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Numero do processo: 16561.000066/2009-21
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Mar 23 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue May 16 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - CIDE
Período de apuração: 01/07/2004 a 31/12/2004
CIDE. REMESSAS AO EXTERIOR. ROYALTIES.
A partir de 1/1/2002, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incide também sobre o valor de royalties, a qualquer título, que a pessoa jurídica pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter a residente ou domiciliado no exterior, inclusive os royalties decorrentes de licença e direito de uso na exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura.
CIDE X CONDECINE - INEXISTÊNCIA DE DUPLA TRIBUTAÇÃO.
CIDE ora exigida é muito mais específica do que a CONDECINE. Enquanto aquela contribuição somente incide sobre os royalites remetidos ao exterior em decorrência da comercialização dos direitos autorais relativos às obras intelectuais e criativas, já CONDECINE, por sua vez, incide sobre os pagamentos devidos em razão da aquisição ou importação de tais obras, a preço fixo, ou seja, possui um âmbito de incidência muito mais amplo e genérico do que a CIDE-royalties.
Numero da decisão: 9303-004.899
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidas as conselheiras Vanessa Marini Cecconello (relatora), Tatiana Midori Migiyama e Érika Costa Camargos Autran, que lhe deram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Demes Brito.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício.
(assinado digitalmente)
Vanessa Marini Cecconello - Relatora
(assinado digitalmente)
Demes Brito - Redator designado
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: VANESSA MARINI CECCONELLO
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Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO CIDE Período de apuração: 01/07/2004 a 31/12/2004 CIDE. REMESSAS AO EXTERIOR. ROYALTIES. A partir de 1/1/2002, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incide também sobre o valor de royalties, a qualquer título, que a pessoa jurídica pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter a residente ou domiciliado no exterior, inclusive os royalties decorrentes de licença e direito de uso na exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. CIDE X CONDECINE INEXISTÊNCIA DE DUPLA TRIBUTAÇÃO. CIDE ora exigida é muito mais específica do que a CONDECINE. Enquanto aquela contribuição somente incide sobre os royalites remetidos ao exterior em decorrência da comercialização dos direitos autorais relativos às obras intelectuais e criativas, já CONDECINE, por sua vez, incide sobre os pagamentos devidos em razão da aquisição ou importação de tais obras, a preço fixo, ou seja, possui um âmbito de incidência muito mais amplo e genérico do que a CIDEroyalties. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidas as conselheiras Vanessa Marini Cecconello (relatora), Tatiana Midori Migiyama e Érika Costa Camargos Autran, que lhe deram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Demes Brito. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 56 1. 00 00 66 /2 00 9- 21 Fl. 4226DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.227 2 (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício. (assinado digitalmente) Vanessa Marini Cecconello Relatora (assinado digitalmente) Demes Brito Redator designado Participaram do presente julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello. Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela Contribuinte com fulcro nos artigos 64, inciso II e 67 e seguintes do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 256/09, meio pelo qual busca a reforma do Acórdão nº 3202000.823 (fls. 4.017 a 4.027) proferido pela 2ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da Terceira Seção de julgamento, em 23 de julho de 2013, no sentido de negar provimento ao recurso voluntário, tendo restado assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO CIDE Período de apuração: 01/07/2004 a 31/12/2004 CIDE. REMESSAS AO EXTERIOR. ROYALTIES. A partir de 1/1/2002, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incide também sobre o valor de royalties, a qualquer título, que a pessoa jurídica pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter a residente ou domiciliado no exterior, inclusive os royalties decorrentes de licença e direito de uso na exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. Recurso Voluntário negado. Na data de 02/07/2009, a Contribuinte foi cientificada da lavratura de Auto de Infração para exigência de Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) Remessas ao exterior referente ao período de julho a dezembro de 2004. O lançamento decorre do entendimento da Fiscalização pela incidência da CIDE sobre os pagamentos efetuados ao exterior em contrapartida pelo uso ou exploração de direitos autorais sobre obra Fl. 4227DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.228 3 artística, exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. Por bem descrever os fatos ocorridos no presente processo administrativo, fazendo referência também ao relatório da decisão proferida pela DRJ, adotase o relato constante do acórdão recorrido, com os devidos acréscimos, in verbis: [...] Em fiscalização foi apurada falta/insuficiência de recolhimento da CIDE na remessa de valores ao exterior a título de royalties decorrentes de contrato de aquisição (licença) e exploração de direitos autorais, sendo lançadas nos meses acima contribuições cuja soma é R$ 15.673.080,93, com multas de 75%, conforme Auto de Infração (fls 3.728 dc 3.735). A base legal do lançamento da contribuição foram os arts. 20 e 30 da Lei 10.168/2000, alterada pela Lei 10.332/2001 (fl 3.726). A ciência pessoal deuse em 2/7/2009 (fl 3.725, verso). Em 31/7/2009 a empresa impugnou (fl. 3.763): arguiu tempestividade da impugnação; transcreveu doutrina e pediu julgamento pela improcedência, alegando, em suma: a) contrata licenças para exibir e explorar direito de transmissão de obras audiovisuais, sujeitas ao IRfonte e Condecine; b) "royalties a qualquer titulo" da Lei 10.168/2000 não é todo e qualquer rendimento dessa espécie, pois, pelo caput do artigo 2°, a incidência da CideRemessas se restringe aos contratos do domínio tecnológico; c) os royalties pagos decorrem de direitos autorais e submetemse exclusivamente à Condecine (MP 2.2281/01, art. 32) não incidindo a Cide Remessas, pois não possuem conteúdo tecnológico e, portanto, não implicam transferência de tecnologia; d) a interpretação literal é contrária à sistemática e teleológica; e) a Condecine é especial (LICC) e afasta a norma geral da CideRemessas de royalties em geral; f) os princípios gerais de direito tributário vedam a dupla tributação "bis in idem " (CideRemessas e Condecine); g) há decisões administrativas amparando tais teses (cita diversas teses nas fl 3.776 a 3.778). Ao final, pede julgamento pela improcedência e cancelamento total do lançamento. É o relatório. A 9ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo proferiu o Acórdão n.º 1623.558 de 19/11/2009 (efolhas 3930/ss), o qual recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO CIDE Fl. 4228DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.229 4 Período de apuração: 01/07/2004 a 31/12/2004 CIDE. REMESSAS AO EXTERIOR. ROYALTIES. A partir de 1/1/2002, incide a cada mês, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) também sobre o valor de royalties que a pessoa jurídica pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter, a qualquer título, a residente ou domiciliado no exterior (art. 6°, Lei n° 10.332/2001). ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/07/2004 a 31/12/2004 CANCELAMENTO/NULIDADE. INOCORRÊNCIA. As hipóteses previstas de cancelamento/nulidade, definidas no artigo 59 do Decreto n° 70.235, de 1972, não ocorreram. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/07/2004 a 31/12/2004 INTERPRETAÇÃO LITERAL, SISTEMÁTICA E TELEOLOGICA. Interpretase literalmente a legislação tributária que disponha sobre suspensão ou exclusão do crédito tributário e outorga de isenção (art 111, CTN). PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PRIVADO. Os princípios gerais de direito privado utilizamse para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários (art. 109, CTN). PRINCÍPIO GERAL DE DIREITO TRIBUTÁRIO. O princípio geral de direito tributário das contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas é a incidência múltipla, exceto quando definido em lei (art 149, § 4°, CF/88). Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido A interessada cientificada do Acórdão em 04/01/2010 (efolha 3.948), interpôs Recurso Voluntário em 02/02/2010 (efolhas 3944/ss), onde repisa os mesmos argumentos trazidos em sua impugnação, acrescentando comentários e ponderações sobre a decisão recorrida. A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional apresentou “Contrarrazões” (e folhas 3.994/ss), onde alega em síntese: a CIDE não é devida unicamente quando há transferência de tecnologia, incidindo, também, sobre as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas a residentes ou domiciliados no exterior a titulo de royalites devidos pelo licenciamento para exploração de direitos autorais, Fl. 4229DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.230 5 independentemente de os contratos relativos a tal licença estarem atrelados àquela transferência; a Lei que regula a CIDERoyalties (Lei 10.168/00, alterada pela Lei 10.332/01) determina que ela é devida pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer titulo, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. Deste modo, não há dúvidas de que os valores remetidos ao exterior pela recorrente tratavamse de royalites. A remuneração pelo direito de transmitir filmes e programas de televisão, de fato, não pode ter outra natureza, em especial considerandose se tratar de contraprestação pela aquisição de obras criativas de autoria de terceiros; a Lei 9.610/98, ao tratar dos direitos autorais, determina serem obras intelectuais as audiovisuais. E, por sua vez, a Lei 4.506/64 determina que os direitos autorais sejam pagos mediante royalties; assim, a remessa de royalties ao exterior a título de pagamento pela licença para a exploração e transmissão programas de TV (royalty pela exploração de direito autoral) configura hipótese de incidência da CIDE, nos termos no art. 2°, caput, e parág. 2° da Lei 10.168/00; o julgamento acerca do bis in idem (incidência da CIDE juntamente com a Condecine) passa, necessariamente, pela verificação de aspectos constitucionais da exação ou, em última análise, no afastamento da incidência de uma lei, o que é vedado a este Conselho, nos termos da Súmula CARF n° 02; o fenômeno do bis in idem se verifica sempre um mesmo ente político tributa a mesma grandeza e o mesmo contribuinte, por meio de duas exações diversas. Esse fenômeno não é vedado pela Constituição Federal, ao menos em se tratando de contribuições de intervenção no domínio econômico. Em nosso ordenamento temos exemplos de bis in idem, dentre os quais citamos a tributação, pela União, do IRPJ (Imposto de rendaPessoa Jurídica) e da CSSL (Contribuição Social sobre o Lucro Liquido), ambos incidentes sobre a renda, bem assim a criação, também pela União, de duas contribuições sociais para financiamento da seguridade social incidentes sobre a receita ou faturamento (COFINS e PIS); além disso, a destinação dos recursos arrecadados com a cobrança da CIDE e da CONDECINE, e também os seus fatos geradores são diversos, o que por si só já bastaria para afastar a alegação de que há, entre elas, qualquer duplicidade de incidência; a CIDE ora exigida é muito mais específica do que a CONDECINE; por fim, a FAZENDA NACIONAL requer que seja negado provimento ao recurso voluntário interposto pelo contribuinte. Sobreveio julgamento do recurso voluntário consubstanciado no Acórdão nº 3202000.823 (fls. 4.017 a 4.027) proferido pela 2ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da Terceira Seção de julgamento, em 23 de julho de 2013, ora recorrido, negandolhe provimento sob os seguintes fundamentos: (a) os valores remetidos pela Empresa ao exterior, a título de remuneração pelo direito de transmissão de obra audiovisuais, têm natureza jurídica de royalties, sendo devida a incidência da CIDE; e (b) não há bis in idem na incidência da CIDEroyalties e da CONDECINE, pois inexistente vedação na Constituição quanto à incidência de mais de uma contribuição sobre determinada riqueza passível de tributação. Fl. 4230DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.231 6 No ensejo, insurgese a Contribuinte por meio de recurso especial (fls. 4.035 a 4.070, reproduzido às fls. 4.114 a 4.148) suscitando divergência jurisprudencial com relação aos seguintes pontos: (a) não incidência da CIDE nos pagamentos remetidos ao exterior pela aquisição de conteúdo, isto é, o pagamento de direitos autorais às programadoras estrangeiras; e (b) não incidência da CIDEroyalties e da CONDECINE sobre a mesma base de cálculo. Para comprovação da divergência, trouxe como paradigma o Acórdão nº 303 35.834, de 10/12/2008. Em suas razões recursais, a Contribuinte sustenta que : (a) os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos ao exterior a título de resultados advindos da exploração comercial de filmes não estão sujeitos ao pagamento da CIDE, por não subsumirem a hipótese legal determinante da ocorrência do fato gerador de tal contribuição e (b) não é possível a incidência de CIDEroyalties sobre os mesmos fatos que baseiam a incidência da CONDECINE, devendo prevalecer esta por ser mais específica. Comprovada a divergência jurisprudencial apontada, foi admitido na íntegra o recurso especial da Contribuinte por meio do despacho s/nº, de 26/06/2015 (fls. 4.194 a 4.196), proferido pelo Presidente da 2ª Câmara da Terceira Seção de Julgamento em exercício à época. A Fazenda Nacional apresentou contrarrazões (fls. 4.198 a 4.213) postulando a negativa de provimento ao recurso especial da Contribuinte. O presente processo foi distribuído a essa Relatora por meio de sorteio regularmente realizado, estando apto o feito a ser relatado e submetido à análise desta Colenda 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais 3ª Seção de Julgamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF. É o Relatório. Voto Vencido Conselheira Vanessa Marini Cecconello Relatora O recurso especial da Contribuinte preenche os requisitos de admissibilidade do art. 67, do Anexo II, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (RICARF), aprovado pela Portaria MF nº 256, de 25 de junho de 2009, uma vez tempestivo, prequestionadas as matérias e devidamente comprovadas as divergências jurisprudenciais suscitadas. No mérito, delimitase a controvérsia suscitada pela Contribuinte em dois pontos: (a) não incidência da CIDE nos pagamentos para as programadoras estrangeiras pela aquisição de conteúdo (filmes, programas etc); e (b) não incidência da CIDEroyalties sobre os mesmos fatos que baseiam a incidência da CONDECINE. O art. 149 da Constituição Federal estabelece três espécies de tributos denominadas como contribuições: contribuições sociais, contribuições de intervenção no domínio econômico e contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas. O Fl. 4231DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.232 7 mesmo dispositivo outorgaas à União, para utilização como instrumento de atuação em cada uma das áreas correspondentes. As contribuições de intervenção no domínio econômico, objeto de análise dos presentes autos, destinamse apenas a instrumentalizar a ação da União no domínio econômico, alcançandolhe recursos para fazer frente aos custos e encargos pertinentes. Nesse campo, a atuação do Poder Público foi moldada pelo art. 174 da Constituição Federal, o qual dispõe que o planejamento do Estado, em relação ao setor privado, é meramente indicativo. Nesse contexto, a Lei nº. 10.168, de 29 de dezembro de 2000, instituiu a contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE) para financiar o Programa de Estímulo à Interação UniversidadeEmpresa para o Apoio à Inovação, tendo este como objetivo principal "estimular o desenvolvimento tecnológico brasileiro, mediantes programas de pesquisa científica e tecnológica cooperativa entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo". Dispõe o art. 2º da referida lei: Art. 2º Para fins de atendimento ao Programa de que trata o artigo anterior, fica instituída contribuição de intervenção no domínio econômico, devida pela pessoa jurídica detentora de licença de uso ou adquirente de conhecimentos tecnológicos, bem como aquela signatária de contratos que impliquem transferência de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior. § 1º Consideramse, para fins desta Lei, contratos de transferência de tecnologia os relativos à exploração de patentes ou de uso de marcas e os de fornecimento de tecnologia e prestação de assistência técnica. § 1ºA. A contribuição de que trata este artigo não incide sobre a remuneração pela licença de uso ou de direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando envolverem a transferência da correspondente tecnologia. § 2º A partir de 1o de janeiro de 2002, a contribuição de que trata o caput deste artigo passa a ser devida também pelas pessoas jurídicas signatárias de contratos que tenham por objeto serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no exterior, bem assim pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. § 3º A contribuição incidirá sobre os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrente das obrigações indicadas no caput e no § 2o deste artigo. § 4º A alíquota da contribuição será de 10% (dez por cento). § 5º O pagamento da contribuição será efetuado até o último dia útil da quinzena subseqüente ao mês de ocorrência do fato gerador. § 6º Não se aplica a Contribuição de que trata o caput quando o contratante for órgão ou entidade da administração direta, autárquica e fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e o contratado for instituição de ensino ou pesquisa situada no exterior, para o oferecimento de Fl. 4232DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.233 8 curso ou atividade de treinamento ou qualificação profissional a servidores civis ou militares do respectivo ente estatal, órgão ou entidade. (grifouse) Para regulamentar a Lei nº 10.168/2000 e a Lei nº 10.332/2001, foi editado o Decreto nº 4.195, de 11 de abril de 2001, que em seu art. 10 especifica as hipóteses de incidência da CIDE instituída pelo art. 2º da Lei nº 10.168/2000, in verbis: Art. 10. A contribuição de que trata o art. 2o da Lei no 10.168, de 2000, incidirá sobre as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de royalties ou remuneração, previstos nos respectivos contratos, que tenham por objeto: I fornecimento de tecnologia; II prestação de assistência técnica: a) serviços de assistência técnica; b) serviços técnicos especializados; III serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes; IV cessão e licença de uso de marcas; e V cessão e licença de exploração de patentes. Por outro viés, os direitos autorais são regulados pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, compreendidos nesses os direitos de autor e os direitos conexos, nos termos do art. 1º do diploma legal. Pertinente também ao caso, é a definição de obra audiovisual, estabelecida no art. 5º, inciso VIII, alínea i, da mesma Lei, como sendo "a que resulta da fixação de imagens com ou sem som, que tenha a finalidade de criar, por meio de sua reprodução, a impressão de movimento, independentemente dos processos de sua captação, do suporte usado inicial ou posteriormente para fixálo, bem como dos meios utilizados para sua veiculação". Concebida tal premissa, iniciase a análise das matérias objeto da insurgência do Contribuinte por meio do apelo especial. a) Não incidência da CIDE nos pagamentos para as programadoras estrangeiras pela aquisição de conteúdo (filmes, programas, etc.) A Lei nº 10.168/2000, instituidora da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, estabeleceu como Sujeito Passivo da obrigação a "pessoa jurídica detentora de licença de uso ou adquirente de conhecimentos tecnológicos, bem como aquela signatária de contratos que impliquem transferência de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior". Originalmente previu a Lei nº 10.168/2000 a incidência de contribuição sobre a importação de tecnologia, a CIDETecnologia. A partir de 1º de janeiro de 2002, conforme alteração do §2º, do art. 2º do diploma legal em referência, introduzida pela Lei nº 10.332/2001, a contribuição passou a ser devida também: (a) por pessoas jurídicas signatárias de contratos de serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no Fl. 4233DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.234 9 exterior; e (b) por pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. Esclareçase que a Lei nº 10.332/2001 teve por objetivo instituir mecanismos de financiamento para os seguintes projetos governamentais: Programa de Ciência e Tecnologia para o Agronegócio; Programa de Fomento à Pesquisa em Saúde; Programa Biotecnologia e Recursos Genéticos Genoma; Programa de Ciência e Tecnologia para o Setor Aeronáutico e Programa de Inovação para Competitividade. Nesse contexto, foi introduzida a alteração do §2º, art. 2º da Lei nº 10.168/2000 e criada a CIDERoyalties, diretamente ligada à CIDE Tecnologia. O conceito de royalties está estabelecido no art. 22 da Lei nº 4.506/64 como sendo os rendimentos de qualquer espécie decorrente do uso, fruição, exploração de direitos, tais como, in verbis: [...] a) direito de colher ou extrair recursos vegetais, inclusive florestais; b) direito de pesquisar e extrair recursos minerais; c) uso ou exploraçâo de invenções, processos e fórmulas de fabricação e de marcas de indústria e comércio; d) exploração de direitos autorais, salvo quando percebidos pelo autor ou criador do bem ou obra. [...] O enunciado legal acima transcrito, em razão de seu caráter exemplificativo e não taxativo, possibilitou a caracterização de royalty para qualquer rendimento decorrente do uso, da fruição e da exploração de direitos, gerando insegurança quanto à correta caracterização para fins tributários. O escopo da CIDE instituída pela Lei nº 10.168/2000 foi de fomentar a produção tecnológica brasileira, sendo devida sobre os pagamentos de royalties referentes aos contratos de propriedade industrial. Posteriormente, a Lei nº 10.332/2001 ampliou a hipótese de incidência da exação para os valores decorrentes de contratos de prestação de serviços técnicos e assemelhados, e além disso incluiu na sua incidência os royalties de qualquer natureza, fazendo emergir dúvidas quanto ao alcance da tributação da CIDE. Tendo em vista que o objetivo da Lei nº 10.168/2000 foi criar mecanismos de incentivo ao desenvolvimento tecnológico, a alteração introduzida pela Lei nº 10.332/2001 buscou reforçar o intuito inicial, estabelecendo a incidência da CIDE também para os royalties relacionados à tecnologia, no caso referentes a contratos de patentes e uso de marcas. O legislador não visou incluir na tributação da CIDE os pagamentos decorrentes das remessas decorrentes de direitos de autor. As contribuições, como espécie tributária autônoma, embora sejam diferenciadas dos impostos em função de sua destinação constitucional, mantém como ponto de relação a necessidade de a conduta do Contribuinte subsumirse à hipótese de incidência da norma para que possa ser exigido o tributo, fazendose cumprir o princípio da estrita legalidade. Fl. 4234DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.235 10 Nessa linha relacional, o Decreto nº 4.195, de 11 de abril de 2002, editado para regulamentar a Lei nº 10.168/2000 e a Lei nº 10.332/2001, elucidando o alcance pretendido pela Lei, dispôs no seu art. 10 a incidência da CIDE sobre os contratos relativos à propriedade industrial de (i) fornecimento de tecnologia, (ii) assistência técnica, (iii) serviços técnicos especializados, (iv) serviços técnicos e de assistência administrativa, (v) cessão e licença de uso de marcas, e (vi) cessão e licença de exploração de patentes, em nada referindose à exploração de direitos autorais. Ainda, o Decreto nº 4.195/2002 restringiu o seu conteúdo e alcance aos da Lei nº 10.168/2000, em função da qual foi expedido, em observância às disposições dos artigos 97, 98 e 99, todos do Código Tributário Nacional (CTN). O diploma legal em referência não alterou as hipótese do fato gerador da obrigação principal CIDE, apenas fez constar explicitamente a abrangência pretendida pela Lei nº 10.168/00, instituidora da contribuição, uma vez editada no contexto de incentivo ao desenvolvimento tecnológico nacional, com o que não se pode relacionar o setor audiovisual. Os decretos expedidos pelo próprio Poder Executivo para a "fiel execução da lei", nos termos do art. 84, inciso IV, da Constituição Federal, são de observância obrigatória pela Autoridade Fiscal, fazendo cumprir os preceitos da vinculação e obrigatoriedade da atividade administrativa de lançamento, insculpidos nos artigos 3º e 142 do CTN. Não se propõe que o Decreto nº 4.195/02 seja aplicado e interpretado de forma autônoma e independente, até porque segundo as normas de hermenêutica a análise de determinado dispositivo legal darseá em conjunto com as demais normas previstas. As diretrizes interpretativas da legislação tributária estão explicitadas nos artigos 107 a 112 do CTN. A interpretação do art. 10 do Decreto nº 4.195/02 realizarseá em consonância com o alcance e o impacto pretendidos pelo legislador ao ser promulgada a Lei nº 10.168/2000, ambos relacionados ao setor de tecnologia, não havendo qualquer relação com o setor audiovisual. Assim, ainda que se pretenda ser o rol estabelecido no art. 10 exemplificativo, de acordo com os objetivos de sua regra matriz, não se pode incluir ali a tributação dos direitos autorais relacionadas às obras audiovisuais, razão pela qual não há de se falar na incidência da CIDE. Corrobora a argumentação aqui expendida, o tratamento dado aos rendimentos decorrentes da exploração de obras audiovisuais no Regulamento do Imposto de Renda, nos arts. 709 e 710: Subseção II Remuneração de Direitos, inclusive Transmissão por meio de Rádio ou Televisão Art. 709. Estão sujeitas à incidência do imposto na fonte, à alíquota de quinze por cento, as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas para o exterior pela aquisição ou pela remuneração, a qualquer título, de qualquer forma de direito, inclusive a transmissão, por meio de rádio ou televisão ou por qualquer outro meio, de quaisquer filmes ou eventos, mesmo os de competições desportivas das quais faça parte representação brasileira (Lei nº 9.430, de 1996, art. 72). Fl. 4235DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.236 11 Subseção III Royalties Art. 710. Estão sujeitas à incidência na fonte, à alíquota de quinze por cento, as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas para o exterior a título de royalties, a qualquer título (Medida Provisória nº 1.749 37, de 1999, art. 3º). Da análise dos dispositivos acima transcritos, depreendese ter a legislação dado aos direitos sobre obras audiovisuais tratamento específico, distinto de royalties, por não se confundirem com estes. Portanto, por mais esse argumento, incabível a incidência da CIDE. No que concerne à CONDECINE, o propósito do Governo Federal de impactar o setor audiovisual da economia foi externado com a criação da CONDECINE Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional, por meio da Medida Provisória nº 2.2281/2001, que em seu art. 32, na redação vigente nos períodos de apuração em exame, estabelece como fato gerador da contribuição: Art. 32. A Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional CONDECINE terá por fato gerador a veiculação, a produção, o licenciamento e a distribuição de obras cinematográficas e videofonográficas com fins comerciais, por segmento de mercado a que forem destinadas. Parágrafo único. A CONDECINE também incidirá sobre o pagamento, o crédito, o emprego, a remessa ou a entrega, aos produtores, distribuidores ou intermediários no exterior, de importâncias relativas a rendimento decorrente da exploração de obras cinematográficas e videofonográficas ou por sua aquisição ou importação, a preço fixo. (grifouse) A título de nota, a partir da Lei nº 12.485/2011, que dispõe sobre a comunicação audiovisual de acesso condicionado televisão por assinatura, a CONDECINE passou a incidir também sobre a prestação de serviços que se utilizem de meios de distribuição de conteúdos audiovisuais, sendo acrescidos ao art. 32 da Medida Provisória nº 2.2281/2001 os incisos I a III, in verbis: Art. 32. A Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional Condecine terá por fato gerador: I a veiculação, a produção, o licenciamento e a distribuição de obras cinematográficas e videofonográficas com fins comerciais, por segmento de mercado a que forem destinadas; II a prestação de serviços que se utilizem de meios que possam, efetiva ou potencialmente, distribuir conteúdos audiovisuais nos termos da lei que dispõe sobre a comunicação audiovisual de acesso condicionado, listados no Anexo I desta Medida Provisória; III a veiculação ou distribuição de obra audiovisual publicitária incluída em programação internacional, nos termos do inciso XIV do art. 1ª desta Medida Provisória, nos casos em que existir participação direta de agência de publicidade nacional, sendo tributada nos mesmos valores atribuídos quando da veiculação incluída em programação nacional. Fl. 4236DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.237 12 Parágrafo único. A CONDECINE também incidirá sobre o pagamento, o crédito, o emprego, a remessa ou a entrega, aos produtores, distribuidores ou intermediários no exterior, de importâncias relativas a rendimento decorrente da exploração de obras cinematográficas e videofonográficas ou por sua aquisição ou importação, a preço fixo. Do art. 32 da MP nº 2.2281/2001, em sua redação original, depreendese estar a Contribuinte sujeita ao recolhimento da CONDECINE sobre as remessas ao exterior efetuadas para as programadoras estrangeiras a título de remuneração por direito de transmissão de obra audiovisual, em razão de ser esta a contribuição de intervenção no domínio econômico específica para o setor de audiovisual. Portanto, é fato gerador da CONDECINE a aquisição de direitos relacionados à indústria cinematográfica e videofonográfica. A CIDE incidente sobre royalties e a CONDECINE, portanto, são duas contribuições de intervenção no domínio econômico idealizadas pelo legislador para atingir e regular setores distintos da economia, quais sejam, o de tecnologia e o audiovisual (cinematográfico e videofonográfico). Tendose em conta que as contribuições têm por característica a destinação específica, estando as remessas ao exterior a título de pagamento de direitos autorais às programadoras estrangeiras sujeitas à incidência da CONDECINE, invariavelmente estarão afastadas do campo de exigência da CIDE. O argumento é reforçado pelo fato de a Lei nº 10.168/00 não prever como destino do produto de arrecadação da CIDE o setor audiovisual, mas tão somente o setor da tecnologia nacional, ocorrendo o recolhimento da contribuição ao Tesouro Nacional e destinada ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FNDCT. A CONDECINE, por sua vez, é recolhida diretamente à ANCINE Agência Nacional do Cinema e seu produto de arrecadação destinado ao Fundo Nacional da Cultura FNC e alocado em categoria específica denominada Fundo Setorial do Audiovisual, para aplicação nas atividades de fomento relativas aos Programas criados pela Medida Provisória. Conclusão inexorável é que a CIDEroyalties guarda referibilidade com o setor de tecnologia e a CONDECINE com o setor audiovisual (cinematográfico e videofonográfico), sendo cabível apenas a incidência desta última sobre as remessas efetuadas pela Contribuinte ao exterior a título de pagamento das programadoras estrangeiras pelos direitos de transmissão de obras audiovisuais, restando afastada a ocorrência do bis in idem, que não se justifica no contexto dessas contribuições. Portanto, celebrada a arguição, resta afastada a incidência da CIDE sobre as remessas efetuadas pela Contribuinte ao exterior a título de pagamento às programadoras estrangeiras por aquisição de direitos de transmissão de obras audiovisuais através de sinais de televisão por assinatura. Diante do exposto, dáse provimento ao recurso especial do Sujeito Passivo. É o Voto. (assinado digitalmente) Vanessa Marini Cecconello Fl. 4237DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.238 13 Voto Vencedor Conselheiro Demes Brito Redator Designado Com a devida vênia, divirjo da Ilustre Relatora Vanessa Marini Cecconello, há incidência da CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – Remessas ao Exterior, sobre pagamentos efetuados em decorrência de contratos celebrados pela Contribuinte com empresas programadoras, situadas no exterior, para aquisição de licença para a exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. Com efeito, trata o presente processo de lançamento de ofício, veiculado por meio de auto de infração lavrado para a cobrança da CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – Remessas ao Exterior, multa de ofício e juros de mora, em decorrência da incidência do tributo sobre pagamentos efetuados ao exterior em contrapartida pelo uso ou exploração de direitos autorais sobre obra artística, inclusive para a exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. O acórdão recorrido, de Relatoria do Ilustre Conselheiro Luís Eduardo G. Barbieri, negou provimento a recurso voluntário por considerar que: "Fazendose uma interpretação sistemática, a partir dos dispositivos legais acima citados, é de se concluir que a CIDE é devida pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior (§2º, art. 2º, Lei nº 10.168/2000, com a redação da Lei nº 10.332/2001), dentre os quais incluemse os royalties incidentes sobre a remuneração paga pela licença e direito de uso na exploração e transmissão de filmes,programas e eventos em televisão por assinatura (art. 22 da Lei nº 4.506/64 c/c art. 7º da Lei nº 9.610/98). Este entendimento, inclusive, restou assentado em recente julgado proferido pela Câmara Superior de Recursos Fiscais (Acórdão nº 930301.864, de 06/03/2012), cuja ementa transcrevese abaixo: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 28/02/2002, 31/03/2002, 30/04/2002 CIDE ROYALTIES. REMESSA DE ROYATIES PARA RESIDENTE OU DOMICILIADO NO EXTERIOR INCIDÊNCIA. O pagamento, o creditamento, a entrega, o emprego ou a remessa de royalties, a qualquer título, a residentes ou domiciliados no exterior são hipóteses de incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico criada pela Lei 10.168/2000. Para que a contribuição seja devida, basta que qualquer dessas hipóteses seja Fl. 4238DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.239 14 concretizada no mundo fenomênico. O pagamento de royalties a residentes ou domiciliados no exterior royalties, a título de contraprestação exigida em decorrência de obrigação contratual, seja qual for o objeto do contrato, faz surgir a obrigação tributária referente a essa CIDE. Recurso Especial do Procurador Provido. Nessa a linha de entendimento também há julgados do TRF da 3ª Região, conforme ementas abaixo transcritas: CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO DESTINADA A FINANCIAR O PROGRAMA DE ESTÍMULO À INTERAÇÃO UNIVERSIDADE EMPRESA PARA O APOIO À INOVAÇÃO LEI Nº 10.168/2000 ALTERAÇÕES CONSTITUCIONALIDADE – PRESCINDIBILIDADE DA EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR PARA SUA CRIAÇÃO FINALIDADE E VINCULAÇÃO DO PRODUTO ARRECADADO VALIDADE LICENÇA DE USO DE SOFTWARE REMESSA DE ROYALTIES AO EXTERIOR HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA COMPROVAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA EM SENTIDO ESTRITO DESNECESSIDADE. 1. A instituição de contribuição de intervenção no domínio econômico prescinde da edição de lei complementar, qualificandose essencialmente pela finalidade da atividade estatal desenvolvida, assim como pela destinação conferida às receitas advindas pela sua exigibilidade. 2. A contribuição interventiva criada pela Lei nº 10.168/2000, alterada pela Lei nº 10.332/2001, cuja finalidade precípua é estimular o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro, encontrase em consonância com os ditames da Carta Constitucional. 3. A concessão de licença de uso de software obtida por pessoa jurídica através de contrato celebrado com empresa estrangeira, com a conseqüente remessa de valores ao exterior, a título de royalties, configura hipótese de incidência da citada contribuição (Lei nº 10.168/2000, art. 2º, caput e § 2º, acrescentado pela Lei nº 10.332/2001). 4. A tutela conferida ao programa de computador pela legislação do direito autoral não retira a natureza de royalties imprimida aos rendimentos obtidos pelo uso ou exploração desse direito e não impede a incidência da exação. 5. Legitimidade da incidência da contribuição independentemente de estar comprovada a existência ou não de transferência de tecnologia, em sentido estrito, mesmo porque as hipóteses descritas na lei abarcam situações em que ela é presumida. Fl. 4239DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.240 15 6. Agravo regimental improvido. (TRF3, AG 2002.03.00.0430542, 6ª Turma, Rel Des. Fed. Consuelo Yoshida, j. 04/02/2004, v.u., DJU 06/05/2005). Ademais, a CIDE – Royalties e a CONDECINE têm destinações e finalidades diversas (e esse é o critério essencial para a aferição da validade de uma CIDE): a primeira destina se ao financiamento do programa de estímulo à interação universidade empresa para apoio à inovação; a segunda destinase a fomentar o desenvolvimento das indústrias cinematográficas e vídeofonográfica. Não vislumbro, portanto, antinomias entre as normas instituidoras das citadas contribuições: cada uma delas têm suas finalidades próprias. Não havendo conflito de normas, não há que se falar em aplicação de critério da especialidade ("lexspecialis derogat legi generali"). Corrobora esse entendimento, o julgamento do REsp nº 894.129 (de 08/12/2009), no STJ, quando a Ministra relatora Eliana Calmon decidiu ser possível a incidência simultânea de duas CIDEs (a CIDE – royalties cumulada com o FUST e FUNTEL), afastando a alegação de bis in idem, por inexistir coincidência entre os elementos estruturais das normas jurídica de incidência das duas contribuições, de modo que restou decidido ser válida a contribuição interventiva instituída pela Lei nº 10.168/2000, com a redação da Lei n. 10.332/2001 (CIDEroyalties)". Deste modo, a matéria objeto de divergência posta a esta E. Câmara Superior, diz respeito exclusivamente a não incidência da CIDE, nos pagamentos remetidos para as programadoras estrangeiras pela aquisição de conteúdo (filmes, programas etc) e a não incidência da CIDEroyalties, sobre os mesmos fatos que baseiam a incidência da CONDECINE. Nada obstante, quanto a divergência referente a incidência ou não da CIDE, nas remessas remetidas ao estrangeiro pela aquisição de conteúdo de filmes e programas de televisão, e a não incidência da CIDEroyalties, sobre fatos que baseiam a incidência da CONDECINE, mesma discussão já foi objeto de análise nos autos do processo nº10880.720012/201119, acórdão nº 9303003.854, relatado por este Conselheiro, que versa sobre a mesma matéria, a qual utilizo como fundamento em minhas razões de decidir, e passa a fazer parte integrante deste voto. Vejamos: "ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO CIDE Período de apuração: 01/01/2006 a 31/12/2006 CIDE. REMESSAS AO EXTERIOR. ROYALTIES. A partir de 1/1/2002, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incide também sobre o valor de royalties, a qualquer título, que a pessoa jurídica pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter a residente ou domiciliado no exterior, inclusive os royalties decorrentes de licença e direito de uso na exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. Fl. 4240DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.241 16 CIDE X CONDECINE INEXISTÊNCIA DE DUPLA TRIBUTAÇÃO. CIDE ora exigida é muito mais específica do que a CONDECINE. Enquanto aquela contribuição somente incide sobre os royalites remetidos ao exterior em decorrência da comercialização dos direitos autorais relativos às obras intelectuais e criativas, já CONDECINE, por sua vez, incide sobre os pagamentos devidos em razão da aquisição ou importação de tais obras, a preço fixo, ou seja, possui um âmbito de incidência muito mais amplo e genérico do que a CIDEroyalties. Recurso Especial do Contribuinte Negado. A Lei 10.168/00, publicada em 29.12.2000, instituiu a CIDE destinada a estimular o desenvolvimento tecnológico brasileiro, mediante o financiamento do Programa de Estimulo à Interação UniversidadeEmpresa para o Apoio à Inovação, também criado pela referida Lei. O teor dos arts. 1º e 2º da Lei 10.168/00, transcrevo a redação original: “Art. 1o Fica instituído o Programa de Estímulo à Interação Universidade Empresa para o Apoio à Inovação, cujo objetivo principal é estimular o desenvolvimento tecnológico brasileiro, mediante programas de pesquisa científica e tecnológica cooperativa entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo. Art. 2º. Para fins de atendimento ao programa de que trata o artigo anterior, fica instituída contribuição de intervenção no domínio econômico, devida pela pessoa jurídica detentora de licença de uso ou adquirente de conhecimentos tecnológicos, bem como aquela signatária de contratos que impliquem transferência de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior. Parágrafo. 1º Consideramse, para fins desta Lei, contratos de transferência de tecnologia os relativos à exploração de patentes ou de uso de marcas e os de fornecimento de tecnologia e prestação de assistência técnica. Parágrafo. 2º A contribuição incidirá sobre os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrentes das obrigações indicadas no caput deste artigo. Parágrafo. 3º A alíquota da contribuição será de 10%. (...).” Em 19.12.01, foi editada a Lei 10.332/01, que, alterando os parágrafos. 2º, 3º e 4º do art. 2º da Lei 10.168/00, acabou por ampliar o âmbito de incidência da CIDE. Os referidos dispositivos legais passaram a ter a seguinte redação: “Art. 2º (...). Fl. 4241DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.242 17 Parágrafo. 2º A partir de 1o de janeiro de 2002, a contribuição de que trata o caput deste artigo passa a ser devida também pelas pessoas jurídicas signatárias de contratos que tenham por objeto serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no exterior, bem assim pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. Parágrafo. 3o A contribuição incidirá sobre os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrente das obrigações indicadas no caput e no § 2o deste artigo. Parágrafo. 4º A alíquota da contribuição será de 10% (dez por cento). Parágrafo. – 5º O pagamento da contribuição será efetuado até o último dia útil da quinzena subseqüente ao mês de ocorrência do fato gerador. Com efeito, a Lei nº 10.332/2001, ao proceder nova redação ao §2º do artigo 2º da Lei nº 10.168/2000, alargou o campo de incidência da CIDE, fazendo a incidir, a partir de 01/01/2002, sobre contratos que tenham por objeto serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no exterior e pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. Quanto a discussão sobre a constitucionalidade das alterações trazidas pela Lei nº10.332/2001, este colegiado não pode discutir, em razão Súmula CARF n° 02. Como bem fundamentado pelo Ilustre Relator da turma baixa, Luís Eduardo Garrossino Barbieri: "a alteração trazida pela Lei nº 10.332/2001 o legislador não restringiu a incidência da CIDE apenas aos casos em que há transferência de tecnologia. Não restam dúvidas, que a partir de 1º de janeiro de 2002, a referida contribuição passou a ser devida também pelas pessoas jurídicas signatárias de contratos que tenham por objeto serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no exterior e pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior (art. 2º, § 2º, da Lei n. 10.168/00)". Portanto, fica claro a incidência sobre valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a cada mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrente de transferência de tecnologia (caput do artigo 2º); serviços técnicos e de assistência administrativa e semelhantes (primeira parte do §2º do artigo 2º); e royalties, a qualquer título (parte final do §2º do artigo 2º). Verificase ainda, quanto à CIDE instituída pela Lei 10.168/00, os fins que lhe são correlatos relacionamse, primordialmente com a promoção e o Fl. 4242DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.243 18 incentivo do desenvolvimento nacional na área de ciência e da tecnologia, o que se evidencia diante da previsão de que os recursos obtidos com a sua arrecadação serão destinados, integralmente, ao Fundo Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico (art. 4º); os recursos desse Fundo, por sua vez, financiam diversos Programas relacionados a atividades de pesquisa e desenvolvimento científico tecnológico. Assim, a finalidade da referida contribuição tem por objetivo a fomentar o setor tecnológico nacional, tornandoo menos dependente de importações estrangeiras. De modo que, a norma que regula a chamada CIDERoyalties determina que ela é devida pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. Portanto, não resta dúvidas que os valores remetidos ao exterior pela Contribuinte tratase de royalties. A remuneração pelo direito de transmitir seriados e filmes de televisão, não poderia ter outra natureza, considerando a contraprestação pela aquisição de obras criativas de autoria de terceiros. Os Royalties para Legislação Tributária A este propósito, contra tal pretensão, Denis Borges Barbosa (p.12) leciona a essencialidade de que se entenda o que são royalties para legislação tributária1, transcrevo parte de seu estudo: Definição de royalties A noção de royalties , ou regalias, é construída na legislação tributária interna pelo art. 22 da Lei 4.506/64. Segundo a lei, são royalties “os rendimentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição ou exploração de direitos, tais como: a) direitos de colher ou extrair recursos vegetais, inclusive florestais; b) direito de pesquisar e extrair recursos minerais; c) uso ou exploração de invenções, processos e fórmulas de fabricação e de marcas de indústria e comércio; d) exploração de direitos autorais, salvo quando percebidos pelo autor ou criador do bem ou obra”. uso ou pela concessão do uso de direitos de autor sobre obras literárias, artísticas ou científicas (inclusive dos filmes cinematográficos, filmes ou fitas de gravação de programas de televisão ou radiodifusão) Neste sentido, o termo royalties esta contido no artigo 22 da Lei nº 4.506/64, verbis: Art. 22. Serão classificados como "royalties" os rendimentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição, exploração de direitos, tais como: 1 Siqueira.Marcelo, Barbosa, Borges.Denis. Do poder do titular de marcas de cobrar royalties disponível em: http://docplayer.com.br/3942046Dopoderdotitulardemarcasdecobrarroyaltiesdenisborgesbarbosae marcelosiqueirasetembrode2012.html#show_full_text. Acessado em 10/04/2016. Fl. 4243DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.244 19 a) direito de colhêr ou extrair recursos vegetais, inclusive florestais; b) direito de pesquisar e extrair recursos minerais; c) uso ou exploração de invenções, processos e fórmulas de fabricação e de marcas de indústria e comércio; d) exploração de direitos autorais, salvo quando percebidos pelo autor ou criador do bem ou obra. Conforme visto, a norma acima descrita, caracterizase como royalty qualquer rendimento decorrente do uso, da fruição ou exploração de direitos, inclusive no caso da Contribuinte, a exploração de direitos autorais. A este propósito, o artigo 1º da Lei nº 9.610/98, trata o que são direitos autorais, remetendo a leitura do art. 7º, ao cuidar dos direitos autorais, que determinam as obras intelectuais, dentre outras hipóteses, as audiovisuais: Art. 1º Esta Lei regula os direitos autorais, entendendose sob esta denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos. (...) Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: (...) VI.as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; Neste passo, os valores remetidos ao exterior pela Contribuinte tratase de royalties, considerando a remuneração pelo direito de transmitir seriados e filmes de televisão, não possuir outra natureza. Não obstante, a Câmara Superior de Recursos Fiscais, no acórdão de nº 930301.864, processo relatado pelo Ilustre Conselheiro Henrique Pinheiro Torres, decidiu que o pagamento, o creditamento, a entrega, o emprego ou a remessa de royalties, a qualquer título, a residentes ou domiciliados no exterior são hipóteses de incidência da CIDE. Transcrevese a ementa do julgado: CIDE ROYALTIES. REMESSA DE ROYATIES PARA RESIDENTE OU DOMICILIADO NO EXTERIOR INCIDÊNCIA. O pagamento, o creditamento, a entrega, o emprego ou a remessa de royalties, a qualquer título, a residentes ou domiciliados no exterior são hipóteses de incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico criada pela Lei 10.168/2000. Para que a contribuição seja devida, basta que qualquer dessas hipóteses seja concretizada no mundo fenomênico. O pagamento de royalties a residentes ou domiciliados no Fl. 4244DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.245 20 exterior royalties, a título de contraprestação exigida em decorrência de obrigação contratual, seja qual for o objeto do contrato, faz surgir a obrigação tributária referente a essa CIDE. Recurso Especial do Procurador Provido. Inexistência de dupla tributação sobre o mesmo fato gerador CONDECINE A Contribuinte sustenta em seu recurso, que os royalties pagos em razão da aquisição de direitos de licenciamento para exibição e exploração de obras audiovisuais estariam fora da incidência da CIDE por já estarem inseridas no âmbito da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional – a CONDECINE, e admitir a cobrança cumulativa de ambas as contribuições seria, no seu entender, permitir a dupla tributação de um mesmo fato gerador do mesmo sujeito passivo, o que caracterizaria uma dupla tributação. Penso de modo distinto. Com efeito, o critério essencial para a verificação da validade de uma CIDE, nos termos do que demonstrado outrora, não é a sua hipótese de incidência, mas sim a finalidade para as quais elas são instituídas, em minha visão, não considero a dupla tributação como sustenta a Contribuinte. A CIDEroyalties destinase a financiar o programa de estímulo à interação universidadeempresa para apoio á inovação, já a CONDECINE, destinase a fomentar o desenvolvimento das industrias cinematográfica e videofonográfica, incentivando, assim, as manifestações culturais. Essa é a determinação das leis que instituíram as referidas contribuições. Transcrevo para que interessa: MP 22281/01 – CONDECINE Art. 34. O produto da arrecadação da Condecine será destinado ao Fundo Nacional da Cultura – FNC e alocado em categoria de programação específica denominada Fundo Setorial do Audiovisual, para aplicação nas atividades de fomento relativas aos Programas de que trata o art. 47 desta Medida Provisória. Art. 47. Como mecanismos de fomento de atividades audiovisuais, ficam instituídos, conforme normas a serem expedidas pela Ancine: I o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Brasileiro PRODECINE, destinado ao fomento de projetos de produção independente, distribuição, comercialização e exibição por empresas brasileiras; Art. 47. Como mecanismos de fomento de atividades audiovisuais, ficam instituídos, conforme normas a serem expedidas pela Ancine: Fl. 4245DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.246 21 I o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Brasileiro PRODECINE, destinado ao fomento de projetos de produção independente, distribuição, comercialização e exibição por empresas brasileiras; II o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro PRODAV, destinado ao fomento de projetos de produção, programação, distribuição, comercialização e exibição de obras audiovisuais brasileiras de produção independente; LEI 10.168/01 – CIDE Art. 1o Fica instituído o Programa de Estímulo à Interação Universidade Empresa para o Apoio à Inovação, cujo objetivo principal é estimular o desenvolvimento tecnológico brasileiro, mediante programas de pesquisa científica e tecnológica cooperativa entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo. Art. 2º Para fins de atendimento ao Programa de que trata o artigo anterior, fica instituída contribuição de intervenção no domínio econômico (...) (grifamos). Como se observa pelas transcrições, não há dupla tributação, considerando que a CIDE tem sua destinação a viabilizar a intervenção estatal na economia para organizar e desenvolver setor essencial, que não possa ser desenvolvido com eficácia no regime de competição de liberdade de iniciativa. Enquanto a CONDECINE, tem por objetivo atender o setor cinematográfico e videofonográfico, portanto, ambas as normas possuem destinações e e fatos geradores distintos. Neste passo, destaco os dispositivos da MP n° 22281/01, com as alterações introduzidas pela lei nº 10.454/2002: Art. 1º Para fins desta Medida Provisória entendese como: I obra audiovisual: produto da fixação ou transmissão de imagens, com ou sem som, que tenha a finalidade de criar a impressão de movimento, independentemente dos processos de captação, do suporte utilizado inicial ou posteriormente para fixálas ou transmitilas, ou dos meios utilizados para sua veiculação, reprodução, transmissão ou difusão; (...) III obra video fonográfica: obra audiovisual cuja matriz original de captação é um meio magnético com capacidade de armazenamento de informações que se traduzem em imagens em movimento, com ou sem som; (...)” Art. 32. A Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional CONDECINE terá por fato gerador a veiculação, a produção, o licenciamento e a distribuição de obras cinematográficas e videofonográficas com fins comerciais, por segmento de mercado a que forem destinadas. (Vide Lei nº 10.454, de 13.5.2002) Fl. 4246DF CARF MF Processo nº 16561.000066/200921 Acórdão n.º 9303004.899 CSRFT3 Fl. 4.247 22 Parágrafo único. A CONDECINE também incidirá sobre o pagamento, o crédito, o emprego, a remessa ou a entrega, aos produtores, distribuidores ou intermediários no exterior, de importâncias relativas a rendimento decorrente da exploração de obras cinematográficas e videofonográficas ou por sua aquisição ou importação, a preço fixo.” Art. 35. A CONDECINE será devida pelos seguintes sujeitos passivos: (...) III o responsável pelo pagamento, crédito, emprego, remessa ou entrega das importâncias referidas no parágrafo único do art. 32.” Com efeito, verificase que, a CIDE ora exigida é muito mais específica do que a CONDECINE. Enquanto aquela contribuição somente incide sobre os royalites remetidos ao exterior em decorrência da comercialização dos direitos autorais relativos às obras intelectuais e criativas, já CONDECINE, por sua vez, incide sobre os pagamentos devidos em razão da aquisição ou importação de tais obras, a preço fixo, ou seja, possui um âmbito de incidência muito mais amplo e genérico do que a CIDEroyalties. Portanto, inexiste coincidência entre os elementos estruturais das normas jurídicas de incidência das contribuições em tela, de modo que a CIDE tem destinação distinta da CONDECINE. Não há o que se falar em dupla tributação. Conclusões Com essas considerações, voto no sentido de negar provimento ao recurso especial da contribuinte, para manter o acórdão recorrido por seus próprios e jurídicos fundamentos". Diante de tudo que foi exposto, voto no sentido de negar provimento ao Recurso da Contribuinte. É como penso é como voto. (assinado digitalmente) Demes Brito Fl. 4247DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.730393/2011-36
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jun 08 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Jul 06 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2008
COMPENSAÇÃO INDEVIDA DO IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE.
Considerando que a percepção do rendimento tributável e a conseqüente retenção do imposto de renda na fonte ocorreram no ano-calendário de 2004 e que a legislação pertinente determina que a tributação deve se dar no momento da percepção do rendimento, indevida é a compensação, na declaração de ajuste do ano-calendário de 2008, do imposto de renda na fonte relativo a tais rendimentos.
Numero da decisão: 2201-003.703
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Carlos Henrique de Oliveira - Presidente.
(assinado digitalmente)
Ana Cecília Lustosa da Cruz - Relatora.
EDITADO EM: 27/06/2017
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim.
Nome do relator: ANA CECILIA LUSTOSA DA CRUZ
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 2008 COMPENSAÇÃO INDEVIDA DO IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. Considerando que a percepção do rendimento tributável e a conseqüente retenção do imposto de renda na fonte ocorreram no ano-calendário de 2004 e que a legislação pertinente determina que a tributação deve se dar no momento da percepção do rendimento, indevida é a compensação, na declaração de ajuste do ano-calendário de 2008, do imposto de renda na fonte relativo a tais rendimentos.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Carlos Henrique de Oliveira - Presidente. (assinado digitalmente) Ana Cecília Lustosa da Cruz - Relatora. EDITADO EM: 27/06/2017 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim.
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Considerando que a percepção do rendimento tributável e a conseqüente retenção do imposto de renda na fonte ocorreram no anocalendário de 2004 e que a legislação pertinente determina que a tributação deve se dar no momento da percepção do rendimento, indevida é a compensação, na declaração de ajuste do anocalendário de 2008, do imposto de renda na fonte relativo a tais rendimentos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Carlos Henrique de Oliveira Presidente. (assinado digitalmente) Ana Cecília Lustosa da Cruz Relatora. EDITADO EM: 27/06/2017 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 73 03 93 /2 01 1- 36 Fl. 148DF CARF MF 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário contra decisão primeira instância que julgou procedente em parte a impugnação apresentada pelo sujeito passivo. Nesta oportunidade, utilizome trechos do relatório produzido em assentada anterior, eis que aborda de maneira elucidativa os fatos objeto dos presentes autos, nos termos seguintes: Contra o contribuinte em epígrafe foi emitida a Notificação de Lançamento de fls. 07/10, que exige crédito tributário referente ao anocalendário de 2008, no montante de R$ 53.246,69, sendo R$ 38.863,37, a título de imposto de renda pessoa física (sujeito à multa de mora), R$ 7.772,67, de multa de mora, e R$ 6.610,65, de juros de mora, calculados até 28/02/2011. Conforme Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal (fls. 08), o procedimento resultou na apuração da seguinte infração: Compensação Indevida de Imposto de Renda Retido na Fonte Da análise das informações e documentos apresentados pelo contribuinte, e as informações constantes dos sistemas da Secretaria da Receita Federal do Brasil, constatouse a compensação indevida de Imposto de Renda Retido na Fonte, no valor de R$ 48.802,89, incidente sobre o rendimento declarado como recebido da fonte pagadora Banco Santander Brasil S/A (baixada), CNPJ nº 61.472.676/000172. “Em atendimento ao termo de intimação nº 2009/984020090997873, o contribuinte apresenta doctos relativos a à ação judicial do TRT 2ª Região Fiscal. Entretanto, o conjunto de doctos apresentados referese a resgate efetuado em 2004, não se tratando de valores relativos ao anocalendário desta declaração. Outrossim, o contribuinte não apresentou quaisquer documentos solicitados na citada intimação, tais como o comprovante de todos os rendimentos recebidos no ano calendário. Assim, da análise dos documentos apresentados, constatouse a compensação indevida do imposto de renda retido na fonte de R$ 48.802,89.” Inconformado, o interessado apresentou, em 11/07/2011, a impugnação de fls. 02/06, por meio da qual alega, em síntese, o que segue: 1. “esclarece a esta conceituada instituição que em 2.008 não tive nenhum rendimento tributável, o valor declarado pelo contador referese a 2004, sendo que o imposto referente ao valor recebido naquele exercício é de R$ 9.939,52 (nove mil, novecentos e trinta e nove reais e cinquenta e dois centavos), e fora repassado em 2005 pelo DARF datado em 20/01/2005 pelo Banco do Brasil, agência do Poder Judiciário – Vara do Trabalho de São Paulo – Barra Funda (doc. 1a).”; Fl. 149DF CARF MF Processo nº 10880.730393/201136 Acórdão n.º 2201003.703 S2C2T1 Fl. 3 3 2. o impugnante promoveu reclamação trabalhista em face do Banco Santander Noroeste S/A, pleiteando verbas trabalhistas lesadas durante o seu contrato de trabalho, que tramita perante a 34ª Vara do Trabalho de São Paulo, sob o nº 2193/96; 3. em 14/12/99, foram homologados os cálculos no montante de R$120.342,97 e diferido o imposto de renda no valor de R$30.109,76; 4. em 06/10/2004, 17/12/2004 e 21/12/2004, o impugnante levantou as respectivas importâncias de R$ 123.865,91, R$ 22.756,92 e R$14.984,71, e, em 20/01/2005, o banco reclamado repassou o valor referente o imposto de renda, cuja importância corrigida fora de R$ 45.988,57; 5. o litígio continua até o presente momento (05/2011), com a discussão dos juros de mora, referentes à diferença do valor pelo Banco do Brasil enquanto o dinheiro permanceu sobre sua posse em relação aos juros praticados na Justiça do trabalho, nos termos da Súmula 7ª do TRT da 2ª Região, que situase em 1% ao mês; 6. o impugnante fez a sua Declaração de Imposto de Renda do anocalendário 2008 para evitar prescrição, já que aguardava a finalização do processo para declarar todos os valores recebidos em decorrência da referida reclamação trabalhista; 7. o valor declarado no exercício 2009, anocalendário de 2008 está equivocado pois referese ao exercício de 2005, data em que o impugnante teve a posse do dinheiro, conforme comprovado pela saída constante dos extratos do Banco do Brasil; 8. de acordo com a inclusa guia DARF e a certidão de objeto e pé, o imposto de renda na fonte, no valor de R$ 45.988,57 foi devidamente quitado em janeiro de 2005, não procedendo, portanto, a sua cobrança, razão pela qual requer a extinção da exigibilidade do débito fiscal reclamado, nos termos do art. 156, I, do Código Tributário Nacional; 9. ante o exposto, a Declaração de Imposto de Renda do ano base de 2005 deve ser retificada, devendo ser restituída ao impugnante a importância de R$ 12.921,37, devidamente corrigida desde a data de repasse aos cofres da União, em 05/2005, acrescidos de juros na forma da lei; 10. ressaltese que, em 2008, o impugnante não teve rendimento e, portanto, deve ser cancelada a declaração de imposto de renda referente ao exercício de 2008. Visando instruir o presente processo, foram juntados os documentos de fls. 90/101. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo (SP) julgou procedente em parte a impugnação, conforme a seguinte ementa: Fl. 150DF CARF MF 4 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2008 COMPENSAÇÃO INDEVIDA DE IRRF. Considerando que a percepção do rendimento tributável e a consequente retenção do imposto de renda na fonte ocorreram no anocalendário de 2004 e que a legislação pertinente determina que a tributação deve se dar no momento da percepção do rendimento, indevida é a compensação, na declaração de ajuste do anocalendário de 2008, do imposto de renda na fonte relativo a tais rendimentos. Em contrapartida, cabe excluir do montante tributável os rendimentos que ensejaram a mencionada retenção na fonte. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Exonerado Posteriormente, foi interposto recurso voluntário, no qual o contribuinte reiterou os argumentos aduzidos em sede de impugnação e sustentou, em síntese, que: a) no ano de 2004, o recorrente auferiu a quantia de R$ 108.865,91 a título de Rendimentos Tributáveis, sendo que houve a retenção do valor de R$ 45.988,57 de IRPF pelo Banco Santander, como já comprovada e devidamente reconhecida pela DRJ. Assim, considerando que o imposto devido perfazia a quantia de R$ 22.276,22, foi gerado o valor a restituir de R$ 23.712,35; b) o valor nunca foi restituído, em razão do equívoco cometido pelo Banco Santander no preenchimento do DARF, o que levou a Receita Federal a não identificação do IRPF pago; c) de acordo com o DARF anexo, o imposto de renda no valor de R$ 45.988,57 foi quitado em janeiro de 2005, devendo a declaração do anobase de 2005 ser retificada; d) a fim de evitar a prescrição do direito de restituição, o recorrente novamente declarou os rendimentos e o IRPF retido na DIRPF relativo ao anocalendário de 2008, na qual foi gerado o valor de R$ 9.939,52. É o relatório. Voto Conselheira Ana Cecília Lustosa da Cruz Conheço do recurso, pois se encontra tempestivo e com condições de admissibilidade. Fl. 151DF CARF MF Processo nº 10880.730393/201136 Acórdão n.º 2201003.703 S2C2T1 Fl. 4 5 Conforme narrado, o presente lançamento tratase de glosa de compensação do Imposto de Renda retido na Fonte, no valor de R$ 48.802,89 incidente sobre o rendimento declarado como recebido da fonte pagadora Banco Santander Brasil S/A, no anocalendário de 2008. A fiscalização apurou, a partir dos documentos apresentados pelo contribuinte durante a ação fiscal, que os rendimentos que ensejaram a retenção do imposto de renda na fonte, em discussão, decorreram de ação judicial trabalhista, tendo sido recebidos no anocalendário de 2004. Assim, não poderiam integrar a declaração relativa ao anocalendário de 2008. A Delegacia de origem considerou correta a glosa da dedução do imposto de renda retido na fonte pleiteada indevidamente da DIFPF do anocalendário de 2008. Em contrapartida dispôs que deveriam ser excluídos do montante tributável os rendimentos que ensejaram a mencionada retenção na fonte (tabela fls. 107 e 108). Ao final, concluiu a Delegacia da seguinte forma: À vista do exposto, voto no sentido de considerar procedente em parte a impugnação que ora se analisa, exonerando integralmente o crédito tributário exigido na notificação de lançamento de fls. 07/10. Cabe destacar, como bem asseverou a decisão recorrida, que, na hipótese de rendimentos auferidos em decorrência de ação judicial, os rendimentos percebidos e o correspondente imposto de renda retido na fonte devem integrar a Declaração de Ajuste Anual relativa ao anocalendário em que se deu o levantamento do depósito judicial. No presente caso, o recorrente pugna pela retificação da declaração de IRPF de 2005, a fim de obter a restituição pleiteada. Ocorre que o objeto dos presentes autos é a glosa da compensação efetuada em com base na Declaração referente ao anocalendário de 2008. Não há substrato legal que ampare o pleito do recorrente, pois não se vislumbra a possibilidade de utilização da declaração de anocalendário distinto para retificação de declaração anterior. Diante do exposto, voto no sentido de conhecer do recurso voluntário e, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Ana Cecília Lustosa da Cruz Relatora Fl. 152DF CARF MF 6 Fl. 153DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12466.000790/2007-10
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon May 22 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Jun 02 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Classificação de Mercadorias
Data do fato gerador: 21/03/2007
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DESCRIÇÃO DETALHADA DA MERCADORIA INSUFICIENTE PARA DEFINIÇÃO DO CORRETO TRATAMENTO ADUANEIRO E TARIFÁRIO. INDEFERIMENTO.
Deve ser indeferido o pedido de restituição do imposto de importação para Declaração de Importação (DI) na qual a mercadoria não esteja corretamente descrita, com todos os elementos suficientes à definição do correto tratamento aduaneiro e tarifário pleiteado.
CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS. SISTEMA HAMONIZADO. ACORDO INTERNACIONAL. ATIVIDADE JURÍDICA QUE NÃO SE CONFUNDE COM PERÍCIA.
A classificação de mercadorias é atividade jurídica, calcada nas Regras constantes do Sistema Harmonizado, fruto de acordo regularmente incorporado ao ordenamento jurídico nacional, com estatura de paridade com alei ordinária brasileira, e não se confunde com a perícia. O perito, técnico em determinada área (química, mecânica, elétrica etc.) informa, se necessário, quais são as características e a composição da mercadoria, especificando-a, e o especialista em classificação (conhecedor das regras do SH e de outras normas complementares), então, classifica a mercadoria, seguindo tais disposições normativas.
CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS. NOME COMERCIAL. "NPEL 128". DESNECESSIDADE DE PERÍCIA.
Tendo o produto a ser classificado nome comercial que o individualize tecnicamente (no caso, "NPEL 128"), desnecessária a demanda por perícia, diante da existência de fichas técnicas sobre a mercadoria, especificando suas características.
Numero da decisão: 3401-003.774
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário apresentado. A Conselheira Larissa Nunes Girard atuou em substituição ao Conselheiro Robson José Bayerl, ausente justificadamente.
ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, Fenelon Moscoso de Almeida, André Henrique Lemos, Tiago Guerra Machado e Renato Vieira de Ávila.
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS Data do fato gerador: 21/03/2007 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DESCRIÇÃO DETALHADA DA MERCADORIA INSUFICIENTE PARA DEFINIÇÃO DO CORRETO TRATAMENTO ADUANEIRO E TARIFÁRIO. INDEFERIMENTO. Deve ser indeferido o pedido de restituição do imposto de importação para Declaração de Importação (DI) na qual a mercadoria não esteja corretamente descrita, com todos os elementos suficientes à definição do correto tratamento aduaneiro e tarifário pleiteado. CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS. SISTEMA HAMONIZADO. ACORDO INTERNACIONAL. ATIVIDADE JURÍDICA QUE NÃO SE CONFUNDE COM PERÍCIA. A classificação de mercadorias é atividade jurídica, calcada nas Regras constantes do Sistema Harmonizado, fruto de acordo regularmente incorporado ao ordenamento jurídico nacional, com estatura de paridade com alei ordinária brasileira, e não se confunde com a perícia. O perito, técnico em determinada área (química, mecânica, elétrica etc.) informa, se necessário, quais são as características e a composição da mercadoria, especificandoa, e o especialista em classificação (conhecedor das regras do SH e de outras normas complementares), então, classifica a mercadoria, seguindo tais disposições normativas. CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS. NOME COMERCIAL. "NPEL 128". DESNECESSIDADE DE PERÍCIA. Tendo o produto a ser classificado nome comercial que o individualize tecnicamente (no caso, "NPEL 128"), desnecessária a demanda por perícia, diante da existência de fichas técnicas sobre a mercadoria, especificando suas características. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 46 6. 00 07 90 /2 00 7- 10 Fl. 798DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário apresentado. A Conselheira Larissa Nunes Girard atuou em substituição ao Conselheiro Robson José Bayerl, ausente justificadamente. ROSALDO TREVISAN – Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, Fenelon Moscoso de Almeida, André Henrique Lemos, Tiago Guerra Machado e Renato Vieira de Ávila. Relatório Versa o presente sobre Pedidos de Reconhecimento de Crédito decorrentes de Retificação de Declaração de Importação (DI) desembaraçada, alegandose que o pagamento indevido decorre de amparo na Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291, de 29/09/2006. Constam, no processo, pedidos de retificação pósdesembaraço, alterando a classificação da mercadoria importada, “NPEL 128 – Resina Epóxida sem carga inorgânica, na forma líquida ou sólida”, do código NCM 3907.30.28 para o código NCM 2910.90.90, em relação às seguintes DI:1 DI n. Data de registro Data de desembaraço Canal de Conferência Valor do pedido Fls. 05/05907105 07/06/2005 08/06/2005 verde R$ 55.276,99 54 a 61 05/06962002 04/07/2005 05/07/2005 verde R$ 54.868,48 3 a 11 05/07304327 12/07/2005 13/07/2005 verde R$ 57.289,95 29 a 36 05/07948011 27/07/2005 28/07/2005 verde R$ 44.060,33 152 a 159 05/08748857 16/08/2005 23/08/2005 verde R$ 57.470,89 177 a 184 05/08748873 16/08/2005 23/08/2005 verde R$ 27.729,88 202 a 209 05/09944684 15/09/2005 16/09/2005 verde R$ 51.625,36 230 a 236 05/10639849 03/10/2005 05/10/2005 verde R$ 25.026,43 103 a 110 1 Todos os números de folhas indicados nesta decisão são baseados na numeração eletrônica da versão digital do processo (eprocessos). Fl. 799DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 799 3 05/11832251 01/11/2005 04/11/2005 verde R$ 38.459,75 128 a 134 06/00422610 11/01/2006 12/01/2006 verde R$ 50.048,67 79 a 85 As telas referentes às retificações, solicitadas pela empresa em 21/03/2007, mas efetuadas (com alteração de ofício da NCM 3907.30.28 para 3907.30.29) pela fiscalização, em 14/12/2007, encontramse às fls. 373 a 399. Na análise do pedido de restituição, a unidade local demandou revisão aduaneira das referidas DI (fls. 346/347), em 16/07/2010. Anexase ainda aos autos a Solução de Divergência no 17, de 24/10/2007, proferida pela CoordenaçãoGeral de Administração Aduaneira (COANA), que reforma a Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006 (fls. 348 a 352), entendendo como correta a classificação do produto de nome comercial “NPEL 128” no código NCM 3907.30.29 (fls. 355 a 358). Figuram, também, no processo, notícias da existência de ação judicial buscando o afastamento da Solução de Divergência COANA no 17/2007, (fl. 400 a 403), manifestação da unidade local da RFB sobre os efeitos da referida ação (fls. 404 a 409, e 413 a 416 – no sentido da não aplicação da Solução de Divergência COANA), e cópias de peças judiciais referentes ao Agravo de Instrumento no 2008.01.00.0706389, no Mandado de Segurança no 2008.34.00.0029650 (fls. 417 a 433). No Agravo, foi autorizada a suspensão dos efeitos da Solução de Divergência COANA no 17/2007, mediante depósito judicial da diferença de tributos. Em 28/06/2011, a autoridade local da RFB, tendo em vista que o indeferimento das retificações deuse em virtude da Solução de Divergência COANA no 17/2007, determinou que se aguardasse a decisão final no processo judicial (fls. 410 a 412). No parecer conclusivo de fls. 436 a 440, narra a fiscalização que: (a) na Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006 a empresa informa que a mercadoria objeto da consulta seria o composto epóxi fenólico NPEL 134 e NPEL 128, matériaprima para fabricação de resina epóxida, enquanto nas DI declara que a mercadoria importada seria resina epóxida NPEL 134 e NPEL 138; (b) a COANA expressamente reformou a Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006, em 24/10/2007, estabelecendo que o composto epóxi fenólico NPEL 128 classificase no código NCM 3907.30.29; (c) diante da reforma, a empresa foi cientificada sobre a improcedência da retificação, diante da divergência na descrição, e da impossibilidade de laudo técnico, em função de já estarem as mercadorias fora do recinto alfandegado; (d) que a empresa reconhece que existe a resina epóxida NPEL 128, mas que não a importa, mas sim a matériaprima composto epóxi fenólico NPEL 128; (e) a empresa impetrou o Mandado de Segurança no 2008.34.00.0029650 buscando fosse declarada a nulidade da Solução de Divergência COANA no 17/2007, mantendose os efeitos da Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006, sendo a sentença pela improcedência do pedido, havendo, no Agravo de Instrumento no 2008.01.00.0706389 sido autorizada a suspensão dos efeitos da Solução de Divergência COANA no 17/2007, mediante depósito judicial da diferença de tributos; (f) embora a empresa pleiteie a nulidade da referida solução de consulta, suas declarações de importação versam sobre resina epóxida NPEL 128, e não sobre a mercadoria objeto da consulta, como atesta o próprio exportador (NAN YA PLASTIC CORP); e (g) a empresa não se desincumbe do ônus de provar que as mercadorias declaradas pelo importador e pelo exportador na declaração de importação (e em outras 48 DI) como “resina epóxida NPEL 128” em verdade se tratavam de “composto epóxi fenólico NPEL 128”. Com Fl. 800DF CARF MF 4 fundamento em tal informação, o pedido de restituição é indeferido pelo Despacho Decisório de fl. 446, datado de 11/04/2013. Ciente do despacho em 02/12/2013 (fl. 446), a empresa apresenta, em 30/12/2013, a Manifestação de Inconformidade de fls. 448 a 465, sustentando, basicamente, que: (a) importa “composto epóxi fenólico NPEL 128”, utilizado como matériaprima para fabricação de resina epóxi, e o classifica no código NCM 29.10.90.90, recolhendo o imposto de importação á alíquota de 2%; (b) a classificação foi confirmada na Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006; (c) a empresa demandou retificação da DI, alterando o código NCM de 3907.30.29 para 29.10.90.90, mas a autoridade fiscal manteve equivocadamente o código NCM 3907.30.29 (ao invés de declarado com ressalvas 3907.30.28), indeferindo a retificação; (d) a Solução de Divergência COANA no 17/2007 não se aplica às mercadorias importadas; (e) houve alteração de critério jurídico pela fiscalização, visto que no período compreendido entre janeiro de 2005 até a publicação da Solução de Divergência COANA no 17/2007, a ALF/Vitória sempre confirmou a classificação adotada pela empresa (no código NCM 29.10.90.90); e (f) após a Solução de Divergência COANA no 17/2007, a fiscalização, ainda não convicta sobre o tema, solicitou novo laudo da mercadoria importada, havendo resposta no sentido de que não se tratava de resida epóxida, mas de composto. A decisão de primeira instância, proferida em 25/02/2015 (fls. 638 a 645) é, unanimemente, pela improcedência da manifestação de inconformidade, e pela negativa de diligência, pelos seguintes fundamentos: (a) a solução de consulta formulada pelo sujeito passivo revela o pronunciamento formal da Administração sobre a classificação de mercadorias suscitada pelo consulente; (b) o pedido de retificação foi indeferido, tendo em vista a impossibilidade de se verificar a identidade do produto importado com o produto objeto da consulta, e, como não foi acatada a retificação, não gerando diferença de alíquotas de tributos, não foi reconhecido crédito devido à requerente; (c) tem razão a requerente quando alega que a Solução de Divergência não poderia retroagir e que ela teria direito em utilizar a classificação fiscal definida na Solução de Consulta exarada em 2006 até a publicação ou ciência da Solução de Divergência, mas a solução de consulta aponta a classificação fiscal para um determinado produto que deve ser o mesmo que a importadora pretende reclassificar, e que foi justamente pela falta deste elemento fundamental (identificação da mercadoria) que a autoridade fiscal indeferiu o pedido de retificação das DI, pois não havia segurança em reconhecer que se tratavam do mesmo produto; (d) a defesa afirma que os produtos analisados pelas soluções de consulta e de divergência são distintos: no primeiro é sólido e no segundo líquido, mas tal informação é desprovida de veracidade, como se verifica da leitura de ambas as consultas, onde se descreve o produto como sendo “líquido viscoso”; e (e) na impossibilidade de verificar o produto, já que as mercadorias já haviam sido desembaraçadas, prevalecem as informações prestadas nas declarações. Após ciência da decisão da DRJ, em 11/03/2015 (termo de fl. 650), a empresa apresenta o Recurso Voluntário de fls. 652 a 670, em 09/04/2015 (fl. 773), alegando reiterar os argumentos expressos na manifestação de inconformidade (de que é inaplicável ao caso a Solução de Divergência COANA no 17/2007, porque a empresa importa “composto epóxi fenólico NPEL 128”, utilizado como matériaprima para fabricação de resina epóxi, e não “resina epóxi”, como comprovam os laudos técnicos juntados aos autos, e de que após a Solução de Divergência COANA no 17/2007, a fiscalização, ainda não convicta sobre o tema, solicitou novo laudo da mercadoria importada, havendo resposta no sentido de que não se tratava de resida epóxida, mas de composto), e agregando que: (a) as DI em análise foram desembaraçadas antes da Solução de Divergência COANA no 17, de 26/10/2007; (b) deve ser considerado o declarado no campo observações complementares da DI, no sentido de que a classificação correta é no código NCM 2910.90.90; (c) houve alteração de critério jurídico utilizado para a classificação fiscal, e a homologação do lançamento se deu com o Fl. 801DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 800 5 desembaraço aduaneiro das DI e com a concordância da classificação fiscal adotada pela recorrente; e (d) em nome da verdade material, deve ser demandada diligência, para análise dos laudos elaborados. Às fls. 777 a 797 são apresentadas cópias de peças judiciais (mandado de segurança e petição) nas quais se percebe que o juízo deferiu liminar para que se desse andamento, no prazo de quinze dias, a 19 processos administrativos, no CARF, entre os quais o presente. Em 30/03/2017, o processo foi a mim sorteado, para inclusão em pauta. Ao final de abril, fui informado, por email, pela assessoria jurídica do CARF, de que haveria decisão judicial determinando o julgamento imediato do processo, pelo que o incluí na primeira pauta subsequente. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan, relator O recurso voluntário apresentado atende os requisitos formais de admissibilidade e, portanto, dele se toma conhecimento. O cerne da questão tratada no presente processo é o cabimento da restituição pleiteada pela empresa, em função de reclassificação por ela efetuada (e não aceita pelo fisco) posteriormente ao desembaraço. Das considerações iniciais Cabe, de início, endossar as considerações da DRJ sobre a irretroatividade da Solução de Divergência. Aliás, tal irretroatividade é expressa no comando legal que rege a matéria – Lei no 9.430/1996 o esclarece, em seus artigos 48 e 50: Art. 48. No âmbito da Secretaria da Receita Federal, os processos administrativos de consulta serão solucionados em instância única. (...) § 11. A solução da divergência acarretará, em qualquer hipótese, a edição de ato específico, uniformizando o entendimento, com imediata ciência ao destinatário da solução reformada, aplicandose seus efeitos a partir da data da ciência. § 12. Se, após a resposta à consulta, a administração alterar o entendimento nela expresso, a nova orientação atingirá, apenas, os fatos geradores que ocorram após dado ciência ao consulente ou após a sua publicação pela imprensa oficial. Fl. 802DF CARF MF 6 (...) Art. 50. Aplicamse aos processos de consulta relativos à classificação de mercadorias as disposições dos arts. 46 a 53 do Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972 e do art. 48 desta Lei. § 1o O órgão de que trata o inciso I do § 1o do art. 48 poderá alterar ou reformar, de ofício, as decisões proferidas nos processos relativos à classificação de mercadorias. § 2o Da alteração ou reforma mencionada no parágrafo anterior, deverá ser dada ciência ao consulente. § 3o Em relação aos atos praticados até a data da ciência ao consulente, nos casos de que trata o § 1o deste artigo, aplicamse as conclusões da decisão proferida pelo órgão regional da Secretaria da Receita Federal. (...)” (grifos nossos) Assim não há que se falar em retroação dos efeitos da Solução de Divergência COANA no 17, de 26/10/2007, às dez DI de que trata o presente processo, registradas em 2005 e no início de 2006, quando sequer existia a Solução de Consulta no 291, de 29/09/2006. Nem um nem outro posicionamento oficial da Administração pode afetar declarações de importação registradas antes de sua existência. Mas basta a leitura do parecer que ampara o despacho decisório para que se saiba que o indeferimento do pedido de restituição não se deve simplesmente à aplicação retroativa da Solução de Divergência COANA no 17/2007, mas ao fato de a empresa não se desincumbir do ônus de provar que as mercadorias declaradas pelo importador e pelo exportador na declaração de importação como “resina epóxida NPEL 128” em verdade se tratavam de “composto epóxi fenólico NPEL 128”. A recorrente afirma, em sua defesa, que a mercadoria importada efetivamente não corresponde àquela constante na Solução de Divergência COANA no 17/2007, porque a empresa importa “composto epóxi fenólico NPEL 128”, utilizado como matériaprima para fabricação de resina epóxi, e não “resina epóxi”. Para avaliar a afirmação, há que se estar certo sobre haver identidade entre a mercadoria importada e aquela presente na Solução de Consulta e na Solução de Divergência. Da mercadoria efetivamente importada Nas dez declarações de importação, as mercadorias foram classificadas no código NCM 3907.30.28, e declaradas, no campo “descrição detalhada da mercadoria”, como sendo “NPEL128 Resina Epóxida, sem carga inorgânica, na forma líquida ou sólida”: Também em todas as dez DI em análise, a empresa fez constar no campo inicial livre da DI, destinado a informações complementares, a seguinte mensagem, entre outras – “Estamos efetuando o registro da presente declaração de importação utilizando a NCM 3907.30.28, no entanto, discordamos de tal NCM, onde acreditamos que a NCM correta seja a 2910.90.90” (sic): Fl. 803DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 801 7 Nas DI no 05/08748857, no 05/08748873, no 05/09944684, no 05/1063984 9, no 05/11832251 e no 06/00422610, figurou ainda mensagem adicional dando conta de que a empresa havia efetuado consulta sobre a classificação da mercadoria: Recordese, por fim, que todas as dez DI foram registradas em 2005 e no início de 2006, antes tanto da Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006, quanto da Solução de Divergência COANA no 17/2007. Não parece que a Administração tinha, à época do registro das DI, fixado critério jurídico, como deseja a recorrente, de que a classificação da mercadoria por ela importada era no código NCM 2910.90.90. Aliás, se houvesse sido fixado tal critério não faria sentido algum a empresa, em todas as DI, classificar em código NCM diverso a mercadoria (3907.30.28), manifestando sua relutância em um campo livre, não sujeito a crítica pelo sistema, e sequer avaliado pela fiscalização, nos casos aqui citados, todos desembaraçados automaticamente em canal verde (e, portanto, sem verificação da mercadoria ou dos documentos pela autoridade aduaneira). Os pedidos de retificação, alterando a classificação do código NCM 3907.30.28 para o código NCM 2910.90.90, mantendo intacta a descrição detalhada da mercadoria, aqui já transcrita, foram apresentados em 2007, após o desembaraço, não estando mais a mercadoria em recinto alfandegado, e possuem como fundamento a Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006, na qual sequer houve análise da mercadoria, como se percebe nitidamente na leitura das conclusões ali externadas (fl. 352): Importante ainda informar qual a mercadoria submetida à referida Solução de Consulta (fl. 348): Fl. 804DF CARF MF 8 Vejase que tal mercadoria não corresponde àquela detalhadamente descrita nas dez DI em análise (“NPEL128 Resina Epóxida, sem carga inorgânica, na forma líquida ou sólida”). Alega a empresa, cerca de dois anos após o desembaraço, então, que a mercadoria a respeito da qual efetuou a consulta corresponde à que foi importada, apesar de esta ter sido descrita como resina epóxida. E enfatiza que nunca importou “resina epóxida” apesar de ser exatamente esse o produto que descreve em 100% das DI analisadas. Daí concluir acertadamente a unidade local da RFB que a empresa não se desincumbiu do ônus probatório inerente aos processos de restituição, a cargo do postulante (fl. 440): Ademais, no relatório da Solução de Consulta são mencionados diversos laudos, de períodos e declarações distintos, mas com o mesmo nome comercial de “NPEL 128”, um deles (FUCAMP) concluindo que a mercadoria era “resina epóxida, sem carga inorgânica, na forma líquida”, outro (IPT), que era uma “resina epóxi”, e outros (Maria C. H. Tcharbadjian e USP) que era “composto epóxi fenólico”. Não tendo sido possível ao laboratório da Aduana (LABOR) analisar a mercadoria, a classificação foi feita com base nas informações prestadas pelo consulente, como assevera a conclusão da aqui já transcrita Solução de Consulta (sintética, por sequer trafegar pelos textos das posições e notas do Sistema Harmonizado). Apesar de não ter sido analisada efetivamente a mercadoria, o relatório da Solução de Consulta é suficiente para que perceba que havia diferentes entendimentos a respeito do que seria o produto de nome comercial “NPEL 128”. Poderia ser o produto de nome comercial “NPEL 128” uma “resina epóxida, sem carga inorgânica, na forma líquida” (exatamente como a recorrente declarou na DI, agregando a expressão “ou sólida”) ou um “composto epóxi fenólico” (como a própria recorrente defende que era o produto que importava). Fl. 805DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 802 9 É nesse sentido que busca a Solução de Divergência COANA no 17/2007, com base na própria ficha técnica do produto de nome comercial “NPEL 128”, sua definição, obtendo o seguinte resultado: A nosso ver, então, pouco resta a eventual laudo técnico, sendo fácil classificar o produto a partir das próprias informações sobre sua composição, fornecidas na ficha técnica. E foi exatamente o que fez a Solução de Divergência COANA no 17/2007, que, indubitavelmente, trata do mesmo produto “NPEL 128”, agora sim percorrendo detidamente as Regas do Sistema Harmonizado. Aliás, se não tratasse de tal produto a divergência sequer faria sentido que ela reformasse a Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291/2006. Vejase, para afastar qualquer dúvida, de qual produto do qual trata a solução de divergência (fl. 356): Assim, pouco importa que a empresa, ao alterar a classificação, tenha eventualmente esquecido de alterar também a descrição detalhada da mercadoria de “resina epóxida, sem carga inorgânica, na forma líquida ou sólida” para “composto epóxi fenólico”. Isso porque o produto tem nome comercial conhecido, que permite, tecnicamente, sua categorização (“NPEL 128”). A prestação de informação incorreta na descrição da mercadoria tem como consequência, aqui, apenas o afastamento da discussão sobre esta conter todos os elementos necessários ao correto tratamento aduaneiro e enquadramento tarifário pleiteado, visto que o presente processo não trata de multa por erro na descrição da mercadoria. Entendemos, sabendo do que se trata o “NPEL 128”, ser possível a classificação da mercadoria, segundo as regras do Sistema Harmonizado, acordo internacional do qual o Brasil é signatário, tendo sido regularmente incorporado seu texto ao ordenamento jurídico nacional, o que confere ao tratado a estatura de paridade com a lei ordinária brasileira, como entende o STF (v.g., ADIN no 1.480/DF). Inócua, assim, a realização de diligências, pois se sabe a própria composição da mercadoria, em grau suficiente para se ter certeza sobre sua classificação no Sistema Harmonizado, qualquer que seja sua descrição detalhada na DI. É importante destacar ainda que nem a DRJ nem a fiscalização defenderam a aplicação retroativa da Solução de Divergência, mas simplesmente a impossibilidade de vinculação da mercadoria declarada nas onze DI àquela que havia sido objeto da Solução de Consulta. Fl. 806DF CARF MF 10 Da classificação de mercadorias A classificação de mercadorias se presta primordialmente à uniformização internacional. De nada adiantaria, por exemplo, pactuar alíquotas sobre o imposto de importação internacionalmente, se não fosse possível designar sobre quais produtos recai o acordo. A "Babel" de idiomas sempre foi um fator de dificuldade para o controle tributário e aduaneiro, e também para a elaboração de estatísticas de comércio internacional, e é agravada pelas diversas denominações que uma mercadoria pode ter mesmo dentro de um mesmo idioma (v.g., no Brasil, a tangerina, também denominada de mexerica, bergamota ou mimosa, entre outros). Embora haja registro de iniciativas no século XIX, na Europa, de confecção de listas alfabéticas de mercadorias, é em 29/12/1913, em Bruxelas, na segunda Conferência Internacional sobre Estatísticas Comerciais, que 29 países chegam à primeira nomenclatura de real importância, dividindo o universo de mercadorias em 186 posições, agrupadas em cinco capítulos: animais vivos, alimentos e bebidas, matériaprima ou simplesmente preparada, produtos manufaturados, e ouro e prata. Depois de diversas iniciativas, como a Nomenclatura de Genebra, da década de 30 do século passado, e a Nomenclatura Aduaneira de Bruxelas, de 1950, com o nome alterado, em 1974, para Nomenclatura do Conselho de Cooperação Aduaneira – NCCA, chegase à Convenção do “Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias" (SH), aprovada em 1983, e que entrou em vigor internacional em 1o de janeiro de 1988.2 A Convenção do SH é hoje aplicada em âmbito mundial, não só entre os 155 países signatários, mas em suas relações com terceiros. No Brasil, a referida convenção foi aprovada pelo Decreto Legislativo no 71, de 11/10/1988, e promulgada pelo Decreto no 97.409, de 23/12/1988, com depósito internacional do instrumento de ratificação em 08/11/1988. Desde 1o de janeiro de 1989, a convenção é plenamente aplicável no Brasil, tendo, segundo entendimento dominante em nossa suprema corte, "status" de paridade com a lei ordinária.3 O Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH) é uma nomenclatura estruturada sistematicamente buscando assegurar a classificação uniforme de todas as mercadorias (existentes ou que ainda existirão) no comércio internacional, e compreende seis Regras Gerais Interpretativas (RGI), Notas de Seção, de Capítulo e de Subposição, e 21 seções, totalizando 96 capítulos, com 1.244 posições, várias destas divididas em subposições de 1 travessão (primeiro nível) ou dois (segundo nível), formando aproximadamente 5.000 grupos de mercadorias, identificados por um código de 6 dígitos, conhecido como Código SH.4 2 DALSTON, Cesar Olivier. Classificando Mercadorias: uma Abordagem Didática da Ciência da Classificação de Mercadorias. 2. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2014, p. 182187; BIZELLI, João dos Santos. Classificação fiscal de mercadorias. São Paulo: Aduaneiras, 2003, p. 14; e TREVISAN, Rosaldo. A revisão aduaneira de classificação de mercadorias na importação e a segurança jurídica: uma análise sistemática. In: BRANCO, Paulo Gonet; MEIRA, Liziane Angelotti; CORREIA NETO, Celso de Barros (coords.). Tributação e Direitos Fundamentais conforme a jurisprudência do STF e do STJ. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 358361. 3 Sobre a estatura de paridade dos tratados internacionais regularmente incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro com as leis, vejase a ADIn n. 1.480DF. 4 Além do constante estabelecimento de atualizações na nomenclatura, decorrentes de descobertas e aperfeiçoamentos de novos produtos, há publicações complementares que auxiliam no processo de designação e classificação de mercadorias, como as Notas Explicativas do Sistema Harmonizado NESH (expressando o posicionamento oficial do CCAOMA), o índice alfabético do Sistema Harmonizado e das Notas Explicativas, publicado pelo CCAOMA, os pareceres de classificação emitidos pelo Comitê do Sistema Harmonizado, criado pela convenção, e os atos normativos emitidos por autoridades nacionais a respeito de classificação de mercadorias. Fl. 807DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 803 11 Desde que não contrariem o estabelecido no SH, os países ou blocos regionais podem estabelecer complementos aos seis dígitos internacionalmente acordados, e utilizar a codificação inclusive para temas e tributos internos. A Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), que serve de base à aplicação da Tarifa Externa Comum (TEC), acrescenta aos seis dígitos formadores do código do Sistema Harmonizado mais dois, um referente ao item (sétimo dígito) e outro ao subitem (oitavo dígito). A inclusão de um par de dígitos efetuada na NCM demandou ainda a edição de Regras Gerais Complementares (RGC) às seis Regras Gerais do SH (para disciplinar a interpretação no que se refere a itens e subitens) e de Notas Complementares.5 Assim, se o Brasil, por exemplo, pactua internacionalmente as alíquotas máximas (no âmbito da Organização Mundial do Comércio OMC) ou a alíquota extrabloco (no âmbito do MERCOSUL) do imposto de importação para determinada classificação, tais pactos são aplicáveis ao que se entende internacionalmente abarcado por tal classificação. Não pode assim, o Brasil, dar a determinada expressão, utilizada na nomenclatura do SH, significado ou amplitude distinta da ali estabelecida, de modo a tornar não uniforme o termo, internacionalmente, sob pena de ser a medida, inclusive, interpretada como tratamento discriminatório no âmbito da OMC (Artigos I e III do GATT). É notório que a classificação de mercadorias é hoje tema complexo, que demanda atenção de especialistas na matéria. No entanto, não se pode confundir especialistas em classificação de mercadorias com especialistas em informar o que são determinadas mercadorias (em geral, peritos). O perito não tem a função de classificar mercadorias na nomenclatura. O perito químico, por exemplo, tem a função, entre outras, de, a partir da composição de determinada mercadoria, informar qual é seu nome técnico e quais são suas características. Esses aspectos são eminentemente técnicos. A classificação de mercadorias é atividade jurídica, a partir de informações técnicas. O perito, técnico em determinada área (mecânica, elétrica etc.) informa, se necessário, quais são as características e a composição da mercadoria, especificandoa, e o especialista em classificação (conhecedor das regras do SH e outras normas complementares), então, classifica a mercadoria, seguindo tais disposições normativas. Tais atividades não se confundem. No presente processo, já se sabe o nome técnico da mercadoria, e as características necessárias a sua classificação, e, por isso, é realmente inócua a diligência demandada pela empresa. Podese, então, classificar a mercadoria com fundamento nas Regras do Sistema Harmonizado à luz das informações prestadas nos próprios elementos já carreados aos autos. 5 Em 01/01/1995, tendo em vista o Tratado de Assunção, os entendimentos havidos no âmbito do Mercosul, e a publicação do Decreto n. 1.343, de 23/12/1994, a antiga Tarifa Aduaneira do Brasil (TAB), que utilizava dez dígitos (os seis do SH mais dois para itens e dois para subitens), deu lugar à Tarifa Externa Comum (TEC), uniformemente adotada por todos os membros do bloco. Tal evolução serviu de base à substituição, em 01/01/1997, após a publicação do Decreto n. 1.767, de 28/12/1995, da Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM) pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Fl. 808DF CARF MF 12 Cabe, no entanto, informar que a análise de classificação fiscal a ser empreendida por este colegiado administrativo, no curso do contencioso, no caso concreto, não se confunde com aquela que foi objeto de Solução de Consulta e de Solução de Divergência, aplicável, de forma geral, à empresa, o que é melhor esclarecido no tópico seguinte. Da relação do processo contencioso de classificação de mercadorias com o processo de consulta sobre classificação de mercadorias É um pressuposto do Sistema Harmonizado que para toda e qualquer mercadoria existente haja uma e tãosomente uma classificação correta na codificação de seis dígitos internacionalmente acordada (à qual, como exposto, foram agregados posteriormente, em 1995, dois dígitos, no âmbito do MERCOSUL). Na era da complexidade e da multifuncionalidade, contudo, nem sempre é fácil (aliás, quase sempre é difícil) identificar a correta classificação das mercadorias. Ainda mais porque a classificação envolve temas técnicos multidisciplinares, a serem apreciados à luz das Regras Gerais acordadas internacionalmente, e com auxílio de mecanismos gerenciados pela própria Convenção que disciplina o Sistema Harmonizado. O Sistema Harmonizado, como estabelece a própria convenção (Artigo 1o, “a”), compreende as posições (quatro primeiros dígitos) e subposições (quinto e sexto dígitos) e seus respectivos códigos numéricos, as Notas de Seção, de Capítulo e de Subposição, bem como as seis Regras Gerais para interpretação (Anexo da Convenção), permitindo desdobramentos regionais (como o efetuado no âmbito do MERCOSUL, com a inclusão de item e subitem/sétimo e oitavo dígitos, e de duas Regas Gerais Complementares). A convenção cria ainda um Comitê (Artigo 6o), composto por representantes dos Estados Partes, estando entre as funções do Comitê (Artigo 7o, “b”) “redigir as Notas Explicativas, Pareceres de Classificação e outros pareceres para interpretação do Sistema Harmonizado” e formular recomendações em caso de controvérsias entre Estados Partes sobre interpretação e aplicação da convenção (Art. 10, 2). Assim, são hoje instrumentos para interpretação e aplicação das Regras do Sistema Harmonizado, além do texto da própria Convenção (e suas emendas), as seguintes publicações complementares: (a) as Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH)6, expressando o posicionamento do Conselho de Cooperação Aduaneira/CCA (conhecido como Organização Mundial de Aduanas/OMA), o índice alfabético do SH, também publicado pela OMA; e os pareceres de classificação emitidos pelo Comitê do SH7. Ao lado destes atos internacionais há ainda manifestações no âmbito do MERCOSUL8 e atos normativos nacionais, como Instruções Normativas (IN) da RFB e Atos Declaratórios Interpretativos da RFB (ADI). Para que o comerciante, industrial ou importador classifique as mercadorias a serem transacionadas neste vasto universo, seja para fins tributários, de tratamento administrativo ou outro, ou ainda para simples finalidade estatística, é preciso um 6 A última versão traduzida para língua portuguesa das NESH foi aprovada pela Instrução Normativa no 1.260/2012. Segundo o art. 94, parágrafo único do atual Regulamento Aduaneiro (Decreto n. 6.759/2009), a interpretação do conteúdo das posições e desdobramentos da NCM será feita com observância das Regras Geria Interpretativas e Complementares, das Notas Complementares e, subsisiariamente, das NESH. 7 A IN RFB n. 1.459, de 28/03/2014 aprova o texto dos pareceres de classificação do Comitê do SH, e adota as decisões correspondentes. 8 A Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM) tem um Comitê Técnico (CT n. 1 "Tarifas, Nomenclatura e Classificação de Mercadorias") específico para o tratamento do tema. Fl. 809DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 804 13 conhecimento específico nem sempre disponível internamente nas empresas. E, como a classificação fiscal incorreta pode ocasionar, por exemplo, uma maior (ou menor) tributação, uma permissão (ou restrição, ou ainda vedação) à importação, ou mesmo a aplicação de penalidades, tornouse necessário o estabelecimento de um mecanismo pelo qual o órgão público nacional aplicador da convenção esclarecesse previamente aos comerciantes/industriais/importadores a correta classificação as mercadorias transacionadas, contribuindo para a segurança jurídica no comércio (nacional ou internacional). Antes mesmo da existência do Sistema Harmonizado, o processo de consulta sobre classificação de mercadorias já esteve9 inserido no próprio texto da norma que disciplina o processo administrativo de determinação e exigência de crédito tributário, Decreto no 70.235/1972 (arts. 46 a 58), que estabelecia processo em instância única (art. 54, III, “a”), a ser julgado pelo Coordenador do Sistema de Tributação. Já sob a égide do Sistema Harmonizado, a consulta sobre classificação de mercadorias ganha, no Brasil, disciplina legal e processo próprios, nos arts. 48 e 50 da Lei no 9.430/1996, aqui já citados, e que mantêm a apreciação em instância única, por órgão central (se a consulta for efetuada também por órgão central ou entidade representativa de âmbito nacional) ou regional da Secretaria da Receita Federal (hoje RFB). O texto do comando legal revela clara preocupação com a celeridade, com a eficiência, com a publicidade e com a segurança jurídica. E a disciplina da lei, em matéria de classificação de mercadorias, vem tanto nos Regulamentos Aduaneiros (Decreto no 4.543/2002 art. 701; e Decreto no 6.759/2009 – art. 790), como nas diversas (e sucessivas) Instruções Normativas da RFB sobre a matéria, sempre mantida a instância única, aliada à disciplina para recurso de divergência e da representação. Efetuei análise detalhada do tema em Declaração de Voto apresentada no Acórdão no 3403 003.186, de 20/08/2014, no qual também discuti os efeitos da consulta sobre o processo administrativo contencioso (naquele caso, referente a auto de infração, que adapto a este, que trata de pedido de restituição). Podese afirmar que a consulta sobre classificação de mercadorias se presta aparentemente a duas finalidades: (a) sanar dúvida do comerciante/industrial/importador sobre caso concreto, e (b) confirmar (ou não) o entendimento do comerciante/industrial/importador sobre a classificação empregada, protegendoo contra eventuais entendimentos diversos nas unidades fiscais da RFB. Há ainda uma terceira finalidade (relevante, mas pouco explorada), que seria a manutenção da livre concorrência (finalidade que não será tratada aqui por fugir ao escopo direto deste estudo).10 9 Em verdade, ainda está ali inserido, devendose, na aplicação dos artigos correspondentes, observar também os comandos legais posteriores, que prevalecem em caso de divergência com a disicplina estabelecida no Decreto n. 70.235/1972. 10 Se um comerciante/industrial/importador tem convicção da classificação adotada para determinado produto, mas tem ciência de que seus concorrentes utilizam outra classificação (às vezes, simplesmente para recolher menos tributos ou fugir a controles administrativos/aduaneiros), deveria existir um mecanismo tão ágil quanto a consulta para que, numa espécie de delação em prol da livre concorrência, o fisco pudesse garantir o recolhimento uniforme de tributos e o exercício uniforme dos controles apropriados. O próprio formulário eletrônico de consulta deveria permitir que a empresa revelasse (se soubesse) quais outras empresas comercializam/industrializam/importam o mesmo produto, e as respectivas classificações adotadas. Isso certamente contribuiria em proporção mais larga que a inicialmente imaginada pela IN para a uniformização da classificação de mercadorias no país. Fl. 810DF CARF MF 14 Contudo, ao analisar a legislação sobre a matéria, percebese que a primeira finalidade (sanar dúvida) é apenas aparente, pois no momento da consulta a empresa já deve indicar a classificação fiscal adotada e a pretendida, e os correspondentes critérios utilizados, (além de dados técnicos detalhados). Ademais, a consulta não se destina a mera prestação de assessoria jurídica ou contábilfiscal pela RFB. Retirase, assim, do cenário, a sedutora argumentação de que a consulta se presta a simplesmente ajudar o comerciante/industrial/importador a entender as Regras do Sistema Harmonizado ou a ensinálo como classificar as mercadorias que deseja transacionar. Concluise, então, que a real finalidade da consulta é confirmar (ou não) o entendimento do comerciante/industrial/importador sobre a classificação empregada, protegendoo contra eventuais entendimentos diversos nas unidades fiscais da RFB. E tal propósito é suficientemente nobre e homenageia a segurança jurídica, pois evita que a empresa, detentora de resposta oficial da RFB sobre qual é a classificação do produto transacionado seja surpreendida com entendimentos regionais, locais ou até individuais do fisco em sentido diverso. Abremse, assim, três possibilidades, em relação à consulta, partindose da premissa (para tornar mais completo o exemplo) de que a classificação adotada seja diferente da pretendida (e de que a empresa cumpra as demais regras necessárias à formulação da consulta, principalmente no que se refere à espontaneidade): (a) a resposta à consulta confirma a classificação adotada; (b) a resposta à consulta confirma a classificação pretendida; e (c) a resposta à consulta indica como correta uma terceira classificação. Em qualquer dos casos, durante o período da consulta (do protocolo até o 30o dia seguinte à ciência do resultado) não se pode iniciar qualquer procedimento fiscal relativamente à mercadoria consultada, e não são devidos acréscimos moratórios no caso de eventual pagamento. São os efeitos do próprio procedimento interno, independentemente do resultado da consulta. Sintetizando nosso raciocínio, também detalhado na Declaração de Voto formulada no Acórdão no 3403003.186, de 20/08/2014, temos que o atendimento ao resultado da solução de consulta/divergência impede a lavratura pela RFB de auto de infração em relação à matéria consultada. E o não atendimento ao resultado da solução de consulta, por sua vez, permite a lavratura da autuação, ou a negativa de restituição, que devem ser objeto de julgamento por rito absolutamente diverso daquele inerente ao processo de consulta, e com apreciação restrita à matéria objeto da autuação ou do pedido de restituição. No processo de consulta a solução dada pelo fisco se alastra no tempo, além do período que vai da consulta até a ciência do consulente. Não havendo disposição posterior (v.g. solução divergente, revogação de ofício ou ato normativo superveniente), os efeitos são eternos. E no processo de consulta sempre haverá a indicação da classificação correta, seja ela a adotada pelo consulente, a pretendida pelo consulente, ou outra. No processo de determinação e exigência de crédito tributário, referente a autuação ou a pedido de restituição, a solução dada restringese ao caso concreto analisado, sendo imprestável a vincular a fiscalização em casos ou períodos diversos, ainda que para o mesmo produto e para a mesma empresa. E em tal processo, não há a necessidade de que o julgador chegue à classificação correta. Basta que consiga comprovar que a classificação/argumentação adotada na autuação ou no pedido de restituição estava correta ou que deve ser afastada (sem que seja necessário seguir a busca pela classificação correta). Fl. 811DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 805 15 Em suma, o afastamento dos efeitos da consulta se dá apenas dentro do rito processual relacionado às consultas, e não no rito de determinação e exigência de crédito tributário, ou de pedido de restituição, no qual a análise é restrita ao caso autuado, no período autuado, com os elementos constantes na autuação (sejam ou não eles simples cópia dos externados na Solução de Consulta/Divergência). E, por óbvio, a resposta obtida no processo de consulta não inibe o contencioso administrativo provocado pelo fisco em autuação, ou pela empresa, em pedido de restituição. Da classificação da mercadoria importada (“NPEL 128”) Como exposto no tópico anterior, a descrição do produto de nome comercial “NPEL 128” deixa pouca margem de dúvidas ao classificador. E a ficha técnica indicada na Solução de Divergência não representa palpite sobre o produto extraído da internet, mas efetivamente ficha técnica de instituição especialista no tema. Aliás, não é difícil endossar a definição do “NPEL 128” nos sites especializados sobre o tema, inclusive fazendo menção ao fabricante “NAN YA”: “NAN YA EPOXY RESIN NPEL128 General: NPEL128 is a liquid resin,which is manufactured from bisphenolA and epichlorohydrin. It is recognized as standard form which vari ations have been developed. Cured NPEL128 always offers quality and high purity properties in applications,such as maximun mechanical strength,good chemical resistance and excellent heat resistance,etc.” (disponível em: http://www.compositesone.com/wp content/uploads/2013/07/NPEL128.pdf, acesso em 09 mai.2017) “Product Class:Resin Product Name:NPEL128 Supplier Name:NanYa NPEL128 is a liquid resin, which is manufactured from bisphenolA and epichlorohydrin. It is recognized as the standard form which variations have been developed. Cured NPEL128 always offers quality and high purity properties in applications, such as maximum mechanical strength, good chemical resistance and excellent heat resistance, etc.” (disponível em: http://www.fitzchem.com/npel128.html, acesso em 09 mai.2017) “IDENTIFICATION OF THE PRODUCT AND OF THE COMPANY Trade name: NPEL128 Company identification: NAN YA Plastics Corporation Ingredients: BisphenolA epoxy resin(number average molecular weight < 700)” (disponível em: Fl. 812DF CARF MF 16 http://www.ankushenterprise.com/pdf/epoxy_resins/epoxyNPEL 128.pdf, acesso em 09 mai.2017) “Nan Ya NPEL128 Multiple Nan Ya Plastics Corp NPEL128 is a liquid Bisphenol A type epoxy resin.” (disponível em: http://maroon.maroongroupllc.com/products/nan ya%20npel128, acesso em 09 mai.2017) “NPEL 128R Technical DataSheet | Supplied by Nan Ya Lesscrystallizable, epoxy resin produced with bisphenolA and epichlorohydrin. Used in cationic electrodeposition coating and solventfree paint. Offers nonvolatility when curing, small shrinkage, very good dimension stability and electric and mechanism properties, water and chemical resistance, very good adhesive performance with metals, woods, concrete, ceramic and glass, very good performance on hardness and abrasion and storage stability. Can be used in combination with various hardeners, diluents and fillers.” (disponível em: http://coatings.specialchem.com/product/rnanyanpel128r, acesso em 09 mai.2017) Veja que não se está exemplificando o exposto com sítios de “blogs” ou “wikipedia”, ou sites leigos/vulgares sobre o tema, mas em catálogos internacionais, por meio dos quais, inclusive, é possível comprar o produto de nome comercial “NPEL 128”, produzido pelo fabricante “NAN YA”. E, sabendose das características do produto, não é difícil acompanhar o raciocínio empreendido na Solução de Divergência COANA no 17/2007, o que, por óbvio, não se confunde com aplicála ao caso. De acordo com a Regra Geral Interpretativa (RGI) no 1, do Sistema Harmonizado: “Os títulos das Seções, Capítulos e Subcapítulos têm apenas valor indicativo. Para os efeitos legais, a classificação é determinada pelos textos das posições e das Notas de Seção e de Capítulo e, desde que não sejam contrárias aos textos das referidas posições e Notas, pelas Regras seguintes”. Vejamos, então, os textos das posições em discussão, a posição 29.10, defendida como correta pela empresa no pedido de retificação e a posição 39.07, na qual a empresa originalmente classifica os produtos: Fl. 813DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 806 17 Para se resolver o presente contencioso, desnecessário seguir adiante na classificação (determinando, na sequência, o quinto, o sexto, o sétimo e o oitavo dígitos do código NCM, obrigatoriamente nessa ordem, em função da RGI no 6 e da Regra Geral Complementar – RGC no 1), bastando informar qual a posição correta (quatro primeiros dígitos, que é por onde se inicia a classificação, em obediência à RGI no1, aqui já transcrita. E a mesma RGI no1 remete às notas de capítulo, como a Nota 1, “a” do Capítulo 29, que estabelece: Como o equivalente epóxido do “NPEL 128” se estende ao longo de uma faixa, não se pode entender ser o produto de constituição química definida, sendo incabível a classificação na posição 29.10. Logo, a classificação do “NPEL 128” jamais poderia ser a solicitada na retificação (código NCM 2910.90.90). Por mais que não seja aqui necessário endossar a classificação externada na Solução de Divergência COANA no 17/2007 (código NCM 3907.30.29), bastando afastar a posição pretendida no pedido de restituição, cabe destacar que, internacionalmente, há precedentes no sentido de que o código SH correto é 3907.30, como a lista de concessões tarifárias da Nova Zelândia, afetada pelo mesmo Sistema Harmonizado (SH), com vigor internacional, nos seis primeiros dígitos: 3907.30.09: Epoxy resin, viz: NPEK114, NPEK115, NPEK 132, NPEF164X, NPEF170, NPEF185, Free Free 99 999554E 3/03 NPSN134X90, NPSN901X75, NPEF187, NPES601, NPES604, NPES607, NPES609A, NPEL128, NPES609C, NPES609D, NPES627, NPES629, NPES901, NPES902, NPES903, NPES904, NPES301, NPSN301X65, NPSN 301X75. (grifo nosso) (disponível em: http://www.customs.govt.nz/news/resources/listsandguides/docu ments/approvals.pdf, acesso em 09 mai.2017) Caso se desejasse adquirir o produto, adicionese ainda, a título ilustrativo, que as informações dos exportadores/vendedores, disponíveis em seus sítios web, informam (v.g., Resin NPEL Buyers e Drum NPEL Buyers) ser a classificação tarifária no código SH 3907.30. E, recordese, os seis primeiros dígitos, conforme o SH, são de caráter internacional. Fl. 814DF CARF MF 18 O CARF, por ser órgão externo à RFB, não é vinculado pelas Soluções de Consulta e Divergência por ela emitidas, podendo analisar de forma independente a matéria, como aqui se faz, por mais que haja coincidência de argumentos em relação àqueles invocados na Solução de Divergência COANA no 17/2007. Assim, é absolutamente irrelevante, neste julgamento administrativo, eventual afastamento judicial da Solução de Divergência COANA no 17/2007, como noticiado nos autos, pois as razões de decidir desta turma não são dela extraídas, mas apenas com ela coincidentes. No pedido de restituição, é inegável que a empresa discorda da própria descrição detalhada da mercadoria por ela inserida (e mantida) na DI. Com razão, então, a unidade local em indeferir o pleito, por carência probatória. E, aqui neste voto, destacase que, ainda que, eventualmente, superada a alegação de carência probatória, em virtude do aqui exposto, em relação ao nome comercial do produto, restaria incorreta a classificação demandada. E não pode o colegiado autorizar a restituição de quantia que se sabe indevida. Com relação à alegação de alteração de critério jurídico, com fundamento no artigo 146 do Código Tributário Nacional, é conveniente destacar que aqui que, ao contrário dos processos comumente tratados por este colegiado sobre o tema, encontrase, efetivamente, no caso, uma alteração de critério jurídico. O critério jurídico (seja ele correto ou incorreto) fixado pela fiscalização, para a empresa, após a ciência da Solução de Consulta SRRF/DIANA no 291, de 29/09/2006, era o de que a classificação do produto de nome comercial “NPEL 128” se dava no código NCM 2910.90.90. E tal entendimento foi revisto pela Solução de Divergência COANA no 17, de 24/10/2007, que passou a entender que o mesmo produto deveria ser classificado no código NCM 3907.30.29. Mas o caso em análise trata de período que antecede ambas as Soluções (2005 e início de 2006). Ademais, o entendimento que a defesa revela sobre revisão de critério jurídico é sui generis (e diametralmente divergente do externado pela própria recorrente nos outros processos da empresa analisados nesta mesma sessão de julgamento). Nos processos para os quais a autoridade aduaneira retificou as DI para o código NCM desejado pela empresa, defendeu a recorrente que ali, na retificação, se estabelecia o critério jurídico irreformável, mas no presente processo o critério jurídico irreformável é estabelecido não só em dissonância com o declarado pela empresa (NCM 3907.30.28) ou o retificado pelo fisco (NCM 3907.30.29), mas com o informado em campo livre da DI, revelando qual a classificação que a empresa entendia correta, apesar de não ter usado (NCM 2910.90.90). Em suma, defende a empresa que após o desembaraço sem conferência, em canal verde, o fisco não poderia mais rever a classificação que ela havia informado que entendia como correta, apesar de não ter usado na DI. Tal argumento, digase, tornaria desnecessário o pedido de restituição (assim como qualquer pedido de restituição posterior ao desembaraço), pois o fisco não poderia jamais aceitar o argumento de retificação da empresa, por já ter fixado critério jurídico no desembaraço. Para fazer jus à restituição, deveria a empresa comprovar que a mercadoria que sempre declarou como “resina epóxi” não era resina epóxi (erro de fato), não com laudos técnicos contraditórios, mas com demonstração inequívoca, ou ao menos convincente o suficiente para demandar diligência a fim de melhor esclarecer os fatos. Mas, a nosso ver, tal tarefa esbarraria, ainda, na comprovação da correção da classificação demandada, diante da existência de nome comercial para o produto, como aqui exposto. E fracassa a defesa nas duas providências. Fl. 815DF CARF MF Processo nº 12466.000790/200710 Acórdão n.º 3401003.774 S3C4T1 Fl. 807 19 Das considerações finais Por todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário apresentado. Rosaldo Trevisan Fl. 816DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10120.720167/2011-49
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/07/2005 a 30/09/2005
CRÉDITO DA NÃO-CUMULATIVIDADE. BENS PARA REVENDA ADQUIRIDOS POR COMERCIANTES ATACADISTAS E VAREJISTAS DE PRODUTOS SUJEITOS À TRIBUTAÇÃO CONCENTRADA DE QUE TRATAM OS §1º E 1º-A DO ARTIGO 2º DAS LEIS Nº 10.637/2002 E 10.833/2002. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 17 DA LEI Nº 11.033/2004.
É vedado o creditamento na aquisição de bens para revenda dos produtos referidos nos §1º e §1-A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis. Tal disposição não foi revogada pelo artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, pois que não versa sobre hipóteses de creditamento, mas apenas sobre a manutenção de créditos, apurados conforme a legislação específica.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3302-003.796
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Ricardo Paulo Rosa - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Walker Araújo e Ricardo Paulo Rosa.
Nome do relator: RICARDO PAULO ROSA
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DIREITO DE CRÉDITO. INCIDÊNCIA CONCENTRADA. Recorrente RENAUTO AUTOMÓVEIS LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/07/2005 a 30/09/2005 CRÉDITO DA NÃOCUMULATIVIDADE. BENS PARA REVENDA ADQUIRIDOS POR COMERCIANTES ATACADISTAS E VAREJISTAS DE PRODUTOS SUJEITOS À TRIBUTAÇÃO CONCENTRADA DE QUE TRATAM OS §1º E 1ºA DO ARTIGO 2º DAS LEIS Nº 10.637/2002 E 10.833/2002. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 17 DA LEI Nº 11.033/2004. É vedado o creditamento na aquisição de bens para revenda dos produtos referidos nos §1º e §1A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis. Tal disposição não foi revogada pelo artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, pois que não versa sobre hipóteses de creditamento, mas apenas sobre a manutenção de créditos, apurados conforme a legislação específica. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 12 0. 72 01 67 /2 01 1- 49 Fl. 129DF CARF MF Processo nº 10120.720167/201149 Acórdão n.º 3302003.796 S3C3T2 Fl. 3 2 Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Walker Araújo e Ricardo Paulo Rosa. Relatório Tratase de Pedido Eletrônico de Restituição e Ressarcimento – PER, formulado através do programa PER/Dcomp, pelo qual a Recorrente pleiteia o ressarcimento em espécie do saldo credor acumulado de COFINS incidência não cumulativa – mercado interno. O Pedido de Ressarcimento foi indeferido, por ausência de direito ao crédito pleiteado, devido a vedação legal de aproveitamento de créditos incidente nas operações de aquisição de produtos sujeitos a tributação monofásica/concentrada. A DRJ indeferiu a manifestação de inconformidade nos termos do Acórdão 06049.311. O fundamento adotado, em síntese, foi o de que o art. 17 da Lei nº 11.033, de 2004, não ampara o creditamento das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, com base na sistemática da não cumulatividade, pelas revendedoras de veículos automotores, em decorrência de vedação legal expressa para o aproveitamento do crédito nas vendas submetidas à incidência monofásica. Inconformada, a recorrente interpôs recurso voluntário, reiterando as alegações deduzidas em manifestação de inconformidade, calcadas nas seguintes premissas: 1. Que a recorrente se sujeita à incidência nãocumulativa; 2. Que havia uma vedação ao creditamento conforme o disposto no artigo 3º, I, “b”, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003; 3. Que foi atribuída alíquota zero aos produtos da recorrente, portanto, não se trata de monofasia, o que ocorreria se houvesse apenas uma incidência na cadeia; 4. Que a nãocumulatividade foi aperfeiçoada com o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 e que esta é uma norma multitemática, ou seja, não restrita ao REPORTO; 5. Que o artigo 16 da Lei 11.116/2005 robusteceu o caráter abrangente do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004; 6. Ambas as leis não ressalvaram quais os casos permaneceriam na regra antiga e que o direito ao creditamento é coerente à técnica da nãocumulatividade das contribuições (método subtrativo indireto); 7. O artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 veio justamente para os casos em que havia vedação ao creditamento; 8. Que pretendeuse mitigar a aplicação do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 com a edição das MP nº 413/2008 e 451/2008, criando vedações ao creditamento, as quais não foram mantidas na conversão de ambas medidas provisórias; Fl. 130DF CARF MF Processo nº 10120.720167/201149 Acórdão n.º 3302003.796 S3C3T2 Fl. 4 3 9 Que a nãocumulatividade das contribuições não guarda relação com o arrecadado anteriormente ou posteriormente na cadeia produtiva. É o relatório. Voto Conselheiro Ricardo Paulo Rosa, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3302003.750, de 29 de março de 2017, proferido no julgamento do processo 10120.720142/201145, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3302003.750): "O recurso atende aos pressupostos de admissibilidade e dele tomo conhecimento. O pedido de ressarcimento foi efetuado com fulcro no artigo 16 da Lei nº 11.116/2005 combinado com o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, abaixo transcritos: Lei nº 11.116/2005: Art. 16. O saldo credor da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins apurado na forma do art. 3o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, e do art. 15 da Lei no 10.865, de 30 de abril de 2004, acumulado ao final de cada trimestre do anocalendário em virtude do disposto no art. 17 da Lei no 11.033, de 21 de dezembro de 2004, poderá ser objeto de: I compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, observada a legislação específica aplicável à matéria; ou II pedido de ressarcimento em dinheiro, observada a legislação específica aplicável à matéria. Lei nº 11.033/2004: Art. 17. As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. O fundamento da recorrente recai essencialmente na possibilidade de se tomar créditos da nãocumulatividade de Cofins em razão do disposto no artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 e de se pedir o ressarcimento com fulcro no artigo 16 da Lei nº 11.116/2005. Fl. 131DF CARF MF Processo nº 10120.720167/201149 Acórdão n.º 3302003.796 S3C3T2 Fl. 5 4 A Lei nº 10.485/2002 estabeleceu a concentração de tributação no fabricante e importadores de determinados veículos e autopeças, dispondo no §2º que os comerciantes atacadistas e varejistas ficassem sujeitos à alíquota zero sobre suas receitas de revendas: § 2o Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, relativamente à receita bruta auferida por comerciante atacadista ou varejista, com a venda dos produtos de que trata: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) I o caput deste artigo; e (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) II o caput do art. 1o desta Lei, exceto quando auferida pelas pessoas jurídicas a que se refere o art. 17, § 5o, da Medida Provisória no 2.18949, de 23 de agosto de 2001. (Redação dada pela Lei nº 10.925, de 2004) Com base, nesta receita sujeita à alíquota zero, é que a recorrente entende possível a aplicação do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, isto é, a tomada de créditos sobre a revenda de máquinas e veículos constantes das posições da TIPI constantes do artigo 1º da Lei nº 10.485/2002 e de autopeças constantes dos Anexos I e II da referida lei. Ocorre que, não obstante estar sujeita ao regime nãocumulativo das contribuições, as alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 vedam expressamente a tomada de créditos sobre bens adquiridos para revenda pelas pessoas jurídicas que comercializam os produtos referidos nos artigos 1º e 3º da Lei nº 10.485/2002, como transcrevese a seguir: Art. 2o Para determinação do valor da COFINS aplicarseá, sobre a base de cálculo apurada conforme o disposto no art. 1o, a alíquota de 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento). (Produção de efeito) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) § 1o Excetuase do disposto no caput deste artigo a receita bruta auferida pelos produtores ou importadores, que devem aplicar as alíquotas previstas: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) [...] III no art. 1o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, e alterações posteriores, no caso de venda de máquinas e veículos classificados nos códigos 84.29, 8432.40.00, 84.32.80.00, 8433.20, 8433.30.00, 8433.40.00, 8433.5, 87.01, 87.02, 87.03, 87.04, 87.05 e 87.06, da TIPI; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Lei nº 11.196, de 2005) IV no inciso II do art. 3o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, no caso de vendas, para comerciante atacadista ou varejista ou para consumidores, das autopeças relacionadas nos Anexos I e II da mesma Lei; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Lei nº 11.196, de 2005) [...] Fl. 132DF CARF MF Processo nº 10120.720167/201149 Acórdão n.º 3302003.796 S3C3T2 Fl. 6 5 Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: Produção de efeito (Vide Lei nº 11.727, de 2008) (Produção de efeitos) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) (Regulamento) I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) a) no inciso III do § 3o do art. 1o desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 11.727, de 2008). (Produção de efeitos) b) nos §§ 1o e 1oA do art. 2o desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 11.787, de 2008) (Vide Lei nº 9.718, de 1998) Por sua vez, o artigo 17 dispôs genericamente que as vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. Ora, este artigo não traz nenhuma hipótese de creditamento, mas apenas esclarece que nas situações ali previstas, os créditos vinculados àquelas vendas são mantidos. E tais créditos são, justamente, as hipóteses que a legislação faculta ao contribuintes a sua tomada, como por exemplo, os artigos 3º das leis acima citadas, o artigo 15 da Lei nº 10.865/2004 e outros quaisquer artigos que veiculem hipóteses de creditamento. O item 191 da exposição de motivos da MP nº 206/2004, cuja conversão resultou na Lei nº 11.033/2004, confirma este entendimento na medida que dispôs que a redação do artigo 16, convertido no artigo 17 acima referido, visava "esclarecer dúvidas relativas à interpretação da legislação da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS." Não por outro motivo, que o artigo 16 da Lei nº 11.116/2005 dispôs sobre a possibilidade de ressarcimento e compensação do saldo credor vinculado às vendas mencionadas no artigo 17, vinculandoos à forma de apuração do artigo 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 e do artigo 15 da Lei nº 10.865/2004, reconhecendo, por óbvio, que ali estavam listadas as hipóteses de creditamento e não que o artigo 17 inovara toda a legislação, revogando o artigo 3º e redefinindo as hipóteses de creditamento, o que seria a consequência inevitável da tese da recorrente. Ressaltase, porém, que o artigo 17 não proibiu a tomada de créditos vinculados às receitas sujeitas à alíquota zero decorrentes das revendas dos bens de que tratam este processo em relação às demais hipóteses previstas no artigo 3º, proibição esta que foi, conforme mencionado pela recorrente, objeto de duas tentativas propostas pelo Executivo Federal nas MPs nº 413/2008 e 451/2008. Ocorre que, como também já mencionado na peça recursal, tais dispositivos não foram contemplados na conversão das duas MPs, mantendose a possibilidade de creditamento em relação às demais hipóteses do artigo 3º, entendimento confirmado na Solução de Consulta nº 218/2014. Assim, referidas MP´s pretenderam impedir o creditamento das demais hipóteses legais previstas nos artigos 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, mas 1 19. As disposições do art. 16 visam esclarecer dúvidas relativas à interpretação da legislação da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS Fl. 133DF CARF MF Processo nº 10120.720167/201149 Acórdão n.º 3302003.796 S3C3T2 Fl. 7 6 foram irrelevantes em relação à vedação específica contida na alínea "b" do inciso I do artigo 3º, que se destina justamente à vedação do creditamento relativo aos bens adquiridos para revenda de que tratam os §§1º e 1ºA do artigo 2º das referidas leis. Neste diapasão, citase o Acórdão nº 340301.566: Ementa: COFINS – REGIME MONOFÁSICO – IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DE CRÉDITOS O artigo 17 da Lei 11.033/2004, que garante a manutenção do crédito às vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, só se aplica aos setores ou produtos sujeitos regime nãocumulativo, não se aplicando aos produtos sujeitos ao regime monofásico. Portanto, diante do exposto, voto para negar provimento ao recurso voluntário." Nos termos do entendimento exarado no paradigma, a impossibilidade de creditamento, no regime nãocumulativo, na aquisição de bens para revenda adquiridos por comerciantes atacadistas e varejistas de produtos sujeitos à tributação concentrada referidos nos §1º e §1A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis, se aplica tanto à Contribuição para o PIS/Pasep quanto à COFINS. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Fl. 134DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16643.000289/2010-11
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed May 17 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Jul 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2005
LANÇAMENTO FISCAL. ERROS DE CÁLCULO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
A simples constatação de erros nos cálculos das diferenças devidas, a partir de dados fornecidos pela própria fiscalizada, não implica na nulidade do lançamento. Assim, revela-se correta a retificação do montante de tributos exigidos promovida pelo acórdão recorrido.
MULTA REGULAMENTAR. FALTA DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES. INAPLICABILIDADE.
A multa regulamentar, prevista no art. 968 do RIR/99, é dirigida à falta de prestação de informações por terceiros (art. 928), quando intimado pelas autoridades fiscais. Não se aplica ao contribuinte sob fiscalização. Para os casos de recusa na prestação de informações por parte do fiscalizado, que revelem a intenção de obstaculizar a ação fiscal existe a previsão legal específica de majoração da multa de ofício que vier a ser aplicada no curso do procedimento fiscal (art. 44, § 2º da Lei 9.430/1996).
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. AJUSTES. IN.SRF. 243/2002. LEGALIDADE.
A proporcionalização determinada pelos incisos do § 11 do art. 12 da IN SRF 243/02 é uma interpretação que atende aos critérios da razoabilidade, por ser mais conforme com o espírito de uma norma que regulamenta (art. 18, II, da Lei 9.430/96; adequação, vez que não cabia ao legislador pormenorizar, em texto de lei, o método de cálculo do preço parâmetro, bastando que desse contornos legais, devidamente observados pela IN 243/02; e necessidade, ao retificar a equivocada interpretação dada pela IN SRF 32/01, aperfeiçoando o método de cálculo do PRL60, de forma a permitir o controle de preços de transferência quando mais de um insumo importado estiver compondo o produto final vendido.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL.
O acondicionamento do insumo importado, individualmente ou em kits, em embalagens, com aposição de marca e conseqüente agregação de valor, impõe a apuração do preço parâmetro com base no método Preço de Revenda menos Lucro (PRL), com margem de lucro de sessenta por cento.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. FRETE E SEGURO E IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO.
Uma vez que compõem o preço de venda do produto, o valor do frete, seguro e dos impostos de importação devem ser considerados no preço praticado para fins de apuração dos ajustes dos preços de transferência segundo o método PLR, como forma de se propiciar a comparabilidade entre o preço-parâmetro e o custo de aquisição dos insumos.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. ESCOLHA DO MÉTODO DE AJUSTE MAIS BENÉFICO. FISCALIZAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE.
Não tem a fiscalização de apurar o preço parâmetro com base em todos os métodos possíveis, com vistas a buscar o que se revele mais benéfico ao contribuinte. Cabe ao contribuinte escolher o método que vai utilizar, sendo-lhe assegurada a manutenção da escolha, uma vez comprovado o preço-parâmetro apurado com base em documentação idônea e apresentação das memórias de cálculo.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. PREÇOS-PARÂMETRO APURADOS COM BASE NOS MÉTODOS PRL 60 E PRL20. MÉDIA PONDERADA. CABIMENTO.
Quando os insumos importados de pessoas vinculadas são aplicados em parte no processo produtivo e em parte são revendidos, ao se eleger o PRL como método de apuração, deve ser observado o preço médio ponderado do período. resultante da aplicação do método PRL20, no caso de revenda, e do método PRL60, na hipótese dos insumos aplicados na produção. A solução adotada pela fiscalização para definição de um preço-parâmetro único, encontra amparo no art. 12 da IN.SRF. nº 243/2002, revelando-se fórmula razoável e compatível com as demais normas que orientam a definição dos preços de transferência.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. ALEGAÇÃO DE ERRO NA VALORAÇÃO DO ESTOQUE INICIAL DE INSUMOS. MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. INOVAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO.
Não tendo sido, a matéria recorrida, suscitada na impugnação, impõe-se reconhecer sua preclusão, nos termos do art. 17 do Decreto nº 70.235/1972.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. RELAÇÃO INSUMO X PRODUTO.
A relação insumo produto deve espelhar o percentual de custos dos insumos e o custo do produto final, ou seja, qual a participação, em termos de custos, dos insumos em análise, em relação ao custo total do produto. O percentual de custos deve considerar a relação entre as quantidades de insumo consumidas e as quantidades de produto produzidas (coeficiente insumo-produto). Se para cada unidade produzida foram aplicadas 2 unidades do insumo, o preço parâmetro de uma unidade de insumo deve ser o resultado encontrado, dividido por 2. Assim, revela-se correto o procedimento fiscal que, para apurar o preço parâmetro pelo método PRL60, procedeu a um ajuste do mesmo, dividindo o valor encontrado por 2 (coeficiente insumo-produto), de modo a ter ambos os preços (praticado e parâmetro) na mesma base referencial (unidade do insumo).
Numero da decisão: 1302-002.128
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício, e quanto ao recurso voluntário, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade da autuação, e, no mérito, por maioria de votos. em negar provimento ao recurso: 1 - quanto a ilegalidade da IN.SRF. nº 243/2002; 2 - quanto a aplicação do Método PRL60 para produtos originalmente submetidos pela Recorrente ao cálculo conforme o método PRL20; 3- quanto ao Valor FOB x Valor CIF para fim do preço praticado; 4- quanto a escolha do preço parâmetro com base no PRL60; 5 - quanto ao cálculos com base em médias ponderadas nas situações em que a mesma matéria-prima foi empregada na produção de mais de um produto, ou foi destinada tanto à produção como à revenda; vencido, quanto a estes pontos, o Conselheiro Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa; e, por unanimidade, para não conhecer da alegação contida no item 6 do recurso (apuração incorreta do Saldo Inicial de Estoque), e negar provimento quanto ao item 7 - Índice de participação insumo/produto, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Alberto Pinto Souza Junior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Rogério Aparecido Gil, Ester Marques Lins de Sousa e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
Nome do relator: LUIZ TADEU MATOSINHO MACHADO
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ERROS DE CÁLCULO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. A simples constatação de erros nos cálculos das diferenças devidas, a partir de dados fornecidos pela própria fiscalizada, não implica na nulidade do lançamento. Assim, revelase correta a retificação do montante de tributos exigidos promovida pelo acórdão recorrido. MULTA REGULAMENTAR. FALTA DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES. INAPLICABILIDADE. A multa regulamentar, prevista no art. 968 do RIR/99, é dirigida à falta de prestação de informações por terceiros (art. 928), quando intimado pelas autoridades fiscais. Não se aplica ao contribuinte sob fiscalização. Para os casos de recusa na prestação de informações por parte do fiscalizado, que revelem a intenção de obstaculizar a ação fiscal existe a previsão legal específica de majoração da multa de ofício que vier a ser aplicada no curso do procedimento fiscal (art. 44, § 2º da Lei 9.430/1996). PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. AJUSTES. IN.SRF. 243/2002. LEGALIDADE. A proporcionalização determinada pelos incisos do § 11 do art. 12 da IN SRF 243/02 é uma interpretação que atende aos critérios da razoabilidade, por ser mais conforme com o espírito de uma norma que regulamenta (art. 18, II, da Lei 9.430/96; adequação, vez que não cabia ao legislador pormenorizar, em texto de lei, o método de cálculo do preço parâmetro, bastando que desse contornos legais, devidamente observados pela IN 243/02; e necessidade, ao retificar a equivocada interpretação dada pela IN SRF 32/01, aperfeiçoando o método de cálculo do PRL60, de forma a permitir o controle de preços de transferência quando mais de um insumo importado estiver compondo o produto final vendido. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 64 3. 00 02 89 /2 01 0- 11 Fl. 5490DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.491 2 PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. O acondicionamento do insumo importado, individualmente ou em kits, em embalagens, com aposição de marca e conseqüente agregação de valor, impõe a apuração do preço parâmetro com base no método Preço de Revenda menos Lucro (PRL), com margem de lucro de sessenta por cento. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. FRETE E SEGURO E IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO. Uma vez que compõem o preço de venda do produto, o valor do frete, seguro e dos impostos de importação devem ser considerados no preço praticado para fins de apuração dos ajustes dos preços de transferência segundo o método PLR, como forma de se propiciar a comparabilidade entre o preço parâmetro e o custo de aquisição dos insumos. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. ESCOLHA DO MÉTODO DE AJUSTE MAIS BENÉFICO. FISCALIZAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE. Não tem a fiscalização de apurar o preço parâmetro com base em todos os métodos possíveis, com vistas a buscar o que se revele mais benéfico ao contribuinte. Cabe ao contribuinte escolher o método que vai utilizar, sendo lhe assegurada a manutenção da escolha, uma vez comprovado o preço parâmetro apurado com base em documentação idônea e apresentação das memórias de cálculo. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. PREÇOSPARÂMETRO APURADOS COM BASE NOS MÉTODOS PRL 60 E PRL20. MÉDIA PONDERADA. CABIMENTO. Quando os insumos importados de pessoas vinculadas são aplicados em parte no processo produtivo e em parte são revendidos, ao se eleger o PRL como método de apuração, deve ser observado o preço médio ponderado do período. resultante da aplicação do método PRL20, no caso de revenda, e do método PRL60, na hipótese dos insumos aplicados na produção. A solução adotada pela fiscalização para definição de um preçoparâmetro único, encontra amparo no art. 12 da IN.SRF. nº 243/2002, revelandose fórmula razoável e compatível com as demais normas que orientam a definição dos preços de transferência. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. ALEGAÇÃO DE ERRO NA VALORAÇÃO DO ESTOQUE INICIAL DE INSUMOS. MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. INOVAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO. Não tendo sido, a matéria recorrida, suscitada na impugnação, impõese reconhecer sua preclusão, nos termos do art. 17 do Decreto nº 70.235/1972. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. RELAÇÃO INSUMO X PRODUTO. A relação insumo produto deve espelhar o percentual de custos dos insumos e o custo do produto final, ou seja, qual a participação, em termos de custos, dos insumos em análise, em relação ao custo total do produto. O percentual de custos deve considerar a relação entre as quantidades de insumo consumidas e as quantidades de produto produzidas (coeficiente insumo produto). Se para cada unidade produzida foram aplicadas 2 unidades do Fl. 5491DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.492 3 insumo, o preço parâmetro de uma unidade de insumo deve ser o resultado encontrado, dividido por 2. Assim, revelase correto o procedimento fiscal que, para apurar o preço parâmetro pelo método PRL60, procedeu a um ajuste do mesmo, dividindo o valor encontrado por 2 (coeficiente insumo produto), de modo a ter ambos os preços (praticado e parâmetro) na mesma base referencial (unidade do insumo). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício, e quanto ao recurso voluntário, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade da autuação, e, no mérito, por maioria de votos. em negar provimento ao recurso: 1 quanto a ilegalidade da IN.SRF. nº 243/2002; 2 quanto a aplicação do Método PRL60 para produtos originalmente submetidos pela Recorrente ao cálculo conforme o método PRL20; 3 quanto ao Valor FOB x Valor CIF para fim do preço praticado; 4 quanto a escolha do preço parâmetro com base no PRL60; 5 quanto ao cálculos com base em médias ponderadas nas situações em que a mesma matériaprima foi empregada na produção de mais de um produto, ou foi destinada tanto à produção como à revenda; vencido, quanto a estes pontos, o Conselheiro Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa; e, por unanimidade, para não conhecer da alegação contida no item 6 do recurso (apuração incorreta do Saldo Inicial de Estoque), e negar provimento quanto ao item 7 Índice de participação insumo/produto, nos termos do voto do relator. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros: Alberto Pinto Souza Junior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Rogério Aparecido Gil, Ester Marques Lins de Sousa e Luiz Tadeu Matosinho Machado. Fl. 5492DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.493 4 Relatório Tratase de apreciar Recurso de Ofício e Recurso Voluntário interpostos em face de acórdão proferido nestes autos pela 1ª Turma da DRJ/RPO, no qual o colegiado decidiu, por unanimidade, considerar procedente em parte a impugnação, conforme ementa abaixo reproduzida: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Ano calendário: 2005 PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO CPL. DESQUALIFICAÇÃO. MULTA REGULAMENTAR. Não logrando a contribuinte comprovar documentalmente os cálculos dos preços de transferência segundo o método CPL (Custo de Produção mais Lucro), correta a desqualificação do referido método pela fiscalização, atendendo, inclusive, a uma solicitação da própria contribuinte. Incabível, no entanto, a aplicação de multa regulamentar por não haver a contribuinte entregue a totalidade da documentação solicitada pela fiscalização, pois essa penalidade, genérica, só poderia ser aplicada se não houvesse previsão específica para essa falta, o que não é o caso, pois a conseqüência foi a desqualificação do método adotado pela contribuinte. AGREGAÇÃO DE VALOR. VEDAÇÃO DE UTILIZAÇÃO DO MÉTODO PRL20. O método do PRL20 (Preço de Revenda menos Lucro, com margem de 20%) não pode ser aplicado nas hipóteses em que haja, no País, agregação de valor ao custo dos bens, não configurando, assim, simples processo de revenda dos mesmos. DESQUALIFICAÇÃO. ADOÇÃO DE OUTRO MÉTODO PELA FISCALIZAÇÃO. MÉTODO MAIS FAVORÁVEL. Em face da desqualificação do método adotado pela contribuinte, pode a fiscalização eleger outro método para a apuração dos preços de transferência. A escolha do método mais favorável ao contribuinte é uma prerrogativa do contribuinte, mas não uma imposição à fiscalização. MÉTODO PRL60. ILEGALIDADE DA INSTRUÇÃO NORMATIVA. Não compete à esfera administrativa a análise da legalidade ou inconstitucionalidade de normas jurídicas. Fl. 5493DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.494 5 MÉTODO PRL. PREÇOS PRATICADOS. FRETE, SEGURO E TRIBUTOS. Na apuração dos preços praticados segundo o método PRL, devese incluir o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador, e os tributos incidentes na importação. MATÉRIA TRIBUTÁVEL. ERRO NA APURAÇÃO. INCORREÇÃO SANÁVEL. Constatado erro sanável da apuração da matéria tributável, exonerase parcialmente a exigência. CSLL. DECORRÊNCIA. O decidido quanto ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica aplica se à tributação decorrente dos mesmos fatos e elementos de prova. O acórdão recorrido descreve as apurações fiscais realizadas, dos quais colho os seguintes excertos, verbis: 2.2.3. Preços de transferência: (Apuração pela contribuinte) Segundo os valores declarados na DIPJ (fl. 9), a contribuinte adicionou ao lucro líquido, para fins de determinação do lucro real, a título de ajustes de preços de transferência, o montante de R$ 2.457.818,86, a seguir sintetizado (valores em reais): [...] Tendo em vista que a contribuinte, na DIPJ, preencheu apenas as informações relativas aos 49 itens mais relevantes, no tocante ao método utilizado, a fiscalização solicitoulhe que abrisse as informações relativas às mercadorias "não especificadas", indicando, por método, o total ajustado (fl. 1716), informações essas a seguir sintetizadas (valores em reais): Método Ajuste CPL 1.254.984,80 PIC 1.085,35 PRL20 319.892,91 PRL60 192.178,31 Total 1.768.141,37 Método Ajuste CAP 689.677,49 PVA 0,00 Total 689.677,49 Total Imp + exp 2.457.818,86 2.2.4 Preços de Transferência: (Apuração pela fiscalização) 2.2.4.1 Método PIC Fl. 5494DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.495 6 Para os casos em que a empresa adotou o método PIC, a fiscalização não desqualificou o método e simplesmente procedeu aos recálculos dos preços praticados, utilizando os dados fornecidos pela contribuinte e concluiu que, com relação aos insumos para os quais esse método foi empregado, não foram necessários ajustes adicionais de preços de transferência. 2.2.4.2 Método PRL A fiscalização buscou respeitar as escolhas da contribuinte, no tocante aos métodos utilizados. No entanto, devido às irregularidades apontadas na comprovação do método CPL, não restou outra alternativa, senão a de proceder ao recálculo dos ajustes relativos aos insumos para os quais esse método foi utilizado, elegendo outro método no caso, o PRL , nos moldes do artigo 40 da IN SRF n° 243/2002, sem deixar, no entanto, de levar em conta os valores de ajustes já efetuados pela contribuinte. No tocante ao método PRL foram efetuados recálculos dos preços praticados e dos preçosparâmetro, de modo a se verificar se havia a necessidade de ajustes adicionais àqueles efetuados pela contribuinte, tendo sido encontradas divergências de valores, principalmente quanto aos preçosparâmetro apresentados pela contribuinte. Além disso, conforme anteriormente citado, em alguns casos a contribuinte utilizou indevidamente a margem de lucro de 20%, quando deveria ter sido aplicada a margem de 60%. Os insumos foram divididos em 2 grupos: aqueles que não sofreram agregação de valores do Brasil e foram simplesmente revendidos (método PRL20) e aqueles que sofreram agregação de valores antes de serem revendidos (método PRL60), englobando nesse último grupo os casos mistos (revenda + produção). 2.2.4.2.1 Método PRL20 Para os produtos para os quais a contribuinte elegeu o método PRL e que não sofreram agregação de valores, ou para aqueles que, nessas mesmas condições, foram provenientes do método CPL, a fiscalização recalculou os preços praticados pelo método PRL20 (R$/kg), na forma determinada pelo § 4° do artigo 4° da IN SRF n° 243/2002 (CIF+II). Os preçosparâmetro foram calculados de acordo com o item "a" do inciso IV do artigo 12 da IN SRF n° 243/2002. Os ajustes foram calculados em função das quantidades vendidas, incluindo se as quantidades de estoques iniciais, pois determina a lei que, no cálculo do preço praticado do item importado, no anocalendário sob fiscalização, as quantidades importadas de insumos, de empresas vinculadas devam ser ponderadas com as quantidades e valores dos respectivos estoques iniciais (§ 3° do artigo 12 da IN SRF n° 243/2002). Em particular para esta empresa, a fiscalização constatou que, para um mesmo item, ocorreram casos em que, ao mesmo tempo, este foi importado de empresas vinculadas, importado de empresas nãovinculadas e comprado no mercado interno e/ou fabricado, sendo que todas as quantidades estavam controladas sob o mesmo "código do item". Dessa forma, para o cálculo das quantidades, a fiscalização solicitou à contribuinte o preenchimento das tabelas "PRL20 Quantidade de Insumo Revendida", com as informações de quantidades referentes somente às importações Fl. 5495DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.496 7 de empresas vinculadas mais estoque inicial. Pequenas divergências foram consideradas como perdas de estoque, ajuste de inventário, etc, e a fiscalização decidiu ajustar as quantidades limitando tais valores à soma das quantidades importadas de vinculadas mais estoque inicial. Pelo método PRL20 foi apurado o valor de ajuste de R$ 1.063.869,07, já deduzidos os valores declarados, conforme demonstrativo de apuração e respectivas memórias de cálculo de fls. 2639/2642 (Relatório "Consolidação PRL20"). 2.2.4.2.2 Método PRL60 Para os insumos para os quais a contribuinte elegeu o método PRL e que sofreram agregação de valores, ou para aqueles que, nessas mesmas condições, foram provenientes do método desqualificado CPL, a fiscalização recalculou os preços praticados pelo método PRL60 (R$/kg), na forma determinada pelo § 4° do artigo 4° da IN SRF n° 243/2002 (CIF+II). Os preçosparâmetro foram calculados de acordo com o item "b" do inciso IV do artigo 12 da IN SRF n° 243/2002. Os valores dos coeficientes insumoproduto foram fornecidos pela contribuinte, de acordo com a contabilidade e relatórios de produção, em arquivo magnético e impresso em papel. A fiscalização apresenta, às fls. 1799/1801, a metodologia utilizada no cálculo do preçoparâmetro para 3 situações distintas: Matériaprima importada de vinculada utilizada na produção de um único produto para venda A fiscalização traz como exemplo a matériaprima de código 4139106290, utilizada na fabricação do produto de código 4139003838 (vide "Demonstrativo do Preço Parâmetro PRL60", fl. 2816, e "Demonstrativo da Quantidade de Ajuste PRL60", fl. 3276). Matériaprima importada de vinculada utilizada na produção de mais de um produto para venda É o caso da matériaprima importada de código 001842391043, utilizada em 5 produtos. Dessa forma, foram calculados 5 preçosparâmetro (PRL60), um para cada produto. Como a legislação brasileira de preços de transferência não admite que um produto ou matériaprima tenha mais de um preçoparâmetro, a solução encontrada pela fiscalização foi fazer a média ponderada para chegar num preçoparâmetro único, para comparação com o preço praticado na importação. Matériaprima importada de vinculada utilizada na produção de mais de um produto para venda e também revendida É o caso da matériaprima importada de código 0501007354, utilizada em 6 produtos. Dessa forma, foram calculados 6 preçosparâmetro (PRL60), mais um que corresponde à revenda (PRL20). A fiscalização apurou a média aritmética ponderada entre o valor obtido pelo PRL20 e os valores obtidos pelo PRL60 (representando a média aritmética ponderada dos 6 preçosparâmetro), de modo a chegar num único preçoparâmetro, Fl. 5496DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.497 8 utilizado para comparação com o preço praticado na importação (nos moldes da SCI COSIT n° 30, de 30/07/2008). Igualmente ao ocorrido para o método PRL20, foram detectados casos de itens importados de empresas vinculadas, importados de empresas nãovinculadas e comprados no mercado interno e/ou fabricados, sendo que todas as quantidades estavam controladas sob o mesmo "código do item". Dessa forma, para o cálculo das quantidades, a fiscalização solicitou à contribuinte o preenchimento de duas tabelas "PRL60 Quantidade Consumida de Insumo" e "PRL60 Quantidade de Insumo nos EF dos Produtos" , com as informações de quantidades referentes somente às importações de empresas vinculadas mais estoque inicial. A partir dos dados fornecidos, a fiscalização calculou a quantidade de ajuste para cada item ("Demonstrativo de Quantidade de Ajuste PRL60"). Pequenas divergências encontradas em função de perdas de estoque, ajuste de inventário, etc, foram sanadas, limitando tais valores à soma das quantidades importadas de vinculadas mais estoque inicial. Destarte, pelo método do PRL60, a fiscalização apurou ajuste de R$ 39.572.945,48 (já deduzidos os valores de ajustes declarados pela contribuinte no LALUR), conforme demonstrativo de apuração e respectivas memórias de cálculo de fls. 2643/2647 (Relatório "Consolidação PRL60 e PRL20/60"). O montante consolidado passível de ajuste no LALUR atinente às operações de importação da contribuinte (Relatório "Consolidação PT Importação", fls. 2629/2638), resultou em R$ 40.636.814,55, conforme a seguir sintetizado: Método Ajuste (R$) PRL20 1.063.869,07 PRL60 39.572.945,48 Total 40.636.814,55 2.3 DA MULTA REGULAMENTAR No decorrer do processo fiscalizatório, foi solicitado à empresa a comprovação do método CPL, com relação a toda as empresas coligadas do grupo. Tendo em vista que não houve o cumprimento total da entrega do material solicitado no prazo original e considerando as diversas prorrogações concedidas, a fiscalização instituiu a multa regulamentar no valor de R$ 2.694,79, de acordo com o artigo 968 do RIR/99 (fls. 957/960). [...] A interessada impugnou tempestivamente o lançamento. Em face da alegação da impugnante de que, na apuração dos preçosparâmetro, o Auditor Fiscal teria, equivocadamente, efetuado uma dupla dedução do mesmo montante relativo ao valor dos tributos (PIS, COFINS e ICMS), o processo foi encaminhado pela DRJRPO à DEMAC/SÃO PAULO, para que o Auditor Fiscal autuante se manifestasse acerca dessa alegação e refizesse, se fosse o caso, a apuração dos preços de transferência (basicamente os preçosparâmetro) e respectivos ajustes. A fiscalização constatou que a fiscalizada, para os itens de códigos "4149106096" e "4180004006", preencheu incorretamente os valores de "saida após desconto comercial", com os valores da venda já deduzidos os tributos incidentes, tendo ocorrido, portanto, a dupla dedução dos Fl. 5497DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.498 9 tributos. Este fato ocorreu para outros itens e a empresa foi intimada a retificar a tabela "Vendas" de modo a corrigir o problema. De posse dos dados, a fiscalização refez os cálculos e retificou os valores apurados no auto de infração, conforme tabela abaixo: Método Ajuste (RS) Consolidação PRL20 362.390,06 Consolidação PRL60 31.176.602,49 Total PT importações 31.538.992,55 A interessada apresentou manifestação sobre o resultado da diligência, concluindo, verbis: [...] Assim, diante do exposto, resta claro que: (1) a diligência realizada de fato confirmou a existência dos erros perpetrados quando da autuação original e apontados pela impugnante em sua defesa; (2) esses erros existentes quando da autuação original, por sua própria natureza, geram a nulidade insanável do lançamento tributário; e (3) em vista disso, temse por certo que o Auto de Infração originalmente lavrado não pode subsistir, devendo ser de imediato cancelado. A DRJRPO exonerou a parcela lançada a maior, conforme apurado na diligência, uma vez que ficou caracterizado o erro na apuração da matéria tributável, pela duplicidade de consideração dos tributos. Foi exonerada pela DRJ, também, a multa regulamentar aplicada. A DRJ recorreu de ofício a este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), de acordo com o artigo 34 do Decreto nº 70.235/1972 e alterações introduzidas pelas Leis nºs 8.748/1993 e 9.532/97, e pela Portaria MF nº 03/2008. Cientificada do resultado do julgamento de primeiro grau em 10/07/2012, apresentou seu recurso voluntário em 08/08/2012, tendo suas razões sido assim sintetizadas na Resolução nº 1302000.289, de 12/03/2104, verbis: I) Importações originalmente submetidas ao método CPL e posteriormente ao método PRL60 Nulidade da Apuração a) utilizando o método CPL, verificou ajuste no valor total de R$1.254.984,80 (constante da DIPJ); b) apresentou a maior parte da documentação solicitada, mas não conseguiu obter a documentação de algumas empresas (ZF Sachs Powertrain México SA, ZF Padova SPA e ZF Hurth Marine); c) o agente fiscal não se contentou em realizar o exame com base em amostragem e não lhe concedeu prazo adicional, passando a desconsiderar o método CPL a a aplicar o método PRL60; d) Antevendo o procedimento do auditor, revisou sua apuração de IRPJ e CSLL conforme o método PRL60, de acordo com o art. 18, Lei n° 9.430/96 e art. 2, Lei n° 9.959/00 e contratou a Deloitte Touche Tohmatsu (Deloitte) para calcular o preço dessas importações conforme o método PRL60; e) de acordo com o trabalho da Deloitte, a recorrente não teria qualquer ajuste adicional, em comparação com os cálculos anteriormente feitos com base no método CPL o agente fiscal chegou a resultado diverso (necessidade de ajuste de Fl. 5498DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.499 10 R$40.636.814,55, sendo R$1.063.869,07 relativos ao método PRL20 e R$39.572.945,48 relativos ao método PRL60) pois utilizouse não da Lei n° 9.430/96, mas da IN SRF n° 243/02 (art. 12, §11, II e III); f) o agente fiscal chegou a resultado diverso (necessidade de ajuste de R$40.636.814,55, sendo R$1.063.869,07 relativos ao método PRL20 e R$39.572.945,48 relativos ao método PRL60) pois utilizouse não da Lei nº 9.430/96, mas da IN SRF nº 243/02 (art. 12, §11, II e III); g) na impugnação foram apontados os erros de cálculo da fiscalização, o que resultou na conversão do julgamento em diligência, a qual confirmou os erros, por duplicidade na consideração dos tributos incidentes sobre a venda, devendo, assim, preliminarmente, o auto de infração ser cancelado porque houve alteração da matéria tributável, não passível de ser feita, encerrada a fiscalização; II Mérito 1)Aplicação do método PRL60 nos termos da Lei n° 9.430/96 h) no mérito, a decisão deve ser reformada, pois o cálculo da IN SRF n° 243/02 gera um preço parâmetro maior, e, por conseqüência, gera aumento indevido do lucro real e base de cálculo da CSLL; 2)Aplicação do método PRL60 para produtos originalmente submetidos pela Recorrente ao cálculo conforme o método PRL20 i) relativamente a alguns produtos, o agente fiscal reclassificouos, sujeitando os ao método PRL60 ao invés do método PRL20. Tais produtos não se destinam a produção, mas a reunião em kits e a embalagem manual, sem alteração de sua natureza ou características. Cita a Solução de Consulta COSIT n° 22/2008; 3)Valor FOB X Valor CIF para fim do preço praticado j) na determinação do ajuste o fiscal considerou o valor CIF dos produtos importados mais impostos incidentes sobre importação, e não com base no seu valor FOB, que é o valor efetivamente pago pela mercadoria. O preço CIF inclui valores correlatos (seguro, transporte) pagos a terceiros não vinculados, gerando aumento no valor do preço praticado e excesso na comparação com o preço parâmetro, obtido através do método PRL. A DRJ compreendeu de forma equivocada o §6° do art. 18 da Lei n° 9.430/96, pois ele somente afirma que os valores de frete e seguro devem ser considerados dedutíveis. A IN SRF n° 243/02, por sua vez, manda adicionar frete e seguro cujo ônus tenha sido da importadora tão somente para compor o preço parâmetro. Cita o acórdão proferido pela CSRF no processo 16327.000966/200274 em 2011 (IN SRF n°38/97) ; 4)Escolha do preço parâmetro com base no PRL60 l) o contribuinte pode escolher o método de cálculo que forneça o maior preço parâmetro, e também a autoridade fiscal deve esgotar todos os métodos possíveis para só então aplicar o que forneça o maior preço parâmetro; m) as exigências de documentos feitas pela fiscalização violaram os princípios da verdade material e da razoabilidade, pois envolviam documentos de empresas exportadoras, os quais a recorrente estava impossibilitada de obter; Fl. 5499DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.500 11 5) Cálculos com base em médias ponderadas nas situações em que a mesma matériaprima importada foi empregada na produção de mais de um produto, ou foi destinada tanto à produção como à revenda; n) nas situações em que a mesma matériaprima importada era empregada ora na produção de mais de um produto, ora tanto na produção como na revenda, a fiscalização efetuou a média aritmética ponderada para chegar a um preço parâmetro único, conforme determina a legislação, sendo que tal procedimento não encontra respaldo na legislação. Neste caso, o agente fiscal deveria ter considerado apenas o método mais benéfico ao contribuinte, no caso o PRL20; 6)Apuração incorreta do valor do saldo inicial de estoque o) o agente fiscal considerou as importações realizadas no ano e o estoque inicial existente, para comparar o preço com o preço parâmetro. Ocorre que ao considerar o estoque existente, tomou por base o valor total contabilizado como custo do estoque inicial, sem considerar que este continha itens que não deveriam ser somados, como frete interno, armazenagem, despesas aduaneiras, montagem, etc; 7)Índice de participação insumo/produto p) o auditor não apurou, quando da diligência, o preço parâmetro "normal", mas um preço parâmetro "ajustado", que decorre da divisão do preço parâmetro "normal" pelo índice de participação insumo/produto, critério este não previsto em lei e nem mesmo na IN SRF nº 243/02. Com isso, houve uma duplicação do efeito do coeficiente insumoproduto, além de clara ilegalidade. A Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou contrarrazões ao Recurso Voluntário, também sintetizadas na resolução retro referida, verbis: a) nulidades no processo administrativo fiscal somente ocorrem quando não observados os requisitos do art. 10 e 59 do Decreto nº 70.235/72, ou ausente pressuposto de validade de ato administrativo, hipóteses que não ocorreram. Os erros decorreram da falta de critérios da própria recorrente que, nas tabelas apresentadas ao Fisco, ora relacionou valores de venda já deduzidos dos tributos, ora os relacionou sem tal dedução. Além disso, a retificação resultou em favor da autuada; b) ao contrário do exposto, a metodologia da IN SRF nº 243/02 simplesmente regulamenta o disposto no art. 18, II, da Lei nº 9.430/96, estando conforme a lei; c) a submissão de um bem à atividade produtiva não pressupõe necessariamente a transformação da matéria, caracterizandose, principalmente, pela adição de novos elementos (corpóreos ou incorpóreos), conforme se depreende do art. 18, II, “d”, 1, da Lei nº 9.430/96: quando o bem for aplicado há produção, há que se deduzir, no cálculo do preçoparâmetro, o valor agregado por essa aplicação. No que tange aos produtos da recorrente, a eles foram adicionados novos elementos, que, vendidos num conjunto (kit), os tornaram mais apropriados à venda ao consumidor final, agregandolhes valor, tendo, assim, sido submetidos a processo produtivo; d) no que tange à adoção dos custos pelo valor CIF ao invés do valor FOB, adotada a linha da recorrente, estaria esvaziado por completo o § 6º do art. 18 da Lei nº 9.430/96, porque muito antes da Lei nº 9.430 a dedutibilidade dos custos relativos ao frete, seguro e tributos incidentes na importação era assegurada pela legislação Fl. 5500DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.501 12 tributária, nos termos do art. 13 do DecretoLei nº 1.598/77 (art. 289 do RIR/99), porquanto a regra sempre foi a dedutibilidade dessas parcelas, razão pela qual não haveria necessidade de se repetir a regra na disciplina dos preços de transferência. Além disso, seria uma redundância, face ao disposto no caput do art. 18, que menciona que a restrição aos custos, despesas e encargos incidirá nas operações efetuadas com pessoas vinculadas. Por outro lado, a argumentação do contribuinte desconsidera a idéia de comparabilidade, traço essencial na sistemática dos preços de transferência. Para a comparação, as grandezas devem ser equivalentes; e) embora o §4º do art. 18 franqueie ao contribuinte a utilização do método mais favorável, o dispositivo não instituiu uma imposição à fiscalização, o que fica explícito na expressão “na hipótese de utilização de mais de um método”, que revela uma faculdade, não obrigando à utilização de mais de um método, havendo, tão somente o dever da fiscalização em aceitar a opção exercida pelo contribuinte; f) no caso de insumos utilizados em mais de um produto final ou revendidos e utilizados como insumos ao mesmo tempo, tratase de um caso particular de uma situação mais geral, já examinada pela COSIT na SCI Cosit nº 30, de 30/07/2008. Assim, é correto apurarse o preço parâmetro pelo método PRL20 e pelo método PRL60 e depois, procederse à média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens submetidos ao PRL20 e ao PRL60, tal qual fez a autoridade lançadora; g) quanto aos argumentos relativos aos saldos iniciais de estoques considerados, tratase de matéria inovadora, não postulada na impugnação nem na manifestação sobre o resultado da diligência, não devendo ser conhecida, por não se tratar de matéria de ordem pública, nos termos dos art. 16 e 17 do Decreto nº 70.235/72; h) os argumentos sobre o índice de participação insumo/produto também configuram inovação trazida apenas em sede de recurso voluntário, não tendo sido contestados quando da impugnação e quando da manifestação sobre o resultado da diligência. Nos termos dos art. 16 e 17 do Decreto nº 70.235/72 não são suscetíveis de conhecimento. Em 12/03/2014, esta turma julgadora, por meio da Resolução nº 130200.289, resolveu converter o julgamento em diligência em face da alegação contida no item 7 do recurso voluntário apresentado pela interessada, na qual esta alega "que o auditor não apurou, quando da diligência, o preço parâmetro "normal", mas um preço parâmetro "ajustado", que decorre da divisão do preço parâmetro "normal" pelo índice de participação insumo/produto, critério este não previsto em lei e nem mesmo na IN.SRF n° 243/02. Com isso, entende que houve uma duplicação do efeito do coeficiente insumoproduto, além de clara ilegalidade". O relator, então designado, entendeu que as alegações mereciam ser examinadas pela fiscalização, pois se confirmadas poderiam atingir a própria materialidade dos valores lançados, concluindo, verbis: [...] Assim, ao calcular o item "I" (Preço Unitário Líquido de Venda do Produto), parecenos que a fórmula I = C/FxH fornece a participação de 01 unidade de insumo no preço de venda do produto, e, portanto, a fórmula K = I J fornece o preço parâmetro de 01 unidade de insumo (R$30,232) e não de 02 unidades, o que parece sugerir se depreende da fórmula seguinte, L=K/E, em que há a divisão por 2 (porque em cada produto há 02 unidades de insumo). Fl. 5501DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.502 13 Desta forma, a prevalecer este entendimento, de fato está o lançamento a merecer alguma análise, e, por certo, revendo os dados e as provas do processo (e não apenas as alegações da recorrente), bem como outros que possam vir a elucidar a questão, possa a autoridade fiscal firmar convicção acerca da materialidade apurada, expurgando, se for o caso, dela, a parcela indevida. Além disso, o envio das alegações à fiscalização atende aos princípios do contraditório e da ampla defesa. De se ressaltar que neste caso a alegação, embora preclusa, atinge a própria materialidade do lançamento, não podendo, desta forma, ser ignorada, vez que a recorrente levanta dúvida fundada e relevante sobre a integridade dos valores lançados. Assim, voto para converter o julgamento em diligência, para que a autoridade fiscal, de posse das novas alegações ofertadas pela recorrente na peça recursal, em específico no tocante ao item 7 do recurso (índice de participação insumo/produto), reveja os cálculos efetuados e se manifeste quanto às alegações. De sua conclusão, deverá notificar a recorrente para que se manifeste no prazo de 30 dias. A autoridade fiscal encarregada de realizar a diligência apresentou Relatório Conclusivo (fls. 5110/5116), refutando as alegações da recorrente, conforme excertos transcritos abaixo, verbis: [...] O quadro apresentado pela empresa com os valores utilizados nos cálculos do referido índice não corresponde aos resultados obtidos pela Fiscalização em seus relatórios demonstrativos. A recorrente utiliza como exemplo para suas argumentações, o par insumo produto composto pelos insumo "1268304491 Anel Intermediário" e pelo produto "1268008657 Cx. Cambio S61550". No entanto, segundo o "Volume V15" do presente processo digital, se verificarmos as fls. 2809 e 2810 da numeração original do processo em papel que lhe deu origem, podemos constatar da 1a linha da página 50 do relatório "Demonstrativo do Preço Parâmetro PRL.60", que as memórias de cálculo do preço parâmetro não conferem com aquelas apresentadas pela recorrente: [...] Apesar dos valores de coeficiente insumoproduto (2,00) e do percentual de participação do custo do insumo no produto (0,0109900537) estarem corretos, o valor do preço parâmetro do item é igual a R$ 19,9102 e o preço parâmetro ajustado é igual a R$ 9,9551, que corresponde ao preço parâmetro utilizado no cálculo dos ajustes de PT. Os valores de preço unitário líquido de venda do produto (R$ 4.529,14), participação do insumo no preço de venda (R$ 49,78) e da margem de lucro (R$ 29,87) não correspondem com os valores apontados pela empresa (preço unitário líquido de venda R$ 75,580; participação do insumo no preço de venda R$ 30,232; margem de lucro R$ 45,348). Detectamos, portanto, total inconsistência entre os valores do quadro apresentado pela recorrente e o resultante do processo fiscalizatório. Ademais, pudemos constatar também que a empresa estaria interpretando, de forma errônea, certos conceitos básicos. Abaixo, reproduzimos as descrições dos Fl. 5502DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.503 14 campos dos relatórios demonstrativos, que constam do Termo de Verificação Fiscal (volume V18 numeração original do processo em papel às fls. 3430 e 3431): [...] Das descrições acima, podemos inferir que todos os cálculos do preço parâmetro, para o método PRL60 se baseiam no preço líquido de venda do produto. Tomase o preço unitário liquido de venda do mesmo (item "j"), multiplicase este valor pelo percentual de participação do custo do insumo no produto (item T), obtendose a participação do insumo no preço de venda (item T). A partir dai, calculase a margem de lucro (item "I" = 60% x T). O preço parâmetro do item será dado pela diferença entre a participação do insumo no preço de venda e a margem de lucro ("nf = "k" "I"). Aqui cumpre observar que todos os cálculos foram feitos sempre em valores unitários, com referência ao produto. O preço parâmetro é unitário, mas tem sua referência à unidade do insumo. Para a determinação do preço parâmetro, portanto, há a necessidade de se ajustar o valor obtido, dividindoo pelo coeficiente insumo produto, que nada mais é do que um fator que nos indica quanto de insumo há em cada unidade de produto. Assim, o preço parâmetro do item ajustado é o preço parâmetro utilizado no cálculo dos ajustes de PT, em comparação com o preço praticado: Preço par. do item (por unid. Produto) / coef. Insumo produto = Preço par. do item (por unid. Produto) / [(unid. Insumo)/ (unid. Produto)] = Preço par. do item (por unid. Produto) * [(unid. Produto) / (unid. Insumo)] = Preço par. do item (por unid. Insumo) = Preço par. do item ajustado = Preço par. PRL60 Se no caso em tela há duas unidades de insumo consumido para cada unidade de produto vendido (coeficiente insumo produto = 2,00), há a necessidade do ajuste exposto acima (divisão por 2) para se determinar o preço parâmetro. O valor obtido como preço parâmetro sem o ajuste é igual a R$ 19,91, enquanto que ajustado ele seria igual a R$ 9,95. Suponhamos que tenha havido venda de 100 unidades para formação do preço parâmetro. O valor calculado é igual a R$ 19,91 para cada unidade vendida. No entanto, para cada unidade vendida, há duas unidades de insumo que foram consumidas. No total, foram 200 unidades de insumo. Assim, se tivermos de calcular o preço parâmetro, por unidade de insumo, teremos de dividir R$ 19,91 (que se referia a uma das 100 unidades de produto), por 2, para obtermos R$ 9,95 (que passa a se referir a uma das 200 unidades de insumo). Cumpre observar que os ajustes de PT são calculados mediante a comparação entre preço praticado e preço parâmetro. Se os preços praticados são valores unitários calculados sempre em função da unidade de insumo, não teria cabimento fazermos a comparação se o preço parâmetro também não tivesse sido calculado utilizandose a mesma referência (unidade de insumo). No tocante ao percentual de participação do custo do insumo no produto propriamente dito, não procedem as alegações da recorrente, tendo em vista que seu próprio nome é autoexplicativo. Tratase do percentual de custos dos insumos e o custo do produto final, ou seja, qual a participação, em termos de custos, dos insumos em análise, em relação ao custo total do produto. No caso exemplificado acima, seria a relação entre o custo dos insumos empregados que, no caso, seria correspondente a 2 unidades de insumo, e o custo de 1 unidade produzida do produto final (a empresa estaria argumentando que o percentual seria correspondente à relação entre o custo de 1 unidade de insumo e o custo de 1 unidade do produto, o Fl. 5503DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.504 15 que não pode prosperar, tendo em vista que são necessárias 2 unidades de insumo para produzir 1 unidade do produto). Notese que o percentual de custos considera a relação entre as quantidades de insumo consumidas e as quantidades de produto produzidas (coeficiente insumoproduto). É exatamente por tal fato, que a Fiscalização, ao obter o preço parâmetro pelo método PRL60, procedeu a um ajuste do mesmo, dividindo o valor encontrado por 2 (coeficiente insumoproduto), de modo a ter ambos os preços (praticado e parâmetro) na mesma base referencial (unidade do insumo). Portanto incabíveis são as argumentações da recorrente, referentes a possível equívoco na utilização dos índices de participação insumo/produto, não havendo qualquer alteração a ser efetuada nos valores dos autos em epígrafe. Intimada a se manifestar sobre o relatório da diligência, a recorrente refutou as suas conclusões e reiterou seus argumentos da existência de vícios e erros insanáveis nos cálculos realizados pelo agente fiscal quando da apuração da base tributável, propugnando pelo cancelamento integral da autuação. Devolvidos os autos a este conselho para prosseguimento, o processo foi objeto de sorteio a este relator na sessão de 07/04/2016, tendo em vista a extinção do mandato do relator original. Na sessão de 05 de julho de 2016, este colegiado, por meio da Resolução nº 1302000.430, resolveu converter o julgamento em nova diligência, nos seguintes termos: [...] Quanto à necessidade de realização de novas diligências, refirome especificamente ao conjunto de argumentos trazidos pela recorrente nos tópicos do item 2 (Aplicação do método PRL60 para produtos originalmente submetidos pela recorrente ao cálculo conforme o método PRL20) e nos tópicos do item 5 (Cálculos com base em médias ponderadas em que a mesma matériaprima importada foi empregada na produção de mais de um produto, ou foi destinada quanto à produção como à revenda) do seu recurso. No item 2 do recurso a recorrente alega que relativamente a alguns produtos, o agente fiscal reclassificouos, sujeitandoos ao método PRL60 ao invés do método PRL20. (pags. 11/12 do TVF anexo ao auto de infração). Sustenta que tais produtos não se destinam a produção, mas a reunião em kits e a embalagem manual para revenda, sem alteração de sua natureza ou características. Ocorre que no TVF (efls. 4281/4282), a autoridade fiscal cita, exemplificativamente, a ocorrência dessa situação com relação a alguns produtos, verbis: [...] Como exemplo, citamos o insumo "133082149541" (CONJ. PLATO M210X), que entrou na produção do produto "133082149541A1" (tabela "Insumo Produto Anual" contendo dados de produção) e foi vendido no mercado interno e exportado (tabela "Vendas"). Os cálculos de ajustes deveriam ser realizados utilizandose margem de 60% e não de 20% como foi constatado (tabela "Ajustes de Importação do Ano Fiscalizado" — fls. 1743 a 1806). Fl. 5504DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.505 16 Outro caso foi o do item "043157'180231" (CONJ. MANCAL KZIS0) que produziu o item "043151180231CC", o qual entrou na produção do item "009000161001A5" (KIT EMBREAGEM), do item "003000000049A5" (CONJ. KIT DE EMBREAGEM), do item "BA3000030001A5"( CONJ. KIT DE EMBREAGEM) e de outros, sendo que todos os produtos finais citados foram vendidos. A empresa aplicou erroneamente a margem de 20% ao invés de 60%. Solicitamos, outrossim, que o contribuinte apresentasse os descritivos de cálculo dos preços parâmetros dos itens "4139298943" (PRL20 — "KIT DE VEDAÇÃO") — R$ 271,08 e "4149203023" (PRL60 — "TAMPA DE SAÍDA") — R$ 256,22 (fls. 1714 e 1715). Da análise do material fornecido, pudemos constatar que, no caso do item "4139298943", para o qual foi empregada a margem de 20% do método "PRL", a empresa utilizou o valor das vendas brutas sem a dedução dos impostos para calcular o preço parâmetro, como se pode verificar da planilha apresentada pela empresa, á fl. 1718: [...] A autoridade lançadora descreveu as apurações do método PRL60 no subitem 2.2.3.4.2 do TVF, cujos resultados foram consolidados no Relatório de consolidação PRL60 e PRL20/60) efls. 2772/2781 nos quais não consegui identificar quais os itens de insumos tiveram a apuração do preço de transferência reclassificados do PRL20 para o PRL60. Por outro lado, a recorrente também se reportou no recurso aos exemplos citados pela autoridade fiscal no TVF para questionar a aplicação do PRL60 e não do PRL20, conforme havia calculado (tópicos 117.1 a 122 da peça recursal). informando que anexou um resumo, por amostragem, do processo de embalagem e circulação dos itens no seu estoque (doc. 8 da impugnação) efls. 4808/4820). Assim, na hipótese deste colegiado vir a acatar as alegações da recorrente, é imprescindível que sejam identificados os itens de insumos que sofreram a reclassificação do método de apuração (PRL20 para PRL60), bem como o montante a ser reduzido na base de cálculo em face de eventual acolhimento parcial do recurso, de forma a tornar a decisão líquida. Com relação à matéria suscitada no item 5 do recurso, a recorrente alega que nos casos em que a mesma matéria prima foi empregada na produção de mais de um produto, ou foi destinada tanto a produção quanto à revenda, a autoridade fiscal utilizouse de uma média aritmética ponderada para chegar a um preço parâmetro único, para fins de atender a exigência da legislação. Sustenta que tal procedimento não tem amparo na legislação. Sendo assim, a solução adotada pela autoridade fiscal, teria extrapolado o poder discricionário a ele conferido, caracterizando inovação ou criação de regras novas, inexistentes nas normas legais que regem a matéria. Sustenta que, nestas situações, deveria o agente fiscal ter considerado o resultado mais benéfico ao contribuinte, "conforme determina a lei e é o espírito das regras de preço de transferência". A questão levantada pela recorrente está descrita na Situação n° 2: Matéria prima importada de vinculada utilizada na produção de mais de um produto para venda (fls. 21/22 do TVF), na qual a autoridade fiscal conclui, verbis: Fl. 5505DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.506 17 Esta é uma das situações encontradas na empresa ZF do Brasil Ltda. para elaboração dos cálculos do preço parâmetro com margem de 60% (PRL60). Da análise do quadro abaixo (fl. 2786 do processo), verificouse que, no AC 2005, a matériaprima importada "001842391043" ("CUBO") foi utilizada na fabricação de mais de um produto de venda: [...] Nesse caso, a matériaprima de código "001842391043" foi utilizada em 5 produtos. Desta forma, foram calculados 5 preços parâmetros, um para cada produto. Como a legislação brasileira de preços de transferência não admite que um insumo ou matériaprima tenha mais de um preço parâmetro, a solução encontrada pela fiscalização foi fazer a média aritmética ponderada para chegar num preço parâmetro único (R$ 19.1190/pc), para comparação com o preço praticado na importação. A referida situação volta a ser mencionada às pag. 22 e 23 do TVF, verbis: Situação nº 3: Matériaprima importada de vinculada utilizada na produção de mais de um produto para venda e também revendida Outra situação encontrada na empresa ZF do Brasil Ltda. para elaboração dos cálculos do preço parâmetro com margem de 60% (PRL60) foi aquela em que o insunno importado é utilizado na produção e também é revendido. Da análise do quadro abaixo (fl. 2797 do processo), verificouse que, no AC 2005, a matériaprima importada "0501007354" ("CONVERSOR DE TORQUE BINÁRIO") foi utilizada na fabricação de mais de um produto de venda, bem como foi revendida (a situação da revenda está representada no quadro com o código do produto igual ao código do insumo "0501007354"): [..] A matériaprima de código "0501007354" foi utilizada em 6 produtos. Neste caso, foram calculados 6 preços parâmetros (PRL60) e mais um que corresponde á revenda (PRL20). Esta Fiscalização, apurou a média aritmética ponderada entre o valor obtido do PRL20 (R$ 528,1200/cj) e os valores obtidos a partir do PRL60 (representando a média aritmética ponderada dos 6 preços parâmetros R$ 917,7031/cj), de modo a chegar a um único valor de preço parâmetro (R$ 904,49691cj), utilizado para comparação com o preço praticado na importação (nos moldes da SCI Cosit n° 30, de 30/07/08). De acordo com o TVF (pag. 25), este valores também foram consolidados no "demonstrativo de apuração e respectivas memórias de cálculos estão às fls. 2643 a 2647 do processo (Relatório "Consolidação PRL60 e PRL20/60") efls. 2772/2781. Também neste caso não consegui identificar se estas situações ocorreram apenas em relação aos insumos citados nas situações 2 e 3, acima descritas, ou com relação aos demais itens. Assim, na hipótese deste colegiado vir a acatar as alegações da recorrente, é imprescindível que sejam identificados os itens de insumos que tiveram o preço parâmetro calculado com base na média ponderada, bem como o montante a ser reduzido na base de cálculo em face de eventual acolhimento da pretensão da recorrente de que seja aplicado o menor valor apurado como preço parâmetro, possibilitando tornar líquida eventual decisão neste sentido. Fl. 5506DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.507 18 Por todo o exposto, voto no sentido e converter o presente julgamento em diligência, determinandose o envio dos autos à unidade de origem para que seja designada autoridade fiscal competente para a adoção das seguintes providências: a) Com relação à matéria discutida no item 2 do recurso voluntário (Aplicação do método PRL60 para produtos originalmente submetidos pela recorrente ao cálculo conforme o método PRL20): a.1) sejam identificados os itens de insumos que sofreram a reclassificação do método de apuração (PRL20 para PRL60); a.2) seja intimada a recorrente, com o envio da relação dos itens de insumos que sofreram a reclassificação do método de apuração (PRL20 para PRL60), elaborada conforme o item a.1 acima, para que esta indique expressamente os insumos que entende que não deveriam sofrer a alteração do método de apuração, por se tratarem de itens para revenda, apresentando os elementos comprobatórios de que tais insumos passam por mero processo de acondicionamento, sem aposição de marca (nos termos da Solução de Consulta Cosit nº 22/2008); a.2) de posse dos elementos apresentados pela recorrente, sejam realizados os cálculos dos valores que deveriam se excluídos da base de cálculo, caso venha a ser acolhida a alegação da recorrente com relação aos itens de insumos por ela apontados; a.3) caso ainda persistam diferenças tributáveis (pelo método PRL20) com relação a estes itens, em decorrência de outros fatores apurados pela fiscalização, em relação a quaisquer deles, identificar e demonstrar as diferenças apuradas e seus fundamentos. b) Com relação ao item 5 do recurso (Cálculos com base em médias ponderadas em que a mesma matériaprima importada foi empregada na produção de mais de um produto, ou foi destinada quanto à produção como à revenda) do seu recurso: b.1) sejam identificados os itens de insumos que tiveram o preço parâmetro calculado pela média ponderada em face da sua utilização na produção de mais de um produto ou que foi destinada tanto à produção como à revenda; b.2) seja calculado o montante a ser reduzido na base de cálculo em face de eventual acolhimento da pretensão da recorrente de que seja aplicado o menor valor apurado como preço parâmetro. c) Elaborar relatório conclusivo com relação às providências indicadas nos tópicos a e b acima. d) Seja encaminhada cópia do relatório conclusivo da diligência à contribuinte interessada, para que esta, querendo, se manifeste sobre o seu teor, no prazo de 30 dias, nos termos do parágrafo único do art. 35 do Decreto nº 7.574/2011. Escoado o prazo para manifestação, retornemse os autos a este conselho para continuidade do julgamento. Encaminhado os autos à unidade preparadora, a autoridade fiscal encarregada das diligências, após efetuar os levantamentos determinados, elaborou Relatório Conclusivo em Diligência (fls. 5441/5451), do qual se extrai: [...] Fl. 5507DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.508 19 Com relação ao item “a”, esta Fiscalização encaminhou à empresa, intimação contendo uma tabela dos itens que sofreram reclassificação do método PRL20 para PRL60 (fls. 5218 a 5220), de modo que a recorrente pudesse fazer suas considerações quanto à aplicação do método PRL20 para tais, apresentando os elementos comprobatórios de que tais insumos estariam sujeitos a simples acondicionamento. A tabela originalmente encaminhada à empresa continha os seguintes itens: Em sua resposta (“Doc Comprobatórios” à fl. 5224), a empresa logrou apresentar esclarecimentos apenas dos seguintes itens: Cumpre a esta Fiscalização observar que, segundo os esclarecimentos da empresa, todos os itens sofreram acondicionamento, com aposição de marca. Alguns itens, no processo, foram embalados juntamente com outros itens, como é o caso do produto “343151224201” (CONJ. MANCAL KZIZ5), que foi embalado com anel de embreagem, molas, arruelas e anel de aperto. Neste ponto, é de se transcrever a Solução de Consulta nº 22/08 da COSIT: Fl. 5508DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.509 20 “A pessoa jurídica sujeita aos controles de preços de transferência, que importa bens de vinculadas e que procede apenas o acondicionamento (embalagem) do produto poderá adotar na apuração do preço parâmetro o método Preço de Revenda menos Lucro (PRL), com margem de lucro de vinte por cento. Caso, juntamente com o acondicionamento (embalagem) ocorrer à aposição de marca, com a conseqüente agregação de valor, procederseá a apuração do preço parâmetro com base no método Preço de Revenda menos Lucro (PRL), com margem de lucro de sessenta por cento.(grifos nossos).” (Solução de Consulta 22/08 – Cosit) Independentemente dos fatos acima apresentados, prosseguimos nos cálculos requisitados. Chamamos de referentes ao “Caso 1” estes recálculos. Na tabela “Insumo Produto Anual” pudemos verificar os códigos dos insumos acima, os códigos dos produtos correspondentes (que a empresa denomina “kits”) e as quantidades produzidas destes “kits”. Relacionamos estes dados na tabela seguinte: Para lograr efetuar os cálculos do PRL20 para tais itens, em substituição ao PRL60, houve a necessidade de adaptação, “convertendo” os códigos dos produtos na tabela “Vendas”, substituindoos pelos respectivos códigos dos insumos. Assim, por exemplo, “343151000144A1” passou a ser “343151000144” e assim por diante, como se o “kit” fosse o próprio item original. Desta forma, obtivemos os seguintes resultados, para os seis itens em questão: Fl. 5509DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.510 21 Da tabela acima, pudemos verificar que: Ø para o item “043151180231” não foi possível localizar vendas do item “produto” “043151180231CC”. Consequentemente o novo ajuste é nulo. Ø para todos os demais itens, exceto o “201878020102”, os novos ajustes resultaram nulos. Os ajustes originais foram retirados do relatório “Consolidação PRL60”, gerando, portanto, um novo relatório “Consolidação PRL60”. Os cálculos dos novos ajustes podem ser encontrados na pasta “Caso 1” à fl. 5424, planilha “Consolidação PRL60.xls”, juntamente com o novo relatório “Consolidação PRL60”. Ø para o item “201878020102” o novo ajuste resultou R$ 6.660,01. Este valor foi adicionado no relatório “Consolidação PRL20” e o valor original R$ 293.578,79 foi suprimido do relatório “Consolidação PRL60”. Os novos relatórios “Consolidação PRL20” e “Consolidação PRL60” podem ser encontrados na pasta “Caso 1” à fl. 5424. Ø O item “003103004000” teve o preço parâmetro alterado em função das operações acima e seu ajuste foi indiretamente modificado, passando de R$ 131.843,37 para R$ 129.983,80. Os cálculos desta alteração podem ser encontrados no relatório retificado “Consolidação PRL60” e “Demonstrativo do Preço Parâmetro PRL60” na pasta “Caso 1”. A seguir, apresentamos um resumo dos valores anteriores e os novos valores calculados no caso em epígrafe: Fl. 5510DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.511 22 Por conseguinte, a diferença entre o valor total anterior, após a DRJ, e o novo valor é de R$ 893.936,01. Na pasta “Caso 1”, à fl. 5424 constam os “Demonstrativos dos Preços Praticados”, os “Demonstrativos dos Preços Parâmetros” e “Demonstrativo das Quantidades de Ajuste do PRL20” para conferência. No tocante ao item “b” das proposições encaminhadas, cumpre esclarecer que a SCI Cosit nº 30, de 30/07/2008 trata dos casos de preço de transferência em que os insumos são industrializados e também são vendidos, sendo que esta Fiscalização buscou seguir as regras ali contidas para a apuração do preço parâmetro para tais casos (utilização da média ponderada entre os preços calculados segundo o PRL20 e o PRL60, para tais casos). Ademais, com relação aos itens que foram empregados em mais de um produto, a própria IN SRF 243/02, em seu artigo 12, deixava claro que o preço parâmetro era calculado a partir da “média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens, serviços ou direitos”: “Art. 12. A determinação do custo de bens, serviços ou direitos, adquiridos no exterior, dedutível da determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, poderá, também, ser efetuada pelo método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL), definido como a média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens, serviços ou direitos, diminuídos: (...)” Inobstante tais considerações, não nos eximimos de proceder ao recálculo dos valores dos preços parâmetros daqueles itens que ingressaram em mais de um produto, bem como daqueles que foram utilizados na produção e revendidos. Nominamos estes recálculos como referentes ao “Caso 2”. Os valores dos preços parâmetros recalculados foram os valores máximos entre os preços parâmetros calculados para cada produto, no primeiro caso (valor mais benéfico ao contribuinte). Para os itens que tiveram calculados o PRL20 e o PRL60, considerou se, como preço parâmetro, o valor maior entre os dois (valor mais benéfico ao contribuinte). Destarte, foram obtidos novos relatórios “Consolidação PRL60” e “Demonstração do Preço Parâmetro PRL60” que estão disponíveis na pasta “Caso 2” à fl. 5425. Neste caso, os valores do relatório original “Consolidação PRL20” não são alterados. O valor total consolidado do PRL60 é igual a R$ 8.116.161,37. A seguir, um resumo dos valores iniciais e dos novos valores calculados no caso em epígrafe: Fl. 5511DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.512 23 A diferença, portanto, entre o valor da consolidação total inicial, após a DRJ, e o obtido para o “Caso 2” é igual a R$ 31.538.992,55 – R$ 8.478.551,43 = R$ 23.060.441,12. É este o valor a ser diminuído dos autos, caso seja aceito o critério de apuração dos ajustes, nos moldes do item “b”. Finalmente, cumpre discorrer também sobre o caso em que seriam aceitos os critérios de apuração, simultaneamente, nos conformes dos itens “a” e “b” (Chamamos esta situação de Caso 3). Pudemos levantar que, ao se aplicar inicialmente o segundo critério (modificação dos preços parâmetros), restaram 4 itens do primeiro critério que aparecem no relatório “Consolidação PRL60”, com ajustes retificados distintos de zero (os valores foram recalculados segundo este critério), quais sejam: Tabela Aplicandose a estes, agora, o primeiro critério, o relatório “Consolidação PRL60”, por conseguinte, teve uma diminuição do seu valor total em R$ 511.483,01 e o relatório “Consolidação PRL20” teve um aumento de R$ 6.660,01, referente ao item “201878020102”, conforme já analisado no “Caso 1”. Os novos relatórios “Consolidação PRL60” e “Consolidação PRL20” podem ser encontrados na pasta “Caso 3” à fl. 5426, bem como os demais relatórios demonstrativos. Assim, os valores dos ajustes retificados estão resumidos conforme a tabela a seguir: A diferença, portanto, entre o valor da consolidação do PRL60 inicial, após a DRJ, e o obtido nesta diligência é igual a R$ 31.538.992,55 – R$ 7.973.728,44 = R$ 23.565.264,11. É este o valor a ser diminuído dos autos, caso seja aceito o critério de apuração dos ajustes, nos moldes dos itens “a” e “b” simultaneamente. CONCLUSÕES FINAIS Em relação ao item “a”, caso sejam acolhidas as pretensões da recorrente, haveria uma redução de R$ 893.936,01 do valor autuado. Cumpre observar que todos os itens relacionados pela empresa tiveram aposição de marca, ao serem embalados em “kits”, sem deixar de mencionar que, em alguns destes “kits”, houve acréscimo de outros itens. Tais processos estariam, portanto, caracterizando “industrialização” nos moldes da SCI Cosit nº 22/08 e, por conseguinte, correta teria sido a autuação da Fiscalização ao aplicar o PRL com margem de 60% para estes casos. Fl. 5512DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.513 24 Quanto ao item “b”, a redução do valor seria de R$ 23.060.441,12. É de se salientar que o art. 12 da IN SRF 243/02 dispõe claramente que o preço parâmetro deve ser calculado a partir da “média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens, serviços ou direitos”. Com relação aos casos híbridos, em que o insumo ingressa na produção e também é revendido, cabe rememorar que a SCI Cosit nº 30/08 buscou elucidar a questão para os mesmos. Portanto incabíveis são as argumentações da recorrente, referentes a possíveis equívocos nos cálculos apresentados, em função de interpretação errônea da legislação por parte da Fiscalização, Entendese, portanto, que não haveria qualquer alteração a ser efetuada nos valores dos autos em epígrafe. Cientificada do Relatório Conclusivo em 18/11/2016, a interessada, ora recorrente, apresentou manifestação sobre o referido relatório, nos seguintes termos: 1. Após a conversão do julgamento em diligência para que o Auditor Fiscal apresentasse os valores dos débitos considerando a possibilidade de serem acatados alguns argumentos da Recorrente, foi apresentado Relatório Conclusivo Fiscal sobre o qual esta Recorrente pode se manifestar. 2. De acordo com a última manifestação apresentada por esta Recorrente os principais pontos questionados foram: (a) Erro no calculo apresentado pelo Auditor Fiscal no tocante aos produtos que foram reclassificados de PRL 20 para PRL 60. 3. No tocante a este erro verificase que o Auditor Fiscal reconhece o equivoco e apresenta novo valor referente aos produtos que sofreram a indevida reclassificação para PRL 60. A propósito veja trecho da última manifestação fiscal: Tabela 4. Portanto, considerando os itens de insumos importados em que a Recorrente apresentou prova de que não houve emprego no processo produtivo, mas mera revenda, é de rigor, no mínimo, a diminuição do valor de ajuste considerado pelo Auditor Fiscal como base para a autuação fiscal, de modo que se considere o montante de R$ 893.936,01 a ser subtraído do valor a ser ajustado. (b) Erro no calculo apresentado referente a media ponderada no tocante aos produtos que foram empregados em mais de um processo produtivo ou que foram destinados tanto a producao como a revenda 5. Outro erro apresentado pela Recorrente na última manifestação apresentada, referese ao cálculo apresentado pelo Auditor Fiscal quanto ao preço de transferência de insumos que tiveram destinações diversas. 6. A Recorrente defende que não há previsão legal para o critério adotado pelo Auditor Fiscal, qual seja, a aplicação de média ponderada sobre preços parâmetros, pois a lei só prevê média ponderada para preços de revenda quando um mesmo insumo importado for destinado para a industrialização de diversos produtos. 7. O Auditor Fiscal procedeu ao cálculo e concluiu, num primeiro momento, que haveria uma redução de R$ 10.969.634,40 sobre o valor total de ajuste no tocante ao valor consolidado de PRL 60. Fl. 5513DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.514 25 8. A Recorrente, por sua vez, demonstrou que os cálculos elaborados pelo Auditor Fiscal contêm erro na base de cálculo apresentada. 9. Isto porque o Auditor Fiscal partiu do valor total de ajuste de R$ 39.572.945,48 (considerando 175 itens importados), o qual já foi objeto de retificação, tendo em vista que na primeira apuração foram deduzidos em duplicidade os valores dos tributos incidentes. A base correta para a realização do recálculo seria de R$ 31.176.602,49 (considerando 170 itens importados) (Consolidação PRL 60) – fls. 5.195. 10. Na manifestação fiscal apresentada em 29/09/16, o Auditor Fiscal recalculou os valores e concluiu que o valor a acrescer nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL seria de R$ 10.969.634,40, considerando 197 itens importados. 11. Após a manifestação da Recorrente apontando tal equívoco o Auditor Fiscal se manifesta e retifica o calculo considerando a base correta. Veja o seguinte trecho da última manifestação fiscal: Tabela 12. Portanto, considerando a última manifestação fiscal, caso seja acatado o argumento da Recorrente no tocante à impossibilidade de se proceder à média ponderada no tocante aos produtos que tiveram destinação diversa, então, o valor de ajuste cairia para R$ 23.060.441,12, de modo que os impostos deveriam ser recalculados considerando esta nova base de ajuste no LALUR. CONCLUSAO 13. De acordo com a manifestação fiscal é possível perceber os diversos erros na constituição do crédito tributário, erros estes que caracterizam iliquidez e incerteza quanto ao crédito tributário e que, portanto, macula de nulidade o lançamento fiscal. 14. Notese que foi necessária a contratação de uma Auditoria para verificação dos cálculos apresentados pelo Auditor Fiscal, cálculos estes que contém diversos erros que foram aqui demonstrados e que, inclusive, foram acatados pelo próprio Auditor Fiscal que procedeu à “retificação” do crédito tributário, retificação esta que apenas confirma a falta de liquidez e certeza quanto ao débito cobrado. 15. Diante de tamanha inconsistência na constituição do crédito tributário ora em discussão é de rigor a nulidade do lançamento fiscal ou, no mínimo, que o laudo apresentado pela Recorrente seja acatado integralmente no tocante aos valores apresentados quando da liquidação deste auto de infração. 16. Assim, considerando os argumentos de defesa contidos no recurso voluntário, entre os quais que: (i) o cálculo do preço parâmetro segundo o método PRL 60 deve levar em conta os critérios determinados na Lei n.º 9.430/96, (ii) os valores de frete incorridos fora do Brasil não podem compor a base de cálculo do preço parâmetro (critério CIF X FOB), tanto no método do PRL20 quanto o método do PRL60, ainda assim o valor da autuação cairia para R$ 465.550,96, conforme cálculo apresentado pela E&Y, a saber: Fl. 5514DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.515 26 17. O cálculo acima foi realizado considerando a média ponderada para as hipóteses de insumos que foram empregados em no processo produtivo de mais de um produto (PRL60) ou quando o insumo foi destinado tanto para revenda quanto para industrialização (PRL20/60). Caso ainda fosse aplicada a sistemática defendida pela Recorrente, ou seja, adotado o melhor preço do ponto de vista do contribuinte, o valor do ajuste seria ainda menor que o valor acima apresentado. 18. De qualquer forma a Recorrente já considerou em DIPJ o ajuste na base de cálculo do IRPJ/CSLL para os mesmos 224 insumos objeto desta autuação, no valor de R$ 866.936,53 que, apesar de terem sido calculados pelo método CPL, PRL20 e PRL60, tal ajuste (já ibutado) não pode ser desconsiderado. Logo, se o ajuste correto, conforme Laudo da E&Y, seria de R$ 465.550,96, a Autuada no fim, acabou declarando em DIPJ ajuste superior ao devido. 19. Diante do exposto, considerando que o Auditor Fiscal cometeu diversos equívocos nos cálculos apresentados, requerse nova conversão do julgamento em diligência para que todos os pontos levantados pela Recorrente sejam devidamente esclarecidos, sob pena dos valores serem desconsiderados, adotandose os valores apresentados no laudo técnico da E&Y. 20. Reiteramse os demais argumentos de defesa e os documentos já acostados aos autos que comprovam a improcedência da autuação fiscal. É o relatório. Fl. 5515DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.516 27 Voto Conselheiro Luiz Tadeu Matosinho Machado Relator Tratase de apreciar recurso voluntário e de ofício, interpostos em face do 11 51.731, de 21 de dezembro de 2015, proferido pela 3ª Turma da DRJRecifePE. RECURSO DE OFÍCIO Em face da exoneração parcial do crédito pelo acórdão recorrido foi interposto recurso de ofício pelo colegiado a quo. O recurso de ofício deve ser conhecido, pois o valor exonerado extrapola o limite fixado pelo Ministro da Fazenda, por meio da Portaria MF. nº 63, de 09/02/2017 (créditos de tributos e encargos de multa superior a R$ 2.500.000,00). A decisão recorrida, acolheu parcialmente as alegações da recorrente. A primeira matéria exonerada decorreu da apuração, em diligência, de erros de cálculo na apuração dos preçoparâmetro, conforme alegara a recorrente, sendo acolhido pelo colegiado a quo, nestes termos: Dos erros de cálculo apontados pela impugnante Em face da alegação da impugnante de que, na apuração dos preços parâmetro, o Auditor Fiscal teria, equivocadamente, efetuado uma dupla dedução do mesmo montante relativo ao valor dos tributos (PIS, COFINS e ICMS), o presente processo foi encaminhado por esta Delegacia de Julgamento à DEMAC/SÃO PAULO, para que o Auditor Fiscal autuante se manifestasse acerca dessa alegação e refizesse, se fosse o caso, a apuração dos preços de transferência (basicamente os preçosparâmetro) e respectivos ajustes. Constatando que, de fato, em alguns casos teria ocorrido a dupla dedução dos tributos, a fiscalização procedeu ao recálculo do ajuste adicional a título de preços de transferência, que passou a totalizar o montante de R$ 31.538.992,55 (já deduzidos os valores de ajustes declarados pela contribuinte), a seguir sintetizado (valores em reais): Em sua defesa, a impugnante alega que • os erros em questão são erros insanáveis, eivando de nulidade o lançamento original; e Fl. 5516DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.517 28 • houve uma nova apuração e um novo lançamento, o que não é cabível e nem encontra previsão legal, além de haver esgotado o prazo decadencial. Com relação à alegação de nulidade suscitada pela contribuinte, há que se observar o disposto nos artigos 59 e 60 do Decreto nº 70.235/72, in verbis: “Art. 59. São nulos: I os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio”. O exame dos dispositivos supra mostra que, no tocante ao lançamento, só pode haver nulidade se o ato for praticado por agente incompetente (o que não é o caso), posto que a hipótese do inciso II, relativa ao cerceamento do direito de defesa, alcança apenas os despachos e decisões, que não são inerentes à fase procedimental (fiscalização), mas sim, à fase de julgamento, tecnicamente considerada, exercitada sob as luzes do contraditório e da ampla defesa. No caso em tela, os motivos alegados pela interessada não invalidam o lançamento, tendo sido sanadas as irregularidades, nos termos do artigo 60 do Decreto nº 70.235/72, por meio da diligência executada pela fiscalização. Ao contrário do que entende a impugnante, a fiscalização, apesar de haver calculado como ficaria o crédito tributário, não efetuou novo lançamento. Apenas recalculou a matéria tributável e informou a esta Delegacia de Julgamento, que ao aceitar esses novos cálculos (não contestados pela impugnante) pode rever o lançamento, nos termos do art 145 do CTN, in verbis: “Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado em virtude de: I impugnação do sujeito passivo; (...)”. Por todo o exposto, há que se admitir como correto o montante de R$ 31.538.992,55, a ser tributado a título de ajuste de preços de transferência. Não há reparos à fazer à decisão recorrida neste ponto. Tendo sido confirmados os equívocos na apuração das diferenças tributáveis apontadas pelo recorrente, impunhase o ajuste dos valores lançados na mesma proporção. Assim, voto por negar provimento ao recurso de ofício quanto ao ponto. DA DESQUALIFICAÇÃO DO MÉTODO CPL E DA MULTA REGULAMENTAR Fl. 5517DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.518 29 O método CPL adotado pela contribuinte foi corretamente desqualificado pela fiscalização por não ter a contribuinte apresentado a documentação comprobatória solicitada e por, expressamente, haver solicitado à fiscalização que “deixe de realizar o cálculo do preço parâmetro com base no método CPL, aplicando o método que entender mais apropriado” (fl. 963). Essa desqualificação tem por fundamento legal o § único do artigo 40 da IN SRF nº 243/2002, in verbis: “Art. 40. A empresa submetida a procedimentos de fiscalização deverá fornecer aos AuditoresFiscais da Receita Federal (AFRF), encarregados da verificação: I a indicação do método por ela adotado; II a documentação por ela utilizada como suporte para determinação do preço praticado e as respectivas memórias de cálculo para apuração do preço parâmetro e, inclusive, para as dispensas de comprovação, de que tratam os arts. 35 e 36. Parágrafo único. Não sendo indicado o método, nem apresentados os documentos a que se refere o inciso II, ou, se apresentados, forem insuficientes ou imprestáveis para formar a convicção quanto ao preço, os AFRF encarregados da verificação poderão determinálo com base em outros documentos de que dispuserem, aplicando um dos métodos referidos nesta Instrução Normativa” (grifei). Destaquese que a supracitada norma não impõe à fiscalização a apuração dos preços de transferência por mais de um método e a escolha do mais favorável ao contribuinte. Essa é uma prerrogativa do contribuinte, mas não uma imposição à fiscalização, que pode aplicar apenas um método. Quanto à multa regulamentar de R$ 2.694,79, pelo não cumprimento total da entrega do material solicitado no prazo original e prorrogações concedidas relativo à comprovação do método CPL, ela é incabível, devendo ser exonerada, pois a conseqüência dessa omissão foi a desqualificação do referido método. Entendo que está correta a exoneração da multa aplicada, porém, por motivo diverso do acórdão recorrido. A referida multa, prevista no art. 968 do RIR/99, é dirigida à falta de prestação de informações por terceiros (art. 928), quando intimado pelas autoridades fiscais. Não se aplica ao contribuinte sob fiscalização. Para os casos de recusa na prestação de informações por parte do fiscalizado, que revelem a intenção de obstaculizar a ação fiscal existe a previsão legal específica de majoração da multa de ofício que vier a ser aplicada no curso do procedimento fiscal (art. 44, § 2º da Lei 9.430/1996). No presente caso, entendo que nem tal infração ficou caracterizada, pois a empresa justificou a dificuldade de obtenção dos documentos junto às suas coligadas no exterior, sendo que, conforme observou a decisão recorrida, a não apresentação dos elementos levou à desqualificação do método CPL por ela adotado, por falta de comprovação. Fl. 5518DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.519 30 Ante ao exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso de ofício também quanto a esta matéria. RECURSO VOLUNTÁRIO O recurso voluntário é tempestivo e atende aos pressupostos regimentais, devendo ser conhecido Preliminar de nulidade do auto de infração A recorrente alega a nulidade da autuação decorrente de erros insanáveis de cálculo que levaram ao refazimento irregular da autuação durante a diligência determinada pela Delegacia de Julgamento, tendo em vista a confirmação de equivocos, or ela apontado em sua impugnação,na apuração do preço parâmetro com base no método PRL. A decisão recorrida acolheu as conclusões da diligência, reduzindo o montante do crédito exigido, mas não declarou a nulidade do auto de infração. Entendo que, de fato, não é o caso de nulidade da autuação. Eventuais erros de cálculo na apuração do montante tributável podem ser reconhecidos e corrigidos no montante exigido, sem prejuízo ao contribuinte. Notese que os cálculos tomaram por base elementos fornecidos pelo sujeito passivo e que parte dos erros constatados decorreram do preenchimento das planilhas pelo próprio contribuinte, ora relacionando valores de venda já deduzidos dos tributos, ora os relacionando sem tal dedução. Ademais, tais erros foram facilmente identificáveis pelo próprio sujeito passivo em sua impugnação, o que demonstra a perfeita compreensão dos cálculos efetuados e os prejuízos que dele adviriam foram prontamente sanados pela decisão recorrida. Assim, rejeito a preliminar de nulidade suscitada. Mérito No mérito, a recorrente traz alegações específicas sobre a aplicação dos métodos de apuração do preço de transferência pela fiscalização, que passo a analisar na ordem formulada no recurso voluntário. 1. Aplicação do método PRL60 nos termos da Lei 9.430/96 (alterada pela Lei 9.959/00). A recorrente alega que a fiscalização ao proceder aos cálculos pelo método PRL60, seguiu os critérios estabelecidos na Instrução Normativa nº 243/02, que "encontrase em contrariedade à lei que trata dos preços de transferência, tendo instituído critérios não apenas novos, mas que representam verdadeiro aumento de tributo sem previsão legal", devendo ser afastada sua aplicação. Sustenta que a IN.SRF. nº 243/02 não se limitou a regular as regras de preços de transferência estabelecidas no art. 18 da Lei nº 9.430/1996, mas estabeleceu novo critério de cálculo totalmente diferente do previsto na lei. que previa a apuração do preço parâmetro com base na dedução do valor agregado no país. Já a IN. 243 não aplica o conceito de dedução do Fl. 5519DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.520 31 valor agregado no país, passando a estabelecer um critério baseado na proporcionalização entre o custo da matériaprima e o custo final do produto acabado. Alega que o critério estabelecido na IN. nº 243 é mais prejudicial ao contribuinte, representando verdadeiro aumento de tributo sem previsão legal, tendo em vista que o preço parâmetro apurado é menor, gerando um aumento indevido da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, o que viola os princípios da estrita legalidade, tipicidade fechada e reserva absoluta de lei. Aduz que ao pretender aplicar, para fins de determinação da exigência legal, critérios previstos apenas em Instrução Normativa, mas sem qualquer base legal, as autoridades fiscais ignoraram os princípios supramencionados. Sustenta que a prova cabal da necessidade de lei para a definição daqueles critérios que a IN 243 pretendeu instituir, foi a edição da MP. 478 (não convertida em lei), mas que previa a incorporação de tais critérios para fins de apuração do PRL60, num claro reconhecimento pela própria administração pública de que a IN seria insuficiente para regular a matéria, exigindose alteração legal, conforme exposição de motivos da citada MP. A questão, ora em debate, tem como cerne a legalidade da IN.SRF. 243/2002, no ponto em que disciplinou a apuração do método PLR60, previsto no art. 18, inc. II da Lei nº 9.430/1996. Para melhor compreensão da matéria, transcrevo abaixo os dispositivos, legal e normativo, que dispõem, verbis: Lei nº 9.430/1996 Art. 18. [...] II Método do Preço de Revenda menos Lucro PRL: definido como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: a) dos descontos incondicionais concedidos; b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; c) das comissões e corretagens pagas; d) da margem de lucro de: (Redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000) 1. sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção; (Redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000) 2. vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda, nas demais hipóteses. (Redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000) [...] IN.SRF. 243 Art. 12. A determinação do custo de bens, serviços ou direitos, adquiridos no exterior, dedutível da determinação do lucro real Fl. 5520DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.521 32 e da base de cálculo da CSLL, poderá, também, ser efetuada pelo método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL), definido como a média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens, serviços ou direitos, diminuídos: I dos descontos incondicionais concedidos; II dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; III das comissões e corretagens pagas; IV de margem de lucro de: a) vinte por cento, na hipótese de revenda de bens, serviços ou direitos; b) sessenta por cento, na hipótese de bens, serviços ou direitos importados aplicados na produção. [...] § 10. O método de que trata a alínea "b" do inciso IV do caput será utilizado na hipótese de bens, serviços ou direitos importados aplicados à produção. § 11. Na hipótese do § 10, o preço parâmetro dos bens, serviços ou direitos importados será apurado excluindose o valor agregado no País e a margem de lucro de sessenta por cento, conforme metodologia a seguir: I preço líquido de venda: a média aritmética ponderada dos preços de venda do bem produzido, diminuídos dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas e das comissões e corretagens pagas; II percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no custo total do bem produzido: a relação percentual entre o valor do bem, serviço ou direito importado e o custo total do bem produzido, calculada em conformidade com a planilha de custos da empresa; III participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem produzido: a aplicação do percentual de participação do bem, serviço ou direito importado no custo total, apurado conforme o inciso II, sobre o preço líquido de venda calculado de acordo com o inciso I; IV margem de lucro: a aplicação do percentual de sessenta por cento sobre a " participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido" , calculado de acordo com o inciso III; V preço parâmetro: a diferença entre o valor da " participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido" , calculado conforme o inciso III, e a margem de lucro de sessenta por cento, calculada de acordo com o inciso IV. Fl. 5521DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.522 33 Sustenta a recorrente que a IN estabeleceu novo critério de cálculo totalmente diferente do previsto na lei. que previa a apuração do preço parâmetro com base na dedução do valor agregado no país e que a IN não aplica o conceito de dedução do valor agregado no país, passando a estabelecer um critério baseado na proporcionalização entre o custo da matéria prima e o custo final do produto acabado. A questão reside em saber se o art. 18 da Lei nº 9430/1996, traz em si mesmo uma definição exata que permita a aplicação do método PRL60, ou se, exige um esforço interpretativo para sua aplicação. Entendo que o dispositivo legal não estabeleceu uma fórmula para a determinação do preço parâmetro relativo ao método PRL60, mas apenas definiu os critérios que deveriam ser obedecidos com vistas à sua obtenção. Assim, me parece razoável que a administração tributária, que é o órgão encarregado de fiscalizar o seu cumprimento, apresente a interpretação que viabilize sua aplicação pelos contribuintes em geral, não se podendo dizer que, pelo simples fato de não repetir literalmente o texto legal (o que em nada contribuiria para sua interpretação e aplicação), tenha extrapolado o texto legal. A recorrente ataca a proporcionalização trazida pela IN entre o custo da matéria prima e o custo final do produto acabado, defendendo uma fórmula estrita em que o preço parâmetro é definido diretamente mediante a aplicação do percentual de 60% sobre o preço de venda, deduzido apenas o valor agregado, sem levar em consideração o peso do insumo no produto final ou, ainda, se ele é o único insumo importado a compor o produto final. Examinando alegação no mesmo sentido, no Acórdão nº 1302001.564, proferido por este colegiado, o i. Conselheiro Alberto Pinto Sousa Junior, apresentou interessante análise que bem demonstra o equívoco do raciocínio empreendido pela recorrente, verbis: Sustenta a recorrente que a margem de lucro de 60%, nos termos da IN 243/02, deve ser aplicada somente sobre o valor da participação do bem importado sobre o preço líquido de venda, e não sobre o preço líquido de venda total, como determina a Lei 9.430/96 e que, por meio da proporcionalização prevista na IN 243/02, o desconto do valor agregado não se faz na apuração da margem de lucro (como propõe a alínea do inciso II do artigo 18 da Lei 9.430/96), mas sim diretamente do preço liquido de venda, como se o valor agregado fosse equivalente aos descontos, impostos e comissões, previstos nas alíneas 'a', 'b' e 'c' do artigo 18, II, da Lei 9.430/96. Ou seja, sustenta a recorrente que o cálculo do preço parâmetro devia seguir a equação abaixo: Preço parâmetro = PLV – 60% (PLV – VA), onde PLV é o preço líquido de venda e VA é o valor agregado no país. Assim, essa linha interpretativa, que foi adotada pela IN SRF 32/01, sustenta que o percentual de 60% deva incidir sobre o preço líquido de revenda já diminuído do valor agregado, o qual entende ser a diferença entre o custo total e o os insumos importados. Essa, certamente, não é a melhor exegese, pois, concordo com o Ilustre Conselheiro João Thomé, quando sustentou que: “Portanto, em que pese a formulação do texto legal, quanto à sua disposição nas alíneas e itens, do inciso II do artigo 18 da Lei nº Fl. 5522DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.523 34 9.430/96, não tenha atendido à melhor técnica legislativa, o fato é que as regras de concordância da língua portuguesa levam à conclusão de que a segunda parte do item 1 (‘e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção’) exerce a função, em verdade, de uma alínea à parte, dissociada do cálculo da margem de lucro, i.e., consta ali como se se tratasse de uma alínea ‘e’, aplicável, contudo, somente no caso de bens importados aplicados à produção, mas não às demais hipóteses” (trecho da declaração de voto no Acórdão nº 110200.419, conforme transcrição em Preços de Transferência no Direito Tributário Brasileiro, 3ª ed., ed. Dialética, p. 254, obra de Luís Eduardo Schoueri). Ademais, por essa interpretação, o inciso II do art. 18 da Lei nº 9.430/96 levaria ao mesmo preço parâmetro para os diversos insumos importados que compussessem o produto vendido, já que não leva em conta, nos cálculos, a participação do custo unitário de cada insumo importado no custo total. Isso também torna a norma inócua toda vez que a participação do insumo importado no custo total não for majoritária, o que não significa, em absoluto, que não se possa transferir lucros para coligadas no exterior por meio de superfaturamento em importação de insumos de menor participação no custo total do produto. A título ilustrativo, vejamos que, se o preço líquido de venda for, no mínimo, 60% superior ao custo total, desde que o custo do insumo importado não ultrapasse 40% do custo total, não haverá ajuste de preços de transferência. Por exemplo, desde que o preço líquido de venda do automóvel seja, no mínimo, 60% superior ao custo total (insumos importados mais valor agregado), os pneus podem ser importados da coligada no exterior por até 40% do custo total do automóvel que nenhum ajuste de preços de transferência seria gerado relativo a este item. Logicamente, que tal exegese não é a melhor, pois ela anula a finalidade da norma, bastando para tal que se manipule apenas esses dois fatores. Importante também lembrar que a norma de preços de transferência não visa conceder benefícios fiscais nem estimular a produção nacional, pois o seu objetivo é apenas impedir a transferência de bases tributárias para outras jurisdições, pelos diversos motivos que levam os contribuintes a fazêlo, inclusive para reduzir carga tributária. O vetusto, mas nunca esquecido, ensinamento de Carlos Maximiliano professava que: “A palavra é um mau veículo do pensamento; por isso, embora de aparência translúcida a forma, não revela todo o conteúdo da lei, resta sempre margem para conceitos e dúvidas; a própria letra nem sempre indica se deve ser entendida à risca, ou aplicada extensivamente; enfim, até mesmo a clareza exterior ilude; sob um só invólucro verbal se conchegam e escondem várias idéias, valores mais amplos e profundos do que os resultantes da simples apreciação literal do texto” (in Hermenêutica e Aplicação do Direito, ed. Forense, 17ª ed., p. 36). Com esse pensamento, afasto também uma segunda linha interpretativa que se contrapõe à do Fisco, a qual se prende ao conteúdo literal (gramatical) do inciso II do art. 18 da Lei 9.430/96, para sustentar que o valor agregado deve ser diminuído do resultado da aplicação do percentual de 60% sobre o preço líquido de venda (PP = PLV – 60% PLV – VA). Ocorre que as duas linhas interpretativas tomam como plenamente definido na norma legal o método de cálculo pelo qual seria excluído o “valor agregado no País” do preço parâmetro, o que não é verdade. Assim, a questão posta reside em saber se da expressão “diminuídos... do valor agregado no país” poderia o exegeta concluir que deveria ser levado em conta, para aplicação do percentual de 60%, a parcela do preço líquido de vendas proporcional à participação do insumo importado sobre o custo total. Entendo que sim, pois a Fl. 5523DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.524 35 proporcionalização determinada pelos incisos do § 11 do art. 12 da IN SRF 243/02 é uma interpretação que atende o critério da: a) razoabilidade, pois é mais conforme com o espírito de uma norma (art. 18, II, da Lei 9.430/96) que visa o controle de preços de transferência na importação, garantindo um tratamento isonômico de contribuintes que se encontrem na mesma situação; b) adequação, pois não cabia ao legislador pormenorizar, em texto de lei, o método de cálculo do preço parâmetro, bastando que desse contornos legais, os quais são observados pela IN 243/02; e c) necessidade, pois retificou a equivocada interpretação dada pela IN SRF 32/01, aperfeiçoando o método de cálculo do PRL60, de forma a permitir o controle de preços de transferência quando mais de um insumo importado estiver compondo o produto final vendido. Colho, também, de outro julgado desta Câmara (Acórdão nº 1301001.056), interessante análise sobre o tema feita pelo i. Conselheiro Wilson Fernandes Guimarães no voto vencedor, no qual aborda inclusive a questão da incorporação das disposições da IN. nº 243/2002 ao texto legal, e que se amoldam in totum ao caso concreto, verbis: Com efeito, as regras de preços de transferência, introduzidas no ordenamento jurídico pátrio por meio da já citada Lei nº 9.430, de 1996, objetivam impedir que, por meio de artifícios, rendas que deveriam permanecer no país sejam transferidas para o exterior. Tratandose de operações de importação de bens, serviços e direitos, tais transferências poderiam se dar por meio de superfaturamento, em que os custos seriam artificialmente majorados. A diferença entre o custo majorado e o que seria incorrido em uma operação sem artificialismos revela o montante da renda que, indevidamente, está sendo remetido ao exterior. O que, no parágrafo anterior, denominouse CUSTO INCORRIDO SEM ARTIFICIALISMOS, nada mais é que o PREÇO PARÂMETRO almejado pela lei a partir do estabelecimento de métodos matemáticos. O que a legislação de preços de transferência objetiva, portanto, é identificar, por meio de métodos matemáticos, o custo (no caso da importação) efetivo de determinado bem, serviço ou direito, caso a operação não seja realizada com pessoa vinculada ou com pessoa situada em país ou dependência com tributação favorecida ou cuja legislação interna oponha sigilo à divulgação de informações referentes à sua constituição societária ou titularidade. Observase que, no método em debate (PRL 60), o legislador partiu do preço de revenda para chegar ao custo. Assim, parece razoável que se possa buscar a expressão matemática do preço parâmetro por meio do caminho inverso, isto é, através dos elementos formadores do preço. Em elevada sintetização, a formação de preços consiste em um processo de acumulação de custos, acrescida de uma margem de lucro. Admitida uma liberdade terminológica, isto é, abandonado o rigor dos conceitos próprios da teoria econômica, podese afirmar que o preço praticado por determinado unidade produtiva resulta da soma dos custos totais incorridos no processo produtivo, incluídos aí a remuneração dos fatores de produção (valor agregado), acrescidos de uma margem de lucro. Fl. 5524DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.525 36 A grosso modo, o preço de venda (PV) de um determinado produto poderia ser assim determinado: PV = custo de importação dos insumos + custo incorrido no processo produtivo (remuneração de fatores = valor agregado) + impostos, descontos incondicionais, comissões, etc. (despesas fixas e variáveis) + margem de lucro. No caso da aplicação do método do Preço de Revenda menos Lucro a insumo importado utilizado no processo produtivo, o preço parâmetro representa o custo de importação livre dos elementos previstos na lei como integrantes do preço de revenda. Daí que se considera esse preço de revenda diminuído dos descontos incondicionais; dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; das comissões e corretagens pagas; da margem de lucro fixada pela lei (60% sobre o preço de revenda após deduzidos os descontos incondicionais, os impostos e contribuições incidentes sobre as vendas e as comissões e corretagens pagas); e do valor agregado do país. Exprimindo matematicamente esta primeira análise, teríamos: PP = PR – C/D – ML (PR – C/D) – VA Onde: PP = Preço Parâmetro; C/D = Custos e Despesas previstos na lei; ML = Margem de Lucro VA = Valor Agregado Considerando “PR – C/D” como Preço Líquido de Revenda (PLV), teríamos: PP = PLV – ML (PLV) – VA Vêse, pois, que, na metodologia do PRL, a determinação do preço parâmetro parte do preço de revenda para, excluindo os elementos formadores deste mesmo preço (custos e despesas incorridos; margem de lucro; e valor agregado) chegar ao valor de comparação estipulado pela lei. Noutra vertente, utilizandose a mesma nomenclatura acima, o preço parâmetro também poderia ser expresso da seguinte forma: PP = PLV – ML (PLV – VA) ou PP = PLV – ML (PLV) + ML (VA) Notese que, neste caso, o preço de comparação (preço parâmetro), que deveria representar o preço de revenda diminuído dos seus elementos formadores, passa a ser o preço de revenda diminuído dos custos e despesas incorridos e da margem de lucro incidente sobre ele, porém, acrescido da margem de lucro incidente sobre o valor agregado, o que, à evidência, revela artificialismo na sua determinação e desvio em relação ao pretendido pela lei. [..] Não resta dúvida de que a Instrução Normativa 243/2002 revela interpretação distinta da que foi feita pela a que lhe antecedeu (Instrução Normativa SRF nº 32, de Fl. 5525DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.526 37 2001), mas isso não autoriza a conclusão de que a interpretação anterior estava em conformidade com a lei e a atual representou inovação. Ao contrário, como anteriormente demonstrado, a interpretação trazida pela Instrução Normativa SRF nº 243, de 2002, é a que melhor traduz os comandos estampados no art. 18 da Lei nº 9.430/96, vez que revela com maior precisão o objetivo almejado pelo referido diploma legal. No que diz respeito à proporcionalização, a questão é de ordem puramente matemática (e não jurídica), que empresta maior exatidão na determinação do preço parâmetro. Tratandose de comparação de custos (CUSTO LEGAL/PREÇO PARÂMETRO X CUSTO APROPRIADO), resta evidente que eu não posso confrontar o custo do insumo (PARTE DO PRODUTO) com o custo total do produto. Ademais, a proporcionalização em comento produz a exclusão in totum do valor agregado, permitindo, assim, a explicitação mais adequada do preço parâmetro. A alegada “majoração (indevida) da base de cálculo do IRPJ e da CSLL”, logicamente, é mera decorrência de exercício interpretativo das disposições do art. 18 da Lei nº 9.430/96, que, afastando os preceitos da Instrução Normativa nº 243/2002, revelou alternativa matemática mais favorável para a determinação do ajuste exigido pela legislação de regência. O fato de a exposição de motivos da Medida Provisória nº 478, de 2009, assinalar que grande parte da legislação relativa a preços de transferência encontra se baseada em normas complementares não autoriza concluir que referida Medida pretendeu corrigir ilegalidades da Instrução Normativa SRF nº 243/2002. O objetivo, a bem da verdade, foi, nos exatos termos ali expressos, “reduzir a litigiosidade que a matéria tem suscitado”. Resta evidente que a inclusão da fórmula de determinação do preço parâmetro sob discussão em dispositivo com força de lei, a exemplo do que fez a Medida Provisória nº 563, de 03 de abril de 2012, atual Lei nº 12.715, de 2012, contribui para a redução dos litígios, mas, como dito, isto não significa dizer que a interpretação trazida pela norma complementar editada pela Receita Federal inovou em relação ao comando legal da qual ela emergiu. Em sentido contrário, temse que a contemplação em referência reafirma a procedência da interpretação infralegal, vez que representa absoluta convergência com o objetivo almejado pelas regras de preços de transferência. Cabe destacar que, não obstante a reprodução da metodologia trazida pela Instrução Normativa 243/2002, tanto a Medida Provisória nº 478, como a de nº 563, não trataram exclusivamente desta matéria (metodologia do cálculo do preço parâmetro), eis que promoveram, fundamentalmente, alteração na margem de lucro. Releva notar que os efeitos econômicos decorrentes da aplicação do método PRL 60, residem, essencialmente, na fixação, pela lei, da margem de lucro de 60%, matéria em relação a qual, ao menos em seara administrativa, a autoridade julgadora não pode se desviar do estabelecido em lei. A Medida Provisória nº 563/2012 (Lei nº 12.715, de 2012), ao reproduzir a metodologia estampada na Instrução Normativa 243/2002, joga por terra o argumento de que referida norma complementar viola o princípio “arm’s lenght” e reafirma o reverberado por densa doutrina no sentido de que, visto pela ótica econômica, o fator negativo do método PRL 60 repousa na margem de lucro de 60%, considerada excessiva se comparada a aplicável aos casos de importação para revenda (20%). Fl. 5526DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.527 38 Aqui, não se está negando eventuais efeitos negativos, do ponto de vista econômico, da fórmula estampada na IN 243, mas, apenas, destacando que ela retrata de forma fiel o estabelecido pela lei de regência. Concluiu, assim, o Colegiado, no sentido de que a expressão matemática extraída das disposições da IN 243 é a que otimiza o pretendido pelas normas de preços de transferência, eis que: i) matematicamente, preserva uma margem de lucro mínima, no patamar fixado pela lei (60%); ii) possibilita o ajuste tomando por base o insumo importado, e não o valor total do produto dele decorrente; iii) exclui integralmente o valor agregado, permitindo a explicitação do preço parâmetro livre de qualquer artificialismo; e iv) em que pese eventuais distorções econômicas no âmbito em que é aplicada (empresas submetidas ao controle), alcança o objetivo pretendido pelas normas de preços de transferência. (grifos nossos) A jurisprudência esmagadora deste CARF, inclusive da Câmara Superior de recursos fiscais é no mesmo sentido: PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. PRL60. VALOR AGREGADO. LEGALIDADE DA INSTRUÇÃO NORMATIVA. Considerando que o método PRL não foi desenvolvido para lidar com situações nas quais a parte controlada realiza funções, emprega ativos e assume riscos muito mais elevados do que numa empresa tipicamente revendedora, o conceito de valor agregado introduzido pela Lei nº 9.959/00 deve ser entendido como algo que permite a reconfiguração da noção de “revenda” no sentido da proporcionalização evidenciada pela IN/SRF nº 243/02. (Acórdão nº 1102001.100, 06/05/2014). PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL60. AJUSTE COM BASE NA IN/SRF 243/2002. LEGALIDADE. É legítima a utilização da metodologia prevista na IN SRF n. 243/2002 para proporcionalizar o preço parâmetro ao bem importado aplicado na produção. A margem de lucro não é calculada sobre a diferença entre o preço líquido de venda do produto final e o valor agregado no País, mas sobre a participação do insumo importado no preço de venda do produto final, o que permite maior exatidão na apuração do preço parâmetro, conforme os objetivos legais. (Acórdão nº 1201 001.446, 09/06/2016). PREÇO DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL60. IN SRF Nº 243/02. LEGALIDADE. A IN SRF nº 243/02 não viola o princípio da legalidade tributária, estando em consonância com o que preconiza o art. 18 da Lei nº 9.430/96, na redação dada pela Lei nº 9.959/00. (Acórdão nº 1302001.420, 04/06/2014) PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL60. PREÇO PARÂMETRO. IN SRF Nº 243/2002. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA. Fl. 5527DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.528 39 O princípio da legalidade tributária, albergado no art. 150, I, da Constituição da República, estabelece que nenhum tributo poderá ser instituído ou aumentado senão por intermédio de lei. O preço parâmetro PRL60 calculado segundo o disposto na Instrução Normativa SRF nº 243/2002 resulta em ajustes ao lucro liquido sempre em montantes iguais ou inferiores àqueles calculados segundo a correta interpretação da Lei nº 9.430/96, daí porque não há que se falar em violação ao princípio da legalidade tributária. (Acórdão nº 9101002.514, de 13/12/2016) PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL60. PREÇO PARÂMETRO. IN 243/2002. LEGALIDADE TRIBUTÁRIA. Legalidade tributária, de acordo com o disposto no art. 150, I, da Constituição da República, significa que nenhum tributo poderá ser instituído ou aumentado senão por intermédio de lei. Portanto, não afronta a idéia de legalidade tributária a instrução normativa expedida pela SRF que porventura exija tributo em montante inferior àquele previsto em lei. Restou provado que o preçoparâmetro PRL60 calculado segundo o disposto na Instrução Normativa SRF nº 243/2002 sempre resultará em exigência de IRPJ e CSLL em valores iguais ou inferiores àqueles que seriam devidos segundo o art. 18, II, da Lei nº 9.430/96, daí porque não há que se falar, aqui, em violação ao princípio da legalidade tributária. (Acórdão nº 9101002.524, 14/12/2016) Diante da profundidade da análise trazidas nos votos transcritos, entendo que nada mais há acrescentar. Assim, adoto esses doutos ensinamentos como fundamento deste voto para rejeitar as alegações da recorrente quanto à ilegalidade da IN SRF nº 243/2002. 2. Aplicação do Método PRL60 para produtos originalmente submetidos pela Recorrente ao cálculo conforme o método PRL20 Neste ponto do recurso a recorrente afirma que a fiscalização identificou algumas situações de aquisições de insumos, para os quais havia aplicado o método PRL20, tendo em vista que se tratavam de produtos para revenda, e recalculou o preço parâmetro mediante a utilização do método PRL60, por entender, equivocadamente, que os produtos teriam sido destinados à produção e não à revenda. Alega que o agente fiscal não compreendeu seu processo operacional, pois tais insumos não se destinavam à produção, sendo objeto apenas de circulação interna e colocação de embalagem manual (em alguns casos, após a reunião com outros produtos similares para formar um kit) e imediatamente destinados à revenda, sem qualquer alteração de sua natureza ou característica. Cita exemplos. Esclarece que não se trata de processo produtivo capaz de atrair a aplicação do PRL 60, nos termos da solução de consulta nº 22 da própria Receita Federal. Refuta o entendimento da decisão de primeiro grau, que considera equivocado, por entender que na colocação de embalagem há processo produtivo, o que nem sempre ocorre. Que neste caso não houve colocação de embalagem que configurasse processo de industrialização, mas a mera colocação do produto, de forma manual, em caixas grosseiras Fl. 5528DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.529 40 para transporte adequado da mercadoria, não servindo para a apresentação comercial do produto. Na diligência determinada por este colegiado, a autoridade fiscal apresentou ao contribuinte o rol dos insumos cujo método foi recalculado do PRL20 para o do PRL60, tendo a recorrente apresentado alguns documentos e fotos, que no seu entender comprovariam que os produtos arrolados foram revendidos e não ingressaram no processo produtivo da recorrnete., justificandose a aplicação do método PRL 20. Após a análise dos elementos, a autoridade fiscal concluiu em seu relatório das diligências, verbis: Em relação ao item “a”, caso sejam acolhidas as pretensões da recorrente, haveria uma redução de R$ 893.936,01 do valor autuado. Cumpre observar que todos os itens relacionados pela empresa tiveram aposição de marca, ao serem embalados em “kits”, sem deixar de mencionar que, em alguns destes “kits”, houve acréscimo de outros itens. Tais processos estariam, portanto, caracterizando “industrialização” nos moldes da SCI Cosit nº 22/08 e, por conseguinte, correta teria sido a autuação da Fiscalização ao aplicar o PRL com margem de 60% para estes casos. A recorrente, por sua vez, apresentou as seguintes alegações em sua manifestação sobre o relatório conclusivo das diligências, verbis: (a) Erro no calculo apresentado pelo Auditor Fiscal no tocante aos produtos que foram reclassificados de PRL 20 para PRL 60. 3. No tocante a este erro verificase que o Auditor Fiscal reconhece o equivoco e apresenta novo valor referente aos produtos que sofreram a indevida reclassificação para PRL 60. A propósito veja trecho da última manifestação fiscal: Tabela 4. Portanto, considerando os itens de insumos importados em que a Recorrente apresentou prova de que não houve emprego no processo produtivo, mas mera revenda, é de rigor, no mínimo, a diminuição do valor de ajuste considerado pelo Auditor Fiscal como base para a autuação fiscal, de modo que se considere o montante de R$ 893.936,01 a ser subtraído do valor a ser ajustado. Examinando os esclarecimentos e documentos apresentados pela recorrente (fls. 5233/5322), constatase que os produtos indicados pela fiscalização eram acondicionados em caixas de papelão, isoladamente ou em kits, contendo sua identificação, código do produto (quando era o caso) e aposição da marca da empresa. A Solução de Consulta Cosit nº 22, invocada pela recorrente dispõe em sua ementa, verbis: PREÇO DE TRANSFERÊNCIA MÉTODO PRL . A pessoa jurídica sujeita aos controles de preços de transferência, que importa bens de vinculadas e que procede apenas o acondicionamento (embalagem) do produto poderá adotar na apuração do preço parâmetro o método Preço de Revenda menos Lucro (PRL), com margem de lucro de vinte por cento. Caso, juntamente com o acondicionamento (embalagem) ocorrer Fl. 5529DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.530 41 à aposição de marca, com a conseqüente agregação de valor, procederseá a apuração do preço parâmetro com base no método Preço de Revenda menos Lucro (PRL), com margem de lucro de sessenta por cento. Ante ao exposto, considero correto entendimento fiscal quanto a aplicação do método PRL20 voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário quanto a este ponto,. 3. Valor FOB x Valor CIF para fim do preço praticado A recorrente alega que a autoridade fiscal realizou todos os seus cálculos, para fins de determinação do ajuste, com base no valor CIF do produtos importados, mas impostos incidentes sobre a importação e não com base no valor FOB, o que estaria em desconformidade com a legislação. Defende que o valor FOB é o que corresponde efetivamente ao valor pago pela mercadoria importada à parte localizada no exterior, enquanto que o valor CIF inclui valores pagos a terceiros não vinculados e, no caso dos impostos, ao próprio Estado. Sustenta que as regras de preços de transferência buscam o padrão de operações realizadas entre partes independentes para ser comparado com as operações realizadas por pessoas vinculadas, onde não estaria presente o pressuposto de operações independentes. Assim, os valores pagos a terceiros não vinculados não são objeto do controle de preços da Lei nº 9.430/1996. Alega que, quando o art. 18 da Lei nº 9.430 dispõe sobre o custo de frete e seguro, não se refere a preço parâmetro, mas sim à possibilidade de dedução desses custos para fins de IRPJ e CSLL. Entendo que, também neste aspecto, não assiste razão à recorrente. Com efeito, a comparabilidade entre o preço efetivamente praticado e o preço parâmetro é da essência da sistemática dos preços de transferência. Assim, se no preço de revenda, que é a base inicial para apuração do preço parâmetro, está incluído o valor do seguro e do frete e impostos pagos na importação, restaria distorcida a comparação com o custo de aquisição, se deste fossem excluídos tais valores. Como bem explica em o i. Conselheiro Waldir Veiga Rocha, em voto proferido nesta turma, no Acórdão nº 1302001.420, verbis: [...]. De fato, a essência dos ajustes a título de preços de transferência, consiste na comparação entre dois valores: por um lado, o preço efetivamente praticado e, por outro, o assim chamado preçoparâmetro, a ser determinado em conformidade com a lei e normativos aplicáveis. No caso concreto, o preçoparâmetro é calculado segundo o critério chamado PRL60, a partir do preço de revenda do produto final, do qual são excluídos descontos incondicionais concedidos, impostos e contribuições incidentes sobre vendas, comissões e corretagens pagas e margem de lucro, tudo de acordo com o art. 18 da Lei nº 9.430/1996, adotandose ainda a metodologia estipulada pela IN 243/2002, anteriormente discutida. O resultado final dos cálculos é o preço parâmetro, no qual continuam incluídas todas as parcelas não excluídas, em especial Fl. 5530DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.531 42 frete, seguros e tributos incidentes na importação. Por certo que tais parcelas integravam o custo quando da composição do preço de revenda do produto final e, não tendo sido dele expurgadas, continuam a integrar o preçoparâmetro. A seguir, o preçoparâmetro será comparado ao custo de aquisição de insumos importados de pessoa ligada, para fins de determinação do ajuste. Ora, se o primeiro possui, em si, o peso do frete, seguros e imposto de importação, também o segundo deve considerar tais parcelas. Ao contrário do que afirma a recorrente, a inclusão, no custo dos insumos importados, das referidas parcelas visa a eliminar distorções na comparação das duas grandezas. É nesse sentido que deve ser entendido o § 6º do art. 18 da Lei nº 9.430/1996. Também não procede a interpretação da recorrente quanto ao disposto no § 6º do art. 18, pois muito antes da edição desta lei, a legislação do Imposto de Renda já previa a dedução dos custos relativos ao frete, seguro e tributos incidentes na importação (art. 13 do DL. 1598/1977). Como bem apontou a douta PGFN em suas contrarrazões, a interpretação esvaziaria o dispositivo de qualquer sentido prático e, como é cediço, "a lei não contém palavras inúteis". A jurisprudência do CARF é amplamente convergente nesse entendimento, conforme se extrai das seguintes ementas de acórdãos, verbis: PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO DO PREÇO DE REVENDA MENOS LUCRO (PRL). FRETES, SEGUROS E TRIBUTOS INCIDENTES NA IMPORTAÇÃO. Por força do disposto no parágrafo 6º do art. 18 da Lei nº 9.430, de 1996, integram o custo, para efeito de dedutibilidade, o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador e os tributos incidentes na importação. A não consideração dos referidos dispêndios na determinação do preço parâmetro pelo método PRL impõe a comprovação, por meio de documentação hábil e idônea, que tais valores não foram computados no preço de revenda praticado. (Acórdão nº 1301001.056, 02/10/2012) PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. FRETE E SEGURO e IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO. Por comporem o preço de venda do produto, o valor do frete, seguro e dos impostos de importação devem ser considerados no preço praticado para fins de apuração dos ajustes dos preços de transferência segundo o método PLR. (Acórdão nº 1102001.100, 06/05/2014) PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. PREÇO PRATICADO. INCLUSÃO DE FRETE, SEGURO E TRIBUTOS INCIDENTES SOBRE A IMPORTAÇÃO. Segundo o disposto no art. 18, § 6º, da Lei nº 9.430/96, o preço praticado é o preço de aquisição da mercadoria (FOB), acrescido dos valores incorridos a título de frete, seguro e tributos incidentes sobre a importação. A inclusão desses valores no cálculo do preço praticado em nada prejudica o direito do sujeito passivo em deduzilos como despesa no levantamento do lucro líquido do exercício. Por outro lado, a não inclusão daqueles valores no cálculo do preço praticado prejudicaria a sua comparabilidade com o preçoparâmetro levantado segundo Fl. 5531DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.532 43 o método PRL, uma vez que neste estão necessariamente incluídos os valores de frete, seguro e tributos incidentes sobre a importação. (Acórdão nº 9101001.524, 14/12/2016) Ante ao exposto, voto no sentido de rejeitar a alegação trazida neste ponto do recurso. 4. Escolha do preço parâmetro com base no PRL60 A recorrente alega que, de acordo com o art. 4º da IN.SRF nº 243/02, os contribuintes tem o direito de adotar para si o método de comparação que lhes seja mais favorável e que esta previsão estendese ao Fisco quando da realização do procedimento de fiscalização, devendo a autoridade fiscal esgotar todos os métodos para comparação de preços, para só então concluir se os preços praticados pela recorrente são adequados. A norma veiculada no art. 4º da IN decorre da previsão contida no art. 18, § 4º da Lei nº 9.430/1996, e visa assegurar ao contribuinte o direito de apurar o preço parâmetro pelo método mais favorável. Assim, uma vez apurado o preço parâmetro pelo contribuinte com base no método que lhe for mais favorável, não poderá o Fisco substituílo por outro mais oneroso, salvo se o método utilizado era inaplicável à situação ou se não restarem comprovados os elementos necessários a apuração do método utilizado pelo contribuinte. Nestes casos, a fiscalização tem o poder/dever de desqualificar o método utilizado e aplicar outro, nos termos do art. 40 da IN. SRF. nº 243/2002, verbis: Art. 40. A empresa submetida a procedimentos de fiscalização deverá fornecer aos AuditoresFiscais da Receita Federal (AFRF), encarregados da verificação: I a indicação do método por ela adotado; II a documentação por ela utilizada como suporte para determinação do preço praticado e as respectivas memórias de cálculo para apuração do preço parâmetro e, inclusive, para as dispensas de comprovação, de que tratam os arts. 35 e 36. Parágrafo único. Não sendo indicado o método, nem apresentados os documentos a que se refere o inciso II, ou, se apresentados, forem insuficientes ou imprestáveis para formar a convicção quanto ao preço, os AFRF encarregados da verificação poderão determinálo com base em outros documentos de que dispuserem, aplicando um dos métodos referidos nesta Instrução Normativa. (grifei) Portanto, não tem a fiscalização de apurar o preço parâmetro com base em todos os métodos possíveis, com vistas a buscar o que se revele mais benéfico ao contribuinte. Incumbe ao contribuinte escolher o método que vai utilizar, sendolhe assegurada a manutenção da escolha, uma vez comprovado o preçoparâmetro apurado com base em documentação idônea e apresentação das memórias de cálculo. Ante ao exposto, voto por rejeitar a alegação contida neste ponto do recurso. Fl. 5532DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.533 44 5. Cálculos com base em médias ponderadas nas situações em que a mesma matériaprima foi empregada na produção de mais de um produto, ou foi destinada tantoà produção como à revenda. Neste ponto a recorrente aponta que ocorreram situações em que a mesma matériaprima por ela importada foi empregada na produção de mais de um produto ou era destinada à produção e revenda, sendo que o Fisco para obter um preçoparâmetro único, conforme exigido pela legislação, aplicou uma média ponderada aos preços encontrados, com vistas a determinar um preçoparâmetro único. Alega que não existe previsão legal para o procedimento da fiscalização e que a autoridade fiscal deveria ter considerado o resultado mais benéfico ao contribuinte, ou seja, se um mesmo produto poderia ser submetido ao PRL20 e ao PRL60, o contribuinte teria direito a utilizar o menor valor encontrado Sustenta que o art. 12 da IN.SRF. nº 243/2002 não serve para fundamentar o procedimento fiscal, pois este prevê a aplicação de média ponderada com relação ao preço de revenda efetivamente adotado pelo contribuinte em relação a um mesmo produto final. O acórdão recorrido assim enfrentou as alegações da recorrente sobre a matéria: Da utilização da média ponderada no método PRL60 Nos casos em que uma mesma matériaprima importada de vinculada foi utilizada na produção de mais de um produto para venda, a fiscalização calculou um preçoparâmetro para cada produto (preçosparâmetro intermediários) e para chegar num preçoparâmetro único (preçoparâmetro final), para comparação com o preço praticado na importação, calculou a média ponderada desses preçosparâmetro intermediários. A fiscalização apenas se expressou de forma inadequada, no sentido de que teria encontrado uma “solução” para essa situação, levando a contribuinte a crer que esse procedimento não teria base legal. Equivocase a impugnante, pois assim dispõe o artigo 12 da IN SRF nº 243/2002, in verbis: “Art. 12. A determinação do custo de bens, serviços ou direitos, adquiridos no exterior, dedutível da determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, poderá, também, ser efetuada pelo método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL), definido como a média aritmética ponderada dos preços de revenda dos bens, serviços ou direitos, diminuídos: (...)” (grifei). O caso em tela (uma mesma matériaprima utilizada na produção de mais de um produto) é um caso particular de uma situação mais geral (além de a matéria prima ser utilizada na produção de mais de um produto, também é simplesmente revendida), para a qual a COSIT (CoordenaçãoGeral de Tributação) definiu a solução, através da SCI Cosit nº 30. de 30/07/2008, sintetizada na seguinte ementa: “Nos casos em que os insumos importados de pessoas vinculadas são aplicados em parte no processo produtivo e em Fl. 5533DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.534 45 parte são revendidos, ao se eleger o PRL como método de apuração, o preço médio ponderado do período será o resultante da aplicação do método PRL, com margem de vinte por cento, na hipótese de revenda, e do método PRL, com margem de sessenta por cento, na hipótese dos insumos aplicados na produção. Esse será o preço médio ponderado do método PRL apurado para o período anual a ser comparado com os outros dois métodos de apuração (PIC e CPL)”. Em resumo, na hipótese de um mesmo bem importado ser revendido e aplicado na produção de um ou mais produtos, ou na hipótese de o bem importado ser submetido a diferentes processos produtivos (como no caso em tela), o preço parâmetro final será a média ponderada dos valores encontrados mediante a aplicação do método PRL, de acordo com suas respectivas destinações. Não tenho reparos à decisão recorrida neste ponto. Com efeito o art. 12 da IN.SRF. nº 243/2002, se não prevê explicitamente a hipótese aqui discutida, serve claramente como fundamento para a definição do preço parâmetro (médio ponderado), quando existam situações em que se aplica o método PRL 20 para parte dos insumos e o PRL60 para outra aprte. Tal solução utilizada pela fiscalização, com amparo na orientação contida na Solução de Consulta Interna da Cosit, se afigura como a fórmula razoável e compatível com as demais normas que orientam a definição do preço parâmetro. A recorrente alega que na inexistência de uma previsão legal específica, deveria ser adotado o maior preçoparâmetro apurado, de forma a favorecêla, mas tal pretensão também não tem previsão legal. Assim, entendo, como já dito, que a fórmula da média ponderada entre os dois métodos (PRL20 e PRL60) é aquela que se afigura mais razoável e compatível com o sistema. Este colegiado já enfrentou situação similar, ao proferir o Acórdão nº 1302 001.628, Relator o Conselheiro Alberto Pinto Souza Junior, tendo considerado correta a aplicação do PRL ponderado, conforme se extrai de sua ementa, verbis: PRL PONDERADO. LEGALIDADE. O art. 18, II, da Lei 9.430/96 determina que o preçoparâmetro seja a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, o que não conflita com o “PRL ponderado” que resultou da média ponderada dos preços em função da quantidade consumida/vendida em cada operação, seja PRL 20 quando revendido como mercadoria, seja PRL 60 quando insumo de produto vendido. A média aritmética dos preços de revenda pode ser a ponderada em função das quantidades consumidas em cada operação, aliás, o que não pode é ser a média aritmética simples dos preços de revenda, pois, se assim, fosse, estaria prejudicado todo o controle de preços de transferência. Fl. 5534DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.535 46 Em face do exposto, rejeito a alegação da recorrente e voto por manter os valores apurados pela fiscalização com base na média ponderada do PRL. 6. Apuração incorreta do Saldo Inicial de Estoque Neste ponto a recorrente aponta que a autoridade fiscal cometeu um equívoco na apuração do preçoparâmetro ao deixar de considerar que o saldo do estoque inicial existente, continham em seu valor custos que não deveriam, nem poderiam ser considerados. Sustenta que o valor de aquisição e custo do estoque são conceito distintos, pois enquanto o primeiro é composto apenas pelo preço da compra o segundo contém diversos outros custos, como frete interno, armazenagem, montagem, etc. Alega que, como a autoridade fiscal não depurou esse custo, o lançamento deve ser cancelado. A PGFN aponta em suas contrarrazões que se trata de alegação inovadora por parte da recorrente, na medida em que não suscitou tal matéria em sua impugnação. Examinando o acórdão recorrido, verificase que, de fato, C Pelo exposto, não conheço da referida alegação. 7. Índice de participação insumo/produto. Neste ponto, alega a recorrente que o auditor não apurou, quando da diligência, o preço parâmetro "normal", mas um preço parâmetro "ajustado", que decorre da divisão do preço parâmetro "normal" pelo índice de participação insumo/produto, critério este não previsto em lei e nem mesmo na IN SRF nº 243/02. Com isso, teria havido uma duplicação do efeito do coeficiente insumoproduto, além de clara ilegalidade. A PGFN apontou em suas contrarrazões que, também aqui, se trata de alegação inovadora por parte da recorrente, na medida em que esta matéria não foi suscitada em sua impugnação. Não obstante, este colegiado houve por bem conhecer da alegação quando do julgamento do recurso, no qual se resolveu converter o julgamento em diligência, nos termos da Resolução nº 130200.289, nestes termos: [...] Assim, ao calcular o item "I" (Preço Unitário Líquido de Venda do Produto), parecenos que a fórmula I = C/FxH fornece a participação de 01 unidade de insumo no preço de venda do produto, e, portanto, a fórmula K = I J fornece o preço parâmetro de 01 unidade de insumo (R$30,232) e não de 02 unidades, o que parece sugerir se depreende da fórmula seguinte, L=K/E, em que há a divisão por 2 (porque em cada produto há 02 unidades de insumo). Desta forma, a prevalecer este entendimento, de fato está o lançamento a merecer alguma análise, e, por certo, revendo os dados e as provas do processo (e não apenas as alegações da recorrente), bem como outros que possam vir a elucidar a questão, possa a autoridade fiscal firmar convicção acerca da materialidade apurada, expurgando, se for o caso, dela, a parcela indevida. Fl. 5535DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.536 47 Além disso, o envio das alegações à fiscalização atende aos princípios do contraditório e da ampla defesa. De se ressaltar que neste caso a alegação, embora preclusa, atinge a própria materialidade do lançamento, não podendo, desta forma, ser ignorada, vez que a recorrente levanta dúvida fundada e relevante sobre a integridade dos valores lançados. Assim, voto para converter o julgamento em diligência, para que a autoridade fiscal, de posse das novas alegações ofertadas pela recorrente na peça recursal, em específico no tocante ao item 7 do recurso (índice de participação insumo/produto), reveja os cálculos efetuados e se manifeste quanto às alegações. De sua conclusão, deverá notificar a recorrente para que se manifeste no prazo de 30 dias. A autoridade fiscal encarregada das diligências prestou os seguintes esclarecimentos: [...] Das descrições acima, podemos inferir que todos os cálculos do preço parâmetro, para o método PRL60 se baseiam no preço líquido de venda do produto. Tomase o preço unitário liquido de venda do mesmo (item "j"), multiplicase este valor pelo percentual de participação do custo do insumo no produto (item T), obtendose a participação do insumo no preço de venda (item T). A partir dai, calculase a margem de lucro (item "I" = 60% x T). O preço parâmetro do item será dado pela diferença entre a participação do insumo no preço de venda e a margem de lucro ("nf = "k" "I"). Aqui cumpre observar que todos os cálculos foram feitos sempre em valores unitários, com referência ao produto. O preço parâmetro é unitário, mas tem sua referência à unidade do insumo. Para a determinação do preço parâmetro, portanto, há a necessidade de se ajustar o valor obtido, dividindoo pelo coeficiente insumo produto, que nada mais é do que um fator que nos indica quanto de insumo há em cada unidade de produto. Assim, o preço parâmetro do item ajustado é o preço parâmetro utilizado no cálculo dos ajustes de PT, em comparação com o preço praticado: Preço par. do item (por unid. Produto) / coef. Insumo produto = Preço par. do item (por unid. Produto) / [(unid. Insumo)/ (unid. Produto)] = Preço par. do item (por unid. Produto) * [(unid. Produto) / (unid. Insumo)] = Preço par. do item (por unid. Insumo) = Preço par. do item ajustado = Preço par. PRL60 Se no caso em tela há duas unidades de insumo consumido para cada unidade de produto vendido (coeficiente insumo produto = 2,00), há a necessidade do ajuste exposto acima (divisão por 2) para se determinar o preço parâmetro. O valor obtido como preço parâmetro sem o ajuste é igual a R$ 19,91, enquanto que ajustado ele seria igual a R$ 9,95. Suponhamos que tenha havido venda de 100 unidades para formação do preço parâmetro. O valor calculado é igual a R$ 19,91 para cada unidade vendida. No entanto, para cada unidade vendida, há duas unidades de insumo que foram consumidas. No total, foram 200 unidades de insumo. Assim, se tivermos de calcular o preço parâmetro, por unidade de insumo, teremos de dividir R$ 19,91 (que se referia a uma das 100 unidades de produto), por 2, para obtermos R$ 9,95 (que passa a se referir a uma das 200 unidades de insumo). Cumpre observar que os ajustes de PT são calculados mediante a comparação entre preço Fl. 5536DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.537 48 praticado e preço parâmetro. Se os preços praticados são valores unitários calculados sempre em função da unidade de insumo, não teria cabimento fazermos a comparação se o preço parâmetro também não tivesse sido calculado utilizandose a mesma referência (unidade de insumo). No tocante ao percentual de participação do custo do insumo no produto propriamente dito, não procedem as alegações da recorrente, tendo em vista que seu próprio nome é autoexplicativo. Tratase do percentual de custos dos insumos e o custo do produto final, ou seja, qual a participação, em termos de custos, dos insumos em análise, em relação ao custo total do produto. No caso exemplificado acima, seria a relação entre o custo dos insumos empregados que, no caso, seria correspondente a 2 unidades de insumo, e o custo de 1 unidade produzida do produto final (a empresa estaria argumentando que o percentual seria correspondente à relação entre o custo de 1 unidade de insumo e o custo de 1 unidade do produto, o que não pode prosperar, tendo em vista que são necessárias 2 unidades de insumo para produzir 1 unidade do produto). Notese que o percentual de custos considera a relação entre as quantidades de insumo consumidas e as quantidades de produto produzidas (coeficiente insumoproduto). É exatamente por tal fato, que a Fiscalização, ao obter o preço parâmetro pelo método PRL60, procedeu a um ajuste do mesmo, dividindo o valor encontrado por 2 (coeficiente insumoproduto), de modo a ter ambos os preços (praticado e parâmetro) na mesma base referencial (unidade do insumo). Portanto incabíveis são as argumentações da recorrente, referentes a possível equívoco na utilização dos índices de participação insumo/produto, não havendo qualquer alteração a ser efetuada nos valores dos autos em epígrafe. Examinando as explicações dada pela autoridade fiscal diligenciante entendo que inexiste o equívoco apontado pela recorrente quanto ao índice de participação insumo/produto. Com bem explana a dita autoridade a relação insumo produto deve espelhar o percentual de custos dos insumos e o custo do produto final, ou seja, qual a participação, em termos de custos, dos insumos em análise, em relação ao custo total do produto. O percentual de custos deve considerar a relação entre as quantidades de insumo consumidas e as quantidades de produto produzidas (coeficiente insumoproduto). Se para cada unidade produzida foram aplicadas 2 unidades do insumo, o preço parâmetro de uma unidade de insumo deve ser o resultado encontrado, dividido por 2. Assim, está correto o procedimento fiscal que, para apurar o preço parâmetro pelo método PRL60, procedeu a um ajuste do mesmo, dividindo o valor encontrado por 2 (coeficiente insumoproduto), de modo a ter ambos os preços (praticado e parâmetro) na mesma base referencial (unidade do insumo). Pelo exposto, a despeito de ter sido apresentada a alegação apenas em sede de recurso voluntário, respeitando a decisão do colegiado quando proferiu a Resolução nº 1302 00.289, voto por conhecer da alegação, para, no mérito, rejeitála. Assim, voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário. Fl. 5537DF CARF MF Processo nº 16643.000289/201011 Acórdão n.º 1302002.128 S1C3T2 Fl. 5.538 49 CONCLUSÃO Por todo o exposto, voto no sentido de negar provimento aos recursos de ofício e voluntário. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Fl. 5538DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10480.720373/2010-89
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri May 19 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/01/2006 a 31/03/2006
PIS/COFINS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS NOVOS SUBMETIDOS AO REGIME MONOFÁSICO PARA REVENDA. MANUTENÇÃO DE CRÉDITO PELO COMERCIANTE ATACADISTA E VAREJISTA. VEDAÇÃO LEGAL.
No regime não-cumulativo das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, por expressa determinação legal, é vedado ao comerciante atacadista e varejista, o direito de descontar ou manter crédito referente às aquisições de veículos novos sujeitos ao regime monofásico concentrado no fabricante e importador. A aquisição de veículos relacionados no art. 1º da Lei n° 10.485/02, para revenda, quando feita por comerciantes atacadistas ou varejistas desses produtos, não gera direito a crédito do PIS/COFINS, dada a expressa vedação, consoante os art. 2º, § 1º, III e art. 3º, I, b, c/c da Lei nº 10.637/2002 e da Lei nº 10.833/2003.
CRÉDITOS. MANUTENÇÃO. ART. 17 DA LEI Nº 11.033/2004. IMPOSSIBILIDADE.
A manutenção dos créditos, prevista no art. 17 da Lei nº 11.033/04, não tem o alcance de manter créditos cuja aquisição a lei veda desde a sua definição.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3301-003.376
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques dOliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Marcelo Giovani Vieira, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DO COUTO CHAGAS
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TOMADA DE CRÉDITOS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS. INCIDÊNCIA MONOFÁSICA. Recorrente TAMBAÍ AUTOMOTORES LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2006 a 31/03/2006 PIS/COFINS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS NOVOS SUBMETIDOS AO REGIME MONOFÁSICO PARA REVENDA. MANUTENÇÃO DE CRÉDITO PELO COMERCIANTE ATACADISTA E VAREJISTA. VEDAÇÃO LEGAL. No regime nãocumulativo das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, por expressa determinação legal, é vedado ao comerciante atacadista e varejista, o direito de descontar ou manter crédito referente às aquisições de veículos novos sujeitos ao regime monofásico concentrado no fabricante e importador. A aquisição de veículos relacionados no art. 1º da Lei n° 10.485/02, para revenda, quando feita por comerciantes atacadistas ou varejistas desses produtos, não gera direito a crédito do PIS/COFINS, dada a expressa vedação, consoante os art. 2º, § 1º, III e art. 3º, I, “b”, c/c da Lei nº 10.637/2002 e da Lei nº 10.833/2003. CRÉDITOS. MANUTENÇÃO. ART. 17 DA LEI Nº 11.033/2004. IMPOSSIBILIDADE. A manutenção dos créditos, prevista no art. 17 da Lei nº 11.033/04, não tem o alcance de manter créditos cuja aquisição a lei veda desde a sua definição. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 48 0. 72 03 73 /2 01 0- 89 Fl. 1267DF CARF MF Processo nº 10480.720373/201089 Acórdão n.º 3301003.376 S3C3T1 Fl. 3 2 Luiz Augusto do Couto Chagas Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d’Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Marcelo Giovani Vieira, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas. Relatório Tratase de Pedido Eletrônico de Ressarcimento PER, formulado através do programa PER/Dcomp, por intermédio do qual a Recorrente pleiteia o ressarcimento em espécie do saldo credor acumulado de PIS/Pasep NãoCumulativo – Mercado Interno. O Pedido de Ressarcimento foi indeferido, por ausência de direito ao crédito pleiteado. A origem do direito creditório alegado seria o saldo credor acumulado em razão da aquisição de produtos monofásicos (veículos novos). A Recorrente tem como atividade comercial a compra e venda, no atacado e varejo, de veículos novos e peças em geral, relacionadas na Lei nº 10.485/02. A Lei nº 10.485/02, no art. 3º, § 2º, I e II, prescreve que os produtos nela relacionados têm as alíquotas de PIS e COFINS reduzidas a 0% relativamente à receita bruta auferida por comerciantes atacadistas e varejistas. A Recorrente alega que com a edição das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003, os produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 compõem a sua receita bruta para efeito de apuração de PIS e COFINS sob o regime da nãocumulatividade e que a manutenção dos créditos decorrentes da aquisição desses produtos tem como fundamento legal o art. 17 da Lei n° 11.033/2004 e o pedido de ressarcimento em espécie tem como fundamento legal o art. 16 da Lei n° 11.116/2005. Assim, com esse entendimento, os créditos de PIS/Pasep nãoCumulativo, objeto do ressarcimento deste processo fiscal pela Recorrente, têm origem exclusiva na aplicação direta das alíquotas previstas nas leis 10.637/02 (PIS) e 10.833/03 (COFINS), que introduziram a nova sistemática do regime da nãocumulatividade para ambas as Contribuições, sobre o valor de aquisição dos produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos), pois a alíquota da Contribuição nas saídas subsequentes desses produtos foi reduzida a 0%. Então, a controvérsia nestes autos é o direito ao creditamento, no regime não cumulativo, dos valores de aquisição dos produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos), ou seja, crédito com origem nas aquisições de produtos com incidência monofásica. A DRJ indeferiu a manifestação de inconformidade nos termos do Acórdão 0649.661. O fundamento adotado, em síntese, foi o de que há vedação legal e normativa para o aproveitamento do crédito das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, com base na sistemática da não cumulatividade, pelas revendedoras de veículos automotores, nas vendas submetidas à incidência monofásica. Fl. 1268DF CARF MF Processo nº 10480.720373/201089 Acórdão n.º 3301003.376 S3C3T1 Fl. 4 3 Tanto na manifestação de inconformidade, quanto em seu recurso voluntário, a Recorrente tece longo arrazoado para justificar o seu direito ao creditamento, para tanto interpreta a legislação federal e o princípio constitucional da nãocumulatividade. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Augusto do Couto Chagas, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3301003.248, de 29 de março de 2017, proferido no julgamento do processo 10120.902719/201135, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3301003.248): O recurso voluntário reúne os pressupostos legais de interposição, dele, portanto, tomo conhecimento. Não há direito ao creditamento, no regime nãocumulativo, dos valores de aquisição dos produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos), conforme se justifica a seguir. Os art. 1o e 3o da Lei n° 10.485/2002 prescrevem: Art. 1o.As pessoas jurídicas fabricantes e as importadoras de máquinas e veículos classificados nos códigos 84.29, 8432.40.00, 84.32.80.00, 8433.20, 8433.30.00, 8433.40.00, 8433.5, 87.01, 87.02, 87.03, 87.04, 87.05 e 87.06, da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados TIPI, aprovada pelo Decreto no 4.070, de 28 de dezembro de 2001, relativamente à receita bruta decorrente da venda desses produtos, ficam sujeitas ao pagamento da contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS, às alíquotas de 2% (dois por cento) e 9,6% (nove inteiros e seis décimos por cento), respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) Art. 3o As pessoas jurídicas fabricantes e os importadores, relativamente às vendas dos produtos relacionados nos Anexos I e II desta Lei, ficam sujeitos à incidência da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS às alíquotas de: II 2,3% (dois inteiros e três décimos por cento) e 10,8% (dez inteiros e oito décimos por cento), respectivamente, nas vendas para comerciante atacadista ou varejista ou para consumidores. (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) Fl. 1269DF CARF MF Processo nº 10480.720373/201089 Acórdão n.º 3301003.376 S3C3T1 Fl. 5 4 § 2o Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, relativamente à receita bruta auferida por comerciante atacadista ou varejista, com a venda dos produtos de que trata: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) Assim, para os veículos classificados nos códigos 87.01 a 87.06 da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados TIPI e dos produtos relacionados nos Anexos I e II, a cobrança da COFINS terá incidência monofásica, com alíquotas diferenciadas para as pessoas jurídicas fabricantes e importadoras. O regime monofásico concentra a cobrança do tributo em uma etapa da cadeia produtiva, desonerando a etapa seguinte. E ainda, a referida lei reduziu a zero as alíquotas da COFINS incidentes sobre as receitas auferidas pelos comerciantes atacadistas ou varejistas com a venda desses mesmos produtos. O regime monofásico impõe que o fabricante ou importador dos produtos (monofásicos) recolham o PIS/COFINS em uma alíquota diferenciada e majorada, bem como a fixação de alíquota zero de PIS/COFINS sobre a receita auferida com a venda dos mesmos pelos demais participantes da cadeia produtiva (distribuidores, atacadistas e varejistas). Então, não se cogita do sistema de compensação entre créditos e débitos. Deste modo, a Lei nº 10.485/02 fixou a tributação devida ao PIS e à COFINS no início da cadeia produtiva, fabricantes e/ou importadores de veículos automotores e autopeças, estabelecendo alíquota mais elevada nesta etapa de comercialização, desonerando a fase em que se integram as concessionárias, mediante atribuição de alíquota zero, nos termos dos seus artigos 2º, § 2º, II; 3º, § 2º, I e II; e 5º, parágrafo único, esses dispositivos não foram revogadas pela Lei nº 10.833/03. A incidência monofásica das contribuições discutidas incorre na inviabilidade lógica e econômica do reconhecimento de crédito recuperável pelos comerciantes varejistas e atacadistas, pois inexistente cadeia tributária após a venda destinada ao consumidor final, razão pela qual o art. 17 da Lei nº 11.033/04, afigurase incompatível com este caso. Ademais, não há crédito em relação aos veículos classificados nos códigos 87.01 a 87.06 da TIPI e aos produtos relacionados nos Anexos I e II da Lei nº 10.485/2002 adquiridos para revenda, por vedação expressa dos art. 2º, § 1º, III e art. 3º, I, “b”, c/c da Lei nº 10.833/2003, verbis: Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (...) b) no § 1º do art. 2º desta Lei; Art. 2º Para determinação do valor da COFINS aplicarseá, sobre a base de cálculo apurada conforme o disposto no art.1º, a alíquota de 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento). Fl. 1270DF CARF MF Processo nº 10480.720373/201089 Acórdão n.º 3301003.376 S3C3T1 Fl. 6 5 § 1º Excetuase do disposto no caput deste artigo a receita bruta auferida pelos produtores ou importadores, que devem aplicar as alíquotas previstas: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (...) III no art. 1º da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, e alterações posteriores, no caso de venda de máquinas e veículos classificados nos códigos 84.29, 8432.40.00, 84.32.80.00, 8433.20, 8433.30.00, 8433.40.00, 8433.5, 87.01, 87.02, 87.03, 87.04, 87.05 e 87.06, da TIPI; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) IV no inciso II do art. 3º da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, no caso de vendas, para comerciante atacadista ou varejista ou para consumidores, das autopeças relacionadas nos Anexos I e II da mesma Lei; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (...) Logo, pela redação dos dispositivos supracitados, é expressamente vedado descontar créditos calculados em relação aos veículos classificados nos códigos 87.01 a 87.06 da TIPI e aos produtos relacionados nos Anexos I e II da Lei nº 10.485, de 2002, adquiridos para revenda. Alega a Recorrente que teria direito ao creditamento com base no art. 17 da Lei nº 11.033/2004: Art. 17. As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. Esse dispositivo não se aplica ao caso em comento, pelas seguintes razões: 1 Referese a “manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados” nas operações de vendas com isenção, alíquota zero ou nãoincidência da COFINS, ou seja, tratase de créditos legalmente autorizados da COFINS (neste caso o crédito está proibido); 2 É regra geral que coexiste com vedação ao creditamento por norma específica e 3 Não revoga expressa ou tacitamente o inciso I, alínea “b”, do art. 3º da Lei nº 10.833/03. Por fim, quanto a argumentos de inconstitucionalidade da vedação ao creditamento, por afronta ao princípio da nãocumulatividade, saliento que sobre esta matéria o CARF não pode se pronunciar, de acordo com a Súmula nº 2 (O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária). Por todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário. Nos termos do entendimento exarado no paradigma, a impossibilidade de creditamento, no regime nãocumulativo, dos valores de aquisição dos produtos relacionados Fl. 1271DF CARF MF Processo nº 10480.720373/201089 Acórdão n.º 3301003.376 S3C3T1 Fl. 7 6 na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos) aplicase tanto à Contribuição para o PIS/Pasep quanto à COFINS. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. assinado digitalmente Luiz Augusto do Couto Chagas Fl. 1272DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13888.900309/2014-19
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Jun 19 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Data do fato gerador: 23/03/2012
PEDIDO DE COMPENSAÇÃO. CRÉDITOS DE IPI PAGOS INDEVIDAMENTE OU A MAIOR COM DÉBITOS DA COFINS. AUSÊNCIA DE PROVAS DO CONTRIBUINTE. ÔNUS QUE LHE INCUMBE. RECURSO VOLUNTÁRIO NEGADO.
Contribuinte que pede compensação, instruindo seu pedido com a DCOMP; sobrevindo decisão dizendo que não há mais créditos a serem aproveitados tem o dever de provar a sua existência por outros meios, dentre outros, por intermédio de DARF, DCTF, Livro de Apuração e Registro do IPI, mas não o fez.
Numero da decisão: 3401-003.696
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário apresentado.
ROSALDO TREVISAN - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente da turma), Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice-presidente), Robson José Bayerl, Eloy Eros da Silva Nogueira, Augusto Fiel Jorge O'Oliveira, Fenelon Moscoso de Almeida, André Henrique Lemos (relator) e Tiago Guerra Machado.
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI Data do fato gerador: 23/03/2012 PEDIDO DE COMPENSAÇÃO. CRÉDITOS DE IPI PAGOS INDEVIDAMENTE OU A MAIOR COM DÉBITOS DA COFINS. AUSÊNCIA DE PROVAS DO CONTRIBUINTE. ÔNUS QUE LHE INCUMBE. RECURSO VOLUNTÁRIO NEGADO. Contribuinte que pede compensação, instruindo seu pedido com a DCOMP; sobrevindo decisão dizendo que não há mais créditos a serem aproveitados tem o dever de provar a sua existência por outros meios, dentre outros, por intermédio de DARF, DCTF, Livro de Apuração e Registro do IPI, mas não o fez.
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CRÉDITOS DE IPI PAGOS INDEVIDAMENTE OU A MAIOR COM DÉBITOS DA COFINS. AUSÊNCIA DE PROVAS DO CONTRIBUINTE. ÔNUS QUE LHE INCUMBE. RECURSO VOLUNTÁRIO NEGADO. Contribuinte que pede compensação, instruindo seu pedido com a DCOMP; sobrevindo decisão dizendo que não há mais créditos a serem aproveitados tem o dever de provar a sua existência por outros meios, dentre outros, por intermédio de DARF, DCTF, Livro de Apuração e Registro do IPI, mas não o fez. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário apresentado. ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente da turma), Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vicepresidente), Robson José Bayerl, Eloy Eros da Silva Nogueira, Augusto Fiel Jorge O'Oliveira, Fenelon Moscoso de Almeida, André Henrique Lemos (relator) e Tiago Guerra Machado. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 88 8. 90 03 09 /2 01 4- 19 Fl. 62DF CARF MF Processo nº 13888.900309/201419 Acórdão n.º 3401003.696 S3C4T1 Fl. 3 2 Versam os autos sobre PER/DCOMP cujo direito creditório alegado seria oriundo de recolhimento indevido do IPI, a ser compensado com débito de tributo administrado pela RFB. O despacho decisório não homologou a compensação em razão do recolhimento indevido já ter sido integralmente quitado com outros débitos do contribuinte. O contribuinte apresentou tempestivamente sua manifestação de inconformidade, arguindo várias nulidades, mormente que o aludido Despacho não teria fundamentação, teria se desviado de sua finalidade e lhe causado cerceamento de defesa. Sobreveio decisão da DRJ de Ribeirão Preto/SP, na qual, por unanimidade de votos, julgou improcedente a manifestação de inconformidade, cuja ementa possui o seguinte teor: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Data do fato gerador: 23/03/2012 NULIDADES. As causas de nulidade no âmbito do processo administrativo fiscal são somente aquelas elencadas na legislação de regência. O Despacho Decisório devidamente fundamentado é regularmente válido. RESTITUIÇÃO. COMPENSAÇÃO. A homologação das compensações declaradas requer créditos líquidos e certos contra a Fazenda Nacional. Não caracterizado o pagamento indevido, não há créditos para compensar com os débitos do contribuinte. ÔNUS DA PROVA. Cabe à defesa o ônus da prova dos fatos modificativos, impeditivos ou extintivos da pretensão fazendária. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido A contribuinte interpôs tempestivamente o seu recurso voluntário, asseverando que a decisão não levou em consideração, nas razões de decidir a eficácia dos princípios constitucionais da motivação dos atos administrativos e da ampla defesa, impedindo que a Recorrente apresentasse defesa, bem como demonstrasse a existência do crédito, requerendo a nulidade da decisão, vez que não lhe foi oportunizado conhecer os motivos pelos quais sua compensação não foi homologada. É o relatório. Voto Fl. 63DF CARF MF Processo nº 13888.900309/201419 Acórdão n.º 3401003.696 S3C4T1 Fl. 4 3 Conselheiro Rosaldo Trevisan Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3401003.652, de 25 de abril de 2017, proferido no julgamento do processo 13888.900243/201467, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3401003.652): Como se viu do relatório, o presente recurso voluntário visa a nulidade da decisão da DRJ de Ribeirão Preto/SP, entendendo que esta não restou motivada, implicando seu cerceamento de defesa. Não merece prosperar as alegações da Recorrente. A uma, disse o Despacho Decisório: A partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, abaixo relacionados, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP. A duas, mencionou expressamente a decisão de piso que a Recorrente não trouxe qualquer prova (DARF, DCTF, Livro de Apuração e Registro do IPI), indício ou justificativa que permitisse comprovar o alegado recolhimento indevido. A propósito, merece destaque parte do voto do e. relator: Inicialmente vale verificar o que consta no Despacho Decisório, devidamente assinado pela autoridade competente: A partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, abaixo relacionados, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP. Ou seja, o alegado pagamento indevido não foi restituído porque já tinha sido utilizado para quitar outros débitos. Com efeito, se há erro nos arquivos da Receita, bastaria o interessado juntar a idônea e hábil documentação contraditória (DARF, DCTF e Livro de Apuração e Registro do IPI), até em homenagem o princípio da verdade material tanto invocado, sendo que, se tratam de declarações e livros cuja boa guarda e apresentação imediata estão legalmente determinadas. A manifestação do interessado não traz qualquer prova, indício ou mesmo justificativa que permita comprovar o alegado Fl. 64DF CARF MF Processo nº 13888.900309/201419 Acórdão n.º 3401003.696 S3C4T1 Fl. 5 4 recolhimento indevido, limitandose, tão somente a colecionar julgados e doutrinas sobre nulidades. Considerando que nos sistemas da Secretaria da Receita Federal do Brasil, consta que os valores recolhidos no indigitado DARF já foram utilizados para quitar outros débitos e nada o contribuinte a isto contrapõe, não há o que reconsiderar ou anular, sendo que não se justifica a falta de apresentação de documentos que provassem seu direito creditório, na medida que a alegação de cerceamento da defesa não se sustenta. A três, vêse que a decisão fora motivada, embora cingiramse as assertivas da Recorrente apenas e tão somente na juntada da DCOMP, informando que detinha um crédito de IPI, oriundo de pagamento indevido, o qual seria compensado com débitos da COFINS. A quatro, temse que, sobrevindo a decisão da manifestação de inconformidade, deveria a Recorrente fazer prova deste suposto pagamento indevido ou a maior do IPI, conforme determinava o artigo 333 do CPC, vigente à época ademais, como ressalvada pela decisão da DRJ , porém, quedou silente a contribuinterecorrente. A quinto, o processo há de vir devidamente instruído para que o Colegiado possa apreciálo, de modo que, diante da ausência de qualquer prova, a conclusão que se chega é que a decisão de piso não merece reparos. Não maiores ilações a serem feitas e diante da ausência de provas, voto em negar provimento ao recurso voluntário. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. (Assinado com certificado digital) Rosaldo Trevisan Fl. 65DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13227.901031/2012-19
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Mar 30 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Jun 07 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Data do Fato Gerador: 15/03/2005
PIS/COFINS. NÃO CUMULATIVIDADE. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA.
Incumbe ao sujeito passivo a demonstração, acompanhada de provas hábeis, da composição e da existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional, para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3301-003.300
Decisão:
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DO COUTO CHAGAS
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decisao_txt : Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas.
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PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. Recorrente AUTO POSTO IRMÃOS BATISTA LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do Fato Gerador: 15/03/2005 PIS/COFINS. NÃO CUMULATIVIDADE. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. Incumbe ao sujeito passivo a demonstração, acompanhada de provas hábeis, da composição e da existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional, para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Luiz Augusto do Couto Chagas Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 22 7. 90 10 31 /2 01 2- 19 Fl. 52DF CARF MF Processo nº 13227.901031/201219 Acórdão n.º 3301003.300 S3C3T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto pelo Contribuinte contra decisão consubstanciada no Acórdão nº 06048.611, proferido pela 3ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Curitiba (PR) – DRJ/CTA – que julgou, por unanimidade de votos, improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada pelo Contribuinte. Por meio do Despacho Decisório, emitido pela DRF JiParaná, o pedido de restituição foi indeferido, uma vez que o crédito informado, correspondente ao pagamento de Data do Fato Gerador: 15/03/2005, já estava integralmente utilizado para quitação de débito do contribuinte. Cientificada da decisão administrativa, a interessada apresentou manifestação de inconformidade, alegando, em síntese, que: é empresa dedicada ao comércio varejista de combustíveis e lubrificantes e a prestação de serviços afins. Assim, por adquirir combustíveis para revenda com incidência monofásica de PIS e Cofins e promover a saída desses combustíveis à alíquota zero, equivocadamente, deixou de constituir os demais créditos das contribuições (demais insumos e produtos/serviços, excluídas as aquisições de combustíveis) que lhe são autorizados conforme determinação do art. 3º das Leis nºs 10.637, de 2002 e 10.833, de 2003. Diz que refez a apuração do PIS e da Cofins do período, em face da não apropriação de créditos autorizados em lei, e apurou novos valores de débitos, todos demonstrados em Dacon retificador, de forma que os valores recolhidos e declarados na DCTF à época revelaramse indevidos e/ou maiores que os devido. Por fim, solicita a reforma da decisão, para que seja reconhecido o direito creditório pleiteado e para que seja determinada a suspensão da exigência do crédito tributário, até que seja proferido despacho decisório definitivo. Tendo em vista a negativa do Acórdão da 3ª Turma da DRJ/CTA, que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada pelo Contribuinte, este ingressou com Recurso Voluntário visando reformar a referida decisão. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Augusto do Couto Chagas, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3301003.268, de 30 de março de 2017, proferido no julgamento do processo 13227.900788/201295, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3301003.268): Fl. 53DF CARF MF Processo nº 13227.901031/201219 Acórdão n.º 3301003.300 S3C3T1 Fl. 4 3 O Recurso Voluntário, de 13 de novembro de 2014, interposto pelo Contribuinte, em face da decisão consubstanciada no Acórdão nº 0648.583, de 27 de agosto de 2014, é tempestivo e atende os pressupostos legais de admissibilidade, motivo pelo qual deve ser conhecido. O ora analisado Recurso Voluntário visa reformar decisão que possui a seguinte ementa: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do Fato Gerador: 14/07/2006 PIS/PASEP. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE CREDITÓRIO INFORMADO NO PER/DCOMP. Inexistindo comprovação do direito creditório informado no PER/DCOMP, é de se manter o indeferimento do pedido. PIS/PASEP. NÃO CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS PASSÍVEIS DE UTILIZAÇÃO. COMPROVAÇÃO. A mera alegação do direito creditório, desacompanhada de provas baseadas na escrituração contábil/fiscal do período, não é suficiente para demonstrar a existência de créditos passíveis de aproveitamento no sistema da não cumulatividade. O presente processo diz respeito ao Despacho Decisório nº de rastreamento 031047802 (fl. 5), de 4 de setembro de 2012, que indeferiu o pedido do Contribuinte de restituição de pagamento de PIS/COFINS (PER nº 41619.73872.130508.1.2.04 3004) no valor de R$ 390,64 por alegada inexistência do referido crédito. Nas razões do Recurso Voluntário o Contribuinte aduz que o Acórdão ora recorrido e o Despacho Decisório não verificaram a origem dos créditos. Cito trecho do recurso em análise para elucidar o caso (fls. 35 e 36): Vale reprisar: a Recorrente refez sua apuração de Pis e Cofins no período em debate em face da não apropriação de créditos autorizados em lei e apurou novos valores de débitos destas contribuições, todo demonstrados em DACON Retificador, de forma que os valores recolhidos e declarados na DCTF à época revelaramse indevidos e/ou maiores que os efetivamente devidos conforme demonstramos acima. Desta forma, o valor indevido (diferença entre o valor recolhido e o declarado na DCTF e o novo valor demonstrado em DACON) corresponde ao valor objeto de pedido de restituição ora debatido. O crédito utilizado por compensação na Dcomp não homologada pelo Acórdão em debate pode ser confirmado na Dacon retificadora do período em epígrafe, cujo recibo de entrega já integra os autos deste processo, na qual está demonstrada toda a apuração de créditos que resultou em saldo credor a favor da Recorrente. No entanto, de imediato verificase que a análise do pedido da Recorrente foi realizada parcialmente pela Receita Federal, já Fl. 54DF CARF MF Processo nº 13227.901031/201219 Acórdão n.º 3301003.300 S3C3T1 Fl. 5 4 que aparentemente a Dacon retificadora apresentada não foi analisada. Apenas o Pedido de restituição foi analisado. Sendo assim, ao efetuar o cruzamento de informações entre DACON Retificadora x DCTF x Pedido de Restituição se verificará claramente que o valor ora requerido é exatamente o valor que foi recolhido indevidamente (conforme demonstrado na DACON) e que deve, portanto, ser restituído à Recorrente. De fato a Recorrente não retificou as DCTFs em relação a tais valores mas não o fez por julgar o Dacon o documento demonstrativo suficiente para este fim. Também não o fez por considerar que a DCTF é o documento no qual deve permanecer o pagamento do Darf efetivamente realizado, para que, quando comparado ao valor da contribuição apurada e demonstrada em DACON, a diferença corresponda ao crédito pleiteado. E, de fato, se houvesse ocorrido o cruzamento do Dacon com a DCTF facilmente se verificaria e se confirmaria o crédito da Recorrente. Assim, o crédito existe, foi efetivamente demonstrado e como tal deve ser reconhecido à Recorrente. O fato de ter incorrido em erro por não retificar a DCTF não pode ser motivo de glosa e não reconhecimento de um crédito que está devidamente demonstrado em Dacon, já que neste demonstrativo podese verificar o valor devido no período a título da contribuição em debate, e cujo valor a favor da Recorrente pode ser facilmente confirmado pela análise conjunta dos dados – Dacon x DCTF, do qual se confirmará que o valor pleiteado é apenas a diferença recolhida a maior e, que a Recorrente manteve na DCTF, justamente para que se confirme o pagamento a maior consta da base de dados da Receita Federal. O acórdão ora analisado indeferiu o pedido do Contribuinte por entender que o crédito pleiteado não existia, conforme se verifica no seguinte trecho do voto (fl. 26): Como já dito, o indeferimento do pedido deveuse porque o crédito indicado não existia, ou seja, na data da ciência do despacho decisório, o DARF informado como origem do crédito, estava totalmente utilizado para a quitação de débito da contribuinte que foi validamente declarado em DCTF. Na sequência dos fatos, a interessada diz que procedeu à retificação do Dacon (zerando o valor da contribuição devida ao PIS e à Cofins) e requer, por isso, o deferimento do seu pleito. Nesse contexto, devese observar que, ainda que tivessem sido retificados os valores declarados em DCTF, que, como é sabido, é o instrumento de confissão de dívida e de constituição definitiva do crédito tributário (art. 5.º do Decretolei nº 2.124/84 e Instruções Normativas da RFB que dispõem sobre a DCTF), somente seria possível a admissão da retificação mediante a comprovação do erro em que se funde, justamente, porque visa a reduzir ou excluir tributo, como estabelecido pelo Fl. 55DF CARF MF Processo nº 13227.901031/201219 Acórdão n.º 3301003.300 S3C3T1 Fl. 6 5 art. 147, § 1º da Lei nº 5.172, de 25/10/1966. O Dacon, por sua vez, tem o objetivo de refletir os controles feitos pelo sujeito passivo de todas as suas operações capazes de influenciar a apuração das contribuições devidas a título de PIS e Cofins, bem como dos respectivos créditos a serem descontados, deduzidos, compensados ou ressarcidos; mas, apresentado isoladamente, não tem o peso necessário para retificar informações declaradas tempestivamente em DCTF. (grifouse) Cabe salientar que para o ressarcimento e ou compensação tributária exigese do contribuinte a demonstração da liquidez e certeza do crédito pleiteado como dispõe o art. 170 do Código Tributário Nacional: Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública. (grifou se). Neste sentido foi a conclusão do voto do ora recorrido acórdão que assim expôs (fl. 27): Nesse contexto, cabe enfatizar que a comprovação da existência de crédito junto à Fazenda Nacional é atribuição dos interessados, cabendo à autoridade administrativa, por sua vez, examinar a liquidez e certeza de que teriam sido repassadas aos cofres públicos importâncias superiores àquelas devidas, de acordo com a legislação pertinente, e autorizando, após confirmação de sua regularidade, a restituição ou compensação do crédito conforme vontade expressa da contribuinte. (grifou se). Percebese no presente processo que o Contribuinte não apresenta provas cabais, por intermédio da escrituração fiscal e contábil e/ou documentos fiscais, para que se possa verificar a base de cálculo da contribuição e o alegado valor recolhido a maior. Neste sentido, constase que o Contribuinte trouxe, por meio do Recurso Voluntário, os mesmos argumentos trazidos já na fase da Manifestação de inconformidade, com a inclusão de alguns novos argumentos, mas sem apresentar provas que demonstrem o seu direito creditício junto à Fazenda Nacional. Sendo assim, tendo em vista os autos do processo e a legislação aplicável, voto no sentido de negar provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo Contribuinte, mantendo o entendimento do Acórdão ora analisado. Nos termos do entendimento exarado no paradigma, no presente processo o Contribuinte, da mesma forma que no caso do paradigma, não apresenta provas cabais, por intermédio da escrituração fiscal e contábil e/ou documentos fiscais, para que se possa verificar a base de cálculo da contribuição e o alegado valor recolhido a maior, que demonstrem o seu direito creditício junto à Fazenda Nacional. Fl. 56DF CARF MF Processo nº 13227.901031/201219 Acórdão n.º 3301003.300 S3C3T1 Fl. 7 6 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. assinado digitalmente Luiz Augusto do Couto Chagas Fl. 57DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.721329/2014-79
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 11 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Jun 06 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2009, 2010, 2011
NULIDADE. IMPROCEDÊNCIA.
Não é inquinada de nulidade a decisão que adota, parcial ou integralmente, excertos de outras decisões ou o relatório da acusação fiscal, se, comprovadamente, foram apreciados pelos julgadores, todos os fatos, argumentos e provas trazidos aos autos.
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ
ÁGIO INDIRETO. IMPOSSIBILIDADE. FALTA DE PREVISÃO LEGAL. OFENSA AO PRINCIPIO DA ENTIDADE.
Não é possível o registro de ágio, no ativo da investidora, sobre participações societárias que compõem o patrimônio de sua investida, por absoluta falta de previsão legal e ofensa ao princípio da entidade.
INEXISTÊNCIA DE EXTINÇÃO DO INVESTIMENTO. REESTRUTURAÇÃO SOCIETÁRIA. ÁGIO TRANSFERIDO. AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO INDEVIDA.
O direito à contabilização do ágio não se confunde com o direito à sua amortização. Em regra, o ágio efetivamente pago em operação entre pessoas jurídicas não ligadas e suportado em laudo que comprove a expectativa de rentabilidade futura deve compor o custo do investimento, sendo dedutível somente quando de sua alienação, na forma do artigo 426, do RIR/1999, posto que a exceção fincada no artigo 386, III, do mesmo diploma regulamentar pressupõe uma efetiva reestruturação societária na qual a investidora absorve parcela do patrimônio da investida, ou vice-versa. Inexistindo extinção do investimento mediante reestruturação societária entre investida e investidora, não há que se falar em amortização do ágio, sendo inadmissível sua transferência para terceiros para que possam usufruir de tias despesas.
DESPESAS COM ROYALTIES. DEDUTIBILIDADE. LIMITE.
Na forma do disposto no artigo 355, do RIR/1999, é autorizada a dedução de despesas relativas ao pagamento de Royalties pelo uso de marcas ou nome comercial, desde que obedecidos os coeficientes percentuais que incidem sobre a receita líquida das vendas dos produtos fabricados ou vendidos, estabelecidos conforme os tipos de produção ou atividade da pessoa jurídica e segundo o grau de essencialidade parametrizado pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 436, de 1958, cujo suporte legal é o artigo 12, § 1º, da Lei nº 4.131, de 1962, em plena vigência. No caso de uso de marcas de indústria e comércio, ou nome comercial, em qualquer tipo de produção ou atividade, quando o uso da marca ou nome não seja decorrente da utilização de patente, processo ou fórmula de fabricação o limite é de 1% (um por cento).
DESPESAS COM ROYALTIES. VALORES CONTABILIZADOS. AJUSTES.
Não há que se falar em nulidade ou inovação no julgamento quando a decisão de 1º Piso ajusta, para menos, à vista de documentos presentes nos autos e sem alterar o enquadramento legal ou assumir outra forma de apuração, os lançamentos perpetrados pelo Fisco, traduzindo a verdade material, princípio fundamental do processo administrativo-tributário, ainda mais quando as informações proveem da própria autuada.
PREJUÍZOS E BASE DE CÁLCULO NEGATIVA. COMPENSAÇÃO.
Sendo mantida a decisão recorrida, as autuações quanto à compensação indevida de base de cálculo negativa da CSLL e de prejuízo fiscal, por saldo insuficiente, restam incólumes.
ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO - CSLL
CSLL. EXTENSÃO LEGAL. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INOPONÍVEL AO FISCO. DECORRÊNCIA LÓGICA.
Tendo em vista a íntima relação de causa e efeito envolvendo os lançamentos de IRPJ e de CSLL presentes nos autos, estende-se a esta a glosa das despesas com amortização de ágio, posto que inoponível ao Fisco o planejamento tributário tendente a reduzir a base de cálculo das duas exações.
ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO ÁGIO. DECADÊNCIA. CONTAGEM DO PRAZO
No caso da amortização do ágio, independentemente do ano em que o mesmo tenha sido gerado, o Fisco somente pode verificar a regularidade da dedução a partir do momento em que o sujeito passivo passa a deduzi-lo de seus resultados, fluindo, a partir daí, o início do prazo de decadência, e não da data do registro do ágio.
MULTA NA SUCESSÃO. RESPONSABILIDADE.
A responsabilidade tributária não está limitada aos tributos devidos pelos sucedidos, mas abrange as multas, moratórias ou de outra espécie, que, por representarem penalidade pecuniária, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor.
MULTA ISOLADA. FALTA OU INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS MENSAIS.
O não recolhimento ou o recolhimento a menor de estimativas mensais sujeita a pessoa jurídica optante pela sistemática do lucro real anual, à multa de ofício isolada estabelecida no artigo 44, inciso II, b, da Lei nº 9.430/1996, ainda que encerrado o ano-calendário. Lançamentos mantidos.
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO.
A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de ofício proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de ofício, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic.
Numero da decisão: 1402-002.455
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício e rejeitar as arguições de nulidade e de decadência. Por maioria de votos, negar provimento ao recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Caio Cesar Nader Quintella e Demetrius Nichele Macei que votaram por dar provimento parcial ao recurso para cancelar a exigência da multa isolada. Em primeira votação, foram vencidos os Conselheiros Leonardo Luis Pagano Gonçalves e Caio Cesar Nader Quintella que davam provimento em maior extensão para cancelar a exigência referente à glosa de despesas com ágio. Ausente justificadamente o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira.
(assinado digitalmente)
Leonardo de Andrade Couto - Presidente
(assinado digitalmente)
Paulo Mateus Ciccone - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Paulo Mateus Ciccone, Caio Cesar Nader Quintella, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei, Leonardo de Andrade Couto (presidente).
Nome do relator: PAULO MATEUS CICCONE
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IMPROCEDÊNCIA. Não é inquinada de nulidade a decisão que adota, parcial ou integralmente, excertos de outras decisões ou o relatório da acusação fiscal, se, comprovadamente, foram apreciados pelos julgadores, todos os fatos, argumentos e provas trazidos aos autos. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ ÁGIO INDIRETO. IMPOSSIBILIDADE. FALTA DE PREVISÃO LEGAL. OFENSA AO PRINCIPIO DA ENTIDADE. Não é possível o registro de ágio, no ativo da investidora, sobre participações societárias que compõem o patrimônio de sua investida, por absoluta falta de previsão legal e ofensa ao princípio da entidade. INEXISTÊNCIA DE EXTINÇÃO DO INVESTIMENTO. REESTRUTURAÇÃO SOCIETÁRIA. ÁGIO TRANSFERIDO. AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO INDEVIDA. O direito à contabilização do ágio não se confunde com o direito à sua amortização. Em regra, o ágio efetivamente pago em operação entre pessoas jurídicas não ligadas e suportado em laudo que comprove a expectativa de rentabilidade futura deve compor o custo do investimento, sendo dedutível somente quando de sua alienação, na forma do artigo 426, do RIR/1999, posto que a exceção fincada no artigo 386, III, do mesmo diploma regulamentar pressupõe uma efetiva reestruturação societária na qual a investidora absorve parcela do patrimônio da investida, ou viceversa. Inexistindo extinção do investimento mediante reestruturação societária entre investida e investidora, não há que se falar em amortização do ágio, sendo AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 72 13 29 /2 01 4- 79 Fl. 2753DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.754 2 inadmissível sua transferência para terceiros para que possam usufruir de tias despesas. DESPESAS COM ROYALTIES. DEDUTIBILIDADE. LIMITE. Na forma do disposto no artigo 355, do RIR/1999, é autorizada a dedução de despesas relativas ao pagamento de Royalties pelo uso de marcas ou nome comercial, desde que obedecidos os coeficientes percentuais que incidem sobre a receita líquida das vendas dos produtos fabricados ou vendidos, estabelecidos conforme os tipos de produção ou atividade da pessoa jurídica e segundo o grau de essencialidade parametrizado pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 436, de 1958, cujo suporte legal é o artigo 12, § 1º, da Lei nº 4.131, de 1962, em plena vigência. No caso de uso de marcas de indústria e comércio, ou nome comercial, em qualquer tipo de produção ou atividade, quando o uso da marca ou nome não seja decorrente da utilização de patente, processo ou fórmula de fabricação o limite é de 1% (um por cento). DESPESAS COM ROYALTIES. VALORES CONTABILIZADOS. AJUSTES. Não há que se falar em nulidade ou inovação no julgamento quando a decisão de 1º Piso ajusta, para menos, à vista de documentos presentes nos autos e sem alterar o enquadramento legal ou assumir outra forma de apuração, os lançamentos perpetrados pelo Fisco, traduzindo a verdade material, princípio fundamental do processo administrativotributário, ainda mais quando as informações proveem da própria autuada. PREJUÍZOS E BASE DE CÁLCULO NEGATIVA. COMPENSAÇÃO. Sendo mantida a decisão recorrida, as autuações quanto à compensação indevida de base de cálculo negativa da CSLL e de prejuízo fiscal, por saldo insuficiente, restam incólumes. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL CSLL. EXTENSÃO LEGAL. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INOPONÍVEL AO FISCO. DECORRÊNCIA LÓGICA. Tendo em vista a íntima relação de causa e efeito envolvendo os lançamentos de IRPJ e de CSLL presentes nos autos, estendese a esta a glosa das despesas com amortização de ágio, posto que inoponível ao Fisco o planejamento tributário tendente a reduzir a base de cálculo das duas exações. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO ÁGIO. DECADÊNCIA. CONTAGEM DO PRAZO No caso da amortização do ágio, independentemente do ano em que o mesmo tenha sido gerado, o Fisco somente pode verificar a regularidade da dedução a partir do momento em que o sujeito passivo passa a deduzilo de seus resultados, fluindo, a partir daí, o início do prazo de decadência, e não da data do registro do ágio. MULTA NA SUCESSÃO. RESPONSABILIDADE. A responsabilidade tributária não está limitada aos tributos devidos pelos sucedidos, mas abrange as multas, moratórias ou de outra espécie, que, por representarem penalidade pecuniária, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor. Fl. 2754DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.755 3 MULTA ISOLADA. FALTA OU INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS MENSAIS. O não recolhimento ou o recolhimento a menor de estimativas mensais sujeita a pessoa jurídica optante pela sistemática do lucro real anual, à multa de ofício isolada estabelecida no artigo 44, inciso II, “b”, da Lei nº 9.430/1996, ainda que encerrado o anocalendário. Lançamentos mantidos. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de ofício proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de ofício, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício e rejeitar as arguições de nulidade e de decadência. Por maioria de votos, negar provimento ao recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Caio Cesar Nader Quintella e Demetrius Nichele Macei que votaram por dar provimento parcial ao recurso para cancelar a exigência da multa isolada. Em primeira votação, foram vencidos os Conselheiros Leonardo Luis Pagano Gonçalves e Caio Cesar Nader Quintella que davam provimento em maior extensão para cancelar a exigência referente à glosa de despesas com ágio. Ausente justificadamente o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira. (assinado digitalmente) Leonardo de Andrade Couto Presidente (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Paulo Mateus Ciccone, Caio Cesar Nader Quintella, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei, Leonardo de Andrade Couto (presidente). Fl. 2755DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.756 4 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte acima identificado em face de decisão exarada pela 8ª Turma da DRJ/BSB em sessão de 10 de maio de 2016, que julgou parcialmente procedente a impugnação apresentada e manteve parte dos lançamentos perpetrados pelo Fisco e de Recurso de Ofício manejado pelo Presidente da mencionada Turma pelo fato de haver exoneração de crédito tributário acima do limite de alçada (R$ 1.000.000,00) previsto, na época, pela Portaria MF nº 3, de 03 de janeiro de 2008 (fls. 2417/2489). Segundo Relatório Fiscal (RF), as irregularidades apontadas que geraram os lançamentos realizados referiramse a: 1) Falta de adição ao lucro líquido na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL dos valores relativos à despesa de amortização de ágio; 2) Falta de recolhimento do IRPJ e CSLL devidos por estimativa – multa isolada; 3) Inobservância do limite de dedução dos royalties; e, 4) Compensação indevida de prejuízo operacional com resultado da atividade geral. E estão assim resumidos (fls. 2): DA ACUSAÇÃO FISCAL Fl. 2756DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.757 5 Pela complexidade dos fatos, importante a transcrição do RF (fls. 1817/1858) em quase seu inteiro teor. Para tanto, pela extensão do relatório e pela sua correta descrição, sirvome do relatório da decisão recorrida, verbis: (os destaques são do original). “2.1. A descrição dos fatos no TVF, quanto à primeira infração (falta de adição ao lucro líquido na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL dos valores relativos à despesa de amortização de ágio – anos 2009, 2010 e P.A. de 01 a 05/2011) pode assim ser resumida: 2.1.1. O grupo CITIBANK no Brasil ("GRUPO CITIBANK") passou em 2006 por uma reestruturação societária que visava a redução dos custos de administração das sociedades brasileiras controladas diretamente ou indiretamente por Citibank Overseas Investment Corporation ("COIC"), empresa com sede no exterior e controladora do GRUPO CITIBANK, bem como maximizar o retorno dos investimentos realizados pelo GRUPO CITIBANK no Brasil, em particular aqueles advindos do CREDICARD BANCO, atual BANCO CITICARD S.A.; 2.1.2. Em função da participação de várias empresas neste ciclo de reorganizações societárias e a necessidade de citação recorrente das mesmas, o autuante descreve as pessoas jurídicas envolvidas com as respectivas abreviações (fls. 1818/1819) a serem utilizadas no Termo de Verificação Fiscal que abordará a fase desta reorganização que culminou com o aproveitamento fiscal, no CITICARD, do ágio de incorporação da NICE; 2.1.3. O TVF, entre outros pontos, aborda a fase desta reorganização que culminou com o aproveitamento fiscal, no CITICARD, do ágio de incorporação da NICE; 2.1.4. As informações, fatos e documentos descritos no TVF foram obtidos tanto na fiscalização executada no sujeito passivo, com a autorização do MPFF n° 2013.00519, quanto na autorização tácita concedida pelo Sujeito Passivo em 15/12/2014, na resposta à intimação n° 27, que deu conhecimento da utilização de todos os documentos apresentados na fiscalização do MPFF n° 201000500, que gerou o auto de infração do eprocesso n° 16327.721657/201122. Em seguida a autoridade fiscal relaciona, por ordem cronológica, os documentos considerados no processo; 2.2. Passa então a autoridade fiscal a discorrer sobre os eventos concernentes à reorganização societária. Nesse diapasão, sob o tópico “Histórico do CITICARD em função dos eventos societários ocorridos”, consigna que, na DIPJ referente ao anocalendário 2003, o CITICARD tinha o seu capital social de titularidade de 3 grupos financeiros atuantes no Brasil, através das seguintes pessoas jurídicas: FHL 33,33% (pertencente ao Grupo Citibank); ITAUCARD 33,33% (pertencente ao Grupo Itaú); e UNIBANCO 33,33% (empresa líder do Grupo Unibanco). 2.2.1. No final de 2004 os Grupos Itaú e Citibank adquiriram a parte do CITICARD que pertencia ao UNIBANCO, mediante a aquisição das quotas representativas do capital social da TULIPA, na proporção Fl. 2757DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.758 6 de 50% para cada grupo. A composição societária do CITICARD ficou assim estabelecida em 2004, permanecendo a mesma ao final de 2005, conforme informações das respectivas DIPJs: FHL 33,33%; ITAUCARD 33,33%; e TULIPA 33,33%. 2.3. CISÃO PARCIAL DO CITICARD EM 30/04/2006 Em 30/04/2006 foi aprovada a cisão parcial do CITICARD com versão de 50% do seu patrimônio para a "ITAÚ CARTÕES". Os motivos e finalidade da operação encontramse relacionados no item 1 da JUSTIFICAÇÃO. A segregação dos ativos e passivos do CITICARD obedeceu a critérios definidos pelos acionistas e permitiria a administração independente das parcelas vertida e remanescente do patrimônio, de forma que, ao final do processo, "o Grupo Itaú deixará de participar do capital do Companhia, que passará a ter a totalidade de seu capital detida pelo GRUPO CITIBANK''(reprodução do texto original). 2.3.1. O capital social do CITICARD, antes desta cisão parcial, conforme consta no item 2 do PROTOCOLO era de R$ 181.795.000,00, e em relação à posição de 31/12/2005, apresentou como novidade o ingresso da NICE no seu quadro societário, que se deu através da versão da parcela cindida do patrimônio da SAINT TROPEZ para a NICE também ocorrida em 30/04/2006 (evento que será mais detalhado na sequência). Através desta cisão parcial, o investimento que a SAINT TROPEZ possuía no CITICARD (antigo CREDICARD), bem como o ágio de R$ 746.822.333,43, foram transferidos para a NICE. Assim, após a cisão parcial da SAINT TROPEZ em 30/04/2006, mas antes da cisão parcial do CITICARD, ocorrida também em 30/04/2006 às 18:00 hs, o capital do CITICARD esteve distribuído desta forma: TULIPA = 16,66% (6.468.888 ações) ITAUCARD = 33,33% (12.937.769 ações) FHL = 33,33% (12.937.769 ações) NICE =16,66% (6.468.888 ações) 2.3.2. Após a sua cisão parcial o capital do CITICARD foi reduzido para R$ 90.897.500,00, mediante o cancelamento de 19.406.666 ações ON, das quais 12.937.769 ações de titularidade da ITAUCARD, 6.468.888 ações de titularidade da . TULIPA e 9 ações pertencentes a acionistas minoritários representados por pessoas físicas diversas. O novo capital social do CITICARD ficou assim distribuído entre os sócios principais: FHL = 66,66% (12.937.764 ações) NICE = 33,33% (6.468.888 ações). Outros = 0,01% (4 ações) 2.3. INCORPORAÇÃO DA NICE PELO CITICARD EM 31/05/2006 Em 31/05/2006 houve a incorporação da NICE pelo CITICARD, com a justificativa de reestruturação do Grupo Citibank com o fim de reduzir custos de administração. Com isto o capital do CITICARD foi aumentado em R$ 45.739.592,43, correspondente ao patrimônio liquido da NICE, demonstrado no quadro abaixo, passando a ser de R$ 136.637.092,43, representados por 22.081.902 ações. Foram emitidas 2.675.236 novas ações com base no valor do patrimônio liquido do CITICARD que foram subscritas e integralizadas pela NICE e atribuídas diretamente ao seu Fl. 2758DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.759 7 controlador (99,99%), CITIBANK CARTÕES, sendo as 6.468.888 ações de titularidade da NICE extintas e substituídas por igual quantidade e atribuídas proporcionalmente aos sócios da NICE. Após esta operação o capital social do CITICARD ficou assim distribuído entre os principais acionistas: FHL = 58,59% (12.937.775 ações) e CITIBANK CARTÕES = 41,41% (9.144.123 ações). O BACEN aprovou a incorporação da NICE e o aumento de capital. 2.3.1. Após concluído o processo de incorporação da NICE, o capital social do CITICARD ficou assim distribuído entre seus principais acionistas, conforme informado no item 2 da JUSTIFICAÇÃO e item 5 do PROTOCOLO: FHL = 58,59% (12.937.775 ações) e CITIBANK CARTÕES = 41 , 41% (9.144.123 ações) 2.4. INCORPORAÇÃO DA FHL PELO CITICARD EM 31/12/2006 Em 31/12/2006 houve a incorporação da FHL pelo CITICARD, em processo similar ao ocorrido com a NICE, resultando num aumento de capital de R$ 3.615.546,00, correspondente ao patrimônio líquido da FHL. As antigas ações da FHL e as novas emitidas com base no valor do PL foram atribuídas aos sócios da FHL (COIC e CHELSEA) As justificativas para incorporação foram as mesmas dadas para a incorporação da NICE. Após a conclusão do processo de incorporação o capital social do CITICARD ficou distribuído conforme dados abaixo entre os seus principais acionistas. O BACEN aprovou a incorporação da FHL, a alteração capital social do CITICARD. COIC = 58,79% (13.049.229 ações) CITIBANK CARTÕES = 41,20% (9.144.123 ações) CHELSEA = 0,0025% (1 ação) Outros (PF) = 0,0075% (3 ações) 2.5. HISTÓRICO DA NICE PARTICIPAÇÕES LTDA A NICE foi constituída em 23/08/2005 sob a denominação L.T.V.S.P.E. Empreendimentos e Participações Ltda. Seu capital inicial era de R$ 500,00, dividido em 500 quotas de valor nominal R$ 1,00 cada, atribuídas em igual proporção entre as duas sócias pessoas físicas. Segundo a primeira DIPJ entregue a empresa ficou inativa em 2005. Na primeira deliberação de sócios (19/04/2006) foram admitidos como sócios cotistas a COIC (com 499 quotas) e a FHL (com 1 quota), mediante a transferência das quotas existentes de titularidade das então sócias pessoas físicas, bem como foi alterada a denominação da empresa para Nice Participações Ltda., cujo endereço passou a ser o mesmo do GRUPO CITIBANK, e no objeto social, que passou a contemplar a participação em instituições financeiras. 2.5.1. Nos termos da Segunda Deliberação de Sócios da NICE, com data de 30/04/2006, foi estabelecido aumento de capital de R$ 897.933.383,00, com emissão de 897.933.383 novas quotas, subscritas pela SAINT TROPEZ e diretamente atribuídas, por determinação desta, à Fl. 2759DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.760 8 COIC. Sendo assim, o capital social da NICE passou a R$ 897.933.883,00, assim distribuído: COIC = 99,9999% (897.933.882 quotas). FHL = 0,0001% (1 quota) 2.5.2. O referido aumento de capital foi consequência da cisão parcial a que foi submetida a SAINT TROPEZ, na data base de 30/04/2006, com versão da parcela do patrimônio cindido de R$ 897.933.383,00 para a NICE. Conforme informado pelo contribuinte na resposta de 12/09/2011 ao Termo de Intimação Fiscal (TIF) n° 008 da fiscalização anterior (MPF – 2010 0005009), " a,parcela cindida corresponde ao investimento da Saint, Tropez na Credicard Dentre a parcela vertida para a NICE está o ágio de RS 746.822.333,43". 2.5.3. Pela Terceira Deliberação de Sócios da NICE, datada de 30/05/2006, foi admitido como sócio a CITIBANK CARTÕES, em substituição à sócia estrangeira COIC. Em função desta Deliberação de Sócios, o capital social da NICE ficou assim distribuído em 30/05/2006, um dia antes de sua incorporação por CITICARD: CITIBANK CARTÕES = 99,9999% (897.933.883 quotas) / FHL = 0,0001% (1 quota) 2.5.4. No dia seguinte (31/05/2006) foi realizada a incorporação da NICE pelo CITICARD, conforme já explicitado acima. O balanço patrimonial da NICE utilizado para fins de sua incorporação e da confecção pela KPMG do laudo de avaliação contábil de seu patrimônio foi o de 30/04/2006. Foram dois os objetivos declarados pela KPMG para a avaliação patrimonial realizada, in verbis: "Portanto o presente laudo é emitido com o objetivo exclusivo de fazer parte dos processos de aumento de capital do CITIBANK CARTÕES mediante a transferência do investimento do COIC na NICE e da posterior incorporação da NICE pelo CITICARD...". O laudo retratou a avaliação do patrimônio contábil da NICE no valor de R$ 902.950.099,65, levando em consideração o ágio de R$746.822.333,43 na participação na Credicard (nomenclatura usada no laudo) e sem a provisão de sua amortização (anexo 1). Também informou a avaliação do mesmo patrimônio contábil com o mencionado ágio acompanhado de provisão de sua amortização em igual valor, para atender determinações da CVM nas Instruções 319/99 e 349/01, antes do evento de incorporação. Por esta avaliação o patrimônio líquido contábil da NICE foi avaliado a R$156.127.766,22. Na apuração do lucro real da NICE correspondente à sua incorporação foi adicionado o montante de R$ 746.822.333,43 como despesa indedutível pela constituição contábil da provisão de ágio. 2.6. HISTÓRICO DA FHL INVESTIMENTOS LTDA em 2004, 2005 e 2006 tinha a COIC como sócia detentora de 99,9999% das cotas e CHELSEA com 0,0001%. Com relação ao CITICARD deteve 33,33% de participação no capital em 2004 e 2005, passando para 66,66% após cisão parcial e para 58,59% após incorporação da NICE. Foi extinta por incorporação pelo CITICARD em 31/12/2006. Não havia ágio relativo à sua participação no CITICARD. Fl. 2760DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.761 9 2.7. HISTÓRICO DOS OUTROS PARTICIPANTES (DIRETOS OU INDIRETOS) DA REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA 2.7.1. Histórico TULIPA Em 2001, pertencia 99,99% ao Grupo UNIBANCO. Em data entre 31/08/2004 e 29/12/2004 houve transferência de 50% de suas quotas para o Grupo Itaú, sendo que em 29/12/2004 se transferiu os outros 50% para aCANNES (pertencente ao Grupo CITIBANK). Em 31/03/2006 ocorreu a cisão parcial daTULIPA com versão de 50% do seu patrimônio para a SAINT TROPEZ, correspondente justamente à participação da CANNES, sendo importante frisar que não havia ágio registrado na TULIPA relacionado ao investimento CREDICARD (CITICARD). A TULIPA passou a deter 16,66% do CITICARD e, em função da cisão parcial desse, ocorrida em 30/04/2006, deixou de fazer parte do seu quadro societário. 2.7.2. Histórico da CANNES A CANNES teve o início de suas atividades em 26/11/2004 com capital inicial de R$ 1.000,00, dividido igualmente entre dois sócios pessoas físicas. Antes do final de 2004 os referidos sócios se retiraram da sociedade tendo sido admitidos como novos sócios, o CITIBANK e a COIC, ambos com 50% do capital, além de aumento expressivo do capital para R$ 1.597.642.376,00 e mudança de endereço para o tradicional prédio do CITIBANK na Av. Paulista. Em 29/12/2004 a CANNES adquiriu 50% das quotas da TULIPA por R$ 1.583.095.269,58 diretamente do UNIBANCO, passando a deter indiretamente 16,67% do CITICARD. Foi nesta operação que primeiramente registrouse o ágio sob análise nesta fiscalização, contabilizado por R$ 743.436.029,47, sendo que na DIPJ correspondente (ficha 45A) não há apontamento de ágio mas apenas de valor patrimonial de investimento. Posteriormente, em 31/03/2006, a CANNES retirouse do quadro de sócios da TULIPA devido a cisão parcial de 50% do patrimônio da mesma, passando à condição de sócio controlador a SAINT TROPEZ. A CANNES foi extinta em 30/04/2006 por incorporação reversa pela controlada SAINT TROPEZ. Destaquese que, pelas informações patrimoniais disponíveis da CANNES, referentes aos anos calendário 2004, 2005 e 2006, o seu investimento relevante era a TULIPA, que em 31/12/2004 apresentava registro de ágio de R$ 743.436:029,47 (valor informado, no balanço de 2004 mas não reproduzido na DIPJ do AC 2004) e R$ 748.620.914,47(valor informado na DIPJ do AC 2005). Já por ocasião de sua incorporação pela SAINT TROPEZ o seu único investimento relevante, conforme as informações da DIPJ, era justamente a SAINT TROPEZ, com registro de ágio de R$ 749.208.033,43. 2.7.3. Histórico da SAINT TROPEZ O início de sua atividade foi em 22/08/2005 com outra denominação e capital social inicial de R$ 500,00 distribuído em 500 quotas, divididas igualmente entre seus dois sócios pessoas físicas. A primeira DIPJ. da sociedade, relativa ao período de 30/08 a 31/12/2005, foi apresentada como inativa. Em 2006, houve transferência das quotas das pessoas físicas para CANNES (499 quotas) e CITIBANK (1 quota), com alteração de endereço para o mesmo do Grupo CITIBANK. Ainda em 2006 o capital da SAINT TROPEZ foi alterado, sequencialmente, i) para R$ 821.001.083,00, por ocasião do recebimento da parcela cindida do patrimônio da TULIPA ocorrido em 31/03/2006, cabendo 821.001.082 quotas à CANNES e 1 quota ao Fl. 2761DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.762 10 CITIBANK; ii) para R$ 1.049.302.951,00, cabendo 1.049.302.950 quotas à CANNES e 1 quota ao CITIBANK; iii) para R$ 1.795.866.767,00, em função da incorporação da CANNES ocorrida em 30/04/2006, por conta do que foi admitida como sócio a COIC e retirandose a própria CANNES pela sua extinção decorrente da incorporação. Neste momento o capital da SAINT TROPEZ ficou distribuído com 897.933.383 quotas à COIC (50%) e 897.933.384 quotas ao CITIBANK (50%); iv) para R$ 897.933.384,00, em função da cisão parcial do seu patrimônio incorporado pela NICE também em 30/04/2006, através da qual retirou se da sociedade a COIC, que havia sido admitida nesta mesma data, ficando a totalidade do capital pertencente ao CITIBANK. A SAINT TROPEZ foi extinta em 30/04/2006 por incorporação pelo CITIBANK. 2.7.4. Histórico da CITIBANK CARTÕES A CITIBANK CARTÕES foi constituída em 30/08/2005 sob a denominação S.F.L.S.P.E Empreendimentos e Participações Ltda. Seu capital inicial era de R$ 500,00, dividido em 500 quotas de valor nominal R$ 1,00 cada, atribuídas em igual proporção entre as duas sócias pessoas físicas. A primeira DIPJ. da sociedade, relativa ao período de 30/08 a 31/12/2005, foi apresentada como inativa. Em 2006 foram admitidos como sócios quotistas a COIC (com 499 quotas) e a FHL (com 1 quota) e houve alteração da denominação para Citibank Cartões Participações Ltda e alteração de endereço para o mesmo do Grupo CITIBANK. Em 30/05/2006 foi deliberado aumento de capital na C1T1BANK CARTÕES no valor de R$ 897.933.882,00, mediante a transferência de 897.933.882 quotas de emissão da NICE cuja titularidade era da COIC. Neste momento a CITIBANK CARTÕES passou a ser sócia da NICE. No dia seguinte, em 31/05/2006, com o evento de incorporação da NICE pelo CITICARD, o CITIBANK CARTÕES passou a deter 9.144.123 ações do CITICARD, correspondendo a 41,41% do capital social, voltando o seu quadro de sócios à mesma situação anterior, com a COIC (99,99%) e FHL (0,01%). Nas DIPJ correspondentes aos períodos base de 2006 e 2007 a CITIBANK CARTÕES não apresentou qualquer atividade econômica ou financeira além dos resultados de equivalência patrimonial advindos desta participação societária no CITICARD. 2.8 Sob o tópico “DO EFEITO FISCAL DA AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO”, a autoridade fiscal expõe que o CITICARD registrou contabilmente, em 31/05/2006, como decorrência da incorporação da NICE, ágio de incorporação e sua correspondente provisão de amortização, mediante débito em conta representativa do ágio no ativo diferido e crédito em conta redutora do mesmo, pelo valor de R$ 746.822.333,43. A partir de junho de 2006 passou a amortizar mensalmente este ágio de incorporação à razão de 1/60 avos ao mês, bem como passou a reverter a provisão de amortização. O Registros contábeis da amortização do ágio de incorporação nos anos de 2009 a 2011 foram realizados nas seguintes contas: • 8394010017 Despesas DVs Não Operacionais (COSIF 8.3.9.99.004 – Outras Despesas Não Operacionais) • 2491152490 Ágio de Incorporação (2.4.1.10.000 Ágios de Incorporação). Fl. 2762DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.763 11 2.8.1. Os valores da despesa de amortização do ágio por períodobase na tabela abaixo foram obtidos dos balancetes apresentados e confirmados pelo sujeito passivo em 02/09/2013:. Esses valores com despesa de amortização de ágio foram considerados dedutíveis, tanto para IRPJ quanto para CSLL, pela autuada (não foram adicionados ao lucro líquido para fins de apuração do Lucro Real e da Base de Cálculo da CSLL): 2.8.2. Nos períodosbase 2006, 2007 e 2008 também procedeu à exclusão dos valores da receita de reversão da provisão de ágio de incorporação (conta n°7.3.9.99.00.0.5004010) para fins de apuração do lucro real e BC CSLL. A tributação desta provisão deuse ainda na NICE, pela adição da despesa de sua constituição no período de apuração de 31/05/2006, correspondente à sua incorporação. Esta provisão, cuja natureza é de adição temporária, foi transferida para o CITICARD por força da sucessão de direitos e obrigações provocada pela incorporação da NICE, nos termos da legislação fiscal vigente. Os valores desta exclusão foram os seguintes: 2.8.3. Seguindo orientações da CVM, o CITICARD, no período base encerrado em 31/12/2006, registrou em conta de Reserva de Capital o valor correspondente à economia fiscal de IRPJ (25%) e CSLL (9%) a ser proporcionada pela reorganização societária levada a efeito pela incorporação da NICE, que, nos termos das orientações emanadas pela CVM, é o único valor que deve ser reconhecido pela contabilidade. A título de demonstração, o montante relativo à receita de reversão da provisão de ágio em 2006 pode ser deduzido da seguinte forma: 2.9. Sob o tópico “DA ANÁLISE DOS FATOS E DO DIREITO APLICÁVEL”, a autoridade fiscal aponta que o cerne da questão recai sobre a amortização do ágio efetuada pelo CITICARD. Será avaliado se a reorganização societária implementada pelo GRUPO CITIBANK corresponde a um planejamento tributário oponível ao Fisco. Para maior clareza, o autuante passa a descrever a sequência cronológica dos Fl. 2763DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.764 12 passos praticados desde a aquisição originária da participação com ágio até o término da reestruturação societária e consequente aproveitamento fiscal deste ágio. 2.9.1. (1º Passo – Constituição da CANNES em 26/12/2004) Em tal momento a CANNES apresentava todas as características típicas de uma sociedade, como se diz no jargão tributário e de negócios, "de prateleira". Tais sociedades não tem nenhum propósito a não ser o de servir de estrutura jurídica formalmente pronta para ser transferida a outras pessoas físicas ou jurídicas. 2.9.2. (2º Passo – Capitalização da CANNES pelo GRUPO CITIBANK) Após 26/11/2004 e antes de 29/12/2004, a CANNES recebeu expressivo aporte de capital por parte da COIC e CITIBANK, fazendo com que o seu capital social passasse a R$ 1.597.642.376,00 (50% para cada uma), como medida preparatória para a aquisição de metade da TULIPA, que significava na ocasião a aquisição indireta de 1/6 do CREDICARD (CITICARD até 05/08/2014). 2.9.3. (3º Passo – Aquisição pela CANNES de 50% da TULIPA em 29/12/2004) Nesta data a CANNES adquiriu 50% da TULIPA, registrando ágio de R$ 743.436.029,47 e não R$ 746.822.333,43, conforme informado para fiscalização em resposta à intimação. Após algumas intimações para apresentação do laudo ou estudo que servisse de comprovação para o fundamento do ágio pago na aquisição originária da participação societária (a teor dos parágrafos 2o e 3° do artigo 385 do RIR/99) foi apresentado em 3/11/2011 (complemento da resposta ao termo de início da diligência) um documento intitulado "Avaliação por fluxo de caixa descontado — CREDICARD" (anexado ao processo) cuja data de referência seria dezembro de 2004 e que não traz informações sobre sua autoria, apenas logotipo " citigroup" e também não avalia a Tulipa, mas apenas a sua participação no CITICARD (CREDICARD nessa época). 2.9.4. (4º Passo – Constituição de empresas como medida preparatória para a sequência de operações). No mês de agosto de 2005 foram constituídas três sociedades de propósito específico por pessoas físicas que serviram, pouco tempo depois, como verdadeiras "empresas veículo" utilizadas para passagem de patrimônio representado pelo investimento no CITICARD dentro do GRUPO CITIBANK. Foram elas: (i) SAINT TROPEZ, em 22/08/2005, ficando inativa durante 2005 e sendo extinta em 30/04/2006, incorporada pelo CITIBANK, não sem antes ter incorporado a CANNES (11:00h) e ter sofrido cisão parcial com versão de parte do seu patrimônio para NICE (12:00h); (ii) NICE, em 23/08/2005, também inativa em 2005, extinguindose por incorporação pelo CITICARD, em 31/05/2006, um mês depois de incorporar a parcela cindida do patrimônio da SAINT TROPEZ que continha a participação no CITICARD; (iii) CITIBANK CARTÕES, em 30/08/2005, também sem atividade em 2005. 2.9.5. (5º Passo – Cisão parcial da TULIPA em 31/03/2006) Como medida preparatória para a futura cisão do CREDICARD/CITICARD e visando concentrar em cada um dos sócios (GRUPOS CITIBANK e ITAÚ) as respectivas participações no CREDICARD (atual Banco Credicard S.A. e CITICARD até 05/08/2014) Fl. 2764DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.765 13 foi implementada a cisão parcial de 50% do acervo patrimonial da TULIPA com versão para a SAINT TROPEZ, correspondente justamente à participação da CANNES na TULIPA (CANNES deixa de ser sócia da TULIPA e passa a ser sócia de SAINT TROPEZ). Ressaltase que não havia na TULIPA qualquer registro de ágio no investimento CREDICARD (CITICARD). 2.9.6. (6º Passo – Incorporação da CANNES pela SAINT TROPEZ em 30/04/2006 – 11:00h) A CANNES detinha 99,99% da SAINT TROPEZ e com a incorporação esta última aumentou o seu capital social em valor, segundo laudo, basicamente composto pelo ágio na aquisição da CREDICARD, registrado na CANNES por ocasião da compra dos 50% de participação na TULIPA. Ressaltase que o valor do ágio transferido (R$ 748.955.241,00) já era maior do que o registrado na CANNES quando do seu surgimento em 2004 (R$ 743.436.029,47). 2.9.7. (7º Passo – Cisão Parcial da SAINT TROPEZ em 30/04/2004 – 12:00h) Nesta etapa houve a versão da parcela que a COIC possuía na SAINT TROPEZ, representada basicamente pela participação no CREDICARD/CITICARD, para a NICE, incluindo o ágio em análise. Com isto houve separação patrimonial e societária da COIC e do CITIBANK e a participação no CITICARD ficou totalmente com a COIC. 2.9.8. (8º Passo Incorporação do patrimônio remanescente da SAINT TROPEZ pelo CITIBANK em 30/04/2006) Evento que não é objeto de verificação direta no presente processo, mas que se destaca pelo fato do recebimento pelo CITIBANK de um acervo liquido muito próximo ao valor investido por ele na CANNES para a aquisição de parte da TULIPA e indiretamente do CITICARD. 2.9.9. (9º Passo – Aumento de Capital do CITIBANK CARTÕES em 30/05/2005) Tal aumento, no valor de R$ 897.933.882,00, foi subscrito e integralizado pela COIC com as quotas que possuía desde um mês antes (30/04/2006) na NICE (a valores contábeis). Esta operação deve ser considerada como preparatória para a incorporação da NICE que ocorreria um dia depois e para o ingresso da CITIBANK CARTÕES no quadro de sócios do CITICARD. 2.9.10. (10º Passo – Incorporação da NICE pelo CITICARD em 31/05/2006) Através deste evento é que o ágio existente na NICE de RS 746.822.333,43 foi então ' transferido para o CITICARD/CITICARD e passou a ser amortizado à razão de 1/60 ao mês. 2.9.11. (11º Passo – Incorporação da FHL pelo CITICARD) Esta operação encerra a reorganização societária aqui tratada, de modo que a COIC (controladora internacional do GRUPO CITIBANK no Brasil) passa a deter de forma direta e indireta, 100% do controle do CITICARD. 2.9.12. Às fls. 1835 e 1386, a autoridade fiscal descreve em quadros o caminho do ágio gerado a partir da aquisição de 50% da TULIPA pela CANNES até culminar com a incorporação da NICE pelo CREDICARD/CITICARD, conforme informações prestadas pela fiscalizada. Advertiu, contudo que o ágio foi extinto em 31/03/2006, Fl. 2765DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.766 14 quando a TULIPA cancelou as 821.000.583 quotas que a CANNES detinha nela. 2.10. Do ponto de vista fiscal o CITICARD passou a amortizar contabilmente e considerar dedutível para fins de IRPJ e CSLL o ágio registrado em seu ativo diferido no valor total de R$ 746.822.333,43, decorrente da incorporação da NICE. E considerou dedutível esta amortização pois interpretou que o caso concreto se subsumia às hipóteses abstratas tratadas nos artigos 7o e 8o da Lei n° 9.532/97, reproduzidas no artigo 386 do RIR/99. 2.10.1. Segundo interpretação doutrinária a amortização do ágio somente poderá ser considerada dedutível em determinadas situações previstas legalmente. No caso em tela será preciso avaliar se os comandos existentes nos artigos 7º e 8º da Lei n° 9.532/97 foram respeitados nas mais diversas etapas da reorganização societária, especialmente no evento de incorporação da NICE pelo CITICARD. Em outras palavras deve ser perquirido se houve efetivamente a absorção de algum patrimônio adquirido com ágio e ainda pela pessoa jurídica que realmente o adquiriu. Esta é a regra de comando do caput do artigo 7º (artigo 386, caput do RIR/99) aplicável aos eventos em que a investidora absorve o patrimônio da investida, ou vice. versa nos termos do artigo 8º (inciso II do parágrafo 6o do artigo 386 do RIR/99). Lembrou ainda o autuante que a norma dos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997 (art. 386 do RIR/99), é do tipo especial e não revogou a regra geral de amortização de ágio prevista no art. 391 do RIR/99, que determina que as contrapartidas da amortização do ágio não devem ser computadas na determinação do lucro real, devendo ser controladas na parte B do Lalur, para serem consideradas na determinação do ganho ou perda do capital na alienação ou liquidação do investimento. 2.10.2. No entendimento da fiscalização as condições estipuladas nos artigos 7o e 8o da Lei n° 9.532/97 não estavam presentes na etapa final da reorganização que culminou com a sobredita incorporação da NICE pelo CITICARD (sem que isso queira dizer que tais condições imperaram em outras etapas desenvolvidas). Isto porque a operação negocial/societária que deu ensejo ao surgimento do ágio foi a aquisição de metade das quotas da TULIPA pela CANNES. A princípio a regra especial dos artigos 7o e 8o apenas poderia ser aplicada se os fenômenos de absorção patrimonial tivessem ocorrido entre elas. Não existe previsão legal que autorize o aproveitamento deste "benefício fiscal" por pessoas jurídicas outras que não tivessem sido agentes do negócio jurídico de aquisição da participação societária, quer como adquirente, quer como adquirida. Nem tampouco existe previsão para que um investimento adquirido apenas indiretamente, como foi o caso do CITICARD, possa ao final de um processo de planejamento tributário amortizar tal ágio indireto. Havendo inclusive julgado na esfera administrativa neste sentido. Pontuou também a autoridade fiscal que: 2.10.2.1. O cancelamento do investimento da CANNES na TULIPA (em 31/03/2006 a TULIPA cancelou as 821.000.583 quotas que a CANNES detinha), o ágio que o acompanha, fica, irremediavelmente, extinto conforme previsão das práticas contábeis societárias e fiscais, pois não faria sentido o acessório (ágio) existir sem a presença do principal (participação/investimento), que lhe deu causa; Fl. 2766DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.767 15 2.10.2.2. A mesma deliberação da TULIPA, no dia 31/03/2006, que cancelou as quotas que a CANNES possuía daquela empresa, cindiu e transferiu 50% do patrimônio da TULIPA para a SAINT TROPEZ que passou a deter participação societária no CREDICARD. Na sequência, em 30/04/2006, a SAINT TROPEZ incorporou a CANNES e passou a registrar o ágio desta empresa na TULIPA, indevidamente, porque esse ágio já deveria estar cancelado conforme já explicado nos parágrafos anteriores, e, nesse mesmo dia, ocorreu a cisão parcial da SAINT TROPEZ com a versão da parcela cindida à empresa NICE correspondente à participação detida pela SAINT TROPEZ no capital do CREDICARD, juntamente com o ágio, que já deveria estar cancelado, relativo à aquisição da TULIPA; e 2.10.2.3. Em 31/05/2006, encerrando o percurso do ágio, o CREDICARD incorporou a NICE, absorvendo – indevidamente – o ágio registrado em face da aquisição da TULIPA pela CANNES, e passou a amortizálo e deduzir tributariamente essa despesa. 2.10.3. Além disto, a reorganização societária foi complexa e valeuse de passagens cujo propósito econômico e negocial, que não o exclusivamente fiscal, é de difícil constatação. Assim, com base em trechos da obra sobre planejamento tributário do Professor Marco Aurélio Greco, que colaciona, a fiscalização entende ser legítimo o interesse do GRUPO CITIBANK em adquirir mais uma parte (1/6) da operação de cartões de crédito da conhecida empresa CREDICARD. Também compreende que em abril de 2006 foi necessária a repartição desta empresa CREDICARD entre seus dois sócios na ocasião (GRUPOS CITIBANK e ITAÚ), inicialmente pela cisão da TULIPA (em 31/03/2006) e em seguida pela cisão 50% da própria CREDICARD/CITICARD (em 30/04/2006). Todavia foi utilizado o artifício de criação de diversas empresas veículo ou de passagem, empresas efêmeras, expressões já popularizada no ordenamento tributário e tratadas na obra citada do Prof. Greco, utilizadas para carrear o ágio original de aquisição da TULIPA pela CANNES para a única empresa, das que participaram do planejamento, que possuía capacidade operacional para gerar lucros que pudessem suportar a amortização do ágio, e consequentemente proporcionar a economia tributária almejada. 2.10.4. Neste sentido, a situação antes de tudo começar (fotografia inicial) foi a capitalização da CANNES (empresa de prateleira) pela COIC e CITIBANK com o propósito de comprar indiretamente o CREDICARD, via TULIPA, o que de fato foi feito com ágio no final de 2004. Ao final de todo o processo, ainda no 1º semestre de 2006, o CITIBANK já havia recebido o dinheiro aplicado e a COIC estava controlando direta e indiretamente o CREDICARD/CITICARD, se aproveitando fiscalmente da amortização do ágio (fotografia final). A COIC por ser empresa com sede no exterior, caso viesse a comprar diretamente o CREDICARD, como de fato era a sua intenção, não poderia se beneficiar fiscalmente da amortização do ágio. Nem tampouco qualquer empresa veículo que participou do processo tinha capacidade operacional para gerar lucros que não fossem decorrentes de resultado de equivalência patrimonial (não tributável). Além do que, em suas curtas existências, estas empresas nunca tiveram qualquer atividade operacional e só serviram de passagem para o ágio. Fl. 2767DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.768 16 2.10.5. A jurisprudência administrativa e judicial tem se posicionado em muitos casos no sentido de não aceitar os efeitos tributários almejados pelos contribuintes advindos de reorganizações societárias sem suficiente propósito negocial, ou com prevalência da forma sobre o conteúdo. Por todo o exposto, as amortizações do ágio em questão devem ser consideradas como indedutíveis na determinação das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. 2.10.6. Outro aspecto a ser destacado é a falta de comprovação documental do fundamento econômico da rentabilidade futura da investida TULIPA, pelo fato de o laudo apresentado pelo CREDICARD / CITICARD, documento apresentado com o título "Avaliação por fluxo de caixa descontado CREDICARD", demonstrar apenas a situação financeira do investimento que a participação societária adquirida detinha à época da sua aquisição. Ou seja, avaliou, única e exclusivamente, o investimento que a TULIPA possuía no CITICARD (CREDICARD à época) e não todos os demais elementos do balanço patrimonial da TULIPA, como, por exemplo, os dividendos a receber, bem como outros itens não registrados nas demonstrações financeiras, já que o objetivo era a avaliação da empresa, que, quase sempre, é distinto da avaliação contábil. Esse documento apresentado não atende às exigências do art. 385 do RIR/99, pois não descreve a rentabilidade futura da participação societária na TULIPA, que foi adquirida pela CANNES, e que deu causa ao ágio. 2.10.7. Além do descrito acima, há ainda outro argumento de natureza muito prática que visa impugnar, caso os argumentos anteriores venham a não prevalecer, parte da amortização do ágio que excedeu o correto valor contábil.O CITIBANK foi intimado a esclarecer a razão do ágio original na CANNES tersido contabilizado por R$ 743.436.029,47 (conforme balanço patrimonial apresentado) e o ágio que foi vertido para a NICE em 30/04/2006 pela cisão da SAINT TROPEZ ter sido de R$ 746.822.333,43 (mesmo valor que passou a ser amortizado no ÇITICARD). Apresentou resposta com demonstrativo que revela a evolução do valor do ágio de R$ 743.436.029,47 (31/12/2004) para R$ 749.208.033,45 (30/04/2006), sendo a diferença atribuída a diversas despesas da CANNES que foram equivocadamente debitadas na conta de ágio, tais como advogados, KPMG, Standard&Poors, etc. Também apresentou demonstrativo da NICE que mostra a contabilização inicial de R$ 749.208.033,43 e um ajuste a crédito na conta de ágio de R$ 2.385.700, fazendo com que o saldo da conta de ágio em 31/05/2006, que foi incorporado e amortizado pelo CITICARD, passasse a R$ 746.822.333,43. 2.10.8. Segundo disposição do artigo 385 do RIR/99, o ágio é uma parcela do custo de aquisição de uma participação societária e deve necessariamente ser registrado no momento de aquisição do investimento. Neste contexto, as despesas diversas da CANNES que foram pagas em contrapartida à débito na conta de ágio não tem a natureza jurídica que lhe é própria, não podendo compor o saldo de ágio a ser amortizado. Assim a diferença de R$ 3.386.303,96 não atende aos requisitos de dedutibilidade por não poder ser considerado ágio a teor do artigo 385 do RIR/99, devendo ser adicionado de ofício à proporção Fl. 2768DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.769 17 de 1/60 por mês, no caso R$ 56.438,40 ao mês, aos lucros líquidos para fins de apuração de IRPJ e CSLL. 2.10.9. A CSLL será lançada como reflexo do IRPJ tendo em vista a similitude dos elementos de prova e razões de ordem legal. 2.11. 2ª Infração – Falta de recolhimento do IRPJ e CSLL devidos por estimativa mensal (Multa Isolada). Com base no artigo 44 da Lei nº 9.430/96, com redação dada pela Lei nº 11.488/2007, foram aplicadas multas isoladas sobre as parcelas de IRPJ e CSLL que deixaram de ser recolhidas pela falta de adição das amortizações indevidas do ágio. Nas discussões administrativas já se esposou entendimento de que com a introdução desta alteração (MP 351/Lei 11.488/2007) trouxe significativa mudança na ordem jurídica, no sentido de que não há dupla incidência sobre a mesma materialidade e sim incidências sobre matérias distintas (parcela do tributo que deixou de ser recolhida e totalidade ou diferença do tributo). 2.12. 3ª Infração Ao descrever os fatos atinentes à Inobservância do Limite de dedução dos Royalties nos anos de 2009 e 2010, a autoridade fiscal informa, inicialmente que (I) o CITICARD registrou R$ 43.517.457,12 e R$ 37.116.133,85 na conta de despesa 8175700003 – SLACITI NORTH AM INC CNAINC, respectivamente nos anos de 2009 e 2010, referente aos royalties pagos pelo uso da marca Diners Internacional; (II) Em 26/02/2014, através da intimação nº 12, foi solicitada a comprovação da efetiva prestação de serviços na conta 8175700003 – SLACITI NORTH AM INC CNAINC, com a apresentação das notas fiscais e dos comprovantes do efetivo pagamento e, em 19/03/2014, o CITICARD entregou os recibos dos fechamentos de câmbio no Banco Central do Brasil e os invoices, que apenas indicavam que o serviço com o código 11770561020 tinha sido prestado pelo Banco Citicard com a empresa Citicorp North America. Em 08/04/2014, complementou com os recibos/invoices dos meses 07, 08 e 10/2010; (III) Em 12/05/2014, por intermédio da intimação nº 17, foi requisitado: (i) Averbação dos contratos de licença de uso das marcas no Instituto da Propriedade Industrial – INPI; (ii) Registro no Banco Central do Brasil; (iii) Livro razão da conta 8175700003 em 2009; e (iv) Explicitação e base legal dos critérios da apuração dos valores dos royalties. Em 11/06/2014, atendeu aos itens (i) a (iii), entretanto não justificou o item (iv) explicando como apurou a base de cálculo para a aplicação do limite dos royalties definidos pela legislação fiscal, pois apenas indicou o valor a ser pago à empresa Citicorp North America, a partir da descrição do CITICARD a seguir transcrita: Fl. 2769DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.770 18 2.12.1. E prossegue a autoridade fiscal expondo que: Como o detalhamento do cálculo do limite de dedução dos royalties é essencial para confirmar o quanto dessas despesas são dedutíveis, conforme previsão dos artigos 353 e 355 do RIR/99, em 15/09/2014, a intimação nº 22 reiterou esse pedido já formulado pelo item 4 da intimação nº 17. Em 27/10/2014, o Sujeito Passivo apresentou os arquivos “DOC_02_Demonstrativo Receita BRUTA_LIQUIDA Produto DINERS 2009.xlsx” e “DOC_03_Demonstrativo Receita BRUTA_LIQUIDA Produto DINERS 2010.xlsx” com o detalhamento das receitas com a marca Diners e complementou com o quadro abaixo descrevendo a metodologia do cálculo: Em 06/11/2014, através da intimação nº 24, foi pleiteada a composição das contas do balancete que sensibilizaram a rubrica “Rotativo” da demonstração das receitas da marca Diners dos arquivos Excel dos anosbase 2009 e 2010, apresentados em 27/10/2014, e, em 17/11/2014, o CREDICARD justificou que as contas 7110500007 – ENCARGOS Fl. 2770DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.771 19 ROTATIVO –ECS e 7195003375 – ENCARGOS CREDITO ROTATIVO englobavam os acréscimos financeiros dos titulares dos cartões de crédito emitidos com as bandeiras Mastercard, Visa e Diners, sem, entretanto, demonstrar qual o valor que competiu às duas primeiras bandeiras; Dessa forma, no intuito de apurar os valores do “Rotativo” dessas três bandeiras, foi entregue a intimação nº 25, em 03/12/2014, que foi justificada pelo CREDICARD em 15/12/2014. Com a confirmação, por amostragem através da rubrica “Rotativo”, da base de cálculo –receita líquida – para o cálculo do limite de 1% dos Royalties, obtido no quadro elaborado pelo Sujeito Passivo, reproduzido no item 1.4, acima, o limite em reais para a dedução dos royalties é: 2.12.2. A autoridade fiscal aponta, então, a legislação aplicável à matéria: (i) aos artigos 352 e 353, inciso V, alíneas “a” e “b” e parágrafo único, do RIR/99 que tratam, respectivamente, de dedução de despesas com royalties e do limite de dedução de despesas com royalties pelo uso de marcas de indústria e comércio pagos ou creditados a beneficiário domiciliado no exterior (inciso V), (ii) ao art. 9º, § 1º, da Lei nº 4.131, de 1962, que estabelece a obrigatoriedade de registro da empresa na SUMOC para fins de transferência para o exterior a título de royalties e de prova do pagamento do imposto de renda, (iii) ao art. 11 da mesma Lei nº 4.131, de 1962, que prescreve que os pedidos de registro de contrato, para fins de transferência financeiras para o pagamento dos royalties, devem ser instruídos com certidão probatória da assistência e vigência no Brasil, dos privilégios dos respectivos privilégios concedidos pelo Departamento Nacional de Propriedade Industrial, bem como de documento hábil probatório de que eles não caducaram no País de origem; (v) ao art. 355 do RIR/99 que prescreve as condições de dedutibilidade dos royalties e (vi) às Portarias nºs 436/1958, 113/1959, 314/1970 e 60/1994, que estabelecem o coeficiente percentual máximo de 1º, conforme previsto no § 1º do art. 355 do RIR/99 (§1ºSerão estabelecidos e revistos periodicamente, mediante ato do Ministro de Estado da Fazenda, os coeficientes percentuais admitidos para as deduções a que se refere este artigo, considerados os tipos de produção ou atividades reunidos em grupos, segundo o grau de essencialidade (Lei nº 4.131, de 1962, art. 12, §1º)). A partir daí, registra que: De acordo com os balancetes apresentados pelo CITICARD, bem como por outras manifestações já descritas acima, a conta de despesa 8175700003 – SLACITI NORTH AM INC CNAINC registrou R$ 43.517.457,12 e R$ 37.116.133,85, respectivamente nos anos de 2009 e 2010, referente aos royalties pagos pelo uso da marca Diners Internacional; Excluindo desses valores o Imposto de Renda Retido na Fonte – IRRF, que foram contabilizados nessa conta, e considerando a receita líquida Fl. 2771DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.772 20 da bandeira Diners – conforme informações do Sujeito Passivo e sintetizado na tabela acima – a metodologia de cálculo é demonstrada a seguir: os valores de R$ 35.271.928,66 e R$ 29.190.260,95 devem ser adicionados na apuração do lucro real, respectivamente nos anos calendário 2009 e 2010. 2.13. 4ª Infração – Compensação Indevida de Prejuízo Operacional com Resultado da Atividade Geral – Anos 2010 e 2011. De pronto, a autoridade fiscal ressalta que os fatos da infração tiveram como base a incorporada Banco Citicard S.A. (atual Banco Credicard S.A.), CNPJ 34.098.422/000134. Ao descrever os fatos a autoridade fiscal expõe que: 2.13.1. O saldo de prejuízos operacionais antes da compensação do anocalendário 2010 foi alterado para zero (campo 14.2. – fl. 1876), conforme o relatório “Planilha de compensação de prejuízos fiscais do IRPJ lucro real atividade geral” do auto de infração e, dessa forma, o prejuízo compensado pelo CITICARD de R$ 16.246.171,49 – já considerando os R$ 412.015,38 do campo 10.2 (Prejuízos Operacionais compensados na Autuação) do auto de infração do eprocesso nº 16327.721152/2014 19 – foi indevido; 2.13.2. O saldo de prejuízos operacionais antes da compensação do anocalendário 2011 foi alterado para zero (campo 14.2. – fl. 1877), conforme o relatório “Planilha de compensação de prejuízos fiscais do IRPJ lucro real atividade geral” do auto de infração e, dessa forma, o prejuízo compensado pelo CITICARD de R$ 52.727.880,55 – já considerando os R$ 877.914,41 do campo 10.2 (Prejuízos Operacionais compensados na Autuação) do auto de infração do eprocesso nº 16327.721152/2014 19 – foi indevido; 2.13.3. O Saldo de Bases de Cálculo Negativas antes da Compensação do anocalendário 2010 foi alterado para zero, conforme o relatório “Planilha de compensação de base negativa da CSLL lucro real atividade geral” do auto de infração (fls. 1894/1895) e, dessa forma, o prejuízo compensado pelo CITICARD de R$ 15.834.156,11 foi indevido; 2.13.4. O Saldo de Bases de Cálculo Negativas antes da Compensação do anocalendário 2011 foi alterado para zero, conforme o relatório “Planilha de compensação de base negativa da CSLL lucro real atividade geral” do auto de infração (fl. 1896) e, dessa forma, o prejuízo compensado pelo CITICARD de R$ 51.849.966,14 foi indevido Fl. 2772DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.773 21 2.13.5. A possibilidade de compensação de prejuízos fiscais de períodos de apuração anteriores é disciplinada pelos artigos 247, 250 inciso III, 251, 509 e 510 do RIR/99 e em relação à CSLL se aplica a mesma legislação prevista para o IRPJ, conforme: (i) Art. 57 da Lei nº 8.981/95, com as alterações do art. 1º da Lei nº 9.065/95; (ii) Art. 16 da Lei nº 9.065/95; (iii) Art. 1º da Lei nº 9.316/96; e (iv) Art. 3º da Lei nº 7.689/88, com redação dada pelo art. 17 da Lei nº 11.727/08. Destarte as infrações apuradas relativamente à compensação indevida foram”: DA IMPUGNAÇÃO (fls. 1925/2037) Contrapondose ao trabalho fiscal, a autuada interpôs extensa impugnação e juntou documentos, aduzindo (cf. relatado pela decisão recorrida): “3.1. A forma adotada pelo Grupo Citibank foi a mais correta para atingir o seu objetivo final que era o desenvolvimento das atividades de cartão de crédito do grupo no Brasil. A análise das operações não pode ser vista quadro a quadro (fotografias), conforme afirma a própria fiscalização, devendo ser avaliada como um todo (filme). Assim, fazse necessária a busca pela verdade dos fatos por meio da análise histórica das operações praticadas pelo Grupo Citibank para compreenderse o propósito negocial e econômico das operações societárias realizadas que deram origem à dedução do ágio. 3.1.1. A reestruturação societária realizada pelo Grupo Citibank no Brasil teve por objetivo maior e principal a expansão do oferecimento de cartões de créditos, sobretudo a clientes que não possuíssem conta corrente no Banco Citibank S/A ("Banco Citibank"). Antes da compra de parte da Tulipa, pela Cannes, o Banco Citibank somente oferecia cartões de crédito aos clientes que possuíam contas corrente no próprio banco. 3.1.2. Até o final de 2004 participavam do capital social da Credicard, três grandes grupos financeiros (Itaú, Citibank e Unibanco). Esta parceria remonta ao início da década de 70 e tinha por objetivo revolucionar o mercado de cartões de crédito. Na referida estrutura, as decisões societárias somente poderiam ser tomadas por unanimidade e havia no documento que definia a estrutura do empreendimento uma cláusula prevendo a não competição entre os acionistas, ou seja, nenhum dos três grupos poderiam explorar as atividades de cartões fora da Credicard. No entanto, com o passar do tempo, tanto o Grupo Itaú quanto o Unibanco, por terem adquirido outros bancos que já possuíam o negócio de cartões de crédito, passaram a empreender tal negócio, em contrariedade ao quanto disposto no documento mencionado. Tal fato, aliado ao desgaste natural decorrente da necessária unanimidade dos sócios para a tomada de decisões relativas à administração de Credicard, com os impasses daí advindos, levaram os acionistas a desejar, já por volta dos anos 2000, a segregação das suas participações societárias para desenvolver as atividades de cartões de crédito de forma independente. O Grupo Citibank passou a visualizar a possibilidade de utilizar o seu Know how na área para oferecer cartões de crédito a clientes que não possuíssem Fl. 2773DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.774 22 conta corrente no Banco Citibank. Assim, ao final do filme ora analisado, a Credicard passará a ser inteiramente detida pelo Grupo Citibank, atingindose, portanto, o objetivo pretendido com a reorganização societária: fomento das atividades de cartões de crédito para, inclusive, não correntistas do Banco Citibank. Este era o propósito negocial de toda a reorganização societária. 3.1.3. Isto posto, destacase as principais “fotografias” do processo, onde se perceberá a validade de cada passo adotado, bem como o sentido econômico e o propósito negocial de toda a operação. 3.1.3.1 (Constituição da Cannes, em 25/11/2004, e aquisição, pela Cannes, de 50% da Tulipa, em 29/12/2004) A Cannes foi constituída para a aquisição de 50% da Tulipa, que possuía 33,33% de participação na empresa alvo (Credicard) o que realmente ocorreu no mês seguinte à sua constituição e capitalização. Portando depreendese do início do “filme” que todas as operações foram planejadas para atingir o objetivo final já relatado acima. A Cannes não adquiriu diretamente as ações da Credicard, pois o Unibanco impôs como condição da efetivação do negócio que a alienação fosse feita mediante transferências de quotas da Tulipa, não tendo o impugnante qualquer controle sobre tal decisão. Nesta operação foi registrado um ágio de R$ 743.436.029,47, atestado pelo balanço da Cannes de 31/12/2004. Destacandose que o ágio teve como fundamento econômico a expectativa de rentabilidade futura da Credicard, único ativo da Tulipa (holding), calculada pelo método de fluxo de caixa descontado. Nos termos do § 3º do art. 385 do RIR/99, o fundamento econômico do ágio foi atestado por meio de documento interno elaborado pelo Grupo Citibank. 3.1.3.2 (Cisão parcial da Tulipa, em 31/03/2006) Nesta etapa houve a cisão da Tulipa com versão de 50% do patrimônio para a Saint Tropez e ocorreu em razão da necessidade de segregação das participações societárias dos grupos Citibank e Itaú na Tulipa, de maneira que os outros 50% da Tulipa foram incorporados pela Itau Cartões. Esta etapa continua alinhavada com o objetivo principal de deter o controle da Credicard. 3.1.3.3 (Incorporação da Cannes pela Saint Tropez, em 30/04/2006) Após a incorporação, COIC e Banco Citibank passaram a ser os novos sócios da Saint Tropez, na mesma proporção de suas participações na Cannes (50% cada) e o ágio que estava contabilizado na Cannes passou a ser registrado pela Saint Tropez. Apesar de não ter sido objeto de questionamento pelo Agente Fiscal, devese pontuar que se realizou a incorporação reversa (Saint Tropez incorporando Cannes) como uma forma de equalizar as participações societárias de Banco Citibank e COIC nesta empresa, bem como para que se mantivesse sob a titularidade da Saint Tropez o caixa ali disponível, diminuindose certos custos da operação, tais como os fiscais (com a CPMF, por exemplo). 3.1.3.4 (Cisão parcial da Saint Tropez, em 30/04/2006) com versão da parcela cindida (patrimônio cindido: R$ 897.933.383,00) para a Nice. Após esta cisão, esta empresa e o caixa nela disponível passou a pertencer exclusivamente ao Banco Citibank, enquanto que a participação societária na Credicard passou a ser controlada pelo COIC, através da Nice. Desta maneira, resta clara a Fl. 2774DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.775 23 finalidade de isolar o investimento na Credicard e o ágio aqui em questão, passandoos ao controle do COIC. 3.1.3.5 (Cisão parcial da Credicard, em 30/04/2006) com versão da parcela cindida (50% do Patrimônio da Credicard: R$ 322.877.990,56) para o “Itau cartões”. Desta forma o Grupo Citibank, através da FHL (2/3) e da Nice (1/3), passou a deter o controle total da Credicard (anterior denominação do impugnante). 3.1.3.6 (Conferência das quotas da Nice para o Citibank Cartões, em 30/05/2006) Nesta data, a Citibank Cartões passou a ser controladora da Nice, em substituição à sócia estrangeira COIC, vindo a confirmar o quanto planejado, desde o início, pelo Grupo Citibank: atingir a estrutura necessária para a administração das atividades de cartões de crédito independente das demais atividades operacionais do Grupo. 3.1.3.7 (Incorporação da Nice pela Credicard atual Impugnante, nesse ponto já denominado Banco Citicard, em 31/05/2006) com a consequente transferência do ágio a esta empresa (Patrimônio da Nice incorporado R$ 156.127.766,22 – PL ajustado). Após a conclusão do processo de incorporação da Nice, o capital social da Credicard (ora Impugnante) ficou assim distribuído entre seus novos acionistas: FHL, na proporção de 58,59%, e Citibank Cartões, com o equivalente a 41,41 %. 3.1.3.8 (Incorporação da FHL pela Credicard, em 31/12/2006), pelo qual o Citicard passou a ter COIC (58,79%) e Citibank Cartões (41,20%) como acionistas. 3.1.3.9 (Amortização do ágio após a incorporação da Nice, a partir de 01/06/2006) Após a incorporação da Nice, o Impugnante passa a amortizar fiscalmente as parcelas do ágio pago pela Cannes na aquisição de participação na Tulipa. Observase que todo o processo de reorganização societária realizadas pelo Grupo Citibank foi completamente usual, normal e necessário para a aquisição do controle da Credicard e expansão de seus negócios de cartão de crédito no Brasil, para o oferecimento deste produto a clientes que não possuíssem conta corrente no Banco Citibank. O processo teve início em novembro de 2004 e terminou em dezembro de 2006, tempo mais do que suficiente para afastar a citação de Marco Aurélio Greco feita no item 2.17 do Relatório Fiscal (fls. 1841/1842). Os agentes fiscais, por não buscarem a verdade material da operação como um todo (filme), entenderam que no caso concreto foi utilizado o artifício de criação de diversas empresas veículo utilizadas para carrear o ágio original de aquisição da TULIPA pela CANNES para a única empresa, das que participaram do planejamento, que possuía capacidade operacional para gerar lucros que pudessem suportar a amortização do ágio, e consequentemente proporcionar a economia tributária almejada. Entendimento que não pode prosperar, uma vez que o Grupo Citibank utilizouse de forma plenamente legitima, cumprindo todos os requisitos necessários para que fizesse jus à aquisição da empresa Credicard no Brasil, o que se deu através da compra de participação societária na empresa Tulipa, e ao consequente aproveitamento fiscal da dedução do ágio, ainda que por meio da "passagem deste ágio". Fl. 2775DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.776 24 3.2. Houve a “preclusão” da possibilidade do Fisco questionar a legalidade dos atos societários que deram origem ao ágio, isto porque o ágio, como elemento contábil e societário surgiu em 29/12/2004, com a aquisição de 50% da Tulipa pela Cannes. Assim não poderia o Auditor Fiscal questionar a legalidade dos atos que originaram o direito ao aproveitamento do ágio, surgido em 2004, eis que transcorreu o prazo decadencial de cinco anos entre o fato que propiciou o surgimento do ágio e a lavratura dos autos de infração em questão (23/12/2014), reportandose ao art. 150, § 4º, do CTN. 3.2.1. Considerandose que os "fatos geradores" do IRPJ e da CSLL correspondem, em síntese, à obtenção de resultados que provocam acréscimo patrimonial, a contagem do prazo decadencial em relação aos referidos tributos deve ter início a partir do momento em que os fatos jurídicos tributários formadores deste acréscimo patrimonial forem reconhecidos. 3.2.2 Conclui pela decadência do direito do Fisco de questionar a legalidade dos atos societários que originaram o ágio em 2004, citando trecho de artigo publicado pelo Prof. Humberto Ávila, ao analisar caso de ágio na aquisição de empresa dentro de um mesmo grupo econômico, ocorrido há mais de cinco anos da data da lavratura do auto de infração, bem como, ementas do antigo Conselho de Contribuintes no sentido de reconhecer a impossibilidade de o Fisco questionar a legalidade dos fatos ocorridos após o transcurso do prazo decadencial de cinco anos. 3.3. Em não se acatando as preliminares acima argumentase, em sede do direito, que é legitima a aquisição do investimento com ágio pela Cannes e o posterior aproveitamento de sua dedutibilidade fiscal. Para comprovar a licitude das operações, bem como ratificar o propósito negocial almejado e atingido, de desenvolvimento das atividades de cartões de crédito no Brasil para não correntistas do Banco Citibank, passase a discorrer acerca (i) da natureza jurídico/contábil do ágio na aquisição de participações societárias; (ii) da licitude da aquisição de participação societária com ágio e de sua transferência; (iii) do tratamento tributário dispensado ao ágio no ordenamento jurídico brasileiro; (iv) da legitimidade do laudo econômico, por meio da efetiva demonstração do fundamento econômico do ágio (expectativa de rentabilidade futura); e (v) da ausência de extinção do ágio. 3.3.1 (Natureza jurídico/contábil do ágio na aquisição de participações societárias). O ágio ou deságio gerado em operações, como as ocorridas no presente caso, decorre da diferença entre o valor de aquisição (custo de aquisição) e o valor patrimonial das ações adquiridas (valor de patrimônio líquido), quando se adota o registro da participação societária pelo método da equivalência patrimonial, previsto no artigo 248 da Lei das S/A (Lei n° 6.404/76). De acordo com o artigo 177 da mesma lei das S/A, o registro contábil do ágio deve estar em conformidade com os princípios de contabilidade geralmente aceitos. Assim, tanto a Instrução CVM nº 247/96, como o artigo 20 do Decreto Lei 1.598/77 determinam que o custo de aquisição do investimento seja desdobrado em valor do patrimônio liquido (equivalência patrimonial) e ágio/deságio. Fl. 2776DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.777 25 3.3.1.1 Com efeito, verificase que no presente caso houve a aquisição, pela Cannes, de participação societária de 50% na Tulipa, empresa holding que tinha como principal ativo a participação de 33,33% no capital social da Credicard. A referida aquisição deuse entre partes independentes Unibanco e Cannes , mediante o pagamento de R$ 1.583.095.269,58 (custo de aquisição), decorrente de Contrato de Compra e Venda celebrado entre as partes. Portanto, em conformidade com os princípios contábeis geralmente aceitos e nos termos da Instrução CVM n° 247/96, a Cannes desdobrou o valor total do custo de aquisição das quotas da Tulipa em valor do investimento pela equivalência patrimonial (R$ 847.307.195,20) e ágio (R$ 743.436.029,47), o que mostra que os atos praticados foram lícitos e atenderam também às normas emitidas pelo BACEN. 3.3.1.2 Ressaltase também que o ágio registrado no presente caso possuía fundamento na expectativa de rentabilidade futura da Credicard (principal ativo da Tulipa), o que foi comprovado por meio de estudo interno elaborado pelo Grupo Citibank, projetada pela metodologia de fluxo de caixa descontado, não havendo em nenhum momento o questionamento sobre a validade de tal documento pela fiscalização. Afirma que a rentabilidade futura realmente efetivouse nos anos seguintes, reportandose aos documentos de fls. 2185 a 2221. 3.3.2. (Da licitude da transferência do ágio) No entendimento da fiscalização o ágio amortizado no presente caso somente seria dedutível se a Tulipa fosse incorporada pela Cannes, ou viceversa e que, em virtude das sucessivas transferências do ágio verificadas, não seria possível a amortização do ágio pelo Impugnante, por inexistência de previsão legal que autorize tal expediente. Contudo, este entendimento não deve prosperar, uma vez que o procedimento adotado (transferências do ágio e sua posterior amortização pelo Impugnante) estaria em conformidade com as legislações fiscais e societárias vigentes à época. 3.3.2.1 A assertiva feita pela Fiscalização, sobre a não aplicação do disposto nos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/97 ao presente caso, carece de fundamento, uma vez que tal lei não restringe a transferência do ágio como pretendeu indicar a Autoridade Fiscal. Pelo contrário: a lógica da permissão da dedutibilidade do ágio, fundamentado na expectativa de rentabilidade futura, nas hipóteses de cisão, fusão e incorporação, nada mais é do que o reconhecimento de que o ágio deverá, sempre, acompanhar o investimento que lhe é subjacente o qual justificou seu pagamento, pois tal valor (ágio) está intrinsecamente associado à expectativa de lucros futuros gerados por determinado investimento, motivo pelo qual a sua amortização darseá em contrapartida dessa expectativa de lucros a serem gerados, conforme excerto do Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações da FIPECAFI que colaciona. O ágio somente existe em função do ativo que é a ele subjacente. Tratase de um acessório que necessariamente deve seguir o principal (investimento). 3.3.2.2 Para tornar mais claro o raciocínio acima, basta fazer um paralelo com um ativo tangível que está sujeito a depreciação. Se este ativo utilizado para integralização de capital em nova sociedade esta teria o direito de continuar deduzindo as despesas Fl. 2777DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.778 26 de depreciação ainda não aproveitadas. A jurisprudência administrativa, conforme decisões recentes do CARF que colaciona (acórdãos 140200.802, 110100.354, 1301000.711 e 10516.774), também admite a transferência do ágio. Dessa forma, seja pela ausência de vedação legal, seja pela coerência no que se refere à contraposição dos lucros e custo para obtenção desses lucros, é de se reconhecer como legítimas as transferências da participação societária, acompanhadas do respectivo ágio, realizadas no presente caso e, consequentemente, a dedução das despesas com amortização do ágio após a incorporação da Nice pela Impugnante. 3.3.3 (Tratamento tributário do ágio – Dedução fiscal da amortização) Uma vez comprovada a licitude da transferência do ágio devese observar o tratamento tributário a lhe ser dispensado pelo ordenamento jurídico brasileiro. Segundo o artigo 385 do RIR/99, o lançamento do ágio deverá indicar algum dos três fundamentos econômicos ali dispostos ((i) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; (ii) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; ou (iii) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas). No presente caso, em que a Impugnante absorve patrimônio da controladora (Nice) por incorporação, uma vez que esta última tinha registrado ágio apurado com fundamento econômico no valor de rentabilidade dos resultados nos exercícios futuros da Credicard, estabelece a legislação que será possível amortizar o valor do ágio nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração (inciso III e § 6o do artigo 386 do RIR/99). Portanto a conduta do autuado referese a um tratamento fiscal legalmente previsto. 3.3.3.1 A dedutibilidade fiscal do ágio, gerado na aquisição de sociedades, teve como objetivo incentivar a prática de fusões e aquisições, tais como as ocorridas em processos de privatização, no entanto tal regra fiscal não se aplica apenas a estes processos, devendo ser estendida a qualquer aquisição, mesmo que entre particulares, como no presente caso. É exatamente este efeito fiscal (esse direito) que qualquer que fosse a pessoa jurídica adquirente do Impugnante teria direito de usufruir. 3.3.4. (Comprovação da Rentabilidade Futura no caso concreto: Legitimidade do Laudo Econômico) – A autoridade fiscal também questionou o demonstrativo de rentabilidade futura empregado na mensuração do ágio, conforme texto extraído do Relatório Fiscal (TVF), fls. 1843/1844, o qual traduz o entendimento de que o ágio não foi pago em virtude de expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido (Tulipa), mas, sim, em função da avaliação de ativos dessa empresa (no caso, a Credicard) e, assim, não haveria que se permitir a dedutibilidade do ágio. Em nenhum momento pretendeuse negar a personalidade jurídica da Tulipa, o comprovante interno dizia respeito à rentabilidade futura da Credicard, que era o único ativo da Tulipa. 3.3.4.1. Citando trecho do Parecer elaborado pelo Prof. Eliseu Martins no âmbito do P.A. nº 16327.721657/201122, conclui: “nada mais natural admitir que a rentabilidade da Tulipa e da Fl. 2778DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.779 27 Credicard se confunde, respeitada a participação de 50% detida pela Tulipa na Credicard, na medida em que a Tulipa era uma holding pura que, exclusivamente, detinha participação societária na Credicard”. Ainda reportandose a trecho do parecer do renomado professor em que adverte que “geradora efetiva, genuína, verdadeira dos fluxos de caixa será a Credicard”, registra que tratandose de uma holding pura, não se pode esperar da Tulipa outro resultado que não aquele obtido pela Credicard e a ela distribuído. 3.3.4.2. Também cita situação análoga analisada por Luis Eduardo Schoueri, em que uma empresa A possui investimentos indiretos em empresa B, por meio de uma empresa H (holding) que adquiriu com ágio( o único ativo relevante de H é a sua participação em B) em que o professor expõe (i) não ser a melhor interpretação a conclusão de que o ágio não teria sido pago por conta de rentabilidade futura , mas pelo valor de mercado; (ii) não procede o argumento segundo o qual a rentabilidade futura não poderia ser aventada como fundamentação para o ágio pago na aquisição de investimento em empresa holding; (iii) não haver qualquer limitação legal, nem infralegal, que determine a natureza do ágio pago na aquisição de participação societária da holding; (iv) a expectativa de lucro do negócio da holding pode ser medida indiretamente (os lucros auferidos pela investida serão distribuídos à holding que os distribuirá a seus investidores); (v) se o que se levou em conta foi a rentabilidade futura da empresa B, então é o fundamento do inciso II do § 2º do art. 385 do RIR/99 que deve ser aplicado. 3.3.4.3. Citando ainda outro trecho do Parecer elaborado pelo Prof. Eliseu Martins, conclui a impugnante ser imprescindível que se reconheça que o ágio pago na aquisição da Tulipa possui fundamento econômico na expectativa de rentabilidade futura desta empresa (lastreada na rentabilidade da Credicard), sendo este ágio, denominado pela Fiscalização como "ágio indireto", plenamente reconhecido pela legislação fiscal, de modo que sua dedutibilidade deve ser aceita, atendidos os demais requisitos dos artigos 7º e 8° da Lei n° 9.532/97. Não se trata de ágio pago com base na avaliação dos bens do ativo da Tulipa (no caso, a Credicard), mas sim tendo por fundamento a capacidade da Credicard de gerar lucros. 3.3.5. (Ausência de Cancelamento do Ágio na Operação de Cisão parcial da Tulipa) – Para justificar a glosa ora debatida, a Fiscalização também alegou que a cisão parcial da Tulipa ocorrida em 31/03/2006, com versão de 50% da parcela do patrimônio cindido para a Saint Tropez, acarretou o cancelamento do ágio anteriormente registrado na Cannes (ágio originado da aquisição de 50% da Tulipa). Entretanto, tal alegação encontrase equivocada, porquanto, no presente caso, restou demonstrado, inclusive por meio do Parecer do Professor Eliseu Martins, que o ágio registrado em Cannes corresponde à expectativa de rentabilidade que a Credicard poderia lhe proporcionar, sendo irrelevante o fato de o investimento estar efetivamente concentrado e formalizado em empresa intermediária, ou seja, na Tulipa (o investimento despendido na Credicard foi formalizado por meio da aquisição de 50% das quotas da Tulipa). Fl. 2779DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.780 28 3.3.5.1. A cisão da tulipa teve os seguintes efeitos práticos e jurídicos: (i) versão de 50% do patrimônio da Tulipa à Saint Tropez (empresa na qual Cannes detinha 99,99%), permitiu que a Cannes continuasse com o investimento por ela realizado na Credicard, mas ao invés da Tulipa, a empresa existente entre a Cannes e tal investimento passou a ser Saint Tropez; (ii) enquanto a parcela de 40% do patrimônio da Tulipa foi vertida à Saint Tropez, os 50% restantes foram posteriormente incorporados pela Itaú Cartões, o que significa dizer que a cisão em exameviabilizou a concretização de mais uma etapa do objetivo de segregar as participações societárias dos grupos Citibank e Itaú na Tulipa. 3.3.5.2. A cisão em exame acarretou a mera transferência do investimento realizado com ágio, o qual em vez de estar formalizado na Tulipa, passou a estar registrado na Saint Tropez, que passou a deter a participação societária direta na Credicard. Seja anteriormente, ou posteriormente à cisão, a real detentora da do investimento (com ágio) detido na Credicard sempre foi a Cannes, tendo divergido apenas a empresa que figurou como intermediária da verdadeira detentora do ativo: antes da cisão, a tulipa; após a, a Saint Tropez. É por isso que carece de lógica a alegação da Fiscalização de que o ágio ficou extinto com o cancelamento do investimento da Cannes na Tulipa. 3.3.5.3. O investimento que a Cannes detinha na Tulipa (50%) representava justamente o valor despendido para obter parte da participação societária na Credicard. Logo, se tal investimento (50% da Tulipa) foi, em virtude da cisão em exame, vertido para a Saint Tropez, é evidente que a Cannes, agora por intermédio da Saint Tropez, permaneceu como legítima detentora da participação societária da Credicard. o que torna imprescindível a permanência do registro do ágio em sua contabilidade. Ao contrário do que afirmou a Fiscalização, o ágio (acessório) permaneceu atrelado ao investimento que lhe deu causa (principal), na medida em que apenas houve, em última análise, a substituição da empresa que figurava como intermediária entre a Cannes e a Credicard, tendo permanecida intacta a expectativa de rentabilidade futura que ensejou o desembolso de vultosa quantia que desaguou no registro do ágio em questão. Admitir hipótese diversa significa desconsiderar por completo o investimento que a Cannes realizou em Credicard. 3.3.6. (Da Necessidade das Supostas “Empresas Veículos”) A Autoridade Fiscal ainda entendeu que as empresas Saint Tropez, Nice e Citibank Cartões seriam meras "empresas veículo", desprovidas de qualquer atividade operacional, e que tinham como única finalidade, dentro da reorganização societária empreendida pelo Grupo Citibank, levar o ágio até o Impugnante, de modo a realizar a economia tributária pretendida. Entretanto este entendimento não pode prevalecer, pois os atos, além de válidos, possuiam evidente propósito negocial. 3.3.6.1. A autoridade Fiscal afirma, citando trecho da obra de Marco Aurélio Greco, que nas reorganizações societárias não se pode analisar cada uma de suas operações de forma isolada, devendo se considerar a transação como um todo (filme). A análise do “filme” já foi feita acima, e, como se demonstrará novamente Fl. 2780DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.781 29 as supostas “empresas veículos” fizeram parte da organização estratégica do Grupo Citibank para a aquisição da Credicard e expansão do negócio de cartões de crédito no Brasil, com foco em clientes que não fossem titulares de contas correntes no Banco Citibank. Dessa forma, os motivos que impulsionaram a criação de Saint Tropez, Nice e Citibank Cartões foram, intrinsecamente, extratributários, relacionados com a atividade oferecimento de cartões de créditos que o Grupo Citibank buscava desenvolver. 3.3.6.2 A Saint Tropez foi a empresa que recebeu a parcela cindida da Tulipa, que equivalia a 50% de seu patrimônio. Tratase aqui de procedimento que foi necessário para a que as participações atinentes aos Grupos Citibank e Itaú na Tulipa, através da qual detinham, em conjunto, 33,33% da Credicard, fossem segregadas, fato este que foi inclusive reconhecido pela Autoridade Fiscal. 3.3.6.3 A Nice recebeu a parcela cindida da Saint Tropez, a qual incluía o investimento em Credicard, bem como o ágio decorrente da aquisição, pela Cannes, de participação societária na Tulipa. Houve nessa operação uma separação entre o investimento em Credicard, acompanhado do ágio, e do caixa anteriormente disponível em Saint Tropez. Após esta etapa da operação, o Banco Citibank deixou de participar do negócio Credicard, haja vista que tal atividade estava relacionada, conforme já explicado, à emissão de cartões para clientes não bancários. Tal separação, que foi implementada por meio da Nice, fundase em legítima decisão empresarial de organização de atividades e negócios, mostrandose plenamente lógica dentro do contexto empresarial ora analisado. 3.3.6.4 A criação da Citibank Cartões representou o complemento da etapa anterior, de organização dos negócios relacionados à emissão de cartões de crédito para clientes não bancários no âmbito da Citibank Cartões, desvinculando tal atividade do Banco Citibank. 3.3.6.5 Em conclusão, as três empresas mencionadas estão em plena em conformidade com o planejamento estratégico do Grupo Citibank, e não pode o Fisco, utilizandose de critérios eminentemente subjetivos {"não aparentam firme propósito negocial”), buscar valorar as escolhas empresarias realizadas pelo Grupo Citibank para a organização de seus negócios. Neste sentido já se manifestou o antigo Conselho de Contribuintes, conforme ementário que se colaciona à fl. 1989. 3.3.6.6. Nenhuma das ditas “empresas veículos” foi criada para gerar ágio, ou qualquer benefício de natureza tributária que não existiria independentemente de sua criação e todas desempenharam importante função na consecução do propósito negocial do Grupo Citibank. Nem se diga que o aspecto temporal poderia ser aqui invocado com a finalidade de invalidar ou tornar ilegítimas as operações em questão. Afinal, como já destacado anteriormente, as operações em questão não foram realizadas em um "curto período". Fl. 2781DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.782 30 3.3.7. (Da Teoria do Propósito Negocial – Aplicabilidade às Operações Praticadas) As operações ora em análise também encontram respaldo na atual doutrina e jurisprudência acerca do propósito negocial. Neste ponto, parte da doutrina e da jurisprudência vem adotando limites positivos ao "planejamento tributário. O primeiro desses limites positivos, reconhecido como aplicável em nosso sistema jurídico pelo já citado jurista Marco Aurélio Greco, corresponde ao motivo, à finalidade e à congruência do negócio jurídico. Para este autor, o motivo e a finalidade do negócio jurídico não podem ser predominantemente tributários, além disso seria necessário que eles fossem congruentes entre si. No presente caso, há ocorrência destes três elementos de forma conjugada. A própria Autoridade Fiscal reconhece haver causa legítima e também a razoabilidade e racionalidade dos passos adotados pelo Grupo Citibank. Sequer houve agravamento da multa e em nenhum momento se mencionou que os atos praticados seriam fraudulentos, demonstrandose, assim, indiretamente, que a reorganização societária realizada guarda estrita identidade com os dispositivos legais que permitem a amortização do ágio. Ademais, os fatos posteriores à reorganização societária realizada pelo Grupo Citibank, isto é, o real e intenso desenvolvimento de sua atividade de emissão de cartões a clientes não bancários, são suficientes para demonstrar a validade e o propósito dos atos anteriores (operações questionadas). 3.3.7.1. Não é possível admitir que a operação ora analisada é desprovida de propósito negocial, haja vista que: (i) todos os atos praticados tiveram por motivo a aquisição do controle da empresa Credicard no Brasil, com o consequente aproveitamento do benefício fiscal de dedução do ágio gerado nessa aquisição nos estritos termos da Lei.; (ii) a finalidade da operação era a aquisição de uma operadora de cartão de crédito de grande porte e participação no mercado brasileiro, como forma de expandir as atividades de cartão de crédito do Grupo Citibank, que passaria a oferecer cartões de crédito também aos clientes que não possuíssem conta corrente no Banco Citibank e a segregação das atividades dentro do Grupo, de forma que o Impugnante ficou responsável por essa área de cartões de crédito e o Banco Citibank retirouse com o caixa e (iii) todos os atos praticados inseremse congruentemente neste contexto (a forma contrato de compra e venda entre partes independentes, pagamento em dinheiro, efetiva necessidade da utilização de todas as sociedades envolvidas). Portanto, todos os atos praticados, analisados como um "filme", demonstram claramente a congruência do motivo e da finalidade da operação realizada pelo Grupo Citibank, os quais não eram predominantemente tributários. 3.3.7.2. Um outro limite que poderia ser aplicado no presente caso seria a coerência com o planejamento estratégico do empreendimento econômico (estratégias e planos futuros de um empreendimento como um todo). Este limite não é aceito pelo jurista Marco Aurélio Greco, que entende que tal modelo não está consolidado na experiência brasileira. Entretanto, apesar da sua inaplicabilidade, a operação ocorrida encontrase claramente inserida no planejamento estratégico do Grupo Citibank. Fl. 2782DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.783 31 3.3.7.2.1. O objetivo de longo prazo do Grupo Citibank, desde o início de suas atividades no século passado, era o de se manter como um dos maiores Bancos privados em atividade no território nacional. A aquisição de parcela da Credicard e seu posterior controle, para que pudessem ser oferecidos cartões de créditos a clientes que não possuíssem conta corrente no Banco Citibank, como já mencionado, foi apenas um capítulo desse filme projetado há muito tempo. Assim resta claro que mesmo com a aplicação da doutrina e jurisprudência mais restritas acerca dos limites para a realização de operações que tenham efeitos tributários, a presente operação seria válida. 3.3.7.3. Apenas por argumentar, é certo que se deve reconhecer que a operação em comento não buscou nenhuma economia tributária que não ocorreria se a aquisição de Credicard ocorresse de outras maneiras, ou seja, mesmo que não fossem utilizadas as empresas ditas “veículo” o resultado fiscal seria o mesmo: o ágio acabaria sendo aproveitado pelo impugnante. 3.3.7.3.1. Assim, se a Cannes tivesse adquirido diretamente as ações do Credicard, teria registrado ágio da mesma maneira, o qual poderia ser aproveitado pelo impugnante após a incorporação da Cannes. Esta estrutura, no entanto não foi possível pois era de interesse do vendedor (Unibanco) a venda de 50% das quotas da Tulipa (holding), e não do investimento a ela subjacente (Credicard). Assim todas as outras operações ocorridas se dera, em grande parte, em decorrência deste primeiro evento, sobre o qual o Grupo CitibanK não tinha controle. Fica, desta maneira, sem razão o argumento de que as operações realizadas tiveram como objetivo transferir o ágio para que pudesse ser aproveitado pelo impugnante. 3.3.7.3.2. Também carece de razão a afirmação feita pelo Agente Fiscal de que a operação em comento teve por finalidade evitar que COIC adquirisse diretamente a Credicard com ágio, de modo que não seria possível amortizálo. A título ilustrativo, caso o controlador estrangeiro (COIC) adquirisse com ágio a Credicard poderia, nos termos da atual jurisprudência do CARF anteriormente citada, integralizar o capital da Cannes, por exemplo, com a conferência das ações adquiridas da Credicard com ágio. Posteriormente, a Cannes (controladora) passa a ser incorporada pela Credicard (incorporada) que adquire, portanto, o direito à amortização do ágio. 3.3.7.3.3. É certo que haveria formas alternativas de realizar a operação em comento, as quais conduziriam o Impugnante ao mesmo resultado fiscal que foi obtido com as operações questionadas nos autos de infração em apreço. A realização de operações mais “simples”, sem a utilização das “empresas veículo”, não traíra nenhum benefício diferente do que foi efetivamente verificado. Se a aquisição do Credicard não se deu por meio das formas mais simplificadas e diretas, tais como as apresentadas nesse tópico, outras eram as razões, que não as fiscais, que levaram à reorganização societária tal como praticada. Sequer foi aplicada a multa de ofício agravada no presente caso, o que demonstraria que a operação realizada não possuía o intuito doloso ou fraudulento. Fl. 2783DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.784 32 3.3.7.3.4. Pelo exposto é fundamental que se entenda que: (i) as alegadas "empresas veículo" de fato possuíam propósito negocial, haja vista que elas claramente não foram utilizadas para gerar o ágio ou para possibilitar o seu aproveitamento pelo Impugnante; (ii) qualquer que fosse a estrutura adotada, seria possível o aproveitamento do ágio pelo Impugnante, de modo que não se pode falar que as operações realizadas tinham por única finalidade a economia fiscal. Por estas razões devem ser canceladas as autuações. 3.3.8. (Ad Argumentandum. Da Consideração do Ágio Pago como Parte do Custo de Aquisição). Ainda que se pudesse admitir como correta a glosa em questão, considerandose o quanto disposto nos artigos 7º e 8º da Lei n° 9.532/97 o que somente se admite a título de argumentação , fato é que o Sr. Agente Fiscal deveria, necessariamente, ter reconhecido o referido ágio como parte do custo de aquisição do investimento no Banco Citicard, a ser considerado quando da apuração do ganho de capital auferido na alienação deste ao Banco Itaucard, ora Impugnante. No momento em que o Banco Citicard foi alienado ao Grupo Itaú, o ágio pago na aquisição de 50% da Tulipa já havia sido integralmente amortizado pelo Banco Citicard e, assim, o ágio não foi considerado como custo para fins de apuração do Ganho de Capital auferido na alienação deste ao ora impugnante. 3.3.8.1. Na hipótese de não se acatar os argumentos apresentados, deverseá, ao menos considerar que o ágio glosado deve ser considerado como parte do custo de aquisição do banco Citicard, para fins de apuração do ganho de capital auferido na alienação deste ao Banco Itaucard. 3.3.9. (Ad Argumentandum. Da Inexistência para Previsão Legal para a Adição, à Base de Cálculo da CSLL, da Despesa com a Amortização de Ágio). Mesmo que os argumentos expostos até o momento não sejam acolhidos, o que também se alega a título argumentativo, é que não há que se falar na adição da referida despesa na base de cálculo da CSLL, por absoluta ausência de previsão legal. O legislador, ao determinar a base de cálculo da CSLL de forma exaustiva (numerus clausus), fixando, taxativa e individualmente, cada um dos ajustes aplicáveis (artigo 2o e parágrafos, da Lei n° 7.689/88), não arrolou, como hipótese de adição ao lucro líquido, o valor correspondente à amortização do ágio na aquisição de investimentos avaliados pelo método da equivalência patrimonial. Frisese, também, que a fiscalização não citou qualquer disposição legal específica para a apuração da base de cálculo da CSLL, procedimento esse que ratifica o exposto. Este é o entendimento manifestado pelo antigo Conselho de Contribuintes através do ementário colacionado. Portanto, mesmo que se considere a amortização fiscal do ágio indedutível para fins de apuração da base de cálculo do IRPJ é possível concluir que o lançamento de CSLL, objeto do presente processo administrativo, não possui fundamento legal, ou seja, afronta um dos mais importantes princípios norteadores do Direito Tributário, qual seja o Princípio da Legalidade. 3.4. (DA DEDUÇÃO DOS ROYALTIES PAGOS EM RAZÃO DO Uso DA MARCA “DINERS INTERNATIONAL”) Também é incabível a acusação de a impugnante ter deixado de adicionar, na apuração do lucro real dos anoscalendário de 2009 e 2010, a parcela indedutível dos valores pagos Fl. 2784DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.785 33 a título de royalties decorrentes do uso da marca “Diners Internacional”, pois: (i) há, no caso, nítido erro da determinação da base de cálculo da exigência fiscal, o que configura erro material, e torna os autos de infração absolutamente nulos; e (ii) o alegado limite de dedutibilidade não deve ser aplicado no caso em tela, porquanto a Portaria que o instituiu foi tacitamente revogada pela Constituição Federal de 1988, razão pela qual devem ser aplicados os limites fixados pelo caput do artigo 355 do RIR/99. É o que se passará a demonstrar. 3.4.1. (Do Erro na Determinação da Base de Cálculo – Vício Material – Iliquidez e Nulidade Absoluta dos Autos de Infração). Da análise dos termos dispostos no Relatório Fiscal, que chegaram à equivocada conclusão de que o Impugnante não teria adicionado determinado montante na apuração do lucro real, é possível notar, desde logo, grave erro de material cometido pelo Sr. Agente Fiscal, que apontou valores absolutamente incorretos a título de "despesas de royalties'', lastreado em conta contábil igualmente incorreta. O Agente fiscal aponta que os montantes de despesas de royalties são R$ 43.517.457,12 (2009) e R$ 37.116.133,85 (2010), registrados na conta de despesa 8175700003, intitulada SLACUI NORTH AM INC CNAINC. Entretanto, referidos valores pertencem a uma conta que não equivale às despesas devidas a título de royalties decorrentes do uso da marca “Diners International”. 3.4.1.1. Os corretos valores da referida despesa estão alocados na conta contábil 8194012621, intitulada "Despesa de Royalties DINERS", conforme se denota dos anexos documentos contábeis da empresa, livro razão (doc. 06 – fl. 2275 a 2387) e memória de composição da demonstração do resultado do exercício analítico do Impugnante (doc. 07 – fls. 2388 a 2392 e fls. 1682 e 1686 dos autos), cujos corretos valores são de R$ 4.604.722,19 e R$ 5.136.130,46, para os anoscalendário de 2009 e 2010, respectivamente. 3.4.1.2. Ao mencionar no relatório fiscal que a impugnante cumpriu a Intimação nº 22, quando da fiscalização que precedeu a autuação em comento, o Sr. Agente Fiscal teve ciência e acesso aos corretos valores que compõem as despesas de royalties nos períodos de 2009 e 2010, tendo inclusive transcrito a planilha elaborada pelo Impugnante com os corretos valores e conta contábil. Se infração houvesse o que se admite a título argumentativo tais valores e contas informados pela então fiscalizada deveriam ser considerados como corretos. 3.4.1.3. A impugnante havia demonstrado ao Sr. Agente Fiscal que a conta contábil 8175700003, sob a rubrica "SLA CITI NORTH AM INCCNAINC", era composta de despesas relacionadas com operações de importações (saídas de divisas), o que, portanto, em nada se relaciona com despesa de royalties (vide fls. 1678 dos autos). 3.4.1.4. Foi também apresentada ao Sr. Agente Fiscal, no bojo da fiscalização, o relatório contábil da conta 8175700003 (fls. 16631666 dos autos), cuja simples leitura demonstra que as despesas lá alocadas não possuem qualquer vínculo com royalties decorrentes do uso de marcas. Em suma: Fl. 2785DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.786 34 (...) 3.2.1.5. O auto de infração em apreço carece de liquidez e certeza (art. 142 do CTN e art. 10, inciso V, e art. 11, inciso II, do Decreto nº 70.235, de 1972), na medida em que a base de cálculo utilizada pela Fiscalização (valor de conta contábil incorreta, que em nada se relaciona com despesas de royalties) não retrata as quantias que seriam supostamente devidas pela Impugnante na remota hipótese da manutenção dos lançamentos fiscais em questão. A certeza com relação ao montante exigido é intrínseca ao lançamento tributário. 3.2.1.6. Citando entendimento da doutrina sobre a liquidez e certeza na constituição do crédito tributário e os requisitos essenciais do lançamento, bem como reportandose a ementas de acórdãos do CARF, concluise que erro na base de cálculo da autuação configura um vício material dos autos de infração em combate, o que os toma nulos de pleno direito, dada sua iliquidez e ilegitimidade, que são insanáveis de ofício razão pela qual mister se faz o cancelamento das autuações objeto do presente processo administrativo. 3.4.2. (Dedução em Excesso do Royalties Pagos em Razão do Uso da Marca “Diners International”) – Segundo o Relatório Fiscal, a Impugnante não teria observado o limite previsto no inciso II da portaria MF nº 436, de 1958 (percentual máximo que totalizaria R$ 1.530.310,03, para o anocalendário de 2009, e R$ 1.512.167,43, para o ano calendário de 2010). Como o Impugnante deduziu como despesas de royalties os montantes de R$ 4.282.323,16 e R$ 4.688.348,541 9 e não R$ 43.517.457.12 e R$ 37.116.133,85. como incorretamente imputou o Sr. Auditor Fiscal, nos termos demonstrado no tópico acima a Fiscalização concluiu que o Impugnante teria excedido o suposto montante permitido pela legislação tributária. Entretanto tal argumento não poderá prevalecer. 3.4.3. (Da Dedução das Despesas com Royalties) O Sr. Agente Fiscal entendeu que a dedutibilidade dos montantes pagos pelo Impugnante à Diners Club, a título de royalties, estaria condicionada ao cumprimento de determinados requisitos, os quais foram integralmente comprovados pelo Impugnante ainda em fase de fiscalização, como bem aduz o Sr. Agente Fiscal às fls. 31 do Relatório Fiscal (fl. 1847). A Fiscalização reconheceu no item 1.3 do relatório fiscal (fl. 1847) que foram cumpridos pela impugnante os itens (i) a (iii) do que fora requisitado por intermédio do Termo de Intimação nº 17 (fl. 1654). A autoridade fiscal transcreve à fl. 1848 a resposta dada pela impugnante, ao item (iv) do referido Termo de Intimação nº 17, ou seja, também quanto a este item, os requisitos e exigências para reconhecimento dos valores devidos a título de royalties de marca foram igual e integralmente cumpridos pelo Impugnante, não restando dúvidas quanto à formação das receitas auferidas em decorrência do uso da marca "Diners International", para que então fosse possível calcular o suposto limite de dedutibilidade a esse título. 3.4.3.1. O limite imposto como de 1% para fins de dedutibilidade dos royalties foi então calculado sobre o montante das receitas líquidas de R$ 153.031.002,88 (2009) e R$ 151.226.742,61 (2010), resultando, respectivamente, nos limites de R$ 1.530.310,03 e R$ Fl. 2786DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.787 35 1.512.267,43 passíveis de dedução, sob essa óptica. O Agente Fiscal parte dos Incorretos valores de despesas de royalties, apontados como R$ 43.517.457,12 e R$ 37.116.133,85, mas, conforme acima exposto, em verdade perfazem os montantes de R$ 4.282.323,16 e R$ 4.688.348,542 1, e, do valor de tais despesas, deduz o IRRF decorrente da remessa ao exterior, concluindo, então pela glosa da diferença entre as despesas de royalties subtraídas do IRRF, e o montante que entende como sendo o limite de dedutibilidade. No entanto, não poderá prosperar a glosa do suposto montante excedente. 3.4.3.2. (Da Operacionalidade das Despesas com Royalties Pagas pela Impugnante à Diners Club) os montantes remetidos à Diners Club a título de royalties, como remuneração pelo uso da marca "Diners International", constituem, para o Impugnante, despesa notadamente operacional (art. 299 do RIR/99) e, por essa razão, devem ser considerados integralmente dedutíveis do lucro real e da base de cálculo da CSLL. A Impugnante é pessoa jurídica cujo objeto econômico empresarial principal é exploração e administração de cartões de crédito, mediante financiamento, investimento e demais atividades de administração de fundos, conforme se denota em seu Estatuto Social anexo. Na gama de produtos comercializados, estão os cartões de crédito com a bandeira "Diners International", cuja exploração do uso da marca é devidamente remunerada à detentora de seus direitos, a título de royalties. 3.4.3.2.1. A Diners Club e o Banco Citicard inicialmente celebraram o "Contrato de Licenciamento de Marca" (doc. 08 – fls. 2393/2403), pelo qual a Diners Club autorizou o Banco Citicard a exercer determinadas atividades comerciais relativas ao serviço de emissão e comercialização de cartões de crédito utilizando as marcas ou os logotipos "Diners International". O "Contrato de Licenciamento de Marca" nada mais fez do que dispor acerca das condições que deveriam ser cumpridas para que o Banco Citicard pudesse utilizar as marcas e o logotipo "Diners International". São justamente os valores pagos à Diners Club como remuneração pelo uso da marca "Diners International" nos cartões de crédito de sua emissão que são classificados como royalties. 3.4.3.2.2. Os royalties pagos à Diners Club, detentora do direito de uso da marca “Diners International”, estão diretamente relacionados à necessidade do Impugnante de manter o uso e fruição do direito do uso da marca "Diners International", do qual decorrem, por sua vez, os rendimentos auferidos pelo Impugnante no decorrer de suas atividades empresariais. Nesse cenário o art. 352 do RIR/99 preconizou de forma expressa que a dedutibilidade dos royalties é absolutamente admitida (Art. 352. A dedução de despesas com royalties será admitida quando necessárias para que o contribuinte mantenha a posse, uso ou fruição do bem ou direito que produz o rendimento – art. 71 da Lei nº 4.506, de 1964). 3.4.3.2.3. Os pagamentos de royalties remetidos à Diners Club em razão do "Contrato de Licenciamento de Marca" são, assim, indispensáveis ao exercício das atividades do Impugnante, revestindose claramente das características de despesa operacional e dedutível: são usuais (na medida em que é habitual para a Fl. 2787DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.788 36 realização do seu objeto social), necessários (na medida em que se justificam sob o aspecto gerencial de suas atividades) e normais (na realização das atividades e negócios pertinentes ao seu objeto social). 3.4.3.2.4. Os royalties pagos são necessários para que se mantenha o direito de uso da marca "Diners International", responsável pela produção dos rendimentos atrelados à comercialização dos cartões de crédito que possuam a referida bandeira. Sem o seu pagamento, o Impugnante verseia impedido de emitir os cartões da bandeira "Diners International", deixando de exercer uma de suas mais relevantes atividades, reportandose a ementa do acórdão 10322.104 do antigo Conselho de Contribuintes. 3.4.3.3. (Da Revogação da Portaria MF nº 436, de 1958) – Ainda que os argumentos anteriormente expostos não sejam acatados, o que se admite a título argumentativo, deverá reconhecer que o limite de 1% para a dedutibilidade dos royalties pagos à Diners Club pelo uso da marca "Diners International", exposto na Portaria MF n° 436/58, não pode ser utilizado, na medida em que se encontra revogado pela ordem constitucional de 1988. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, restou estabelecido que os dispositivos legais que atribuíssem ou delegassem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pela Constituição Federal ao Congresso Nacional, especialmente a ação normativa, estariam revogados, reportandose ao art. 25 do ADCT. Assim, qualquer legislação anterior a 1988 que tenha atribuído ao Ministro da Fazenda a competência para legislar, estabelecendo limites de dedutibilidade para os royalties pagos, deverá ser tida por revogada desde o 181° dia que se sucedeu à promulgação da Constituição Federal de 1988, nos termos do mencionado artigo 25 do ADCT, citando entendimento de Hiromi, Fábio e Celso Higuchi. 3.4.3.3.1. Uma vez que os coeficientes limites fixados pela Portaria MF n° 436/58 não mais existem no ordenamento jurídico pátrio, porquanto foram revogados pelo artigo 25, do ADCT, mister se faz a aplicação da regra geral do limite de dedutibilidade prevista pelo caput do artigo 355 do RIR/99, qual seja, de 5% da receita líquida obtida pelo Impugnante com os cartões emitidos com a marca "Diners International". 3.4.3.3.2. Dada a revogação tácita da Portaria que instituiu o patamar máximo de 1% para dedutibilidade de royalties de marca, o correto e vigente índice aplicável ao caso em tela é o de 5%, previsto pelo caput do artigo 355 do RIR/99. Concluise, assim, que inexiste infração ou inobservância ao limite de dedução de royalties no presente caso, haja vista que os patamares de dedução foram devidamente respeitados. 3.5. (Da Impossibilidade da Cobrança da Multa Isolada em razão da Falta de Recolhimento do IRPJ e da CSLL por Estimativa) 3.5.1 (Da Inaplicabilidade da Multa isolada em Razão do Encerramento dos AnosBase de 2009, 2010 e 2011 quando da Lavratura dos autos de Infração) – O impugnante foi autuado também por ter, supostamente, deixado de recolher valores devidos a título de estimativas mensais de IRPJ e CSLL, no período fiscalizado, entretanto tal penalidade não pode ser mantida, visto que até o advento da Lei n° Fl. 2788DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.789 37 8.383/91, o IRPJ e a CSLL eram apurados em sistema de "base anual", ou seja, os fatos econômicos integrantes do fato gerador desses tributos ocorriam ao longo do anobase e somente em 31 de dezembro eram quantificados, de maneira a propiciar a aferição da base de cálculo sobre a qual incidia a exação. Após a edição da referida norma, o IRPJ e a CSLL passaram a ser apurados em sistema de "bases correntes", ou seja, na medida em que os fatos econômicos integrantes do fato gerador ocorrem, quantificase as bases de cálculo naquele mesmo mês e o contribuinte efetua mensalmente o pagamento desses tributos (recolhimentos por estimativa). Contudo, mesmo nesta sistemática, ao final do anobase o contribuinte deve elaborar sua declaração de ajuste, com a finalidade de verificar se o montante que foi pago ao longo do ano excede ou fica aquém do que realmente é devido. 3.5.1.1. Firmadas essas premissas, verificase que a multa isolada, prevista atualmente no inciso II, alínea "b" do artigo 44 da Lei n° 9.430/96, com a redação conferida pelo artigo 14 da Lei n° 11.488/07, diferentemente do que entendeu a Autoridade Fiscal, somente pode ser exigida caso o Fisco verifique a falta de recolhimento dos tributos, ou recolhimento insuficiente, com base em estimativas mensais, antes do término do anobase. Como os autos de infração, objeto do presente processo, foram lavrados após o encerramento dos anosbase de 2009, 2010 e 2011, eventuais insuficiências de recolhimento do IRPJ e da CSLL não mais poderão ser punidas pela exigência da multa isolada, conforme jurisprudência já consolidada do CARF (Ex: acordãos 10321.253, 10707.047 e 110300.200). 3.5.1.2. Ante o exposto, não deve prosperar a manutenção da cobrança das multas isoladas exigidas relativamente aos anosbase de 2009 a 2011, em razão destes períodos já estarem encerrado quando da lavratura dos autos de infração em comento (23/12/2014). 3.5.2. (Da Duplicidade de Cobrança – Impossibilidade de Cumulação de Multa Isolada com Multa de Ofício) Ainda que fosse possível lançar, após o encerramento do anobase, multa isolada em razão do não recolhimento dessas estimativas, o que se alega a título de argumentação, não poderia haver, sobre a mesma base de cálculo, a cumulação da multa isolada com qualquer outra penalidade, como ocorreu no presente caso. Analisando os autos de infração verificase que há cobrança cumulativa de multa de ofício e de multa isolada sobre os mesmos valores supostamente devidos de IRPJ e de CSLL. 3.5.2.1. Tratase de dupla incidência sobre a mesma materialidade, uma vez que os valores adicionados pela fiscalização nas bases mensais foram os mesmos incluídos no cálculo do ajuste anual para a cobrança da multa de ofício. A impossibilidade de cumulação de multas multas em debate já é assunto com posicionamento pacífico no CARF. Nesse sentido, citese o entendimento manifestado, por unanimidade de votos, no Acórdão n° 140100.021, proferido pela Primeira Turma Ordinária, da Quarta Câmara da Primeira Seção de Julgamento. 3.5.2.2. Em sessão extraordinária realizada em 08/12/2014, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais aprovou a Fl. 2789DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.790 38 13ª Proposta de Enunciado de Súmula, onde restou firmado o entendimento de que: "A multa isolada por falta de recolhimento de estimativas, lançada com fundamento no art 44 § 1°, inciso IV da Lei n° 9.430, de 1996, não pode ser exigida ao mesmo tempo da multa de ofício por falta de pagamento de IRPJ e CSLL apurado no ajuste anual, devendo subsistir a multa de ofício". 3.6. (Da Impossibilidade do Lançamento de Multas na Hipótese de Responsabilidade Tributária por Sucessão) não poderão ser mantidas as multas de ofício e isoladas, na medida em que o sujeito que cometeu o suposto ato infracional ora questionado não foi o Impugnante, mas sua sucedida por incorporação (Banco Citicard). Nesse sentido, depreende se do art. 132 do CTN que o sucessor responde apenas pelos tributos devidos até a data da sucessão. Com relação às multas, devese averiguar o momento em que tal penalidade foi constituída, para então atribuirse ou não a responsabilidade ao incorporador. 3.6.1. A deliberação sobre a incorporação do Banco Citicard ocorreu em 31/08/2014, enquanto que as multas de ofício e isoladas foram lançadas em 22/12/2014 (lavratura dos autos de infração). Portanto, não há que se manter a cobrança das multas punitivas em razão de não ser cabível tal penalidade à sucessora por incorporação. 3.6.2. Ao Impugnante somente poderiam ser imputadas as multas lançadas acaso as respectivas infrações tivessem sido cometidas por empresas incorporadas cujos administradores fossem os mesmos que os seus ou, ao menos, que as incorporadas pertencessem ao seu grupo econômico. É o que informa a Súmula CARF n° 47. 3.6.3. Ocorre que o Banco Citicard foi incorporado pelo Banco Itaucard S/A, instituições financeiras distintas e pertencentes a diferentes grupos econômicos, com administrações completamente independentes, de modo que não se vislumbra a possibilidade de manutenção da exigência da multa punitiva da incorporadora no caso em análise. 3.6.4. São notórias e incontestáveis a autonomia e independência entre o Banco Citicard e o Banco Itaucard S/A, que, à época dos fatos geradores ora impugnados, não estavam sob controle comum, e pertenciam a grupos econômicos absolutamente distintos, conforme reconhecido pelo próprio Sr. Auditor Fiscal, razão pela qual não há o que se falar em aplicação de multas à Impugnante. Portanto, não há dúvida de que a Súmula CARF n° 47 é plenamente aplicável para afastar a exigência das multas de ofício e isolada indevidamente lançadas contra o Impugnante (sucessor), motivo pelo qual esta E. Turma Julgadora deve cancelálas dos autos de infração em combate. 3.6.5. Mesmo que fosse aceita a possibilidade da multa lançada posteriormente à sucessão ser imposta à incorporadora, o que se admite apenas a título argumentativo, fato é que mesmo assim tal imputação não poderia ocorrer, em decorrência do caráter personalíssimos das multas. Citando ementas de acórdãos do antigo Conselho de Contribuintes, conclui que, como as multas em apreço somente foram lançadas após o evento da incorporação, sobre fatos de responsabilidade exclusiva da empresa incorporada, não se pode admitir a transferência dessas penalidades, também em função do seu caráter personalíssimo, bem Fl. 2790DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.791 39 como em virtude do teor da Súmula CARF n° 47, razão pela qual o Impugnante requer suas exonerações dos autos de infração. 3.7. (Da ausência de Compensação Indevida de Prejuízos Fiscais e da Base de Cálculo Negativa da CSLL). Ao autuar o Impugnante, adicionando valores às bases de cálculo do IRPJ e da CSLL relativas aos anosbase de 2009 a 2011, a autoridade fiscal recompôs as bases de cálculo de tais tributos e, consequentemente, recalculou os montantes de prejuízos fiscais e da base de cálculo negativa da CSLL passíveis de compensação em tais períodos. Por essa razão, entendeu que, nos anos base de 2010 e 2011, o Impugnante teria compensado de modo indevido, a título de prejuízos fiscais, os montantes de R$ 16.246.171,49 e R$ 52.727.880,552 7 . No que diz respeito à base de cálculo negativa da CSLL, alegouse que o Impugnante teria efetuado compensações indevidas nos anosbase de 2010 e 2011, perfazendo os valores de R$ 15.834.156,11 e R$ 51.849.966,14, respectivamente. 3.7.1. Contudo, também não merece prosperar tal assertiva do Sr. Agente Fiscal, na medida em que as alegadas compensações indevidas são mero reflexo das autuações fiscais procedidas, as quais, por todas as razões que foram expostas ao longo da presente Impugnação, devem ser canceladas por esta E. Turma Julgadora e, consequentemente, recompostos os saldos de prejuízo fiscal e base de cálculo negativa da CSLL. Desta forma, e considerandose todos os argumentos apresentados para combater os autos de infração lavrados contra o Impugnante, não poderá prevalecer o entendimento de que teria havido compensação indevida de prejuízos fiscais e da base de cálculo negativa da CSLL, devendose cancelar as autuações também no que diz respeito a este tópico. 3.8. (Da Ilegalidade da Cobrança de Juros sobre a Multa). Ainda que se entenda pela manutenção das autuações em análise, o que se alega a título argumentativo, é certo que os juros calculados com base na taxa SELIC não poderão ser exigidos sobre a multa de ofício lançada, por absoluta ausência de previsão legal. O artigo 13 da Lei n° 9.065/95, que prevê a cobrança dos juros de mora com base na taxa SELIC, remete ao artigo 84 da Lei n° 8.981/95, que, por sua vez, estabelece a cobrança de tais acréscimos apenas sobre tributos. Não se pode confundir os conceitos de tributo e de multa. Multa é penalidade pecuniária, não é tributo. É o que se verifica com clareza pela leitura da definição de "tributo", contida no artigo 3o do Código Tributário Nacional. 3.8.1. O § 1o do artigo 113 do Código Tributário Nacional, ao diferenciar "tributo" de "penalidade pecuniária deixa claro que as duas figuras não se confundem. Demonstrado que multa não é tributo e que a lei só prevê a incidência de juros (à taxa Selic) sobre tributos, a aplicação dos juros sobre a multa é uma afronta ao principio constitucional da legalidade. Nesse sentido já decidiu o antigo Conselho de Contribuintes (Ac. 20178.718) e a Câmara Superior de Recursos Fiscais (Ac. 0203.133) 3.9. Por fim requer seja dado provimento à impugnação apresentada com a consequente desconstituição dos créditos tributários exigidos e o cancelamento integral dos autos de infração e ainda, caso assim não se entenda, requer o acolhimento dos pedidos subsidiários: (i) o Fl. 2791DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.792 40 cancelamento das multas de ofício e isolada, em razão da impossibilidade de sua sucessão, (ii) cancelamento das multas isoladas em razão do encerramento dos períodos base e da impossibilidade de se cumular a cobrança com a multa lançada de ofício e (iii) afastamento dos juros sobre a multa”. (os destaques são do original). DA DECISÃO RECORRIDA (fls. 2023/2053) Analisando o litígio, a 8ª Turma da DRJ/SPO considerou procedentes em parte os lançamentos, pontuando preliminarmente que, “conforme consignado na impugnação (...), à fl. 1929, a amortização do ágio referente à diferença de R$ 3.386.303,96 (R$ 56.438,40 ao mês), apontada pelo auditor fiscal autuante no item 2.31 do Relatório Fiscal (TVF – fl. 1845), não foi abordada na peça de defesa, o que significa ser parte incontroversa da autuação”. No mérito, afastou os argumentos da defesa quanto aos lançamentos relativos às despesas de amortização de ágio – falta de adição ao lucro real e à base de cálculo da CSLL , mantendoos integralmente, assim como em relação à multa isolada e aos juros sobre a multa e no que tange à multa por sucessão, desonerando, todavia, parte dos valores impingidos como glosa por despesas com royalties, em decisão assim ementada: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2009, 2010, 2011 ÁGIO INDIRETO. IMPOSSIBILIDADE. FALTA DE PREVISÃO LEGAL. OFENSA AO PRINCIPIO DA ENTIDADE. Não é possível o registro de ágio, no ativo da investidora, sobre participações societárias que compõem o patrimônio de sua investida, por absoluta falta de previsão legal e ofensa ao princípio da entidade. GLOSA DE DESPESAS. AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. DECADÊNCIA. DATA DA AMORTIZAÇÃO. O direito da Fazenda Pública de constituir o crédito tributário pela glosa de despesas decorrente da amortização de ágio se extingue em 05 (cinco) anos contado do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que se deu a dedução indevida. Isto porque, o pagamento e a contabilização do ágio em si não constitui infração passível de lançamento. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. EMPRESAS VEÍCULOS. FALTA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. INOPONIBILIDADE AO FISCO. É inoponível ao Fisco o planejamento tributário com a utilização de empresas veículos, assim entendidas como aquelas criadas apenas para trânsito e separação de patrimônio e com falta de propósito negocial, ou seja, sem o desenvolvimento de qualquer atividade empresarial. USO DE MARCAS OU NOME COMERCIAL. DESPESAS COM ROYALTIES. DEDUTIBILIDADE. LIMITE. A legislação tributária, dentro de limites por ela estabelecidos, autoriza a dedução de despesas pelo pagamento de Royalties pelo uso Fl. 2792DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.793 41 de marcas ou nome comercial. A dedutibilidade está limitada por coeficientes percentuais a incidir sobre a receita líquida das vendas do produto fabricado ou vendido, estabelecidos conforme os tipos de produção ou atividade da pessoa jurídica, segundo o grau de essencialidade, e determinados pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 436, de 1958. No caso de royalties, pelo uso de marcas de indústria e comércio, ou nome comercial, em qualquer tipo de produção ou atividade, quando o uso da marca ou nome não seja decorrente da utilização de patente, processo ou fórmula de fabricação o limite é de 1% (um por cento). DESPESAS COM ROYALTIES. VALORES CONTABILIZADOS. Os elementos juntados aos autos relativos à fase de fiscalização são insuficientes para infirmar os valores lançados em conta de despesa com Royalties indicada pela fiscalizada, em detrimento de valores lançados em outra conta contábil. INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTOS DE ESTIMATIVAS. MULTA ISOLADA. CABIMENTO. A QUALQUER TEMPO. Cabível a multa exigida isoladamente, quando a pessoa jurídica sujeita ao pagamento mensal do IRPJ, determinada sobre a base de cálculo estimada, deixar de efetuar o seu recolhimento dentro do prazo legal de vencimento, por expressa previsão legal. Permanece aplicável a referida multa quando a falta é detectada após o encerramento do exercício de apuração da base de cálculo destes tributos, por interpretação lógica do disposto no artigo 44, II, b da Lei 9.430/96. MULTA ISOLADA POR FALTA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS. MULTA DE OFÍCIO PELA FALTA OU INSUFICIÊNCIA DE TRIBUTO. MATERIALIDADES DISTINTAS. A partir do advento da MP 351/2007, convertida na Lei 11.488/2007 a multa isolada passa a incidir sobre o valor não recolhido da estimativa mensal independentemente do valor do tributo devido ao final do ano, cuja falta ou insuficiência, se apurada, estaria sujeita à incidência da multa de ofício. São duas materialidades distintas, uma referese ao ressarcimento ao Estado pela não entrada de recursos no tempo determinado e a outra pelo não oferecimento à tributação de valores que estariam sujeitos à mesma. MULTA DE OFÍCIO. INCORPORAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO SUCESSOR. O processo de incorporação não elide a responsabilidade tributária da sucessora em relação à multa de natureza fiscal decorrente de infração tributária cometida por empresa sucedida. JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A multa de ofício, porquanto parte integrante do crédito tributário, está sujeita à incidência dos juros de mora a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao do vencimento. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2009, 2010, 2011 Fl. 2793DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.794 42 CSLL. EXTENSÃO LEGAL. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INOPONÍVEL AO FISCO. DECORRÊNCIA LÓGICA. Cabível a extensão da glosa das despesas com amortização de ágio à base de cálculo da CSLL por conta do disposto no artigo 57 da Lei 8.981/95, que tem por intento evitar a repetição desnecessária de comandos legais para disciplinar a metodologia de determinação das bases imponíveis das duas exações, naquilo em que as sistemáticas têm de comum. Entretanto, independentemente de qualquer interpretação, uma vez considerado inoponível ao Fisco o planejamento tributário tendente a reduzir a base de cálculo do IRPJ, por decorrência lógica o mesmo não pode ser validado para fins de CSLL. INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTOS DE ESTIMATIVAS. MULTA ISOLADA. CABIMENTO. A QUALQUER TEMPO. Cabível a multa exigida isoladamente, quando a pessoa jurídica sujeita ao pagamento mensal da CSLL, determinada sobre a base de cálculo estimada, deixar de efetuar o seu recolhimento dentro do prazo legal de vencimento, por expressa previsão legal. Permanece aplicável a referida multa quando a falta é detectada após o encerramento do exercício de apuração da base de cálculo destes tributos, por interpretação lógica do disposto no artigo 44, II, b da Lei 9.430/96. MULTA ISOLADA POR FALTA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS. MULTA DE OFÍCIO PELA FALTA OU INSUFICIÊNCIA DE TRIBUTO. MATERIALIDADES DISTINTAS. A partir do advento da MP 351/2007, convertida na Lei 11.488/2007 a multa isolada passa a incidir sobre o valor não recolhido da estimativa mensal independentemente do valor do tributo devido ao final do ano, cuja falta ou insuficiência, se apurada, estaria sujeita à incidência da multa de ofício. São duas materialidades distintas, uma referese ao ressarcimento ao Estado pela não entrada de recursos no tempo determinado e a outra pelo não oferecimento à tributação de valores que estariam sujeitos à mesma. MULTA DE OFÍCIO. INCORPORAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO SUCESSOR. O processo de incorporação não elide a responsabilidade tributária da sucessora em relação à multa de natureza fiscal decorrente de infração tributária cometida por empresa sucedida. JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A multa de ofício, porquanto parte integrante do crédito tributário, está sujeita à incidência dos juros de mora a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao do vencimento. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte DO RECURSO VOLUNTÁRIO Fl. 2794DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.795 43 Cientificada do R. decisum em 20/05/2016 (fls. 2507/2509), o recorrente interpôs Recurso Voluntário em 20/06/2016 (fls. 2750/2751), no qual, como primeira preliminar, argui nulidade da decisão da DRJ em razão de ausência de adequada fundamentação, por considerar que a Turma Julgadora teria se furtado de analisar os argumentos desenvolvidos na impugnação, “limitandose a transcrever o voto proferido pela 8ª Turma da DRJ/SPO no Acórdão nº 1641.677, relativo ao Processo Administrativo nº 16327.721657/201122, também referente à operação realizada”. Diz ainda o recorrente, “no caso concreto, além de a Turma\ Julgadora ter deixado de enfrentar, concretamente, os argumentos aduzidos (...) limitandose a copiar o voto proferido no Acórdão nº 1641.677 (infringindo, assim, o inciso IV do § 1º do artigo 489 do NCPC), acabou também por “invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão”, o que não pode ser admitido, nos termos do inciso III do § 1º do artigo 489 do NCPC”. Transcreve doutrina, jurisprudência e legislação, acentua que “o NCPC traz previsão expressa acerca do dever do julgador de se pronunciar sobre todos os argumentos aventados pelas partes” (RV – fls. 2527), que o não cumprimento de tal obrigatoriedade “enseja caracterização de cerceamento de defesa”, o que implicaria em “nulidade da decisão de primeira instância” (ibidem – fls. 2530). Como segunda preliminar – aquisição da Credicard para expansão das atividades de cartão de crédito pelo Citibank – sustenta que se deve analisar sempre "o filme", e não somente as "fotografias". Nas suas literais palavras, “a presente operação não pode ser analisada simplesmente do ponto de vista da validade dos atos societários considerados isoladamente, (...) não se pode analisar a operação “quadro a quadro”, sendo necessário analisála como um todo”. (RV – fls. 2531). Faz longa dissertação sobre o tema e os fatos envolvendo as operações societárias havidas e parte para as conclusões neste tópico realçando (RV – fls. 2553): Finalmente, aduz a terceira preliminar, que nomina de “preclusão da possibilidade do Fisco questionar a legalidade dos atos societários que deram origem ao ágio”. Em suma, diz ter transcorrido o lustro decadencial para que o Fisco perpetrasse os lançamentos. Para lastrear seu pensamento, traz jurisprudência que entende pertinente. No mérito, exaustivamente defende a legalidade e correção de seu procedimento, a licitude dos atos, combate novamente a decisão recorrida, acosta doutrina, jurisprudência e legislação, discorre longamente sobre o tema, reportase a outras decisões do CARF, expõe seu ponto de vista sobre o ágio e sua dedutibilidade para fins fiscais, aduz que “no presente caso, em que o Recorrente absorve patrimônio da controladora (Nice) em virtude de incorporação, uma vez que esta última tinha registrado ágio apurado com fundamento econômico no valor de rentabilidade dos resultados futuros da Credicard”, a legislação permite amortizar o valor do ágio à razão de 1/60 por mês (artigo 386, III e § 6º, do RIR/1999). Fl. 2795DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.796 44 Mais ainda, diz que “a regra prevista no artigo 386 (...) tem como objetivo beneficiar situações como a do presente caso, pois torna mais atraente a realização dos vultosos investimentos necessários para a aquisição de sociedades”. (RV – fls. 2577). Contesta a decisão a quo quando parametriza que o ágio não foi pago em virtude da expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido (Tulipa), mas, sim, em função da avaliação dos ativos dessa empresa (no caso, Credicard), pelo que não haveria que se permitir a dedutibilidade do ágio. Ao contrário, prossegue discorrendo existir nos autos a comprovação da rentabilidade futura no caso concreto e que, consoante parecer do Professor Eliseu Martins, juntado no Processo nº 16327.721657/201122, pertinente ao mesmo contribuinte e relativamente aos mesmos fatos aqui tratados, só alterandose os períodos de autuação, “nada mais natural (...) admitir que a rentabilidade da Tulipa e da Credicard se confundem, respeitada a participação de 50% detida pela Tulipa na Credicard”. (RV – fls. 2579/2581). Volvese a mais doutrina e jurisprudência, para continuar acerca da “ausência de cancelamento do ágio na operação de cisão parcial da Tulipa”. A respeito, pontifica: Sobre a utilização de empresa veículos contrapõe ao trabalho fiscal e à decisão recorrida extenso arrazoado, pugnando pela sua inexistência. Trecho do RV bem elucida o pensamento do recorrente (RV – fls. 2602): “Assim, é certo que nenhuma das ditas “empresas veículo” foi criada para gerar o ágio, ou mesmo qualquer benefício de natureza tributária que não existiria independentemente de sua criação. Todas elas, como demonstrado, desempenharam importante função na consecução do propósito negocial do Grupo Citibank, na segregação das atividades de cartão de crédito e expansão dos negócios desse segmento no Brasil. Fl. 2796DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.797 45 Ademais, a despeito dos reiterados questionamentos do Fisco, devese ter em conta que a existência das chamadas “empresas veículo” ou “sociedades veículo” não é suficiente para que se infirme a validade de uma operação que culmine na amortização fiscal do ágio, nos termos da recente jurisprudência administrativa. Em outros termos, este E. CARF vem consistentemente rejeitando as constantes tentativas das Autoridades Fiscais de atribuir às empresas veículo a característica de abuso, aceitando a existência de tais sociedades nas estruturações societárias que envolvam aproveitamento do ágio, desde que da utilização destas não resulte uma economia tributária que, de outra forma, não seria devida”. Em outra ponta, batese contra a decisão a quo quando esta assenta não ter havido propósito negocial nas operações, diz que tal propósito guarda coerência com o planejamento estratégico do empreendimento econômico visado, volta a tratar da possibilidade do aproveitamento do ágio, insurgese contra os lançamentos relativos à CSLL por entender inexistir previsão legal para isso e conclui o tópico reiterando a correção do procedimento. Sobre outra infração apontada pelo Fisco (glosa de despesas com pagamento de royalties), naquilo que restou mantido, pugna pela nulidade da decisão recorrida por ter “inovado no julgamento”, assumindo valores totalmente diferentes dos que apontados (erroneamente) pela Fiscalização. Se superado tal pedido, argumenta que os royalties pagos constituemse em despesas necessárias, usuais e normais à sua atividade e não se podem ser restringidas percentualmente pela Portaria MF nº 436/58, expurgada do mundo jurídico pela Constituição de 1988, devendose aplicar os limites fixados no caput do artigo 355, do RIR/1999, no caso, 5%. Contesta o lançamento de multa isolada, tema sobre o qual discorre longamente, assim como em relação à sua responsabilização por multas que tenham sido aplicadas em face de sua sucedida (Banco Citicard), entendendo que só responde por “tributos” e não por penalidades e que as empresas envolvidas não estavam sob o mesmo controle acionário (RV – fls. 2657). Finalizando, faz referência à compensação de prejuízos e de base de cálculo negativa de CSLL procedida pelo Fisco e combate a possível cobrança futura de juros sobre a multa de ofício, entendendoa ilegal. Devidamente cientificada do Recurso Voluntário interposto pelo recorrente, a PGFN não apresentou contrarrazões (fls. 2572). É o relatório do essencial, em apertada síntese. Fl. 2797DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.798 46 Voto Conselheiro Paulo Mateus Ciccone Relator O Recurso Voluntário é tempestivo, dotado dos pressupostos para sua admissibilidade e o recorrente está corretamente representado (fls. 2045/2049 e 2664/2667), de modo que o recebo e dele conheço. Já o Recurso de Ofício preenche os requisitos para sua provocação pela presidência da Turma Julgadora de 1º Piso, inclusive em relação ao novo limite de alçada fixado pela Portaria MF nº 63, de 2017 (R$ 2.500.000,00), de modo que igualmente o recebo e dele conheço. Prefacialmente, há que se apreciar as preliminares arguidas pelo recorrente, a primeira, nulidade da decisão da DRJ em razão de ausência de adequada fundamentação, por considerar que a Turma Julgadora teria se furtado de analisar os argumentos desenvolvidos na impugnação, “limitandose a transcrever o voto proferido pela 8ª Turma da DRJ/SPO no Acórdão nº 1641.677, relativo ao Processo Administrativo nº 16327.721657/201122, também referente à operação realizada”. Diz ainda o recorrente, “no caso concreto, além de a Turma Julgadora ter deixado de enfrentar, concretamente, os argumentos aduzidos (...) limitandose a copiar o voto proferido no Acórdão nº 1641.677 (infringindo, assim, o inciso IV do § 1º do artigo 489 do NCPC), acabou também por “invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão”, o que não pode ser admitido, nos termos do inciso III do § 1º do artigo 489 do NCPC”. Divirjo deste entendimento. É absolutamente corriqueiro e usual que decisões exaradas adotem trechos, excertos ou mesmo total e amplamente outras decisões, do mesmo ou outro tribunal ou colegiado, sem que isso possa inquinar o Acórdão de nulidade, desde que as razões de decidir se baseiem no rol de informações, argumentos e documentos presentes nos autos, como se vê no caso concreto. Assim fosse, milhares de decisões padeceriam do mesmo efeito anulatório. Na verdade, o que importa é o julgador ter se debruçado sobre as provas e documentos – como provavelmente ocorreu no presente caso – e exarar sua decisão que pode ser, ou não – de sua lavra pessoal ou repetindo texto que tenha entendido cabível e inerente ao caso tratado, ainda mais como nesta situação em que os fatos, a acusação, o sujeito passivo e os argumentos de defesa se repetem, apenas com alteração de anoscalendário. Nesse sentido, a Turma Julgadora de 1ª Instância exarou decisão na qual, certamente por entender pertinente ao que se apreciava – ao invés de redigir texto com o mesmo teor – a Relatoria preferiu assumir a parcialmente a dissertação desenvolvida por Relator de outro processo (do mesmo sujeito passivo, repitase), não significando, com isso, que não tenha ocorrido análise documental ou conceitual. Em outras palavras, por concordar com o teor daquela decisão anterior, assumiu, como razões de decidir, o que lá estava registrado. Fl. 2798DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.799 47 E, convenhamos, que diferença faria se, ao invés de adotar o voto de decisão anterior (com o qual concordou expressamente), tivesse a Relatoria de 1º Piso escrito a mesmíssima coisa em linguagem diferente na forma, mas integralmente igual na essência, ou seja, texto diferente no vocabulário, mas idêntico no conteúdo? Certamente nenhuma. E, acresçase, há previsão legal que dá suporte a este procedimento, no caso, o artigo 50, § 1º, da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 19991. Mais a mais, carece de razão o recorrente quando assenta que a decisão recorrida não apreciou argumentos novos e diferentes dos existentes no processo anterior (nº 16327.721657/201122). Para rebater tal assertiva, basta a singela compulsação da decisão recorrida (fls. 2475/2477) para se comprovar que a relatoria de 1º Grau analisou os argumentos “novos” trazidos pelo recorrente. Exemplificativamente (e só exemplificativamente): “5.1. Ainda quanto à primeira infração descrita no Relatório Fiscal (Termo de Verificação Fiscal – TVF) atinente à falta de adição ao lucro líquido na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL dos valores relativos à despesa de amortização de ágio – a impugnante apresenta três argumentos que, embora não tenham sido apresentados no P.A. 16327.721657/201122, foram de certa forma já rebatidos e o fundamento do voto apresentado naquele processo já estaria a rebatê los, embora não explicitamente. São eles os argumentos descritos nos parágrafos 3.3.4.e seguintes (Comprovação da Rentabilidade Futura no caso concreto: Legitimidade do Laudo Econômico); 3.3.5. e seguintes (Ausência de Cancelamento do Ágio na Operação de Cisão parcial da Tulipa); e 3.3.8. e seguintes (Ad Argumentandum. Da Consideração do Ágio Pago como Parte do Custo de Aquisição) do relatório supra. 5.1.1. Com relação ao argumento da autoridade fiscal exposto às fls. 1843/1844 (TVF) e contestado pela impugnante, quanto à falta de comprovação documental do fundamento econômico da rentabilidade futura da investida TULIPA (Laudo apresentado por CREDICARD/CITICARD avaliando o investimento que a Tulipa possuía em CREDICARD, que não atenderia às exigências do art. 385 do RIR/99). Repisese o que diz o art. 385 do RIR/99, que tem por supedâneo o art. 20 do Decreto Lei nº 1.598, de 1999: (...) 5.1.2. No que concerne à alegada Ausência de Cancelamento do Ágio na Operação de Cisão parcial da Tulipa, esta relatoria entende não caber razão à impugnante e acolhe integralmente o entendimento exposto pela autoridade fiscal no sentido de que, quando da cisão parcial da Tulipa, em 31/03/2006, com o cancelamento de suas quotas detidas pela Cannes, o ágio correspondente a esse patrimônio deveria também 1 Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: § 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. Fl. 2799DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.800 48 ter sido cancelado nos assentamentos contábeis e fiscais (parágrafos 2.8 a 2.9 do Relatório Fiscal TVF – fl. 1838), conforme a seguir transcrito: (...) 5.1.3. Também melhor sorte não socorre à impugnante com relação ao argumento apresentado, na hipótese de se considerar correta a glosa em apreço, no sentido de que fosse reconhecido o ágio pago como parte do custo do Investimento no Banco Citicard (considerar o Ágio Pago como Parte do Custo de Aquisição). Argumenta a impugnante que no momento em que o Banco Citicard foi alienado ao Grupo Itaú, o ágio pago na aquisição da Tulipa já havia sido integralmente amortizado pelo Banco Citicard e, assim, o ágio não teria sido considerado como custo para fins de apuração do ganho de capital auferido na alienação deste ao Banco Itaucard. (...) 5.2. Dessa forma, não merecem reparos as constatações e conclusões da autoridade fiscal, relativamente à primeira infração descrita no Relatório Fiscal (Termo de Verificação fiscal – TVF) atinente à falta de adição ao lucro líquido na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL dos valores relativos à despesa de amortização de ágio – anos 2009, 2010 e P.A. de 01 a 05/2011 (fls. 1818 a 1845), devendose manter integralmente o lançamento a esse título”. Pelo exposto afasto a preliminar de nulidade. Em relação à segunda preliminar, aquisição da Credicard para expansão das atividades de cartão de crédito pelo Citibank o tema será tratado no mérito. Finalmente, a terceira preliminar, que o recorrente nominou de “preclusão da possibilidade do Fisco questionar a legalidade dos atos societários que deram origem ao ágio”, nada mais é que a tentativa de aplicar a decadência aos lançamentos praticados. Em suma, diz ter transcorrido o lustro decadencial para que o Fisco perpetrasse os lançamentos. É pacífico no âmbito desta Turma que os efeitos de qualquer “reestruturação societária” só têm relevância a partir do momento em que haja reflexos tributários em função deste procedimento organizacional, no caso, nos anoscalendário de 2009, 2010 e 2011. Digase, somente se pode falar em contagem do prazo decadencial após a ocorrência dos fatos geradores, não importando a data da contabilização de fatos passados que possam ter repercussão futura. Nessa linha, inequívoco que o prazo decadencial somente tem início após a ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN), ou após o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido efetuado nas hipóteses do art. 173, I, do CTN, jamais do momento da “reorganização societária”, ato formal e de cunho societário, civil e comercial e que não traz, neste primeiro momento, qualquer reflexo na área fiscal. Em linguagem diferente, se o recorrente procedesse à dita “reorganização societária” que alega e tivesse apurado “ágio”, mantendoo em seu ativo, não o amortizando, não teria ocorrido o fato gerador ou infração à legislação tributária, de modo que não haveria que se falar em lançamento, consequentemente não haveria “prazo decadencial a fluir”. Fl. 2800DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.801 49 No caso da amortização do ágio, independentemente do ano em que o mesmo tenha sido gerado, o Fisco somente pode verificar a regularidade da dedução a partir do momento em que o sujeito passivo passa a deduzilo de seus resultados. Antes disso, não deflui qualquer prazo decadencial em relação ao direito do Fisco verificar a regularidade do lançamento por homologação realizado pelo Sujeito Passivo. Assim, ao examinar a dedução do ágio, incumbe ao Fisco examinar por completo as operações que lhe dariam suporte, ainda que ocorridas há mais de cinco anos da data em que o lançamento vier a ser efetuado. As mutações patrimoniais verificadas na contabilidade do sujeito passivo somente têm interesse fiscal e podem ser objeto de verificação pelo Fisco a partir do momento em que produzam efeitos nos resultados tributáveis apurados pelo sujeito passivo, como ocorre, por exemplo, na depreciação dos bens adquiridos para o ativo permanente. Somente após o registro das quotas de depreciação como despesas tem o Fisco o interesse na verificação de sua regularidade, independente da data em que tal bem tenha sido adquirido. Em suma, o prazo decadencial somente tem início após a ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN), ou após o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido efetuado nas hipóteses do art. 173, I, do CTN. Como se está diante de fatos geradores ocorridos em 2009, 2010 e 2011 e os lançamentos foram cientificados à contribuinte, optante pelo regime do Lucro Real anual, em 23/12/2014 (fls. 1900), não há que se falar em decadência. Precedentes deste Colegiado e desta 2º Turma da 4ª Câmara da 1ª Sejul mostram remansosa jurisprudência, dentre eles o Ac. Nº 1302002.152, relatoria do Conselheiro Fernando Brasil de Oliveira Pinto: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2006, 2007, 2008 DECADÊNCIA. FORMAÇÃO DE ÁGIO EM PERÍODOS ANTERIORES AO DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. INOCORRÊNCIA. É legítimo o exame de fatos ocorridos há mais de cinco anos do procedimento fiscal, para deles extrair a repercussão tributária em períodos ainda não atingidos pela caducidade. A restrição decadencial, no caso, voltase apenas à impossibilidade de lançamento de crédito tributário no período em que se deu o fato. O prazo decadencial somente tem início após a ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN), ou após o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido efetuado nas hipóteses do art. 173, I, do CTN. Ante ao exposto e tendo o lançamento sido realizado dentro do prazo decadencial previsto CTN, voto por rejeitar a preliminar de mérito relativa à decadência. Passo ao mérito, iniciando pela infração que deu origem ao recurso de ofício e que também compõe o rol argumentativo do recurso voluntário: GLOSA DE DESPESAS COM ROYALTIES Fl. 2801DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.802 50 Segundo o RF, o contribuinte teria contabilizado despesas com pagamento de royalties nos anoscalendário de 2009 e 2010 da ordem de R$ 43.517.457,12 e R$ 37.116.133,85, respectivamente, pelo uso da marca Diners Internacional, valores que, após a exclusão do IRRF recolhido sobre a remessa para o exterior e quando submetidos à comparação com o limite de dedutibilidade permitido (1% sobre a receita líquida obtida com a citada marca), implicaram em glosa dos estipêndios da ordem de R$ 35.271.928,66 e R$ 29.190.260,95 (unicamente em relação à base de cálculo do IRPJ, ou seja, sem incluir lançamentos de CSLL), conforme demonstrado no RF: A DRJ entendeu haver equívoco na apuração feita pelo Fisco, reduzindo tais valores aos montantes de R$ 3.074.412,16 (AC/2009) e R$ 3.623.863,03 (AC/2010), conforme excertos da decisão recorrida (fls. 2481): “6.5.1. Analisandose o conjunto de documentos acostados aos autos, bem como a descrição e análise dos fatos no Relatório Fiscal (TVF – fls. 1847 a 1851), concluise não restar explicitado o motivo pelo qual a autoridade fiscal considerou que os valores registrados na conta 8175700003 – SLACITI NORTH AM INC CNAINC são referentes a royalties pagos pelo uso da marca Diners (“O CITICARD registrou R$ 43.517.457,12 e R$ 37.116.133,85 na conta de despesa 8175700003 – SLACITI NORTH AM INC CNAINC, respectivamente nos anos de 2009 e 2010, referente aos royalties pagos pelo uso da marca Diners Internacional”). 6.5.2. Deste modo, não restando explicitado o motivo pelo qual a autoridade fiscal considerou, na apuração da glosa de receitas com Royalties – Diners, os valores da conta 8175700003 – SLACITI NORTH AM INC CNAINC e não os da conta 8194012621, "Despesa de Royalties DINERS", devese considerar procedente a reclamação da impugnante quanto ao alegado erro na apuração da glosa de Despesas de royalties cujo cálculo partiu de valores de despesa de R$ 43.517.457,12 (em 2009) e R$ 37.116.133,85 (em 2010). 6.5.3. Assim, devese apurar a glosa partindose de R$ 4.604.722,19 (em 2009 Doc. 04 – “Composição da Ficha 05B da DIPJ AC 2009 fl. 1686) e de R$ 5.136.130,46, (em 2010 conforme Demonstrativo de Composição da Ficha 05B da DIPJ 2011 – AC 2010 Arquivo não paginável – fl. 1693), valores atinentes à conta 8194012621, denominada “Despesa de Royalties DINERS”. Os valores pertinentes à “infração por inobservância do limite de dedução dos royalties” que devem ser adicionados na apuração do lucro real são: R$ 3.074.412,16 (AC 2009) e R$ 3.623.863,03 (AC 2010), conforme demonstrativo a seguir”: Fl. 2802DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.803 51 AnoCalendário 2009 2010 Despesas de RoyaltiesDiners 4.604.722,19 5.136.130,46 Conta 8194012621 () Limite para dedução de 1.530.310,03 1.512.267,43 Despesa Royalties (1%)* (=) Glosa Mantida 3.074.412,16 3.623.863,03 Em face desta desoneração, a DRJ, pela presidência da 8ª Turma, recorreu de ofício ao CARF. Antes de apreciar o citado recurso de ofício, imperioso ver, concomitantemente, a manifestação do recorrente em sede de recurso voluntário, posto que questionados os valores dos lançamentos naquilo que restaram mantidos. Aponta o contribuinte em sua peça recursal que a decisão recorrida teria “inovado no julgamento”, assumindo valores totalmente diferentes dos que apontados (erroneamente) pela Fiscalização, que tal procedimento é incompatível nesta fase julgamento e que se está diante de verdadeiro erro material, passível de nulidade. Se superado tal pedido, argumenta que os royalties pagos constituemse em despesas necessárias, usuais e normais à sua atividade e não se podem ser restringidas percentualmente pela Portaria MF nº 436/58, que entende expurgada do mundo jurídico pela Constituição de 1988, devendose aplicar os limites fixados no caput do artigo 355, do RIR/1999, no caso, 5%. Principio pelo recurso de ofício. A compulsação dos autos mostra a correção da decisão a quo. De fato, a Fiscalização tomou valores indevidos ou ao menos não consistentes que pudessem dar suporte aos lançamentos, impondo, como feito, seu expurgo. Nesta linha, mantenho a decisão recorrida e NEGO PROVIMENTO ao recurso de ofício. Já em relação ao recurso voluntário, no qual o recorrente pugna pela exoneração dos valores residuais líquidos mantidos (R$ 3.074.412,16 e R$ 3.623.863,03, respectivamente para 2009 e 2010), não faço a leitura que a defesa faz. Explico. Argumenta o recorrente que a decisão de 1º Piso teria inovado no julgamento, adotando outro critério jurídico. Não vejo assim. O que a decisão recorrida simplesmente fez foi ajustar – à verdade dos fatos e do que consta nos autos – os valores das infrações, corrigindo – favoravelmente à recorrente – os montantes indevidos tomados pelo Fisco. Vejase, não se está de uma nova tipificação legal, de outro enquadramento, de nova base de cálculo, de outros dados aleatoriamente obtidos, MAS, SIM, de números estampados nos autos e TRAZIDOS PELO PRÓPRIO RECORRENTE, ou seja, a Relatora da DRJ simplesmente conferiu dados presentes nos autos e os ajustou à verdade material. Nem mais, nem menos. Em outro dizer, não “inventou” números, não impingiu outra infração, não tomou outro viés que não constasse nos autos. Ou seja, apenas e tão somente assumiu a conta contábil efetiva e lá colheu os valores corretos. Não fez novo lançamento, não fez outro enquadramento. Todos esses requisitos já estavam nos autos e já constavam dos lançamentos originais. Simplesmente Fl. 2803DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.804 52 foram corrigidos os valores, como, aliás, desejado pelo próprio recorrente quando disponibilizou tais documentos ao Fisco. Nessa linha, não vislumbro qualquer nulidade por erro material, já que todos os requisitos do artigo 142 do Estatuto Tributário se mostraram presentes. Meros enganos de cálculo, quando presentes nos autos documentos, dados e informações que permitam sua correção, sem alteração na tipificação legal ou descrição dos fatos, não se revela como causa de nulidade. Alias, é justamente esta a linha dos acórdãos acostados pelo recorrente à sua defesa. Todos eles reportamse a vedações para “complementar a fundamentação legal”, criar novos “critérios de apuração e ou complementação da acusação fiscal, afora os utilizados pelo Fisco”, “alteração do fundamento do lançamento”, “inovação no lançamento que o aperfeiçoe”. Confirase os arestos juntados pelo recorrente em seu RV – fls. 2635. Ora, basta uma singela vista aos autos para se confirmar que nada disso ocorreu. Toda a motivação e os requisitos que geraram os lançamentos foram mantidos in totum. Apenas os valores foram postos no devido patamar de regularidade, aliás, partindo de dados informados pelo próprio recorrente. Assim, rejeito, neste aspecto, os dizeres do recurso voluntário. Resta ver o reclamo da defesa de que, vencida a questão da nulidade aventada, os royalties pagos constituirseiam em despesas necessárias, usuais e normais à sua atividade, sendo impossível restringilas ao percentual fixado pela Portaria MF nº 436/58, já que expurgada do mundo jurídico pela Constituição de 1988, devendose aplicar os limites fixados no caput do artigo 355, do RIR/1999, no caso, 5%. Ao revés do entendimento do recorrente, este Relator entende que referida Portaria encontrase em plena vigência ainda mais porque se vincula diretamente ao próprio Regulamento do Imposto de Renda (Decreto nº 3.000/1999), de observância obrigatória pelos julgadores administrativos: Art. 355. As somas das quantias devidas a título de royalties pela exploração de patentes de invenção ou uso de marcas de indústria ou de comércio, e por assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante, poderão ser deduzidas como despesas operacionais até o limite máximo de cinco por cento da receita líquida das vendas do produto fabricado ou vendido (art. 280), ressalvado o disposto nos arts. 501 e 504, inciso V (Lei nº 3.470, de 1958, art. 74, e Lei nº 4.131, de 1962, art. 12, e Decreto Lei nº 1.730, de 1979, art. 6º). § 1º Serão estabelecidos e revistos periodicamente, mediante ato do Ministro de Estado da Fazenda, os coeficientes percentuais admitidos para as deduções a que se refere este artigo, considerados os tipos de produção ou atividades reunidos em grupos, segundo o grau de essencialidade (Lei nº 4.131, de 1962, art. 12, § 1º). Ora, pareceme inquestionável que este colegiado não pode deixar de aplicar dispositivo expresso do RIR/99, em plena vigência e lastreado em lei (Lei nº 4.131, de 1962, art. 12, § 1º) e tampouco questionar sua legalidade. Seria adentrar segmento de exclusiva alçada do Poder Judiciário, procedimento vedado ao julgador administrativo. Fl. 2804DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.805 53 Fixado tal coeficiente em 1% (obedientemente à regra estampada no § 1º, do artigo 355, retro transcrito) e aplicado sobre a receita líquida obtida com o uso da marca DINERS, estando esta apurada na forma definida pelo artigo 280 do RIR/19992, a decisão recorrida não merece reparos e deve ser mantida. Por fim, e como corolário do que se expôs, vejase, como bem observado pela decisão recorrida, que em 1994, seis anos após a promulgação da Constituição de 1988, foi baixada Portaria pelo então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso na qual se faz EXPRESSA referência à questionada Portaria MF nº 436/1958, mostrando sua plena vigência. Leiase: GABINETE DO MINISTRO PORTARIA nº 60, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1994 O MINISTRO DA FAZENDA, no uso de suas atribuições legais, tendo em vista o disposto no art. 50 da Lei n° 8.383, de 30 de dezembro de 1991 e na Portaria n° 303, de 25 de novembro de 1959, resolve: Art. 1° Incluase no 2° Grupo Indústrias de Transformação Essenciais, da Portaria MF n° 436, de 30 de dezembro de 1958, o seguinte item: Tipos de Produção Percentagem 14 INDÚSTRIA DE INFORMÁTICA, AUTOMAÇÃO E INSTRUMENTAÇÃO 01 Máquinas, equipamentos, aparelhos, instrumentos e dispositivos baseados em técnica digital ou analógica com funções técnicas de coleta, tratamento, estruturação, armazenamento, comutação, recuperação e apresentação da informação, seus respectivos insumos eletrônicos e optoeletrônicos, partes, peças e suporte físico para operação, bem como conjuntos de atualização tecnológica e otimização de desempenho 5%. Art. 2° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (D.O.U. de 04/02/1994) Como consideração final, não se nega que as despesas com pagamento de royalties possam ser usuais, normais e necessárias, como suscitado pelo recorrente, nem que façam parte do diaadia da empresa. Ocorre que entre a despesa ser assim considerada para fins contábeis, comerciais e societários e sua dedutibilidade perante o IRPJ há regramentos que devem ser obedecidos, no caso, a limitação percentual fixada na Portaria MF nº 436/1958 (conforme permissivo do artigo 355, § 1º, do RIR/1999), significando dizer que só o montante apurado após a aplicação deste limite é que será dedutível. Deste modo, em relação a este item, NEGO PROVIMENTO ao recurso voluntário. DAS DEMAIS MATÉRIAS TRATADAS NO RECURSO VOLUNTÁRIO DAS DESPESAS COM ÁGIO 2 Art. 280. A receita líquida de vendas e serviços será a receita bruta diminuída das vendas canceladas, dos descontos concedidos incondicionalmente e dos impostos incidentes sobre vendas (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 12, § 1º). Fl. 2805DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.806 54 Preliminarmente, há que se recordar que o presente processo trata de procedimento fiscal inicialmente desenvolvido em face do contribuinte Banco Citicard S/A, CNPJ nº 34.098.442/000134, relativamente aos anoscalendário de 2006, 2007 e 2008 (Processo nº 16327.721657/201122) e, subsequentemente, contra o sujeito passivo Banco Itaucard S/A, CNPJ nº 17.192.451/000170 (Processo nº 16327.721329/201479), caso destes autos, dizendo respeito aos períodos de 2009, 2010 e 2011 (até o mês de maio), como consequência da incorporação do primeiro pelo segundo em 2014, o que levou a que os lançamentos fossem perpetrados contra este último. Deste modo, abstraindo infrações pontuais presentes nestes autos e não incluídos no processo de 2011, as irregularidades têm a mesma conformação, especialmente a que diz respeito ao “ágio” aproveitado pelo recorrente para reduzir as bases imponíveis de IRPJ e de CSLL. Pois bem, em relação a esta infração imputada pelo Fisco (despesas com aproveitamento de ágio), presente em ambos os processos, há precedente recentíssimo desta mesma Turma Julgadora, sessão de 06/04/2016, em face do mesmo sujeito passivo, ainda antes de ser incorporado, relatoria do I. Conselheiro Fernando Brasil de Oliveira Pinto, oportunidade em que o Colegiado, em composição bem semelhante à atual, decidiu, por maioria de votos, negar provimento ao recurso voluntário neste aspecto e manter a decisão recorrida. Por compor o Colegiado naquela oportunidade e ter acompanhado o Relator em seu voto e principalmente por concordar, in totum, com os brilhantes argumentos ali expendidos, tomo a liberdade, ainda que isso possa causar frisson na defesa do recorrente, de adotar, integralmente e como razões de decidir, como se da minha própria lavra fosse, o voto condutor daquele processo (Acórdão nº 1402002.152), verbis: “Conforme relatado, tratase de lançamento de IRPJ e CSLL sobre amortização de ágio. A Recorrente alega que a operação que gerou o ágio fez parte de estratégia do grupo empresarial que desejava adquirir a totalidade da operação do CREDICARD no Brasil – investimento anteriormente detido, em partes iguais, por ITAUCARD, TULIPA (de propriedade de UNIBANCO, posteriormente sucedido por ITAÚ) e FHL (de propriedade de CITIBANK). Não se trataria, contudo, de mera aquisição do negócio de cartões de créditos a ser agregado às operações do grupo CITIBANK, mas sim a segregação de operações com cartões de crédito oferecidos a não clientes bancários da própria instituição financeira. Assim, a aquisição de CREDICARD teria se dado no bojo de tal planejamento empresarial. Para tanto, a empresa COIC, situada nos Estados Unidos da América, controladora integral do CITIBANK no Brasil, e o próprio CITIBANK, em 25/11/2004 constituíram a empresa CANNES, no Brasil, cada um integralizando 50% de seu capital social. Em tal aquisição é que houve a formação do ágio posteriormente amortizado pelo recorrente, matéria em que se funda a presente exigência. Quatro dias após (29/11/2004), CANNES adquiriu 50% de TULIPA (que então detinha 1/3 das ações de CREDICARD). Fl. 2806DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.807 55 Passados cerca de 14 meses (31/03/2006), TULIPA foi cindida parcialmente, vertendo 50% de seu patrimônio para SAINT TROPEZ. As ações de SAINT TROPEZ foram todas entregues ao controle de CANNES, enquanto coube ao ITAÚ (então sucessor de UNIBANCO), manter o restante das ações de TULIPA. Nesse momento, tanto TULIPA, quanto SAINT TROPEZ possuíam 1/6 das ações de CREDICARD. Em curto período de tempo – 30 dias, mais precisamente em 30/04/2006 – houve incorporação reversa de CANNES por SAINT TROPEZ, possuidora, em tal data, de 1/6 das ações de CREDICARD. Por oportuno, ressalto que CANNES é que havia realizado a aquisição, com ágio, de 50% das ações de TULIPA, então detentora de 1/3 das ações de CREDICARD. No momento da incorporação reversa, o ágio contabilizado por CANNES na aquisição de TULIPA passou a compor o ativo de SAINT TROPEZ. Ainda na mesma data, SAINT TROPEZ também foi cindida parcialmente, tendo sido vertidas para NICE as ações, e o respectivo ágio, de emissão de CREDICARD. A controladora do grupo no exterior – COIC – passou a deter as quotas de Nice, enquanto SAINT TROPEZ passou a ser controlada integralmente por CITIBANK (BANCO). Nesse momento, era a seguinte a composição acionária de CREDICARD: ITAUCARD (ITAÚ) e FHL (CITIBANK) possuíam cada uma 1/3 das ações, e tanto TULIPA (ITAÚ) quanto NICE (CITIBANK) possuíam 1/6 das ações. No mesmo dia (30/04/2006) CREDICARD foi cindida parcialmente, com versão da parcela cindida para Banco Itaú Cartões S/A. Desse modo, o controle da Credicard (antiga denominação da Recorrente) passou a ser exercido pelo GRUPO CITIBANK. A tal época, NICE passou a deter 1/3 das ações de CREDICARD, enquanto FHL detinha o restante das ações (2/3). Depois de um mês (30/05/2006), a controladora do grupo no exterior – COIC efetuou a conferência das quotas da Nice para a CITIBANK CARTÕES. Desse modo, CITIBANK CARTÕES passou a ser controladora de Nice. Segundo a Recorrente, nesse momento, com a inclusão da CITIBANK CARTÕES no quadro societário de CREDICARD, teria sido concretizado o planejado desde o início pelo Grupo Citibank: atingir a estrutura necessária para a administração das atividades de cartões de crédito independente das demais atividades operacionais do Grupo. Um dia depois (31/05/2006), houve nova incorporação reversa, dessa vez entre NICE e CREDICARD, ocasião em que o ágio originalmente detido por CANNES na aquisição das ações de TULIPA (depois transferido a SAINT TROPEZ, e mais tarde à NICE), veio a compor o ativo de CREDICARD. Nesse momento, CITIBANK CARTÕES detinha 1/3 das ações de CREDICARD, enquanto o restante delas permanecia em poder de FHL (CITIBANK). Fl. 2807DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.808 56 Em razão da incorporação de NICE por CREDICARD, houve o aumento de capital desta em R$ 45.739.592,43, levando à emissão de 6.468.888 ações ordinárias nominativas, distribuídas proporcionalmente à participação no então capital de NICE, resultando em uma participação, em CREDICARD, de 58,59% para FHL e 41,41% para CITIBANK CARTÕES. Ao término de mais sete meses (31/12/2006), FHL foi também incorporada por sua investida Credicard. Tal reestruturação implicou novo desenho societário do grupo, sendo que a controladora no exterior (COIC), além de deter 100% das ações de CITIBANK CARTÕES, passou a deter 3/5 das ações de CREDICARD, enquanto os outros 2/5 das ações eram detidos pelo próprio CITIBANK CARTÕES. A partir de então, CREDICARD (atualmente BANCO CITICARD, Recorrente) passou a amortizar fiscalmente as parcelas do ágio pago por CANNES na aquisição de participação em TULIPA. Para a Recorrente, não existiria restrição legal para a transferência do ágio, que deveria acompanhar o investimento. De igual modo, a utilização das empresas consideradas veículo, tanto pela autoridade fiscal, quanto pela turma julgadora de primeira instância, em nada alteraria a possibilidade de amortização do ágio, até mesmo porque o ágio em questão havia sido efetivamente pago, gerado em negócio entre partes independentes e baseado em laudo idôneo. Além disso, a utilização de tais empresas na operação não teria gerado ágio novo, bem como restaria justificada por propósitos negociais devidamente comprovados nos autos. Entendo não assistir razão à Recorrente. A meu ver, independentemente do desenho das operações e dos eventuais propósitos negociais na utilização de empresas veículo, não havendo extinção do investimento adquirido com ágio mediante confusão patrimonial entre investida e investidora, não há que se falar em dedutibilidade do ágio. Desde o julgamento do processo nº 16561.720026/201113 (“Caso Bunge” – acórdão nº 1402001.460), no qual fui designado redator do voto vencedor, esta turma, ainda que por voto de qualidade, passou a adotar tal posicionamento. Fixouse o entendimento que, em regra, o ágio efetivamente pago em operação entre empresas não ligadas e calcadas em laudo que comprove a expectativa de rentabilidade futura deve compor o custo do investimento, sendo dedutível somente no momento da alienação de tal investimento (inteligência do art. 426 do Decreto nº 3.000/99 Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99). A amortização do ágio seria exceção. Por decorrência, incluiuse nova premissa para que a amortização do ágio por rentabilidade futura fosse possível, qual seja, a extinção do investimento em razão da absorção do patrimônio da investidora pela investida, ou viceversa, conforme prevê o art. 386, e seu inciso III, do RIR/99. Fl. 2808DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.809 57 Naquele caso a hipótese ainda tratava da utilização de empresa veículo cujo único objetivo foi possibilitar, mediante reestruturação societária meramente artificial e formal, a amortização do ágio. No presente caso, para seu deslinde, basta a análise de elemento fundamental para que o ágio pudesse ser amortizado, qual seja, que investida e investidora passassem a ser uma única pessoa jurídica, o que jamais ocorreu no caso concreto. Isso porque tendo CANNES adquirido 50% das ações de TULIPA com ágio, somente haveria se falar em amortização de tal ágio se CANNES e TULIPA passassem a ser uma única empresa. Conforme já salientado, tal reestruturação não foi levada a efeito. TULIPA foi cindida parcialmente, vertendo parcela de seu patrimônio para uma nova empresa (SAINT TROPEZ). A cisão efetivamente ocorrida se deu entre CANNES e SAINT TROPEZ. Esta, posteriormente, realizou nova cisão parcial, criando NICE, que futuramente por incorporada por CREDICARD (Recorrente), que passou a amortizar o ágio. Conforme venho explanando em meus votos, não se pode confundir o direito a contabilização do ágio com as condições para amortização em termos fiscais. Vejamos, com base no Decreto nº 3.000, de 1999 (RIR/99), a legislação que rege a matéria: Amortização do Ágio ou Deságio Art.391. As contrapartidas da amortização do ágio ou deságio de que trata o art. 385 não serão computadas na determinação do lucro real, ressalvado o disposto no art. 426 (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 25, e Decreto Lei nº1.730, de 1979, art. 1º, inciso III). Parágrafo único. Concomitantemente com a amortização, na escrituração comercial, do ágio ou deságio a que se refere este artigo, será mantido controle, no LALUR, para efeito de determinação do ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação do investimento (art. 426). [grifo nosso] Avaliado pelo Valor de Patrimônio Líquido. Art.426. O valor contábil para efeito de determinar o ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor de patrimônio líquido (art. 384), será a soma algébrica dos seguintes valores (DecretoLei nº1.598, de 1977, art. 33, e DecretoLei nº1.730, de 1979, art. 1º, inciso V): I – valor e patrimônio líquido pelo qual o investimento estiver registrado na contabilidade do contribuinte; II – ágio ou deságio na aquisição do investimento, ainda que tenha sido amortizado na escrituração comercial do contribuinte, excluídos os Fl. 2809DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.810 58 computados nos exercícios financeiros de 1979 e 1980, na determinação do lucro real; III – provisão para perdas que tiver sido computada, como dedução, na determinação do lucro real, observado o disposto no parágrafo único do artigo anterior. [grifos nossos] Constatase, assim, que, em regra geral, o ágio deverá ser ativado e utilizado como custo somente no momento da alienação do investimento, obviamente se essa vier a ocorrer, o que, frisese, não há qualquer notícia de que tais alienações tenham ocorrido no caso concreto. Nesse sentido, compulsando os autos, percebese claramente que os investimentos realizados, e adquiridos com ágio, comporiam o ativo da Recorrente, provavelmente, por tempo indeterminado, haja vista a continuidade das operações antes realizadas pelas investidas em novas empresas, segregadas de acordo com o ramo de atividade a que se dedicavam e, ao que tudo indica, ainda se dedicam, com exceção da hipótese de fechamento de capital. A artificialidade da operação foi justamente buscar o contorno de tais normas imperativas, que impunham a ativação do ágio, buscando posicionar a Recorrente diante de normas de contorno, quais sejam, o art. 386, III, e seu § 6º, II, do RIR/99, transcritas a seguir, mediante operações societárias meramente com fins fiscais: Art.386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): [...] III – poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do §2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; [...] §6º O disposto neste artigo aplicase, inclusive, quando (Lei nº 9.532, de 1997, art. 8º): [...] II – a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. [grifos nossos] Isso porque o fato de a formação do ágio ter cumprido os requisitos legais estabelecidos, em especial aqueles em que essa turma firmou entendimento necessários (o efetivo pagamento do custo total de aquisição, inclusive o ágio; a realização das operações originais entre partes não ligadas; seja demonstrada a lisura na avaliação da empresa adquirida, bem como a expectativa de rentabilidade futura), não possui o condão de permitir que a regra geral seja desrespeitada, qual seja, o ágio deverá compor o custo do investimento para fins de apuração de Fl. 2810DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.811 59 ganho de capital em eventual alienação (inteligência do art. 391 c/c art. 426, II, ambos do RIR/99). Nessa senda, para que o ágio com fundamento em rentabilidade futura possa compor o resultado do período, o regulamento do imposto de renda impõe ou a alienação do investimento – nesse caso, na forma de custo de aquisição, ou mediante amortização, desde que haja incorporação, fusão ou cisão entre investidora e investida (art. 386, caput e inciso III), ainda que de forma reversa (art. 386, § 6º, II). Ocorre, volto a frisar, que tal fato jamais ocorreu no caso sob exame. A transferência do ágio a uma terceira pessoa jurídica não possui qualquer previsão legal. Com exceção de a operação em comento não ter sido realizada no âmbito dos programas de desestatização levada a efeito durante a década de 1990, e independentemente da exigência ou não de propósitos negociais na utilização de empresas veículos, tal caso é muito similar ao do caso TIM julgado neste colegiado na sessão de 26 de novembro de 2014 (acórdão nº 1402001.876). Naquela oportunidade, assim resumi o entendimento sobre o tema: inexistindo extinção do investimento mediante real reestruturação societária entre investida e investidora não há que se falar em amortização do ágio, não se admitindo sua transferência para terceiros para que usufruam de tais despesas. E essa é a posição que mantenho para o presente julgado, motivo mais do que suficiente para negar provimento ao recurso em relação ao tema. O argumento de que, supostamente, o desenho da operação, se realizado de outras maneiras, poderia ter possibilitado a amortização do ágio ainda que tal estruturação fosse possível não me sensibiliza, pois há de se analisar os fatos tais quais ocorreram, e não, como, hipoteticamente, poderiam ser sido realizados. Além disso, há motivo complementar que justifica a manutenção da infração. A PGFN em suas contrarrazões3 se manifesta respeito da necessidade de cancelamento do ágio junto com a extinção do investimento que lhe deu origem. Tal argumentação procede. Já que houve o cancelamento das ações de TULIPA pertencentes à CANNES quando da cisão parcial da primeira (CANNES recebeu em troca ações de SAINT TROPEZ), o ágio, sendo acessório do principal, deveria também ter sido cancelado. Nesse aspecto, novamente, com a devida vênia, devem ser transcritas as conclusões da PGFN sobre a matéria: 3 Ainda que a PGFN não tenha se manifestado expressamente nestes autos, entendo que as razões expendidas no Processo nº 16327.721657/201122, por envolverem os mesmos fatos, a mesma acusação e o mesmo contribuinte são inteiramente aplicáveis ao caso concreto, por isso igualmente adotadas neste voto. Fl. 2811DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.812 60 “De fato, é incontroverso na presente lide que o ágio amortizado e deduzido pelo contribuinte decorre da aquisição de 50% das quotas da TULIPA pela CANNES, ocorrida no dia 29/12/2004. Em face dessa operação, portanto, a CANNES registrou um investimento na TULIPA no valor de R$ 1.583.095.269,58, o .de R$ 743.436.029,47 foi contabilizado como ágio decorrente da diferença entre o custo de aquisição e o valor de patrimônio líquido (R$ 839.659.240,11). Ato contínuo, em 31/03/2006, houve a cisão parcial da TULIPA. Em decorrência dessa cisão parcial, a parcela da TULIPA adquirida pela CANNES foi vertida à empresa SAINT TROPEZ pelo seu valor de patrimônio líquido (R$ 1.035.438.783,44). Assim, a TULIPA cancelou as 821.000.583 quotas que a CANNES detinha no valor total de R$ 1.583.095.269,48, e a SAINT TROPEZ emitiu a mesma quantidade de quotas no valor de R$ 821.000.583,001 (embora o valor de patrimônio líquido fosse maior). Contudo, mesmo as quotas que detinha da TULIPA tendo sido canceladas, a CANNES permaneceu registrando tal investimento em sua contabilidade, assim como o respectivo ágio. Ou seja, a CANNES registrou o investimento que detinha na SAINT TROPEZ pelo seu valor de patrimônio líquido (e sem qualquer ágio ou deságio), o investimento sobre a TULIPA e o correspondente ágio. Nesse diapasão, registrase o seguinte trecho do Livro Razão da CANNES com data base de 30/04/2006 (ou seja, quase um mês após a cisão parcial da TULIPA): Fl. 2812DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.813 61 Encerrando o caminho percorrido pelo ágio correspondente à aquisição da TULIPA, em 30/04/2006 ele é transferido a SAINT TROPEZ em face da incorporação da CANNES por essa empresa. Nessa mesma data ele é transferido à empresa NICE em razão da cisão parcial a SAINT TROPEZ. E, por fim, em 31/05/2006 é absorvido pelo CREDICARD por meio da incorporação da NICE por esse banco, o qual passa a amortizálo e deduzilo tributariamente. A fim de demonstrar a ausência de controvérsia sobre o caminho percorrido pelo ágio pago pela CANNES quando da aquisição da TULIPA, destacamse os seguintes trechos do recurso voluntário: [aquisição de 50% das quotas da TULIPA pela CANNES] Na operação em comento, Cannes adquiriu 821.000.583 quotas, no valor total de R$ 821.000.583,00, registrando nessa operação um ágio de R$ 743.436.029,47, conforme atesta o balanço da Cannes de 31/12/2004. Apontese que, como bem reconhece a Autoridade Fiscal (tópico 1, item 1.44 do TVF), foi nesta operação que se registrou o ágio sob análise, no presente processo administrativo, pela primeira vez. (... ) [incorporação da CANNES pela SAINT TROPEZ] Destarte, com essa operação, o ágio que estava contabilizado na Cannes em virtude da aquisição de 50% das quotas da Tulipa passou a ser registrado pela Saint Tropez. (... ) [cisão parcial da SAINT TROPEZ e versão para a NICE] A referida parcela cindida corresponde ao investimento da Saint Tropez na Credicard, bem como o ágio pago pela Cannes na aquisição de participação na Tulipa (transferência do ágio por sucessão em virtude de cisão). (...) [incorporação da NICE pelo CREDICARD] Após a incorporação da Nice, o Recorrente (atual denominação de Credicard) passa a amortizar fiscalmente as parcelas do ágio pago pela Cannes na aquisição de participação na Tulipa. Fl. 2813DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.814 62 Vêse, assim, que o recorrente confirma que, embora as quotas que a CANNES detinha da TULIPA tenham sido canceladas em 31/03/2006, com a cisão parcial dessa segunda empresa, o ágio relativo a tal aquisição se perpetuou de forma independente. Pois bem, descrito o suporte fático, partese à aplicação do direito. [...] [...] o ágio deveria ter sido cancelado junto com o investimento que lhe deu causa. Em termos contábeis, tributários e societários, tendo havido a extinção do investimento por cisão, não há como o correspondente ágio permanecer existindo de forma autônoma, ainda que tal "mais valia" tenha sido paga com base em uma parcela do investimento que permaneceu sob o poder do investidor. Por certo, o registro de um ágio decorre do método da equivalência patrimonial (MEP), segundo o qual o preço de aquisição de uma participação societária deve ser desdobrado entre o valor de patrimônio líquido da participação, e o ágio ou deságio. Assim, o registro de um ágio é um aspecto acessório do custo de aquisição de um investimento, o qual é o registro principal. Por essa razão, inclusive, que o parágrafo 1° do artigo 385 do RIR/99 estabelece que "o valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento". Portanto, sendo um registro de natureza acessória, a sorte do ágio deve sempre seguir a sorte do investimento que lhe deu origem. Sendo o investimento alienado ou extinto por qualquer razão, o correspondente ágio também deverá ser cancelado. Em face do cancelamento da conta principal do investimento, não haverá como registrar a correspondente subconta. Como única exceção à regra acima descrita, temse a autorização contida no artigo 386 do RIR/99, pela qual o ágio permanece existindo mesmo com a extinção do investimento que lhe deu causa. Contudo, não se deve olvidar que a referida norma trata de casos onde há a confusão patrimonial entre investimento e investidor, ou seja, onde não há a efetiva extinção do investimento, apenas a confusão de patrimônios. Nesse esteio, o artigo 386 cria uma hipótese de presunção de extinção do investimento adquirido com a manutenção do ágio. No caso em apreço, vale ressaltar, a situação é diversa daquela prevista no artigo 386. Ao contrário do que tal norma prevê, a CANNES não absorveu o patrimônio cindido da TULIPA a fim de justificar a Fl. 2814DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.815 63 presunção de que o investimento foi extinto. A CANNES substituiu um investimento que tinha (50% das quotas da TULIPA) por outro (100% das quotas da SAINT TROPEZ).Portanto, na situação em testilha, o artigo 386 não poderia ser aplicado para justificar a manutenção do registro ágio. Dessa forma, retornando a presente lide, vêse que, a sorte do ágio registrado pela CANNES deveria ter seguido a sorte das quotas da TULIPA adquiridas por aquela empresa. Uma vez as quotas da TULIPA tendo sido canceladas do patrimônio da CANNES, o respectivo ágio deveria também ter sido cancelado. Não há qualquer justificativa contábil, societária e tributária para que a CANNES permaneça registrando um ágio cuja participação societária que lhe deu origem foi cancelada por cisão da empresa. Tal como defende o recorrente que o ágio deve seguir o investimento que lhe deu ensejo, no presente caso, o ágio relativo à aquisição da TULIPA deve seguir tal empresa. Portanto, tendo 50% de seu patrimônio sido extinto e vertido para outra empresa, o ágio relativo a essa aquisição deixou de existir, pois essa parcela do patrimônio deixou de ser da TULIPA. Ademais, um outro aspecto que deixa o registro adotado pelo contribuinte ainda mais confuso, é o fato de a CANNES, mesmo tendo mantido o registro do investimento que detinha sobre a TULIPA com o respectivo ágio, ter também registrado o investimento sobre a SAINT TROPEZ. Ou seja, com a cisão parcial da TULIPA, a CANNES registrou em duplicidade o mesmo investimento, e manteve o ágio com relação ao investimento que fora extinto. Mas, o que teria levado a CANNES a manter o registro do ágio reativo à aquisição da TULIPA? Por que ela não transformou esse ágio referente a TULIPA em ágio referente a SAINT TROPEZ? Porque, quando do registro contábil do investimento na SAINT TROPEZ, a CANNES apurou deságio. Com efeito, tal como ressaltado anteriormente, o patrimônio da TULIPA fora vertida a SAINT TROPEZ pelo seu valor de patrimônio líquido (R$ 1.035.438.783,44). Contudo, esse montante era superior ao valor das quotas da SAINT TROPEZ registradas pela CANNES (R$ 821.000.583,00). Dessa forma, pelo MEP, a CANNES deveria ter registrado um deságio em face da aquisição das quotas da SAINT TROPEZ no valor de R$ 214.438.200,44. Destarte, demonstrase que, além da alegada transferência do ágio ser impossível em face dessa "mais valia" ter sido extinta junto com o cancelamento do Fl. 2815DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.816 64 investimento que lhe deu origem, o ágio registrado pela CANNES em face da cisão parcial da TULIPA deveria ser, na verdade, um deságio. Portanto, se houve alguma transferência até o CREDICARD, não foi de um ágio para ser deduzido, mas sim de um deságio para ser tributado. Diferente seria se, com a cisão parcial da TULIPA, a CANNES tivesse cancelado por completo o investimento que detinha nessa empresa, e registrado a participação societária da SAINT TROPEZ pelo seu valor de mercado pautado em novo laudo. Caso a CANNES tivesse assim procedido, ela teria segregado o custo de aquisição de 100% das quotas da SAINT TROPEZ no valor de patrimônio líquido dessa empresa e em um novo ágio. Diante dessa hipótese, não se estaria discutindo a impossibilidade de transferência do ágio em face da sua extinção junto com o investimento que lhe deu origem, mas sim a possibilidade, propriamente dita, da "mais valia" ser transferida. Por fim, destacase que eventual alegação de que o ágio pago se refere ao CREDICARD, e não a TULIPA, não é hábil a justificar a manutenção do registro dessa "mais valia" após a cisão parcial da TULIPA. Com efeito, como já explicado no item anterior, a CANNES em nenhum momento adquiriu diretamente qualquer participação societária do CREDICARD. Portanto, não haveria como a CANNES registrar um ágio relativo ao CREDICARD em face da aquisição da TULIPA, e mantê lo após a extinção dessa última empresa. Contabilmente, isso também seria impossível. Sendo assim, em face do exposto, mostrase a indedutibilidade do ágio absorvido pelo CREDICARD quando da incorporação da NICE uma vez que essa "mais valia" fora extinta quando da cisão parcial da TULIPA. Por certo, não havendo como a CANNES ter mantido o registro do referido ágio após a cisão da TULIPA, a "mais valia" não poderia ter sido transferida até o CREDICARD”. Em relação à dedutibilidade de tais valores da base de cálculo da CSLL, outra não sorte não merece a irresignação da Recorrente. A CSLL tem como base de cálculo o lucro líquido do período com os ajustes determinados na respectiva legislação. Neste sentido, determinam os artigos 248 e 277, ambos do RIR/99: Art. 248. O lucro líquido do período de apuração é a soma algébrica do lucro operacional, dos resultados não operacionais, e das participações, e deverá ser determinado com observância dos preceitos da lei comercial (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 6º, § 1º, Fl. 2816DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.817 65 Lei nº 7.450, de 1985, art. 18, e Lei nº 9.249, de 1995, art. 4º). Art. 277. Será classificado como lucro operacional o resultado das atividades, principais ou acessórias, que constituam objeto da pessoa jurídica (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 11). O lucro operacional é, pois, o resultado do confronto das receitas operacionais com as despesas operacionais. Assim, determina o artigo 299/99: Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º). Da interpretação sistemática destes dispositivos, extraise que somente poderão reduzir o lucro líquido, as despesas operacionais que preencham os requisitos previstos no artigo 299, acima transcrito, quais sejam, as despesas necessárias. Não se trata de aplicação de analogia, mas sim, de considerar que o dispêndio que violam as regras de dedutibilidade do IRPJ, não pode reduzir o lucro líquido que, também, é a base de cálculo da CSLL, com os ajustes previstos na sua legislação específica. Ainda que se considere que as despesas em questão, no presente caso, tenham natureza não operacional, cabe lembrar que, o que os torna indedutíveis também da base de cálculo da Contribuição Social é o próprio conceito de resultado do exercício apurado com observância da legislação comercial. A escrituração contábil, pela qual se apura o resultado do exercício, ponto de partida para se chegar à base de cálculo tanto do IRPJ como da CSLL, deve observar postulados e princípios contábeis. Conforme impõe o Princípio da Entidade, um dispêndio produzido de forma equivocada não deve estar na contabilidade. Em outras palavras, a contabilização de despesas inexistentes implica inobservância do princípio contábil da entidade, devendo ensejar, também por esta razão, a sua glosa, afetando, portanto, a base de cálculo do IRPJ e também da CSLL. Os dispêndios glosados afetam o próprio resultado do exercício e, consequentemente, também a base de cálculo da Contribuição Social, Fl. 2817DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.818 66 como definida no art. 2º da Lei 7.689, de 1988, com as alterações do art. 2º da Lei 8.034, de 1990. Além disso, o art. 13 da Lei nº 9.249/951, quando trata das despesas indedutíveis das bases de cálculo de IRPJ e de CSLL, é taxativo ao dispor que tais vedações de dedutibilidade se aplicam independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.502/64, justamente a base legal do art. 299 do RIR/99. Assim, dada a relação de causa e efeito entre as glosas efetuadas para fins de apuração do lucro real e da CSLL, voto por negar provimento ao recurso também em relação a tal matéria”. Pelas razões aduzidas, encaminho meu voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário nesta parte (dedução do ágio das bases imponíveis de IRPJ e de CSLL). DA MULTA POR SUCESSÃO Em longa exposição, o recorrente pondera ser impossível impor à sucessora as multas exigidas nos autos de infração aqui apreciados, visto que não ter sido ela que cometeu “o suposto ato infracional (...) mas sua sucedida por incorporação (Banco Citicard)”. (RV – fls. 2653). Indo mais além, reclama que a decisão recorrida interpretou equivocadamente a legislação tributária de regência, que o artigo 132 do CTN literalmente dispõe que a sucessora responde tão somente pelos tributos devidos até a sucessão, aí não se incluindo as multas, que deve ser averiguado o momento em que tal penalidade foi constituída, que “a deliberação sobre a incorporação do Banco Citicard ocorreu em 31/08/2014, enquanto que as multas de ofício e isoladas foram lançadas em 22/12/2014 (...), portanto, não há que se manter a cobrança das multas punitivas em razão de não ser cabível tal penalidade à sucessora por incorporação”. (RV fls. 2656). Não coaduno com o pensamento do recorrente. É verdade que o tema, controvertido na essência, foi gerador de muitas discussões, especialmente se o artigo 132, com sua interpretação literal de que a responsabilidade do sucessor atingiria apenas os tributos (e não as penas) se sobreporia aos ditames do artigo 129, ambos do CTN, que, ao revés do dispositivo anteriormente citado, faz referência a “créditos tributários”, conceituação que, por força do artigo 113, abrange tributos e penalidades pecuniárias, estes dois artículos finais utilizados pela DRJ para afastar os argumentos da então impugnante. A respeito: Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplicase aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual. Fl. 2818DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.819 67 Art. 129. O disposto nesta Seção aplicase por igual aos créditos tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data. Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. O assunto, como dito, objeto de várias discussões, não passou despercebido a Edmar Oliveira Andrade Filho4: “O art. 129 do CTN, ao contrário dos arts. 132 e 133, faz expressa referência aos “créditos tributários” que, por força do art. 113 do mesmo diploma normativo, abrangem o montante dos tributos devidos e das penalidades pecuniárias” E prossegue citando excerto do voto do Ministro Cordeiro Guerra, então no STF, quando julgamento do Recurso Extraordinário nº 83.613SP: “Na expressão “créditos tributários” a meu ver, se incluem das multas sob pena de fraudarse o direito do fisco à percepção de seus créditos legítimos em face da lei”. Pois bem, se a matéria comportava debates, no âmbito deste Colegiado encontrase consolidada em face do decidido pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp nº 923.012/MG, no rito dos recursos repetitivos previsto no artigo 543C do CPC de 1973 (artigo 1036 – NCPC), que dirimiu de forma definitiva a questão. Neste patamar, consoante expressa disposição do art. 62, § 1º, inciso II, alínea “b” do Anexo II do Regimento Interno do CARF, a adoção da mesma tese pelos julgadores do Colegiado é compulsória, não comportando tergiversações. Por bem elucidar o tema (destaques acrescidos): TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÃO. SUCESSÃO DE EMPRESAS. [...] 1. A responsabilidade tributária do sucessor abrange, além dos tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas, que, por representarem dívida de valor, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor, desde que seu fato gerador tenha ocorrido até a data da sucessão. (Precedentes: REsp 1085071/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/05/2009, DJe 08/06/2009; REsp 959.389/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, 4 Imposto de Renda das Empresas – 10ª Edição – Atlas – 2013 SP – fls. 930 Fl. 2819DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.820 68 SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2009, DJe 21/05/2009; AgRg no REsp 1056302/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 13/05/2009; REsp 3.097/RS, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/10/1990, DJ 19/11/1990) 2. "(...) A hipótese de sucessão empresarial (fusão, cisão, incorporação), assim como nos casos de aquisição de fundo de comércio ou estabelecimento comercial e, principalmente, nas configurações de sucessão por transformação do tipo societário (sociedade anônima transformandose em sociedade por cotas de responsabilidade limitada, v.g.), em verdade, não encarta sucessão real, mas apenas legal. O sujeito passivo é a pessoa jurídica que continua total ou parcialmente a existir juridicamente sob outra "roupagem institucional". Portanto, a multa fiscal não se transfere, simplesmente continua a integrar o passivo da empresa que é: a) fusionada; b) incorporada; c) dividida pela cisão; d) adquirida; e) transformada. (Sacha Calmon Navarro Coêlho, in Curso de Direito Tributário Brasileiro, Ed. Forense, 9ª ed., p. 701) [...] 9. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543C do CPC e da Resolução STJ 08/2008. (Resp 923.012/MG, 1ª Seção, Relator Ministro Luiz Fux, sessão de 09 de junho de 2010). De se notar que a ementa do aresto claramente proclama que “A responsabilidade tributária do sucessor abrange, além dos tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas, que, por representarem dívida de valor, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor, desde que seu FATO GERADOR TENHA OCORRIDO ATÉ A DATA DA SUCESSÃO”, o que põe por terra o argumento do recorrente de que, como o auto de infração (lançamento) foi cientificado em 23/12/2014 e a incorporação do Banco Citicard ocorreu em 31/08/2014, não haveria possibilidade de se imputar as penalidades. Ocorre que, diferentemente do pensamento do recorrente e a teor do Acórdão reproduzido, o que é relevante é a data do fato gerador e não a data da constituição do crédito (que pode até não ocorrer, por lapso do Poder Tributante). Aliás, como fica extraordinariamente claro no final do voto condutor do aresto reproduzido: “Portanto, tratandose de obrigação anterior à sucessão empresarial, a responsabilidade é transferida à sucessora, mesmo que a constituição do crédito seja posterior ao ato, nos termos do rtigo 129 do CTN”. Na mesma linha o REsp STJ nº 959.389: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. ARTIGO 159 DO CC DE 1916. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. MULTA TRIBUTÁRIA. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. SUCESSÃO EMPRESARIAL. OBRIGAÇÃO ANTERIOR E LANÇAMENTO POSTERIOR. RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE SUCESSORA. Fl. 2820DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.821 69 1. Não se conhece do recurso especial se a matéria suscitada não foi objeto de análise pelo Tribunal de origem, em virtude da falta do requisito do prequestionamento. Súmulas 282 e 356/STF. 2. A responsabilidade tributária não está limitada aos tributos devidos pelos sucedidos, mas abrange as multas, moratórias ou de outra espécie, que, por representarem penalidade pecuniária, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor. 3. Segundo dispõe o artigo 113, § 3º, do CTN, o descumprimento de obrigação acessória faz surgir, imediatamente, nova obrigação consistente no pagamento da multa tributária. A responsabilidade do sucessor abrange, nos termos do artigo 129 do CTN, os créditos definitivamente constituídos, em curso de constituição ou "constituído posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data", que é o caso dos autos. 4. Recurso especial conhecido em parte e não provido. (destaques acrescidos). Digase, a responsabilização do sucessor pode ser impingida mesmo após a incorporação, relativamente aos fatos geradores surgidos até a data da sucessão, ainda que formalizado o lançamento posteriormente. Ainda compulsando o REsp nº 923.012/MG, em sede de embargos, lêse: 4. Quanto à responsabilidade do sucessor pelas multas (moratórias ou punitivas), observese que o ordenamento jurídico tributário admite o chamamento de terceiros para arcar com o pagamento do crédito tributário, na forma dos arts. 128 e seguintes do CTN, sendo expresso o art. 132 do CTN ao dispor: Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até a data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas. 5. Ora, a incorporação, nos termos da legislação pátria (art. 227 da Lei 6.404/76 e art. 1.116 do CC/32) é a absorção de uma ou várias sociedades por outra ou outras, com a extinção da sociedade incorporada, que transfere integralmente todos os seus direitos e obrigações para a incorporadora. 6. Entendese que tanto o tributo quanto as multas a ele associadas pelo descumprimento da obrigação principal fazem parte do patrimônio do contribuinte incorporado que se transfere ao incorporador, de que modo que não pode ser cingida a sua cobrança, até porque a sociedade incorporada deixa de ostentar personalidade jurídica. 7. Por fim, o art. 129 do CTN estabelece que a transferência da responsabilidade por sucessão aplicase, por igual, aos créditos tributários já definitivamente constituídos, ou em curso de Fl. 2821DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.822 70 constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data. 8. O que importa, portanto, é a identificação do momento da ocorrência do fato gerador, que faz surgir a obrigação tributária, e do ato ou fato originador da sucessão, sendo desinfluente, como restou assentado no aresto embargado, que esse crédito já esteja formalizado por meio de lançamento tributário, que apenas o materializa. (negritos acrescidos). E, por resumir todo o exposto, observese o teor do “Informativo nº 0438”, emitido pelo STJ (período de 7 a 11 de junho de 2010), em reprodução autêntica extraída do site do Tribunal, com destaques deste Relator: Informativo nº 0438 Período: 7 a 11 de junho de 2010. PRIMEIRA SEÇÃO REPETITIVO. SUCESSÃO EMPRESARIAL. RESPONSABILIDADE. A Seção, ao julgar recurso submetido ao regime do art. 543C do CPC e da Res. n. 8/2008STJ, reiterou que a responsabilidade tributária da empresa sucessora abrange, além dos tributos devidos pela empresa sucedida, as multas moratórias ou punitivas que, por representarem dívida de valor, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pela empresa sucessora, desde que seu fato gerador tenha ocorrido até a data da sucessão. Assim, quanto à multa aplicada à empresa incorporada sucedida, procede a cobrança; pois, segundo dispõe o art. 113, § 3º, do CTN, o descumprimento de obrigação acessória faz surgir, imediatamente, nova obrigação consistente no pagamento da multa tributária. Isso porque a responsabilidade da sucessora abrange, nos termos do art. 129 do CTN, os créditos definitivamente constituídos, em curso de constituição o ou constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data, que é o caso dos autos. Por outro lado, como ficou consignada, nas instâncias ordinárias, a ausência de comprovação da incondicionalidade dos descontos concedidos pela empresa recorrente, a questão não pode ser conhecida. Precedentes citados: REsp 1.111.156SP, DJe 22/10/2009; REsp 1.085.071SP, DJe 8/6/2009; REsp 959.389RS, DJe 21/5/2009; AgRg no REsp 1056302SC, DJe 13/5/2009; REsp 544.265CE, DJ 21/2/2005; REsp 745.007SP, DJ 27/6/2005, e REsp 3.097RS, DJ 19/11/1990. REsp 923.012MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/6/2010. Em suma, a responsabilidade tributária da empresa sucessora abrange, além dos tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas que, por representarem dívida de valor, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor, desde que o fato gerador tenha ocorrido até a data da sucessão. Fl. 2822DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.823 71 Inequivocamente, tributo e multas a ele associadas pelo descumprimento da obrigação principal, fazem parte do patrimônio (direitos e obrigações) da empresa incorporada que se transfere ao incorporador, de modo que não pode ser cingida a sua cobrança, até porque a sociedade incorporada deixa de ostentar personalidade jurídica. O que importa é a identificação do momento da ocorrência do fato gerador, que faz surgir a obrigação tributária, e do ato ou fato originador da sucessão, sendo irrelevante, como assentado no aresto citado (Recurso Especial n° 923.012MG) julgado sob o rito do art. 543C do CPC, a data da realização do lançamento, entendimento este que deve ser reproduzido neste Conselho por força do art. 62 A do seu Regimento Interno. Com essas observações, afastamse os argumentos do recorrente a respeito de não se estar diante de “mesmo grupo econômico” à data da ocorrência dos fatos geradores, o que implicaria em atrair a Súmula CARF nº 47, levando à impossibilidade de se aplicar as multas, justamente porque, a teor da decisão exarada pelo STJ, não se pode afastar penalidades em razão de sucessão empresarial. Por estes motivos, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário neste aspecto. DAS MULTAS ISOLADAS Em razão da infração principal, a autuada deixou de recolher valores a título de estimativas de IRPJ e CSLL, ensejando a exigência de multas isoladas. Em seu recurso, o recorrente prega ser indevida tal exigência, não só pelos aspectos de sucessão (já tratados atrás), como pela concomitância com a multa de ofício. De fato, ao longo de anos muito se discutiu acerca desta imputação nas diversas Turmas do Colegiado. De minha parte, com relação às ditas “multas isoladas”, sempre perfilei com os que entendem estarse diante de imposições diferentes, com fatos geradores diferentes, tipificações legais diferentes e motivações fáticas diferentes, ou seja, da leitura artigo 44, da Lei nº 9.430/1996, com suas alterações, inferese que, uma vez constatada falta ou insuficiência de pagamento de estimativa, será exigida a multa isolada. Se, além disso, tiver ocorrido falta de recolhimento do imposto devido com base no lucro real anual, o lançamento abrangerá também o valor do imposto, acompanhado de multa de ofício proporcional e juros, pois a determinação legal de imposição da multa de ofício, aplicada isoladamente, prescinde da apuração de lucro ou prejuízo no final do período anual, inexistindo, portanto, a cumulação de penalidades para uma mesma conduta, apontada pelo recorrente. Em síntese, não tendo as referidas multas a mesma hipótese de incidência, não haveria nada que pudesse impedir a imposição concomitante da multa isolada com a multa de ofício devida pela apuração e recolhimento a menor do imposto e contribuição devidos na apuração anual. Com relação à divergência jurisprudencial citada pelo recorrente, ela poderia ter alguma razão de ser enquanto vigente a redação original do artigo 44, da Lei nº 9.430/1996, entendendo alguns que a norma legal estabeleceria uma norma de imposição Fl. 2823DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.824 72 tributária, quando, na verdade, o não recolhimento das estimativas impunha a aplicação de uma regra sancionatória. Aquela avaliação, todavia, não mais se justifica a partir da nova redação do dispositivo em comento, estabelecida pela MP nº MP 351, de 22/01/2007; convertida na Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007, onde fica clara a distinção: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (...) II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: (...) b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. (destaquei) Inexiste assim a estreita correlação entre o tributo correspondente e a estimativa a ser paga no curso do ano. Registrese que essa nova redação não impõe nova penalidade ou faz qualquer ampliação da base de cálculo da multa; simplesmente tornou mais clara a intenção do legislador. Faço minha as palavras do ilustre Conselheiro GUILHERME ADOLFO DOS SANTOS MENDES que de forma precisa analisou o tema no Acórdão nº 10323.370, Sessão de 24/01/2008: “Nada obstante, as regras sancionatórias são em múltiplos aspectos totalmente diferentes das normas de imposição tributária, a começar pela circunstância essencial de que o antecedente das primeiras é composto por uma conduta antijurídica, ao passo que das segundas se trata de conduta lícita. Dessarte, em múltiplas facetas o regime das sanções pelo descumprimento de obrigações tributárias mais se aproxima do penal que do tributário. Pois bem, a Doutrina do Direito Penal afirma que, dentre as funções da pena, há a PREVENÇÃO GERAL e a PREVENÇÃO ESPECIAL. A primeira é dirigida à sociedade como um todo. Diante da prescrição da norma punitiva, inibese o comportamento da coletividade de cometer o ato infracional. Já a segunda é dirigida especificamente ao infrator para que ele não mais cometa o delito. É, por isso, que a revogação de penas implica a sua retroatividade, ao contrário do que ocorre com tributos. Uma vez que uma conduta não mais é tipificada como delitiva, não faz mais sentido aplicar pena se ela deixa de cumprir as funções preventivas. Fl. 2824DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.825 73 Essa discussão se torna mais complexa no caso de descumprimento de deveres provisórios ou excepcionais. Hector Villegas, (em Direito Penal Tributário. São Paulo, Resenha Tributária, EDUC, 1994), por exemplo, nos noticia o intenso debate da Doutrina Argentina acerca da aplicação da retroatividade benigna às leis temporárias e excepcionais. No direito brasileiro, porém, essa discussão passa ao largo há muitas décadas, em razão de expressa disposição em nosso Código Penal, no caso, o art. 3º: Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplicase ao fato praticado durante sua vigência. O legislador penal impediu expressamente a retroatividade benigna nesses casos, pois, do contrário, estariam comprometidas as funções de prevenção. Explico e exemplifico. Como é previsível, no caso das extraordinárias, e certo, em relação às temporárias, a cessação de sua vigência, a exclusão da punição implicaria a perda de eficácia de suas determinações, uma vez que todos teriam a garantia prévia de, em breve, deixarem de ser punidos. É o caso de uma lei que impõe a punição pelo descumprimento de tabelamento temporário de preços. Se após o período de tabelamento, aqueles que o descumpriram não fossem punidos e eles tivessem a garantia prévia disso, por que então cumprir a lei no período em que estava vigente? Ora, essa situação já regrada pela nossa codificação penal é absolutamente análoga à questão ora sob exame, pois, apesar de a regra que estabelece o dever de antecipar não ser temporária, cada dever individualmente considerado é provisório e diverso do dever de recolhimento definitivo que se caracterizará no ano seguinte”. Ainda acerca da concomitância na aplicação de multa de ofício e multa isolada, mesmo que abstraídas questões conceituais envolvendo aspectos do direito penal, o fato é que a Lei nº 9.430/96, ao instituir a multa isolada sobre irregularidades no recolhimento do tributo devido a título de estimativas, não estabeleceu qualquer limitação quanto à imputação dessa penalidade juntamente com a multa exigida em conjunto com o tributo, de modo que, sob esta ótica, a Fiscalização simplesmente aplicou norma abstrata plenamente vigente no mundo jurídico a caso concreto que se estampou. Registrese, por fim, ser inaplicável, no caso, a Súmula nº 105 do CARF, posto que ali se cuida de lançamentos referentes a períodos anteriores a 2007. Assim, entendo devam ser mantidas integralmente as multas isoladas de IRPJ e de CSLL aplicadas de janeiro de 2009 a maio de 2011, pelo que NEGO PROVIMENTO ao recurso do recorrente. DOS JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO Fl. 2825DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.826 74 Rebelase ainda o recorrente contra a possibilidade da imposição de juros de mora sobre a multa de ofício aplicada no lançamento por entendêla ilegal. Embora ressalve, de plano, que a incidência de juros de mora à taxa Selic sobre a Multa de Ofício, é questão superveniente ao presente lançamento, é se apreciar a matéria, já que, inexoravelmente, tal acréscimo virá integrar o crédito tributário objeto de discussão. Consoante dizer do art. 113 do Código Tributário Nacional – CTN, a obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, entendida esta como decorrente de obrigação tributária principal. E se referido crédito tributário (penalidade) não for pago integralmente no vencimento deve ser acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, aplicandose a taxa de 1% ao mês, se a lei não dispuser de modo diverso (art. 161, § 1º, do CTN): “Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. § 2º O disposto neste artigo não se aplica na pendência de consulta formulada pelo devedor dentro do prazo legal para pagamento do crédito.”(negrejouse e grifouse) Assim, a cobrança de juros de mora sobre a penalidade pecuniária cabível encontra fundamento de validade no próprio CTN. Por outro lado, só é plausível se falar na incidência de juros de mora pelo atraso no recolhimento quando o crédito tributário inadimplido sujeitase a prazo de vencimento, o que ocorre com relação ao tributo, à contribuição e à multa de ofício, e não com a multa de mora, a menos que esta última seja exigida isoladamente, mediante lançamento de ofício. Valendose da exceção legal contida no art. 161, § 1º, do CTN, a Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, dispôs que, a partir de 1º de abril de 1995, sobre os tributos e contribuições sociais não recolhidos no prazo de vencimento incidem juros de mora calculados à taxa Selic (art. 13): Lei nº 9.065, de 1995: Art. 13. A partir de 1º de abril de 1995, os juros de que tratam a alínea c do parágrafo único do art. 14 da Lei nº 8.847, de 28 de janeiro de 1994, com a redação dada pelo art. 6º da Lei nº 8.850, de 28 de janeiro de 1994, e pelo art. 90 da Lei nº 8.981, de 1995, o art. 84, inciso I, e o art. Fl. 2826DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.827 75 91, parágrafo único, alínea a 2, da Lei nº 8.981, de 1995, serão equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente. Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995: “Art. 84. Os tributos e contribuições sociais arrecadados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores vierem a ocorrer a partir de 1º de janeiro de 1995, não pagos nos prazos previstos na legislação tributária serão acrescidos de: I juros de mora, equivalentes à taxa média mensal de captação do Tesouro Nacional relativa à Dívida Mobiliária Federal Interna; (...).” Seguindoa, a Lei nº 9.430, de 1996, foi mais genérica, dispondo que os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições, com fato gerador ocorrido a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos no vencimento, serão acrescidos de juros de mora à taxa Selic (art. 61): “Multas e Juros Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. § 1º A multa de que trata este artigo será calculada a partir do primeiro dia subseqüente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento do tributo ou da contribuição até o dia em que ocorrer o seu pagamento. § 2º O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por cento. § 3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento.” Consistindo a multa de lançamento de ofício em débito para com a União, de natureza de obrigação tributária principal, correta a interpretação de que, sobre referida penalidade incidem juros à taxa Selic, a partir do seu vencimento. Fl. 2827DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.828 76 Corroboram, ainda, a conclusão acima, as razões abaixo dispostas. De fato, a mesma Lei nº 9.430, de 1996, reportandose especificamente à multa de mora inadimplida, dispôs que sobre ela incidem juros de mora à taxa Selic, quando exigida de ofício, isolada ou conjuntamente (art. 43): “Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento.” Com efeito, como já ressaltado anteriormente, sobre a multa de mora não há de se cogitar na incidência de juros, pois referida penalidade pecuniária é desprovida de vencimento, exceto quando exigida mediante lançamento de ofício, como regula o dispositivo supra, momento o qual se impõe um prazo legal para o seu adimplemento. Da mesma forma ocorre com relação aos juros. Estes não têm vencimento legal para o seu cumprimento, a menos que exigidos por meio de lançamento de ofício. Resta claro, pelo dispositivo acima transcrito, que sobre a penalidade exigida de ofício incidem juros de mora à taxa Selic. No âmbito do Poder Judiciário, o Superior Tribunal de Justiça, em recente decisão, já legitimou a incidência dos juros sobre a totalidade do crédito tributário, aí incluída a multa de ofício. Vejase: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA SOBRE MULTA. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMA QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. 1. Entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: "É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário." (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010. AgRg no REsp 1.335.688PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 4/12/2012 DJe 10/12/2012 Acresçase que a matéria já está amplamente consolidada nesta Corte no âmbito das três turmas da CSRF: Fl. 2828DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.829 77 JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de ofício proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de ofício, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic. (Acórdão 9101002.180, CSRF, 1ª Turma) JUROS MORATÓRIOS INCIDENTES SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. TAXA SELIC.A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu inadimplemento, incluindo a multa de oficio proporcional. O crédito tributário corresponde a toda a obrigação tributária principal, incluindo a multa de oficio proporcional, sobre a qual devem incidir os juros de mora à taxa Selic. (Acórdão 9202003.821, CSRF 2ª Turma) JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA.O crédito tributário, quer se refira a tributo quer seja relativo à penalidade pecuniária, não pago no respectivo vencimento, está sujeito à incidência de juros de mora, calculado à taxa Selic até o mês anterior ao pagamento, e de um por cento no mês de pagamento. (Acórdão 9303003.385, CSRF, 3ª Turma). Assim, neste item, NEGO PROVIMENTO ao Recurso Voluntário, mantendo a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício lançada. DA COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS E BASE CÁLCULO NEGATIVA DE CSLL A matéria foi sucintamente delineada pela DRJ, posição com a qual concordo e que adoto como razões de decidir, tendo em vista a mantença integral da decisão recorrida: “Defende ainda a impugnante “ausência de compensação indevida de prejuízos fiscais e da base de cálculo negativa da CSLL”, na medida em que as alegadas compensações indevidas são mero reflexo das autuações fiscais procedidas, as quais, por todas as razões expostas ao longo da presente Impugnação, devem ser canceladas. Como bem explicou a impugnante, a apuração de compensação indevida de prejuízos fiscais e de base de cálculo negativa da CSLL foi decorrente das infrações fiscais apuradas pela fiscalização que em sua maior parte estão sendo mantidas neste julgamento e que, portanto, não alteram a constatação da autoridade fiscal quanto à infração em apreço. Desta forma, deve permanecer incólume a autuação quanto à compensação indevida de base de cálculo negativa da CSLL (Saldo insuficiente) e compensação indevida de prejuízo fiscal (Saldo insuficiente)”. Desta forma, mantenho a decisão recorrida e NEGO PROVIMENTO ao recurso voluntário. Fl. 2829DF CARF MF Processo nº 16327.721329/201479 Acórdão n.º 1402002.455 S1C4T2 Fl. 2.830 78 Concluindo, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário e ao recurso de ofício, mantendo integralmente a decisão recorrida, com os ajustes efetuados no final do Acórdão da DRJ (fls. 2488/2489). É como voto. Brasília (DF), em 11 de abril de 2017. (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Fl. 2830DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10183.005831/2005-43
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Apr 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Jul 05 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR
Exercício: 2002
ITR. VALOR DA TERRA NUA. ARBITRAMENTO COM BASE NO SISTEMA DE PREÇOS DE TERRAS (SIPT). VALOR MÉDIO SEM APTIDÃO AGRÍCOLA. IMPOSSIBILIDADE.
Resta impróprio o arbitramento do VTN, com base no SIPT, quando da não observância ao requisito legal de consideração de aptidão agrícola para fins de estabelecimento do valor do imóvel.
Numero da decisão: 9202-005.435
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em Exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
Nome do relator: ELAINE CRISTINA MONTEIRO E SILVA VIEIRA
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VALOR DA TERRA NUA. ARBITRAMENTO COM BASE NO SISTEMA DE PREÇOS DE TERRAS (SIPT). VALOR MÉDIO SEM APTIDÃO AGRÍCOLA. IMPOSSIBILIDADE. Resta impróprio o arbitramento do VTN, com base no SIPT, quando da não observância ao requisito legal de consideração de aptidão agrícola para fins de estabelecimento do valor do imóvel. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira – Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em Exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 18 3. 00 58 31 /2 00 5- 43 Fl. 507DF CARF MF 2 Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Relatório Tratase de auto de infração (fls. 01/12 anexos) relativo ao Imposto Territorial Rural – ITR do imóvel denominado Parque Fazenda Rívoli, com área de 72.701,3 ha (NIRF 5.732.9800), localizado no município de Poconé/MT, relativo ao exercício 2002, por meio do qual se exige crédito tributário no valor de R$ 3.963.454,44, incluídos multa de ofício no percentual de 75% (setenta e cinco por cento) e juros de mora. De acordo com a descrição dos fatos e enquadramento legal, foram glosadas as áreas de Preservação Permanente e de Utilização Limitada informadas na Declaração (DIAC/DIAT), em virtude do não cumprimento dos requisitos estabelecidos para permitir sua exclusão da incidência do imposto. As glosas efetuadas culminaram com a redução do grau de utilização de 68,3% para 2,3%, com a consequente alteração da alíquota aplicável do imposto de 3% para 20%, conforme a tabela mencionada no art. 11 da Lei nº 9.393/96. Ainda foi alterada a área do imóvel de 40.999,8 ha para 72.701,3 ha. Consequentemente, a área tributável sofreu aumento de 820,2 ha para 72.701,3 ha, com aplicação do Valor da Terra Nua por hectare constante do SIPT. A autuada apresentou impugnação, tendo a Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Campo Grande/MS julgado o lançamento procedente, mantendo o imposto total. Apresentado Recurso Voluntário pela autuada, os autos foram encaminhados ao CARF para julgamento do mesmo. No Acórdão de Recurso Voluntário, o Colegiado, por unanimidade de votos, deu provimento ao recurso. Portanto, em sessão plenária de 12/03/2013, deuse provimento ao recurso, prolatandose o Acórdão nº 2201002.022, assim ementado: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRRITORIAL RURAL ITR Exercício: 2002 ITR. ÁREA TRIBUTÁVEL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E DE RESERA LEGAL. EXCLUSÃO. NECESSIDADE DO ADA. Por se tratar de áreas ambientais cuja existência independe da vontade do proprietário e de reconhecimento por parte do Poder Público, a apresentação do ADA ao Ibama não é condição indispensável para a exclusão das áreas de preservação permanente e de reserva legal, de que tratam, respectivamente, Fl. 508DF CARF MF Processo nº 10183.005831/200543 Acórdão n.º 9202005.435 CSRFT2 Fl. 3 3 os artigos 2º e 16 da Lei nº 4.771, de 1965, para fins de apuração da área tributável do imóvel. RESERVA LEGAL. Estando a reserva legal registrada à margem da matrícula do registro de imóveis não há razão para ser desconsiderada sob pena de afrontar dispositivo legal. ITR. VTN. ARBITRAMENTO. UTILIZAÇÃO DOS DADOS DO SIPT Por determinação legal, o arbitramento do VTN com base nos dados do SIPT deve leva em conta, necessariamente, os dados sobre aptidão agrícola. Não é válido o arbitramento realizado apenas com base nos dados sobre o valor médio declarado para a região constante do sistema. Recurso Voluntário Provido. O processo foi encaminhado para ciência da Fazenda Nacional, em 05/09/2013 para cientificação em até 30 dias, nos termos da Portaria MF nº 527/2010. A Fazenda Nacional interpôs, tempestivamente, em 18/10/2013, Recurso Especial. Em seu recurso visa rediscutir o arbitramento do VTN com base no SIPT – Sistema de Preços de Terras, utilizandose o VTN médio das DITR de outros contribuintes. Ao Recurso Especial foi dado seguimento, conforme o Despacho s/nº, da 2ª Câmara, de 25/09/2015. Em seu Recurso Especial, a Recorrente traz as seguintes alegações: § que a Lei nº 9.393/96, em seu art. 14, previu a criação de um sistema de preços de terras a ser instituído pela Secretaria da Receita Federal, como se pode ver na transcrição da citada norma: (...) § que a Portaria SRF nº 447, de 28/03/2002, regulamentou o Sistema de Preços de Terras, em seus artigos 1º ao 4º, verbis: (...) § que a Nota COSIT/COTIR nº 330, de 26 de setembro de 2002 veiculou a mesma orientação para alimentação do SIPT com os valores das terras e demais dados recebidos das Secretarias de Agricultura ou entidades correlatas e com os valores de terra nua da base das declarações do ITR. § que, assim, temse como procedimento para o lançamento do ITR, a utilização dos valores indicados no Sistema de Preços de Terras da SRF, nos moldes estabelecidos na Portaria acima citada, não havendo qualquer ilegalidade na utilização dessa rotina administrativa e, portanto, plenamente legítima a conduta da autoridade fiscal ao considerar, para definição do Valor da Terra Nua, o valor médio das declarações do ITR. § que as tabelas de valores indicados no SIPT servem como referencial para amparar o trabalho de malha das declarações de ITR e somente são utilizadas pela fiscalização se o contribuinte não lograr comprovar que o Fl. 509DF CARF MF 4 valor declarado de seu imóvel corresponde ao valor efetivo na data do fato gerador. § que o valor apurado pela fiscalização pode ser questionado, mediante Laudo Técnico de Avaliação, revestido de rigor científico suficiente a firmar a convicção da autoridade, devendo estar presentes os requisitos mínimos exigidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, mas o contribuinte não se desincumbiu desse mister e, com efeito, a recorrida deixou de apresentar laudo de avaliação ou outro documento qualquer que comprove que o VTN efetivo do imóvel para o exercício de 2002 era inferior ao tributado, não havendo justificativa para afastar a tributação com base no VTN apurado pela fiscalização a partir de valor constante no SIPT. Cientificado do Acórdão nº 2201002.022, do Recurso Especial da Fazenda Nacional e do Despacho de Admissibilidade admitindo o Resp da PGFN, em 20/01/2016, o contribuinte apresentou, tempestivamente, em 04/02/2016, suas contrarrazões, onde, preliminarmente, ratifica os termos do quanto constou no acórdão recorrido que considerou ilegal a aplicação da tributação com base no VTN apurado pela fiscalização a partir de valor constante no SIPT, a saber: 1) A legislação do ITR que criou o SIPT não instituiu o critério do preço médio atribuído pelas DITR’s do exercício apresentadas pelos imóveis localizados no município, uma vez que tais informações não se coadunam com o art. 14 da Lei nº 9.393/1996 e art. 12, §1º, II da Lei nº 8.629/1993; 2) Analisando os dois dispositivos acima, verificase claramente que o SIPT, para ser usado como parâmetro para o arbitramento, deve, necessariamente, levar em conta a aptidão agrícola; 3) O Sistema de Preços de Terras da Receita Federal – SIPT, aprovado pela Portaria SRF nº 447/2002, estabelece que deverá ser alimentado com os valores de terras e demais dados recebidos das Secretarias de Agricultura ou entidades correlatas, e com os valores da erra nua da base de declarações do ITR; 4) O VTN médio declarado por município, obtido com base nos valores informados na DITR constitui um parâmetro inicial, mas não pode ser utilizado para fins de arbitramento, pois notoriamente não atende ao critério da capacidade potencial da terra. Isso porque esta informação não é contemplada na declaração, que contém apenas o valor global atribuído a propriedade, sem levar em conta as características intrínsecas e extrínsecas da terra que determinam jo seu potencial de uso; o valor arbitrado deve ser obtido com base nos valores fornecidos pelas Secretarias Estaduais ou Municipais e nas informações disponíveis nos autos em relação aos tipos de terra que compõem o imóvel. Alega, ainda, em suas contrarrazões, que: § a Receita Federal, na mesma linha do acórdão recorrido, regulamentou o SIPT através da IN RFB nº 1.562, de 29/04/2015, estabelecendo a padronização da nomenclatura dos tipos de terras segundo as respectivas aptidões agrícolas e definindo que devem Fl. 510DF CARF MF Processo nº 10183.005831/200543 Acórdão n.º 9202005.435 CSRFT2 Fl. 4 5 compor o sistema de preços, com seis categorias distintas, conforme o art. 6º, verbis: (...) § se a legislação legal dada pela instrução normativa segue no sentido de que a aptidão é elemento fundamental para atribuição do VTN da propriedade rural, não pode a fiscalização, a pretexto de desconsiderar a autoavaliação dada pelo contribuinte ao imóvel rural, lançar mão de um preço médio das DITR’s apresentadas para os imóveis localizados no município no exercício. § na média das DITR’s apresentadas, a DITR da interessada também foi considerada, e, no momento em que esta for retificada, a média do VTN será automaticamente alterado, elevando a média das DITR’s como um todo, de modo que adotar essa média para alterar o VTN de uma determinada declaração é um artifício que rompe com a lógica da própria média, e, portanto, deve ser rechaçado esse método, tanto por ser ilegal, quanto por ser ilógico do ponto de vista da realidade do material colhido para o arbitramento. § devese considerar o aspecto temporal da vigência do SIPT, que só foi criado pela Portaria SRF nº 447, em 28/03/2002 e que, portanto, em 1º de janeiro de 2002, momento do fato gerador, a Receita Federal não havia criado o SIPT ainda, de forma que não poderia o Fisco adotar essa nova sistemática de forma retroativa, uma vez que a própria portaria menciona que sua vigência se dará a partir de sua publicação. § não havia regras legais ou mesmo infra legais que regulasse a forma e a metodologia utilizadas para a formação do preço da terra nua no SIPT, de forma a tornar o sistema confiável e transparente a ponto de atender aos princípios da moralidade administrativa, da impessoalidade e da transparência; o sistema deveria ser aberto para ampla consulta ao público, mesmo porque não se espera que o produtor rural ou o proprietário de florestas e áreas de reserva ambiental faça laudos anuais para fins de declaração do ITR. § por conta dessas impropriedades legais é que o SIPT não pode ser utilizado pelo Fisco como instrumento de revisão do ITR de 2002. É o relatório. Fl. 511DF CARF MF 6 Voto Conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Relatora Recurso Especial da Fazenda Nacional Pressupostos de Admissibilidade O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, conforme despacho de Admissibilidade, fls. 443/446. Não havendo qualquer questionamento acerca do conhecimento e concordando com os termos do despacho proferido, passo a apreciar o mérito da questão. Do Conhecimento De forma objetiva a delimitação da lide, conforme consta do despacho de admissibilidade, cingese arbitramento do VTN com base no SIPT – Sistema de Preços de Terras, utilizandose o VTN médio das DITR de outros contribuintes. Com fulcro no disposto nos art. 14, § 1o. da Lei nº 9.396, de 19 de dezembro de 1996, quando combinado com o art. 12 da Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, é de se aceitar o arbitramento pelo SIPT somente quando efetuado com utilização do VTN médio que leve em consideração também o fator de aptidão agrícola, expressis verbis: Lei 9.393/96 Art. 14. No caso de falta de entrega do DIAC ou do DIAT, bem como de subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas, a Secretaria da Receita Federal procederá à determinação e ao lançamento de ofício do imposto, considerando informações sobre preços de terras, constantes de sistema a ser por ela instituído, e os dados de área total, área tributável e grau de utilização do imóvel, apurados em procedimentos de fiscalização. § 1º As informações sobre preços de terra observarão os critérios estabelecidos no art. 12, § 1º, inciso II da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, e considerarão levantamentos realizados pelas Secretarias de Agricultura das Unidades Federadas ou dos Municípios.(g.n.) Lei 8.629/93 Art.12.Considerase justa a indenização que reflita o preço atual de mercado do imóvel em sua totalidade, aí incluídas as terras e acessões naturais, matas e florestas e as benfeitorias indenizáveis, observados os seguintes aspectos:(Redação dada Medida Provisória nº 2.18356, de 2001) I localização do imóvel;(Incluído dada Medida Provisória nº 2.18356, de 2001) II aptidão agrícola;(Incluído dada Medida Provisória nº 2.18356, de 2001)(g.n.) IIIdimensão do imóvel;(Incluído dada Medida Provisória nº 2.18356, de 2001) Fl. 512DF CARF MF Processo nº 10183.005831/200543 Acórdão n.º 9202005.435 CSRFT2 Fl. 5 7 IV área ocupada e ancianidade das posses;(Incluído dada Medida Provisória nº 2.18356, de 2001) V funcionalidade, tempo de uso e estado de conservação das benfeitorias.(Incluído dada Medida Provisória nº 2.18356, de 2001) (grifei) §1oVerificado o preço atual de mercado da totalidade do imóvel, procederseá à dedução do valor das benfeitorias indenizáveis a serem pagas em dinheiro, obtendose o preço da terra a ser indenizado em TDA.(Redação dada Medida Provisória nº 2.183 56, de 2001) §2oIntegram o preço da terra as florestas naturais, matas nativas e qualquer outro tipo de vegetação natural, não podendo o preço apurado superar, em qualquer hipótese, o preço de mercado do imóvel.(Redação dada Medida Provisória nº 2.18356, de 2001) Noto, porém, que, no caso em questão, a partir do disposto na descrição dos fatos e enquadramento legal, foi utilizado, para fins de arbitramento pela autoridade fiscal, o VTN médio para o município do imóvel rural, não havendo qualquer indício de observância ao requisito legal de consideração de aptidão agrícola para fins do arbitramento realizado, o qual deve ser assim rejeitado. Não verifico, no extrato de efl. 82, a existência de valoração levando em consideração a aptidão agrícola da terra nua e, assim, rejeito a possibilidade de utilização do SIPT na forma realizada pela autoridade autuante. Aliás, esse foi o entendimento traçado no acórdão recorrido, e que no caso em questão, amoldase a previsão legal conforme descrito acima: No tocante ao VTN, independente dos argumentos da decisão recorrida quanto aos Laudos apresentados pela contribuinte e dos argumentos trazidos na defesa, fato é que esse Colegiado tem se posicionado no sentido de que, para fins de arbitramento do VTN com base no SIPT, este deve ser alimentado com dados sobre as aptidões agrícolas e, neste caso, o que se verifica do extrato de fls. 69 é que o SIPT foi alimentado apenas com o valor médio das propriedades. A legislação pátria permite o arbitramento do valor da terra nua, nos termos art. 148 do CTN. O art. 14 da Lei nº 9.393, de 1996 que prevê o arbitramento do VTN, nos casos de subavaliação, com base em sistema de preços de terras, se reporta expressamente a critérios estabelecidos no art. 12, § 1º, II da Lei nº 8.629, de 1993,(...) Analisando os dois dispositivos acima, verificase claramente que o SIPT, para ser utilizado como parâmetro para o arbitramento, deve, necessariamente, levar em conta a aptidão agrícola. No presente processo, o arbitramento se baseou, única e exclusivamente no Valor do VTN médio para o Município, cuja utilização não atende às exigências legais. [...] Como o critério não foi observado, entendo que não foram atendidos os requisitos previstos em lei para a realização do Fl. 513DF CARF MF 8 arbitramento, razão pela qual deve ser desconsiderado o VTN arbitrado e restabelecido o VTN declarado pela Recorrente. Outro argumento, que apenas reforça o entendimento acima descrito, é que essa turma da CSRF em apreciando a tese esboçada no paradigma nº 210201.664, reformou o por meio de acórdão nº 9202005.185 de 26 de janeiro de 2017, cuja ementa encontrase assim expressa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR Exercício: 2002 ITR VALOR DA TERRA NUA ARBITRAMENTO. Para aplicação do Sistema Integrado de Preços de Terras SIPT é imprescindível que o contribuinte tenha acesso aos critérios e parâmetros utilizados para arbitramento do VTN de modo a permitir verificar o atendimento aos requisitos da legislação aplicável (art. 14 da Lei n. 9.393/1996 c/c art. 12, §1º, inciso II, da Lei no 8.629/1993). O resultado do julgamento encontrase assim descrito: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do contribuinte e, no mérito, em darlhe provimento parcial para reduzir o Valor da Terra Nua (VTN) ao valor declarado. Uma vez rejeitado o valor arbitrado através do SIPT face inexistir a valoração levando em consideração a aptidão agrícola da terra nua, e inexistir laudo atribuindo um valor maior que o declarado, rejeito a possibilidade de utilização do SIPT na forma realizada pela autoridade autuante, razão pela qual nego provimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional. Conclusão Face o exposto, voto por CONHECER do Recurso Especial da Fazenda Nacional, para, no mérito, NEGARLHE PROVIMENTO. É como voto. (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Fl. 514DF CARF MF
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