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Numero do processo: 19515.001598/2003-33
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Sep 06 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 1997,1998, 2001
DECADÊNCIA. IRPF. AJUSTE ANUAL.
"O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário". (Súmula CARF nº 38)
OMISSÃO DE RECEITA. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA.
"A Lei n° 9.430, de 1996, em seu art. 42, autoriza a presunção de omissão de receita com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o contribuinte titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. (Súmula CARF nº 26)
Numero da decisão: 2202-004.089
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa- Presidente.
(Assinado digitalmente)
Júnia Roberta Gouveia Sampaio - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio e Martin da Silva Gesto.
Nome do relator: JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO
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IRPF. AJUSTE ANUAL. "O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do anocalendário". (Súmula CARF nº 38) OMISSÃO DE RECEITA. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. "A Lei n° 9.430, de 1996, em seu art. 42, autoriza a presunção de omissão de receita com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o contribuinte titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. (Súmula CARF nº 26) Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 15 98 /2 00 3- 33 Fl. 246DF CARF MF 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio e Martin da Silva Gesto. Relatório Tratase de lançamento efetuado em razão de omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários em relação aos quais o contribuinte, intimado, não comprovou por documentação hábil e idônea a origem dos recursos utilizados nas movimentações financeiras ocorridas nos anoscalendário 1997, 1998 e 2001, nos montantes de R$ 131.968,51, R$ 104.954,07 e R$ 101.211,04, respectivamente. O fundamento legal utilizado foi a presunção instituída pelo art. 42 da Lei nº 9.430/1996. O contribuinte apresentou Impugnação de fls. 168/181 (eprocesso) na qual alegou, resumidamente, o seguinte: a) Decadência dos lançamentos anteriores a 25/04/1998, uma vez que, por se tratar o imposto de renda de tributo sujeito ao lançamento por homologação deveria ser contada a partir de data do fato gerador nos termos do artigo 150, §4º do CTN; b) Nulidade do Auto de Infração, uma vez que os depósitos não foram analisados individualmente e nem observado o seu somatório dentro do anocalendário; c) No demonstrativo de apuração do auto os valores dos créditos bancários foram equivocadamente somados com os valores da Declaração de Renda de Ajuste Anual, quando deveriam ser reduzidos. d) O auto de Infração contém acusações lacônicas, sem narração detalhada dos fatos, sem carrear provas documentais e perícias contábeis que corroborem as informações feitas. e) Não é possível a tributação dos depósitos bancários como se fossem renda sem que o fisco faça a prova dos valores depositados com aplicação ou renda consumida; f) Ainda que tivesse ocorrido a omissão de receita, foi lavrado auto de infração sem conceder ao contribuinte o direito de provar a improcedência da presunção, caracterizando cerceamento do direito de defesa. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento de Campo Grande (MS) deu parcial provimento a impugnação em decisão cuja ementa é a seguinte (fls. 193/203 e processo): Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Anocalendário: 1997,1998,2001 LANÇAMENTO. DECADÊNCIA. O prazo de decadência do tributo lançado de ofício é de cinco anos a contar do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos termos do art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional. CERCEAMENTO DE DEFESA. Fl. 247DF CARF MF Processo nº 19515.001598/200333 Acórdão n.º 2202004.089 S2C2T2 Fl. 247 3 Não é nulo auto de infração que descreve suficientemente a infração de molde a possibilitar a defesa do autuado. INCONSTITUCIONALIDADE. ILEGALIDADE. É defeso em sede administrativa discutir a constitucionalidade e ou legalidade das leis em vigor.. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. Sujeitase ao imposto a omissão de rendimentos caracterizada pelos valores creditados em contas de depósito, não tendo o contribuinte comprovado a origem dos recursos utilizados nessas operações. A presunção legal de omissão de rendimentos, prevista no art. 42, da Lei nº 9.430, de 1996, autoriza o lançamento com base em depósitos bancários de origem não comprovada pelo sujeito passivo. A decisão recorrida excluiu da base de cálculo os depósito cujos valores individuais eram iguais ou inferiores a R$ 12.000,00 e cujo somatório, dentro do ano calendário, não ultrapassasse o valor de R$ 80.000,00, conforme se verifica pelo trecho abaixo transcrito: Quanto ao anocalendário 1997, o montante de créditos é de R$ 131.968,51; no entanto, só dois depósitos estão acima de doze mil reais: R$ 20.000,00 + R$ 35.000,00 (fls. 107), no total de R$ 55.000,00. Os demais somam R$ 76.968,51 e estão abaixo do limite anual de R$ 80.000,00. Assim, é de se reduzir o valor tributável de R$ 131.968,51 para R$ 55.000,00. No anocalendário 1998 não houve nenhum depósito acima de doze mil reais e o somatório de todos os créditos resultou no montante tributável de R$ 104.954,07 (fls. 108/110), que é mantido sem nenhuma alteração. No anocalendário 2001, só um depósito de R$ 35.000,00 (fls. 112) é acima do limite individual. O total dos valores inferiores a doze mil reais é de R$ 66.211,04. Logo, o valor tributável passa de R$ 101.211,04 para R$ 35.000,00. Intimado da referida decisão (AR fls. 206) apresentou o Recurso Voluntário de fls. 208/231, no qual reitera as alegações suscitadas quando da Impugnação. É relatório. Voto Fl. 248DF CARF MF 4 Conselheira Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora O recurso está dotado dos pressupostos legais de admissibilidade, motivo pelo qual, dele conheço 1) PRELIMINAR DECADÊNCIA De acordo com o Recorrente, o imposto de renda pessoa física é tributo sujeito ao lançamento por homologação previsto no art. 150 do CTN. Assim, no caso específico da omissão de receitas, apuradas com fundamento no artigo 42, combinado com o disposto no art. 150. §4º do CTN, a contagem inicial do prazo decadencial de cinco anos para o lançamento do crédito deverá ser contado a partir do mês que se considerar recebidos os rendimentos omitidos. Incorretas as alegações do Recorrente quanto à decadência dos valores relativos ao anocalendário de 1997 até 04/1998, uma vez que a ciência do Auto de Infração ocorreu em 25/04/2003 (fls. 162 do eprocesso) . É entendimento pacífico no âmbito do CARF que "O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do anocalendário"(Súmula CARF nº 38) . Sendo assim, não há que se falar em decadência dos lançamentos relativos ao anocalendário de 1998. 2) MÉRITO 2.1) AUSÊNCIA DE ACRÉSCIMO PATRIMONIAL ART. 43 DO CTN. COMPROVAÇÃO DO CONSUMO DA RENDA. Alega do Recorrente que a fiscalização não se comprovou a ocorrência do fato gerador do imposto de renda o que só seria possível mediante a demonstração de sinais exteriores de riqueza ou do efetivo acréscimo patrimonial. É correta a afirmação do Recorrente no sentido de que o simples depósito em conta corrente não significa renda. No entanto, é pacífico que uso de presunções em matéria tributária é admitido, desde que tais presunções sejam relativas, como é o caso da presunção estabelecida no artigo 42 da Lei nº 9.430/96, o qual dispõe: Art. 42. Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. § 1º O valor das receitas ou dos rendimentos omitido será considerado auferido ou recebido no mês do crédito efetuado pela instituição financeira. § 2° Os valores cuja origem houver sido comprovada, que não houverem sido computados na base de cálculo dos impostos e contribuições a que estiverem sujeitos, submeterseão às normas de tributação específicas previstas na legislação vigente à época em que auferidos ou recebidos. Fl. 249DF CARF MF Processo nº 19515.001598/200333 Acórdão n.º 2202004.089 S2C2T2 Fl. 248 5 § 3º Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica; II no caso de pessoa física, sem prejuízo do disposto no inciso anterior, os de valor individual igual ou inferior a R$12.000,00 (doze mil Reais), desde que o seu somatório, dentro do ano calendário, não ultrapasse o valor de R$80.000,00 (oitenta mil Reais). §4° Tratandose de pessoa física, os rendimentos omitidos serão tributados no mês em que considerados recebidos, com base na tabela progressiva vigente à época em que tenha sido efetuado o crédito pela instituição financeira. A exigência fiscal em exame decorre de expressa previsão legal, pela qual existe uma presunção em favor do Fisco, que fica dispensado de provar o fato que originou a omissão de rendimentos, cabendo ao contribuinte elidir a imputação, comprovando a origem dos recursos. Conforme previsão do art. 42 da Lei nº 9.430/96, é necessário comprovar, individualizadamente, a origem dos recursos, identificandoos como decorrentes de renda já oferecida à tributação ou como rendimentos isentos/não tributáveis. Tratase,portanto, de ônus exclusivo do contribuinte, a quem cabe comprovar, de maneira inequívoca, a origem dos valores que transitaram por sua conta bancária, não sendo bastante alegações e indícios de prova. Ademais, a legitimidade da inversão do ônus da prova e a desnecessidade de comprovação do consumo da renda é matéria que já se encontra sumulada pela jurisprudência do CARF, conforme se constata pela Súmula nº 26 abaixo transcrita: Súmula CARF nº 26: A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada Em face do exposto, improcedentes as alegações suscitadas. 3) CONCLUSÃO Em face do exposto, rejeito as preliminares e, no mérito, nego provimento ao Recurso Voluntário. Fl. 250DF CARF MF 6 (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio. Fl. 251DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12448.725355/2011-04
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 04 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Aug 01 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2005
OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. FORMA DE TRIBUTAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA DO STJ E STF. ART. 62, §2º DO ANEXO II AO REGIMENTO INTERNO DO CARF.
No caso de rendimentos pagos acumuladamente em cumprimento de decisão judicial, a incidência do imposto ocorre no mês de recebimento, mas o cálculo do imposto deverá considerar os períodos a que se referirem os rendimentos, evitando-se, assim, ônus tributário ao contribuinte maior do que o devido, caso a fonte pagadora tivesse procedido tempestivamente ao pagamento dos valores reconhecidos em juízo. Jurisprudência do STJ e do STF, com aplicação da sistemática dos Arts. 543 - B e 543 - C do CPC/1973. Art. 62, §2º do RICARF determinando a reprodução do entendimento.
Numero da decisão: 2202-004.028
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, dar provimento ao recurso para cancelar a exigência fiscal, vencidos os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (Relator), Rosy Adriane da Silva Dias e Denny Medeiros da Silveira, que deram provimento parcial ao recurso para aplicar aos rendimentos pagos acumuladamente as tabelas e alíquotas do imposto de renda vigentes à época em que os valores deveriam ter sido adimplidos. Foi designado o Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto para redigir o voto vencedor.
(assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa - Presidente e Relator
(assinado digitalmente)
Dilson Jatahy Fonseca Neto - Redator designado
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Fernanda Melo Leal, Denny Medeiros da Silveira, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Marcio Henrique Sales Parada.
Nome do relator: MARCO AURELIO DE OLIVEIRA BARBOSA
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Exercício: 2005 OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. FORMA DE TRIBUTAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA DO STJ E STF. ART. 62, §2º DO ANEXO II AO REGIMENTO INTERNO DO CARF. No caso de rendimentos pagos acumuladamente em cumprimento de decisão judicial, a incidência do imposto ocorre no mês de recebimento, mas o cálculo do imposto deverá considerar os períodos a que se referirem os rendimentos, evitando-se, assim, ônus tributário ao contribuinte maior do que o devido, caso a fonte pagadora tivesse procedido tempestivamente ao pagamento dos valores reconhecidos em juízo. Jurisprudência do STJ e do STF, com aplicação da sistemática dos Arts. 543 - B e 543 - C do CPC/1973. Art. 62, §2º do RICARF determinando a reprodução do entendimento.
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FORMA DE TRIBUTAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA DO STJ E STF. ART. 62, §2º DO ANEXO II AO REGIMENTO INTERNO DO CARF. No caso de rendimentos pagos acumuladamente em cumprimento de decisão judicial, a incidência do imposto ocorre no mês de recebimento, mas o cálculo do imposto deverá considerar os períodos a que se referirem os rendimentos, evitandose, assim, ônus tributário ao contribuinte maior do que o devido, caso a fonte pagadora tivesse procedido tempestivamente ao pagamento dos valores reconhecidos em juízo. Jurisprudência do STJ e do STF, com aplicação da sistemática dos Arts. 543 B e 543 C do CPC/1973. Art. 62, §2º do RICARF determinando a reprodução do entendimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, dar provimento ao recurso para cancelar a exigência fiscal, vencidos os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (Relator), Rosy Adriane da Silva Dias e Denny Medeiros da Silveira, que deram provimento parcial ao recurso para aplicar aos rendimentos pagos acumuladamente as tabelas e alíquotas do imposto de renda vigentes à época em que os valores deveriam ter sido adimplidos. Foi designado o Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto para redigir o voto vencedor. (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente e Relator (assinado digitalmente) Dilson Jatahy Fonseca Neto Redator designado AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 44 8. 72 53 55 /2 01 1- 04 Fl. 58DF CARF MF 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Fernanda Melo Leal, Denny Medeiros da Silveira, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Marcio Henrique Sales Parada. Relatório Reproduzo o relatório do acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento no Rio de Janeiro (RJ) – DRJ/RJ1, que descreveu os fatos ocorridos até a decisão de primeira instância. Em procedimento de revisão interna de declaração de rendimentos correspondente ao anocalendário de 2008, foi lavrada a notificação de lançamento de fls. 6 a 10, em que foi apurada a infração de omissão de rendimentos proveniente de ação na justiça federal no valor de R$ 1.447.857,05, tendo sido compensado o imposto de renda retido na fonte (IRRF) de R$ 379.042,49 (fl. 8). Em virtude dessa infração, foi apurado o imposto de renda suplementar de R$ 12.532,26, acrescido de multa de ofício e juros de mora regulamentares, perfazendo o crédito total de R$ 24.168,45 (fl. 6). A descrição dos fatos e o devido enquadramento legal constam da notificação em pauta. Inconformado, o procurador da Inventariante do espólio da Interessada apresentou a impugnação de fls. 2 e 3, argumentando que os rendimentos recebidos referemse a precatório alimentar demandado ao Estado do Rio de Janeiro e assim sendo a omissão é decorrente de ação na Justiça Estadual. Alega a iniciativa do recolhimento do imposto de renda retido na fonte por parte do próprio espólio e junta à peça impugnatória os recibos do recolhimento do imposto, Inclui os honorários do escritório Gouveia Associados – GAA – CNPJ nº 39.419.767/000195 de R$ 600.000,00 (contrato de honorários). Por fim, pede o cancelamento do débito fiscal reclamado. A 18ª Turma de Julgamento da DRJ/RJ1 julgou improcedente a impugnação, cuja decisão foi assim ementada: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2008 OMISSÃO DE RENDIMENTOS. AÇÃO JUDICIAL TRABALHISTA. Os rendimentos do trabalho recebidos acumuladamente por meio de precatório estão sujeitos à incidência do imposto de renda no mês do recebimento e na declaração de ajuste.. Fl. 59DF CARF MF Processo nº 12448.725355/201104 Acórdão n.º 2202004.028 S2C2T2 Fl. 59 3 Cientificado da decisão em 11/11/2014 (fl. 38), o Contribuinte interpôs o Recurso Voluntário de fls. 47/53 em 12/12/2014, no qual afirma que foi pago no exercício de 2007 pelo estado do Rio de Janeiro a quantia de R$ 374.271,29 ao espólio e como honorários advocatícios o valor de R$ 260.483,59 à firma GAA GOUVEA ADVOGADOS ASSOCIADOS, conforme DIRPF 2008 Ano Base 2007. Requer, assim, a restituição do imposto de renda no valor de R$ 69.957,19. Anexa ao recurso a DIRPF do exercício 2008, anocalendário 2007 (fls. 49/52) e uma declaração do escritório de advocacia reconhecendo o recebimento de R$ 263.779,99 no ano de 2007, referente a honorários advocatícios (fl. 53). É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Relator O recurso atende aos pressupostos de admissibilidade e, portanto, deve ser conhecido. O Contribuinte informa que os rendimentos questionados são decorrentes de um precatório judicial do Estado do Rio de Janeiro, de natureza alimentar. Afirma, ainda, ter pago ao escritório GAA GOUVEA ADVOGADOS ASSOCIADOS o valor de R$ 260.483,59, de honorários advocatícios. As provas apresentadas pelo Contribuinte às fls. 49/53 referemse, na realidade, ao anocalendário 2007, quando o lançamento em análise diz respeito ao ano calendário 2008, conforme Notificação de Lançamento de fls. 6/10. Assim, não há como acolher as suas argumentações quanto ao pagamento dos honorários advocatícios por falta de provas. É regra geral no Direito que o ônus da prova é uma conseqüência do ônus de afirmar e, portanto, cabe a quem alega. Nesse caso, o Recorrente apenas alegou e nada provou e, segundo brocardo jurídico por demais conhecido, "alegar e não provar é o mesmo que não alegar". O artigo 373 do Novo Código de Processo Civil (NCPC) art. 333 do antigo CPC estabelece as regras gerais relativas ao ônus da prova, partindo da premissa básica de que cabe a quem alega provar a veracidade do fato. Art. 373. O ônus da prova incumbe: I ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. [...] Fl. 60DF CARF MF 4 No que se refere à natureza dos rendimentos recebidos acumuladamente, observase pelas provas apresentadas e pela Notificação de Lançamento (fl. 8) que se trata de verbas atrasadas recebidas de decisão da Justiça do Trabalho (código de receita 5936). Embora esse argumento não tenha sido suscitado pelo Recorrente em seu Recurso Voluntário, ele foi discutido no Acórdão da DRJ. Ademais, o comando imperativo assentado no § 2º do art. 62 do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, impõe aos Conselheiros, no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, a reprodução das decisões definitivas de mérito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista nos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869/73 (antigo Código de Processo Civil), ou dos artigos 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105/2015 (Novo Código de Processo Civil). A Fiscalização realizou o lançamento utilizando o regime de caixa, conforme regra estabelecida no art. 12 da Lei nº 7.713, de 1988. Art. 12. No caso de rendimentos recebidos acumuladamente, o imposto incidirá, no mês do recebimento ou crédito, sobre o total dos rendimentos, diminuídos do valor das despesas com ação judicial necessárias ao seu recebimento, inclusive de advogados, se tiverem sido pagas pelo contribuinte, sem indenização. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em recurso repetitivo representativo da controvérsia, submetido ao regime do art. 543C do CPC, no REsp n° 1.118.429SP, decidiu: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA. AÇÃO REVISIONAL DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. PARCELAS ATRASADAS RECEBIDAS DE FORMA ACUMULADA. 1. O Imposto de Renda incidente sobre os benefícios pagos acumuladamente deve ser calculado de acordo com as tabelas e alíquotas vigentes à época em que os valores deveriam ter sido adimplidos, observando a renda auferida mês a mês pelo segurado. Não é legítima a cobrança de IR com parâmetro no montante global pago extemporaneamente. Precedentes do STJ. 2. Recurso Especial não provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543C do CPC e do art. 8º da Resolução STJ 8/2008 (STJ, 1ª Seção, REsp 1.118.429/SP,rel. Min. Herman Benjamin, j., em 24.03.2010). (destaquei) Recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu sobre a matéria, no âmbito do RE 614.406/RS, com repercussão geral reconhecida, na sistemática do art. 543B, do CPC, quando acordou por manter a decisão do STJ sobre a inconstitucionalidade do art. 12 da Lei nº 7.713/88, afastando o regime de caixa, mas adotando o regime de competência, ou seja, concordando com a incidência mensal para o cálculo do imposto de renda correspondente à tabela progressiva vigente no período mensal em que apurado o rendimento percebido a menor. Em nenhum momento se cogitou de eventual cancelamento integral de lançamentos efetuados em obediência ao art. 12 da Lei nº 7.713/88, o qual estava plenamente vigente à época do lançamento. Transcrevo a seguir excerto do voto vencedor do Ilustre Conselheiro Heitor de Souza Lima Junior, no Acórdão nº 9202003.695, da 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais acerca desse tema. Fl. 61DF CARF MF Processo nº 12448.725355/201104 Acórdão n.º 2202004.028 S2C2T2 Fl. 60 5 Deflui daquela decisão da Suprema Corte, em meu entendimento, inclusive, o pleno reconhecimento do surgimento da obrigação tributária que aqui se discute, ainda que em montante diverso daquele apurado quando do lançamento, o qual, repitase, obedeceu os estritos ditames da legalidade à época da ação fiscal realizada. Da leitura do inteiro teor do decisum do STF, é notório que, ainda que se tenha rejeitado o surgimento da obrigação tributária somente no momento do recebimento financeiro pela pessoa física, o que a faria mais gravosa, entendese, ali, inequivocamente, que se mantém incólume a obrigação tributária oriunda do recebimento dos valores acumulados pelo contribuinte pessoa física, mas agora a ser calculada em momento pretérito, quando o contribuinte fez jus à percepção dos rendimentos, de forma, assim, a restarem respeitados os princípios da capacidade contributiva e isonomia. Assim, com a devida vênia ao posicionamento do relator, entendo que, a esta altura, ao se esposar o posicionamento de exoneração integral do lançamento, se estaria, inclusive, a contrariar as razões de decidir que embasam o decisum vinculante, no qual, reitero, em nenhum momento, notese, se cogita da inexistência da obrigação tributária/incidência do Imposto sobre a Renda decorrente da percepção de rendimentos tributáveis de forma acumulada. Se, por um lado, manterse a tributação na forma do referido art. 12 da Lei no 7.713, de 1988, conforme decidido de forma definitiva pelo STF, violaria a isonomia no que tange aos que receberam as verbas devidas "em dia" e ali recolheram os tributos devidos, exonerar o lançamento por completo a esta altura significaria estabelecer tratamento antiisonômico (também em relação aos que também receberam em dia e recolheram devidamente seus impostos), mas em favor daqueles que foram autuados e nada recolheram ou recolheram valores muito inferiores aos devidos, ao serem agora consideradas as tabelas/alíquotas vigentes à época, o que deve, em meu entendimento, também se rechaçar. O artigo 62, § 2º, do RICARF, determina que os Conselheiros deverão reproduzir as decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), na sistemática prevista pelo artigo 543C do Código de Processo Civil (CPC). Art. 62 [...] § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973 Código de Processo Civil (CPC), deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Dessa forma, deve ser aplicado o entendimento do STJ no sentido de que o Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos pagos acumuladamente deve ser calculado de acordo com as tabelas e alíquotas vigentes à época em que os valores deveriam ter sido Fl. 62DF CARF MF 6 adimplidos, observando a renda auferida mês a mês pelo contribuinte, não sendo legítima a cobrança com base no montante global pago extemporaneamente. Seguem alguns julgados recentes da Câmara Superior nesse sentido: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2009 IRPF. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. Consoante decidido pelo STF através da sistemática estabelecida pelo art. 543B do CPC no âmbito do RE 614.406/RS, o IRPF sobre os rendimentos recebidos acumuladamente deve ser calculado considerando o regime de competência. Recurso especial conhecido e provido. (Acórdão nº 9202 004.518, de 26/10/2016 2ª Turma. Relator: Luiz Eduardo de Oliveira Santos). ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2003 [...] IRPF. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. Consoante decidido pelo STF através da sistemática estabelecida pelo art. 543B do CPC no âmbito do RE 614.406/RS, o IRPF sobre os rendimentos recebidos acumuladamente deve ser calculado utilizandose as tabelas e alíquotas do imposto vigentes a cada mês de referência (regime de competência). (Acórdão nº 9202003.695 2ª Turma de 27/01/2016. Relator originário: José Cheffe Rahal. Redator designado: Heitor de Souza Lima Junior). Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2009 NULIDADE. INOCORRÊNCIA. Não há que se cogitar de nulidade de lançamento, quando plenamente obedecidos pela autoridade lançadora os ditames do art. 142, do CTN e a lei tributária vigente. IRPF. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. Consoante decidido pelo STF através da sistemática estabelecida pelo art. 543B do CPC no âmbito do RE 614.406/RS, o IRPF sobre os rendimentos recebidos acumuladamente deve ser calculado de acordo com o regime de Fl. 63DF CARF MF Processo nº 12448.725355/201104 Acórdão n.º 2202004.028 S2C2T2 Fl. 61 7 competência. (Acórdão nº 9202004.182, de 21/06/2016 2ª Turma. Relator: Luiz Eduardo de Oliveira Santos). IRPF. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. O imposto de renda incidente sobre os rendimentos tributáveis recebidos acumuladamente deve ser calculado com base tabelas e alíquotas vigentes à época em que os valores deveriam ter sido adimplidos, conforme dispõe o Recurso Especial nº 1.118.429/SP, julgado na forma do art. 543C do CPC (art. 62A do RICARF). (Acórdão nº 2202002.785, de 09/09/2014. Rel. Antonio Lopo Martinez). Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento parcial ao recurso para aplicar aos rendimentos pagos acumuladamente as tabelas e alíquotas do imposto de renda vigentes à época em que os valores deveriam ter sido adimplidos. (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Relator Voto Vencedor Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto Redator designado. A despeito dos muito bem fundamentos argumentos apresentados no voto do i.Relator, peço vênia para divergir em relação às conclusões pelos motivos que a seguir passo a explanar. Em seu voto, o i.Relator anotou e concluiu que: "Recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu sobre a matéria, no âmbito do RE 614.406/RS, com repercussão geral reconhecida, na sistemática do art. 543B, do CPC, quando acordou por manter a decisão do STJ sobre a inconstitucionalidade do art. 12 da Lei nº 7.713/88, afastando o regime de caixa, mas adotando o regime de competência, ou seja, concordando com a incidência mensal para o cálculo do imposto de renda correspondente à tabela progressiva vigente no período mensal em que apurado o rendimento percebido a menor. Em nenhum momento se cogitou de eventual cancelamento integral de lançamentos efetuados em obediência ao art. 12 da Lei nº 7.713/88, o qual estava plenamente vigente à época do lançamento. (...) "Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, aplicando aos rendimentos pagos acumuladamente as tabelas e Fl. 64DF CARF MF 8 alíquotas do imposto de renda vigentes à época em que os valores deveriam ter sido adimplidos." Efetivamente, não há dúvidas quanto à premissa: o STF reconheceu a inconstitucionalidade da aplicação do art. 12 da Lei nº 7.713/1988 para apurar o tributo pelo regime de caixa, entendendo que o correto é a apuração do Imposto de Renda, nos casos de Rendimentos Recebidos Acumuladamente, pelo regime de competência, entendimento esse que deve ser repetido nos termos do art. 62, §2º, do Anexo II ao RICARF, vez que foi proferido o acórdão em sede de repercussão geral. Acontece que, identificando erro na forma de apurar o tributo, entendo que há vício material no lançamento, vício esse que não pode ser convalidado sem sede de julgamento perante este e.CARF. A correta aplicação das normas de apuração do tributo é tão relevante quanto qualquer outro elemento material da imposição, tal como, por exemplo, a correta identificação do sujeito passivo. Não seria possível, nesse momento processual, constatando que o tributo foi lançado contra pessoa errada, simplesmente determinar a substituição do sujeito passivo para o verdadeiro contribuinte, mantendo o auto de infração. No mesmo sentido, não é possível manter um lançamento que identificou incorretamente a forma de apurar o tributo. Não se confunde o presente caso com aqueles nos quais há mera redução da base de cálculo. Por exemplo, quando o Contribuinte é capaz de comprovar durante o processo administrativo fiscal a origem de determinados depósitos bancários, o lançamento foi absolutamente correto; o Contribuinte é quem foi capaz de demonstrar que parte da base de cálculo já havia sido declarada ou que não era rendimentos. Ali, é possível reduzir a base de cálculo sem afetar a integralidade do lançamento, vez que todos os elementos essenciais do auto de infração são os mesmos: há constatação de depósitos bancários com origem não comprovada, há correta aplicação da Lei, há adequada identificação do sujeito passivo etc. Pelo contrário, constatandose que o lançamento se baseou em aplicação inconstitucional da Lei, atacase a própria essência do lançamento: houve incorreta subsunção do fato à norma. Este e.CARF tem diversos precedentes nesse caminho, pela impossibilidade de recalculo do lançamento: "INCOMPETÊNCIA DO CARF PARA REFAZER O LANÇAMENTO. RENDIMENTOS PERCEBIDOS ACUMULADAMENTE. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. O lançamento adotou critério jurídico equivocado e dissonante da jurisprudência do STF e do STJ, impactando a identificação da base de cálculo, das alíquotas vigentes e, consequentemente, o cálculo do tributo devido, o que caracteriza vício material. Não compete ao CARF refazer o lançamento com outros critérios jurídicos. Recurso Voluntário Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso." (Acórdão CARF nº 2402005.316, de 14/06/2016) ... Fl. 65DF CARF MF Processo nº 12448.725355/201104 Acórdão n.º 2202004.028 S2C2T2 Fl. 62 9 RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE EM DECORRÊNCIA DE DECISÃO JUDICIAL. EQUÍVOCO NA APLICAÇÃO DA LEI QUE AFETOU SUBSTANCIALMENTE O LANÇAMENTO. INCOMPETÊNCIA DO JULGADOR PARA REFAZER O LANÇAMENTO. CANCELAMENTO DA EXIGÊNCIA. Ao adotar outra interpretação do dispositivo legal, o lançamento empregou critério jurídico equivocado, o que o afetou substancialmente, pois prejudicou a quantificação da base de cálculo, a identificação das alíquotas aplicáveis e o valor do tributo devido, caracterizandose um vício material a invalidá lo. Não compete ao órgão de julgamento refazer o lançamento com outros critérios jurídicos, mas tão somente afastar a exigência indevida. Recurso Voluntário Provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado por unanimidade de votos DAR PROVIMENTO ao recurso voluntário nos termos do voto do Relator. Os Conselheiros JACI DE ASSIS JÚNIOR e MARA EUGÊNIA BUONANNO CARAMICO acompanharam o Relator pelas conclusões. (Acórdão CARF nº 2802003.359, de 11/03/2015) Enfim, identificado o erro material no lançamento, deve este ser cancelado. Cabe ao Fisco, se ainda estiver no seu prazo decadencial, providenciar um novo lançamento, dessa vez apurando o tributo da forma adequada, tal qual se imporia um novo lançamento se se tratasse de erro material quanto à identificação do sujeito passivo nulidade não maior, mas sim igual à ora constatada. Dispositivo Diante de tudo quanto exposto, voto por dar provimento ao recurso para cancelar a exigência fiscal. (assinado digitalmente) Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto Redator designado. Fl. 66DF CARF MF
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Numero do processo: 10380.720648/2013-55
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Sep 06 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2009 a 30/09/2011
CONCOMITÂNCIA. AÇÃO JUDICIAL. SÚMULA CARF Nº 1.
Estabelece a Súmula CARF nº 1 que importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial.
PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA.
Inexiste cerceamento de defesa por ter deixado a decisão de primeira instância de deferir pedido de perícia.
PEDIDO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO.
A perícia se reserva à elucidação de pontos duvidosos que requeiram conhecimentos especializados para o deslinde de questão controversa, não se justificando a sua realização quando o processo contiver os elementos necessários para a formação da livre convicção do julgador.
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. COMPENSAÇÃO REALIZADA ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA RESPECTIVA DECISÃO JUDICIAL. 170-A DO CTN.
Nos termos do art. 170-A do Código Tributário Nacional, é vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial.
MULTA DE OFÍCIO. CABIMENTO.
Estabelece o inciso I do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, com a redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007, que nos casos de lançamento de ofício, será aplicada multa de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata.
MULTA. CARÁTER CONFISCATÓRIO. ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE. SÚMULA CARF Nº 2.
Nos termos da Súmula CARF nº 2, o CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. INCOMPETÊNCIA DO CARF. SÚMULA CARF Nº 28.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais.
Recurso Voluntário Negado
Numero da decisão: 2202-004.120
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar e, no mérito, negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa - Presidente
(assinado digitalmente)
Martin da Silva Gesto - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marco Aurelio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Jose Ricardo Moreira.
Nome do relator: MARTIN DA SILVA GESTO
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/01/2009 a 30/09/2011 CONCOMITÂNCIA. AÇÃO JUDICIAL. SÚMULA CARF Nº 1. Estabelece a Súmula CARF nº 1 que importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. Inexiste cerceamento de defesa por ter deixado a decisão de primeira instância de deferir pedido de perícia. PEDIDO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO. A perícia se reserva à elucidação de pontos duvidosos que requeiram conhecimentos especializados para o deslinde de questão controversa, não se justificando a sua realização quando o processo contiver os elementos necessários para a formação da livre convicção do julgador. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. COMPENSAÇÃO REALIZADA ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA RESPECTIVA DECISÃO JUDICIAL. 170-A DO CTN. Nos termos do art. 170-A do Código Tributário Nacional, é vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. MULTA DE OFÍCIO. CABIMENTO. Estabelece o inciso I do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, com a redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007, que nos casos de lançamento de ofício, será aplicada multa de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata. MULTA. CARÁTER CONFISCATÓRIO. ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE. SÚMULA CARF Nº 2. Nos termos da Súmula CARF nº 2, o CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. INCOMPETÊNCIA DO CARF. SÚMULA CARF Nº 28. O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais. Recurso Voluntário Negado
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AÇÃO JUDICIAL. SÚMULA CARF Nº 1. Estabelece a Súmula CARF nº 1 que importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. Inexiste cerceamento de defesa por ter deixado a decisão de primeira instância de deferir pedido de perícia. PEDIDO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO. A perícia se reserva à elucidação de pontos duvidosos que requeiram conhecimentos especializados para o deslinde de questão controversa, não se justificando a sua realização quando o processo contiver os elementos necessários para a formação da livre convicção do julgador. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. COMPENSAÇÃO REALIZADA ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA RESPECTIVA DECISÃO JUDICIAL. 170A DO CTN. Nos termos do art. 170A do Código Tributário Nacional, é vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. MULTA DE OFÍCIO. CABIMENTO. Estabelece o inciso I do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, com a redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007, que nos casos de lançamento de ofício, será AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 38 0. 72 06 48 /2 01 3- 55 Fl. 4100DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.101 2 aplicada multa de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata. MULTA. CARÁTER CONFISCATÓRIO. ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE. SÚMULA CARF Nº 2. Nos termos da Súmula CARF nº 2, o CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. INCOMPETÊNCIA DO CARF. SÚMULA CARF Nº 28. O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais. Recurso Voluntário Negado Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar e, no mérito, negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marco Aurelio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Jose Ricardo Moreira. Relatório Tratase de Recursos Voluntários interpostos nos autos do processo nº 10320.722153/201375, em face do acórdão nº 0830.493, julgado pela 6ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Campo Grande (DRJ/CGE), na sessão de julgamento de 26 de setembro de 2013, no qual os membros daquele colegiado entenderam por julgar improcedente a impugnação apresentada pelo contribuinte. Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento de origem, que assim relatou os fatos: LANÇAMENTO Fl. 4101DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.102 3 Os presentes autos versam sobre lançamentos de contribuições previdenciárias feitos pelo AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil MARCIUS CRUZ DA PONTE SOUZA, por meio dos autos de infração a seguir descritos. · DEBCAD 51.037.3810 (CFL 38) – Multa prevista nos arts. 92 e 102 da Lei nº 8.212, de 1991, art. 283, inciso II, alínea “j” e art. 373 do Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 1999, no valor de R$ 17.165,50, em razão de infração ao art. 33, §§ 2º e 3º da Lei nº 8.212, de 1991 (fl.240); · DEBCAD 51.021.8229 (CFL 38) – Multa prevista nos arts. 92 e 102 da Lei nº 8.212, de 1991, art. 283, inciso II, alínea “a” e art. 373 do Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 1999, no valor de R$ 17.165,50, por infração ao art. 32, inciso II da Lei nº 8.212, de 1991 (fl.172); · DEBCAD 51.021.8237 (CFL 78) – Multa prevista no art. 32A, caput, inciso II e §§ 2º e 3º da Lei nº 8.212, de 1991, incluídos pela MP nº 449, de 2008, no valor de R$ 3.500,00, por infração ao art. 32, inciso IV da Lei nº 8.212, de 1991, conforme redação da MP nº 449, de 2008 (fl.171); · DEBCAD 51.037.3801 Contribuições previdenciárias patronais não declaradas em GFIP incidentes sobre remunerações pagas aos segurados empregados e contribuintes individuais, verificadas em face da divergência de valores de folha de pagamento, RAIS e DIRF em confronto com a GFIP, abrangendo as competências de 01/2009 a 13/2010, com valor total de R$ 745.140,70, consolidado em 23/01/2013 (fls.220 a 239); · DEBCAD 51.037.3771 Contribuições previdenciárias devidas pelos segurados empregados e contribuintes individuais, incidentes sobre remunerações pagas pela empresa, verificadas em face da divergência de valores de folha de pagamento, RAIS e DIRF em confronto com a GFIP. Tratase de valores não declarados em GFIP, referentes às competências 01/2009 a 13/2010, no valor de R$ 146.255,09, consolidado em 23/01/2013 (fls.173 a 190); · ∙DEBCAD N°. 51.037.3780 Contribuições sociais destinadas a outras entidades e fundos incidentes sobre remunerações pagas aos segurados empregados e não declaradas em GFIP, abrangendo as competências de 01/2009 a 13/2010, com valor total de R$ 263.568,56, consolidado em 23/01/2013 (fls.191 a 210); · DEBCAD N°. 51.037.3798 Autos de Infração por descumprimento de obrigação principal lavrados em decorrência de glosa de compensação efetuada antes do trânsito em julgado em desobediência de decisões judiciais exaradas nos autos dos Processos Judiciais nº 0004308 Fl. 4102DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.103 4 67.2011.4.05.8100, 0005342 48.2009.4.05.8100, 0006434 27.2010.4.05.8100 e 0012558 26.2010.4.05.8100, todos em trâmite no Tribunal Regional da 5ª Região e do disposto no art. 170A do Código Tributário Nacional. Durante ação fiscal, com valor total de R$ 2.552.147,60 consolidado em 23/01/2013. (fls.211 a 220). A autoridade lançadora narra os fatos constatados durante a fiscalização no relatório fiscal de fls.100 a 155. O sujeito passivo foi intimado pessoalmente dos autos de infração em 28/01/2013 (fls.171, 172, 173, 191, 220, 211, 240). INFORMAÇÃO DE PAGAMENTO DAS MULTAS REFERENTES AO DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS O sujeito passivo, por meio das petições de fls.3426, 3432 e 3438, informa que efetuou o pagamento das multas referentes aos DEBCAD 51.021.8229, 51.021.8237 e 51.037.3810 com redução de 50%, estando tais débitos extintos conforme extrato de processo de fl.3.923, não sendo eles, portanto, objeto das impugnações apresentadas. IMPUGNAÇÃO O sujeito passivo, em 15/02/2013, impugnou os lançamentos, aduzindo, em breve síntese, que: DEBCAD 51.037.3801, 51.037.3780 e 51.037.3771 (fls.3.444 a 3.453, 3.687 a 3.698 e 3.719 a 3.886 · A multa de ofício de 75% é injusta, indevida, excessiva, padecendo de vício de inconstitucionalidade, pois ofende os princípios da razoabilidade, proporcionalidade, vedação ao confisco, capacidade contributiva e segurança jurídica · Devese considerar o postulado constitucional da proporcionalidade, não para declarar inconstitucional o art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, o que não se pede em respeito ao entendimento jurisprudencial segundo o qual o órgão de julgamento administrativo não teria competência para isso, mas para interpretar o referido dispositivo legal conforme a · Constituição, para se afastar a cobrança da multa isolada; · O correto seria aplicar a multa de mora de 20%; · Não praticou nenhuma ação fraudulenta, conforme informa o relatório fiscal, motivo pelo qual ela deve ser afastada; · Por tais razões formula pedido pela nulidade da multa de 75% aplicada nos autos de infração DEBCAD 51.037.3771, DEBCAD 51.037.3780, DEBCAD 51.037.3801. · DEBCAD 51.037.3798 (fls.3719 a 3766) Fl. 4103DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.104 5 · Ajuizou ações pleiteando a inexigibilidade da contribuição previdenciária incidente sobre os valores pagos a título de férias e seu adicional, auxílio doença e acidente, salário maternidade, horasextras, adicionais noturno, de insalubridade, de periculosidade e de transferência, aviso prévio indenizado, 13º salário, valetransporte em dinheiro, planos de saúde a empregados e trabalhadores avulsos; · Por ter recolhido indevidamente as contribuições previdenciárias incidentes sobre as várias rubricas discutidas judicialmente, faz jus à compensação desses valores, independentemente de autorização administrativa ou judicial, com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a quaisquer tributos ou contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, conforme o art. 66 da Lei nº 8.383, de 1991, combinado com o art. 74 da Lei nº 9.430, de 1996, direito este reconhecido pelo Poder Judiciário; · Houve claro equívoco na autuação, uma vez que foram proferidas decisões liminares, sentenças e acórdão que lhe foram favoráveis nos vários processos judiciais, o que por si só suspende a exigibilidade do crédito indevidamente exigido por meio do auto de infração, nos termos do art. 151 do CTN; · Assim, é infundada a decisão que não homologou qualquer suspensão ou compensação declarada pelo impugnante; · Em razão da jurisprudência dominante nos tribunais pátrios, não pode ser compelida ao pagamento de contribuição previdenciária patronal incidente sobre valores pagos a título de saláriomaternidade, férias gozadas, adicional de 1/3 de férias, horasextras, adicional noturno, de periculosidade, de insalubridade e de transferência, aviso prévio indenizado, 13º salário, vale transporte em dinheiro, plano de saúde; · Os procedimentos realizados e devidamente declarados ao Fisco foram lastreados em decisões dos Tribunais Superiores, cuja permissão legal à compensação dos valores recolhidos indevidamente continuam em vigor, não havendo razão para a não homologação das compensações feitas; · Por tais razões formula pedido pela total improcedência do auto de infração do DEBCAD 51.037.3798 A 4ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Campo Grande (DRJ/CGE) entendeu por manter o crédito previdenciário lançado, determinando que a unidade preparadora adotasse todas as providências necessárias para cobrança imediata do crédito tributário não impugnado. Fl. 4104DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.105 6 Inconformado, o contribuinte apresentou quatro recursos voluntários às fls. 3959/4067, de modo que cada um referiuse a DEBCAD distinto. Os Recursos Voluntários de fls. 3959/3978 (DEBCAD N° 51.037.3771), o de fls. 3979/3998 (DEBCAD n° 51.037.3801) e o de fls.3999/4018 (DEBCAD n° 51.037.378 0) requerem que seja decretada a nulidade da Multa de 75% aplicada no Auto de Infração. O Recurso Voluntário de fl.4019/4067 (DEBCAD n° 51.037.3798) alega que em razão de terem sidas proferidas decisões liminares nos autos dos processos judiciais, não haveria exigibilidade do crédito do auto de infração. Dessa forma, requer que seja julgada improcedente a ação fiscal do DEBCAD n° 51.037.3798). É o relatório. Voto Conselheiro Martin da Silva Gesto Relator O recurso voluntário foi apresentado dentro do prazo legal, reunindo, ainda, os demais requisitos de admissibilidade. Portanto, dele conheço. Matéria Não Impugnada Por oportuno, importa transcrever que a lide se encontra delimitada desde a primeira instância. A DRJ assim havia delimitado a matéria: "O sujeito passivo insurgese somente contra a aplicação da multa de ofício de 75% aos débitos tratados nos DEBCAD 51.037.3801, 51.037.3780 e 51.037.3771. Dessa forma, o valor principal e juros dos créditos previdenciários referentes aos DEBCAD 51.037.3801, 51.037.3780 e 51.037.3771 correspondem à matéria impugnada, conforme prevê o art. 17 do Decreto nº 70.235, de 1972. Isso leva à consolidação administrativa do crédito tributário lançado pertinente a essa matéria, porque não fica instaurado o litígio, tornando precluso o recurso voluntário quanto à matéria não impugnada. A unidade preparadora deverá adotar as providências que se fizerem necessárias para a cobrança imediata do crédito tributário não impugnado." Representação fiscal para fins penais. Alegação de inexistência de fraude. Alega o sujeito passivo que não praticou nenhuma ação fraudulenta, conforme informa o relatório fiscal, motivo pelo qual ela deve ser afastada. A autoridade Fl. 4105DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.106 7 lançadora relatou que a conduta do sujeito passivo poderia configurar ilícito penal, motivo pelo qual foi lavrada representação fiscal para fins penais. O procedimento denominado “representação fiscal para fins penais” pelo art. 83 da Lei nº 9.430/1996 nada mais é do que a comunicação ao Ministério Público da prática de ato que, em tese, caracteriza ilícito penal, acompanhada de elementos de prova que dêem respaldo a esse juízo preliminar. Não compete, todavia, a este Conselho manifestarse quanto às constatações da autoridade lançadora que implicaram a lavratura da representação fiscal para fins penais. Isso, inclusive, é o que dispõe a Súmula 28 deste Conselho, vejamos: Súmula CARF nº 28: O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais. Desse modo, não conheço da matéria alegada. Preliminar de cerceamento de defesa. Pedido de perícia. Alega a contribuinte preliminar de cerceamento de defesa, alegando que a é nula a decisão recorrida, que teria indeferido a realização de prova pericial, o qual entende a contribuinte ser necessária ao correto deslinde do feito, sem ter apresentado motivação para tanto. No que concerne à produção de prova pericial é oportuno ressaltar que o art. 18 do Decreto n.° 70.235, de 1972, com a redação dada pelo art. 1° da Lei n° 8.748, de 1993, permite a autoridade julgadora indeferir a perícia eventualmente solicitada, quando entendêla prescindível, sem que se configure tal fato cerceamento do direito de defesa. Assim, não verifico que tenha ocorrido cerceamento de defesa da contribuinte, por ter deixado a DRJ de deferir o pedido da contribuinte. A perícia revestese das características de atividade de apoio ao julgamento e serve à elucidação de pontos duvidosos que requeiram conhecimentos especializados para o deslinde de questão controversa. Reservase a perícia à elucidação de pontos duvidosos que requeiram conhecimentos especializados para o deslinde de questão controversa, não se justificando a sua realização quando o processo contiver os elementos necessários para a formação da livre convicção do julgador. Desse modo, descabe o pedido de realização de prova pericial, uma vez que não há necessidade de conhecimentos específicos e os documentos contábeis necessários para demonstrar as alegações da defesa devem ser apresentados pela contribuinte Ademais, cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. Logo, deveria o contribuinte, se assim entendesse, apresentar aos autos laudo pericial para análise, o que não o fez. Diante do exposto, rejeito a preliminar suscitada de cerceamento de defesa, bem como entendo pelo indeferimento da perícia. Multa de ofício. Fl. 4106DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.107 8 Os Recursos Voluntários de fls. 3959/3978 (DEBCAD N° 51.037.3771), o de fls. 3979/3998 (DEBCAD n° 51.037.3801) e o de fls.3999/4018 (DEBCAD n° 51.037.378 0) requerem que seja decretada a nulidade da multa de 75% aplicada no Auto de Infração. Em relação aos lançamentos dos referidos DEBCAD a contribuinte argumenta que: i) A multa de ofício de 75% é injusta, indevida, excessiva, padecendo de vício de inconstitucionalidade, pois ofende os princípios da razoabilidade, proporcionalidade, vedação ao confisco, capacidade contributiva e segurança jurídica; ii) Devese considerar o postulado constitucional da proporcionalidade, não para declarar inconstitucional o art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, o que não se pede em respeito ao entendimento jurisprudencial segundo o qual o órgão de julgamento administrativo não teria competência para isso, mas para interpretar o referido dispositivo legal conforme a Constituição, para se afastar a cobrança da multa isolada; iii) O correto seria aplicar a multa de mora de 20%. No caso concreto, a autoridade lançadora informou quais são os preceitos legais determinantes da multa lançada, quais sejam, o art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, combinado com o inciso I do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, ambos com a redação dada pela MP nº 449, de 2008, convertida na Lei nº 11.941, de 2009. Transcrevese a seguir esses dispositivos legais: Lei nº 8.212, de 1991 Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009). Lei nº 9.430, de 1996 Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) A redação desses dispositivos é bastante clara, podendose concluir que nos casos de lançamento de ofício das contribuições previdenciárias que não foram declaradas e pagas, devese aplicar a multa de ofício de 75%. È justamente o que ocorreu no caso em tela, em que se lançaram créditos tributários que não haviam sido declarados em GFIP e nem pagos pelo sujeito passivo. Tratamse de dispositivos legais cujo exercício de interpretação não vai além do que está expresso em seus próprios textos, motivo pelo qual não procede a alegação do sujeito passivo de que este órgão julgador deveria interpretar a lei conforme a Constituição. Por tais razões, não há como se afastar a incidência da multa de ofício de 75% nesta instância administrativa de julgamento. Ação Judicial. Renúncia à via administrativa. Fl. 4107DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.108 9 O sujeito passivo discorreu abundantemente acerca de seu alegado direito de não recolher contribuição previdenciária incidente sobre várias rubricas pagas a segurados, direito esse que deverá ser declarado pelo Poder Judiciário em razão das várias ações ajuizadas. Conforme se verifica dos autos, a contribuinte está discutindo judicialmente a incidência de contribuição previdenciária sobre algumas rubricas, dentre elas os valores pagos nos primeiros 15 dias de afastamento dos empregados doentes ou acidentados e, também, aqueles pagos a título de terço constitucional de férias. No entanto, a Súmula nº 01 deste Conselho assim dispõe: Súmula CARF nº 1: Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. Portanto, não conheço das alegações quanto a não incidência de contribuição previdenciária sobre as rubricas em questão, diante da renúncia à instância administrativa. Glosa por compensação indevida. Trata o Auto de Infração DEBCAD 51.037.3798 da glosa de compensação de contribuição previdenciária declarada em GFIP e escudadas em ações judiciais, processos nº 0004308 67.2011.4.05.8100, 0005342 48.2009.4.05.8100, 000643427.2010.4.05.8100 e 0012558 26.2010.4.05.8100, todos com trâmite no Tribunal Regional da 5ª Região. Ocorre que a contribuinte procedeu à compensação antes do trânsito em julgado das decisões judiciais, prática vedada pelo art. 170A do Código Tributário Nacional. Assim, o direito da contribuinte escudado pelas ações judiciais ainda não foi definitivamente julgado pela Justiça, sendo, portanto, indevida a compensação declarada em GFIP nas competências referidas. A compensação de valores discutidos judicialmente deve obedecer o que determina o CTN, no artigo 170A: Art. 170A. É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. (grifouse) Observase que na época da realização das compensações o referido processo ainda não havia sido definitivamente julgado. Dessa feita, em que pese o fato de haver discussão judicial acerca da incidência de contribuições previdenciárias sobre algumas verbas pagas a empregados, temse que não há nos autos nenhuma decisão judicial que, contrariando a legislação tributária de regência, autorizasse o contribuinte a compensar valores decorrentes de discussão judicial ainda não transitada em julgado com contribuições apuradas, conforme realizou. Fl. 4108DF CARF MF Processo nº 10380.720648/201355 Acórdão n.º 2202004.120 S2C2T2 Fl. 4.109 10 Portanto, em conformidade com o dispositivo citado, e em respeito à decisão judicial referida pela recorrente, as compensações, objeto de glosa por meio da autuação tratada no presente processo, foram efetuadas sem que, na oportunidade de sua realização, existissem créditos que lhes amparassem, devendo tais glosas serem mantidas. Alegações de inconstitucionalidade. Em relação a alegação de caráter confiscatório da multa aplicada, deixo de apreciála, por força do disposto na Súmula CARF nº 2, que assim dispõe: "O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.". Conclusão. Ante o exposto, voto por rejeitar a preliminar e, no mérito, negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Relator Fl. 4109DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10821.720408/2013-14
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 04 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2010
DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. ERRO DE PREENCHIMENTO NA DIRF.
Comprovado, em fase recursal, o erro no preenchimento da DIRF deve ser provido o recuso em nome dos princípios da verdade material e formalismo moderado.
Numero da decisão: 2202-004.009
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa- Presidente.
(Assinado digitalmente)
Júnia Roberta Gouveia Sampaio- Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Denny Medeiros da Silveira, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal.
Nome do relator: JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO
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OMISSÃO DE RENDIMENTOS. ERRO DE PREENCHIMENTO NA DIRF. Comprovado, em fase recursal, o erro no preenchimento da DIRF deve ser provido o recuso em nome dos princípios da verdade material e formalismo moderado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Denny Medeiros da Silveira, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 82 1. 72 04 08 /2 01 3- 14 Fl. 148DF CARF MF 2 Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Salvador (BA): O contribuinte foi notificado de lançamento relativo ao imposto sobre a renda, exercício 2011, anocalendário 2010 (fls.8 a 11), por meio do qual formalizouse a exigência de imposto suplementar, no valor de R$9.458,71, acrescido de multa de ofício e juros de mora, calculados até abril de 2012, totalizando um crédito tributário de R$17.596,98, até a data da notificação. O lançamento foi motivado por omissão de rendimentos recebidos da WGT Tecnologia em Informática Ltda, no valor de R$54.720,00. O contribuinte contesta o lançamento à fl.2, argumentando em síntese que não houve omissão de rendimentos, pois foi recebido dessa fonte pagadora apenas o valor declarado. Refere erro do responsável pela transmissão, corrigido com declaração retificadora que anexa aos autos à fl.4. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Salvador (BA), negou provimento à Impugnação em decisão cuja ementa é a seguinte: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF. Anocalendário:2010 DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. Mantémse o lançamento quando rendimentos tributáveis auferidos pelo contribuinte tenham sido omitidos na declaração de ajuste anual. Impugnação Improcedente. Cientificado da decisão (AR fls. 143) apresenta o Recurso Voluntário de fls. 31/32, no qual reitera as alegações já suscitadas na Impugnação e requer, em fase recursal, a juntada dos seguintes documentos: a) Contrato Social (fls. 41/46); b) GFIP (fls. 64/82); c) GPS (fls. 49/60); d) DIPJ (fls 111/127); e) Informe de Rendimentos do Período (fls. 110); f) DIRF Original; g) DIRF Retificada; h) Folha de pagamento do Ano; Fl. 149DF CARF MF Processo nº 10821.720408/201314 Acórdão n.º 2202004.009 S2C2T2 Fl. 149 3 Voto Conselheira Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora O recurso preenche os pressupostos legais de admissibilidade, motivo pelo qual, dele conheço. Antes de analisarmos o Recurso Voluntário, é imprescindível que seja analisada a possibilidade de juntada de provas em fase recursal. Isso porque, conforme mencionado na decisão recorrida, a glosa dos valores recebidos como omissão de receitas foi mantida em virtude da ausência de documento idôneo à comprovação da moléstia grave. O Recurso Voluntário do contribuinte teve como objetivo, fundamentalmente, a trazer aos autos a mencionada documentação. O artigo 16 § 4º do Decreto 70.235/72 determina que "a prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; b) refirase a fato ou a direito superveniente; c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. Todavia, esse Conselho, em razão do princípio do formalismo moderado que se aplica aos processos administrativos, têm admitido a juntada de provas em fase recursal como se verifica pelas ementas abaixo transcritas: "IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA. AUTUAÇÃO POR DEDUÇÃO INDEVIDA DE IMPOSTO RETIDO NA FONTE. COMPROVAÇÃO IDÔNEA EM FASE RECURSAL. ADMITIDA EM HOMENAGEM AO PRINCÍPIO DO FORMALISMO MODERADO. Comprovada idoneamente, por demonstrativos de pagamentos de rendimentos, a retenção de imposto na fonte, ainda que em fase recursal, são de se admitir os comprovantes apresentados a destempo, com fundamento no princípio do formalismo moderado, não subsistindo o lançamento quanto aeste aspecto. Recurso provido" (Ac 2802001.637, 2ª Turma Especial, 2ª Seção, Sessão 18/04/2012) "PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. PRECLUSÃO. O art. 16 do Decreto n. 70.235/72 deve ser interpretado com temperamento em decorrência dos demais princípios que informam o processo administrativo fiscal, especialmente instrumentalidade das formas e formalismo moderado. O controle da legalidade do ato de lançamento e busca da “verdade material” alçada como princípio pela jurisprudência dessa Corte impõem flexibilidade na interpretação de regras relativas à instrução da causa, tanto no tocante à iniciativa quanto ao momento da produção da prova. Recurso voluntário provido para anular decisão de primeira instância." (Ac 1102 Fl. 150DF CARF MF 4 000.859, 1ª Câmara/2ª Turma Ordinária, 1ª Seção, Sessão 09/04/2013) "PEDIDO DE RESTITUIÇÃO / DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PRECLUSÃO. APRESENTAÇÃO DE NOVAS PROVAS NO RECURSO VOLUNTÁRIO. POSSIBILIDADE. O art. 16 do Decreto n. 70.235/72, que determina que a prova documental deva ser apresentada na impugnação, precluindo o direito de se fazêlo em outro momento processual, deve ser interpretado com temperamento em decorrência dos demais princípios que informam o processo administrativo fiscal, tais como o formalismo moderado e a busca da “verdade material”. A apresentação de provas após a decisão de primeira instância, no caso, é resultado da marcha natural do processo, pois, não tendo a decisão de piso considerado suficientes os documentos apresentados pelo contribuinte para a comprovação do seu direito creditório, trouxe ele novas provas, em sede de recurso, para reforçar o seu direito". (Ac 1102001.148, 1ª Câmara/2ª Turma Ordinária, 1ª Seção, Sessão 29/04/2014) Conforme se verifica pelo trecho da decisão recorrida abaixo transcrito, a razão do indeferimento da Impugnação foi a insuficiência das provas apresentadas pelo Impugnante: O contribuinte invoca erro no preenchimento da declaração do imposto de renda retido na fonte (Dirf), transmitida originalmente pela fonte pagadora dos rendimentos que lhe estão sendo atribuídos no lançamento. Consta, entretanto, da base de dados que nela figura como sócio gerente. E como responsável por essa pessoa jurídica, a retificação da Dirf em momento posterior à sua ciência do lançamento não pode operar quaisquer efeitos sobre a infração que lhe é apontada, a menos que tivesse sido justificada nos autos com documentos comprobatórios do erro que alega, a exemplo da escrituração contábil tempestivamente registrada. As GPS de fls. 48/63, as Relações de Trabalhadores constantes do arquivo SEFI (fls.64/83) e a folha de prólabore de fls. 84/107 confirmam que o valor de prólabore mensal pago ao Recorrente no valor de R$ 510,00, condizente, portanto, com os valores constantes da DIRF retificadora de fls. 04. 3) CONCLUSÃO Em face do exposto, dou provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio. Fl. 151DF CARF MF Processo nº 10821.720408/201314 Acórdão n.º 2202004.009 S2C2T2 Fl. 150 5 Fl. 152DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16561.720184/2012-54
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 04 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Aug 21 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2007, 2008
GANHOS DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. PESSOA FÍSICA. SUJEITO PASSIVO.
Ao analisar os registros na Junta Comercial do Estado de São Paulo - JUCESP, o Parecer Técnico referente a Ato de Concentração da Secretaria de Acompanhamento Econômico, o Relatório do Ato de Concentração emitido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE e os documentos da Comissão de Valores Mobiliários - CVM, concluiu corretamente a fiscalização que a operação efetivamente realizada foi distinta da declarada ao Fisco e apurou o tributo devido, apontando como sujeito passivo a pessoa física.
APURAÇÃO DO TRIBUTO. CUSTO DO BEM ALIENADO. FALTA DE QUESTIONAMENTO ESPECÍFICO.
O que o recurso questiona neste tópico é o mesmo que já foi debatido no anterior, que o sujeito passivo não seria a pessoa física mas a pessoa jurídica, e, se fosse a pessoa jurídica, haveria um "outro custo", com composição de ágio, a ser considerado. Sendo assim, nada existe para ser tratado, em alegado erro de cálculo ou de apuração, pois o cálculo empregado está descrito e demonstrado no Termo de Verificação Fiscal e o recurso não aponta onde estaria o erro, se for considerado que o sujeito passivo é a pessoa física.
MULTA QUALIFICADA. DOLO. FRAUDE. RESULTADO.
A fraude é vício de muitas faces. Está presente em um sem número de situações na vida social e no Direito. Sua compreensão mais acessível é a de todo artifício malicioso que uma pessoa emprega com intenção de transgredir o Direito ou prejudicar interesses de terceiros.
Informar à Receita Federal atos e negócios que enfim se reputam dissociados da realidade fática, com o intuito de reduzir a carga tributária, caracteriza enfim a "fraude" e aqui se procurou ainda demonstrar a intenção do agente, que inclusive apresentou à fiscalização documentos com datas e fatos irreais.
Numero da decisão: 2202-004.013
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, rejeitar as preliminares, vencido o Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto, que suscitou a preliminar de nulidade da decisão de primeira instância. No mérito, quanto às infrações, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Junia Roberta Gouveia Sampaio (Relatora), Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal, que deram provimento ao recurso. Quanto à qualificação da multa, pelo voto de qualidade, manter a multa qualificada, vencidos os Conselheiros Junia Roberta Gouveia Sampaio (Relatora), Martin da Silva Gesto, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Fernanda Melo Leal, que a reduziram para 75%. O Conselheiro Martin da Silva Gesto votou pela conclusões em relação à preliminar de nulidade. O Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto informou que apresentará declaração de voto. Foi designado o Conselheiro Marcio Henrique Sales Parada para redigir o voto vencedor. A Conselheira Cecília Dutra Pillar proferiu seu voto na sessão de 07/06/2017, porém não votou em relação à preliminar de nulidade da decisão de primeira instância, razão pela qual o Conselheiro Denny Medeiros da Silveira (Suplente Convocado), que a substitui, votou apenas em relação a essa preliminar (art. 58, § 5º, do Anexo II do RICARF).
(assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa- Presidente.
(assinado digitalmente)
Júnia Roberta Gouveia Sampaio - Relatora.
(assinado digitalmente)
Marcio Henrique Sales Parada - Redator designado.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Fernanda Melo Leal, Denny Medeiros da Silveira, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Marcio Henrique Sales Parada. A Conselheira Cecília Dutra Pillar proferiu seu voto na sessão de 07/06/2017, porém não votou em relação à preliminar de nulidade da decisão de primeira instância, razão pela qual o Conselheiro Denny Medeiros da Silveira (Suplente Convocado), que a substitui, votou apenas em relação a essa preliminar (art. 58, § 5º, do Anexo II do RICARF).
Nome do relator: JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO
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PESSOA FÍSICA. SUJEITO PASSIVO. Ao analisar os registros na Junta Comercial do Estado de São Paulo JUCESP, o Parecer Técnico referente a Ato de Concentração da Secretaria de Acompanhamento Econômico, o Relatório do Ato de Concentração emitido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE e os documentos da Comissão de Valores Mobiliários CVM, concluiu corretamente a fiscalização que a operação efetivamente realizada foi distinta da declarada ao Fisco e apurou o tributo devido, apontando como sujeito passivo a pessoa física. APURAÇÃO DO TRIBUTO. CUSTO DO BEM ALIENADO. FALTA DE QUESTIONAMENTO ESPECÍFICO. O que o recurso questiona neste tópico é o mesmo que já foi debatido no anterior, que o sujeito passivo não seria a pessoa física mas a pessoa jurídica, e, se fosse a pessoa jurídica, haveria um "outro custo", com composição de ágio, a ser considerado. Sendo assim, nada existe para ser tratado, em alegado erro de cálculo ou de apuração, pois o cálculo empregado está descrito e demonstrado no Termo de Verificação Fiscal e o recurso não aponta onde estaria o erro, se for considerado que o sujeito passivo é a pessoa física. MULTA QUALIFICADA. DOLO. FRAUDE. RESULTADO. A fraude é vício de muitas faces. Está presente em um sem número de situações na vida social e no Direito. Sua compreensão mais acessível é a de todo artifício malicioso que uma pessoa emprega com intenção de transgredir o Direito ou prejudicar interesses de terceiros. Informar à Receita Federal atos e negócios que enfim se reputam dissociados da realidade fática, com o intuito de reduzir a carga tributária, caracteriza AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 56 1. 72 01 84 /2 01 2- 54 Fl. 1674DF CARF MF 2 enfim a "fraude" e aqui se procurou ainda demonstrar a intenção do agente, que inclusive apresentou à fiscalização documentos com datas e fatos irreais. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, rejeitar as preliminares, vencido o Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto, que suscitou a preliminar de nulidade da decisão de primeira instância. No mérito, quanto às infrações, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Junia Roberta Gouveia Sampaio (Relatora), Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal, que deram provimento ao recurso. Quanto à qualificação da multa, pelo voto de qualidade, manter a multa qualificada, vencidos os Conselheiros Junia Roberta Gouveia Sampaio (Relatora), Martin da Silva Gesto, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Fernanda Melo Leal, que a reduziram para 75%. O Conselheiro Martin da Silva Gesto votou pela conclusões em relação à preliminar de nulidade. O Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto informou que apresentará declaração de voto. Foi designado o Conselheiro Marcio Henrique Sales Parada para redigir o voto vencedor. A Conselheira Cecília Dutra Pillar proferiu seu voto na sessão de 07/06/2017, porém não votou em relação à preliminar de nulidade da decisão de primeira instância, razão pela qual o Conselheiro Denny Medeiros da Silveira (Suplente Convocado), que a substitui, votou apenas em relação a essa preliminar (art. 58, § 5º, do Anexo II do RICARF). (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente. (assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora. (assinado digitalmente) Marcio Henrique Sales Parada Redator designado. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Fernanda Melo Leal, Denny Medeiros da Silveira, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Marcio Henrique Sales Parada. A Conselheira Cecília Dutra Pillar proferiu seu voto na sessão de 07/06/2017, porém não votou em relação à preliminar de nulidade da decisão de primeira instância, razão pela qual o Conselheiro Denny Medeiros da Silveira (Suplente Convocado), que a substitui, votou apenas em relação a essa preliminar (art. 58, § 5º, do Anexo II do RICARF). Relatório Trata o presente Auto de infração de lançamento de imposto de renda pessoa física relativo a fatos geradores ocorridos em 2007 e 2008 de R$ 130.200.725,93, de multa de ofício de R$ 195.301.088,86 e juros de mora calculados até 30/11/2012 de R$ 43.173.305,39. Conforme documentação dos autos e relatado pela autoridade fiscal, no Termo de Verificação Fiscal, a fiscalização que deu origem ao presente auto iniciouse junto à CM Indústria e Comércio Ltda por meio da Diligência Fiscal determinada pelo MPF nº Fl. 1675DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.675 3 08.1.85.002012000417 (fls.3). Conforme o Termo de Intimação Fiscal nº 01 (fls. 4) o escopo do trabalho fiscal era a comprovação da origem dos valores que constituiriam o custo da participação alienada. De acordo com a fiscalização, a empresa não fez a necessária comprovação do ágio, argumentando que se tratava de participação societária adquirida no ano de 1973, cujos documentos comprobatórios não mais possuía. Em relação ao lançamento dos deságios como exclusão em 2007 e 2008, a empresa esclareceu que, na verdade, tratavamse de ágios, lançados como exclusão a título de deságios, por não existir linha própria nas DIPJ´s respectivas. Em razão das respostas acima mencionadas, a Diligência Fiscal foi transformada em Fiscalização, sendo, então, emitido o MPF nº 08.1.85.002012002789 em face da CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO, por meio do qual a fiscalização intimou a empresa para que apresentasse documentos relativos à aquisição, em setembro/73, das ações da Vigor que geraram o ágio, tais como contrato de compra e venda, comprovantes de pagamentos, etc. Em resposta a empresa apresentou, dentre outros elementos, cópias dos "Livros Registro de Ações Nominativas nº 3 r 4, Livros de Registro de Transferência das Ações nºs 2 e 3, Livro de Presença de Acionistas nº 2, Livro de Atas das Reuniões da Diretoria nº 2, Livro de Atas das Reuniões da Diretoria nº 2, Certidão da JUCESP , indicando a Ata da AGE de 14/09/1973, a qual retrata a eleição do Sr. Carlos Alberto Mansur para Diretor de Relações Públicas da Vigor, bem como, a Ata da AGO de 22/04/1974, a qual retrata a eleição do Sr. Carlos Alberto Mansur para Diretor VicePresidente da Vigor Doc. 12 a 18 Depois de fazer a análise dos mencionados documentos, concluiu a autoridade fiscal (fls. 1218) Do exposto sobre os registros nos livros citados, constatase impossibilidade de determinar com clareza em qual momento as ações passaram a pertencer à pessoa jurídica ou pessoas jurídicas. Sabese, apenas, que elas foram adquiridas pelos Mansur em 1973, mas não se sabe o valor pago, o qual seria a base de tudo para o cálculo do custo contábil quando da sua alienação. No demonstrativo de cálculo, apresentado juntamente com os livros citados, se limitou apenas a indicar o valor do ágio a partir da aquisição das ações pela CM e, a partir daí, passando a corrigilo, porém sem explicar como ele se originou" Depois de fazer um histórico de todas alterações societárias ocorridas, desde o momento da aquisição em 1973 até a alienação em 2007 (fls. 1220 à 1225), a autoridade fiscal menciona a operação de alienação da participação societária detida pela Fiscalizada na GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA, a qual era controladora da S/A FÁBRICA DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS VIGOR. Em 21/11/2007 foi assinado o Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Outras Avenças. Por meio do referido contrato, a CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA vendeu à BERTIN S/A 56% das quotas do capital da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA (controladora da Vigor), pelo preço de R$ 400.000.000,00, sendo R$ 200.000.000,00 no ato da assinatura e o restante em 25 parcelas atualizadas pela SELIC. Fl. 1676DF CARF MF 4 Todavia, ao analisar os registros na Junta Comercial do Estado de São Paulo JUCESP, o Parecer Técnico referente a Ato de Concentração da Secretaria de Acompanhamento Econômico, o Relatório do Ato de Concentração emitido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE e os documentos da Comissão de Valores Mobiliários CVM, conclui a fiscalização que a operação efetivamente realizada foi distinta da declarada ao fisco pela empresa fiscalizada. Isso porque, a empresa fiscalizada (CM Indústria e Comércio) fez uma cisão parcial, transferindo parcela do seu patrimônio para a GOULT PARTICIPAÇÕES Ltda., parcela esta constitutiva da participação societária de 99,9% a CM detinha na GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA. A participação restante de 0,01% pertencia a Carlos Alberto Mansur. A entrada da GOULT no quadro societário foi registrada em 30/10/2007. Relata ainda a fiscalização que a GOULT foi constituída em 20/07/2007, tendo como sócios Roberto Mário Amaral de Lima Neto e Carlos David Albuquerque Braga, com capital de R$ 100,00. Em 29/10/2007, foi registrada na JUCESP a 1ª Alteração contratual, por meio da qual foi feita a transferência de 99,9% das quotas para o Sr. Carlos Alberto Mansur e 1 quota para Carlos Mansur Filho. Na 2ª alteração contratual a Goult recebe a parcela cindida do PL da empresa fiscalizada, constitutiva da participação societária de 99;9% que ela detinha da GESTIOR PARTICIPAÇÕES – controladora da Vigor. Ao analisar as mencionadas informações, a fiscalização intimou a empresa JBS (incorporadora da adquirente BERTIN S/A), para que apresentasse o contrato de compra e venda das ações da VIGOR e constatou a existência de contrato que, de acordo com a fiscalização, confirmaria as informações publicadas nos órgãos acima mencionados (CVM, CADE, etc). Por meio do mencionado contrato, o autuado (Carlos Alberto Mansur) juntamente com Carlos Alberto Mansur Filho, constavam como vendedores de 56% das quotas do capital da GOULT PARTICIPAÇÕES LTDA. Em razão dos fatos acima narrados a fiscalização conclui que: Diante do exposto, até o presente momento, constatase que houve duas versões para alienação das ações da Vigor, uma, amparada pelo contrato de compra e venda de 21/11/2007, informada e declarada à Receita Federal e, outra, amparada no contrato de compra e venda de 25/11/2007, informada ao público e demais órgãos governamentais, diferente daquela. É importante frisar que todos os atos contratuais necessários para a operação que foi informada ao público e demais órgãos governamentais, com inclusão da Goult Participações Ltda, foram aquivados na Junta Comercial do Estado de São Paulo JUCESP. No entanto, todos os atos que incluíram a Goult foram anulados por alterações contratuais não arquivadas na JUCESP. (...) Em resposta a esta intimação, a JBS apresentou cópia autenticada do Instrumento Particular de Distrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Venda e Outras Avenças, datado de 21/11/2007, assinado por Carlos Alberto Mansur representando a CM Indústria e Comércio Ltda e pelo representante da Bertin S/A. (grifos no original) (fls. 1232 a 1235) Fl. 1677DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.676 5 Diante do exposto, concluiu a fiscalização que a operação a ser considerada como verdadeira seria a alienação das ações da BERTIN pelas pessoas físicas Carlos Alberto Mansur e Carlos Alberto Mansur Filho, uma vez que, para que a operação declarada à Receita Federal (que revogaram os efeitos da cisão da CM) tivesse validade jurídica deveriam ser arquivadas e registradas na JUCESP: Vejamos: "Da análise das duas situações apresentadas, constatase que: A primeira operação, declarada à Receita Federal, referese à alienação efetuada pela CM Indústria e Comércio Ltda, das quotas sociais da Gestior, para Bertin S/A, ou seja, tratase de uma operação de pessoa jurídica para pessoa jurídica. Nesse caso, o ganho de capital estaria inserido na própria demonstração de resultados da empresa, onde a receita de alienação seria diminuída do custo contábil, incluindo nele o eventual ágio. (...) Frisese que o eventual ágio considerado como parte do custo contábil deve ser devidamente comprovado, fato que a contribuinte não conseguiu fazêlo, embora tenha tido prazo considerável para tal. No entanto, para que esta operação tivesse validade jurídica, as alterações que revogaram os efeitos da cisão da CM, transferindo as quotas da Gestior para a Goult, deveriam ser arquivadas e registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo JUCESP, o que não ocorreu. Vale lembrar que os atos sujeitos ao registro público somente têm validade e produzem os efeitos pertinentes a partir da sua formalização. Para finalizar, a autoridade fiscal utiliza como fundamento legal a embasar a necessidade de registro público para a validade dos negócios jurídicos perante a terceiros o artigo 1.157 do Código Civil. Intimado, o contribuinte apresentou Impugnação (fls. 1282 a 1316), na qual alega o seguinte: a) Preliminarmente, que haveria erro na identificação do sujeito passivo, uma vez que a venda teria sido realizada pela CM, controladora da GESTIOR para a BERTIN. Isso porque: a.1) o próprio auto de infração reconhece que a cisão foi rescindida. Todavia, invocando o artigo 1.154 do Código Civil para reger as relações fisco/contribuinte, a fiscalização anula os efeitos da rescisão sob o argumento de que esta não teria validade pelo fato de tal rescisão não se encontrar registrada na JUCESP. a.2) o impugnante não alienou, nos três períodosbase apontados, qualquer bem que tenha gerado ganho de capital nos termos postos no auto de infração e os valores Fl. 1678DF CARF MF 6 apontados pela ação fiscal foram regularmente declarados pelo contribuinte em suas declarações anuais de ajustes, a justo título, como dividendos que são. a.3) que os valores apontados como omissão de rendimentos pela autoridade fiscal também se referem a dividendos a.4) que em nenhum momento houve qualquer questionamento em relação ao valor dos contratos. b) Quanto ao mérito: b.1) Traz à colação o Instrumento Particular de Retificação, Ratificação, e Consolidação de Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Outras Avenças, celebrado entre o impugnante, a CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA e a BERTIN S/A em 14 de maio de 2009 (fls. 1320/1323), por meio do qual as partes resolvem "tornar sem efeito o Instrumento Particular de Distrato firmado em 21/11/2007, bem como reiterar as cláusulas e condições do Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e outras avenças firmado em 21/11/2007 ("Primeiro Contrato") (Cláusula 1). b.2) Que a fiscalização intimou para obter o contrato o Grupo JBS (sucessora) e não a empresa BERTIN (sucedida), interveniente nos dois contratos. Além do tempo transcorrido entre a transferência, de fato, o Grupo JBS, embora tenha depois adquirido o controle da Vigor, não teve qualquer participação no negócio. b.3) que a fiscalização não intimou a CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA para explicar porque considerava válido o primeiro contrato, ao invés disso, decidiu por sua conta e risco, tomar partido do segundo. Tivesse intimado a empresa sob fiscalização, a CM INDÚSTRIA teria obtido o Instrumento de Particular de Retificação trazido junto com a Impugnação. b.4) que as Declarações de Rendimento do Impugnante (fls. 1144/1154 e 1155/1163) e as Declarações de Informações Econômico Fiscais da Pessoa Jurídica (fichas 38 A), anoscalendário 2007 e 2008 da CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO demonstram a absoluta consistência entre as declarações prestadas pelo contribuinte e pela empresa, pois ambas Declarações refletem os dividendos pagos. b.5) que as declarações de rendimentos mencionadas comprovam que a cisão que a autoridade fiscal tomou como negócio real foi revogada e o negócio celebrado entre as partes refletia uma situação patrimonial que abstraia completamente a referida cisão. A prova disso é que a empresa CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA, na sua declaração de rendimentos, respeitando o regime de competência, declara a venda mencionada e apura o seu resultado. Tais fatos estão demonstrados nas declarações de rendimentos tempestivamente entregues. b.6) A prova de que a Receita Federal conhecia o distrato da cisão é a Declaração de Rendimentos, por ser este o instrumento, por excelência, de comunicação entre o fisco e o contribuinte. b.7) As escriturações das duas partes envolvidas na alienação discutida nos autos refletem a transação da mesma forma. As duas partes, o grupo Mansur e o grupo Bertin, registraram a operação da mesma forma. A venda e compra da GESTIOR teve o preço de mais de oitocentos milhões e a compra e venda da GOULT teve o preço de cem reais. Fl. 1679DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.677 7 b.8) que os pressupostos necessários para aplicação da multa agravada não foram demonstrado na hipótese dos autos. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento negou provimento à Impugnação (fls. 1449 à 1469) em decisão cuja ementa é a seguinte: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2007, 2008 GANHOS DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA LEGITIMIDADE PASSIVA TRIBUTAÇÃO PESSOA FÍSICA. Correto o lançamento de ganhos de capital na alienação de participação societária na pessoa física detentora das quotas representativas do capital social, quando fartamente demonstrado nos autos que a operação foi realizada tendo como parte vendedora o próprio contribuinte e não pessoa jurídica de cujo capital participe. GANHOS DE CAPITAL MULTA QUALIFICADA PROCEDÊNCIA. Evidenciado nos autos que o contribuinte agiu de forma dolosa tendente a ocultar do Fisco a real operação de venda de participação societária, apresentando contrato revogado e instrumento de alteração de contrato social não registrado, com o objetivo de atribuir à pessoa jurídica a titularidade das quotas alienadas, deve ser aplicada a multa qualificada sobre o valor do imposto de renda a pagar. Cientificada da decisão acima transcrita (AR fls. 1478), a Impugnante apresentou o recurso voluntário de fls 1479/1509 no qual reitera as alegações já suscitadas quando da Impugnação. Alega, em particular, que o "não é possível, em razão de todas as transformações, seja da empresa, seja do País, pois só neste período tiveram em curso quatro moedas diferentes, se determinar o custo de um investimento através de uma pesquisa no Registro de Comércio, como fez a fiscalização, em detrimento dos livros Diários (fls. 1324/1398) das empresas intervenientes e dos livros LALUR (fls 1428/1443). Por fim, ressalta que em 18/07/2013 a fiscalização encerrou o procedimento fiscal aberto da empresa CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO o que demonstra que o agente fiscal não encontrou qualquer irregularidade relativa a apuração de ganho de capital na empresa, uma vez que encerra a fiscalização sem qualquer lançamento. A Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou as contrarrazões de fls. 1522 a 1544, nas quais reitera as alegações já suscitadas pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento. Em 13 de julho de 2016 o Recorrente juntou aos autos cópia de parecer dos juristas Sacha Calmon Navarro Coêlho, Misabel de Abreu Machado Derzi e Igor Mauler Santiago e, em 26 de agosto de 2016, cópia do Parecer do jurista Paulo de Barros Carvalho (fls. 1625 à 1671), sobre a discussão travada nos presentes autos. Foi dada vista dos referidos pareceres à Procuradoria da Fazenda Nacional (fls. 1622) Fl. 1680DF CARF MF 8 É o relatório. Voto Vencido Conselheira Junia Roberta Gouveia Sampaio Relatora O recurso preenche os pressupostos legais de admissibilidade, motivo pelo qual dele conheço A discussão travada nesses autos se resume à validade jurídica da alienação das ações da VIGOR pela empresa CM PARTICIPAÇÕES. De forma muito simples, a questão posta para decisão do colegiado é definir qual a verdadeira negociação realizada: se uma alienação ações de pessoa física para uma pessoa jurídica (como quer a fiscalização) ou uma alienação de pessoa jurídica para pessoa jurídica (como alega o Recorrente). Para facilitar a análise, faremos a seguir um quadro com a documentação relevante e sua respectiva numeração no eprocesso. Evento Data Numeração no eprocesso 1 Ações da VIGOR adquiridas por CAM Indústria e Comércio e R.Mansur S/A (futura UNITED Ind. Comercio) 1973 fls. 301/313 2/3 . Cisão parcial da CAM e Criação da CM com ações da VIGOR; Cisão parcial da UNITED e versão das ações da VIGOR para patrimônio da CM, que passa deter 74,69% de VIGOR 1988 fls. 624/645 4 Criação da empresa GESTIOR e transferência da participação na VIGOR por meio de cisão parcial da CM 14/02/2006 fls. 833/847 5 Criação da GOULT 20/07/2007 6 Entrada do Recorrente (99,9%) e seu filho (0,1%) na GOULT 29/10/2007 1084/1086 7 Cisão Parcial de CM e transferência da participação da GESTIOR para GOULT 30/10/2007 939/946 8 Contrato de compra e venda entre a CM e a BERTIN a respeito da alienação de participação acionária em GESTIOR (e, consequentemente, da participação na VIGOR) 21/11/2007 1073/1083 9 Recorrente assina contrato de venda de ações de GOULT para BERTIN 25/11/2007 1028/1048 10 Instrumentos Particulares de Alteração e Consolidação do Contrato Social da Gestior Participações e 26/11/2007 997/1009 Fl. 1681DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.678 9 Instrumento de retificação do contrato social da GESTIOR prevendo a retirada da GOULT. 11 Instrumento de Ratificação e Consolidação da venda confirmando operação realizada por CM e BERTIN e instrumento de retificação do contrato social da GESTIOR prevendo a retidada da GOULT. 14/05/2009 997/1009 As operações relevantes para a compreensão da questão posta nos autos centramse nos eventos destacados nos itens 7 a 11 da tabela acima. De acordo com a fiscalização, o contrato de compra e venda das ações da VIGOR realizado entre CM e a BERTIN em 21/11/2007, não seria válido, uma vez que, na época da venda, o controle acionário das ações da GESTIOR teria sido transferido para GOULT. Alega ainda que o contrato de compra e venda realizado entre o Recorrente e a BERTIN, datado de 25/11/2007, confirma que a operação efetivamente realizada teria sido a constante desse último contrato. O Recorrente, por sua vez, alega que a operação efetivamente realizada foi a Venda do Controle da VIGOR para BERTIN, por meio da empresa CM (contrato de 21/11/2007), uma vez que o contrato firmado em 25/11/2007 teria sido revogado em 26/11/2007. Tal revogação teria sido ratificada, posteriormente, em 14/05/2009. De acordo com o trabalho fiscal e a decisão recorrida, três elementos justificariam a tributação tal como prevista no lançamento: a) simulação dos contratos que atestam a venda das ações da CM à BERTIN, uma vez que a transferência desses ativos teria sido, na realidade, feita pela pessoa física b) ainda que os contratos não fossem simulados, eles não teriam quaisquer efeitos fiscais, uma vez que, nos termos do artigo 1.154, as alterações societárias que revogaram a cisão parcial da CM e a entrada da GOULT no quadro societário da GESTIOR não teriam sido registradas da JUCESP; c) a verdadeira operação teria sido aquela comunicada ao CADE e a CVM, segundo a qual a venda teria sido realizada pela pessoa física. A lide em questão centrase na validade dos negócios jurídicos entabulados pelas partes, levandose em consideração as provas juntadas aos autos. É o que passaremos a analisar. 1) PRELIMINARES O Recorrente aponta nulidade do Auto de Infração por erro na identificação do sujeito passivo. A Delegacia de Julgamento se limitou a afirmar, com fundamento no art. 59 do Decreto nº 70.235/72, que não haveria que se falar em nulidade, uma vez que, sob o aspecto formal, os atos praticados no processo foram lavrados por pessoa competente (inciso I) e os despachos e decisões foram igualmente lavrados por autoridades competentes e sem preterição do direito de defesa (inciso II). Fl. 1682DF CARF MF 10 Entendo que o alegado erro na identificação do sujeito passivo se confunde com o mérito e, por isso, será juntamente com ele analisada. Na sessão de julgamento, o Conselheiro Dilson Jatahy suscitou, de ofício, duas nulidades da decisão recorrida em razão das seguintes omissões: a) não se pronunciou em relação ao arbitramento do custo de aquisição; b) restou silente quanto ao ato de que as parcelas recebidas nos meses de dezembro de 2007 à dezembro de 2010 referemse à dividendos. A turma, por maioria, entendeu por bem rejeitar as referidas preliminares, uma vez que ambas partem do pressuposto de que a operação discutida nesses autos referese a uma alienação realizada pela pessoa jurídica CM. Todavia, tal premissa (alienação por pessoa jurídica) restou vencida nesse colegiado. 2) MÉRITO 2.1) DA ALIENAÇÃO REALIZADA PELA EMPRESA CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO Conforme exposto no extenso relatório, a fiscalização entendeu que, no caso em questão, haveria uma dissimulação da operação praticada. Isso porque, ao contrário do constante nas declarações enviadas à Receita Federal, a real operação seria aquela declarada ao público (CVM e CADE). Para respaldar a desconsideração do negócio jurídico declarado a fiscalização trouxe como prova os seguintes elementos: a) Cópia dos atos publicados na CVM e CADE b) O contrato obtido junto à incorporadora da BERTIN a empresa JBS c) O fato de que o depósito dos valores ter sido feito na conta do Recorrente d) Os distratos que validariam as informações prestadas à Receita Federal não terem sido objeto de arquivamento perante à JUCESP. Em contraposição às mencionadas alegações, o Recorrente traz os seguintes elementos: a) O contrato considerado de 25/11/2007 teria sido revogado em 26/11/2007 pela alteração do contrato social da GESTIOR, bem como pelo instrumento de retificação do contrato social da GESTIOR prevendo a retirada da GOULT. b) Instrumento Particular de Retificação, Ratificação, e Consolidação de Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Outras Avenças, celebrado entre o impugnante, a CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA e a BERTIN S/A em 14 de maio de 2009 (fls. 1320/1323), por meio do qual as partes resolvem "tornar sem efeito o Instrumento Particular de Distrato firmado em 21/11/2007, bem como reiterar as cláusulas e condições do Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e outras avenças firmado em 21/11/2007 b) as Declarações de Rendimento do Impugnante (fls. 1144/1154 e 1155/1163) e as Declarações de Informações Econômico Fiscais da Pessoa Jurídica (fichas 38 A), anoscalendário 2007 e 2008 da CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO (fls.1512 à 1515) que demonstram a consistência entre as declarações prestadas pelo contribuinte e pela empresa. Fl. 1683DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.679 11 c) os lançamentos contábeis constantes da contabilidade da CM que registram a venda de ações à BERTIN (razão analítico de fls. 1516/1517) d) Os valores depositados na conta corrente do autuado, ora Recorrente, referemse à distribuição de dividendos realizada pela CM Indústria e Comércio aos seus sócios, em face dos lucros contabilmente acumulados. Ressalta também que a distribuição dos dividendos foi devidamente registrada na declaração de rendimento dos sócios. 2.1.1. NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO Para analisarmos a validade da venda realizada pela empresa CM do controle acionário da VIGOR para empresa BERTIN é importante verificar no negócio jurídico, tal como entabulado, se operação realizada padece de alguma das causas de nulidade dos negócios jurídicos previstas no artigo 166 e 167 do Código Civil. Antes de analisarmos a simulação apontada no trabalho fiscal, é importante registrar que o contrato questionado não padece de qualquer dos defeitos mencionados no artigo 166. Isso porque a parte era capaz, o objeto era lícito e determinado (venda do controle acionário da VIGOR), o motivo era igualmente lícito, não possuía forma imperativa prescrita em lei e não tinha qualquer cominação de nulidade determinada em lei. Quanto a simulação alegada no trabalho fiscal, pela análise dos autos, entendemos que esta não foi comprovada. Isso porque não há indício de ocorrência de simulação absoluta ou relativa. Com efeito, o objetivo do contrato era conferir o controle acionário da VIGOR para BERTIN. Esse controle acionário poderia se dar por meio da pessoa jurídica CM ou da pessoa física do Recorrente. O fato do recorrente ser o acionista majoritário da pessoa jurídica não retira a distinção necessária entre esta (pessoa jurídica e a pessoa do sócio). Além disso, é importante registrar que o preço previsto para operação e o pagamento das parcelas, não foi, em momento algum, questionado no trabalho fiscal. Em outras palavras, não houve qualquer alegação de que os valores envolvidos fossem menores do que o valor real da operação. Não há que se falar, portanto, em declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira. Outro ponto relevante é que, em nenhum momento, a fiscalização apontou qualquer indício de irregularidade ou falsidade dos livros contábeis da CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO ou da BERTIN. Esse último dado (regularidade dos registros contábeis) tem especial relevância porque a própria legislação do imposto de renda determina o valor probatório da contabilidade, conforme se verifica pelos artigos 923 e 924 do Regulamento do Imposto de Renda que assim dispõe: Art. 923. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados e comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais (Decreto Lei nº 1.598, de 1977, art. 9º, §1º); Fl. 1684DF CARF MF 12 Art. 924. Cabe à autoridade administrativa a prova da inveracidade dos fatos registrados com observância (grifamos) Diante do exposto nos mencionados artigos, é possível concluir que a contabilidade, juntamente com os livros fiscais, é elemento fundamental de toda investigação fiscal. O que se verifica pela documentação trazida aos autos, bem como do relatório fiscal, é que a fiscalização apontou problema na comprovação do ágio registrado pela empresa CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Todavia, não levou adiante a investigação quanto ao ágio, tendo, inclusive encerrado o trabalho fiscal junto a empresa CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO. A jurisprudência deste Conselho é firme em reconhecer a força probatória da contabilidade, a qual poderá se dar a favor ou contra o contribuinte. Na decisão constante do Acórdão nº 2600727, relatado pela Conselheira Bernadete de Oliveira Barros, fica claro que, para desconsiderar a contabilidade como elemento de prova, a autoridade fiscal demonstrar que esta não merecia fé. Vejamos: (...) Vários documentos apreendidos demonstram, ainda, que a empresa Meta Organização Contábil S/C Ltda, sediada em Curitiba, também faz parte do grupo Meta, pois comprova o controle administrativo e financeiro exercido pelo Grupo sobre a referida empresa. A fiscalização, após constatada a existência de folhas de pagamentos frias, de receitas não contabilizadas e de grande volume de tributos suprimidos, entendeu que a contabilidade das empresas do Grupo Meta não era merecedora de fé, sendo imprestável para identificação dos fatos geradores das contribuições previdenciárias o que levou ao entendimento arbitrado. (grifamos) Nesse mesmo sentido, mencionese a decisão proferida no Acórdão nº 205.00929, cuja ementa é a seguinte: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias PERÍODO DE APURAÇÃO: 01/05/2001 a 31/07/2003 RESTITUIÇÃO DA RETENÇÃO DE 11% ESTABELECIDA DA LEI N.º 9.711/98 A restituição dos valores retidos pressupõe a existência de mão de obra compatível com os serviços prestados. Quando a contabilidade não registra o movimento real da remuneração dos segurados a seu serviço, o faturamento e o lucro, serão apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. Recurso Voluntário Negado.(grifamos) Do voto da Conselheira Liege Lacroix Thomasi destacase o seguinte trecho: (...) Também a contabilidade da empresa se mostrou eivada de vícios que a macularam, não podendo comprovar a escassa mão de obra referida pela recorrente. Pelos dados constantes do processo, a fiscalização atestou que a contabilidade da recorrente não se prestou a fazer prova a seu favor pelas inúmeras irregularidades existentes, dentre as quais Fl. 1685DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.680 13 destacase lançamentos contábeis equivocados (fls. 615/622) e pagamentos aos sócios em decorrência do seu trabalho, mas efetuados à título de 'lucro distribuído' antes mesmo da sua apuração. Na análise da contabilidade de uma empresa a auditoria fiscal verifica a obediência das formalidades intrínsecas e extrínsecas determinadas pela legislação comercial, fiscal e resoluções do Conselho Federal de Contabilidade, que visam possibilitar que os usuários da contabilidade possam analisar a situação da empresa versando seus interesses e que a demonstração dos resultados seja correta para apuração dos tributos que forem previstos em lei. Os princípios contábeis que regem a contabilidade visam, justamente, que os demonstrativos reflitam a real situação da empresa no período analisado. Assim a escrituração contábil que preenche os requisitos determinados na legislação, faz prova a favor do contribuinte, contrariamente, aquela que apresenta vícios que a tornam inidônea e os demonstrativos contábeis incorretos, não deve ser considerada. No caso presente, a fiscalização apontou a existência de diversos equívocos contábeis que viciaram a escrita do contribuinte, não podendo fazer prova a seu favor, tendo em vista que, comprovadamente, não registrou o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço e deixou de registrar diversos itens ou contabilizouos de maneira diverso no previsto pela boa técnica contábil ou com divergência da legislação tributária, ou que, diante dos fatos que estão descritos no relatório do indeferimento do pedido de restituição, fls. 688/691, feriu os princípios contábeis. (grifamos) No caso dos autos, entendo que a fiscalização não se desincumbiu do ônus de demonstrar a incorreção ou erro dos lançamentos contábeis relativos à alienação realizada pela empresa CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Isso porque, como já dito, a única objeção apontada em relação a escrituração foi a falta de comprovação do ágio conforme se verifica pelo trecho abaixo transcrito: Do exposto sobre os registros nos livros citados, constatase impossibilidade de determinar com clareza em qual momento as ações passaram a pertencer à pessoa jurídica ou pessoas jurídicas. Sabese, apenas, que elas foram adquiridas pelos Mansur em 1973, mas não se sabe o valor pago, o qual seria a base de tudo para o cálculo do custo contábil quando da sua alienação. No demonstrativo de cálculo, apresentado juntamente com os livros citados, se limitou apenas a indicar o valor do ágio a partir da aquisição das ações pela CM e, a partir daí, passando a corrigilo, porém sem explicar como ele se originou" Conforme se verifica, em momento algum, a fiscalização questionou a alienação efetuada pela empresa. A objeção centravase na ausência de comprovação do ágio, Fl. 1686DF CARF MF 14 que, certamente, poderia impactar a apuração do IRPJ da empresa, mas, de forma alguma, configura um indicativo de que a venda teria sido realizada pelo sócio. Como já dito, a fiscalização não apontou qualquer indício de falsidade dos valores envolvidos na operação e reconheceu o pagamento do preço. É relevante também observar que a empresa CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO decorreu da cisão parcial da empresa CAM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA em 1988. A fiscalização não contesta a existência da mencionada empresa, existência essa, claramente demonstrada em toda documentação juntada ao trabalho fiscal. Ademais, ainda que se desconsidere os efeitos do distrato realizado em 26/11/2005 e, por conseguinte, se considere que na data da realização da venda pela CM (21/11/2007) esta não possuía a propriedade das ações, a alienação não seria inválida. Isso porque o Código Civil, em seu artigo 1268, §1º, admite validade da chama venda a non domino, nestes termos: Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boafé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. § 1o Se o adquirente estiver de boafé e o alienante adquirir depois a propriedade, considerase realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição. (grifamos) Diante do mencionado dispositivo legal, verificase que é possível reconhecer a validade da venda a non domino, desde que o alienante (no caso a CM) se torne adquirente da propriedade. É exatamente o que ocorreu com o desfazimento da transferência do controle da VIGOR para GOULT. Além disso, é importante registrar que a empresa adquirente (BERTIN) participou de todas as operações societárias mencionadas nesse processo. Conforme esclarece ORLANDO GOMES: Parece absurda a venda de coisa alheia, pois, intuitivamente, a coisa vendida deve pertencer ao vendedor. Uma vez, porém, que pelo contrato, o vendedor se obriga, tãosó, a transferir a propriedade da coisa, nada obsta que efetue a venda de bem que ainda não lhe pertence; se consegue adquirilo para fazer a entrega prometida, cumprirá especificamente a obrigação; caso contrário, a venda resolvese em perdas e danos. A venda de coisa alheia não é nula, nem anulável, mas simplesmente ineficaz. (GOMES, Orlando. Contratos. 18 ed. Rio de Janeiro, Forense, 1999, p.228). (grifamos) Nesse mesmo sentido, valiosas as lições de PONTES DE MIRANDA: Uma vez que o contrato de compra e venda é consensual e por ele só se promete a transmissão da propriedade e da posse, ou só da posse, nada obsta a que seja objeto de tal contrato o bem alheio, isto é, o bem de propriedade, ou de posse, ou de propriedade e de posse alheias.Não há qualquer invalidade, nem ineficácia. Se o vendedor vem a prestar, por ter adquirido o bem, ou por ter encarregado o dono de prestar a propriedade e a posse ou só a propriedade ou só a posse, cumpriu o que prometeu. Se falha, inadimpliu, e há consequências do Fl. 1687DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.681 15 inadimplemento. Se prestou propriedade, ou posse, em vez de prestar propriedade e posse, houve adimplemento ruim. A compra e venda do bem alheio é eficaz apenas entre o vendedor e o comprador. Não se pode dizer, a priori, que não tenha efeitos quanto ao terceiro, porque isso depende de outro negócio jurídico, ou situação de direito, entre o vendedor e o terceiro. O terceiro pode propor contra o vendedor as ações que lhe tocam, e talvez não tenha ações, nem pretensões, nem direitos, a despeito de ter sido o dono (MIRANDA, Pontes "Tratado de Direito Privado, vol. 39, ed. Borsoi, 1962, §4.266, nº 3, pg. 26) (grifamos) Dessa forma, todas as circunstâncias que precederam à realização do negócio, ou seja, todo histórico de controle das ações da VIGOR por parte da CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO, bem como os contratos firmados pelas partes e refletidos na escrituração contábil e fiscal da empresa, permitem concluir que a venda foi feita pela pessoa jurídica da CM. Da mesma forma, não há que se falar em invalidade do negócio ainda que se conclua que, no momento da alienação, o controle da VIGOR pertencia a empresa GOULT. Isso porque, com o distrato realizado em 26/11/2007, a CM voltou a possuir o controle acionário da VIGOR, consolidando, assim, a propriedade das referidas ações. 2.2) INVALIDADE DO INSTRUMENTO DE RETIFICAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL DA GESTIOR PREVENDO A RETIRADA DA GOULT E DO INSTRUMENTO PARTICULAR DE RETIFICAÇÃO, RATIFICAÇÃO, E CONSOLIDAÇÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE QUOTAS EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE REGISTRO NA JUCESP Ainda que se considere válida a alienação, é importante analisar se a ausência de registro dos instrumentos societários que concluem o distrato da operação, informada à CVM e ao CADE, poderiam produzir efeitos, uma vez que não foram registrados na JUCESP. Isso porque, conforme exposto no relatório, a fiscalização entendeu que: "Da análise das duas situações apresentadas, constatase que: A primeira operação, declarada à Receita Federal, referese à alienação efetuada pela CM Indústria e Comércio Ltda, das quotas sociais da Gestior, para Bertin S/A, ou seja, tratase de uma operação de pessoa jurídica para pessoa jurídica. (...) No entanto, para que esta operação tivesse validade jurídica, as alterações contratuais que revogaram os efeitos da cisão da CM, transferindo as quotas da Gestior para a Goult, deveriam ser arquivadas e registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo JUCESP, o que não ocorreu. Vale lembrar que os atos sujeitos ao registro público somente têm validade e produzem os efeitos pertinentes a partir da sua formalização. Vejamos o que diz o Código Civil a respeito: Art. 1.154. O ato sujeito a registro, ressalvadas disposições especiais da lei, não pode, antes do cumprimento das respectivas Fl. 1688DF CARF MF 16 formalidades, ser oposto a terceiro, salvo prova de que este o conhecia. Parágrafo único. O terceiro não pode alegar ignorância, desde que cumpridas as referidas formalidades. De acordo com o dispositivo citado, o ato da revogação por meio das alterações contratuais não pode ser oposto a terceiros, incluindo entre estes, a Fazenda Nacional. O registro mencionado no artigo 1157 do Código Civil é exigido para dar publicidade ao ato, a fim de que terceiros possam dele tomar conhecimento e, se for o caso, questionálo. No entanto, como bem ressalta o Recorrente, caso se comprove que terceiro teve acesso ao ato por outros meios, ele gerará todos os efeitos, ainda que não registrado. É exatamente por esse motivo, que o artigo menciona que o ato não poderá ser oposto ao terceiro, salvo prova de que este o conhecia. A Receita Federal tem acesso às informações do contribuinte, em razão das diversas obrigações acessórias a que este está submetido. Sendo assim, é corriqueiro que fiscalização tenha conhecimento dos diversos atos do contribuinte ainda que não realizado o competente registro. Dessa forma, o registro das operações perante a junta é irrelevante para determinar a tributação aplicável. Tanto é assim que diversas autuações fiscais desconsideram as operações registradas na Junta, sob o argumento de que, em seu conjunto, não seriam oponíveis ao fisco. A jurisprudência desse Conselho tem decidido, reiteradamente, que o registro na Junta Comercial é irrelevante para que o ato possua efeitos perante à fiscalização. Nesse sentido, citese o Acórdão 1102001.206, de 24/09/2014, cuja ementa é a seguinte: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 1989, 1990 IRPJ. INCORPORAÇÃO. CRÉDITOS DA INCORPORADA. COMPENSAÇÃO COM DÉBITOS DA INCORPORADORA. POSSIBILIDADE. A incorporação transfere débitos e créditos da incorporada para a incorporadora, a partir do momento em que aprovada pelos sócios o ato societário. O registro da Junta Comercial é mera formalidade que visa dar conhecimento do ato a terceiros para que estes possam questionálo nas hipóteses legalmente previstas. O Fisco, por exigências próprias, toma conhecimento da incorporação no momento da apresentação da declaração de encerramento da empresa. Inexigibilidade do registro para efeitos fiscais. (grifamos) Merece transcrição, pela clareza com que aborda a questão, os seguintes trechos do voto do Conselheiro Relator Francisco Alexandre dos Santos Linhares: O cerne da questão é saber se o crédito. utilizado pela Contribuinte lhe pertencia no momento da compensação' ou se era crédito de terceiro. A, 'contribuinte deliberou, assim como também deliberou a empresa incorporada, operação, de incorporação' da ,segunda pela primeira em' " , 15,03.2003 e Q registrou na JUCEES,em 18.03.2003, antes, portanto, da extinção 'do débito tributário' pela compensação. Também não há, 'questionamento acerca do crédito utilizado. A operação; Fl. 1689DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.682 17 todavia, ainda não foi registrada na JUCERJA, em virtude de exigências formais da própria JUCERJA, Não consta' oposição de credores à incorporação. A dúvida é saber se o ato societário é suficiente para fins fiscais ou se, de fato, o registro, na JUCERJA condiciona à validade da operação. (...) A Lei 6.404/76, aplicável subsidiariamente aos casos da espécie, tem disposição semelhante:. . Art: 227. A incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes .sucede em todos'os direitos e obrigações. §1º A assembléia geral da companhia incorporadora. se aprovar. protocolo da operação, deverá autorizar o 'aumento de' capital a ser subscrito e realizado pela incorporada mediante versão do seu patrimônio .liquido, e nomear os peritos que o avaliarão. § 2º A sociedade que houver de ser. incorporada, se aprovar o protocolo da operação. autorizará seus administradores a praticarem;' os atos necessários' à . incorporação. inclusive a subscrição do aumento de capital da incorporadora. § 3 º Aprovados .pela assembléia. geral da incorporadora o laudo de avaliação e a incorporação: extinguese a incorporada, competindo à primeira promover o arquivamento e a publicação dos atos da incorporação. Em ambas as normas, apresentase claro que a extinção da pessoa jurídica se dá no' momento da aprovação do ato societário, que deverá a posteriori, ser.arquivado e publicado. A legislação fiscal não destoa deste entendimento. A Lei.9.430/96 considera o encerramento da empresa; para. fins fiscais, como 'a data do evento societário. Confirase: Art.1º I" A partir do ano calendário de 1997, o imposto de renda das pessoas jurídicas será determinado com base no lucro real, presumido, ou' arbitrado, por períodos de apuração trimestrais, encerrados nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de. cada ano calendário, observada a'legislação vigente, com as alterações desta Lei. §1 º Nos' casos de 'incorporação, fusão ou cisão, a apuração da base de cálculo e do imposto de renda devido será efetuada na data do evento, observado o disposto no art. 21 da Lei n° 9.249, de 26 de dezembro de 1995. §2°Na'extinção da pessoa jurídica, pelo encerramento da liquidação, a apuração da base de cálculo e do imposto devido será efetuada na data desse evento.' A lei 9.249/95, por sua vez, determina a apresentação do balanço' de encerramento da empresa sem fazer qualquer menção ao registro na Junta Comercial. Fl. 1690DF CARF MF 18 (...) Por fim, o regulamento do imposto de renda mais uma vez fortalece a. interpretação de'que a extinção da pessoa jurídica incorporada se dá na data da deliberação, conforme se vê do artigo 235: Art. 235.A pessoa jurídica que tiver parte ou todo o seu patrimônio absorvido em virtude de incorporação, fusão ou cisão deverá levantar balanço específico na data desse evento (Lei n° 9.249, de 1995, art. 21, e Lei . n° 9.430, de 1996, art. 1º, §1º ). §1ºConsiderase data do evento a data da deliberação que aprovar a incorporação, fusão. ou. cisão. Enfim, para fins fiscais, a data da incorporação, portanto a data em que a. incorporadora assume direitos e obrigações da incorporada, é a data do evento .societário que deliberou a extinção da pessoa jurídica. Não há uma só norma que condicione; a eficácia da incorporação ao registro do ato societário na . junta comercial. Nesta data,' a . pessoa jurídica' incorporadora, sucessora universal da incorporada, passa a figurar na relação obrigacional que tem .como contraparte a Fazenda Nacional e, portanto, a ser. titular do crédito .tributário surgido quando estava em funcionamento a incorporada. Sendo . titular do crédito, o crédito é seu, não de terceiros. Sendo seu o crédito (assim . como sãos seus os débitos da incorporada), pode compensálos com débitos seus também. Não há norma 'que vede a extinção do crédito. por esta modalidade. o registro; como muito bem frisado pela Contribuinte, serve para dar conhecimento a 'terceiros da decisão, para que estes possam oporse ao ato societário, acaso se sintam prejudicados. No caso do Fisco, o arquivamento (é. isto mesmo; mero arquivamento Lei 8.934/94, artigo 32) é absolutamente desnecessário para que ele tome conhecimento do ocorrido e possa se opor ao ato praticado. Isso porque o próprio Fisco impôs obrigações específicas para a. comunicação a ele do ato praticado. De posse da informação,pode manejar todas as ferramentas necessárias para impugnar o ato, caso seja lesivo aos seus interesses. Nesse mesmo sentido, mencionese as decisões constantes dos Acórdãos 1402 001142 e 1402 000 431. Diante do exposto, não há que se falar em invalidade do distrato que reafirmou a operação originalmente efetuada (venda da CM do controle acionário da Vigor por meio da empresa GESTIOR) pelo simples fato de que tal operação não foi registrada na JUCESP. 2.3) DA OPERAÇÃO COMUNICADA AO CADE E À CVM Finalmente, é importante analisar se a operação de venda comunicada ao CADE e a CVM, seria suficiente para desconstituir a alienação realizada pela CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Isso porque mencionados atos foram uma das provas trazidas pela fiscalização para atestar a simulação da venda promovida pela CM e estabelecer a sujeição passiva na pessoa do Recorrente. Fl. 1691DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.683 19 A declaração prestada pelo contribuinte junto à CVM ou ao CADE não é suficiente para, isoladamente, determinar a natureza jurídica do negócio realizado. Como bem ressalta o parecer juntado aos autos, a informação prestada à CVM não tem o condão de anular o ato efetivamente praticado, apenas sujeitaria o Diretor às sanções previstas pelo art. 11 da Lei nº 6.385/76. Da mesma forma, a impropriedade das informações fornecidas ao CADE não tem efeito anulatório do negócio jurídico efetivamente realizado. Isso porque, de acordo como artigo 54, §4º da Lei nº 8.884/94 (que regulava a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica à época dos fatos geradores), não se exigia a notificação prévia dos atos de concentração. Tais atos geravam os seus efeitos até que o CADE apreciasse a operação e então decidisse pela sua manutenção ou reversão. É importante registrar que, ainda que a operação fosse reprovada, a consequência não seria a nulidade dos atos praticados. Caberia às partes firmar novos negócios jurídicos para desconstituir os efeitos dos negócios já exteriorizados. Além disso, mesmo que exista um pronunciamento formal da CVM definindo a natureza jurídica de determinado ato, tal pronunciamento não será vinculante quanto a sua natureza fiscal. Nesse sentido, elucidativo o exemplo da Deliberação nº 207/96 da CVM que disciplinou a natureza jurídica dos juros sobre o capital próprio, sob o enfoque do acionista, como uma participação no resultado. A pretensão dos contribuintes era de que a referida deliberação fosse vinculante o que determinaria a identificação do JCP aos dividendos. No entanto, o Ministro Mauro Campbell, ao definir a natureza jurídica do JCP no julgamento do Recurso Especial nº 1.200.492/RS (submetido à sistemática do artigo 543 C do Código de Processo de Civil de 1973), fez clara distinção dos efeitos fiscais dos eventos societários, conforme se verifica pela seguinte passagem do seu aditamento ao voto: Desse modo, optandose por um conceito único de JCP, sacrificamse, necessariamente, ou os propósitos tributários da Lei 9.249/95, ou os princípios societários, protegidos pelas Deliberações CVM nº 207/96 e 683/12. A melhor solução, portanto, é a cisão dos efeitos produzidos pelo instituto jurídico para efeitos tributários e para efeitos societários. (grifamos) Em face do exposto, a ausência de submissão de um ato de concentração empresarial ao CADE ou sua submissão errônea não gera sua nulidade e não pode, isoladamente, ser utilizada como prova da simulação. 3) DA INAPLICABILIDADE DA MULTA DE 150% Finalmente, ainda que se considere os atos praticados como simulados, o que, como visto, não foi comprovado, é importante analisar a qualificação da multa promovida pelo trabalho fiscal. Isso porque as divergências quanto à interpretação jurídica dos fatos não se identifica com a fraude, elemento essencial a qualificação da multa. A respeito da impossibilidade de se equiparar a simulação às hipóteses prescritas pelos citados arts. 71, 72 e 73, destaco Acórdão nº 9101002.189, proferido pela Câmara Superior deste Conselho, nestes termos: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2001, 2002 MULTA QUALIFICADA. Para que se possa Fl. 1692DF CARF MF 20 preencher a definição do evidente intuito de fraude que autoriza a qualificação da multa, nos termos do artigo 44, II, da Lei 9.430/1996, é imprescindível identificar a conduta praticada: se sonegação, fraude ou conluio respectivamente, arts. 71, 72 e 73 da Lei 4.502/1964. A mera imputação de simulação não é suficiente para a aplicação da multa de 150%, sendo necessário comprovar o dolo, em seus aspectos subjetivo (intenção) e objetivo (prática de um ilícito). (grifamos) No voto vencedor da decisão acima mencionada, proferido pela Conselheira Lívia de Carli Germano, fica claro que a norma relativa à imputação de multa qualificada não faz menção a simulação. Vejamos: “Ocorre que o artigo 44, II, da Lei 9.430/1996 não faz qualquer menção à simulação. Na verdade, tal dispositivo estabelece a aplicação de multa de 150 % nos casos de evidente intuito de fraude, definidos nos arts.71, 72 e 73 da Lei n 4.502, de 30 de novembro de 1964,(...)(redação vigente à época da autuação). Ora, para que se pudesse completar a definição de "evidente intuito de fraude", que autorizaria a qualificação da multa de ofício, seria imprescindível a identificação da conduta praticada pelo contribuinte: se sonegação, fraude ou conluio respectivamente 71, 72 e 73 da Lei 4.502/1964. No caso porém, não houve qualquer fundamentação neste sentido, do que se conclui que o agravamento da penalidade carece de suporte material e, por isso, não pode subsistir” (Processo nº 18471.000009/200633. 1ª Turma. Sessão de 21.01.2016) Em face do exposto, ainda que se entenda que a fiscalização se desincumbiu do ônus de comprovar a simulação, entendo que não foi demonstrada a ocorrência de qualquer das hipóteses dos arts. 71,72 e 73 da Lei nº 4.502/64, motivo pelo qual, a multa aplicada deverá ser reduzida para o percentual de 75%. 4) CONCLUSÃO Em face de todo o exposto, rejeito a preliminar e, no mérito, dou provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Voto Vencedor Conselheiro Marcio Henrique Sales Parada Redator designado. O caso que ora está em análise é bastante complexo, considerando as operações societárias que envolve. Assim, natural que tenha despertado um longo debate, neste Colegiado. Natural também que haja opiniões diversas sobre o assunto, tanto em sede de preliminares quanto de mérito, bem como em relação à aplicação de penalidade. Assim, peço licença à ilustre Relatora, Conselheira Junia Roberta Gouveia Sampaio, bem como ao nobre Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto, que expressou voto Fl. 1693DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.684 21 diverso, registrado aqui em sua brilhante declaração, para divergir de suas conclusões pelas seguintes razões que passo a exprimir, buscando ser direto e sucinto. Em relação às nulidades suscitadas pelo contribuinte em seu recurso voluntário, quais sejam: erro na identificação do sujeito passivo e erro no cálculo do tributo devido por "arbitrar" a apuração e não considerar "o custo efetivo da lei", foram rejeitadas pelo colegiado, como já apontado pela Relatora, porque só fazem sentido se fosse admitida a defesa do contribuinte de que quem efetuou a alienação que aqui se discute foi a pessoa jurídica CM e não a pessoa física Carlos Alberto Mansur. Em relação à nulidade da decisão de 1ª instância levantada de ofício pelo Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto, também foi rejeitada pelos membros do colegiado, uma vez que, considerando que a alienação deuse pela pessoa física, não há que se falar ou se admitir que recebimentos por ele realizados decorreram de distribuição de dividendos da pessoa jurídica. Por essas razões, meu voto vencedor cingese às questões em que foi vencida a Relatora. Ao analisar o recurso do contribuinte, verifico três pontos a serem tratados: I haveria erro na identificação do sujeito passivo; II haveria erro no cálculo do tributo (custo de aquisição das quotas alienadas), III estaria incorreta a qualificação da multa aplicada (150%). I O CORRETO SUJEITO PASSIVO DA EXIGÊNCIA TRIBUTÁRIA Para embasar meu raciocínio, colho do Relatório elaborado pela ilustre Relatora os seguintes trechos: Em 21/11/2007 foi assinado o Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Outras Avenças. Por meio do referido contrato, a CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA vendeu à BERTIN S/A 56% das quotas do capital da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA (controladora da Vigor), pelo preço de R$ 400.000.000,00, sendo R$ 200.000.000,00 no ato da assinatura e o restante em 25 parcelas atualizadas pela SELIC. Todavia, ao analisar os registros na Junta Comercial do Estado de São Paulo JUCESP, o Parecer Técnico referente a Ato de Concentração da Secretaria de Acompanhamento Econômico, o Relatório do Ato de Concentração emitido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE e os documentos da Comissão de Valores Mobiliários CVM, conclui a fiscalização que a operação efetivamente realizada foi distinta da declarada ao fisco pela empresa fiscalizada. (...) Relata ainda a fiscalização que a GOULT foi constituída em 20/07/2007, tendo como sócios Roberto Mário Amaral de Lima Neto e Carlos David Albuquerque Braga, com capital de R$ 100,00. Em 29/10/2007, foi registrada na JUCESP a 1ª Alteração contratual, por meio da qual foi feita a transferência de 99,9% das quotas para o Sr. Carlos Alberto Mansur e 1 quota para Carlos Mansur Filho. Na 2ª alteração contratual a Goult recebe a parcela cindida do PL da empresa fiscalizada, Fl. 1694DF CARF MF 22 constitutiva da participação societária de 99,9% que ela detinha da GESTIOR PARTICIPAÇÕES – controladora da Vigor. O contribuinte Carlos Mansur tinha participação e controle acionário na CM INDÚSTRIA há muito tempo (vejase registro de alteração contratual nas folhas 624 a 645). Então, decidese alienar a VIGOR para a empresa BERTIN (mediante a alienação da GESTIOR, que era controladora da VIGOR). Analisandose e planejandose tal alienação, decidiuse que a melhor forma, ou a mais econômica ou a mais vantajosa, seria diretamente da pessoa física de Carlos Mansur à BERTIN. Para dar ensejo a tal desiderato, constituise a empresa GOULT, uma empresa que não tinha outra finalidade que não viabilizar essa operação de alienação. Vejamos que no Relatório consta que ela foi criada em 20/07/2007, com um capital de R$ 100,00. Logo depois da criação, em 29/10/2007, foi registrada na JUCESP a 1ª Alteração contratual, por meio da qual foi feita a transferência de 99,9% das quotas para o Sr. Carlos Alberto Mansur e 1 quota para Carlos Mansur Filho. Na 2ª alteração contratual a GOULT recebe a parcela cindida do PL da CM INDÚSTRIA, constitutiva da participação societária de 99,9% que ela detinha da GESTIOR PARTICIPAÇÕES – controladora da VIGOR. Por essa narrativa, pareceme claro o "papel" da empresa GOULT, da qual Carlos Mansur detinha, repito, 99,9% das quotas. Além da questão tributária, temse ainda outros campos, como o econômico, o empresarial e o do consumidor, a encaminhar a alienação pela pessoa física. Vejamos que em 27 de novembro de 2007, o jornal O Estado de São Paulo (Estadão), noticiou que "o Grupo Bertin, segundo maior exportador de carne bovina do país, anunciou a compra do controle da Vigor, uma das líderes no mercado de produtos lácteos da região Sudeste". Nessa notícia, que interessa ao mercado e a investidores, informase ainda que "foram compradas 56% do total de 74,69% das ações ordinárias da Goult Participações, de propriedade de Carlos Alberto Mansur...Carlos Alberto vendeu o controle, mas continuará na gestão, dividindo as decisões com os novos controladores...". (disponível em http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,frigorificobertincompraavigor,86375, pesquisa realizada em 29/07/2017). Ou seja, o "nome" de Carlos Alberto Mansur faz diferença no mercado, considerando sua expertise empresarial, e o fato de ter vendido e "continuar na gestão" representa informação relevante e com efeitos econômicos. Além disso, tratandose de grandes grupos empresariais, com ações negociadas em bolsa de valores, interessa também a terceiros e investidores. Logo depois dessas operações, o mesmo jornal O Estado de São Paulo noticiava em 27 de agosto de 2009 que "depois de registrar lucro recorde no segundo trimestre do ano, a Bertin prepara finalmente sua abertura de capital..." A citada cisão na CM INDÚSTRIA foi formalizada em 30 de outubro de 2007 e registrada na JUCESP em 07/12/2007. A partir daí, conforme o registro público, ela não era mais a proprietária indireta da VIGOR (fl. 883 a 903). Ademais, essa operação de alienação da VIGOR, considerandose a necessidade de verificação de concentração econômica, "em benefício da transparência e uniformidade de condutas" e a defesa da concorrência e interesse do consumidor, foi analisada Fl. 1695DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.685 23 pela Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, que emitiu Parecer Técnico em 21 de dezembro de 2007. Concluiu que em se tratando "da compra, pela Bertin, de 56% das quotas representativas do capital social da Goult Participações Ltda, controladora indireta da Vigor", a recomendação era "aprovação sem restrições" (fls. 863 a 867). No Relatório do CADE, que consta das fls. 868 a 870, também foi essa a operação analisada. E se fosse outra operação, onde não existisse Goult e a CM INDÚSTRIA alienasse a VIGOR, através de suas controladas, à BERTIN, qual seria o Parecer da SAE/MF? Não se sabe. E onde estariam o interesse do consumidor, a transparência, a uniformidade e a defesa da concorrência? É que a operação que o contribuinte quer que seja considerada para fins tributários, apenas, não é a operação que foi informada aos órgãos de controle, de interesse público e econômico e aos investidores e consumidores. Ou seja, a ser como pretende o Recorrente, terseia uma realidade diversa, única, no campo tributário. Ressaltese ainda que durante os procedimentos fiscais na CM INDÚSTRIA, intimouse a empresa JBS (fl. 952 a 988), incorporadora da adquirente BERTIN, a apresentar o Contrato de Compra relativo à aquisição das ações da VIGOR efetuada pela BERTIN e o demonstrativo de eventual ágio apurado na operação. A empresa circularizada respondeu para demonstrar o "eventual ágio" a partir da aquisição de 56% do capital da GOULT, pelo valor de R$ 400.000.000,00. Apresentou ainda uma cópia de contrato onde Carlos Mansur e seu filho de um lado e a BERTIN de outro, acertam a venda da VIGOR, "considerando que a GOULT é sócia controladora do capital da GESTIOR ... que por sua vez é acionista controladora da VIGOR...". Destaquese, o contrato que a JBS tinha cópia e conhecia era esse, não de uma alienação pela CM INDÚSTRIA. E foi a partir daí que a fiscalização tomou ciência da real operação. Não foi um redirecionamento, como alega o Recorrente, porque não conseguiu apurar o valor do ágio que a CM contabilizara e que enfim fizera com que a tributação, se a alienação se desse diretamente por ela pessoa jurídica, e não pela pessoa física de Carlos Mansur, ficasse bastante menor. Vejamos que na operação que a Recorrente quer fazer valer perante o Fisco, a alienação dáse pela CM à BERTIN, portanto de pessoa jurídica para pessoa jurídica e, nesse caso, o ganho de capital estaria inserido na apuração de resultados da empresa e a receita seria diminuída dos custos contábeis, incluindo nele um ágio contabilizado, o que fez com que não houvesse ganho de capital a tributar na pessoa jurídica, segundo a fiscalização. O que se verifica é que depois de todos os efeitos, da submissão ao CADE e SAE, do registro na JUCESP, do anúncio perante terceiros, a CM resolve fazer um "distrato", uma "revogação", uma "anulação" do negócio, desde a cisão e transferência do controle da VIGOR à GOULT. Fl. 1696DF CARF MF 24 Entretanto, com reflexo apenas no campo tributário, porque nos demais os efeitos, observase, já estavam exauridos, inclusive com a tradição das quotas e o pagamento do preço diretamente em uma conta da pessoa física de Carlos Mansur, conforme combinado em um dos aditamentos do contrato. Para justificar o recebimento diretamente na conta da pessoa física, o recurso diz que "por seu turno, a CM Industria e Comércio Ltda distribuiu como dividendos aos seus sócios, face seus lucros contabilmente acumulados, a totalidade dos valores recebidos pela mencionada venda, como consta das declarações de rendimentos destes mesmos sócios controladores."(sublinhei) Afigurase uma "conta de chegada", onde a empresa CM distribui, como dividendos não tributáveis, em registro posterior à venda (DIPJ), exatamente o valor das parcelas pagas no negócio que envolveu a pessoa física, que recebeu o dinheiro, e a compradora BERTIN. Resumiu a fiscalização, em seu Termo de Verificação, que: Diante do exposto, até o presente momento, constatase que houve duas versões para a alienação das ações da Vigor, uma, amparada no contrato de compra e venda de 21/11/2007, informada e declarada à Receita Federal e, outra, amparada no contrato de compra e venda de 25/11/2007, informada ao público e demais órgãos governamentais, diferente daquela. Destacou ainda que todos os atos contratuais com a inclusão da GOULT foram arquivados na JUCESP. Entretanto, todos esses atos contratuais foram pretensamente "anulados" por alterações não arquivadas na JUCESP. Segundo Marco Aurélio Greco, ao tratar de planejamento tributário, não há uma definição do que seja um plano, mas a experiência mostra que, como regra, há algumas características que se repetem cuja constância permite afirmar existir essa figura. Em síntese, menciona a circunstância de haver um objetivo escolhido previamente à escolha dos instrumentos a serem utilizados, ou seja, um predomínio do fim sobre o meio. O plano pode se materializar numa única operação ou em um conjunto delas; no segundo caso, importante é sublinhar que ele deve ser visto como uma unidade formada por uma pluralidade de negócios, o que implica o enquadramento no tipo tributário dever ser o do negócio global (conjunto) e não de cada um separadamente. Nesse conceito, assumem importância o efeito prático e a intenção objetiva dos negócios. O autor segue dizendo que um plano tem como características o encadeamento de etapas, explicando que entre essas: a) a posterior só existe se ocorrer a anterior (e vice versa) e b) a anterior “constrói” o pressuposto legal ou 'de fato' do cabimento e da realização da posterior. Aponta ainda, como características de um plano, buscar no arcabouço legal existente uma estrutura formal que sirva ao objetivo visado ainda que ela seja não usual e, por vezes, até mesmo inadequada ao caso concreto, e a neutralização de efeitos indesejáveis que adviriam dos negócios celebrados se eles se mantivessem com o perfil que lhes é próprio. Em relação a essas duas características, aponta a ocorrência de “coincidências”. Conclui que nessas hipóteses, a variável “tempo”, em que os fatos ocorreram, pode assumir papel relevante para aferir a natureza do negócio global e levar à sua adequada Fl. 1697DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.686 25 qualificação jurídica (GRECO, Marco Aurélio. Planejamento Tributário. 3ª ed. Dialética Editora, São Paulo: 2011, p. 125/126). A PFN apontou em suas contrarazões várias datas que demonstram ter havido formalização de documentos ao tempo em que as operações estavam concluídas e seus efeitos já se encontravam exauridos (fls. 1522 a 1544). O recurso diz que: "Registrese, ademais, que toda a operação foi retificada e consolidada em 14/05/2009 (fls. 1320/1323) através do Instrumento Particular de Retificação, Ratificação e Consolidação ... ou seja, em data posterior às comunicações feitas ao CADE e ao SEAD, de modo que, se as retificação e consolidação foram posteriores às comunicações, obviamente que as comunicações àqueles órgãos somente poderiam retratar a operação anterior, que deixou de existir em 14/05/2009." (destaques no original) Ou seja, o recurso admite que "a operação anterior", que existiu!, só "deixou de existir em 14/05/2009", depois, portanto, que todos os efeitos, comunicações, registros, tradição e pagamento, já haviam sido realizados. Enfim, analisando essa operação de alienação de participação societária, o que se pode concluir é que o contribuinte escolheu e planejou um caminho a seguir. Nesse caminho, existem a lei, os atos administrativos, o interesse de terceiros e a transparência perante o público. Não se pode, posteriormente, apenas para reduzir a carga tributária, "revogar" ou "anular" (e não se encontram razões ou vícios que justificassem uma anulação) ou desfazer tal operação, sem que houvesse qualquer propósito negocial, uma vez que o fim seria o mesmo, a alienação da VIGOR à BERTIN, havendo reflexo, repito, apenas na redução dos tributos a pagar. Em conclusão, considerandose a operação real, aquela que foi perpetrada e que, ineficazmente, pelas razões aqui expostas, se tentou alterar posteriormente, está correta a identificação do contribuinte na pessoa física de Carlos Alberto Mansur. No recurso (fls. 1479 a 1511) o contribuinte demonstra ter perfeito conhecimento das imputações que lhe são feitas, especificando valores, infrações, enquadramento legal, percentual de multa e a razão de seu agravamento. Alega, contudo, que a fiscalização "não intimou a CM Indústria a lhe explicar porque considerava como válido o primeiro contrato...Tivesse intimado a empresa sob fiscalização, a CM Indústria e Comércio, terlheia apresentado o instrumento, a trazido a estes autos por ocasião da impugnação e tudo estaria esclarecido." Registrese que não se está deixando de analisar nenhuma alegação ou documento do Recorrente sob o argumento de preclusão. De acordo com o Decreto 70.235, de 1972, "é a impugnação da exigência, formalizada por escrito e instruída com os documentos em que se fundamentar" que inaugura a fase litigiosa do procedimento. Então, dizer que na fase que precedeu ao lançamento a CM não foi intimada, e que naquele caso "tudo estaria esclarecido", é entender que haveria um "litígio" antes de formalizado o lançamento. Fl. 1698DF CARF MF 26 Ao contrário, após a formalização da exigência fiscal, o contribuinte autuado, a pessoa física, foi regularmente cientificado do Auto de Infração e foilhe ofertado o direito de impugnar e recorrer, com a apresentação de todos os documentos que lhe fossem convenientes, inclusive em relação à CM Indústria e Comércio, da qual fora sócio controlador. Diz, adicionalmente, que houve um "arbitramento ilegal" da base de cálculo do tributo, quanto ao custo do bem envolvido na apuração do ganho de capital. II PORQUE HAVERIA ERRO NO CÁLCULO DO TRIBUTO, SEGUNDO O RECURSO ? Diz o recurso que: Olvidou que o lançamento do tributo no auto de infração não decorreu de qualquer troca de sujeito passivo ou de operação, mas sim do fato que a fiscalização desconsiderou o custo do ativo vendido, com base no custo de aquisição do mesmo, para eleger em seu lugar outro custo que arbitrou, a seu bel prazer, para o ativo. No TVF, o cálculo do tributo, a partir do ganho de capital apurado para a pessoa física de Carlos Mansur está demonstrado com base no previsto na IN SRF nº 84, de 2001. Considerouse o preço à vista dos 56% das quotas da GOULT, em 25/11/2007, o preço à vista dos restantes 44%, de acordo com a operação exercida em 08/09/2008, e explicouse, a respeito dos custo de aquisição que: E o ganho de capital foi assim calculado: Portanto, não há um "arbitramento a bel prazer", ou um cálculo que impedisse o conhecimento, compreensão e, consequentemente, o contraditório. Fl. 1699DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.687 27 Existe um tópico do recurso intitulado: "ii) Custo das Quotas de Capital Alienadas", onde se afirma que "contra todas as evidências, a fiscalização, nestes autos, defende que a transferência ocorreu pela venda das cotas do capital da Goult pelo Sr. Carlos Alberto Mansur, e que a operação como feita e declarada pelo contribuinte consistia em fraude". A seguir, falase da inexistência de "fraude" (que trataremos no item relativo ao agravamento da multa), da contabilização pela CM Indústria e Comércio de ágio em seus Livros contábeis e fiscais e da apuração de seu Lucro Real. Após discorrer sobre o custo de aquisição dos ativos pela CM, em uma história iniciada em 1973, e da formação de ágio, conclui o recurso que "fato é que o custo dos ativos alienados como declarado é o correto, a fiscalização nada conseguiu, além de levantar suspeitas infundadas..." Mas vejamos que o pretenso "erro" ou "arbitramento ilegal" que teria sido efetuado pela fiscalização ao apurar o ganho de capital decorrente da operação em questão, na pessoa física de Carlos Mansur não é expressamente apontado ou questionado. O que se questiona neste tópico é o mesmo que já foi debatido no anterior, que o sujeito passivo não seria Carlos Mansur mas a CM Indústria e Comércio, e, se fosse a pessoa jurídica, haveria um "outro custo", com composição de ágio, a ser considerado. Mas, já se deixou claro aqui porque se entende que o sujeito passivo não é a CM pessoa jurídica, e sim Carlos Mansur e, sendo assim, nada existe para ser tratado, em alegado erro de cálculo de apuração, pois o cálculo empregado está descrito e demonstrado no Termo de Verificação Fiscal, e onde está o erro, se considerar que o sujeito passivo é a pessoa física, o recurso não aponta. III MULTA QUALIFICADA. MANUTENÇÃO. Existe também um tópico intitulado "i) do indevido agravamento da multa ausência de fraude". Primeiro, a fiscalização não "tomou outro rumo" porque não conseguiu apurar o custo de aquisição dos bens alienados. Ela tomou outro rumo porque durante seu procedimento descobriu, mediante informações prestadas por terceiros, que havia uma "outra operação", que até então lhe fora ocultada. Surgiu um contrato de compra e venda em que aparecia a GOULT, que detinha as quotas da VIGOR, alienadas à BERTIN. Uma operação que a CM Indústria tentara desfazer, com atos posteriores, não registrados na JUCESP nem informados aos órgãos de controle econômico, como já se tratou aqui. E aí, no recurso, sublinhase novamente que a fiscalização "não logrou opor qualquer reparo ao custo apurado e declarado pela CM na venda mencionada." Mas, de novo, não se está considerando que foi a CM quem vendeu, mas a pessoa física, como já tratado. Então, o fato de não se contradizer o custo apurado pela CM não é a base para a qualificação ou não da multa. No Acórdão 9202003.128, de 27 de março de 2014, consta que: MULTA QUALIFICADA. MANUTENÇÃO. Fl. 1700DF CARF MF 28 A fraude se caracteriza por uma ação ou omissão, de uma simulação ou ocultação, e pressupõe, sempre, a intenção de causar dano à fazenda pública, num propósito de liberado de se subtrair no todo ou em parte a uma obrigação tributária. Assim, ainda que o conceito de fraude seja amplo, deve sempre estar caracterizada a presença do dolo, um comportamento intencional, específico, de causar dano à fazenda pública, onde, utilizandose de subterfúgios, escamoteia na ocorrência do fato gerador ou retardam o seu conhecimento por parte da autoridade fazendária. Ou seja, o dolo é elemento específico da sonegação, da fraude e do conluio, que a diferenciada declaração inexata ou da falta ou pagamento a menor do tributo ou da omissão de rendimentos na declaração de ajuste anual, seja ela pelos mais variados motivos que se possa alegar. Dessa forma, o intuito doloso deve estar plenamente demonstrado (nota fiscal fria, calçada, declaração do beneficiário do pagamento de que não prestou os serviços etc), sob pena de não restarem evidenciados os ardis característicos da fraude, elementos indispensáveis para ensejar o lançamento da multa qualificada. O intuito do contribuinte de fraudar não pode ser presumido: Compete ao fisco exibir os fundamentos concretos que revelem a presença da conduta dolosa. Se, por um lado, cabe ao contribuinte comprovar as despesas deduzidas dos rendimentos tributáveis declarados, sob pena de serem glosados, como ocorreu no lançamento em comento, de outra banda, compete à fiscalização apresentar os elementos de prova que demonstrem a intenção do contribuinte de fraudar o fisco. A multa qualificada não é aplicada somente quando existem nos autos documentos com fraudes materiais, como contratos e recibos falsos, notas frias etc. Decorre também da análise da conduta ou dos procedimentos adotados pelo contribuinte que emergem do processo.(...)(sublinhei) A lei 4.502/64, art. 72, conceituou fraude como “toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a evitar ou diferir o seu pagamento.” Na lição de VENOSA: A fraude é vício de muitas faces. Está presente em um sem número de situações na vida social e no Direito. Sua compreensão mais acessível é a de todo artifício malicioso que uma pessoa emprega com intenção de transgredir o Direito ou prejudicar interesses de terceiros. A má fé encontra guarida não só na fraude, mas também em outros vícios, como dolo, coação e simulação. (VENOSA. Silvio de Salvo, Direito Civil, 4ª ed. Parte Geral. Atlas: 2004, p. 505/506) A multa de 150%, segundo PAULO DE BARROS CARVALHO, “é a espécie de multa que tem por conteúdo a agravação da penalidade...É aplicada quando a Administração demonstra, por elementos seguros de prova, no Auto de Infração, a existência da intenção do sujeito infrator de atuar com dolo, fraudar ou simular situação perante o Fl. 1701DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.688 29 Fisco” (CARVALHO, Paulo de Barros, Curso de Direito Tributário, 21 ed. Saraiva, 2009, p. 581). Pelo que se pode perceber, "fraude é vício de muitas faces" e na sua caracterização e para a aplicação da multa qualificada que aqui se discute, deve estar presente o dolo. Ao final de nossa análise quanto à questão da identificação do sujeito passivo como sendo a pessoa física, dissemos que não encontramos propósito negocial no pretenso "desfazimento" do negócio inicialmente perpetrado, registrado e informado, que não reduzir a carga tributária. Assim, a intenção dos agentes pareceunos clara. Após exauridos os efeitos dos atos praticados, intentouse dar forma a uma outra operação, que não teria mais efeitos econômicos, porque já analisada pelos órgãos de controle, ou efeitos perante terceiros porque já registrada (e assim ficou) na JUCESP. Também já fora divulgada a investidores e futuros compradores/adquirentes, como aconteceu com a JBS, que enfim tinha arquivado era o contrato entre os Mansur e a BERTIN. Não é possível, assim, verificar que não tenha havido intenção de reduzir a carga tributária a ser suportada pelas pessoas envolvidas, quando se busca fazer uma "nova operação", entregando declarações ao Fisco informandoa. Aliás, esse é outro grande argumento do recurso, de que nas declarações entregues ao Fisco, a operação informada era aquela envolvendo duas pessoas jurídicas e não a pessoa física. Mas observamos que na DIPJ/2008, a GOULT, que tinha como sócios BERTIN S/A com 56% e Carlos Alberto Mansur com 44%, declarouse "dona" da GESTIOR (que detinha as ações da VIGOR), no valor de R$ 127.194.825,67. (fl. 1164 a 1185). Na DIPJ seguinte, relativa ao ano calendário de 2008, a GOULT já informa que tinha como sócios BERTIN, com 99,99% e uma outra pessoa física, com 0,01%. Essas declarações também foram entregues à Receita Federal. E o que está correto, afinal? E a CM também se declara em DIPJ "dona" (indireta) das ações da VIGOR? Existe uma inconsistência. O recurso diz que: Ora, é mais que óbvio de que houve um erro de fato no preenchimento dos documentos de fls. 989/996 e 997/999, um mero erro de digitação na data aposta nos documentos, erro este que, absolutamente, não poderia subtrair dos documentos societários a força probatória que a lei lhes atribui, muito menos alterar a verdade dos fatos. O documento de fls. 989/996 é o "instrumento particular de reratificação de alteração do contrato social datada de 30.10.2007 e outras avenças". A fiscalização anotou que ele não fora registrado na JUCESP. Objetivava anular a cisão da CM, a qual tinha transferido a participação na GESTIOR para a GOULT. Ele está datado em 26/11/2007 e diz que seu objetivo era alterar um outro contrato, que só seria registrado na JUCESP em 07/12/2007. Fl. 1702DF CARF MF 30 O documento de fls. 997 a 999 é a revogação da entrada da GOULT como sócia da GESTIOR. Também não foi registrado na JUCESP, segundo anotado pela fiscalização. Tem data de 26/11/2007 e objetiva retificar uma alteração de contrato social que só seria registrada na JUCESP em 09/01/2008. Não faz nenhum sentido que mediante instrumentos que sequer viriam a ser registrados, se alterasse, em novembro, outros instrumentos que só seriam registrados em dezembro e janeiro seguintes. Obviamente que, elaborados posteriormente, os instrumentos foram antedatados e, data vênia, creditar isso a "erro de digitação", considerando as operações que aqui se analisam, é incrível. Temse ainda o seguinte registro, no TVF, em relação à conduta do agente, em relação a registros documentais: Enfim, ao realizar um negócio jurídico e informar a operação de duas formas diversas, está clara a intenção do contribuinte em reduzir a carga tributária incidente sobre a alienação. Para a Receita Federal, apresentou DIPJ's com informações conflitantes, defendendo perante a fiscalização, posteriormente, aquela que mais lhe convinha; para o mercado e para a Junta Comercial, ou seja, para o público, deixou clara a real operação realizada, que o foi pela pessoa física, envolvendo a GOULT. Informar à Receita Federal atos e negócios que enfim se reputa dissociados da realidade fática, com o intuito de reduzir a carga tributária, caracteriza enfim a "fraude" e aqui se procurou ainda demonstrar a intenção do agente, que inclusive apresentou à fiscalização documentos com datas e fatos irreais. Entendese, portanto, que houve sim um retardamento de recolhimento de tributos, que enfim ensejaria um não recolhimento, caso não houvesse o procedimento de ofício que aqui se analisa. Presentes, dessa feita, os antecedentes e os conseqüentes, para a aplicação da multa qualificada. CONCLUSÃO Sendo assim, VOTO por negar provimento ao recurso, mantendo a qualificação da multa. (assinado digitalmente) Marcio Henrique Sales Parada. Fl. 1703DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.689 31 Declaração de Voto Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto. Congratulo a i.Relatora pela clareza do seu relatório e pela bem fundamentada e minuciosa exposição dos fatos e da posição doutrinária adotada. Igualmente, registro os louros que merece a posição do voto que inaugurou a divergência, já verbalmente antecipado nesta sessão. Contudo, considero necessário incluir terceira posição, vez que não me filio a nenhum dos dois votos proferidos. Preliminar: É imperioso que esta turma, antes de adentrar no mérito, analise questão preliminar suscitada pelo Recorrente. Ainda que tenha sido ofuscada pela relevância da discussão de mérito, especificamente acerca da sujeição passiva, não pode ser olvidada: afirma o Contribuinte que houve omissão no acórdão recorrido, senão vejamos: "Ressaltase, desde já, que o auto de infração, contrariando o disposto no §2º do artigo 3º da Lei nº 7.713/88, considerou como custo na apuração que procedeu, um valor que houve por bem arbitrar, e não o custo efetivo de lei. Assim ainda que viesse a ser admitida a mudança arbitrária do sujeito passivo como pretendeu o auto de infração, ainda assim o mesmo estaria eivado de vício por não obedecer o preceito legal quanto ao custo do bem envolvido na apuração de ganho de capital. Sobre esta ilegalidade, aliás, não se pronunciou a decisão recorrida, preferiu ignorála. " fl. 1.481 (grifo no original); Remontando à Impugnação, percebese que o Contribuinte efetivamente levantou a questão do arbitramento do custo de aquisição. Fêlo não apenas no tópico em que combateu o "agravamento" (qualificação) da multa, mas também abriu todo um tópico para o tema, senão vejamos: "A diferença apurada nestes autos não decorre deste fato, a diferença de imposto que se tenta cobrar é decorrente do fato que a fiscalização abandonou o custo apurado para a operação sem explicar o porquê, e adotou um outro custo, artificial, ao seu bel prazer, sem nenhum respaldo legal. A lei estabelece que o custo do ativo alienado é o valor pago por ele. A fiscalização, contudo, atribuiu a venda a quem não era o proprietário do ativo, e com isto teve de dar um passo além, qual seja, o de ungirse da liberdade de decretar o custo do ativo. Decretou este custo de forma a produzir a diferença de imposto que tenta cobrar nestes autos. Diferença, portanto, que não decorre de nenhuma manobra de qualquer um dos contribuintes presentes nestes autos que visasse disfarçar uma operação real com alguma outra que lhe fosse mais favorável." fl. 1.310; (...) Fl. 1704DF CARF MF 32 "Repitase, o que houve foi que a fiscalização, percebendo a correção do lucro apurado pela pessoa jurídica, tentou tributar na pessoa física, arrumandolhe um custo, a seu critério em substituição ao custo de lei." fl. 1.311; (...) "A diferença de imposto, como também já vimos, é decorrente de dois fatores, o primeiro é negar ao contribuinte o legítimo custo da operação e o segundo em transformar dividendos, renda classificada pela lei como não tributável, em rendimento sujeito á tributação. Em ambos os casos, a pretensa diferença no imposto apurada pela fiscalização nada tem a ver com a tal fraude que os autos tentam, mas não conseguem demonstrar." fl. 1.313; (...) "Não é possível, em razão de todas essas transformações, seja da empresa, seja do País, pois só neste período tiveram em curso quatro moedas diferentes, se determinar o custo de um investimento através de uma pesquisa no Registro do Comércio, como fez a fiscalização, em detrimento dos livros Diário da empresa intervenientes e dos livros LALUR. Considerada a complexidade para o controle dos investimentos em empresas coligadas e controladas avaliadas por equivalência patrimonial fica evidente que não há como se chegar ao custo fiscal do investimento sem se fazer valor do LALUR, livro desprezado pela fiscalização, no presente caso. (...) Fato é que o custo dos ativos alienados como declarados é o correto, a fiscalização nada conseguiu, além de levantar suspeitas infundadas. Se encontrou um erro no custo declarado, então porque não autuou a quem de direito? Para evidenciar o que ora se afirma, e facilitar a localização, o impugnante anexa co´pias do Livro Diário e Razão onde foram apurados pela CM Indústria e Comércio os resultados da participação societária, a baixa no LALUR dos custos ali controlados (docs. anexos)..." fl. 1.315 Por sua vez, o acórdão recorrido chegou a incluir tal argumento no relatório, na parte da impugnação ver itens 21, 27, 30, 32, 33 e 34 do relatório do acórdão recorrido (fls. 1.453/1.454). No voto, entretanto, apenas afirmou que: "Em relação aos cálculos do ganho de capital, o impugnante não apresenta nenhuma contestação específica." fl. 1.466; Perguntase: dessa afirmação, é possível entender que a DRJ concordou com o lançamento? que a forma como foi apurada a base de cálculo foi analisada? Não se trata de julgamento; há, pelo contrário, declaração expressa de que não se julgará a matéria. Não se discute aqui o mérito da questão, mas apenas a nulidade por cerceamento do direito de defesa. Voltando à Impugnação, especificamente nos excertos transcritos, percebese que o Contribuinte foi claro em afirmar que entende que o custo de Fl. 1705DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.690 33 aquisição da apuração do ganho de capital deve ser aquele mesmo calculado pela CM Indústria em sua contabilidade, senão vejamos novamente: "A diferença apurada nestes autos não decorre deste fato, a diferença de imposto que se tenta cobrar é decorrente do fato que a fiscalização abandonou o custo apurado para a operação sem explicar o porquê, e adotou um outro custo, artificial, ao seu bel prazer, sem nenhum respaldo legal." fl. 1.310; (...) "A diferença de imposto, como também já vimos, é decorrente de dois fatores, o primeiro é negar ao contribuinte o legítimo custo da operação e o segundo em transformar dividendos, renda classificada pela lei como não tributável, em rendimento sujeito á tributação. Em ambos os casos, a pretensa diferença no imposto apurada pela fiscalização nada tem a ver com a tal fraude que os autos tentam, mas não conseguem demonstrar." fl. 1.313; (...) "Fato é que o custo dos ativos alienados como declarados é o correto, a fiscalização nada conseguiu, além de levantar suspeitas infundadas. Se encontrou um erro no custo declarado, então porque não autuou a quem de direito? Para evidenciar o que ora se afirma, e facilitar a localização, o impugnante anexa cópias do Livro Diário e Razão onde foram apurados pela CM Indústria e Comércio os resultados da participação societária, a baixa no LALUR dos custos ali controlados (docs. anexos)..." fl. 1.315 De outra banda, a Procuradoria da Fazenda Nacional também identificou a contestação dessa questão, tanto assim que discorreu sobre a matéria em suas Contrarrazões: "Já o custo de aquisição corresponde ao valor do capital social de R$ 74.510.099,00 (setenta e quatro milhões, quinhentos e dez mil, noventa e nove reais), dividido em 74.510.099 quotas iguais, com valor nominal de R$ 1,00 cada, conforme constou da segunda alteração do contrato social da Goult Participações. Frisese que, no período, não houve a incorporação de lucros ou reservas de lucro de modo a aumentar o custo de aquisição. A metodologia de cálculo utilizada pela fiscalização não apresenta equívocos. No recurso, ao tratar do “custo das cotas de capital alienadas”, o contribuinte insiste em trazer para discussão fatos que envolvem a empresa CM Indústria e Comércio. Porém, como já foi exposto acima, a verdadeira operação foi realizada pela pessoa física. Dessarte, despiciendo enfrentar alegações que envolvem pessoa jurídica que não auferiu o ganho de capital." fl. 1.544; Enfim, a correta identificação do custo de aquisição é elemento essencial para a apuração da base de cálculo (ganho de capital) e do próprio Imposto de Renda. Fl. 1706DF CARF MF 34 A análise dessa questão poderia ter levado a DRJ a proferir decisão diametralmente oposta. Ou não. Não cabe fazer julgamento de mérito sobre a questão, em sede de preliminar. Certo é, entretanto, que a omissão cerceou o direito de defesa do Recorrente, até porque não tem noção dos argumentos que poderia ter acrescentado ao recurso sobre a matéria. Constatase, portanto, hipótese de omissão no acórdão recorrido, incidindo no art. 59, II, do Decreto nº 70.235/1972, cerceamento do direito de defesa. Da segunda infração: No ensejo da omissão acima, constatase do auto de infração e do TVF que foram imputadas ao Contribuinte duas infrações: "001 GANHOS DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE BENS E DIREITOS OMISSÃO DE GANHOS DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE AÇÕES/COTAS NÃO NEGOCIADAS EM BOLSA Omissão de ganhos de capital obtidos na alienação de ações ou quotas, conforme Termo de Verificação Fiscal, parte integrante e indissociável deste Auto de Infração." fl. 1.268 (...) "002 OMISSÃO DE RENDIMENTOS Omissão de rendimentos apurados conforme descrita no Termo de Verificação Fiscal, parte integrante e indissociável deste Auto de Infração." fl. 1.271; Segundo o TVF, tratamse dos "acréscimos sobre as parcelas", que foram tributados separadamente do ganho de capital (fl. 1.244). Em relação à segunda infração, o Contribuinte argumentou na impugnação que: "A segunda pretensa infração, apontada no auto de infração é qualificada, singelamente, como "OMISSÃO DE RENDIMENTOS". Esta omissão teria se configurado pela não inclusão na Declaração de Rendimentos do impugnante de trinta e seis parcelas entradas na conta bancária do impugnante, nos meses de dezembro de 2.007 a dezembro de 2.010, exceto no mês de fevereiro de 2.010, totalizando a quantia de R$ 75.376.244,47 (...)." 1.290; "Tais valores, também, correspondem a dividendos creditados ao impugnante e regularmente declarados em suas Declarações de Ajustes (fls. 1144 e seguintes e 1155 e seguintes)" fl. 1.293; Novamente, o acórdão quedou silente sobre a matéria. Dessa vez, porém, não há uma única linha discorrendo sobre a contestação, nem mesmo para afirmar que foi genérica e não merece julgamento. Imperioso ressaltar que o Contribuinte voltou a contestar a segunda infração no seu Recurso Voluntário, nos exatos termos da Impugnação (fl. 1.481). Pois bem. Tratase de nova omissão no acórdão recorrido, configurando nova hipótese de cerceamento do direito de defesa. Fl. 1707DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.691 35 MÉRITO: Tendo sido vencido em relação às nulidades do acórdão recorrido, dou continuidade ao julgamento da lide. Da Infração 001: Chegando à questão central dessa lide, encontrome numa situação efetivamente curiosa. Como já foi suscitado aqui pelo patrono, foi demonstrado nos pareceres e é de conhecimento público, a Fazenda Nacional tem tendência a desconsiderar atos de reorganização social que, sem o que denominam "propósito negocial", findem por levar a estruturas que diminuem a tributação. É o caso, por exemplo, da empresa veículo utilizadas em relação ao ágio ou à alienação de ativos especificamente no tocante à apuração de ganho de capital. Por sua vez, os Contribuinte muito se utilizaram dessa estrutura criação de uma empresa cujo propósito é exatamente transferir um determinado ativo para outrem, operação de casa e separa etc. , entre outros motivos, por levar a uma economia tributária. Este e.CARF tem muitas vezes aceito essa posição apresentada pela Fazenda e afastado negócios jurídicos formalmente perfeitos ao argumento de que não têm uma "substância" subjacente. Por exemplo: Acórdão CSRF nº 9101002.429, de 18/08/2016: OPERAÇÕES DE REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS. FALTA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. INADMISSIBILIDADE. Não se pode admitir, à luz dos princípios constitucionais e legais entre eles os da função social da propriedade e do contrato e da conformidade da ordem econômica aos ditames da justiça social , que, a prática de operações de reorganização societária, seja aceita para fins tributários, pelo só fato de que há, do ponto de vista formal, lisura per se dos atos quando analisados individualmente, ainda que sem propósito negocial. GANHO DE CAPITAL. CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADE SEM PROPÓSITO NEGOCIAL. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO ABUSIVO. O sólido e convergente acervo probatório produzido nos autos demonstra que o contribuinte valeuse da criação de uma sociedade, para a alienação de bens classificados em seu ativo permanente, evadindose da devida apuração do respectivo ganho de capital, por meio de simulação, que é reforçada pela ausência propósito negocial para sua realização. (...) Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer o Recurso Especial do Contribuinte, vencido o Fl. 1708DF CARF MF 36 conselheiro Rafael Vidal de Araújo, que não o conheceu. E, no mérito, em negarlhe provimento: i) por maioria de votos, quanto ao planejamento tributário abusivo, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto, Nathalia Correia Pompeu e Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado em substituição à conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio), que lhe deram provimento; e ii) por voto de qualidade, quanto à qualificação da multa, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Nathalia Correia Pompeu e Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado em substituição à conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio), que lhe deram provimento. Solicitaram apresentar declaração de voto os conselheiros Luís Flávio Neto e Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado em substituição à conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio). No voto vencedor, o conselheiro relator esclareceu que as razões pela qual entendeu inválido o planejamento efetuado. Convém breve transcrição: " Alegam as contribuintes, em seu recurso especial, que “não se deve perder de vista o fato de que a Constituição Federal consagrou a autonomia privada como direito fundamental, direito este consistente na aptidão conferida ao cidadão em se autorregular em suas relações privadas, desde que observados os limites de licitude e interesse coletivo constantes do ordenamento jurídico brasileiro.” (efls.793) Ora, é justamente o interesse coletivo que deve delimitar aquela autonomia privada. Explicase. Até poucas décadas atrás, assim no Brasil, como no mundo, prevalecia o pensamento liberal, que privilegiava a liberdade econômica e a propriedade privada, em detrimento de quaisquer outros interesses sociais. Tal pensamento, com o correr dos anos, quedouse superado por aquele que passou a priorizar o bemestar social. A Constituição Federal de 1988, em vários de seus dispositivos, deixa claro esse novo posicionamento (...) É, pois, o interesse coletivo que impede que as empresas ajam, em seus negócios particulares, como se não pertencessem a uma coletividade, a uma comunidade, a um grupo social. É bem verdade que, a se entender que eventual vantagem fiscal que se possa ter em razão de determinada estrutura de negócios seja impeditiva à realização do próprio negócio em si, terseia a invalidade, para fins tributários, de boa parte das incorporações, fusões e cisões que comumente ocorrem nas atividades empresariais (mas não é este o caso presente). Isso porque é evidente que, para o emprego dessas operações de rearranjo societário, pelas empresas, são analisados, dentre outros aspectos, também o aspecto tributário. Fl. 1709DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.692 37 Porém, o que não se pode admitir, à luz dos princípios constitucionais e legais acima expostos entre eles os da função social da propriedade e do contrato e da conformidade da ordem econômica aos ditames da justiça social —, é que, para a adoção dessas operações, seja analisado, única e exclusivamente, o seu aspecto tributário (falta de propósito negocial). Por outro lado, a adoção de operações de reorganização societária, pelas empresas, de forma a esconder, ou subtrair à incidência tributária, a verdadeira operação da qual resulta as operações, implica a consideração dessas operações como simuladas, com a consequente qualificação da multa de ofício aplicada. Isso porque, não possuindo essas operações qualquer propósito negocial, configuramse, antes, meros artifícios jurídicos, simples truques organizacionais, objetivando burlar a tributação, ao aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas (“empresas veículo”, “interpostas pessoas”, “testas de ferro”, “laranjas”, etc.) daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem, na precisa dicção do § 1º do art. 167 do Novo Código Civil, e dessa forma, impedindo ou retardando, total ou parcialmente, o conhecimento, por parte da autoridade fazendária, da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais, ou das condições pessoais do contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente (art. 71 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964). No presente caso, o que se verifica é que a reorganização societária procedida consubstanciouse em operação simulada que visou, exclusivamente, uma indevida redução tributária sobre alienações de imóveis e florestas. Basta ver que a empresa Saiqui, originária de cisão da Transpinho como muito bem ressaltado na decisão da DRJ e no voto vencedor da decisão recorrida não possuía qualquer estrutura física ou mãodeobra apta a desenvolver as atividades objeto de seu contrato social: (...) Além disso, os imóveis por ela (Saiqui) transacionados, e que foram, todos, recebidos de seus sócios mediante integralização de capital, foram a eles mesmos restituídos, por meio de distribuição de lucros, com a consequente descapitalização total da empresa ao final dessas operações. Assim, procedente a afirmação da Fazenda Nacional, em contrarrazões, de que, na realidade, estáse diante de uma “empresa veículo, com único intuito de diminuir a tributação sobre as operações realizadas” (efls. 960). Ou seja, em que pese a regularidade formal das operações, como a venda dos ativos foi feita de por meio de operação que Fl. 1710DF CARF MF 38 escondeu a verdadeira operação realizada, caracterizando a simulação com o objetivo exclusivo de economia tributária. A simulação, que é dolosa, no caso em questão, restou caracterizada pelo dolo específico do tipo previsto art. 44 da Lei 9.430/1996, que remete ao art. 71 da Lei n. 4.502/1964, impondo a multa qualificada." Imprescindível, entretanto, ler a brilhante Declaração de Voto proferida também neste mesmo acórdão nº 9101002.429, e que transcrevo alguns trechos: "Colhese do clássico ensinamento de EZIO VANONI1 que, “no direito privado, a causa é sinteticamente definida como a razão econômicojurídica do negócio, como a finalidade a que se destina o negócio objetivamente considerado. Por outras palavras, causa é a função prática que caracteriza o negócio jurídico, em garantia da qual o direito concede a sua tutela”. No caso, a causa da reorganização patrimonial ora sob julgamento consiste na segregação de parcela do patrimônio do particular para integralização de capital personalidade jurídica de entidade reconhecida pelo Direito para a exploração de atividade econômica no setor imobiliário. A motivação de reorganizações patrimoniais dessa natureza pode ser muito variada e, diante de seu caráter íntimo, não apresenta relevância jurídica. (...) (...) No Brasil, o particular possui um núcleo de direitos livre de intervenções, dentro do qual está inserido o planejamento tributário1. Mais especificadamente, essa garantia dos contribuintes decorre das liberdades econômicas asseguradas pelo Constituinte. Conforme leciona TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR2, essas liberdades atribuem ao ser humano um espaço que não pode ser absorvido pela sociabilidade, tendose como reconhecida a capacidade de “reger o próprio destino, expressar a sua singularidade como indivíduo, igual entre iguais: o homem como distinto e singular entre iguais”. Não há dúvidas que o Estado, por meio da tributação, deve participar dos resultados econômicos bem sucedidos dos particulares a ele conectados. Conforme o princípio da legalidade, o legislador deve eleger, dentro de seu respectivo âmbito de competência tributária, fatos geradores que captem capacidades contributivas conforme uma dosagem adequada. Dessa forma, ao mesmo tempo em que a Constituição Federal garante aos particulares a existência desse âmbito de liberdade, outorga ao Poder Legislativo a competência para regular e interferir em seu exercício, inclusive no que diz respeito aos planejamentos tributários. Não se trata de questão reclusa ao Direito brasileiro: geralmente, há nos ordenamentos jurídicos estrangeiros normas gerais general anti avoindance rules – 1 Nesse sentido, vide: ÁVILA, Humberto. Eficácia do Novo Código Civil na Legislação Tributária. In Grumpenmacher, Betina Treiger (coord.) Direito Tributário e o novo Código Civil São Paulo: Quartier Latin, 2004, p. 7577. 2 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Direito Constitucional: liberdade de fumar, privacidade, estado, direitos fundamentais e outros temas. – Barueri, SP : Manole, 2007, p. 196. Fl. 1711DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.693 39 GAAR) ou normas específicas (specific anti avoindance rules – SAAR) para a reação aos planejamentos tributários não tolerados. As normas gerais de reação ao planejamento tributário se prestam a alcançar algumas ou todas as espécies tributárias, com a prescrição de critérios para a identificação do “abuso”. Já as normas específicas incluem no âmbito de incidência da norma tributária, casuisticamente, situações que a experiência tenha demonstrado serem utilizadas pelo contribuinte como substitutas não tributadas ou ainda menos onerosas e que, por decisão do legislador, devem ser submetidas àquela tributação mais onerosa. No Brasil, diante de decisão clara do legislador brasileiro, compete à administração fiscal o papel de atribuir eficácia à intervenção estatal sobre as liberdades econômicas dos particulares, especialmente sobre o seu patrimônio. Essa intervenção, no entanto, depende prévia e clara autorização do legislador. (...) Há mais um esclarecimento que se mostra necessário em face do planejamento tributário sob análise: não há qualquer norma, no ordenamento jurídico brasileiro, que autorize distinguir reorganizações patrimoniais motivadas por proposítos tributários ou extratributários. A adoção desse critério, à sombra da lacuna legislativa, entre muitos outros óbices que podem ser suscitados, encontra vedação no art. 108 do CTN, por ofensa à equidade e aos princípios gerais de direito público. A título ilustrativo, suponhase que um casal (“A”) vislumbre na reorganização patrimonial, com integralização de todos os seus imóveis em uma pessoa jurídica imobiliária, a forma de evitar longas disputas entre os herdeiros após a sua morte. Suponha se, ainda, que o casal vizinho (“B”), que não possui filhos, decida conduzir reorganização semelhante, mas com o único motivo de usufruir do regime de tributação do lucro presumido. Suponhase, então, que ambos os casais conduzam reorganização semelhante, passando a explorar, de fato, a atividade imobiliária por meio de suas respectivas pessoas jurídicas. Nesse exemplo, haveria tratamento não isonômico entre os casais “A” e “B” caso, para fins de opção à sistemática do lucro presumido, fosse utilizado como critério de discriminação a existência de motivos extratributários (“propósito negocial”). Enquanto o primeiro casal (“A”) poderia gozar da opção de submeter os rendimentos com aluguel e venda de bens imóveis à tributação conforme a sistemática do lucro presumido, o casal vizinho (“B”) restaria privado dessa opção, de forma submeter rendimentos de natureza semelhante obrigatoriamente à tributação pelo lucro real. Fl. 1712DF CARF MF 40 No entanto, NÃO há lei que autorize a referida discriminação com base na aferição subjetiva de motivos extratributários (“propósitos negociais”). Apenas se poderia atribuir tratamento distinto entre contribuinte que se encontram em condições semelhantes (“A” e “B”) caso o legislador houvesse prescrito tal discrímen, com o delineamento do que viriam a ser esse conceito de “propósito negocial” até hoje não delineados e desconhecidos no Direito positivo brasileiro. A jurisprudência do CARF tradicionalmente reconhece os efeitos jurídicos de reorganizações patrimoniais reais, isto é, que não contenham vícios de fraude, simulação ou dolo para a evasão de tributos. Vide, nesse sentido, os acórdão n. 10323357, n. 3402 001.908, n. 3302003.138." (...) No caso, a simulação a que se refere o art. 149, VII, do CTN, corresponderia à “mentira” quanto à prática de um ato relevante para fins tributários. Sonegase da Administração Fiscal a verdade dos fatos ocorridos. O ato simulado é um ato aparente, que não existe no mundo dos fatos, mas apenas de forma precária no mundo jurídico. Na simulação absoluta, o contribuinte buscaria construir determinado invólucro que, caso real, lhe atribuiria benefícios fiscais, embora nada exista. Na simulação relativa, a ocorrência do fato gerador de uma obrigação tributária seria ocultada pela oposição do ato simulado. No Direito tributário brasileiro, então, a simulação se presta à sonegação, ou seja, oo ilícito. O que se combate não é a utilização de formas anormais, atípicas, para se alcançar determinado resultado. Combatese o ato doloso da evasão de tributos em que as partes realizam um determinado negócio jurídico, mas declaram ao fisco que outro teria sido realizado. Notese que para se verificar a ocorrência de simulação não se teria relevância o efetivo propósito de uma operação, como a economia de tributos. Interessaria demonstrar que, por meio dos negócios jurídicos apresentados pelo contribuinte, foram ocultadas do Fisco as verdadeira configuração dos atos praticados pelo contribuinte. Nesse cenário, embora muito se discuta o assunto, o legislador complementar brasileiro sempre limitou os poderes da administração fiscal para desconsiderar atos praticados pelo contribuinte, restringindoos para tornar inoponíveis apenas atos “simulados”. Não há a outorga, pelo legislador competente (lei complementar), para que a administração fiscal considere inoponível atos que não possam ser qualificados como “simulados”. Isso significa que o legislador competente não considera o conceito de “simulação”, tal como prescrito pelo Direito civil, tão estreito a ponto de permitir atos que não deveriam ser tolerados, nem tão amplo a ponto de permitir arbitrariedades por parte do fisco. O legislador tributário complementar, desde e edição do CTN (anos 60) até hoje, considera suficiente que a administração fiscal reaja exclusivamente em face de atos Fl. 1713DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.694 41 simulados, fraudulentos, com o dolo da evasão de tributos, reconhecendose a legitimidade das demais práticas (planejamento tributário). A apurada análise da questão exige que se diferencie a simulação dos negócios jurídicos praticados da simulação da pessoa jurídica. Nesse primeiro, reconhecese a personalidade jurídica das pessoas jurídicas envolvidas, mas evidenciase a simulação dos negócios jurídicos praticados por estas. Embora não descarte a priori a possibilidade de simulação da própria pessoa jurídica, pareceme tratase de hipóteses rara. A “pessoa jurídica” é ficção criada pelo Direito para segregarse uma personalidade jurídica dotada de direitos, inclusive patrimoniais, e apta a assumir deveres, com autonomia em relação ao seus sócios. A existência da pessoa jurídica, portanto, é questão mais de direito que de fato. Parece mais factível a ocorrência de simulação de negócios jurídicos, em que se atribuam a pessoas jurídicas existentes rendimentos que não decorram, verdadeiramente, de suas atividades. Desse modo, no âmbito do Direito civil e, por remissão do legislador complementar, também do Direito tributário, são reais e existentes atos de transmissão de direitos que efetivamente façam com que seja alterado o titular de direitos e obrigações de um determinado acervo patrimonial. Ainda que a reorganização patrimonial possa ser verificada documentalmente, isso pode ser irrelevante para fins tributários se tais documentos contivessem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira. Caso se simule a segregação de fontes produtoras de receitas, submetendo indevidamente parte ou todos os seus rendimentos à tributação mais branda decorrente do lucro presumido, estará sujeito ao lançamento de ofício da diferença do tributo que seria devido conforme o lucro real. Caso não seja possível a apuração do lucro real, deve ser apurado, nos termos da legislação, o lucro arbitrado. Diante de simulação, com o dolo específico da evasão de tributos, deverá, ainda, ser imposta multa qualificada. Operações que apenas simulam a segregação de fontes produtoras de rendimentos devem ser transparentes aos olhos da fiscalização tributária: inoponível, a operação dissimulada, por transparente aos olhos do fisco, conduz a que se desvende a operação verdadeira que se procurou ocultar, à qual devem ser aplicadas as consequências tributárias correspondentes à espécie. A aferição da simulação, contudo, parece requerer atenção distinta diante de empresas com rendimentos ativos ou passivos. No caso da restruturação societária em que se segrega uma atividade operacional (por exemplo, produção de peças de reposição), a demonstração do efetivo exercício da atividade econômica pela entidade segregada (no exemplo, a produção das peças ou a sua terceirização). Outro exemplo emblemático consiste em uma indústria de calçados, tributada Fl. 1714DF CARF MF 42 pelo lucro real, segregar a sua atividade de distribuição e constituir oito distribuidoras de calçados, sem estrutura física ou funcionários suficientes para a realização de suas atividades típicas, passando a realizar a venda a preço de custo a essas empresas que, tributadas pelo lucro presumido, realizariam a venda a preço de mercado. A inexistência de estrutura operacional e negocial para o desempenho das atividades de distribuição de calçados, nesse segundo exemplo, pode ser determinante para evidenciar a simulação, de forma a tributar os rendimentos nas mãos da indústria, que verdadeiramente os auferiu. Já no caso de rendimentos passivos, como aplicações financeiras, a estrutura operacional requerida para a sua condução tende a ser, por natureza, ínfima. Suponhase, por exemplo, que um casal com 15 imóveis constitua uma pessoa jurídica imobiliária, integralizandoos ao seu capital social. O marido seria o administrador da empresa, enquanto que a esposa cuidaria das contas a pagar e a receber. Ambos receberiam pro labore e dividendos na proporção da participação acionária. Os contratos celebrados, os encargos assumidos, as receitas recebidas, as negociações etc. realizados em nome da pessoa jurídica. Seria exigida alguma estrutura profissional sofisticada, com outros funcionários ou uma sala locada para a sua sede, a fim de que se reconheça a legítima existência dessa pessoa jurídica para fins de opção ao lucro presumido? A resposta parece ser negativa, embora o volume de negócios imobiliários realizados possa demandar aferição diferenciada. Este Tribunal administrativo mantém longa tradição ao tratar da segregação operacional e societária de fontes produtoras, com correta intolerância a restruturações comprovadamente simuladas, sujeitandoas, inclusive por dever funcional do agente fiscal (ato vinculado e não discricionário), às multas qualificadas. Vide, nesse sentido, acórdãos n. 10307260 e 101 95.208. (...) Reside na má compreensão dessa questão aparentemente teórica um enorme perigo. Ao justificar os seus atos exclusivamente a partir de uma controvertida concepção sobre princípio da solidariedade, de forma a tornar pouco relevante a autorização de decisão clara do legislador para a intervenção no patrimônio particular (princípio da legalidade), a administração fiscal se desvia da Constituição Federal. Ao adotarse como justitificativa um suposto dever fundamental de pagar tributos, pela exploração do princípio da capacidade contributiva em uma controvertida vertente ativa (isto é, tributase todo aquele que apresente capacidade contributiva, com a flexibilização da legalidade), fragilizase gravemente, ainda, a eficácia dos princípios da segurança jurídica, da certeza do direito, de iniciativa privada, de livre concorrência e da igualdade, pois não há como prever questões fundamentais à vida social e econômica, como: O que, afinal, ostenta fato gerador dos tributos? Quem deve pagar? A tributação entre concorrentes de Fl. 1715DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.695 43 mercado fica condicionada ao arbítrio de um agente fiscal na mensuração de critérios próprios para a estabilização da justiça social via tributos? As normas constitucionais relevantes para a matéria, especialmente aquelas que asseguram o Direito à livre iniciativa, à livre concorrência, à legalidade, à segurança jurídica, à igualdade, à solidariedade e à observância da capacidade contributiva na eleição legal do fato gerador, obrigam que se reconheçam premissas fundamentais para que este julgamento seja coerente, como: (i) não se sustentam, no Brasil, teses sobre o dever fundamental de pagar tributos por todas as capacidades contributivas descobertas, já que, diferente dessa suposta “sujeição” automática e constante ao arbítrio da administração, vige com dignidade Constitucional o dever do particular contribuir com parcela de seu patrimônio sempre que incorrer no fato gerador previamente escolhido por decisão do legislador competente; ii) a norma constitucional se limita a atribuir competência ao legislador para regular a liberdade do contribuinte à realização de seus planejamentos tributários, mas não possui eficácia para legitimar, de forma imediata, a reação da Administração tributária a situações consideradas abusivas; iii) para a reação ao abuso, deve ser enunciada lei complementar de reação a planejamentos tributários realizados conforme determinado padrão não tolerado, a qual encontraria limites materiais nos nas normas constitucionais analisados. O peculiar detalhismo da Constituição brasileira não chegou ao ponto de prever uma norma geral de reação a planejamentos tributários considerados abusivos, mas estabeleceu que compete ao legislador complementar regular a matéria por meio de norma geral (“GAAR”) e, ao legislador ordinário, a competência para prescrever normas específicas (“SAAR”). (...) Nesse cenário, retornase à questão: qual a competência da administração fiscal e, ainda, dos Conselheiros do CARF, para desconsiderar os efeitos jurídicos de atos praticados pelo contribuinte e que tenham como consequência a redução ou o diferimento do ônus fiscal? A resposta parece ser clara: a administração fiscal apenas pode considerar inoponíveis atos simulados. Como não há lei que outorgue à administração fiscal a compentencia para a desconsideraração dos efeitos jurídicos que defluiriam de atos que não possam ser qualificados como simulados, não é suficiente que a fiscalização subjetivamente repute um determinado planejamento tributário como “abusivo”. Nos limites da competência que me foi outorgada pelo sistema jurídico vigente, portanto, cabeme julgar como correto o lançamento nas hipóteses em que a administração fiscal tenha cumprido o seu ônus probatório de demonstrar a ocorrência de atos simulados pelo contribuinte, engendrados com o dolo de evadir tributos, o que enseja a qualificação da multa para 150% Fl. 1716DF CARF MF 44 e todas as demais consequências. Com a mesma carga mandatória, cabeme julgar como indevida, por ilegalidade, a desconsideração de restruturação patrimonial efetivamente levada a termo pelo contribuinte, em que não reste demonstrada a ocorrência de atos simulados, fraudulentos, com o dolo de evadir tributos." (grifos no original) Esse acórdão da Câmara Superior não é o único a tratar da matéria. Outro curioso exemplo pode citado: Acórdão CARF nº 2202003.318, de 13/04/2016: PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. NEGÓCIO JURÍDICO INDIRETO. SIMULAÇÃO. A simulação existe quando a vontade declarada no negócio jurídico não se coaduna com a realidade do negócio firmado. O fato gerador decorre da identificação da realidade e dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos, e não de vontades formalmente declaradas pelas partes contratantes. (...) Acordam os membros do colegiado, pelo voto de qualidade, rejeitar as preliminares e, no mérito, dar provimento parcial para compensar os tributos e contribuições pagos pela empresa ZMM Empreendimentos e Participações Ltda., relativos aos rendimentos reclassificados, com o imposto apurado no Auto de Infração, antes da aplicação da multa de ofício, vencidos os Conselheiros Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto, Dílson Jatahy Fonseca Neto e José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), que deram provimento integral. Neste, o relator esclareceu que: "Pelo conjunto probatório constante dos autos e pelos argumentos apresentados exaustivamente no Termo de Encerramento da Ação Fiscal, parte integrante do Auto de Infração, não me resta dúvida de que ocorreu uma simulação por parte do fiscalizado, com o objetivo de se submeter a regras mais favoráveis de tributação em relação aos valores por ele recebidos da empresa FERROUS, em virtude dos serviços prestados. (...) O Recorrente não logrou contrapor de forma convincente os argumentos da Fiscalização, notadamente se analisarmos o conjunto das transações, sem focar em cada uma individualmente. Cada transação isolada, do ponto de vista formal, pode até ostentar legalidade, porém quando analisado o conjunto das atividades percebese que os atos praticados possuíam finalidade distinta daquela que parecia. Na simulação, a declaração recíproca das partes não corresponde à vontade efetiva, pois ela se caracteriza pela divergência entre o ato aparente (realização formal) e o ato que se quer materializar (oculto). A causa da ocultação está sempre Fl. 1717DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.696 45 voltada para se alcançar algum benefício que não poderia ser obtido caso se utilizasse das vias normais. Para que não se configure simulação se torna necessário que as partes queiram praticar esses atos não apenas formalmente, mas também materialmente, porquanto na simulação os atos exteriorizados são sempre desejados pelas partes, mas apenas formalmente, pois materialmente o ato praticado é outro. Pode ser citado outro exemplo, ainda mais recente, de julgamento no qual foi desconsiderado o planejamento tributário, especificamente da "empresa veículo" no acórdão CARF nº 1301002.156, de cuja fundamentação extraíse que: "Consta do Termo de Constatação Fiscal, anexo aos autos de infração, que a recorrente era detentora de 836.074 ações ordinárias do capital social da Pisa Papel, no valor de R$ 2.645.325.98, e o restante das ações da Pisa Papel eram detidas pela OESP Gráfica e pelas pessoas físicas do Grupo OESP. Por decisão estratégica do Grupo OESP, no anocalendário de 2000, decidiuse pela alienação das participações societárias detidas nas empresas Paranaprint, Pisa Papel e, indiretamente na Pisa Florestal, à Norske Skog Pisa. Para tanto, as empresas envolvidas celebraram um contrato definindo todos os passos a serem adotados pelas partes com vistas a alcançar a transferência do controle acionário das empresas do Grupo OESP acima mencionadas, contemplando a utilização de uma holding destinada exclusivamente para esse fim, a Popescu Participações S/A. (...) (...) No recurso voluntário apresentado, a recorrente sustenta que os atos societários foram efetivamente realizados e gozam de plena validade jurídica. Não admite que houve simulação pois as operações pactuadas entre as partes não aparentaram direito diverso daquele que foi realmente contratado, não contém quaisquer declarações ou cláusulas não verdadeiras, assim como não causaram quaisquer prejuízos a terceiros, inclusive ao Fisco. (...) Analisando as provas trazidas aos autos, firmei convicção de que os atos societários praticados pela recorrente são simulados. Ao contrário do que sustenta a recorrente, os negócios jurídicos realizados, se analisados isoladamente são formalmente válidos, entretanto, da análise conjunta, extraise que em sua essência se prestaram a fins diversos do que os declarados, caracterizando a hipótese de simulação prevista no inciso II do art. 102 do antigo Código Civil [de 1916, vigente à época dos fatos], conforme a seguir demonstrado: A empresa Popescu Participações S/A, a despeito de constar no contrato social que seu objeto seria a participação em outras sociedades, na verdade, foi verdadeira empresa veículo, criada Fl. 1718DF CARF MF 46 especificamente para implementação do "planejamento tributário" engendrado. (...) Assim, nas operações societárias implementadas não se verifica a intenção efetiva das partes em compor uma sociedade. Certamente, a intenção dos contratantes não era aquela que aparentava ser, o que, efetivamente, caracteriza a simulação." De outro lado, também não são poucos os julgamentos que aceitam as operações indiretas realizadas pelo contribuinte, mesmo quando muitas delas são realizadas em um mesmo dia, como se extrai dos seguintes precedentes: Acórdão CARF nº 1201001.618, de 10/04/2017: PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. LEGALIDADE E VERACIDADE DAS OPERAÇÕES. APROVAÇÃO DA REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA POR AUTORIDADES FISCALIZADORAS E REGULADORAS. AUSÊNCIA DE SIMULAÇÃO OU ARTIFICIALIDADE. EXISTÊNCIA DE PROPÓSITO NEGOCIAL "BUSINESS PURPOSE". OPONIBILIDADE AO FISCO. Não pode o fisco desconsiderar operações sob entendimento de terem sido executadas de forma simulada ou artificial quando todo o conjunto das operações foi monitorado, avaliado e aprovado pelos órgãos fiscalizadores e reguladores como o BACEN, CADE e CVM. O contribuinte não é obrigado e optar pela via onerosa do ponto de vista fiscal quando existem outras opções que se apresentam mais eficientes, desde que possuam essência alinhada com a forma adotada e possuam propósito negocial (business purpose). A existência de "step transactions" e a execução de diversas etapas no mesmo dia, por si só, não são suficientes para viciar a operação ou negarlhe oponibilidade ao fisco, ainda mais quando todas as possíveis opções identificadas pelo autoridade fiscal também se baseiam em "step transactions" executadas num curto espaço de tempo. (...) Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, em DAR provimento ao Recurso Voluntário. A Conselheira Eva Maria Los acompanhou o Relator pelas conclusões e apresentará declaração de voto. Vencidos os Conselheiros José Carlos de Assis Guimarães, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Roberto Caparroz de Almeida, que negavam provimento ao Recurso Voluntário. Ao longo do voto, o Relator esclareceu que o simples fato de que uma operação societária se deu por diversos "passos", e mesmo que estes "passos" tenham se dado em um único dia, não é suficiente para configurar como simulado o negócio. Vejamos: "Como já dito, a fiscalização parte do racional que a Recorrente executou reorganização societária que cujas etapas vistas de forma isolada ou em conjunto, se mostraram artificiais e Fl. 1719DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.697 47 desconexas com a realidade e cujo objetivo único foi o ganho fiscal representado pela não tributação de um ganho de capital que deveria ter sido tributado. Além de questionar a natureza de cada uma etapas, a ordem em que ocorreram e os valores pelos quais foram registrados, a fiscalização propõe alternativas (devidamente corrigidas pela DRJ) para que a Associação entre Itaú e Unibanco ocorresse e, claro, o tributo tido como devido fosse pago. Diz a fiscalização que a operacionalização de diversos atos "step transactions" num período diminuto de tempo demonstra de forma clara a artificialidade da operação. Enxergo aqui uma contradição enorme no argumento do fiscal. Isso porque, ao mesmo tempo em que depõe contra as chamadas "step transactions", traz alternativas que também se operacionalizam através de várias etapas, ou seja, que também são "step transactions". Aliás, conforme acima demonstrado, a opção trazida pelo fiscal e pela DRJ incorporam mais "steps" que o modelo adotado pela Recorrente. De qualquer forma, me abstraindo de qualquer preconceito, vejo no caso concreto ser plenamente justificável a adoção de uma reorganização societária baseada em diversas etapas que ocorrem quase que simultaneamente. (...) Os objetivos eram unir as operações dos bancos no Banco Itaú (que era uma companhia fechada) e unir os acionistas no Itaú Holding (ora Recorrente). Para alcançar tais objetivos era inevitável o cumprimento de etapas em seqüência, sendo impossível fazer isso através de um único ato. Por outro lado, não haveria sentido que se aguardasse um tempo entre uma etapa e outra, pois, os objetivos finais que eram a união de bancos e acionistas deveria ser alcançado o mais rápido possível. Aliás, cabe aqui uma pergunta: existe uma regra quanto ao tempo que deve transcorrer entre uma operação e outra para tornar o conjunto de atos legal? Seria uma semana, um mês, um ano? Logicamente, não existe essa regra. O que deve ser avaliado é se o caso concreto justifica tal encadeamento simultâneo de atos societários. (...) Minha intenção neste tópico é discorrer sobre o direito do contribuinte de efetuar suas escolhas que, desde que legais e não artificiais ou simuladas, são válidas, ainda que isso leve à uma redução da tributação. Tratase do direito do contribuinte de escolher o melhor caminho, não cabendo ao Fisco apontar qual seria e, menos ainda, desconsiderar as opções escolhidas pelo Fl. 1720DF CARF MF 48 contribuinte para definir uma diferente que implique em maior tributação. Ora, parece óbvio mas o óbvio tem que ser dito: se o contribuinte tem a opção de escolher o melhor caminho, aquele que seja mais eficaz do ponto de vista fiscal, temos também que inexiste lei que obrigue o contribuinte, diante de 02 opções legais e válidas, a escolher aquela que lhe traga tributação mais severa. Também pode ser citado: Acórdão CARF nº 1302001.980, de 14/09/2016: SIMULAÇÃO. EMPRESA VEÍCULO. NEGÓCIO INDIRETO. Não se deve confundir simulação relativa com negócio jurídico indireto, pois quando verificamos o que os autuantes denominam como "empresa veículo", notase perfeitamente que tal sociedade foi constituída para surtir os efeitos que lhes eram próprios e não para dissimular outros negócios jurídicos. O fundamento central da autuação demonstrouse frágil para justificar a desconsideração dos atos praticados, ao verificarmos que não havia obstáculos na legislação tributária para que o mesmo resultado tributário fosse obtido sem a utilização das ditas empresas veículos. ABUSO DE DIREITO. ART. 116, PARÁGRAFO ÚNICO, CTN. INAPLICÀVEL O parágrafo único do art. 116 do CTN é uma norma de eficácia limitada, pois só adquirirá plena eficácia a partir do momento em que for publicada a sua lei ordinária integrativa. Se a Lei Complementar 104/01 exigiu que a lei ordinária estipulasse procedimentos específicos como condição para a aplicação da norma tributária específica sobre abuso de direito (parágrafo único do art. 116 do CTN), não há como tal condição ser dispensável para a aplicação da norma de direito privado sobre o abuso do direito (art. 187 do CC) no campo tributário. (...) Acordam os membros do colegiado: em rejeitar a preliminar de decadência suscitada e, no mérito, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário, vencido o Conselheiro Marcelo Calheiros Soriano. Os Conselheiros Ana de Barros Fernandes Wipprich e Luiz Tadeu Matosinho Machado votaram pelas conclusões. Acordaram ainda, por unanimidade, em negar provimento ao recurso de ofício Expostas as diversas posições e entendimentos, faço um breve resumo da lide: De um lado, o Contribuinte admite que decidiu adotar a estrutura de criar uma empresa para vender o ativo diretamente na pessoa física com o propósito de gerar economia tributária. Em tese, a tributação diretamente pela pessoa física levaria a uma despesa Fl. 1721DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.698 49 tributária menor, haja vista que incorre(ia) em alíquota de 15%, antes os 15% + 10% do IRPJ e 9% da CSL. Acontece que, realizando as contas, percebeu que não haveria tributação de ganho de capital se a alienação fosse feita pela pessoa jurídica, vez que seria incorporado ao custo de aquisição um ágio. Além disso, percebeu o risco de que a estrutura a criação de uma empresa para figurar como intermediária na alienação do ativo fosse desconsiderada pelo Fisco ao argumento de ser abusiva. Portanto, decidiu volver sobre seus próprios passos para realizar a tributação da forma corriqueiramente aceita pela Fazenda Nacional, i.e., pela pessoa jurídica que historicamente era proprietária do ativo. Diante da autuação, o Contribuinte passou a defender a desconsideração do negócio efetuado por meio da empresa veículo argumentando em petição juntada após o Recurso Voluntário que, "Assim, à vista do entendimento em voga na seara do Direito Tributário, cristalizado, sobretudo, neste Colendo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, a transferência da participação da empresa CM na empresa GESTIOR para a GOULT, bem como a operação consubstanciada no contrato de venda das quotas sociais da GOULT pelo Recorrente à BERTIN, poderiam ser maculadas pelo véu da fraude ou simulação, já que foram realizadas justamente às vésperas da concretização do negócio entabulado, dando ensejo a suspeitas de qual o real intento almejado pela súbita transferência da VIGOR em operações estruturadas, com o fim exclusivamente de obter economia tributária. Como consabido, este Colendo CARF orientase justamente no sentido de retirar os véus que porventura tentam encobrir os negócios jurídicos realizados, a fim de buscar sua real essência e, por conseguinte, a tributação a que eles devem se sujeitar, o que, in casu, levaria à inexorável conclusão de que o único negócio que poderia ser considerado válido é o que fora previsto no primeiro contrato, firmado entre as empresas CM e BERTIN." fl. 1.562; Em outras palavras, além de afirmar que seus atos de cisão da CM Indústria e transferência do ativo para a GOULT foram desconstituídos, argumenta que deve ser adotada a "teoria do filme", vez que historicamente o ativo pertencia à pessoa jurídica e que só foi transferido à pessoa física quando da formalização da alienação. De outro lado, diante do vulto econômico da operação, a Fazenda Nacional iniciou sua fiscalização buscando analisar o ágio. Fosse capaz de glosálo, geraria ganho de capital para tributar. Acontece que não logrou fazêlo. Ainda assim, no âmbito de sua fiscalização, entendeu que a alienação do ativo não havia sido realizada como descrevia o Contribuinte. Ao invés de ter sido vendida diretamente pela proprietária histórica, o ativo havia sido incorporado a uma empresa e havia negócio de venda realizado diretamente pela pessoa física. Decidiu por aceitar a estrutura que sempre recusa: considerou válido um negócio elaborado por meio de empresa veículo exatamente para economizar tributação. Para complicar, acusa ocorrência de fraude ante a Fl. 1722DF CARF MF 50 apresentação de documentos que, entende, foram elaborados com o único fim de impedir à Fazenda Nacional o conhecimento do fato gerador. Defende, no auto de infração, na DRJ e nas Contrarrazões ao Recurso Voluntário a manutenção do negócio jurídico formulado por meio de empresa veículo, argumentando que o fato de historicamente o ativo pertencer à pessoa jurídica é irrelevante e que não é possível desconsiderálo vez que ele se revestiu de todas as formalidades. Quem tem razão? Fazse necessário responder a algumas perguntas: Em primeiro lugar, em abstrato, é válida a criação de uma pessoa jurídica com o único propósito de incorporar um ativo e, por meio dessa reestruturação societária, alienálo diretamente pela pessoa física ao invés da pessoa jurídica historicamente proprietária? Em segundo lugar, em abstrato, qual o fato gerador do imposto de renda sobre o ganho de capital? Em terceiro lugar, a forma é relevante para o direito em geral e especificamente para o caso concreto? Em quarto lugar, no caso concreto, quem é o alienante? qual o valor da alienação? Em quinto lugar, caso o sujeito passivo esteja corretamente identificado, a apuração da base de cálculo está correta? 1. Da utilização de empresa veículo: Segundo o TVF, o ativo (GESTIOR) foi transferido da CM Indústria para a GOULT, empresa criada poucas semanas antes, e, subsequentemente, esta foi alienada para a BERTIN. Em outras palavras, houve utilização de "empresa veículo" (GOULT) com o único propósito de segregar o ativo e transferilo ao terceiro adquirente. Se é verdade que tal estruturação societárianegocial é muitas vezes contestada pelo Fisco, não foi o caso na lide ora sob julgamento. Pelo contrário, a autoridade lançadora foi expressa em afirmar que: "A segunda operação, declarada ao público e demais órgãos governamentais (...) é a que reputa ser verdadeira. Nesse caso, a operação se referiu a uma alienação de quotas sociais da Goult efetuada pelas pessoas físicas Carlos Alberto Mansur e Carlos Alberto Mansur Filho, à Bertin S/A." 1.237; Igualmente, a DRJ afirmou que: "Resta, portanto, perfeitamente comprovado, em face de todos os documentos acima referidos, que Carlos Alberto Mansur e Carlos Alberto Mansur Filho alienaram as quotas representativas do capital social da Goult Participações Ltda, controladora da Gestior Participações Ltda, acionista controladora da S.A Vigor, para a Bertin S.A, na forma como descrito no Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Outras Avenças firmado, em 25/11/2007 (fls. 959/969), cujos pagamentos ocorreram como apresentado Fl. 1723DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.699 51 no Demonstrativo de Pagamentos (fl. 1.072), ratificado pelos extratos bancários de fls. 1.091/1.138. " fl. 1.464; Ainda, a Procuradoria da Fazenda Nacional, em Contrarrazões ao Recurso Voluntário, esclareceu que: "Isso porque, em 30/10/2007, semanas antes da alienação da Vigor, houve uma cisão parcial na CM Indústria e transferência de parcela de seu patrimônio para a Goult Participações Ltda. A parcela transferida correspondia à participação societária que a CM detinha até então na Gestior Participações. A mencionada cisão foi registrada na Junta Comercial. Também foi objeto de registro a entrada da Goult no quadro societário da Gestior Participações." fl. 1.531; (...) " É de se notar, como ficou indicado em cada parágrafo acima, que todas as alterações nos Contratos Sociais da CM Indústria e Comércio Ltda, da Gestior Participações Ltda e da Goult Participações Ltda foram devidamente protocoladas e registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo. Tais alterações confirmam que a CM Indústria e Comércio já não tinha mais participação societária na Gestior quando houve a alienação da Vigor S/A." fl. 1.533; (...) "Todos os atos e documentos acima descritos confirmam que a venda da Vigor foi realizada pelo recorrente, por meio da alienação de participação societária na Goult Participações para Bertin S/A, conforme constou do contrato de 25 de novembro de 2007. Aliás, os demonstrativos de pagamento apresentados pela JBS, ratificados por extratos bancários demonstram, também, que o contribuinte recebeu diretamente da Bertin os valores decorrentes da referida alienação. Nesse caso, como a alienação foi realizada por Carlos Alberto Mansur, correto o lançamento realizado em face da pessoa física." fl. 1.537; (...) "Pelas razões expostas, está claro que a operação verdadeira e efetivamente realizada é aquela que consta do TVF: alienação realizada pela pessoa física, e não pela empresa CM Indústria e Comércio. Logo, não existe a nulidade alegada pelo recorrente, pois o sujeito passivo do lançamento foi corretamente identificado pela fiscalização." fl. 1.542; Tampouco o Recorrente afirma ser ilícita ou abusiva a prática. Pelo contrário, o Parecer dos Profs. Sacha Calmon e Misabel Derzi juntado pelo Contribuinte é expresso em afirmar que: "Assim é que a primeira opção negociai cogitada pelas partes no caso em análise, isto é, a venda das ações da VIGOR pela pessoa Fl. 1724DF CARF MF 52 física do Consulente, não seria inválida, ainda que tivesse o único propósito de economia fiscal, tendo em vista que o caso seria de planejamento tributário lícito." fl. 1.606; Apenas, tanto na Impugnação e nos Pareceres quanto no Recurso Voluntário, afirma que não foi esse o negócio que prevaleceu no caso concerto. Concordo com a licitude desse meio: em tese, não há qualquer ato ilícito, abusivo nem simulado na criação (ou utilização) de uma empresa veículo para a transferência de um ativo. Em muitos casos, há inclusive uma motivação (subjetiva) alheia à questão tributária. Contudo, essa motivação externa não é indispensável. Em suma, constatase que, se se entender por manter o lançamento tal como realizado no qual os atos formais ocorreram em um prazo inferior a um mês e com utilização de uma empresa com atividade econômica exclusiva de holding , estarseá reconhecendo a validade da utilização de uma empresa veículo para transferir um ativo da pessoa jurídica para a pessoa física antes de uma alienação onerosa, o que pode resultar, inclusive, em redução de tributação em outros casos. 2. Do imposto de renda sobre o ganho de capital: Muito se discutiu, até o momento, sobre a identificação de qual o negócio jurídico de compra e venda válido. Inclusive, no seio dos pareceres, fui suscitada a questão da venda a non domino para demonstrar que o negócio pode ser realizado por quem não seja proprietário da coisa. A verdade, entretanto, é que o imposto de renda sobre o ganho de capital incide, propriamente dito, sobre a alienação e não sobre o contrato de compra e venda. É o que se depreende do comando legal: Lei nº 7.713/1988: Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. (Vide Lei 8.023, de 12.4.90) § 1º Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados. § 2º Integrará o rendimento bruto, como ganho de capital, o resultado da soma dos ganhos auferidos no mês, DECORRENTES DE ALIENAÇÃO de bens ou direitos de qualquer natureza, considerandose como ganho a diferença positiva entre o valor de TRANSMISSÃO do bem ou direito e o respectivo custo de aquisição corrigido monetariamente, observado o disposto nos arts. 15 a 22 desta Lei. § 3º Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que importem ALIENAÇÃO, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa de cessão de direitos à sua AQUISIÇÃO, tais como as realizadas por compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, doação, procuração em causa própria, promessa de compra e Fl. 1725DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.700 53 venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos afins. Lei nº 8.981/1995 (redação vigente à época dos fatos): Art. 21. O ganho de capital percebido por pessoa física em decorrência da ALIENAÇÃO de bens e direitos de qualquer natureza sujeitase à incidência do Imposto de Renda, à alíquota de quinze por cento. (grifei) Em outras palavras, o fato gerador é o auferimento de ganho de capital (rendimento) na alienação de um bem ou direito (ativo). Desnecessário discorrer, aqui, sobre a noção de "auferimento". Impende definir, por outro lado, a noção de alienação e de ganho de capital. 2.1. Alienação: Alienação3 é, conforme EMILIO BETTI, hipótese de "ato dispositivo", pela qual alguém adquire um direito em consequência direta da perda do mesmo direito por outra pessoa4. Pode se extrair da Lei nº 10.406/2002, que alienar é transmitir a propriedade5. Pode se dar por diversas formas, tais como a tradição (que pode ser a entrega física ou jurídica da coisa) e o registro em cartório. Registrase que o mero negócio jurídico entre as partes não leva à transferência da propriedade, Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Ainda, Art. 1.245. Transferese entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. 2.1.1. Da formalidade na alienação: A despeito da classificação em negócios formais e informais, todo negócios jurídico tem forma. Remontando à lição de EMILIO BETTI, alguns têm forma específica, porquanto a Lei a estabelece taxativamente, enquanto outros não há exigência pre estabelecida6. É o que se extrai, igualmente, dos arts. 104, III, 107 e 166, IV e V do CC/2002. 3 "a·li·e·na·ção (latim alienatio, onis) substantivo feminino (...) 2. Cessão ou transmissão de bens ou direitos. ≠ INALIENAÇÃO; a·li·e·nar (latim alieno, are) verbo transitivo 1. Transferir para domínio alheio (por venda, troca, doação, etc.)." DICIONÁRIO PRIBERAM, voc. "alienação", disponível em: https://www.priberam.pt/DLPO/aliena%C3%A7%C3%A3o, acessado em 29/06/2017 4 E. BETTI, Teoria generale del negozio giuridico, 2ª ed., Napoli, Edizioni Scientifiche Italiane, 2002, p. 292. 5 Vide, entre outros, os arts. 307, 444, 445, 501, §único, 533, II, 576, 579, 587, 879, 1.144, 1.245, §1º, 1.267, 1.268 e 1.275 e.g. 6 E. BETTI, Teoria generale del negozio giuridico, 2ª ed., Napoli, Edizioni Scientifiche Italiane, 2002, p. 125. Fl. 1726DF CARF MF 54 A constituição de uma pessoa jurídica exige forma específica, que é a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, como se observa do Código Civil: Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbandose no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150). Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculamse ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. Não se confunde, anotese, a pessoa jurídica (que pode ser uma associação, uma fundação etc.) com a sociedade, este um contrato (art. 981 e seguintes do CC/2002). A sociedade nasce entre os sócios desde a firma do contrato social; já a pessoa jurídica, apenas com o registro. Reforçase esse entendimento o art. 986 e seguintes, do mesmo diploma, que regula as sociedades não personificadas. Enfim, em relação à formalidade na constituição e modificação das sociedades personificadas, é relevante ler o art. 997, I, IV e parágrafo único, art. 998, art. 999, caput e parágrafo único, art. 1.003, caput e parágrafo único, sobretudo7: Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes. Em suma, constatase que a alienação das cotas de uma sociedade encontra se sujeita a formalidade específica, qual seja, a averbação da mudança do contrato social. Sem essa formalidade, o ato até pode ser existente, válido e eficaz entre as partes (o sócio e o adquirente), mas não tem eficácia em relação à sociedade e muito menos a terceiros. Tratase de ineficácia, como diz a Lei expressamente, e não invalidade. Em outras palavras, até a averbação, o adquirente pode inclusive imitirse na posse (situação de fato) da coisa, passando a exercer os atos de controle e de administração econômicos da empresa. Contudo, o alienante só perderá a propriedade e o alienatário só se tornará proprietário das quotas quando da averbação. 2.2.Do momento do fato gerador: 7 Tratamse das normas referentes às sociedades simples mas que têm aplicabilidade subsidiária à sociedade ltda., nos termos dos arts. 1.052 a 1.054 do CC/2002. Fl. 1727DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.701 55 Definido o conceito de alienação, bem como a sua formalidade no caso de transferência da propriedade de quotas sociais, impende retornar à legislação tributária. Percebese que o fato gerador é o auferimento de rendimento, especificamente o ganho de capital identificado em qualquer tipo de alienação. Ora, só ocorre o fato gerador se houver alienação com apuração de ganho de capital. O negócio jurídico subjacente pouco importa para a alienação como já foi anotado em relação ao art. 1.267 do CC/2002 , bem como para apuração do ganho de capital a ser tributário, como se observa do art. 3º, § 3º, da Lei nº 7.713/1988, que convém repetir: Art. 3º (omissis) § 3º Na apuração do ganho de capital serão consideradas as operações que importem ALIENAÇÃO, a qualquer título, de bens ou direitos ou cessão ou promessa de cessão de direitos à sua AQUISIÇÃO, tais como as realizadas por compra e venda, permuta, adjudicação, desapropriação, dação em pagamento, doação, procuração em causa própria, promessa de compra e venda, cessão de direitos ou promessa de cessão de direitos e contratos afins. Nessa senda, constatase que o fato gerador não é o negócio jurídico subjacente; não pode incidir o imposto sobre o mero contrato de compra e venda ou sobre a promessa de doação. Só há ganho de capital caso haja transferência da propriedade. Nesse sentido, por exemplo, IMPOSTO DE RENDA. GANHO DE CAPITAL. TRIBUTAÇÃO DO COMPRADOR. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE GANHO. A tributação pelo Imposto de Renda sobre Ganho de Capital pressupõe a existência de ganho do contribuinte na alienação de um bem ou direito, sendo certo que tal tributação, portanto, sempre deve incidir sobre o vendedor e não sobre o comprador. Também não há ganho de capital quando não existiu alienação de qualquer bem ou direito ou quando o valor de suposta alienação não é superior ao valor de aquisição do objeto da venda em virtude de óbvia falta de preenchimento dos aspectos material e quantitativo da hipótese de incidência do tributo. (acórdão CARF nº 1201001.618, de 10/04/2017) Em suma, inexistindo alienação, não pode haver tributação. 2.3. Ganho de capital: Ainda na identificação do fato gerador, é imperioso entender a identificação da base de cálculo. Como já afirmado, à exaustão, a alienação pode ser decorrente de diversos negócios jurídicos, gratuitos ou onerosos (e.g. a doação ou a compra e venda). O bem ou direito, em ambos os casos, terá um valor econômico. A Lei estabelece a forma de identificar esse valor do bem ou direito alienado: Fl. 1728DF CARF MF 56 Art. 19. Valor da transmissão é o preço efetivo de operação de venda ou da cessão de direitos, ressalvado o disposto no art. 20 desta Lei. Parágrafo único. Nas operações em que o valor não se expressar em dinheiro, o valor da transmissão será arbitrado segundo o valor de mercado. Tratandose de imposto de renda, deve incidir sobre o "produto do capital" ou sobre o "acréscimo patrimonial". Não pode incidir sobre o próprio patrimônio, sobre o próprio capital. Logo, para apurar a base sobre a qual incide, devese excluir o montante tido anteriormente, i.e., o custo de aquisição. Daí, que o ganho de capital é exatamente a diferença positiva (sobra) do valor da alienação em relação ao custo de aquisição. 2.4. Da sujeição passiva: Tendo em vista que o fato gerador é a apuração de ganho de capital na alienação de bem ou direito, denotase que o sujeito passivo será definido exatamente pelo ato jurídico relevante: a alienação. Da própria definição de ganho de capital na alienação, na qual se busca identificar a renda pelo acréscimo patrimonial, podese inferir que o contribuinte será aquele que auferiu o ganho de capital, i.e., o alienante. É este quem observa um acréscimo no valor do bem, na comparação do seu valor no momento da alienação em relação ao seu valor no momento da aquisição. Esse é o entendimento mesmo nos casos de doação (art. 23, §2º, II, da Lei nº 9.532/1997), a despeito de o benefício econômico do negócio subjacente ser do alienatário e não do doador. 3. No caso concreto: No caso concreto, como bem expôs o Prof. Paulo de Barros em seu Parecer juntado aos autos, "Devese ressaltar que, indisputadamente, os documentos que dão suporte às duas formas de efetivar a operação de venda das ações de VIGOR foram produzidos e não se discute, em nenhum momento, a sua existência. Com efeito, na lida de questões societárias de grande monta, é comum que se considere diversas vias para a implementação do negócio de fundo, cada uma com sua forma jurídica correspondente, estando a decisão sobre a formatação final sujeita a uma série de ponderações negociais que identifiquem o caminho que melhor compatibilize as vantagens financeiras, empresariais, trabalhistas, tributárias e, com não menos importância, a segurança jurídica e previsibilidade quanto aos efeitos da transação. O que se põe em jogo é saber qual das formas construídas melhor se condiz com o negócio praticado à luz dos critérios jurídicos e, especialmente, em meio às demais etapas da operação, tal como factualmente registrada." fl. 1.637 (grifei); Efetivamente, constam nos autos, entre outros elementos: · inúmeros contratos de compra e venda e alterações, um figurando como vendedor ora a CM ora o Recorrente, ambos distratados em algum momento; Fl. 1729DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.702 57 · registros contábeis e declarações fiscais que apontam ambas as pessoas como vendedoras, especificamente o Razão Analítico da CM INDÚSTRIA (fls. 138/143), · DIPJ/2008 "normal" da GOULT PARTICIPAÇÕES LTDA., transmitida às 17:24:29 do dia 22/12/2008, na qual consta participação na GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA. o valor de R$ 127.194.825,67 e como sócios a Bertin (56%) e o Contribuinte (44%) (fls. 1.164/1.185); · DIPJ/2008 "incorporação" (evento em 15/12/2008) da GOULT PARTICIPAÇÕES LTDA., transmitida às 18:24:41 do dia 22/12/2008, na qual consta participação na GESTIOR sob o valor de 94.823.072,22 somada a R$ 32.371.753,45 a título de resultado de equivalência patrimonial e como sócios a BERTIN (99%) e outra pessoa física (não o contribuinte nem seu filho) com 1% (fls. 1.186/1.212); · DAA Retificadora do Recorrente, entregue em 16/10/2009, referente ao anocalendário de 2008, registrando a venta de 41.725.655 quotas de sua particiapção na GOULT PARTICIPAÇÕES LTDA., ao custo de aquisição de R$ 41.725.655,00, para a BERTIN S.A., em 25/11/2007, pelo mesmo valor de R$ 41.725.655,00 (fls. 1.153/1.154) Como, então, definir o sujeito passivo? Despiciendo analisar todos os argumentos suscitados por ambos os lados. Convençome, como defendido pelos supracitados pareceres que ambos os negócios são existentes e, na medida em que se formalizaram, são aptos a gerar os respectivos efeitos. A questão, como pormenorizei anteriormente, não é definir quem é o vendedor mas sim quem é o alienante. Tomando sempre em consideração que a estrutura adotada pelo Contribuinte de utilizar uma empresa veículo é válida, porquanto inexiste norma jurídica proibindoa, passo à análise dos fatos e documentos, como narrados e/ou comprovados nos autos por ambas as partes: · 14/09/1973: Ata de Assembleia da VIGOR registrando o Sr. Ricardo Mansur como acionista majoritário (fls. 303/305); · 01/12/1977: Constituição da CAM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. (fls. 368/468); · 09/12/1988: Alteração do Contrato Social da CAM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. para registrar a sua cisão com a criação da CM INDÚSTRIA LTDA. (fls. 273/276) · 29/12/1988: Constituição da CM INDÚSTRIA LTDA. (fl. 238 informação dada pela CM Indústria em sua fiscalização); Fl. 1730DF CARF MF 58 · 30/12/1993: Alteração do Contrato Social da CRM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. para registra a sua cisão com transferência de investimentos para a CM Indústria Ltda. (fls. 279/287); · 30/01/1998: Alteração do Contrato Social da CM INDÚSTRIA LTDA., registrado na JUCESP, com o registro do aumento do capital pela integralização das ações da VIGOR e da LECO (fl. 288/298); · 13/03/1998: Alteração do Contrato Social da CM INDÚSTRIA LTDA. registrando a integralização das ações da VIGOR e da LECO (fls. 626/636); · 2006: início das tratativas entre a CM e a Bertin, inclusive com a criação da Gestior (fl. ... informação dada pelo Contribuinte em Recurso Voluntário); · 14/02/2006: Constituição da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA. ( informação dada pela CM Indústria em sua fiscalização); · 28/12/2006: Elevação do capital da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA. pela integralização das ações da VIGOR e da LECO (fl. 241 informação dada pela CM Indústria em sua fiscalização); · 20/07/2007: Constituição da GOULT PARTICIPAÇÕES LTDA. por outras pessoas físicas; (fl. 213/218); · 29/10/2007: Alteração do Contrato Social da GOULT PARTICIPAÇÕES LTDA., registrada na JUCESP, registrando a entrada do Recorrente e a saída dos sócios originais, (fls. 219/232); · 29/10/2007: Alteração do Contrato Social da GESTIOR PARTICIPAÇÕES, registrado na JUCESP, pela qual o Recorrente transfere todas as suas quotas, menos uma, para a CM INDÚSTRIA (fls. 188/199); · 29/10/2007: Alteração do Contrato Social da GESTIOR PARTICIPAÇÕES, posterior à anterior, registrado na JUCESP, pela qual a CM Indústria saí da sociedade, transferindo para a nova Sócia GOULT todas as suas quotas (fls. 200/211 e 904/915); · 30/10/2007: Registro na JUCESP de cisão da CM INDÚSTRIA com transferência das quotas da GESTIOR para a GOULT (fl. 34/46), pela redução de capital da CM Indústria para a restituição de valores para o sócio quotista Carlos Mansur (fl. 240 informação dada pela CM Indústria em sua fiscalização); · 30/10/2007: Alteração do Contrato Social da CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., registrado na JUCESP, aprovando a cisão parcial com incorporação do acervo cindido à GOULT (fls. 883/896) com apresentação de Laudo de Avaliação (fls. 897/903), identificando como valor da parcela cindida em R$ 162.994.143,31; Fl. 1731DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.703 59 · 30/10/2007: Alteração do Contrato Social da GOULT, registrando na JUCESP, aprovando da incorporação dos ativos cindidos da CM INDÚSTRIA (fls. 920/930); · 21/11/2007: Contrato de venda figurando a CM INDÚSTRIA como vendedora (fl. 145/166), registrado em 31/10/2008 em cartório de Registro de Títulos e Documentos (repetido em fls. 1.073/1.086, dessa vez entregue pela sucessora da BERTIN); · 25/11/2007: Alteração do Contrato Social da GOULT, registrado na JUCESP, pela qual o Contribuinte transfere à BERTIN 56% das quotas sociais (fls. 1.028/1.047); · 26/11/2007: Alteração do Contrato Social da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA. em função da sua venda pela CM para a BERTIN S.A. (fl. 242); · 26/11/2007: assinado "Instrumento Particular de ReRatificação de Alteração do Contrato Social [da CM Indústria] datado de 30.10.2007 e Outras Avenças" (fls. 989/996), no qual os sócios revogam a cisão parcial da CM Indústria e a consequente incorporação do patrimônio cindido à GOULT, mas ainda assim: "3. Ainda, os sócios resolvem aprovar a redução do capital social da Sociedade no montante de R$ 74.509.999,00 (setenta e quatro milhões, quinhentos e nove mil, novecentos e noventa e nove Reais), por considerálo excessivo em relação ao objeto social da Sociedade, nos termos do Artigo 1.082, inciso II, do Código Civil, passando o mesmo de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de Reais) para R$ 5.490.001,00 (cinco milhões, quatrocentos e noventa mil, e um Reais), dividido em 5.490.001 (cinco milhões quatrocentos e noventa mil, e uma) quotas, no valor nominal de R$ 1,00 (um Real) cada, mediante o cancelamento de quotas representativas do capital social da Sociedade de titularidade dos sócios. 4. Em virtude da redução do capital social da Sociedade mencionada no item 3 acima, aprovar a restituição do montante de R$ 74.509.999,00 (setenta e quatro milhões, quinhentos e nove mil, novecentos e noventa e nove Reais) ao sócio quotista Carlos Alberto Mansur." fl. 990; · 26/11/2007: firma de "Instrumento Particular de Retificação de Alteração do Contrato Social da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA. datada de 30.10.2007" (fls. 997/999), pelo qual revogam a entrada da GOULT nessa empresa GESTIOR, determinando que a CM INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. retorne à situação de sócia; Fl. 1732DF CARF MF 60 · 26/11/2007: firma de "Instrumento Particular de Alteração e Consolidação do Contrato Social da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA. datada de 30.10.2007" (fls. 1000/1.009), pelo qual registram a transferência pela CM INDÚSTRIA de 56% das quotas dessa empresa GESTIOR para a BERTIN S.A.,; · 26/11/2007: Firma de "Instrumento Particular de ReRatificação de Alteração do Contrato Social [da GOULT] datada de 25.11.2007" (fls. 1.048/1.055), pelo qual se revoga a transferência das quotas do Contribuinte para a BERTIN, retornando o Recorrente à situação de sócio com 99% das quotas (1% pertencente ao seu filho); · 27/11/2007: Fato Relevante publicado no Diário Oficial Empresarial (fl. 871), originalmente elaborado em 25/11/2007; registrando que a BERTIN adquiriu 56% das quotas da GOULT, e que esta era detentora de 64,69% do Capital Social da VIGOR; · 30/11/2007: Deferida a alteração do Contrato Social da GOULT (fl. 916/951); · 21/12/2007: emissão do Parecer Técnico 06735/2007 do COGCE/SEAE/MF (fls. 863/867), informando que a BERTIN adquiriu do Recorrente as ações da GOULT, sendo que esta seria controladora indireta da VIGOR por meio da GESTIOR, mas que concluiu que: "17. As requerentes informam que a operação não resultará em qualquer concentração horizontal e/ou integração vertical entre as atividades desenvolvidas pelas postulantes. No Brasil, nenhuma das empresas controladas e ligadas à Betin (sic) atua no mesmo mercado em que a Vigor atua. (...) 19. Diante dos fatos acima apresentados, esta Sear concluiu que a operação não é capaz de gerar prejuízos ao ambiente concorrencial brasileiro (...)." fl. 866; Em outras palavras, percebese que a análise não foi em relação à alienante, nem mesmo da estrutura utilizada para a transferência do ativo, mas sim em relação à potencialidade de prejuízos pela integração da VIGOR à BERTIN; · 01/02/2008: Ato de Concentração nº 08012.014331/200784 do CADE (fls. 858/870), que igualmente analisou a potencialidade do de prejuízo concorrencial da integração da Vigor à Bertin, mas que registrou que a transferência se deu por meio da venda pelo Recorrente das ações da GOULT, no qual ficou registrado, registrando ainda que: "3. DATA DA NOTIFICAÇÃO Fl. 1733DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.704 61 De acordo com as requerentes, a operação foi formalizada por meio do "Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e outras Avenças", em apartado confidencial, assinada em 25 de novembro de 2007, sendo que a apresentação da operação aos órgãos brasileiros de defesa da concorrência deuse em 14 de dezembro de 2007." fl. 869; (...) 6. PARACERES (...) A Secretaria de Direito EconômicoSDE/MJ (fl. 128) e a Procuradoria do CADEProCADE (fls. 132/138) concordaram com o teor do parecer da SEAE/MF. A ProCADE analisou, ainda, o instrumento contratual que formalizou a operação e concluiu que, no mencionado contrato, não se observam cláusulas que possam ser nocivas à concorrência." fl. 870; · 23/02/2008: Republicação de Fato Relevante no Diário Oficial Empresarial (fl. 872). Tratase de republicação do Fato Relevante publicado em 27/11/2007, em atendimento a Ofício da CVM, agregando informações referentes ao preço e à razão da aquisição do controle indireto da VIGOR, mas ratificando a informação que o negócio se formalizada pelo contrato de 25/11/2007, em decorrência de aquisição de participação da GOULT. · 25/06/2008: 1ª Alteração do Contrato de Venda firmado pelo Contribuinte (Carlos Mansur) em 25/11/2007, com firmas reconhecidas mas em data ilegível, alterando a conta bancária onde deveria ser feito o pagamento (fl. 970/973); · 22/09/2008: 2ª Alteração do Contrato de Venda firmado pelo Contribuinte (Carlos Mansur) em 25/11/2007, consolidando o exercício da Opção de Compra pela compradora, notificada aos vendedores (Carlos Mansur e Filho) em 08/09/2008, (fl. 974/978); · 01/10/2008: Alteração do Contrato Social da GOULT, registrado na JUCESP, pela o Contribuinte se retira da empresa, transferindo para a BERTIN suas quotas (fls. 1.056/1.058). · 03/10/2008: Contrato de Venda e Compra de Quotas e outras Avenças" (fls. 1.139/1.143), entre o Contribuinte e a BERTIN, tendo como objeto 100% do capital social da GOULT pelo valor de R$ 100,00 (cem reais); · 03/10/2008: Alteração do Contrato Social da GOULT em relação à alteração datada de 01/10/2008, pela qual se ratifica a saída do Fl. 1734DF CARF MF 62 Contribuinte, mas se altera o valor das cotas transferidas: antes eram 32.783.443, representando 44% da empresa, agora são 99 quotas representando 99% da empresa (fls. 1.059/1.067); · 03/10/2008: Alteração do Contrato Social da GESTIOR PARTICIPAÇÕES LTDA., em decorrência da venda de quotas pela CM INDÚSTRIA para a BERTIN S.A. e da venda de quotas pelo Recorrente para FERNANDO BERTIN (fl. 242 informação do contribuinte e fls. 1.027/1.027 ); · 09/10/2008: emissão do Parecer Técnico nº 06212/2008 COGCE/SEAE/MF (fls. 873/878), informando que a BERTIN consolidava o controle da GOULT PARTICIPAÇÕES LTDA. pela aquisição das 44% das cotas restantes do Recorrente, e assim o controle indireto da VIGOR, mas o qual se analisou "13. O contrato que formaliza a presente operação data de CONFIDENCIAL e o seu valor é de, aproximadamente CONFIDENCIAL. De acordo com as Requerentes a presente notificação é resultado de uma operação realizada no Brasil, entre empresas brasileiras e com efeitos concorrenciais limitados no mercado brasileiro. Assim, informaram que a operação foi notificada apenas às autoridades antitruste brasileiras, fato ocorrido em 29 de setembro de 2008. 14. Destacase que, no documento que formaliza o presente Ato, Contrato de COmpra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Outras Avenças, não consta cláusula de não concorrência." fl. 876; Ainda assim, percebese que a análise não foi em relação à alienante, nem mesmo da estrutura utilizada para a transferência do ativo, mas sim em relação à potencialidade de prejuízos pela integração da VIGOR à BERTIN; · 14/05/2009: 3ª Alteração do Contrato de Venda firmado pelo Contribuinte (Carlos Mansur), registrado em cartório de Registro de Títulos e Documentos em 10/06/2009, no qual acordam a extensão do prazo para o pagamento do preço (fl. 979/983); · 14/05/2009: firmado "Instrumento Particular de Retificação, Ratificação e Consolidação de Contrato de Compra e Venda de Quotas com Opção de Venda e Compra e Outras Avenças" (fl. 1.320/1.323): firmado pela CM INDÚSTRIA, Carlos Mansur e BERTIN, visava anular a cisão da CM, tornar sem efeito o distrato de 21/11/2007, reiterar o contrato de venda de 21/11/2007 e tornar sem efeito o contrato de 25/11/2007; Enfim, percebese que há uma série de negócios jurídicos, sejam contratos de compra e venda, rescisões, revogações e alterações de Contratos Sociais, muitos dos quais parecem ser contraditórios entre si. Isso não os torna, em abstrato, nulos nem inexistentes. Fl. 1735DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.705 63 Como bem discorrido pela i.Relatora e pelos Pareceres anexos, é plenamente aceitável a venda a non domino, pela qual uma pessoa se compromete (contrato meramente consensual) a realizar a transferência de determinado bem ou direito a outrem. Desde que o faça ou seja, que a propriedade passe ao adquirente, por qualquer meio estará adimplida a obrigação. De outro lado, não satisfazendo a obrigação por impossibilidade, e.g. , não há nulidade nem simulação do contrato, per si, mas mera inadimplência que se converterá em restituição dos valores porventura pagos e em perdas e danos, se for o caso. Nesse contexto, ressalto, é irrelevante do ponto de vista tributário as notícias publicadas a título de Fato Relevante ou de informação às autoridades antitrute. Esses atos (publicações e informações) não têm o condão de alienar as quotas, mas apenas servem de prova que esse negócio jurídico, a compra e venda firmada entre o Contribuinte e a BERTIN, era/foi válido e existente entre as partes. Tampouco são hábeis a comprovar que o negócio jurídico firmado entre a CM Indústria e a Bertin fosse inexistente ou nulo. Nessa esteira, o negócio particular de desconstituição da cisão é válido entre as partes, como acordo em que prometem fazêlo ou que se comprometem a não impedir o seu registro (vide arts. 219, 221 etc. do CC/2002). Contudo, não tem validade em relação à sociedade (que continua cindida) e em relação a terceiros (inclusive o fisco) enquanto não for averbado. Portanto, entendo que a alienação das quotas se deu do Contribuinte, Carlos Mansur, para a BERTIN, porque era ele o proprietário das quotas ao tempo da transferência. Consequentemente, é ele o sujeito passivo do imposto sobre a renda incidente sobre o ganho de capital. 4. Da apuração do ganho de capital do custo de aquisição: Tendo em vista que o valor da alienação dos bens não foi questionado em qualquer momento, seja pelo Fisco seja pelo Contribuinte, impossível enfrentar esse ponto. O mesmo não pode ser dito em relação ao custo de aquisição que, conforme já explorado nas preliminares, foi objeto de expressa impugnação e recurso voluntário, sendo tratado também pelas Contrarrazões oferecidas pela Fazenda Nacional. Estabelece a Lei 7.713/1991 que: Art. 16. O custo de aquisição dos bens e direitos será o preço ou valor pago, e, na ausência deste, conforme o caso: (...) § 2º O custo de aquisição de títulos e valores mobiliários, de quotas de capital e dos bens fungíveis será a média ponderada dos custos unitários, por espécie, desses bens. In casu, o Contribuinte adquiriu as quotas da GOULT, inicialmente, pelo valor de R$ 99,00, como se depreende da 1ª Alteração Contratual dessa empresa, datada de 29/10/2007 (fls. 219/232). Posteriormente, quando da cisão da CM INDÚSTRIA, recebeu a título de retirada o valor de R$ 74.509.999,00, consubstanciadas nas quotas da GESTIOR que foram incorporadas à GOULT, com o respectivo aumento do capital desta de R$ 100,00 para R$ 74.510.099,00, como se depreende das informações prestadas pela CM INDÚSTRIA, pela Fl. 1736DF CARF MF 64 alteração dos Contratos Sociais das empresas envolvidas (fls. 34/46, 200/211, 240, 883/896, 897/903 e 920/930), e ainda pela DAA do contribuinte (fls. 1.153/1.154). Efetivamente, esse foi o mesmo valor apurado pela autoridade lançadora: "A respeito do custo de aquisição cabem as seguintes explicações: Nos casos de participações societárias (ações ou quotas) de propriedade de pessoas físicas, o que deve ser considerado como custo de aquisição é o valor do patrimônio líquido da sociedade. Acréscimos no PL da empresa investida, como reservas e lucros, por exemplo, devem ser considerados para efeito de custo de aquisição, desde que eles sejam incorporados ao capital social. Conforme as Declarações de Imposto de Renda PJ da Goult, relativas aos anoscalendários de 2007 e 2008, os seus Patrimônios Líquidos são, respectivamente, de R$ 175.792.566,25 e R$ 143.419.604,80, os quais contêm como Reserva de Reavaliação os valores de R$ 99.220.904,22 e R$ 97.610.258,01. Doc. 68 e 69 Em 2007 há lucros acumulados de R$ 2.061.563,03 e, em 2008, Prejuízos de R$ 28.700.752,21. Como se observa, os lucros não foram incorporados ao capital social e a Reserva de Reavaliação não está amparada pela mesma isenção dos lucros, razão pela qual consideramos apenas o valor do capital social de R$ 74.510.099,00, equivalentes a 74.510.099 quotas." (fl. 1.241/1.242); Ora, se o próprio Contribuinte declarou ter que adquirido as quotas de Goult por R$ 100,00 e, posteriormente, acrescentou a esse o valor das quotas da Gestior, recebidas da CM Indústria por R$ 74.510.099,00, então está correto o custo de aquisição utilizado pela autoridade lançadora, posto que foi por esse valor que o ativo havia sido incorporado ao seu patrimônio. Razão pela qual entendo que não assiste razão ao recurso nesse ponto. Da segunda infração: A identificação da sujeição passiva ganhou tamanho relevo que sombreou os demais pontos que da defesa do contribuinte ser enfrentados. Nem por isso podem ser olvidados. Passo à análise, portanto, do Recurso em relação à segunda infração. O TVF esclareceu que, "Os acréscimos sobre as parcelas foram tributados em separado do ganho de capital, conforme esclarece o art. 19, §3º da IN SRF nº 94/2001, combinado com o Parecer Normativo nº 1, de 24/09/2002." fl. 1.245 Em outras palavras, entendeu a autoridade lançadora que, tendo sido pago em conjunto com o valor das parcelas do preço um "acréscimo", tal montante "extra" não poderia ser tributado como ganho de capital, devendo ser apurado pelo ajuste anual. Efetivamente, os juros podem ter natureza remuneratória ou indenizatória (juros de mora). Em qualquer das hipóteses, não se configuram pagamento do preço da coisa Fl. 1737DF CARF MF Processo nº 16561.720184/201254 Acórdão n.º 2202004.013 S2C2T2 Fl. 1.706 65 vendida, propriamente dita, mas sim compensação pela indisponibilidade dos recursos durante certo prazo. Nesse sentido, correta a tributação em separado desses valores, pelo ajuste anual, se se entenderem tributáveis. Já o Contribuinte afirmou que esses valores são, na verdade, dividendos e que também foram devidamente declarados na sua DAA como tal. Depreendese, portanto, que defende serem isentos, bem como afirma que não os omitiu. Percebese, portanto, que o julgamento dessa infração 002 depende intrinsecamente da definição em relação à causa pela qual os valores foram depositados na conta do Contribuinte. Em outras palavras, compreendendose que os recursos identificados na infração 001 são, efetivamente, pagamento de preço, como quer a Fazenda Nacional, então esses valores identificados na infração 002, pagos em conjunto, são, efetivamente, "acréscimos" vez que não fazem parte do preço acordado , não são isentos e devem ser tributados pelo ajuste anual (não afirmou o Contribuinte, em momento algum que esses acréscimos poderiam ser juros de mora; por outro lado, depreendese dos contratos que os pagamento parcelados seriam acrescido de 50% da Taxa Selic à época do adimplemento, logo é compreensível que fossem correção monetária/juros remuneratórios). Se, por outro lado, se compreender que os valores apontados na infração 001 são efetivamente dividendos, não há razão para dar natureza distinta a esses recursos identificados na infração 002. Diferentemente do que sustentam a defesa e os ilustríssimos Pareceristas, data maxima venia, compreendo que o negócio jurídico que melhor fundamenta a alienação realizada na prática tendo a BERTIN como adquirente e o Recorrente como alienante é a compra e venda celebrada diretamente pelo Contribuinte. Efetivamente, constatase, dos autos, que após a celebração do contrato de 21/11/2007 ainda que o documento tenha sido revogado ele, pessoa física, ainda firmou três alterações ao longo dos anos de 2008 e 2009 em relação a esse mesmo contrato. Mais, era ele o legítimo proprietário da coisa à época da alienação e, sem dúvidas, estava amparado em um contrato de venda que justificava a transferência. Qual o negócio jurídico entre o Contribuinte e a CM INDÚSTRIA, entretanto, que justificava a alienação pelo Contribuinte diretamente para a BERTIN à época desse ato? De um lado, poderíamos argumentar pela dação em pagamento (vez que devia à CM INDÚSTRIA a devolução das quotas, conforme o contrato particular não formalizado); pagamento por terceiro, pagamento com subrogação ou doação, também são cogitáveis exemplo. Contudo, não há argumentação nesse sentido, portanto seriam meras elucubrações. Noutra senda, mais convence como causa da alienação o contrato firmado em 25/11/2007, figurando o alienante como vendedor. Esse contrato só foi "tornado sem efeitos" em 14/05/2009 (fls. 1.320/1.323). Acontece que a maior parte dos seus efeitos já haviam sido observados: a alienação da coisa já havia ocorrido em 25/11/2007 (fl. 1.028/1.047). Ora, adimplida a obrigação, o contrato já surtiu seus efeitos. O Contrato de 14/05/2009 tem, portanto, objeto em tese possível mas com efeitos impossíveis, haja vista que o fato que busca impedir já ocorreu e já se exauriu. Poderseia falar em recompra (nova venda), o que não é o objetivo do contrato de 2009 nem pode ser depreendido dos seus termos, já que ratificam a aquisição do ativo pela BERTIN. Somase, apenas como elementos complementares mas de forma alguma essenciais ou suficientes: além das alterações do contrato de compra e venda subsequentes à sua revogação, o próprio contribuinte declarou em sua DAA, entregue em 16/10/2009, ter efetuado alienação de ativos para a BERTIN. Ora, ainda que se aceitasse o "sem efeito" de 2009, Fl. 1738DF CARF MF 66 o documento firmado em 25/11/2007 vinculava as partes e justificou a declaração pelo Contribuinte ao Fisco do fato dessa forma em outubro de 2009. Logo, se era válida ao tempo da alienação a venda pelo próprio alienante, é compreensível que os pagamentos efetuados em sua conta se referiam aos preço e, consequentemente, os acessórios a juros, razão pela qual não se pode reformar o lançamento nesse ponto. Da multa qualificada: Em relação à multa qualificada, não observo simulação nos distratos, nas alterações não registradas e demais documentos apresentados. Pelo contrário, como vastamente defendido, tratamse de negócios jurídicos existentes e válidos, apenas ineficazes, seja por não terem adimplido suas formalidades, seja porque os efeitos que buscavam surtir eram impossível pelo exaurimento do seu objeto. Portanto, inexistente simulação, mas apenas mais uma forma pela qual o negócio foi cogitado, não vejo como manter a multa qualificada. Dispositivo: Diante de tudo quanto exposto, voto por dar provimento parcial ao recurso voluntário para afastar a qualificação da multa de ofício. (assinado digitalmente) Dilson Jatahy Fonseca Neto Fl. 1739DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13807.015087/2001-75
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Aug 29 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Exercício: 1998
DCTF. DIFERENÇA ENTRE VALORES DECLARADOS E PAGOS. AUTO DE INFRAÇÃO. POSSIBILIDADE.
Correto o lançamento que exige o imposto não recolhido, em razão da auditoria que apurou diferenças entre os valores declarados em DCTF e os efetivamente liquidados.
Numero da decisão: 2202-004.107
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Jose Ricardo Moreira.
Nome do relator: MARCO AURELIO DE OLIVEIRA BARBOSA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Exercício: 1998 DCTF. DIFERENÇA ENTRE VALORES DECLARADOS E PAGOS. AUTO DE INFRAÇÃO. POSSIBILIDADE. Correto o lançamento que exige o imposto não recolhido, em razão da auditoria que apurou diferenças entre os valores declarados em DCTF e os efetivamente liquidados. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Jose Ricardo Moreira. Relatório Adoto o relatório da Resolução nº 38050.006, da 5ª Turma Especial da Terceira Seção de Julgamento, de 20/03/2009 (fls. 281/284), complementandoo ao final. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 80 7. 01 50 87 /2 00 1- 75 Fl. 451DF CARF MF Processo nº 13807.015087/200175 Acórdão n.º 2202004.107 S2C2T2 Fl. 452 2 Com a finalidade de descrever os fatos sob foco neste processo, até o julgamento na Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento (DRJ), adoto o relatório do acórdão de fls. 210 a 213 da instância a quo, in verbis: "Trata o presente processo de lançamento de Imposto sobre a Renda Retido na Fonte IRRF realizado em decorrência de erros ou inconsistências verificados nas Declarações de Contribuições e Tributos Federais DCTF dos 1º e 2º trimestres de 1997, segundo o disposto nas Instruções Normativas n° 45/1998 e n° 77/1998 (fls. 04 a 16). No Auto de Infração do IRRF (fls. 07), foram apontados os enquadramentos legais do imposto, da multa de ofício vinculada, dos juros de mora devidos em função de falta de recolhimento ou pagamento do principal (2932), dos juros de mora não pagos (6583) e da multa de ofício isolada em decorrência da falta de pagamento da multa de mora (6380). A Interessada apresentou sua impugnação em 28/12/2001 (fls. 01 a 03), por intermédio de seus Diretores (fls. 26 a 35), solicitando a juntada dos comprovantes (fls. 17a 25) de recolhimentos de todos valores apontados no Auto de Infração e requerendo que sejam apurados os fatos mediante a verificação junto ao banco no qual foi recolhido o tributo e correção do código do pagamento através de um Redarf, se necessário, sanando, dessa forma qualquer incorreção. Às fls. 180 a 187, consta análise da impugnação por parte da Delegacia de origem, na qual se concluiu pela manutenção parcial do lançamento, tendo os autos sido enviados para julgamento." A decisão de primeira instância declarou o lançamento procedente em parte, excluindo a multa vinculada (Lei n° 11.051/2004, art. 25). As fls. 228/233 encontrase o recurso voluntário, por meio do qual o contribuinte traz as seguintes razões, em síntese: I. Que o material que se devolve para julgamento diz com o débito de R$ 36.668,56 segundo tabela da decisão a quo que transcreve; II. Que a mesma decisão consignou que esse montante compreende a quarta semana de fevereiro de 1997 e teve o dia 26.02.1997 como data de vencimento; III. Que, ainda segundo a decisão primeira, a Recorrente teria juntado DARF (fls. 20) que serviria para comprovar o recolhimento desse montante, mas, por meio de revisão de ofício, notouse que o valor recolhido estava "alocado" a outro débito; IV. Que somente após ter examinado o conteúdo da decisão a quo, cotejandoo com o demonstrativo de fls. 180/186, a Recorrente compreendeu o motivo de sua autuação, frisando que Fl. 452DF CARF MF Processo nº 13807.015087/200175 Acórdão n.º 2202004.107 S2C2T2 Fl. 453 3 só tomou conhecimento esse demonstrativo no mesmo momento em que tomou conhecimento da decisão a quo; V. Que, como consta da cópia da DCTF do primeiro trimestre de 1997 anexa (fls. 234/241), a Recorrente registrou que era devedora, dentre outros valores, da importância de R$ 36.668,56, com os dados que menciona e estampa (página 3/6 de seu apelo, fls. 230); VI. Que esse valor foi pago em 05.02.1997, conforme DARF de fls. 20, de onde constou vencimento nesse mesmo dia; VII. Que, todavia, registrou por equívoco, na página 27 da mesma DCTF, que era devedora, dentre outros valores, da importância de R$ 36.668,56, conforme dados que menciona e estampa (página 4/6 de seu apelo, fls. 231); VIII. Que, assim, é forçoso concluir que a Recorrente registrou por duas vezes, numa mesma DCTF, um único débito. Contudo, o débito registrado na quarta semana de fevereiro de 1997 não foi seguido de nenhum recolhimento nem deveria, pois não existia de fato; IX. Que, para demonstrar que não existia esse débito, junta cópias de páginas de seu Diário (fls. 242/259); X. Que, por precaução, requer seja convertido o julgamento em diligência, para que a fiscalização examine seus documentos e livros; XI. Que não está apresentando provas extemporaneamente, nem suprimindo instância. É o relatório. Na sessão de 20/03/2009, 5ª Turma Especial da Terceira Seção de Julgamento resolveu converter o julgamento em diligência, conforme Resolução nº 38050.006 (fls. 281/284), para que autoridade fiscalizadora: a) verifique e identifique, pelo Razão e em correspondência com o Diário, os lançamentos contábeis da retenção de R$ 36.668,56 lançada na DCTF do 1º trimestre/1997 na 1ª semana de fevereiro; b) faça o mesmo em relação à retenção informada, na DCTF, relativamente à quarta semana de fevereiro, buscando constatar se, como afirma a Recorrente, não houve, naquela semana, a retenção que ela informou e que lhe está sendo cobrada. Em atendimento à diligência, a Delegacia Especial da Receita Federal do Brasil de Fiscalização em São Paulo elaborou o Relatório de Encerramento do Procedimento Fiscal de fls. 428/432, tendo intimado o Contribuinte a se manifestar em 10/03/2011 (A.R. de fl. 433). O Contribuinte não apresentou resposta, conforme termo de fls. 436/437. É o relatório. Fl. 453DF CARF MF Processo nº 13807.015087/200175 Acórdão n.º 2202004.107 S2C2T2 Fl. 454 4 Voto Conselheiro Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Relator O recurso é tempestivo e atende às demais condições de admissibilidade. Portanto, merece ser conhecido. Os números de folhas aqui referidos são relativos ao processo após a sua digitalização (numeração do eprocesso). Trata o presente processo de lançamento de Imposto sobre a Renda Retido na Fonte IRRF , realizado em decorrência de erros ou inconsistências verificados nas Declarações de Contribuições e Tributos Federais DCTF dos 1º e 2º trimestres de 1997. O recurso está restrito ao valor de R$ 36.668,56, pois os demais valores mantidos foram recolhidos conforme DARFs de fls. fls. 268/270 (exceto os juros de mora isolados de R$ 1,63). Alega a Recorrente que registrou por duas vezes, numa mesma DCTF, um único débito, porém o débito registrado na quarta semana de fevereiro de 1997 não foi seguido de nenhum recolhimento, pois não existia de fato. Em atendimento à diligência solicitada pelo CARF, a autoridade fiscal emitiu as seguintes conclusões, conforme Relatório de Encerramento do Procedimento Fiscal de fls. 428/432: Os documentos apresentados não atenderam a indagação do Relator e o não atendimento ao Termo de Diligência e Solicitação de Documentos Razão Contábil, com ciência via postal m 27/01/11 pelo contribuinte acima identificado, inviabilizou à autoridade fiscalizadora de: a) verificar e identificar, pelo Razão e em correspondência com o Diário, os lançamentos contábeis da retenção de R$ 36.668,56 lançada no 1º trimestre/1997 na 1ª semana de fevereiro; b) Efetuar o mesmo procedimento em relação à retenção informada, na DCTF, relativamente à quarta semana de fevereiro, buscando constatar se, como afirma a Recorrente, não houve, naquela semana, a retenção que ela informou e que está sendo cobrada. Portanto o contribuinte não identificou através de sua escrituração comercial e fiscal os lançamentos contábeis referentes as duas retenções de valor idêntico, ou seja, R$ 36.668,56 lançadas no 1º trimestre/1997 e os respectivos fatos geradores. Fl. 454DF CARF MF Processo nº 13807.015087/200175 Acórdão n.º 2202004.107 S2C2T2 Fl. 455 5 Embora intimado a se manifestar sobre o resultado da diligência, o Contribuinte não apresentou resposta, conforme termo de fls. 436/437. Do relatório fiscal elaborado em função da diligência solicitada pelo CARF, concluise que o Contribuinte não logrou comprovar que não ocorreu a retenção informada. Assim, não havendo comprovação por meio da escrituração fiscal e contábil, não há como acatar as alegações recursais. É regra geral no Direito que o ônus da prova é uma conseqüência do ônus de afirmar e, portanto, cabe a quem alega. Nesse caso, o Recorrente apenas alegou e nada provou e, segundo brocardo jurídico por demais conhecido, "alegar e não provar é o mesmo que não alegar". Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário. (assinatura digital) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Relator Fl. 455DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 18088.720063/2012-71
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 04 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Período de apuração: 01/01/2009 a 30/11/2010
LANÇAMENTO. PROVAS INDICIÁRIAS. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL.
Cabe a fiscalização apresentar um conjunto de indícios que permita ao julgador alcançar a certeza necessária para o seu convencimento, afastando possibilidades contrárias, mesmo que improváveis. A certeza é obtida quando os elementos de prova confrontados pelo julgador estão em concordância com a alegação trazida aos autos.
OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. (CFL 38)
Por se tratar de infração formal, sem qualquer nexo com a obrigação principal deve ser mantida a penalidade por ter a empresa apresentado livro Diário sem as formalidades legais.
Numero da decisão: 2202-004.020
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, Por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso, para manter apenas a multa de obrigação acessória (CFL-38), vencidos os Conselheiros Rosy Adriane da Silva Dias e Denny Medeiros da Silveira, que negaram provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa- Presidente.
(Assinado digitalmente)
Júnia Roberta Gouveia Sampaio - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Denny Medeiros da Silveira, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal.
Nome do relator: JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Período de apuração: 01/01/2009 a 30/11/2010 LANÇAMENTO. PROVAS INDICIÁRIAS. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. Cabe a fiscalização apresentar um conjunto de indícios que permita ao julgador alcançar a certeza necessária para o seu convencimento, afastando possibilidades contrárias, mesmo que improváveis. A certeza é obtida quando os elementos de prova confrontados pelo julgador estão em concordância com a alegação trazida aos autos. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. (CFL 38) Por se tratar de infração formal, sem qualquer nexo com a obrigação principal deve ser mantida a penalidade por ter a empresa apresentado livro Diário sem as formalidades legais.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 15; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1630; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S2C2T2 Fl. 204 1 203 S2C2T2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 18088.720063/201271 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 2202004.020 – 2ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 04 de julho de 2017 Matéria Contribuições Sociais Previdenciárias Recorrente PAMIRO COMERCIO E PARTICIPAÇÕES LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Período de apuração: 01/01/2009 a 30/11/2010 LANÇAMENTO. PROVAS INDICIÁRIAS. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. Cabe a fiscalização apresentar um conjunto de indícios que permita ao julgador alcançar a certeza necessária para o seu convencimento, afastando possibilidades contrárias, mesmo que improváveis. A certeza é obtida quando os elementos de prova confrontados pelo julgador estão em concordância com a alegação trazida aos autos. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. (CFL 38) Por se tratar de infração formal, sem qualquer nexo com a obrigação principal deve ser mantida a penalidade por ter a empresa apresentado livro Diário sem as formalidades legais. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, Por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso, para manter apenas a multa de obrigação acessória (CFL38), vencidos os Conselheiros Rosy Adriane da Silva Dias e Denny Medeiros da Silveira, que negaram provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 08 8. 72 00 63 /2 01 2- 71 Fl. 204DF CARF MF 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Denny Medeiros da Silveira, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal. Relatório Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da Delegacia da Receita Federal do Brasil em Ribeirão Preto (SP): Tratase de créditos tributários constituídos pela fiscalização contra o interessado acima identificado, por meio dos seguintes Autos de Infração: AI DEBCAD nº 51.015.5367, no valor de R$ 222.622,262, referente às contribuições destinadas à Seguridade Social, correspondentes à parte devida pela empresa, incidentes sobre a remuneração paga ou creditada a segurado contribuinte individual. AI DEBCAD nº 51.015.5375, no valor de R$ 16.670,98, referente à multa aplicada em razão de a empresa apresentar livro Diário, referente ao ano de 2010, sem as formalidades legais exigidas.. Os fatos geradores das contribuições lançadas foram os valores contabilizados pela empresa, no período de 1/2009 a 11/2010, como empréstimo ao Sr. Horst Jacob Happel (diretor presidente), mas considerados pela fiscalização como pagamento de prólabore indireto. Indícios constatados pela autoridade lançadora O contribuinte apresentou contrato de mútuo não registrado em cartório, que disponibiliza créditos de até R$ 4.000.000,00, sem data de vencimento, com remuneração de 1% ao mês, pelo empréstimo, que ficou em aberto. A dívida do Sr. Horst Jacob Happel está registrada nas DIRPF dos anoscalendário de 2007 a 2010. A empresa registrou prejuízo no valor de R$ 46.718.634,64 no anocalendário de 2008 e de R$ 1.446.597,56 no anocalendário de 2009. A empresa concedeu empréstimos milionários a seu diretor presidente, embora apresentasse prejuízos substanciais. A empresa concedeu empréstimos a sócios sem prazo para retorno, ainda mais em montantes vultosos, próximo ao valor do próprio capital social consolidado em 19/6/2008 (R$ 4.449.177,00). A dívida era de R$ 3.084.148,88 (DIRPF 2010). Houve confusão do patrimônio do sócio com o da empresa, com ofensa do princípio contábil da entidade. Fl. 205DF CARF MF Processo nº 18088.720063/201271 Acórdão n.º 2202004.020 S2C2T2 Fl. 205 3 A operação foi desvantajosa para a empresa, pois o sócio não obteria esse benefício no mercado financeiro. Caracterização dos empréstimos aos sócios como pagamentos de prólabore, ante a não comprovação de que se tratava de empréstimo a sócio, do vínculo do sócio com a empresa e da habitualidade das operações. O mutuário obteve empréstimos mensais no período de 2007 a 2010. Após quatro anos dos primeiros empréstimos, ainda não houve amortização da dívida. Os valores originais, acrescidos de juros, totalizaram R$ 2.109.194,22 em 31/12/2010, conforme registro nos livros Diários de 2007 a 2010. O contrato não prevê qualquer tipo de garantia da dívida. Os valores recebidos do mútuo foram consumidos com despesas pessoais. O contrato de mútuo não averbado em registro público não possui validade perante terceiros (Código Civil). Houve confusão entre mutuário e o próprio mandatário da mutuante. A empresa apresentou prejuízos acumulados substanciais, não se justificando a concessão de empréstimos a título de mútuo sem qualquer esforço para o recebimento. Aplicação da penalidade mais benéfica Aplicada a penalidade menos severa, após comparativo entre as multas. Aplicação de multa qualificada O Sr. Horst Jakob Happel realizou uma ação ou omissão proposital, que retardou o conhecimento pelo Fisco da ocorrência do fato gerador, o qual foi detectado apenas por meio de ação fiscal por parte da autoridade tributária. Essa conduta se subsume a hipótese prevista no artigo 71 da Lei nº 4.502/1964. A conduta intencional do contribuinte restou configurada pela apresentação de documentos com o fim de acobertar a realidade das operações financeiras efetuadas, propositalmente denominada mútuo. Essas transações constituíramse em transferências de valores na forma de remuneração, da empresa para a conta bancária pessoal do seu diretorpresidente. Configurada a prática dolosa prevista no artigo 73 da Lei nº 4.502/1964 (conluio). Fl. 206DF CARF MF 4 O vulto e a habitualidade das transações realizadas afastam a possibilidade de mero equívoco, ou de um lapso isolado. Impugnação do contribuinte O interessado apresentou impugnação, na qual alega e requer, em suma, o seguinte: Ausência de comprovação da natureza de prólabore A autoridade lançadora não comprovou que os pagamentos realizados a título de empréstimo possuiriam natureza de pró labore. Ela concluiu que os pagamentos teriam a natureza de prólabore apenas por entender que eles não tinham a natureza de empréstimos. Tal raciocínio configura o emprego de presunção simples, que somente é admitido em direito tributário quando se verifiquem fatos coerentes e convergentes que conduzam a uma convicção firme e irrefutável acerca da existência do fato presumido. O uso de presunção simples não desincumbe o Fisco do ônus de provar. A presunção simples deve ser suficiente para eliminar a possibilidade de terem ocorrido fatos diversos daquele que busca evidenciar. No presente caso, a autoridade lançadora partiu da premissa de que os pagamentos efetuados pela impugnante teriam natureza diversa da declarada para, então, dar um grande salto: tais pagamentos são prólabore. É como dissesse: se não é empréstimo... acho que é prólabore. Se o ônus da prova é do Fisco, caberia a autoridade fiscal enumerar indícios suficientes a tornar plausível a conclusão de que os pagamentos teriam natureza de prólabore e ao mesmo tempo eliminar terceiras hipóteses. Não foi isso que ocorreu no presente caso. A presunção adotada pela autoridade fiscal mostrase muito mal formulada. A remuneração é um termo técnico, conforme previsto no artigo 28 da Lei nº 8.212/91. É o pagamento realizado com o fim de retribuir o trabalho. Para provála a autoridade fiscal deveria provar a existência do trabalho, o pagamento e o nexo de causalidade entre eles. A presunção adotada pela autoridade lançadora mostrase frágil, pois outras conclusões que poderiam ser presumidas não foram excluídas (tais como doação ou adiantamento de dividendos). Se a autoridade fiscal excluiu tais hipóteses, ela deveria ter demonstrado isso nos autos. A escolha realizada pela autoridade fiscal encontrase impregnada de dúvidas. Como há evidentes indícios de dúvida sobre os fatos e a sua natureza, deve prevalecer a interpretação mais benéfica ao contribuinte, nos termos do artigo 112, II do CTN. Fl. 207DF CARF MF Processo nº 18088.720063/201271 Acórdão n.º 2202004.020 S2C2T2 Fl. 206 5 O artigo 112 do CTN é regra de hermenêutica que se aplica não apenas em matéria de penalidades, mas também com relação à exigência de tributos. A infração a legislação tributária também ocorre em relação àquele que não paga tributo. Incorreta descaracterização dos empréstimos A não comprovação da devolução do mútuo não teria o condão de afastar a sua natureza, uma vez que o mútuo pode ter prazo indeterminado e não há previsão legal fixando prazo máximo para a sua devolução. O artigo 592 do Código Civil apenas estabeleceu, para o mútuo feito sem prazo certo, um prazo mínimo para a sua devolução, se for de dinheiro. A exigência de registro público de um instrumento particular é necessária apenas para sua publicidade perante terceiros, para que não seja alegado o seu desconhecimento. A ausência do registro não invalida o mútuo perante as partes civis relacionadas à operação. (Transcreve ementas de decisões do CARF e trecho do Parecer Normativo CST nº 23/83) Ainda que se entenda que os contratos não sejam capazes de comprovar a efetiva realização do mútuo, a operação pode ser demonstrada por outros documentos, tais como extratos bancários, recibos, declarações de imposto de renda do seu diretorpresidente e guias de recolhimento de IOF incidentes sobre as operações de mútuo. Segundo o CARF, a efetiva prova da realização de mútuo não é comprovada pelo seu contrato, mas pela demonstração do trânsito do numerário. (Transcreve ementa de decisão do CARF) Improcedência do agravamento – ausência de dolo Não foi comprovada a prática de conduta dolosa pelo contribuinte, passível de ser classificada como sonegação, fraude e conluio. O contribuinte sempre acreditou estar agindo dentro do permitido pela lei. Se não ocorreu o fato tributável, não faz sentido falar em omissão de informações e uso de estratégias diversificadas para mascarar a realidade, bem como em existência de conluio entre a impugnante e o seu diretor presidente. A Súmula 14 do CARF reforça a necessidade de explícita comprovação do evidente intuito de fraude em casos como esse. Se entender que a multa qualificada decorre da simples falta de recolhimento de tributos, é sólido o entendimento doutrinário e jurisprudencial de não autorizar a qualificação da multa nesse caso. Fl. 208DF CARF MF 6 Portanto, a multa agravada de 150% deve ser reduzida para 75%. Não caracterização do descumprimento de obrigação acessória A infração não foi adequadamente motivada pela autoridade lançadora, pois esta não precisou as formalidades legais que deixaram de ser atendidas no livro Diário do ano de 2011 e porque a conduta seria considerada ilegítima, cerceando assim o exercício do direito de defesa da impugnante. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento negou provimento ao Recurso Voluntário em decisão cuja ementa é a seguinte: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/2009 a 30/11/2010 LANÇAMENTO DE OFÍCIO. SIMULAÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS. O lançamento é efetuado de ofício pela autoridade administrativa quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação. A autoridade administrativa pode desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com simulação, com base no princípio da primazia da realidade, segundo a qual a substância deve prevalecer sobre a forma. MULTA QUALIFICADA. SONEGAÇÃO. Aplicase a multa qualificada prevista no artigo 44, I, § 1o da Lei nº 9.430/96 quando verificada a ocorrência de conduta dolosa caracterizada como sonegação. INTIMAÇÃO DE PROCURADORES. As intimações devem ser feitas no domicílio tributário fornecido pelo contribuinte à administração tributária, inexistindo previsão legal, no âmbito do processo administrativo fiscal, para que as intimações sejam encaminhadas aos seus procuradores PENALIDADE MAIS BENÉFICA AO SUJEITO PASSIVO. COMPARAÇÃO. Para fins de aplicação da penalidade mais benéfica ao sujeito passivo (CTN, art. 106, II, “c”), as penalidades anteriormente previstas para as infrações relativas a apresentação de declaração inexata (artigo 32, §5º da Lei nº 8.212/91) e falta de recolhimento de tributo (artigo 35, II a Lei nº 8.212/91) deverão ser somadas e comparadas com a nova penalidade introduzida pela Medida Provisória nº 449/2008, convertida na Lei nº11.941/2009 (multa de ofício de 75%, prevista no artigo 44, inciso I, da Lei n° 9.430/1997), que se destina a punir ambas as infrações referidas. Fl. 209DF CARF MF Processo nº 18088.720063/201271 Acórdão n.º 2202004.020 S2C2T2 Fl. 207 7 Cientificado da decisão acima transcrita (fls.160), o contribuinte apresentou o Recurso Voluntário de fls. 162 à 184, no qual reitera as alegações já suscitadas quando da Impugnação. É o relatório. Voto Conselheira Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora O recurso preenche os pressupostos legais de admissibilidade, motivo pelo qual, dele conheço. O presente lançamento decorre da desconsideração de contrato de empréstimo realizado pelo Recorrente ao sócio diretor. Como conseqüência houve a reclassificação dos valores recebidos que passaram a ser considerados pela fiscalização como pró labore o que motivou o lançamento das contribuições sociais. Conforme demonstrado no relatório, a autoridade fiscal utilizouse dos seguintes elementos para desconsideração do contrato de mútuo: a) o contrato de mútuo não foi registrado em cartório; b) o recorrente registrou prejuízo no valor de R$ 46.718.634,64 no ano calendário de 2008 e de R$ 1.446.597,56 no anocalendário de 2007; c) Embora apresentasse prejuízos a empresa concedeu empréstimos milionários ao sócio. d) os empréstimos foram concedidos sem prazo de retorno; e) o valor total dos empréstimos eram próximos do valor do próprio capital social do Recorrente; f) o mutuário recebeu os valores no período de 2007 à 2010 e, até o lançamento, não havia realizado a amortização da dívida; g) o contrato de mútuo não prevê qualquer tipo de garantia; h) os valores recebidos do mútuo foram consumidos com despesas pessoais do sócio; i) o contrato de mútuo não averbado não possui validade contra terceiros; j) houve confusão do patrimônio do sócio com o da empresa, com ofensa do princípio contábil da entidade; l) a operação foi desvantajosa para a empresa, pois o sócio não obteria esse benefício no mercado financeiro; Fl. 210DF CARF MF 8 Entendo que a análise do lançamento pressupõe duas etapas. A primeira consiste em verificar se as objeções apontadas pela autoridade fiscal são suficientes para descaracterizar o contrato de mútuo. A segunda consistem verificar se, uma vez descaracterizado o referido contrato, estaria correta a tributação como valores recebidos à título de prólabore. É o que passaremos a analisar. 1) O CONTRATO DE MÚTUO A autoridade fiscal apresentou como elementos suficientes para descaracterização do contrato de mútuo o fato de não ter sido registrado em cartório, de ter sido pactuado sem prazo de retorno e não possuir qualquer tipo de garantia. Antes de analisarmos individualmente as referidas objeções, é importante verificar o tratamento legal da matéria previsto nos artigos 586 à 592 do Código Civil abaixo transcritos: Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição. Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores. Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente: I se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente; II se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais; III se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; IV se o empréstimo reverteu em benefício do menor; V se o menor obteve o empréstimo maliciosamente. Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica. Art. 591. Destinandose o mútuo a fins econômicos, presumem se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual. Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será: I até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para semeadura; II de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro; Fl. 211DF CARF MF Processo nº 18088.720063/201271 Acórdão n.º 2202004.020 S2C2T2 Fl. 208 9 III do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível.(grifamos) Pelas disposições legais acima transcritas, é possível verificar que as objeções apontadas pela autoridade fiscal não se sustentam. Com efeito, o contrato de mútuo não exige forma específica, o que torna desnecessário o seu registro em cartório. Tal fato foi reconhecido pela decisão recorrida e pela própria Receita Federal no Parecer Normativo CST nº 23/83, o qual dispõe: 2.1 Não tem relevância a forma pela qual o empréstimo se exteriorize; contrato escrito ou verbal, adiantamento de númerário ou simples lançamento em conta corrente, qualquer feitio que configurar capital financeiro posto à disposição de outra sociedade sem remuneração, ou com compensação financeira inferior àquela estipulada na lei, constitui fundamento para aplicação da norma legal. (grifamos) Quanto ao prazo, verificase que o artigo 592 não é norma imperativa. Isso porque, como corretamente alega o Recorrente, o legislador fixou apenas um prazo mínimo para devolução do mútuo envolvendo dinheiro. A conclusão natural, portanto, é a de que, a contrario sensu, não foi estabelecido um prazo máximo. É importante ressaltar que a própria decisão recorrida reconhece que os contratos de mútuo não precisam possuir um prazo determinado. Da mesma forma, o artigo 590, acima transcrito, deixa claro que a exigência de garantia é uma faculdade do mutuante, motivo pelo qual, sua inexistência não pode ser utilizada para descaracterizar o contrato de mútuo. Por outro lado, foram trazidos aos autos os seguintes elementos de comprovação do referido contrato: a) recibos de pagamento e comprovante de depósito bancário do mútuo; b) Declarações de imposto de renda do mutuário (Sr. Host Jakob Happel) na qual os empréstimos foram declarados; c) comprovante de recolhimento do IOF incidente sobre as operações de mútuo entre pessoa jurídica e pessoa física. O que se percebe do relatório fiscal é que fiscalização se esforçou para demonstrar que o contrato de mútuo, nos termos em que pactuado, só foi possível porque o mutuário era sócio administrador da mutuante. Em outras palavras, foi realizado um contrato de mútuo em condições prejudiciais ao Recorrente (mutuante), não usuais em contratação de mercado.Todavia, tal fato não é suficiente para desconsideração do contrato de mútuo, embora pudesse gerar reflexo na apuração do IRPJ, uma vez que não se tratavam de despesas necessárias e usuais à atividade da empresa. II DO LANÇAMENTO DOS VALORES RECEBIDOS À TÍTULO DE MÚTUO COMO RECEBIMENTO DE PRÓLABORE POR PARTE DO SÓCIO. Ainda que se admitisse a descaracterização dos contrato de mútuo para fins fiscais, a operação realizada pela autoridade fiscal, como já dito é dúplice. Isso significa que a autoridade lançadora tem duplo ônus da prova. O de descaracterizar o negócio jurídico tido Fl. 212DF CARF MF 10 como simulado e de comprovar o negócio jurídico "real". É o que dispõe o artigo 167 ao tratar dos efeitos dos negócios jurídicos simulados: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. O que se constata no caso em questão é, que ainda que se admita que a autoridade fiscal tenha comprovado a invalidade do contrato que procurou descaracterizar, não fez a prova de que tais valores constituíam fato gerador das contribuições em questão. Isso porque o relatório fiscal se limita a afirmar que: Os valores em questão decorrem do vínculo que mencionado sócio mantém com a empresa e representam, pela benesse com que se revestem, pró labore indireto, dado que não restou demonstrado trataremse de empréstimos. De igual sorte, houve habitualidade em sua efetivação, porque pago em diversas e sucessivas competências dos referidos exercícios O fato de se utilizar da qualidade de sócio para obtenção de empréstimo da pessoa jurídica em condições mais favoráveis do que obteria em uma livre contratação de mercado não leva, necessariamente, à conclusão te que tais valores deveriam ser qualificados como prólabore, especialmente quando existem situações na legislação tributária que contemplam a referida situação. Com efeito, todos os indícios apresentados pela autoridade fiscal destinamse a demonstrar que a referida contratação ocorreu em situação anômala, a qual só foi possível em virtude da posição de sócio administrador do mutuário. Essa situação vem contemplada pela legislação do Imposto de Renda Pessoa Jurídica ao tratar da denominada Distribuição Disfarçada de Lucros. Por meio do referido instituto a legislação trata de hipóteses em que a sociedade faz pactuações desvantajosas aos seus interesses com pessoas relacionadas, conforme ser verifica pela leitura dos artigos 464 e 465 do RIR/99 abaixo transcritos: Art.464.Presumese distribuição disfarçada de lucros no negócio pelo qual a pessoa jurídica I aliena, por valor notoriamente inferior ao de mercado, bem do seu ativo a pessoa ligada; II adquire, por valor notoriamente superior ao de mercado, bem de pessoa ligada; III perde, em decorrência do não exercício de direito à aquisição de bem e em benefício de pessoa ligada, sinal, depósito em garantia ou importância paga para obter opção de aquisição; IV transfere a pessoa ligada, sem pagamento ou por valor inferior ao de mercado, direito de preferência à subscrição de valores mobiliários de emissão de companhia; V paga a pessoa ligada aluguéis, royalties ou assistência técnica em montante que excede notoriamente ao valor de mercado; VI realiza com pessoa ligada qualquer outro negócio em condições de favorecimento, assim entendidas condições mais Fl. 213DF CARF MF Processo nº 18088.720063/201271 Acórdão n.º 2202004.020 S2C2T2 Fl. 209 11 vantajosas para a pessoa ligada do que as que prevaleçam no mercado ou em que a pessoa jurídica contrataria com terceiros. §1º O disposto nos incisos I e IV não se aplica nos casos de devolução de participação no capital social de titular, sócio ou acionista de pessoa jurídica em bens ou direitos, avaliados a valor contábil ou de mercado §2ºA hipótese prevista no inciso II não se aplica quando a pessoa física transferir a pessoa jurídica, a título de integralização de capital, bens e direitos pelo valor constante na respectiva declaração de bens §3º A prova de que o negócio foi realizado no interesse da pessoa jurídica e em condições estritamente comutativas, ou em que a pessoa jurídica contrataria com terceiros, exclui a presunção de distribuição disfarçada de lucros (grifamos) Ao tratar do tema em sua obra Distribuição Disfarçada de Lucros, LUÍS EDUARDO SCHOUERI, cita um exemplo da jurisprudência alemã que se muito se assemelha à hipótese dos autos. Vejamos: Outro critério interessante que Lange extrai da jurisprudência alemã, que não encontra reflexo no direito brasileiro, é o do montante do empréstimo em relação ao patrimônio da pessoa jurídica. Para os juízes alemães, deve ser afastada a existência de um empréstimo e configurada uma distribuição disfarçada de lucros, quando o montante do empréstimo alcançar uma parte significativa do patrimônio total da pessoa jurídica ou quando for dado em garantia, uma vez que "um homem com raciocínio econômico não estaria disposto a emprestar um montante elevado a outrem, sem previsão temporal para restituição, sem garantia e talvez sem juros".(SCHOUERI, Luís Eduardo Distribuição Disfarçada de Lucros ed. Dialética, p. 63) No caso da Distribuição Disfarçada de Lucros DDL a legislação utiliza uma presunção legal de que estaria caracterizado o fato gerador do IRPJ, uma vez demonstrada qualquer das situações acima descritas. Vale dizer, comprovadas as situações acima narradas, estaria a autoridade fiscal dispensada de demonstrar que os valores constituem renda. Todavia, o mesmo não ocorre no caso em questão. Isso significa que cabe à autoridade fiscal demonstrar que os pagamentos realizados à título de empréstimo se subsumem ao fato gerador das contribuições sociais. Com efeito, estabelece o artigo 28 da Lei nº 8.212/91: "Art. 28 Entendese por salário de contribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos Fl. 214DF CARF MF 12 termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (grifamos) Dessa forma, como bem ressalta o Recorrente, para que a autoridade fiscal os caracterizasse como prólabore era imprescindível que comprovasse a existência do trabalho, o pagamento e o nexo de causalidade entre eles. Todavia, no caso dos autos, não foi demonstrada a realização do trabalho e o nexo de causalidade entre este e o pagamento. Como reconhecido na própria decisão recorrida, o lançamento em questão parte das chamadas provas indiciárias ou indiretas. Ao utilizar as mencionadas provas é imprescindível que a fiscalização demonstre que o fato controvertido (prólabore) tem ligação direta com o fato conhecido (mútuo). Nesse sentido, valiosas as ponderações de FÁBIO PIOVESAN BOZZA: Por se tratar de prova indireta, a conclusão sobre a existência do fato principal desconhecido, a partir do indício, estará sujeita a diferentes graus de crença. Se o fato desconhecido pode ter multiplicidade de causa, ou ser causa de muitos efeitos, o indício isolado perde a força e impede o emprego da presunção. Por isso o quadro de indícios deve ser: (i) preciso: o fato controvertido deve ter ligação direta com o fato conhecido, podendo dele extrair consequências claras e efetivamente possíveis, a ponto de rechaçar outras possíveis soluções; (ii) grave: resultante de uma forte probabilidade e capacidade de induzir à persuasão; (iii) harmônico: com indícios concordantes entre si e não contraditórios, os quais convergem para a mesma solução, de modo a aumentar o grau de confirmação lógica sobre uma dada ilação. (BOZZA, Fábio Piovesan Planejamento Fiscal e Autonomia Privada ed. Quartier Latin, p. 193) (grifos no original) Além disso, para a comprovação de que os referidos pagamentos, diante dos indícios apontados, se caracterizam como prólabore era fundamental que a autoridade fiscalizadora eliminasse, fundamentadamente, sua reclassificação em outra hipótese constante da legislação. Nesse sentido, já se posicionou a Câmara Superior de Recursos Fiscais no Acórdão nº 0105.095, cuja ementa é a seguinte: "Recurso Voluntário Omissão de Receita Presunção Simples Cabe a fiscalização apresentar um conjunto de indícios que permita ao julgador alcançar a certeza necessária para o seu convencimento, afastando possibilidades contrárias, mesmo que improváveis. A certeza é obtida quando os elementos de prova confrontados pelo julgador estão em concordância com a alegação trazida aos autos. Se remanescer dúvida razoável da improcedência da exação, o julgador não poderá decidir contra o acusado. No estado de incerteza, o Direito preserva a liberdade em sua acepção mais ampla, protegendo o contribuinte da interferência do Estado sobre o seu patrimônio.(grifamos) No caso dos autos, os indícios trazidos pela autoridade fiscal, além não possuírem nexo de causalidade com a hipótese lançada (contribuições sociais), convergem para Fl. 215DF CARF MF Processo nº 18088.720063/201271 Acórdão n.º 2202004.020 S2C2T2 Fl. 210 13 o instituto da Distribuição Disfarçada de Lucros, ou, ainda que assim não se entenda, poderiam ser tributados como uma espécie de despesa não dedutível na apuração do IRPJ. Com efeito, de acordo com o artigo 299 do RIR/99 : Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (grifamos) Em face do exposto, entendo que o conjunto de indícios trazidos aos autos não são suficientes para a comprovação do fato gerador das contribuições previdenciárias, motivo pelo qual, dou provimento ao recurso voluntário. 3) DA APLICAÇÃO DA MULTA AGRAVADA NO PERCENTUAL DE 150%. O Recorrente se insurge, também, quanto a aplicação da multa qualificada de 150% por entender que não teria utilizado de qual qualquer artifício para ocultar o que teria ocorrido, como falsificação de notas e adulteração de comprovantes. Nesse ponto, entendo correta a alegação do Recorrente. Por mais que se reconheça a prática de planejamento fiscal não oponível ao fisco, entendo que não está configurada a fraude penal necessária a aplicação da multa agravada. Como esclarece MARCO AURÉLIO GRECO em sua obra planejamento fiscal: Outra observação a ser feita é a de que a incidência do inciso II do artigo 44 da Lei nº 9.430/96, que leva à multa mais onerosa, supõe a ocorrência inequívoca do intuito fraudulento. Vale dizer, não é toda e qualquer hipótese de falta de pagamento, etc. prevista no inciso I que vai levar a multa em dobro. Se não houve o intuito de enganar, esconder, iludir, mas se, pelo contrário, o contribuinte agiu de forma clara, deixando explícitos seus atos e negócios, de modo a permitir a ampla fiscalização pela autoridade fazendária, e se agiu na convicção e certeza de que seus atos tinham determinado perfil legalmente protegido que levava ao enquadramento em regime ou previsão legalmente mais favorável não se trata de caso regulado pelo inciso II do artigo 44, mas sim de divergência de qualificação jurídica dos fatos; hipótese completamente distinta da fraude a que se refere o dispositivo. A multa agravada só tem cabimento se o elemento subjetivo do tipo for a fraude no sentido de enganar, esconder, iludir etc. Hipóteses de razoável e justificável divergência de qualificação jurídica não configuram a "fraude" a que se refere o incido II. Fl. 216DF CARF MF 14 Poderão em tese configurar fraude civil ou fraude à lei, mas esta não está alcançada pelo inciso II. (grifamos) Além disso, o artigo 112 do Código Tributário Nacional é claro ao dispor que " A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpretase da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto à capitulação legal do fato". Em face do exposto, entendo que a multa agravada deverá ser reduzida para o percentual de 75%; 6) DA CORRETA APLICAÇÃO DA MULTA PUNITIVA. Por fim, alega a Recorrente que, se alguma multa de mora fosse aplicada esta deveria ser a multa de 20% previta no artigo 61 da Lei nº 9.430/96. Nesse ponto, entendo correta a alegação do Recorrente. Conforme consta do voto do Conselheiro Martin da Silva Gesto, proferido na decisão constante do Acórdão 2202 003.445: Na data da ocorrência do fato gerador das contribuições sociais em questão, qualquer outro dispositivo que dispunha sobre normas punitivas aplicas à falta ou ao atraso do seu recolhimento, ou seja, não incidia sobre tais infrações multa de ofício. Assim, o atraso ou não pagamento das contribuições era punido única e exclusivamente pela multa de mora, cujo percentual variava segundo o momento do adimplemento. Somente há que se falar em aplicação de multa de ofício aos fatos geradores ocorridos após a vigência da MP nº 449/08, a qual acrescentou a Lei nº 8.212/91 o art. 35A que prevê expressamente que nos casos de lançamento de ofício das contribuições sociais previstas no art. 11 do mesmo diploma aplicarseá o disposto no art. 44 da Lei nº 9.430/96 multa de ofício de 75%, podendo esta ser majorada a 150% caso ocorram as hipóteses de qualificação. Desse modo, antes da edição da Medida Provisória nº 449/08, aos fatos geradores que ensejavam aplicação de penalidade pelo atraso ou pelo não pagamento das contribuições sociais aplicavase multa de mora em percentual que variava, conforme data do efetivo pagamento, de 24% à 100% (art. 35, II e III da Lei 8.212/91 com redação anterior à Lei nº 10.941/09); Após a Medida Provisória nº 449/08, nos termos do art. 61, a multa de mora é única e fixada em trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso, limitada ao percentual de 20% (art. 61 da Lei nº 9.430/96). Em face do exposto, dou provimento ao recurso para reduzir a multa para 0,33%, por dia de atraso, limitada ao percentual de 20% (art. 61 da Lei nº 9.430/96). 7) DA EXCLUSÃO DA MULTA POR OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA (CFL 38) A autoridade fiscal lançou, também, no AI DEBCAD nº 51.015.5375 a multa por ter a empresa apresentado livro Diário, referente ao ano de 2010, sem o cumprimento das formalidades legais exigidas. Tratase, no caso, de infração formal que não possui qualquer nexo de causalidade com a obrigação principal. Sendo assim, ainda que seja provido o recurso deverá ser mantida. Fl. 217DF CARF MF Processo nº 18088.720063/201271 Acórdão n.º 2202004.020 S2C2T2 Fl. 211 15 8) CONCLUSÃO Em face de todo o exposto, dou parcial provimento ao Recurso Voluntário para manter apenas a multa por descumprimento de obrigação acessória (CFL 38). (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio. Fl. 218DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.001475/2009-17
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 05 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Aug 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2004 a 31/12/2004
AUTO DE INFRAÇÃO. OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. DECADÊNCIA. RESP Nº 973.733/SC . SÚMULA CARF Nº 99.
O § 2º do art. 62 do RICARF obriga a utilização da regra do REsp nº 973.733 - SC, decidido na sistemática do art. 543-C do Código de Processo Civil/1973, o que faz com que a ordem do art. 150, §4o, do CTN, deva ser adotada nos casos em que o sujeito passivo antecipar o pagamento e não for comprovada a existência de dolo, fraude ou simulação, prevalecendo os ditames do art. 173 nas demais situações.
Para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, § 4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração.
VALE TRANSPORTE EM PECÚNIA. SÚMULA CARF Nº 89.
A contribuição social previdenciária não incide sobre valores pagos a título de vale-transporte, mesmo que em pecúnia.
Numero da decisão: 2202-004.033
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, acolher a decadência do lançamento nos períodos 01/2004 a 11/2004, inclusive; conhecer em parte do recurso e, na parte conhecida, dar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente
(assinado digitalmente)
Marcio Henrique Sales Parada - Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Fernanda Melo Leal, Denny Medeiros da Silveira, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Marcio Henrique Sales Parada.
Nome do relator: MARCIO HENRIQUE SALES PARADA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/2004 a 31/12/2004 AUTO DE INFRAÇÃO. OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. DECADÊNCIA. RESP Nº 973.733/SC . SÚMULA CARF Nº 99. O § 2º do art. 62 do RICARF obriga a utilização da regra do REsp nº 973.733 SC, decidido na sistemática do art. 543C do Código de Processo Civil/1973, o que faz com que a ordem do art. 150, §4o, do CTN, deva ser adotada nos casos em que o sujeito passivo antecipar o pagamento e não for comprovada a existência de dolo, fraude ou simulação, prevalecendo os ditames do art. 173 nas demais situações. Para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, § 4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração. VALE TRANSPORTE EM PECÚNIA. SÚMULA CARF Nº 89. A contribuição social previdenciária não incide sobre valores pagos a título de valetransporte, mesmo que em pecúnia. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, acolher a decadência do lançamento nos períodos 01/2004 a 11/2004, inclusive; conhecer em parte do recurso e, na parte conhecida, darlhe provimento. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 00 14 75 /2 00 9- 17 Fl. 388DF CARF MF Processo nº 16327.001475/200917 Acórdão n.º 2202004.033 S2C2T2 Fl. 389 2 Marco Aurélio de Oliveira Barbosa – Presidente (assinado digitalmente) Marcio Henrique Sales Parada Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Fernanda Melo Leal, Denny Medeiros da Silveira, Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto e Marcio Henrique Sales Parada. Relatório Este processo já foi submetido à análise desta Turma de Julgamento, por ocasião da Resolução nº 2202000.645, de 16 de fevereiro de 2016, quando foi decidido converter o julgamento em diligência. Daquele relatório (fl. 327), colho o seguinte: Tratase de Recurso Voluntário, interposto pela Recorrente contra Acórdão nº 1625.900 11ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento de São Paulo I SP que julgou procedente a autuação por descumprimento de obrigação principal, Auto de Infração de Obrigação Principal – AIOP nº. 37.265.8946 (parte Terceiros). O crédito previdenciário se refere às contribuições previdenciárias destinadas a outras entidades conveniadas Terceiros ( FNDE e INCRA), não recolhidas e não declaradas em Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social — GFIP, incidentes sobre pagamentos a título de Participação nos Lucros ou Resultados — PLR, e Vale Transporte, em desacordo com a legislação específica., nas competências 01/2004 a 12/2004. Em seu voto, esclareceu o Relator, ainda, que: O período objeto do auto de infração conforme o Relatório Discriminativo do Débito DD é de 01/2004 a 12/2004. A Recorrente teve ciência do auto de infração em 31.12.2009, às fls. 01. A Recorrida analisou a autuação e a impugnação, julgando procedente a autuação, nos termos do Acórdão nº 1625.900 11ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento de São Paulo I SP. Observase que a decisão de primeira instância adotou o critério decadencial do art. 173, I, CTN, de forma a que não houve o reconhecimento de decadência. Ainda, a Recorrente atravessou petição nos autos, anexando cópias de Guias de Recolhimentos GPS de janeiro a dezembro de Fl. 389DF CARF MF Processo nº 16327.001475/200917 Acórdão n.º 2202004.033 S2C2T2 Fl. 390 3 2004, às fls. 194 a 261, requerendo a aplicação decadencial do art. 150, § 4º, CTN, bem como da Súmula CARF 99 e do entendimento do STJ no REsp 973.733. Conforme o protocolo do CARF de 09.12.2015, às fls. 285, o contribuinte atravessa Petição nos autos, informando que os débitos relativos à competência 12/2004 foram quitados e requerendo desistência parcial do Recurso Voluntário apenas para a competência 12/2004, permanecendo a discussão administrativa em relação à decadência das demais competências. O contribuinte anexou, às fls. 296, a cópia da GPS, competência 12/2004: (...) Entendeuse, porém, pela necessidade de confirmação dos recolhimentos, nos seguintes termos: ... a unidade da Receita Federal do Brasil de jurisdição do contribuinte verifique e informe conclusivamente a este E. Conselho, observandose a abertura de prazo de 30 dias para Manifestação do contribuinte, com vistas ao contraditório e à ampla defesa: (i) se nos sistemas informatizados da Receita Federal do Brasil, como por exemplo o PLENUS/CCOR, em quais competências, entre 01/2004 a 12/2004, há o registro de recolhimentos relativos à contribuição social previdenciária feitos pela Recorrente. (ii) se, em relação ao recolhimento feito na competência 12/2004, com cópia da GPS às fls. 296, este recolhimento é suficiente para afastar a tributação incidente na competência 12/2004. (iii) se há processo judicial na qual a Recorrente seja parte, por qualquer modalidade processual, com o mesmo objeto do presente processo administrativofiscal. A diligência foi cumprida, anexandose nas fls. 337 e seguintes a Informação Fiscal DICAT/DEINF, de 13 de maio de 2016. Regularmente intimado, o contribuinte manifestouse nas fls. 350 e seguintes. É o relatório. Voto Conselheiro Marcio Henrique Sales Parada, Relator. O recurso é tempestivo, conforme relatado, e, atendidas as demais disposições legais, dele tomo conhecimento. Fl. 390DF CARF MF Processo nº 16327.001475/200917 Acórdão n.º 2202004.033 S2C2T2 Fl. 391 4 A numeração de folhas a que me refiro é a existente no processo digital, após a transformação em arquivo magnético (eprocesso). Conforme destacado no relatório, tratamos aqui de duas infrações: I pagamento de PLR em desacordo com as determinações legais e II pagamento de Vale Transporte em pecúnia. Os períodos onde foram apuradas as infrações encontramse discriminados no demonstrativo de débito de fl. 06 e ss. e estendemse de 01 a 12/2004. Considerando que a ciência do Auto de Infração deuse em 31/12/2009 (fl.02), o contribuinte vem, desde a impugnação, requerendo que seja reconhecida a decadência do lançamento. DECADÊNCIA. Em matéria de decadência, este CARF vem aplicando o entendimento do REsp 973.733/SC, da seguinte forma, explicitada em recente decisão da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF): Acórdão 9202005.380, de 25 de abril de 2017. Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/05/1995 a 31/12/2004 CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. DECADÊNCIA. TRIBUTOS LANÇADOS POR HOMOLOGAÇÃO. MATÉRIA DECIDIDA NO STJ NA SISTEMÁTICA DO ART. 543C DO CPC. COMPROVAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. REGRA DO ART. 150, §4o., DO CTN. O § 2º do art. 62 do RICARF obriga a utilização da regra do REsp nº 973.733 SC, decidido na sistemática do art. 543C do Código de Processo Civil, o que faz com que a ordem do art. 150, §4o, do CTN, só deva ser adotada nos casos em que o sujeito passivo antecipar o pagamento e não for comprovada a existência de dolo, fraude ou simulação, prevalecendo os ditames do art. 173 nas demais situações. SÚMULA CARF nº 99. Para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, § 4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração. No presente caso, existe, nos autos, evidência de recolhimento antecipado para algumas das competências lançadas, devendose assim aplicar, para fins de reconhecimento de eventual decadência dessas competências, o disposto no citado art. 150, § 4°, do CTN, mantendose a regra geral, insculpida no art. 173, I, do CTN para as demais competências. (destaquei) Fl. 391DF CARF MF Processo nº 16327.001475/200917 Acórdão n.º 2202004.033 S2C2T2 Fl. 392 5 No Relatório Fiscal que consta das folhas 14 e seguintes, nada se caracteriza quanto à ocorrência de dolo, fraude ou simulação. Após a conversão do julgamento em diligência, atestou a Unidade de origem em sua Informação (fl. 343) que: Acusamos porém a existência de recolhimentos de bases de cálculo diferente das citadas acima através da consulta ao contacorrente do estabelecimento, visualizadas através das telas CCOR do sistema AGUIA juntadas sob fls. 1312 a 1342, do processo 16327.001473/200928, em todo o período compreendido entre JAN/2004 e DEZ/2004, as quais apresentam detalhadamente a quantidade de documentos recolhidos e discriminando o valor e a data de pagamento de cada documento por competência. Desta feita, inocorrendo dolo, fraude ou simulação e havendo pagamento antecipado para todo o período lançado, ainda que em rubricas distintas, é de ser aplicado o artigo 150, § 4º do CTN, para a contagem do prazo decadencial, conforme REsp 973.733/SC (STJ) e Súmula CARF nº 99. Tendo em conta que a ciência do lançamento deuse somente em 31/12/2009, estariam alcançados pela decadência todos os períodos até 11/2004, inclusive. MÉRITO Restando a ser analisada, então, somente a competência 12/2004, temos que o contribuinte desistiu parcialmente do recurso em relação à infração que diz respeito ao pagamento de PLR (fl. 314), nos seguintes termos, conforme registrado na Informação Fiscal supracitada: Foram confirmados os recolhimentos efetuados no valor de R$ 2.790,16 ( AIOP nº 37.265.7133 – 16327.001473/200928), R$ 1.256,08 (AIOP nº 37.265.8938 – 16327.001474/200972) e R$ 320,57 ( AIOP nº 37.265.8946 – 16327.001475/200917) todos efetuados em 30/10/2015 para a competência DEZ/2004, mas somente para os lançamentos decorrentes da base de cálculo “Participação nos Lucros e Resultados – PLR” como informado pelo contribuinte, através das telas do sistema AGUIA de fls. 1348 a 1351 do processo 16327.001473/200928 ( AIOP nº 37.265.713 3 – 16327.001473/200928), fls. 1359 e 1360, do processo 16327.001473/200928 (AIOP nº 37.265.8938 – 16327.001474/200972) e fls. 1361 e 1362, do processo 16327.001473/200928 (AIOP nº 37.265.8946 – 16327.001475/200917). Informamos que estes pagamentos forma alterados para que pudessem ser apropriados aos respectivos DEBCAD, após a verificação por meio de planilhas de cálculo anexas da correta atualização dos valores lançados para a data do pagamento, isto é, dia 30/10/2015. Através das telas do sistema SICOB constatamos que os pagamentos foram suficiente para quitar apenas os lançamentos de correntes da base de cálculo “Participação nos Lucros e Resultados – PLR” da competência Fl. 392DF CARF MF Processo nº 16327.001475/200917 Acórdão n.º 2202004.033 S2C2T2 Fl. 393 6 DEZ/2004, permanecendo ativos os lançamentos decorrentes da base de cálculo “ValeTransporte” da competência DEZ/2004 nos três débitos citados, portanto não sendo suficientes para afastar a tributação incidente na competência DEZ/2004. (destaquei) Sobra, portanto, a questão da infração relativa ao pagamento de Vale Transporte em pecúnia, para a competência não alcançada pela decadência (12/2004). Citese, então, a Súmula CARF nº 89: Súmula CARF nº 89: A contribuição social previdenciária não incide sobre valores pagos a título de valetransporte, mesmo que em pecúnia. Anoto, por fim, que em relação ao terceiro item da diligência, sobre a existência de ação judicial com o mesmo objeto do processo administrativo, não se teve notícia e o contribuinte disse, em sua resposta, que de fato não há. Não consta notícia de qualquer tipo de ação judicial impetrada pelo contribuinte com o mesmo objeto dos processos administrativos AIOP nº 37.265.7133 – 16327.001473/200928; AIOP nº 37.265.8938 – 16327.001474/200972; AIOP nº 37.265.8946 – 16327.001475/200917; AI nº 37.265.8954 – 16327.001476/200961; AI nº 37.265.8962 – 16327.001477/200914; AI nº 37.265.8970 – 16327.001478/200951; e AI nº 37.265.7125 – 16327.001479/200903, (...) CONCLUSÃO Pelo exposto, VOTO por reconhecer a decadência do lançamento nos períodos 01/2004 a 11/2004, inclusive. Em relação à infração atinente ao pagamento de participação nos lucros e resultados (PLR), houve desistência parcial do recurso e pagamento relativo à competência 12/2004. Em relação à infração atinente ao pagamento de vale transporte, relativa à competência 12/2004, não incide contribuição previdenciária, nos termos da Súmula CARF nº 89. Assim, no mérito, VOTO por dar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Marcio Henrique Sales Parada Fl. 393DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19515.003733/2008-90
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 04 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Aug 18 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/1996 a 31/12/1998
DECADÊNCIA. SÚMULA VINCULANTE. STF.
Com a declaração de inconstitucionalidade do artigo 45 da Lei nº 8.212/91, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da Súmula Vinculante nº 8, publicada no Diário Oficial da União em 20/06/2008. o lapso de tempo de que dispõe a Secretaria da Receita Federal do Brasil para constituir os créditos relativos às contribuições previdenciárias e as destinadas a terceiras entidades mencionadas nos artigos 2º e 3º da Lei nº 11.457/07 será regido pelo Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/66).
Numero da decisão: 2202-004.018
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício.
(Assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa- Presidente.
(Assinado digitalmente)
Júnia Roberta Gouveia Sampaio - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Denny Medeiros da Silveira, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal.
Nome do relator: JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício. (Assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa- Presidente. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio - Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Denny Medeiros da Silveira, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal.
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SÚMULA VINCULANTE. STF. Com a declaração de inconstitucionalidade do artigo 45 da Lei nº 8.212/91, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da Súmula Vinculante nº 8, publicada no Diário Oficial da União em 20/06/2008. o lapso de tempo de que dispõe a Secretaria da Receita Federal do Brasil para constituir os créditos relativos às contribuições previdenciárias e as destinadas a terceiras entidades mencionadas nos artigos 2º e 3º da Lei nº 11.457/07 será regido pelo Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/66). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício. (Assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Sales Parada, Rosy Adriane da Silva Dias, Denny Medeiros da Silveira, Dílson Jatahy Fonseca Neto, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Martin da Silva Gesto e Fernanda Melo Leal. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 37 33 /2 00 8- 90 Fl. 2352DF CARF MF 2 Relatório Tratase de Notificação Fiscal de Lançamento de Débito NFLD nº 37.012.3956, de 13/12/2006, relativa às contribuições sociais devidas pela empresa sobre a remuneração de segurados empregados e contribuintes individuais, de acordo com o Relatório Fiscal de fls. 877/844, vol. 3. O lançamento incidiu sobre as seguintes bases de cálculo: a) Salário dos empregados: Relação Anual de Informações Sociais RAIS, em razão da não apresentação das folhas de pagamento, ocorrendo a situação prevista no art. 33, §3°, da Lei n.° 8212/91, c/c o art. 233 do Regulamento da Previdência Social aprovado pelo Decreto n.° 3048/99 (arbitramento); b) Prolabore de diretores não empregados: Livros Razão; c) Remuneração de contribuintes individuais: Livros Razão, listagens de pagamentos elaboradas pela empresa e depósitos judiciais. Em sua Impugnação (fls. 1103/1145, vol. 4) a contribuinte alegou, resumidamente, que: a) A aferição pela RAIS não se justifica,uma vez que as folhas de pagamento foram apresentadas, servindo, inclusive, de base à lavratura do Auto de Infração nº 35.718.660 5; b) O Auditor Fiscal não considerou o fato de a empresa ter para a matriz e grande maioria das filiais convênio com o FNDE para recolhimento do Salário Educação. c) não foi incluído como base de cálculo o valor referente à participação nos lucros e resultados; d) não foi deduzido como crédito da Impugnante os valores pagos à título de salário família e salário maternidade; e) não considerou a compensação, no estabelecimento matriz, no período de 01/1998 a 09/1998, de valores recolhidos indevidamente sobre remuneração de autônomos e administradores no período de 09/1989 a 07/1991, com amparo em ação judicial; e f) a fiscalização não apropriou todo o valor do recolhimento efetuado pela Impugnante. g) No período de 01/1999 a 02/2000, o Auditor Fiscal não observou a faculdade de a Impugnante recolher a contribuição sobre a remuneração de administradores e autônomos pela alíquota de 20% sobre a classe do saláriobase, conforme Lei Complementar nº 84/96, Decreto nº 1826 e Ordem de Serviço 151/96. Ainda em relação aos lançamentos sobre remunerações de contribuintes individuais alega que há erro no lançamento para a competência 06/1996; i) o recolhimento da contribuição sobre os honorários da diretoria foi feito em guia apartada, em valores suficientes, sendo injustificados os valores exigidos. Além disso, foi incluído como remuneração valores relativos a provisões de gratificação dos diretores. Fl. 2353DF CARF MF Processo nº 19515.003733/200890 Acórdão n.º 2202004.018 S2C2T2 Fl. 2.353 3 j) As contribuições incluídas no lançamento foram fulminadas pela decadência, estando extintas seja por força do §4º do artigo 150 ou do inciso I do artigo 173 do Código Tributário Nacional. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo (SP) deu provimento à Impugnação em decisão cuja ementa é a seguinte: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS. Período de apuração: 01/01/1996 a 31/12/1998 Ementa: DECADÊNCIA. SÚMULA VINCULANTE. STF Com a declaração de inconstitucionalidade do artigo 45 da Lei nº 8.212/91, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da Súmula Vinculante nº 8, publicada no Diário Oficial da União em 20/06/2008. o lapso de tempo de que dispõe a Secretaria da Receita Federal do Brasil para constituir os créditos relativos às contribuições previdenciárias e as destinadas a terceiras entidades mencionadas nos artigos 2º e 3º da Lei nº 11.457/07 será regido pelo Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/66) Lançamento Improcedente. É o Relatório Voto Conselheira Junia Roberta Gouveia Sampaio Relatora Como corretamente observado pela decisão recorrida, trata o presente recurso de matéria submetida à Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal. O lançamento discutido nesses autos foi formalizado com fundamento no artigo 45 da Lei nº 8.212/91. Entretanto, na sessão de 12/06/2008, o Supremo Tribunal Federal STF editou a Súmula Vinculante nº 8, publicada no Diário da Justiça DJ e no Diário Ofícial da União DOU de 20/06/2006, cuja redação é a seguinte: São inconstitucionais o parágrafo único do DecretoLei nº 1569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/91, que tratam da prescrição e decadência do crédito tributário. De acordo com artigo 2º da Lei nº 11.417/06 (que regulamentou o artigo 103 A da Constituição Federal) as súmulas vinculantes são de observância obrigatória pela Administração Pública, nestes termos: Art. 2o O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, editar enunciado de súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e Fl. 2354DF CARF MF 4 municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma prevista nesta Lei. Sendo assim, a partir do reconhecimento da inconstitucionalidade do prazo de 10 anos previsto no art.45 da Lei nº 8.212, por meio de súmula vinculante, o prazo para o lançamento das contribuições previdenciárias passou a ser o prazo qüinqüenal previsto no artigo 150, §4º do CTN, uma vez que, no presente caso, houve pagamento antecipado (ainda que parcial) de contribuições previdenciárias em todas as competências para todos os estabelecimentos. Os referidos recolhimentos podem ser vistos no DAD Discriminativo Analítico do Débito (fls. 004/207, vol. 1). A constituição do presente crédito foi formalizada em 13/12/2006. Dessa forma, nos termos do art. 150, §4º do CTN, na data do lançamento, poderiam ter sido constituídos créditos tributários cujos fatos geradores ocorreram a partir da competência 12/2001. Sendo assim, todas as competências incluídas no presente lançamento (de 1996 a 12/1998) encontramse atingidas pela decadência, estando extinto o crédito a elas relativo, nos termos do inciso V do art. 156 do CTN. Em face do exposto, nego provimento ao Recurso de Ofício. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio. Fl. 2355DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10630.721012/2009-55
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2004, 2005
Ementa:
NULIDADE DO LANÇAMENTO. PRETERIÇÃO DO DIREITO DE DEFESA. FISCALIZAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA.
O procedimento de fiscalização é eminentemente inquisitorial, de sorte que não é obrigatório - salvo nos casos específicos reservados em Lei - reservar ao fiscalizado a oportunidade do contraditório e da ampla defesa. O direito de defesa se inaugura, propriamente dito, quando do início do processo administrativo, i.e., com a intimação do lançamento e a abertura do prazo para a Impugnação.
IMPOSTO SOBRE A RENDA. PESSOA FÍSICA. EQUIPARAÇÃO A PESSOA JURÍDICA. REQUISITOS E VEDAÇÕES LEGAIS.
Para fins tributários, independente de registro ou não, é possível equiparar a empresas individuais as pessoas físicas que, em nome individual, explorem qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de lucro, mediante venda a terceiros de bens ou serviços. Necessário, para tanto, a demonstração da atuação habitual e profissional, além de inexistência de vedação à atividade.
DEPÓSITO BANCÁRIO. PRESUNÇÃO RELATIVA ESTABELECIDA POR LEI.
A Lei nº 9.430/1996 estabelece, em seu art. 42, uma presunção relativa de omissão de rendimentos quando, identificados depósitos bancários em favor do sujeito passivo, e previamente intimado, este não é capaz de apresentar provas da origem dos mesmos. Inaplicável, nesses casos, o art. 6º da Lei nº 8.021/1990.
Numero da decisão: 2202-003.828
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso para excluir da base de cálculo os valores de R$ 101.628,99 do ano-calendário 2004 e R$ 95.918,59 do ano-calendário 2005.
(assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa
(assinado digitalmente)
Dilson Jatahy Fonseca Neto - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar e Marcio Henrique Sales Parada.
Nome do relator: Relator
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 2004, 2005 Ementa: NULIDADE DO LANÇAMENTO. PRETERIÇÃO DO DIREITO DE DEFESA. FISCALIZAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. O procedimento de fiscalização é eminentemente inquisitorial, de sorte que não é obrigatório - salvo nos casos específicos reservados em Lei - reservar ao fiscalizado a oportunidade do contraditório e da ampla defesa. O direito de defesa se inaugura, propriamente dito, quando do início do processo administrativo, i.e., com a intimação do lançamento e a abertura do prazo para a Impugnação. IMPOSTO SOBRE A RENDA. PESSOA FÍSICA. EQUIPARAÇÃO A PESSOA JURÍDICA. REQUISITOS E VEDAÇÕES LEGAIS. Para fins tributários, independente de registro ou não, é possível equiparar a empresas individuais as pessoas físicas que, em nome individual, explorem qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de lucro, mediante venda a terceiros de bens ou serviços. Necessário, para tanto, a demonstração da atuação habitual e profissional, além de inexistência de vedação à atividade. DEPÓSITO BANCÁRIO. PRESUNÇÃO RELATIVA ESTABELECIDA POR LEI. A Lei nº 9.430/1996 estabelece, em seu art. 42, uma presunção relativa de omissão de rendimentos quando, identificados depósitos bancários em favor do sujeito passivo, e previamente intimado, este não é capaz de apresentar provas da origem dos mesmos. Inaplicável, nesses casos, o art. 6º da Lei nº 8.021/1990.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso para excluir da base de cálculo os valores de R$ 101.628,99 do ano-calendário 2004 e R$ 95.918,59 do ano-calendário 2005. (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (assinado digitalmente) Dilson Jatahy Fonseca Neto - Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar e Marcio Henrique Sales Parada.
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PRETERIÇÃO DO DIREITO DE DEFESA. FISCALIZAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. O procedimento de fiscalização é eminentemente inquisitorial, de sorte que não é obrigatório salvo nos casos específicos reservados em Lei reservar ao fiscalizado a oportunidade do contraditório e da ampla defesa. O direito de defesa se inaugura, propriamente dito, quando do início do processo administrativo, i.e., com a intimação do lançamento e a abertura do prazo para a Impugnação. IMPOSTO SOBRE A RENDA. PESSOA FÍSICA. EQUIPARAÇÃO A PESSOA JURÍDICA. REQUISITOS E VEDAÇÕES LEGAIS. Para fins tributários, independente de registro ou não, é possível equiparar a empresas individuais as pessoas físicas que, em nome individual, explorem qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de lucro, mediante venda a terceiros de bens ou serviços. Necessário, para tanto, a demonstração da atuação habitual e profissional, além de inexistência de vedação à atividade. DEPÓSITO BANCÁRIO. PRESUNÇÃO RELATIVA ESTABELECIDA POR LEI. A Lei nº 9.430/1996 estabelece, em seu art. 42, uma presunção relativa de omissão de rendimentos quando, identificados depósitos bancários em favor do sujeito passivo, e previamente intimado, este não é capaz de apresentar provas da origem dos mesmos. Inaplicável, nesses casos, o art. 6º da Lei nº 8.021/1990. AC ÓR Dà O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 63 0. 72 10 12 /2 00 9- 55 Fl. 2296DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso para excluir da base de cálculo os valores de R$ 101.628,99 do anocalendário 2004 e R$ 95.918,59 do anocalendário 2005. (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (assinado digitalmente) Dilson Jatahy Fonseca Neto Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar e Marcio Henrique Sales Parada. Relatório Tratase, em breves linhas, de auto de infração lavrado em desfavor do recorrente para constituir IRPF, identificando como infração a omissão de rendimentos. Tendo o Contribuinte impugnado, a DRJ manteve parcialmente o crédito constituído. Insatisfeito, o Contribuinte interpôs Recurso Voluntário que levou o CARF a converter o julgamento em diligência. Realizada esta, retornam os autos para continuidade do julgamento. Feito o resumo da lide, passamos ao relatório pormenorizado dos autos. Tendo em vista que o processo retorna de diligência, aproveito o relatório da Resolução CARF nº 2202000.705, de 13/07/2016, no que couber. "Em 20/11/2009 foi lavrado auto de infração (fls. 4/14 e docs. fls. 15/32) em desfavor do Contribuinte, ora recorrente, para constituir IRPF no valor de R$ 1.513.814,06, além de juros e multa de 150%. Foi identificada como infração "OMISSÃO DE RENDIMENTOS CARACTERIZADA POR DEPÓSITOS BANCÁRIOS COM ORIGEM NÃO COMPROVADA". Conforme o Relatório de Autoria Fiscal (fls. 33/39): · A fiscalização tributária decorreu de ordem judicial proferida em investigação criminal instaurada pelo Ministério Público, na qual ocorreu a quebra do sigilo bancário e fiscal do Contribuinte; · Que, intimado pela DRF, o próprio Contribuinte apresentou alguns extratos bancários; Fl. 2297DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.297 3 · Que, tendo intimado o Contribuinte a apresentar os documentos comprobatórios dos créditos e débitos, e uma vez que este reiteradamente pedisse dilação do prazo alegando burocracia dos bancos, foram emitidas RMFs diretamente às instituições financeiras. Estas apresentaram então parte dos documentos solicitados; · De posse das informações supra, a autoridade fazendária circularizou a fiscalização, intimando as pessoas (físicas e jurídicas) que fizeram depósitos nas contas do recorrente para comprovar a origem de tais transações; · Conforme a DRF: (i) mais de 30% das intimações postais com AR foram devolvidas, informando que os destinatários não foram encontrados nos endereços cadastrais da RFB; (ii) das pessoas que foram encontradas, apenas uma parte respondeu; (iii) das pessoas que responderam, muitos apresentaram informações inconclusivas, alegando não conhecer o recorrente, que não tinha feito negócios com ele ou que não se recordava a causa do depósito; enfim, (iv) dos demais, nenhuma documentação comprobatória foi apresentada; · Que, diante da falta de documentação por parte do sujeito passivo e dos depositantes circularizados, foi necessário lançar os recursos como rendimentos omitidos; e · Que a multa foi qualificada nos termos do art. 44, §1º, da Lei nº 9.430/1996 c/c arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/1964. Intimado do lançamento em 24/11/2009 (926), o Contribuinte impugnou o lançamento em 23/12/2009 (fls. 931/955 e docs. anexos fls. 1.021/2.2341). A DRJ, por sua vez, analisando a lide, proferiu o acórdão nº 0928.702, de 19/03/2010 (fls. 960/987), que restou assim ementado: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2005, 2006 PRELIMINAR. MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA. REQUISIÇÃO ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. As informações referentes à movimentação bancária do contribuinte podem ser obtidas pelo Fisco junto às instituições financeiras, no âmbito de procedimento de fiscalização em curso, não se constituindo em quebra de 1 Anotase que, a despeito da aparente desordem dos autos, às fls. 1.022 consta "Termo de abertura de anexo" e à fl. 2.235 consta "Termo de encerramento de anexo", ambos datados de 28/12/2009. Considerando que a Impugnação foi protocolada em 23/12/2009, mas o Recurso Voluntário foi juntado apenas em 17/05/2010, é necessário concluir que a documentação juntada aos autos nos anexos foi apresentada com a Impugnação e não com o Recurso Voluntário. Fl. 2298DF CARF MF 4 sigilo bancário a identificação dos depositantes dos recursos nas contas do autuado. PRELIMINAR. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. Pelos elementos constantes dos autos, fica sem fundamento a alegação de cerceamento do direito de defesa, na medida em que o interessado, tanto na fase de autuação, quanto na fase impugnatória, teve oportunidade de carrear aos autos documentos, informações, esclarecimentos, no sentido de elidir a tributação contestada. FIRMA INDIVIDUAL. CORRETOR. As pessoas físicas que individualmente explorem a atividade de corretor ou a prestação de serviços não comerciais não estão, nos termos da legislação do imposto de renda, equiparadas às pessoas jurídicas. Em função disso, ainda que tivesse o contribuinte inscrito no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica CNPJ, estaria sujeito ao regime de tributação próprio das pessoas físicas. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. Caracterizam omissão de rendiemntos, por presunção legal, os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida em instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física, regularmente intimado, não comprovar, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. DEPÓSITOS. DATAS E VALORES. ANÁLISE INDIVIDUALIZADA. Para efeito de determinação da receita omitida, os depósitos serão analisados individualmente, na forma do artigo 42, §³º, da Lei nº 9.430/1996. Logo, na hipótese de contribuinte atuando como corretor de imóveis, para ele seja tributado somente em relação à comissão percebida por tais operações, deve apresentar não só documentação comprobatória desses negócios jurídicos, mas correlacioná las com os depósitos efetuados, de modo que possa ser tributado apenas na quantia relativa à comissão do intermediário corretor de imóveis. RENDIMENTOS DA ATIVIDADE RURAL. RENDIMENTOS PRÓLABORE. Comprovado que os rendimentos da atividade rural, bem como as retiradas prólabore foram devidamente consideradas pela autoridade fiscal como origem de recursos, nenhum repare cabe ao feitio. MULTA QUALIFICADA. Se as provas carreadas aos autos pelo fisco evidenciam a intenção dolosa de evitar a ocorrência do fato gerador, por dois anos consecutivos de forma reiterada, cabe a aplicação Fl. 2299DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.298 5 da multa qualificada, ainda que o dispositivo legal utilizado para fundamentar o lançamento seja uma presunção legal. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte. Intimado dessa decisão em 19/04/2010 (fl. 990), ainda insatisfeito, o Contribuinte interpôs recurso voluntário (fls. 992/1.015 e doc. fls. 1.016/1.018) em 17/05/2010 (fls. 1.020). As suas razões de pedir podem ser assim resumidas: Preliminares: · Que a autoridade fiscalizadora extrapolou sua competência ao emitir RMF requisitando a identificação dos depositantes, e não apenas os extratos bancários; · Que a fiscalização foi feita de forma parcial, deixando de ser juntado aos autos diversos documentos importantes, tais como os ARs negativos, e que não foi garantido ao Contribuinte o efetivo direito de defesa; Mérito: · Que a tributação deveria ter sido realizada como pessoa jurídica, uma vez que o recorrente está cadastrado como microempresa, no CNPJ nº 71.349.013/000119; que mantém empregados registrados; que recolhe tributos municipais e estaduais; que exerce atividade de corretor de imóveis, administrador de imóveis e de compra e venda de gado, e ainda agenciava viagens de turismo; · Que, devendo ser equiparado a pessoa jurídica, e à falta de escrituração contábil, deve ser arbitrado o seu lucro para fins de IRPJ, não sendo possível tributar todos os valores depositados como rendimentos da pessoa física; · Ainda que não seja equiparado à pessoa jurídica, que não pode ser feito o lançamento sobre a integralidade dos recursos depositados, sendo necessário identificar o montante do numerário que se converteu em patrimônio ou que tenha sido consumido, nos termos do art. 6º da Lei nº 8.021/1990; · Que o Contribuinte juntou à impugnação documentos comprobatórios de diversos depósitos, mas que foram considerados insuficientes pela DRJ. Insiste, entretanto, na idoneidade deles para comprovar a origem dos recursos, reclamando que seja efetivamente analisada a documentação acostada aos autos; · Que, subsidiariamente, deve ser reduzida a multa qualificada, uma vez que o Contribuinte não agiu com dolo; no máximo, que agiu desorganizadamente em sua atividade comercial." fls. 2.237/2.240 Fl. 2300DF CARF MF 6 Chegando ao CARF, foi proferida a citada Resolução nº 2202000.705, de 13/07/2016, que determinou a conversão do julgamento em diligência para: "(...) que a autoridade fiscalizadora de origem, compulsando as provas juntadas pelo contribuinte em sede de impugnação, elabore tabela informando: · O valor dos alugueis, conforme os contratos juntados aos autos; · O valor das comissões, conforme informações disponíveis nos contratos ou nas tabelas apresentadas também pelo Contribuinte; · O valor comprovadamente transferido para os locadores; · O valor comprovadamente gasto pelo Contribuinte na administração dos imóveis (pela apresentação de notas fiscais e recibos de pagamento de contas de água, luz, de reforma, de obras e etc.);" fls. 2.250/2.251. A autoridade lançadora elaborou então as tabelas de fls. 2.253/2.265, compilando as informações constantes nos autos. Intimado em 20/12/2016 (fls. 2.271/2.272), o Contribuinte apresentou "Manifestação sobre os Resultados da Diligência Fiscal" (fls. 2.274/2.289), resumidamente insistindo nos termos do Recurso Voluntário e ressaltando que: · Que exercia atividade de intermediação em inúmeras espécies de comércio, especificamente agência de viagem, gado, veículos e café, recebendo o valor integral da mercadoria vendida e repassando aos verdadeiros vendedores o preço, "descontando sua mais valia, e declarandoa da DIRPF"; · Que a atividade era exercida no interior e, portanto, tipicamente informal; · Que a diligência não analisou os documentos referentes às outras atividades empresariais do recorrente, implicando na manutenção na base de cálculo de valores pertencentes a terceiros; · Que restou comprovada a atividade de corretagem, devendo ser tributado tão somente o valor das comissões; · Que restou comprovada a atividade compra e venda de gado, devendo tal atividade ser tributada por equiparação a pessoa jurídica e por arbitramento; É o relatório. Voto Conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto Relator Fl. 2301DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.299 7 O recurso voluntário é tempestivo e reúne os demais requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele conheço. Registrase que no voto apresentado na Resolução CARF nº 2202000.705, este Relator antecipou parte do seu entendimento, especificamente em relação às preliminares e ao arbitramento do rendimento. A realização da diligência não trouxe aos autos qualquer fato que levasse à alteração do seu posicionamento, portanto repetemse os mesmos fundamentos e conclusões expostos anteriormente. O mesmo pode ser dito em reação à equiparação a pessoa jurídica, no qual apenas complementamos mais análise probatória para chegar ao mesmo resultado. Preliminares: Das RMFs: Argumenta o Contribuinte que a autoridade fiscalizadora extrapolou sua competência ao emitir RMFs para que as instituições financeiras identificassem quem eram os depositantes dos valores creditados em sua conta, porquanto não teriam sido atendidos os requisitos dos incisos VII a XII do art. 3º, dado Decreto nº 3.724/2001. Conclui, portanto, que deve ser anulado o auto de infração ou, ao menos, que sejam retirados dos autos todos os documentos provenientes dessas RMFs. O Decreto nº 70.235/1972, que regula o processo administrativo fiscal em nível federal, discorre sobre as nulidades em seu art. 59: Art. 59. São nulos: I os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. (...) A verdade é que, no caso concreto o fato alegado pelo Contribuinte ainda que tenha razão não incorre em nenhuma das duas hipóteses elencadas: não foi lavrado por pessoa incompetente e não houve preterição do direito de defesa. Em verdade, as informações adquiridas por meio dessas RMFs não tiveram qualquer relevância para a constituição do IRPF, uma vez que os extratos bancários que deram fundamento à composição da base de cálculo foram apresentados pelo próprio Contribuinte. Portanto, não há como se reconhecer a nulidade do auto de infração. O Contribuinte apresenta pedido subsidiário, qual seja, que todos esses documentos decorrentes das RMFs sejam excluídos dos autos. Tal pedido poderia ser atendido, nos termos do art. 60 do Decreto nº 70.235/1972, se se restasse comprovado o vício do ato e prejuízo para o sujeito passivo: Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio. Fl. 2302DF CARF MF 8 Acontece que, in casu, não se observa qualquer prejuízo para o contribuinte, porquanto os dados obtidos como consequência das RMFs não seriam para embasar o lançamento. O TVF sequer utilizou tais documentos ou informações para embasar a qualificação da multa. Enfim, uma vez que não resultaram em prejuízo para o sujeito passivo, ainda que estejam eivados de vícios, irregularidades ou incorreções, não há porque excluir os documentos dos autos. Da parcialidade da fiscalização: Ainda em sede preliminar, o recorrente afirma que a autuação é nula porquanto não teriam sido observados os princípios da moralidade, da legalidade, e do devido processo legal no decorrer da fiscalização. Explica que a circularização da fiscalização foi indevida; que a autoridade fiscalizadora, apesar de ter realizado tal procedimento, não juntou boa parte da documentação gerada (tal como ARs negativos, documentos apresentados pelos terceiros intimados etc.); e que foram incluídos documentos suspeitos (declarações de terceiros, porém impressas em papel timbrado). Conforme já foi anotado acima, só é possível falar em nulidade do lançamento quando não forem atendidos os requisitos básicos do art. 10, do Decreto nº 70.235/1972, ou quando incorrer em uma das hipóteses do art. 59 do mesmo diploma. Ainda, quando a Lei exigir algum procedimento específico, como o faz o art. 42 da Lei nº 9.430/1996. In casu, os fatos alegados pelo contribuinte não vão de encontro a qualquer comando legal: a autoridade fiscalizadora tem o poder de circularizar a fiscalização, quando for necessário para a investigação dos fatos tributários; também, somente se exige a juntada aos autos dos elementos que entender necessários para lastrear o lançamento. Considerando que o tributo foi constituído exclusivamente com base nos extratos bancários fornecidos pelo próprio Contribuinte, a circularização e os documentos dali resultantes efetivamente são dispensáveis para o deslinde do julgamento. De qualquer forma, esse e.CARF já tem jurisprudência consolidada no sentido de que a fiscalização é processo inquisitivo. Entre outros: CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. FASE PREPARATÓRIA DO LANÇAMENTO. NATUREZA INQUISITIVA. CONTRADITÓRIO INEXISTENTE.O procedimento administrativo do lançamento é inaugurado por uma fase preliminar, oficiosa, de natureza eminentemente inquisitiva, na qual a autoridade fiscal promove a coleta de dados e informações, examina documentos, procede à auditagem de registros contábeis e fiscais e verifica a ocorrência ou não de fato gerador de obrigação tributária aplicandolhe a legislação tributária.Dada à sua natureza inquisitorial, tal fase de investigação não se submete ao crivo do contraditório nem da ampla defesa, direito reservados ao sujeito passivo somente após a ciência do lançamento, com o oferecimento de impugnação, quando então se instaura a fase contenciosa do procedimento fiscal. (acórdão CARF nº 2401004.165, de 18/02/2016) Fl. 2303DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.300 9 NULIDADE DO LANÇAMENTO. PRETERIÇÃO DO DIREITO DE DEFESA NO CURSO DA FISCALIZAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA.O procedimento de fiscalização é inquisitorial, vale dizer, transcorre sem que a autoridade fiscal esteja, em consequência do desenho do processo administrativo fiscal regido pelo Decreto nº 70.235/1972, sob qualquer constrição que a obrigue a reservar ao fiscalizado a oportunidade do contraditório e da ampla defesa. Os pedidos de esclarecimento mediante termo, no curso do procedimento de fiscalização, não decorrem da observância de um dever correspectivo a um direito individual de acesso aos fatos apurados pelo Fisco e de se manifestar sobre eles; decorrem, sim, da necessidade de reunir evidências que possibilitem aferir a legalidade dos atos praticados pelo fiscalizado ou terceiros. (acórdão CARF nº 1301002.018, de 04/05/2016) A característica inquisitorial do lançamento também é reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se observa pela ementa abaixo transcrita: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ARBITRAMENTO. AFERIÇÃO INDIRETA. IRREGULARIDADE NA ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL. REVISÃO. MATÉRIA FÁTICOPROBATÓRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7∕STJ. 1. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou, com base na prova dos autos, que "o procedimento administrativo tributário, antes da consumação do lançamento fiscal, é eminentemente inquisitório, já que o contribuinte deve apenas suportar os poderes de investigação do fisco e colaborar com a prestação de informações e documentos, justamente para que a verdade material seja alcançada. Após a notificação do contribuinte acerca do lançamento, abrese a possibilidade de contraditório e de ampla defesa, o que de fato foi oportunizado à empresa embargante. Conquanto esse momento seja próprio para que o contribuinte apresente as provas e os documentos hábeis a refutar os vícios e as falhas na contabilidade que ensejaram o arbitramento, a empresa, na via administrativa, não cumpriu com o seu ônus a contento. Tentou suprir a falha na via judicial, juntando a este processo balancetes mensais e GRPS, contudo, não é possível, pelo simples exame desses elementos de prova, constatar que a desconsideração da contabilidade da empresa resulta da simples escrituração errônea de alguns fatos contábeis" (fl. 627, eSTJ). 2. A revisão desse entendimento implica reexame de fatos e provas, obstado pelo teor da Súmula 7∕STJ. 3. Agravo Regimental não provido. (AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.445.477 – S, Relator: Ministro Herman Benjamin, DJ 24/06/2014) Fl. 2304DF CARF MF 10 Enfim, não é possível dar provimento ao pleito do Contribuinte, porquanto a atuação da autoridade fiscalizadora não extrapolou nem deixou de atender a quaisquer comandos legais. Mérito: Da equiparação à pessoa jurídica: O Contribuinte, ora recorrente, alega que exercia atividade comercial com fim lucrativo nos anoscalendário de 2004 e 2005. Inclusive, anota que possui registro perante a Receita Federal do Brasil como pessoa jurídica individual, na condição de microempresa, com o CNPJ nº 71.349.013/000119, esclarecendo que juntou inúmeras provas disso à sua impugnação. Enfim, afirma também que já havia prestado tal informação à autoridade fiscalizadora. Efetivamente, já em 17/04/2009 (fl. 43), quando o Contribuinte apresentou resposta ao Termo de Início de Fiscalização, identificouse como "produtor rural, corretor de imóveis e comerciante". Apresentou ainda Declaração de Produtor Rural (fls. 47/48), com notas fiscais de compra e venda de café e de gado (fls. 52/62 e 65/73), registros de veículos em seu nome (fls. 82/87), registros de compras e vendas de diversos imóveis em seu nome (fls. 88/108). A autoridade fiscalizadora, apesar de registrar no TVF que o Contribuinte alegou atuar como corretor, administrador de imóveis e na compra e venda de gado, não mencionou, em nenhum momento, a possibilidade de tributar os rendimentos como decorrentes da atividade rural ou por equiparação à pessoa jurídica. Em sede de impugnação, o Contribuinte juntou mais de mil laudas de documentação (fls. 1.021/2.234), dentre as quais se inclui: · Requerimento de Empresário, atuante no ramo de comércio varejista, protocolado em 04/01/2005 perante a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, identificando o Contribuinte como empresário desde 1993 com o CNPJ nº 71.349.013/000119 (fl. 1.024); · Declarações de Firma Individual, atuante no ramo de comércio varejista, protocoladas em 1997, 1994 e 1993 perante a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, identificando o Contribuinte como empresário desde 1993, com o mesmo CNPJ (fls. 1.025/1.027); · Registros de empregados, Guias de Recolhimento do FGTS, folhas de salário e recibos de férias, emitidos entre 2002 e 2005, tendo como identificador da empresa o nome do Contribuinte e o mesmo CNPJ (fls. 1.030/1.096); · DAMs do Município de Conselheiro Pena, constituindo ISS/estimado referente aos anoscalendário de 2004 e 2005, além de 2002 e 2003, em nome do Contribuinte, constatandose a atividade de comércio varejista, bem como comprovantes de pagamento (fls. 1.097/1.125); · DAEs do Estado de Minas Gerais, referentes a ICMS e outros tributos, nos anoscalendário de 2004 e 2005 (fls. 1.126/1.140); Fl. 2305DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.301 11 · Contratos de locação em que o Contribuinte figura como representante de diversos locadores; Recibos nos quais se destaca a comissão em favor do Contribuinte e comprovantes de depósito bancário da diferença do aluguel em favor dos locadores, todos datados de 2004 e 2005; ainda, canhotos de IPTU, comprovando a titularidade dos imóveis (fls. 1.142/2.009)2; · Notificação da Secretaria Municipal da Fazenda de Conselheiro Pena, notificando certa pessoa a "providenciar calha e condutores para escoamento das águas pluviais", na qual consta o Contribuinte como procurador do proprietário do imóvel (fl. 1.673); · Declarações Estaduais de Produtor Rural; folha da DIRPF registrando ser produtor rural; Nota fiscal de venda de produtos agrícolas (café e gado); (fl. 2.012/2.055); · DIPJ anocalendário 2004, referente ao CNPJ 71.349.01319 (Clésio Chaves ME); DARFs emitidos em nome de Clésio Chaves ME; Livro Caixa 2004 e 2005; (fls. 2.089/2.234) Analisando esse pleito, bem como o conjunto probatório, a DRJ admitiu que, pela documentação juntada, não restam dúvidas de que o recorrente exercia atividade empresarial. Entretanto, analisando a legislação de regência (art. 150 do RIR/1999), anota que a atividade de corretagem não é passível de equiparação à pessoa jurídica. Também anota que as receitas indicadas como provenientes da atividade rural já foram declaradas pelo próprio contribuinte em sua DIRPF, e consideradas pela autoridade fiscalizadora no momento do lançamento. Ainda, que não há documentos hábeis para comprovar quais recursos advieram da atividade de agente de viagem. Enfim, não observou margem para corrigir o lançamento nesse ponto. Tem razão a DRJ. Em primeiro lugar, a simples inscrição nos órgãos públicos como empresário não é suficiente para comprovar que os recursos tenham origem em atividade empresarial. Em segundo lugar, o recorrente se encontra inscrito nos órgãos públicos como "comerciante varejista", especificamente de artigos fotográficos, cinematográficos, de máquinas, materiais de comunicação e celulares, artigos esportivos, fotocópias, digitalização, calçados, bebidas etc. (fl. 1.023/1.027). Não há nos autos quaisquer provas ou mesmo alegação coincidente com essa atividade nos autos. No mesmo sentido, os registros de empregados (fls. 1.030/1.037) demonstram a contratação de balconistas; não há nenhum indício ou alegação de como esses funcionários o auxiliavam na realização de qualquer uma das atividades alegadamente exercidas. Em terceiro lugar, se efetivamente exerceu a atividade de comércio varejista através de sua MicroEmpresa, então tais receitas já estão consideradas na sua declaração de Pessoa Jurídica (fls. 2.089/2.234), não havendo que se incluir todos os valores depositados em 2 Se é verdade que os recibos faltam a assinatura, os comprovantes de depósito tem todas as características necessárias e suficientes para atestar a sua veracidade, como identificação da conta de origem e destino, nome dos destinatário, data e valor, código de segurança etc. Também, os contratos têm assinaturas. Fl. 2306DF CARF MF 12 suas contas, automaticamente, nessa atividade. Pelo contrário, o próprio contribuinte comprovou que valores consideráveis provieram da atividade de corretagem. Em quarto lugar, a autoridade lançadora considerou diversos valores declarados pelo Contribuinte em sua DIRPF como provenientes da título de atividade rural, não tendo o Contribuinte indicado qualquer valor que tenha constado da base de cálculo do auto de infração e que provenha dessa atividade. Em quinto lugar, não há nos autos provas de efetivos recebimentos como agente de viagem. Há comprovantes de aquisição e de alienação de bezerros (e.g. fls. 55/57; 2.028/2.033); contudo, não conseguimos identificar dentre os valores identificados no lançamento nenhum depósito/creditamento em valor ou datas próximas. O mesmo em relação a café (eg. fls. 2.034/2.040). Portanto, ainda que tenha demonstrado exercer atividade de compra e venda de gado e de café, não há que se falar em atividade rural (mera intermediação não configura atividade rural, cf. art. 2º, §único, da Lei nº 8.023/1990) nem, tampouco, que demonstrou se tratar de atividade realizada com habitualidade ou profissionalismo. Por fim, assim como a DRJ, restamos convencidos de que o recorrente exercia a atividade de corretor de imóveis, diante da farta prova documental juntada aos autos (fls. 1.142/2.009). Concordamos também no que toca à interpretação do art. 150 do RIR/99: Art.150.As empresas individuais, para os efeitos do imposto de renda, são equiparadas às pessoas jurídicas. §1ºSão empresas individuais: Ias firmas individuais; IIas pessoas físicas que, em nome individual, explorem, habitual e profissionalmente, qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de lucro, mediante venda a terceiros de bens ou serviços; (...) §2ºO disposto no inciso II do parágrafo anterior não se aplica às pessoas físicas que, individualmente, exerçam as profissões ou explorem as atividades de: (...) V corretores, leiloeiros e despachantes, seus prepostos e adjuntos; (...) Conforme determina expressamente o §2º, V, da legislação supratranscrita, a atividade de corretagem não é passível de equiparação à pessoa jurídica. Logo, ainda que o Contribuinte tenha provado o efetivo exercício dessa atividade, não é possível dar provimento ao seu pleito no sentido de equiparálo a pessoa jurídica para fins de aplicação de lançamento do Imposto de Renda. Do arbitramento dos rendimentos da pessoa física: Admitindo a possibilidade de que não fosse equiparado a pessoa jurídica, o Contribuinte reclama a aplicação do art. 42 da Lei nº 9.430/1996 em conjunto com o art. 6º da Lei nº 8.021/1990, segundo a qual: Fl. 2307DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.302 13 Art. 6° O lançamento de ofício, além dos casos já especificados em lei, farseá arbitrandose os rendimentos com base na renda presumida, mediante utilização dos sinais exteriores de riqueza. § 1° Considerase sinal exterior de riqueza a realização de gastos incompatíveis com a renda disponível do contribuinte. § 2° Constitui renda disponível a receita auferida pelo contribuinte, diminuída dos abatimentos e deduções admitidos pela legislação do Imposto de Renda em vigor e do Imposto de Renda pago pelo contribuinte. § 3° Ocorrendo a hipótese prevista neste artigo, o contribuinte será notificado para o devido procedimento fiscal de arbitramento. § 4° No arbitramento tomarseão como base os preços de mercado vigentes à época da ocorrência dos fatos ou eventos, podendo, para tanto, ser adotados índices ou indicadores econômicos oficiais ou publicações técnicas especializadas. § 5° O arbitramento poderá ainda ser efetuado com base em depósitos ou aplicações realizadas junto a instituições financeiras, quando o contribuinte não comprovar a origem dos recursos utilizados nessas operações. (Revogado pela lei nº 9.430, de 1996) § 6° Qualquer que seja a modalidade escolhida para o arbitramento, será sempre levada a efeito aquela que mais favorecer o contribuinte. Da leitura do caput da norma, que a delimita, percebese que o seu objetivo é regulamentar as hipóteses em que a renda é desconhecida. É o que se extrai da referência à "renda presumida". Em segundo lugar, anotase que o §5º apontava a utilização dos depósitos e aplicações realizados perante instituições financeiras como uma das formas ou critérios desse arbitramento. Se é verdade que o referido §5º, do art. 6º da Lei nº 8.021/1990 foi revogado, registrase que foi revogado exatamente pela Lei nº 9.430/1996, cujo art. 42 embasou o lançamento. Em outras palavras, é possível afirmar que o legislador revogou esse §5º exatamente porque tratava da matéria de maneira mais aprofundada nessa nova lei. Logo, não há contradição nem necessidade de interpretação conjunta: o art. 6º da Lei nº 8.021/1990 tem aplicação subsidiária ao art. 42 da Lei nº 9.430/1996. Nesse sentido, inclusive, o acórdão nº 10617.093, de 08/10/2008: IMPOSTO DE RENDA TRIBUTAÇÃO EXCLUSIVAMENTE COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS — REGIME DA LEI N° 9.430/96 POSSIBILIDADE A partir da vigência do art. 42 da Lei nº 9.430/96, o fisco não mais ficou obrigado a comprovar o consumo da renda representado pelos depósitos bancários de origem não comprovada a transparecer sinais exteriores de riqueza (acréscimo patrimonial ou dispêndio), incompatíveis com os rendimentos declarados, como ocorria sob égide do revogado parágrafo 5° do art. 6° da Lei n° 8.021/90. Agora, o Fl. 2308DF CARF MF 14 contribuinte tem que comprovar a origem dos depósitos bancários, sob pena de se presumir que estes são rendimentos omitidos, sujeitos à aplicação da tabela progressiva. Esse precedente, inclusive, é um dos que fundamentaram a jurisprudência dominante desse e.CARF: Súmula CARF nº 26: A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada. Enfim, seja pela interpretação da legislação, seja pela obrigatoriedade de aplicação da Súmula do CARF, não é possível dar provimento ao pedido do recorrente. Da comprovação da origem dos recursos corretagem e administração de imóveis alheios: Subsidiariamente, o Contribuinte pleiteia que a documentação apresentada nos autos seja efetivamente analisada para que se verifique a comprovação da origem dos recursos depositados em suas contas bancárias. Diante da existência das provas, os autos foram convertidos em diligência, o que resultou na elaboração, pela autoridade diligenciadora das tabelas de fls. 2.253/2.265, que destrincham os valores recebidos a título de aluguel, as comissões, as despesas e os valores repassados aos locadores. Com base na última tabela, "Resumo Mensal", é possível realizar comparativo e perceber que os valores comprovados a título de aluguel, de comissões, de despesas e de repasses são quase coincidentes: Repasses aos locadores Período Aluguel (1) Comissão (2) Despesas (3) Transf. Banc. (4) Depósito em Din/Outro (5) Diferença [=(1) (2)(3)(4)(5)] jan/04 6.002,00 572,85 400,00 5.102,00 72,85 fev/04 6.133,00 586,90 399,10 176,00 4.903,60 67,40 mar/04 7.331,00 703,70 281,39 6.353,00 7,09 abr/04 17.237,36 1.517,90 2.831,00 12.887,46 1,00 mai/04 8.188,00 789,00 473,38 6.923,23 2,39 jun/04 8.588,00 790,85 152,00 7.643,40 1,75 jul/04 9.480,00 908,90 102,00 1.937,70 6.529,60 1,80 ago/04 9.098,00 886,25 528,40 2.729,60 4952,7 1,05 set/04 10.028,00 975,15 859,53 7.869,70 324,00 0,38 out/04 9.534,00 929,90 188,79 4.603,60 3.811,00 0,71 nov/04 10.252,00 1.001,70 713,55 5.839,26 2.695,00 2,49 dez/04 10.436,00 1.025,20 397,69 5.970,31 3.051,00 8,20 Total 2004 112.307,36 10.688,30 7.326,83 29.126,17 65.175,99 9,93 jan/05 11.727,00 1.096,40 773,94 7.014,16 2.847,00 4,50 fev/05 10.361,32 1.036,12 199,89 5.407,11 3.727,00 8,80 mar/05 10.918,30 1.036,36 1.098,01 5.414,62 3.367,00 2,31 abr/05 10.423,00 1.042,30 311,06 6.516,61 2.551,50 1,53 mai/05 9.916,00 991,60 113,19 5.573,41 3.237,00 0,80 Fl. 2309DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.303 15 jun/05 9.064,00 906,40 526,66 6.722,00 906,00 2,94 jul/05 7.850,00 785,00 243,99 5.499,10 1.320,00 1,91 ago/05 6.280,00 628,00 82,87 4.696,40 870,00 2,73 set/05 5.944,00 594,40 293,40 3.772,74 1.284,00 0,54 out/05 5.944,00 594,40 91,00 2.887,80 2.368,00 2,80 nov/05 8.644,00 864,40 330,13 5.346,70 2.100,00 2,77 dez/05 9.319,00 883,15 20,00 7.806,30 600,00 9,55 Total 2005 106.390,62 10.458,53 4.084,14 66.656,95 25.177,50 13,50 Total 218.697,98 21.146,83 11.410,97 95.783,12 90.353,49 3,57 Ora, o art. 42 da Lei nº 9.430/1996 cria uma presunção relativa de omissão de rendimentos, passível de prova em sentido contrário. Diante da existência de provas nos autos de que parte dos recursos depositados/creditados não pertencem ao Contribuinte mas sim a terceiros, imperioso afastar a presunção, excluindo da base de cálculo os valores que, comprovadamente, não se configuraram rendimento. Entendo, portanto: · 2004 transferência de R$ R$ 94.302,16 para os locadores, e outros R$ 7.326,83 despendidos na administração dos imóveis, totalizando o valor de R$ 101.628,99 como recursos comprovados, que devem ser excluídos da base de cálculo; · 2005 transferência de R$ 91.834,45 para os locadores, e outros R$ 4.084,14 despendidos na administração dos imóveis, totalizando o valor de R$ 95.918,59 como recursos comprovados, que devem ser excluídos da base de cálculo. Da multa qualificada: Argumenta o Recorrente, subsidiariamente, pela redução da multa qualificada, uma vez que não há comprovação de dolo mas, no máximo, de desorganização. Remontando ao TVF, percebese que, após transcrever o art. 44, I e §1º, da Lei nº 9.430/1996, e os arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/1964, a autoridade lançadora esclareceu que: "No caso da fiscalização em curso, nos anoscalendário de 2004 e 2005, o sujeito passivo apresentou declarações de imposto de renda com rendimentos declarados incompatíveis com sua movimentação bancária. Intimado a comprovar a origem dos recursos creditados/depositados em suas contascorrentes, para justificais tais depósitos, citou diversas transações comerciais que ele teria realizado sem, no entanto, apresentar documentos hábeis e idôneos comprobatórios dessas transações. Não se trata, neste caso sob foco, de valores de pouca significância, cuja atitude omissiva em declarálos ao fisco federal pudesse ser atribuída a falhas provindas da negligência em seus controles Fl. 2310DF CARF MF 16 fiscais. Tratase de elevados valores depositados em suas contas correntes, de origem não comprovada, cujo montante superou a cifra de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais). Portanto, está claro que o fiscalizado, ao tentar omitir recursos de tal monta à Administração Tributária Federal, tinha consciência de que a conduta levaria ao resultado ilícito." fl. 39. Em outras palavras, o lançamento foi qualificado única e exclusivamente em função do seu valor, do montante identificado e presumido como renda omitida. A verdade é que a Lei criou a presunção de omissão de rendimentos quando da constatação de depósitos bancários de origem não comprovada exatamente para facilitar o processo de fiscalização, invertendo o ônus probatório em desfavor do Contribuinte. Constatada a hipótese de presunção, configurase plausível o lançamento. Para aceitar a qualificação da multa, imputando verdadeiro crime ao sujeito passivo, necessário se faz um novo passo: a demonstração do dolo. Não basta a mera constatação da ocorrência de omissão do rendimento, ainda que por longo período ou, como no caso, de grande valor; é necessário que reste demonstrado, estreme de dúvidas, a conduta dolosa do Contribuinte. Nesse caminho já se consolidou a jurisprudência deste e.CARF, como se observa dos seguintes enunciados: Súmula CARF nº 14: A simples apuração de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação do evidente intuito de fraude do sujeito passivo. Súmula CARF nº 25: A presunção legal de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação de uma das hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64. In casu, uma vez que a qualificação da multa foi genérica, sem demonstrar especificamente a intenção dolosa por parte do Contribuinte, o que se comprova, inclusive, pela mera transcrição dos três artigos (71, 72 e 73) da Lei nº 4.502/1964, é necessário concordar com o Contribuinte e afastar a qualificação da multa de ofício. Dispositivo: Diante de tudo quanto exposto, voto por rejeitar as preliminares e, no mérito, por dar provimento parcial ao Recurso Voluntário para excluir da base de cálculo o montante de R$ a 2004 e R$ 91.834,45 referente a 2005. (assinado digitalmente) Dilson Jatahy Fonseca Neto Relator Fl. 2311DF CARF MF Processo nº 10630.721012/200955 Acórdão n.º 2202003.828 S2C2T2 Fl. 2.304 17 Fl. 2312DF CARF MF
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