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Numero do processo: 18108.000372/2007-88
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Mar 14 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Mon Mar 25 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/01/2001 a 28/02/2005
NULIDADE DA NOTIFICAÇÃO DE CIENTIFICAÇÃO DO SOLIDÁRIO E DE TODOS OS ATOS POSTERIORES INCLUINDO A DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA PROFERIDA PELA DRJ. AUSÊNCIA DE CÓPIAS DA AUTUAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. HIPÓTESE DE NULIDADE NÃO CONFIGURADA.
Não é nula a notificação de cientificação de empresa considerada integrante de grupo econômico de fato, indicada como responsável solidária pelo cumprimento das obrigações previdenciárias, que comunica a constituição do crédito tributário e informa a identificação do grupo econômico de fato relacionando as empresas, as Notificações Fiscais de Lançamento de Débito - NFLD DEBCAD, especialmente, quando ao final, esclarece que é assegurada à empresa do grupo econômico vistas do processo administrativo fiscal, para todos os fins, de acordo com as normas regulamentares, assim como lhe faculta a apresentação de impugnação. A oportunização de acesso ao processo e a possibilidade de apresentação das defesas e recursos cabíveis demonstram que não resta caracterizado a preterição do direito de defesa.
SUSTENTAÇÃO ORAL.
A sustentação oral no processo administrativo fiscal é regulamentada conforme disciplinado no Regimento Interno do CARF, não cabendo intimação pessoal e específica ao causídico da causa ou ao representante legal do contribuinte ou ao responsável. A intimação que se efetiva é exclusivamente pelo diário oficial da União e para comunicar o dia da sessão de julgamento, ocasião em que pode-se comparecer voluntariamente e, se desejar, registrar-se presencialmente para sustentar oralmente.
Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2001 a 28/02/2005
GRUPO ECONÔMICO DE FATO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.
Considera-se existente grupo econômico de fato quando duas ou mais empresas encontram-se sob a direção, o controle ou a administração de uma delas. Constatados os elementos necessários à caracterização do Grupo Econômico, impõe-se a imputação de responsabilidade solidária a cada um de seus integrantes, pelo cumprimento das obrigações previdenciárias, por expressa determinação contida na legislação previdenciária, deste modo deverá a Autoridade Fiscal atribuir a responsabilidade pelo crédito previdenciário às empresas integrantes daquele grupo.
Numero da decisão: 2202-005.060
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente.
(assinado digitalmente)
Leonam Rocha de Medeiros - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Andréa de Moraes Chieregatto, José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Ausente a conselheira Andréa de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: LEONAM ROCHA DE MEDEIROS
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AUSÊNCIA DE CÓPIAS DA AUTUAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. HIPÓTESE DE NULIDADE NÃO CONFIGURADA. Não é nula a notificação de cientificação de empresa considerada integrante de grupo econômico de fato, indicada como responsável solidária pelo cumprimento das obrigações previdenciárias, que comunica a constituição do crédito tributário e informa a identificação do grupo econômico de fato relacionando as empresas, as Notificações Fiscais de Lançamento de Débito NFLD DEBCAD, especialmente, quando ao final, esclarece que é assegurada à empresa do grupo econômico vistas do processo administrativo fiscal, para todos os fins, de acordo com as normas regulamentares, assim como lhe faculta a apresentação de impugnação. A oportunização de acesso ao processo e a possibilidade de apresentação das defesas e recursos cabíveis demonstram que não resta caracterizado a preterição do direito de defesa. SUSTENTAÇÃO ORAL. A sustentação oral no processo administrativo fiscal é regulamentada conforme disciplinado no Regimento Interno do CARF, não cabendo intimação pessoal e específica ao causídico da causa ou ao representante legal do contribuinte ou ao responsável. A intimação que se efetiva é exclusivamente pelo diário oficial da União e para comunicar o dia da sessão de julgamento, ocasião em que podese comparecer voluntariamente e, se desejar, registrarse presencialmente para sustentar oralmente. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/2001 a 28/02/2005 AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 10 8. 00 03 72 /2 00 7- 88 Fl. 988DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 989 2 GRUPO ECONÔMICO DE FATO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. Considerase existente grupo econômico de fato quando duas ou mais empresas encontramse sob a direção, o controle ou a administração de uma delas. Constatados os elementos necessários à caracterização do Grupo Econômico, impõese a imputação de responsabilidade solidária a cada um de seus integrantes, pelo cumprimento das obrigações previdenciárias, por expressa determinação contida na legislação previdenciária, deste modo deverá a Autoridade Fiscal atribuir a responsabilidade pelo crédito previdenciário às empresas integrantes daquele grupo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente. (assinado digitalmente) Leonam Rocha de Medeiros Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Andréa de Moraes Chieregatto, José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Ausente a conselheira Andréa de Moraes Chieregatto. Relatório Cuidase, o caso versando, de Recurso Voluntário (efls. 973/982), com efeito suspensivo e devolutivo ― autorizado nos termos do art. 33 do Decreto n.º 70.235, de 6 de março de 1972, que dispõe sobre o processo administrativo fiscal ―, interposto exclusivamente pelo solidário COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA, ora recorrente, devidamente qualificado nos fólios processuais, relativo ao seu inconformismo com a decisão de primeira instância (efls. 912/939), proferida em sessão de 18/03/2009, consubstanciada no Acórdão n.º 1730.587, da 8.ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo/SP II (DRJ/SPOII), que, por unanimidade de votos, julgou improcedente às impugnações apresentadas pelo sujeito passivo LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA (efls. 804/812), pelo solidário FRIGORÍFICO JALES LTDA (efls. 839/847), pelo solidário e ora recorrente COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA (efls. 869/871) e pelo solidário APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA (efls. 895/896), mantendo integralmente o crédito tributário lançado, cujo acórdão de impugnação restou assim ementado: Fl. 989DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 990 3 ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/10/2001 a 28/02/2005 NFLD DEBCAD N.º 35.715.0651, de 30/06/2005. GRUPO ECONÔMICO. CONFIGURAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. Os grupos econômicos podem ser de direito e de fato, podendo estes se dar pela combinação de recursos ou esforços para a consecução de objetivos comuns. A partir do exame da documentação apresentada pelas empresas, bem como através de outras informações obtidas, é possível, à fiscalização, a caracterização de formação de grupo econômico de fato. GRUPO ECONÔMICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. As empresas integrantes de grupo econômico respondem entre si, solidariamente, pelo cumprimento das obrigações previstas na legislação previdenciária, nos termos do inciso IX, art. 30, da Lei n.º 8.212/91. NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. A cientificação regular e eficaz de todas as empresas integrantes do grupo econômico permite o exercício pleno do contraditório e ampla defesa. RECOLHIMENTO EFETUADO APÓS O LANÇAMENTO. Os recolhimentos efetuados após lavratura de NFLD não ensejam retificação dos valores lançados, somente cabendo apropriação ao débito após confirmação do pagamento. ARGUIÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE E ILEGALIDADE. As normas inquinadas de ilegais ou inconstitucionais pelo impugnante continuam válidas, não sendo lícito à autoridade administrativa absterse de cumprilas e nem declarar sua inconstitucionalidade (ou ilegalidade), sob pena de violar o princípio da legalidade, e de invadir competência do Poder Judiciário. SUBROGAÇÃO. PRODUTO RURAL ADQUIRIDO DE PRODUTOR RURAL PESSOA FÍSICA. A empresa adquirente fica subrogada nas obrigações do empregador rural pessoa física e é obrigada a recolher a contribuição de que trata o art. 25 da Lei n.º 8.212/91. PEDIDO DE PERÍCIA. DESCABIMENTO. Estando clara a identificação da matéria tributável na descrição dos fatos relatados na Notificação, tendo o contribuinte tomado ciência de todos os valores lançados por meio de demonstrativos e constando dos autos os demais elementos que deram origem ao levantamento, descabe o pedido para que se realize perícias para levantar elementos que já se encontram no processo. Lançamento Procedente Do lançamento fiscal A essência e as circunstâncias do lançamento fiscal, com Notificação Fiscal de Lançamento de Débito (NFLD) lavrada em 30/06/2005 (efls. 02/61), notificado ao sujeito passivo LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA em 13/07/2005 (efl. 802) e intimando se os solidários, via notificação de cientificação (efls. 835/836), FRIGORÍFICO JALES LTDA em 08/01/2007 (efl. 864), APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA em 09/12/2008 Fl. 990DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 991 4 (efl. 891), GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA em 10/01/2007 (efl. 862), FRIGORÍFICO 3J LTDA em 09/03/2007 (efl. 863) e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA em 30/04/2007 (efl. 869), no Procedimento Fiscal n.º 09174442, DEBCAD 35.715.0651, com fatos geradores ocorridos entre 01/10/2001 a 28/02/2005, cujo crédito tributário total constituído foi de R$ 4.313.335,10 (efl. 2), foram bem delineadas e sumariadas no relatório do acórdão objeto da irresignação, pelo que passo a adotálo: Tratase de Notificação Fiscal de Lançamento de Débito — NFLD, que constitui o crédito tributário de contribuições sociais destinadas à Seguridade Social e as devidas às Outras Entidades e Fundos, a cargo da empresa, de segurado empregado e por subrogação, provenientes de remunerações de empregados e sobre a comercialização de produtos rurais adquiridos de produtores rurais pessoas físicas, no montante de R$ 4.313.335,10 (quatro milhões e trezentos e treze mil e trezentos e trinta e cinco reais e dez centavos), consolidado em 30/06/2005 e referese ao período de 10/2001 a 02/2005. O presente lançamento é composto pelos seguintes levantamentos: DAL — Diferença de Ac. Legais; L01 — Remuneração de Empregados, declarada em GFIP; L03 — Dia do comerciário, não declarado em GFIP; e RUD Comercialização Produto Rural, não declarada em GFIP. Os valores das contribuições estão discriminados no relatório Discriminativo Analítico do Débito DAD, anexo à NFLD (fls. 04/20) [efls. 05/21], sendo que as bases de cálculo das contribuições apuradas estão demonstradas/discriminadas em planilhas que são parte integrante do relatório e foram confeccionadas por estabelecimento (fls. 90/105) [efls. 91/106]. Os fundamentos legais das contribuições exigidas estão discriminados no relatório Fundamentos Legais do Débito — FLD (fls. 52/57) [efls. 53/58]. Informa o Relatório Fiscal (fls. 78/89) [efls. 79/90], que serviram de base para apuração e lançamento das contribuições constantes nesta NFLD os seguintes documentos: Livros Diário e Razão, exercícios 2001 a 2003; Registro de Empregados; Folhas de Pagamento de Salários; Recibos de Salários; Recibos de Férias e Termos de Rescisão do Contrato de Trabalho; Documentos relativos à Salário Família e Salário Maternidade; Guias da Previdência Social — GPS; Guias de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social — GFIP; Livro de Registro de Entrada de Mercadorias; Notas Fiscais de Produtor; Notas Fiscais de Entrada e Boletins de Abate. Consta, ainda, no Relatório Fiscal, considerações acerca da CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO ECONÔMICO, com a informação de que a Empresa Notificada — LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, juntamente com as empresas, FRIGORÍFICO JALES LTDA, CNPJ 49.683.873/000135; APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, CNPJ 04.171.345/0001 69; GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, CNPJ 02.960.525/000102; FRIGORÍFICO 3J LTDA, CNPJ 02.314.936/000112 e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA, CNPJ 58.590.399/000198, formam um grupo econômico de fato. Fl. 991DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 992 5 No RELATÓRIO DE GRUPO ECONÔMICO (fls. 138/158) [efls. 139/159], a autoridade fiscal expôs os motivos e as provas documentais que a levaram a tal conclusão, a partir da constatação da existência de um poder de controle único, e incessante transferência de despesas e receitas. E por se tratar de empresas de um mesmo grupo econômico, passa a existir entre elas uma obrigação solidária, no que diz respeito ao pagamento de contribuições previdenciárias, nos termos do art. 30, IX, da Lei n.º 8.212/91, e do art. 124,I e II, do CTN. Tendo sido cientificada da Notificação Fiscal de Lançamento de Débito NFLD em 13/07/2005, na pessoa de seu sócio, conforme cópia de AR de fls. 705 [efl. 802], a Notificada, dentro do prazo regulamentar, impugnou o lançamento através do instrumento de fls. 707/715 [efls. 804/812]. Constatado que as demais empresas pertencentes ao grupo econômico não foram cientificadas da lavratura desta Notificação, contrariando o disposto no art. 54, § 4.º, da OI INSS/DIREP n.º 7/2004, foi lavrado o TERMO DE CIENTIFICAÇÃO de fls. 735/736 [efls. 835/836], o qual foi encaminhado e recebido pelas empresas (AR de fls. 759, 760 e 761) [efls. 862, 863 e 864], à exceção da empresa APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, que não foi localizada (fls. 762/763v) [efls. 865/867]. Sobre o referido TERMO DE CIENTIFICAÇÃO, manifestaramse as empresas: FRIGORÍFICO JALES LTDA (fls. 738/746) [efls. 839/847] e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA (fls. 765/767) [efls. 869/871] e deixaram de se manifestar as empresas: GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA e FRIGORÍFICO 3J LTDA. Estando os autos nesta DRJ, para julgamento, foi verificado que ainda não havia sido cientificada a empresa APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, como sujeito passivo solidário pelo cumprimento da obrigação, assim, foi solicitado à origem que desse cumprimento àquela formalidade, o que foi feito, conforme comprovam os documentos de fls. 784/787 [efls. 889/892] e a manifestação da interessada às fls. 790/791 [efls. 895/896]. Das Impugnações O contencioso administrativo teve início com a impugnação do sujeito passivo LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA (efls. 804/812) efetivada em 27/07/2005. Em seguida, sucederamse as impugnações dos solidários FRIGORÍFICO JALES LTDA (efls. 839/847), COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA (efls. 869/871), ora recorrente, e APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA (efls. 895/896). Em suma, controverteuse na forma apresentada nas respectivas razões de inconformismo, conforme consta no relatório da decisão vergastada, litteris: Em sua defesa, o contribuinte — LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA — apresenta as razões de fato e de direito, a seguir sintetizadas: DAS PRELIMINARES A presente NFLD guarda corelação direta com os termos da NFLD n.º 35.715.0660, portanto, requer sejam elas Fl. 992DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 993 6 apensadas, para uma análise conjunta, evitandose, assim, conflito de decisões; As exigências constantes dos itens 1.2, letras "a" e "b", ou item 3, letras "a" e "b", do Relatório Fiscal, quantificadas nas Planilha IV e V, da presente NFLD n.º 35.715.0651, estão sendo integralmente recolhidas; O trabalho fiscal resta seriamente comprometido pela conclusão, em tese, do delito de sonegação de contribuição previdenciária, eis que se acham ausentes os elementos que integram o mencionado tipo penal, pois não se pode deixar de reconhecer que a Impugnante contabilizou todos os lançamentos que dizem respeito aos créditos previdenciários devidos a título de subrogação, em razão das aquisições de bovinos para abate, realizadas junto aos produtores rurais pessoas físicas nos períodos mencionados nas NFLDs, não obstante que tais dados, eventualmente, deixaram de ser lançados em GFIP; DO MÉRITO De acordo com o artigo 195, inciso I, da Constituição Federal, somente as contribuições sociais incidentes sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro podem ser exigidas dos empregadores. Achandose esgotado no texto constitucional o elenco de contribuições sociais, nenhuma outra contribuição pode ser instituída, sendo evidente a falta de qualquer previsão para o "Funrural". Nesse sentido, transcreve trecho de decisão judicial; Demonstrada a inconstitucionalidade da exigência, desaparece a obrigação de recolher a contribuição na condição de responsável tributário, portanto, imperioso é o provimento à presente impugnação, decretandose a sua total insubsistência; Finalmente, requer: a) o recebimento da impugnação com a suspensão da exigibilidade da exação; b) seja deferida a realização de prova pericial; c) seja reconhecida a total insubsistência da NFLD, determinando o seu arquivamento. SÍNTESE DAS MANIFESTAÇÕES DAS DEMAIS EMPRESAS DO "GRUPO ECONÔMICO DE FATO" FRIGORÍFICO JALES LTDA O "termo de cientificação", embora tenha sido elaborado de acordo com os §§ 1.º e 2.º do art. 779 da IN 100/03, não trouxe à discussão qualquer argumento que validasse a existência d'um "Grupo Econômico"; É inadmissível que a fiscalização se abstenha de apresentar cópias integrais dos noticiados lançamentos fiscais, aos quais pretende vincular a empresa Impugnante; Garantir à real contribuinte o amplo conhecimento dos fatos articulados pela fiscalização, notificandoa dos documentos e relatórios constantes do lançamento, e não deferir àquele que foi engendrado ao contexto das autuações, por solidariedade, as mesmas possibilidades de defesa, é ato flagrante em desacato à igualdade de tratamento que deve existir entre as partes; A Cientificada jamais se conciliou às mencionadas empresas com o objetivo de ostentar a criação de "Grupo Fl. 993DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 994 7 Econômico". O que aconteceu foram operações mercantis evidenciadas num contrato de prestação de serviços de abate de bovinos com a empresa GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e, posteriormente, um contrato de arrendamento do parque industrial à empresa APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, sendo que tanto na primeira empresa, quanto na segunda, nunca houve qualquer ingerência da Requerente nas atividades das suscitadas pessoas jurídicas; No caso presente, a fiscalização se equivocou ao pretender firmar como solidária a responsabilidade da Impugnante, uma vez que seu trabalho não encontra respaldo em nenhum dos elementos doutrinários que expõe; Assim, requer o recebimento da impugnação e a decretação de nulidade do termo de cientificação, por ofensa à ampla defesa e ao contraditório, a gerar uma nova ordem de intimação contendo todos os lançamentos aos quais se pretende impor responsabilidade à Impugnante. COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA O termo de cientificação recebido pela Requerente não invocou e/ou apresentou quaisquer fundamentos a justificar tal iniciativa, evidenciando completo cerceamento à defesa, haja vista que não esclareceu quais os tributos cobrados, o período das autuações, a base de cálculo dos lançamentos e as alíquotas utilizadas, o que restringiu quaisquer possibilidades de defesa; A aquisição do parque industrial no qual funcionou o Frigorífico Jales Ltda, ocorreu perante o Juízo da 5.ª Vara Cível da Comarca de São PauloCapital, em processo executivo que culminou na expropriação do imóvel situado na Av. Salustiano Pupim, em favor da Requerente, que na época detinha créditos exigíveis contra a empresa Frigorífico Jales Ltda. Referido imóvel foi arrematado pela quantia de R$ 7.536.812,49, tendo sido lavrado o Auto de Arrematação; A simples constatação de que o bem foi adquirido via judicial, em regular processo executivo, tem o condão de cessar quaisquer vínculos do patrimônio em relação às dívidas do antigo proprietárioexpropriado. O negócio jurídico da arrematação não transfere ao adquirente a responsabilidade tributária do devedor. Logo, a utilização de uma descabida alegação de grupo econômico para vincular a Requerente às dívidas de responsabilidade do antigo proprietário impõe latente descompasso com a legislação Civil e Processual vigente, além de desacatar toda legalidade e boafé que permeou o processo judicial de aquisição do imóvel; Em relação à empresa APR Alimentos Ltda, relata que, ao adquirir o imóvel em Juízo, o bem se encontrava arrendado para a empresa "APR", sendo que, naquela ocasião, a Requerente optou por locar a indústria à dita "APR", que já exercia atividade econômica no local; A "Comercial Times" jamais exerceu qualquer ato de gerência ou gestão na empresa "APR" e nas demais empresas elencadas pela fiscalização no Termo de Cientificação lavrado. Assim, requer a exclusão do nome da Requerente do pólo passivo desta demanda, e quando menos, que lhe seja oportunizado toda a argumentação e documentação a embasar a Fl. 994DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 995 8 equivocada responsabilidade solidária da Requerente, reabrindose, por consequência, o prazo para defesa, assim como a posterior juntada de documentos. APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA Desconhece as causas que levaram o agente fiscal a concluir pela responsabilidade solidária que lhe foi imputada, quanto aos débitos ns.º 35.715.0651 e 35.715.0660, de responsabilidade de uma empresa denominada LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, haja vista que jamais exerceu ato de gerência na empresa LUAN que pudesse ser traduzido como grupo econômico, assim como nunca houve qualquer ato, de qualquer dos representantes desta tal "LUAN", na condução dos negócios da Impugnante; Como não lhe foi oportunizado qualquer prova a corroborar o alegado grupo econômico, requer sua imediata exclusão no tocante à responsabilidade solidária ora lhe imposta. Do Acórdão de Impugnação As teses de defesa não foram acolhidas pela DRJ (efls. 912/939), primeira instância do contencioso fiscal, eis, em síntese, nas palavras do juízo a quo, as razões de decidir do meritum causae: Preliminarmente, cumpre observar que as impugnações serão analisadas conjuntamente, com seus argumentos comuns sendo apreciados de forma única. Quanto aos argumentos específicos da Notificada, estes serão analisados em apartado. Da caracterização do Grupo Econômico O lançamento fiscal em análise tem como um de seus pressupostos essenciais a constatação da suposta existência de um "grupo econômico de fato", do que resultou a responsabilização tributária por solidariedade das empresas integrantes de tal grupo. Assim, além dos demais aspectos, a serem adiante e oportunamente considerados, é necessário analisar previamente a própria viabilidade legal da hipótese de responsabilização tributária, em face da constatação da existência de um "grupo econômico de fato". Para tanto, devem ser abordados os seguintes aspectos da questão: a legislação previdenciária relativa a "grupo econômico"; em matéria de "grupo econômico", as disposições legais pertinentes e integrantes legislação previdenciária e o Código Tributário Nacional CTN (Lei 5.172/66); e as características do "grupo econômico de fato" e demais leis correlacionadas. "Grupo Econômico" Legislação Previdenciária A Auditoria Fiscal usou como fundamento da caracterização do "grupo econômico de fato" as disposições constantes do inciso IX do art. 30 da Lei n.º 8.212, de 24/07/1991, que estabelecem: Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas: Fl. 995DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 996 9 (...) IX as empresas que integram grupo econômico de qualquer natureza respondem entre si, solidariamente, pelas obrigações decorrentes desta Lei; (...) Tal dispositivo é repetido pelo art. 222 do Regulamento da Previdência Social (Decreto n.º 3.048, de 06/05/1999): Art. 222. As empresas que integram grupo econômico de qualquer natureza, bem como os produtores rurais integrantes do consórcio simplificado de que trata o art. 200A, respondem entre si, solidariamente, pelas obrigações decorrentes do disposto neste Regulamento (redação dada pelo Decreto n.º 4.032, de 2001). E, também, pela Instrução Normativa INSS/DC n.º 100, de 18/12/2003, vigente à época do lançamento: Art. 188. São responsáveis solidários pelo cumprimento da obrigação previdenciária principal: I as empresas que integram grupo econômico de qualquer natureza, entre si. Em face deste arcabouço legal, identificada a existência de "grupo econômico de qualquer natureza" (portanto, inclusive os "de fato"), é exigível a contribuição previdenciária de qualquer de seus integrantes, por força da responsabilidade solidária. Código Tributário Nacional — "Grupo Econômico", o "grupo econômico de fato" e demais leis pertinentes Estabelecida a possibilidade jurídica da vinculação dos entes integrantes de um "grupo econômico" (mesmo que "de fato") em relação à obrigação tributária previdenciária, é necessário verificar a compatibilidade entre as respectivas disposições legais e o CTN. De início, já que ora se cuida da responsabilidade tributária por solidariedade entre integrantes de um grupo econômico de qualquer natureza, vale ressaltar que, em matéria de responsabilidade tributária por solidariedade, o CTN expressamente prevê a possibilidade. Com efeito: Art. 124. São solidariamente obrigadas: I as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; II as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem. Tal dispositivo estabelece, portanto, a responsabilidade solidária em duas hipóteses: das pessoas com interesse comum na situação que constitua fato gerador; e das pessoas designadas por lei. A sujeição passiva tributária por solidariedade, em razão do "interesse comum na situação que constitua fato gerador da obrigação principal", deve, portanto, ser necessariamente demonstrada no caso concreto, em face da ausência de pressupostos legais precisos ou préestabelecidos. Disso se tratará adiante. Vejamos, então, primeiramente, a hipótese de responsabilização tributária por solidariedade relativa às "pessoas designadas por lei". Ora, como já se destacou, a Lei n.º 8.212/1991, seu regulamento (o Decreto n.º 3.048/1999) e a Instrução Normativa INSS/DC n.º 100/2003 fazem exatamente isso: estabelecem, nos exatos termos da autorização do inciso II do art. 124 do CTN, Fl. 996DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 997 10 que "as empresas que integram grupo econômico de qualquer natureza respondem entre si, solidariamente, pelas obrigações decorrentes desta Lei". Não resta, portanto, dúvidas de que, caracterizada a existência de "grupo econômico", seus integrantes são solidariamente responsáveis pelas contribuições previdenciárias apuradas, nos termos da aludida (e transcrita) legislação previdenciária, com a devida e expressa autorização do CTN. Grupos Econômicos "de direito" e "de fato" — características A legislação brasileira e, especificamente, a Lei n.º 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas) trata, nos seus arts. 116 e 265 a 277, dos "grupos econômicos" que poderiam ser considerados "de direito", uma vez que são constituídos segundo os requisitos legais e por deliberada e expressa vontade de seus controladores. Entretanto, tem sido cada vez mais frequente a constatação da existência de empresas controladas direta ou indiretamente pela(s) mesma(s) pessoa(s), sem que estejam formalmente revestidas da condição (nem com os mesmos objetivos) do grupo econômico de que trata a Lei 6.404/76. Estes são os que se podem denominar "grupos econômicos de fato". A Instrução Normativa INSS/DC n.º 100/2003, assim define "grupo econômico": Art. 778. Caracterizase grupo econômico quando duas ou mais empresas estiverem sob á direção, o controle ou a administração de uma delas, compondo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica. Não condiciona, portanto, a existência de "grupo econômico" ao cumprimento das formalidades da Lei n.º 6.404/76, do que se infere, evidentemente, que a norma não se refere apenas e necessariamente aos grupos formalmente constituídos, mas à hipótese geral de "quando duas ou mais empresas estiverem sob a direção, o 'controle ou a administração de uma delas". Para a caracterização e identificação de "grupo econômico", importa, portanto, investigar a situação real (verificação dos vínculos entre as empresas e das circunstâncias em que se constituíram ou realizam suas atividades) e não apenas a situação meramente formal (de estarem ou não constituídas como "grupo econômico" da forma da Lei n.º 6.404/76). Admitida, assim, a possibilidade jurídica dos "grupos econômicos de fato", passemos à sua análise. Os grupos econômicos de fato Em que pese a existência de "grupos econômicos", constituídos informalmente e criados até mesmo por razões legítimas, muitas vezes tais grupos, que, em regra, vão se constituindo paulatinamente (em princípio poderia ser "planejamento tributário"), algumas vezes se desvirtuam, passando a constituir até mesmo uma tentativa de ocultação ou dissimulação dessa condição de pertencerem ao(s) mesmo(s) proprietário(s)/controlador(es). E ocultam ou dissimulam a identificação da caracterização de grupo por vários motivos, dentre os quais (que podem ocorrer, e na maioria das vezes, ocorrem simultaneamente): Fl. 997DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 998 11 I) livre concorrência: podem oferecer "melhores preços" e "condições de pagamento" a seus clientes, na medida deixam de pagar tributos; II) isonomia tributária: a inadimplência acaba por se refletir em maior carga tributária, que é suportada apenas por aqueles que realmente pagam os tributos; e III) razões comerciais: vão se constituindo com o objetivo de frustrar cobrança de dívidas assumidas por um de seus entes integrantes. Neste caso, é usualmente constatável, inclusive, a situação em que as empresas, encontrandose com dívidas vultuosas, sucessivamente transferem seus patrimônios para "terceiros" (familiares, exempregados, pessoas próximas/ "de confiança" e os chamados "laranjas" etc). Nestas circunstâncias, as empresas integrantes de "grupo econômico de fato" invariavelmente apresentam, além de algumas características inerentes aos "grupos econômicos formais" (controle por uma mesma pessoa ou grupo de pessoas), algumas peculiaridades próprias: adotam o procedimento de criar novas empresas, que vão se sucedendo no mesmo local, mantendo a mesma atividade, utilizando os mesmos equipamentos e pessoal; realizam operações financeiras que visam transferir recursos de uma para a outra, nem sempre de forma regular (na maioria das vezes drenando recursos — equipamentos e matériasprimas — da empresa em dificuldades — já altamente endividada e inadimplente — para as demais, em melhor situação financeira), sem que se dê a regular formalização destas transferências, seja pela prática de pagamento puro e simples das despesas de uma por outra empresa, seja pela formalização de contratos ("de mútuo", por exemplo), que permanecem indefinidamente em aberto. É justamente nestas circunstâncias que se constata o que pode chamar de "confusão patrimonial", situação em que empresas e pessoas físicas pagam contas, umas das outras, sem que tais operações sejam realizadas (e contabilizadas) com os rigores legais e técnicos (jurídicos e contábeis) pertinentes, e tampouco com o devido tratamento tributário. E, neste contexto — o da ocorrência e constatação da "confusão patrimonial" entre empresas, e destas com seus proprietários — é que se pode, inclusive, admitir que a responsabilidade tributária por solidariedade possa também se dar com fundamento no inciso I do art. 124 do CTN ("interesse comum no fato gerador"), já que se estaria verdadeiramente diante da circunstância em que o patrimônio poderia ser considerado como se fosse "único" ("caixa único") e, por consequência, as obrigações (inclusive tributárias), podem ser atribuídas a todos os integrantes, diretos ou indiretos, do "grupo". Ora, a questão da "confusão patrimonial" entre pessoas físicas (sócios e administradores) e suas empresas, tem assumido tamanha importância, que o Código Civil (Lei 10.406, de 10/01/2002), estabelece: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. A autonomia patrimonial é legalmente assegurada ao empresário, em relação à empresa da qual seja sóciodirigente, para garantir que, quando administra regularmente seu negócio, Fl. 998DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 999 12 não seja penalizado com seu patrimônio pessoal pelas incertezas do mercado, constituindose, assim, importante instrumento de estímulo para a realização de empreendimentos (tão essenciais à economia de mercado ou capitalista). Entretanto, na medida em que o empresário pratique irregularidades, seja nas relações comerciais, societárias ou mesmo no âmbito tributário, a legislação reiteradamente afasta tal autonomia, que, portanto, é evidentemente relativa, ou seja: a autonomia patrimonial vale apenas em relação aos atos jurídicos regularmente praticados. Assim, na medida em que o administrador realize práticas que constituam "abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial", existe, no âmbito civil, o remédio correspondente à possibilidade da "desconsideração da personalidade jurídica", na medida em que "os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica". Os fundamentos éticos e jurídicos que justificam tais disposições do Direito Privado são igualmente válidos para o Direito Público. Com efeito, o art. 135 do CTN estabelece: Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I as pessoas referidas no artigo anterior; II os mandatários, prepostos e empregados; III os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. A confusão patrimonial, que legitima a desconsideração da personalidade jurídica e atribui responsabilidade a terceiros (que, em princípio ou em condições normais dela estariam isentos) demonstra e até mesmo reforça a razoabilidade da responsabilização tributária por solidariedade entre integrantes de um "grupo econômico" (inclusive e especialmente os "de fato"). Ora, a constatação da prática de simulação na constituição de pessoas jurídicas formalmente autônomas, mas, na realidade, sujeitas a comando único, invariavelmente se revestem das máculas do "abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial" (art. 50, Código Civil) ou "atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos" (art. 135, CTN), o que justifica plenamente o procedimento de considerálas como pertencentes à(s) mesma(s) pessoa(s) — seu(s) controlador(es) — e, portanto, passíveis de responsabilização, independentemente dos seus quadros societários formais ou aparentes. Assim, a possibilidade da responsabilização tributária por solidariedade entre integrantes de um "grupo econômico", seja ela "de direito" ou "de fato" tem fundamento: no inciso II do art. 124 do CTN (por expressa determinação legal), que nos leva ao inciso IX do art. 30 da Lei 8.212/1991; e no inciso I do art. 124 do CTN, nos casos em que se constata a "confusão patrimonial" (interesse comum no fato gerador). Mas o "abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial" (art. 50, Fl. 999DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1000 13 Código Civil) ou "atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos" (art. 135, CTN), assim como a prática de simulação, levanos diretamente aos dirigentes/administradores das empresas. Quanto à simulação, esta, por si só, está sujeita à repressão legal, e, à falta de um conceito específico no CTN, devese recorrer novamente, nos termos do seu art. 110, ao Código Civil: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I agente capaz; II objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III forma prescrita ou não defesa em lei. (...) Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: VI tiver por objetivo fraudar lei imperativa; (...) Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for'na substância e na forma. § 1.º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; (...) Ora, a prática de atos viciados merece do CTN algumas e importantes disposições: Art. 116. (...) Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (parágrafo incluído pela Lei Complementar 104, de 10/01/2001) (...) Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: (...) IV quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória; (...) VII quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; (...) Evidenciase, ainda, portanto, que não apenas as pessoas jurídicas, integrantes do "grupo econômico de fato" são passíveis de responsabilização tributária. Tal responsabilidade, por vários outros dispositivos legais vigentes, é também atribuída aos sócios e dirigentes, exatamente nos termos e condições do art. 135 do CTN. Ora, por tais razões, em se tratando de "grupo econômico de fato", é sempre recomendável que se investigue a eventual prática de "excesso de poderes ou infração à lei, contrato social ou estatuto" e, se presentes os pressupostos legais, caberá, também, a responsabilização solidária dos mandatários, administradores e dirigentes (especialmente os "informais") das empresas integrantes do grupo. Refletindo as disposições do art. 135 do CTN, a Lei n.º 8.884, de 11/06/1994, que dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica, estabelece: Fl. 1000DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1001 14 Art. 16. As diversas formas de infração da ordem econômica implicam a responsabilidade da empresa e a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores, solidariamente. Art. 17. Serão solidariamente responsáveis as empresas ou entidades integrantes de grupo econômico, de fato ou de direito, que praticarem infração da ordem econômica. Art. 18. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato, ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. Ora, tais disposições legais, não obstante voltadas às infrações contra a ordem econômica, corroboram todas as ilações anteriormente extraídas da legislação mencionada e transcrita, especialmente em se levando em conta que ora se cuida de lançamento fiscal relativo às contribuições previdenciárias, que gozam claramente de idêntica relevância social. Vejamos: Art. 16 — atribui expressamente a responsabilidade solidária dos dirigentes e administradores em relação à empresa; Art. 17 — não apenas estabelecem a responsabilidade solidária entre "integrantes de grupo econômico", como admitem expressamente, a possibilidade da existência de "grupos econômicos de fato ou de direito". Art. 18 — permitem a "desconsideração de personalidade jurídica do responsável por infração", destacandose que tal possibilidade pode ocorrer se houver "abuso de direito, excesso de poder, infração à lei, fato ou ato ilícito" ou em caso de "estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica". Aliás, especificamente quanto à responsabilização dos administradores em relação às contribuições previdenciárias, é oportuno destacar o que a respeito determina a Lei n.º 8.620, de 05/01/1993: Art. 13. O titular da firma individual e os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social. Parágrafo único. Os acionistas controladores, os administradores, os gerentes e os diretores respondem solidariamente e subsidiariamente, com seus bens pessoais, quanto ao inadimplemento das obrigações para com a Seguridade Social, por dolo ou culpa. A prática de atos administrativos contrários ao estatuto ou contrato social ou, ainda, contrários à lei, são, às vezes, de tal ordem e gravidade que acabam caracterizando até mesmo ilícitos penais previstos nos arts. 1.º e 2.º da Lei n.º 8.137/1990, que define crimes contra as ordens tributária e econômica e contra as relações de consumo. Mas não se trata apenas disso: tem sido usual, nestas circunstâncias, a constatação de práticas atribuíveis a diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado e tipificadas no próprio Código Penal, especialmente arts. 168A, 171, 297 e 337A. Finalmente, vale destacar que a responsabilidade solidária de integrantes de "grupo econômico" não representa inovação, pois a própria CLT — Consolidação das Leis do Trabalho (DecretoLei 5.452/1943) a prevê, sem fazer qualquer distinção entre "grupo econômico de fato ou de direito". Com efeito: Fl. 1001DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1002 15 Art. 2.º (...) § 2.º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas. Portanto, está claro que mesmo a CLT não faz qualquer distinção entre "grupo econômico de fato ou de direito", o que, aliás, pode ser facilmente constatado pelos reiterados (certamente unânimes) julgados da Justiça do Trabalho, vinculando invariavelmente as demais empresas de um grupo econômico, ainda que não formalmente constituído, à reclamatória trabalhista, desde que demonstrada a relação, mesmo informal, entre o empregador direto e demais empresas vinculadas. Assim, a possibilidade (ou mesmo a determinação) legal da vinculação por solidariedade dos integrantes de "grupos econômicos", sejam eles formais ou informais, se justifica em ambos os casos — cobrança de direitos trabalhistas ou de contribuições previdenciárias — pelo relevante interesse social que os casos envolvem, respectivamente: satisfação dos direitos do trabalhador (o que se constata pela existência de um sistema legal claramente protetivo); e viabilização legal da cobrança das contribuições sociais relativas à Previdência Social, que também tem finalidades institucionais com óbvia conotação de proteção social. Feitas essas considerações, que demonstram cabalmente a viabilidade legal da existência de "grupo econômico de fato" (além dos grupos econômicos formalmente constituídos), e a conseqüente possibilidade da responsabilização tributária por solidariedade entre os seus integrantes e respectivos dirigentes, passase ao caso concreto. O Relatório de Grupo Econômico dá conta dos seguintes aspectos: A empresa FRIGORÍFICO JALES LTDA sempre atuou no ramo comercial de frigorífico e comércio atacadista de carnes e seus subprodutos, incluindo a importação e exportação. Desde 1990 a sede da empresa estava na Rua Ingú, 113 — Bairro Guaiaúna — São Paulo — SP, que funciona como entreposto e distribuição de carnes. Na cidade de Jales — SP, Av. Salustiano Pupim, 90 — J. Municipal, funcionava a unidade frigorífica, CNPJ 49.683.873/000992, com abate de bovinos e preparo da carne. Em 29/10/1998 foi deferida a CONCORDATA conforme processo n.º 000.98.8382979, 2.ª Vara Cível, Fórum Central de São Paulo/SP. Conforme Notas Fiscais de Entrada e Livro de Registro de Entrada de Mercadorias, adquiriu bovinos para abate até 01/12/1999 (DOC.197). A partir de 02/12/1999, a compra de bovinos para abate passou a ser feita totalmente pela empresa GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, CNPJ 02.960.525/0001 02. E toda a operacionalização comercial dessa empresa, desde a compra dos bovinos, abate e preparo da carne, vendas e distribuição, eram feitos pela própria empresa FRIGORÍFICO JALES LTDA, que tinha toda a estrutura, nome e capital para concretizar os negócios. A empresa GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA não possuía nenhum empregado, não tinha capital e seus sócios não tinham experiência nem capacidade financeira para o empreendimento, tanto que a empresa mesmo antes de começar as atividades comerciais era administrada por procuradores vinculados ao FRIGORÍFICO JALES LTDA; Fl. 1002DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1003 16 A partir de 04/2001, conforme contrato de arrendamento (DOC. 188/191), a unidade frigorífica na cidade de Jales — SP foi arrendada para a empresa APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, CNPJ 04.171.345/000169, com sede em São Paulo, na Rua Guaiaúna, 314 — Penha de França, recém criada e administrada também por procuradores todos vinculados ao FRIGORÍFICO JALES LTDA. Todos os empregados dessa unidade, cerca de 350, foram transferidos para a unidade CNPJ 04.171.345/000320 da arrendatária (DOC. 013). No entreposto não houve admissão a partir de 02/11/2000. Todas as admissões foram feitas pela Filial da APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, CNPJ 04.171.345/000240, que estava estabelecida no mesmo endereço. Pelos DOC. 014/017 fica evidenciado que enquanto o número de vínculos do FRIGORÍFICO JALES LTDA decrescia, o número de vínculos da APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA aumentava e alguns demitidos foram admitidos pela APR (DOC 018); Em 14/03/2001 a unidade frigorífica com CNPJ 49.683.873/000992 foi transferida para a Rua 14 Bis, 51 — J. Municipal — Jales — SP, posteriormente, em 03/10/2003 foi transferida para uma pequena sala na Rua Onze, 2649, sala 02 Centro — Jales — SP, e alterado o objeto para Comércio Atacadista de Carnes e Produtos da Carne, e em 03/10/2003 a sede foi transferida para uma pequena sala na Av. Amador Bueno da Veiga n.º 2931 — 1.º andar sala 02 — Penha de França — São Paulo SP; A empresa FRIGORÍFICO 3J LTDA, com capital social de R$ 50.000,00, somente iniciou suas atividades comerciais em 10/1999, e sem nenhum empregado, iniciou comprando carnes do FRIGORÍFICO JALES LTDA, passando depois a comprar da GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA e no final da APR ALIMENTOS LTDA. No mês 10/1999 comprou carnes no valor de R$ 183.000,00, e teve movimento até 01/2001. Não possuía estrutura para exercer a atividade de comércio de carnes, pois a sede estava estabelecida numa pequena sala, sem móveis, somente algumas caixas com notas fiscais e outros documentos ainda não utilizados estão no lugar. Imóvel alugado através da Imobiliária Critérium Ltda, que tem o mesmo endereço da LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, Rua Padre Benedito de Camargo, 499 — Penha — São Paulo — SP. Essa imobiliária também aluga as salas para LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA. A sua filial em Jales — SP não iniciou as atividades porque não conseguiram Inscrição Estadual; O sócio da empresa FRIGORÍFICO 3J LTDA, Aparecido de Almeida Lara, adquiriu direitos de crédito junto aos credores da empresa concordatária FRIGORÍFICO JALES LTDA, num valor total de R$ 101.716,49, apesar de seu histórico trabalhista; A empresa GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA foi constituída em 11/1998 e não teve movimento até 05/1999. Pelo Livro Diário n.º 001, referente ao exercício de 1999, constatase que no período de 06/1999 a 11/1999 recebia reforço na conta "caixa" para pagamento de credores da concordatária FRIGORÍFICO JALES LTDA. A partir de 02/12/1999 iniciou a compra de bovinos cujo abate era feito pelo FRIGORÍFICO JALES LTDA. Apesar do capital inicial de R$ 60.000,00 e do histórico de empregos e salários dos sócios, adquiriu de produtores rurais no primeiro mês de atividades, um total de R$ 7.897.565,71 em bovinos para abate, e até 09/2001 comprou um total de R$ 161.231.956,81. Um fato relevante é que o FRIGORÍFICO JALES LTDA adquiriu bovinos para o abate até o dia 01/12/1999, DOC 197, e a partir de 02/12/1999 foi feito em nome de GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA. A empresa GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA nunca teve empregados. Toda a operacionalização comercial de compra de bovinos, abate, preparo da carne, a comercialização e a distribuição era feito até 03/2001, pelo FRIGORÍFICO JALES LTDA e a partir de 04/2001 Fl. 1003DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1004 17 passou a ser feito pela APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, empresa integrante do grupo; A empresa APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA não teve movimento nem empregados até 03/2001. Em 05/03/2001, mediante contrato, arrendou o prédio e as instalações da Av. Salustiano Pupim, 90 — J. Municipal — Jales — SP, de propriedade do FRIGORÍFICO JALES LTDA, onde funcionava o estabelecimento CNPJ 49.683.873/000992 do arrendante, e transferiu seu estabelecimento CNPJ 04.171.345/000320 para esse endereço. Nas cláusulas do contrato consta os valores do arrendamento que era o equivalente a 2500 arrobas de boi gordo por mês, preço corrente a vista. Com a transferência dos 350 empregados desse estabelecimento do arrendante, iniciou efetivamente as atividades comerciais, abatendo bovinos e próprios e para a empresa GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, empresa integrante do grupo; A filial CNPJ 04.171.345/000240 foi estabelecida no período de 28/11/2000 a 06/10/2004 na Rua Loanda s/n, esquina com Rua Ingú, sala 04, Bairro Guaiaúna, São Paulo — SP, que se localiza dentro do prédio onde funcionava o estabelecimento sede do FRIGORÍFICO JALES LTDA, passando a ter empregados a partir de 05/2001; Apesar do capital inicial de R$ 50.000,00 e do histórico de empregos e salários dos sócios, no primeiro mês de funcionamento, 04/2001, a empresa APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA já teve um gasto sem contar com outras despesas como luz, água, telefone, fretes, combustível etc., de R$ 4.974.905,30. Nos nove primeiros meses de funcionamento, em 2001, comprou R$ 34.106.607,14 em gado para abate; A empresa LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA não teve movimento até 09/2001. Sem ter nenhum empregado ligado ao ramo de frigorífico, iniciou suas atividades comerciais em 10/2001, adquirindo logo no primeiro mês de atividade um total de R$ 6.543.284,06 em gado para abate. O abate era feito pela APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, empresa do mesmo grupo, que além do abate fazia também o preparo da carne. Toda a parte da operacionalização comercial, desde a compra de bovinos até a venda e distribuição da carne, era feita pelos empregados da APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e do FRIGORÍFICO JALES LTDA. A matriz da empresa funciona em uma garagem que foi fechada na lateral, tendo somente uma mesa e dois armários onde são guardadas as notas fiscais já contabilizadas; A empresa COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA foi constituída em 01/1988 pelos sócios Ismael Serafim Conde e Antonio Carlos Santo André Filho, com capital social inicial de CZ$ 10.000,00, equivalente a R$1,00 na conversão em 05/2000. Ficou inativa desde sua constituição até 2001, conforme DIRPJ. Em 07/12/2000 solicitou seu desenquadramento do Regime de Micro Empresa, mesmo sem movimento. Em 18/12/2001 foi alterado o capital social de R$ 5.000,00 para R$ 200.000,00, mesmo sem movimento. Conforme "Instrumento Particular de Cessão de Direitos e Créditos, Assunção de Obrigação, Reconhecimento e Confissão de Dívida e outras Avenças" de 02/01/2002, DOC 176/180, constante do Processo n.º 02.173.1691 da 5.ª Vara Cível da Comarca da Capital — São Paulo, DOC 181/184, a empresa COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA adquiriu direitos de créditos da empresa GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, de Edson César Bofeti, sócio da GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA e de APARECIDO DE ALMEIDA LARA, sócio do FRIGORÍFICO 3J LTDA, sendo que os três haviam adquirido tais direitos de créditos de credores do FRIGORÍFICO JALES LTDA a partir da sua concordata em 1998; Apesar do histórico trabalhista de seus atuais sócios e de estar inativa desde a sua constituição, a empresa COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA adquiriu tais direitos de crédito que importavam em R$ 7.900.122,66 por R$ 5.357.000,00, Fl. 1004DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1005 18 passando a ser credora do FRIGORÍFICO JALES LTDA a partir de 02/01/2002; A empresa concordatária FRIGORÍFICO JALES LTDA agora devedora da COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA, não tendo cumprido com os pagamentos acordados, teve seu imóvel industrial localizado na Av. Salustiano Pupim, 90 em Jales/SP penhorado e arrematado pela credora em 17/06/2003 pelo valor equivalente a R$ 7.536.812,49, em troca da dívida existente, conforme escritura constante do Cartório de Registro de Imóveis de Jales — SP, matrícula n.º 25.756, DOC 185/187; Como proprietária do imóvel industrial, a COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA arrendou o mesmo para a empresa APR ALIMENTOS LTDA EM 31/07/2003, conforme "Instrumento Particular de Contrato de Locação de Unidade Frigorífica" apresentado (sem reconhecimento de firmas ou carimbos de cartórios), DOC. 192/196. No Demonstrativo "QUADRO RESUMO DO TOTAL DE BOVINOS ABATIDO POR EMPRESA", doc 197, expresso em R$, que não houve qualquer modificação no movimento de abate de bovinos na empresa APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA. O volume de negócios somados com a empresa LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA ficou estável na mudança de proprietário do imóvel. Assim, à vista destes fatos e dos documentos anexados pela Auditoria Fiscal, à despeito do que alegam as empresas solidárias: FRIGORÍFICO JALES LTDA, COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA e APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS não resta dúvida que se trata de grupo econômico de fato. Vejamos: a) as empresas FRIGORÍFICO 3J LTDA, GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, LUAN COMÉRCIO DE CARNES LTDA e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA foram constituídas sempre com o objeto voltado ao ramo comercial de frigoríficos, com preparo da carne e subproduto para fins de comércio atacadista e exportação, o mesmo objeto da empresa FRIGORÍFICO JALES LTDA; b) o quadro societário, na maioria das vezes, formado por ex empregados do FRIGORÍFICO JALES LTDA, que lá exerciam funções simples, que não tinham capacidade financeira e nem experiência nas atividades para as quais a empresa foi criada, sendo que em nenhum momento participaram da administração, eis que sempre foi administrada por procuradores, sempre com algum vínculo com a empresa FRIGORÍFICO JALES LTDA; c) restou comprovado pelos documentos carreados aos autos que existia entre as empresas um estreito relacionamento e uma verdadeira confusão patrimonial caracterizado por pagamento de contas ou empréstimo, tendo a empresa APR Comércio de Alimentos Ltda pago as contas da empresa LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e LUAN pagou contas que eram da APR, e assim por diante, conforme DOC.486/536; d) a operacionalização comercial das empresas sempre esteve sob comando dos sócios do FRIGORÍFICO JALES LTDA ou de pessoas da família dos sócios; e) a mesma pessoa é contador de todas as empresas. Alega a empresa COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA que adquiriu o parque industrial no qual funcionou o Frigorífico Jales Ltda, tendo referido imóvel sido expropriado em seu favor, por deter na época créditos exigíveis contra a empresa Frigorífico Jales Ltda e que a simples constatação de que o bem foi adquirido via judicial, em regular processo executivo, tem o condão de cessar quaisquer vínculos do patrimônio em relação às dívidas do antigo proprietário expropriado. Fl. 1005DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1006 19 Com efeito, assim seria, não fosse pelo fato de a empresa COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA estar inativa desde a sua constituição e pelo histórico trabalhista de seus atuais sócios: Maria Del Carmen Rodrigues Fernandez, cadastrada no INSS como costureira autônoma desde 23/02/1996, inscrição n.º 1.171.841.6835, para a qual não consta outros vínculos empregatícios e Luiz Domingos Sobrinho, aposentado pelo INSS desde 01/05/1987, NB 800707133, com salário de beneficio em 04/2005 no valor de R$ 457,77. Comparando estes dados com o valor dos direitos de crédito relativos ao FRIGORÍFICO JALES, no importe de R$ 7.900.122,66 é inadmissível que a empresa COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA, bem como seus sócios, Maria Del Carmen Rodrigues Fernandez e Luiz Domingos Sobrinho tivessem condições financeiras para adquirir tais direitos pagando por eles a importância de R$ 5.357.000,00. Desta forma, diante da verificação da formação do grupo econômico entre as empresas: FRIGORÍFICO JALES LTDA, FRIGORÍFICO 3J LTDA, GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, LUAN COMÉRCIO DE CARNES LTDA e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA exsurge a responsabilidade solidária pelo cumprimento das obrigações previstas na Lei de Custeio da Seguridade Social, por força do inciso IX do artigo 30, da Lei 8.212, de 1991, acima transcrito. Sendo assim, resulta correta a designação das empresas: FRIGORÍFICO JALES LTDA, FRIGORÍFICO 3J LTDA, GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA, como devedoras solidárias pelo pagamento das contribuições previdenciárias apuradas neste processo. Do Termo de Cientificação Em relação às alegações dos responsáveis solidários, FRIGORÍFICO JALES LTDA e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA, da ocorrência de cerceamento de defesa, eis que o Termo de Cientificação não trouxe à discussão qualquer argumento que validasse a existência d'um "Grupo Econômico", que é inadmissível que a fiscalização se abstenha de apresentar cópias integrais dos noticiados lançamentos fiscais, que não foram esclarecidos quais os tributos cobrados, o período das autuações, a base de cálculo dos lançamentos e as alíquotas utilizadas, é de argumentar o que se segue. A Instrução Normativa INSS/DC n.º 100/2003 prevê que na hipótese do lançamento de crédito previdenciário de responsabilidade de empresa integrante de grupo econômico, as demais empresas do grupo serão cientificadas da NFLD, possibilitando a cada integrante do grupo (como responsável solidário) a apresentação de defesa, no prazo legal de quinze dias a contar da ciência do último devedor. Ainda, prestigiando os princípios constitucionais da ampla defesa, é assegurada a cada uma das impugnantes a vista do processo administrativo fiscal. Vejamos: Fl. 1006DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1007 20 Art. 779. Quando do lançamento de crédito previdenciário de responsabilidade de empresa integrante de grupo econômico, as demais empresas do grupo, responsáveis solidárias entre si pelo cumprimento das obrigações previdenciárias na forma do art. 30, inciso IX, da Lei n.º 8.212, de 1991, serão cientificadas da ocorrência. § 1.º Na cientificação a que se refere o caput, constará a identificação da empresa do grupo e do responsável, ou representante legal, que recebeu a cópia dos documentos constitutivos do crédito, bem como a relação dos créditos constituídos. § 2.º É assegurado às empresas do grupo econômico, cientificadas na forma do § 1.º deste artigo, vista do processo administrativo fiscal. No caso em epígrafe, notase que houve a cientificação eficaz de todas as empresas integrantes do grupo (a notificada principal e as demais solidárias), sendo que o Termo de Cientificação contêm os elementos mínimos necessários para que as empresas solidárias exerçam regularmente seu direito de defesa, dentro das normas previstas pela legislação em vigor. Acrescentese que foi facultada a vista dos autos a todos os interessados, no prazo para impugnação e posterior manifestação, sendo permitida a extração de cópias dos documentos. Desse modo, sendo possibilitado a todas as impugnantes o pleno acesso aos autos do processo administrativo, fica afastada a alegação de cerceamento de defesa. LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA DAS PRELIMINARES Do pedido de apensamento Em relação à alegação de que a presente NFLD guarda co relação direta com os termos da NFLD n.º 35.715.0660, portanto, devem ser as mesmas apensadas, para uma análise conjunta, cumpre informar que não é cabível tal providência, tendo em vista a natureza distinta de cada um dos lançamentos, vez que a presente Notificação referese às contribuições previdenciárias patronais devidas à Seguridade Social e a NFLD n.º 35.715.0660 exige as contribuições previdencíárias que foram descontadas das remunerações dos segurados empregados e dos produtores rurais pessoas físicas e que não foram repassadas aos cofres da Previdência Social. Do recolhimento efetuado após o lançamento Quanto ao recolhimento apresentado, verificase que este foi efetuado após a lavratura da presente NFLD, não cabendo retificação dos valores aqui lançados, mas sim a apropriação do valor recolhidos, pelo setor responsável pela cobrança, após confirmação nos sistemas informatizados da Secretaria da Receita Federal do Brasil. Da sonegação de contribuição previdenciária Alega a Impugnante que o trabalho fiscal resta seriamente comprometido pela conclusão, em tese, do delito de sonegação de contribuição previdenciária, eis que se acham ausentes os elementos que integram o mencionado tipos legal, pois não se pode deixar de reconhecer que a Impugnante contabilizou as verbas devidas ao INSS, a título de FUNRURAL. Diante do alegado, cumpre esclarecer que a obrigação das empresas, prevista no inciso II do artigo 32, da Lei n.º 8.212/91, Fl. 1007DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1008 21 de lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores de todas as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições da empresa e os totais recolhidos, não as exime do dever determinado pelo inciso IV, do mesmo artigo e da mesma lei, que também as obriga a informar mensalmente ao INSS, por intermédio da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia e Informações à Previdência Social, os dados relacionados aos fatos geradores de contribuição previdenciária. Com referência à assertiva de que o trabalho fiscal resta seriamente comprometido pela conclusão, em tese, do delito de sonegação de contribuição previdenciária, eis que se acham ausentes os elementos que integram o mencionado tipo legal, cumpre ressaltar que o fato de a Impugnante não haver declarado em GFIP as contribuições previdenciárias e das outras entidades devidas sobre a rubrica "Dia do Comerciário" e as devidas sobre o valor da comercialização dos produtos rurais configura, em tese, a prática de crime de sonegação de contribuição previdenciária previsto no Código Penal, in verbis: Sonegação de contribuição previdenciária (Incluído pela Lei n.º 9.983, de 2000 Art. 337A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Incluído pela Lei n.º 9.983, de 2000) I omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei n.º 9.983, de 2000) deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; (Incluído pela Lei n.º 9.983, de 2000) III omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: (Incluído pela Lei n.º 9.983, de 2000) Assim, quanto à conclusão da autoridade fiscal nenhum reparo há que se fazer, pois, uma vez constatado fato que, em tese, configura crime contra a Seguridade Social, cabe tão somente à autoridade administrativa, mediante Representação, levar ao conhecimento da autoridade competente, a quem incumbe os demais procedimentos, conforme o disposto no artigo 634 da IN 100/2003, vigente à época da lavratura da presente Notificação: "Art. 634. Por disposição expressa no art. 66 do DecretoLei n.º 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei de Contravenções Penais), o AFPS formalizará Representação Fiscal para Fins Penais (RFFP) sempre que, no exercício de suas funções internas ou externas, tiver conhecimento da ocorrência, em tese, de: I crime de ação penal pública que não dependa de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça; II contravenção penal. Parágrafo único. Considerase, nos termos do DecretoLei n.º 3.914, de 1941 (Lei de Introdução ao Código Penal e à Lei de Contravenções Penais): I crime, a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; Fl. 1008DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1009 22 II contravenção, a infração penal a que a lei comina isoladamente pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. DO MÉRITO Das alegações de inconstitucionalidade Quanto às inconstitucionalidades suscitadas pela Impugnante, é mister ressaltar que tais alegações escapam à competência da autoridade administrativa julgadora, pois versam sobre a constitucionalidade de dispositivos legais. Como bem ensina Luiz Henrique Barros de Arruda, in Processo Administrativo Fiscal Manual, 2.ª edição, Editora Resenha Tributária, páginas 85 e 86, no que se refere às alegações de inconstitucionalidade ou ilegalidade levantadas pelo interessado, temse que à autoridade fiscal cabe verificar o fiel cumprimento da legislação em vigor, independentemente de questões de discordância, pelos contribuintes, acerca de possíveis inconstitucionalidades ou ilegalidades das normas vigentes, sendo a atividade de lançamento vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional, como previsto no art. 142, parágrafo único, do CTN. A autoridade tributária, tanto a lançadora quanto a julgadora, encontrase cingida aos estritos termos da legislação fiscal, estando impedida de ultrapassar tais fronteiras para examinar questões outras, como as suscitadas na impugnação em tela, uma vez que às autoridades tributárias cabe apenas cumprir e aplicar a lei. Os mecanismos de controle de constitucionalidade regulados pela própria Constituição Federal passam necessariamente pelo Poder Judiciário que detém, com exclusividade, tal prerrogativa. É inócuo, portanto, suscitar tais alegações na esfera administrativa, pois a presente autoridade julgadora não pode, sob pena de responsabilidade funcional, deixar de aplicar a norma cuja validade está sendo questionada pela defesa, em observância ao citado artigo 142, parágrafo único, do CTN. Em outras palavras, tomando conhecimento do fato gerador da obrigação tributária principal, ou do descumprimento de urna obrigação tributária acessória, a autoridade administrativa tem o dever indeclinável de proceder ao lançamento tributário. Das contribuições sobre a produção adquirida de produtores rurais pessoas físicas (subrogação) Em que pesem as alegações da impugnante acerca das contribuições devidas na condição de subrogada da obrigação fiscal, denominandoa equivocadamente de FUNRURAL, quando o correto é SENAR, o fato é que as contribuições exigidas na presente NFLD, a esse título, encontram respaldo na legislação vigente. A exigência das contribuições sociais, tendo como sujeito passivo a empresa adquirente, incidentes sobre a receita bruta proveniente da comercialização do produto rural adquirido de produtores rurais pessoas físicas está expressamente prevista na Lei n.º 8.212/91, em destaque: Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial, referidos, respectivamente, na alínea Fl. 1009DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1010 23 a do inciso V e no inciso VII do art, 12 desta Lei, destinada à Seguridade Social, é de: I 2% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção; II 0,1% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção para financiamento das prestações por acidente do trabalho. (...) Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas: (...) III a empresa adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa são obrigados a recolher a contribuição de que trata o art. 25, até o dia 2 do mês subseqüente ao da operação de venda ou consignação da produção, independentemente de estas operações terem sido realizadas diretamente com o produtor ou com intermediário pessoa física, na forma estabelecida em regulamento. (redação outorgada pela Lei n.º 9.528/97) IV a empresa adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa ficam subrogadas nas obrigações da pessoa física de que trata a alínea "a" do inciso V do art. 12 e do segurado especial pelo cumprimento das obrigações do art. 25 desta Lei, independentemente de as operações de venda ou consignação terem sido realizadas diretamente com o produtor ou com intermediário pessoa física, exceto no caso do inciso X deste artigo, na forma estabelecida em regulamento; (Redação dada pela Lei n.º 9.528, de 10.12.97) (...) Vêse, portanto, que a contribuição devida à Seguridade Social pelo empregador rural pessoa física, incidente sobre a receita bruta da comercialização da sua produção rural, está estabelecida no art. 25 da Lei n.º 8.212/91. Todavia, a mesma lei, ao precisar sobre a arrecadação e recolhimento das contribuições, determinou, à empresa adquirente, a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições, por meio da subrogação (art. 30, III e IV) nas obrigações da pessoa fisica pelo cumprimento das obrigações do art. 25. De acordo com o Relatório Fiscal, os valores das comercializações de produtos rurais adquiridos de pessoas físicas foram obtidos no Livro Diário, conta n.º "3.10.1.07 — Compra de Bovinos para Abate", sendo que o valor total da comercialização é a base de cálculo das contribuições, os quais não foram declarados em GFIP. O total mensal está desdobrado em valor da compra em que houve a retenção das contribuições destinadas à Seguridade Social e ao SENAR e o valor em que não houve a retenção. Nesta Notificação foram lançadas somente as contribuições devidas e não retidas, fatos estes que não foram contestados pela impugnante. DOS PEDIDOS Da suspensão da exigibilidade. Com referência ao pleito da suspensão da exigibilidade do presente feito, cumpre observar que, consoante o disposto no art. 151, inciso III, do Código Tributário Nacional, a impugnação ao lançamento suspende a exigibilidade do crédito tributário. Do pedido de perícia. Indeferimento. Dispõe, acerca da realização de diligências e perícias, o art. 18, do Decreto n.º 70.235/72, em seu caput, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 8.748/93: Fl. 1010DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1011 24 "Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observando o disposto no art. 28, in fine." (Redação dada pela Lei n.º 8.748, de 1993) Em resumo, a realização de diligências ou perícias tem por finalidade a elucidação de questões que suscitem dúvidas para o julgamento e, portanto, tais procedimentos visam à formação de convicção do julgador, o que não se aplica ao presente processo, visto que o lançamento encontrase devidamente constituído e fundamentado, como demonstrado, além do que a Impugnante não indicou qualquer prova ou juntou qualquer documento, nesta fase, em que deve exercer o seu direito de ampla defesa, comprovando suas alegações, que pudessem alterar o procedimento fiscal. Não é demais lembrar ainda que, o sujeito passivo, para reforçar a possibilidade de êxito do pedido de diligência e afastar suspeitas quanto ao caráter protelatório da mesma, deve fazer acompanhar o requerimento, sempre que possível, de amostragem ou qualquer forma de evidenciação dos aspectos cuja apreciação se requer nesse exame. Assim, entendo que o processo está legitimamente instruído, e o julgamento prescinde de outras verificações, razão pela qual voto pelo indeferimento do pedido de realização de perícia. CONCLUSÃO Restando demonstrado que a NFLD foi lavrada com embasamento legal e observância às normas vigentes, que as interessadas exerceram o direito da ampla defesa e contraditório que lhes é garantido pela Constituição Federal e Legislação Previdenciária, conforme se comprova pelas impugnações apresentadas, mas não trouxeram aos autos documentos que lhe atribuam razão, prevalece a Notificação Fiscal de Lançamento de Débito, tal qual foi lavrada, e a Configuração de Grupo Econômico que traduzem a situação fática constatada pela auditoria fiscal, conforme o contido nos autos. Assim sendo, demonstrado que as Impugnantes não possuem razão nos pleitos intentados, voto no sentido de rejeitar as preliminares argüidas, não havendo motivo para tornar nula a presente NFLD e nem desconsiderar a caracterização do grupo econômico — com a consequente responsabilização solidária de: FRIGORÍFICO JALES LTDA, FRIGORÍFICO 3J LTDA, GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA, a qual se mostra em observância à legislação e normas vigentes e, no mérito, voto pela PROCEDÊNCIA do presente lançamento, no valor de R$ 4.313.335,10 (quatro milhões e trezentos e treze mil e trezentos e trinta e cinco reais e dez centavos), consolidado em 30/06/2005. Do Recurso Voluntário do Solidário No recurso voluntário do solidário COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA (efls. 973/982), interposto em 06/05/2009 (efl. 973), reiterando os termos de sua específica impugnação (efls. 869/871), o recorrente requer que se julgue nulo o Termo de Fl. 1011DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1012 25 Cientificação proposto pela Autoridade Fiscal e, por conseguinte, que se decrete a nulidade dos atos posteriores, inclusive decisão da DRJ, ou, no mérito, que se julgue improcedente o lançamento, no que diz respeito à responsabilidade solidária que foi imposta ao oral recorrente. Também, postula que seja intimada com o fim de exercer sua prerrogativa de sustentar oralmente suas razões, perante este Egrégio Conselho. Nesse contexto, os autos foram encaminhados para este Egrégio Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), sendo, posteriormente, distribuído por sorteio público para este relator, em data de 12/02/2019. A título de registro, observo que o sujeito passivo LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA recolheu, em 29/07/2005, via GPS (efl. 821), os LEVANTAMENTOS L01, L03 e DAL (efl. 821), que foram apropriadas conforme consta consignado em despacho nos autos (efl. 832) e na forma demonstrada nos relatórios anexos (efls. 822/831), inclusive a decisão de primeira instância registra que o processo deve seguir à DERAT/SPO/EQREC para, após a confirmação, no sistema informatizado, dos recolhimentos efetuados pelo contribuinte e a sua apropriação ao débito, dar ciência ao sujeito passivo e solidários. Outrossim, observo no processo que consta despacho da autoridade administrativa integrante da Equipe de Orientação e Recuperação de Créditos no qual atesta que "Citadas por Edital, afixado em 13/04/2009 e desafixado em 29/04/2009, por se encontrarem em local incerto e não sabido, as Solidárias não se Manifestaram. Sugerimos o encaminhamento dos autos à 2.ª Seção do C.A.R.F.". Pelo edital (efl. 970) foram notificados o sujeito passivo LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e os solidários FRIGORÍFICO JALES LTDA, APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA, FRIGORÍFICO 3J LTDA. É o que importa relatar. Passo a devida fundamentação analisando, primeiramente, o juízo de admissibilidade e, se superado este, o juízo de mérito para, posteriormente, finalizar com o dispositivo. Voto Conselheiro Leonam Rocha de Medeiros, Relator Admissibilidade O Recurso Voluntário atende aos pressupostos de admissibilidade intrínsecos, uma vez que é cabível, há interesse recursal, a recorrente detém legitimidade e inexiste fato impeditivo, modificativo ou extintivo do poder de recorrer. Outrossim, atende aos pressupostos de admissibilidade extrínsecos, pois há regularidade formal, havendo impugnação específica em relação ao conteúdo decisório, bem como foi formulado o pedido de nulidade e, sucessivamente, o de reforma da decisão vergastada e se encontra adequada a representação processual, por fim, apresentase tempestivo (notificação por via postal do solidário recorrente em 06/04/2009, efl. 963, e protocolo recursal em 06/05/2009, efl. 973, além do despacho de encaminhamento, efl. 984), tendo respeitado o trintídio legal, na forma exigida no art. 33 do Decreto n.º 70.235, de 1972, que dispõe sobre o processo administrativo fiscal. Ademais, inexiste necessidade de preparo, sendo inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para Fl. 1012DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1013 26 admissibilidade de recurso administrativo (Súmula Vinculante n.º 21, do STF), demais disto a interposição do recurso voluntário resulta na automática suspensão da exigibilidade do crédito tributário, na forma do art. 151, III, do Código Tributário Nacional ― CTN, e estes efeitos se propagam até que se tenha uma decisão administrativa final irrecorrível. Apreciação de questões prévias a análise do mérito Requerimento para intimação específica para sustentação oral O recorrente requer que a recorrente seja intimada com o fim de exercer sua prerrogativa de sustentar oralmente suas razões, perante este Conselho. Pois bem. Nas turmas ordinárias do CARF, a sustentação oral, por causídico, é realizada especialmente nos termos do inciso II do art. 58, do Anexo II, do Regimento Interno do CARF (RICARF), sem prejuízo de ora ser citados os arts. 59, §§ 3.º e 4.º, e 65, § 8.º, do mesmo Anexo II, do RICARF. Basicamente, a sustentação oral, nas turmas ordinárias, ocorre sem muitas formalidades, sendo o requerimento preenchido no dia da sessão, de forma presencial, minutos antes do julgamento. Não há intimação específica e pessoal, ou via diário oficial da União, para compelir a parte a comparecer para fins de sustentação oral. A intimação do recorrente é para fins de comunicar o dia do julgamento, a fim de que possa acompanhar e, se desejar, participar sustentando oralmente. A intimação é para ter ciência da pauta da reunião de julgamento, na forma dos §§ 1.º e 2.º do art. 55, do Anexo II, do RICARF. Portanto, a sustentação oral no processo administrativo fiscal é regulamentada conforme disciplinado no Regimento Interno do CARF, não cabendo intimação pessoal e específica ao causídico da causa ou ao representante legal do contribuinte ou do responsável. Intimase para comunicar o dia do julgamento, ocasião em que, ciente, a parte ou seu procurador comparecer e, no ato, se desejar, faz a sustentação. Vejase os seguintes dispositivos do RICARF, verbis: Art. 55. A pauta da reunião indicará: I dia, hora e local de cada sessão de julgamento; II para cada processo: a) o nome do relator; b) o número do processo; e c) os nomes do interessado, do recorrente e do recorrido; (...) § 1.º A pauta será publicada no Diário Oficial da União e divulgada no sítio do CARF na Internet, com, no mínimo, 10 (dez) dias de antecedência. § 2.º Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos, constará da pauta apenas o nome do sujeito passivo cadastrado como principal nos autos do processo. (Redação dada pela Portaria MF n.º 152, de 2016) (...) Art. 58. Anunciado o julgamento de cada recurso, o presidente dará a palavra, sucessivamente: Fl. 1013DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1014 27 I ao relator, para leitura do relatório; II ao recorrente ou ao seu representante legal para, se desejar, fazer sustentação oral por 15 (quinze) minutos, prorrogáveis por, no máximo, 15 (quinze) minutos, a critério do presidente; (...) Art. 59, § 3.º No caso de continuação de julgamento interrompido em sessão anterior, havendo mudança de composição da turma, será lido novamente o relatório, facultado às partes fazer sustentação oral, ainda que já a tenham feito, e tomados todos os votos, ... (Redação dada pela Portaria MF n.º 152, de 2016) § 4.º Será oportunizada nova sustentação oral no caso de retorno de diligência, ainda que já tenha sido realizada antes do envio do processo à origem para realizar a diligência e mesmo que não tenha havido alteração na composição da turma julgadora. (Redação dada pela Portaria MF n.º 152, de 2016) (...) Art. 65, § 8.º Admitese sustentação oral nos termos do art. 58 aos julgamentos de embargos. Por conseguinte, sem razão o recorrente quanto ao pedido para ser intimado com o fim específico de exercer sua prerrogativa de sustentar oralmente suas razões. O direito de sustentar oralmente suas razões lhe é outorgado de per si, porém não há intimação específica para tal fim; a intimação é para comparecer a sessão de julgamento, consoante pauta publicada. Importa anotar que o presente julgamento foi objeto de pauta no diário oficial da União, dandose ciência ao recorrente quanto ao momento do julgamento, ocasião em que, observando a disciplina regimental da sustentação oral, pode exercer e efetuar a sua explanação. Devese seguir o procedimento previsto no Regimento Interno do CARF, não cabendo a intimação pessoal e específica, logo indefiro o pedido de intimação como formulado. Preliminar de nulidade da notificação de cientificação do solidário recorrente e dos atos posteriores incluindo a decisão de primeira instância da DRJ O recorrente sustenta a nulidade da notificação que efetivou sua ciência, bem como dos atos posteriores, inclusive da decisão hostilizada. Argumenta que o instrumento de cientificação não invocou e/ou apresentou quaisquer fundamentos a justificar sua inclusão no grupo econômico, pelo que alega cerceamento de defesa, inexistindo as razões e os argumentos que levaram a Auditoria Fiscal a equivocada conclusão. Sustenta que não se esclareceu quais os tributos cobrados, o período das autuações, a base de cálculo dos lançamentos e as alíquotas utilizadas, o que, por conseguinte, restringiu quaisquer possibilidades de defesa. Diz que não se pode sustentar que a observância da ampla defesa e do contraditório, pois não participou do procedimento de fiscalização, não sendo conhecedor das mazelas contábeis da empresa autuada, não sendo detentora das prerrogativas fiscais de compulsar documentos, encontrandose em situação diversa do sujeito passivo principal que teve amplo acesso a todos os elementos, por isso questiona como se explica tal distinção. Afirma que a vistas dos autos não tem o condão, por si só, de sanear a nulidade do termo de ciência e, consequentemente, dos atos posteriores, inclusive do acórdão da DRJ. Por isso, pelo devido processo legal e isonomia, fazse importante decretar a nulidade. Fl. 1014DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1015 28 Pois bem. Desde logo, afirmo que não observo nulidade na cientificação do recorrente, imputado solidário no lançamento fiscal. Ora, não é nula a notificação de cientificação de empresa considerada integrante de grupo econômico de fato, indicada como responsável solidária pelo cumprimento das obrigações previdenciárias, que comunica a constituição do crédito tributário e informa a identificação do grupo econômico de fato relacionando as empresas, as Notificações Fiscais de Lançamento de Débito NFLD DEBCAD, especialmente, quando ao final, esclarece que é assegurada à empresa do grupo econômico vistas do processo administrativo fiscal, para todos os fins, de acordo com as normas regulamentares, assim como lhe faculta a apresentação de impugnação. A oportunização de acesso ao processo e a possibilidade de apresentação das defesas e recursos cabíveis demonstram que não resta caracterizado a preterição do direito de defesa. Foi acertada a decisão da DRJ que, inclusive, consignou a mesma ratio decidendi aqui ponderada. Como transcrito na decisão de primeira instância e replicado no recurso voluntário: "o termo de cientificação contêm os elementos mínimos necessários para que as empresas solidárias exerçam regularmente seu direito de defesa, dentro das normas previstas pela legislação em vigor. Acrescentese que foi facultada a vista dos autos a todos os interessados, no prazo para impugnação e posterior manifestação, sendo permitida a extração de cópias dos documentos." Vêse que não assiste razão ao recorrente. Aliás, o termo de cientificação diz, na verdade, que: "A 2.ª via dos documentos constitutivos dos créditos, bem como os relatórios e elementos que vinculam a empresa ao grupo econômico foram encaminhados para as respectivas empresas, através dos Registros Postais". Demais disto, o termo de cientificação informa, resumidamente, o fundamento legal para a responsabilização: "Considerando que as empresas integrantes de grupo econômico são responsáveis solidárias entre si pelo cumprimento das obrigações previdenciárias, na forma do art. 30, inciso IX, da Lei n.º 8.212/91". De mais a mais, o acesso facultado ao processo dava livre conhecimento de todas as folhas dos autos, incluindo o Relatório Fiscal (efls. 79/90) e o Relatório de Grupo Econômico (efls. 139/159), além da NFLD (efls. 02/61). O recorrente, no capítulo do mérito do seu recurso, chega a postular vista dos autos, nestes termos: "quando menos, que lhe seja oportunizado toda a argumentação e documentação a embasar a equivocada responsabilidade solidária da Recorrente, reabrindose, por consequência, o prazo para defesa em 1.ª Instância, assim como a posterior juntada de documentos." Ocorre que, como acima mencionado, a vista dos autos e o acesso a todos os seus elementos sempre esteve disponível, competia ao recorrente comparecer a unidade de sua jurisdição, como o fez para protocolar a impugnação e o recurso voluntário, para ter acesso ao caderno processual em sua íntegra. Não observo preterição ao direito de defesa, nos termos do art. 59, II, do Decreto n.º 70.235, de 1972. Não constato qualquer nulidade na notificação de cientificação do solidário ou na decisão de piso. Não verifico violação do devido processo legal ou de isonomia, aliás, a Súmula CARF n.º 46 reza que "o lançamento de ofício pode ser realizado sem prévia intimação ao sujeito passivo, nos casos em que o Fisco dispuser de elementos suficientes à constituição do crédito tributário", de modo que se o lançamento pode ser efetivado sem prévia intimação do próprio sujeito passivo quanto mais do solidário. Noutro prisma, é bom pontuar que o solidário compõe os autos antes mesmo do julgamento da primeira instância e com faculdade de acesso integral aos autos. Fl. 1015DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1016 29 Por último, não há que se falar em nulidade quando a autoridade lançadora indicou expressamente as infrações imputadas ao sujeito passivo, bem como fundamentou detalhadamente os aspectos do grupo econômico, vêse isto no Relatório Fiscal (efls. 79/90) e no específico Relatório de Grupo Econômico (efls. 139/159), além de ter observado todos os requisitos constantes dos arts. 10 e 11 do Decreto n.º 70.235, de 1972, reputadas ausentes as causas previstas no art. 59 do mesmo diploma legal. Sem razão o recorrente neste capítulo. Mérito Quanto ao juízo de mérito, de igual modo, não assiste razão ao recorrente. Passo a expor. Trata o presente caso de lançamento de ofício, decorrente de procedimento administrativofiscal, tendo o procedimento de autuação sido instruído com Relatório Fiscal (efls. 79/90) e Relatório de Grupo Econômico (efls. 139/159), robustecendo o relato das constatações da fiscalização, resultando ao final na expedição da NFLD (efls. 02/61) e na notificação do sujeito passivo e cientificação do recorrente quanto a constituição de crédito tributário. O recorrente, no mérito, alega a inexistência de grupo econômico. Argumenta, en passant, o total desconhecimento dos fatos e condições que levaram a fiscalização a arrolála como componente do indigitado grupo econômico. Diz que a aquisição do parque industrial no qual funcionou o Frigorífico Jales Ltda ocorreu perante o Juízo da 5.ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP, em processo executivo que culminou na expropriação do imóvel situado na Avenida Salustiano Pupim, em favor do ora recorrente, que na época detinha créditos exigíveis contra a empresa Frigorífico Jales Ltda. Afirma que o fato dos sócios da empresa em momento oportuno não terem traduzido a sua efetiva riqueza perante as autoridades fiscais, não permite aos agentes fiscais desconsiderarem uma aquisição judicial que repousa sobre o manto da coisa julgada. Advoga que na ocasião dos eventos nenhuma postura fraudulenta, seja do Juízo ou dos demais credores da empresa concordatária, foi apontada nos autos. Assevera que a aquisição do imóvel, promovida pela ora recorrente perante a Justiça Estadual de São Paulo, nos autos 58.590.399/000198, na época da arrematação, atingiu a quantia de R$ 7.536.812,49 (sete milhões e quinhentos e trinta e seis mil e oitocentos e doze reais e quarenta e nove centavos), a refletir o valor de mercado apurado pelo Juízo na ocasião, em atenção aos trâmites processuais legais. Informa que foi lavrado o Auto de Arrematação, tornando a arrematação perfeita, acabada e irretratável, fazendo cessar quaisquer vínculos do patrimônio em relação às dívidas de terceiros que assumiram o risco da atividade produtiva. Discorre que o negócio jurídico de arrendamento não transfere à Arrendante a responsabilidade tributária do devedor, sendo que pensar o contrário impõe latente descompasso com a legislação Civil e Processual vigente, além de desacatar toda legalidade e boafé que permeou a relação negocial. Afirma que, ao conferir responsabilidade à ora recorrente, é de se vislumbrar clara tentativa de, ao arrepio da lei, por caminhos trilhados à margem da legalidade, impor ao bem expropriado restrições desvinculadas e estranhas à atividade negociai da empresa proprietária, que se propôs a aferir renda por meio de arrendamento do bem, nunca se aventurando ao exercício da atividade de abate de bovinos. Continuando, em atenção à empresa APR Alimentos Ltda, cabe relatar que, ao adquirir o imóvel em Juízo, o bem se encontrava arrendado para Fl. 1016DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1017 30 empresa "APR", sendo que, naquela ocasião, a ora recorrente optou por locar a indústria à dita "APR", que já exercia atividade econômica no local, optando posteriormente, em razão do desinteresse da mencionada empresa, por locar o imóvel, sucessivamente, para as empresas Luan Comércio de Alimentos Ltda, Frigorífico Quatro Marcos Ltda e IFC. Diz ser relevante tencionar que a "Comercial Times" jamais exerceu qualquer ato de gerência ou gestão nas empresas "APR", "LUAN", "QUATRO MARCOS", "IFC", circunscrevendo sua atuação, unicamente, na locação das instalações industriais. Afirma que a Comércio e Representações Times Ltda, ora recorrente, assim como seus sócios, nunca exerceram quaisquer atividades de administração ou gerência nas demais empresas elencadas pela fiscalização no termo de cientificação lavrado. Sustenta, ainda, que o movimento de abate está atrelado à capacidade de abate da unidade industrial, tanto é assim, que é bastante a análise do movimento das demais empresas que sucederam a empresa LUAN na posição contratual de arrendatária para certificarse o dito movimento. Apesar do extenso arrazoado, o recorrente não comprova suas afirmativas, especialmente face aos elementos apontados pela fiscalização no Relatório Fiscal (efls. 79/90) e no específico Relatório de Grupo Econômico (efls. 139/159). Aliás, em que pese dizer que desconhece, por completo, as alegações para seu enquadramento no grupo econômico, apresenta algumas razões adentrando em pontos que, também, foram apontados pela fiscalização. Noutro norte, o recorrente não explica o fato do seu sócio "Luiz Domingos Sobrinho" estar aposentado com baixíssima renda (efls. 153), aparentemente não apresentando lastro econômico para capitalizar a empresa da qual é sócio, tampouco a sócia signatária da defesa faz qualquer abordagem traduzindo sua efetiva expressão de riqueza, considerando que a fiscalização faz apontamentos sobre o assunto. Também, não se explica o motivo de haver passado procuração pública no Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais 3.º Subdistrito Penha de França São Paulo/SP, na qual constituiu o procurador Oscar Hirão Higuti, para a gestão, a partir de 03/09/2002, com amplos, gerais e ilimitados poderes para praticar atos de administração, o qual também administrava de forma ilimitada a empresa Luan Comércio de Alimentos Ltda (sujeito passivo). Entendo, aliás, que não está sendo aplicada qualquer responsabilidade por transferência por conta da aquisição do imóvel, pela recorrente, na arrematação judicial, o que afasta muitos dos argumentos de defesa. A responsabilidade apontada decorre do enquadramento dela no grupo econômico de fato, conforme razões bem postas no Relatório de Grupo Econômico (efls. 139/159). A circunstância envolvendo o imóvel não decorre imediatamente da arrematação, mas de um contexto maior. Em minha análise, os fatos que justificam a aplicação do art. 30, IX, da Lei n.º 8.212, de 1991, estão bem apresentados no Relatório Fiscal (efls. 79/90) e no Relatório de Grupo Econômico (efls. 139/159), especialmente neste último. Pelo fato do Relatório de Grupo Econômico (efls. 139/159) está bem fundamentado, não tendo sido infirmado a contento, passo a adotálo: RELATÓRIO DE GRUPO ECONÔMICO Anexo do Relatório Fiscal da NFLD DEBCAD n. 35.715.0651 I INTRODUÇÃO 1. Em auditoria fiscal desenvolvida simultaneamente nas empresas abaixo, constatamos através de documentos e Fl. 1017DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1018 31 fatos, a seguir relatados, que, em tese, indicam tratarse de um grupo econômico de fato, administrado pelos sócios e familiares da empresa Frigorífico Jales Ltda., detentores do capital envolvido nas transações. A) Frigorífico Jales Ltda., CNPJ 49.683.8731000135; B) Grandes Lagos Comércio de Carnes Ltda., CNPJ 02.960.5251000102 C) APR Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ 04.171.3451000169 D) Luan Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ 04.503.5031000130 E) Frigorífico 3J Ltda., CNPJ 02.314.936/000112 F) Comércio e Representação Times Ltda., CNPJ 58.590.399/000198 II DO CONCEITO DE GRUPO ECONÔMICO 2. Um grupo econômico é definido como o conjunto de empresas que, ainda quando juridicamente independentes entre si, estão interligadas, seja por relações contratuais, seja pelo capital, e cuja propriedade de ativos específicos e principalmente do capital pertence a indivíduos ou instituições que exercem o controle efetivo sobre este conjunto de empresas. Nas palavras do professor Octavio Bueno Magano, "o grupo de empresas deve ser inicialmente caracterizado como fenômeno de concentração, incompatível com o individualismo, mas perfeitamente consentâneo com a sociedade pluralista, a que corresponde o capitalismo moderno. Ao contrário da fusão e da incorporação que constituem a concentração na unidade, o grupo exterioriza a concentração na pluralidade. Particularizase, entre os demais de sua espécie, por ser composto de entidades autônomas, submetido o conjunto à unidade de direção" (In Magano, Otávio Bueno, "Os Grupos de Empresas no Direito do Trabalho", São Paulo, eci. Revista dos Tribunais, 1979, pg. 305). Em continuação, o Prof. Magano dá a definição de grupo de empresas, conforme segue: "Definese o grupo como conjunto ou sociedades juridicamente independentes, submetidas à unidade de direção." III HISTÓRICO DAS EMPRESAS INTEGRANTES 3. As seguintes empresas integram um grupo econômico, conforme fatos e documentos a seguir discriminados: A) FRIGORÍFICO JALES LTDA (...) Quadro Societário: Sócio Manuel Gonzales Outumuro (...), José Luiz Gonzalez Outumuro (...), (...). 5. (...). Em 29/10/1998 foi deferida a CONCORDATA conforme processo n. 000.98.8382979, 2.ª Vara Cível, Fórum Central de São Paulo/SP. Conforme Notas Fiscais de Entrada e Livro de Registro de Entrada de Mercadorias, adquiriu bovinos para abate até 01/12/1999, demonstrado no DOC. 197 [efl. 370]. A partir do dia 02/12/1999, a compra de bovinos para abate passou a ser feita totalmente pela empresa Grandes Lagos Comércio de Carnes Ltda., Fl. 1018DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1019 32 CNPJ 02.960.525/000102. E toda a operacionalização comercial dessa empresa, desde a compra dos bovinos, abate e preparo da carne, vendas e distribuição, eram feitos pela própria empresa Frigorífico Jales Ltda., que tinha toda a estrutura, nome e capital para concretizar os negócios. A empresa Grandes Lagos Comércio de Alimentos Ltda. não possuía nenhum empregado, não tinha capital e seus sócios não tinham experiência nem capacidade financeira para o empreendimento. Tanto é que a empresa, mesmo antes de começar as atividades comerciais, era administrada por procuradores vinculados ao Frigorífico Jales Ltda., conforme está relatado...). 6. A partir de 04/2001, conforme contrato de arrendamento, DOC. 188/191 [efls. 361/364], a unidade frigorífica na cidade de Jales/SP foi arrendada para a empresa APR Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ 04.171,3451000169, com sede em São Paulo, Rua Guaiaúna n. 314 Penha de França, recém criada, e administrada também por procuradores todos vinculados ao Frigorífico Jales Ltda., conforme relatado...). Todos os empregados dessa unidade, cerca de 350, foram transferidos para a unidade CNPJ 04.171.3451000320 da arrendatária. Pelo dados extraídos do Cadastro Nacional de Informações Sociais CNIS, sistema corporativo da Previdência Social, base "Totais de Vínculos e Massa Salarial GFIP", DOC. 013 [efl. 172], está caracterizado essa transferência. No entreposto, não houve admissão a partir de 02/11/2000. Todas as admissões foram feitas pela Filial da APR Comércio de Alimentos Ltda., CNPJ 04.171.345/000240, Que estava estabelecida no mesmo endereço. Pelos DOC. 014/017 [efls. 173/176] fica evidenciado que enquanto o número de vínculos do Frigorífico Jales Ltda. decrescia, o número de vínculos da APR Comércio de Alimentos Ltda. aumentava. E alguns demitidos foram admitidos pela APR, conforme está discriminado no DOC. 018 [efl. 177]. (...) B) FRIGORÍFICO 3J LTDA (...) C) GRANDES LAGOS COMÉRCIO DE CARNES LTDA (...) D) APR COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA (...) 27. Os sócios dessa empresa eram ou foram empregados do Frigorífico Jales Ltda. Conforme dados extraídos do Cadastro Nacional de Informações Sociais — CNIS, sistema comparativo da Previdência Social, DOC. 073/074 [efls. 232/233] e 080/081 [efls. 239/240]. Histórico do Paulo Lúcio Rodriques: 28. Trabalhou no Frigorífico Jales Ltda — CNPJ 49.683.8731000992, admitido em 13/05/1992 e demitido em 04/01/2001. A sua função pelo CBO.39.150 era Balanceiro. Verificase, portanto, que em 28/11/2000, data da constituição da empresa APR Comércio de Alimentos Ltda, o Sr. Paulo Lucio Rodrigues ainda era empregado do Fl. 1019DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1020 33 Frigorífico Jales Ltda, na função de Balanceiro, com um salário de R$ 380,00 por mês, conforme declarado pela empresa em GFIP — Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social (DOC. 075/076) [efls. 234/235]. Constatamos ainda que, mesmo sendo sócio gerente da empresa APR Comércio de Alimentos Ltda., em 05/01/2001 recebeu da sua empresa o crachá n.º 279 para controle de ponto eletrônico. No ponto eletrônico consta que o mesmo foi admitido em 05/01/2001 na função de Assessor Administrativo, conforme DOC. 077/078 [efls. 236/237]. Histórico do Antônio Rodriques Dias: 29. Trabalhou no Frigorífico Jales Ltda — CNPJ 49.683.8731000992, admitido em 24/11/1993 e demitido em 08/08/1997. A sua função pelo CBO 39.390 era Auxiliar de Escritório. Apesar do Sr. Antonio Rodrigues Dias sempre ter trabalhado em funções simples, e receber baixos salários, sendo que em seu último emprego com registro no Frigorífico Jales Ltda recebeu uma média de R$ 505,00, conforme declarado pela empresa na RAIS — Relação Anual de Informações Sociais, DOC. 079 [efl. 238], em 11/2000 o mesmo tornouse SÓCIOGERENTE da empresa APR Comércio de Alimentos Ltda. Histórico do Silas Freire Santana : 30. Trabalhou no Frigorífico Jales Ltda — CNPJ 49.683.8731000135, admitido em 02/05/1994 e demitido em 24/12/2002. A sua função era Lombador. Apesar do Sr. Silas Freire Santana sempre ter trabalhado em funções simples, e receber baixos salários, sendo que no seu emprego no Frigorífico Jales Ltda recebia uma média de R$ 516,70, conforme declarado pela empresa na GFIP, DOC. 082 [e fl. 241], em 01/2003 o mesmo tornouse SÓCIOGERENTE da empresa APR Comércio de Alimentos Ltda. Retirou se da sociedade em 05/2003, e a foi admitido em 17/04/2004 na própria empresa da qual foi dono, DOC. 083 [efl. 242], na função de vendedor, com salário médio de R$ 604,40. Histórico do Ariovaldo Gonçalves: 31. Trabalhou no Frigorífico Jales Ltda — CNPJ 49.683.8731000135, admitido em 01/09/1989 e demitido em 23/08/1999. A sua função era CONFERENTE. Apesar do Sr. Ariovaldo Gonçalves sempre ter trabalhado em funções simples, e receber baixos salários, sendo que no seu emprego no Frigorífico Jales Ltda recebia uma média de R$ 887,50, conforme declarado pela empresa na GFIP, DOC. 084 [efl. 243], em 02/2003 o mesmo tornouse SÓCIO GERENTE da empresa APR Comércio de Alimentos Ltda. Retirouse da sociedade em 05/2003. 32. A empresa sempre foi administrada por procuradores, através de procurações públicas, DOC. 152/157 [efls. 323/329], outorgadas pelos sócios, conforme quadro abaixo. As procurações outorgadas conferem aos procuradores os mais amplos e ilimitados poderes para gerir a empresa. Alguns tiveram algum vínculo com o Frigorífico Jales Ltda.: Quadro de Procuradores: (...) Fl. 1020DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1021 34 34. A Filial CNPJ 04.171.3451000240, conforme consta do Quadro Histórico, foi estabelecida no período de 28/11/2000 a 06/10/2004 na Rua Loanda, s/n, esquina com Rua Ingú, Sala 04, Bairro Guaiaúna, São Paulo/SP. Esse endereço é dentro do prédio onde funcionava o estabelecimento sede do Frigorífico Jales Ltda. Esse estabelecimento passou a ter empregados a partir de 05/2001. A partir de 02/11/2000, não houve mais admissões no Frigorífico Jales. Todas as admissões ocorreram na APR Comércio de Alimentos. Enquanto o quadro de funcionários do Frigorífico Jales diminuía, o da APR Comércio de Alimentos aumentava. Sendo que alguns demitidos do Frigorífico Jales foram admitidos pela APR Comércio de Alimentos. 35. Apesar do capital inicial de R$ 50.000,00 e do histórico de empregos e salários dos sócios, conforme acima demonstrado, no primeiro mês de funcionamento, 04/2001, a empresa já teve um gasto, sem contar com outras despesas como luz, água, telefone, fretes, combustível etc., de R$ 4.974.905,30 (quatro milhões, novecentos e setenta e quatro mil, novecentos e cinco reais e trinta centavos), (...). (...) 36. Somente nos nove primeiros meses de funcionamento, em 2001, comprou R$ 34.106.607,14 (trinta e quatro milhões, cento e seis mil, seiscentos e sete reais e catorze centavos) em gado para abate. 37. As Notas Fiscais Entrada/Saída da empresa APR Comércio de Alimentos Ltda. contém no cabeçalho o símbolo e a logomarca "FRIGOJALES", DOC. 206, 208... [efls. 379, 381...]. Podemos ainda constatar no Quadro de Procuradores que essa empresa foi administrada pelos sócios e empregados do Frigorífico Jales Ltda desde 02/2001, portanto antes mesmo do arrendamento das instalações do frigorífico e antes de iniciar suas atividades de abate. E) LUAN COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA (...) Quadro societário: Sócio Luiz Carlos Schiby Moraes (...). 40. Constatamos que um dos sócios dessa empresa ainda era empregado do Frigorífico Jales Ltda quando da constituição. E que pelo volume das transações comerciais, os sócios sem experiência e sem condições financeiras não teriam condições de suportar o risco econômico do negócio. Histórico do Luiz Carlos Schiby Moraes: 41. Trabalhou no Frigorífico Jales Ltda., em São Paulo, de 01/09/1989 a 26/09/2001, na função de Conferente, DOC. 090 [efl. 249]. Verificase, portanto, que em 06/2001, data da constituição da empresa, o Sr. Luiz Carlos Schiby Moraes ainda era empregado do Frigorífico Jales Ltda. com um salário de R$ 1.036,20 por mês, conforme declarado pela empresa em GFIP, DOC. 091 [efl. 250]. (...) 43. A empresa sempre foi administrada por procuradores, através de procurações públicas, DOC. 166/170 [efls. 338/342], outorgadas pelos sócios, conforme quadro abaixo. Fl. 1021DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1022 35 As procurações outorgadas conferem aos procuradores os mais amplos e ilimitados poderes para gerir a empresa. Alguns tiveram algum vínculo com o Frigorífico Jales Ltda.: Quadro de Procuradores: Histórico dos Procuradores: (...) e) Oscar Hirão Higuti é também é procurador da empresa Comércio e Representações Times Ltda. Dos fatos da sua atividade comercial: 44. A empresa não teve movimento até 09/2001. Sem ter nenhum empregado ligado ao ramo de frigorífico, iniciou suas atividades comerciais em 10/2001, adquirindo logo no primeiro mês de atividade um total de R$ 6.543.284,06 (Seis milhões, quinhentos e quarenta e três mil, duzentos e oitenta e quatro reais e seis centavos) em gado para abate. O abate era feito pela APR Comércio de Alimentos Ltda ., empresa do mesmo grupo, que além do abate, fazia também o preparo da carne. Toda a parte da operacionalização comercial, desde a compra de bovinos até a venda e distribuição da carne, era feita pelos empregados da APR Comércio de Alimentos Ltda. e do Frigorífico Jales Ltda. 43. A matriz da empresa funciona em uma garagem que foi fechada na lateral, tendo somente uma mesa e dois armários onde são guardadas as notas fiscais já contabilizadas. F) COMÉRCIO E REPRESENTAÇÃO TIMES LTDA 44. Conforme Contrato Social e Alterações, DOC. 092/114, a empresa apresenta os seguintes quadros histórico e societário: (...) 46. A empresa não teve nenhum movimento até o exercício de 2001, fato comprovado pelas declarações do Imposto de Renda Pessoa Jurídica. Na alteração do Contrato Social de 18/12/2001, o Capital social foi elevado de R$ 5.000,00 para R$ 200.000,00. Abaixo no quadro está discriminada a evolução do Capital Social e a distribuição por sócio: (...) Histórico da Maria Del Carmen Rodrigues Fernadez: 49. É sócia gerente da empresa desde 10/07/2002, com capital social de R$ 180.000,00. Conforme CNIS Cadastro Nacional de Informações Sociais, DOC. 120 [efl. 279], está cadastrada no INSS como costureira autônoma desde 23/02/1996, inscrição n. 1.171.841.6835. Não consta outros vínculos empregatícios Histórico de Luiz Domingos Sobrinho: 50. É sócio gerente da empresa desde 10/07/2002, com capital social de R$ 20.000,00. Conforme o banco de dados Fl. 1022DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1023 36 Sistema único de Benefícios, DOC. 121 [efl. 280], sistema corporativo da Previdência Social, está aposentado desde 01/05/1987, NB 800707133, com salário de benefício em 04/2005 no valor de R$ 457,77. 51. Constatamos que conforme procurações passadas no Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais 3.º Subdistrito Penha de França São Paulo/SP, a empresa foi administrada pelo procurador abaixo, que tinham amplos, gerais e ilimitados poderes para praticar atos de administração da empresa: Oscar Hirão Higuti, com período de gestão a partir de 03/09/2002, DOC. 175 [efl. 347/348]. Também é procurador com amplos poderes para administrar a empresa Luan Comércio de Alimentos Ltda. DOC. 170 [efl. 342]. Dos fatos da sua atividade comercial: (...) 53. Conforme "Instrumento Particular de Cessão de Direitos e Créditos, Assunção de Obrigação, Reconhecimento e Confissão de Dívida e Outras Avenças" de 02/01/2002, DOC. 176/180 [efls. 349/353], constante do Processo n.º 02.173.1691 da 5.ª Vara Cível da Comarca da Capital São Paulo, DOC. 181/184 [efls. 354/357], a empresa Comércio e Representação Times Ltda adquiriu direitos de créditos da empresa Grandes Lagos Comércio de Carnes Ltda, de Edson César Bofeti, sócio da Grandes Lagos Comércio de Carnes Ltda e de Aparecido de Almeida Lara, sócio do Frigorífico 3J Ltda, sendo que os três haviam adquirido tais direitos de créditos de credores do Frigorífico Jales Ltda a partir da sua concordata em 1998. 54. Apesar do histórico trabalhista de seus atuais sócios e de estar inativa desde sua constituição, a empresa Comércio e Representação Times Ltda adquiriu tais direitos de credito que importavam em R$ 7.900.122,66 (sete milhões, novecentos mil, cento e vinte e dois reais e sessenta e seis centavos) por R$ 5.357.000,00 (cinco milhões, trezentos e cinqüenta e sete mil reais), passando a ser a credora do Frigorífico Jales Ltda a partir de 02/01/2002. 55. A empresa concordatária Frigorífico Jales Ltda agora devedora da Comércio e Representação Times Ltda, não tendo cumprido com os pagamentos acordados, teve seu imóvel industrial localizado na Av. Salustiano Pupim, 90 em Jales/SP penhorado e arrematado pela credora em 17/06/2003 pelo valor equivalente a R$ 7.536.812,49 (sete milhões, quinhentos e trinta e seis mil, oitocentos e doze reais e quarenta e nove centavos), em troca da dívida existente, conforme escritura constante do Cartório de Registro de Imóveis de Jales/SP, matrícula n.º 25.756, DOC. 185/187 [efls. 358/360]. 56. Agora como proprietária do imóvel industrial, a Comércio e Representação Times Ltda arrendou o mesmo para a empresa APR Alimentos Ltda em 31/07/2003, conforme "Instrumento Particular de Contrato de Locação de Unidade Frigorífica" apresentado, (sem reconhecimento de firmas ou carimbos de cartórios), DOC. 192/196 [efls. Fl. 1023DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1024 37 365/369]. Notemos no demonstrativo "QUADRO RESUMO DO TOTAL DE BOVINOS ABATIDOS POR EMPRESA", DOC. 197 [efl. 370], expresso em R$, que não houve qualquer modificação no movimento de abate de bovinos na empresa APR Comércio de Alimentos Ltda. O volume de negócios somados com a empresa Luan Comércio de Alimentos Ltda. ficou estável na mudança de proprietário do imóvel. 57. Foi elaborado uma planilha intitulada "Discriminativo dos vínculos dos sócios e procuradores do grupo", DOC. 198/200 [efls. 371/373], onde constam discriminados todas as pessoas, sócio e procurador, que tem vínculo com o grupo econômico,. Também foi elaborada uma planilha intitulada "Relação dos endereços dos sócios e procuradores do grupo econômico", DOC. 201/202 [efls. 374/375], onde constam os endereços residenciais dos sócios e procuradores, de acordo com o banco de dados da Previdência Social (...) VI) DO CONTADOR: 90. Constatamos que o Sr. José Vitório Magro CRC 97.499 — SP, residente na Rua Atuai, 142, Apto 71B Vila Esperança — São Paulo é o contador responsável da empresa Frigorífico Jales Ltda., desde 01/09/1989, e também é contador responsável das empresas: a) Frigorífico 3J Ltda.; b) Grandes Lagos Comércio de Carnes Ltda.; c) APR Comércio de Alimentos Ltda.; d) Luan Comércio de Alimentos Ltda.; e) Comércio e Representação Times Ltda. até 2001; Trabalhou registrado como contador do Frigorífico Jales Ltda de 01/09/1989 a 03/11/1998, passando depois a prestar serviços como contador exclusivamente para as empresas acima citadas. Foi procurador da empresa APR Comércio de Alimentos Ltda a partir de 03/07/2001. (...) 91. O Sr. Amadeu Ribeiro Figueiredo, (...), é contador responsável, a partir de 01/2002, da empresa Comércio e Representação Times Ltda. Também é contador responsável da empresa Transportadora JL Ltda., CNPJ 03.307.7561000176, que tem como sócios José Manuel Iglesias Outumuro e José Luis Iglesias Outumuro que são filhos do Sr. Manuel Gonzalez Outumuro; e prestam serviços de transportes exclusivamente para as empresas do grupo. 91.1 Assina como testemunha na alteração contratual de 08/12/2003 da empresa Grandes Lagos Comércio de Carnes Ltda., e da própria empresa Comércio e Representação Times Ltda. (...) IX CONCLUSAO 95. Pelos fatos relatados e documentos anexados, as empresas Frigorífico 3J Ltda, Grandes Lagos Comércio de Carnes Ltda., APR Comércio de Alimentos Ltda., Luan Comércio de Carnes Ltda e Comércio e Representação Times Ltda. foram constituídas sempre com o objeto voltado Fl. 1024DF CARF MF Processo nº 18108.000372/200788 Acórdão n.º 2202005.060 S2C2T2 Fl. 1025 38 ao ramo comercial de frigoríficos, com preparo da carne e subproduto para fins de comércio atacadista e exportação. O mesmo objeto da empresa Frigorífico Jales Ltda. O quadro societário, na maioria das vezes, composto por pessoas que foram empregados do Frigorífico Jales Ltda., de funções simples, que não tinham capacidade financeira e nem experiência nas atividades para as quais a empresa foi criada. Em nenhum momento participaram da administração, pois sempre foi administrada por procuradores, sempre com algum vínculo com a empresa Frigorífico Jales Ltda. Ficou comprovado que existia, entre elas, um estreito relacionamento e uma verdadeira confusão patrimonial, caracterizado por pagamento de contas ou empréstimo. A empresa APR Comércio de Alimentos Ltda. pagou as contas que era da empresa Luan Comércio de Alimentos Ltda. e LUAN pagou contas que era da APR, e assim por diante, conforme DOC. 486/536 [efls. 745/795]. A operacionalização comercial das empresas sempre esteve sob comando dos sócios do Frigorífico Jales Ltda. ou de pessoas da família dos sócios, como vimos nas passagens aéreas e depósitos bancários. Diante de tudo isso, concluímos que se trata de um grupo econômico de fato, com administração única, exercida pelos sócios e família do Frigorífico Jales Ltda. Vêse que a fiscalização delimitou com bastante cuidado toda a situação fática, não tendo o recorrente infirmado o relatório com elementos capazes de desconstitui lo, desta forma não vejo motivos para reformar a decisão de piso que entendeu procedente o lançamento e o reconhecimento do grupo econômico de fato. Não há motivos que justifiquem a reforma da decisão proferida pela primeira instância, dentro do controle de legalidade que foi efetivado conforme matéria devolvida para apreciação, deste modo, considerando o até aqui esposado e não observando desconformidade com a lei, nada há que se reparar no julgamento efetivado pelo juízo de piso. Neste sentido, de livre convicção, relatado, analisado e por mais o que dos autos constam, nego provimento ao Recurso Voluntário, mantendo íntegra a decisão recorrida. Dispositivo Ante o exposto, conheço do recurso voluntário e, no mérito, NEGOLHE PROVIMENTO. É como Voto. (assinado digitalmente) Leonam Rocha de Medeiros Relator Fl. 1025DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13896.909356/2016-91
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 26 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Apr 03 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 01/04/2011 a 30/04/2011
MULTA DE MORA. APROVEITAMENTO DE PAGAMENTO DE REGIMES TRIBUTÁRIOS DIFERENTES.
O aproveitamento de pagamento de mesmo tributo ou contribuição e mesmo período de apuração não enseja a cobrança de multa de mora, e não se revela como procedimento de compensação.
Numero da decisão: 3201-005.001
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário, vencido o conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira, que lhe negou provimento.
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisario, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior.
Nome do relator: CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA
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MULTA DE MORA. PAGAMENTOS DE MESMO TRIBUTO E PERÍODO DE APURAÇÃO. Recorrente MANAGER ONLINE SERVIÇOS DE INTERNET LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/04/2011 a 30/04/2011 MULTA DE MORA. APROVEITAMENTO DE PAGAMENTO DE REGIMES TRIBUTÁRIOS DIFERENTES. O aproveitamento de pagamento de mesmo tributo ou contribuição e mesmo período de apuração não enseja a cobrança de multa de mora, e não se revela como procedimento de compensação. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário, vencido o conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira, que lhe negou provimento. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisario, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior. Relatório O interessado acima identificado recorre a este Conselho de decisão proferida pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Porto Alegre/RS. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 89 6. 90 93 56 /2 01 6- 91 Fl. 116DF CARF MF Processo nº 13896.909356/201691 Acórdão n.º 3201005.001 S3C2T1 Fl. 3 2 Trata o presente processo de manifestação de inconformidade apresentada contra despacho decisório eletrônico emitido pela DRF Barueri, que deferiu parcialmente o pedido de restituição – PER apresentado pelo contribuinte. Cientificado do referido despacho, o contribuinte apresentou manifestação de inconformidade informando que apura o PIS e a Cofins pelo regime misto, ou seja, possui parcela de suas receitas sujeitas ao regime cumulativo (maior parte) e parcela sujeita ao regime nãocumulativo. Diz ter, equivocadamente, pago parte do que seria enquadrável no regime cumulativo como se fosse do nãocumulativo. Ao constatar tal equívoco, formulou seu pedido de restituição do saldo existente desse crédito, tendo em vista que já havia transmitido compensação utilizando parte desse mesmo crédito. Apesar de ter transmitido a DCOMP após a data de vencimento da contribuição que estava sendo quitada, esclarece que deixou de incluir na discriminação dos débitos compensados qualquer valor a título de multa de mora (Processo de Consulta nº 166/2007). Acredita que a razão do indeferimento de parte do crédito pleiteado por meio do presente PER reside no fato de que o Despacho Decisório, que homologou parcialmente o PER/DCOMP, impôs a obrigação do recolhimento da multa moratória de 20 % quando da análise da compensação, o que resultou num valor menor a lhe ser restituído, ao passo que o seu entendimento foi de que "não poderia se incluir qualquer valor a título de multa moratória na composição do seu débito". A DRJ/Porto Alegre/RS, por intermédio do Acórdão 10061.638, julgou improcedente a manifestação de inconformidade, não reconhecendo o direito creditório em tela. O litígio restringiuse à aplicação dos acréscimos legais pelo fato de a compensação ter sido efetuada em data posterior à do vencimento do débito. Os julgadores a quo entenderam acertada a incidência da multa moratória, a despeito de se tratar de erro no tocante à apuração da contribuição pelo regime da nãocumulatividade, quando o correto seria pela cumulatividade. Inconformado, o contribuinte apresentou recurso voluntário visando a reforma da decisão recorrida, para que lhe seja reconhecido o direito creditório. Em síntese, aduz: A necessidade de se observar e atender ao disposto na Solução de Consulta nº 166/07; A ilegalidade na alteração do PER/DCOMP de ofício pela fiscalização e a necessidade da lavratura de auto de infração específico; A aplicação do art. 138 do CTN (denúncia espontânea), que impossibilita a imposição de multa. Roga ao final: (i) Seja declarada a inexigibilidade da multa moratória cobrada sobre o montante dos débitos compensado, com o consequente deferimento integral da restituição pleiteada; Fl. 117DF CARF MF Processo nº 13896.909356/201691 Acórdão n.º 3201005.001 S3C2T1 Fl. 4 3 (ii) Subsidiariamente, seja reconhecida a ilegalidade da imputação da multa de ofício pela fiscalização e a necessidade da lavratura de auto de infração específico para sua exigência e/ou o reconhecimento do benefício da denúncia espontânea. É o relatório. Voto Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3201004.953, de 26/02/2019, proferido no julgamento do processo 13896.900136/201782, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3201004.953): (...)1 "O aproveitamento de pagamentos de mesmo tributo e mesmo período, em casos de mudança de regime de tributação, prescinde de Declaração de Compensação. Somente seria necessária Declaração de Compensação em casos de compensação do mesmo tributo em períodos diferentes, ou tributos diferentes. Embora a recorrente tenha utilizado a formalidade equivocada, Declaração de Compensação, materialmente tratase de aproveitamento de mesmo tributo, e mesmo período, do que se aplica a ratio decidendi da Súmula Carf 76: Súmula CARF nº 76 Na determinação dos valores a serem lançados de ofício para cada tributo, após a exclusão do Simples, devem ser deduzidos eventuais recolhimentos da mesma natureza efetuados nessa sistemática, observandose os percentuais previstos em lei sobre o montante pago de forma unificada. (Vinculante, conforme Portaria MF nº 277, de 07/06/2018, DOU de 08/06/2018). Portanto, os recolhimentos em regimes tributários diferentes devem ser aproveitados, sem necessidade de Declaração de Compensação. Bastaria, no caso, uma retificação de Darf (Redarf), corrigindo o código de arrecadação. A retificação do código de arrecadação seria permitida, sem ofensa ao art. 11, V, da IN 672/20062, posto que a mudança de regime não ofendeu a legislação, isto é, não houve acusação fiscal de que o regime de tributação pretendido fosse indevido. 1 Não se transcreveu o voto vencido, do relator do processo paradigma, por manifestar entendimento que restou vencido na votação, não se aplicando, portanto, na solução do litígio deste processo. Entretanto, sua íntegra consta do acórdão do paradigma (3201004.953). 2 Art. 11. Serão indeferidos os pedidos de retificação que versem sobre: (...) V alteração de código de receita que corresponda à mudança no regime de tributação do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, quando contrariar o disposto na legislação específica; Fl. 118DF CARF MF Processo nº 13896.909356/201691 Acórdão n.º 3201005.001 S3C2T1 Fl. 5 4 Desse modo, não é aplicável, para cálculo de mora, a data de transmissão da Declaração de Compensação, pois não é o caso de compensação. Tendo sido o pagamento tempestivo, ainda que com regime de tributação equivocado, não cabe a multa de mora. Pelo exposto, voto por dar provimento ao recurso." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o colegiado deu provimento recurso voluntário. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 119DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10850.003243/2007-27
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon Jan 28 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Mar 28 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 01/12/2002 a 31/12/2002
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3.º, §1.º DA LEI 9.718/98. MATÉRIA RECONHECIDA NO RE 357.0509 EM REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA. ANÁLISE DE MÉRITO. ANULAÇÃO DA DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA.
A inconstitucionalidade do art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98, que alargou o conceito de faturamento para a base de cálculo do PIS e COFINS, foi reconhecida pelo STF no julgamento dos RE nº 585.235, na sistemática da repercussão geral (leading cases os Res nºs 357.9509/ RS, 390.8405/ MG, 358.2739/ RS e 346.0846/ PR) e deve ser aplicada, de forma que as receitas não operacionais da Contribuinte não integram a base de cálculo da contribuição, pois não são receitas e não integram o conceito legal, aplicável e vigente de faturamento.
Por ter aplicação obrigatória, o mérito deve ser analisado no presente processo administrativo fiscal.
EQUIVALÊNCIA DA COMPENSAÇÃO INDEVIDA À PAGAMENTO INDEVIDO PARA FINS DE COMPENSAÇÃO/RESTITUIÇÃO.
A extinção, por compensação, quando em valor maior que o devido, também pode ser restituído/compensado, para evitar o enriquecimento ilícito da União. A própria Receita Federal admite a situação, como se vê no Parecer Cosit 12/2007.
O mérito deve ser analisado no presente processo administrativo fiscal.
Numero da decisão: 3201-004.875
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento parcial ao Recurso Voluntário, para que, ultrapassadas as questões decididas no voto, aprecie o mérito do litígio. Vencido o conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira, que lhe negou provimento.
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Laercio Cruz Uliana Junior e Charles Mayer de Castro Souza (Presidente).
Nome do relator: CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Período de apuração: 01/12/2002 a 31/12/2002 INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3.º, §1.º DA LEI 9.718/98. MATÉRIA RECONHECIDA NO RE 357.0509 EM REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA. ANÁLISE DE MÉRITO. ANULAÇÃO DA DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. A inconstitucionalidade do art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98, que alargou o conceito de faturamento para a base de cálculo do PIS e COFINS, foi reconhecida pelo STF no julgamento dos RE nº 585.235, na sistemática da repercussão geral (leading cases os Res nºs 357.9509/ RS, 390.8405/ MG, 358.2739/ RS e 346.0846/ PR) e deve ser aplicada, de forma que as receitas não operacionais da Contribuinte não integram a base de cálculo da contribuição, pois não são receitas e não integram o conceito legal, aplicável e vigente de faturamento. Por ter aplicação obrigatória, o mérito deve ser analisado no presente processo administrativo fiscal. EQUIVALÊNCIA DA COMPENSAÇÃO INDEVIDA À PAGAMENTO INDEVIDO PARA FINS DE COMPENSAÇÃO/RESTITUIÇÃO. A extinção, por compensação, quando em valor maior que o devido, também pode ser restituído/compensado, para evitar o enriquecimento ilícito da União. A própria Receita Federal admite a situação, como se vê no Parecer Cosit 12/2007. O mérito deve ser analisado no presente processo administrativo fiscal.
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CONTRIBUIÇÕES. ALARGAMENTO DA BASE DE CÁLCULO. Recorrente PARÁ AUTOMÓVEIS LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/12/2002 a 31/12/2002 INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3.º, §1.º DA LEI 9.718/98. MATÉRIA RECONHECIDA NO RE 357.0509 EM REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA. ANÁLISE DE MÉRITO. ANULAÇÃO DA DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. A inconstitucionalidade do art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98, que alargou o conceito de faturamento para a base de cálculo do PIS e COFINS, foi reconhecida pelo STF no julgamento dos RE nº 585.235, na sistemática da repercussão geral (leading cases os Res nºs 357.9509/ RS, 390.8405/ MG, 358.2739/ RS e 346.0846/ PR) e deve ser aplicada, de forma que as receitas não operacionais da Contribuinte não integram a base de cálculo da contribuição, pois não são receitas e não integram o conceito legal, aplicável e vigente de faturamento. 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AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 85 0. 00 32 43 /2 00 7- 27 Fl. 323DF CARF MF Processo nº 10850.003243/200727 Acórdão n.º 3201004.875 S3C2T1 Fl. 3 2 (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Laercio Cruz Uliana Junior e Charles Mayer de Castro Souza (Presidente). Relatório Tratase de Recurso Voluntário em face da decisão de primeira instância proferida no âmbito da DRJ/SP, que manteve o Despacho Decisório da DRF/São José do Rio Preto e, consequentemente, não reconheceu o crédito de pleiteado. O processo teve início com pedido de restituição de Cofins, vinculado a compensação. Segundo informado pelo contribuinte, o direito creditório decorre de pagamento efetuado a maior, mediante compensação efetuada anteriormente, que se mostrou indevida em razão de o STF ter julgado inconstitucional a cobrança da contribuição sobre receitas que não se enquadram no conceito de faturamento. A Manifestação de Inconformidade apresentada foi julgada improcedente pela DRJ/SP, nos termos do Acórdão 14054.898, que possui a seguinte ementa: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/12/2002 a 31/12/2002 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. IMPOSSIBILIDADE. Não existe a possibilidade jurídica do pedido de restituição de compensação indevida. COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA. LIQUIDEZ E CERTEZA. Apenas os créditos líquidos e certos são passíveis de restituição/compensação tributária, conforme artigo 170 do Código Tributário Nacional. Cientificada da decisão acima, o contribuinte apresentou Recurso Voluntário alegando, em síntese, ser perfeitamente possível a restituição de débitos extintos pela via da compensação (compensação tratada no processo 13804.000953/200153, devidamente homologada), e que apresentou documentos (planilha e balancete) que comprovam os valores indevidamente compensados em razão da inconstitucionalidade do § 1º, do art. 3º da Lei 9.718/1998. É o relatório. Fl. 324DF CARF MF Processo nº 10850.003243/200727 Acórdão n.º 3201004.875 S3C2T1 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3201004.871, de 28/01/2019, proferido no julgamento do processo 10850.003238/200714, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3201004.871): "Conforme o Direito Tributário, a legislação, os fatos, as provas, documentos e petições apresentados aos autos deste procedimento administrativo e, no exercício dos trabalhos e atribuições profissionais concedidas aos Conselheiros, conforme Portaria de condução e Regimento Interno, apresentase este voto. Logo, por conter matéria preventa desta 3.ª Seção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais conforme Regimento Interno deste Conselho e presentes os requisitos de admissibilidade, o tempestivo Recurso Voluntário deve ser conhecido. A decisão de primeira instância manteve o entendimento do Despacho Decisório que negou a possibilidade de aplicação da declaração de inconstitucionalidade do alargamento da base de cálculo do PIS e da COFINS estabelecida no art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98. A inconstitucionalidade do art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98, que alargou o conceito de faturamento para a base de cálculo do PIS e COFINS, foi reconhecida pelo STF no julgamento dos RE nº 585.235, na sistemática da repercussão geral (leading cases os Res nºs 357.9509/ RS, 390.8405/ MG, 358.2739/ RS e 346.0846/ PR) e deve ser aplicada, de forma que as receitas não operacionais da Contribuinte não integram a base de cálculo da contribuição, pois não são receitas e não integram o conceito legal, aplicável e vigente de faturamento. Sobre o tema, é importante registrar que é obrigatório a este Conselho a aplicação de decisão do STF em sede de repercussão geral ("faturamento corresponde à receita das vendas de mercadorias, de serviços ou de mercadoria e serviços" vejam julgamentos dos Recursos Extraordinários 346.084, DJ 01/09/2006 Rel p/ acórdão Min. Marco Aurélio, 357.950, 358.273 e 390.840 todos DJ 15.08.06 Rel. Min. Marco Aurélio), conforme Art. 62 A, de nosso regimento interno. Desta forma, "faturamento" tem conceito definido pelo STF e, no caso em concreto, "receitas" não operacionais não são receitas ligadas ao faturamento advindo da prestação de serviços ou venda de bens, conforme definido no STF. O segundo entendimento do despacho decisório, mantido em primeira instância e que deve ser enfrentado, tratou da não equivalência da compensação indevida ao pagamento indevido. Contudo, diversos precedentes deste conselho registraram o entendimento de que a extinção, por compensação, quando em valor maior que o devido, também pode ser restituído/compensado, para evitar o enriquecimento ilícito da União. Fl. 325DF CARF MF Processo nº 10850.003243/200727 Acórdão n.º 3201004.875 S3C2T1 Fl. 5 4 A própria Receita Federal admite a situação, como se vê no Parecer Cosit 12/2007, exposto parcialmente a seguir: "20. Na linha do PN Cosit nº 8, de 2014 (item 35, já citado), extinto o crédito tributário não há mais falar em revisão de ofício de lançamento, sendo necessária a formalização de pedido de restituição em caso de haver erro de fato no lançamento. O pagamento ou a compensação do objeto da prestação pelo sujeito passivo representa a sua concordância com o seu dever jurídico, ou seja, com a existência da relação jurídica obrigacional entre ele e o sujeito ativo (Estado), bem assim com o lançamento realizado, responsável pela quantificação do objeto da relação. Tais atos ensejam a extinção da relação obrigacional e, por consequência, incabível, em princípio, revisão de ofício do lançamento. 21. Todavia, a incorporação ao patrimônio pelo sujeito ativo de valor a que não fazia jus como portador do direito subjetivo de sua percepção, ou seja, de tributo indevido, representaria uma violação ao princípio que veda o locupletamento sem causa, e permite nascer uma nova relação obrigacional, mas agora com os pólos invertidos Em vista disso, o legislador introduziu no CTN o art. 165, que autoriza a restituição da importância paga indevidamente pelo sujeito passivo. Nesse sentido, posicionamento de Luciano Amaro : O direito à restituição do indébito encontra fundamento no princípio que veda o locupletamento sem causa, à semelhança do que ocorre no direito privado. 22. Este pagamento de tributo indevido pode ter advindo de ato espontâneo do sujeito passivo, que recolheu valor superior ao objeto da relação obrigacional devido, ou de pagamento/compensação exatamente no montante do tributo lançado (cobrado), mas cuja quantificação foi feita de forma irregular. É o que se depreende dos incisos I e II do art. 165 do CTN: Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos: I cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; II erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao pagamento; 23. A hipótese de interesse do estudo aqui efetuado é a do pagamento indevido de tributo em virtude de erro na quantificação do crédito tributário, ou seja, de erro no lançamento. 24. Logo, a formalização de pedido de restituição, desde que no prazo de cinco anos estabelecido no art. 168 do CTN, com interpretação dada pelo art. 3º da Lei Complementar nº 118, de 09 de fevereiro de 2005, é o caminho legal para que o sujeito passivo possa demonstrar a existência de erro no lançamento após a extinção do crédito tributário: CTN Art. 168. O direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: I nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do crédito tributário; Fl. 326DF CARF MF Processo nº 10850.003243/200727 Acórdão n.º 3201004.875 S3C2T1 Fl. 6 5 LC nº 118, de 09/02/2005 Art. 3º Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, no momento do pagamento antecipado de que trata o § 1o do art. 150 da referida Lei. 25. Uma revisão do débito (e não do lançamento) decorrerá de provocação do contribuinte. Caso a postulação seja apenas para fins de cancelamento de um débito já quitado, sem expressamente requerer a restituição do valor pago, ainda assim deve ser aplicada a analogia para fazer incidir o art. 168 do CTN para se promover a revisão do débito e seu cancelamento, na linha do item 36 do PN Cosit nº 8, de 2014 (já transcrito), e os valores antes alocados ao débito cancelado poderão, a partir daí, ser utilizados pelo sujeito passivo ‒ quer seja para pleitear restituição ou para quitar outros débitos, p.ex., por meio de declaração de compensação, ou mesmo compensação de ofício ‒, atentandose que o prazo que alude o art. 168 do CTN remete, no caso, à data da extinção do crédito tributário, ou seja, do pagamento indevido (e não da data do cancelamento do débito). 26. Não foi estabelecida pelo CTN a necessidade de prévia alteração do lançamento efetuado de forma irregular para que o sujeito passivo possa pleitear e ter deferida a devolução do valor pago a maior ou indevidamente, ainda que seja necessária a utilização do elemento quantitativo ali contido para aferição dos cálculos e fins operacionais. Conclusão 27. Com base no exposto, concluise que depois de extinto o crédito tributário lançado de ofício ou confessado, seja por meio de pagamento ou por meio de compensação, não há que se cogitar em revisão de ofício do lançamento (ressalvados os casos de inexatidões e erros materiais, erros de cálculo) ou da declaração (seja a de obrigação acessória como a DCTF, seja a de compensação), mas sim a análise de pedido de restituição formulado nos termos dos arts. 165 e 168 do CTN." Diante do exposto, votase pelo PROVIMENTO PARCIAL ao Recurso Voluntário, para que, ultrapassadas as questões decididas no voto, o fisco aprecie o mérito do litígio." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o colegiado rejeitou deu PROVIMENTO PARCIAL ao Recurso Voluntário para que, ultrapassadas as questões decididas no voto, o fisco aprecie o mérito do litígio. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 327DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16004.720383/2013-69
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jan 29 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Mar 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/01/2009 a 31/12/2009
ALEGAÇÃO DE NULIDADE POR SUPOSTA PRETERIÇÃO DO DIREITO DE DEFESA.
É descabida a alegação de nulidade por suposta preterição do direito de defesa, focalizando Auto de Infração devidamente motivado, com a indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos pertinentes ao caso.
IPI. VALOR TRIBUTÁVEL MÍNIMO. ARBITRAMENTO. PREÇO PARÂMETRO
A recorrente industrializava e vendia, no atacado, para a sua controladora, produtos sem a marca comercial - esta última apunha as marcas e os revendia para outras atacadistas. Isto é, participavam da mesma cadeia produtiva, porém em etapas distintas, com estruturas próprias e distintas de custos industriais e administrativos. E, naturalmente, suas vendas não eram realizadas no mesmo mercado.
Assim sendo, reputo que a fiscalização não aplicou corretamente o disposto no §1° do art. 138 do RIPI/02, pois não apurou o "preço médio do mercado nacional" da recorrente, tendo, por outro lado, adotado o preço médio da controladora, que operava em mercado absolutamente distinto. Por conseguinte, deve ser cancelado o crédito tributário de IPI.
CLASSIFICAÇÃO FISCAL DE PRODUTOS. ERRO. LANÇAMENTO INSUFICIENTE DO IPI NAS NOTAS FISCAIS.
Os produtos gel fixador e gel desodorante fixador para cabelo classificam-se no código 3305.9000 da TIPI/2002, tributado com alíquota de 22%.
CONDUTA DELITIVA. QUALIFICAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA SOLIDÁRIA
Não foi adotada qualquer conduta dolosa ou fraudulenta, porém tão simplesmente reorganização lícita de negócios e prática de preços compatíveis com os dos mercados em que atuavam.
Assim sendo, deve ser desqualificada a multa de ofício incidente sobre as diferenças entre o VTM, calculado com base no inciso I do art. 136 do RIPI/92, e os preços efetivamente praticados, bem como sobre as diferenças de IPI decorrentes de erro na classificação fiscal.
Pelo mesmo motivo, devem ser afastadas as atribuições de responsabilidade tributária solidária à controladora, capitulada no inciso I do art. 124 do CTN, e aos diretores da recorrente e da controladora, fundamentada no inciso III do art. 135 do CTN.
Numero da decisão: 3301-005.610
Decisão:
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, ser a competência do julgamento da Terceira Seção do CARF, vencidos os Conselheiros Liziane Angelotti Meira (Relatora) e Valcir Gassen. No mérito, acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, dar parcial provimento para afastar a) a exigência referente aos valores arbitrados, b) a solidariedade da Hypermarcas, e das pessoas físicas e c) afastar a multa qualificada reduzindo a penalidade ao patamar de 75%. Vencidos os Conselheiros Salvador Cândido Brandão Junior e a Conselheira Semírames de Oliveira Duro que também afastaram a reclassificação fiscal do produto gel para cabelo e a Conselheira Liziane Angelotti Meira (Relatora) que negou provimento integralmente ao recurso. Designado para o voto vencedor o Conselheiro Marcelo Costa Marques D´Oliveira
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente
(assinado digitalmente)
Liziane Angelotti Meira - Relatora
(assinado digitalmente)
Marcelo Costa Marques d'Oliveira - Redator do Voto Vencedor
Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D' Oliveira, Ari Vendramini, Salvador Cândido Brandão Junior, Marco Antônio Marinho Nunes, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Winderley Morais Pereira (Presidente).
Nome do relator: LIZIANE ANGELOTTI MEIRA
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É descabida a alegação de nulidade por suposta preterição do direito de defesa, focalizando Auto de Infração devidamente motivado, com a indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos pertinentes ao caso. IPI. VALOR TRIBUTÁVEL MÍNIMO. ARBITRAMENTO. PREÇO PARÂMETRO A recorrente industrializava e vendia, no atacado, para a sua controladora, produtos sem a marca comercial esta última apunha as marcas e os revendia para outras atacadistas. Isto é, participavam da mesma cadeia produtiva, porém em etapas distintas, com estruturas próprias e distintas de custos industriais e administrativos. E, naturalmente, suas vendas não eram realizadas no mesmo mercado. Assim sendo, reputo que a fiscalização não aplicou corretamente o disposto no §1° do art. 138 do RIPI/02, pois não apurou o "preço médio do mercado nacional" da recorrente, tendo, por outro lado, adotado o preço médio da controladora, que operava em mercado absolutamente distinto. Por conseguinte, deve ser cancelado o crédito tributário de IPI. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DE PRODUTOS. ERRO. LANÇAMENTO INSUFICIENTE DO IPI NAS NOTAS FISCAIS. Os produtos “gel fixador” e “gel desodorante fixador” para cabelo classificamse no código 3305.9000 da TIPI/2002, tributado com alíquota de 22%. CONDUTA DELITIVA. QUALIFICAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA SOLIDÁRIA AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 00 4. 72 03 83 /2 01 3- 69 Fl. 4016DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.017 2 Não foi adotada qualquer conduta dolosa ou fraudulenta, porém tão simplesmente reorganização lícita de negócios e prática de preços compatíveis com os dos mercados em que atuavam. Assim sendo, deve ser desqualificada a multa de ofício incidente sobre as diferenças entre o VTM, calculado com base no inciso I do art. 136 do RIPI/92, e os preços efetivamente praticados, bem como sobre as diferenças de IPI decorrentes de erro na classificação fiscal. Pelo mesmo motivo, devem ser afastadas as atribuições de responsabilidade tributária solidária à controladora, capitulada no inciso I do art. 124 do CTN, e aos diretores da recorrente e da controladora, fundamentada no inciso III do art. 135 do CTN. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, ser a competência do julgamento da Terceira Seção do CARF, vencidos os Conselheiros Liziane Angelotti Meira (Relatora) e Valcir Gassen. No mérito, acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, dar parcial provimento para afastar a) a exigência referente aos valores arbitrados, b) a solidariedade da Hypermarcas, e das pessoas físicas e c) afastar a multa qualificada reduzindo a penalidade ao patamar de 75%. Vencidos os Conselheiros Salvador Cândido Brandão Junior e a Conselheira Semírames de Oliveira Duro que também afastaram a reclassificação fiscal do produto gel para cabelo e a Conselheira Liziane Angelotti Meira (Relatora) que negou provimento integralmente ao recurso. Designado para o voto vencedor o Conselheiro Marcelo Costa Marques D´Oliveira (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente (assinado digitalmente) Liziane Angelotti Meira Relatora (assinado digitalmente) Marcelo Costa Marques d'Oliveira Redator do Voto Vencedor Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D' Oliveira, Ari Vendramini, Salvador Cândido Brandão Junior, Marco Antônio Marinho Nunes, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Winderley Morais Pereira (Presidente). Relatório Fl. 4017DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.018 3 Por bem descrever os fatos, adoto o relatório do Acórdão no. 1049.864 3ª Turma da DRJ/POA (fls. 3351/3384): Tratase de auto de infração lavrado em 21/08/2013 pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em São José do Rio Preto/SP (fl. 2.151 e seguintes), em conformidade com o Mandado de Procedimento Fiscal – MPF – nº 08128002012 000259, para exigir Imposto sobre Produtos Industrializados, no valor de R$ 52.262.003,31, acrescido de juros de mora no valor de R$ 18.932.891,10 e multa de ofício de R$ 78.393.005,00, no percentual de 150%, o que totalizou crédito tributário de R$ 149.587.899,41, na data da autuação. O crédito que está sendo exigido neste processo diz respeito ao estabelecimento filial, localizado na cidade de Taboão da Serra/SP. Foi apontado no auto de infração que o estabelecimento industrial promoveu a saída de produtos tributados com inobservância do valor tributável mínimo entre estabelecimentos interdependentes. Fazem parte do auto de infração os demonstrativos do cálculo de juros de mora e multa de ofício, e devida fundamentação legal, bem como o Termo de Descrição dos Fatos IPI (TDF), que a seguir será sintetizado. A empresa Cosmed Indústria de Cosméticos e Medicamentos S/A, doravante designada “Cosmed”, é fabricante de medicamentos alopáticos para uso humano, cosméticos e produtos alimentícios (Código da Atividade Econômica CNAEFiscal n° 2121101), tributada sob a forma do Lucro Real – Anual, e tem por objeto uma vasta gama de produtos e serviços. A origem da empresa decorre das seguintes operações, no âmbito do grupo econômico Hypermarcas: outubro de 2008: Hypermarcas S/A, CNPJ nº 02.932.074/000191, doravante denominada “Hypermarcas”, adquiriu a empresa Niasi Indústria de Cosméticos Ltda., CNPJ 61.082.426/000126, bem como a comercial atacadista a ela vinculada – Aprov Comercio de Cosméticos Ltda., CNPJ 08.098.571/000112. A denominação social de Niasi foi alterada para Hypermed Industrial Ltda. Em dezembro de 2008, Aprov foi incorporada à Hypermarcas. 2009: Foi mudada a denominação social de Hypermed Industrial Ltda. para Cosmed Industrial Ltda. e alterado o estabelecimento matriz para o CNPJ 61.082.426/000207, localizado em Barueri/SP. A seguir a empresa foi transformada em sociedade anônima, passando a denominarse Cosmed Indústria de Cosméticos e Medicamentos S/A . Essa denominação foi alterada em 11/05/2009 para Hypermed Indústria Farmacêutica S.A. e novamente alterada para Cosmed Indústria de Cosméticos e Medicamentos S/A, em 01/06/2009. Na seqüência, em 30 de junho de 2009, houve a cisão parcial da Hypermarcas , com incorporação do acervo cindido pela Cosmed, e, ato contínuo, a Hypermarcas incorporou a totalidade das ações ordinárias da Cosmed, que se tornou sua subsidiária integral. O acervo cindido, incorporado na Cosmed referese aos ativos relativos à fabricação de medicamentos e cosméticos, industrializados nas fábricas situadas nas cidades de São Paulo (estabelecimento oriundo da aquisição, pela Hypermarcas, da empresa FARMASA – Laboratório Americano de Farmacoterapia S/A – CNPJ 61.150.819/000120, em dezembro de 2008) e Barueri (estabelecimento oriundo da aquisição, pela Hypermarcas, da empresa DM Farmacêutica Ltda – CNPJ 67.866.665/000153, em outubro de 2007). Relata o autuante que no 1º semestre de 2009, antes da transferência dos ativos industriais oriundos das empresas adquiridas e incorporadas pela Hypermarcas, a Fl. 4018DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.019 4 Cosmed industrializava os produtos anteriormente produzidos pela Niasi em Taboão da Serra/SP, sendo a quase totalidade das vendas feita à Aprov e à Hypermarcas e uma parte ínfima a terceiros, conforme demonstrativo a fl. 2069. A análise destas transações aponta que os preços praticados nas vendas da Cosmed às referidas empresas ligadas foram significativamente inferiores aos adotados nas vendas para os demais clientes (terceiros), conforme consolidado na planilha de fl. 2070 e seguintes. Referidos preços são também muito inferiores aos preços de revenda dos mesmos produtos praticadaos pela Hypermarcas com seus clientes, o que levou ao entendimento de que teriam sido feitas por valores subfaturados. No 2º semestre de 2009, após a transferência dos complexos industrias oriundos da incorporação da DM Farmacêutica e FARMASA para a Cosmed, a quase totalidade das vendas desta foram feitas à Hypermarcas, igualmente, em valores considerados subfaturados. O item 2 do TDF dá conta de que a autuada foi intimada a apresentar a composição dos preços de seus produtos, e que após reiteradas intimações, apresentou os custos de fabricação dos produtos industrializados pela matriz e filiais, sem informar os custos financeiros, de venda, administração e publicidade, o lucro normal e demais parcelas, individualizados por produto. Tais parcelas foram totalizadas por estabelecimento, enquanto as despesas operacionais, especialmente com propaganda e marketing foram concentradas na Hypermarcas, quando o correto seria a contabilização direta por meio de contabilidade integrada de custos ou indireta, utilizando critério objetivo de rateio. Também foram intimadas as empresas Aprov e Hypermarcas, bem como comerciais atacadistas, com vistas à verificação dos preços praticados em operações com a autuada, sendo realizadas as comparações que constam no TDF. Diante da circunstância de que os estabelecimentos envolvidos pertencem a empresas integrantes do mesmo grupo econômico, a fiscalização considerou que o remetente (interessado neste processo) e o destinatário dos produtos (Hypermarcas) mantêm relação de interdependência, em face do disposto no art. 520 do Decreto no 4.544, de 26 de dezembro de 2002, Regulamento do IPI (RIPI), de 2002 (art. 612 do Decreto no 7.212, de 15 de junho de 2010, Regulamento do IPI (RIPI), de 2010. De acordo com o art. 24 do RIPI/2002, a Cosmed é contribuinte do IPI, por ter industrializado referidos produtos. Não existe no Regulamento previsão de equiparação a industrial, da Hypermarcas. Assim, a tributação do IPI nas operações entre as empresas integrantes do grupo econômico está concentrada na indústria. Segundo o art. 136 do mesmo Regulamento, nas operações entre empresas interdependentes deve ser observado um valor mínimo tributável, o qual não pode ser inferior ao preço corrente no mercado atacadista da praça do remetente quando o produto for destinado a outro estabelecimento do próprio remetente ou a estabelecimento de firma com a qual mantenha relação de interdependência. De acordo com o autuante, a inobservância do valor tributário mínimo também repercutiu no cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, uma vez que os produtos farmacêuticos, de perfumaria, toucador ou higiene pessoal estão sujeitos à incidência concentrada/monofásica. Esse procedimento ainda teria possibilitado o aumento da margem de lucro da adquirente, caracterizando uma Distribuição Disfarçada de Lucro (DDL) da Cosmed para a Hypermarcas, cujos efeitos, em relação ao IRPJ e CSLL teriam sido amenizados mediante a concentração de despesas operacionais na controladora, além da realização de incorporações de companhias, adquiridas com ágio, a ser utilizado para reduzir o pagamento de tributos, o que consistiria em planejamento tributário ilícito. Em decorrência das conclusões desta ação fiscal, foram formalizados autos de infração para exigir os tributos PIS, COFINS, IRPJ, CSLL (processo administrativo 16004720.395/2013 Fl. 4019DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.020 5 93) e IPI (processos administrativos 16004.720383/201369 e 16004.720382/2013 14). Aponta a fiscalização que esse planejamento evidencia a inobservância dos princípios consitucionais da capacidade contributiva, isonomia, neutralidade da tributação em relação à competição e da solidariedade social, além de contrariar a lei, por ter sido praticado com atos ilícitos (abuso de direito) e de forma delituosa (crime contra a ordem tributária), caracterizando verdadeira evasão fiscal. O procedimento adotado pelo grupo empresarial e seus dirigentes teria resultado em modificação das características essenciais do fato gerador, de modo a reduzir o montante dos impostos e contribuições devidas, estando caracterizado o evidente intuito de fraudar a Fazenda Pública Federal, fato suficiente para justificar a exasperação das penalidades impostas, consoante artigos art. 44, II, da Lei nº 9.430 de 1996, e alterações da Lei 11.488/2007, bem como os arts. 71,72 e 73 da Lei 4.502/1964. APURAÇÃO DO IPI DEVIDO PELO ESTABELECIMENTO FILIAL LOCALIZADO EM TABOÃO DA SERRA/SP De acordo com as notas fiscais de venda, no 1º semestre de 2009, período que antecede a transferência dos ativos industriais oriundos das empresas adquiridas e incorporadas pela Hypermarcas DM Farmacêutica e FARMASA, a quase totalidade das vendas da Cosmed foi feita à Aprov e à Hypermarcas, sendo que o preço dos produtos vendidos à Aprov equivale à cerca de 32% do preço que esta pratica nas vendas aos demais clientes (valor de mercado) e à cerca de 30% do preço dos produtos vendidos pela própria Cosmed a terceiros. Ou seja, os preços que esta pratica com terceiros é 324% superior ao transacionado com a Aprov. No 2º semestre de 2009 os complexos industriais oriundos das empresas DM Farmacêutica e FARMASA foram transferidos para a Cosmed, e quase que a totalidade das vendas da Cosmed foi feita à Hypermarcas. Da mesma forma que no semestre anterior, o preço dos produtos vendidos para a empresa ligada Hypermarcas equivale à cerca de 33% do preço que esta pratica no mercado atacadista e à cerca de 30% do preço dos produtos vendidos pela própria Cosmed a terceiros. Portanto, o valor que a Cosmed pratica em relação a terceiros é 329% maior do que o praticado com a Hypermarcas. A autuada foi intimada a detalhar o custo de fabricação dos produtos vendidos para a Aprov e Hypermarcas, porém as informações prestadas não refletiram os valores unitários praticados, nem os valores declarados em DIPJ. Também foi apontado pelo autuante que em relação ao segmento de medicamentos existem um preço mínimo de fábrica (PF – Preço de Fábrica), a ser praticado pelas empresas produtoras e importadoras ou distribuidoras e um Preço Máximo ao Consumidor (PMC), controlados pela Secretaria Executiva da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED. No presente caso, o PF não é o praticado pela Cosmed, mas sim pela Hypermarcas, conforme detalhado a fls. 1967 e amostragem no item 5.14 do TDF. Para fins de apuração do valor tributável mínimo a ser considerado nas operações entre a Cosmed e empresas interdependentes, nos termos do art. 163 do RIPI/2002, foi realizada pesquisa junto ao mercado atacadista da praça remetente (Taboão da Serra e Barueri) com o objetivo de verificar o preço corrente de produtos com as mesmas características e especificidades dos produtos de referência elencados pela fiscalização, conforme detalhado no item 6 do TDF. Tendo em vista que parte Fl. 4020DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.021 6 produtos produzidos pela Cosmed não possuíam similares vendidos pelas atacadistas na praça do remetente, e que também não foi possível tomar como base de cálculo o custo de fabricação acrescido dos demais custos, apresentados pelo contribuinte, em relação a estes, o valor foi arbitrado de acordo com o art. 138 do RIPI/2002. Tendo em vista que os preços praticados pela Hypermarcas e Aprov representavam os preços de mercado, foram considerados como preço médio nos principais mercados nacionais. As alíquotas utilizadas foram as mesmas adotadas pela Cosmed nas notas fiscais de venda, exceto quanto aos produtos “preparações capilares (gel)” classificados pelo contribuinte no código 3307.2090 do Decreto nº 6.006/2006 Tabela de Incidência do IPI – TIPI/2007, então vigente, tributado com alíquota de 7%. Entende a fiscalização que a classificação correta seria no código 3305.9000 – outras preparações capilares, tributado à alíquota de 22%. A diferença entre o IPI apurado pela fiscalização e pelo contribuinte para os períodos de julho a dezembro de 2009 corresponde a R$ 52.262.003,32. APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE PASSIVA SOLIDÁRIA À vista do disposto nos artigos 153 e 154 da Lei 6.404/1976, bem como artigos 1.011 e 1.016 da Lei 10.406/2002 Código Civil Brasileiro, e nos art. 124, inc. I e 135 do CTN, foi imputada responsabilidade solidária tributária à Hypermarcas S.A. e aos senhores Márcio Roberto Marques dos Santos (CPF 189.273.21812), Regina Célia Barros Dias (CPF 522.822.52772), Juarez Ênio Dahmer (CPF 411.004.840 00) diretores da Cosmed – senhores Cláudio Bergamo dos Santos (CPF 101.110.68843), Nelson José de Mello (CPF 130.110.221 00), Martim Prado Mattos (CPF 221.793.32807), Carlos Roberto Scorsi (CPF 030.408.158 22), Alexandre Augusto Olivieri (CPF 157.441.60817) – diretores de Hypermarcas – e Sr. João Alves de Queiroz Filho, CPF 575.794.90820 (Principal acionista e Presidente do Conselho de Administração de Hypermarcas), conforme Termos de Sujeição Passiva que se encontram nos autos. Tendo em vista que o montante do crédito tributário sob responsabilidade do sujeito passivo ultrapassa trinta por cento do Total do Ativo declarado em 31/12/2012, foi formalizado Termo de Arrolamento de Bens e Direitos (processo administrativo 16004.720403/201300), com fundamento nos arts. 64 e 64A da Lei 9.532/1997 e art. 2º da Instrução Normativa RFB nº 1.171/2011 e alterações. Também foi lavrada Representação Fiscal para Fins Penais, objeto do processo administrativo nº 16004.720402/201357. A empresa autuada e os sujeitos passivos solidários apresentaram impugnações tempestivas que serão a seguir sintetizadas. IMPUGNAÇÃO APRESENTADA PELA COSMED PRELIMINAR DE NULIDADE Aponta a nulidade do auto de infração, em síntese, pela ausência de liquidez e certeza do crédito tributário, à vista do art. 142 do CTN e ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa pois não teriam sido juntadas as planilhas com as memórias de cálculo que demonstrariam as vendas consideradas efetuadas abaixo do valor mínimo tributável, bem como a quantificação do valor lançado. Alega que vários trechos do TDF contém menção às planilhas juntadas aos autos, mas ao consultar as folhas referidas deparouse apenas com a relação destas, que não teriam sido juntadas ao processo, conforme demonstrativo que elabora a fl. 2.268, o mesmo Fl. 4021DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.022 7 ocorrendo com as notificações enviadas e respondidas por empresas atacadistas. Dessa forma, não seria possível identificar os valores que o agente fiscal considera corretos quando comparados com os praticados pela impugnante. Alega que a falta de motivação ou motivação insuficiente do lançamento acarreta sua nulidade. Considera que o Termo de Descrição dos Fatos não registra a efetiva busca pela verdade material, pois não haveria a comprovação dos elementos que justifiquem a desconsideraração dos preços praticados pela empresa, nem foi intimada para justificálos. Também não é possível verificar a correção do valor tributável mínimo indicado pelo agente fiscal, nem estariam demonstrados os critérios que levaram à escolha dos estabelecimentos atacadistas intimados, nem de que cobrem todo o mercado atacadista da praça da impugnante. Muitos deles, inclusive, não atuariam somente no mercado atacadista, ou localizam se em municípios diversos. Além disso, apenas parte dos estabelecimentos intimados teria respondido à fiscalização, e, ainda assim, não constariam no processo todas as planilhas apresentadas, do que se conclui que o auto de infração se basearia em afirmações e presunções, não amparadas na busca pela verdade material. Tanto que o fiscal utilizou informações relativas a outros tributos, presentes em DIPJ, ao invés de valerse das informações constantes nos documentos relativos ao IPI , como Notas Fiscais, por exemplo. Apesar de a auditoria ter durado aproximadamente 18 meses, o IPI não teria sido objeto de questionamentos específicos. Tal prova, emprestada, não poderia ser utilizada na instrução do caso em análise. Como será demonstrado a seguir, o alegado planejamento teria propósito negocial, não mantendo qualquer relação com o IPI. Resta também prejudicada a defesa da impugnante, diante do foco do TDF, que seriam questões relativas à apuração de receitas, despesas e lucros, matéria relevante para apuração dos demais tributos, mas não do IPI, cuja legislação prevê a hipótese de empresas interdependentes realizarem operações entre si, o que teria sido desconsiderado. Haveria, nesse caso, clara ofensa aos princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa. MÉRITO Alega inicialmente que a autuada Cosmed e Hypermarcas operam de forma independente, e nas transações entre elas devem ser observadas as disposições dos arts. 136 e 137 do RIPI/2002, cujo fundamento é o art. 15 da Lei 4.502/1964, no que tange ao valor tributável mínimo. Esclarece que os estabelecimentos da Cosmed industrializam medicamentos, cosméticos e produtos de higiene pessoal, ao passo que a Hypermarcas atua no ramos de revenda e distribuição de produtos de marcas de grande reconhecimento popular, que são de sua propriedade, industrializados por terceiros, inclusive estabelecimentos da Cosmed, havendo a transferência de titularidade de um produto sem marca, da impugnante para a Hypermarcas, que realizaria os esforços relativos à sua venda, inclusive atribuição da marca. O arbitramento para o valor de produtos que, no entender do agente fiscal, não teriam similares vendidos pelas atacadistas da praça remetente, com base no art. 138 do RIPI/2002, teria sido utilizado como medida sancionatória. Não estaria Fl. 4022DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.023 8 comprovado que os documentos e as informações prestadas pela autuada não merecem fé ou desvirtuam a realidade das operações efetuadas, tendo o agente fiscal extraído conclusões a partir da própria percepção de mercado, sem intimar a impugnante para efetuar as devidas comprovações. Cita doutrina e jurisprudência amparando seu posicionamento. Os custos de produção apurados pelo Agente Fiscal com base na DIPJ não corresponderiam à realidade, uma vez que foi disponibilizado o custo médio de produção, sem considerar as variações de inventário, as provisões de perdas prováveis, os descartes de materiais, entre outras variações de estoque que compõem o valor informado na Ficha 04A da DIPJ. Os valores de custos apresentados se refeririam exatamente ao valor discriminado na conta contábil 5110103 Custo de Venda Produtos Coligadas/Controladas do balanço da Impugnante, transmitido através do Sistema Público de Escrituração Digital Sped Contábil, que totaliza R$ 215.814.674,72 (duzentos e quinze milhões oitocentos e quatorze mil seiscentos e setenta e quatro reais e setenta e dois centavos), o qual não contempla as variações citadas, as quais incluem custo de produção própria e custo de produtos revendidos, R$ 247.440.260,71. Esse equívoco apontaria uma diferença inexistente de quase R$ 9 milhões, relativos a custos de revenda. Se a comparação considerasse a Linha 21 (Custo dos Produtos de Fabricação Própria Vendidos), seria verificada uma diferença de no máximo R$ 21 milhões, o que torna desproporcional e não razoável a adição de pelo R$ 350 milhões na base tributável do IPI, ou mais de 1500% (mil e quinhentos) por cento do valor da suposta diferença de custo levantado. A alegação de subfaturamento nas operações entre a impugnante e a Hypermarcas, não estaria amparada em qualquer elemento de prova, nem teria sido utilizado critério claro, razoável, e proporcional e previsto em lei para determinar o valor tributável correto. A documentação colocada à disposição da fiscalização permitiria apurar os valores das operações realizadas pela impugnante e, embora esta pudesse arbitrar apenas os custos das operações realizadas, optou por arbitrar o preço total de tais operações, considerando, para tanto, os valores médios praticados pela Hypermarcas nas vendas para terceiros, o que não tem previsão legal. Quanto aos produtos em relação aos quais foi aplicado o art. 136, inc I do RIPI/2002, também não teria sido observada a legislação de regência, nem se pode verificar a exatidão cálculos da fiscalização, pelos seguintes motivos: não é possível apurar se foram intimadas todas as empresas que comporiam o mercado atacadista da praça da impugnante, nem se os preços informados na resposta à intimação correspondem aos efetivamente praticados por elas, quais foram os períodos das vendas informadas, além de poderem estar incluídos neles o valor do ICMS, PIS e Cofins; os preços praticados pela própria Cosmed não foram computados no cálculo do preço médio, o que contraria o posicionamento firmado no Ato Declaratório Normativo CST n° 5/1982, que transcreve, e cujo efeito seria vinculante; o cálculo da fiscalização se vale de informações prestadas por empresas localizadas em praças distintas daquela em que se localiza a impugnante, conforme relacionado no documento 05, anexo à impugnação. Além disso, algumas delas não atuam apenas no comércio atacadista, pelo que o critério de seleção pelo CNAE informado no cadastro CNPJ seria impróprio, pois muitas pessoas jurídicas possuem CNAE principal e CNAEs secundários, como demonstra com dados obtidos da JUCESP relativos às empresas intimadas pelo autuante. Fl. 4023DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.024 9 Ressalta que apenas parte das empresas intimadas teriam encaminhado respostas à fiscalização. Invoca o item 6.1 do Parecer Normativo CST n° 44/1981 e o Ato Declaratório Normativo CST n° 5/1982, que transcreve; não teriam sido consideradas as mercadorias perfeitamente individualizadas, existindo diferenças entre as marcas dos produtos comercializados pela impugnante e pelas empresas atacadistas, além de não ser possível verificar se detém a mesma qualidade; de acordo com os itens 5.2 e 5.7 do TDF foram considerados dados e informações relativas a um terceiro estabelecimento da Cosmed (antiga FARMASA), localizado em São Paulo, o qual além de situarse em praça diversa não mantém relação com o presente auto de infração. Quanto à classificação fiscal dos produtos “preparações capilares (gel)” argumenta que seriam breves e superficiais as razões apontadas pelo fisco, sendo nula e inválida a acusação de que a impugnante teria utilizado classificação fiscal incorreta, cabendo ao fisco o ônus de comprovar a incorreção alegada, à vista do art. 142 do CTN. Defende a classificação no código 3307.20.90 da Tabela de Incidência do IPI TIPI, sob o argumento de que referidos produtos consistem em desodorante capilar, por possuir em sua composição a substância denominada Triclosan, antibactericida que atua na pele (couro cabeludo) e não propriamente no cabelo, sendo responsável pelo efeito desodorisador, conforme laudos técnicos que anexa (doc. 06 – fls. 3.283/3.307). Informa que diante da alegação de que teria havido planejamento tributário, contratou elaboração de parecer econômico pela empresa LCA Consultores (doc. 07), acerca da caracterização dos setores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos ("HPPC") e de medicamentos, e sua estrutura organizacional à luz da teoria econômica e das experiências internacionais. Esclarece que o agente fiscal teria se equivocado ao deixar de levar em conta a atividade de terceirização que, seguindo padrão adotado mundialmente, viria sendo implementada pela indústria brasileira do setor desde a década de 50, como seria o caso das empresas que cita. Define terceirização como sendo “a prática das sociedades detentoras de marcas registradas (que desfrutam da credibilidade do mercado) em se concentrar nas suas atividades fins (objeto social) e repassar para "terceiros" aquelas atividades fabris e de produção (não essenciais), que podem ser delegadas com baixos custos e altos padrões de qualidade”. O mercado de produção sob encomenda, no qual atua a COSMED, tem oportunidades de lucro relacionadas, sobretudo, com redução de custos fixos e variáveis de produção enquanto o de comercialização, no qual atua a Hypermarcas, tem potencial de ganho relacionado com ferramentas de propaganda, marketing e distribuição. A terceirização de serviços para produção de bens do mercado de HPPC está regulamentada pela Resolução – RDC nº 176/06, da Anvisa, além de ser reconhecida formalmente pela legislação tributária, como no caso do da Lei 7.798/1989 e Regulamento do IPI, bem como o art. 464 do RIR/1999, que determina regras para as operações realizadas entre partes vinculadas, estabelecendo que o valor de venda não pode ser notoriamente inferior ao valor de mercado sob pena de se caracterizar a DDL. Discorre sobre o plano de negócios da Hypermarcas, iniciado pela aquisição da empresa Prátika Industrial Ltda., detentora da marca Assolan, em 2001, Fl. 4024DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.025 10 prosseguindo com a aquisição de diversas outras companhias até o ano de 2009, as quais encontravamse em estágios evolutivos de negócios diferentes, gerando desafios também diferentes quanto a sua gestão. A cisão dos parques fabris situados em Barueri e em São Paulo, que foram conferidos à Cosmed, representaria mais um passo em direção da terceirização, política do Grupo Hypermarcas préexistente ao período fiscalizado, e que continua em vigor até os dias atuais, adotada também frente a empresas não pertencentes ao grupo. A escolha pela segregação das unidades industriais teria ocorrido em função dos estabelecimentos envolvidos e não do tipo de tributação dos produtos, além da necessidade de os estabelecimentos industriais cindidos da Hypermarcas possuírem sinergia entre si e com a estrutura de produção da Impugnante. Também foi considerada a grande dificuldade que terceiristas autônomos tradicionais enfrentariam para absorver um aumento de demanda de forma tão abrupta, além dos aspectos regulatórios próprios dos produtos em questão. No caso de medicamentos, o registro do produto junto ao Ministério da Saúde deve obrigatoriamente pertencer ao produtor, mesmo que o nome fantasia do produto pertença a um terceiro. Por decorrência, para os medicamentos, a única forma de a Hypermarcas realizar seu plano de negócios de dedicarse exclusivamente à atividade comercial seria mediante terceirização junto a empresa do próprio grupo econômico. Tudo isso se refletiria em perda de produtividade e grande aumento de custo, afetando a competitividade da companhia, e gerando um risco real de desabastecimento do mercado. Atualmente, quase todos os parques fabris da Hypermarcas teriam sido transferidos à Cosmed. A evolução da terceirização da produção das mercadorias do portfólio da Hypermarcas pode ser verificada nas fichas 6A das DIPJ referentes aos períodos a partir de de 2008. A representatividade dos produtos terceirizados (revenda de mercadorias), estaria crescendo não só em valor absoluto, mas também na proporção com o total de receitas, passando de 24,8% no ano de 2008, para 84,4% na DIPJ referente ao segundo semestre de 2012. Assim, grande parte dos produtos comercializados não estariam incluídos no regime monofásico quanto às contribuições citadas, o mesmo se verificando em relação ao IPI, o que torna insubsistente a alegação de planejamento tributário. Ademais, de acordo com as DIPJ anexas, a Hypermarcas S/A viria apurando prejuízos fiscal ano após ano, não exisitindo economia no que se refere ao IRPJ e à CSLL, e caso as atividades da impugnante fossem consolidadas com as da controladora, não haveria saldo a pagar desses tributos. Ou seja, ao contrário do apontado pelo agente fiscal, a não segregação das atividades industrial e comercial geraria um benefício tributário. Ressalta que, contrariando o entendimento do AFRFB tal forma de concentração de despesas não seria dolosa. Contesta a análise comparativa dos índices de lucro bruto da impugnante com 62 outras pessoas jurídicas, alegando que pelas informações do TDF aparentemente referemse a somente um dos setores de atuação da Hypermarcas. Observa que, de acordo com o apontado, sua margem bruta seria muito próxima de sua principal concorrente, Provider (sendo inclusive um pouco maior). Também não se pode falar em subfaturamento, situação em que o valor registrado na contabilidade do contribuinte é inferior àquele praticado pelo mercado, presumindo se que a diferença entre o valor efetivamente escriturado e àquele praticado pelo mercado foi mantida à margem da contabilidade. Os preços praticados nas vendas da impugnante para a Hypermarcas tem amparo legal, foram efetivos, reais e seriam compatíveis com os praticados no setor de HPPC e de medicamentos, além de serem Fl. 4025DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.026 11 suficientes para arcar com todos os custos incorridos pela impugnante na fabricação, não havendo de se falar qualquer conduta ilícita e abusiva. Haveria confusão no tópico 5.14 do TDF com respeito ao que foi intitulado "Preço Mínimo de Fábrica PF", pois o que é estabelecido pela CMED é o Preço Máximo de Fábrica e não ao contrário. De fato, a justificativa para esse tipo de controle, é proteger os consumidores sobre possíveis abusos praticados pelas distribuidoras de medicamentos. Ocorre que Hypermarcas S/A apenas pratica um preço próximo àquele fixado pela CMED nas operações em que realiza justamente porque detém a propriedade das marcas dos medicamentos que distribui. Como seria prática corrente nesse setor operações a indústria "terceirista" vende o medicamento para o detentor da marca sem esse valor agregado, para então ser vendido ao consumidor final respeitando o Preço Máximo de Fábrica. Por fim, embora as contribuições ao PIS e à COFINS não sejam objeto do presente auto de infração, argumenta que as opções fiscais de tratamento tributário para o regime monofásico seriam facultadas pelo ordenamento jurídico e colocadas à disposição dos contribuintes para que fossem seguidas, não existindo nenhum tipo de vedação legal à segregação de atividades pelos grupos econômicos atuantes nos mercados de HPPC e medicamentos, com o recolhimento dessas contribuições sob o regime monofásico pela unidade que fabrica os seus produtos vendidos e à alíquota zero na unidade que os comercializa. O fato de a Hypermarcas ter auferido vantagem com a estrutura societária implementada não justifica a imputação de suposto abuso de direito, e ainda que se considerasse a existência de planejamento tributário, o que se admite a título argumentativo, é certo que todos os limites impostos para a implementação deste "planejamento" teriam sido efetivamente cumpridos. Indevida Cobrança da "Multa Agravada" Ausência de "Fraude Penal" Não estaria comprovada qualquer prática dolosa pela Impugnante, não se caracterizando a fraude, sonegação ou conluio necessários à imposição da multa agravada no presente caso. Tanto é assim que a impugnante levou a registro todos os atos societários relacionados à operação; prestou todas as informações ao Fisco Federal, por meio das declarações e obrigações acessórias bem como apresentou todos os esclarecimentos requeridos pela Fiscalização, oferecendo todos os documentos necessários à investigação, sem retardar, impedir, atrapalhar, nem confundir seu trabalho. Também não se considera que a impugnante possa ter agido em conluio, pois em nenhum momento o agente fiscal fez alegação neste sentido, nem comprovou tal prática por parte da impugnante, o que por si só, já revela imprecisão na tipificação penal. Nesse caso, a interpretação da legislação tributária deve ser feita favoravelmente ao contribuinte, conforme estabelecido no artigo 112 do CTN. Em decorrência, a acusação fiscal seria desproporcional, evidenciando ofensa ao princípio da legalidade tributária, da razoabilidade e da utilidade. Aponta a ilegalidade da cobrança de juros com base na Taxa Selic sobre a multa de ofício, tendo em vista que o o artigo 13 da Lei 9.065/1995, que prevê a cobrança dos juros de mora com base na taxa Selic, remete ao artigo 84 da Lei 8.981/1995, que, por sua vez, estabelece a cobrança de tais acréscimos apenas sobre tributos. Há que se ter presente a distinção do art. 113 do CTN. Finalizando, requer a declaração da nulidade do auto de infração, ou, alternativamente, quanto ao mérito, seja julgado totalmente improcedente, com o cancelamento da exigência formalizada. Fl. 4026DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.027 12 IMPUGNAÇÃO APRESENTADA POR HYPERMARCAS Inicialmente aponta a nulidade do auto de infração pela ausência de liquidez e certeza do crédito tributário e ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa e pela falta de juntada das planilhas com as memórias de cálculo que fundamentaram as autuações. Não teria sido buscada a verdade material, estando o TDF baseado em presunções, sem que o agente fiscal tenha solicitado esclarecimentos da Cosmed a respeito da diferença de custo. Além disso, o auto de infração teria sido instruído com TDF produzido para outro auto de infração em que a Cosmed figura como autuada, não sendo possível verificar os fundamentos da exigência do IPI. Quanto ao mérito, contesta a alegação de fraude e abuso de direito. O mesmo modelo de negócio adotado pela Hypermarcas seria utilizado por empresas que atuam no mercado nacional e internacional, cujas vantagens e propósito negocial procura demonstrar com parecer da empresa LCA Consultores, anexo à impugnação. A transferência de ativos industriais de Hypermarcas para a Cosmed não teria finalidade de redução de carga tributária, mas sim de adequação à realidade mundial do seu ramo de atuação, sendo que em 2012 mais de 50% da receita da impugnante teria sido tributada com alíquota zero quanto ao IPI. Os preços praticados pela Cosmed estariam de acordo com os riscos e a operação que pratica – terceirização – sendo equivalentes aos praticados por outros terceiristas atuantes no mercado, inclusive com a própria Hypermarcas, como demonstra o citado laudo econômico, que aponta que 37% dos produtos acabados adquiridos pela Hypermarcas em 2009 foram terceirizados por empresas independentes. Contesta o arbitramento do valor tributável do IPI, desconsiderando os custos incorridos pela Cosmed e adotando preço que não seria o usual na praça do contribuinte e não representariaa margem usual do mercado em que opera, além de a alegada inconsistência de custo representar, no máximo R$ 21 milhões e não os valores considerados pelo autuante, além de haver divergências quanto ao levantamento do preço de mercado na praça do remetente. Defende a classificação adotada pela empresa para o produto “preparações capilares (gel)” descolorante para cabelo”. Esclarece que o foco da impugnação é demonstrar a improcedência do Termo de Sujeição Passiva Solidária, sendo que a discussão dos autos de infração está sendo feita na impugnação da Cosmed, que ratifica e reitera. Passa a contestar o Termo de Sujeição Passiva, conforme síntese a seguir. Nesse sentido, alega.que o conceito de “interesse comum” presente no art. 124, I, do CTN não se prestaria para atribuir responsabilidade solidária à Hypermarcas, não se confundindo com o “interesse econômico” no resultado do fato gerador, conceito já rechaçado pela doutrina e jurisprudência, que considera que o mesmo teria uma dimensão jurídica. Na sequência, repete os argumentos dos diretores da empresa, que serão a seguir relatados, ressaltando que o dispositivo em questão não se presta para atribuir responsabilidade solidária entre partes contrapostas de contratos de compra e venda, ainda que se considerasse que os preços praticados seriam inferiores aos de mercado. IMPUGNAÇÃO APRESENTADA PELOS DIRETORES DE HYPERMARCAS A impugnação de fl. 2.196 e seguintes, é assinada por representantes dos senhores CLÁUDIO BERGAMO DOS SANTOS, NELSON JOSÉ DE MELLO, MARTIM Fl. 4027DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.028 13 PRADO MATTOS, CARLOS ROBERTO SCORSI E ALEXANDRE AUGUSTO OLIVIERI. Alegam inicialmente que o lançamento seria improcedente, conforme demonstrado na defesa administrativa apresentada pela Cosmed, cujos termos reiteram e ratificam, e que optaram por apresentar defesa conjuntamente porque se encontram em situação análoga e possuem argumentos em comum, e que o foco desta é a demonstração da improcedência dos Termos de Sujeição Passiva Solidária. Solicitam que sejam consideradas as suas razões, a seguir sintetizadas, no caso de serem rejeitados os argumentos apresentados pela autuada. Seria indevida a utilização do art. 124, I, do CTN para atribuir responsabilidade tributária aos impugnantes, na condição de diretores de Hypermarcas, pelos autos de infração lavrados contra a Cosmed. A definição de interesse comum pretendida pelo agente fiscal seria equivocada e rejeitada pela doutrina e jurisprudência. Em sentido jurídico, só haveria interessse comum entre pessoas que realizam conjuntamente o fato gerador da obrigação tributária, todos assumindo a condição direta de contribuinte. Não se pode dizer que a Hypermarcas tenha participado efetivamente da ocorrência do fato gerador, o que só ocorreira se as duas empresas tivessem efetuado, conjuntamente, a venda de produtos para terceiros. Neste caso, não haveria que se falar em venda subfaturada ou distribuição disfarçada de lucros. A propósito, o termo “subfaturado” não teria sido utilizado em sentido técnico (emissão de fatura em valor inferior ao efetivamente praticado), o que caracterizaria simulação. Nesse sentido, observa que a doutrina citada pelo agente fiscal (artigo publicado na RDT n.° 4, de 1978) também não se refere à hipótese dos autos, pois não haveria qualquer situação de fraude. Mesmo que se admitisse, a título de argumentação, a existência de abuso de planejamento tributário, este não seria por meio de ato fraudulento ou simulatório. A existência de diretores em comum entre as duas empresas seria prática legal comumente verificada na maioria dos grupos societários e também não sustentaria a configuração de interesse em comum. Devese esclarecer, ainda, que o Sr. Martim Prado Mattos, diretor da Hypermarcas, só passou a ser Diretor da Cosmed em 30 de abril de 2013. Também não se pode presumir que esses diretores tenham sido economicamente beneficiados pela suposta falta de recolhimento de tributos. Poderia existir, quando muito, interesse meramente econômico entre as duas empresas, porém não se trataria de interesse comum na acepção jurídica. Devem também ser consideradas áreas de atuação específica de cada diretor, bem como as atribuições dos membros do Conselho de Administração, não sendo razoável pensar que todos são diretamente responsáveis pelo cumprimento das obrigações tributárias da empresa. Prosseguem citando doutrinadores como PAULO DE BARROS CARVALHO, JOSE JAYME DE MACEDO OLIVEIRA, SACHA CALMON NAVARRO COELHO, ANDRÉA M. DARZÉ, bem como jurisprudência do CARF E a súmula "Súmula STJ n.° 430 O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sóciogerente." (DJe maio/2010). A responsabilidade dos diretores, gerentes e representantes de pessoas jurídicas de direito privado é regulada pelo art. 135, III, do CTN, cuja aplicação requer a demonstração, de forma individualizada, de infração à lei ou ao contrato social, praticada pessoalmente por esses agentes, o que não ocorreu no presente caso. Ainda assim, esse dispositivo legal só poderia ser usado para atribuir responsabilidade Fl. 4028DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.029 14 tributária, se fosse ao caso, aos diretores da autuada, e não aos de Hypermarcas, por débitos daquela. Logo, a interpretação dada pelo autuante desconsiderou a personalidade jurídica distinta das duas empresas. Citam ainda o art. 2º da Portaria PGFN 180/2010 e o item 11 do Parecer/PGFN/CRJ 1407/2013, no sentido de que o inadimplemento não tem o condão de ensejar responsabilização as pessoas elecadas no art. 135 do CTN. Além disso a Portaria RFB 2.284/2010 estabelece que nas hipóteses de lançamento com pluralidade de sujeitos passivos, os AFRFB deverão reunir provas para caracterização dos responsáveis, cujo vínculo de responsdabilidade deverá estar caracterizado na autuação. Tal não teria ocorrido no presente caso, caracterizando inversão do ônus da prova e presunção de fraude, não admitidos no nosso ordenamento jurídico. Sustentam que também não seria aplicável o art. 1.016 do Código Civil Brasileiro, pois em matéria tributária prevalece a disposição específica do art. 135, III, do CTN, que tem status de lei complementar. Mesmo admitindo sua aplicação, a título de argumento, ainda assim, os impugnantes não poderiam ser responsabilizados porque não eram diretores da empresa autuada, nem ficou demonstrado que agiram com culpa no desempenho de suas funções.Da mesma forma, seria inaplicável o art. 117 da LSA, pois os impugnantes não são acionistas “controladores" da empresa Cosmed. Com respeito à desconsideração da personalidade jurídica com fundamento no art. 50 do CC salientam que referido dispositivo não pode ser aplicado em matéria tributária, pois não consiste em lei complementar a que alude o art. 146, III da Constituição Federal. Tal desconsideração só poderia ser determinada pelo juiz, não podendo ser realizada unilateralmente pelo Auditor Fiscal. Para chegar aos administradores da Hypermarcas por meio desse dispositivo, seria necessário primeiro desconsiderar a personalidade jurídica da própria Cosmed, para tratála como mero estabelecimento da Hypermarcas e, a seguir, desconsiderar também a personalidade jurídica da Hypermarcas. Ora, se ambas fossem tratadas como uma única empresa, seria impossível falar de DDL, que não pode existir entre estabelecimentos de uma mesma pessoa jurídica. Finalizam solicitando o cancelamento dos Termos de Sujeição Passiva Solidária, e solicitam a produção de todo gênero de provas em direito admitidas. IMPUGNAÇÃO APRESENTADA PELO SR. JOÃO ALVES DE QUEIROZ FILHO – Presidente do Conselho de Administração de Hypermarcas Inicialmente, repete a alegação de nulidade e os argumentos quanto ao mérito elencados pela empresa Hypermarcas, acima relatados, que ratifica e reitera. Passa a contestar o Termo de Sujeição Passiva, conforme síntese a seguir. Alega que não foi apontado qualquer ato praticado com excesso de poderes ou infração à lei e que não seria o acionista majoritário de Hypermarcas. A empresa Igarapava Participações S.A, da qual é acionista, é que sempre teria feito parte do bloco de controle da Hypermarcas e, mesmo assim, sem ser acionista majoritária, posto que mantinha, no final do ano de 2009, apenas 31% das ações com direito a voto. Além disso, não se pode confundir as competências do Presidente com as do próprio Conselho de Administração. Prossegue repetindo os argumentos apresentados pelos diretores da Hypermarcas, antes relatados, com respeito à aplicação do art. 124, I, do CTN e à existência de “interesse comum”. Fl. 4029DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.030 15 Quanto à aplicação do art. 135, III, do CTN, informa que jamais revestiu a condição legal de "diretor, gerente ou representante legal" a que se refere esse dispositivo. Teria desempenhado a função de Presidente do Conselho de Administração da Hypermàrcas, nos limites da competência deste, que é de fixar a orientação geral dos negócios da companhia, de acordo com o art. 142, inc. I da LSA. De qualquer forma, os membros do Conselho de Administração não estão contemplados no enunciado art. 135, III, do CTN, aos quais o legislador não atribuiu responsabilidade tributária. O cumprimento das obrigações tributárias principais e acessórias é de responsabilidade da área executiva, competindo exclusivamente ao diretor responsável pela área tributária. Ademais, as hipóteses de responsabilidade tributária estão expressamente previstas em lei, não cabendo a utilização de analogia para estendêlas a casos não previstos, por força do disposto no art. 108, § 1º do CTN. Esclarece que os diretores de Hypermarcas são eleitos pelo Conselho de Administração e não individualmente pelo impugnante. A responsabilidade dos sócios é tratada pelo art. 134 do CTN, enquanto que o art. 117 da LSA, que trata da responsabilidade do acionista controlador pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder, tem como objetivo a proteção do interesse dos acionistas minoritários, também não se prestando à imputação de responsabilidade em matéria tributária, por força do art. 146, III, da Constituição Federal. Finaliza solicitando o cancelamento do Termo de Sujeição Passiva Solidária, e a produção de todo gênero de provas em direito admitidas. IMPUGNAÇÃO APRESENTADA PELA SRA. REGINA CELIA BARROS DIAS – DIRETORA INDUSTRIAL DA COSMED Alega que o a atuação como diretora seria restrita ao campo regulatório da divisão de medicamentos da companhia, com vínculo regido através da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT – como comprovado pela cópia da Carteira de Trabalho em anexo. Assim não haveria fundamento jurídico para sua responsabilização, nos termos do art. 135, III do CTN, bem como do art. 117, da Lei nº 6.404/1976, pois a prática de atos contrários à lei ou com excesso de mandato só induz a responsabilidade de quem tenha administrado a companhia, pelo que a solidariedade não se expande aos meros diretores, sem poder de gestão. Salienta que, ao longo de 39 anos de atuação profissional não teria exercido outra a atividade senão a de farmacêutica, dentre outras razões, por expresso impedimento legal. Discorre sobre Direito Sanitário, ramo autônomo do direito que tem fonte no art. 24, inc. XII da Constituição Federal e abrange diversas normas legais e infralegais com objetivo de preservar a saúde da população e mitigar riscos sanitários inerentes a certas atividades próprias das sociedades atuais, pautados pelo princípio da segurança sanitária, cujo objetivo é assegurar que referidas normas se concretizem. Esclarece que os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, definidos na Lei 5.991/1973, bem como os produtos de higiene, os cosméticos, perfumes, saneantes domissanitários, produtos destinados à correção estética e outros, sujeitamse às normas de vigilância sanitária instituídas pela Lei 6.360/1976, só podendo ser extraídos, produzidos, fabricados, transformados, sintetizados, purificados, fracionados, embalados e reembalados, importados, exportados, armazenados ou expedidos por empresas autorizadas pelo Ministério da Saúde, cujos estabelecimentos tenham sido inspecionados pelas unidades dos Estados ou Municípios em que se localizem. O art. 8º da mesma norma determina que nenhum Fl. 4030DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.031 16 estabelecimento que fabrique ou industrialize referidos produtos poderá funcionar sem a assistência e responsabilidade efetivas de técnico legalmente habilitado, sendo esse o fundamento das atividades da impugnante, de natureza eminentemente técnica. Destaca que não estaria atuando como administradora ou dirigente da empresa Cosmed, mas sim exercendo a profissão de farmacêutica, ainda que como Diretora Técnica, e, por decorrência, achavase submetida às regras do Conselho Federal de Farmácia, que impõem uma conduta estritamente vinculada com a sua área de atuação. Dentro de suas atribuições, no âmbito da legislação sanitária, jamais teria praticado atos que pudessem ser imputados como culposos ou dolosos, o mesmo não ocorrendo em área de seu completo desconhecimento, como a área fiscal. Sequer haveria, nas atas da empresa, registro de sua participação em atividades econômicas ou financeiras. Suas atividades se davam integralmente na área regulatória, em constante comunicação com os órgãos do Ministério da Saúde e da Vigilância Sanitária, como decorrência do disposto na Lei 6.360/1976, arts. 53 a 56. O termo Diretora Técnica ou Industrial seria comumente usado para todos aqueles farmacêuticos ligados à produção e assuntos regulatórios, no referido segmento industrial. Anexa cópias do Estatuto Social e Atas das Assembléias Gerais para comprovar suas alegações. Observa que na qualidade de diretora empregada da Cosmed estava vinculada ao poder da direção administrativa da companhia na prestação dos serviços inerentes à sua área de atuação, só respondendo solidariamente em caso de prejuízos causados em virtude do não cumprimento das normas a ela relativas. Invoca, nesse sentido, o art. 158 da Lei n° 6.404/76, que trata das responsabilidades dos administradores das sociedades anônimas, bem como jurisprudência judicial, no sentido de excluir a responsabilidade tributária de diretor técnico, à vista do art. 135, III do CTN. Finaliza solicitando a anulação do Termo de Sujeicão Passiva Solidária e o reconhecimento de sua ilegitimidade para figuar no pólo passivo do auto de infração. IMPUGNAÇÃO APRESENTADA PELOS DIRETORES DA COSMED A impugnação de fl. 2.519 e seguintes, é assinada por representantes dos senhores JUAREZ ÊNIO DAHMER e MÁRCIO ROBERTO MARQUES DOS SANTOS, na qual reiteram e ratificam a defesa apresentada pela empresa autuada e com argumentos idênticos aos dos diretores de Hypermarcas, sustentam que seria indevida a sua responsabilização, solicitando o cancelamento dos Termos de Sujeição Passiva. O Recurso Voluntário foi julgado pelo Acordão nº 1049.864 3ª Turma da DRJ/POA , com a seguinte Ementa (fl. 3351): ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/01/2009 a 31/12/2009 ALEGAÇÃO DE NULIDADE POR SUPOSTA PRETERIÇÃO DO DIREITO DE DEFESA. Fl. 4031DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.032 17 É descabida a alegação de nulidade por suposta preterição do direito de defesa, focalizando Auto de Infração devidamente motivado, com a indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos pertinentes ao caso. VALOR TRIBUTÁVEL MÍNIMO. SAÍDAS PARA ESTABELECIMENTO DE FIRMA INTERDEPENDENTE. INOBSERVÂNCIA. LANÇAMENTO DE OFÍCIO. É legítimo o lançamento de ofício de diferenças do IPI, apuradas em relação a saídas de produtos para firma com a qual o remetente mantém relação de interdependência, praticando preços muito inferiores aos de mercado e sem incluir na base de cálculo do IPI todos os custos e demais elementos previstos na legislação como obrigatoriamente componentes do valor tributável mínimo. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DE PRODUTOS. ERRO. LANÇAMENTO INSUFICIENTE DO IPI NAS NOTAS FISCAIS. Os produtos “gel fixador” e “gel desodorante fixador” para cabelo classificamse no código 3305.9000 da TIPI/2002, tributado com alíquota de 22%. MULTA DE OFÍCIO MAJORADA. CIRCUNSTÂNCIAS QUALIFICATIVAS. A existência de circunstâncias qualificativas previstas em lei justifica a exigência de multa de ofício no percentual de 150% do imposto que deixou de ser recolhido. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA Os acionistas controladores, e os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado são solidariamente responsáveis com o sujeito passivo, no período de sua administração, gestão ou representação, pelos créditos tributários decorrentes do não recolhimento do IPI no prazo legal. É cabível a atribuição de responsabilidade solidária à empresa integrante do mesmo grupo econômico da autuada, em vista do interesse comum na situação que constitui o fato gerador da obrigação tributária apurada. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Esta turma do CARF, por meio da Resolução no. 3301000.532 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária (fl 4105/4126), determinou diligência para que a unidade de origem providenciasse a disponibilização nos autos do teor dos arquivos indicados às fls. 1976 a 1982 e consolidasse os valores da presente autuação, segregandoos por modalidade de apuração da base de cálculo, isto é: (i) VTM do art. 136 e 137 do RIPI/02 e (ii) arbitramento do art. 138 do mesmo RIPI. Fl. 4032DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.033 18 Em resposta, foi juntada a Informação Fiscal às fls. 3980/3984. A Recorrente teve oportunidade de se manifestar sobre a Informação Fiscal, conforme documentos constantes às fls. 3990/3998. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Liziane Angelotti Meira O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais pressupostos legais de admissibilidade e deve ser conhecido. Cumpre inicialmente consignar que a ação fiscal objeto do MPF n.º 0812800 2012000259, referiuse aos tributos IPI, PIS/COFINS nãocumulativos, IRPJ e CSLL, no período de 01/01/2009 a 31/12/2009, junto à Recorrente. Serão julgados conjuntamente o Processo no. 16004.720382/201314, relativo ao tributo IPI ESTABELECIMENTO MATRIZ, e o Processo no. 16004.720383/201369, concernente ao o IPI do ESTABELECIMENTO FILIAL. O Processo no. n° 16004720.395/201393, relativo a PIS, COFINS, IRPJ e CSLL, já foi julgado, Acórdão nº 1402002.337 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, de 5 de outubro de 2016, com a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2009 NULIDADE. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. Não é nulo o auto de infração lavrado por autoridade competente quando se verificam presentes no lançamento os requisitos exigidos pela legislação tributária e não restar caracterizado o cerceamento do direito de defesa. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO LÍCITO. ELISÃO FISCAL. É lícita a reorganização societária efetivamente levada a efeito pelo contribuinte sem a ocorrência simulação, fraude, abuso direito ou de formas ou ainda fraude à lei. DISTRIBUIÇÃO DISFARÇADA DE LUCROS. OPERAÇÕES REALIZADAS A VALOR DE MERCADO. INOCORRÊNCIA. Não há que se falar em distribuição disfarçadas de lucros quando as operações foram realizadas em valores absolutamente dentro da média praticada no mercado. CSLL. LANÇAMENTO REFLEXO. Fl. 4033DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.034 19 Em decorrência da relação de causa e efeito, aplicase ao lançamento de CSLL as razões de decidir utilizadas em relação ao lançamento de IRPJ. PIS E COFINS. INOCORRÊNCIA DE SIMULAÇÃO. REGIME MONOFÁSICO. INEXISTÊNCIA DE NORMA QUE ESTIPULE VALORES MÍNIMOS NAS OPERAÇÕES INTRAGRUPO. CANCELAMENTO DA EXIGÊNCIA. Demonstradas que as operações questionadas pelo Fisco não configuram distribuição disfarçada de lucros, tampouco simulação, e na ausência de normas que estipulem valores mínimos a serem praticados entre empresas do mesmo grupo para fins da incidência de PIS e de Cofins no regime monofásico, cancelase o crédito tributário correspondente. PIS E COFINS. CREDITAMENTO. INSUMO. CONSULTORIAS. Insumo não pode ser interpretado como todo e qualquer bem ou serviço necessário para a atividade da pessoa jurídica, mas, tão somente aqueles bens ou serviços intrínsecos à atividade, adquiridos de pessoa jurídica e aplicados ou consumidos diretamente na fabricação do produto ou serviço prestado. PIS E COFINS. CREDITAMENTO. ANÁLISE LABORATORIAL. EXIGÊNCIA DA ANVISA. POSSIBILIDADE. Os custos incorridos relativos à aquisição de serviços ligados à análise laboratorial, decorrentes de exigências legais, podem compor a base de cálculo dos créditos a serem descontados do PIS e da Cofins. PIS E COFINS. CREDITAMENTO. MÃO DE OBRA TEMPORÁRIA. A locação de mão de obra é citada expressamente como prestação de serviço, já que sujeita ao ISS, conforme Lista de Serviços anexa à Lei Complementar nº 116/2003 item “17.05 Fornecimento de mão de obra, mesmo em caráter temporário, inclusive de empregados ou trabalhadores, avulsos ou temporários, contratados pelo prestador de serviço”. Não se pode confundir a locação de mão de obra (prestação de serviço), com a locação de prédios, máquinas e equipamentos utilizados nas atividades da empresa, pois essa não é considerada prestação de serviço (Súmula Vinculante STF nº 31), razão pela qual o legislador citou Fl. 4034DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.035 20 expressamente que dá direito ao crédito de PIS e Cofins o pagamento feito a pessoas jurídicas a título de locação de prédios, máquinas e equipamentos utilizados nas atividades da empresa, não sendo necessária a menção direta a locação de mão de obra por esta já estar enquadrada no conceito de insumo utilizado na produção e fabricação de bens e produtos destinados à venda. Portanto, caso o legislação não citasse expressamente o direito à apropriação de crédito relativo a locações de prédios, máquinas e equipamentos não seria possível incluir tal direito na cláusula geral de serviço prestado por pessoa jurídica, o mesmo não ocorrendo em relação à locação de mão de obra. PIS E COFINS. CREDITAMENTO. ALUGUEL. Vedado o creditamento relativamente a aluguel de imóvel que já tenha integrado patrimônio da pessoa jurídica. PIS E COFINS. CREDITAMENTO. ENCARGOS DE DEPRECIAÇÃO. Vedado o creditamento relativo a encargos de depreciação de bens adquiridos antes de 30 de abril de 2004, bem assim, de bens não utilizados diretamente na produção. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. DISCUSSÃO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA. Incabível na esfera administrativa a discussão de que uma determinada norma legal não é aplicável por ferir princípios constitucionais, pois essa competência é atribuída exclusivamente ao Poder Judiciário, na forma dos artigos 97 e 102 da Constituição Federal. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF nº 2). PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO. A vedação quanto à instituição de tributo com efeito confiscatório é dirigida ao legislador e não ao aplicador da lei. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. AUSÊNCIA DE DOLO. IMPOSSIBILIDADE. Ausente qualquer elemento que denote dolo, não há como se manter a qualificação da penalidade, mormente na hipótese de manutenção do lançamento somente no tocante à discussão de direitos a créditos de PIS e Cofins. Fl. 4035DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.036 21 INAPLICABILIDADE DO ART. 100, PARÁGRAFO ÚNICO DO CTN. Não há que se falar em exoneração de multa e juros, com base no parágrafo único do art. 100 do CTN, se as decisões colacionadas pela Recorrente não possuem efeito vinculante, sendo válidas somente entre as respectivas partes. Na ausência de qualquer norma complementar que tenha orientado a conduta praticada pela Recorrente, não há como aplicar o disposto no parágrafo único do art. 100 do CTN. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa SELIC. Precedentes das três turmas da Câmara Superior Acórdãos 9101001.863, 9202003.150 e 9303002.400. Precedentes do STJ AgRg no REsp 1.335.688PR, REsp 1.492.246RS e REsp 1.510.603CE. SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA. INEXISTÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO COMUM NA SITUAÇÃO QUE CONSTITUA O FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. AUSÊNCIA DE OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS RESULTANTES DE ATOS PRATICADOS COM EXCESSO DE PODERES OU INFRAÇÃO DE LEI, CONTRATO SOCIAL OU ESTATUTOS. IMPOSSIBILIDADE. Cancelada a única infração que poderia, em tese e em relação aos coobrigados, demonstrar seus interesses jurídicos na situação que constituía o fato gerador da obrigação principal, bem como demonstrado não haver qualquer ato praticado com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos, por consequência, excluemse os coobrigados do polo passivo da obrigação tributária. Recursos Voluntários dos Coobrigados Providos. Recurso Voluntário da Pessoa Jurídica Autuada Provido em Parte. Registrese ainda que o Acórdão nº 1402002.337 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária (Processo 16004720.395/201393) foi objeto de Recurso Especial da Procuradoria da Fazenda (admitido) e Embargos de declaração da contribuinte e encontrase no CARF para prosseguimento. Fl. 4036DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.037 22 Cumpre observar, preliminarmente, as disposições do RICARF sobre conexão e vinculação de processos. Art. 6º Os processos vinculados poderão ser distribuídos e julgados observandose a seguinte disciplina: §1º Os processos podem ser vinculados por: I conexão, constatada entre processos que tratam de exigência de crédito tributário ou pedido do contribuinte fundamentados em fato idêntico, incluindo aqueles formalizados em face de diferentes sujeitos passivos; II decorrência, constatada a partir de processos formalizados em razão de procedimento fiscal anterior ou de atos do sujeito passivo acerca de direito creditório ou de benefício fiscal, ainda que veiculem outras matérias autônomas; e III reflexo, constatado entre processos formalizados em um mesmo procedimento fiscal, com base nos mesmos elementos de prova, mas referentes a tributos distintos. Art. 2º À 1ª (primeira) Seção cabe processar e julgar recursos de ofício e voluntário de decisão de 1ª (primeira) instância que versem sobre aplicação da legislação relativa a: (...) IV CSLL, IRRF, Contribuição para o PIS/Pasep ou Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), quando reflexos do IRPJ, formalizados com base nos mesmos elementos de prova; (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) Dessa forma, entendese que há conexão entre os dois processos em julgamento nesta sessão Processo no. 16004.720382/201314 e Processo no. 16004.720383/201369 e o Processo Processo no. n° 16004720.395/201393, relativo a PIS, COFINS, IRPJ e CSLL já foi julgado, Acórdão nº 1402002.337. Em razão das disposições do RICARF colacionadas, concluise que a competência é da 1a Seção deste CARF e propõese o encaminhamento dos processo em pauta para a Seção competente. Após a preliminar de incompetência, passamos a analisar as alegações constantes do Recurso Voluntário, que são as seguintes: · Nulidade da decisão recorrida e do auto de infração por cerceamento do direito de defesa. · Impossibilidade de se aplicar o arbitramento no caso concreto, sendo necessário se considerar os custos indicados pela recorrente, que não apresentam qualquer incompatibilidade com a DIPJ, com alegado pela fiscalização. Além disso, todas as informações necessárias para a Fl. 4037DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.038 23 quantificação da base de cálculo do IPI encontravamse disponíveis na escrituração contábil digital entregue pela recorrente à RFB. Com isso, concluiu que o Fiscal se utiliza do arbitramento como medida sancionatória. · A legalidade da estrutura societária do Grupo Hypermarcas. Inexistência de planejamento tributário ilícito, inocorrência de fraude à lei, demonstração de propósito negocial nas operações. Pela análise do segmento econômico da recorrente, demonstrou o fundamento do plano de negócios do Grupo Hypermarcas. · A diferença de preços praticados pelas empresas decorre do fato de que cada uma delas atua com plena autonomia e dentro de suas características, a fim de atingir os objetivos previstos no seu respectivo contrato social, apresentando custos diferentes e agregando valores distintos, inerentes às suas próprias atividades dentro do Grupo. A essencialidade das despesas de distribuição e marketing para a Hypermarcas, e não para a recorrente. · O arbitramento não poderia ter sido baseado nos preços praticados pela Hypermarcas, visto que esses não correspondem ao preço dos “principais mercados nacionais” previstos no art. 138, § 2º do RIPI/02, pelo simples fato de que tal empresa atua em mercado distinto ao da recorrente, que exerce atividades de terceirização de produção de mercadorias. · Inobservância dos critérios legais para a determinação do VTM: não há provas de que as empresas intimadas para representar o mercado atacadista da praça do remetente refletem todo o universo das vendas de Taboão da Serra; parte das empresas intimadas sequer apresentou resposta à fiscalização; várias empresas atuam também no mercado varejista; não houve realização de auditoria competente para verificar a correção das informações prestadas pelas empresas intimadas; foram considerados dados relativos a empresas situadas em praças distintas (São Paulo e São Caetano do Sul); foram tomados preços de produtos diversos dos produzidos pela recorrente (de marcas e qualidades diferentes); o preço praticado pela recorrente nas suas vendas para Hypermarcas não poderia ter sido desconsiderado. · Correção da classificação fiscal dos produtos “gel fixador” e “gel desodorante fixador”. · Inexistência de vendas subfaturadas. Regular apuração do preço máximo de fábrica, imposto pela Secretaria Executiva da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. · Indevida cobrança de multa agravada, por não haver prova de qualquer irregularidade cometida pela empresa e nem do alegado intuito de fraude. Fl. 4038DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.039 24 · Ilegalidade da cobrança de juros sobre a multa. Os responsáveis solidários, ao tempo em que aderem integralmente aos argumentos do recurso voluntário da COSMED, alegam ter havido modificação do fundamento legal indicado no termo de sujeição passiva solidária, considerando que a DRJ sustenta sua decisão no art. 8º do DL 1736, não mencionado na autuação. Defendem, ainda, a improcedência do termo de responsabilidade solidária seja porque o agente fiscal não enunciou a conduta infracional supostamente praticada pelos responsáveis; seja porque não há que se falar em interesse comum que justificasse a aplicação do art. 124, I do CTN; seja, ainda, porque não houve fraude ou simulação para fundamentar a responsabilidade no art. 135 do CTN, que não se aplica para casos de mero inadimplemento das obrigações tributárias; seja, por fim, pela impossibilidade de se aplicar o art. 50 do Código Civil em matéria fiscal. 1. VALIDADE DO LANÇAMENTO E DA DECISÃO RECORRIDA Nos termos do relatado, a Recorrente pleiteia a nulidade do lançamento em razão de suposto cerceamento de seu direito de defesa, tendo em vista que a ela não teria sido dada a oportunidade de analisar os cálculos realizados pelo Fiscal, já que faltam instruções ou detalhamentos da planilha utilizada no Termo de Descrição dos Fatos, que não se encontra no corpo da peça que instruiu o lançamento. Sem razão, porém, a autuada. No entanto, segundo resulta da disciplina dos arts. 59 c/c 60 do Decreto n.º 70.235/72, a notificação e demais termos do processo administrativo fiscal somente serão declarados nulos na ocorrência de uma das seguintes hipóteses: a) quando se tratar de ato/decisão lavrado ou proferido por pessoa incompetente; b) resultar em inequívoco cerceamento de defesa à parte. Nenhum desses vícios, entretanto, é verificado no presente procedimento, que foi conduzido por autoridade competente e com total observância ao direito de defesa do fiscalizado. Nesse sentido, a decisão atacada confirma que todos os documentos mencionados na autuação encontramse no processo digitalizado, explica como acessálos e exemplifica o que afirma quando traz a imagem de um dos documentos a que o contribuinte se refere como não tendo tido acesso. Ademais, aduz que: Verificase, ainda, que o TDF reportase ao procedimento da auditoria como um todo, tendo o autuante exposto suas conclusões a respeito do procedimento adotado pelo contribuinte e seus reflexos em relação aos tributos que ensejaram lançamento de oficio, para a seguir expor minuciosamente o procedimento de apuração do IPI que deixou de ser recolhido no período auditado. Os itens 6 e 7 do TDF dão conta que a formalização do lançamento desse tributo foi precedida de incontestável interação entre a empresa impugnante e o agente fiscal, com vistas a apuração da efetiva base de cálculo do IPI nas operações praticadas. O autuante não só esclareceu as razões que o levaram a adotar a apuração de valor tributável mínimo, em detrimento dos preços praticados pela impugnante nas vendas para a Aprov e para sua controladora Hypermarcas, como também demonstrou com documentos, planilhas e memórias de cálculo os fatos que motivam suas conclusões, tudo isso obtido mediante análise de informações contidas nos bancos de dados da RFB, de Fl. 4039DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.040 25 documentos, notas fiscais e esclarecimentos prestados pela própria autuada e também pelas demais empresas que foram intimadas no curso da auditoria, nesse caso com estrita observância das normas a respeito da apuração do valor tributável mínimo. Além disso, não restando evidenciada situação de prejuízo ao direito de defesa da parte, que apresentou extensas, substanciosas e detalhadas razões recursais, demonstrando conhecer perfeitamente os motivos da autuação, devese observar a jurisprudência já consagrada pela Câmara Superior de Recursos Fiscais no sentido de que “Não existe prejuízo à defesa quando os fatos narrados e fartamente documentados nos autos amoldamse perfeitamente às infrações imputadas à empresa fiscalizada. Não há nulidade sem prejuízo” (Acórdão: CSRF/0202.301). Pelo exposto, portanto, deve ser rejeitada a preliminar de nulidade do lançamento e da decisão recorrida. 2. VALOR TRIBUTÁVEL MÍNIMO O valor tributável mínimo está previsto nos arts. 136 e 137 do RIPI/02, in verbis: Art. 136. O valor tributável não poderá ser inferior: I ao preço corrente no mercado atacadista da praça do remetente quando o produto for destinado a outro estabelecimento do próprio remetente ou a estabelecimento de firma com a qual mantenha relação de interdependência II a noventa por cento do preço de venda aos consumidores, não inferior ao previsto no inciso I, quando o produto for remetido a outro estabelecimento da mesma empresa, desde que o destinatário opere exclusivamente na venda a varejo III ao custo de fabricação do produto, acrescido dos custos financeiros e dos de venda, administração e publicidade, bem assim do seu lucro normal e das demais parcelas que devam ser adicionadas ao preço da operação, no caso de produtos saídos do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial, com destino a comerciante autônomo, ambulante ou não, para venda direta a consumidor (Lei nº 4.502, de 1964, art. 15, inciso III, e Decretolei nº 1.593, de 1977, art. 28); IV a setenta por cento do preço da venda a consumidor no estabelecimento moageiro, nas remessas de café torrado a comerciante varejista que possua atividade acessória de moagem (Decretolei nº 400, de 1968, art. 8º). § 1º No caso do inciso II, sempre que o estabelecimento varejista vender o produto por preço superior ao que haja servido à determinação do valor tributável, será este reajustado com base no preço real de venda, o qual, acompanhado da respectiva demonstração, será comunicado ao remetente, até o último dia do período de apuração subseqüente ao da ocorrência do fato, para Fl. 4040DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.041 26 efeito de lançamento e recolhimento do imposto sobre a diferença verificada. § 2º No caso do inciso III, o preço de revenda do produto pelo comerciante autônomo, ambulante ou não, indicado pelo estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial, não poderá ser superior ao preço de aquisição acrescido dos tributos incidentes por ocasião da aquisição e da revenda do produto, e da margem de lucro normal nas operações de revenda. Art. 137. Para efeito de aplicação do disposto nos incisos I e II do art. 136, será considerada a média ponderada dos preços de cada produto, vigorastes no mês precedente ao da saída do estabelecimento remetente, ou, na sua falta, a correspondente ao mês imediatamente anterior àquele. Parágrafo único. Inexistindo o preço corrente no mercado atacadista, para aplicação do disposto neste artigo, tomarse á por base de cálculo: I no caso de produto importado, o valor que serviu de base ao Imposto de Importação, acrescido desse tributo e demais elementos componentes do custo do produto, inclusive a margem de lucro normal; e II no caso de produto nacional, o custo de fabricação, acrescido dos custos financeiros e dos de venda, administração e publicidade, bem assim do seu lucro normal e das demais parcelas que devam ser adicionadas ao preço da operação, ainda que os produtos hajam sido recebidos de outro estabelecimento da mesma firma que os tenha industrializado. MINISTÉRIO DA FAZENDA PROCURADORIA‑GERAL DA FAZENDA NACIONAL De início, restanos afirmar que, ainda que a legislação do IPI não impeça a terceirização de etapas da industrialização, o fato é que, na hipótese dos autos, as saídas ora tributadas referemse a produtos industrializados pela COSMED, por conta própria, conforme documentado em livros, notas fiscais, registros e demais documentos juntados aos autos e já devidamente analisados pelos Julgadores de Primeira Instancia, que afastam, assim, a insistente argumentação da empresa, de que teria havido, na verdade, apenas transferência de produtos sem marca, sendo as operações da empresa de mera terceirização. Visto isso, ressaltase que a interdependência de duas empresas, nos termos do art. 520, I, do RIPI/02 verificase sempre que uma delas tiver participação no capital social da outra de quinze por cento ou mais, por si, seus sócios ou acionistas, bem como por intermédio de parentes destes até o segundo grau e respectivos cônjuges, se a participação societária for de pessoa física, exatamente como se dá no presente caso, em que a HYPERMARCAS S.A. (empresa Comercial) detém 100% das ações da COSMED INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS E MEDICAMENTOS S.A. (recorrente), segundo indicado pela Fiscalização. A interdependência, no caso, estaria também configurada pela vinculação gerencial e coincidência de sócios e administradores (devidamente demonstrado no item 7.1.1.1 do Termo de Descrição dos Fatos) e, ainda, porque a recorrente vende para a Fl. 4041DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.042 27 HYPERMARCAS quase a totalidade dos produtos que industrializa. De todo modo, a relação de interdependência entre as partes sequer foi contestada pela recorrente. Apontada, portanto, a interdependência entre as empresas envolvidas nas operações fiscalizadas, a recorrente deveria ter aplicado, nas vendas realizadas para a HYPERMARCAS, o valor tributável mínimo. No entanto, o que se viu nos autos foi que a fiscalizada industrializou seus produtos e os vendeu, quase que em sua totalidade para a HYPERMARCAS a preços significativamente inferiores àqueles praticados na operação com terceiros independentes. Além disso, identificouse, ainda, que os preços praticados pelas interdependentes no mercado atacadista, na venda a terceiros não integrantes do Grupo Hypermarcas, eram muito superiores aos preços praticados intragrupo. Senão vejamos: 1º Semestre de 2009 (01/01/2009 a 30/06/2009): Ou seja, apuramos que o preço dos produtos vendidos à Aprov [incorporada pela Hypermarcas em dezembro de 2008] equivalia à cerca de 32% (trinta e dois por cento) do preço pratica pela Aprov nas vendas aos seus clientes (valor de mercado). O quadro acima também demonstra que o preço dos produtos vendidos à Aprov equivale à cerca de 30% (trinta por cento) do preço praticado pela Cosmed nas vendas a terceiros (outros clientes da Cosmed). (...) 2º Semestre de 2009 (01/07/2009 a 31/12/2009): Mais uma vez apuramos que o preço dos produtos vendidos para a empresa ligada (Hypermarcas) equivale à cerca de 33% (trinta e três por cento) do preço praticado pela Hypermarcas no mercado atacadista. Da mesma forma, o preço dos produtos vendidos para a empresa ligada (Hypermarcas) equivale à cerca de 30% (trinta por cento) do preço praticado nas vendas da Cosmed com terceiros (clientes da Cosmed). O simples fato de estabelecimentos interdependentes praticarem entre si preços diferentes daqueles negociados no mercado, quando da comercialização entre partes não relacionadas, denota o favorecimento entre elas o que, por si só, autoriza a conclusão de que a recorrente, de fato, praticou a infração que lhe foi imputada. Tudo isso, partindose do pressuposto de que o RIPI/02, nos seus arts. 136 e 137, traz normas que, claramente, visam A impedir que os fabricantes se utilizem de firmas interdependentes para reduzir a base de cálculo do imposto. Assim, existindo mercado atacadista na praça do remetente, o preço do produto negociado entre as empresas interdependentes deveria corresponder ao preço corrente naquele mercado, o que, claramente, não se deu nos autos. A fim, portanto, de demonstrar a infração cometida pela fiscalizada e de se chegar a esse valor de mercado, a ser calculado com base na média ponderada dos preços de cada produto, vigorantes no mês antecedente ao da saída do estabelecimento remetente ou ao mês imediatamente anterior, exatamente como manda a legislação, a Fiscalização intimou 25 Fl. 4042DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.043 28 empresas comerciais atacadistas localizadas em Taboão da Serra e Barueri (cidades onde estão localizados os estabelecimentos industriais da COSMED, respectivamente, filial e matriz), listadas no item 2.3 do Termo de Descrição dos Fatos e identificados por meio do CNAE Fiscal, a informar o preço de revenda, no atacado, de cada produto que tivesse as mesmas características e especificidades das mercadorias industrializadas pela COSMED, indicando, ainda, a quantidade de produtos vendidos. Nesse sentido, na intimação enviada aos atacadistas da praça da recorrente constava que “para os produtos de referência, cujas características e especificidades são diferentes dos produtos revendidos pela Atacadista Intimada, não é necessário infirmar o valor do preço de venda”, o que afasta qualquer alegação no sentido de que a apuração dos preços de mercado teria levado em consideração produtos diversos dos fabricados pela recorrente. De todo modo, é certo que não se pode exigir, na apuração desta média, que sejam considerados produtos idênticos, até porque, isso seria impossível, levandose em conta as peculiaridades de cada marca. Assim, as orientações das autoridades fiscais para o caso são no sentido de que se considerem as mercadorias caracterizadas por tipo, modelo, espécie e quantidade, ou seja, produtos de mesma natureza que permita à Fiscalização ter parâmetros para se obter o valor de mercado, a exemplo do ADN CST nº 05/82, que não exige mercadorias exatamente iguais. Aceitar a tese da recorrente e entender que as mercadorias analisadas para se chegar ao valor de mercado deveriam ser idênticas seria, em última análise, reconhecer que a base de cálculo estabelecida pelo fabricante (que seria sempre único) de certo produto nas saídas para empresas interdependentes estaria correto, pela ausência de qualquer outro produto da mesma natureza que integrasse o universo de preços do mercado atacadista da praça do remetente. Esse entendimento, além de ilegal, por impedir a aplicação da Lei, esvaziaria o significado do termo “mercado”. Obtido, portanto, o preço de mercado praticado pelas atacadistas que, na praça da remetente, vendem produtos com as mesmas características daqueles que são por ela fabricados, e levandose em conta que o “universo das vendas” representa as vendas de produtos de mesma espécie, praticadas pelos estabelecimentos atacadistas localizadas na mesma praça da remetente, ainda que isso não represente levar em conta todos os atacadistas – embora a presente ação fiscal tenha sido bastante abrangente, e a recorrente não tenha demonstrado quais atacadistas teriam, supostamente, ficado de fora da pesquisa – correto o lançamento. Para os casos em que os produtos industrializados pela COSMED não possuíam similares vendidos por atacadistas de Taboão da Serra, considerouse inexistir mercado atacadista naquela praça e, por isso, aplicouse, na apuração do VTM, a regra do art. 137, parágrafo único, II do RIPI/02, tomandose como base de cálculo o custo de fabricação do bem, acrescido dos demais custos previstos na legislação. Levandose em conta que referido cálculo deve abranger todos os custos referentes ao PRODUTO: sejam eles custos de produção, de venda e de publicidade, dentre outros que concorrem para a formação do preço do bem, ainda mais porque o IPI não é um imposto pessoal (de modo a considerar os custos da pessoa do industrial ou da pessoa do distribuidor), mas sim um imposto real, devendo ser levados em conta todos os custos da mercadoria, o preço praticado pelo destinatário (no caso, pela HYPERMARCAS) é o que Fl. 4043DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.044 29 efetivamente abrange, além dos custos de fabricação, também os demais elementos que devem ser considerados na fixação do VTM, razão pela qual foram eles considerados, sem se falar em arbitramento. Mas ainda que se entenda que de arbitramento se trata, o fato é que a prática de preços irrisórios na venda dos produtos pelos industriais para comerciais interdependentes ofende a teleologia da norma e representa burla à legislação levada a feito pelo contribuinte, o que autorizaria a Fiscalização – com fundamento no art. 148 do CTN, no art. 138 do RIPI e, ainda, com esteio no princípio da verdade material – a desconsiderar a contabilidade da empresa (ainda mais em casos como os dos autos, em que a fiscalizada sequer informou os custos indiretos individualizados por produtos ou o lucro apurado na venda de cada um dos bens) e levar em conta, na fixação da base de cálculo da exação, os preços de mercado dos produtos, a fim de se chegar a um valor correspondente à realidade. Nesse sentido, e partindo do pressuposto de que quase a totalidade das vendas da recorrente foi destinada à Hypermarcas, que revendeu os produtos industrializados pela COSMED no mercado atacadistas independente, os valores praticados nestas operações foram tidos como os preços reais e com isso, apurouse a média dos preços praticados pela Comercial interdependente para fins de apuração das diferenças de IPI devidas pelo estabelecimento industrial remetente. Esta providência adotada pelo Fiscal já foi corroborada por este Conselho, a exemplo do que decidido no acórdão nº 20204.484, em que a Turma Julgadora concluiu que no caso de não haver outros atacadistas que comercializem os produtos especificados, o VTM deve ser o preço praticado na venda a terceiros pelo próprio estabelecimento interdependente, quando único na praça. Ainda no mesmo sentido foi proferido o acórdão nº 3301001.847. Mais recentemente, em julgamento proferido pela Primeira Turma da Segunda Câmara da Terceira Seção, negouse provimento ao recurso voluntário do contribuinte (acórdão 3201001204) sob o fundamento de que o preço praticado pela distribuidora interdependente nas vendas para terceiros independentes, equivale ao preço de mercado, por abranger os custos do produto. Por fim, não faz sentido incluir, segundo pleiteado pela recorrente, na apuração do VTM, o valor das vendas da Industrial para a Comercial interdependente, já que se o VTM é para ser aplicado justamente nestas vendas (entre interdependentes), por óbvio que não se pode tomar em conta o preço erroneamente praticado na venda para a Comercial. Assim, a decisão recorrida deve ser mantida neste ponto. 3. DA CLASSIFICAÇÃO FISCAL Nos termos do relatado, as alíquotas utilizadas pela recorrente na apuração do IPI devido em razão da saída do produto gel para cabelos foi indevida, uma vez que, ao contrário do que entende a fiscalizada, tais produtos não devem ser classificados no código 3307.2090 da TIPI/ 2007, mas sim na posição 3305.9000, com alíquota de 22%. Em relação ao tema, pedese vênia para transcrever trechos da decisão recorrida, que corrobora o entendimento da Fiscalização e concluiu que: Fl. 4044DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.045 30 Definida a competência da RFB para efetuar a classificação fiscal de produtos, devese também considerar que o art. 16 do RIPI/2002, em vigor na época, estabelece que a classificação fiscal dos produtos é feita em conformidade com as Regras Gerais para Interpretação (RGI) do Sistema Harmonizado, Regras Gerais Complementares (RGC) e Notas Complementares (NC), todas da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), integrantes do texto da referida nomenclatura, em que se baseia a TIPI. A RGI 1 estabelece que os títulos das seções, capítulos e subcapítulos têm apenas valor indicativo, sendo que, para os efeitos legais, a classificação é determinada pelos textos das posições e das notas de seção e de capítulo e, desde que não sejam contrárias aos textos das referidas posições e notas, pelas demais RGIs. Os produtos de cuja classificação se trata, anteriormente citados podem ser classificados no Capítulo 33, referente a “óleos essenciais e resinóides; produtos de perfumaria ou de toucador preparados e preparações cosméticas. O texto da posição 3305 e suas subposições diz o seguinte: (...) Nesse caso, devese ainda recorrer ao art. 17 do RIPI/2002 segundo o qual as Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (Nesh), constituem elementos subsidiários de caráter fundamental para a correta interpretação do conteúdo das posições e subposições, bem assim das Notas de Seção, Capítulo, posições e de subposições da Nomenclatura do Sistema Harmonizado, em que se baseia a TIPI (Decretolei no 1.154, de 1971, art. 3o). Vejase o que dizem as Nesh da posição 3305: (...) Consequentemente, a posição 3305 compreende todos os produtos de perfumaria ou de toucador preparados e preparações cosméticas para uso capilar, excluindose a sua classificação na posição 3307, o que revela a impropriedade da classificação adotada pela impugnante, na subposição 3307.20 que se refere a desodorantes (desodorizantes) corporais e antiperspirantes e o acerto da classficação do produto “gel fixador” e “gel desodorante fixador” para cabelo no código 3305.9000 da TIPI/2002, adotada no auto de infração, que deve ser mantida, para fins de exigir a diferença de imposto resultante da utilização da alíquota inadequada. Em resumo, e para finalizar, cabe dizer que o interessado promoveu saídas de produtos tributados pelo IPI, destinados a firma com a qual mantém relação de interdependência, praticando preços muito inferiores aos de mercado, não tendo incluído na base de cálculo do IPI todos os custos e demais elementos previstos na legislação como obrigatoriamente componentes do valor tributável mínimo, além de ter dado Fl. 4045DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.046 31 saída aos produtos “gel fixador” e “gel desodorante fixador” para cabelo com alíquota incorreta, em virtude de errônea classificação fiscal, fatos que foram regularmente apurados no presente processo, devendo ser integralmente mantida a autuação, nesse particular. Dessarte, a decisão recorrida deve ser mantida também neste ponto. 4. DA MULTA DE OFÍCIO AGRAVADA Insurgese a recorrente contra a aplicação da multa qualificada, prevista no art. 44, I, c/c § 1º, da Lei n.º 9.430/96, alegando que não teria agido com dolo ou fraude. Afirma, ainda, que a multa teria sido aplicada com base em meras alegações da Fiscalização, sem elementos probatórios que corroborassem tal entendimento. Na hipótese vertente, em relação ao IPI, a autuação decorreu do fato de a recorrente ter efetuado a venda de seus produtos industrializados para a comercial interdependente por valores sabidamente ínfimos (ainda que não se fale, propriamente, em preços subfaturados, o fato é houve a prática de preços notoriamente irrisórios), sem observar o VTM imposto pela legislação do IPI, praticando valores conhecidamente vis, que não eram observados no mercado e nem mesmo nas vendas para empresas independentes. Nesse sentido, transcrevese trechos do Termo de Descrição dos Fatos, que resumem de forma clara a situação dos autos e demonstram a existência de fraude que justifica a manutenção da qualificação da penalidade aplicada: ...Desta forma, restará comprovado que nas vendas subfaturas intercompany o único fundamento econômico que justifica as operações realizadas é a redução da carga tributária do referido grupo. (...) Restou comprovado que a venda de produtos, produzidos pela Cosmed, por valores ínfimos, afeta sobremaneira a apuração do lucro bruto da companhia. Se compararmos o índice da Cosmed com o obtido em 62 (sessenta e duas) pessoas jurídicas do mesmo segmento, apuramos que o índice destas empresas é 25 vezes maior. (...) Portanto, não há propósito negocial nas operações entre a Cosmed e a Hypermarcas, pois estas transações não seguem os padrões e critérios de mercado, mormente no tocante à obtenção de lucros. Prova disso é que a Cosmed pratica preços totalmente diversos quando o cliente não é a Hypermarcas. (...) Conforme demonstrado no tópico 1.2, o grupo Hypermarcas utiliza dois critérios na valoração dos preços de venda praticados pela Cosmed: um para as vendas feitas para as empresas ligadas (Hypermarcas e Aprov) e outro para os demais clientes (terceiros). Fl. 4046DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.047 32 Restou comprovada a desproporção entre as vendas para Aprov/Hypermarcas e as vendas efetuadas para os demais clientes (terceiros) ao longo do anocalendário de 2009. (...) Ou seja, não encontramos nenhuma lógica ou explicação plausível para o fato de a Cosmed adotar um critério de preço (subfaturado) praticado nas vendas à Hypermarcas (produtos submetidos à tributação monofásica) e outro critério de preços praticados nas vendas à terceiros clientes (que não seja a Hypermarcas) ou nas vendas de produtos submetidos à tributação normal do PIS e da COFINS (cuja tributação não é concentrada). Ademais, intimamos a fiscalizada, por diversas vezes, para esclarecer a razão pela qual adota política de preços diferenciada em razão da natureza da tributação (monofásica x normal). Até esta data nada foi esclarecido. Por todo o exposto não resta dúvida de que não houve propósito econômico nas vendas subfaturadas feitas à Hypermarcas. (...) Além de já ter sido demonstrado que as partes envolvidas são empresas interdependentes (a Cosmed é subsidiária integral da Hypermarcas), ou seja, pertencem ao mesmo grupo econômico, restou comprovado que as operações realizadas (venda de produtos industrializados pela Cosmed para a Hypermarcas por valores subfaturados) fogem da normalidade comercial e tiveram como objetivo preponderante a economia tributária. Portanto, é notório que nas operações realizadas entre a Hypermarcas e sua subsidiária (Cosmed) o único fim econômico e social que houve foi a diminuição da carga tributária e o aumento do lucro do grupo Hypermarcas, obtidos à custa de uma prática abusiva, ilegal e ilícita. Ainda que outras alegações também tenham sido utilizadas pelo Fiscal como reforço de argumentação, o fato é que da simples leitura destes trechos do relatório fiscal já se pode aferir os fatos que deram origem à autuação e que representam ofensa ao RIPI/02. Nesta toada, o que fez a Fiscalização foi considerar inoponíveis ao Fisco os valores de vendas da Industrial para a Comercial, procurando demonstrar a sua abusividade, que não estaria encerrada, exclusivamente, na separação das atividades de industrialização e comercialização dentro do Grupo Hypermercas, mas sim na prática dos preços inferiores ao de mercado na venda intragrupo, em total desrespeito ao VTM. Verificase, assim, que ao segregar suas atividades e, em consequência dessa separação, praticar preços muito inferiores aos de mercado nas vendas realizadas para empresa comercial interdependente, o contribuinte praticou conduta fraudulenta, tendente a impedir o fisco de tomar conhecimento da real ocorrência de fatos geradores, revelando, assim, sua intenção deliberada de se eximir do pagamento dos tributos no montante que ora lhe é exigido. Portanto, devese também manter a decisão de piso neste ponto. 5. DOS JUROS DE MORA SOBRE A MULTA DE OFÍCIO Fl. 4047DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.048 33 A despeito de a DRJ ter informado que, no caso dos autos, os juros incidem apenas sobre o principal, não recaindo sobre a multa, a contribuinte, fazendo uma interpretação meramente literal, mais simples e de menor grau de certeza da legislação aplicável, pleiteia a exclusão dos juros aplicáveis sobre a multa, por entender que deveriam recair apenas sobre o valor do tributo. Ocorre que, em uma análise sistemática do Código Tributário Nacional, percebese que os juros são devidos também sobre o valor da multa, uma vez que o crédito tributário engloba tanto o tributo quanto a multa. Vejamos. Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. O art. 113, § 1º do CTN preceitua que a obrigação principal tem por objeto o pagamento do tributo ou penalidade pecuniária, donde se observa que o critério utilizado pelo Código Tributário Nacional para distinguir obrigação acessória de obrigação principal é o conteúdo pecuniário. A obrigação acessória consiste em um fazer ou não fazer, enquanto que a obrigação principal implica em obrigação de dar dinheiro. Neste passo, evidente que a multa tem natureza de obrigação principal, visto que incontestável o seu conteúdo pecuniário. O conceito de crédito tributário está esculpido no art. 139 do CTN, nos seguintes termos: o crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Desta forma, por ser a multa, obrigação principal, não se pode chegar a outra conclusão senão a de que o crédito tributário engloba o tributo e a multa. Logo, tanto sobre o tributo (principal) quanto sobre a multa deve incidir juros, como determina o § 1º do art. 161 do Código Tributário Nacional. No acórdão nº 10196.177, a Conselheira Relatora conclui neste mesmo sentido: “1. A obrigação tributária pode ser principal, consistindo em obrigação de dar (pagar tributo ou multa) e acessória, obrigação de fazer (deveres instrumentais). 2. De acordo com o art. 139 do CTN, o crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Portanto, compreendese no crédito tributário o valor do tributo e da multa. ... b. Sobre a multa por lançamento de ofício não paga no vencimento incidem juros de mora;” Por tudo isso, não há como se negar a incidência de juros sobre a multa de ofício. Fl. 4048DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.049 34 6. DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA Segundo relatado, paralelamente ao lançamento foram lavrados termos de sujeição passiva solidária em face da Hypermarcas, de seus diretores e do Presidente do seu Conselho de Administração, bem como em face dos diretores da Cosmed. Em suas defesas, os responsáveis solidários alegaram, basicamente, ter havido modificação do fundamento legal indicado no termo de sujeição passiva solidária, considerando que a DRJ sustenta sua decisão no art. 8º do DL 1736, não mencionado na autuação e, ainda, a improcedência do termo de responsabilidade solidária, considerando que o agente fiscal não enunciou a conduta infracional supostamente praticada pelos responsáveis; que não interesse comum que justificasse a aplicação do art. 124, I do CTN; e nem qualquer outra razão que permite fundamentar a responsabilidade no art. 135 do CTN, que não se aplica para casos de mero inadimplemento das obrigações tributárias; seja, por fim, pela impossibilidade de se aplicar o art. 50 do Código Civil em matéria fiscal. De início, importa ressaltar que, em momento algum de suas defesas, os responsáveis em questão buscam provar que a condição de efetivos diretores, responsáveis pela gerência das empresas, que lhes foi atribuída, não condiz com a verdade. Assim, é indiscutível a condição de gestores de tais recorrentes. Ademais, também não há que se falar que a DRJ teria alterado o fundamento legal da responsabilidade imposta, já que, da mesma forma que nos termos de sujeição passiva, tratou expressamente dos arts. 124 e 135 do CTN. A menção ao art. 8º do DL 1736/79 representou mero argumento de reforço à sua tese de que, de fato, há que ser mantida a autuação também em face dos responsáveis solidários. Outrossim, também não há que se falar em improcedência da responsabilização por aplicação equivocada do art. 50 do Código Civil ao caso dos autos. Ora, em momento algum se desconsiderou a personalidade jurídica de nenhuma das empresas envolvidas na operação fiscalizada e nem os atos por elas praticados, ao contrário do que a firma a recorrente. Em relação aos fundamentos da responsabilidade que lhes foi imputada, reza o art. 135, inc. III do CTN, que: Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: (...) III os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. É da dicção do art. 135 do CTN que a solidariedade do diretor, gerente ou representante, pela divida da sociedade, se manifestará, quando comprovado que, no exercício de sua administração, foram praticados atos contemplados pelo comando legal citado, porém com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos. Fl. 4049DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.050 35 Assim, para que haja a subsunção da norma do art. 135, inc. III do CTN, segundo o qual há responsabilidade solidária da empresa fiscalizada e do administrador, temos que perquirir a presença de dois elementos: (a) ser administrador e (b) ter cometido ato ilícito nessa posição. A qualidade de administradores é indiscutível. A prática de ato ilícito, consoante relatado outrora e constatado no curso da ação fiscal instaurada para a apuração de crédito tributário devido, consubstanciase na adoção, nas vendas intragrupo, de preços sabidamente irrisórios, notoriamente muito inferiores aqueles praticados nas vendas realizadas no mercado, bem como nas vendas da recorrente para empresas independentes. Assim, conforme conclusão do auditor fiscal, “nos termos dos artigos 116 e 117, da Lei nº 6404/76, a venda de produtos subfaturados à Hypermarcas, caracteriza o exercício abusivo de poder por parte dos dirigentes do grupo econômico Hypermarcas, já que favorece outra sociedade em detrimento dos interesses da Cosmed”, o que justifica, portanto, a imputação da responsabilidade que ora se discute. Diante de todas as evidências trazidas aos autos, portanto, não se está tratando aqui, por óbvio, de "mero inadimplemento", como alegado pelos interessados. O crédito lançado pela fiscalização em auto de infração não é um crédito de "mero inadimplemento", visto que, se houve autuação é porque, segundo a administração fazendária federal, houve infração à lei, havendo, portanto, um ato ilícito do ponto de vista tributário e por esta razão, autorizada está a imputação de responsabilidade tributária dos administradores das pessoas jurídicas envolvidas na autuação. Em relação à responsabilidade da Hypermarcas, destacase que, segundo informado no TDF: “apuramos que a Cosmed não decide em favor se seus próprios interesses, já que controle é exercido pela controladora que determina as condições de negociação... Portanto, ficou comprovado que os diretores da Hypermarcas controladora da Cosmes, exercem efetivamente a direção e as condições de negociação entre as empresas integrantes do grupo econômico, ditando as regras a serem seguidas, mormente no tocantes à redução da carga tributária. Destarte, restou configurado, por parte da Hypermarcas, o interesse comum no fato gerador, tipificado no inciso I do art. 124 do CTN, já que além de se beneficiar das fraudes perpetradas, participa efetivamente da ocorrência do fato gerador.” Deste modo, com base no art. 124, I do CTN, devese reconhecer a solidariedade entre eles. Isto porque, nos termos daquele dispositivo legal, são definidos como solidariamente obrigadas pelo crédito tributário as pessoas que têm interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. No caso dos presentes autos, o lançamento em comento demonstrou de forma clara e suficiente o interesse comum (econômico e jurídico) dos responsáveis tributários Fl. 4050DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.051 36 solidários na situação que constituiu os fatos geradores dos tributos apurados. A fim de corroborar esta posição, mister destacar o que, acertadamente, concluiu a DRJ: No presente caso, o interesse comum na situação que constituiu o fato gerador achase materializado, justamente, no fato de que ambas empresas fazem parte de um mesmo grupo econômico, sendo a empresa Hypermarcas controladora da autuada. A redução da base de cálculo do IPI decorre da forma como organizam suas operações. À vista das argumentações da autuada Cosmed e também sua controladora, fica evidente que no âmbito da atividade empresarial do grupo econômico a definição dos preços de produtos é efetivamente uma equação complexa que leva em consideração, no mínimo, os custos de toda a atividade empreendedora e os investimentos futuros do mesmo grupo. Logo, configurado o interesse comum na situação que constitui o fato gerador, bem como a prática de atos com excesso de poder e infração à lei devem, tanto a Hypermarcas quanto todos os diretores autuados, ser considerados responsáveis solidários pelo crédito tributário lançado em face da contribuinte. Por todo o exposto, voto no sentido de manter integralmente a decisão recorrida e negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Liziane Angelotti Meira Voto Vencedor Peço vênia para discordar do voto da relatora, no que concerne às seguintes questões: competência da 3° Seção para julgar o presente feito; adoção do preço praticado pela Hypermarcas com seus clientes como valor tributável para fins do lançamento de ofício de IPI sobre para as vendas da Cosmed para a Hypermarcas, no período de 01/07/2009 a 31/12/200; e agravamento da multa de ofício e atribuição de responsabilidade solidária tributária à sócia pessoa jurídica Hypermarcas e a diretores desta empresa e da recorrente. Fatos Consta no "Termo de Descrição dos Fatos" que a Hypermarcas era subsidiária integral da Cosmed. Que o somatório das vendas das três filiais (Matriz, Barueri/SP, Taboão da Serra/SP e São Paulo/SP) da Cosmed para a Hypermarcas representou 99% da sua receita bruta. Fl. 4051DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.052 37 E que o preço de venda para a Hypermarcas equivalia a 33% do preço que esta praticava no mercado atacadista em que atuava e 30% do observado nas vendas da Cosmed para terceiros. Com efeito, a fiscalização titulou tal prática comercial de "subfaturamento", a qual estaria inserida no contexto de um "planejamento tributário ilegal e abusivo", cujo objetivo era, exclusivamente, "a economia de tributos", quais sejam, CSL, IRPJ, PIS, COFINS e IPI. O planejamento teria envolvido diversas operações de cisão e incorporação, com o deslocamento de atividades e unidades industriais (bens, custos e despesas). E as justificativas contidas nos atos societários seriam "subjetivas, abstratas e desvinculadas da realidade dos fatos". Competência da 3° Seção de Julgamentos O mesmo procedimento fiscal e as mesmas provas resultaram em autuações de CSL, IRPJ, PIS, COFINS (processo n° 16004.720395/201393) e IPI, o que, em princípio, poderia levar à conclusão de que a competência para julgar o processo seria da 1° Seção de julgamentos, nos termos do art. 2° c/c art. 6° do Anexo II da Portaria MF n° 343/15 (RICARF) "Art. 2º À 1ª (primeira) Seção cabe processar e julgar recursos de ofício e voluntário de decisão de 1ª (primeira) instância que versem sobre aplicação da legislação relativa a: (. . .) IV CSLL, IRRF, Contribuição para o PIS/Pasep ou Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), quando reflexos do IRPJ, formalizados com base nos mesmos elementos de prova; (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) (. . .) Art. 6º Os processos vinculados poderão ser distribuídos e julgados observandose a seguinte disciplina: §1º Os processos podem ser vinculados por: (. . .) III reflexo, constatado entre processos formalizados em um mesmo procedimento fiscal, com base nos mesmos elementos de prova, mas referentes a tributos distintos. (. . .)" (g.n.) Minha leitura do RICARF é a de que processos de IPI e IRPJ devem ser julgados em conjunto pela 1° Seção, quando as bases tributáveis são formadas a partir dos Fl. 4052DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.053 38 mesmos elementos fáticos e jurídicos, os quais, se eventualmente desconstruídos, importaria no cancelamento de ambos os lançamentos de ofício. Todavia, isto não se verifica no caso em tela. O IPI foi lançado, porque o Fisco concluiu que os preços praticados nas vendas da Cosmed para a Hypermarcas eram inferiores aos valores tributáveis mínimos, determinados de acordo com os artigos 136 a 138 do RIPI/02 (integralmente reproduzidos no voto condutor). Adicionalmente, houve lançamento de IPI, motivado por erro de classificação fiscal. Por outro lado, os lançamentos de CSL e IRPJ foram calculados sobre a diferença entre o preço praticado e o de mercado "distribuição disfarçada de lucros (DDL)", artigos 464 a 467 do Decreto n° 3.000/99 (RIR/99). Verificase que os dispositivos legais apuram os valores tributáveis com base em parâmetros distintos, permitindo que um subsista, ainda que o outro não. Portanto, entendo que, na parte que trata de IPI, o presente processo deve ser julgado pela 3° Seção de Julgamentos. Arbitramento do valor tributável mínimo para o IPI A Hypermarcas detinha 100% das ações da Cosmed, pelo que eram consideradas "interdependentes" para fins de IPI (inciso I do art. 520 do RIPI/02). Com isto, a base de cálculo do IPI nas vendas da Cosmed para a Hypermarcas tinha de atender o disposto no inciso I do art. 136 do RIPI/02: "Valor Tributável Mínimo Art. 136. O valor tributável não poderá ser inferior: I ao preço corrente no mercado atacadista da praça do remetente quando o produto for destinado a outro estabelecimento do próprio remetente ou a estabelecimento de firma com a qual mantenha relação de interdependência (Lei nº 4.502, de 1964, art. 15, inciso I, e Decretolei nº 34, de 1966, art. 2º, alteração 5ª); (. . .)" A fiscalização efetuou pesquisas nos mercados onde se localizavam as filiais da Cosmed (Taboão da Serra/SP e Barueri/SP), porém verificou que diversos produtos não eram comercializados naquelas localidades (item 6 do "Termo de Descrição dos Fatos", fl. 2.136). Para estes casos, então, teria ela de adotar o inciso II do art. 137 do RIPI/02: "Art. 137. Para efeito de aplicação do disposto nos incisos I e II do art. 136, será considerada a média ponderada dos preços de cada produto, vigorastes no mês precedente ao da saída do estabelecimento remetente, ou, na sua falta, a correspondente ao mês imediatamente anterior àquele. Fl. 4053DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.054 39 Parágrafo único. Inexistindo o preço corrente no mercado atacadista, para aplicação do disposto neste artigo, tomarseá por base de cálculo: (. . .) II no caso de produto nacional, o custo de fabricação, acrescido dos custos financeiros e dos de venda, administração e publicidade, bem assim do seu lucro normal e das demais parcelas que devam ser adicionadas ao preço da operação, ainda que os produtos hajam sido recebidos de outro estabelecimento da mesma firma que os tenha industrializado." Contudo, também não foi possível adotar o inciso II do art. 137, pois concluiu no curso de seus exames que os custos industriais não mereciam fé. Restou, assim, como única alternativa, o arbitramento (item 6 do "Termo de Descrição dos Fatos", fl. 2.137), previsto no art. 138 do RIPI/02: "Arbitramento do Valor Tributável Art. 138. Ressalvada a avaliação contraditória, decorrente de perícia, o Fisco poderá arbitrar o valor tributável ou qualquer dos seus elementos, quando forem omissos ou não merecerem fé os documentos expedidos pelas partes ou, tratandose de operação a título gratuito, quando inexistir ou for de difícil apuração o valor previsto no art. 133 (Lei nº 4.502, de 1964, art. 17, e Lei nº 5.172, de 1966, art. 148)." § 1º Salvo se for apurado o valor real da operação, nos casos em que este deva ser considerado, o arbitramento tomará por base, sempre que possível, o preço médio do produto no mercado do domicílio do contribuinte, ou, na sua falta, nos principais mercados nacionais, no trimestre civil mais próximo ao da ocorrência do fato gerador. § 2º Na impossibilidade de apuração dos preços, o arbitramento será feito segundo o disposto no art. 137." A fiscalização concluiu que houve subfaturamento entre Cosmed e Hypermarcas e que não se eram confiáveis os custos industriais apresentados. E também deduziu que os preços praticados entre as demais empresas do Grupo Hypermarcas não eram reais. Por isto, viuse impossibilitada de obter o "valor real da operação". Buscouse então o "preço médio dos produtos no mercado do domicílio" das filiais da Cosmed. Contudo, conforme já mencionado, naquelas localidades, não havia produtos idênticos ou similares. Restou, portanto, uma única alternativa: "o preço médio do produto (. . .) nos principais mercados nacionais". E é neste ponto que surgiu minha discordância: foi adotado como preço no mercado nacional o praticado pela Hypermarcas. Fl. 4054DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.055 40 Ora, consta no "Termo de Descrição dos Fatos" que a Cosmed industrializava e vendia, no atacado, para a Hypermarcas, produtos sem a marca comercial esta última apunha as marcas e os revendia para outras atacadistas. Isto é, Cosmed e Hypermarcas participavam da mesma cadeia produtiva, porém em etapas distintas, com estruturas próprias e distintas de custos industriais e administrativos e, naturalmente, suas vendas não eram realizadas no mesmo mercado. Assim sendo, reputo que a fiscalização não aplicou corretamente o disposto no §1° do art. 138 do RIPI/02, pois não apurou o "preço médio do mercado nacional" da Cosmed, tendo, por outro lado, adotado o preço médio da Hypermarcas, que operava em mercado absolutamente distinto. Por conseguinte, voto pelo cancelamento do crédito tributário de IPI correspondente. Agravamento da multa de ofício e atribuição de responsabilidade tributária solidária Da autuação, restaram os seguintes lançamentos de ofício: IPI sobre a diferença entre o preço praticado nas vendas da Cosmed para a Hypermarcas e o valor tributável mínimo, calculado de acordo com o inciso I do art. 136 do RIPI/02; e diferenças de IPI derivadas de erro na classificação fiscal do produto gel para cabelos do código 3307.2090 para a 3305.9000. A relatora ratificou o trabalho fiscal e decidiu manter a multa agravada, em razão dos seguintes motivos (trechos do voto condutor): (. . .)" Na hipótese vertente, em relação ao IPI, a autuação decorreu do fato de a recorrente ter efetuado a venda de seus produtos industrializados para a comercial interdependente por valores sabidamente ínfimos (ainda que não se fale, propriamente, em preços subfaturados, o fato é houve a prática de preços notoriamente irrisórios), sem observar o VTM imposto pela legislação do IPI, praticando valores conhecidamente vis, que não eram observados no mercado e nem mesmo nas vendas para empresas independentes. Nesse sentido, transcrevese trechos do Termo de Descrição dos Fatos, que resumem de forma clara a situação dos autos e demonstram a existência de fraude que justifica a manutenção da qualificação da penalidade aplicada: '...Desta forma, restará comprovado que nas vendas subfaturas intercompany o único fundamento econômico que justifica as operações realizadas é a redução da carga tributária do referido grupo. (...) Restou comprovado que a venda de produtos, produzidos pela Cosmed, por valores ínfimos, afeta sobremaneira a apuração do lucro bruto da companhia. Se compararmos o índice da Cosmed com o obtido em 62 (sessenta e duas) pessoas jurídicas do mesmo segmento, apuramos que o índice destas empresas é 25 vezes maior. (...) Fl. 4055DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.056 41 Portanto, não há propósito negocial nas operações entre a Cosmed e a Hypermarcas, pois estas transações não seguem os padrões e critérios de mercado, mormente no tocante à obtenção de lucros. Prova disso é que a Cosmed pratica preços totalmente diversos quando o cliente não é a Hypermarcas. (...) Conforme demonstrado no tópico 1.2, o grupo Hypermarcas utiliza dois critérios na valoração dos preços de venda praticados pela Cosmed: um para as vendas feitas para as empresas ligadas (Hypermarcas e Aprov) e outro para os demais clientes (terceiros). Restou comprovada a desproporção entre as vendas para Aprov/Hypermarcas e as vendas efetuadas para os demais clientes (terceiros) ao longo do anocalendário de 2009. (...) Ou seja, não encontramos nenhuma lógica ou explicação plausível para o fato de a Cosmed adotar um critério de preço (subfaturado) praticado nas vendas à Hypermarcas (produtos submetidos à tributação monofásica) e outro critério de preços praticados nas vendas à terceiros clientes (que não seja a Hypermarcas) ou nas vendas de produtos submetidos à tributação normal do PIS e da COFINS (cuja tributação não é concentrada). Ademais, intimamos a fiscalizada, por diversas vezes, para esclarecer a razão pela qual adota política de preços diferenciada em razão da natureza da tributação (monofásica x normal). Até esta data nada foi esclarecido. Por todo o exposto não resta dúvida de que não houve propósito econômico nas vendas subfaturadas feitas à Hypermarcas. (...) Além de já ter sido demonstrado que as partes envolvidas são empresas interdependentes (a Cosmed é subsidiária integral da Hypermarcas), ou seja, pertencem ao mesmo grupo econômico, restou comprovado que as operações realizadas (venda de produtos industrializados pela Cosmed para a Hypermarcas por valores subfaturados) fogem da normalidade comercial e tiveram como objetivo preponderante a economia tributária. Portanto, é notório que nas operações realizadas entre a Hypermarcas e sua subsidiária (Cosmed) o único fim econômico e social que houve foi a diminuição da carga tributária e o aumento do lucro do grupo Hypermarcas, obtidos à custa de uma prática abusiva, ilegal e ilícita.' Ainda que outras alegações também tenham sido utilizadas pelo Fiscal como reforço de argumentação, o fato é que da simples leitura destes trechos do relatório fiscal já se pode aferir os fatos que deram origem à autuação e que representam ofensa ao RIPI/02. Nesta toada, o que fez a Fiscalização foi considerar inoponíveis ao Fisco os valores de vendas da Industrial para a Comercial, procurando demonstrar a sua abusividade, que não estaria encerrada, exclusivamente, na separação das atividades de industrialização e comercialização dentro do Grupo Hypermarcas, mas sim na prática dos preços inferiores ao de mercado na venda intragrupo, em total desrespeito ao VTM. Verificase, assim, que ao segregar suas atividades e, em consequência dessa separação, praticar preços muito inferiores aos de mercado nas vendas realizadas para empresa comercial interdependente, o contribuinte praticou conduta fraudulenta, tendente a impedir o fisco de tomar conhecimento da real ocorrência de fatos geradores, revelando, assim, sua intenção deliberada de se eximir do pagamento dos tributos no montante que ora lhe é exigido. Fl. 4056DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.057 42 (. . .)" (g.n.) Em suma, considerouse como conduta fraudulenta uma reorganização de negócios, que resultou na redução do ônus com IPI, em virtude de o preço praticado pela Cosmed para a Hypermarcas ser significativamente menor do que da Hypermarcas para seus clientes consta no "Termo de Descrição dos Fatos" que o primeiro era 33% do segundo. O agente fiscal enquadrou os fatos nos artigos 71 a 73 da Lei n° 4.502/64 (fls. 2.103 e 2.104): "Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. " Como os atos praticados foram classificados como crimes contra a ordem tributária, temos de recorrer à Lei n° 8.137/90, que traz as necessárias definições: "Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000) I omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; V negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou Fl. 4057DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.058 43 prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecêla em desacordo com a legislação. Pena reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V. Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000) I fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximirse, total ou parcialmente, de pagamento de tributo; II deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos; III exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal; IV deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento; V utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. Pena detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa." A reorganização societária (aquisições de empresas, cisões e incorporações) consta em atos societários, devidamente registrados. Todas as operações comerciais foram formalizadas por meio dos devidos documentos fiscais e regularmente contabilizadas. E foi dado pleno acesso à fiscalização. Aliás, destaquese que o arbitramento tratado no tópico anterior se deu com base nos registros oficiais das vendas da Hypermarcas. Já me manifestei no sentido de que entendo como lícita a reorganização de negócios, desde que implementada por meio de operações industriais e/ou comerciais verdadeiras, com substância econômica, que tenham como um de seus resultados a economia tributária. E foi isto que vi nos presentes autos. Por um lado, a fiscalização fez um raciocínio simplista, comparando preços, sem considerar a natureza dos negócios que auditava. Fl. 4058DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.059 44 Por outro, a recorrente trouxe Laudo Técnico (doc. 07 da impugnação), contendo explicações absolutamente plausíveis, tais como: a forma de organização separação das atividades industriais e comerciais e terceirização da produção do Grupo Hypermarcas está em linha com a de outros grupos do mesmo ramo; a Cosmed era uma "terceirista", isto é, industrializava por encomenda, sem riscos comerciais e gastos com propaganda, logística e, principalmente, com o desenvolvimento de novos produtos, o que ficava a cargo da Hypermarcas; e gráficos, demonstrando a compatibilidade entre os preços cobrados da Hypermarcas pela Cosmed e por outras terceiristas não pertencentes ao Grupo Hypermarcars e entre terceiristas e atacadistas de outros grupos empresariais. Necessário destacar que não desqualifica a política de preços do Grupo o fato de a fiscalização ter, para alguns casos, apurado diferenças entre o VTM calculado com base no inciso I do art. 136 do RIPI/92 e os correspondentes preços praticados. Com efeito, a própria legislação do IPI não estabelece qualquer relação entre a eventual diferença tributável apurada e uma possível conduta delitiva. Em razão das pesquisas apresentadas no Laudo Técnico, é possível imaginar que tais diferenças tenham sido motivadas por alterações ocorridas naquele mercado ("mercado atacadista da praça do remetente"), naquele momento, e não necessariamente por força de um amplo "planejamento tributário abusivo. Vale mencionar que o Fisco sequer conseguiu obter informações de todos os participantes do "mercado atacadista da praça do remetente". Por fim, fazse mister mencionar que, em relação ao mesmo procedimento fiscal, em sede do processo n° 16004.720395/201393, foram cancelados os créditos tributários de CSL, IRPJ, PIS e COFINS sobre valores tributáveis calculados em decorrência da suposta diferença de preços. Adicionalmente, não obstante terem sido mantidos os derivados de glosas de créditos de PIS e COFINS, a multa de ofício foi desagravada e afastada a atribuição de responsabilidade tributária solidária. Reproduzo trechos da ementa (Acórdão n° 1402002.337, de 05/10/16): "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2009 (. . .) PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO LÍCITO. ELISÃO FISCAL. É lícita a reorganização societária efetivamente levada a efeito pelo contribuinte sem a ocorrência simulação, fraude, abuso direito ou de formas ou ainda fraude à lei. DISTRIBUIÇÃO DISFARÇADA DE LUCROS. OPERAÇÕES REALIZADAS A VALOR DE MERCADO. INCORRÊNCIA. Fl. 4059DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.060 45 Não há que se falar em distribuição disfarçadas de lucros quando as operações foram realizadas em valores absolutamente dentro da média praticada no mercado. (. . .) MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. AUSÊNCIA DE DOLO. IMPOSSIBILIDADE. Ausente qualquer elemento que denote dolo, não há como se manter a qualificação da penalidade, mormente na hipótese de manutenção do lançamento somente no tocante à discussão de direitos a créditos de PIS e Cofins. (. . .) SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA. INEXISTÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO COMUM NA SITUAÇÃO QUE CONSTITUA O FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. AUSÊNCIA DE OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS RESULTANTES DE ATOS PRATICADOS COM EXCESSO DE PODERES OU INFRAÇÃO DE LEI, CONTRATO SOCIAL OU ESTATUTOS. IMPOSSIBILIDADE. Cancelada a única infração que poderia, em tese e em relação aos coobrigados, demonstrar seus interesses jurídicos na situação que constituía o fato gerador da obrigação principal, bem como demonstrado não haver qualquer ato praticado com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos, por consequência, excluemse os coobrigados do polo passivo da obrigação tributária. (. . .)" Isto posto, em razão de não ter identificado qualquer conduta dolosa ou fraudulenta, voto por desqualificar a multa de ofício incidente sobre as diferenças entre o VTM, calculado com base no inciso I do art. 136 do RIPI/92, e os preços efetivamente praticados, bem como sobre as diferenças de IPI decorrentes de erro na classificação fiscal. Adicionalmente, foi atribuída responsabilidade tributária solidária à Hypermarcas, capitulada no inciso I do art. 124 do CTN. O Fisco concluiu que tinha interesse comum no resultado do "planejamento tributário abusivo", além de ter participado ativamente das operações que constituíram fatos geradores de IPI. E também aos diretores da recorrente e da Hypermarcas, em razão do cometimento de crimes tributários, com base no inciso III do art. 135 do CTN. Como não identifiquei condutas delitivas, porém tão simplesmente reorganização lícita de negócios e prática de preços compatíveis com os dos mercados em que atuavam, não há razão para manutenção da responsabilidade solidária da Hypermarcas e dos diretores de ambas as empresas, tanto em relação ao crédito tributário derivado da aplicação do inciso I do art. 136 do RIPI/92 quanto à diferença de IPI resultante de erro na classificação fiscal. Fl. 4060DF CARF MF Processo nº 16004.720383/201369 Acórdão n.º 3301005.610 S3C3T1 Fl. 4.061 46 É como voto. (assinado digitalmente) Marcelo Costa Marques d'Oliveira Fl. 4061DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16682.721740/2015-86
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jan 31 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Apr 24 00:00:00 UTC 2019
Numero da decisão: 3201-001.731
Decisão:
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em remeter os autos para a unidade de origem, a fim de que sejam apensados, por conexão de matérias, ao processo em que tratado o PER/DCOMP respectivo.
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza (Presidente), Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinícius Toledo de Andrade, Laércio Cruz Uliana Júnior.
Nome do relator: CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA
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decisao_txt : Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em remeter os autos para a unidade de origem, a fim de que sejam apensados, por conexão de matérias, ao processo em que tratado o PER/DCOMP respectivo. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza - Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza (Presidente), Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinícius Toledo de Andrade, Laércio Cruz Uliana Júnior.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 3; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1432; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3C2T1 Fl. 2 1 1 S3C2T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 16682.721740/201586 Recurso nº Voluntário Resolução nº 3201001.731 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Data 31 de janeiro de 2019 Assunto MULTA ISOLADA Recorrente PETROLEO BRASILEIRO SA PETROBRAS Recorrida FAZENDA NACIONAL Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em remeter os autos para a unidade de origem, a fim de que sejam apensados, por conexão de matérias, ao processo em que tratado o PER/DCOMP respectivo. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza (Presidente), Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisário, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinícius Toledo de Andrade, Laércio Cruz Uliana Júnior. Relatório O Trata o presente processo de auto de infração de multa em decorrência de DCOMP não homologada. O contribuinte foi cientificado e apresentou impugnação que, após o julgamento, manteve a cobrança do crédito tributário. Inconformada, a ora Recorrente apresentou, no prazo legal, Recurso Voluntário, por meio do qual requer que a decisão da DRJ seja reformada, alegando que: RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 66 82 .7 21 74 0/ 20 15 -8 6 Fl. 286DF CARF MF Processo nº 16682.721740/201586 Resolução nº 3201001.731 S3C2T1 Fl. 3 2 Do Direito Da Nulidade do Auto de Infração A Recorrente alega que a aplicação da multa, no presente caso, não encontra motivação válida, uma vez que não restou demonstrado no auto de infração qualquer conduta ilícita ou abusiva por parte da impugnante. Em seu apoio cita doutrina e jurisprudência. Cumulação de Multa Configurando BIS IN IDEM A Recorrente alega que há cumulação da multa de ofício com a multa de mora, entendendo que as duas multas partilham da mesma essência. Nesse raciocínio afirma que a intenção de fazer incidir a multa isolada, sem qualquer evidência de ilicitude ou abusividade, configura verdadeiro bis in idem. Da Apensação A Recorrente explica que a cobrança da multa, prevista no art. 74 §17 da Lei nº 9.430/96, ocorreu em virtude da não homologação do PER/DCOMP constante do PAF 16682.720030/201539. Nesse sentido, exige que os autos deste processo sejam juntados por apensação ao PAF 16682.720030/201539. Da Suspensão No caso dos processos não serem juntados, a Recorrente pede a suspensão do presente processo até o trânsito em julgado do PAF 16682.720030/201539. Nessa linha, argumenta que este processo seria subsidiário ao PAF 16682.720030/201539. Dos Pedidos Ao final requer: a) seja anulado o presente auto de infração ante a inexistência de conduta ilícita ou abusiva do contribuinte a justificar a aplicação da penalidade prevista no art. 74 §§15 e 17, da Lei nº 9.430/96, na redação da Lei nº 12.249/2010; b) na eventualidade de superar os itens anteriores, que seja reconhecida a cobrança de multa em bis in idem, uma vez que a multa de mora, única devida no presente caso (na hipótese da manifestação de inconformidade não logre o êxito almejado pela contribuinte, fato que se admite pela necessidade de argumentação), não pode ser acrescida da multa isolada, uma vez que não houve qualquer comprovação de ilicitude ou abusividade a ensejar a sua incidência; c) a apensação do presente processo ao PAF 16682.720030/201539; d) que todas as intimações pertinentes a este processo sejam feitas ao procurador da requerente. É o relatório. Fl. 287DF CARF MF Processo nº 16682.721740/201586 Resolução nº 3201001.731 S3C2T1 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 3201001.718, de 31 de janeiro de 2019, proferido no julgamento do processo 16682.721714/201558, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevemse, como solução deste litígio, nos termos regimentais, os entendimentos que prevaleceram naquela decisão (Resolução nº 3201001.718): "Em breve síntese a Recorrente explica que a cobrança da multa, prevista no art. 74 §17 da Lei nº 9.430/96, ocorreu em virtude da não homologação do PER/DCOMP 14194.20200.240211.1.7.041872 constante do PAF 16682.7200030/201539. Nesse sentido, requer que os autos deste processo sejam juntados por apensação ao PAF 16682.720030/201539. Em atendimento ao requerimento da recorrente, resolvo em remeter os autos para a unidade de origem, a fim de que sejam apensados, por conexão de matérias, ao processo em que tratado o PER/DCOMP respectivo. Após a juntada o processo deve retornar ao CARF para continuidade do julgamento." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu remeter os autos para a unidade de origem, a fim de que sejam apensados (ou confirmada a apensação), por conexão de matérias, ao processo em que tratado o PER/DCOMP respectivo. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 288DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13558.720037/2007-88
Turma: Primeira Turma Extraordinária da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Feb 21 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Mon Mar 11 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/02/2003 a 28/02/2003
PIS NÃO CUMULATIVO. CONCEITO DE INSUMO. DIREITO DE CRÉDITO. COMISSÃO AGENCIA DE VIAGEM. ALUGUEL DE EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA E FOTOCÓPIA
Para que determinado bem ou prestação de serviço seja considerado insumo na sistemática da não-cumulatividade das Contribuições para o PIS e da COFINS, imprescindível a sua essencialidade ao processo produtivo ou prestação de serviço, direta ou indiretamente. Restou caracterizada a essencialidade das despesas com Comissões pagas a agências de viagens, entretanto as despesas com aluguel de equipamentos de informática e fotocópias não se verificou a relação com atividade fim da empresa.
Numero da decisão: 3001-000.757
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, por dar parcial provimento ao recurso para reverter as glosas das despesas de comissão das Agências de Viagens.
(assinado digitalmente)
Marcos Roberto da Silva Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Marcos Roberto da Silva (Presidente) e Francisco Martins Leite Cavalcante.
Nome do relator: MARCOS ROBERTO DA SILVA
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/02/2003 a 28/02/2003 PIS NÃO CUMULATIVO. CONCEITO DE INSUMO. DIREITO DE CRÉDITO. COMISSÃO AGENCIA DE VIAGEM. ALUGUEL DE EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA E FOTOCÓPIA Para que determinado bem ou prestação de serviço seja considerado insumo na sistemática da não-cumulatividade das Contribuições para o PIS e da COFINS, imprescindível a sua essencialidade ao processo produtivo ou prestação de serviço, direta ou indiretamente. Restou caracterizada a essencialidade das despesas com Comissões pagas a agências de viagens, entretanto as despesas com aluguel de equipamentos de informática e fotocópias não se verificou a relação com atividade fim da empresa.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, por dar parcial provimento ao recurso para reverter as glosas das despesas de comissão das Agências de Viagens. (assinado digitalmente) Marcos Roberto da Silva Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Marcos Roberto da Silva (Presidente) e Francisco Martins Leite Cavalcante.
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CONCEITO DE INSUMO. DIREITO DE CRÉDITO. COMISSÃO AGENCIA DE VIAGEM. ALUGUEL DE EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA E FOTOCÓPIA Para que determinado bem ou prestação de serviço seja considerado insumo na sistemática da nãocumulatividade das Contribuições para o PIS e da COFINS, imprescindível a sua essencialidade ao processo produtivo ou prestação de serviço, direta ou indiretamente. Restou caracterizada a essencialidade das despesas com Comissões pagas a agências de viagens, entretanto as despesas com aluguel de equipamentos de informática e fotocópias não se verificou a relação com atividade fim da empresa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, por dar parcial provimento ao recurso para reverter as glosas das despesas de comissão das Agências de Viagens. (assinado digitalmente) Marcos Roberto da Silva – Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Marcos Roberto da Silva (Presidente) e Francisco Martins Leite Cavalcante. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 55 8. 72 00 37 /2 00 7- 88 Fl. 124DF CARF MF 2 Relatório Trata o presente processo de declaração de compensação com saldo credor de PIS no 1º Trimestre de 2003, tendo por base pagamentos indevidos ou a maior, no valor original total de R$1.551,87 por meio das Declaração de Compensação 36794.83411.280205.1.3.043691. A Inspetoria da Receita Federal em Ilhéus/BA, em apreciação ao pleito da contribuinte, proferiu Despacho Decisório (efls. 32) homologando parcialmente a compensação declarada tendo em vista que a inexistência do crédito utilizado. O crédito de pagamento a maior ou indevido pleiteado surgiu após a retificação do Demonstrativo de Apuração das Contribuições Sociais (Dacon) promovida pela contribuinte. A autoridade fiscal, após a análise do Dacon, glosou despesas com material de limpeza, despesas com comissões de agência de viagem, despesas com locação de equipamentos do setor administrativo, assim como despesas com aquisição de cigarros, de forma que não foi reconhecido o direito creditório em favor da interessada. Cientificada do despacho decisório em 16/02/10, a interessada apresentou a Manifestação de Inconformidade em 18/03/10, alegando os seguintes pontos: a) A autoridade administrativa glosou as despesas com material de limpeza (R$ 44.702,79), sob fundamento de que não seriam insumo; Porém são materiais utilizados pela lavanderia do hotel, pelo setor de alimentos e bebidas, pelo departamento de governança, ou seja, estão intrinsecamente relacionadas A atividade hoteleira; b) A autoridade administrativa glosou as despesas com comissões de agência de viagem (R$164.800,03), por não poder ser consideradas insumo, tratandose de despesas administrativas; Ao contrário, essas despesas estão relacionadas à atividade principal da recorrente, oscilando de acordo com a receita do hotel, sendo uma despesa operacional; c) Da mesma forma, a autoridade administrativa glosou as despesas com locação de equipamentos do setor administrativo (R$3.701,11), por não poder ser consideradas insumo, tratandose de despesas administrativas; Porém, tratase de fotocopiadoras e equipamento de informática utilizados nas atividades da empresa e locadas de PJ, conforme inciso IV do artigo 3° da Lei n° 10.637, de 2002; d) Com relação à aquisição de cigarros (R$ 2.848,59), a recorrente reconhece que a apropriação do crédito foi de fato indevida. A DRJ de Salvador julgou procedente em parte a manifestação de inconformidade, reconheceu o direito creditório em parte conforme Acórdão no 1523.949 a seguir transcrito: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA 0 PIS/PASEP Data do fato gerador: 28/02/2005 AQUISIÇÕES DE BENS E SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. A pessoa jurídica que explora atividade de hotelaria faz jus ao crédito referente as despesas com aquisição de material de limpeza, enquanto as despesas com comissões pagas a agências de viagem não geram direito a crédito. ALUGUÉIS DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NAS ATIVIDADES DA EMPRESA. Fl. 125DF CARF MF Processo nº 13558.720037/200788 Acórdão n.º 3001000.757 S3C0T1 Fl. 326 3 Apenas geram direito a crédito as despesas de aluguéis de máquinas e equipamentos utilizados diretamente na fabricação ou produção de bens, ou na prestação de serviços. Manifestação de Inconformidade Procedente em Parte Direito Creditório Reconhecido em Parte Inconformada com a decisão da DRJ, a Recorrente apresenta Recurso Voluntário contra a decisão de primeira instância repisando os mesmos argumentos apresentados na impugnação, que em síntese alega serem incorretas as glosas dos seguintes insumos: despesas com "comissões de agência de viagem" e despesas com "locação de equipamento administrativo". Dandose prosseguimento ao feito o presente processo foi objeto de sorteio e distribuição à minha relatoria. É o relatório. Voto Conselheiro Relator Marcos Roberto da Silva Da competência para julgamento do feito O presente colegiado é competente para apreciar o presente feito, em conformidade com o prescrito no artigo 23B do Anexo II da Portaria MF nº 343, de 2015, que aprova o Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, com redação da Portaria MF nº 329, de 2017. Conhecimento O recurso voluntário atende aos requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. Mérito A discussão objeto da presente demanda versa sobre a glosa de créditos da Contribuição para o PIS efetuada na análise de Declaração de Compensação cujo crédito teve origem em recolhimentos indevidos ou a maior. Os créditos glosados e mantidos pela decisão de piso referemse às seguintes rubricas: despesas com "comissões de agência de viagem" e Fl. 126DF CARF MF 4 despesas com "locação de equipamento administrativo". Passemos a análise de cada um destes itens. Antes de adentrarmos na discussão propriamente dita da presente controvérsia, importante tecer alguns comentários a respeito da conceituação de insumos que vem prevalecendo na jurisprudência deste Conselho. A sistemática da nãocumulatividade para as contribuições do PIS e da COFINS foi instituída, respectivamente, pela Medida Provisória nº 66/2002, convertida na Lei nº 10.637/2002 (PIS) e pela Medida Provisória nº 135/2003, convertida na Lei nº 10.833/2003 (COFINS). O art. 3º, inciso II de ambas as leis autoriza a apropriação de créditos calculados em relação a bens e serviços utilizados como insumos na fabricação de produtos destinados à venda. A Emenda Constitucional nº 42/2003 estabeleceu no §12º, do art. 195 da Constituição Federal o princípio da nãocumulatividade das contribuições sociais, consignando a sua definição por lei dos setores de atividade econômica. Portanto, a constituição deixou a cargo do legislador ordinário a regulamentação da sistemática da nãocumulatividade do PIS e da COFINS. A Secretaria da Receita Federal apresentou nas Instruções Normativas nos 247/02 e 404/04 uma interpretação sobre o conceito de insumos passíveis de creditamento pelo PIS e pela COFINS um tanto restritiva, semelhante ao conceito de insumos empregado para a utilização dos créditos do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, previsto no art. 226 do Decreto nº 7.212/2010 (RIPI). Este entendimento extrapola as disposições previstas nas Leis nos 10.637/02 e 10.833/03, contrariando o fim a que se propõe a sistemática da não cumulatividade das referidas contribuições. Nesta mesma linha de entendimento, igualmente incorre em erro quando se utiliza a conceituação de insumos conforme estabelecido na legislação do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, visto que esta seria demasiadamente ampla. Segundo o RIR/99, aprovado pelo Decreto nº 3.000/99, poderseia enquadrar como insumo todo e qualquer custo da pessoa jurídica, ou seja, seria insumo na sistemática da não cumulatividade das contribuições sociais todos os bens ou serviços integrantes do processo de fabricação ou da prestação de serviços. Portanto, é entendimento deste Conselho que o conceito de insumos para efeitos do art. 3º, inciso II, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, deve ser interpretado seguindo o critério da essencialidade. Este critério busca uma posição "intermediária" construída pelo CARF na definição insumos, com vistas a alcançar uma relação existente entre o bem ou serviço, utilizado como insumo e a atividade realizada pelo Contribuinte. Reproduzo a seguir um conceito de insumo consignado no Acórdão nº 9303003.069, construído a partir da jurisprudência do próprio CARF, e que vem servindo de base para os julgamentos dos processos deste Conselho: [...] Portanto, "insumo" para fins de creditamento do PIS e da COFINS não cumulativos, partindo de uma interpretação histórica, sistemática e teleológica das próprias normas instituidoras de tais tributos (Lei no. 10.637/2002 e 10.833/2003), deve ser entendido como todo custo, despesa ou encargo comprovadamente incorrido na prestação de serviço ou na produção ou fabricação de bem ou produto que seja destinado à venda, e que tenha relação e vínculo com as receitas tributadas (critério relacional), dependendo, para sua identificação, das especificidades de cada processo produtivo. (grifos da reprodução) Fl. 127DF CARF MF Processo nº 13558.720037/200788 Acórdão n.º 3001000.757 S3C0T1 Fl. 327 5 Sintetizando, para que determinado bem ou prestação de serviço seja considerado insumo na sistemática da nãocumulatividade das Contribuições para o PIS e da COFINS, imprescindível a sua essencialidade ao processo produtivo ou prestação de serviço, direta ou indiretamente, bem como haja a respectiva prova. O Superior Tribunal de Justiça adota o mesmo entendimento conforme pode ser observado no julgamento do recurso especial nº 1.246.317MG, cuja ementa segue abaixo reproduzida: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. VIOLAÇÃO AO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 98/STJ. CONTRIBUIÇÕES AO PIS/PASEP E COFINS NÃOCUMULATIVAS. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. ART. 3º, II, DA LEI N. 10.637/2002 E ART. 3º, II, DA LEI N. 10.833/2003. ILEGALIDADE DAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS SRF N. 247/2002 E 404/2004. 1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma suficientemente fundamentada a lide, muito embora não faça considerações sobre todas as teses jurídicas e artigos de lei invocados pelas partes. 2. Agride o art. 538, parágrafo únic o, do CPC, o acórdão que aplica multa a embargos de declaração interpostos notadamente com o propósito de prequestionamento. Súmula n. 98/STJ: "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório". 3. São ilegais o art. 66, §5º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 247/2002 Pis/Pasep (alterada pela Instrução Normativa SRF n. 358/2003) e o art. 8º, §4º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 404/2004 Cofins, que restringiram indevidamente o conceito de "insumos" previsto no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e n. 10.833/2003, respectivamente, para efeitos de creditamento na sistemática de nãocumulatividade das ditas contribuições. 4. Conforme interpretação teleológica e sistemática do ordenamento jurídico em vigor, a conceituação de "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, não se identifica com a conceituação adotada na legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados IPI, posto que excessivamente restritiva. Do mesmo modo, não corresponde exatamente aos conceitos de "Custos e Despesas Operacionais" utilizados na legislação do Imposto de Renda IR, por que demasiadamente elastecidos. 5. São "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, todos aqueles bens e serviços pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. 6. Hipótese em que a recorrente é empresa fabricante de gêneros alimentícios sujeita, portanto, a rígidas normas de higiene e limpeza. No ramo a que pertence, as exigências de condições sanitárias das instalações se não atendidas implicam na própria impossibilidade da produção e em substancial perda de qualidade do produto resultante. A assepsia é essencial e imprescindível ao desenvolvimento de suas atividades. Não houvessem os efeitos desinfetantes, haveria a proliferação de microorganismos na maquinaria e no ambiente produtivo que agiriam sobre os Fl. 128DF CARF MF 6 alimentos, tornandoos impróprios para o consumo. Assim, impõese considerar a abrangência do termo "insumo" para contemplar, no creditamento, os materiais de limpeza e desinfecção, bem como os serviços de dedetização quando aplicados no ambiente produtivo de empresa fabricante de gêneros alimentícios. 7. Recurso especial provido. (REsp 1246317/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/05/2015, DJe 29/06/2015) Portanto, após o relato do entendimento predominante a respeito da conceituação de insumos na sistemática da nãocumulatividade das Contribuições para o PIS e para a COFINS, adentremos nas circunstâncias que regem o caso concreto. Do desconto do crédito de PIS calculado sobre Agência de Viagens (comissão) A Recorrente alega que a atividade hoteleira precisa disponibilizar uma gama de serviços visando atender os desejos e anseios dos clientes/hospedes. Com isso oferece "pacotes turísticos" que inclui o transporte do hospede "transfer aéreo e terrestre", hospedagem, alimentação e outros serviços que variam de acordo com a época "temporada" ou ocasião dos clientes/hospedes, por exemplo, pacote de núpcias através de parcerias com Agências de Viagens. Para elas são pagas comissões por esse serviço em cada operação. Afirma que dentro da sistemática da não cumulatividade das contribuições sociais previstos na Lei 10.637/02 cabe o aproveitamento de créditos decorrentes dos “serviços prestados por pessoa jurídica domiciliado no país, aplicados ou consumidos na prestação de serviço”. Outra afirmação constante de seu Recurso Voluntário diz o seguinte: Cabe aludir, guardando as devidas particularidades, que o regime da não cumulatividade do PIS se assemelha ao aplicável ao Imposto sobre a Renda, que na composição da base de cálculo tem como pressuposto a dedutibilidade dos "custos", consumidos na prestação de serviços da Recorrente, tributando somente o resultado positivo — lucro auferido pela Recorrente. Com isso reivindica que a glosa relacionada com as comissões pagas à agências de viagens não deve ser mantida. Conforme exposto na parte introdutória do voto, o ponto determinante no qual o bem ou serviço possa gerar crédito da Contribuição ao PIS vem a ser a sua essencialidade ao processo produtivo ou prestação de serviço. No presente caso estamos diante da prestação de serviços das redes hoteleiras relacionada, também, com as atividades de turismo. Dentro desta linha de atividade, percebese que as Agências de Viagens, como prestadoras de serviços na qual contribuem às redes de hotéis e resort nas suas atividades fins, necessariamente devem ser remuneradas por tais apoios por intermédio de comissões. Ou seja, esses valores pagos pela rede hoteleira estão umbilicalmente ligados as suas atividades e, por conseguinte, podem ser considerados insumos conforme previsto no inciso II do art. 3º da Lei nº 10.637/03, devendo fazer parte do cálculo do crédito a ser descontado do valor apurado da Contribuição para o PIS. Diante do exposto, voto por dar provimento ao Recurso Voluntário neste particular. Fl. 129DF CARF MF Processo nº 13558.720037/200788 Acórdão n.º 3001000.757 S3C0T1 Fl. 328 7 Do desconto do crédito de PIS calculado sobre Aluguel de Maquinas e equipamento utilizados nas atividades da empresa A Recorrente alega que as despesas de locação de equipamentos de informática e máquinas de fotocópia utilizados pela recorrente por ser serviços utilizados na atividade da empresa e assim caracterizaria como insumo para fins de creditamento na sistemática da não cumulatividade da Contribuição para o PIS. Não assiste razão à Recorrente. Socorrome à parte introdutória do voto na qual o conceito de insumo para fins da tributação da Contribuição para PIS não deve ser tão restritiva como estabelece a legislação do IPI, e nem tão elástico quanto a legislação do Imposto de Renda, conforme neste caso pretende a Recorrente. Percebese que os equipamentos tratados neste tópico estão diretamente ligados à atividade administrativa da Recorrente e, portanto, não possuem vínculo direto com a atividade de prestação de serviços de hotelaria. Portanto, voto por negar provimento ao Recurso Voluntário neste particular. Diante do exposto, voto por dar parcial provimento ao Recurso Voluntário para reverter as glosas das despesas de comissão das Agências de Viagens. (assinado digitalmente) Marcos Roberto da Silva Fl. 130DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13227.900984/2009-64
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Aug 17 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Mar 25 00:00:00 UTC 2019
Numero da decisão: 1201-000.579
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do recurso em diligência, nos termos do voto do relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplica-se o decidido no julgamento do processo 13227.900981/2009-21, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado.
(assinado digitalmente)
Lizandro Rodrigues de Sousa- Redator ad hoc
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa (presidente), Eva Maria Los, Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Gisele Barra Bossa.
Nome do relator: ESTER MARQUES LINS DE SOUSA
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Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do recurso em diligência, nos termos do voto do relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplicase o decidido no julgamento do processo 13227.900981/200921, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. (assinado digitalmente) Lizandro Rodrigues de Sousa Redator ad hoc Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa (presidente), Eva Maria Los, Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Gisele Barra Bossa. Relatório Na condição de Presidente da 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento, no uso das atribuições conferidas pelo art. 17, III, do Anexo II do RICARF, designome Redator ad hoc para formalizar a Resolução nº 1201000.579 de 17/08/2018, referente ao presente processo, julgado na sistemática de recursos repetitivos de que trata o art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 32 27 .9 00 98 4/ 20 09 -6 4 Fl. 86DF CARF MF Processo nº 13227.900984/200964 Resolução nº 1201000.579 S1C2T1 Fl. 3 2 2015, tendo em vista que a então Presidente da Turma, Conselheira Ester Marques Lins de Sousa, deixou de fazêlo, em virtude de sua aposentadoria. O contribuinte interpôs seu tempestivo Recurso Voluntário, considerando que acórdão, proferido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento, ratificou o despacho decisório, não homologando a Declaração de Compensação (PER/DCOMP) pela inexistência do crédito de pagamento a maior de estimativa mensal de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) De acordo com referido despacho decisório, o pagamento informado como origem do crédito foi integralmente utilizado para quitação de outro débito do contribuinte, "não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP". Entretanto, o contribuinte afirma no seu recurso que existia crédito compensável, como indicado na PER/DCOMP, porém, não foi homologado pela ausência de processamento da Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), versão retificadora, transmitida antes do despacho decisório. É o relatório. Voto Conselheiro Lizandro Rodrigues de Sousa Redator ad hoc Inicialmente, quando da sua Manifestação de Inconformidade, o contribuinte anexou a cópia do Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF), presumindo que era suficiente para homologação da sua Declaração de Compensação (DCOMP). Todavia, o acórdão recorrido concluiu pela inexistência do direito de crédito, em síntese, diante da insuficiência da prova documental anexada à Manifestação de Inconformidade, in verbis: Em hipótese tal qual a dos autos, fazse indispensável, portanto, a exibição dos registros contábeis da conta de ativo do tributo a recuperar, a expressão deste direito em balanços ou balancetes, regularmente transcritos no livro “Diário”, a demonstração do resultado do exercício, a devida contabilização das receitas auferidas pela pessoa jurídica, os lançamentos de eventuais compensações, os registros pertinentes do livro “LALUR” etc. No caso concreto, ao que consta dos autos, a antecipação em tela foi apurada pelo sujeito passivo nos termos e em conformidade com a legislação vigente (haja vista a não exibição de balanços ou balancetes, regularmente transcritos no livro Diário, que autorizassem a suspensão ou redução do pagamento do tributo devido art. 230, § 1° do RIR/I999). Também a documentação trazida aos autos pela interessada (limitada à cópia de DARF fl. 11) não autoriza a conclusão de que decorre da estimativa mensal em tela a existência de qualquer indébito. O artigo 170 do Código Tributário Nacional preceitua que "A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a Fl. 87DF CARF MF Processo nº 13227.900984/200964 Resolução nº 1201000.579 S1C2T1 Fl. 4 3 compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública". Portanto, imprescindível a certeza e a liquidez do crédito compensável, facultando ao contribuinte que impugne a não homologação formalizada através de despacho decisório, instruindo sua manifestação com as provas em contrário, garantindo, assim, o exercício pleno do contraditório e da ampla defesa. O processo administrativo tributário é regido por normas específicas, principalmente, o Decreto nº 70.235/1972, a Lei nº 9.430/1996 e o Decreto nº 7.574/2011, orientado pelos princípios que norteiam a Administração Pública, incluindo a moralidade, eficiência e impessoalidade. Conquanto submetido ao regime de apuração pelo lucro real presumido, inicialmente, o contribuinte não demonstrou o pagamento a maior do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), mediante a idônea escrituração contábil e fiscal, motivando, assim, a retificação da Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF). Ressalvase que a "escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados e comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza.", conforme o artigo 923 do Regulamento do Imposto sobre a Renda (RIR), instituído pelo Decreto nº 3.000/1999. O ônus do contribuinte era que demonstrasse seu indébito, por exemplo, com Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR), balanço patrimonial ou balancetes mensais, Livro Diário e/ou Livro Razão, justificando a redução do valor devido e pelo próprio declarado de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), considerando os artigos 7º, § 4º, e 8º, inciso I, do Decretolei nº 1.598/1977: Art 7º O lucro real será determinado com base na escrituração que o contribuinte deve manter, com observância das leis comerciais e fiscais. (...) § 4º Ao fim de cada períodobase de incidência do imposto o contribuinte deverá apurar o lucro líquid o do exercício mediante a elaboração, com observância das disposições da lei comercial, do balanço patrimonial, da demonstração do resultado do exercício e da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados. Art 8º O contribuinte deverá escriturar, além dos demais registros requeridos pelas leis comerciais e pela legislação tributária, os seguintes livros: I de apuração de lucro real, no qual: I de apuração do lucro real, que será entregue em meio digital, e no qual: (Redação dada pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) a) serão lançados os ajustes do lucro líquido do exercício, de que tratam os §§ 2º e 3º do artigo 6º; b) será transcrita a demonstração do lucro real (§ 1º); Fl. 88DF CARF MF Processo nº 13227.900984/200964 Resolução nº 1201000.579 S1C2T1 Fl. 5 4 b) será transcrita a demonstração do lucro real e a apuração do Imposto sobre a Renda; (Redação dada pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) c) serão mantidos os registros de controle de prejuízos a compensar em exercícios subseqüentes (art. 64), de depreciação acelerada, de exaustão mineral com base na receita bruta, de exclusão por investimento das pessoas jurídicas que explorem atividades agrícolas ou pastoris e de outros valores que devam influenciar a determinação do lucro real de exercício futuro e não constem de escrituração comercial (§ 2º). Posteriormente, quando da interposição do Recurso Voluntário, o contribuinte esclareceu a origem do seu crédito de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ): A forma de tributação na qual estava enquadrada a empresa, no exercício em questão (exercício em que esta sendo discutida a compensação) era “lucro real presumido” no qual é feito o recolhimento por estimativa mensal, baseandose na receita bruta, devendo ser ao final do ano calendário realizada à apuração do tributo devido, forma de tributação esta detalhadamente explicada no relatório do acórdão, elaborado pela relatora, do qual transcrevemos trechos. Contudo, quando do termino do ano calendário, ao ser realizada a apuração do imposto devido, momento em que é possível se fazer à comparação entre o valor pago e o efetivamente devido, é que se obteve o valor de crédito, (advindo da diferença entre créditos e débitos), que poderia vir a ser usado em futuras compensações, ou seja, abatimento de impostos devidos. No exercício em pauta, conforme a nossa explanação, ao serem analisados os valores apurados e devidamente registrados nos documentos que seguirão em anexo, é possível chegar ao valor de crédito abaixo identificado: Fl. 89DF CARF MF Processo nº 13227.900984/200964 Resolução nº 1201000.579 S1C2T1 Fl. 6 5 Outrossim, o Recurso Voluntário anexou: (i) Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR), referente ao anocalendário de 2002; (ii) Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF), com pagamento da estimativa mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), período de apuração de maio/2002 e valor de R$ 86,40, e; (iii) Livro Diário, anocalendário de 2002, contendo a transcrição do Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado e Demonstração dos Lucros e Prejuízos acumulados. A prova documental instruirá a impugnação "precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual", consoante o artigo 16, § 4º, do Decreto nº 70.235/1972, exceto (I) demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; (II) refirase a fato ou a direito superveniente e; (III) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. Art. 16. A impugnação mencionará: I a autoridade julgadora a quem é dirigida; II a qualificação do impugnante; III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir;(Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) IV as diligências, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação dos quesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de Fl. 90DF CARF MF Processo nº 13227.900984/200964 Resolução nº 1201000.579 S1C2T1 Fl. 7 6 perícia, o nome, o endereço e a qualificação profissional do seu perito.(Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) V se a matéria impugnada foi submetida à apreciação judicial, devendo ser juntada cópia da petição.(Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) (...) § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que:(Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997)(Produção de efeito) a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior;(Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997)(Produção de efeito) b) refirase a fato ou a direito superveniente;(Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997)(Produção de efeito) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos.(Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997)(Produção de efeito) O erro da Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), retificado antes do despacho decisório, não é determinante para o indeferimento da Declaração de Compensação (DCOMP), prevalecendo a verdade material, como se extrai do Parecer Normativo da CoordenaçãoGeral de Tributação (COSIT) nº 02/2015: "Assunto. NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO. RETIFICAÇÃO DA DCTF DEPOIS DA TRANSMISSÃO DO PER/DCOMP E CIÊNCIA DO DESPACHO DECISÓRIO. POSSIBILIDADE. IMPRESCINDIBILIDADE DA RETIFICAÇÃO DA DCTF PARA COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR." As informações declaradas em DCTF – original ou retificadora – que confirmam disponibilidade de direito creditório utilizado em PER/DCOMP, podem tornar o crédito apto a ser objeto de PER/DCOMP desde que não sejam diferentes das informações prestadas à RFB em outras declarações, tais como DIPJ e Dacon, por força do disposto no§ 6º do art. 9º da IN RFB nº 1.110, de 2010, sem prejuízo, no caso concreto, da competência da autoridade fiscal para analisar outras questões ou documentos com o fim de decidir sobre o indébito tributário. Não há impedimento para que a DCTF seja retificada depois de apresentado o PER/DCOMP que utiliza como crédito pagamento inteiramente alocado na DCTF original, ainda que a retificação se dê depois do indeferimento do pedido ou da não homologação da compensação, respeitadas as restrições impostas pela IN RFB nº 1.110, de 2010. Retificada a DCTF depois do despacho decisório, e apresentada manifestação de inconformidade tempestiva contra o indeferimento do PER ou contra a não homologação da DCOMP, a DRJ poderá baixar Fl. 91DF CARF MF Processo nº 13227.900984/200964 Resolução nº 1201000.579 S1C2T1 Fl. 8 7 em diligência à DRF. Caso se refira apenas a erro de fato, e a revisão do despacho decisório implique o deferimento integral daquele crédito (ou homologação integral da DCOMP), cabe à DRF assim proceder. Caso haja questão de direito a ser decidida ou a revisão seja parcial, compete ao órgão julgador administrativo decidir a lide, sem prejuízo de renúncia à instância administrativa por parte do sujeito passivo. O procedimento de retificação de DCTF suspenso para análise por parte da RFB, conforme art. 9ºA da IN RFB nº 1.110, de 2010, e que tenha sido objeto de PER/DCOMP, deve ser considerado no julgamento referente ao indeferimento/não homologação do PER/DCOMP. Caso o procedimento de retificação de DCTF se encerre com a sua homologação, o julgamento referente ao direito creditório cuja lide tenha o mesmo objeto fica prejudicado, devendo o processo ser baixado para a revisão do despacho decisório. Caso o procedimento de retificação de DCTF se encerre com a não homologação de sua retificação, o processo do recurso contra tal ato administrativo deve, por continência, ser apensado ao processo administrativo fiscal referente ao direito creditório, cabendo à DRJ analisar toda a lide. Não ocorrendo recurso contra a não homologação da retificação da DCTF, a autoridade administrativa deve comunicar o resultado de sua análise à DRJ para que essa informação seja considerada na análise da manifestação de inconformidade contra o indeferimento/não homologação do PER/DCOMP. A não retificação da DCTF pelo sujeito passivo impedido de fazêla em decorrência de alguma restrição contida na IN RFB nº 1.110, de 2010, não impede que o crédito informado em PER/DCOMP, e ainda não decaído, seja comprovado por outros meios. O valor objeto de PER/DCOMP indeferido/não homologado, que venha a se tornar disponível depois de retificada a DCTF, não poderá ser objeto de nova compensação, por força da vedação contida no inciso VI do § 3º do art. 74 da Lei nº 9.430, de 1996. Avaliando a prova documental existente no recurso, valorizando o princípio da verdade material, notase que o Recorrente, aparentemente, comprova seu crédito de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), havendo o pagamento a maior da estimativa mensal. Todavia, demonstrou somente o pagamento da estimativa mensal de maio/2002, com valor de R$ 86,40, não anexando os demais comprovantes, que somariam o montante total de R$ 3.551,63. Entendo que é indispensável a conversão do presente julgamento em diligência, com fundamento no artigo 29 do Decreto nº 70.235/1972, visto que demanda uma análise sobre se os documentos, anexados ao Recurso Voluntário, constituem a necessária prova de certeza e de liquidez do crédito. Isto posto, voto pela conversão do julgamento em diligência, solicitando o retorno dos autos à unidade de origem, a fim de que emita um relatório sobre as informações e os documentos anexados ao Recurso Voluntário, por fim, opinando pela existência do crédito de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), oriundo do Fl. 92DF CARF MF Processo nº 13227.900984/200964 Resolução nº 1201000.579 S1C2T1 Fl. 9 8 pagamento a maior de estimativa mensal, referente ao anocalendário de 2002, que totalizaram R$ 3.551,63. Finalizada esta diligência, ressalvo a necessidade de promover a ciência do contribuinte sobre o "Relatório Conclusivo", fixando o prazo de 30 (trinta) dias para sua manifestação, antes do retorno dos autos para novo julgamento deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF). Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por converter o julgamento em diligência, solicitando o retorno dos autos à unidade de origem, a fim de que emita um relatório sobre as informações e os documentos anexados ao Recurso Voluntário, por fim, opinando pela existência do crédito de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), oriundo do pagamento a maior de estimativa mensal, referente ao anocalendário de 2002, que totalizaram R$ 3.551,63. Finalizada esta diligência, ressalvo a necessidade de promover a ciência do contribuinte sobre o "Relatório Conclusivo", fixando o prazo de 30 (trinta) dias para sua manifestação, antes do retorno dos autos para novo julgamento deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF). Isto posto, voto pela conversão do julgamento em diligência, solicitando o retorno dos autos à unidade de origem, a fim de que emita um relatório sobre as informações e os documentos anexados ao Recurso Voluntário, por fim, opinando pela existência do crédito de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), oriundo do pagamento a maior de estimativa mensal, referente ao Período de Apuração de 31/08/2003 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por converter o julgamento do recurso em diligência, nos termos do voto do relator do processo paradigma. (assinado digitalmente) Lizandro Rodrigues de Sousa Fl. 93DF CARF MF
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Numero do processo: 13888.905183/2009-10
Turma: Segunda Turma Extraordinária da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 12 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Mar 13 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Ano-calendário: 2004
NÃO HOMOLOGAÇÃO DE PER/DCOMP. CRÉDITO DESPIDO DOS ATRIBUTOS LEGAIS DE LIQUIDEZ E CERTEZA. CABIMENTO.
Correta a não homologação de declaração de compensação, quando comprovado que o crédito nela pleiteado não possui os requisitos legais de certeza e liquidez, visto que fora integralmente utilizado para a quitação de débito com características distintas.
Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2004
PER/DCOMP. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DIREITO CREDITÓRIO. ONUS PROBANDI DO RECORRENTE.
Compete ao Recorrente o ônus de comprovar inequivocamente o direito creditório vindicado, utilizando-se de meios idôneos e na forma prescrita pela legislação.
Ausentes os elementos mínimos de comprovação do crédito, não cabe realização de auditoria pelo julgador do Recurso Voluntário neste momento processual, eis que implicaria o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos.
Numero da decisão: 1002-000.607
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Aílton Neves da Silva - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Aílton Neves da Silva (Presidente), Breno do Carmo Moreira Vieira e Ângelo Abrantes Nunes.
Nome do relator: AILTON NEVES DA SILVA
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ementa_s : Assunto: Normas de Administração Tributária Ano-calendário: 2004 NÃO HOMOLOGAÇÃO DE PER/DCOMP. CRÉDITO DESPIDO DOS ATRIBUTOS LEGAIS DE LIQUIDEZ E CERTEZA. CABIMENTO. Correta a não homologação de declaração de compensação, quando comprovado que o crédito nela pleiteado não possui os requisitos legais de certeza e liquidez, visto que fora integralmente utilizado para a quitação de débito com características distintas. Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL Ano-calendário: 2004 PER/DCOMP. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DIREITO CREDITÓRIO. ONUS PROBANDI DO RECORRENTE. Compete ao Recorrente o ônus de comprovar inequivocamente o direito creditório vindicado, utilizando-se de meios idôneos e na forma prescrita pela legislação. Ausentes os elementos mínimos de comprovação do crédito, não cabe realização de auditoria pelo julgador do Recurso Voluntário neste momento processual, eis que implicaria o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos.
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CRÉDITO DESPIDO DOS ATRIBUTOS LEGAIS DE LIQUIDEZ E CERTEZA. CABIMENTO. Correta a não homologação de declaração de compensação, quando comprovado que o crédito nela pleiteado não possui os requisitos legais de certeza e liquidez, visto que fora integralmente utilizado para a quitação de débito com características distintas. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2004 PER/DCOMP. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DIREITO CREDITÓRIO. ONUS PROBANDI DO RECORRENTE. Compete ao Recorrente o ônus de comprovar inequivocamente o direito creditório vindicado, utilizando se de meios idôneos e na forma prescrita pela legislação. Ausentes os elementos mínimos de comprovação do crédito, não cabe realização de auditoria pelo julgador do Recurso Voluntário neste momento processual, eis que implicaria o revolvimento do contexto fáticoprobatório dos autos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 88 8. 90 51 83 /2 00 9- 10 Fl. 181DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 182 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Aílton Neves da Silva Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Aílton Neves da Silva (Presidente), Breno do Carmo Moreira Vieira e Ângelo Abrantes Nunes. Relatório Por bem sintetizar os fatos até o momento processual anterior ao do julgamento da Manifestação de Inconformidade contra a não homologação da compensação, transcrevo e adoto o relatório produzido pela DRJ/RPO: Tratase de Manifestação de Inconformidade interposta em face de Despacho Decisório em que foi apreciada a PER/DCOMP de nº 32279.72508.170706.1.3.044249, por intermédio da qual a contribuinte pretende compensar débito de CSLL (código de receita: 2484) de sua responsabilidade com crédito decorrente de pagamento indevido ou a maior de tributo (CSLL: 2484). Por intermédio do despacho decisório de fl. 06, não foi reconhecido qualquer direito creditório a favor da contribuinte e, por conseguinte, nãohomologada a compensação declarada no presente processo, ao fundamento de que não foi confirmada a existência do crédito informado “por tratarse de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, caso em que o recolhimento somente pode ser utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período”. Irresignada, interpôs a contribuinte manifestação de inconformidade de fls. 02/03, acompanhada dos documentos de fls. 04/98, na qual alega, em síntese, que: DOS FATOS A empresa no ano base de 2005, apurou Pagamento Indevido ou a Maior de CSLL, facultandolhe o direito de compensar este valor conforme Instrução Normativa n° 460, artigo 10. A DIPJ/2006 n° 23.33.22.30.3914, transmitida em 30/06/2006, apresenta na ficha 16, no mês de dezembro/05 na linha 11, o Fl. 182DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 183 3 valor devido referente a CSLL Estimativo competência 12/2005, tendo o mesmo valor sido declarado na DCTF do período. Assim a PER/DCOMP n° 32279.72508.170706.1.3.044249 entregue em 17/06/2006, apresentou a compensação do Pagamento Indevido a Maior detectada na DIPJ/2006(ano base 2005). A empresa foi notificada pela SRFB através do Despacho Decisório rastreamento n° 831687436 conforme Processo de Crédito n° 13888905.183/20091, facultada a apresentação de manifestação de inconformidade à Delegacia da Receita Federal do Brasil. DO DIREITO A Perdcomp a qual se refere o Despacho Decisório n° 25079649 está correta baseada na IN 460, artigo 10 que segue: "Art. 10. A pessoa jurídica tributada pelo lucro real, presumido ou arbitrada que sofrer retenção indevida ou a maior de imposto de renda ou de CSLL sobre rendimentos que integram a base de cálculo do imposto ou da contribuição, bem assim a pessoa jurídica tributada pelo lucro real anual que efetuar pagamento indevido ou a maior de imposto de renda ou de CSLL a titulo de estimativa mensal, somente poderá utilizar o valor pago ou retido na dedução do IRPJ ouda CSLL devida ao final do período de apuração em que houve a retenção ou pagamento indevido ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou de CSLL do período.” Fonte: http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Ins/2004/in460200 4.htm Valor CSLL devido na DIPJ — R$ 59.730,18 Valor do debito na DCTF 12/2005 — R$ 59.730,18 Valor pago — R$ 61.614,59 Saldo credor — R$ 1.884,41 em 31/12/2005 Esse saldo foi utilizado parcialmente na Perdcomp inicial 33659.95464.210306.1.3.044330, onde após efetuado a compensação restou um crédito que foi utilizado na Perdcomp 32279.72508.170706.1.3.044249 que é objeto do Despacho Decisório contestado nessa Manifestação. Podese observar claramente o valor do crédito utilizado na Perdcomp. Débito compensado parcialmente: CSLL estimativa mês 06/2006. DO MÉRITO Segue cópias dos documentos a seguir: Fl. 183DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 184 4 DIPJ/2006, ano calendário 2005 entregue em 30/06/2006 conforme recibo n° 23.33.22.303914. DCTF mensal referente 12/2005, retificadora entregue em 05/05/2008 conforme recibo n° 10.63.98.83.0687. PERDCOMP versão 2.2 entregue em 17/07/2006:n 32279.72508.170706.1.3.044249. Despacho Decisório n°831687436 conforme Processo n° 13888905.183/200910. DA CONCLUSÃO A vista de todo exposto, solicitamos a aceitação da PERDCOMP declarandose a improcedência e a insubsistência do despacho decisório ora contestado, homologandose em definitivo a compensação levada a efeito pela contribuinte. Certo em contar com as devidas providências, colocome a disposição. P. Deferimento A manifestação de inconformidade foi julgada improcedente pela DRJ/RPO, conforme acórdão n. 1440.922, de 25 de março de 2013 (efl. 99), que recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Data do fato gerador: 17/07/2006 DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. Incumbe ao sujeito passivo a demonstração, acompanhada das provas hábeis, da composição e a existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa. COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA. Apenas os créditos líquidos e certos são passíveis de compensação tributária, conforme artigo 170 do Código Tributário Nacional. Irresignada, a Recorrente apresenta Recurso Voluntário (efls. 118), no qual, oferece os argumentos abaixo sintetizados (grifos do original). Registra que " ...é pessoa jurídica de direito privado que apura e recolhe o IRPJ e a CSSL com base no Lucro Real, adotando o regime de Estimativa Mensal, com apresentação de balancetes mensais de suspensão...". Diz que "No mês de dezembro de 2005, a Recorrente apurou, por estimativa, um débito de CSLL no montante de R$ 61.614,59 (sessenta e um mil seiscentos e quatorze Fl. 184DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 185 5 reais e cinqüenta e nove centavos), tendo promovido o regular recolhimento do tributo em questão conforme faz prova o comprovante de arrecadação expedido pela própria Receita Federal do Brasil...". Aduz "....que o tributo efetivamente devido no mês de dezembro de 2005 redundou ser de R$ 59.730,18 (cinqüenta e nove mil setecentos e trinta reais e dezoito centavos), conforme claramente se verifica pelo balancete do referido mês/ano, pela DIPJ e pela DCTF...". Conclui que "...é credora do Fisco em R$ 1.884,41 (um mil oitocentos e oitenta e quatro reais e quarenta e um centavos), o qual, corrigido, montava em R$ 1.924,92 (um mil novecentos e vinte e quatro reais e noventa e dois centavos), tendo utilizado referido crédito em duas Per/Dcomp, sendo uma delas de R$ 1.844,75(um mil oitocentos e quarenta e quatro reais e setenta e cinco centavos) e outra de R$ 39,66 (trinta e nove reais e sessenta e seis centavos)". Ao final, requer o integral provimento do recurso para o fim de homologar a compensação declarada. É o relatório do essencial. Voto Conselheiro Aílton Neves da Silva, Relator Admissibilidade Inicialmente, reconheço a plena competência deste Colegiado para apreciação do Recurso Voluntário, na forma do art. 23B do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, com redação dada pela Portaria MF nº 329/2017. Demais disso, observo que o recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Mérito Quanto ao mérito, constato que o ora Recorrente não teve homologado o PER/DCOMP nº 32279.72508.170706.1.3.044249, transmitido em 17/07/2006, sob a alegação de que o crédito original de R$ 39,66 nele informado já havia sido utilizado integralmente no pagamento de outro débito, conforme mostra o excerto do Despacho Decisório Eletrônico abaixo: Fl. 185DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 186 6 Como se observa, o suposto crédito informado no PER/DCOMP nº 32279.72508.170706.1.3.044249 decorre de pagamento indevido ou a maior, e a circunstância fática que motivou seu indeferimento está inequivocamente registrada no Despacho Decisório Eletrônico, qual seja: a utilização anterior do crédito pleiteado no pagamento de tributo de código 2484 (CSLL Demais PJ que Apuram o IRPJ com base em Lucro Real Estimativa Mensal), do período de apuração de 31/12/2005. Em suas razões de defesa, o Recorrente afirma que apura e recolhe o IRPJ e a CSLL com base no Lucro Real, adotando o regime de Estimativa mensal, com a apresentação de balancetes mensais de suspensão ou redução dos tributos, e que no mês de dezembro de 2005 apurou um saldo credor correspondente a R$ 1.884,41, utilizandose da parcela de R$ 39,66 para compensação no PER/DCOMP nº 32279.72508.170706.1.3.044249. Vejo que o Recorrente não trouxe provas suficientes ou fundamentos de fato e de direito tendentes a infirmar a decisão de indeferimento da Manifestação de Inconformidade contra a não homologação do PER/DCOMP proferida pela instância de origem. Por ocasião da apresentação da Manifestação de Inconformidade, o então manifestante apresentou, tão somente, DIPJ/2006 e DCTF mensal retificadora do mês de dezembro/2005, desacompanhadas de provas documentais provenientes de sua escrituração contábilfiscal; agora, no Recurso Voluntário, limitouse a apresentar fichas de DRE, de Balanço patrimonial encerrado em 31/12/2005 e de balancete analítico do mês 12/2005, emitidas em 08/08/2013 (efls. 138), data posterior à de ciência do despacho decisório, ocorrida em 28/04/2009 (efls. 97). Além disso, o Recorrente ignorou por completo o registro do voto condutor do acórdão recorrido alertando para a necessidade de apresentação de outros documentos e Fl. 186DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 187 7 livros contábeis/fiscais do períodobase examinado para a comprovação do suposto crédito, tais como: Livro Diário e Lalur. Este arcabouço probatório seria imprescindível ao batimento dos dados constantes das declarações com os da escrituração do contribuinte, para efeito de comprovar a regular transcrição, idoneidade e identidade dos registros e atestar o oferecimento à tributação de receitas que ensejaram retenções legais do período, de modo a permitir, assim, a formação de juízo conclusivo quanto ao reconhecimento do direito creditório postulado. Concluo, portanto, não haver reparos a fazer na decisão recorrida, motivo porque reproduzo, na sequência, os trechos principais dela extraídos, adotandoos como razões de decidir, de acordo com o §1º do art. 50, da Lei nº 9.784/1999 c/c o §3º do art. 57, do RICARF (grifos do original): (...) Assim, admitido o recolhimento a maior de estimativa como pagamento indevido ou a maior de tributo, esta Turma de Julgamento tem consignado que o reconhecimento de direito creditório contra a Fazenda Nacional exige a averiguação da liquidez e certeza do suposto pagamento indevido ou a maior de tributo, fazendose necessário verificar a exatidão das informações a ele referentes, confrontandoas com os registros contábeis e fiscais efetuados com base na documentação pertinente, com análise da situação fática em todos os seus limites, de modo a se conhecer qual seria o tributo devido e comparálo ao pagamento efetuado. Diante disso, caberia a recorrente trazer, por ocasião do presente contencioso, justificativas lastreadas em lançamentos contábeis que identificassem, inequivocamente, a base de cálculo da CSLL do mês de dezembro de 2004, a CSLL devida em meses anteriores (até novembro/2004) e os recolhimentos que deram origem ao indébito pretendido. Ainda mais, quando a contribuinte é pessoa jurídica sujeita à tributação com base no lucro real que, nos termos do artigo 7º do Decretolei nº 1.598, de 1977, deve manter escrituração com observância das leis comerciais e fiscais. Nesse contexto, indispensáveis, portanto, os registros contábeis de conta no ativo da CSLL a recuperar, a expressão deste direito em balanços ou balancetes, regularmente transcritos no livro “Diário”, a demonstração do resultado do exercício, etc, além dos registros pertinentes do livro “LALUR”, principalmente porque, para se antecipar ao ajuste anual (tributação pelo lucro real anual) e não ter que recolher tributo a maior durante o ano, a contribuinte levantou balanços ou balancetes mensais de suspensão ou redução. (...) No caso presente, a recorrente, com o recurso a esta instância julgadora, não apresentou qualquer elemento contábil que comprovasse o indébito pleiteado. Fl. 187DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 188 8 Por tais razões, quando a contribuinte apresenta uma Declaração de Compensação, deve, necessariamente, demonstrar um crédito tributário a seu favor, para extinguir um débito tributário constituído em seu nome, de forma que o reconhecimento do indébito tributário deve ser o fundamento fático e jurídico de qualquer declaração de compensação. Ora, tal qual o pagamento de tributos e contribuições, que necessita, para convalidar o recolhimento efetuado, de uma série de atos do sujeito passivo, como manter escrituração contábil, baseada em documentos hábeis e idôneos, e a partir desta documentação determinar o tributo devido e recolher o correspondente valor, a restituição também almeja, para materializar o indébito, atividade semelhante. A propósito do tema, cumpre destacar o informativo de jurisprudência do STJ de nº 320, de 14 a 18 de maio de 2007, que trouxe o seguinte julgado: RESTITUIÇÃO. INDÉBITO. PROVA. RECOLHIMENTOS. A recorrente aduz que a eventual restituição, se cabível, haveria de ser respaldada em prova documental, acostada na inicial, dos valores efetivamente pagos com as devidas comprovações de recolhimento, e ante tal incerteza não pode ser a União condenada à restituição dos valores postulados (pela via da compensação), sob pena de infração ao princípio do enriquecimento sem causa. Isso posto, a Turma deu provimento ao recurso ao argumento de que o pressuposto fático do direito de compensar é a existência do indébito. Sem prova desse pressuposto, a sentença teria caráter apenas normativo, condicionada à futura comprovação de um fato. REsp 924.550SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 15/5/2007. (gn) A análise acima descrita reflete o posicionamento deste julgador quanto ao tema ora examinado e seus fundamentos estão em perfeita consonância com a legislação regente da matéria. Acrescento que os requisitos de liquidez e certeza do crédito são exigências legais para deferimento da homologação da compensação, a teor do que dispõe o artigo 170 do Código Tributário Nacional CTN (grifos nossos): Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública. Fl. 188DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 189 9 É de se ressaltar, ainda, que não compete a este relator sanar possíveis erros de preenchimento de PER/DCOMP ou demonstrar que a não homologação da compensação foi equivocada, a uma, porque há comprovação evidente e insofismável nos autos de que o suposto crédito foi alocado a outro débito e, a duas, porque o ônus probatório do direito vindicado é do Recorrente, conforme prevê a legislação1 e de acordo com forte corrente jurisprudencial deste CARF, da qual colaciono, como exemplos, os Acórdãos 3201002.303 e 3001000.312: ACÓRDÃO 3201002.303 ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 1989, 1990, 1991, 1992 PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. EXIGÊNCIA DE PROVA. Não pode ser aceito para julgamento a simples alegação sem a demonstração da existência ou da veracidade daquilo alegado. (...) Recurso Voluntário Negado Acórdão n.º 3001000.312 Assunto: Processo Administrativo Fiscal Anocalendário: 2004 PEDIDOS DE COMPENSAÇÃO. DIREITO DE CRÉDITO. ÔNUS DA PROVA. INDISPENSABILIDADE. Nos processos que versam a respeito de compensação, a comprovação do direito creditório recai sobre aquele a quem aproveita o reconhecimento do fato, que deve apresentar elementos probatórios aptos a comprovar as suas alegações. Logo, deve o contribuinte demonstrar que o crédito que alega possuir é capaz de quitar, integral ou parcialmente, o débito declarado em Per/Dcomp. Salientese que alegações desprovidas de indícios mínimos para ao menos evidenciar a verdade dos fatos ou colocar dúvida quanto à acusação fiscal de insuficiência de crédito, uma vez a análise fiscal é realizada sobre informações prestadas pelo contribuinte, colhidas nos sistemas informatizados da RFB, carece de elementos que justifica a autorização da realização de diligência, pois esta não se presta a suprir deficiência probatória. À vista do exposto, o improvimento do recurso impõese. 1 Lei nº 9.784/99: Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. Fl. 189DF CARF MF Processo nº 13888.905183/200910 Acórdão n.º 1002000.607 S1C0T2 Fl. 190 10 Dispositivo Considerando que o artigo 170 do CTN só autoriza a compensação de débitos tributários com créditos líquidos e certos dos interessados frente à Fazenda Pública; que o suposto crédito de R$ 39,66 constante do PER/DCOMP de nº 32279.72508.170706.1.3.04 4249 fora integralmente utilizado na quitação de débitos de tributo do código 2484 de período de apuração de 31/12/2005; e, ainda, que o Recorrente não traz elemento de prova capaz de infirmar os fatos aqui narrados, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso, mantendo integralmente a decisão de piso. É como voto. (assinado digitalmente) Aílton Neves da Silva Fl. 190DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.903801/2009-49
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 12 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Mar 27 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2005
DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PER/DCOMP. IRRF. ÔNUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO.
A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona-se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor.
NORMAS PROCESSUAIS. ARGUMENTOS DE DEFESA. INOVAÇÃO EM SEDE DE RECURSO. PRECLUSÃO.
Os argumentos de defesa e documentos comprobatórios trazidos apenas em grau de recurso, em relação aos quais não se manifestou a autoridade julgadora de primeira instância, impedem a sua apreciação, por preclusão processual.
Numero da decisão: 2202-005.038
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente
(Assinado digitalmente)
Ricardo Chiavegatto de Lima - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente)
Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RICARDO CHIAVEGATTO DE LIMA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Anocalendário: 2005 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PER/DCOMP. IRRF. ÔNUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO. A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor. NORMAS PROCESSUAIS. ARGUMENTOS DE DEFESA. INOVAÇÃO EM SEDE DE RECURSO. PRECLUSÃO. Os argumentos de defesa e documentos comprobatórios trazidos apenas em grau de recurso, em relação aos quais não se manifestou a autoridade julgadora de primeira instância, impedem a sua apreciação, por preclusão processual. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente (Assinado digitalmente) Ricardo Chiavegatto de Lima Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 90 38 01 /2 00 9- 49 Fl. 258DF CARF MF 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, José Alfredo Duarte Filho (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente) Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto. Relatório Tratase de recurso voluntário (efls. 100/123), acompanhado de cópias de documentos comprobatórios, interposto contra o Acórdão no. 0129.798 da 1a. Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Belém/PA – DRJ/BEL (efls. 65/73), que considerou improcedente Manifestação de Inconformidade interposta face a Despacho Decisório que não homologou pedido formulado pela ora recursante em PER/DCOMP . 2. Em detalhes, a Manifestação de Inconformidade foi interposta contra o despacho decisório 821083461, que não homologou a PER/DCOMP 08430. 69224.100208. 1.7.04.2598, relativa a pagamento supostamente indevido de IRRF, durante o ano calendário de 2005, uma vez que, embora localizado o pagamento do DARF código 0561, na data de 31/12/2005, no valor de R$ 376.908,40, o mesmo foi integralmente utilizado para a quitação de débito da contribuinte de igual valor. No PER/DCOMP referido, o valor do crédito original pretendido na data de transmissão foi de R$ 237.523,13. 3. Em síntese, a interessada alega em sua manifestação de inconformidade o seguinte: quando da transmissão do PER/DCOMP o valor de R$ 376.908,40 não foi totalmente utilizado por ser indevido, tendo sim o direito ao crédito de R$ 237.523,13, que atualizado é equivalente aos débitos compensados; a conferência eletrônica elaborada pela fiscalização não deve se sobrepor à realidade dos fatos, devendo ser respeitado o princípio da verdade material; e entende que deve ser integralmente homologada a compensação. 4. O Voto da 1a. Turma, no sentido de improcedência da Manifestação de Inconformidade, é transcrito a seguir em sua essência: Voto (...) A extinção do crédito tributário mediante o instituto da compensação apresentase na legislação: (transcreve legislação correlata à compensação) (...) A legislação acima indica: necessidade de apuração de crédito, do débito; e que os créditos apurados sejam declarados em PER/DCOMP. Importante preceito do CPC é o constante do art.333, que trata do ônus da prova: “Art. 333. O ônus da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.” (...) No caso concreto, Fl. 259DF CARF MF Processo nº 11080.903801/200949 Acórdão n.º 2202005.038 S2C2T2 Fl. 259 3 O pagamento informado pela recorrente em sua DCOMP encontrase utilizado para quitação de débito declarado em DCTF, e a ele está alocado, extinguindo o crédito tributário devido. Não existe o saldo positivo a ser utilizado pela recorrente; Há ausência de outras provas que colaborem à aceitação da verdade material dos fatos alegados pela recorrente, indicando a improcedência do pleito da recorrente. (...) Diante do exposto voto por: considerar improcedente a Manifestação de Inconformidade; compensação PER/DCOMP 08430. 69224.100208.1.7.04.2598, “não homologada”; direito creditório “ não reconhecido”. 5. Cientificada da decisão a quo a contribuinte apresenta, através de seu procurador, os seguintes argumentos recursais, transcritos em síntese: a Braskem S.A. sucede por incorporação a Ipiranga Petroquímica S.A.; alega tempestividade do recurso; apresenta breve histórico do processo; entende que o Acórdão baseou sua decisão apenas em conferência eletrônica, como a feita pelo Despacho Decisório; inicia então a esclarecer suas razões sobre a existência do crédito tributário, alegando que no ano calendário em questão a incorporada Ipiranga Petroquímica S.A. efetuava adiantamento mensal dos salários no dia 13 de cada mês ou no dia útil imediatamente anterior, e a folha de pagamento mensal era paga no antepenúltimo dia do mês, regra que valia também para membros de Conselhos; explica que tal regra divergia em dezembro, quando antecipava o pagamento mensal para o dia 15, juntamente com a segunda parcela do décimo terceiro, sem adiantamentos. Os conselheiros recebiam antecipadamente no dia 20 de dezembro (quarta semana); já no final de dezembro, a folha era reprocessada para eventuais pagamentos extraordinários; por equívoco, a incorporada calculou o valor do IRRF sobre a folha de pagamento reprocessada, após seu fechamento, sem descontar o valor já recolhido na terceira semana ; destaca que na terceira semana foi considerado como IRRF o valor de R$ 237.523,13; Já na quinta semana foi considerado o valor de R$ 314.168,13. Os valores efetivamente pagos de IRRF na terceira e na quinta semanas englobando os valores referidos foram de R$ 527.048,83 e R$ 376.908,40. sustenta que o valor correto a ser considerado para a quinta semana era de R$ 76.645,00, o qual correspondia à incidência do imposto sobre as verbas extraordinárias pagas no final do mês; procura comprovar e esclarecer os fatos com a folha de pagamento final de dezembro de 2005 e com tabelas e cálculos explicativos; Fl. 260DF CARF MF 4 retoma seus argumentos contra a não homologação, agora esclarecendo que sua informação constante na DCTF original, que traz o DARF em questão totalmente vinculado, está equivocada, mas que está impossibilitada de promover a retificação por força da IN RFB 1.110/2010; ocorreu que o valor pago na última semana do mês de dezembro de 2005 implicou inclusive em erro de fato na informação da DCTF: ao invés de constar o valor de R$ 376.908,40, deveria ter sido informado R$ 139.385,27, diferença que resulta justamente no valor do crédito por ele utilizado na PER/DCOMP, R$ 237.523,13; entende que é um equívoco ser do contribuinte o ônus da prova em relação ao direito creditório, pelos princípios do processo administrativo, notadamente a verdade material, (cita jurisprudência da CSRF e do CARF, e cita doutrina) e sustenta que a DRJ poderia haver determinado de ofício diligência ou perícia, cf. art. 18 do Decreto 70.235/72, não apenas se baseado à consulta de sistemas internos; suscita que provas além da produzida e apresentada não lhe podem ser exigidas, não haveria como demonstrar um não fato: a inocorrência do fato gerador de IRRF que ensejasse o pagamento a maior promovido pela recorrente. Não há prova de fato negativo. O ônus da prova de demonstrar que as informações constantes nos sistemas da RFB estavam equivocadas foi por ela desincumbido; 6. Requer, por fim, o provimento do recurso com a homologação da compensação declarada. 7. Foram anexados ao Recurso cópias dos seguintes documentos, com a denominação dada pela recorrente, juntados às efls. 124/254 dos autos : Doc. 01 Instrumento de mandato e Atos Societários Doc. 02 Tela da Caixa Postal do eCAC referente à intimação da Recorrente e Intimação DRF/CCI/SAORT n°: 988/2014 Doc. 03 Folha de Pagamento de dezembro de 2005 final Doc. 04 DCTF retificadora de dezembro de 2005 Doc. 05 DCTF retificadora de junho de 2005 Doc. 06 DCTF retificadora de julho de 2005 Doc. 07 DCTF retificadora de agosto de 2005 Doc. 08 DCTF retificadora de setembro de 2005 Doc. 09 DCTF retificadora de outubro de 2005 Doc. 10 DCTF retificadora de novembro de 2005 8. Foi apresentado ainda Memorial da Recorrente, onde foi ressaltado que a verdade material deve prevalecer e o recurso deve ser provido, com a conseqüente homologação da compensação declarada. 9. É o relatório. Voto Conselheiro Ricardo Chiavegatto de Lima – Relator 10 O Recurso Voluntário atende aos pressupostos de admissibilidade intrínsecos, uma vez que é cabível, há interesse recursal, a recorrente detém legitimidade e Fl. 261DF CARF MF Processo nº 11080.903801/200949 Acórdão n.º 2202005.038 S2C2T2 Fl. 260 5 inexiste fato impeditivo, modificativo ou extintivo do poder de recorrer. Além disso, atende aos pressupostos de admissibilidade extrínsecos, pois há regularidade formal e apresentase tempestivo. Portanto dele conheço. 11. Quanto à jurisprudência trazida aos autos, é de se observar o disposto no artigo 506 da Lei 13.105/2015, o novo Código de Processo Civil, o qual estabelece que a “sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros". Não sendo parte nos litígios objetos dos Acórdãos, o interessado não pode usufruir dos efeitos das sentenças ali prolatadas, posto que os efeitos são "inter partes” e não "erga omnes ”. 12. Com isso, fica claro que decisões administrativas e judiciais, mesmo que reiteradas, não têm efeito vinculante em relação às decisões proferidas pelo CARF. E mais, tais decisões, ou mesmo respeitáveis citações doutrinárias não são normas complementares, como as tratadas o art. 100 do CTN, motivo pelo qual não vinculam as decisões das instâncias julgadoras. 13. Não é demais lembrar que, no âmbito do contencioso administrativo atinente ao procedimento compensatório (compensação espontânea ou autocompensação), quem afirma possuir o direito ao encontro de contas entre o crédito e o débito compensados é o próprio sujeito passivo interessado na compensação. Conseqüentemente, é dele o ônus de trazer ao processo os elementos probatórios da existência desse direito, cabendo à Administração Tributária apenas a função de verificar a regularidade do procedimento em comento, homologandoo somente se devidamente comprovados os requisitos e as condições estabelecidos em lei, dentre os quais, por força do disposto no artigo 170 do CTN, a comprovação da liquidez e certeza do crédito informado, o que não ocorreu no procedimento em análise. 14. Embora todas as partes devam cooperar para que se obtenha decisão de mérito justa e efetiva, buscando a revelação da verdade material na tutela do processo administrativo fiscal, no presente caso efetivamente o sujeito passivo não se desincumbiu de seu ônus probatório. 15. Conforme já explanado, trata o presente caso de pedido de restituição (CTN, art. 165, I), alegando a contribuinte que possui crédito contra a Administração Tributária, combinado com pedido de declaração de compensação, na qual a contribuinte confessa débito (Lei 9.430, art. 74, § 6.º) ao mesmo tempo em que efetua o encontro de contas, sob condição resolutória de sua ulterior homologação pela Autoridade Fiscal (Lei 9.430, art. 74, caput, §§ 1.º e 2.º), para fins de extinção do crédito tributário (CTN, art. 156, II). 16. O caso em pauta envolve suposto crédito decorrente de pagamento indevido ou a maior, e existindo débito próprio, a contribuinte transmitiu PER/DCOMP objetivando a extinção da obrigação por força do instituto da compensação. No entanto, o Despacho Decisório negou o direito creditório, sob o fundamento de que o DARF que corroboraria o indébito estava completamente alocado. 17. A DRJ/BEL manteve tal entendimento, uma vez que o interessado não comprova a existência de pagamento indevido, o pagamento informado pela recorrente em sua DCOMP encontrase utilizado para quitação de débito declarado em DCTF, estando a ele alocado, não existe o saldo positivo a ser utilizado pela recorrente e há ausência de outras provas que colaborem à aceitação da verdade material dos fatos alegados pela recorrente. Fl. 262DF CARF MF 6 18. A contribuinte apresenta novos argumentos, acerca de sua sistemática de antecipação de pagamentos a funcionários na época dos fatos, e colaciona documentos complementares, nesta sede de Recurso, o que caracteriza o instituto da preclusão, e portanto deles não se deve conhecer, com base no Decreto nº 70.235/1972, art. 16, § 4º: Art. 16. A impugnação mencionará: (...) § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: (Incluído pela Lei no. 9.532/97) a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; (Incluído pela Lei no. 9.532/97) b) refirase a fato ou a direito superveniente; (Incluído pela Lei no. 9.532/97) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. (Incluído pela Lei no. 9.532/97) 19. Não obstante a contribuinte argüir no sentido de que o recolhimento do imposto de renda retido na fonte foi equivocado, para comprovação do alegado deveria ter juntado elementos mínimos de prova documental hábil à comprovação dos registros contábeis relativos aos fatos, que fundamentassem plenamente suas alegações e, mormente, colacionados aos autos no momento oportuno. 20. No caso de pedido de compensação, a liquidez do direito há de ser provada pela comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O art. 373, inciso I, do novo Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo administrativo fiscal, dispõe que o ônus da prova incumbe ao autor, enquanto que o art. 36 da Lei nº 9.784, de 29/01/99, impõe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. Em idêntico sentido atua o Decreto nº 70.235, de 1972, que, regendo as compensações por força do art. 74, § 11, da Lei 9.430/96, determina em seu art. 15 que as impugnações administrativas devem trazer os elementos de prova. 21. A determinação de realização de perícia e diligência foi considerada pela DRJ como desnecessária. A diligência e a perícia não se destinam a suprir prova que pode ser produzida pela juntada de documentos ou a levantamento de dados que não possam ser carreados facilmente ao processo, principalmente pela contribuinte, que tem a obrigação jurídica de manter seus meios probatórios. Citese propriamente o art. 18 do Decreto 70.235/72, indicado até mesmo pela ora Recursante em seu Recurso: "A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis,( ...)" (grifei). 22. Isto posto, pela falta de provas inequívocas dos fatos, e como cumpria exclusivamente à contribuinte o ônus de provar a liquidez e certeza de seu alegado crédito, no que não logrou êxito, correta está a decisão da DRJ/BEL e sem reforma deve restar seu Acórdão; não deve haver então homologação da compensação declarada. Fl. 263DF CARF MF Processo nº 11080.903801/200949 Acórdão n.º 2202005.038 S2C2T2 Fl. 261 7 Conclusão 23. Isso posto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso. (assinado digitalmente) Ricardo Chiavegatto de Lima. Fl. 264DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10280.722271/2009-11
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Mar 20 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Apr 11 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/10/2006 a 31/12/2006
COFINS. REGIME DA NÃO CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. POSSIBILIDADE.
Estando comprovado que os itens "óleo combustível BPF", "inibidor de corrosão" e "ácido sulfúrico", são bens utilizados e consumidos diretamente no processo produtivo da Alumina, necessário reconhecer o direito aos créditos apurados no regime da não-cumulatividade do PIS e da Cofins.
Numero da decisão: 9303-008.256
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento. Ausente, momentaneamente, o conselheiro Demes Brito.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Andrada Márcio Canuto Natal - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas.
Nome do relator: ANDRADA MARCIO CANUTO NATAL
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Período de apuração: 01/10/2006 a 31/12/2006 COFINS. REGIME DA NÃO CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. POSSIBILIDADE. Estando comprovado que os itens "óleo combustível BPF", "inibidor de corrosão" e "ácido sulfúrico", são bens utilizados e consumidos diretamente no processo produtivo da Alumina, necessário reconhecer o direito aos créditos apurados no regime da não-cumulatividade do PIS e da Cofins.
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REGIME DA NÃO CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. POSSIBILIDADE. Estando comprovado que os itens "óleo combustível BPF", "inibidor de corrosão" e "ácido sulfúrico", são bens utilizados e consumidos diretamente no processo produtivo da Alumina, necessário reconhecer o direito aos créditos apurados no regime da nãocumulatividade do PIS e da Cofins. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. Ausente, momentaneamente, o conselheiro Demes Brito. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício (assinado digitalmente) Andrada Márcio Canuto Natal Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 0. 72 22 71 /2 00 9- 11 Fl. 992DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 3 2 Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela Fazenda Nacional em face do acórdão nº 3302004598, de 25/07/2017, o qual possui a seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/10/2006 a 31/12/2006 REGIME NÃO CUMULATIVO. DEDUÇÃO DE CRÉDITO. DEFINIÇÃO DE INSUMO. 1. No âmbito do regime não cumulativo da Cofins, enquadramse na definição de insumo tanto a matéria prima, o produto intermediário e o material de embalagem, que integram o produto final, quanto aqueles bens ou serviços aplicados ou consumidos no curso do processo de produção ou fabricação, mas que não se agregam ao bem produzido ou fabricado. 2. Também são considerados insumos de produção ou fabricação os bens ou serviços previamente incorporados aos bens ou serviços diretamente aplicados no processo de produção ou fabricação, desde que estes bens ou serviços propiciem direito a créditos da referida contribuição. ENERGIA TÉRMICA UTILIZADA COMO INSUMO DE PRODUÇÃO. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO. POSSIBILIDADE. Se utilizada como insumo, o custo de aquisição de energia térmica permite a apropriação de créditos da Cofins, ainda que o custo tenha ocorrido antes de 15/6/2007, data da vigência da nova redação do art. 3º, III, da Lei 10.833/2003, dada pela Lei 11.488/2007 (ADI SRF nº 2/2003). ÓLEO COMBUSTÍVEL BPF. COMBUSTÍVEL UTILIZADO NA GERAÇÃO DE ENERGIA TÉRMICA. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO. POSSIBILIDADE. É passível de apropriação de crédito da Cofins a aquisição do “Óleo Combustível BPF” utilizado como combustível na geração de energia térmica, utilizada como insumo de produção. INIBIDOR DE CORROSÃO E ÁCIDO SULFÚRICO. PRODUTOS UTILIZADOS NOS EQUIPAMENTOS DO PROCESSO INDUSTRIAL. INSUMO DE PRODUÇÃO. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITOS. POSSIBILIDADE. A aquisição dos produtos Inibidor de Corrosão e Ácido Sulfúrico aplicados, respectivamente, (i) na limpeza ácida dos Fl. 993DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 4 3 equipamentos e trocadores de calor e (ii) na limpeza de dutos e trocadores de calor, desmineralização da água das caldeiras e o tratamento de efluentes, por serem insumos de produção, permite a apropriação de créditos da Cofins. REGIME NÃO CUMULATIVO. GASTOS COM FRETE NO TRANSPORTE DE REJEITOS INDUSTRIAIS. DIREITO DE APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO. IMPOSSIBILIDADE. No âmbito do regime não cumulativo, por falta de previsão legal, não é admitida a apropriação de créditos da Cofins calculados sobre os gastos com frete por serviços de transporte prestados na remoção de rejeitos industriais. ENCARGOS DE DEPRECIAÇÃO INCENTIVADA. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITOS. DESCUMPRIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. IMPOSSIBILIDADE. 1. A opção pela apropriação de créditos da Cofins sobre o valor mensal correspondente a 1/48 (um quarenta e oito avos) do custo de aquisição de máquinas e equipamentos do ativo imobilizado, somente poderá ser exercida se os referidos bens forem utilizados na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços. 2. O desconto de créditos da Cofins sobre o valor mensal correspondente a 1/12 (um doze avos) somente beneficia a aquisição de máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos, novos, relacionados no Decreto 5.789/2006, destinados à incorporação ao ativo imobilizado de empresas em microrregiões menos desenvolvidas localizadas nas áreas de atuação das extintas Sudene e Sudam. 3. Se não atendidos os requisitos legais, o contribuinte não faz jus aos créditos da Cofins calculados com base os valores mensais dos encargos de depreciação acelerada incentivada. Recurso Voluntário Provido em Parte. O recurso especial insurgese quanto ao conceito de insumos, para fins de apropriação de créditos da nãocumulatividade da Cofins, mais precisamente sobre os créditos referentes a óleo combustível BPF, inibidor de corrosão e ácido sulfúrico. os quais foram reconhecidos no acórdão recorrido. O recurso especial foi admitido por despacho do presidente da 3ª Seção de Julgamento. É o relatório. Fl. 994DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 5 4 Voto Conselheiro Andrada Márcio Canuto Natal, relator. O recurso especial da Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos formais e materiais ao seu conhecimento. No mérito a insurgência da Fazenda Nacional é quanto à parte do acórdão recorrido que reconheceu a possibiliade de apropriação de créditos da nãocumulatividade da Cofins sobre os gastos com óleo combustível BPF, inibidor de corrosão e ácido sulfúrico, únicos itens em que o recurso voluntário do contribuinte foi provido. Conceito de insumos Antes de adentrarmos ao mérito específico, entendemos ser necessário pontuar o conceito de insumos para fins de apropriação de créditos da nãocumulatividade do PIS e da Cofins, de que tratam as Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003. Importante esclarecer, que parte desse colegiado, nas sessões de julgamento precedentes, inclusive eu, não compartilhava do entendimento de que a legislação da não cumulatividade do PIS e da Cofins dava margem para compreender o conceito de insumos no sentido de sua relevância e essencialidade às atividades da empresa como um todo. No nosso entender a legislação do PIS/Cofins traz uma espécie de numerus clausus em relação aos bens e serviços considerados como insumos para fins de creditamento, ou seja, fora daqueles itens expressamente admitidos pela lei, não há possibilidade de aceitálos dentro do conceito de insumo. Embora não aplicável a legislação restritiva do IPI, o insumo era restrito ao item aplicado e consumido diretamente no processo produtivo, não se admitindo bens ou serviços que, embora relevantes, fossem aplicados nas etapas préindustriais ou pósindustriais, a exemplo dos conhecidos insumos de insumos, como é o caso do adubo utilizado na plantação da canadeaçúcar, quando o produto final colocado à venda é o açúcar ou o álcool. Porém, o STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 1.221.170/PR, submetido à sistemática dos recursos repetitivos de que tratam os arts. 1036 e seguintes do NCPC, trouxe um novo delineamento ao trazer a interpretação do conceito de insumos que Fl. 995DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 6 5 entende deve ser dada pela leitura do inciso II dos art. 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003. Sobre o assunto, a Fazenda Nacional editou a Nota SEI nº 63/2018/CRJ/PGACET/PGFNMF, na qual traz que o STJ em referido julgamento teria assentado as seguintes teses: “(a) é ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002 e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de nãocumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Lei nº 10.637/2002 e 10.833/2003; e (b) o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de determinado item – bem ou serviço – para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo Contribuinte". Portanto, por força do efeito vinculante da citada decisão do STJ, esse conselheiro passará a adotar o entendimento muito bem explanado na citada nota da PGFN. Para que o conceito doravante adotado seja bem esclarecido, transcrevo abaixo excertos da Nota SEI nº 63/2018/CRJ/PGACET/PGFNMF, os quais considero esclarecedores dos critérios a serem adotados. (...) 15. Devese, pois, levar em conta as particularidades de cada processo produtivo, na medida em que determinado bem pode fazer parte de vários processos produtivos, porém, com diferentes níveis de importância, sendo certo que o raciocínio hipotético levado a efeito por meio do “teste de subtração” serviria como um dos mecanismos aptos a revelar a imprescindibilidade e a importância para o processo produtivo. 16. Nesse diapasão, poderseia caracterizar como insumo aquele item – bem ou serviço utilizado direta ou indiretamente cuja subtração implique a impossibilidade da realização da atividade empresarial ou, pelo menos, cause perda de qualidade substancial que torne o serviço ou produto inútil. 17. Observase que o ponto fulcral da decisão do STJ é a definição de insumos como sendo aqueles bens ou serviços que, uma vez retirados do processo produtivo, comprometem a consecução da atividadefim da empresa, estejam eles empregados direta ou indiretamente em tal processo. É o raciocínio que decorre do mencionado “teste de subtração” a que se refere o voto do Ministro Mauro Campbell Marques. 18. (...) Destarte, entendeu o STJ que o conceito de insumos, para fins da não cumulatividade aplicável às referidas contribuições, não corresponde exatamente aos conceitos de “custos e despesas operacionais” utilizados na legislação do Imposto de Renda. Fl. 996DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 7 6 (...) 36. Com a edição das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, o legislador infraconstitucional elencou vários elementos que como regra integram cadeias produtivas, considerandoos, de forma expressa, como ensejadores de créditos de PIS e COFINS, dentro da sistemática da nãocumulatividade. Há, pois, itens dentro do processo produtivo cuja indispensabilidade material os faz essenciais ou relevantes, de forma que a atividadefim da empresa não é possível de ser mantida sem a presença deles, existindo outros cuja essencialidade decorre por imposição legal, não se podendo conceber a realização da atividade produtiva em descumprimento do comando legal. São itens que, se hipoteticamente subtraídos, não obstante não impeçam a consecução dos objetivos da empresa, são exigidos pela lei, devendo, assim, ser considerados insumos. (...) 38. Não devem ser consideradas insumos as despesas com as quais a empresa precisa arcar para o exercício das suas atividades que não estejam intrinsicamente relacionadas ao exercício de sua atividadefim e que seriam mero custo operacional. Isso porque há bens e serviços que possuem papel importante para as atividades da empresa, inclusive para obtenção de vantagem concorrencial, mas cujo nexo de causalidade não está atrelado à sua atividade precípua, ou seja, ao processo produtivo relacionado ao produto ou serviço. 39. Vale dizer que embora a decisão do STJ não tenha discutido especificamente sobre as atividades realizadas pela empresa que ensejariam a existência de insumos para fins de creditamento, na medida em que a tese firmada referese apenas à atividade econômica do contribuinte, é certo, a partir dos fundamentos constantes no Acórdão, que somente haveria insumos nas atividades de produção de bens destinados à venda ou de prestação de serviços. Desse modo, é inegável que inexistem insumos em atividades administrativas, jurídicas, contábeis, comerciais, ainda que realizadas pelo contribuinte, se tais atividades não configurarem a sua atividadefim. (...) 43. O raciocínio proposto pelo “teste da subtração” a revelar a essencialidade ou relevância do item é como uma aferição de uma “conditio sine qua non” para a produção ou prestação do serviço. Buscase uma eliminação hipotética, suprimindo se mentalmente o item do contexto do processo produtivo atrelado à atividade empresarial desenvolvida. Ainda que se observem despesas importantes para a empresa, inclusive para o seu êxito no mercado, elas não são necessariamente essenciais ou relevantes, quando analisadas em cotejo com a atividade principal desenvolvida pelo contribuinte, sob um viés objetivo. (...) 50. Outro aspecto que pode ser destacado na decisão do STJ é que, ao entender que insumo é um conceito jurídico indeterminado, permitiuse uma conceituação diferenciada, de modo que é possível que seja adotada definição diferente a depender da situação, o que não configuraria confusão, diferentemente do que alegava o contribuinte no Recurso Especial. 51. O STJ entendeu que deve ser analisado, casuisticamente, se o que se pretende seja considerado insumo é essencial ou relevante para o processo produtivo ou à atividade principal desenvolvida pela empresa. Vale ressaltar que Fl. 997DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 8 7 o STJ não adentrou em tal análise casuística já que seria incompatível com a via especial. 52. Determinouse, pois, o retorno dos autos, para que observadas as balizas estabelecidas no julgado, fosse apreciada a possibilidade de dedução dos créditos relativos aos custos e despesas pleiteados pelo contribuinte à luz do objeto social daquela empresa, ressaltandose as limitações do exame na via mandamental, considerando as restrições atinentes aos aspectos probatórios. (...) Analisando o caso concreto apreciado pelo STJ no RESP 1.221.170/PR, observase que estava em discussão os seguintes itens que a recorrente, uma empresa do ramo de alimentos, mais especificamente, avicultura, pleiteava: " 'Custos Gerais de Fabricação' (água, combustíveis, gastos com veículos, materiais de exames laboratoriais, materiais de proteção EPI, materiais de limpeza, ferramentas, seguros, viagens e conduções) e 'Despesas Gerais Comerciais' (combustíveis, comissão de vendas a representantes, gastos com veículos, viagens e conduções, fretes, prestação de serviços PJ, promoções e propagandas, seguros, telefone, comissões)". Ressaltese que referido acórdão reconheceu a possibilidade de ser possível o creditamento somente em relação aos seguintes itens: água, combustíveis e lubrificantes, materiais de exames laboratoriais, materiais de proteção EPI e materiais de limpeza. De plano percebese que o acórdão, apesar de aparentemente ter reconhecido um conceito de insumos bastante amplo ao adotar termos não muito objetivos, como essencialidade ou relevância, afastou a possibilidade de creditamento de todas as despesas gerais comerciais, aí incluídas despesas de frete e outras que se poderiam acreditar relevantes ou essenciais. Anote ainda que, mesmo para os itens teoricamente aceitos, devolveuse para que o Tribunal recorrido avaliasse a sua essencialidade ou relevância, à luz da atividade produtiva exercida pelo recorrente. Assim, uma conclusão inequívoca que penso poder ser aplicada é que não é cabível o entendimento muito aventado pelos contribuintes e por alguns doutrinadores, de que todos os custos e despesas operacionais seriam possíveis de creditamento. De forma, que doravante, à luz do que foi decidido pelo STJ no RESP 1.221.170/PR, adotarei o critério da relevância e da essencialidade sempre indagando a aplicação do insumo ao processo de produção de bens ou de prestação de serviços. Por Fl. 998DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 9 8 exemplo, por mais relevantes que possam ser na atividade econômica do contribuinte, as despesas de cunho nitidamente administrativo e/ou comercial não perfazem o conceito de insumos definidos pelo STJ. Da mesma forma, demais despesas relevantes consumidas antes de iniciado ou após encerrado o ciclo de produção ou da prestação de serviços. A legislação do PIS e da Cofins, no regime nãocumulativo, prevê os seguintes tipos de créditos que podem ser aqui aplicados: Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (...) II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da Tipi; (...) Com o conceito de insumos acima delineado, passemos a analisar o caso concreto em discussão. A Fazenda Nacional insurgese contra a parte do acórdão recorrido que reconheceu a possibiliade de apropriação de créditos da nãocumulatividade da Cofins sobre os gastos com óleo combustível BPF, inibidor de corrosão e ácido sulfúrico. O acórdão recorrido concedeu esses créditos diante da conclusão inequívoca de que tais produtos são utilizados diretamente na linha de produção da alumina, produto final industrializado pelo contribuinte. Em síntese concluiu que o Óleo Combustível BPF é utilizado para a produção de energia térmica a qual, sob forma de vapor, é consumida no processo industrial. Quanto ao item "inibidor de corrosão" concluiu que é utilizado na limpeza ácida dos equipamentos trocadores de calor utilizados no processo industrial. Por fim quanto ao item "ácido sulfúrico", concluiu que é utilizado na limpeza de dutos e trocadores de calor, desmineralização da água das caldeiras e no tratamento dos efluentes. Fl. 999DF CARF MF Processo nº 10280.722271/200911 Acórdão n.º 9303008.256 CSRFT3 Fl. 10 9 A Fazenda Nacional, em seu recurso especial, limitase a pedir a exclusão de tais créditos em razão do conceito de insumos advindo da legislação do IPI, no qual exigese o desgaste ou consumo do bem, diretamente em contato com o bem em produção. Como visto, na introdução deste voto, este conceito já está devidamente superado. Diante do exposto, voto por negar provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Andrada Márcio Canuto Natal Fl. 1000DF CARF MF
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