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Numero do processo: 19515.720878/2014-05
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jul 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Aug 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 31/01/2010 a 31/12/2010
Ementa:
AUTUAÇÃO. CONCEITOS. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO NORMATIVA.
Deve a fiscalização calcar a autuação nos conceitos disponíveis nos dispositivos normativos vigentes que regem a matéria analisada, sob pena de improcedência.
Numero da decisão: 3401-003.908
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício.
ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice-presidente).
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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CONCEITOS. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO NORMATIVA. Deve a fiscalização calcar a autuação nos conceitos disponíveis nos dispositivos normativos vigentes que regem a matéria analisada, sob pena de improcedência. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício. ROSALDO TREVISAN – Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vicepresidente). Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 72 08 78 /2 01 4- 05 Fl. 18481DF CARF MF 2 Versa o presente sobre Autos de Infração de fls. 17574 a 17596, e 17597 a 176191, datados de 20/08/2014 (com ciência na mesma data – fls. 15575 e 15597), para exigência de Contribuição para o PIS/PASEP e COFINS, referentes ao ano de 2010, nos valores originais de R$ 13.571.801,58 e R$ 65.147.049,23, respectivamente, acrescidos de juros de mora e de multa de ofício (75 %), por insuficiência de recolhimento, detalhada em Termo de Verificação Fiscal (TVF). No TVF de fls. 15794 a 15818, narra a fiscalização que: (a) a recorrente é subsidiária da Jaguar Land Rover Exports Limited (nova denominação de Jaguar Cars Exports Limited) e da Jaguar Cars Limited, sociedades estrangeiras organizadas e existentes de acordo com as leis do Reino Unido e do País de Gales, e distribuidora, no Brasil, de veículos, autopeças e produtos das marcas Jaguar e Land Rover; (b) a recorrente adquire veículos para transporte de passageiros e cargas (posições NCM 8703 e 8704) importados “por encomenda”, por meio da empresa importadora “COTIA Vitória Serviços e Comércio S.A.” – trading company; (c) intimada a esclarecer a não tributação de Contribuição para o PIS/PASEP e COFINS nas receitas de vendas dos produtos enquadrados nas posições 8703 e 8704 da NCM, a recorrente informou que as operações ocorrem como previsto na Lei no 11.281/2006 e na IN SRF no 634/2006, que disciplinam as importações por encomenda, que a venda dos veículos feita à recorrente pela trading company fica sujeita à incidência dos tributos, e que a revenda, pela recorrente a terceiros, é tributada normalmente pelo IPI, mas as contribuições são tributadas segundo as regras do regime monofásico, incidindo somente na etapa anterior – venda à recorrente, pela trading company; (d) no contrato de compra e venda por encomenda (entre a recorrente, o exportador e a trading company), há compromisso de exclusividade na revenda, e cláusula de formação de preços; (e) dos termos da proposta de formação de preços, concluise que a trading company não realiza a encomenda no sentido pretendido e formalizado pela recorrente, agindo como verdadeira mandatária do encomendante (fls. 15799/15800), não havendo margem de lucro pela trading company (exemplo às fls. 15801/15802); (f) até a edição da Lei no 11.281/2006, que disciplinou a importação por encomenda, as empresas realizavam importações por conta e ordem (sendo a trading company mera prestadora de serviços, com incidência das contribuições apenas sobre os serviços prestados, e a adquirente contribuinte do IPI e responsável solidária em relação ao imposto de importação e às contribuições) e direta, com revenda (importação pela trading company company com venda de mercadoria nacionalizada, com pagamento de tributos, à recorrente); (g) nas operações de importação por encomenda, a encomendante é contribuinte do IPI, e responsável solidária pelo recolhimento imposto de importação, mas não das contribuições; (h) no caso em análise, houve flagrante redução dos valores devidos a título de contribuições, visto que a trading company vende veículos à recorrente pelo valor da aquisição acrescido de despesas de importação, nacionalização e financeiras, caracterizando um pagamento pela prestação de serviços executados; (i) o § 2o artigo 11 da Lei no 11.281/2006 dispõe que a operação de comércio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condições estabelecidos para importações por encomenda são presumidas por conta e ordem de terceiros; e (j) pelo exposto, a fiscalização considera que as importações deveriam ter sido efetuadas na modalidade “por conta e ordem”, constituindo os créditos referentes às contribuições, utilizando o valor da venda da recorrente às concessionárias, deduzindo os valores de IPI e ICMSSubstituição Tributária. Segue à descrição dos fatos do TVF argumentação geral sobre planejamento tributário (fls. 15807 a 15809) e descrição do valor tributável e da alíquota (fl. 15810), assim como do enquadramento legal (fls. 15810/15811). Ainda no mesmo TVF, a fiscalização imputa infração de falta de recolhimento das contribuições no que se refere a alíquotas diferenciadas para autopeças (fls. 15811 a 15815), sob os seguintes fundamentos: (k) 1 Todos os números de folhas indicados nesta decisão são baseados na numeração eletrônica da versão digital do processo (eprocessos). Fl. 18482DF CARF MF Processo nº 19515.720878/201405 Acórdão n.º 3401003.908 S3C4T1 Fl. 18.482 3 há divergência entre DIPJ e DACON/DCTF (que informam exclusivamente alíquotas diferenciadas de 2,3% e 10,8%); (l) intimada, a recorrente informou haver erros de lançamento nas DIPJ, justificandoos, e que houve, também, erro nos DACON, que trataram a totalidade das operações com alíquotas diferenciadas, quando havia operações com alíquotas normais (1.65% e 7,6%); (m) com base em planilha apresentada pela recorrente, foram apurados valores das contribuições a recolher nos meses de fevereiro, abril e dezembro de 2010, sendo que, nos demais, os valores de créditos superam os apurados; (n) intimada a retificar DACON, a empresa apresentou arquivo segregando os produtos por alíquotas nãocumulativa e monofásica, restando diferença a recolher em abril de 2010; (o) para levantar os valores tributáveis, foram levadas em conta duas situações: (o1) crédito calculado no próprio período de ocorrência da infração, mas descontado em períodos posteriores; e (o2) crédito calculado em período de apuração anterior ao da ocorrência da infração e já descontado em período posterior ao mês da ocorrência da infração; e (p) em ambas as situações, efetuouse o aproveitamento de ofício do crédito, prioritariamente no próprio período de apuração, havendo necessidade de lançamento reflexo, em razão do deslocamento de créditos. Em 18/09/2014 (fl. 17627), foi apresentada a Impugnação de fls. 17629 a 17701, na qual se argumenta, em síntese, que: (a) a recorrente, desde o início de suas atividades no Brasil, por não possuir estrutura interna e experiência no país para operacionalizar as importações, optou por contratar trading company, a fim de que esta realizasse as importações; (b) até 2009, quem comercializava e importava tais veículos, no Brasil, era a “FORD”, por meio da mesma trading company, com estrutura e renome, e que permitia usufruir de benefício fiscal de ICMS, o FUNDAP/ES; (c) a legislação admite duas formas de importação via terceiros: a conta e ordem (necessariamente com recursos do adquirente) e a encomenda (com recursos da trading company e assunção de riscos), esta última instituída somente pela Lei no 11.281/2006, e regulada pela IN SRF no 634/2006; (d) as formas de importação são sujeitas a regimes contábeis e tributários distintos, no que se refere à propriedade dos veículos, e à habilitação para operar no SISCOMEX, e, no presente caso, houve claramente importações por encomenda, sendo que a própria fiscalização reconhece que nunca houve adiantamento por parte da recorrente à trading company; (e) a trading company assumiu todo o risco comercial, cambial e de crédito relativos ao negócio, e não apenas realizou a importação de veículos, mas também agregou a tais bens itens de segurança legalmente exigidos, com acréscimo de valor local, como mencionado no TVF; (f) para os veículos classificados nas posições 8703 e 8704 da NCM, a legislação que rege as contribuições estabelece tributação com alíquotas diferenciadas majoradas (2% e 9,6%), de acordo com a sistemática monofásica, com tributação em uma única fase da cadeia de fabricação e circulação, concentrada no importador ou fabricante; (g) foram cumpridos todos os requisitos para a importação por encomenda, no caso, e a fiscalização não aponta o descumprimento de nenhum de tais requisitos; (h) o artigo 11 da Lei no 11.281/2006 deixa claro que a importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros, participando ou não o encomendante das operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior; (i) a própria fiscalização reconhece as operações como “por encomenda” as operações nas quais a trading company assume os riscos da operação, conforme Solução de Consulta no 332/2011, e não estabelece restrições à utilização em casos de tributação monofásica, conforme Solução de Consulta no 99/2011; (j) a circunstância de a pessoa jurídica encomendante e o exportador serem pessoas ligadas não impede nem invalida a realização de importações sob a modalidade de encomenda, e a legislação expressamente o reconhece ao tratar de regras de preços de transferência para importações por encomenda (artigo 14 da Lei no 11.281/2006); (k) ainda que não exista obrigatoriedade na legislação e que haja lucro pela trading company, o raciocínio de que não Fl. 18483DF CARF MF 4 haveria margem de lucro à trading company nas operações em análise, desenvolvido pela fiscalização, é tortuoso, e a planilha, exemplificativa, como reconhece o próprio fisco, não permite extrair conclusões gerais, visto que a trading company embute obviamente seu lucro nas rubricas referentes a custos, havendo lucro mesmo no exemplo citado pelo fiscal, como se demonstra à fl. 17654; (l) a especulação do fisco, mediante interpretação econômica, sobre o que poderia ser feito pela empresa não encontra guarida normativa, e não houve, no caso, planejamento tributário ou dissimulação, mas adoção legítima da sistemática de importação por encomenda; (m) a autuação é, portanto, carente de fundamento e avessa à legalidade estrita, à tipicidade cerrada e à reserva legal; (n) em casos semelhantes, o CARF cancelou a autuação (Acórdãos no 20313.027, e no 3402001.908 e no 3403002.519); e (o) ad argumentandum tantum, a autuação é insanavelmente nula, em decorrência da apuração incorreta da base de cálculo, por desconsideração de créditos das contribuições decorrentes da desconstituição da operação (que deveriam ter sido considerados, para evitar uma incidência monofásica duplicada). Sobre a incidência das contribuições em relação a vendas de autopeças, a recorrente sustenta que (p) as operações envolvendo autopeças por si só não geraram qualquer ausência de recolhimento ou recolhimento a menor das contribuições, decorrendo a exigência exclusivamente da circunstância de o fiscal ter considerado as vendas de veículos como sujeitas à incidência monofásica das contribuições, como se demonstra das planilhas de fls. 18383 e 18385 (anexos H e I da Impugnação). Por fim, sustenta a recorrente que (q) descabe a aplicação da Taxa SELIC sobre a multa de ofício lançada. A decisão de primeira instância, proferida em 14/04/2015 (fls. 18400 a 18425) foi, unanimemente, pela procedência da impugnação, cancelandose totalmente o lançamento, sob os fundamentos de que: (a) parcela substancial dos argumentos da fiscalização, de que a trading company não realizaria as importações no sentido formalizado pela autuada, queda irrelevante para efeito da reclassificação da modalidade de importação (reputandoa por conta e ordem, no lugar de por encomenda), na medida em que é incontroverso que foram as importações levadas a efeito integralmente com recursos da pessoa jurídica importadora – trading company, e não da encomendante predeterminada; (b) as modalidades de importação por conta própria, por conta e ordem e por encomenda são todas lícitas, sendo uma opção do importador atuar mediante uma ou outra, não podendo a fiscalização cercear tal opção, de modo a obrigar a prática de atos de modo a maximizar a tributação; (c) a alegação fiscal de ausência de lucro da trading company é limitada a análise superficial da chamada formação de preços de venda; (d) a fiscalização não comprova a existência de mecanismo abusivo ou artificioso que justificasse a autuação; e (e) no que se refere à suposta insuficiência de recolhimento em relação a autopeças, a despeito da reconhecida divergência entre DACON, DIPJ e escrituração fiscal (com destaque ao fato de que as receitas informadas por intermédio do DACON foram consideradas como se sujeitas fossem às alíquotas majoradas próprias do regime monofásico da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, respectivamente de 2,3% e 10,8%, enquanto existem montantes que deveriam ter sido submetidos às alíquotas do regime não cumulativo, de 1,65% e 7,6%), de se observar que as deduções pela autoridade fiscal acusadas nos respectivos demonstrativos de apuração das contribuições incidentes sobre o faturamento, correspondentes aos valores pagos/declarados a serem subtraídos das contribuições apuradas de forma a se obter as devidas, superam, em vista da exoneração da parcela atinente aos veículos classificados sob as posições 8703 e 8704, as importâncias remanescentes a título de referidas contribuições apuradas, frustrando, por conseguinte, a subsistência de eventual exigência a ser levada a efeito. A Fazenda Nacional, ciente da decisão de piso em 24/07/2015, apresenta Razões ao Recurso de Ofício em 17/09/2015 (fls. 18438 a 18453), traçando análise histórica das modalidades de importação, no Brasil, e defendendo, basicamente, que: (a) no caso, as características das operações realizadas entre as partes do processo (existência de único contrato, ao invés de dois contratos distintos; exclusividade na alienação; composição de preço Fl. 18484DF CARF MF Processo nº 19515.720878/201405 Acórdão n.º 3401003.908 S3C4T1 Fl. 18.483 5 atrelada apenas a custos; negociação entre exportador e “encomendante”/adquirente) permitem identificálas como importação por conta e ordem de terceiro, por se tratarem de prestação de serviços, e não por encomenda, como declarado pela autuada; (b) o fisco não está discutindo a possibilidade de a empresa se valer de determinada espécie de operação prevista em lei, mas apenas questiona é se a forma jurídica adotada efetivamente corresponde à realidade; e (c) no que diz respeito a origem dos recursos, a legislação admite, na importação por conta e ordem, que a trading realize os pagamentos ao fornecedor no exterior, e, ainda assim a importação será por conta da adquirente, que irá reembolsar a mandatária pelos gastos incorridos, exatamente como ocorreu nos autos. A recorrida, tendo ciência das razões apresentadas pela Fazenda Nacional (não consta a data de ciência nos autos), apresenta, em 19/10/2015 (fls. 18456 a 18475), Contrarrazões, no sentido de que o documento indevidamente apresentado pela Fazenda deve ser desconsiderado pelo CARF, por falta de previsão legal. No mais, reitera, em síntese, as razões de defesa expressas em sua impugnação, em oposição ao recurso de ofício. Em 22/07/2016 o processo foi a mim distribuído, por sorteio, visto que o relator original não mais compunha o colegiado. O processo não foi indicado para pauta nos meses novembro e dezembro de 2016, por estarem as sessões suspensas por determinação do CARF. O processo, derradeiramente, não foi indicado para o mês de janeiro de 2017, por ser a pauta mera reprodução da referente ao mês de outubro de 2016, que também teve a sessão suspensa por determinação do CARF. De fevereiro a junho de 2017 o processo foi indicado para pauta, mas não pautado, em função do excesso de número de processos a julgar. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan, relator O recurso de ofício foi interposto com respeito aos preceitos normativos que o regem, e, portanto, dele se toma conhecimento. As razões da Fazenda para apoiar o recurso de ofício, quase dois meses após a ciência pessoal do procurador, e as contrarrazões apresentadas pela recorrente (ambas exclusivamente em relação ao item 1 da autuação – referente a veículos) serão ainda tomadas em conta, aqui, a título esclarecedor, no que se refere a razões de direito, que nada inovam em relação ao já constante na autuação. Cabe, logo de início, reiterar que a autuação se desmembra em duas partes, uma referente a veículos e outra relativa a autopeças, ordem pela qual transcorrerá também o presente voto. No que se refere a veículos, a autuação demonstra mácompreensão ou discordância das definições normativamente estabelecidas para importações por encomenda. Fl. 18485DF CARF MF 6 Vejamse as esclarecedoras disposições da Lei no 11.281/2011, a começar pelo artigo 11, em sua redação original: “Art. 11. A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros. § 1o A Secretaria da Receita Federal: I estabelecerá os requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica importadora na forma do caput deste artigo; e II poderá exigir prestação de garantia como condição para a entrega de mercadorias quando o valor das importações for incompatível com o capital social ou o patrimônio líquido do importador ou do encomendante. § 2o A operação de comércio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condições estabelecidos na forma do § 1o deste artigo presumese por conta e ordem de terceiros, para fins de aplicação do disposto nos arts. 77 a 81 da Medida Provisória no 2.15835, de 24 de agosto de 2001.” (grifo nosso) (tais artigos tratam da responsabilidade solidária pelo imposto de importação – art. 77; da responsabilidade por infrações aduaneiras – art. 78; da equiparação a estabelecimento industrial – art. 79; do estabelecimento de requisitos e garantias pela SRF – art. 80; e das normas de incidência das contribuições para o PIS/PASEP e COFINS sobre a receita bruta do importador – art. 81) Caso a fiscalização desejasse comprovar que a importação se deu na modalidade “por conta e ordem”, bastaria indicar, objetivamente, entre os requisitos e condições fixados pela própria RFB, na IN SRF no 634/2006, qual foi descumprido. Tal Instrução Normativa exige informação em campo próprio da Declaração de Importação, habilitação de ambas as partes envolvidas na importação para operar no SISCOMEX, manutenção de documentos em boa guarda e ordem e apresentação à fiscalização quando demandado, e atendimento de eventuais prestações de garantia. E esclarece ainda a IN, no parágrafo único de seu artigo 1o, que: “Não se considera importação por encomenda a operação realizada com recursos do encomendante, ainda que parcialmente”. Ou seja, pelo exposto na IN, bastaria comprovar que os recursos que financiaram a operação eram do encomendante, e não da trading company, para descaracterizar a operação da modalidade por encomenda, enquadrandoa como “por conta e ordem”. Mas não aponta o fisco, no caso concreto, nenhum descumprimento de requisito. Pelo contrário, endossa que a operação se reveste das características que a lei e a norma infralegal designam para as operações por encomenda. O referido artigo 11 da Lei recebeu um § 3o, em 2007, acrescentado pela Lei no 11.452, de modo a “pacificar a interpretação dada pela administração tributária federal às operações de importação de que trata o art. 11” (conforme parecer do relator, Deputado Neucimar Fraga/PLES, na conversão da MP no 328/2006 na Lei no 11.452, disponível em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=430948&filename= PPP+1+MPV32806+%3D%3E+MPV+328/2006): Fl. 18486DF CARF MF Processo nº 19515.720878/201405 Acórdão n.º 3401003.908 S3C4T1 Fl. 18.484 7 “§ 3o Considerase promovida na forma do caput deste artigo a importação realizada com recursos próprios da pessoa jurídica importadora, participando ou não o encomendante das operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior.” (grifo nosso) Por certo que tal dispositivo foi inserido pelo parlamentar capixaba em prol das empresas daquela região que atuam com os benefícios do FUNDAP, para aclarar que as importações por encomenda não se descaracterizam pelo simples fato de haver participação do encomendante nas operações comerciais, mitigando autuações frequentes da RFB, à época, com entendimento diverso. Assim, é irrelevante, por si, a ligação entre a exportadora e a encomendante, ou a participação desta ou daquela na fixação de preços. Aliás, o artigo 14 da Lei no 11.281/2011, em sua redação original, afirma que são aplicáveis ao importador e ao encomendante as regras sobre preços de transferência, já prevendo eventual vinculação entre partes, e que esta não descaracterizaria, por si, a modalidade de importação por encomenda. Poderia a RFB ter manifestado oposição a tal parágrafo acrescentado, que figurou como artigo 18 da Lei no 11.452/2007, ou ainda poderia o Ministério da Fazenda ter vetado o dispositivo (como fez, na mesma lei, com os artigos 15, 16 e 17, geograficamente vizinhos). Aliás, poderia a RFB ter, na própria Lei no 11.281/2006, que resultou da conversão da MP no 267/2005, ter inserido dispositivo semelhante ao que incluiu na importação por conta e ordem – artigo 81 da MP no 2.15835/2001: “Art. 81. Aplicamse à pessoa jurídica adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso da importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora, as normas de incidência das contribuições para o PIS/PASEP e COFINS sobre a receita bruta do importador.” (grifo nosso) Ambas as questões são de lege ferenda. Não pode a fiscalização agora, simplesmente discordar do dispositivo ou afirmar que a empresa está a praticar operação distinta com base em conceito de “conta e ordem” e “encomenda” que não encontram guarida na própria legislação. Ademais, a fiscalização sequer é conclusiva em apontar eventual fraude ou simulação, e aplica – recordese – multa não majorada, no percentual de 75%, ao caso. Nas palavras da fiscalização (fl. 15806): Fl. 18487DF CARF MF 8 Afirmar que não há risco no negócio, por serem as empresas vinculadas, descaracterizando a modalidade de importação, afronta os comandos legais que acabamos de analisar, e contemplam a vinculação entre exportador e encomendante dentro da modalidade de importação por encomenda. O autuante retira seus conceitos de importação por conta e ordem e importação por encomenda, atrelandoos a “ausência de risco no negócio”, que derivaria de vinculação entre as empresas exportadora e encomendante, sem indicar qual norma o dispõe. Por isso afirmamos de início que o autuante ou compreende mal, ou diverge dos comandos normativos de ordem legal e infralegal que regem a matéria. A afirmação de ausência de lucro é exemplificativa e especulativa, sem qualquer análise mais aprofundada por parte da fiscalização, que, como destacou o julgador de piso, foi superficial (fl. 18423): O fisco, detectando ausência de propósito negocial e operação dissimulada (conta e ordem travestida de encomenda), ainda assim parece não estar convencido do cometimento de qualquer fraude (até pelo percentual da multa de ofício aplicada – 75%). E conclui apenas que “considera que deveriam” as operações ser efetuadas na modalidade de importação por conta e ordem (fl. 15807): A inconclusividade das afirmações fiscais, mesclada à dissonância em relação aos comandos legais que regem a matéria, apontam exatamente para o caminho que a DRJ unanimemente adotou em sua decisum, de improcedência da autuação, no mérito. O julgador de piso, aliás, pareceu afastar a autuação não somente no mérito, mas também em virtude de nulidades, como se percebe de excerto do voto condutor (fl. 18414): Fl. 18488DF CARF MF Processo nº 19515.720878/201405 Acórdão n.º 3401003.908 S3C4T1 Fl. 18.485 9 De fato, a autuação, ao contrário da defesa, que adota linha uma (de que houve importação por encomenda, com incidência monofásica das contribuições, seguindo expressas disposições legais), a autuação opera linha dúplice (importação por conta e ordem, com incidência monofásica, seguida de nova incidência monofásica, sem qualquer fundamento normativo). Fosse apenas uma questão de recálculo, discordaríamos do julgador de piso, pois entendemos que este tribunal administrativo (assim como aquele) pode determinar à autoridade da RFB encarregada da execução do acórdão que expurgue determinadas parcelas do montante lançado, não sendo o simples erro de cálculo ou o erro na base de cálculo ensejador de nulidade. Sem embargo, no presente caso, haveria verdadeira necessidade de reapuração da base de cálculo (e não um simples recálculo), tomando em conta créditos que deveriam ter sido computados, e ainda deveriam ser objeto de análise em fiscalização diversa, o que implica a improcedência, e não a nulidade da autuação. Assim, apesar de discordarmos da DRJ no que se refere a haver nulidade no presente processo, com ela acordamos no sentido de que a autuação deve ser cancelada, seja pela carência de fundamentação normativa, seja pela equivocada metodologia de cálculo. Pelo exposto, e com as aparas aqui efetuadas, nego provimento ao recurso de ofício em relação a este item. No que se refere a importações de autopeças, o recurso de ofício tem por objetivo analisar o único parágrafo que a DRJ dedica ao tema, em sua decisão (fl. 18424): Percebase que a autuação, em tal item, apesar de nascer de fundamento diverso – divergência entre DACON/DIPJ e escrituração fiscal (valores e falta de discriminação dos produtos por alíquota das contribuições) – culmina na mesma problemática do item anterior, pois a metodologia de cálculo, ao fim e ao cabo, esbarra no que a autuação chama de “ocorrência da infração” (fl. 15815): Fl. 18489DF CARF MF 10 No caso das autopeças, até são descontados créditos, referentes à não cumulatividade. No entanto, seu valor é mitigado em função dos montantes apurados no item 1, referente a veículos. A improcedência em relação ao item 1 (veículos), assim, conspurca o resultado obtido no item 2 (autopeças). E, a exemplo do que dispusemos no item 1, não vemos na metodologia de cálculo equivocada motivo para nulidade, mas sim para improcedência da autuação. Assim, também neste item, com a apara efetuada, nego provimento ao recurso de ofício. Pelo exposto, voto por negar provimento ao recurso de ofício interposto. Rosaldo Trevisan Fl. 18490DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.000013/2009-07
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 31 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Oct 05 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 3401-001.185
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
RESOLVEM os membros do Colegiado, por maioria de votos, converter o julgamento em diligência, para verificar a inclusão na autuação de operações alegadas de simples revenda e se houve aproveitamento de créditos, nas respectivas aquisições, dessas operações de revenda; além de confirmar a existência de saídas alegadas já anteriormente tributas. Vencidos os Conselheiros Cleber Magalhães e Fenelon Moscoso de Almeida, Relator, que negavam provimento ao recurso voluntário apresentado. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Tiago Guerra Machado.
FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA Presidente substituto e Relator
TIAGO GUERRA MACHADO Redator designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Fenelon Moscoso de Almeida (Presidente substituto), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge DOliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco. Participou do julgamento, em substituição ao Conselheiro Rosaldo Trevisan, o Conselheiro suplente Cleber Magalhães.
Nome do relator: FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA
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RESOLVEM os membros do Colegiado, por maioria de votos, converter o julgamento em diligência, para verificar a inclusão na autuação de operações alegadas de simples revenda e se houve aproveitamento de créditos, nas respectivas aquisições, dessas operações de revenda; além de confirmar a existência de saídas alegadas já anteriormente tributas. Vencidos os Conselheiros Cleber Magalhães e Fenelon Moscoso de Almeida, Relator, que negavam provimento ao recurso voluntário apresentado. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Tiago Guerra Machado. FENELON MOSCOSO DE ALMEIDA – Presidente substituto e Relator TIAGO GUERRA MACHADO – Redator designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Fenelon Moscoso de Almeida (Presidente substituto), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D’Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco. Participou do julgamento, em substituição ao Conselheiro Rosaldo Trevisan, o Conselheiro suplente Cleber Magalhães. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 10 80 .0 00 01 3/ 20 09 -0 7 Fl. 3861DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.862 2 Relatório Versa o presente sobre Auto de Infração (fls.1 3407/3413), lavrado e cientificado pessoalmente em 06/01/2009, para exigência de Imposto sobre Produtos Industrializados IPI, no valor de R$2.743.101,44, acrescidos de multa de oficio e juros de mora, em razão de infração por: (1) erro de classificação fiscal e/ou alíquota (arts. 15, 16 e 17, do Decreto nº 4.544/02 RIPI/2002, com fulcro nos art. 10, da Lei nº 4.502/64; e art. 3º, do Decretolei nº 1.154/71), no período de 01/01/2004 a 31/08/2008, segundo TERMO DE VERIFICAÇÃO FISCAL TVF, às fls. 3414/3435. No TVF, restou consignado que o lançamento decorreu do fato de ter a fiscalizada, em parte de suas vendas, deixado de destacar ou ter destacado a menor o IPI, nos documentos fiscais de saída dos produtos industrializados, referidos no item 8 (fls. 3420/3433) do citado termo, infringindo os dispositivos legais nele mencionados. Constatou a fiscalização que, via de regra, a fiscalizada não destaca o IPI na saída dos produtos industrializados por encomenda; e que destacou a menor o imposto na saída de alguns dos produtos que industrializa, por adotar classificação e alíquota incorretas. Cientificada pessoalmente do Auto de Infração, em 06/01/2009, apresentou Impugnação, em 05/02/2009 (fls. 3457/3477), alegando, em síntese emprestada da decisão recorrida: "Primeiramente solicita a realização de perícia contábil e fiscal frente ao que diz serem inconsistências que redundaram em erros no auto de infração. Da mesma forma para restabelecer o equilíbrio entre fisco e contribuinte à vista de que os fiscais levaram mais de seis meses na elaboração de seu trabalho e ao contribuinte é dado o prazo de apenas trinta dias para exercer sua defesa, em flagrante desrespeito ao principio constitucional da isonomia. A seguir relata que a autuada não é empresa que atua exclusivamente como indústria, realizando também operações de compra e venda de produtos e de embalagens sem qualquer tipo de operação que possa se caracterizar como industrialização, ao contrário do que deixa transparecer o relatório fiscal. Assevera que analisando o objeto social da autuada e os documentos juntados aos autos constatase que as embalagens plásticas por ela comercializadas são exclusivamente para acondicionar produtos alimentícios o que significa que a alíquota a ser aplicada para esses produtos deve ser 0%, colacionando jurisprudência do TRF da 4ª Região. Alega que vários itens que foram objeto da autuação são especificamente utilizados para embalar produtos alimentícios, estando, portanto, sujeitos à alíquota 0% e não à alíquota de 15% como entendeu o fisco. Reforça que o estabelecimento além dos produtos que industrializa, também dá saída a diversos produtos que adquire de terceiros e que são revendidos sem realizar qualquer tipo de operação de industrialização, como preconizam os arts. 3° e 4° do Regulamento do IPI e 46 e seu parágrafo único do CTN, pelo que entende ser sua tributação indevida e inaceitável. 1 Todos os números de folhas indicados neste documento referemse à numeração eletrônica do eprocesso. Fl. 3862DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.863 3 Na seqüência passa a combater item a item os produtos autuados pela fiscalização constantes do Termo de Verificação Fiscal. Diz estar completamente equivocada a fiscalização ao classificar os produtos descritos como "Fogos Fonte Estrelada c/ 1" no código 3604.10.00 como Fogos de Artifício, pois tais produtos nada mais são que velas de aniversário que são classificadas no código 3406.00.00, sujeitos à alíquota 0%. No que diz respeito aos filmes de PVC, transparentes, termocontráteis, de espessura menor ou igual a 250 microns afirma que já teria tributado vários desses itens à alíquota de 15% e que a fiscalização incorreu em erro ao considerar que a autuada teria dado saída aos produtos com alíquota zero. Outrossim, alega que vários desses itens não são tributados por se tratarem de simples revenda. Quanto às bobinas de películas de poliésteres descritas como "Bobinas p/ churrasco" classificadas pela fiscalização no código 3920.69.00, igualmente, afirma que já foram tributadas à alíquota de 15%. Quanto aos sacos de polietileno para embalagem de capacidade inferior a 1.000 cm3 classificados pela fiscalização no código 3923.21.10 diz adquirir diversos desses produtos de terceiros e revende sem qualquer tipo de industrialização. Por outro lado, diz que outros itens, como "sacos plásticos p/congelados" já foram tributados pela interessada à alíquota de 15%. Por sua vez os sacos de polietileno para embalagem de capacidade superior a 1.000 cm³ classificados pela fiscalização no código 3923.21.90 mais uma vez alega que adquire diversos desses produtos de outras empresas e revende sem qualquer tipo de alteração ou modificação que caracterize industrialização. Outrossim outros itens como "bobinas plásticas conservbem" já foram tributados pela autuada à alíquota de 15%. Quanto aos utensílios de mesa e cozinha de plástico classificados pela fiscalização no código 3924.10.00, mais uma vez afirma que em relação às saídas de vários desses itens tratase de simples revenda na própria embalagem da empresa que os industrializa, e, inobstante, outros itens já são por ela tributados à alíquota de 10%. Quanto aos artigos de plástico de uso doméstico (prendedor de roupas) classificados no código 3924.90.00 alega serem objeto de simples revenda. O mesmo alega em relação a vários envelopes de papel classificados pela fiscalização no código 4817.10.00. Outrossim afirma já ter tributado outros envelopes do mesmo código com alíquota de 5%. Diz o mesmo ocorrer com os guardanapos de papel classificados pela fiscalização no código 4818.30.00. Da mesma forma diz se dar com o papel bala seda classificado no código 4818.90.90. Mais uma vez, em relação à embalagem de saco de papel para alimentos com base de largura inferior a 40 cm classificadas pela fiscalização no código 4819.40.00, diz tratarse de mera operação de revenda. Quanto as formas de papel manifesta sua inconformidade com a classificação adotada pela fiscalização no código 4819.50.00, postulando que o Fl. 3863DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.864 4 enquadramento mais adequado seria na posição 4811, ou mesmo na posição 4810, com alíquota de 5%, argumentando que a classificação fiscal do produto "deve atender a sua especificidade e destinação, levandose em conta ainda a sua composição e formato". Aduz que segundo a regra de interpretação adotada pela TIPI a posição mais específica prevalece sobre a mais genérica e que os produtos que possam ser enquadrados em mais de uma posição específica devem ser classificados pela sua característica essencial. Evoca, ainda, o princípio da seletividade do IPI insculpido no art. 48 do CTN e no art. 153, § 3°, I da Carta Constitucional de 1988. Inconformase também a autuada com a classificação adotada pelo fisco para as bandejas e pratos de papel no código 4823.69.00, com alíquota de 15%, por trataremse de produtos laminados, sendo, segundo ela, a classificação correta no código 4811.51.29 com alíquota de 5%. Alega ainda que parte desses produtos são objeto de simples revenda e, assim, não tributados pelo IPI. Em relação às folhas delgadas de alumínio simplesmente laminadas do código 7607.11.90 diz que igualmente são produtos para revenda que não se submetem a qualquer processo de industrialização por parte da autuada. Igualmente ocorre em relação ao prato e assadeira de folha delgada de alumínio dos códigos 7612.90.90 e 7615.1900. Da mesma forma não cabe tributação do IPI sobre os brinquedos sem rodas e que não são bonecos, apitos, castanholas e cornetas, do código 9503.70.00, por serem objeto de simples revenda pela autuada. Afirma, ainda que o mesmo se dá com os artigos para festas (chapeuzinhos, confetes) classificados no código 9505.90.00. Traz na seqüência os seguintes mapas demonstrativos: a) dos produtos saídos de seu estabelecimento já tributados, relacionando notas fiscais de produtos em que houve o destaque do imposto; b) dos produtos saídos de seu estabelecimento cuja natureza da operação é a simples revenda, relacionando notas fiscais de produtos que não são fabricados e nem beneficiados nas dependências da impugnante. Diz que podese concluir da análise dos quadros demonstrativos que aproximadamente 70% das notas fiscais arroladas pela fiscalização e alvo da autuação fiscal, referemse a produtos cuja saída já foi tributada ou simplesmente com natureza de operação de revenda. Observa que houve equívoco na emissão das notas fiscais considerando que produtos não tributados decorrentes da simples revenda fossem tributados à alíquota 0% o que pode ter induzido a erro por parte dos autuantes. Combate a multa aplicada, no percentual de 75%, por estar em descompasso com a realidade sócioeconômica do país. Salienta estar a penalidade em desacordo com o preconizado pela doutrina e jurisprudência, e com o princípio constitucional da vedação ao confisco. Postula pela nulidade do auto de infração à vista das inconsistências que embasam o valor nele exigido. Caso não seja esse o entendimento, pede que o mesmo seja julgado totalmente improcedente pelo que foi demonstrado na defesa. Fl. 3864DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.865 5 Requer seja realizada perícia técnica e, por fim, a juntada de amostras de produtos e embalagens de determinados itens que realiza apenas a revenda, de alguns itens que são industrializados para embalar produtos alimentícios, bem assim amostra de "fonte estrelada" que foi classificada como se fosse fogos de artifício. É o relatório." A decisão de primeira instância, proferida em 10/05/2012 (fls. 3794/3807), foi pela procedência parcial da impugnação, cancelando parcela da exação, referente às saídas dos prendedores de roupa de plástico da marca Sofia, por não constarem do catálogo da impugnante, não haver indícios de que tenham sido submetidos a acondicionamento por parte da autuada, nem conter em sua embalagem de apresentação qualquer menção de que foram feitos sob sua encomenda, em decisão cuja ementa abaixo transcrevese: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/01/2004 a 31/08/2008 EQUIPARAÇÃO A ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL. Equiparamse a estabelecimento industrial os estabelecimentos comerciais de produtos cuja industrialização haja sido realizada por outro estabelecimento da mesma firma ou de terceiro, mediante a remessa, por eles efetuada, de matérias primas, produtos intermediários, embalagens, recipientes, moldes, matrizes ou modelos. Os estabelecimentos industriais quando derem saída a MP, PI e ME, adquiridos de terceiros, com destino a outros estabelecimentos, para industrialização ou revenda, serão considerados estabelecimentos comerciais de bens de produção e obrigatoriamente equiparados a estabelecimento industrial em relação a essas operações. OPERAÇÃO DE INDUSTRIALIZAÇÃO. ACONDICIONAMENTO OU REACONDICIONAMENTO. Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento). CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS. O produto denominado "Fogos Fonte Estrelada" classificase no código 3604.10.00 da TIPI pela aplicação das RGI 1 (texto da posição 3604) e 6 (texto da subposição 3604.10), bem como da RGCI (texto do item 3604.10.00). Bandejas e Pratos de Papel classificamse nos códigos 4823.60.00 da TIPI de 2002 e 4823.69.00 da TIPI de 2007 pela aplicação das Regras Gerais de Interpretação n° 1 (texto da posição 4823) e 6 (texto das subposições 4823.60 da TIPI de 2002 e 4823.69 da TIPI de 2007). MULTA. ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE E DE ILEGALIDADE. Fl. 3865DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.866 6 No âmbito do processo administrativo fiscal, é vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade, bem assim deixar de aplicar penalidade prevista em lei. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte Após ciência ao acórdão de primeira instância (AR às fls. 3813/3814), em 21/05/2012, apresentou o recurso voluntário de fls. 3815/3839, em 19/06/2012, em essência, reiterando a argumentação expressa na impugnação. Voto Vencido Conselheiro Relator O recurso apresentado preenche os requisitos formais de admissibilidade e, portanto, dele se toma conhecimento. Tendo em vista a decisão do Colegiado, na sessão de 31/08/2017, em converter o julgamento em diligência e as disposições no §5º, do art. 63, do RICARF 2 (Portaria MF nº 343, de 09/06/15), segue, apenas, a parcela vencida e pertinente do voto. MÉRITO DA INDUSTRIALIZAÇÃO POR ENCOMENDA, DAS OPERAÇÕES DE ACONDICIONAMENTO E REACONDICIONAMENTO E DA SIMPLES REVENDA Alega a recorrente que o auto de lançamento seria improcedente, pois, atevese somente aos produtos industrializados por encomenda, sem distinguir das operações com produtos que são adquiridos e revendidos sem qualquer tipo de industrialização nas embalagens originais dos fabricantes, sem alterar em nada sua natureza, seja por novas embalagens, acondicionamento ou reacondicionamento. Segue em seu recurso, apresentando um exemplo e, ainda, afirmando que, diferentemente do alegado na acusação fiscal, não se credita do IPI nas compras desses produtos, adquiridos de terceiros para simples revenda, sem qualquer alteração, nas mesmas caixas, embalagens e marcas dos fabricantes. Entendeu a decisão recorrida que, embora alegue a ora recorrente que dentre os diversos produtos a que deu saída sem o lançamento do imposto e que foram objeto da autuação, muitos se trataram de simples operação de revenda, sem qualquer industrialização por ela efetuada, tal assertiva não condiziria com a realidade dos fatos e das provas coligidas pela fiscalização (catálogo de produtos da autuada das fls. 19/38 e embalagens das fls. 39/52), restando evidente que os produtos em tela teriam sido acondicionados/ reacondicionados em embalagens de apresentação. 2 RICARF/15, art. 63, § 5º No caso de resolução ou anulação de decisão de 1ª (primeira) instância, as questões preliminares, prejudiciais ou mesmo de mérito já examinadas serão reapreciadas quando do julgamento do recurso, por ocasião do novo julgamento. Fl. 3866DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.867 7 Não houve impugnação ou recurso voluntário, quanto ao presente lançamento do imposto, no que concerne às saídas de produtos industrializados por encomenda, equiparandose nessas operações a estabelecimento industrial e obrigandose a destacar o IPI relativo a tais saídas, portanto, incontroversas as matérias autuadas, salvo, à incidência sobre às saídas de produtos que alega simplesmente revender, sem executar nenhuma operação de industrialização; além das saídas que já teriam sido tributadas; das embalagens que seriam para produtos alimentícios; da classificação fiscal; da perícia; e das multas aplicadas. Quanto às saídas de produtos que alega simplesmente revender, sem executar nenhuma operação de industrialização, a recorrente traz mais um exemplo, além dos indicados na impugnação, de notas fiscais que representariam saída de revenda simples: Fl. 3867DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.868 8 Notar que contrapõese às alegadas saídas de revendas simples, cujas notas foram apontadas no recurso voluntário, as provas coligidas pela fiscalização, no caso, catálogo de produtos, à fl. 25 e 36, constando os mesmos produtos: garfos, facas, colheres e pratos plásticos e respectivas embalagens, às fls. 42, 44 e 51, evidenciando, MP, PI e ME, insumos e produtos, submetidos à operações de industrialização, seja por encomenda ou por conta própria, que importam em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, caracterizando acondicionamento ou reacondicionamento. A Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional CTN, em seu artigo 46, parágrafo único, define produto industrializado como aquele que “tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo”. Detalhando o conceito de industrialização, o Decreto nº 4.544, de 26 de dezembro de 2002, em seu artigo 4º, com fulcro na Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, assim dispõe: Art. 4º Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como (Lei nº 4.502, de 1964, art. 3º, parágrafo único, e Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, art. 46, parágrafo único): I a que, exercida sobre matériasprimas ou produtos intermediários, importe na obtenção de espécie nova (transformação); II a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o acabamento ou a aparência do produto (beneficiamento); III a que consista na reunião de produtos, peças ou partes e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal (montagem); IV a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento); ou V a que, exercida sobre produto usado ou parte remanescente de produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produto para utilização (renovação ou recondicionamento). (...) RIPI/2002, art. 9º, § 4º Os estabelecimentos industriais quando derem saída a MP, PI e ME, adquiridos de terceiros, com destino a outros estabelecimentos, para industrialização ou revenda, serão considerados estabelecimentos comerciais de bens de produção e obrigatoriamente equiparados a estabelecimento industrial em relação a essas operações. (grifei) Como se pode perceber, a legislação adotou uma conceituação deveras ampla de industrialização, conferindo ao imposto um campo de incidência bastante abrangente. O presente contencioso discute se constituem industrialização, sujeitandose, assim, à incidência do IPI, operações de venda de produtos, industrializados por encomenda ou na própria empresa, com embalagens, sendo o imposto lançado de ofício sobre o valor total dos produtos, pois, se trataria de modificação (acondicionamento ou reacondicionamento) de produtos adquiridos e não meramente de revenda. Fl. 3868DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.869 9 Notar que é incontroverso que tratase de indústria de embalagens, portanto, contribuinte do IPI, que deu saída à produtos industrializados (arts. 8º, 9º, inc. IV, 24, incs. II e III, e 34, inc. II, do RIPI/2002, com fulcro na Lei nº 4.502/64), sem destaque de IPI nas notas fiscais de venda. Nesse ponto, resta contencioso e discutese exceções, operações que representariam simples revenda, sem execução de nenhuma operação de industrialização. Destacase, no presente caso, nas operações de revenda, não ser obrigatória a equiparação à indústria, somente em casos de revenda para consumidor final, nos termos do §4º, do art. 9º, do RIPI/2002, não restando comprovadas operações dessa natureza, visto, não juntadas aos autos provas suficientes à contrapor as evidências coligidas pela fiscalização, além de exemplos de notas fiscais que, por si, nada comprovam e, ainda assim, informando vendas para pessoas jurídicas (supermercados) que não podem ser caracterizados como consumidores finais, visto, não evidenciado que os produtos revendidos não foram destinados para industrialização ou nova revenda. Assim, entendo, nesse ponto principal, deva ser mantida a decisão recorrida, ao concluir que as atividades da empresa, caracterizam industrialização, na modalidade acondicionamento ou reacondicionamento, e que não restaram evidenciadas exceções às operações de industrialização caracterizadas, objeto do presente auto de infração. DAS SAÍDAS JÁ TRIBUTADAS Quanto aos produtos saídos do estabelecimento que já teriam sido tributados, a ora recorrente, junto com a impugnação, elaborou mapa demonstrativo, nas fls. 3472/3473. No entanto, concluiu a decisão recorrida, que os itens das notas fiscais nele relacionados não foram objeto de lançamento, pois, não constariam da relação apresentada pela fiscalização. Recorre a contribuinte apresentando três exemplos de notas que já teriam sido tributadas e apontando que constariam da relação apresentada pela fiscalização. Compulsando os autos e a legislação, comprovadas incorreções sanáveis, como inclusões de saídas já tributadas, dentre os valores constituídos de ofício, nos termos do art. 60, do Decreto nº 70.235/72 PAF, não há porque deixar de excluílas, demonstrada a tributação prévia dos valores incluídos, a qualquer momento, inclusive na execução do julgado, certo de que não importa em nulidade do auto de infração ou mesmo, no presente caso, diante dos exemplos apontados, cancelamento de parcela sequer relevante da autuação. Notar ser necessária a demonstração da tributação prévia dos valores, alegados incluídos indevidamente, não só as respectivas notas fiscais, mas, ainda mais importante, seus registros nos Livros de Registro e Apuração do IPI RAIPI, além da apuração e confissão e/ou pagamento dos saldos quando credores. Assim, confirmados os exemplos apontados e outras incorreções sanáveis, entendo, nesse ponto, deva ser garantida a exclusão dentre os valores constituídos de ofício, de saídas inclusas indevidamente, desde que comprovadas já tributadas previamente, sendo insuficientes e de pouca relevância os exemplos e provas até então apresentados. Por tudo exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário, nesses pontos. Fl. 3869DF CARF MF Processo nº 11080.000013/200907 Resolução nº 3401001.185 S3C4T1 Fl. 3.870 10 Voto Vencedor Conselheiro Tiago Guerra Machado Com as vênias de praxe, dissinto do entendimento do eminente Relator, ao entender que os autos encontramse prontos ao julgamento, em especial, quanto às questões das saídas de produtos que alega a recorrente simplesmente revender, e quanto à individualização dos produtos saídos do estabelecimento que já teriam sido tributados. Quanto aos produtos saídos do estabelecimento que já teriam sido tributados, ainda que reconhecida pelo Relator, quando provado, a possibilidade da exclusão desses valores, dentre os valores constituídos de ofício, entendo que a questão merece a devida individualização, confirmandose exaustivamente todas as alegadas ocorrências de duplicidade de tributação, inclusive os exemplos apontados, evitandose uma decisão por presunção do ônus probatório ou ilíquida. Já quanto às saídas de produtos que alega simplesmente revender, sem executar nenhuma operação de industrialização, entendo relevantes os exemplos trazidos pela recorrente no recurso voluntário, além dos indicados na impugnação, de notas fiscais que representariam saídas de revendas simples, devendo a questão, assim como a do parágrafo anterior, receber a devida individualização, confirmandose exaustivamente todas as alegadas ocorrências de simples revenda, inclusive os exemplos apontados. Com essas considerações, voto por converter o julgamento em diligência, para verificar a inclusão na autuação de operações alegadas de simples revenda e se houve aproveitamento de créditos, nas respectivas aquisições, dessas operações de revenda; além de confirmar a existência de saídas alegadas já anteriormente tributas. Concluído os trabalhos da diligência, deverá ser elaborado Relatório conclusivo, do qual o sujeito passivo deverá ser cientificado, sendo concedido prazo de 30 (trinta) dias para manifestação, nos termos do parágrafo único, do art. 35, do Decreto nº 7.574/11. Após os autos deverão retornar ao CARF para julgamento. Tiago Guerra Machado Redator designado Fl. 3870DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13861.000071/92-24
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Oct 05 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/07/1990 a 01/12/1991
CONTRIBUIÇÃO AO PASEP. NATUREZA JURÍDICA DE EMPRESA PRIVADA. AUTO DE INFRAÇÃO. SUJEIÇÃO PASSIVA. NULIDADE MATERIAL DO LANÇAMENTO.
Uma vez reconhecida a natureza da contribuinte como empresa privada, não se configura o aspecto pessoal do fato gerador da contribuição ao PASEP, nos termos do art. 3º da Lei Complementar nº 8/1970, o que macula de nulidade material o lançamento. A mera participação de capital público não desnatura ou altera a sua condição de empresa privada. A sociedade de economia mista tem, como pressuposto de sua existência, ter sido criada por lei específica e contar com participação do Poder Público na sua administração.
Numero da decisão: 3401-003.996
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em anular, de ofício, o lançamento, por não ser o autuado contribuinte do tributo, vencidos os Conselheiros Robson José Bayerl e Fenelon Moscoso de Almeida, que afastavam apenas a multa de ofício. A Conselheira Mara Cristina Sifuentes acompanhou o relator pelas conclusões, por haver, à época da autuação, dúvida em relação a ser a empresa contribuinte do tributo.
Rosaldo Trevisan - Presidente.
Leonardo Ogassawara De Araújo Branco - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (Presidente), Robson Jose Bayerl, Augusto Fiel Jorge DOliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (Vice-Presidente).
Nome do relator: LEONARDO OGASSAWARA DE ARAUJO BRANCO
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USIMINAS Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/07/1990 a 01/12/1991 CONTRIBUIÇÃO AO PASEP. NATUREZA JURÍDICA DE EMPRESA PRIVADA. AUTO DE INFRAÇÃO. SUJEIÇÃO PASSIVA. NULIDADE MATERIAL DO LANÇAMENTO. Uma vez reconhecida a natureza da contribuinte como empresa privada, não se configura o aspecto pessoal do fato gerador da contribuição ao PASEP, nos termos do art. 3º da Lei Complementar nº 8/1970, o que macula de nulidade material o lançamento. A mera participação de capital público não desnatura ou altera a sua condição de empresa privada. A sociedade de economia mista tem, como pressuposto de sua existência, ter sido criada por lei específica e contar com participação do Poder Público na sua administração. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em anular, de ofício, o lançamento, por não ser o autuado contribuinte do tributo, vencidos os Conselheiros Robson José Bayerl e Fenelon Moscoso de Almeida, que afastavam apenas a multa de ofício. A Conselheira Mara Cristina Sifuentes acompanhou o relator pelas conclusões, por haver, à época da autuação, dúvida em relação a ser a empresa contribuinte do tributo. ROSALDO TREVISAN Presidente. LEONARDO OGASSAWARA DE ARAÚJO BRANCO Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (Presidente), Robson Jose Bayerl, Augusto Fiel Jorge D’Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 86 1. 00 00 71 /9 2- 24 Fl. 647DF CARF MF Processo nº 13861.000071/9224 Acórdão n.º 3401003.996 S3C4T1 Fl. 648 2 André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (VicePresidente). Relatório 1. Tratase do Auto de Infração nº FM07.985, situado às fls. 5 a 7, lavrado em 24/07/1992, em razão da falta de recolhimento de contribuição ao PASEP incidente sobre receita operacional, referente ao período de apuração compreendido entre julho de 1990 e dezembro de 1991, cujos valores foram declarados em DCTF, acrescidos de multa e juros, totalizando o valor histórico de R$ 12.529.412,37. 2. Em 20/08/1992, a contribuinte apresentou a impugnação, situada às fls. 35 a 39, na qual argumento que: (i) em 23/06/1992, ingressou com pedido, com cópia situada às fls. 40 a 41, "(...) reiterando parcelamento de débito tributário (PIS/PASEP), para ser liquidado em 60 meses, escalonadamente, parcelamento esse já anteriormente concedido"; (ii) que, em que pese a reiteração do pedido de parcelamento, em 24/07/1992 foi surpreendida com o auto de infração em apreço, em que se formalizou a cobrança dos mesmos débitos; (iii) o auto é insubsistente, uma vez que a requerente declarou tais valores em DCTF. 3. O pedido de parcelamento realizado em 23/06/1992 pela contribuinte, então COMPANHIA SIDERÚRGICA PAULISTA COSIPA (GRUPO SIDERBRÁS), foi dirigido ao Ministro de Estado da Economia, Fazenda e Planejamento, em caráter extraordinário, escalonado e geral, uma vez que se encontrava em "(...) situação (...) deveras aflitiva, visto que a requerente encontrase em estado de privatização": 4. Em 06/01/1993, foi emitido Parecer da Seção de Preparação de Julgamento de Tributos Diversos (SECJTD) da unidade local, situado às fls. 44 e 45, que entendeu, em síntese, que: (i) a DCTF se trata de mera confissão de Dívida, e não lançamento, Fl. 648DF CARF MF Processo nº 13861.000071/9224 Acórdão n.º 3401003.996 S3C4T1 Fl. 649 3 que deve ser efetuado, de ofício, uma vez verificado o inadimplemento da obrigação, o que justifica a cobrança da respectiva multa de ofício bem como a exigência de juros de mora; (ii) o pedido de parcelamento formulado se constitui confissão de dívida, e não impede a conclusão da ação fiscal em curso, que culminou com a lavratura do auto de infração sob análise; (iii) estando presentes os requisitos necessários à formalização do crédito tributário, propõe, por fim, a manutenção da exigência em sua íntegra. 5. Em 07/01/1993, foi proferida a Decisão nº 3, situada às fls. 46 e 47, pelo Delegado da Receita Federal da Delegacia da Receita Federal em Cubatão (SP), da 8ª Região Fiscal, acolhendo os fundamentos externados pelo Parecer da Seção de Preparação de Julgamento de Tributos Diversos (SECJTD), indeferindo a impugnação formulada. 6. A contribuinte foi intimada em 15/01/1993, via postal, em conformidade com o aviso de recebimento situado à fl. 52. Consta, nos autos, peça de autoria da contribuinte situada às fls. 53 a 56, que objetiva a interposição de recurso ao 2º Conselho de Contribuintes, e com protocolo indicativo da data de 08/01/1993, na qual a contribuinte reiterou as razões de sua impugnação. 7. Em 26/04/1995, o Primeiro Conselho de Contribuintes proferiu a Resolução nº 10102.215, situada às fls. 76 a 80, para que a unidade esclarecesse: (a) se no parcelamento concedido em 13/01/1992, as parcelas mensais estavam sendo pagas até a data da lavratura do Auto de Infração; (b) se no pedido de parcelamento protocolizado em 23/06/1992 foram observados os requisitos prescritos e atos normativos, inclusive, o pagamento da primeira parcela; e (c) qual a posição da recorrente sobre a divida parcelada, perante a Receita Federal, após a privatização da COSIPA. 8. Mais de QUINZE ANOS depois, em 01/10/2010, o Serviço de Orientação e Análise Tributária da Delegacia da Receita Federal do Brasil em Belo Horizonte (MG) formulou o relatório de diligência, situado às fls. 153 a 155, na qual esclareceu que: (a) todos os processos de parcelamento ativos nos sistemas da RFB deram entrada em 1993, não havendo qualquer deferimento ou comprovação de pagamento, entrada etc. que demonstre a aceitação por parte das autoridades fazendárias do parcelamento mencionado pela contribuinte; (b) o questionamento quanto à observância dos requisitos do parcelamento resta prejudicado e, após intimação determinando a apresentação da documentação relativa ao parcelamento, a contribuinte permaneceu inerte, limitandose a informar que os débitos se encontram parcelados no Processo Administrativo nº 10845.008978/9341; e (c) quanto à posição da contribuinte sobre a dívida parcelada perante a Receita Federal, em prestação de informações, a autuada informou que "os valores devidos à Receita Federal haviam sido assumidos plenamente junto com os demais passivos e estavam sendo quitados nos vencimentos pactuados" (sic). 9. A unidade informou, ainda, que o Processo Administrativo nº 10845.008978/9341 se refere a parcelamento referente a débitos com períodos de apuração compreendidos entre 08/1989 a 12/1991 (maior extensão), enquanto que o auto de infração em debate no presente processo se refere a débitos com períodos de apuração compreendidos entre 07/1990 a 12/1991 (menor extensão), concluindo que "(...) não resta dúvida de que o parcelamento informado pelo contribuinte envolve os mesmos créditos tributários em discussão, porém com valores diferentes" (g.n.), o que se explica pelo fato de que tais débitos "(...) foram parcelados, na maioria dos períodos de apuração, em valor inferior ao lançado no auto de infração": Fl. 649DF CARF MF Processo nº 13861.000071/9224 Acórdão n.º 3401003.996 S3C4T1 Fl. 650 4 "(...) Sobre os valores parcelados incidiram apenas a multa de mora. Assim, se forem mantidas as multas de oficio, deverá ser cobrada, além da diferença de principal, a diferença da multa de oficio para a multa de mora, sobre os valores originais lançados. Além das informações solicitadas à fl. 64, cabe destacar que a presente diligência também verificou a existência de outro Auto de Infração, lavrado no processo 13861.000064/9269, em 22/06/1992, relativo ao mesmo tributo (PASEP) e a períodos de apuração comuns (fls. 115/123). Ressaltase que, no referido processo, foi proferida decisão de lª instância, em 24/03/199, anulando o lançamento tributário do PASEP em face da interessada, uma vez que ficou comprovado que o contribuinte não era participe do regime jurídico das sociedades de economia mista e, portanto, não poderia ser sujeito passivo de obrigação tributária relativa ao PASEP (fls. 124/129). Tal decisão foi confirmada pelo antigo Segundo Conselho de Contribuintes que, em 14/03/2000, negou provimento ao recurso de ofício, pelos mesmos motivos (fls. 130/136). Resta, portanto, concluir sobre a exigibilidade, certeza e liquidez dos valores discutidos no presente processo, tendo em vista as decisões prolatadas pelas instâncias recursais administrativas em relação ao mesmo contribuinte, período e tributo. Por fim, informo que este processo permaneceu na EQ LANCAMENTO E PARCELAMENTODRFSPOSP desde 29/06/1998, sem concluir a presente diligência, tendo sido encaminhado a esta EQPARDRFBHE apenas em 06/08/2010, por mudança de domicilio fiscal do contribuinte. Assim, ressaltamos estar isentos de qualquer responsabilidade decorrente da mora na análise deste processo" (seleção e grifos nossos). 10. Em 24/10/2013, a 1ª Turma da 1ª Câmara da 3ª Seção deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais determinou, por meio da Resolução CARF nº 3101 000.309, de relatoria do Conselheiro Luiz Roberto Domingo, a conversão do feito em diligência nos seguintes termos: "(...) inobstante o ato administrativo de lançamento ser efetivamente fundado na legislação do PASEP e diante do que foi decidido nos autos do PAF 13861.000064/9269, não há nos autos documentos que comprovem o regime jurídico da Recorrente. Assim, para melhor instruir o feito e em prol da ampla defesa e do contraditório, mostrase conveniente nova conversão do julgamento em diligência à repartição de origem, para que sejam juntados aos autos cópias dos atos societários vigentes à época dos respectivo períodos de apuração (1987 a 1991)" (seleção e grifos nossos). Fl. 650DF CARF MF Processo nº 13861.000071/9224 Acórdão n.º 3401003.996 S3C4T1 Fl. 651 5 11. Em 25/11/2014, foi proferido despacho, situado às fls. 267 a 269, pelo Serviço de Controle e Acompanhamento Tributário, no qual a unidade local informa não ter obtido êxito no cumprimento da diligência determinada, uma vez que a Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP) informou não poder atender o pedido formulado, tendo em vista que nem todos os documentos arquivados estariam digitalizados, o que obriga à busca manual entre mais de 875 mil arquivos para as mais de 5 mil solicitações mensais de pesquisas. 12. Em 22/01/2016, a contribuinte protocolou a manifestação sobre a diligência, situada às fls. 287 a 293, no qual, em síntese, argumenta se tratar de empresa privada à época dos fatos geradores em análise e, portanto, não se tratar de sujeito passivo do PASEP, e solicita, por fim, prioridade na análise do presente processo, que tramita, na data atual, há mais de VINTE E CINCO ANOS, em atenção ao preceito da duração razoável do processo. É o Relatório. Voto Conselheiro Leonardo Ogassawara de Araújo Branco 13. O recurso voluntário é tempestivo e preenche os requisitos formais de admissibilidade e, portanto, dele tomo conhecimento. 14. A questão se resume, sinteticamente, à análise do argumento de não se tratar a autuada, ora recorrente, de contribuinte da contribuição ao Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) que, segundo o auto de infração lavrado em 24/07/1992, seria devido e não recolhido no período de apuração compreendido entre 07/1990 e 12/1991. O tributo em referência, nos termos do preceptivo normativo do art. 3º da Lei Complementar nº 8/1970, é devido pelos: (i) territórios e entes federativos (União, Estados, Municípios e Distrito federal); (ii) autarquias; (iii) empresas públicas; (iv) sociedades de economia mista; e (v) fundações: Lei Complementar nº 8/1970 Art. 3º As autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações, da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal e dos Territórios contribuirão para o Programa (...). 15. Ainda que a diligência determinada por este Conselho com a finalidade de que fossem juntadas cópias dos atos societários vigentes à época dos fatos geradores tenha resultado infrutífera, despicienda se faz a análise de tais documentos para a prestação jurisdicional. Fl. 651DF CARF MF Processo nº 13861.000071/9224 Acórdão n.º 3401003.996 S3C4T1 Fl. 652 6 16. De acordo com o parecer emitido pela Consultoria Geral da República aprovado pela Presidência da República e publicado em 08/09/1966 no Diário Oficial da União, a COSIPA se trata de sociedade anônima constituída em 1953 exclusivamente por capital privado e que, a partir de 1956, passou a contar com participação de capital público do governo do Estado de São Paulo (minoritário) e do então Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (majoritário). A participação do BNDE se deu como cooperação financeira, devido ao interesse na existência da sociedade para o desenvolvimento econômico nacional, e com a condição de que as ações sejam "(...) recolocadas no mercado de títulos tão logo o empreendimento entre em produção". Desta feita, esclarece que o predomínio de capital público foi de "(...) contingência temporária, destinada a ser removida tão logo a afluência de capitais particulares o permita". 17. Assim, a COSIPA, nos termos do documento em referência, é, desde sua constituição, uma sociedade anônima sem o caráter de economia mista, uma vez que não foi instituída por lei especial de iniciativa do governo federal e que contou apenas provisoriamente com participação acionária estatal. 18. Há de se esclarecer, neste sentido, que a mera aquisição de ações pelo poder público não caracteriza uma sociedade como de economia mista: tal fato não modifica a natureza jurídica da pessoa jurídica, tendo como efeito, na verdade, a mera participação política (voz e voto) do Estado na vida da sociedade por meio das assembleias. 19. Repitase, neste sentido, que a instituição de uma sociedade de economia mista depende de lei (iniciativa legislativa), uma vez que sua constituição envolve a aplicação de recursos públicos, submetendoa a uma dupla regência: tanto à sua lei instituidora como à lei das sociedades anônimas, ou dito de outro modo, tanto ao interesse dos sócios como ao interesse público. Neste sentido, conclui o substancioso parecer nos seguintes termos: "(...) a COSIPA não é uma sociedade de economia mista, por não ter sido instituída mediante lei autorizativa e, ainda, por ter sua Diretoria eleita pela assembleia de acionistas, portanto, sem a obrigatoriedade de nela participar o Poder Público" (seleção e grifos nossos). 20. Observese que a exigência de lei para a instituição de uma sociedade de economia mista se encontra prevista no inciso XIX do art. 37 da Constituição da República de 1988, segundo a qual "(...) somente por lei específica poderão ser criadas empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação pública". 21. Tal era o desígnio normativo mesmo antes da promulgação da Constituição de 1988, conforme se denota da leitura do inciso III do art. 5º do DecretoLei nº 200/1967: DecretoLei nº 200/1967 Art. 5º Para os fins desta lei, considerase: (...) III. Sociedade de Economia Mista: a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criado por lei para o exercício de atividade de natureza mercantil, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam, em sua maioria, à União ou à entidade da Administração Indireta. Fl. 652DF CARF MF Processo nº 13861.000071/9224 Acórdão n.º 3401003.996 S3C4T1 Fl. 653 7 22. Em idêntico sentido, congruente com a conceituação doutrinária1 e jurisprudencial, o art. 236 da Lei das Sociedades Anônimas: Lei nº 6.404/1976 Art. 236. A constituição de companhia de economia mista depende de prévia autorização legislativa. 23. Conforme se extrai da manifestação da contribuinte nos presentes autos, a ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional sempre observou a orientação do parecer aprovado pela Presidência da República, na condição de ato normativo da Administração Pública Federal, em conformidade com a posição externada pelo ProcuradorGeral da PFN em parecer publicado na Revista de Direito Administrativo nº 170 no sentido de que a sociedade de economia mista se trata de organização empresariam constituída por sociedade por ações e "(...) de cujo capital participem recursos do poder público e de pessoa particulares, sob o controle acionário daquele poder, criada por força de autorização legal, configurando um cometimento estatal (...) afetado à realização da utilidade pública". 24. A Cosipa, portanto, não integra a Administração indireta, e sequer a sua passagem ao controle da SIDERBRÁS, empresa holding do setor siderúrgico estatal, altera a sua natureza jurídica, posição consentânea, ademais, com a do parecer da Consultoria Geral da República igualmente aprovado pela Presidência, igualmente trazido a este processo pela recorrente, no sentido de que "(...) as empresas concessionárias de serviços públicos (...) que, mediante mudança do controle acionário, passaram a subsidiárias da Telebrás (...) não adquiriram, por tal fato, a natureza jurídica de sociedades de economia mista federais, à míngua de suporte legal para a conceituação" (g.n.). Não por outro motivo, a ata de 05/11/1982, ao tratar da participação da COSIPA no Grupo SIDERBRÁS, prevê, no art. 3º da sua Convenção Constitutiva que "(...) cada parte mantém personalidade jurídica e patrimônio próprios, e conserva a autonomia administrativa dos seus órgãos estatutários", jamais tendo sido alterada a natureza jurídica da COSIPA. 25. Assim, por não se tratar de contribuinte da contribuição ao PASEP, nos termos do art. 3º da Lei Complementar nº 8/1970, insubsistente é o auto de infração lavrado, devendo, portanto, ser declarada de ofício a sua nulidade material. Com base nestes fundamentos, voto por conhecer e, no mérito, dar provimento integral ao recurso voluntário interposto. 1 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica’. São Paulo: Editora RT, 1991; e MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Natureza essencial das sociedades mistas e empresas públicas: conseqüências em seus regimes. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 159, p. 19, jan. 1985. ISSN 22385177. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/44413>. Acesso em: 04 Set. 2017. doi:http://dx.doi.org/10.12660/rda.v159.1985.44413. Fl. 653DF CARF MF Processo nº 13861.000071/9224 Acórdão n.º 3401003.996 S3C4T1 Fl. 654 8 Leonardo Ogassawara de Araújo Branco Fl. 654DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12466.720334/2011-76
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 26 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Oct 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Regimes Aduaneiros
Data do fato gerador: 08/09/2009, 15/01/2010
MODALIDADES DE IMPORTAÇÃO. CONCEITO LEGAL. DIVERGÊNCIA ENTRE OPERAÇÃO DECLARADA E PRATICADA. DANO AO ERÁRIO. OCULTAÇÃO MEDIANTE FRAUDE OU SIMULAÇÃO, INCLUSIVE A INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS. MULTA POR CONVERSÃO DA PENA DE PERDIMENTO.
Na importação direta, o importador é o próprio adquirente dos bens importados, realizando a importação com recursos próprios e por seu próprio risco. Na importação por conta e ordem de terceiros, o importador presta apenas serviços (de logística, aduaneiros, cotação de preços, intermediação) para o adquirente, que é a pessoa de onde provém os recursos para a realização da importação. Na importação para a revenda a encomendante predeterminado, o importador estabelece uma relação de comissão com adquirente, disciplinada pelo artigo 696 e seguintes do Código Civil (Lei nº 10.406/2002), pela qual o importador é comissário e o adquirente é o comitente, entrando o importador na operação de importação com recursos próprios e se comprometendo a revender os bens importados ao adquirente.
Existe um conceito legal para cada modalidade de importação, o que resulta em considerar a operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro como uma importação por conta e ordem deste, nos termos do artigo 27 da Lei nº 10.637/2002, e a manter a caracterização de uma importação para a revenda a encomendante predeterminado, na hipótese de haver participação do encomendante predeterminado nas operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior, por força do artigo 11, parágrafo 3º, da Lei nº 11.281/2006.
Na hipótese de divergência entre a operação de importação declarada e a operação de importação efetivamente realizada, havendo ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros, configura-se o dano ao erário, punido com pena de perdimento das mercadorias, penalidade convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro das mercadorias, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida. (artigo 23 do Decreto Lei nº 1455/76).
INFRAÇÃO DE OCULTAÇÃO MEDIANTE FRAUDE OU SIMULAÇÃO, INCLUSIVE A INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS. ARTIGO 23 DO DECRETO LEI Nº 1455/76. CARACTERIZAÇÃO.
O tipo infracional previsto no artigo 23 do Decreto Lei nº 1455/76 não é a mera ocultação do sujeito passivo nas operações de comércio exterior, mas a ocultação realizada "mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros", de modo que, para a caracterização da infração, deve ser identificado o dolo e a infração deve ser grave em substância e não uma infração meramente formal.
INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA PRESUMIDA. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA COMPROVADA.
A interposição fraudulenta pode ser presumida, na hipótese de não-comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados para a realização da importação, ou comprovada, na existência de um conjunto de provas que demonstrem a ocorrência de fraude ou simulação com o intuito de interpor determinada pessoa entre o real adquirente e as autoridades fiscais, para que a primeira permaneça oculta aos olhos da fiscalização.
INFRAÇÃO DE OCULTAÇÃO MEDIANTE FRAUDE OU SIMULAÇÃO, INCLUSIVE A INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS. ARTIGO 23, INCISO V, DO DECRETO LEI Nº 1455/76. DEMONSTRAÇÃO. PROVA.
Na hipótese de "interposição fraudulenta comprovada", o ônus probatório da ocorrência de "ocultação mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros" é do Fisco, que deve levantar um conjunto de elementos de prova que demonstrem que as condutas imputadas aos intervenientes das operações de comércio exterior se enquadram no tipo infracional previsto no artigo 23, inciso V, do Decreto nº 1.455/1976.
Numero da decisão: 3401-003.983
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento aos recursos voluntários apresentados, e em não conhecer do recurso de ofício.
ROSALDO TREVISAN - Presidente.
AUGUSTO FIEL JORGE D'OLIVEIRA - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (Presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge d' Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araujo Branco.
Nome do relator: AUGUSTO FIEL JORGE DOLIVEIRA
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E OUTROS Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: REGIMES ADUANEIROS Data do fato gerador: 08/09/2009, 15/01/2010 MODALIDADES DE IMPORTAÇÃO. CONCEITO LEGAL. DIVERGÊNCIA ENTRE OPERAÇÃO DECLARADA E PRATICADA. DANO AO ERÁRIO. OCULTAÇÃO MEDIANTE FRAUDE OU SIMULAÇÃO, INCLUSIVE A INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS. MULTA POR CONVERSÃO DA PENA DE PERDIMENTO. Na importação direta, o importador é o próprio adquirente dos bens importados, realizando a importação com recursos próprios e por seu próprio risco. Na importação por conta e ordem de terceiros, o importador presta apenas serviços (de logística, aduaneiros, cotação de preços, intermediação) para o adquirente, que é a pessoa de onde provém os recursos para a realização da importação. Na importação para a revenda a encomendante predeterminado, o importador estabelece uma relação de comissão com adquirente, disciplinada pelo artigo 696 e seguintes do Código Civil (Lei nº 10.406/2002), pela qual o importador é comissário e o adquirente é o comitente, entrando o importador na operação de importação com recursos próprios e se comprometendo a revender os bens importados ao adquirente. Existe um conceito legal para cada modalidade de importação, o que resulta em considerar a operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro como uma importação por conta e ordem deste, nos termos do artigo 27 da Lei nº 10.637/2002, e a manter a caracterização de uma importação para a revenda a encomendante predeterminado, na hipótese de haver participação do encomendante predeterminado nas operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior, por força do artigo 11, parágrafo 3º, da Lei nº 11.281/2006. Na hipótese de divergência entre a operação de importação declarada e a operação de importação efetivamente realizada, havendo ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 46 6. 72 03 34 /2 01 1- 76 Fl. 6695DF CARF MF 2 mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros, configurase o dano ao erário, punido com pena de perdimento das mercadorias, penalidade convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro das mercadorias, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida. (artigo 23 do Decreto Lei nº 1455/76). INFRAÇÃO DE OCULTAÇÃO MEDIANTE FRAUDE OU SIMULAÇÃO, INCLUSIVE A INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS. ARTIGO 23 DO DECRETO LEI Nº 1455/76. CARACTERIZAÇÃO. O tipo infracional previsto no artigo 23 do Decreto Lei nº 1455/76 não é a mera ocultação do sujeito passivo nas operações de comércio exterior, mas a ocultação realizada "mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros", de modo que, para a caracterização da infração, deve ser identificado o dolo e a infração deve ser grave em substância e não uma infração meramente formal. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA PRESUMIDA. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA COMPROVADA. A interposição fraudulenta pode ser presumida, na hipótese de não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados para a realização da importação, ou comprovada, na existência de um conjunto de provas que demonstrem a ocorrência de fraude ou simulação com o intuito de interpor determinada pessoa entre o real adquirente e as autoridades fiscais, para que a primeira permaneça oculta aos olhos da fiscalização. INFRAÇÃO DE OCULTAÇÃO MEDIANTE FRAUDE OU SIMULAÇÃO, INCLUSIVE A INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS. ARTIGO 23, INCISO V, DO DECRETO LEI Nº 1455/76. DEMONSTRAÇÃO. PROVA. Na hipótese de "interposição fraudulenta comprovada", o ônus probatório da ocorrência de "ocultação mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros" é do Fisco, que deve levantar um conjunto de elementos de prova que demonstrem que as condutas imputadas aos intervenientes das operações de comércio exterior se enquadram no tipo infracional previsto no artigo 23, inciso V, do Decreto nº 1.455/1976. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento aos recursos voluntários apresentados, e em não conhecer do recurso de ofício. ROSALDO TREVISAN Presidente. AUGUSTO FIEL JORGE D'OLIVEIRA Relator. Fl. 6696DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.696 3 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (Presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge d' Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araujo Branco. Relatório O processo administrativo ora em julgamento decorre da lavratura de Auto de Infração para lançamento, no valor de R$ 1.196.029,14, de "pena de perdimento da mercadoria, convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria que não seja localizada ou que tenha sido consumida", com base no artigo 23, inciso V, parágrafo 3º, do Decreto nº 1.455/1976, e artigo 105, inciso VI, do Decreto nº 37/1966, por (i) ocultação dos verdadeiros encomendantes das mercadorias e (ii) uso de documento falso no despacho aduaneiro, em operações de importação, declaradas como realizadas na modalidade "importação por encomenda", tendo como importador a Target Trading S.A ("Target") e como encomendante a Neo Importação e Exportação e Distribuição Ltda. ("Neo"). Na "descrição dos fatos e enquadramento legal" que acompanha o Auto de Infração, a Fiscalização narra que instaurou procedimento em face da Neo e, analisando um conjunto de operações de importação registradas sob 23 (vinte e três) Declarações de Importação, no qual se as operações de importação que deram origem ao presente lançamento se incluem, identificou infrações de interposição fraudulenta de terceiros mediante cessão de nome e uso de documento falso no despacho aduaneiro de importação, que ensejam a aplicação tanto da penalidade de pena de perdimento de mercadorias quanto da multa por cessão de nome. Dessa maneira, a Fiscalização informa que lavrou vários Autos de Infração, segregados de acordo com as infrações e os responsáveis solidários identificados, sendo que o Auto de Infração que deu origem ao presente processo é relativo à Declaração de Importação abaixo identificada, tem como sujeito passivo a Target, e aponta como responsáveis solidários a Neo, o Sr. Marcelo Gonçalves Araújo ("Sr. Marcelo Araújo") e a Jotaeme Fitafer Indústria Metalúrgica Ltda. ("Jotaeme"), indicando o Termo de Sujeição Passiva e a "descrição dos fatos e enquadramento legal" que acompanha o Auto de Infração como fundamento legal o artigo 124, do CTN, e o artigo 95, inciso I e VI, do Decreto nº 37/1966. Número das Declarações de Importação Data de Registro 0911961342 08/09/09 1000825550 15/01/2010 A conclusão a que a Fiscalização chegou é que "restou comprovado que a NEO figurou como encomendante nas Declarações de Importação investigadas, porém as mercadorias eram predestinadas a outros interessados, os verdadeiros encomendantes das mercadorias, inclusive mediante contratos previamente firmados e prestação de garantias". Para tanto, a Fiscalização levantou os seguintes elementos: Fl. 6697DF CARF MF 4 (i) capacidade econômica e financeira da Neo: no curso de despacho aduaneiro de determinadas Declarações de Importação, a Auditora Fiscal identificou que a encomendante Neo, apesar de ter sido habilitada na modalidade simplificada, que não exige verificação de capacidade econômica e financeira, já havia atuado como encomendante em importações no valor total de USD 14.000.000,00, no período de apenas 6 (seis) meses, o que motivou a instauração de procedimento especial de combate à interposição fraudulenta previsto na Instrução Normativa nº 228/2002; nesse procedimento, verificouse que o capital social original da Neo, de R$100.000,00, foi aumentado para R$5.858.044,00, mediante a integralização de um ativo de propriedade da sócia majoritária da sociedade, TIMELOG LOGISTICA S.A. ("TIMELOG"), representado pelo imóvel onde estão estabelecidas tanto a TIMELOG quanto a NEO, que são empresas do mesmo grupo econômico; porém, a Neo não teria conseguido demonstrar a efetiva transferência da propriedade do bem imóvel à sociedade, pelo registro do instrumento que lhe conferiu o domínio no competente cartório de registro de imóveis, conforme artigo 1.227, do Novo Código Civil; além disso, afirmou a Fiscalização que "há de se considerar ainda que tal aumento de capital social, além de não ter sido ainda comprovada a efetiva transferência, não aumentou a capacidade financeira da NEO, por tratarse de ativo imobilizado que encontra limitações em sua liquidez, alienação e dação em garantia"; a Fiscalização ainda teria constatado que não haveria registro na contabilidade da empresa de quaisquer empréstimos e financiamentos com os quais a Neo poderia dispor para realizar as operações de importação; nesse tópico, afirma a Fiscalização que "em termos de transferência de recursos financeiros dos sócios para a empresa, o valor corresponderia a R$ 105.450,88, que a NEO comprovou apenas após reintimação (...) Foram registradas, apenas de julho de 2009 até março de 2010 (8 meses), declarações de importações onde a NEO figurou como encomendante no total de R$ 31.653.286,95"; (ii) pedido de habilitação ordinária pela Neo, desistência e prestação de informações erradas: a Fiscalização expõe que a Neo protocolou em 28/01/2009 pedido de Habilitação Ordinária na Alfândega do Porto de Vitória, pelo processo administrativo nº 12466.000254/201010, instruindo tal pedido com o o Anexo IB do ADE Coana Nº 3/2006, devidamente preenchido e assinado pelos representantes legais e pelo contador da empresa, e Balanço Patrimonial, que atestavam que o Patrimônio Líquido da sociedade era de R$12.201.650,36; no curso desse processo de habilitação, a Neo foi intimada a apresentar arquivos digitais da contabilidade, bem como outros documentos e atualizar seus dados cadastrais perante o CNPJ, pedindo dilação do prazo, que foi deferido, porém, apesar da dilação de prazo, não atendeu à intimação, nem prestou nem buscou informação em relação ao processo; independentemente do não atendimento à intimação, o pedido de habilitação foi indeferido, pois a Fiscalização, com base na escrituração contábil digital da empresa, verificou que o patrimônio líquida sociedade era, na realidade, de R$ 5.624.003,53; diante disso, concluiu a Fiscalização que "resta claramente evidenciada a prática da NEO de prestar para a Administração Aduaneira informações incorretas, visando ostentar uma capacidade econômica e financeira superior a real, esquivandose do adequado controle aduaneiro e dissimulando os indícios que seu real objetivo é atuar de forma irregular para terceiros interessados, ocultos nas operações"; (iii) incentivos fiscais estaduais: a Fiscalização expõe os benefícios fiscais previstos nas legislações dos Estados do Espírito Santo e Santa Catarina e afirma que "a TARGET tem seu custo incidente no desembaraço aduaneiro reduzido, sendo esse seu maior atrativo para empresas que desejam nacionalizar mercadorias, pois se beneficiam dessa redução de custos"; (iv) riscos e custos das operações: A Fiscalização conclui que "os custos referentes ao desembaraço aduaneiro e tributos sobre o comércio exterior teriam sido suportados pela TARGET, que apresentou documentação (...) referente ao crédito usualmente Fl. 6698DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.697 5 obtido perante instituições bancárias. Quanto à comercialização no mercado interno os riscos foram suportados pelos clientes da NEO, através de adiantamentos, fianças bancárias e notas promissórias, tudo no bojo de contratos firmados objetivando fornecimento contínuo de mercadorias de procedência estrangeira"; entende que há um vazio na posição que a Neo alega ocupar na cadeia comercial, de distribuidora, pois seria difícil de acreditar que os clientes da Neo, grandes distribuidores de aço no país, com grande capacidade econômica e que adquirem grandes quantidades diretamente das siderúrgicas, buscariam um "concorrente" de capacidade econômica inferior que nem a Neo, para comprar aço no mercado interno, entendendo que deveriam buscar a Target para promover a nacionalização do aço estrangeiro; a Fiscalização afirma que a Neo não possui quadro societário diferenciado e autonomia gerencial, mas os gestores de outras empresas do grupo detêm poderes de administração sobre ela, destacando a existência de um instrumento público de mandato concedendo poderes aos diretores da Target para administrar a Neo; pela análise dos contratos realizada pela Fiscalização, "a NEO praticamente não tinha responsabilidade quanto a prazo de entrega, situação totalmente incomum para uma venda no mercado interno, e que indica na verdade uma prestação de serviço, por parte do grupo da TARGET, para nacionalização de mercadorias onde as condições que determinam o prazo de entrega estão de fato sob controle do cliente final"; e (v) adiantamento de clientes da Neo: no curso do trabalho fiscal, a Neo apresentou um relatório detalhando o fluxo de caixa da empresa, elaborado por empresa de auditoria independente; esse trabalhou chegou a algumas conclusões, dentre elas, que "nas operações comerciais apresentadas no demonstrativo anexo, a Sociedade apresentou fluxo de caixa positivo em decorrência dos pagamentos efetuados aos fornecedores ocorrer posteriormente ao recebimento das vendas aos seus clientes"; a Fiscalização afirma que "a NEO recebeu enorme montante em adiantamentos de seus clientes" e apresenta tabela que mostra que a data de recebimento dos valores ocorria, em geral, meses antes, da data de emissão da primeira nota fiscal relativa ao recebimento; assim, a Fiscalização entende que a Neo teria sido constituída com desvio de finalidade, apontando que "a TARGET não pode receber adiantamentos de seus clientes, sob pena de configurar operação por conta e ordem, segundo a presunção legal do art. 27 da Lei 10.637/2002. Sendo assim, a NEO recebe os adiantamentos em seu lugar como garantia para as operações na modalidade por encomenda, porém é uma empresa do mesmo grupo, sem autonomia ou segregação de propósitos, portanto tratase de uma simulação para ocultar os verdadeiros encomendantes das mercadorias"; além disso, assevera que "não há razão para que ocorra pagamento (de sinal) por uma mercadoria que não é sua, que ainda não comprou e sequer foi emitida a nota fiscal, salvo se a operação se tratar de uma encomenda para entrega futura". No que se refere especificamente às declarações de importação deste processo, a Fiscalização ainda acrescenta os elementos a seguir, conforme item 7 da "descrição dos fatos e enquadramento legal" que acompanha o Auto de Infração. Declaração de Importação nº 0911961342 (registrada em 08/09/09): (i) as mercadorias importadas foram BOBINAS DE AÇO LAMINADO A QUENTE, produzidas por SIDOR C.A., da Venezuela, e exportadas pela STEELCOM S.A.M., de Mônaco; (ii) "as mercadorias foram destinadas diretamente do Porto de Vitória para a KASAKAMOTO e a JOTAEME FITAFER, pois se trata de carga na ordem de muitas Fl. 6699DF CARF MF 6 toneladas, as notas fiscais da TARGET e da NEO foram emitidas no mesmo dia, e constou no campo transportador o mesmo veículo (PLACA DO VEÍCULO)". (iii) "as importações foram realizadas mediante vários adiantamentos de recursos efetuados pela KASAKAMOTO e recebidos pela NEO (fls 5079 a 5090) para o pedido KAS 01 (fls 5091), e mediante o pedido JEM01/09 (fls 5092) da JOTAEMEFITAFER. Os dois pedidos em conjunto condizem com as quantidades e especificações das mercadorias, inclusive quanto ao que foi destinado a cada uma das empresas. Importante destacar que a NEO exigia fiança bancária da JOTAEMEFITAFER, conforme comprova o protocolo de devolução às folhas 1355". (iv) logo, concluiu a Fiscalização que "conforme foi comprovado pelos protocolos às folhas 1374 a 1375 referentes à KASAKAMOTO e pelo contrato e protocolos às folhas 1355 a 1373 referente à JOTAEMEFITAFER, bem como as demais provas levantadas na presente ação fiscal, a operação não foi uma mera venda no mercado interno. Havia contratos e pedidos anteriores às importações, que estipulavam condições que caracterizam a contratação de uma importação por encomenda da KASAKAMOTO e da JOTAEME FITAFER. Sendo assim, as operações foram simuladas, e a NEO foi interposta pessoa que ocultou os reais encomendantes nas importações". Declaração de Importação nº 1000825550 (registrada em 15/01/2010): (i) as mercadorias importadas foram BOBINAS DE AÇO LAMINADO A QUENTE, produzidas por SIDOR C.A., da Venezuela, e exportadas pela STEELCOM S.A.M., de Mônaco; (ii) houve adiantamento de recursos por parte de outra empresa, no valor R$ 1.583.053,98, porém, após a NEO ter sido incluída em procedimento especial, a operação não prosseguiu e a maior parte do adiantamento foi devolvido, o que segundo a Fiscalização indicaria que "as mercadorias da DI em tela eram de fato destinadas à JOTAEMEFITAFER, e uma pequena quantidade foi destinada à NACIONAL TUBOS mediante um ajuste entre as partes para saldar parte dos recursos adiantados"; (iii) "As mercadorias foram destinadas diretamente do Porto de Vitória para a JOTAEMEFITAFER,pois se trata de carga na ordem de muitas toneladas, as notas fiscais da TARGET e da NEO foram emitidas no mesmo dia ou no dia seguinte, e constou no campo transportador o mesmo veículo (PLACA DO VEÍCULO)"; (iv) havia referência da compra e venda com a Kasamoto nos documentos de importação; expõe a Fiscalização que "o protocolo às folhas 5080, recebido em 06/10/2009, em data bastante pretérita a operação, encaminhou a proposta de compra de mercadorias NEO 12/09C, que consta nos dados complementares da DI em tela como referência do cliente, e no campo observações das notas fiscais de saída da TARGET, portanto, foi o pedido que motivou a operação"; (v) a Neo exigia fiança bancária da Kasamoto e , por último, "havia contratos e pedidos anteriores às importações, que estipulavam condições que caracterizam a contratação de uma importação por encomenda da JOTAEMEFITAFER". Após a ciência do lançamento, tanto o sujeito passivo como responsáveis solidários apresentaram Impugnações, que foram julgadas procedentes em parte pela 5ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Fortaleza, Ceará ("DRJ"), na sessão de julgamento do dia 29/04/2014, em acórdão que possui a seguinte ementa: Fl. 6700DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.698 7 "ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 09/09/2009, 15/01/2010 AUSÊNCIA DE MPF. ALEGAÇÃO DE NULIDADE. INOCORRÊNCIA A competência para o lançamento tributário, que detém o AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil, tem origem na lei. O Mandado de Procedimento Fiscal é apenas um instrumento gerencial de controle administrativo da atividade fiscal, que tem também como função oferecer segurança ao sujeito passivo, ao lhe fornecer informações sobre o procedimento fiscal contra ele instaurado e possibilitarlhe confirmar a extensão da ação fiscal e se está sendo executada por servidores da Administração Tributária e por determinação desta. PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA. CERCEAMENTO. INOCORRÊNCIA. As empresas são livres para criarem e se organizarem da forma que melhor lhes convier. Por sua vez, a administração pública e seus agentes estão obrigados a agirem nos estritos limites do que dispõe a Lei. Não pode a fiscalização desconsiderar as próprias evidências coletadas no procedimento fiscal e deixar de aplicar a penalidade quando há dispositivos legais que lhe dêem suporte, independente da forma como se organizam as empresas. PROVAS INDICIÁRIAS. CONJUNTO DE ELEMENTOS/INDÍCIOS. OCORRÊNCIA. A comprovação material de uma dada situação fática pode ser feita, em regra, por uma de duas vias: ou por uma prova única, direta, concludente por si só; ou por um conjunto de elementos/indícios que, se isoladamente nada atestam, agrupados têm o condão de estabelecer a certeza daquela matéria de fato. SOLIDARIEDADE PASSIVA. INFRAÇÃO. FALTA DE COMPROVAÇÃO DE VINCULAÇÃO COM A INFRAÇÃO. Para caracterizar a responsabilidade tributária nos termos do art. 95 do Decretolei 37/66 é necessário comprovar a vinculação entre o apontado como responsável tributário e a infração ocorrida. IMPUGNAÇÃO. INTEMPESTIVIDADE. OCORRÊNCIA. Considerase intempestiva a impugnação apresentada após o decurso do prazo estabelecido na legislação que rege o processo administrativo fiscal. ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Data do fato gerador: 09/09/2009, 15/01/2010 INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA. SIMULAÇÃO. OCORRÊNCIA. Fl. 6701DF CARF MF 8 A não comprovação da origem, transferência e disponibilidade de recursos para arcar com os compromissos resultantes das operações de comércio exterior em uma importação formalmente declarada como para revenda a encomendante predeterminado caracteriza a interposição fraudulenta e resulta na infração de dano ao erário prevista no art. 23 do DecretoLei nº 1.455/76". A decisão recorrida sequer conheceu da Impugnação apresentada pela Jotaeme, por ter sido apresentada de forma intempestiva, eis que "a empresa JOTAEME teve ciência do auto de infração em 06/04/2011 (fls. 5.246) e em 31/05/2011 apresentou impugnação (fls. 6.207 a 6.235)". Além disso, a decisão recorrida exonerou o Sr. Marcelo Araújo da responsabilidade solidária a ele atribuída, considerando improcedentes as demais impugnações, para manter o crédito tributário exigido. Considerando o valor da multa exonerada, de R$1.196.029,14, o disposto no artigo 34, inciso I, do Decreto nº 70.235/1972, no artigo 1º da Portaria MF nº 03/2008, vigente à época da decisão, seria o caso de interposição de recurso de ofício mediante declaração da própria decisão, conforme artigo 34, parágrafo 1º, do Decreto nº 70.235/1972, o que não ocorreu. De qualquer maneira, com fundamento no artigo 34, parágrafo 2º, do Decreto nº 70.235/1972, que prevê a possibilidade de a autoridade julgadora cumprir essa formalidade, caso percebido que o recurso deixou de ser interposto quando deveria sêlo, mesmo ausente a declaração da decisão recorrida, o recurso de ofício será considerado como devidamente interposto, para fins de revisão da sujeição passiva do Sr. Marcelo Araújo, adiantandose, neste relatório, que o valor exonerado está abaixo do atualmente previsto pela Portaria MF nº 63/2007, motivo pelo qual se aplicará a Súmula CARF nº 1031, para o não conhecimento do Recurso de Ofício. Dessa decisão, a Target foi cientificada no dia 04/06/2014, conforme documento de fls. 6441 e apresentou tempestivo Recurso Voluntário no dia 03/07/2014, conforme documento de fls. 6464, pelo qual pede o cancelamento do Auto de Infração, pelos seguintes motivos: (i) a Neo não é uma empresa de fachada e possui capacidade econômica para atuar como encomendante das mercadorias importadas; (ii) "o Fisco conhecia as referidas operações quando respondeu à consulta formulada pela Neo acerca da forma como ela iria atuar nessas operações de importação por encomenda e não se opôs a elas"; (iii) não houve repasse de benefícios fiscais de ICMS da Target à Neo nem da Neo a seus clientes; (iv) o Fisco aplicou de maneira equivocada as cláusulas dos contratos celebrados entre Target e Neo e Neo e seus clientes; (v) não cabe ao Fisco interferir na liberdade de exercício da atividade econômica da Neo, pois haveria violação ao princípio da livre iniciativa; (vi) não houve simulação ou fraude; (vii) o fundamento adotado pelo acórdão recorrido implicaria alteração do critério jurídico, vedado pelo artigo 146, do CTN; e (viii) não seria aplicável a pena de perdimento, por não ter ocorrido interposição fraudulenta e porque falso ideológico, segundo a Target, a acusação fiscal, não resultar em tal penalidade. Já a Neo foi cientificada no dia 02/07/2014, conforme documento de fls. 6449, e apresentou tempestivo Recurso Voluntário no dia 18/07/2014, conforme documento de fls. 6571, no qual requer o cancelamento do lançamento, com base nos mesmos motivos defendidos pela Target mais a alegação de que não seria admissível a cumulação da multa de 1 Súmula CARF nº 103: Para fins de conhecimento de recurso de ofício, aplicase o limite de alçada vigente na data de sua apreciação em segunda instância. Fl. 6702DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.699 9 conversão da pena de perdimento com a multa por cessão de nome em relação a ela, por já estar respondendo por essa última penalidade em outro processo. Por sua vez, a Jotaeme foi cientificada, por edital, no dia 30/06/2014, conforme documento de fls. 6446, e seu representante legal foi cientificado pelos Correios no dia 14/06/2014, conforme documento de fls. 6450, e apresentou Recurso Voluntário no dia 14/07/2014, conforme documento de fls. 6528, pelo qual pede a decretação de nulidade do Auto de Infração, por falta de citação da Jotaeme no procedimento de fiscalização, que seja excluída do lançamento por falta de legitimidade e, no mérito, que seja julgado improcedente o Auto de Infração. Em seguida, os autos foram remetidos ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais ("CARF") e distribuídos à minha relatoria. É o relatório. Voto Conselheiro AUGUSTO FIEL JORGE D'OLIVEIRA Recurso de Ofício Como adiantado no Relatório, haveria de constar na decisão recorrida declaração de interposição de Recurso de Ofício, tendo em vista a exoneração do Sr. Marcelo Araújo da responsabilidade solidária a ele atribuída, no valor de R$1.196.029,14, tendo em vista o disposto no artigo 34, inciso I, do Decreto nº 70.235/1972, e no artigo 1º da Portaria MF nº 03/2008, vigente à época da decisão. De qualquer maneira, com fundamento no artigo 34, parágrafo 2º, do Decreto nº 70.235/1972, que prevê a possibilidade de a autoridade julgadora cumprir essa formalidade, caso percebido que o recurso deixou de ser interposto quando deveria sêlo, mesmo ausente a declaração da decisão recorrida, o recurso de ofício será considerado como devidamente interposto, para fins de revisão da sujeição passiva do Sr. Marcelo Araújo. Todavia, como o valor exonerado está abaixo do atualmente previsto pela Portaria MF nº 63/2007, considerando o entendimento firmado pela Súmula CARF nº 103, pela qual "para fins de conhecimento de recurso de ofício, aplicase o limite de alçada vigente na data de sua apreciação em segunda instância", deixo de conhecer o Recurso de Ofício. Recursos Voluntários Os Recursos Voluntários interpostos pela Target e pela Neo são tempestivos e preenchem os demais requisitos para sua admissibilidade, portanto, devem ser conhecidos. Já em relação ao Recurso Voluntário interposto pela Jotaeme, deixo de conhecêlo, tendo em vista a inexistência no Recurso Voluntário de contestação relativa à decretação pela em primeira instância de intempestividade da Impugnação e que a apresentação de Impugnação intempestiva não permitiu a instauração da fase litigiosa do procedimento em relação a Jotaeme, estando preclusas quaisquer matérias de defesa por ela opostas, nos termos dos artigos 14 e 17 do Decreto nº 70.235/1975. Fl. 6703DF CARF MF 10 Interposição Fraudulenta de Terceiros A questão que é colocada ao Colegiado diz respeito à aplicação de multa por conversão da pena de perdimento, sob a acusação de que as intervenientes em operações de importação praticaram infração aduaneira que é considerada dano ao Erário, com fundamento legal no artigo 23 do Decreto Lei nº 1455/76, in verbis: “Art 23. Consideramse dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: (...) V estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros. (...) “§ 1º O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias. § 2º Presumese interposição fraudulenta na operação de comércio exterior a nãocomprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados. § 3º As infrações previstas no caput serão punidas com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, na importação, ou ao preço constante da respectiva nota fiscal ou documento equivalente, na exportação, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida, observados o rito e as competências estabelecidos no Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972”. (grifos nossos) A partir da leitura desses dispositivos, percebese que a infração de dano ao erário decorrente da prática de ocultação do sujeito passivo ou real adquirente pode ser aferida de duas maneiras, de forma presumida ou comprovada. Na hipótese de nãocomprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados para a realização da importação, presumese que tenha havido uma interposição fraudulenta de terceiros, pois, a ausência de recursos por parte do importador para a realização da operação é um elemento eleito pela Lei como suficiente para considerar que os recursos utilizados tiveram origem em terceiro, que não apareceu perante os controles aduaneiros, a caracterizar a interposição ilegal. Não sendo esse o caso, poderão as autoridades aduaneiras, com base em outros elementos, formar um conjunto de provas que demonstrem a ocorrência de fraude ou simulação com o intuito de interpor determinada pessoa entre o real adquirente e as autoridades fiscais, para que a primeira permaneça oculta aos olhos da fiscalização. Nesse ponto, importante observar que o tipo infracional não é a mera ocultação do sujeito passivo nas operações de comércio exterior, mas a ocultação realizada "mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros". Dessa maneira, para que reste caracterizada a interposição fraudulenta ensejadora da pena de perdimento ou de sua multa substitutiva, é essencial que esteja presente na operação de comércio exterior os elementos de fraude ou simulação. Em decorrência, também é essencial que seja fixada a compreensão a ser dada a tais conceitos, antes de se avançar na análise da matéria. Fl. 6704DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.700 11 Para contextualizar, é de se observar que, na legislação tributária, há referência ao termo "dolo, fraude ou simulação" em diversos dispositivos (como, por exemplo, artigo 149, inciso VII, artigo 150, parágrafo 4º, artigo 154, parágrafo único, artigo 180, inciso I, artigo 208, caput, todos do CTN). Quanto ao "dolo", é enumerado pelo Código Civil, em conjunto com o erro ou ignorância, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra credores, como um dos defeitos do negócio jurídico, vícios que geram a anulabilidade do negócio jurídico, nos termos do artigo 171, inciso II, do Código Civil. Já o Código Penal, em seu artigo 18, define o crime doloso, como aquele praticado "quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzilo". Na doutrina de Maria Rita Ferragut, "conceituase por dolo a vontade consciente de praticar uma conduta típica, ou seja, de realizar os elementos constantes do tipo legal. É a prática de ilícito por agente que possuía o animus de realizálo, não obstante soubesse que o ordenamento jurídico rechaçava tal comportamento. Diferenciase da culpa em função da previsibilidade do resultado"2. Por sua vez, a "fraude" possui definição específica no artigo 72 da Lei nº 4.502/1964, in verbis: "Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento"(grifos nossos). Contudo, por se tratar a ocultação prevista no artigo 23 do Decreto Lei nº 1455/76 de uma infração de natureza aduaneira e não tributária, o Conselheiro Rosaldo Trevisan afirma: "(...) na interposição fraudulenta a “fraude” não se confunde, necessariamente, com aquela definida na legislação tributária (artigo 72 da Lei no 4.502/1964), embora seja freqüente que a interposição tenha também impactos tributários. A interposição fraudulenta trata da fraude como gênero (como qualquer norma infracional não tributária), e não somente da fraude definida na legislação tributária – espécie, e pode ser caracterizada por fraude ou também por simulação (instituto sequer definido especificamente na Lei nº 4.502/1964)". (Acórdão nº 3401003.892, de 26/07/2017) Por outro lado, há aqueles que defendem a aplicabilidade do conceito previsto no artigo 72 da Lei nº 4.502/1964, tendo em vista que inclui também ação ou omissão tendente a modificar as características essenciais da obrigação tributária, no caso, o aspecto pessoal referente ao sujeito passivo das obrigações relativas à operação de comércio exterior. Nesse sentido, transcrevo trecho de sentença proferida pela Juíza Federal Vera Lúcia Feil Ponciano, citada e mantida no julgamento da Apelação Cível nº 5036257 19.2012.4.04.7000/PR3: "Verificase que a caracterização de tais condutas, desde que praticadas mediante fraude ou simulação, como hipótese de aplicação da pena de perdimento da mercadoria importada, decorre de disposição legal. Assim, a conduta reprimida, por meio da drástica pena de perdimento, é a fraude, o artifício malicioso para a ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, 'inclusive a interposição fraudulenta de terceiros'. Evidente que a infração deve ser grave em sua substância, e não sob o aspecto meramente formal.(...) A ação ou omissão na ocultação do sujeito passivo atinge, excluindo ou modificando, a obrigação tributária em uma dos aspectos essenciais da hipótese de incidência, qual seja, o aspecto pessoal. Ocorre, nessa situação, 2 "Responsabilidade tributária e o Código Civil de 2002". Editora Noeses. São Paulo. 2005. p. 108109. 3 Relatora: Maria de Fátima Freitas Labarrère; 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Data: 03/08/2016 Fl. 6705DF CARF MF 12 simulação tributária por transferência subjetiva, afetandose o critério pessoal da regra matriz de incidência, que permite identificar o sujeito passivo"(grifos nossos). Por último, a simulação é prevista no Código Civil (Lei nº 10.406/2002) como causa de invalidade do negócio jurídico, elencando o artigo 167, parágrafo 1º, as hipóteses em que se verifica. A maior parte da doutrina define a simulação como a divergência entre a vontade real das partes envolvidas e a vontade declarada. Conforme afirmado por Alberto Xavier4: “Tratase de um caso de divergência entre a vontade e a declaração, procedente do acordo entre o declarante e declaratário e determinada pelo intuito de enganar terceiros. Os seus elementos essenciais são pois: (i) a intencionalidade da divergência entre a vontade e a declaração (ii) o acordo simulatório (pactum simulationis) (iii) o intuito de enganar terceiros.” Diante de tais conceitos, quando o artigo 23 do Decreto Lei nº 1455/76 traz a infração de dano ao erário, resultante de ocultação do sujeito passivo em operação de comércio exterior, exigindo que seja aquela realizada "mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros", podese afirmar que um primeiro elemento a ser identificado é o dolo, pois sem ele, não haveria fraude ação ou omissão dolosa nem simulação que tem entre os seus elementos essenciais o intuito de enganar a Fazenda Pública. Logo, para a caracterização da infração, deve se verificar a vontade, o animus, dos agentes em enganar a Fazenda Pública e ocultar o sujeito passivo mesmo sabendo que tal conduta é contrária a Lei, com o objetivo de conseguir uma vantagem indevida em detrimento do controle aduaneiro. Além disso, essa infração deve ser uma infração grave em substância e não uma infração meramente formal. Ao analisar todo o histórico da legislação que trata dessa infração, o Conselheiro Eloy Eros da Silva Nogueira, no Acórdão nº 3401003.253, de 27/09/2016, expôs seu entendimento no sentido de que as normas que tratam dessa infração "se alinham a uma busca de combater a lavagem de dinheiro, através do combate à fraude e à simulação. A Aduana, antes desse período, já tinha, na sua missão institucional mundial, o combate à prática desleal e à fraude, mas houve um substancial impulso nesses últimos anos". E continua, "desse conjunto de iniciativas, no âmbito do comércio exterior, resultaram a valorização do controle aduaneiro em geral e, especificamente, a eleição do conhecimento da origem, disponibilidade e destinação dos recursos usados nas importações e exportações como elemento tático de investigação". (grifos nossos) Assim, a partir dessa perspectiva na interpretação e aplicação das normas que tratam da infração de interposição fraudulenta, o Conselheiro Eloy Eros da Silva Nogueira observou que: "Não constitui elemento essencial do tipo a ocultação do real interessado na operação. A ocultação deve ter sido perpetrada mediante fraude ou simulação, ou interposição fraudulenta. Não constitui elemento essencial do tipo a falta de informação do real interessado na operação nas declarações prestadas à autoridade aduaneira. É necessário que essa falta de informação se caracterize como falsa declaração, no propósito de ocultar, usando de fraude ou simulação. 4 Direito Tributário e Empresarial: pareceres. Rio de Janeiro. Forense. 1982. p. 25. Fl. 6706DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.701 13 A Lei criou as figuras da 'importação por conta e ordem' e da 'importação por encomenda', o que concorre para balancear as necessidades dos atores na operações de importação com as do controle aduaneiro. Essas figuras receberam normas que as disciplinam. A observação dessas normas pelos importadores atende o controle aduaneiro. Mas a desobediência dessas normas não constitui elemento essencial do tipo, embora o descumprimento das normas seja característica da infração". (grifos nossos) Logo, em linha com o acima exposto, não compartilho do entendimento daqueles que defendem que a mera falta de informação dos reais adquirentes nos documentos prestados às autoridades aduaneiras seria, por si só, a própria simulação ou a fraude, em prejuízo ao controle aduaneiro, a caracterizar a infração. Em tais casos, não basta à Fiscalização apenas afirmar que a simulação é a indicação errada do sujeito passivo nos documentos de controle aduaneiro, devendo levantar um conjunto de elementos que façam prova do dolo dos agentes envolvidos e do intuito de enganar a Fazenda Pública, para obtenção de uma vantagem e imposição de um prejuízo ao controle aduaneiro. Por oportuno, pelo afastamento da aplicação da pena de perdimento em razão de aspectos formais, destaco manifestação do Desembargador Antônio Albino Ramos de Oliveira, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região: "O que se reprime, através da drástica pena de perdimento, é a fraude, o artifício malicioso para a ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, "inclusive a interposição fraudulenta de terceiros". Evidente que a infração deve ser grave em sua substância, e não sob o aspecto meramente formal. No caso concreto, porém, a despeito do esforço desenvolvido pela autoridade autuante, não vejo no procedimento da agravante qualquer objetivo fraudulento ou malicioso. Não atino onde esteja o dano ao erário, a justificar o confisco do equipamento importado"5. Modalidades de Importação Antes de passar ao exame do caso concreto, impende ainda tecer algumas observações sobre as modalidades de importação, pois, a depender das características da operação declarada e da operação efetivamente ocorrida, em conjunto com os requisitos já expostos, poderá ficar configurado o dano ao erário, sujeitando os infratores às penalidades daí decorrentes. A legislação aduaneira prevê três modalidades de importação: (i) na importação direta, o importador é o próprio adquirente dos bens importados, realizando a importação com recursos próprios e por seu próprio risco; (ii) na importação por conta e ordem de terceiros, o importador presta apenas serviços (de logística, aduaneiros, cotação de preços, intermediação) para o adquirente, que é a pessoa de onde provém os recursos para a realização da importação; e (iii) na importação para revenda a encomendante predeterminado ("importação por encomenda"), o importador estabelece uma relação de comissão com adquirente, disciplinada pelo artigo 696 e seguintes do Código Civil (Lei nº 10.406/2002), pela qual o importador é comissário e o adquirente é o comitente, entrando o importador na operação de importação com recursos próprios e se comprometendo a revender os bens importados ao adquirente6. 5 Agravo de Instrumento nº 2005.04.01.0462051 / 046205157.2005.4.04.0000; publicado em 11/01/2006. 6 Acórdão nº 3401003.174, de 17/05/2016. Fl. 6707DF CARF MF 14 Essas características de cada modalidade são obtidas a partir dos preceitos legais sobre a matéria. Logo, o que há é um conceito legal para cada modalidade de importação. Além disso, devese ressaltar que as leis que tratam da "importação por conta e ordem" e da "importação para revenda a encomendante predeterminado" outorgaram à Receita Federal a competência para estabelecer os requisitos e condições para a qualificação de determinada operação em uma dessas modalidades, para fins de reconhecimento do tratamento tributário próprio a tais operações, além de definição de atribuição de responsabilidade tributária. É ler os artigos abaixo: Medida Provisória nº 2.15835/2001: "Art. 80. A Secretaria da Receita Federal poderá: I estabelecer requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica importadora por conta e ordem de terceiro; e I estabelecer requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica importadora ou exportadora por conta e ordem de terceiro; e (Redação dada pela Lei nº 12.995, de 2014)" (grifos nossos) ***** Lei nº 11.281/2006: “Art. 11. A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros. § 1o A Secretaria da Receita Federal: I estabelecerá os requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica importadora na forma do caput deste artigo"; (grifos nossos) Nesse contexto, com relação à modalidade de importação por conta e ordem, destaquese o artigo 27 da Lei nº 10.637/2002, que prevê que "a operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro presumese por conta e ordem deste" e a Instrução Normativa nº 225/2002, que traz os requisitos e condições para a atuação de pessoa jurídica em operações por conta e ordem de terceiros. Já no que diz respeito à "importação para revenda a encomendante predeterminado", merece destaque uma alteração legislativa ocorrida logo após a edição dos seus dispositivos de regência, trazida pelo artigo 18 da Lei nº 11.452/2007, que acrescentou o parágrafo 3º ao artigo 11 da Lei nº 11.281/2006, conforme abaixo: "Art. 18. O art. 11 da Lei no 11.281, de 20 de fevereiro de 2006, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º: “Art. 11. (...) § 3º Considerase promovida na forma do caput deste artigo a importação realizada com recursos próprios da pessoa jurídica importadora, participando ou não o encomendante das operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior.” (NR) Fl. 6708DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.702 15 A respeito desse dispositivo, o Conselheiro Rosaldo Trevisan, em recente acórdão, afirmou: "O referido artigo 11 da Lei recebeu um § 3o, em 2007, acrescentado pela Lei no 11.452, de modo a “pacificar a interpretação dada pela administração tributária federal às operações de importação de que trata o art. 11” (conforme parecer do relator, Deputado Neucimar Fraga/PLES, na conversão da MP no 328/2006 na Lei no 11.452, disponível em (...): [segue transcrição do dispositivo] Por certo que tal dispositivo foi inserido pelo parlamentar capixaba em prol das empresas daquela região que atuam com os benefícios do FUNDAP, para aclarar que as importações por encomenda não se descaracterizam pelo simples fato de haver participação do encomendante nas operações comerciais, mitigando autuações frequentes da RFB, à época, com entendimento diverso. Assim, é irrelevante, por si, a ligação entre a exportadora e a encomendante, ou a participação desta ou daquela na fixação de preços. Aliás, o artigo 14 da Lei no 11.281/2011, em sua redação original, afirma que são aplicáveis ao importador e ao encomendante as regras sobre preços de transferência, já prevendo eventual vinculação entre partes, e que esta não descaracterizaria, por si, a modalidade de importação por encomenda". (Acórdão nº 3401003.908, de 27/07/2017) Dessa maneira, não se exige para a caracterização de uma "importação para revenda a encomendante predeterminado" que o importador seja o responsável exclusivo pelas tratativas e ajustes com o exportador e, de outro lado, a participação do encomendante predeterminado nas operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior não afasta a caracterização da operação nessa modalidade, o que, inclusive, acabou por rechaçar alguns conceitos de "importação para revenda a encomendante predeterminado" antes defendidos na doutrina e por parte dos operadores de direito. Com isso, como já afirmado, o conceito de "importação para revenda a encomendante predeterminado" deve ser buscado e é aquele definido pela Lei. Nesse sentido, uma vez que a Lei deixou claro o papel do importador por encomenda na operação de aquisição do produto do exterior e outorgou à Receita Federal a competência para estabelecer os requisitos e condições para a atuação da pessoa jurídica importadora nessa modalidade de importação, verificase que o que é importante para a qualificação nessa modalidade é que o importador utilize recursos próprios, pois, como determina a Instrução Normativa nº 634/2006: "Artigo 1º (...) Parágrafo único. Não se considera importação por encomenda a operação realizada com recursos do encomendante, ainda que parcialmente". Assim, na hipótese em que a importadora não utiliza recursos próprios, a operação passaria ser considerada como operação por conta e ordem de terceiros, por força do disposto no artigo 11, parágrafo 2º, da Lei nº 11.281/2006, in verbis: "Art. 11. A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros. (...) § 2o A operação de comércio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condições estabelecidos na forma do § 1o deste artigo presumese Fl. 6709DF CARF MF 16 por conta e ordem de terceiros, para fins de aplicação do disposto nos arts. 77 a 81 da Medida Provisória no 2.15835, de 24 de agosto de 2001". Como se vê, apesar de existir um conjunto de elementos para se verificar a ocorrência de interposição fraudulenta, pela leitura da legislação que instituiu a infração e considerando o histórico na qual está inserida, de medidas que visam combater a lavagem de dinheiro, através do combate à fraude e à simulação, o ponto sensível e que merece atenção é a origem dos recursos aplicados nas operações de comércio exterior, o que, a meu ver, até conduz a uma preponderância desse elemento frente a outros, que se traduz em uma importante baliza para a qualificação de determinada operação em uma ou outra modalidade. Do exame do caso concreto Operação Declarada e Acusação Fiscal Nos lançamentos de multa por conversão da pena de perdimento que decorrem da imputação da prática de "interposição fraudulenta", é necessário que se tenha claro qual a operação declarada pelos partícipes da infração e a operação que as autoridades aduaneiras entendem ter efetivamente ocorrido. Isso porque, os elementos trazidos da Fiscalização para qualificar uma operação em uma modalidade diversa da que foi declarada às autoridades dependerá, por óbvio, do conhecimento de que modalidade diversa foi essa. Assim, determinados elementos que seriam importantes para demonstrar a ocorrência de uma ocultação mediante fraude ou simulação em uma operação entendida pela Fiscalização como uma operação por conta e ordem podem não ser importantes para demonstração da infração em uma operação entendida como uma operação de importação por encomenda. E o inverso também é verdadeiro. Para ilustrar, se a Fiscalização entende que determinada operação declarada como importação por conta própria por A seguida de uma revenda no mercado interno para B, na realidade, se tratava de uma operação por conta e ordem, poderá levantar provas que demonstrem que foi B e não A que participou dos entendimentos comerciais relativos à aquisição dos produtos no exterior. Agora, se a acusação é de que houve, na realidade, uma operação de importação por encomenda, essa mesma prova não tem qualquer pertinência, pois não desqualificaria a operação nessa modalidade, tendo em vista o disposto no parágrafo 3º do artigo 11 da Lei nº 11.281/2006. Esta, portanto, a importância de se conhecer exatamente a operação declarada e a operação entendida como ocorrida pela Fiscalização. Nesse ponto, é certo que a Fiscalização, ao lavrar o Auto de Infração e o respectivo Relatório Fiscal, deve individualizar a conduta das partes envolvidas e apontar, de maneira clara, explícita/precisa e congruente a acusação que dá origem à cominação da penalidade (artigo 10, incisos II, III e IV, do Decreto nº 70.235/1972; artigo 50, parágrafo 1º, da Lei nº 9.784/1999). Quanto mais gravosa a penalidade imputada, mais cuidado deve ter a autoridade fiscaladuaneira ao apresentar as razões de fato e de direito que a fundamentam. Não podem ser admitidas acusações abertas, genéricas, sob pena de violação ao direito à ampla defesa e ao contraditório (artigo 5º, LV, da Carta da República), com as nulidades daí decorrentes (artigo 59, inciso II, do Decreto nº 70.235/1972), além disso, a acusação deve ser clara, explícita/precisa e congruente, para evidenciar o critério jurídico adotado pela autoridade no exercício do lançamento, que não poderá ser modificado ao longo do processo administrativo, como prevê o artigo 146, do CTN. Seguindo a autoridade lançadora tais requisitos legais, a lide estará delimitada, o que permitirá às partes o exercício de seu direito de defesa de forma adequada e Fl. 6710DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.703 17 aos julgadores a correta apreciação da controvérsia, com a aplicação da legislação ao caso concreto que lhes é submetido. No presente caso, de acordo com o que foi declarado nas informações prestadas às autoridades aduaneiras, e como defendem as Recorrentes ao longo do processo, as operações de importação teriam ocorrido na modalidade de "importação por encomenda", na qual a trading company Target teria atuado como importadora e a Neo como encomendante predeterminado e, em seguida, a Neo teria realizado outra revenda no mercado interno aos seus clientes. Assim, teriam ocorrido, na realidade, três operações distintas: (i) operação de importação entre Target e o exportador localizado no exterior; (ii) após a nacionalização das mercadorias, uma revenda no mercado interno entre Target ao encomendante predeterminado Neo; e (iii) por último, outra revenda no mercado interno entre a Neo e um dos seus clientes. Nesse caso, como visto acima, para a caracterização da operação na modalidade declarada, os recursos para a realização das operações de importação deveriam necessariamente ser da Target, sendo ela a responsável pelo risco da operação. Todavia, as autoridades lançadoras entendem que a operação declarada às autoridades aduaneiras não corresponde a que efetivamente ocorreu. Pela análise do Relatório Fiscal, percebese certa incongruência na exposição dos elementos que caracterizariam a infração aduaneira, que deixam até uma dúvida inicial para o caminho que irá seguir a acusação do lançamento, ora apontando para uma acusação de que, na realidade e em contrariedade ao que fora informado às autoridades fiscais, teria ocorrido uma importação por conta e ordem quando menciona, por exemplo, que Target e Neo seriam meras prestadoras de serviços de nacionalização , ora apontando para uma acusação de prática de importação por encomenda, em que o encomendante predeterminado não seria a Neo, como informado às autoridades aduaneiras, mas sim os clientes da Neo. De qualquer maneira, uma leitura mais acurada do Relatório permite que sejam afastadas eventuais dúvidas e que se conclua que a acusação fiscal é de que a operação praticada se deu na modalidade "importação por encomenda", mas tendo como encomendante os clientes da Neo. No Relatório Fiscal, há algumas referências no sentido de que o entendimento da Fiscalização é de que teria ocorrido, de fato, uma "importação por encomenda", como se verifica nos trechos a seguir, em que, inclusive, a Fiscalização reconhece que os recursos para pagamento das operações de importação, ou seja, o risco da operação de importação, era da Target, em linha com o que se espera de uma "importação por encomenda": "Na presente ação fiscal, como será demonstrado no decorrer deste relatório, restou comprovado que a NEO figurou como encomendante nas Declarações de Importação investigadas, porém as mercadorias eram predestinadas a outros interessados, os verdadeiros encomendantes das mercadorias, inclusive mediante contratos previamente firmados e prestação de garantias". (Item 2 do Relatório Fiscal) ***** Fl. 6711DF CARF MF 18 "Os custos referentes ao desembaraço aduaneiro e tributos sobre o comércio exterior teriam sido suportados pela TARGET, que apresentou documentação (fls 2555 a 2598) referente ao crédito usualmente obtido perante instituições bancárias". (Item 6 do Relatório Fiscal) (grifos nossos) Essa conclusão ganha mais força pela afirmação da Fiscalização, no sentido de que os elementos por ela colhidos revelariam uma "prestação de serviços de desembaraço aduaneiro, nos moldes do que há alguns anos se consideraria uma importação por conta e ordem, e que só não é possível nos dias atuais por força da presunção legal do § 3º, Art. 11, da Lei nº 11.281/2006, incluído pela Lei nº 11.452/2007". Além disso, a corroborar nosso entendimento quanto ao conteúdo da acusação fiscal, cabe destacar a seguinte afirmação da Fiscalização, na qual deixa claro a operação efetivamente praticada, aos seus olhos, pelos Recorrentes, e o principal motivo para a prática de tal operação: "Diante do exposto, resta claro que, nas importações investigadas na presente ação fiscal, o Sr. Marcelo Araújo e os clientes da STEELCOM, estes últimos os verdadeiros encomendantes das mercadorias, valeramse da TARGET e da NEO para providenciar a nacionalização, portanto, não buscaram a TARGET/NEO para comprar no mercado interno, mas para promover importações por encomenda. Dessa forma puderam, mediante simulação, tirar proveito da redução de custos proporcionada por benefícios fiscais do ICMS". (Item 6 do Relatório Fiscal) (grifos nossos) Mas o que afasta de vez a trilha, por vezes, titubeante seguida pelo Relatório Fiscal é o enquadramento legal apresentado para dar fundamento à sujeição passiva, que é descrito nos itens 7 e 9 do Relatório Fiscal, e aponta os artigos 106 e 603 do Regulamento Aduaneiro (Decreto nº 6.759/2009), que tratam de responsabilidade solidária em relação a tributos e responsabilidade por infração, de forma expressa, para os casos de "importação por encomenda", com se verifica a seguir: "Art. 106. É responsável solidário: (...) IV o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora (DecretoLei no 37, de 1966, art. 32, parágrafo único, alínea “d”, com a redação dada pela Lei no 11.281, de 2006, art. 12); (...) Art. 603. Respondem pela infração (DecretoLei no 37, de 1966, art. 95): (...) VI conjunta ou isoladamente, o importador e o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora (DecretoLei no 37, de 1966, art. 95, inciso VI, com a redação dada pela Lei no 11.281, de 2006, art. 12)". Com essas considerações, podese concluir que a acusação fiscal é de que as Recorrentes praticaram, na realidade, uma "importação por encomenda", que teve como encomendante predeterminado não a Neo, mas sim os seus clientes. Segundo a Fiscalização, haveria um vazio na posição ocupada pela Neo na cadeia comercial, a Neo não teria autonomia ou segregação de propósitos em relação a Target, portanto, tais empresas, do mesmo, grupo, agiriam em conjunto, sendo o papel efetivo da Neo apenas o de ceder o seu nome nos documentos de importação, para que aparecesse no lugar da reais encomendantes, a saber, as clientes da Neo. O objetivo principal apontado pela Fiscalização: a obtenção de benefícios fiscais de ICMS. Fl. 6712DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.704 19 Nesse contexto, seguindo a linha adotada pela Fiscalização, a relação comercial existente, de revenda de mercadorias no mercado interno, após a realização de importação por encomenda, não seria entre a Neo e seus clientes, mas sim uma relação direta entre os clientes da Neo e a Target, sendo necessário, portanto, o levantamento de provas nesse sentido. Análise dos elementos levantados pela Fiscalização Como relatado, a Fiscalização levantou os seguintes elementos para dar subsídio à acusação que consta no Auto de Infração para lançamento da multa por conversão da pena de perdimento: (i) capacidade econômica e financeira da Neo; (ii) pedido de habilitação ordinária pela Neo, desistência e prestação de informações erradas; (iii) incentivos fiscais estaduais; (iv) riscos e custos das operações; e (v) adiantamento de clientes da Neo. No cotejo entre os elementos levantados e a acusação realizada, de que teria ocorrido uma "importação por encomenda" em que o encomendante predeterminado eram os clientes da Neo e não a Neo, como informado às autoridades aduaneiras, existem elementos que, de plano, não se prestam a tal finalidade, enquanto que outros merecem maior exame, para que se verifique a demonstração ou não do enquadramento na infração descrita no lançamento. Quanto à tentativa da Neo de, possuindo uma habilitação simplificada para operações de comércio exterior, almejar uma habilitação ordinária, a Fiscalização expõe que a prestação de informações erradas seguida da desistência e do indeferimento do pedido evidenciaria “a prática da NEO de prestar para a Administração Aduaneira informações incorretas, visando ostentar uma capacidade econômica e financeira superior a real, esquivandose do adequado controle aduaneiro e dissimulando os indícios que seu real objetivo é atuar de forma irregular para terceiros interessados, ocultos nas operações". Contudo, a Neo não pode ser acusada de se esquivar do adequado controle aduaneiro, em razão de ter apresentado um pedido de habilitação em uma modalidade que permite a realização de operações de maior vulto no comércio exterior. A prestação de informações erradas e a desistência do pedido no curso do procedimento devem ter como efeito justamente o efeito que tiveram, qual seja, o indeferimento do pedido, não podendo a Fiscalização tentar atribuir um nexo de causalidade entre eventos nos quais tal nexo inexiste, pois da desistência de um pedido de habilitação ordinária não se chega à conclusão de que a Neo presta deliberadamente informações equivocadas em operações de importação por ela realizadas, para prejudicar o controle aduaneiro. De igual modo, não prospera o elemento levantado que diz respeito aos incentivos fiscais estaduais, que, inclusive, são apontados pela Fiscalização como o maior objetivo de toda a estrutura comercial performada pela Neo, Target e os clientes da Neo. Segundo a Fiscalização, em razão dos benefícios fiscais previstos nas legislações dos Estados do Espírito Santo e Santa Catarina, "a TARGET tem seu custo incidente no desembaraço aduaneiro reduzido, sendo esse seu maior atrativo para empresas que desejam nacionalizar mercadorias, pois se beneficiam dessa redução de custos". Esse elemento trazido pela Fiscalização faria todo o sentido se a acusação fosse de que os Recorrentes realizaram uma operação por conta e ordem de terceiros, tendo em vista a interpretação do artigo 155, parágrafo 2º, inciso IX, alínea “a”, da Carta da República, para fixação do sujeito ativo do ICMS incidente na operação de importação, no sentido de que: “O sujeito ativo da relação jurídicotributária do ICMS é o Estado onde estiver situado o Fl. 6713DF CARF MF 20 domicílio ou o estabelecimento do destinatário jurídico da mercadoria (alínea "a" do inciso IX do § 2o do art. 155 da Carta de Outubro); pouco importando se o desembaraço aduaneiro ocorreu por meio de ente federativo diverso” 7. Isso porque, nos casos em que é declarada uma operação de importação por conta própria, realizada a partir de um Estado com benefício fiscal, mas, na realidade há uma operação de importação por conta e ordem, em favor de um real adquirente localizado em Estado sem benefício fiscal, a ocultação do real adquirente permite, de forma ilegal, a fixação do sujeito ativo e do sujeito passivo do ICMS no Estado que outorga benefícios de carga tributária de ICMS reduzida nas operações de importação. E esse benefício pode acabar sendo transferido para o real adquirente na operação subseqüente, de “venda no mercado interno”. Todavia, no presente caso, não se vislumbra essa vantagem, pois as diferenças entre a operação declarada ao Fisco e aquela que é exposta como efetivamente ocorrida na acusação fiscal não implicam qualquer modificação nem no sujeito passivo nem no sujeito ativo do ICMS. Percebam que na operação declarada, de importação sob encomenda, a Target é a importadora e a Neo a encomendante predeterminada, sendo devido, portanto, o ICMS, com os benefícios porventura aplicáveis, aos Estados em que localizados o estabelecimento importador da Target, Espírito Santo ou Santa Catarina. Já a operação apontada pela Fiscalização como ocorrida continua sendo uma importação sob encomenda, com a diferença apenas no encomendante predeterminado que, segundo a Fiscalização não seria a Neo, mas sim os clientes da Neo. Nesse cenário, não há qualquer modificação quanto aos sujeitos passivo e ativo do ICMS na operação de importação, que continuariam a ser a Target e os Estados do Espírito Santo e de Santa Catarina, respectivamente. Logo, é desprovida de qualquer fundamento a constatação de que o objetivo central da utilização da Neo como interposta pessoa teria como objetivo a busca por incentivos fiscais de ICMS. Essa constatação só se sustentaria, caso a acusação estivesse lastreada em provas de que a operação efetiva, realizada entre os atores da importação, fosse de importação por conta e ordem. Contudo, é a própria Fiscalização quem afirma que a operação efetivamente realizada foi de importação por encomenda e que a Target é quem arcou com os recursos para o pagamento das operações de importação, o que denotaria a sua conformidade com o que determina a Lei para a utilização dessa modalidade. Portanto, também esse elemento não condiz com a acusação desenvolvida no lançamento. Com relação à capacidade econômica e financeira da Neo, a Instrução Normativa SRF nº 634/2006 prevê em seu artigo 5º, parágrafo único, que: “Art. 5º O importador por encomenda e o encomendante ficarão sujeitos à exigência de garantia para autorização da entrega ou desembaraço aduaneiro de mercadorias, quando o valor das importações for incompatível com o capital social ou patrimônio líquido do importador ou do encomendante. Parágrafo único. Os intervenientes referidos no caput estarão sujeitos a procedimento especial de fiscalização, nos termos da Instrução Normativa SRF nº 228, de 21 de outubro de 2002, diante de indícios de incompatibilidade entre os volumes transacionados no comércio exterior e a capacidade econômica e financeira citada”. Por sua vez, a Instrução Normativa SRF nº 228/2002 determina que, durante o procedimento de fiscalização, a empresa será intimada a comprovar informações relativas (i) ao seu efetivo funcionamento e condição de real adquirente ou vendedor de mercadorias, e (ii) 7 RE 299079, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 30/06/2004. Fl. 6714DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.705 21 “a origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos necessários à prática das operações” (artigo 4º, incisos I e II, da IN SRF nº 228/2002). E, para efeitos de prova do item (ii), nos termos do artigo 6º da referida Instrução Normativa, podem ser apresentados registros e demonstrações contábeis, documentos referentes a integralização do capital social, transmissão de propriedade de bens e direitos que lhe pertenciam e do recebimento do correspondente preço e financiamento de terceiros, dentre outros documentos que se prestem a comprovar a capacidade econômica e financeira. Nesse contexto, a Fiscalização entendeu que a Neo não disporia de capacidade para realizar as operações na condição de encomendante predeterminado, pois não haveria registro na contabilidade da empresa de quaisquer empréstimos e financiamentos e o capital social da empresa seria de valor reduzido, tendo em conta a constatação, pela Fiscalização, de que a integralização de capital por transferência de direitos sobre bem imóvel à titularidade da Neo não havia sido devidamente registrada no Registro de Imóveis competente. Contra essa acusação, as Recorrentes Neo e Target defendem que a capacidade econômica e financeira da Neo decorre de suas disponibilidades de caixa, que têm origem em fluxo de caixa positivo da Neo, em razão de sua estrutura comercial, pela qual a empresa paga seus fornecedores a prazo, em média 120 dias, e recebe de seus clientes à vista, acostando para fins de demonstração um laudo elaborado por auditoria independente, antes do encerramento da ação fiscal e, portanto, antes da lavratura do Auto de Infração. No Relatório Fiscal, a autoridade lançadora expõe as conclusões do laudo elaborado pela auditoria independente, que efetivamente em sua conclusão 5 atesta que “nas operações comerciais apresentadas no demonstrativo anexo, a Sociedade apresentou fluxo de caixa positivo em decorrência dos pagamentos efetuados aos fornecedores ocorrer posteriormente ao recebimento das vendas aos seus clientes”. Porém, a Fiscalização despreza a validade de tal laudo para comprovar o que se propõe, ao afirmar que “de início, já se pode concluir que tal relatório não é capaz de comprovar capacidade econômica e financeira, por não considerar as demais despesas e receitas, operacionais ou nãooperacionais”. (grifos nossos) Na realidade, o que prejudicaria a capacidade econômica e financeira da Neo seria a ausência de consideração de despesas, não de receitas, que só viriam a agregar tal capacidade. E, ao se levar em conta a estrutura da Neo, tal como informado em documentos apresentados à Receita, possuindo a Neo apenas 7 (sete) funcionários espalhados por pequenos escritórios em três cidades distintas, comparada com o volume de sua operação comercial, na casa dos milhões de reais, constatase que tais despesas operacionais e não operacionais não são, em tese, potenciais centros de drenagem de capacidade econômica e financeira da empresa. De qualquer modo, em se tratando de lançamento, caberia a Fiscalização, após o recebimento de relevante prova em contrário às suas conclusões, a partir dos registros e demonstrações contábeis da Neo, aprofundar a análise até então realizada para provar a ausência de capacidade, o que não feito, limitandose a Fiscalização a apontar o reduzido capital social e a ausência de empréstimos. O primeiro, como se sabe, é mera rubrica contábil, parada no tempo, que indica o montante de capital aportado pelos sócios ou acionistas na sociedade naquele momento específico, não servindo para demonstrar a capacidade econômica e financeira da Fl. 6715DF CARF MF 22 sociedade ao longo do tempo, em razão da dinâmica de entradas e saídas de capital no desenvolvimento do objetivo social. Assim, uma sociedade com capital social baixo pode aplicálo em produto inovador, gerar receitas e possuir um caixa muitas vezes o valor de seu capital social, o que denotará uma alta capacidade econômica e financeira. Por outro lado, pode uma sociedade ter um capital de milhões de reais, subscrito ao longo de décadas, mas se encontrar em um setor no qual a concorrência é acirrada e auferir resultados negativos ao longo dos anos, culminado em um caixa sem qualquer liquidez e dívidas com terceiros altíssimas, o que denotará uma baixíssima capacidade econômica e financeira. No primeiro exemplo, há capital social baixo e alta capacidade econômica e financeira. No segundo, há capital social elevado e baixa capacidade econômica e financeira. Logo, a indicação, por si só, de capital social reduzido não conduz à conclusão pretendida pela Fiscalização. Já a indicação de que a Neo não possuiria empréstimos não é forte para justificar sua ausência de capacidade, pois tal capacidade pode ser evidenciada de outras formas que não só o capital de sócios e de terceiros, não tendo a Fiscalização aprofundado o exame desse ponto, mesmo após apresentação de laudo pela Neo, o que me permite concluir que não restou comprovada a alegada incapacidade econômica e financeira. Outro elemento que sustenta a tese acusatória é que haveria adiantamentos de recursos de clientes em favor da Neo, adiantamentos estes que correspondiam ao valor de sinal exigido pelo Neo, que variava entre 20% (vinte por cento) e 30% (trinta por cento), mas que sequer foram imputados em relação a todas as operações de importação, como as arroladas e discutidas nos processos administrativos nº 12466.720324/201131, 12466.720345/201156, 12466.720326/201120 e 12466.720340/201123. De acordo com a Fiscalização, "a TARGET não pode receber adiantamentos de seus clientes, sob pena de configurar operação por conta e ordem, segundo a presunção legal do art. 27 da Lei 10.637/2002. Sendo assim, a NEO recebe os adiantamentos em seu lugar como garantia para as operações na modalidade por encomenda, porém é uma empresa do mesmo grupo, sem autonomia ou segregação de propósitos, portanto tratase de uma simulação para ocultar os verdadeiros encomendantes das mercadorias"; além disso, assevera que "não há razão para que ocorra pagamento (de sinal) por uma mercadoria que não é sua, que ainda não comprou e sequer foi emitida a nota fiscal, salvo se a operação se tratar de uma encomenda para entrega futura". Como exposto acima, a origem dos recursos aplicados nas operações de comércio exterior é elemento importantíssimo a ser examinado para a verificação da modalidade efetivamente adotada pelos intervenientes das operações de comércio exterior e para fins de enquadramento de determinada operação como uma interposição fraudulenta, considerando todo o histórico da legislação e o aperfeiçoamento do controle aduaneiro, com vistas ao combate à lavagem de dinheiro, fraude e simulação. Assim, o adiantamento de recursos para o importador na modalidade por conta própria ou por encomenda é elemento suficiente para descaracterizar a natureza dessas operações, com as conseqüências daí derivadas. Desse modo, o que se combate e deseja evitar é a transferência de recursos para o importador. No presente caso, o elemento consistente no adiantamento de recursos é apresentado sob um viés diferente, pois não se está diante de um adiantamento de recursos para o importador, a ser aplicado na operação de importação, mas sim de um adiantamento de recursos em uma operação interna, de revenda de mercadorias de um encomendante predeterminado ao seu cliente no país, o que, a priori, seria admitido, dentro de uma política comercial de exigência de sinal, com vistas a obter uma garantia, ainda que parcial, do pagamento do preço e a mitigar os riscos de inadimplência. Portanto, o adiantamento de Fl. 6716DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.706 23 recursos tem conotações diversas, se verificado em operações de importação ou no mercado interno. De qualquer maneira, nesse contexto, o adiantamento de recursos poderia ser alegado para, em conjunto com outros elementos, corroborar uma acusação de que a Neo, informada como encomendante predeterminado, não disporia de recursos próprios e estaria apenas se interpondo entre o importador por conta e ordem e o cliente no país, que, assim, deveria constar perante as autoridades aduaneiras como encomendante predeterminado. Porém, a Fiscalização utiliza esse elemento para dar mais uma justificativa para a acusação realizada: a Neo teria sido interposta entre a Target e os reais encomendantes predeterminados, que seriam os clientes da Neo, justamente para possibilitar um adiantamento de recursos para a operação de importação. Sem a interposição da Neo, essa operação seria qualificada como uma importação por conta e ordem. Daí a interposição da Neo entre a Target e os clientes da Neo. Contudo, esse raciocínio não se sustenta. Primeiro, porque essa afirmação deveria ser provada não apenas com a transferência de recursos entre os clientes da Neo para a Neo, mas também com a comprovação da segunda perna dessa operação, de uma suposta transferência de recursos da Neo para a Target, o que não ocorre na ação fiscal. Segundo, porque é contrária às próprias constatações da Fiscalização. Apesar da colocação de tal acusação, é a própria Fiscalização que dá subsídios para a sua contestação, ao defender no lançamento que a operação efetivamente ocorrida foi uma importação por encomenda tendo como encomendante predeterminado os clientes da Neo e não a acusação de que seria uma importação por conta e ordem , deixando claro, de forma expressa, que as despesas relativas às operações de importação foram arcadas pela Target, quando afirma: "Os custos referentes ao desembaraço aduaneiro e tributos sobre o comércio exterior teriam sido suportados pela TARGET, que apresentou documentação (fls 2555 a 2598) referente ao crédito usualmente obtido perante instituições bancárias". (Item 6 do Relatório Fiscal) (grifos nossos) A Fiscalização ainda apresenta um último elemento para qualificar os clientes da Neo como os reais encomendantes, no lugar da própria Neo, ao expor que os riscos e custos das operações seriam assumidos pelos clientes da Neo, havendo um vazio na posição que a Neo alega ocupar na cadeia comercial, de distribuidora, pois seria difícil de acreditar que os clientes da Neo, grandes distribuidores de aço no país, com grande capacidade econômica e que adquirem grandes quantidades diretamente das siderúrgicas, buscariam um "concorrente" de capacidade econômica inferior que nem a Neo, para comprar aço no mercado interno, entendendo que deveriam buscar a Target para promover a nacionalização do aço estrangeiro. Para tanto, narra o resultado de diligência no representante do exportador estrangeiro de aço, que atuava no país na função de intermediador de negócios (artigos 722 e seguintes do Código Civil) e celebrou contratos de corretagem nãoexclusiva para obtenção de clientes tanto para a Target quanto para a Neo. A conclusão a que chegou a Fiscalização é que “tentase fazer crer que nas operações com a NEO a comissão seria por uma mera venda, e não pela obtenção de um adquirente/encomendante”, a partir da constatação de que não faria sentido a empresa corretora “(1) atuar como corretora para a NEO na venda de aço anteriormente importado pela TARGET; (2) ter atuado nessas mesmas importações como Fl. 6717DF CARF MF 24 representante STEELCOM; (3) atuar como representante STEELCOM também para os “clientes” da NEO”. Quanto a esse ponto, as Recorrentes defendem a segregação de atividades entre a Neo e a Target, expondo que a segunda é uma empresa sólida, fundada em 1997 e que conta com 57 funcionários, possuidora de clientes de grande porte dos mais variados segmentos da economia e que teria recolhido aos cofres públicos em torno de R$1.000.000.000,00 (um bilhão de reais) nos 10 anos anteriores à autuação, enquanto que a primeira foi constituída no ano de 2009, com o objetivo de captar uma oportunidade de mercado, para atuar como distribuidora de mercadorias no mercado interno, principalmente aço e seus produtos, em razão da diferença entre o preço praticado àquela época no mercado interno pelas siderúrgicas nacionais, muito mais elevado que o praticado e que podia ser obtido no mercado internacional. Além disso, as Recorrentes expõem que as operações foram realizadas com a prática de margem de lucro, compatíveis com as observadas em seu mercado de atuação. A meu ver, esse é principal ponto levantado pela Fiscalização para a fundamentar a acusação de que os clientes da Neo e não a Neo seriam os encomendantes predeterminados. Se o exportador já tinha seus contatos comerciais para a venda de aço no país, em princípio, parece ser mais vantajoso realizar esse fornecimento diretamente e não buscar um distribuidor para realizar a venda internacional e depois aproximar esse mesmo distribuidor de contatos comerciais compradores do aço. Nesse caso, realmente, o encomendante predeterminado seria o cliente da Neo, não sobrando lugar para a Neo na cadeia comercial. Por outro lado, é possível que os compradores de aço no país, acostumados a obter esse fornecimento ao longo de anos das principais siderúrgicas nacionais, por meio de operações de compra e venda no mercado interno, não desejassem se aventurar no terreno complexo e, para aqueles que não o conhecem, perigoso, das operações de comércio exterior, mesmo que pudessem obter preços mais vantajosos do insumo no mercado internacional. Assim, nenhum fornecimento se concretizaria e de nada adiantaria ter aço mais barato no mercado internacional e potenciais compradores desse produto, salvo se alguma empresa estivesse disposta a assumir o risco de comprar o insumo no mercado internacional e, com a mercadoria já nacionalizada, ofertar no mercado interno, em concorrência com os grandes grupos siderúrgicos nacionais. Nesse caso, o papel de distribuidora da Neo faria sentido na cadeia comercial, não podendo ser considerada uma mera interposta. De qualquer modo, não há no lançamento qualquer informação a respeito das margens praticadas entre a Target e a Neo e entre a Neo e seus clientes, a fim de corroborar o efetivo papel da Neo, no contexto das operações realizadas. Em operações de interposição fraudulenta, normalmente, o que se encontra é a pessoa interposta como mera repassadora das mercadorias importadas ao real adquirente, sem apurar qualquer margem de lucro ou com margens de lucro baixíssimas. No presente caso, a Fiscalização não faz qualquer prova nesse sentido, existindo ainda laudo apresentado pelas Recorrentes, segundo o qual tais operações teriam se dado com margem de lucro condizente com o mercado de atuação. Em lançamentos para cominação de multa por conversão de pena de perdimento, em razão da prática de infração de interposição fraudulenta, o ônus da prova é do Fisco, que deve provar de maneira cabal as suas acusações. Nesse sentido, é o entendimento da Terceira Seção do CARF, conforme julgado a seguir transcrito: Fl. 6718DF CARF MF Processo nº 12466.720334/201176 Acórdão n.º 3401003.983 S3C4T1 Fl. 6.707 25 “Não pode o fisco, diante de casos que classifica como “interposição fraudulenta”, olvidarse de produzir elementos probatórios conclusivos. Devem os elementos de prova não somente insinuar que tenha havido nas operações um prévio acordo doloso, mas comprovar as condutas imputadas, o que não se vê no presente processo. (...) Nas autuações referentes ocultação comprovada (que não se alicerçam na presunção estabelecida no §2º do art. 23 DecretoLei nº 1.455/1976), o ônus probatório da ocorrência de fraude ou simulação (inclusive a interposição fraudulenta) é do fisco, que deve carrear aos autos elementos que atestem a ocorrência da conduta tal qual tipificada em lei”. (Acórdão nº 3403.002.842; Sessão do dia 25/03/2014; Relator: Rosaldo Trevisan) Além dessa deficiência probatória, ainda nesse tópico que trata da estrutura comercial em que inserida a Neo, importante destacar a informação trazida pelas Recorrentes e omitida do Relatório Fiscal, de que a Neo apresentou Consulta à Administração, nos termos da Instrução Normativa RFB nº 740/2007, para obter o entendimento formal da Receita Federal sobre a legitimidade das operações que pretendia realizar, na qual a Neo expôs os motivos para sua constituição, a relação comercial entre ela e a Target, a sua posição na cadeia comercial, juntando, inclusive, modelos dos contratos entre a Neo e a Target e a entre a Neo e seus clientes. Todavia, essa consulta foi declarada ineficaz, sob o entendimento de que a Neo não teria apontada dúvida objetiva a respeito da legislação federal, tendo demonstrado perfeita compreensão da sistemática da importação por encomenda. Apesar de se reconhecer que a consulta declarada ineficaz não produz quaisquer efeitos vinculativos entre contribuinte e a Administração, a sua propositura indica o desejo da Neo de revelar e não esconder as operações que pretendia praticar, na busca de uma chancela da Administração Pública quanto à sua conformidade em relação à legislação vigente. Por todo o exposto, já caminhando para a conclusão, nesse quadro fático, considerando que o principal motivo apontado pela Fiscalização para a realização da alegada fraude não se mostrou procedente, por ser indiferente a influência de benefícios fiscais de ICMS na operação declarada e na operação entendida pela Fiscalização como realizada, e levando em conta ainda a existência de processo de consulta com a exposição de uma estrutura comercial revelada pela Neo e que posteriormente veio a ser atacada pelo Fisco, acredito que não tenha restado demonstrado pela Fiscalização a ocorrência de uma ocultação realizada mediante fraude ou simulação. Não foi comprovado, de maneira cabal, que os envolvidos na operação (clientes da Neo, Neo e Target) tenham agido de forma dolosa para prestar informação incorreta quanto ao real encomendante, na busca de uma vantagem indevida, em prejuízo ao controle aduaneiro. Na realidade, a principal vantagem apontada pela Fiscalização, utilização de benefícios fiscais de ICMS, simplesmente não subsiste frente à operação acobertada, segundo a acusação fiscal. Por último, impendese registrar e ressaltar que a análise aqui realizada e as conclusões alcançadas não estão, de forma alguma, a chancelar, a concordar ou a reconhecer como em conformidade com o ordenamento jurídico o modelo de negócios, Fl. 6719DF CARF MF 26 assim como as estrutura contratual e comercial adotadas pela Target, Neo e clientes da Neo nas operações de importação que deram origem ao presente lançamento, mas está a se afirmar e a concluir que o lançamento é improcedente, por carência probatória por parte da Fiscalização, tendo em vista que a Fiscalização não foi capaz de demonstrar a contento, pelo levantamento de um conjunto de elementos de prova satisfatórios, que as condutas imputadas aos intervenientes das operações de comércio exterior se enquadravam no tipo infracional previsto no artigo 23, inciso V, parágrafo 3º, do Decreto nº 1.455/1976. Diante da não demonstração da acusação de "ocultação (...) mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros", de igual modo, deve ser julgada improcedente a segunda acusação da Fiscalização, de uso de documento falso no despacho aduaneiro, com fundamento no artigo 105, inciso VI, do Decreto nº 37/1966, pois, se não há comprovação de que houve ocultação, em decorrência, também não há comprovação de que os documentos utilizados no despacho aduaneiro tenham sido falsificados ou adulterados. Conclusão Por essas razões, proponho ao Colegiado conhecer e dar provimento aos Recursos Voluntários interpostos pela Target e pela Neo, para determinar o cancelamento do lançamento, não conhecer do Recurso Voluntário interposto pela Jotaeme e não conhecer do recurso de ofício. É como voto. AUGUSTO FIEL JORGE D'OLIVEIRA Relator Fl. 6720DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13603.905779/2012-56
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jul 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Aug 02 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ano-calendário: 2007
COFINS. DCOMP. DESPACHO DECISÓRIO ELETRÔNICO. TRATAMENTO MASSIVO x ANÁLISE HUMANA. AUSÊNCIA/EXISTÊNCIA DE RETIFICAÇÃO DE DCTF. VERDADE MATERIAL.
Nos processos referentes a despachos decisórios eletrônicos, deve o julgador (elemento humano) ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF.
Numero da decisão: 3401-003.938
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário apresentado, acolhendo a informação prestada em diligência.
ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice-presidente).
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Ano-calendário: 2007 COFINS. DCOMP. DESPACHO DECISÓRIO ELETRÔNICO. TRATAMENTO MASSIVO x ANÁLISE HUMANA. AUSÊNCIA/EXISTÊNCIA DE RETIFICAÇÃO DE DCTF. VERDADE MATERIAL. Nos processos referentes a despachos decisórios eletrônicos, deve o julgador (elemento humano) ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário apresentado, acolhendo a informação prestada em diligência. ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice-presidente).
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DCOMP. DESPACHO DECISÓRIO ELETRÔNICO. TRATAMENTO MASSIVO x ANÁLISE HUMANA. AUSÊNCIA/EXISTÊNCIA DE RETIFICAÇÃO DE DCTF. VERDADE MATERIAL. Nos processos referentes a despachos decisórios eletrônicos, deve o julgador (elemento humano) ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário apresentado, acolhendo a informação prestada em diligência. ROSALDO TREVISAN – Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vicepresidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 60 3. 90 57 79 /2 01 2- 56 Fl. 287DF CARF MF 2 Relatório Versa o presente sobre PER/DCOMP utilizando créditos de COFINS, no valor total de R$ 30.609,34. Por meio de Despacho Decisório Eletrônico, a compensação não foi homologada, visto que o pagamento foi localizado, mas integralmente utilizado na quitação de débitos do contribuinte. Cientificada da decisão de piso, a empresa apresentou Manifestação de Inconformidade, alegando, basicamente, que: (a) o crédito se refere a COFINSimportação de serviços recolhida indevidamente, e que a informação de que o valor foi utilizado integralmente para quitar débito da empresa se deve a ter sido originalmente informado em DCTF valor igual ao total do recolhimento; (b) que foi retificada a DCTF, após o despacho decisório, sendo que o valor não era devido por tratarse de remessa ao exterior em pagamento de licença de uso de marca, a título de royalties, não caracterizando contrapartida de serviços provenientes do exterior, conforme Solução de Consulta RFB no 263/2011; e (c) a DCTF retificadora não foi recepcionada pela RFB tendo em vista ter se esgotado o prazo de cinco anos para a apresentação. A decisão de primeira instância foi, unanimemente, pela improcedência da manifestação de inconformidade, sob o fundamento de carência probatória a cargo do postulante, que não apresenta contrato que discrimine os royalties dos serviços técnicos e de assistência técnica, de forma individualizada, e de que a prazo para retificação de DCTF já havia se esgotado quando da apresentação de declaração retificadora pela empresa. Após ciência da decisão da DRJ, a empresa apresenta tempestivamente Recurso Voluntário, afirmando que: (a) celebrou contrato exclusivamente referente a licenciamento para uso de marcas, não envolvendo a importação de quaisquer serviços conexos, e que em 52 despachos decisórios distintos, a autoridade administrativa não homologou as compensações, por simples cotejo com DCTF, e que a DRJ manteve a decisão sob os fundamentos de ausência de apresentação de contrato e de retificação extemporânea de DCTF; (b) há necessidade de reunião dos 52 processos conexos para julgamento conjunto; (c) deve o CARF receber de ofício a DCTF retificadora, em nome da verdade material; e (d) o crédito foi documentalmente comprovado, figurando no contrato celebrado, anexado aos autos, que o objeto é exclusivamente o licenciamento de uso de marcas, sem quaisquer serviços conexos, aplicandose ao caso o entendimento externado na Solução de Divergência no 11, da COSIT, como tem entendido o CARF em casos materialmente e faticamente idênticos (Acórdão no 3801001.813). No CARF, o julgamento foi convertido em diligência por meio da Resolução no 3803000.490, para que a autoridade local da RFB informasse “...acerca dos valores devidos pela recorrente na data de transmissão da DComp, bem assim se o valor reconhecido a título de direito creditório (original ou atualizado) é o bastante para solver os débitos existentes nessa data, mediante o confrontamento de valores ou, informar acerca da diferença encontrada” (sic). Em resposta a fiscalização informa que o pagamento objeto do direito creditório não se encontra disponível, uma vez que utilizado para quitação de débito declarado em DCTF, e que, relativamente ao confronto de valores, restou demonstrado “... ser bastante o valor do pagamento pleiteado nestes autos para extinção do débito declarado pela Fl. 288DF CARF MF Processo nº 13603.905779/201256 Acórdão n.º 3401003.938 S3C4T1 Fl. 276 3 contribuinte por meio de compensação”, não havendo necessidade de se dar ciência ao contribuinte da informação. O processo foi a mim distribuído, mediante sorteio, em maio de 2017. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan, relator O cumprimento dos requisitos formais de admissibilidade já foi verificado na conversão em diligência, passandose, então, aqui, à análise de mérito. De fato, não se tem dúvidas de que, ao tempo da análise massiva, por sistema informatizado, das DCOMP apresentadas, os débitos declarados em DCTF correspondiam aos pagamentos efetuados, ainda que estes fossem eventualmente indevidos. Daí os despachos decisórios eletrônicos, limitados a cotejamento entre dados declarados em DCOMP e DCTF, e pagamentos efetuados com DARF, terem sido pelo indeferimento. No entanto, também não se tem dúvidas de que a empresa já entendia, na data de protocolo dos PER/DCOMP, serem indevidos os pagamentos efetuados, independente de ter ou não retificado as respectivas DCTF. Não há que se falar, assim, em decurso de prazo para repetir o indébito, visto que os PER/DCOMP foram transmitidos dentro do prazo regular para repetição. Após o indeferimento eletrônico da compensação é que a empresa esclarece que a DCTF foi preenchida erroneamente, tentando retificála (sem sucesso em função de trava temporal no sistema informatizado), e explica que o indébito decorre de serem os pagamentos referentes a COFINSserviços incabíveis pelo fato de se estar tratando, no caso, exclusivamente de licenciamento de uso de marcas, sem quaisquer serviços conexos. No presente processo, como em todos nos quais o despacho decisório é eletrônico, a fundamentação não tem como antecedente uma operação individualizada de análise por parte do Fisco, mas sim um tratamento massivo de informações. Esse tratamento massivo é efetivo quando as informações prestadas nas declarações do contribuinte são consistentes. Se há uma declaração do contribuinte (v.g. DCTF) indicando determinado valor, e ele efetivamente recolheu tal valor, o sistema certamente indicará que o pagamento foi localizado, tendo sido integralmente utilizado para quitar débitos do contribuinte. Houvesse o contribuinte retificado a DCTF anteriormente ao despacho decisório eletrônico, reduzindo o valor a recolher a título da contribuição, provavelmente não estaríamos diante de um contencioso gerado em tratamento massivo. A detecção da irregularidade na forma massiva, em processos como o presente, começa, assim, com a falha do contribuinte, ao não retificar a DCTF, corrigindo o valor a recolher, tornandoo diferente do (inferior ao) efetivamente pago. Esse erro (ausência de retificação da DCTF) provavelmente seria percebido se a análise inicial empreendida no despacho decisório fosse individualizada/manual (humana). Fl. 289DF CARF MF 4 Assim, diante dos despachos decisórios eletrônicos, é na manifestação de inconformidade que o contribuinte é chamado a detalhar a origem de seu crédito, reunindo a documentação necessária a provar a sua liquidez e certeza. Enquanto na solicitação eletrônica de compensação bastava um preenchimento de formulário DCOMP (e o sistema informatizado checaria eventuais inconsistências), na manifestação de inconformidade é preciso fazer efetiva prova documental da liquidez e da certeza do crédito. E isso muitas vezes não é assimilado pelo sujeito passivo, que acaba utilizando a manifestação de inconformidade tãosomente para indicar porque entende ser o valor indevido, sem amparo documental justificativo (ou com amparo documental deficiente). O julgador de primeira instância também tem um papel especial diante de despachos decisórios eletrônicos, porque efetuará a primeira análise humana do processo, devendo assegurar a prevalência da verdade material. Não pode o julgador (humano) atuar como a máquina, simplesmente cotejando o valor declarado em DCTF com o pago, pois tem o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Nesse contexto, relevante passa a ser a questão probatória no julgamento da manifestação de inconformidade, pois incumbe ao postulante da compensação a prova da existência e da liquidez do crédito. Configurase, assim, uma das três situações a seguir: (a) efetuada a prova, cabível a compensação (mesmo diante da ausência de DCTF retificadora, como tem reiteradamente decidido este CARF); (b) não havendo na manifestação de inconformidade a apresentação de documentos que atestem um mínimo de liquidez e certeza no direito creditório, incabível acatarse o pleito; e, por fim, (c) havendo elementos que apontem para a procedência do alegado, mas que suscitem dúvida do julgador quanto a algum aspecto relativo à existência ou à liquidez do crédito, cabível seria a baixa em diligência para sanála (destacandose que não se presta a diligência a suprir deficiência probatória a cargo do postulante). Em sede de recurso voluntário, igualmente estreito é o leque de opções. E agregase um limitador adicional: a impossibilidade de inovação probatória, fora das hipóteses de que trata o art. 16, § 4o do Decreto no 70.235/1972. No presente processo, o julgador de primeira instância não motiva o indeferimento somente na ausência de retificação da DCTF, mas também na ausência de prova do alegado, por não apresentação de contrato. Diante da ausência de amparo documental para a compensação pleiteada, chegase à situação descrita acima como “b”. Contudo, no julgamento inicial efetuado por este CARF, que resultou na baixa em diligência, concluiuse pela ocorrência da situação “c”, diante dos documentos apresentados em sede de recurso voluntário. Entendeu assim, este colegiado, naquele julgamento, que o comando do art. 16, § 4o do Decreto no 70.235/1972 seria inaplicável ao caso, e que diante da verossimilhança em relação a alegações e documentos apresentados, a unidade local deveria se manifestar. E a informação da unidade local da RFB, em sede de diligência, atesta que os valores recolhidos são suficientes para saldar os débitos indicados em DCOMP, entendendo a fiscalização, inclusive que, diante do exposto, não haveria necessidade de se dar ciência ao contribuinte da informação, apesar de ainda estarem os pagamentos alocados à DCTF original. Resta pouco, assim, a discutir no presente processo, visto que o único obstáculo que remanesce é a ausência de retificação da DCTF, ainda que comprovado o direito Fl. 290DF CARF MF Processo nº 13603.905779/201256 Acórdão n.º 3401003.938 S3C4T1 Fl. 277 5 de crédito, como se atesta na conversão em diligência, mediante o respectivo contrato, acompanhado da invoice correspondente. Atribuir à retificação formal de DCTF importância superior à comprovação do efetivo direito de crédito é típico das máquinas, na análise massiva, mas não do julgador, humano, que deve ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Como atesta a Solução de Divergência COSIT no 11/2011: “Não haverá incidência da CofinsImportação sobre o valor pago a título de Royalties, se o contrato discriminar os valores dos Royalties, dos serviços técnicos e da assistência técnica de forma individualizada. Neste caso, a contribuição sobre a importação incidirá apenas sobre os valores dos serviços conexos contratados. Porém, se o contrato não for suficientemente claro para individualizar estes componentes, o valor total deverá ser considerado referente a serviços e sofrer a incidência da mencionada contribuição.” (grifo nosso) E a cópia do contrato de licença apresentada e analisada, e de seus adendos, atesta que o contrato se refere “exclusivamente a licenciamento de uso de marcas”, não tratando de serviços. Assim, é indevida a COFINS, não havendo qualquer manifestação em sentido contrário pela própria unidade diligenciante. Aliás, efetivamente apreciou turma especial do CARF assunto idêntico, no Acórdão no 3801001.813, de 23/04/2013, acordando unanimemente pela não incidência de COFINSserviços em caso de contrato de “knowhow” que não engloba prestação de serviços: “CONTRATO DE “KNOW HOW”. REMESSAS AO EXTERIOR RELATIVAS A ROYALTIES E DIREITOS PELO USO DE MARCAS E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO E TECNOLOGIA. NÃO INCIDÊNCIA DA COFINS IMPORTAÇÃO. Uma vez discriminados os valores dos Royalties dos demais serviços, de forma individualizada, não incidirá a COFINSImportação.” Há ainda outros precedentes recentes e unânimes deste tribunal, no mesmo sentido, e com características adicionais em comum com o presente processo: “NULIDADE. INEXISTÊNCIA. Não é nulo o despacho decisório que se fundamenta no cotejo entre documentos apontados como origem do crédito (DARF) e nas declarações apresentadas que demonstram o direito creditório (DCTF). APRESENTAÇÃO DE DCTF RETIFICADORA. POSSIBILIDADE. DEMONSTRAÇÃO DE INDÍCIO DE PROVA DO DIREITO CREDITÓRIO ANTERIORMENTE AO DESPACHO DECISÓRIO. VERDADE MATERIAL. Indícios de provas apresentadas anteriormente à prolação do despacho decisório que denegou a homologação da compensação, consubstanciados na apresentação de DARF de pagamento e DCTF retificadora, ratificam os argumentos do contribuinte Fl. 291DF CARF MF 6 quanto ao seu direito creditório. Inexiste norma que condiciona a apresentação de declaração de compensação à prévia retificação de DCTF, bem como ausente comando legal impeditivo de sua retificação enquanto não decidida a homologação da declaração. ROYALTIES. REMUNERAÇÃO EXCLUSIVA PELO USO DE LICENÇA E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. INEXISTÊNCIA DE SERVIÇOS CONEXOS. NÃO INCIDÊNCIA DE PIS/COFINSIMPORTAÇÃO. A disponibilização de "informações técnicas" e "assistência técnica", por intermédio de entrega de dados e outros documentos pela licenciadora estrangeira, para utilização na fabricação de produtos licenciados no País, não configura prestação de serviços conexos ao licenciamento para efeitos de incidência de Contribuições para o PIS/Pasepimportação e Cofinsimportação. À luz do contrato de licenciamento e dos efetivos pagamentos realizados ao exterior, não incidem as Contribuições para o PIS/Pasepimportação e Cofins importação, pois tais pagamentos, cujos cálculos baseiamse nas vendas líquidas de produtos licenciados, referemse, exclusivamente, à remuneração contratual pela transferência de tecnologia, com natureza jurídica de royalties. (grifo nosso) (Acórdãos no 3201002.404 a 420, Rel. Cons. Windereley Morais pereira, sessão de 28 set. 2016) Deve, então, ser acolhido o pleito da empresa, removido o derradeiro obstáculo indevido ao reconhecimento do direito creditício e à compensação. Resta, por fim, tecer comentários sobre o pleito da recorrente para análise conjunta dos 52 processos referentes a suas DCOMP, visto que este relator recebeu, em sorteio, apenas 44 dos referidos processos. Em nome da verdade material, efetuei consulta ao sistema eprocessos, sobre a situação dos oito processos restantes, verificando o que se resume na tabela abaixo: N. do processo Situação atual Observações 13603.905762/201207 CARF – “Distribuir/Sortear” (indevidamente) Julgamento convertido em diligência, nas mesmas circunstâncias do presente, mas ainda não enviado à unidade local, para diligência, tendo em vista necessidade de saneamento (erro na anexação do arquivo contendo a Resolução de conversão em diligência). 13603.905764/201298 Idem Idem 13603.905772/201234 Idem Idem 13603.905785/201211 Idem Idem 13603.905790/201216 Idem Idem Fl. 292DF CARF MF Processo nº 13603.905779/201256 Acórdão n.º 3401003.938 S3C4T1 Fl. 278 7 13603.905775/201278 CARF – SEDIS/GECAP – Verificar Processo Processo sequer apreciado pelo CARF ainda, nem para converter o julgamento em diligência. 13603.905793/201250 Idem Idem 13603.905794/201202 Idem Idem Assim, há efetivamente apenas 44 processos maduros para julgamento, visto que os 8 restantes, por falhas processuais (5 deles com juntada incorreta de arquivos e 3 com pendência de verificação de procedimentos pelo setor competente do CARF) acabaram não chegando à unidade local, para realização da diligência. E os 44 processos, prontos para julgamento, serão efetivamente julgados conjuntamente, nesta sessão. Pelo exposto, e acolhendo a informação prestada em sede de diligência, voto por dar provimento ao recurso voluntário apresentado. Rosaldo Trevisan Fl. 293DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10920.005210/2009-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu May 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Aug 14 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - CIDE
Ano-calendário: 2005, 2006, 2007
CIDE-ROYALTIES. DIREITOS AUTORAIS. INOCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. DECRETO FEDERAL 4.195/2002
A Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE-Royalties) não incide sobre o valor de royalties decorrente de direitos autorais - sendo afastado o tratamento dispensado como "marca" pelo lançamento de ofício, eis que inexiste previsão de sua incidência do Decreto regulamentar.
Numero da decisão: 3401-003.802
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário, vencidos os Conselheiros Eloy Eros da Silva Nogueira, Fenelon Moscoso de Almeida e Rosaldo Trevisan, que conheciam do recurso e negavam provimento. Os Conselheiros Robson José Bayerl e Renato Vieira de Ávila acompanharam pelas conclusões, sendo que o Conselheiro Robson o fez em razão entender que o Decreto no 4.195/2002, com relação exaustiva, limita a hipótese de incidência da contribuição, não incidindo sobre os contratos de direito autoral
ROSALDO TREVISAN - Presidente.
RELATOR TIAGO GUERRA MACHADO - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eros da Silva Nogueira, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Renato Vieira de Ávila
Nome do relator: TIAGO GUERRA MACHADO
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO CIDE Anocalendário: 2005, 2006, 2007 CIDEROYALTIES. DIREITOS AUTORAIS. INOCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. DECRETO FEDERAL 4.195/2002 A Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDERoyalties) não incide sobre o valor de royalties decorrente de direitos autorais sendo afastado o tratamento dispensado como "marca" pelo lançamento de ofício, eis que inexiste previsão de sua incidência do Decreto regulamentar. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário, vencidos os Conselheiros Eloy Eros da Silva Nogueira, Fenelon Moscoso de Almeida e Rosaldo Trevisan, que conheciam do recurso e negavam provimento. Os Conselheiros Robson José Bayerl e Renato Vieira de Ávila acompanharam pelas conclusões, sendo que o Conselheiro Robson o fez em razão entender que o Decreto no 4.195/2002, com relação exaustiva, limita a hipótese de incidência da contribuição, não incidindo sobre os contratos de direito autoral ROSALDO TREVISAN Presidente. RELATOR TIAGO GUERRA MACHADO Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eros da Silva Nogueira, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Renato Vieira de Ávila AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 0. 00 52 10 /2 00 9- 11 Fl. 1386DF CARF MF 2 Relatório Cuidase de Recurso Voluntário (fls. 1023 e seguintes) contra decisão da Delegacia Regional de Julgamento (DRJ) que considerou improcedente as razões da Recorrente sobre a nulidade de Auto de Infração referente a insuficiência de pagamento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico sobre Remessas ao Exterior ("CIDE Royalties"), durante o período compreendido entre 2005 a 2007. Do Lançamento A D. Fiscalização lançou crédito tributário (fls. 151 e seguintes) de R$ 701.584,87 (setecentos e um mil quinhentos e oitenta e quatro reais e oitenta e sete centavos), acrescido de juros de mora e multa de ofício de 75%, totalizando a exigência em R$ 1.457.570,32 (um milhão quatrocentos e cinquenta e sete mil quinhentos e setenta reais e trinta e dois centavos). Cabe ressaltar que o processo de auditora fiscal da Recorrente foi desencadeado a pedido do Ministério Público Federal em decorrência de o contribuinte ser, supostamente, cliente do Grupo Roger, tratado como instituição financeira no âmbito da Operação Ouro Verde, desencadeada pela Polícia Federal. Naquela oportunidade, foi lavrado auto de infração para Imposto de Renda Pessoa Jurídica; Programa Integração Social; Contribuição Social sobre o Lucro Líquido; Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PAF n° 10920.005209/200988) que não ensejam análise por essa Seção e, em apartado, o auto de Infração relativo à Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico sobre Remessas ao Exterior (CIDERoyalties), ora em apreciação. Em síntese apertada, os motivos esposados pela fiscalização (Fls. 151 e seguintes) para o lançamento do crédito tributário foram os seguintes: (a) A Recorrente teria deixado de recolher a CIDERoyalties em remessas para o exterior decorrente de contratos de licença de direitos autorais e/ou de comercialização ou distribuição de programa de computador durante o período de 2005 a 2007; (b) Para a D. Fiscalização não haveria diferença semântica entre os royalties decorrentes de contratos sujeitos a averbação no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e os numerários remetidos pela Recorrente ao exterior em decorrência dos contratos por ela subscritos: “Diferentemente da contribuinte entendo que não há direito autoral por terceiros, sendo pelo próprio autor. Neste caso concreto, somente as pessoas jurídicas UNITED FEATURE SYNDICATE, INC, MARVEL CHARACTERS, INC; WARNER BROS. CONSUMER PRODUTS, INC; MGA ENTERTAINMENT, INC; FELIX THE CAT CREATIONS, INC; TURNER BROADCASTING SYSTEM LATIN AMÉRICA, INC; todas elas sediadas no Fl. 1387DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.370 3 exterior, cabe falarem exploração de direito autoral, por serem elas titulares desse direito, donas da obra. A LUNENDER S/A, licenciada para utilização das personagens (desenhos artísticos) objeto dos contratos, falase em marcas, sinal que distingue seus diversos produtos, identificandoos, destacandoos dos demais no mercado. Portanto as retribuições que a licenciada dá em cumprimento aos referidos contratos são, em verdade, royalties, aqueles mesmos a que se refere [SIC] os já citados artigos 352 e 355 do Regulamento do Imposto de Renda, Decreto n° 3.000, de 1999. Aliás, a fiscalizada, corrobora com esta conclusão, uma vez que, nas DIPJ, fls., nas fichas 44 — ROYALTIES PAGOS A BENEFICIÁRIOS DO BRASIL E DO EXTERIOR, informa valores na linha EXPLORAÇÃO ECONÔMICA DOS DIREITOS PATRIMONIAIS DE MARCAS e não nas linhas que dizem respeito a direitos autorais.” (c) Ou seja, aproveitando seu entendimento sobre a existência de pagamento de royalties – no caso, pelo suposto uso de marcas de indústria e comércio – para fins do limite de dedutibilidade do Imposto de Renda, a D. Fiscalização passou a lançar a contribuição de intervenção no domínio econômico que não fora recolhida pelo contribuinte no período fiscalizado; Da Impugnação Irresignada com o lançamento lavrado pela Receita Federal do Brasil, a Recorrente apresentou, à época, Impugnação (fls. 200 e seguintes), a qual, em síntese, procurou desconstituir o crédito com os seguintes argumentos: (a) Em primeiro lugar, aduz que há a falta de motivação do ato administrativo impugnado porque o auditor responsável pelo lançamento não teria avaliado adequadamente as razões da Recorrente para o não pagamento das contribuições, carecendo de fundamentação jurídica suficiente, e por isso pede a nulidade do auto de infração; (b) Quanto ao mérito, pretende dissociar o instituto do royalty do pagamento de licenciamento de direitos autorais (copyrights), enfatizando que os direitos patrimoniais do autor são passíveis de transferência mediante, entre outras, licenciamento, tais como nos contratos analisados pela fiscalização. (c) Enfatiza que os contratos em lide não tratam de exploração de propriedade industrial (patentes e ou marcas) mas de outros direitos autorais. Para tanto, procura distinguir os dois institutos da seguinte forma: a. Copyright: direito de cópia; o direito de propriedade sobre a autoria de um trabalho original feitos num meio de expressão tangível, dando ao detentor o direito exclusivo de reproduzilo, adaptálo, distribuilo e dispor do mesmo; b. Trademark: um trabalho, frase, logomarca ou outro símbolo gráfico utilizado pelo fabricante para distinguir seus produtos dos produtos de outros fabricantes. O maior propósito de uma marca é demonstrar a origem dos produtos ou serviços. Com efeito, a marca substitui a assinatura do fabricante. Fl. 1388DF CARF MF 4 (...) É o direito corporal que identifica ao mundo dos negócios os produtos do fabricante. Decorrente dos significados acima transcritos, verificase que o direito autoral manifestase sobre o trabalho original do autor, sendo o copyright o direito de copiá lo. A marca, por sua vez, não tem o conceito de trabalho em seu bojo. Ao seu turno, a marca é um símbolo para identificar e distinguir os produtos ou serviços de um fabricante ou prestador de serviços dos produtos ou serviços idênticos ou semelhantes de outro fabricante ou prestador de serviços. Equivale à assinatura ou à impressão digital do produtor ou prestador em cada um de seus produtos ou serviços; serve, portanto, para garantir a proveniência/origem do produto ou serviço a quem poderseá imputar responsabilidade sobre o mesmo. (...) A fim de exemplificar, a patente é o registro de uma invenção, um produto, um sistema, etc. No Brasil é feito no INPI (Instituto Nacional de Patente Industrial), e somente o detentor da patente pode autorizar a produção e/ou venda do produto que registrou no INPI. Por sua vez, a marca é a representação simbólica de uma entidade, qualquer que ela seja, algo que permite identificála de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença. (...) Assim, o direito autoral é o trabalho em si, enquanto a marca é o símbolo pelo qual tal trabalho/serviço pode ser ou vir a ser identificado. Apenas a titulo de exemplificação, a totalidade dos contratos internacionais celebrados pela Impugnante se refere a licença para uso de personagens cujos direitos pertencem ao Licenciador. Neste caso, os referidos personagens poderão ser utilizados sob distintas formas, distintos aspectos, diferentes desenhos e indicações, sem que isso se confunda como marca. Os personagens licenciados não constituem simplesmente num símbolo, em si, tal como prescreve a legislação brasileira naquilo que se refere ao uso de uma marca. Eles podem ser licenciados sob vários e diferentes aspectos, como personagens que o são, e não como marca.” (grifamos) (d) Discorre também sobre o fato gerador da CIDERoyalties e sua incompatibilidade com o caso concreto, haja vista que ela incidiria, conforme dispõe o artigo 2º, da Lei Federal 10.168/2000, com a redação dada pela Lei Federal 10.332/2001, bem como pela regulamentação dada pelo Decreto Federal 4.195/2002, sobre hipóteses diferentes do que são os objetos dos contratos subscritos entre a Recorrente e as beneficiárias domiciliadas no exterior; (e) Finaliza essa discussão repudiando o entendimento da fiscalização que, em sua visão, utilizouse de analogia para lançar tributo sobre as remessas a título de copyright, o que é vedado pelo artigo 108, parágrafo primeiro do CTN. (f) Por fim, repudia a aplicação de Taxa SELIC sobre a multa de ofício. Da Decisão de 1ª Instância Fl. 1389DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.371 5 Provindo a decisão administrativa de primeiro grau (fls. 993 e seguintes), o auto de infração foi julgado procedente em sua integralidade, reforçando os pontos destacados pela fiscalização quando do lançamento, nos seguintes termos: "ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2005, 2006, 2007 ARGÜIÇÃO DE NULIDADE. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. Sendo constatada a existência de motivação dos lançamentos efetuados, bem como dos demais requisitos necessários para a sua formação, rejeitase a argüição de nulidade. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO CIDE Anocalendário: 2005, 2006, 2007 CIDEROYALTIES. REMESSA DE ROYALTIES PARA RESIDENTE OU DOMICILIADO NO EXTERIOR. INCIDÊNCIA. O pagamento, o creditamento, a entrega, o emprego ou a remessa de royalties, a qualquer título, a residentes ou domiciliados no exterior são hipóteses de incidência da CIDE. DIREITO AUTORAL. ROYALTIES. Os rendimentos decorrentes da exploração de direito autoral classificamse como royalties, exceto nos casos em que pagos diretamente ao autor ou criador da obra (Art. 22, alínea “d” da Lei nº 4.506/1964). ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2005, 2006, 2007 JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. Incide juros de mora sobre a multa de ofício a partir de seu vencimento. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido” Cabe destacar os seguintes enxertos da decisão ora recorrida: (a) Sobre a preliminar de nulidade do lançamento por ausência de fundamentação jurídicofática " A própria legislação em que a autoridade tributária se baseou e aplicou ao caso concreto é o fundamento jurídico do lançamento, e isto é dito pelo impugnante; no entanto, se correta ou errônea a aplicação da legislação, é questão de mérito, a ser analisada no momento seguinte deste voto. Fl. 1390DF CARF MF 6 Quanto aos demais requisitos necessários a formação do lançamento tributário, os mesmos foram verificados. Portanto, sendo constatada a existência de motivação dos lançamentos efetuados, bem como dos demais requisitos necessários para a sua formação, não há que se falar em nulidade do Auto de Infração." (b) Sobre a incidência da CIDERoyalties sobre as remessas efetuadas pela Recorrente: "Deste modo, percebese que, embora, em um primeiro momento, o CARF tenha manifestado entendimento de que não há incidência da CIDE sobre remessas referentes a pagamento pela exploração de direitos autorais, no momento seguinte, a Câmara Superior reformou tal acórdão, declarando que os rendimentos decorrentes da exploração de direito autoral classificamse como royalties, sendo tal fato suficiente para a configuração do fato gerador da CIDEREMESSAS. Tal posicionamento da Câmara Superior reflete o meu próprio entendimento sobre a matéria, desta forma, reproduzo o referido voto adotandoo como razão de decidir, por ser plenamente aplicável ao caso em tela." O julgado de primeiro grau referiase ao Acórdão CSRF 930301864, que, em transcrição rápida, dispôs assim: "Acórdão: 9303001.864 Número do Processo: 13896.003705/200263 Data de Publicação: 06/03/2012 Contribuinte: SONY PICTURES HOME ENTERTAINMENT DO BRASIL LTDA ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 28/02/2002, 31/03/2002, 30/04/2002 CIDEROYALTIES. REMESSA DE ROYATIES PARA RESIDENTE OU DOMICILIADO NO EXTERIOR INCIDÊNCIA. O pagamento, o creditamento, a entrega, o emprego ou a remessa de royalties, a qualquer título, a residentes ou domiciliados no exterior são hipóteses de incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico criada pela Lei 10.168/2000. Para que a contribuição seja devida, basta que qualquer dessas hipóteses seja concretizada no mundo fenomênico. O pagamento de royalties a residentes ou domiciliados no exterior, a título de contraprestação exigida em decorrência de obrigação contratual, seja qual for o objeto do contrato, faz surgir a obrigação tributária referente a essa CIDE. Recurso Especial do Procurador Provido. Decisão: Acordam os membros do Colegiado, pelo voto de qualidade, em dar provimento ao recurso especial. Vencidos os Conselheiros Nanci Gama, Marcos Tranchesi Ortiz, Antônio Lisboa Cardoso, Maria Teresa Martínez López e Gileno Gurjão Barreto, que negam provimento. Os Conselheiros Marcos Tranchesi Ortiz e Fl. 1391DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.372 7 Antônio Lisboa Cardoso participaram do julgamento em substituição aos Conselheiros Rodrigo Cardozo." (c) Sobre a não incidência de Taxa SELIC sobre a multa de ofício "(...) Assim, tendo em conta que a multa de ofício é débito para com a União, decorrente de tributos e contribuições administrados pela SRF, configurase regular a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício a partir de seu vencimento." Do Recurso Voluntário Diante do teor da decisão, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário (fls. 1.023 e seguintes), cujo teor reafirma suas alegações expressas na Impugnação, anexando, como reforço argumentativo, parecer do jurista especializado na área de direito autoral, Dr. Denis Borges Barbosa (Fls. 1.275 e seguintes). Porém, não há qualquer menção no pedido com relação a não incidência da Taxa SELIC sobre a multa de oficio, motivo pelo qual resta preclusa essa última matéria. É o relatório. Voto Conselheiro Relator Tiago Guerra Machado Da Tempestividade O Recurso Voluntário é tempestivo e os demais requisitos também estão cumpridos, razão pela qual conheço do mesmo. Da Nulidade A Recorrente argumenta que o lançamento impugnado carece de fundamentação e embasamento jurídico uma vez que o Termo de Verificação Fiscal em momento algum busca demonstrar o entendimento das operações da Recorrente e a respectiva configuração do fato gerador da contribuição. Porém, na respectiva constatação fiscal, ainda que breve e de forma sucinta no meu entender, a D. Fiscalização analisa as remessas efetuadas e se utiliza da legislação do Imposto de Renda para firmar sua convicção de que tais pagamentos teriam a natureza de royalties. Nesse sentido, mesmo se o auditor foi insuficiente em suas alegações ou se utilizou de legislação imprópria para basear o lançamento do crédito tributário, isso é matéria a Fl. 1392DF CARF MF 8 ser impugnada e discutida no mérito, de modo que não reconheço qualquer nulidade nesse aspecto. Passemos ao mérito. Do Mérito Entendo que o cerne do presente Recurso se resume, nos termos do pedido da Recorrente, à amplitude do fato gerador da contribuição de intervenção no domínio econômico e sua conexão com as remessas efetuadas e ora impugnadas. Assim, passarei a examinála a seguir. I. Sobre a amplitude da incidência da CIDERoyalties A Contribuição Social de Intervenção de Domínio econômico para custear o Programa de Estímulo à Interação UniversidadeEmpresa para o Apoio à Inovação (CIDE Royalties) foi criada pela Lei Federal 10.168/2000, posteriormente alterada pela Lei Federal 10.332/2001. Nos termos do artigo 2º1 da Lei, a incidência da dita contribuição recai sobre as seguintes remessas ao exterior referentes às seguintes transações: (a) Contratos de licença de uso de conhecimentos tecnológicos (art. 2º, caput); (b) Contratos que: i. Impliquem transferência de tecnologia (art. 2º, caput), entendidos como tais aqueles contratos relativos à exploração de patentes ou de uso de 1 Art. 2º Para fins de atendimento ao Programa de que trata o artigo anterior, fica instituída contribuição de intervenção no domínio econômico, devida pela pessoa jurídica detentora de licença de uso ou adquirente de conhecimentos tecnológicos, bem como aquela signatária de contratos que impliquem transferência de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior. § 1º Consideramse, para fins desta Lei, contratos de transferência de tecnologia os relativos à exploração de patentes ou de uso de marcas e os de fornecimento de tecnologia e prestação de assistência técnica. § 1ºA. A contribuição de que trata este artigo não incide sobre a remuneração pela licença de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando envolverem a transferência da correspondente tecnologia. § 2º A partir de 1º de janeiro de 2002, a contribuição de que trata o caput deste artigo passa a ser devida também pelas pessoas jurídicas signatárias de contratos que tenham por objeto serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no exterior, bem assim pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. § 3º A contribuição incidirá sobre os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrente das obrigações indicadas no caput e no § 2odeste artigo (...) Fl. 1393DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.373 9 marcas e os de fornecimento de tecnologia e prestação de assistência técnica (art. 2º, § 1º); ou ii. Tenham por objeto serviços técnicos e de assistência administrativa prestados por residentes ou domiciliados no exterior (art. 2º, § 2º); (c) Contratos que impliquem pagamento de royalties a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior (art. 2º, § 2º) Por outro lado, na regulamentação do Programa de Estímulo à Interação UniversidadeEmpresa para o Apoio à Inovação e da incidência da respectiva contribuição de custeio, assim ficaram definidas as hipóteses de incidência: Art. 10. A contribuição de que trata o art. 2o da Lei no 10.168, de 2000, incidirá sobre as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de royalties ou remuneração, previstos nos respectivos contratos, que tenham por objeto: I fornecimento de tecnologia; II prestação de assistência técnica: a) serviços de assistência técnica; b) serviços técnicos especializados; III serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes; IV cessão e licença de uso de marcas; e V cessão e licença de exploração de patentes. Conforme se nota, há diferenças entre o texto da Lei e o texto do Decreto, de modo que foi inferida, em dado momento, que haveria uma incompatibilidade semântica entre ambos, o que representaria um conflito aparente de normas, antinomia essa facilmente desatada mediante aplicação do critério hierárquico. Entendo que não há qualquer conflito. Na verdade, a única questão dissonante acaba por ser a inclusão, na descrição do fato gerador no texto legal, de “royalties a qualquer título”, e sua ausência na lista do artigo 10, do Decreto presidencial. Proposital ou não, essa ausência, a meu entender, confere mais clareza ao fato gerador descrito na Lei Federal 10.168/2002 com a alteração trazida pela Lei Federal 10.332/2001, de forma que não são quaisquer royalties que são objeto da fadada contribuição. E direi o porquê. (i) Da interpretação conforme a Constituição Fl. 1394DF CARF MF 10 Antes, de forma breve, disponho sobre a obrigação de se interpretar qualquer norma partindose do ordenamento constitucional. A teoria da “interpretação conforme a Constituição” é admitir um método de interpretação passível de adoção na atividade jurisdicional em que a premissa é atender aos requisitos constitucionais de validade da regra ali a ser interpretada. Não se trata, de forma alguma, de controle de constitucionalidade. Na verdade, seu uso vai ao extremo oposto, que é, em última análise, extrair via interpretativa o conteúdo constitucionalmente aceitável de uma norma que possa ter vícios de inconstitucionalidade a depender de como se interprete o texto legal, de modo a permitir sua permanência possível no ordenamento jurídico. Sobre esse tema, permitome citar o trabalho de FERNANDO OSÓRIO DE ALMEIDA JÚNIOR: “A interpretação conforme a Constituição aproximase dos métodos clássicos de solução de antinomias na medida em que busca também a realização do princípio da unidade do ordenamento jurídico e da supremacia da Constituição, este último em comparação com o método hierárquico. Entretanto, estremase deles quanto ao resultado: nos critérios clássicos, a antinomia resulta sempre na expulsão de uma das leis, enquanto no critério da intrepretação conforme a Constituição a antinomia não se estabelece entre duas leis, mas sim entre duas interpretações possíveis de uma mesma lei, uma que resulta em constitucionalidade e outra em inconstitucionalidade, pelo que deve prevalecer a primeira. Nesse sentido a interpretação conforme não é um critério de aplicação de determinada lei em detrimento de outra, mas de aplicação de determinada interpretação (‘critério de interpretação’) em detrimento de outra. (...) Pelo exposto, podemos conceituar: a interpretação conforme a Constituição é um critério de solução de antinomias entre interpretações possíveis de uma mesma lei, pelo qual deverá prevalecer aquela que lhe revela a conformidade com a Constituição, excluindose, assim, todas as demais formas de interpretação.”2 Seguindo essa estratégia, é importante enfatizar o entendimento de que a “interpretação conforme” revelase mais uma obrigação do que meramente uma opção. É o que defende EDUARDO GARCIA DE ENTERRÍA: “(...) antes de que uma Ley sea declarada inconstitucional, el juez que efectua el examen tiene el deber de buscar en vía 2 Almeida Junior, Fernando Osorio de. Interpretação conforme a Constituição e Direito Tributário. Dialética, São Paulo 2002, páginas 18 e 19. Fl. 1395DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.374 11 interpretativa una concordancia de dicha Ley con la Constituición.”3 Ainda que esse colegiado não possa estar imbuído do poder de exercer o controle de constitucionalidade, pelos limitadores legais e regimentais impostos, nada obsta de exercer o livre direitodever da interpretação conforme, em obediência ao princípio da unidade do ordenamento jurídico. Não há, como possa aparentar, violação à legalidade tributária, quando se utiliza o método da interpretação conforme, desde que o intérprete adote alguns autolimites.4 O primeiro deles é que o resultado da interpretação conforme não pode atravessar o limite do sentido possível partindose da literalidade do texto normativo; denominado por LARENZ como “contexto significativo da lei”5. O outro é que a interpretação conforme não pode ignorar ou modificar o conteúdo da lei, violando a sua finalidade; do contrário, a norma perde seu valor, o que, consequentemente, violaria a separação dos poderes na medida em que a entidade julgadora exerceria papel exclusivo do legislativo. O cuidado em sua utilização é asseverado por LARENZ: “A intepretação conforme à Constituição, se quer continuar a ser interpretação, não pode ultrapassar os limites que resultam do sentido literal possível e do contexto significativo da lei.”6 É o que buscaremos nesse julgado. Passemos a analisar o conteúdo constitucional a ser examinado como critério de interpretação. (ii) Fundamentos de criação e validade dessa espécie tributária A CIDERoyalties, textualmente, é uma contribuição de caráter especial e como tal apresenta algumas peculiaridades em relação às demais espécies tributárias; não só isso, submeteas a um regime jurídico próprio, nitidamente distinto daquele a que estão sujeitos os demais tributos, sobretudo no que diz respeito à competência para a sua instituição e aos requisitos exigidos para tanto. As "CIDE ’s" possuem fundamento constitucional nos artigos 149 e 170, da Constituição Federal de 1988 (CF/88) que, ao mesmo tempo, devem respeitar a finalidade sobre a qual foram constituídas ("validação finalística") e cuja receita de arrecadação, atingida pela finalidade tenha um âmbito específico da aplicação ("finalidade específica"). 3 García de Enterría, Eduardo . La Constituición Como Norma y El Tribunal Constitucional. Civitas, Madri, 1994. Página 95. 4 Daí porque, alguns autores entendem a interpretação conforme não como um método interpretativo singular, mas um “critério de interpretação” (LARENZ) prioritário. 5 Larenz, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1997. Página 454 6 Idem, página 480. Fl. 1396DF CARF MF 12 É claro que não cabe a esse Tribunal, por força de seu Regimento7 e diante do disposto na Súmula CARF nº 2, examinar os requisitos de validade e existência das normas que instituíram a CIDERoyalties para fins de controle de constitucionalidade concreto não é, nem de longe, minha pretensão em meu voto porém, como se verá a seguir, é importante entendê los, ainda que superficialmente. Dito isso, enumerase abaixo os requisitos basilares para existência jurídico constitucional das contribuições especiais e, por consequência, das contribuições de intervenção no domínio econômico, tirados de LEANDRO PAULSEN e ANDREI PITTEN VELLOSO8: (a) Observância das limitações constitucionais gerais ao poder de tributar; (b) Existência de competência impositiva; (c) Busca da finalidade especificada pela norma atributiva de competência, (d) Necessidade; (e) Referibilidade. Dentre os aspectos acima, o que merece maior apreço para análise do presente Recurso é a referibilidade. A referibilidade é “assim entendida como o liame entre a finalidade a ser realizada com a contribuição e as atividades e interesses de certo grupo.”9 Na prática, isso significa que qualquer CIDE deve espelhar, em seu fato gerador, e no grupo de contribuintes que serão afetados pela sua imposição, a finalidade que pretende atingir com os recursos oriundos de sua arrecadação, sem o qual não haveria como prosperar sua permanência no ordenamento jurídico. Nesse mesma linha, volto a citar VELLOSO e PAULSEN: “Nessa acepção, a referibilidade é requisito de validade de todas as contribuições especiais. A sua cobrança carece invariavelmente de um liame claro entre a finalidade perseguida pela exação e as atividades ou interesses dos sujeitos passivos. Sem que haja tal liame, não há como se cogitar da cobrança de contribuições especiais.”10 Em nosso caso, o que vemos é que a CIDERoyalties, destinada sua arrecadação aos seguintes propósitos de intervenção no domínio econômico, não poderia ter como fato gerador evento que ultrapasse tal liame ou pertinência como bem adotam os juristas acima. Vejamos o artigo 1º, da citada Lei Federal 10.332/2001: Art. 1º Do total da arrecadação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, instituída pela Lei nº 10.168, de 29 de dezembro de 2000, serão destinados, a partir de 1º de janeiro de 2002: 7 Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. 8 Velloso, Andrei Pitten; Paulsen, Leandro. Contribuições Teoria Geral Contribuições Em Espécie. Kindle Edition (Locations 88978903). 9 Idem (Locations 89658968). 10 Idem (Locations 11431145). Fl. 1397DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.375 13 I 17,5% (dezessete inteiros e cinco décimos por cento) ao Programa de Ciência e Tecnologia para o Agronegócio; I 17,5% (dezessete inteiros e cinco décimos por cento) ao Programa de Fomento à Pesquisa em Saúde; III 7,5% (sete inteiros e cinco décimos por cento) ao Programa Biotecnologia e Recursos Genéticos – Genoma; IV 7,5% (sete inteiros e cinco décimos por cento) ao Programa de Ciência e Tecnologia para o Setor Aeronáutico; V 10% (dez por cento) ao Programa de Inovação para Competitividade. O Decreto presidencial regulamentar, por sua vez, estabeleceu o escopo do Programa de incentivo setorial, demonstrando, mais uma vez qual é a razão finalística da contribuição. Vejamos: I projetos de pesquisa científica e tecnológica; II desenvolvimento tecnológico experimental; III desenvolvimento de tecnologia industrial básica; IV implantação de infraestrutura para atividades de pesquisa e inovação; V capacitação de recursos humanos para a pesquisa e inovação; VI difusão do conhecimento científico e tecnológico; VII educação para a inovação; VIII capacitação em gestão tecnológica e em propriedade intelectual; IX ações de estímulo a novas iniciativas; X ações de estímulo ao desenvolvimento de empresas de base tecnológica; XI promoção da inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas; XII apoio ao surgimento e consolidação de incubadoras e parques tecnológicos; XIII apoio à organização e consolidação de aglomerados produtivos locais; e XIV processos de inovação, agregação de valor e aumento da competitividade do setor empresarial. Diante desse cenário, para que a CIDERoyalties possa subsistir no ordenamento jurídico pátrio, ela deve guardar pertinência entre os fins a que se destina, materializada no artigo acima subscrito, e o fato gerador da obrigação tributária afete tão somente os contribuintes componentes do setor econômico sob intervenção. De novo, emprestome das palavras de PAULSEN e VELLOSO: Fl. 1398DF CARF MF 14 Os sujeitos passivos têm de ser escolhidos dentre os agentes que atuam no segmento econômico objeto da intervenção. Se o legislador decide, v.g., incentivar a indústria cinematográfica, somente poderá tributar os produtores, comerciantes ou consumidores de produtos ou serviços cinematográficos, jamais de outros setores, como o energético, o marítimo, o aeroportuário.11 Resumindo, a CIDERoyalties não poderia incidir sobre fatos geradores e contribuintes que sejam alheios ao objeto da intervenção estatal, qual seja, todo o setor de tecnologia, pesquisa e atividades naturalmente técnicas por assim dizer. Com isso em mente, a interpretação da amplitude do conceito de royalties para fins de aplicação da contribuição social, deve obedecer a esse limite, do contrário, a norma restaria inconstitucional. Assim, atribuindo como critério de interpretação da norma a manutenção da validade constitucional da CIDERoyalties, o único meio possível de se interpretar o alcance da sua incidência é restringir os eventos imponíveis àqueles que tenham, em algum grau, relação com a atividade econômica sob intervenção. Não cabe a nós, porém, deixar de aplicar a lei naquilo que ela possui claro e cristalino em sua literalidade – o que é especialmente o caso dos fatos geradores da CIDE Royalties – reduzindo elementos nucleares da hipótese de incidência. LARENZ, mais uma vez, pondera: “O transcender da franja marginal, concebida de modo tão amplo quanto possível, já não seria interpretação, tal como não seria a exclusão daqueles fenômenos que indubitavelmente se situam no âmbito nuclear. No primeiro caso só se poderia tratar de analogia, no segundo, de uma redução teleológica da lei.”12 No caso em lide, diante do não é possível afastar a aplicação do texto legal em maior grau que sua literalidade permite, de maneira que os fatos geradores previstos na Lei Federal 10.168/2000 são, na sua maior parte, precisos e específicos o suficiente para que a lei seja aplicada sem maiores desafios e sem qualquer ruptura. Contudo, há uma expressão que causa estranheza se tomada sem cuidadosa consideração: “royalties de qualquer natureza”. (iii) O único conceito de royalties possível para aplicação da CIDE O conceito de royalties, eis que aberto na redação da lei, – no âmbito de aplicação do tributo em comento – deve ser entendido como aquele que efetivamente, e independentemente de designação, decorra de contratação de tecnologia – para mim, não há relevância se ou não “transferência de tecnologia”, bastando que o uso instrumental dela no escopo do contrato – ou de contratação de conhecimento técnico especializado de qualquer 11 Idem (Locations 89718973). 12 Idem. Página 501. Fl. 1399DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.376 15 natureza que tenha correlação às atividades incentivadas pela sua arrecadação, de modo que o tipo de conteúdo que enseja tal pagamento em nada se relaciona com a atividade setorial incentivada. Tratase, enfim, de uma conclusão decorrente da redução interpretativa do alcance possível da norma tributante pela interpretação conforme13. Não à toa, o Decreto regulamentar não incluiu a remuneração por mera cessão de direitos autorais – diferentes, portanto, dos “royalties” sobre cessão de marca e patente – das hipóteses elencadas no seu artigo 10. O Decreto, nesse aspecto, veio a sedimentar a interpretação mais adequada considerando a natureza da contribuição. (iv) Aplicação de "interpretação conforme" ao presente caso Passadas minhas considerações teóricas sobre o uso da interpretação conforme a Constituição e a necessidade de se interpretar a legislação da CIDERoyalties dentro da amplitude possível de ser aceita em nossa ordem jurídica, passemos ao caso concreto. Conforme resumido no Relatório, tratase de discussão sobre a incidência da contribuição sobre as remessas decorrentes de contratos de cessão de direitos autorais, particularmente quanto ao uso econômico de desenhos, imagens, personagens e símbolos. Tratamse, pois, de bens intangíveis de propriedade das beneficiárias no exterior. Nesse ponto, independentemente da denominação royalties, sendo apropriado ou não tal insígnia, não há de se falar em incidência da contribuição nesse caso específico, haja vista que não resiste qualquer referibilidade entre a CIDERoyalties a tais rubricas e os respectivos pagamentos ao exterior. Tampouco é possível inferir – como pode fazer crer o acórdão incorrido – que há, no presente caso, cessão de uso de marcas, porque estas devem ser entendidas como sinal, representado de forma gramatical ou gráfica destinado a identificar ou individualizar produtos, mercadorias e serviços, com o fim precípuo mercadológico, para ressaltar a qualidade do objeto de comércio e atrair o consumidor. Nesse sentido, nos termos da Lei Federal 9.279/1996, temos os artigos 122 e 123, abaixo transcritos: 13 Sobre isso, mais uma vez a lição de Fernando Osório: “A redução do alcance não enfrenta de forma tão severa os riscos que a ampliação ou a retipificação das normas à Constituição trazem ao principio da separação funcional do Poder, na medida em que se tem o julgador legislando positivamente ou se desviando do objetivo perseguido. Tem a ver, a nosso sentir, mais com a técnica legislativa utilizada na lei. Da forma como foi redigido, muitas vezes o texto legal não discrimina certos tipos de pessoas ou situações, colocandoas todas dentro do alcance semântico de certa ‘expressãogênero’. Se cada um desses tipos estivesse explicitado separadamente, tal como ‘expressõesespécie’, poderseia, com maior tranquilidade, invalidar aqueles inconstitucionais. Todavia, se opta o legislador por usar uma única expressão, genérica o suficiente para conter todas aquelas pessoas ou situações, estaremos diante de um caso em que a invalidação da norma tornaria carecedores de regulação aquelas outras pessoas ou situações sobre as quais permite ou determina a Constituição fossem alcançadas. Seria como, sem eliminação do seu texto, pela necessidade de subsistência da expressão‘espécie’ constitucional nele contida, se impusesse a exclusão do sentido da expressão‘espécie’ inconstitucional no bojo da expressão genérica usada pela lei. Aqui, a interpretação conforme a Constituição trabalha como uma espécie de ‘aparador de arestas’ das leis que resvalam nos preceitos constitucionais.” Fl. 1400DF CARF MF 16 Art. 122. São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais. Art. 123. Para os efeitos desta Lei, considerase: I marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa; II marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada; e III marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade. Da mesma forma, o artigo 124 dispõe o que não é marca: Art. 124. Não são registráveis como marca: (...) XVII obra literária, artística ou científica, assim como os títulos que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de causar confusão ou associação, salvo com consentimento do autor ou titular; Reconhecese então que as “obras literária, artística ou científica” são protegidas pelo Direito Autoral, mas não são “marca”, e, por isso, impossíveis de serem registradas. É importante lembrar que o uso interpretativo da Lei de Propriedade Industrial se faz necessária nesse caso, porque ausente qualquer previsão na lei impositiva da contribuição de conceitos jurídicos próprios para definição do fato gerador, em franca obediência ao artigo 110, do Código Tributário Nacional. Nesse sentido, ainda que afastada a tese da referibilidade, os contratos em questão não tratam de marcas, de forma que não se aderem aos fatos geradores previstos no Decreto Federal 4.195/2002. Diante de todo o exposto, não sendo as remessas oriundas de cessão de “marca” nem tampouco sendo royalties passíveis de incidência da contribuição, entendo que o lançamento deve ser cancelado em sua integralidade. II. Conclusão Por todo o exposto, foi conhecido o recurso Voluntário e, por maioria de votos, deuse provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros Eloy Eros da Silva Nogueira, Fenelon Moscoso de Almeida e Rosaldo Trevisan, que conheciam do recurso e negavam provimento.Os Conselheiros Robson José Bayerl e Renato Vieira de Ávila acompanharam pelas conclusões, sendo que o Conselheiro Robson o fez em razão entender que o Decreto no 4.195/2002, com relação exaustiva, limita a hipótese de incidência da contribuição, não incidindo sobre os contratos de direito autoral. Fl. 1401DF CARF MF Processo nº 10920.005210/200911 Acórdão n.º 3401003.802 S3C4T1 Fl. 1.377 17 Relator Tiago Guerra Machado Relator Fl. 1402DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13603.905746/2012-14
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jul 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Aug 02 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ano-calendário: 2007
COFINS. DCOMP. DESPACHO DECISÓRIO ELETRÔNICO. TRATAMENTO MASSIVO x ANÁLISE HUMANA. AUSÊNCIA/EXISTÊNCIA DE RETIFICAÇÃO DE DCTF. VERDADE MATERIAL.
Nos processos referentes a despachos decisórios eletrônicos, deve o julgador (elemento humano) ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF.
Numero da decisão: 3401-003.909
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário apresentado, acolhendo a informação prestada em diligência.
ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice-presidente).
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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DCOMP. DESPACHO DECISÓRIO ELETRÔNICO. TRATAMENTO MASSIVO x ANÁLISE HUMANA. AUSÊNCIA/EXISTÊNCIA DE RETIFICAÇÃO DE DCTF. VERDADE MATERIAL. Nos processos referentes a despachos decisórios eletrônicos, deve o julgador (elemento humano) ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário apresentado, acolhendo a informação prestada em diligência. ROSALDO TREVISAN – Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vicepresidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 60 3. 90 57 46 /2 01 2- 14 Fl. 340DF CARF MF 2 Relatório Versa o presente sobre PER/DCOMP utilizando créditos de COFINS, no valor total de R$ 22.801,26. Por meio de Despacho Decisório Eletrônico, a compensação não foi homologada, visto que o pagamento foi localizado, mas integralmente utilizado na quitação de débitos do contribuinte. Cientificada da decisão de piso, a empresa apresentou Manifestação de Inconformidade, alegando, basicamente, que: (a) o crédito se refere a COFINSimportação de serviços recolhida indevidamente, e que a informação de que o valor foi utilizado integralmente para quitar débito da empresa se deve a ter sido originalmente informado em DCTF valor igual ao total do recolhimento; (b) que foi retificada a DCTF, após o despacho decisório, sendo que o valor não era devido por tratarse de remessa ao exterior em pagamento de licença de uso de marca, a título de royalties, não caracterizando contrapartida de serviços provenientes do exterior, conforme Solução de Consulta RFB no 263/2011; e (c) a DCTF retificadora não foi recepcionada pela RFB tendo em vista ter se esgotado o prazo de cinco anos para a apresentação. A decisão de primeira instância foi, unanimemente, pela improcedência da manifestação de inconformidade, sob o fundamento de carência probatória a cargo do postulante, que não apresenta contrato que discrimine os royalties dos serviços técnicos e de assistência técnica, de forma individualizada, e de que a prazo para retificação de DCTF já havia se esgotado quando da apresentação de declaração retificadora pela empresa. Após ciência da decisão da DRJ, a empresa apresenta tempestivamente Recurso Voluntário, afirmando que: (a) celebrou contrato exclusivamente referente a licenciamento para uso de marcas, não envolvendo a importação de quaisquer serviços conexos, e que em 52 despachos decisórios distintos, a autoridade administrativa não homologou as compensações, por simples cotejo com DCTF, e que a DRJ manteve a decisão sob os fundamentos de ausência de apresentação de contrato e de retificação extemporânea de DCTF; (b) há necessidade de reunião dos 52 processos conexos para julgamento conjunto; (c) deve o CARF receber de ofício a DCTF retificadora, em nome da verdade material; e (d) o crédito foi documentalmente comprovado, figurando no contrato celebrado, anexado aos autos, que o objeto é exclusivamente o licenciamento de uso de marcas, sem quaisquer serviços conexos, aplicandose ao caso o entendimento externado na Solução de Divergência no 11, da COSIT, como tem entendido o CARF em casos materialmente e faticamente idênticos (Acórdão no 3801001.813). No CARF, o julgamento foi convertido em diligência por meio da Resolução no 3803000.458, para que a autoridade local da RFB informasse “...acerca dos valores devidos pela recorrente na data de transmissão da DComp, bem assim se o valor reconhecido a título de direito creditório (original ou atualizado) é o bastante para solver os débitos existentes nessa data, mediante o confrontamento de valores ou, informar acerca da diferença encontrada” (sic). Em resposta a fiscalização informa que o pagamento objeto do direito creditório não se encontra disponível, uma vez que utilizado para quitação de débito declarado em DCTF, e que, relativamente ao confronto de valores, restou demonstrado “... ser bastante o valor do pagamento pleiteado nestes autos para extinção do débito declarado pela Fl. 341DF CARF MF Processo nº 13603.905746/201214 Acórdão n.º 3401003.909 S3C4T1 Fl. 335 3 contribuinte por meio de compensação”, não havendo necessidade de se dar ciência ao contribuinte da informação. O processo foi a mim distribuído, mediante sorteio, em maio de 2017. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan, relator O cumprimento dos requisitos formais de admissibilidade já foi verificado na conversão em diligência, passandose, então, aqui, à análise de mérito. De fato, não se tem dúvidas de que, ao tempo da análise massiva, por sistema informatizado, das DCOMP apresentadas, os débitos declarados em DCTF correspondiam aos pagamentos efetuados, ainda que estes fossem eventualmente indevidos. Daí os despachos decisórios eletrônicos, limitados a cotejamento entre dados declarados em DCOMP e DCTF, e pagamentos efetuados com DARF, terem sido pelo indeferimento. No entanto, também não se tem dúvidas de que a empresa já entendia, na data de protocolo dos PER/DCOMP, serem indevidos os pagamentos efetuados, independente de ter ou não retificado as respectivas DCTF. Não há que se falar, assim, em decurso de prazo para repetir o indébito, visto que os PER/DCOMP foram transmitidos dentro do prazo regular para repetição. Após o indeferimento eletrônico da compensação é que a empresa esclarece que a DCTF foi preenchida erroneamente, tentando retificála (sem sucesso em função de trava temporal no sistema informatizado), e explica que o indébito decorre de serem os pagamentos referentes a COFINSserviços incabíveis pelo fato de se estar tratando, no caso, exclusivamente de licenciamento de uso de marcas, sem quaisquer serviços conexos. No presente processo, como em todos nos quais o despacho decisório é eletrônico, a fundamentação não tem como antecedente uma operação individualizada de análise por parte do Fisco, mas sim um tratamento massivo de informações. Esse tratamento massivo é efetivo quando as informações prestadas nas declarações do contribuinte são consistentes. Se há uma declaração do contribuinte (v.g. DCTF) indicando determinado valor, e ele efetivamente recolheu tal valor, o sistema certamente indicará que o pagamento foi localizado, tendo sido integralmente utilizado para quitar débitos do contribuinte. Houvesse o contribuinte retificado a DCTF anteriormente ao despacho decisório eletrônico, reduzindo o valor a recolher a título da contribuição, provavelmente não estaríamos diante de um contencioso gerado em tratamento massivo. A detecção da irregularidade na forma massiva, em processos como o presente, começa, assim, com a falha do contribuinte, ao não retificar a DCTF, corrigindo o valor a recolher, tornandoo diferente do (inferior ao) efetivamente pago. Esse erro (ausência de retificação da DCTF) provavelmente seria percebido se a análise inicial empreendida no despacho decisório fosse individualizada/manual (humana). Fl. 342DF CARF MF 4 Assim, diante dos despachos decisórios eletrônicos, é na manifestação de inconformidade que o contribuinte é chamado a detalhar a origem de seu crédito, reunindo a documentação necessária a provar a sua liquidez e certeza. Enquanto na solicitação eletrônica de compensação bastava um preenchimento de formulário DCOMP (e o sistema informatizado checaria eventuais inconsistências), na manifestação de inconformidade é preciso fazer efetiva prova documental da liquidez e da certeza do crédito. E isso muitas vezes não é assimilado pelo sujeito passivo, que acaba utilizando a manifestação de inconformidade tãosomente para indicar porque entende ser o valor indevido, sem amparo documental justificativo (ou com amparo documental deficiente). O julgador de primeira instância também tem um papel especial diante de despachos decisórios eletrônicos, porque efetuará a primeira análise humana do processo, devendo assegurar a prevalência da verdade material. Não pode o julgador (humano) atuar como a máquina, simplesmente cotejando o valor declarado em DCTF com o pago, pois tem o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Nesse contexto, relevante passa a ser a questão probatória no julgamento da manifestação de inconformidade, pois incumbe ao postulante da compensação a prova da existência e da liquidez do crédito. Configurase, assim, uma das três situações a seguir: (a) efetuada a prova, cabível a compensação (mesmo diante da ausência de DCTF retificadora, como tem reiteradamente decidido este CARF); (b) não havendo na manifestação de inconformidade a apresentação de documentos que atestem um mínimo de liquidez e certeza no direito creditório, incabível acatarse o pleito; e, por fim, (c) havendo elementos que apontem para a procedência do alegado, mas que suscitem dúvida do julgador quanto a algum aspecto relativo à existência ou à liquidez do crédito, cabível seria a baixa em diligência para sanála (destacandose que não se presta a diligência a suprir deficiência probatória a cargo do postulante). Em sede de recurso voluntário, igualmente estreito é o leque de opções. E agregase um limitador adicional: a impossibilidade de inovação probatória, fora das hipóteses de que trata o art. 16, § 4o do Decreto no 70.235/1972. No presente processo, o julgador de primeira instância não motiva o indeferimento somente na ausência de retificação da DCTF, mas também na ausência de prova do alegado, por não apresentação de contrato. Diante da ausência de amparo documental para a compensação pleiteada, chegase à situação descrita acima como “b”. Contudo, no julgamento inicial efetuado por este CARF, que resultou na baixa em diligência, concluiuse pela ocorrência da situação “c”, diante dos documentos apresentados em sede de recurso voluntário. Entendeu assim, este colegiado, naquele julgamento, que o comando do art. 16, § 4o do Decreto no 70.235/1972 seria inaplicável ao caso, e que diante da verossimilhança em relação a alegações e documentos apresentados, a unidade local deveria se manifestar. E a informação da unidade local da RFB, em sede de diligência, atesta que os valores recolhidos são suficientes para saldar os débitos indicados em DCOMP, entendendo a fiscalização, inclusive que, diante do exposto, não haveria necessidade de se dar ciência ao contribuinte da informação, apesar de ainda estarem os pagamentos alocados à DCTF original. Resta pouco, assim, a discutir no presente processo, visto que o único obstáculo que remanesce é a ausência de retificação da DCTF, ainda que comprovado o direito Fl. 343DF CARF MF Processo nº 13603.905746/201214 Acórdão n.º 3401003.909 S3C4T1 Fl. 336 5 de crédito, como se atesta na conversão em diligência, mediante o respectivo contrato, acompanhado da invoice correspondente. Atribuir à retificação formal de DCTF importância superior à comprovação do efetivo direito de crédito é típico das máquinas, na análise massiva, mas não do julgador, humano, que deve ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Como atesta a Solução de Divergência COSIT no 11/2011: “Não haverá incidência da CofinsImportação sobre o valor pago a título de Royalties, se o contrato discriminar os valores dos Royalties, dos serviços técnicos e da assistência técnica de forma individualizada. Neste caso, a contribuição sobre a importação incidirá apenas sobre os valores dos serviços conexos contratados. Porém, se o contrato não for suficientemente claro para individualizar estes componentes, o valor total deverá ser considerado referente a serviços e sofrer a incidência da mencionada contribuição.” (grifo nosso) E a cópia do contrato de licença apresentada e analisada, e de seus adendos, atesta que o contrato se refere “exclusivamente a licenciamento de uso de marcas”, não tratando de serviços. Assim, é indevida a COFINS, não havendo qualquer manifestação em sentido contrário pela própria unidade diligenciante. Aliás, efetivamente apreciou turma especial do CARF assunto idêntico, no Acórdão no 3801001.813, de 23/04/2013, acordando unanimemente pela não incidência de COFINSserviços em caso de contrato de “knowhow” que não engloba prestação de serviços: “CONTRATO DE “KNOW HOW”. REMESSAS AO EXTERIOR RELATIVAS A ROYALTIES E DIREITOS PELO USO DE MARCAS E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO E TECNOLOGIA. NÃO INCIDÊNCIA DA COFINS IMPORTAÇÃO. Uma vez discriminados os valores dos Royalties dos demais serviços, de forma individualizada, não incidirá a COFINSImportação.” Há ainda outros precedentes recentes e unânimes deste tribunal, no mesmo sentido, e com características adicionais em comum com o presente processo: “NULIDADE. INEXISTÊNCIA. Não é nulo o despacho decisório que se fundamenta no cotejo entre documentos apontados como origem do crédito (DARF) e nas declarações apresentadas que demonstram o direito creditório (DCTF). APRESENTAÇÃO DE DCTF RETIFICADORA. POSSIBILIDADE. DEMONSTRAÇÃO DE INDÍCIO DE PROVA DO DIREITO CREDITÓRIO ANTERIORMENTE AO DESPACHO DECISÓRIO. VERDADE MATERIAL. Indícios de provas apresentadas anteriormente à prolação do despacho decisório que denegou a homologação da compensação, consubstanciados na apresentação de DARF de pagamento e DCTF retificadora, ratificam os argumentos do contribuinte Fl. 344DF CARF MF 6 quanto ao seu direito creditório. Inexiste norma que condiciona a apresentação de declaração de compensação à prévia retificação de DCTF, bem como ausente comando legal impeditivo de sua retificação enquanto não decidida a homologação da declaração. ROYALTIES. REMUNERAÇÃO EXCLUSIVA PELO USO DE LICENÇA E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. INEXISTÊNCIA DE SERVIÇOS CONEXOS. NÃO INCIDÊNCIA DE PIS/COFINSIMPORTAÇÃO. A disponibilização de "informações técnicas" e "assistência técnica", por intermédio de entrega de dados e outros documentos pela licenciadora estrangeira, para utilização na fabricação de produtos licenciados no País, não configura prestação de serviços conexos ao licenciamento para efeitos de incidência de Contribuições para o PIS/Pasepimportação e Cofinsimportação. À luz do contrato de licenciamento e dos efetivos pagamentos realizados ao exterior, não incidem as Contribuições para o PIS/Pasepimportação e Cofins importação, pois tais pagamentos, cujos cálculos baseiamse nas vendas líquidas de produtos licenciados, referemse, exclusivamente, à remuneração contratual pela transferência de tecnologia, com natureza jurídica de royalties. (grifo nosso) (Acórdãos no 3201002.404 a 420, Rel. Cons. Windereley Morais pereira, sessão de 28 set. 2016) Deve, então, ser acolhido o pleito da empresa, removido o derradeiro obstáculo indevido ao reconhecimento do direito creditício e à compensação. Resta, por fim, tecer comentários sobre o pleito da recorrente para análise conjunta dos 52 processos referentes a suas DCOMP, visto que este relator recebeu, em sorteio, apenas 44 dos referidos processos. Em nome da verdade material, efetuei consulta ao sistema eprocessos, sobre a situação dos oito processos restantes, verificando o que se resume na tabela abaixo: N. do processo Situação atual Observações 13603.905762/201207 CARF – “Distribuir/Sortear” (indevidamente) Julgamento convertido em diligência, nas mesmas circunstâncias do presente, mas ainda não enviado à unidade local, para diligência, tendo em vista necessidade de saneamento (erro na anexação do arquivo contendo a Resolução de conversão em diligência). 13603.905764/201298 Idem Idem 13603.905772/201234 Idem Idem 13603.905785/201211 Idem Idem 13603.905790/201216 Idem Idem Fl. 345DF CARF MF Processo nº 13603.905746/201214 Acórdão n.º 3401003.909 S3C4T1 Fl. 337 7 13603.905775/201278 CARF – SEDIS/GECAP – Verificar Processo Processo sequer apreciado pelo CARF ainda, nem para converter o julgamento em diligência. 13603.905793/201250 Idem Idem 13603.905794/201202 Idem Idem Assim, há efetivamente apenas 44 processos maduros para julgamento, visto que os 8 restantes, por falhas processuais (5 deles com juntada incorreta de arquivos e 3 com pendência de verificação de procedimentos pelo setor competente do CARF) acabaram não chegando à unidade local, para realização da diligência. E os 44 processos, prontos para julgamento, serão efetivamente julgados conjuntamente, nesta sessão. Pelo exposto, e acolhendo a informação prestada em sede de diligência, voto por dar provimento ao recurso voluntário apresentado. Rosaldo Trevisan Fl. 346DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13603.905788/2012-47
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jul 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Aug 02 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ano-calendário: 2007
COFINS. DCOMP. DESPACHO DECISÓRIO ELETRÔNICO. TRATAMENTO MASSIVO x ANÁLISE HUMANA. AUSÊNCIA/EXISTÊNCIA DE RETIFICAÇÃO DE DCTF. VERDADE MATERIAL.
Nos processos referentes a despachos decisórios eletrônicos, deve o julgador (elemento humano) ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF.
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Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário apresentado, acolhendo a informação prestada em diligência.
ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice-presidente).
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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DCOMP. DESPACHO DECISÓRIO ELETRÔNICO. TRATAMENTO MASSIVO x ANÁLISE HUMANA. AUSÊNCIA/EXISTÊNCIA DE RETIFICAÇÃO DE DCTF. VERDADE MATERIAL. Nos processos referentes a despachos decisórios eletrônicos, deve o julgador (elemento humano) ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário apresentado, acolhendo a informação prestada em diligência. ROSALDO TREVISAN – Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vicepresidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 60 3. 90 57 88 /2 01 2- 47 Fl. 281DF CARF MF 2 Relatório Versa o presente sobre PER/DCOMP utilizando créditos de COFINS, no valor total de R$ 35.914,89. Por meio de Despacho Decisório Eletrônico, a compensação não foi homologada, visto que o pagamento foi localizado, mas integralmente utilizado na quitação de débitos do contribuinte. Cientificada da decisão de piso, a empresa apresentou Manifestação de Inconformidade, alegando, basicamente, que: (a) o crédito se refere a COFINSimportação de serviços recolhida indevidamente, e que a informação de que o valor foi utilizado integralmente para quitar débito da empresa se deve a ter sido originalmente informado em DCTF valor igual ao total do recolhimento; (b) que foi retificada a DCTF, após o despacho decisório, sendo que o valor não era devido por tratarse de remessa ao exterior em pagamento de licença de uso de marca, a título de royalties, não caracterizando contrapartida de serviços provenientes do exterior, conforme Solução de Consulta RFB no 263/2011; e (c) a DCTF retificadora não foi recepcionada pela RFB tendo em vista ter se esgotado o prazo de cinco anos para a apresentação. A decisão de primeira instância foi, unanimemente, pela improcedência da manifestação de inconformidade, sob o fundamento de carência probatória a cargo do postulante, que não apresenta contrato que discrimine os royalties dos serviços técnicos e de assistência técnica, de forma individualizada, e de que a prazo para retificação de DCTF já havia se esgotado quando da apresentação de declaração retificadora pela empresa. Após ciência da decisão da DRJ, a empresa apresenta tempestivamente Recurso Voluntário, afirmando que: (a) celebrou contrato exclusivamente referente a licenciamento para uso de marcas, não envolvendo a importação de quaisquer serviços conexos, e que em 52 despachos decisórios distintos, a autoridade administrativa não homologou as compensações, por simples cotejo com DCTF, e que a DRJ manteve a decisão sob os fundamentos de ausência de apresentação de contrato e de retificação extemporânea de DCTF; (b) há necessidade de reunião dos 52 processos conexos para julgamento conjunto; (c) deve o CARF receber de ofício a DCTF retificadora, em nome da verdade material; e (d) o crédito foi documentalmente comprovado, figurando no contrato celebrado, anexado aos autos, que o objeto é exclusivamente o licenciamento de uso de marcas, sem quaisquer serviços conexos, aplicandose ao caso o entendimento externado na Solução de Divergência no 11, da COSIT, como tem entendido o CARF em casos materialmente e faticamente idênticos (Acórdão no 3801001.813). No CARF, o julgamento foi convertido em diligência por meio da Resolução no 3803000.499, para que a autoridade local da RFB informasse “...acerca dos valores devidos pela recorrente na data de transmissão da DComp, bem assim se o valor reconhecido a título de direito creditório (original ou atualizado) é o bastante para solver os débitos existentes nessa data, mediante o confrontamento de valores ou, informar acerca da diferença encontrada” (sic). Em resposta a fiscalização informa que o pagamento objeto do direito creditório não se encontra disponível, uma vez que utilizado para quitação de débito declarado em DCTF, e que, relativamente ao confronto de valores, restou demonstrado “... ser bastante o valor do pagamento pleiteado nestes autos para extinção do débito declarado pela Fl. 282DF CARF MF Processo nº 13603.905788/201247 Acórdão n.º 3401003.946 S3C4T1 Fl. 270 3 contribuinte por meio de compensação”, não havendo necessidade de se dar ciência ao contribuinte da informação. O processo foi a mim distribuído, mediante sorteio, em maio de 2017. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan, relator O cumprimento dos requisitos formais de admissibilidade já foi verificado na conversão em diligência, passandose, então, aqui, à análise de mérito. De fato, não se tem dúvidas de que, ao tempo da análise massiva, por sistema informatizado, das DCOMP apresentadas, os débitos declarados em DCTF correspondiam aos pagamentos efetuados, ainda que estes fossem eventualmente indevidos. Daí os despachos decisórios eletrônicos, limitados a cotejamento entre dados declarados em DCOMP e DCTF, e pagamentos efetuados com DARF, terem sido pelo indeferimento. No entanto, também não se tem dúvidas de que a empresa já entendia, na data de protocolo dos PER/DCOMP, serem indevidos os pagamentos efetuados, independente de ter ou não retificado as respectivas DCTF. Não há que se falar, assim, em decurso de prazo para repetir o indébito, visto que os PER/DCOMP foram transmitidos dentro do prazo regular para repetição. Após o indeferimento eletrônico da compensação é que a empresa esclarece que a DCTF foi preenchida erroneamente, tentando retificála (sem sucesso em função de trava temporal no sistema informatizado), e explica que o indébito decorre de serem os pagamentos referentes a COFINSserviços incabíveis pelo fato de se estar tratando, no caso, exclusivamente de licenciamento de uso de marcas, sem quaisquer serviços conexos. No presente processo, como em todos nos quais o despacho decisório é eletrônico, a fundamentação não tem como antecedente uma operação individualizada de análise por parte do Fisco, mas sim um tratamento massivo de informações. Esse tratamento massivo é efetivo quando as informações prestadas nas declarações do contribuinte são consistentes. Se há uma declaração do contribuinte (v.g. DCTF) indicando determinado valor, e ele efetivamente recolheu tal valor, o sistema certamente indicará que o pagamento foi localizado, tendo sido integralmente utilizado para quitar débitos do contribuinte. Houvesse o contribuinte retificado a DCTF anteriormente ao despacho decisório eletrônico, reduzindo o valor a recolher a título da contribuição, provavelmente não estaríamos diante de um contencioso gerado em tratamento massivo. A detecção da irregularidade na forma massiva, em processos como o presente, começa, assim, com a falha do contribuinte, ao não retificar a DCTF, corrigindo o valor a recolher, tornandoo diferente do (inferior ao) efetivamente pago. Esse erro (ausência de retificação da DCTF) provavelmente seria percebido se a análise inicial empreendida no despacho decisório fosse individualizada/manual (humana). Fl. 283DF CARF MF 4 Assim, diante dos despachos decisórios eletrônicos, é na manifestação de inconformidade que o contribuinte é chamado a detalhar a origem de seu crédito, reunindo a documentação necessária a provar a sua liquidez e certeza. Enquanto na solicitação eletrônica de compensação bastava um preenchimento de formulário DCOMP (e o sistema informatizado checaria eventuais inconsistências), na manifestação de inconformidade é preciso fazer efetiva prova documental da liquidez e da certeza do crédito. E isso muitas vezes não é assimilado pelo sujeito passivo, que acaba utilizando a manifestação de inconformidade tãosomente para indicar porque entende ser o valor indevido, sem amparo documental justificativo (ou com amparo documental deficiente). O julgador de primeira instância também tem um papel especial diante de despachos decisórios eletrônicos, porque efetuará a primeira análise humana do processo, devendo assegurar a prevalência da verdade material. Não pode o julgador (humano) atuar como a máquina, simplesmente cotejando o valor declarado em DCTF com o pago, pois tem o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Nesse contexto, relevante passa a ser a questão probatória no julgamento da manifestação de inconformidade, pois incumbe ao postulante da compensação a prova da existência e da liquidez do crédito. Configurase, assim, uma das três situações a seguir: (a) efetuada a prova, cabível a compensação (mesmo diante da ausência de DCTF retificadora, como tem reiteradamente decidido este CARF); (b) não havendo na manifestação de inconformidade a apresentação de documentos que atestem um mínimo de liquidez e certeza no direito creditório, incabível acatarse o pleito; e, por fim, (c) havendo elementos que apontem para a procedência do alegado, mas que suscitem dúvida do julgador quanto a algum aspecto relativo à existência ou à liquidez do crédito, cabível seria a baixa em diligência para sanála (destacandose que não se presta a diligência a suprir deficiência probatória a cargo do postulante). Em sede de recurso voluntário, igualmente estreito é o leque de opções. E agregase um limitador adicional: a impossibilidade de inovação probatória, fora das hipóteses de que trata o art. 16, § 4o do Decreto no 70.235/1972. No presente processo, o julgador de primeira instância não motiva o indeferimento somente na ausência de retificação da DCTF, mas também na ausência de prova do alegado, por não apresentação de contrato. Diante da ausência de amparo documental para a compensação pleiteada, chegase à situação descrita acima como “b”. Contudo, no julgamento inicial efetuado por este CARF, que resultou na baixa em diligência, concluiuse pela ocorrência da situação “c”, diante dos documentos apresentados em sede de recurso voluntário. Entendeu assim, este colegiado, naquele julgamento, que o comando do art. 16, § 4o do Decreto no 70.235/1972 seria inaplicável ao caso, e que diante da verossimilhança em relação a alegações e documentos apresentados, a unidade local deveria se manifestar. E a informação da unidade local da RFB, em sede de diligência, atesta que os valores recolhidos são suficientes para saldar os débitos indicados em DCOMP, entendendo a fiscalização, inclusive que, diante do exposto, não haveria necessidade de se dar ciência ao contribuinte da informação, apesar de ainda estarem os pagamentos alocados à DCTF original. Resta pouco, assim, a discutir no presente processo, visto que o único obstáculo que remanesce é a ausência de retificação da DCTF, ainda que comprovado o direito Fl. 284DF CARF MF Processo nº 13603.905788/201247 Acórdão n.º 3401003.946 S3C4T1 Fl. 271 5 de crédito, como se atesta na conversão em diligência, mediante o respectivo contrato, acompanhado da invoice correspondente. Atribuir à retificação formal de DCTF importância superior à comprovação do efetivo direito de crédito é típico das máquinas, na análise massiva, mas não do julgador, humano, que deve ir além do simples cotejamento efetuado pela máquina, na análise massiva, em nome da verdade material, tendo o dever de verificar se houve realmente um recolhimento indevido/a maior, à margem da existência/ausência de retificação da DCTF. Como atesta a Solução de Divergência COSIT no 11/2011: “Não haverá incidência da CofinsImportação sobre o valor pago a título de Royalties, se o contrato discriminar os valores dos Royalties, dos serviços técnicos e da assistência técnica de forma individualizada. Neste caso, a contribuição sobre a importação incidirá apenas sobre os valores dos serviços conexos contratados. Porém, se o contrato não for suficientemente claro para individualizar estes componentes, o valor total deverá ser considerado referente a serviços e sofrer a incidência da mencionada contribuição.” (grifo nosso) E a cópia do contrato de licença apresentada e analisada, e de seus adendos, atesta que o contrato se refere “exclusivamente a licenciamento de uso de marcas”, não tratando de serviços. Assim, é indevida a COFINS, não havendo qualquer manifestação em sentido contrário pela própria unidade diligenciante. Aliás, efetivamente apreciou turma especial do CARF assunto idêntico, no Acórdão no 3801001.813, de 23/04/2013, acordando unanimemente pela não incidência de COFINSserviços em caso de contrato de “knowhow” que não engloba prestação de serviços: “CONTRATO DE “KNOW HOW”. REMESSAS AO EXTERIOR RELATIVAS A ROYALTIES E DIREITOS PELO USO DE MARCAS E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO E TECNOLOGIA. NÃO INCIDÊNCIA DA COFINS IMPORTAÇÃO. Uma vez discriminados os valores dos Royalties dos demais serviços, de forma individualizada, não incidirá a COFINSImportação.” Há ainda outros precedentes recentes e unânimes deste tribunal, no mesmo sentido, e com características adicionais em comum com o presente processo: “NULIDADE. INEXISTÊNCIA. Não é nulo o despacho decisório que se fundamenta no cotejo entre documentos apontados como origem do crédito (DARF) e nas declarações apresentadas que demonstram o direito creditório (DCTF). APRESENTAÇÃO DE DCTF RETIFICADORA. POSSIBILIDADE. DEMONSTRAÇÃO DE INDÍCIO DE PROVA DO DIREITO CREDITÓRIO ANTERIORMENTE AO DESPACHO DECISÓRIO. VERDADE MATERIAL. Indícios de provas apresentadas anteriormente à prolação do despacho decisório que denegou a homologação da compensação, consubstanciados na apresentação de DARF de pagamento e DCTF retificadora, ratificam os argumentos do contribuinte Fl. 285DF CARF MF 6 quanto ao seu direito creditório. Inexiste norma que condiciona a apresentação de declaração de compensação à prévia retificação de DCTF, bem como ausente comando legal impeditivo de sua retificação enquanto não decidida a homologação da declaração. ROYALTIES. REMUNERAÇÃO EXCLUSIVA PELO USO DE LICENÇA E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. INEXISTÊNCIA DE SERVIÇOS CONEXOS. NÃO INCIDÊNCIA DE PIS/COFINSIMPORTAÇÃO. A disponibilização de "informações técnicas" e "assistência técnica", por intermédio de entrega de dados e outros documentos pela licenciadora estrangeira, para utilização na fabricação de produtos licenciados no País, não configura prestação de serviços conexos ao licenciamento para efeitos de incidência de Contribuições para o PIS/Pasepimportação e Cofinsimportação. À luz do contrato de licenciamento e dos efetivos pagamentos realizados ao exterior, não incidem as Contribuições para o PIS/Pasepimportação e Cofins importação, pois tais pagamentos, cujos cálculos baseiamse nas vendas líquidas de produtos licenciados, referemse, exclusivamente, à remuneração contratual pela transferência de tecnologia, com natureza jurídica de royalties. (grifo nosso) (Acórdãos no 3201002.404 a 420, Rel. Cons. Windereley Morais pereira, sessão de 28 set. 2016) Deve, então, ser acolhido o pleito da empresa, removido o derradeiro obstáculo indevido ao reconhecimento do direito creditício e à compensação. Resta, por fim, tecer comentários sobre o pleito da recorrente para análise conjunta dos 52 processos referentes a suas DCOMP, visto que este relator recebeu, em sorteio, apenas 44 dos referidos processos. Em nome da verdade material, efetuei consulta ao sistema eprocessos, sobre a situação dos oito processos restantes, verificando o que se resume na tabela abaixo: N. do processo Situação atual Observações 13603.905762/201207 CARF – “Distribuir/Sortear” (indevidamente) Julgamento convertido em diligência, nas mesmas circunstâncias do presente, mas ainda não enviado à unidade local, para diligência, tendo em vista necessidade de saneamento (erro na anexação do arquivo contendo a Resolução de conversão em diligência). 13603.905764/201298 Idem Idem 13603.905772/201234 Idem Idem 13603.905785/201211 Idem Idem 13603.905790/201216 Idem Idem Fl. 286DF CARF MF Processo nº 13603.905788/201247 Acórdão n.º 3401003.946 S3C4T1 Fl. 272 7 13603.905775/201278 CARF – SEDIS/GECAP – Verificar Processo Processo sequer apreciado pelo CARF ainda, nem para converter o julgamento em diligência. 13603.905793/201250 Idem Idem 13603.905794/201202 Idem Idem Assim, há efetivamente apenas 44 processos maduros para julgamento, visto que os 8 restantes, por falhas processuais (5 deles com juntada incorreta de arquivos e 3 com pendência de verificação de procedimentos pelo setor competente do CARF) acabaram não chegando à unidade local, para realização da diligência. E os 44 processos, prontos para julgamento, serão efetivamente julgados conjuntamente, nesta sessão. Pelo exposto, e acolhendo a informação prestada em sede de diligência, voto por dar provimento ao recurso voluntário apresentado. Rosaldo Trevisan Fl. 287DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10921.000132/2010-83
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Aug 07 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Período de apuração: 10/01/2006 a 30/12/2009
OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. INFORMAÇÃO DE EMBARQUE. SISCOMEX. TRANSPOTADOR ESTRANGEIRO. RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA MARÍTIMA. REPRESENTAÇÃO.
A agência marítima, por ser representante, no país, de transportador estrangeiro, é solidariamente responsável pelas respectivas infrações à legislação tributária e, em especial, a aduaneira, por ele praticadas, nos termos do art. 95 do Decreto-lei nº 37/66.
LANÇAMENTO. DESCRIÇÃO DOS FATOS. CLAREZA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
Descritas com clareza as razões de fato e de direito em que se fundamenta o lançamento, atende o auto de infração o disposto no art. 10 do Decreto nº 70.235/72, permitindo ao contribuinte que exerça o seu direito de defesa em plenitude, não havendo motivo para declaração de nulidade do ato administrativo assim lavrado.
INFORMAÇÃO SOBRE O EMBARQUE. INOBSERVÂNCIA DO PRAZO. CONDUTA DESCRITA NO ART. 107, INCISO IV, ALÍNEA E, DO DECRETO-LEI Nº 37/66.
O contribuinte que presta informações fora do prazo sobre o embarque de mercadorias para exportação incide na infração tipificada no art. 107, inciso IV, alínea e, do Decreto-lei nº 37/66, sujeitando-se à penalidade correspondente.
Recurso voluntário negado.
Numero da decisão: 3401-003.882
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário apresentado.
Rosaldo Trevisan Presidente
Robson José Bayerl Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Rosaldo Trevisan, Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco.
Nome do relator: ROBSON JOSE BAYERL
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ementa_s : Assunto: Obrigações Acessórias Período de apuração: 10/01/2006 a 30/12/2009 OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. INFORMAÇÃO DE EMBARQUE. SISCOMEX. TRANSPOTADOR ESTRANGEIRO. RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA MARÍTIMA. REPRESENTAÇÃO. A agência marítima, por ser representante, no país, de transportador estrangeiro, é solidariamente responsável pelas respectivas infrações à legislação tributária e, em especial, a aduaneira, por ele praticadas, nos termos do art. 95 do Decreto-lei nº 37/66. LANÇAMENTO. DESCRIÇÃO DOS FATOS. CLAREZA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. Descritas com clareza as razões de fato e de direito em que se fundamenta o lançamento, atende o auto de infração o disposto no art. 10 do Decreto nº 70.235/72, permitindo ao contribuinte que exerça o seu direito de defesa em plenitude, não havendo motivo para declaração de nulidade do ato administrativo assim lavrado. INFORMAÇÃO SOBRE O EMBARQUE. INOBSERVÂNCIA DO PRAZO. CONDUTA DESCRITA NO ART. 107, INCISO IV, ALÍNEA E, DO DECRETO-LEI Nº 37/66. O contribuinte que presta informações fora do prazo sobre o embarque de mercadorias para exportação incide na infração tipificada no art. 107, inciso IV, alínea e, do Decreto-lei nº 37/66, sujeitando-se à penalidade correspondente. Recurso voluntário negado.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Período de apuração: 10/01/2006 a 30/12/2009 OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. INFORMAÇÃO DE EMBARQUE. SISCOMEX. TRANSPOTADOR ESTRANGEIRO. RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA MARÍTIMA. REPRESENTAÇÃO. A agência marítima, por ser representante, no país, de transportador estrangeiro, é solidariamente responsável pelas respectivas infrações à legislação tributária e, em especial, a aduaneira, por ele praticadas, nos termos do art. 95 do Decretolei nº 37/66. LANÇAMENTO. DESCRIÇÃO DOS FATOS. CLAREZA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. Descritas com clareza as razões de fato e de direito em que se fundamenta o lançamento, atende o auto de infração o disposto no art. 10 do Decreto nº 70.235/72, permitindo ao contribuinte que exerça o seu direito de defesa em plenitude, não havendo motivo para declaração de nulidade do ato administrativo assim lavrado. INFORMAÇÃO SOBRE O EMBARQUE. INOBSERVÂNCIA DO PRAZO. CONDUTA DESCRITA NO ART. 107, INCISO IV, ALÍNEA ‘E’, DO DECRETOLEI Nº 37/66. O contribuinte que presta informações fora do prazo sobre o embarque de mercadorias para exportação incide na infração tipificada no art. 107, inciso IV, alínea ‘e’, do Decretolei nº 37/66, sujeitandose à penalidade correspondente. Recurso voluntário negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 1. 00 01 32 /2 01 0- 83Fl. 226DF CARF MF 2 Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário apresentado. Rosaldo Trevisan – Presidente Robson José Bayerl – Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Rosaldo Trevisan, Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco. Relatório Cuidase de auto de infração para exigência da multa prevista no art. 107, IV, “e” do DecretoLei nº 37/66, em razão do descumprimento do prazo para prestação de informação, no SISCOMEX, sobre embarque de mercadorias para exportação. Em impugnação o contribuinte sustentou ilegitimidade passiva, por desempenhar atividade de agente marítimo e não transportador; nulidade do auto de infração, por vício na descrição dos fatos; decadência do direito de exigir a penalidade; falta de tipicidade da conduta; ocorrência de denúncia espontânea em relação à prestação das informações, ainda que extemporaneamente; inexistência de prejuízo ao erário; e ofensa aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. A DRJ Florianópolis/SC manteve o lançamento em decisão assim ementada: “AGENTE MARÍTIMO. REPRESENTANTE DO TRANSPORTADOR ESTRANGEIRO. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÕES. LEGITIMIDADE PASSIVA. Respondem pela infração à legislação aduaneira, conjunta ou isoladamente, quem quer que, de qualquer forma, concorra para a sua prática. DADOS DE EMBARQUE. INFORMAÇÃO INTEMPESTIVA. PENALIDADE APLICADA POR VIAGEM EM VEÍCULO TRANSPORTADOR. A penalidade que comina a prestação intempestiva de informação referente aos dados de embarque de mercadorias destinadas à exportação é aplicada por viagem do veiculo transportador. ARGÜIÇÃO DE ILEGALIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE. INCOMPETÊNCIA DAS INSTANCIAS ADMINISTRATIVAS PARA APRECIAÇÃO. Não compete às autoridades administrativas proceder à análise da constitucionalidade ou legalidade das normas tributárias que regem a Fl. 227DF CARF MF Processo nº 10921.000132/201083 Acórdão n.º 3401003.882 S3C4T1 Fl. 11 3 matéria sob apreço, posto que essa atividade é de competência exclusiva do Poder Judiciário.” Em recurso voluntário o recorrente fulcrou sua defesa na ilegitimidade passiva, vício formal do lançamento, falta de tipicidade da conduta e ocorrência da denúncia espontânea a afastar a imposição da multa, basicamente repetindo, nesses pontos, a argumentação exordial. A 1ª Turma Ordinária/4ª Câmara/3ª SEJUL/CARF/MF, por intermédio do Acórdão 3401002.441, de 26/11/2013, à unanimidade de votos, deu provimento ao recurso voluntário, em decisão cuja ementa está vazada nos seguintes termos: “INFORMAÇÕES SOBRE A CARGA TRANSPORTADA. RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA MARÍTIMA. A agência marítima, por ser representante, no país, de transportadora estrangeira, é solidariamente responsável pelas infrações previstas no Decretolei nº 77, de 1966. CORRETA DESCRIÇÃO DOS FATOS. FALTA DE MOTIVO PARA DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. Quando o auditorfiscal relata com clareza e precisão os fatos ocorridos, não há motivo para declarar a nulidade do auto de infração com fundamento em falha na descrição dos fatos. INFORMAÇÃO SOBRE O EMBARQUE PRESTADA FORA DO PRAZO. CONDUTA DESCRITA NO ART. 107, INCISO IV, ALÍNEA ‘E’, DO DECRETOLEI Nº 37/66. O contribuinte que tiver prestado as informações sobre as mercadorias embarcadas somente após o prazo estipulado pela Secretaria da Receita Federal comete a infração descrita no art. 107, inciso IV, alínea ‘e’, do Decretolei nº 37/66. MULTA PREVISTA NA LEGISLAÇÃO. CÁLCULO CORRETO. No caso em tela, foi aplicada a multa de R$ 5.000,00 por cada embarque com informação prestada fora do prazo, conforme previsão do art. 107, inciso IV, alínea ‘e’, do Decretolei nº 37/66. Portanto, não há que se falar em montante desproporcional ou desarrazoado. INFORMAÇÃO SOBRE AS MERCADORIAS EMBARCARDAS PRESTADAS FORA DO PRAZO, MAS ANTES DO PROCEDIMENTO FISCAL. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. APLICABILIDADE. EXCLUSÃO DA MULTA. Aplicase a denúncia espontânea, nos termos do § 2º, do art. 102, do Decretolei nº 37/66 c/c o art. 138, do CTN, excluindose a multa aplicada, quando a agência marítima presta informação sobre a carga embarcada fora do prazo, mas antes do procedimento fiscal.” Inconformada, a Fazenda Nacional interpôs recuso especial, que foi acolhido pela Câmara Superior de Recursos Fiscais, por sua 3ª Turma (9303003.598), verbis: Fl. 228DF CARF MF 4 “PENALIDADE ADMINISTRATIVA. ATRASO NA ENTREGA DE DECLARAÇÃO OU PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. INAPLICABILIDADE. A denúncia espontânea não alcança as penalidades infligidas pelo descumprimento de deveres instrumentais, como os decorrentes da inobservância dos prazos fixados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil para prestação de informações à administração aduaneira, mesmo após o advento da nova redação do art. 102 do DecretoLei nº 37/1966, dada pelo art. 40 da Lei nº 12.350, de 2010.” O dispositivo do aresto determinou a devolução do processo à câmara baixa para apreciação das demais questões aviadas em recurso voluntário: “Acordam os membros do Colegiado, pelo voto de qualidade, em dar provimento parcial ao recurso especial para considerar inaplicável ao caso a denúncia espontânea, devendo o processo retornar à instância a quo para apreciação das demais questões trazidas no recurso voluntário e que não foram objeto de deliberação por aquele Colegiado. Vencidos os Conselheiros Tatiana Midori Migiyama, Júlio César Alves Ramos, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Maria Teresa Martínez López, que negavam provimento.” É o relatório. Voto Conselheiro Robson José Bayerl, Relator Inicialmente, dada a peculiaridade da situação, necessária a delimitação do objeto deste julgamento. Consoante voto condutor, nada obstante o integral enfrentamento das questões postas em recurso voluntário, a denúncia espontânea consubstanciaria questão prejudicial que impediria o conhecimento das demais matérias e, uma vez ultrapassada aquela, no recurso especial, imporseia nova manifestação a seu respeito: “Afastada a aplicação da denúncia espontânea, necessário verificar o efeito desse entendimento sobre o resultado do julgamento, tendo em vista que a decisão neste processo será aplicada a diversos outros, na sistemática prevista nos §§ 1º a 3º do art. 47 do RICARF (recursos repetitivos). Como a denúncia espontânea é questão prejudicial de mérito, impede o julgamento das demais questões afetas à exigência da penalidade em foco. Portanto, ainda que o voto condutor do recorrido tenha se pronunciado sobre outras questões de mérito, tal pronunciamento não representa julgamento pelo colegiado a quo, constituindo, apenas, manifestação pessoal do relator. Por isso, afastada a denúncia espontânea, deve o processo retornar à instância a quo para que sejam enfrentadas as questões de mérito trazidas pelo Sujeito Passivo no recurso voluntário.” (grifo no original) Fl. 229DF CARF MF Processo nº 10921.000132/201083 Acórdão n.º 3401003.882 S3C4T1 Fl. 12 5 Data maxima venia, ouso divergir desse posicionamento. Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart1 assim conceituam as denominadas “questões prejudiciais”: “As questões prejudiciais, portanto são questões (pontos de fato ou de direito controvertidos) que constituem antecedente lógico para o conhecimento da pretensão do autor, mas que não são decididas pelo juiz da causa, e sim, incidentalmente, resolvidas por ele, porque sobre elas ninguém pede decisão específica do magistrado, já que não compõem o bojo do pedido formulado pelo autor – e o juiz somente pode proferir sentença, que seja efetivamente de mérito, acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, o formulado pelo autor (art. 459 do CPC).” Fredie Didier Júnior2 se manifesta sobre o assunto da seguinte maneira: “Considerase questão prejudicial aquela cuja solução dependerá não a possibilidade nem a forma do pronunciamento sobre a outra questão, mas o teor mesmo desse posicionamento. A questão prejudicial funciona como uma espécie de placa de trânsito, que determina para onde o motorista (juiz) deve seguir. Costumase dizer que as questões prejudiciais podem ser objeto de um processo autônomo. São exemplos de questões prejudiciais: a) a validade do contrato, na demanda que se pretende a sua execução; b) a filiação, na demanda por alimentos; c) a inconstitucionalidade da lei, na demanda em que se pretenda a repetição do indébito tributário, etc. Quando a questão prejudicial é o próprio objeto litigioso do processo (questão a ser resolvida principaliter), a doutrina costuma referirse à causa prejudicial, ao invés de ‘questão prejudicial’, expressão que ficaria restrita à situação em que o exame da questão fará parte apenas da fundamentação da decisão. É, como visto, um problema terminológico: basta que se tenha em vista que tanto é questão a que apenas será conhecida como aquela que, além disso, será decidida.” Pontualmente, a dita questão prejudicial é antecedente lógico da subseqüente, porém, sobre ela não haverá decisão específica, salvo se, no decorrer no processo, mostrarse necessária tal providência, como lecionam os autores citados. No caso vertente, a matéria indicada como questão prejudicial, denúncia espontânea, exige decisão específica sobre o seu acolhimento ou não, como razão para o afastamento da autuação e, como não bastasse, enquanto “questão” (ponto controvertido), não é antecedente lógico de julgamento das demais matérias arroladas em recurso, a ilegitimidade passiva, o vício formal do lançamento e a ausência de tipicidade, mas sim, o contrário. Com efeito, só há que se debater a ocorrência de “denúncia espontânea” se, anteriormente, for decidido que o recorrente é o sujeito passivo da exigência, que o instrumento 1 Manual do processo de conhecimento. 4ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. Pág. 155. 2 Curso de direito processual civil. Teoria geral do processo e processo de conhecimento. Volume I. 11ª edição revista, ampliada e atualizada. Salvador: Editora JusPodium, 2009. Pág. 301. Fl. 230DF CARF MF 6 de lançamento é válido e que a sua conduta está devidamente tipificada como infração na legislação tributária. Portanto, a relação de prejudicialidade se verifica entre a ilegitimidade/atipicidade e a denúncia espontânea, não o inverso. Em conclusão, para o caso dos autos não haveria matéria remanescente a ser julgada por este colegiado, representando a decisão corporificada no Acórdão nº 3401002.441, de 26/11/2013, não opinião pessoal do relator, mas entendimento definitivo do colegiado, que teria esgotado sua atribuição judicante. Admitase que, para a finalidade da aplicação do julgamento, como paradigma representativo de controvérsia, nos recursos repetitivos a que alude o art. 47 do RICARF/2015, a “denúncia espontânea” possa ser tomada como questão prejudicial, porque não encerraria a divergência se incide ou não a multa do art. 107, IV do DL 37/66 aos casos de inobservância do prazo para registro de embarque no SISCOMEX, mormente se considerada sua aplicação, por analogia, aos demais recursos repetitivos e o grau de abstração que deveria ostentar a decisão paradigmática, sob pena de ineficácia da medida. Entretanto, como asseverado, entendo que o mesmo raciocínio não pode ser aplicado, por extensão, ao caso presente, onde os demais argumentos, em ordem lógica de julgamento, devem preceder à matéria “denúncia espontânea”. Em que pese estar convencido que o tema “denúncia espontânea”, nestes autos, não represente questão prejudicial ante os demais, o que acarretaria falta objeto à remessa procedida pela Câmara Superior de Recursos Fiscais e, em consequência, razão suficiente para seu não conhecimento, no desiderato de evitar debates improfícuos, postergando ainda mais a solução do litígio, passo ao reexame do recurso voluntário. Nesse passo, replico a decisão estampada no Acórdão nº 3401002.441, de cujo julgamento participei e por não vislumbrar motivo para alteração de posicionamento sobre os temas remanescentes – ilegitimidade passiva, vício formal do lançamento e atipicidade da conduta –, adoto como razão de decidir, oportunidade que peço licença para coligir o voto vencedor pronunciado naquela assentada, ao qual acompanhei in totum: “1. Da ilegitimidade passiva A Recorrente alega sua ilegitimidade passiva, por ser mera agência de navegação marítima. Todavia a alegação da Recorrente não prospera. Conforme elucida o art. 4º, da IN/SRF nº 800, de 28 de dezembro de 2007, as agências marítimas são as representantes da empresa de navegação estrangeira no país. Por sua vez, o parágrafo único, inciso II, do art. 32, do Decretolei nº 37/66 dispõe que é responsável solidário pelo imposto ‘o representante, no país, do transportador estrangeiro’. Nessa linha, é inquestionável que a Recorrente é responsável solidária, nos termos do art. 128, do CTN. Portanto, não resta dúvida quanto à responsabilidade passiva da Recorrente. 2. Da nulidade do auto de infração por erro na descrição dos fatos Fl. 231DF CARF MF Processo nº 10921.000132/201083 Acórdão n.º 3401003.882 S3C4T1 Fl. 13 7 A Recorrente sustenta que o auto de infração é nulo em razão da incorreta descrição dos fatos, pois no auto de infração ela é indicada como transportadora quando, na realidade, é agência marítima. A alegação da Recorrente não é suficiente para causar a nulidade do auto de infração, pois, como mencionado acima, ela é representante da transportadora internacional e, como tal, é responsável pelas informações, figurando, assim, como transportadora no SISCOMEX. Logo, não há motivo para declarar o auto de infração nulo. 3. Da descrição legal da conduta O enquadramento legal da infração praticada pela Recorrente é o art. 107, inciso IV, alínea ‘e’, do Decretolei nº 37, de 18 de novembro de 1966, que assim dispõe: ‘Art. 107. Aplicamse ainda as seguintes multas: (...) IV – de R$ 5.000,00 (cinco mil reais): (...) e) por deixar de prestar informação sobre veículo ou carga nele transportada, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, aplicada à empresa de transporte internacional, inclusive a prestadora de serviços de transporte internacional expresso portaaporta, ou ao agente de carga’. A Recorrente alega que, muito embora tenha prestado as informações intempestivamente, não praticou o ato descrito no decretolei, pois não deixou de prestar a informação. Todavia a alegação apresentada não corresponde à melhor interpretação da norma. A tipificação da conduta não é apenas deixar de prestar informação, mas também deixar de prestar na forma ou no prazo estabelecido pela Secretaria da Receita Federal. Nessa linha, se o sujeito apresentar as informações depois do prazo estabelecido pela Secretaria da Receita Federal, estará cometendo a infração de ‘deixar de prestar informação sobre veículo ou carga nele transportada, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal’. No caso em tela, não se discute se a informação foi prestada tempestiva ou intempestivamente, pois o descumprimento do prazo foi confessado pela Recorrente. O que se discute é se o atraso na informação é a conduta tipificada no art. 107, inciso IV, alínea ‘e’, do Decretolei nº 37/66 e, como já analisado, a conduta da Recorrente está enquadrada de forma correta, de modo que não cabe o cancelamento do auto de infração.” Fl. 232DF CARF MF 8 O agente marítimo, na qualidade de representante do transportador estrangeiro, no país, por força do art. 95 do DL 37/66, responde pela infração consistente na prestação de informações sobre embarques de exportação, no SISCOMEX, fora do prazo, sendo legitimado passivo a figurar no lançamento respectivo. Quanto ao alegado vício formal, o auto de infração descreve claramente a infração imputada ao sujeito passivo, arrolando todas as razões de fato e de direito que ensejaram a sua lavratura, atendendo fielmente as disposições do art. 10 do Decreto nº 70.235/72. Concernente, à atipicidade da conduta, não acode o direito ao recorrente, haja vista que, prevista a obrigação de informar em prazo definido os embarques de exportação no sistema próprio, inobservada temporalidade da informação, plenamente cabível a infração prescrita no art. 107, IV, “e” do DL 37/66, consoante o qual é aplicável a multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), aplicável àquele que deixa de prestar informação sobre carga ou sobre as operações que execute, no prazo estabelecido pela Secretaria da Receita Federal, à empresa de transporte internacional ou ao agente de carga. Com estas considerações, voto por negar provimento ao recurso voluntário. Robson José Bayerl Fl. 233DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10074.720570/2015-02
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 31 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Sep 22 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 04/03/2011 a 28/12/2011
OCULTAÇÃO DO REAL ADQUIRENTE DE MERCADORIA IMPORTADA. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA. AUSÊNCIA DE PROVA. MULTA POR CESSÃO DE NOME. DESCABIMENTO.
É descabida a aplicação da multa prevista no art. 33 da Lei nº 11.488/2007, quando não provada a fraude ou simulação negocial, na realização de operações de importação, tendente à ocultação dos reais adquirentes das mercadorias, não se configurando a necessária interposição fraudulenta quando os intervenientes estão respaldados em contratos comerciais válidos, possuem capacidade econômico-financeira e operacional para realização das operações e não restou demonstrada qualquer irregularidade na sua execução, não servindo de prova meras conjecturas fundadas em relações societárias e direitos de exclusividade.
Recurso voluntário provido.
Numero da decisão: 3401-003.966
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário apresentado.
Fenelon Moscoso de Almeida Presidente Substituto
Robson José Bayerl Relator.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge DOliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco. Participou do julgamento, ainda, em substituição ao Conselheiro Rosaldo Trevisan, o Conselheiro suplente Cleber Magalhães.
Nome do relator: ROBSON JOSE BAYERL
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 04/03/2011 a 28/12/2011 OCULTAÇÃO DO REAL ADQUIRENTE DE MERCADORIA IMPORTADA. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA. AUSÊNCIA DE PROVA. MULTA POR CESSÃO DE NOME. DESCABIMENTO. É descabida a aplicação da multa prevista no art. 33 da Lei nº 11.488/2007, quando não provada a fraude ou simulação negocial, na realização de operações de importação, tendente à ocultação dos reais adquirentes das mercadorias, não se configurando a necessária interposição fraudulenta quando os intervenientes estão respaldados em contratos comerciais válidos, possuem capacidade econômicofinanceira e operacional para realização das operações e não restou demonstrada qualquer irregularidade na sua execução, não servindo de prova meras conjecturas fundadas em relações societárias e direitos de exclusividade. Recurso voluntário provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário apresentado. Fenelon Moscoso de Almeida – Presidente Substituto Robson José Bayerl – Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 07 4. 72 05 70 /2 01 5- 02Fl. 3405DF CARF MF 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D’Oliveira, Mara Cristina Sifuentes, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco. Participou do julgamento, ainda, em substituição ao Conselheiro Rosaldo Trevisan, o Conselheiro suplente Cleber Magalhães. Relatório Tratase de auto de infração para exigência da multa prevista no art. 33 da Lei nº 11.488/2007, em razão da cessão de nome e documentário fiscal para acobertamento dos reais intervenientes e/ou beneficiários nas operações de importação. Narra a fiscalização que o autuado (doravante CARVALHO) agiu como interveniente das pessoas jurídicas PUIG Brasil Comercializadora de Perfumes S/A (doravante PUIG) e MRA Cosméticos Ltda., sem identificação nas declarações de importação registradas por Ind. e Com. Quimetal S/A (doravante QUIMETAL), sob encomenda daquela primeira empresa. O relatório destaca que a contabilidade e os dados bancários da CARVALHO não revelaram irregularidades entre esta e a PUIG e MRA, bem assim, que todos os envolvidos são empresas existentes de fato, localizadas em instalações adequadas às suas operações. As importações envolvem perfumes diversos de marcas conhecidas internacionalmente (Burberry, Bulgari, Hèrmes, Valentino, Carolina Herrera, Paco Rabanne, Nina Ricci, dentre outras), mobiliário próprio para este tipo de produto e materiais promocionais, asseverando a fiscalização que tanto a PUIG quanto a MRA não possuem habilitação para operar no comércio exterior. O relatório discorre sobre a importação por conta e ordem e a encomendante predeterminado. As razões de autuação em relação às operações com a PUIG são as seguintes: · Que a PUIG tem por controladora (99,97%) a empresa espanhola Antonio Puig S/A, que é a titular do direito de comercialização mundial das marcas importadas e também a exportadora destes produtos à CARVALHO; · que os produtos já vêm acabados e embalados do exterior, cabendo à CARVALHO apenas a etiquetagem/selagem e a recolocação do plástico celofane, o que não revelaria operação de industrialização, nos termos do art. 6º, § 2º do RIPI/10; · intimada, CARVALHO informou que as atividades relacionadas à PUIG, com a mercadoria já nacionalizada, consiste no registro do produto na ANVISA, retirada do celofane original, etiquetagem com as informações em língua portuguesa, aposição do selo de originalidade do produto, “celofanização” e embalagem em caixas de transporte; · que todos os produtos importados, de empresas do grupo Antonio Puig S/A, são destinados à PUIG (Brasil); Fl. 3406DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.530 3 · que os produtos são importados pelo Espírito Santo, em seguida, enviados à CARVALHO, no Rio de Janeiro, para realização das atividades sob sua responsabilidade, e, após, reenviados ao Espírito Santo, para a PUIG, de onde são distribuídas aos revendedores em território brasileiro; · que existem contratos de distribuição e fornecimento firmados entre CARVALHO, PUIG e Antonio Puig S/A; · que, no contrato de fornecimento, entre CARVALHO e Antonio Puig S/A, a definição do preço de venda (custo de importação mais o serviço de “celofanização”) cabe a esta última, não tendo a primeira nenhum poder sobre sua determinação; · que existe contrato de compra e venda entre QUIMETAL, CARVALHO e Antonio Puig S/A, onde esta última empresa detém amplos poderes perante os demais contratantes; e, · que o contrato firmado entre CARVALHO e Antonio Puig S/A impõe que a primeira somente possa fornecer os produtos importados aos compradores autorizados pelo segundo, no caso, PUIG (Brasil). Relativamente à MRA, são os seguintes os fundamentos expendidos: · Que as operações de importação, ao longo de 2011, envolveram, como importadoras, a Eximbiz Coml. Internacional e QUIMETAL, e, como encomendantes, Viva Cosméticos (doravante VIVA) e CARVALHO, respectivamente; · que, tanto a VIVA como a CARVALHO, possuem como sócia majoritária a Srª Ivanilza Carvalho Martins, sendo que esta última empresa, em 2008, recebeu parte dos ativos daqueloutra e um aumento de capital em decorrência de sua cisão parcial; · que a análise sequencial das operações de importação revela que CARVALHO sucedeu a VIVA em relação aos negócios com a MRA; · que a MRA indicava à VIVA de quem compraria as mercadorias e as respectivas quantidades, caracterizando uma compra por encomenda; · que, mesmo intimadas, CARVALHO e MRA se esquivaram de fornecer os contratos relacionados aos produtos envolvidos nas operações (Bulgari, Salvador Dali e Hèrmes); · que a MRA foi a destinatária de todos os produtos importados diretamente dos proprietários das marcas, pela CARVALHO, referentes à Bulgari, Salvador Dali e Hèrmes; · que o modus operandi é o mesmo adotado pela CARVALHO/PUIG; · que as mercadorias são vendidas à MRA em até três dias da data do desembaraço pela QUIMETAL; e, Fl. 3407DF CARF MF 4 · que, além dos contratos já citados, outros contratos de fornecimento foram requisitados e não apresentados, bem assim, o Livro Registro da Produção e do Estoque ou, ainda, controle alternativo. Prossegue a fiscalização aduzindo que a autuada apresentou um laudo técnico que descreve os procedimentos adotados nas operações envolvidas, além de asseverar que possui instalações industriais adequadas à realização das atividades e fabricação de produtos cosméticos, reconhecendo as autoridades fiscais que a autuada efetua operações de industrialização, não, porém, quanto às operações com a PUIG e MRA. Ante o quadro estampado, entendeu a autuante que PUIG e MRA sabiam que estavam encomendando produtos importados por CARVALHO, sem providenciar a habilitação a operar no comércio exterior e tampouco apresentar requerimento à RFB postulando vinculação à CARVALHO e QUIMETAL; que permaneceram ocultas no processo de importação, deixando transparecer que CARVALHO era a real encomendante da mercadoria; que PUIG e MRA beneficiaramse da ocultação, ao perderem a condição de contribuinte do IPI, por equiparação a estabelecimento industrial; que PUIG é vinculada ao fornecedor estrangeiro, nas operações que lhe diz respeito, o que teria lhe propiciado a fuga da legislação de preço de transferência e valoração aduaneira; e, que a QUIMETAL não tinha conhecimento que CARVALHO não era o real encomendante da mercadoria importada, não sendo responsável pela infração em comento. Em impugnação o recorrente defendeu a lisura dos negócios, asseverando que a escolha do modelo obedece a interesses empresariais e logísticos dos envolvidos, PUIG e MRA, que preferem terceirizar as operações de importação e embalagem, o que levou à sua contratação; que os produtos importados não estão prontos para comercialização, necessitando de adequação às normas próprias estabelecidas pela ANVISA, cuidandose de produtos acabados, mas inaptos à comercialização, semiacabados e insumos; que realiza o controle de qualidade e a manipulação industrial; que não há fraude ou qualquer tipo de ocultação nas operações de importação; que inexiste infração catalogada como “interposição fraudulenta do encomendante”; que o auto de infração é nulo por vício no procedimento fiscal, ante a insuficiência probatória, mormente pelo fato da fiscalização nunca ter comparecido ao seu estabelecimento e averiguar suas atividades; que todos os procedimentos realizados foram amplamente expostos, como atesta correspondência de 30/06/2015; que os produtos são submetidos a várias etapas produtivas antes de serem entregues aos clientes (PUIG e MRA); e, que não houve qualquer análise de conteúdo do laudo técnico apresentado. No mérito, alegou ausência dos requisitos para aplicação da multa inflingida, ao passo que não restou provada a interposição fraudulenta, a simulação ou o acobertamento do real importador; que a fiscalização reconheceu a inexistência de irregularidade nas operações de importação; que a autuação criou a figura sui generis da interposição fraudulenta do encomendante; que não restou provado, nos autos, que as operações seriam ilegítimas ou que as negociações internacionais foram conduzidas por PUIG e MRA, ou, ainda, que não possuísse capacidade econômica e financeira para realização das importações; que a jurisprudência do CARF já reconheceu que, ausentes tais requisitos, não há fundamento para aplicação da multa do art. 33 da Lei nº 11.488/07; que as operações comerciais possuem legitimidade econômicojurídica; que a autuada possui instalações industriais próprias e conta com cerca de 700 (setecentos) empregados para realização de suas atividades; que a manipulação de produtos cosméticos é fiscalizada pela ANVISA e que atende as exigências desse órgão para funcionamento; que, distintamente do que afirmado pela autuação, realiza operações de industrialização, como atesta o laudo técnico aviado, ao listar 14 procedimentos tipicamente industriais, dentre eles, exemplificativamente, limpeza e higienização da área de produção, controle de qualidade, abertura de embalagens, encartuchamento, etiquetagem, Fl. 3408DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.531 5 selagem, celofanização e embalagem; que o deslocamento dos produtos entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro tem um propósito empresarial, não representando uma burla à fiscalização; que o vínculo societário entre o fornecedor/adquirente é normal no ramo cosmético, em função dos direito de marca e exclusividade de distribuição, o que, inclusive, justifica a venda apenas às empresas PUIG e MRA; que a falta de poderes decisórios relevantes, no contrato de importação/venda no mercado interno, não é indicativo de fraude, justamente pelas especificidades do setor; que a simulação de negócios exige prova de sua ocorrência, nos termos do art. 167 do Código Civil, não meros indícios; que a análise dos contratos firmados pela recorrente não revela qualquer ilicitude ou irregularidade; que não foram firmados contratos para importação com a MRA, daí porque não apresentados à fiscalização, assim como não existem contratos firmados com o exportador estrangeiro, sendo que o único contrato existente, para fabricação dos produtos que menciona, foi entregue; que não houve omissão deliberada de qualquer contrato celebrado; e, que, mesmo demonstrada a correção dos negócios, mesmo que admissível alguma penalidade, não seria a multa lançada, por ausência do elemento fraudulento. A DRJ Florianópolis/SC manteve o lançamento: “MULTA POR CESSÃO DE NOME. CABIMENTO. Cabe a aplicação da multa prevista no ati. 33 da Lei n.0 11.488/2007 à pessoa jurídica que cede seu nome para realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas ao acobertamento dos reais intervenientes ou beneficiários da operação de importação. RIPI. CARACTERIZAÇÃO DE INDUSTRIALIZAÇÃO. Não caracteriza industrialização quando a natureza do acondicionamento e as características do rótulo do produto atendam, apenas, a exigências técnicas ou outras constantes de leis e de atos administrativos.” O recurso voluntário, com alguma variação, repetiu os argumentos da impugnação, destacando sinteticamente, a ausência de questionamento quanto à capacidade financeira dos intervenientes; a existência de fato e a capacidade operacional da recorrente; nulidade da decisão recorrida, por lastrearse em presunções; nulidade do lançamento por vício no procedimento fiscal; improcedência das razões deduzidas no julgado recorrido; inaplicabilidade da multa; ausência de ocultação de parte nas operações de comércio exterior; ausência de fraude, simulação ou interposição fraudulenta; improcedência da alegação de simples repasse de mercadoria e não caracterização de industrialização; existência de laudo emitido pelo Instituto Nacional de Tecnologia – INT e sua vinculação no processo administrativo; ausência de ilicitude no fato de PUIG e Antonio Puig S/A pertencerem ao mesmo grupo econômico; adequação dos contratos firmados pelas partes; que não houve descumprimento das regras de preço de transferência, valoração aduaneira ou da legislação do IPI; as importações obedeceram as regras de importação por encomenda; ausência de interposição e descabimento da multa prevista no art. 711 do Regulamento Aduaneiro. É o relatório. Voto Fl. 3409DF CARF MF 6 O recurso voluntário preenche os requisitos de admissibilidade, devendo ser conhecido. Inicialmente, registro algumas situações de fato e de direito que servirão de parâmetro ao exame de mérito do lançamento. Nesse sentido, segundo o termo de constatação lavrado, as apurações se concentraram em 03 (três) vertentes: i) verificação da existência de fato das empresas; ii) verificação das origens, disponibilidades e transferências dos recursos utilizados nas operações; e, iii) a condição de real adquirente. Em relação aos dois primeiros itens, a fiscalização asseverou que a investigação pautouse na contabilidade e extratos bancários e, nada obstante a apresentação dos documentos, inclusive extratos bancários originais, não houve detida apuração porque não foram apontadas irregularidades no dossiê da pessoa jurídica, além do que, eventuais fiscalizações a respeito deveriam ser empreendidas pela unidade jurisdicionante da importadora QUIMETAL. Quanto à existência de fato, a partir dos documentos apresentados e consultas à rede mundial de computadores, a fiscalização concluiu pela existência física das pessoas jurídicas envolvidas. Então, não há acusação de ausência de capacidade econômico financeira ou inexistência de fato da autuada, pelo que, a única imputação reside na descaracterização da condição de real adquirente da mercadoria. Outro ponto merecedor de destaque é que não há, nos autos, qualquer afirmação, ilação ou prova de que as empresas PUIG (Brasil) e MRA negociavam diretamente com os fornecedores estrangeiros ou antecipavam recursos financeiros à autuada, como sói ocorrer nesse tipo de operação, mas sim, que ditas empresas, encomendavam os produtos e quantidades diretamente à autuada, no mercado interno, que, por sua vez, promovia a importação, na modalidade por encomenda, através da empresa QUIMETAL. Não há acusação de falsidade material ou ideológica dos documentos que instruíram as operações de importação, mormente as faturas comerciais. Não se questiona o trânsito físico das mercadorias entre os estabelecimentos da QUIMETAL, no Espírito Santo; na CARVALHO, no Rio de Janeiro; e, por fim, da PUIG (Brasil) e MRA, ambas no Espírito Santo. Não se põe em dúvida, também, a realização de atividades fabris pela CARVALHO, ora recorrente, como previstas em contrato, consistentes, no mínimo, na selagem, etiquetagem e “celofanização” dos perfumes importados. Nesse ponto, abro um parêntese para, rebatendo a defesa, esclarecer que essas atividades realizadas pela autuada, a partir do exame dos laudos juntados, bem assim, pelo cotejo entre os produtos discriminados nas declarações de importação e nas notas fiscais de saída, em sua maioria, não configuram “industrialização” para a finalidade da legislação do IPI (Lei nº 4.502/64), em que pese reconhecêlas como operações fabris, do ponto de vista comercial. Como destacado pela fiscalização, ainda que se reconheça que a autuada possui um complexo industrial capaz de manipular fórmulas cosméticas e efetivamente produza certas marcas, os produtos objeto deste auto de infração, em sua integralidade, não passaram por qualquer tipo de manipulação de seu conteúdo “intrafrasco”, mas tãosomente de Fl. 3410DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.532 7 suas embalagens, como é possível verificar das planilhas de correlação (DI x NF Saída) de efls. 1.424/1.522. Nessas planilhas, há clara demonstração que os produtos importados vinham em embalagens destinadas à venda a retalho (30 ml., 50 ml., 60 ml., 75 ml., 80ml., 100 ml., etc.) e assim foram faturadas, quando de sua saída, nesses mesmos recipientes. Então, pelo que se extrai do laudo técnico apresentado às efls. 1.784/1.825, corroborado pelo Relatório Técnico nº 000.918/15, do Instituto Nacional de Tecnologia – INT (efls. 3.119/3.161), relativamente aos produtos importados, tratarseiam de mercadorias semiacabadas, não aptas, no estado em que se encontram, à comercialização, cabendo à autuada duas espécies de “industrialização”, a saber: perfumes recebidos em frascos completamente desembalados, envoltos apenas em cápsulas, como se observa da foto de efl. 1.804/1.806, a que o laudo atribui a “operação industrial” de montagem; e, ii) perfumes já embalados (embalagem de apresentação) prontos para comercialização, mas que, por exigência da legislação da ANVISA, necessitam ser retirados dessas embalagens, etiquetados com informações em português, aplicação de selo de controle/autenticidade e “celofanização”, conforme efls. 1.810/1.812, a que o laudo enquadra como reacondicionamento. Estabelece o Decreto nº 7.212/10, que regulamenta o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, em seu art. 4º, quanto às operações citadas, que montagem é a operação que consista na reunião de produtos, peças ou partes e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal, e reacondicionamento, a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria. Transplantando os conceitos da legislação do IPI para industrialização às atividades exercidas, contempladas neste lançamento, inferese que, onde o laudo técnico qualifica como “montagem”, ocorre acondicionamento, pelo encartuchamento das cápsulas de perfumes/desodorantes nas embalagens de apresentação, enquanto que na atividade denominada “reacondicionamento”, inexiste industrialização, pois a simples retirada do plástico celofane, para etiquetagem e selagem, com posterior recolocação, não configura a operação industrial, porquanto este plástico (celofane) não é a embalagem, mas simples envoltório sem qualquer função de acondicionamento, a não ser a conservação da aparência da embalagem, melhorando a sua apresentação. Por pertinente, o controle de qualidade, ainda que de extrema relevância na atividade empresarial moderna, não caracteriza qualquer operação de industrialização descrita no Regulamento do Imposto sobre Produto Industrializado – RIPI. Oportuno acentuar que essa conclusão – que não há integral operação de industrialização nessas atividades –, não afasta a equiparação a estabelecimento industrial dos intervenientes, nos termos da legislação do imposto, para as finalidades nela dispostas. Entretanto, ainda que haja apenas um parcial reconhecimento de realização de operação industrial, nos moldes da legislação de regência do IPI, é irrefutável que a autuada, sob o ponto de vista exclusivamente econômico, realiza operações fabris. Concernente aos demais materiais importados – mobiliário material promocional – (efls. 1.523/1.532), com mais razão ainda inexiste industrialização, eis que a Fl. 3411DF CARF MF 8 atividade se limita a fracionálos e, na melhor das hipóteses, acomodálos em embalagem para transporte, não havendo especificação clara sobre os procedimentos executados nestes produtos. Feitas as colocações iniciais passo ao exame recursal. Respeitante à primeira preliminar argüida, a bem da verdade, uma premissa fática, já pontuei no preâmbulo do voto e volto a fazêlo: é de se reconhecer que não houve questionamento algum em relação à capacidade financeira da importadora direta (QUIMETAL) e da encomendante (CARVALHO – autuada) nas operações realizadas, bem assim, existência de fato e a capacidade operacional desta última. Em seguida, invertendo a ordem de enfrentamento das questões, tocante à nulidade do lançamento por vício na fiscalização, devido, basicamente, ao fato que o AFRFB não compareceu ao estabelecimento da autuada para aferir as atividades por ela executadas nas operações com produtos importados, temse que o procedimento fiscal é eminentemente inquisitivo e, nessa condição, não sujeito ao contraditório ou ampla defesa, ainda que interessante franquear oportunidade de manifestação ao fiscalizado, de maneira que, entendendo as autoridades responsáveis pela condução dos trabalhos a desnecessidade das verificações sugeridas pelo sujeito passivo, não estão obrigadas a observálas, porque a fiscalização é atividade administrativa unilateral, daí porque não há que se falar em defeito algum que inquine a autuação de nulidade. Quanto à invalidade da decisão recorrida, por lastrearse em presunções para manutenção do auto de infração, também não a vislumbro, ao passo que os julgadores de primeira instância administrativa, a partir dos dados disponíveis no processo, como a vinculação societária entre exportador estrangeiro e distribuidor nacional e o regime de exclusividade na comercialização dos produtos importados, dessumiu a ocultação do real beneficiário das importações, não havendo qualquer falha nesse raciocínio. No entanto, se os elementos constantes dos autos são suficientes a embasar essa conclusão é discussão que não envolve nulidade/validade da decisão, enquanto ato administrativo, mas sim a procedência/improcedência dos seus argumentos pela manutenção do lançamento. No mérito, principia o recorrente por alegar o descabimento da multa imposta, em função da regularidade das operações, não havendo qualquer indício de fraude ou ilicitude a configurar conduta infracional tipificada. Da análise dos elementos coligidos aos autos, infiro que assiste razão ao recorrente, pelos razões que passo a expor. Como acentuado na exposição prefacial, a acusação fiscal se assentou basicamente na relação societária entre exportador estrangeiro e distribuidor, a correspondência entre produtos importados e saídos do estabelecimento equiparado a industrial (autuado), prazo exíguo entre o desembaraço e a saída dos produtos, exclusividade para comercialização das marcas e termos dos contratos firmados entre os intervenientes. Em outra frente, não se negou a existência física da autuada, sua capacidade operacional e econômicofinanceira, a realização de atividades fabris como encomendante dos produtos importados, a validade dos contratos para importação dos produtos e a responsabilidade pelas tratativas comerciais com o exportador estrangeiro. A imposição da multa do art. 33 da Lei nº 11.488/07, em princípio e a meu ver, exige prova do consilium fraudis, o conluio, ante o princípio da autonomia patrimonial Fl. 3412DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.533 9 inerente às pessoas jurídicas, eis que as sociedades, à luz do direito civil e comercial, têm existência própria e distinta de seus sócios e, logicamente, das demais pessoas de direito, sejam elas naturais ou jurídicas. Prescreve o mencionado dispositivo: “Art. 33. A pessoa jurídica que ceder seu nome, inclusive mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários fica sujeita a multa de 10% (dez por cento) do valor da operação acobertada, não podendo ser inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais).” A cessão de nome e/ou documentário fiscal para ocultação de terceiros constitui abuso da personalidade jurídica, consubstanciada na confusão patrimonial, hipótese que acarreta, nos termos do art. 50 do Código Civil, a desconsideração da personalidade jurídica. Assim, em tese, não é possível falarse em cessão de nome/documentário fiscal sem minimamente tangenciar a fraude, que, por sua vez, exige prova específica ou, pelo menos, um forte conjunto indiciário da simulação negocial. Nestes autos, como antecipado, a caracterização da interposição comercial a respaldar a penalidade, na visão da fiscalização, fundouse, basicamente, no fato da PUIG (Brasil) pertencer ao mesmo conglomerado comercial que o exportador estrangeiro, Antonio Puig S/A (Espanha), e pelas informações obtidas nos sítios virtuais, tanto de PUIG quanto de MRA, que ambas seriam as distribuidoras das marcas importadas em território brasileiro, além de uma virtual quebra da cadeia do IPI e burla à legislação de preços de transferência e valoração aduaneira. Ocorre que essa vinculação societária, isoladamente, por não ser vedada pela legislação, não pode ser guindada a indício de ocultação do real adquirente se desacompanhado de outros elementos conducentes a essa situação. Outro indício de interposição narrado pela fiscalização é a correspondência entre os produtos importados e os documentos de saída e o diminuto prazo entre o desembaraço e a emissão da nota fiscal de saída. Contudo, é estreme de dúvidas que o produto importado chega ao país semiacabado e sujeito a algumas providências de adequação à legislação da ANVISA e preparação final para consumo, sendo que o autuado é contratado para, além da realização da importação, adotar as providências necessárias a finalizar a apresentação desses produtos (encartuchamento e “celofanização”, p.e.), antes de despachálos aos destinatários comerciais no território nacional – PUIG e MRA. Também não se discute que a autuada tenha exercido essas atividades fabris sobre os produtos importados objeto do lançamento. A exclusividade de comercialização dos produtos foi outro indício assinalado, o que poderia revelar, de fato, a prefalada interposição, se a autuada (CARVALHO) não possuísse qualquer autorização para realização das importações. Fl. 3413DF CARF MF 10 Nesse ponto, PUIG (Brasil) é o distribuidor exclusivo, no Brasil, das marcas importadas de Antonio Puig S/A, contudo, há contrato comercial formal ajustado entre esta última e a autuada (CARVALHO) concertando a realização das operações de importação e os serviços de preparação dos produtos, antes da entrega ao distribuidor exclusivo. Tocante a esse contrato, entre CARVALHO e Antonio Puig S/A, a fiscalização faz severas críticas aos seus termos, destacando que os prazos de nacionalização, especificações e quantidades a serem importadas são definidas pela interligada brasileira (PUIG Brasil), destinandose exclusivamente a ela a venda do produto nacionalizado e que o preço de venda é definido pelo exportador, não pela autuada, o que demonstraria a qualidade de mera prestadora de serviços da autuada, pertencendo as mercadorias, de fato, à PUIG Brasil. As supostas disparidades deste contrato, em meu entender, não conduzem à cessão fraudulenta do nome para realização de operações de importação, pois, como aduzido, não se provou antecipação de recursos pela PUIG (Brasil) à autuada, ausência de propósito negocial do contrato firmado ou mesmo que as operações ajustadas não tivessem ocorrido, como contratado. A definição das especificações, quantidades e prazos de nacionalização, antes de revelar ocultação do real adquirente, parece atender à logística dos negócios entabulada entre os envolvidos, ao passo que, sendo PUIG (Brasil) o distribuidor exclusivo no país, a esta empresa caberia a avaliação da demanda pelos produtos e não à autuada, que apenas importava e os preparava para distribuição. No que tange à definição de preço no mercado interno, pelo exportador estrangeiro, ainda que não sirva como indício de “cessão de nome”, poderia indicar alguma infração à observância dos valores tributáveis mínimos, consoante legislação do IPI, porém, isso não foi alvo de investigação. A escolha por esta cadeia de negócios, na forma como concebida, ainda que possa ter atendido a um bem elaborado planejamento tributário, apenas pelo seu desenho, não se enquadra na infração catalogada. Não existe norma comercial, tributária ou de outra natureza que obrigue PUIG (Brasil) a importar e preparar para consumo os produtos que distribui, simplesmente porque é coligada com a empresa exportadora estrangeira e detém a exclusividade de comercialização no país. Quanto à MRA, não foi juntado documento algum, tampouco informação, que esta pessoa jurídica seja representante exclusiva, no país, dos produtos importados a ela endereçados, revelandose mera conjectura, a partir da praxe comercial desse ramo de atividade. A fiscalização pressupõe a exclusividade e existência de contratos de distribuição e passa a exigir sua apresentação, ao que, tanto a autuada (CARVALHO) quanto MRA, afirmam sua inexistência, passando a autoridade fiscal a presumir sua propositada ocultação, por entender que esses ajustes demonstrariam a interposição fraudulenta em prejuízo das alegações dos envolvidos. Por outro lado, soa ilógica a alegação de exclusividade, que, acaso ocorrente, não permitiria que a importação fosse efetivada pela autuada sem o consentimento do suposto distribuidor brasileiro (MRA), em função da “praxe comercial desse ramo”, eis que, partindo da mesma lógica da autuação – a verossimilhança –, se houvesse um distribuidor exclusivo e Fl. 3414DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.534 11 um contrato de fornecimento, fatalmente estaria nele previsto que a autuada teria autorização para realizar a operação, como ocorrido no contrato entre a autuada e Antonio Puig S/A. A meu sentir, o fato de não ser apresentado qualquer contrato entre MRA ou CARVALHO com os exportadores estrangeiros, exceção àquele firmado entre ambas, não é relevante para o deslinde do caso, pois, tal qual os instrumentos apresentados, não apontariam cabalmente para qualquer cessão de nome, a não ser por presunção. Demais disso, a prova do fato é ônus de quem acusa, no caso a fiscalização, que deveria provar a existência dos contratos exigidos e da exclusividade, ainda que sua obtenção exigisse a cooperação das exportadoras estrangeiras, não bastando simples alegações de verossimilhança ou o fato de apenas os envolvidos terem importado os cosméticos das marcas. Da mesma forma, não apresenta relevância para caracterizar cessão de nome o fato de MRA utilizar, ao longo de 2011, duas empresas coligadas para efetuar as importações, in casu, a CARVALHO e a VIVA Cosméticos. Por fim, a afirmação que a autuada (CARVALHO), nas operações envolvendo PUIG e MRA, não é encomendante, industrial ou revendedor, “mas sim o de mero ocultador do verdadeiro sujeito passivo/real adquirente/encomendante” acaba por ser contraditória ante outras afirmações da fiscalização, ao reconhecer que a capacidade econômico financeira da autuada não apresenta irregularidade, que realiza determinadas operações fabris antes da entrega dos produtos e que a movimentação da mercadoria entre os estabelecimento é real e não simulada. Como não bastasse e já enfadonhamente repetido, não está demonstrado nos autos, sequer sugerido, que não fossem os importadores (autuada/QUIMETAL) quem encabeçavam as negociações de importação ou que houvesse antecipação de numerário para realização dessas operações de importação, bem assim, que o recebimento pela venda dos produtos, acrescido da prestação de serviços, não ocorresse em contrapartida da respectiva emissão da nota fiscal de venda. Noutra linha argumentativa, a autoridade autuante faz uma explanação acerca das espécies de importação terceirizadas, admitidas pelas normas legais – importação por conta e ordem e a encomendante predeterminado –, destacando o seguinte: “Atualmente, duas formas de terceirização das operações de comércio exterior são reconhecidas e regulamentadas pela Secretaria da Receita Federal (SRF), a importação por conta e ordem e a importação por encomenda . ∙ na importação por encomenda, uma empresa (a encomendante predeterminada), interessada em uma certa mercadoria, contrata uma outra empresa (a importadora) para que esta, com seus próprios recursos, providencie a importação dessa mercadoria e a revenda posteriormente para a empresa encomendante. ∙ na importação por conta e ordem, uma empresa (a adquirente), interessada em uma determinada mercadoria, Fl. 3415DF CARF MF 12 contrata uma prestadora de serviços (a importadora por conta e ordem) para que esta, utilizando os recursos originários da contratante, providencie, entre outros, o despacho de importação da mercadoria em nome da empresa adquirente. No caso da importação ser realizada com recursos do importador, o terceiro será denominado encomendante. No caso da importação ser realizada com recursos do terceiro, este será chamado adquirente. São institutos e nomes distintos, mas que geram as mesmas implicações, pois, em ambas as formas, aquele que solicita uma importação será tratado praticamente como se ele mesmo a tivesse realizado, sofrendo equiparações e imputações de responsabilidade.” As operações autuadas são classificadas na modalidade por encomenda (importação a encomendante predeterminado), porém, aponta a fiscalização como reais encomendantes as pessoas jurídicas PUIG Brasil e MRA e não a autuada e QUIMETAL, importadores de direito, em que pese partir da premissa que as importações foram realizadas com recursos próprios destes últimos. A partir dessa premissa, conclui que houve ocultação dos reais “encomendantes” e, conseqüentemente, a indevida cessão de nome e documentário fiscal a sujeitar a penalidade do art. 33 da Lei nº 11.488/07. Essa ocultação, na ótica fiscal, teria propiciado a quebra da cadeia de IPI, a fuga da legislação de preço de transferência e valoração aduaneira, em vista do malsinado vínculo societário entre empresas envolvidas em parte das operações (Antônio Puig S/A e PUIG Brasil), cristalizandose a ocultação apenas pela adoção da logística de importação, verbis: “A ocultação do real adquirente dos produtos estrangeiros consiste numa atividademeio, geralmente utilizada para tentar ocultar outras infrações e objetivos visados pelos infratores, como por exemplo: a) em caso de lançamento de crédito tributário o patrimônio do real adquirente é protegido da execução fiscal; b) o real adquirente perde a condição de contribuinte do IPI por equiparação a estabelecimento industrial; c) no caso de importador e exportador vinculados, buscas e fugir da legislação de Preço de Transferência e de Valoração Aduaneira, possibilitando que as empresas vinculadas alterem o custo das mercadorias importadas e de suas Receitas da forma que lhes for mais conveniente e d) ‘lavagem’ ou ocultação de bens, direitos e valores. A interposição fraudulenta pode ser presumida ou real. A hipótese de interposição fraudulenta presumida é observada nos casos em que o importador ostensivo não prova a origem dos recursos empregados em operações de comércio exterior. Nesta situação, é licito ao agente fiscal presumir a existência de um sujeito oculto que Fl. 3416DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.535 13 supostamente financiaria a importação e que ao final seria o destinatário dos bens importados. A segunda hipótese é aquela em que o agente fiscal identifica o real beneficiário da importação, seja por vinculação de créditos em conta corrente para arcar com a operação internacional, seja pela logística da operação indicando que a mercadoria foi adquirida para atender a encomendante ou adquirente predeterminado. É exatamente essa logística da importação que será analisada no tópico seguinte, onde examinaremos a relação de fato existente entre a Cosméticos Carvalho e a empresa PUIG Brasil.” Mais uma vez, o autuante indicou a potencial conduta infracional de iludir a legislação do IPI e de valoração aduaneira e preços de transferência, porém, não aprofundou as investigações necessárias ao esclarecimento dessas suposições. Ou seja, a imputação é abstrata e genérica, sem suporte em elementos concretos de convicção. Se existe ou existiu burla à incidência do IPI, à valoração aduaneira ou preços de transferência, não bastariam meras suspeitas ou hipóteses, ainda que fundadas em presunções relativas (hominis) – baseadas nas regras de experiência, pelo que ocorre diuturnamente em situações assemelhadas –, mas a prova dessa ocorrência, através de fiscalização específica sobre essas questões. Desse modo, o único fundamento da autuação se resume no emprego de uma logística operacional que, no cotidiano aduaneiro, tem revelado a pretensão de seus utilizadores à ocultação do real adquirente da mercadoria. É fato que a maioria esmagadora das situações julgadas nesse colégio envolvem fraudes onde as pessoas jurídicas importadoras apenas emprestam seu nome para formalização da importação, registrando declarações de importação, como se fossem próprias, e que, no curso das fiscalizações, constatase que os recursos financeiros são disponibilizados antecipadamente pelos terceiros e também as negociações comerciais são por eles entabuladas, o que demonstraria a interposição fraudulenta. No caso dos autos, contudo, já foi exaustivamente dito que não há prova de antecipação de numerário, reconhecendo a fiscalização, a priori, a ausência de irregularidades na origem dos recursos, e também não se questionou a integral realização das operações, inclusive pedidos aos fornecedores estrangeiros, por parte da autuada. Então, não estando presentes essas situações, cumpria à fiscalização carrear aos autos outros elementos probatórios que demonstrassem a ilicitude fiscal das importações, a refletir indigitada ocultação. A esse respeito, a única alegação sensível atrelouse à vinculação societária entre a PUIG (Brasil), distribuidor, e Antonio Puig S/A exportador. Fl. 3417DF CARF MF 14 Contudo, como já asseverado, a intermediação entre exportador, autuada e distribuidor está assentada em contrato, onde a autuada se comprometeu a realizar as importações e preparar o produto para comercialização, cabendo ao distribuidor pura e simplesmente a remessa dos produtos ao varejo. O fato de o contrato prever cláusulas que retiram da autuada o direito de estabelecer preços e obrigar a entrega dos produtos ao distribuidor exclusivo no país não pode conduzir, por si só, à inferência que houve cessão de nome e/ou documentário fiscal, sem que comprovada a ausência de intuito comercial do ajuste firmado ou a simulação das operações com vistas a dissimular o real negócio jurídico, o que não foi feito nesse trabalho fiscal. A “logística operacional”, de fato, aparenta o emprego de um planejamento tributário destinado à redução da carga tributária, seja pelo desvio da condição de contribuinte equiparado do IPI, com vistas à inobservância do valor mínimo tributável, ou mesmo à valoração aduaneira, contudo, essas situações exigem fiscalização específica e a prova de sua ocorrência ou, ainda, um robusto conjunto probatórioindicário, o que não se verificou nesses autos. A própria decisão recorrida reconhece a liberdade do modelo de negócios entre os particulares: “A escolha entre importar mercadoria estrangeira por conta própria (importação direta) ou por meio de um intermediário contratado para esse fim é livre e perfeitamente legal, seja esse intermediário um prestador de serviço ou um revendedor. Entretanto, tanto o importador quanto o real adquirente ou encomendante, devem ser devidamente identificados perante o Fisco, cumprirem as obrigações acessórias previstas na legislação e, conforme o caso, observar o tratamento tributário específico dessas operações, as quais devem ser expressamente informadas à Aduana por meio da Declaração de Importação DI.” No entanto, a par de admitir a liberdade negocial, condiciona seu exercício à identificação dos envolvidos perante o Fisco, mas não descreve como essa situação, no caso dos autos, deve ser indicada junto à RFB, ou mesmo, qual o fundamento legal ou normativo para tal proceder, eis que a acusação aponta a ocultação do “encomendante do encomendante”. A importação de mercadorias por encomendante predeterminado, a partir de pedido formulado no mercado interno, por empresa nacional, a meu ver, não exige que esse “encomendante nacional” tenha de se submeter a registro para operação no comércio exterior, se nenhum ardil, simulação ou fraude foi utilizada na operação de importação ou mesmo na negociação. Em outra passagem, a decisão reclamada desenvolve um raciocínio análogo à autoridade lançadora, tentando justificar a autuação por presunção ou hipótese: “A impugnante insiste na argumentação de que as operações comerciais realizadas entre as empresas não só são legais como é prática regular no setor de cosméticos que determinadas marcas sejam vendidas exclusivamente para determinados distribuidores. Fl. 3418DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.536 15 De fato, do ponto de vista comercial, estas operações podem ser legais e até previsível que, por se tratarem de marcas conhecidas internacionalmente e por garantia de suas autenticidades, sejam comercializadas dentro de um controle mais rígido por parte dos detentores das marcas ao autorizar a venda por empresas específicas. No entanto, a análise que se faz nos autos é do ponto de vista das operações de comércio exterior que possuem normas a serem obedecidas pelos interessados e é dever da fiscalização aduaneira detectar possíveis cometimentos de infrações, evitando lesões ao interesse público. E é sob esta análise que emerge dos fatos aqui apresentados que, ainda que possa parecer legal a atividade comercial empreendida pelas empresas citadas, percebese que existe uma conexão por interesse em comum entre os envolvidos no negócio: sempre os mesmos exportadores, a Cosméticos Carvalho (e anteriormente também pela Viva) revende os perfumes importados somente para PUIG Brasil e MRA, que, por sua vez, somente estas é que podem vendêlos no mercado interno.” (destacado) De fato, é dever da fiscalização detectar possíveis infrações à legislação, como destacado, porém, ninguém pode ser autuado pelo possível cometimento de uma infração, mas tãosomente pela efetiva prática infracional. Por outro lado, a existência de uma “conexão por interesse em comum entre os envolvidos no negócio” não pode, em hipótese alguma, desacompanhada de prova de fraude ou simulação, ser alçada à condição de razão para exigência de multa por cessão de nome. No mesmo voto, há outro excerto que denota a tênue distinção que se pretende fazer, acerca da regularidade ou não do negócio, para manutenção do lançamento: “Ora, não se está questionando a validade comercial de tais cláusulas. Mas através delas se constata que a relação comercial existente entre estas empresas é, de fato, uma contratação de encomenda de mercadorias associada, em alguns casos, a algum serviço prestado, como a colocação de etiquetas. Não fosse o caso de serem mercadorias importadas, este negócio, provavelmente, não teria nada de irregular. Inclusive o fato de empresas detentoras de marcas controlarem a venda de seus produtos, criando, inclusive, obrigações para seus revendedores, com o fito de preservar a qualidade e o nome da marca. Mas se tratando de mercadorias importadas, a encomenda assume relevância, impondo controle aduaneiro sobre as mesmas para verificação do cumprimento das normas Fl. 3419DF CARF MF 16 estabelecidas, com a finalidade, como já dito, de coibir lesões ao interesse público. E o que se vê de toda esta operação é que, na verdade, tratase de encomenda por parte da empresa Puig Brasil de mercadorias importadas que somente ela pode revender, utilizando a Cosméticos Carvalho como intermediária neste negócio. E ainda que tais mercadorias sofressem qualquer alteração que justificassem sua entrada na Cosméticos Carvalho, esta ‘passagem’, na forma como estabelecido nos contratos, não lhe dá a condição de real proprietária das mercadorias, não possuindo liberdade para negociála nem em valor, quantidade ou compradores. (...) Com relação à empresa adquirente MRA, a fiscalização informa que obteve apenas o contrato firmado com a empresa Compania Universal de Perfumeria Francesa S.A., mas que não continha a relação dos produtos abrangidos e o contrato entre a Cosméticos Carvalho e MRA, e que também não incluía os produtos importados. Assim, dada a não apresentação de contrato ou mesmo apresentação com informações incompletas, não é possível fazer uma análise tal como se deu com a empresa Puig Brasil. Mas salientese, que tal omissão não aproveita a autuada visto que tais contratos refletiriam a mesma relação de interdependência já vista entre estas empresas.” (destacado) Segundo essa exegese, o contrato é válido, mas como o objeto (produto) é estrangeiro, há irregularidade na importação, porque o controle aduaneiro foi ludibriado, mas, ao mesmo tempo, não aponta qual controle aduaneiro foi logrado ou mesmo qual lesão ao interesse público foi perpetrada pela autuada. Em resumo, não consigo vislumbrar qualquer ocultação de real adquirente ou interposição fraudulenta a justificar a cessão de nome ou documentário fiscal, porquanto havia contratos formais para realização das operações de importação, tanto com PUIG (Brasil) como MRA; as atividades contratadas foram efetivamente realizadas; não houve antecipação de numerário, possuindo a autuada capacidade econômicofinanceira e operacional para realização das tarefas ajustadas; as importações foram efetivadas em consonância com as normas baixadas pela RFB; e, os documentos relativos aos negócios foram apresentados. O acervo probatório carreado aos autos não desqualifica as operações na forma como realizadas, lastreandose o lançamento, em minha visão, em presunções relativas, por si só, insuficientes ao desiderato de demonstrar a ocorrência de ocultação dos reais adquirentes das mercadorias importadas. Como assinalado alhures, a fiscalização aparenta enxergar na estrutura de importação montada um planejamento tributário visando a elisão do IPI e do IRPJ, além dos tributos sobre o comércio exterior, pela suposta inobservância de valores tributáveis mínimos, Fl. 3420DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.537 17 valor aduaneiro e preços de transferência, o que se infere pelas seguintes passagens do relatório de autuação: “Conforme será detalhado neste Relatório, a autuada foi contratada pela PUIG Brasil tão somente para acobertar a relação comercial existente entre esta empresa, real importadora, sediada no Brasil, e Antonio Puig S/A. (exportadora, sediada na Espanha, e controladora da PUIG Brasil); visando ocultar das autoridades nacionais a cadeia de comando das operações comerciais, a condição da PUIG Brasil de responsável pela operação de importação e de contribuinte do IPI e o vínculo existente entre o comprador (PUIG Brasil) e o vendedor (sua controladora Antonio Puig S/A). No caso da MRA, a autuada foi contratada para ocultar das autoridades nacionais a condição de responsável pela operação de importação e de contribuinte do IPI da empresa MRA e as relações comerciais existentes entre a MRA e as exportadoras BULGARI CORPORATION OF AMERICA, COFINLUXE S.A. E HERMES PARFUMS. (...) A ocultação do real adquirente dos produtos estrangeiros consiste numa atividademeio, geralmente utilizada para tentar ocultar outras infrações e objetivos visados pelos infratores, como por exemplo: a) em caso de lançamento de crédito tributário o patrimônio do real adquirente é protegido da execução fiscal; b) o real adquirente perde a condição de contribuinte do IPI por equiparação a estabelecimento industrial; c) no caso de importador e exportador vinculados, buscase fugir da legislação de Preço de Transferência e de Valoração Aduaneira, possibilitando que as empresas vinculadas alterem o custo das mercadorias importadas e de suas Receitas da forma que lhes for mais conveniente e d) "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores. (...) Pela relação de interdependência aparentemente existente entre as empresas, tal vai e vem tem por objetivo a não observância de valores tributáveis mínimos para fim de apuração do IPI, pois, por interpretação distorcida da legislação, alguns contribuintes entendem que o valor tributável mínimo não incide quando os estabelecimentos do remetente e do atacadista estão situados em municípios diferentes. Fl. 3421DF CARF MF 18 A Puig Brasil filial 0005, sediada no Espírito Santo, é a destinatária de todas as mercadorias vendidas à Puig Brasil pela empresa Cosméticos Carvalho. Vale destacar a proximidade da data de constituição da referida Puig Brasil filial 0005 (03/03/2010) com a data da assinatura do Contrato de Fornecimento celebrado entre Puig Brasil e Cosméticos Carvalho, com a anuência de Antonio Puig S/A34 22/02/2010, indicando que a constituição de uma filial em município diverso da Cosméticos Carvalho não teria sido feita de forma aleatória, mas, sim, planejada com base nesta interpretação distorcida da legislação do IPI. (...) A justificativa para o trajeto custoso dessas mercadorias era, simplesmente, ocultar das autoridades nacionais a condição de encomendante da PUIG Brasil e, desta forma, desonerála das obrigações relativas ao IPI e ao IRPJ no que tange aos preços de transferência. (...)” (destacado) Estranhamente, porém, passa ao largo dessas questões, suscitando sua possível verificação apenas como argumento para exigência da multa imposta, sem direcionar as verificações a esse rumo. Se havia alguma infração à legislação do IPI, valoração aduaneira ou preços de transferências, não há nos autos qualquer informação de realização de trabalho fiscal tendente a apurar a ocorrência desses ilícitos fiscais, de maneira que manter o lançamento com base nessas suposições, a partir de conjecturas, o que pareceu ser o caso do lançamento e da decisão sob vergasta, corresponde a configurar uma infração apenas por ilações, o que não encontra sustentáculo em lei. A multa pela cessão de nome ou documentário fiscal é uma pena acessória, uma vez que a conduta nela descrita é uma “infraçãomeio” para prática de outros ilícitos tributários, que necessariamente exigem apuração própria e aprofundada, de modo que não vejo possibilidade de sua manutenção isolada, quando não averiguadas as infrações principais, como no caso vertente. Com essas considerações, voto por dar provimento ao recurso. Robson José Bayerl Fl. 3422DF CARF MF Processo nº 10074.720570/201502 Acórdão n.º 3401003.966 S3C4T1 Fl. 2.538 19 Fl. 3423DF CARF MF 20 Fl. 3424DF CARF MF
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