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Numero do processo: 10480.720340/2010-39
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/07/2004 a 30/09/2004
PIS/COFINS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS NOVOS SUBMETIDOS AO REGIME MONOFÁSICO PARA REVENDA. MANUTENÇÃO DE CRÉDITO PELO COMERCIANTE ATACADISTA E VAREJISTA. VEDAÇÃO LEGAL.
No regime não-cumulativo das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, por expressa determinação legal, é vedado ao comerciante atacadista e varejista, o direito de descontar ou manter crédito referente às aquisições de veículos novos sujeitos ao regime monofásico concentrado no fabricante e importador. A aquisição de veículos relacionados no art. 1º da Lei n° 10.485/02, para revenda, quando feita por comerciantes atacadistas ou varejistas desses produtos, não gera direito a crédito do PIS/COFINS, dada a expressa vedação, consoante os art. 2º, § 1º, III e art. 3º, I, b, c/c da Lei nº 10.637/2002 e da Lei nº 10.833/2003.
CRÉDITOS. MANUTENÇÃO. ART. 17 DA LEI Nº 11.033/2004. IMPOSSIBILIDADE.
A manutenção dos créditos, prevista no art. 17 da Lei nº 11.033/04, não tem o alcance de manter créditos cuja aquisição a lei veda desde a sua definição.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3301-003.363
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques dOliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Marcelo Giovani Vieira, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DO COUTO CHAGAS
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TOMADA DE CRÉDITOS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS. INCIDÊNCIA MONOFÁSICA. Recorrente TAMBAÍ AUTOMOTORES LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/07/2004 a 30/09/2004 PIS/COFINS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS NOVOS SUBMETIDOS AO REGIME MONOFÁSICO PARA REVENDA. MANUTENÇÃO DE CRÉDITO PELO COMERCIANTE ATACADISTA E VAREJISTA. VEDAÇÃO LEGAL. No regime nãocumulativo das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, por expressa determinação legal, é vedado ao comerciante atacadista e varejista, o direito de descontar ou manter crédito referente às aquisições de veículos novos sujeitos ao regime monofásico concentrado no fabricante e importador. A aquisição de veículos relacionados no art. 1º da Lei n° 10.485/02, para revenda, quando feita por comerciantes atacadistas ou varejistas desses produtos, não gera direito a crédito do PIS/COFINS, dada a expressa vedação, consoante os art. 2º, § 1º, III e art. 3º, I, “b”, c/c da Lei nº 10.637/2002 e da Lei nº 10.833/2003. CRÉDITOS. MANUTENÇÃO. ART. 17 DA LEI Nº 11.033/2004. IMPOSSIBILIDADE. A manutenção dos créditos, prevista no art. 17 da Lei nº 11.033/04, não tem o alcance de manter créditos cuja aquisição a lei veda desde a sua definição. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 48 0. 72 03 40 /2 01 0- 39 Fl. 1264DF CARF MF Processo nº 10480.720340/201039 Acórdão n.º 3301003.363 S3C3T1 Fl. 3 2 (assinado digitalmente) Luiz Augusto do Couto Chagas Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d’Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Marcelo Giovani Vieira, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas. Relatório Tratase de Pedido Eletrônico de Ressarcimento PER, formulado através do programa PER/Dcomp, por intermédio do qual a Recorrente pleiteia o ressarcimento em espécie do saldo credor acumulado de COFINS NãoCumulativa – Mercado Interno. O Pedido de Ressarcimento foi indeferido, por ausência de direito ao crédito pleiteado. A origem do direito creditório alegado seria o saldo credor acumulado em razão da aquisição de produtos monofásicos (veículos novos). A Recorrente tem como atividade comercial a compra e venda, no atacado e varejo, de veículos novos e peças em geral, relacionadas na Lei nº 10.485/02. A Lei nº 10.485/02, no art. 3º, § 2º, I e II, prescreve que os produtos nela relacionados têm as alíquotas de PIS e COFINS reduzidas a 0% relativamente à receita bruta auferida por comerciantes atacadistas e varejistas. A Recorrente alega que com a edição das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003, os produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 compõem a sua receita bruta para efeito de apuração de PIS e COFINS sob o regime da nãocumulatividade e que a manutenção dos créditos decorrentes da aquisição desses produtos tem como fundamento legal o art. 17 da Lei n° 11.033/2004 e o pedido de ressarcimento em espécie tem como fundamento legal o art. 16 da Lei n° 11.116/2005. Assim, com esse entendimento, os créditos de COFINS nãocumulativa, objeto do ressarcimento deste processo fiscal pela Recorrente, têm origem exclusiva na aplicação direta das alíquotas previstas nas leis 10.637/02 (PIS) e 10.833/03 (COFINS), que introduziram a nova sistemática do regime da nãocumulatividade para ambas as Contribuições, sobre o valor de aquisição dos produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos), pois a alíquota da Contribuição nas saídas subsequentes desses produtos foi reduzida a 0%. Então, a controvérsia nestes autos é o direito ao creditamento, no regime não cumulativo, dos valores de aquisição dos produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos), ou seja, crédito com origem nas aquisições de produtos com incidência monofásica. A DRJ indeferiu a manifestação de inconformidade nos termos do Acórdão 0649.653. O fundamento adotado, em síntese, foi o de que há vedação legal e normativa para o aproveitamento do crédito das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, com base na sistemática da não cumulatividade, pelas revendedoras de veículos automotores, nas vendas submetidas à incidência monofásica. Fl. 1265DF CARF MF Processo nº 10480.720340/201039 Acórdão n.º 3301003.363 S3C3T1 Fl. 4 3 Tanto na manifestação de inconformidade, quanto em seu recurso voluntário, a Recorrente tece longo arrazoado para justificar o seu direito ao creditamento, para tanto interpreta a legislação federal e o princípio constitucional da nãocumulatividade. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Augusto do Couto Chagas, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3301003.248, de 29 de março de 2017, proferido no julgamento do processo 10120.902719/201135, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3301003.248): O recurso voluntário reúne os pressupostos legais de interposição, dele, portanto, tomo conhecimento. Não há direito ao creditamento, no regime nãocumulativo, dos valores de aquisição dos produtos relacionados na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos), conforme se justifica a seguir. Os art. 1o e 3o da Lei n° 10.485/2002 prescrevem: Art. 1o.As pessoas jurídicas fabricantes e as importadoras de máquinas e veículos classificados nos códigos 84.29, 8432.40.00, 84.32.80.00, 8433.20, 8433.30.00, 8433.40.00, 8433.5, 87.01, 87.02, 87.03, 87.04, 87.05 e 87.06, da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados TIPI, aprovada pelo Decreto no 4.070, de 28 de dezembro de 2001, relativamente à receita bruta decorrente da venda desses produtos, ficam sujeitas ao pagamento da contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS, às alíquotas de 2% (dois por cento) e 9,6% (nove inteiros e seis décimos por cento), respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) Art. 3o As pessoas jurídicas fabricantes e os importadores, relativamente às vendas dos produtos relacionados nos Anexos I e II desta Lei, ficam sujeitos à incidência da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS às alíquotas de: II 2,3% (dois inteiros e três décimos por cento) e 10,8% (dez inteiros e oito décimos por cento), respectivamente, nas vendas para comerciante atacadista ou varejista ou para consumidores. (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) Fl. 1266DF CARF MF Processo nº 10480.720340/201039 Acórdão n.º 3301003.363 S3C3T1 Fl. 5 4 § 2o Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, relativamente à receita bruta auferida por comerciante atacadista ou varejista, com a venda dos produtos de que trata: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) Assim, para os veículos classificados nos códigos 87.01 a 87.06 da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados TIPI e dos produtos relacionados nos Anexos I e II, a cobrança da COFINS terá incidência monofásica, com alíquotas diferenciadas para as pessoas jurídicas fabricantes e importadoras. O regime monofásico concentra a cobrança do tributo em uma etapa da cadeia produtiva, desonerando a etapa seguinte. E ainda, a referida lei reduziu a zero as alíquotas da COFINS incidentes sobre as receitas auferidas pelos comerciantes atacadistas ou varejistas com a venda desses mesmos produtos. O regime monofásico impõe que o fabricante ou importador dos produtos (monofásicos) recolham o PIS/COFINS em uma alíquota diferenciada e majorada, bem como a fixação de alíquota zero de PIS/COFINS sobre a receita auferida com a venda dos mesmos pelos demais participantes da cadeia produtiva (distribuidores, atacadistas e varejistas). Então, não se cogita do sistema de compensação entre créditos e débitos. Deste modo, a Lei nº 10.485/02 fixou a tributação devida ao PIS e à COFINS no início da cadeia produtiva, fabricantes e/ou importadores de veículos automotores e autopeças, estabelecendo alíquota mais elevada nesta etapa de comercialização, desonerando a fase em que se integram as concessionárias, mediante atribuição de alíquota zero, nos termos dos seus artigos 2º, § 2º, II; 3º, § 2º, I e II; e 5º, parágrafo único, esses dispositivos não foram revogadas pela Lei nº 10.833/03. A incidência monofásica das contribuições discutidas incorre na inviabilidade lógica e econômica do reconhecimento de crédito recuperável pelos comerciantes varejistas e atacadistas, pois inexistente cadeia tributária após a venda destinada ao consumidor final, razão pela qual o art. 17 da Lei nº 11.033/04, afigurase incompatível com este caso. Ademais, não há crédito em relação aos veículos classificados nos códigos 87.01 a 87.06 da TIPI e aos produtos relacionados nos Anexos I e II da Lei nº 10.485/2002 adquiridos para revenda, por vedação expressa dos art. 2º, § 1º, III e art. 3º, I, “b”, c/c da Lei nº 10.833/2003, verbis: Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (...) b) no § 1º do art. 2º desta Lei; Art. 2º Para determinação do valor da COFINS aplicarseá, sobre a base de cálculo apurada conforme o disposto no art.1º, a alíquota de 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento). Fl. 1267DF CARF MF Processo nº 10480.720340/201039 Acórdão n.º 3301003.363 S3C3T1 Fl. 6 5 § 1º Excetuase do disposto no caput deste artigo a receita bruta auferida pelos produtores ou importadores, que devem aplicar as alíquotas previstas: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (...) III no art. 1º da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, e alterações posteriores, no caso de venda de máquinas e veículos classificados nos códigos 84.29, 8432.40.00, 84.32.80.00, 8433.20, 8433.30.00, 8433.40.00, 8433.5, 87.01, 87.02, 87.03, 87.04, 87.05 e 87.06, da TIPI; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) IV no inciso II do art. 3º da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, no caso de vendas, para comerciante atacadista ou varejista ou para consumidores, das autopeças relacionadas nos Anexos I e II da mesma Lei; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (...) Logo, pela redação dos dispositivos supracitados, é expressamente vedado descontar créditos calculados em relação aos veículos classificados nos códigos 87.01 a 87.06 da TIPI e aos produtos relacionados nos Anexos I e II da Lei nº 10.485, de 2002, adquiridos para revenda. Alega a Recorrente que teria direito ao creditamento com base no art. 17 da Lei nº 11.033/2004: Art. 17. As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. Esse dispositivo não se aplica ao caso em comento, pelas seguintes razões: 1 Referese a “manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados” nas operações de vendas com isenção, alíquota zero ou nãoincidência da COFINS, ou seja, tratase de créditos legalmente autorizados da COFINS (neste caso o crédito está proibido); 2 É regra geral que coexiste com vedação ao creditamento por norma específica e 3 Não revoga expressa ou tacitamente o inciso I, alínea “b”, do art. 3º da Lei nº 10.833/03. Por fim, quanto a argumentos de inconstitucionalidade da vedação ao creditamento, por afronta ao princípio da nãocumulatividade, saliento que sobre esta matéria o CARF não pode se pronunciar, de acordo com a Súmula nº 2 (O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária). Por todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário. Nos termos do entendimento exarado no paradigma, a impossibilidade de creditamento, no regime nãocumulativo, dos valores de aquisição dos produtos relacionados Fl. 1268DF CARF MF Processo nº 10480.720340/201039 Acórdão n.º 3301003.363 S3C3T1 Fl. 7 6 na Lei n° 10.485/2002 (veículos automotores novos) aplicase tanto à Contribuição para o PIS/Pasep quanto à COFINS. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. assinado digitalmente Luiz Augusto do Couto Chagas Fl. 1269DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.720197/2014-68
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon May 29 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2009 a 31/12/2011
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. LEI Nº 10.101, DE 2000. REGRAS. INOBSERVÂNCIA. SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO.
Os valores pagos a título de PLR em desconformidade com as exigências estabelecidas na Lei nº 10.101, de 2000, constituem salário-de-contribuição, base de cálculo para a contribuição previdenciária.
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. ADMINISTRADORES. SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO.
Os valores pagos a título de participação nos lucros e resultados de administradores não-empregados com base no art. 152, § 1º, da Lei nº 6.404, de 1976, integram o salário-de-contribuição, base de cálculo para a contribuição previdenciária.
RAT. FAP. ERRO. DISCUSSÃO ADMINISTRATIVA. MPS. CARF. INCOMPETÊNCIA.
O FAP atribuído às empresas pelo Ministério da Previdência Social poderá ser contestado perante o Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional da Secretaria Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência Social, no prazo de trinta dias da sua divulgação oficial, razão pela qual o CARF não tem competência para analisar a correção dos critérios que determinaram sua atribuição pelo MPS.
ADICIONAL DE 2,5%. INCRA. INCONSTITUCIONALIDADE. NÃO CONHECIMENTO. ENUNCIADO 1 DA SÚMULA DO CARF.
É vedado à autoridade administrativa conhecer de alegações relativas à constitucionalidade de normas tributárias em vigor e eficazes.
MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS.
A multa de ofício tem natureza jurídica de penalidade tributária, integra o
conceito de crédito tributário nos termos do artigo 142 do CTN, razão pela qual está sujeita aos juros moratórios.
DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO.
Para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, § 4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração. Neste caso, e não havendo comprovação de dolo, fraude ou simulação, o prazo para constituição do crédito tributário se encerra em cinco anos contados a partir da ocorrência do fato gerador.
Numero da decisão: 2201-003.591
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício. Quanto ao recurso voluntário, por maioria de votos, negar-lhe provimento. Vencidos os Conselheiros Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz e José Alfredo Duarte Filho. Apresentará declaração de voto o Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira.
(assinado digitalmente)
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA - Presidente.
(assinado digitalmente)
DIONE JESABEL WASILEWSKI - Relatora.
EDITADO EM: 22/05/2017
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim.
Nome do relator: DIONE JESABEL WASILEWSKI
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LEI Nº 10.101, DE 2000. REGRAS. INOBSERVÂNCIA. SALÁRIODECONTRIBUIÇÃO. Os valores pagos a título de PLR em desconformidade com as exigências estabelecidas na Lei nº 10.101, de 2000, constituem saláriodecontribuição, base de cálculo para a contribuição previdenciária. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. ADMINISTRADORES. SALÁRIODECONTRIBUIÇÃO. Os valores pagos a título de participação nos lucros e resultados de administradores nãoempregados com base no art. 152, § 1º, da Lei nº 6.404, de 1976, integram o saláriodecontribuição, base de cálculo para a contribuição previdenciária. RAT. FAP. ERRO. DISCUSSÃO ADMINISTRATIVA. MPS. CARF. INCOMPETÊNCIA. O FAP atribuído às empresas pelo Ministério da Previdência Social poderá ser contestado perante o Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional da Secretaria Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência Social, no prazo de trinta dias da sua divulgação oficial, razão pela qual o CARF não tem competência para analisar a correção dos critérios que determinaram sua atribuição pelo MPS. ADICIONAL DE 2,5%. INCRA. INCONSTITUCIONALIDADE. NÃO CONHECIMENTO. ENUNCIADO 1 DA SÚMULA DO CARF. É vedado à autoridade administrativa conhecer de alegações relativas à constitucionalidade de normas tributárias em vigor e eficazes. MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS. A multa de ofício tem natureza jurídica de penalidade tributária, integra o AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 72 01 97 /2 01 4- 68 Fl. 1128DF CARF MF 2 conceito de crédito tributário nos termos do artigo 142 do CTN, razão pela qual está sujeita aos juros moratórios. DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. Para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, § 4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração. Neste caso, e não havendo comprovação de dolo, fraude ou simulação, o prazo para constituição do crédito tributário se encerra em cinco anos contados a partir da ocorrência do fato gerador. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício. Quanto ao recurso voluntário, por maioria de votos, negarlhe provimento. Vencidos os Conselheiros Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz e José Alfredo Duarte Filho. Apresentará declaração de voto o Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira. (assinado digitalmente) CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA Presidente. (assinado digitalmente) DIONE JESABEL WASILEWSKI Relatora. EDITADO EM: 22/05/2017 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim. Relatório Tratase de Recurso Voluntário e Recurso de Ofício interpostos em face do Acórdão 0735.819, da 5ª Turma da DRJ/FNS, pelo qual se deu parcial provimento à impugnação apresentada aos seguintes autos de infração: Debcad nº 51.032.9136, que é composto pelo levantamento PL participação nos lucros e onde foram lançadas contribuições para outras entidades e fundos (salário educação e INCRA) relativas às competências compreendidas no período de 01/2009 e 09/2011, acrescidas de multa de ofício de 75% e juros de mora. Fl. 1129DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.129 3 Debcad nº 51.032.9128, que é composto de três levantamentos: F1 FAP sem depósito; PA participação de administradores e PL participação nos lucros, que foram assim discriminados pela decisão de piso: No levantamento “F1 – FAP SEM DEPÓSITO” do auto de infração de DEBCAD nº 51.032.9128 foram lançadas diferenças de contribuição para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho – RAT, relativas a competências compreendidas no período de 02/2010 a 13/2011, acrescidas de multa de ofício de 75% e juros de mora. No levantamento “PA – PARTICIPAÇÃO ADMINISTRADORES” do auto de infração de DEBCAD nº 51.032.9128 foram lançadas contribuições sociais previdenciárias de bancos e assemelhados sobre remunerações pagas ou creditadas a segurados contribuintes individuais, relativas a competências compreendidas no período 02/2009 a 08/2010, acrescidas de multa de ofício de 75% e juros de mora. No levantamento “PL – PARTICIPACAO NOS LUCROS” do auto de infração de DEBCAD nº 51.032.9128 foram lançadas contribuições sociais previdenciárias de bancos e assemelhados sobre remunerações pagas, devidas ou creditadas, a segurados empregados, inclusive para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho – RAT, relativas a competências compreendidas no período de 01/2009 a 09/2011, acrescidas de multa de ofício de 75% e juros de mora. Auto de infração Da participação nos lucros e resultados dos empregados De acordo com o relatório fiscal (fls 437486), os pagamentos realizados a título de participação nos lucros e resultados no período de 2009 a 2011 se derem sob a regência de diferentes instrumentos: (I) Programa Próprio para Participação nos Lucros ou Resultados em 2008/2009; (II) Acordos Coletivos de Participação nos Lucros ou Resultados celebrados entre o banco e o sindicato dos empregados em estabelecimentos bancários em 2010 e 2011; (III) Convenções Coletivas de Trabalho CCT sobre participação dos empregados nos lucros ou resultados dos bancos em 2008, 2009, 2010 e 2011. Em relação ao item (I) Programa Próprio para Participação nos Lucros ou Resultados em 2008/2009, a fiscalização aponta os seguintes fatores: · foi celebrado em 29/04/2008 para aplicação retroativa a 1º de janeiro; · houve convite mas não houve participação do representante sindical nas negociações e não há prova de que o instrumento tenha sido registrado e arquivado na entidade sindical, embora haja uma notificação extrajudicial do envio de uma cópia do programa; Fl. 1130DF CARF MF 4 · a data da reunião para a qual foi convidado o sindicato é a data de assinatura do programa próprio o que demonstra não ter havido efetiva negociação; · não há indicação de metas a serem cumpridas mas, em relação a algumas atividades, participação percentual em relação a determinadas grandezas como volume bruto de captação ou ativos; · embora haja previsão no programa de que é extensivo a todos os empregados, o anexo trata de somente algumas categorias; · o acordo disciplina a distribuição de lucros, mas não há previsão de regras claras e objetivas quanto aos direitos dos empregados. Em relação aos (II) Acordos Coletivos de Participação nos Lucros ou Resultados celebrados entre o banco e o sindicato dos empregados em estabelecimentos bancários em 2010 e 2011, afirma a fiscalização: · o Acordo Coletivo 2010 foi celebrado em 09/12/2010 com vigência retroativa a 1º/01/2010; · o Acordo Coletivo 2011 foi celebrado em 04/04/2011 com vigência retroativa a 1º/01/2011; · esses acordos não contemplam regras claras quanto aos direitos de participação dos trabalhadores nem viabilizam mecanismos para aferição do seu cumprimento; · os textos dos acordos prevêem que as metas serão definidas e repassadas aos empregados no início de cada ano, não os integram, portanto; · a fórmula apresentada para os gerentes de captação são muito semelhantes aos sistemas utilizados para o pagamento de comissões e não para benefício de PLR; · já para Superintendentes e Superintendentes Executivos não existe meta estabelecida, mas a previsão de que o valor dependerá do somatório da base de cálculo em ativos de sua equipe ou agências de sua responsabilidade; · o instrumento é finalizado com a previsão de que as metas serão definidas pelo gestor em conjunto com funcionários e equipe. Aponta também a autoridade fiscal que, diante da coexistência da Convenção Coletiva e do plano próprio, a empresa teria declarado que não houve compensação entre a participação paga com base em um ou outro instrumento. Nesse caso, entende a fiscalização que a empresa deveria ter escolhido apenas um deles. Alega, ainda, que a comparação entre os salários pagos e o valor da participação nos lucros revela que há casos em que estes chegam a 293,4% daqueles para alguns empregados, enquanto para outros pode se limitar a 0,34%. Fl. 1131DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.130 5 Esses dados revelariam um disparate entre as categorias, o que seria provocado pela estipulação de limites apenas para os cargos de natureza administrativa e comercial. Por outro lado, estaria evidenciada a substituição de parcela salarial. Todos os pagamentos realizados com base nos instrumentos apontados acima foram considerados como integrantes do salário de contribuição. Auto de infração Da participação dos administradores A fiscalização entendeu que os pagamentos realizados a título de participação dos administradores (diretores estatutários) nos lucros ou resultados, que teria amparo no art.152 da Lei nº 6.404, de 1976, Lei das S/A não estão contemplados na regra do art. 28, §9º da Lei nº 8.212, de 1991, em razão do que integram o salário de contribuição. Auto de infração Do FAP sem depósito No que diz respeito à contribuição relativa ao RAT e ao FAP, o relatório fiscal apresenta os seguintes esclarecimentos: 7.19. A empresa em questão, tendo como atividade econômica o setor dos “bancos comerciais”, passou, com as mudanças adivindas do Decreto nº 6.042/07, a partir de julho de 2007, a enquadrarse no CNAE 64212. Ademais, a partir de janeiro de 2010 tem a sua alíquota básica RAT definida em 2% (dois por cento), conforme as mudanças implementadas .pelo Decreto nº 6.957/09. 7.20 Para o ano de 2010, o FAP atribuído ao Banco Indusval foi 1,5767. Desta feita, seu RAT Ajustado é igual a sua alíquota básica RAT, qual seja 2%, multiplicada pelo FAP, ou seja, 2% x 1,5767, que resulta em 3,1534% (alíquota final RAT a ser observada durante o exercício de 2010). 7.21 Por sua vez, para o exercício de 2011, o FAP atribuído ao Banco Indusval foi 1,1990. Logo, seu RAT Ajustado é igual a sua alíquota básica RAT, qual seja 2%, multiplicada pelo FAP, ou seja, 2% x 1,1990, que resulta em 2,3980% (alíquota final RAT a ser observada durante o exercício de 2011). 7.22 Durante a auditoria verifícouse que, nas competências de fevereiro a dezembro de 2010, do valor total da alíquota relativa à contribuição ao RAT ajustada, qual seja, 3,1534%, contribuinte não recolheu o montante acrescido à alíquota RAT básica pelo FAP. O banco somente recolheu 1% e, em função do Processo Judicial nº 2007.61.00.0200148 que discute a alteração da alíquota RAT, depositou judicialmente a diferença de 1% (total recolhimento + depósito judicial = 2%). Desta feita, nessa competência em que a parcela acrescida à alíquota RAT pelo FAP, não foi recolhida foram levantadas as diferenças entre os valores devidos, e os efetivamente pagos. 7.23. Ademais, verificouse igualmente que, nas competências de janeiro de 2011e de setembro a dezembro de 2011, do valor total da alíquota relativa à contribuição ao RAT ajustada, qual seja, Fl. 1132DF CARF MF 6 2,3980%, o contribuinte não recolheu o montante acrescido à alíquota RAT básica pelo FAP. O banco somente recolheu 1% e, em função do Processo Judicial nº 2007.61.00.0200148 que discute a alteração da alíquota RAT, depositou judicialmente a diferença de 1% (total recolhimento + depósito judicial = 2%). Desta feita, nessas competências em que a parcela acrescida à alíquota RAT pelo FAP não foi recolhida, foram levantadas as diferenças entre os valores devidos e os efetivamente pagos. 7.24 O crédito foi apurado tendo como base os valores dos salário de contribuição dos empregados informados em GFIP, conforme planilha em anexo. 7.25 As demais competências de 2010 foram autuadas em separado por terem sido objeto de depósito do montante integral no Processo Judicial nº 2010.61.00.0022841. 7.26 Por sua vez, as demais competências de 2011 foram levantadas separadamente por serem sujeito de depósito do montante integral do Processo Judicial nº 0003929 69.2011.4.03.6100. 7.27 Por fim, os montantes relativos à diferença de alíquota básica RAT não recolhidos (1%) foram autuados em separado por serem tema do Processo Judicial nº 2007.61.00.0200148. Portanto, os créditos que compõem esse processo tem origem na falta de recolhimento/depósito judicial do resultado da aplicação do montante acrescido pelo FAP à alíquota RAT sobre os salários de contribuição declarados em GFIP. Pelas razões acima descritas, foi lançado crédito tributário total de R$ 13.119.769,44 no AIOP nº 51.032.9128 e R$ 1.168.949,79 no AIOP nº 51.032.9136, dos quais o contribuinte tomou ciência em 21/03/2014 (fl 50 do Relatório Fiscal). A autuada apresentou a impugnação de fls. 495 a 569, instruída com os documentos de fls. 570 a 875, o que foi objeto da decisão combatida, que lhe deu parcial provimento para reconhecer a decadência relativa às competências 01/2009 e 02/2009 e manter o restante do crédito tributário lançado (fls 885947). Dessa decisão, da qual a autoridade julgadora a quo recorreu de ofício, o contribuinte tomou ciência em 27/11/2014 (AR fl 953) e, em face dela, apresentou tempestivamente, em 23/12/2014, seu recurso voluntário, alegando, em apertada síntese, que: · os pagamentos efetuados a título de participação nos lucros ou resultados foram regulares e sua desconsideração só poderia ser feita com base no art. 116, parágrafo único do Código Tributário Nacional caso existissem provas contundentes de simulação; · a fiscalização deveria ter efetuado diligência junto aos empregados para verificar se eles tinham ou não conhecimento das condições do PLR; · nem os empregados nem o sindicato aceitariam um acordo/convenção sem conhecer as metas; · não há limitação de valor na Lei nº 10.101, de 2000; Fl. 1133DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.131 7 · todos os pagamentos de PLR decorrem de programa com regras claras e objetivas, previamente pactuadas, cuja elaboração e definição observou os ditames legais e jurisprudência consolidada do CARF; · sob enfoque constitucional, o PLR é desvinculado da remuneração porque não provém do trabalho, mas da condição de trabalhador, a que se aliam outros fatores como desempenho da companhia e do próprio empregado; · os programas instituídos pela empresa possuem objetivos, periodicidade dos pagamentos, valores máximos de distribuição para cada um dos funcionários elegíveis e parâmetros para o cálculo das metas; · as conclusões da fiscalização decorrem de mera presunção e a média salarial dos empregados da empresa recorrente estão adequados à média do setor; · em relação ao ano de 2009, o acordo foi assinado antes do início do período; · seus programas de PLR não coincidem com os exercícios fiscais, são semestrais; · o acordo de 2010 apenas foi formalizado em 16/12/2010 mas as negociações se iniciaram em maio desse ano; · o acordo de 2011 foi formalizado em abril, antes portanto do primeiro pagamento feito em agosto (o segundo foi em fevereiro do ano seguinte); · o programa de PRL é tradicional na empresa, de moto que todos têm pleno conhecimento do seu funcionamento; · o programa de 2008/2009 que embasou o pagamento de PLR para o ano de 2009 foi objeto de notificação extrajudicial ao sindicato quando concluído e houve convite ao sindicato para que enviasse representante durante sua negociação, este, entretanto, negouse a comparecer e a assinar qualquer tipo de protocolo quanto ao convite; · o PLR possui regras claras e objetivas e atingiu todos os funcionários; · não há limite legal para pagamento de PLR de forma que não é adequado presumir se tratar de substituição da remuneração; · os valores distribuídos a título de participação nos lucros aos administradores não se confundem com remuneração pelos serviços prestados; · o que se distribui são lucros e a reclassificação dessa natureza só é possível por aplicação do art. 116, parágrafo único do CTN; Fl. 1134DF CARF MF 8 · a Constituição Federal garante aos trabalhadores a socialização dos lucros e resultados das empresas (art. 7º, XI) e essa regra está regulamentada pelo art. 152 da Lei nº 6.404, de 1976; · os critérios de distribuição previstos nos parágrafos 1º e 2º do art. 152 da Lei nº 6.404, de 1976, não estão atrelados aos parâmetros dispostos no caput; · houve erro na apuração do FAP atribuído aos anos de 2010 e 2011 para o recorrente e essa matéria não integra o objeto das demandas judiciais (mandados de segurança nº 2007.61.00.0022841 e 0003929 69.2011.4.03.6100); · a DRJ se equivocou ao deixar de apreciar os argumentos relativos ao erro na apuração do FAP com base no art. 202B do Regulamento da Previdência Social, uma vez que o interesse na discussão do índice só surgiu com a autuação, razão pela qual reitera os argumentos que demonstrariam os equívocos cometidos pela Previdência Social; · as ações judiciais acima identificadas não implicariam renúncia à esfera administrativa já que a interpretação dada ao art. 38 da Lei nº 6.830, de 1980, pelo ADN/Cosit nº 03, de 1996, é inadequada, de forma que solicita sejam apreciados seus argumentos quanto à ilegalidade do FAP; · é descabida a cobrança do adicional de 2,5% para as instituições financeiras e equiparadas por malferir princípios como o da retributividade, isonomia e capacidade contributiva · não é cabível a exigência da contribuição para o INCRA por ofensa ao princípio da referibilidade e violação aos arts. 149, § 2º, III, 'a' e 'b' e 167, XI da Constituição Federal; · é descabida a cobrança de juros sobre multa. É o relatório. Voto Conselheira Dione Jesabel Wasilewski Relatora Recurso Voluntário O recurso apresentado preenche os requisitos de admissibilidade e dele conheço. Não foram argüidas questões preliminares, de forma que passo diretamente à análise do mérito. Da participação nos lucros e resultados PLR Fl. 1135DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.132 9 O auto de infração constante do Debcad 51.032.9128 está composto por três levantamentos, um deles relativo à participação dos empregados nos lucros e resultados da empresa nas competências: 01/2009, 02/2009, 07/2009, 01/2010, 02/2010, 07/2010, 08/2010, 01/2011, 02/2011, 07/2011, 08/2011 e 09/2011. Para avaliar se esses pagamentos preenchem os requisitos legais para que sejam considerados como PLR nos termos prescritos pela Lei nº 10.101, de 2000, e, por isso, possam ser excluídos do conceito de salário de contribuição para fins de incidência das contribuições previdenciárias, tomo a liberdade de transcrever trecho do voto proferido pelo Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira, no Acórdão nº 2201003.417, sessão de 07 de fevereiro de 2017, que estabelece as balizas para a correta análise dos fatos trazidos à colação nesse processo: Como regra geral, as contribuições previdenciárias têm por base de cálculo a remuneração percebida pela pessoa física pelo exercício do trabalho. É dizer: toda pessoa física que trabalha e recebe remuneração decorrente desse labor é segurado obrigatório da previdência social e dela contribuinte, em face do caráter contributivo e da compulsoriedade do sistema previdenciário pátrio. De tal assertiva, decorre que a base de cálculo da contribuição previdenciária é a remuneração percebida pelo segurado obrigatório em decorrência de seu trabalho. Nesse sentido caminha a doutrina. Eduardo Newman de Mattera Gomes e Karina Alessandra de Mattera Gomes (Delimitação Constitucional da base de cálculo das contribuições sociais previdenciárias ‘in’ I Prêmio CARF de Monografias em Direito Tributário 2010, Brasília: Edições Valentim, 2011. p. 483.), entendem que: “...não se deve descurar que, nos estritos termos previstos no art. 22, inciso I, da Lei nº 8.212/91, apenas as verbas remuneratórias, ou seja, aquelas destinadas a retribuir o trabalho, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo disponibilizado ao empregador, é que ensejam a incidência da contribuição previdenciária em análise” (grifos originais) Academicamente (OLIVEIRA, Carlos Henrique de. Contribuições Previdenciárias e Tributação na Saúde ‘in’ HARET, Florence; MENDES, Guilherme Adolfo. Tributação da Saúde, Ribeirão Preto: Edições Altai, 2013. p. 234.), já tivemos oportunidade de nos manifestar no mesmo sentido quando analisávamos o artigo 214, inciso I do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048/99, que trata do salário de contribuição: “O dispositivo regulamentar acima transcrito, quando bem interpretado, já delimita o salário de contribuição de maneira definitiva, ao prescrever que é composto pela totalidade dos rendimentos pagos como retribuição do trabalho. É dizer: a base de cálculo do fato gerador tributário previdenciário, ou seja, o trabalho remunerado do empregado, é o total da sua remuneração pelo seu labor” (grifos originais) O final da dessa última frase ajudanos a construir o conceito que entendemos atual de remuneração. A doutrina clássica, apoiada no texto legal, define remuneração como sendo a contraprestação pelo trabalho, apresentando o que entendemos ser o conceito aplicável à origem do direito do trabalho, quando o sinalagma da relação de trabalho era totalmente aplicável, pois, nos primórdios do emprego, só havia salário se houvesse trabalho. Fl. 1136DF CARF MF 10 Com a evolução dos direitos laborais, surge o dever de pagamento de salários não só como decorrência do trabalho prestado, mas também quando o empregado "está de braços cruzados à espera da matériaprima, que se atrasou, ou do próximo cliente, que tarda em chegar", como recorda Homero Batista (Homero Mateus Batista da Silva. Curso de Direito do Trabalho Aplicado, vol 5: Livro da Remuneração.Rio de Janeiro, Elsevier. 2009. pg. 7). O dever de o empregador pagar pelo tempo à disposição, ainda segundo Homero, decorre da própria assunção do risco da atividade econômica, que é inerente ao empregador. Ainda assim, cabe o recebimento de salários em outras situações. Numa terceira fase do direito do trabalho, a lei passa a impor o recebimento do trabalho em situações em que não há prestação de serviços e nem mesmo o empregado se encontra ao dispor do empregador. São as situações contempladas pelos casos de interrupção do contrato de trabalho, como, por exemplo, nas férias e nos descansos semanais. Há efetiva responsabilização do empregador, quando ao dever de remunerar, nos casos em que, sem culpa do empregado e normalmente como decorrência de necessidade de preservação da saúde física e mental do trabalhador, ou para cumprimento de obrigação civil, não existe trabalho. Assim, temos salários como contraprestação, pelo tempo à disposição e por força de dispositivos legais. Não obstante, outras situações há em que seja necessário o pagamento de salários A convenção entre as partes pode atribuir ao empregador o dever de pagar determinadas quantias, que, pela repetição ou pela expectativa criada pelo empregado em recebêlas, assumem natureza salarial. Típico é o caso de uma gratificação paga quando do cumprimento de determinado ajuste, que se repete ao longo dos anos, assim, inserese no contrato de trabalho como dever do empregador, ou determinado acréscimo salarial, pago por liberalidade, ou quando habitual. Nesse sentido, entendemos ter a verba natureza remuneratória quando presentes o caráter contraprestacional, o pagamento pelo tempo à disposição do empregador, haver interrupção do contrato de trabalho, ou dever legal ou contratual do pagamento. Assentados no entendimento sobre a base de cálculo das contribuições previdenciárias, vejamos agora qual a natureza jurídica da verba paga como participação nos lucros e resultados. O artigo 7º da Carta da República, versando sobre os direitos dos trabalhadores, estabelece: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; De plano, é forçoso observar que os lucros e resultados decorrem do atingimento eficaz do desiderato social da empresa, ou seja, tanto o lucro como qualquer outro resultado pretendido pela empresa necessariamente só pode ser alcançado quando todos os meios e métodos reunidos em prol do objetivo social da pessoa jurídica foram empregados e geridos com competência, sendo que entre esses estão, sem sombra, os recursos humanos. Nesse sentido, encontramos de maneira cristalina que a obtenção dos resultados pretendidos e do conseqüente lucro foi objeto do esforço do trabalhador e Fl. 1137DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.133 11 portanto, a retribuição ofertada pelo empregador decorre dos serviços prestados por esse trabalhador, com nítida contraprestação, ou seja, com natureza remuneratória. Esse mesmo raciocínio embasa a tributação das verbas pagas a título de prêmios ou gratificações vinculadas ao desempenho do trabalhador, consoante a disposição do artigo 57, inciso I, da Instrução Normativa RFB nº 971, de 2009, explicitada em Solução de Consulta formulada junto à 5ªRF (SC nº 28 – SRRF05/Disit), assim ementada: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias PRÊMIOS DE INCENTIVO. SALÁRIODECONTRIBUIÇÃO. Os prêmios de incentivo decorrentes do trabalho prestado e pagos aos funcionários que cumpram condições préestabelecidas integram a base de cálculo das contribuições previdenciárias e do PIS incidente sobre a folha de salários. Dispositivos Legais: Constituição Federal, de 1988, art. 195, I, a; CLT art. 457, §1º; Lei nº 8.212, de 1991, art. 28, I, III e §9º; Decreto nº 3.048, de 1999, art. 214, §10; Decreto nº 4.524, de 2002, arts. 2º, 9º e 50. (grifamos) Porém, não só a Carta Fundamental como também a Lei nº 10.101, de 2000, que disciplinou a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), textualmente em seu artigo 3º determinam que a verba paga a título de participação, disciplinada na forma do artigo 2º da Lei, “não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade” o que afasta peremptoriamente a natureza salarial da mencionada verba. Ora, analisemos as inferências até aqui construídas. De um lado, concluímos que as verbas pagas como obtenção de metas alcançadas tem nítido caráter remuneratório uma vez que decorrem da prestação pessoal de serviços por parte dos empregados da empresa. Por outro, vimos que a Constituição e Lei que instituiu a PLR afastam – textualmente – o caráter remuneratório da mesma, no que foi seguida pela Lei de Custeio da Previdência Social, Lei nº 8.212, de 1991, que na alínea ‘j’ do inciso 9 do parágrafo 1º do artigo 28, assevera que não integra o salário de contribuição a parcela paga a título de “participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica” A legislação e a doutrina tributária bem conhecem essa situação. Para uns, verdadeira imunidade pois prevista na Norma Ápice, para outros isenção, reconhecendo ser a forma pela qual a lei de caráter tributário, como é o caso da Lei de Custeio, afasta determinada situação fática da exação. Não entendo ser o comando constitucional uma imunidade, posto que esta é definida pela doutrina como sendo um limite dirigido ao legislador competente. Tácio Lacerda Gama (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, Ed. Quartier Latin, pg. 167), explica: "As imunidades são enunciados constitucionais que integram a norma de competência tributária, restringindo a possibilidade de criar tributos" Fl. 1138DF CARF MF 12 Ao recordar o comando esculpido no artigo 7º, inciso XI da Carta da República não observo um comando que limite a competência do legislador ordinário, ao reverso, vejo a criação de um direito dos trabalhadores limitado por lei. Superando a controvérsia doutrinária e assumindo o caráter isentivo em face da expressa disposição da Lei de Custeio da Previdência, mister algumas considerações. Nesse sentido, Luis Eduardo Schoueri (Direito Tributário 3ªed. São Paulo: Ed Saraiva. 2013. p.649), citando Jose Souto Maior Borges, diz que a isenção é uma hipótese de não incidência legalmente qualificada. Nesse sentido, devemos atentar para o alerta do professor titular da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que recorda que a isenção é vista pelo Código Tributário Nacional como uma exceção, uma vez que a regra é que: da incidência, surja o dever de pagar o tributo. Tal situação, nos obriga a lembrar que as regras excepcionais devem ser interpretadas restritivamente. Paulo de Barros Carvalho, coerente com sua posição sobre a influência da lógica semântica sobre o estudo do direito aliada a necessária aplicação da lógica jurídica, ensina que as normas de isenção são regras de estrutura e não regras de comportamento, ou seja, essas se dirigem diretamente à conduta das pessoas, enquanto aquelas, as de estrutura, prescrevem o relacionamento que as normas de conduta devem manter entre si, incluindo a própria expulsão dessas regras do sistema (abrogação). Por ser regra de estrutura a norma de isenção “introduz modificações no âmbito da regra matriz de incidência tributária, esta sim, norma de conduta” (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 25ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2013. p. 450), modificações estas que fulminam algum aspecto da hipótese de incidência, ou seja, um dos elementos do antecedente normativo (critérios material, espacial ou temporal), ou do conseqüente (critérios pessoal ou quantitativo). Podemos entender, pelas lições de Paulo de Barros, que a norma isentiva é uma escolha da pessoa política competente para a imposição tributária que repercute na própria existência da obrigação tributária principal uma vez que ela, como dito por escolha do poder tributante competente, deixa de existir. Tal constatação pode, por outros critérios jurídicos, ser obtida ao se analisar o Código Tributário Nacional, que em seu artigo 175 trata a isenção como forma de extinção do crédito tributário. Voltando uma vez mais às lições do Professor Barros Carvalho, e observando a exata dicção da Lei de Custeio da Previdência Social, encontraremos a exigência de que a verba paga a título de participação nos lucros e resultados “quando paga ou creditada de acordo com lei específica” não integra o salário de contribuição, ou seja, a base de cálculo da exação previdenciária. Ora, por ser uma regra de estrutura, portanto condicionante da norma de conduta, para que essa norma atinja sua finalidade, ou seja impedir a exação, a exigência constante de seu antecedente lógico – que a verba seja paga em concordância com a lei que regula a PLR – deve ser totalmente cumprida. Objetivando que tal determinação seja fielmente cumprida, ao tratar das formas de interpretação da legislação tributária, o Código Tributário Nacional em seu artigo 111 preceitua que se interprete literalmente as normas de tratem de outorga de isenção, como no caso em comento. Importante ressaltar, como nos ensina André Franco Montoro, no clássico Introdução à Ciência do Direito (24ªed., Ed. Revista dos Tribunais, p. 373), que a: Fl. 1139DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.134 13 “interpretação literal ou filológica, é a que toma por base o significado das palavras da lei e sua função gramatical. (...). É sem dúvida o primeiro passo a dar na interpretação de um texto. Mas, por si só é insuficiente, porque não considera a unidade que constitui o ordenamento jurídico e sua adequação à realidade social. É necessário, por isso, colocar seus resultados em confronto com outras espécies de interpretação”. (grifos nossos) Nesse diapasão, nos vemos obrigados a entender que a verba paga à título de PLR não integrará a base de cálculo das contribuições sociais previdenciárias se tal verba for paga com total e integral respeito à Lei nº 10.101, de 2000, que dispõe sobre o instituto de participação do trabalhador no resultado da empresa previsto na Constituição Federal. Isso porque: i) o pagamento de verba que esteja relacionada com o resultado da empresa tem inegável cunho remuneratório em face de nítida contraprestação que há entre o fruto do trabalho da pessoa física e a o motivo ensejador do pagamento, ou seja, o alcance de determinada meta; ii) para afastar essa imposição tributária a lei tributária isentiva exige o cumprimento de requisitos específicos dispostos na norma que disciplina o favor constitucional. Logo, imprescindível o cumprimento dos requisitos da Lei nº 10.101 para que o valor pago a título de PLR não integre o salário de contribuição do trabalhador. Vejamos quais esses requisitos. Dispõe textualmente a Lei nº 10.101/00: Art. 2o A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: I comissão paritária escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; II convenção ou acordo coletivo. § 1o Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo ser considerados, entre outros, os seguintes critérios e condições: I índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; II programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. § 2o O instrumento de acordo celebrado será arquivado na entidade sindical dos trabalhadores. ... Art. 3º ... (...) § 2o É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em mais de Fl. 1140DF CARF MF 14 2 (duas) vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil. (grifamos) Da transcrição legal podemos deduzir que a Lei da PLR condiciona, como condição de validade do pagamento: i) a existência de negociação prévia sobre a participação; ii) a participação do sindicato em comissão paritária escolhida pelas partes para a determinação das metas ou resultados a serem alcançados ou que isso seja determinado por convenção ou acordo coletivo; iii) o impedimento de que tais metas ou resultados se relacionem à saúde ou segurança no trabalho; iv) que dos instrumentos finais obtidos constem regras claras e objetivas, inclusive com mecanismos de aferição, sobre os resultados a serem alcançados e a fixação dos direitos dos trabalhadores; v) a vedação expressa do pagamento em mais de duas parcelas ou com intervalo entre elas menor que um trimestre civil. Estabelecidas essas premissas, controvertese nesse processo se estão atendidas as seguintes condições de validade: i) a existência de negociação prévia sobre a participação; ii) a participação do sindicato em comissão paritária escolhida pelas partes para a determinação das metas ou resultados a serem alcançados ou que isso seja determinado por convenção ou acordo coletivo; iii) que dos instrumentos finais obtidos constem regras claras e objetivas, inclusive com mecanismos de aferição, sobre os resultados a serem alcançados e a fixação dos direitos dos trabalhadores. Passemos à sua análise individualizada, entretanto, antes disso, é necessário fazer uma ressalva. Neste processo há pagamentos realizados com base em mais de um instrumento de negociação. Ocorre, porém, que, excetuadas as planilhas de fls 839 (documento 11 da impugnação), referentes aos pagamentos feitos em 01/2009 e 02/2009, não há outro documento que permita segregar os pagamentos realizados de acordo com o instrumento que lhe dá suporte. Essa distinção não foi feita por data de pagamento e é razoável presumir que pagamentos feitos na mesma data misturam o que é devido com base em mais de um instrumento. Esse fato, a meu ver, dificulta a análise do recurso, uma vez que torna difícil reconhecer a procedência parcial do pedido, por falta de liquidez na decisão. Existência de negociação prévia sobre a participação Quanto a essa matéria, há divergência na jurisprudência deste Conselho a respeito da necessidade ou não do ajuste ser prévio ao período de obtenção do lucro a ser distribuído, havendo quem defenda que basta ser anterior ao pagamento. Contudo, filiome à corrente que entende que a conclusão do acordo deve anteceder ao período de referência, pois essa é uma decorrência lógica da finalidade para a qual o benefício é instituído. O benefício fiscal, nesse caso, é instrumento para estimular as empresas a adotarem programas de participação nos lucros e resultados e estes, por sua vez, visam promover a integração entre capital e trabalho, estabelecendo estímulos ao trabalhador através das metas a serem alcançadas e da premiação delas decorrentes. Em última análise, ganha o país com o incremento da produtividade e da eficiência. Esse incremento e esse ganho só existirão se os critérios e condições forem estabelecidos previamente. Devese ressaltar que, no caso sob análise, os critérios utilizados nos Acordos Próprios de Participação estão atrelados a metas de desempenho. Nesse caso, não é possível afirmar que a lei não estabelece um critério temporal para sua fixação, já que o inciso II, do § 1º do art. 2º da Lei nº 10.101, de 2000, prescreve textualmente: II programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. Fl. 1141DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.135 15 Em benefício da clareza, volto a ressaltar meu entendimento de que, independentemente do critério a ser utilizado, seja programas e metas, índice de produtividade/lucratividade, ou qualquer outro eleito pelas partes, o ajuste deve ser prévio ao período de apuração. Esse entendimento encontra eco na jurisprudência desse colegiado, do que serve como exemplo a seguinte manifestação da Conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, no voto condutor do Acórdão nº 2401003.492 da 4ª Câmara/1ª TO, sessão de 15 de abril de 2014: Como é sabido, o grande objetivo do pagamento de participação nos lucros e resultados e a participação do empregado no capital da empresa (essa é a base do texto constitucional), de forma que esse se sinta estimulado a trabalhar em prol do empreendimento, tendo em vista que o seu engajamento, resultará em sua participação no capital (na forma de distribuição dos lucros alcançados). Assim, como falar em envolvimento do empregado na empresa, se o mesmo não tem conhecimento prévio do quanto a sua dedicação irá refletir em termos de participação. É nesse sentido, que entendo que a lei exigiu não apenas o acordo prévio ao trabalho do empregado, ou seja, no início do exercício, bem como o conhecimento por parte do trabalhador de quais as regras (ou mesmo metas), que deverá alcançar para fazer jus ao pagamento. Da mesma forma, vislumbrase a necessidade de critérios para que se mensure o alcance dos resultados inicialmente estipulados, assim, como descreveu a autoridade fiscal. Assim, não acato de forma alguma o argumento do recorrente de que as metas já eram conhecidas ou mesmo que não há grande alteração das mesmas razão, pela qual a pactuação, mesmo tardia, não fere o disposto na lei, pelo contrário ao adotar tal entendimento estaria o julgador violando o texto constitucional e o reconhecimento dos acordos coletivos, o que não venho a concordar. Novamente, entendo que o auditor não desconstitui o pagamento da verba, muito menos os reflexos trabalhistas ajustados entre empregado e empregador, mas tão somente não acata o acordo ali firmado para que a verba paga à título de participação nos lucros esteja excluída do conceito de salário de contribuição. Se assim, não fosse, poderseia vislumbrar que o trabalho exaustivo do empregado durante todo um ano, com a promessa por parte do empregador de uma futura participação nos lucros, resultasse no incremento ínfimo em sua remuneração. Ou seja, para que possa sentirse estimulado o empregado, tem que ter a mínima noção do quanto esse seu empenho, trarlheá de resultados, até para que o mesmo verifique seu interesse em dedicarse de forma mais profícua. Outro ponto, que merece destaque é o fato que um dos requisitos a serem apurados diz respeito a absenteísmo. Ora, em julho, ago, set ou mesmo dezembro é que o empregado saberá o quanto sua faltas irão influenciar no PLR que já está em curso??? Fl. 1142DF CARF MF 16 No mesmo sentido, do Acórdão nº 9202004.347 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, sessão de 24 de agosto de 2016, extraise do voto do relator, Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos: Com relação à data de assinatura do PLR, acompanho o entendimento do voto do relator da decisão recorrida. Com efeito, entendo que a assinatura do acordo em data posterior à do período de apuração dos lucros ou resultados a serem distribuídos, retira da verba paga uma de suas características essenciais, a recompensa pelo esforço conjunto entre o capital e o trabalho, para alcance de metas, o que traria competitividade à empresa e, em última análise ao país. No caso dos autos, conforme esclarecido na decisão ora recorrida, todos os acordos para os anos de 2006, 2007 e 2008, foram pactuados no fim do exercício a que se referem, ou seja, o cumprimento ou não das metas já eram praticamente fatos pretéritos. Acompanho o entendimento do acórdão recorrido e, para fins de ilustração, encontrase reproduzido o entendimento do conselheiro relator do voto condutor do acórdão recorrido, nesse ponto: Não procede, portanto, a alegação de que quando a Lei nº 10.101/2000 fala de pactuação prévia, ela o faz no sentido de que o acordo deve ser negociado e celebrado previamente ao pagamento de qualquer valor, o que não implica a impossibilidade de se assinar o instrumento no início do período de apuração; Tendo a PLR a finalidade de incentivar o trabalhador a realizar e oferecer à empresa um plus de produtividade que exceda ao resultado rotineiro e ordinário decorrente do contrato de trabalho, avulta que acordo tem que ser assinado antes do início do período de apuração, para que os trabalhadores saibam, com precisão, o quê, como, quando, quanto precisam fazer, para auferir o ganho patrimonial que lhes é prometido por intermédio do plano ajustado. Antes do início do período de apuração necessitam ter o claro e preciso conhecimento de quanto e quando irão ganhar, sob que forma, e como serão avaliados, para poderem decidir se vale ou não a pena se empenhar de maneira excessiva à ordinária e comum. São as tais das REGRAS CLARAS E OBJETIVAS quanto aos direitos substantivos dos trabalhadores. Portanto, é de se negar provimento do Recurso Especial do Sujeito passivo também quanto a esta matéria. Isto posto, temos que o acordo assinado em 29 de abril de 2008 teria vigência de 01/01/2008 a 31/12/2009, com periodicidade semestral, o que significa que a apuração dos resultados teria por base os períodos de 01/01 a 30/06 e de 01/07 a 31/12 de cada ano (fls 244/263). Assim, pressupõese que os pagamentos realizados no início de 2009 teriam por base os resultados apurados de 01/07 a 31/12/2008; os pagamentos realizados no segundo semestre de 2009 teriam por base os resultados do primeiro semestre; e os pagamentos realizados no primeiro semestre de 2010, estariam baseados no resultado do segundo semestre de 2009. Para esses pagamentos, e desde que realizados com base nesse acordo, a data do Fl. 1143DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.136 17 acordo é prévia ao período de apuração do lucro, de modo que entendo que estaria atendida essa exigência específica. O acordo relativo ao período base 2010, por outro lado, só foi assinado em 16 de dezembro de 2010, logo, inequivocamente, não atende essa exigência (fls 293/323). O acordo próprio relativo ao anocalendário de 2011 foi assinado em 17 de abril desse ano (fls 325/358). Nesse caso, entretanto, prevê periodicidade anual com uma antecipação de pagamento em 31 de julho de 2011 e pagamento final em 31 de janeiro de 2012. Nesse caso, não é possível afirmar que o acordo foi assinado previamente, como exige a norma. As Convenções Coletivas, por outro lado, foram assinadas: em 3 de novembro de 2008 (vigência 1º de setembro de 2008 a 31/08/2009) para pagamento até 1º/03/2009 e antecipação até 10 dias após a assinatura (fls 360/370); em 19 de outubro de 2009 (vigência 1º de setembro de 2009 a 31/08/2010) para pagamento até 1º/03/2010 e antecipação até 10 dias após a assinatura (fls 372/378); em 20 de outubro de 2010 (vigência 1º de setembro de 2010 a 31/08/2011) para pagamento até 1º/03/2011 e antecipação até 10 dias após a assinatura (fls 379/387); A despeito desse período de vigência diferenciado, a meu ver, as convenções tem cunho retroativo, já que se referem ao lucro do ano em curso. Do que foi exposto, considerando esse primeiro critério e presumindo que os pagamentos foram feitos nas datas previstas nos instrumentos, apenas as competências 01/2009, 02/2009, 07/2009, 01/2010 e 02/2010, e nos pagamentos feitos com base no Acordo próprio de 2008, atenderiam a exigência de existência de acordo prévio (pressupõese, entretanto, que na mesma data houve pagamento com base em convenção coletiva). Nesse caso, não atenderiam a exigência de definição em instrumento prévio de acordo os pagamentos realizados nas competências 07/2010, 08/2010, 01/2011, 02/2011, 07/2011, 08/2011 e 09/2011. Participação do sindicato em comissão paritária escolhida pelas partes para a determinação das metas ou resultados a serem alcançados ou que isso seja determinado por convenção ou acordo coletivo. Quanto a esse item, retomemos o que diz a Lei nº 10.101, de 2000: Art. 2o A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: I comissão paritária escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; II convenção ou acordo coletivo. Fl. 1144DF CARF MF 18 (...) O texto legal estabelece claramente que, se o procedimento escolhido for a comissão paritária, ela deve ser integrada por um representante indicado pelo sindicato. Nada indica que isso seja uma sugestão ou uma possibilidade, pelo contrário, a atuação do representante sindical é elemento que confere legitimidade ao instrumento que resulta da negociação. O sindicato tem por função estabelecer o equilíbrio entre as forças envolvidas no processo de negociação, protegendo aqueles que constituem o lado mais vulnerável. O acordo firmado em 29 de abril de 2008 não teve a participação do sindicato, embora este tenha sido convidado. A ausência do sindicato revela um impasse na negociação e não há nada que permita presumir que o acordo firmado seja o melhor para os trabalhadores. O processo não evidencia a natureza do conflito, contudo não vejo espaço para relativizar o texto legal a partir de presunções sem qualquer base empírica de que os empregados seriam prejudicados caso não houvesse o acordo tal como foi realizado. Esse tipo de relativização acaba por esvaziar o conteúdo da lei, transformando uma das partes da negociação em mera chanceladora do que é oferecido pela outra, sob pena de o acordo realizarse sem sua participação. Se os empregados fossem capazes de defender seus direitos em confronto direto com seus empregadores, nosso ordenamento jurídico não teria criado estruturas caras e complexas como as sindicais. Por isso, se a lei exige que o sindicato participe da negociação, ela não é válida sem ele. Nesse sentido caminha a jurisprudência do Trabalhista, conforme se observa na decisão noticiada no seguinte Acórdão (Processo nº TSTAIRR 1012379.2013.5.15.2002, julgado em 20/04/2016, Ministro Relator Augusto César Lei de Carvalho): Quanto ao tema, o Tribunal a quo consignou o seguinte: "O art. 2º da Lei 10.101/2000, que dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa e dá outras providências, assim disciplina a questão do procedimento para a formalização do pagamento do PLR: 'Art. 2º A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: I comissão paritária escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; II convenção ou acordo coletivo'. Portanto, verificase, a princípio, que não há problema de entabulamento de acordo através de comissão paritária, como ocorreu no caso em debate. Entretanto, tal comissão, conforme salientado no inciso I, deve ser integrada obrigatoriamente por um membro escolhido pelo respectivo sindicato profissional. 'In casu', a reclamada comprovou que diligenciou no sentido de convidar o respectivo grêmio profissional e seus congêneres de grau superior (vide ID's 85bb821, 6fe01aa e 28f8739) a realizar tal indicação, o que restou negado (vide ID's 489776e, 5ddbed6 Fl. 1145DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.137 19 e 300bfb), visto o impasse ocorrido em relação à cláusula referente ao cálculo do PLR com base nos índices de absenteísmo dos trabalhadores. Ora, 'data maxima vênia', entendo, smj, que é impossível a formação da comissão paritária sem o membro indicado pelo sindicato, visto tratarse de requisito legal obrigatório. Como, então, solucionar a questão quando o sindicato é renitente em não indicar tal membro? A resposta está na própria lei que regulou o PLR (vide art. 4º): 'Art. 4º Caso a negociação visando à participação nos lucros ou resultados da empresa resulte em impasse, as partes poderão utilizarse dos seguintes mecanismos de solução do litígio: I mediação; II arbitragem de ofertas finais, utilizandose, no que couber, os termos da Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996'. E, ainda, caso isto também não seja possível, deveria a empresa reclamada suprir tal indicação de forma judicial, a qual é plenamente cabível na seara coletiva, com escora, inclusive, no art. 616 da CLT. Neste sentido, Estêvão Mallet já se manifestou: 'Assim, também o consentimento sindical ilegitimamente recusado admite suprimento judicial. Ao dar esse suprimento, permitindo a celebração do acordo ou da convenção coletiva de trabalho, está o juiz unicamente tolhendo o arbítrio sindical, em defesa dos verdadeiros interesses da categoria, de que é porta voz normalmente, mas não soberanamente, o sindicato' (in Outorga Judicial do Consentimento Negado pelo Sindicato', pp. 99/112). Tal entendimento foi adotado pelo E.TRT da 2ª Região, 'in verbis': 'ACORDO COLETIVO. RECUSA ILEGÍTIMA DE CONSENTIMENTO DO SINDICATO PROFISSIONAL. SUPRIMENTO JUDICIAL DE CONSENTIMENTO RECUSADO IMPRESCINDÍVEL PARA GARANTIA DOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS. Uma vez comprovado nos autos que a recusa do sindicato na realização do acordo coletivo viola a vontade primordial da categoria é imprescindível admitirse o suprimento judicial do consentimento recusado, vez que não podem os integrantes da categoria ficarem sem ação para sua defesa, prejudicados por uma recusa ilegítima do Sindicato, tendo em vista o disposto no artigo 5º, XXXV da Constituição Federal. Ainda que a participação do sindicato na negociação coletiva esteja prevista na Constituição Federal, o sindicato não é e nem pode ser transformado em árbitro supremo dos interesses da categoria,os efetivos interesses desta é que sempre devem prevalecer (TRT2 DC: 20005200500002000 SP 20005 Fl. 1146DF CARF MF 20 200500002000, Relator: MARCELO FREIRE GONÇALVES, Data de Julgamento: 05/09/2005, SDC TURMA, Data de Publicação: 18/10/2005). O próprio C.TST já supriu judicialmente a ausência de um sindicato e consentiu a homologação de um acordo coletivo (RODC 67059385.2000.5.15.5555 , Relator Ministro: Wagner Pimenta, Data de Julgamento: 09/05/2002, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, Data de Publicação: DJ 30/08/2002). Por consequência, o acordo formalizado através de comissão paritária (vide ID 5ba2da5) está eivado com o vício da nulidade absoluta, podendo ser reconhecido de ofício pelo Magistrado. Assim, evitandose o enriquecimento ilícito, o pagamento efetuado pela reclamada deve ser considerado como antecipação de PLR, como preceituado no art. 3º, § 2º, da lei em comento, não existindo a possibilidade, pela aplicação do Princípio da Igualdade, de qualquer diferenciação entre seus trabalhadores, cabendo ao reclamante a sua cotaparte de maneira integral, que poderá ser compensada 'com as obrigações decorrentes de acordos ou convenções coletivas de trabalho atinentes à participação nos lucros ou resultados' (vide art. 3º, § 3º). Neste diapasão, devido ao reclamante o PLR de 2013, sem qualquer desconto em razão de seus afastamentos. Reformo." (fls. 645647) Com base no exposto, entendo que o acordo firmado em 29/04/2008 e que serviu de base para os pagamentos relativos às competências 01/2009, 02/2009, 07/2009, 01/2010 e 02/2010, constitui instrumento que não atende às exigências da Lei nº 10.101, de 2000, no que diz respeito à necessidade de participação do sindicato, para fins de justificar os pagamentos de PLR. Que dos instrumentos finais obtidos constem regras claras e objetivas, inclusive com mecanismos de aferição, sobre os resultados a serem alcançados e a fixação dos direitos dos trabalhadores O acordo firmado em 29/04/2008, relativo ao programa 2008/2009, é bastante conciso em suas regras, dentre elas, destaco as seguintes (fls 244): 5. Direitos substantivos Fica acordada a participação nos lucros ou resultados, conforme anexo que, para todos os efeitos legais, integra o presente instrumento. Caso o BANCO não tenha lucro, o pagamento será feito a título de participação nos resultados. (...) 11. CLAREZA DAS REGRAS BANCO e EMPREGADOS entendem suficientemente claras as regras estipuladas no presente Acordo. Fl. 1147DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.138 21 (...) 14. REGRAS ADJETIVAS E MECANISMOS DE AFERIÇÃO DAS INFORMAÇÕES PERTINENTES AO CUMPRIMENTO DO PRESENTE ACORDO São válidos, como mecanismos de aferição de informações, todas as provas admitidas em Direito, inclusive balanços publicados e formulários internos de avaliações. Na documentação juntada, o acordo é seguido por algumas planilhas que, aparentemente, constituem o referido anexo. Não há notícia de como esse anexo foi elaborado e aprovado. Inicialmente, é necessário registrar que, para a área administrativa, o que, segundo o acordo juntado a fls 762, representa mais de 80% dos empregados, existe a previsão de que o cálculo seja composto por uma avaliação de desempenho individual, promovida pela "presidência, diretores e gestores da empresa", pelo qual será atribuído um conceito ao empregado que pode ir de "insatisfatório" a "outstanding", o que implicaria a aplicação de um multiplicador/redutor que variaria de x0,1 a x2,0. Não há indicação de que critérios seriam utilizados para atribuir um desses conceitos, o que torna a avaliação extremamente subjetiva (fls 261/301/334). Um exemplo da aplicação desse critério absolutamente subjetivo está juntado à fl 808, onde se vê que são estabelecidas como metas/critérios, por exemplo: Qualidade dos serviços, orientações ou informações prestadas (exatidão, segurança, informações completas) Preocupação em orientar o cliente sobre ações preventivas e/ou medidas a serem adotadas para corrigir falhas ou otimizar o trabalho A essas metas/critérios são atribuídos os conceitos: insatisfatório, satisfatório, superior, outstanding. Pelo teor do documento, fica evidente a impossibilidade de se aferir a correção da nota atribuída ao empregado, o que denota a falta de clareza/objetividade das regras. Para a área comercial, por outro lado, estão estabelecidos critérios de pagamentos como os que são transcritas abaixo (fls. 714): 3. Indicadores do Banco Indusval Multistock 3.1. Profissionais de Vendas 3.1.1. Gerentes de Operações de Crédito (empréstimo, desconto, conta corrente e câmbio) > 3,5% da Margem de contribuição Líquida (meta individualizada por gerente). Margem de Contribuição Líquida + Receitas de juros e tarifas Fl. 1148DF CARF MF 22 Custos de funding Custos de serviços /+ Inadimplência (60 dias) custos diretos (equivalente a 5 salários) = Margem de Contribuição Líquida Este exemplo expõe a tônica de todo o documento que contém, efetivamente, para a área comercial, regras bastante objetivas. Ocorre porém que essas regras não estabelecem critérios adequados ao pagamento de PLR, mas correspondem, isto sim, a uma das modalidades clássicas de pagamento de salário, que é o salário por produção. A jurisprudência trabalhista já teve oportunidade de se manifestar sobre essa modalidade de regra e a impossibilidade de que suportem pagamento de PLR. Nesse sentido, transcrevo do Acórdão relativo ao Agravo de Instrumento contra despacho que negou seguimento ao Recurso de Revista nº TSTRR160173.2012.5.02.0314, julgado em 22/02/2017, Relatora Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma, o que segue: O Eg. TRT, no particular, reformou a r. sentença e acresceu à condenação o pagamento de diferenças salariais em razão da integração da PLR ao salário e reflexos. Estes são os fundamentos: Nos termos da Lei 10.101/2001, a participação nos lucros e resultados (PLR) deve ser instituída mediante acordo/convenção coletiva ou comissão de trabalhadores, não podendo a referida verba ser paga mais de 2 (duas) vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil (§ 2 do art. 2º da referida lei). Também nos termos da referida lei e do art. 7º, XI da Constituição Federal a PLR não integra a remuneração do empregado e "nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade" (art. 3º da Lei 10.101/2001) Na presente hipótese depreendese dos autos que a PLR foi paga ao Reclamante atendendo a requisitos previstos no acordo coletivo que a instituiu, e que contempla a necessidade de avaliação individual de desempenho do empregado, considerando critérios de produtividade e atingimento de metas conforme preceitua a cláusula 3ª do anexo 1 do acordo coletivo juntado no volume de documentos em apartado (doc. 7). Não obstante, o art. 2º, § 1º da referida lei é bastante claro ao estabelecer que os instrumentos coletivos que definam o cálculo da verba deverá levar em consideração índices de produtividade, qualidade e lucratividade da empresa. Muito embora o inciso II faça menção à programa de metas, obviamente está se referindo à metas coletivas, a serem suportadas por todos os empregados e pela empresa, considerando a teleologia da norma. O procedimento pelo qual se condiciona o cálculo e pagamento da PLR ao atendimento de metas e critérios individuais desvirtua a natureza da verba, instituída como uma forma de distribuir o resultado positivo obtido pela empresa, e que o empregado ajudou a conseguir coletivamente, devendo ser partilhado de forma igualitária. Nos moldes em que foi quitada na presente Fl. 1149DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.139 23 hipótese, ainda que tenha sido observada a periodicidade legal, a verba mais se aproxima da figura do prêmio ou comissão, sendo, assim, devida sua integração, por força do art. 457 da CLT. Este, inclusive, tem sido o entendimento do TST em casos análogos, conforme se depreende dos seguintes arestos: (...) Desta forma, merece guarida a pretensão de reforma do Reclamante. O entendimento expresso nesse excerto da decisão recorrida foi mantido pelo TST: Quanto à PLR, o Tribunal Regional registrou que o acordo coletivo contemplava a necessidade de avaliação individual de desempenho do empregado, considerando critérios de produtividade e atingimento de metas. Todavia, assentou que o pagamento baseado nesses critérios constituía desvirtuamento dos objetivos da Lei n° 10.101/2000. Nesta esteira, ao contrário do alegado, os critérios estabelecidos em norma coletiva foram analisados, mas foram rechaçados diante do que dispõe a legislação específica. A invocação da Súmula nº 340 do TST serviria à discussão relativa ao cálculo das horas extras. Não guarda pertinência com a questão controvertida, especificamente referente à configuração da natureza salarial da PLR e sua integração ao salário. Estão incólumes os dispositivos invocados. No mesmo sentido: PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS. AFERIÇÃO DO PAGAMENTO SEGUINDO CRITÉRIOS INDIVIDUAIS DA PRODUÇÃO. FEIÇÃO COMISSIONADA DA VERBA. NATUREZA SALARIAL. INTEGRAÇÃO À REMUNERAÇÃO MENSAL. Diante do pagamento da participação nos resultados segundo critérios individuais de produtividade e não em função do resultado da empresa, resta demonstrada a natureza salarial da parcela, pois consistente em verdadeira comissão paga ao trabalhador pelo trabalho. (TRT 14ª Região, Processo Nº RO 000118867.2015.5.14.0008, Relatora Desembargadora Socorro Guimarães, Data do Julgamento: 13/12/2016, 2ª Turma) TST PARCELA PAGA A TÍTULO DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS. FRAUDE. NATUREZA JURÍDICA DE COMISSÕES. INTEGRAÇÃO NA BASE DE CÁLCULO DAS DEMAIS PARCELAS DE NATUREZA SALARIAL. Na hipótese, ficou registrado, no acórdão recorrido, que a parcela variável paga ao reclamante tinha natureza jurídica de verdadeiras comissões, uma vez que apurada com base em critérios individuais Fl. 1150DF CARF MF 24 referentes à sua produção, em nada se relacionando com os lucros e resultados da empresa. Embora a parcela variável paga ao reclamante tenha sido prevista em norma coletiva como participação nos lucros e resultados, a sua natureza jurídica deve ser aferida com base nos contextos fático e probatório nos autos. Não basta a denominação jurídica apontada na norma coletiva. Desse modo, considerando que a parcela variável paga ao reclamante tinha contornos de comissões, não há como afastar a sua natureza salarial. Ressaltase que rever a conclusão do Tribunal de origem acerca da natureza jurídica da parcela paga semestralmente ao reclamante demandaria o revolvimento de fatos e provas, vedado nesta instância recursal de natureza extraordinária, nos termos da Súmula nº 126 do TST. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR 18451.2014.5.03.0035, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 20/04/2016, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/04/2016) PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS NATUREZA SALARIAL PAGAMENTO DE COMISSÕES 1. O Eg. TRT concluiu que houve fraude no pagamento da parcela sob a rubrica de PLR, ensejando o reconhecimento da natureza salarial de comissão. 2 Registrado no acórdão regional que a verba era paga com base em critério de atingimento de metas individuais, em nada se relacionando com os lucros e resultados da empresa, correto o reconhecimento da natureza salarial da parcela. Julgados. [...] (RR 260424.2012.5.15.0016, Relatora Ministra: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 31/08/2016, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 02/09/2016) Esse padrão é repetido nos demais acordos (2010 e 2011) juntados ao processo e, como já afirmado, embora existam regras objetivas quanto à metodologia de cálculo, elas são adequadas ao pagamento de verba salarial e não de PLR. Quanto a esse aspecto, compreendo que, no fundo, todo pagamento de PLR tem um cunho contraprestacional em relação ao trabalho, caso contrário não haveria que se falar em regra isentiva. Assim, analisandoos, é normal que assumam a feição de comissão ou bônus, por exemplo, mas esse núcleo salarial deve estar revestido por outras características correspondentes às exigências contidas na lei, que lhe atribuam a feição de PLR. Na hipótese em questão, o que há é mero pagamento de comissão e nada mais. A única coisa que diferencia essa comissão das pagas pelas empresas que submetem esse pagamento à tributação é o nome. Não foi agregada aí qualquer condição que fosse suficiente para lhe atribuir a natureza de PLR. Quanto a esse aspecto, Sérgio Pinto Martins, em sua obra "Participação dos empregados nos lucros das empresas", assim distingue a participação nos lucros e resultados do saláriotarefa: O saláriotarefa também distanciase da ideia de participação nos lucros. No saláriotarefa, ou salário por tarefa, o empregado tem seu salário calculado de acordo cm a unidadetarefa dos serviços realizados. Inexiste dependência dos lucros obtidos pela empresa, mas, de certa forma, da produção do empregado, visto que, quanto mais produz, mas poderá receber a título de salário tarefa. Pouco importa se a empresa obtém ou não lucro em seu Fl. 1151DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.140 25 empreendimento, enquanto a participação nos lucros depende necessariamente da existência de lucros. Assim, o saláriotarefa depende do resultado imediato do trabalho do empregado, e não do resultado final obtido pela empresa no decorrer de um ano. (p. 39) Por isso, correta a leitura feita pela fiscalização de que as planilhas apresentadas consistem em meios de pagamento de remuneração na modalidade comissão ou prêmio. Por outro lado, é de se destacar também que os Acordos Plano de Participação em Lucros ou Resultados (PLR Programa Próprio) juntado a fls. 293 e 325, relativos aos anos de 2010 e 2011, em sua cláusula oitava, prevê: As metas deverão ser definidas e repassadas aos empregados no início de cada semestre e não poderão ser majoradas. O Programa é baseado no resultado/desempenho da empresa e dos profissionais, através de metas definidas no início do exercício do semestre e aferidas no final do mesmo. Área Comercial as metas são baseadas em resultados individuais de performance de acordo com os negócios e operações gerados. O primeiro parágrafo transcrito evidencia que o Acordo não contém as metas a serem atingidas, já que sua definição foi atribuída a um fórum do qual não há notícia no processo, o que também contraria a legislação de regência. Portanto, por todos os problemas que foram apontados acima: ausência de metas nos instrumentos de negociação, subjetividade dos critérios estabelecidos e natureza puramente salarial da verba, reputo não demonstrada a existência, nos acordos apresentados (2008, 2010 e 2011), de regras claras e objetivas que justificassem pagamentos à título de PLR. As Convenções Coletivas, por sua vez, seguem um mesmo padrão, por isso utilizarei como exemplo a de 2010. Há uma regra básica que prevê o pagamento de 90% do salário base acrescido das verbas fixas de natureza salarial, mais um valor fixo. É estipulado um teto para o pagamento individual e também uma margem de limitação em razão do lucro do banco: o pagamento de PLR deve corresponder a no mínimo 5% e, no máximo, 13% do lucro do banco. Essa margem justificaria um pagamento de valor individual acima do limite inicialmente estabelecido. Conforme se vê, em que pese o pagamento esteja limitado a um determinado percentual do lucro obtido pela instituição financeira, não há o estabelecimento de qualquer meta ou mesmo de índice de lucratividade a ser atingida. Aliado ao fato de que os valores são estipulados ao fim do período de apuração do lucro, quando já é possível uma previsão sem muitas variáveis do lucro a ser obtido, não há qualquer álea nessa previsão. Como já tive oportunidade de manifestar em outros processos, entendo que esse tipo de previsão desvirtua o instituto do PLR, pois não há nada nele que estimule a produtividade do empregado, já que se está tratando de resultados já atingidos. Fl. 1152DF CARF MF 26 Portanto, a meu ver, essas Convenções Coletivas também não contém regras adequadas ao pagamento de PLR, sendo os valores pagos com base nelas remuneração pura e simples. Dos pagamentos efetuados com fundamento em Plano Próprio aliado ao pagamento com base em Convenção Coletiva Quanto a esse aspecto, discordo da fiscalização. A empresa pode efetuar pagamento de PLR com base em mais de um instrumento e a lei lhe faculta que faça a compensação entre eles, mas isso, como o próprio termo sugere é uma prerrogativa da empresa. Não descaracteriza o PLR o fato de ser pago com base em mais de um instrumento, desde que respeitada a periodicidade de pagamento estabelecida na lei. Da PLR como substituição ao salário A fiscalização aponta a proporção entre o salário anual e o valor pago a título de PLR para alguns empregados, que chegaria a superar os 200%, como um indicador de que essa verba está sendo utilizada como substituto do salário. Esse argumento é combatido pela contribuinte, que aponta erros no comparativo apresentado pela fiscalização e aduz que não existe limite legal para o pagamento de PLR, de forma que, no caso concreto, este só estaria limitado pelas condições do próprio acordo, no qual os limites foram estabelecidos de acordo com a categoria (8 salários para os funcionários administrativos e 14 para os funcionários de vendas). Nesse sentido, considero oportuno transcrever o julgado proferido pela 1ª Turma da 3ª Câmara em sessão de setembro de 2013, que trata da limitação do valor pago a título de PLR, quando comparado com o salário do empregado. Cuidase do acórdão 2301003 731, que teve como redator designado quanto ao tema o Conselheiro Mauro José da Silva: A questão que agora enfrentamos diz respeito à existência de um limite ao pagamento da PLR. Parecenos que a interpretação do caput do art. 3º da Lei 10.101/2000 esclarece a dúvida. A norma regulamentadora de tal dispositivo determina que a PLR “não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado”. Ou seja, não pode a verba paga a título de PLR tomar uma feição de parcela que remunere a prestação do trabalho. Para tanto, os indícios colhidos na situação fática devem ser cuidadosamente analisados. O principal indício de que a empresa está usando a PLR como substituição do salário é a elevada proporção entre PLR e salário. É certo que a lei não estabelece tal limite, mas essa não é situação inédita no direito tributário. Nossas leis tributárias estão repletas de conceitos indeterminados que suscitou a atuação do hermeneuta. Como exemplo, temos a determinação do valor de tributo que torna a exação confiscatória. A Corte Constitucional brasileira no ADI 551 debateu a respeito da configuração de uma situação de confisco tributário. Naquela ocasião, o Ministro Sepúlveda da Pertence afirmou que não sabia “a que altura um tributo ou uma multa se torna confiscatório; mas uma multa de duas vezes o valor do tributo, por mero retardamento da satisfação, ou de cinco vezes, em caso de sonegação, certamente sei que é confiscatório e desproporcional”. Em outra ocasião, na ADI 520, o Ministro Celso de Mello reconheceu que a vedação ao confisco Fl. 1153DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.141 27 é uma “cláusula aberta veiculadora de um conceito jurídico indeterminado, mas o excesso de poder estatal na fixação do tributo pode ser verificado pelo juiz diante do caso concreto”. Nos casos referidos a Corte Constitucional tratava de afastar por inconstitucionalidade norma validamente inserida em nosso ordenamento, o que é vedado para este Tribunal Administrativo. No entanto, o raciocínio utilizado pelos Ministros pode ser utilizado num caso de aplicação de limite não previsto expressamente em lei, mas decorrente de interpretação fundada na finalidade da lei, como é o caso do limite para a PLR. Assim, se não sabemos qual valor torna uma PLR substitutiva do salário, podemos, in casu, concluir que uma parcela paga a título de PLR que seja equivalente a mais de doze vezes o salário mensal, ou equivalente ao salário anual, certamente já assumiu a feição de contraprestação pelo trabalho, de remuneração, portanto, pois certamente o trabalhador só substituiria seu salário por valor equivalente ou maior. Nesses casos a parcela, por ter verdadeira natureza remuneratória e estar em ofensa ao art. 3º da Lei 10.101/2000, deve compor a base de cálculo da contribuição previdenciária. Permitir a utilização do PLR como substituto da política salarial não foi o objetivo da Lei nº 10.101, de 2000, segundo a qual a participação nos lucros e resultados não deve substituir ou complementar a remuneração do empregado (art. 3º), e certamente também não foi essa a intenção da Constituição Federal ao prever esse mecanismo de integração entre capital e trabalho, já que a intenção declarada de seu art. 7º é de garantir a melhoria da condição do trabalhador. Quando a lei afirma que a PLR não pode substituir ou complementar o salário, não está a estipular a mera inexistência de um cláusula contratual com esse conteúdo. Para dar plena eficácia à norma em questão, é preciso investigar a situação concreta e verificar se há uma compatibilidade racional entre o que é pago a título de salário e o plus que seria devido a título de PLR. Por isso, entendo bastante adequada a limitação estabelecida no acórdão transcrito, pelo qual o PLR equivalente a 100% da remuneração anual já implica sinal inequívoco de que o instituto é usado como substituto para a remuneração. Feitas essas considerações, temse que, na hipótese em questão, utilizandose o comparativo preparado pela própria fiscalização (fls 401), pareceme que os valores pagos pela recorrente a título de PLR mantiveramse, em sua grande maioria, em um patamar razoável em relação ao salário, de forma que esse argumento não seria suficiente para descaracterização dos valores pagos a esse título. Da participação dos administradores A empresa realizou pagamento a seus administradores a título de participação nos lucros sem a incidência das contribuições previdenciárias. Segundo alega em seu recurso voluntário, os valores assim pagos são lucros e não verba decorrente do exercício do trabalho. Segundo se depreende pelo recurso voluntário apresentado, não se trata de pagamento efetuado com base na Lei nº 10.101, de 2000, e pago a todos os empregados e administradores indistintamente, mas sim de distribuição deliberada em Assembléia com base no art. 152, da Lei nº 6.404, de 1976, tendo como destinatários exclusivos os administradores. Fl. 1154DF CARF MF 28 Inicialmente, quero registrar que quem aufere lucro é a empresa e não seu administrador ou empregado. E lucro não pode ser definido simplesmente como remuneração do capital, pois consiste no resultado da combinação de ambos, trabalho e capital. O lucro da empresa, nesse caso, é o critério para o cálculo da remuneração paga ao empregado/administrador ou para remunerar o seu acionista/cotista, uns pelo trabalho outros pelo capital. A natureza será definida pela relação jurídica que justifica o pagamento. Nesse caso, o pagamento realizado está justificado pelo art. 152 da Lei nº 6.404, de 1976, que prescreve, in verbis: Art. 152. A assembléiageral fixará o montante global ou individual da remuneração dos administradores, inclusive benefícios de qualquer natureza e verbas de representação, tendo em conta suas responsabilidades, o tempo dedicado às suas funções, sua competência e reputação profissional e o valor dos seus serviços no mercado. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) § 1º O estatuto da companhia que fixar o dividendo obrigatório em 25% (vinte e cinco por cento) ou mais do lucro líquido, pode atribuir aos administradores participação no lucro da companhia, desde que o seu total não ultrapasse a remuneração anual dos administradores nem 0,1 (um décimo) dos lucros (artigo 190), prevalecendo o limite que for menor. § 2º Os administradores somente farão jus à participação nos lucros do exercício social em relação ao qual for atribuído aos acionistas o dividendo obrigatório, de que trata o artigo 202. O caput do artigo delimita a matéria de que trata, e demonstra que os administradores são remunerados tendo em conta "suas responsabilidades, o tempo dedicado às suas funções, sua competência e reputação profissional e o valor dos seus serviços no mercado" remuneração do trabalho, portanto. E essa remuneração pode ser fixada em parcela do lucro obtido critério de cálculo da remuneração do trabalho, sujeita às demais condições estabelecidas na lei. Essa matéria foi recentemente enfrentada pela 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais na sessão de 24 de agosto de 2016, o que culminou com a prolação do Acórdão 9202004.347, que concluiu pela inexistência de previsão legal para exclusão da participação nos resultados de diretores estatutários da base de cálculo da Contribuição Previdenciária. Desse acórdão, destaco do voto da Conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira os seguintes fundamentos, que adoto: Quanto aos pagamentos aos diretores estatutários (não empregados), assim como descrito acima, entendo que não demonstrou recorrente estar incorreta a descrição fiscal, ou mesmo que os valores de PLR aos diretores foram recolhidos ou estariam amparados por legislação para que os valores estejam excluídos do conceito de salário de contribuição. De forma expressa, a Constituição Federal de 1988 remete à lei ordinária a fixação dos direitos da participação nos lucros, nestas palavras: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) Fl. 1155DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.142 29 XI participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei. Conforme previsto no § 6º do art. 150 da Constituição Federal, somente a Lei pode instituir isenções. Assim, o § 2º do art. 22 da Lei nº 8.212/91 dispõe que não integram a remuneração as parcelas de que trata o § 9º do art. 28 da mesma Lei. O § 9º do art. 28 da Lei n° 8.212/91 enumera, exaustivamente, as parcelas que não integram o salário de contribuição, conforme já mencionado na legislação transcrita anteriormente. De acordo com o art. 9º, inciso V, alínea “f”, §§ 2º e 3º, do Regulamento da Previdência Social (RPS), aprovado pelo Decreto 3.048/1999, são considerados contribuintes individuais tanto o diretor não empregado como o membro do conselho de administração da sociedade anônima, hipótese dos autos. Regulamento da Previdência Social (RPS), Decreto 3.048/1999: Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas: (...) V como contribuinte individual: (Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 1999) (...) f) o diretor não empregado e o membro de conselho de administração na sociedade anônima; (Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 1999) (...) § 2º Considerase diretor empregado aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja contratado ou promovido para cargo de direção das sociedades anônimas, mantendo as características inerentes à relação de emprego. § 3º Considerase diretor não empregado aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja eleito, por assembléia geral dos acionistas, para cargo de direção das sociedades anônimas, não mantendo as características inerentes à relação de emprego. (g.n.) No mesmo sentido, prevê o art. 12, inciso V, da Lei 8.212/1991 como contribuintes individuais os administradores (o diretor não empregado e o membro de conselho de administração) da companhia. Lei 8.212/1991: Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: (...) V como contribuinte individual: (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999). (...) f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade Fl. 1156DF CARF MF 30 anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999). (g.n.) Verificase que a legislação aplicável à espécie determina, em um primeiro momento, a regra geral de incidência das contribuições previdenciárias sobre a remuneração total dos segurados obrigatórios da previdência social, no caso, na qualidade de contribuintes individuais, incluindo no sentido lato de remuneração toda e qualquer retribuição, inclusive os ganhos habituais sob a forma de utilidades. Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: III para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, observado o limite máximo a que se refere o § 5o; Somente em um segundo momento é que são definidas, de forma expressa e exaustiva, porquanto excepcionais, as hipóteses de não incidência das contribuições destinadas à Seguridade Social. A legislação previdenciária, em obediência ao preceito constitucional, é clara quando destaca, em seu art. 28, §9º, quais as verbas que não integram o salário de contribuição. Tais parcelas não sofrem incidência de contribuições previdenciárias, seja por sua natureza indenizatória ou assistencial. Quanto à participação nos lucros, encontrase expressamente descrito na alínea "j": Art. 28 (...) § 9º Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10/12/97) j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica; Não restou demonstrado pelo recorrente que o pagamento enquadravase na exclusão acima descrita. A edição da Medida Provisória nº 794, de 29 de dezembro de 1994, que dispunha sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas, veio atender ao comando constitucional. Desde então, sofreu reedições e renumerações sucessivamente, tendo sofrido poucas alterações ao texto legal, até a conversão na Lei nº 10.101, de 19 de dezembro de 2000. A Lei nº 10.101/2000 dispõe, nestas palavras Art.1o Esta Lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à produtividade, nos termos do art. 7o, inciso XI, da Constituição. Art. 2º A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: (grifo nosso) Fl. 1157DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.143 31 [...] Art. 3º A participação de que trata o art. 2º não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista ou previdenciário (...) [...] Cabe observar que o § 2º, do art. 2º, da Lei n ° 10.101, foi introduzido no ordenamento jurídico a partir da Medida Provisória nº 955, de 24 de março de 1995, e o § 3º, do art. 3º, a partir da Medida Provisória nº 1.69851, de 27 de novembro de 1998. Aliás, referente raciocínio, encontrase em perfeita consonância com o entendimento do próprio STF, que destaca que o direito previsto no art. 7, XI não é auto aplicável, iniciandose apenas a partir da edição da MP 794/1994, reeditada várias vezes e finalmente convertida na Lei 10.101/2000. Esse entendimento é extraído do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do RE 398284/RJ Rio de Janeiro. RE 398284 / RJ RIO DE JANEIRO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. MENEZES DIREITO Julgamento: 23/09/2008 Órgão Julgador: Primeira Turma Ementa EMENTA Participação nos lucros. Art. 7°, XI, da Constituição Federal. Necessidade de lei para o exercício desse direito. 1. O exercício do direito assegurado pelo art. 7°, XI, da Constituição Federal começa com a edição da lei prevista no dispositivo para regulamentálo, diante da imperativa necessidade de integração. 2. Com isso, possível a cobrança das contribuições previdenciárias até a data em que entrou em vigor a regulamentação do dispositivo. 3. Recurso extraordinário conhecido e provido. Merece transcrição excerto do voto do Ministro Menezes Direito (Relator do RE 398284/RJ): “Há três precedentes monocráticos na Corte. Um que foi relator o Eminente Ministro Gilmar Mendes; e dois outros da relatoria do Ministro Eros Grau. Então a questão está posta com simplicidade. E estou entendendo, Senhor Presidente, com a devida vênia da bela sustentação do eminente advogado, que realmente a regra necessita de integração, por um motivo muito simples: é que o exercício do direito é que se vincula à integração, não é a regra só, que nesses casos, quando manda que a lei regule o exercício, que vale por si só. Se a própria Constituição determina que o gozo do exercício dependa de lei, tem que haver a lei para que o exercício seja pleno. Se não há lei, não existe exercício. E com um agravante que, a meu ver, parece forte o suficiente para sustentar esse raciocínio. É que o fato de existir a participação nos lucros, desvinculada da remuneração, na forma da lei, não significa que se está deixando de dar eficácia a essa regra, Fl. 1158DF CARF MF 32 porque a participação pode ser espontânea; já havia participação nos lucros até mesmo antes da Constituição dos 80. E, por outro lado, só a lei pode regular a natureza dessa contribuição previdenciária e também a natureza jurídica para fins tributários da participação nos lucros. A lei veio exatamente com esse objetivo. É uma lei que veio para determinar, especificar, regulamentar o exercício do direito de participação nos lucros, dando consequência à necessária estipulação da natureza jurídica dessa participação para fins tributários e para fins de recolhimento da Própria Previdência Social. Ora, se isso é assim, e, a meu sentir, parece ser, pela leitura que faço eu do dispositivo constitucional, não há fundamento algum para afastar se a cobrança da contribuição previdenciária antes do advento da lei regulamentadora.” Pelo abordado acima, já se manifestou o STF que não apenas o texto constitucional não é auto aplicável, como a norma que regulamento o art. 7º, inciso XI, surgiu apenas com a edição da MP 794/94, convertida posteriormente na lei 10.101/2000, o que afasta a argumentação também de que a lei 6494/76 teria sido recepcionada pela Constituição para efeitos de regulamentação do art. 7º, XI. (efeito exarado em mesmo sentido pelo RE 569.441). Ainda nessa linha de raciocínio, notese, conforme grifado no art. 2º da referida lei, que a PLR descrita na Lei 10.101/2000 serve apenas para regulamentar a distribuição no âmbito dos “empregados”, ou seja, não serve para afastar do conceito de remuneração os valores pagos à título de “participações estatutárias” (administradores não empregados). Não se pode elastecer o conceito de participação nos lucros ou resultados, sob pena de todas as empresas enquadrarem como resultados, todo e qualquer pagamento feito aos seus trabalhadores e em função dessa nomenclatura desvincular as verbas do conceito de remuneração e salário. A Lei n ° 10.101/2000, resultado da conversão das Medidas Provisórias anteriores, é cristalina nesse sentido. Apenas para ressaltar, afastase aqui, também, os argumentos que o dispositivo constitucional, por si só , já afastaria para todo e qualquer trabalhador a “participação nos Lucros e resultados” do conceito de remuneração, considerando o fato de que o “caput do art. 7º da CF/88, utilizou a nomenclatura “trabalhadores”. Basta analisarmos os 34 incisos do próprio art. 7º, para que identifiquemos, que o termo “trabalhadores urbanos e rurais”, referese ao direitos dos “empregados urbanos e rurais”. Os direitos elencados no dispositivo constitucional, nos trazem a certeza do sentido estrito do direcionamento ao empregado, pretendido pelo legislador, ao considerarmos que: férias com adicional de 1/3, FGTS, repouso semanal remunerado, salário mínimo, jornada de trabalho, piso salarial, licença maternidade, licença paternidade, aviso prévio, previsão de indenização no caso de dispensa imotivada, salário família, horas extras, adicional noturno, insalubridade, periculosidade, dentro outros muitos ali elencados, são assegurados apenas aos trabalhadores detentores de uma relação de emprego, ou seja, garantidos aos empregados. No parágrafo único, também observamos a nomenclatura “trabalhadores”, porém com referência aos empregados domésticos. Levando a efeito o raciocíno pretendido pelo recorrente, chegaríamos a conclusão de obrigatoriedade de atribuir a observância dos direitos ali elencados a todos os trabalhadores autônomos. Assim, entendo que não há como acolher a pretensão do recorrente. Fl. 1159DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.144 33 Isto posto, não acato o argumento do recorrente de que o termo trabalhador descrito também no art. 1º da lei 10.101/2000, é capaz de abranger a categoria de administradores e demais contribuintes individuais. Vejase que o termo autônomo ou para previdência social, contribuinte individual, não é uma pessoa que trabalha de forma subordinada, devendo cumprir metas alcançar resultados, pois se assim o fosse, estaríamos atribuindo um requisito de empregado, qual seja a subordinação. Também vale lembrar que o trabalho de um mesmo trabalhador autônomo exigindo o cumprimento de resultados e metas durante um período (exercício) não deve ser utilizado de forma continuada, pois senão estaríamos atribuindo o segundo requisito que é a habitualidade na prestação de serviços. Dessa forma, entendo inviável a interpretação dada pelo recorrente, razão pela qual todo e qualquer pagamento feito a contribuintes individuais constituem salário de contribuição, salvo se possível o seu enquadramento dentre as hipóteses elencadas no art. 28, §9º da lei 8212/91. Percebese então, que, se o STF entendeu que não havia lei regulamentando o pagamento de PLR antes da edição da MP nº 794/1994 não há como acolher o entendimento de que a expressão “lei específica” contida na alínea “j” do § 9º do art. 28 da Lei 8.212/1991 também se refere a outras leis extravagantes, tal como a Lei 6.404/1976 que dispõe sobre as Sociedades por Ações (companhia), inclusive o seu art. 152, § 1o, estabeleceu que o estatuto da companhia pode atribuir aos administradores participação nos lucros da companhia, desde que sejam atendidos dois requisitos: (i) a fixação dividendo obrigatório em 25% ou mais do lucro líquido; e (ii) o total da participação estatutária não ultrapasse a remuneração anual dos administradores nem 0,1 (um décimo) dos lucros, prevalecendo o limite que for menor. Corroborando ainda mais esse entendimento, o Supremo Tribunal Federal (STF) pacificou sua posição quanto ao tema por meio do RE 569441/RS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, de 30/10/2014 (Info 765), submetido a sistemática de repercussão geral (art. 543B do Código de Processo Civil CPC), nos seguintes termos: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO 569.441 RIO GRANDE DO SUL RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. TEORI ZAVASCKI EMENTA: CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS. NATUREZA JURÍDICA PARA FINS TRIBUTÁRIOS. EFICÁCIA LIMITADA DO ART. 7º, XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE ESSA ESPÉCIE DE GANHO ATÉ A REGULAMENTAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL. 1. Segundo afirmado por precedentes de ambas as Turmas desse Supremo Tribunal Federal, a eficácia do preceito veiculado pelo art. 7º, XI, da CF – inclusive no que se refere à natureza jurídica dos valores pagos a trabalhadores sob a forma de participação nos lucros para fins tributários – depende de regulamentação. 2. Na medida em que a disciplina do direito à participação nos lucros somente se operou com a edição da Medida Provisória 794/94 e que o fato gerador em causa concretizouse antes da vigência desse ato normativo, deve incidir, sobre os valores em questão, a respectiva contribuição previdenciária. (g.n.) 3. Recurso extraordinário a que se dá provimento.” Fl. 1160DF CARF MF 34 Por força do artigo 62, §2o do Regimento Interno do CARF1, aprovado pela Portaria MF n° 343, de 09/06/2015, as decisões definitivas de mérito do STF e do STJ, na sistemática dos artigos 543B e 543C da Lei 5.869/1973 (Código de Processo Civil CPC), devem ser reproduzidas pelas Turmas do CARF. Essa linha de interpretação também se amolda ao posicionamento do STJ: “(...) A contribuição previdenciária sobre a participação nos lucros é devida no período anterior à MP n. 794/94, uma vez que o benefício fiscal concedido sobre essa verba somente passou a existir no ordenamento jurídico com a entrada em vigor do referido normativo. (...)” (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 95.339/PA, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/11/2012). De fato, concluise que a Lei 8.212/1991, ao excluir da incidência das contribuições os pagamentos efetuados de acordo com a lei específica, quis se referir à PLR paga em conformidade com a Lei 10.101/2000, a qual é destinada apenas aos empregados. Com base no exposto, nego provimento ao recurso voluntário no que diz respeito à incidência das contribuições previdenciárias sobre a distribuição de lucros e resultados a administradores. Da contribuição RAT sem depósito Conforme foi esclarecido no relatório, o auto de infração Debcad nº 51.032.9128 exige o valor relativo à contribuição RAT no percentual que foi majorado pelo FAP. Alega a recorrente que houve erro na apuração do FAP atribuído aos anos 2010 e 2011 e que a DRJ teria se esquivado de analisar os argumentos que demonstraram o equívoco que induziu ao erro. De acordo com a decisão recorrida: O artigo 202B do Regulamento da Previdência Social (aprovado pelo Decreto nº 3.048/1999), ao tratar da possibilidade de contestação administrativa do Fator Acidentário de Prevenção – FAP atribuído à empresa, preceitua o seguinte: Art. 202B. O FAP atribuído às empresas pelo Ministério da Previdência Social poderá ser contestado perante o Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional da Secretaria Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência Social, no prazo de trinta dias da sua divulgação oficial. (Incluído pelo Decreto nº 7.126, de 2010) § 1o A contestação de que trata o caput deverá versar, exclusivamente, sobre razões relativas a divergências quanto aos elementos previdenciários que compõem o cálculo do FAP. (Incluído pelo Decreto nº 7.126, de 2010) § 2o Da decisão proferida pelo Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional, caberá recurso, no prazo de trinta dias da intimação da decisão, para a Secretaria de Políticas de Previdência Social, que examinará a matéria em caráter terminativo. (Incluído pelo Decreto nº 7.126, de 2010) Fl. 1161DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.145 35 § 3o O processo administrativo de que trata este artigo tem efeito suspensivo. (Incluído pelo Decreto nº 7.126, de 2010) Como se vê, caso a empresa queira contestar na esfera administrativa o FAP atribuído à ela, com razões relativas a divergências quanto aos elementos previdenciários que compõem o cálculo do FAP, deverá apresentar contestação perante o Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional da Secretaria de Previdência Social do Ministério da Previdência Social, no prazo de trinta dias da sua divulgação oficial. Resta evidente, portanto, que é incabível, na presente instância administrativa, por falta de competência, a análise das alegações apresentadas pela Autuada relativas a divergências quanto aos elementos previdenciários que compõem o cálculo do FAP atribuído a ela. Já em relação às alegações no sentido de que a legislação que criou o FAP é inconstitucional e ilegal, cabe apenas frisar que as mesmas não podem ser apreciadas no presente julgamento, visto que, conforme já dito no presente voto, é vedado à autoridade julgadora, em sede de processo administrativo fiscal, afastar a aplicação, por inconstitucionalidade ou ilegalidade, de lei, decreto ou ato normativo em vigor. Combatendo o que decidiu a DRJ, o recorrente alega que: "o interesse jurídico em contestar o FAP emergiu apenas após a lavratura dos autos de infração objeto do presente processo administrativo, na medida em que, antes de tal marco, o Recorrente não possuía débitos previdenciários capazes de justificar o manejo de insurgência contra índice do FAP." Apesar da perspicácia demonstrada pelo argumento, não concordo com ele. A legislação estabeleceu prazo e procedimento próprios para que a instituição questionasse o FAP que lhe foi atribuído, ou seja, crioulhe um direito subjetivo cujo exercício estava sujeito a prazo. Por isso, com a mera divulgação do seu FAP já havia interesse jurídico no seu questionamento. Aliás, a mera possibilidade de autuação nunca foi impedimento para a discussão via mandado de segurança, na modalidade preventivo, largamente utilizado pelos contribuintes, o que evidencia a existência de interesse jurídico. É claro que isso não lhe retira totalmente a prerrogativa de questionar o auto de infração no que diz respeito aos valores cobrados a título de RAT, mas esse questionamento sofre limitações de matéria em função da competência deste órgão. Assim, o contribuinte não pode questionar a constitucionalidade de lei, por exemplo, e, no caso concreto, não pode discutir no âmbito do PAF a correção do FAP, para o qual havia sede própria. Ainda no que diz respeito ao RAT, a recorrente requer que seja analisada toda a matéria, inclusive a que submetida à demanda judicial, alegando que a propositura de ação antes da lavratura do auto de infração não implica renúncia à esfera administrativa. Fl. 1162DF CARF MF 36 Quanto a essa alegação, prejudicial em relação às que lhe seguem, adoto, sem embargo, o enunciado nº 1 da Súmula CARF: Súmula CARF nº 1: Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. O enunciado dessa Súmula não deixa margem para a interpretação pretendida pela recorrente, de que apenas as ações judiciais propostas após a lavratura do auto de infração implicariam renúncia à esfera administrativa. Neste caso, caberia à empresa estabelecer uma distinção entre a matéria que foi submetida ao crivo do judiciário e aquela que remanesceria para apreciação administrativa. Não é isso, entretanto, que pretende. Defende que a Administração se manifeste no âmbito do PAF sobre matéria que já está submetida ao judiciário, o que contraria frontalmente o enunciado sumular. Pela aplicação da Súmula, deixo de analisar as alegações com as quais a apelante pretende combater a alíquota da Contribuição ao RAT: ofensa ao princípio da legalidade, por ausência de previsão legal específica para as alíquotas; ofensa ao art. 195, § 9º da Constituição Federal; ofensa ao princípio da proporcionalidade, pela majoração determinada pelo FAP ser desproporcional ao custo gerado pela empresa ao INSS em decorrência de acidentes de trabalho; contrariedade ao conceito de tributo e princípio da isonomia, ao utilizar o FAP como meio de premiação ou punição; ofensa ao princípio da referibilidade. Conforme se extrai do acima exposto, a análise dos argumentos apresentados pela recorrente encontraria óbice também no seguinte enunciado: Súmula CARF nº 2: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Nego provimento ao recurso quanto a esta matéria. Da cobrança do adicional de 2,5% e da contribuição ao INCRA Alega a recorrente que a cobrança do adicional de 2,5% e a exigência da contribuição para o INCRA afrontam várias regras e princípios da Constituição Federal. Com esses argumentos, busca negar eficácia a comandos legais ainda em vigor. Nesse caso, a matéria não pode ser objeto de avaliação por este colegiado, conforme determina o enunciado 2 da Súmula do CARF que foi acima transcrito. Em que pese a incidência desse enunciado, que seria suficiente para afastar as pretensões da recorrente, adoto também como razões de decidir o trecho abaixo transcrito, retirado do Acórdão 2401004.218, do Conselheiro André Luís Mársico Lombardi, da 1º TO/4ª Câmara/2ª Seção deste colegiado: Portanto, no foro administrativo, não merece prosperar a argumentação da recorrente quanto à inconstitucionalidade da contribuição ao INCRA. Fl. 1163DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.146 37 Quanto aos aspectos da legalidade, temos que a investigação a respeito da natureza jurídica da contribuição para o INCRA já foi por demais tormentosa ao longo dos últimos anos, sendo que hoje os tribunais superiores pacificaram entendimento no sentido de que consubstancia contribuição de intervenção no domínio econômico: VIGÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO AO INCRA. NATUREZA DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO. LEIS Nº 7.787/89 e 8.212/91. DESTINAÇÃO DIVERSA. EMPRESAS URBANAS. ENQUADRAMENTO. I A Primeira Seção do STJ, na esteira de precedentes do STF, firmou entendimento no sentido de que não existe qualquer óbice para a cobrança da contribuição destinada ao INCRA também das empresas urbanas. Precedentes: EDcl no AgRg no REsp nº 716.387/CE, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJ de 31/08/06 e EDcl no REsp nº 780.280/MA, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ 25/05/06. II Este Superior Tribunal de Justiça, após diversos pronunciamentos, com base em ampla discussão, reviu a jurisprudência sobre o assunto, chegando à conclusão que a contribuição destinada ao INCRA não foi extinta, nem com a Lei nº 7.787/89, nem pela Lei nº 8.212/91, ainda estando em vigor. III Tal entendimento foi exarado com o julgamento proferido pela Colenda Primeira Seção, nos EREsp nº 770.451/SC, Rel. p/ac. Min. CASTRO MEIRA, Sessão de 27/09/2006. Naquele julgado, restou definido que a contribuição ao INCRA é uma contribuição especial de intervenção no domínio econômico, destinada aos programas e projetos vinculados à reforma agrária e suas atividades complementares. Assim, a supressão da exação para o FUNRURAL pela Lei nº 7.787/89 e a unificação do sistema de previdência através da Lei nº 8.212/91 não provocaram qualquer alteração na parcela destinada ao INCRA. IV Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg no AgRg no REsp 894345 / SP; Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO; T1 PRIMEIRA TURMA; DJ 24/05/2007, p. 331) (destaques nossos) Em aditamento ao voto proferido no EREsp 770.451/SC; a Min. Eliana Calmon sublinhou os traços fundamentais da espécie tributária em exame, rememorando magnífico trabalho doutrinário contido na tese apresentada pelo Dr. Luciano Dias Bicalho Camargo, em curso de doutorado da Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, o qual pedimos venia para transcrevêlo. Fl. 1164DF CARF MF 38 “As contribuições interventivas têm como principal traço característico a finalidade eleita e explicitada na consequência da norma de incidência tributária. (...) Assim, para a perfeita compreensão da norma de incidência tributária das contribuições de intervenção sobre o domínio econômico, especificamente aquelas que se prestam à arrecadação de recursos para o custeio dos atos interventivos, há de se prever uma circunstância intermediária a vincular a hipótese de incidência e a consequência tributária, sem a qual não há de se falar da existência de norma de incidência válida. Assim, nas contribuições de intervenção sobre o domínio econômico deverá coexistir, para a sua perfeita incidência, os dois núcleos da hipótese de incidência: o "fato do contribuinte", relacionado ao domínio econômico, e os atos interventivos implementados pela União. (...) Assim, no caso específico das contribuições para o INCRA, elas somente se mostram válidas na medida em que o INCRA, efetivamente, promove desapropriações para fins de reforma agrária (circunstância intermediária), visando alterar a estrutura fundiária anacrônica brasileira, conforme minudentemente visto no capítulo 3, aplicando se, assim, os recursos arrecadados na consecução dos objetivos constitucionalmente previstos: função social da propriedade e diminuição das desigualdades regionais. Salientese, por relevante, que as contribuições devidas ao INCRA, muito embora não beneficiem diretamente o sujeito ativo da exação (empresas urbanas e algumas agroindustriais), beneficiam toda a sociedade, por ter a sua arrecadação destinada a custear programas de colonização e reforma agrária, fomentam a atividade no campo, que é de interesse de toda a sociedade (e não só do meio rural), tendo em vista a redução das desigualdades e a fixação do homem na terra. Não há que se falar da existência de uma referibilidade direta, que procura condicionar o pagamento das contribuições às pessoas que estejam vinculadas diretamente a determinadas atividades e que venham a ser beneficiárias da arrecadação. Ora, o princípio da referibilidade direta, como defendido por vários autores, simplesmente não existe no ordenamento jurídico pátrio, especialmente no que se refere às contribuições de intervenção no domínio econômico. Tratase de mera criação teórica e doutrinária, sem respaldo no texto da Constituição Federal. (...) Com efeito, a exação em tela é destinada a fomentar atividade agropecuária, promovendo a fixação do homem Fl. 1165DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.147 39 no campo e reduzindo as desigualdades na distribuição fundiária. Consequentemente, reduzse o êxodo rural e grande parte dos problemas urbanos dele decorrentes. Não pode ser negado que a política nacional de reforma agrária é instrumento de intervenção no domínio econômico, uma vez que objetiva a erradicação da miséria, segundo o preceituado no §1º do art. 1º da Lei nº 4.504/64 Estatuto da Terra. Dessa forma, a referibilidade das contribuições devidas ao INCRA é indireta, beneficiando, de forma mediata, o sujeito passivo submetido a essa responsabilidade”. (destaques nossos) Se bem observados os julgados acima, resta claro que, além da definição de sua natureza jurídica, o STJ afastou todas as argumentações relativas à inconstitucionalidade ou à ilegalidade da contribuição ao INCRA, com base na “referibilidade” ou no “benefício direto”, de sorte a se considerar que as empresas urbanas não seriam contribuintes da contribuição ao INCRA. Com efeito, além dos julgados acima do STJ, cumpre mencionar ainda a orientação do STF destacada no AI 761.127AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de 14.05.2010). É verdade que ainda encontrase pendente de análise pela Suprema Corte a recepção da contribuição ao INCRA no período posterior ao advento da Emenda Constitucional n° 33/2001, que alterou o artigo 149 da Constituição Federal (Repercussão Geral no Recurso Extraordinário n° 630.898, Rel Min. Dias Toffoli, Dje de 28/06/2012). Todavia, mesmo neste aspecto particular, a chance de reconhecimento da inconstitucionalidade parece remota, pois a interpretação restritiva que se pretende atribuir ao § 2º, inciso II, alínea a, destoa da inteligência do próprio caput do art. 149, não alterado pela EC nº 33/2001, sendo certo que o próprio STF já fixou a constitucionalidade da contribuição devida ao SEBRAE, qualificada como contribuição de intervenção no domínio econômico (RE 396.266, Relator Min. Carlos Velloso), e da contribuição criada pela LC nº 110/2001, qualificada com contribuição social geral (ADIN 2.556, Relator Min. Moreira Alves), ambas incidentes sobre a folha de salário das empresas, já sob a égide da EC nº 33/2001. Sendo assim, deve ser mantida a exigência relativamente às contribuições ao INCRA. Da cobrança de juros sobre multa Ao tratar da incidência de juros sobre o crédito tributário não integralmente pago no vencimento, o Código Tributário Nacional preceitua o seguinte: Fl. 1166DF CARF MF 40 Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. (...) Assim, a alegação de que a exigência de juros sobre a multa de ofício lançada seria ilegal é totalmente improcedente, já que a multa de ofício integra o “crédito” a que se refere o dispositivo legal transcrito acima. Quer dizer, tanto a multa de ofício como o tributo compõem o crédito tributário, devendolhes ser aplicado os mesmos procedimentos e os mesmos critérios de cobrança, inclusive no que tange a incidência de juros no caso de pagamento após o vencimento. Cabe observar, ainda, que tanto o artigo 43 da Lei nº 9.430, de 1996, como o artigo 61 desta mesma Lei, trazem a previsão expressa da incidência de juros sobre a multa, conforme demonstrado abaixo: Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. (...) Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. (Vide Decreto nº 7.212, de 2010) (...) § 3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Como se vê, a incidência de juros sobre a multa de ofício está amparada pelo artigo 61 da Lei nº 9.430, de 1996, já que a multa de ofício se enquadra dentro do conceito de “débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal”. Ademais, observase que a incidência de juros sobre a multa de ofício também está amparada pelo parágrafo único do artigo 43 da Lei nº 9.430, de 1996, já que este estabeleceu expressamente que sobre o crédito tributário “correspondente exclusivamente a Fl. 1167DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.148 41 multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente” incidem juros a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo. Com efeito, em que pesem as alegações apresentadas pela Autuada, não há que se falar em nenhuma irregularidade no que tange a incidência de juros sobre a multa de ofício, visto que ela se encontra expressamente prevista em lei e que as autoridades administrativas estão plenamente vinculadas à legislação em vigor. Nesse sentido, cabe citar os seguintes precedentes judiciais e administrativos: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA SOBRE MULTA. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMA QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. 1. Entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: "É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário." (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010. 2. Agravo regimental não provido. (STJ, AgRg no Recurso Especial nº 1.335.688 PR (2012/01537730). Relator Ministro Benedito Gonçalves. Decisão: 04/12/2012. Dje de 10/12/2012). (...) JUROS MORATÓRIOS INCIDENTES SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. TAXA SELIC. A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu não pagamento, incluindo a multa de oficio proporcional. O crédito tributário corresponde a toda a obrigação tributária principal, incluindo a multa de oficio proporcional, sobre o qual, assim, devem incidir os juros de mora à taxa Selic. (...) (CARF, Acórdão nº 130100.810, 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária da Primeira Seção de Julgamento, Conselheiro designado para o voto vencedor Waldir Veiga Rocha, Sessão de 01/02/2012) (...) JUROS DE MORA COM BASE NA TAXA SELIC SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. APLICABILIDADE. Fl. 1168DF CARF MF 42 O art. 161 do Código Tributário Nacional – CTN autoriza a exigência de juros de mora sobre a multa de ofício, isto porque a multa de ofício integra o “crédito” a que se refere o caput do artigo Recurso especial negado. É legítima a incidência de juros sobre a multa de ofício, sendo que tais juros devem ser calculados pela variação da SELIC. Precedentes do Tribunal Regional da 4ª Região. (CARF, Acórdão nº 9202001.806, 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, Conselheiro designado para o voto vencedor Elias Sampaio Freire, Sessão de 29/11/2011) Com estas considerações, encerro a análise do Recurso Voluntário negando lhe provimento. Recurso de Ofício O recurso de ofício se refere às competências 01 e 02/1999, em relação aos quais foi reconhecida a decadência do crédito tributário lançado em 03/2014. Vejo pelo discriminativo do débito (fls 419) que o valor exonerado supera o limite de alçada de R$ 2.500.000,00, por isso, conheço do recurso de ofício. Nesse caso, considerando que: · por força do enunciado nº 8 da Súmula Vinculante do STF o prazo decadencial das contribuições previdenciárias passa a ser regulado pelos arts. 173, I, e 150, § 4º, do Código Tributário Nacional; · esses artigos estabelecem prazo de cinco anos; · por força do que foi decidido no Recurso Especial nº 973.733/SC a aplicação do prazo previsto no art. 150, § 4º do CTN está condicionada à realização do pagamento antecipado do tributo sujeito ao lançamento por homologação e à não caracterização de dolo, fraude ou simulação; · o enunciado nº 99 da Súmula do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF estabelece que, para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, § 4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração; · a autoridade de piso relata a existência de recolhimentos de contribuições sociais previdenciárias sobre remunerações pagas a segurados empregados e contribuintes individuais e recolhimento de contribuições para terceiros nas competências 01 e 02/2009 (fls 918), bem como que não foi cogitada a atribuição de conduta dolosa, fraudulenta ou simulada ao contribuinte; Fl. 1169DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.149 43 Não merece reparo a decisão recorrida, devendo ser mantida por seus próprios fundamentos. Nego provimento ao Recurso de Ofício. Conclusão: Com base no exposto, voto por conhecer dos recursos voluntário e de ofício e, no mérito, negar provimento a ambos. (assinado digitalmente) Dione Jesabel Wasilewski Relatora Fl. 1170DF CARF MF 44 Declaração de Voto Conselheiro Carlos Henrique de Oliveira Em que pesem os argumentos e logicidade do voto, ouso discordar, somente nos aspectos mencionados, da ilustre Conselheira Dione Wasilewski. Como veremos ao longo da motivação da minha decisão, a divergência se consubstancia quanto ao cumprimento e, por vezes, descumprimento dos requisitos constantes na Lei nº 10.101/00 por alguns dos instrumentos de acordo para o pagamento da PLR. De todo modo, mister realçar que naquilo que não for expressamente abordado neste voto, assumo a motivação e a decisão da ínclita Relatora como se minhas fossem. Honrado pela menção de trecho de meu voto, na parte em que expresso meu posicionamento científico sobre a verba em análise, reitero que os requisitos previsto na norma isentiva regra de estrutura, como ensina Paulo de Barros Carvalho, e que como tal deve ser sempre analisada em confronto com norma de conduta para aferição dos efeitos tributários são de observância obrigatória que seja afastada a incidência da contribuição previdenciária sobre o valor pago a título de PLR. Reafirmo que a Participação nos Lucros ou Resultados tem sempre digo e repito sempre, natureza remuneratória, se não observadas os requisitos legais. Não se pode não reconhecer a natureza contraprestacional de uma verba paga com base no atingimento de uma meta, de um objetivo, de um ajuste, pactuados previamente. Exsurge a natureza contraprestacional em verba previamente acordada em que cabe ao empregado o cumprimento do combinado. A doutrina trabalhista é unânime em determinar a natureza de salário condição nesse casos. Tal constatação é determinante para que o intérprete possa ter os limites que a Carta de República impôs para que tal verba seja desvinculada da remuneração: os limites da Lei nº 10.101/00. Lei de conteúdo trabalhista e de efeitos tributários. Logo, imprescindível a observância das disposições constantes da norma isentiva que, como cediço em face da disposição codicista, deve ser interpretada literalmente, assim entendida a interpretação sistêmica, aquela que leva em consideração as demais disposições constantes do sistema jurídico, e que não permite o alargamento conceitual típico da integração por analogia. Impende ressaltar que qualquer ofensa à Lei isentiva torna despiciendo qualquer outra consideração sobre os valores pagos pela Recorrente, posto que retirada a norma que afastava a incidência tributária, exsurge a natureza remuneratória ínsita aos valores pagos a título de PLR, com sempre dito, verba idêntica a prêmio ou bônus Para não errarmos em nosso raciocínio, voltemos à letra fria da Lei nº 10.101/00, quanto às exigências para implantação da PLR: Art.2o A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: Fl. 1171DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.150 45 I comissão paritária escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; II convenção ou acordo coletivo. §1o Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo ser considerados, entre outros, os seguintes critérios e condições: I índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; II programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. (...)" (destaques não constam do texto da lei) A simples e isenta leitura do texto da Lei nº 10.101/00 esclarece que o instrumento firmado pelas partes, por meio de um acordo firmado por comissão paritária com participação sindical ou por convenção ou acordo coletivo, deve conter regra claras e objetivas dos direitos dos trabalhadores (exegese das disposições constantes no caput, nos incisos I e II, e no § 1º do artigo 2º). Já no incisos I e II do parágrafo 1º do artigo 2º, encontramos a exigência da pactuação prévia. Porém, como se pode confirmar por simples e literal leitura do texto, tal requisito de acordo prévio só existe se o ajuste entre as partes prever o cumprimento em programas de metas, resultados e prazos, posto que a exigência está inserida no inciso II do mencionado parágrafo 1º do artigo 2º. Realinhados quanto às exigências legais, analisemos os programas ensejadores dos pagamentos realizados pela Recorrente a título de PLR. Inicio pelo acordo de 2008. Firmado em em 29 de abril, por comissão paritária eleita e composta por representantes da empresa e dos empregados, não contou com a participação de representante sindical. Convidado a participar, o sindicato da categoria se recusou a participar, . segundo o Recorrente. Mera correspondência encaminhada por portador, com anotação deste que houve recusa em mero protocolo da missiva, foi suficiente, no entendimento da Recorrente para permitir que as partes empregados e empresa por meio de comissão paritária eleita firmassem um acordo válido a título de participação nos lucros. Não se pode concordar. A Lei nº 10.101/00 exige a participação sindical nas tratativas da comissão formada para instituição de um programa de participação nos lucros e resultados. Não há outra obrigação para o representante do sindicato que a não a mera participação. Ele não decide, ele não delibera, ele simplesmente participa, media, ajuda na composição dos interesses, Fl. 1172DF CARF MF 46 empondera os empregados na busca pelo acordo, pelo ajuste nas metas e nos direitos substantivos e nas regras adjetivas do pacto que institui a participação. Claro que não deixaria o legislador de garantir um direito social insculpido na Carta Fundamental ao arbítrio de alguém que não participa desse direito, nem da obrigação dele decorrente. Há solução legal quando ocorre a recusa do sindicato em participar da negociação. Os artigos 616 e 617 da Consolidação das Leis do Trabalho apontam a solução. Bastaria a adoção dos procedimentos ali indicados que a recusa do sindicato estaria suprida. Não soube, ou não quis, o Recorrente adotar tal procedimento. Houve descumprimento de requisito da Lei nº 10.101/00 no instrumento que instituiu a programa de participação nos lucros de 2008 e 2009. Tal descumprimento retirou o caráter isentivo da Lei. Exsurge a natureza remuneratória da verba paga a título de PLR por força de tal ajuste. Incidência de contribuições previdenciárias é inafastável. Recurso negado nesta parte. Vejamos agora o pacto referente ao exercício de 2010. Verifico que tal instrumento foi firmado em dezembro do ano de 2010. Tratase de programa de pagamento de PLR com base em metas e resultados. Não pacto prévio quando este ocorre no último mês do ano. A lei exige que as metas sejam pactuadas previamente. Em que pese alguma divergência doutrinária e jurisprudencial sobre o conceito aplicável ao ajuste prévio (prévio a quê?), é inegável que um ajuste firmado em 09 de dezembro de determinado ano só é prévio ao Natal. Norma isentiva descumprida. Incidência de contribuições previdenciárias nas verbas pagas com fulcro em tal acordo. Passemos agora ao acordo relativo ao ano de 2011. Como explicitado no Voluntário, no pacto que ensejou o pagamento da PLR no exercício de 2011, os empregados da Recorrente foram divididos em dois grandes grupos, com a finalidade de estabelecerse as metas a serem alcançadas. Um grupo denominado Cargos de natureza Administrativa, com 240 empregados, e outro Cargos de natureza Comercial com 38 empregados. Vejamos o que determina o acordo coletivo quanto às metas do trabalhadores do grupo de natureza Administrativa (Claúsula Oitava) Observando o manual Arquitetura do Programa de PLR anexado, encontro às folhas 18, nos indicadores a serem alcançados pelos funcionários da área administrativa, os Fl. 1173DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.151 47 conceitos de Insatisfatório, Satisfatório, Superior e Outstanding como metas individuais a serem obtidas por avaliações promovidas pela Presidência, Diretores e Gestores da Empresa. Não há metas objetiva numa avaliação realizada pelo gestor e pelo cliente/fornecedor interno. Requisito de norma isentiva descumprido. Caráter remuneratório da verba indiscutível, e determinante para se considerar a incidência de contribuições previdenciárias sobre os valores pagos com base no acordo de 2011. Recurso negado também nesta parte. Verifiquemos agora os ajustes para pagamento de valores a título de PLR com base nas convenções coletivas de trabalho dos anos de 2009 a 2011. Segundo a imputação fiscal não se pode pagar valores a título de PLR com base em acordo e também em convenção coletiva. Acusa ainda, a Autoridade Lançadora, que os instrumentos coletivos foram firmados ao final do exercício o que fere a exigência de pactuação prévia prevista na Lei nº 10.101/00. Não cabe razão ao Fisco. Explico. Não há em nenhum dispositivo legal qualquer menção ou mesmo possibilidade de interpretação que não possa haver dois ou mais instrumentos que pactuem o pagamento do direito social previsto no inciso XI do artigo 7º da Carta. De onde a autoridade fiscal tirou tal requisito? Dizer que pode haver compensação entre os planos significa dizer que há vedação para existam dois planos? Isso é forma de interpretação literal? Não se pode concordar, não no terreno da hermenêutica jurídica. Voltemos a letra fria da Lei. Verifico, da simples e isenta leitura do texto da Lei nº 10.101/00, que o instrumento firmado pelas partes, por meio de um acordo firmado por comissão paritária com participação sindical ou por convenção ou acordo coletivo, deve conter regra claras e objetivas dos direitos dos trabalhadores (Artigo 2º.caput, incisos I e II, e § 1º ) Já no incisos I e II do parágrafo 1º do artigo 2º, encontramos a exigência da pactuação prévia. Porém, como se pode confirmar por simples e literal leitura do texto, tal requisito de acordo prévio só existe se o ajuste entre as partes prever o cumprimento em programas de metas, resultados e prazos, posto que a exigência está inserida no inciso II do mencionado parágrafo 1º do artigo 2º. Não há tal requisito no inciso I, isto é, nos casos dos instrumentos pactuados versarem sobre regras claras e objetivas sobre índices de lucratividade, de resultados ou mesmo de produtividade, não quis o legislador estabelecer a exigência da negociação prévia desses índices. E porquê? Fl. 1174DF CARF MF 48 Em que pese não caber ao intérprete do direito buscar as razões do legislador em norma que se deva interpretar literalmente ou seja, de maneira sistêmica porém, restritiva ouso, como estudioso da ciência do direito, opinar. Ao definir que os objetivos dos programas de participação nos lucros e resultados são a integração do capital e trabalho e o incentivo a produtividade, quis o legislador que o trabalhador, aquele que detém a força do labor, pudesse participar dos ganhos que o impulso de seu trabalho conceitualmente chamada de mais valia acrescesse ao ganho do capital investido pelo empresário, pelo acionista, ou seja, que além de seu salário pago pelo trabalho prestado recebesse um quinhão daquilo que acrescentasse ao lucro, ao resultado da empresa. Para que isso não restasse como um mero favor, uma liberalidade do detentor do capital, exigiu, o legislador, um ajuste sobre aquilo que o trabalhador devia fazer para além das suas funções, qual o 'plus' a ser alcançado, qual sua efetiva missão para atingir o objetivo institucional e por via de consequência, seu quinhão nesse desiderato. Previu a letra da lei que os ajustes fossem feitos sempre com a participação sindical, fator de empoderamento dos trabalhadores, e que se dessem sobre dois grandes parâmetros: i) índices de produtividade, qualidade e lucratividade; ou ii) programa de metas, resultados e prazos, anteriormente acordados. Ora, o lucro da empresa depende como nos ensina a própria ciência destinada a aferilo, a contabilidade de inúmeros fatores, inclusive os ligados a essência da atividade, como a compra de insumos, as despesas incorridas ou adiadas, a margem de retorno, os investimentos realizados ou postergados, a propraganda, o maketing etc. Claro que o trabalho necessário para a produção de bens ou dos serviços prestados pela empresa impacta o lucro, mas não o faz de maneira direta, de maneira determinante, quanto mais em um único exercício. Por isso, no caso do lucro, da produtividade e da qualidade, não exigiu o legislador pacto prévio, somente que existissem regras claras e objetivas para a percepção da PLR, além das regras para aferição do atingimento dos objetivos acordados, a periodicidade da distribuição, o período de vigência do ajuste e prazos para revisão do acordo. Esse é o ponto fulcral da distinção feita pelo Poder que tem por mister a elaboração das leis. Além dessas considerações, recordemos que, no caso em apreço, o pactuado decorre de convenção coletiva, firmado com sindicato de empregadores que exercem atividade bancária, setor de grande margem de lucro e baixa necessidade de mãodeobra em face do uso disseminado da tecnologia. Cediço também, que ao ajustarse a participação dos trabalhadores no lucro das empresas, sendo tal ajuste firmado ao longo do exercício a necessidade de fazêlo no início deste é totalmente despicienda, posto que o lucro só será aferido de maneira definitiva ao final do período determinado pela legislação. Não obstante, forçoso recordar que o ajuste decorre de convenção coletiva, instrumento de negociação que ocorre, no mais das vezes, nas datas bases de cada categoria profissional, sendo a dos bancários realizada no mês de setembro de cada ano, restando razoável acordo firmado em outubro ou início de novembro, em razão da notória e arrastada negociação que ocorre entre as partes. Fl. 1175DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.152 49 Mister realçar, com tintas fortes que, nos casos em análise, o pacto ajustado foi firmado antes do efetivo pagamento da parcelas relativas à PLR, afastando qualquer tipo de simulação ou fraude quanto aos valores efetivamente pagos. Assim, verifico que houve pagamento com base em critérios objetivos, fixados por meio de regras claras, perfeitamente aferíveis, sendo definida a periodicidade e a data do pagamento. Por todo o exposto, e como reconhecido pela própria autoridade fiscal e pela ínclita Relatora, afastando o requisito da negociação prévia ser realizada no começo do exercício relativo à participação nos lucros, entendo ser totalmente adequado os valores pagos a título PLR por força das convenções coletivas relativas ao anos de 2008, 2009 e 2010. Recurso provido nesta parte. Por fim, mister analisar a questão do pagamento realizado aos diretores estatutários. Alega a Recorrente a possibilidade de pagamento ao diretores estatutários decorre da própria Constituição, uma vez que o artigo 7º assegura o rol dos direitos dos trabalhadores e não somente dos empregados, assevera a Recorrente (fls 634), inclusive citando jurisprudência deste Colegiado, que a Lei nº 6.404/76 contempla a possibilidade de pagamento de participação nos lucros para o diretores estatutários, o que cumpriria o ditame da Lei de Custeio no sentido da necessidade de observação das disposições legais para a fruição da isenção da contribuição previdenciária sobre o pagamento da PLR. Assiste razão a Recorrente quanto a possibilidade de pagamento de PLR aos diretores estatutários, mas por fundamentos diversos. Os ditames da Lei nº 10.101/00 se aplicam ao contribuinte individual, ou seja, cumpridos os requisitos previstos na Lei nº 10.101/00, há isenção da contribuição previdenciária nos pagamentos realizados ao contribuinte individual a título de PLR. Explico. Vimos, linhas atrás, quais requisitos para que se usufrua da imunidade condicionada relativa ao pagamento da PLR, requisitos expressamente disposto pela Lei. Dissemos ser obrigação da Autoridade Tributária verificar se o pagamento da PLR cumpriu essas exigência legais, nos estritos termos impostos pela Lei. Nesse sentido, como leciona André Franco Montoro, a interpretação literal deve ser feita em consonância com o sistema jurídico. Não se pode defender interpretação que discrimine um trabalhador autônomo em relação a um empregado em determinado ponto, mormente se esse entendimento obste um direito que a própria Carta Magna concedeu. Ora, ao instituir uma gama de direitos aos trabalhadores, a Constituição Federal assim determinou: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: ... Fl. 1176DF CARF MF 50 XI participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;” (grifei) Não quis, o Constituinte, diferenciar os trabalhadores. Podemos assim inferir, pois quando optou por identificar determinados trabalhadores, a Carta Fundamental assim o fez, como se pode observar no inciso XXXIV e parágrafo único, ambos do mesmo artigo 7º acima, que se referem especificamente ao trabalhador avulso, que teve seus direitos equiparados; e ao doméstico, que na redação original da Carta, os teve diminuídos. Idêntica redação tem a Lei 10.101, de 2000, que em seu artigo 1º, explicita: “Art. 1o Esta Lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à produtividade, nos termos do art. 7o, inciso XI, da Constituição.” (grifos não constam do texto legal) Para alguns, por mencionar a categoria dos empregados, nos caputs dos artigos 2º e 3º, dispositivos que explicitam os requisitos para a validade da PLR, a Lei nº 10.101 restringiria a estes trabalhadores o direito à participação nos lucros e resultados. Uma análise mais detida e isenta não corrobora tal entendimento. Vejamos. Tanto em um, como em outro artigo, o uso do vocábulo empregado se constituiu um pressuposto lógico, pois o dispositivo constante do artigo 2º trata da participação do sindicato na elaboração do plano, e o do artigo 3º versa sobre a integração da verba paga a título de PLR na remuneração e nos reflexos trabalhistas que só existem para o empregado. A uma não haveria outro modo de redigir a norma, pois ao desejar que os trabalhadores estivessem representados na mesa de negociação com os empregadores por alguém que lhe defendessem os interesses, esse alguém só poderia ser o sindicato, entidade típica dos empregados, que já tem – por expressa previsão constitucional – esse mister. A outra, porque reflexos trabalhistas sobre verbas pagas pelo trabalho, também só surgem para os empregados. Mera busca na letra fria da lei só encontra mais uma remissão aos empregados, justamente no parágrafo 1º do artigo 3º, de onde se conclui que não há, nem do ponto de vista semântico, a intenção do legislador de restringir o benefício. Reiterese, que, ao tratar da questão da tributação da renda decorrente do recebimento da PLR, volta novamente o legislador a utilizarse da expressão “trabalhador”. Por fim, necessário recordar, numa interpretação teleológica, que o contribuinte individual, por exemplo, o diretor, contribui também com seu labor para o atingimento das metas e resultados da empresa. Subtrair tal benefício dessa categoria é discriminar alguém que, em regra, não sendo detentor do capital, só possui o trabalho para obter renda e sustentar sua família. Vários julgados deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais corroboram esse entendimento (PAF 10920.002868/200881, Ac. 2301003.024, dj; PAF 11020.002008/201079, Ac. 2301002.492 dj 18.01.2014). Wagner Balera e Thiago Taborda Simões, em obra de fôlego sobre o tema (Participação nos Lucros e nos Resultados: Natureza Jurídica e Incidência Previdenciária, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, FISCOSoft Editora, 2014, p. 163), asseveram: Fl. 1177DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.153 51 “...Na linha da literalidade, entendese que a norma de isenção descreve a materialidade a exclusão da incidência sobre as verbas pagas aos empregados da pessoa jurídica, conceito que não albergaria os contribuintes individuais (diretores estatutários, administradores, conselheiros), por não gozarem dessa qualidade. Por outro lado, a interpretação sistemática considera o benefício fiscal extensivo aos estatutários, por não integrarem o salário de contribuição. Enfileiramonos com a segunda posição. A norma de isenção da PLR é extensiva aos diretores (contribuintes individuais), já que a norma específica que trata do tema – Lei nº 10.101/2000 – não estabelece a limitação” Não obstante o todo o exposto, outro ponto, ao meu ver irrefutável, deve ser analisado. Disse, há pouco, que não quis o Constituinte distinguir os trabalhadores, ao reverso, fez questão de aproximálos pois, quando entendeu necessário, expressamente se referiu a um e a outro. Porém, outra consideração de cunho eminentemente jurídico deve ser apresentada. É cediço que a interpretação jurídica deve ser feita com estrito respeito aos princípios jurídicos que enfeixam o Direito. Mestre JJ Gomes Canotilho, no clássico Direito Constitucional e Teoria da Constituição (7ª edição, Almedina, pag. 1223), elucida que a Constituição deve ser interpretada segundo um catálogo dos princípios tópicos da interpretação constitucional, desenvolvido a partir de uma postura metódica hermeneuticoconcretizante, recortados pelo autores de forma diversa. Para ele, dois princípios são determinantes: "Princípio da unidade da constituição: O princípio da unidade da constituição ganha relevo autônomo com princípio interpretativo quando com ele se quer significar que a constituição deve ser interpretada de forma a evitar contradições (antinomias, antagonismos) entre suas normas. Como "ponto de orientação", "guia de discussão" e "factor hermenêutico de decisão", o princípio da unidade obriga o intérprete a considerar a constituição em sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão entre as normas constitucionais a concretizar (...). Daí que o interprete deva sempre considerar as normas constitucionais não como normas isoladas e dispersas, mas sim como preceitos integrados num sistema interno unitário de normas e princípios. Princípio da máxima efetividade Fl. 1178DF CARF MF 52 Este princípio, também designado por princípio da eficiência ou princípio da interpretação efectiva, pode ser formulado da seguinte maneira: a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê. (...)" (destaques não constam do original) Ainda mais enfática é a posição de Humberto Ávila (Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 15ª ed. Malheiros. pag. 158/160). Após recordar que: "Princípios não são necessariamente meras razões ou simples argumentos afastáveis, mas também estruturas e condições inafastáveis" O doutrinador e professor titular da UFRGS, assevera com tintas fortes: "Quando a Constituição contém um dispositivo que privilegia o caráter descritivo da conduta, ou a definição de um âmbito de poder, há, nesse contexto e nesse aspecto, a instituição de uma regra que não pode ser simplesmente desprezada pelo legislador, ainda que haja internamente alguma margem de indeterminação para a definição de seu sentido" Nesse mesmo sentido, Tércio Sampaio Ferraz (Direito Constitucional, Manole, 2007, pg. 10 'in fine'), ensina: "Por exemplo, uma norma constitucional que impõe uma vedação (proibição de instituir tributo que não seja uniforme) valida normas legais que estatuam tributações, se respeitada a vedação, independentemente de se os fins (provimento de recursos adequados às necessidades) estão ou não sendo alcançados" A Carta da República, em seu artigo 150, que versa sobre as limitações do poder de tributar, peremptoriamente, assevera: "Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado a União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos" Refletindo sobre os princípios tributários, Paulo de Barros Carvalho (Direito Tributário: Linguagem e Método, 2ª ed. Noeses, 2008, pg. 267), esclarece: Fl. 1179DF CARF MF Processo nº 16327.720197/201468 Acórdão n.º 2201003.591 S2C2T1 Fl. 1.154 53 "Quando a estimativa "igualdade" é empregada em direito tributário, o critério é bem objetivo: dois sujeitos de direito que apresentarem sinais de riqueza expressos no mesmo padrão monetário haverão de sofrer a tributação em proporções absolutamente iguais" Voltemos às disposições da Lei nº 10.101/00: "Art.3oA participação de que trata o art. 2onão substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. (...) § 5º A participação de que trata este artigo será tributada pelo imposto sobre a renda exclusivamente na fonte, em separado dos demais rendimentos recebidos, no ano do recebimento ou crédito, com base na tabela progressiva anual constante do Anexo e não integrará a base de cálculo do imposto devido pelo beneficiário na Declaração de Ajuste Anual." Ao recordarmos que a Lei nº 10.101/00 trata sobre o Imposto sobre a Renda da Pessoa Física incidente sobre os valores percebidos pelo trabalhador a título de Participação nos Lucros e Resultados e mais, o faz de forma favorecida, se torna patente que a interpretação que discrimina o diretor estatutário, vedando seu direito ao recebimento da Participação, ofende de morte a Constituição Federal posto que colide frontalmente com a regra (carater descritivo da conduta nos dizeres de Humberto Ávila), constante do inciso II do artigo 150 transcrito. Por óbvio que tal interpretação não pode ser aceita uma vez que contraria direito do contribuinte constitucionalmente esculpido, tratado pela Carta como vedação ao poder de tributar. Ao afastarmos o direito a percepção da PLR nos termos da Lei nº 10.101/00, o contribuinte individual estaria submetido a tributação sobre o valor recebido com base na tabela vigente para a remuneração decorrente do trabalho. Já, para a mesma verba, recebida pelo diretor empregado ou seja, trabalhador na mesma ocupação profissional ou função este teria direito a uma menor tributação para a mesma renda obtida, vez que decorrente de PLR. Leandro Paulsen (Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da jurisprudência e da doutrina, 15ª ed. Livraria do Advogado Ed., 2013, pg. 185), é enfático em afirmar: " O art. 150, II, da CF é expresso em proibir qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos" Como nos recorda JJ Canotilho, a interpretação deve ser realizada evitando se antinomias constitucionais e mais, ampliandose o gozo de direitos constitucionalmente esculpidos Fl. 1180DF CARF MF 54 Não há tal vício de inconstitucionalidade na Lei nº 10.101/00. Não será o interprete que irá criálo. Assim, acompanhados pela jurisprudência administrativa e pela moderna doutrina, e principalmente, por entender que a norma de isenção representada pela Lei nº 10.101/00, não limitou o benefício fiscal e trabalhista à determinada categoria de trabalhadores – até porque tal procedimento seria claramente discriminatório e inconstitucional – sou de opinião que a PLR, desde que devidamente implementada, com o programa de criação do plano – devidamente aprovado pelo sindicato dos empregados explicitamente não excluindo os contribuintes individuais, pode sim ser extensiva a todos os trabalhadores da empresa. Não obstante todo o exposto, não há uma única linha nos acordos coletivos anexados ou nas convenções coletivas transcritas que estendam os efeitos dos ajustes firmados aos contribuintes individuais. Não verifiquei nenhuma regra clara e objetiva que se aplicasse a esses trabalhadores, não há definição de nenhuma meta, ou participação nos lucros a eles destinados. Assim, impossível entenderse que os valores pagos aos dirigentes da Recorrente tivessem natureza jurídica de PLR. Recuso voluntário negado nessa parte. CONCLUSÃO Diante dos motivos mencionados e pelos fundamentos apresentados, voto por dar provimento parcial ao recurso para excluir do lançamento os valores pagos a título de PLR nos anos de 2009 e 2010 com base nas convenções coletivas de trabalho (assinado digitalmente) Carlos Henrique de Oliveira Fl. 1181DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10380.720385/2008-17
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Apr 12 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon May 29 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2002
DIREITO CREDITÓRIO. RESTITUIÇÃO. COMPENSAÇÃO. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA.
No processo administrativo de restituição e compensação de créditos tributários, incumbe ao contribuinte provar o fato constitutivo do seu direito (a certeza e liquidez do direito creditório) e, ao Fisco, para indeferir o pleito, provar fatos que evidenciem a inexistência do direito afirmado pelo contribuinte ou que constituam impedimento, modificação ou extinção desse direito.
PROVA INDIRETA. INDÍCIOS. PRESUNÇÃO SIMPLES. VALIDADE. VERDADE MATERIAL.
A Administração Pública tem o poder-dever de investigar livremente a verdade material diante do caso concreto, analisando todos os elementos necessários à formação de sua convicção acerca da existência e conteúdo do fato jurídico. Esse poder-dever é ainda mais presente na seara tributária, em que é usual a prática de atos simulatórios por parte do contribuinte, visando diminuir ou anular o encargo fiscal. A liberdade de investigação do Fisco pressupõe o direito de considerar fatos conhecidos não expressamente previstos em lei como indícios de outros fatos, cujos eventos são desconhecidos de forma direta.
DIREITO CREDITORIO. ORIGEM REMOTA. NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. INDEFERIMENTO.
Provado nos autos, por indícios fartos, graves, precisos e convergentes, que o negócio jurídico que constituiria a causa remota do direito creditório pleiteado pelo contribuinte não teve lugar no mundo atico, cumpre indeferir o direito creditório e não homologar as compensações declaradas.
DIREITO CREDITORIO. SALDO NEGATIVO DE IRPJ. CERTEZA E LIQUIDEZ. SIMULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO QUE TERIA ENSEJADO A RETENÇÃO DE IRRF. PARCELAMENTO, PELA FONTE PAGADORA, DO IRRF QUE COMPÔS O SALDO NEGATIVO. IMPROCEDÊNCIA DO DIREITO CREDITÓRIO, POR AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE.
O fato de a fonte pagadora haver formalizado parcelamento do IRRF pretensamente retido em negócio jurídico simulado não confere materialidade ao direito creditório pleiteado sob a forma de saldo negativo de IRPJ pela pretensa beneficiária da retenção.
SUCESSÃO EMPRESARIAL. SIMULAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO MATERIAL NO PATRIMONIO TRANSFERIDO ENTRE AS EMPRESAS. INEFICÁCIA DOS ATOS FORMALMENTE PRATICADOS, A DESPEITO DE SUA LEGALIDADE.
É irrelevante, para fins de apuração da eficácia dos atos de sucessão empresarial, que estes tenham sido praticados com observância da legislação pertinente, quando resta demonstrado nos autos que o patrimônio pretensamente transposto entre as empresas é destituído de conteúdo material.
Numero da decisão: 1402-002.482
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário. Ausentes momentaneamente o Conselheiro Paulo Mateus Ciccone e justificadamente o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira.
(assinado digitalmente)
Leonardo de Andrade Couto - Presidente.
(assinado digitalmente)
Leonardo Luis Pagano Gonçalves - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Caio Cesar Nader Quintella, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Demetrius Nichele Macei e Leonardo de Andrade Couto.
Nome do relator: LEONARDO LUIS PAGANO GONCALVES
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2002 DIREITO CREDITÓRIO. RESTITUIÇÃO. COMPENSAÇÃO. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA. No processo administrativo de restituição e compensação de créditos tributários, incumbe ao contribuinte provar o fato constitutivo do seu direito (a certeza e liquidez do direito creditório) e, ao Fisco, para indeferir o pleito, provar fatos que evidenciem a inexistência do direito afirmado pelo contribuinte ou que constituam impedimento, modificação ou extinção desse direito. PROVA INDIRETA. INDÍCIOS. PRESUNÇÃO SIMPLES. VALIDADE. VERDADE MATERIAL. A Administração Pública tem o poder-dever de investigar livremente a verdade material diante do caso concreto, analisando todos os elementos necessários à formação de sua convicção acerca da existência e conteúdo do fato jurídico. Esse poder-dever é ainda mais presente na seara tributária, em que é usual a prática de atos simulatórios por parte do contribuinte, visando diminuir ou anular o encargo fiscal. A liberdade de investigação do Fisco pressupõe o direito de considerar fatos conhecidos não expressamente previstos em lei como indícios de outros fatos, cujos eventos são desconhecidos de forma direta. DIREITO CREDITORIO. ORIGEM REMOTA. NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. INDEFERIMENTO. Provado nos autos, por indícios fartos, graves, precisos e convergentes, que o negócio jurídico que constituiria a causa remota do direito creditório pleiteado pelo contribuinte não teve lugar no mundo atico, cumpre indeferir o direito creditório e não homologar as compensações declaradas. DIREITO CREDITORIO. SALDO NEGATIVO DE IRPJ. CERTEZA E LIQUIDEZ. SIMULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO QUE TERIA ENSEJADO A RETENÇÃO DE IRRF. PARCELAMENTO, PELA FONTE PAGADORA, DO IRRF QUE COMPÔS O SALDO NEGATIVO. IMPROCEDÊNCIA DO DIREITO CREDITÓRIO, POR AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE. O fato de a fonte pagadora haver formalizado parcelamento do IRRF pretensamente retido em negócio jurídico simulado não confere materialidade ao direito creditório pleiteado sob a forma de saldo negativo de IRPJ pela pretensa beneficiária da retenção. SUCESSÃO EMPRESARIAL. SIMULAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO MATERIAL NO PATRIMONIO TRANSFERIDO ENTRE AS EMPRESAS. INEFICÁCIA DOS ATOS FORMALMENTE PRATICADOS, A DESPEITO DE SUA LEGALIDADE. É irrelevante, para fins de apuração da eficácia dos atos de sucessão empresarial, que estes tenham sido praticados com observância da legislação pertinente, quando resta demonstrado nos autos que o patrimônio pretensamente transposto entre as empresas é destituído de conteúdo material.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 DIREITO CREDITÓRIO. RESTITUIÇÃO. COMPENSAÇÃO. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA. No processo administrativo de restituição e compensação de créditos tributários, incumbe ao contribuinte provar o fato constitutivo do seu direito (a certeza e liquidez do direito creditório) e, ao Fisco, para indeferir o pleito, provar fatos que evidenciem a inexistência do direito afirmado pelo contribuinte ou que constituam impedimento, modificação ou extinção desse direito. PROVA INDIRETA. INDÍCIOS. PRESUNÇÃO SIMPLES. VALIDADE. VERDADE MATERIAL. A Administração Pública tem o poderdever de investigar livremente a verdade material diante do caso concreto, analisando todos os elementos necessários à formação de sua convicção acerca da existência e conteúdo do fato jurídico. Esse poderdever é ainda mais presente na seara tributária, em que é usual a prática de atos simulatórios por parte do contribuinte, visando diminuir ou anular o encargo fiscal. A liberdade de investigação do Fisco pressupõe o direito de considerar fatos conhecidos não expressamente previstos em lei como indícios de outros fatos, cujos eventos são desconhecidos de forma direta. DIREITO CREDITORIO. ORIGEM REMOTA. NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. INDEFERIMENTO. Provado nos autos, por indícios fartos, graves, precisos e convergentes, que o negócio jurídico que constituiria a causa remota do direito creditório pleiteado pelo contribuinte não teve lugar no mundo atico, cumpre indeferir o direito creditório e não homologar as compensações declaradas. DIREITO CREDITORIO. SALDO NEGATIVO DE IRPJ. CERTEZA E LIQUIDEZ. SIMULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO QUE TERIA ENSEJADO A RETENÇÃO DE IRRF. PARCELAMENTO, PELA FONTE PAGADORA, DO IRRF QUE COMPÔS O SALDO AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 38 0. 72 03 85 /2 00 8- 17 Fl. 974DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 975 2 NEGATIVO. IMPROCEDÊNCIA DO DIREITO CREDITÓRIO, POR AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE. O fato de a fonte pagadora haver formalizado parcelamento do IRRF pretensamente retido em negócio jurídico simulado não confere materialidade ao direito creditório pleiteado sob a forma de saldo negativo de IRPJ pela pretensa beneficiária da retenção. SUCESSÃO EMPRESARIAL. SIMULAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO MATERIAL NO PATRIMONIO TRANSFERIDO ENTRE AS EMPRESAS. INEFICÁCIA DOS ATOS FORMALMENTE PRATICADOS, A DESPEITO DE SUA LEGALIDADE. É irrelevante, para fins de apuração da eficácia dos atos de sucessão empresarial, que estes tenham sido praticados com observância da legislação pertinente, quando resta demonstrado nos autos que o patrimônio pretensamente transposto entre as empresas é destituído de conteúdo material. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário. Ausentes momentaneamente o Conselheiro Paulo Mateus Ciccone e justificadamente o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira. (assinado digitalmente) Leonardo de Andrade Couto Presidente. (assinado digitalmente) Leonardo Luis Pagano Gonçalves Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Caio Cesar Nader Quintella, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Demetrius Nichele Macei e Leonardo de Andrade Couto. Fl. 975DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 976 3 Relatório Tratase de Recurso Voluntário face v. acórdão, que manteve o decidido no Despacho Decisório, que por sua vez, adotou a Informação Fiscal, fundamentada no Relatório de Análise Tributária da SAPAC de 11/05/2010, onde relatou um esquema de fraude, simulação e conluio entre empresas, com origem remota em negócios fictos de compra e venda de imóveis, geradores de créditos inexistentes de tributos federais e subsequente celebração de contratos simulados entre as empresas dos grupos empresariais CEC Internacional S/A e Grupo Marquise, com o fim de auferimento de vantagens fiscais ilícitas em prejuízo da fazenda nacional. Segundo consta do Relatório de Análise Tributária da SAPAC, o Grupo Marquise, por meio de uma série de atos, incorporava empresas do Grupo Empresarial CEC Internacional S/A, com prejuízos fiscais, utilizando tais créditos para compensar tributos devidos. Contudo, "tais créditos" eram ilegítimos, visto que decorrentes de dolo, simulação e conluio entre as empresas do Grupo Marquise e as empresas do Grupo CEC, as primeiras lucrativas e as segundas em estado de insolvência. Destaca a autoridade fiscal que os atos praticados por cada uma das empresas citadas não podem ser vistos de forma isolada e autônoma, como ocorre na maioria dos negócios imobiliários, financeiros e empresariais em geral, mas contêmse (cada um deles) num conjunto global de atos que buscava, em verdade, um objetivo pré ordenadamente planejado entre as partes. Ao Grupo CEC, estão ligadas as empresas: Sul Diesel S/A; Iracema Florestamento e Reflorestamento Ltda e Maximar Fomento Mercantil Ltda EPP; Xingu Empreendimentos Imobiliários Ltda; Xingu Administração e Participação S/A; à RCA International Commodities S/A estão ligadas as empresas BEX Internacional S/A; Canavieira Florestamento e Reflorestamento S/A e Panagra do Brasil S/A; Agropecuária e Reflorestadora Parente S/A e quanto ao Grupo capitaneado pela Construtora Marquise S/A, a Capitalize Fomento, Comercial Ltda, Construtora Marquise S/A e Ecofor Ambiental S/A. Segundo a autoridade fiscal, conforme descreve no Anexo do Relatório de Análise Tributária, temse os quadros (abaixo colacionados) e a auditoria cruzada das operações intragrupos para rastreamento da origem dos créditos, que geram imposto a recuperar em face das transações realizadas entre contribuintes dos dois grupos empresariais. Vejamos o fluxograma e em seguida as notas explicativas com o panorama global do planejamento tributário ocorrido entre os grupos CEC e MARQUISE. Fl. 976DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 977 4 Seguem as explicações do fluxograma com enfoque global do planejamento tributário entre os grupos empresarias. I) PRINCIPAIS CARACTERES DOS ATOS DE GERAÇÃO FICTÍCIA DE TRIBUTOS 1 Instrumentação por Contratos de Promessa de Compra e Venda de Imóveis formalizados apenas "no papel". 2 — Ausência do substrato material especifico de uma efetiva compra e venda imobiliária (animo de pagar o preço objetivando a transcrição no Cartório de Registro de Imóveis). 3 — Inserção de clausula previsora de multa desarrazoada com o objetivo de entabular a incidência de IRFONTE e conseqüente conversão em crédito transferível de IRRF/Saldo Negativo de IRPJ com destinação posterior préconcebida. 4 — Presença de clausula estipulatória, temporalmente delimitada, de ENCARGOS FINANCEIROS especialmente superavaliados até o mês de Julho/2004, com o objetivo de gerar Créditos de PIS/COFINS NãoCumulativos para posterior transferência. 5 — Agregação daqueles encargos financeiros, conforme nova clausula especialmente alocada para tal, de multa imotivada a Fl. 977DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 978 5 ser reconhecida no especifico mês de Julho/2004, com o mesmo objetivo de gerar Créditos de PIS/COFINS NãoCumulativo. 6 — Operações sempre concebidas e entabuladas como sendo a Prazo, onde o adquirente nada paga (por absoluta inexistência de recursos para tal), e o alienante nada cobra (por ter a operação de compra e venda função outra que não a ordinária aquisição de imóvel). 7 — Operações concebidas sempre em meio a pessoas ligadas. 8 — Operações realizadas em circulo, com vendas sucessivas, reclamando a utilização igualmente simulada do artifício das cessões fictícias de crédito, ante o registro meramente contábil da "venda anterior' ainda não recebida. 9 — Utilização de operações com imóveis , superavaliados, dado o alto valor atribuído aos bens, considerado como método IDEAL a garantir ao Grupo Empresarial transmitente a maior cifra possível de Créditos Fiscais Fictícios, proporcionando maiores vantagens ao Grupo Empresarial recepcionador. II) DETALHES OBSERVADOS NOS ATOS INTERMEDIÁRIOS PRATICADOS COMO CONDIÇÃO NECESSÁRIA À IMPLEMENTAÇÃO DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO QUE OBJETIVOU A TRANSFERÊNCIA DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS A PARTIR DOS ATOS DE GERAÇÃO FICTÍCIA DE TRIBUTOS 1 — Manipulação contábil das empresas adquirentes e alienantes dos bens imóveis geradores dos créditos fiscais fictícios. 2 — Receitas e despesas com origens apenas nas operações intragrupo ou intergrupos empresariais, adequando valores e resultados contábeis/fiscais, sendo sempre aquelas inferiores a estas. 3 — Preparação das empresas para as operações de CISÕES SELETIVAS, com criação de PJs para cumprirem vida efêmera e papéis préordenados. 4 — Segregação dos créditos de tributos fictícios vertidos para as Pessoas Jurídicas então surgidas das Cisões Seletivas. 5 — Negociação simulada das ações/quotas das pessoas jurídicas criadas a partir das Cisões Seletivas com os integrantes do Grupo Empresarial interessado na captação dos créditos fictos. 6 — Incorporações intermediárias das pessoas jurídicas surgidas das Cisões Parciais Seletivas por outras pessoas jurídicas ligadas ao Grupo Empresarial solvente e lucrativo, interessado na captação dos créditos fiscais fictos. III) DETALHES OBSERVADOS NOS ATOS DE RECEPÇÃO FINAL DOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS FICTÍCIOS PRATICADOS NO SEIO DAS EMPRESAS DO GRUPO EMPRESARIAL. SOLVENTE E LUCRATIVO INTERESSADO NA CAPTAÇÃO ESPECÍFICA DE CRÉDITOS COM O FIM DE EXTINGUIR SEUS DÉBITOS PRÓPRIOS SEM QUALQUER DESEMBOLSO REAL. Fl. 978DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 979 6 1 — Chamamento das situações postas pelas Cisões seletivas para o patrimônio das pessoas jurídicas componentes do Grupo Empresarial lucrativo e solvente. 2 — Captação final dos créditos precedida de transações comerciais/financeiras simuladas, tendentes a ofuscar e obscurecer a visão imediata da recepção direta e pré ordenada dos créditos fiscais fictícios. 3 — Incorporações intermediárias dissimuladoras da recepção direta e imediata dos créditos pelo Grupo Empresarial interessado na captação final. 4 — Incorporações finais (préordenadas) das diversas pessoas jurídicas de vida efêmera recheadas todas de créditos fiscais fictícios. 5 — Usufruto do almejado "recheio fiscal" via PER/DCOMPs pelo Grupo Empresarial economicamente lucrativo, em flagrante prejuízo do Fisco. A autoridade fiscal elaborou longo despacho, descrevendo as transações realizadas entres as empresas adiante citadas. Consta do relatório, que o Grupo Marquise, por meio de uma série de atos, incorporava empresas do Grupo Empresarial CEC Internacional S/A, com prejuízos fiscais, utilizando tais créditos para compensar tributos devidos. Contudo, os créditos eram ilegítimos, visto que decorrentes de dolo, simulação e conluio entre as empresas do Grupo Marquise e as empresas do Grupo CEC, as primeiras lucrativas e as segundas em estado de insolvência. Como destacado pela autoridade fiscal, os atos praticados por cada uma das empresas citadas não podem ser vistos de forma isolada e autônoma em si mesmo, como ocorre na maioria dos negócios imobiliários, financeiros e empresariais em geral, mas contêmse (cada um deles) num conjunto global de atos que buscava, em verdade, um objetivo pré ordenadamente planejado entre as partes. Segundo a autoridade fiscal, temse os seguintes quadros, que geram imposto a recuperar em face das transações realizadas entre contribuintes dos dois grupos empresariais: Fl. 979DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 980 7 Fl. 980DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 981 8 Por fim, o trabalho fiscal objetivou oferecer sólida fundamentação probatória e a motivação legal para o indeferimento liminar de qualquer pedido de restituição/compensação que envolva os créditos tributários de Imposto de Renda Retido na Fonte (convertido ou não em Saldo Negativo de IRPJ) e das Contribuições para o PIS Não Cumulativo e COFINS Não Cumulativo, cujas origens — imediata ou remota — decorra das transações celebradas entre as empresas Cio Grupo CEC e do Grupo Marquise. Foram analisados no documento os fundamentos primáiros da origem dos créditos utilizados finalisticamente pelas empresas do Grupo Marquise em PER/DCOMPs diversas entregues ora pela Construtora Marquise S/A, ora pela ECOFOR Ambiental S/A, ora pela Capitalize Fomento Comercial Ltda. Também forma procedidas as demonstrações dos vícios insanáveis dos negócios jurídicos presentes e considerados em todas as etapas do planejamento tributário evasivo que, ao fim, almejou como objetivo real e querido pelas partes, a geração ficta de créditos para aproveitamento dos mesmos em PER/DCOMPs. Conclusivamente, pretendese que as elementares "simulação", "fraude" e "conluio", qualificadoras da conduta das partes nos casos concretos examinados, sejam não só inseridas na análise, como também e principalmente, pautem a razão de decidir por parte dos Fl. 981DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 982 9 julgadores, no sentido do indeferimento liminar daqueles pedidos restitutórios/compensatorios, fundamentados na origem que apontamos. Assim, tendo em vista que o ponto inicial que criou os créditos que se pretende restituir e compensar é o mesmo dos processos abaixo indicados, tendo em vista a relação de causa e efeito, todos devem ser julgados conjuntamente. 10380.009193/200694 RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A 10380.901897/200611 RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A 10380.901733/200693 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.901737/200671 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.901739/200661 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.901735/200682 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.720384/200872 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.720385/200817 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.720499/200867 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.722709/201076 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.722703/201007 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.722244/201053 CONSTRUTORA MARQUISE.S/A 10380.722365/201003 CONSTRUTORA MARQUISE.S/A 10380.722355/201060 CONSTRUTORA MARQUISE.S/A 10380.722361/201017 CONSTRUTORA MARQUISE S/A 10380.721600/201011 CONSTRUTORA MARQUISE S/A No presente caso, aconteceram os seguintes fatos conforme Informação Fiscal de fls. 692 e seguintes, fundamentada Relatório de Análise Tributária da SAPAC, que serviu de relatório para o v. acórdão recorrido: A empresa sucessora acima identificada requer o acolhimento das compensações declaradas mediante os PER/DCOMPs, fls.01/25, abaixo discriminados, relativamente ao suposto crédito decorrente, a priori, de saldo negativo do IRPJ da empresa sucedida RCA INTERNATIONAL COMMODITIES LTDA (CNPJ 09.488.677/000195), informado na DIPJ/2003 (anocalendário 2002), com débitos vinculados a períodos posteriores. Fl. 982DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 983 10 2. Nesses PER/DCOMPs a empresa almeja o direito de ver compensado débitos referentes à IRPJ/CSLL, com o suposto crédito de R$ 170.362,50 decorrente, a priori, de saldo negativo da empresa sucedida, exercício 2003. Referido saldo negativo corresponderia exatamente a uma retenção de IRF incidente sobre o recebimento de parcela de uma multa contratual relativa a uma suposta transação imobiliária entre a empresa sucedida RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A e a empresa IRACEMA FLORESTAMENTO E REFLORESTAMENTO LTDA, ambas pertencentes ao grupo econômico CEC. Assim, sem a comprovação da autenticidade de tal transação imobiliária entre as referidas empresas, não haveria nenhum crédito passivel de análise, não havendo que se falar na homologação das DCOMPs citadas acima. 3. PRELIMINARMENTE, cumpre ressaltar que o art. 531 da Lei n° 9.784, de 29/01/1999, determina que a Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vicio de legalidade, e pode revogálos por motivo de conveniência ou oportunidade. No caso vertente, constatouse: a) a ocorrência de erro material ou de fato no tocante à Informação Fiscal anterior, fls.142/147, e, por conseguinte, do Despacho Decisório, fls. 148; b) a existência de fatos novos não revelados ou não conhecidos na data da Decisão anterior (fls.142/148), de 18/06/2009. Desse modo, em consonância com o comando legal supra, há que se reformar o Despacho Decisório, fls.148, desconsiderandoo, em face das razões adiante descritas. ERRO MATERIAL OU DE FATO 4. Em 03/12/2008, a empresa sucessora foi intimada (fls. 56/58) por este órgão a apresentar os seguintes documentos: 1) comprovantes de rendimentos e do respectivo imposto de renda retido na fonte — IRRF, fornecidos pelas fontes pagadoras do qual o contribuinte é beneficiário, referentes ao anocalendário 2002; 2) comprovação dos registros contábeis dos rendimentos e do respectivo IRRF (cópias autenticadas dos livros Diário e Razão), referentes ao anocalendário 2002; 3) Plano de Contas; 4) planilha discriminando todos os débitos compensados com o saldo negativo de IRPJ do anocalendário acima referido, indicando o n° do respectivo processo; 5) cópias autenticadas das folhas dos livros Diário e Razão referentes as contas IRPJ a recuperar — saldo negativo, Estimativa mensal IRPJ — ano calendário 2002; 6) declaração, sob as penas da lei, de que os créditos pleiteados não foram compensados com o mesmo tributo ou contribuição apurados em períodos subseqüentes. Fl. 983DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 984 11 41) 5. Em 23/12/2008, a fim de atender a referida intimação, a empresa apresentou os documentos de fls. 62/139, aditandoos, em 15/06/2009, com a entrega de cópia do Livro Razão da conta "1.1.3.3.02 Impostos a Recuperar", fls. 141. 6. Em 18/06/2009, com base na Informação Fiscal de fls.142/147, foi proferido o Despacho Decisório de fls.148, onde, por equivoco, foi reconhecido parcialmente o direito creditório no valor de R$ 8.417,75. 7. Cientificada a Interessada em 31/07/2009 (fls. 149), não consta dos autos qualquer manifestação de inconformidade contra o "decisum". 8. Todavia, como se demonstrará, o referido crédito não faz parte do objeto da presente demanda. A análise de tal crédito decorreu da apreciação indevida do saldo negativo declarado pela empresa sucessora no anocalendário de 2002, e não pela empresa sucedida, o que diverge do conteúdo das DCOMPs ora sob análise. Em tais DCOMPs, o suposto crédito a ser apreciado é oriundo da empresa sucedida (RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A) e não da empresa sucessora. Assim, em razão da constatação do referido equivoco, que configura erro material ou de fato, há que se • rever, de oficio, o despacho decisório anterior (fls.148), com base na reapreciação do pleito contida na presente Informação Fiscal. E, como se verá, em decorrência de apuração de fatos novos não revelados ou não conhecidos na data do decisum anterior, é de se concluir pela inexistência de saldo negativo da empresa sucedida no ano calendário 2002. FATOS NOVOS NÃO REVELADOS OU NÃO CONHECIDOS NA DATA DO DECISUM ANTERIOR (FLS. 1481. DE 18/06/2009 9. De acordo com a Ficha 12A da DIPJ/2003, anocalendário 2002, da empresa sucedida, com cópia as fls. 153, observase que não foi informado nenhum saldo negativo do IRPJ. A empresa não computou em sua DIPJ a suposta retenção de R$ 170.362,50. Tal valor corresponderia ao pretenso saldo negativo ora reivindicado que se originaria, na sua integralidade, da inexistência de imposto sobre o lucro real e da dedução do IRF que teria sido retido na fonte, por ocasião do registro contábil de multa contratual (R$ 1.135.750,00 — 06/2002) que seria devida em decorrência de operação da compra e venda do imóvel denominado Gleba Caraiba, registrado na matricula n° 1148, sob o R9/1148, fls.137v do livro 2FRegistro Geral da Comarca do Canto do Buriti, Cartório Manoel Barbosa e Silva, fruto da negociação com a empresa Iracema Florestamento e Reflorestamento Ltda. 0 suposto saldo negativo do IRPJ, objeto das DCOMPs ora sob análise, anocalendário 2002, seria todo fundado nos valores das referidas multas e retenções. Sem tais multas e pretensas retenções nenhum crédito seria apurado, não havendo, por conseguinte, que se falar em compensação. Fl. 984DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 985 12 10. A operação, no entendimento da empresa, estaria comprovada com a cópia do Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda de Imóvel de fls. 154/156. 11. Todavia, em procedimento investigatório ou de diligência realizado por este órgão perante o grupo empresarial CEC Internacional S/A e empresas vinculadas ao Grupo Empresarial Marquise, entre as quais, a empresa sucessora (CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA) e a empresa sucedida (RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A), foi encaminhado a este Serviço o "Relatório de Análise Tributária", fls.157/227. Em tal relatório consta que a operação da compra e venda do imóvel que originaria o saldo negativo do IRPJ ora em pauta é fictícia, conforme se conclui da extração dos seguintes contextos: I) operações sucessivas com o mesmo objeto (bem imóvel) — os imóveis objeto dos alegados Contratos são sucessivamente "vendidos" e "comprados" pelas empresas do Grupo CEC, com a utilização da técnica da cessão de créditos para implementar a venda sucessiva à primeira; II) limitação subjetiva quanto as partes nos negócios — as características inusuais de cada um dos negócios, reclamavam a condição de que, alienante e adquirente, se circunscrevessem ás empresas do interior do Grupo CEC (operações domésticas); iii) ausência absoluta de qualquer fluxo financeiro decorrente do pretenso negócio imobiliário — dada a falta de realização de qualquer atividade econômica nas empresas do Grupo CEC hábeis a gerar receitas de qualquer ordem — salvo, obviamente, as simuladas "receitas de vendas de imóveis" — não há qualquer pagamento do prego atribuído ao imóvel por parte do "adquirente". De outro lado, à mingua de, sequer, o recebimento do valor da "entrada", não há nenhum procedimento de cobrança por parte do alienante; iv) precedência de reavaliações do valor contábil dos imóveis sempre em relação ao momento das alegadas vendas — para operacionalizar as vendas dos bens imóveis o alienante sempre recorria à técnica de reavaliações meramente formais do valor contábil v) vendas a prazo com implicações financeiras definidas em relação as partes, mas nunca resolvidas no tempo — os encargos contratuais constituíam receita financeira para o alienante e despesa financeira para o adquirente. Mas aquele que reconhecia a receita (apenas provisionando o crédito) tinha seu resultado fiscal neutralizado por despesas originárias de outros contratos imobiliários em circularização; vi) prep dos bens imóveis fora da realidade econômica — mesmo a despeito das condições jurídicas em que se Fl. 985DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 986 13 encontravam os imóveis ao tempo das "vendas", as alienações se deram por valores astronômicos, onde alguns imóveis alcançaram a expressiva cifra de mais de R$ 20.000.000,00, sendo que os "adquirentes" sequer tinham receitas geradas para assunção de tamanho negócio; vii) previsão desproporcional, desarrazoada e sem qualquer justificativa no Direito dos Contratos de pagamentos de multas pelo alienante — cláusula do Contrato previa "pura e simplesmente" o pagamento de multas pelo alienante. Independentemente do pagamento da "entrada" pelo adquirente, a exigência dessa multa era imperativa. Os valores das multas praticamente se aproximavam do prego de venda do bem. Há caso em que a multa chegou a R$ 14.080.000,00 e o prep de venda do imóvel teria sido de R$ 8.800.000,00; vii) incompatibilidade da consideração simultânea entre a permanência dos efeitos do Contrato de Compra e Venda e da eficácia da cláusula previsora da multa — como o objeto do Contrato (compra e venda do imóvel) seguiu produzindo os efeitos queridos (nas contabilidades, o alienante registrou o Direito Creditório a Receber e suas correções, enquanto o adquirente registrou a obrigação junto àquele, além dos encargos decorrentes da mora), não há como conceber qualquer fato gerador da incidência da multa imputada ao alienante, porque não incidira em inadimplência contratual, mormente porque o "adquirente", sequer pagara qualquer centavo pela "entrada" prevista nos Contratos. Não podia a adquirente reclamar a multa, se não adimplira sua obrigação de pagar a "entrada". A escrituração mostra o absurdo do fato de que a multa devida pelo "alienante" é abatida (descontada) do montante do crédito a receber do adquirente. Na verdade, a presença dessas "multas" nesses Contratos fictícios cumprem uma função especial (vantagem prédefinida) querida pelas partes; ix) uso de preço artificial dos bens imóveis "vendidos" para proporcionar vantagens prédefinidas — as cifras (mnnetárias) com que os bens eram "vendidos" foram previamente mensuradas, de modo que fossem hábeis a garantir vantagens financeiras ao Grupo CEC, vantagens essas dignas de se constituir em fonte de recursos para serem negociadas junto a terceiros. Como se poderá ver logo a frente, constituíram também esses negócios em grande vantagem para o Grupo Marquise, o qual é identificado como o próprio "terceiro" negociador com o Grupo CEC, intervindo diretamente como parte interessoda no produto gerado por aquelas transações i mobiliárias fictícias: x) vantagem tributária especifica da existência de Cláusula previsora de multas — as mulias contratuais atuaram no planejamento tributário como pretenso fato constitutivo da incidência de Imposto de Renda Retido na Fonte, tendo como beneficiários os supostos adquirentes. Esses créditos de tributos Fl. 986DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 987 14 compuseram os Ativos (Tributos a Recuperar) das empresas do Grupo CEC que, logo depois, sofrem Cisão Parcial, segregando exclusivamente (na pratica) o exato montante daquele crédito de tributo, o qual comporá o Ativo de outra empresa, especialmente constituída para absorver o crédito fiscal transferido. 0 passo seguinte, ou é a venda do "controle acionário" da nova empresa (então surgida da Cisão) para empresas do Grupo Marquise, para, em ato continuo a essa aquisição, o Grupo Marquise adquirente promova a incorporação dessa "nova empresa'', ou, de modo diferenciado, a incorporação direta dessa "nova empresa" por empresas do grupo Marquise. Cumpridas essas etapas, aparentemente licitas, conforme a legislação de regência, fica o Grupo Marquise com a disponibilidade do crédito de IRRF remotamente gerado nos negócios imobiliários entre as empresas do Grupo CEC; xi) vantagens tributdrias especificas das aquisições em si dos Imóveis constantes dos Contratos de Compra e Venda celebrados entre as empresas do Grupo CEC — a mera aquisição (fictícia, porque só existente no papel) dos imóveis cumpriram no planejamento tributário função própria. Pela compra — e titulandoa como "insumo" ou bem adquirido para revenda — o pretenso adquirente se creditava de PIS e COFINS Não Cumulativo, conduta pela qual garantiu apreciáveis valores de Créditos de Contribuições de PIS/COFINS nos Ativos de algumas empresas do Grupo CEC. Mas a mera aquisição como fundamento dos créditos de PIS/COFINS não era bastante para os agentes participes do planejamento tributário fraudulento como não havia nenhum fluxo de recursos nessas Compra e Venda (tal como já explicamos) os negócios eram feitos a Prazo. Isso fazia o adquirente incorrer em encargos financeiros decorrentes da compra, sendo tais encargos — até onde a legislação permitiu (julho/2004) — fatos geradores de créditos de PIS/COFINS. A dupla conduta garantiu mais um conjunto apreciável de Tributos a Recuperar (Créditos de PIS/COFINS) para algumas empresas do Grupo CEC. A partir dai — constatou o Fisco — seguemse as mesmas etapas (cisão/incorporação com fins distintos dos ordinários atribuidos a esses institutos) referidas no inciso anterior, quando descrevemos os caminhos percorridos por estes créditos de tributos que, ao final, chegam para disponibilização pelas empresas dc Grupo Marquise. E, uma vez compondo (aparentemente de forma incensurável) o patrimônio do Grupo Marquise, os pedidos de Restituição/Compensação tornaramse mera implementação final da fraude seguida de conluio na geração/utilização dos créditos fiscais fictícios, xii) existência explicita de uma "causa simulan di" expressa a fundamentar o planejamento tributário fraudulento engendrado entre as empresas do Grupo CEC e as do Grupo Marquise — comprovamos a existência de cobrança executiva Gudicial — Processo n° 2006.0020.13266/0) de valores por parte da Construtora Marquise junto a "controladora" do Grupo CEC ''CEC INTERNACIONAL S/A". Esses "valores" não representavam qualquer operação que tivessem origem na Fl. 987DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 988 15 atividade operacional da Construtora (venda de Aptos CEC ou realização de obras civis, por exemplo). A divida da CEC perante a Construtora decorria, na verdade, de "PROMESSA DE VENDA DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS GERADOS PELA CEC E NEGOCIADOS PARA A CONSTRUTORA". Os créditos negociados eram de CRÉDITO PRESUMIDO DE IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Ocorre que, uma vez indeferidos pela DRF FORTALEZA os créditos presumidos de IPI pretensamente alegados pelo Grupo CEC, restou a CEC INTERNACIONAL S/A como devedora da Construtora Marquise, dando azo ao Processo de Execução desta contra aquela. Mas as partes encerraram o Processo Judicial mediante acordo em juízo (Composição Amigável, cf docto. anexo). Dessa forma, uma vez indeferido na DRF Fortaleza o pleito creditório relativo ao tributo IPI, planejaram as partes resolver o Contrato de Promessa de Venda de Créditos Tributários Federais, mediante a utilização de tributos diversos daquele. Dai todo o estratagema de gerar — num primeiro momento — IRRF a partir de pretensas Multas sobre Contratos de Compra e Venda de Imóveis (todos simulados), além de PIS e COFINS Não Cumulativo pela simples aquisição (fictas) desses imóveis. Num segundo momento, cisões (seletivas) seguidas de incorporações (préordenadas) fizeram com que os CRÉDITOS FISCAIS (agora de IRRF e PIS/COFINS) chegassem ao Grupo Maquise; xiii) presença de fortes indícios da lavratura de documentos "antedatados" na conduta que formalizava os Contratos, o que revela outra característica de hipótese legal de simulação — para que se operassem as cisões (seletivas) seguidas de incorporações (préordenadas), convinha primeiramente, que Contratos Fictícios de Compra e Venda de Imóveis levassem datas antigas, para que implementassem o nascimento de créditos de IRRF e/ou de PIS/COFINS Não Cumulativo. H6 casos de Contratos de Compra e Venda de Imóveis datados de 1998, sendo que, os efeitos quanto aos alegados "Créditos de IRRF sobre Multas" — que teriam suposta incidência nos anos de 1999/2000/2001 e 2002 — só foram reconhecidos em DIRFs entregues globalmente em fins de 2003. Há outro caso de Contrato da mesma natureza, em que se consigna em Cláusula especifica, a cobrança de Multa, a qual fora levada em cômputo a Despesa Financeira, exatamente no mês de JULHO/2004. Este momentolimite é o mês/ano em que a legislação permitiu que "Encargos Financeiros" dessem origem a créditos fiscais de PIS/COFINS. Evidentemente, esses créditos (de IRRF/PIS/COFINS), tão engenhosamente gerados a partir daqueles Contratos simulados quanto ao objeto, pela via de Cisão (seletiva) que, logo após, seguiuse de Incorporação (pré ordenada), chegou aonde se almejava chegar: ao beneficiário Grupo Marquise. [...] Segundo o referido Relatório, no tocante à negociação do imóvel ora em pauta entre as empresas Iracema Florestamento e Reflorestamento Ltda. e RCA International Commodities S/A, o Fl. 988DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 989 16 negócio operouse totalmente a prazo, sem qualquer fluxo de recursos financeiros, cabendo citar os seguintes fatos dignos de destaque extraídos do referido Relatório: i) executada sem qualquer registro, a opera cão não alterou a titularidade real do imóvel contida na Certidão do Cartório de Registro de Imóveis. Ou seja, o bem permanece titulado pela IRACEMA FLORESTAMENTO E REFLORESTAMENTO LTDA. E não pela simulada adquirente RCA International Commodities S/A. Aliás, essa alegada venda (supostamente ocorrida em 28.12.1998) seria, na verdade o desfazimento do negócio real registrado em Cartório na data de 03.08.1998 onde a IRACEMA adquire da RCA; ii)esse fato é de tal importância para se compreender que venda nenhuma houve da IRACEMA para a RCA, dado que, em 1999, aquela titular do imóvel (Iracema Florestamento) promove ato de disposição do bem, com o seu desmembramento em 03 (três) subglebas contíguas (Gleba A, com 500 Ha, Matricula 4417; Gleba B, com 300 Ha, Matricula 4418 e Gleba C, com 2200 Ha, Matricula 4419); iii) o valor da "venda" do imóvel alcança a cifra de R$ 20.650.000,00. Tendo em vista que a "venda" teria se dado em 28.12.1998, época em que havia uma estreita paridade entre as moedas "real" e "dólar americano", cabe dizer que a GLEBA CARAIBA teria sido vendida por cerca de US$ 20,000,000.00 (vinte milhões de dólares americanos). A escolha de um valor assim irreal e grandioso tinha sua razão de ser: proporcionar a criação de multas proporcionais ao prep:, de venda, igualmente imensuráveis com finalidade préordenada; iv) o Contrato, evidentemente, traz cláusula previsora de MULTA aplicável à parte alienante (1RACEMA) em beneficio da parte adquirente (RCA), se aquela não transferir a posse e a propriedade para esta ultima. Esta multa, de valor praticamente igual ao "valor da venda" do imóvel constitui, na visão das partes, fato gerador de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF); v) a multa se fez incidida (com o conseqüente IR Fonte) mesmo que a parte adquirente (beneficiária da multa) não tenha cumprido a sua obrigação de pagar o valor da "entrada" a que se obrigara pelo Contrato. Ignorando a cláusula da "exceptio non adimpleti contractus" e seus efeitos próprios, a incidência imediata da multa, a despeito de ser graciosa e ilegítima, cumpriu papel fundamental estranho ao Contrato em si de Compra e Venda, que foi o de gerar crédito fictício de IRRF para posterior transferência ao Grupo Marquise; vi) ainda que incidente a multa (tida como Clausula Penal pela inadimplência da vendedora, substitutiva, pois, da obrigação principal, que era a de "entregar "o imóvel à parte compradora), o Contrato seguiu produzindo os efeitos próprios de uma Compra e Venda a prazo. Ou seja, o alienante reconhece receitas financeiras pelo não recebimento do prego, enquanto Fl. 989DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 990 17 que o adquirente se apropria de encargos financeiros pelo pagamento que não fizera. Convém registrar que os efeitos de reconhecimento de receitas são neutralizados por outras operações igualmente fictas. A incompatibilidade entre a incidência da multa e a continuidade do Contrato salta aos olhos do simples intérprete do Direito dos Contratos. Fato curioso neste contexto é que, perdida no emaranhado de atos simulados, a empresa MAXIMAR, sucessora da 1RACEMA, apresenta ao Fisco cópias de recibos nos quais a RCA teria feito alguns pagamentos para a IRACEMA entre janeiro a agosto de 2004. Mas cabem duas observações sobre esses supostos pagamentos: são eles todos simulados porque os recursos vêm da empresa CAPITALIZE (Grupo Marquise) e a ela retornam; fossem eles verdadeiros, desmenteriam a hipótese de rescisão do contrato, a qual é o fato gerador da pretensa multa e do IRRF dela pretensamente decorrente; vii) em verdade verdadeira, ainda que legitima fosse (no campo contratual) a incidência dessa multa, não teria ela o condão de fazer incidir a regra do IRRF sobre Multas prevista no art. 70 da Lei n° 9.430/96. Se o elemento fatico que faria incidir a multa era a inadimplência do alienante prevista na Cláusula Segunda do Contrato (a falta de transferência em 180 dias da posse e propriedade do imóvel, mesmo que como já registramos o adquirente e beneficiário da multa não tivesse pago sequer o valor da "entrada" pela aquisição do imóvel), a conduta omissiva do alienante (1RACEMA) geraria uma multa contratual que não se adequa à hipótese de incidência (HI) prevista na referida lei. Para que esta HI seja ativada, exigese a efetiva rescisão do contrato (art. 70, Caput). E, como já demonstramos, esse fato da rescisão contratual não se configurou no caso concreto. Outrossim, ainda que alegasse a adquirente a reparação de danos patrimoniais, também não seria caso de incidência da multa legal, conforme expressa exclusão prevista no art. 70, § 5° da Lei n° 9.430/96; viii) observando as condutas que foram direcionadas ao Fisco, praticadas pelas empresas alienante (IRACEMA) e adquirente (RCA) constatamos a presença de fortes indícios do uso de documentos antedatados (os Contratos de Promessa de Compra e Venda). 0 respaldo fático para essa conclusão reside na concentração de atos realizados no anocalendário de 2003 e 2004, quando as DIRFs foram entregues em bloco e as DIPJs retificadas dessa mesma forma. Notar que os Srs. ANTONIO EUGENIO CARNEIRO PORTO, SEBASTIÃO OLIVEIRA SOUSA E MARIA DO SOCORRO VASCONCELOS OLIVEIRA são titulares comuns de ambas as empresas envolvidas (IRACEMA e RCA); ix) diante dessas constatações, fácil ficou para o Fisco visualizar o motivo mesmo desta PRIMEIRA VENDA do imóvel GLEBA CARAÍBA. 0 mote do planejamento tributário era gerar créditos fictícios do tributo IRRF, desde tempos remotos até o ano calendário de 2002 (dai a concentração de atos no ano de 2003 e Fl. 990DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 991 18 2004). 0 instrumento (meio) para tal seriam os Contratos de Promessa de Compra e Venda antedatados para o ano de 1998. 0 objetivo final era a transferência desses IRRF do Grupo CEC. para o Grupo Marquise em etapa posterior. Os valores originários de IRRF fictos gerados em beneficio da RCA estão na Tabela abaixo com dados da DIRFs (valores em R$); DIRFs ENTREGUES POR IRACEMA/MAXIMAR BENEFICIÁRIO RCA: Comentados esses detalhes relativos a PRIMEIRA VENDA DA GLEBA CARAÍBA da empresa IRACEMA para a empresa RCA, e, como se já não fossem bastante para a demonstração da natureza simulatória da opera cão (a qual visava mesmo a geração ficta de IRRF para "negociação" junto ao Grupo Marquise), passamos a detalhar as circunstancias da SEGUNDA VENDA DO IMÓVEL GLEBA CARAÍBA. Dissemos que o Contrato relativo a primeira venda não fora rescindido de fato (circunstância que, como demonstramos, exclui a eficácia da multa contratual para gerar IRRF). Dissemos também que o valor da venda, compreendendo a intecralidade da área da GLEBA CARAÍBA (3.000 ha) foi considerado no Contrato como sendo de R$ 20.650.000.00. Dissemos ainda, que o terreno fora desmembrado em 03 (três) subglebas de áreas menores (com 500 ha; 300 ha e 2200 ha). Pois bem. Em data de 31.08.2004 a empresa MAXIMAR (na qualidade de sucessora da IRACEMA, titular de direito da Gleba Caraiba com área total) vende conforme mera informação em DOI, mas sem a devida transcrição no Registro Imobiliário, a porção "B" da Gleba Caraiba desmembrada (também denominada Gleba Caraiba 2), com 300 ha objeto da Matricula n° 4418, para a mesma empresa RCA INTERNATIONAL COMMODITIES, pelo valor de R$ 20.650.000,00. Fl. 991DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 992 19 A constatação do fato desta SEGUNDA VENDA da Gleba Caraiba constitui um verdadeiro acinte à inteligência do Fisco. Nesta transação há evidências grosseiras da presença de fraude e simulação, além de incompatibilidades lógicas entre as condutas quando observadas panoramicamente. Vejamos as principais aberrações e o objetivo dissimulado desta SEGUNDA VENDA: i) em primeiro lugar, a inconsistência mesma do negócio como legitima operação de Compra e Venda do imóvel. É que a Gleba Caraiba (total com 3000 ha) já tinha sido "alienada" na PRIMEIRA VENDA em operação envolvendo as mesmas partes. Contrato respectivo não fora rescindido, o que constitui fato impeditivo da concepção de uma segunda venda. Dentro daquele primeiro negócio simulado (dado que só serviu para gerar o IRRF formatado para transferência ao Grupo Marquise) as partes — uma vez perdida em seus próprios atos fraudulentas — promove o absurdo de apresentar ao Fisco recibos igualmente simulados de "pagamento" parciais feitos em 2004, pela primeira aquisição. Se assim fosse, como justificar essa SEGUNDA AQUISIÇÃO?; ii) outra questão vazia de significado é quanto ao valor da venda, quando consideradas as áreas das Glebas "vendidas" (em 1998 e 2004). Já tendo "comprado", em 1998, a Gleba Caraiba total (com 3000 ha) por R$ 20.650.000,00 junto à IRACEMA, a RCA resolve comprar "de novo" uma porção daquilo que já dispunha. É que em 31.08.2004, à vista do desmembramento do terreno, ela "adquire" da 1RACEMA a Gleba Caraiba "B" ou Gleba Caraiba 2, com apenas 300 ha. Mesmo a despeito de comprar o que já teria em totalidade, neste novo momento, por uma área de apenas 10% (dez por cento) daquele todo (a Gleba Caraiba total tem 3000 ha) ela se com promissa em 2004 com a obrigação de pagar o mesmo preço avençado quando comprara "o todo" em 1998. Ou seja, se obrigou a pagar R$ 20.650.000,00 por apenas 300 (trezentos) hectares de terra, que compõe a Gleba Caraíba "B". Não há como admitir veracidade neste negócio; iii) mas outro objetivo (dissimulado, escondido) movia os Grupos Empresariais envolvidos para entabular essa nova venda. Esse motivo é que, pela "aquisição" da Gleba Caraíba "B", a RCA se creditou de PIS e COFINS Não Cumulativo, almejando o repasse, em ato continuo, para o Grupo Marquise; iv) considerando o imóvel como se mercadoria fosse para aquele efeito creditório, a RCA se credita de exatos R$ 347.822,00 de PIS e de R$ 1.675.877,00 de COFINS. Logo depois, vem sua (da RCA) Cisão Seletiva, por meio da qual, criase a empresa efêmera CONCE CONSTRUTORA NACIONAL CEARENSE S/A, Fl. 992DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 993 20 cujo Capital soma R$ 2.023.699,00 (curiosamente o somatório daquelas duas cifras relativas aos créditos de P1S/COFINS). Durando apenas pouco mais de 03 (três) meses, e sem qualquer atividade operacional (ou nãooperacional) vem a CONCE (então recheada de créditos fictícios de PIS/COFINS) a ser incorporada pela MULTIPLA COMERCIAL EXPORTADORA S/A. Desta última, que serviu apenas como mera ponte, o recheio da CONCE seguiu para a Construtora Marquise que, incorporando a MÚLTIPLA, traz definitivamente para si, aqueles preciosos créditos fictos de tributos. Com estas observações o Fisco põe a nu a real finalidade das operações de Compra e Venda do imóvel Gleba Caraiba, envolvendo diretamente as empresas IRACEMA/MAXIMAR e RCA, com efeitos e reflexos diretos e préordenados nas empresas do Grupo Marquise. Mas não pararam por ai. Inacreditavelmente, outras operações de Compra e Venda envolvendo as porções desmembradas da Gleba Caraíbas se sucederam. Em 10/09/2004 a empresa Agropecuária e Reflorestadora Parente S/A (sucessora da RCA remanescente) "vende" para a BEX Internacional S/A a Gleba Caraiba "A" (Gleba Caraiba 01), com 500 ha, pelo valor de R$ 20.650.000,00. Em 06/12/2004, a BEX Internacional S/A vende A Gleba Caraiba "A" (Gleba Caraiba 01) para a Xingu Empreendimentos Imobiliários Ltda, a qual se apropria de créditos de PIS/COFINS Não Cumulativo, transferindoos, por eventos de sucessão à empresa NO VAX CONSTRUÇÕES E EDIFICAÇÕES S/A, que, depois, os transfere para a Construtora Marquise. Em 30/11/2003, a BEX Internacional S/A vende A Gleba Caraiba "B" (Gleba Caraiba 02) para a PANAGRA DO BRASIL S/A. Por esse negócio a adquirente (PANAGRA) se escritura de encargos financeiros e Multa geradores, até Julho/2004, de créditos de tributos P1S/COFINS. Por evento de sucessão (Cisão Parcial Seletiva ) os créditos fiscais fictícios chegam à Construtora Marquise. Em 29/10/2004, a empresa PANAGRA DO BRASIL S/A "vende" para a CEC Internacional S/A a Gleba Caraíba "B", pelo valor de R$ 23.660.000,00. Tudo em opera coes de faz de conta, mas todas com objetivos implícitos: gerar créditos fictícios de tributos, além de manter valores meramente escriturais na contabilidade de cada uma delas, de forma a permitir a inserção de transações de interesse do Grupo Marquise, com quem aquelas empresas do Grupo CEC se interrelacionam com freqüência mediante negócios de consistência simulada. Fl. 993DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 994 21 [...] As Informação Fiscal, sintetiza as operações de compra e venda do imóvel/terreno entre as empresas do mesmo grupo, onde na primeira compra, gerou crédito indevido de IRRF e na segunda de PIS/COFINS. Com base nas conclusões que extraiu do Relatório de Análise Tributária elaborado pela Sapac/DRF/FOR, o Seort/DRF/FOR propôs, então, o não reconhecimento do direito credit6rio almejado pela empresa sucessora, relativamente a saldo negativo do IRPJ da empresa sucedida RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A, declarado no ano calendário 2000, e a nãohomologação das compensações de que trata o presente processo, bem como de todas as demais compensações, caso existentes, vinculadas ao direito creditório não reconhecido. Devido a tais fatos, os pedidos de restituição e de compensação foram negados, conforme o novo r. Despacho Decisório de fls.702 abaixo colacionado. Com base nos fundamentos consubstanciados na Informação Fiscal, fls.691/701, que aprovo, decido: a) DECLARAR NULO o Despacho Decisório de fls. 148, de 18/06/2009, com fundamento no art 53, da Lei n° 9.784, de 29 de janeiro de 1999; b) NÃO RECONHECER o direito creditório pleiteado pela empresa sucessora (CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA), relativamente a saldo negativo do IRPJ da empresa sucedida RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A do ano calendário 2002; c) NÃO HOMOLOGAR as compensações de que trata o presente processo (PER/DCOMP: n° 41228.45855.291105.1.7.023036, n° 29836.89229.291105.1.7.023088, n° 11332.86572.291105.1.3.029730, n° 12612.88756.291205.1.7.029193, n° 25977.15997.310106.1.3.022627, n° 24088.66795.031006.1.7.023536) e todas as demais compensações, caso existentes, vinculadas ao direito creditõrio não reconhecido; d) Intimar o sujeito passivo para, no prazo de 30 (trinta) dias, contado da ciência da presente decisão de não homologação e do não reconhecimento do direito creditório almejado, recolher os débitos indevidamente compensados, assegurandolhe o direito manifestação de inconformidade contra o indeferimento do pleito perante a Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Fortaleza DRJFOR, como lhe faculta o art. 66 da IN RFB n°900, de 30/12/2008. A Recorrente ofereceu manifestação de inconformidade de fls.704/714, referente ao não reconhecimento do direito creditório. Fl. 994DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 995 22 Os autos forma encaminhados para Delegacia da Receita Federal de Fortaleza (fls. 718), que se manifestou e informou que para os pedidos de compensação do processo em epígrafe, feitos com estes créditos dos pedidos de restituição destes autos em epígrafe, foi lavrado Auto de Infração exigindo multa isolada, formalizado no processo administrativo 10380.722703/201007. Em seguida, a DRJ proferiu v. acórdão de fls.827 e seguintes, mantendo o Despacho Decisório, registrando a ementa abaixo colacionada e concluindo da seguinte forma. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2002 DIREITO CREDITÓRIO. RESTITUIÇÃO. COMPENSAÇÃO. DISTRIBUIÇÃO DO ONUS DA PROVA. No processo administrativo de restituição e compensação de créditos tributários, incumbe ao contribuinte provar o fato constitutivo do seu direito (a certeza e liquidez do direito creditório) e, ao Fisco, para indeferir o pleito, provar fatos que evidenciem a inexistência do direito afirmado pelo contribuinte ou que constituam impedimento, modificação ou extinção desse direito. PROVA INDIRETA. INDÍCIOS. PRESUNÇÃO SIMPLES. VALIDA.DE. VERDADE MATERIAL. A Administração Pública tem o poderdever de investigar livremente a verdade material diante do caso concreto, analisando todos os elementos necessários à formação de sua convicção acerca da existência e conteúdo do fato jurídico. Esse poderdever é ainda mais presente na seara tributária, em que é usual a prática de atos simulatórios por parte do contribuinte, visando diminuir ou anular o encargo fiscal. A liberdade de investigação do Fisco pressupõe o direito de considerar fatos conhecidos não expressamente previstos em lei como indiciários de outros fatos, cujos eventos são desconhecidos de forma direta. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2002 DIREITO CREDITORIO. ORIGEM REMOTA. NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. INDEFERIMENTO. Provado nos autos, por indícios fartos, graves, precisos e convergentes, que o negócio jurídico que constituiria a causa remota do direito creditório pleiteado pelo contribuinte não teve lugar no mundo fático, cumpre indeferir o direito creditório e não homologar as compensações declaradas. DIREITO CREDITORIO. SALDO NEGATIVO DE IRPJ. CERTEZA E LIQUIDEZ. SIMULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO QUE TERIA ENSEJADO A RETENÇÃO DE IRRF. PARCELAMENTO, PELA FONTE PAGADORA, DO IRRF QUE COMPÔS O SALDO NEGATIVO. IMPROCEDÊNCIA DO DIREITO CREDITÓRIO, POR AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE. Fl. 995DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 996 23 0 fato de a fonte pagadora haver formalizado parcelamento do IRRF pretensamente retido em negócio jurídico simulado não confere materialidade ao direito credit6rio pleiteado sob a forma de saldo negativo de IRPJ pela pretensa beneficiária da retenção. SUCESSÃO EMPRESARIAL. SIMULAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO MATERIAL NO PATRIMÔNIO TRANSFERIDO ENTRE AS EMPRESAS. INEFICÁCIA DOS ATOS FORMALMENTE PRATICADOS, A DESPEITO DE SUA LEGALIDADE. irrelevante, para fins de apuração da eficácia dos atos de sucessão empresarial, que estes tenham sido praticados com observância da legislação pertinente, quando resta demonstrado nos autos que o patrimônio pretensamente transposto entre as empresas é destituído de conteúdo material. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Por fim, concluiu da seguinte forma: Em seguida, foi interposto Recurso Voluntário pela Capitalize Fomento Comercial LTDA, incorporadora da RCA Internacional Commodities, descrevendo os fatos ocorridos, requerendo basicamente a reforma do v. acórdão recorrido, reiterando as alegações da manifestação de inconformidade, incluindo preliminar de nulidade relativa informações estranhas ao processo e, basicamente, alegando (fls.5/9 do RV) que não pode ser responsabilizada por atos ilícitos praticados por suas sucedidas e terceiros, eis que agiu de boa fé e não tinha conhecimento das irregularidades para a criação dos créditos, no momento em que incorporou a parte da RCA. Fl. 996DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 997 24 Alega que a empresa IRACEMA, teria parcelado no âmbito do PAES Lei 10.684/2003 o IRRF relativo as multas contratuais da operação de compra e venda do terreno e, por tal motivo, restaria comprovado o direito ao crédito no momento da incorporação. É o relatório. Fl. 997DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 998 25 Voto Conselheiro Leonardo Luis Pagano Gonçalves O Recurso Voluntário é tempestivo e foi interposto por seu representante com poderes para tanto, motivo pelo qual deve ser admitido. A Recorrente não alega nenhum argumento de defesa em relação ao cancelamento do primeiro r. Despacho Decisório fls. 148. Mesmo por que, ele foi alterado dentro de um pequeno espaço de tempo, não incorrendo em qualquer homologação tácita ou em perde do direito da Administração Pública rever seus atos. Preliminar de nulidade relativa a informações estranhas ao processo: A informações não são estranhas ao processo. As decisões e relatórios acostados aos autos, são para descrever precisamente o sistema criado pela Recorrente e outras empresas para gerar créditos indevidos. Tais informações serviram para descrever fatos que estão totalmente relacionados com a matéria dos autos, relativos ao crédito que se pretende restituir e compensar. Desta forma, afasta a alegação preliminar, pois as informações não são estranhas ao processo. Na verdade as informações retiradas de outros processos, fazem parte e estão relacionadas com a matéria dos autos. Ademias, a Recorrente alega a nulidade, mas não aponta qual o prejuízo ou dispositivo da legislação do PAF Federal que foi desrespeitado. Mérito: Em relação as alegações de que a empresa IRACEMA, vendedora, teria parcelado o IRRF relativo as multas contratuais da operação de compra e venda do terreno, entendo que tais créditos não podem ser opostos face ao Fisco, pois os atos jurídicos, que geraram a multa contratual prevista no instrumento de compra e venda do terreno, restaram Fl. 998DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 999 26 comprovadamente inexistentes, eis que foram praticados por meio de fraude, com dolo, simulação e conluio. Vejamos as constatações da Fiscalização que restaram comprovas nos autos por meio do Relatório de Análise Tributária fls.157 e seguintes, relativas as operações empresariais: I) operações sucessivas com o mesmo objeto (bem imóvel)— os imóveis objeto dos alegados Contratos são sucessivamente "vendidos" e "comprados" pelas empresas do Grupo CEC, com a utilização da técnica da cessão de créditos para implementar a venda sucessiva 6 primeira; II) limitação subjetiva quanto às partes nos negócios — as características inusuais de cada um dos negócios, reclamavam a condição de que, alienante e adquirente, se circunscrevessem às empresas do interior do Grupo CEC (operações domésticas); III) ausência absoluta de qualquer fluxo financeiro decorrente do pretenso negócio imobiliário dada a falta de realização de qualquer atividade econômica nas empresas do Grupo CEC hábeis a gerar receitas de qualquer ordem salvo, obviamente, as simuladas "receitas de vendas de imóveis" não há qualquer pagamento do preço atribuído ao imóvel por parte do "adquirente". De outro lado, à mingua de, sequer, o recebimento do valor da "entrada", não há nenhum procedimento de cobrança por parte do alienante; iv) precedência de reavaliações do valor contábil dos imóveis sempre em relação ao momento das alegadas vendas para operacionalizar as vendas dos bens imóveis o alienante sempre recorria à técnica de reavaliações meramente formais do valor contábil; v) vendas a prazo com implicações financeiras definidas em relação às partes, mas nunca resolvidas no tempo — os encargos contratuais constituíam receita financeira para o alienante e despesa financeira para o adquirente. Mas aquele que reconhecia a receita (apenas pro visionando o crédito) tinha seu resultado fiscal neutralizado por despesas originárias de outros contratos imobiliários em circularização; vi) preço dos bens imóveis fora da realidade econômica mesmo a despeito das condições jurídicas em que se encontravam os imóveis ao tempo das "vendas", as alienações se deram porvalores astronômicos, onde alguns imóveis alcançaram a expressiva cifra de mais de R$20.000.000,00, sendo que os "adquirentes" sequer tinham receitas geradas para assunção de tamanho negócio; vii) previsão desproporcional, desarrazoada e sem qualquer justificativa no Direito dos Contratos de pagamentos de multas pelo alienante cláusula do Contrato previa "pura esimplesmente" o pagamento de multas pelo alienante. Independentemente do pagamento da"entrada" pelo adquirente, a exigência dessa multa era imperativa. Os valores das multas praticamente se aproximavam do prego de venda do bem. Há caso em que a multa chegou a R$ 14.080.000,00 e o prego de venda do imóvel teria sido de R$ 8.800.000,00; viii) incompatibilidade da consideração simultânea entre a permanência dos efeitos do Contrato de Compra e Venda e da eficácia da clausula previsora da multa como o objeto do Contrato (compra e venda do imóvel) seguiu produzindo os efeitos queridos (nas Fl. 999DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1000 27 contabilidades o alienante registrou o Direito Creditório a Receber e suas correções, enquanto o adquirente registrou a Obrigação junto àquele, alem dos encargos decorrentes da mora), não há como conceber qualquer fato gerador da incidência da multa imputada ao alienante, porque não incidira em inadimplência contratual, mormente porque o "adquirente", sequer pagara qualquer centavo pela "entrada" prevista nos Contratos. Não podia a adquirente reclamar a multa, se não adimplira sua obrigação de pagar a "entrada". A escrituração mostra o absurdo do fato de que a multa devida pelo "alienante" é abatida (descontada) do montante do crédito a receber do adquirente. Na verdade, a presença dessas "multas" nesses Contratos fictícios cumprem uma função especial (vantagem prédefinida) querida pelas partes; ix) uso de preço artificial dos bens imóveis "vendidos" para proporcionar vantagens predefinidas as cifras (monetárias) com que os bens eram "vendidos" foram previamente mensuradas, de modo que fossem hábeis a garantir vantagens financeiras ao Grupo CEC, vantagens essas dignas de se constituir em fonte de recursos para serem negociadas junto a terceiros. Como se poderá ver logo à frente, constituíram também esses negócios em grande vantagem para o Grupo Marquise, o qual é identificado como o próprio "terceiro" negociador com o Grupo CEC, intervindo diretamente como parte interessada no produto gerado por aquelas transações imobiliárias fictícias; x) vantagem tributária especifica da existência de Cláusula previs ora de multas as multas contratuais atuaram no planejamento tributário como pretenso fato constitutivo da incidência de Imposto de Renda Retido na Fonte, tendo como beneficiário os supostos adquirentes. Esses créditos de tributos compuseram os Ativos (Tributos a Recuperar) das empresas do Grupo CEC que, logo depois, sofrem Cisão Parcial, segregando exclusivamente (na prática) o exato montante daquele crédito de tributo, o qual comporá o Ativo de outra empresa, especialmente constituída para absorver o crédito fiscal transferido. 0 passo seguinte, ou é a venda do "controle acionário" da nova empresa (então surgida da Cisão) para empresas do Grupo Marquise, para, em ato continuo a essa aquisição, o Grupo Marquise adquirente promova a incorporação dessa "nova empresa", ou, de modo diferenciado, a incorporação direta dessa "nova empresa" por empresas do grupo Marquise. Cumpridas essas etapas, aparentemente licitas, conforme a legislação de regência, fica o Grupo Marquise com a disponibilidade do crédito de IRRF remotamente gerado nos negócios imobiliários entre as empresas do Grupo CEC; xi) vantagens tributárias especificas das aquisiciies em si dos Imóveis constantes dos Contratos de Compra e Venda celebrados entre as empresas do Grupo CEC a mera aquisição (fictícia, porque s6 existente no papel) dos imóveis cumpriram no planejamento tributário função própria. Pela compra e titulandoa como "insumo" ou bem adquirido para revenda o pretenso adquirente se creditava de PIS e COFINS Não Cumulativo, conduta pela qual garantiu apreciáveis valores de Créditos de Contribuições de PIS/COFINS nos Ativos de algumas empresas do Grupo CEC. Mas a mera aquisição como fundamento dos créditos de PIS/COFINS não era bastante para os agentes participes do planejamento tributário fraudulento. Como não havia nenhum fluxo de recursos nessas Compra e Venda (tal como já explicamos) os negócios eram feitos a Prazo. Fl. 1000DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1001 28 Isso fazia o adquirente incorrer em encargos financeiros decorrentes da compra, sendo tais encargos até onde a legislação permitiu (julho/2004) fatos geradores de créditos de PIS/COFINS. A dupla conduta garantiu mais um conjunto apreciável de Tributos a Recuperar (Créditos de PIS/COFINS) para algumas empresas do Grupo CEC. A partir dai constatou o Fisco seguemse as mesmas etapas (cisão/incorporação com fins distintos dos ordinários atribuídos a esses institutos) referidas no inciso anterior, quando descrevemos os caminhos percorridos por estes créditos de tributos que, ao final, chegam para disponibilização pelas empresas do Grupo Marquise. E, uma vez compondo (aparentemente de forma incensurável) o patrimônio do Grupo Marquise, os pedidos de Restituição/Compensação tornaramse mera implementação final da fraude seguida de conluio na geração/utilização dos créditos fiscais fictícios; xii) existência explicita de uma "causa simulandi" expressa a fundamentar o planejamento tributário fraudulento engendrado entre as empresas do Grupo CEC e as do Grupo Marquise comprovamos a existência de cobrança executiva (judicial Processo n° 2006.0020.13266/0) de valores por parte da Construtora Marquise junto a "controladora" do Grupo CEC "CEC INTERNACIONAL S/A". Esses "valores" não representavam qualquer operação que tivessem origem na atividade operacional da Construtora (venda de Aptos à CEC ou realização de obras civis, por exemplo). A divida da CEC perante a Construtora decorria, na verdade, de "PROMESSA DE VENDA DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS GERADOS PELA CEC E NEGOCIADOS PARA A CONSTRUTORA" Os créditos negociados eram de CRÉDITO PRESUMIDO DE IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Ocorre que, uma vez indeferidos pela DRF FORTALEZA os créditos presumidos de IPI pretensamente alegados pelo Grupo CEC, restou a CEC INTERNACIONAL S/A como devedora da Construtora Marquise, dando azo ao Processo de Execução desta contra aquela. Mas as partes encerraram o Processo Judicial mediante acordo em juízo (Composição Amigável, cf docto. anexo! Dessa forma, uma vez indeferido na DRF Fortaleza o pleito creditório relativo ao tributo IPI, planejaram as partes resolver o Contrato de Promessa de Venda de Créditos Tributários Federais, mediante a utilização de tributos diversos daquele. Dai todo o estratagema de gerar num primeiro momento IRRF a partir de pretensas Multas sobre Contratos de Compra e Venda de Imóveis (todos simulados), além de PIS e COFINS Não Cumulativo pela simples aquisição (fictas) desses imóveis. Num segundo momento, cisões (seletivas) seguidas de incorporações (préordenadas) fizeram com que os CRÉDITOS FISCAIS (agora de iRRF e PiS/C0FiNS) chegassem ao Grupo Marquise; presença de fortes indícios da lavratura de documentos "antedatados" na conduta que formalizava os Contratos, o que revela outra característica de hipótese legal de simulação para que se operassem as cisões (seletivas) seguidas de incorporações (préordenadas), convinha primeiramente, que Contratos Fictícios de Compra e Venda de Imóveis levassem datas antigas, para que implementassem o nascimento de créditos de IRRF e/ou de PIS/COFINS Não Cumulativo. Há casos de Contratos de Compra e Venda de Imóveis datados de 1998, sendo que, os efeitos quanto aos alegados "Créditos de IRRF sobre Multas" que teriam suposta incidência nos anos de 1999/2000/2001 e 2002 só foram reconhecidos em DIRFs entregues globalmente em fins de 2003. Há Fl. 1001DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1002 29 outro caso de Contrato da mesma natureza, em que se consigna em Cláusula especifica, a cobrança de Multa, a qual fora levada em cômputo à Despesa Financeira, exatamente no mês de JULHO/2004. Este momentolimite é o mês/ano em que a legislação permitiu que "Encargos Financeiros" dessem origem a créditos fiscais de PIS/COFINS. Evidentemente, esses créditos (de IRRF/PIS/COFINS), tão engenhosamente gerados a partir daqueles Contratos simulados quanto ao objeto, pela via de Cisão (seletiva) que, logo após, seguiuse de Incorporação (préordenada), chegou aonde se almejava chegar: ao beneficiário Grupo Marquise. Segundo o referido Relatório, no tocante à negociação do terreno ora em pauta entre as empresas Iracema Florestamento e Reflorestamento Ltda. e a RCA International Commodities S/A, o negócio operouse totalmente a prazo, sem qualquer fluxo de recursos financeiros, sendo que a compradora não tinha condições financeiras para concretizar a compra no valor estipulado, cabendo acrescentar e citar os seguintes fatos dignos de destaque extraídos do referido Relatório: i) executada sem qualquer registro, a operação não alterou a titularidade real do imóvel contida na Certidão do Cartório de Registro de Imóveis. Ou seja, o bem permanece titulado pela IRACEMA FLORESTAMENTO E REFLORESTAMENTO LTDA. E não pela simulada adquirente RCA International Commodities S/A. Aliás, essa alegada venda (supostamente ocorrida em 28.12.1998) seria, na verdade o desfazimento do negócio real registrado em Cartório na data de 03.08.1998 onde a IRACEMA adquire da RCA; ii)esse fato é de tal importância para se compreender que venda nenhuma houve da IRACEMA para a RCA, dado que, em 1999, aquela titular do imóvel (Iracema Florestamento) promove ato de disposição do bem, com o seu desmembramento em 03 (três) subglebas contíguas (Gleba A, com 500 Ha, Matricula 4417; Gleba B, com 300 Ha, Matricula 4418 e Gleba C, com 2200 Ha, Matricula 4419); iii) o valor da "venda" do imóvel alcança a cifra de R$ 20.650.000,00. Tendo em vista que a "venda" teria se dado em 28.12.1998, época em que havia uma estreita paridade entre as moedas "real" e "dólar americano", cabe dizer que a GLEBA CARAÍBA teria sido vendida por cerca de US$ 20,000,000.00 (vinte milhões de dólares americanos). A escolha de um valor assim irreal e grandioso tinha sua razão de ser: proporcionar a criação de multas proporcionais ao prego de venda, igualmente imensuráveis com finalidade préordenada; iv) o Contrato, evidentemente, traz cláusula previsora de MULTA aplicável à parte alienante (IRACEMA) em beneficio da parte adquirente (RCA), se aquela não transferir a posse e a propriedade para esta última. Esta multa, de valor praticamente igual ao "valor da venda" do imóvel constitui, na visão das partes, fato gerador de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF); v) a multa se fez incidida (com o conseqüente IR Fonte) mesmo que a parte adquirente (beneficiária da multa) não tenha cumprido a sua obrigação de pagar o valor da "entrada" a que se obrigara pelo Contrato. Ignorando a cláusula da "exceptio non adimpleti contractus" e seus efeitos próprios, a incidência imediata da multa, a despeito de ser qraciosa e ilegítima, cumpriu papel fundamental Fl. 1002DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1003 30 estranho ao Contrato em si de Compra e Venda, que foi o de gerar crédito fictício de IRRF para posterior transferência ao Grupo Marquise; vi) ainda que incidente a multa (tida como Cláusula Penal pela inadimplência da vendedora, substitutive, pois, da obrigação principal, que era a de "entregar "o imóvel 5 parte compradora), o Contrato seguiu produzindo os efeitos próprios de uma Compra e Venda a prazo. Ou seja, o alienante reconhece receitas financeiras pelo não recebimento do prego, enquanto que o adquirente se apropria de encargos financeiros pelo pagamento que não fizera. Convém registrar que os efeitos de reconhecimento de receitas são neutralizados por outras operações igualmente fictas. A incompatibilidade entre a incidência da multa e a continuidade do Contrato salta aos olhos do simples intérprete do Direito dos Contratos. Fato curioso neste contexto é que, perdida no emaranhado de atos simulados, a empresa MAXIMAR, sucessora da IRACEMA, apresenta ao Fisco cópias de recibos nos quais a RCA teria feito alguns pagamentos para a IRACEMA entre janeiro a agosto de 2004. Mas cabem duas observações sobre esses supostos pagamentos: são eles todos simulados porque os recursos vêm da empresa CAPITALIZE (Grupo Marquise) e a ela retornam; fossem eles verdadeiros, desmentiriam a hipótese de rescisão do contrato, a qual é o fato gerador da pretensa multa e do IRRF dela pretensamente decorrente; vii) em verdade verdadeira, ainda que legitima fosse (no campo contratual) a incidência dessa multa, não teria ela o condão de fazer incidir a regra do IRRF sobre Multas prevista no art. 70 da Lei n° 9.430/96. Se o elemento fatico que faria incidir a multa era a inadimplência do alienante prevista na Cláusula Segunda do Contrato (a falta de transferência em 180 dias da posse e propriedade do imóvel, mesmo que como já registramos o adquirente e beneficiário da multa não tivesse paqo sequer o valor da "entrada" pela aquisição do imóvel), a conduta omissiva do alienante (IRACEMA) geraria uma multa contratual que não se adequa à hipótese de incidência (HI) prevista na referida lei. Para que esta HI seja ativada, exigese a efetiva rescisão do contrato (art. 70, ca put). E, como já demonstramos, esse fato da rescisão contratual não se configurou no caso concreto. Outrossim, ainda que alegasse a adquirente a reparação de danos patrimoniais, também não seria caso de incidência da multa legal, conforme expressa exclusão prevista no art. 70, § 5° da Lei n° 9.430/96; viii) observando as condutas que foram direcionadas ao Fisco, praticadas pelas empresas alienante (IRACEMA) e adquirente (RCA) constatamos a presença de fortes indícios do uso de documentos antedatados (os Contratos de Promessa de Compra e Venda). 0 respaldo fático para essa conclusão reside na concentração de atos realizados no anocalendário de 2003 e 2004, quando as DIRFs foram entregues em bloco e as DIPJs retificadas dessa mesma forma. Notar que os Srs. ANTONIO EUGENIO CARNEIRO PORTO, SEBASTIÃO OLIVEIRA SOUSA E MARIA DO SOCORRO VASCONCELOS OLIVEIRA são titulares comuns de ambas as empresas envolvidas (IRACEMA e RCA); ix) diante dessas constatações, fácil ficou para o Fisco visualizar o motivo mesmo desta PRIMEIRA VENDA do imóvel GLEBA CARA IBA. 0 mote do planejamento tributário era gerar créditos fictícios do tributo IRRF, desde tempos remotos até o anocalendário de 2002 (dai Fl. 1003DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1004 31 a concentração de atos no ano de 2003 e 2004). 0 instrumento (meio) para tal seriam os Contratos de Promessa de Compra e Venda ante datados para o ano de 1998. 0 objetivo final era a transferência desses IRRF do Grupo CEC. para o Grupo Marquise em etapa posterior. Os valores originários de IRRF fictos gerados em beneficio da RCA estão na Tabela abaixo com dados da DIRFs (valores em R$); DIRFs ENTREGUES POR IRACEMA/MAXIMAR BENEFICIÁRIO RCA [...] Comentados esses detalhes relativos a PRIMEIRA VENDA DA GLEBA CARAÍBA da empresa IRACEMA para a empresa RCA, e, como se já não fossem bastante para a demonstração da natureza simulatória da opera cão (a qual visava mesmo a geração ficta de IRRF para "negociação" junto ao Grupo Marquise), passamos a detalhar as circunstâncias da SEGUNDA VENDA DO IMOVEL GLEBA CARAÍBA. Dissemos que o Contrato relativo a primeira venda não fora rescindido de fato (circunstância que, como demonstramos, exclui a eficácia da multa contratual para gerar IRRF). Dissemos também que o valor da venda, compreendendo a integralidade da área da GLEBA CARAÍBA (3.000 ha) foi considerado no Contrato como sendo de R$ 20.650.000,00. Dissemos ainda, que o terreno fora desmembrado em 03 (três) subglebas de áreas menores (com 500 ha; 300 ha e 2200 ha). Pois bem. Em data de 31.08.2004 a empresa MAXIMAR (na qualidade de sucessora da IRACEMA, titular de direito da Gleba Caraiba com área total) vende conforme mera informação em DOI, mas sem a devida transcrição no Registro Imobiliário, a porção "B" da Gleba Caraiba desmembrada (também denominada Gleba Caraiba 2), com 300 ha objeto da Matricula n° 4418, para a mesma empresa RCA INTERNATIONAL COMMODITIES, pelo valor de R$ 20.650.000,00. A constatação do fato desta SEGUNDA VENDA da Gleba Caraíba constitui um verdadeiro acinte à inteligência do Fisco. Nesta transação há evidências grosseiras da presença de fraude e simulação, além de incompatibilidades lógicas entre as condutas quando observadas panoramicamente. Vejamos as principais aberrações e o objetivo dissimulado desta SEGUNDA VENDA: i) em primeiro lugar, a inconsistência mesma do negócio como legitima operação de Compra e Venda do imóvel. É que a Gleba Caraiba (total com 3000 ha) já tinha sido "alienada" na PRIMEIRA VENDA em opera cão envolvendo as mesmas partes o Contrato respectivo não fora rescindido, o que constitui fato impeditivo da concepção de uma segunda venda. Dentro daquele primeiro negócio simulado (dado que só serviu para gerar o IRRF formatado para transferência ao Grupo Marquise) as partes — uma vez perdida em seus próprios atos fraudulentas — promove o absurdo de apresentar ao Fisco recibos igualmente simulados de "pagamento" parciais feitos em 2004, pela Fl. 1004DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1005 32 primeira aquisição. Se assim fosse, como justificar essa SEGUNDA AQUIS100?; ii) outra questão vazia de significado é quanto ao valor da venda, quando consideradas as áreas das Glebas "vendidas" (em 1998 e 2004). Já tendo "comprado", em 1998, a Gleba Caraiba total (com 3000 ha) por R$ 20.650.000,00 junto à IRACEMA, a RCA resolve comprar "de novo" uma porção daquilo que já dispunha. É que em 31.08.2004, vista do desmembramento do terreno, ela "adquire" da IRACEMA a Gleba Caraiba "B" ou Gleba Caraiba 2, com apenas 300 ha. Mesmo a despeito de comprar o que já teria em totalidade, neste novo momento, por uma área de apenas 10% (dez por cento) daquele todo (a Gleba Caraiba total tem 3000 ha) ela se com promissa em 2004 com a obrigação de pagar o mesmo preço avençado quando comprara "o todo" em 1998. Ou seja, se obrigou a pagar R$ 20.650.000,00 por apenas 300 (trezentos) hectares de terra, que compõe a Gleba Caraiba "B". Não há como admitir veracidade neste negócio; iii) mas outro objetivo (dissimulado, escondido) movia os Grupos Empresariais envolvidos para entabular essa nova venda. Esse motivo é que, pela "aquisição" da Gleba Caraiba "B", a RCA se creditou de PIS e COFINS Não Cumulativo, almejando o repasse, em ato continuo, para o Grupo Marquise; iv) considerando o imóvel como se mercadoria fosse para aquele efeito credit6rio, a RCA se credita de exatos R$ 347.822,00 de PIS e de R$ 1.675.877,00 de COFINS. Logo depois, vem sua (da RCA) Cisão Seletiva, por meio da qual, criase a empresa efêmera CONCE CONSTRUTORA NACIONAL CEARENSE S/A, cujo Capital soma R$ 2.023.699,00 (curiosamente o somatório daquelas duas cifras relativas aos créditos de PIS/COFINS). Durando apenas pouco mais de 03 (três) meses, e sem qualquer atividade operacional (ou não operacional) vem a CONCE (então recheada de créditos fictícios de PIS/COFINS) a ser incorporada pela MULTIPLA COMERCIAL EXPORTADORA S/A. Desta ultima, que serviu apenas como mera ponte, o recheio da CONCE seguiu para a Construtora Marquise que, incorporando a MÚLTIPLA, traz definitivamente para si, aqueles preciosos créditos fictos de tributos. Com estas observações o Fisco põe a nu a real finalidade das opera coes de Compra e Venda do imóvel Gleba Caraiba, envolvendo diretamente as empresas IRACEMA/MAXIMAR e RCA, com efeitos e reflexos diretos e préordenados nas empresas do Grupo Marquise. Mas não pararam por ai. Inacreditavelmente, outras operações de Compra e Venda envolvendo as porções desmembradas da Gleba Caraíbas se sucederam. Em 10/09/2004 a empresa Agropecuária e Reflorestadora Parente S/A (sucessora da RCA remanescente) "vende" para a BEX Internacional S/A a Gleba Caraíba "A" (Gleba Caraiba 01), com 500 ha, pelo valor de R$ 20.650.000,00. Em 06/12/2004, a BEX Internacional S/A vende A Gleba Caraiba "A" (Gleba Caraíba 01) para a Xingu Empreendimentos Imobiliários Ltda, a qual se apropria de créditos de PIS/COFINS Não Cumulativo, transferindoos, por eventos de sucessão empresa NO VAX CONSTRUÇÕES E EDIFICAÇÕES S/A, que, depois, os transfere para a Construtora Marquise. Fl. 1005DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1006 33 Em 30/11/2003, a BEX Internacional S/A vende A Gleba Caraiba "B" (Gleba Caraiba 02) para a PANAGRA DO BRASIL S/A. Por esse negócio a adquirente (PANAGRA) se escritura de encargos financeiros e Multa geradores, até Julho/2004, de créditos de tributos PIS/COFINS. Por evento de sucessão (Cisão Parcial Seletiva) os créditos fiscais fictícios chegam à Construtora Marquise. Em 29/10/2004, a empresa PANAGRA DO BRASIL S/A "vende" para a CEC Internacional S/A a Gleba Caraiba "B", pelo valor de R$ 23.660.000,00. Tudo em operações de faz de conta, mas todas com objetivos implícitos: gerar créditos fictícios de tributos, além de manter valores meramente escriturais na contabilidade de cada uma delas, de forma a permitir a inserção de transações de interesse do Grupo Marquise, com quem aquelas empresas do Grupo CEC se interrelacionam com freqüência mediante negócios de consistência simulada. Como se viu, os Contratos/promessas de Compra e Venda do terreno, constituindose com documentos remotos, que originaram todas as demais operações que envolveram os Grupos Empresariais (CEC e Marquise), nos leva à conclusão de que nenhuma operação imobiliária de fato ocorreu, dado o elenco de provas indiciárias graves, precisas e concordantes entre si, apontadas pelo Relatório de Análise Tributária. Diante dessas constatações, não pode o Fisco têlos (os contratos) como produtores dos efeitos pretendidos pelas partes. Em conseqüência, não se pode homologar as compensações vinculadas ao crédito descabido. No caso vertente, inexiste pagamento indevido, muito menos saldo negativo do IRPJ, no anocalendário 2002, ou em qualquer outro ano. Destarte, tendo em vista as operações praticadas pelos grupos empresariais, podese concluir, assim como a Fiscalização, que: a) inexiste o crédito alegado pela Interessada, uma vez que, como restou fartamente demonstrado nos autos, ele decorreria de um ato simulado (venda fictícia de imóvel), engendrado com o concurso de terceiros, por meio de conluio, objetivando, segundo referido Relatório, burlar a Fazenda Nacional, para extinguir débitos tributários legítimos, por meio de pretensos créditos cuja titularidade teria sido adquirida pela CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA, em processo de sucessão societária; b) inexiste motivação jurídica para a imposição da multa contratual que teria dado causa A incidência do IRFF, que veio a constituir o pretenso direito de crédito adquirido pela CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA, uma vez que a pretensa adquirente do imóvel (RCA International Commodities S/A), nem ao menos cumpriu a obrigação de pagar A pretensa alienante (Iracema Florestamento e Reflorestamento Ltda) o valor correspondente 6 entrada da respectiva operação; assim, é óbvio que, se se tratasse de uma transação normal, não cabia a esta transferir a posse e a propriedade do imóvel para terceiros, sem qualquer contrapartida da parte adquirente, o que torna injustificável o acatamento pacifico do reconhecimento da divida relativa 6 aludida multa; Fl. 1006DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1007 34 c) inexiste hipótese fática para a incidência do IRF na situação tratada nos autos, em razão de a multa de que se cuida — ainda que fosse legitima não corresponder à rescisão de contrato, única situação eleita pelo legislador como hipótese de incidência do tributo no caso de pagamento ou crédito de multas contratuais, nos termos do art. 70 da Lei n° 9.430, de 27/12/1996. Ou seja, como a operação de compra e venda do terreno não existiu devido a fraude e simulação da compra e venda, logo a multa que acompanha o contrato, também não. Devido a tal fato, não se configurou hipótese de incidência do IRRF a ser parcelado pela vendedora do terreno IRACEMA. (cláusula onde prevê multa quando a vendedora não entrega o bem estipulada no contrato que foi vendido). Desta forma, como entendo que não deveria incidir o IRRF, pois não existiu hipótese de incidência de tal imposto, o parcelamento feito pela empresa IRACEMA, não pode gerar crédito para a empresa incorporadora da compradora (RCA Recorrente CAPITALIZE), face ao Fisco. A empresa IRACEMA, que parcelou IRRF, pagou/parcelou equivocadamente, devendo ela pedir a restituição de tais valores. Os valores parcelados pela empresa vendedora IRACEMA, não fazem parte da discussão dos autos e não podem compor o saldo negativo do IRPJ da compradora RCA, que foi incorporada pela Recorrente, que pretende compensar com seus débitos de imposto. Também é importante ressaltar, que o artigo 136, da Seção III do CTN, que trata de responsabilidade de terceiros, descreve que a responsabilidade por infrações independe da intenção do agente, da natureza, extinção e extensão dos feitos do ato. (responsabilidade objetiva). Esta responsabilidade objetiva prevista no dispositivo acima indicado, tem presunção relativa (artigos 108, IV e 112 do CTN) e pode ser afastada quando comprovada pelo sujeito passivo, que agiu de boafé, não participou dos atos ilícitos e que não tinha condições de saber, no momento em que determinado ato foi praticado, das ilicitudes que geraram determinados créditos. Ocorre, que no presente caso, ficou constatado no Relatório de Análise Tributária da SAPAC, que o grupo empresarial do qual a Recorrente pertence (Grupo Marquise), que incorporou a compradora do terreno RCA, fez parte (conluio) das operações fraudulentas que criaram os créditos tributários irregulares, agravando ainda mais a situação da Recorrente, não tendo como aceitar determinados créditos e compensações. Neste diapasão, entendo que os valores do parcelamento do IRRF, não deveriam compor o saldo negativo do IRPJ, relativo ao pedido de restituição retificado, feito pela RCA, e muito menos ser transportado para empresa incorporadora, a CAPITALIZE, para requerer a compensação. No mais, adoto os fundamentos do v. acórdão recorrido, os quais entendo que devem ser mantidos. Fl. 1007DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1008 35 Em relação as alegações de que a sucessão da empresa RCA, não poderiam prejudicar a Recorrente, também entendo que não devem ser providas. Restou comprovado nos autos, que tanto as pessoas físicas, como as empresas dos dois grupos, tinham participação nas operações fraudulentas e detinham participação acionária em ambas empresas, na RCA e na incorporadora CAPITALIZE, não tendo como a Recorrente alegar que não poderia ser responsabilizada por atos da empresa que incorporou. No presente caso, fico comprovado que a Recorrente incorporadora e seus representantes, participaram direta e indiretamente das irregularidades tributárias que geraram os créditos indevidos. Também é importante ressaltar, que todos os atos societários e participações da simulação de promessa/compra e venda do terreno, que ocasionaram as créditos indevidos estão devidamente relacionados e comprovados nos processos abaixo indicados, onde somando todas informações neles contidas, podese facilmente detectar que todas as empresas dos dois grupos agiram em conjunto para fraudar o erário e deixar de pagar impostos. (seguem os processos) 10380.009193/200694 RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A 10380.901897/200611 RCA INTERNATIONAL COMMODITIES S/A 10380.901733/200693 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.901737/200671 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.901739/200661 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.901735/200682 PANAGRA DO BRASIL S/A 10380.720384/200872 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.720385/200817 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.720499/200867 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.722709/201076 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.722703/201007 CAPITALIZE FOMENTO COMERCIAL LTDA. 10380.722244/201053 CONSTRUTORA MARQUISE.S/A 10380.722365/201003 CONSTRUTORA MARQUISE.S/A 10380.722355/201060 CONSTRUTORA MARQUISE.S/A 10380.722361/201017 CONSTRUTORA MARQUISE S/A 10380.721600/201011 CONSTRUTORA MARQUISE S/A Pelo exposto e por tudo que consta processado nos autos, conheço do Recurso Voluntário e nego provimento, mantendo integralmente o v. acórdão recorrido, negando deferimento aos pedidos de restituição e não homologando as compensações. Fl. 1008DF CARF MF Processo nº 10380.720385/200817 Acórdão n.º 1402002.482 S1C4T2 Fl. 1009 36 Em relação ao Auto de Infração de multa isolada, aplicada pela não homologação da compensação, em tramite nos autos do processo 201007, tendo em vista a constatação da fraude, simulação e conluio nas operações que criaram os créditos, entendo que deve ser mantido em seus termos e deve ser analisada nos autos daquele processo. O Auto de Infração foi lavrado exigindo multa isolada qualificada a 150%, com base no artigo 80 da Lei 10833/03. O dispositivo e a legislação que fundamentaram a multa, não foram alterados até o momento, não se aplicando o pedido de retroatividade benigna da Recorrente, que trata de multa disposta no artigo 74 da Lei 9.430/99. Em relação a impossibilidade de aplicação da multa de ofício em casos de sucessão, entendo que tal pedido também não pode ser acatado, eis que existe a Sumula 47 do CARF/MF. Ademais, esta matéria deve ser analisada no processo do Auto de Infração de final 201007. (assinado digitalmente) Leonardo Luis Pagano Gonçalves Fl. 1009DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.903677/2009-03
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu May 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Jun 05 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira - CPMF
Data do fato gerador: 21/07/2004
COMPENSAÇÃO. CRÉDITO. APLICAÇÃO EM FUNDO DE INVESTIMENTO. DUPLICIDADE. ESTORNO. DILIGÊNCIA. UNIDADE PREPARADORA. OCORRÊNCIA. RECONHECIMENTO.
Uma vez que, em resposta à diligência demandada por este Conselho, a Unidade Preparadora tenha reconhecido que o contribuinte apresentou os documentos que comprovam o registro em duplicidade de aplicação em fundo de investimento financeiro e o correspondente estorno, na mesma data, dos valores lançados indevidamente, deve ser reconhecido o direito ao crédito correspondente à Contribuição indevidamente paga.
Recurso Voluntário Provido
Numero da decisão: 3302-004.318
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário.
(assinatura digital)
Ricardo Paulo Rosa Presidente e Relator
EDITADO EM: 31/05/2017
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Linhares e Walker Araújo.
Nome do relator: RICARDO PAULO ROSA
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CRÉDITO. APLICAÇÃO EM FUNDO DE INVESTIMENTO. DUPLICIDADE. ESTORNO. DILIGÊNCIA. UNIDADE PREPARADORA. OCORRÊNCIA. RECONHECIMENTO. Uma vez que, em resposta à diligência demandada por este Conselho, a Unidade Preparadora tenha reconhecido que o contribuinte apresentou os documentos que comprovam o registro em duplicidade de aplicação em fundo de investimento financeiro e o correspondente estorno, na mesma data, dos valores lançados indevidamente, deve ser reconhecido o direito ao crédito correspondente à Contribuição indevidamente paga. Recurso Voluntário Provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. (assinatura digital) Ricardo Paulo Rosa – Presidente e Relator EDITADO EM: 31/05/2017 Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Linhares e Walker Araújo. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 90 36 77 /2 00 9- 03 Fl. 403DF CARF MF 2 Relatório Adoto o Relatório da Resolução nº 3803000.266, da Turma de origem deste Conselho, que decidiu pela conversão do julgamento em diligência, cujos excertos que, ao meu ver, bem sintetizam os fatos objeto da lide, passo a reproduzir. Trata de PER/DCOMP transmitido em 19/10/2005, com a finalidade de compensar crédito de CPMF proveniente do recolhimento a maior no valor de R$ 30.400,00 realizado em 21/07/2004, referente a fato gerador ocorrido em 21/07/2004, com débito IRRF. À fl. 20 consta despacho decisório, por meio do qual não foi homologado o pedido de compensação, sob o argumento de que foram localizados pagamentos integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte. Já as fls. 01/09 o contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade e argumentou em sua defesa que por erro de sistema efetuou em 08/07/2004, operação de aplicação em fundo mútuo no valor de R$ 8.000.000,00 para a empresa Braskem S/A., mas que nesta mesma data a operação foi “estornada” da conta corrente do cliente, conforme comprova extrato (Anexo 4). Esclarece que em razão dessa operação reteve R$ 30.400,00 a título de CPMF, que integrou o DARF de R$ 10.855.952,40, conforme se retira dos Anexos 5 e 6. O recorrente alega que em 21/07/2004 restituiu a CPMF ao cliente, consoante extrato carreado aos autos, sendo que corrobora com esta afirmação a declaração fornecida pela Braskem S/A (Anexo 7). Protesta pela aplicação do princípio da verdade material e afirma que o princípio da legalidade veda a cobrança de tributo sem previsão legal. Além do que, o fato de ter apurado o débito de maneira equivocada na DCTF, não impede que produza prova da inexistência deste. Aduz que a CPMF devida não é R$ 10.855.952,40, mas sim R$ 10.825.552,40 e que está provado o direito creditório por meio da documentação juntada. Colacionou decisões do CARF para demonstrar que o erro no preenchimento da DCTF pode ser corrigido por meio da apresentação de documentos idôneos. Cumpre informar que a retificação da DCTF (Anexo 8), ocorreu 20/05/2009, ou seja, posteriormente ao despacho decisório, mas ates da decisão da DRJ. (...) Abaixo está reproduzido parte do voto da DRJ para melhor elucidar o fundamento de seu convencimento para indeferir a homologação pretendida: A operação tida por indevida tem por histórico a expressão "APL FUNDO MÚTUO". Representando um lançamento a débito da conta corrente, tal movimentação estava sujeita à incidência da CPMF. Segundo a interessada, a retenção está retratada no extrato de fl.40, com número de referência, 9001248, coincidente com aquele da aplicação. Segundo a interessada, a outra movimentação, referência 9100118, no valor de R$ 8.000.000,00 registrada naquele dia, desta vez a crédito da conta e, portanto, estranha ao universo de incidência da contribuição, representaria o estorno da operação anterior. Porém, no Fl. 404DF CARF MF Processo nº 16327.903677/200903 Acórdão n.º 3302004.318 S3C3T2 Fl. 13 3 histórico da operação consta "TRANS ENTRE CTAS", sem qualquer sinal de que se trataria de lançamento de estorno. Na mesma data, conforme extrato juntado à fl. 35, está registrada outra movimentação a débito da conta, portanto tributada, no valor de R$ 8.000.000,00, com o histórico "PRES CTA PAYLINK". A coincidência dos números de referência, 0900089, leva à conclusão de que a retenção retratada no extrato de fl. 40 seja referente a esta movimentação. Importa chamar a atenção para o fato de que nenhuma movimentação apresenta a expressão estorno por histórico ou descrição. O lançamento que a interessada alega tratarse do estorno foi identificada como sendo uma transferência entre contas, o que, a toda evidência, não tem a natureza de estorno. Ainda a esse respeito, o extrato juntado à fl. 39 apresenta um lançamento de cujo histórico é "ESTORNO DO CPMF", correspondente ao que seria a devolução da contribuição ao cliente. Nesse sentido, a ausência da expressão estorno na operação que a interessada alega ter essa natureza revelase ainda mais significativa. O panorama esboçado pelos documentos juntados pela interessada retrata, portanto, a existência de duas operações tributadas e uma não tributada, sem que tenha sido demonstrada qualquer ligação entre elas, exceto seu valor. A documentação não consegue, pois, sustentar a tese de que teria ocorrido uma duplicidade indevida de incidência. Já às fls. 339/345 o contribuinte apresenta recurso voluntário e reafirma que registrou por equívoco a realização de uma operação de mútuo (Operação 9100118) com a empresa Braskem S.A, para aplicação do valor de R$ 8.000.000,00 em um fundo de investimentos. Assim, verificado o equívoco realizou o estorno na contabancária (Operação 9001248) pertencente a Braskem S.A., mas que recolheu o tributo e o devolveu a referida empresa. A linha principal de defesa do recorrente consiste na alegação de que ocorrendo o estorno da operação de empréstimo para seu cliente e o pagamento indevido da CPMF, surgiu o direito creditório em seu favor e para provar o alegado sustenta: Em momento algum alegou que haveria duplicidade de incidência, e sim buscou comprovar o fato de que jamais ocorreu a operação de aplicação de fundo de investimento, realizada indevidamente pelo seu sistema informático, em nome da Braskem S.A; O Acórdão partiu de uma premissa equivocada, qual seja, a de que a recorrente teria alegado duplicidade de tributação pela CPMF, quando, na verdade, o contribuinte afirma que a operação de aplicação em fundo de investimento nunca existiu; Há um vício no Acórdão, na medida em que a inexistência da operação acima mencionada nem sequer chegou a ser analisada e os documentos apresentados pela recorrente foram refutados pela DRJ no âmbito da comprovação de razões que jamais foram defendidas; Fl. 405DF CARF MF 4 Além disso, cabe destacar que a DRJ sustenta que os extratos bancário da Braskem S.A. não seriam capazes comprovar a ocorrência de estorno do montante de R$ 8.000.000,00, em razão de a operação ter sido foi identificada por meio da expressão "TRANS ENTRE CTAS"; O fato de a operação de estorno não ter sido identificada, no extrato bancário da Braskem S.A., por meio da palavra "estorno", não afasta o direito creditório, principalmente porque a Braskem S.A declarou expressamente que ocorreu o estorno do valor de R$ 8.000.000,00. Por fim, protesta pela reforma da decisão e pela homologação da compensação. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento havia sintetizado, na ementa correspondente, sua decisão, nos seguintes termos. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES DE CRÉDITO, CÂMBIO E SEGUROS OU RELATIVAS A TÍTULOS OU VALORES MOBILIÁRIOS IOF Data do fato gerador: 21/07/2004 Direito Creditório. Prova. O reconhecimento do direito creditório pleiteado requer a prova de sua existência e montante, sem o que não pode ser restituído ou utilizado em compensação. Faltando ao conjunto probatório carreado aos autos pela interessada elemento que permita a verificação da existência de pagamento indevido ou a maior frente à legislação tributária, o direito creditório não pode ser admitido. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido A Resolução demandada pela Turma de origem teve sua motivação expressa nas considerações que, de forma sumária, a seguir transcrevo. A controvérsia reside no fato de que, conforme consta do extrato à fl. 34, o alegado estorno da aplicação financeira encontrase identificado como “TRANS ENTRE CTAS”, expressão essa que pode ser compreendida como “transferência entre contas”. Ora, a identificação de um lançamento na contacorrente dessa forma não se mostra consentâneo com a natureza do fato alegado pelo Recorrente, qual seja, o estorno da aplicação indevida. Sem a confirmação de que tal lançamento consiste, efetivamente, em um estorno e não em uma transferência entre contas, não se pode concluir de forma cabal quanto ao direito pleiteado, reclamando por maior investigação dos fatos controvertidos. É o Relatório. Voto Conselheiro Ricardo Paulo Rosa Fl. 406DF CARF MF Processo nº 16327.903677/200903 Acórdão n.º 3302004.318 S3C3T2 Fl. 14 5 À efolha 365 do processo, a Delegacia Especial de Instituições Financeiras em São Paulo intima o contribuinte a apresentar 1.“... provas necessárias à confirmação do erro alegado, no que tange à efetiva ocorrência de aplicação financeira indevida e de seu respectivo estorno”, nos termos da Resolução nº 3803000.266 de fls. 357 a 363 deste processo; Em resposta, efolhas 369 e seguintes, o contribuinte tece as seguintes considerações e esclarecimentos. Como se vê, o referido julgamento foi convertido em diligência, em resumo, para que fosse esclarecida a natureza da operação, identificada pela expressão "TRANS ENTRE CTAS", constante do extrato bancário da empresa BRASKEM S.A. de fls. 34. Para demonstrar que essa operação, identificada pela referência n° 9100118, tinha natureza de estorno decorrente de aplicação financeira indevida, e não de "transferência entre contas", a REQUERENTE apresenta os seguintes documentos (DOC. 02): (i) Cópia do extrato bancário da BRASKEM S.A., do dia 08/07/2004, no qual se verifica a aplicação indevida do valor de R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais) (referência n° 9001248) e o estorno do mesmo valor realizado na mesma data (referência n° 9100118); (ii) Cópia do seu Livro Diário do qual constam os registros contábeis, do dia 08/07/2004, referentes à aplicação indevida do valor de R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais) (referência n° 9001248) e o estorno do mesmo valor realizado na mesma data (referência n° 9100118); (iii) Cópia do seu Livro Diário, na parte referente às informações complementares das operações registradas no dia 08/07/2004, na qual se observa que a operação, cuja referência é referência n° 9100118, tem o seguinte histórico: "ACERTO ENTRE CONTAS CORRIGINDO TRANSF. DUPLICADA DA BRASKEM"; (iv) Declaração do contador responsável pelas informações contábeis da REQUERENTE, da qual se destaca o seguinte registro: "(..) a expressão 'TRANS ENTRE CTAS', constante do extrato bancário anexo, deve ser compreendida como "ESTORNO", o que foi registrado, no movimento contábil do Banco Citibank S.A., especificamente no campo de informações complementares da operação, como 'ACERTO ENTRE CONTAS CORRIGINDO TRANSF. DUPLICADA PARA BRASKEM'". 6. Por fim, cabe recordar que, para demonstrar o seu direito creditório, além dos documentos acima mencionados, a REQUERENTE já havia apresentado aos autos do presente Processo Administrativo os seguintes documentos: (i) extrato bancário da BRASKEM S.A. (fls. 34/41), do qual consta a aplicação e o estorno do montante de R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais) (fl. 34), a retenção indevida de CPMF (fl.37), a devolução da CPMF retida indevidamente (fl. 39), a apuração do valor da CPMF, calculada sobre a aplicação financeira realizada indevidamente (fl. 40); Fl. 407DF CARF MF 6 (ii) a composição do valor de R$ 10.855.952,40, referente ao DARF pago em 21.07.2004, a título de CPMF (fls. 43/319), no qual está incluído o valor relativo à retenção indevida de CPMF, no valor de R$ 30.400,00 (conforme se verifica na fl. 140); e (iii) declaração da BRASKEM S.A., de 26.07.2004, por meio da qual foi registrado o estorno do valor de R$ 30.400,00, a título de CPMF, decorrente de "movimentações financeiras referentes à aplicação em Fundo de Investimento Financeiro duplicada e estornada na mesma data" (fl. 322). Ao final, no despacho que restitui o processo a este Conselho, o Chefe da Divisão de Orientação e Análise Tributária DIORT, da Delegacia Especial de Instituições Financeiras/SPO, assim se manifesta. O presente processo foi encaminhado a esta DEINF/SPO/DIORT em diligência pela 3ª Turma Especial, da Terceira Seção de Julgamento, do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, conforme Resolução nº 3803000.266 de fls. 357 a 363, para que esta autoridade intimasse o interessado nos termos desta Resolução. Intimado, conforme Termo de Intimação nº 227 de fls. 365 a 366 o interessado apresentou a documentação de fls. 369 a 396. Nesta documentação esclarece a ocorrência de aplicação em fundo de investimento financeiro duplicada e estornada na mesma data (fls. 371). De todo o exposto, uma vez que a própria Unidade Preparadora tenha reconhecido que a documentação apresentada pela empresa deixa claro a ocorrência de aplicação em fundo de investimento financeiro duplicada e estornada na mesma data, o vertente litígio termina por perder o objeto, uma vez que uma das partes que resistia ao direito reclamado pela outra reconhece a procedência do pleito. VOTO por dar provimento ao Recurso Voluntário. (assinatura digital) Ricardo Paulo Rosa Relator Fl. 408DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11516.720143/2012-90
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/01/2007 a 31/03/2007
CRÉDITO DA NÃO-CUMULATIVIDADE. BENS PARA REVENDA ADQUIRIDOS POR COMERCIANTES ATACADISTAS E VAREJISTAS DE PRODUTOS SUJEITOS À TRIBUTAÇÃO CONCENTRADA DE QUE TRATAM OS §1º E 1º-A DO ARTIGO 2º DAS LEIS Nº 10.637/2002 E 10.833/2002. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 17 DA LEI Nº 11.033/2004.
É vedado o creditamento na aquisição de bens para revenda dos produtos referidos nos §1º e §1-A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis. Tal disposição não foi revogada pelo artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, pois que não versa sobre hipóteses de creditamento, mas apenas sobre a manutenção de créditos, apurados conforme a legislação específica.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3302-003.911
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Ricardo Paulo Rosa - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Walker Araújo e Ricardo Paulo Rosa.
Nome do relator: RICARDO PAULO ROSA
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DIREITO DE CRÉDITO. INCIDÊNCIA CONCENTRADA. Recorrente GLOBO COMÉRCIO DE AUTOMÓVEIS E PEÇAS LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2007 a 31/03/2007 CRÉDITO DA NÃOCUMULATIVIDADE. BENS PARA REVENDA ADQUIRIDOS POR COMERCIANTES ATACADISTAS E VAREJISTAS DE PRODUTOS SUJEITOS À TRIBUTAÇÃO CONCENTRADA DE QUE TRATAM OS §1º E 1ºA DO ARTIGO 2º DAS LEIS Nº 10.637/2002 E 10.833/2002. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 17 DA LEI Nº 11.033/2004. É vedado o creditamento na aquisição de bens para revenda dos produtos referidos nos §1º e §1A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis. Tal disposição não foi revogada pelo artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, pois que não versa sobre hipóteses de creditamento, mas apenas sobre a manutenção de créditos, apurados conforme a legislação específica. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 51 6. 72 01 43 /2 01 2- 90 Fl. 240DF CARF MF Processo nº 11516.720143/201290 Acórdão n.º 3302003.911 S3C3T2 Fl. 3 2 Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Walker Araújo e Ricardo Paulo Rosa. Relatório Tratase de Pedido Eletrônico de Restituição e Ressarcimento – PER, formulado através do programa PER/Dcomp, pelo qual a Recorrente pleiteia o ressarcimento em espécie do saldo credor acumulado de COFINS incidência não cumulativa – mercado interno. O Pedido de Ressarcimento foi indeferido, por ausência de direito ao crédito pleiteado, devido a vedação legal de aproveitamento de créditos incidente nas operações de aquisição de produtos sujeitos a tributação monofásica/concentrada. A DRJ indeferiu a manifestação de inconformidade nos termos do Acórdão 06050.080. O fundamento adotado, em síntese, foi o de que o art. 17 da Lei nº 11.033, de 2004, não ampara o creditamento das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, com base na sistemática da não cumulatividade, pelas revendedoras de veículos automotores, em decorrência de vedação legal expressa para o aproveitamento do crédito nas vendas submetidas à incidência monofásica. Inconformada, a recorrente interpôs recurso voluntário, reiterando as alegações deduzidas em manifestação de inconformidade, calcadas nas seguintes premissas: 1. Que a recorrente se sujeita à incidência nãocumulativa; 2. Que havia uma vedação ao creditamento conforme o disposto no artigo 3º, I, “b”, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003; 3. Que foi atribuída alíquota zero aos produtos da recorrente, portanto, não se trata de monofasia, o que ocorreria se houvesse apenas uma incidência na cadeia; 4. Que a nãocumulatividade foi aperfeiçoada com o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 e que esta é uma norma multitemática, ou seja, não restrita ao REPORTO; 5. Que o artigo 16 da Lei 11.116/2005 robusteceu o caráter abrangente do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004; 6. Ambas as leis não ressalvaram quais os casos permaneceriam na regra antiga e que o direito ao creditamento é coerente à técnica da nãocumulatividade das contribuições (método subtrativo indireto); 7. O artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 veio justamente para os casos em que havia vedação ao creditamento; 8. Que pretendeuse mitigar a aplicação do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 com a edição das MP nº 413/2008 e 451/2008, criando vedações ao creditamento, as quais não foram mantidas na conversão de ambas medidas provisórias; Fl. 241DF CARF MF Processo nº 11516.720143/201290 Acórdão n.º 3302003.911 S3C3T2 Fl. 4 3 9 Que a nãocumulatividade das contribuições não guarda relação com o arrecadado anteriormente ou posteriormente na cadeia produtiva. É o relatório. Voto Conselheiro Ricardo Paulo Rosa, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3302003.750, de 29 de março de 2017, proferido no julgamento do processo 10120.720142/201145, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3302003.750): "O recurso atende aos pressupostos de admissibilidade e dele tomo conhecimento. O pedido de ressarcimento foi efetuado com fulcro no artigo 16 da Lei nº 11.116/2005 combinado com o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, abaixo transcritos: Lei nº 11.116/2005: Art. 16. O saldo credor da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins apurado na forma do art. 3o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, e do art. 15 da Lei no 10.865, de 30 de abril de 2004, acumulado ao final de cada trimestre do anocalendário em virtude do disposto no art. 17 da Lei no 11.033, de 21 de dezembro de 2004, poderá ser objeto de: I compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, observada a legislação específica aplicável à matéria; ou II pedido de ressarcimento em dinheiro, observada a legislação específica aplicável à matéria. Lei nº 11.033/2004: Art. 17. As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. O fundamento da recorrente recai essencialmente na possibilidade de se tomar créditos da nãocumulatividade de Cofins em razão do disposto no artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 e de se pedir o ressarcimento com fulcro no artigo 16 da Lei nº 11.116/2005. Fl. 242DF CARF MF Processo nº 11516.720143/201290 Acórdão n.º 3302003.911 S3C3T2 Fl. 5 4 A Lei nº 10.485/2002 estabeleceu a concentração de tributação no fabricante e importadores de determinados veículos e autopeças, dispondo no §2º que os comerciantes atacadistas e varejistas ficassem sujeitos à alíquota zero sobre suas receitas de revendas: § 2o Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, relativamente à receita bruta auferida por comerciante atacadista ou varejista, com a venda dos produtos de que trata: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) I o caput deste artigo; e (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) II o caput do art. 1o desta Lei, exceto quando auferida pelas pessoas jurídicas a que se refere o art. 17, § 5o, da Medida Provisória no 2.18949, de 23 de agosto de 2001. (Redação dada pela Lei nº 10.925, de 2004) Com base, nesta receita sujeita à alíquota zero, é que a recorrente entende possível a aplicação do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, isto é, a tomada de créditos sobre a revenda de máquinas e veículos constantes das posições da TIPI constantes do artigo 1º da Lei nº 10.485/2002 e de autopeças constantes dos Anexos I e II da referida lei. Ocorre que, não obstante estar sujeita ao regime nãocumulativo das contribuições, as alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 vedam expressamente a tomada de créditos sobre bens adquiridos para revenda pelas pessoas jurídicas que comercializam os produtos referidos nos artigos 1º e 3º da Lei nº 10.485/2002, como transcrevese a seguir: Art. 2o Para determinação do valor da COFINS aplicarseá, sobre a base de cálculo apurada conforme o disposto no art. 1o, a alíquota de 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento). (Produção de efeito) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) § 1o Excetuase do disposto no caput deste artigo a receita bruta auferida pelos produtores ou importadores, que devem aplicar as alíquotas previstas: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) [...] III no art. 1o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, e alterações posteriores, no caso de venda de máquinas e veículos classificados nos códigos 84.29, 8432.40.00, 84.32.80.00, 8433.20, 8433.30.00, 8433.40.00, 8433.5, 87.01, 87.02, 87.03, 87.04, 87.05 e 87.06, da TIPI; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Lei nº 11.196, de 2005) IV no inciso II do art. 3o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, no caso de vendas, para comerciante atacadista ou varejista ou para consumidores, das autopeças relacionadas nos Anexos I e II da mesma Lei; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Lei nº 11.196, de 2005) [...] Fl. 243DF CARF MF Processo nº 11516.720143/201290 Acórdão n.º 3302003.911 S3C3T2 Fl. 6 5 Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: Produção de efeito (Vide Lei nº 11.727, de 2008) (Produção de efeitos) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) (Regulamento) I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) a) no inciso III do § 3o do art. 1o desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 11.727, de 2008). (Produção de efeitos) b) nos §§ 1o e 1oA do art. 2o desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 11.787, de 2008) (Vide Lei nº 9.718, de 1998) Por sua vez, o artigo 17 dispôs genericamente que as vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. Ora, este artigo não traz nenhuma hipótese de creditamento, mas apenas esclarece que nas situações ali previstas, os créditos vinculados àquelas vendas são mantidos. E tais créditos são, justamente, as hipóteses que a legislação faculta ao contribuintes a sua tomada, como por exemplo, os artigos 3º das leis acima citadas, o artigo 15 da Lei nº 10.865/2004 e outros quaisquer artigos que veiculem hipóteses de creditamento. O item 191 da exposição de motivos da MP nº 206/2004, cuja conversão resultou na Lei nº 11.033/2004, confirma este entendimento na medida que dispôs que a redação do artigo 16, convertido no artigo 17 acima referido, visava "esclarecer dúvidas relativas à interpretação da legislação da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS." Não por outro motivo, que o artigo 16 da Lei nº 11.116/2005 dispôs sobre a possibilidade de ressarcimento e compensação do saldo credor vinculado às vendas mencionadas no artigo 17, vinculandoos à forma de apuração do artigo 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 e do artigo 15 da Lei nº 10.865/2004, reconhecendo, por óbvio, que ali estavam listadas as hipóteses de creditamento e não que o artigo 17 inovara toda a legislação, revogando o artigo 3º e redefinindo as hipóteses de creditamento, o que seria a consequência inevitável da tese da recorrente. Ressaltase, porém, que o artigo 17 não proibiu a tomada de créditos vinculados às receitas sujeitas à alíquota zero decorrentes das revendas dos bens de que tratam este processo em relação às demais hipóteses previstas no artigo 3º, proibição esta que foi, conforme mencionado pela recorrente, objeto de duas tentativas propostas pelo Executivo Federal nas MPs nº 413/2008 e 451/2008. Ocorre que, como também já mencionado na peça recursal, tais dispositivos não foram contemplados na conversão das duas MPs, mantendose a possibilidade de creditamento em relação às demais hipóteses do artigo 3º, entendimento confirmado na Solução de Consulta nº 218/2014. Assim, referidas MP´s pretenderam impedir o creditamento das demais hipóteses legais previstas nos artigos 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, mas 1 19. As disposições do art. 16 visam esclarecer dúvidas relativas à interpretação da legislação da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS Fl. 244DF CARF MF Processo nº 11516.720143/201290 Acórdão n.º 3302003.911 S3C3T2 Fl. 7 6 foram irrelevantes em relação à vedação específica contida na alínea "b" do inciso I do artigo 3º, que se destina justamente à vedação do creditamento relativo aos bens adquiridos para revenda de que tratam os §§1º e 1ºA do artigo 2º das referidas leis. Neste diapasão, citase o Acórdão nº 340301.566: Ementa: COFINS – REGIME MONOFÁSICO – IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DE CRÉDITOS O artigo 17 da Lei 11.033/2004, que garante a manutenção do crédito às vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, só se aplica aos setores ou produtos sujeitos regime nãocumulativo, não se aplicando aos produtos sujeitos ao regime monofásico. Portanto, diante do exposto, voto para negar provimento ao recurso voluntário." Nos termos do entendimento exarado no paradigma, a impossibilidade de creditamento, no regime nãocumulativo, na aquisição de bens para revenda adquiridos por comerciantes atacadistas e varejistas de produtos sujeitos à tributação concentrada referidos nos §1º e §1A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis, se aplica tanto à Contribuição para o PIS/Pasep quanto à COFINS. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Fl. 245DF CARF MF
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Numero do processo: 10120.720149/2011-67
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004
CRÉDITO DA NÃO-CUMULATIVIDADE. BENS PARA REVENDA ADQUIRIDOS POR COMERCIANTES ATACADISTAS E VAREJISTAS DE PRODUTOS SUJEITOS À TRIBUTAÇÃO CONCENTRADA DE QUE TRATAM OS §1º E 1º-A DO ARTIGO 2º DAS LEIS Nº 10.637/2002 E 10.833/2002. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 17 DA LEI Nº 11.033/2004.
É vedado o creditamento na aquisição de bens para revenda dos produtos referidos nos §1º e §1-A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis. Tal disposição não foi revogada pelo artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, pois que não versa sobre hipóteses de creditamento, mas apenas sobre a manutenção de créditos, apurados conforme a legislação específica.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3302-003.778
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Ricardo Paulo Rosa - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Walker Araújo e Ricardo Paulo Rosa.
Nome do relator: RICARDO PAULO ROSA
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004 CRÉDITO DA NÃO-CUMULATIVIDADE. BENS PARA REVENDA ADQUIRIDOS POR COMERCIANTES ATACADISTAS E VAREJISTAS DE PRODUTOS SUJEITOS À TRIBUTAÇÃO CONCENTRADA DE QUE TRATAM OS §1º E 1º-A DO ARTIGO 2º DAS LEIS Nº 10.637/2002 E 10.833/2002. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 17 DA LEI Nº 11.033/2004. É vedado o creditamento na aquisição de bens para revenda dos produtos referidos nos §1º e §1-A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis. Tal disposição não foi revogada pelo artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, pois que não versa sobre hipóteses de creditamento, mas apenas sobre a manutenção de créditos, apurados conforme a legislação específica. Recurso Voluntário Negado.
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DIREITO DE CRÉDITO. INCIDÊNCIA CONCENTRADA. Recorrente RENAUTO AUTOMÓVEIS LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004 CRÉDITO DA NÃOCUMULATIVIDADE. BENS PARA REVENDA ADQUIRIDOS POR COMERCIANTES ATACADISTAS E VAREJISTAS DE PRODUTOS SUJEITOS À TRIBUTAÇÃO CONCENTRADA DE QUE TRATAM OS §1º E 1ºA DO ARTIGO 2º DAS LEIS Nº 10.637/2002 E 10.833/2002. PEDIDO DE RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 17 DA LEI Nº 11.033/2004. É vedado o creditamento na aquisição de bens para revenda dos produtos referidos nos §1º e §1A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis. Tal disposição não foi revogada pelo artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, pois que não versa sobre hipóteses de creditamento, mas apenas sobre a manutenção de créditos, apurados conforme a legislação específica. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Walker Araújo e Ricardo Paulo Rosa. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 12 0. 72 01 49 /2 01 1- 67 Fl. 130DF CARF MF Processo nº 10120.720149/201167 Acórdão n.º 3302003.778 S3C3T2 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Pedido Eletrônico de Restituição e Ressarcimento – PER, formulado através do programa PER/Dcomp, pelo qual a Recorrente pleiteia o ressarcimento em espécie do saldo credor acumulado de PIS/PASEP incidência não cumulativa – mercado interno. O Pedido de Ressarcimento foi indeferido, por ausência de direito ao crédito pleiteado, devido a vedação legal de aproveitamento de créditos incidente nas operações de aquisição de produtos sujeitos a tributação monofásica/concentrada. A DRJ indeferiu a manifestação de inconformidade nos termos do Acórdão 06049.293. O fundamento adotado, em síntese, foi o de que o art. 17 da Lei nº 11.033, de 2004, não ampara o creditamento das contribuições ao PIS/Pasep e à COFINS, com base na sistemática da não cumulatividade, pelas revendedoras de veículos automotores, em decorrência de vedação legal expressa para o aproveitamento do crédito nas vendas submetidas à incidência monofásica. Inconformada, a recorrente interpôs recurso voluntário, reiterando as alegações deduzidas em manifestação de inconformidade, calcadas nas seguintes premissas: 1. Que a recorrente se sujeita à incidência nãocumulativa; 2. Que havia uma vedação ao creditamento conforme o disposto no artigo 3º, I, “b”, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003; 3. Que foi atribuída alíquota zero aos produtos da recorrente, portanto, não se trata de monofasia, o que ocorreria se houvesse apenas uma incidência na cadeia; 4. Que a nãocumulatividade foi aperfeiçoada com o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 e que esta é uma norma multitemática, ou seja, não restrita ao REPORTO; 5. Que o artigo 16 da Lei 11.116/2005 robusteceu o caráter abrangente do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004; 6. Ambas as leis não ressalvaram quais os casos permaneceriam na regra antiga e que o direito ao creditamento é coerente à técnica da nãocumulatividade das contribuições (método subtrativo indireto); 7. O artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 veio justamente para os casos em que havia vedação ao creditamento; 8. Que pretendeuse mitigar a aplicação do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 com a edição das MP nº 413/2008 e 451/2008, criando vedações ao creditamento, as quais não foram mantidas na conversão de ambas medidas provisórias; 9 Que a nãocumulatividade das contribuições não guarda relação com o arrecadado anteriormente ou posteriormente na cadeia produtiva. É o relatório. Fl. 131DF CARF MF Processo nº 10120.720149/201167 Acórdão n.º 3302003.778 S3C3T2 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Ricardo Paulo Rosa, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3302003.750, de 29 de março de 2017, proferido no julgamento do processo 10120.720142/201145, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3302003.750): "O recurso atende aos pressupostos de admissibilidade e dele tomo conhecimento. O pedido de ressarcimento foi efetuado com fulcro no artigo 16 da Lei nº 11.116/2005 combinado com o artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, abaixo transcritos: Lei nº 11.116/2005: Art. 16. O saldo credor da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins apurado na forma do art. 3o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, e do art. 15 da Lei no 10.865, de 30 de abril de 2004, acumulado ao final de cada trimestre do anocalendário em virtude do disposto no art. 17 da Lei no 11.033, de 21 de dezembro de 2004, poderá ser objeto de: I compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, observada a legislação específica aplicável à matéria; ou II pedido de ressarcimento em dinheiro, observada a legislação específica aplicável à matéria. Lei nº 11.033/2004: Art. 17. As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. O fundamento da recorrente recai essencialmente na possibilidade de se tomar créditos da nãocumulatividade de Cofins em razão do disposto no artigo 17 da Lei nº 11.033/2004 e de se pedir o ressarcimento com fulcro no artigo 16 da Lei nº 11.116/2005. A Lei nº 10.485/2002 estabeleceu a concentração de tributação no fabricante e importadores de determinados veículos e autopeças, dispondo no §2º que os comerciantes atacadistas e varejistas ficassem sujeitos à alíquota zero sobre suas receitas de revendas: Fl. 132DF CARF MF Processo nº 10120.720149/201167 Acórdão n.º 3302003.778 S3C3T2 Fl. 5 4 § 2o Ficam reduzidas a 0% (zero por cento) as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, relativamente à receita bruta auferida por comerciante atacadista ou varejista, com a venda dos produtos de que trata: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) I o caput deste artigo; e (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) II o caput do art. 1o desta Lei, exceto quando auferida pelas pessoas jurídicas a que se refere o art. 17, § 5o, da Medida Provisória no 2.18949, de 23 de agosto de 2001. (Redação dada pela Lei nº 10.925, de 2004) Com base, nesta receita sujeita à alíquota zero, é que a recorrente entende possível a aplicação do artigo 17 da Lei nº 11.033/2004, isto é, a tomada de créditos sobre a revenda de máquinas e veículos constantes das posições da TIPI constantes do artigo 1º da Lei nº 10.485/2002 e de autopeças constantes dos Anexos I e II da referida lei. Ocorre que, não obstante estar sujeita ao regime nãocumulativo das contribuições, as alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 vedam expressamente a tomada de créditos sobre bens adquiridos para revenda pelas pessoas jurídicas que comercializam os produtos referidos nos artigos 1º e 3º da Lei nº 10.485/2002, como transcrevese a seguir: Art. 2o Para determinação do valor da COFINS aplicarseá, sobre a base de cálculo apurada conforme o disposto no art. 1o, a alíquota de 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento). (Produção de efeito) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) § 1o Excetuase do disposto no caput deste artigo a receita bruta auferida pelos produtores ou importadores, que devem aplicar as alíquotas previstas: (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) [...] III no art. 1o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, e alterações posteriores, no caso de venda de máquinas e veículos classificados nos códigos 84.29, 8432.40.00, 84.32.80.00, 8433.20, 8433.30.00, 8433.40.00, 8433.5, 87.01, 87.02, 87.03, 87.04, 87.05 e 87.06, da TIPI; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Lei nº 11.196, de 2005) IV no inciso II do art. 3o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, no caso de vendas, para comerciante atacadista ou varejista ou para consumidores, das autopeças relacionadas nos Anexos I e II da mesma Lei; (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (Vide Lei nº 11.196, de 2005) [...] Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: Produção de efeito (Vide Lei nº 11.727, de 2008) (Produção de efeitos) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) (Regulamento) Fl. 133DF CARF MF Processo nº 10120.720149/201167 Acórdão n.º 3302003.778 S3C3T2 Fl. 6 5 I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) a) no inciso III do § 3o do art. 1o desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 11.727, de 2008). (Produção de efeitos) b) nos §§ 1o e 1oA do art. 2o desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 11.787, de 2008) (Vide Lei nº 9.718, de 1998) Por sua vez, o artigo 17 dispôs genericamente que as vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. Ora, este artigo não traz nenhuma hipótese de creditamento, mas apenas esclarece que nas situações ali previstas, os créditos vinculados àquelas vendas são mantidos. E tais créditos são, justamente, as hipóteses que a legislação faculta ao contribuintes a sua tomada, como por exemplo, os artigos 3º das leis acima citadas, o artigo 15 da Lei nº 10.865/2004 e outros quaisquer artigos que veiculem hipóteses de creditamento. O item 191 da exposição de motivos da MP nº 206/2004, cuja conversão resultou na Lei nº 11.033/2004, confirma este entendimento na medida que dispôs que a redação do artigo 16, convertido no artigo 17 acima referido, visava "esclarecer dúvidas relativas à interpretação da legislação da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS." Não por outro motivo, que o artigo 16 da Lei nº 11.116/2005 dispôs sobre a possibilidade de ressarcimento e compensação do saldo credor vinculado às vendas mencionadas no artigo 17, vinculandoos à forma de apuração do artigo 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 e do artigo 15 da Lei nº 10.865/2004, reconhecendo, por óbvio, que ali estavam listadas as hipóteses de creditamento e não que o artigo 17 inovara toda a legislação, revogando o artigo 3º e redefinindo as hipóteses de creditamento, o que seria a consequência inevitável da tese da recorrente. Ressaltase, porém, que o artigo 17 não proibiu a tomada de créditos vinculados às receitas sujeitas à alíquota zero decorrentes das revendas dos bens de que tratam este processo em relação às demais hipóteses previstas no artigo 3º, proibição esta que foi, conforme mencionado pela recorrente, objeto de duas tentativas propostas pelo Executivo Federal nas MPs nº 413/2008 e 451/2008. Ocorre que, como também já mencionado na peça recursal, tais dispositivos não foram contemplados na conversão das duas MPs, mantendose a possibilidade de creditamento em relação às demais hipóteses do artigo 3º, entendimento confirmado na Solução de Consulta nº 218/2014. Assim, referidas MP´s pretenderam impedir o creditamento das demais hipóteses legais previstas nos artigos 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, mas foram irrelevantes em relação à vedação específica contida na alínea "b" do inciso I do artigo 3º, que se destina justamente à vedação do creditamento relativo aos bens adquiridos para revenda de que tratam os §§1º e 1ºA do artigo 2º das referidas leis. 1 19. As disposições do art. 16 visam esclarecer dúvidas relativas à interpretação da legislação da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS Fl. 134DF CARF MF Processo nº 10120.720149/201167 Acórdão n.º 3302003.778 S3C3T2 Fl. 7 6 Neste diapasão, citase o Acórdão nº 340301.566: Ementa: COFINS – REGIME MONOFÁSICO – IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DE CRÉDITOS O artigo 17 da Lei 11.033/2004, que garante a manutenção do crédito às vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, só se aplica aos setores ou produtos sujeitos regime nãocumulativo, não se aplicando aos produtos sujeitos ao regime monofásico. Portanto, diante do exposto, voto para negar provimento ao recurso voluntário." Nos termos do entendimento exarado no paradigma, a impossibilidade de creditamento, no regime nãocumulativo, na aquisição de bens para revenda adquiridos por comerciantes atacadistas e varejistas de produtos sujeitos à tributação concentrada referidos nos §1º e §1A do artigo 2º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nos termos das alíneas "b" dos incisos I dos artigos 3º das referidas leis, se aplica tanto à Contribuição para o PIS/Pasep quanto à COFINS. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Fl. 135DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10845.720025/2015-30
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed May 10 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Jun 14 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2012
DESPESAS MÉDICAS. REEMBOLSO EM ANO CALENDÁRIO POSTERIOR.
As despesas médicas reembolsadas em ano calendário posterior ao seu pagamento, devem ser declaradas pelo seu valor total na DIRPF do ano em que efetivado o pagamento e o valor reembolsado deve ser informado na ficha "Rendimentos Tributáveis Recebidos de Pessoas Jurídicas" da Declaração de Ajuste Anual correspondente ao ano calendário de seu recebimento. (Decreto nº 3000/1999 - Regulamento do Imposto sobre a Renda - RIR/1999, arts. 37 e 38)
Numero da decisão: 2202-003.872
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente
(assinado digitalmente)
Cecilia Dutra Pillar - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Júnia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar e Marcio Henrique Sales Parada. Ausente justificadamente Rosemary Figueiroa Augusto.
Nome do relator: CECILIA DUTRA PILLAR
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REEMBOLSO EM ANO CALENDÁRIO POSTERIOR. As despesas médicas reembolsadas em ano calendário posterior ao seu pagamento, devem ser declaradas pelo seu valor total na DIRPF do ano em que efetivado o pagamento e o valor reembolsado deve ser informado na ficha "Rendimentos Tributáveis Recebidos de Pessoas Jurídicas" da Declaração de Ajuste Anual correspondente ao ano calendário de seu recebimento. (Decreto nº 3000/1999 Regulamento do Imposto sobre a Renda RIR/1999, arts. 37 e 38) Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Marco Aurélio de Oliveira Barbosa – Presidente (assinado digitalmente) Cecilia Dutra Pillar Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marco Aurélio de Oliveira Barbosa, Júnia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar e Marcio Henrique Sales Parada. Ausente justificadamente Rosemary Figueiroa Augusto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 84 5. 72 00 25 /2 01 5- 30 Fl. 124DF CARF MF 2 Relatório Trata o presente processo de Notificação de Lançamento relativa ao Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas (fls. 22/27), decorrente de revisão da Declaração de Ajuste Anual do IRPF do exercício de 2013, ano calendário de 2012, em que foram glosados valores indevidamente deduzidos a título de despesas médicas, no valor total de R$ 12.950,44, referente a reembolso feito pelo plano de saúde à contribuinte e não deduzido dos gastos declarados. Foi apresentada impugnação tempestiva onde a interessada informou que os valores de reembolso do plano de saúde somente foram recebidos no ano de 2013 e, por esse motivo, não foram deduzidos dos valores totais das despesas médicas de 2012 e foram incluídos como rendimento tributável recebido de Pessoa Jurídica na declaração de ajuste do ano calendário de 2013. Anexa a DIRPF do Exercício de 2014, ano calendário 2013 para comprovar suas alegações. A 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Fortaleza (CE), julgou improcedente a impugnação, conforme acórdão de fls. 68/73, pois as alegações da contribuinte não se confirmam pelos documentos apresentados, os quais não comprovam que no valor declarado na DIRPF do ano calendário de 2013, como rendimento tributável recebido da Unimed Seguradora (R$ 14.463,14) estivesse incluído o valor do reembolso do plano de saúde referente ao ano calendário de 2012. Cientificada dessa decisão por via postal em 04/03/2015 (A.R. de fls. 77), a interessada interpôs Recurso Voluntário em 25/03/2015 (fls. 79/83), alegando que o acórdão recorrido contraria a legislação federal que regulamenta o imposto de renda e as próprias orientações da Receita Federal. Reproduz a pergunta nº 359 do "Perguntão" do IRPF e sua respectiva resposta, orientando que o reembolso de despesa médica em ano calendário posterior deve ser informado como rendimento tributável recebido de pessoa jurídica no ano calendário de seu recebimento. Com relação aos valores reembolsados pela Unimed e declarados no ano calendário de 2013, apresenta cálculo demonstrativo de cada item reembolsado no ano de 2013, corroborado pelos mesmos comprovantes de reembolso já apresentados quando do atendimento à intimação da malha fiscal (fls. 41, 43 e 45) e novamente às fls. 88/90, onde verificou erro de cálculo na glosa realizada pela RFB pois houveram duas despesas relacionadas que foram reembolsadas também em maio de 2013, nos valores de R$ 1.080,00 e R$ 432,00 (fls. 45 e 90), cuja soma com as importâncias glosadas perfaz exatamente o valor de reembolso declarado como rendimento tributável no ano calendário de 2013 (R$ 14.463,14). É o Relatório. Voto Conselheira Cecilia Dutra Pillar Relatora. O recurso é tempestivo e atende às demais formalidades legais, portanto dele conheço. Fl. 125DF CARF MF Processo nº 10845.720025/201530 Acórdão n.º 2202003.872 S2C2T2 Fl. 125 3 O presente recurso resumese à controvérsia acerca dos valores de despesas médicas pagas no ano calendário de 2012 e reembolsados pela Unimed à declarante em 2013, glosados pela fiscalização da RFB e incluídos pela contribuinte como rendimento tributável recebido de pessoa jurídica em sua declaração de ajuste do ano calendário de 2013. O acórdão recorrido não aceitou como prova dos rendimentos então declarados, a DIRPF do ano calendário 2013, devido à diferença de valores. Atentando para os argumentos e documentos dos autos (reapresentados no recurso voluntário) concluise que assiste razão à recorrente. Nem todos os reembolsos recebidos em 2013 foram objeto da glosa referente ao ano calendário 2012 efetuada pela fiscalização, que não considerou os valores de R$ 1.080,00 e R$ 432,00, comprovados nas fls. 45 e 90 dos autos. Assim, restou comprovado que os valores reembolsados pela Unimed à contribuinte no ano calendário 2013 e devidamente declarados como rendimento tributável, incluem o valor do reembolso do plano de saúde referente ao ano calendário de 2012, sendo cabível a dedução das despesas efetivamente desembolsadas pela contribuinte no ano de 2012. Deste modo, correto o procedimento da contribuinte, devendo ser restabelecida a dedução a título de despesas médicas, no valor de R$ 12.950,44. Conclusão Diante do exposto, voto por dar provimento ao recurso voluntário (assinado digitalmente) Cecilia Dutra Pillar Relatora Fl. 126DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10410.724016/2013-66
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Jun 16 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/08/2009 a 31/07/2013
CONCOMITÂNCIA. INEXISTÊNCIA
Inexiste concomitância entre o processo administrativo e a própria ação judicial tomada por supedâneo para o próprio lançamento combatido tendo em conta tratar-se de glosa de compensações de créditos antes do trânsito em julgado da ação de seu reconhecimento.
Numero da decisão: 2402-005.810
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e dar-lhe provimento parcial no sentido de anular o despacho decisório que indeferiu o pedido de restituição, devolvendo-se os autos ao órgão de origem para prolação de nova análise do pedido.
(assinado digitalmente)
Kleber Ferreira de Araújo - Presidente.
(assinado digitalmente)
Jamed Abdul Nasser Feitoza - Relator.
Participaram do julgamento os conselheiros:Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, Bianca Felicia Rothschild, João Victor Ribeiro Aldinucci e Jamed Abdul Nasser Feitoza.
Nome do relator: JAMED ABDUL NASSER FEITOZA
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/08/2009 a 31/07/2013 CONCOMITÂNCIA. INEXISTÊNCIA Inexiste concomitância entre o processo administrativo e a própria ação judicial tomada por supedâneo para o próprio lançamento combatido tendo em conta tratar-se de glosa de compensações de créditos antes do trânsito em julgado da ação de seu reconhecimento.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e dar-lhe provimento parcial no sentido de anular o despacho decisório que indeferiu o pedido de restituição, devolvendo-se os autos ao órgão de origem para prolação de nova análise do pedido. (assinado digitalmente) Kleber Ferreira de Araújo - Presidente. (assinado digitalmente) Jamed Abdul Nasser Feitoza - Relator. Participaram do julgamento os conselheiros:Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, Bianca Felicia Rothschild, João Victor Ribeiro Aldinucci e Jamed Abdul Nasser Feitoza.
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INEXISTÊNCIA Inexiste concomitância entre o processo administrativo e a própria ação judicial tomada por supedâneo para o próprio lançamento combatido tendo em conta tratarse de glosa de compensações de créditos antes do trânsito em julgado da ação de seu reconhecimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 41 0. 72 40 16 /2 01 3- 66 Fl. 748DF CARF MF 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e darlhe provimento parcial no sentido de anular o despacho decisório que indeferiu o pedido de restituição, devolvendose os autos ao órgão de origem para prolação de nova análise do pedido. (assinado digitalmente) Kleber Ferreira de Araújo Presidente. (assinado digitalmente) Jamed Abdul Nasser Feitoza Relator. Participaram do julgamento os conselheiros:Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, Bianca Felicia Rothschild, João Victor Ribeiro Aldinucci e Jamed Abdul Nasser Feitoza. Fl. 749DF CARF MF Processo nº 10410.724016/201366 Acórdão n.º 2402005.810 S2C4T2 Fl. 748 3 Relatório Tratase de Recurso Voluntário (Fls. 720 a 734) interposto contra decisão proferida no 0129.511 5ª Turma da DRJ/BEL (Fls. 700 a 708) em que acordam os membros da Turma de Julgamento, por unanimidade de votos, em NÃO CONHECER DA IMPUGNAÇÃO por se tratar de matéria submetida ao exame do Judiciário. Por retratar de maneira adequada o histórico da lide, adotaremos o relatório da decisão recorrida a qual pedimos licença para transcrevelo na integra: "Versa o Processo COMPROT nº 10410.724016/201366, ao Auto de Infração AI, DEBCAD nº 51.018.3786, lavrado pela fiscalização, contra a empresa acima identificada, conforme diversos discriminativos e Relatório Fiscal, de fls. 57/76, que constam dos autos, por descumprimento de obrigação principal, no período de 08/2009 a 07/2013, referese à rubrica “19 Glosa compensação”, totaliza o valor de R$26.955.424,56 (vinte e seis milhões, novecentos e cinqüenta e cinco mil, quatrocentos e vinte e quatro reais e cinqüenta e seis centavos), consolidado em 17/09/2013, abrange os estabelecimentos CNPJ 10.776.540/000115, 10.776.540/004374 e 10.776.540/004706, e constituise nos levantamentos declarado em Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informação à Previdência Social – GFIP, antes do início do procedimento fiscal: GD – GLOSA COMP INDEB DECLARATÓRIA, para o FPAS 825 e D1 – GLOSA COMP INDEB DECLARAT 744, para o FPAS 744. Noticia o Relatório Fiscal, de fls. 57/76, entre outras informações que: as glosas de compensações informadas em GFIP, foram lançadas em razão do crédito compensado corresponder a indébito, relativo ao período de 08/1978 a 10/1991, cujo montante é objeto de ação judicial que se encontra sub judice. a autuada impetrou Ação Ordinária, processo n° 93.00057553/Justiça Federal, da 4ª Vara da Seção Judiciária de Alagoas, obtendo, a declaração de inexistência de relação jurídica entre a autora e a ré (INSS), em face da inexigibilidade do pagamento de contribuições à Previdência Social Urbana, referentes aos empregados vinculados às atividades rurais, anulando, por via de conseqüência, os lançamentos efetuados pelo INSS a esse título, e a declaração do direito da autora à devolução das referidas contribuições pagas, valores esses a serem apurados por cálculo aritmético, atualizados monetariamente a partir do desembolso e acrescidos de juros legais de 0,5% ao mês, contados a partir do trânsito cm julgado da sentença, que ocorreu em 04/11/2002. a Fazenda Nacional apresentou Embargos à Execução de Sentença da Ação Ordinária, processo n° 93.00057553, da Justiça Federal. O Exmo. Sr. Juiz Federal, por meio de despacho no processo de Embargos, n° Fl. 750DF CARF MF 4 2009.80.00.0049848, da 4ª Vara da Seção Judiciária de Alagoas, determinou de ofício a realização de perícia contábil, necessária para apuração do exato valor devido à embargada. foi efetuada consulta processual em 18/09/2013, relativa ao processo de Embargos à Execução n° 000498492.2009.4.05.8000 (2009.80.00.0049848) da 4ª Vara Federal de Alagoas, a última movimentação no processo foi registrada em 09/07/2013: Remessa externa para Perito com Manifestação. Prazo 15 dias (simples). muitas são as planilhas de cálculos apresentadas, no Laudo Pericial e seus esclarecimentos, tanto pela assistência técnica da embargada, Mendo Sampaio S/A, como pela assistência técnica da Fazenda Nacional, com as diferentes formas de se efetuar o cálculo de atualização do indébito fruto da decisão transitada em julgado na Ação Declaratória. Os critérios a serem utilizados nesses cálculos serão objeto de decisão judicial no processo de Embargos, n° 2009.80.00.0049848. como o montante do indébito a ser compensado e a dedução desse montante dos valores já compensados, com a atualização do saldo a compensar após cada compensação efetuada, ainda deverá ser objeto de decisão no processo de Embargos, n° 2009.80.00.0049848, que se encontra tramitando, para prevenir a decadência, foi lavrado o AI de n° 51.018.3786, de glosa de compensações efetuadas indevidamente pelo contribuinte com as contribuições devidas à Seguridade Social, que deverá permanecer sobrestado, sub judice, para que após o trânsito em julgado da decisão no referido processo Embargos à Execução da Sentença Ordinária nº 93.00057553, sejam excluídos deste lançamento os valores compensados que venham a ser julgados corretos, prosseguindo o feito e a cobrança dos valores que sejam confirmados como efetivamente compensados em excesso. Os valores lançados estão discriminados por competência e estabelecimento, de acordo com a Planilha 1 (fls. 77). anteriormente, esse indébito, relativo ao período de 08/1978 a 10/1991, foi objeto de compensação nas competências de 11/2001 a 09/2002, 01/2003, 06/2003, 07/2003, 10/2004 a 01/2005, 04/2005, 05/2005, 11/2005 a 13/2005 e 09/2006 a 03/2007, as quais foram glosadas, por meio da Notificação Fiscal de Lançamento de Débito NFLD n° 37.000.2229, a qual impugnada, recebeu o nº de processo 10410.005007/200724, cujo crédito tributário foi mantido em parte, pela, 7ª Turma da DRJRCEPE, julgando decadentes as competências 11/2001 a 07/2002, e não conhecendo a impugnação, no tocante ao saldo remanescente. o contribuinte requereu, a desistência parcial da defesa administrativa, em face da adesão ao parcelamento da Lei n° 11.941/2009, do período 08/2002 a 03/2007, e a continuidade do processamento da defesa quanto à discussão da legalidade da cobrança das contribuições relativas às competências de 11/2001 a 07/2002, já declaradas decadentes, tendo sido informada, de que seu pedido de prosseguimento parcial da impugnação da NFLD n° 37.000.2229, se encontrava prejudicado, em razão da decadência dessas competências, que já haviam sido excluídas da referida NFLD. Fl. 751DF CARF MF Processo nº 10410.724016/201366 Acórdão n.º 2402005.810 S2C4T2 Fl. 749 5 em função de as glosas dos valores compensados nas competências de 11/2001 a 07/2002 terem sido fulminadas pela decadência, restaram já definitivamente compensados os correspondentes valores, no total originário de R$861.272,73, do que discorda a empresa contribuinte. Tal assunto constituise em um dos pontos abordados no processo de Embargos à execução do julgado, n° 000498492.2009.4.05.8000. A Embargada, Mendo Sampaio S/A, afirma que o crédito tributário, ou seja, as contribuições previdenciárias devidas pela empresa relativas às competências de 11/2001 a 07/2002, foi extinto pela decadência, tentando fazer prevalecer a tese de que as compensações efetuadas por ela nas competências 11/2001 a 07/2002 não devem ser abatidas do valor de seu crédito, de modo que esses valores do indébito já utilizados para quitar suas contribuições previdenciárias correspondentes àquelas competências possam ser utilizados mais uma vez. A Fazenda Nacional afirma que a glosa dessas compensações é que foi atingida pela decadência, porque à altura de seu lançamento as compensações já estavam homologadas tacitamente e extinto definitivamente o crédito nos termos do parágrafo 4º do artigo 150 do CTN. estão anexos ao presente Relatório Fiscal, como Documento C, Documento D e Documento E, relatórios emitidos pelos sistemas da Receita Federal do Brasil, correspondentes às GFIP relativas respectivamente aos estabelecimentos de CNPJ 10.776.540/004374, 10.776.540/000115 e 10.776.540/004706, nas quais foram informados os valores compensados com as contribuições previdenciárias. Nesses relatórios estão discriminadas todas as contribuições previdenciárias que foram objeto da compensação, por código FPAS: a) FPAS 825: contribuições retidas dos segurados empregados e contribuintes individuais (contribuições previstas na alínea "c" do parágrafo único do artigo 11 e nos artigos 20 e 21 da Lei 8.212/91), contribuições da empresa sobre a remuneração de contribuintes individuais e sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho (contribuições previstas na alínea "a" do parágrafo único do artigo 11 e nos incisos III e IV do artigo 22 da Lei 8.212/91); b) FPAS 744: contribuições devidas pela agroindústria, incidentes sobre o valor da receita bruta proveniente da comercialização da produção, em substituição às previstas nos incisos I e II do art. 22 da Lei 8.212/1991, destinadas à Seguridade Social e ao financiamento da complementação das prestações por acidentes do trabalho SAT/financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrentes dos riscos ambientais do trabalho, e contribuições retidas do empregador rural pessoa física, incidentes sobre a receita bruta proveniente da comercialização da sua produção em substituição às contribuições de que tratam os incisos I e II do art. 22 da Lei nº 8.212/1991. Fl. 752DF CARF MF 6 O sujeito passivo foi cientificado do AI acima, em 23/09/2013, conforme consta de folha inicial do referido Auto de Infração. Da Impugnação Em 23/10/2013, o sujeito passivo interpõe a impugnação, de fls. 532/543, acompanhada dos anexos de fls. 544/677. Requer a suspensão da exigibilidade do presente processo, até julgamento final na instância administrativa, nos termos do art. 151, inciso III, do CTN, para depois fazer um resumo dos fatos, e em seguida apresentar os argumentos que transcrevo a síntese, nos itens que seguem. Da Alegada Inexistência de Concomitância de Litígio no Judicial e no Administrativo Inicialmente destaca que inexistiria no caso em apreço concomitância de discussão de matérias no processo judicial e no presente processo administrativo, de modo a obstar o conhecimento da impugnação. Informa que em 1993, teria ajuizado ação ordinária contra o INSS, para ter reconhecido o seu direito à devolução das contribuições previdenciárias recolhidas indevidamente no período de 1971 a 1991, por meio do Processo nº 93.00057553, e que após o seu trânsito em julgado, favorável à empresa, procedeu à compensação do indébito com contribuições previdenciárias devidas, na forma autorizada pelas decisões judiciais proferidas no bojo da referida ação, tendo a fiscalização glosado integralmente as compensações, efetuadas, sustentandose na necessidade de prevenir a decadência em relação aos períodos compensados, quando então alega e defendente que não teria sido considerado o valor incontroverso já reconhecido por ela no presente processo, assim como nos cálculos apresentados pela Fazenda Nacional, nos autos dos embargos à execução de julgado nº 2009.80.00.0049848, o qual, obviamente, não seria mais discutido na referida ação. Entende a autuada que, ao ser glosada em 100% das compensações realizadas, a fiscalização teria violado a decisão judicial proferida na ação nº 93.00057553, que assegurou o direito da empresa à devolução do indébito, por meio da compensação, posto que se existe um valor incontroverso caberia à fiscalização efetuar o lançamento das contribuições, com o fim de prevenir a decadência, apenas em relação à parte do crédito ainda em discussão, e não de todas as contribuições compensadas. Argumenta que, na impugnação não se discutiria o valor atualizado do crédito da empresa que é objeto do processo nº 2009.80.00.0049848, mas sim a inobservância de decisões judiciais que transitaram em julgado, tanto da sentença que reconheceu o direito à devolução do indébito apurado até 07/1994, quanto da decisão que assegurou o direito à compensação, bem como a violação ao art. 150, §§ 1º e 4º c/c art. 156, VII do Código Tributário Nacional, que determinam a homologação do crédito tributário objeto de compensação regularmente realizada pelo contribuinte. Fl. 753DF CARF MF Processo nº 10410.724016/201366 Acórdão n.º 2402005.810 S2C4T2 Fl. 750 7 Conclui que negar a jurisdição administrativa neste caso seria o mesmo que permitir que a administração pública descumpra flagrantemente decisões judiciais transitadas em julgado e a legislação aplicável, sem que seja dado ao contribuinte exercer o seu direito à ampla defesa assegurado na Constituição Federal. Do Alegado Direito a Homologação das Compensações do Crédito Incontroverso Neste tópico assevera que na Ação Ordinária, processo nº 93.00057553, da Justiça Federal foi realizada perícia judicial contábil, sendo apurado os valores recolhidos indevidamente, no montante de R$ 4.313.439,28 conforme laudo pericial em anexo, e tendo sido julgada procedente in totum a referida ação, formulou pedido de cumprimento de julgado, consubstanciado nos seguintes termos: (a) que seja assegurado à empresa a escrituração do crédito respectivo em sua contabilidade e, assim também, a consectaria compensação do mesmo, com débitos vencidos e a vencer, apurados por competência, relativos a contribuições sociais, na forma do disposto nos itens 50 e 60 e, ad conseqüência, determine a quem competir, no âmbito administrativo da Autarquia Previdenciária, a baixa definitiva das Notificações Fiscais de Lançamento de Débito legalmente compensadas. (...) Ao apreciar o pedido da empresa, o douto Juízo o deferiu que: Todavia a compensação pleiteada deve se submetida ao crivo dos auditores do INSS, vez que a liquidez e a certeza dos créditos e débitos compensáveis estão sujeitos à averiguação da Administração Pública, que realizará a fiscalização do encontro de contas levado a efeito pela requerente e, se for caso, providenciar a cobrança de eventual saldo devedor. Ex positis, defiro a compensação nos termos do julgado, com a ressalva acima consignada, cabendo ao INSS verificar a regularidade da mesma e bem assim exigir, se o caso, os valores indevidamente compensados.". Prossegue esclarecendo, que entendendo obscuros os "termos do julgado", interpôs embargos de declaração, os quais foram julgados procedentes em parte, na forma a seguir: "Diante do exposto, acolho parcialmente os presentes embargos para fazer esclarecer que os termos do julgado mencionados na decisão de fls. 1653/1655 garantem à autora a compensação dos créditos decorrentes dos valores recolhidos indevidamente à previdência social urbana durante o período de 1971 a 1991 e que tais créditos gozam da certeza e liquidez suficientes, mantenho, quanto ao mais, os termos da decisão embargada.", e que em seqüência, decidiu o MM. Juiz da causa que "os créditos cuja compensação foi garantida pela decisão de fls. 1.653/1655 não são líquidos, mas sim passíveis de liquidação por mero cálculo aritmético", razão pela qual a empresa, ora defendente apresentou os cálculos de liquidação de julgado. Informa que a Fazenda Nacional interpôs embargos à execução processo nº 2009.80.00.0049848, o qual se encontra pendente de julgamento, ainda em fase de perícia judicial para atualização do indébito, para alegar que, embora não exista ainda decisão quanto ao valor atualizado do indébito, a Fl. 754DF CARF MF 8 própria Fazenda Nacional, por meio de sua assistente técnica, a Auditora Fiscal responsável pela lavratura do AIOP, apontaria como valor do indébito que entende devido, a quantia de R$ 6.754.108,14, atualizado até 06/2011, e que a mesma Auditora Fiscal, agora no AI impugnado, indicaria o valor do crédito da defendente que entende devido, utilizado nas compensações efetuadas mês a mês, conforme demonstrativo de cálculos da Planilha 3, no qual verificase mês a mês, os valores compensados, os quais somam o montante de R$ 6.831.487,50, e que ainda que permaneça em discussão no processo judicial o valor real do crédito da empresa, a própria fiscalização reconheceria o montante de R$ 6.831.487,50, como sendo incontroverso e, portanto, passível de compensação. Discorda do procedimento da fiscalização de glosar a totalidade das compensações efetuadas, desconsiderando, em absoluto o crédito que ela faz jus, já reconhecido, ao menos em parte, pela própria DRF/AL, o que afrontaria não só as decisões judiciais acima destacadas que asseguram a "compensação nos termos do julgado", como também, violariam o disposto no art. 150, §§ lº e 4º do Código Tributário Nacional, que prevê que o sujeito passivo da obrigação tributária, tem cinco anos, contados do fato gerador, para a respectiva homologação, na forma como já pacificado no Superior Tribunal de Justiça. Argumenta que, uma vez reconhecido pelo fisco o valor do crédito de R$6.831.487,50, caberia a homologação expressa e formal das compensações efetuadas até esse limite e, sua extinção, nos termos do § 4º do art. 150 do CTN, quando alcançaria o valor principal no máximo a quantia de R$ 12.846.270,81, quando pleiteia o reconhecimento da nulidade parcial do AI, posto que restaria indevido o lançamento de contribuições regularmente compensadas com crédito já reconhecido pelo fisco. Da Alegada Violação ao Acórdão nº 1127.730 Aduz que embora não tenha sido efetuada a homologação expressa das compensações das contribuições até o limite do crédito já reconhecido, no encontro de contas da Planilha 3, a Auditora Fiscal indevidamente teria considerado as compensações realizadas no período de 11/2001 a 07/2002, para fins de abatimento do crédito da empresa, posto que tendo esse período sido reconhecido decadente por meio do Acórdão nº 1127.730, proferido pela 7ª Turma da DRJ/REC, em decorrência de impugnação interposta à NFLD n9 37.000.222tivessem sido homologadas, como defende a Auditora Fiscal, a fiscalização não teria efetuado o lançamento por meio da citada NFLD, nesse caso, simplesmente teria acolhido as compensações e extinguido o crédito tributário compensado, o que não aconteceu, posto que o fisco não aceitou as compensações e efetuou o lançamento de ofício do crédito tributário, logo a causa extintiva desta parte do crédito tributário foi a decadência (art.156, V do CTN), e não a compensação realizada pela empresa (art. 156, II do CTN). Conclui que demonstrado o apontado erro no encontro de contas realizado pelo fisco, na Planilha 3, devem ser homologadas as compensações realizadas a partir de 08/2009, até o limite do crédito incontroverso, nos termos do art. 150, §§ 12 e 42 do CTN. Fl. 755DF CARF MF Processo nº 10410.724016/201366 Acórdão n.º 2402005.810 S2C4T2 Fl. 751 9 Do Pedido Ante o acima explicitado, requer a defendente: a) seja homologado expressamente as compensações realizadas pela empresa, a partir de 08/2009, sem a dedução ilegal das contribuições compensadas no período de 11/2001 a 07/2002, extintas por decadência, sob pena de violação do Acórdão nº 11 27.730 da DRJ/REC; b) seja reconhecida a nulidade parcial do AI nº 51.018.3786, em razão da homologação das compensações realizadas a partir de 08/2009, até o montante do crédito reconhecido pela DRF/AL; c) após o conhecimento e julgamento definitivo da presente impugnação, seja mantido sobrestado sub judice o presente processo até o julgamento definitivo da ação nº 2009.80.00.0049848, conforme consignado no item 15 do Relatório Fiscal do presente Processo Administrativo." Em acréscimo as questões tratadas em sua Impugnação, o Recorrente sustenta não haver identidade de objeto entre a ação judicial e o presente processo administrativo fiscal. Segundo sustenta, a ação judicial em questão estaria limitada apenas a discussão do valor atualizado do indébito tributário. Já este processo administrativo discute a homologação das compensações realizadas com o crédito incontroverso. Ao final pede sobrestamento do presente processo administrativo fiscal até o transito em julgado do processo judicial de nº 2009.80.00.0049848. É o relatório. Fl. 756DF CARF MF 10 Voto Conselheiro Jamed Abdul Nasser Feitoza Relator Admissibilidade O recurso encontrase previsto no artigo 33 do Decreto nº 70.235, de 1972, sendo tempestivo, estando devidamente fundamentado e interposto por parte legítima que pretende ver a decisão da DRJ reformada, entretanto, existe questão essencial ao seu conhecimento que deve ser analisada ainda em âmbito de admissibilidade. Relacionados aos créditos em discussão existem dois processos judiciais com discussões pendentes e diretamente relacionados com os créditos objeto de glosa geradora do lançamento resistido. A primeira Ação Judicial (n.° 000575532.1993.4.05.800) buscou a declaração de inexistência de relação jurídico tributária entre a Recorrente e a Fazenda nacional no que tange as contribuições previdenciárias incidentes sobre empregados rurais, pedindo ainda a anulação de lançamentos realizados e declaração do direito a compensação de tais créditos de modo genérico, obtendo sentença nos seguintes termos: "PROCESSO N.º 93.00057553 AÇÃO DECLARATÓRIA REQUERENTE: USINA ROÇADINHO S/A REQUERIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL INSS D E C I S Ã O Vistos, etc. Cuidase de pedido de compensação (fls. 1347/1362), por meio do qual a requerente objetiva: 1. (...) a escrituração do crédito respectivo em sua contabilidade e, assim também, a consectária compensação do mesmo, com os débitos vencidos e a vencer, apurados por competência, relativos a contribuições sociais, na forma do disposto nos itens 50 a 60 e, ad conseqüência, determine a quem competir, no âmbito administrativo da Autarquia Previdenciária, a baixa definitiva das Notificações Fiscais de Lançamento de Débito indicadas no item 64; (grifamos) 2. (...) que seja determinado ao INSS que se abstenha de contraporse a compensação pleiteada, limitando a sua atuação à fiscalização da correção dos valores compensados e adequação da rotina contábil. Ou seja: exatidão numérica entre o crédito judicialmente reconhecido apurado através de Laudo Pericial e os débitos da empresa. O pleito foi instruído com julgados procedentes do eg. STJ, planilhas e um parecer da lavra do douto procurador do requerido, Bel. Antônio Xisto Pereira de Mello (fls. 1363/1459 e 1462/1644). Intimado para falar a respeito, o INSS discordou dos termos do pedido formulado pela requerente, argumentando que a mesma tem a liberdade para efetuar a compensação Fl. 757DF CARF MF Processo nº 10410.724016/201366 Acórdão n.º 2402005.810 S2C4T2 Fl. 752 11 pretendida, mas "(...) a Seção de Receita Previdenciária, por seus auditores, acompanhará o procedimento e poderá rejeitálo, na forma da lei, se entendêlo imperfeito." É, em síntese, o relatório. Fundamento e decido. No que respeita a compensação postulada, consoante se vê do v. julgado reproduzido às fls. 1365/1376 e a seguir transcrito, o eg. STJ já decidiu que as sentenças declaratórias têm eficácia executiva, in verbis: "PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS A TÍTULO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SENTENÇA DECLARATÓRIA DO DIREITO DE CRÉDITO CONTRA A FAZENDA PARA FINS DE COMPENSAÇÃO. SUPERVENIENTE IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAR. EFICÁCIA EXECUTIVA DA SENTENÇA DECLARATÓRIA. PARA HAVER A REPETIÇÃO DO INDÉBITO POR MEIO PRECATÓRIO. 1. No atual estágio do sistema do processo civil brasileiro não há como insistir no dogma de que as sentenças declaratórias jamais têm eficácia executiva. O art. 4.º, parágrafo único, do CPC considera 'admissível a ação declaratória ainda que tenha ocorrido a violação do direito', modificando, assim, o padrão clássico da tutela puramente declaratória, que a tinha como tipicamente preventiva. Atualmente, portanto, o Código dá ensejo a que a sentença declaratória possa fazer juízo completo a respeito da existência e do modo de ser da relação jurídica concreta. 2. Tem eficácia executiva a sentença declaratória que traz definição integral da norma jurídica individualizada. Não há razão alguma, lógica ou jurídica, para submetêla, antes da execução, a um segundo juízo de certificação, até porque a nova sentença não poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada, assegurada constitucionalmente. E instaurar um processo de cognição sem oferecer às partes e ao juiz outra alternativa de resultado que não um, já prefixado, representaria atividade meramente burocrática e desnecessária, que poderia receber qualquer outro qualificativo, menos o de jurisdicional. 3. A sentença declaratória que, para fins de compensação tributária, certifica o direito de crédito do contribuinte que recolheu indevidamente o tributo, contém juízo de certeza e de definição exaustiva a respeito de todos os elementos da relação jurídica questionada e, como tal, é título executivo para a ação visando à satisfação, em dinheiro, do valor devido. 4. Recurso especial a que se nega provimento." (1.ª Turma, REsp n.º 588202PR, v.u., rel. Teori Albino Zavascki, DJU de 25.02.2004, p. 123). Todavia, a compensação pleiteada deve ser submetida ao crivo dos auditores do INSS, vez a liquidez e a certeza dos créditos e débitos compensáveis estão sujeitas à averiguação da Administração Pública, que realizará a fiscalização do encontro de contas levado a efeito pela requerente e, se o caso, providenciar a cobrança de eventual saldo devedor. Ex positis, defiro a compensação nos termos do julgado, com a ressalva acima consignada, cabendo ao INSS verificar a regularidade da mesma e bem assim exigir, se o caso, os valores indevidamente compensados. Intimemse. Maceió, 17 de dezembro de 2004. Sebastião José Vasques de Moraes Juiz Federal" Fl. 758DF CARF MF 12 Tal processo seguiu por anos sendo convertido em execução e, em relação a qual a Fazenda Nacional opôs embargos gerando a segunda ação judicial de nº 004984 92.2009.4.05.8000 (2009.80.00.0049848), discutem, ainda, o quantum do crédito da empresa. Tal processo ainda não transitou em julgado, não havendo liquidez e certeza quanto ao credito objeto da compensação. Em consulta ao site da Justiça Federal verificamos registro do seguinte andamento: "PROCESSO Nº 000498492.2009.4.05.8000 (2009.80.00.0049848) APELAÇÃO CÍVEL (AC586779AL) AUTUADO EM 26/01/2016 ÓRGÃO: Primeira Turma PROC. ORIGINÁRIO Nº: 200980000049848 Justiça Federal AL VARA: 4ª Vara Federal de Alagoas (Competente p/ Execuções Penais) ASSUNTO: Efeito Suspensivo/Impugnação/Embargos à Execução Liquidação/Cumprimento/Execução Direito Processual Civil e do Trabalho FASE ATUAL : 18/02/2016 16:00 Recebimento Interno COMPLEMENTO : ÚLTIMA LOCALIZAÇÃO : Gabinete do Desembargador Federal Alexandre Luna Freire APTE : FAZENDA NACIONAL APTE : MENDO SAMPAIO S/A USINA ROÇADINHO Advogado/Procurador : DANIELLE TENÓRIO TOLEDO CAVALCANTE(e outros) AL006033 APDO : OS MESMOS RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL ALEXANDRE LUNA FREIRE NÃO EXISTEM PETIÇÕES AGUARDANDO JUNTADA Em 18/02/2016 16:00 Recebidos os autos de Distribuição [Guia: 2016.000734] Em 18/02/2016 14:35 Concluso para decisão a(o) Desembargador(a) Federal Relator(a) para / por Secretaria Processante [Guia 2016.000734" A decisão que deu origem aos créditos tidos por indevidamente compensados em razão de existência de pendência na sua definição é clara ao relatar que o Recorrente, no âmbito da ação judicial nº .º 93.00057553, objetivou "a consectária compensação do mesmo, com os débitos vencidos e a vencer, apurador por competência, relativos a contribuições sociais". Já o presente processo versa sobre a desconstituição de auto de infração lavrado em razão de suposta compensação indevida. Fl. 759DF CARF MF Processo nº 10410.724016/201366 Acórdão n.º 2402005.810 S2C4T2 Fl. 753 13 A DRJ deixou de analisar os argumentos da impugnação por entender que, justamente, a demanda judicial que deu base ao lançamento realizado por glosa de compensações antes do transito em julgado de ação judicial que o reconhecia ensejaria a concomitância de ações. Ora, aceitar tal tese como válida seria equivalente a privar o Recorrente do devido processo legal, da ampla defesa e contraditório. Uma armadilha lógica "kaficaniana" atribuível a todos os lançamentos decorrentes de compensações indevidas de créditos decorrentes de processos ainda pendentes de transito em julgado. As demandas não guardam identidade, estão relacionadas, a ultimação do processo judicial, de certo, impacta na validação do lançamento, até porque justamente a ausência de seu trânsito em julgado foi supedâneo para a autuação, contudo, não são demandas idênticas. É possível identificar a existência de diversas questões merecedoras de análise na presente lide administrativa como, por exemplo, a alegação do Recorrente de que os créditos compensados são créditos incontroversos, tendo a demanda judicial persistido tão somente quanto a diferenças de atualização dos mesmos. O Recurso argumenta pela inexistência de concomitância, o que nos parece ser o mais acertado. Considerando que a decisão da DRJ trilhou pelo não conhecimento da impugnação pelo equivocado entendimento de existência de concomitância, não tendo analisado o mérito da lide, não caberia a este colegiado, em âmbito recursal, enfrentalo, pois representaria supressão de instância, ferindo o principio do devido processo legal. Deste modo, encaminhamos o voto no sentido de reformar a decisão recorrida para declarar a inexistência de concomitância determinando a baixa dos autos origem para que se realize novo julgamento abordando toda a matéria contida na impugnação. Conclusão Por todo o exposto, VOTO no sentido de conhecer do Recurso e darlhe parcial provimento no sentido de anular a decisão recorrida, determinando a baixa a origem para nova analise. (assinado digitalmente) Jamed Abdul Nasser Feitoza Fl. 760DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.902736/2010-51
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Apr 12 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon May 22 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Exercício: 1999
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. PRAZO.
Ao pedido de restituição pleiteado administrativamente antes de 9 de junho de 2005, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, aplica-se o prazo prescricional de 10 (dez) anos, contado do fato gerador. Aplicação da Súmula CARF nº 91.
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. PROVA DO DIREITO ALEGADO. ÔNUS DA PROVA.
O ônus da prova recai sobre quem alega o direito. No caso concreto, não restou comprovada, nos autos, a identidade entre a pessoa jurídica interessada no processo administrativo e aquela que figurava como litisconsorte no processo judicial, nem a existência de eventos societários que permitissem considerar a primeira como sucessora da segunda em direitos e obrigações.
Numero da decisão: 1301-002.301
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
[assinado digitalmente]
Waldir Veiga Rocha Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Flávio Franco Corrêa, José Eduardo Dornelas Souza, Roberto Silva Júnior, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Milene de Araújo Macedo, Amélia Wakako Morishita Yamamoto e Waldir Veiga Rocha.
Nome do relator: WALDIR VEIGA ROCHA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Exercício: 1999 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. PRAZO. Ao pedido de restituição pleiteado administrativamente antes de 9 de junho de 2005, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, aplicase o prazo prescricional de 10 (dez) anos, contado do fato gerador. Aplicação da Súmula CARF nº 91. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. PROVA DO DIREITO ALEGADO. ÔNUS DA PROVA. O ônus da prova recai sobre quem alega o direito. No caso concreto, não restou comprovada, nos autos, a identidade entre a pessoa jurídica interessada no processo administrativo e aquela que figurava como litisconsorte no processo judicial, nem a existência de eventos societários que permitissem considerar a primeira como sucessora da segunda em direitos e obrigações. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. [assinado digitalmente] Waldir Veiga Rocha – Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Flávio Franco Corrêa, José Eduardo Dornelas Souza, Roberto Silva Júnior, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Milene de Araújo Macedo, Amélia Wakako Morishita Yamamoto e Waldir Veiga Rocha. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 90 27 36 /2 01 0- 51 Fl. 234DF CARF MF Processo nº 16327.902736/201051 Acórdão n.º 1301002.301 S1C3T1 Fl. 3 2 BANCO VOLKSWAGEN S.A., já devidamente qualificada nestes autos, recorre a este Conselho contra a decisão prolatada pela 4ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em São Paulo I / SP, que indeferiu os pedidos veiculados através de manifestação de inconformidade apresentada contra a decisão da DEINF/SP. Trata a lide de Pedido de Restituição (PER/DCOMP), no qual o alegado direito creditório é decorrente de pagamento indevido ou a maior da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Posteriormente, o contribuinte usou esse alegado direito creditório para a compensação com débito de sua titularidade, mediante a Declaração Eletrônica de Compensação (PER/DCOMP), transmitida em 2008. Consta dos autos intimação, informando ao contribuinte que o DARF por ele especificado não teria sido localizado nos sistemas da RFB e instandoo à regularização. Não consta do processo qualquer resposta ou providência do contribuinte. A unidade administrativa que primeiro analisou os pedidos formulados pela empresa (DEINF/SP) negou homologação à compensação. O motivo foi a não localização do DARF nos sistemas da RFB, mesmo após a intimação acima referida. Em sua manifestação de inconformidade contra o Despacho Decisório, a interessada, inicialmente, junta comprovante de arrecadação obtido no sítio eletrônico da Receita Federal. Na sequência, esclarece: Esse recolhimento foi indevidamente efetuado pelo Recorrente, uma vez que ele dispunha de decisão judicial definitiva, proferida nos autos do Mandado de Segurança n° 89.00112058, que o exonerava do recolhimento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, no período de 1988 a 09/1997 (data do trânsito em julgado da decisão judicial). Nem se alegue que o pagamento foi efetuado após o trânsito em julgado da decisão judicial exoneratória e com os benefícios previstos na Lei n° 9779/99, tendo em vista que, além desses fatos não servirem de fundamento para a negativa do pedido de restituição, o recolhimento se deu porque a própria Secretaria da Receita Federal, mesmo em face da decisão judicial favorável ao Recorrente, insistia na cobrança de tais valores, ao argumento de que os efeitos da decisão judicial alcançavam apenas a CSLL relativa ao exercício de 1989. Apenas com a decisão do 1º Conselho de Contribuintes (acórdão n° 101 93.610), proferida em 19/09/01, com acórdão formalizado em 11/12/01, que reconheceu expressamente o direito de um dos litisconsortes do ora Recorrente, no Mandado de Segurança n° 89.00112058, de não recolher a CSLL, no período de 1990 a 1997, ou seja, desde a propositura da medida judicial até o trânsito em julgado da decisão favorável, o que se deu em 02/09/97, é que o Recorrente obteve a comprovação de que também estava desobrigado do recolhimento da CSLL nesse período e que, portanto, tinha direito de reaver os montantes indevidamente recolhidos: "Ementa: IRPJ Normas Gerais. Lançamento Tributário. Sentença Judicial. Trânsito em Julgado. Efeitos. A sentença judicial reconhecendo a inconstitucionalidade dos artigos 1º, 2º, 3º e 8º, da Lei n° 7689, de 1988, e, de consequência, desobrigando a pessoa jurídica do recolhimento da CSLL, irradia seus efeitos jurídicos até o período no qual tenha ocorrido seu trânsito em julgado. Fl. 235DF CARF MF Processo nº 16327.902736/201051 Acórdão n.º 1301002.301 S1C3T1 Fl. 4 3 Recurso conhecido e provido. Trecho do Voto do Conselheiro Sebastião Rodrigues Cabral — Relator: Nesta linha de raciocínio, e considerando que no presente caso: i) A sentença judicial que acolheu a pretensão da Recorrente, no sentido de desobrigála do recolhimento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido instituída pela Lei n° 7689, de 1988, transitou em julgado em 02 de setembro de 1997, tal qual atestado na Certidão fornecida pela 10ª Vara Federal, anexa aos autos às fls.; ii) O Mandado de Segurança interposto pela Recorrente, em 1989, objetivou a dispensa do recolhimento da referida Contribuição sob alegação de inconstitucionalidade da lei que a instituiu (n° 7689, de 1988), o que foi integralmente reconhecido pela referida sentença transitada em julgado; iii) O auto de infração guerreado no presente processo pretende exigir da Recorrente a Contribuição Social relativa aos períodosbase de 1990 a 1994, portanto, anteriores ao trânsito em julgado da sentença judicial; só nos resta concluir que referidos períodos estão albergados pela 'coisa julgada', sendo defeso ao Fisco exigir a Contribuição em causa relativamente àqueles períodosbase." Assim, deve ser prontamente revisto o despachodecisório, ora recorrido, ante a comprovação do recolhimento indevido, a ensejar o direito à restituição, nos termos do artigo 165, I, do Código Tributário Nacional. A 4ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em São Paulo I / SP analisou a manifestação de inconformidade apresentada pela contribuinte e indeferiu a solicitação. Ciente da decisão de primeira instância e com ela inconformada, a interessada apresentou recurso voluntário, mediante o qual oferece, em apertada síntese, os seguintes argumentos: Acerca do prazo para pleitear o indébito, a recorrente se reporta ao Pedido Eletrônico de Restituição, ao Pedido de Restituição protocolado na Deinf e sustenta que estaria plenamente respeitado, no caso, o prazo prescricional de cinco anos, previsto no art. 168, I, do CTN. A recorrente afirma ter anexado aos autos cópia do Mandado de Segurança nº 89.00112058, em que foi proferida a decisão transitada em julgado que a exonerava do recolhimento da CSLL de 1988 até 09/1997 (data do trânsito em julgado). Da mesma forma, anexa documentos que comprovam ser a recorrente a sucessora de Autolatina Financiadora S/A, que foi parte no processo judicial. A interessada reitera, ainda, os argumentos trazidos na Manifestação de Inconformidade, acerca da decisão proferida pelo 1º Conselho de Contribuintes em 2001. Conclui com o pedido de provimento de seu recurso e homologação da compensação declarada. É o Relatório. Voto Fl. 236DF CARF MF Processo nº 16327.902736/201051 Acórdão n.º 1301002.301 S1C3T1 Fl. 5 4 Conselheiro Waldir Veiga Rocha, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 1301002.287, de 12/04/2017, proferido no julgamento do processo 16327.900370/201248, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 1301002.287): O recurso voluntário e tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade. Dele conheço. Gira a lide em torno de pedido de restituição, posteriormente cumulado com declaração de compensação. No atual estágio da discussão administrativa, o alegado direito creditório não foi reconhecido por dois fundamentos autônomos, ou seja, cada um deles é suficiente, por si só, para o não reconhecimento do direito creditório. O primeiro fundamento adotado pelo julgador de primeira instância, de caráter preliminar, foi o transcurso do prazo para pleitear o indébito. Alega a recorrente que deveria ter sido considerado o período transcorrido entre a data do recolhimento, em 1999, e a data do protocolo do pedido de restituição, em 2004. Com isso, restaria atendido o prazo de cinco anos de que trata o art. 168, I, do CTN. Examinando a decisão recorrida, constatase que, efetivamente, houve um equívoco do julgador ao não considerar o pedido de restituição originalmente formulado em 2004. Isso fica evidenciado na afirmação de que “... observase que somente em 2008 veio pleitear compensação do referido crédito, ou seja, cerca de sete anos após ‘obter a comprovação’, e nove após a extinção do débito, pelo pagamento”. Ora, a declaração de compensação é datada de 2008, mas reportase ao anterior pedido de restituição, e é esse pedido que deve ser considerado, para fins da contagem do prazo para a repetição de indébito. No entanto, como se verá a seguir, a correção desse equívoco não trará modificação na conclusão. Esse prazo, se de cinco ou dez anos, bem assim a determinação dos termos inicial e final para a contagem, já foram objeto de acirrados debates, tanto no âmbito administrativo quanto no judicial. A inovação legislativa (arts. 3º e 4º da Lei Complementar nº 118/2005) tentou pacificar a questão, mas somente aumentou as divergências, tanto doutrinárias quanto jurisprudenciais. Finalmente, a questão foi pacificada pelo Poder Judiciário. De especial interesse, o Recurso Especial nº 1.002.932, de 25/11/2009, prolatado pelo STJ no regime do art. 543C do CPC então vigente, e o Recurso Extraordinário nº 566.321, de 04/08/2011, proferido pelo STF no regime do art. 543B do mesmo diploma legal. A reiterada aplicação administrativa dessas decisões conduziu à aprovação, em 09/12/2013, pelo Pleno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, da súmula CARF nº 91, a seguir reproduzida. Súmula CARF nº 91: Ao pedido de restituição pleiteado administrativamente antes de 9 de junho de 2005, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, aplicase o prazo prescricional de 10 (dez) anos, contado do fato gerador. Fl. 237DF CARF MF Processo nº 16327.902736/201051 Acórdão n.º 1301002.301 S1C3T1 Fl. 6 5 As súmulas CARF são de observância obrigatória pelos membros deste órgão administrativo, a teor do art. 72 do Anexo II do Regimento Interno, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015 e alterações supervenientes. No caso concreto, o pedido de restituição foi protocolado em 2004, antes da data limite prevista na súmula, aplicandose, portanto, o prazo prescricional de dez anos. O termo inicial da contagem é, também nos termos da súmula, a data do fato gerador. O fato gerador foi fixado pela própria interessada no pedido de restituição. Desta forma, para fatos geradores completados anteriormente a 12/02/1994 o prazo prescricional já se encontrava encerrado no momento do pedido de restituição. Observese que a data do recolhimento não é considerada para este fim, muito menos a circunstância alegada pela interessada acerca do julgamento administrativo de um auto de infração no qual o sujeito passivo seria um dos litisconsortes na ação judicial. Não se vislumbra qual a relação entre aquele julgamento administrativo e o prazo para a formulação do pedido de restituição aqui discutido. A constatação que se impõe é de que o decurso do prazo prescricional impede que seja atendido o pleito da interessada, independentemente de quaisquer considerações de mérito, negandose provimento ao recurso voluntário. O segundo fundamento adotado pelo julgador de primeira instância para o indeferimento do pleito foi a falta de comprovação do direito. O seguinte excerto do voto condutor do acórdão recorrido é elucidativo: Observese que a empresa não trouxe a petição inicial e nenhuma peça do processo judicial que afirma amparala, de forma a se poder verificar a correção de sua alegação central de mérito, o que, como demonstrado acima, seria ônus da empresa. E, em consulta ao sítio do TRF da 3ª Região, utilizandose do número de processo judicial fornecido pela Interessada, na opção “Consulta Processual – Visualizar Processo” a empresa não aparece como parte, mas sim as seguintes empresas: Consórcio Nacional Ford Ltda., Autolatina S/A, Autolatina Financiadora S/A Crédito Financiamento e Investimentos e Ford Brasil S/A. Junto com o recurso voluntário, a interessada faz acostar aos autos peças do processo judicial, e documentos que, segundo ela, comprovariam ser a recorrente sucessora da Autolatina Financiadora S/A, que foi parte no processo judicial. Compulsando os autos, especialmente as peças processuais do Mandado de Segurança nº 89.112058, constato que a impetrante foi Consórcio Nacional Ford Ltda., e que posteriormente foram admitidos como litisconsortes: (i) Autolatina S/A; (ii) Autolatina Financiadora S/A – Crédito, Financiamento e Investimentos; e (iii) Ford Brasil S/A. Prosseguindo na análise, encontro Ata da AGE de 31/05/1996 de Banco Autolatina S.A., na qual se registra a cisão parcial dessa pessoa jurídica, com a versão de parcela de seu patrimônio para o Banco Ford S/A e a mudança do nome da parcela remanescente da cisão do Banco Autolatina S/A para Banco Volkswagen S/A (a interessada). Na sequência, encontro também o Protocolo da cisão e versão do patrimônio. No entanto, não encontro prova de que Banco Autolatina S/A fosse parte da ação judicial. No documento datado de 17/02/2004, dirigido à DEINF/SP, a interessada se identifica como “BANCO VOLKSWAGEN S/A., atual denominação de BANCO AUTOLATINA S.A., anteriormente denominado AUTOLATINA Fl. 238DF CARF MF Processo nº 16327.902736/201051 Acórdão n.º 1301002.301 S1C3T1 Fl. 7 6 FINANCIADORA S.A., ...”. Mas tratase de mera afirmação, da qual não encontro prova documental nos autos. Apesar de saber que esse ponto foi um dos fundamentos adotado pelo julgador de primeira instância para negar seu pedido, a interessada apresentou apenas o documento da cisão parcial de Banco Autolatina S/A e posterior mudança de nome da parcela remanescente para Banco Volkswagen S/A, não se preocupando em rastrear e comprovar os eventos societários desde a litisconsorte na ação judicial (Autolatina Financiadora S/A – Crédito, Financiamento e Investimentos) até a atual pessoa jurídica, nem os direitos que teriam sido transmitidos em cada um desses eventos. Em se tratando de pedido de restituição, é ônus de quem alega o direito creditório comprovar o que alega, especialmente, no caso sob análise, que a pessoa jurídica que efetuou o recolhimento seria a sucessora em todos os direitos e obrigações da pessoa jurídica que foi parte na ação judicial. Ao não se encontrar nos autos essa comprovação, também por esse motivo o recurso voluntário há que ser negado. Os dois fundamentos autônomos anteriormente discutidos já seriam (e são) suficientes para que o recurso voluntário seja desprovido. Penso, entretanto, que uma consideração adicional há de ser feita. É que o pagamento em questão foi feito em 1999, ao amparo do art. 17 da Lei nº 9.779/1999. Confirase seu teor (grifos não constam do original): Art.17.Fica concedido ao contribuinte ou responsável exonerado do pagamento de tributo ou contribuição por decisão judicial proferida, em qualquer grau de jurisdição, com fundamento em inconstitucionalidade de lei, que houver sido declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, em ação direta de constitucionalidade ou inconstitucionalidade, o prazo até o último dia útil do mês de janeiro de 1999 para o pagamento, isento de multa e juros de mora, da exação alcançada pela decisão declaratória, cujo fato gerador tenha ocorrido posteriormente à data de publicação do pertinente acórdão do Supremo Tribunal Federal.(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Vide Medida Provisória nº 215835, de 2001) §1oO disposto neste artigo estendese:(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 2158 35, de 2001) Iaos casos em que a declaração de constitucionalidade tenha sido proferida pelo Supremo Tribunal Federal, em recurso extraordinário;(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) IIa contribuinte ou responsável favorecido por decisão judicial definitiva em matéria tributária, proferida sob qualquer fundamento, em qualquer grau de jurisdição;(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) IIIaos processos judiciais ajuizados até 31 de dezembro de 1998, exceto os relativos à execução da Dívida Ativa da União.(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) Fl. 239DF CARF MF Processo nº 16327.902736/201051 Acórdão n.º 1301002.301 S1C3T1 Fl. 8 7 §2oO pagamento na forma do caput deste artigo aplicase à exação relativa a fato gerador:(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) Iocorrido a partir da data da publicação do primeiro Acórdão do Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal, na hipótese do inciso I do § 1o;(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) IIocorrido a partir da data da publicação da decisão judicial, na hipótese do inciso II do § 1o;(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) IIIalcançado pelo pedido, na hipótese do inciso III do § 1o.(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) §3oO pagamento referido neste artigo:(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) Iimporta em confissão irretratável da dívida;(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) IIconstitui confissão extrajudicial, nos termos dos arts. 348, 353 e 354 do Código de Processo Civil;(Vide Medida Provisória nº 1.807, de 1999)(Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) [...] Insisto: os pagamentos nesses termos são confissão irretratável da dívida e confissão extrajudicial. Ou seja, ainda que pudessem ser superados os dois fundamentos anteriormente expostos, o pedido de restituição encontraria obstáculo inarredável na disposição expressa da lei acima transcrita. Supondose, como hipótese argumentativa, que a interessada fosse, como afirma, sucessora da litisconsorte na ação judicial, o fato é que espontaneamente decidiu abrir mão do direito conquistado na ação judicial (possivelmente por vêlo ameaçado por reiteradas manifestações do STF no sentido da inconstitucionalidade da CSLL apenas para o primeiro ano de sua vigência) e parcelar o valor da contribuição para os anos subsequentes. A recorrente afirma que somente fez os pagamentos porque a Receita Federal insistia na cobrança, mesmo em face da decisão judicial que havia obtido. Ora, esse era o entendimento administrativo à época, atualmente ainda mais reforçado, tanto pelo sucesso obtido em ações rescisórias diversas propostas perante o Poder Judiciário, quanto por Pareceres da douta PGFN. Se a interessada tivesse plena convicção de seu direito, seu procedimento teria sido o de aguardar o lançamento e discutilo administrativa e judicialmente, nunca o de se antecipar, confessando a dívida de forma irretratável e recolhendo o tributo. A recorrente reclama, ainda, que esse aspecto não teria sido fundamento para a negativa do pedido de restituição, pelo que não poderia, agora, ser abordado. Observese que a DEINF/SP originalmente negou o pedido porque o pagamento (DARF) não foi identificado nos sistemas da RFB. Apesar de intimada, a interessada não se preocupou em trazer aos autos os esclarecimentos que Fl. 240DF CARF MF Processo nº 16327.902736/201051 Acórdão n.º 1301002.301 S1C3T1 Fl. 9 8 permitissem essa correta identificação. Essa questão foi plenamente superada em primeira instância. Somente então foi possível avançar e questionar outros aspectos, a saber, o prazo para pleitear o indébito e a comprovação do direito alegado. Quanto a este último aspecto, o julgador a quo se deteve na falta das peças do processo judicial e na falta de comprovação de que a interessada no processo administrativo fosse também uma das partes do processo judicial. Penso que as considerações aqui tecidas sobre esse ponto nada mais são do que um aprofundamento acerca da análise de mérito do pedido. Seriam, talvez, dispensáveis, como dito anteriormente, mas em nada prejudicam, antes reforçam a conclusão. Por todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. [assinado digitalmente] Waldir Veiga Rocha Fl. 241DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 14098.720060/2014-29
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu May 25 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2010 a 30/11/2012
PREVIDENCIÁRIO. COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO DA LIQUIDEZ, CERTEZA E EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO PELO CONTRIBUINTE.
Compete ao contribuinte a comprovação da liquidez, certeza e exigibilidade do crédito apresentado em declaração para compensação com débitos previdenciários, não podendo ser aceitos créditos sub judice, constante de decisões judiciais parcialmente favoráveis e ainda não transitadas em julgado.
PREVIDENCIÁRIO. MULTA ISOLADA POR DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO PREVIDENCIÁRIA FALSA. REQUISITOS.
A imputação da multa isolada de 150% pela fiscalização exige a demonstração tanto do elemento subjetivo (dolo, isto é, a consciência da falsidade e a vontade de realizar a compensação com utilização desse subterfúgio) quanto do elemento objetivo (falsidade, assim entendida a afirmação contrária à verdade a fim de induzir a erro). A conduta também deve ser antijurídica e culpável, merecendo destacar que o contribuinte teve ter potencial conhecimento da ilicitude e, aos olhos de terceiros, seu comportamento deve estar sujeito a um juízo de reprovação, feito àquele que, podendo se comportar conforme o direito, optou livremente por contrariá-lo.
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVAMENTO DA MULTA POR DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. FUNDAMENTAÇÃO EM NORMA INFRALEGAL.
Ao prever o agravamento da multa sem lastro legal, os art. 290 e 292 do Regulamento da Previdência Social - RPS (Decreto nº 3.048/99) incorrem em ilegalidade, devendo a majoração da multa básica ser cancelada.
Numero da decisão: 2301-005.008
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso voluntário, para, no mérito, por maioria de votos, dar parcial provimento para exclusão do agravamento da multa por descumprimento de obrigação acessória (DEBCAD nº 51.063.382-0 CFL 38), mantendo apenas o valor básico, vencidos nesta questão os conselheiros Julio Cesar Vieira Gomes e Andrea Brose Adolfo, e, por unanimidade de votos, negar provimento nas demais matérias. Votou pelas conclusões em relação à multa isolada de 150% a conselheira Andrea Brose Adolfo.
(assinado digitalmente)
Andréa Brose Adolfo Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Fábio Piovesan Bozza Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andréa Brose Adolfo (presidente em exercício), Júlio César Vieira Gomes, Fábio Piovesan Bozza, Jorge Henrique Backes, Alexandre Evaristo Pinto, Fernanda Melo Leal.
Nome do relator: FABIO PIOVESAN BOZZA
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COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO DA LIQUIDEZ, CERTEZA E EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO PELO CONTRIBUINTE. Compete ao contribuinte a comprovação da liquidez, certeza e exigibilidade do crédito apresentado em declaração para compensação com débitos previdenciários, não podendo ser aceitos créditos “sub judice”, constante de decisões judiciais parcialmente favoráveis e ainda não transitadas em julgado. PREVIDENCIÁRIO. MULTA ISOLADA POR DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO PREVIDENCIÁRIA FALSA. REQUISITOS. A imputação da multa isolada de 150% pela fiscalização exige a demonstração tanto do elemento subjetivo (dolo, isto é, a consciência da falsidade e a vontade de realizar a compensação com utilização desse subterfúgio) quanto do elemento objetivo (falsidade, assim entendida a afirmação contrária à verdade a fim de induzir a erro). A conduta também deve ser antijurídica e culpável, merecendo destacar que o contribuinte teve ter potencial conhecimento da ilicitude e, aos olhos de terceiros, seu comportamento deve estar sujeito a um juízo de reprovação, feito àquele que, podendo se comportar conforme o direito, optou livremente por contrariálo. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVAMENTO DA MULTA POR DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. FUNDAMENTAÇÃO EM NORMA INFRALEGAL. Ao prever o agravamento da multa sem lastro legal, os art. 290 e 292 do Regulamento da Previdência Social RPS (Decreto nº 3.048/99) incorrem em ilegalidade, devendo a majoração da multa básica ser cancelada. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 14 09 8. 72 00 60 /2 01 4- 29 Fl. 1302DF CARF MF 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso voluntário, para, no mérito, por maioria de votos, dar parcial provimento para exclusão do agravamento da multa por descumprimento de obrigação acessória (DEBCAD nº 51.063.3820 – CFL 38), mantendo apenas o valor básico, vencidos nesta questão os conselheiros Julio Cesar Vieira Gomes e Andrea Brose Adolfo, e, por unanimidade de votos, negar provimento nas demais matérias. Votou pelas conclusões em relação à multa isolada de 150% a conselheira Andrea Brose Adolfo. (assinado digitalmente) Andréa Brose Adolfo – Presidente em exercício (assinado digitalmente) Fábio Piovesan Bozza – Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andréa Brose Adolfo (presidente em exercício), Júlio César Vieira Gomes, Fábio Piovesan Bozza, Jorge Henrique Backes, Alexandre Evaristo Pinto, Fernanda Melo Leal. Relatório Conselheiro Relator Fábio Piovesan Bozza: De acordo com o Relatório Fiscal, foi aberto procedimento de fiscalização para apurar a regularidade dos créditos utilizados em compensações realizadas pelo Recorrente com o objetivo de extinguir débitos de contribuições previdenciárias, relativos aos períodos de apuração 01/10 a 06/10 e 05/12, 06/12, 08/12, 09/12, 10/12 e 11/12. A fiscalização alega que emitiu intimações em diversos momentos do procedimento, mas as informações obtidas junto ao Recorrente dão conta somente da existência de ação judicial (processo 000026654.2012.4.01.3604), não transitada em julgado, no qual o sujeito passivo teria buscado o reconhecimento do direito de não recolher as contribuições previdenciárias incidentes sobre adicional de férias, abono pecuniário de férias, horas extras, auxíliodoença e auxílioacidente e de garantir o direito à compensação do respectivo indébito. Em 27/05/2014, a fiscalização considerou insatisfatórias as informações prestadas pelo Recorrente e procedeu à lavratura de três autos de infração nos quais se exige o recolhimento de contribuições previdenciárias e consectários legais – inclusive multas isoladas –, relativos aos períodos de apuração compreendidos entre 01/2010 e 11/2012, em virtude da glosa da compensação realizada com os supostos créditos acima mencionados, oriundos de recolhimentos feitos entre 01/2005 e 12/2011, considerados ilegítimos. Na data da lavratura, os valores das exigências fiscais alcançavam a: Auto de Infração DEBCAD nº 51.63.3838 Principal (contribuições previdenciárias) .................. R$ 2.647.980,75 Multa de mora (até 20%) ........................................... R$ 841.750,33 Fl. 1303DF CARF MF Processo nº 14098.720060/201429 Acórdão n.º 2301005.008 S2C3T1 Fl. 1.303 3 Juros de mora ............................................................. R$ 529.596,16 TOTAL ...................................................................... R$ 4.019.327,24 Auto de Infração DEBCAD nº 51.063.3862 Multa isolada por falsidade de declaração (150%) .... R$ 3.971.971,14 Auto de Infração DEBCAD nº 51.063.3820 (art. 33, §§ 2º e 3º) Multa isolada por descumpr. de obrigação acessória R$ 72.513,72 A ciência da autuação ocorreu em 28/05/2014. Inconformado, o Recorrente apresentou impugnação contestando os lançamentos de ofício. Ocorre que, dentre as diversas matérias de defesa, afirmouse que o crédito utilizado seria oriundo do recolhimento a maior, quando comparado com o valor declarado em GFIP. Para provar o alegado, juntou planilha (fls. 145147) e extratos emitidos pelo próprio sistema de arrecadação “CECORGFIP – CONSULTA VALORES A RECOLHER X VALORES RECOLHIDOS X LDCG/DCG)” (fls. 149157). Como essa prova foi produzida na fase de impugnação, a autoridade fiscal autuante não se manifestou a respeito. Em primeira instância, a Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Florianópolis (DRJ/Florianópolis) julgou a impugnação improcedente e manteve integralmente o débito lançado. Na parte relativa à origem do crédito, aduziu o seguinte (fls. 253): Compensação indevida. Crédito objeto de contribuições recolhidas a maior De fato, da análise dos extratos extraídos dos sistemas informatizados da Receita Federal (Sistema de Arrecadação/CECORGFIP), cópia às fls. 149 a 157, observase que, no período de 01/2005 a 06/2010, os valores recolhidos superam os valores declarados em GFIP. Ocorre que, a fiscalizada não trouxe aos autos em sede de impugnação, tão pouco apresentou a autoridade lançadora no decorrer da ação fiscal, os documentos, tais como os resumos das folhas de pagamento, que demonstrassem de forma clara e precisa, que todos os fatos geradores das contribuições previdenciárias foram informados na GFIP que lhe serviu de base para apurar os valores recolhidos, em tese, a maior que o devido. Comprometendo, assim, a análise dos supostos recolhimentos indevidos e das compensações efetuadas. Irresignado, o Recorrente apresentou recurso voluntário ao CARF, defendendo, em síntese: (1) que os créditos utilizados nas compensações referemse a verbas de caráter indenizatório (terço constitucional de férias, abono pecuniário de férias, auxílio doença/acidente e horas extraordinárias); (2) que ajuizou ação judicial visando ao reconhecimento da inexistência de obrigação tributária relativa ao recolhimento de contribuição previdenciária sobre tais verbas, ainda sem trânsito em julgado; (3) que a multa por descumprimento de obrigação acessória seria insubsistente, já que o Recorrente teria Fl. 1304DF CARF MF 4 apresentado todos os documentos pertinentes; (4) que a aplicação da multa isolada de 150%, por falsidade na declaração que gerou a compensação, seria ilegal já que o crédito é formado por valores indevidamente recolhidos sobre verbas indenizatórias, de acordo com o entendimento jurisprudencial. Ao analisar preliminarmente os documentos constantes dos autos para produção de relatório e voto, não ficou claro para a turma julgadora do CARF se os valores dos créditos utilizados na compensação pelo Recorrente compuseram ou não os valores declarados em GFIP, nos períodos de apuração de 01/2005 a 12/2009. Por meio da Resolução nº 2301000.615, de 15/06/2016, a turma julgadora deliberou converter o presente julgamento em diligência para que a autoridade fiscal manifestasse sobre os documentos acima referidos (fls. 145157), de modo a esclarecer: (i) se os valores dos créditos pleiteados pelo Recorrente compuseram ou não os valores declarados em GFIP, nos períodos de apuração de 01/2005 a 12/2011; e (ii) se não compuseram, solicitouse à fiscalização verificar se foram utilizados na compensação de débitos previdenciários de outros períodos de apuração. A fiscalização respondeu à solicitação, apresentando breve retrospecto dos procedimentos empregados e do teor das diversas intimações emitidas, e concluiu que: (a) “apesar de intimado e reintimado o Recorrente não forneceu informações suficientes para que concluíssemos se os valores dos créditos pleiteados compuseram ou não os valores declarados em GFIP, nos períodos de 01/2005 a 12/2011”; (b) “Em relação a verificação se foram utilizados na compensação de débitos previdenciários de outros períodos de apuração (ii), concluímos que sim, pois além das compensações realizadas nas competências 01 a 06/2010 e 05, 06, 08, 08, 10 e 11/2012 informadas como originadas nas competências 01/2005 a 12/2011 no valor total de R$ 2.647.980,75 e que foi objeto de glosa de compensação, foram também realizadas compensações nas competências 13/2005, 13/2008, 06, 08, 09, 12 e 13/2009 informadas como originadas nas competências 01/2005 a 12/2009 no valor total de R$ 2.006.424,15. Informamos ainda que as remunerações dos prestadores de serviços pessoa físicas sem vínculo de emprego de 01/2007 a 12/2008 foram obtidas após batimento das informações recebidas nesta diligência versus informações contidas nos quadros demonstrativos de fiscalização anterior cujos processos receberam os números 14098.720002/201233 e 10183.720941/201268 (Anexo I do RL – 01 e 02/2007; Anexo I do RL – 03/2007 a 12/2008; Anexo II do RL – 01 e 02/2007; e Anexo II do RL – 03/2007 a 12/2008)”. Embora intimado a se manifestar sobre o resultado da diligência, o Recorrente quedouse silente. Os autos retornaram a este CARF para continuidade do julgamento do recurso voluntário. Fl. 1305DF CARF MF Processo nº 14098.720060/201429 Acórdão n.º 2301005.008 S2C3T1 Fl. 1.304 5 É o relatório. Voto A intimação do acórdão de primeira instância ocorreu em 15/02/2008 e o recurso voluntário foi interposto em 13/03/2008. Por ser tempestivo e por cumprir com as formalidades legais, dele tomo conhecimento. Da Formação do Crédito a ser Compensado A glosa da compensação ocorreu, em essência, porque: (1) embora intimado diversas vezes, o Recorrente não conseguiu demonstrar a composição das folhas de salário relativas aos períodos fiscalizados, de modo a identificar as verbas tidas como indenizatórias (terço constitucional de férias, abono pecuniário de férias, auxíliodoença/acidente e horas extraordinárias) e que teriam sido indevidamente tributadas; e (2) tendo ajuizado ação judicial para ver declarada a nãoincidência de contribuição previdenciária sobre as mencionadas verbas indenizatórias, o Recorrente procedeu à compensação de tais créditos contra débitos previdenciários, previamente ao respectivo trânsito em julgado. Tais motivos, a meu ver, fundamentam suficientemente a glosa fiscal. Apesar das diversas intimações fiscais emitidas, o Recorrente não colaborou em fornecer as folhas de salário completas e demais documentos. Tal fato impossibilitou a fiscalização identificar as verbas submetidas à tributação pela contribuição previdenciária entre 2005 e 2009 e que teriam gerado o alegado indébito passível de compensação no montante de R$ 2.350.955,08. Além disso, o Recorrente informa que o citado indébito seria formado por recolhimentos incidentes sobre verbas cuja natureza indenizatória estaria sendo discutida judicialmente, em ação ainda não transitada em julgado. Tal fato viola frontalmente o disposto no art. 170A do CTN Art. 170A. É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. Por tal razão, considero que, nessa parte, não assiste razão ao Recorrente, por falta de comprovação de liquidez, certeza e exigibilidade do crédito. Multa por Descumprimento de Obrigação Acessória O relatório fiscal aduz que o Recorrente infringiu o disposto no art. 33, §§ 2º e 3º da Lei nº 8.212/91: Art. 33. ... § 2º A empresa, o segurado da Previdência Social, o serventuário da Justiça, o síndico ou seu representante, o Fl. 1306DF CARF MF 6 comissário e o liquidante de empresa em liquidação judicial ou extrajudicial são obrigados a exibir todos os documentos e livros relacionados com as contribuições previstas nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009). § 3º Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou informação, ou sua apresentação deficiente, a Secretaria da Receita Federal do Brasil pode, sem prejuízo da penalidade cabível, lançar de ofício a importância devida. A multa foi aplicada com fundamento nos art. 92 e 102 da Lei nº 8.212/91: Art. 92. A infração de qualquer dispositivo desta Lei para a qual não haja penalidade expressamente cominada sujeita o responsável, conforme a gravidade da infração, a multa variável de Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) a Cr$ 10.000.000,00 (dez milhões de cruzeiros), conforme dispuser o regulamento. Art. 102. Os valores expressos em moeda corrente nesta Lei serão reajustados nas mesmas épocas e com os mesmos índices utilizados para o reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.18713, de 2001). § 1º O disposto neste artigo não se aplica às penalidades previstas no art. 32A desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009). § 2º O reajuste dos valores dos saláriosdecontribuição em decorrência da alteração do saláriomínimo será descontado por ocasião da aplicação dos índices a que se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009). Mas o valor básico de R$ 18.128,43, que seria valor mínimo da multa atualizado, foi quadruplicado com fulcro nos art. 290 e 292 do Decreto nº 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social), por conta da existência de reincidência na prática de infração à legislação previdenciária (débito oriundo de auto de infração pago em 19/03/2012) e da oposição de obstáculo à fiscalização. A multa total lançada foi de R$ 72.513,72. Os dispositivos regulamentares possuem a seguinte redação: Art. 290. Constituem circunstâncias agravantes da infração, das quais dependerá a gradação da multa, ter o infrator: I tentado subornar servidor dos órgãos competentes; II agido com dolo, fraude ou máfé; III desacatado, no ato da ação fiscal, o agente da fiscalização; IV obstado a ação da fiscalização; ou V incorrido em reincidência. Parágrafo único. Caracteriza reincidência a prática de nova infração a dispositivo da legislação por uma mesma pessoa ou por seu sucessor, dentro de cinco anos da data em que se tornar irrecorrível administrativamente a decisão condenatória, da data do pagamento ou da data em que se configurou a revelia, Fl. 1307DF CARF MF Processo nº 14098.720060/201429 Acórdão n.º 2301005.008 S2C3T1 Fl. 1.305 7 referentes à autuação anterior. (Redação dada pelo Decreto nº 6.032, de 2007) Art. 292. As multas serão aplicadas da seguinte forma: I na ausência de agravantes, serão aplicadas nos valores mínimos estabelecidos nos incisos I e II e no § 3º do art. 283 e nos arts. 286 e 288, conforme o caso; II as agravantes dos incisos I e II do art. 290 elevam a multa em três vezes; III as agravantes dos incisos III e IV do art. 290 elevam a multa em duas vezes; IV a agravante do inciso V do art. 290 eleva a multa em três vezes a cada reincidência no mesmo tipo de infração, e em duas vezes em caso de reincidência em infrações diferentes, observados os valores máximos estabelecidos no caput dos arts. 283 e 286, conforme o caso; e Parágrafo único. Na aplicação da multa a que se refere o art. 288, aplicarseá apenas as agravantes referidas nos incisos III a V do art. 290, as quais elevam a multa em duas vezes. Considero que o agravamento da multa básica, pelas circunstâncias apontadas, conquanto tipificadas no Regulamento da Previdência Social, que é uma norma infralegal, não possui lastro legal. Tal circunstância impede a majoração da multa. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça corrobora a impossibilidade de criação de multa por ato infralegal: ADMINISTRATIVO. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. CONCINE. MULTA PREVISTA EM DECRETO EMANADO DO PODER EXECUTIVO. ILEGALIDADE. 1. Viola o princípio da legalidade a criação de multa por decreto, tal como ocorre na multa prevista no artigo 7º do Decreto nº 93.881/86. 2. É reserva da lei a criação de sanção administrativa. 3. Recurso especial improvido. (STJ, 1ª Turma, RESP nº 1.133.177, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, julgado em 20/10/2009) Por essa razão, voto por cancelar o agravamento lançado e manter apenas o valor básico da multa, no valor de R$ 18.128,43. Multa Isolada de 150% De acordo com o relatório fiscal, a imposição de multa isolada de 150%, com base no art. 89, § 10 da Lei nº 8.212/91, ocorreu porque o Recorrente desrespeitou o art. 170A do CTN e promoveu a compensação antes do trânsito em julgado da ação judicial: Fl. 1308DF CARF MF 8 Art. 89. As contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 desta Lei, as contribuições instituídas a título de substituição e as contribuições devidas a terceiros somente poderão ser restituídas ou compensadas nas hipóteses de pagamento ou recolhimento indevido ou maior que o devido, nos termos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009). (...) § 10. Na hipótese de compensação indevida, quando se comprove falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo, o contribuinte estará sujeito à multa isolada aplicada no percentual previsto no caput do art. 44 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, aplicado em dobro, e terá como base de cálculo o valor total do débito indevidamente compensado. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009). Como requisito à imposição da multa isolada de 150%, a fiscalização está obrigada a comprovar a “falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo”. Ora, a falsidade pode ser de duas ordens: material ou intelectual. A falsidade material consiste em viciar fisicamente o suporte documental, cuja força probatória se quer modificar, mediante criação ou alteração do seu conteúdo. Já a falsidade intelectual, também chamada de falsidade ideológica, altera o elemento objetivo do documento, modificando a verdade material das declarações emitidas ou a narração das circunstâncias do fato. Assim, por exemplo, uma escritura pública de compra e venda de bem imóvel: (i) pode ter a sua data da lavratura rasurada (falsidade material) ou (ii) pode atestar intencionalmente, por ato do oficial público, com ou sem conivência das partes, algo que na realidade não aconteceu com as pessoas que intervieram no negócio, no lugar ou no tempo em que foi lavrada ou em que ocorreram os fatos nela certificados (falsidade intelectual). A gravidade da multa do art. 89, §10 é revelada pelo percentual de 150%. Tratase do mesmo percentual de multa passível de lançamento pela fiscalização sobre o valor das contribuições não declaradas e não pagas pelo contribuinte, em casos envolvendo sonegação, fraude ou conluio (art. 35A da Lei nº 8.212/91 c/c art. 44, §1º da Lei nº 9.430/96). Conquanto tais multas possam recair sobre situações aparentemente diferentes – de um lado, a falsidade; de outro, a sonegação, a fraude ou o conluio (elemento objetivo) – ao se interpretar sistematicamente o ordenamento, é possível concluir que ambas penalizam uma conduta dolosa, isto é, uma conduta consciente e intencional do contribuinte (elemento subjetivo). Não é possível, assim, punir com multas tão gravosas o contribuinte que agiu com erro, com engano inconsciente ou com falsa percepção dos fatos. Consequentemente, no caso da penalidade do § 10 do art. 89, a falsidade (afirmação contrária à verdade a fim de induzir a erro) deve advir da atuação intencional (dolosa) do contribuinte que, sabedor da ilegitimidade do crédito, decide mesmo assim promover a compensação, mediante a entrega de declaração ao Fisco. Fl. 1309DF CARF MF Processo nº 14098.720060/201429 Acórdão n.º 2301005.008 S2C3T1 Fl. 1.306 9 A conduta também deve ser antijurídica e culpável, merecendo destacar que o contribuinte teve ter potencial conhecimento da ilicitude e, aos olhos de terceiros, seu comportamento deve estar sujeito a um juízo de reprovação, feito àquele que, podendo se comportar conforme o direito, optou livremente por contrariálo. Vêse, pois, que, para a aplicação de multas tributárias, a conformidade com os ditames do direito penal constitui tarefa elementar, que não pode ser ignorada. Mesmo porque tal conformidade está intimamente relacionada à exigência constitucional de individualização das penas (artigo 5º, inc. XLVI da Constituição Federal). No acórdão nº 9202004.333, de 23/08/2016, sob a relatoria do conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos, a Câmara Superior de Recursos Fiscais parece adotar o entendimento que exige a consciência e a vontade na realização da conduta (grifos nossos): PREVIDENCIÁRIO CUSTEIO AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO PRINCIPAL – COMPENSAÇÃO – REQUISITOS. COMPROVAÇÃO CRÉDITOS LÍQUIDOS E CERTOS – GLOSA DOS VALORES COMPENSADOS INDEVIDAMENTE. CRÉDITOS DE TERCEIROS A compensação levada a efeito pelo contribuinte extingue o crédito tributário, nos termos do artigo 156, inciso II, do CTN, conquanto que observados os requisitos legais inscritos na legislação de regência, a qual impossibilita a utilização de créditos de terceiros para tal fim. Somente as compensações procedidas pela contribuinte com estrita observância da legislação previdenciária, especialmente o artigo 89 da Lei n° 8.212/91, bem como pagamentos e/ou recolhimentos de contribuições efetivamente comprovados, deverão ser considerados pelo fisco quando da lavratura de Notificação Fiscal de Lançamento de DébitosNFLD/Auto de Infração, sendo aplicável a multa no caso de falsidade. O conceito de falsidade não se confunde com o conceito de fraude, sonegação ou conluio. Fraude, sonegação e conluio somente ficam caracterizados quando se comprova procedimento tendente a prejudicar o conhecimento do fato pela autoridade fazendária, alterar as características do fato gerador, inclusive com ajuste doloso entre pessoas. A falsidade, por seu turno, se caracteriza quando se comprova a consciência – por parte do agente – da irregularidade de sua conduta. Hipótese em que restou comprovada a consciência do sujeito passivo da impossibilidade da compensação conforme realizada. Em suma, a imputação da multa isolada de 150% pela fiscalização exige a demonstração tanto do elemento subjetivo (consciência da falsidade e vontade de realizar a compensação com utilização desse subterfúgio) quanto do elemento objetivo (falsidade). Pois bem. As provas carreadas aos autos indicam que o Recorrente teria agido com consciência sobre a ilegitimidade do crédito. Nesse sentido, a sentença proferida em 21/05/2013 na ação judicial intentada, cujo dispositivo é transcrito a seguir (o relatório fiscal fala em acórdão do TRF1, mas se trata de sentença – fls. 90), além de não ter transitado em Fl. 1310DF CARF MF 10 julgado no momento das compensações e ser favorável apenas em parte ao Recorrente (não abarcando a pretendida nãoincidência sobre horas extraordinárias), esclareceu que a compensação somente poderia ser realizada após o respectivo trânsito em julgado, nos termos do art. 170A do CTN (grifos nossos): Ante o exposto, julgo procedente, em parte, o pedido inicial para 1) Declarar a inexistência de relação jurídicotributária que obrigue o autor a incluir, na base de cálculo da contribuição incidente sobre folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados aos seus funcionários (artigo 195, I, a da Constituição Federal e artigo 22, I, da lei 8.212/91) as seguintes parcelas a eles (funcionários) pagas adicional de férias, abono pecuniário resultante da conversão em pecúnia de até um terço do período de férias, quinze primeiros dias de afastamento em razão da concessão do auxíliodoença, incluindo o auxílio doença acidentário. 1.1) Determino, por consequência, que a União se abstenha de exigir do autor contribuições previdenciárias calculadas sobre as bases de cálculo mencionadas. 2) Declarar o direito do autor de compensar, com contribuições da mesma espécie, os valores recolhidos a título de contribuições previdenciárias sobre as bases de cálculo mencionadas no tópico 1 (um) do dispositivo no período de 5 (cinco) anos que antecede a propositura da presente ação, ressalvando à UNIÃO através da Receita Federal do Brasil, o direitodever de proceder à verificação da certeza e liquidez dos créditos a serem compensados e a conferência dos encontros de contas realizados pela parte autora, e, finalmente, em sendo o caso, cobrarlhes diferenças acaso verificadas com os acréscimos legais. 3) Os valores apurados pelo autor, a serem compensados, deverão ser devidamente atualizados, mediante a aplicação da SELIC, ficando a compensação sujeita à condição imposta no artigo 170A do CTN (trânsito em julgado desta sentença) e às limitações impostas pelo art. 89, 3º, da Lei nº 8.212/91. Sem custas de reembolso, ficando compensados os honorários advocatícios em virtude da sucumbência recíproca, de modo que não há condenação a este título. Publiquese. Registrese. Intimemse. Este fato afasta, a meu ver, qualquer alegação de erro de direito ou desconhecimento da proibição legal (e judicial). O Recorrente, portanto, promoveu deliberadamente a compensação com créditos sabidamente “sub judice”, com base em decisão judicial não transitada em julgado na qual constava expressamente a observância dos ditames do art. 170A do CTN. Tal fato ainda é agravado pela falta de comprovação da existência do próprio crédito, isto é, pela ausência de comprovação tanto da inclusão de tais verbas tidas como indenizatórias na folha de salários, quanto do recolhimento da contribuição previdenciária sobre elas, não obstante as intimações fiscais e diligências já na fase de julgamento. Todos esses elementos confirmam, a meu ver, o juízo de reprovação ao comportamento do Recorrente. Por essa razão, mantenho o lançamento da multa de ofício isolada de 150%, realizada com fulcro no art. 89, § 10 da Lei nº 8.212/91. Conclusão Fl. 1311DF CARF MF Processo nº 14098.720060/201429 Acórdão n.º 2301005.008 S2C3T1 Fl. 1.307 11 Por todo o exposto, voto por conhecer e dar provimento parcial ao recurso voluntário interposto pelo Recorrente, a fim de cancelar o agravamento da multa por descumprimento de obrigação acessória, mantendo o valor básico dessa multa de R$ 18.128,43. É como voto. (assinado digitalmente) Fábio Piovesan Bozza – Relator Fl. 1312DF CARF MF
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