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Numero do processo: 10920.901437/2006-38
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jan 17 00:00:00 UTC 2012
Ementa: RETIFICAÇÃO DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO PARA ALTERAR O CRÉDITO PLEITEADO – IMPOSSIBILIDADE – A retificação posterior do PER/DCOMP é possível apenas diante de comprovação da ocorrência de erro material no seu preenchimento, não cabendo outra justificativa para alterar crédito originalmente informado.
Numero da decisão: 1201-000.642
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, NEGAR
provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado.
Nome do relator: João Carlos de Lima Junior
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 5; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1653; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; access_permission:can_modify: true; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S1‐C2T1 Fl. 1 1 S1C2T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS PRIMEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 10920.901437/200638 Recurso nº 506.745 Voluntário Acórdão nº 120100.642 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 17 de janeiro de 2012 Matéria DCOMP Recorrente GIDION S/A TRANSPORTE E TURISMO S/A Recorrida FAZENDA NACIONAL RETIFICAÇÃO DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO PARA ALTERAR O CRÉDITO PLEITEADO – IMPOSSIBILIDADE – A retificação posterior do PER/DCOMP é possível apenas diante de comprovação da ocorrência de erro material no seu preenchimento, não cabendo outra justificativa para alterar crédito originalmente informado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Voluntário. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. (documento assinado digitalmente) CLAUDEMIR RODRIGUES MALAQUIAS – Presidente (documento assinado digitalmente) JOÃO CARLOS DE LIMA JUNIOR – Relator EDITADO EM: Participaram do presente julgado os Conselheiros Rafael Correia Fuso, Marcelo Cuba Netto, João Bellini Junior (Suplente Convocado), Regis Magalhães Soares de Queiroz, Claudemir Rodrigues Malaquias e João Carlos de Lima Junior. Fl. 72DF CARF MF Impresso em 19/10/2012 por LUIZ TREZZI NETO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/03/2012 por GILDA ALEIXO DOS SANTOS, Assinado digitalmente em 26/04/2 012 por JOAO CARLOS DE LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 27/04/2012 por CLAUDEMIR RODRIGUES MALA QUIAS Processo nº 10920.901437/200638 Acórdão n.º 120100.642 S1‐C2T1 Fl. 2 2 Relatório Tratase de manifestação de inconformidade contra despacho decisório que não homologou o PER/DCOMP transmitido pela Recorrente, visando à compensação da estimativa de CSLL (paga em guia DARF) no valor de R$ 4.245,07 (quatro mil e duzentos e quarenta e cinco reais e sete centavos), com débito de estimativa de CSLL referente à 09/2003 no valor de R$ 5.001,12 (cinco mil e um reais e doze centavos). A Recorrente foi cientificada da decisão que não homologou o PER/DCOMP em 31/07/2008 e, em 15/08/2008, apresentou sua manifestação de inconformidade em uma única folha, conforme a seguir transcrito: Prezado AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil Referente Despacho Decisório N° 775553608 Valor = R$ 4.245,07 Referente Despacho Decisório N° 775553611 Valor = RS 137,52 Vimos requerer a suspensão da intimação acima referenciada. As Compensações foram efetuadas conforme as planilhas 01, 02 e 03 — anexo. Informamos que a soma destas conferem exatamente com o valor do saldo negativo do CSL ano calendário de 2002. Solicitamos efetuarem as compensações da seguinte forma: Saldo Negativo do CSL no ano calendário de 2002 no valor de R$ 52.381,79 (Cinqüenta e dois mil, trezentos e oitenta e um real e setenta e nove centavos) conforme DIPJ e Planilha de compensação N° 04 — anexo. Cancelar as PER/DCOMP e Alocar as compensações de acordo com a planilha N° 04. (Fls. 23). Em 07 de maio de 2009, a DRJ julgou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada, conforme voto a seguir transcrito: Conforme se observa da manifestação de inconformidade apresentada, pleiteia a interessada, unicamente, a substituição da compensação declara, mas não homologada, por outra diversa. Sucede, porém, que, para tanto, necessário se faria a apresentação de nova PER/DCOMP pela interessada, o que ensejaria novo Despacho Decisório por parte do órgão jurisdicionante e, sendo o caso de sua nãohomologação, a possibilidade de apresentação de nova manifestação de inconformidade a esta DRJ, que, então, estaria habilitada para se pronunciar a respeito. Fl. 73DF CARF MF Impresso em 19/10/2012 por LUIZ TREZZI NETO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/03/2012 por GILDA ALEIXO DOS SANTOS, Assinado digitalmente em 26/04/2 012 por JOAO CARLOS DE LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 27/04/2012 por CLAUDEMIR RODRIGUES MALA QUIAS Processo nº 10920.901437/200638 Acórdão n.º 120100.642 S1‐C2T1 Fl. 3 3 Não obstante, permitese dizer que salta aos olhos a intempestividade de eventual pleito nesse sentido. Para se verificar o prazo no qual pode o contribuinte proceder à compensação, basta verificar o caput do art. 74 da Lei n° 9.430, de 27 de dezembro de 1996, que assim dispõe (grifouse).(...) Diz a lei que só podem ser utilizados na compensação os créditos passíveis de restituição. Assim, os pagamentos indevidos ou a maior, cujo direito de pleitear a restituição esteja prescrito, não são passíveis de restituição e, portanto, não são também passíveis de compensação. Dessa forma, o prazo para o contribuinte proceder à compensação confundese com o prazo para pleitear a restituição. No presente caso, verificase que o crédito pretendido remonta ao ano de 2002 (planilhas de fls. 20 a 23), o que inviabilizaria o pleito, apresentado apenas em 2008. CONCLUSÃO Em face do exposto, e de tudo o mais que dos autos consta, voto no sentido de CONSIDERAR NÃO HOMOLOGADA a compensação objeto da manifestação de inconformidade apresentada. É o voto. Em 24 de junho de 2009, a Recorrente apresentou Recurso Voluntário a este E. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, oportunidade em que alegou: Que a compensação pleiteada se refere ao pagamento a maior das estimativas mensais ao longo do ano calendário de 2002; Que, no ano calendário de 2002, a Recorrente apurou saldo negativo de CSLL no importe de R$ 52.381,79 (cinqüenta e dois mil e trezentos e oitenta e um reais e setenta e nove centavos), conforme DIPJ, DCTF's e DARF's em anexo. Nesse sentido a Recorrente apresentou planilhas demonstrando o saldo de CSLL utilizado para a presente compensação e todas as outras realizadas no mesmo período; Que cometeu mero erro formal ao preencher a PER/DCOMP em análise, visto que a Recorrente erroneamente solicitou créditos decorrentes de "pagamentos indevidos ou a maior", quando na verdade os valores informados compunham o seu saldo negativo de CSLL passível de compensação ao final do período. Por fim, requereu o apensamento dos presentes autos ao processo administrativo fiscal nº 10920.901.438/200682 para que ambos sejam julgados em conjunto, tendo em vista a identidade da matéria discutida em ambos e a influência que exercem um sob o resultado do outro. É o Relatório. Fl. 74DF CARF MF Impresso em 19/10/2012 por LUIZ TREZZI NETO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/03/2012 por GILDA ALEIXO DOS SANTOS, Assinado digitalmente em 26/04/2 012 por JOAO CARLOS DE LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 27/04/2012 por CLAUDEMIR RODRIGUES MALA QUIAS Processo nº 10920.901437/200638 Acórdão n.º 120100.642 S1‐C2T1 Fl. 4 4 Voto De acordo com os documentos acostados aos autos, foi constatado que, em 22/10/2003, a Recorrente apresentou PER/DCOMP visando à compensação da estimativa de CSLL (paga em guia DARF) no valor de R$ 4.245,07 (quatro mil e duzentos e quarenta e cinco reais e sete centavos), conforme apurado em 31/01/2002, com débito de estimativa de CSLL referente a 09/2003 no valor de R$ 5.001,12 (cinco mil e um reais e doze centavos). Todavia, a DRF ao analisar o crédito informado pela Recorrente em PER/DCOMP, apurou, baseado em guia DARF, que este foi utilizado pela Recorrente em período anterior, inexistindo, portanto, crédito para compensar o débito informado, razão pela qual o PER/DCOMP apresentado não foi homologado. A Recorrente, diante da não homologação, apresentou manifestação de inconformidade, alegando que, na oportunidade do preenchimento do PER/DCOMP, indicou erroneamente o crédito como pagamento indevido ou maior decorrente de pagamento de estimativa representado pela guia DARF no valor de R$ 4.245,07 (quatro mil e duzentos e quarenta e cinco reais e sete centavos), conforme apurado em 31/01/2002, quando deveria ter indicado o valor do saldo negativo de CSLL apurado ao final do ano calendário de 2002. De acordo com a legislação de regência da matéria, qual seja, os artigos 76 a 81 da IN da SRF nº 900 de 30/12/2008, a Retificação da Declaração de Compensação só é possível quando preencher os requisitos legais, quais sejam: (1) desde que o processo administrativo ainda não tenha sido julgado (artigo 77) ; (2) desde que o contribuinte comprove que se trata de erro material no preenchimento da PER/DCOMP (artigo 78) e (3) desde que não seja para aumentar o valor do débito (artigo 79). No presente caso, a Recorrente preenche dois dos três requisitos legais, conforme acima identificados, uma vez que o processo administrativo ainda está pendente de decisão definitiva, bem como a retificação se refere ao crédito originalmente apontado e não ao débito. Resta, portanto, necessidade de analisarmos se a Recorrente preenche o terceiro requisito, qual seja, se realmente cometeu um erro material ao preencher a PER/DCOMP, ou se utilizou da manifestação de inconformidade para requerer a substituição do crédito originalmente informado. Para que não pairem dúvidas quanto à possibilidade de retificação do pedido de compensação quando se tratar de erro material, pedimos vênia para transcrevermos o artigo 78 da IN da SRF nº 900 de 30/12/2008, bem como, trazemos a jurisprudência proferida por este E. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, a fim de elucidar a interpretação do erro material, conforme a seguir: Art. 78. A retificação da Declaração de Compensação gerada a partir do programa PER/DCOMP ou elaborada mediante utilização de formulário em meio papel somente será admitida na hipótese de inexatidões materiais verificadas no Fl. 75DF CARF MF Impresso em 19/10/2012 por LUIZ TREZZI NETO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/03/2012 por GILDA ALEIXO DOS SANTOS, Assinado digitalmente em 26/04/2 012 por JOAO CARLOS DE LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 27/04/2012 por CLAUDEMIR RODRIGUES MALA QUIAS Processo nº 10920.901437/200638 Acórdão n.º 120100.642 S1‐C2T1 Fl. 5 5 preenchimento do referido documento, e ainda, da inocorrência da hipótese prevista no artigo 79. COMPENSAÇÃOERRO NO PREENCHIMENTO DA DECLARAÇÃO E/OU PEDIDO Uma vez demonstrado o erro no preenchimento da declaração e/ou pedido, deve a verdade material prevalecer sobre a formal. (1º CC Acórdão nº 101 96.829, Sessão de 27 de junho de 2008, Relator Valmir Sandri). Ora, no caso em tela, o crédito originalmente informado pela Recorrente foi completamente alterado, pois este se referia a pagamento a maior de estimativa mensal apurada em 31/01/2002, enquanto que o crédito posterior se referia ao valor da base de cálculo da CSLL apurado ao final do ano calendário de 2002; o valor do crédito originalmente informado também é completamente diferente do valor do crédito posteriormente informado; por fim, temos que o período do crédito originalmente informado também é diferente do período do crédito posteriormente informado. Assim, forçosa é a conclusão de que a Recorrente se utilizou da manifestação de Inconformidade e posteriormente do Recurso Voluntário ora em julgamento para requerer e defender a substituição do crédito originalmente informado por outro, o que não é admitido. Isto posto, voto no sentido de negar provimento ao Recurso Voluntário. É como voto. (documento assinado digitalmente) JOÃO CARLOS DE LIMA JUNIOR – Relator Fl. 76DF CARF MF Impresso em 19/10/2012 por LUIZ TREZZI NETO - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/03/2012 por GILDA ALEIXO DOS SANTOS, Assinado digitalmente em 26/04/2 012 por JOAO CARLOS DE LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 27/04/2012 por CLAUDEMIR RODRIGUES MALA QUIAS
score : 1.0
Numero do processo: 10314.722768/2016-23
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Nov 06 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jan 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2011 a 03/12/2011
AUTO DE INFRAÇÃO. OCORRÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. NÃO DEMONSTRAÇÃO. QUALIFICAÇÃO DA MULTA. IMPOSSIBILIDADE. CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL. ALTERAÇÃO.
Não demonstrada pela autoridade fiscal a existência de dolo, fraude ou simulação, a qualificação da multa de ofício deve ser afastada, restabelecendo-se o percentual de 75 % (setenta e cinco por cento).
Afastados os motivos que levaram à contagem do prazo decadencial como sendo o art. 173, I, do Código Tributário Nacional, a contagem dar-se-á pelo art. 150, § 4º, do CTN.
GRATIFICAÇÃO ESPECIAL.
Por se tratar de gratificação ajustada, incide contribuições sobre a verba paga aos trabalhadores na rescisão de contrato de trabalho sem justa causa.
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS. INFRINGÊNCIA LEGAL. INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES. POSSIBILIDADE.
O pagamento de participação nos lucros ou resultados em desacordo com a lei de regência viabiliza a incidência das contribuições devidas à Seguridade Social, das contribuições para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, bem como das contribuições destinadas a outras entidades ou fundos.
Numero da decisão: 2201-004.761
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento aos recursos de ofício e voluntário.
(assinado digitalmente)
Carlos Alberto do Amaral Azeredo - Presidente
(assinado digitalmente)
Daniel Melo Mendes Bezerra - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Daniel Melo Mendes Bezerra, Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim, Douglas Kakazu Kushiyama, Debora Fofano, Marcelo Milton da Silva Risso e Carlos Alberto do Amaral Azeredo (Presidente).
Nome do relator: DANIEL MELO MENDES BEZERRA
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/01/2011 a 03/12/2011 AUTO DE INFRAÇÃO. OCORRÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. NÃO DEMONSTRAÇÃO. QUALIFICAÇÃO DA MULTA. IMPOSSIBILIDADE. CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL. ALTERAÇÃO. Não demonstrada pela autoridade fiscal a existência de dolo, fraude ou simulação, a qualificação da multa de ofício deve ser afastada, restabelecendo-se o percentual de 75 % (setenta e cinco por cento). Afastados os motivos que levaram à contagem do prazo decadencial como sendo o art. 173, I, do Código Tributário Nacional, a contagem dar-se-á pelo art. 150, § 4º, do CTN. GRATIFICAÇÃO ESPECIAL. Por se tratar de gratificação ajustada, incide contribuições sobre a verba paga aos trabalhadores na rescisão de contrato de trabalho sem justa causa. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS. INFRINGÊNCIA LEGAL. INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES. POSSIBILIDADE. O pagamento de participação nos lucros ou resultados em desacordo com a lei de regência viabiliza a incidência das contribuições devidas à Seguridade Social, das contribuições para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, bem como das contribuições destinadas a outras entidades ou fundos.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento aos recursos de ofício e voluntário. (assinado digitalmente) Carlos Alberto do Amaral Azeredo - Presidente (assinado digitalmente) Daniel Melo Mendes Bezerra - Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Daniel Melo Mendes Bezerra, Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim, Douglas Kakazu Kushiyama, Debora Fofano, Marcelo Milton da Silva Risso e Carlos Alberto do Amaral Azeredo (Presidente).
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FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/2011 a 03/12/2011 AUTO DE INFRAÇÃO. OCORRÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. NÃO DEMONSTRAÇÃO. QUALIFICAÇÃO DA MULTA. IMPOSSIBILIDADE. CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL. ALTERAÇÃO. Não demonstrada pela autoridade fiscal a existência de dolo, fraude ou simulação, a qualificação da multa de ofício deve ser afastada, restabelecendose o percentual de 75 % (setenta e cinco por cento). Afastados os motivos que levaram à contagem do prazo decadencial como sendo o art. 173, I, do Código Tributário Nacional, a contagem darseá pelo art. 150, § 4º, do CTN. GRATIFICAÇÃO ESPECIAL. Por se tratar de gratificação ajustada, incide contribuições sobre a verba paga aos trabalhadores na rescisão de contrato de trabalho sem justa causa. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS. INFRINGÊNCIA LEGAL. INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES. POSSIBILIDADE. O pagamento de participação nos lucros ou resultados em desacordo com a lei de regência viabiliza a incidência das contribuições devidas à Seguridade Social, das contribuições para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, bem como das contribuições destinadas a outras entidades ou fundos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 31 4. 72 27 68 /2 01 6- 23 Fl. 5954DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.955 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento aos recursos de ofício e voluntário. (assinado digitalmente) Carlos Alberto do Amaral Azeredo Presidente (assinado digitalmente) Daniel Melo Mendes Bezerra Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Daniel Melo Mendes Bezerra, Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim, Douglas Kakazu Kushiyama, Debora Fofano, Marcelo Milton da Silva Risso e Carlos Alberto do Amaral Azeredo (Presidente). Relatório Tratamse de Recursos de Ofício e Voluntário contra o acórdão nº 0963.622 5a Turma da DRJ/JFA, que julgou procedente em parte a impugnação apresentada pelo sujeito passivo. Adotamos, em parte, o relatório da decisão de primeira instância, por bem sintetizar os fatos: Tratase de Auto de Infração acostado às fls.4350/4563, emitido em 13/12/2016, para cobrança das contribuições previdenciárias patronais destinadas ao custeio da Seguridade Social, no valor de R$ 45.724.861,84 relativo ao período de 01/01/2011 a 30/12/2011, abrangendo vários estabelecimentos da empresa, no percentual de 20% (vinte por cento) e ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrentes dos riscos ambientais do trabalho (SAT/RAT), incidentes sobre a remuneração de segurados empregados com fixação de multa de ofício qualificada de 150%. Neste processo às fls. 3898/4348 foram exigidas as contribuições destinadas ao custeio da outras entidades e fundos SENAC; SESC; SESI, SENAI, INCRA; SALÁRIOEDUCAÇÃO; SEBRAE, no montante de R$ 11.000.639,60 incidentes sobre a remuneração de segurados empregados, com fixação de multa de ofício qualificada no percentual de 150%. Os fatos geradores relativos à contribuição patronal, ao GILRAT e diferença da FAP, foram identificados como verbas não oferecidas à tributação relativas a: Prêmios; Ajuda de Custo; Gratificação; PLR Participação nos Lucros ou Resultados. Somente com a exigência da contribuição patronal foram apurados os fatos geradores decorrentes de: Valores Pagos a Contribuintes Individuais. Fl. 5955DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.956 3 o Auditor apresenta, por estabelecimento, planilhas contendo: fls. 4568/ 4569 o valor, fls.4591/4594 a identificação dos trabalhadores recebedores da ajuda de custo; fls 4570/4576 as diferenças entre GFIP e FP na base de calculo de pagamentos a Carreteiros , diretores e contribuintes individuais diversos; fls.4577 o valor, fls. 4595 a identificação dos diretores não empregados com FGTS que receberam gratificação na competência 02/2011; fls. 4578 o valor e fls. 4597/4598 a identificação dos trabalhadores que receberam gratificação de liberalidade; fls. 4579 o valor e fls. 4598/4598 a identificação dos empregados que receberam o prêmio de inovação em três estabelecimentos nas competências 02/2011; 05/2011 e 11/2011; fls. 4580/4590 o valor por competência e fls. 4599/4949 a identificação dos trabalhadores que receberam parcelas do programa, antecipações e diferenças de PLR; fls. 4950/4952 quadro comparativo entre os valores recebidos a título de salários ou de prólabore. No Termo de Verificação Fiscal do Auto de Infração de fls.3861/3897 o Auditor, após descrever, detalhadamente, todas as intimações feitas durante a ação fiscal, indicando as datas e os seus motivos, justifica a apuração dos fatos geradores, nos seguintes termos: Como se vê, da leitura do art. 22, I e do art, 28, I da Lei n° 8.212/91 e, ainda, do art. 201, § 1° do RPS, que somente é exigido o requisito da habitualidade no que diz respeito ao "salário in natura”, por incluir, expressamente, no conceito de remuneração os "ganhos habituais sob a forma de utilidades", sem fazer menção ao requisito habitualidade para os pagamentos em espécie. Logo, como as verbas foram pagas em espécie, não há que se falar em habitualidade ou não, devendo a empresa ter declarado o valor em GFIP. Ad argumentandum tantum, caso fosse entendido pela empresa que as referidas verbas pagas aos empregados e aos contribuintes individuais tivessem a natureza de verbas eventuais, estando, portanto, amparadas pela isenção concedida pelo art. 28, § 9°, alínea "e", item "7", da Lei n° 8.212/91, também estaria cometendo um equívoco a empresa, pois a eventualidade aqui trazida referese tãosomente a casos fortuitos, ou seja, que não são previsíveis. Convém reforçar que os maiores valores das Gratificações por Liberalidade e à Diretoria, bem como, Ajuda de Custo foram pagos a gerentes e gestores da empresa, o que demonstra total Fl. 5956DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.957 4 vinculação desses pagamentos às remunerações a que tinham direito. Anexamos planilha que demonstram, por amostragem, os valores pagos no ano de 2011, a título de Gratificações por Liberalidade aos segurados empregados e a contribuintes individuais. É de se perceber que as gratificações correspondem a grande parcela dos salários dos segurados, podendo ainda em alguns casos, serem bem maiores que o salário anual e que, coincidentemente, os contribuintes individuais receberam a Gratificação de Diretoria no mesmo mês que os empregados receberam PPR. Quanto ao Prêmio Inovação, também não há nada na legislação que exonere a incidência da contribuição social sobre esta rubrica. Por fim, não há qualquer embasamento legal, ou judicial, que autorizasse a empresa a deixar de declarar e recolher a contribuição previdenciária e a contribuição devida a outras entidades e fundos sobre essas rubrica à Diretoria, bem como, Ajuda de Custo foram pagos a gerentes e gestores da empresa, o que demonstra total vinculação desses pagamentos às remunerações a que tinham direito. Em razão da falta de declaração em GFIP de todos os fatos geradores relacionados aos pagamentos efetuados a contribuintes individuais, os mesmos também são objeto do presente levantamento. Sobre o Programa de Participação nos Resultados PLR no Termo de Verificação Fiscal (fls. 3884), o Auditor primeiro indicada toda a legislação de regência e, especificamente, com relação a representação dos empregados, como irregularidades diz que: o Instrumento Particular de Acordo da Participação nos Resultados está datado de 20/12/2011, contém assinaturas de dois representantes da empresa, constam os nomes da comissão dos empregados, mas assinatura de apenas um deles, o campo de assinatura dos demais está em branco, não consta nome do representante sindical que assinou. a Procuração dos representantes, Sra. Merinalva Correa Fontes, Sr Christiano de Aguiar Moreno e Sr. Rodrigo Rios, que homologaram o Acordo Coletivo de Trabalho e os Acordos sobre o Programa de Participação nos Resultados da Empresa, continha data posterior às assinaturas do referido Acordo. os representantes do Sindicato constantes nas atas como participantes das negociações do acordo, Hermes Ricardo Lima Pertence e José Aparecido Duarte, não constam do próprio Acordo, que menciona como representante do Sindicato, Sr Sidnei Fernandes Cruz. não ficou demonstrado quem assinou pelos sindicatos, pois no campo do Sindicato de SP existe somente uma rubrica. Os Fl. 5957DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.958 5 campos destinados às assinaturas dos representantes legais dos outros sindicatos envolvidos (Bauru, Piracicaba, São José dos Campos, Campinas, Santo André, Embu, São Miguel Paulista) estão em branco. mesmo intimada várias vezes, a empresa não comprovou o arquivamento do acordo celebrado na respectiva entidade Sindical. algumas das procurações de Sindicatos de empregados, autorizando o Sr. Sidnei Cruz (nome contido no corpo do Acordo), a representálos na negociação, estavam totalmente ilegíveis, outras, em folha de papel simples, sem timbre do respectivo Sindicato, apenas com assinaturas, sem firma reconhecida e sem identificar quem assinou e se o mesmo tinha poderes para tanto, e, num dos casos, a data da procuração era de ano posterior à assinatura do Acordo, 2012. a Procuração da unidade Piracicaba apresentada estava totalmente ilegível e pareceu constar no corpo da mesma, poderes para o ano de 2009 e a assinatura data de 11/2011; nas procurações de Santo André e de Bauru, os poderes de representação são para negociações coletivas de data base em 01/10/2011, não especifica negociações de PPR, sendo que para esta última, nem mesmo papel timbrado do Sindicato foi utilizado. A de São José dos Campos está com data de 28/09/2012, ano posterior ao ano em fiscalização que é 2011. deixou de apresentar a Ata de Eleição da Comissão constituída para representar os empregados na negociação do PPR. Atendendo a este pedido apresentou o termo de Acordo Coletivo já apresentado anteriormente, pela Ata de Negociação foi possível constatar que o representante do Sindicato questionou à identidade e legitimidade da Comissão eleita pela empresa, pois alegou não ter existido a participação do Sindicato na eleição e na composição, deixa expresso que não reconhece a Comissão eleita e que gostaria de conversar em particular com 100% das pessoas da comissão, sem interferência do DHO, como também, solicita relação dos empregados eleitos para a Comissão. Outro questionamento é a retirada das cláusulas do PPR referente a diferenciação de GS (Grupo Salarial), que entendem ser discriminatório aos empregados (são pagos valores diferenciados às pessoas que tem cargo de gestão). Com relação ao conteúdo dos Termos de Formalização dos programas o Auditor registra que foram fixadas metas coletivas e mistas e que o enquadramento dos empregados observou os seguintes critérios: Os empregados enquadrados até o GS (grupo salarial) 31 estão sujeitos ao cumprimento de metas coletivas. Os empregados enquadrados no GS 32 e acima, estão sujeitos a metas mistas Fl. 5958DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.959 6 (individuais e coletivas) por ocuparem cargos de gestão, são os ocupantes de cargo de diretoria, gerência e coordenação. Na composição dos pagamentos aos gestores, constantes do GS 36 e acima, verificouse a existem valores pagos como metas diferidas, de acordo com as tabelas de apuração do cálculo dos pagamentos apresentadas, no entanto, a referida meta não está prevista no Acordo Coletivo apresentado, não faz parte de nenhuma cláusula do Acordo. Não há regras claras que disponha sobre esta modalidade diferenciada de participação nos resultados, apenas é mencionado em Termo Aditivo, vide item 65 acima, onde se cita que permanecem inalterados os critérios do PPR Diferido. Intimada a esclarecer a meta diferida informou que são pagas três anos depois de sucessivos cumprimentos de metas. A empresa possui próximo de 200 estabelecimentos, sendo que a maioria deles foi por incorporação em setembro de 2010. Foram solicitados instrumentos de negociação para a totalidade dos estabelecimentos que fazem pagamento de PPR e não estão contidos no Acordo apresentado, porém, foram apresentados apenas alguns, para a maioria, não. Sobre a definição prévia dos índices de produtividade, qualidade ou lucratividade, programa de metas, resultados e prazos comprovouse que o acordo foi firmado depois de transcorridos quase 100% de todo período base de conclusão das metas. No quadro explicativo do Pagamento constante no anexo I apresentado, lêse que: "Até 15 de agosto de 2011 será realizado adiantamento de valores aos funcionários (50% do resultado apurado até junho/11) Este pagamento está vinculado à assinatura deste acordo” Neste caso, o pagamento do adiantamento foi feito de forma irregular, uma vez que o acordo nem tinha sido assinado no momento do pagamento, agosto de 2011, pois, o mesmo só foi assinado em 20/12/2011. Quanto à fixação das regras de participação no PLR diz o Auditor: No acordo e seus anexos não ficaram demonstradas regras claras e objetivas, bem como, nenhum documento apresentado indica clara e objetivamente como foram previamente pactuados obrigações e direitos ou a ciência destes pelos participantes. Os anexos do Acordo não apresentam critérios claros quanto àprodutividade, quanto ao mecanismo de aferição para cada setor produtivo, quanto às exigências para obtenção da remuneração, quais objetivamente os requisitos necessários para alcançar a meta e o pagamento, ou seja, o que deveriam fazer Fl. 5959DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.960 7 para receber o quanto, como poderiam os empregados aumentar produtividade ou lucros. No anexo II, o quadro "Apuração" menciona que cada funcionário é responsável pela criação de seu painel de metas no sistema assim como seu preenchimento, (no caso das metas mistas). Neste caso, fica demonstrado o caráter de retribuição pelo trabalho prestado individualmente em razão da função desempenhada, dando lhe caráter de gratificação ajustada e, assumindo, portanto, natureza salarial, na forma do parágrafo primeiro, do art. 457 da CLT. Os documentos não demonstram como deve ser calculado o valor para cada empregado ou como cada conceito dado se converte em valor. Em relação à Memória de cálculo dos 20 maiores valores pagos a título de PPR, informou que "os 20 maiores valores pagos se enquadram no Programa de Metas Mistas", sem, no entanto, apresentar qualquer cálculo que demonstrasse a composição dos valores pagos. Posteriormente, apenas apresentou algumas tabelas que por si só não demonstravam os cálculos. No caso da Meta Coletiva, simplesmente indica o resultado de 118,39 e 102,00, por amostragem, dos funcionários Alvim Antônio de Andrade e Maria de Lourdes Zabot, sem demonstrar como o empregado atingiu tal índice. Igualmente procedeu em relação à demonstração dos demais pagamentos relativos às metas mistas e diferidas. Posteriormente apresentou mais 5 quadros, vide exemplos no item 46 acima. Os poucos quadros apresentados como memória de cálculo não indicam como se atingiu os índices constantes dos mesmos ou o critério objetivo de referência para obtenção do valor pago a cada segurado. No item intitulado " Vedado antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil" diz a fiscalização que: O interstício entre os pagamentos e antecipações de valores classificados pela empresa como PLR desobedecem literalmente ao parágrafo 2°, do artigo 3° da Lei 10.101. Temos pagamentos feitos em quase todos os meses do ano a saber: Antecipação de PPR pagas nos meses de agosto, setembro, novembro e dezembro; Diferenças de PPR pagas nos meses de março, abril, maio, setembro, outubro, novembro e dezembro; Fl. 5960DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.961 8 PPR pagos em fevereiro, março, abril, maio, junho, agosto, setembro, outubro e dezembro. Justificando a qualificação da multa o Auditor no item IV, fls. 3892/3893, diz o seguinte: 1 A aplicação da multa qualificada de 150% é justificada nos casos em que fique comprovada a ação dolosa com intuito evidente de sonegação e fraude. É posta em nosso ordenamento para que iniba a conduta fraudulenta. 2 A simetria necessária entre direitos e deveres da sociedade com a Previdência Social é peça chave para o bemestar de toda a população. O dever de recolher a contribuição tem significado para toda a coletividade e qualquer conduta que intente deteriorar o bemestar coletivo em beneficio próprio deve ser punida com os rigores da Lei. Neste contexto, resta evidente o abuso na medida em que a empresa, propositalmente, tenta evitar a ocorrência da obrigação com o Fisco, omitindo informações e enquadrando seus pagamentos de uma forma que lhe seja mais benéfica, à revelia do disposto na legislação. Quanto às gratificações, a fraude tornase mais evidente quando se percebe que os gestores da empresa recebem as maiores gratificações. E não é só isso, como já dito anteriormente alguns gestores receberam salários menores que as próprias gratificações. Tais segurados não foram, tampouco serão, prejudicados quanto a eventuais benefícios previdenciários que venham exigir, pois a maior parte deles já recebia remuneração acima do teto previdenciário, que é o valor máximo que serve de base para o pagamento de benefícios. Neste caso especifico, somente a Previdência Social foi prejudicada em razão da redução da contribuição previdenciária não recolhida. Desse modo, a empresa é a única beneficiária com a não inclusão dessas rubricas na base de cálculo da previdência. Outrossim, não foram declaradas em GFIP a totalidade dos pagamentos efetuados a contribuintes individuais por serviços prestados, em especial aos carreteiros autônomos. Como é sabido, ao realizar a apuração da contribuição previdenciária devida, o contribuinte deve incluir todas as rubricas, exceto aquelas excluídas por força de lei ou que possua decisão judicial favorável. Isso se deve ao fato de que a Previdência Social deve ser financiada por toda a sociedade e pelo Estado, pois tem como pilar principal custear o beneficio máximo de um trabalhador brasileiro, que é a aposentadoria. Outrossim, a legislação de regência deixa muito claro que a relação de rubricas sobre as quais não incide a contribuição Fl. 5961DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.962 9 previdenciária é taxativa, não cabendo aos contribuintes interpretála da forma que lhe aprouver. Dessa forma, restam caracterizados os fatores que ensejam a aplicação da multa qualificada, ante a nítida fraude com intuito específico de não oferecer à tributação a contribuição previdenciária e a contribuição devida a outras entidades e fundos incidentes sobre totalidade das remunerações pagas, quais sejam, Ajuda de Custo, Gratificação Liberalidade, Gratificação Diretoria e Prêmio Inovação, aos seus funcionários e gestores, bem como a totalidade dos pagamentos efetuados a Contribuintes Individuais. Por fim o Auditor informa que em razão da falta de declaração em GFIP de todos os fatos geradores foi formalizada Representação Fiscal para Fins Penais, em face da comprovação em tese dos ilícitos: "crime de sonegação de Contribuição Previdenciária, previsto no artigo 337A, inciso III, do Código Penal, com redação dada pela Lei n° 9.983, de 14/07/2000. As contribuições destinadas a outras entidades e fundos configuram, em tese, Crime Contra a Ordem Tributária, previsto na Lei n° 8.137/90, arts. 1°, inciso II e 2°, inciso I”. Cientificada eletronicamente empresa, conforme Termo de Solicitação de Juntada de documentos, acostado às fls. 4960, com data de 12/01/2017 oferece a impugnação de fls. 4961/5008 onde após descrever o histórico da fiscalização, no item intitulado: Inexistência de Fraude que tem como consequência a impossibilidade de exigência de Multa Qualificada de 150%, e a necessidade de aplicação da Decadência nos termos do artigo 150, §4°, do Código Tributário Nacional, discorre sobre a conduta da fiscalização, ocasião em que registra reclamação quanto à formalização "diante da perspectiva de que se aproximava o prazo decadencial para exigências relativas a partir de janeiro de 2.011, preferindo logo cobrar estas supostas diferenças, sem dar oportunidade ao contribuinte de demonstrar o porquê das diferenças". Sustenta que as diferenças de base de cálculo não configuram sonegação, fraude ou tentativa de ludibriar a fiscalização. Após transcrever a legislação e o conteúdo do Relatório Fiscal que justificou a qualificação da multa ressalta que: Com a devida vênia, não se verifica no presente caso qualquer pálido indício de sonegação ou fraude praticados pela Impugnante, necessárias para justificar a multa qualificada, que como acima visto, está fundada em meras suposições de que o PPR não teria obedecido aos ditames legais e, por isto, os valores pagos aos empregados representariam salário, diante do que, segundo sustenta a fiscalização, seria devida a contribuição previdenciária. Da mesma forma, a Impugnante entendia (e continua entendendo) que sobre a Ajuda de Custo, Gratificações e Prêmios pagos, ora questionados pela fiscalização, não incide a Fl. 5962DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.963 10 contribuição previdenciária, e por este motivo não efetuou o lançamento na GFIP. NÃO HÁ QUALQUER COMPORTAMENTO FRAUDULENTO NESTA CONDUTA!!! As justificativas constantes do Termo de Verificação Fiscal para aplicação da multa qualificada não são verdadeiras, pois a Impugnante em momento algum propositadamente omitiu informações da fiscalização. Pelo contrário, como se verifica em diversos itens do mesmo, a Impugnante sempre apresentou os documentos solicitados pela fiscalização, bem como prestou os devidos esclarecimentos (vide, por exemplo, itens 17, 19, 26, 27, 38, 45, 50, 55, 57, 61, 62, 65, 77, 79, 81, 82, 83, 89, 92, 93). E justamente com base nessas informações é que foram lavrados os Autos de Infração ora combatidos. Como é sabido, a fraude não pode ser presumida, e deve ser efetivamente comprovada pela fiscalização para justificar a aplicação da multa qualificada, o que não se verificou no presente caso. 21. Com a devida vênia, a quantificação da penalidade imposta ao contribuinte deve guardar relação com a suposta falta praticada. Se estivermos diante de hipótese de contribuinte que atua de forma fraudulenta, razão assiste ao legislador em aplicar a multa qualificada. Por outro lado, se estivermos diante de hipótese de contribuinte com escrituração regular, como é o caso da Impugnante, que atendeu corretamente à fiscalização e franqueou toda a sua documentação, agindo com boafé e sem qualquer intenção de fraudar o fisco, não faz o menor sentido penalizála com a multa qualificada. Em hipótese em que a Impugnante apenas tem entendimento diverso do Fisco quanto ao recolhimento da contribuição previdenciária, o erro na determinação da dosimetria penal traz sérias implicações e deve ser corrigido. Corroborando com o seu ponto de vista, cita doutrinadores e várias decisões do CARF, destacando ser a jurisprudência administrativa pacífica no sentido da manutenção da multa qualificada somente na hipótese em que o contribuinte realiza verdadeiro planejamento tributário, criando até outras empresas para alocação de funcionários e segregação de atividades, com vistas a burlar o fisco. Cita ainda que, no caso, é claro tratarse de entendimento diverso da fiscalização sem qualquer intuito sonegatório ou fraudulento. Alega ainda a natureza de confisco da multa em valor tão elevado. Em consequencia, aduz que, sem a comprovação do dolo, afasta se a aplicação do artigo 173, 1, do Código Tributário Nacional, dai a contagem do prazo decadencial, no caso, deverá obedecer ao disposto no artigo 150, parágrafo 4°, do Código Tributário Nacional. Fl. 5963DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.964 11 Sobre este aspecto diz o seguinte: 33. No presente caso, da simples análise do lapso temporal ocorrido entre (i) o surgimento da obrigação tributária (fatos geradores anteriores a 14.12.2011) e (ii) a data da constituição do crédito tributário, ocorrida em 14.12.2016, pela cientificação da Impugnante dos autos de infração ora combatidos, operouse a DECADÊNCIA do direito do Fisco de exigir o referido crédito tributário previdenciário, visto que já se exauriu o prazo de cinco anos para sua constituição, considerado, desta forma, "homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito" (trecho do artigo 150, parágrafo 4° do CTN g.n.). 39. No caso concreto, a fiscalização, para lançar os valores das contribuições previdenciárias que estão sendo exigidos nos autos de infração ora combatidos deveria têlo feito no prazo de cinco anos, contados da data da ocorrência dos fatos geradores. Em não o fazendo, a fiscalização decaiu do seu direito e nada poderá exigir da Impugnante, em razão da extinção do respectivo crédito tributário (artigo 150, parágrafo 4°do CTN). Ampara seus argumentos em citações doutrinárias, transcreve decisões do CARF e a Súmula 99 editada pelo CARF, onde foi consolidada a jurisprudência administrativa quanto à aplicação da regra decadencial do art. 150 §4°, para as contribuições previdenciárias . "Súmula CARF n° 99: Para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, §4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração." No mérito, sustenta a não incidência das contribuições previdenciárias sobre a Gratificação Liberalidade, Ajuda de Custo, Prêmio Inovação, e Programa de Participação nos Resultados PPR, pagos a segurados empregados, e sobre as Gratificações pagas aos contribuintes individuais (Diretores Estatutários), por terem caráter indenizatório e não existir habitualidade. Cita que a não incidência sobre tais verbas tem guarida no art. 28 §9° alínea "e" itens 5,7 e alínea "g" da Lei 8.212/1991. Especificamente, sobre a verba paga aos empregados a título de Gratificação Liberalidade, diz que tem natureza indenizatória e se incluem no item 5 da alínea "e" do art. 28 da Lei 8.212/1991 como sendo "Gratificação de Demissão/Desligamento". Entendimento este manifesto em decisões do CARF, que transcreve. Sobre situações pontuais de alguns empregados, destaca o seguinte: Fl. 5964DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.965 12 Ainda com relação à "Gratificação de Demissão / Desligamento" importa destacar que os valores pagos ao Sr. Álvaro Luis Veloso (Diretor de Negócios que se desligou da empresa em 30.04.2010) e à Sra. Lilian Taniguchi (Gerente de Novos Negócios desligada da empresa em 23.07.2009), também se configuram como verbas eventuais e indenizatórias. No caso do Sr. Álvaro, que já havia recebido uma gratificação no ano de 2010 quando do seu desligamento, a empresa apenas efetuou o pagamento de ajustes de diferenças em razão de sua expatriação. Já com relação à Sra. Lilian, que em 2010 também recebeu uma gratificação quando do seu desligamento, o pagamento efetuado em 2011 refere se à denominada "cláusula de noncompete ", verba absolutamente eventual, que objetiva a não transferência imediata do empregado para algum concorrente. Enfim, em razão da inexistência de habitualidade, bem como de seu caráter indenizatório, as verbas relacionadas com a "Gratificação de Demissão / Desligamento" paga aos funcionários, não estão sujeitas à incidência da contribuição previdenciária. No que tange à empregada Jesiele Cristina Chaves Cabral Stanchak, o valor foi pago pela Impugnante como "Gratificação de Admissão" Sobre a "Gratificação de Admissão" aduz que 63. No presente caso, não se verifica nos autos qualquer prova por parte da fiscalização de que o pagamento da "Gratificação de Admissão " se deu de forma compulsória, por exigência de uma das partes. Tratase, sim, de mera liberalidade da Impugnante, que voluntariamente ofereceu este bônus para que o novo funcionário passasse a integrar o seu quadro. Com relação aos pagamentos a título de "Bônus / Adicional de Desempenho”, que foram realizados a gerentes da estrutura, no ano seguinte às contratações, destaca a natureza indenizatória, eventual e a formalização por mera liberalidade, bem como ser verba de não incidência prevista no item 7, do parágrafo 9° do artigo 28 da Lei n2 8.212/91. Quanto à "Ajuda de Custo Transferência", diz que foram pagas em razão da mudança de local de trabalho dos funcionários indicados no Anexo identificado como doc.6. Tal situação também está abrangida pela exclusão de incidência prevista na alínea "g" do §9° do art. 28 da Lei 8.212/1991. Sustentando seu ponto de vista, transcreve Acórdão do STJ. Sobre a rubrica "Prêmio Inovação" paga a 28 empregados diz que representa verdadeiro abono único, pago de forma eventual, completamente desvinculado do salário, que também se enquadra na exceção da alínea "e", item 7, do parágrafo 9° do artigo 28 da Lei 8.212/91, e que, portanto, não pode estar sujeita à incidência da contribuição previdenciária. Fl. 5965DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.966 13 No tocante ao PLR a autuada, após transcrever os itens do Relatório Fiscal onde foram apontadas as irregularidades, aduz que as conclusões da Fiscalização são inverídicas. Como supedâneo da regularidade dos seus programas cita que no período de 2001 a 2006, também ocorreu questionamento por parte da fiscalização, no entanto, a regularidade foi confirmada pelo CARF no Processo 14485.001784/200787; Acórdão 2803 001.388, da 32 Turma Especial, da Segunda Seção de Julgamento do CARF, julgado em sessão de 12.03.2012. Sobre a composição da comissão de negociação, informa que anexou à peça de impugnação documentos que comprovam a regularidade da eleição dos responsáveis pela elaboração dos termos do programa para o ano de 2010 e 2011. Cita que: 86. De qualquer forma, como se verifica da ata de reunião realizada em 12 de julho de 2011 (doc 13), a documentação relativa à eleição da comissão foi devidamente entregue ao Sindicato. Ora. Srs. Julgadores, devese ter em mente que o espírito da lei foi devidamente respeitado, com uma negociação democrática, contando com a participação de representante do sindicato e de funcionários escolhidos em eleição específica. Ressalta que se comparados os Acordos coletivos anteriores é possível verificar que sempre existiu regras "bastante claras, objetivas e idênticas desde 2009 (os Anexos I e II de cada acordo contêm as regras e diretrizes básicas para o pagamento do PPR), não havendo qualquer "surpresa" para os funcionários." Esclarece que: O que divergiu em 2011, foi o fato de que, após demorada negociação, restou acordado em benefício de um grupo de funcionários mais graduados, com Metas Coletivas, que caso atingissem 120% da meta estabelecida, poderiam receber até 3 (três)salários nominais, e, ainda, estabeleceuse a possibilidade de um PPR Diferido (que constou em Termo Aditivo) para os Grupos Salariais 36 a 39, representado por uma parcela adicional da remuneração variável, com carência de 3 anos para pagamento. E justamente em razão da demora desta negociação é que se acabou assinando o acordo no final de 2011, que, como visto, beneficiou ainda mais os empregados (ou seja, mais uma vez foi respeitado o espírito da legislação). As perguntas que devem ser respondidas são: Algum prejuízo tiveram os funcionários com o fato do PPR de 2011 ter sido assinado no final de 2011? Desconheciam os funcionários as regras do PPR, que vigoravam desde 2009? Sobre este aspecto, para sustentar a inexistência de prejuízo aos empregados, transcreve acórdãos do CARF. Fl. 5966DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.967 14 Com relação ao pagamento do PLR explica que a primeira parcela do PPR é adiantada em agosto, e o saldo final é liquidado em fevereiro do ano seguinte. Assim sendo, no ano de 2011, a maior parte dos valores pagos pela Impugnante a título de PPR, que ocorreu em fevereiro/2011, se refere ao saldo final/liquidação do PPR do ano de 2010, que em momento algum foi questionado pela fiscalização (basta verificar a autuação de 2010, ora em discussão no Processo n2 1 0314.728381/201508). Neste contexto, por qualquer ângulo que se analise esta questão, esses valores não podem estar sujeitos à incidência da contribuição previdenciária, e devem ser excluídos destes autos de infração. Por seu turno, os pagamentos efetuados em março/2011, referemse aos empregados desligados em 2010, como consta do acordo celebrado. Já em agosto de 2011 foi apenas adiantada parte do PPR daquele ano, que só foi efetivamente ajustado/finalizado em fevereiro de 2012, razão pela qual a assinatura do acordo no final de 2011 não causou nenhum prejuízo aos empregados da Impugnante. Vale repisar, aqui, que a assinatura do acordo de PPR ao final do ano de 2011 se deu única e exclusivamente em razão de ampliação da negociação, que gerou um termo aditivo que beneficiou ainda alguns funcionários, que passaram a ter a possibilidade de receber um PPR diferido e, em atingindo 120% das metas, receber até 3 salários. Os demais pagamentos que ocorreram em 2011 cuidam apenas de ajustes do PPR (seja do adiantamento de 2011, seja do saldo final de 2010), em razão da aplicação dos dissídios anuais relacionados aos Acordos Coletivos de Trabalho celebrados com os diversos sindicatos que representam cada uma das categorias a que pertencem os milhares de empregados da Impugnante. Em suma, nunca houve descumprimento da legislação, pois o PPR sempre foi pago em duas parcelas, nos exatos termos do acordo celebrado. Conclui que cumpriu todas as exigência legais da Lei 10.101/2000 tendo sido realizadas negociações transparentes e democráticas, com a participação dos representantes do Sindicato. "As metas, objetivos e prazos dos PPRs sempre foram estipulados com a participação do Sindicato, e ao que tudo indica vem sendo aceitos e estão dando os devidos resultados, já que as regras básicas permanecem as mesmas desde 2009. Quanto à verba intitulada "Gratificação de Diretoria" alega que é legítima em face do disposto no artigo 9° §2° do Estatuto Social da autuada que prevê a participação dos diretores nos lucros dos exercícios sociais, por esta razão estão incluídos no Programa de Participação, especificamente no Programa de Metas Mistas. Aduz que a jurisprudência do CARF é no sentido da não incidência da contribuição previdenciária sobre os valores Fl. 5967DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.968 15 pagos a título de participação nos lucros e resultados. Colaciona decisões do CARF. Por fim, protesta pela juntada de novas provas e resume os seus pedidos nos seguintes itens: diante da comprovação inequívoca da inexistência de qualquer comportamento fraudulento ou sonegatório da Impugnante, que apenas possui entendimento diverso da fiscalização quanto à incidência da contribuição previdenciária sobre os pagamentos ora em discussão, seja afastada a multa qualificada de 150%, bem como aplicado ao caso o artigo 150, §4, do Código Tributário Nacional, que resultará na decadência integral do direito do Fisco de efetuar o lançamento, e, consequentemente, no cancelamento das exigências dos Autos de Infração ora combatidos; diante da demonstração de que a contribuição previdenciária não incide sobre os pagamentos ora em discussão, que não são habituais, possuem verdadeiro caráter indenizatório, e se enquadram nas excepcionalidades do parágrafo 92 do artigo 28 da Lei n2 8.212/91, declararse a insubsistência dos Autos de Infração ora combatidos, determinandose o cancelamento das respectivas exigências e, ao final, o arquivamento do processo com a consequente baixa no sistema da Receita Federal do Brasil, ou, no mínimo, caso assim não se entenda, sejam excluídos da base de cálculo destas autuações os valores pagos em fevereiro de 2011 a título de Programa de Participação nos Resultados PPR, já que estes pagamentos estão relacionados ao PPR do ano de 2010, que não foi objeto de questionamento pela fiscalização. É o Relatório. A decisão de primeira instância restou ementada nos termos abaixo (fls. 5859/5888): FALTA DE COMPROVAÇÃO PELO FISCO DA OCORRÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SONEGAÇÃO. AFASTAMENTO DA MULTA QUALIFICADA. Não deve prevalecer a multa qualificada, quando o fisco deixa de demonstrar que o sujeito passivo incorreu em fraude, dolo ou sonegação. PRÊMIO. GRATIFICAÇÃO. INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. Prêmio ou gratificação, não estando expressamente excluídas do salário de contribuição pelo § 9°, do art. 28 da Lei n° 8.212/91, têm natureza salarial e integram a remuneração para efeito de contribuição à Previdência Social. Fl. 5968DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.969 16 Em face da decisão supra, da qual o sujeito passivo foi cientificado em 03/07/2017 (fl.5914), foi interposto Recurso Voluntário, tempestivamente, em 01/08/2017, em que se reiterou as razões já expostas por ocasião do protocolo da peça defensiva. É o Relatório. Voto Daniel Melo Mendes Bezerra, Conselheiro Relator Recurso de Ofício Admissibilidade O Recurso de Ofício preenche aos requisitos de admissibilidade, devendo, pois, ser conhecido. Do mérito A decisão recorrida não considerou suficientemente demonstrada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, e, conseqüentemente, afastou a qualificação da multa de ofício, além de transmudar a regra de contagem do prazo decadencial para o art. 150, § 4º, do CTN. Assim, restou hígida no presente lançamento apenas a competência 12/2011, sem a qualificação da multa de ofício. As demais competências (01/2011 a 11/2011) foram fulminadas pela decadência. O julgador a quo formou sua convicção baseado nas seguintes constatações: Em consonância com votos exarados em outros processos já manifestei minha posição de que a aplicação de penalidade mais grave, mediante a majoração da multa de ofício, somente tem cabimento em situações específicas, onde fique evidenciado o comportamento anormal do sujeito passivo, seja no tocante ao dolo, conluio ou fraude, situações que, por sua gravidade, devem ensejar reprimenda punitiva de maior monta, com o fito de punir o infrator que assim age, extrapolando a conduta do mero inadimplente, e desestimular novos procedimentos desta natureza. Conforme se depreende da legislação, para que a multa seja qualificada, é necessária a conduta dolosa por parte do agente. Ensina a Doutrina que “dolo ocorre quando o indivíduo age de máfé, sabendo das consequências que possam vir a ocorrer, e o pratica para de alguma forma beneficiarse de algo”. Assim, para que haja dolo deve haver a intenção de “burlar a lei”, enganando o próximo em proveito próprio ou alheio, o que, no meu sentir, não ocorre no caso concreto. A Lei 4.502/1964, nos artigos 71 a 73, tratou das situações caracterizadoras da ocorrência de sonegação, fraude e conluio. Dentre essas questões, há a exigência de ação ou omissão dolosa Fl. 5969DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.970 17 com finalidade de deixar de recolher o tributo ou fazêlo a menor, in verbis: No presente caso não observo as hipóteses da legislação supratranscrita, que justifiquem a qualificação da multa aplicada. O fato de o contribuinte omitir informações na GFIP verbas que entende estarem inseridas no § 9° do art. 28 da Lei 8.212/1991, portanto, excluídas de isenção, sem a comprovação de subterfúgios com vistas a camuflar, dificultar o conhecimento destas condutas, não se traduz em dolo, mas, sim, conforme alegado, em entendimento jurídico diverso e em conseqüência em inadimplemento no pagamento. “Art . 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72.” Para facilitar o entendimento repito aqui as justificativas do Auditor para a qualificação da multa. A aplicação da multa qualificada de 150% é justificada nos casos em que fique comprovada, a ação dolosa com intuito evidente de' sonegação e 'fraude. É posta em nosso ordenamento para que iniba a conduta fraudulenta. A tentativa de constituir rubricas com nomenclaturas distintas àquelas associadas à incidência da contribuição previdenciária denota evidente intuito de ludibriar a fiscalização e torna piores contornos se considerarmos a consequência social que uma fraude à Previdência acarreta. A simetria necessária entre direitos e deveres da sociedade com a Previdência Social é peça chave para o bemestar de toda a população. O dever de recolher a contribuição tem significado para toda a coletividade e qualquer conduta que intente deteriorar o bemestar coletivo em beneficio próprio deve Ser punida com os rigores da Lei Neste contexto, resta evidente o abuso na medida em que a empresa, propositalmente, tenta evitar a ocorrência da Fl. 5970DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.971 18 obrigação com o Fisco, omitindo informações e enquadrando seus pagamentos de uma forma que lhe seja mais benéfica, à revelia do disposto na legislação. Quanto às gratificações, a: fraude tornase mais evidente quando se percebe que os gestores da empresa recebem as maiores gratificações. E não é só isso, como já dito anteriormente alguns gestores receberam salário menores que as próprias gratificações. Tais segurados não foram, tampouco serão, prejudicados quanto a eventuais benefícios previdenciários que venham exigir, pois a maior parte deles já recebia remuneração acima do teto previdenciário, que é o valor. Máximo que serve de base para o pagamento de benefícios. Neste caso específico, somente a Previdência Social 'foi prejudicada em razão da redução da contribuição previdenciária não recolhida. Desse modo, a empresa é a única beneficiária com a não inclusão dessas rubricas na base de cálculo da previdência. Como é sabido, ao realizar a apuração da contribuição previdenciária devida, o contribuinte deve incluir todas as rubricas, exceto aquelas excluídas por força de lei ou que possua. decisão judicial favorável. Isso se deve ao fato de que a Previdência Social deve ser financiada por toda a sociedade e pelo Estado, pois tem como pilar principal custear o beneficio máximo de um' trabalhador brasileiro, que é a aposentadoria. Outrossim; a legislação de regência deixa muito claro que a relação de rubricas sobre as quais não incide a contribuição previdenciária é taxativa, não cabendo aos contribuinte interpretála da forma que lhe aprouver. No presente caso não observo as hipóteses da legislação supratranscrita, que justifiquem a qualificação da multa aplicada. O fato de o contribuinte omitir informações na GFIP verbas que entende estarem inseridas no § 9° do art. 28 da Lei 8.212/1991, portanto, excluídas de isenção, sem a comprovação de subterfúgios com vistas a camuflar, dificultar o conhecimento destas condutas, não se traduz em dolo, mas, sim, conforme alegado, em entendimento jurídico diverso e em conseqüência em inadimplemento no pagamento. A decisão recorrida não merece retoque. Extraise dos apontamentos do relatório fiscal que não restou suficientemente comprovada a conduta dolosa do sujeito passivo com o intuito evidente de simulação ou fraude. O fato de ter sido descaracterizado o Programa de Participação nos Lucros e Resultados (PLR), bem como consideradas como integrantes do salário de contribuição, as gratificações que a recorrente considerava como parcelas indenizatórias, ou omitir informações na GFIP, por si só, não podem ser tidas como condutas a justificar a qualificação da multa. Inexistindo conduta dolosa, com conluio, simulação ou fraude, incabível a qualificação da multa de ofício. Como consequência, deve ser aplicado ao caso concreto a Fl. 5971DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.972 19 regra de contagem do praz decadencial inserta no art. 150, § 4º, do CTN, uma vez que, à toda evidência, houve antecipação de pagamento. Nos termos do Termo de Verificação Fiscal, a contribuinte foi intimada a apresentar esclarecimentos acerca da divergência entre o valor declarado em DIRF em GFIP. Do Recurso Voluntário Das parcelas integrantes do salário de contribuição A controvérsia cingese na natureza da gratificação paga os trabalhadores como ajuda de custo e por incentivo à demissão ser considerada ou não salário de contribuição, nos termos do art. 28 da Lei nº 8.212, de 1991. Na definição de salário de contribuição, o legislador adotou o conceito bem mais amplo de remuneração para efeitos de apuração da contribuição previdenciária, abrangendo o salário, com todos os componentes, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma. Neste sentido, também é o § 11 do art. 201 da Constituição Federal: " § 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998). Segundo a recorrente, a gratificação especial aos funcionários desligados que era um plano de incentivo à demissão. Não há previsão legal para incidência sobre esta parcela.Não se trata esse verba de indenização, posto que não é disponibilizada para ressarcir um prejuízo do trabalhador decorrente de sua prestação laboral ou mesmo para reembolsálo de despesas que tenha feito na execução do contrato de trabalho. A meu ver, tratase de uma gratificação ajustada que é paga ao final do contrato de trabalho. É um prêmio dado ao trabalhador pelo tempo que esteve à disposição do empregador e por não haver dado causa à demissão. Transcrevemos a seguir o art. 28 da Lei n.° 8.212/1991, no que pertine ao conceito de salário de contribuição: " Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa;" Se um ganho tem por finalidade retribuir o trabalho, independente da forma como seja pago deve integrar o salário de contribuição, quer pelo trabalho efetivamente prestado, quer pelo tempo que tenha ficado à disposição do empregador. Fl. 5972DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.973 20 Há quem defenda que este tipo de gratificação deve ser excluído da base de cálculo por representar um ganho eventual, o que atrairia a aplicação do item 7 da alínea "e" do § 9.° do art. 28 da Lei n.° 8.212/1991, assim redigido: "§ 9° Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: (...) e) as importâncias: (...) 7.recebidas a título de ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário; (...) Não concordo com esse entendimento. Eventual é uma característica do que é incerto, que se realiza por uma causa não esperada. A gratificação sob enfoque não pode ser considerada uma verba eventual, mas se vincular ao salário e se encontram na expectativa do trabalhador. Nesse sentido, entendo que a gratificações denominadas prêmio inovação por desempenho devem integrar o salário de contribuição. Melhor sorte não assiste ao recorrente, no que diz respeito à denominada ajuda de custo por mudança de local de trabalho. O § 9.° do art. 28 da Lei n.° 8.212/1991, está assim redigido: "§ 9° Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: g) a ajuda de custo, em parcela única, recebida exclusivamente em decorrência de mudança de local de trabalho do empregado, na forma do art. 470 da CLT” Não há nenhuma prova nos autos de que houve o pagamento em parcela única e que se destinou a custear despesas pela mudança no local da prestação dos serviços. O documento nº 6, anexado à impugnação, mencionado pelo recorrente, trata de uma planilha unilateral e que sequer faz menção à mudança do legal de trabalho dos obreiros, sendo imprestável como prova das alegações recursais. Destarte, não merece provimento o voluntário quanto à não incidência de contribuição previdenciária sobre as gratificações pagas pela recorrente. A participação dos empregados no lucro das empresas tem sede constitucional no Capítulo que trata dos Direitos Sociais. Eis o que preleciona a Carta Magna: Art. 7° São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) Fl. 5973DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.974 21 XI participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; (...) Para regulamentar o dispositivo constitucional foi editada a Medida Provisória n° 794/2004, sucessivamente reeditada até a conversão na Lei n° 10.101/2000. O art. 1.° da Lei n° 10.101/2000, estabelece: Art. 1° Esta lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à produtividade, nos termos do art. 7o, inciso XI, da Constituição. Esse diploma veio normatizar diversos aspectos atinentes à participação dos trabalhadores no resultado do empregador, tais como: forma de negociação, impossibilidade de substituição da remuneração por esse benefício, periodicidade, isenção tributária etc. Como já abordado, a Lei n° 8.212/1991, alínea “j” do § 9° do art. 28, que regula a isenção previdenciária sobre a participação nos lucros, prevê que não haverá a incidência de contribuições previdenciárias sobre a citada verba, mas condiciona o benefício fiscal ao pagamento da parcela dos resultados em conformidade com a lei específica, no caso a Lei n.° 10.101/2000. Não é exaustivo repetir o dispositivo: Art. 28. (...) § 9 Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica; (...) De acordo com o Relatório Fiscal, o fisco concluiu que houve desobediência à Lei n° 10.101/2000. A redação do §2° do art. 3o da Lei n° 10.101/2000, vigente na data dos fatos geradores, veda o pagamento da PLR em duas vezes no mesmo semestre civil. Para a fruição do benefício fiscal, o § 2° do art. 3° da Lei n° 10.101/2000, estabeleceu regras quanto à periodicidade dos pagamentos realizados a título de participação nos lucros ou resultados. Na redação vigente à época dos fatos geradores, o legislador fixou o limite anual de 2 (dois) pagamentos, desde que efetuados num intervalo mínimo de um semestre: Art. 3° A participação de que trata o art. 2o não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. (...) § 2° É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou Fl. 5974DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.975 22 resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil.(Grifouse). A finalidade da instituição pelo legislador desse critério básico para a não incidência da contribuição previdenciária foi buscar evitar a utilização da parcela como uma forma disfarçada de substituição ou complementação da remuneração devida ao segurado empregado. De acordo com a autoridade lançadora, a empresa realizou o pagamento da PLR em quase todos os meses do exercício, em desacordo com o § 2° do art. 3° da Lei n° 10.101/2000. A lei não prevê exceção à regra geral que possa abarcar a tese de defesa, prevendo taxativamente que é vedado pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de PLR, mais de uma vez no mesmo semestre civil ou mais de duas vezes dentro do mesmo ano, segundo a redação vigente à época da ocorrência dos fatos geradores. De outro lado, são abalizadas as teses que se formaram neste Conselho acerca do momento da assinatura do PLR. Alguns firmaram entendimento no sentido de que a formalização do plano deve ser anterior ao exercício a que corresponde; outros entendem que essa formalização pode ocorrer mesmo após o início do período de apuração dos critérios pertinentes ao programa de PLR. É sabido que a assinatura do plano representa o encerramento formal de todo um ciclo de negociações, muitas vezes pautadas por inúmeras reuniões para se chegar a um acordo de PLR, que atenda aos objetivos traçados pela legislação de regência. Todavia, mesmo não me filiando ao entendimento dos que pensam que a assinatura do programa deve ser obrigatoriamente anterior ao exercício a que se refere, entendo que a formalização do PLR/PPR deverá se dar anteriormente ao pagamento de qualquer uma de suas parcelas, bem como a formalização deverá ocorrer, se não antes, ao menos no decorrer do exercício a que se refere. No caso dos autos, o Auditor notificante assinala que o PPR foi assinado no dia 20/12/2011. A primeira parcela do PPR foi paga ainda no mês de agosto/2011. A ausência de assinatura antes do pagamento de quaisquer uma de suas parcelas, a meu ver, descaracteriza o programa, eis que, a rigor, houve o pagamento sem a fixação de regras para o seu recebimento. Ainda que se possa dizer que as regras estariam estabelecidas no decorrer das negociações, a ausência de formalização do acordo, não gera qualquer garantia que as regras que estavam sendo negociadas seriam as definitivas. Destarte, entendo que o pagamento de parcela em agosto/2011, e a assinatura do acordo de PPR apenas no final do exercício (dezembro/2011), culminaram no descumprimento da obrigação imposta na Lei n° 10.101/2010, de que as metas deverão ser previamente pactuadas. Assim, nego provimento ao recurso nesse tocante. Conclusão Diante de todo o exposto, voto por negar provimento aos recursos de Ofício e Voluntário. Fl. 5975DF CARF MF Processo nº 10314.722768/201623 Acórdão n.º 2201004.761 S2C2T1 Fl. 5.976 23 (assinado digitalmente) Daniel Melo Mendes Bezerra Fl. 5976DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16561.720132/2016-10
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Oct 18 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Nov 16 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2011
MÉTODO PRL60. ILEGALIDADE DA INSTRUÇÃO NORMATIVA.
A sistemática de cálculo do "Método do Preço de Revenda menos Lucro com margem de lucro de sessenta por cento (PRL 60)" prevista na Instrução Normativa SRF nº 243, de 2002, não afronta o disposto no art. 18, inciso II, da Lei nº 9.430, de 1996, com a redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. PRL. PREÇO PARÂMETRO. FRETES, SEGUROS E IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO.
Na apuração do preço parâmetro devem ser incluídos os valores correspondentes a frete e seguro cujos ônus tenham sido do importador.
PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. REACONDICIONAMENTO. MÉTODO PRL 20.
A ocorrência de inovação e reclassificação do método de Preço de Transferência pela Autoridade Fiscal deve ser demonstrada pelo Contribuinte.
CSLL. TRIBUTAÇÃO REFLEXA.
Aplica-se à tributação reflexa idêntica solução dada ao lançamento principal, em face da estreita relação de causa e efeito entre ambos.
Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2011
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO.
Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa SELIC.
Numero da decisão: 1201-002.640
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator, vencidos os conselheiros Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima e Gisele Barra Bossa, que deram parcial provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Ester Marques Lins de Sousa - Presidente
(assinado digitalmente)
Paulo Cezar Fernandes de Aguiar - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, Luis Henrique Marotti Toselli, Carmem Ferreira Saraiva (suplente convocada), Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Gisele Barra Bossa e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente). Ausentes, justificadamente, os conselheiros José Carlos de Assis Guimarães e Luis Fabiano Alves Penteado. Ausente, momentaneamente, o conselheiro suplente Breno do Carmo Moreira Vieira.
Nome do relator: PAULO CEZAR FERNANDES DE AGUIAR
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2011 MÉTODO PRL60. ILEGALIDADE DA INSTRUÇÃO NORMATIVA. A sistemática de cálculo do "Método do Preço de Revenda menos Lucro com margem de lucro de sessenta por cento (PRL 60)" prevista na Instrução Normativa SRF nº 243, de 2002, não afronta o disposto no art. 18, inciso II, da Lei nº 9.430, de 1996, com a redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. PRL. PREÇO PARÂMETRO. FRETES, SEGUROS E IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. Na apuração do preço parâmetro devem ser incluídos os valores correspondentes a frete e seguro cujos ônus tenham sido do importador. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. REACONDICIONAMENTO. MÉTODO PRL 20. A ocorrência de inovação e reclassificação do método de Preço de Transferência pela Autoridade Fiscal deve ser demonstrada pelo Contribuinte. CSLL. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. Aplicase à tributação reflexa idêntica solução dada ao lançamento principal, em face da estreita relação de causa e efeito entre ambos. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2011 JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa SELIC. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 56 1. 72 01 32 /2 01 6- 10 Fl. 543DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator, vencidos os conselheiros Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima e Gisele Barra Bossa, que deram parcial provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Presidente (assinado digitalmente) Paulo Cezar Fernandes de Aguiar Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, Luis Henrique Marotti Toselli, Carmem Ferreira Saraiva (suplente convocada), Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Gisele Barra Bossa e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente). Ausentes, justificadamente, os conselheiros José Carlos de Assis Guimarães e Luis Fabiano Alves Penteado. Ausente, momentaneamente, o conselheiro suplente Breno do Carmo Moreira Vieira. Relatório Tratase de Autos de Infração lavrados para exigência do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, decorrentes de divergência na regra aplicável para cálculo do Preço de Transferência sobre custos e despesas em operações com o exterior, no período de apuração encerrado em 31 de dezembro de 2011. Por bem sintetizar a matéria, adotase o relatório da decisão de piso, com a complementação necessária em seguida: 2. Tendo em vistas as infrações apontadas, foi lançado crédito tributário no montante de R$ 40.582.142,18 (quarenta milhões, quinhentos e oitenta e dois mil, cento e quarenta e dois reais e dezoito centavos), assim distribuído: 3. Na determinação do valor dos tributos a lançar a Autoridade Fiscal procedeu à compensação do saldo existente de prejuízos e de bases negativas: de períodos anteriores, inferiores, na data do lançamento, a 30% do lucro real/base de cálculo ajustados, ficando assim demonstrados os cálculos dos tributos lançados: Fl. 544DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 3 3 1 Da IMPUGNAÇÃO 4. Em sua peça Impugnatória, o Contribuinte alega que a Fiscalização equivocouse na apuração da base de cálculo porque aplicou o PRL 60 para determinar o ajuste de preço de transferência de três produtos aos quais afirma no Termo de Verificação Fiscal – TVF ter aplicado o método PIC. Além disso a Impugnação apresenta os seguintes argumentos: (i) não teria apurado diferenças de ajustes de preços de transferência a Adicionar se tivesse apurado o PRL60 conforme determina a Lei 9.430/96 e não pela aplicação das disposições ilegais da IN 243/2002. (ii) incluiu incorretamente os valores de frete, seguro e tributos incidentes na importação no cálculo do preço praticado; e (iii) aplicou incorretamente o PRL60 sobre produtos importados para simples revenda pela Impugnante. 5. Acrescenta que contratou a empresa Deloitte Touche Tohmatsu Consultores Ltda. (“DTT”), para elaboração de um Parecer Técnico sobre a matéria. 2 Da IMPUGNAÇÃO Erro na apuração da base de cálculo do Auto de Infração 6. A Impugnante alega que a Autoridade Fiscal “equivocouse na apuração da base de cálculo dos autos de infração, porque aplicou o PRL60 para determinar o ajuste de preço de transferência de três produtos importados aos quais afirmou no Termo de Verificação Fiscal TVF que aplicaria o PIC”. Descreve que tais produtos foram incluídos em Petição (fls. 104 a 108) apresentada em resposta ao Termo de Constatação, fl.98, nos seguintes termos: Caso os valores de ajustes apurados pelo método PIC acima referidos sejam menores do que os apurados por esta D. Fiscalização pelo método PRL (em acordo com a IN 243/2002), esta D. Fiscalização deverá considerar os valores de ajustes de acordo com o método PIC para fins de eventual lançamento, para que não reste desrespeitado o § 4º do art. 18 da Lei 9.430/96, segundo o qual deve ser admitido como dedutível o maior valor dentre os diversos métodos previstos na legislação para o controle de preços de transferência e aplicáveis ao caso concreto. 7. Junto à citada Petição o Contribuinte apresentou cálculos pelo método PIC para 17 produtos (nada obstante para tais produtos tenha utilizado na DIPJ o método PRL), como alternativa mais favorável na comparação com o método aplicado pela Fl. 545DF CARF MF 4 fiscalização (fl. 107). O resultado desse cálculo para os três produtos mencionados foi o seguinte: 8. O erro alegado pela Impugnante foi por ela assim resumido: (...) para três dos 17 produtos ao qual afirma ter aplicado o PIC, a D. Fiscalização considerou na base de cálculo dos autos de infração ajustes de preços de transferência calculados pelo método PRL60 (calculado conforme disposições ilegais da IN 243/2002) combinado com o PRL20, quando os cálculos pelo método PIC implicariam desnecessidade de ajuste ou ajuste bem inferior ao apurado. De fato, os produtos de códigos 3966430 (eixo comando de válvulas), 4955868 (mancal de encosto) e 3970955 (capa do mancal principal) estavam dentre aqueles 17 para os quais a Impugnante entregou os cálculos do PIC na petição de fls. 21 a 25. Nada obstante, tais produtos constam no ANEXO 6 – DEMONSTRATIVO DOS CÁLCULOS DOS AJUSTES PELA FISCALIZAÇÃO do TVF como produtos aos quais a D.Fiscalização aplicou o PRL: 9. Sobre a referida Petição, a Autoridade Fiscal assim se manifestou no item 2 do Termo de Verificação Fiscal – TVF, anexo do Auto de Infração, fl. 170: MÉTODO DOS PREÇOS INDEPENDENTES COMPARADOS (PIC) Para a auditoria do Método dos Preços Independentes Comparados (PIC), utilizamos uma amostragem de produtos para a solicitação de informações técnicas e cópia de faturas/invoices que embasaram os cálculos de Preços de Transferência. Conforme solicitado pela fiscalizada em resposta ao Termo de Constatação, alteramos para o método PIC os produtos lá citados. 3 Da IMPUGNAÇÃO. Ilegalidade das disposições da IN 243/2002 sobre o PRL 60 10. A Impugnante se insurge contra a Instrução Normativa SRF nº 243, de 2002, argumentando que a forma de apuração do preço parâmetro pelo PRL60 prevista na norma, adotada pela Fiscalização, é absolutamente ilegal, pois a fórmula ali preconizada diverge dos comandos da Lei nº 9.430/96, art. 18, inciso II, alínea “d”, item 1, e conclui: 101. Em suma, as disposições da IN 243/2002 acerca do cálculo do preço parâmetro no PRL60 não se coadunam com as disposições da Lei 9.430/96 que lhe serviriam de Fl. 546DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 4 5 base e, de forma ilegal, implicaram aumento indevido da carga tributária do IRPJ e da CSLL sem lei anterior que o previsse. (...) 110. Verificase que, apesar de ainda não haver um posicionamento definitivo da matéria, os Tribunais Federais têm se posicionado favoravelmente aos contribuintes, inclusive deferindo medidas provisórias, para o fim de garantir ao contribuinte o cálculo do PRL60 segundo a metodologia prevista na Lei nº 9.430/96, com a redação conferida pela Lei nº 9.959/00, afastando, por violação aos princípios da legalidade e da reserva legal, a aplicação das alterações estabelecidas pela IN nº 243/02. 111 Devem, portanto, ser afastadas as disposições da IN 243/2002 aplicadas pela D. Fiscalização para afirmar que os ajustes de preços de transferência oferecidos pela Impugnante no anocalendário de 2011 foram insuficientes. 4 DA IMPUGNAÇÃO. EXCLUSÃO DOS VALORES DE FRETE, SEGURO E TRIBUTOS INCIDENTES NA IMPORTAÇÃO DO CÁLCULO DO PREÇO PRATICADO 11. Ainda sobre a aplicação das normas sobre preço de transferência, a Impugnante se insurge contra a utilização do preço CIF (Cost, Insurance and Freight) na determinação do preço praticado. Considera que houve majoração indevida na apuração do preço praticado ao serem adicionados os custo/despesas de frete e seguro pagos a terceiros não vinculados. 12. Argumenta que “o §6º do art. 18 da Lei 9.430/96 (na redação anterior à Lei 12.517/2012) não determina a inclusão dessas despesas no controle de preços de transferência, mas sim estabelece a plena dedutibilidade delas para efeito do cálculo do custo da mercadoria/produto vendido.” 13. Contesta também alegando que os fornecedores de frete e seguro não são pessoas a ela vinculadas e que a distorção é “evidente quando, por exemplo, analisamos uma situação na qual ainda que a empresa tenha adquirido uma mercadoria com preço de mercado, não praticando transferência indireta de lucros, contrata uma empresa de renome, que cobra valor elevado de frete, e, por este motivo, terá que realizar ajustes que outra empresa, menos zelosa, não terá.” 14. Traz à cola jurisprudência administrativa: Acórdão nº 110200302, julgado em 01.09.2010, 2ª Turma Ordinária da 1ª Câmara da 1ª Seção do Carf e Acórdão nº 9101010166, proferido pelo I. Conselheira Karen Jureidini Dias, julgado em 12.09.2011. 15. Adicionalmente a Impugnante considera um “reconhecimento tácito” dos argumentos expostos, ou seja, da indevida inclusão dos valores de frete, seguros, tributos e gastos alfandegários, as alterações promovidas pela Medida Provisória nº 563, de 3 de abril de 2012, convertida na Lei nº 12.715, de 2012, vez que na redação do § 6º do artigo 18 da Lei nº 9.430, de 1996, incluiu o § 6°A para esclarecer que não compõem o preço praticado os valores do frete e do seguro, desde que observadas certas condições. Fl. 547DF CARF MF 6 5 DA IMPUGNAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRL20 NO ACONDICIONAMENTO DE “KITS” 16. Sob esse aspecto, as alegações da Impugnante se fazem sobre a alegada aplicação do PRL 60% sobre bens importados para simples revenda na forma de “kits”, aos quais se aplica a margem percentual de lucro de 20% sobre o preço da operação. 17. Aduz o Contribuinte que “há nos autos de infração casos de produtos adquiridos para mera revenda em que a D. Fiscalização desqualificou a opção da Impugnante pelo PRL20 e calculou ajustes de preços de transferência pelo PRL60 (conforme a IN 243/2002)”. E explica: “Tratase de produtos importados para simples revenda pela Impugnante que chegam do importador separados e são acondicionadas reunidos em “kits” para venda pela Impugnante.” 18. Entende que a Fiscalização desqualificou o PRL20 e aplicou o PRL60 por considerar que o acondicionamento em “kits” se qualifica como industrialização, nos termos da legislação do IPI. E se insurge contra o lançamento sob os seguintes fundamentos: a. não se trata de auto de infração de IPI e a Lei nº 9.430/96 não traz em seu bojo qualquer definição de produção, não faz qualquer referência a outro termo definido pela legislação tributária, nem usa o termo industrialização já consolidado no âmbito do IPI; b. industrialização, gênero que abriga a espécie produção, está definida no caput do artigo 4º do RIPI como qualquer operação, não só que modifique a natureza do produto (produção), mas também seu funcionamento, acabamento, apresentação, finalidade ou o aperfeiçoe para consumo, tal como transformação, beneficiamento, montagem, acondicionamento ou recondicionamento; c. No Perguntas e Respostas referente à DIPJ de 2011, orientou : 041. Segundo previsão do parágrafo primeiro do art. 4º da IN SRF Nº 243, de 2002, o PRL com margem de lucro de 20% (vinte por cento) não pode ser utilizado quando o produto importado houver sido adquirido para emprego na produção de outro bem. É possível a utilização do PRL nas hipóteses de acondicionamento ou reacondicionamento de produto importado? Sim, o acondicionamento ou reacondicionamento não implica a produção de outro bem, serviço ou direito. 19. Junta acórdão 10517.210, proferido pelo CARF em sessão de 05 de julho de 2012: PREÇO DE TRANSFERÊNCIA PREÇO DE REVENDA MENOS LUCRO PRL 20 E PRL 60 ACONDICIONAMENTO DO PRODUTO IMPORTADO PARA POSTERIOR REVENDA FRACIONAMENTO DO PRODUTO IMPORTADO EM QUE NÃO OCORRE A TRANSFORMAÇÃO DO PRODUTO. O mero acondicionamento de produtos em novas embalagens para fins de venda para o mercado interno não exclui a aplicação do método PRL 20, por não configurar hipótese de "bens importados aplicados à produção". O fato de haver agregação de valores ao produto importado não resulta em afirmar que os mesmos passaram por Fl. 548DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 5 7 processo de industrialização ou que foram aplicados na produção de um produto final. O critério utilizado pela lei n° 9.430/96 que impossibilita a utilização do PRL 20 referese a aplicação do produto importado na "produção", e isto não foi verificado na hipótese dos autos.” 20. A Impugnante então conclui: “Dessa forma, o mero acondicionamento dos produtos importados em “kits” para revenda não é suficiente para afastar a aplicação do PRL 20.” 6 DA IMPUGNAÇÃO. SUBSIDIARIAMENTE: INAPLICABILIDADE DE JUROS DE MORA SOBRE A MULTA DE OFÍCIO 24. Ao final da peça, a Impugnante pede: 147. Diante do exposto, pede a Impugnante sejam julgados improcedentes os autos de infração impugnados e cancelados os débitos nele exigidos e todos os seus consectários, tendo em vista (i) a ilegalidade da IN 243/2002 que serve de fundamento legal para exigência das supostas diferenças de ajustes de preços de transferência em cobrança; (ii) o erro na determinação de referidos ajustes por terem sido consideradas as parcelas de frete, seguros e impostos incidentes na importação no cálculo do preço praticado na importação dos bens sujeitos aos ajustes autuados; e (iii) a inaplicabilidade do PRL60 para os casos em que a Impugnante aplicou o PRL20, que cuidam de importação de produtos que foram acondicionados em “kits” para mera revenda. 148 Caso os lançamentos sejam mantidos, no todo ou em parte, pede a Impugnante que seja determinada a insubsistência da cobrança de juros de mora sobre os valores de multas de ofício mantidos. 8 DO LANÇAMENTO 25. No Termo de Constatação, fl. 98, a Autoridade Fiscal cientificou o Contribuinte nos seguintes termos: No exercício das funções de AuditoraFiscal da Receita Federal do Brasil, dando continuidade à ação fiscal para a apuração de Preços de Transferência – Operações de Importação relativa ao ano de 2011, determinada pelo Mandado de Procedimento Fiscal em epígrafe e de acordo com o disposto nos arts. 904, 905, 927 e 928, todos do Decreto nº 3.000, de 26/03/1999 (Regulamento do Imposto de Renda – RIR99), CONSTATAMOS: Da análise dos documentos e memórias de cálculo apresentados no curso desta fiscalização, constatamos que a empresa adotou critérios de cálculo dos ajustes de Preço de Transferência pelo método PRL, em desacordo com a IN SRF nº 243/2002, no seguinte item: Fl. 549DF CARF MF 8 1) §11º, art. 12, da IN SRF nº 243/2002 26. Em razão do constatado, foi lavrado Auto de Infração para exigir o valor do ajuste decorrente da aplicação de métodos de preços de transferências, relativamente aos custos, despesas e encargos de importação de bens, serviços e direitos adquiridos de pessoa vinculada no exterior não adicionado ao Lucro Líquido do período, para a determinação do Lucro Real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. 27. O valor apurado da infração é igual a R$ 53.698.819,64, cujo cálculo foi demonstrado em seis anexos, minuciosamente descrito no TVF: Anexo 1 – Demonstrativo da Composição do Consumo – AC 2011: apura o preço médio praticado (FOB e CIF) Anexo 2 – Demonstrativo de Apuração dos Preços Praticados – AC 2011: define o preço praticado (usando FOB se for PIC e CIF + II se for PRL) a ser comparado com o preço parâmetro conforme o método a ser aplicado. Anexo 3 – Demonstrativo de Apuração dos Preços Parâmetro pelo PRL 20: (bens revendidos) Anexo 4– Demonstrativo de Apuração dos Preços Parâmetro pelo PRL 60 (bens aplicados à produção) – AC 2011. Anexo 5– Demonstrativo dos cálculos do preço parâmetro ponderado pelo PRL 60 x PRL 20. Anexo 6 – Demonstrativo de Cálculo dos Ajustes pela Fiscalização – AC 2011 (lista os produtos objeto do lançamento e os respectivos métodos e valor do ajuste) 28. Por fim, se verifica que a Autoridade Fiscal aproveitou Prejuízo Fiscal e Base de Cálculo Negativa sem providenciar o devido registro no Sistema de Acompanhamento – SAPLI. Por essa decisão, a manifestação de inconformidade foi julgada parcialmente procedente, conforme ementa abaixo transcrita: INSTRUÇÃO NORMATIVA. LEGALIDADE. A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. São normas complementares os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas. Não compete à esfera administrativa a análise da legalidade ou inconstitucionalidade de normas jurídicas vigentes. JUROS INCIDENTES SOBRE A MULTA. Na constituição do crédito tributário de ofício os juros de mora e a multa são calculados sobre o principal. Após o prazo para impugnação ou pagamento, não ocorrendo este, o montante do lançamento é classificado como débito para com a União decorrente de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, nos termos do caput do art. 61 da Lei nº 9.430/96, e inclui todas as rubricas, dentre as quais a multa de ofício Fl. 550DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 6 9 PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PIC. O lançamento deve refletir a opção do Contribuinte pelo Método PIC, acatado pela Autoridade Fiscal. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL60. IN/SRF 243/2002. A metodologia da IN SRF nº 243/2002 busca proporcionalizar o preço parâmetro ao insumo importado aplicado na produção. Assim, a margem de lucro é calculada sobre a participação do insumo importado no preço de venda do produto final, o que viabiliza a apuração do preço parâmetro do bem importado com maior exatidão, em consonância ao objetivo do método PRL 60 e à finalidade do controle dos preços de transferência. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL. FRETE E SEGURO E IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO. Até a entrada em vigor do art. 38 da Medida Provisória nº 563, de 2012, convertida na Lei nº 12.715, de 2012, integravam o custo, para efeito de dedutibilidade na determinação do lucro real até o valor que não excedesse ao preço determinado pelo Método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL), o valor do frete e do seguro, cujo ônus tivesse sido do importador, e os tributos incidentes na importação. PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. REACONDICIONAMENTO. MÉTODO PRL 20 . A ocorrência de inovação e reclassificação do método de Preço de Transferência pela Autoridade Fiscal deve ser demonstrada pelo Contribuinte. MATÉRIA FÁTICA IDÊNTICA. RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO. Em se tratando de matéria fática idêntica àquela que serviu de base para o lançamento do Imposto sobre a Renda Pessoa Jurídica, devem ser estendidas as conclusões advindas da apreciação daquele lançamento ao relativo à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL em razão da relação de causa e efeito advindas dos mesmos fatos geradores e elementos probantes. No recurso voluntário são repisadas as razões insertas na impugnação, sendo veiculados os pedidos: 128 Em vista do exposto, a Recorrente pede e espera seja este recurso voluntário acolhido e provido para que sejam integralmente cancelados os autos de infração ora questionados, em função da incompatibilidade da IN 243/02 com a Lei 9.430/96. 129 Ainda que assim não se entenda, pede que (i) o presente recurso voluntário seja provido para cancelar as autuações Fl. 551DF CARF MF 10 questionadas por inconsistência, ou ao menos para recalculá las, na medida em que a D. Fiscalização incluiu os valores de frete, seguros e tributos aduaneiros no cálculo da média dos preços efetivamente praticados, em contrariedade ao §6º do art. 18 da Lei 9.430/96 e (ii) que sejam excluídos da autuação de PRL60 as mercadorias que a própria D. Fiscalização reconhece foram importadas para mera revenda (kits cujos componentes foram acondicionados para revenda no país). 130 Caso a multa seja mantida, ainda que em parte, pede a Recorrente que seja determinada a insubsistência da cobrança de juros de mora sobre os valores de multas de ofício mantidos. 131 Entende a Recorrente, por fim, que trouxe aos autos documentação necessária e suficiente para a elucidação de suas razões de defesa. Caso este órgão julgador entenda necessário, poderá determinar a realização de diligências e verificações que considerar relevantes à adequada verificação da prova quanto aos demais itens desta Impugnação, colocandose a Recorrente desde já à disposição para o fornecimento das informações que lhe forem solicitadas. Não houve recurso de ofício. É o relatório. Voto Conselheiro Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Relator. Admissibilidade. O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade. Portanto, deve ser conhecido. Delimitação da matéria. Em face do julgamento de primeira instância que considerou procedente em parte a impugnação, sem que tenha havido recurso de ofício, a própria contribuinte, em sua peça recursal, delimita a matérias ainda em julgamento: a) ilegalidade da IN SRF nº 243/2002 quanto à metodologia de cálculo do preço parâmetro para o PRL60; b) inclusão dos valores de frete, seguros e tributos aduaneiros no cálculo da média dos preços efetivamente praticados, em contrariedade com o § 6º do artigo 18 da Lei nº 9.430/96; c) exclusão da autuação de PRL60 das mercadorias que a própria fiscalização reconhece terem sido importadas para mera revenda (kits cujos componentes foram acondicionados para revenda no país); Fl. 552DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 7 11 d) a insubsistência da cobrança de juros de mora sobre os valores de multas de ofício. Ilegalidade da IN SRF n° 243/02. Quanto a essa matéria, no voluntário está apontado: "II.1. Incompatibilidade do método PRL60 previsto na IN 243/02 com a Lei 9.430/96; II.1.a. Princípio da legalidade e da reserva de lei no Direito Tributário Brasileiro; II.1.b. Introdução do controle de preços de transferência no Brasil; II.1.c. Incompatibilidade das disposições da IN 243/02 para a apuração do PRL60 com a Lei 9.430; II.1.d. Efeito circular, necessidade de margens de lucro desproporcionais e desrespeito ao valor agregado no País decorrentes da metodologia adotada pela IN 243/02; II.1.d.i. Efeito circular; II.1.d.ii. Necessidade de margens de lucro sobre o custo desproporcionais; II.1.d.ii. Necessidade de margens de lucro sobre o custo desproporcionais; II.1.d.iii. Desconsideração do valor agregado no País; II.1.e. Recálculo do preço parâmetro segundo os critérios da Lei 12.715/12; II.1.f. Sumário das conclusões e jurisprudência acerca da incompatibilidade da IN 243/02 com a Lei 9.430/96 para o cálculo do preço parâmetro no PRL60; II.1.f.i. Jurisprudência"; Foi colacionada jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 3ª Região relativa ao assunto cujos recorrentes são empresas que atuam no mesmo ramo da contribuinte em tela. Relativamente às alegações trazidas pela recorrente em relação à ilegalidade da IN SRF nº 243/2002, transcrevese excerto do voto do Cons. André Mendes de Moura, condutor do Acórdão nº 9101002.446, da 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, prolatado no dia 21 de setembro de 2016, que aborda com propriedade a questão:cujos fundamentos são aqui adotados como razões de decidir: “Sobre a legalidade de IN SRF nº 243, de 2002, em face do art. 18 da Lei Nº 9.430, de 1996, tratase de assunto já bastante debatido, sendo objeto de profundas análises pela jurisprudência e pela doutrina. Fl. 553DF CARF MF 12 A normatização dos preços de transferência no Brasil inserese no contexto do fenômeno da globalização, em que a competição se desenvolve em escala global, e por consequência as empresas vem empreendendo esforços no sentido de reduzir a tributação das operações internacionais. Nesse contexto, vem sendo desenvolvidos mecanismos de planejamento, nem sempre adequados, dentre os quais o conhecido como transfer pricing, no qual são realizadas operações de compra e venda entre empresas vinculadas com sítio em países diferentes, no qual as fiscalizações tributárias têm verificado, em determinadas ocasiões, a utilização de preços artificiais, de modo a deslocar a tributação para países com carga tributária menor. Para monitorar tal sistemática, controles têm sido desenvolvidos pelos países, no sentido de comparar as operações transnacionais entre empresas e suas vinculadas, com operações no qual as mesmas empresas transacionam com outras sem qualquer espécie de vínculo. Verificase, assim, se o preço praticado nas operações entre a empresa e suas vinculadas tem similitude com o preço de mercado negociado entre empresas independentes, adotandose o princípio do arm's lenght. Não por acaso, a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) editou convenção modelo sobre os preços de transferência, no sentido de que, uma vez não observado o preço arm’s length nas transações entre empresas vinculadas em diferentes países, tem o Fisco a prerrogativa de tributar o lucro que teria sido obtido pela empresa em condições regulares de negociação, a preço de mercado. O assunto também foi tratado pela Organização das Nações Unidas, no Conselho Econômico e Social, resultando na elaboração do UN Practical Manual for Developing Countries1. No Brasil, a matéria referente aos preços de transferência foi introduzida pelo legislador por meio dos artigos 18 a 24 da Lei nº 9.430, de 1996, dispondo sobre operações relativas à importação e exportação de bens, serviços e direitos. Certamente que o legislador brasileiro, ao positivar a matéria, levou em consideração a realidade e as particularidades do país, mas não se pode deixar de verificar a adoção das diretrizes das organizações internacionais, principalmente sob a égide do princípio do arm's length. E, delimitando a discussão do presente voto às operações de importação, tratadas no caso concreto, observase que foram adotados pelo legislador brasileiro os métodos PIC (Preços Independentes Comparados), PRL (Preço de Revenda Menos Lucro) e CPL (Custo de Produção mais Lucro), inspirados, respectivamente, nos métodos internacionais Comparable Uncontrolled Price (CUP), Resale Price Method e o Cost Plus Method. Especificamente em relação ao método PRL, vale transcrever a redação em vigor à época dos fatos objeto da autuação: 1 United Nations Practical Manual on Transfer Pricing for Developing Countries, http://www.un.org/esa/ffd/documents/UN_Manual_TransferPricing.pdf. Acesso em 15/03/2016. Fl. 554DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 8 13 “Art. 18. Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e direitos, constantes dos documentos de importação ou de aquisição, nas operações efetuadas com pessoa vinculada, somente serão dedutíveis na determinação do lucro real até o valor que não exceda ao preço determinado por um dos seguintes métodos: (...) II – Método do Preço de Revenda menos Lucro PRL: definido como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: a) dos descontos incondicionais concedidos; b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas; c) das comissões e corretagens pagas; d) da margem de lucro de: (Redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000) 1. sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção; (Redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000) 2. vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda, nas demais hipóteses. (Redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000)” Foram empreendidas grandes discussões em torno dos limites que a administração tributária teria que obedecer para encontrar um modelo matemático compatível com as diretrizes estabelecidas pela lei. E de fato, em razão da complexidade da matéria, foram editados vários atos administrativos, buscando encontrar um modelo adequado para a devida apuração do preço parâmetro. Debates intensos se sucederam analisando se os atos administrativos, editados com base no art. 100, inciso I do CTN2, extrapolaram os limites da lei. Assunto tratado pela jurisprudência e doutrina, peço vênia para transcrever as valiosas lições de Luís Eduardo Schoueri3: “3.11 Em certas circunstâncias, a regulamentação dos preços de transferência pode, sim, exigir a edição de ato administrativo para que se torne viável sua aplicação. (...) 2 Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I – os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; (...) 3 SCHOUERI, Luís Eduardo. Preços de Transferência no Direito Tributário Brasileiro 3. ed. rev. a atual. São Paulo: Dialética, 2013, p. 5759 Fl. 555DF CARF MF 14 3.12.2 Com efeito, a mera leitura dos dispositivos que tratam dos preços de transferência na Lei nº 9.430/96 revela que sua disciplina foi bastante enxuta. O legislador limitouse a definir os métodos aplicáveis e as consequências de os preços praticados superarem os limites legais. (...) 3.12.2.2 Obviamente, se a Instrução Normativa extrapolar a lei, será esta, e nunca aquela, que prevalecerá. Mas como saber se a Instrução Normativa ultrapassou a lei? 3.12.3 Surge, aqui, a importância do princípio do arm's lenght. Como já ficou esclarecido, é este princípio o bastião de constitucionalidade da Lei nº 9.430/964 Os ajustes impostos por esta lei se consideram constitucionais porque concretizam aquele princípio. 3.12.4 Nesse passo, surge a seguinte regra: a regulamentação da Lei nº 9.430/96 estará conforme a própria lei se estiver concretizando o princípio arm's length. 3.12.5 Quando, por outro lado, a regulamentação da Lei nº 9.430/96 emprestarlhe interpretação que se afaste do referido princípio, então há que se investigar a existência de outro princípio que justifique tal construção normativa. O desvio poderá indicar a concretização de outro valor constitucional, igualmente prestigiado pelo Ordenamento. Tal será o caso, por exemplo, quando a norma, desviandose do princípio arm's length, tiver sua justificativa em sua função indutora, ao buscar fomentar o desenvolvimento da economia nacional. 3.12.6 Não se encontrando a norma assim construída apoiada nem no princípio arm's length nem em outro fundamento constitucional, então tal interpretação será repudiada, denunciandose a ilegalidade da Instrução Normativa. Exemplos de tal afastamento não faltam”. (grifei) Não obstante o autor, no decorrer de sua obra, entender pela ilegalidade da IN SRF nº 243, de 2002, entendo que a premissa colocada, no sentido de se verificar se o ato normativo concretizou o princípio do arm's length, mostrase como uma referência a ser prestigiada. A redação do artigo em debate foi construída de maneira a amparar diferentes modelos matemáticos, desde que estejam em consonância com o princípio arm's length. E é precisamente o que se verifica no decorrer das instruções normativas editadas visando regulamentar o previsto no art. 18 da Lei nº 9.430, de 1996. De fato, optou o legislador, ao positivar a matéria, dispor sobre diretriz a ser seguida pelo método, e não adentrar na fórmula matemática, que, por consequência, foi tarefa delegada para o ato administrativo complementar. 4 Cf. Ricardo Lobo Torres, "O Princípio Arm's Length, os Preços de Transferência e a Teoria de Interpretação do Direito Tributário", Revista Dialética de Direito Tributário nº 48, setembro de 1999, pp. 122/135 (123) Fl. 556DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 9 15 Natural, portanto, movimento no sentido de se buscar um modelo matemático adequado à realidade e ao espírito da norma. Tanto que a lei primeiro foi regulamentada pela IN SRF nº 113, de 2000, depois pela IN SRF nº 32, de 2001, e, sem seguida, pela IN SRF nº 243, de 2002. Discussões foram empreendidas no sentido de compreender com quem a expressão do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção estaria fazendo referência, se à redação dada pelo art. 18 da Lei nº 9.430, de 1996 (1) do caput do inciso II, PRL: definido como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos:, ou (2) da alínea "d", "1", sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e (...). No primeiro caso, discorreuse que se trataria de erro técnica legislativa inapropriada, ou seja, a expressão do valor agregado estaria correta, mas deveria estar inserida como uma nova alínea. Na segunda situação, falouse em erro gramatical, no sentido de que não se quis dizer do valor agregado, e sim o valor agregado, que estaria concordando com a expressão deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e (...)5. Aplicandose as orientações do modelo matemático proposto pela IN SRF nº 32, de 2001, quaisquer das interpretações conduziram a uma distorção na apuração do preço parâmetro, principalmente em razão do tratamento conferido ao valor agregado, considerado de maneira isolada, completamente desconectado do processo produtivo. Admitindose a técnica legislativa inapropriada, a fórmula teria os seguintes contornos: PP = PL – 0,6xPL – VA Desenvolvendo a equação, terseia: PP = 0,4xPL – VA onde PP: preço parâmetro, PL: preço líquido de revenda, VA: valor agregado no país. Percebese PP e VA na condição de grandezas inversamente proporcionais. Com um VA elevado, o preço parâmetro poderia atingir um valor negativo. Ao ser tratado de maneira isolada, descontextualizada do processo produtivo, conferiuse ao valor agregado um peso desproporcional na equação. Ou seja, o modelo matemático não se prestaria a refletir a realidade da situação em análise. Por outro lado, admitindose um erro gramatical, terseia a fórmula: 5 GREGÓRIO, Ricardo Marozzi. Preços de Transferência: uma avaliação da sistemática do método PRL. In: Tributos e Preços de Transferência. 3º vol. São Paulo: Dialética, 2009. p. 170/195 Fl. 557DF CARF MF 16 PP = PL – 0,6x(PL – VA) Desenvolvendo a equação: PP = 0,4xPL + 0,6xVA onde PP: preço parâmetro, PL: preço líquido de revenda, VA: valor agregado no país. Neste caso a distorção seria tão evidente quanto a anterior, mas para um outro extremo. O PP e o VA estariam na condição de grandezas diretamente proporcionais. Da mesma maneira que na equação anterior, foi conferido ao valor agregado um peso desproporcional na equação. Percebese que, agregandose valor ao produto produzido no país, eventual distorção no preço do produto importado seria completamente neutralizada. O resultado implicaria em ausência de ajuste do preço parâmetro mesmo diante da manipulação dos preços de produtos importados, quando o valor agregado respondesse por uma proporção significativa do produto. Várias demonstrações foram elaboradas, visando credenciar ou descredenciar a validade das fórmulas diante de vários casos concretos. Fato é que, com a IN SRF nº 243, de 2002, a nova fórmula desenhada mostrouse, indiscutivelmente, mais adequada e apta a refletir com maior realidade a metodologia do PRL, levando em consideração que a diminuição do valor agregado, a ser aplicada sobre o preço de revenda do bem ou direito, darseá de maneira proporcional, na medida da participação do custo do bem importado em relação ao preço do custo total do bem. Define com clareza que o valor agregado é parte da composição do custo total do bem, e não uma grandeza isolada, como na equação da IN SRF nº 32, de 2001. Não poderia ser diferente. O custo total é resultado da soma do custo do bem importado e do valor agregado no país. O valor agregado integra o custo, vez que agrega ao produto uma qualidade, um diferencial, que, por consequência, irá compor o custo total. Assim, construiuse a fórmula no sentido de encontrar a proporção do custo do bem importado em relação ao custo total, dividindose o custo do bem importado pela soma do custo bem importado e o valor agregado: (custo do bem importado) / (custo do bem importado + valor agregado). A proporção encontrada foi aplicada para o cômputo do preço de transferência. Vale transcrever o § 11, do art. 12, da IN SRF nº 243, de 2002: “§ 11. Na hipótese do § 10, o preço parâmetro dos bens, serviços ou direitos importados será apurado excluindose o valor agregado no País e a margem de lucro de sessenta por cento, conforme metodologia a seguir: I – preço líquido de venda: a média aritmética ponderada dos preços de venda do bem produzido, diminuídos dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas e das comissões e corretagens pagas; Fl. 558DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 10 17 II – percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no custo total do bem produzido: a relação percentual entre o valor do bem, serviço ou direito importado e o custo total do bem produzido, calculada em conformidade com a planilha de custos da empresa; III – participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem produzido: a aplicação do percentual de participação do bem, serviço ou direito importado no custo total, apurado conforme o inciso II, sobre o preço líquido de venda calculado de acordo com o inciso I; IV – margem de lucro: a aplicação do percentual de sessenta por cento sobre a "participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido", calculado de acordo com o inciso III; V – preço parâmetro: a diferença entre o valor da "participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido" , calculado conforme o inciso III, e a margem de lucro de sessenta por cento, calculada de acordo com o inciso IV”. (grifei) O modelo matemático proposto pode ser apresentado na seguinte equação: PP = PLxPPart – 0,6xPLxPPart Considerando PLxPPart = PBProd, então a fórmula seria: PP = PBProd – 0,6xPBProd, ou PP = 0,4 x PBProd onde PP: preço parâmetro; PL: preço líquido de venda, PPart: percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem produzido e PBProd: participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem produzido. Destrinchando os elementos da equação, o PL (preço líquido de venda) é definido nos seguintes termos: PL = média aritmética ponderada de PV – D – I – C onde PV: preços de venda do bem produzido, D: descontos incondicionais concedidos, I: impostos e contribuições sobre as vendas, C: comissões e corretagens pagas, e N: quantidade de produtos importados Por sua vez, o PPart (percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem produzido), é definido por: Fl. 559DF CARF MF 18 onde CII: custo do valor do bem, serviço ou direito importado e CTBP: o custo total do bem produzido, resultado da soma entre o CII e o valor agregado. A diminuição do valor agregado, pretendida pela lei, foi modelada na equação pela introdução do valor agregado no denominador da divisão. Quanto maior a participação no valor agregado, obviamente, menor a participação do preço do produto importado na composição do custo total e, por isso, menor a sua colaboração na composição do preço de transferência. Observase que, numa situação limite, se não houvesse valor agregado (que receberia o valor zero), o percentual de participação do produto importado seria CII dividido por CII, resultando em 1, ou seja, 100%. Registrese que se trata de situação hipotética, que se presta a mostrar a validade do modelo proposto, isso porque a legislação trata da situação em que não há agregação de valor no art. 18, inciso II, alínea "d", item 2 da Lei nº 9.430, de 1996. Retomando à equação, de acordo com a definição da instrução normativa, a PBProd (participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem produzido) é assim definida: Enfim, o Preço Parâmetro, definido no inciso V, § 11, do art. 12, da IN SRF nº 243, de 2002, é a diferença entre a PBProd e o percentual de margem de lucro aplicado sobre o PBProd. Ou seja: PP = PBProd – margem de lucro x PBProd Desenvolvendo a fórmula, temse: PP = PBProd x (1 – margem de lucro) Observase que o PBProd é o preço de revenda do produto importado, calculado a partir de sua participação no preço de revenda do produto produzido que teve agregação de valor no país. E, aplicandose o percentual de presunção de margem de lucro de 60%: PP = PBProd x (1 – 0,6) PP = 0,4 x PBProd Fl. 560DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 11 19 No mencionado UN Practical Manual for Developing Countries6, ao discorrer sobre o Resale Price Method (que se trata do PRL), a fórmula empregada é a mesma. Vale transcrever o item 6.2.6.3 do documento: “6.2.6.3. . Consequently, under the RPM the starting point of the analysis for using the method is the sales company. Under this method the transfer price for the sale of products between the sales company (i.e. Associated Enterprise 2) and a related company (i.e. Associated Enterprise 1) can be described in the following formula: TP = RSP x (1 – GPM), where: TP = the Transfer Price of a product sold between a sales company and a related company; RSP = the Resale Price at which a product is sold by a sales company to unrelated customers; and GPM = the Gross Profit Margin that a specific sales company should earn, defined as the ratio of gross profit to net sales. Gross profit is defined as Net Sales minus Cost of Goods Sold”. Na equação TP = RSP x (1 – GPM), TP é o preço praticado, RSP é o preço de revenda do produto importado, e o GPM o percentual de presunção de lucro aplicado sobre o preço de revenda. Vale transcrever, novamente, a fórmula empregada pela IN SRF nº 243, de 2002: PP = PBProd x (1 – margem de lucro), onde PP é o preço praticado, PBProd é o preço de revenda do insumo importado levandose em consideração sua participação no preço de revenda total do produto, e a margem de lucro é o percentual de presunção do lucro aplicado sobre o preço de revenda. Aplicandose nas fórmulas o percentual de presunção de lucro de 60%, temos: Percebese que o modelo matemático adotado pela IN SRF nº 243, de 2002, guarda consonância com os padrões 6 United Nations Practical Manual on Transfer Pricing for Developing Countries, http://www.un.org/esa/ffd/documents/UN_Manual_TransferPricing.pdf. Acesso em 15/03/2016. Fl. 561DF CARF MF 20 internacionais, e não foge das diretrizes estabelecidas pelo art. 18 da Lei nº 9.430, de 1996. Na realidade, a normatização empreendida pela instrução normativa foi uma evolução do modelo matemático perseguido pela lei. Primeiro, porque considerou, acertadamente, que a apuração do custo total do produto revendido consiste na soma do preço produto importado e mais o valor agregado no país, tornado possível calcular a efetiva participação do preço do produto importado na composição do custo total do produto revendido, base sobre a qual se aplica o preço de revenda e a margem de lucro presumida. Segundo, tratase de modelo em harmonia com as diretrizes internacionais, estabelecidas com sob a égide do princípio do arm's length. Tampouco há que se falar que os preços de transferência, no Brasil, tiveram como outro objetivo, além do princípio do arm's length, ser instrumento de fomento à indústria nacional, razão pela qual se poderia recepcionar entendimento de que teria havido o erro gramatical na redação da lei, o que conduziria o preço parâmetro à fórmula "PP = PL – 0,6x(PL – VA)". A exposição de motivos da Lei nº 9.430, de 1996, ao discorrer sobre os artigos 18 a 24, esclarece que a norma é instrumento de combate à elisão internacional: “As normas contidas nos artigos 18 a 24 representam significativo avanço da legislação nacional face ao ingente processo de globalização experimentado pelas economias contemporâneas. No caso específico, em conformidade com as regras adotadas da OCDE. São propostas normas que possibilitem o controle dos denominados “Preços de Transferência”, de forma a evitar a prática, lesiva aos interesses nacionais, de transferências de recursos para o Exterior, mediante a manipulação dos preços pactuados nas importações ou exportações de bens, serviços ou direitos, em operações com pessoas vinculadas, residentes ou domiciliadas no Exterior. De qualquer maneira, há que se considerar que o modelo preconizado pela OCDE trata de diretrizes, sem o condão de retirar a autonomia que cada país tem para dispor sobre a matéria em seu ordenamento jurídico. (grifei) Tratase de norma com objetivo primordial de corrigir distorções entre o preço praticado nas operações de uma empresa e suas vinculadas, adotandose como parâmetro o preço de mercado negociado entre empresas independentes, em referência clara ao princípio do arm's length. Não há, portanto, que se falar em ilegalidade da IN SRF nº 243, de 2002, em face do disposto no art. 18 da Lei nº 9.430, de 1996. A jurisprudência vem ratificando tal entendimento. Recentemente, na sessão de janeiro de 2016, o presente Colegiado julgou, por maioria de votos, pela legalidade da IN SRF nº 243, de 2002, tendo o Acórdão nº 9101002.175 apresentado a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Fl. 562DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 12 21 Anocalendário: 2003 PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO PRL60. AJUSTE, IN/SRF 243/2002. ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. Descabe a argüição de ilegalidade na IN SRF nº 243/2002 cuja metodologia busca proporcionalizar o preço parâmetro ao bem importado aplicado na produção. Assim, a margem de lucro não é calculada sobre a diferença entre o preço líquido de venda do produto final e o valor agregado no País, mas sobre a participação do insumo importado no preço de venda do produto final, o que viabiliza a apuração do preço parâmetro do bem importado com maior exatidão, em consonância ao objetivo do método PRL 60 e à finalidade do controle dos preços de transferência. O voto faz referência a jurisprudência judicial, como, por exemplo, da Terceira Turma Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que decidiu rever seu entendimento anterior e decidir pela legalidade da sistemática do PRL 60 estabelecida na IN SRF nº 243/2002, por unanimidade de votos, no julgamento do processo nº 2003.61.00.0173814/SP: “APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MÉTODO DE PREÇO DE REVENDA MENOS LUCRO PRL. LEI Nº 9.430/96. INSTRUÇÃO NORMATIVA SRF 243/02. APLICABILIDADE. 1. Caso em que a impetrante pretende apurar o Método de Preço de Revenda menos Lucro PRL, estabelecido na Lei n.º 9.430/96, sem se submeter às disposições da IN/SRF n.º 243/02. 2. Em que pese sejam menos vantajosos para a impetrante, os critérios da Instrução Normativa n. 243/2002 para aplicação do método do Preço de Revenda Menos Lucro (PRL) não subvertem os paradigmas do art. 18 da Lei n. 9.430/1996. 3. Ao considerar o percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no custo total do bem produzido, a IN 243/2002 nada mais está fazendo do que levar em conta o efetivo custo daqueles bens, serviços e direitos na produção do bem, que justificariam a dedução para fins de recolhimento do IRPJ e da CSLL. 4. Apelação improvida”. (Divulgado no Diário Eletrônico da Justiça Federal da 3ª Região, em 18/2/2011. A Terceira Turma rejeitou os embargos opostos contra o acórdão, e manteve a orientação pela legalidade da IN nº 243/2002, em 5/5/2011.) Vale também transcrever ementa de decisão do processo nº 2003.61.00.0061258/ SP, da Sexta Turma do TRF3: “TRIBUTÁRIO TRANSAÇÕES INTERNACIONAIS ENTRE PESSOAS VINCULADAS MÉTODO DO PREÇO DE Fl. 563DF CARF MF 22 REVENDA MENOS LUCRO PRL60 APURAÇÃO DAS BASES DE CÁLCULO DO IRPJ E DA CSLL EXERCÍCIO DE 2002 LEIS NºS. 9.430/96 E 9.959/00 E INSTRUÇÕES NORMATIVAS/SRF NºS. 32/2001 E 243/2002 – PREÇO PARÂMETRO MARGEM DE LUCRO VALOR AGREGADO – LEGALIDADE. INOCORRÊNCIA DE OFENSA A PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS – DEPÓSITOS JUDICIAIS. 1. Constitui o preço de transferência o controle, pela autoridade fiscal, do preço praticado nas operações comerciais ou financeiras realizadas entre pessoas jurídicas vinculadas, sediadas em diferentes jurisdições tributárias, com vista a afastar a indevida manipulação dos preços praticados pelas empresas com o objetivo de diminuir sua carga tributária. 2. A apuração do lucro real, base de cálculo do IRPJ, e da base de cálculo da CSLL, segundo o Método do Preço de Revenda menos Lucro PRL, era disciplinada pelo art. 18, II e suas alíneas, da Lei nº 9.430/96, com a redação dada pela Lei nº 9.959/00 e regulamentada pela IN/SRF nº 32/2001, sistemática pretendida pela contribuinte para o ajuste de suas contas, no exercício de 2002, afastandose os critérios previstos pela IN/SRF nº 243/2002. 3. Contudo, ante à imprecisão metodológica de que padecia a IN/SRF nº 32/2001, ao dispor sobre o art. 18, II, da Lei nº 9.430/96, com a redação que lhe deu a Lei nº 9.959/00, a qual não espelhava com fidelidade a exegese do preceito legal por ela regulamentado, baixou a Secretaria da Receita Federal a IN/SRF nº 243/2002, com a finalidade de refletir a mens legis da regra matriz, voltada para coibir a evasão fiscal nas transações comerciais com empresas vinculadas sediadas no exterior, envolvendo a aquisição de bens, serviços ou direitos importados aplicados na produção. 4. Destarte, a IN/SRF nº 243/2002, sem romper os contornos da regra matriz, estabeleceu critérios e mecanismos que mais fielmente vieram traduzir o dizer da lei regulamentada. Deixou de referirse ao preço líquido de venda, optando por utilizar o preço parâmetro daqueles bens, serviços ou direitos importados da coligada sediada no exterior, na composição do preço do bem aqui produzido. Tal sistemática passou a considerar a participação percentual do bem importado na composição inicial do custo do produto acabado. Quanto à margem de lucro, estabeleceu dever ser apurada com a aplicação do percentual de 60% sobre a participação dos bens importados no preço de venda do bem produzido, a ser utilizada na apuração do preço parâmetro. Assim, enquanto a IN/SRF nº 32/2001 considerava o preço líquido de venda do bem produzido, a IN/SRF nº 243/2002, considera o preço parâmetro, apurado segundo a metodologia prevista no seu art. 12, §§ 10, e 11 e seus incisos, consubstanciado na diferença entre o valor da participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido, e a margem de lucro de sessenta por cento. Fl. 564DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 13 23 5. O aperfeiçoamento fezse necessário porque o preço final do produto aqui industrializado não se compõe somente da soma do preço individuado de cada bem, serviço ou direito importado. À parcela atinente ao lucro empresarial, são acrescidos, entre outros, os custos de produção, da mão de obra empregada no processo produtivo, os tributos, tudo passando a compor o valor agregado, o qual, juntamente com a margem de lucro de sessenta por cento, mandou a lei expungir. Daí, a necessidade da efetiva apuração do custo desses bens, serviços ou direitos importados da empresa vinculada, pena de a distorção, consubstanciada no aumento abusivo dos custos de produção, com a consequente redução artificial do lucro real, base de cálculo do IRPJ e da base de cálculo da CSLL a patamares inferiores aos que efetivamente seriam apurados, redundar em evasão fiscal. 6. Assim, contrariamente ao defendido pela contribuinte, a IN/SRF nº 243/2002, cuidou de aperfeiçoar os procedimentos para dar operacionalidade aos comandos emergentes da regra matriz, com o fito de determinarse, com maior exatidão, o preço parâmetro, pelo método PRL60, na hipótese da importação de bens, serviços ou direitos de coligada sediada no exterior, destinados à produção e, a partir daí, comparandoseo com preços de produtos idênticos ou similares praticados no mercado por empresas independentes (princípio arm's length), apurarse o lucro real e as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. 7. Em que pese a incipiente jurisprudência nos Tribunais pátrios sobre a matéria, ainda relativamente recente em nosso meio, temna decidido o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, do Ministério da Fazenda, não avistando o Colegiado em seus julgados administrativos qualquer eiva na IN/SRF nº 243/2002. Confirase a respeito o Recurso Voluntário nº 153.600, processo nº 16327.000590/200460, julgado na sessão de 17/10/2007, pela 5ª Turma/DRJ em São Paulo, relator o conselheiro José Clóvis Alves. No mesmo sentido, decidiu a r. Terceira Turma desta Corte Regional, no julgamento da apelação cível nº 001738130.2003.4.03.6100/SP, Relator o e. Juiz Federal Convocado RUBENS CALIXTO. 8. Outrossim, impõese destacar não ter a IN/SRF nº 243/2002, criado, instituído ou aumentado os tributos, apenas aperfeiçoou a sistemática de apuração do lucro real e das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, pelo Método PRL60, nas transações comerciais efetuadas entre a contribuinte e sua coligada sediada no exterior, reproduzindo com maior exatidão, o alcance previsto pelo legislador, ao editar a Lei nº 9.430/96, com a redação dada pela Lei nº 9.959/2000, visando coibir a elisão fiscal”. [...] (Divulgado no Diário Eletrônico da Justiça Federal da 3ª Região, em 1/9/2011. Grifos nossos) Fl. 565DF CARF MF 24 Portanto, não há que se falar em ilegalidade na IN SRF nº 243/2002, cujo modelo matemático é uma evolução das instruções normativas anteriores. A metodologia leva em conta a participação do valor agregado no custo total do produto revendido. Adotandose a proporção do bem importado no custo total, e aplicando a margem de lucro presumida pela legislação para a definição do preço de revenda, encontrase um valor do preço parâmetro compatível com a finalidade do método PRL 60 e dos preços de transferência”. Pelo que se nota da explanação supra, resta claro que a sistemática de cálculo do preço parâmetro conforme definida na IN SRF nº 243/2001 para o denominado “PRL 60” está em perfeita consonância com o contido no art. 18 da Lei nº. 9.430/96, sendo pertinente transcreverse acórdão proferido pela 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região: “DIREITO PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. LEI 9.430/1996. IN/SRF 243/2002. PREÇO DE TRANSFERÊNCIA. MÉTODO DE PREÇO DE REVENDA MENOS LUCRO PRL 60. PREÇO PARÂMETRO. VALOR AGREGADO. CSL E IRPJ. VALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO INEXISTENTE. 1. São manifestamente improcedentes os presentes embargos de declaração, pois não se verifica qualquer omissão no julgamento impugnado, mas mera contrariedade da embargante com a solução dada pela Turma, que, à luz da legislação aplicável e com respaldo na jurisprudência, consignou expressamente que "a IN 243/2002 foi editada na vigência da Lei 9.959/2000, que alterou a redação da Lei 9.430/1996, para distinguir a hipótese de revenda do próprio direito ou bem, tratada no item 2, da hipótese de revenda de direito ou bem com valor agregado em razão de processo produtivo realizado no país, tratada no item 1, ambos da alínea d do inciso II do artigo 18 da lei. O cálculo do preço de transferência, pelo Método de Preço de Revenda menos Lucro PRL, no caso de direitos, bens ou serviços, oriundos do exterior e adquiridos de pessoa jurídica vinculada, passou, na vigência da Lei 9.959/2000, a considerar a margem de lucro de 60% "sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção" (artigo 18, II, "d", 1). A adoção, na técnica legal, do critério do valor agregado objetivou conferir adequada eficácia ao modelo de controle de preços de transferência, aderindo aos parâmetros da Convenção Modelo da OCDE, evitando distorções e, particularmente, redução da carga fiscal diante da insuficiência das normas originariamente contidas na Lei 9.430/1996 e refletidas na IN/SRF 32/2001. O legislador, independentemente de obrigação convencional, pode adotar, na disciplina interna das relações jurídicas, modelos ou parâmetros internacionalmente aceitos ou discutidos, sendo, para tal efeito, irrelevante a subscrição da convenção ou se os próprios países subscritores descumprem o avençado. Imperioso ressaltar que a liberdade de conformação do legislador, adstrita aos vetores maiores de Constituição e legislação complementar sem que, a propósito, esteja presente qualquer violação ao ordenamento Fl. 566DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 14 25 hierárquico interno , não pode, portanto, ser invalidada, como se pretende, ao argumento de que o Brasil não aderiu à Convenção Modelo da OCDE". 2. Asseverou o acórdão que "o cálculo do preço de transferência a partir da margem de lucro sobre o preço de revenda é eficaz, no atingimento da finalidade legal e convencional, quando se trate de importação de bens, direitos ou serviços finais para revenda interna, não, porém, no caso de importação de matériasprimas, insumos, bens, serviços ou direitos que não são objeto de revenda direta, mas são incorporados em processo produtivo de industrialização, resultando em distintos bens, direitos ou serviços, agregando valor ao produto final, com participações variáveis na formação do preço de revenda, que devem ser apuradas para que seja alcançado corretamente o preço de transferência, de que trata a legislação federal. Assim, a IN 243/2002, ao tratar, nos §§ 10 e 11 do artigo 12, do Método do Preço de Revenda Menos Lucro , para bens, serviços ou direitos importados aplicados à produção, com exclusão do valor agregado e da margem de lucro de 60%, para tanto com a apuração da participação de tais bens, serviços ou direitos no custo e preço de revenda do produto final industrializado no país, não inovou nem violou o artigo 18, II, d, item 1, da Lei 9.430/1996 com a redação dada pela Lei 9.959/2000". 3. Consignou o acórdão, ademais, que "Antes e contrariamente ao postulado, o que se verificou foi a necessária e adequada explicitação, pela instrução normativa impugnada, do conteúdo legal para permitir a sua aplicação, considerando que o conceito legal de valor agregado, conducente ao conceito normativo de preço parâmetro, leva à necessidade de apurar a sua formação por decomposição dos respectivos fatores, abrangendo bens, serviços e direitos importados, sujeitos à análise do valor da respectiva participação proporcional ou ponderada no preço final do produto". 4. Acrescentouse que "O artigo 18, II, da Lei 9.430/1996, com redação da Lei 9.959/2000, previu que o preço de transferência, no caso de bens e direitos importados para a aplicação no processo produtivo, calculado pelo método de preço de revenda menos lucros PRL 60, é a média aritmética dos preços de revenda de bens ou direitos, apurada mediante a exclusão dos descontos incondicionados, tributos, comissões, corretagens e margem de lucro de 60%, está calculada sobre o preço de revenda depois de deduzidos os custos de produção citados e ainda o valor agregado calculado a partir do valor de participação proporcional de cada bem, serviço ou direito importado na formação do preço final, conforme previsto em lei e detalhado na instrução normativa. O preço de transferência, assim apurado e não de outra forma como pretendido neste feito, é que pode ser deduzido na determinação do lucro real para efeito de cálculo do IRPJ/CSL. Há que se considerar, assim, a ponderação ou participação dos bens, serviços ou direitos, importados da empresa vinculada, no preço final do produto Fl. 567DF CARF MF 26 acabado, conforme planilha de custos de produção, mas sem deixar de considerar os preços livres do mercado concorrencial, ou seja, os praticados para produtos idênticos ou similares entre empresas independentes. A aplicação do método de cálculo com base no valor do bem, serviço ou direito em si, sujeito à livre fixação de preço entre as partes vinculadas, geraria distorção no valor agregado, majorando indevidamente o custo de produção a ser deduzido na determinação do lucro real e, portanto, reduzindo ilegalmente a base de cálculo do IRPJ/CSL". 5. Finalmente, restou consignado que "Para dar eficácia ao método de cálculo do preço de revenda menos lucro, previsto na Lei 9.430/1996 alterada pela Lei 9.959/2000, é que foi editada a IN/SRF 243/2002, em substituição à IN/SRF 32/2001, não se tratando, pois, de ato normativo inovador ou ilegal, mas de explicitação de regras concretas para a execução do conteúdo normativo abstrato e genérico da lei, prejudicando, pois, a alegação de violação aos princípios da legalidade e da capacidade contributiva, sem que exista, tampouco, fundamento para cogitarse de ofensa à anterioridade tributária". 6. Não houve qualquer omissão no julgamento impugnado, revelando, na realidade, a articulação de verdadeira imputação de erro no julgamento, e contrariedade da embargante com a solução dada pela Turma, o que, por certo e evidente, não é compatível com a via dos embargos de declaração. Assim, se o acórdão violou os artigos 43, 105, 112 do CTN e 153, III da CF, como mencionado, caso seria de discutir a matéria em via própria e não em embargos declaratórios. 7. Para corrigir suposto error in judicando, o remédio cabível não é, por evidente, o dos embargos de declaração, cuja impropriedade é manifesta, de forma que a sua utilização para mero reexame do feito, motivado por inconformismo com a interpretação e solução adotadas, revelase imprópria à configuração de vício sanável na via eleita. 8. Embargos de declaração rejeitados”. (TRF 3ª Região, TERCEIRA TURMA, AC APELAÇÃO CÍVEL 2154372 000462167.2013.4.03.6110, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS MUTA, julgado em 18/08/2016, eDJF3 Judicial 1 DATA:26/08/2016) No caso das decisões judiciais trazidas com o recurso, elas não têm como parte a ora recorrente, pelo que a ela não se aplica. Demais de todos os argumentos expendidos acima, foi aprovada a Súmula CARF nº 115 que assim dispõe: A sistemática de cálculo do "Método do Preço de Revenda menos Lucro com margem de lucro de sessenta por cento (PRL 60)" prevista na Instrução Normativa SRF nº 243, de 2002, não afronta o disposto no art. 18, inciso II, da Lei nº 9.430, de 1996, com a redação dada pela Lei nº 9.959, de 2000. Preço Praticado Preço CIF x Preço FOB. Fl. 568DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 15 27 Relativamente à irresignação em face da inclusão dos valores despendidos a título de frete, seguro e tributos sobre a importação no cálculo do preço praticado, mais uma vez transcrevese alguns excertos do voto proferido pelo Conselheiro André Mendes Moura, condutor do Acórdão nº. 9101002.446, da 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, prolatado no dia 21 de setembro de 2016, que aborda essa matéria com proficiência: “Para discorrer sobre a matéria indevida inclusão de fretes, seguros e impostos no preço praticado, cabe transcrever a redação do art. 18, da Lei nº 9.430, de 1996, caput e § 6º, dada antes da alteração promovida pela Lei nº 12.715, de 2012, transcrito na sequência: “Art. 18. Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e direitos, constantes dos documentos de importação ou de aquisição, nas operações efetuadas com pessoa vinculada, somente serão dedutíveis na determinação do lucro real até o valor que não exceda ao preço determinado por um dos seguintes métodos: I – Método dos Preços Independentes Comparados PIC: [...] II – Método do Preço de Revenda menos Lucro PRL: [...] III – Método do Custo de Produção mais Lucro CPL: [...] (...) § 6º Integram o custo, para efeito de dedutibilidade, o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador e os tributos incidentes na importação”. Primeira constatação é que a comparabilidade é o valor principal a ser tutelado na matéria atinente aos preços de transferência. E, recusar a aplicação da comparabilidade é o mesmo que ignorar o princípio do arm's length. A operação entre pessoas vinculadas (no qual se verifica o preço praticado) e a operação entre pessoas não vinculadas, na revenda (no qual se apura o preço parâmetro) devem preservar parâmetros equivalentes. E, quanto ao caso em análise, concernente aos valores de frete, seguros e tributos incidentes na importação, só dois mecanismos podem ser seguidos: (1) incluindose na apuração dos preços praticado e parâmetro os valores de frete, seguros e tributos incidentes na importação, ou (2) excluindose na apuração dos preços praticado e parâmetro os valores de frete, seguros e tributos incidentes na importação. Precisamente nesse contexto se justifica a existência do § 6º do art. 18, da Lei nº 9.430, de 1996, porque apresenta um tratamento diferente daquele previsto na regra geral para a apuração do custo contábil pelo art. 13 do DecretoLei nº 1.598, de 1977: “Art. 13 – O custo de aquisição de mercadorias destinadas à revenda compreenderá os de transporte e seguro até o Fl. 569DF CARF MF 28 estabelecimento do contribuinte e os tributos devidos na aquisição ou importação. § 1° O custo de produção dos bens ou serviços vendidos compreenderá obrigatoriamente: a) o custo de aquisição de matériasprimas e quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção, observado o disposto neste artigo”. Não há coincidência na construção do sistema de tributação. Como regra geral de dedutibilidade, incluemse os de transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte e os tributos devidos na aquisição ou importação. Por isso, a legislação de preços de transferência, para buscar um parâmetro de comparação adequado entre preço praticado e preço parâmetro, teve que expressamente se manifestar, por meio do § 6º do art. 18, da Lei nº 9.430, de 1996, para esclarecer que a regra geral de dedutibilidade não seria aplicável. Ou seja, para fins de apuração do preço de transferência, os valores de frete, seguro e tributos incidentes na importação não são dedutíveis, devendo integrar o custo. Portanto, como se pode observar, a redação do § 6º do art. 18, da Lei nº 9.430, de 1996 consagra o mecanismo de inclusão, na apuração dos preços praticado e parâmetro, dos valores de frete, seguros e tributos incidentes na importação. Inclusive, a IN SRF nº 243, de 2002, não vacila sobre o entendimento: “Art. 4º (...) § 4º Para efeito de apuração do preço a ser utilizado como parâmetro, calculado com base no método de que trata o art. 12, serão integrados ao preço praticado na importação os valores de transporte e seguro, cujo ônus tenha sido da empresa importadora, e os de tributos não recuperáveis, devidos na importação”. Em suma, sob a égide do art. 18 da Lei nº 9.430, de 1996, não restam dúvidas sobre o assunto: integram o custo (apuração do preço praticado), para efeito de dedutibilidade (registrase a exceção à regra geral disposta no art. 13 do DecretoLei nº 1.598, de 1977), o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador e os tributos incidentes na importação. E não há que se falar que a nova redação dada pela Lei nº 12.715, de 2012, teria alterado tal entendimento. Pelo contrário, confirmou que a comparabilidade sempre foi o valor principal a ser tutelado. Basta observar nova redação dada ao § 6º em debate, e ao novel § 6ºA: “§ 6º Não integram o custo, para efeito do cálculo disposto na alínea b do inciso II do caput, o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha sido do importador, desde que tenham sido Fl. 570DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 16 29 contratados com pessoas: (Redação dada pela Lei nº 12.715, de 2012) I – não vinculadas; e (Incluído pela Lei nº 12.715, de 2012) II – que não sejam residentes ou domiciliadas em países ou dependências de tributação favorecida, ou que não estejam amparados por regimes fiscais privilegiados. (Incluído pela Lei nº 12.715, de 2012) Primeiro, ao se revogar a redação antiga do § 6º, eliminase a restrição colocada ao preço praticado aplicável sobre a regra de dedutibilidade geral do art. 13 do DecretoLei nº 1.598, de 1977. Ou seja, passase a permitir a exclusão dos valores de frete, seguro e tributos na importação na apuração do preço praticado. Ou seja, os dispêndios voltam a seguir a regra geral e passam a ser dedutíveis. E, na mesma medida, com a nova redação do § 6º e o novo § 6ºA, determinase que na apuração do preço parâmetro pelo método PRL, não serão mais considerados os valores de frete, seguro (mediante atendimento de determinadas condições) e tributos na importação na apuração do preço praticado. Ora, no ordenamento anterior à redação da Lei nº 12.715, de 2012, o § 6º dirigiase ao preço praticado, e estabelecia exceção à regra geral de dedutibilidade, determinando pela inclusão dos valores de frete, seguro e tributos na importação, vez que, na determinação do preço parâmetro, tais dispêndios eram considerados. Como já dito, a comparabilidade se operava mediante o mecanismo de inclusão dos valores de frete, seguro e tributos na importação na determinação dos preços praticado e preço parâmetro. Por sua vez, com a redação da Lei nº 12.715, de 2012, operacionalizouse caminho diverso. O § 6º e § 6ºA dirigemse ao preço parâmetro. Revogase a restrição à regra de dedutibilidade geral (art. 13 do DecretoLei nº 1.598, de 1977), ou seja, na determinação do preço praticado passa a ser permitida a exclusão dos valores de frete, seguro e tributos na importação. E, precisamente por isso, a nova redação do § 6º e § 6ºA determina que passam a não integrar a apuração do preço parâmetro os valores de frete, seguro e tributos na importação. A comparabilidade passa a ser operada mediante o outro mecanismo: a exclusão dos valores de frete, seguro e tributos na importação na determinação dos preços praticado e preço parâmetro. Preservada, portanto, a comparabilidade entre os preços parâmetro e praticado. Pelos fundamentos apresentados, voto no sentido de negar provimento ao recurso da Contribuinte a respeito da matéria Fl. 571DF CARF MF 30 indevida inclusão de fretes, seguros e impostos no preço praticado”. Vêse assim, conforme o raciocínio desenvolvido pelo Cons. André Mendes de Moura no Acórdão nº. 9101002.446, da 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, prolatado no dia 21 de setembro de 2016, que está clara a interpretação dada à legislação, no sentido da "inclusão dos valores despendidos a título de frete, seguro e tributos sobre a importação no cálculo do preço praticado". Exclusão da autuação de PRL60 das mercadorias que a própria fiscalização reconhece terem sido importadas para mera revenda (kits cujos componentes foram acondicionados para revenda no país). Sobre a matéria, na impugnação foi aduzido (fls. 225 a 227): 123 Nada obstante, há nos autos de infração casos de produtos adquiridos para mera revenda em que a D. Fiscalização desqualificou a opção da Impugnante pelo PRL20 e calculou ajustes de preços de transferência pelo PRL60 (conforme a IN 243/2002). 124 Tratase de produtos importados para simples revenda pela Impugnante que chegam do importador separados e são acondicionadas reunidos em “kits” para venda pela Impugnante. 125 Em que pese a D. Fiscalização não tenha declarado expressamente, a Impugnante entende que a desqualificação do PRL20 e aplicação do PRL60 aos produtos revendidos pela Impugnante decorrem do entendimento de que o acondicionamento em “kits” se qualifica como industrialização, nos termos da legislação do IPI. [...] 132 Não há, portanto, como sustentar a aplicação do PRL60 para os produtos importados pela Impugnante para revenda em “kits”, na medida em que a própria Receita Federal reconhece não haver produção em tal atividade. [...] 134 Dessa forma, o mero acondicionamento dos produtos importados em “kits” para revenda não é suficiente para afastar a aplicação do PRL 20. (Destaques acrescidos) O órgão julgador de primeira instância decidiu levando em conta essas alegações. Nessa decisão, conforme a própria recorrente destaca, ficou assentado (fl. 418): 71. Aplicado o método PRL 20% (ou PRLRV Pura) à quase totalidade dos produtos descritos como “kit” objeto deste item da Impugnação e limitado o lançamento a adequação dos cálculos aos dispositivos da IN 243, sem inovação dos métodos nos cálculos da fiscalização em relação aos métodos adotados pelo próprio Contribuinte, não prospera a alegação de que a Autoridade Fiscal aplicou o método PRL 60% a produtos que o autuado teria adotado o PRL 20%. (Destaque acrescido) Em face dessa conclusão, aduz a recorrente (fl. 468): Fl. 572DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 17 31 109 Não há controvérsia, portanto, quanto à natureza da operação realizada pela Recorrente com os kits, uma vez que tanto a D. DRJ quanto a D. Fiscalização reconhecem que o mero acondicionamento dos componentes em embalagem para revenda por si não atrai a aplicação do PRL60. 110 Com a devida vênia, independentemente do tratamento aplicado pela Recorrente, para fins de lançamento de ofício deveria a D. Fiscalização ter levado em consideração a verdade material dos fatos e considerado o PRL20 para todos os casos que tratam de kits importados para simples revenda. Também com a devida vênia, há que se esclarecer essa questão, principalmente em face do que seja considerado incontroverso pela Receita Federal, em especial nesse caso, pela fiscalização e pelo órgão julgador de primeira instância. Não há dúvida de que, no caso, não houve nenhuma alteração quanto ao método utilizado pela contribuinte relativamente aos denominados "kits". Esse é o fato incontroverso. Contudo, a fiscalização não adentrou na questão de os "kits" importados serem ou não destinados somente para revenda. Apenas considerou o mesmo método utilizado pela recorrente para o cálculo do preço parâmetro. Ocorre que a simples utilização do termo "kit" na denominação de um item importado não determina que ele será destinado somente para a revenda, somente à produção ou para ambas as atividades. E, dado o que foi efetuado pela própria recorrente, não pode ser outra a conclusão. Vejase o que consta na decisão de piso (fls. 416 e 417): 65. Observase no Demonstrativo Anexo 06 do Auto de Infração que aos produtos cuja descrição sugere se tratar de “kits” foi aplicado, predominantemente, o método PRL 20 (PRLRV Pura) como pretende a Impugnante, ou aplicado em conjunto os métodos PRL 20 x PRL 60 (PRLRV Mista 20% e 60%), quando o bem é destinado parte à produção e parte à revenda. 66. A soma dos ajustes correspondentes aos produtos cuja descrição sugere serem kits somaram R$ 62.963,46 no Demonstrativo Anexo 6: Fl. 573DF CARF MF 32 67. Vêse, também, que a apenas seis produtos foi aplicado o método PRL 60%: Tanto na impugnação quanto no recurso voluntário não há qualquer demonstração de que deve haver a reclassificação desses bens para fins de utilização de método de Preço de Transferência diferente do adotado pela própria recorrente, este o aceito pela fiscalização. Juros de mora sobre multa de ofício. Sobre o assunto, deve ser seguido o determinado pela Súmula CARF nº 108 abaixo transcrita: Súmula CARF nº 108: Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício. Conclusão. Por todo o exposto, conheço do recurso voluntário para, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Paulo Cezar Fernandes de Aguiar Fl. 574DF CARF MF Processo nº 16561.720132/201610 Acórdão n.º 1201002.640 S1C2T1 Fl. 18 33 Fl. 575DF CARF MF
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Numero do processo: 10314.728321/2015-87
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Nov 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Dec 11 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2011 a 31/12/2011
SUB-ROGAÇÃO NA PESSOA DO ADQUIRENTE DAS CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES SOBRE A COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO RURAL POR PESSOAS FÍSICAS.
A constitucionalidade do instituto da sub-rogação veiculada pelo art. 30, IV, da Lei 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei 9.528, de 1997, foi objeto do Recurso Extraordinário 718.874, julgado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em 30/03/2017 (tema 669 da repercussão geral). Restou decidido serem constitucionais, na égide da Lei 10.256, de 2001, tanto a norma que prevê a imposição tributária (art. 25 da lei 8.212, de 1991) quanto a norma que determina a responsabilidade tributária/sub-rogação (art. 30, IV, da lei 8.212, de 1991).
As decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça na sistemáticas, respectivamente, da repercussão geral e dos recursos repetitivos (arts. 1.036 a 1.041 da Lei 13.105, de 2015), deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF (Art. 62, § 2º do Anexo II do Ricarf.
PROCEDIMENTO FISCAL. DESNECESSIDADE DE MPF E DE AUTO DE INFRAÇÃO ESPECÍFICO PARA CADA FILIAL.
O procedimento fiscal se desenvolve junto ao sujeito passivo, assim entendida a pessoa jurídica em sua totalidade, não havendo necessidade de emissão de MPF e de auto de infração específico para cada filial.
DILIGÊNCIA - DESNECESSIDADE. LIVRE CONVICÇÃO JULGADOR. - Nos termos do artigo 29, do Decreto nº 70.235/72, a autoridade julgadora de primeira instância, na apreciação das provas, formará livremente sua convicção, podendo determinar diligência que entender necessária.
Numero da decisão: 2301-005.747
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado: por unanimidade de votos, admitir, além das matérias constantes no despacho de admissibilidade do Presidente da Turma, a matéria relativa a multa e juros de mora, por ser decorrente de matéria admitida e acolhida relacionado com o tributo lançado, ou seja, a inexistência de concomitância com ação judicial, para acolher os embargos com efeitos infringentes, sanando os vícios apontados no Acórdão nº 2301-005.268, de 09/05/2018, fazendo constar como resultado do julgamento "rejeitar o pedido de diligência e negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator".
(assinado digitalmente)
João Bellini Júnior - Presidente.
(assinado digitalmente)
Marcelo Freitas de Souza Costa - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Marcelo Freitas de Souza Costa, Reginaldo Paixão Emos, Wesley Rocha, João Maurício Vital, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado para substituir a Conselheira Juliana Marteli Fais Feriato, ausente justificadamente), Antônio Sávio Nastureles e Alexandre Evaristo Pinto.
Nome do relator: MARCELO FREITAS DE SOUZA COSTA
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A constitucionalidade do instituto da subrogação veiculada pelo art. 30, IV, da Lei 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei 9.528, de 1997, foi objeto do Recurso Extraordinário 718.874, julgado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em 30/03/2017 (tema 669 da repercussão geral). Restou decidido serem constitucionais, na égide da Lei 10.256, de 2001, tanto a norma que prevê a imposição tributária (art. 25 da lei 8.212, de 1991) quanto a norma que determina a responsabilidade tributária/subrogação (art. 30, IV, da lei 8.212, de 1991). As decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça na sistemáticas, respectivamente, da repercussão geral e dos recursos repetitivos (arts. 1.036 a 1.041 da Lei 13.105, de 2015), deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF (Art. 62, § 2º do Anexo II do Ricarf. PROCEDIMENTO FISCAL. DESNECESSIDADE DE MPF E DE AUTO DE INFRAÇÃO ESPECÍFICO PARA CADA FILIAL. O procedimento fiscal se desenvolve junto ao sujeito passivo, assim entendida a pessoa jurídica em sua totalidade, não havendo necessidade de emissão de MPF e de auto de infração específico para cada filial. DILIGÊNCIA DESNECESSIDADE. LIVRE CONVICÇÃO JULGADOR. Nos termos do artigo 29, do Decreto nº 70.235/72, a autoridade julgadora de primeira instância, na apreciação das provas, formará livremente sua convicção, podendo determinar diligência que entender necessária. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 31 4. 72 83 21 /2 01 5- 87 Fl. 6026DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado: por unanimidade de votos, admitir, além das matérias constantes no despacho de admissibilidade do Presidente da Turma, a matéria relativa a multa e juros de mora, por ser decorrente de matéria admitida e acolhida relacionado com o tributo lançado, ou seja, a inexistência de concomitância com ação judicial, para acolher os embargos com efeitos infringentes, sanando os vícios apontados no Acórdão nº 2301 005.268, de 09/05/2018, fazendo constar como resultado do julgamento "rejeitar o pedido de diligência e negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator". (assinado digitalmente) João Bellini Júnior Presidente. (assinado digitalmente) Marcelo Freitas de Souza Costa Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Marcelo Freitas de Souza Costa, Reginaldo Paixão Emos, Wesley Rocha, João Maurício Vital, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado para substituir a Conselheira Juliana Marteli Fais Feriato, ausente justificadamente), Antônio Sávio Nastureles e Alexandre Evaristo Pinto. Relatório Tratase de Embargos de Declaração opostos pelo contribuinte (efls. 5962 a 5974), em face do Acórdão nº 2301005.268 (efls. 5929 a 5951), proferido pela 1ª Turma Ordinária da 3ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento de 09/05/2018. Alega o embargante a existência de erro e omissões no acórdão, a seguir destacados: a) Erro quanto ao objeto do mandado de segurança nº 2001.61.00.0000509. Ausência de concomitância com a ação judicial; b) Omissão quanto à necessidade de afastar a multa e os juros exigidos; c) Omissão quanto à nulidade do Auto de Infração pelo lançamento centralizado na matriz; d) Omissão quanto ao art. 142 do CTN, princípio da verdade material. Inexistência de provas de que os produtores são segurados especiais. Erro de Fato e; e) Omissão quanto à necessidade de realizar diligência. Os Embargos foram acolhidos parcialmente apenas com relação às matérias contidas nos itens "a", "c" e "e". É o relatório. Voto Conselheiro Marcelo Freitas de Souza Costa Relator Fl. 6027DF CARF MF Processo nº 10314.728321/201587 Acórdão n.º 2301005.747 S2C3T1 Fl. 3 3 Os Embargos são tempestivos e estão presentes os pressupostos de admissibilidade. Item a) Da concomitância Com relação à concomitância os embargos foram acolhidos tão somente para que este relator justificasse os fundamentos que levaram a conclusão da existência da concomitância entre a ação judicial com o período sob análise. Analisando mais detidamente os autos, verificase que realmente este julgador foi levado ao erro ao entender pela concomitância entre o MS 2001.60.00.0000509, Apelação 500033397.2010.404.7102 e a presente autuação. Explicase: Durante todo o processo, a recorrente insiste que a presente autuação foi lavrada apenas para evitar a decadência e que não deveriam incidir juros e multa. Nos próprios embargos afira a embargante: Em seu Recurso Voluntário, a Embargante demonstrou que em razão da sentença proferida nos autos do Mandado de Segurança n°2001.61.00.0000509, favorável aos interesses da Embargante, o Auto de Infração poderia ter sido lavrado apenas para evitar a decadência. Ora, se havia sentença judicial que justificaria a não incidência de juros e multa no lançamento, consequentemente seria por conta de que a discussão naqueles autos tratava da mesma matéria da presente autuação, logicamente haveria a concomitância observada no Acórdão guerreado. Contudo, após nova análise, observase através do trecho da sentença do MS 2001.60.00.0000509, transcrito no TVF de efls. 5.321, item 3.7, que a decisão desobrigava a recorrente de reter a contribuição junto a produtores rurais EMPREGADORES e a presente autuação versa sobre produtores rurais pessoas físicas sem empregados. Vejamos o item do TVF mencionado: (...) 3.8 Na mesma intimação de 20/10/2015, foi solicitado os itens 2, 3 e 4 conforme descrito abaixo: 2) Apresentar documentação dos fornecedores produtor rural pessoa física empregador que estejam relacionados na planilha entregue no item 1, que atenda a obrigação contida na decisão judicial referente ao processo 2001.60.00.0000509 da 22ª Vara Federal da Capital SP, (conforme observação I( justificando os eventuais valores não declarados e não recolhidos. 3) Observação I : na sentença que julgou o mérito no processo 2001.60.00.0000509 temos que, a empresa deve exigir de seus fornecedores e apresentar à fiscalização os documentos que comprovem a aquisição de produtos de produtor rural pessoa física empregador, conforme o trecho da sentença destacado a seguir: Fl. 6028DF CARF MF 4 "Assim, não deve a impetrante reter Novo Funrural nos casos de aquisição de bovinos junto a produtores rurais que sejam empregadores, devendo, pra fins de comprovação dessa condição junto à fiscalização, exigir dos fornecedores, os documentos comprobatórios pertinentes, em especial cópia da folha de pagamento ou outro documento semelhante, como relações de recolhimento do FGTS, relações enviadas ao Ministério do Trabalho, etc.." Motivo pelo qual cabe exclusivamente a empresa comprovar essa condição para eximirse de recolher a contribuição previdenciária. (....) Logo, os embargos devem ser acolhidos com relação a essa matéria para sanar o erro apontado, passandose à análise desta questão da seguinte maneira. DA SUBROGAÇÃO Embora inicialmente adotasse o entendimento de que a Lei 10.256/2001 não tivesse restabelecido a adoção do art. 30, IV, da Lei n.º 8.212/1991, e para não parecer contraditório ao voto proferido nos presentes autos quando do Acórdão nº 2301005.268 em relação à matéria SENAR, esclareço que recentemente me curvei ao entendimento majoritário deste colegiado em sentido contrário. Para tanto, adoto o voto do Ilustre Conselheiro Presidente desta Colenda turma, que assim se manifestou no Acórdão 2301005.357 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária de 07 de junho de 2018: "(...) Preceitua o art. 62, § 2º do Anexo II do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 2015 (Ricarf) que as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça na sistemáticas, respectivamente, da repercussão geral e dos recursos repetitivos (arts. 1.036 a 1.041 da Lei 13.105, de 2015), deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. (...) § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) Tal norma excetua o principio do livre convencimento, que vem veiculado pelo art. 29 do Decreto nº 70.235, de 1972: Art. 29. Na apreciação da prova, a autoridade julgadora formará livremente sua convicção, podendo determinar as diligências que entender necessárias. Fl. 6029DF CARF MF Processo nº 10314.728321/201587 Acórdão n.º 2301005.747 S2C3T1 Fl. 4 5 Tal questão – a constitucionalidade do instituto da subrogação veiculada pelo art. 30, IV, da Lei 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei 9.528, de 1997 – foi objeto do Recurso Extraordinário 718.874, julgado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal em 30/03/2017, apreciando o tema 669 da repercussão geral. Restou decidido serem constitucionais, na égide da Lei 10.256, de 2001, tanto a norma que prevê a imposição tributária (art. 25 da lei 8.212, de 1991) bem como a norma que determina a responsabilidade tributária/subrogação (art. 30, IV, da lei 8.212, de 1991). Logo, tal decisão deve ser reproduzida por este CARF. Eis os preceitos normativos em questão: Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial, referidos, respectivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta Lei, destinada à Seguridade Social, é de: (...) Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas: (Redação dada pela Lei n° 8.620, de 5.1.93) (...) IV a empresa adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa ficam subrogadas nas obrigações da pessoa física de que trata a alínea "a" do inciso V do art. 12 e do segurado especial pelo cumprimento das obrigações do art. 25 desta Lei, independentemente de as operações de venda ou consignação terem sido realizadas diretamente com o produtor ou com intermediário pessoa física, exceto no caso do inciso X deste artigo, na forma estabelecida em regulamento; (Redação dada pela Lei 9.528, de 10.12.97) Passo a demonstrar o julgamento da questão pelo Supremo Tribunal Federal, bem como as razões pelas quais entendeu ser constitucional a norma. Primeiramente, demonstro que a matéria foi debatida no Recurso Extraordinário 718.874, como se evidencia dos seguintes votos: Voto do Min. Edson Facchin, relator No mesmo sentido, devese declarar inconstitucional o artigo 30, IV, da Lei 8.212/91, para excluir a expressão "pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12". Isso porque a dogmática fiscal não permite a imputação de responsabilidade tributária a terceiros pelo pagamento de tributo manifestamente inconstitucional. (Grifouse.) (...) Fl. 6030DF CARF MF 6 Ademais, por arrastamento, devese declarar parcialmente inconstitucional o artigo 30, IV, da Lei 8.212/91, apenas no que toca à expressão “da pessoa física de que trata a alínea "a" do inciso V do art. 12”. Isso porque a dogmática fiscal não permite a imputação de responsabilidade tributária a terceiros pelo pagamento de tributo manifestamente inconstitucional. (Grifou se.) Voto do Min. Gilamr Mendes, votovogal O objeto do presente recurso extraordinário é a constitucionalidade da redação atual dos artigos 12, incisos V e VII; 25, incisos I e II; e 30, inciso IV, da Lei 8.212/91, bem como de toda sucessão de normas alteradoras que afetaram esses dispositivos, ou seja: Lei 8.540/92; Lei 8.870/94; Lei 9.528/97 e Lei 10.256/2001. Voto Min. Luís Roberto Barroso 15. Por sua vez, a Lei 10.256/01 modificou a redação do caput do art. 25 da Lei 8.212/1999 e, aproveitando a disciplina dos incisos I e II, que permaneceu válida e em vigor para cobrança do segurado especial, recriou a contribuição com base no produto da comercialização da produção para o empregador rural pessoa física. Vale mais uma vez lembrar que a Corte no julgamento do RE 363.852 de forma clara declarou “a inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 8.540/1992, que deu nova redação aos artigos 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº 8.212/1991, com redação atualizada até a Lei nº 9.528/97, até que legislação nova, arrimada na Emenda Constitucional nº 20/1998, venha a constituir a contribuição". (Grifouse.) Voto Min. Luiz Fux No art. 30, inciso IV, por sua vez, a Lei nº 8.212/91 instituiu hipótese de responsabilidade tributária, relegando ao adquirente, consignatário ou à cooperativa, a obrigação de recolhimento da referida contribuição do segurado especial incidente sobre a receita da comercialização da produção. Confirase a redação original do dispositivo: (...) O intuito da referida previsão constitucional e legislativa foi justamente o de permitir a integração dos produtores pessoas físicas em regime de economia familiar à Seguridade Social, já que a cobrança de contribuição mensal, nos moldes da contribuição normal do art. 195, I, poderia provocar a sua inviabilidade econômica, excluindo diversos trabalhadores do sistema previdenciário. Atribuiu, ainda, a responsabilidade pelo pagamento da referida contribuição ao adquirente da produção, como mais uma forma de garantia do segurado especial.. Ocorre que o artigo 25 da Lei 8.212/91 – e igualmente o inciso IV, do art. 30 – foi sucessivamente alterado, entre 1991 e 2001, por três leis: a Lei 8.540/92, a Lei 9.528/97 e a Lei 10.256/01, a fim de expandir a incidência da referida contribuição Fl. 6031DF CARF MF Processo nº 10314.728321/201587 Acórdão n.º 2301005.747 S2C3T1 Fl. 5 7 originalmente prevista apenas para o segurado especial – assim entendido como o produtor, pessoa física, que exerce suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados – ,também para o produtor rural pessoa física – assim entendido como aquele que exerce atividade rural por conta própria, com o auxílio de empregados, com o objetivo de substituir a cota patronal que este recolhe na condição de equiparado a empregador. Destaquese que se expandiu a incidência e igualmente a hipótese de responsabilidade do adquirente, que passou a ter de recolher também a contribuição sobre a receita relativa ao produtor rural pessoa física, além da relativa ao segurado especial. E é justamente aí que se inicia a controvérsia ora posta sob análise da Corte. (...) Ou seja, a referida lei instituiu uma contribuição sobre a receita bruta da comercialização da produção de pessoa física, diversa do segurado especial, inserindo ainda a expressão “da pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12” no inciso IV, do art. 30, da Lei 8.212/91, criando também uma hipótese de responsabilidade relativa à recémcriada contribuição, cuja obrigação de recolhimento ficou a cargo do adquirente da produção, nos moldes do que já ocorria com o segurado especial. Confirase: (...) Posteriormente, a Lei 9.528/97 modificou o caput do art. 25, para incluir a expressão “empregador rural pessoa física” e a redação dos incisos I e II sem, no entanto, modificarlhes o conteúdo prescritivo. O artigo passou a ter a seguinte redação: (...) O mesmo foi feito em relação à hipótese de responsabilidade do inciso IV, do art. 30: (Grifouse.) Assim, examinadas as questões postas em julgamento, inclusive o instituto da subrogação, veiculado no art. 30, IV, da Lei 8.212, de 1991, o Plenário do STF decidiu conhecer e dar provimento ao recurso extraordinário da União. Após, fixou a seguinte tese: “É constitucional formal e materialmente a contribuição social do empregador rural pessoa física, instituída pela Lei 10.256/2001, incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de sua produção. O referido instituto da subrogação – que nada mais é do que responsabilidade tributária da sociedade adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa, pelas contribuições sociais previdenciárias devidas pelo produtor rural pessoal física e pelo segurado especial – que havia sido considerado, face à legislação anterior, examinada nos RE 363.842 e 596.177, inconstitucional por arrastamento (sendo inconstitucional a norma que impõe o tributo, também o é a que define a responsabilidade), foi Fl. 6032DF CARF MF 8 considerado constitucional, também por arrastamento: sendo constitucional a norma que impõe o tributo, também o é a que define a responsabilidade. Vejase os seguintes trechos dos votos vencedores do julgado em apreço: Min. Gilmar Mendes 4.6) Art. 12, incisos V e VII, e 30, IV, da Lei 8.212/1991 (...) O art. 30, por sua vez, trata das normas destinadas à arrecadação e ao recolhimento das contribuições sociais. A norma institui hipótese de responsabilidade tributária, destinada a instrumentalizar a arrecadação do tributo previsto no art. 25 da Lei 8.212/1991, tanto do segurado especial quanto do empregador rural pessoa física. Assim, ao entregar o produtor rural sua produção a qualquer das entidades econômicas ali indicadas – empresa adquirente, consumidora ou consignatária ou a cooperativa –, passam estas à condição de responsável pelo pagamento do tributo, mediante aplicação da alíquota prevista no art. 25 da lei ao montante da produção adquirido. É evidente a relação que o art. 30, IV, mantém com a disposição do art. 25. Apenas a inconstitucionalidade deste contaminaria aquele. Por isso, uma vez reconhecida a constitucionalidade da contribuição do empregador rural pessoa física, com base na receita de sua produção, não há razão para declarar a invalidade da hipótese de subrogação prevista no art. 30. (Grifouse.) Frisase, ademais, que no julgamento dos RE 363.842 e 596.177 houve apenas a declaração da invalidade da aplicação, para o empregador rural pessoa física, das normas impositivas relativas à contribuição prevista no art. 25 da Lei 8.212, de 1991, sem redução de texto. Nas palavras do Min. Fux: (...) a declaração de inconstitucionalidade dos incisos do art. 25 da Lei 8.212/91 pelo STF, em sede de controle difuso, nos já mencionados RE's 363.842 e 596.177, não retirou os referidos dispositivos do ordenamento jurídico, mas apenas declarou a invalidade de sua aplicação para o empregador rural pessoa física, no período anterior à EC 20/98 e às alterações promovidas pela Lei 10.256/01. (Grifouse.) É certo que, no julgamento do primeiro Recurso Extraordinário, constou da proclamação a declaração da “inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 8.540/92, que deu nova redação aos artigos 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº 8.212/91, com a redação atualizada até a Lei nº 9.528/97”, sem ressalva, portanto, quanto à situação do segurado especial. No entanto, esse mesmo dispositivo do julgado limitou a declaração de inexistência de relação tributária à situação dos empregadores, pessoas naturais”, produtores rurais (RE 363.852). Assim, com um mínimo de interpretação, percebese que não houve a declaração de inconstitucionalidade de todo o texto do artigo. Fl. 6033DF CARF MF Processo nº 10314.728321/201587 Acórdão n.º 2301005.747 S2C3T1 Fl. 6 9 O Min. Gilmar Mendes, demonstrando que não houve, no julgamento dos RE 363.842 e 596.177, a declaração de inconstitucionalidade de todo o texto do artigo 25 da Lei 8.212, de 1991, mas apenas da expressão “do empregador rural pessoa física”, sendo que todo o demais o texto dessa Lei se manteve íntegro, asseverou: É certo que, no julgamento do primeiro Recurso Extraordinário, constou da proclamação a declaração da “inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 8.540/92, que deu nova redação aos artigos 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº 8.212/91, com a redação atualizada até a Lei nº 9.528/97”, sem ressalva, portanto, quanto à situação do segurado especial. No entanto, esse mesmo dispositivo do julgado limitou a declaração de inexistência de relação tributária à situação dos empregadores, pessoas naturais”, produtores rurais (RE 363.852). Assim, com um mínimo de interpretação, percebese que não houve a declaração de inconstitucionalidade de todo o texto do artigo. (...) (...) O texto normativo não se confunde com a norma jurídica. Para encontrarmos a norma, para que possamos afirmar o que o direito permite, impõe ou proíbe, é preciso descobrir o significado dos termos que compõem o texto e decifrar, assim, o seu sentido linguístico. De um mesmo texto legal, podem ser extraídas várias normas. (...) No entanto, a única fração do texto legal passível de supressão por força da inconstitucionalidade é a expressão “do empregador rural pessoa física”, constante do caput. A vigência do restante é indispensável para extração da norma tributária do segurado especial. Ou seja, mesmo que a inconstitucionalidade resida nos incisos, não seria possível a redução em seu texto. A única redução possível residia na expressão mencionada no caput. (Grifouse.) No mesmo sentido o Min. Dias Toffoli, para o qual, “no julgamento do RE nº 363.852/MG, Relator o Ministro Marco Aurélio, o Tribunal Pleno, levando em consideração, dentre outros, aqueles dispositivos, concluiu ser inconstitucional tão somente a norma relativa à contribuição devida pelo produtor rural pessoa física empregadora incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização de sua produção”. (Grifos no original.) DA MULTA E JUROS Embora não tenham sido admitidos os embargos quanto esta matéria, como não houve mais o reconhecimento da concomitância, entendo que deva ser analisada a questão, razão pela qual proponho seu acolhimento. A recorrente sustenta a não incidência de juros e multa exclusivamente sob o argumento de que teria a seu favor sentença nos autos do MS nº 2001.61.00.0000509, sendo que o presente Auto de Infração somente poderia ter sido lavrado para prevenir a decadência. Fl. 6034DF CARF MF 10 Como já dito no início do tópico anterior, a decisão desobrigava a recorrente de reter a contribuição junto a produtores rurais EMPREGADORES e a presente autuação versa sobre produtores rurais pessoas físicas sem empregados. Portanto, sem razão à recorrente. DO LANÇAMENTO NA MATRIZ Insurgese a recorrente contra o lançamento efetuado em sua matriz, entendendo que os fatos eram imponíveis relativos às filiais devendo a autuação ter sido lavrada contra cada CNPJ específico. Temos que, no momento da ação fiscal encontravase em vigor a Instrução Normativa SRF nº 971, de 2009, que ao tratar sobre o domicílio tributário assim dispõe: Art. 487. Domicílio tributário é aquele eleito pelo sujeito passivo ou, na falta de eleição, aplicase o disposto no art. 127 da Lei nº 5.172, de 1966 (CTN). Art. 488. Estabelecimento é uma unidade ou dependência integrante da estrutura organizacional da empresa, sujeita à inscrição no CNPJ ou no CEI, onde a empresa desenvolve suas atividades, para os fins de direito e de fato. Do que se depreende dos autos, no Discriminativo do Débito DD, o débito relativo a cada um dos estabelecimentos esteja claramente individualizado. Não há impedimento para a lavratura do AI que abranja débitos relativos a matriz e suas filiais num mesmo documento, podendo a fiscalização, nos casos de empresas com mais de um estabelecimento eleger o centralizador para realização dos trabalhos. Assim, sem razão à recorrente. DA DILIGÊNCIA No que se refere ao pedido de diligência, embora não abordado especificamente no acórdão combatido, temos que esta este pedido está intimamente ligado ao do reconhecimento de inexistência de provas de que os produtores rurais são segurados especiais (item "d" dos embargos). É que no acórdão embargado, entendese que caberia à recorrente demonstrar a condição dos produtores rurais como empregadores, o que não ocorreu. Como o pedido de diligência era no mesmo sentido, de que a fiscalização comprovasse essa condição, ao se negar a inversão d o ônus da prova, logicamente não haveria que se acatar o pedido de diligência. Ademais, como já mencionado acima, a sentença no MS 2001.60.00.000050 9 foi clara no sentido de que a recorrente deveria exigir dos produtores as provas que o embargante quer verem produzidas pela fiscalização. Retranscrevemos o trecho: "Assim, não deve a impetrante reter Novo Funrural nos casos de aquisição de bovinos junto a produtores rurais que sejam empregadores, devendo, pra fins de comprovação dessa condição junto à fiscalização, exigir dos fornecedores, os Fl. 6035DF CARF MF Processo nº 10314.728321/201587 Acórdão n.º 2301005.747 S2C3T1 Fl. 7 11 documentos comprobatórios pertinentes, em especial cópia da folha de pagamento ou outro documento semelhante, como relações de recolhimento do FGTS, relações enviadas ao Ministério do Trabalho, etc.." Ademais, diligência só se faz necessária quando indispensável ao deslinde da questão, não se prestando para fins protelatórios ou de prova que caberia ao recorrente, o que impõe o seu indeferimento nos termos do artigo 38, § 2º da Lei nº 9.784/99 c/c o artigo 16, inciso IV, § 1º do Decreto 70.235/72, que assim dispõe: “Lei 9.784/99 Art. 38. [...]§ 2º Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.” “Decreto 70.235/72 Art. 16. [...]IV as diligências, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação de quesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, o nome, o endereço e a qualificação profissional de seu perito; § 1º Considerarseá não formulado o pedido de diligência ou perícia que deixar de atender aos requisitos previstos no inciso IV do art. 16.” Ante ao Exposto, Voto no sentido de CONHECER DOS EMBARGOS, para, retificar o Acórdão nº 2301005.268 de 09/05/2018, rejeitar o pedido de diligência e Negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Marcelo Freitas de Souza Costa Fl. 6036DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10283.907877/2009-02
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Nov 22 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Dec 21 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Ano-calendário: 2005
RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS A MAIOR QUE O DEVIDO. RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA CARF Nº 84.
O valor do recolhimento a titulo de estimativa que supera o valor devido de antecipação do imposto de renda (ou da contribuição social sobre o lucro) de acordo com as regras previstas na legislação aplicável é passível de compensação/restituição como pagamento indevido de tributo.
Numero da decisão: 1301-003.591
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso para afastar a negativa do pedido de compensação com base no fundamento de não ser possível restituir/compensar valores pagos a maior a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, e determinar o retorno dos autos à unidade de origem para que sejam analisadas as demais questões de mérito do pedido de compensação e emita novo despacho decisório, retomando-se, a partir daí, o rito processual de praxe, nos termos do voto relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplica-se o decidido no julgamento do processo 10283.903399/2009-53, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado.
(Assinado digitalmente)
Fernando Brasil de Oliveira Pinto - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Silva Júnior, José Eduardo Dornelas Souza, Nelso Kichel, Bianca Felícia Rothschild, Giovana Pereira de Paiva Leite, Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Carlos Augusto Daniel Neto e Fernando Brasil de Oliveira Pinto.
Nome do relator: FERNANDO BRASIL DE OLIVEIRA PINTO
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RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA CARF Nº 84. O valor do recolhimento a titulo de estimativa que supera o valor devido de antecipação do imposto de renda (ou da contribuição social sobre o lucro) de acordo com as regras previstas na legislação aplicável é passível de compensação/restituição como pagamento indevido de tributo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso para afastar a negativa do pedido de compensação com base no fundamento de não ser possível restituir/compensar valores pagos a maior a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, e determinar o retorno dos autos à unidade de origem para que sejam analisadas as demais questões de mérito do pedido de compensação e emita novo despacho decisório, retomandose, a partir daí, o rito processual de praxe, nos termos do voto relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplicase o decidido no julgamento do processo 10283.903399/200953, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. (Assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Silva Júnior, José Eduardo Dornelas Souza, Nelso Kichel, Bianca Felícia Rothschild, Giovana Pereira de AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 3. 90 78 77 /2 00 9- 02 Fl. 110DF CARF MF Processo nº 10283.907877/200902 Acórdão n.º 1301003.591 S1C3T1 Fl. 3 2 Paiva Leite, Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Carlos Augusto Daniel Neto e Fernando Brasil de Oliveira Pinto. Relatório Trata o presente processo de Pedido de Compensação protocolado através de Declaração de Compensação DCOMP, no qual se pleiteia compensação de crédito oriundo de pagamento indevido ou a maior de IRPJ Estimativa mensal (código 2362). O pedido de compensação foi indeferido através de Despacho Decisório Eletrônico, sob o argumento de que o crédito informado no PER/DCOMP, por tratarse de pagamento a titulo de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, somente poderia ser utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Liquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período. A empresa apresentou manifestação de inconformidade onde afirma que as compensações foram realizadas em completa harmonia com a legislação vigente. Isto porque calculou e recolheu um determinado valor de IRPJ, com código de arrecadação de estimativa mensal e, posteriormente ao recolhimento, verificou que o valor de IRPJ efetivamente devido montava um valor inferior àquele originalmente pago através de DARF. Acrescenta que o valor recalculado está de acordo com os valores declarados em DCTF e que, uma vez confessada uma dívida efetiva em valor inferior àquele recolhido, teria nascido um crédito tributário. O sujeito passivo alega que por equívoco procedeu ao recolhimento num valor superior àquele efetivamente devido. Argumenta também que não se trata de pagamento por estimativa mensal, uma vez que foi realizado com base em balanço de suspensão ou redução. A DRJ julgou improcedente a manifestação sob o fundamento de que os valores apurados a partir da receita bruta em função de balancete redução correspondem a estimativa mensal e que não havia previsão legal para utilização em DCOMP, de crédito referente a estimativa mensal de IRPJ. Inconformado com a decisão da DRJ, a empresa apresentou Recurso Voluntário, no qual reafirma a existência de pagamento indevido ou a maior de IRPJ, reitera os argumentos trazidos na manifestação de inconformidade, declara que a decisão da DRJ vai de encontro a jurisprudência do CARF e, ao final, requer o reconhecimento da homologação das compensações em litígio. É o relatório. Voto Fl. 111DF CARF MF Processo nº 10283.907877/200902 Acórdão n.º 1301003.591 S1C3T1 Fl. 4 3 Conselheiro Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1301003.563, de 22/11/2018, proferido no julgamento do Processo nº 10283.903399/2009 53, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1301003.563): "O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Conforme se depreende do relatório, o cerne da discussão no presente processo é a possibilidade ou não de se compensar pagamento indevido ou a maior recolhido a título de estimativa mensal para aquelas pessoas jurídicas sujeitas à apuração do IRPJ pelo lucro real. O pedido de compensação foi indeferido liminarmente, através de Despacho Decisório Eletrônico, a partir do momento em que o sistema constatou tratarse de recolhimento efetivado sob o código de arrecadação 2362 (IRPJ PJ OBRIGADAS AO LUCRO REAL ENTIDADES NÃO FINANCEIRAS ESTIMATIVA MENSAL). A Unidade de Origem não se adentrou no mérito do direito creditório, e por conseguinte, não deu oportunidade para o contribuinte produzir provas. O Despacho Eletrônico, bem como o acórdão da DRJ, fundamentaram o indeferimento do pedido de compensação no artigo 74 da Lei nº 9.430/96, em concomitância com o art. 10 da IN SRF nº 600/2005. O §14º do art.74 da citada lei atribuiu competência a Secretaria da Receita Federal para disciplinar a compensação e, o órgão emitiu instrução normativa que disciplinou a matéria. O art. 10 da IN SRF nº 600/2005, vigente à época, determinava: Art. 10. A pessoa jurídica tributada pelo lucro real, presumido ou arbitrado que sofrer retenção indevida ou a maior de imposto de renda ou de CSLL sobre rendimentos que integram a base de cálculo do imposto ou da contribuição, bem assim a pessoa jurídica tributada pelo lucro real anual que efetuar pagamento indevido ou a maior de imposto de renda ou de CSLL a título de estimativa mensal, somente poderá utilizar o valor pago ou retido na dedução do IRPJ ou da CSLL devida ao final do período de apuração em que houve a retenção ou pagamento indevido ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou de CSLL do período. Contudo o art.74, §3º, da Lei nº 9.430/96 que tratou das vedações à compensação através de DCOMP, dispôs em seu Fl. 112DF CARF MF Processo nº 10283.907877/200902 Acórdão n.º 1301003.591 S1C3T1 Fl. 5 4 inciso IX dos débitos relativos ao pagamento mensal por estimativa do IRPJ ou da CSLL, mas nada dispondo acerca de créditos oriundos de pagamento indevido de estimativa mensal, in verbis: Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá utilizálo na compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. ......... § 3o Além das hipóteses previstas nas leis específicas de cada tributo ou contribuição, não poderão ser objeto de compensação mediante entrega, pela sujeito passivo, da declaração referida no § 1o: (Redação dada pela Lei nº 10.833, de 2003) ........ IX os débitos relativos ao recolhimento mensal por estimativa do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) apurados na forma do art. 2º desta Lei. (grifei) É de se observar que a Instrução Normativa fez uma interpretação restritiva de Lei nº 9.430/96, a qual não encontrou guarida na jurisprudência do CARF, que acerca da matéria proferiu a Súmula CARF nº 84: Súmula CARF nº 84: É possível a caracterização de indébito, para fins de restituição ou compensação, na data do recolhimento de estimativa. (Súmula revisada conforme Ata da Sessão Extraordinária de 03/09/2018, DOU de 11/09/2018). Transcrevese ainda a redação anterior da súmula: Súmula CARF nº 84: Pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação. Para melhor esclarecer a aplicação da súmula, trago à baila trecho do acórdão da CSRF nº 910100.406, de 02/10/2009, utilizado como precedente para elaboração da jurisprudência: Ementa: RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS A MAIOR QUE O DEVIDO. O valor do recolhimento a titulo de estimativa que supera o valor devido a titulo de antecipação do imposto de renda (ou da contribuição Fl. 113DF CARF MF Processo nº 10283.907877/200902 Acórdão n.º 1301003.591 S1C3T1 Fl. 6 5 social sobre o lucro) de acordo com as regras previstas na legislação aplicável é passível de compensação/restituição corno pagamento indevido de tributo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, (...) De acordo com o acórdão recorrido, não seria possível caracterizar como indevido o recolhimento da antecipação mensal por estimativa de CSLL efetuado a maior, apenas confrontando referido pagamento com as regras para apuração do valor devido a titulo de antecipação mensal. (...) É o relatório. (...) Nos termos da lei, a pessoa jurídica que opta pelo lucro real anual está obrigada a antecipar, mensalmente, o IRPJ calculado por estimativa. Referida obrigação de antecipar a cada mês uma parcela do IRPJ que será devido ao fim do ano calendário é apurada sobre a base de cálculo estimada, calculada conforme percentuais definidos em lei aplicados sobre a receita bruta do Contribuinte até o mês em que a antecipação é realizada. Ainda nos termos da lei, a obrigação de antecipar o imposto pode ser reduzida ou suspensa, conforme o Contribuinte comprove, mediante levantamento de balanços ou balancetes, que o IRPJ, se calculado sobre o lucro real verificado até o momento da apuração da antecipação, é menor do que o valor devido de acordo com o cálculo sobre a base estimada. Em apertada síntese, esse é o regime legal da obrigação de antecipar, mensalmente, o IRPJ, em caso de opção pela apuração do lucro real em base anual. Diferentemente do acórdão recorrido, entendo que o Contribuinte está obrigado ao recolhimento das antecipações mensais nos termos estabelecidos na legislação, seja sobre as bases estimadas, seja sobre a base de cálculo apurada em balanço ou balancete de suspensão ou redução. A meu ver, havendo recolhimento superior àquele imposto por lei, ainda que sob a alcunha de "estimativa", resta caracterizado o recolhimento a maior passível de restituição ou compensação. Fl. 114DF CARF MF Processo nº 10283.907877/200902 Acórdão n.º 1301003.591 S1C3T1 Fl. 7 6 Como bem observou o acórdão paradigma, a legislação não estabelece que recolhimentos a maior que os estabelecidos pelas regras da apuração da antecipação mensal por estimativa também devem ser considerados como antecipação do imposto. Em outros termos, o recolhimento que exceda o valor apurado de acordo com as regras para o cálculo das antecipações mensais por estimativa não tem natureza de antecipação do imposto, mas de pagamento indevido, restituível nos termos do art. 165 do CTN.(grifei) Nesse diapasão, em observância à Súmula CARF nº 84, reconhecese que é possível a caracterização de indébito a partir de recolhimento de estimativa. Todavia, para fins de homologação da DCOMP, fazse mister a apreciação do direito creditório, ou seja, a comprovação por parte do contribuinte da existência de pagamento indevido, ou seja, que o valor recolhido a título de estimativa mensal, ainda que através de balanço ou balancete suspensão/redução, foi calculado e efetivado em valores acima daqueles prescritos em lei. Logo, entendo não ser possível homologar, nesse momento, a compensação declarada pelo Contribuinte, uma vez que a única questão submetida ao contraditório nos autos foi a possibilidade (ou não) de compensação de pagamento da estimativa recolhida a maior. Além do que tal fato implicaria supressão da competência da Unidade de Origem para análise do direito creditório. Nesse sentido, considerando ser possível a restituição/compensação de recolhimento de estimativa mensal, desde que reste caracterizado o indébito, voto no sentido de retornar o processo à Unidade de Origem para examinar o mérito do pedido, nos termos do art. 170 do CTN e proferir Despacho Decisório complementar. Posteriormente, podese seguir o rito processual habitual. Diante de todo o acima exposto, voto por conhecer do Recurso Voluntário, e DARLHE PARCIAL PROVIMENTO para reconhecer a possibilidade de compensar recolhimentos a título de estimativa mensal de IRPJ ou CSLL, desde que reste caracterizado o indébito, mas sem homologar a compensação, com o conseqüente retorno dos autos à jurisdição da contribuinte, para que a Unidade de Origem analise o mérito do pedido e emita despacho decisório complementar, prosseguindo se assim, o processo de praxe." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por dar provimento parcial ao recurso voluntário para afastar a negativa do pedido de compensação com base no fundamento de não ser possível restituir/compensar valores pagos a maior a título Fl. 115DF CARF MF Processo nº 10283.907877/200902 Acórdão n.º 1301003.591 S1C3T1 Fl. 8 7 de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, e determinar o retorno dos autos à unidade de origem para que sejam analisadas as demais questões de mérito do pedido de compensação e emita novo despacho decisório, retomandose, a partir daí, o rito processual de praxe, nos termos do voto acima transcrito. (assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto Fl. 116DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13811.005103/2008-29
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 26 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Nov 30 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Período de apuração: 01/07/2003 a 31/07/2003
ICMS. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO (PIS/COFINS). IMPOSSIBILIDADE.
O ICMS compõe a base de cálculo da contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS, integrando, portanto, o conceito de receita bruta.
Numero da decisão: 3302-006.005
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros Orlando Rutigliani Berri (suplente convocado) e José Renato Pereira de Deus, que davam provimento ao recurso voluntário. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos.
(assinado digitalmente)
Paulo Guilherme Déroulède - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), Orlando Rutigliani Berri (Suplente Convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimarães (Suplente Convocado), José Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior e Raphael Madeira Abad.
Nome do relator: PAULO GUILHERME DEROULEDE
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EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO (PIS/COFINS). IMPOSSIBILIDADE. O ICMS compõe a base de cálculo da contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS, integrando, portanto, o conceito de receita bruta. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros Orlando Rutigliani Berri (suplente convocado) e José Renato Pereira de Deus, que davam provimento ao recurso voluntário. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. (assinado digitalmente) Paulo Guilherme Déroulède Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), Orlando Rutigliani Berri (Suplente Convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimarães (Suplente Convocado), José Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior e Raphael Madeira Abad. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 81 1. 00 51 03 /2 00 8- 29 Fl. 217DF CARF MF Processo nº 13811.005103/200829 Acórdão n.º 3302006.005 S3C3T2 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra decisão de primeira instância que julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada, mantendo a decisão da repartição de origem de indeferir o Pedido de Restituição (PER) da contribuição (PIS/Cofins), em razão do fato de que o pagamento informado como origem do crédito já se encontrava utilizado para quitação de outros débitos da titularidade do contribuinte. Em sua Manifestação de Inconformidade, o contribuinte alegou que o direito creditório decorria do pagamento a maior da contribuição, dada a inclusão indevida do ICMS em sua base de cálculo. A Delegacia de Julgamento (DRJ), por meio do acórdão nº 14053.282, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade, considerando ser incabível a exclusão do valor devido a título de ICMS da base de cálculo do PIS ou da Cofins, pois aludido valor é parte integrante do preço das mercadorias e dos serviços prestados, exceto quando referido imposto é cobrado pelo vendedor dos bens ou pelo prestador dos serviços na condição de substituto tributário, o que não consta ser o caso da interessada. Cientificado da decisão de primeira instância, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário e reiterou os argumentos trazidos na Manifestação de Inconformidade, especialmente o novel posicionamento do STF no sentido de declarar a inconstitucionalidade da manutenção do ICMS na base de cálculo das contribuições. É o relatório. Fl. 218DF CARF MF Processo nº 13811.005103/200829 Acórdão n.º 3302006.005 S3C3T2 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Paulo Guilherme Déroulède, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF 343, de 9 de junho de 2015, aplicandose, portanto, ao presente litígio o decidido no Acórdão nº 3302005.969, de 26/09/2018, proferida no julgamento do processo nº 10880.679818/201114, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 3302005.969): O Recurso Voluntário foi apresentado de modo tempestivo, se reveste dos demais requisitos de admissibilidade previstos na legislação de regência e a matéria é de competência deste Colegiado. A presente discussão jurídica gravita exclusivamente em torno da possibilidade jurídica de se computar, na base de cálculo do PIS e da COFINS, o ICMS incidente sobre as mercadorias vendidas ou dos serviços prestados. A recorrente insurgese contra a inclusão do ICMS no faturamento, base de cálculo das contribuições exigidas, no caso específico Cofins e PIS, argüindo ser inconstitucional sua cobrança. Ressalta que o parágrafo primeiro do art. 3º da Lei nº 9.718, de 1998, norma conhecida como alargamento da base de cálculo dessas contribuições, foi reconhecida como inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Assim concluindo ser inconstitucional a cobrança da Cofins e do PIS sobre os valores indevidos na base de cálculo do faturamento, mais precisamente do ICMS. Argumenta que o valor do ICMS não revela medida de riqueza. Em razão da similitude com o presente caso concreto, adoto as razões de decidir da I. Conselheira Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, nos autos do processo administrativo nº 10283.902818/201235 (acórdão 3302 004.158), que também foi adotado pelo I. Conselheiro Walker Araújo, processo administrativo nº 13609.000892/200998 (acórdão 3302005.708), que peço venia para transcrever: "II Mérito II.3 ICMS/ISSQN na base de cálculo do PIS/COFINS Conforme relatado anteriormente, alega a Recorrente que o pedido de restituição referese a créditos decorrentes de pagamentos a maior de PIS/Pasep e Cofins, em razão da inclusão do ICMS/ISSQN na base de cálculo das contribuições. Cita e pede aplicação do RE 240.7852/MS. Para dirimir a controvérsia sobre a inclusão ou não do ICMS/ISSQN na base de cálculo da contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS e afastar a aplicação da decisão proferida pela Suprema Corte ao presente caso, empresto as razões de decidir da i. Conselheira Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, nos autos do processo administrativo nº 10283.902818/201235 (acórdão 3302004.158): Fl. 219DF CARF MF Processo nº 13811.005103/200829 Acórdão n.º 3302006.005 S3C3T2 Fl. 5 4 A controvérsia cingese sobre a inclusão ou não do ICMS na base de cálculo da contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS. A situação que permeia os tribunais na atualidade é de dois posicionamentos conflitantes quanto à inclusão ou não do tributo na base de cálculo do PIS e da COFINS. O Superior Tribunal de Justiça no REsp 1144469/PR, em sistema de recursos repetitivos assim decidiu: RECURSO ESPECIAL DO PARTICULAR: TRIBUTÁRIO. RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. PIS/PASEP E COFINS. BASE DE CÁLCULO. RECEITA OU FATURAMENTO. INCLUSÃO DO ICMS. 1. A Constituição Federal de 1988 somente veda expressamente a inclusão de um imposto na base de cálculo de um outro no art. 155, §2º, XI, ao tratar do ICMS, quanto estabelece que este tributo: "XI não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do imposto sobre produtos industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização, configure fato gerador dos dois impostos". 2. A contrario sensu é permitida a incidência de tributo sobre tributo nos casos diversos daquele estabelecido na exceção, já tendo sido reconhecida jurisprudencialmente, entre outros casos, a incidência: 2.1. Do ICMS sobre o próprio ICMS: repercussão geral no RE n. 582.461 / SP, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18.05.2011. 2.2. Das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS sobre as próprias contribuições ao PIS/PASEP e COFINS: recurso representativo da controvérsia REsp. n. 976.836 RS, STJ, Primeira Seção, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25.8.2010. 2.3. Do IRPJ e da CSLL sobre a própria CSLL: recurso representativo da controvérsia REsp. n. 1.113.159 AM, STJ, Primeira Seção, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 11.11.2009. 2.4. Do IPI sobre o ICMS: REsp. n. 675.663 PR, STJ, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 24.08.2010; REsp. Nº 610.908 PR, STJ, Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 20.9.2005, AgRg no REsp.Nº 462.262 SC, STJ, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20.11.2007. 2.5. Das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS sobre o ISSQN: recurso representativo da controvérsia REsp. n. 1.330.737 SP, Primeira Seção, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10.06.2015. 3. Desse modo, o ordenamento jurídico pátrio comporta, em regra, a incidência de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos ou do mesmo tributo. Ou seja, é legítima a incidência de tributo sobre tributo ou imposto sobre imposto, salvo determinação constitucional ou legal expressa em sentido contrário, não havendo aí qualquer violação, a priori, ao princípio da capacidade contributiva. 4. Consoante o disposto no art. 12 e §1º, do DecretoLei n. 1.598/77, o ISSQN e o ICMS devidos pela empresa prestadora de serviços na condição de contribuinte de direito fazem parte de sua receita bruta e, quando dela excluídos, a nova rubrica que se tem é a receita líquida. 5. Situação que não pode ser confundida com aquela outra decorrente da retenção e recolhimento do ISSQN e do ICMS pela empresa a título de substituição tributária (ISSQNST e ICMSST). Nesse outro caso, a empresa não é a contribuinte, o contribuinte é o próximo na cadeia, o substituído. Quando é assim, a própria legislação tributária prevê que tais valores são meros ingressos na contabilidade da Fl. 220DF CARF MF Processo nº 13811.005103/200829 Acórdão n.º 3302006.005 S3C3T2 Fl. 6 5 empresa que se torna apenas depositária de tributo que será entregue ao Fisco, consoante o art. 279 do RIR/99. 6. Na tributação sobre as vendas, o fato de haver ou não discriminação na fatura do valor suportado pelo vendedor a título de tributação decorre apenas da necessidade de se informar ou não ao Fisco, ou ao adquirente, o valor do tributo embutido no preço pago. Essa necessidade somente surgiu quando os diversos ordenamentos jurídicos passaram a adotar o lançamento por homologação (informação ao Fisco) e/ou o princípio da nãocumulatividade (informação ao Fisco e ao adquirente), sob a técnica específica de dedução de imposto sobre imposto (imposto pago sobre imposto devido ou "tax on tax"). 7. Tal é o que acontece com o ICMS, onde autolançamento pelo contribuinte na nota fiscal existe apenas para permitir ao Fisco efetivar a fiscalização a posteriori, dentro da sistemática do lançamento por homologação e permitir ao contribuinte contabilizar o crédito de imposto que irá utilizar para calcular o saldo do tributo devido dentro do princípio da não cumulatividade sob a técnica de dedução de imposto sobre imposto. Não se trata em momento algum de exclusão do valor do tributo do preço da mercadoria ou serviço. 8. Desse modo, firmase para efeito de recurso repetitivo a tese de que: "O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendose à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações". 9. Tema que já foi objeto de quatro súmulas produzidas pelo extinto Tribunal Federal de Recursos TFR e por este Superior Tribunal de Justiça STJ: Súmula n. 191/TFR: "É compatível a exigência da contribuição para o PIS com o imposto único sobre combustíveis e lubrificantes". Súmula n. 258/TFR: "Incluise na base de cálculo do PIS a parcela relativa ao ICM". Súmula n. 68/STJ: "A parcela relativa ao ICM incluise na base de cálculo do PIS". Súmula n. 94/STJ: "A parcela relativa ao ICMS incluise na base de cálculo do FINSOCIAL". 10. Tema que já foi objeto também do recurso representativo da controvérsia REsp. n. 1.330.737 SP (Primeira Seção, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10.06.2015) que decidiu matéria idêntica para o ISSQN e cujos fundamentos determinantes devem ser respeitados por esta Seção por dever de coerência na prestação jurisdicional previsto no art. 926, do CPC/2015. 11. Ante o exposto, DIVIRJO do relator para NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial do PARTICULAR e reconhecer a legalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS. RECURSO ESPECIAL DA FAZENDA NACIONAL: TRIBUTÁRIO. RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. PIS/PASEP E COFINS. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DOS VALORES COMPUTADOS COMO RECEITAS QUE TENHAM SIDO TRANSFERIDOS PARA OUTRAS PESSOAS JURÍDICAS. ART. 3º, § 2º, III, DA LEI Nº 9.718/98. NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA. NÃOAPLICABILIDADE. 12. A Corte Especial deste STJ já firmou o entendimento de que a restrição legislativa do artigo 3º, § 2º, III, da Lei n.º 9.718/98 ao conceito de faturamento (exclusão dos valores computados como receitas que tenham sido transferidos para outras pessoas jurídicas) não teve eficácia no mundo jurídico já que dependia de regulamentação administrativa e, antes da publicação dessa regulamentação, foi revogado pela Medida Provisória n. 2.15835, de 2001. Precedentes: AgRg nos EREsp. n. 529.034/RS, Corte Especial, Rel. Min. José Delgado, julgado em 07.06.2006; AgRg no Ag 596.818/PR, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 28/02/2005; EDcl no AREsp 797544 / SP, Primeira Turma, Rel. Min. Sérgio Fl. 221DF CARF MF Processo nº 13811.005103/200829 Acórdão n.º 3302006.005 S3C3T2 Fl. 7 6 Kukina, julgado em 14.12.2015, AgRg no Ag 544.104/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJ 28.8.2006; AgRg nos EDcl no Ag 706.635/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 28.8.2006; AgRg no Ag 727.679/SC, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 8.6.2006; AgRg no Ag 544.118/TO, Rel. Min. Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ 2.5.2005; REsp 438.797/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 3.5.2004; e REsp 445.452/RS, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 10.3.2003. 13. Tese firmada para efeito de recurso representativo da controvérsia: "O artigo 3º, § 2º, III, da Lei n.º 9718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o faturamento e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica". 14. Ante o exposto, ACOMPANHO o relator para DAR PROVIMENTO ao recurso especial da FAZENDA NACIONAL. (REsp 1144469/PR; Relator: Napoleão Nunes Maia Filho; Relator para o acórdão: Mauro Campbell Maques) (grifos não constam no original) Já o Supremo Tribunal Federal, no RE 574.706RG/PR, julgou, no dia 15.03.2017, no sentido de que: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto da Relatora, Ministra Cármen Lúcia (Presidente), apreciando o tema 69 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário e fixou a seguinte tese: "O ICMS não compõe a base de cálculo para a incidência do PIS e da Cofins". Vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Nesta assentada o Ministro Dias Toffoli aditou seu voto. Plenário, 15.3.2017. (grifos não constam do original) No âmbito do regimento interno deste Egrégio Tribunal Administrativo, existe previsão normativa em seu artigo 62, anexo II, sobre a obrigatoriedade de se observar os precedentes em sistema de repetitivos e/ou repercussão geral na análise dos casos: RICARF Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. § 1º O disposto no caput não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: (...) II que fundamente crédito tributário objeto de: (...) b) Decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei n º 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária; (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) O RICARF prevê o requisito da decisão definitiva para a obrigatoriedade da aplicação do precedente, no caso em análise, o REsp 1.144.469/PR transitou em Fl. 222DF CARF MF Processo nº 13811.005103/200829 Acórdão n.º 3302006.005 S3C3T2 Fl. 8 7 julgado em 10.03.2017 e o RE 574.706RG/PR ainda espera a modulação de seus efeitos, não havendo, portanto, trânsito em julgado. Logo, devese observar a decisão, já transitada em julgado, do Superior Tribunal de Justiça. Em razão da obrigatoriedade por parte do conselheiro em aplicar o RICARF, acima exposto, os argumentos da Recorrente de desnecessidade de previsão legal para a exclusão do ICMS por respeito ao princípio da capacidade contributiva e da impossibilidade de considerar o ICMS como parte integrante do faturamento ficam, desde já, encontramse fundamentados com a aplicação do precedente obrigatório. Portanto, em conformidade com o REsp 1.144.469/PR, que firmou para efeito de recurso repetitivo a tese de que: "O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendose à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações", é negado provimento ao recurso voluntário. Aplicase ao ISSQN, os mesmos fundamentos explicitados pelo Superior Tribunal de Justiça para manter o ICMS na base de cálculo do PIS/COFINS, considerando, inclusive, que o RESP 1.144.469/PR tratou dos referidos impostos. III. Conclusão Diante do exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário." Assim, pelas já esposadas razões, voto por negar provimento ao presente Recurso Voluntário. Destaquese que, não obstante o processo paradigma se referir unicamente à Contribuição para o PIS, a decisão ali prolatada se aplica nos mesmos termos à Cofins. Importa registrar, ainda, que, nos presentes autos, as situações fática e jurídica encontram correspondência com as verificadas no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Portanto, aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Paulo Guilherme Déroulède Fl. 223DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19515.004065/2003-11
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Nov 21 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Dec 12 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 1998, 1999, 2000, 2001
OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. AUSÊNCIA DE EXAME DA ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL APRESENTADA À FISCALIZAÇÃO. PRESUNÇÃO NÃO CARACTERIZADA.
Inexistindo análise da escrituração mantida pela contribuinte, desconstituindo os fatos nela narrados ou atestando a ausência de registro da movimentação bancária, é insuficiente, para inversão do ônus da prova, o não atendimento de intimação para comprovação da origem de depósitos bancários.
Numero da decisão: 1402-003.587
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, dar provimento ao recurso voluntário para cancelar os lançamentos, vencidos o Relator e os Conselheiros Marco Rogério Borges e Paulo Mateus Ciccone que negavam provimento. Designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Edeli Pereira Bessa.
(assinado digitalmente)
Paulo Mateus Ciccone - Presidente em Exercício.
(assinado digitalmente)
Evandro Correa Dias - Relator.
(assinado digitalmente)
Edeli Pereira Bessa - Redatora Designada.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Rogerio Borges, Caio Cesar Nader Quintella, Edeli Pereira Bessa, Leonardo Luis Pagano Goncalves, Evandro Correa Dias, Breno do Carmo Moreira Vieira, Junia Roberta Gouveia Sampaio e Paulo Mateus Ciccone (Presidente). Os Conselheiros Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira e Junia Roberta Gouveia Sampaio participaram do julgamento unicamente na sessão de 21/11/2018, sendo o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira substituído pelo Conselheiro Breno do Carmo Moreira Vieira na sessão de 18/10/2018. Não participou do julgamento nesta data o Conselheiro Eduardo Morgado Rodrigues.
Nome do relator: EVANDRO CORREA DIAS
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DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. AUSÊNCIA DE EXAME DA ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL APRESENTADA À FISCALIZAÇÃO. PRESUNÇÃO NÃO CARACTERIZADA. Inexistindo análise da escrituração mantida pela contribuinte, desconstituindo os fatos nela narrados ou atestando a ausência de registro da movimentação bancária, é insuficiente, para inversão do ônus da prova, o não atendimento de intimação para comprovação da origem de depósitos bancários. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, dar provimento ao recurso voluntário para cancelar os lançamentos, vencidos o Relator e os Conselheiros Marco Rogério Borges e Paulo Mateus Ciccone que negavam provimento. Designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Edeli Pereira Bessa. (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Presidente em Exercício. (assinado digitalmente) Evandro Correa Dias Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 40 65 /2 00 3- 11 Fl. 3888DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.889 2 (assinado digitalmente) Edeli Pereira Bessa Redatora Designada. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Rogerio Borges, Caio Cesar Nader Quintella, Edeli Pereira Bessa, Leonardo Luis Pagano Goncalves, Evandro Correa Dias, Breno do Carmo Moreira Vieira, Junia Roberta Gouveia Sampaio e Paulo Mateus Ciccone (Presidente). Os Conselheiros Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira e Junia Roberta Gouveia Sampaio participaram do julgamento unicamente na sessão de 21/11/2018, sendo o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira substituído pelo Conselheiro Breno do Carmo Moreira Vieira na sessão de 18/10/2018. Não participou do julgamento nesta data o Conselheiro Eduardo Morgado Rodrigues. Fl. 3889DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.890 3 Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra acórdão proferido pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Brasília (DF). Lavrouse em 12/06/2012, o Acórdão de Recurso Voluntário nº 1402 01.050 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, contudo essa decisão teve a sua nulidade reconhecida, em 03/10/2017, por meio do Acórdão de Recurso Especial do Contribuinte nº 9101003.129 – 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, que determinou o retorno dos autos ao colegiado de origem, para novo julgamento com apreciação das demais questões constantes do recurso voluntário. Adoto, em sua integralidade, o relatório do Acórdão de Recurso Voluntário nº 140201.050 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, complementandoo, ao final, com as pertinentes atualizações processuais. "FALSI & FALSI COM. DE PEÇAS DIESEL LTDA recorreu a este Conselho contra a decisão proferida pela DRJ em primeira instância, que julgou procedente a exigência de IRPJ e Reflexos, pleiteando sua reforma, com fulcro no artigo 33 do Decreto n° 70.235 de 1972 (PAF). O recurso foi apreciado pela 7ª Câmara do 1º Conselho de Contribuintes na sessão de 17/08/2008, tendo sido convertido em diligência mediante resolução Nº 10700.716, juntada às fls. 3176 a 3181 dos autos, cujo relatório, abaixo transcrito, adoto e procedo a leitura em plenário. Autos de Infração Tratase de autos de infração de IRPJ, CSLL, PIS e Cofins (fls. 1718/1783), cujo crédito tributário, composto pelo principal, multa de ofício e juros de mora, totaliza R$ 61.638.235,42. Conforme a descrição dos fatos constante do auto de infração de IRPJ e do Termo de Verificação Fiscal (fl. 1714), o lançamento foi motivado por omissão de receitas, caracterizada pela falta de comprovação da origem dos recursos depositados em contas bancárias de titularidade da empresa, nos anoscalendário 1998, 1999,2000 e 2001. Os autos de infração de CSLL, PIS e Cofins são decorrentes da mesma omissão de receitas que motivou o lançamento de IRPJ. Impugnação do Contribuinte Não se conformando com o lançamento, a empresa apresentou a impugnação de fls. 1790/1872, em que, em apertada síntese, alega o seguinte: Fl. 3890DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.891 4 Aponta irregularidade nos autos de infração, por estarem apoiados em informações bancárias obtidas em conformação com as regras da CPMF, implicando indevida quebra de sigilo bancário; Alega que o contribuinte tem o direito de permanecer calado, e que, no caso, a Fiscalização não efetuou qualquer ato de investigação junto aos documentos da empresa, preferindo transferir a esta sua responsabilidade de fiscalizar; Entende que a nãorealização de fiscalização por parte do Agente Fiscal, que não praticou qualquer ato tendente a aferir o crédito tributário, fere frontalmente os princípios constitucionais da moralidade e da vinculação da Autoridade Administrativa; Assevera que, em face do princípio da irretroatividade das leis, a Lei Complementar n°. 105/2001, que veio permitir a inusitada forma de quebra do sigilo bancário por decisão exclusiva da autoridade administrativa, independentemente de autorização judicial, não pode ser utilizada para atingir fatos anteriores a 09/01/2001; Alega que, mesmo havendo previsão legal, a quebra do sigilo bancário dos contribuintes constitui evidente desrespeito ao princípio da legalidade, por contrariar princípios constitucionais, que obrigatoriamente devem ser observados pelas autoridades administrativas; Procura demonstrar que o ato de quebra do sigilo bancário também fere os princípios constitucionais da Indelegabilidade de Atribuições, da Separação Orgânica dos Poderes e da Reserva Constitucional de Jurisdição; Assevera ser ilegítimo o lançamento de imposto de renda com base exclusivamente em extratos bancários, por inexistência do nexo causal entre os depósitos e o fato que represente omissão de rendimentos; Diz que, tendo em vista as inúmeras irregularidades praticadas a partir da quebra do sigilo bancário das contas da empresa, o processo administrativo está completamente viciado, sendo, portanto, nulos todos os atos praticados; Por fim, assevera inexistir crédito tributário, por não ter havido formalização do lançamento, estando a se falar simplesmente de arrecadação da CPMF. Conforme documento de fl. 1965, foi declarada a intempestividade da impugnação. Porém, após questionamento da contribuinte, houve a revisão do despacho, reconhecendo que a peça de defesa foi apresentada no prazo legal (fl. 2.399). Fl. 3891DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.892 5 Aditamento da Impugnação Às fls. 1973/2046 consta aditamento da impugnação acompanhada dos documentos de fls. 1990/2046 na qual a contribuinte, em síntese, alega possuir todos os livros fiscais e contábeis exigidos pela legislação tributária, e que os valores dos depósitos objeto do lançamento estão devidamente contabilizados nos livros Diário e Razão, de forma englobada, com a individualização dos lançamentos em livro auxiliar denominado de Extrato. Esclarece não ter podido atender à intimação fiscal, explicitando cada número da relação bancária apresentada, em face da quantidade de documentos, mas que os livros contábeis e fiscais, incluindo os livros auxiliares, fazem prova a seu favor. Por meio da petição de fls. 2.349/2364, a empresa alega a tempestividade da impugnação apresentada em 05/01/2004 e requer a realização de perícia contábil, além de discorrer sobre a obrigatoriedade de arbitramento do lucro, no caso de a escrituração não identificar a efetiva movimentação financeira. Acórdão de Impugnação Analisando o Feito, a 2ª Turma de Julgamento da DRJ/Brasília julgou procedente o lançamento, conforme Acórdão n°. 03 18.484, de 08 de setembro de 2006 (fls. 2329/2441), cuja ementa tem a seguinte dicção: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica — IRPJ Anocalendário: 2001, 2003 Ementa: OMISSÃO DE RECEITA — Em conformidade com o artigo 332 do CPC, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, são hábeis para provar a verdade dos fatos. Nesse sentido, nada obsta a que extratos bancários sejam utilizados como um meio de provar o cometimento de qualquer ilícito fiscal. Caracterizase omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Fl. 3892DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.893 6 SIGILO BANCÁRIO Não configura quebra de sigilo o fornecimento ao Fisco de informações sobre a movimentação bancária do contribuinte, as quais permanecem protegidas sob o manto do sigilo fiscal. CONSTITUCIONALIDADE É o administrador um mero executor de leis, não lhe cabendo questionar a legalidade ou constitucionalidade do comando legal. A análise de teses contra a constitucionalidade de leis é privativa do Poder Judiciário. DA TRIBUTAÇÃO REFLEXA Lançamentos reflexos. Ao se decidir de forma exaustiva a matéria referenciada ao lançamento principal de IRPJ, a solução adotada espraia seus efeitos aos lançamentos reflexos, próprio da sistemática de tributação das pessoas jurídicas. Lançamento Procedente Recurso Voluntário Cientificada em 03/11/2006 (fl. 2442v), a empresa apresentou, em 04/12/2006, o Recurso de fls. 2454/2506, articulado da seguinte forma, em síntese: Alega que a movimentação de recursos nas contas bancárias objeto da autuação está devidamente escriturada nos livros Diário e Razão, de modo sintético, e no livro auxiliar denominado "Bancos Extrato", de forma analítica, mas que, apesar de estar de posse dos referidos livros assim como da resposta à intimação fiscal para comprovar a origem dos depósitos, na qual a empresa informou não estar legalmente obrigada a realizar o trabalho da Fiscalização, mas sim a esclarecer quaisquer dúvida quanto a qualquer lançamento, bem como comproválos documentalmente mesmo assim o Fisco efetuou o presente lançamento, considerando como receita omitida o valor dos depósitos e créditos nas referidas contas bancárias; Levanta preliminar de nulidade da decisão a quo, por incompetência da DRJ/Brasília para decidir o litígio; Reclama de não ter o Fisco efetuado auditoria fiscalcontábil nos livros e documentos da empresa, optando simplesmente por intimála a comprovar a origem de aproximadamente 16.200 registros bancários, o que demandaria a vinculação dos respectivos valores com uma quantidade de documentos que facilmente chegariam à quantidade de 50.000 ou 60.000. Assim, e sendo que toda a movimentação bancária estava devidamente contabilizada, entende que caberia ao Fisco aplicar os Fl. 3893DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.894 7 procedimentos de auditoria por meio de amostragem e testes, intimando a Recorrente a comprovar, documentalmente, as operações selecionadas para exame, no número que julgasse conveniente para sua convicção; Argui no sentido de que a tributação com base na presunção de omissão de receitas com base em depósitos bancários de origem não comprovada só pode ser realizada com base no lucro arbitrado, uma vez que desconsidera a existência de regular escrituração; Reclama de que não foram excluídas as receitas declaradas nos respectivos anoscalendário, as quais estão incluídas nos montantes depositados nas contas bancárias; Alega que o entendimento de que a quebra do sigilo bancário pode ser aplicado a período anterior à vigência da Lei n°. 10.174, de 2001, não é correto, posto que calcado na falsa premissa de que as normas instituídas tanto pelo § 3o do art. 11 da Lei n°. 9.311, de 1996, quanto pela Lei n°. 10.174, de 2001, são normas de Direito Formal, quando, inquestionavelmente, correspondem a normas de Direito Material; Diz que a Lei n°. 10.174, de 2001, não preenche os requisitos estabelecidos no art. 144, § 1º, do CTN para ser aplicada retroativamente, e que, de qualquer forma, ela não teria o condão de atingir situações já consolidadas anteriormente à sua vigência; Tem por fundamento o artigo 142 do CTN e doutrina e jurisprudência, procura demonstrar ser possível a análise, em fase de recurso, de argumentos sobre matéria de direito não levantados na impugnação; Assevera que o disposto no § 3º do artigo 11 da Lei n°. 9.311, de 1996, em sua antiga redação, caracterizava uma isenção tributária, e que, assim, a Lei n°. 10.174, de 2001, que veio revogar a referida isenção, só pode ser aplicada para períodos posteriores, por ser absolutamente proibida, pelo disposto no art. 104 do CTN, a revogação retroativa de isenção anteriormente concedida; Alega que a presunção de omissão de receitas com base em depósitos bancários de origem não comprovada, prevista no art. 42 da Lei n°. 9.430, de 1996, não se aplica ao Pis e à Cofins, posto que a referida norma legal não desceu ao detalhe de caracterizar como "receita da atividade normal da pessoa jurídica", limitandose a fazêlo em caráter geral, restando evidente a impossibilidade de se tributar a totalidade dos depósitos bancários como se "faturamento" fossem. Fl. 3894DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.895 8 1ª Diligência Resolução No voto condutor da aludida Resolução, da lavra do ilustre conselheiro Jayme Juarez Grotto, que me antecedeu na relatoria deste processo, porem não mais compõe este Conselho, extraise: O recurso é tempestivo e atende os pressupostos para prosseguimento. Dele tomo conhecimento. Analisadas as peças do processo, entendo não reunir ele as informações necessárias para a apreciação da matéria na profundidade recomendada e suficiente para a perfeita solução da lide. A autuação referese a omissão de receitas representada por valores creditados em contas de depósito mantidas pela autuada nos anos calendário 1998 a 2001, cuja origem dos recursos utilizados não foi comprovada. No Termo de Verificação Fiscal não foi informado se as referidas contas foram ou não contabilizadas, embora o Fisco tenha estado de posse dos livros Diário e Razão, como dá conta o Termo de Devolução de Documentos n°. 002 (fl. 1708). Tendo a impugnante sustentado que as contas bancárias em questão foram devidamente escrituradas em sua contabilidade, a Turma Julgadora que proferiu a decisão de primeira instância não aceitou a alegação, ao argumento de falta de comprovação. No Recurso a este Conselho de Contribuintes, a interessada traz aos autos cópias de folhas dos livros Diário e Razão, onde se verifica que todas as contas bancárias que dão respaldo à autuação foram objeto de contabilização. Assim, e tendo em vista que, na analise dos lançamentos relativos a omissão de receitas caracterizada por depósitos de origem não comprovada, como no presente caso, tem sido relevante para os Conselheiros dessa Câmara saber se as contas bancárias foram ou não contabilizadas, entendo prudente a realização de diligência a fim de verificar a autenticidade e regularidade da escrituração da interessada juntada aos autos por cópias dos livros Diário e Razão. Pelo exposto, voto no sentido de ser baixado o processo em diligência para a verificação acima, podendo, para isso, serem utilizados todos os documentos, informações e argumentos contidos no presente processo, além de solicitação e de exames de Fl. 3895DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.896 9 outras informações e documentos que se mostrarem necessários, devendo, antes do processo retornar a esta Câmara, ser aberto prazo de 30 dias para que a interessada se manifeste sobre o resultado da diligência, se o quiser. Conclusões da 1ª Diligência O AuditorFiscal Ciro Rocha foi encarregado da diligência e na conclusão dos trabalhos lavrou o relatório de fls.:3190 a 3198, no qual assevera que a exceção do livro Diário de 1998, todos os demais (1999, 2000 e 2001), bem como os livros Razão apresentados pela contribuinte foram registrados na junta comercial apenas em 28/07/2009. Registra, ainda, que nos 4 anos fiscalizados a contribuinte contabilizou e tributou receitas totais no valor de R$ 24.272.961,34, porém os depósitos bancários somaram R$ 69.506.806,02. Ao final propugnou pela manutenção da exigência. Manifestação do Contribuinte Cientificada do aludido relatório, a contribuinte apresentou manifestação em 09/11/2009, fls. 3199 a 3203, no qual reforça sua alegação de dupla tributação de valores e anteriormente declarados haja vista que 24 milhões dos depósitos estavam contabilizados, pelo que os lançamentos devem ser cancelados. Propugna, ainda pela exclusão dos valores das transferências bancarias, comprovadas no anexo da peça recursal. A seguir os autos foram encaminhados a este Conselho para prosseguimento. 2ª Diligência Resolução nº 1402000.28 Mediante resolução nº 1402000.28, de 14/12/2010 o processo foi volvido em diligência nos seguintes termos do voto condutor: "(...) Conforme relatado, este processo retorna ao julgamento após cumprida a diligencia fiscal solicitada pela antiga 7 ª Câmara do 1CC (conselheiro Jayme Juarez Grotto). Aludida diligencia centrouse em verificações quanto as receitas consideradas omitidas pelo contribuinte. Todavia, nada foi solicitado/verificado quanto aos custos dos produtos vendidos Fl. 3896DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.897 10 (peças de veículos), que este colegiado reputou relevante, haja vista que a apuração do lucro tributável foi realizada pela sistemática do lucro real. Ao somar as receitas omitidas ao resultado da empresa, mesmo após certas exclusões, observase uma certa desproporção entre as receitas e os custos. É possível que tenha havido equívocos na apuração dos custos pela contribuinte. Assim, partindose da premissa que, à luz do art. 3º. do Código Tributário Nacional, tributo não pode constituir sanção de ato ilícito, ou seja, não é penalidade. Considerando também que, consoante art. 29 do PAF (Decreto 70.235/1972), que rege o Processo Administrativo Fiscal), "Na apreciação da prova, a autoridade julgadora formará livremente sua convicção, podendo determinar as diligências que entender necessárias", o colegiado entendeu que é cabível uma nova diligência, desta feita centrada na verificação dos custos das mercadorias vendidas. Diante do exposto, voto por converter o julgamento em diligencia para que a fiscalização: a) Intime a contribuinte a apresentar demonstrativos e comprovantes (notas fiscais de aquisição) das mercadorias adquiridas para revenda nos anos objeto da fiscalização, bem como reapure o CMV a cada ano. b) Oficie a Secretaria de Fazenda do Estado de São Paulo, com o intuito de obter o montante das compras de mercadorias efetuadas pela empresa nos anos objeto da autuação, seja por meio das declarações do ICMS, ou dos sistemas de gerenciamento do trânsito de mercadorias que aquele órgão possuir. A Fiscalização pode fazer outras verificações e procedimentos, em estrita consonância com o escopo da diligencia visando seu êxito, qual seja, apurar o CMV real do Contribuinte. Ao final, deverá lavrar termo consubstanciado e cientificar a contribuinte para, caso deseje, manifestarse no prazo de 30 dias. (...)" Conclusões da 2ª Diligência A diligência resultou na juntada dos documentos de fls. 3277 a 3392, bem como na elaboração do relatório de fls. 3393 a 3401, que apresenta a seguinte conclusão: Fl. 3897DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.898 11 O contribuinte intimado por diversas vezes (25/05/2011, 18/10/2011 e 21/11/2011, deixou de apresentar os Livros de Entrada, Livros Razão e/ou Livros Auxiliares, com a escrituração individualizada e obedecendo à ordem cronológica das operações, que permitissem a verificação de sua escrituração mensal resumida dos seus Livros Diário, sob a alegação que não os escriturou ou já foram apresentados à época da fiscalização. Constatamos que os Livros Razão Analítico, de fls. 2879 a 3048, ao apresentar os saldos anterior/atual e o valor total lançado no mês, não , respaldam com exatidão os lançamentos mensais efetuados nos Livros Diário. Portanto, conforme foi visto, a escrituração comercial do contribuinte contraria o disposto no art. 259 do RIR/99. Concluise, assim, que os valores dos Custos das Mercadorias Vendidas, considerados nas bases de cálculo do valor tributável dos tributos que originaram os autos de infração, ao não refletirem com exatidão os valores lançados nos livros comerciais e fiscais, devem ser reajustados tomando como base as informações disponíveis nas GIAs/ICMS, cujos valores deverão servir para o cálculo do novo valor tributável dos tributos, conforme abaixo: Ano calendário 1998 CMV = RS 5.976.365,40 Ano calendário 1999 CMV = RS 4.967.687,46 Ano calendário 2000 CMV = RS 3.599.076,15 Ano calendário 2001 CMV = RS 6.050.037,87 "Diante de todo o exposto, propomos seja dada ciência do inteiro teor deste Termo ao contribuinte para que, caso deseje, se manifeste sobre o resultado desta diligência, no prazo de 30 (trinta) dias, conforme determinado na Resolução n.° 140200028 do CARF. Manifestação do Contribuinte Cientificado da nova diligência, em 02/03/2012, o contribuinte apresentou manifestação de fls. 3407 e seguintes, ao final requerendo (verbis): DO PEDIDO Por tudo isto, por ser injusta e indevida a pretensão do Fisco Federal, por absoluta falta de base legal e, por todas as Fl. 3898DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.899 12 considerações e razões já declinadas, como condição mais favorável a contribuinte, se assim entender os Doutos Conselheiros, seja determinado o cancelamento dos autos de infração e o lançamento de oficio de outro(s) auto(s) de infração(ões) por arbitramento de lucros, nos termos dos artigos 529 e 530 do RIR/99, por ser medida de inteira JUSTIÇA ! Termos em que, Pede Deferimento. É o relatório." Complementase o relatório do Acórdão de Recurso Voluntário nº 140201.050 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, com as pertinentes atualizações processuais. No julgamento do recurso voluntário interposto pelo contribuinte acima qualificado foi proferido por esta Câmara o acórdão nº 140201.050, que está assim ementado: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 1998, 1999, 2000, 2001 ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DURANTE O CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE. É inadequada a postulação de matéria relativa à inconstitucionalidade na esfera administrativa, na forma prevista no art. 26A do Decreto n° 70.235/ 72, acrescido pela Lei 11.941/09. OMISSÃO DE RENDIMENTOS DEPÓSITOS BANCÁRIOS ARTIGO 42 DA LEI 9.430/1996 Caracterizam omissão de rendimentos valores creditados em conta bancária mantida junto a instituição financeira, quando o contribuinte ou seu representante, regularmente intimado, não comprova, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Outrossim, devem ser corrigidos os equívocos cometidos pelo fisco na determinação da base de cálculo, apontados no recurso voluntário. CONTABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO CONFERE CREDIBILIDADE AOS REGISTROS CONTÁBEIS. CONTABILIDADE DESCLASSIFICADA. ARBITRADO O LUCRO. Não se pode conferir credibilidade à contabilidade quando materialmente se verifica que ela não reflete a realidade das operações comerciais e bancárias realizadas pela empresa. O artigo 47 da Lei n° 8.981, de 1995, ao usar a expressão de que o lucro será arbitrado, nos casos que especifica, não confere faculdade à autoridade fiscal, mas sim comando impositivo quanto à forma de tributação. Assim verificado quem a contabilidade não registra a maior parte das transações realizadas pela Fl. 3899DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.900 13 empresa, impõese o arbitramento do lucro para fins de apuração do IRPJ e da CSLL. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos em rejeitar a preliminar suscitada e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso para subtrair das receitas omitidas, levadas a tributação, os valores de R$ 554.399,43 (1998), R$ 2.080.093,75 (1999), R$ 88.490,00 (2000) e R$ 270.191,70 (2001) e reduzir as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL para o montante correspondente a 9,6% do total da receita, aplicandose a base de cálculo do lucro arbitrado, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Destacase os seguinte trechos do voto do relator: Todas as contas bancárias da empresa foram identificadas, logo, a base de calculo do lançamento de oficio deve ser ajustada para excluir a totalidade das receitas já tributadas pelo contribuinte, em face da evidente duplicidade, nos seguintes valores: R$ 6.584.860,19 (1998), 5.190.236,45 (1999), 4.870.053,69 (2000) e 7.627.811,01 (2001). (grifo nosso) Há também que ser excluído da tributação os valores das transferências bancárias entre as contascorrentes objeto de tributação, conforme demonstrativos apresentados pelo contribuinte, fls. 3207 a 3218, nos valores totais de R$ 554.399,43 (1998), 2.080.093,75 (1999), 88.490,00 (2000) e 270.191,70 (2001). Diante do exposto, voto no sentido de rejeitar a preliminar suscitada e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso voluntário para: 1) subtrair das receitas omitidas, levadas a tributação, os valores de R$ 554.399,43 (1998), 2.080.093,75 (1999), 88.490,00 (2000) e 270.191,70 (2001), 2) reduzir as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL para o montante correspondente a 9,6% do total da receita, aplicandose a base de cálculo do lucro arbitrado. Dos Embargos da Unidade A DERAT SP, Unidade de Origem da RFB, responsável pela execução do acórdão 1402.001.050, de 12/6/2012, apresentou embargos de declaração (imagens 3470 a 3473), apontando contradição (omissão) na conclusão do voto condutor, bem como no dispositivo do acórdão (decisão do Colegiado), quanto aos valores a serem excluídos da base de cálculo. Fl. 3900DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.901 14 Verificase que, de fato, não foram somados no montantes a exonerar os valores de R$ 6.584.860,19 (1998), 5.190.236,45 (1999), 4.870.053,69 (2000) e 7.627.811,01 (2001), que foram oferecidos a tributação pelo contribuinte, mas que também foram incluídos nas receitas omitidas (objeto do lançamento de oficio). Superouse os embargos, diante dos seguintes esclarecimentos acerca da decisão do Colegiado no Acórdão 1402001.050: "Em verdade, inexiste qualquer contradição ou erro material no acórdão embargado. Isso porque, à medida que o Colegiado determinou a redução da base de cálculo tributada à sistemática do lucro arbitrado, a exclusão da duplicidade quanto as receitas anteriormente tributadas não mais poderia ser feita. Explico: a base de cálculo do lucro arbitrado é a receita conhecida (soma das receitas declaradas/contabilizadas com as receitas omitidas. Logo, na base de cálculo cuja tributação foi mantida pelo acórdão, sobre a qual deve ser aplicado o percentual do lucro arbitrado, somente devem ser excluídas as transferências entre as contas correntes. Em síntese: a receita bruta conhecida do contribuinte passa a ser o montante líquido dos depósitos bancários. Outrossim, diante da possibilidade do acórdão ser objeto de recurso especial à CSRF, seja pela Fazenda Nacional, seja pela contribuinte (apesar de o recurso ter sido quase integralmente provido), na eventualidade do acórdão 1402001.050 ser reformado, era preciso deixar registrada a duplicidade no valor originalmente tributado. É certo que essa redução também afeta as apurações do PIS e da Cofins. Registrese, ainda, que em face da redução das bases de cálculo à sistemática do lucro arbitrado, os valores eventualmente recolhidos/confessados pelo contribuinte devem ser considerados na apuração dos valores remanescentes dos tributos devidos." Dos Embargos do Contribuinte O sujeito passivo apresentou embargos de declaração contra o Acórdão 140201.050 que, segundo alega teria incorrido em contradição ao decidir pelo ajuste das bases de cálculo do lançamento ao lucro arbitrado, quando a fundamentação da autuação mencionou apenas dispositivos inerentes ao lucro real. Assim, teria havido prejuízo à defesa que não se preparou para contestar um lançamento com base no lucro arbitrado. Acrescentou questionamentos em relação à planilha de débitos apresentada pela DERAT/SPO e contestou a afirmativa da inexistência de pagamentos para efeito de contagem do prazo decadencial. Conforme despacho de admissibilidade, o recurso foi admitido apenas em relação à questão da decadência, pois teriam sido localizados recolhimentos efetuados em 1998, não considerados pela decisão recorrida, e que poderiam afetar a contagem do prazo decadencial. Fl. 3901DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.902 15 Deuse provimento aos embargos do sujeito passivo, por meio do Acórdão nº 1402001.547 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, na parte em que foram admitidos, para retificar o Acórdão nº 140201.150 na parte em que foi rejeitada a decadência, acolhendo a caducidade para o 1°, 2° e 3° trimestres de 1998, em relação ao IRPJ e CSLL; e para os fatos geradores ocorridos até 30/11/1998, inclusive, para o PIS e a Cofins. Transcrevese a seguir a ementa e resultado do Acórdão nº 1402001.547: DECADÊNCIA. PRAZO. EXISTÊNCIA DE PAGAMENTOS. No caso de tributos sujeitos ao lançamento por homologação, na existência de recolhimentos prévios a contagem do prazo decadencial deve ser feita sob as regras do § 4° , do art. 150, do CTN. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento aos embargos de declaração na parte em que foram admitidos para retificar o Acórdão 140201.150 apenas em relação à decadência, acolhendo a caducidade para o 1°, 2° e 3° trimestres de 1998, no que se refere ao IRPJ e CSLL; e para os fatos geradores ocorridos até 30/11/1998, inclusive, em relação ao PIS e a Cofins. Do Recurso Especial do Contribuinte Cientificada do acórdão de embargos em 17/03/2014, a recorrente interpôs recurso especial em 31/03/2014, alegando divergência jurisprudencial da decisão proferida que entendeu reconheceu que o lançamento, que fora realizado com base no regime de apuração pelo Lucro Real, deveria ter sido realizado com base em arbitramento do lucro, tendo em vista a imprestabilidade da escrituração do contribuinte; porém ao invés de cancelar o lançamento, procedeu à sua adequação com base nas normas do lucro arbitrado. Admitindose o recurso especial, cientificouse a Fazenda Nacional, que apresentou contrarrazões, trazendo os seguintes fundamentos: • Não merece qualquer censura a conclusão bem fundamentada adotada no acórdão recorrido; • Ainda que não merecesse prosperar a conclusão exposta na decisão recorrida, o que se admite para argumentar, impõese registrar, tal como consignado pela DRJ de origem que o contribuinte, ora recorrente, somente se valeu do argumento de que o lançamento deveria ter sido feito com base no lucro arbitrado em petição apresentada após a protocolização da impugnação. Ou seja, tratase de argumento alcançado pela preclusão temporal e consumativa; No julgamento do recurso especial interposto pelo contribuinte acima qualificado foi proferido o acórdão nº 9101003.129 – 1ª Turma da Câmara de Recursos Fiscais, assim ementado: Fl. 3902DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.903 16 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 1998, 1999, 2000, 2001 OMISSÃO DE RECEITAS. ARBITRAMENTO. ALTERAÇÃO CRITÉRIO JURÍDICO DO LANÇAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. As Turmas ordinárias de julgamento não têm competência para alterar o critério jurídico do lançamento realizado, devendo verificar apenas a correção ou incorreção do lançamento efetuado, de modo a mantêlo ou rechaçálo do mundo jurídico. Decisão que altera o critério jurídico do lançamento é decisão nula. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em darlhe provimento parcial, para reconhecer a nulidade da decisão recorrida, com retorno dos autos ao colegiado de origem, para novo julgamento com apreciação das demais questões constantes do recurso voluntário, vencido o conselheiro Rafael Vidal de Araújo, que lhe negou provimento. Destacase os seguintes trechos da conclusão do voto do relator: Por tais razões compreendo que a decisão a quo foi equivocada, já que alterou os critérios jurídicos do lançamento. Vale destacar, a Turma a quo deveria decidir se o lançamento deve permanecer no mundo jurídico ou ser cancelado, ela não tem a competência de alterar os critérios jurídicos do lançamento realizado. Nesse contexto, voto por dar parcial provimento ao Recurso do Contribuinte, para reconhecer a nulidade da decisão recorrida, com retorno dos autos ao colegiado de origem, para novo julgamento. Tendo em vista a determinação da Câmara Superior de Recursos Fiscais proferida no acórdão n.º 9101003.129, no sentido de anular a decisão recorrida pelo contribuinte, retornouse os autos ao colegiado de origem, para novo julgamento com apreciação das demais questões constantes do Recurso Voluntário, encaminhouse os autos a este colegiado par novo julgamento. Fl. 3903DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.904 17 Por entender pertinente, colacionase de forma detalhada os procedimentos realizados e conclusões obtidas nas diligências fiscais, assim como as razões de fato e de direito trazidas pelo Recorrente em suas manifestações. 1ª DILIGÊNCIA VERIFICAÇÃO DAS RECEITAS OMITIDAS Analisouse a escrituração do Recorrente, conforme solicitado através da resolução CARF n º 10700.716 de 31/10/2008. Os procedimentos realizados e as conclusões obtidas encontramse no Termo de Informação Fiscal (fls. 3234 a 3237). Transcrevese a seguir excertos do referido termo. "Os livros fiscais e comerciais escriturados pelo contribuinte atendem às formalidades intrínsecas e extrínsecas; todavia, excetuado o Livro Diário relativo ao anocalendário de 1998, todos os demais (a/c 1999, 2000 e 2001) foram levados à autenticação na Junta Comercial do Estado de São Paulo em 28/07/2009, data posterior até mesmo ao início da presente diligência fiscal. Foram pesquisadas na supracitada escrituração todas as possíveis origens de receitas contabilizadas, tendo sido identificados, conforme demonstrativos anexos, ingressos nas contas Empréstimos, Juros Ativos (receitas financeiras), Vendas de Mercadorias e Outras Receitas. A partir de tais contas, buscouse demonstrar um fluxo de receitas efetivamente recebidas em cada ano sob análise, partindose dos saldos iniciais de Duplicatas a Receber, adicionandose os ingressos citados e subtraindose as vendas canceladas e os saldos finais de Duplicatas a receber. O resultado de tal fluxo encontrase também anexo ao presente relatório. Do exposto, concluímos que as receitas contabilizadas pelo contribuinte em sua escrituração correspondem ao demonstrado no quadro a seguir. Cabe observar que tais valores são próximos ao informado pelo mesmo na Demonstração de Resultado ao final de cada exercício: Anocalendário: Receitas contabilizadas: Receita Bruta (D.R.E): 1998 6.584.860,19 6.853.748,80 1999 5.190.236,45 4.967.411,29 2000 4.870.053,69 5.128.123,92 2001 7.627.811,01 7.494.286,65 Do comparativo entre as supracitadas receitas contabilizadas e os ingressos/créditos bancários identificados no curso do procedimento fiscal do qual resultou o lançamento tributário de que trata o processo administrativo nº 19515.004065/200311, constatamos as diferenças a seguir demonstradas: Fl. 3904DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.905 18 Anocalendário: Depósitos/créditos bancários: () Receitas contabilizadas: (=) Receitas omitidas: 1998 13.078.500,05 6.584.860,19 6.493.639,86 1999 15.061.901,62 5.190.236,45 9.871.665,17 2000 18.100.455,08 4.870.053,69 13.230.401,39 2001 23.265.949,27 7.627.811,01 15.638.138,26 TOTAL: 69.506.806,02 24.272.961,34 45.233.844,68 MANIFESTAÇÃO QUANTO ÀS CONCLUSÕES DA 1ª DILIGÊNCIA Em 09/11/2009, a Recorrente apresentou Contestação (fls. 3244 a 3250) ao "Termo de Informação Fiscal", com as seguintes razões de fato e de direito. 1. O Recorrente em manifestação ao referido Termo de Constatação alega que tais assertivas corroboram, em grande parte, os argumentos da REQUERENTE expendidos no recurso interposto, no sentido de que, não obstante a existência de valores contabilizados, no importe total de R$ 24.272.961,34, foi promovida a tributação daquele total de R$ 69.506.806,02, o que, por certo, nulifica a autuação. 2. Afirma que, como demonstrado no SUBITEM 3.3 do recurso interposto (sob o título "DA DUPLA TRIBUTAÇÃO DE VALORES ANTERIORMENTE DECLARADOS"), a REQUERENTE argüiu a nulidade da autuação, visto que, nos autos de infração lavrados, não foram excluídas as receitas declaradas, e agora corroboradas pela diligência realizada (v. item 1, supra), valores esses que, por certo, estão incluídos naqueles montantes depositados, com o que foram duplamente tributados, consoante se vê na iterativa jurisprudência administrativa reproduzida no SUBITEM 3.3.2 do recurso. 3. Alega que ainda que se admita que não tenha escriturado os depósitos bancários, como afirmado na autuação, resta evidente que não poderia aquele total depositado, de R$ 69.506.806,02, ser tributado como se lucro real fosse: Quer porque a sua não escrituração levaria, fatalmente, ao arbitramento do lucro, nos termos do artigo 530, II, a, do RIR/99 (por força do disposto no § único do artigo 142 do CTN), Quer porque o artigo 42 da LEI N° 9.430/96 estabelece uma presunção legal de "omissão de receita" e não de "lucro real", tudo como amplamente demonstrado no SUBITEM 3.2 do recurso ("DA IMPOSSIBILIDADE DA TRIBUTAÇÃO, COMO LUCRO REAL, DA TOTALIDADE DOS DEPÓSITOS/CRÉDITOS BANCÁRIOS VERIFICADOS. DO OBRIGATÓRIO ARBITRAMENTO DO LUCRO TRIBUTÁVEL'"). 4. Adiciona, à jurisprudência mencionada no aludido SUBITEM 3.2 do recurso, o que ficou decidido pelo E. 1º CONSELHO DE CONTRIBUINTES, no ACÓRDÃO N° 10809.230 (RECURSO N° 153.766), publicado no DOU de 17/01/2008, cuja ementa contém: Fl. 3905DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.906 19 "PAF AUSÊNCIA DE ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL LUCRO ARBITRADOA falta de apresentação dos Livros e documentos fiscais, bem como a falta de contabilização de movimentação bancária, representam motivos suficientes para arbitramento dos lucros. IRPJARBITRAMENTO DO LUCRO FORMA DE APURAÇÃO DE RESULTADO O arbitramento do lucro não é penalidade, sendo apenas mais uma forma de apuração dos resultados. O Código Tributário Nacional, em seu artigo 44, prevê a incidência do IRPJ sobre três possíveis bases de cálculo: lucro real, lucro arbitrado e lucro presumido. A apuração do lucro real parte do lucro líquido do exercício que ajustado fornece o lucro tributável. Na apuração do lucro presumido e do arbitrado seu resultado decorre da aplicação de um percentual, previsto em lei, sobre a receita bruta conhecida, cujo resultado já é o lucro tributável. IRPJ ARBITRAMENTO DO LUCRO BASE DE CÁLCULO O art. 51, caput, da Lei n" 8.981/95, determina que a incidência do percentual de arbitramento recairá sobre o somatório das receitas, declaradas e omitidas, quando prescreve que o lucro arbitrado será determinado com base na receita bruta conhecida." (o sublinhado é nosso) 5. Salienta que na autuação, a D. Fiscalização deixou de cumprir o que determina o § 3o do artigo 42 da LEI N° 9.430/96 ("Para efeito da determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica"), porquanto não considerou as transferências bancárias ocorridas, constantes dos "DEMONSTRATIVOS" (anexos docs. n°s. 01/04), nos importes de R$ 554.399,43 (1998), R$ 2.080.093,75 (1999), R$ 88.490,00 (2000), e R$ 270.191,70 (2001). 6. Considera que o resultado da diligência ora examinada levaria, no mínimo, à modificação do lançamento tributário impugnado, o que, evidente não pode ser realizado na fase de julgamento, cabe seja ele anulado integralmente. Colaciona à sua manifestação doutrina de HIROMI HIGUCHI, FÁBRIO HIROSHI HIGUCHI e CELSO IROYUKI HIGUCHI, transcrita a seguir: "ALTERAÇÃO DE LANÇAMENTO NO JULGAMENTO. Antes da criação das Delegacias da Receita Federal de Julgamento pela Lei n" 8.748/93, o 1° C.C. aceita a inovação do lançamento nas decisões dos Delegados da Receita Federal, desde que reabrisse o prazo para impugnação do lançamento. Com isso, antes da decisão o julgador de primeira instância podia inovar o fundamento legal do lançamento ou aumentar o valor do auto de infração. Com a separação das funções, os lançamentos de tributos são efetuados pelas Delegacias da Receita Federal enquanto os julgamentos dos processos em primeira instância são procedidos pelas Delegacias da Receita Federal de Julgamento. Após a separação das funções, o 1°C.C. vem decidindo pela nulidade das decisões de primeira instância quando houver qualquer inovação no lançamento, seja de inovação nos fundamentos legais ou de Fl. 3906DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.907 20 alteração no valor do tributo lançado. Vide os ac. 10192.109/98 (DOU de 120898), 10704.207/97 (DOU de 100298) e 10805.134/98 (DOUde 27 0798). Desconstituindo a autoridade julgadora o lançamento inicial, não tem a mesma competência ao decidir, exigir valores não reclamados no Auto de Infração, sob nova acusação, uma vez que o lançamento é ato de competência privativa da autoridade lançadora. Recursos provido (ac. n" 10417.444/00 no DOU de 130900). Vide ainda os ac. n°s. 10193.089/00 no DOU de 120900,10417.268/99 e 10417.267/99 no DOU de 250200)." 2ª DILIGÊNCIA VERIFICAÇÃO CUSTO DE MERCADORIAS VENDIDAS (CMV) Analisouse os custos das mercadorias vendidas, conforme solicitado através da resolução 140200028 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária . Os procedimentos realizados e as conclusões obtidas encontramse no Termo de Informação Fiscal (fls. 3399 a 3407). Transcrevese a seguir excertos do referido termo. "Em atendimento parcial apresentou os seguintes livros e documentos: Livro Registro de Apuração do ICMS n° 03 1999, Livro Registro de Apuração do ICMS n° 04 2000, Livro Registro de Apuração do ICMS n° 05 2001, Diário Geral n° 04 1998,(de fls. 0001 a 0060), Diário Geral n° 05 1999 (de fls. 000001 a 000094), Diário Geral n° 06 2000 (de fls. 000001 a 000092), Diário Geral n° 07 2001 (de fls. 000001 a 000097), Livro Registro de Inventário n° 02. Como não foi apresentada a totalidade dos documentos e/ou livros fiscais solicitados naquela Intimação (Livros de Entrada e Livros Razão Analítica e Sintético), foram feitas REINTIMAÇÕES em 18/10/2011 e 21/11/2011, não sendo atendidas em sua totalidade até a data do encerramento dos trabalhos desta diligência fiscal. Conforme solicitado, na Resolução n.° 140200028, enviamos, por via postal, o Ofício n.° 116/2011, de 08/11/2011, à Secretaria de Fazenda do Estado de São Paulo, solicitando as GIAs/ICMS, relativos aos anoscalendário de 1998, 1999, e 2000. ; ' . A Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda, por meio de sua Coordenadoria da Administração Tributária Diretoria de Informações Dl, em atenção a nossa solicitação, encaminhounos o Ofício Dl n° 232/2011, de Fl. 3907DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.908 21 08/12/2011,. recebida na DEFIS/SPOCOMÉRCIO, em 03/01/2012, contendo . informações sobre a movimentação relativa aos anoscalendário de 1998 a 2000. À vista dos documentos e/ou livros fiscais entregues foi feita a análise documental, com os recursos disponíveis, constatandose o seguinte: Os Livros Diário não espelham com exatidão os valores escriturados nos Livros "Apuração do ICMS (modelo n.°07) e Livro Inventário (modelo nº 09); Os Livros Diário se encontram escriturados, em sua maioria, por partidas mensais, e os lançamentos da movimentação bancária não refletem as movimentações contidas nos extratos bancários; Os Livros Diários 1999, 2000 e 2001 foram autenticados na Junta Comercial do Estado de São Paulo apenas em 28/07/2009. Não foram apresentados Livros Auxiliares que permitam a perfeita verificação dos lançamentos escriturados mensal e resumidamente nos Livros Diário. Não foram apresentados Livros de Entrada, Livros Razão Analítico ou Sintético que nos permitissem verificar os lançamentos escriturados resumidamente no Livro Diário. Os Livros Registro de Apuração do ICMS não refletem com exatidão os valores informados nas GIAs/ICMS entregues. Com base nos livros fiscais e comerciais apresentados, verificouse a divergência de valores, conforme descrito abaixo: [...] Oportuno mencionar, que os quadros demonstrativos do CMV escriturados nos Livros Diários, não foram aproveitados pela fiscalização, pois não refletem com exatidão os valores lançados nos livros fiscais (Apuração de ICMS mod. 07 e Inventário mod. 09), como também o contribuinte não os transportou para as DIPJs, a saber: [...] Em que pese a desproporção entre as receitas ajustadas, com a inclusão da movimentação financeira, e os custos, o contribuinte em atendimento à intimação, apresentou notas fiscais de aquisição apenas dos períodos "08/1999, 12/2000, 01/2001 e 06/2001, sob alegação de que estas não foram registradas nos, livros fiscais e contábeis, pois "a empresa passou por Fl. 3908DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.909 22 diversos problemas financeiros que a obrigaram a diminuir o pessoal administrativo, acarretando a mudança de contador e de pessoal que concorreu para o extravio de documentos", vindo a acrescer ao valor lançado como custos das mercadorias revendidas, os seguintes valores: Agosto/1999 R$ 53.550,64 Dezembro/2000 R$ 42.336,64 Janeiro/2001 R$ 275.510,64 Junho/2001 R$ 65.051,28 TOTAL RS 436.449,02 A razão alegada pelo contribuinte, de que as notas fiscais de aquisição, ora apresentadas, não foram objeto de escrituração nos livros fiscais e comerciais, corroboram a dificuldade desta diligência em verificar a sua escrituração, já que não foram apresentados os Livros Registro de Entradas de Mercadorias (mod. 01), Livros Razão ou Livros Auxiliares, que dessem respaldo aos lançamentos contábeis, resumidos por partidas mensais. Por esta razão, os valores das notas fiscais apresentadas não foram considerados, nesta diligência, no novo cálculo do CMV. Com as informações obtidas pelas GIAs/ICMS podemos aproveitar apenas as informações relativas ao anocalendário de 1999, onde apuramos o montante de R$ 5.121.459.13 (1) como entrada de mercadorias para aquele ano, cujo valor foi transferido para o QUADRO 02 CALCULO DO CMV REAJUSTADO Linha ; COMPRAS A PRAZO. Com base nas informações coletadas no Livro Inventário e nas GIAs/ICMS, os valores dos Custos das Mercadorias Revendidas informados nas / DIPJs, relativos aos exercícios de 1999, 2000, 2001 e 2002, anoscalendário de 1998, 1999, 2000 e 2001, foram reajustados, conforme o quadro 02, a saber: DEMONSTRATIVO DO CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS [...] Assim sendo, devem ser considerados como Custo de Mercadorias Vendidas os seguintes valores reajustados: Exercício 1999 anocalendário 1998: CMV = R$ 5.976.365,40 Exercício 2000 anocalendário 1999: CMV = R$ 4.967.687,46 Exercício 2001 anocalendário 2000: CMV = R$ 3.599.076,15 Exercício 2002 anocalendário 2001: CMV = R$ 6.050.037,87 Deste trabalho fiscal desenvolvido no contribuinte FALSI & FALSI COMÉRCIO DE PEÇAS DIESEL LTDA CNPJ n." 68.899.962/000168, Fl. 3909DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.910 23 constatouse a total irregularidade e imprestabilidade de sua escrita contábil, decorrentes da divergência dos lançamentos contábeis do Livro Diário com os valores escriturados nos Livros Fiscais e GiasICMS; da autenticação dos Livros Diário 1999, 2000 e 2001 apenas em 28/07/2009; da não contabilização integral da movimentação financeira, bem como de lançamentos contábeis feitos por partidas mensais nos anoscalendário de 1998 e 1999, sem que fosse observada a individualização dos mesmos em Livros Auxiliares. Nos anoscalendário de 2000 e 200l, constatouse que, embora tivessem ocorrido alguns lançamentos em data diversa do último dia do mês. (partidas mensais), estes eram escriturados contra a conta CAIXA preponderantemente, sem que houvesse os correspondentes lançamentos no Livro Razão. Os suprimentos da conta CAIXA, nos anoscalendários 2000 e 2001 (que apresentam escrituração diária), foram realizados mensalmente, em um único lançamento, no último dia de cada mês, contra a conta BANCOS, cujos lançamentos (em valores expressivos) também não são escriturados no único Livro Auxiliar apresentado, denominado EXTRATOS. O contribuinte apresentou o Livro Auxiliar EXTRATOS apenas para os períodos de 12/1998, 12/1999, 12/2000 e 12/2001. Todas as irregularidades aqui apontadas, podem ser constatadas nos Livros Diário e Razão, de fls. 2525 a 3048, e nos Livros Auxiliar Extratos, fls. 3051 a 3136. Conforme disposto nos arts. 251, 258 e 259, do RIR/99, a escrituração do contribuinte, que optou pelo regime de tributação com base no Lucro Real, deve ser feita em observância as leis comerciais e fiscais, a seguir descrito: [...] O contribuinte intimado por diversas vezes (25/05/2011, 18/10/2011 e 21/11/2011), deixou de apresentar os Livros de Entrada, Livros Razão e/ou Livros Auxiliares, com a escrituração individualizada e obedecendo à ordem cronológica das operações, que permitissem a verificação de sua escrituração mensal resumida dos seus Livros Diário, sob a alegação que não os escriturou ou já foram apresentados à época da fiscalização. Constatamos que os Livros Razão Analítico, de fls. 2879 a 3048, ao apresentar os saldos anterior/atual e o valor total lançado no mês, não respaldam com exatidão os lançamentos mensais efetuados nos Livros Diário. Portanto, conforme foi visto, a escrituração comercial do contribuinte contraria o disposto no art. 259 do RIR/99. Concluise, assim, que os valores dos Custos das Mercadorias Vendidas, considerados nas bases de cálculo do valor tributável dos tributos que originaram os autos de infração, ao não refletirem com exatidão os valores lançados nos livros comerciais e fiscais, devem ser reajustados tomando Fl. 3910DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.911 24 como base as informações disponíveis nas GIAs/ICMS, cujos valores deverão servir para o cálculo do novo valor tributável dos tributos, conforme abaixo: Ano calendário 1998 CMV = R$ 5.976.365,40 Ano calendário 1999 CMV = R$ 4.967.687,46 Ano calendário 2000 CMV = R$ 3.599.076,15 Ano calendário 2001 CMV = R$ 6.050.037,87 MANIFESTAÇÃO QUANTO ÀS CONCLUSÕES DA 2ª DILIGÊNCIA Em 02/03/2012, a Recorrente apresentou Contestação (fls. 3412 a 3445) ao "Termo de Informação Fiscal", com as seguintes razões de fato e de direito. DAS PRELIMINARES 1) DA EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIA PELA OCORRÊNCIA DO PRAZO DECADENCIAL O Recorrente alega a extinção do crédito tributário pela ocorrência do prazo decadencial sobre os valores relativos aos meses de janeiro a novembro de 1998, visto que os autos de infração foram lavrados em dezembro/2003. DO DIREITO 1) DO RECONHECIMENTO DA IMPRESTABILIDADE DA ESCRITURAÇÃO COMERCIAL PELO FISCO O Recorrente alega que a própria fiscalização da Receita Federal do Brasil em trabalho de diligência fiscal empreendida na sede da empresa encontrou divergências no confronto dos lançamentos registrados no Livro Diário versus Livros Fiscais. Afirma que por ocasião da fiscalização era imprescindível que o ilustre AuditorFiscal autuante tivesse observado o disposto no inciso I e II, do artigo 530 do RIR/99. Argüi que nessa linha, o Fisco deveria desclassificar a escrita fiscal, com o conseqüente arbitramento do lucro pela imprestabilidade da escrituração comercial, como também, pela não contabilização da movimentação financeira, inclusive bancária, o que se roga que seja feito pelos Doutos Conselheiros. Fl. 3911DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.912 25 Lembra o fato que por ocasião da ação fiscal, o nobre Auditor Fiscal autuante mencionou em seu Termo de Reintimação n° 003, de 08/102/003 (de fls. 1712) de que "Vencido o prazo, e não tendo a empresa apresentado a esta fiscalização nenhuma documentação solicitada no Termo de Intimação Fiscal n. 001, de 06/12/2002, estamos procedendo a reintimação presente ..." Declara que a bem da verdade, embora reintimada a contribuinte deixou de apresentar os livros fiscais e contábeis exigidos por não têlos. (grifo nosso) Afirma que com o intuito exclusivo de atender a fiscalização, escriturou o livro Diário de forma genérica e por partidas mensais, contrariando a legislação comercial, conforme foi verificado pelo nobre Auditor Fiscal na última diligência fiscal. (grifo nosso) Alega que a escrituração feita em desacordo com a legislação comercial, com lançamentos resumidos, por partidas mensais, não individualizados, sem a correta identificação dos compradores e vendedores, como também, a falta de apresentação dos documentos, inviabilizou a apuração do lucro real, restando como medida extrema a desclassificação da escrita fiscal e o arbitramento do lucro, conforme determinado pelo Egrégio Conselho de Contribuintes. Argumenta que comprovada a omissão de receita, pela não contabilização da movimentação bancária, a autoridade tributária deveria ter arbitrado a receita do contribuinte, tomando por base o valor dos depósitos bancários, apuradas em procedimento fiscal, aplicandose o disposto nos artigos 529 e 530 do RIR/99. Argüi que, de fato, o Fisco Federal pode presumir a existência de renda omitida em montante compatível a um percentual dos depósitos bancários e créditos bancários de origem não comprovada, mas deveria ter observado que as deficiências na escrita comercial, verificada pela não escrituração de livros auxiliares que possam suportar os lançamentos resumidos em partidas mensais no Livro Diário, bem como a falta de escrituração da movimentação bancária, inviabilizou a correta apuração do lucro real. Defende que, neste contexto, comprovado o vício insanável da contabilidade, resta como única forma de tributação o arbitramento do lucro tributável. 2) DO ÔNUS DA PROVA O Recorrente alega que o ônus da prova da existência material e fática dos pressupostos exigidos no Código Tributário Nacional, que embasam a cobrança de qualquer tributo, cabe única e exclusivamente ao fisco. Não se pode transferir a contribuinte o dever de prova. Afirma que da mesma forma, o fisco não pode exigir do contribuinte a produção de prova negativa. Caberia a inversão do ônus probandi se a contribuinte admitindo, reconhecendo, confessando a alegação do fisco, outro lhe oponha, fato impeditivo, modificativo ou extintivo. Mas, não é o caso dos autos. Fl. 3912DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.913 26 Cita que o Código de Processo Civil CPC, dispõe que "o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito." (CPC, art. 333, inciso I). Da mesma forma, o Código de Processo Penal CPP, também exige que "a prova deve ser feita por quem alega o fato, a causa ou circunstância."(art. 156 do CPP). Lembra o ensinamento de nosso saudoso mestre HELY LOPES MEIRELLES no sentido de que: "Com o Direito Processual (Civil e Penal) o Direito Administrativo mantém intercâmbio de princípios aplicáveis a ambas as disciplinas, na regulamentação de suas respectivas jurisdições. Se, por um lado, a jurisdição administrativa se serve de princípios tipicamente processuais para nortear o julgamento de seus recursos. Não raro são as próprias leis administrativas que determinam a aplicação das normas processuais comuns e princípios gerais do Direito Judiciário, aos casos análogos da Administração." (Direito Administrativo Brasileiro, Revista dos Tribunais, 8a Edição, pág. 9). Cita o julgado do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (Habeas Corpus n° 82.7888RJ, Relator Ministro CELSO DE MELLO, publicado no Diário da Justiça de 02/06/2006), em cuja EMENTA, dentre outros, consta o seguinte: Não são absolutos os poderes de que se acham investidos os órgãos e agentes da administração tributária, pois o Estado, em tema de tributação, inclusive em matéria de fiscalização tributária, está sujeito à observância de um complexo de direitos e prerrogativas que assistem, constitucionalmente, aos contribuintes e aos cidadãos em geral. Na realidade, os poderes do Estado encontram, nos direitos e garantias individuais, limites intransponíveis, cujo desrespeito pode caracterizar ilícito constitucional. A administração tributária, por isso mesmo, embora podendo muito, não pode tudo. É que, ao Estado, é somente lícito atuar, "respeitados os direitos individuais e nos termos da lei" (CF, art. 145, § 1o), consideradas, sobretudo, e para esse específico efeito, as limitações jurídicas decorrentes do próprio sistema instituído pela Lei Fundamental, cuja eficácia que prepondera sobre todos os órgãos e agentes fazendários restringelhes o alcance do poder de que se acham investidos, especialmente quando exercido em face do contribuinte e dos cidadãos da República, que são titulares de garantias impregnadas de estatura constitucional e que, por tal razão, não podem ser transgredidas por aqueles que exercem a autoridade em nome do Estado. A ação persecutória do Estado, qualquer que seja a instância de poder perante a qual se instaure, para revestirse de legitimidade, não pode apoiarse em elementos probatórios ilicitamente obtidos, sob pena de ofensa à garantia constitucional do "due processo oflaw", que tem, no dogma da inadmissibilidade das provas ilícitas, uma de suas mais expressivas projeções concretizadoras do plano do nosso sistema de direito positivo. A Constituição da República, em norma revestida de conteúdo vedatório (CF, art. 5° LVI), desautoriza, por incompatível com os postulados que regem uma sociedade fundada em bases democráticas (CF, art. 1o), qualquer prova cuja Fl. 3913DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.914 27 obtenção, pelo Poder Público, derive de transgressão a cláusulas de ordem constitucional, repelindo, por isso mesmo, quaisquer elementos probatórios que resultem de violação de direito material (ou, até mesmo, do direito processual), não prevalecendo, em conseqüência, no ordenamento normativo brasileiro, em matéria de atividade probatória, a forma autoritária do "male captum, bene retentum". Doutrina. Precedentes. A circunstância de a administração estatal acharse investida de poderes excepcionais que lhe permitem exercer a fiscalização em sede tributária não a exonera do dever de observar, para efeito do legítimo desempenho de tais prerrogativas, os limites impostos pela Constituição e pelas leis da República, sob pena de os órgãos governamentais incidirem em frontal desrespeito às garantias constitucionais asseguradas aos cidadãos em geral e aos contribuintes em particular. Os procedimentos dos agentes da administração tributária que contrariem os postulados consagrados pela Constituição da República revelamse inaceitáveis e não podem ser corroborados pelo Supremo Tribunal Federal, sob pena de inadmissível dos postulados constitucionais que definem, de modo estrito, os limites inultrapassáveis que restringem os poderes do Estado em suas relações com os contribuintes e com terceiros." Menciona que a Lei n° 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Federal), também expressamente prevê em seu art. 30, o seguinte: "São inadmissíveis no processo administrativo as provas obtidas por meios ilícitos." Argumenta que, em suma, o princípio do livre convencimento da autoridade fiscal sofre limitações decorrentes da garantia constitucional do sistema contraditório e da observância das prescrições legais na obtenção de prova. E a questão da legalidade da prova é de ser considerada com referência aos meios empregados para obter elementos de convicção relacionados com o fato apurado. Ressalta que a prova desempenha no processo, quer civil, quer criminal, quer administrativo, papel fundamental. E a necessidade de prova é evidente. A prova segundo Teixeira de Freitas é "a alma do processo". Provar o fato, segundo Jônatas Milhomens, é verificar certas ações que realizam uma operação, que passa para a matéria externa e que se distingue do próprio ato (Ed. Forense, 1982, pág. 43). Por fim, ressalta que o art. 112 do CTN é claro no sentido de que, em caso de dúvida, interpretase de maneira mais favorável ao acusado. Assim dispõe esse dispositivo: "A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades interpretase de maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida: I à capitulação legal do fato; Fl. 3914DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.915 28 II à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; III à autoria, imputabilidade ou punibilidade; IV à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. Fl. 3915DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.916 29 3) OUTROS FATOS NÃO CONSIDERADOS NA AUTUAÇÃO O Recorrente argumenta que na autuação não ficou demonstrado com planilhas os cheques devolvidos, as transferências bancárias entre contas do mesmo titular, os resgates de aplicações financeiras e etc. Afirma que o que se pode ver pelos autos é que a FALSI & FALSI COMÉRCIO DE PEÇAS DIESEL LTDA., habitualmente, como qualquer empresa comercial, coloca suas duplicatas em cobrança bancária e à medida que seus clientes as liquidam esses valores são creditados agrupadamente em lotes em suas contas bancárias. Alega que o Fisco considerou esses depósitos como OMISSÃO DE RECEITA , os quais se referem a duplicatas em cobrança, cujos valores já foram tributados quando de seu faturamento. Menciona que no ramo varejista de peças, com o intuito exclusivo de manter as vendas em pleno vapor, deve se proporcionar a seus clientes um atendimento primoroso, onde, devido à precária situação financeira, talvez por problemas trabalhistas ou inadimplência, estejam impossibilitados de efetuar movimentação financeira junto à rede bancária. Para tanto, muitas vezes, esses clientes solicitam que seus títulos sejam colocados em cobrança bancária, em nome da FALSI & FALSI e, depois de recebidos, os valores sejam devolvidos a eles. Declara que essa prática, a de receber títulos de terceiros e colocar em cobrança em nome da FALSI & FALSI, ocorreu nos anoscalendário de 1998/1999/2000/2001, os quais foram considerados, também, pelo Fisco como OMISSÃO DE RECEITA, como se vê, injustamente. Aduz que houve, in casu, flagrante desrespeito ao princípio da legalidade, uma vez que a simples desconfiança não tem o condão de gerar obrigação tributária. A lei exige a existência concreta de um FATO (CTN, art. 113, § 1o: "A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador...). Ressalta que a fiscalização deve observar, sempre, o princípio da TIPICIDADE (ou legalidade tributária específica), em que o fato ocorrido concretamente no mundo real (FATO IMPONÍVEL) deve corresponder, integralmente, ao fato descrito hipoteticamente na norma jurídica (HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA). É o fenômeno da subsunção em que o conceito do fato se encaixa, perfeitamente, ao conceito da norma, que se harmoniza, perfeitamente, com o princípio constitucional da legalidade tributária. Alega que uma autuação fiscal baseada em mera presunção é um procedimento execrado pelo Poder Judiciário, pelos Julgadores administrativos e pela doutrina, que entendem prevalecer, no processo administrativo, o PRINCÍPIO DA VERDADE REAL ou MATERIAL e nunca a verdade ficta ou presumida. Aduz que a Administração Pública não pode nunca aplicar o princípio da verdade presumida. A doutrina há muito tempo vem insistindo que se deve aplicar o principio da verdade material ou real no processo administrativo. Eis as lições do saudoso prof. HELY LOPES MEIRELLES, in Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros, 22.ed., p.594, sobre a aplicação da VERDADE MATERIAL: Fl. 3916DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.917 30 "Verdade material: o princípio da verdade material, também denominado da liberdade na prova, autoriza a Administração valerse de qualquer prova de que a autoridade processante ou julgadora tenha conhecimento, desde que a faça trasladar para o processo. É a busca da verdade material em contraste com a verdade formal. Enquanto que nos processos judiciais o juiz deve cingirse às provas indicadas no devido tempo pelas partes, no processo administrativo a autoridade processante ou julgadora pode, até o julgamento final, conhecer de novas provas, ainda que produzidas em outro processo." Cita o prof. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, in Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 5a. Ed., p.258, tem doutrina similar sobre o princípio da verdade material: "Princípio da verdade material. Consiste em que a Administração, ao invés de ficar restrita ao que as partes demonstrem no procedimento, deve buscar aquilo que é realmente a verdade, com prescindência do que os interessados hajam alegado e provado ... Nada importa, pois, que a parte aceite como verdadeiro algo que não o é ou que negue a veracidade do que haja sido aportado aos autos pela parte ou pelas partes, a Administração deve sempre buscar a verdade substancial. O autor citado (Hector Jorge Escola) escora esta assertiva no dever administrativo de realizar o interesse público." Afirma que, com base em tais doutrinas, no processo administrativo, NÃO se aplica, como ocorre no processo civil, o princípio da verdade ficta, mas, sim, o princípio da material ou real. Aduz que analisando exatamente essa postura fiscalista, que fecha os olhos para a verdadeira realização da justiça tributária, com o objetivo único de arrecadar tributos a qualquer custo, mesmo à margem da legislação. Oportunas as considerações do jurista FÁBIO KONDER COMPARATO: "O que a análise marxista, porém, deixou na sombra mas foi depois recuperado por Max Weber, entre outros é que existe, sim, um interesse particular dos órgãos estatais, de índole corporativa ou burocrática, em oposição ao interesse comum do povo. Atualmente, por exemplo, sob a influência preponderante da ideologia neoliberal, a máquina estatal é levada a trabalhar, no mundo todo, no sentido de transformar as finanças de atividade meio em pura atividadefim, como se o Estado existisse não para garantir o desenvolvimento nacional e a realização dos direitos humanos, mas sim para arrecadar tributos e manter o serviço da dívida". (Fábio Konder Comparato, in Estudos de Direito Público em homenagem a Celso Antônio Bandeira de Mello, Editora Malheiros, São Paulo, p. 325). Argumenta que se o processo administrativo fiscal deve ser pautado pelo princípio da verdade material, é esta que deve ser perseguida pelos agentes fiscais, que não podem se apegar tão somente à forma de demonstração dos fatos ao Fisco. Afirma que o princípio da verdade material é um dos mais importantes princípios do Direito Administrativo; reza tal princípio que no processo administrativo o julgador deve sempre buscar a verdade pura, os reais fatos ocorridos, independente de Fl. 3917DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.918 31 quaisquer formalidades ou ficções estabelecidas pela norma, mesmo que para tanto o agente administrativo use elementos alheios ao processo ou a ele trazidos de forma inusitada. Cita os renomados juristas SÉRGIO FERRAZ e ADILSON ABREU DALLARI, ao discorrerem sobre esse princípio, definiram situação hipotética que pode ser aplicada de forma precisa ao presente processo, in verbis: "Por força do Princípio da Verdade Material, mesmo no silêncio da lei, e até mesmo contra alguma esdrúxula disposição nesse sentido, nem há que se falar em confissão ficta e revelia, como ocorre no processo judicial. Até a própria confissão real do acusado não põe fim ao processo, pois sempre será necessário verificar, pelo menos, sua verossimilhança, pois o que interessa, em última análsie, é a verdade, pura e completa." (negritei e sublinhei) Cita JOSE ARTUR LIMA GONÇALVES, que socorrendose os ensinamentos de ALFREDO AUGUSTO BECKER acerca do princípio da verdade material, afirma: "Em outras palavras, como assevera Alfredo a Becker, desde que ocorra o fenômeno da subsunção, a incidência da regra de tributação é absolutamente automática, incumbindo à autoridade administrativa, única e exclusivamente, verificar a ocorrência do referido fenômeno da subsunção e zelar pela aplicação da norma jurídica, nos exatos e precisos termos em que posta pelo legislador competente. Nada além e nada aquém. Cita estudo específico de GERALDO ATALIBA sobre o tema, JOSÉ ARTUR LIMA GONÇALVES leciona nos seguintes termos: "Como desdobramento do princípio da ampla defesa, salienta GERALDO ATALIBA, no citado estudo, a ótica a partir da qual deve a questão do ônus da prova ser analisada: 'Não pode ser aplicado qualquer tipo de punição com base em presunções'. Por outro lado, também não pode sem ampla comprovação, convincente aos olhos do julgador ser reconhecida a existência ou autoria de qualquer fato ilícito. Na verdade, em matéria punitiva, todo ônus da prova incumbe à Administração, ficando ao acusado simplesmente a prova da circunstâncias ou fatos que sejam excludentes, elidentes ou de quaisquer atenuadores das circunstâncias que o prejudicam (...). Lembra que o princípio da segurança jurídica possui seu fundamento legal insculpido no art. 5o, XXXVI, da Constituição Federal, e está intimamente ligado à confiança que o cidadão possui em um ordenamento que está sempre em mutação. Cita que de acordo com o doutrinador Lucas Rocha furtado in Curso de Direito Administrativo, Belo Horizonte, Ed. Fórum, 2007, p. 125, preleciona que: "por mais contraditório ou sem sentido que possa parecer, o princípio da segurança jurídica surge para conter ou limitar a aplicação do princípio de legalidade administrativa, sobretudo em relação à possibilidade de a Fl. 3918DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.919 32 Administração Pública anular atos ilegais que tenham, todavia, gerado benefícios favoráveis a terceiros". Destaca que a Administração Pública deve primar pela observância de um ponto de equilíbrio entre três princípios quase sempre associados: segurança jurídica, legalidade e proteção da confiança, para que o cidadão possa ter a segurança de confiar nos atos e decisões públicas incidentes sobre os seus direitos e nas posições jurídicas emanadas da Administração, afastandose a idéia de que estas são modificadas por motivos circunstanciais. Aduz que com o princípio da segurança jurídica é resultado de uma construção que ocorre a partir da interpretação sistemática da Constituição Federal obtida com fulcro em dispositivos que garantem a legalidade, a irretroatividade e a anterioridade, presume se que tem o condão de garantir ao cidadão o amparo que ele necessita para poder esboçar a confiança que, teoricamente, deveria ter na Administração que conduz seus interesses. Cita o ensino do magistrado Mauro Nicolau Júnior, in Segurança jurídica e certeza do direito: realidade ou utopia num Estado Democrático de Direito: "A segurança jurídica é o mínimo de previsibilidade necessária que o estado de Direito deve oferecer a todo cidadão, a respeito de quais as normas de convivência que ele deve observar e com base nas quais pode travar relações jurídicas válidas e eficazes. As pedras fundamentais em que se assenta toda a organização política do Estado Democrático de Direito são a dignidade humana e o respeito aos direitos individuais e sociais dos cidadãos, conforme destacado no preâmbulo e no artigo primeiro de nossa Carta Magna." Citase que, dentre tantas normas inseridas no ordenamento jurídico pátrio, o artigo 2o, inciso XIII, da Lei n.° 9.784/99, que dispõe estar a Administração sujeita, dentre outros, ao princípio da segurança jurídica. Tal dispositivo é taxativo ao expressar que: "nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de (...) interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação." Pondera que, o princípio da segurança jurídica é um vetor na busca pela justiça e prima pela observância de institutos consubstanciados, principalmente, no respeito aos direitos adquiridos, no devido processo legal e na irretroatividade da lei, ensejando, desta maneira, imposição de limites e a segurança, propriamente dita, do cidadão ao depararse com as invalidações dos atos administrativos considerados ilegais ou inconstitucionais, como o apresentado no caso presente, onde o Fisco Federal autuou a contribuinte por supostos depósitos bancários, que por si só não caracterizam omissão de receita. (grifo nosso) Fl. 3919DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.920 33 Voto Vencido Conselheiro Evandro Correa Dias, Relator. O recurso voluntário é tempestivo e atende ao demais requisitos, motivo pelo qual dele conheço. DAS PRELIMINARES O Recorrente repisa suas alegações quanto a nulidade do lançamento, já enfrentadas e afastadas na decisão de primeira instância. Verificase, de plano, que o auto de infração guerreado não apresenta qualquer vício material ou formal em sua constituição, haja vista que foi lavrado por autoridade fiscal competente com observância das disposições dos artigos 142 do CTN e 10 do Decreto 70.235 de 1972 (PAF). Verificase que não ocorreu nenhuma das hipótese de nulidade previstas no art. 59 do PAF: lavratura por servidor incompetente ou com preterição ao direito de defesa. O Recorrente compreendeu plenamente as infrações que lhe foram imputas, tanto assim que apresentou defesa administrativa abordando vários aspectos dessa acusação. Esclarecese que as alegações do Recorrente, se pertinentes e acatadas, ensejam o cancelamento da respectiva parcela da exigência e não a nulidade dos lançamentos. A decisão recorrida não merece reparos, por ter deixado de apreciar alegações quanto a legalidade ou constitucionalidade de dispositivo legal em vigor. Esta matéria é objeto da Súmula n° 2 deste Conselho, que dispõe: "O Primeiro Conselho de Contribuintes não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária." Ressaltase que o Recorrente teve ampla oportunidade de apresentar no curso do procedimento fiscal (e mesmo na fase impugnatória), os documentos, informações e esclarecimentos requisitados pela Fiscalização. Ainda na fase impugnatória, poderia ter trazido aos autos as provas documentais que lhe foram solicitadas, nos termos facultados pelo artigo 16, inciso III, e § 4°, do Decreto n° 70.235/1972. O Recorrente possuía a prerrogativa de anexar aos autos todas as provas que julgasse relevantes para elidir o lançamento e teve pleno conhecimento do ilícito tributário que lhe foi imputado, podendo exercer, sem qualquer restrição, o seu direito de defesa, como se constata, facilmente, pelo extenso arrazoado apresentado. Verificase que não se configurou a ocorrência do alegado cerceamento ao direito de defesa. O Recorrente teve assegurado os princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa preceituados no art. 5°, inc. LV, da Constituição Federal. Fl. 3920DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.921 34 Contatase que não se vislumbra do exame dos autos qualquer falta ou violação aos princípios e critérios elencados no art. 2° e parágrafo único da Lei n° 9.784, de 29/01/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. Destacase que o processo administrativo fiscal é regido, fundamentalmente, pelo Decreto n° 70.235/1972, com a redação dada pelo art. 1° da Lei n° 8.748/1993 e alterações introduzidas pelo art. 67 da Lei n° 9.532/1997, sendo que somente a partir da lavratura do auto de infração é que se instaura o litígio entre o fisco e o contribuinte, podendo se então, falar em ampla defesa ou cerceamento dela. Concluise que a alegada preterição do direito de defesa não ocorreu, devendo a preliminar de nulidade argüida ser rejeitada. Afastase a suscitada nulidade do auto de infração amparada na tese de indevida aplicação retroativa da Lei nº 10.174, de 2001. Isto porque tal matéria já está sumulada de forma contrária ao entendimento do recorrente, pela Súmula CARF nº 35, transcritas a seguir: Súmula CARF nº 35 O art. 11, § 3º, da Lei nº 9.311/96, com a redação dada pela Lei nº 10.174/2001, que autoriza o uso de informações da CPMF para a constituição do crédito tributário de outros tributos, aplicase retroativamente. 1. DA PRELIMINAR DE DECADÊNCIA O Recorrente em manifestação ao referido Termo de Constatação alega a extinção do crédito tributário pela ocorrência do prazo decadencial sobre os valores relativos aos meses de janeiro a novembro de 1998, visto que os autos de infração foram lavrados em dezembro/2003. Transcrevese a seguir trechos do voto condutor do Acórdão nº 1402001.547 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária que retificou o Acórdão 140201.150 apenas em relação à decadência, acolhendo a caducidade para o 1º, 2º e 3º trimestres de 1998, no que se refere ao IRPJ e CSLL; e para os fatos geradores ocorridos até 30/11/1998, inclusive, em relação ao PIS e a Cofins. Na análise da decadência a decisão recorrida assim se pronunciou: Também não há que se falar em decadência do crédito tributário, isso porque não há provas de recolhimentos de tributos nos autos, pelo que a contagem do prazo decadencial do ano de 1998 iniciouse no 1° dia do ano de 1999, encerrandose em 31/12/2003, à luz dos art. 150 e 173 do Código Tributário Nacional CTN. Pelo exame dos autos constatase que, na verdade, foram trazidos pelo sujeito passivo documentos de arrecadação demonstrando o recolhimento do IRPJ e CSLL (a título de estimativas), PIS e Cofins, no anocalendário de 1998. Fl. 3921DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.922 35 Em relação à contagem do prazo decadencial assim se pronunciou o STJ em decisão na sistemática do recurso repetitivo. Os destaques foram acrescidos (AgRg no AgRg no Ag 1395402 / SC, Segunda Turma, Ministra Eliana Calmon, julgamento em 15/10/2013, Dje 24/10/2013): TRIBUTÁRIO IMPOSTO DE RENDA LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO PAGAMENTO A MENOR INCIDÊNCIA DO ART. 150, § 4°, DO CTN FATO GERADOR COMPLEXIVO DECADÊNCIA AFASTADA. 1. Na hipótese de tributo sujeito a lançamento por homologação, quando o contribuinte constitui o crédito, mas efetua pagamento parcial, sem constatação de dolo, fraude ou simulação, o termo inicial da decadência é o momento do fato gerador. Aplicase exclusivamente o art. 150, § 4°, do CTN, sem a possibilidade de cumulação com o art. 173, I, do mesmo diploma (REsp 973.733/SC,Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, DJe 18/9/2009, submetido ao regime do art. 543C do CPC). No presente caso, a ciência da autuação ocorreu em 03/12/2003. Assim, na contagem do prazo pelo § 4°, do art. 150, do CTN, estariam atingidos pela caducidade fatos geradores anteriores a 03/12/1998. A apuração do IRPJ e da CSLL foi trimestral e a decadência foi caracterizada para o 1°, 2° e 3° trimestres de 1998. Em relação ao PIS e à Cofins, com apuração mensal, foram atingidos pela decadência os fatos geradores ocorridos até 30/11/1998, inclusive. Do exposto, voto por dar provimento aos embargos, na parte em que foram admitidos, para retificar o Acórdão 140201.150 na parte em que foi rejeitada a decadência, acolhendo a caducidade para o 1°, 2° e 3° trimestres de 1998, em relação ao IRPJ e CSLL; e para os fatos geradores ocorridos até 30/11/1998, inclusive, para o PIS e a Cofins." Por concordar com os argumentos e com a conclusão a respeito da decadência , voto no sentido de dar provimento ao recurso voluntário em relação à decadência, acolhendo a caducidade para o 1°, 2° e 3° trimestres de 1998, no que se refere ao IRPJ e CSLL; e para os fatos geradores ocorridos até 30/11/1998, inclusive, em relação ao PIS e a Cofins. 2. DA COMPETÊNCIA DA DRJ / BRASÍLIA PARA DECIDIR O LITÍGIO A jurisprudência do CARF é no sentido que é válida a decisão proferida por Delegacia da Receita Federal de Julgamento DRJ de localidade diversa do domicílio fiscal do sujeito passivo, de acordo com a Súmula CARF nº 102, portanto rejeitase as razões do Recorrente quanto à nulidade da decisão por incompetência da DRJ BRASÍLIA para decidir o litígio. Fl. 3922DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.923 36 DO MÉRITO 1. DA TRIBUTAÇÃO DA OMISSÃO DE RECEITAS DEPÓSITOS BANCÁRIOS NÃO COMPROVADOS A tributação com base em depósitos bancários, a partir de 01/01/1997, é regida pelo art. 42 da Lei n° 9.430, de 27/12/1996, publicada no DOU de 30/12/1996, que instituiu a presunção de omissão de rendimentos com base em depósitos bancários, quando o contribuinte, regularmente intimado, não comprovasse mediante documentação hábil e idônea a origem dos recursos utilizados nessas operações. In verbis: Art. 42. Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. (grifo nosso) § 1º O valor das receitas ou dos rendimentos omitido será considerado auferido ou recebido no mês do crédito efetuado pela instituição financeira. § 2º Os valores cuja origem houver sido comprovada, que não houverem sido computados na base de cálculo dos impostos e contribuições a que estiverem sujeitos, submeterseão às normas de tributação específicas, previstas na legislação vigente à época em que auferidos ou recebidos. § 3º Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica; II no caso de pessoa física, sem prejuízo do disposto no inciso anterior, os de valor individual igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais), desde que o seu somatório, dentro do anocalendário, não ultrapasse o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais). (Vide Medida Provisória nº 1.5637, de 1997) (Vide Lei nº 9.481, de 1997) § 4º Tratandose de pessoa física, os rendimentos omitidos serão tributados no mês em que considerados recebidos, com base na tabela progressiva vigente à época em que tenha sido efetuado o crédito pela instituição financeira. § 5o Quando provado que os valores creditados na conta de depósito ou de investimento pertencem a terceiro, evidenciando interposição de pessoa, a determinação dos rendimentos ou receitas será efetuada em relação ao terceiro, na condição de efetivo titular da conta de depósito ou de investimento. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 2002) Fl. 3923DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.924 37 § 6o Na hipótese de contas de depósito ou de investimento mantidas em conjunto, cuja declaração de rendimentos ou de informações dos titulares tenham sido apresentadas em separado, e não havendo comprovação da origem dos recursos nos termos deste artigo, o valor dos rendimentos ou receitas será imputado a cada titular mediante divisão entre o total dos rendimentos ou receitas pela quantidade de titulares. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 2002) Constatase que o diploma legal acima citado passa a caracterizar omissão de rendimentos, sujeitos a lançamento de ofício, os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, quando não comprovada a origem dos recursos utilizados nessas operações. Não se inquire o titular da conta bancária sobre o destino dos saques, cheques emitidos e outros débitos, ou se foram utilizados para consumo, aquisição de patrimônio, viagens etc. A presunção de omissão de rendimentos decorre da existência de depósito bancário sem origem comprovada. No presente caso, o Recorrente foi intimado a comprovar a origem dos depósitos/créditos bancários, relacionados nos anexos e relativos aos anos de 1998, 1999, 2000 e 2001, apresentando documentos comprobatórios. Não tendo a pessoa jurídica logrado comprovar as origens dos recursos depositados/creditados, ficou caracterizado a omissão de Receitas, de acordo com o Art. 42 da Lei nº 9.430/96. Em seu recurso voluntário, o Recorrente afirma que possuía todos os livros contábeis e fiscais exigidos pela legislação, os quais foram apresentados à Autoridade Fiscal em momento anterior à intimação para comprovar a origem dos depósitos bancários. Os livro entregues foram: a) o "LIVRO DIÁRIO", N°s. 04 a 07, dos anos de 1998. 1999. 2000 e 2001; b) O "LIVRO RAZÃO", e O "LIVRO RAZÃO AUXILIAR BANCOS EXTRATO", referente aos mesmos anoscalendário; c) as DCTF correspondentes aos 04 (quatro) trimestres desses mesmos anoscalendário; d) O "LIVRO REGISTRO DE ENTRADAS", O "LIVRO REGISTRO DE SAÍDAS" e o "LIVRO DE APURAÇÃO DO ICMS", também referentes aos mencionados anoscalendário. Alega que a movimentação de recursos nas contas bancárias objeto da autuação está devidamente escriturada nos livros Diário e Razão, de modo sintético, e no livro auxiliar denominado "Bancos Extrato", de forma analítica, mas que, apesar de estar de posse dos referidos livros assim como da resposta à intimação fiscal para comprovar a origem dos depósitos, na qual a empresa informou não estar legalmente obrigada a realizar o trabalho da Fiscalização, mas sim a esclarecer quaisquer dúvida quanto a qualquer lançamento, bem como comproválos documentalmente mesmo assim o Fisco efetuou o presente lançamento, considerando como receita omitida o valor dos depósitos e créditos nas referidas contas bancárias; Fl. 3924DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.925 38 Argüi que seria absolutamente improcedente a autuação realizada (e, por decorrência, a decisão ora impugnada), porquanto: a) tributou, como se lucro real fosse, a totalidade dos depósitos/créditos bancários realizados pela RECORRENTE, que considerou com "receita omitida", quando, se observada a legislação de regência, deveria ter promovido o arbitramento do lucro (v. SUBITEM 3.2, a seguir), e b) tributou duplamente valores anteriormente declarados (v. SUBITEM 3.3, adiante). Analisouse a escrituração do Recorrente, conforme solicitado através da resolução CARF n º 10700.716 de 31/10/2008. Os procedimentos realizados e as conclusões obtidas encontramse no Termo de Informação Fiscal (fls. 3234 a 3237). Transcrevese a seguir excertos do referido termo. "Os livros fiscais e comerciais escriturados pelo contribuinte atendem às formalidades intrínsecas e extrínsecas; todavia, excetuado o Livro Diário relativo ao anocalendário de 1998, todos os demais (a/c 1999, 2000 e 2001) foram levados à autenticação na Junta Comercial do Estado de São Paulo em 28/07/2009, data posterior até mesmo ao início da presente diligência fiscal. Foram pesquisadas na supracitada escrituração todas as possíveis origens de receitas contabilizadas, tendo sido identificados, conforme demonstrativos anexos, ingressos nas contas Empréstimos, Juros Ativos (receitas financeiras), Vendas de Mercadorias e Outras Receitas. A partir de tais contas, buscouse demonstrar um fluxo de receitas efetivamente recebidas em cada ano sob análise, partindose dos saldos iniciais de Duplicatas a Receber, adicionandose os ingressos citados e subtraindose as vendas canceladas e os saldos finais de Duplicatas a receber. O resultado de tal fluxo encontrase também anexo ao presente relatório. Do exposto, concluímos que as receitas contabilizadas pelo contribuinte em sua escrituração correspondem ao demonstrado no quadro a seguir. Cabe observar que tais valores são próximos ao informado pelo mesmo na Demonstração de Resultado ao final de cada exercício: Anocalendário: Receitas contabilizadas: Receita Bruta (D.R.E): 1998 6.584.860,19 6.853.748,80 1999 5.190.236,45 4.967.411,29 2000 4.870.053,69 5.128.123,92 2001 7.627.811,01 7.494.286,65 Do comparativo entre as supracitadas receitas contabilizadas e os ingressos/créditos bancários identificados no curso do procedimento fiscal do Fl. 3925DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.926 39 qual resultou o lançamento tributário de que trata o processo administrativo nº 19515.004065/200311, constatamos as diferenças a seguir demonstradas: Anocalendário: Depósitos/créditos bancários: () Receitas contabilizadas: (=) Receitas omitidas: 1998 13.078.500,05 6.584.860,19 6.493.639,86 1999 15.061.901,62 5.190.236,45 9.871.665,17 2000 18.100.455,08 4.870.053,69 13.230.401,39 2001 23.265.949,27 7.627.811,01 15.638.138,26 TOTAL: 69.506.806,02 24.272.961,34 45.233.844,68 O Recorrente em manifestação ao referido Termo de Constatação alega que tais assertivas corroboram, em grande parte, os argumentos da REQUERENTE expendidos no recurso interposto, no sentido de que, não obstante a existência de valores contabilizados, no importe total de R$ 24.272.961,34, foi promovida a tributação daquele total de R$ 69.506.806,02, o que, por certo, nulifica a autuação. Argüiu a nulidade da autuação, visto que, nos autos de infração lavrados, não foram excluídas as receitas declaradas, e agora corroboradas pela diligência realizada (v. item 1, supra), valores esses que, por certo, estão incluídos naqueles montantes depositados, com o que foram duplamente tributados, consoante se vê na iterativa jurisprudência administrativa reproduzida no SUBITEM 3.3.2 do recurso." Notase que o Recorrente não se insurge contra os procedimentos efetuados e as conclusões da Autoridade Fiscal na diligência realizada. Argumenta que pelo fato de não terem sido excluídas as receitas contabilizadas dos depósitos bancários na apuração da receita omitida, causaria a nulidade da autuação. Ressaltase que o referido fato não se caracteriza como nulidade nos termos do 59 e 60 do Decreto nº 70.235/72. Art. 59. São nulos: I os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio.(grifo nosso) Verificase que, embora não se caracteriza como nulidade, entendese que as receitas contabilizadas, devem ser excluídas na apuração da receita omitida, pois na diligência fiscal restou evidente que o recorrente incluiu em sua contabilidade os depósitos bancários. Ocorre que o montante das receitas contabilizadas pelo contribuinte nos 4 anos fiscalizados foi da ordem de 24 milhões enquanto dos depósitos atingiram o montante de 69 milhões. Fl. 3926DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.927 40 Notase que todas as contas bancárias da empresa foram identificadas, logo, a base de calculo do lançamento de oficio deve ser ajustada para excluir a totalidade das receitas já tributadas pelo recorrente, em face da evidente duplicidade, nos seguintes valores: R$ 6.584.860,19 (1998), 5.190.236,45 (1999), 4.870.053,69 (2000) e 7.627.811,01 (2001). Entendese também que devem ser excluído da tributação os valores das transferências bancárias entre as contascorrentes objeto de tributação, conforme demonstrativos apresentados pelo Recorrente, fls. 3207 a 3218, nos valores totais de R$ 554.399,43 (1998), 2.080.093,75 (1999), 88.490,00 (2000) e 270.191,70 (2001). O elevado montante das transferências em 1999, pareceme que se deve ao fato do Recorrente manter a época duas contas corrente no Banco Itaú. O Recorrente alega que ainda que se admita que não tenha escriturado os depósitos bancários, como afirmado na autuação, resta evidente que não poderia aquele total depositado, de R$ 69.506.806,02, ser tributado como se lucro real fosse: Quer porque a sua não escrituração levaria, fatalmente, ao arbitramento do lucro, nos termos do artigo 530, II, a, do RIR/99 (por força do disposto no § único do artigo 142 do CTN), Quer porque o artigo 42 da LEI N° 9.430/96 estabelece uma presunção legal de "omissão de receita" e não de "lucro real", tudo como amplamente demonstrado no SUBITEM 3.2 do recurso ("DA IMPOSSIBILIDADE DA TRIBUTAÇÃO, COMO LUCRO REAL, DA TOTALIDADE DOS DEPÓSITOS/CRÉDITOS BANCÁRIOS VERIFICADOS. DO OBRIGATÓRIO ARBITRAMENTO DO LUCRO TRIBUTÁVEL'"). Transcrevese a seguir o Art. 530, II, a, do RIR/99 que disciplina uma das hipóteses de Arbitramento: Art. 530. O imposto, devido trimestralmente, no decorrer do anocalendário, será determinado com base nos critérios do lucro arbitrado, quando (Lei nº 8.981, de 1995, art. 47, e Lei nº 9.430, de 1996, art. 1º): [...] II a escrituração a que estiver obrigado o contribuinte revelar evidentes indícios de fraudes ou contiver vícios, erros ou deficiências que a tornem imprestável para: a) identificar a efetiva movimentação financeira, inclusive bancária; ou Pelos fatos verificados em diligência, contatase que não se aplica ao caso a hipótese de arbitramento prevista no Art. 530, II, a, do RIR/99, pois identificar não é equivalente a comprovar. Fl. 3927DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.928 41 O Recorrente apresentou o livro "LIVRO RAZÃO AUXILIAR BANCOS EXTRATO", no qual identificase a sua movimentação financeira, contudo intimado a comprovála, no curso do procedimento fiscal, não se manifestou e portanto não apresentou documentação comprobatória dos depósitos efetuados em suas contas bancárias. Como já relatado, a Autoridade Fiscal, através de diligência, analisou a escrituração do Recorrente e apurou que as receitas contabilizadas eram inferior aos seus depósitos/créditos efetuados nos anoscalendário de 1998 a 2001. O Recorrente argumenta que o artigo 42 da LEI N° 9.430/96 estabelece uma presunção legal de "omissão de receita" e não de "lucro real", tudo como amplamente demonstrado no SUBITEM 3.2 do recurso ("DA IMPOSSIBILIDADE DA TRIBUTAÇÃO, COMO LUCRO REAL, DA TOTALIDADE DOS DEPÓSITOS/CRÉDITOS BANCÁRIOS VERIFICADOS. DO OBRIGATÓRIO ARBITRAMENTO DO LUCRO TRIBUTÁVEL'"). Tem razão o Recorrente quando diz que o artigo 42 da LEI N° 9.430/96 estabelece uma presunção legal de "omissão de receita", contudo está equivocado quanto à impossibilidade da tributação como lucro real da totalidade dos depósitos, pois verificada a omissão de receita, a autoridade tributária determinará o valor do imposto e do adicional a serem lançados de acordo com o regime de tributação a que estiver submetida a pessoa jurídica no períodobase a que corresponder a omissão, de acordo com o Art. 24 da Lei nº 9.249/1995. No presente caso o Recorrente estava submetido ao Lucro Real no período base que correspondia a omissão, portanto correto a apuração do valor do imposto e do adicional a partir da receita omitida nesse regime. O Recorrente adiciona, à jurisprudência mencionada no aludido SUBITEM 3.2 do recurso, o que ficou decidido pelo E. 1º CONSELHO DE CONTRIBUINTES, no ACÓRDÃO N° 10809.230 (RECURSO N° 153.766), publicado no DOU de 17/01/2008, cuja ementa contém: "PAF AUSÊNCIA DE ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL LUCRO ARBITRADOA falta de apresentação dos Livros e documentos fiscais, bem como a falta de contabilização de movimentação bancária, representam motivos suficientes para arbitramento dos lucros. IRPJARBITRAMENTO DO LUCRO FORMA DE APURAÇÃO DE RESULTADO O arbitramento do lucro não é penalidade, sendo apenas mais uma forma de apuração dos resultados. O Código Tributário Nacional, em seu artigo 44, prevê a incidência do IRPJ sobre três possíveis bases de cálculo: lucro real, lucro arbitrado e lucro presumido. A apuração do lucro real parte do lucro líquido do exercício que ajustado fornece o lucro tributável. Na apuração do lucro presumido e do arbitrado seu resultado decorre da aplicação de um percentual, previsto em lei, sobre a receita bruta conhecida, cujo resultado já é o lucro tributável. IRPJ ARBITRAMENTO DO LUCRO BASE DE CÁLCULO O art. 51, caput, da Lei n" 8.981/95, determina que a incidência do percentual de arbitramento recairá sobre o somatório das receitas, declaradas e omitidas, quando prescreve que o lucro arbitrado será determinado com base na receita bruta conhecida." (o sublinhado é nosso) Fl. 3928DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.929 42 Vêse que o citado acórdão trata da ausência de escrituração contábil, portanto inaplicável ao presente caso. O Recorrente salienta que na autuação, a D. Fiscalização deixou de cumprir o que determina o § 3º do artigo 42 da LEI N° 9.430/96 ("Para efeito da determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica"), porquanto não considerou as transferências bancárias ocorridas, constantes dos "DEMONSTRATIVOS" (anexos docs. n°s. 01/04), nos importes de R$ 554.399,43 (1998), R$ 2.080.093,75 (1999), R$ 88.490,00 (2000), e R$ 270.191,70 (2001). Notase que o Recorrente, durante o procedimento fiscal, não apresentou o demonstrativo de transferência entre contas. Verificase que, embora não se caracteriza como nulidade o fato alegado, os créditos decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica devem ser excluídos dos valores apurados de omissão receita, de acordo como o Art. 42, §3º, inciso I, da Lei 9430/96. O Recorrente considera que o resultado da diligência ora examinada levaria, no mínimo, à modificação do lançamento tributário impugnado, o que, evidente não pode ser realizado na fase de julgamento, cabe seja ele anulado integralmente. Pisase que a ausência de exclusão das receitas contabilizadas na apuração de omissão de receitas não tem o condão de causar a nulidade do lançamento. É evidente que se foi apurado receitas contabilizadas durante a diligência, essas podem levar à redução da apuração da receita omitida na fase de julgamento, sem causar a alegada nulidade. O Recorrente colaciona à sua manifestação doutrina de HIROMI HIGUCHI, FÁBRIO HIROSHI HIGUCHI e CELSO IROYUKI HIGUCHI, transcrita a seguir: "ALTERAÇÃO DE LANÇAMENTO NO JULGAMENTO. Antes da criação das Delegacias da Receita Federal de Julgamento pela Lei n" 8.748/93, o 1° C.C. aceita a inovação do lançamento nas decisões dos Delegados da Receita Federal, desde que reabrisse o prazo para impugnação do lançamento. Com isso, antes da decisão o julgador de primeira instância podia inovar o fundamento legal do lançamento ou aumentar o valor do auto de infração. Com a separação das funções, os lançamentos de tributos são efetuados pelas Delegacias da Receita Federal enquanto os julgamentos dos processos em primeira instância são procedidos pelas Delegacias da Receita Federal de Julgamento. Após a separação das funções, o 1°C.C. vem decidindo pela nulidade das decisões de primeira instância quando houver qualquer inovação no lançamento, seja de inovação nos fundamentos legais ou de alteração no valor do tributo lançado. Vide os ac. 10192.109/98 (DOU de Fl. 3929DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.930 43 120898), 10704.207/97 (DOU de 100298) e 10805.134/98 (DOUde 27 0798). Desconstituindo a autoridade julgadora o lançamento inicial, não tem a mesma competência ao decidir, exigir valores não reclamados no Auto de Infração, sob nova acusação, uma vez que o lançamento é ato de competência privativa da autoridade lançadora. Recursos provido (ac. n" 10417.444/00 no DOU de 130900). Vide ainda os ac. n°s. 10193.089/00 no DOU de 120900,10417.268/99 e 10417.267/99 no DOU de 250200)." Não se aplica ao presente caso, a jurisprudência colacionada pelo Recorrente que traz hipótese de inovação do lançamento, quando desconstituindo a autoridade julgadora o lançamento inicial, não tem a mesma competência ao decidir, exigir valores não reclamados no Auto de Infração, sob nova acusação, uma vez que o lançamento é ato de competência privativa da autoridade lançadora. Analisouse os custos das mercadorias vendidas, conforme solicitado através da resolução 140200028 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária . Os procedimentos realizados e as conclusões obtidas encontramse no Termo de Informação Fiscal (fls. 3399 a 3407). Transcrevese a seguir excertos do referido termo. Como não foi apresentada a totalidade dos documentos e/ou livros fiscais solicitados naquela Intimação (Livros de Entrada e Livros Razão Analítica e Sintético), foram feitas REINTIMAÇÕES em 18/10/2011 e 21/11/2011, não sendo atendidas em sua totalidade até a data do encerramento dos trabalhos desta diligência fiscal. À vista dos documentos e/ou livros fiscais entregues foi feita a análise documental, com os recursos disponíveis, constatandose o seguinte: Os Livros Diário não espelham com exatidão os valores escriturados nos Livros "Apuração do ICMS (modelo n.°07) e Livro Inventário (modelo nº 09); Os Livros Diário se encontram escriturados, em sua maioria, por partidas mensais, e os lançamentos da movimentação bancária não refletem as movimentações contidas nos extratos bancários; Os Livros Diários 1999, 2000 e 2001 foram autenticados na Junta Comercial do Estado de São Paulo apenas em 28/07/2009. Não foram apresentados Livros Auxiliares que permitam a perfeita verificação dos lançamentos escriturados mensal e resumidamente nos Livros Diário. Não foram apresentados Livros de Entrada, Livros Razão Analítico ou Sintético que nos permitissem verificar os lançamentos escriturados resumidamente no Livro Diário. Fl. 3930DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.931 44 Os Livros Registro de Apuração do ICMS não refletem com exatidão os valores informados nas GIAs/ICMS entregues. Deste trabalho fiscal desenvolvido no contribuinte FALSI & FALSI COMÉRCIO DE PEÇAS DIESEL LTDA CNPJ n." 68.899.962/000168, constatouse a total irregularidade e imprestabilidade de sua escrita contábil, decorrentes da divergência dos lançamentos contábeis do Livro Diário com os valores escriturados nos Livros Fiscais e GiasICMS; da autenticação dos Livros Diário 1999, 2000 e 2001 apenas em 28/07/2009; da não contabilização integral da movimentação financeira, bem como de lançamentos contábeis feitos por partidas mensais nos anoscalendário de 1998 e 1999, sem que fosse observada a individualização dos mesmos em Livros Auxiliares. Nos anoscalendário de 2000 e 200l, constatouse que, embora tivessem ocorrido alguns lançamentos em data diversa do último dia do mês. (partidas mensais), estes eram escriturados contra a conta CAIXA preponderantemente, sem que houvesse os correspondentes lançamentos no Livro Razão. Os suprimentos da conta CAIXA, nos anoscalendários 2000 e 2001 (que apresentam escrituração diária), foram realizados mensalmente, em um único lançamento, no último dia de cada mês, contra a conta BANCOS, cujos lançamentos (em valores expressivos) também não são escriturados no único Livro Auxiliar apresentado, denominado EXTRATOS. O contribuinte apresentou o Livro Auxiliar EXTRATOS apenas para os períodos de 12/1998, 12/1999, 12/2000 e 12/2001. Todas as irregularidades aqui apontadas, podem ser constatadas nos Livros Diário e Razão, de fls. 2525 a 3048, e nos Livros Auxiliar Extratos, fls. 3051 a 3136. Conforme disposto nos arts. 251, 258 e 259, do RIR/99, a escrituração do contribuinte, que optou pelo regime de tributação com base no Lucro Real, deve ser feita em observância as leis comerciais e fiscais, a seguir descrito: O contribuinte intimado por diversas vezes (25/05/2011, 18/10/2011 e 21/11/2011), deixou de apresentar os Livros de Entrada, Livros Razão e/ou Livros Auxiliares, com a escrituração individualizada e obedecendo à ordem cronológica das operações, que permitissem a verificação de sua escrituração mensal resumida dos seus Livros Diário, sob a alegação que não os escriturou ou já foram apresentados à época da fiscalização. Constatamos que os Livros Razão Analítico, de fls. 2879 a 3048, ao apresentar os saldos anterior/atual e o valor total lançado no mês, não respaldam com exatidão os lançamentos mensais efetuados nos Livros Diário. Portanto, conforme foi visto, a escrituração comercial do contribuinte contraria o disposto no art. 259 do RIR/99. Fl. 3931DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.932 45 Concluise, assim, que os valores dos Custos das Mercadorias Vendidas, considerados nas bases de cálculo do valor tributável dos tributos que originaram os autos de infração, ao não refletirem com exatidão os valores lançados nos livros comerciais e fiscais, devem ser reajustados tomando como base as informações disponíveis nas GIAs/ICMS, cujos valores deverão servir para o cálculo do novo valor tributável dos tributos, conforme abaixo: Ano calendário 1998 CMV = R$ 5.976.365,40 Ano calendário 1999 CMV = R$ 4.967.687,46 Ano calendário 2000 CMV = R$ 3.599.076,15 Ano calendário 2001 CMV = R$ 6.050.037,87 O Recorrente, em manifestação ao referido Termo de Informação Fiscal, alega que a própria fiscalização da Receita Federal do Brasil em trabalho de diligência fiscal empreendida na sede da empresa encontrou divergências no confronto dos lançamentos registrados no Livro Diário versus Livros Fiscais. Afirma que por ocasião da fiscalização era imprescindível que o ilustre AuditorFiscal autuante tivesse observado o disposto no inciso I e II, do artigo 530 do RIR/99. Argüi que nessa linha, o Fisco deveria desclassificar a escrita fiscal, com o conseqüente arbitramento do lucro pela imprestabilidade da escrituração comercial, como também, pela não contabilização da movimentação financeira, inclusive bancária, o que se roga que seja feito pelos Doutos Conselheiros. Lembra o fato que por ocasião da ação fiscal, o nobre Auditor Fiscal autuante mencionou em seu Termo de Reintimação n° 003, de 08/102/003 (de fls. 1712) de que "Vencido o prazo, e não tendo a empresa apresentado a esta fiscalização nenhuma documentação solicitada no Termo de Intimação Fiscal n. 001, de 06/12/2002, estamos procedendo a reintimação presente ..." Declara que a bem da verdade, embora reintimado o contribuinte deixou de apresentar os livros fiscais e contábeis exigidos por não têlos. (grifo nosso) Afirma que com o intuito exclusivo de atender a fiscalização, escriturou o livro Diário de forma genérica e por partidas mensais, contrariando a legislação comercial, conforme foi verificado pelo nobre Auditor Fiscal na última diligência fiscal. (grifo nosso) Alega que a escrituração feita em desacordo com a legislação comercial, com lançamentos resumidos, por partidas mensais, não individualizados, sem a correta identificação dos compradores e vendedores, como também, a falta de apresentação dos documentos, inviabilizou a apuração do lucro real, restando como medida extrema a desclassificação da escrita fiscal e o arbitramento do lucro, conforme determinado pelo Egrégio Conselho de Contribuintes. Fl. 3932DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.933 46 Argumenta que comprovada a omissão de receita, pela não contabilização da movimentação bancária, a autoridade tributária deveria ter arbitrado a receita do contribuinte, tomando por base o valor dos depósitos bancários, apuradas em procedimento fiscal, aplicandose o disposto nos artigos 529 e 530 do RIR/99. Argüi que, de fato, o Fisco Federal pode presumir a existência de renda omitida em montante compatível a um percentual dos depósitos bancários e créditos bancários de origem não comprovada, mas deveria ter observado que as deficiências na escrita comercial, verificada pela não escrituração de livros auxiliares que possam suportar os lançamentos resumidos em partidas mensais no Livro Diário, bem como a falta de escrituração da movimentação bancária, inviabilizou a correta apuração do lucro real. Defende que, neste contexto, comprovado o vício insanável da contabilidade, resta como única forma de tributação o arbitramento do lucro tributável. Da análise dos procedimentos realizados e conclusões da diligência frente aos às razões de fato e de direito trazidos pelo Recorrente em sua manifestação verificase as conclusões da diligência foram feitas "À vista dos documentos e/ou livros fiscais entregues foi feita a análise documental, com os recursos disponíveis" Ressaltase que não foi apresentada a totalidade dos documentos e/ou livros fiscais solicitados naquela Intimação (Livros de Entrada e Livros Razão Analítica e Sintético), foram feitas REINTIMAÇÕES em 18/10/2011 e 21/11/2011, não sendo atendidas em sua totalidade até a data do encerramento dos trabalhos desta diligência fiscal. O Recorrente intimado por diversas vezes (25/05/2011, 18/10/2011 e 21/11/2011), deixou de apresentar os Livros de Entrada, Livros Razão e/ou Livros Auxiliares, com a escrituração individualizada e obedecendo à ordem cronológica das operações, que permitissem a verificação de sua escrituração mensal resumida dos seus Livros Diário, sob a alegação que não os escriturou ou já foram apresentados à época da fiscalização. Mostrase evidente que a ausência de apresentação de Livros e Documentos foi um dos motivos pelo qual a Autoridade Fiscal constatou a total irregularidade e imprestabilidade de sua escrita contábil do Recorrente. Notase a mudança de argumentação do Recorrente entre a apresentação do recurso voluntário e sua manifestação às conclusões da diligência. Em seu recurso voluntário, afirmou que possuía todos os livros contábeis e fiscais exigidos pela legislação, os quais foram apresentados à Autoridade Fiscal em momento anterior à intimação para comprovar a origem dos depósitos bancários e que a que a movimentação de recursos nas contas bancárias objeto da autuação está devidamente escriturada nos livros Diário e Razão, de modo sintético, e no livro auxiliar denominado "Bancos Extrato", de forma analítica. Em sua manifestação às conclusões da diligência declara que a bem da verdade, embora reintimada a contribuinte deixou de apresentar os livros fiscais e contábeis exigidos por não têlos. Afirma que com o intuito exclusivo de atender a Fl. 3933DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.934 47 fiscalização, escriturou o livro Diário de forma genérica e por partidas mensais, contrariando a legislação comercial, conforme foi verificado pelo nobre Auditor Fiscal na última diligência fiscal. O Recorrente defende que, neste contexto, comprovado o vício insanável da contabilidade, resta como única forma de tributação o arbitramento do lucro tributável. (grifo nosso) Verificase que o Recorrente pretendese beneficiar da conduta de não apresentação da totalidade dos documentos e/ou livros fiscais solicitados na diligência fiscal que acarretou as conclusões já relatadas. Livros estes que alegou terem sidos apresentados no curso do procedimento fiscal. Não merecem prosperar as alegações do Recorrente, pois aplicase ao presente caso o princípio nemo auditur propriam turpitudinem allegans, ou, em outras palavras, ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Este princípio, de aplicabilidade geral em qualquer área do Direito, referese a questões de que nenhuma pessoa pode fazer algo incorreto e/ou desacordo com as normas legais e depois alegar tal conduta em proveito próprio. Quanto ao regime de tributação, como já relatado, o Recorrente estava submetido ao Lucro Real no períodobase que correspondia a omissão, cujo valor do imposto e do adicional a devem ser lançados de acordo com o regime de tributação a que estiver submetida a pessoa jurídica no períodobase a que corresponder a omissão, de acordo com o Art. 24 da Lei nº 9.249/1995. Ressaltase, ainda, que o arbitramento do lucro é uma medida extrema, só aplicável quando não há possibilidade de apurar o imposto por outro regime de tributação, portanto mostrase correto a utilização da apuração pelo Lucro Real no lançamento das infrações, tendo em vista que este regime foi o adotado pelo Recorrente. Quanto as novos valores dos Custos das Mercadorias Vendidas, entendese que são referentes às receitas contabilizadas. Portanto deduzidos dos depósitos não comprovados as receitas contabilizadas não há razões para reduzir aqueles valores da apuração de omissão de receita. Entendese que não é possível alterar o Custo das Mercadorias Vendidas na apuração dos valores de tributo com base nas receitas contabilizadas, pois o procedimento fiscal não realizou a auditoria dessas receitas. DO ÔNUS DA PROVA O Recorrente alega que o ônus da prova da existência material e fática dos pressupostos exigidos no Código Tributário Nacional, que embasam a cobrança de qualquer tributo, cabe única e exclusivamente ao fisco. Não se pode transferir a contribuinte o dever de prova. Afirma que da mesma forma, o fisco não pode exigir do contribuinte a produção de prova negativa. Caberia a inversão do ônus probandi se a contribuinte admitindo, Fl. 3934DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.935 48 reconhecendo, confessando a alegação do fisco, outro lhe oponha, fato impeditivo, modificativo ou extintivo. Mas, não é o caso dos autos. Verificase que não tem razão o Recorrente em suas alegações, pois a presunção estabelecida no art. 42 da Lei n° 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada. O extrato bancário é prova suficiente para a fiscalização. efetuar lançamento com base em omissão de receitas. O ônus da prova cabe ao Recorrente que deve justificar e comprovar a causa dos depósitos. Constatase que as provas foram obtidos por meio lícitos, logo não houve nenhum ato em desacordo com a Lei n° 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Federal). Caberia a quem alega comprovar a ilicitude das provas,contudo não o fez em nenhuma das oportunidades de se manifestar no processo. O Recorrente ressalta que o art. 112 do CTN é claro no sentido de que, em caso de dúvida, interpretase de maneira mais favorável ao acusado, contudo percebese que não é aplicável ao presente processo, pois em nenhum momento houve dúvidas quanto à capitulação legal do fato; à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; à autoria, imputabilidade ou punibilidade; à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. DOS OUTROS FATOS NÃO CONSIDERADOS NA AUTUAÇÃO O Recorrente cita algumas situações que no seu entendimento não foram considerados na autuação (duplicidade de tributação de cobranças bancárias, títulos de terceiros em cobrança), contudo traz apenas alegações ao processo, não apresentando documentação comprobatória quanto aos fatos alegados. Aduz que houve, in casu, flagrante desrespeito ao princípio da legalidade, uma vez que a simples desconfiança não tem o condão de gerar obrigação tributária. Ressalta que a fiscalização deve observar, sempre, o princípio da TIPICIDADE. Alega que uma autuação fiscal baseada em mera presunção é um procedimento execrado pelo Poder Judiciário. Aduz que a Administração Pública não pode nunca aplicar o princípio da verdade presumida. Destaca que a Administração Pública deve primar pela observância de um ponto de equilíbrio entre três princípios quase sempre associados: segurança jurídica, legalidade e proteção da confiança. Por fim pondera que, o princípio da segurança jurídica é um vetor na busca pela justiça e prima pela observância de institutos consubstanciados, principalmente, no respeito aos direitos adquiridos, no devido processo legal e na irretroatividade da lei, ensejando, desta maneira, imposição de limites e a segurança, propriamente dita, do cidadão ao depararse com as invalidações dos atos administrativos considerados ilegais ou inconstitucionais, como o apresentado no caso presente, onde o Fisco Federal autuou a contribuinte por supostos depósitos bancários, que por si só não caracterizam omissão de receita. Devem ser afastados todos os argumentos trazidos pois não se caracterizouse nos presentes autos desrespeito aos referidos princípios. O lançamento foi realizado com base em disposição do Art. 42 da Lei 9430/96. Pisase que conforme disposição cristalina desse artigo caberia ao Recorrente comprovar com documentos hábeis a origem dos depósitos bancários, contudo não o fez. Fl. 3935DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.936 49 DA EXIGÊNCIA DO PIS E DA COFINS SOBRE RECEITAS OMITIDAS O Recorrente alega a impossibilidade da exigência do PIS e da COFINS, posto que no seu entendimento depósitos bancários não podem ser caracterizados como faturamento. Tratandose de auto de infração reflexo em razão de omissão de receitas apurado em fiscalização de IRPJ, mantida a exigência principal quanto à ocorrência de receitas omitidas, tal conclusão também deve se estender à CSLL, PIS E COFINS. Ressaltase que o art. 42 da Lei 9.430/96 dispõe tão somente de um meio de prova indireta de receitas, ou seja, de uma presunção juris tantum que autoriza a Fiscalização a concluir pela existência de receitas omitidas, e somente na hipótese de o contribuinte não lograr êxito em demonstrar a origem de ingressos na sua conta bancária. Tratase, assim, de uma presunção relativa, cabendo prova em contrário, o que não foi realizado a contento pelo Recorrente. É importante ainda ressaltar que o art. 42 da Lei 9.430/96 é apenas um meio de prova da existência de receitas omitidas, aplicandose a todos os tributos federais, pois não trata de um aspecto da hipótese de incidência do IRPJ. Conforme já abordado, embora tal presunção legal admitisse a prova em contrário, a Recorrente nada trouxe aos autos que pudesse comprovar a origem dos ingressos nas suas contas bancárias, restando configurada a omissão de receitas. Portanto, cumpridas as exigências previstas no art. 42 da Lei 9.430/96 a fim de apurar receitas omitidas, deve ser afastada a alegação da impossibilidade da exigência do PIS e da COFINS sobre tais receitas. Conclusão Ante o exposto, voto por dar provimento parcial ao Recurso Voluntário, no sentido de : 1. No mérito, ajustar a base de calculo do lançamento de oficio para excluir a totalidade das receitas já contabilizadas e tributadas pelo recorrente, em face da duplicidade, nos seguintes valores: R$ 6.584.860,19 (1998), R$ 5.190.236,45 (1999), R$ 4.870.053,69 (2000) e R$ 7.627.811,01 (2001); 2. ajustar a base de calculo do lançamento de oficio para excluir os valores das transferências bancárias entre as contascorrentes objeto de tributação, conforme demonstrativos apresentados pelo Recorrente, fls. 3207 a 3218, nos valores totais de R$ 554.399,43 (1998), R$ 2.080.093,75 (1999), R$ 88.490,00 (2000) e R$ 270.191,70 (2001) 3. Após os ajustes dos itens 1 e 2, em relação à parte remanescente, acatar a preliminar de decadência para o 1°, 2° e 3° trimestres de 1998, no que se Fl. 3936DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.937 50 refere ao IRPJ e CSLL; e para os fatos geradores ocorridos até 30/11/1998, inclusive, em relação ao PIS e a Cofins. (assinado digitalmente) Evandro Correa Dias Fl. 3937DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.938 51 Voto Vencedor Conselheira Edeli Pereira Bessa, Redatora designada Acompanharia o Conselheiro Relator na rejeição das preliminares de nulidade do lançamento e da decisão de 1ª instância, bem como no acolhimento parcial da arguição de decadência. Contudo estas questões restam superadas na medida em que, no mérito, vislumbro outros requisitos para a imputação de omissão de receitas presumidas a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, na linha do que se infere das seguintes indicações consignadas na Resolução nº 10700.716 (efls. 3221/3226): RELATÓRIO [...] Cientificada em 03/11/2006 (fl. 2442v), a empresa apresentou, em 04/12/2006, o Recurso de fls. 2454/2506, articulado da seguinte forma, em síntese: • Alega que a movimentação de recursos nas contas bancárias objeto da autuação está devidamente escriturada nos livros Diário e Razão, de modo sintético, e no livro auxiliar denominada "Bancos Extrato", de forma analítica, mas que, apesar de estar de posse dos referidos livros — assim como da resposta à intimação fiscal para comprovar a origem dos depósitos, na qual a empresa informou não estar legalmente obrigada a realizar o trabalho da Fiscalização, mas sim a esclarecer quaisquer dúvida quanto a qualquer lançamento, bem como comproválos documentalmente , mesmo assim o Fisco efetuou o presente lançamento, considerando como receita omitida o valor dos depósitos e créditos nas referidas contas bancárias; [...] • Reclama de não ter o Fisco efetuado auditoria fiscalcontábil nos livros e documentos da empresa, optando simplesmente por intimála a comprovar a origem de aproximadamente 16.200 registros bancários, o que demandaria a vinculação dos respectivos valores com uma quantidade de documentos que facilmente chegariam à quantidade de 50.000 ou 60.000. Assim, e sendo que toda a movimentação bancária estava devidamente contabilizada, entende que caberia ao Fisco aplicar os procedimentos de auditoria por meio de amostragem e testes, intimando a Recorrente a comprovar, documentalmente, as operações selecionadas para exame, no número que julgasse conveniente para sua convicção; • Argui no sentido de que a tributação com base na presunção de omissão de receitas com base em depósitos bancários de origem não comprovada só pode ser realizada com base no lucro arbitrado, uma vez que desconsidera a existência de regular escrituração; [...] VOTO [...] Fl. 3938DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.939 52 Analisadas as peças do processo, entendo não reunir ele as informações necessárias para a apreciação da matéria na profundidade recomendada e suficiente para a perfeita solução da lide. A autuação referese a omissão de receitas representada por valores creditados em contas de depósito mantidas pela autuada nos anos calendário 1998 a 2001, cuja origem dos recursos utilizados não foi comprovada. No Termo de Verificação Fiscal não foi informado se as referidas contas foram ou não contabilizadas, embora o Fisco tenha estado de posse dos livros Diário e Razão, como di conta o Termo de Devolução de Documentos n°. 002 (fl. 1708). Tendo a impugnante sustentado que as contas bancárias em questão foram devidamente escrituradas em sua contabilidade, a Turma Julgadora que proferiu a decisão de primeira instância não aceitou a alegação, ao argumento de falta de comprovação. No Recurso a este Conselho de Contribuintes, a interessada traz aos autos cópias de folhas dos livros Diário e Razão, onde se verifica que todas as contas bancárias que dão respaldo à autuação foram objeto de contabilização. Assim, e tendo em vista que, na analise dos lançamentos relativos a omissão de receitas caracterizada por depósitos de origem não comprovada, como no presente caso, tem sido relevante para os Conselheiros dessa Câmara saber se as contas bancárias foram ou não contabilizadas, entendo prudente a realização de diligência a fim de verificar a autenticidade regularidade da escrituração da interessada juntada aos autos por cópias dos livros Diário e Razão. Pelo exposto, voto no sentido de ser baixado o processo em diligencia para a verificação acima, podendo, para isso, serem utilizados todos os documentos, informações e argumentos contidos no presente processo, além de solicitação e de exames de outras informações e documentos que se mostrarem necessários, devendo, antes do processo retornar a esta Câmara, ser aberto prazo de 30 dias para que a interessada se manifeste sobre o resultado da diligência, se o quiser. (destaques do original) A motivação do questionamento assim deduzido pela 7ª Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes tem origem na jurisprudência constituída a partir de lançamentos fundamentados no art. 42 da Lei nº 9.430/96 e que apresentavam evidências de que o sujeito passivo contabilizara depósitos bancários no período autuado, motivadores de decisões assim ementadas: IRPJ/CSLL E REFLEXOS PRESUNÇÃO LEGAL DE OMISSÃO DE RECEITAS A PARTIR DE DEPÓSITOS BANCÁRIOS CUJA ORIGEM É A CONTA CAIXA A presunção legal trazida pelo art. 42 da Lei n° 9.430/96 é uma importante ferramenta colocada à disposição do fisco, mas só pode ser utilizada quando não restarem dúvidas no tocante ao fato índice, cuja prova, direta, está a cargo da fiscalização. Sabendo que a fonte dos depósitos bancários devidamente contabilizados foi a conta caixa (origem), a auditoria deveria se concentrar nesta conta, dela escoimando eventuais suprimentos fictícios (cheques compensados mantidos no caixa) que poderiam desnudar a omissão de receitas por outra tipificação legal. (Acórdão nº 10708.282, sessão de 19 de outubro de 2005, Relator Conselheiro Luiz Martins Valero) IRPJ/CSLL E REFLEXOS PRESUNÇÃO LEGAL DE OMISSÃO DE RECEITAS A PARTIR DE DEPÓSITOS BANCÁRIOS A presunção legal trazida pelo art. 42 da Fl. 3939DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.940 53 Lei n° 9.430/96 é uma importante ferramenta colocada à disposição do fisco, mas só pode ser utilizada, quando não restarem dúvidas no tocante ao fato índice, cuja prova, direta, está a seu cargo. É imprescindível que o fisco identifique primeiramente se os créditos bancários foram contabilizados ou não. (Acórdão nº 10708.600, sessão de 21 de junho de 2006, Relator Conselheiro Luiz Martins Valero) OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS ESCRITURADOS. Tratandose de contas bancárias cuja movimentação financeira foi devidamente contabilizada, incabível a presunção de omissão de receitas pela falta de comprovação da origem dos depósitos nelas realizados. Nesse caso, as verificações fiscais devem recair sobre as contrapartidas dos suprimentos registrados na contabilidade. (Acórdão nº 10709.218 Sessão de 7 de novembro de 2007, Relator Conselheiro Jayme Juarez Grotto) No Acórdão nº 10708.282, destaco que a autoridade fiscal havia iniciado a verificação da forma de contabilização dos depósitos bancários porém, constatando que todos teriam contrapartida na conta caixa, expurgou as transferências e outros créditos, intimando o sujeito passivo a comprovar a origem dos depósitos bancários e, frente à justificativa do sujeito passivo de que as origens seriam as vendas e outra créditos a receber, apurou os depósitos bancários de origem não comprovada a partir da diferença entre as receitas identificadas e os depósitos questionados. A Câmara não admitiu este procedimento, acompanhando o Conselheiro Relator que assim se manifestou: Não se sustentam, entretanto, as exigências calçadas na acusação de depósitos bancários, em relação aos quais a pessoa jurídica não teria comprovado, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nas operações. Ora, corno dito, nas presunções legais o que o fisco não precisa provar é o fato presumido a omissão de receitas. Mas jamais está dispensado de fazer, de forma direta e cabal, a prova da ocorrência do fato índice. A presunção trazida pelo art. 42 da Lei n° 9.430/96 é uma poderosa ferramenta à disposição do fisco, mas ela deve ser manejada nos estritos limites e pressupostos de sua legalidade, não se admitindo que o fato indiciário depósito bancário sem origem que a sustenta seja provado de forma indireta. Com efeito, dispõe o art. 42 da Lei n° 9.430/96, na parte em que aplicável ao caso em exame: Art. 42. Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. § 3° Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualmente, observado que não serão considerados: I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica; Os grifos, em perfeita consonância com a teoria da prova nas presunções legais, não deixam margem a dúvidas de que a intimação para a comprovação deve especificar cada depósito e não o montante global de um período, ainda que mensal. Fl. 3940DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.941 54 Ao descrever a sistemática de escrituração contábil utilizada pela empresa, o auditor fiscal é incisivo ao dizer que todos os depósitos bancários da empresa possuem como origem o dinheiro na conta caixa, chegando mesmo a asseverar que "não existe depósito bancário que não proceda da conta caixa" (fls. 2.213). No Demonstrativo que elaborou às fls. 2.216, a fiscalização, levando em conta as entradas mensais de caixa por vendas a vista, duplicatas recebidas, vendas do ativo permanente e outras receitas, aponta diferenças em relação aos depósitos bancários que relacionou. Em outro ponto, ao abordar a conta contábil "Bancos Conta Movimento", a fiscalização afirma que "não existem depósitos bancários realizados por clientes/terceiros diretamente nesta conta". Na diligência solicitada por esta Câmara, cujo resultado está às fls. 2.428 a 2.435, a fiscalização confirma que as entradas em bancos tem origem contábil na conta caixa e que esta por sua vez, ainda contabilmente, era abastecida pela conta bancos. Fossem transações circulares entre contas do disponível, nenhuma irregularidade se apresentava, desde que a injeção de recursos novos dentro do círculo tivesse origem. Eis o ponto central da questão. Diz o fisco que os recursos contabilizados na conta caixa, tendo como origem a conta bancos, no caixa não ingressaram pois os cheques teriam sido compensados. Ora manter em caixa recursos que já foram destinados a terceiros é suprimento fictício de caixa, visando exatamente cobrir lançamentos a crédito da conta que, não fossem os suprimentos, apresentaria saldo credor. Se os lançamentos a crédito de caixa que provocariam o "estouro" estão representados pelos depósitos bancários, como dito pelo diligenciante, e os depósitos efetivamente aconteceram, conforme extratos, bastaria ao auditor excluir da conta caixa as entradas "justificadas" pelos cheques compensados que jamais poderiam permanecer no caixa. Pronto, estaria desnudado o "esquentamento" de recursos via conta caixa. Lembre se, a fiscalização teve em mãos os extratos bancários da fiscalizada e pode comprovar, como destacou às fis.2.214, que não houve entradas, diretamente em bancos, de recursos de origem desconhecida. O auditor confirmou que todos os depósitos bancários provinham da própria empresa (caixa) e não de terceiros, logo eventual infração só poderia se materializar na conta caixa. Em outras palavras, eventuais recursos novos injetados no círculo só poderiam "brotar" dentro da própria conta caixa, principal abastecedora da conta bancos. A auditoria fiscal, portanto, deveria ter se concentrado na movimentação da conta caixa, ainda que tenha constatado que a maior parte dos depósitos em bancos tenha sido em cheque e DOCs, mas sempre tendo como origem contábil a conta caixa, pois essa era a sistemática adotada pela empresa. Diz o fisco que essa tarefa se revelou impossível face aos lançamentos no livro Diário serem feito por totais mensais. Ora, mas o auditor dispunha dos extratos bancários fornecidos pela própria fiscalizada que são, por natureza analíticos. Não consta dos autos intimação específica para que a fiscalizada apresentasse os livros auxiliares ou comprovasse as entradas e saídas de caixa de forma a "abrir" Fl. 3941DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.942 55 os totais mensais a que alude a fiscalização. Logo, as partidas mensais não eram entrave à auditoria. Depõe ainda contra as conclusões do fisco, no tocante aos depósitos bancários, o fato de que a fiscalização foi originada pelo indício representado pela divergência entre a receita bruta declarada pela fiscalizada no anocalendário de 1998 de R$ 6.576.634,56 e o total da movimentação bancária a crédito de R$ 17.059.432,44 (fls. 2.211). Ocorre que, excluídas as transferências (fls. 2.216), os depósitos bancários líquidos no referido ano foram de R$ 5.595.723,45. Os Auditores Fiscais da Receita Federal, detém, com exclusividade, a prerrogativa do lançamento tributário. Reconheço que a busca da verdade real é árdua e espinhosa, mas é a contrapartida ao poder conferido pela Lei exigida dos agentes do fisco. Só assim o lançamento gozará de presunção de certeza e liquidez. Em suma, as presunções legais não podem ser utilizadas sem que os fatos indutores estejam livres de dúvida. (negrejei) A 7ª Câmara, portanto, não admitiu que obstáculos como a escrituração resumida do Livro Diário ou o registro contábil dos depósitos bancários em contrapartida à conta Caixa justificassem a interrupção da verificação da origem contábil dos depósitos escriturados. Circunstâncias semelhantes aparentam estar presentes na escrituração da contribuinte aqui autuada. À efl. 2557 consta a relação de documentos recebidas pelo fiscal autuante em 19/11/2002, dentre as quais figuram "Diário Geral nº 04 a 07 ref. 1998 à 2001" e "Razão Analítico ref. 1998, 1999, 2000 e 2001". Em 31/03/2003 a autoridade fiscal devolveu tais livros ao contribuinte, conforme registrado à efl. 1738. Naquela ocasião já o havia intimado a comprovar a origem dos depósitos bancários, conforme termo de 13/12/2002 (efls. 1570/1737), reiterado depois da devolução dos livros, em 14/04/2003 (efls. 1739). Concedidas prorrogações de prazo e lavrada nova reintimação fiscal em 13/10/2003, a autoridade lançadora exara o Termo de Verificação Fiscal à efl. 1745, nos seguintes termos: No exercício das funções de AuditorFiscal da Receita Federal, procedemos a fiscalização do contribuinte acima identificado, conforme determinado no Mandado de Procedimento Fiscal, onde verificamos os seguintes fatos: DESCRICÃO DOS FATOS 1. Através do Termo de Intimação Fiscal n.001, de 06/12/2002, o contribuinte foi intimado a comprovar as origens dos depósitos/créditos bancários, relacionados nos anexos e relativos aos anos de 1998, 1999, 2000 e 2001, apresentando documentos comprobatórios. 2. Não tendo a empresa logrado comprovar as origens dos recursos depositados / creditados, caracterizado ficou a Omissão de Receitas. BASE TRIBUTÁVEL 3. Valores relacionados nos quadros resumos e nas relações anexas ao Termo de Intimação Fiscal n.001, de 06/12/2002. ENQUADRAMENTO LEGAL 03. Infração aos artigos 195, inciso II, 197 e parágrafo único, 226 e 229 do RIR/94; artigo 24 da Lei n. 9.249/95; artigo 42 da Lei n. Fl. 3942DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.943 56 9.430/96; artigos 249, inciso II, 251 e parágrafo único, 279, 282, 287 e 288, do RIR/99. E, para constar e surtir os efeitos legais, lavramos o presente Termo, em 03(três) vias de igual forma e teor, assinado pelo(s) Auditor(es) Fiscal (is) da Receita Federal e pelo contribuinte/preposto da fiscalizada, que neste ato recebe uma das vias. Os autos de infração de IRPJ e CSLL foram formalizados na sistemática do lucro real trimestral, do 1º trimestre de 1998 ao 4º trimestre de 2001, sem qualquer indicação de valores originalmente declarados pelo sujeito passivo, além da exigência de Contribuição ao PIS e COFINS devidos mensalmente no mesmo período. Não localizei, nos autos, nenhuma referência às DIPJ apresentadas pelo sujeito passivo. Porém os livros Diário e Razão referentes a 1998, o primeiro autenticado em 03/05/1999, registram encerramento, bem como demonstrações financeiras anuais. O mesmo se verifica às efls 2705/2716 no livro Diário apresentado para o anocalendário 1999, às efls. 2800/2810 no livro Diário apresentado para o anocalendário 2000 e às efls. 2901/2911 no livro Diário apresentado para o anocalendário 2001, e, muito embora a autoridade fiscal encarregada da primeira diligência tenha observado que estes livros somente foram autenticados em 28/07/2009, ou seja, depois do início daquela diligência (efls. 3235/3236), o fato é que livros com a mesma identificação foram apresentados à Fiscalização e nada nos autos permite afirmar que fossem eles diversos daqueles juntados por ocasião do recurso voluntário. Observo, ainda, que os comprovantes de arrecadação apresentados em embargos, motivadores do acolhimento parcial da decadência, no que se refere ao IRPJ e à CSLL, trazem indicados os códigos de arrecadação 2484 (CSLL Demais PJ que apuram o IRPJ com base em lucro real Estimativa mensal) e 5993 (IRPJ Optantes apuração c/ base no lucro real Estimativa mensal), ao longo de todos os períodos de apuração de 1998 a 2001 como também informado nas DCTF que teriam sido apresentadas em diligência, e novamente juntadas em embargos às efls. 3578/3594, códigos esses indicativos de recolhimentos mensais estimados, típicos de apuração anual do IRPJ e da CSLL. Caso optasse pela apuração trimestral do IRPJ, a contribuinte estaria obrigada a recolhimentos nos códigos 0220/3373 (IRPJ PJ obrigadas/PJ não obrigadas ao lucro real Entidades não financeiras Balanço trimestral) e (6012 (CSLL Demais PJ que apuram o IRPJ com base em lucro real Balanço trimestral). Ou seja, de plano constato que nenhuma justificativa há, nos autos, para a exigência do IRPJ e da CSLL segundo a sistemática do lucro real trimestral. Antes disso, porém, retomando a exposição precedente, o fato é que, assim como não se pode, pelas razões antes expressas, negar valor aos livros juntados em recurso voluntário e confirmados na primeira diligência, também não se pode ignorar que a escrituração da movimentação bancária neles expressa foi promovida em contrapartida a créditos na conta Caixa e, ainda, por totais mensais, à semelhança do que observado no primeiro precedente antes citado (Acórdão nº 107 08.282), e isto sem que a Fiscalização apresentasse qualquer objeção ou mesmo questionasse a existência de livros auxiliares, como exige o Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto nº 3.000/99 RIR/99: Art. 258. Sem prejuízo de exigências especiais da lei, é obrigatório o uso de Livro Diário, encadernado com folhas numeradas seguidamente, em que serão lançados, dia a dia, diretamente ou por reprodução, os atos ou operações da atividade, ou que Fl. 3943DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.944 57 modifiquem ou possam vir a modificar a situação patrimonial da pessoa jurídica (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 5º). § 1º Admitese a escrituração resumida no Diário, por totais que não excedam ao período de um mês, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares para registro individuado e conservados os documentos que permitam sua perfeita verificação (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 5º, § 3º). § 2º Para efeito do disposto no parágrafo anterior, no transporte dos totais mensais dos livros auxiliares, para o Diário, deve ser feita referência às páginas em que as operações se encontram lançadas nos livros auxiliares devidamente registrados. [...] Neste contexto, à míngua de qualquer constatação registrada pela autoridade fiscal em face dos livros que lhe foram apresentados, não é possível extrair consequências de deficiências assim vislumbradas na escrituração dos depósitos bancários verificados nos períodos autuados. Tivesse a Fiscalização apontado a impossibilidade de identificar sua origem contábil em razão da escrituração resumida desacompanhada de livros auxiliares hipótese na qual se poderia, inclusive, cogitar de arbitramento dos lucros na forma do art. 530, II, "a" do RIR/99 ou mesmo em razão do registro dos depósitos em contrapartida à conta Caixa, algum litígio se estabeleceria acerca do ônus probatório do sujeito passivo acerca da origem dos depósitos bancários. Porém, o vício aqui identificado é precedente: a autoridade fiscal teve sob seu exame a escrituração contábil, mas não lhe negou validade nem criticou o seu conteúdo informativo. Vejase que no segundo precedente indicado (Acórdão nº 10708.600) houve exame da contabilidade, mas a Câmara o considerou insuficiente não só porque os questionamentos fiscais tiveram em conta montantes mensais dos depósitos bancários, mas também porque a acusação determinou o valor tributável sem investigar a origem contábil dos depósitos escriturados, consoante se observa neste excerto do voto condutor do julgado: [...] Nas ações fiscais dessa espécie, em relação a pessoas físicas, basta ao fisco selecionar e individualizar os depósitos e intimar o contribuinte a fazer prova da origem dos recursos. Já em relação às pessoas jurídicas que mantém escrituração contábil e fiscal, sempre com o objetivo de fazer prova do fato indiciário, é imprescindível que o fisco verifique de antemão se os créditos bancários selecionados foram contabilizados ou não: a) se os créditos foram devidamente contabilizados, logicamente o lançamento teve como contrapartida conta contábil do disponível (caixa ou bancos); do realizável (contas a receber, por exemplo); do passivo (empréstimos) ou diretamente uma conta de receita. Nessa hipótese o trabalho fiscal deve se concentrar nessas contas, pois são elas a evidente origem dos recursos; b) se os créditos não foram contabilizados, dependendo do montante em relação ao movimento global da empresa, estarseá diante de uma contabilidade imprestável, passível, portanto, de aplicação do arbitramento do lucro, com a inclusão dos créditos bancários omitidos, cuja origem dos recursos o contribuinte não comprovar. Não sendo o caso de arbitramento, cabe a aplicação pura da presunção Fl. 3944DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.945 58 legal de omissão de receitas, cujo valor será tomado pelo mesmo valor dos depósitos não comprovados, recompondose o lucro declarado. Ora, como dito, o fisco teve em mãos a contabilidade da fiscalizada. Não consta do autos que tenha conferido o razão contábil para, pelo menos, evidenciar a falta de contabilização de depósitos bancários. Diferenças apuradas entre a soma de depósitos bancários e a receita declarada constituiu, sem dúvida, um poderoso indicio de omissão de receitas, mas isso não é suficiente para a inversão total do ônus da prova levada a efeito pela fiscalização. (negrejei). No referido caso, distintamente do presente, a autoridade fiscal examinou a escrituração contábil, mas entendeu não comprovada a origem dos depósitos ao constatar que as receitas declaradas eram inferiores aos créditos líquidos apurados nas operações bancárias. Ainda assim, o exame da escrituração contábil foi considerado insuficiente para caracterização da presunção legal, vez que não identificados depósitos não contabilizados ou contabilizados em contrapartida a origem questionável. Com maior razão, portanto, o procedimento fiscal aqui desenvolvido também não se prestaria a constituir a presunção legal imputada ao sujeito passivo. O terceiro precedente (Acórdão nº 10709.218), para além do apontamento de ausência de intimação individualizada para comprovação da origem dos depósitos bancários, também evidencia a relevância, no contencioso, da constatação de contabilização dos valores questionados, consoante se extrai de seu voto condutor: [...] Assim, é perfeitamente cabível a utilização dessa presunção nos casos em que a pessoa jurídica mantém contas bancárias em nome de terceiras pessoas, ou, mesmo que em seu nome, a mantém à margem da escrituração. Nesses casos, se não comprovado que os recursos depositados provêm das receitas devidamente escrituradas e declaradas, é lícito concluir que têm origem em receitas sonegadas à tributação. O mesmo não pode ser aplicado, porém, aos depósitos efetuados em contas de titularidade do contribuinte e devidamente escriturados na contabilidade. Nesse caso, a própria escrituração faz prova de que os depósitos foram efetuados com os recursos escriturados, inibindo a cômoda presunção legal de omissão de receitas e impondo ao agente do Fisco o aprofundamento das investigações para a comprovação de eventual infração. No caso dos autos, a própria Fiscalização informa no Termo de Verificação Fiscal (fl. 250) e no Termo de Intimação Fiscal (fl. 96) que os depósitos foram devidamente escriturados, o que também se comprova no balancete à fl. 210. Logo, não cabe considerar que tais depósitos não têm origem comprovada, posto que esta está na própria escrituração, não refutada pelo Fisco. (negrejei) No presente caso, a autoridade fiscal não declara os depósitos bancários contabilizados. Mas isto porque teve os livros contábeis em seu poder e se omitiu na análise, inviabilizando, assim, a inversão do ônus da prova em desfavor do sujeito passivo. Fl. 3945DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.946 59 Em circunstância semelhantes, também me manifestei contrariamente à manutenção da exigência, consoante ementa assim consignada no Acórdão nº 110100.420: OMISSÃO DE RECEITAS. CONTAS BANCÁRIAS NO PAÍS. PRESUNÇÃO NÃO CARACTERIZADA. Inexistindo análise da escrituração mantida pela contribuinte, desconstituindo os fatos nela narrados ou atestando a ausência de registro da movimentação bancária, é insuficiente, para inversão do ônus da prova, o não atendimento de intimação para comprovação da origem de depósitos bancários. Observando que, naqueles autos, a contribuinte apresentara seus livros contábeis à autoridade fiscal, inclusive sujeitandose a questionamentos acerca de divergências entre os montantes neles escriturados e as informações prestadas em DIPJ, mas com posterior exigência, apenas da comprovação da origem dos depósitos bancários, inclusive enquanto a Fiscalização mantinha em sua posse os livros contábeis apresentados, nos quais estava evidenciado o registro de depósitos considerados como indícios de omissão de receitas, manifesteime nos seguintes termos: Destes elementos contidos nos autos inferese que, mesmo tendo em sua posse os Livros Diário e Razão da contribuinte, a autoridade lançadora, à vista dos extratos bancários que também lhe foram entregues, selecionou os ingressos mais significativos e intimou a contribuinte a comprovar sua origem, sem antes, ou mesmo depois, verificar se eles eventualmente estariam escriturados. Oportuno recordar o que dispõe a Lei no 9.430/96: Art.42.Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. §1º O valor das receitas ou dos rendimentos omitido será considerado auferido ou recebido no mês do crédito efetuado pela instituição financeira. §2º Os valores cuja origem houver sido comprovada, que não houverem sido computados na base de cálculo dos impostos e contribuições a que estiverem sujeitos, submeterseão às normas de tributação específicas, previstas na legislação vigente à época em que auferidos ou recebidos. §3º Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica; II no caso de pessoa física, sem prejuízo do disposto no inciso anterior, os de valor individual igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais), desde que o seu somatório, dentro do anocalendário, não ultrapasse o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais). (Vide Lei nº 9.481, de 1997) §4º Tratandose de pessoa física, os rendimentos omitidos serão tributados no mês em que considerados recebidos, com base na tabela progressiva vigente à época em que tenha sido efetuado o crédito pela instituição financeira. § 5o Quando provado que os valores creditados na conta de depósito ou de investimento pertencem a terceiro, evidenciando interposição de pessoa, a determinação dos rendimentos ou receitas será efetuada em relação ao terceiro, na condição de efetivo titular da conta de depósito ou de investimento.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 2002) Fl. 3946DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.947 60 § 6o Na hipótese de contas de depósito ou de investimento mantidas em conjunto, cuja declaração de rendimentos ou de informações dos titulares tenham sido apresentadas em separado, e não havendo comprovação da origem dos recursos nos termos deste artigo, o valor dos rendimentos ou receitas será imputado a cada titular mediante divisão entre o total dos rendimentos ou receitas pela quantidade de titulares.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 2002) Aqui, como visto, houve intimação individualizando os depósitos bancários cuja origem deveria ser comprovada, a qual, embora reiterada, não foi atendida pela contribuinte. Poderseia, então, concluir que se caracterizou a omissão de receitas, porque não comprovada, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações, especialmente tendo em conta a obrigação expressa no já citado RIR/99: Art. 927. Todas as pessoas físicas ou jurídicas, contribuintes ou não, são obrigadas a prestar as informações e os esclarecimentos exigidos pelos AuditoresFiscais do Tesouro Nacional no exercício de suas funções, sendo as declarações tomadas por termo e assinadas pelo declarante (Lei nº 2.354, de 1954, art. 7º). Art 928. Nenhuma pessoa física ou jurídica, contribuinte ou não, poderá eximirse de fornecer, nos prazos marcados, as informações ou esclarecimentos solicitados pelos órgãos da Secretaria da Receita Federal (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 123, e DecretoLei nº 1.718, de 27 de novembro de 1979, art. 2º, e Lei nº 5.172, de 1966, art. 197). [...] Não se pode olvidar, porém, que o próprio Regulamento do Imposto de Renda, prosseguindo na disciplina quanto à Prestação de Informações à Secretaria da Receita Federal, complementa: Art 928. [...] § 5º Em casos especiais, para controle da arrecadação ou revisão de declaração de rendimentos, poderá o órgão competente exigir informações periódicas, em formulário padronizado (DecretoLei nº 1.718, de 1979, art. 2º, parágrafo único). [...] Art 932. Havendo dúvida sobre quaisquer informações prestadas ou quando estas forem incompletas, a autoridade tributária poderá mandar verificar a sua veracidade na escrita dos informantes ou exigir os esclarecimentos necessários (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 108, § 6º). É certo que os artigos 928 e 932 do RIR/99 foram concebidos para os casos de informações prestadas por terceiros, e não pelo próprio sujeito passivo, no interesse da Administração Tributária. Todavia, suas disposições nada mais fazem do que renovar a importância dada à escrituração e às declarações prestadas pelos sujeitos passivos, expressa em capítulo anterior do mesmo Regulamento: Art. 923. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados e comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 9º, § 1º). Art. 924. Cabe à autoridade administrativa a prova da inveracidade dos fatos registrados com observância do disposto no artigo anterior (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 9º, § 2º). Fl. 3947DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.948 61 Significa dizer que o procedimento fiscal para constatação de omissão de receitas presumidas a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, em caso de não atendimento à intimação, não se resume à formalização desta intimação e à lavratura do auto de infração. Havendo a apresentação de escrituração pelo sujeito passivo, bem como de declarações de rendimentos compatíveis com esta, como no presente caso, devese proceder à análise individualizada dos créditos, determinada no § 3o do art. 42 da Lei no 9.430/96, antes transcrito, para desconstituição da origem contábil dos valores eventualmente contabilizados. Observese, ainda, que o art. 925 do RIR/99 afasta a presunção de veracidade da escrituração nos casos em que a lei, por disposição especial, atribua ao contribuinte o ônus da prova de fatos registrados na sua escrituração. Todavia, a tanto não se presta o art. 42 da Lei no 9.430/96, enquanto não atendidos os requisitos nele especificados. Uma vez contabilizados os depósitos bancários, haverá necessariamente uma origem contábil a ser investigada pelo Fisco. Assim, a intimação para comprovação da origem dos depósitos bancários, desacompanhada de análise prévia ou posterior da escrituração existente, hábil a desconstituir os fatos narrados na contabilidade, não se prestará, em caso de não atendimento, à inversão do ônus da prova. Restou aqui evidenciado que a contribuinte escriturava contabilmente sua movimentação bancária em contra partida a registros no passivo circulante, destinava parte destes valores a pagamento de fornecedores/parceiros, e aparentemente reconhecia a sobra como receita de sua atividade. Presentes estes registros tempestivo no Livro Razão, não é possível, no curso do contencioso administrativo, questionar se todos os depósitos estavam escriturados, se a contrapartida contábil estava documentalmente justificada, ou se a receita daí decorrente era apenas aquela reconhecida pela contribuinte. Ainda que a contribuinte não tenha respondido às intimações no curso do procedimento fiscal, nem mesmo solicitado a devolução dos correspondentes Livros para atendêlas, impõese, pelos argumentos antes expostos, a conclusão de que o indício constituído pela Fiscalização, no presente caso, não se conforma àquele previsto em lei e, assim, não autoriza a presunção de que receitas foram omitidas. Por estas razões, impõese declarar improcedente, nesta parte, o lançamento. No presente caso, com mais razão, a exigência não pode subsistir. A autoridade fiscal teve sob seu poder a escrituração contábil do sujeito passivo e não exteriorizou qualquer exame nela procedido, nem indicou qualquer vício que permitisse desconsiderar o que nela expresso. Não executou, assim, a análise individualizada exigida pelo art. 42, §3º da Lei nº 9.430/96 e, portanto, não constituiu o indício exigido por lei para presunção da omissão de receitas e consequente inversão do ônus da prova. Por tais razões, voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao recurso voluntário e cancelar, na íntegra, todas as exigências formuladas, porque fundamentadas exclusivamente na referida presunção legal. (assinado digitalmente) Edeli Pereira Bessa Redatora designada Fl. 3948DF CARF MF Processo nº 19515.004065/200311 Acórdão n.º 1402003.587 S1C4T2 Fl. 3.949 62 Fl. 3949DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10680.724780/2013-51
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Nov 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jan 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/07/2001 a 31/05/2005
NULIDADE DO LANÇAMENTO ANTERIOR. VÍCIO MATERIAL. NOVO LANÇAMENTO. DECADÊNCIA.
Reconhecido, no lançamento anterior, o cerceamento de defesa na realização de auditoria em endereço diverso do domicílio fiscal eleito pelo sujeito passivo, que levou à decretação da invalidade da autuação fiscal fundamentada na ausência de apresentação de documentos, fica caracterizada a existência de vício material. Uma vez efetuado o novo lançamento em relação aos mesmos fatos geradores somente ao final do ano de 2013, operou-se a extinção do crédito tributário pela decadência.
Numero da decisão: 2401-005.863
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário, reconhecendo a decadência do crédito tributário lançado.
(assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier - Presidente
(assinado digitalmente)
Cleberson Alex Friess - Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Miriam Denise Xavier, Cleberson Alex Friess, Luciana Matos Pereira Barbosa, Rayd Santana Ferreira, Andréa Viana Arrais Egypto, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite e Mônica Renata Mello Ferreira Stoll (suplente convocada).
Nome do relator: CLEBERSON ALEX FRIESS
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/07/2001 a 31/05/2005 NULIDADE DO LANÇAMENTO ANTERIOR. VÍCIO MATERIAL. NOVO LANÇAMENTO. DECADÊNCIA. Reconhecido, no lançamento anterior, o cerceamento de defesa na realização de auditoria em endereço diverso do domicílio fiscal eleito pelo sujeito passivo, que levou à decretação da invalidade da autuação fiscal fundamentada na ausência de apresentação de documentos, fica caracterizada a existência de vício material. Uma vez efetuado o novo lançamento em relação aos mesmos fatos geradores somente ao final do ano de 2013, operou-se a extinção do crédito tributário pela decadência.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário, reconhecendo a decadência do crédito tributário lançado. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier - Presidente (assinado digitalmente) Cleberson Alex Friess - Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros: Miriam Denise Xavier, Cleberson Alex Friess, Luciana Matos Pereira Barbosa, Rayd Santana Ferreira, Andréa Viana Arrais Egypto, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite e Mônica Renata Mello Ferreira Stoll (suplente convocada).
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MONTREAL INFORMÁTICA S/A Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/07/2001 a 31/05/2005 NULIDADE DO LANÇAMENTO ANTERIOR. VÍCIO MATERIAL. NOVO LANÇAMENTO. DECADÊNCIA. Reconhecido, no lançamento anterior, o cerceamento de defesa na realização de auditoria em endereço diverso do domicílio fiscal eleito pelo sujeito passivo, que levou à decretação da invalidade da autuação fiscal fundamentada na ausência de apresentação de documentos, fica caracterizada a existência de vício material. Uma vez efetuado o novo lançamento em relação aos mesmos fatos geradores somente ao final do ano de 2013, operou se a extinção do crédito tributário pela decadência. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário, reconhecendo a decadência do crédito tributário lançado. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Presidente (assinado digitalmente) Cleberson Alex Friess Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 68 0. 72 47 80 /2 01 3- 51 Fl. 957DF CARF MF Processo nº 10680.724780/201351 Acórdão n.º 2401005.863 S2C4T1 Fl. 958 2 Participaram do presente julgamento os conselheiros: Miriam Denise Xavier, Cleberson Alex Friess, Luciana Matos Pereira Barbosa, Rayd Santana Ferreira, Andréa Viana Arrais Egypto, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite e Mônica Renata Mello Ferreira Stoll (suplente convocada). Relatório Cuidase de recurso voluntário interposto em face da decisão da 5ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Juiz de Fora (DRJ/JFA), por meio do Acórdão nº 0963.974, de 14/07/2017, cujo dispositivo considerou improcedente a impugnação, mantendo o crédito tributário exigido (fls. 913/923): ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/07/2001 a 31/05/2005 VÍCIO FORMAL. AUTO DE INFRAÇÃO SUBSTITUTIVO. Vício formal se caracteriza nos elementos extrínsecos do ato administrativo. O novo auto de infração deve ser efetuado com os mesmos elementos do anterior, a menos do fato irregular efetuado e tem, por prazo de decadência, o previsto no art. 173, II do CTN. Impugnação Improcedente Extraise do Relatório Fiscal, às fls. 60/77, que o processo administrativo é composto do Auto de Infração (AI) nº 37.410.6088, relativo à contribuição previdenciária destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre valores pagos pela empresa a seus empregados a título de "reembolso de despesas", nas competências 07/2001 a 05/2005. Segundo o agente fazendário, o auto de infração teve por finalidade a substituição da Notificação Fiscal de Lançamento de Débito (NFLD) nº 37.004.8687, controlada no Processo nº 12267.000339/200820, que foi tornada nula em razão da constatação de vício formal, conforme decidido no Acórdão nº 230100.195, de 05/05/2009, prolatado pela 1ª Turma da 3ª Câmara da Segunda Seção de Julgamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Os pagamentos de reembolsos de despesas em benefício dos segurados empregados foram constatados nas contas contábeis "Custos Recursos Humanos Custos Vinculados a Recursos Humanos Reembolso de Custos CPD´s" (4.7.5.11) e "Despesas Administrativas Recursos Humanos Custos Vinculados a Recursos Humanos Reembolso de Despesas CPD´s" (5.7.5.11), para as quais a pessoa jurídica deixou de apresentar os respectivos documentos comprobatórios da natureza dos dispêndios realizados. Fl. 958DF CARF MF Processo nº 10680.724780/201351 Acórdão n.º 2401005.863 S2C4T1 Fl. 959 3 Por tais motivos, e com base nos documentos constantes do Processo nº 12267.000339/200820, a fiscalização considerou os desembolsos efetuados pela empresa como salário indireto pago a contribuinte individual, integrante da base de cálculo das contribuições previdenciárias. A falta de apresentação de documentos justificou o levantamento do crédito tributário por arbitramento, mediante aferição indireta, a partir dos registros da contabilidade. A autuada tomou ciência do auto de infração, por via postal, em 16/12/2013, tendo impugnado a exigência fiscal (fls. 575 e 585/594). Intimada da decisão de primeira instância em 09/08/2017, data em que efetuou consulta no endereço eletrônico atribuído pela administração tributária, a empresa autuada protocolou recurso voluntário no dia 08/09/2017, em que aduz os seguintes argumentos de fato e de direito (fls. 924/927 e 928/941): (i) ao contrário do que afirmou a decisão de piso, o lançamento original não foi anulado por vício formal, mas em função do cerceamento do direito de defesa da recorrente; (ii) em diversos acórdãos, sobre os mesmos fatos, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais se pronunciou pela existência de vício material, ante a impossibilidade de apresentação de documentos e a prestação de esclarecimentos úteis à ação fiscalizatória; (iii) considerando que o lançamento fiscal em discussão diz respeito a obrigações tributárias do período de 07/2001 a 05/2005, há que se reconhecer a extinção do crédito tributário pela decadência; e (iv) alternativamente, mesmo que o lançamento substitutivo não estivesse fulminado pela decadência, houve nítido cerceamento do direito de defesa da recorrente ao constituir o crédito tributário por arbitramento, na medida em que o único documento exigido pela fiscalização para a lavratura do auto de infração foi a última alteração do contrato social da recorrente. É o relatório. Voto Conselheiro Cleberson Alex Friess Relator Juízo de admissibilidade Uma vez realizado o juízo de validade do procedimento, verifico que estão satisfeitos os requisitos de admissibilidade do recurso voluntário e, por conseguinte, dele tomo conhecimento. Fl. 959DF CARF MF Processo nº 10680.724780/201351 Acórdão n.º 2401005.863 S2C4T1 Fl. 960 4 Decadência Como se observa da narrativa acima, tratase de lançamento substitutivo relativo às competências de 07/2001 a 05/2005, com ciência do auto de infração pelo sujeito passivo em 16/12/2013. Quanto ao lançamento original, que faz parte do Processo nº 12267.000339/200820, apenso aos autos, em nenhum momento as decisões administrativas explicitaram a natureza do vício, se formal ou material, que levou à decretação da nulidade da NFLD nº 37.004.8687. Em contrapartida, se reconheceu o cerceamento do direito de defesa do contribuinte na realização de auditoria em endereço diverso do seu domicílio tributário eleito. Com efeito, toda a celeuma instaurouse com a exigência de documentos pela fiscalização previdenciária em estabelecimento da empresa distinto daquele eleito como seu local centralizador, a partir de orientação dada pela ProcuradoriaGeral Federal, à época responsável pela área de assessoramento e consultoria em matéria jurídica no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Desde o início do procedimento fiscal, nos anos de 2005/2006, a empresa questionou a determinação do agente fazendário para apresentação de documentos na sua filial da cidade do Rio do Janeiro, em razão de que o seu domicílio fiscal, conforme indicado no respectivo contrato social, localizavase no estabelecimento sede no município de Rio das Flores (RJ). Posteriormente ao término da ação fiscal, no processo autuado originalmente sob o nº 2003.51.01.0224300, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF/2ª Região) proferiu decisão, transitada em julgado, em que considerou procedente o pedido da empresa, ora recorrente, para declarar como domicílio tributário a sua sede, na Rua Capitão Jorge Soares nº 04, município de Rio da Flores (RJ). Além de vincular a Administração Tributária, a declaração de validade do domicílio eleito pelo sujeito passivo, conforme acórdão do TRF/2ª Região, acarretou a ilegalidade do atos praticados pela fiscalização que, desprovidos de justificação válida, desconsideraram o estabelecimento da empresa localizado no município de Rio das Flores (RJ) como aquele onde a pessoa jurídica deveria manter os elementos necessários aos procedimentos fiscais, com obrigação legal de disponibilizálos à fiscalização sempre que solicitados. A postura do agente fiscal em exigir a apresentação dos documentos em estabelecimento, ainda que da mesma empresa, localizado em município diverso do eleito pelo contribuinte como centralizador, no qual estava a documentação necessária e suficiente à fiscalização integral, configura, após a avaliação do caso concreto, evidente prejuízo ao autuado. Não foi outro o entendimento do Acórdão nº 230100.195, de 05/05/2009, da 1ª Turma da 3ª Câmara da Segunda Seção de Julgamento, ao apreciar o recurso voluntário no Processo nº 12267.000339/200820. Para melhor compreensão do decidido, reproduzo excertos do votocondutor do acórdão (fls. 78/91): (...) Fl. 960DF CARF MF Processo nº 10680.724780/201351 Acórdão n.º 2401005.863 S2C4T1 Fl. 961 5 No caso sob exame temos que o sujeito passivo, logo após a ciência dos MPF e TIAD, manifestouse através de requerimento sobre o domicílio tributário eleito, apontando alteração de seus atos constitutivos e informando que sua documentação se encontrava no estabelecimento centralizador eleito. A resposta ao requerimento se limitou às alegações trazidas pela Procuradoria do INSS, já expostas no relatório, que em síntese são: (...) Assim procedendo, preferiu o órgão fiscalizador não demonstrar qual hipótese legal, impossibilidade ou dificuldade para a realização da ação fiscal, se configurou para a recusa do domicílio eleito pelo sujeito passivo, já que a matéria estava sendo deduzida em juízo e não havia até aquela data decisão judicial deferindo as pretensões do sujeito passivo. (...) Sobre a documentação da empresa, a fiscalização não deixou de admitir que, de fato, era mantida no domicílio eleito, tal como previsto no artigo 743 da Instrução Normativa n° 03, de 14/07/2005; porém, embora seja esse o critério para fixação de oficio do domicílio, ainda assim se manteve em outro estabelecimento da empresa. E pior, os documentos solicitados pela fiscalização através dos Termos de Intimação para Apresentação de Documentos TIAD foram transportados para o estabelecimento no Rio de Janeiro, resultando autuações e lançamentos por arbitramento, como conseqüência da impossibilidade de atendimento integral das intimações. Reconheço a existência de cerceamento de defesa, o que acabou se evidenciando através das autuações por falta de documentos e recusa em prestar esclarecimentos além dos inúmeros lançamentos por arbitramento. O acompanhamento da ação fiscal por técnico habilitado, prestando os esclarecimentos necessários e exibindo os documentos que justificam os fatos constatados pela fiscalização, constitui direito do contribuinte alinhado com os preceitos constitucional garantidores da ampla defesa e do contraditório. Por todo o exposto, uma vez transitada em julgado a sentença reconhecendose por fim que o domicílio tributário e estabelecimento centralizador do recorrente está situado na Rua Capitão Soares, 04 Rio das Flores Volta Redonda/RJ, somente resta a este órgão administrativo julgador acatar a decisão judicial c, conseqüentemente, a preliminar ora examinada, restando prejudicado o exame de mérito. Por tudo, acato a preliminar de domicílio tributário e não conheço das questões de mérito. Fl. 961DF CARF MF Processo nº 10680.724780/201351 Acórdão n.º 2401005.863 S2C4T1 Fl. 962 6 CONCLUSÃO Em razão do exposto, voto pela anulação do lançamento. (...) Dessa decisão administrativa, a ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional interpôs recurso especial na forma regimental, que foi negado provimento, conforme Acórdão nº 920201.428, de 12/04/2011, da 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais (fls. 93/98). Como assentado na doutrina e jurisprudência, o lançamento substitutivo decorrente de vício formal deve pautarse nos mesmos elementos de prova do procedimento anterior, mediante o saneamento do defeito do instrumento de constituição do crédito tributário, ficando vedada, por outro lado, qualquer inovação no próprio lançamento. No entanto, o lançamento anterior, consubstanciado na NFLD nº 37.004.8687, foi anulado em decorrência do cerceamento do direito de defesa do sujeito passivo, evidenciado pela exigência do crédito tributário com fundamento na falta de apresentação de documentação pela empresa para demonstrar a inexistência de natureza remuneratória das parcelas pagas. Em tal hipótese de invalidade, o lançamento substitutivo não é executável sem alteração do conteúdo do lançamento, porque, antes de mais nada, sob pena de acarretar um outro cerceamento de defesa, a autoridade fiscal deve oportunizar ao contribuinte, no seu domicílio tributário, a apresentação de todos os documentos e informações necessários à atividade fiscalizatória, para só depois, se for o caso, proceder ao novo lançamento. É de se notar, portanto, que no caso em apreço não se reconheceu a existência de vício formal, na medida em que o defeito do lançamento, segundo a decisão no Processo nº 12267.000339/200820, afetou a própria fundamentação em que se sustentou a imputação infracional. De fato, a conduta fiscal não implicou tão somente desrespeito às normas atinentes à realização de procedimento de auditoria, concentradas que são, via de regra, no estabelecimento centralizador da empresa. É inegável que o vício no procedimento fiscal tem relação direta com os fundamentos adotados para a autuação, haja vista que o lançamento de ofício estava escorado na existência de conduta omissiva da empresa na apresentação de documentação comprobatória, autorizando a lei ordinária a constituição do crédito previdenciário, com inversão do ônus probatório quanto à natureza não remuneratória das parcelas apuradas pelo agente fiscal (art. 33, § 3º, da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991). Em razão disso, a falha do lançamento original está associada ao conteúdo do ato e, desse modo, a mácula atinge a própria motivação do ato administrativo, configurando um vício material. O lançamento fiscal controlado no Processo nº 12267.000339/200820 revelou vício intrínseco, na sua origem, que contaminou o fundamento do arbitramento por ausência de apresentação de documentação comprobatória dos reembolsos de despesas em benefício dos segurados empregados, de modo que a validade do lançamento fiscal somente era possível a partir da edição de um novo ato administrativo com alteração de conteúdo (motivação). Fl. 962DF CARF MF Processo nº 10680.724780/201351 Acórdão n.º 2401005.863 S2C4T1 Fl. 963 7 Nesse cenário, o prazo decadencial para o novo lançamento não se submete à regra do inciso II do art. 173 do Código Tributário Nacional (CTN), veiculado pela Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, como acatado pelo colegiado de primeira instância, que se posicionou pela existência de vício formal. Na hipótese de vício material, como ora se cuida, a contagem do prazo decadencial para o novo lançamento segue a disciplina do § 4º do art. 150 ou do inciso I do art. 173, ambos do CTN. Em qualquer das duas regras, levandose em consideração que o AI nº 37.410.6088, lavrado em substituição à NFLD nº 37.004.8687, diz respeito a fatos geradores do período de 07/2001 a 05/2005, com ciência do lançamento fiscal pelo sujeito passivo no dia 16/12/2013, é forçoso reconhecer a extinção do crédito tributário, em virtude da decadência quinquenal (art. 156, inciso V, do CTN). Não obstante o reconhecimento da decadência, acrescento que mesmo na hipótese de vício formal e, portanto, um lançamento substitutivo dentro do prazo de cinco anos da data em que se tornou definitiva a decisão que anulou o lançamento anteriormente efetuado, o que se cogita apenas para fins de raciocínio, também não prospera o presente lançamento fiscal. É que, de acordo com os termos de intimação carreados aos autos pela própria fiscalização, o único documento exigido do contribuinte para a lavratura do AI nº 37.410.6088 foi a última alteração do contrato social. Nada mais foi pedido pela autoridade fiscal, segundo consta, lastreando o lançamento tributário exclusivamente nos fatos verificados no procedimento anterior (fls. 35/43). Assim sendo, avultase, novamente, o cerceamento do direito de defesa, dado que a fiscalização justificou o lançamento com base na omissão do contribuinte na apresentação de documentos e/ou informações, sem oferecer a oportunidade para a sua exibição e/ou prestar esclarecimentos. Conclusão Ante o exposto, CONHEÇO do recurso voluntário e DOULHE PROVIMENTO, reconhecendo a decadência do crédito tributário lançado. É como voto. (assinado digitalmente) Cleberson Alex Friess Fl. 963DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10825.720102/2013-28
Turma: Primeira Turma Extraordinária da Segunda Seção
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Sep 27 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Nov 20 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2011
DESPESAS MÉDICAS. RECIBOS GLOSADOS SEM QUE TENHAM SIDO APONTADOS INDÍCIOS DE SUA INIDONEIDADE.
Os recibos de despesas médicas não tem valor absoluto para comprovação de despesas médicas, podendo ser solicitados outros elementos de prova, mas a recusa a sua aceitação, pela autoridade fiscal, deve ser acompanhada de indícios consistentes que indiquem sua inidoneidade. Na ausência de indicações desabonadoras, os recibos comprovam despesas médicas.
Numero da decisão: 2001-000.775
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em dar provimento ao Recurso Voluntário, vencidos os conselheiros José Ricardo Moreira (relator) e Fernanda Melo Leal, que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Jorge Henrique Backes.
(assinado digitalmente)
Jorge Henrique Backes - Presidente e Redator Designado.
(assinado digitalmente)
José Ricardo Moreira - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Jorge Henrique Backes (Presidente), Fernanda Melo Leal, José Alfredo Duarte Filho e José Ricardo Moreira.
Nome do relator: JOSE RICARDO MOREIRA
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RECIBOS GLOSADOS SEM QUE TENHAM SIDO APONTADOS INDÍCIOS DE SUA INIDONEIDADE. Os recibos de despesas médicas não tem valor absoluto para comprovação de despesas médicas, podendo ser solicitados outros elementos de prova, mas a recusa a sua aceitação, pela autoridade fiscal, deve ser acompanhada de indícios consistentes que indiquem sua inidoneidade. Na ausência de indicações desabonadoras, os recibos comprovam despesas médicas. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em dar provimento ao Recurso Voluntário, vencidos os conselheiros José Ricardo Moreira (relator) e Fernanda Melo Leal, que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Jorge Henrique Backes. (assinado digitalmente) Jorge Henrique Backes Presidente e Redator Designado. (assinado digitalmente) José Ricardo Moreira Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Jorge Henrique Backes (Presidente), Fernanda Melo Leal, José Alfredo Duarte Filho e José Ricardo Moreira. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 82 5. 72 01 02 /2 01 3- 28 Fl. 82DF CARF MF 2 Tratase de Notificação de Lançamento, relativa ao Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), por meio da qual se exige crédito tributário do exercício de 2011, anocalendário de 2010, onde foram glosadas deduções de despesas médicas no valor de R$ 20.350,00. O contribuinte apresentou impugnação, que foi julgada improcedente, mediante Acórdão da DRJ Brasília de f. 44/50 Cientificado, o interessado apresentou recurso voluntário de f. 56/67. Em síntese, alega que atendeu ao que foi solicitado pela autoridade fiscal, apresentando os respectivos recibos relativos às despesas médicas. Aduz que os recibos, por si só, fazem prova dos pagamentos realizados a este título. Argumenta que não está obrigado a apresentar seus exames médicos e laboratoriais. Sustenta ainda que não é razoável exigir a apresentação de extratos ou outros meios de prova dos pagamentos, seja porque a pessoa física não é obrigada a ter escrita fiscal, seja porque a reunião destes documentos é difícil para o contribuinte.. Pugna pela procedência do recurso e pelo cancelamento do crédito tributário. É o relatório. Voto Vencido Conselheiro José Ricardo Moreira Relator O recurso é tempestivo e atende às demais condições de admissibilidade. Portanto, merece ser conhecido. O lançamento cingese à glosa de despesas médicas. O interessado, no recurso, insurgese contra estas glosas, pelas razões que enumera. Dispõe o art. o art.73 do Decreto nº 3.000, de 1999: Art. 73. Todas as deduções estão sujeitas a comprovação ou justificação, a juízo da autoridade lançadora (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 3º). § 1º Se forem pleiteadas deduções exageradas em relação aos rendimentos declarados, ou se tais deduções não forem cabíveis, poderão ser glosadas sem a audiência do contribuinte (Decreto Lei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 4º). Consta da fundamentação do lançamento, bem como da decisão de primeira instância, que é necessária a apresentação de documentação do efetivo pagamento para comprovação das despesas médicas. Desta forma, verificase que o recibo, ao contrário do que defende a recorrente, não faz prova absoluta da real ocorrência do pagamento. A autoridade fiscal, se entender necessário, pode solicitar outros elementos de convicção da efetiva realização da despesa que se pretende deduzir. Não poderia ser de outra forma. Entender o contrário seria tolher a ação da fiscalização, que ficaria impossibilitada de exercer sua atividade investigativa, na busca de Fl. 83DF CARF MF Processo nº 10825.720102/201328 Acórdão n.º 2001000.775 S2C0T1 Fl. 3 3 verificar a veracidade das declarações prestadas. Há que ser frisado que aqui não se trata de mera prerrogativa, mas de um dever da autoridade fiscal, haja vista tratarse de dedução da base de cálculo e, portanto, de redução do tributo. Com efeito, as solicitações de documentos devem atender à razoabilidade, devendo ser evitados os pedidos de provas impossíveis ou de difícil produção. Analisando a Notificação de Lançamento, verificamos que foram glosadas despesas médicas de valores significativos, que justifica a solicitação de informações adicionais. A Descrição dos Fatos e Enquadramento legal do Lançamento encontrase devidamente fundamentado, com todas as razões que levaram a efetivação da glosa. Não foram apresentadas provas do efetivo pagamento das despesas, não houve suficiente descrição do tratamento ou dos exames realizados. Aqui deve prevalecer o princípio do benefício da prova, já que o interesse em provar é do contribuinte, a quem a prova aproveita. Não há que se falar em quebra de sigilo ou de invasão à privacidade do cidadão. Não há quebra de sigilo perante o fisco, cuja atividade primordial é justamente investigar a veracidade dessas despesas que resultam em redução de tributo. Ademais, ao intimar o contribuinte para apresentar documentos adicionais que comprovam a efetividade das despesas (provas essas que beneficiam o contribuinte), a autoridade fiscal não está interessada na intimidade da pessoa, mas está cumprindo o dever legal de investigar a veracidade das declarações prestadas. Tratase de imposto lançado por homologação e o quantum devido pode ser alterado pela autoridade lançadora, no exercício de suas atribuições legais. Da mesma forma, não se mostra desarrazoado o pedido de apresentação de extratos bancários. Pode ocorrer de o contribuinte haver pago as despesas em cheques ou mediante saques da conta corrente, o que seria facilmente comprovado pela existência de saques de valores compatíveis em datas aproximadas das da efetivação das despesas. O contribuinte poderia requerer à instituição financeira os referidos extratos (em alguns casos, obtémse extratos pela internet, em poucos instantes), sendo que essa providência não lhe seria de difícil execução. Se tivesse atendido a este simples pedido, provavelmente não seriam glosadas parte ou a totalidade das despesas. O contribuinte, entretanto, por diversas vezes, mediante negativas genéricas, se opôs a trazer os elementos de prova que lhe seriam benéficos. Não apresentou à autoridade lançadora, não juntou à impugnação e não se aproveita da oportunidade agora trazida pelo recurso voluntário. Desta forma, adoto a motivação do voto exposto na decisão de primeira instância, que indeferiu a dedução das despesas glosadas. CONCLUSÃO: Diante de todo o exposto, voto por conhecer do recurso voluntário, e, no mérito, negarlhe provimento, mantendo o crédito tributário lançado. Fl. 84DF CARF MF 4 (assinado digitalmente) José Ricardo Moreira Voto Vencedor Discordo do Relator em relação às despesas médicas. Os recibos não tem valor absoluto para comprovação de despesas médicas, podendo ser solicitados outros elementos de prova, tanto do serviço como do pagamento. Mesmo que não sejam apresentados outros elementos de comprovação, a recusa a sua aceitação, pela autoridade fiscal, deve estar fundamentada. Como se trata do documento normal de comprovação, para que seja glosado devem ser apontados indícios consistentes que indiquem sua inidoneidade. Na ausência de indicações desabonadoras, na falta de fundamentação na recusa, os recibos comprovam despesas médicas. No caso, não foram solicitados outros elementos de prova de maneira objetiva, e o fundamento para lançar limitase a que recibos não comprovam pagamento de despesas médicas. O lançamento pode até ocorrer sem pedido de esclarecimentos ou de prévia intimação ao contribuinte, como consta inclusive em súmula do CARF: Súmula CARF nº 46: O lançamento de ofício pode ser realizado sem prévia intimação ao sujeito passivo, nos casos em que o Fisco dispuser de elementos suficientes à constituição do crédito tributário. No entanto, a recusa a documentos usuais não pode prescindir de justificativa, inclusive porque deduções elevadas podem estar completamente dentro da lei e do direito do contribuinte. Não deixo de fazer aqui uma fundamentação do entendimento expresso acima, pois a falta de fundamentação é a matéria em discussão. Muitas vezes a autoridade fiscal baseia a recusa a deduções no art.73 do Decreto nº 3.000, de 1999, que assim dispôs: Art. 73. Todas as deduções estão sujeitas a comprovação ou justificação, a juízo da autoridade lançadora (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 3º). § 1º Se forem pleiteadas deduções exageradas em relação aos rendimentos declarados, ou se tais deduções não forem cabíveis, poderão ser glosadas sem a audiência do contribuinte (Decreto Lei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 4º). Tal artigo indica que determinados documentos não fazem prova absoluta, podendo ser solicitados elementos adicionais de comprovação. No entanto, isso não significa que o juízo, o fundamento da autoridade, dos fatos e do direito, não necessite ser apresentado. E tal obrigação, a motivação na edição dos atos administrativos, encontrase tanto em dispositivos de lei, como se pode ver no art 2º Lei nº 9.784, de 1999, como talvez de maneira mais importante em disposições gerais em respeito ao Estado Democrático de Direito e aos princípios da moralidade, transparência, contraditório e controle jurisdicional. A rigidez dos termos do art. 73 e § 1º está mais para o período em que foi concebido do que para os dias atuais. Além disso, Fl. 85DF CARF MF Processo nº 10825.720102/201328 Acórdão n.º 2001000.775 S2C0T1 Fl. 4 5 mesmo na vigência do referido DecretoLei a austeridade do instrumento não era plena, visto que o art. 79, § 1º, do mesmo diploma legal lhe impunha limitações, no seguinte dizer: “Art. 79. Farseá o lançamento exofficio: § 1º Os esclarecimentos prestados só poderão ser impugnados pelos lançadores, com elemento seguro de prova, ou indício veemente de sua falsidade ou inexatidão.”. Assim, na ausência de fundamentação plausível para a recusa de documentos usuais de comprovação é indevida a glosa de despesas médicas. Diante do exposto, voto por dar provimento integral ao recurso voluntário. É como voto. (assinado digitalmente) Jorge Henrique Backes Redator Designado. Fl. 86DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12466.720122/2015-12
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 25 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Nov 27 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Regimes Aduaneiros
Data do fato gerador: 12/02/2015
INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA PRESUMIDA. DANO AO ERÁRIO. PENA DE PERDIMENTO. MULTA EQUIVALENTE AO VALOR ADUANEIRO.
A falta de comprovação da origem lícita, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na operação de importação configura interposição fraudulenta presumida na importação consistindo em dano ao erário, sancionada com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, se impossibilitada a aplicação da pena de perdimento da mercadoria.
Numero da decisão: 3301-005.097
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente e Relator
Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Salvador Candido Brandão Junior, Ari Vendramini, Semiramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Winderley Morais Pereira (Presidente).
Nome do relator: ANDRADA MÁRCIO CANUTO NATAL
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DANO AO ERÁRIO. PENA DE PERDIMENTO. MULTA EQUIVALENTE AO VALOR ADUANEIRO. A falta de comprovação da origem lícita, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na operação de importação configura interposição fraudulenta presumida na importação consistindo em dano ao erário, sancionada com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, se impossibilitada a aplicação da pena de perdimento da mercadoria. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente e Relator Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Salvador Candido Brandão Junior, Ari Vendramini, Semiramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Winderley Morais Pereira (Presidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 46 6. 72 01 22 /2 01 5- 12 Fl. 36099DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra decisão de primeira instância que julgou improcedente a Impugnação apresentada, mantendo a exigência da multa substitutiva da pena de perdimento em razão da falta de comprovação da origem lícita, da disponibilidade e da transferência dos recursos empregados na operação de importação, tendo se por configurado dano ao Erário em razão da interposição fraudulenta presumida na importação. Em sua Impugnação, o contribuinte requereu a declaração de nulidade do auto de infração ou, alternativamente, o cancelamento da ação fiscal, em razão da ausência de provas da prática das infrações apontadas, cancelandose a pena de perdimento imposta e extinguindose, por conseguinte, o respectivo processo administrativo. Foram apresentados os seguintes argumentos de defesa (ora descritos de forma sintética); a) nulidade da autuação por vício no Mandado de Procedimento Fiscal (MPF), em razão de ofensa aos princípios da legalidade, impessoalidade, isonomia, publicidade e quanto aos critérios norteadores da seleção para a nova fiscalização, bem como vício formal consistente na falta de autorização da autoridade competente para deflagrar o procedimento especial e vícios materiais decorrentes da imposição de restrições e exigências ao arrepio da lei; b) o auto de infração encontrase sedimentado em presunções, carregadas de subjetividade, devendo ser também no campo do provável que deveriam ser usados os argumentos da Impugnante, sempre em estrita obediência aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade admitidas em direito; c) quem não importou nem adquiriu mercadorias estrangeiras não pode ser sujeito da aplicação da penalidade de perdimento; d) foram apresentados os documentos requeridos pela Fiscalização, ainda que não na forma e nos formatos digitais requeridos, o que por si só não configura interposição fraudulenta presumida; e) regularidade da empresa como importadora, licitude e legalidade das importações da forma realizadas; f) ofensa ao princípio da verdade material, dada a impropriedade da alegação de interposição fraudulenta presumida; g) inexistência de falsidade ideológica e inexistência de simulação de negócio jurídico; h) ausência de demonstração do dolo específico de fraudar e impossibilidade de caracterização da infração de interposição fraudulenta; Fl. 36100DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 4 3 i) ausência de dano ao erário em razão do não cometimento das alegadas infrações (presunção de inocência) e em face do recolhimento dos tributos incidentes. A Delegacia de Julgamento (DRJ), por meio do acórdão nº 16070.184, julgou improcedente a Impugnação, considerando configurado o dano ao erário e aplicável a pena de perdimento das mercadorias, comutada em multa equivalente ao seu valor aduaneiro. Afirmou, ainda, a autoridade julgadora que a presunção decorre de lei e implica na inversão do ônus da prova, atribuindose ao importador a responsabilidade da demonstração da forma de financiamento de suas importações; e que a incidência do art. 33 da Lei nº 11.488/2007 é específica para a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros onde o importador de fato (sujeito passivo oculto/real comprador) encontrase identificado. Cientificado da decisão de primeira instância, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário, repisando os argumentos da Impugnação. Na análise do Recurso Voluntário, a 1ª Turma Ordinária da 3ª Câmara da 3ª Seção do CARF decidiu converter o julgamento da lide em diligência, com vistas a se verificar a existência de conexão entre este processo e outros processos administrativos. É o relatório. Voto Winderley Morais Pereira, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF 343, de 9 de junho de 2015, aplicandose, portanto, ao presente litígio o decidido no Acórdão nº 3301005.088, de 25/09/2018, proferida no julgamento do processo nº 12466.720114/201576, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 3301005.088): O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais pressupostos legais de admissibilidade e deve ser conhecido. A primeira alegação preliminar feita pela recorrente foi quanto à nulidade da intimação do Auto de Infração por edital, uma vez que a recorrente possuía endereço certo e sabido. Conforme se consignou na decisão recorrida, houve mudança de endereço da Recorrente, mas a Fiscalização envidou esforços e logrou a efetiva intimação da contribuinte, conforme excerto abaixo (fl. 7201): A MULTIMEX recebeu sua correspondência no novo endereço em 15/05/2014. Nesse termo, intimouse a MULTIMEX a apresentar, em relação às importações por conta própria, os extratos originais das DIs e as vias originais dos documentos de instrução, no prazo de 5 (cinco) dias úteis. Também a empresa foi cientificada do indeferimento da prorrogação de prazo para entrega dos arquivos digitais, solicitada na resposta de 29/04/2014. Fl. 36101DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 5 4 Importante destacar que, em 16/05/2014, compareceu perante a fiscalização procurador com poderes substabelecidos, que tomou ciência do TERMO DE INTIMAÇÃO N° 201400040006, conforme TERMO DE CIÊNCIA PESSOAL (CIÊNCIA PESSOAL 2014 00040 006). Em 14/05/2014, a MULTIMEX apresentou resposta (RESPOSTA 14 05 2014) ao TERMO DE DILIGÊNCIA E INTIMAÇÃO 201400040005. Foi através desse termo que a fiscalização comunicou à MULTIMEX sua inclusão no procedimento previsto na 228/2002, e a intimamos a apresentar livros, documentos e informações relativas ao período de 2014 incluído na fiscalização. Portanto, a fiscalização observou à legislação aplicável. Dessa forma, mantémse o entendimento da decisão recorrida nessa preliminar. Alega adiante (item III.1) a preliminar de nulidade do procedimento de fiscalização porque o Fiscal teria aplicado o procedimento especial da IN 228/02 sem prévia autorização do inspetor da Alfândega ou da Coana. Cumpre anotar que o Mandado de Procedimento Fiscal é um instrumento administrativo, cujo eventual descumprimento poderia levar a efeitos administrativofuncionais, mas não é requisito essencial do lançamento, nem altera a competência do auditor fiscal para a realização da fiscalização, nem para a lavratura do Auto de Infração, cuja atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional, nos termos do parágrafo único do artigo 142 do CTN. Destacase ainda que a Lei nº 10.593/2002, em seu artigo 6º, dispõe sobre a competência do auditor fiscal, estabelecendo que o Poder Executivo poderia regulamentar as atribuições, o que foi efetivado pelo Decreto nº 6.641/2008, que em seu artigo 2º dispôs sobre a competência para constituir o crédito tributário e praticar os atos relacionados ao controle aduaneiro etc, abaixo transcrito: Art. 2º São atribuições dos ocupantes do cargo de AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil: I no exercício da competência da Secretaria da Receita Federal do Brasil e em caráter privativo: a) constituir, mediante lançamento, o crédito tributário e de contribuições; [...] c) executar procedimentos de fiscalização, praticando os atos definidos na legislação específica, inclusive os relacionados com o controle aduaneiro, apreensão de mercadorias, livros, documentos, materiais, equipamentos e assemelhados; d) examinar a contabilidade de sociedades empresariais, empresários, órgãos, entidades, fundos e demais contribuintes, não se lhes aplicando as restrições previstas nos arts. 1.190 a 1,192 do Código Civil e observado o disposto no art. 1.193 do mesmo diploma legal; A recorrente alegou que a fiscalização não provou a imprestabilidade da contabilidade, nem a falta de origem lícita e disponibilidade dos recursos e presumiu que todas as importações foram fraudulentas. Neste ponto, conforme já informado na decisão recorrida, as alegações de falta de prova por parte da fiscalização a validar a presunção do § 2º do artigo 23 do Decreto nº 1.455/1976, e as alegações de ilegalidade, atipicidade e cerceamento de defesa estão ligadas à produção probatória confundemse com o mérito. Fl. 36102DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 6 5 Salientase que a descrição dos fatos foi clara no sentido de aplicação da multa prevista no § 3º do artigo 23 do Decreto nº 1.455/1976, transcrito abaixo, por presunção de interposição fraudulenta prevista em seu § 2º, abaixo transcrito, em decorrência da não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na importação. Art 23. Consideramse dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: [...] V estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) [...] § 1º O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 2o Presumese interposição fraudulenta na operação de comércio exterior a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 3o As infrações previstas no caput serão punidas com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, na importação, ou ao preço constante da respectiva nota fiscal ou documento equivalente, na exportação, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida, observados o rito e as competências estabelecidos no Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010) O mérito do litígio se concentra na comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos. Neste ponto, a recorrente arguiu que a fiscalização não provou que a contribuinte não possuía capacidade financeira, mas apenas presumiu, a partir da imprestabilidade da contabilidade mercantil, tal incapacidade. Alega a Recorrente que comprovou a origem lícita de recursos; demonstrando que obteve (fl. 7269): financiamento bancário efetivo, reiterado e contínuo ao longo dos anos para seu capital de giro; desconto de duplicatas em bancos de suas vendas no mercado nacional, gerando capital de giro; financiamento especial (FINIMP) na importação de máquinas e equipamentos para seu capital de giro; concessão de linha de crédito por seus fornecedores, de seus principais e maiores produtos, o que lhe permitiu fluxo de caixa com a origem de recursos dos seus próprios fornecedores no exterior. fluxo de caixa decorrente de suas vendas realizadas no mercado interno; fluxo de caixa decorrente dos recursos auferidos por meio das subvenções para investimento e/ou benefícios fiscais concedidas pelos Estados, especialmente de Rondônia e Espírito Santo, relativo ao ICMS; Ressaltese que a acusação fiscal é de que o importador MULTIMEX não comprovou a origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência dos recursos empregados no comércio exterior. Tratandose de importação por encomenda, é o importador o responsável pela aquisição da mercadoria no exterior, efetuando o pacto de compra e venda e sendo o responsável pelo pagamento do preço da mercadoria e das despesas Fl. 36103DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 7 6 de sua nacionalização. Assim, deve dispor de capacidade econômicofinanceira para tanto. A partir de indícios de incompatibilidade entre o volume transacionado e a capacidade econômicofinanceira da recorrente, a fiscalização deu início ao procedimento especial da IN SRF 228/2002 tendente à verificação da comprovação da origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos necessários à prática das operações. Das intimações, restou evidenciado que a contabilidade era imprestável, pois não apresentava os lançamentos relativos às movimentações financeiras, inclusive bancárias. Após intimações e reintimações, a recorrente também não entregou os extratos bancários, informando que estariam representados nos demonstrativos contábeis, as planilhas de formação de preços que identificam os custos e despesas incorridos nas importações, alegou não possuir os DANFES das notas fiscais emitidas, conforme consta do Auto de Infração (fl. 12): Em 29/04/2014, a MULTIMEX apresentou nova resposta (RESPOSTA 29 04 2014), onde informou, em resumo: alegou não ter condições nem conhecimentos técnicos para corrigir os leiautes dos arquivos da IN 86/2001, e solicitou mais 30 dias de prazo, que indeferimos, haja vista a constante demora no atendimento às intimações; alegou não possuir os DANFEs das NFe emitidas, e que não tem condições de apresentálos; apresentou uma caixa de arquivo morto contendo contratos de câmbio e, posteriormente, em 05/05/2014, complementou o atendimento apresentando mais duas caixas de arquivo morto com outros contratos de câmbio. Em relação ao pedido do extrato original das DI relativas às importações por conta própria, a Recorrente respondeu, conforme fl. 26/27 do Auto de Infração: que, devido à instauração do procedimento especial previsto na IN SRF 228/2002, não tem condições de gerar faturamento e manter uma estrutura operacional mínima; que demitiu seus funcionários; e que não tem condições operacionais para separar os documentos e entregálos na forma solicitada, ou seja, agrupados por DI e em ordem cronológica. Requereu prorrogação de prazo até dia 06/06/2014. (...) Em 05/06/2014, intimamos a MULTIMEX a apresentar, em relação às importações por encomenda, os extratos originais das DIs e as vias originais dos documentos de instrução. A empresa não apresentou resposta e não prestou qualquer esclarecimento, razão pela qual foi autuada também em relação a esses documentos, através do Auto de Infração nº 0727600/00401/14, consubstanciado no Processo Digital nº 12466.722001/201424. Assim, ao longo dos trabalhos não foram disponibilizados os documentos solicitados ou o foram em desordem, com pedidos de prorrogação de prazos por vezes sem justificativa, pois que se referiam a documentos e arquivos aos quais a recorrente estava, legalmente, obrigada a mantêlos em perfeita ordem. Alegou, a recorrente, a falta de funcionários e conhecimentos técnicos para proceder ao atendimento de algumas entregas de documentos e arquivos digitais da contabilidade. A fiscalização concluiu que (fl. 22): A empresa não apresentou os documentos de instrução das DI, e nem dispõe de contabilidade idônea. Os documentos citados pela MULTIMEX nem sempre identificam a operação de importação, e a empresa sequer foi capaz de apresentar os documentos de instrução por DI, quanto mais os comprovantes de despesas e custos. Fl. 36104DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 8 7 A inexistência desses controles gerenciais é claro indício de interposição fraudulenta, onde a empresa que registra a Declaração de Importação em seu nome não é o verdadeiro responsável pela operação, mas uma mera mandatária, que não tem o total controle das operações e não pretende expor ao Fisco a forma que as operações são realizadas, para não revelar a fraude. (grifouse) De fato, a análise da ECD de 2010, 2011 e 2012 revelou as seguintes incorreções (fl. 45 e seguintes): 1. Com relação à escrituração de 2010, as contas do ativo circulante não foram adequadamente divididas no plano de contas, bem como não foram corretamente escrituradas, conforme explicitado abaixo: a. Todas as contas do ativo circulante, inclusive “Duplicatas a receber” (11104) e “Estoques” (11107), foram reunidas na conta sintética “Disponível” (111), sendo que apenas as contas de disponibilidades, como “Caixa” (111010001) e “Bancos Conta Movimento” (11102), devem estar nesse agrupamento; b. A conta “Caixa” (111010001) e “Bancos Conta Movimento” (111020025) só possuem dois lançamentos, no primeiro e último dia do ano, sem históricos ou contra partidas que evidenciem a natureza econômica do lançamento ou façam referência ao documento probante, conforme abaixo: c. As contas de “Aplicações Financeiras” (11103) só possuem lançamentos no último dia do ano, sem históricos ou contra partidas que evidenciem a natureza econômica do lançamento ou façam referência ao documento probante, conforme abaixo: Fl. 36105DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 9 8 2. Com relação à escrituração do anocalendário 2011, as contas do Ativo Circulante não foram escrituradas. Há apenas um lançamento na conta “Caixa” (1.1.01.001.5), no primeiro dia do ano, conforme abaixo: Data Cód.Conta Conta D/C Valor Saldo D/C Histórico 3. Com relação à escrituração de 2012, as contas do ativo circulante não foram adequadamente divididas no plano de contas, bem como não foram corretamente escrituradas, conforme explicitado abaixo: a. Todas as contas do ativo circulante, inclusive “Duplicatas a receber” (1.11.04.0000) e “Estoques” (1.11.07.0000), foram reunidas na conta sintética “Disponível” (1.11.00.0000), sendo que apenas as contas de disponibilidades, como “Caixa” (1.11.01.0001) e “Bancos Conta Movimento” (1.11.02.0000), devem estar nesse agrupamento; b. As contas do ativo circulante não foram escrituradas. Há apenas um lançamento na conta “Caixa” (1.11.01.0001), no primeiro dia do ano, cujo histórico aponta que não houve movimento, conforme abaixo: Verificouse que a contabilidade de fato era imprestável para comprovar a origem lícita, a transferência e a disponibilidade dos recursos utilizados nas operações de importação, pois não refletia as movimentações financeiras, especialmente as bancárias, efetuadas pela recorrente. Em resposta, a recorrente informou que tivera problemas com a contabilidade, que estaria empenhada em corrigila e solicitou prorrogações de prazo de 180 dias, embora tais problemas já eram de conhecimento da recorrente desde meados de 2012, quando já estava sendo fiscalizada em relação ao ano de 2008, cuja apresentação de ECD não fora cumprida. A fiscalização demonstrou que o Diário de 2010 possuía apenas 136 lançamentos, quase todos no primeiro e último dia do ano, sem qualquer vinculação com as operações efetuadas em cada DI, de modo a comprovar a disponibilidade dos recursos por ocasião do pagamento do preço e das despesas de tributos e outras aduaneiras. O Diário de 2011 possuía apenas um lançamento de Caixa a Capital Social e o de 2012, também um único lançamento de Caixa A Fornecedores. A fiscalização concedeu prazo até 28/05/2014 para apresentar a ECD de 2010 e até 28/07/2014 para apresentar as ECD de 2011, 2012 e 2013, mas a recorrente não cumpriu tais prazos e não prestou outros esclarecimentos. Fl. 36106DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 10 9 Posteriormente, apresentou a ECD de 2013, mas com apenas um lançamento de Caixa a Assistência Contábil de valor R$ 1,00 (cf. fl. 56). Está plenamente comprovada a imprestabilidade da contabilidade para comprovar a origem lícita, a transferência e a disponibilidade dos recurso utilizados nas operações de importação que giraram em torno de 2600 DI´s e R$ 33.423.039,79 no período de 2010 a 2014, sendo que deste montante, R$ 154.591.519,12 eram importações por conta própria. Sobre a exigência de se manter a escrituração contábil nas operações de importação e exportação está expressamente prevista no artigo 18 do Decreto nº 6.759/2009, assim como, de forma genérica, no artigo 251 do Decreto 3.000/1999 (RIR/99) e no artigo 509 do Decreto nº 7.212/2010 (RIPI/2010): Art. 18. O importador, o exportador ou o adquirente de mercadoria importada por sua conta e ordem têm a obrigação de manter, em boa guarda e ordem, os documentos relativos às transações que realizarem, pelo prazo decadencial estabelecido na legislação tributária a que estão submetidos, e de apresentálos à fiscalização aduaneira quando exigidos (Lei nº 10.833, de 2003, art. 70, caput): § 1º Os documentos de que trata o caput compreendem os documentos de instrução das declarações aduaneiras, a correspondência comercial, incluídos os documentos de negociação e cotação de preços, os instrumentos de contrato comercial, financeiro e cambial, de transporte e seguro das mercadorias, os registros contábeis e os correspondentes documentos fiscais, bem como outros que a Secretaria da Receita Federal do Brasil venha a exigir em ato normativo (Lei no 10.833, de 2003, art. 70, § 1º).(Grifo nossos) Por seu turno, a recorrente juntou em impugnação contratos de empréstimo e financiamento à importação com diversos bancos, às fls. 911 e seguintes (BICBANCO, Banco do Brasil, Banco Santander, Banco Real, Banco Itaú); relação de faturas comerciais de importação (invoices), relação de DI´s, saldos de aplicação e empréstimos em 31/12/2010, 31/12/2011, 31/12/2012, relatório do Banco Central do Brasil indicando as operações com os bancos referidos, relação de extratos de descontos de títulos liquidados com extratos bancários, cópia dos termos de entrega dos arquivos SINTEGRA de 2012, 2013 e 2014; contratos de venda de máquinas, lubrificantes e outros produtos, notas fiscais de serviços tomados, notas fiscais de prestação de serviços de manutenção de máquinas, extratos de folhas de pagamento, contrato de representação comercial dos produtos da MULTIMEX, relação de clientes. As origens foram resumidas nas planilhas de fls. 1604/1605, e seriam decorrentes de descontos de duplicatas, empréstimos e capital de giro, financiamento de importações, recebimento de operações próprias e por encomenda, créditos de subvenções e créditos concedidos por exportadores. Segundo a Recorrente, os referidos documentos comprovariam a capacidade econômicofinanceira da recorrente e que o registro contábil não é o único meio de prova, conforme artigo 6º da IN SRF nº 228/2002. Realmente, referidos documentos são indicativos da origem de recursos lícita, conforme dispõe o artigo 4º e 6º da IN SRF nº 228/2002, abaixo reproduzidos: Art. 4º Durante o procedimento especial de fiscalização, a empresa será intimada a comprovar as seguintes informações, no prazo de 20 (vinte) dias:(Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) I o seu efetivo funcionamento e a condição de real adquirente ou vendedor das mercadorias, mediante o comparecimento de sócio com poder de gerência ou Fl. 36107DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 11 10 diretor, acompanhado da pessoa responsável pelas transações internacionais e comerciais; e(Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) II a origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos necessários à prática das operações.(Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) [...] Art. 6º Para efeito de cumprimento do disposto no inciso II do caput do art. 4º, além dos registros e demonstrações contábeis, poderão ser apresentados, dentre outros, elementos de prova de: I integralização do capital social; II transmissão de propriedade de bens e direitos que lhe pertenciam e do recebimento do correspondente preço; III financiamento de terceiros, por meio de instrumento de contrato de financiamento ou de empréstimo, contendo: a) identificação dos participantes da operação: devedor, fornecedor, financiador, garantidor e assemelhados; b) descrição das condições de financiamento: prazo de pagamento do principal, juros e encargos, margem adicional, valor de garantia, respectivos valoresbase para cálculo, e parcelas não financiadas; e c) forma de prestação e identificação dos bens oferecidos em garantia. § 1º Quando a origem dos recursos for justificada mediante a apresentação de instrumento de contrato de empréstimo firmado com pessoa física ou com pessoa jurídica que não tenha essa atividade como objeto societário, o provedor dos recursos também deverá justificar a sua origem, disponibilidade e, se for o caso, efetiva transferência. § 2º Os elementos de prova referentes a transações financeiras deverão estar em conformidade com as práticas comerciais. § 3º No caso de comprovação baseada em recursos provenientes do exterior, além dos elementos de prova previstos no caput, deverá ser apresentada cópia do respectivo contrato de câmbio. § 4º Na hipótese do § 3º, caso o remetente dos recursos seja pessoa jurídica, deverão ser também identificados os integrantes de seus quadros societário e gerencial. Porém, devese ter em mente que a comprovação deve ser da origem lícita, da transferência e da disponibilidade dos recursos empregados nas operações de importação. Como bem esclarecido na decisão recorrida, é um trinômio que se deve comprovar e não apenas a origem ou a transferência ou a disponibilidade. Se os contratos apresentados podem servir de comprovação de origem, certamente não são suficientes para comprovar a transferência ou a disponibilidade. Se os extratos comprovam a transferência da liquidação dos descontos de títulos, certamente não são suficientes para comprovar a disponibilidade para execução das operações. Do mesmo modo, apenas a escrituração contábil, desacompanhada dos referidos documentos, também não é suficiente para comprovar a origem lícita, a transferência e a disponibilidade dos recursos. Assim, é o conjunto probatório que deve se mostrar idôneo a comprovar o trinômio, ou seja, a origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência dos recursos necessários à prática das operações. Tal distinção restou bem explanada no acórdão atacado, cujos fundamentos abaixo transcrevo (fl. 7397/7398): Fl. 36108DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 12 11 Há que se ter em mente que para fins de comprovação do financiamento de operações de comércio exterior o trinômio origem, disponibilidade e transferência deve ser interpretado como um critério indivisível. A comprovação da origem, da disponibilidade ou da transferência de recursos utilizados em operações de comércio exterior tomados de forma isolada, não atende o preceito da norma: possibilitar a completa ciência do fluxo de dinheiro de que se vale o importador. De outra forma, em não se adotando essa postura rígida, correse o sério risco de se deixar uma brecha que viabilize a utilização de transações com o exterior para operações destinadas à “lavagem de dinheiro”. Para a demonstração do grau desse risco, que é elevado, procedese primeiramente com a conceituação em separado de cada um dos três termos: Origem Diz respeito à gênese lícita do recurso. Deve ser demonstrada de onde o recurso provém – se decorrente de atividades lícitas ou não e se em sua obtenção foram observadas as normas de incidência tributária, quando for o caso. É muito comum que o importador intimado a fazer a comprovação dos recursos empregados em operações do comércio exterior exiba o saldo, ou até mesmo o extrato bancário, para demonstrar que possuía numerário suficiente para honrar a transação na data do fechamento do câmbio. Esse tipo de prova evidência apenas que no momento de honrar a transação o importador possuía aquela disponibilidade e que de fato a importação foi paga. Mas a fiscalização nunca põe em dúvida a existência do recurso para adimplemento da transação. Se não houvesse o recurso o contrato de câmbio não seria fechado. O depósito em conta corrente limitase a demonstrar que ocorreu o pagamento da mercadoria importada na data avençada. Nada mais. Outros se limitam a alegar a integração do Contrato Social. Mas a questão perdura: O recurso que integralizou o Contrato Social é de origem lícita? Ao se falar em origem se quer saber o que ocasionou o surgimento do recurso na conta bancária do importador. O que propiciou o depósito. Sua causa. De onde e quando adveio. Qual sua efetiva contrapartida lícita. Portanto, a comprovação origem lícita não é suficiente. É preciso que se demonstre a origem lícita do recurso e sua disponibilidade no momento de se honrar a operação de comércio exterior, coincidente em datas e valores, não só para fins de fechamento de câmbio, como também para suportar todo o encargo decorrente da nacionalização, circulação, distribuição e venda de bens importados. Disponibilidade É a demonstração que o importador possuía esse recurso disponível no exato momento de honrar a transação com o fornecedor externo (fechamento do câmbio). É a paridade entre a posse do numerário e o pagamento da obrigação na data em que ela ocorre. O importador intimado a fazer a comprovação dos recursos empregados em operações do comércio exterior demonstra que vendeu um imóvel registrado em seu nome e que com aquele dinheiro iniciou suas operações de comércio exterior. A origem lícita do recurso resta demonstrada, mas quem garante que efetivamente aquele recurso foi utilizado para honrar a transação com o exterior? É necessário que se demonstre a posse desse recurso no momento do pagamento da obrigação. De nada vale se demonstrar que a origem do recurso é lícita se no momento de honrar a transação não se prova que de fato se possuía aquele mesmo recurso. Ao se satisfazer com a origem lícita proveniente da venda de um imóvel, por exemplo, correse o sério risco de se permitir que recursos de origem ilícita financiem as operações de comércio exterior, tendo apenas por limite o valor da venda do imóvel. Quanto maior for o valor dessa venda, que serve para referendar a origem, mais quantidade de dinheiro se poderá “lavar”. Fl. 36109DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 13 12 Portanto, a comprovação origem lícita não é suficiente. É preciso que se demonstre a origem lícita do recurso e sua disponibilidade no momento de se honrar a operação de comércio exterior. Transferência É justamente a ligação entre a gênese e o destino do recurso. A demonstração de que o recurso permaneceu e migrou pelas vias regulares (legais) desde sua origem lícita até o adimplemento da obrigação com o fornecedor externo. É o que se denominou até então de seu “oferecimento a regular tributação”. Em outros termos, o recurso contabilizado à disposição da empresa para adimplir suas obrigações. Um exemplo que ilustra bem a interação dessas três condições é a situação em que determinada pessoa jurídica foi constituída com um capital totalmente integralizado em dinheiro. Para que esse valor seja admitido em operações de comércio exterior, é necessário: que os sócios possuam disponibilidade para realizar a integralização (rendimentos declarados tributáveis, isentos ou não tributados). Se o valor integralizado pelos sócios está justificado em suas declarações de imposto de renda, presumese tanto a origem licita quanto sua disponibilidade; e comprovar a efetiva transferência, que nesse caso se faz por meio de crédito em contacorrente da empresa, coincidindo em data e valor com a integralização de capital. Admitese também como prova o saque do valor correspondente nas contas correntes bancárias dos sócios. Ou seja, em pelo menos "uma das pontas" da cadeia, deve ficar demonstrada a movimentação do recurso. Se o importador não consegue efetuar a comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na importação, isso implica na sua impossibilidade de demonstrar o trânsito dos recursos pelas vias legais. De nada vale exibir o saldo em conta corrente, o volume de receitas, a quantidade de vendas, a margem de lucro praticada, se o importador nenhum demonstrar o trânsito regular do recurso, assim compreendido: A origem do recurso, sua disponibilidade no momento do fechamento do câmbio, e sobretudo, o seu trânsito pelas vias contábeis para honrar cada importação praticada. O impugnante empresa MULTMEX alega no item (74) da impugnação: 74. Com relação ao Demonstrativo de Fluxo Financeiro, período compreendido entre 2010 e 2014, verificase que a Impugnante possuía, no ano de 2010, saldo mensal positivo em média superior a R$ 1.500.000,00. No ano, perfazia um fluxo de caixa positivo de R$ 17.000.000,00 considerando apenas receitas e despesas operacionais e empréstimos contraídos. Descontadas as despesas administrativas, o resultado continua positivo, em torno de R$ 4.330.287,89. Nos anos posteriores do período submetido à fiscalização, o fluxo de caixa situase na faixa de RS 20.000.000,00 sem considerar as despesas administrativas. Isso é clara evidência que a empresa possuía recursos suficientes a sustentar suas atividades. Como dito, é comum que o importador intimado a fazer a comprovação dos recursos empregados em operações do comércio exterior exiba o saldo, ou até mesmo o extrato bancário, para demonstrar que possuía numerário suficiente para honrar a transação na data do fechamento do câmbio. É preciso que se demonstre a triangulação do recurso: origem lícita do recurso e sua disponibilidade no momento de se honrar a operação de comércio exterior, coincidente em datas e valores, não só para fins de fechamento de câmbio, como também para suportar todo o encargo decorrente da nacionalização, circulação, distribuição e venda de bens importados. De nada vale se demonstrar que a origem do recurso é lastreada no volume de transações da empresa importadora se no momento de honrar a transação não se prova que de fato se possuía o recurso. Quanto maior for esse volume, que serviria em princípio para referendar a origem, mais quantidade de dinheiro se poderá “lavar”. Fl. 36110DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 14 13 E é onde a argumentação do impugnante nos remete: apresenta como origem um capital de giro anual da ordem de anual total de RS 89.537.008,96, o que corresponde a uma média mensal de R$ 7.461.418,00, mas é incapaz de demonstrar a triangulação do recurso: origem lícita do recurso e sua disponibilidade no momento de se honrar a operação de comércio exterior, dada que sua contabilidade é imprestável como será visto a seguir. Sem a demonstração da triangulação do recurso, ou em outros termos, a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na importação, fica caracterizada a prática presumida de interposição fraudulenta de terceiros, nos moldes do §2º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. O impugnante empresa MULTMEX alega nos itens (78) e (79) da impugnação: 78. Assim, a contribuinte tanto valese de recursos próprios para importar mercadorias e nacionalizálas, como importa por conta e ordem de terceiros. O rol de atividades da contribuinte é vastíssimo, inclusive exercendo atividades de industrialização, remanufatura e diversas exportações. 79. Muito embora não tenha apresentado as demonstrações contábeis referentes aos exercidos abrangidos pela ação fiscal, nos exatos termos requeridos pela Fiscalização, os documentos acima colacionados constituem provas de que a contribuinte desenvolve atividades empresariais de forma lícita, bem como que dispunha de recursos próprios para empregar nas atividades de comércio exterior, empréstimos e financiamentos bancários e de fornecedores estrangeiros. Finalizando, importa considerar ainda que o volume das operações praticado pela Impugnante por mais de uma década não permite que sem qualquer critério a Fiscalização Aduaneira simplesmente declare que não houve comprovação de origem de recursos. De modo algum, pois sem a apresentação das demonstrações contábeis é inviável a demonstração da triangulação do recurso, ou em outros termos, a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na importação, o que implica na prática presumida de interposição fraudulenta de terceiros, nos moldes do §2º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. O impugnante empresa MULTMEX aborda esse assunto nos itens (97), (98) e (99) da impugnação: 97. Resta, porém, verificar se a imprestabilidade da contabilidade, poderia ser óbice insuperável, como quer a douta Fiscalização, à constatação que a contribuinte possuía condições econômicas, financeiras e operacionais para exercer suas atividades e realizar as operações de comércio exterior a que se propôs. 98. Na verdade, não poderia. Não poderia porque, como demonstrado, não há na legislação de regência norma jurídica que determine que somente os demonstrativos contábeis podem ser utilizados para fins de comprovar a origem, disponibilidade e transferência de recursos empregados em operações de comércio exterior. Na verdade, todos os meios admitidos em direito são válidos para se fazer a prova, ao contrário do que de forma subjetiva, discricionária, abusiva e arbitrária estabeleceu a Fiscalização. 99. Conforme demonstrado, a douta Fiscalização teve acesso aos dados de um auto de infração lavrado pela Delegada da Receita Federal em Vitória/ES, onde consta o balanço patrimonial de 2009 da MULTIMEX. Nesse balanço há provas suficientes que a Impugnante possuía recursos com origem lícita capaz de fazer frente às suas operações de comércio exterior (doc.2). Da análise das disponibilidades, do estoque declarado, do capital social e da reserva de lucro, bem como da capacidade de financiamento das operações, verificase facilmente a capacidade econômica e financeira da Impugnante. Ou seja, a referida demonstração contábil faz prova a favor da Impugnante. Não é possível atender o trinômio ORIGEM – DISPONIBILIDADE – TRANSFERÊNCIA a partir de um balanço patrimonial. Eventualmente, e vamos frisar que é uma situação bastante eventual, o importador até poderia identificar a Fl. 36111DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 15 14 origem dos recursos, mas jamais sua DISPONIBILIDADE e TRANSFERÊNCIA, pois como se sabe o balanço patrimonial reproduz uma situação estática, enquanto que as operações de importação são transações dinâmicas. De nada vale demonstrar que a empresa possuía o recurso no início do ano se não for comprovado que esse mesmo recurso financiou uma operação de importação em meados de setembro. Tal qual reproduzido no ‘ (74) da impugnação, é afirmado que ... a Impugnante possuía, no ano de 2010, saldo mensal positivo de origem de receitas e de recursos proveniente de descontos de duplicatas, empréstimos bancários para capital de giro, Finimp, valores recebidos de operações próprias e de encomenda e por créditos concedidos pelos exportadores, seja nas operações próprias, seja nas operações de encomenda,... E ainda destaque para o alegado pela empresa MULTMEX nos itens (148) e (149) da impugnação: 148. OS recursos utilizados para o pagamento das despesas com o fechamento do câmbio e com os tributos aduaneiros possuem como origem vendas de mercadorias no mercado interno. 149. Frisese que as Notas Fiscais são consideradas documento idôneo para comprovar a origem de receita, consoante o posicionamento oficial do próprio Fisco, exemplificado pela seguinte decisão UNÂNIME proferida pela Delegada da Receita Federal de Julgamento no TJ, Acórdão n° 1221389, de 15/10/2008: O único mo do de se demonstrar que esses recursos ingressaram na empresa e serviram para financiar as operações de importação objeto do presente Auto de Infração, dentro do trinômio ORIGEM – DISPONIBILIDADE – TRANSFERÊNCIA, é através do registro das demonstrações contábeis. A ausência dos registro contábeis, além de não fazer prova que tais recursos ingressaram regularmente na empresa, implica na prática presumida de interposição fraudulenta de terceiros, nos moldes do §2º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. Quanto à decisão UNÂNIME proferida pela Delegada da Receita Federal de Julgamento no TJ, Acórdão n° 1221389, de 15/10/2008, diz respeito a um outro contexto que não guarda relação com a prática presumida de interposição fraudulenta de terceiros em operações em comércio exterior." A contabilidade regular, suportada em documentos, é que faz a prova regular das operações e sua ausência impede que se confirme a comprovação do trinômio origem lícita, transferência e disponibilidade. A contabilidade, como os demais documentos apresentados, são necessários, mas não suficientes, isoladamente, para comprovação do que aqui se pretendeu. Assim, concluise que a recorrente não comprovou a origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência dos recursos necessários à prática das operações, incidindo na presunção de que trata o §2º do artigo 23 do Decreto nº 1.455/1976, configurando a interposição fraudulenta na operação de comércio exterior, apenada com a multa equivalente ao valor aduaneiro, em razão de as mercadorias não terem localizadas ou terem sido consumidas ou revendidas. Em relação à argumentação de que a falsidade ideológica não está contemplada no inciso VI do artigo 105 do Decretolei nº 37/1966, sem razão a recorrente. A redação é a seguinte: Art.105 Aplicase a pena de perda da mercadoria: [...] Fl. 36112DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 16 15 VI estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, se qualquer documento necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado; Por sua vez o Decreto nº 6.759/2009 dispõe que: Art. 553. A declaração de importação será obrigatoriamente instruída com (Decreto Lei nº 37, de 1966, art. 46, caput, com a redação dada pelo DecretoLei nº 2.472, de 1988, art. 2º):(Redação dada pelo Decreto nº 8.010, de 2013) I a via original do conhecimento de carga ou documento de efeito equivalente; II a via original da fatura comercial, assinada pelo exportador; e (Redação dada pelo Decreto nº 8.010, de 2013) III o comprovante de pagamento dos tributos, se exigível. (Redação dada pelo Decreto nº 8.010, de 2013) [...] Art. 689. Aplicase a pena de perdimento da mercadoria nas seguintes hipóteses, por configurarem dano ao Erário (DecretoLei nº 37, de 1966, art. 105; e DecretoLei nº 1.455, de 1976, art. 23, caput e § 1º, este com a redação dada pela Lei no 10.637, de 2002, art. 59): [...] VI estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, se qualquer documento necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado; [...] § 3ºA. O disposto no inciso VI do caput inclui os casos de falsidade material ou ideológica. (Redação dada pelo Decreto nº 8.010, de 2013) § 3ºB. Para os efeitos do inciso VI do caput, são necessários ao desembaraço aduaneiro, na importação, os documentos relacionados nos incisos I a III do caput do art. 553. (Incluído pelo Decreto nº 8.010, de 2013) Assim, a falsidade a que se refere o inciso VI do artigo 105 do Decretolei nº 37/1966 é dos documentos de instrução da DI, ou seja, do conhecimento de carga, da fatura comercial e dos comprovantes de pagamento dos tributos. A acusação da fiscalização recaiu na ocultação do responsável pela operação, a qual, uma vez comprovada, ainda que por presunção legal, torna os documentos emitidos para instrução da DI ideologicamente falsos. Tal conclusão está exposta no artigo 13 da IN SRF nº 228/2002: Art. 13. A prestação de informação ou a apresentação de documentos que não traduzam a realidade das operações comerciais ou dos verdadeiros vínculos das pessoas com a empresa caracteriza simulação e falsidade ideológica ou material dos documentos de instrução das declarações aduaneiras, sujeitando os responsáveis às sanções penais cabíveis, nos termos do Código Penal (Decretolei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) ou da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, além da aplicação da pena de perdimento das mercadorias, nos termos do art. 105 do Decretolei nº 37, de 18 de novembro de 1966. Se há comprovação da interposição fraudulenta do responsável pela importação na condição de fornecedor dos recursos necessários à efetivação da importação, então tal ocultação somente é materializada na ausência de referido responsável nos documentos de importação, seja na condição de real importador seja na condição de real adquirente. Em qualquer dos casos, seu nome deveria constar nas faturas comercias ou no conhecimento de carga. Por fim, é preciso esclarecer que para efeitos de tipificação da interposição fraudulenta de terceiros, seja ela a EFETIVA (REAL) ou PRESUMIDA é Fl. 36113DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 17 16 absolutamente irrelevante que aquele que fornece o recurso seja denominado de importador, pois em nenhum dos dois tipos se exige a presença DO PEDIDO “importador”." No que tange à ausência de demonstração do dolo específico, não há que se exigir tal neste caso, pois estamos diante de uma presunção legal de interposição fraudulenta. Basta a não comprovação da origem lícita, transferência e disponibilidade dos recursos empregados na importação para se caracterizar a interposição fraudulenta nos termos do §2º do artigo 23 do Decreto nº 1.455/1976. Uma vez presumida, não há que se falar em demonstração de dolo por parte da fiscalização. Quanto ao dano ao erário, os artigos 23 e 24 do Decreto nº 1.455/1976 estipulam o que se considera dano ao erário: Art 23. Consideramse dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: I importadas, ao desamparo de guia de importação ou documento de efeito equivalente, quando a sua emissão estiver vedada ou suspensa na forma da legislação específica em vigor; II importadas e que forem consideradas abandonadas pelo decurso do prazo de permanência em recintos alfandegados nas seguintes condições: a) 90 (noventa) dias após a descarga, sem que tenh sido iniciado o seu despacho; ou b) 60 (sessenta) dias da data da interrupção do despacho por ação ou omissão do importador ou seu representante; ou c) 60 (sessenta) dias da data da notificação a que se refere o artigo 56 do DecretoIei número 37, de 18 de novembro de 1966, nos casos previstos no artigo 55 do mesmo Decretolei; ou d) 45 (quarenta e cinco) dias após esgotarse o prazo fixado para permanência em entreposto aduaneiro ou recinto alfandegado situado na zona secundária. III trazidas do exterior como bagagem, acompanhada ou desacompanhada e que permanecerem nos recintos alfandegados por prazo superior a 45 (quarenta e cinco) dias, sem que o passageiro inicie a promoção, do seu desembaraço; IV enquadradas nas hipóteses previstas nas alíneas " a " e " b " do parágrafo único do artigo 104 e nos incisos I a XIX do artigo 105, do Decretolei número 37, de 18 de novembro de 1966. V estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) VI (Vide Medida Provisória nº 320, 2006) § 1º O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 2o Presumese interposição fraudulenta na operação de comércio exterior a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 3o As infrações previstas no caput serão punidas com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, na importação, ou ao preço constante da respectiva nota fiscal ou documento equivalente, na exportação, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida, observados o rito e as competências estabelecidos no Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010) Fl. 36114DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 18 17 § 4o O disposto no § 3o não impede a apreensão da mercadoria nos casos previstos no inciso I ou quando for proibida sua importação, consumo ou circulação no território nacional.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) Art 24. Consideramse igualmente dano ao Erário, punido com a pena prevista no parágrafo único do artigo 23, as infrações definidas nos incisos I a VI do artigo 104 do Decretolei numero 37, de 18 de novembro de 1966. Percebese que o dano ao erário configurase por uma determinação específica legal, tratase de uma presunção legal ou absoluta de dano ao erário nos casos enumerados. Embora a própria conduta configura o dano ao erário, podese enumerar vantagens em tese almejadas, mediante a interposição ilícita de pessoas como: burla ao controles da habilitação para operar no comércio exterior; blindagem do patrimônio do real adquirente ou encomendante, no caso de eventual lançamento de tributos ou infrações; quebra da cadeia do IPI; sonegação de PIS e Cofins, relativamente ao real adquirente, lavagem de dinheiro e ocultação da origem de bens e valores, aproveitamento indevido de incentivos fiscais do ICMS. Portanto, a alegação de que não houve dano efetivo ao erário, simplesmente pelo fato de não haver tributo a ser recolhido, não procede. Concernente à aplicação da multa de 10% por cessão de nome de que trata o artigo 33 da Lei nº 11.488/2007, salientase que sua aplicação é cabível no caso de interposição real e não no caso de interposição presumida de que trata o presente processo. Tal situação restou esclarecida na IN SRF 228/2002 em seu artigo 11: Art. 11. Concluído o procedimento especial, aplicarseá a pena de perdimento das mercadorias objeto das operações correspondentes, nos termos do art. 23, V do Decretolei nº 1.455, de 7 de abril de 1976, na hipótese de: I ocultação do verdadeiro responsável pelas operações, caso descaracterizada a condição de real adquirente ou vendedor das mercadorias; II interposição fraudulenta, nos termos do § 2º do art. 23 do Decretolei nº 1.455, de 1976, com a redação dada pela Medida Provisória nº 66, de 29 de agosto de 2002, em decorrência da não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados, inclusive na hipótese do art. 10. 1º Na hipótese prevista no inciso I do caput, será aplicada, além da pena de perdimento das mercadorias, a multa de que trata o art. 33 da Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007.(Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) § 2º Na hipótese prevista no inciso II do caput, além da aplicação da pena de perdimento das mercadorias, será instaurado procedimento para declaração de inaptidão da inscrição da empresa no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). (Incluído(a) pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016). De fato, com a edição do artigo 33 da Lei nº 11.488/2007, à hipótese de aplicação da multa por cessão de nome não se aplica a declaração de inaptidão de que trata o artigo 81 da Lei nº 9.430/1996, hipótese de que tratam estes autos: Lei nº 11.488/2007: Art. 33. A pessoa jurídica que ceder seu nome, inclusive ediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários Fl. 36115DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 19 18 fica sujeita a multa de 10% (dez por cento) do valor da operação acobertada, não podendo ser inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Parágrafo único. À hipótese prevista no caput deste artigo não se aplica o disposto no art. 81 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996. Lei nº 9.430/1996: Art. 81. Poderá ser declarada inapta, nos termos e condições definidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, a inscrição no CNPJ da pessoa jurídica que, estando obrigada, deixar de apresentar declarações e demonstrativos em 2 (dois) exercícios consecutivos. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) § 1o Será também declarada inapta a inscrição da pessoa jurídica que não comprove a origem, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos empregados em operações de comércio exterior. (Redação dada pela Lei nº 10.637, de 2002) Destacase, ainda que esse entendimento é consolidado, inclusive nesta turma: APLICAÇÃO DA MULTA POR CESSÃO DE NOME. SUBSTITUIÇÃO DA MULTA DO PERDIMENTO DA MERCADORIA PELA MULTA DO ART. 33 DA LEI Nº 11.488/07. A multa do art. 33 da Lei nº 11.488/07 veio para substituir a pena de inaptidão do CNPJ da pessoa jurídica, quando houver cessão de nome para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários, e não prejudica e nem substitui a incidência da hipótese de dano ao erário, por ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, prevista no art. 23, V, do DL nº 1.455/76, apenada com perdimento da mercadoria (Acórdão nº 3301 003.086 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária) Cumpre, por fim, citar decisão, cujos entendimentos foram adotados nesta decisão, com a mesma Recorrente, já decidido por este CARF, de relatoria do Conselheiro Paulo Guilherme Déroulède (Acordão Acórdão nº 3302005.468 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária): ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Período de apuração: 06/07/2011 a 24/10/2012 Ementa: INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA PRESUMIDA. DANO AO ERÁRIO. PENA DE PERDIMENTO. MULTA EQUIVALENTE AO VALOR ADUANEIRO. A falta de comprovação da origem lícita, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na operação de importação configura interposição fraudulenta presumida na importação consistindo em dano ao erário, sancionada com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, se impossibilitada a aplicação da pena de perdimento da mercadoria. Recurso de Ofício Não Conhecido. Recurso Voluntário Negado. Crédito Tributário Mantido. Por todo o exposto, voto no sentido de manter integralmente a decisão recorrida e negar provimento ao Recurso Voluntário Importa registrar que, nos presentes autos, as situações fática e jurídica encontram correspondência com as verificadas no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Fl. 36116DF CARF MF Processo nº 12466.720122/201512 Acórdão n.º 3301005.097 S3C3T1 Fl. 20 19 Portanto, aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Fl. 36117DF CARF MF
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