas o atendimento da legislação tributária, incluindose classificação fiscal e a alíquota utilizada pelos adquirentes para cálculo dos créditos, é tema de fiscalização da RFB. No mais, diversas normas da NESH (Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias) indicam que os componentes de kits para fabricação de bebidas não se caracterizam como uma mercadoria única, conforme se extrai, em especial, do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), que exclui os bens destinados à fabricação de bebidas do campo de aplicação da RGI 3 b) do Sistema Harmonizado: XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. Conforme bem destacado no TVF, este dispositivo foi incluído na NESH após análise efetuada pelo Conselho de Cooperação Aduaneira (CCA) nos anos de 1985 e 1986, em resposta a consultas recebidas de paísesmembros da organização internacional sobre a classificação de produtos com as mesmas características dos kits para fabricação de bebidas produzidos no Brasil. O texto da análise do CCA equivale a uma detalhada exposição de motivos para o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), deixando claro que a criação dessa Nota teve por objetivo determinar que os componentes dos kits para fabricação de bebidas devem ser classificados separadamente nos códigos apropriados para cada um deles. 2.2. Da verificação da regularidade das notas fiscais Também não assiste razão a Recorrente ao afirmar que não tem o dever de verificar a classificação fiscal dada pelo fornecedor sobre os produtos adquiridos. Argumenta a Recorrente que o art. 62 da Lei nº 4.502/1964 estabelece o dever do adquirente de verificar se os produtos adquiridos para utilização em sua produção Fl. 10378DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.367 25 apresentam correção nas notas fiscais, se este documento atende as prescrições da legislação, mas que não exige que se examine a classificação fiscal dos produtos dada pelo fornecedor Art . 62. Os fabricantes, comerciantes e depositários que receberem ou adquirirem para industrialização, comércio ou depósito, ou para emprêgo ou utilização nos respectivos estabelecimentos, produtos tributados ou isentos, deverão examinar se êles se acham devidamente rotulados ou marcados ou, ainda, selados se estiverem sujeitos ao sêlo de contrôle, bem como se estão acompanhados dos documentos exigidos e se êstes satisfazem a tôdas as prescrições legais e regulamentares. § 1º Verificada qualquer falta, os interessados, a fim de se eximirem de responsabilidade, darão conhecimento à repartição competente, dentro de oito dias do recebimento do produto, ou antes do início do consumo ou da venda, se êste se der em prazo menor, avisando, ainda, na mesma ocasião o fato ao remetente da mercadoria. (grifei) É certo que os regulamentos do IPI anteriores, ao regulamentar o art. 62 do da Lei 4.502/1964, traziam consigo um a disposição expressa de que a verificação das prescrições legais das notas fiscais incluíam a classificação fiscal, porém, na atual redação do dispositivo dada pelo RIPI/2010, tal especificação foi retirada do texto, passando a ter a mesma redação do art. 62 do dispositivo retrocitado. No entanto, entendo que a classificação fiscal está incluída na redação do texto vigente ao dizer que é dever do adquirente verificar se os documentos fiscais satisfazem todas as prescrições legais e regulamentares. A interpretação deste dispositivo, a meu ver, não deve se restringir apenas aos aspectos formais do documento fiscal, mas também a análise de seu conteúdo ideológico, tais como descrição do produto, valor, peso e classificação fiscal, devendo comunicar ao Fisco e ao fornecedor qualquer incorreção. Isso porque o IPI é um tributo não cumulativo, cujo regime adotado pela Constituição é o do método subtrativo indireto imposto sobre imposto, sendo o montante de crédito um valor correspondente ao montante de tributo que incidiu na operação anterior para deduzir do imposto devido na etapa seguinte. Melhor explicando, quando da implementação de um imposto sobre o consumo com incidência não cumulativa, pretendendose aplicar uma tributação sobre o valor acrescido, a Constituição elegeu o método da subtração conhecido como "imposto sobre imposto" (tax on tax). Por este método, a não cumulatividade é implementada por sistema de débitos e créditos, tendose por consideração o montante de imposto que incidiu nas entradas dos produtos para abater com o montante de imposto que incide nas saídas dos produtos daí resultante, tudo com o objetivo de se tributar apenas o saldo para onerar o valor acrescido da operação. Com isso, caso não tenha havido incidência do imposto na operação anterior, não haverá um crédito a compensar com o débito futuro. Pelo método de apuração imposto sobre imposto, é da própria natureza da metodologia de apuração a falta de geração de crédito para a fase posterior da cadeia produtiva quando na fase anterior não há não incidência (seja Fl. 10379DF CARF MF 26 por isenção, alíquota zero ou não incidência pura e simples), ocorrendo o denominado “efeito de recuperação” 3 À não cumulatividade do IPI, por esta metodologia de crédito à razão do imposto que incidiu na etapa anterior, reconhecese a translação jurídica4 do encargo econômico do tributo. Assim, juridicamente, o montante de crédito do industrial corresponderá ao montante de imposto que incidiu nas aquisições de matériaprima, produtos intermediários e material de embalagem. Desta feita, qualquer incorreção no valor da base de cálculo ou da aplicação da alíquota decorrente de uma má aplicação da classificação fiscal afetará, inevitavelmente, o montante de crédito a ser escriturado pelo adquirente. Esta necessidade de verificação da classificação fiscal pelo adquirente é mais perceptível nos casos em que há permissão de geração de crédito presumido de IPI nas aquisições de produtos isentos ou sujeitos à alíquota zero, calculandose um crédito como se fosse devido um imposto. Isso porque, nas operações normais, com o destaque do imposto na nota fiscal, o adquirente do produto é onerado pelo valor do imposto e, juridicamente, este encargo econômico é transferido e pode ser escriturado como crédito para fins de não cumulatividade. Entretanto, nos casos em que não há incidência na etapa anterior, seja por isenção, seja por alíquota zero, a escrituração do crédito do imposto, quando permitido, não se dá pela translação do encargo econômico, mas sim em razão de um crédito presumido. No caso de produtos adquiridos da ZFM, tais produtos são isentos em razão do critério territorial da hipótese de incidência. Caso a classificação fiscal do produto isento em razão do local tenha uma alíquota maior que zero, e seja autorizada a escrituração de crédito mesmo havendo a isenção, o crédito é calculado pela aplicação da alíquota correspondente à classificação fiscal, como se devido fosse. Daí a necessidade, a meu ver, de o fornecedor verificar a correção da classificação fiscal dada por seu fornecedor em qualquer caso, ainda mais em hipótese de não incidência, já que o crédito gerado será presumido e não decorrente da incidência do imposto na etapa anterior, como ocorre diante da natureza do método imposto sobre imposto da não cumulatividade (translação jurídica do encargo econômico). Neste sentido, deve ser glosado o crédito presumido escriturado, inclusive, com exigência da multa prevista no art. 80 da Lei 4.502/1964, conforme aplicação dada pelo auto de infração. 3. QUANTO AOS JUROS E MULTA Quanto à aplicação dos juros sobre a multa de ofício, já é de entendimento deste E. CARF sobre a possibilidade de aplicação dos juros sobre a multa, tendose em vista o que dispões os artigos 113, § 1º, 139 e 161, todos do CTN, entendendose que há incidência de juros de mora sobre o crédito tributário, o qual pode ser composto tanto de imposto quanto de penalidade pecuniária, pois ambas as prestações pecuniárias referidas são objeto da obrigação tributária principal. Outrossim, este entendimento esta matéria se encontra sumulado: Súmula CARF nº 108 3 TORRES, Ricardo Lobo. O Princípio da nãocumulatividade e o IVA no Direito Comparado. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (coord.). O Princípio da NãoCumulatividade. Nova Série nº 10. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 152. 4 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 6ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2016. p. Fl. 10380DF CARF MF Processo nº 14090.720754/201789 Acórdão n.º 3301005.546 S3C3T1 Fl. 10.368 27 Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício. CONCLUSÃO Isto posto, conheço em parte do recurso voluntário para não analisar a possibilidade de geração de créditos, pois protegida pela coisa julgada, porém, na parte conhecida, nego provimento diante da impossibilidade da geração de crédito presumido de IPI na medida em que os "kits de concentrado" classificamse na NCM 2106.90.10, sujeitos à alíquota zero de IPI. SALVADOR CÂNDIDO BRANDÃO JUNIOR Relator Fl. 10381DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10783.901347/2015-50
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jan 31 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Feb 07 00:00:00 UTC 2019
Numero da decisão: 3402-001.756
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do recurso em diligência, nos termos do voto da relatora.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Presidente
(assinado digitalmente)
Maria Aparecida Martins de Paula - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Rodrigo Mineiro Fernandes e Cynthia Elena de Campos.
Nome do relator: MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA
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Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do recurso em diligência, nos termos do voto da relatora. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Presidente (assinado digitalmente) Maria Aparecida Martins de Paula Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Rodrigo Mineiro Fernandes e Cynthia Elena de Campos. Relatório Tratase de recurso voluntário contra decisão da Delegacia de Julgamento no Rio de Janeiro que julgou improcedente a manifestação de inconformidade da contribuinte. Versa o processo sobre Pedido Eletrônico de Ressarcimento (PER) nº 25554.01735.241014.1.1.103727, por meio do qual a contribuinte pretende o reconhecimento de créditos da não cumulatividade do PIS auferidos no mercado interno durante o 2º trimestre de 2011, no montante de R$ 2.073.387,41. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 07 83 .9 01 34 7/ 20 15 -5 0 Fl. 1158DF CARF MF Processo nº 10783.901347/201550 Resolução nº 3402001.756 S3C4T2 Fl. 1.159 2 O direito creditório foi reconhecido parcialmente pela autoridade administrativa, em face das glosas efetuadas nos valores demonstrados no Dacon relativamente aos seguintes itens: Operações Portuárias: a) “Serviços Operações Portuárias”, com despesas de desestiva, descarga, operação portuária, descarga/armazenagem, armazenagem e transporte municipais; e b) despesas de armazenagem e frete incorridas internamente no porto; Fretes sobre Compras (fertilizantes e matériasprimas) Fretes sobre Compras (sem descrição do produto ou não permitidos), os quais decorreram, segundo a empresa, em sua maioria, do transporte de matériasprimas, transferência interfiliais de embalagens e fretes para transporte de materiais de limpeza. A interessada apresentou manifestação de inconformidade, sustentando a legitimidade dos créditos pleiteados, em linhas gerais, em face de entender que o conceito de insumo para fins de apuração de créditos das contribuições deve ser estendido aos custos, despesas e encargos consumidos nas atividades e estabelecimentos da empresa afetos à realização da receita tributável, nos termos definidos pela legislação do imposto de renda, em especial, os art. 290, 291 e 299 do RIR/1999. A Delegacia de Julgamento não acatou os argumentos da impugnante, entendendo que nenhum dos itens glosados contestados poderia ser gerador de crédito por expressa previsão legal ou se enquadrar no conceito de insumo, nos termos dos artigos 3ºs das Leis n° 10.833/2003 e 10.637/2002 e das Instruções Normativas SRF n°s 404/2004 e 247/2002. Cientificada dessa decisão em 22/08/2017, a contribuinte apresentou recurso voluntário em 20/09/2017, sob os seguintes tópicos: 1 – DO DIREITO AO CRÉDITO RELATIVO À AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS NA FABRICAÇÃO DE ADUBOS E FERTILIZANTES 1.1 – A NÃOCUMULATIVIDADE 1.1.1 – Do conceito de insumos para fins de tributação pelo PIS e pela COFINS – Da inaplicabilidade das regras afetas ao IPI – Da ilegalidade das INs 247/02 e 404/04 – Do equívoco do despacho decisório e do acórdão recorrido 1.1.1.1 – O adequado conceito de insumo para a sistemática do PIS/COFINS – Uma definição que medeia a aplicação integral das regras de dedução do IRPJ e do IPI 1.1.1.2 – Um conceito mais restrito de insumo – Bens e serviços pertinentes e essenciais ao processo produtivo 1.1.1.2.1 – Serviços 1.1.1.2.1 a – Serviços de frete sobre compra de insumos 1.1.1.2.1.b – Serviços de transporte de materiais auxiliares – Frete de embalagens 1.1.1.2.1.c – Serviços de transporte de materiais auxiliares – Frete de materiais de limpeza 1.1.1.2.1.d – Operações portuárias 2 – DO FRETE SOBRE OPERAÇÃO AQUISIÇÃO DE MERCADORIA COM ALÍQUOTA DO PIS/COFINS REDUZIDA À ZERO 2.1 – Inaplicabilidade do art. 3º, § 2º, inc. II, da Lei nº 10.637/02 e 10.833/03 Fl. 1159DF CARF MF Processo nº 10783.901347/201550 Resolução nº 3402001.756 S3C4T2 Fl. 1.160 3 3 – DA INÉRCIA DA FISCALIZAÇÃO – DA TRANSFERÊNCIA DO ENCARGO AO CONTRIBUINTE – DA CONCESSÃO DE PRAZO EXÍGUO PARA APRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES – DA VERDADE MATERIAL Ao final requereu também a recorrente a concessão de prazo para juntada de documentação complementar e, caso se entenda necessário, a realização de diligência para a verificação da pertinência e essencialidade dos itens glosados ao processo produtivo desenvolvido pela empresa. Às vésperas da sessão de julgamento, a recorrente apresentou planilhas com informações adicionais, ressaltando que os demonstrativos anexados, embora contenham inúmeros dados anteriormente omitidos, não estariam totalmente preenchidos em razão do fato de que a empresa aguardaria a concessão de prazo para o levantamento dos elementos faltantes, o que provavelmente demandaria a contratação de empresa especializada para a realização da tarefa em face do volume de informações envolvidas. É o relatório. Voto Conselheira Maria Aparecida Martins de Paula, Relatora Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomase conhecimento do recurso voluntário. Como se sabe, em reiteradas decisões, este CARF já vinha afastando o conceito restrito de insumos dado pelas Instruções Normativas SRF nºs 247/2002 e 404/2004. Até então, vinha esta Relatora adotando o entendimento de que seria cabível o desconto de créditos de PIS/Cofins relativos a bens e serviços utilizados como insumos que fossem pertinentes e essenciais ao processo produtivo ou à prestação de serviços, considerando como parâmetro o custo de produção, conforme delineado no Voto do Ilustre Conselheiro Antonio Carlos Atulim no Acórdão nº 3403002.816, de 27 de fevereiro de 2014, naquilo que não fosse conflitante com as restrições ao creditamento dispostas nas Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03. Ocorre que, recentemente o Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do REsp nº 1.221.170/PR (2010/02091150), pelo rito dos Recursos Repetitivos, decidiu no sentido de que o conceito de insumo deve ser aferido segundo os critérios de essencialidade ou relevância para o processo produtivo da contribuinte, bem como que há ilegalidade no conceito de insumo previsto nas Instruções Normativas SRF nºs 247/2002 e 404/2004. Não obstante o referido Acórdão do STJ não tenha transitado em julgado, de forma que, pelo Regimento Interno do CARF, ainda não vincularia os membros do CARF, a Procuradoria da Fazenda Nacional expediu a Nota SEI nº 63/2018/CRJ/PGACET/PGFNMF1, 1 Portaria Conjunta PGFN /RFB nº1, de 12 de fevereiro de 2014 (Publicado(a) no DOU de 17/02/2014, seção 1, página 20) Art. 3º Na hipótese de decisão desfavorável à Fazenda Nacional, proferida na forma prevista nos arts. 543B e 543C do CPC, a PGFN informará à RFB, por meio de Nota Explicativa, sobre a inclusão ou não da matéria na lista de dispensa de contestar e recorrer, para fins de aplicação do disposto nos §§ 4º, 5º e 7º do art. 19 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, e nos Pareceres PGFN/CDA nº 2.025, de 27 de outubro de 2011, e PGFN/CDA/CRJ nº 396, de 11 de março de 2013. Fl. 1160DF CARF MF Processo nº 10783.901347/201550 Resolução nº 3402001.756 S3C4T2 Fl. 1.161 4 com a aprovação da dispensa de contestação e recursos sobre o tema, com fulcro no art. 19, IV, da Lei nº 10.522, de 2002, 2 c/c o art. 2º, V, da Portaria PGFN nº 502, de 2016, o que vincula a Receita Federal nos atos de sua competência. Não estaria em consonância com os princípios da razoabilidade e da eficiência da Administração Pública, o CARF decidir de forma mais favorável a Fazenda Nacional do que pode a própria Receita Federal. No mais, o conceito de insumo delimitado no REsp nº 1.221.170/PR (2010/02091150) não diverge muito do entendimento que já vinha sendo adotado predominantemente neste CARF sobre a matéria, a qual reclama há muito tempo uniformização na jurisprudência em homenagem à segurança jurídica, razões pelas quais se adota desde já ao entendimento do STJ veiculado no julgamento do REsp nº 1.221.170/PR (2010/02091150), cuja ementa consta abaixo: § 1º A Nota Explicativa a que se refere o caput conterá também orientações sobre eventual questionamento feito pela RFB nos termos do § 2º do art. 2º e delimitará as situações a serem abrangidas pela decisão, informando sobre a existência de pedido de modulação de efeitos. § 2º O prazo para o envio da Nota a que se refere o caput será de 30 (trinta) dias, contado do dia útil seguinte ao termo final do prazo estabelecido no § 2º do art. 2º, ou da data de recebimento de eventual questionamento feito pela RFB, se este ocorrer antes. § 3º A vinculação das atividades da RFB aos entendimentos desfavoráveis proferidos sob a sistemática dos arts. 543B e 543C do CPC ocorrerá a partir da ciência da manifestação a que se refere o caput. § 4º A Nota Explicativa a que se refere o caput será publicada no sítio da RFB na Internet. § 5º Havendo pedido de modulação de efeitos da decisão, a PGFN comunicará à RFB o seu resultado, detalhando o momento em que a nova interpretação jurídica prevaleceu e o tratamento a ser dado aos lançamentos já efetuados e aos pedidos de restituição, reembolso, ressarcimento e compensação. (...) 2 LEI No 10.522, DE 19 DE JULHO DE 2002. Art. 19. Fica a ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional autorizada a não contestar, a não interpor recurso ou a desistir do que tenha sido interposto, desde que inexista outro fundamento relevante, na hipótese de a decisão versar sobre: (Redação dada pela Lei nº 11.033, de 2004) (...) II matérias que, em virtude de jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal Superior Eleitoral, sejam objeto de ato declaratório do ProcuradorGeral da Fazenda Nacional, aprovado pelo Ministro de Estado da Fazenda; (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) III (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.788, de 2013) IV matérias decididas de modo desfavorável à Fazenda Nacional pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de julgamento realizado nos termos do art. 543B da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil; (Incluído pela Lei nº 12.844, de 2013) V matérias decididas de modo desfavorável à Fazenda Nacional pelo Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos dos art. 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil, com exceção daquelas que ainda possam ser objeto de apreciação pelo Supremo Tribunal Federal. (Incluído pela Lei nº 12.844, de 2013) (...) § 4o A Secretaria da Receita Federal do Brasil não constituirá os créditos tributários relativos às matérias de que tratam os incisos II, IV e V do caput, após manifestação da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional nos casos dos incisos IV e V do caput. (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) § 5o As unidades da Secretaria da Receita Federal do Brasil deverão reproduzir, em suas decisões sobre as matérias a que se refere o caput, o entendimento adotado nas decisões definitivas de mérito, que versem sobre essas matérias, após manifestação da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional nos casos dos incisos IV e V do caput. (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) § 6o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.788, de 2013) § 7o Na hipótese de créditos tributários já constituídos, a autoridade lançadora deverá rever de ofício o lançamento, para efeito de alterar total ou parcialmente o crédito tributário, conforme o caso, após manifestação da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional nos casos dos incisos IV e V do caput. (Incluído pela Lei nº 12.844, de 2013) Fl. 1161DF CARF MF Processo nº 10783.901347/201550 Resolução nº 3402001.756 S3C4T2 Fl. 1.162 5 TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. NÃO CUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. DEFINIÇÃO ADMINISTRATIVA PELAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS 247/2002 E 404/2004, DA SRF, QUE TRADUZ PROPÓSITO RESTRITIVO E DESVIRTUADOR DO SEU ALCANCE LEGAL. DESCABIMENTO. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE INSUMOS À LUZ DOS CRITÉRIOS DA ESSENCIALIDADE OU RELEVÂNCIA. RECURSO ESPECIAL DA CONTRIBUINTE PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NESTA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO, SOB O RITO DO ART. 543C DO CPC/1973 (ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015). 1. Para efeito do creditamento relativo às contribuições denominadas PIS e COFINS, a definição restritiva da compreensão de insumo, proposta na IN 247/2002 e na IN 404/2004, ambas da SRF, efetivamente desrespeita o comando contido no art. 3º, II, da Lei 10.637/2002 e da Lei 10.833/2003, que contém rol exemplificativo. 2. O conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios da essencialidade ou relevância, vale dizer, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de determinado item – bem ou serviço –para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte. 3. Recurso Especial representativo da controvérsia parcialmente conhecido e, nesta extensão, parcialmente provido, para determinar o retorno dos autos à instância de origem, a fim de que se aprecie, em cotejo com o objeto social da empresa, a possibilidade de dedução dos créditos realtivos a custo e despesas com: água, combustíveis e lubrificantes, materiais e exames laboratoriais, materiais de limpeza e equipamentos de proteção individualEPI. 4. Sob o rito do art. 543C do CPC/1973 (arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015), assentamse as seguintes teses: (a) é ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002 e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de nãocumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003; e (b) o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de terminado item bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo Contribuinte. Nesse mesmo sentido, no Acórdão nº 9303007.512 – 3ª Turma, de 17 de outubro de 2018, sob a relatoria do Conselheiro Demes Brito, a Câmara Superior de Recursos Fiscais decidiu por acatar o conceito abstrato de insumo delimitado pelo REsp nº 1.221.170/PR. Os critérios da essencialidade e relevância que serão adotados por esta Relatora no presente processo são aqueles delimitados no Voto da Ministra Regina Helena Costa, conforme observação que constou na Nota SEI nº 63/2018/CRJ/PGACET/PGFNMF: 35. O STJ, seguindo o voto da Ministra Regina Helena Costa adotou a posição intermediária quanto ao conceito de insumo, ao adotar os critérios de relevância e essencialidade – também adotadas no CARF – e afastando o conceito de insumo da legislação do IPI e IRPJ. De acordo com o voto da Ministra Regina Helena estabeleceu se o critério de relevância – mais abrangente que o de pertinência adotado pelo Ministro Mauro Campbell Marques. Os Ministros Mauro Campbell Marques e Napoleão Nunes Maia Filho realinharam os seus votos para acompanhar Ministra Regina Helena Costa. (...) Observação 1. Observase que o STJ adotou a interpretação intermediária acerca da definição de insumo, considerando que seu conceito deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância. Devese, pois, levar em conta as particularidades de cada processo produtivo, na medida em que determinado bem pode fazer parte de vários processos produtivos, porém, com diferentes níveis de importância. Vale destacar que os critérios de essencialidade e relevância estão Fl. 1162DF CARF MF Processo nº 10783.901347/201550 Resolução nº 3402001.756 S3C4T2 Fl. 1.163 6 esclarecidos no voto da Ministra Regina Helena Costa, de maneira que se entende como critério da essencialidade aquele que “diz com o item do qual dependa, intrínseca e fundamentalmente, o produto ou serviço”, a)”constituindo elemento essencial e inseparável do processo produtivo ou da execução do serviço” ou “b) quando menos, a sua falta lhes prive de qualidade, quantidade e/ou suficiência”. Por outro lado, o critério de relevância “é identificável no item cuja finalidade, embora não indispensável à elaboração do próprio produto ou à prestação do serviço, integre o processo de produção, seja: a) “pelas singularidades de cada cadeia produtiva” b) seja “por imposição legal.” Vale aqui também fazer as ressalvas efetuadas pela Procuradoria da Fazenda Nacional na Nota SEI nº 63/2018/CRJ/PGACET/PGFNMF, no sentido de que foi estabelecido no julgamento do REsp nº 1.221.170/PR somente um conceito abstrato de insumo, cabendo ao julgador ou aplicador da norma avaliar, em cada caso concreto, se o insumo em questão enquadrase ou não nesse conceito, ou mesmo, se não se trata de hipótese de vedação ao creditamento ou de outras previsões específicas constantes nas Leis nºs 10.637/2002, 10.833/2003 e 10.865/2005. No presente caso concreto, estão sob discussão no âmbito deste Colegiado as glosas relativas aos seguintes itens: a) Fretes nas aquisições de bens considerados insumos (adubos e fertilizantes e suas matériasprimas) sujeitos à alíquota zero: envolve matéria acerca da possibilidade de creditamento das contribuições relativo ao serviço de frete na aquisição de bens para a qual não se concede o crédito, à luz do conceito abstrato de insumo constante no REsp nº 1.221.170/PR; b) Fretes sem descrição do produto transportado: para os quais a recorrente alega que parte seria decorrente de transporte matériasprimas, de materiais de embalagem e de materiais de limpeza. c) Serviços de Operações Portuárias (Serviços de Inspeção de Produto Importado): para os quais alega a recorrente que seriam despesas atinentes a: 1) armazenagem; 2) frete municipal; 3) carga e descarga; 4) desembaraço; 5) desestiva; 6) movimentação de carga; 7) operação portuária; 8) transporte portuário; dentre outros. Observase que carecem os autos de comprovação das alegações da recorrente nos item b) e c) acima, bem como, em face da superveniência do REsp nº 1.221.170/PR, a comprovação do devido enquadramento dos serviços glosados no conceito de insumo segundo os critérios da essencialidade ou relevância. Assim, voto no sentido de determinar a realização de diligência, nos termos do art. 18 do Decreto nº 70.235/72 e dos arts. 35 a 37 e 63 do Decreto nº 7.574/2011, para que a Unidade de Origem: 1.Intime a recorrente, dentro de prazo razoável, a: i) Apresentar Laudo Técnico com a demonstração de que cada serviço glosado constante nas planilhas "Serviços Operações Portuárias" , "Fretes não admitidos" e "Fretes Adubos Fertilizantes e suas matérias primas", é essencial ou relevante ao seu processo produtivo específico (do qual resulta o produto final destinado a venda ou relativo à execução de eventual serviço prestado a terceiro), em conformidade com os critérios delimitados no Voto da Ministra Regina Helena Costa proferido no REsp nº 1.221.170/PR. Fl. 1163DF CARF MF Processo nº 10783.901347/201550 Resolução nº 3402001.756 S3C4T2 Fl. 1.164 7 ii) Com relação aos "Fretes não admitidos", especificar em planilhas e comprovar para cada item glosado, ou para a categoria de itens (por amostragem), a modalidade de transporte utilizado (compra, venda ou transferência entre filiais), a descrição do bem transportado, natureza e destinação, bem como sua eventual essencialidade ou relevância ao seu processo produtivo (REsp nº 1.221.170/PR). iii) Com relação aos "Serviços Operações Portuárias" demonstrar, para cada item ou para cada categoria de itens (por amostragem) especificados nas planilhas de glosas, que eles estão vinculados diretamente aos insumos importados e que não se tratariam de despesas gerais da empresa. Nessa parte, demonstrar também que tais valores estão devidamente segregados exclusivamente para as operações de importação de insumos. 2. Elabore Relatório Conclusivo acerca da apuração das informações solicitadas nos itens acima, manifestandose acerca do eventual enquadramento dos serviços analisados no conceito de insumo delimitado no Voto da Ministra Regina Helena Costa proferido no REsp nº 1.221.170/PR, de aplicação obrigatória no âmbito da RFB. 3. Após a intimação da recorrente do resultado da diligência, concedendolhe o prazo de 30 (trinta) dias para manifestação, nos termos do art. 35 do Decreto nº 7.574/2011, devolva o processo a este Colegiado para prosseguimento. (assinado digitalmente) Maria Aparecida Martins de Paula Fl. 1164DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13056.000294/2005-99
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Dec 11 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Jan 23 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/10/2005 a 31/12/2005
CONTRIBUIÇÃO NÃO CUMULATIVA. CONCEITO DE INSUMOS.
Com o advento da NOTA SEI PGFN MF 63/18, restou clarificado o conceito de insumos, para fins de constituição de crédito das contribuições não cumulativas, definido pelo STJ ao apreciar o REsp 1.221.170, em sede de repetitivo - qual seja, de que insumos seriam todos os bens e serviços que possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração resulte na impossibilidade ou inutilidade da mesma prestação do serviço ou da produção. Ou seja, itens cuja subtração ou obste a atividade da empresa ou acarrete substancial perda da qualidade do produto ou do serviço daí resultantes.
PIS/PASEP. DIREITO AO CRÉDITO DAS CONTRIBUIÇÕES NÃO CUMULATIVAS. DESPESAS ADMINISTRATIVAS E DESPESAS COMERCIAIS.
Afinando-se ao conceito exposto pela Nota SEI PGFN MF 63/18, não há que se reconhecer o direito ao crédito das contribuições sobre as despesas administrativas - atividades meio, até mesmo aplicando ao teste de subtração. Vê-se que o teste de subtração deve ser direcionado aos itens aplicados diretamente e indiretamente para a produção e atividade do sujeito passivo - que possa acarretar substancial perda da qualidade do produto ou do serviço objeto da empresa.
Quanto às despesas comerciais, não há como se reconhecer o direito ao crédito das contribuições, considerando o contribuinte não ter trazido descrição ou referência aos itens para a vinculação a sua atividade.
Numero da decisão: 9303-007.779
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(Assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício
(Assinado digitalmente)
Tatiana Midori Migiyama Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: TATIANA MIDORI MIGIYAMA
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CONCEITO DE INSUMOS. Com o advento da NOTA SEI PGFN MF 63/18, restou clarificado o conceito de insumos, para fins de constituição de crédito das contribuições não cumulativas, definido pelo STJ ao apreciar o REsp 1.221.170, em sede de repetitivo qual seja, de que insumos seriam todos os bens e serviços que possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração resulte na impossibilidade ou inutilidade da mesma prestação do serviço ou da produção. Ou seja, itens cuja subtração ou obste a atividade da empresa ou acarrete substancial perda da qualidade do produto ou do serviço daí resultantes. PIS/PASEP. DIREITO AO CRÉDITO DAS CONTRIBUIÇÕES NÃO CUMULATIVAS. DESPESAS ADMINISTRATIVAS E DESPESAS COMERCIAIS. Afinandose ao conceito exposto pela Nota SEI PGFN MF 63/18”, não há que se reconhecer o direito ao crédito das contribuições sobre as despesas administrativas atividades meio, até mesmo aplicando ao teste de subtração. Vêse que o teste de subtração deve ser direcionado aos itens aplicados diretamente e indiretamente para a produção e atividade do sujeito passivo que possa acarretar substancial perda da qualidade do produto ou do serviço objeto da empresa. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 05 6. 00 02 94 /2 00 5- 99 Fl. 330DF CARF MF 2 Quanto às despesas comerciais, não há como se reconhecer o direito ao crédito das contribuições, considerando o contribuinte não ter trazido descrição ou referência aos itens para a vinculação a sua atividade. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. (Assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em Exercício (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama – Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello. Relatório Tratase de Recurso Especial interposto pelo contribuinte contra o acórdão nº 330200.927, da 2ª Turma Ordinária da 3ª Câmara da 3ª Seção de Julgamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, que, por unanimidade de votos, negou provimento ao recurso voluntário, consignando a seguinte ementa: “RESSARCIMENTO DE CRÉDITOS DE PIS/PASEP. EXPORTAÇÕES. DESPESAS NÃO CLASSIFICÁVEIS COMO INSUMOS. IMPOSSIBILIDADE Fl. 331DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 565 3 Período de apuração: 01/10/2005 a 31/12/2005 Não são passíveis de ressarcimento créditos decorrentes de despesas com serviços adquiridos de pessoas físicas, de despesas administrativas e comerciais no caso concreto. O conceito de insumo depende da inserção da despesa ou custo no processo produtivo da empresa de acordo com a sua atividade econômica.” Irresignado o sujeito passivo interpôs Recurso Especial contra o r. acórdão, trazendo, entre outros, que: · É empresa tradicional no ramo de exploração de peles de gado e está sujeita à sistemática da apuração do PIS e da Cofins, fazendo jus ao ressarcimento do saldo credor das referidas contribuições, nos termos das Leis 10.637/02 e 10.833/03; · Dispêndios necessários para obtenção de receita, eleitos pela Lei 10.63702 são bens e serviços, utilizados como insumos na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda; · É impossível imaginar uma fábrica funcionando sem utilização de serviços administrativos e de venda; · Todas as despesas administrativas e despesas com vendas são insumos indispensáveis para a prestação de serviços e para produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda e devem gerar créditos das contribuições; · A vedação ao aproveitamento dos créditos oriundos de bens e serviços adquiridos de pessoas físicas viola o princípio da não cumulatividade concebida pela Constituição Federal. Em Despacho às fls. 293 a 297, foi dado seguimento parcial ao recurso especial apenas em relação à interpretação de que o conceito de insumo tipificado nas Leis 10.637/02 e 10.833/03 não abrange as despesas administrativas e comerciais. Contrarrazões ao recurso foram apresentadas pela Fazenda Nacional, que trouxe, entre outros, que: Fl. 332DF CARF MF 4 · As INs 247/02 e 404/04 apenas explicitaram a definição de insumo já prevista pelas Leis 10.637/02 e 10.833/03, para efeitos de “descontos de créditos” de PIS e COFINS nas aquisições de bens e serviços empregados na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda; · Logo, no caso de uma empresa cuja atividade principal seja a produção de bens e produtos, serão insumos aqueles elementos (bens ou serviços) utilizados diretamente em sua fabricação; e no caso de uma empresa cuja atividade preponderante seja a prestação de serviços, serão insumos os elementos aplicados diretamente na sua prestação; · Não há como admitir a adoção da legislação do IRPJ para conceituar o insumo do PIS/Cofins não cumulativo. É o relatório. Voto Conselheira Tatiana Midori Migiyama Relatora Depreendendose da análise do Recurso Especial interposto pelo sujeito passivo, entendo que devo conhecêlo na parte que foi admitida, eis que comprovada a divergência conferida pelo art. 67 do RICARF/2015 – Portaria MF 343/15 com alterações posteriores. Sendo assim, passo a discorrer a priori sobre os critérios a serem observados para a conceituação de insumo para a constituição do crédito do PIS e da Cofins trazida pela Lei 10.637/02 e Lei 10.833/03. Não é demais enfatizar que se tratava de matéria controvérsia – pois, em fevereiro de 2018, o STJ, em sede de recurso repetitivo, ao apreciar o REsp 1.221.170, definiu que o conceito de insumo, para fins de constituição de crédito de PIS e de Cofins, deve observar o critério da essencialidade e relevância – considerandose a imprescindibilidade do item para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo sujeito passivo. Fl. 333DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 566 5 Em 24.4.2018, foi publicado o acórdão do STJ, que trouxe em sua ementa (Grifos meus): “TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. NÃO CUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. DEFINIÇÃO ADMINISTRATIVA PELAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS 247/2002 E 404/2004, DA SRF, QUE TRADUZ PROPÓSITO RESTRITIVO E DESVIRTUADOR DO SEU ALCANCE LEGAL. DESCABIMENTO. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE INSUMOS À LUZ DOS CRITÉRIOS DA ESSENCIALIDADE OU RELEVÂNCIA. RECURSO ESPECIAL DA CONTRIBUINTE PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NESTA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO, SOB O RITO DO ART. 543C DO CPC/1973 (ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015). 1. Para efeito do creditamento relativo às contribuições denominadas PIS e COFINS, a definição restritiva da compreensão de insumo, proposta na IN 247/2002 e na IN 404/2004, ambas da SRF, efetivamente desrespeita o comando contido no art. 3o., II, da Lei 10.637/2002 e da Lei 10.833/2003, que contém rol exemplificativo. 2. O conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios da essencialidade ou relevância, vale dizer, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de determinado item – bem ou serviço – para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte. 3. Recurso Especial representativo da controvérsia parcialmente conhecido e, nesta extensão, parcialmente provido, para determinar o retorno dos autos à instância de origem, a fim de que se aprecie, em cotejo com o objeto social da empresa, a possibilidade de dedução dos créditos relativos a custo e despesas com: água, combustíveis e lubrificantes, materiais e exames laboratoriais, materiais de limpeza e equipamentos de proteção individualEPI. 4. Sob o rito do art. 543C do CPC/1973 (arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015), assentamse as seguintes teses: (a) é ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002 e Fl. 334DF CARF MF 6 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de não cumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003; e (b) o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de terminado item bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo Contribuinte.” Definiu ser ilegal a disciplina de creditamento prevista nas IN SRF 247 e 404 que, por sua vez, traz um entendimento mais restritivo que a descrita na lei. Nessa linha, efetivamente a Constituição Federal não outorgou poderes para a autoridade fazendária para se definir livremente o conteúdo da não cumulatividade. O que, por conseguinte, tal como já entendia, expresso que a devida observância da sistemática da não cumulatividade exige que se avalie a natureza das despesas incorridas pela contribuinte – considerando a legislação vigente, bem como a natureza da sistemática da não cumulatividade. Sempre que estas despesas/custos se mostrarem essenciais ao exercício de sua atividade, devem implicar, a rigor, no abatimento de tais despesas como créditos descontados junto à receita bruta auferida. Importante recordar que no IPI se tem critérios objetivos (desgaste durante o processo produtivo em contato direto com o bem produzido ou composição ao produto final), enquanto, no PIS e na COFINS essa definição sofre contornos subjetivos. Tenho que, para se estabelecer o que é o insumo gerador do crédito do PIS e da COFINS, ao meu sentir, tornase necessário analisar a essencialidade do bem ao processo produtivo da recorrente, ainda que dele não participe diretamente. Continuando, frisese tal entendimento que vincula o bem e serviço para fins de instituição do crédito do PIS e da Cofins com a essencialidade no processo produtivo o Acórdão 3403002.765 – que, por sua vez, traz em sua ementa: Fl. 335DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 567 7 "O conceito de insumo, que confere o direito de crédito de PIS/Cofins nãocumulativo, não se restringe aos conceitos de matériaprima, produto intermediário e material de embalagem, tal como traçados pela legislação do IPI. A configuração de insumo, para o efeito das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003, depende da demonstração da aplicação do bem e serviço na atividade produtiva concretamente desenvolvida pelo contribuinte." Vêse que na sistemática não cumulativa do PIS e da COFINS o conteúdo semântico de insumo é mais amplo do que aquele da legislação do IPI, porém mais restrito do que aquele da legislação do imposto de renda, abrangendo os “bens” e serviços que integram o custo de produção. Ademais, vêse que, dentre todas as decisões do CARF e do STJ, era de se constatar que o entendimento predominante considerava o princípio da essencialidade para fins de conceituação de insumo. Não obstante à jurisprudência dominante, importante discorrer sobre o tema desde a instituição da sistemática não cumulativa das r. contribuições. Em 30 de agosto de 2002, foi publicada a Medida Provisória 66/02, que dispôs sobre a sistemática não cumulativa do PIS, o que foi reproduzido pela Lei 10.637/02 (lei de conversão da MP 66/02) que, em seu art. 3º, inciso II, autorizou a apropriação de créditos calculados em relação a bens e serviços utilizados como insumos na fabricação de produtos destinados à venda. É a seguinte a redação do referido dispositivo: “Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto Fl. 336DF CARF MF 8 em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI;” Em relação à COFINS, temse que, em 31 de outubro de 2003, foi publicada a MP 135/03, convertida na Lei 10.833/03, que dispôs sobre a sistemática não cumulatividade dessa contribuição, destacando o aproveitamento de créditos decorrentes da aquisição de insumos em seu art. 3º, inciso II, em redação idêntica àquela já existente para o PIS/Pasep, in verbis (Grifos meus): “Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei nº10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004)”. Posteriormente, em 31 de dezembro de 2003, foi publicada a Emenda Constitucional 42/2003, sendo inserida ao ordenamento jurídico o § 12 ao art. 195: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições: [...] §12 A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não cumulativas.” Fl. 337DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 568 9 Com o advento desse dispositivo, restou claro que a regulamentação da sistemática da não cumulatividade aplicável ao PIS e à COFINS ficaria sob a competência do legislador ordinário. Vêse, portanto, em consonância com o dispositivo constitucional, que não há respaldo legal para que seja adotado conceito excessivamente restritivo de "utilização na produção" (terminologia legal), tomandoo por "aplicação ou consumo direto na produção" e para que seja feito uso, na sistemática do PIS/Pasep e Cofins não cumulativos, do mesmo conceito de "insumos" adotado pela legislação própria do IPI. Nessa lei, há previsão para que sejam utilizados apenas subsidiariamente os conceitos de produção, matéria prima, produtos intermediários e material de embalagem previstos na legislação do IPI. Ademais, a sistemática da não cumulatividade das contribuições é diversa daquela do IPI, visto que a previsão legal possibilita a dedução dos valores de determinados bens e serviços suportados pela pessoa jurídica dos valores a serem recolhidos a título dessas contribuições, calculados pela aplicação da alíquota correspondente sobre a totalidade das receitas por ela auferidas. Não menos importante, vêse que, para fins de creditamento do PIS e da COFINS, admite se também que a prestação de serviços seja considerada como insumo, o que já leva à conclusão de que as próprias Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 ampliaram a definição de "insumos", não se limitando apenas aos elementos físicos que compõem o produto. Nesse ponto, Marco Aurélio Grego (in "Conceito de insumo à luz da legislação de PIS/COFINS", Revista Fórum de Direito Tributário RFDT, ano1, n. 1, jan/fev.2003, Belo Horizonte: Fórum, 2003) diz que será efetivamente insumo ou serviço com direito ao crédito sempre que a atividade ou a utilidade forem necessárias à existência do processo ou do produto ou agregarem (ao processo ou ao produto) alguma qualidade que faça com que um dos dois adquira determinado padrão desejado. Fl. 338DF CARF MF 10 Sendo assim, seria insumo o serviço que contribua para o processo de produção – o que, podese concluir que o conceito de insumo efetivamente é amplo, alcançando as utilidades/necessidades disponibilizadas através de bens e serviços, desde que essencial para o processo ou para o produto finalizado, e não restritivo tal como traz a legislação do IPI. Frisese que o raciocínio de Marco Aurélio Greco traz, para tanto, os conceitos de essencialidade e necessidade ao processo produtivo. O que seria inexorável se concluir também pelo entendimento da autoridade fazendária que, por sua vez, validam o creditamento apenas quando houver efetiva incorporação do insumo ao processo produtivo de fabricação e comercialização de bens ou prestação de serviços, adotando o conceito de insumos de forma restrita, em analogia à conceituação adotada pela legislação do IPI, ferindo os termos trazidos pelas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, que, por sua vez, não tratou, tampouco conceituou dessa forma. Resta, por conseguinte, indiscutível a ilegalidade das Instruções Normativas SRF 247/02 e 404/04 quando adotam a definição de insumos semelhante à da legislação do IPI. Tal como expressou o STJ em recente decisão. As Instruções Normativas da Secretaria da Receita Federal do Brasil que restringem o conceito de insumos, não podem prevalecer, pois partem da premissa equivocada de que os créditos de PIS e COFINS teriam semelhança com os créditos de IPI. Isso, ao dispor: · O art. 66, § 5º, inciso I, da IN SRF 247/02 o que segue (Grifos meus): “Art. 66. A pessoa jurídica que apura o PIS/Pasep não cumulativo com a alíquota prevista no art. 60 pode descontar créditos, determinados mediante a aplicação da mesma alíquota, sobre os valores: [...] § 5º Para os efeitos da alínea "b" do inciso I do caput, entende se como insumos: (Incluído) Fl. 339DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 569 11 I utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda: (Incluído) a. Matérias primas, os produtos intermediários, o material de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado; (Incluído) b. Os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na prestação do serviço. (Incluído) [...]” · art. 8º, § 4ª, da IN SRF 404/04 (Grifos meus): “Art. 8 º Do valor apurado na forma do art. 7 º, a pessoa jurídica pode descontar créditos, determinados mediante a aplicação da mesma alíquota, sobre os valores: [...] § 4 º Para os efeitos da alínea "b" do inciso I do caput, entende se como insumos: utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda: a) a matériaprima, o produto intermediário, o material de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado; b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na produção ou fabricação do produto; II utilizados na prestação de serviços: a) os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços, desde que não estejam incluídos no ativo imobilizado; e Fl. 340DF CARF MF 12 b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no país, aplicados ou consumidos na prestação do serviço. [...]” Tais normas infraconstitucionais restringiram o conceito de insumo para fins de geração de crédito de PIS e COFINS, aplicandose os mesmos já trazidos pela legislação do IPI. O que entendo que a norma infraconstitucional não poderia extrapolar essa conceituação frente a intenção da instituição da sistemática da não cumulatividade das r. contribuições. Considerando que as Leis 10.637/02 e 10.833/03 trazem no conceito de insumo: a. Serviços utilizados na prestação de serviços; b. Serviços utilizados na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda; c. Bens utilizados na prestação de serviços; d. Bens utilizados na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda; e. Combustíveis e lubrificantes utilizados na prestação de serviços; f. Combustíveis e lubrificantes utilizados na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda. Vêse claro, portanto, que não poderseia considerar para fins de definição de insumo o trazido pela legislação do IPI, já que serviços não são efetivamente insumos, se considerássemos os termos dessa norma. Não obstante, depreendendose da análise da legislação e seu histórico, bem como intenção do legislador, entendo também não ser cabível adotar de forma ampla o conceito trazido pela legislação do IRPJ como arcabouço interpretativo, tendo em vista que nem todas as despesas operacionais consideradas para fins de dedução de IRPJ e CSLL são utilizadas no processo produtivo e simultaneamente tratados como essenciais à produção. Ora, o termo "insumo" não devem necessariamente estar contidos nos custos e despesas operacionais, isso porque a própria legislação previu que algumas Fl. 341DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 570 13 despesas não operacionais fossem passíveis de creditamento, tais como Despesas Financeiras, energia elétrica utilizada nos estabelecimentos da empresa, etc. O que entendo que os itens trazidos pelas Leis 10.637/02 e 10.833/03 que geram o creditamento, são taxativos, inclusive porque demonstram claramente as despesas, e não somente os custos que deveriam ser objeto na geração do crédito dessas contribuições. Eis que, se fossem exemplificativos, nem poderiam estender a conceituação de insumos as despesas operacionais que nem compõem o produto e serviços – o que até prejudicaria a inclusão de algumas despesas que não contribuem de forma essencial na produção. Com efeito, por conseguinte, podese concluir que a definição de “insumos” para efeito de geração de crédito das r. contribuições, deve observar o que segue: · Se o bem e o serviço são considerados essenciais na prestação de serviço ou produção; · Se a produção ou prestação de serviço são dependentes efetivamente da aquisição dos bens e serviços – ou seja, sejam considerados essenciais. Tanto é assim que, em julgado recente, no REsp 1.246.317, a Segunda Turma do STJ reconheceu o direito de uma empresa do setor de alimentos a compensar créditos de PIS e Cofins resultantes da compra de produtos de limpeza e de serviços de dedetização, com base no critério da essencialidade. Para melhor transparecer esse entendimento, trago a ementa do acórdão (Grifos meus): “PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. VIOLAÇÃO AO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 98/STJ. CONTRIBUIÇÕES AO PIS/PASEP E COFINS NÃOCUMULATIVAS. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. ART. 3º, II, DA LEI N. Fl. 342DF CARF MF 14 10.637/2002 E ART. 3º, II, DA LEI N. 10.833/2003. ILEGALIDADE DAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS SRF N. 247/2002 E 404/2004. 1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma suficientemente fundamentada a lide, muito embora não faça considerações sobre todas as teses jurídicas e artigos de lei invocados pelas partes. 2. Agride o art. 538, parágrafo único, do CPC, o acórdão que aplica multa a embargos de declaração interpostos notadamente com o propósito de prequestionamento. Súmula n. 98/STJ: "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório ". 3. São ilegais o art. 66, §5º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 247/2002 Pis/Pasep (alterada pela Instrução Normativa SRF n. 358/2003) e o art. 8º, §4º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 404/2004 Cofins, que restringiram indevidamente o conceito de "insumos" previsto no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e n. 10.833/2003, respectivamente, para efeitos de creditamento na sistemática de nãocumulatividade das ditas contribuições. 4. Conforme interpretação teleológica e sistemática do ordenamento jurídico em vigor, a conceituação de "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, não se identifica com a conceituação adotada na legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados IPI, posto que excessivamente restritiva. Do mesmo modo, não corresponde exatamente aos conceitos de "Custos e Despesas Operacionais" utilizados na legislação do Imposto de Renda IR, por que demasiadamente elastecidos. 5. São "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, todos aqueles bens e serviços pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. Fl. 343DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 571 15 6. Hipótese em que a recorrente é empresa fabricante de gêneros alimentícios sujeita, portanto, a rígidas normas de higiene e limpeza. No ramo a que pertence, as exigências de condições sanitárias das instalações se não atendidas implicam na própria impossibilidade da produção e em substancial perda de qualidade do produto resultante. A assepsia é essencial e imprescindível ao desenvolvimento de suas atividades. Não houvessem os efeitos desinfetantes, haveria a proliferação de microorganismos na maquinaria e no ambiente produtivo que agiriam sobre os alimentos, tornandoos impróprios para o consumo. Assim, impõese considerar a abrangência do termo "insumo" para contemplar, no creditamento, os materiais de limpeza e desinfecção, bem como os serviços de dedetização quando aplicados no ambiente produtivo de empresa fabricante de gêneros alimentícios. 7. Recurso especial provido.” Aquele colegiado entendeu que a assepsia do local, embora não esteja diretamente ligada ao processo produtivo, é medida imprescindível ao desenvolvimento das atividades em uma empresa do ramo alimentício. Em outro caso, o STJ reconheceu o direito aos créditos sobre embalagens utilizadas para a preservação das características dos produtos durante o transporte, condição essencial para a manutenção de sua qualidade (REsp 1.125.253). O que, peço vênia, para transcrever a ementa do acórdão: “COFINS – NÃO CUMULATIVIDADE – INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA – POSSIBILIDADE – EMBALAGENS DE ACONDICIONAMENTO DESTINADAS A PRESERVAR AS CARACTERÍSTICAS DOS BENS DURANTE O TRANSPORTE, QUANDO O VENDEDOR ARCAR COM ESTE CUSTO – É INSUMO NOS TERMOS DO ART. 3º, II, DAS LEIS N. 10.637/2002 E 10.833/2003. 1. Hipótese de aplicação de interpretação extensiva de que resulta a simples inclusão de situação fática em hipótese legalmente prevista, que não ofende a legalidade estrita. Precedentes. Fl. 344DF CARF MF 16 2. As embalagens de acondicionamento, utilizadas para a preservação das características dos bens durante o transporte, deverão ser consideradas como insumos nos termos definidos no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003 sempre que a operação de venda incluir o transporte das mercadorias e o vendedor arque com estes custos.” Tornase necessário se observar o princípio da essencialidade para a definição do conceito de insumos com a finalidade do reconhecimento do direito ao creditamento ao PIS/Cofins nãocumulativos. Sendo assim, entendo não ser aplicável o entendimento de que o consumo de tais bens e serviços sejam utilizados DIRETAMENTE no processo produtivo, bastando somente serem considerados como essencial à produção ou atividade da empresa. Nessa linha, o STJ, que apreciou, em sede de repetitivo, o REsp 1.221.170 –trouxe, pelas discussões e votos proferidos, o mesmo entendimento já aplicável pelas suas turmas e pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Privilegiando, assim, a segurança jurídica que tanto merece a Fazenda Nacional e o sujeito passivo. Em vista do exposto, em relação aos critérios a serem observados para fins de conceito de insumo, entendo que a Fazenda Nacional não assiste razão ao aplicar a IN 247/02 e a IN 404/02 – consideradas ilegais pelo STJ. Para melhor elucidar meu direcionamento, além de ter desenvolvido o conceito de insumo anteriormente, importante ainda trazer que, recentemente, foi publicada a NOTA SEI PGFN/MF 63/2018: "Recurso Especial nº 1.221.170/PR Recurso representativo de controvérsia. Ilegalidade da disciplina de creditamento prevista nas IN SRF nº 247/2002 e 404/2004. Aferição do conceito de insumo à luz dos critérios de essencialidade ou relevância. Tese definida em sentido desfavorável à Fazenda Nacional. Autorização para dispensa de contestar e recorrer com fulcro no art. 19, IV, da Lei n° 10.522, de 2002, e art. 2º, V, da Portaria PGFN n° 502, de 2016. Fl. 345DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 572 17 Nota Explicativa do art. 3º da Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 01/2014." A Nota clarifica a definição do conceito de insumos na “visão” da Fazenda Nacional (Grifos meus): “41. Consoante se observa dos esclarecimentos do Ministro Mauro Campbell Marques, aludindo ao “teste de subtração” para compreensão do conceito de insumos, que se trata da “própria objetivação segura da tese aplicável a revelar a imprescindibilidade e a importância de determinado item – bem ou serviço – para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte”. Conquanto tal método não esteja na tese firmada, é um dos instrumentos úteis para sua aplicação in concreto. 42. Insumos seriam, portanto, os bens ou serviços que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços e que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração resulte na impossibilidade ou inutilidade da mesma prestação do serviço ou da produção, ou seja, itens cuja subtração ou obste a atividade da empresa ou acarrete substancial perda da qualidade do produto ou do serviço daí resultantes. 43. O raciocínio proposto pelo “teste da subtração” a revelar a essencialidade ou relevância do item é como uma aferição de uma “conditio sine qua non” para a produção ou prestação do serviço. Buscase uma eliminação hipotética, suprimindose mentalmente o item do contexto do processo produtivo atrelado à atividade empresarial desenvolvida. Ainda que se observem despesas importantes para a empresa, inclusive para o seu êxito no mercado, elas não são necessariamente essenciais ou relevantes, quando analisadas em cotejo com a atividade principal desenvolvida pelo contribuinte, sob um viés objetivo." Com tal Nota, restou claro, assim, que insumos seriam todos os bens e serviços que possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração resulte Fl. 346DF CARF MF 18 na impossibilidade ou inutilidade da mesma prestação do serviço ou da produção, ou seja, itens cuja subtração ou obste a atividade da empresa ou acarrete substancial perda da qualidade do produto ou do serviço daí resultantes. Ou seja, a Fazenda Nacional esclareceu, entre outros, com tal manifestação que “insumos de insumos” geram crédito de PIS e Cofins não cumulativo. Ademais, tal ato ainda reflete sobre o “teste de subtração” que deve ser feito para fins de se definir se determinado item seria ou não essencial à atividade do sujeito passivo. Eis o item 15 da Nota PGFN: “15. Devese, pois, levar em conta as particularidades de cada processo produtivo, na medida em que determinado bem pode fazer parte de vários processos produtivos, porém, com diferentes níveis de importância, sendo certo que o raciocínio hipotético levado a efeito por meio do “teste de subtração” serviria como um dos mecanismos aptos a revelar a imprescindibilidade e a importância para o processo produtivo. 16. Nesse diapasão, poderseia caracterizar como insumo aquele item – bem ou serviço utilizado direta ou indiretamente cuja subtração implique a impossibilidade da realização da atividade empresarial ou, pelo menos, cause perda de qualidade substancial que torne o serviço ou produto inútil. 17. Observase que o ponto fulcral da decisão do STJ é a definição de insumos como sendo aqueles bens ou serviços que, uma vez retirados do processo produtivo, comprometem a consecução da atividadefim da empresa, estejam eles empregados direta ou indiretamente em tal processo. É o raciocínio que decorre do mencionado “teste de subtração” a que se refere o voto do Ministro Mauro Campbell Marques.” Passadas tais considerações acerca do conceito de insumos, é de se analisar se as despesas administrativas e comerciais seriam passíveis de constituição de crédito de PIS e Cofins. Fl. 347DF CARF MF Processo nº 13056.000294/200599 Acórdão n.º 9303007.779 CSRFT3 Fl. 573 19 Entendo que as despesas administrativas – atividades meio – não devem ser considerados insumos, até mesmo aplicando ao teste de subtração. Vêse que o teste de subtração deve ser direcionado aos itens aplicados diretamente e indiretamente para a produção e atividade do sujeito passivo – que possa acarretar substancial perda da qualidade do produto ou do serviço objeto da empresa. O que não é o caso dos itens relativos à atividade meio – meramente administrativo. Quanto às despesas comerciais, entendo que daria direito ao crédito, pois sem elas poderia haver reflexo negativo na comercialização de seu produto. Não obtante, em recurso de impugnação, recurso voluntário e recurso especial não foram demonstrados os itens que comporiam essa despesa, bem como, tal como trouxe o voto constante do acórdão recorrido, a vinculação e demonstração dessas despesas ao processo produtivo e de venda do produto final. Em vista de todo o exposto, nego provimento ao Recurso Especial interposto pelo sujeito passivo. É o meu voto. (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama Fl. 348DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13896.910075/2012-57
Turma: Terceira Turma Extraordinária da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Dec 13 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Jan 17 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Ano-calendário: 2008
CRÉDITO POR PAGAMENTO A MAIOR. COMPROVAÇÃO DA CERTEZA E LIQUIDEZ. ÔNUS DO CONTRIBUINTE.
Instaurado o contencioso administrativo, em razão da não homologação de compensação de débitos com crédito de suposto pagamento indevido ou a maior, é do contribuinte o ônus de comprovar nos autos, tempestivamente, a certeza e liquidez do crédito pretendido compensar. Não há como reconhecer crédito cuja certeza e liquidez não restou comprovada no curso do processo administrativo.
Numero da decisão: 3003-000.062
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
Marcos Antonio Borges - Presidente.
Vinícius Guimarães - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Antonio Borges (presidente da turma), Márcio Robson Costa, Vinícius Guimarães e Müller Nonato Cavalcanti Silva.
Nome do relator: VINICIUS GUIMARAES
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Anocalendário: 2008 CRÉDITO POR PAGAMENTO A MAIOR. COMPROVAÇÃO DA CERTEZA E LIQUIDEZ. ÔNUS DO CONTRIBUINTE. Instaurado o contencioso administrativo, em razão da não homologação de compensação de débitos com crédito de suposto pagamento indevido ou a maior, é do contribuinte o ônus de comprovar nos autos, tempestivamente, a certeza e liquidez do crédito pretendido compensar. Não há como reconhecer crédito cuja certeza e liquidez não restou comprovada no curso do processo administrativo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. Marcos Antonio Borges Presidente. Vinícius Guimarães Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Antonio Borges (presidente da turma), Márcio Robson Costa, Vinícius Guimarães e Müller Nonato Cavalcanti Silva. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 89 6. 91 00 75 /2 01 2- 57 Fl. 215DF CARF MF Processo nº 13896.910075/201257 Acórdão n.º 3003000.062 S3C0T3 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Declaração de Compensação com aproveitamento de suposto pagamento a maior do PIS/PASEP, no valor de R$ 9.316,00, referente ao período de apuração de agosto de 2008. A Delegacia da RFB de origem emitiu Despacho Decisório Eletrônico de não homologação da compensação, tendo em vista que o pagamento apontado como origem do direito creditório estaria integralmente utilizado na quitação de débito do contribuinte, inexistindo, desse modo, crédito disponível para a compensação dos débitos informados no PER/DCOMP. Em sede de manifestação de inconformidade, a recorrente argumentou que é prestadora de serviços na área de engenharia, tendo, como tomadora de serviços, o Grupo Petrobrás, acumulando créditos com as aquisições de bens e serviços utilizados como insumos nas atividades exercidas. Sustentou que a sistemática da nãocumulatividade do PIS/COFINS pretendeu desonerar a cadeia produtiva, ao permitir que fossem descontados créditos atinentes às aquisições, efetuadas no mês, de bens e serviços utilizados como insumos na fabricação de produtos destinados à venda ou na prestação de serviços, ex vi do artigo 3º da Lei 10.833/03. Para comprovar seu direito creditório, a recorrente apresentou, então, Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais retificador, Declaração de Débitos e Créditos retificada, além de PER/DCOMP. A 2ª Turma da DRJ em Juiz de Fora proferiu decisão cuja ementa segue transcrita: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Data do fato gerador: 20/10/2011 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO (DCOMP). PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. DIREITO CREDITÓRIO NÃO RECONHECIDO. RETIFICAÇÃO DE DECLARAÇÃO DE DÉBITOS E CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS FEDERAIS (DCTF). NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO EM DOCUMENTAÇÃO IDÔNEA, DEVIDAMENTE ESCRITURADA. Considerando que o DARF indicado no PER/DCOMP (Pedido de Ressarcimento ou Restituição / Declaração de Compensação) como origem do crédito foi utilizado para quitar débito confessado em DCTF (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais), e que o Contribuinte não logra comprovar que a verdade material é outra, não há que se falar em pagamento indevido. Considerase confissão de dívida os débitos declarados em DCTF (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais), e não constitui elemento de prova suficiente para justificar a retificação dos valores dos tributos devidos constantes de DCTF as informações declaradas pelo Contribuinte por meio do Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais DACON, quando desacompanhada dos documentos e demonstrativos contábeis aptos a lhe darem sustentação. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL DIREITO CREDITÓRIO. PROVAS. MOMENTO PARA APRESENTAÇÃO. Ressalvadas as hipóteses das alíneas “a” a “c”, do art. 16, do Decreto nº 70.235/72, as provas do direito creditório devem ser apresentadas por ocasião da interposição da Manifestação de Inconformidade, precluindo o direito de posterior juntada. Fl. 216DF CARF MF Processo nº 13896.910075/201257 Acórdão n.º 3003000.062 S3C0T3 Fl. 4 3 Inconformada, a recorrente interpôs recurso voluntário, argumentando, em síntese: 1 que a compensação se deu com créditos existentes, demonstrados pela retificação dos DACON´s; 2 que houve apenas erro material nas informações em DCTF, fato que pode ser comprovado pelas informações apresentadas nos DACON´s, devendose observar o princípio da verdade material; 3 que a natureza do crédito pleiteado está comprovada em "todos os documentos contábeis, fiscais, relatórios, planilhas demonstrativas, balancetes" que trouxe aos autos com o recurso voluntário. A recorrente aduz, ainda, que "todos os documentos contábeis e fiscais poderão ser retirados a qualquer momento no arquivo central da empresa". É o relatório. Voto Conselheiro Vinícius Guimarães, Relator O Recurso Voluntário é tempestivo e preenche os pressupostos e requisitos de admissibilidade. O valor do crédito em litígio é inferior a sessenta salários mínimos, estando dentro da alçada de competência desta turma extraordinária. Sendo assim, passo a analisar o recurso. A compensação tributária uma das modalidades de extinção do crédito tributário, prevista no art. 156, II, do Código Tributário Nacional , pressupõe a existência de créditos e débitos tributários em nome do sujeito passivo. Segundo o art. 170 do CTN, a lei poderá atribuir, em certas condições e sob garantias determinadas, à autoridade administrativa autorizar a compensação de débitos tributários com créditos líquidos e certos do sujeito passivo. Nesse contexto, o direito à compensação existe na medida exata da certeza e liquidez do crédito em favor do sujeito passivo. Assim, a comprovação da certeza e liquidez do crédito tributário mostrase fundamental para a efetivação da compensação. Como se sabe, a compensação pode ser declarada pelo contribuinte por meio do preenchimento e transmissão de Declaração de Compensação (DCOMP), na qual se indicará, de forma detalhada, o crédito existente e o débito a ser compensado, sujeitandose, tal procedimento, a ulterior homologação por parte da autoridade tributária. No caso concreto, o sujeito passivo transmitiu eletronicamente a DCOMP descrita no relatório acima, tendo indicado a existência de crédito decorrente de pagamento indevido ou a maior. Em verificação fiscal da DCOMP transmitida, apurouse que não existia crédito disponível para se realizar a compensação pretendida, uma vez que o pagamento indicado na DCOMP já havia sido utilizado para quitação de outro débito, tendo sido emitido, eletronicamente, Despacho Decisório que não homologou a compensação dos débitos confessados. Cientificado da decisão, o contribuinte apresentou manifestação de inconformidade. Na impugnação, a recorrente sustentou erro material ao transmitir a DCTF e Fl. 217DF CARF MF Processo nº 13896.910075/201257 Acórdão n.º 3003000.062 S3C0T3 Fl. 5 4 DACON originais. Em tais declarações, o débito informado foi erroneamente apurado, de maneira que a retificação da DCTF e DACON seria suficiente para demonstrar a existência do crédito pleiteado. Na impugnação, a recorrente trouxe aos autos as declarações retificadoras com apuração de débito de contribuição social a menor, deixando de apresentar, todavia, documentos para comprovar sua alegação, infirmando as declarações originais. Ao apreciar a impugnação, a decisão recorrida entendeu que a simples entrega de declarações retificadoras não seria suficiente para demonstrar a existência de pagamento a maior do qual teria derivado o direito creditório pleiteado pela recorrente em sua DCOMP. No entendimento do colegiado, a recorrente deveria ter demonstrado a certeza e liquidez do direito creditório pleiteado, por meio da apresentação de escrituração contábil fiscal, lastreada em documentos hábeis e idôneos, comprovando que a contribuição devida era realmente menor do que o valor constante nas declarações originais. Analisando os autos, observase que, de fato, a recorrente não apresentou, na fase de impugnação (manifestação de inconformidade), documentos que pudessem demonstrar a certeza e liquidez do crédito pleiteado. Como bem assinalou a decisão a quo, para que os dados declarados em DACON fossem tidos como corretos, infirmando aqueles informados em DCTF e demonstrando a certeza e liquidez do crédito a compensar, deveria a recorrente ter apresentado documentos que corroborassem a apuração do tributo declarado. Com efeito, para a demonstração da certeza e liquidez do direito creditório invocado, não basta que a recorrente apresente declarações retificadoras, com redução de débitos originalmente apurados. Fazse necessário que as alegações da recorrente sejam embasadas em escrituração contábilfiscal e documentação hábil e idônea que a lastreie. Importa destacar que incumbe à recorrente o ônus de comprovar, por provas hábeis e idôneas, o crédito alegado. Nesse sentido, o Código de Processo Civil, em seu art. 373, dispõe: Art. 373. O ônus da prova incumbe: I ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; Tal é o entendimento da 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), em decisão consubstanciada no acórdão de nº 9303005.226, nos seguintes termos: "...o ônus de comprovar a certeza e liquidez do crédito pretendido compensar é do contribuinte. O papel do julgador é, verificando estar minimamente comprovado nos autos o pleito do Sujeito Passivo, solicitar documentos complementares que possam formar a sua convicção, mas isso, repitase, de forma subsidiária à atividade probatória já desempenhada pelo contribuinte. Não pode o julgador administrativo atuar na produção de provas no processo, quando o interessado, no caso, a Contribuinte não demonstra sequer indícios de prova documental, mas somente alegações." Assim, no caso concreto, já em sua impugnação perante o órgão a quo, a recorrente deveria ter reunido todos os documentos suficientes e necessários para a demonstração da certeza e liquidez do crédito pretendido, sob pena de preclusão do direito de produção de provas documentais em outro momento processual, em face do que dispõe o §4º do art. 16 do Decreto nº. 70.235/72: Fl. 218DF CARF MF Processo nº 13896.910075/201257 Acórdão n.º 3003000.062 S3C0T3 Fl. 6 5 Art. 16. A impugnação mencionará: (...)III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993)(...) § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) b) refirase a fato ou a direito superveniente; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) Não obstante, em homenagem ao princípio da verdade material e considerando que, no despacho eletrônico, a recorrente não foi informada sobre quais documentos probatórios deveria apresentar, passo à análise dos documentos apresentados após a impugnação os quais podem representar, de certo modo, uma forma de contrapor as razões consignadas na decisão recorrida, aplicandose, no caso concreto, a exceção prevista no art. 16, §4º, "c", Decreto nº. 70.237/72. Compulsando os documentos apresentados, observase que a recorrente não logrou demonstrar a certeza e liquidez do direito pleiteado. Explico. Apesar de ter trazido aos autos diversas notas fiscais, a recorrente deixou de apresentar escrituração contábilfiscal e demonstrativos de apuração a fim de justificar a retificação do DACON e DCTF. De fato, não há, nos autos, provas que demonstrem a natureza e extensão de eventuais créditos que pudessem reduzir seus débitos apurados e informados nas declarações originais. Nesse sentido, a simples juntada de notas fiscais variadas, sem qualquer explicação e demonstração de como influenciam a apuração das contribuições sociais, não é suficiente para comprovar e elucidar os fundamentos da retificação realizada no DACON e DCTF. Para comprovar seu direito, a recorrente deveria ter apresentado demonstrativo de apuração das contribuições sociais, contrastando o cálculo original com o retificado, identificando as rubricas de despesas que foram alteradas para reduzir o tributo devido, indicando todos os documentos que comprovem sua natureza e valor, e demonstrando sua escrituração contábilfiscal. Do material probatório apresentado, não há como saber a natureza e extensão de eventuais deduções na apuração da contribuição social de que resultou o crédito pleiteado nos autos. Não há demonstrativo de apuração, não há escrituração contábil e fiscal, não há elucidação analítica para explicar a suposta redução do débito informado nas declarações retificadas. Sublinhese que notas fiscais apresentadas pelo contribuinte, quando desacompanhadas de outros elementos que demonstrem sua escrituração e, sobretudo, seu cômputo na apuração do tributo devido, não possuem força probatória para demonstração de direito creditório oponível à fazenda pública. A compensação tributária impõe a certeza e liquidez do direito creditório pleiteado. A recorrente, apesar de juntar notas fiscais diversas sem documentos contábeis e fiscais que demonstrem sua escrituração , não faz qualquer vinculação de tais notas a Fl. 219DF CARF MF Processo nº 13896.910075/201257 Acórdão n.º 3003000.062 S3C0T3 Fl. 7 6 eventuais contas de despesas dedutíveis no regime da nãocumulatividade que poderiam servir para a redução do tributo devido. No caso dos autos, ocorreu simples juntada de notas fiscais avulsas, desacompanhadas de escrituração contábilfiscal e de esclarecimentos analíticos para demonstrar seu eventual impacto na apuração do tributo devido. A recorrente deveria ter apresentado descrição minuciosa da apuração da contribuição social, estabelecendo conexões entre os diversos elementos que devem compor a prova do direito creditório alegado: notas fiscais, escrituração contábilfiscal, demonstrativo de apuração do tributo devido. Em seu recurso, a recorrente aduz que "disponibiliza todos os documentos contábeis e fiscais", os quais "poderão ser retirados a qualquer momento no arquivo central da empresa". Quanto a tal questão, registrese que a recorrente teve toda a possibilidade de apresentação dos citados documentos em seu recurso. Não o fez. Neste caso, ocorreu a preclusão do direito de apresentar prova documental além daquela trazida no recurso voluntário. Por fim, no tocante ao pedido de sustentação oral, deduzido no recurso voluntário, há que se lembrar o que dispõe o art. 61A, §2º., do Anexo II do Regimento do Interno do CARF (RICARF): Art. 61A. As turmas extraordinárias adotarão rito sumário e simplificado de julgamento, conforme as disposições contidas neste artigo. (Redação dada pela Portaria MF nº 329, de 2017) § 1º Os processos serão pautados em reunião composta por sessões não presenciais virtuais. (Redação dada pela Portaria MF nº 329, de 2017) § 2º A pauta da reunião será elaborada em conformidade com o disposto no art. 55, dispensada a indicação do local de realização da sessão, e incluída a informação de que eventual sustentação oral estará condicionada a requerimento prévio, apresentado em até 5 (cinco) dias da publicação da pauta, e ainda, de que é facultado o envio de memoriais, em meio digital, no mesmo prazo. (Redação dada pela Portaria MF nº 329, de 2017) Diante do exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. Vinícius Guimarães Relator Fl. 220DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10882.721839/2011-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Nov 28 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Jan 10 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Regimes Aduaneiros
Período de apuração: 16/05/2005 a 28/10/2009
DRAWBACK SUSPENSÃO. COMPROVAÇÃO DA EFETIVA EXPORTAÇÃO. RETIFICAÇÃO DE ATO CONCESSÓRIO.
A retificação do Ato Concessório é condição inafastável para a friução do benefício fiscal, quando as condições de produção não refletirem o que disposto no Ato Concessório original.
VERDADE MATERIAL. ÔNUS DA PROVA. COMPETÊNCIA TÉCNICA PARA DEFERIMENTO.
A Secex é o órgão próprio para a aferição técnica das disposições do Ato Concessório. A obtenção do reconhecimento da Secex das alterações pretendidas pela recorrente é ônus seu, para apresentação, como prova, no processo administrativo fiscal.
Recurso Voluntário Negado
Numero da decisão: 3201-004.472
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário, vencidos os conselheiro Laercio Cruz Uliana Junior (relator) que lhe deu provimento para anular, por cerceamento ao direito de defesa, o acórdão recorrido. Acompanhou o relator a conselheira Tatiana Josefovicz Belisario. Votou pelas conclusões o conselheiro Leonardo Vinicius Toledo de Andrade. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Marcelo Giovani Vieira.
CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA - Presidente.
(assinado digitalmente)
LAÉRCIO CRUZ ULIANA JUNIOR - Relator.
(assinado digitalmente)
MARCELO GIOVANI VIEIRA Redator Designado.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Laercio Cruz Uliana Junior, Charles Mayer de Castro Souza (Presidente) e Orlando Rutigliani Berri (suplente convocado para substituir o conselheiro Leonardo Correia Lima Macedo), a fim de ser realizada a presente Sessão Ordinária. Ausente, justificadamente, o conselheiro Leonardo Correia Lima Macedo.
Nome do relator: LAERCIO CRUZ ULIANA JUNIOR
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ementa_s : Assunto: Regimes Aduaneiros Período de apuração: 16/05/2005 a 28/10/2009 DRAWBACK SUSPENSÃO. COMPROVAÇÃO DA EFETIVA EXPORTAÇÃO. RETIFICAÇÃO DE ATO CONCESSÓRIO. A retificação do Ato Concessório é condição inafastável para a friução do benefício fiscal, quando as condições de produção não refletirem o que disposto no Ato Concessório original. VERDADE MATERIAL. ÔNUS DA PROVA. COMPETÊNCIA TÉCNICA PARA DEFERIMENTO. A Secex é o órgão próprio para a aferição técnica das disposições do Ato Concessório. A obtenção do reconhecimento da Secex das alterações pretendidas pela recorrente é ônus seu, para apresentação, como prova, no processo administrativo fiscal. Recurso Voluntário Negado
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COMPROVAÇÃO DA EFETIVA EXPORTAÇÃO. RETIFICAÇÃO DE ATO CONCESSÓRIO. A retificação do Ato Concessório é condição inafastável para a friução do benefício fiscal, quando as condições de produção não refletirem o que disposto no Ato Concessório original. VERDADE MATERIAL. ÔNUS DA PROVA. COMPETÊNCIA TÉCNICA PARA DEFERIMENTO. A Secex é o órgão próprio para a aferição técnica das disposições do Ato Concessório. A obtenção do reconhecimento da Secex das alterações pretendidas pela recorrente é ônus seu, para apresentação, como prova, no processo administrativo fiscal. Recurso Voluntário Negado Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário, vencidos os conselheiro Laercio Cruz Uliana Junior (relator) que lhe deu provimento para anular, por cerceamento ao direito de defesa, o acórdão recorrido. Acompanhou o relator a conselheira Tatiana Josefovicz Belisario. Votou pelas conclusões o conselheiro Leonardo Vinicius Toledo de Andrade. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Marcelo Giovani Vieira. CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA Presidente. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 2. 72 18 39 /2 01 1- 11 Fl. 1616DF CARF MF 2 LAÉRCIO CRUZ ULIANA JUNIOR Relator. (assinado digitalmente) MARCELO GIOVANI VIEIRA – Redator Designado. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Laercio Cruz Uliana Junior, Charles Mayer de Castro Souza (Presidente) e Orlando Rutigliani Berri (suplente convocado para substituir o conselheiro Leonardo Correia Lima Macedo), a fim de ser realizada a presente Sessão Ordinária. Ausente, justificadamente, o conselheiro Leonardo Correia Lima Macedo. Relatório Por relatar bem os fatos ocorridos no presente processo, transcrevo o Relatório da DRJ: Versa o presente processo sobre os Autos de Infração lavrados (fls. 790/855) para a exigência do crédito tributário no valor de R$ 9.061.441,52, relativo às diferenças de recolhimento do Imposto de ImportaçãoII, PIS/PASEP – Importação e COFINS– Importação, acrescidos da multa de ofício e dos juros de mora, em decorrência de inadimplemento do compromisso de exportar os produtos importados através dos atos concessórios de Drawback Suspensão, conforme descrito no Relatório Fiscal, às fls. 895/923. Regularmente cientificada (fls. 860/864) a interessada apresentou impugnação tempestiva, às fls. 936/970, juntando cópias de documentos, às fls. 971/1393, na qual, em síntese: Alega que, na maior parte dos Atos Concessórios em exame, o compromisso de exportação original mostrouse superestimado, o que demonstra através de laudos técnicos especializados, nos quais é possível identificar a quantidade do produto importado utilizado na produção de cada um dos produtos exportados. Aduz que, em alguns casos, a autoridade fiscal deixou de considerar Registros de Exportação de produtos abrangidos nos regimes de Drawback, mesmo que as exportações tenham sido reconhecidas pela SECEX como vinculadas ao Ato Concessório. Argumenta que não foram consideradas as nacionalizações realizadas de produtos importados que acabaram não sendo utilizados no processo produtivo dos bens exportados, conforme documentos que apresenta. A seguir passa a expor a situação pormenorizada de cada Ato Concessório, detalhando a importação compromissada, a importação realizada, a exportação realizada, o processo produtivo para obtenção dos bens exportados e a nacionalização Fl. 1617DF CARF MF Processo nº 10882.721839/201111 Acórdão n.º 3201004.472 S3C2T1 Fl. 1.618 3 dos produtos, cujo resumo apresentase na planilha (Doc. 2), com remissão aos documentos que apresenta. Argui pela impossibilidade de cobrança dos juros de mora sobre as multas de ofício lançadas, pois o art. 61 da Lei nº 9.430/96 trata tão somente da incidência de juros sobre débitos decorrentes de tributos e contribuições. Requer seja reconhecida a total improcedência do lançamento fiscal e a realização de perícia técnica, nomeando perito e apresentando quesitos, bem como, alternativamente, a inaplicabilidade de exigência de juros de mora sobre as multas de ofício. Apresentado a Impugnação, a Impugnação foi julgada pela DRJ da seguinte forma: ASSUNTO: REGIMES ADUANEIROS Período de apuração: 16/05/2005 a 28/10/2009 DRAWBACK SUSPENSÃO. INADIMPLEMENTO. FALTA DE COMPROVAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES. Somente serão aceitos, para fins de comprovação do adimplemento do Drawback, Registros de Exportação vinculados ao respectivo Ato Concessório e que contenham o código de operação relativo ao Drawback. MULTA DE OFÍCIO. OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. JUROS DE MORA. No ato do lançamento, ao tributo agregase a multa de ofício, tornandose, ambos, obrigação principal, de natureza pecuniária, e sobre este crédito devem incidir os juros de mora à taxa Selic. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte Diante do mencionado julgamento, o Contribuinte apresentou Recurso Voluntário, requerendo em síntese reforma do decisum, por: a) Nulidade da decisão recorrida por preterimento ao direito de defesa; b) Ausência de enfrentamento dos laudos técnicos apresentados; c) Que o contribuinte demonstra tecnicamente o adimplemento dos atos 15 atos concessórios; d) que a não aceitação dos laudos apresentados caberia realização de perícia; e) alternativamente o pedido de diligência; É o relatório. Fl. 1618DF CARF MF 4 Voto Vencido Conselheiro Laércio Cruz Uliana Junior Tratase de Recurso Voluntário o qual merece ser conhecido. Em relação ao pedido preliminar de produção de provas, nos presentes autos, se confunde com o mérito. Já em seu Recurso Voluntário o Contribuinte admite que não efetuou toda exportação dos insumos beneficiados pelo Drawback, para tanto, em sua impugnação trouxe vários laudos técnicos rebatendo todos os pontos do Auto de Infração, para tanto, requereu em sua Impugnação perícia técnica e novamente em Recurso Voluntário. Sustenta o Contribuinte de que no momento que a DRJ afastou os laudos apresentados por ele, foi proferida a decisão sem motivação, com isso, preterindo o direito da ampla defesa. Nesse passo, adoto posicionamento, que devese à Administração Pública percorrer a verdade material, por outra banda, facultando ao julgador o deferimento ou não do pedido de realização de perícia. Contudo, nos presentes autos verifico que o Contribuinte colacionou provas robustas ao ponto de ser realizados produção técnica, nesse sentido: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A IMPORTAÇÃO II Data do fato gerador: 14/06/1995 DRAWBACK SUSPENSÃO. COMPROVAÇÃO DA EFETIVA EXPORTAÇÃO. É possível a comprovação da exportação dos bens admitidos em Drawback Suspensão por outros meios, ainda que o contribuinte não tenha promovido a devida vinculação em seus RE's. Contudo, tal prova incumbe ao contribuinte. VERDADE MATERIAL. NECESSIDADE DE INDÍCIO DE PROVAS. O Princípio da Verdade Material é imperativo em sede de contencioso administrativo tributário. Contudo, sua aplicação pressupõe a apresentação de ao menos indício de provas por parte do contribuinte. Acórdão CARF 3201002.768. O mencionado julgado, julgou improcedente o pedido do Contribuinte, por entender que não existia prova robusta naquele julgado, no entanto, compreendese que existindo provas vigoras, devese anular a decisão para determinação de perícia. Diante do exposto, julgo parcialmente procedente, para declarar nula a decisão da DRJ para realização de perícia técnica, para que seja atestada da efetiva exportação. Fl. 1619DF CARF MF Processo nº 10882.721839/201111 Acórdão n.º 3201004.472 S3C2T1 Fl. 1.619 5 Laércio Cruz Uliana Junior Relator Fl. 1620DF CARF MF 6 Voto Vencedor Conselheiro Marcelo Giovani Vieira, Redator Designado O Regime Aduaneiro Especial de Drawback, modalidade suspensão, permite a suspensão dos tributos incidentes na importações de insumos que serão utilizados na industrialização de produtos a serem posteriormente exportados. Para tanto, o contribuinte peticiona e obtém, perante a Secex, Ato Concessório no qual estão estabelecidas as relações entre quantidades de insumos X produtos, para fins de comprovação da exportação compromissada. Caso essa relação venha a ser inexequível, durante o processo industrial, o contribuinte pode pedir a sua retificação, para que o Ato Concessório contenha a correta relação entre o consumo de insumos na industrialização dos respectivos produtos. Confirase a consolidação das normas e procedimentos aplicáveis ao comércio exterior, Portaria Secex 23/2011: Art. 94. Sempre que ocorrerem modificações nas condições aprovadas no ato concessório, o beneficiário deverá solicitar alteração dos itens necessários e, nos casos em que o DECEX julgar necessário, apresentar, para fins de comprovação: (Redação dada pela Portaria SECEX nº 32, de 2014) I – laudo técnico, na forma do art. 80 desta Portaria; II – documento que demonstre alteração de preço, conforme o inciso III do art. 87, quando este diferir do inicialmente declarado; III – Certidão Negativa de Débitos (CND) a que se refere o art. 18 da Lei nº 12.844, de 19 de julho de 2013; IV – auto de infração ou qualquer outro documento de natureza análoga emitido por autoridade fiscal, quando a modificação se der em virtude de fiscalização aduaneira. §1º Os documentos a que se referem os incisos I, II e IV poderão ser anexados eletronicamente na forma do art. 257A. (Redação dada pela Portaria SECEX nº 32, de 2014) §2º O exame do pedido de alteração de ato concessório de drawback se dará com observância do disposto no art. 92. (Redação dada pela Portaria SECEX nº 32, de 2014) §3º A alteração deverá ser solicitada por meio de um dos módulos específicos drawback do SISCOMEX, previstos nos incisos I e II do art. 82 desta Portaria, até o último dia de validade do ato concessório ou no primeiro dia útil subsequente, caso o vencimento tenha se dado em dia não útil. (Redação dada pela Portaria SECEX nº 32, de 2014) §4º Quando ocorrer modificação nas condições aprovadas no ato concessório e a empresa não solicitar ou não obtiver a aprovação das aludidas mudanças, o AC não será objeto de comprovação automática como previsto no art. 146, e será Fl. 1621DF CARF MF Processo nº 10882.721839/201111 Acórdão n.º 3201004.472 S3C2T1 Fl. 1.620 7 baixado na forma até então apresentada, o que acarretará atraso no exame da comprovação do AC e eventual inadimplemento. (Incluído pela Portaria SECEX nº 32, de 2014). O caso presente trata de circunstância em que não houve essa retificação. Ou seja, a quantidade exportada foi substancialmente menor que aquela prevista no Ato Concessório. A recorrente sustenta que consumiu insumos, no processo de industrialização, em quantidade superior àquela indicada nos Atos Concessórios. A proposta aplicação do princípio da verdade material, no presente caso, para que se pudesse aferir a veracidade do consumo dos insumos em quantidade maior que o estabelecido em Ato Concessório, esbarra em diversos obstáculos. Primeiro, não se trata de aferição da materialidade das quantidades exportadas ou importadas, mas da materialidade das relações entre insumos e produtos, matéria de conteúdo eminemente técnico e extravagante às competências do Carf. Segundo, a operação ocorreu há muitos anos, sem possibilidade de que se tenham amostras, tantos dos insumos, quanto dos produtos. Terceiro, vulnera o princípio da espontaneidade. Somente após ser fiscalizada a empresa alega que o Ato Concessório não refletiria o real processo industrial, quando deveria ter providenciado essa correção durante a vigência do Ato Concessório, quando já ciente de que o consumo dos insumos estaria maior que o previsto nele. O prazo para a retificação do Ato Concessório é o prazo final de sua vigência, cf. §3º do art. 94 acima transcrito. Quarto, a Secex é o órgão competente para a revisão técnica do Ato Concessório. Não cabe à Receita Federal ou ao Carf revisar o conteúdo técnico do Ato. A recorrente deveria buscar tal revisão perante a Secex e apresentar como prova no processo, sendo seu tal ônus, já que o Ato Concessório deve ser presumido verdadeiro pelo Fisco, por retratar declaração da recorrente e aprovação da Secex. Desse modo, não sendo o litígio no processo administrativo fiscal o tempo próprio para retificação do Ato Concessório quanto aos seus aspectos técnicos, e o Carf não possuindo a competência própria para tal retificação, a fim de aferir materialidade de processo industrial submetido ao Drawback, não há como acatar a pretensão da recorrente, em sede do processo administrativo fiscal. Assim, resulta que o descumprimento parcial do Ato Concessório leva à tributação respectiva. Portanto, voto por negar provimento ao recurso. (assinatura digital) Marcelo Giovani Vieira – Redator Designado Fl. 1622DF CARF MF 8 Fl. 1623DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10280.901576/2013-73
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon Nov 26 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Jan 11 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Data do Fato Gerador: 30/04/1999
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. BASE DE CÁLCULO DECLARADA INCONSTITUCIONAL. DEFICIÊNCIA PROBATÓRIA.
É do contribuinte o ônus de provar a existência e regularidade do crédito que pretende ter restituído. É sua a incumbência demonstrar liquidez e certeza quando do exame administrativo. Se tal demonstração não é realizada não há como deferir seu pleito.
Numero da decisão: 3401-005.566
Decisão:
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Rosaldo Trevisan - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Alberto da Silva Esteves (suplente convocado), Tiago Guerra Machado, Lazaro Antônio Souza Soares, André Henrique Lemos, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Cássio Schappo, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco e Rosaldo Trevisan (Presidente). Ausente, justificadamente, a conselheira Mara Cristina Sifuentes.
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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BASE DE CÁLCULO DECLARADA INCONSTITUCIONAL. DEFICIÊNCIA PROBATÓRIA. É do contribuinte o ônus de provar a existência e regularidade do crédito que pretende ter restituído. É sua a incumbência demonstrar liquidez e certeza quando do exame administrativo. Se tal demonstração não é realizada não há como deferir seu pleito. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Alberto da Silva Esteves (suplente convocado), Tiago Guerra Machado, Lazaro Antônio Souza Soares, André Henrique Lemos, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Cássio Schappo, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco e Rosaldo Trevisan (Presidente). Ausente, justificadamente, a conselheira Mara Cristina Sifuentes. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 0. 90 15 76 /2 01 3- 73 Fl. 357DF CARF MF Processo nº 10280.901576/201373 Acórdão n.º 3401005.566 S3C4T1 Fl. 3 2 Relatório Tratam os autos de Pedido de Restituição de contribuição para o COFINS realizado através de PER/DCOMP, referente pagamento à maior que o devido, incidente sobre base de cálculo definida pelo art. 3º, §1º da Lei nº 9.718,98, declarada inconstitucional pelo STF em sede de repercussão geral. Inicialmente cabe esclarecer que houve evolução na empresa titular do crédito, na época dos fatos (junho/1999) a empresa denominavase SANDIESEL S/A, que foi incorporada em 17/12/2002 pela BELÉM DIESEL S.A. e que por sua vez foi incorporada em 31/01/2007 pela RODOBENS CAMINHÕES CIRASA S.A. A DRF São José do Rio Preto proferiu Despacho Decisório (eletrônico), indeferindo o Pedido de Restituição por inexistência de crédito. Tomando por base o DARF discriminado no PER/DCOMP, constatou que fora integralmente utilizado para quitação de débito declarado para o mesmo período. Não satisfeito com a resposta do fisco, a interessada apresentou Manifestação de Inconformidade, sob as seguintes razões: (i) por economia processual pede para que seja reunidos todos os processos que relaciona, por conterem o mesmo objeto; (ii) que o Despacho Decisório está equivocado pois não foi examinado o real motivo que sustenta o pedido, que foi o recolhimento de COFINS com base de cálculo alargada pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, vigente à época dos fatos; (iii) sendo inconstitucional o dispositivo legal mencionado, que trata da ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS, matéria já superada pelo STF com repercussão geral no RE nº 585.235, de 10/09/2008, dá validade ao pedido por pagamento a maior ou indevido; (iv) por força do inciso I do §6º do art. 26A, incluído no Decreto nº 70.325 de 06/03/1972 pela Lei nº 11.941/2009, os órgãos administrativos deverão seguir as decisões com repercussão geral do STF, como aliás, já prevalece nas decisões das CSRF conforme acórdãos que menciona; (v) requer ao final, provar o alegado por todos os meios de prova admitidos, produção de perícia, realização de diligência e a juntada de documentos. Em Primeiro Grau a DRJ/RPO ratificou inteiramente o Despacho Decisório que indeferiu o pedido de restituição, nos termos do Acórdão nº 14062.223. O sujeito passivo ingressou tempestivamente com recurso voluntário contra a decisão de primeiro grau, reafirmando: (i) que a base de cálculo para o PIS e COFINS deverá ser composta tão somente do valor do faturamento da empresa; (ii) que o montante que compõe o crédito pleiteado se refere a inclusão indevida, na base de cálculo daquela contribuição, de receitas estranhas do conceito de faturamento, o que implicou em pagamento a maior que o devido, efetuado com base no art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98; (iii) que a controvérsia centrase única e exclusivamente na comprovação do direito creditório, porém, entende que o Fisco não se aprofundou na investigação dos fatos, a teor do art. 142 do CTN; (iv) que a DCTF não é o único meio de prova da existência de crédito passível de restituição, tal formalidade não pode se sobrepor ao direito substantivo e destaca jurisprudência do CARF sobre o caso; (v) da mesma forma, amparada em jurisprudência do CARF apela pela busca da verdade material no processo administrativo tributário, realizando uma análise ampla de todas as minúcias da situação para descobrir toda a situação fática e aplicar a norma de forma correta e eficaz; (vi) entende que o conjunto probatório é suficiente para lastrear o crédito por ela pleiteado, com a juntada de balancete devidamente transcrito no Livro Diário, Livro Razão e planilha com memória de cálculo; (vii) salienta, também, que a DRJ deveria ter convertido o julgamento em diligência, conforme previsto no art. 18 do Decreto nº 70.235, em atenção ao princípio da Fl. 358DF CARF MF Processo nº 10280.901576/201373 Acórdão n.º 3401005.566 S3C4T1 Fl. 4 3 verdade material; (viii) ao final reforça seu pedido de reforma da decisão recorrida e a restituição do crédito pleiteado. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3401005.560, de 26 de novembro de 2018, proferido no julgamento do processo 10280.901573/201330, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevemse, como solução deste litígio, nos termos regimentais, os entendimentos que prevaleceram naquela decisão (Resolução 3401005.560): "O recurso voluntário atende aos requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. Destacase, primeiramente, que a Recorrente fez constar do pedido de sua Manifestação de Inconformidade que: “Em atendimento ao disposto no inciso V, do art. 16, do Decreto n. 70235, de 6.3.1972, a requerente informa que a matéria objeto desta manifestação de inconformidade não foi submetida à apreciação judicial”, caso contrário deveria juntar cópia da petição, já que o assunto diz respeito à declaração de inconstitucionalidade de Lei (§1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98). Quanto a inconstitucionalidade do dispositivo legal mencionado, é tema já superado em face da revogação do mesmo pela Lei nº 11.941, de 2009. Enquanto não alterado a redação do art. 3º da Lei nº 9.718/98, foi expedido Nota Explicativa pela PGFN/CRJ nº 1.114 de 30/08/2012, delimitando o julgado pelo STF no RE nº 585.235, nos seguintes termos: DELIMITAÇÃO DA MATÉRIA DECIDIDA: O PIS/COFINS deve incidir somente sobre as receitas operacionais das empresas, escapando da incidência do PIS/COFINS as receitas não operacionais. Consideramse receitas operacionais as oriundas dos serviços financeiros prestados pelas instituições financeiras (serviços remunerados por tarifas e atividades de intermediação financeira). Repetese aqui o que já firmado pela decisão de piso, em que “chegase à conclusão que a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS, implementada pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, é inconstitucional e deve ser afastada também no âmbito administrativo”. Vêse, portanto, que em termos teóricos convergem para o mesmo ponto, tanto o entendimento do Fisco quanto ao alegado fato que sustenta a tese da Recorrente, de que não cabe Fl. 359DF CARF MF Processo nº 10280.901576/201373 Acórdão n.º 3401005.566 S3C4T1 Fl. 5 4 incidência da Contribuição para o PIS sobre receitas que estão fora do conceito de faturamento. Com a declaração de inconstitucionalidade pelo STF, do §1º do art.3º da Lei 9.718/98, sob o regime previsto pelo art. 543B do CPC, assentado como repercussão geral, abriu espaço para os contribuintes reverem suas bases de contribuição para o PIS e a COFINS e pleitearem junto ao fisco o ressarcimento de eventuais valores pagos a maior ou indevidamente. Pelo que ficou demonstrado no processo ora analisado, a Recorrente deu início com Pedido de Ressarcimento de contribuição para o PIS, do período de apuração 30/06/1999, alegando a existência de indébito fiscal pelo pagamento de valor a maior que o devido, pela inclusão na base de cálculo do PIS de valores referentes a receitas que não integram o conceito de faturamento, compreendido exclusivamente pelo produto das vendas de mercadorias e da prestação de serviços. A causa do pedido de ressarcimento é plausível, a controversa reside nas provas que o caso exige. Não basta que existam hipotéticos pagamentos da contribuição para o PIS sobre base de cálculo fora do alcance do conceito de faturamento, é preciso que exista a certeza do pagamento e seja líquido o valor requerido. A repetição de indébito fundase no princípio da legalidade, sob a premissa da existência de certeza e liquidez do crédito pleiteado. Não basta alegar, deverá ser provado àquilo que se requer. De acordo com o art. 170 do CTN, a compensação de débitos tributários só é autorizada com créditos líquidos e certos do sujeito passivo contra a Fazenda Pública, da mesa forma deve ser tratado o pedido de ressarcimento. O Despacho Decisório respondeu ao interessado que o valor do indébito fiscal requerido não existe, pois o pagamento que lhe deu suporte (DARF) foi totalmente utilizado para quitar débito declarado em DCTF. A requerente em sua manifestação de inconformidade esclarece a razão de seu pedido, cujo crédito estaria respaldado por pagamento a maior que o devido por ter sido incluído na base de cálculo da contribuição para o PIS, valores que estariam fora do alcance do conceito de faturamento, conforme declaração de inconstitucionalidade pelo STF do §1º do art.3º da Lei nº 9.718/98. Mas deixa de proceder a retificação da DCTF para que nos sistemas da SRFB fique registrado o crédito reivindicado. As provas trazidas aos autos com a manifestação de inconformidade, são o balancete e folhas do Razão do período de 01 a 30/06/1999, além de uma relação de contas e valores de receitas financeiras, cujo valor atribuído ao PIS S/ Receita Financeira diverge do valor do crédito pleiteado. Fl. 360DF CARF MF Processo nº 10280.901576/201373 Acórdão n.º 3401005.566 S3C4T1 Fl. 6 5 A decisão de piso confirma a posição da unidade de origem, atestando que incumbe a requerente demonstrar com provas hábeis, a composição e a existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa. Fundamenta o voto proferido pela DRJ/POR: Para que existisse algum saldo a restituir, seria necessário que, no mínimo, a interessada houvesse retificado sua DCTF até a transmissão do seu PER/Dcomp, fazendo constar o suposto débito inferior ao declarado, o que faria exsurgir a possibilidade de se alegar pagamento a maior. (...) Ocorre que para se aferir qual o valor exato da base de cálculo do PIS e da Cofins que deve ser afastado, é necessário que o contribuinte informe e comprove qual o montante total das receitas, para se apartar o faturamento das demais receitas. Mesmo diante das colocações feitas pela decisão de primeiro grau, a Recorrente nada de novo trouxe em seu Recurso Voluntário, insiste que o Fisco não se aprofundou na investigação dos fatos e quanto ao conjunto probatório ser insuficiente, a DRJ deveria ter convertido o julgamento em diligência, em atenção ao princípio da verdade material. Ora, quem alega deve provar e esse compromisso é do interessado que declarou existir indébito fiscal pelo pagamento a maior que o devido. As provas juntadas com o Recurso, praticamente são as mesmas que foram apresentadas com a Fl. 361DF CARF MF Processo nº 10280.901576/201373 Acórdão n.º 3401005.566 S3C4T1 Fl. 7 6 manifestação de inconformidade, o que diverge é a planilha (e fls.340): Insiste a Recorrente em inverter o ônus da prova, querendo que o Fisco faça o papel de demonstrar qual a receita que deu causa ao recolhimento do PIS no valor do DARF apresentado e qual a receita que deve ser excluída por motivo de ampliação indevida de sua base de cálculo. Outro ponto que depõe contra a Recorrente é a ausência de DCTF retificadora. Não há impedimento para que a DCTF seja retificada, inclusive há previsão normativa para isso, vide INRFB nº 1.110/2010: Art. 9º A alteração das informações prestadas em DCTF, nas hipóteses em que admitida, será efetuada mediante apresentação de DCTF retificadora, elaborada com observância das mesmas normas estabelecidas para a declaração retificada. § 1º A DCTF retificadora terá a mesma natureza da declaração originariamente apresentada e servirá para declarar novos débitos, aumentar ou reduzir os valores de débitos já informados ou efetivar qualquer alteração nos créditos vinculados. A apresentação de DCTF Retificadora poderá ser acatada, inclusive, quando apresentada depois do despacho decisório, porém, sendo tempestiva a apresentação da manifestação de inconformidade contra o indeferimento do PER/DCOMP, situação em que a Delegacia da Receita Federal Fl. 362DF CARF MF Processo nº 10280.901576/201373 Acórdão n.º 3401005.566 S3C4T1 Fl. 8 7 do Brasil de Julgamento (DRJ) poderá baixar em diligência à Delegacia da Receita Federal (DRF). A administração tributária orienta sobre o tema através do Parecer Cosit nº 02/2015,de 28 de agosto de 2015, cuja ementa se deu nos seguintes termos: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO. RETIFICAÇÃO DA DCTF DEPOIS DA TRANSMISSÃO DO PER/DCOMP E CIÊNCIA DO DESPACHO DECISÓRIO. POSSIBILIDADE. IMPRESCINDIBILIDADE DA RETIFICAÇÃO DA DCTF PARA COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. As informações declaradas em DCTF – original ou retificadora – que confirmam disponibilidade de direito creditório utilizado em PER/DCOMP, podem tornar o crédito apto a ser objeto de PER/DCOMP desde que não sejam diferentes das informações prestadas à RFB em outras declarações, tais como DIPJ e Dacon, por força do disposto no§ 6º do art. 9º da IN RFB nº 1.110, de 2010, sem prejuízo, no caso concreto, da competência da autoridade fiscal para analisar outras questões ou documentos com o fim de decidir sobre o indébito tributário. (...) É lamentável o fato de a Recorrente pleitear a restituição de um crédito que teoricamente lhe assiste razão, com direito assegurado, mas que de fato não consegue fazer prova de sua existência. Diante do exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário." Importa registrar que nos autos ora em apreço, a situação fática e jurídica encontra correspondência com a verificada no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu por negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan Fl. 363DF CARF MF
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Numero do processo: 16327.907577/2012-43
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 25 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Jan 30 00:00:00 UTC 2019
Numero da decisão: 3201-001.367
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência.
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, (Presidente), Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior.
Nome do relator: CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza - Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, (Presidente), Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior.
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Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, (Presidente), Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 63 27 .9 07 57 7/ 20 12 -4 3 Fl. 140DF CARF MF Processo nº 16327.907577/201243 Resolução nº 3201001.367 S3C2T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra decisão de primeira instância que julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada, mantendo a decisão da repartição de origem de indeferir o Pedido de Restituição de créditos da contribuição (Cofins/PIS), decisão essa lastreada na ausência de direito creditório disponível, uma vez que os pagamentos declarados já haviam sido integralmente utilizados na quitação de débitos do contribuinte. Em sua Manifestação de Inconformidade, o contribuinte havia alegado que o crédito pleiteado decorrera do recolhimento indevido da Contribuição calculada nos termos da Lei nº 9.718/1998, dado o reconhecimento da inconstitucionalidade do parágrafo 1º do seu art. 3º, que pretendeu estender a base de cálculo da contribuição para além do faturamento, ou seja, para além do resultado da venda de mercadorias e/ou de serviços. Arguiu o então Manifestante que seu pedido não deveria ter sido indeferido de plano, sem intimação para apresentar documentos e prestar os esclarecimentos necessários, sob pena de cerceamento do direito de defesa, nos termos do artigo 59 do Decreto nº 70.235/72. Segundo ele, a controvérsia sobre a inclusão das receitas financeiras na receita bruta (conceito de faturamento) das instituições financeiras encontravase pendente de decisão do Supremo Tribunal Federal e que, independentemente disso, não podiam integrar a base de cálculo das contribuições as receitas financeiras decorrentes da aplicação de seus recursos próprios e/ou de terceiros em hipóteses que não envolvessem intermediação financeira. Alegou também que, além de auferir receitas decorrentes do exercício de suas atividades sociais típicas, ele realizava também operações no seu próprio interesse, auferindo receitas financeiras em relação à aplicação de seu próprio capital de giro e capital de terceiros, bem como em razão da remuneração dos depósitos compulsórios realizados junto ao Banco Central e aplicações próprias. A Delegacia de Julgamento (DRJ) considerou improcedente a Manifestação de Inconformidade, sob o fundamento de que a declaração de inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei 9.718/1998 não alcançava as receitas típicas das instituições financeiras (faturamento), dentre elas as receitas oriundas da atividade operacional (receitas financeiras), como os juros sobre capital próprio decorrentes da participação no patrimônio líquido de outras sociedades e o depósito compulsório rentável. Em seu Recurso Voluntário, o contribuinte reiterou seu pedido, repisando os mesmos argumentos de defesa. É o relatório. Fl. 141DF CARF MF Processo nº 16327.907577/201243 Resolução nº 3201001.367 S3C2T1 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF 343, de 9 de junho de 2015, aplicandose, portanto, ao presente litígio o decidido na Resolução nº 3201001.345, de 25/07/2018, proferida no julgamento do processo nº 16327.904269/201266, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Resolução nº 3201001.345): Tratase de demanda que discute acerca da base de cálculo das contribuições para realizar o PER/DCOMP para instituições financeiras. Sobre o tema já se posicionou a Terceira Turma Câmara Superior no Acórdão 9303 005.051, sendo o Relator Designado o Conselheiro Charles Mayer, vejamos: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2001 a 31/12/2005 PROCESSUAL CIVIL. LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA.EFEITO SUBSTITUTIVO. Matéria que foi objeto de Recurso de 1º Grau, prevalece a decisão de segundo grau em substituição da decisão recorrida. BASE DE CÁLCULO. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO §1º DO ART. 3º DA LEI Nº 9.718/98. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. RECEITAS OPERACIONAIS. As receitas operacionais decorrentes das atividades do setor financeiro (serviços bancários e intermediação financeira) estão incluídas no conceito de faturamento/receita bruta a que se refere a Lei Complementar nº 70/91, não tendo sido afetado pela alteração no conceito de faturamento promovida pela Lei nº 9.718/98. Não se incluem no conceito de receitas operacionais auferidas pelas instituições financeiras as provenientes da aplicação de recursos próprios e/ou de terceiro Em recente julgado essa Turma adotou posicionamento de converter o feito em diligência nos autos 16327.720228/201481, por entender que é necessário apresentar de modo detalhado o que são operações financeiras próprias. Em que pese, ter decisão judicial com trânsito em julgado, vejo a necessidade de adotar o mesmo posicionamento do mencionado autos 16327.720228/201481, devendo o feito ser convertido em diligência (...): (...) para que a Unidade de Origem intime a Recorrente a apresentar o detalhamento de todas as suas receitas, esclarecendo aquelas que tem origem em aplicações financeiras de recursos próprios e aquelas aplicações financeiras referentes a recursos de terceiros. A resposta da Recorrente deverá trazer descrição de cada uma dessas rubricas. A Unidade de Origem, a partir da resposta da Recorrente, poderá se manifestar, caso entenda necessário, sobre as informações apresentadas, devendo cientificar a Recorrente do relatório fiscal para manifestação no prazo de 30 (trinta) dias.(Processo 16327.720228/201481) Fl. 142DF CARF MF Processo nº 16327.907577/201243 Resolução nº 3201001.367 S3C2T1 Fl. 5 4 Diante de tal, a prorrogação pode ser prorrogada por igual prazo em favor do Contribuinte. Finalmente apresentado os documentos, dê vistas à Procuradoria da Fazenda Nacional, em igual prazo para que se manifeste acerca dos documentos juntados, após, retornem para este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF. Destaquese que, não obstante o processo paradigma se referir unicamente à Contribuição para o PIS, a decisão ali prolatada se aplica nos mesmos termos à Cofins. Importa registrar, ainda, que, nos presentes autos, as situações fática e jurídica encontram correspondência com as verificadas no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Portanto, aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem intime a Recorrente a apresentar o detalhamento de todas as suas receitas, esclarecendo aquelas que tem origem em aplicações financeiras de recursos próprios e aquelas aplicações financeiras referentes a recursos de terceiros. A resposta da Recorrente deverá trazer descrição de cada uma dessas rubricas. A Unidade de Origem, a partir da resposta da Recorrente, poderá se manifestar, caso entenda necessário, sobre as informações apresentadas, devendo cientificar a Recorrente do relatório fiscal para manifestação no prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual prazo. Finalmente apresentado os documentos, dê vistas à Procuradoria da Fazenda Nacional, em igual prazo para que se manifeste acerca dos documentos juntados, após, retornem para este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 143DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10530.720031/2009-92
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jul 25 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Jan 16 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2005, 2006, 2007
DIFERENÇAS DE URV. NATUREZA SALARIAL.
Tratando-se de verba de natureza eminentemente salarial e não existindo qualquer isenção concedida pela União, ente constitucionalmente competente para legislar sobre imposto de renda, não há dúvida de que as diferenças de URV devem se sujeitar à incidência do imposto de renda.
INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE JUROS DE MORA.
Como a verba principal não é isenta ou fora do campo de incidência do IR, bem como não é oriunda de rescisão do contrato de trabalho, há incidência do imposto de renda sobre os juros.
Numero da decisão: 9202-007.055
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidas as conselheiras Patrícia da Silva e Ana Paula Fernandes, que lhe deram provimento integral, e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deu provimento parcial. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplica-se o decidido no julgamento do processo 10580.720964/2009-94, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado.
(assinado digitalmente)
Maria Helena Cotta Cardozo - Presidente em Exercício e Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho (suplente convocado), Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício).
Nome do relator: MARIA HELENA COTTA CARDOZO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Exercício: 2005, 2006, 2007 DIFERENÇAS DE URV. NATUREZA SALARIAL. Tratando-se de verba de natureza eminentemente salarial e não existindo qualquer isenção concedida pela União, ente constitucionalmente competente para legislar sobre imposto de renda, não há dúvida de que as diferenças de URV devem se sujeitar à incidência do imposto de renda. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE JUROS DE MORA. Como a verba principal não é isenta ou fora do campo de incidência do IR, bem como não é oriunda de rescisão do contrato de trabalho, há incidência do imposto de renda sobre os juros.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidas as conselheiras Patrícia da Silva e Ana Paula Fernandes, que lhe deram provimento integral, e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deu provimento parcial. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplica-se o decidido no julgamento do processo 10580.720964/2009-94, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo - Presidente em Exercício e Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho (suplente convocado), Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício).
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NATUREZA SALARIAL. Tratandose de verba de natureza eminentemente salarial e não existindo qualquer isenção concedida pela União, ente constitucionalmente competente para legislar sobre imposto de renda, não há dúvida de que as diferenças de URV devem se sujeitar à incidência do imposto de renda. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE JUROS DE MORA. Como a verba principal não é isenta ou fora do campo de incidência do IR, bem como não é oriunda de rescisão do contrato de trabalho, há incidência do imposto de renda sobre os juros. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidas as conselheiras Patrícia da Silva e Ana Paula Fernandes, que lhe deram provimento integral, e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deu provimento parcial. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplicase o decidido no julgamento do processo 10580.720964/200994, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Presidente em Exercício e Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho (suplente convocado), Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 53 0. 72 00 31 /2 00 9- 92 Fl. 288DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 289 2 Relatório Tratase de recurso especial interposto pelo sujeito passivo contra decisão proferida pela turma a quo que concluiu pela incidência do imposto de renda sobre verbas recebidas a título de "Valores Indenizatórios de URV". No entendimento daquele colegiado, em que pese a classificação dada pela respectiva lei estadual, as verbas em questão possuem natureza remuneratória, pois visavam corrigir diferenças de remuneração ocorridas quando da conversão das moedas Cruzeiro Real para Unidade Real de Valor URV em 1994. Na mesma decisão também foi mantido o lançamento do imposto sobre os valores correspondentes aos juros de mora. Na peça recursal o sujeito passivo argui serem as verbas indenizatórias, nos exatos termos em que fixado pela lei estadual, e cita como exemplo o entendimento sedimentado pelo STF quando da promulgação da sua Resolução nº 245, a qual reconheceu que o abono conferido aos magistrados da União em razão das diferenças de URV possui natureza jurídica indenizatória. Subsidiariamente, defende a não incidência do IRPF sobre os juros de mora, pois referidos valores não representariam acréscimo patrimonial. Cientificada, a Fazenda Nacional apresentou contrarrazões, pugnando pela manutenção do acórdão recorrido. É o relatório. Voto Conselheira Maria Helena Cotta Cardozo Relatora Este processo foi julgado na sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9202007.054, de 25/07/2018, proferido no julgamento do processo 10580.720964/200994, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese como solução deste litígio, nos termos regimentais, o inteiro teor dos votos proferidos naquela decisão, quanto à admissibilidade e quanto ao mérito (Acórdão 9202007.054): Voto Vencido Conselheira Patrícia da Silva Relatora O recurso preenche os pressupostos de admissibilidade e portanto deve ser conhecido. Permitome trazer a colação o constante do acórdão 9202 006.361, de 06 de abril de 2018, da lavra da ilustre Conselheira Rita Elisa REis da Costa Bacchieri, por irrepreensíveis: Fl. 289DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 290 3 Conforme relatório, discutese nos autos a incidência do Imposto de Renda sobre os valores recebidos pelo Recorrente em razão de lei estadual que previa pagamento de diferenças decorrentes de erro na conversão da moeda Cruzeiro Real para URV Unidade Real de Valor. Insatisfeito com a decisão a quo, o Contribuinte interpôs Recurso Especial objetivando o cancelamento do lançamento sob o fundamento de que citada verba tem caráter indenizatório. Subsidiariamente, caso seja negado provimento ao recurso neste aspecto, requer a exclusão dos juros moratórios da base de cálculo utilizada. Segundo argumentos apontados no Recurso, a verba em questão possui a mesma natureza do abono variável pago aos membros da Magistratura Federal e ao Ministério Público Federal. Segundo a Resolução nº 245/2002 as verbas recebidas teriam natureza indenizatória e como tal estariam isentas da contribuição previdenciária e do imposto de renda. Desta forma, aplicando o princípio da isonomia, a interpretação dada à legislação estadual deve ser igual aquela adotada para as leis federais nº 10.474/2002 e 10.477/2002. Pertinentes as considerações do Recorrente. Ao contrário do apontado no acórdão recorrido e do alegado em sede de contrarrazões não se pode afastar a aplicação do citado entendimento apenas pelo fato de a Resolução nº 245/2002 versar sobre valores recebidos por profissionais da União, afinal interpretandose sistematicamente as normas pertinentes, percebemos que o problema central da discussão natureza jurídica das verbas decorrentes de diferenças de URV também é tratado tanto na resolução quanto nas normas federais acima citadas. O jurista Marco Aurélio Greco ao se manifestar sobre a questão emitiu parecer didático, demonstrando que apesar de as normas federais regularem a forma de pagamento de "abono variável", esse é composto por valores de URV e como tal, adotandose a posição do STF, devem ser classificados como verbas indenizatórias. O professor ainda traçou um histórico demonstrando que toda a legislação estadual teve como pano de fundo o tratamento dado ao pagamento efetuado na esfera federal. Merece transcrição parte do parecer, haja vista a clareza na exposição dos fatos (grifos nossos): Em 2002, foi editada a Lei federal n. 10.474 cujo artigo 1° fixa o subsídio de Ministro do Supremo Tribunal Federal e cujo artigo 2° estabelece que o "abono variável" concedido pela Lei n. 9.655/98" passa a corresponder à diferença entre a remuneração mensal percebida pelo Magistrado, vigente à data daquela lei e a decorrente desta lei" (caput), "descontados todos e quaisquer reajustes remuneratórios percebidos ou incorporados a qualquer título" (§ 1°). Fl. 290DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 291 4 Ou seja, a diferença entre o que cada Magistrado recebia em 1998 e o que foi fixado pela Lei n. 10.474/2002. Aqui está o ponto! Fixouse o subsídio do Ministro do S.T.F. e a diferença entre este e a remuneração individualmente percebida, no lapso temporal previsto na lei, seria pago a título de abono variável. Meses após esta Lei, é editada pelo Supremo Tribunal Federal a Resolução n. 245/2002 cujo artigo 1° é explícito ao prever: "Artigo 1º É de natureza indenizatória o abono variável e provisório de que trata o artigo 2º da lei 10.474, de 2002, conforme precedentes do Supremo Tribunal Federal." Diante da clareza dessa previsão, encerrase a discussão quanto à natureza jurídica do abono variável: tem natureza indenizatória. Portanto; não está sujeito à incidência do imposto sobre a renda e o que foi retido deveria ser devolvido ao magistrado. (É o que estabelece a respeito o art. 3°, II da REs. N. 245/2002). A questão que remanesceu em aberto era no sentido de saber se o montante desse abono variável englobava ou não a "diferença de URV". Para os agentes públicos que já estavam recebendo essa diferença, por força de decisão judicial ou administrativa, obviamente que o abono não a englobava, pois era expressamente excluída de sua base de cálculo (§ 1° do art 2° da Lei n. 10.474/2002 e inciso I, do art. 2° da Resolução n. 245/2002 do S.T. F) Para os demais, a resposta a esta pergunta é simples: se a "diferença de URV" foi considerada quando da fixação do subsídio do Ministro do S.T.F. (art. 1° da Lei n. 10.474/2002), então, ela (dif. URV) está abrangida pelo valor do abono, pois este corresponde à diferença entre o subsídio e a remuneração individual. Em números: se o subsídio foi fixado em R$ 100,00 computandose a diferença de URV de R$ 10,00 e a remuneração individual era de R$ 70,00 então o abono (de R$ 30,00) englobava a diferença de URV, pois esta estava dentro dos R$100,00 que serviram de patamar para cálculo do abono. Mas, como saber se o subsídio fixado pela Lei n. 10.474/2002 levava em conta a" diferença de URV"? A resposta não está no texto da lei, mas na estrutura da remuneração de Ministro do S.T.F então vigente. À época da Mensagem enviada pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal com o projeto que se transformou na Lei n. 10.474/2002 vigorava a Resolução STF n. 195/2000 cujo artigo 1° previa: Fl. 291DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 292 5 "Artigo 1° A remuneração do Ministro do Supremo Tribunal Federal será integrada das parcelas: R$ 454,53 (Lei 8.880/94) + R$ 1.008,83 (DL n. 2.371/87) + R$ 9.536,74 (Lei 8.448/92), num total de R$ 11.000,00." Ora, a "parcela da Lei n. 8.880/94" é exatamente a "diferença de URV"!! Portanto, ao se fixar na Lei n. 10.474/2002 o subsídio do Ministro que serviu de parâmetro para cálculo do abono variável, englobouse a "diferença de URV" extinguindo, com isto, eventuais pretensões neste sentido que ainda subsistissem. Aliás, isto foi expressamente apontado na Mensagem que encaminhou o projeto de lei que se transformou na Lei n. 10.474/2002: "A remuneração total da magistratura da União remanescerá composta unicamente de três parcelas (vencimento básico, gratificação e adicional de tempo de serviço). Não haverá possibilidade de incidir sobre esses valores quaisquer outros percentuais, tal como hoje está a correr, por exemplo, com os 11,98% relacionados com a conversão da URV." Podese concluir que, na fixação do subsídio e, portanto, na dimensão do abono variável, foi levada em conta a diferença de URV. Daí duas consequências: 1 quem recebeu o abono variável da Lei n. 10.474/2002 e não havia ganho por decisão administrativa ou judicial a diferença de URV estava a recebêla naquele momento embutida no abono. 2 Ao dizer que o abono da Lei n. 10.474/2002 tinha natureza jurídica indenizatória não sujeita a imposto sobre a renda, o Supremo Tribunal Federal estava a dizer que a "diferença de URV" até então não recebida e que veio a ser embutida no abono tem natureza indenizatória. A natureza indenizatória do abono variável da Lei n. 10.474/2002 e a intributabilidade dessa verba pelo imposto sobre a renda veio a ser reconhecida pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, no Parecer n. 529/2003 e estendida também ao abono previsto pela Lei federal n. 10.477/2002 aplicável aos Procuradores da República pelo Parecer PGFN n. 923/2003 (ambos referidos na Nota COSIT n. 177/2008). No âmbito dos agentes públicos estaduais, a PGFN entendeu que a natureza da verba era remuneratória (e, portanto, tributada pelo I.R.), salvo no caso do Rio de Janeiro, pois havia lei estadual determinando a aplicação aos Procuradores do Estado do abono previsto na Lei n. 10.477/2002. Em suma, como reconhecido pela própria PGFN os abonos variáveis previstos nas Leis n. 10.474/2002 e n. 10.477/2002 não Fl. 292DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 293 6 são alcançados pela norma de incidência do imposto sobre a renda. E acrescenta: A Lei Complementar n. 20/2003 e a Lei n. 8.730/2003 do Estado da Bahia prevêem expressamente que os pagamentos nelas previstos dizem respeito às diferenças pela conversão de Cruzeiro Real para Unidade Real de Valor URV. Notese que estas Leis: 1) São de setembro de 2003, portanto, depois da Lei federal n. 10.474/2002 que instituiu o abono que englobava a diferença de URV e da Resolução n. 245/2002 do Supremo Tribunal Federal que afirmou o caráter indenizatório desse abono; 2) Aplicamse aos que não haviam até então recebido a "diferença de URV" os quais, se estivessem no âmbito federal ou no Estado do Rio de Janeiro, a estariam recebendo embutida no abono e como verba de natureza indenizatória. O quadro aqui exposto mostra que os dispositivos das referidas leis do Estado da Bahia, ao preverem que as 36 parcelas em que foi dividido o pagamento da diferença de URV tinham natureza indenizatória, não veiculam preceitos despropositados à vista do contexto jurídico da época. Mais ainda, se em relação a idênticas funções exercidas no âmbito federal e do Estado do Rio de Janeiro admitiuse o caráter indenizatório por existir lei expressa determinando o pagamento de verba que englobe a URV, cumpre ser assegurado o mesmo tratamento ao Estado da Bahia, sob pena de violação ao artigo 150, II da CF/88. (GRECO, Marco Aurélio. Imposto Sobre a Renda: Valores Pagos a Agente Públicos Estaduais a Título de Diferença de URV. Falta de Fundamento Jurídico Para a União Cobrar o Imposto. Revista Eletrônica de Direito do Estado (REDE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº. 30, abril/maio/junho de 2012. Disponível na Internet: <http://www.direitodoestado.com/revista/REDE30ABRIL2012 MARCOAURELIOGRECO.pdf>. Acesso em: 06 de junho de 2016) Portanto, se o entendimento adotado pelo STF, e também pela Procuradoria da Fazenda Nacional em seus pareceres, é no sentido de o abono variável recebido pelos magistrados federais e Ministério Público Federal ser verba indenizatória, e se tal abono também é composto por verba paga em razão da conversão da moeda da época em URV, forçoso concluir que essa mesma verba quando prevista pelas leis estaduais deve receber o mesmo tratamento. Entendimento diverso violaria o princípio constitucional da isonomia e a segurança jurídica. Para o professor Roque Antônio Carrazza para garantir a segurança jurídica na relação Fisco/contribuinte é mister que "a lei que descreve a açãotipo tributária valha para todos igualmente, isto é, seja aplicada a seus destinatários (quer pelo Judiciário, quer pela Administração Fl. 293DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 294 7 Fazendária) de acordo com o princípio da igualdade (art. 5º, I da CF)." Destaco ainda que o lançamento e acórdão recorrido ao afastarem o caráter indenizatório das verbas, sob o argumento de que essas serviram para repor "a atualização monetária dos salários do período considerado", reforçaram a tese de que os valores ora discutidos não podem ser tributados pelo imposto de renda. Isso porque é passível na doutrina e na jurisprudência dos tribunais que a correção monetária não representa acréscimo patrimonial, é na verdade mecanismo de recomposição da efetiva desvalorização da moeda, seu objetivo é preservar o poder aquisitivo original em relação à inflação, inflação essa que motivou toda a sistemática de aplicação da própria URV. O Ministro Marco Aurélio, relator do Recurso Extraordinário nº 565.089, onde se discute (em sede de Repercussão Geral) a indenização por falta de revisão anual em vencimentos dos servidores públicos de São Paulo, externa em seu voto o seguinte entendimento: O Supremo já assentou que “a correção monetária não se constitui em um plus, não é uma penalidade, mas mera reposição do valor real da moeda corroída pela inflação” – Agravo Regimental na Ação Cível Originária nº 404, da relatoria do Ministro Maurício Corrêa. Nos termos do art. 43 do CTN não se discute que o fato gerador do Imposto de Renda é a disponibilidade econômica ou jurídica de renda (produto do capital, do trabalho ou de ambos) ou proventos de qualquer natureza, entretanto o conceito de renda é limitado e não abrange valores que não representem acréscimo ao patrimônio do contribuinte, como é o caso dos autos. Portanto, sob todos os prismas analisados, não vejo como possível afastar a natureza indenizatória das verbas recebidas pelo Recorrente à titulo de "diferenças de URV", seja pela aplicação da Resolução nº 245 do STF, seja pelo fato de tal medida ter sido adotada no intuito de recompor seu patrimônio pela perda experimentada pela quando da conversação das moedas. Diante do exposto, dou provimento do Recurso Especial do Contribuinte. Do pedido subsidiário: Vencida quanto ao mérito haja vista decisão da maioria do Colegiado neste julgamento, manifestome acerca do pedido subsidiário formulado pelo Recorrente, por meio do qual defende a não incidência do Imposto de Renda sobre os valores recebidos a título de juros. Segundo o entendimento do Recorrente, invariavelmente, os juros de mora possuem natureza indenizatória, pois sua função é Fl. 294DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 295 8 a de recompor dano ao patrimônio do beneficiário que deixou de receber no tempo certo valor que lhe seria devido. Tratase de entendimento compartilhado pelos mais renomados juristas, valendo citar parte do artigo publicado pelo Professor Hugo de Brito Machado, na Revista Dialética de Direito Tributário nº 215 (p. 115/116): Não há dúvida quanto à natureza indenizatória dos juros de mora. A expressão juros moratórios, que é própria do Direito Civil, designa a indenização pelo atraso no pagamento da divida. O Código Civil de 1916 estabelecia que as perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, consistem nos juros de mora e custas, sem prejuízo das pena convencional. E o Código Civil vigente estabelece: "Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogados, sem prejuízo da penas convencional. Parágrafo único: Provado que os juros de mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz concede ao credor indenização complementar." Com se vê, o legislador previu que o não recebimento nas datas correspondentes dos valores me dinheiro aos quais se tem direito implica prejuízo. (...) Não se trata de lucro cessante, nem de dano simplesmente moral, que evidentemente também podem ocorrer. Tratase de perda patrimonial efetiva, decorrente do não recebimento, nas datas correspondentes, dos valores aos quais tinha direito. Perda que o legislador presumiu e tratou como presunção absoluta que não admite prova em contrário, e cuja indenização com juros de mora independe de pedido do interessado. Ora, os valores recebidos a título de juros moratórios não estariam sujeitos ao imposto, afinal o conceito de renda e proventos propostos pela Constituição Federal exigem a ocorrência de um acréscimo patrimonial experimentado ao longo de um determinado período de tempo, o que conforme anteriormente exposto não ocorre no presente caso concreto. (assinado digitalmente) Patrícia da Silva Voto Vencedor Conselheira Ana Cecília Lustosa da Cruz Redatora Designada 1. Das diferenças de URV Argumenta a Recorrente a não incidência do imposto de renda sobre a diferença de URV, considerando que tais parcelas não Fl. 295DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 296 9 representam qualquer acréscimo patrimonial, produto do capital ou trabalho, mas constituem ressarcimento pelo erro no cálculo da remuneração, na oportunidade da conversão de cruzeiro real para URV e, conseqüentemente, reposição de quantias que deveriam integrar a remuneração ao longo do tempo passado, na tentativa de reparar prejuízos. Desse modo, a verba sob análise é indenização e não salário. Além disso, sustenta a Contribuinte que, com o advento da Resolução n.º 245 do Supremo Tribunal Federal, foi dado tratamento definitivo à controvérsia, deixando claro que se cuida de verba indenizatória os abonos conferidos aos magistrados federais em razão das diferenças de URV e, por esse motivo, isentos da contribuição previdenciária e do imposto de renda. Reafirmando o exposto, salienta a recorrente a edição da Lei Complementar LEI ESTADUAL nº 8.730, de 08 de setembro de 2003, determinando a natureza indenizatória das parcelas referentes às diferenças de Cruzeiro Real para Unidade Real de Valor. Assim, a primeira apreciação a ser feita referese à natureza das verbas sob análise. E o segundo ponto a ser examinado é sobre a existência ou não de isenção relativa à URV. Ao meu ver, embora seja pouco relevante, para fins de incidência do imposto de renda, a natureza indenizatória da verba, entendo que os valores recebidos pela Contribuinte decorrem da compensação pela falta de correção no valor nominal do salário, oportunamente, quando da implantação da URV e, assim, constituem parte integrante de seus vencimentos. Não obstante o meu entendimento anteriormente destacado acerca da natureza salarial da diferença de URV, cabe ressaltar que, no caso do Magistratura, há, de fato a Lei 8.730/2003, que dispôs de modo diverso, tratando a verba como indenização. Tendo em vista que o imposto de renda é regido por legislação federal, tal dispositivo não possui efeito tributário para a análise do tributo em questão. Assim, estando a mencionada lei em plena vigência, prestase apenas ao fim por ela almejado, qual seja o pagamento de precatório, de forma especial. Cabe destacar que a inaplicabilidade da referida lei não decorre de um juízo de inconstitucionalidade, mas sim de uma interpretação sistemática das normas, em observância do princípio da legalidade, tendo em vista a ausência de lei isentiva, no presente caso. Observase que a Constituição Federal exige a edição de lei específica para a concessão de isenção, conforme abaixo transcrito: Fl. 296DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 297 10 “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) § 6º. Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) O Código Tributário Nacional, em consonância com a exigência constitucional, destaca, em seu art. 97, que: somente a lei pode estabelecer (...) VI as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. Como é sabido, a isenção é uma das hipóteses de exclusão do crédito tributário, portanto, fazse necessária a edição de lei para a instituição de isenção. Acrescentase que o caput do art. 43 do Decreto 3.000/99 (RIR) e do art. 16 da Lei n. 4.506/64 deixam claras as regras da tributação sobre as remunerações por trabalho prestado no exercício de cargo público, hipótese dos autos, como se extrai dos trechos abaixo colacionados: “Art. 43. São tributáveis os rendimentos provenientes do trabalho assalariado, as remunerações por trabalho prestado no exercício de empregos, cargos e funções, e quaisquer proventos ou vantagens percebidos, tais como (Lei nº 4.506, de 1964, art. 16, Lei nº 7.713, de 1988, art. 3º, § 4º, Lei nº 8.383, de 1991, art. 74, e Lei nº 9.317, de 1996, art. 25, e Medida Provisória nº 1.76955, de 11 de março de 1999, arts. 1º e 2º): (...). “Art. 16. serão classificados como rendimentos do trabalho assalariado tôdas as espécies de remuneração por trabalho ou serviços prestados no exercício dos empregos, cargos ou funções referidos no artigo 5º do Decretolei número 5.844, de 27 de setembro de 1943, e no art. 16 da Lei número 4.357, de 16 de julho de 1964, tais como: (...) Além disso, o art. 3º da Lei 7.713/88 evidencia a determinação da incidência do IRPF sobre o rendimento bruto, pouco importando a denominação da parcela tributada, nos seguintes termos: “Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. (Vide Lei 8.023, de 12.4.90) (...) Fl. 297DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 298 11 § 4º A tributação independe da denominação dos rendimentos, títulos ou direitos, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem dos bens produtores da renda, e da forma de percepção das rendas ou proventos, bastando, para a incidência do imposto, o benefício do contribuinte por qualquer forma e a qualquer título.” Ora, tratandose de verba de natureza eminentemente salarial e não existindo qualquer isenção concedida pela União, ente constitucionalmente competente para legislar sobre imposto de renda, não há dúvida de que as diferenças de URV devem se sujeitar à incidência do imposto de renda. Sobre a aplicação da Resolução do Supremo Tribunal Federal (STF) 245/2002 pugnada pela Recorrente, notase que foi conferida natureza jurídica indenizatória ao abono variável concedido à Magistratura Federal e ao Ministério Público da União, não se confundindo com as diferenças decorrentes de URV, ora analisadas. Desse modo, reiterese, deve ser considerada a natureza salarial das diferenças sob apreciação. E, ainda que fosse considerada a natureza indenizatória da verba sob análise, ressaltase que a incidência do imposto de renda independe da denominação do rendimento, pois as indenizações não gozam de isenção indistintamente, mas tão somente as previstas em lei específica concessiva de isenção. Havendo, notadamente, acréscimo patrimonial, sob a forma de diferenças de vencimentos recebidos a destempo, resta evidente da incidência do imposto de renda. 2. Dos juros de mora No que se referem aos juros de mora, aplico o posicionamento da Primeira Seção do STJ, no Recurso Repetitivo n.º 1.227.133/RS, no sentido da incidência do imposto de renda sobre tais juros, em regra, não incidindo, excepcionalmente, quando decorrentes da rescisão do contrato de trabalho ou quando a verba principal for isenta ou fora do campo de incidência do IR. Portanto, como a verba principal não é isenta ou fora do campo de incidência do IR, bem como não é oriunda de rescisão do contrato de trabalho, há incidência do imposto de renda sobre os juros. Reafirmando o exposto, temos que as verbas pagas a título de juros de mora seguem a mesma natureza das verbas principais a que se referem. Tal situação está expressamente prevista no art. 55, inciso XIV, do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto nº 3.000/99): “Art. 55. São também tributáveis (Lei nº 4.506, de 1964, art. 26, Lei nº 7.713, de 1988, art. 3º, § 4º, e Lei nº 9.430, de 1996, arts. 24, § 2º, inciso IV, e 70, § 3º, inciso I): Fl. 298DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 299 12 (...) XIV. os juros compensatórios ou moratórios de qualquer natureza, inclusive os que resultarem de sentença, e quaisquer outras indenizações por atraso de pagamento, exceto aqueles correspondentes a rendimentos isentos ou não tributáveis;” (Grifamos) Convém lembrar que os juros de mora relativos ao recebimento em atraso de verbas de natureza salarial são tributáveis, nos termos do art. 43, §3º do Decreto 3.000/99 (RIR) e do art. 16, parágrafo único, da Lei n.º 4.506/64: “Art. 43. São tributáveis os rendimentos provenientes do trabalho assalariado, as remunerações por trabalho prestado no exercício de empregos, cargos e funções, e quaisquer proventos ou vantagens percebidos, tais como (Lei nº 4.506, de 1964, art. 16, Lei nº 7.713, de 1988, art. 3º, § 4º, Lei nº 8.383, de 1991, art. 74, e Lei nº 9.317, de 1996, art. 25, e Medida Provisória nº 1.76955, de 11 de março de 1999, arts. 1º e 2º): (...) § 3º Serão também considerados rendimentos tributáveis a atualização monetária, os juros de mora e quaisquer outras indenizações pelo atraso no pagamento das remunerações previstas neste artigo (Lei nº 4.506, de 1964, art. 16, parágrafo único).” “Art. 16. serão classificados como rendimentos do trabalho assalariado tôdas as espécies de remuneração por trabalho ou serviços prestados no exercício dos empregos, cargos ou funções referidos no artigo 5º do Decretolei número 5.844, de 27 de setembro de 1943, e no art. 16 da Lei número 4.357, de 16 de julho de 1964, tais como: (...) Parágrafo único. Serão também classificados como rendimentos de trabalho assalariado os juros de mora e quaisquer outras indenizações pelo atraso no pagamento das remunerações previstas neste artigo.” (Grifamos) No presente caso os juros moratórios em questão são acessórios de verbas de natureza salarial. Assim, por óbvio, também têm natureza salarial, e, sendo assim, configuram acréscimo patrimonial sujeito à tributação por parte do Imposto de Renda. 3. Da conclusão Diante do exposto, voto no sentido de conhecer do Recurso Especial e, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Ana Cecília Lustosa da Cruz Fl. 299DF CARF MF Processo nº 10530.720031/200992 Acórdão n.º 9202007.055 CSRFT2 Fl. 300 13 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, voto em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Fl. 300DF CARF MF
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Numero do processo: 19515.721068/2017-19
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Nov 20 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Jan 10 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2013, 2014, 2015
IRPJ E CSLL. DESPESAS DEDUTÍVEIS. REQUISITOS. ÔNUS DA PROVA. GLOSA.
Para as despesas incorridas pelo contribuinte serem dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSLL há que se comprovar o pagamento ou, na ausência deste, a despesa deve ser ao menos incorrida/reconhecida (regime de competência) e os gastos devem ser úteis ou necessários para a manutenção da empresa e relacionados ao seu objeto social.
O dever de comprovar que a despesa é inexistente, indedutível ou a falsidade do documento que suportou o lançamento contábil é da fiscalização.
Contudo, uma vez comprovada a indedutibildiade, o ônus para desconstruir a acusação fiscal passa a ser do contribuinte, que deve carrear aos autos documentos comprobatórios das suas alegações. Não o fazendo, impõe-se a manutenção do lançamento fiscal.
CSLL. DECORRÊNCIA. LANÇAMENTO REFLEXO.
Versando sobre as mesmas ocorrências fáticas, aplica-se ao lançamento reflexo alusivo à CSLL o que restar decidido no lançamento do IRPJ.
IRRF. PAGAMENTOS SEM CAUSA OU A BENEFICIÁRIOS NÃO IDENTIFICADOS. EXIGÊNCIA CUMULADA COM IRPJ E CSSL APURADOS EM FACE DA GLOSA DE CUSTOS E DESPESAS CONSIDERADAS INIDÔNEAS. CABIMENTO.
O art. 61 da Lei nº 8.981/1995, alcança todos os pagamentos efetuados a beneficiários não identificados ou cuja operação ou causa não é comprovada, independente de quem seja o real beneficiário dele (sócios/acionistas ou terceiros, contabilizados ou não), elegendo a pessoa jurídica responsável pelo pagamento efetivamente comprovado como responsável pelo recolhimento do imposto de renda devido pelo beneficiário, presumindo-se que assumiu o ônus pelo referido pagamento.
MULTA QUALIFICADA.
Comprovadas condutas e omissões dolosas no sentido que preconiza o artigo 71, da Lei 4.502/64, no intuito de impedir o conhecimento, pela autoridade fazendária, do nascimento da obrigação tributária, correta a qualificação da multa, nos termos definidos pela legislação.
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SUJEIÇÃO PASSIVA. PESSOA JURÍDICA SÓCIA DO CONTRIBUINTE PRINCIPAL.
Não se sustenta a imputação de responsabilidade solidária de Pessoa Jurídica sócia do contribuinte principal, com base no 135 do Código Tributário Nacional, uma vez que as condutas descritas no dispositivos são pessoais, devendo ser praticadas por uma das pessoas nele listadas.
Numero da decisão: 1302-003.216
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário quanto à glosa de despesas e aplicação da multa qualificada e, ainda, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso quanto à exigência de IRRF, vencidos os conselheiros Flávio Machado Vilhena Dias (relator) e Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício, nos termos do relatório e voto do relator. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Gustavo Guimarães da Fonseca.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente.
(assinado digitalmente)
Flávio Machado Vilhena Dias - Relator.
(assinado digitalmente)
Gustavo Guimarães da Fonseca - Redator designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos César Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Maria Lúcia Miceli, Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
Nome do relator: FLAVIO MACHADO VILHENA DIAS
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2013, 2014, 2015 IRPJ E CSLL. DESPESAS DEDUTÍVEIS. REQUISITOS. ÔNUS DA PROVA. GLOSA. Para as despesas incorridas pelo contribuinte serem dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSLL há que se comprovar o pagamento ou, na ausência deste, a despesa deve ser ao menos incorrida/reconhecida (regime de competência) e os gastos devem ser úteis ou necessários para a manutenção da empresa e relacionados ao seu objeto social. O dever de comprovar que a despesa é inexistente, indedutível ou a falsidade do documento que suportou o lançamento contábil é da fiscalização. Contudo, uma vez comprovada a indedutibildiade, o ônus para desconstruir a acusação fiscal passa a ser do contribuinte, que deve carrear aos autos documentos comprobatórios das suas alegações. Não o fazendo, impõe-se a manutenção do lançamento fiscal. CSLL. DECORRÊNCIA. LANÇAMENTO REFLEXO. Versando sobre as mesmas ocorrências fáticas, aplica-se ao lançamento reflexo alusivo à CSLL o que restar decidido no lançamento do IRPJ. IRRF. PAGAMENTOS SEM CAUSA OU A BENEFICIÁRIOS NÃO IDENTIFICADOS. EXIGÊNCIA CUMULADA COM IRPJ E CSSL APURADOS EM FACE DA GLOSA DE CUSTOS E DESPESAS CONSIDERADAS INIDÔNEAS. CABIMENTO. O art. 61 da Lei nº 8.981/1995, alcança todos os pagamentos efetuados a beneficiários não identificados ou cuja operação ou causa não é comprovada, independente de quem seja o real beneficiário dele (sócios/acionistas ou terceiros, contabilizados ou não), elegendo a pessoa jurídica responsável pelo pagamento efetivamente comprovado como responsável pelo recolhimento do imposto de renda devido pelo beneficiário, presumindo-se que assumiu o ônus pelo referido pagamento. MULTA QUALIFICADA. Comprovadas condutas e omissões dolosas no sentido que preconiza o artigo 71, da Lei 4.502/64, no intuito de impedir o conhecimento, pela autoridade fazendária, do nascimento da obrigação tributária, correta a qualificação da multa, nos termos definidos pela legislação. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SUJEIÇÃO PASSIVA. PESSOA JURÍDICA SÓCIA DO CONTRIBUINTE PRINCIPAL. Não se sustenta a imputação de responsabilidade solidária de Pessoa Jurídica sócia do contribuinte principal, com base no 135 do Código Tributário Nacional, uma vez que as condutas descritas no dispositivos são pessoais, devendo ser praticadas por uma das pessoas nele listadas.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário quanto à glosa de despesas e aplicação da multa qualificada e, ainda, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso quanto à exigência de IRRF, vencidos os conselheiros Flávio Machado Vilhena Dias (relator) e Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício, nos termos do relatório e voto do relator. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Gustavo Guimarães da Fonseca. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente. (assinado digitalmente) Flávio Machado Vilhena Dias - Relator. (assinado digitalmente) Gustavo Guimarães da Fonseca - Redator designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos César Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Maria Lúcia Miceli, Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
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FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2013, 2014, 2015 IRPJ E CSLL. DESPESAS DEDUTÍVEIS. REQUISITOS. ÔNUS DA PROVA. GLOSA. Para as despesas incorridas pelo contribuinte serem dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSLL há que se comprovar o pagamento ou, na ausência deste, a despesa deve ser ao menos incorrida/reconhecida (regime de competência) e os gastos devem ser úteis ou necessários para a manutenção da empresa e relacionados ao seu objeto social. O dever de comprovar que a despesa é inexistente, indedutível ou a falsidade do documento que suportou o lançamento contábil é da fiscalização. Contudo, uma vez comprovada a indedutibildiade, o ônus para desconstruir a acusação fiscal passa a ser do contribuinte, que deve carrear aos autos documentos comprobatórios das suas alegações. Não o fazendo, impõese a manutenção do lançamento fiscal. CSLL. DECORRÊNCIA. LANÇAMENTO REFLEXO. Versando sobre as mesmas ocorrências fáticas, aplicase ao lançamento reflexo alusivo à CSLL o que restar decidido no lançamento do IRPJ. IRRF. PAGAMENTOS SEM CAUSA OU A BENEFICIÁRIOS NÃO IDENTIFICADOS. EXIGÊNCIA CUMULADA COM IRPJ E CSSL APURADOS EM FACE DA GLOSA DE CUSTOS E DESPESAS CONSIDERADAS INIDÔNEAS. CABIMENTO. O art. 61 da Lei nº 8.981/1995, alcança todos os pagamentos efetuados a beneficiários não identificados ou cuja operação ou causa não é comprovada, independente de quem seja o real beneficiário dele (sócios/acionistas ou terceiros, contabilizados ou não), elegendo a pessoa jurídica responsável pelo pagamento efetivamente comprovado como responsável pelo recolhimento do imposto de renda devido pelo beneficiário, presumindose que assumiu o ônus pelo referido pagamento. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 72 10 68 /2 01 7- 19 Fl. 1626DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.627 2 MULTA QUALIFICADA. Comprovadas condutas e omissões dolosas no sentido que preconiza o artigo 71, da Lei 4.502/64, no intuito de impedir o conhecimento, pela autoridade fazendária, do nascimento da obrigação tributária, correta a qualificação da multa, nos termos definidos pela legislação. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SUJEIÇÃO PASSIVA. PESSOA JURÍDICA SÓCIA DO CONTRIBUINTE PRINCIPAL. Não se sustenta a imputação de responsabilidade solidária de Pessoa Jurídica sócia do contribuinte principal, com base no 135 do Código Tributário Nacional, uma vez que as condutas descritas no dispositivos são pessoais, devendo ser praticadas por uma das pessoas nele listadas. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário quanto à glosa de despesas e aplicação da multa qualificada e, ainda, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso quanto à exigência de IRRF, vencidos os conselheiros Flávio Machado Vilhena Dias (relator) e Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício, nos termos do relatório e voto do relator. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Gustavo Guimarães da Fonseca. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente. (assinado digitalmente) Flávio Machado Vilhena Dias Relator. (assinado digitalmente) Gustavo Guimarães da Fonseca Redator designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos César Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Maria Lúcia Miceli, Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias e Luiz Tadeu Matosinho Machado. Relatório Tratase, o presente processo, de autuações lavradas em face do ora Recorrente, G.PMM Planejamento de Marketing e Mercado Ltda., através do qual foram constituídos créditos tributários de IRPJ, CSLL, IRRF, nos anos calendários de 2013 a 2015. Fl. 1627DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.628 3 Como se verifica do Termo de Verificação Fiscal de fls. 1147 e 1167, o agente autuante entendeu que as algumas das despesas relacionados a supostos serviços prestados ao Recorrente, que foram registradas nos livros contábeis e fiscais da contribuinte e abatidas das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, não teriam sido comprovadas, mesmo tendo sido dada oportunidade ao contribuinte de apresentar documentação hábil e idônea capaz de demonstrar que os serviços foram efetivamente prestados. Quando intimado foi para apresentar essa comprovação, como se denota do acórdão recorrido, o Recorrente se ateve a apresentar à fiscalização "cópias das notas fiscais e dos documentos bancários dos pagamentos de 2013 a 2015 para as 5 empresas relacionadas, porém não apresentou a documentação da comprovação da efetividade da prestação desses serviços". Não foi apresentado nenhum contrato escrito formalizado, relatórios, documentos que, de algum forma, pudessem, efetivamente, comprovar aquela prestação de serviços. A justificativa apresentada pelo Recorrente, quando da fiscalização, para cada uma das despesas indicadas nos termos de intimação expedidos, foi muito bem sintetizada no acórdão proferido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto (SP). Confirase: A) "Os serviços prestados pela empresa LA BARCA se consubstanciaram através de assessoramento e orientação acerca da correta classificação fiscal das peças e acessórios comercializados pela empresa KMB DISTRIBUIDORA "; B) "A empresa ALL BRAND fora contratada para orientar e apoiar na divulgação publicitária da marca e dos veículos da marca KIA comercializadas no território nacional, objetivando dar melhor visibilidade aos produtos da marca KIA, com o propósito de motivar e influenciar as decisões de compra dos consumidores finais"; C) "A empresa ECO NEGOCIOS fora contratada para prestar assessoramento e orientação acerca da correta classificação fiscal das peças e acessórios comercializados pela empresa KMB DISTRIBUIDORA, em substituição à empresa LA BARCA"; D) "Os serviços prestados pela empresa LEVS CONSULTORIA se consubstanciaram através de consultoria na área tributária, com posterior apresentação de sugestões para a redução da carga tributária nas esferas municipal, estadual e federal, mediante o pagamento por horas trabalhadas"; E) "Os serviços prestados pela empresa Soluções & Soluções consubstanciaramse na apresentação de pareceres técnicos, assim como em orientar o Departamento Fiscal e Contábil da GPMM. Por outro lado, como se consta daquele Termo de Verificação Fiscal, "diante dos indícios de irregularidade na prestação dos serviços nos ANOS 2013, 2014 e 2015 para a fiscalizada, também foram realizados procedimentos fiscais sobre as empresas contratadas, para a verificação da sua existência e da sua capacidade operacional". Fl. 1628DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.629 4 E, em síntese, a fiscalização, após um trabalho minucioso, que envolveu, inclusive, diligência in loco em cada uma das empresas emitentes das Notas Fiscais registradas como despesas pela Recorrente, concluiu que os serviços não poderiam ser prestados, seja pela inexistência de fato das empresas, seja pela incapacidade operacional para exercerem os serviços supostamente contratados. Assim, como consta do acórdão Recorrido, Ficou caracterizada a emissão fraudulenta de notas fiscais de serviços para a empresa GPMM, correspondendo a operações que não tiveram comprovadas a efetividade das correspondentes prestações dos serviços, por parte das seguintes empresas inexistentes de fato “noteiras"): 1 La Barca Serv. Contábeis e Associados Ltda. CNPJ 12.117.377/000104 2 All Brand, Plubicidade, Consultoria & Marketing Ltda. CNPJ 12.842.996/000161 (sic) 3 Eco, Negócios & Planejamento Empresarial Ltda. CNPJ 16.984.673/0001 63 4 Soluções & Soluções Negócios & Planejamento Empresarial Ltda. CNPJ 12.770.276/000138 Com esta constatação, para os anoscalendário de 2013, 2014 e 2015, foram constituídos créditos tributários de IRPJ, CSLL, IRRF, além da multa de ofício ter sido qualificada para 150%, ante a constatação, pelo agente fiscal, de que os fatos "(...)demonstram a existência de uma organização que praticou crimes de falsidade ideológica, simulação de operações internas e sonegação fiscal, pela utilização de pessoas jurídicas inidôneas ou inexistentes de fato, para emissão de notas fiscais 'frias' para acobertar operações de prestação de serviços fictícios e dar origem a despesas e custos 'fabricados' para se contrapor e anular os valores que seriam devidos a título de tributos sobre o lucro (IRPJ e CSLL), bem como possibilitar o pagamento de valores a beneficiários não identificados ou ocultos, sem retenção do Imposto de Renda na Fonte (IRRF)." (trecho constante do TVF). Houve, ainda, nas autuações lavradas, a imputação de responsabilidade pelo pagamento do crédito tributário à pessoa jurídica Gandini Participações e Representações Ltda., uma das sócias da Recorrente e ao administrador e representante desta, Sr. José Luiz Gandini. Devidamente intimados, a Recorrente e os responsáveis apresentaram uma única Impugnação Administrativa, cujos os argumentos foram assim sintetizados pelo acórdão proferido pela DRJ de Ribeirão Preto (SP): O crédito tributário é carecedor de liquidez e certeza, haja vista os erros materiais existentes no lançamento de oficio do IRPJ, CSLL e IRRF, anoscalendário 2013, 2014 e 2015, tudo acompanhado de multa de 150%. A primeira infração apontada pela autoridade fiscal, foi em relação ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica referese "Despesas não Comprovadas". Em matéria de fato, o processo se encontra repleto de documentos que comprovam as despesas vinculadas aos objetivos e interesse comerciais da Impugnante. Ou seja, Fl. 1629DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.630 5 comprovamse as despesas realizadas e pagas (via transferência bancária) a pessoas jurídicas identificadas. Logo, o enquadramento nos dispositivos do RIR não se subsumi à suposta infração. Uma vez que todas as ditas "despesas não comprovadas", de fato, estão comprovadas mediante emissão de notas fiscais, pagamentos feitos via depósitos bancários, tudo devidamente escriturado na contabilidade da empresa Impugnante, não comporta o enquadramento legal apontado pela fiscalização, além do que, a legislação apontada pela fiscalização não permite a tributação com alíquota de 35%. Certo é que a legislação tributária, mormente o § 1o do art. 61 da Lei n° 8.981, de 20 de janeiro de 1995(NÃO UTILIZADA PELA AUTORIDADE FISCAL), tem previsão para lançamento de créditos em face de pagamentos efetuados ou aos recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, quando não for comprovada a operação ou a sua causa. Em todos os supostos fatos arrolados nesta infração, o que se verifica é a busca incessante dos Auditores Fiscais em caracterizar que as empresas prestadoras dos serviços(LA BARCA SERVIÇOS CONTÁBEIS & ASSOCIADOS LTDA),(ALL BRAND, PUBLICIDADE, CONSULTORIA & MARKETING LTDA.), (ECO, NEGÓCIOS & PLANEJAMENTO EMPRESARIAL LTDA.) e (SOLUÇÕES & SOLUÇÕES NEGÓCIOS & PLANE JAMENTO EMPRESARIAL LTDA.), seriam inexistentes de fato e que emitiam notas fiscais de forma fraudulenta. A fiscalização notificou a Impugnante para que apresentasse a comprovação das prestações de serviços fornecidos pelas empresas já referidas, nos anos de 2013, 2014 e 2 015. Senhores julgadores, a Impugnante apresentou TODAS as notas fiscais dos serviços prestados, comprovação de TODOS os pagamentos realizados, via transferência eletrônica, para as contas das empresas prestadoras dos serviços, já identificadas. De outro lado, a fiscalização aponta que a Impugnante não apresentou os contratos e os "Relatórios Gerenciais de Acompanhamento da Execução e Controle dos Serviços. A Impugnante esclareceu, de pronto, que não havia contrato escrito, mas que a contratação se deu de forma verbal, que o serviço foi prestado, foi pago via transferência eletrônica, para as contas das empresas prestadoras dos serviços. No tocante aos serviços prestados pelas empresas, a Impugnante descreveu de forma pormenorizada cada um dos serviços, nos seguintes termos: Os serviços prestados pela empresa LA BARCA se consubstanciaram através de assessoramento e orientação Fl. 1630DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.631 6 acerca da correta classificação fiscal das peças e acessórios comercializados pela empresa KMB DISTRIBUIDORA; A empresa ALL BRAND fora contratada para orientar e apoiar na divulgação publicitária da marca e dos veículos da marca KIA comercializados no território nacional, objetivando dar melhor visibilidade aos produtos da marca KIA, com o propósito de motivar e influenciar as decisões de compra dos consumidores finais; A empresa ECO, NEGÓCIOS fora contratada para prestar assessoramento e orientação acerca da correta classificação fiscal das peças e acessórios comercializados pela empresa KMB DISTRIBUIDORA, em substituição a empresa LA BARCA ' Os serviços prestados pela empresa SOLUÇÕES & SOLUÇÕES consubstanciaramse na apresentação de pareceres técnicos, assim como em orientar o Departamento Fiscal e Contábil da G.PMM. A fiscalização se afastou de um principio que é muito caro à toda sociedade, a atividade de fiscalizar é plenamente vinculada. Não pode à autoridade fiscal ir além do que permite a lei. Não pode a fiscalização exigir além do que exige a lei. Não pode a fiscalização exigir um documento que não existe! Criar documento que, sem sombra de dúvidas, é documento não exigido em lei(Relatórios Gerenciais de Acompanhamento da Execução e Controle) , tudo com o intuito deliberado de glosar despesas legitimas. Ademais, não pode prosperar a afirmação da fiscalização de que as empresas LA BARCA SERVIÇOS CONTÁBEIS & ASSOCIADOS LTDA, ALL BRAND, PUBLICIDADE, CONSULTORIA & MARKETING LTDA. , ECO, NEGÓCIOS & PLANEJAMENTO EMPRESARIAL LTDA. e SOLUÇÕES & SOLUÇÕES NEGÓCIOS & PLANEJAMENTO EMPRESARIAL LTDA, não existem de fato. Não se pode fazer tal afirmação com uma "fotografia" do momento(2017) ! A presente fiscalização DEVE nos remeter aos anos de 2013, 2014 e 2015. Ora, a Impugnante deve ser punida pela conclusão da auditoria tributária, em 2017, em relação a fatos ocorridos em 2013, 2014 e 2015? Claro que não! Além do que, não se pode concluir que as empresas prestadoras não existam de fato com base nas conclusões da fiscalização. A fiscalização, mesmo concluindo pela inexistência de fato das empresas, consegue encontrar os representantes legais das empresas, as empresas respondem ao chamamento do Fisco, por mais de uma oportunidade e, mesmo que não fosse encontrada em 2017, per si, não se poderia concluir pela sua inexistência de fato nos anos de 2013, 2014 e 2015. Fl. 1631DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.632 7 O comportamento das empresas prestadoras dos serviços não é condizente com empresas "noteiras". O que se tem nos presentes autos é ilação de atitude dolosa por parte da Impugnante, dos responsáveis e das empresas prestadoras dos serviços. Precisa ficar claro que má fé não pode ser presumida, má fé, dolo criminoso, ação criminosa deve ser provada. Não parece minimamente razoável que empresa do porte da Impugnante iria usar tal expediente com o intuito de "inflar" as suas despesas. Ora, houve a prestação dos serviços e os pagamentos foram realizados via transferência bancaria! Concluir o que a fiscalização tenta concluir, seria imaginar que a Impugnante, querendo reduzir a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, transferia recursos para| uma outra empresa, mediante emissão de nota fiscal, escrituração contábil. Mas a que titulo? Seria muito simples de comprovar, se isso fosse verdade. Bastava verificar a contabilidade das empresas prestadoras de serviços. O recurso que entrou nas contas das empresas prestadoras, teve qual destino? Essa prova ficaria evidente com acesso à conta bancária da empresa prestadora dos serviços. Isso a fiscalização não teve interesse em verificar. Optou por glosar as despesas sob a pecha da inidoneidade das empresas prestadoras. O argumento que as empresas não têm endereço cai por terra quando respondem ao chamamento do fisco em mais de uma ocasião. Trazem aos autos notas fiscais, comprovante de endereço e contrato social. Conforme resta provado, todos os pagamentos foram efetuados a pessoas jurídicas reconhecidas, mediante documentação própria que comprova legalmente a prestação dos serviços nelas indicados. A prestação dos serviços e a sua regularidade pode ser comprovada nos próprios levantamentos feitos pelos Auditores Fiscais, mediante farta documentação constantes nos autos, inclusive demonstrativos, exemplificados nesta Impugnação. ● IRRF. Os Destinatários dos pagamentos são conhecidos, atenderam aos chamamentos da fiscalização em mais de uma ocasião e, mesmo assim, a autoridade fiscal insiste em partir da premissa que as prestadoras dos serviços não existem de fato. Nos presentes autos não há qualquer prova de que o serviço não tenha sido prestado e, muito menos, não há como negar que os beneficiários dos pagamentos estão abundantemente identificados e responderam ao chamamento da fiscalização. Fl. 1632DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.633 8 Aliás, a essência da norma que tributa o pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, seria no sentido de que, por não ser conhecido o beneficiário e/ou a causa do pagamento efetuado pela pessoa jurídica, não seria possível o Fisco assegurar de que a renda auferida pelo recebedor tenha sido submetida à tributação, ou seja, se tributa o pagador, pois este dificulta a fiscalização do recebedor. O que em nada se coaduna com o caso presente. OS RECEBEDORES SÃO CONHECIDOS, ESTÃO IDENTIFICADOS, FORAM ENCONTRADOS E RESPONDERAM AO CHAMAMENTO DO FISCO! Há, nesta hipótese de incidência tributária, uma evidente presunção fiscal de que a importância paga a terceiro não será submetida à tributação e, por esta razão, deverá ser tributada no próprio pagador. No entanto, é presunção relativa que comporta prova em contrário. Isto porque, uma vez comprovado o liame entre o pagamento e o seu beneficiário, este é passível de fiscalização pelo Fisco, que poderá tributar o numerário recebido diretamente naquele que demonstrou a capacidade contributiva, isto é, o recebedor. E, digase, a partir do momento em que o pagamento é tributado no recebedor, não se poderá aplicar a substituição prevista pelo art. 61 da Lei n. 8. 981/1995, sob pena de se incorrer em bitributação. Explicase: tanto o IRRF no pagador (substituto) quanto o IRPJ/IRPF no beneficiário visam à tributação da mesma renda do beneficiário(contribuinte e substituido), de modo a ser inviável a sua incidência simultânea. Destarte, concluise que a tributação por IRRF no pagador (art. 61 da Lei n. 8.981/1995) e a tributação de IRPJ/IRPF no beneficiário são excludentes: se ocorrer uma, não poderá ocorrer a outra. A presunção fiscal não se justifica por meros indícios quando é possível a identificação, pelo Fisco, dos beneficiários dos pagamentos. Significa dizer que a fiscalização deve promover a circularização, procedimento de investigação junto a terceiros beneficiários (fornecedores, bancos, prestadores de serviço, etc.), cujas informações comprovam as suas conclusões, sob pena de se ter como nula a autuação. Não basta que o Auditorfiscal indique indícios da contabilidade da empresa para que se tenha como configurado o pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado. Deverá, antes, demonstrar e comprovar a impossibilidade de identificação do beneficiário. No caso em debate, a contabilidade da Impugnante registra absolutamente todos os pagamentos, pagamentos feitos por transferências bancárias para contas de titularidade dos prestadores dos serviços(conhecido e encontrado no curso da ação fiscal), mediante a apresentação de notas fiscais. ● Multa Qualificada. Fl. 1633DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.634 9 Não se trata de sonegação, porque a Impugnante não impediu ou retardou, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da Administração Tributária a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais, tampouco de suas condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário. A materialização do fato gerador da obrigação principal se deu com os pagamentos dos serviços prestados pelas pessoas jurídicas relacionadas acima e identificadas e localizadas pela fiscalização, consubstanciados nas Notas Fiscais, nas quais foram destacados o IRRF, as Contribuições ao PIS, à Cofins e a CSLL, nos termos do art. 30 da Lei n° 10.833, de 29/12/2003, devidamente escriturados na Contabilidade da Impugnante e comprovados os desembolsos via transferência bancária, apresentados no curso da fiscalização. Ademais, as autoridades fiscais puderam levantar os dados relativos aos fatos geradores objeto dos créditos tributários, por meio das Declarações de Imposto de Renda na Fonte (DIRF) apresentadas no prazo legal pela Impugnante. Considerando que as DIRFs apresentadas pela Impugnante foram a principal fonte para que os Auditores Fiscais apurassem os valores glosados no Auto de Infração, relativos às despesas consideradas por eles como não comprovadas, temse que a conduta da Impugnante não se subsumi ao tipo de que trata o art. 71 da Lei n° 4.502, de 1964. Também não se trata de fraude, posto que a ação praticada pela Impugnante foi justamente de informar a Administração Tributária, no prazo assinalado na legislação tributária, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, de modo que não se pode atribuirlhe a prática de qualquer ação tendente a excluir ou modificar as características essenciais do fato gerador, ou reduzir o montante do imposto / contribuição devido, ou, ainda, evitar ou diferir o pagamento de tais tributos. De acordo com o relatado pela própria fiscalização, os trabalhos foram desenvolvidos com base na documentação apresentada pela Impugnante, informações contidas em declarações apresentadas à RFB, registros digitais baixados do SPED, notas fiscais e a comprovação do pagamento via transferência bancária. Evidentemente, que podendo os AuditoresFiscais constatar a ocorrência dos fatos geradores mediante o exame das DIPJs apresentadas, não se pode alegar ação ou omissão por parte da Impugnante quanto à ocorrência dos fatos geradores da obrigação tributária. A contrário senso, os fatos geradores do IRPJ e da CSLL decorreram exatamente com a efetividade da disponibilidade econômica em favor da pessoa jurídica objeto das glosas. Fl. 1634DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.635 10 Assim, tendo em vista que a suposta irregularidade "Despesas não Comprovadas" foi assim entendida mediante ação de fiscalização, incluindose nesse procedimento, a revisão das DIPJ, anoscalendário 2013, 2014, 2015, mesmo se considerarmos as absurdas glosas das despesas, no máximo, poderseia imputar à Impugnante penalidade por declaração inexata nos termos do inciso I do art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996, que É importante observar que os art. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 1964, estabelecem tão somente as circunstâncias agravantes para a qualificação da penalidade no percentual de 150,00%, em que a conduta do sujeito passivo recai sobre o fato gerador da obrigação tributária ou sobre as condições pessoais do contribuinte. No presente caso, tanto a ocorrência do fato gerador como as condições pessoais da Impugnante estão refletidos na sua escrita fiscal e contábil (que não foi impugnada pelas autoridades fiscais e, portanto, faz prova em favor da Impugnante), assim como, nas DIRF e DIPJ, anoscalendário 2013, 2014, 2015, segundo a legislação tributária. ● Responsabilidade dos Administradores. A Impugnante, atendendo o chamamento da autoridade fiscal, apresenta a sua contabilidade, declara que não havia contrato escrito, mas que os serviços foram prestados, que os pagamentos foram feitos por transferência bancária, apresenta TODOS os comprovantes de pagamento em contas das próprias prestadoras dos serviços. Tal comportamento não pode ser comparado àquele contribuinte que não tem contabilidade, não demonstra o pagamento, não tem nota fiscal do prestador do serviços! Os TERMOS DE SUJEIÇÃO PASSIVA foram lavrados sem a comprovação da atuação do administrador com excesso de poderes ou infração à lei comercial, contrato social ou estatutos, configurando arbitrariedade no ato administrativo vez que mitiga o direito de defesa das pessoas apontadas como solidários, conforme entendimento sedimentado tanto no âmbito administrativo como no judiciário. É importante notar que a fiscalização aponta como responsáveis o administrador e uma pessoa jurídica, simplesmente por ser sócia da pessoa jurídica contribuinte e autuada. A empresa GANDINI PARTICIPAÇÕES LTDA é, tão somente, sócia da empresa Impugnante. Ela, a empresa tida como responsável, NÃO É ADMINISTRADORA! Ressaltese que, interpretando a expressão "infração de lei. contrato social ou estatutos", expressa no mencionado artigo 135 do CTN, é literal a exigência de situações especificas para que a pessoa física possa ser responsabilizada por débitos contraídos pela pessoa jurídica. A mera ausência do pagamento de tributos não pode ser caracterizada como infração à lei, Fl. 1635DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.636 11 contrato social ou estatutos. Não é automática a responsabilização como quer fazer crer a fiscalização. É essencial a prova de que o administrador da pessoa jurídica tenha se beneficiado pessoalmente com a inadimplência ou tenha dissolvido irregularmente a sociedade, para haver eventual caracterização de sua responsabilidade tributária. Diante da análise individualizada dos requisitos indispensáveis para que o responsável tributário seja responsabilizado e futuramente executado, evidenciase a necessidade de demonstração da prática dos atos infracionais, cabendo a produção da prova de tal situação exclusivamente à Fazenda Pública. É de toda ordem reprovável a tentativa de migração da responsabilidade da pessoa jurídica para um suposto responsável tributário sem a preexistência de uma regular investigação procedida pela autoridade administrativa competente acerca da ocorrência das situações que autorizam essa substituição. Não se pode perder de vista que é dever inarredável do Fisco motivar, a contento, todos os atos administrativos postos a seu encargo pelo ordenamento jurídico. De fato, o descumprimento do dever jurídico de motivar o ato administrativo, ou seja, a tentativa de responsabilização de terceiros sem prova contundente e cabal importa na declaração de nulidade do referido termo. Nas hipóteses de meras lavraturas de termos de sujeição passiva solidária em desfavor do sócioadministrador, sem que o fiscal autuante se preocupe em provar a infração, carece de suporte fático a autuação, por carência de motivação. Sem provas de que o gestor agiu com dolo, fraude ou simulação, em afronta à lei ou ao contrato social, sem diligências visando a constatar a gestão fraudulenta da sociedade, não se pode pretender a sua responsabilização. Ressaltese: a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica de determinada sociedade é um ato grave e com inúmeros desdobramentos, que repercutem, sobretudo, na estabilidade dos setores econômico e financeiro de nosso país. Nos termos da legislação em vigor, tanto nos casos do art. 124, como dos arts. 135 e 137, todos do CTN, exige a necessidade de comprovação de fato jurídico tributário, distinto da ocorrência do fato gerador, capaz de permitir a inclusão dos sócios e/ou administradores no pólo passivo da relação jurídica tributária. Dessa forma, deveria a fiscalização ter constituido o fato jurídico tributário relativo ao interesse comum entre a pessoa jurídica e seus sócios administradores, ou ter indicado a previsão legal especifica em que os administradores, simplesmente pelo fato de serem administradores, poderiam responder pelo crédito tributário devido pela pessoa jurídica. Fl. 1636DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.637 12 É importante deixar claro que a Fiscalização não pode fundamentar a suposta responsabilidade do administrador indistintamente no artigo 124 ou no artigo 135, ambos do CTN, eis que tais dispositivos partem de pressupostos totalmente diferentes. Realmente, o primeiro versa sobre a sujeição passiva simultânea e o segundo sobre a transferência da responsabilidade do contribuinte para terceiro. A pretensão de aplicação simultânea de ambos os dispositivos, sem qualquer comprovação do atendimento dos requisitos exigidos para um ou outro, já demonstra, por si só, o equivoco na lavratura dos termos de sujeição passiva. É dizer, não há como se exigir a satisfação do crédito tributário perante a empresa e ao mesmo tempo de seu administrador invocando o artigo 135, inciso III, do CTN. Esse dispositivo tem aplicação nos casos em que o dirigente atua em beneficio próprio, contra os interesses da pessoa jurídica que representa. A autoridade fiscal, diante do fato da Impugnante ter apresentado a sua contabilidade com a descrição dos serviços, notas fiscais, prova do pagamento via transferência bancária para a conta do prestador dos serviços, chega ao absurdo de afirmar que a Impugnante cometeu fraude ao depositar recursos em contas bancarias de empresas que não existem de fato. É um absurdo! Contudo, ao analisar os argumentos e documentos apresentados pelo Recorrente e coobrigados, a DRJ de Ribeirão Preto (SP) entendeu por bem dar parcial provimento ao apelo, decotando da autuação apenas a "responsabilidade solidária atribuída a Gandini Participações e Representações Ltda.". O acórdão recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2013, 2014, 2015 MULTA QUALIFICADA. FRAUDE. Mantémse a multa por infração qualificada quando reste comprovado o intuito de fraude. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. SÓCIO ADMINISTRADOR. É solidária a responsabilidade do sócioadministrador pelos créditos decorrentes de obrigações tributárias resultantes de atos praticados com infração à lei. SOLIDARIEDADE TRIBUTÁRIA. INTERESSE COMUM. INTERESSE JURÍDICO CONVERGENTE. IMPROCEDÊNCIA DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. O “interesse comum” de trata o art. 124 inciso I do CTN deve ser jurídico e convergente, ou seja, os devedores solidários devem estar ligados por uma relação jurídica Fl. 1637DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.638 13 privada e situados no mesmo pólo dessa relação, de modo que sejam coobrigados por ela, sendo improcedente a atribuição de responsabilidade solidária quando inexiste relação jurídica direta entre eles.ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Ano calendário: 2013, 2014, 2015 DESPESAS. GLOSA. NOTAS FISCAIS DE EMPRESAS INEXISTENTES DE FATO. FALTA DE COMPROVAÇÃO DAS OPERAÇÕES. Não comprovada a efetividade da prestação de serviços, correta a glosa de despesas apropriadas com base em documentos emitidos por empresas inexistentes de fato. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Ano calendário: 2013, 2014, 2015 NULIDADE. Não há que se cogitar de nulidade do lançamento quando observados os requisitos previstos na legislação que rege o processo administrativo fiscal. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. Não se configura cerceamento do direito de defesa se o conhecimento dos atos processuais pelo acusado e o seu direito de resposta ou de reação se encontraram plenamente assegurados. LANÇAMENTO REFLEXO. CSLL. O decidido quanto ao lançamento do IRPJ deve nortear a decisão do lançamento decorrente, dada a relação que os vincula. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Anocalendário: 2013, 2014, 2015 PAGAMENTO SEM CAUSA . O pagamento revelado pela contabilidade que não foi efetivado para o propósito a que se prestava caracterizase como pagamento sem causa. Devidamente intimados, só o Recorrente G.PMM Planejamento de Marketing e Mercado Ltda. apresentou Recurso Voluntário, no qual, em síntese, repisa os argumentos anteriormente apresentado em sede de Impugnação Administrativa. Como a DRJ afastou a responsabilidade de um dos coobrigados, também foi apresentado Recurso de Ofício a este colegiado. Este é o relatório. Fl. 1638DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.639 14 Voto Vencido Conselheiro Flávio Machado Vilhena Dias Relator DA TEMPESTIVIDADE E DO TRÂNSITO EM JULGADO ADMINISTRATIVO COM RELAÇÃO AO COOBRIGADO JOSÉ LUIZ GANDINI. Como se denota dos autos, o Recorrente foi intimado do teor do acórdão recorrido, via AR, em 11/05/2018 (fl. 1.574), apresentando o Recurso Voluntário ora analisado no dia 11/06/2018 (fl. 1.576), ou seja, dentro do prazo de 30 dias, nos termos do que determina o artigo 33 do Decreto nº 70.235/72. Portanto, sem maiores delongas, é tempestivo o Recurso Voluntário apresentado por G.PMM Planejamento de Marketing e Mercado Ltda., devendo ser analisado por este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, por cumprir os demais requisitos de admissibilidade. Por outro lado, como se verifica do "Termo de Intimação por Decurso de prazo" de fls. 1.571, o coobrigado José Luiz Gandini foi devidamente intimado do teor do acórdão proferido pela DRJ de Ribeirão Preto em 14/05/2018. Contudo, o Recurso Voluntário foi apresentado só em nome do contribuinte principal, ora Recorrente G.PMM Planejamento de Marketing e Mercado Ltda.(a Impugnação Administrativa havia sido apresentada em nome do contribuinte principal e dos coobrigados, como mencionado acima) Não consta dos autos a apresentação de Recurso por parte do coobrigado. Há de se ressaltar que, nas razões de apelo do Recurso Voluntário, foi apresentado tópico específico denominado " DA RESPONSABILIDA (sic) DOS ADMINISTRADORES – Arts. 124, 135 e 137 do CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL", em que a Recorrente tenta afastar a responsabilidade tributária atribuída ao seu administrador. Entretanto, é assente nessa Turma de Julgamento que a Pessoa Jurídica, contribuinte principal, não pode se insurgir quanto à responsabilidade eventualmente atribuída à Pessoa Física, por ausência de legitimidade. Desta forma, é patente o trânsito em julgado administrativo com relação ao coobrigado José Luiz Gandini, o que desde já se declara. DO MÉRITO DAS PREMISSAS QUANTO A POSSIBILIDADE DE DEDUÇÃO DE DESPESAS PELAS EMPRESAS QUE APURAM O IRPJ E CSLL PELO LUCRO REAL. Antes de adentrar no mérito de cada glosa realizada pela fiscalização, cumpre, neste momento, discorrer de forma breve acerca das despesas dedutíveis na apuração do lucro real. Neste contexto, devese esclarecer que o dispêndio feito pela entidade ou toda obrigação incorrida para aquisição de bens, serviços ou utilidades, deve ser considerado Fl. 1639DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.640 15 dedutível se for feito com o propósito de manter em funcionamento a fonte produtora de rendimentos. Nessa linha, confirase os ensinamentos de Hiromi Higuchi em sua obra “Imposto de Renda das Empresa: Interpretação e Prática”: As despesas efetuadas pelas pessoas jurídicas podem ser dedutíveis ou indedutíveis na apuração do lucro real. Importante é também o momento em que a despesa operacional é dedutível na determinação do lucro real. A despesa é dedutível pelo regime de competência, ou seja, no momento em que a despesa é considerada incorrida. As despesas operacionais dedutíveis na determinação do lucro real são aquelas que se encaixam nas condições fixadas no art. 299 do RIR/99, isto é, despesas necessárias à atividade da empresa e à respectiva fonte produtora de receitas. As despesas necessárias, ainda de acordo com a legislação fiscal, são as despesas pagas ou incorridas e que sejam usuais e normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (HIGUCHI, Hiromi, Imposto de Renda das empresas: interpretação e prática: atualizado até 10012015 – 40º ed. – São Paulo: IR Publicações, 215, p.279) (detacouse). Os conceitos de despesas necessárias, usuais ou normais estão contidos no artigo 299, do RIR/99. Verificase: Art.299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). §1ºSão necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, §1º). §2ºAs despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, §2º). Por sua vez, o Parecer Normativo CST nº 32/1981, previu que “o gasto é necessário quando essencial a qualquer transação ou operação exigida pela exploração das atividades, principais ou acessórias, que estejam vinculadas com as fontes produtoras de rendimentos”. Os Tribunais pátrios não destoam deste entendimento, como se observa do julgado, cuja ementa segue transcrita abaixo, proferido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCROCSLL. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICAIRPJ. DEDUÇÃO DE DESPESAS TIDAS COMO OPERACIONAIS. IMPOSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO EM VERBA HONORÁRIA QUE SE MANTÉM 1 Quanto ao agravo retido, é remansoso o entendimento de que a realização de perícia se revela como o meio de prova oneroso e causador da delonga procedimental, cabendo quando devem ser esclarecidas questões que não possam ser verificadas sem o Fl. 1640DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.641 16 conhecimento técnico. A não realização de perícia contábil não caracteriza cerceamento de defesa, vez que a matéria tratada na inicial era de direito, possibilitando assim o julgamento da lide. Com efeito, o CPC/2015 permite o julgamento, dispensando a produção de provas, quando a questão for unicamente de direito e os documentos acostados aos autos forem suficientes ao exame do pedido. Também, o art. 370 do CPC/2015 permite ao juiz a possibilidade de indeferir diligências inúteis ou meramente protelatórias, assim como determinar a realização das provas que entenda necessárias à instrução do processo, mesmo sem requerimento da parte.Na hipótese, o que se discute é a possibilidade de descontos concedidos a clientes como despesas operacionais e despesas de viagem e estadia de médicos e cirurgiões cardiologistas e técnicos, dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, sendo totalmente desnecessária a realização de prova pericial, pelo que rejeito o agravo retido interposto. 2. Despesas operacionais são as pagas ou incorridas para vender produtos ou serviços e administrar a empresa. A legislação de regência prescreve restrições quanto à dedução de despesas efetivamente incorridas e regularmente escrituradas. 3. O Parecer Normativo CST nº 32/81 declara que gasto necessário é o essencial a qualquer transação ou operação exigida pela exploração das atividades, principais ou acessórias, que estejam vinculadas com as fontes produtoras de rendimentos. 4. Na determinação da base de cálculo do IRPJ, a legislação considera dedutíveis as despesas operacionais, aquelas necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora. 5. Na hipótese, no tocante a dedução dos prejuízos operacionais como despesa, não foram cumpridos os requisitos legais, de forma que não se pode simplesmente acolher o argumento genérico de que estão presentes as condições do artigo 299, do RIR/1999. 6. A autoridade fiscal efetuou a glosa dos valores referentes às despesas efetuadas com pessoas não vinculadas a empresa, como viagens, transporte, estadia de médicos para participação em congressos, exposições e conferências, bem como descontos concedidos a clientes. 7. As notas acostadas aos autos, por si só, não demonstram a finalidade, o relacionamento com a atividade desenvolvida pela autora. As viagens ao exterior deveriam estar devidamente escrituradas e de encontro com a atividade da empresa. 8. Embora útil ou vantajoso o emprego do valor, caracterizase um incremento, mas não uma despesa necessária ou operacional. 9. Quanto à verba honorária, esta deve ser mantida, conforme fixada na r. sentença. 10. Agravo retido rejeitado. Apelação não provida. (AC 00089632520114036100, DESEMBARGADOR FEDERAL NERY JUNIOR, TRF3 TERCEIRA TURMA, eDJF3 Judicial 1 DATA:18/01/2017 ..FONTE_REPUBLICACAO:.) Devese ressaltar, ainda, que, tendo em vista o regime de competência, mesmo aquelas despesas ainda não efetivamente pagas, mas já reconhecidas na contabilidade (incorridas), podem ser deduzidas da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, como, inclusive, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça. Vejase: Fl. 1641DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.642 17 DIREITO TRIBUTÁRIO. IRPJ. LUCRO REAL. DESPESA OPERACIONAL. FÉRIAS. EMPREGADOS. REGIME DE COMPETÊNCIA. AQUISIÇÃO DO DIREITO. CONCEITO DE DESPESA INCORRIDA. 1. Cuidase, na origem, de Ação Declaratória proposta com a finalidade de obter provimento jurisdicional que reconheça o direito à dedutibilidade de despesas incorridas pela aquisição do direito às férias dos empregados, na apuração do IRPJ do ano base de 1978 (fl. 12). 2. A controvérsia posta, desde a inicial, diz respeito ao período em que essa dedução é possível, e não propriamente à existência desse direito, o que se tornou inquestionável. 3. Uma vez adquirido o direito às férias, a despesa em questão corresponde a uma obrigação líquida e certa contraída pelo empregador, embora não realizada imediatamente. Dispõe o art. 134 da CLT que "As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só período, nos 12 (doze) meses subsequentes à data em que o empregado tiver adquirido o direito". 4. De acordo com o § 1° do art. 47 da Lei 4.506/1964, são necessárias as despesas pagas ou incorridas para realizar as transações ou operações exigidas pela atividade da empresa. Tais despesas são consideradas operacionais e a legislação autoriza seu abatimento na apuração do lucro operacional (art. 43 da Lei 4.506/1964). 5. Se a lei permite a dedução das despesas pagas e das incorridas, não só as que já foram efetivamente adimplidas são dedutíveis. Despesa incorrida é aquela que existe juridicamente e possui os atributos de liquidez e certeza. 6. Na legislação tributária, prevalece a regra do regime de competência, de modo que as despesas devem ser deduzidas no lucro real do períodobase competente, ou seja, quando jurídica ou economicamente se tornarem devidas. 7. Com a aquisição do direito às férias pelo empregado, a obrigação de concedêlas juntamente com o pagamento das verbas remuneratórias correspondentes passa a existir juridicamente para o empregador. Nesse momento, a pessoa jurídica incorre numa despesa passível de dedução na apuração do lucro real do anocalendário em que se aperfeiçoou o direito adquirido do empregado. 8. Recurso Especial não provido. (REsp 1313879/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/02/2013, DJe 08/03/2013) (destacouse) Dessa forma, são requisitos básicos para os gastos com despesas serem dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSLL: Fl. 1642DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.643 18 (i) a comprovação do pagamento ou, na ausência deste, a despesa deve ser ao menos incorrida/reconhecida (regime de competência); (ii) os gastos devem ser úteis ou necessários para a manutenção da empresa e relacionados ao seu objeto social. Esses são os requisitos básicos para a dedutibilidade das despesas pelo contribuinte e é com essa premissa que se analisará as ilações da fiscalização e os argumentos apresentados pelo Recorrente. DO ÔNUS DA PROVA. Antes, contudo, em se tratando de Autos de Infração, em que a administração constituiu créditos tributários de ofício, quando identificou que as empresas emissoras das notas fiscais que embasaram as despesas do contribuinte não tinham capacidade para executar os serviços ou eram inexistentes, há que se entender de quem é o ônus probatório: do fisco ou do contribuinte? No presente contexto, afastase, de pronto, os casos de presunção relativa, como, por exemplo, o de omissão de receitas por depósitos bancários (artigo 42, da Lei 9.430/96). Nestes casos, em que pese a sua discutível constitucionalidade, o legislador entendeu que o ônus probatório é do contribuinte. Assim, sendo devidamente intimado acerca das informações levantadas pela fiscalização e caso não haja comprovação em contrário por parte do fiscalizado, a ele será presumida determinada conduta. Mesmo nestes casos, entretanto, não pode a fiscalização, de forma unilateral, afirmar a existência de renda omitida, por exemplo, sem que seja dada a oportunidade ao contribuinte de fazer prova em contrário. Fabiana Del Padre Tomé, refutando de forma veemente a possibilidade de existência, no ordenamento, das chamadas presunções absolutas ou mistas, assim se pronuncia sobre as chamadas presunções relativas: Apesar de caracterizarem importante instrumento de que dispõe a Administração, auxiliandoa nas tarefas fiscalizatória e arrecadatória, as presunções têm seu emprego delimitado por normas constitucionais que traçam os contornos da competência tributária, além das que asseguram direitos dos contribuintes. Por tal razão, não encontram guarida em nosso ordenamento as presunções absolutas nem as chamadas presunções mistas. As primeiras são obstadas pela rígida repartição constitucional das competências para instruir tributos, bem como pelos princípios da estrita legalidade tributária, da tipicidade e da capacidade contributiva. Quanto às presunções mistas, violam não apenas os primados da tipicidade e capacidade contributiva, mas também o direito à ampla defesa, já que restringem as provas possíveis de serem utilizadas para ilidir o fato presumido. As presunções susceptíveis de serem empregadas pelo Fisco são apenas as relativas, por possibilitarem ao contribuinte a livre produção probatória em sentido contrário. (TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no Direito Tributário. São Paulo: Noeses, 2008. Págs. 301 e 302) Fl. 1643DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.644 19 Contudo, excetuado os casos de presunção relativa (as únicas presunções que se pode admitir em direito tributário, digase), o dever de provar é da fiscalização. Há que se entender que, nos termos do artigo 142, do Código Tributário Nacional, a competência para apurar, constituir e calcular o crédito tributário, dentre outras, é da autoridade administrativa, de forma privativa, em especial quando é promovida a constituição de ofício do crédito tributário, quando presentes umas das hipóteses listadas no artigo 149 do mesmo Código. Assim, salvo naqueles casos em que há uma presunção relativa de determinadas condutas, reiterese, é dever da administração tributária comprovar as suas alegações. Mais uma vez, se vale dos ensinamentos de Fabiana Del Padre Tomé que, após discorrer sobre as diferenças entre ônus, dever e faculdade na produção das provas, assim se manifesta: "(...) A existência do ônus pressupõe um direito subjetivo disponível, que pode ou não ser exercido, situação que não se verifica na esfera tributária, tendo em vista que os atos de lançamento e de aplicação de penalidades pelo descumprimento de obrigações tributárias e deveres instrumentais competem ao Poder Público, de modo privativo e obrigatório, tendo de fazêlo com base nos elementos comprobatórios do fato jurídico e do ilícito tributário. Daí por que não tem a autoridade administrativa mero ônus de provar o fato jurídico ou o ilícito tributário que dá suporte aos seus atos, mas verdadeiro dever, (...)"(TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no Direito Tributário. São Paulo: Noeses, 2008. Págs. 236 e 237) (destacouse) E arremata a festejada professora: "Caso o ato de lançamento não se fundamente em provas, estará irremediavelmente maculado, devendo ser retirado do ordenamento. Na hipótese de o contribuinte deixar de apresentar os documentos comprobatórios do fato enunciado no antecedente da norma individual e concreta por ele emitida, sujeitarseá ao ato de lançamento a ser realizado pela autoridade administrativa e à aplicação das penalidades cabíveis, como adverte Geraldo Ataliba: 'o sistema de legislação vigente, quanto ao assunto, é claro: omissão do contribuinte, a sua falta de colaboração ou a colaboração maliciosa ou danosa, além de serem criminalmente reprimidos, não inibem o fisco no lançamento'. Opostamente, se o contribuinte fornecer os documentos que se referem ao objeto fiscalizado, as informações nele contidas farão prova a seu favor. Devidamente provado o fato enunciado pelo Fisco ou pelo contribuinte, as alegações que pretendam desconstituílo devem, igualmente, estar fundadas em elementos probatórios. Tudo, na esteira da regra segundo a qual o ônus/dever da prova cabe a quem alega, não se admitindo, na esfera tributária, convenções que alterem essa forma de distribuição. "(...) A existência do ônus pressupõe um direito subjetivo disponível, que pode ou não ser exercido, situação que não se verifica na esfera tributária, tendo em vista que os atos de lançamento e de aplicação de Fl. 1644DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.645 20 penalidades pelo descumprimento de obrigações tributárias e deveres instrumentais competem ao Poder Público, de modo privativo e obrigatório, tendo de fazêlo com base nos elementos comprobatórios do fato jurídico e do ilícito tributário. Daí por que não tem a autoridade administrativa mero ônus de provar o fato jurídico ou o ilícito tributário que dá suporte aos seus atos, mas verdadeiro dever, (...)"(TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no Direito Tributário. São Paulo: Noeses, 2008. Págs. 239 e 240) Este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais já se posicionou quanto a impossibilidade de se inverter o ônus probatório, quando a fiscalização tinha o dever de provar as ilações lançadas em Auto de Infração. Vejase julgado neste sentido: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Ano calendário: 2000 USUFRUTO DE AÇÕES. RECEITAS AUFERIDAS EM RAZÃO DA CESSÃO DOS DIREITOS DE FRUIÇÃO DOS ATIVOS. RECEITAS QUE NÃO SE CONFUNDEM COM A PERCEPÇÃO DE LUCROS E DIVIDENDOS. TRIBUTAÇÃO. APROPRIAÇÃO PRO RATA DA RECEITA. A celebração de contrato oneroso de usufruto de ações importa na transferência, ao usufrutuário, do direito, inerente à posição acionária, de percepção de juros e dividendos. A remuneração estabelecida em decorrência da cessão do direito de fruição das ações não se confunde com a percepção de juros e dividendos, constituindo receita do cedente obrigatoriamente submetida à tributação pelo Imposto sobre a Renda. Nessas condições, a receita deve ser apropriada pro rata, durante o período do contrato. RATEIO DE CUSTOS GLOSA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA IMPROCEDÊNCIA DO LANÇAMENTO. Provado, pelos elementos constantes da escrituração mercantil, que a recorrente contabilizara despesas recebidas em rateio de sua controladora, pratica usual em se tratando de grupos financeiros, caberia à fiscalização provar a inexistência ou a não dedutibilidade das despesas que assumira, não simplesmente ter promovido a sua glosa, mediante ilegal inversão do ônus da prova. PERDAS DE CRÉDITO. DEDUÇÃO INDEVIDA. A dedução de perdas no recebimento de créditos está condicionada ao atendimento aos requisitos legais para a sua dedutibilidade, além da comprovação documental inequívoca da sua ocorrência. Assunto: Outros Tributos ou Contribuições Anocalendário: 2000 DECADÊNCIA. CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL Consoante Súmula Vinculante do STF é de cinco anos o prazo de decadência para o Fisco efetuar o lançamento das contribuições para custear a Seguridade Social (art. 45 da Lei nº 8.212/1991). PIS, CSLL E COFINS LANÇAMENTOS DECORRENTES Aplicamse aos lançamentos decorrentes o decidido em relação ao principal. Mantida parcialmente as exigências de CSLL e exoneradas integralmente as exigências de PIS/Pasep e COFINS MULTAS ISOLADAS DECADÊNCIA E PROVIMENTO NO MÉRITO DA MATÉRIA PRINCIPAL As multas isoladas por falta ou insuficiência de estimativas mensais sujeitamse ao Fl. 1645DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.646 21 prazo decadencial previsto no art. 150, § 4º do CTN. Dado provimento, no mérito, ao recurso na parte relativa ao IRPJ que motivou a aplicação de multa isolada, cancelase a exigência remanescente da decadência. (Número do Processo 19740.000004/200656 Acórdão 10709.588 Data da sessão: 17/12/2008) Por outro lado, como se verifica da ementa acima, inclusive, não se pode desprezar o "peso" da prova dos lançamentos contábeis do contribuinte. Desde que lastreados por documentação hábil e idônea que comprove eventual lançamento, a contabilidade feita nos ditames da legislação tem o condão de provar a ocorrência do evento escriturado. Não é por outro motivo que o Decreto 3.000/99 é categórico ao afirmar que os lançamentos contábeis fazem prova em favor do contribuinte, sendo dever da autoridade administrativa comprovar eventuais inveracidades. Neste sentido é a redação dos artigos 923, 924 e 925 do RIR/99. Vejase: Art.923.A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados e comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 9º, §1º). Art.924.Cabe à autoridade administrativa a prova da inveracidade dos fatos registrados com observância do disposto no artigo anterior (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 9º, §2º). Art.925.O disposto no artigo anterior não se aplica aos casos em que a lei, por disposição especial, atribua ao contribuinte o ônus da prova de fatos registrados na sua escrituração Portanto, o dever de comprovar despesa inexistente, indedutível ou a falsidade de documento que suportou o lançamento contábil é da fiscalização. Não se pode admitir a transferência desse ônus ao contribuinte, quando a legislação assim não autoriza. Sendo apresentada documentação que comprove e sustente os lançamentos na contabilidade, a fiscalização deve empreender as diligências necessárias para comprovar suas alegações. Feitas estas considerações iniciais, passase a analisar, uma a uma, as glosas efetuadas pela fiscalização, para se verificar se as despesas glosadas poderiam, de fato, serem deduzidas da base cálculo do IRPJ e da CSSL devidos pelo Recorrente. DA ANÁLISE DAS DESPESAS GLOSADAS PELA FISCALIZAÇÃO 1) EMPRESA LA BARCA SERV. CONTÁBEIS E ASSOCIADOS LTDA. CNPJ 12.117.377/000104 Como se denota dos autos, ao responder intimação emitida pela fiscalização, a Recorrente informou que os serviços prestados pela empresa LA BARCA se consubstanciaram através de "assessoramento e orientação acerca da correta classificação fiscal das peças e acessórios comercializados pela empresa KMB DISTRIBUIDORA". Contudo, em que pese terem sido apresentadas Notas Fiscais, em que consta a descrição como sendo, simplesmente, a "prestação de serviços", a Recorrente não trouxe aos Fl. 1646DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.647 22 autos qualquer documento que comprovasse que os "serviços" fossem prestados. Não foi apresentado nem o contrato firmado entre as partes, para que se pudesse aferir se os serviços que supostamente foram prestados seriam aqueles informados pela Recorrente. Por outro lado, no Termo de Verificação Fiscal, o agente que promoveu a autuação, demonstrou a completa incapacidade daquela empresa em prestar serviços, remunerados com valores tão elevados. Como consta daquele TVF, a empresa LA BARCA não possuía empregados registrados, não comprovou onde era sua sede e que tinha capacidade de prestar serviços de tão elevada monta financeira. São irreparáveis as conclusões a que chegou o agente fiscal, quais sejam: "Analisando os fatos e documentos, verificamos que não há consistência na contratação pela KBM de outra empresa para realizar a classificação fiscal das suas peças e acessórios comercializados, a Representada La Barca, que não existe fisicamente e nem possui estrutura operacional, capacidade técnica e funcionários contratados, nem terceirizados, que pudessem prestar fisicamente os serviços, o que torna a relação negocial e as operações insubsistentes." Há de se ressaltar que o Recorrente, no Recurso Voluntário, após argumentar que não poderia apresentar documento "criado pela fiscalização" para comprovar a prestação de serviços, afirma (e isso é incontroverso) que a única documentação apresentada pela empresa La Barca seriam seus contratos sociais. Vejase o que constou daquele apelo: LA BARCA SERVIÇOS CONTÁBEIS & ASSOCIADOS LTDA. A empresa, atendendo à fiscalização, às Fls. 1025, informa que o endereço está desatualizado, informa o novo endereço, informa que a empresa teve as suas atividades encerradas em 19/08/2015 e, na mesma oportunidade, trouxe aos autos o contrato social e alterações. Às Fls. 1032, complementa as informações, junta o contrato social e notas fiscais dos anos sob fiscalização. Assim, entendese, neste caso, ao contrário do que afirmou a Recorrente, que a fiscalização comprovou que a despesa não poderia ser dedutível, em especial, quando fala da ausência de empregados na prestadora dos serviços e da falta de estrutura operacional,. Assim, caberia, ao contribuinte, fazer prova em contrário, mas este quedouse silente, afirmando, tão somente, que a empresa existia à época dos fatos geradores. Por outro lado, não se pode desprezar que o serviço supostamente prestado seria de "assessoramento e orientação acerca da correta classificação fiscal das peças e acessórios", como a própria Recorrente afirma. Assim, soa no mínimo estranho não haver nenhum relatório, orientação por escrito, etc., em que a prestadora de serviços indicasse qual a classificação fiscal dos produtos comercializados. Assim, no que tange à glosa da despesa incorrida junto à empresa LA BARCA SERV. CONTÁBEIS E ASSOCIADOS LTDA, votase por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. Fl. 1647DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.648 23 2) ALL BRAND, PLUBICIDADE (sic), CONSULTORIA & MARKETING LTDA. CNPJ 12.842.996/000161 Quanto a glosa das despesas incorridas junto à empresa ALL BRAND, PLUBICIDADE (sic), CONSULTORIA & MARKETING LTDA., a motivação da fiscalização para desconsiderála é muito semelhante à glosa acima analisada. Pelo o que se denota do Termos de Verificação Fiscal, esta empresa também não possui empregados e terceiros registrados, não tinha estrutura operacional e não apresentou, quando intimada, nenhum documento para comprovar a efetiva prestação de serviços. A Recorrente, apesar de alegar que os serviços prestados seriam "para orientar e apoiar na divulgação publicitária da marca e dos veículos da marca KIA comercializadas no território nacional, objetivando dar melhor visibilidade aos produtos da marca KIA, com o propósito de motivar e influenciar as decisões de compra dos consumidores finais", não trouxe aos autos qualquer documento que pudesse comprovar que os serviços foram efetivamente prestados. Nem o contrato firmado foi apresentado. A única argumentação da Recorrente é no sentido de "que não havia contrato escrito, mas que a contratação se deu de forma verbal, que o serviço foi prestado, foi pago via transferência eletrônica, nas contas das empresas prestadoras dos serviços." E mesmo instado pela fiscalização, ante a "dúvida" quanto a efetiva prestação de serviços, o contribuinte não trouxe aos autos nenhum documento e/ou elemento, que pudessem demonstrar aquela prestação. Não se pode desprezar, também, que o serviço que foi declarado como prestado seria uma orientação e apoio na divulgação publicitária. Assim, estranhase o fato de não haver nenhum documento, email, memorando que pudesse comprovar que os serviços foram prestados. Como foi dada as orientações e quais seriam? Por quem foi realizado o trabalho? Essas perguntas não podem ser respondidas com os elementos dos autos, até mesmo porque o contribuinte deixou de produzir provas que pudessem, de alguma forma, descostruir as ilações da fiscalização. Assim, no que tange à glosa da despesa incorrida junto à empresa ALL BRAND, PLUBICIDADE (sic), CONSULTORIA & MARKETING LTDA, votase por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. 3) ECO, NEGÓCIOS & PLANEJAMENTO EMPRESARIAL LTDA. CNPJ 16.984.673/000163 No que concerne à glosa de despesas da empresa Eco, Negócios & Planejamento Empresarial Ltda., a acusação fiscal, como nos casos acima, demonstrou a completa ausência de estrutura operacional, inclusive de empregados, para prestar os serviços de "assessoramento e orientação acerca da correta classificação fiscal das peças e acessórios comercializados pela empresa KMB DISTRIBUIDORA". A Recorrente, por sua vez, apenas afirma que "a empresa, atendendo à fiscalização, às Fls. 888, traz aos autos o contrato social, as notas fiscais do período fiscalizado. Às Fls. 889, complementa as informações, consignando o novo endereço, informa Fl. 1648DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.649 24 que a empresa está sem movimento desde 29/03/2016, e junta o contrato social e suas alterações." Afirma, ainda, que caberia à fiscalização a prova de que os serviços não foram prestados. Nada mais! Não há nos autos qualquer elemento que pudesse comprovar que os serviços foram prestados, nem o contrato foi apresentado. Em que pese a Recorrente insistir neste ponto, o fato de ter sido emitida a Nota Fiscal e ter se demonstrado as transferências bancárias dos respectivos valores, não é suficiente para comprovar a efetiva prestação dos serviços. Não se pode olvidar que o trabalho fiscal trouxe elementos que comprovam a impossibilidade de a empresa prestar os serviços que foram declarados. Assim, caberia à contribuinte trazer provas contrárias às alegações da fiscalização. E nada foi apresentado, tornando irreparável o trabalho fiscal. Portanto, também no que tange à glosa das despesas incorridas junto à empresa ECO, NEGÓCIOS & PLANEJAMENTO EMPRESARIAL LTDA., votase por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. 4) SOLUÇÕES & SOLUÇÕES NEGÓCIOS & PLANEJAMENTO EMPRESARIAL LTDA. CNPJ nº 12.770.276/000138. No caso da empresa da glosa das despesas incorridas com a empresa Soluções & Soluções, a acusação fiscal parte dos mesmos elementos que levaram às glosas acima analisadas: ausência de estrutura operacional, de empregados e outros meios para exercer o serviço de apresentação de "pareceres técnicos, assim como em orientar o Departamento Fiscal e Contábil" da contribuinte. A Recorrente alega, por sua vez, que "houve a prestação dos serviços e os pagamentos foram realizados via transferência bancaria!" Somente isso. A Recorrente não trouxe nenhum documento para comprovar suas alegações. Ora, se um dos serviços contratados seria a emissão de "pareceres técnicos", a Recorrente não possuiu nenhum deste pareceres? Como se davam as orientações aos Departamentos Fiscal e Contábil da empresa? Apenas de forma verbal? Não houve, definitivamente, a apresentação de elementos que pudessem descontruir as ilações do agente fiscal. Há de se ressaltar, inclusive, como muito bem consignado no acórdão proferido pela DRJ de Ribeirão Preto (SP), que a "empresa Soluções & Soluções teve como data de abertura 13/10/2010 e foi baixada por encerramento voluntário em 18/10/2012. Entretanto, emitiu, em 2013, notas fiscais de prestação de serviços para a contribuinte no total de R$ 3.314.433,93." Portanto, também no que tange à glosa das despesas incorridas junto à empresa Soluções & Soluções Negócios & Planejamento Empresarial Ltda., votase por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. Fl. 1649DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.650 25 DA COBRANÇA DO IRRF À ALÍQUOTA DE 35% SIMULTANEAMENTE COM A TRIBUTAÇÃO DO IRPJ E DA CSLL EM RAZÃO DA GLOSA DE DESPESAS. Em tópico específico, a Recorrente se insurge com relação à constituição do IRRF, sob o argumento de que os beneficiários foram identificados e que, eventual tributo devido por eles, em decorrência dos pagamentos realizados (objetos das glosas), devem ser cobrados diretamente daquelas pessoas jurídicas. E, neste ponto, de fato, a Recorrente tem razão em seu apelo. Explicase. O embasamento legal para tributação do IRRF, como consta do TVF, está arrimado no artigo 674, do RIR, que reproduz a redação do artigo 61 da Lei nº 8.981/95. Veja se o que consta dispositivo: “Art. 674: Está sujeito à incidência do imposto, exclusivamente na fonte, à alíquota de trinta e cinco por cento, todo pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado, ressalvado o disposto em normas especiais (Lei nº 8.981, de 1995, art.61). § 1º A incidência prevista neste artigo aplicase também, aos pagamentos efetuados ou aos recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, quando não for comprovada a operação ou a sua causa (Lei nº 8.981, de 1995, art.61, § 1º). § 2º Considerase vencido o imposto no dia do pagamento da referida importância (Lei nº 8.981, de 1995, art.61, § 2º). § 3º O rendimento será considerado líquido, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto sobre o qual recairá o imposto (Lei nº 8.981, de 1995, art.61, § 3º)”. (destacouse) Entretanto, é fácil perceber que a aplicação do artigo 61, da Lei nº 8.981/95 (art. 674 do RIR), está reservada apenas para aqueles casos em que há comprovação por parte do fisco de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, mas que não enseje na tributação do IRPJ e da CSLL, como no caso aqui analisado. E essa interpretação fica mais clara com a edição da Lei nº 9.249/95, uma vez que, por opção legislativa, o rendimento tributado na pessoa jurídica não será mais tributado na pessoa física ou em outra pessoa jurídica, que seriam beneficiárias daquele rendimento. Não se pode olvidar, ainda, que a Lei nº 9.249/95 revogou expressamente o artigo 44 da Lei nº 8.541/92, que previa a tributação na fonte, à alíquota de 25%, das situações em que se presumisse a distribuição aos sócios da receita omitida ou da parcela redutora do lucro líquido pela pessoa jurídica. Assim, o artigo 61, da Lei nº 8.981/95 não pode ser aplicado às situações que anteriormente eram acobertadas pelo revogado artigo 44, da Lei nº 8.541/92. Portanto, como mencionado, só se pode admitir a aplicação do artigo 61 para aquelas situações em que o fisco prove a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, não se admitindo, contudo, que aqueles valores relativos ao Fl. 1650DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.651 26 pagamento dito sem causa, também tenham impacto na apuração do IRPJ e da CSLL, como nos casos de glosa de despesas. Há, inclusive, precedente da Câmara Superior deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais neste sentido. Confirase a ementa do julgado: IRFONTE PAGAMENTO SEM CAUSA ART. 61 DA LEI N°8.981, DE 1995 LUCRO REAL REDUÇÃO DE LUCRO LIQUIDO MESMA BASE DE CÁLCULO INCOMPATIBILIDADE. A aplicação do art. 61 da Lei n° 8.981, de 1995, está reservada para aquelas situações em que o Fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, desde que a mesma hipótese não enseje tributação por redução do lucro líquido, tipicamente caracterizada por omissão de receita ou glosa de custos/despesas, situações próprias da tributação do IRPJ pelo lucro real. Precedente da CSRF. Acórdão n° CSRF/0401 094. Jul. 03/11/2008 Rel. Conselheira Ivete Malaquias Pessoa Monteiro. No caso concreto, por presunção, foi considerado omissão de receita o dinheiro creditado em conta bancária da empresa no dia 18/02/97. Assim, se houve receita omitida aumentouse o lucro e exigiuse IRPJ, CSLL, COFINS, PIS. Todavia, quando o dinheiro saiu do caixa da empresa para pagar, com juros, o valor que foi considerado receita omitida, tal importância não pode ser considerada pagamento sem causa, sob pena de efetivamente confirmar que não se tratava de receita omitida, mas sim empréstimo com obrigação de restituição dos valores. Recurso especial negado. (Acórdão nº 920200.686 Número do Processo 10730.004442/200212 Sessão de 13/04/2010). Desta feita, o lançamento de ofício deve ser anulado quanto ao IRRF, em face da evidente impossibilidade de concomitância com a tributação decorrente da glosa de custos e despesas por parte da fiscalização. Por todo o exposto, votase por DAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário relativamente à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos considerados como sem causa pela fiscalização, quando já houve a glosa dos despesas e a consequente tributação do IRPJ e da CSLL destes valores. DA MULTA QUALIFICADA Como consta do Termo de Verificação Fiscal, a motivação do agente autuante para qualificação da multa foi, em síntese, a seguinte: "Os fatos nesta ação fiscal demonstram a existência de esquema de fraude, com a simulação de operações falsas e inexistentes de prestação de serviços, com a utilização de documentos inidôneos, atos esses praticados com a finalidade precípua do não pagamento dos tributos e contribuições devidos, Fl. 1651DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.652 27 configurando a parte de crimes definidos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64, (...)" A turma julgadora a quo, no acórdão recorrido, quando da análise qualificação da multa aplicada pela autoridade fiscal, após se manifestar sobre as possibilidade para esta qualificação, assim se manifestou: Verificase que a fraude se caracteriza em razão de uma ação ou omissão, de uma simulação ou ocultação, e pressupõe sempre a intenção de causar dano à Fazenda Pública, num propósito deliberado de se subtrair no todo ou em parte a uma obrigação tributária. Assim, ainda que o conceito de fraude seja amplo, deve sempre estar caracterizada a presença do dolo, um comportamento intencional, específico, de causar dano à Fazenda Pública. No presente caso, houve a redução intencional do lucro tributável pela utilização de despesas suportadas por notas fiscais que não correspondiam a efetiva prestação de serviços, o que demonstra a ação voluntária e consciente de fraudar o fisco e de se furtar ao recolhimento de tributos. A Recorrente defendese, por outro lado, com o argumento de que todas as operações foram devidamente declaradas e que o fisco só chegou às suas conclusões porque o contribuinte apresentou toda a documentação que lhe foi solicitada. Assim, afirma que não houve "prática de qualquer ação tendente a excluir ou modificar as características essenciais do fato gerador, ou reduzir o montante do imposto / contribuição devido, ou, ainda, evitar ou diferir o pagamento de tais tributos". Pois bem. Como sabido, o parágrafo 1º do artigo 44, da Lei nº 9.430/96, determina a aplicação da penalidade em dobro quando constatada a prática de alguma das condutas previstas no artigos 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964. Citase: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Vide Lei nº 10.892, de 2004) (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Vide Lei nº 10.892, de 2004) (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) (...) § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) Por sua vez, os dispositivos da Lei nº 4.502/64 que autorizam a qualificação da multa são os seguintes: Fl. 1652DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.653 28 Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72 Não há dúvidas, aos olhos deste julgador, das condutas fraudulentas praticadas pelo contribuinte, no sentido de "excluir ou modificar as características essenciais" do fato gerador, com o único intuito de reduzir a carga tributária, nos exatos termos preconizados pelo artigo 72 da Lei nº 4.502/64. Repisese: consta dos autos a comprovação de condutas dolosas praticadas de acordo com os dispositivos acima transcritos. É fato nos autos que o contribuinte escriturou e se apropriou de despesas, sabidamente não dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSSL, utilizandose de Notas Fiscais emitidas por empresas que não lhe prestaram nenhum serviço. Chama atenção, inclusive que algumas das empresas tinham o mesmo endereço. Neste ponto, como muito bem colocado pelo agente autuante, a Recorrente "utilizou o esquema de fraude descrito para efetuar transferências bancárias para as contas bancárias abertas em nome das empresas La Barca, All Brand, Eco Negócios e Soluções & Soluções que são inexistentes e não tem capacidade operacional, simulando a regularidade de uma falsa prestação de serviço, utilizando empresas 'noteiras', sem funcionários, sem recursos e sem capacidade operacional, para possibilitar a realização de pagamentos a beneficiários ocultos e que não sejam identificados". Portanto, votase por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário, no ponto em que tenta demonstrar a impossibilidade de qualificação da multa ofício. DO RECURSO DE OFÍCIO Como se depreende do acórdão recorrido, a DRJ de Ribeirão Preto (SP) afastou a responsabilidade solidária imputada à empresa Gandini Participações e Representações Ltda. Em que pese ter sido mantido o crédito tributário, houve a exclusão de um dos sujeitos passivos pela turma julgadora a quo. Sendo esta uma das possibilidade de apresentação do Recurso de Ofício, como bem determina a Portaria MF nº 63/17, que tem a seguinte redação: Fl. 1653DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.654 29 Art. 1º O Presidente de Turma de Julgamento da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento (DRJ) recorrerá de ofício sempre que a decisão exonerar sujeito passivo do pagamento de tributo e encargos de multa, em valor total superior a R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais). § 1º O valor da exoneração deverá ser verificado por processo. § 2º Aplicase o disposto no caput quando a decisão excluir sujeito passivo da lide, ainda que mantida a totalidade da exigência do crédito tributário. (destacouse) No que tange ao valor de alçada, como se depreende dos autos, houve a constituição de crédito tributário de IRPJ, CSLL e IRRF, acrescidos de multa em valores muito superiores ao limite estabelecido por aquela Portaria. Assim, não restam dúvidas quanto ao cabimento do Recurso de Ofício, devendo ser objeto de análise por este colegiado. Como se denota do acórdão proferido pela DRJ de Ribeirão Preto (SP), a Turma Julgadora de origem, após fazer um interessante arrazoado acerca da possibilidade de imputação de responsabilidade, em especial no que se refere ao artigo 124, inciso I do CTN, afastou a responsabilidade solidária da empresa Gandini Participações e Representações Ltda., com base no seguinte entendimento: Quanto à empresa Gandini participações e Representações Ltda., sendo apenas sócia da contribuinte sem poder de gerência, entendo que não ficou configurado o interesse jurídico na situação que constituiu o fato gerador, tampouco ficou comprovada a sua atuação com excesso de poderes e infração à lei, razão pela qual devese afastar a responsabilidade tributária atribuída a ela. E não há reparos a se fazer na decisão recorrida neste ponto. Primeiramente, é preciso pontuar que, em que pese o Termo de Verificação Fiscal ter fundamentado a imputação de responsabilidade com base nos artigos 124, 135 e 137 do Código Tributário Nacional, o que se depreende dos Autos de Infração é que a responsabilidade foi imputada apenas com base no artigo 135 (sem que fosse citado o inciso) daquele Código. Contudo, como se depreende do TVF não há imputação de nenhuma conduta praticada pela Pessoa Jurídica a ensejar a sua responsabilidade. Há, inclusive, uma certa confusão do agente, que em um primeiro momento fala em responsabilidade por "excesso de poderes, Infração de Lei e Contrato Social" e depois, quando cita o artigo 124, I, argumenta pelo "interesse comum" das sociedades. Por outro lado, devese atentar que os dispositivos 135 e 137 , a princípio, não se aplicam às Pessoas Jurídicas, porque os atos listados como passíveis de imputação da responsabilidade tributária são pessoais. Vejase a redação dos mencionados artigo: Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos Fl. 1654DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.655 30 praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I as pessoas referidas no artigo anterior; II os mandatários, prepostos e empregados; III os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. Art. 137. A responsabilidade é pessoal ao agente: I quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito; II quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja elementar; III quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico: a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem respondem; b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes, preponentes ou empregadores; c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado, contra estas. Não há com imputar a responsabilidade solidária da Pessoa Jurídica, porque, sem o intermédio de um agente (diretor, gerente ou administrador, por exemplo), ela, por si só, não praticaria atos com excesso de poder ou aos estatutos, como determina o artigo 135, inciso III. Devese ressaltar, por outro lado, que a imputação de responsabilidade solidária com base no artigo 124, inciso I do CTN, a empresas do mesmo grupo econômico, sem que haja o apontamento das condutas praticadas pela Pessoa Jurídica não é aceita pelos Tribunais, em especial pelo Superior Tribunal de Justiça, como se verifica da ementa do acórdão abaixo transcrita. Confirase: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ISS. EXECUÇÃO FISCAL. PESSOAS JURÍDICAS QUE PERTENCEM AO MESMO GRUPO ECONÔMICO. CIRCUNSTÂNCIA QUE, POR SI SÓ, NÃO ENSEJA SOLIDARIEDADE PASSIVA. 1. O entendimento prevalente no âmbito das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte é no sentido de que o fato de haver pessoas jurídicas que pertençam ao mesmo grupo econômico, por si só, não enseja a responsabilidade solidária, na forma prevista no art. 124 do CTN. Ressaltese que a solidariedade não se presume (art. 265 do CC/2002), sobretudo em sede de direito tributário. Fl. 1655DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.656 31 2. Embargos de divergência não providos. (EREsp 834.044/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/09/2010, DJe 29/09/2010) Portanto, correto o entendimento do acórdão proferido pela DRJ, que afastou a imputação de responsabilidade solidária à empresa Gandini Participações e Representações Ltda, Desta forma, NEGASE PROVIMENTO ao Recurso de Ofício. DAS CONCLUSÕES Pelo tudo o que foi aqui exposto, concluise o presente voto da seguinte forma: NEGASE PROVIMENTO ao Recurso Voluntário, quanto às glosas das despesas que foram deduzidas da base de cálculo do IRPJ e CSLL, mantendose a constituição dos créditos tributários combatida pela Recorrente. DÁSE PROVIMENTO ao Recurso Voluntário relativamente à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos considerados como sem causa pela fiscalização, quando já houve a glosa dos despesas e a consequente tributação do IRPJ e da CSLL. NEGASE PROVIMENTO ao Recurso Voluntário, no ponto em que o Recorrente se insurge quanto à qualificação da multa. NEGASE PROVIMENTO, na totalidade, ao Recurso de Ofício. (assinado digitalmente) Flávio Machado Vilhena Dias Voto Vencedor Conselheiro Gustavo Guimarães da Fonseca Redator designado Não obstante as judiciosas ponderações do D. Relator, ouso discordar, apenas quanto a exigência do IRFonte, realizado como decorrência da aplicação dos preceitos do art. 61 da Lei 8.981/95. E, de imediato, me distancio da premissa adotada pelo D. Relator, segundo o qual a simples exigência do IRPJ e da CSLL, por conta das glosas realizadas, afastaria, de per si, a aplicação dos preceitos do art. 61 da Lei 8.981. De fato, a concomitância em questão (apontada pelo recorrente como bis in idem) não é razão, se tomada isoladamente, para afastar a exigência do IRFonte, até por uma lógica sistêmica... se, em uma ação fiscal, constatase a dedução, pelo contribuinte, de despesas pela contratação de serviços ou pela aquisição de mercadorias em que a operação não resta demonstrada (isto é, sem a prova da efetiva prestação de serviços ou aquisição de mercadorias), Fl. 1656DF CARF MF Processo nº 19515.721068/201719 Acórdão n.º 1302003.216 S1C3T2 Fl. 1.657 32 a própria causa do pagamento informado desaparece... isto é, os motivos pelos quais o contribuinte entregou a terceiro determinado valor se tornam obscuros o que, a teor dos preceitos da norma legal citada alhures, tipifica de forma hialina um de seus núcleos típicos: pagamento sem causa demonstrada. As ressalvas que tenho em casos em que se observa a exigência do IRPJ e da CSLL, por glosa de despesas, e, ao mesmo tempo, se cobra o IRFonte com espeque no art. 61, ora analisado, cingem às situações que este último tributo é lançado de forma automática, como consequência de registros contábeis que dão conta da realização, v.g., de créditos na conta caixa das empresas. Ora, vejam bem, o creditamento nesta conta contábil, como contrapartida das contas de ativo (estoques) e/ou passivos (obrigações perante terceiros), é consequência lógica do registro de despesas pretensamente (in)dedutíveis, e não um prova, concreta e objetiva da ocorrência de um pagamento (lembremse que o próprio art. 923 do antigo RIR art. 967 do diploma atualmente em vigor atribui à escrita contábil força probandi se e quando lastreada em documentos idôneos). Em outras palavras, somente me oponho à cobrança do IRFonte, cumuladamente com o IRPJ e a CSLL, exigidos em decorrência da glosa de despesas, se, e quando, não comprovado, nos autos, o efetivo pagamento incorrido pelo contribuinte (ou seja, quando a exigência do IRFonte seja mera decorrência automática, v.g., do registro de créditos em contacaixa). Outra interpretação, resultaria em assunção de presunção quanto a ocorrência do fatotípico em caso em que a lei não preconiza o uso desta mesma presunção... Se, outrossim, for demonstrado por meio de extratos bancários, cópias de cheques ou de comprovantes de transferência o pagamento das despesas (efetivo dispêndio de numerário e não mero registro contábil), e não for comprovado, pelo contribuinte, a efetiva prestação dos serviços, ou aquisição de mercadorias, como já alertei, entendo ser cabível a exigência do IRFonte. E este, digase, é exatamente o caso dos autos, já que os pagamentos que deram causa à cobrança do IRRF se encontram efetiva e concretamente comprovados (inclusive pelo próprio contribuinte) neste feito. Por estas razões entendi correta a exigência. Isto posto, divergindo do Dr. Relator apenas no ponto acima tratado, voto por negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Gustavo Guimarães da Fonseca Fl. 1657DF CARF MF
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