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Numero do processo: 16682.902211/2011-58
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 22 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Apr 06 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 1201-000.247
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência.
(assinado digitalmente)
Roberto Caparroz de Almeida Presidente
(assinado digitalmente)
Paulo Cezar Fernandes de Aguiar - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida, Eva Maria Los, Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luiz Paulo Jorge Gomes, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Luis Henrique Marotti Toselli.
Nome do relator: PAULO CEZAR FERNANDES DE AGUIAR
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Roberto Caparroz de Almeida Presidente (assinado digitalmente) Paulo Cezar Fernandes de Aguiar - Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida, Eva Maria Los, Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luiz Paulo Jorge Gomes, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Luis Henrique Marotti Toselli.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 5; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 968; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S1C2T1 Fl. 2 1 1 S1C2T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS PRIMEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 16682.902211/201158 Recurso nº Voluntário Resolução nº 1201000.247 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Data 22 de março de 2017 Assunto DILIGÊNCIA Recorrente LOJAS AMERICANAS S.A. Recorrida FAZENDA NACIONAL Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Roberto Caparroz de Almeida – Presidente (assinado digitalmente) Paulo Cezar Fernandes de Aguiar Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida, Eva Maria Los, Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luiz Paulo Jorge Gomes, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Luis Henrique Marotti Toselli. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 66 82 .9 02 21 1/ 20 11 -5 8 Fl. 251DF CARF MF Processo nº 16682.902211/201158 Resolução nº 1201000.247 S1C2T1 Fl. 3 2 Relatório. Os fatos iniciais do processo estão sintetizados no relatório da decisão de primeira instância(fls. 153 a 162): Tratase de manifestação de inconformidade interposta contra o Despacho Decisório de fls. 22, por meio do qual a autoridade administrativa não reconheceu o direito creditório de RS 1.819.253,06, correspondente ao saldo negativo do Imposto de Renda Pessoa Jurídica do anocalendário de 2005, conforme informado no PER/DCOMP 32106.34808.301209.1.7.026650, sob o fundamento de que o somatório das parcelas de composição do crédito informados no PER/DCOMP, no total de R$ 5.037.288;59 foram confirmadas R$ 897.417,78, portanto inferior ao imposto devido de R$ 3.218.035,53. Irresignada, a contribuinte apresentou a manifestação de inconformidade, fls. 29/46, alegando, em síntese: • Que ocorreu mera divergência de informações prestadas pela Manifestante no preenchimento do PER/DCOMP inicial, caracterizando simples erro material; • Que a Manifestante incorreu em equívoco ao detalhar as informações constantes na ficha "créditos"; • Que a Manifestante informou incorretamente o número do CNPJ da fonte pagadora (BancoSafra) que realizou a retenção de R$ 921.835,28. O CNPJ correto é 07.002.898/000186 e não 58.160.789/000128; • Que as estimativas de março (R$ 876.671,92) e dezembro (R$ 2.341.363,62) foram compensadas com os créditos exarados nos PER/DCOMPs 40158.34779.250907.1.7.570007 e 09149.69588.080507.1.7.573708, respectivamente; • Que está perfeitamente demonstrada a composição do crédito do Saldo Negativo de IRPJ/2005, lastreado no IRRF e nas compensações realizadas nos meses de março e dezembro de 2005. A manifestação de inconformidade foi considerada procedente em parte, reconhecendose o crédito de R$ 897.417,78. Tal decisão está assim ementada: RETENÇÃO. UTILIZAÇÃO. COMPROVAÇÃO. REQUISITO. A pessoa jurídica tributada com base no lucro real somente poderá compensar o imposto devido, naapuração do período, com os valores retidos na fonte, se possuir o comprovante de retenção do imposto emitido pela fonte pagadora em seu nome, ou outros elementos de provas hábeis a demonstrar que sofreu o ônus da retenção. SALDO NEGATIVO DE IRPJ. ESTIMATIVAS OBJETO DE COMPENSAÇÕES NÃO HOMOLOGADAS. Na hipótese de compensação de estimativa não homologada, o débito será cobrado com base na própria DCOMP, instrumento de confissão Fl. 252DF CARF MF Processo nº 16682.902211/201158 Resolução nº 1201000.247 S1C2T1 Fl. 4 3 de dívida. Por conseguinte, não cabe a glosa dessas estimativas na apuração do IRPJ a pagar ou do saldo negativo apurado na DIPJ. Em Recurso Voluntário (fls. 189 a 214), a contribuinte reiterou o contido na manifestação de inconformidade e alegou ainda, em síntese: o fato de a retenção efetuada pelo Banco Safra não constar nos bancos de dados da Receita Federal do Brasil não pode afetar o direito à dedução da retenção sofrida pela Recorrente, já que comprovada documentalmente; a falta de declaração da retenção pela fonte pagadora não transfere a responsabilidade para a Recorrente, a decisão recorrida é contraditória uma vez que desconsidera o documento legítimo apresentado pela Recorrente para comprovar a retenção não tendo intimado nem a Recorrente nem o Banco responsável pela retenção, faz constar da ementa: "A pessoa jurídica tributada com base no lucro real somente poderá compensar o imposto devido, na apuração do período, com os valores retidos na fonte, se possuir o comprovante de retenção do imposto emitido pela fonte pagadora em seu nome, ou outros elementos de provas hábeis a demonstrar que sofreu o ônus da retenção"; o Informe de Rendimentos emitido pelo Banco Safra satisfaz as exigências da IN SRF 268/2002, vigente ao tempo em que foi emitido, trazendo todas as informações necessárias à fiscalização da operação; esse documento é hábil e suficiente a comprovar a retenção do Imposto de Renda, nos termos do artigo 815 do RIR/99 e do artigo 13, § 3°, da Lei n° 4.154/1962; ocorreu cerceamento do direito de defesa ao não se dar à Recorrente a oportunidade de comprovar a legitimidade de seu crédito e também por não se intimar o Banco Safra para comprovar a retenção; se o entendimento for no sentido de que o Informe de Rendimentos apresentado, juntamente com os livros contábeis, não são suficientes para a comprovação da retenção utilizada para compor o saldo negativo do IRPJ, a decisão deve então ser anulada ou, ao menos, deve ser determinada diligência para apuração de outras informações, inclusive junto ao responsável tributário pelo IRRF; ao se exigir da Recorrente a comprovação do efetivo recolhimento da retenção, para fins de apuração do saldo negativo do IRPJ, estáse transferindo a atividade de fiscalização ao particular, o que viola os artigos 3º e 7º do CTN; o Fisco não pode indagar acerca do recolhimento do tributo quando o contribuinte possui o documento de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora; no caso de Imposto de Renda incidente sobre rendimentos de aplicações financeiras, foi feita imposição à fonte pagadora quanto à responsabilidade tributária pela retenção e seu pagamento, conforme artigo 65, §8°, da Lei n° 8.981/1995 e artigos 732 e 733 do RIR/99, em conformidade, ainda, com o Parecer Normativo n° 1, de 24 de setembro de 2002; Fl. 253DF CARF MF Processo nº 16682.902211/201158 Resolução nº 1201000.247 S1C2T1 Fl. 5 4 a glosa do imposto retido da composição do saldo negativo do IRPJ, anula o direito creditório, uma vez retido pela fonte pagadora dos rendimentos, o que enseja o enriquecimento sem causa do Erário. Ao final, requer a Recorrente o reconhecimento do direito creditório com a homologação total das Dcomps ou, caso assim não se entenda, a anulação do despacho decisório e da decisão de primeira instância administrativa ou, ao menos, a realização de diligência para apuração de outras informações, inclusive junto ao responsável pela retenção (BancoSafra). É o relatório. Voto Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Relator. O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, dele devendose conhecer. Por meio do Despacho Decisório emitido de forma eletrônica (fls. 22 a 26) não foi reconhecido nenhum direito creditório da Recorrente e, consequentemente, nenhuma Dcomp foi homologada. Como pode ser visto nesse despacho, não foram confirmadas as compensações das estimativas dos meses de março e dezembro, no valor total de R$ 3.218.035,53, como também o valor de R$ 921.835,28 referente ao IRRF, todos do anocalendário 2005. Quanto ao IRRF, alegou a Recorrente que informou incorretamente na Dcomp o número do CNPJ da fonte pagadora (Banco Safra) que realizou a retenção, sendo que o número correto é 07.002.898/000186 e não 58.160.789/000128. Na decisão de primeira instância (fls. 153 a 162), foi dado provimento parcial à manifestação de inconformidade, reconhecendose as estimativas compensadas mas não o IRRF, o que gerou um saldo negativo de IRPJ de R$ 897.417,78. No Recurso Voluntário (fls. 189 a 214), é alegado que o fato de o registro da retenção não constar nos bancos de dados da Receita Federal não é motivo para o não reconhecimento do crédito e que o Informe de Rendimentos anexo é documento hábil para comprovar a retenção do imposto. Conforme consta na "Análise das Parcelas de Crédito" do Despacho Decisório (fls. 23 e24), não foi confirmada a retenção de R$ 921.835,28 referente ao IRRF retido pela fonte pagadora cujo CNPJ indicado foi o n° 58.160.789/000128. Todavia, como informa a Recorrente na manifestação de inconformidade, a fonte pagadora que reteve esse valor tem outro número no CNPJ: 07.002.898/000186. Na decisão de primeira instância, consta a pesquisa efetuada no sistema DIRF, cujo resultado foi negativo quanto a essa retenção. Notase ali (fl. 158) que a pesquisa foi efetuada via CNPJ da declarante, não sendo encontrado registro de que a recorrente fosse beneficiária dela. Fl. 254DF CARF MF Processo nº 16682.902211/201158 Resolução nº 1201000.247 S1C2T1 Fl. 6 5 No documento anexado à fl. 118 (Informe de Rendimentos), verificase a indicação desse número de inscrição no CNPJ (07.002.898/000186) como o da fonte pagadora. Consta ali também, que os rendimentos são relativos a fundos de investimento. Ocorre que, nesses casos (fundos de investimento), a DIRF não indica o investidor como benefíciário da fonte pagadora, mas do fundo de investimentos cujo CNPJ é diverso do da fonte pagadora. Em face disso e tendose em vista toda a documentação apresentada, deve ser efetuada pesquisa no sistema DIRF da Receita Federal, de modo a se confirmar a alegação de que a retenção foi efetuada. Conclusão. Tendose em vista o exposto, voto no sentido de converter o presente julgamento em diligência, para que a unidade competente da Receita Federal do Brasil proceda ao exame relativo à retenção do IRRF, no anocalendário 2005. A pesquisa deve ser orientada no sentido da verificação via CNPJ da recorrente (33.014.556/000196), observandose, ainda, que esta é beneficiária de fundo/clube, conforme aba própria do sistema DIRF. As conclusões deverão constar de relatório do qual se dará ciência à Recorrente para que, querendo, se manifeste, no prazo de trinta dias. Decorrido esse prazo, manifestandose ou não a Recorrente, os autos devem retornar para fins de julgamento. (assinadodigitalmente) Paulo Cezar Fernandes de Aguiar Fl. 255DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.910118/2010-00
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jan 26 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Apr 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Ano-calendário: 2005
SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE.
Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal.
SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES.
A instalação de elevadores subsume-se ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços.
Recurso Voluntário Provido.
Numero da decisão: 3201-002.492
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário. O Conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira votou pelas conclusões. Vencidos os Conselheiros José Luiz Feistauer de Oliveira, que votou por serem as operações da Recorrente enquadradas no regime de apuração cumulativa e o Conselheiro Winderley Morais Pereira, que votou por não ser possível a discussão administrativa no CARF de matéria com solução de consulta exarada pela Receita Federal, cuja consulente seja a própria Recorrente.
(assinado com certificado digital)
Winderley Morais Pereira - Presidente Substituto e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente Substituto), Mércia Helena Trajano D'Amorim; Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, José Luiz Feistauer de Oliveira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário e Cássio Schappo.
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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ementa_s : Assunto: Normas de Administração Tributária Ano-calendário: 2005 SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores subsume-se ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. Recurso Voluntário Provido.
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decisao_txt : Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário. O Conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira votou pelas conclusões. Vencidos os Conselheiros José Luiz Feistauer de Oliveira, que votou por serem as operações da Recorrente enquadradas no regime de apuração cumulativa e o Conselheiro Winderley Morais Pereira, que votou por não ser possível a discussão administrativa no CARF de matéria com solução de consulta exarada pela Receita Federal, cuja consulente seja a própria Recorrente. (assinado com certificado digital) Winderley Morais Pereira - Presidente Substituto e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente Substituto), Mércia Helena Trajano D'Amorim; Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, José Luiz Feistauer de Oliveira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário e Cássio Schappo.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 10; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1767; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3C2T1 Fl. 2 1 1 S3C2T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 11080.910118/201000 Recurso nº 1 Voluntário Acórdão nº 3201000.492 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 26 de janeiro de 2017 Matéria COMPENSAÇÃO Recorrente THYSSENKRUPP ELEVADORES SA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Anocalendário: 2005 SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores subsumese ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. Recurso Voluntário Provido. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário. O Conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira votou pelas conclusões. Vencidos os Conselheiros José Luiz Feistauer de Oliveira, que votou por serem as operações da Recorrente enquadradas no regime de apuração cumulativa e o Conselheiro Winderley Morais Pereira, que votou por não ser possível a discussão administrativa no CARF de matéria com solução de consulta exarada pela Receita Federal, cuja consulente seja a própria Recorrente. (assinado com certificado digital) Winderley Morais Pereira Presidente Substituto e Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 91 01 18 /2 01 0- 00 Fl. 372DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente Substituto), Mércia Helena Trajano D'Amorim; Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, José Luiz Feistauer de Oliveira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário e Cássio Schappo. Relatório Tratase de Recurso Voluntário apresentado pelo Contribuinte em face do acórdão nº 09054.956, proferido pela 2ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Juiz de Fora (MG), em apreciação de DCOMP eletrônica transmitida com objetivo de compensar débitos nela apontados com créditos oriundos de pagamento indevido. Por economia processual, utilizarseá o relatório da autoridade recorrida no que interessa ao exame dos autos em apreço: "A matéria foi objeto de decisão proferida por intermédio do Despacho Decisório, no qual a Delegacia de origem, com base em informação fiscal resultante de diligência do Serviço de Fiscalização para apuração do direito creditório referente à DCOMP acima identificada, onde ficou constatada a improcedência do crédito original nela informado, revisou de ofício o reconhecimento do direito creditório automático para não reconhecimento do direito creditório por inexistência do crédito e também de ofício revisou a homologação total da compensação efetuada através da mencionada declaração para compensação não homologada. A autoridade fiscal que proferiu a referida informação tomou por base a Solução de Consulta 446 SRRF/8ª RF/Disit, de 18/08/2007, uma vez que a Solução de Consulta 104 SRRF/10ª RF/Disit, de 18/08/2008, foi anulada pelo Parecer 52 SRRF10/Disit, de 13/09/2011, sob o seguinte argumento: É vedada a coexistência de duas soluções de consulta vigentes e eficazes sobre o mesmo fato, relativas a um mesmo sujeito passivo(...). Por sua vez, a Solução de Consulta vigente tem a seguinte ementa para o PIS: ELEVADORES. NÃOCUMULATIVIDADE. A instalação de elevador por seu produtor não caracteriza obra de construção civil, descabendo a aplicação do art. 10, XX, da Lei nº 10.833, de 2003. Caracterizase como operação de industrialização, na modalidade montagem, a reunião de partes, peças e componentes da qual resulte elevador, inclusive quando realizada fora do estabelecimento do executor, no próprio prédio onde esse equipamento será utilizado. Sofre incidência da contribuição para o PIS/Pasep em regime de apuração nãocumulativo o total das receitas decorrentes do fornecimento de elevador por seu produtor, o qual se conclui ao final do processo de montagem. Para a Cofins foi proferida ementa com igual teor. Fl. 373DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 3 Regularmente cientificada da não homologação, a contribuinte protocolou suas razões de defesa alegando, em resumo, que: (...) Como ficará exaustivamente demonstrado ao longo da presente manifestação de inconformidade, o direito creditório da REQUERENTE decorre do pagamento indevido do PIS/COFINS na modalidade nãocumulativa. A atividade de instalação de elevadores realizada REQUERENTE tem a natureza de obra de construção civil, o que já foi declarado pelo Poder Judiciário no passado, e as receitas decorrentes da mesma estão sujeitas ao PIS/COFINS na modalidade cumulativa, nos termos do inciso XX do artigo 10 da Lei n° 10.833/03, que se aplica às duas contribuições (cfr. inciso V do artigo 15). Qualquer pagamento realizado a outro título reputase indevido e, portanto, é passível de compensação nos termos do artigo 74 da Lei n° 9.430/96. (...) O direito creditório da REQUERENTE decorre (i) da natureza do serviço prestado (obra de construção civil), o que se verifica pela aplicação da legislação do PIS/COFINS combinada com a legislação do IPI; (ii) da sujeição das receitas decorrentes dessa atividade à sistemática cumulativa do PIS/COFINS; e (iii) do pagamento indevido do PIS/COFINS na modalidade não cumulativa. O Despacho Decisório, para não reconhecer o direito creditório em discussão, recorre à primeira consulta fiscal formulada pela REQUERENTE (Consulta SSRF08/Disit n° 446/2007) e invoca o conceito de industrialização presente na legislação do IPI para concluir que o serviço de instalação não tem a natureza de serviço de construção civil. Data máxima vênia, o Despacho Decisório não merece prosperar: · em preliminar, porque afronta e contradiz decisão judicial transitada em julgado na Ação Ordinária n° 88.00.03357 1, movida pela REQUERENTE, a qual declarou que o IPI não incide sobre o preço dos serviços decorrentes da realização de obras de instalação de elevadores, haja visto que tais serviços não consubstanciam operação de industrialização, na modalidade montagem, mas sim obra de construção civil; · no mérito, porque: (i) as atividades de instalação de elevadores não se caracterizam como operação de industrialização, na modalidade de montagem, mas sim como obra de construção civil; (ii) a legislação do PIS/COFINS é silente quanto à definição do que se deva compreender por "obras de construção civil"; (iii) o Código Civil considera bem imóvel tudo quanto se incorporar ao solo, natural ou artificialmente; (iv) a Instrução Normativa RFB N n° 971/093, "considera (... ) obra de construção civil, a construção, a demolição, a reforma, a ampliação de edificação ou qualquer outra benfeitoria agregada ao solo ou ao subsolo"; (v) os elevadores fabricados e instalados pela REQUERENTE são incorporados às edificações, o que caracteriza o serviço de instalação como uma verdadeira obra de construção civil; (vi) a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito Fl. 374DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 4 privado, a teor do disposto pelos artigos 109 e 110 do Código Tributário Nacional. (...) O Despacho Decisório, ao não reconhecer o crédito compensado pela REQUERENTE e deixar de homologar a compensação declarada, com base nos mesmos fundamentos da Solução de Consulta SRRF08/DISIT n° 446/2007 (os serviços prestados pela REQUERENTE decorrentes da realização de obras de instalação de elevadores consistiriam em suposta industrialização, na modalidade montagem), vai de encontro à coisa julgada, devendo, por isso, ser reformado. Como há declaração judicial no sentido de que os serviços prestados pela REQUERENTE — de instalação de elevadores não consubstanciam operação de industrialização, na modalidade montagem, mas sim obra de construção civil, obviamente que a Administração Tributária Federal deve respeitar o julgado, interpretando a legislação de regência nos termos da decisão passada em julgado, levando em consideração o seu conteúdo. (...) Ao assim proceder, interpretando o conceito de industrialização (montagem) da legislação de IPI de forma diametralmente oposta àquela que lhe foi conferida pela decisão passada em julgado, a União Federal, por meio de seus agentes, adota comportamento nitidamente contraditório e incompatível com interpretação da legislação tributária. (...) Nesse passo, cumpre destacar que o "principio da moralidade obriga que a Administração Pública, no desempenho das atividades por meio de seus agentes, atue de forma ética", sob pena de ser considerado ilegítimo o ato administrativo que deixa de observar tal mandamento. O E. Supremo Tribunal Federal, a propósito, em diversas oportunidades confirmou que a Administração Pública está subordinada ao Princípio da Moralidade, como se pode verificar, exemplificativamente, do acórdão que segue (...) Assim sendo, independentemente da anulação da Solução de Consulta SRRF10/DISIT n° 104/2008, que se deu por questões formais, o reconhecimento do direito creditório da REQUERENTE e a homologação da compensação declarada decorrem da interpretação do inciso XX do artigo 10 da Lei n° 10.833/2003, que tem de ser harmoniosa com o que decidiu o Poder Judiciário nos autos Ação Ordinária n° 88.00.033571/RS, transitada em julgado desde 08/05/1997. (...)" Após exame da Manifestação de Inconformidade apresentada pelo Contribuinte, a DRJ proferiu acórdão assim ementado: COMPENSAÇÃO. Fl. 375DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 5 A compensação pressupõe a existência de direito creditório líquido e certo. NULIDADE. Não procedem as arguições de nulidade quando não se vislumbra no despacho decisório qualquer das hipóteses previstas no art. 59 do Decreto nº 70.235/72. COISA JULGADA. A decisão judicial transitada em julgado é, na verdade, a lei aplicada ao caso concreto e, tratandose de exclusão do crédito tributário, deve ser interpretada literalmente. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Inconformado, o Contribuinte apresentou Recurso Voluntário a este CARF, reiterando a existência do direito creditório postulado. É o relatório. Voto Winderley Morais Pereira, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3201002.448, de 26 de janeiro de 2017, proferido no julgamento do processo 11080.729874/201349, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Ressaltese que a decisão do paradigma foi contrária ao meu entendimento pessoal. Todavia, como fui vencido na votação, ao presente processo deve ser aplicada a posição vencedora, conforme consta da ata da sessão do julgamento. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão, (Acórdão 3201002.448): "O Recurso é próprio e tempestivo e dele tomo conhecimento. (...) A princípio, temse que o cerne da questão é definir qual a natureza da atividade exercida pela Recorrente (instalação de elevadores): se construção civil ou se industrialização. Tal definição determinará se a Recorrente deveria, à época dos fatos geradores, apurar o recolhimento do PIS e da COFINS pelo regime não cumulativo ou pelo cumulativo. Fl. 376DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 6 Há peculiar situação no feito, consistente no fato de que a Recorrente teria apresentado duas Consultas Fiscais acerca do tratamento tributário mais adequado, obtendo Soluções conflitantes. Na primeira delas, Solução de Consulta nº 446/2007, da 8ª Região Fiscal, concluiuse que se tratava de industrialização e que, portanto, as receitas estariam sujeitas ao regime não cumulativo das citadas contribuições. A segunda, Solução de Consulta nº 104/2008, da 10ª Região Fiscal, afirmou que as receitas estariam sob o regime cumulativo. No caso, o crédito postulado pela Recorrente origina da aplicação do segundo entendimento. Os créditos postulados, portando, decorrem da reapuração do PIS e da COFINS outrora calculados pelo regime não cumulativo e reajustados para o cumulativo. Idêntica questão já foi examinada por esta mesma Turma na sessão de 24 de fevereiro de 2016, em decisão por maioria proferida nos autos do Processo nº 11080.726628/201335, da mesma THYSSENKRUPP ELEVADORES S/A, no qual a Conselheira Doutora Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo foi designada Relatora para o Voto Vencedor. O referido Acórdão nº 3201002.070 recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/06/2008 a 31/12/2009 SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores subsumese ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. No lançamento de ofício, o valor originário do crédito tributário compreende o valor do tributo e da multa por lançamento de ofício. Sobre a multa por lançamento de oficio não paga no vencimento incidem juros de mora. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/06/2008 a 31/12/2009 SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Fl. 377DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 7 Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores subsumese ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. No lançamento de ofício, o valor originário do crédito tributário compreende o valor do tributo e da multa por lançamento de ofício. Sobre a multa por lançamento de oficio não paga no vencimento incidem juros de mora. Recurso Voluntário Provido e Recurso de Ofício Negado Vistos,relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício e por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Vencido o Conselheiro Winderley Morais Pereira, relator. Designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo. Como consta em ata, o voto da i. Conselheira Doutora Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo foi por mim acompanhado integralmente. Por essa razão, peço vênia para transcrevêlo como fundamento do presente julgado: Como se depreende do voto do eminente relator, o mérito da presente demanda não foi conhecido, por se entender que havia solução de consulta, proferida para a situação específica dos autos e proposta pela própria Recorrente. Com efeito, no mérito a Recorrente alega que o regime jurídico de apuração das contribuições sociais, tome a sua atividades de instalação de elevadores como prestação de serviços de construção civil, o que determinaria a aplicação do regime cumulativo. A Recorrente obteve a solução de consulta SRRF/8ªRF/DISIT nº 446, de 18/09/2007, que ao analisar as atividades realizadas pela Recorrente de instalação de elevadores, decidiu não ser atividade de construção civil e portanto, estariam sujeita a apuração do PIS e da COFINS no regime não cumulativo. Não obstante, a Recorrente protocolou nova consulta, na Superintendência da Receita Federal do Brasil na 10ª Região Fiscal (Solução de Consulta SRRF/10ªRF/DISIT nº 104, de 18 de agosto de 2008), que considerou a atividade da Recorrente como prestação de serviços de construção civil e portanto, enquadrada nas disposições do art. 10, XX, da Lei nº 10.833/2003, determinando a apuração do PIS e da COFINS no regime cumulativo.(fls. 391 a 397). Fl. 378DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 8 O entendimento do eminente Conselheiro Winderley Morais Pereira foi no sentido de que, em sendo a solução de consulta instrumento de garantia do contribuinte para esclarecimentos quanto a aplicação da legislação, a possibilidade de consultas do mesmo contribuinte tratando da mesma matéria serem protocoladas em unidades diversas da RFB, poderia mitigar a força normativa das consultas. Por essa razão, a decisão anterior não produziria efeito, nos termos do art. 54, IV do Decreto nº 70.235/72. Contudo, a questão que se põe e da qual se diverge do ilustre relator, é precisamente sobre a possibilidade de a decisão proferida no âmbito do contencioso administrativo fiscal, se sobrepor a decisão em solução de consulta, para o mesmo contribuinte. Ora, embora pelo processo de consulta possa se entender que o contribuinte recorra à Administração para buscar a correta exegese de determinada norma jurídica, verificase o que se busca, invariavelmente, é uma medida protetiva, de cunho preventivo, para a estruturação tributária de suas operações. O fato é que no âmbito do processo de consulta, o contribuinte não comparece na condição de mero consulente, até mesmo porque, já traz em seu pedido o posicionamento que entende cabível, com a respectiva fundamentação legal, o que aliás, é condição para o processamento de sua consulta, de acordo com a legislação em vigor, sob pena de sua ineficácia. Embora o procedimento de consulta não se equipare lógica e juridicamente ao processo administrativo fiscal, o fato é que este também possui conteúdo persuasivo, buscandose convencimento da Administração, acerca de determinada interpretação. E se assim for o caso, a solução em consulta conferelhe medida protetiva, um verdadeiro escudo contra eventuais futuros entendimentos administrativos contrários. Por essa razão, apenas a solução de consulta favorável ao contribuinte tem repercussões no contencioso administrativo fiscal, no sentido de coibir o lançamento. Observese que, nessa toada, dispõe o art. 100 do Decreto n. 7574/2011: Art.100. Se, após a resposta à consulta, a administração alterar o entendimento expresso na respectiva solução, a nova orientação atingirá apenas os fatos geradores que ocorrerem após ser dada ciência ao consulente ou após a sua publicação na imprensa oficial (Lei no 9.430, de 1996, art. 48, § 12). Parágrafo único. Na hipótese de alteração de entendimento expresso em solução de consulta, a nova orientação alcança apenas os fatos geradores que ocorrerem após a sua publicação na Imprensa Oficial ou após a ciência do consulente, exceto se a nova orientação lhe for mais favorável, caso em que esta atingirá, também, o período abrangido pela solução anteriormente dada. Acresçase, por fim, que as decisões proferidas em procedimentos de consulta e no processo administrativo fiscal são lógica e juridicamente distintas, de sorte que não se verifica quaisquer relações de hierarquia entre elas. Fl. 379DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 9 Superadas a questão, partese para o conhecimento do mérito da lide. A atividade de instalação de elevadores deve ser caracterizada como serviço, e não como atividade de industrialização, frisandose que, na hipótese dos autos, a Recorrente aparta a atividade de fabricação dos elevadores, da de sua instalação. Além de todas os fundamentos jurídicos trazidos pela Recorrente, como o fato de que a instalação de elevadores sob encomenda ser complemento da obra de construção civil, esta, indubitavelmente subsumida ao conceito de serviço, por se agregarem ao solo, dentre outras, temse que, para efeitos da legislação federal, que passou a tributar os serviços pelas contribuições sociais, bem como instituir o instrumental necessário para o controle do comércio exterior de serviços, com a edição da Nomenclatura Brasileira de Serviços, Decreto n. 7708/2011, não há mais dúvidas quanto ao enquadramento. Destarte, de acordo com o art. 2o do decreto, a NBS será adotada como nomenclatura única na classificação das transações com serviços, intangíveis e outras operações que produzam variações no patrimônio das pessoas físicas, pessoas jurídicas e entes despersonalizados. Os serviços de instalação de elevadores estão assim dispostos: SEÇÃO ISERVIÇOS DE CONSTRUÇÃO Capítulo 1Serviços de construção 1.0131Outros serviços de instalação 1.0131.10.00Serviços de instalação de elevadores, esteiras e escadas rolantes O direito positivo brasileiro não traz um conceito conotativo de "serviço' nem mesmo para efeitos de incidência do ISSQN, operando sempre com definições denotativas, ou seja, com listas que arrolam o que são considerados os "serviços" para efeitos de tributação. Portanto, não se questiona a validade, vigência e eficácia da Nomenclatura Brasileira de Serviços, para esse fim. Não se olvide, finalmente, que os decretos são de aplicação obrigatória para o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, de maneira que considerada a atividade em questão como serviço, deve ser a aplicação do regime cumulativo das contribuições sociais. Por essas razões, entendo que há de ser dado provimento ao recurso voluntário.Com efeito, não vislumbro a possibilidade de uma Solução de Consulta expedida pela Receita Federal do Brasil vincular, ad eternum, uma exigência tributária que se mostre claramente ilegítima. Não se trata aqui de discutir se o contribuinte poderia ou não ter formulado uma segunda Consulta Fiscal, ou mesmo qual das respostas deveria prevalecer. Tratase aqui de reconhecer a legalidade ou ilegalidade de uma exigência tributária, ou, melhor dizendo, de definição acerca do alcance de uma norma tributária. Mesmo se admitisse que, de acordo com as normas procedimentais, a segunda Solução de Consulta deveria ser tida por inexistente, tal Fl. 380DF CARF MF Processo nº 11080.910118/201000 Acórdão n.º 3201000.492 S3C2T1 Fl. 0 10 constatação, por óbvio, não chancela a legitimidade da primeira Solução de Consulta. Afinal, este não é o meio adequado para se definir fato gerador de obrigação tributária. E, nesse sentido, trago o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça que reconhece o serviço de instalação e montagem de elevadores como obra de engenharia, e não como industrialização (portanto, atraindo a incidência do regime cumulativo do PIS e da COFINS à época dos fatos geradores): TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE ELEVADORES. IPI. NÃO INCIDÊNCIA. 1. A atividade de fornecimento de elevadores, que envolve a produção sob encomenda e a instalação no edifício, encerra, precipuamente, uma obra de engenharia que complementa o serviço de construção civil, não se enquadrando no conceito de montagem industrial, para fins de incidência do IPI. 2. Recurso especial provido. (REsp 1231669/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/11/2013, DJe 16/05/2014) Diante do exposto, voto por CONHECER e DAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário do Contribuinte, exonerando o crédito tributário lançado." Apenas uma observação, que em nada afeta o resultado do julgamento do presente processo: não há que se falar em exonerar o crédito tributário lançado, uma vez que tanto o processo paradigma quanto o presente tratam de PER/DCOMP. Assim, a consequência do provimento ao recurso é o reconhecimento do direito creditório postulado pela Contribuinte, com a homologação da compensação declarada. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, dou provimento ao recurso voluntário. assinado digitalmente Winderley Morais Pereira Fl. 381DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11618.004968/2007-58
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Dec 13 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Feb 13 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/03/2002 a 30/12/2002
APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVETIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009.
Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta.
O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.
Numero da decisão: 9202-005.077
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em dar-lhe provimento. Votou pelas conclusões a Conselheira Patrícia da Silva.
(Assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício
(Assinado digitalmente)
Ana Paula Fernandes Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra.
Nome do relator: ANA PAULA FERNANDES
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/03/2002 a 30/12/2002 APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVETIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.
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PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVETIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em darlhe provimento. Votou pelas conclusões a Conselheira Patrícia da Silva. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 61 8. 00 49 68 /2 00 7- 58 Fl. 178DF CARF MF 2 (Assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos – Presidente em exercício (Assinado digitalmente) Ana Paula Fernandes – Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra. Relatório O presente Recurso Especial trata de pedido de análise de divergência motivado pela Fazenda Nacional face ao acórdão 2402001.429, proferido pela 3ª Turma Ordinária / 4ª Câmara / 2ª Seção de Julgamento. Tratase de Auto de Infração nº 37.115.6564, no valor originário de R$ 800,00 (oitocentos reais). A autuação, segundo o relatório fiscal, às fls.15/16, corresponde ao descumprimento por parte da empresa da obrigação acessória prevista no art. 32, IV, parágrafos 3º e 5°, da Lei 8.212/91 combinado com o art. 225, IV e § 40, do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto 3.048/99, o qual corresponde à apresentação de GFIP com omissão da remuneração de segurados contribuintes individuais (Venancio Neto, José Herbert e Robério Leite) nas competências 03/2002 a 05/2002 e 11/2002 e 12/2002. Ainda segundo o relatório fiscal, não foram constatadas circunstancias agravantes, tendo sido a multa aplicada no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais). O Contribuinte apresentou impugnação, às fls. 60/63, alegando em síntese: preliminarmente, a decadência do período 03/2002 a 05/2002; que não houve omissão de fatos geradores em GFIP; por fim, requereu a improcedência do presente Auto de Infração, bem como a baixa dos créditos constituídos indevidamente com base no art. 291 do Regulamento da Previdência Social. A 6° Turma da DRJ/RecifePE proferiu acórdão (n° 1121.747), nos seguintes termos: ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Período de apuração: 01/03/2002 a 31/12/2002 PREVIDENCIARIO. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. GFIP. A empresa é obrigada a declarar na Guia de Recolhimento ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações Previdência Social GFIP a totalidade dos fatos geradores de contribuições sociais ocorridos. MULTA. RELEVAÇÃO. REQUISITOS. Fl. 179DF CARF MF Processo nº 11618.004968/200758 Acórdão n.º 9202005.077 CSRFT2 Fl. 10 3 A multa será relevada para infratores primários quando ocorrer correção da falta e pedido de relevação até a expiração do prazo para impugnação, desde que não tenham ocorrido circunstâncias agravantes. ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTARIA Período de apuração: 01/03/2002 a 31/12/2002 DECADÊNCIA Em regra, o direito da Seguridade Social de apurar e constituir os seus créditos extinguese em dez anos contados do primeiro dia do exercício seguinte aquele em que o crédito poderia ter sido constituído. Lançamento Procedente. O Contribuinte interpôs recurso voluntário às fls.116 a 118, utilizandose praticamente dos mesmos argumentos apresentados na impugnação, reforçando a ideia de que os registros da Recorrente não podem ser arranhados por supostas alegações de falta, reiterando ainda o pedido de justa aplicabilidade da multa. Por fim, requereu, no que tange ao registro da aplicação da multa, que fosse afastada a possibilidade de inclusão no cadastro de condutas que maculem a idoneidade da pessoa jurídica. A 3ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento, às fls. 125/135, DEU PARCIAL PROVIMENTO ao Recurso Ordinário. A ementa do acórdão recorrido assim dispôs: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIARTAS Período de apuração: 01/03/2002 a 31/12/2002 PRELIMINARMENTE. DECADÊNCIA QUINQUENAL. SÚMULA VINCULANTE N 8. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PREVIDENCIARIA. TRIBUTO SUJEITO AO LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. APLICAÇÃO. ART.150, § 4°. CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. O STF, em julgamento proferido em 12 de junho de 2008. declarou a inconstitucionalidade do art. 45 da Lei n ° 8.212/1991. Após, editou a Súmula Vinculante n° 8, publicada em 20.06.2008, nos seguintes termos: "São inconstitucionais os parágrafo único do artigo 5° do Decretolei 1569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário". Nos termos do art. 103A da Constituição Federal, as Sumulas Vinculantes aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terão efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e A administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Tratandose de contribuição social previdenciária, tributo sujeito ao lançamento por homologação, aplicase a decadência do art. 150, § 4° do Código Tributário Nacional. Fl. 180DF CARF MF 4 REGIMENTO INTERNO DO CARF. ART.62A. VINCULAÇÃO À DECISÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RESP N 973.733/SC. TRIBUTO SUJEITO AO LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. OBRIGATORIEDADE DE RECOLHIMENTO. INEXISTÊNCIA. APLICAÇÃO DO ART.173, 1, CTN. Considerando a exigência prevista no Regimento Interno do CARF no art.62 A, esse Conselho deve reproduzir as decisões do Superior Tribunal de Justiça proferidas em conformidade com o art. 543C do Código de Processo Civil. No caso de decadência de tributo sujeito ao lançamento por homologação, o RESP n 973.733/SC decidiu que o art.150,§ 4° do Código Tributário Nacional só será aplicado quando for constada a ocorrência de recolhimento, caso contrário, será aplicado o art.173, I, do Código Tributário Nacional. AUTO DE INFRAÇÃO. DESCUMPRIMENTO. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. GFIP'S. INFORMAÇÕES DE DADOS NÃO RELACIONADOS AOS FATOS GERADORES. Caso a empresa apresente informações que contenham informações não relacionadas a fatos geradores, será lavrado Auto de Infração por esse descumprimento de obrigação acessória de informar corretamente ao fisco. Recurso Voluntário Provido em Parte. Às fls. 137/150, a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial, alegando divergência jurisprudencial sobre a decisão recorrida no tocante à decadência do crédito lançado para as competências no período entre 03/2002 e 05/2002, inclusive, com base nos critérios estabelecidos no art.150, § 4º, CTN, e, ainda, sobre a multa de acordo com a redação 32 A da Lei nº 8.212/91, com a redação dada pela Lei n 11.941/2009, prevalecendo a mais benéfica ao contribuinte. Às fls. fls. 153/156, a 4ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento realizou o Exame de Admissibilidade do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, DANDO SEGUIMENTO ao recurso em relação às duas matérias arguidas, tanto no que concerne à decadência do auto de infração, cujos paradigmas entendem no sentido de que o marco inicial da decadência deveria ser a ocorrência do fato gerador, quanto à divergência sobre o auto de infração por descumprimento de obrigação acessória, tendo o acórdão paradigma consignado que o dispositivo legal aplicado passou a ser o art. 35A da Lei 8.212/91, que remete ao art. 44, I da Lei 9.430/96, e não o art. 32A da Lei 8.212/91, conforme entendeu a Câmara a quo. Às 160/163, o Contribuinte apresentou contrarrazões, vindo os autos conclusos para julgamento. É o relatório. Voto Conselheira Ana Paula Fernandes Relatora O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto, merecem ser conhecido. Fl. 181DF CARF MF Processo nº 11618.004968/200758 Acórdão n.º 9202005.077 CSRFT2 Fl. 11 5 Tratase de Auto de Infração nº 37.115.6564, no valor originário de R$ 800,00 (oitocentos reais). A autuação, segundo o relatório fiscal, às fls.15/16, corresponde ao descumprimento por parte da empresa da obrigação acessória prevista no art. 32, IV, parágrafos 3º e 5°, da Lei 8.212/91 combinado com o art. 225, IV e § 40, do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto 3.048/99, o qual corresponde à apresentação de GFIP com omissão da remuneração de segurados contribuintes individuais (Venancio Neto, José Herbert e Robério Leite) nas competências 03/2002 a 05/2002 e 11/2002 e 12/2002. O Acórdão recorrido deu parcial provimento ao Recurso Ordinário. O Recurso Especial apresentado pela Fazenda Nacional trouxe para análise a divergência jurisprudencial no tocante às duas matérias arguidas: decadência do auto de infração, cujos paradigmas entendem no sentido de que o marco inicial da decadência deveria ser a ocorrência do fato gerador; descumprimento de obrigação acessória, tendo o acórdão paradigma consignado que o dispositivo legal aplicado passou a ser o art. 35A da Lei 8.212/91, que remete ao art. 44, I da Lei 9.430/96. O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Cingese a controvérsia às penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP nº 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009, quando mais benéfica ao sujeito passivo. A solução do litígio decorre do disposto no artigo 106, inciso II, alínea “a” do CTN, a seguir transcrito: Art. 106. A lei aplicase a ato ou fato pretérito: I em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II tratandose de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de definilo como infração; b) quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. (grifos acrescidos) De inicio, cumpre registrar que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), de forma unânime pacificou o entendimento de que na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Assim, a multa de mora prevista no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, não é aplicável quando realizado o lançamento de ofício, conforme consta do Acórdão nº 9202004.262 (Sessão de 23 de junho de 2016), cuja ementa transcrevese: Fl. 182DF CARF MF 6 AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA MULTA APLICAÇÃO NOS LIMITES DA LEI 8.212/91 C/C LEI 11.941/08 APLICAÇÃO DA MULTA MAIS FAVORÁVEL RETROATIVIDADE BENIGNA NATUREZA DA MULTA APLICADA. A multa nos casos em que há lançamento de obrigação principal lavrados após a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, mesmo que referente a fatos geradores anteriores a publicação da referida lei, é de ofício. AUTO DE INFRAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA COMPARATIVO DE MULTAS APLICAÇÃO DE PENALIDADE. RETROATIVIDADE BENIGNA. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Se as multas por descumprimento de obrigações acessória e principal foram exigidas em procedimentos de ofício, ainda que em separado, incabível a aplicação retroativa do art. 32A, da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, eis que esta última estabeleceu, em seu art. 35 A, penalidade única combinando as duas condutas. A legislação vigente anteriormente à Medida Provisória n° 449, de 2008, determinava, para a situação em que ocorresse (a) recolhimento insuficiente do tributo e (b) falta de declaração da verba tributável em GFIP, a constituição do crédito tributário de ofício, acrescido das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, respectivamente. Posteriormente, foi determinada, para essa mesma situação (falta de pagamento e de declaração), apenas a aplicação do art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991, que faz remissão ao art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996. Portanto, para aplicação da retroatividade benigna, resta necessário comparar (a) o somatório das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, e (b) a multa prevista no art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991. A comparação de que trata o item anterior tem por fim a aplicação da retroatividade benigna prevista no art. 106 do CTN e, caso necessário, a retificação dos valores no sistema de cobrança, a fim de que, em cada competência, o valor da multa aplicada no AIOA somado com a multa aplicada na NFLD/AIOP não exceda o percentual de 75%. Prosseguindo na análise do tema, também é entendimento pacífico deste Colegiado que na hipótese de lançamento apenas de obrigação principal, a retroatividade benigna será aplicada se, na liquidação do acórdão, a penalidade anterior à vigência da MP 449, de 2008, ultrapassar a multa do art. 35A da Lei n° 8.212/91, correspondente aos 75% previstos no art. 44 da Lei n° 9.430/96. Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela MP 449 (convertida na Lei 11.941, de 2009), tenham sido aplicadas isoladamente descumprimento de obrigação acessória sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, bem assim no caso de competências em que o lançamento da obrigação principal tenha sido atingida pela decadência. Neste sentido, transcrevese excerto do voto unânime proferido no Acórdão nº 9202004.499 (Sessão de 29 de setembro de 2016): Fl. 183DF CARF MF Processo nº 11618.004968/200758 Acórdão n.º 9202005.077 CSRFT2 Fl. 12 7 Até a edição da MP 449/2008, quando realizado um procedimento fiscal, em que se constatava a existência de débitos previdenciários, lavravase em relação ao montante da contribuição devida, notificação fiscal de lançamento de débito NFLD. Caso constatado que, além do montante devido, descumprira o contribuinte obrigação acessória, ou seja, obrigação de fazer, como no caso de omissão em GFIP (que tem correlação direta com o fato gerador), a empresa era autuada também por descumprimento de obrigação acessória. Nessa época os dispositivos legais aplicáveis eram multa art. 35 para a NFLD (24%, que sofria acréscimos dependendo da fase processual do débito) e art. 32 (100% da contribuição devida em caso de omissões de fatos geradores em GFIP) para o Auto de infração de obrigação acessória. Contudo, a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, inseriu o art. 32A, o qual dispõe o seguinte: “Art. 32A. O contribuinte que deixar de apresentar a declaração de que trata o inciso IV do caput do art. 32 desta Lei no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentála ou a prestar esclarecimentos e sujeitarseá às seguintes multas: I – de R$ 20,00 (vinte reais) para cada grupo de 10 (dez) informações incorretas ou omitidas; e II – de 2% (dois por cento) ao mêscalendário ou fração, incidentes sobre o montante das contribuições informadas, ainda que integralmente pagas, no caso de falta de entrega da declaração ou entrega após o prazo, limitada a 20% (vinte por cento), observado o disposto no § 3o deste artigo. § 1o Para efeito de aplicação da multa prevista no inciso II do caput deste artigo, será considerado como termo inicial o dia seguinte ao término do prazo fixado para entrega da declaração e como termo final a data da efetiva entrega ou, no caso de não apresentação, a data da lavratura do auto de infração ou da notificação de lançamento. § 2o Observado o disposto no § 3o deste artigo, as multas serão reduzidas: I – à metade, quando a declaração for apresentada após o prazo, mas antes de qualquer procedimento de ofício; ou II – a 75% (setenta e cinco por cento), se houver apresentação da declaração no prazo fixado em intimação. § 3o A multa mínima a ser aplicada será de: I – R$ 200,00 (duzentos reais), tratandose de omissão de declaração sem ocorrência de fatos geradores de contribuição previdenciária; e II – R$ 500,00 (quinhentos reais), nos demais casos.” Fl. 184DF CARF MF 8 Entretanto, a MP 449, Lei 11.941/2009, também acrescentou o art. 35A que dispõe o seguinte, “Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996.” O inciso I do art. 44 da Lei 9.430/96, por sua vez, dispõe o seguinte: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata “ Com a alteração acima, em caso de atraso, cujo recolhimento não ocorrer de forma espontânea pelo contribuinte, levando ao lançamento de ofício, a multa a ser aplicada passa a ser a estabelecida no dispositivo acima citado, ou seja, em havendo lançamento da obrigação principal (a antiga NFLD), aplicase multa de ofício no patamar de 75%. Essa conclusão levanos ao raciocínio que a natureza da multa, sempre que existe lançamento, referese a multa de ofício e não a multa de mora referida no antigo art. 35 da lei 8212/91. Contudo, mesmo que consideremos que a natureza da multa é de "multa de ofício" não podemos isoladamente aplicar 75% para as Notificações Fiscais NFLD ou Autos de Infração de Obrigação Principal AIOP, pois estaríamos na verdade retroagindo para agravar a penalidade aplicada. Por outro lado, com base nas alterações legislativas não mais caberia, nos patamares anteriormente existentes, aplicação de NFLD + AIOA (Auto de Infração de Obrigação Acessória) cumulativamente, pois em existindo lançamento de ofício a multa passa a ser exclusivamente de 75%. Tendo identificado que a natureza da multa, sempre que há lançamento, é de multa de ofício, considerando o princípio da retroatividade benigna previsto no art. 106. inciso II, alínea “c”, do Código Tributário Nacional, há que se verificar a situação mais favorável ao sujeito passivo, face às alterações trazidas. No presente caso, foi lavrado AIOA julgada, e alvo do presente recurso especial, prevaleceu o valor de multa aplicado nos moldes do art. 32A. No caso da ausência de informação em GFIP, conforme descrito no relatório a multa aplicada ocorreu nos termos do art. 32, inciso IV, § 5º, da Lei nº 8.212/1991 também revogado, o qual previa uma multa no valor de 100% (cem por cento) da contribuição não declarada, limitada aos limites previstos no § 4º do mesmo artigo. Fl. 185DF CARF MF Processo nº 11618.004968/200758 Acórdão n.º 9202005.077 CSRFT2 Fl. 13 9 Face essas considerações para efeitos da apuração da situação mais favorável, entendo que há que se observar qual das seguintes situações resulta mais favorável ao contribuinte: · Norma anterior, pela soma da multa aplicada nos moldes do art. 35, inciso II com a multa prevista no art. 32, inciso IV, § 5º, observada a limitação imposta pelo § 4º do mesmo artigo, ou · Norma atual, pela aplicação da multa de setenta e cinco por cento sobre os valores não declarados, sem qualquer limitação, excluído o valor de multa mantido na notificação. Levando em consideração a legislação mais benéfica ao contribuinte, conforme dispõe o art. 106 do Código Tributário Nacional (CTN), o órgão responsável pela execução do acórdão deve, quando do trânsito em julgado administrativo, efetuar o cálculo da multa, em cada competência, somando o valor da multa aplicada no AI de obrigação acessória com a multa aplicada na NFLD/AIOP, que não pode exceder o percentual de 75%, previsto no art. 44, I da Lei n° 9.430/1996. Da mesma forma, no lançamento apenas de obrigação principal o valor das multa de ofício não pode exceder 75%. No AI de obrigação acessória, isoladamente, o percentual não pode exceder as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Observese que, no caso de competências em que a obrigação principal tenha sido atingida pela decadência (pela antecipação do pagamento nos termos do art. 150, § 4º, do CTN), subsiste a obrigação acessória, isoladamente, relativa às mesmas competências, não atingidas pela decadência posto que regidas pelo art. 173, I, do CTN, e que, portanto, deve ter sua penalidade limitada ao valor previsto no artigo 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Cumpre ressaltar que o entendimento acima está em consonância com o que dispõe a Instrução Normativa RFB nº 971, de 13 de novembro de 2009, alterada pela Instrução Normativa RFB nº 1.027 em 22/04/2010, e no mesmo diapasão do que estabelece a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, que contempla tanto os lançamentos de obrigação principal quanto de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente. Neste passo, para os fatos geradores ocorridos até 03/12/2008, a autoridade responsável pela execução do acórdão, quando do trânsito em julgado administrativo, deverá observar a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 que se reporta à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias nos lançamentos de obrigação principal e de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. De fato, as disposições da referida Portaria, a seguir transcritas, estão em consonância com a jurisprudência unânime desta 2ª Turma da CSRF sobre o tema: Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 Fl. 186DF CARF MF 10 Art. 1º A aplicação do disposto nos arts. 35 e 35A da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009, às prestações de parcelamento e aos demais débitos não pagos até 3 de dezembro de 2008, inscritos ou não em Dívida Ativa, cobrados por meio de processo ainda não definitivamente julgado, observará o disposto nesta Portaria. Art. 2º No momento do pagamento ou do parcelamento do débito pelo contribuinte, o valor das multas aplicadas será analisado e os lançamentos, se necessário, serão retificados, para fins de aplicação da penalidade mais benéfica, nos termos da alínea "c" do inciso II do art. 106 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN). § 1º Caso não haja pagamento ou parcelamento do débito, a análise do valor das multas referidas no caput será realizada no momento do ajuizamento da execução fiscal pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN). § 2º A análise a que se refere o caput darseá por competência. § 3º A aplicação da penalidade mais benéfica na forma deste artigo darseá: I mediante requerimento do sujeito passivo, dirigido à autoridade administrativa competente, informando e comprovando que se subsume à mencionada hipótese; ou II de ofício, quando verificada pela autoridade administrativa a possibilidade de aplicação. § 4º Se o processo encontrarse em trâmite no contencioso administrativo de primeira instância, a autoridade julgadora fará constar de sua decisão que a análise do valor das multas para verificação e aplicação daquela que for mais benéfica, se cabível, será realizada no momento do pagamento ou do parcelamento. Art. 3º A análise da penalidade mais benéfica, a que se refere esta Portaria, será realizada pela comparação entre a soma dos valores das multas aplicadas nos lançamentos por descumprimento de obrigação principal, conforme o art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e de obrigações acessórias, conforme §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e da multa de ofício calculada na forma do art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009. § 1º Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, tenham sido aplicadas isoladamente, sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal, deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. Fl. 187DF CARF MF Processo nº 11618.004968/200758 Acórdão n.º 9202005.077 CSRFT2 Fl. 14 11 § 2º A comparação na forma do caput deverá ser efetuada em relação aos processos conexos, devendo ser considerados, inclusive, os débitos pagos, os parcelados, os nãoimpugnados, os inscritos em Dívida Ativa da União e os ajuizados após a publicação da Medida Provisória nº 449, de 3 de dezembro de 2008. Art. 4º O valor das multas aplicadas, na forma do art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, sobre as contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, deverá ser comparado com o valor das multa de ofício previsto no art. 35 A daquela Lei, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009, e, caso resulte mais benéfico ao sujeito passivo, será reduzido àquele patamar. Art. 5º Na hipótese de ter havido lançamento de ofício relativo a contribuições declaradas na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP), a multa aplicada limitarseá àquela prevista no art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. Ainda, quanto a outra matéria que foi admitida no Recurso Especial, no tocante a decadência consigno que no que se refere a obrigação acessória aplicase o art. 173, I do CTN, nos termos do voto da conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, no processo 35348.005310/200678. Em primeiro lugar, devemos considerar que se trata de auto de infração, que ao contrário das NFLD ou dos AI de obrigações principais, constitui obrigação acessória de “fazer” ou “deixar de fazer”, sendo irrelevante a existência ou não de recolhimentos antecipados. No caso, a aplicação do art. 150, § 4º, é possível quando realizado pagamento de contribuições, que em data posterior acabam por ser homologados expressa ou tacitamente. Contudo, conforme descrito anteriormente, tratase de lavratura de Auto de Infração por não ter a empresa cumprido obrigação acessória, mais especificamente, informar no documento GFIP fatos geradores de contribuições previdenciárias. Dessa forma, não há que se falar em recolhimento antecipado devendo a decadência ser avaliada a luz do art. 173, I do CTN. Diante do exposto, conheço do Recurso interposto pela Fazenda Nacional , para que no mérito a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, e quanto a decadência em se tratando de obrigação acessória seja aplicado o art. 173, I do CTN. Fl. 188DF CARF MF 12 É o voto. (assinado digitalmente) Ana Paula Fernandes Fl. 189DF CARF MF
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Numero do processo: 10280.901508/2012-23
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Feb 15 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Apr 07 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008
PIS. CONCEITO DE INSUMO.
O termo insumo utilizado pelo legislador na apuração de créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins denota uma abrangência maior do que MP, PI e ME relacionados ao IPI. Por outro lado, tal abrangência não é tão elástica como no caso do IRPJ, a ponto de abarcar todos os custos de produção e as despesas necessárias à atividade da empresa. Sua justa medida caracteriza-se como o elemento diretamente responsável pela produção dos bens ou produtos destinados à venda, ainda que este elemento não entre em contato direto com os bens produzidos, atendidas as demais exigências legais.
No caso julgado, são exemplos de insumos ácido sulfúrico, óleo combustível BPF e serviços de remoção de rejeitos industriais.
FRETE. AQUISIÇÃO DE PRODUTOS.
Os serviços de transporte suportados pelo adquirente de bens, quando estes se qualifiquem como insumos nos termos da legislação de regência, somente geram direito ao crédito de modo indireto, mediante incorporação ao custo do bem adquirido.
Recurso Especial do Procurador provido em parte
Numero da decisão: 9303-004.660
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por voto de qualidade, em dar-lhe provimento parcial para afastar o crédito sobre o frete pago na aquisição de ácido sulfúrico, nos termos do voto do relator, vencidos os conselheiros Tatiana Midori Migiyama, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello, que lhe negaram provimento. Os conselheiros Júlio César Alves Ramos e Rodrigo da Costa Pôssas deram provimento parcial em maior extensão.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Charles Mayer de Castro Souza, Andrada Márcio Canuto Natal, Júlio César Alves Ramos, Demes Brito, Tatiana Midori Migiyama, Vanessa Marini Cecconello e Erika Costa Camargos Autran.
Nome do relator: CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA
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INSUMOS. CONCEITO. Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado ALUNORTE ALUMINA DO NORTE DO BRASIL S.A. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008 PIS. CONCEITO DE INSUMO. O termo “insumo” utilizado pelo legislador na apuração de créditos a serem descontados da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins denota uma abrangência maior do que MP, PI e ME relacionados ao IPI. Por outro lado, tal abrangência não é tão elástica como no caso do IRPJ, a ponto de abarcar todos os custos de produção e as despesas necessárias à atividade da empresa. Sua justa medida caracterizase como o elemento diretamente responsável pela produção dos bens ou produtos destinados à venda, ainda que este elemento não entre em contato direto com os bens produzidos, atendidas as demais exigências legais. No caso julgado, são exemplos de insumos ácido sulfúrico, óleo combustível BPF e serviços de remoção de rejeitos industriais. FRETE. AQUISIÇÃO DE PRODUTOS. Os serviços de transporte suportados pelo adquirente de bens, quando estes se qualifiquem como insumos nos termos da legislação de regência, somente geram direito ao crédito de modo indireto, mediante incorporação ao custo do bem adquirido. Recurso Especial do Procurador provido em parte Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por voto de qualidade, em darlhe provimento parcial para afastar o crédito sobre o frete pago na aquisição de ácido sulfúrico, nos AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 0. 90 15 08 /2 01 2- 23 Fl. 488DF CARF MF 2 termos do voto do relator, vencidos os conselheiros Tatiana Midori Migiyama, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello, que lhe negaram provimento. Os conselheiros Júlio César Alves Ramos e Rodrigo da Costa Pôssas deram provimento parcial em maior extensão. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza – Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Charles Mayer de Castro Souza, Andrada Márcio Canuto Natal, Júlio César Alves Ramos, Demes Brito, Tatiana Midori Migiyama, Vanessa Marini Cecconello e Erika Costa Camargos Autran. Relatório Tratase de Recurso Especial de Divergência interposto tempestivamente pela Procuradoria da Fazenda Nacional – PFN contra o Acórdão nº 3403003.625, de 18/03/2015, proferido pela 3ª Turma da 4ª Câmara da 3ª Seção do CARF, que fora assim ementado: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008 PEDIDOS DE COMPENSAÇÃO. ÔNUS PROBATÓRIO. DILIGÊNCIA/PERÍCIA. Nos processos derivados de pedidos de compensação/ressarcimento, a comprovação do direito creditório incumbe ao postulante, que deve carrear aos autos os elementos probatórios correspondentes. Não se presta a diligência, ou perícia, a suprir deficiência probatória, seja do contribuinte ou do fisco. ANÁLISE ADMINISTRATIVA DE CONSTITUCIONALIDADE. VEDAÇÃO. SÚMULA CARF N. 2. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008 CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP. NÃO CUMULATIVIDADE. INSUMO. CONCEITO. Fl. 489DF CARF MF Processo nº 10280.901508/201223 Acórdão n.º 9303004.660 CSRFT3 Fl. 489 3 O conceito de insumo na legislação referente à Contribuição para o PIS/PASEP e à COFINS não guarda correspondência com o extraído da legislação do IPI (demasiadamente restritivo) ou do IR (excessivamente alargado). Em atendimento ao comando legal, o insumo deve ser necessário ao processo produtivo/fabril, e, consequentemente, à obtenção do produto final. São exemplos de insumos, no caso analisado, ácido sulfúrico (assim como o frete relativo a seu transporte). No Recurso Especial, por meio do qual pleiteou, ao final, a reforma do decisum, a Recorrente insurgiuse contra a concessão de crédito oriundo das aquisições de ácido sulfúrico (assim como do frete relativo ao seu transporte) e de serviços de remoção de resíduos industriais, que, no seu entender, não geram direito a crédito. Alega divergência de interpretação em relação ao que decidido no Acórdão nº 20312.448. O exame de admissibilidade do Recurso Especial encontrase às fls. 347/349. A contribuinte apresentou as contrarrazões ao recurso especial (fls. 351/366). Também interpôs recurso especial, o qual, todavia, não foi admitido (fls. 471/473). É o Relatório. Voto Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, Relator. Presentes os demais requisitos de admissibilidade, entendemos, tal como proposto no seu exame, que o recurso especial interposto pela PFN deve ser conhecido. Com efeito, enquanto o acórdão paradigma adotou a tese mais restritiva para o conceito de insumos, de forma a guardar correspondência com o obtido da legislação do IPI, o acórdão recorrido consubstanciou entendimento mais amplo, de sorte a incluir, no mesmo conceito, os produtos e serviços necessários ao processo produtivo da contribuinte. Conhecido, entendemos que, em parte, assiste razão à douta Procuradoria da Fazenda Nacional. Depois de longos debates, passamos a adotar o entendimento majoritário que, justo, encontrase encartado no acórdão recorrido. Como os motivos do nosso convencimento coincidem, na totalidade, com o que exposto no voto proferido pelo il. Conselheiro Henrique Pinheiro Torres, nos autos do processo administrativo n.º 11065.101271/200647 (Acórdão 3ª Turma/CSRF nº 930301.035, sessão de 23/10/2010), passamos a adotálas, também aqui, como razão de decidir. Eilas: A questão que se apresenta a debate diz respeito à possibilidade ou não de se apropriar como crédito de PIS/Pasep dos valores relativos a custos com combustíveis, lubrificantes e com a remoção de resíduos industriais. O deslinde está em se definir o Fl. 490DF CARF MF 4 alcance do termo insumo, trazido no inciso II do art. 3º da Lei 10.637/2002. A Secretaria da Receita Federal do Brasil estendeu o alcance do termo insumo, previsto na legislação do IPI (o conceito trazido no Parecer Normativo CST n° 65/79), para o PIS/Pasep e a para a Cofins não cumulativos. A meu sentir, o alcance dado ao termo insumo, pela legislação do IPI não é o mesmo que foi dado pela legislação dessas contribuições. No âmbito desse imposto, o conceito de insumo restringese ao de matériaprima, produto intermediário e de material de embalagem, já na seara das contribuições, houve um alargamento, que inclui até prestação de serviços, o que demonstra que o conceito de insumo aplicado na legislação do IPI não tem o mesmo alcance do aplicado nessas contribuições. Neste ponto, socorrome dos sempre precisos ensinamentos do Conselheiro Júlio Cesar Alves Ramos, em minuta de voto referente ao Processo n° 13974.000199/2003 61, que, com as honras costumeiras, transcrevo excerto linhas abaixo: Destarte, aplicada a legislação do ao caso concreto, tudo o que restaria seria a confirmação da decisão recorrida. Isso a meu ver, porém, não basta. É que, definitivamente, não considero que se deva adotar o conceito de industrialização aplicável ao IPI, assim como tampouco considero assimilável a restritiva noção de matérias primas, produtos intermediários e material de embalagem lá prevista para o estabelecimento do conceito de ‘insumos’ aqui referido. A primeira e mais óbvia razão está na completa ausência de remissão àquela legislação na Lei 10.637. Em segundo lugar, ao usar a expressão ‘insumos’, claramente estava o legislador do PIS ampliando aquele conceito, tanto que ai incluiu ‘serviços’, de nenhum modo enquadráveis como matérias primas, produtos intermediários ou material de embalagem. Ora, uma simples leitura do artigo 3º da Lei 10.637/2002 é suficiente para verificar que o legislador não restringiu a apropriação de créditos de PIS/Pasep aos parâmetros adotados no creditamento de IPI. No inciso II desse artigo, como asseverou o insigne conselheiro, o legislador incluiu no conceito de insumos os serviços contratados pela pessoa jurídica. Esse dispositivo legal também considerou como insumo combustíveis e lubrificantes, o que, no âmbito do IPI, seria um verdadeiro sacrilégio. Mas as diferenças não param aí, nos incisos seguintes, permitiuse o creditamento de aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa, máquinas e equipamentos adquiridos para utilização na fabricação de produtos destinados à venda, bem como a outros bens incorporados ao ativo imobilizado etc. Isso denota que o legislador não quis restringir o creditamento do PIS/Pasep as aquisições de matériasprimas, produtos intermediários e ou material de embalagens (alcance de insumos na legislação do IPI) utilizados, diretamente, na produção industrial, ao contrário, ampliou de modo a Fl. 491DF CARF MF Processo nº 10280.901508/201223 Acórdão n.º 9303004.660 CSRFT3 Fl. 490 5 considerar insumos como sendo os gastos gerais que a pessoa jurídica precisa incorrer na produção de bens ou serviços por ela realizada. Vejamos o dispositivo citado: [...]As condições para fruição dos créditos acima mencionados encontramse reguladas nos parágrafos desse artigo. Voltando ao caso dos autos, os gastos com aquisição de combustíveis e com lubrificantes, junto à pessoa jurídica domiciliada no pais, bem como as despesas havidas com a remoção de resíduos industriais, pagas a pessoa jurídica nacional prestadora de serviços, geram direito a créditos de PIS/Pasep, nos termos do art. 3º transcrito linhas acima. Com essas considerações, voto no sentido de negar provimento ao recurso apresentado pela Fazenda Nacional. (grifamos) Passemos ao caso concreto. A Recorrente contesta a concessão de crédito oriundo das aquisições de ácido sulfúrico (assim como do frete relativo ao seu transporte) e de serviços de remoção de resíduos industriais. Antes de concluirmos o voto em relação a cada item e os motivos que sustentam o nosso convencimento, reputamos imprescindível fazer a seguinte observação: em julgamentos recentes envolvendo a mesma contribuinte e, grosso modo, os mesmos produtos e serviços, esta mesma CSRF chegou a conclusões divergentes das que aqui serão adotadas. Nestes julgamentos, acompanhamos o voto do relator, porque nos pareceu que os motivos por ele adotados, encontravamse plenamente compatíveis com a tese majoritária. Referimonos aos Acórdãos CSRF/3ª Turma nº 9303004.378, 9303004.379 e 9303004.380, todos de 09/11/2016. Aqui, contudo, na condição de relator, ao analisarmos com maior detença os itens cujo creditamento a Recorrente pretende afastar, formamos a convicção de que andou bem a Câmara baixa ao reconhecer os créditos (exceto, como se verá, quanto a um dos itens). Com relação ao ácido sulfúrico, replicando votos anteriores envolvendo a mesma empresa, consignou: “A fiscalização considerou o ácido sulfúrico como material de limpeza e consignou na planilha 10 que o inibidor de corrosão e o dispersante de sais são aplicados no tratamento de água potável e no resfriamento de água. (...) A descrição do processo produtivo revela que o ácido sulfúrico tem outras utilidades, além se servir como desincrustante. A limpeza de dutos e trocadores de calor, assim como a desmineralização da água das caldeiras e o tratamento de efluentes são procedimentos necessários para assegurar a eficiência das instalações fabris e a proteção do meioambiente. Fl. 492DF CARF MF 6 A empresa incorre em custos ao adotar esses procedimentos. E é inequívoco que esses custos estão umbilicalmente correlacionados com o processo produtivo da alumina, enquadrandose na disposição do art. 290, I do RIR/99. Assim, devem ser afastadas as glosas relativas ao ácido sulfúrico e aos respectivos fretes, uma vez que são insumos que integram o custo de produção (art. 290, I, do RIR/99). Integrando o custo de produção, o valor desses insumos deve ser considerado no cálculo do crédito da contribuição, nos termos do art. 3º, II, da Lei nº 10.833/03. (grifamos) Sendo claramente necessário ao processo produtivo, na linha do que vem sendo aqui mesmo decidido, reajustamos o nosso voto para acompanhar o entendimento adotado no acórdão recorrido, negando, no ponto, provimento ao recurso especial. O mesmo, contudo, não se dá com relação ao frete pago na aquisição do ácido sulfúrico: o custo do transporte, obviamente, não se qualifica como insumo necessário à produção de alumina. A única possibilidade de o frete pago na aquisição de um produto gerar direito ao crédito para o adquirente é pela via indireta. Noutras palavras, se o produto se enquadrar no conceito de insumo, sendo, de conseguinte, necessário à produção do contribuinte, o gasto com o seu transporte deverá ser incorporado ao custo do produtos transportados. Todavia, não sendo o produto adquirido necessário à produção, o frete assim pago, incorporado ao seu custo, não gera o direito ao crédito de PIS/Cofins (na mesma linha, ver, p. ex., Solução de Divergência Cosit nº 7, de 23/08/2016). Portanto, se o frete foi pago no transporte de produtos que sejam insumos e de produtos que não o sejam, nos termos do conceito aqui adotado, o valor assim dispendido deve ser incorporado ao custo dos produtos transportados, de modo que, é óbvio, somente a parcela incorporada aos, digamos assim, “produtosinsumos” é que será objeto de creditamento – pela via indireta, claro! Por fim, com relação à remoção dos resíduos industriais, diferentemente do que se deu noutros processos do mesmo contribuinte, o crédito sobre este serviço foi expressamente reconhecido pela Câmara baixa, com base nos seguintes fundamentos, replicados de outros acórdãos da mesma turma: “Deve ser reconhecido o direito de crédito em relação ao pagamento pela prestação de serviço de remoção de rejeitos industriais, visto que tal atividade deve ser considerada como inserida no contexto da produção, tal como sustenta o Recorrente (fl. 464/465). Entendo que assiste razão ao Recorrente, pois os serviços de transporte dos resíduos industriais configuram atos que viabilizam e integram a atividade produtiva. Não apenas o transporte de matériaprima destinada ao processo produtivo, mas também o transporte dos resíduos decorrentes da produção configura ato que viabiliza e integra o processo produtivo. Este tema foi enfrentado logo nos primeiros julgados deste Conselho a respeito do regime nãocumulativo, concluindose que “Quanto aos dispêndios realizados com o serviço de remoção de resíduos industriais, não há nenhuma dúvida de que Fl. 493DF CARF MF Processo nº 10280.901508/201223 Acórdão n.º 9303004.660 CSRFT3 Fl. 491 7 este serviço é parte do processo de industrialização dos bens exportados e está vinculado à receita de exportação. Pela natureza da atividade da recorrente, sem este serviço não há produção. Sendo um serviço diretamente vinculado ao processo produtivo, entendo que a recorrente tem direito ao crédito da Cofins incidente sobre a compra desse serviço e, como tal, tem direito ao ressarcimento desse crédito em face da exportação dos produtos (inciso II do art. 3º da Lei nº 10.637/2002)” (trecho do voto proferido no Acórdão 20181.139, Recurso 148.457, Processo 11065.101271/200647, Rel. Cons. Walber José da Silva, j. 02.06.2008). Entendo, pois, que deve ser reconhecido o direito de crédito em relação aos serviços de remoção de resíduos em questão. Nos autos do processo administrativo nº 10280.722274/200954 – que envolveu a mesma contribuinte e a mesma controvérsia –, o il. Conselheiro Antônio Carlos Atulim ainda teceu as seguintes considerações a respeito: Relativamente aos serviços de transporte de rejeitos industriais, a análise da descrição do processo produtivo revela que ele gera os detritos lama vermelha, areia e crosta, que depois de serem devidamente tratados, vão para os tanques de rejeitos industriais a fim de serem descartados. Estando esses rejeitos umbilicalmente ligados à produção da alumina, o serviço de transporte para a sua remoção é um custo de produção que se enquadra perfeitamente na disposição do art. 290, I do RIR/99. Deve, portanto, gerar créditos do regime não cumulativo, pois se enquadra na previsão do art. 3º, II, da Lei nº 10.833/04. Não há como se concordar com a alegação da Ilustre Procuradora da Fazenda Nacional, no sentido de que custos incorridos após a obtenção da alumina não podem ser considerados como insumo. O fato de o gasto ser posterior à obtenção do produto final não significa que seja um gasto incorrido na atividademeio. Observese que o rendimento da bauxita está na razão de 5:1. Isso significa, em um cálculo grosseiro, que para produzir uma tonelada de alumina, são necessárias cinco toneladas de minério. O minério não se encontra na natureza em estado puro. Ele se encontra disperso no solo e vem contaminado com impurezas. Após a retirada da tonelada de alumina, as quatro toneladas restantes são rejeitos industriais aos quais a empresa é obrigada a dar destino adequado, a fim de evitar problemas ambientais. Isso não é um gasto com atividademeio. Ainda que se considere que os gastos com esses rejeitos são posteriores ao processo produtivo, é fora de qualquer dúvida que eles decorrem do processo produtivo, pois os rejeitos somente deixariam de existir se a linha de produção parasse. Por isso o gasto com o serviço de retirada desses rejeitos é um custo de Fl. 494DF CARF MF 8 produção da alumina que se enquadra no art. 290, I do RIR/99. (g.n.) Considerando, pois, que a remoção dos resíduos industriais que resultam da produção da alumina revestese de particularidades que a afastam das verificadas nos processos que comumente chegam a este Colegiado, entendemos correto o acórdão recorrido, ao conferir ao contribuinte, quanto a este item, o direito ao crédito do PIS/Cofins. Ante o exposto, conheço do recurso especial e, no mérito, doulhe parcial provimento, apenas para afastar o crédito sobre o frete pago na aquisição de ácido sulfúrico. É como voto. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 495DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16561.720117/2013-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 14 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Mar 09 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2008, 2009, 2010, 2011, 2012
ÁGIO FUNDAMENTADO EM EXPECTATIVA DE RESULTADOS FUTUROS. DEDUTIBILIDADE DA AMORTIZAÇÃO.
A legislação que permite a dedução da amortização do ágio em determinadas circunstâncias e desde que preenchidos determinados requisitos é norma indutora de comportamento do contribuinte.
Uma vez norteado o permissivo legal para a amortização do ágio contido no art. 7° da Lei 9532/97 ou art. 386 do RIR/99 e, de fato concretizada a confusão patrimonial que reúne as despesas de amortização fiscal do ágio e os lucros que motivaram o pagamento do ágio baseado em expectativa de rentabilidade futura, possibilitando o emparelhamento de receitas e despesas, torna-se legal a amortização do ágio.
Não havendo ocorrência de fraude ou simulação e tendo sido verdadeiras e legitimas as operações perpetradas, inclusive, com a ocorrência do efetivo pagamento do preço, a dedução do ágio é possível, ainda que o benefício fiscal seja o principal ou mesmo o único elemento motivador.
Uma vez demonstrado o devido propósito negocial e substância econômica na realização de reorganizações societárias, a dedução da amortização do ágio torna-se ainda mais justificada.
ÁGIO. TRANSFERÊNCIA. EMPRESA VEÍCULO. INCORPORAÇÃO REVERSA. VALIDADE.
O uso de empresa veículo e de incorporação reversa, por si só, não invalida as operações societárias que transferiram o ágio da investidora original para a empresa investida, estando diretamente vinculadas ideologicamente a um propósito negocial. Verificadas as condições legais, especialmente a confusão patrimonial entre investidora e investida, deve ser admitida a amortização fiscal do ágio.
Numero da decisão: 1201-001.554
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário e, por unanimidade, em negar provimento ao Recurso de Ofício. Vencido o Conselheiro José Carlos, que negava provimento ao Recurso Voluntário. Declarou-se impedido o Conselheiro Luis Henrique Marotti Toselli.
(assinado digitalmente)
ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA - Presidente.
(assinado digitalmente)
LUIS FABIANO ALVES PENTEADO - Relator.
EDITADO EM: 05/03/2017
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida (Presidente), Luis Fabiano Alves Penteado, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Eva Maria Los, Luiz Paulo Jorge Gomes, José Carlos de Assis Guimarães e José Roberto Adelino da Silva (Suplente).
Nome do relator: LUIS FABIANO ALVES PENTEADO
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DEDUTIBILIDADE DA AMORTIZAÇÃO. A legislação que permite a dedução da amortização do ágio em determinadas circunstâncias e desde que preenchidos determinados requisitos é norma indutora de comportamento do contribuinte. Uma vez norteado o permissivo legal para a amortização do ágio contido no art. 7° da Lei 9532/97 ou art. 386 do RIR/99 e, de fato concretizada a confusão patrimonial que reúne as despesas de amortização fiscal do ágio e os lucros que motivaram o pagamento do ágio baseado em expectativa de rentabilidade futura, possibilitando o emparelhamento de receitas e despesas, tornase legal a amortização do ágio. Não havendo ocorrência de fraude ou simulação e tendo sido verdadeiras e legitimas as operações perpetradas, inclusive, com a ocorrência do efetivo pagamento do preço, a dedução do ágio é possível, ainda que o benefício fiscal seja o principal ou mesmo o único elemento motivador. Uma vez demonstrado o devido propósito negocial e substância econômica na realização de reorganizações societárias, a dedução da amortização do ágio tornase ainda mais justificada. ÁGIO. TRANSFERÊNCIA. EMPRESA VEÍCULO. INCORPORAÇÃO REVERSA. VALIDADE. O uso de empresa veículo e de incorporação reversa, por si só, não invalida as operações societárias que transferiram o ágio da investidora original para a empresa investida, estando diretamente vinculadas ideologicamente a um propósito negocial. Verificadas as condições legais, especialmente a confusão patrimonial entre investidora e investida, deve ser admitida a amortização fiscal do ágio. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 56 1. 72 01 17 /2 01 3- 11 Fl. 1945DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário e, por unanimidade, em negar provimento ao Recurso de Ofício. Vencido o Conselheiro José Carlos, que negava provimento ao Recurso Voluntário. Declarou se impedido o Conselheiro Luis Henrique Marotti Toselli. (assinado digitalmente) ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Presidente. (assinado digitalmente) LUIS FABIANO ALVES PENTEADO Relator. EDITADO EM: 05/03/2017 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida (Presidente), Luis Fabiano Alves Penteado, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Eva Maria Los, Luiz Paulo Jorge Gomes, José Carlos de Assis Guimarães e José Roberto Adelino da Silva (Suplente). Relatório Tratamse de autos de infração, fls. 14021468, relativos ao IRPJ e CSLL (anoscalendário de 2008 a 2012), no valor total de R$ 100.827.246,60 (inclusos multa de oficio de 150% e juros de mora à taxa Selic, calculados até outubro/2013). Consoante Termo de Verificação Fiscal, às fls. 1469/1532, a Fiscalização constatou que: “(...) A presente fiscalização desenvolvida no contribuinte BARCELONA COMÉRCIO VAREJISTA E ATACADISTA S/A CNPJ n° 07.170.943/000101 (Barcelona) originouse pelo procedimento de auditoria fiscal determinado pelo Mandado de Procedimento Fiscal (MPFD) n° 08.1.85.0020120026491, continuada pelo procedimento de fiscalização determinado pelo MPFF n° 08.1.85.0020130012802, visando à verificação da dedutibilidade da amortização do ágio pela empresa fiscalizada, no período de 2008 a 2012, decorrente da operação de Fl. 1946DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 3 3 incorporação das empresas controladas SEVILHA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA CNPJ 07.146.013/000112 (Sevilha), em 31/03/20083, e NERANO EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA – CNPJ 10.641.449/000192 (Nerano), em 30/04/20104, conforme relatado a seguir. Durante os procedimentos de auditoria fiscal aplicados no contribuinte foram apuradas infrações à legislação tributária que rege as atividades das pessoas jurídicas, faltas estas que acarretaram a insuficiência de recolhimento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL. (...) Consta na consolidação que o Capital Social (da ora recorrente), totalmente subscrito e integralizado, é de R$ 666.310.368,41 (seiscentos e sessenta e seis milhões, trezentos e dez mil, trezentos e sessenta e oito reais e quarenta e um centavos) dividido em 17.857.015 (dezessete milhões, oitocentos e cinqüenta e sete mil e quinze) ações ordinárias e 3.722.470 (três milhões, setecentos e vinte e dois mil, quatrocentos e setenta) ações preferenciais, todas nominativas e sem valor nominal. Resumidamente, a empresa tem como atividade preponderante a comercialização no atacado e varejo ("atacarejo") de produtos alimentícios e outros que completam sua linha de supermercados, representada pela denominação comercial "ASSAÍ". (...) A operação econômica analisada nesta auditoria fiscal se refere à aquisição, com ágio de rentabilidade futura, em duas etapas, por parte da empresa SÉ SUPERMERCADOS LTDA CNPJ 01.545.828/000198 (SÉ), controlada direta da COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO CNPJ 47.508.411/000156 (CBD), de parcela patrimonial relacionada especificamente à atividade de atacado e varejo ("atacarejo") de produtos alimentícios e outros que completam sua linha de supermercados, representada pela denominação comercial "ASSAÍ", então pertencente a ASSAÍ COMERCIAL E IMPORTADORA LTDA. – CNPJ 46.499.224/000190 (Assai). Para a consecução deste objetivo, foram efetuadas reorganizações societárias de cisão patrimonial parcial com incorporação da parcela cindida, vendas e compras de participações acionárias e incorporações reversas de controladoras (não operacionais) por controlada (operacional), em detalhes que serão narrados pormenorizadamente adiante. Fl. 1947DF CARF MF 4 Para uma melhor clareza, podemos demonstrar, em ordem cronológica dos fatos, os organogramas simplificados abaixo: a) Cisão parcial realizada pela Assai de 80.275379% do seu patrimônio líquido, para a Barcelona. (...) b) Aquisição de 60% do capital social da Barcelona pela Sevilha Em 01/11/2007, 01 (um) dia após a cisão parcial, concluise a 1ª etapa da aquisição do Negócio, onde a Sevilha, empresa controlada por SÉ e sem atividade operacional, adquire, com ágio de rentabilidade futura de R$ 203.471.162,15 (duzentos e três milhões, quatrocentos e setenta e um mil, cento e sessenta e dois reais e quinze centavos), 60% (sessenta por cento) das ações representativas do capital total e votante da Barcelona. Desta feita, a SÉ, por intermédio de sua controlada direta Sevilha, passou a controlar indiretamente a Barcelona e, consequentemente, o Negócio que há 2 (dois) dias atrás era explorado pela Assaí. (...) c) Incorporação da Sevilha pela Barcelona: Em 31/03/2008, a Barcelona, agora com capital de R$ 15.010.000,00 (quinze milhões e dez mil) devido as subscrições e integralizações efetuadas por seus acionistas em 28/11/200713, incorpora sua controladora Sevilha, passa a ser controlada diretamente pela SÉ e absorve o ágio de si mesma que se encontrava na empresa não operacional Sevilha. (...) d) Aquisição de 40% do capital social da Barcelona pela Nerano: Em 25/07/2009, concluise a 2ª etapa da aquisição do Negócio, onde a Nerano, outra empresa controlada por SÉ, sem atividade operacional e com capital subscrito e integralizado de R$ 10.000,00 (dez mil reais), constituída em 30/10/2008, adquire, com ágio de rentabilidade futura de R$ 172.181.773,14 (cento e setenta e dois milhões, cento e oitenta e um mil, setecentos e setenta e três reais e quatorze centavos), 40% (quarenta por cento) das ações representativas do capital total e votante da Barcelona. Desta feita, a SÉ, direta e indiretamente, por intermédio de sua controlada Nerano, passou a controlar totalmente a Barcelona e, conseqüentemente, o Negócio iniciado por Rodolfo e Luiz, que agora saíam de cena. (...) e) Incorporação da Nerano pela Barcelona: Em 30/04/2010, a Barcelona incorpora sua investidora Nerano, passa a ser subsidiária integral da SÉ e absorve o ágio de si Fl. 1948DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 4 5 mesma que se encontrava na empresa não operacional Nerano. Na oportunidade, seu capital subscrito e integralizado era de R$ 16.592.270,51 (dezesseis milhões, quinhentos e noventa e dois mil, duzentos e setenta reais e cinqüenta e um centavos).(...)” Adiante a fiscalização esmiúça os pormenores da operação realizada, para posteriormente concluir pela indedutibilidade do ágio, nos seguintes termos: “(...) Como se pode ver, no caso em tela, a SÉ não deixou de existir e em nenhum momento perdeu seu investimento na Barcelona. Assim, procedendo a uma série de "reestruturações societárias", dotadas apenas de atos formais desprovidos de racionalidade econômica, a SÉ conseguiu: i) permanecer com os seus investimentos na Barcelona intocados, apenas, agora, não mais apresentados contabilmente desdobrados em "investimento + ágio", e ii) constituir, na contabilidade da Barcelona, uma conta de ativo não circulante em valor igual ao ágio com que aumentaram ou adquiriram o seu controle acionário, de forma a poder amortizar esse ativo, no prazo previsto na legislação tributária, forçando as condições para reduzir o lucro tributável. O único fim visado era a utilização do tratamento fiscal de redução da carga tributária na Barcelona, cujo permissivo condicionava à incorporação/fusão/cisão da SÉ e a sua investida (Barcelona), ou viceversa. Como não foi essa a situação ocorrida, nem era vontade da detentora do controle acionário da Barcelona dela se desfazer, engendrouse o artifício jurídico de interpor empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico, efêmeras (Sevilha e Nerano), sem qualquer propósito negocial ou racionalidade econômica, aportar recursos financeiros para aquisição ou aumento das participações já existentes, com ágio por expectativa de rentabilidade futura, para logo em seguida, serem estas incorporadas pela sua controlada (Barcelona), e devolver as ações de sua emissão à sua controladora originária. No comando dos artigos 1° da Lei n° 9.532/97, e 386 do RIR/99, a legislação tributária, para permitir a dedutibilidade da amortização do ágio, tem sua inteligência fundamentada na efetiva existência e extinção do investimento através dos institutos da fusão, cisão ou incorporação entre as empresas (investidora original e investida); ou seja, a legislação tributária instituiu um disciplinamento para tributação do resultado de um negócio jurídico particular que culmina numa "confusão patrimonial" o ágio de si mesmo. No presente caso, não houve a requerida unificação patrimonial. A Real Investidora: SÉ, detentora das ações da Barcelona tentou se ajustar à letra da lei, sem atender à sua fundamentação; praticando uma série de "reestruturações societárias" sem qualquer motivação econômica para, ao final das operações, Fl. 1949DF CARF MF 6 apresentar a mesma (e verdadeira) estruturação societária de antes. Tudo não passando de um estratagema para se tentar conseguir ganho tributário em prejuízo do Fisco Federal. De sorte que, se considerarmos a participação societária indireta que a SÉ possuía na Barcelona em decorrência do exercício dos Contratos de Venda e Compra de Ações, essa mesma participação continuou existindo ao final do processo de reestruturação, agora de forma direta. As interposições da Sevilha e Nerano entre a SÉ e a Barcelona, com o único desiderato de permitir o aproveitamento do ágio, faz com que a situação aqui versada não se enquadre nas condições preconizadas pela lei de forma a permitir a sua utilização. (...) 9. DA REOGANIZACÃO SOCIETÁRIA SIMULADA À luz da legislação tributária retro mencionada e analisados os documentos referentes à operação de aquisição com ágio de rentabilidade futura das ações da Barcelona pela Sevilha e Nerano, e posterior incorporação destas últimas pela fiscalizada, serão expostos a seguir os motivos da não aceitação da diminuição do Lucro Líquido na apuração do Lucro Real e da Base de Cálculo da CSLL da Barcelona decorrente da amortização desse ágio. Como dito anteriormente, logo após as transações de aquisições das participações então pertencentes aos Srs. Rodolfo e Luiz, as novas acionistas Sevilha e Nerano são absorvidas, conforme Protocolos e Justificações de Incorporações, por sua controlada Barcelona. A incorporadas são sociedades empresárias, sem atividades operacionais até as aquisições formais das participações societárias, que foram baixadas por incorporação tão logo se finalizasse o processo de aquisição da fiscalizada. Quando de suas entradas no processo de compra da Barcelona, tinham capital subscrito de R$ 10.000,00 (dez mil reais). No período em que existiram, não apresentaram quaisquer movimentações negociais, a única exceção é o negócio jurídico de aquisição das ações da Barcelona, e, em seguida, ocorreram suas incorporações. Claramente, foram utilizadas como empresas veículos. Ademais, a suposta reestruturação societária não resultou em concentração (confusão patrimonial) dos investimentos com o real investidor envolvido ou mesmo na liquidação desses investimentos. Ao contrário, tudo continuou como antes, a SÉ não deixou de existir nem perdeu suas ações na Barcelona. As operações realizadas em seqüência revelaramse meramente formais e desprovidas de finalidade econômica, tendo como único objetivo a transferência do ágio (verdadeiramente pago por SÉ) para a contabilidade da Barcelona e a redução da sua carga tributária. Fl. 1950DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 5 7 A finalidade do disposto nos arts. 7° e 8o da Lei 9.532/97 é regular o efeito fiscal da recuperação do ágio na aquisição do investimento, quando este é extinto mediante a incorporação. Ora, se é essa a finalidade do dispositivo legal, faz algum sentido permitir a amortização quando não há extinção nem do investidor e nem da sociedade investida? No presente caso, cabe dizer que o ativo adquirido não poderá mais ser recuperado e assim justificar a amortização fiscal? As respostas somente podem ser negativas. Contudo, essa é a pretensão da fiscalizada, ao se verificar que, ao final de todo a operação, tanto a sociedade que efetivamente pagou o ágio, a SÉ, mediante a capitalização e/ou transferência de numerários as empresas veículos Sevilha e Nerano, quanto o investimento adquirido (Barcelona) não foram extintos. O que se pode perceber é que os procedimentos adotados não passaram de atos formais desprovidos de racionalidade econômica. Ainda que a operação seja formalmente regular no âmbito do direito empresarial, não é possível que a fiscalizada usufrua o efeito tributário almejado, pois não ficou caracterizada a situação prevista no artigo 386 do RIR. Por conseguinte, a transferência do ágio pretendida pela contribuinte, na verdade, acabou por desvirtuar a aplicação do artigo 386 do RIR e representa uma fraude à finalidade legal. Com a pretendida transferência, o ágio passou a ser amortizado na Barcelona, reduzindo a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Por outro lado, a investidora permaneceu de posse do seu ativo, cujo valor corresponderá ao valor de patrimônio líquido da Barcelona, o qual estará inflado pelo ágio. Assim, a investidora poderá alienar o seu investimento pelo mesmo valor pago na aquisição e recuperar o ágio sem incorrer em ganho de capital. 9.1 Da falta de propósito negocial (...) Procurouse a seguir determinar a causa da operação realizada pelo grupo econômico da Barcelona como meio de alcançar o equilíbrio entre finalidade e funcionalidade, entre substância e forma negociai, para se interpretar o negócio jurídico. Não basta a vontade da Barcelona e das empresas Sevilha e Nerano, de se submeterem à disciplina atinente ao ato formalizado. Deve estar presente a vontade evidenciada ao realizálo. Nesse sentido, o próprio Código Civil prevê que "nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que ao sentido literal da linguagem" [aú. A12). Estáse questionando a criação das empresas veículos interpostas Sevilha e Nerano, a aquisição com ágio de 100% Fl. 1951DF CARF MF 8 (cem por cento) das ações da empresa operacional Barcelona pelas empresas interpostas, e a incorporação das mesmas pela empresa operacional apenas para fornecer uma aparência de conformidade ao direito, quando o contexto evidencia o fim prático a que o negócio se destinava: a redução do pagamento de tributos através da dedução de encargos de amortização de um ágio proveniente de um investimento que não foi extinto. A apreciação dos documentos apresentados pelo contribuinte permitiu constatar a ausência de propósito negociai, bem como a incoerência entre a finalidade e a forma adotada. Abaixo serão identificadas várias situações que corroboram tal conclusão. 9.2 Operações estruturadas em sequência A análise da operação em questão não há que ser feita para cada negócio isoladamente, mas em relação ao conjunto de negócios encadeados como um todo. Essa a lição de Marco Aurélio Greco (in Planejamento Tributário, São Paulo, Dialética, 2004, p. 345346):(...) Analisandose a situação existente antes da deflagração da seqüência de etapas e a situação final resultante da última das etapas, podemos afirmar que as situações são correlatas, ou seja, antes da deflagração das etapas, SÉ pretendia ser a controladora da Barcelona. Com a utilização da Sevilha, passou a deter indiretamente 60% (sessenta por cento) das ações da Barcelona, antes do processo de incorporação. Com a utilização da Nerano, passou ter o controle absoluto da Barcelona e, após a última etapa, a Barcelona tinha como único acionista a SÉ. Se olharmos as situações em termos de participações societárias diretas e indiretas, teremos que antes e após a deflagração das etapas, a SÉ aumentou seu poder de controle sobre a Barcelona, transformandoa em uma subsidiária integral. O caso em foco é composto de operações estruturadas em seqüência, vale dizer, de uma seqüência de etapas em que cada uma corresponde a um tipo de ato ou deliberação societária ou negocial encadeado com o intuito de obter determinado efeito Fiscal mais vantajoso. Neste caso, cada etapa só tem sentido se existir a que lhe antecede e se for deflagrada a que lhe sucede. Primeiro existe a intenção da compra das participações; logo após, utilizamse "empresas veículos"; em segundo, injetamse recursos para capitalizálas; Tudo isso se passando às vésperas da efetivação da compra das ações e, em terceiro, ocorre a incorporação das empresas interpostas, ocasião em que os investimentos na investida ficam diretamente ligados a real investidora. Uma operação estruturada como a que ora está sendo examinada indica a existência de um objetivo único, predeterminado à realização de todo o conjunto, indicando, também, uma causa jurídica única. Nesta hipótese, cumpre examinar se há motivos autônomos ou não, pois, se estes Fl. 1952DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 6 9 inexistirem, o fato a ser enquadrado é o conjunto e não cada uma das etapas. No caso examinado, nenhum motivo autônomo se apresenta nos autos que venha a justificar a realização de cada uma das etapas da operação. Isto é, não existiam finalidades diferentes para cada etapa das operações que as justificassem. As finalidades eram de somente se obter, ao término de todas as etapas, a redução indevida do pagamento de tributos em função da amortização de um ágio introduzido artificialmente na Barcelona e a permanência dos investimentos intocados no patrimônio da SÉ, já que esta não tinha nenhuma intenção de incorporar ou ser incorporada pela empresa operacional. Um elemento importante nestas operações em etapas diz respeito ao tempo decorrido entre cada uma delas. Na situação examinada, nenhum evento externo ocorreu que justificasse a seqüência de operações nesse curto espaço de tempo, tais como: as capitalizações das empresas veículos Sevilha e Nerano, feitas por sua controladora SÉ nas datas em que deviam ser efetuados os pagamentos aos acionistas Rodolfo e Luiz e as incorporações nos dias 31/03/2008 e 30/04/2010, respectivamente, pela controlada Barcelona. O curto espaço de tempo em que as operações foram realizadas já denotava que elas faziam parte de uma seqüência de etapas, encadeadas com as anteriores e a depender das posteriores, visando à busca de um fim determinado, pois nenhum evento externo a coagir ou exercer pressão sobre a fiscalizada ocorreu que justificasse a velocidade com que as operações foram realizadas. 9.2.1 Inexistências operacionais e administrativas da Sevilha e Nerano O art. 981 da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 Código Civil (CC), dispõe que celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e para partilhar, entre si, os resultados obtidos, podendo realizar atividades de um ou mais negócios determinados. E o art. 982 do CC dispõe que salvo as exceções expressas, considerase empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro. Assim, a finalidade precípua é a realização de negócios que caracterizam o exercício de atividade econômica. No caso específico da sociedade empresária, pelo teor do art. 966 do Código Civil, "Considerase empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços". Portanto, a atividade econômica é materializada pela produção e circulação Fl. 1953DF CARF MF 10 de bens e serviços mediante organização de fatores de produção (capital, trabalho, matériaprima, etc). A formação de ambas as sociedades, empresária e simples, está adstrita ao ânimo do exercício de atividade econômica, e se este não existir fica caracterizada a ausência de propósito societário, não originando, assim, a motivação para a própria celebração do contrato de sociedade. Subsidiariamente, neste caso, devese ponderar que não haveria nem mesmo quaisquer resultados a serem partilhados. O elemento relevante quando se está perante uma pessoa jurídica não é apenas a sua existência formal; tão ou mais importante, em matéria tributária, que o preenchimento das formalidades legais para sua constituição, é a identificação do empreendimento que justifica sua existência. A criação de uma pessoa jurídica tem sentido na medida em que corresponda à vestimenta jurídica de um determinado empreendimento econômico ou profissional. Ao teor do art. 966 do Código Civil, a idéia de empresa é o núcleo a ser investigado. Vale dizer, a atividade econômica é materializada pela produção e circulação de bens e serviços mediante organização de fatores de produção, por exemplo, capital, trabalho, matériaprima, etc. Nesse contexto, qual seria o papel das empresas Sevilha e Nerano? A empresas Sevilha e Nerano, conforme constam nas DIPJ 2008 e 2010, anoscalendário 2008 e 2010, respectivamente, informaram que não possuíam empregados, e que, além das despesas decorrentes das aquisições societárias, tais como, despesas bancárias de juros, não realizaram despesas operacionais a título de Remuneração a Dirigentes, de Prestação de Serviços por Pessoa Física sem Vínculo Empregatício, de Prestação de Serviços por Pessoa Jurídica, de Aluguéis, etc. As fichas 4A e 5A, onde são informados os custos e despesas incorridas pela empresa, estão praticamente zeradas. Ora, se estas empresas não remuneraram dirigentes e não possuíram qualquer despesa a título de Prestação de Serviços por Pessoa Física sem Vínculo Empregatício e de Prestação de Serviços por Pessoa Jurídica, quem foi o executor dos serviços para constituição da empresa, dos serviços contábeis, dos serviços bancários, etc? Como foi possível a contratação desses serviços? Houve prestação de serviço sem remuneração? Os dirigentes trabalharam sem remuneração? O fato é que as empresas Sevilha e Nerano não possuíam qualquer estrutura operacional e administrativa. Foram utilizadas apenas para servirem de veículos entre a SÉ e os acionistas retirantes da Barcelona: Rodolfo e Luiz, repassando lhes os recursos financeiros oriundos de sua controladora SÉ. Como empresas veículos interpostas que eram, serviram, também, para transferir o ágio negociado nas transações de compra e venda para dentro da empresa Barcelona e posterior amortização contábil e tributária do mesmo, e nada mais. Fl. 1954DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 7 11 9.2.2 Breve existência formal das incorporadas Sevilha e Nerano Sociedades efêmeras ou de curta duração são aquelas que nascem para morrer ou para serem extintas tão logo cumpram seu papel em determinada operação. O simples fato de a sociedade ser efêmera não significa haver contaminação na operação. Podem existir razões suficientes que levem à extinção imediata da pessoa jurídica ou mesmo à sua constituição de manhã e à sua extinção à tarde, por exemplo, caso algum fato externo venha a justificar tal operação. Não é pelo simples fato de ser efêmera que a operação estará contaminada, mas ser efêmera gera uma interrogação quanto ao motivo pelo qual foi efêmera. Por que foi criada e extinta em tão pouco tempo? Por vezes, dentro de um planejamento, a sociedade é criada para participar de determinado negócio ou receber determinado patrimônio ou recurso em trânsito para uma outra pessoa jurídica, eventualmente ligada à figura do ágio. Feito isto, pode ser extinta. Este foi exatamente o caso das empresas Sevilha e Nerano. Capitalizadas exatamente nas datas em que ocorreriam os pagamentos das aquisições das participações societárias, conforme demonstrado nos tópicos "4.3 Da Incorporação da Sevilha pela Barcelona" e "4.4 Da incorporação da Nerano pela Barcelona", que trataram de suas incorporações, situavamse nos mesmos endereços da SÉ e CBD. (...) Vimos então que, uma vez cumprido os seus papéis predeterminados no conjunto das operações que compõem a operação maior, ou seja, o transporte indevido do ágio para dentro da Barcelona, as empresas Sevilha e Nerano foram extintas nos dias 31/03/2008 e 30/04/2010, respectivamente, sem que nenhum fato externo tivesse concorrido para tal fim. Em suma, o caráter efêmero da sociedade é outro ponto relevante a ser considerado. 9.2.3 Incorporação às avessas Segundo Marco Aurélio Greco, os institutos jurídicos são desenhados para regular situações que, na vida comum em sociedade, se apresentam como o que freqüentemente ocorre, levandose em consideração as características e qualidades dos respectivos participantes. Fl. 1955DF CARF MF 12 Num grupo societário em que uma pessoa jurídica controle outra, caso haja necessidade de reunir ambas num único empreendimento, o caminho que a experiência aponta como natural é a controladora incorporar sua controlada e não o inverso (incorporação às avessas). A legislação reconhece esta figura de caráter inverso (controlada incorporando a controladora), mas isto não afasta a relevância das circunstâncias que podem cercar o caso concreto, pois esta operação inversa pode, eventualmente, estar sendo realizada abusivamente ou como negócio indireto em desrespeito à lei (talvez não à lei societária que regula a incorporação, mas à lei tributária ou outra lei relevante aplicável ao caso concreto). A incorporação às avessas apresentase como hipótese fora do perfil objetivo do instituto jurídico e, por isso, demanda uma razão específica relevante que afaste a estranheza da operação e que mostre sua perfeita adequação à realidade fática do caso. No caso em questão, em etapas anteriores à "incorporação às avessas", a Barcelona tornouse controlada da Sevilha e Nerano pela aquisição, por estas últimas, com ágio, de 60% e 40% de suas ações, respectivamente, resultando numa situação inusitada: Empresas de pequeno porte, que receberam aportes financeiros de seus controladores nos dias dos pagamentos das aquisições das participações, e que até então não haviam realizado qualquer operação econômica, adquiriram um Negócio, representado pela atividade de atacado e varejo explorada pela Assai, que havia alcançado Receita Bruta de Revenda de Mercadorias superior a novecentos e setenta e quatro milhões de reais no período entre 01/01/2007 e 31/10/2007. Portanto, não há qualquer razão específica sustentável, a não ser o desejo de dedutibilidade das despesas de amortização do ágio, para a ocorrência da referida incorporação às avessas. 10. DA CONCLUSÃO: INDEDUTIBILIDADE DO ÁGIO Face às análises efetuadas por esta auditoria fiscal, concluise que os valores amortizados à título de ágio decorrente da incorporação da Sevilha e Nerano pela Barcelona são indedutíveis para fins de cálculo do IRPJ e CSLL. Seja pelo fato de que a interposição de duas sociedades com a única finalidade de servir de empresas veículos para registrar os ágios pagos em uma operação, ao invés da utilização da real investidora, e logo em seguida efetuar a incorporação destas empresas veículos pela investida, com o único intuito de promover a redução da carga tributária. Ou seja pelo fato desta operação não ter o condão de extinguir a participação societária, haja vista que quando concluído o processo de incorporação das empresas veículos, o investimento Fl. 1956DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 8 13 e, consequentemente, o ágio permaneceram inalterados na controladora original. Em relação ao tratamento fiscal da dedutibilidade das despesas de amortização do ágio outorgado pela lei, é óbvio que o mesmo se aplica às reais hipóteses de (i) aquisição de investimento com ágio realizada por empresas no País e que efetivamente suportaram o pagamento deste, e (ii) quando ocorre a "confusão patrimonial" do investimento e ágio, em decorrência da extinção da participação societária. Desta forma, o tratamento fiscal não se aplica às hipóteses em que tenha havido a construção de uma artificial reestruturação societária para possibilitar a almejada dedutibilidade do ágio. A reorganização societária, para ser legítima, deve decorrer de atos efetivamente existentes, e não apenas artificial e formalmente revelados em documentação ou na escrituração mercantil ou fiscal. Essa análise não há que ser feita para cada negócio isoladamente, mas em relação ao conjunto de negócios encadeados, como um todo. Fixandose na natureza do método pelo qual os fatos efetivamente ocorreram, o que se encontra? Da parte da investidora SÉ, para a solidificação do controle da Barcelona, apenas operações entre empresas do mesmo grupo econômico e sem nenhum objetivo empresarial: criação, integralização de capital no momento dos pagamentos das aquisições das participações societárias e extinção das empresas veículos interpostas Sevilha e Nerano. Ou seja, meros mecanismos pelos quais se usou a fórmula de uma reorganização empresarial como disfarce para se encobrir seu objetivo real e único. Estamos diante, assim, de um plano preconcebido exclusivamente para a obtenção de reduções fiscais e não uma reorganização societária legítima. Não há dúvidas que novas empresas, empresas veículos, foram constituídas, de acordo com as formalidades exigidas no País. Entretanto, tais empresas nada mais eram do que uma invenção para transferir um ágio pago numa operação entre partes independentes para dentro da empresa investida, uma empresa operacional. A interposição dessas veículos tiveram como finalidade única a redução de tributos. Foram utilizadas sem nenhum outro propósito. As empresas veículos não tiveram nenhuma outra função. Quando tal função foi exercida, as empresas veículos, obviamente, deixaram de existir. A par de todo o ocorrido, tampouco as participações detidas pela SÉ na Barcelona saiu lhes das mãos e foram para terceiros. No curto lapso temporal de existência formal das interpostas Sevilha e Nerano, a real investidora permaneceu tendo o efetivo controle econômico e administrativo da Barcelona, vez que conforme o Acordo de Acionistas, elegia a maioria de seus conselheiros e administradores que, consequentemente representavamna perante terceiros (fornecedores, bancos, órgãos públicos, etc). Fl. 1957DF CARF MF 14 É óbvio que o GPA, representado pela SÉ, não tinha interesse em se desfazer de suas participações acionárias, entretanto, seria muito melhor ficar com elas e se aproveitar da possibilidade de amortizar o ágio pago na empresa investida – a Barcelona. Essas operações, apesar de formalmente lícitas, são desprovidas de substância essencial ao negócio, vez que a vontade expressa materialmente não corresponde à subjetivamente acordada entre as partes. Na verdade, tratase de atos intrinsecamente vazios, cuja única intenção é contornar norma impositiva tributária, em prejuízo específico dos princípios tributários da capacidade contributiva e da isonomia e, em linha gerais, dos direitos e garantias que norteiam a Carta Magna. Assim, atos ou negócios jurídicos formalmente praticados, mas carentes de elementos essenciais, que revelam ter por fim colimado exclusivamente o de esquivarse ao Fisco, afrontando princípios sociais e tributários superiores, não são oponíveis ao Estado, sendo a eles aplicável o tratamento tributário que o verdadeiro ato produziria. Vale lembrar que, com o advento do Código Civil veiculado pela Lei n° 10.406, de 2002, o abuso do direito passou a ser considerado um ato ilícito, nos termos de seu artigo 187 "in verbis": (...) Após o Código Civil de 2002, como o abuso de direito passou a ser expressamente qualificado como ato ilícito, em relação a questão tributária, o abuso faz desaparecer um dos requisitos básicos do planejamento, qual seja, o de se apoiar em atos lícitos. Vale dizer, a configuração de um ato ilícito (por abusivo) implica não estar mais diante de um caso de elisão, mas sim de evasão. Concluindo, no caso presente, podese afirmar que as operações realizadas e descritas anteriormente não representaram a extinção de nenhuma participação societária de fato e são ilícitas, uma vez que visaram, exclusivamente, a transferência de ágio pago, em operações artificiais, desprovidas de racionalidade e sem propósitos negociais. Nessas condições, a amortização do ágio é indedutível consoante as normas fiscais vigentes, não fazendo jus ao tratamento fiscal previsto nos artigos 7° da Lei n° 9.532/97, e 386 do RIR/99. (...)” Atingidas estas conclusões, a fiscalização detalha a infração, as respectivas multas aplicadas e os efeitos da indevida dedutibilidade nos resultados fiscais dos períodos de apuração abrangidos: “(...) 11. DA INFRAÇÃO Fl. 1958DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 9 15 11.1 Do IRPJ e da CSLL Como já mencionado, a legislação tributária veda a dedutibilidade da amortização do ágio enquanto não houver a extinção da participação societária a que o mesmo está ligado. Se não ocorreu a extinção da participação societária, as despesas de amortização do ágio de rentabilidade futura que nada mais são que a recuperação, ao longo do tempo, da expectativa de receita propiciada por determinado investimento não podem ser deduzidas do Lucro Líquido do Exercício, visto que o aumento patrimonial causado pelo investimento avaliado pela equivalência patrimonial também não é tributado. No caso presente, face as simulações constatadas, essas despesas não são dedutíveis. Como conseqüência, efetuarseá a glosa dos valores deduzidos a título de despesa de amortização de ágio, cujos valores são apresentados abaixo: 11.2 Da multa qualificada No caso presente, a intenção das operações realizadas foi, claramente, o aproveitamento do ágio nos resultados da Barcelona, com a dedução dos encargos de amortização desse ágio, através de atos elaborados em curto espaço de tempo, os quais tiveram a função de distorcer o resultado final que se daria naturalmente caso as partes não engendrassem elaborado planejamento. O que se verificou na prática acima exposta é que o contribuinte, de forma elaborada, buscou uma construção artificial e que teve como intuito único e exclusivo dificultar a análise por parte da fiscalização do real motivo da reorganização societária. A fundamentação legal da multa qualificada encontrase no art. 44 da Lei n° 9.430, de 27 de dezembro de 1996, que menciona intuito de fraude em sua redação original e que, na atual, limita se a remeter aos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 30 de novembro de 1964, e que têm a seguinte redação: Nesses termos, o que qualifica o agir do sujeito passivo como sonegação ou fraude é o dolo. Significa, portanto, que basta evidenciar o dolo para que se justifique a qualificação da multa Fl. 1959DF CARF MF 16 de ofício. Essa figura também é tratada no art. 145 do Código Civil, como um dos defeitos do negócio jurídico. Diz o Código: (...) Portanto, podese concluir que as definições de sonegação e fraude que dão suporte à qualificação da multa implicam ações tendentes a provocar a emissão de um juízo errôneo por parte da autoridade fiscal quando diante da amortização do ágio. A princípio, ao se deparar com a amortização do ágio, a fiscalização está diante de um valor dedutível por força da previsão legal, já que, tanto o surgimento do ágio quanto a reestruturação societária são aceitos pelo ordenamento. No entanto, existem circunstâncias que, como visto, permitem a glosa das despesas de amortização do ágio. Nesse sentido, o contribuinte, ao formalizar seus registros contábeis e societários de forma a dar uma aparência de correção à indedutibilidade das despesas de amortização do ágio e à reestruturação societária sem propósito negocial, pretende induzir a fiscalização a avalizar uma operação que, nessas circunstâncias, é inoponível à Fazenda. Ao agir desta maneira, portanto, não pode a Barcelona invocar desconhecimento ou prática de erro escusável: nem quando foram interpostas as empresas Sevilha e Nerano para carrear o ágio, nem quando as empresas veículos foram incorporadas e nem quando ele começou a ser amortizado, pois esses ágios gerados na aquisição dos 100% (cem por cento) da participação societária foram transferidos artificialmente para a investida. A contribuinte estava perfeitamente consciente da falta de propósito negocial ou societário na incorporação realizada, à luz do art. 966 do Código Civil, ficando caracterizada a utilização das incorporadas como mera "empresas veículos", interpostas, para transferência do ágio para a incorporadora, apenas com o fim almejado de redução do valor tributável do IRPJ e CSLL. Para permitir a incorporação de pessoas jurídicas e procurar se enquadrar no disposto nos artigos 7° da Lei 9.532/97, e 386 do RIR/99, foram utilizadas a Sevilha e Nerano, sem qualquer outro propósito que não a redução do valor dos tributos devidos. Empresas que, em seu curto período de existência, não incorreram em custos, despesas ou receitas, além daquelas decorrentes do pretenso investimento na Barcelona e seu ágio. 11.3 Da multa isolada A fiscalizada, no período de 01/01/2009 a 31/12/2012, optou como forma de tributação do lucro e apuração do IRPJ e da CSLL pelo Lucro Real Anual. Utilizouse também para o cálculo do Imposto de Renda Mensal por Estimativa e para o cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido por Estimativa do Balanço ou Balancete de Fl. 1960DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 10 17 Suspensão ou Redução, previsto nos art. 35 e 57 da Lei n° 8.981/95, "in verbis": (...) De acordo com a análise efetuada na contabilidade da Barcelona, durante o período de 01/2009 a 12/2012, verificouse que as despesas de amortização de ágio decorrente das incorporações da Sevilha e Nerano foram contabilizadas mensalmente e influenciaram na apuração do Lucro Líquido de Exercício, todavia, essas despesas não foram adicionadas mensalmente na apuração do Lucro Real e da Base de Cálculo da CSLL levantados com base em Balanços ou Balancetes de Suspensão ou Redução. Como conseqüência, houve uma redução nos cálculos mensais do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido devidos por Estimativa conforme demonstrado na Planilha "Cálculo do IRPJ e da CSLL por Estimativa". Esta planilha apresenta os valores mensais devidos, após a exclusão dos efeitos fiscais do ágio na apuração do Lucro Real (Base de Cálculo da CSLL) e aproveitamento dos valores do Imposto de Renda e CSLL retidos na fonte apurados conforme DIPJ's apresentadas pelo contribuinte. Esta planilha é parte integrante deste Termo de Verificação Fiscal. A falta de recolhimento da estimativa mensal do IRPJ e da estimativa mensal da CSLL constitui conduta ilícita sancionada pelo ordenamento jurídico conforme preceitua o art. 44, inciso II, alínea "b", da Lei n° 9.430/96, com redação dada pela Lei n° 11.488/2007, "in verbis": (...) Depreendese de tal dispositivo a aplicação da multa de ofício de 50%, exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento que deixou de ser efetuado. 12. DA RETIFICAÇÃO DO LALUR E DO LIVRO DE APURAÇÀO DA CSLL As infrações aqui mencionadas alteraram os resultados fiscais dos períodos de apuração abrangidos por esta fiscalização acarretando a anulação e/ou diminuição dos Prejuízos Fiscais e das Bases de Cálculo Negativa da CSLL dos anoscalendário de 2010 a 2012 e aumento dos Lucros Reais e das Bases de Cálculo Negativa da CSLL dos 2°, 3° e 4° trimestres de 2008 e do ano calendário de 2009. As alterações efetuadas nos resultados fiscais apurados pelo contribuinte (Prejuízo Fiscal e Base de Cálculo Negativa da CSLL) após a apropriação das infrações apuradas nesta auditoria fiscal estão detalhadas nos demonstrativos do sistema Fl. 1961DF CARF MF 18 da RFB SAPLI (Sistema de Acompanhamento de Prejuízo, Lucro Inflacionário e Base de Cálculo Negativa da CSLL). Em face das infrações tributárias aqui apontadas, fica o contribuinte intimado a empreender as devidas retificações nos Livros de Apuração do Lucro Real LALUR e nos Livros de Apuração da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido referentes aos 2°, 3° e 4° trimestres de 2008 e anoscalendário de 2009 e subsequentes. (...)” Foram então lavrados os autos de infração, dos quais se exprime o seguinte: “(...) 13. DOS PROCESSOS FORMALIZADOS Em face das constatações acima discorridas, foram lavrados os pertinentes Autos de Infração de IRPJ, de CSLL e Multa Isolada, formalizados no processo administrativo sob n° 16561 720.117/201311, abarcando os 2°, 3° e 4° trimestres de 2008 e anoscalendário de 2009 a 2012. Ademais, em face do disposto na Portaria RFB n° 2439, de 21 de dezembro de 2010, e alterações introduzidas pela Portaria RFB n° 3182, de 29 de julho de 2011, foi formalizada a Representação Fiscal para Fins Penais através do processo administrativo sob n° 16561 720.118/201365. Por fim, informamos que não será formalizado processo administrativo visando ao arrolamento de bens e direitos em virtude da soma dos créditos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), de responsabilidade do sujeito passivo, não atingirem o disposto no art. 2° da Instrução Normativa RFB n° 1.171, de 07 de julho de 2011, e alterações introduzidas pela IN RFB n° 1.197, de 30 de setembro de 2011, e pela IN SRF n° 1.206, de 01 de novembro de 2011. E para constar e surtir efeitos legais, foi lavrado o presente termo em duas vias de igual teor, que vão assinadas pelos AuditoresFiscais da Receita Federal do Brasil abaixo, sendo uma das vias encaminhada ao domicílio tributário do fiscalizado por via postal mediante Aviso de Recebimento (AR). (...)” A Contribuinte foi cientificada via postal em 22/10/2013 (vide AR de fls. 1535) e apresentou a impugnação de fls. 14021468, discorrendo sobre os seguintes tópicos: I FATOS Fl. 1962DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 11 19 II QUESTÕES INCONTROVERSAS NOS PRESENTES AUTOS III OBJETO DA CONTROVÉRSIA NO PRESENTE PROCESSO IV SUMÁRIO DOS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS DE DEFESA V DIREITO V.1 PRELIMINARMENTE DA NULIDADE DO LANÇAMENTO: FALTA DE INDICAÇÃO DO CORRETO FUNDAMENTO LEGAL DA AUTUAÇÃO V.2 DESNECESSIDADE DE PRONUNCIAMENTO DA NULIDADE APONTADA NO TÓPICO ANTERIOR, EM CASO DE DECISÃO FAVORÁVEL NO MÉRITO V.3 DECADÊNCIA DO DIREITO DO FISCO DE QUESTIONAR O REGISTRO CONTÁBIL DO ÁGIO E CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO V.4 MÉRITO V.4 a CONTEXTO DA AQUISIÇÃO V.4.2UTILIZAÇÃO DE HOLDINGS: OPÇÃO LEGAL V.4.3 OS PAPÉIS EFETIVAMENTE DESEMPENHADOS POR SEVILHA E NERANO V.4.4 AS INCORPORAÇÕES DE SEVILHA E NERANO V.4.s JURISPRUDÊNCIA ADMINISTRATIVA DO CARF: UTILIZAÇÃO DE EMPRESAS VEÍCULO V.5 IMPROCEDÊNCIA DA MULTA PERPETRADA V.5.1 INAPLICABILIDADE DE PENALIDADE MULTA DE OFÍCIO V.5.2 INAPLICABILIDADE DA QUALIFICAÇÃO DA MULTA V.5.3 IMPROCEDÊNCIA DE APLICAÇÃO DE MULTA ISOLADA CONCOMITANTEMENTE COM MULTA DE OFÍCIO E EM VALOR SUPERIOR AO VALOR APURADO APÓS O ENCERRAMENTO DO EXERCÍCIO V.5.4 ERRO DE APURAÇÃO NA BASE DE CÁLCULO DA ESTIMATIVA MENSAL E CONSEQÜENTE QUANTIFICAÇÃO EQUIVOCADA DA MULTA ISOLADA V.6 DA IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE JUROS MORATÓRIOS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO (...)” No tópico “V” da peça impugnatória resumemse os principais fundamentos da defesa, vejamos: Fl. 1963DF CARF MF 20 “(...) IVSUMÁRIO DOS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS DE DEFESA 19. Delimitado o objeto da discussão do presente processo, a Impugnante passa a relacionar, abaixo, de forma sintética, os seus principais argumentos de defesa, sem prejuízo de outros que serão detalhados mais adiante: a) Os Autos de Infração são nulos, pois não mencionaram corretamente os fundamentos legais para a glosa das amortizações do ágio, acarretando cerceamento do direito de defesa. b) Ainda que fosse procedente a glosa do ágio, parte do crédito tributário constituído encontrase extinto por decadência, tendo em vista que o IRPJ e a CSLL são tributos sujeitos a lançamento por homologação, sendo aplicável a regra prevista no artigo 150, §4°, do CTN, por não ter restado configurado dolo, fraude ou simulação. Assim, o prazo decadencial em relação ao ágio decorrente das aquisições procedidas por Sevilha teria se esgotado tanto se a contagem se iniciar da data da sua geração (01/11/2007), da deliberação da incorporação (31/03/2008) ou da data em que foi realizada a primeira amortização (30/06/2008), haja vista que o lançamento foi realizado em 22/10/2013. c) Ad argumentandum, mesmo que o prazo decadencial seja contado em relação a cada amortização, aplicandose o disposto no artigo 150, §4°, do CTN, ao menos os valores apurados no 2° e 3° trimestres de 2008 teriam sido atingidos pela decadência. d) No mérito, as autuações devem ser julgadas improcedentes, pois se trata de ágio efetivamente pago (milhões de Reais) aos excontroladores para a aquisição de participações societárias entre partes indubitavelmente independentes. e) A aquisição do negócio de atacarejo por parte do GPA era medida necessária para a expansão dos seus negócios e para a contenção de crescimento dos seus concorrentes. Todas as operações realizadas, inclusive no que diz respeito à forma como seriam procedidas, especificandose, até mesmo, a utilização de empresas veículo de aquisição, foram amplamente divulgadas e noticiadas pela imprensa. f) A utilização de empresas holdings para aquisição de investimentos, incluindo a realização de pagamentos por seu intermédio, é permitida e até mesmo incentivada pela legislação. Tanto é assim que é modelo amplamente utilizado pela União na condução de seus investimentos e também foi diversas vezes usado em processos de privatização, tendo sido reconhecido como procedimento válido em dezenas de acórdãos proferidos pelo CARF. g) A Impugnante reconhece que a Sevilha e a Nerano foram sociedades holdings criadas para viabilizar a aquisição das participações societárias, já que a incorporação da Impugnante (empresa operacional com dezenas de estabelecimentos) por Fl. 1964DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 12 21 outra empresa operacional (SÉ ou até mesmo CBD, também sociedades com centenas de estabelecimentos), além de bastante complexa de ser operacionalizada (por questões de gestão, de sistema, dentre outros), inviabilizaria a segregação necessária dos negócios (varejo e atacarejo) e implicaria em envolver, nos demais negócios do GPA, os excontroladores de Assai. h) A chamada incorporação "reversa, às avessas ou invertida" está expressamente prevista na legislação fiscal, em especial no artigo 8°, alínea "b", da Lei n° 9.532/97, tendo sido mantida expressamente na recém editada Medida Provisória n° 627/2013, sendo, portanto, permitida. i) Ainda que o lançamento não tivesse que ser integralmente cancelado, a penalidade não pode ser mantida, especialmente em percentual agravado, tendo em vista que a Impugnante agiu em consonância com a jurisprudência vigente à época dos fatos bem como com o atual entendimento do CARF, que já convalidou operações semelhantes de aquisição por meio de holdings. Além disso, jamais houve ação dolosa, por parte da Impugnante, tendente a reduzir o tributo devido, tampouco simulação na constituição das empresas e ocultação das operações realizadas. j) A multa isolada sob acusação de falta de recolhimento por estimativa mensal não pode ser mantida, por ter sido aplicada de modo concomitante com a multa de ofício proporcional aos tributos apurados. Ainda que não fosse improcedente a exigência da multa isolada como um todo, o cálculo procedido pela D. Fiscalização contém erros. (...)” Ao final a impugnante pleiteia (verbis): “(...) VI – PEDIDO 217. Ante o acima exposto, pede e espera a ora Impugnante seja conhecida e provida a presente Impugnação, pelos seus próprios e jurídicos fundamentos, para o fim de ser a exigência fiscal cancelada na sua totalidade a título de IRPJ e CSLL, multa de ofício multa isolada, juros e demais acréscimos, determinando se, por conseguinte, o restabelecimento do saldo de prejuízo fiscal compensando "de ofício" e, ao final, o arquivamento do processo administrativo instaurado. (...)” Acórdão nº 1452.726 5ª Turma da DRJ/RPO Em suma, entendeuse que, no presente caso, ficara evidenciado o fato de que as empresas Sevilha e Nerano foram criadas para viabilizar a amortização do ágio efetivamente pago na aquisição das participações dos Srs. Rodolfo Junji Nagai e Luiz Fumikazu Kogashi na Fl. 1965DF CARF MF 22 empresa Barcelona, que efetivamente receberam pelas alienações e, em princípio, deveriam oferecer os ganhos à tributação. Todavia, o Colegiado, pela maioria de seus membros, entendeu que na situação versada nos autos o ágio é indedutivel, pois, sua dedutilibilidade foi materializada artificialmente, haja vista que as empresas investidora (Sé) e investida (Barcelona) continuaram a existir após as operações. Para sustentar tal posicionamento transcrevemse trechos extensos do Termo de Verificação Fiscal (já transcritos em parte anterior deste relatório) e concluise: “(...) Os fundamentos acima convenceram este Colegiado em sua maioria, pelo que peço vênia para adotálos como razões de decidir, afastando, inclusive a preliminar de nulidade do lançamento haja vista que está precisamente apontado o fundamento legal da autuação, que inclusive entendese por correto. (...)” Apontamse, então, precedentes do CARF no sentido do ora decidido e rejeitamse, pois, as alegações quanto a nulidade dos autos de infração bem como da improcedência da glosa do Ágio. Quanto a multa entendeuse pela prevalência de entendimento majoritário do Colegiado no sentido de que o artificialismo caracterizado pela utilização de empresa veículo, absolutamente desnecessária, visando exclusivamente viabilizar a amortização do ágio, subsumese à hipótese do art. 71 da lei n° 4.502/1964, nos exatos termos da fundamentação Fiscal. Mantevese, então, a qualificação da multa de oficio. Em relação a decadência, firmouse o entendimento de que, uma vez que houve a aplicação da multa qualificada, a contagem do prazo decadencial deve ser feita na forma do art. 173 do CTN. No presente caso, o contribuinte adotou a sistemática do lucro real trimestral, ou seja, considerase ocorrido o fato gerador no último dia de cada trimestre. Logo, à luz do art. 173, inciso I do CTN, o prazo decadencial do ano calendário de 2008 (1º autuado) iniciouse em 1/1/2009, encerrandose em 31/12/2013. Por todo o exposto, rejeitouse a alegação de impossibilidade do Fisco efetuar em 2013 a auditoria dos elementos contábeis e fiscais do anocalendário de 2007, para glosar valores com repercussão tributária em períodos posteriores (ágio passível de amortização). Rejeitouse também a Decadência do anocalendário de 2008. Ainda reputouse absolutamente legal e correta a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício da mesma forma que do principal: a partir do vencimento. Colacionaramse os fundamentos do ilustre conselheiro do CARF, Leonardo Couto, sobre o tema. Por fim, quanto a aplicação da multa isolada, frisouse que a Instrução Normativa SRF nº 93, de 24 de dezembro de 1997, ao tratar da falta ou insuficiência de pagamento da estimativa, em seus arts. 15 e 16, esclareceu que, verificada a falta de pagamento do imposto por estimativa após o término do anocalendário, o lançamento de ofício abrangeria Fl. 1966DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 13 23 tanto a multa de ofício isolada sobre a estimativa não recolhida como o imposto devido com base no lucro real apurado no encerramento do anocalendário, acrescido de multa de ofício e de juros de mora. No entanto, entendeuse que não há mais que se falar de dupla incidência sobre uma mesma materialidade, uma vez que a nova redação legal dada ao art. 44 da Lei nº 9.430/1996 pela MP nº 351/2007, convertida na Lei nº 11.488/2007, deixa claro que a base de cálculo da multa isolada é o pagamento mensal. Com a nova redação tornouse clara a distinção entre as duas multas, que referemse a infrações distintas: falta de recolhimento do pagamento mensal e falta de recolhimento do tributo devido ao final do ano calendário. Analisaramse então as alegações e cálculos dispostos na impugnação para concluirse que cabe razão a impugnante nessa parte. Especificamente quanto a multa isolada da estimativa do mês de dezembro de cada ano, verificouse que é exatamente o valor do ajuste anual, haja vista que a contribuinte elaborou balanços mensais de suspensão/redução. Assim sendo, foram excluídas as seguintes parcelas relativas multa isolada por falta de recolhimento do IRPJ e CSLL por estimativas mensais: Diante do exposto, votouse no sentido de julgar procedente em parte a impugnação interposta, tão somente para reduzir parcialmente a exigência da multa isolada, exonerandose os valores de R$ 2.540.365,83 e 1.979.513,54 (conforme demonstrativo acima). Recurso Voluntário O presente Recurso Voluntário fora mantido em idênticos termos aos da Impugnação apresentada. Apenas um tópico fora acrescido no sentido de delinear uma síntese do v. acórdão recorrido, destacando os principais pontos ali sustentados. É o relatório. Voto Conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado Relator O recurso interposto é tempestivo e encontrase revestido das formalidades legais cabíveis merecendo ser apreciado. Contabilização do Ágio Fl. 1967DF CARF MF 24 Integralmente respaldado pela aplicação do princípio da verdade material, o entendimento do presente julgador é de que tratase a amortização do ágio de um instrumento criado pelo ordenamento jurídico voltado ao atendimento e regulação de uma operação econômica específica, para que a tributação desta represente total consonância com a regra matriz de incidência do IRPJ e, assim, com o consagrado princípio da capacidade contributiva. O ágio representa a diferença entre o custo de aquisição de um investimento em participações societárias de coligada ou controlada e o valor do patrimônio líquido da investida à época da aquisição. Em raciocínio inverso, portanto, o custo de aquisição de participação societária em coligada ou controlada, ou o valor do investimento, necessariamente corresponderá ao valor do patrimônio líquido da investida, na época da aquisição, somado ao ágio ou deságio respectivo. Devese frisar que o ágio do caso presente lastreia uma expectativa de lucratividade da empresa investida para o futuro, em suma, esperandose o retorno econômico e financeiro do investimento realizado. É sobre este fundamento específico que recairá toda a tese sustentada a partir de então. São dois os eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformamse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). Quanto ao primeiro caso, tratase de situação no qual a investidora aliena o investimento para uma terceira empresa e o ágio passa a integrar o valor patrimonial do investimento para fins de apuração do ganho de capital, reduzindo, assim, a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Desta feita, o aproveitamento do ágio ocorre no momento em que o investimento que lhe deu causa foi objeto de alienação ou liquidação. Sobre o segundo caso deve ser lançada uma análise aprofundada, por nortear exatamente o que se afigura em tela. A operação, então, deve ser delineada desde sua origem, até a efetiva consumação do instituto legalmente habilitado ao contribuinte: a amortização do ágio deve atender a certos pressupostos e requisitos que vão se desenhando a partir do deslinde de uma série de atos interdependentes em ordem cronológica. Inicialmente, há a concretização de um investimento lastreado pela aquisição de participação societária em coligada ou controlada, com o pagamento de um sobrepreço (ágio) justificado pela expectativa de rentabilidade futura da empresa adquirida/investida. Celebrase um contrato de compra e venda cujo o objeto é a aquisição de participação societária com ágio. De forma sucinta e direta, creditase a Conta Caixa/Bancos da pessoa jurídica que passará a ser a investidora, detentora da participação societária e futura controladora. Em contrapartida, debitase a Conta Caixa/Bancos da pessoa jurídica que detinha a participação societária, antiga investidora e controladora, baixandose a conta de investimentos. A relação que se estabelece é de que o adquirente/comprador passa a ser o investidor, esperando a rentabilidade futura da investida diante do ágio efetivamente pago. A legislação brasileira prevê que as pessoas jurídicas que detenham investimentos em controladas ou coligadas devem realizar sua escrituração pelo MEP (Método de Equivalência Patrimonial), desdobrando o custo deste: (i) no valor do patrimônio líquido Fl. 1968DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 14 25 existente no momento da aquisição da respectiva participação societária e (h) no ágio ou deságio eventualmente suportado para a aludida aquisição. Importante ressaltar que o montante correspondente ao ágio, na empresa investidora, é lançado no ativo permanente, como ativo diferido, na conta de investimentos. A Conta de Ativo Diferido caracterizase por evidenciar os recursos aplicados na realização de despesas que contribuem para a formação do resultado de mais de um exercício social futuro. Evidencia compatibilização conceitual/lógica e perfeita adequação contábil, então, o registro do ágio em referida conta. Ao mesmo tempo, a conta de investimentos é debitada no ativo da investidora, para representar contabilmente a porcentagem de sua participação aplicada ao patrimônio líquido total da investida, pelo MEP, portanto. A escrituração de ágio pela investida não possui relevância para a análise em tela, pois não há comunicação necessária com os lançamentos contábeis realizados pela empresa investidora. Por essa razão, em nenhum momento a legislação que rege a matéria se volta aos valores contabilizados como ágio pela empresa investida, sendo relevante, apenas, a conta de investimento presente nas demonstrações financeiras da empresa investidora. Passado este momento de contabilização inicial do investimento, o que deve ser esmiuçado a seguir são os reflexos contábeis e tributários dos lucros de fato auferidos pela investida, fundamento que sustentou a justificativa do ágio pago pela investidora. As variações no patrimônio líquido da investida, decorrentes diretamente da hipotética concretização dos lucros, passam a ser refletidas na investidora pelo MEP. Desta forma, a conta do ativo de investimentos deve ser ajustada na contabilidade da investidora, debitandose os valores correspondentes aos lucros auferidos pela investida e repercutindo, assim, o aumento patrimonial que ali se consumou. Tal contabilização é definida pela dicção legal do art. 388 do RIR/99. Contudo, estes eventuais aumentos no valor do patrimônio líquido da investida não são computados na determinação do lucro real da investidora, nos termos do art. 389 do RIR/99. Essencial que se ressalte o fato de investidor e investida serem entidades autônomas até então. A partir do momento em que são auferidos lucros pela investida, que representam justamente a concretização da expectativa de rentabilidade futura que fundamentou o pagamento do ágio, a tributação se dá única e exclusivamente por parte da própria investida, uma vez decorrente de sua atividade normal e operacional. Não faria sentido tributar os lucros na investida, e em seguida tributar o aumento do patrimônio líquido na investidora, que ocorreu precisamente por conta dos lucros auferidos pela investida. Fl. 1969DF CARF MF 26 Neste albor, segue passagem norteadora do Acórdão nº 9101002.312 – 1ª Turma, de relatoria do Ilustre Conselheiro Luís Flávio Neto (Sessão de 3 de Maio de 2016): “(...) Resta nítida a separação dos patrimônios entre investidora e investida, inclusive as repercussões sobre os resultados de cada um. A investida, pessoa jurídica independente, em razão de sua atividade econômica, apura rendimentos que, naturalmente, são por ela tributados. Por sua vez, na medida em que a investida aumenta seu patrimônio líquido em razão de resultados positivos, por meio do MEP há uma repercussão na contabilidade da investidora, para refletir o acréscimo patrimonial realizado. A conta de ativos em investimentos é debitada na investidora, e, por sua vez, a contrapartida, apesar de creditada como receita, é excluída na apuração do Lucro Real. (...)” Destaque imprescindível é o de que, neste momento, fora tributado o lucro que de fato se concretizou, o acréscimo patrimonial que norteia a hipótese de incidência do Imposto de Renda taxado no art. 43 do CTN, para mais à frente detectarse que o instituto do ágio visa coibir uma bitributação, baseandose, de um lado, meramente em expectativa de renda. Portanto, há a realização de fato do investimento, a valorização da participação societária na medida em que previsto quando do pagamento do ágio. Consumase o retorno econômico esperado pelo investidor quando da aquisição da participação societária. A contabilização aqui construída não guarda relação total e direta com o caso concreto, o qual, conforme será demonstrado adiante, primou unicamente pela amortização fiscal do ágio, desconsiderando qualquer amortização contábil anterior. O raciocínio construído até então, no entanto, além de servir como instrumento basilar e abrangente para o entendimento de situações específicas/peculiares, visa a construção e posterior demonstração da lógica do sistema de amortização inserido no ordenamento jurídico brasileiro. Amortização Contábil do Ágio Sob um olhar atento da situação que ora se desenhou, percebese que, contabilmente, este ágio por rentabilidade futura poderia ser amortizado pela investidora na medida em que a rentabilidade é realizada pela empresa investida (com os reflexos em seu patrimônio líquido), dentro do período em que houve a previsão para os futuros lucros. Assim, o valor do ágio seria abatido do lucro auferido na participação. Conforme professora Ludícibus (2009, p. 176): “O fundamento aqui é o de que, na verdade, as receitas equivalentes aos lucros da coligada ou controlada não Fl. 1970DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 15 27 representam um lucro efetivo, já que a investidora pagou por eles antecipadamente, devendo, portanto, baixar o ágio contra essas receitas”. Neste albor definese a possibilidade de uma amortização contábil, em que se torna válido o abatimento do valor relativo ágio do lucro auferido na participação, apesar de não se produzir quaisquer efeitos na orla fiscal/tributária. Como o ágio fora fundamentado pela expectativa de rentabilidade futura do investimento, ele deveria ser amortizado contabilmente durante o período no qual se esperava que tais resultados se realizassem. A expectativa de resultados futuros deveria ser avaliada a cada período para fins de revisar os critérios de amortização do ágio ou simplesmente baixálo integralmente. No entanto, os efeitos desta amortização contábil são neutralizados pela legislação do IRPJ. De fato, dispunha o art. 25 do Decreto Lei nº 1598 que as contrapartidas da amortização contábil não deveriam ser computadas na determinação do lucro real, tampouco as contrapartidas dos ajustes na conta de investimentos (diante dos aumentos patrimoniais da investida), creditadas como receita. As contrapartidas de amortização contábil constituem despesas que afetam negativamente o lucro societário, devendo ser adicionados ao lucro real no período em que incorridas e controladas na Parte B do LALUR. Cabe ressaltar que a Parte B do LALUR caracterizase pela mantença dos registros de controle de valores que integrarão a tributação de períodos subseqüentes, quer como adição, exclusão ou compensação. Em se tratando de ágio cuja justificativa econômica é a expectativa de rendimentos futuros, ainda que uma parte dele ou todo o seu valor já tiver sido amortizado contabilmente, este ágio poderia ser amortizado para fins tributários somente após a incorporação, fusão ou cisão, conforme determinação legal contida no art. 7º, III, da Lei nº 9532/97, conforme será delineado a seguir. Quanto a parte já amortizada contabilmente, a amortização fiscal deveria se dar mediante exclusões do lucro real em contrapartida às baixas respectivas no controle da Parte B do LALUR. Apesar da possibilidade fática e legal de conciliação de uma amortização contábil, seguida da amortização fiscal, depois da edição da Lei nº 11.638/07, o ágio deixa de ser sistematicamente (automaticamente) amortizado. O atual padrão contábil não mais prevê a amortização contábil do ágio por expectativa de rentabilidade futura, mas apenas a aplicação de testes de recuperabilidade (impairment), nos termos da atual redação do artigo 183 da lei 6.404/76, com a finalidade de medir a eventual perda por redução ao valor de recuperação existente. Amortização Fiscal do Ágio Fl. 1971DF CARF MF 28 A amortização fiscal depende do cumprimento de uma fórmula operacional básica (expressão utilizada no já citado Acórdão nº 9101002.312 – 1ª Turma), que pressupõe a absorção, reunião e posterior confusão patrimonial entre investidora e investida, nos termos dos art. 7 ° (ou 386 do RIR/99), in verbis: “Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977: (Vide Medida Provisória nº 135, de 30.10.2003) I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "a" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "c" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (Redação dada pela Lei nº 9.718, de 1998) IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados durante os cinco anoscalendários subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de 1/60 (um sessenta avos), no mínimo, para cada mês do período de apuração. § 1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão. § 2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar: a) o ágio, em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; b) o deságio, em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. § 3º O valor registrado na forma do inciso II do caput: a) será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; Fl. 1972DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 16 29 b) poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. § 4º Na hipótese da alínea "b" do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos e contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente. § 5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito. Apenas desta forma aperfeiçoase o encontro de contas entre o investidor e a investida e possibilitase a aplicação estrita do princípio do emparelhamento de receitas e despesas, ou seja, tornase se possível o confronto direto entre as despesas de amortização do ágio, contabilizados pela investidora/incorporadora e as receitas provenientes dos lucros efetivamente auferidos pela empresa investida/incorporada (aproveitamos aqui a confusão patrimonial através da incorporação, por ser o caso concreto). Compartilhando o mesmo patrimônio investidora e investida, consolidase cenário no qual a mesma pessoa jurídica que adquiriu o investimento com ágio baseado na expectativa de rentabilidade futura, passa a ser tributada pelos lucros percebidos nesse investimento. Nesta linha segue norteador excerto, novamente extraído do Acórdão nº 9101002.312 – 1ª Turma: “(...) A exigência normativa, portanto, reside simplesmente em uma necessidade técnica de reunido (i) do acervo patrimonial cuja rentabilidade futura justificou o ágio com (ii) o acervo patrimonial em que estão registrados os sacrifícios do investimento realizado, com a segregação, pelo MEP, dos valores atinentes ao ágio e ao valor patrimonial da investida identificado quando de sua aquisição. A exigência do legislador consiste simplesmente no emparelhamento de receitas e despesas, o que se dá com "a realização' do investimento, mediante operação que integre, numa mesma entidade, a investidora e o acervo objeto do investimento (...) Nesse seguir, a mens legis ou ratio legis das regras em análise se torna evidente: o ágio decorrente da aquisição deverá ser amortizado do lucro obtida pela empresa adquirida, o que demanda comunicação entre ambas ou seja, "absorção". E dizer: para que o objetivo da norma seja alcançado (qual seja, a amortização do ágio), o meio selecionado como requisito Fl. 1973DF CARF MF 30 essencial foi a reunido, "absorção" das pessoas jurídicas investidora e investida." Com a incorporação, por óbvio, extinguese a conta de investimentos registrada no ativo da empresa investidora/incorporadora. Deverá ser baixado o saldo do investimento realizado junto a empresa investida, incorporada ou incorporadora (dependendo se ocorreu uma incorporação ou uma incorporação reversa), já que ou a investidora ou a investida deixaram de existir como pessoas jurídicas distintas. Desta forma, e apenas desta forma, podem ser feitos os lançamentos referentes a amortização fiscal do ágio, quais sejam: creditamse os valores de ágio registrados no ativo diferido e debitamse despesas de amortização em conta de resultado. Essas despesas confrontarão mensalmente e à razão de 1/60, no prazo mínimo de 5 anos, as receitas provenientes da rentabilidade da empresa incorporada. Lógica Tributária do Sistema de Amortização (Art. 7º da Lei nº 9532/97) – O Benefício Fiscal A lógica do sistema, delineando a situação que se colocou até então, mostra se clara, na medida em que não caberia uma dupla tributação dos lucros auferidos pela investida. Este lucro já fora devidamente tributado antes de ocorrer a incorporação, pela investida, quando de fato concretizouse a expectativa de rentabilidade que embasou o ágio. Uma vez transferido este lucro à incorporadora, com a confusão patrimonial que se instaura, razão não há para uma nova tributação, posto que este já fora reconhecida outrora. O efeito contábil e tributário desta operação, do investimento em si, já se manifestara em um momento anterior. Veja, o cuidado do legislador é milimétrico e perfeito neste sentido, não oferecendo qualquer brecha, em momento algum, para a tributação de eventuais acréscimos patrimoniais refletidos na investidora. Quaisquer resultados positivos que fossem percebidos na contabilidade da investidora não seriam tributados de fato, diante de expressa vedação legal. O que ocorre em um marco finalístico é tão somente a efetivação do instituto legal de amortização do ágio, anulando todos os efeitos contábeis e fiscais naturalmente duplicados da operação, reconhecendo que parte de tais efeitos já foram propagados e devidamente registrados no passado. Neste sentido vemos total sincronia entre as legislações infraconstitucionais e a carta Magna, norteando respeito mútuo, principalmente no que concerne o atendimento ao princípio da igualdade tributária e o princípio da capacidade contributiva. Seria uma afronta a referidos princípios a tributação dupla sobre um mesmo fato gerador, concebendo a possibilidade da tributação sobre uma mera expectativa de renda. Fl. 1974DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 17 31 Ocorre que, prevalecem na atualidade os casos reais e concretos em que a operação societária que promove a confusão patrimonial é efetuada logo em seguida ao pagamento do ágio na aquisição de participação societária (o caso em tela se dá nesses termos). As empresas investidora e investida deixam de ser entidades autônomas antes da produção dos resultados positivos esperados. Deste modo, não se consuma e tampouco se considera a amortização contábil, por impossibilidade fáticotemporal. A amortização fiscal não levará em conta qualquer valor amortizado contabilmente. Neste contexto, não há que se falar na impossibilidade da bitributação, mas, sim, em isenção fiscal. Em nenhum momento são tributados os lucros que lastrearam a fundamentação do ágio, pois estes foram se realizando dentro do patrimônio da própria investidora ou investida, respectivamente com a incorporação ou a incorporação reversa. A essência ideológica de um benefício fiscal reside especificamente neste ponto e, naturalmente, as discussões e divergências doutrinárias e jurisprudenciais quanto a artificialidade da amortização do ágio decorrem daí. Há, de fato, a isenção do pagamento de IRPJ sobre os lucros auferidos na operação, os quais, em nenhum momento, são tributados. Veja, a mesma sistemática contábil aplicada para a amortização contábil é aqui adotada analogamente para a amortização fiscal. Os lucros percebidos não representam lucros de fato, uma vez que devem ser confrontados com as respectivas despesas de amortização. A diferença aqui ressaltada, que fundamenta a caracterização e incisão de um benefício fiscal na operação, é a de que, no caso de uma amortização contábil, apesar de não perfazerse lucro efetivo para a investidora, o perfaz para a investida, que, por sua vez, deve sofrer a tributação do IRPJ. Não havendo amortização contábil, mas somente uma amortização fiscal, com a incorporação e a reunião patrimonial, os lucros efetivados (relativos a expectativa que fundamentou o ágio pago) são imediatamente desnaturados pelas despesas de amortização do ágio, portanto, não ensejando qualquer tributação. No entanto, independentemente da situação que se concretiza, considerando ou desconsiderando uma anterior amortização contábil, devese partir do pressuposto de que os lucros auferidos nunca deixaram de ter a natureza de uma mera expectativa de lucratividade para a investidora. Sob este prisma, mesmo quando incorporados ou auferidos de fato estes lucros, com a confusão patrimonial, o legislador criou uma forma de manter intacta esta natureza, que passa a representar toda a abrangência de conteúdo significativo do ordenamento jurídicotributário especificamente em uma peculiaridade e individualidade econômica. Explicase. A fundamentação que embasa o pagamento do ágio é a expectativa de rentabilidade futura. Toda a operação econômica e financeira que se forma tem como pressuposto, então, a expectativa de um investidor. A contabilidade do investidor (ou, Fl. 1975DF CARF MF 32 posteriormente da investida, se houver incorporação reversa), neste sentido, deve representar uma realidade fática e, portanto, deve se moldar para manifestar esta expectativa. A questão norteadora para a análise em questão é a de que o investidor, com o pagamento do ágio, tem um sacrifício econômico efetivo, uma despesa. Este sacrifício, no entanto, é lastreado por uma expectativa, de modo que só se verá o respectivo retorno atendido quando a expectativa se concretizar e não o lucro efetivamente. Então, a contrapartida do ágio deve ser a representação real e fidedigna desta expectativa de rentabilidade. Com a incorporação e a efetiva confusão patrimonial, o investidor (ou a investida, por conseqüência lógica, se ocorrer a incorporação reversa) sente de fato o atendimento e satisfação da expectativa, quando os lucros passam a ser percebidos em seu resultado. O que o investidor (ou investida, com a incorporação reversa) deve representar, por meio de sua contabilidade, é o sacrifício econômico destinado a efetivação de uma expectativa. O legislador encontrou, então, no permissivo legal de amortização do ágio, uma forma de desnaturar os lucros sentidos pela incorporadora, para darlhes a realidade fática de sua verdadeira natureza essencial e originária, uma expectativa de rentabilidade. Há o respeito total ao ordenamento jurídico. Sob um olhar perfunctório e desatento, com a absorção dos resultados positivos pela investidora/incorporadora, vemos um signo de riqueza e, assim, a materialização do princípio da capacidade contributiva em seu caráter objetivo. No entanto, em uma análise detida, tornase imperceptível a presença de um sujeito apto a suportar o impacto tributário, uma vez que, considerados os sacrifícios econômicos dispendidos para tal, vêse situação de completa indisponibilidade jurídica e econômica de riqueza por parte da investidora/incorporadora. Neste passo, haveria total descompasso com o princípio da capacidade contributiva, em seu caráter subjetivo, a tributação de uma mera expectativa de rentabilidade do investidor/incorporador. O instituto de amortização do ágio representa uma interpretação extensiva da lei em sua constituição. A capacidade contributiva absoluta ou objetiva “retrata a eleição, pela autoridade legislativa competente, de fatos que ostentem signos de riqueza”. Está se diante de um fato que se constitua numa manifestação de riqueza, de eventos que demonstrem aptidão para concorrer às despesas públicas. Há então, um sujeito passivo potencial. Já a capacidade contributiva relativa ou subjetiva quer definir a capacidade identificada pelo legislador, que elege o sujeito individualmente considerado, apto a contribuir na medida de suas possibilidades econômicas, suportando o impacto tributário. Revela, portanto, a aptidão de contribuição na medida das possibilidades econômicas de determinada pessoa. Há, portanto, um sujeito passivo efetivo, deixando de ser apenas potencial, pois apto ou não a absorver o impacto tributário. Fl. 1976DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 18 33 Devemos reconhecer o brilhantismo do Ilustre doutrinador Paulo Barros de Carvalho, ao professorar que a aplicação do princípio da capacidade contributiva em sua manifestação relativa significa a realização do princípio da igualdade. Neste sentido também leciona Marciano Seabra de Godoi: “A prevalência da capacidade contributiva relativa se dá, pelo menos em nosso ordenamento jurídico, em virtude daquela possuir em seu conceito as noções de garantia do mínimo vital e limite contra o confisco, além de exigir a consideração, pelo legislador, de fatores cujo desprezo pode fazer com que um indício de capacidade contributiva oculte em verdade uma ausência real de capacidade contributiva” A hipótese de incidência dos tributos deve pressupor e ser respaldado pela aplicação do princípio da capacidade contributiva em toda a sua abrangência. A mera expectativa de renda não norteia a definição de aquisição de disponibilidade jurídica e econômica elencada no art. 43 do CTN, para fins de incidência do imposto de renda. Neste sentido, sua tributação colocaria em xeque a aplicação do referido princípio e do princípio da igualdade, afrontando, por conseqüência lógica, todo o ordenamento jurídico brasileiro. Nesta linha de raciocínio construída, cabe destaque o posicionamento adotado pelo Ilustre Presidente da 4ª Câmara/1ª Turma Ordinária, André Mendes de Moura, no Acórdão nº 1401001.416, proferido em 04/09/2015: “ (...) De acordo com Leandro Paulsen sendo fato gerador do imposto a “aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza”, não alcança a “mera expectativa de ganho futuro ou em potencial”. (...) Para Gilberto Ulhôa Canto, coautor do anteprojeto do CTN, não basta, apenas, que seja adquirido o direito de auferir o rendimento (ou a sua titularidade). É necessário que a aquisição desse direito assuma a forma de faculdade de adquirir disponibilidade econômica, mediante a tomada de iniciativa ou a prática de ato, que estejam no âmbito do arbítrio do interessado, a qualquer momento; em outras palavras, a disponibilidade jurídica não ocorre com o aperfeiçoamento do direito à percepção do rendimento, sendo, mais do que isso, configurada somente quando o seu recebimento em moeda ou quase moeda dependa somente do contribuinte. (...) Importante, também, observar as conclusões extraídas pelo Recurso Especial nº 320445 RJ, em que o relator Ministro Garcia Vieira esclarece: Fl. 1977DF CARF MF 34 "Partindo de tais pressupostos, sem a necessidade de maiores digressões, de ordem doutrinária, afiguraseme escorreita a decisão ora objurgada, porquanto é certo que a disponibilidade econômica ou jurídica da renda só ocorre quando houver real acréscimo patrimonial, não cabendo a tributação sobre mera expectativa de ganho futuro e em potencial. Nesse aspecto, a razão está com a recorrida, quando invoca, em suas contrarazões, opiniões doutrinárias e precedentes jurisprudenciais em favor da tese defendida, acabando por concluir, in expressis: "Assim, temse que, o efetivo acréscimo patrimonial, disponibilizado para o contribuinte, não pode ser verificado pelos registros contábeis, mas somente pelo ganho determinado no momento em que a Recorrida cumprir a obrigação financeira, pois é somente nesse momento que ela se beneficia (ou não) com a quantidade de reais necessária para a liquidação da obrigação em moeda estrangeira. Antes disso, os registros contábeis significam, tão somente, mera expectativa de ganho, que não constitui hipótese de incidência do imposto de renda. Como viuse acima, a disponibilidade a que se refere o art. 43 do CTN resulta de um fator econômico concreto e atual (dinheiro em caixa por exemplo) ou de um fato reconhecido como tal pelo Direito (um direito reconhecido pela lei, como o direito de crédito). Logo, não há como se falar que meros registros contábeis, que representam tão somente expectativas de resultado positivo (já que não se sabe se quando a obrigação for cumprida, a variação será positiva ou negativa) constituam um acréscimo patrimonial, e que este, por força do regime de competência, esteja disponibilizado para o contribuinte no momento em que registrado; ao contrário, é certo que o contribuinte não dispõe desse ganho, uma vez que ainda não implementado o termo em que deveria cumprir sua obrigação financeira." (fls. 258/259) (...)” Vêse, portanto, que a disponibilidade jurídica deve ser entendida como a detenção de título líquido e certo, hábil a proporcionar a disponibilidade econômica, por meio de atitudes que dependa apenas do contribuinte. (...) Mesmo que se entende ter havido disponibilidade econômica ou jurídica sobre a renda, não se pode afirmar que houve a aquisição dessa disponibilidade, já que o aspecto material da hipótese de incidência do imposto sobre a rende pressupõe a “aquisição” da disponibilidade. (...)” Fl. 1978DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 19 35 A conclusão atingida é no sentido de que a redação dos arts. 7º e 8º da Lei nº 9532/97, sob uma interpretação histórica, pode ser vista como a criação de um benefício fiscal, visando o estímulo à investimento na aquisição de empresas privadas com perspectivas de crescimento de rentabilidade, como incentivo à geração de riqueza, de empregos e, como conseqüência, de incrementar a própria arrecadação tributária. Até hoje, tal justificativa pode sustentar sua mantença e aplicação concreta. A incorporação visaria a isenção de tributação, dando a oportunidade ao contribuinte de não efetivar situação que ensejasse a tributação da empresa investida. No entanto, sob uma interpretação sistemática, o entendimento do presente julgador é de que o benefício fiscal é apenas conseqüência de uma ideologia que visa o respeito ao princípio da capacidade contributiva (e a hipótese de incidência do IRPJ, por raciocínio lógico decorrente), gerando a neutralidade fiscal de que devem ser dotadas as operações de reorganização societária. Por "neutralidade fiscal" às operações de reorganização, entendase o esforço de fazer valer o princípio da irrelevância tributária para as diferenças patrimoniais realizadas, de tal modo que tais operações não possam servir como fontes geradoras de renda tributável ou de perdas dedutíveis, porquanto não se trata de ato normal de gestão da empresa, mas de sua reestruturação, para otimização das atividades desempenhadas. No entanto, os desvirtuamentos fáticos conseqüentes à criação do instituto de amortização do ágio geram enormes distorções e subjetividades que o distanciam desta ideologia central. O que deverá se primar, então, para a análise de todo o caso em tela, é se, em algum momento, houve a afronta ao princípio da capacidade contributiva e, conseqüentemente, ao equilíbrio fiscal perpetrado pela igualdade. É o que se proporá a fazer. Do Caso Concreto A intenção por trás de todas as reorganizações societárias era a realização do investimento por parte do GPA (Grupo Pão de Açúcar) na empresa ASSAI. Contudo, parcela cindida da empresa ASSAI fora incorporada pela empresa BARCELONA, ora recorrente, e é a partir desta incorporação que se seguem as reorganizações societárias que acabam por gerar o pagamento e posterior amortização do ágio. De forma resumida e sistemática organizaremos as operações em etapas, seguindo excertos transcritos do Termo de Verificação Fiscal. Primeiramente, o objetivo maior deve ser destacado: “(...) A operação econômica analisada nesta auditoria fiscal se refere à aquisição, com ágio de rentabilidade futura, em duas etapas, por parte da empresa SÉ SUPERMERCADOS LTDA CNPJ 01.545.828/000198 (SÉ), controlada direta da COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO CNPJ 47.508.411/000156 (CBD), de parcela patrimonial relacionada especificamente à atividade de atacado e varejo ("atacarejo") de Fl. 1979DF CARF MF 36 produtos alimentícios e outros que completam sua linha de supermercados, representada pela denominação comercial "ASSAÍ", então pertencente a ASSAÍ COMERCIAL E IMPORTADORA LTDA. – CNPJ 46.499.224/000190 (Assai).(...)” Após, necessário que se exponha a operação pontual que premedita o negócio com a empresa ASSAÍ e a cisão e posterior incorporação da parcela cindida desta última pela BARCELONA, ora recorrida: (...) Em 10/10/2007, dias antes da cisão parcial da Assaí, alterou o objeto social para "comércio varejista e atacadista de produtos manufaturados, semimanufaturados ou "in natura", nacionais ou estrangeiros, de todo e qualquer gênero e espécie, natureza ou qualidade, desde que não vedada por lei", e mudou sua razão social para BARCELONA COMÉRCIO VAREJISTA E ATACADISTA S/A21. Nessa época, a CBD transferiu sua participação acionária para a SÉ. a) Cisão parcial realizada pela Assai de 80.275379% do seu patrimônio líquido, para a Barcelona (...) Em 31/10/2007, a Barcelona, empresa até então sem atividade operacional e com capital subscrito e integralizado de R$ 10.000,00 (dez mil reais), incorporou parte do patrimônio da Assai (doravante, essa parcela da Assai será denominada de Negócio), empresa atuante no mercado de atacado e autosserviço no setor alimentício, com 15 lojas (de varejo, atacado e centros de distribuição) em funcionamento e capital subscrito e integralizado de R$ 14.000.000,00 (quatorze milhões de reais). Houve, então, o efetivo pagamento do ágio aos excontroladores acionistas da BARCELONA, exsócios da ASSAÍ: Na ocasião, SÉ e AYMAR GIGLIO JÚNIOR CPF 021.861.968 59 (Aymar): 1) Por meio da cessão de titularidade, transferiram suas 10.000 (dez mil) ações para os Srs. RODOLFO JUNJI NAGAI CPF 569.893.00825 (Rodolfo) e LUIZ FUMIKAZU KOGACHI CPF 075.351.33827 (Luiz), únicos sócios da Assai, e estes, por sua vez, subscreveram e integralizaram 4.000.000 (quatro milhões) de novas ações na Barcelona mediante a conferência da parcela cindida da Assai. A partir de então serão delineadas as operações que se sucederam dentro do GPA, culminando na amortização fiscal do ágio: Fl. 1980DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 20 37 “ (...) 2) Aumentou o capital social da Sevilha para R$ 198.010.000,00 (cento noventa e oito milhões e dez mil reais), dos quais R$ 151.000.000,00 (cento e cinqüenta e um milhões) a serem integralizados em até 12 meses. (...) b) Aquisição de 60% do capital social da Barcelona pela Sevilha: Em 01/11/2007, 01 (um) dia após a cisão parcial, concluise a 1a etapa da aquisição do Negócio, onde a Sevilha, empresa controlada por SÉ e sematividade operacional, adquire, com ágio de rentabilidade futura de R$ 203.471.162,15 (duzentos e três milhões, quatrocentos e setenta e um mil, cento e sessenta e dois reais e quinze centavos), 60% (sessenta por cento) das ações representativas do capital total e votante da Barcelona. Desta feita, a SÉ, por intermédio de sua controlada direta Sevilha, passou a controlar indiretamente a Barcelona e, consequentemente, o Negócio que há 2 (dois) dias atrás era explorado pela Assaí. (...) c) Incorporação da Sevilha pela Barcelona: Em 31/03/2008, a Barcelona, agora com capital de R$ 15.010.000,00 (quinze milhões e dez mil) devido as subscrições e integralizações efetuadas por seus acionistas em 28/11/200713, incorpora14 sua controladora Sevilha, passa a ser controlada diretamente pela SÉ e absorve o ágio de si mesma que se encontrava na empresa não operacional Sevilha. (...) d) Aquisição de 40% do capital social da Barcelona pela Nerano: Em 25/07/2009, concluise a 2ª etapa da aquisição do Negócio, onde a Nerano, outra empresa controlada por SÉ, sem atividade operacional e com capital subscrito e integralizado de R$ 10.000,00 (dez mil reais), constituída em 30/10/2008, adquire, com ágio de rentabilidade futura de R$ 172.181.773,14 (cento e setenta e dois milhões, cento e oitenta e um mil, setecentos e setenta e três reais e quatorze centavos), 40% (quarenta por cento) das ações representativas do capital total e votante da Barcelona. Desta feita, a SÉ, direta e indiretamente, por intermédio de sua controlada Nerano, passou a controlar totalmente a Barcelona e, consequentemente, o Negócio iniciado por Rodolfo e Luiz, que agora saíam de cena. (...) e) Incorporação da Nerano pela Barcelona: Fl. 1981DF CARF MF 38 Em 30/04/2010, a Barcelona incorpora sua investidora Nerano, passa a ser subsidiária integral da SÉ e absorve o ágio de si mesma que se encontrava na empresa não operacional Nerano. Na oportunidade, seu capital subscrito e integralizado era de R$ 16.592.270,51 (dezesseis milhões, quinhentos e noventa e dois mil, duzentos e setenta reais e cinqüenta e um centavos). (...) Para a análise da legalidade da amortização do ágio, o foco deve ser dirigido a quatro pessoas jurídicas distintas e duas pessoas físicas: SÉ, a investidora original; BARCELONA, a investida; SEVILHA E NERANO, as investidoras que formaram o ágio; e RODOLFO e LUIZ, os excontroladores da ASSAÍ. A investidora original, SÉ, que tinha como controlada a empresa BARCELONA, alienou sua participação societária referente a empresa BARCELONA (que incorporou a parcela cindida da ASSAÍ) para as pessoas físicas RODOLFO e LUIZ. As empresas SEVILHA e NERANO, controladas diretas da SÉ, por sua vez, adquiriram a participação societária da BARCELONA (60% e 40%, respectivamente), junto à RODOLOFO e LUIZ, pagando um ágio fundamentado em expectativa de rentabilidade futura da empresa investida. Ao final, decorrente de uma incorporação reversa, BARCELONA primeiramente incorporou SEVILHA, para depois incorporar NERANO, passando a ter o direito de amortizar o ágio baseado na expectativa de sua própria rentabilidade. Concluída a reorganização, desenhouse quadro no qual a empresa SÉ, que se alternara no controle da empresa BARCELONA, passou, enfim, a ter seu controle direto, reunindo, na empresa controlada, as despesas de amortização do ágio efetivamente pago e o acervo patrimonial cuja rentabilidade futura justificou o ágio. Não se deve esquecer que a BARCELONA fora a empresa que intermediou e concretizou a realização do investimento na ASSAI, detendo 80.275379% de seu patrimônio líquido. A partir de todas as reorganizações que se desenharam, afigurouse o atingimento do objetivo maior de toda esta operação: o investimento que reuniria a empresa ASSAÍ ao GPA, representado, este último, pela empresa CBD, centralizadora do caixa corporativo do Grupo e controladora direta da empresa SÉ. Analisando todo o raciocínio construído nos tópicos precedentes deste voto e toda a documentação disposta nos autos, resta inequívoco que a operação em si, formalmente, é revestida de legalidade, constitucionalidade e possibilidade fática. Devese partir do pressuposto de que a compra que resultara na consolidação do controle acionário da recorrente, junto aos exacionistas controladores, inequivocamente perfazem uma operação entre partes não relacionadas, em que houve o efetivo pagamento do ágio. A condição para o aproveitamento do ágio, que deve neste caso ser analisada, seria a confusão patrimonial, da qual fosse possível o emparelhamento das despesas de amortização do ágio efetivamente pagos pela investidora e os lucros auferidos pela empresa investida, que concretizariam a expectativa de rentabilidade futura que fundamentou o ágio. Fl. 1982DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 21 39 Não resta dúvida, da análise dos autos, que as empresas SEVILHA e NERANO efetivamente pagaram o ágio (Contrato de Compra e Venda), ou seja, incorreram em sacrifícios econômicos esperando a rentabilidade futura da empresa BARCELONA, devidamente comprovada através de laudo de avaliação. Com a posterior incorporação da SEVILHA e da NERANO pela BARCELONA, reuniuse nesta última, exclusivamente, o acervo patrimonial cuja rentabilidade futura justificou o ágio (da empresa BARCELONA) com o acervo patrimonial em que estavam registrados os sacrifícios do investimento realizado, relativos ao ágio e ao valor patrimonial da investida (das empresas SEVILHA e NERANO). Veja, em suma, norteouse o permissivo legal para a amortização do ágio contido no art. 7° da Lei 9532/97 ou art. 386 do RIR/99. A própria fiscalização reconhece, em diversos momentos, que as formalidades para a amortização do ágio foram atingidas: “(...) Essas operações, apesar de formalmente lícitas, são desprovidas de substância essencial ao negócio, vez que a vontade expressa materialmente não corresponde à subjetivamente acordada entre as partes. (...)” “(...) O que se pode perceber é que os procedimentos adotados não passaram de atos formais desprovidos de racionalidade econômica. Ainda que a operação seja formalmente regular no âmbito do direito empresarial, não é possível que a fiscalizada usufrua o efeito tributário almejado, (...)” “(...) A reorganização societária, para ser legítima, deve decorrer de atos efetivamente existentes, e não apenas artificial e formalmente revelados em documentação ou na escrituração mercantil ou fiscal. (...)” “(...) As operações realizadas em seqüência revelaramse meramente formais e desprovidas de finalidade econômica, tendo como único objetivo a transferência do ágio (verdadeiramente pago por SÉ) para a contabilidade da Barcelona e a redução da sua carga tributária. (...)” “(...) Não há dúvidas que novas empresas, empresas veículos, foram constituídas, de acordo com as formalidades exigidas no País. (...)” Contudo, não se pode olvidar que nestes mesmos momentos a fiscalização reconhece que, apesar de formalmente lícita, a operação fora inundada pela artificialidade da transferência de um ágio, decorrente da total ausência de propósito negocial e racionalidade e, além, que não representara a extinção de nenhuma participação societária de fato. O que pode se concluir, neste momento, uma vez concretizada a confusão patrimonial e todas as formalidades precedentes e posteriores, é pela presunção relativa de veracidade baseada única e exclusivamente em uma verdade formal. Fl. 1983DF CARF MF 40 Suficiente, no entanto, conforme todo o exposto anteriormente, para positivar parcialmente a disseminação concreta do princípio da capacidade contributiva e, conseqüentemente do princípio da igualdade tributária. Para o atingimento de uma verdade absoluta, no entanto, essencial que se busque uma verdade material, a fim de confrontar quaisquer atos que possam desnaturar a neutralidade fiscal propagada pelo instituto de amortização do ágio. Por isso, devem ser enfrentados os conceitos e ideologias que motivaram a indedutibilidade do ágio e a glosa fiscal: a ausência de propósito negocial, o uso de empresas veículo e a incorporação reversa. Devemos nos adiantar nesta análise para revelar que todas as discussões que embasaram a presente autuação são circundadas por conceitos completamente subjetivos, sem qualquer amparo legal. De tal modo, o presente julgador tecerá suas considerações pessoais do caso concreto, subjetivas, portanto, mas sempre respaldado pela lei e pelo entendimento que vem se mostrando dominante no CARF, a fim de conferir a tais considerações ligeira objetividade. Ausência de Propósito Negocial – Uso de EmpresaVeículo – Incorporação às Avessas Cumprese definir, de início, que o propósito negocial ou substância econômica perfazem a essência de qualquer operação que vise o lucro. A impossibilidade de identificação deste propósito sempre germinará a dúvida quanto à legalidade e artificialidade da operação como um todo. O questionamento, então, do uso indevido de empresasveículo ou a impossibilidade fática de incorporação às avessas são apenas conseqüências de uma intenção do investidor em apenas visar o benefício fiscal de amortização do ágio, fato que, aos olhos da fiscalização, não norteia o conceito de propósito negocial ou substância econômica. O presente Conselheiro já definiu posicionamento que atinge exatamente a subjetividade da identificação de um propósito negocial em reorganizações societárias e a consequente utilização de empresasveículo, que visem única e exclusivamente economia tributária, por meio do Acórdão nº 1201001.438: “(...) os conceitos de propósito negocial e substância econômica carecem de fundamento legal, tornandose subjetivos e abrangentes. Veja, não são elementos aceitos e incorporados pelo ordenamento jurídico brasileiro, inexistindo qualquer dispositivo legal que lhes dêem substrato. O alcance destes conceitos atinge a existência de razões econômicas que vão além da obtenção de vantagem fiscal, única e exclusivamente. Partindo deste conceito, a presença de um propósito negocial deve ser precedente e, além, originária na operação, de modo a concretizar a amortização do ágio e o concomitante gozo do benefício fiscal como uma consequência natural e lógica, se considerarmos o fato gerador do IRPJ. Fl. 1984DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 22 41 Ocorre, porém, que a indefinição dos conceitos no ordenamento jurídico impede a formação de entendimento uníssono a respeito de seus termos e limites, tornando qualquer discussão acerca das operações de ágio como ao menos parcialmente subjetivas. O ágio não é um tema tão controverso e alvo de discussões calorosas no âmbito deste Conselho à toa. Cada julgador atribui uma amplitude e alcance diverso à definição atribuída ao propósito negocial/substância econômica. O que se busca, na realidade, com referidos conceitos, sejamos claros e diretos, é a identificação de abuso, fraude ou simulação, perfazendo caráter arbitrário e artificial que vise apenas o aproveitamento do benefício fiscal. A percepção do propósito negocial/substância econômica como definidor deste cenário pode ser favorável, mas diante da referida subjetividade, frequentemente inaugura uma nova posição acerca de seu alcance, diante de casos concretos distintos, dotados cada qual de especificidade e peculiaridade. Se presta, então, o presente voto, a partir deste ponto, a analisar detalhadamente todos as informações e alegações levantadas pela fiscalização para definir se, necessário ou não um motivador para a operação que vá além do beneficio fiscal, bem como, ausente ou presente o tal propósito negocial e, da mesma forma, se presentes indícios de fraude ou simulação na operação. Primeiramente, é importante ressaltar que temos presenciado com preocupante freqüência, a utilização pelo Fisco da teoria do propósito negocial por meio do qual defende que a simples ausência sob a ótica do fisco de outros motivadores para a operação que não o alcance do benefício fiscal, já é elemento suficiente que invalida os atos do contribuinte ou, ao menos, inviabiliza o benefício fiscal almejado. Entendo que tal racional adotado pela autoridade fiscal guarda certa contradição com diversas regras e estruturas criadas há muito tempo pelo legislador pátrio, por meio das quais são oferecidos benefícios fiscais às empresas que, ao cumprirem determinados requisitos, acabam levando desenvolvimento econômico à determinadas regiões do Brasil. Menciono aqui, de forma exemplificativa, o regime fiscal da Zona Franca de Manaus, que oferece incentivos fiscais para as empresas que lá se estabelecerem e produzirem, gerando empregos, desenvolvimento econômico/social e, mesmo, arrecadação de tributos para a região. Ora, em relação à Zona Franca de Manaus, a principal função desempenhada pelas autoridades fiscais tem sido monitorar se os contribuintes, de fato, cumprem todos os requisitos previstos em lei para o gozo dos incentivos fiscais, sem haver qualquer questionamento acerca das motivações do contribuinte. Fl. 1985DF CARF MF 42 O que o Fisco busca é auditar se, realmente, as empresas estão lá estabelecidas ou se os produtos são lá produzidos, por exemplo. Contudo, não há qualquer exigência de que as empresas lá estabelecidas tenham propósitos negociais além do gozo do incentivo fiscal em si, para lá se estabelecerem. Em outras palavras: nenhuma empresa busca a Zona Franca de Manaus em razão da maior proximidade com o mercado consumidor, melhor infraestrutura ou maior oferta de mão de obra qualificada. O objetivo é o gozo do incentivo fiscal e isso é garantido às empresas que cumpram todos os requisito da legislação, independentemente da existência de outras razões. Desta forma, o conceito a ser adotado para definir o propósito negocial deve ser no sentido de considerar a busca pela redução das incidências tributárias, por si, como um propósito negocial que viabiliza a dedução do ágio. Já temos importantes precedentes do CARF nesta direção: GANHO DE CAPITAL. VENDA DE QUOTAS. PLANEJAMENTO FISCAL ILÍCITO. DISTRIBUIÇÃO DISFARÇADA DE LUCROS. INOCORRÊNCIA NAS REDUÇÕES DE CAPITAL MEDIANTE ENTREGA DE BENS OU DIREITOS, PELO VALOR CONTÁBIL A PARTIR DA VIGÊNCIA DA LEI 9.249/1995. Constitui propósito negocial legítimo o encadeamento de operações societárias visando a redução das incidências tributárias, desde que efetivamente realizadas antes da ocorrência do fato gerador, bem como não visem gerar economia de tributos mediante criação de despesas ou custos artificiais ou fictícios. A partir da vigência do art. 22 da Lei 9.249/1995 a redução de capital mediante entrega de bens ou direitos, pelo valor contábil,não mais constituiu hipótese de distribuição disfarçada de lucros, por expressa determinação legal. (Acórdão nº 1402001.472 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária – Sessão de 09 de outubro de 2013) PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. NEGÓCIOS JURÍDICOS. ATOS JURÍDICOS. LICITUDE. O fato dos atos praticados visarem economia tributária não os torna ilícitos ou inválidos. O fato dos negócios praticados visarem economia tributária não os torna ilícitos ou inválidos. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MOTIVO DO NEGÓCIO. CAUSA DO NEGÓCIO. LICITUDE. Motivo do negócio é a razão subjetiva pela qual o contribuinte faz o negócio jurídico. Causa do negócio ou sua função Fl. 1986DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 23 43 econômica é o efeito que o negócio produz nas esferas jurídicas dos participes. O motivo ilícito implica em nulidade, quando declarada por um Juiz. Se a motivação do negócio é economia tributária, não se pode falar em motivo ilícito. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MOTIVO DO NEGÓCIO. CONTEÚDO ECONÔMICO. PROPÓSITO NEGOCIAL. LICITUDE. Não existe regra federal ou nacional que considere negócio jurídico inexistente ou sem efeito se o motivo de sua prática foi apenas economia tributária. Não tem amparo no sistema jurídico a tese de que negócios motivados por economia fiscal não teriam "conteúdo econômico" ou "propósito negocial" e poderiam ser desconsiderados pela fiscalização. O lançamento deve ser feito nos termos da lei. (...) Outra tese do Fisco que merece análise é a de que os atos praticados poderiam ser desconsiderados, porque não teriam conteúdo econômico (ou propósito negocial), já que teriam sido praticados com o único objetivo de economia tributária. Porém, tal afirmativa está em descompasso com o ordenamento jurídico. Como se vê, em última análise, a afirmação do Fisco consiste em sustentar que o planejamento tributário é proibido e que a economia tributária só é admissivel se for acidental. Apenas por isso, já se percebe a improcedência do argumento. Mas, a análise da tese do Fisco confirma o equivoco desta interpretação da fiscalização, pois nem esta motivação vicia o negócio e nem existe lei atribuindo tal efeito. As razões de ordem subjetiva que levam a pessoa a concluir algum negócio jurídico denominamse motivos. Já o efeito que o negócio produz nas esferas jurídicas dos participes chamase causa ou função econômica do negócio. Assim, independente da causa do negócio jurídico, se ele é praticado visando redução da carga tributária, podese dizer que o motivo do negócio foi economia fiscal. Conforme o Código Civil, apenas o motivo ilícito (se for determinante do negócio e comum As partes) implica em nulidade (inciso III, art. 166 do CC). Mesmo assim, tal nulidade precisa ser declarada por um Juiz. No entanto, salvo disposição de lei em contrário, não há como supor que a intenção de economizar tributos é ilícita. Assim, o inciso III, art. 166 do Código Civil não poderia ser aplicada sequer por juizes aos negócios jurídicos pelos quais a pessoa executa seu planejamento tributário. E, muito menos, poderia ser aplicada pela fiscalização, para efetuar lançamento de oficio. Fl. 1987DF CARF MF 44 De outra banda, não existe regra federal ou nacional que considere negócio jurídico inexistente ou sem efeito se o motivo de sua prática foi apenas economia tributária. Somente se existisse uma lei com este conteúdo é que a fiscalização poderia desconsiderar os efeitos jurídicos dos negócios. " (Acórdão n. 1101000.835 1ª Câmara / 1ª Turma Ordinária – Sessão de 04 de dezembro de 2012) Neste sentido, existem também bons e recentes exemplos desta brilhante turma, merecendo destaque trecho do voto do Ilustre Conselheiro Marcelo Cuba Netto no acórdão n. 1201001.267 de 19 de janeiro de 2016: "(...) Repare que a abusividade do planejamento tributário pode ter como característica (desde que não seja a única) justamente a ausência de propósito negocial. Entretanto, quando exista uma norma jurídica incentivando, sob o ponto de vista fiscal, a realização de um negócio jurídico, seria absurdo imaginarse que além do propósito de economia fiscal deveria haver também algum outro propósito. Esse é exatamente o caso dos presentes autos." Aliás, o racional adotado nos julgados acima está integralmente alinhado com as disposições da própria Lei n. 6.404/76 define em seu art. 2º, § 3º: Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiarse de incentivos fiscais. Veja, a lei claramente define a possibilidade da constituição de uma holding com o intuito único de gozo de incentivos fiscais, que nada mais são que benefícios fiscais, assim como é o ágio. (...) Assim, me parece claro que a simples alegação de ausência de propósito negocial não é suficiente para a glosa da dedução da amortização do ágio, até mesmo porque, desde que utilizados instrumento legais e inexistentes a fraude, simulação ou abuso de direito, a economia tributária pode ser considerada um propósito negocial. Fl. 1988DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 24 45 A utilização da chamada empresa veículo pelo contribuinte tem sido invocada pelo Fisco como condição para invalidar o negócio jurídico ou conjunto de negócios jurídicos que culminaram na dedução do ágio pago. (...) Primeiramente, é importante destacar que o fato do contribuinte se utilizar de uma empresa veículo para a perfectibilização da operação não é suficiente, por si só, para invalidar o negócio jurídico, especialmente, como se verá mais adiante, se restar demonstrada a existência de estruturas ou caminhos alternativos disponíveis ao contribuinte e que levassem ao mesmo resultado. Este racional já encontra amparo no CARF, conforme os julgados aqui destacados: "AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. USO DE EMPRESA VEÍCULO. Em regra, é legítima a dedutibilidade de despesas decorrentes de amortização de ágio efetivamente pago. A circunstância de a reorganização societária de que tratam os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, ter sido realizada por meio de empresa veículo não prejudica o direito do contribuinte, ante o fato incontroverso de que dessa reorganização não surgiu novo ágio ou economia de tributos distinta daquela prevista em lei. (Acórdão 1102000.982 – 1ª Câmara/ 2ª Turma Ordinária Sessão de 04/12/2013 Voto Vencedor Conselheiro José Evande Carvalho Araujo) Aliás, temos diversos precedentes desta brilhante 1ª Turma da 2ª Câmara, dentre os quais destaco recente julgado (Acórdão n. 1201001.364) de relatoria do ilustre Conselheiro João Carlos de Figueiredo Neto: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2006, 2007, 2008 Ementa: AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. USO DE EMPRESA VEÍCULO. APROVEITAMENTO POR OUTRA EMPRESA DO GRUPO. PROPÓSITO NEGOCIAL. POSSIBILIDADE. Em regra, é legítima a dedutibilidade de despesas decorrentes de amortização de ágio efetivamente pago, devidamente Fl. 1989DF CARF MF 46 fundamentado em rentabilidade futura, e decorrente de transação entre partes independentes. Caso exista um propósito negocial válido e se demonstre ser possível a dedução do ágio por incorporação direta, não há óbices para que o grupo econômico “transfira” o ágio efetivamente pago para outra de suas empresas, aproveitandose do benefício fiscal em outra parte da estrutura societária, mesmo se para isso se utilizar de empresa veículo. “DESPESAS COM AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. Inexiste vedação legal para que uma pessoa jurídica, detentora de ágio na aquisição de investimento avaliado pelo método da equivalência patrimonial em razão da rentabilidade futura da investida, confira o aproveitamento deste ágio a outra pessoa jurídica por intermédio da absorção de seu patrimônio (art. 7º da Lei nº 9.430/96) ou viceversa (art. 8º). Se o ágio na aquisição do investimento efetivamente ocorreu, não sendo fruto de operações entre empresas do mesmo grupo econômico (ágio interno), incabível a glosa da despesa com sua amortização fundada no emprego da assim chamada “empresa veículo”. Destaco aqui também, trecho do voto do brilhante Conselheiro Marcelo Cuba Netto no já mencionado acórdão n. 1201 001.267: "(...) Em relação ao emprego da chamada "empresa veículo" cumpre destacar que tal expressão tem sido utilizada pela fiscalização de uma maneira pejorativa, no sentido de um "mal em si mesmo". No entanto, como é cediço, não é possível sustentarse uma autuação fiscal lastreada na simples acusação de emprego de "empresa veículo", até porque o simples emprego de "empresa veículo" não é tipificado como infração à legislação tributária. Caberia então à fiscalização apontar a relação entre o emprego da "empresa veículo" e a prática de alguma infração à legislação tributária. E, no caso dos autos, como o autor da ação fiscal não se desincumbiu de seu ônus, isso já seria razão suficiente para afastarse, de pronto, a autuação." Me parece cada vez mais pacificado o entendimento de que a utilização de uma empresa veículo para aquisição de outras empresas, de grupo econômico distinto, não revela qualquer vício, ilegalidade ou abuso em si. (...) Fl. 1990DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 25 47 Meu ponto aqui é que a existência de outras opções, além da utilização da chamada empresa veículo, já revela o descabimento da glosa da dedução do ágio pago sob tal fundamento utilização da empresa veículo. Assim, me parece de todo vazio o argumento de que a existência de uma "conduit company" na operação teria maculado a operação a ponto de inviabilizar a dedução do ágio.(...)” No presente caso, tornase nítido, através da transcrição do TVF, que o entendimento formado pela fiscalização e confirmado pelo v. acórdão recorrido, foi o de que o uso de empresasveículos e a incorporação às avessas visavam somente a dedutibilidade das despesas de amortização do ágio: “(...)fato de que a interposição de duas sociedades com a única finalidade de servir de empresas veículos para registrar os ágios pagos em uma operação, ao invés da utilização da real investidora, e logo em seguida efetuar a incorporação destas empresas veículos pela investida, com o único intuito de promover a redução da carga tributária.(...)” “(...)Portanto, não há qualquer razão específica sustentável, a não ser o desejo de dedutibilidade das despesas de amortização do ágio, para a ocorrência da referida incorporação às avessas.(...)” Veja, a fiscalização erroneamente sustenta que o gozo do benefício fiscal e/ou a economia tributária não seria, por si e em si, justificativa plausível para o preenchimento do requisito de propósito negocial. Reputou, então, em juízo completamente subjetivo, vale lembrar, que o uso de empresa veículo e a incorporação às avessas, apesar de formalmente e legalmente possíveis, no caso presente esbarraram na ausência de propósito negocial e, por consequência lógica unilateralmente construída, foram eivadas de ilegalidade e impossibilidade fática. Ora, a própria fiscalização reconhece que as empresas SEVILHA e NERANO eram holdings devidamente constituídas: “(...) 4.2.2 SEVILHA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA. – CNPJ 07.146.013/000112 (Sevilha) (...) (...)Tinha como objeto social "participar no capital social de outras sociedades, qualquer que seja a forma delas; participar em empreendimentos comerciais de qualquer natureza e; a administração de bens próprios" ("holding"). (...)” Fl. 1991DF CARF MF 48 “(...) 4.2.3 NERANO EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA. – CNPJ 10.641.449/000192 (Nerano) (...) (...)Tinha como objeto social "participar no capital social de outras sociedades, qualquer que seja a forma delas; participar em empreendimentos comerciais de qualquer natureza e; a administração de bens próprios" ("holding"). (...)” Quanto a utilização de empresasveículo, portanto, não há qualquer óbice, vez que tornase irretorquível a aplicação do art. 2º, § 3º da Lei n. 6.404/76, nítido permissivo legal para a constituição de holdings com o objetivo único de beneficiarse de incentivos fiscais. Quanto a incorporação às avessas (incorporação reversa), esta é totalmente possível no âmbito da seara societária e, além, é autorizado por lei que regula especificamente a amortização fiscal do ágio, qual seja, o art. 8º, “b” da Lei nº 9532/97: “Art. 8º O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando: (...) b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária.” O pressuposto para a permissão de amortização fiscal do ágio é a confusão patrimonial entre investidora e investida, que se consumou, como anteriormente demonstrado (pela redação do art. 7º da Lei nº 9532/97), e nesse contexto, se encaixa a expressa admissão da incorporação reversa ou às avessas pelo art. 8º da Lei nº 9.532/1997. A mera transferência do ágio da investidora para a investida, por meio de veículo, ao final, quando incorporada aquela veículo, demonstra apenas uma conseqüência fática que tem como pressuposto uma autorização legal. Se o legislador permite literalmente a amortização do ágio nos casos de incorporação às avessas, interpretação extensiva e lógica confere legitimidade para o instrumento imprescindível ao atingimento do objeto. Em outras palavras, o gozo do benefício fiscal pela investida só seria possível com a transferência do ágio, vez que que este último fora registrado pela investidora. Ademais, na mesma linha de raciocínio, a extinção da participação societária não tornase requisito essencial para a amortização do ágio nos casos em que ocorre a incorporação às avessas. Da mesma forma que não faria sentido a mantença da participação societária e do investimento propriamente dito no caso de incorporação, também não teria qualquer fundamentação lógica a extinção destes no caso de incorporação reversa. Mais uma vez estáse diante de caso em que a lei promove interpretação extensiva e lógica conduzindo a possibilidade/necessidade de adequação da norma ao caso concreto. Fl. 1992DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 26 49 A jurisprudência do CARF aponta para a possibilidade de tal operação societária: ÁGIO. TRANSFERÊNCIA. EMPRESA VEÍCULO. INCORPORAÇÃO REVERSA. VALIDADE. O uso de empresa veículo e de incorporação reversa, por si sós, não invalidam as operações societárias que transferiram o ágio da investidora original para a empresa investida. Verificadas as condições legais, especialmente a confusão patrimonial entre investidora e investida, deve ser admitida a amortização fiscal do ágio. (Acórdão nº 1301002.009 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 04/05/2016) INCORPORAÇÃO REVERSA. Quando a autuação fiscal sustenta a glosa da amortização do ágio na inexistência da incorporação reversa, por não conhecer a alínea "b" do art. 8º da Lei nº 9.532/97, tal lançamento não deve prosperar. (Acórdão nº 9101002.184 – 1ª Turma Sessão de 20/01/2016) ÁGIO. AMORTIZAÇÃO. INCORPORAÇÃO REVERSA. DEDUTIBILIDADE. Após a incorporação da investidora pela investida (incorporação reversa), é dedutível a amortização de ágio decorrente da anterior aquisição de participação societária em negócio firmado entre partes independentes, em condições de mercado, baseado em expectativa de rentabilidade futura da investida e efetivamente pago à alienante do investimento. A incorporação da investidora pela investida (incorporação reversa) é operação prevista em lei, bem assim seus efeitos tributários. Se, no momento do lançamento, o Fisco teve acesso ao demonstrativo que fundamentava o ágio e deixou de questionálo, descabe fazêlo em momento processual posterior. (Acórdão nº 1302001.532 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária – Sessão de 21/10/2014) As conclusões atingidas, no entanto, pendem para um entendimento pessoal do presente julgador, dada a já referida subjetividade quanto a análise destas questões, uma vez vinculadas a uma ideia central, o propósito negocial. Desta forma, na intenção de zelar pelo princípio da verdade material, na busca pela objetividade e pelo atingimento de uma verdade absoluta, que se adequem, neste caso, ao entendimento adotado pela fiscalização e pela autoridade julgadora, serão levantadas Fl. 1993DF CARF MF 50 evidências que precedem e exorbitam a mera economia tributária ou o gozo do benefício fiscal para confirmar um autêntico propósito negocial para a operação. Neste sentido, cumpre colacionar ao voto a fundamentação do recorrente (em seu Recurso Voluntário) que justificou as reorganizações societárias dentro do Grupo Pão de Açucar. Primeiramente, quanto ao objetivo principal do investimento da GPA na ASSAI: “117. O interesse manifestado pelas partes sempre foi o de manter uma joint venture, que contasse, de um lado, com a força financeira do GPA, e, de outro lado, com a expertise dos ex controladores, os Srs. Rodolfo e Luiz, na administração do negócio de atacarejo. Este interesse, notoriamente divulgado pelo GPA no Fato Relevante de 02/11/2007, oportunamente já reproduzido, não destoou em nenhum momento da realidade” De fato, de análise detida dos autos e dos documentos juntados, tornouse de notório saber a intenção do negócio da GPA com a empresa ASSAÍ. Quanto à motivação para a não integração, em uma única sociedade, da atividade de varejo da empresa SÉ, com a atividade de atacarejo da BARCELONA (empresa que incorporou a parcela cindida da ASSAÍ), ora recorrente, subsumese: “(...) a) Porque colocaria, em choque frontal, os dois modelos de gestão (varejo versus atacarejo), que eram (e ainda são) completamente distintos um do outro).(...) b) Porque os conflitos na área de sistemas seriam tormentosos e insanáveis no curto prazo.(...) c) Porque a aparente complementariedade dos negócios não se traduziria em melhoria de resultados, nem propiciaria captura de sinergias administrativas, técnicas e operacionais.(...) d) Porque, (e, sobretudo porque) os exacionistas controladores da recorrente (e o próprio GPA) não tinham nenhum interesse de se tornarem sócios através da participação no capital social da SÉ (observem que a incorporação do acervo patrimonial da Recorrente pela SÉ, geraria, com consequência inevitável, a substituição das ações detidas pelos exacionistas controladores no capital da Recorrente, por quotas do capital da incorporadora e sucessora SÉ) (...) 120. Em suma, pelas inúmera razões operacionais, econômicas e elas motivações particulares dos exacionistas controladores, ao contrário do que tenta induzir a D. Fiscalização, não era viável a aquisição do controle acionário da Recorrente diretamente pela SÉ. Por tais razões é que, então, Sevilha e Nerano, cumpriram o papel de reais adquirentes” Fl. 1994DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 27 51 Quanto a motivação para as empresas SEVILHA e NERANO não incorporarem direto a empresa BARCELONA, ora recorrente, extraise: “(...) porque a incorporação de controlada por incorporadora seria extremamente complexa, extensa e custosa. Para terse uma ideia, uma incorporação da Recorrente por Sevilha ou Nerano dependeria (i) de abertura prévia de inúmeras filiais das incorporadoras nos endereços das filiais da Recorrente, que seriam extintas, (ii) de obtenção de novos CNPJ’s, de Inscrições Estaduais e Municipais, (iii) de Alvarás de funcionamento emitidos pela Prefeitura, Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária, (iv) de aquisição de novos ECF’s, (v) intervenção técnica destinada a programar o ECF para uso fiscal, dentre inúmeras outras obrigações etc. Sem contar, ainda, com o iminente risco de atraso na obtenção de quaisquer inscrições, licenças, autorizações, que impediriam que as lojas efetuassem vendas ao consumidor. (...) Portanto, como a própria lei fiscal autoriza a incorporação às avessas, tal foi usado dentro dos limites conferidos aos contribuintes para se organizarem da maneira que melhor convier, permitindo que o processo de incorporação fosse mais simples e rápido. Não há ilegalidade nenhuma no uso dessa modalidade de operação. Tanto Sevilha quanto Nerano estavam aptas a realizar a incorporação do acervo patrimonial da Recorrente. Não havia óbice de nenhuma espécie; só não fizeram por que ensejaria maiores custos e seria extremamente mais complexa e arriscada.” Por fim, diante de todo este contexto, surge a motivação para a incorporação às avessas (ou incorporação reversa) concretizada: “151. Não se furta o Recorrente da afirmação de que a incorporação de Sevilha e Nerano justificouse, sim, pela faculdade da legislação fiscal, e diríamos até obrigatoriedade sob a perspectiva da boa gestão empresarial – de utilização do benefício fiscal instituído pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 9532/97 (de amortização fiscal, pelo período mínimo de 5 anos, do ágio incorrido nas aquisições da Recorrente, fundamentado em expectativa de rentabilidade futura), cuja condição é exatamente a incorporação da pessoa jurídica detentora do ágio fundamentado em rentabilidade futura, pela pessoa jurídica detentora do ágio fundamentado em rentabilidade futura, ou viceversa. 152. Repitase: foi exatamente isto que ocorreu no caso em apreço. É dizer, Sevilha e Nerano, cada qual exercendo a função que lhes foi atribuída, adquiriram participação societária na Recorrente, e, em razão disso, pagaram em condições normais de mercado, dentro da mais ampla comutatividade, um Fl. 1995DF CARF MF 52 substancial ágio aos exacionistas controladores, partes não relacionadas. 153. Posteriormente, por deliberação de seus acionistas, as partes se valeram de benefício criado pelo Chefe do Poder Executivo (por intermédio da Medida Provisória n° 1602/97), posteriormente convertida na Lei nº 9532/97), mediante incorporação de Sevilha e Nerano, única condição necessária para a fruição do incentivo.” De fato, a última operação, de incorporação reversa, visou única e exclusivamente a fruição do benefício fiscal, mas as reorganizações societárias que a precederam revelam que havia um propósito negocial coeso e integralmente plausível conferindolhes lógica jurídica e fática. Veja, se não fossem as reorganizações que se deram anteriormente, o gozo do benefício fiscal não se concretizaria. Faltou à fiscalização enxergar o “filme” da operação, do conjunto de etapas e operações da qual emergiu a composição societária final, baseandose o agente fiscal em “fotografias estanques”, devidamente selecionadas para confirmar a afirmação de criação artificial do ágio. Chegouse ao ponto, diante de todas as motivações para a não adoção de escolhas que pareceriam lógicas financeiramente para a fiscalização, mas que se mostraram totalmente lógicas financeiramente pelo recorrente, de acordo com o objetivo principal de toda a operação, que a incorporação às avessas se mostrou o meio mais vantajoso e eficaz de se concretizar a concretização do investimento do GPA com a ASSAÍ, dentro dos ditames legais. Portanto, a subjetividade do propósito negocial é parcialmente dirimida e gradativamente relativizada e enfraquecida, na medida em que se mostra robusta a motivação e construção lógica contida nas reorganizações societárias e na amortização do ágio propriamente dita. O meio utilizado, conforme demonstrado, é amparado pela legislação. A amortização fiscal é completamente legal e possível neste caso: todos os requisitos formais foram atendidos, bem como todos os requisitos materiais. Há, desta forma, a consumação integral da aplicação do princípio da capacidade contributiva, da igualdade e, então, o atingimento de uma verdade que tangencia o absolutismo no caso concreto. Por todo o exposto, deve ser reconhecida a legalidade da amortização fiscal do ágio e julgo improcedentes os lançamentos. Reflexos da Legalidade da Amortização do Ágio Por consequência lógica quaisquer discussões decorrentes do mérito em questão devem ser consideradas neste momento para breves esclarecimentos. Nos termos do art. 59, § 3º do Decreto 70235/72, não há que se falar em declaração da nulidade do lançamento, quando as razões de mérito já desnaturaram este último. Fl. 1996DF CARF MF Processo nº 16561.720117/201311 Acórdão n.º 1201001.554 S1C2T1 Fl. 28 53 As multas aplicadas perdem o seu objeto e, assim, não devem ser aplicadas: não há totalidade ou diferença de tributo ou contribuição a pagar e/ou recolher. A multa de ofício, daí, já se desnatura. A qualificação da multa, baseada em conduta dolosa, sonegatória ou fraudulenta do recorrente, por óbvio, deve ser desonerada, visto que a operação se mostrou completamente legal, neste sentido, acertada a decisão da DRJ, não merecendo qualquer reparo quanto a este ponto. As estimativas mensais devem ser revistas, com a consideração das despesas de amortização fiscal legalmente realizadas mensalmente e a multa isolada não deve ser aplicada, pois as diferenças percebidas e glosadas não devem prosperar diante da validação da operação. Não há que se falar, então, na cobrança dos juros moratórios, calculados de acordo com a variação da Taxa Selic, sobre os valores constituídos a título de multa de ofício nem de multa isolada. A alegação de decadência também não encontra objeto pois o lançamento fora reputado improcedente. Com relação aos demais lançamentos decorrentes do IRPJ, aplicase o reflexo, visto são oriundos do principal e referemse a mesma matéria tributável, pugnandose, por fim, pela improcedência dos lançamentos de IRPJ e CSLL. Conclusão Diante de todo o exposto, CONHEÇO do RECURSO de OFÍCIO para NEGARLHE PROVIMENTO e CONHEÇO do RECURSO VOLUNTÁRIO PARA DAR LHE PROVIMENTO. É como voto. (assinado digitalmente) Luis Fabiano Alves Penteado Relator Fl. 1997DF CARF MF 54 Fl. 1998DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 18471.000734/2006-10
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Mar 06 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2001, 2002,2003, 2004
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
Havendo contradição ou lapsos manifestos estes devem ser sanados. porém, os embargos de Declaração não são considerados o veículo adequado para a discussão de eventuais inconformismos quanto à decisão, pois esta deve ser travada pelos meios processuais cabíveis.
Numero da decisão: 1401-001.763
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, ACOLHER em parte os embargos com efeitos infringentes, para suprir os lapsos manifestos, dando-lhes efeitos infringentes para considerar na parte dispositiva o cancelamento das multas isoladas referentes ao ano-calendário de 2002 e 2004, em que houve apuração de prejuízos fiscais. Vencidos os Conselheiros Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin e José Roberto Adelino da Silva que acolhiam os embargos em maior extensão, dando-lhes efeitos infringentes para também cancelar a multa isolada do ano-calendário de 2001.
(assinado digitalmente)
Antonio Bezerra Neto - Relator e Presidente
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, José Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Lívia de Carli Germano e Antonio Bezerra Neto.
Nome do relator: ANTONIO BEZERRA NETO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, ACOLHER em parte os embargos com efeitos infringentes, para suprir os lapsos manifestos, dando-lhes efeitos infringentes para considerar na parte dispositiva o cancelamento das multas isoladas referentes ao ano-calendário de 2002 e 2004, em que houve apuração de prejuízos fiscais. Vencidos os Conselheiros Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin e José Roberto Adelino da Silva que acolhiam os embargos em maior extensão, dando-lhes efeitos infringentes para também cancelar a multa isolada do ano-calendário de 2001. (assinado digitalmente) Antonio Bezerra Neto - Relator e Presidente Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, José Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Lívia de Carli Germano e Antonio Bezerra Neto.
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Havendo contradição ou lapsos manifestos estes devem ser sanados. porém, os embargos de Declaração não são considerados o veículo adequado para a discussão de eventuais inconformismos quanto à decisão, pois esta deve ser travada pelos meios processuais cabíveis. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, ACOLHER em parte os embargos com efeitos infringentes, para suprir os lapsos manifestos, dandolhes efeitos infringentes para considerar na parte dispositiva o cancelamento das multas isoladas referentes ao anocalendário de 2002 e 2004, em que houve apuração de prejuízos fiscais. Vencidos os Conselheiros Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin e José Roberto Adelino da Silva que acolhiam os embargos em maior extensão, dandolhes efeitos infringentes para também cancelar a multa isolada do anocalendário de 2001. (assinado digitalmente) Antonio Bezerra Neto Relator e Presidente Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, José Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Lívia de Carli Germano e Antonio Bezerra Neto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 47 1. 00 07 34 /2 00 6- 10 Fl. 2102DF CARF MF Processo nº 18471.000734/200610 Acórdão n.º 1401001.763 S1C4T1 Fl. 532 2 Relatório Tratase de embargos de declaração interpostos pela empresa BJ SERVICES DO BRASIL LTDA na decisão proferida no Acórdão n° 1401000.804, que restou assim ementado e decidido: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2001, 2002, 2003, 2004 AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. Tendo o auto de infração preenchido os requisitos legais e o processo administrativo proporcionado plenas condições à interessada de contestar o lançamento descabe a alegação de nulidade. COMPENSAÇÃO. REQUISITOS. A compensação efetuada nos termos da IN SRF n° 21, de 1997, além de ser declarada em DCTF, deve ser também registrada na escrituração da pessoa jurídica DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. NECESSIDADE. A partir de outubro de 2002, a compensação de débitos próprios, relativos a quaisquer tributos ou contribuições com crédito relativo a tributo ou contribuição, administrados pela RFB, é efetuada mediante a apresentação da Declaração de Compensação DECADÊNCIA PENALIDADE MULTA ISOLADA ESTIMATIVAS NÃO PAGAS. A contagem do prazo decadencial do direito de constituir o crédito tributário relativo a penalidades, deve observar as regras contidas no artigo 173, inciso I, do Código Tributário Nacional, ainda que a obrigação acessória inadimplida se refira a tributo sujeito a lançamento por homologação. MULTA ISOLADA FALTA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVA A multa isolada reportase ao descumprimento de fato jurídico de antecipação, o qual está relacionado ao descumprimento de obrigação principal. O tributo devido pelo contribuinte surge quando o lucro real é apurado em 31 de dezembro de cada ano. Improcede a aplicação de penalidade isolada, quando se verifica existência de prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da CSLL ao final do período. MULTA DE OFÍCIO. MULTA ISOLADA. INCIDÊNCIA A multa de ofício exigida por falta de pagamento dos tributos devidos na apuração anual, e a multa isolada por falta de recolhimento das antecipações mensais, calculadas sobre bases de cálculo estimadas, têm hipóteses de incidência e bases de cálculo distintas. De acordo com as expressas disposições legais, a incidência de multa isolada por falta de recolhimento das antecipações mensais, calculadas sobre bases de cálculo estimadas, é completamente autônoma em relação à obrigação tributária principal a ser constituída, ou não, no final do período. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 2103DF CARF MF Processo nº 18471.000734/200610 Acórdão n.º 1401001.763 S1C4T1 Fl. 533 3 Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, REJEITARAM a preliminar de nulidade, AFASTARAM a decadência da multa isolada. No mérito, por maioria de votos, DERAM provimento PARCIAL ao recurso para cancelar as multas isoladas apenas nos anoscalendários em que houveram prejuízos fiscais na infração 3. Vencidos os Conselheiros Antonio Bezerra Neto (Relator) e Fernando Luiz Gomes de Mattos que negavam provimento e o Conselheiro Alexandre Antônio Alkmim Teixeira que dava provimento integral à multa isolada. Designada a Conselheira Karem Jureidini Dias para redigir o voto vencedor. Em seu arrazoado, alega contradição e omissões no Acórdão embargado. (I) sanar a contradição apontada, para que o dispositivo do decisum faça referência ao cancelamento da multa isolada no que diz respeito ao anocalendário de 2004, no qual foi apurado prejuízo fiscal. Passa então a apontar outros vícios: (II) sanar as omissões relativas ao cancelamento da multa também no que pertine : (II1) ao anocalendário de 2002, no qual foi apurado prejuízo fiscal; (II2) quanto ao anocalendário de 2001, em que foi apurado Saldo Negativo de IRPJ; e quanto ao anocalendário de 2003, diante da inexistência de imposto a pagar apurada ao final do exercício, em face da compensação levada a efeito pela empresa É o relatório. Fl. 2104DF CARF MF Processo nº 18471.000734/200610 Acórdão n.º 1401001.763 S1C4T1 Fl. 534 4 Voto Conselheiro Antonio Bezerra Neto, Relator Quanto ao primeiro vício apontado, verifiquei que assiste razão à embargante quanto ao atendimento dos demais requisitos de admissibilidade, dado a necessidade de melhor esclarecimento à respeito da contradição apontada entre o fundamento do acórdão e sua parte dispositiva. É que constou na parte final do voto vencedor da Conselheira Karem Jureidini (Redatora Designada) que "o contribuinte apurou prejuízo fiscal no anocalendário de 2004, razão peia qual, no tocante ao mencionado anocalendário deve ser dado provimento ao Recurso Voluntário para cancelar a multa isolada por falta de recolhimento da estimativa, no caso de apuração de prejuízo fiscal" (fl. 33 do acórdão, e fl. 1.122 dos autos). Entretanto, a despeito da sobredita afirmativa, logo em seguida consta da parte dispositiva do voto vencedor Acórdão embargado menção ao anocalendário de 2003 (fl. 34 do acórdão e fl. 1.123 dos autos). Confirase: Pelo exposto, voto por DAR PARCIAL PROVIMENTO ao Recurso Voluntário do contribuinte, apenas para cancelar a exigência de multa isolada sobre as estimativas do anocalendário de 2003. É mais ate´do que uma contradição, tratase na verdade de um erro de fato que precisa ser sanado. Na verdade, a Conselheira cometeu um lapso manifesto na parte dispositiva mencionando o anocalendário de 2003 ao invés do anocalendário de 2004, isso porque o prejuízo fiscal acontece mesmo no anocalendário de 2004. Portanto, acolho em parte os embargos com efeitos infringentes para considerar na parte dispositiva o cancelamento das multas isoladas referentes ao anocalendário de 2004, em que houve prejuízo fiscal, conforme entendimento da maioria do colegiado na época. A embargante solicitou também que se saneasse supostas omissões relativas ao cancelamento da multa também no que pertine : ao anocalendário de 2002, no qual foi apurado prejuízo fiscal; quanto ao anocalendário de 2001, em que foi apurado Saldo Negativo de IRPJ; e quanto ao anocalendário de 2003, diante da inexistência de imposto a pagar apurada ao final do exercício, em face da compensação levada a efeito pela empresa De fato, a lógica para o anocalendário 2002 deveria ter sido a mesma para a relatora do voto vencedor. Vejamos a sua tese: " P o r t a n t o , s e a l e g i s l a ç ã o p o s s i b i l i t a o n ã o r e c o l h i m e n t o d e a n t e c i p a ç ã o , d e s d e q u e a p r e s e n t a d o o b a l a n c e t e m e n s a l q u e c o m p r o v e q u e a s a n t e c i p a ç õ e s r e c o l h i d a s s u p e r a m o v a l o r d o t r i b u t o a t é a q u e l e m o m e n t o a p u r a d o , e n t ã o é e v i d e n t e q u e a m u l t a i n s t i t u í d a p e l o a r t i g o 4 4 , i n c i s o I I , a l í n e a " b " d a L e i n ° 9 . 4 3 0 / 9 6 n ã o é d e v i d a e m c a s o s d e p r e j u í z o f i s c a l o u b a s e n e g a t i v a , s e n d o a p l i c á v e l , s o m e n t e , s e n ã o h o u v e r a a p r e s e n t a ç ã o d o r e f e r i d o b a l a n c e t e . S i g n i f i c a d i z e r q u e a m u l t a i s o l a d a d e v e s e r a p l i c a d a e m c a s o s d e a p u r a ç ã o Fl. 2105DF CARF MF Processo nº 18471.000734/200610 Acórdão n.º 1401001.763 S1C4T1 Fl. 535 5 n e g a t i v a e p r e j u í z o f i s c a l d e s d e q u e , n o p r ó p r i o a n o c a l e n d á r i o , o c o n t r i b u i n t e n ã o f a ç a p r o v a d e q u e , m e n s a l m e n t e , i n e x i s t e t r i b u t o d e v i d o , o q u e s e r e a l i z a a t r a v é s d a a p r e s e n t a ç ã o d o s b a l a n c e t e s m e n s a i s e d e s d e q u e , a i n d a , i n e x i s t e n t e o b a l a n ç o f i n a l d o p e r í o d o . S e a m u l t a é d e n a t u r e z a t r i b u t á r i a e , p o r t a n t o , t e m p o r b a s e o t r i b u t o d e v i d o , o b a l a n ç o f i n a l d o e x e r c í c i o é p r o v a s u f i c i e n t e p a r a a f a s t a r a m u l t a i s o l a d a p o r f a l t a d e r e c o l h i m e n t o d a e s t i m a t i v a , n o c a s o d e a p u r a ç ã o d e p r e j u í z o f i s c a l e b a s e n e g a t i v a d a C S L L , b e m c o m o , p a r a d e t e r m i n a r o l i m i t e d a m u l t a c u j a b a s e n ã o p o d e u l t r a p a s s a r o v a l o r d o t r i b u t o , q u a n d o d e v i d o s o b p e n a d e d e s c a r a c t e r i z a r s u a n a t u r e z a d e m u l t a i m p u t a d a e m r a z ã o d e d e s c u m p r i m e n t o d e o b r i g a ç ã o p r i n c i p a l . N e s t e p a s s o , c o n f o r m e r e l a t ó r i o , o c o n t r i b u i n t e a p u r o u p r e j u í z o f i s c a l n o a n o c a l e n d á r i o d e 2 0 0 4 , r a z ã o p e l a q u a l , n o t o c a n t e a o m e n c i o n a d o a n o c a l e n d á r i o d e v e s e r d a d o p r o v i m e n t o a o R e c u r s o V o l u n t á r i o p a r a c a n c e l a r a m u l t a i s o l a d a p o r f a l t a d e r e c o l h i m e n t o d a , e s t i m a t i v a , n o c a s o d e a p u r a ç ã o d e p r e j u í z o f i s c a l . " Logo há aqui um outro lapso manifesto da relatora ao não considerar no voto a ocorrência do prejuízo fiscal no anocalendário 2002 como inclusive constou no resultado constante em ata, motivo que acolho os embargos também nessa parte. Quanto ao anocalendário de 2001, em que alega que foi apurado Saldo Negativo de IRPJ; e quanto ao anocalendário de 2003, diante da inexistência de imposto a pagar apurada ao final do exercício, em face da alegada compensação levada a efeito pela empresa, não vejo como acolher os embargos nestes pontos. É que a relatora, conforme colocado acima, reconhece apenas o cancelamento da multa para os casos em que efetivamente haja prejuízo fiscal, pois em havendo base positiva a multa isolada segundo a relatora incidiria sobre essa base, não importando, no caso, o que se sucede depois através de algum evento ligado a compensação. Ademais, não há que se falar em omissão na aplicação da sumula do CARF porque o Acórdão foi anterior à edição da mesma. O que se percebe é que nesses outros dois pontos a embargante quer rediscutir a matéria. Entretanto, os embargos de Declaração não são considerados o veículo adequado para a discussão de eventuais inconformismos quanto à decisão, pois esta deve ser travada pelos meios processuais cabíveis. Portanto, rejeito os embargos nesses dois últimos pontos. De todo o exposto, acolho em parte os embargos com efeitos infringentes apenas para considerar na parte dispositiva o cancelamento das multas isoladas referentes ao ano calendário de 2002 e 2004, em que houve apuração de prejuízos fiscais. (assinado digitalmente) Antonio Bezerra Neto Fl. 2106DF CARF MF Processo nº 18471.000734/200610 Acórdão n.º 1401001.763 S1C4T1 Fl. 536 6 Fl. 2107DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11020.000862/2004-52
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Feb 15 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Mar 13 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/07/2003 a 30/09/2003
MULTA DE OFÍCIO. RETROATIVIDADE BENIGNA DO ART. 18 DA LEI 10.833/2003.
Com a edição da MP 135/03, convertida na Lei 10.833/03, não cabe mais a imposição de multa, desde que não se trate das hipóteses descritas em seu art. 18.
No caso vertente, o instituto da compensação não foi utilizado de forma fraudulenta.
Tal dispositivo seria aplicável aos lançamentos ocorridos anteriormente à edição da MP 135/03 em face da retroatividade benigna (art. 106, II, "c" do CTN).
Numero da decisão: 9303-004.667
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(Assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício
(Assinado digitalmente)
Tatiana Midori Migiyama - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Charles Mayer de Castro Souza, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: TATIANA MIDORI MIGIYAMA
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/07/2003 a 30/09/2003 MULTA DE OFÍCIO. RETROATIVIDADE BENIGNA DO ART. 18 DA LEI 10.833/2003. Com a edição da MP 135/03, convertida na Lei 10.833/03, não cabe mais a imposição de multa, desde que não se trate das hipóteses descritas em seu art. 18. No caso vertente, o instituto da compensação não foi utilizado de forma fraudulenta. Tal dispositivo seria aplicável aos lançamentos ocorridos anteriormente à edição da MP 135/03 em face da retroatividade benigna (art. 106, II, "c" do CTN).
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negar-lhe provimento. (Assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama - Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Charles Mayer de Castro Souza, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello.
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RETROATIVIDADE BENIGNA DO ART. 18 DA LEI 10.833/2003. Com a edição da MP 135/03, convertida na Lei 10.833/03, não cabe mais a imposição de multa, desde que não se trate das hipóteses descritas em seu art. 18. No caso vertente, o instituto da compensação não foi utilizado de forma fraudulenta. Tal dispositivo seria aplicável aos lançamentos ocorridos anteriormente à edição da MP 135/03 em face da retroatividade benigna (art. 106, II, "c" do CTN). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negarlhe provimento. (Assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas – Presidente em exercício AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 02 0. 00 08 62 /2 00 4- 52 Fl. 787DF CARF MF 2 (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Charles Mayer de Castro Souza, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello. Relatório Tratase de Recurso Especial apresentado pela Fazenda Nacional contra o Acórdão nº 20179.492, da 1ª Câmara do 2º Conselho de Contribuintes que, por maioria de votos, deu provimento ao recurso voluntário, consignando acórdão com a seguinte ementa: “ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA 0 PIS/PASEP Período de apuração: 01/07/2003 a 30/09/2003 PIS E COFINS. COMPENSAÇÃO DE CRÉDITO DE NATUREZA NÃO TRIBUTARIA. LANÇAMENTO. MULTA ISOLADA. APLICAÇÃO RETROATIVA DE NORMA PREJUCIDIAL AO CONTRIBUINTE. IMPOSSIBILIDADE. Nos termos do art. 106 do CTN, não encontra guarida no universo jurídico pátrio a aplicação retroativa de norma posteriormente editada, tendente aplicação de penalidade, o que torna nula a lavratura do auto de infração em virtude da falta de requisito formal de validade, uma vez que lavrado com fundamento em norma não aplicável ao caso concreto, bem como ante a ausência de comprovação de indícios de fraude. Recurso voluntário provido. ” Insatisfeita, a Fazenda Nacional opôs Embargos de Declaração, apontando contradição ao alegar, em síntese, que: · Havendo o acórdão recorrido se manifestado apenas no sentido da anulação do auto de infração por vicio formal, não poderia sob pena de contradição com suas próprias proposições, ter concluído pelo Fl. 788DF CARF MF Processo nº 11020.000862/200452 Acórdão n.º 9303004.667 CSRFT3 Fl. 788 3 provimento total do recurso, que, além conter pedido de decretação de nulidade, trazia em seu bojo pleito de extinção do próprio crédito tributário; · Diante da extensão do pedido realizado pelo sujeito passivo e da premissa fixada pelo voto condutor, de existência de vicio formal no auto de infração, o resultado do julgamento deveria ter sido apenas o provimento parcial do recurso voluntário. Apreciados os Embargos, foi emitido “Informação” às fls. 731 a 732, conforme segue (Grifos meus): “[...] Trata o presente de auto de infração lavrado contra a embargante para exigir o pagamento de multa isolada prevista no art. 43, inciso II, da Lei n° 9.430/96, c/c art. 18 da Lei n° 10.833/2003. Impugnado o lançamento, o mesmo foi mantido pela DRJ de Porto Alegre — RS e a embargante, não se conformando, ingressou com recurso voluntário pleiteando a nulidade do auto de infração, julgado procedente, nos termos do Acórdão n° 20179.492, de 27/07/2006. Ciente do referido acórdão e tempestivamente, a Fazenda Nacional ingressou com embargos de declaração alegando a ocorrência de contradição entre os fundamentos do voto e o resultado do julgamento. Alega a embargante que o voto vencedor posicionouse pela anulação do auto de infração e o acórdão não poderia "ter concluído pelo provimento total do recurso, que, além confer pedido de decretação de nulidade, trazia em seu bojo pleito de extinção do próprio crédito tributário". Para melhor compreensão da matéria, transcrevo a integra do pedido final da empresa autuada: b) ao final, seja determinada a reforma da decisão prolatada, para que seja declarado nulo o auto de infração lavrado, de forma que seja extinto o crédito formalizado no presente procedimento administrativo. O pedido da empresa autuada, e toda a fundamentação de seu recurso, é para anular o lançamento. Foi o que a decisão embargada fez. Fl. 789DF CARF MF 4 Decretado a nulidade do lançamento pelo acórdão embargado, o crédito tributário correspondente será extinto com a definitividade dessa decisão administrativa, nos termos do disposto no inciso IX, do art. 156, do CTN. Não cabe, no caso dos autos, ao Colegiado decretar ou deixar de decretar a extinção do crédito tributário. Se assim o fizesse, a decisão seria absolutamente inócua. Portanto, os embargos de declaração não reúnem as condições de admissibilidade porque no acórdão embargado não há nenhuma contradição entre a decisão e os seus fundamentos, requisito exigido pelo art. 65 do Regimento Interno do CARF (Portaria MIF n° 256/2009), abaixo reproduzido: Art. 65. Cabem embargos de declaração quando o acórdão contiver obscuridade, omissão ou contradição entre a decisão e os seus fundamentos, ou for omitido ponto sobre o qual devia pronunciarse a turma. EX POSITIS, entendo improcedentes as alegações da embargante, não merecendo os Embargos de Declaração serem admitidos [...]” Ato contínuo, foi emitido Despacho à fl. 733 com a aprovação dos termos da Informação de fls. 224/225 pelo Presidente da 3ª Câmara da 3ª Seção de Julgamento do CARF – e, por conseguinte, pela rejeição dos presentes embargos declaratórios. Irresignada, então, a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial contra o Acórdão 20179.492, requerendo que o presente recurso seja admitido e que seja mantido o lançamento em sua integralidade. O apelo da Fazenda Nacional foi admitido em sua integralidade, nos termos do Despacho às fls. 749 a 750. É o relatório. Voto Conselheira Tatiana Midori Migiyama Relatora. Fl. 790DF CARF MF Processo nº 11020.000862/200452 Acórdão n.º 9303004.667 CSRFT3 Fl. 789 5 Depreendendose da análise do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, entendo que o recurso deva ser conhecido, o que concordo com os termos do Despacho de Análise de Admissibilidade as fls. 749 e 750. Eis que o recurso foi interposto contra acórdão proferido em sessão de julgamento ocorrido até 30/06/2009, o que deverá ser processado de acordo com o previsto no Regimento Interno da CSRF, aprovado pela Portaria MF nº 147, de 25/06/2007 (RICSRF). Sendo assim, cabe trazer que decisão proferida pelo Colegiado foi por maioria de votos e a sessão de julgamento é anterior a 30/06/2009. Ademais, a Fazenda Nacional trouxe elementos, que no seu entender, caracterizariam violação ao artigo 18 da Lei nº 10.833/2003 e art. 106 do CTN. Dessa forma, é de se considerar que o recurso observou os requisitos necessários para a sua admissibilidade. Ventiladas tais considerações, passo a analisar o cerne da lide – aplicação ou não da multa isolada no indeferimento da compensação apresentada pelo sujeito passivo. Para melhor elucidar o entendimento a ser desenvolvido, importante trazer breve histórico do ocorrido: · A empresa TRANSPORTADORA TEGON VALENTI S/A efetuou a compensação de débitos de PIS e de Cofins com crédito representado por obrigação ao portador emitida pela empresa Centrais Elétricas Brasileiras S/A e solicitou sua homologação junto a DRF em Caxias do Sul RS (Processo n' 13016.000551/200305), que indeferiu o pedido e lavrou auto de infração para exigir o pagamento da multa isolada prevista no art. 43, art. 44, inciso II, da Lei 9.430/96, c/c o art. 18 da Lei Fl. 791DF CARF MF 6 10.833/2003 (R$ 519.417,37 para o PIS e R$ 1.186.838,35 para a Cofins); · O sujeito passivo apresentou impugnação, trazendo, entre outros, que o auto de infração é nulo por ausência de fundamentação legal; não cometeu fraude e não se aplica o ADI SRF 17/02 e nem as alterações promovidas na Lei 9.430/96; · A DRJ de Porto Alegre julgou procedente o lançamento, entendendo ser cabível multa de ofício qualificada nos casos em que o crédito oferecido à compensação não se reveste de natureza tributária; · O sujeito passivo, assim, apresentou recurso voluntário sem arrolar bens em garantia de instância; · Por força de medida liminar, o recurso foi apreciado pelo 2º Conselho de Contribuintes, sendo decidido pelo Colegiado tornar nula a lavratura do auto de infração em virtude da falta de requisito formal de validade. Para melhor elucidar o desenrolar do entendimento, importante trazer o histórico das alterações legislativa. Em respeito ao art. 18 da MP n° 135/2003, que foi convertida na Lei 10.833/03, houve previsão, a priori, que o lançamento de ofício decorrente de diferenças apuradas em declaração prestada pelo sujeito passivo, decorrentes de compensação, seria cabível na hipótese em que as diferenças apuradas forem decorrentes de compensação indevida quando o crédito ou o débito não for passível de compensação por expressa disposição legal; o crédito for de natureza nãotributária e às demais hipóteses em que ficar caracterizada a prática de sonegação, fraude ou conluio – infrações previstas nos arts. 71 a 73 da Lei 4.502/64. Tal como explicitou a exposição de motivos dessa MP: “15. O art. 18 limita a aplicação do lançamento de ofício, de que trata o art. 90 da Medida Provisória no 2.15835, de 24 de agosto de 2001, à cobrança de multa isolada sobre o débito indevidamente compensado nas hipóteses em que as diferenças Fl. 792DF CARF MF Processo nº 11020.000862/200452 Acórdão n.º 9303004.667 CSRFT3 Fl. 790 7 apuradas forem decorrentes de compensação indevida quando o crédito ou o débito não for passível de compensação por expressa disposição legal; o crédito for de natureza nãotributária e às demais hipóteses em que ficar caracterizada a prática das infrações previstas nos arts. 71 a 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964.” Sendo assim, com o advento da MP 135/03, a não homologação da compensação decorrente de crédito ou débito não passível de compensação por expressa disposição legal, ou com crédito de natureza não tributária (compensação não declarada), estava sujeita à multa prevista no art. 18 da MP, independentemente de ser ou não decorrente de prática de fraude ou conluio do sujeito passivo. Posteriormente, com o advento da Lei 11.488/07, que alterou o art. 18 da Lei 10.833/03 de conversão da MP 135/03, vêse que tal dispositivo sofreu alteração em sua redação – passando a estabelecer: “Art. 18. O lançamento de ofício de que trata o art. 90 da Medida Provisória no 2.15835, de 24 de agosto de 2001, limitar seá à imposição de multa isolada em razão de nãohomologação da compensação quando se comprove falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo.” Foi suprimida, conforme exposto, da redação original as hipóteses em que as diferenças apuradas forem decorrentes de compensação indevida quando o crédito ou o débito não for passível de compensação por expressa disposição legal e o crédito for de natureza nãotributária – para a imputação da multa no lançamento de ofício. Dessa forma, a hipótese de lançamento de ofício e de aplicação da respectiva multa para autuações decorrentes de compensações indevidas, passou a ter aplicação ainda mais restrita, qual seja, apenas para os casos em que se comprovasse a falsidade da declaração do sujeito passivo, além das hipóteses de compensações "não declaradas". Fl. 793DF CARF MF 8 A restrição das hipóteses para a aplicação da multa nos lançamentos de ofício não as conduziu automaticamente à aplicação da multa tratada no art. 44 da Lei 9.430/96 – eis que esse dispositivo traz a regra geral – que não seria aplicável aos casos de compensação – como nunca foi. Com o advento da Lei 11.488/07, que alterou o art. 18 da Lei 10.833/03, houve apenas a restrição da aplicação da multa no lançamento de ofício para aqueles casos de não homologação de compensação sem comprovação de falsidade da declaração. Continuando, importante lembrar que a MP 135/03 convertida na Lei 10.833/03, que trouxe novo regramento legal para as compensações, também, dispôs sobre a operacionalização a ser observada mediante entrega da "DComp", estabelecendo, inclusive em seu art. 17 – que, por sua vez, alterou o art. 74 da Lei 9.430/96 que tal declaração constitui confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para a exigência dos débitos indevidamente compensados. Dessa forma, vêse que com a constituição da DCOMP em confissão de dívida, perdeuse o sentido a aplicação da multa por descumprimento da obrigação tributária – por exemplo, entrega da DCTF com inexatidão quando identificada irregularidade na compensação sem comprovação de falsidade nas informações. O que afastaria a aplicação da multa prevista no art. 44, inciso II, da Lei 9.430/96. Com efeito, é de se clarificar que o art. 44, inciso II, da Lei 9.430/96 trata da multa isolada – como regra geral, não alcançando as hipóteses de compensação referendadas no caput do art. 18 da Lei 10.833/03 que faz referência aos lançamentos de ofício de que trata o art. 90 da MP 2.15835/01. Ora, o art. 90 da MP trata especificamente do lançamento de ofício das "diferenças apuradas, em declaração prestada pelo sujeito passivo, decorrentes de pagamento, parcelamento, compensação ou suspensão de exigibilidade, indevidos ou não comprovados, relativamente aos tributos e às contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal". Fl. 794DF CARF MF Processo nº 11020.000862/200452 Acórdão n.º 9303004.667 CSRFT3 Fl. 791 9 Em respeito ao princípio da especialidade – lex specialis derogat legi generali é de se aplicar o art. 18 da Lei 10.833/03. Eis que prevê processo administrativo próprio. Dessa forma, entendo ser plenamente aplicável o instituto da retroatividade benigna – tal como estabelece o art. 106 do Código Tributário Nacional: "Art. 106 . A lei aplica se a ato o u fato pretérito: 1 em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II tratando se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de definilo como infração; b) quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo de sua prática ". Com a aplicação do instituto da retroatividade benigna, no caso vertente, há de ser afastada a aplicação da multa de ofício, para se adotar a multa de mora – considerando a redação do art. 18 da Lei 10.833/03 com a redação dada pela Lei 11.488/07. Assevera ainda a própria DRJ a aplicação desse entendimento. O que, para melhor elucidar, trago algumas ementas de outros acórdãos das delegacias de julgamento nesse sentido: “MINISTÉRIO DA FAZENDA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL 9 º TURMA ACÓRDÃO Nº 1653421 de 05 de Dezembro de 2013 Fl. 795DF CARF MF 10 ASSUNTO: Contribuição para o PIS/Pasep EMENTA: MULTA DE OFÍCIO. RETROATIVIDADE BENIGNA DO ART. 18 DA LEI Nº 10.833, DE 2003. Com a edição da Medida Provisória n.º 135, de 2003, convertida na Lei n.º 10.833, de 2003, não cabe mais imposição de multa, excetuandose os casos mencionados em seu art. 18. Sendo tal norma aplicável aos lançamentos ocorridos anteriormente à edição da Medida Provisória n.º 135, de 2003, em face da retroatividade benigna (ex vi alínea “c”, inciso II do art. 106 do Código Tributário Nacional), impõese o cancelamento da multa de ofício lançada. Período de apuração: : 01/09/1997 a 30/09/1997” MINISTÉRIO DA FAZENDA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTO EM SÃO PAULO 6 º TURMA ACÓRDÃO Nº 1615182 de 23 de Outubro de 2007 ASSUNTO: Normas Gerais de Direito Tributário EMENTA: MULTA DE OFÍCIO. RETROATIVIDADE BENIGNA. Em razão da aplicação retroativa (retroatividade benigna) do art. 18 da Lei 10.833/03, com a redação dada pelo art. 25 da Lei 11.051/04, deve ser excluída a multa de ofício imposta. Período de apuração: : 01/02/2002 a 31/05/2002, 01/08/2002 a 30/04/2003 “MINISTÉRIO DA FAZENDA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL 9 º TURMA ACÓRDÃO Nº 1644304 de 28 de Fevereiro de 2013 ASSUNTO: Contribuição para o PIS/Pasep EMENTA: MULTA DE OFÍCIO RETROATIVIDADE BENIGNA Fl. 796DF CARF MF Processo nº 11020.000862/200452 Acórdão n.º 9303004.667 CSRFT3 Fl. 792 11 DO ART. 18 DA LEI Nº 10.833/2003. Com a edição da MP nº 135/2003, convertida na Lei nº 10.833/2003, não cabe mais imposição de multa excetuandose os casos mencionados em seu art. 18. Sendo tal norma aplicável aos lançamentos ocorridos anteriormente à edição da MP nº 135/2003 em face da retroatividade benigna (art. 106, II, “c” do CTN), impõese o cancelamento da multa de ofício lançada. Período de apuração: : 01/12/1998 a 31/12/1998” MINISTÉRIO DA FAZENDA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTO EM FORTALEZA 4 º TURMA ACÓRDÃO Nº 0823210 de 10 de Abril de 2012 ASSUNTO: Normas de Administração Tributária EMENTA: MULTA DE OFÍCIO. RETROATIVIDADE BENIGNA. Tendo em conta a nova redação dada pelo art. 25 da Lei 11.051, de 2004, ao art. 18 da Lei 10.833, de 2003, em combinação com o art. 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, cancelase a multa de ofício aplicada. Anocalendário: : 01/01/1997 a 31/12/1997” Proveitoso também trazer no mesmo sentido parte da ementa da Solução de Consulta Cosit Interna nº 3, de 08 de janeiro de 2004: “Nos julgamentos dos processos pendentes, cujo crédito tributário tenha sido constituído com base no art. 90 da MP nº 2.15835, as multas de ofício exigidas juntamente com as diferenças lançadas devem ser exoneradas pela aplicação retroativa do caput do art. 18 da Lei nº 10.833, de 2003, desde que essas penalidades não tenham sido fundamentadas nas hipóteses versadas no “caput” desse artigo”. Fl. 797DF CARF MF 12 Após breves considerações, importante trazer que, depreendendose da análise dos autos, não vejo indícios para se coadunar com a caracterização de conduta fraudulenta pela recorrente, tal como exposto pela Fazenda Nacional, pelo fato de o sujeito passivo ter utilizado direitos creditórios referentes a obrigações ao Portador da Eletrobrás – Centrais Elétricas Brasileiras S/A. Eis que o sujeito passivo, considerou, para tanto, os art. 30, 110 e 170 da Lei 5.172/66 Código Tributário Nacional (CTN) e nas leis permissivas de compensação. Alem de alegar a "existência de aval, dado pela União, aos referidos títulos", com base na Lei n°4.156, de 28/11/1962. Apresentou, no seu entender, ainda que inaquado perante a autoridade fazendária, fundamentação para se proceder com a compensação. Portanto, não há que se falar em conduta fraudulenta. Ressurgindome aos autos, importante trazer que, conforme Despacho Decisório às fls. 56 e 57, tal compensação foi indeferida. Tal destaque se torna importante, pois não está em discussão a multa por compensação não declarada – tal como traz a Fazenda Nacional – mas sim a conduta fraudulenta praticada ou não pelo sujeito passivo. O que, por conseguinte, em vista de todo o exposto, resta afastar a aplicação da multa qualificada, conforme art. 18 da Lei 10.833/03, considerando não se tratar de conduta dolosa à fraude praticada pelo sujeito passivo. O instituto da compensação não foi utilizado de forma fraudulenta. Em vista de todo o exposto, nego provimento ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional. É como voto. (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama Fl. 798DF CARF MF Processo nº 11020.000862/200452 Acórdão n.º 9303004.667 CSRFT3 Fl. 793 13 Fl. 799DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10943.000246/2007-70
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 14 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Data do fato gerador: 30/12/2005
EMBARGOS. OBSCURIDADE.
Sendo verificada obscuridade a ser sanada apontada nos embargos inominados, entendendo-se que o acórdão embargado não foi claro o suficiente acerca de todos os procedimentos para a execução do julgado, deve ser dado provimento aos embargos.
Numero da decisão: 2401-004.646
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade, acolher os embargos inominados, sem efeitos infringentes, para, sanando o vicio apontado, determinar que o comparativo da multa, para as competências em que não há lançamento de obrigação principal no auto de infração 10943.000290/2007-80, seja feito entre a multa prevista na Lei 8.212/91, art. 32, IV, § 5º, e a prevista na Lei 8.212/91, art. 32-A.
(assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier Lazarini - Presidente
(assinado digitalmente)
Carlos Alexandre Tortato - Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Cleberson Alex Friess, Rayd Santana Ferreira, Marcio de Lacerda Martins, Andrea Viana Arrais Egypto, Luciana Matos Pereira Barbosa e Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez.
Nome do relator: CARLOS ALEXANDRE TORTATO
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Data do fato gerador: 30/12/2005 EMBARGOS. OBSCURIDADE. Sendo verificada obscuridade a ser sanada apontada nos embargos inominados, entendendo-se que o acórdão embargado não foi claro o suficiente acerca de todos os procedimentos para a execução do julgado, deve ser dado provimento aos embargos.
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OBSCURIDADE. Sendo verificada obscuridade a ser sanada apontada nos embargos inominados, entendendose que o acórdão embargado não foi claro o suficiente acerca de todos os procedimentos para a execução do julgado, deve ser dado provimento aos embargos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 94 3. 00 02 46 /2 00 7- 70 Fl. 289DF CARF MF 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade, acolher os embargos inominados, sem efeitos infringentes, para, sanando o vicio apontado, determinar que o comparativo da multa, para as competências em que não há lançamento de obrigação principal no auto de infração 10943.000290/200780, seja feito entre a multa prevista na Lei 8.212/91, art. 32, IV, § 5º, e a prevista na Lei 8.212/91, art. 32A. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Lazarini Presidente (assinado digitalmente) Carlos Alexandre Tortato Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros: Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Cleberson Alex Friess, Rayd Santana Ferreira, Marcio de Lacerda Martins, Andrea Viana Arrais Egypto, Luciana Matos Pereira Barbosa e Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez. Fl. 290DF CARF MF Processo nº 10943.000246/200770 Acórdão n.º 2401004.646 S2C4T1 Fl. 290 3 Relatório Tratase de embargos inominados (fls. 280/281), opostos pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em São Bernardo do Campo, com fulcro no art. 66 do RICARF, contra o Acórdão nº. 2401003.219 (fls 256/273), que restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Data do fato gerador: 30/12/2005 PREVIDENCIÁRIO CUSTEIO AUTO DE INFRAÇÃO ARTIGO 32, IV, § 5º E ARTIGO 41 DA LEI N.º 8.212/91 C/C ARTIGO 284, II DO RPS, APROVADO PELO DECRETO N.º 3.048/99 OMISSÃO EM GFIP CONTRIBUINTES INDIVIDUAIS A inobservância da obrigação tributária acessória é fato gerador do auto de infração, o qual se constitui, principalmente, em forma de exigir que a obrigação seja cumprida; obrigação que tem por finalidade auxiliar o INSS na administração previdenciária. Inobservância do art. 32, IV, § 5º da Lei n ° 8.212/1991, com a multa punitiva aplicada conforme dispõe o art. 284, II do RPS, aprovado pelo Decreto n ° 3.048/1999.: “ informar mensalmente ao Instituto Nacional do Seguro Social INSS, por intermédio de documento a ser definido em regulamento, dados relacionados aos fatos geradores de contribuição previdenciária e outras informações de interesse do INSS. (Incluído pela Lei 9.528, de 10.12.97)”. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 30/12/2005 PREVIDENCIÁRIO CUSTEIO AUTO DE INFRAÇÃO ARTIGO 32, IV, § 5º E ARTIGO 41 DA LEI N.º 8.212/91 C/C ARTIGO 284, II DO RPS, APROVADO PELO DECRETO N.º 3.048/99 NFLD CORRELATAS CONTRIBUINTES INDIVIDUAIS AÇÕES TRABALHISTAS. A sorte de Autos de Infração relacionados a omissão em GFIP, está diretamente relacionado ao resultado das NFLD lavradas sobre os mesmos fatos geradores. AUTO DE INFRAÇÃO ARTIGO 32, IV, § 5º E ARTIGO 41 DA LEI N.º 8.212/91 C/C ARTIGO 284, II DO RPS, APROVADO PELO DECRETO N.º 3.048/99 OMISSÃO EM GFIP MULTA RETROATIVIDADE BENIGNA Fl. 291DF CARF MF 4 Na superveniência de legislação que estabeleça novos critérios para a apuração da multa por descumprimento de obrigação acessória, fazse necessário verificar se a sistemática atual é mais favorável ao contribuinte que a anterior. PRAZO DECADENCIAL AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA CORRELATA Tratandose de auto de infração pelo descumprimento de obrigação acessória não há que se falar em recolhimento antecipado, devendo a decadência ser apreciada a luz do art. 173, I do CTN. Independente da decadência das obrigações principais ter sido decretada a luz do art. 150, § 4, nos autos de obrigação acessória não há como atribuir mesmo raciocínio, tendo em vista serem obrigações distintas, a de recolher a contribuição devida, e a de informar em GFIP fatos geradores de contribuição previdenciária. A informação em GFIP não possui o condão de apenas informar a contribuição devida, mas acima de tudo, informar a remuneração do segurado da previdência social, informação essa que irá subsidiar a concessão de benefícios e o correspondente cálculo do salário de benefício. Recurso Voluntário Provido em Parte. Para melhor elucidação, trata o acórdão embargado de decisão que reconheceu parcialmente a decadência do crédito tributário lançado e determinou o recálculo do valor da multa, de acordo com o art. 44, I, da Lei nº. 9.430/96, acaso fosse mais benéfico ao contribuinte. Alega o embargante que há erro no resultado do acórdão, já que este não contemplaria todas as situações discutidas naquele julgado, nos seguintes termos dos embargos inominados: Em face de recurso interposto, a 4a Câmara da Segunda Seção de Julgamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, por meio do Acórdão n° 2401003.219 de 19/09/2013, votou no sentido de CONHECER do recurso, para rejeitar a preliminar de nulidade, excluir da multa os fatos geradores até 11/1999 e no mérito DARLHE PROVIMENTO PARCIAL, para recalcular o valor da multa, se mais benéfico ao contribuinte, de acordo com o disciplinado no art. 44,1 da Lei n" 9.430, de 1996, deduzidos os valores levantados a título de multa nas NFLD correlatas. Diante do relatado pelo Auditor Fiscal às fls. 07/26 e 190/191, foram constatadas as seguintes situações: os valores devidos referentes aos autônomos e transportadores autônomos omitidos nas GFIP do período de 09/1999 a 05/2003, conforme demonstrativo de fls. 23/24, também foram objeto da Fl. 292DF CARF MF Processo nº 10943.000246/200770 Acórdão n.º 2401004.646 S2C4T1 Fl. 291 5 NFLD n° 35.903.6805, assim é viável a análise da multa mais benéfica de acordo com o disciplinado no art. 44,1 da Lei n° 9.430, de 1996, deduzidos os valores levantados a título de multa na NFLD correlata; os valores devidos referentes ao Décimo Terceiro Salário dos anos de 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004, conforme discriminado à fl. 11 , omitidos, respectivamente, nas GFIP de 12/2009, 12/2000, 12/2001, 12/2002, 12/2003 e 12/2004 não foram objeto de qualquer lançamento, assim não é viável a análise da multa mais benéfica com base no disciplinado no art. 44,1 da Lei n° 9.430, de 1996. Assim, entendo que fica prejudicado o cumprimento, na forma proposta, do determinado pelo Acórdão em questão no que tange à multa decorrente da omissão dos valores devidos em face do Décimo Terceiro Salário dos anos de 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004 nas respectivas GFIP, pois foi omisso quanto ao procedimento a ser adotado para o cálculo da multa mais benéfica para situações em que não houve lançamento correlato. Assim, haveria erro manifesto no acórdão embargado, posto que não teria enfrentado todos os pontos do lançamento e, assim, a decisão proferida não seria passível de execução. Para melhor elucidação, extraímos o excerto da decisão objeto dos embargos: Não obstante a correção do auditor fiscal em proceder ao lançamento nos termos do normativo vigente à época da lavratura do AI, foi editada a Medida Provisória MP 449/09, convertida na Lei 11.941/2009, que revogou o art. 32, § 4o, da Lei 8.212/91. Assim, no que tange ao cálculo da multa, é necessário tecer algumas considerações, face à edição da referida MP, convertida em lei. A citada MP alterou a sistemática de cálculo de multa por infrações relacionadas à GFIP. Para tanto, a MP 449/2008, inseriu o art. 32A, o qual dispõe o seguinte: (...) Entretanto, a MP 449, Lei 11.941/2009, também acrescentou o art. 35A que dispõe o seguinte, “Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996.” O inciso I do art. 44 da Lei 9.430/96, por sua vez, dispõe o seguinte: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: Fl. 293DF CARF MF 6 I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata “ Com a alteração acima, em caso de atraso, cujo recolhimento não ocorrer de forma espontânea pelo contribuinte, levando ao lançamento de ofício, a multa a ser aplicada passa a ser a estabelecida no dispositivo acima citado. As contribuições decorrentes da omissão em GFIP foram objeto de lançamento, por meio da notificação já mencionada e, tendo havido o lançamento de ofício, não se aplicaria o art. 32A, sob pena de bis in idem. Considerando o princípio da retroatividade benigna previsto no art. 106. inciso II, alínea “c”, do Código Tributário Nacional, há que se verificar a situação mais favorável ao sujeito passivo, face às alterações trazidas. No caso da notificação conexa e já julgada, prevaleceu o valor de multa aplicado nos moldes do art. 35, inciso II, revogado pela MP 449/2008, convertida na Lei 11.941/2009. No caso da autuação em tela, a multa aplicada ocorreu nos termos do art. 32, inciso IV, § 5º, da Lei nº 8.212/1991 também revogado, o qual previa uma multa no valor de cem por cento da contribuição não declarada, limitada aos limites previstos no § 4º do mesmo artigo. Para efeitos da apuração da situação mais favorável, há que se observar qual das seguintes situações resulta mais favorável ao contribuinte: Norma anterior, pela soma da multa aplicada nos moldes do art. 35, inciso II com a multa prevista no art. 32, inciso IV, § 5º, observada a limitação imposta pelo § 4º do mesmo artigo, ou Norma atual, pela aplicação da multa de setenta e cinco por cento sobre os valores não declarados, sem qualquer limitação, excluído o valor de multa mantido na notificação. Nesse sentido, entendo que na execução do julgado, a autoridade fiscal deverá verificar, com base nas alterações trazidas, a situação mais benéfica ao contribuinte. Segundo os embargos apresentados, haveria erro no acórdão, o que pode ser entendido como omissão, por não explicitar o entendimento em relação ao lançamento do 13º salário, o que inviabilizaria a execução do julgado. Em despacho de admissibilidade de fls. 286/287, datado de 23/03/2015, foi apresentada e admitida a proposta de admissão dos embargos inominados, a fim de que seja sanado o equívoco cometido. É o relatório. Fl. 294DF CARF MF Processo nº 10943.000246/200770 Acórdão n.º 2401004.646 S2C4T1 Fl. 292 7 Voto Conselheiro Carlos Alexandre Tortato Relator Pressupostos de Admissibilidade Os Embargos Inominados opostos pela autoridade fiscal da Delegacia da Receita Federal do Brasil em São Bernardo do Campo, inicialmente, atendem aos pressupostos de admissibilidade, já que não estão sujeitos ao prazo de cinco dias para sua inteposição, ante o disposto no art. 66 do RICARF. Mérito No tocante ao mérito dos embargos de declaração, sobre a alegada existência de erro no r. acórdão que inviabiliza a execução do julgado, data maxia venia, discordo do Despacho de Admissibilidade de fls. 286/287 e entendo que estes aclaratórios não merecem provimento. Conforme relatado acima e da análise integral do acórdão embargado, este trata de Auto de Infração por descumprimento das obrigações acessórias, nos termos do art. 32, IV, § 5º da Lei nº. 8.212/91. As razões de decidir do r. acórdão se dão sob o prisma da análise da retroatividade ou não da aplicação da multa mais benéfica, por força do art. 106, II, c, do CTN, já que a multa originariamente aplicada no presente processo administrativo fiscal foi posteriormente revogada pela Lei nº. 11.941/2009. A controvérsia se dá, ante a apresentação dos embargos inominados pela autoridade fazendária, pela ausência de explicação sobre a existência de lançamento do 13º salário no lançamento principal, a fim de se realizar a comparação no presente lançamento para aplicação ou não da multa mais benéfica, por força da retroatividade benigna. Ocorre que, para que seja realizada a verificação pleiteada pela autoridade embargante, necessário se faz que aquela realize análise do PAF nº. 10943.000290/200780, que contém o lançamento das obrigações principais conexas ao presente. Por essas razões, na execução do presente processo administrativo, deve a autoridade fiscal aplicar, para as competências em que há lançamento correspondente de obrigação principal (13/2001 e 13/2002), exatamente os termos determinados no acórdão embargado. Já para as competências restantes, onde não há lançamento correspondente de obrigação principal, deverá a autoridade fazendária fazer o comparativo entre a multa lançada do art. 32, IV, § 5º, da Lei nº. 8.212/91, com a multa do art. 32A, da mesma lei, com redação dada pela Lei nº. 11.941/09, aplicando a que for mais benéfica, por força da retroatividade benigna determinada no acórdão embargado. Isto posto, entendo que os embargos inominados devem, no mérito, ser acolhidos. Fl. 295DF CARF MF 8 CONCLUSÃO Ante o exposto, voto por ACOLHER os Embargos Inominados para, no MÉRITO, DAR PROVIMENTO, sem efeitos infringentes, mantendo incólume o Acórdão nº. 2401003.219, para o fim de sanar a omissão/obscuridade apontada para o fim de que seja realizado o comparativo de multas nos termos acima expostos. É como voto. (assinado digitalmente) Carlos Alexandre Tortato Fl. 296DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10865.001999/2002-68
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon Apr 03 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 03 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 1997, 1998
PRELIMINAR DE NULIDADE. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA.
Rejeita-se a preliminar de nulidade do lançamento invocada com base em cerceamento do direito de defesa, porquanto ao contribuinte foi lhe dado tomar conhecimento do inteiro teor das infrações que lhe são imputadas, possibilitando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa.
Concedida ao contribuinte ampla oportunidade de apresentar documentos e esclarecimentos, tanto no decurso do procedimento fiscal como na fase impugnatória, não há que se falar em cerceamento do direito defesa.
PRELIMINAR NULIDADE DECISÃO DA DRJ. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA.
A decisão de piso enfrentou e afastou todos os argumentos feitos pelo sujeito passivo em sede de impugnação, não tendo havido omissão.
Ademais, o julgador somente está obrigado a enfrentar os argumentos capazes de, em tese, infirmar a conclusão por ele adotada, de acordo com o disposto no inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC, combinado com o seu art. 1022, parágrafo único, inciso II.
IRPF. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. NÃO COMPROVAÇÃO.
Caracterizam omissão de receita os valores creditados em conta de depósito ou de investimento, mantida junto a instituição financeira, quando não forem comprovados a sua origem,
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INAPLICABILIDADE AO PAF. SÚMULA CARF N° 11.
Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal.
Numero da decisão: 2401-004.703
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade, em conhecer do recurso, e, no mérito, negar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier Lazarini - Presidente
(assinado digitalmente)
Rayd Santana Ferreira - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Cleberson Alex Friess, Marcio de Larceda Martins, Andrea Viana Arrais Egypto, Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez, Luciana Matos Pereira Barbosa e Rayd Santana Ferreira.
Nome do relator: RAYD SANTANA FERREIRA
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 1997, 1998 PRELIMINAR DE NULIDADE. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. Rejeita-se a preliminar de nulidade do lançamento invocada com base em cerceamento do direito de defesa, porquanto ao contribuinte foi lhe dado tomar conhecimento do inteiro teor das infrações que lhe são imputadas, possibilitando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. Concedida ao contribuinte ampla oportunidade de apresentar documentos e esclarecimentos, tanto no decurso do procedimento fiscal como na fase impugnatória, não há que se falar em cerceamento do direito defesa. PRELIMINAR NULIDADE DECISÃO DA DRJ. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. A decisão de piso enfrentou e afastou todos os argumentos feitos pelo sujeito passivo em sede de impugnação, não tendo havido omissão. Ademais, o julgador somente está obrigado a enfrentar os argumentos capazes de, em tese, infirmar a conclusão por ele adotada, de acordo com o disposto no inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC, combinado com o seu art. 1022, parágrafo único, inciso II. IRPF. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. NÃO COMPROVAÇÃO. Caracterizam omissão de receita os valores creditados em conta de depósito ou de investimento, mantida junto a instituição financeira, quando não forem comprovados a sua origem, PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INAPLICABILIDADE AO PAF. SÚMULA CARF N° 11. Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal.
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CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. Rejeitase a preliminar de nulidade do lançamento invocada com base em cerceamento do direito de defesa, porquanto ao contribuinte foi lhe dado tomar conhecimento do inteiro teor das infrações que lhe são imputadas, possibilitando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. Concedida ao contribuinte ampla oportunidade de apresentar documentos e esclarecimentos, tanto no decurso do procedimento fiscal como na fase impugnatória, não há que se falar em cerceamento do direito defesa. PRELIMINAR NULIDADE DECISÃO DA DRJ. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. A decisão de piso enfrentou e afastou todos os argumentos feitos pelo sujeito passivo em sede de impugnação, não tendo havido omissão. Ademais, o julgador somente está obrigado a enfrentar os argumentos capazes de, em tese, infirmar a conclusão por ele adotada, de acordo com o disposto no inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC, combinado com o seu art. 1022, parágrafo único, inciso II. IRPF. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. NÃO COMPROVAÇÃO. Caracterizam omissão de receita os valores creditados em conta de depósito ou de investimento, mantida junto a instituição financeira, quando não forem comprovados a sua origem, PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INAPLICABILIDADE AO PAF. SÚMULA CARF N° 11. Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 86 5. 00 19 99 /2 00 2- 68 Fl. 804DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade, em conhecer do recurso, e, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Lazarini Presidente (assinado digitalmente) Rayd Santana Ferreira Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Cleberson Alex Friess, Marcio de Larceda Martins, Andrea Viana Arrais Egypto, Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez, Luciana Matos Pereira Barbosa e Rayd Santana Ferreira. Fl. 805DF CARF MF Processo nº 10865.001999/200268 Acórdão n.º 2401004.703 S2C4T1 Fl. 3 3 Relatório WALDEMAR TEBALDI FILHO, contribuinte, pessoa física, já qualificado nos autos do processo em referência, recorre a este Conselho da decisão da 5a Turma da DRJ em São Paulo/SP, Acórdão nº 1731.199/2009, às efls. 737/769 que julgou procedente o Auto de Infração exigindolhe crédito tributário concernente ao Imposto de Renda Pessoa Física IRPF, decorrente da constatação de omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada, em relação aos anoscalendário 1997 e 1998, conforme peça inaugural do feito, às fls. 06/10, e demais documentos que instruem o processo. Tratase de Auto de Infração, lavrado em 04/12/2002 (fl. 301), nos moldes da legislação de regência, contra o contribuinte acima identificado, constituindose crédito tributário no valor consignado na folha de rosto da autuação, decorrentes dos seguintes fatos geradores: OMISSÃO DE RENDIMENTOS CARACTERIZADA POR DEPÓSITOS BANCÁRIOS COM ORIGEM NÃO COMPROVADA. Omissão de rendimentos caracterizada por valores creditados em contas de deposito ou de investimento, mantidas em instituições financeiras, em relação aos quais o contribuinte, regularmente intimado, não comprovou, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações, conforme demonstrado no Termo de Constatação Fiscal de fls. 11/15. Inconformado com a Decisão recorrida, o contribuinte apresentou Recurso Voluntário, às efls. 773/791, procurando demonstrar sua improcedência, desenvolvendo em síntese as seguintes razões. Após breve relato das fases processuais, bem como dos fatos que permeiam o lançamento, repisa as alegações da impugnação, suscitando preliminarmente a nulidade da decisão de primeira instância por não se manifestar sobre os rendimentos utilizados em campanha eleitoral, assim como cerceamento do direito de defesa. Explicita, no presente caso, a Lei no 10.174, publicada em 09.01.2001, com vigência a partir de 10.01.2001, não contém em seu texto qualquer disposição de retroatividade, alcançando fatos pretéritos, como pretende a Receita Federal; Afirma não houver qualquer omissão de rendimentos, porque a conta bancária fiscalizada, foi a conta aberta para receber recursos de campanha eleitoral, cujas doações, dentro dos limites da lei, são isentas de qualquer imposto. Insurgese quanta aplicação da multa de ofício no patamar de 75% e aplicação da prescrição intercorrente. Fl. 806DF CARF MF 4 Por fim, requer o conhecimento e provimento do seu recurso, para desconsiderar o Auto de Infração, tornandoo sem efeito e, no mérito, a sua absoluta improcedência. Não houve apresentação de contrarrazões. É o relatório. Fl. 807DF CARF MF Processo nº 10865.001999/200268 Acórdão n.º 2401004.703 S2C4T1 Fl. 4 5 Voto Conselheiro Rayd Santana Ferreira Relator Presente o pressuposto de admissibilidade, por ser tempestivo, conheço do recurso e passo ao exame das alegações recursais. PRELIMINAR DE NULIDADE DA DECISÃO DE 1° INSTÂNCIA E CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA Suscita preliminarmente a nulidade da decisão de primeira instância por não se manifestar sobre os rendimentos utilizados em campanha eleitoral, assim como cerceamento do direito de defesa. Ao analisarmos a decisão de piso, a autoridade julgadora é bastante clara e objetiva ao tratar dos rendimentos utilizados em campanha eleitoral depositados no Unibanco, senão vejamos: "[...] Por derradeiro, é mister enfatizar que, não obstante o Termo de Constatação Fiscal de fls. 11/15 faça menção à movimentação financeira ocorrida no Banco UnibancoUnião de Bancos Brasileiros, na quantia de R$ 167.617,20, no anocalendário de 1998, correspondente, segundo a defesa apresentada, a arrecadação de campanha eleitoral, o lançamento formalizado por intermédio do auto de infração ora guerreado, não incluiu tal importância no cômputo dos rendimentos considerados omitidos por depósitos bancários de origem não comprovada, tornado assim, nesse passo, inócua a análise dos argumentos e provas trazidos à colação na peça impugnatória." Ao observar a transcrição acima, não merece prosperar o argumento do contribuinte, pois resta claro que o lançamento não incluiu tal importância, tendo a DRJ manifestado o seu entendimento a respeito. Esclareço ainda que o interessado teve ampla oportunidade de apresentar no curso do procedimento fiscal (e mesmo na fase impugnatória), os documentos, informações e esclarecimentos requisitados pela Fiscalização. Ainda na fase impugnatória, o contribuinte poderia ter trazido aos autos as provas documentais que lhe foram solicitadas, nos termos facultados pelo artigo 16, inciso III, e § 4°, do Decreto n° 70.235/1972, com a redação dada pelo art. 1° da Lei n° 8.748/1993, e alterações introduzidas pelo art. 67 da Lei n° 9.532, de 10/12/1997. O autuado possuía a prerrogativa de anexar aos autos todas as provas que julgasse relevantes para elidir o lançamento e teve pleno conhecimento do ilícito tributário que lhe foi imputado, podendo exercer, sem qualquer restrição, o seu direito de defesa, como se constata, facilmente, pelo arrazoado apresentado. Fl. 808DF CARF MF 6 Feitas estas considerações, é patente que não se configurou a ocorrência do propalado cerceamento ao direito de defesa. MÉRITO O recorrente explicita, no presente caso, a Lei no 10.174, publicada em 09.01.2001, com vigência a partir de 10.01.2001, não contém em seu texto qualquer disposição de retroatividade, alcançando fatos pretéritos, como pretende a Receita Federal; Afirma não houver qualquer omissão de rendimentos, porque a conta bancária fiscalizada, foi a conta aberta para receber recursos de campanha eleitoral, cujas doações, dentro dos limites da lei, são isentas de qualquer imposto. Insurgese quanta aplicação da multa de ofício no patamar de 75% e aplicação da prescrição intercorrente. Em que pesem as razões ofertadas pelo contribuinte, seu inconformismo, contudo, não tem o condão de prosperar. Do exame dos elementos que instruem o processo, concluise que o lançamento, corroborado pela decisão recorrida, apresentase formalmente incensurável, devendo ser mantido em sua plenitude, senão vejamos: Primeiramente é importante salientar que o contribuinte não discute nenhum valor ou depósito considerado pela autoridade fiscal, apenas questionando legislação, não sendo o bastante para reformular a decisão de piso. A tributação com base em depósitos bancários, a partir de 01/01/97, é regida pelo art. 42 da Lei n° 9.430, de 27/12/1996, publicada no DOU de 30/12/1996, que instituiu a presunção de omissão de rendimentos com base em depósitos bancários, quando o contribuinte, regularmente intimado, não comprovasse mediante documentação hábil e idônea a origem dos recursos utilizados nessas operações. Confirase: "Art. 42, Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição . financeira, em relação aos quais o titular, pessoa _física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. § 1° O valor das receitas ou dos rendimentos omitido será considerado auferido ou recebido no mês do crédito efetuado pela instituição financeira. § 2° Os valores cuja origem houver sido comprovada, que não houverem sido computados na base de cálculo dos impostos e contribuições a que estiverem sujeitos, submeterseão às normas de tributação específicas, previstas na legislação vigente à época em que auferidos ou recebidos. § 3° Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados. I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica; II no caso de pessoa .física, sem prejuízo do disposto no inciso anterior, os de valor individual igual ou inferior a R$ 12.000,00 Fl. 809DF CARF MF Processo nº 10865.001999/200268 Acórdão n.º 2401004.703 S2C4T1 Fl. 5 7 (doze mil reais), desde que o seu somatório, dentro do ano calendário, não ultrapasse o valor de R$ 80.000,00 Oitenta mil reais) (Alterado pela Lei n" 9.481, de 13.897). § 4° Tratandose de pessoa física, os rendimentos omitidos serão tributados no mês em que considerados recebidos, com base na tabela progressiva vigente à época em que tenha sido efetuado o crédito pela instituição financeira. § 5° Quando provado que os valores creditados na conta de depósito ou de investimento pertencem a terceiro, evidenciando interposição de pessoa, a determinação dos rendimentos ou receitas será *tirada em relação ao terceiro, na condição de efetivo titular da conta de depósito ou de investimento.(incluído pela Lei n°10.637, de 30.12.2002). § 6° Na hipótese de contas de depósito ou de investimento mantidas em conjunto, cuja declaração de rendimentos ou de informações dos titulares' tenham sido apresentadas em separado, e não havendo comprovação da origem dos recursos nos termos deste artigo, o valor dos rendimentos ou receitas será imputado a cada titular mediante divisão entre o total dos rendimentos ou receitas pela quantidade de titulares. ('Incluído pela Lei n°10637, de 30,12,2002)." O fato gerador do imposto de renda é sempre a renda auferida. Os depósitos bancários (entrada de recursos), por si só, não se constituem em rendimentos. Daí por que não se confunde com a tributação da CPMF, que incide sobre a mera movimentação financeira, pela saída de recursos da conta bancária do titular. Por força do artigo 42 da Lei n° 9.430, de 1996, o depósito bancário foi apontado corno fato presuntivo da omissão de rendimentos, desde que a pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados na operação. Para Pontes de Miranda, presunções são fatos que podem ser verdadeiros ou falsos, mas o legislador os têm corno verdadeiros e divide as presunções em iuris et de iure (absolutas) e iuris tantum (relativas). As presunções absolutas, na lição deste autor, são irrefragáveis, nenhuma prova contrária se admite; quando, em vez disso, a presunção for iuris tantum, cabe a prova em contrário, conforme demasiadamente tratado em diversos outros votos deste Relator. Conforme destacado anteriormente, na presunção o legislador apanha um fato conhecido, no caso o depósito bancário e, deste dado, mediante raciocínio lógico, chega a um fato desconhecido que é a obtenção de rendimentos. A obtenção de renda presumida a partir de depósito bancário é um fato que pode ser verdadeiro ou falso, mas o legislador o tem corno verdadeiro, cabendo à parte que tem contra si presunção legal fazer prova em contrário. Neste sentido, não se pode ignorar que a lei, estabelecendo uma presunção legal de omissão de rendimentos, autoriza o lançamento do imposto correspondente sempre que o titular da conta bancária, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos. Em síntese, a lei considera que os depósitos bancários, de origem não comprovada, analisados individualizadamente, caracterizam omissão de rendimentos. A presunção em favor do Fisco transfere ao contribuinte o ônus de elidir a imputação, mediante a comprovação, no caso, da origem dos recursos. Fl. 810DF CARF MF 8 A caracterização da ocorrência do fato gerador do imposto de renda não se dá pela mera constatação de um depósito bancário, considerado isoladamente. Pelo contrário, a presunção de omissão de rendimentos está ligada à falta de esclarecimentos da origem dos recursos depositados em contas bancárias, com a análise individualizada dos créditos, conforme expressamente previsto na lei. Portanto, claro está que o fato gerador do imposto de renda, no caso, não está vinculado ao crédito efetuado na conta bancária, pois, se o crédito tiver por origem transferência de outra conta do mesmo titular, ou a alienação de bens do patrimônio do contribuinte, ou a assunção de exigibilidade, como dito anteriormente, não cabe falar em rendimentos ou ganhos, justamente porque o patrimônio da pessoa não terá sofrido qualquer alteração quantitativa. O fato gerador é a circunstância de tratarse de dinheiro novo no seu patrimônio, assim presumido pela lei em face da ausência de esclarecimentos da origem respectiva. Quanto à tese de ausência de evolução patrimonial ou consumo capaz de justificar o fato gerador do imposto de renda, é verdade que este imposto, conforme prevê o artigo 43 do CTN, tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica, isto é, de riqueza nova. Entretanto, o legislador ordinário presumiu que há aquisição de riqueza nova nos casos de movimentação financeira em que o contribuinte não demonstre a origem dos recursos. A atuação da administração tributária é vinculada à lei (artigo 142 do CTN), sendo vedado ao fisco declarar a inconstitucionalidade de lei devidamente aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República. Neste diapasão, existe a Súmula CARF n° 02 consolidando sua jurisprudência no sentido de que o Órgão "não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária." A partir da vigência do artigo 42 da Lei n° 9,430, de 1996, os depósitos bancários deixaram de ser "modalidade de arbitramento" que exigia da fiscalização a demonstração de gastos incompatíveis com a renda declarada (aquisição de patrimônio a descoberto e sinais exteriores de riqueza), conforme interpretação consagrada pelo poder judiciário e por este Tribunal. A fim de consolidar o entendimento deste CARF sobre a matéria foi editada a Súmula de n° 26, com a seguinte redação: "A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada." Mais uma vez, repiso, o contribuinte nada se esforça ou argumenta sobre a comprovação dos numerários, apenas demonstrando descontentamento com a legislação e mencionando entendimento judicial, ou seja, em relação aos depósitos efetuados na conta bancária não foram apresentados esclarecimentos convincentes e muito menos documentos hábeis e idôneos a demonstrar a origem de cada depósito bancário. Quanto a alegação sobre a prescrição intercorrente, neste ponto, a Súmula CARF n° 11, de aplicação obrigatória pelos Conselheiros, estipula que não há a aplicação de prescrição no decorrer do processo administrativo fiscal de lançamento; in verbis: "Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal." Quanto às demais alegações do contribuinte, não merece aqui tecer maiores considerações, uma vez não serem capazes de ensejar a reforma da decisão recorrida, especialmente quando desprovidos de qualquer amparo legal ou fático, bem como já devidamente rechaçadas pelo julgador de primeira instância. Fl. 811DF CARF MF Processo nº 10865.001999/200268 Acórdão n.º 2401004.703 S2C4T1 Fl. 6 9 Por todo o exposto, estando o Auto de Infração, sub examine, em consonância com as normas legais que regulamentam a matéria, VOTO NO SENTIDO DE CONHECER DO RECURSO VOLUNTÁRIO, e, no mérito, NEGARLHE PROVIMENTO, pelas razões de fato e de direito acima esposadas. É como voto. (assinado digitalmente) Rayd Santana Ferreira. Fl. 812DF CARF MF
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Numero do processo: 19515.721910/2012-08
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Mar 16 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue May 09 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2008
OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA FÍSICA.
É incabível o lançamento embasado em presunções não autorizadas em lei e que não esteja firmado em provas materiais.
IRPF. MULTA DE LANÇAMENTO DE OFÍCIO QUALIFICADA.
Para que a multa de 150% seja aplicada, exige-se que o contribuinte tenha procedido com evidente intuito de fraude. Desta forma, se a fiscalização não demonstrou, nos autos, que a ação do contribuinte teve o propósito deliberado de impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, utilizando-se de recursos que caracterizam evidente intuito de fraude, não cabe a aplicação da multa qualificada.
A simples omissão na DIRPF de rendimentos supostamente isentos não é elemento caracterizador, por si só, do evidente intuito doloso, autorizador da imposição da multa qualificada.
PRELIMINAR. NULIDADE POR VÍCIO FORMAL. INOCORRÊNCIA.
Incabível a argüição de nulidade do procedimento fiscal quando este atender as formalidades legais e for efetuado por servidor competente.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA.
Tendo sido regularmente oferecida a ampla oportunidade de defesa, com a devida ciência do auto de infração, restam insubsistentes as alegações de cerceamento do direito de defesa.
DECADÊNCIA. FATO GERADOR DO IRPF. DESCLASSIFICAÇÃO DE RENDIMENTOS.
O fato gerador do imposto sobre os rendimentos sujeitos ao ajuste anual somente aperfeiçoa-se no momento em que se completa o período de apuração dos rendimentos e deduções: 31 de dezembro de cada ano-calendário.
IRPF. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS EXCEDENTE AO LUCRO PRESUMIDO. REQUISITOS. COMPROVAÇÃO POR MEIO DE ESCRITURAÇÃO COMERCIAL. FORMALIDADES.
Não estão sujeitos ao imposto sobre a renda os lucros e dividendos pagos ou creditados a sócios, acionistas ou titular de empresa individual. No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, poderá ser distribuída, sem incidência de imposto, parcela de lucros ou dividendos excedentes, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pelo lucro presumido.
Numero da decisão: 2201-003.521
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso de ofício e quanto ao recurso voluntário, rejeitar as preliminares de nulidade e cerceamento de defesa para, no mérito, negar-lhe provimento.
Assinado digitalmente.
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA - Presidente.
Assinado digitalmente.
ANA CECÍLIA LUSTOSA DA CRUZ - Relatora.
EDITADO EM: 07/05/2017
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra, Dione Jesabel Wasilewski, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Marcelo Milton da Silva Risso, Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim e José Alfredo Duarte Filho.
Nome do relator: ANA CECILIA LUSTOSA DA CRUZ
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ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2008 OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA FÍSICA. É incabível o lançamento embasado em presunções não autorizadas em lei e que não esteja firmado em provas materiais. IRPF. MULTA DE LANÇAMENTO DE OFÍCIO QUALIFICADA. Para que a multa de 150% seja aplicada, exigese que o contribuinte tenha procedido com evidente intuito de fraude. Desta forma, se a fiscalização não demonstrou, nos autos, que a ação do contribuinte teve o propósito deliberado de impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, utilizandose de recursos que caracterizam evidente intuito de fraude, não cabe a aplicação da multa qualificada. A simples omissão na DIRPF de rendimentos supostamente isentos não é elemento caracterizador, por si só, do evidente intuito doloso, autorizador da imposição da multa qualificada. PRELIMINAR. NULIDADE POR VÍCIO FORMAL. INOCORRÊNCIA. Incabível a argüição de nulidade do procedimento fiscal quando este atender as formalidades legais e for efetuado por servidor competente. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. Tendo sido regularmente oferecida a ampla oportunidade de defesa, com a devida ciência do auto de infração, restam insubsistentes as alegações de cerceamento do direito de defesa. DECADÊNCIA. FATO GERADOR DO IRPF. DESCLASSIFICAÇÃO DE RENDIMENTOS. O fato gerador do imposto sobre os rendimentos sujeitos ao ajuste anual somente aperfeiçoase no momento em que se completa o período de AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 72 19 10 /2 01 2- 08 Fl. 1322DF CARF MF 2 apuração dos rendimentos e deduções: 31 de dezembro de cada ano calendário. IRPF. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS EXCEDENTE AO LUCRO PRESUMIDO. REQUISITOS. COMPROVAÇÃO POR MEIO DE ESCRITURAÇÃO COMERCIAL. FORMALIDADES. Não estão sujeitos ao imposto sobre a renda os lucros e dividendos pagos ou creditados a sócios, acionistas ou titular de empresa individual. No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, poderá ser distribuída, sem incidência de imposto, parcela de lucros ou dividendos excedentes, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pelo lucro presumido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso de ofício e quanto ao recurso voluntário, rejeitar as preliminares de nulidade e cerceamento de defesa para, no mérito, negarlhe provimento. Assinado digitalmente. CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA Presidente. Assinado digitalmente. ANA CECÍLIA LUSTOSA DA CRUZ Relatora. EDITADO EM: 07/05/2017 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra, Dione Jesabel Wasilewski, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Marcelo Milton da Silva Risso, Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim e José Alfredo Duarte Filho. Relatório Tratamse de Recurso Voluntário e Recurso de Ofício contra decisão primeira instância que julgou procedente em parte a impugnação apresentada pelo sujeito passivo. Nesta oportunidade, utilizome do relatório produzido em assentada anterior, eis que aborda de maneira elucidativa os fatos objeto dos presentes autos, nos termos seguintes: O contribuinte acima identificado insurgese contra Auto de Infração de fls. 1.068/1.072 (numeração digital), acompanhado dos Demonstrativos de fls. 1.073/1.075 e do Termo de Verificação Fiscal de fls. 1.045/1.067, relativo ao Imposto de Renda Pessoa Física, anocalendário 2007, por meio do qual foi Fl. 1323DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 3 3 apurado crédito tributário conforme demonstrativo abaixo (em Reais): Imposto de Renda Pessoa Física Suplementar 1.404.222,30 Multa de Ofício de 150%(passível de redução) 2.106.333,45 Juros de Mora (cálculo válido até 31/08/2012) 620.385,41 Multa exigida isoladamente de 50%(passível de redução) 13.487,40 Valor do Crédito Tributário Apurado 4.144.428,56 1.1. Conforme a Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal (fls. 1.070/1.072), a exigência decorreu das seguintes infrações à legislação tributária: 1.1.1. Omissão de Rendimentos Recebidos de Pessoas Físicas Sujeitos a CarnêLeão Fato Gerador Valor Tributável ou Imposto (R$) Multa (%) 31/12/2007 100.000,00 150 Enquadramento legal: Arts. 1º, 2º, 3º e §§, e 8º, da Lei nº 7.713/88; arts. 1º a 4º, da Lei nº 8.134/90; arts. 55, 106, 109 e 111, do RIR/99; art. 1º da Lei nº 11.482/07. 1.1.2. Rendimentos Atribuídos a Sócios de Empresas. Rendimentos Excedentes ao Lucro Presumido/Arbitrado Pagos a Sócio ou Acionista Fato Gerador Valor Tributável ou Imposto (R$) Multa (%) 31/05/2007 33.244,77 150 30/06/2007 40.280,00 150 31/07/2007 84.000,00 150 31/08/2007 4.161.423,61 150 30/09/2007 30.000,00 150 31/10/2007 43.607,00 150 31/12/2007 635.150,91 150 Enquadramento legal: art. 1º da Lei nº 11.482/07; art. 663 do RIR/99. 1.1.3. Multas Isolada – Falta de Recolhimento do IRPF Devido a Título de CarnêLeão Fato Gerador Valor Tributável ou Imposto (R$) Multa (%) 31/12/2007 13.487,40 50 Enquadramento Legal: art. 8º da Lei nº 7.713/88 c/c arts. 43 e 44, inciso II, alínea “a”, da Lei nº 9.430/96, com a redação dada pelo art. 14 da Lei nº 11.488/07. 1.2. Durante realização do procedimento fiscalizatório, restou constatado que a empresa MCA Consultoria, Projetos e Fiscalização Ltda, CNPJ n.º 56.465.842/000173 (a partir de Fl. 1324DF CARF MF 4 01/07/2007 com a nova razão social de Biotech Services Consultoria e Projetos Ltda), da qual o autuado era sócio no exercício fiscalizado, optou pelo regime de tributação com base no lucro presumido no ano calendário de 2007. Portanto, poderia distribuir o valor da base de cálculo (lucro presumido), diminuída de todos os impostos e contribuições a que estivesse sujeita a pessoa jurídica, sem incidência de imposto de renda, ao seu sócio/autuado. Poderia, também, distribuir valor maior que o lucro presumido, sem incidência de imposto de renda, desde que demonstrado via escrituração contábil, feita de acordo com as leis comerciais, ser o lucro contábil efetivo maior do que o lucro presumido. De acordo com o citado Termo de Verificação Fiscal, considerando a informação contida na DIPJ do anocalendário de 2007 de que a escrituração era contábil, ao solicitar do autuado os livros contábeis os quais a empresa estava obrigada a escriturar, verificouse que os mesmos não estavam de acordo com as exigências legais, isto é, não foram submetidos à autenticação no órgão competente, no caso, Registro Civil de Pessoas Jurídicas ou no Cartório de Títulos e Documentos (art. 71 da Lei n.º 3.470/58, §2º do artigo 5º do Decreto – Lei n.º 486/69 e art. 258 do RIR/99). Desta forma, a escrituração apresentada não foi considerada e portanto, os lucros que ultrapassaram o valor do lucro presumido deduzido o imposto correspondente, estão sujeitos à incidência do imposto na fonte, mediante aplicação da tabela progressiva e considerados rendimentos tributáveis na Declaração de Ajuste Anual. Constatouse que a participação societária do autuado equivale ao percentual de 99% e o valor recebido a título de lucro distribuído declarado foi de R$ 1.100.300,62. Considerando que lhe caberia R$ 737.194,61 a título de lucro isento, o valor excedente sujeito a tabela progressiva apurado foi de R$ 363.106,01, que foi somado ao valor de R$ 4.664.600,28, de lucro distribuído mas omitido. Procedeuse ao lançamento de ofício com fundamentos nos artigos 55, XIX e 663, ambos do RIR/99, artigo 3º, parágrafo 4º, da Lei n.º 7.713/88 e artigo 51 da IN SRF n.º 11/96. 1.3. Elaborouse Análise da Evolução Patrimonial Mensal, não sendo constatado acréscimo patrimonial a descoberto. 1.4. Informa ainda a autoridade fiscal que procedeu à formalização de representação fiscal para fins penais, tendo em vista a identificação de situação que, em tese, configura crime definido no inciso I do art. 1º e inciso I do art. 2º, da Lei nº 8.137/90. 2. Cientificado por via postal da exigência tributária, na data de 25/09/2012, conforme AR de fls. 1.077, o contribuinte apresenta sua impugnação de fls. 1.090/1.127, por intermédio de procuradores qualificados em fls. 1.081, juntamente com os documentos de fls.1.164/1.195, onde, em resumo, informa o seguinte: Fl. 1325DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 4 5 Preliminares 2.1. Baseado em meras presunções o Sr. Fiscal desconsiderou toda a documentação apresentada e classificou os pagamentos como rendimentos omitidos, aplicando severas sanções e tratando de forma fraudulenta toda a origem dos rendimentos do impugnante, não existindo nos autos uma única comprovação dos fatos que ensejaram a conclusão do auditor, devendo ser declarado nulo o auto de infração em decorrência de evidente vício formal que o contamina. 2.2. Preliminarmente, o impugnante afirma que o direito da Fazenda Pública de constituir o crédito tributário relativo aos fatos geradores anteriores a 24 de setembro de 2007, encontra se prejudicado devido à ocorrência da decadência, com fundamento no § 4º do art. 150 do Código Tributário Nacional, conforme decisão do Superior Tribuna de Justiça que menciona. Mérito 2.3. Em atendimento às intimações realizadas, o ora impugnante esclareceu à fiscalização que os lucros distribuídos no exercício de 2007 totalizavam R$ 5.764.900,90, conforme documentação apresentada, embora informados pelo valor de R$ 1.100.300,62 em sua declaração de ajuste. No entanto, a fiscalização concluiu que todos os documentos apresentados (Notas Fiscais, livros, extratos bancários e todos os demais documentos solicitados) não se revestiam de formalidades legais e, por essa razão, foram sumariamente desconsiderados, sem que se promovesse uma análise das distribuições auferidas da pessoa jurídica da qual o impugnante era sócio. O Sr. Fiscal (i) contatou distribuições por parte da pessoa jurídica para a pessoa física devidamente respaldadas por informes de rendimentos (ainda que retificado), (ii) desclassificou os livros da pessoa jurídica por não terem sido registrados na época própria e, (iii) por presunção, concluiu que houve fraude pela pessoa física, aplicandolhe todas as sanções tributárias em seu maior grau de severidade. A despeito de longa argumentação do auto de infração, este decorre em sua quase totalidade de três movimentações realizadas entre a pessoa jurídica e a pessoa física, as quais, o impugnante pretendeu considerar como “distribuição de lucros” e o Sr. Auditor as desclassificou pelo fato de entender que a escrita contábil não era regular. Esses rendimentos foram assim classificados pelo Sr. Auditor: # R$ 363.106,01 decorrentes de excesso tributável, eis que declarou uma distribuição de R$ 1.000.300,62 quando somente poderia distribuir R$ 737.194,61; Fl. 1326DF CARF MF 6 # R$ 4.664.600,00 decorrente de uma transferência de R$ 4.136.408,61 em agosto de 2007 e R$ 528.191,67, decorrente de duas outras transferências realizadas em dezembro de 2007. Essa conclusão baseouse em um único fato, qual seja: os livros fiscais de 2007 foram registrados somente em 2009, quando o impugnante já se encontrava sob fiscalização. Nenhuma outra justificativa foi apresentada, assim como nenhum lançamento contábil irregular foi apontado pelo Sr. Auditor. Reiteradas vezes o impugnante atendeu às Intimações Fiscais e apresentou vasta documentação e esclarecimentos sobre as origens dos recursos, tendo apresentado, dentre outros, Livros Diários (fls. 625/852), Notas Fiscais emitidas no período (fls. 853/927) e comprovantes de pagamentos de todos os tributos relativos às receitas da MCA (fls. 928/997). Além desses documentos, a empresa promoveu a retificação do informe de rendimentos e de sua DIPJ do período, como lhe permite a lei, para fim de adequála à distribuição pretendida, prestando essas informações ao Sr. Auditor. Com todos os elementos necessários e pertinentes – emissão de documentos fiscais, movimentação financeira e livros contábeis – tinha o Sr. Auditor plena condições de aferir a veracidade das informações prestadas, mas preferiu escudarse no único e exclusivo argumento de que os livros foram escriturados e registrados tardiamente e, portanto, não se prestavam a fazer prova dos resultados da empresa. 2.4. Há inconsistência nos fundamentos do auto de infração para a desclassificação da escrituração do contribuinte, pois ao contrário do quer fazer crer o Sr. Auditor, a legislação comercial não estabelece prazo para a escrituração e registro, e o fato de tais livros terem sido escriturados posteriormente, além de não os invalidar, jamais poderá ser considerado como presunção de fraude do impugnante. Na realidade dos fatos, todos os equívocos e erros de forma que geraram a fiscalização decorreram do fato que em abril de 2007 a empresa MCA mudou de escritório responsável pela sua contabilidade, sendo que os livros de 2006 ainda não se encontravam escriturados, e a dificuldade em obter a documentação , pelo novo escritório levou a um atraso na escrituração também dos exercícios posteriores. Assim é que durante esse período, a contabilidade foi feita com base em números provisórios, nas receitas e despesas informadas e na movimentação financeira do exercício, sem que a nova responsável contábil tivesse acesso a saldos anteriores das contas contábeis. Todos os impostos da pessoa jurídica foram apurados dessa forma até que finalmente os novos contadores da empresa puderam fazer os lançamentos contábeis corretos, e, constando que houve uma distribuição de lucros não informada na DIPJ da empresa, efetuar a correspondente retificação (fls. 508/520). 2.5. A lei é claríssima em estabelecer como regra a não incidência do Imposto de Renda sobre os lucros distribuídos Fl. 1327DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 5 7 pelas sociedades aos seus sócios e acionistas, independentemente do regime de apuração por ela adotado e, na mesma linha, os artigos 51 da Instrução Normativa nº 51/96 e 39, inciso XXIX, do RIR/99. Embora as IN 11/96 e IN 93/97 estabeleceram que a comprovação dos resultados deveria se dar por verificação da escrita desde que observadas as formalidades determinadas pela legislação comercial, não existe qualquer previsão legal de que a escrituração tardia seja considerada fato impeditivo para a apuração dos resultados. Dessa forma, cabe ao auditor aplicar a legislação de forma sistemática, ou seja, levar em consideração o efetivo resultado da empresa apurado em conformidade com sua escrita contábil, mas nunca simplesmente considerar como inexistente a contabilidade pelo único fato de terem os livros sido registrados tardiamente. Assim procedendo, o Sr. Auditor não apenas aplicou de maneira incorreta a legislação regente da matéria, como também se afastou do entendimento da jurisprudência administrativa, conforme Acórdãos que colaciona. 2.6. Demonstra, ainda, a correta apuração e imposto, devidamente referendadas em parecer pericial contábil, elaborado por perito contador devidamente habilitado (doc. 3), pelo qual se constata detalhadamente a regularidade da apuração dos resultados da empresa e da conseqüente distribuição dos lucros ao sócio Romeu Pinto Júnior. Por esse trabalho pode se concluir que o valor de R$ 5.127.706,20 pago ao impugnante teve origem em legítima distribuição de lucros, dos quais R$ 4.372.086,46 referemse a lucros acumulados de exercícios anteriores e R$ 3.572.505,78 de resultados auferidos no exercício de 2007. Tudo isso demonstra, de maneira inquestionável, que os rendimentos tributados pelo sr. Auditor não deveriam sêlo, na exata medida em que consubstanciam em legítima distribuição de lucros. 2.7. Em relação à tributação como renda do recebimento do empréstimo efetuado a Francisco das Chagas Parente Aguiar, que não teve o desembolso nem o recebimento comprovados, entende equivocada a linha de raciocínio desenvolvida pelo Sr. Auditor, eis que “ a prova do recebimento do empréstimo não se faz exclusivamente pelo crédito em conta do impugnante. Tal recebimento poderia muito bem ser realizado em espécie, uma vez que o impugnante tinha disponibilidade em moeda corrente para tanto. Ademais, poderia ter ocorrido em inúmeras parcelas e formas ao longo do exercício e não por um único crédito em conta do impugnante nesse exato valor.” Também aponta falta de lógica no raciocínio fiscal, aduzindo que: Fl. 1328DF CARF MF 8 1. se o empréstimo não tivesse sido pago, deveria ser considerado como perdão de dívida e portanto receita tributável para o beneficiário e não para o impugnante ou; 2. se o empréstimo tivesse sido pago, o recebimento de dívida não caracteriza receita tributável para o impugnante. Conclui afirmando que a única possibilidade de se apurar infração, no caso, seria se esse valor tivesse sido utilizado para justificar variação, patrimonial a descoberto, o que não ocorreu, como consigna a fiscalização em fls. 1.058, restando completamente inviável e descabido considerarse como receita tributável do contribuinte o fato de o Sr. Auditor entender como não demonstrado o recebimento da quitação do referido empréstimo. 2.8. O Auto é ainda passível de reforma em relação à multa aplicada, que, além de confiscatória, foi exacerbada sem que o Sr. Auditor tenha colhido um único elemento sequer a demonstrar o intuito fraudulento do impugnante, operandose uma verdadeira presunção de dolo, de encontro ao entendimento já consolidado no CARF através da Súmula nº 14, versada nos seguintes termos: Súmula CARF nº 14: A simples apuração de omissão de receitas ou rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação do evidente intuito de fraude do sujeito passivo. Afirma que toda a movimentação foi feita às claras e sua origem está devidamente documentada nos livros, que sequer foram analisados, e nos registros constantes dos autos, de modo que: i) a pena é incompatível com a descrição dos fatos apresentada no Auto; ii) a multa é confiscatória; e iii) não houve por parte do sujeito passivo intuito de fraude. Assim, deve ser provida a defesa, para reduzir ou excluir a multa aplicada. 2.9. Não obstante o parecer pericial já acostado aos autos e a documentação apresentada pelo contribuinte, requer seja determinada a realização de perícia técnica contábil para se certificar dos fatos, nos termos do artigo 16, inciso IV, do Decreto 70235/72. Também registra o impugnante sua convicção no sentido de que os documentos que compõem os autos e o parecer já demonstram a existência de lucro a ser distribuído suficiente para tornar insubsistente o auto de infração, mas a despeito desses aspectos, requer a produção de prova pericial com o objetivo de elucidar os quesitos ao final apontados, indicando ainda como seu assistente técnico o contador adiante qualificado, bem como a juntada de novos documentos que no desenvolvimento da perícia se mostrem necessários. Do pedido Fl. 1329DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 6 9 Requer seja decretada a nulidade do Auto de Infração pelas razões preliminares apontadas, ou quanto ao mérito seja julgada improcedente a autuação, isentandose o Impugnante de qualquer penalidade, ou quando menos seja convertido o julgamento em diligência, para o fim de determinar a apreciação da contabilidade apresentada pela empresa originária dos lucros distribuídos ao impetrante, além de se colher as demais provas necessárias. Protesta ainda pela produção de todo gênero de prova admitida em direito, notadamente a juntada de novos documentos, comprobatórios dos fatos alegados, a expedição de ofícios, oitiva de testemunha entre outras, sem prejuízo da realização da prova pericial já justificada cujos quesitos adiante são apresentados acompanhados da indicação de seu assistente técnico. ASSISTENTE TÉCNICO DO IMPUGNANTE Sigeshi Miura, inscrito no CRCSP 069982/O1 Rua Carlos Francisco de Paula, 35 – Parque Jabaquara CEP 04358010 – São Paulo – SP Email: ssmiura@uol.com.br Fone: 50313812 QUESITOS DO IMPUGNANTE 1. Queira o Sr. I. Perito identificar e esclarecer o objeto principal discutido nos presentes autos. 2. Pedese ao Sr. I. Perito analisar os demonstrativos contábeis da empresa MCA Consultoria, Projetos e Fiscalização Ltda relativo aos anos de 2005, 2006 e 2007, apontando o seu lucro anual e a formação de Reserva de Lucros. 3. Pedese ao Sr. Perito informar se todas as receitas da empresa no período estão lastreadas em prestação de serviços devidamente suportadas por Notas Fiscais. 4. Pedese ao Sr. Perito informar se a movimentação financeira da empresa encontrase compatível com seus registros contábeis. 5. Pedese ao Sr. I. Perito informar se a empresa MCA era uma empresa rentável acima da média. 6. Pedese ao Sr. Perito responder se a empresa MCA Consultoria necessitava de investimentos fixo ou somente de capital de giro. 7. Se não necessitava de investimento fixo e tendo uma rentabilidade boa nos seus negócios favorecia a formação de reserva de lucros? 8. Pedese ao Sr. Perito informar se os lucros distribuídos pela MCA Consultoria no ano de 2007 aos seus sócios no importe de R$ 5.127.706,20 e R$ 80.059,00, tiveram suas origens no lucro do ano e também da reserva de lucros. Fl. 1330DF CARF MF 10 É o relatório. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento de São Paulo I (SP) julgou procedente em parte a impugnação, restando mantida parcialmente a notificação de lançamento, conforme a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2008 PRELIMINAR. NULIDADE POR VÍCIO FORMAL. INOCORRÊNCIA. Incabível a argüição de nulidade do procedimento fiscal quando este atender as formalidades legais e for efetuado por servidor competente. Estando o enquadramento legal e a descrição dos fatos aptos a permitir a identificação da infração imputada ao sujeito passivo, não há que se falar em nulidade do lançamento por cerceamento de defesa. O cerceamento do direito de defesa não prevalece quando todos os valores utilizados na autuação se originam de documentos e demonstrativos constantes nos autos do processo. PRELIMINAR. DECADÊNCIA. Preliminar que se afasta tendo em vista que, tratandose de lançamento ex officio, a regra aplicável na contagem do prazo decadencial é a estatuída pelo art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional, iniciandose o prazo decadencial a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. LUCROS DISTRIBUÍDOS. DISTRIBUIÇÃO EXCEDENTE AO LUCRO PRESUMIDO. Somente pode ser distribuído, com isenção do imposto de renda, valor maior que o lucro presumido do período quando se comprovar que o lucro contábil excedeu o presumido, mediante levantamento dos demonstrativos contábeis com observância da legislação comercial. LUCRO REAL. ESCRITURAÇÃO DO LIVRO DIÁRIO. REGISTRO POSTERIOR AO MOVIMENTO DAS OPERAÇÕES. Para fins de apuração do lucro real, poderá ser aceita, pelos órgãos da Receita Federal do Brasil, a escrituração do livro Diário, autenticado em data posterior ao movimento das operações nele lançadas, desde que o registro e autenticação tenham sido promovidos até a data prevista para a entrega tempestiva da declaração de rendimentos do correspondente exercício financeiro. PROCEDIMENTO FISCAL INICIO PERDA DA ESPONTANEIDADE RETIFICAÇÃO DA DECLARAÇÃO DE RENDIMENTOS Fl. 1331DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 7 11 Excluise a espontaneidade do contribuinte, e de terceiros envolvidos no fato gerador, mesmo que não expressamente intimados, após o inicio do procedimento fiscal. Imprestável como prova da origem dos valores dos lucros distribuídos valores informados apenas em declaração retificadora entregue após o início da ação fiscal (art. 7° do Decreto n° 70.235, de 1972). OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA FÍSICA. É incabível o lançamento embasado em presunções não autorizadas em lei e que não esteja firmado em provas materiais. PEDIDO DE PERÍCIA. PRESCINDIBILIDADE. INDEFERIMENTO. É desnecessária a perícia que objetiva responder a questões que não dependem de conhecimento técnico especializado não dominado pela autoridade julgadora. JUNTADA DE DOCUMENTOS. PROVA TESTEMUNHAL. É incabível o pedido genérico de provar o alegado por todos os meios admitidos em direito, inclusive a juntada de documentos e produção de prova testemunhal, tendo em vista as normas que disciplinam o Processo Administrativo Fiscal. IRPF MULTA DE LANÇAMENTO DE OFÍCIO QUALIFICADA JUSTIFICATIVA Qualquer circunstância que autorize a exasperação da multa de lançamento de ofício de 75%, prevista como regra geral, deverá ser minuciosamente justificada e comprovada nos autos. Além disso, para que a multa de 150% seja aplicada, exigese que o contribuinte tenha procedido com evidente intuito de fraude. Desta forma, se a fiscalização não demonstrou, nos autos, que a ação do contribuinte teve o propósito deliberado de impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, utilizandose de recursos que caracterizam evidente intuito de fraude, não cabe a aplicação da multa qualificada. Não se justifica a qualificação da multa, quando não comprovado nos autos o evidente intuito de fraude e materialização do ilícito Documento apresentado ao Fisco quando este pode verificar seu acerto, não constitui fraude nem justifica a aplicação de multa qualificada. A simples omissão na DIRPF de rendimentos supostamente isentos não é elemento caracterizador, por si só, do evidente intuito doloso, autorizador da imposição da multa qualificada. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte Posteriormente, dentro do lapso temporal legal, foi interposto recurso voluntário, no qual a contribuinte sustentou, em síntese: Fl. 1332DF CARF MF 12 a) o cerceamento de defesa, em razão da falta e apreciação dos registros contábeis pela autoridade julgadora; b) ao desprovimento de qualquer fundamentação fática ou outro elemento que pudesse amparar as razões da autuação baseado em meras suposições de omissão de receitas, sem qualquer verificação da origem de tais receitas; c) os créditos lançados anteriormente a 24 de setembro de 2007 encontramse fulminados pela decadência, devendo, portanto, ser excluídos de plano da autuação; d) a não incidência do imposto de renda sobre os lucros distribuídos pelas sociedades aos seus sócios e acionistas, independentemente do regime de apuração por ela adotado; e) a inexistência de previsão de que a escrituração tardia dos livros é considerada como fato impeditivo para a apuração dos resultados, e muito menos há essa previsão na legislação de regência da matéria.; f) que houve a demonstração pelo contribuinte de que a empresa, a despeito de ter apresentado um informe de rendimentos para o exercício de 2007 de R$ 1.100.300,62 a título de distribuição de lucros, havia, na verdade, distribuído R$ 5.027.706,29; g) o valor de R$ 5.127.706,20 pago ao recorrente teve origem em legítima distribuição de lucros, dos quais R$ 4.372.086,46 referemse a lucros acumulados de exercícios anteriores e R$ 3.572.505,78 de resultados auferidos no exercício de 2007; h ) a empresa tinha lucros suficientes para a distribuição e assim corretamente os distribuiu, quando das transferências de suas contas correntes para as contas correntes do recorrente; i) a imposição de multa qualificada é exacerbada e não houve um único elemento sequer a demonstrar o intuito fraudulento do recorrente. É o relatório. Voto Conselheira Ana Cecília Lustosa da Cruz 1. Do Recurso de ofício Foi interposto recurso de ofício ao CARF, em razão do valor exonerado de R$ 1.094.154,12: R$ 27.500,00 de imposto suplementar R$ 13.487,40 de multa isolada R$ 1.053.166,72 de multa qualificada Fl. 1333DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 8 13 Cabe salientar que, por meio da Portaria n.º 63 do Ministério da Fazenda, houve o aumento do limite de alçada do recurso de ofício para R$ 2,5 milhões. Considerando a aplicação do Enunciado de Súmula CARF n.º 103, o qual dispõe que, para fins de conhecimento de recurso de ofício, aplicase o limite de alçada vigente na data de sua apreciação em segunda instância; não conheço do recurso de ofício, pois a exoneração do crédito foi em valor inferior ao limite atual. 2. Do Recurso voluntário Conheço do recurso, posto que tempestivo e com condições de admissibilidade. 2.1. Do cerceamento do direito de defesa O recorrente assevera que, a despeito de ter ele apresentado toda a documentação contábil da empresa da qual era sócio e que embasou a distribuição de lucros para a pessoa física, a escrituração da empresa não foi considerada porque o auditor fiscal entendeu que os registros dos livros contábeis, após o início do processo fiscal (que foi instaurado apenas contra a pessoa física), eram completamente imprestáveis para a análise. Argumenta o contribuinte que, em sua defesa, procurou incansavelmente demonstrar que a contabilidade era fidedigna, uma vez que estava coerente com toda a movimentação financeira da empresa, bem como da emissão dos documentos fiscais respectivos, de forma que poderia apresentar dados confiáveis para o procedimento fiscal. Ademais, alega o recorrente que não constitui motivo para desclassificação da contabilidade o atraso na autenticação do livro diário, ou mesmo a sua ausência, caso a autoridade tenha outros meios de aferir os resultados da empresa. Não obstante o alegado, não se vislumbra a ocorrência do cerceamento do direito de defesa, tendo em vista que foi oportunizada ao contribuinte a apresentação de todas as provas que pudessem corroborar as suas alegações. A valoração da prova feita na decisão recorrida, ao considerar as informações contidas nos livros contábeis como imprestáveis, em razão do descumprimento de formalidades legais (registro tardio e assinatura por pessoa inabilitada) não esbarra em cerceamento de defesa. O julgador apreciou as provas apresentadas e, por têlas apreciado, identificou as falhas e ausência de substância probatória para o fim que se prestam. Assim, afasto a preliminar argüida. 2.2. Da inexistência de nulidade do auto de infração Dispõe o contribuinte que não existe no processo uma única comprovação dos fatos que ensejaram a conclusão do Sr. auditor, sendo o auto de infração baseado em meras presunções e suposições, o que não pode subsistir, em razão de evidente vício formal que o contamina. Fl. 1334DF CARF MF 14 Ao contrário do alegado, as provas juntadas aos autos (livros contábeis) são documentos embasadores do posicionamento adotado na decisão vergastada, de modo que há nos autos elementos suficientes à desconsideração dos livros apresentados. Dessa forma, não se tratam de meras presunções ou suposições, mas de uma situação fática incontroversa nos autos (registro tardio dos livros e assinatura por pessoa inabilitada). Ressaltase, assim, que o auto de infração contém os substratos necessários e suficientes para o atendimento do art. 10 do Decreto 70.235/72, não ensejando declaração de nulidade. 2.3. Da inexistência da decadência Aduz o recorrente que não é correto o entendimento exarado pelo julgador de que "ainda que se entendesse que o IRPF é tributo sujeito a lançamento por homologação, a teor do §4º do art. 150 do CTN, a contagem do prazo de decadência do direitodever do Fisco em realizar o lançamento iniciase em 31/12/2007", o que afastaria a decadência do exercício de 2007. Cabe elucidar que o fato gerador do imposto sobre os rendimentos sujeitos ao ajuste anual somente aperfeiçoase no momento em que se completa o período de apuração dos rendimentos e deduções: 31 de dezembro de cada anocalendário, mesmo estando o contribuinte obrigado a sofrer retenção do imposto de renda na fonte pagadora ao longo do anocalendário, à medida que recebe rendimentos tributáveis, ou ao recolhimento mensal do tributo, quando sujeitos ao CarnêLeão. Desse modo, como bem salientou a decisão recorrida, ainda que se entendesse que o IRPF é tributo sujeito a lançamento por homologação, a teor do § 4º do art. 150 do CTN, e a contagem do prazo de decadência do direitodever do Fisco em realizar o lançamento se iniciasse em 31/12/2007, terseia, no caso em tela, que a decadência para o ano calendário de 2007 não teria ocorrido, uma vez que a ciência do Auto de Infração se deu em 25/09/2012 e a decadência ocorreria em 31/12/2012. 2.4. Do mérito Conforme narrado, a infração remanescente foi a n.º 002 (rendimentos excedentes ao lucro presumido/arbitrado pagos a sócio ou acionista). O contribuinte dispõe sobre a não incidência do imposto de renda sobre os lucros distribuídos pelas sociedades aos seus sócios e acionistas, independentemente do regime de apuração por elas adotado. Além disso salienta que a escrituração foi realizada após o exercício financeiro tratado, em razão da mudança que ocorreu na contabilidade da empresa, cabendo ao auditor levar em consideração o efetivo resultado da empresa apurado em conformidade com sua escrita contábil, e não simplesmente considerar como inexistente a contabilidade. Também aduz o recorrente que o único problema apresentado na contabilidade da empresa foi a demora no registro dos livros de 2006 e 2007, não ocorrendo qualquer das hipóteses descritas no art. 47 da Lei 8.981/95. Fl. 1335DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 9 15 Destacase que foram apresentados à fiscalização os seguintes documentos: a) extratos bancários (fls. 106/170) b) declaração de inexistência de outras contas de sua titularidade (fls. 171/172); c) extratos de cartões de crédito (fls. 173/209); d) extratos das contas da MCA (fls. 257/274); e) informes de rendimentos (fls. 217/219); f) comprovantes de dívidas e ônus reais e documento de propriedade do veículo Jaguar (fls. 220/234); g) despesas médicas e outras (fls. 242/251); h) documentos societários da MCABiotech (fls. 275/323); i) documentação societária da empresa Trianon (fls. 324/395); j) comprovante de concessão do empréstimo feito a Francisco das Chagas Parente Aguiar (fls. 235/237); k) livros diários (fls. 625/852); l) notas fiscais emitidas no período (fls. 853/927); m) comprovantes de pagamentos de todos os tributos relativos às receitas da MCA (fls. 928 a 997). Foi realizada a retificação da DIPJ e se demonstrou que, a despeito de ter apresentado um informe de rendimentos para o exercício de 2007 de R$ 1.100.300,62 a título de distribuição de lucros, havia, na verdade, distribuído R$ 5.027.706,29. Considera o recorrente, assim, que foram então apresentados todos os elementos necessários e pertinentes para a aferição da veracidade das informações prestadas, mas, ainda assim a fiscalização desclassificou a distribuição de lucros do exercício e considerou os valores recebidos pelo recorrente como rendimentos tributáveis. Observase que o valor de R$ 5.127.706,20 pago ao recorrente teve origem em legítima distribuição de lucros, dos quais R$ 4.372.086,46 referemse a lucros acumulados de exercícios anteriores e R$ 3.572.505,78 de resultados auferidos no exercício de 2007. No que diz respeito à infração capitulada como omissão de rendimentos recebidos a título de lucro distribuído excedentes ao lucro presumido, temos que a Lei nº 9.249, de 1995 trouxe a seguinte disposição: Art. 10. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior.(grifei) Fl. 1336DF CARF MF 16 Destacase que o dispositivo legal regente da matéria não estabelece limites à distribuição do lucro, podendo ser todo ele distribuído. Mas, como um favor legal, existem condições para a isenção. No caso, é preciso que se conheça o lucro da pessoa jurídica, para se saber quanto poderia ser distribuído à pessoa física, na condição de isento. Se a empresa apura o lucro de forma presumida, a existência da parcela excedente deve ser efetivamente demonstrada. Certamente, para a realização de controle da administração se impõe a observância estrita da apuração do lucro da pessoa jurídica que distribui os dividendos na forma da legislação contábil e comercial, para cujos efeitos na seara tributária, é imprescindível a existência do Livro Diário, escriturado e registrado em época devida. Mostrase razoável que seja demonstrado o efetivo lucro, no caso, e que essa demonstração deva se revestir de formalidades a fim de possibilitar controles e inibir evasão. Cabe esclarecer que os livros diários não foram aceitos pelas seguintes razões, fl. 1229: Além de constatado que a escrituração contábil mostrouse intempestiva e não pode lograr alcançar os efeitos que pretende o impugnante, outro fator determinante a afastar tal exame foi o fato de os livros a serem registrados terem sido assinados por pessoa não habilitada a tanto, já que o ora impugnante não mais era sócio da pessoa jurídica MCA quando assinou os livros. (...). De fato, comprovado nos autos que desde 01/09/2007 o ora impugnante não mais era sócio da empresa MCA, sucedida pela Biotech na mesma data, não poderia ter assinado o livro diário registrado em 14/12/2009, quando já o responsável legal pela pessoa jurídica era o Sr. Francisco Saviano Neto. (...). Assim, por mais esta razão, os Livros Diário Geral dos anos calendário de 2006 e 2007 elaborados e apresentados pela MCA e assinados pelo fiscalizado ora impugnante, em 2009, não têm valor legal, não podendo produzir efeitos. Aqui, portanto, não se trata de mera formalidade, mas de condição lógica que possibilite que a tributação vislumbrada pela lei se dê na forma escorreita, atingindose os objetivos do dispositivo legal, que tem por escopo não reduzir carga tributária, mas deslocar o momento da tributação, para o que são necessários controles estritos, na forma da lei aplicável. Além disso, salienta o recorrente a existência de contradição dos fundamentos da decisão recorrida, considerando o seguinte: 1. Há, nos autos, elementos suficientes para demonstrar as alegações do impugnante, tornando, inclusive, desnecessária a realização de uma perícia; 2. Negamse a analisar esses documentos amparados em aspectos formais (registro tardio JUCESP). Não se identifica a contradição apontada, o julgador é livre na apreciação e valoração das provas. Fl. 1337DF CARF MF Processo nº 19515.721910/201208 Acórdão n.º 2201003.521 S2C2T1 Fl. 10 17 Assim, considerando as provas apresentadas suficientes ao deslinde da controvérsia, não se impõe a necessidade de realização de perícia. Diante do exposto, não conheço do recurso de ofício e nego provimento ao recurso voluntário. Assinado digitalmente. Ana Cecília Lustosa da Cruz Relatora Fl. 1338DF CARF MF
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