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Numero do processo: 11516.002701/2010-70
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jul 13 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Nov 16 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2005
SIMULAÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DE SEGREGAÇÃO DE PESSOAS JURÍDICAS SIMULADA. DOLO DE EVASÃO FISCAL.
Demonstrada a simulação da segregação de fontes de rendimentos em diversas pessoas jurídicas, é legítima a desconsideração da reestruturação societária simulada para a tributação concentrada da única entidade realmente existente (CTN, art. 149).
MULTA QUALIFICADA. DEMONSTRAÇÃO DE DOLO PARA A EVASÃO DE TRIBUTOS.
Demonstrada a simulação da segregação de fontes de rendimentos, com o dolo de evadir tributos, é legítima a qualificação da multa de ofício.
MULTA AGRAVADA. NÃO CABIMENTO.
Não há o preenchimento da hipótese de incidência do agravamento da multa se houve resposta a todas as intimações feitas pela fiscalização e a apresentação dos arquivos magnéticos em questão em nada alteraria o lançamento afinal efetuado, que se operou sob a forma do lucro arbitrado.
Numero da decisão: 9101-002.397
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer o Recurso Especial do Contribuinte, vencidos os conselheiros Lui´s Fla´vio Neto (relator), Adriana Gomes Re^go, Nathalia Correia Pompeu, Marcos Anto^nio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado) e Rafael Vidal de Arau´jo, que na~o o conheceram e, no me´rito, por unanimidade de votos, em negar-lhe provimento. Votaram pelas concluso~es os conselheiros Rafael Vidal de Arau´jo, Marcos Anto^nio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado) e Carlos Alberto Freitas Barreto. Designado para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, o conselheiro Andre´ Mendes de Moura. Acordam, ainda, por maioria de votos, em conhecer parcialmente o Recurso Especial da Fazenda Nacional, vencidos os conselheiros Marcos Aure´lio Pereira Valada~o e Carlos Alberto Freitas Barreto e, no me´rito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos Marcos Aure´lio Pereira Valada~o, Adriana Gomes Re^go, Andre´ Mendes de Moura e Carlos Alberto Freitas Barreto. Votou pelas concluso~es o conselheiro Rafael Vidal de Arau´jo. Designado para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, o conselheiro Rafael Vidal de Arau´jo. Nos termos do artigo 60 do Anexo II do RICARF, votaram originalmente pelo na~o conhecimento do Recurso Especial da Fazenda Nacional os conselheiros Luís Flávio Neto (relator), Ronaldo Apelbaum (suplente convocado), Nathalia Correia Pompeu e Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado).
(assinatura digital)
CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO - Presidente.
(assinatura digital)
LUÍS FLÁVIO NETO - Relator.
(assinatura digital)
ANDRE´ MENDES DE MOURA - Redator designado.
(assinatura digital)
RAFAEL VIDAL DE ARAU´JO - Redator designado.
EDITADO EM: 10/10/2016
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO (Presidente), HELIO EDUARDO DE PAIVA ARAU´JO (Suplente convocado em substituic¸a~o a` conselheira Maria Teresa Martinez Lopez), ANDRE MENDES DE MOURA, ADRIANA GOMES REGO, RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, MARCOS ANTONIO NEPOMUCENO FEITOSA (suplente convocado em substituic¸a~o a` conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio), MARCOS AURELIO PEREIRA VALADA~O, LUIS FLAVIO NETO, RONALDO APELBAUM (suplente convocado em substituic¸a~o a` conselheira Cristiane Silva Costa), NATHALIA CORREIA POMPEU.
Nome do relator: LUIS FLAVIO NETO
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Recorrentes FAZENDA NACIONAL e ESTALEIRO SCHAEFER YACHTS LTDA FAZENDA NACIONAL e ESTALEIRO SCHAEFER YACHTS LTDA ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2005 SIMULAÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DE SEGREGAÇÃO DE PESSOAS JURÍDICAS SIMULADA. DOLO DE EVASÃO FISCAL. Demonstrada a simulação da segregação de fontes de rendimentos em diversas pessoas jurídicas, é legítima a desconsideração da reestruturação societária simulada para a tributação concentrada da única entidade realmente existente (CTN, art. 149). MULTA QUALIFICADA. DEMONSTRAÇÃO DE DOLO PARA A EVASÃO DE TRIBUTOS. Demonstrada a simulação da segregação de fontes de rendimentos, com o dolo de evadir tributos, é legítima a qualificação da multa de ofício. MULTA AGRAVADA. NÃO CABIMENTO. Não há o preenchimento da hipótese de incidência do agravamento da multa se “houve resposta a todas as intimações feitas pela fiscalização” e “a apresentação dos arquivos magnéticos em questão em nada alteraria o lançamento afinal efetuado, que se operou sob a forma do lucro arbitrado”. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer o Recurso Especial do Contribuinte, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto (relator), Adriana Gomes Rêgo, Nathalia Correia Pompeu, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado) e Rafael Vidal de Araújo, que não o conheceram e, no mérito, por unanimidade de votos, em negarlhe provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Rafael Vidal de Araújo, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado) e Carlos Alberto Freitas Barreto. Designado para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, o conselheiro André Mendes de Moura. Acordam, ainda, por maioria de votos, em conhecer parcialmente o Recurso AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 51 6. 00 27 01 /2 01 0- 70 Fl. 4554DF CARF MF 2 Especial da Fazenda Nacional, vencidos os conselheiros Marcos Aurélio Pereira Valadão e Carlos Alberto Freitas Barreto e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos Marcos Aurélio Pereira Valadão, Adriana Gomes Rêgo, Andre ́Mendes de Moura e Carlos Alberto Freitas Barreto. Votou pelas conclusões o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Designado para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Nos termos do artigo 60 do Anexo II do RICARF, votaram originalmente pelo não conhecimento do Recurso Especial da Fazenda Nacional os conselheiros Luís Flávio Neto (relator), Ronaldo Apelbaum (suplente convocado), Nathalia Correia Pompeu e Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa (suplente convocado). (assinatura digital) CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Presidente. (assinatura digital) LUÍS FLÁVIO NETO Relator. (assinatura digital) ANDRÉ MENDES DE MOURA Redator designado. (assinatura digital) RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO Redator designado. EDITADO EM: 10/10/2016 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO (Presidente), HELIO EDUARDO DE PAIVA ARAÚJO (Suplente convocado em substituição à conselheira Maria Teresa Martinez Lopez), ANDRE MENDES DE MOURA, ADRIANA GOMES REGO, RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, MARCOS ANTONIO NEPOMUCENO FEITOSA (suplente convocado em substituiçaõ à conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio), MARCOS AURELIO PEREIRA VALADÃO, LUIS FLAVIO NETO, RONALDO APELBAUM (suplente convocado em substituicã̧o à conselheira Cristiane Silva Costa), NATHALIA CORREIA POMPEU. Fl. 4555DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 3 3 Relatório Conselheiro Luís Flávio Neto, relator. Trata-se de recursos especiais interpostos pela PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL (doravante “PFN”) e por ESTALEIRO SCHAEFER YACHTS LTDA. (doravante “ESTALEIRO SCHAEFER ”, “ contribuinte) , em face do acórdão nº 1102-00.667 (doravante “acórdão a quo” ou “acórdão recorrido”), proferido pela 2 a Turma Ordinária da 1 a Câmara desta 1 a Seção (doravante “Turma a quo”). No processo administrativo em questão, foi lavrado AIIM para a cobrança de Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica (“IRPJ”), da Contribuição para o Programa de Integração Social (“PIS”), da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (“COFINS”) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (“CSLL ”), juros de mora e a multa de ofício de 225%, relativos ao ano-calendário de 2005. Ao analisar a impugnação administrativa apresentada pelo contribuinte, a Delegacia Regional de Julgamento, por meio do acórdão n. 14.33-380, julgou-a improcedente, mantendo integralmente o crédito tributário exigido (fls. 1.031 e seg. do e-processo). A decisão restou assim ementada: “DEPÓSITO BANCÁRIO. FALTA DE COMPROVAÇÃO DA ORIGEM. OMISSÃO DE RECEITA. RESULTADO. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. FATO INDICIÁRIO. FATO JURÍDICO TRIBUTÁRIO. Caracteriza omissão de receita decorrente de presunção legal a ausência de comprovação da origem de depósitos mantidos em conta corrente bancária. LUCRO ARBITRADO. FALTA DE ESCRITURAÇÃO NA FORMA DAS LEIS COMERCIAIS E FISCAIS. Comprovado inexistir escrituração que atende aos requisitos das leis comerciais e fiscais, tampouco terem sido apresentados livros e documentos da escrituração comercial e fiscal, procede-se ao arbitramento do resultado para efeito de apuração do Imposto de Renda e seus reflexos. DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. MARCO INICIAL DE CONTAGEM DO PRAZO. A sistemática de lançamento por homologação exige o pagamento antecipado do tributo, de modo a incidir a contagem do prazo decadencial a partir do fato gerador, conforme preceitua o § 4º do artigo 150 do Código Tributário Nacional, bem assim a inocorrência das hipóteses de dolo, fraude ou simulação. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. PIS. COFINS. Em se tratando de exigências reflexas de tributos e/ou contribuições que tem por base os mesmos fatos que ensejaram o lançamento do imposto sobre a renda de pessoa jurídica (IRPJ), a decisão de mérito prolatada no processo principal constitui prejulgado na decisão dos processos decorrentes. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. Cabível a aplicação da multa de ofício qualificada, de 150%, quando apurado que o sujeito passivo valeu-se de artifício doloso, visando sonegação fiscal. MULTA DE OFÍCIO MAJORADA. Fl. 4556DF CARF MF 4 A falta de atendimento para apresentação de arquivos magnéticos enseja a majoração da multa de ofício em 50%. SIGILO BANCÁRIO. QUEBRA. TRANSFERÊNCIA. ENTREGA DOS EXTRATOS BANCÁRIOS PELO CONTRIBUINTE. Instaurando-se procedimento de ofício, a prestação, por parte das instituições financeiras, de informações requeridas pela administração tributária constitui transferência do sigilo bancário para o Fisco. INCONSTITUCIONALIDADE. ILEGALIDADE. ARGUIÇÃO. Apreciar arguições de inconstitucionalidade e ilegalidade refoge à competência da instância administrativa. TAXA SELIC. A utilização da taxa SELIC para o cálculo dos juros de mora decorre de lei, sobre cuja aplicação descabe aos órgãos do Poder Executivo discutir.” Nesse seguir, foi interposto pelo contribuinte recurso voluntário ao CARF (fls. 1.067 e seg. do e-processo). Ao julgar o caso, a Turma a quo prolatou acórdão assim ementado (fls. 4.145 e seg. do e-processo): ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano-calendário: 2005 DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. Nos tributos submetidos ao denominado lançamento por homologação, regra geral, decorrido o prazo de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, conforme o art. 150, § 4º, do CTN. Contudo, ocorrendo dolo, fraude ou simulação, o termo inicial para contagem do prazo decadencial se desloca para o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, conforme o art. 173, I, do CTN. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Ano-calendário: 2005 INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. INCOMPETÊNCIA PARA APRECIAÇÃO. As autoridades administrativas são incompetentes para apreciar argüições de inconstitucionalidade de lei regularmente editada, tarefa privativa do Poder Judiciário. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Ano-calendário: 2005 ARBITRAMENTO DO LUCRO. Sujeita-se ao arbitramento do lucro o contribuinte cuja escrituração contiver deficiências que a tornem imprestável para identificar a efetiva movimentação financeira ou para determinar o lucro real. DEPÓSITO BANCÁRIO. OMISSÃO DE RECEITAS. Configuram omissão de receita os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nestas operações. BASE DE CÁLCULO DO ARBITRAMENTO. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. RECEITA DECLARADA. INEXISTÊNCIA DE DUPLICIDADE. Na ausência de provas de que as receitas escrituradas pelo contribuinte integram o montante total dos depósitos bancários, não há que se falar em duplicidade de cobrança sobre uma mesma base tributável. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. Nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis, será aplicada à multa de oficio de 150%. MAJORAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO. Fl. 4557DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 4 5 A falta de apresentação à fiscalização dos arquivos magnéticos de que tratam os arts. 11 a 13 da Lei nº 8.218/91 não dá margem à majoração, em 50%, da multa de ofício aplicada, se em razão da ausência de escrituração contábil e fiscal, hábil a amparar a tributação do sujeito passivo com base no lucro real, este teve seu lucro arbitrado pela autoridade lançadora. TRIBUTAÇÃO REFLEXA OU DECORRENTE. Aplica-se às exigências decorrentes, o mesmo tratamento dispensado ao lançamento da exigência principal, em razão da íntima relação de causa e efeito que os vincula. A Turma a quo, por unanimidade de votos, afastou as preliminares arguidas: nulidade do auto de infração por quebra de sigilo bancário; inocorrência da infração, por falta de (ou inadequado) enquadramento legal; ilegitimidade passiva; decadência, inexigibilidade das multas por aplicação retroativa da lei 11.488/2007; nulidade dos autos de infração PIS e COFINS, por falta de (ou inadequado) enquadramento legal e ausência do processo de arbitramento anterior ao lançamento. Quanto ao mérito, foi dado provimento parcial ao recurso voluntário, tão somente para fins de afastar o agravamento da multa de ofício aplicada. Colhem-se as seguintes informações do relatório do acórdão a quo (fls. 4.147 e seg. do e-processo): “Contra a empresa acima qualificada (doravante SCHAEFER YACHTS ou recorrente) foram lavrados, às fls. 883 a 934, autos de infração para exigência do Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ, da Contribuição para o Programa de Integração Social – PIS, da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins, e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, perfazendo um crédito tributário no montante de R$ 18.489.163,19, aí já incluídos os juros de mora calculados até a data da lavratura e a multa de ofício de 225%. Consoante o Termo de Verificação e Encerramento de Ação Fiscal, fls. 836 a 882, a empresa foi autuada no ano calendário de 2005 pela constatação da ocorrência de receitas oriundas da venda de produtos de fabricação própria e de omissão de receitas decorrentes de depósitos bancários de origem não comprovada. A empresa, que era optante pelo lucro real, teve o seu lucro arbitrado naquele ano, em razão das deficiências constatadas pela fiscalização na escrituração por ela mantida e da falta de apresentação de livros obrigatórios para aquela modalidade. Ainda de acordo com a fiscalização, tendo em vista o desrespeito ao princípio contábil da entidade, caracterizado pela confusão patrimonial e de atividades com as empresas SPA COMÉRCIO DE EMBARCAÇÕES E EQUIPAMENTOS NÁUTICOS LTDA (doravante SPA) e ESTALEIRO KIWI BOATS LTDA (doravante KIWI BOATS), a apuração da base imponível dos tributos foi feita de forma consolidada na pessoa da recorrente, vale dizer, tanto a receita declarada quanto as omissões detectadas, bem como os valores de tributos eventualmente recolhidos por todas elas, foram imputados à recorrente, com a ressalva quanto aos valores da receita declarada pela SPA, que foi desconsiderada (i.e., não foi somada) em razão de não ter qualquer consistência ou lastro em documentos. Segundo a fiscalização, a SPA representava interposta pessoa de SCHAEFER YACHTS e KIWI BOATS, em razão das evidências que relata. Assim, integram o presente processo os Termos de Verificação e Encerramento de Ação Fiscal lavrados em desfavor das empresas SPA e KIWI BOATS (fls. 617 a 660), bem como a documentação relativa aos respectivos procedimentos de fiscalização ali levados a efeito, na forma de Fl. 4558DF CARF MF 6 anexos (Anexo I, com 6 volumes, contém os documentos referentes à SPA, e Anexo II, com 9 volumes, contém os documentos referentes à KIWI BOATS) No decorrer dos trabalhos de fiscalização, em vista de respostas consideradas evasivas, e em decorrência de reiteradas negativas do contribuinte em entregar livros contábeis e fiscais a que estava obrigado, foram lavrados Termos de Embaraço contra todas as três empresas, bem como foi proposto pelo Auditor Fiscal a submissão de todas elas a Regime Especial de Fiscalização, nos termos do artigo 33 da Lei no 9.430/96 e Instrução Normativa RFB no 979/09. Por meio dos respectivos Despachos Decisórios, aprovados pelo Superintendente da Receita Federal do Brasil da 9a Região Fiscal, foi imposta a aplicação do referido Regime Especial a todas elas, a partir de sua ciência e até o dia 31 de dezembro de 2010. Durante este período em que esteve submetida ao Regime Especial de Fiscalização, constatou a fiscalização que o próprio “grupo” assumiu a entidade única da recorrente, posto que toda a produção e comercialização de embarcações, no ano de 2010, passou a ser realizada pela SCHAEFER YACHTS, sem que nenhuma mudança na linha de produção tivesse sido implementada. Após a regular intimação para a comprovação da origem dos depósitos bancários havidos nas três empresas formalmente constituídas, e exclusão das operações de empréstimo e transferências identificadas, os créditos bancários cuja origem não fora identificada foram considerados receitas omitidas pela recorrente, à qual, conforme dito, foi acrescida a receita declarada por SCHAEFER YACHTS e KIWI BOATS, para apuração dos tributos devidos. Por entender ter havido o dolo, materializado nas figuras qualificadoras de sonegação e fraude, a multa de ofício imposta foi majorada para 150% dos tributos lançados, e pelo fato de não ter o contribuinte prestado os devidos esclarecimentos a que fora intimada, e não ter apresentado os arquivos ou sistemas previstos nos arts. 11 a 13 da Lei no 8.218/91, a multa foi agravada em 50%, do que resultou o percentual final de 225%.” Em seu voto, o i. Conselheiro Relator detalhou ainda mais os fatos apurados no presente processo administrativo, in verbis (fls. 4.154 e seg. do e-processo): “Inicialmente intimado em 07.08.2009 a apresentar os livros contábeis e fiscais, o contribuinte apresentou o Livro Diário e os livros fiscais sem o registro na Junta Comercial do Estado de Santa Catarina (JUCESC). Após sucessivas intimações, somente em 01.03.2010 foi entregue o Livro Diário devidamente registrado. A fiscalização intimou a empresa a apresentar uma demonstração da correlação de contas que permitisse a análise comparada dos valores registrados na DIPJ 2006, relativa ao ano calendário 2005, com os valores do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do exercício encerrado em 31.12.2005 constantes do Diário apresentado. A recorrente respondeu (fls. 322) que ‘não existe como estabelecer uma correlação entre valores constantes da DIPJ 2006 ano calendário 2005 entregue e o balanço do exercício encerrado em 31/12/2005 uma vez que, o Balanço é resultado da recontabilização dos fatos ocorridos na empresa no exercício de 2005, devendo a DIPJ ser objeto de declaração retificadora.’ A fiscalização intimou a empresa a justificar as divergências encontradas nos saldos finais em 31/12/2005 de diversas contas escrituradas no Livro Razão, no Balancete de Verificação, e, finalmente, no Balanço Patrimonial constante do Diário apresentado, sendo que em alguns casos a divergência encontrava-se entre um deles e algum dos outros dois documentos, e em outros casos, os três eram divergentes entre si (fls. 315-316). A recorrente respondeu (fls. 322) que “Não encontramos as divergências apontadas e acreditamos que a única razão para a existência de diferenças nos Fl. 4559DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 5 7 saldos, tenha sido algum erro cometido com relação aos relatórios encadernados. Para tentar sanar o problema reemitimos os relatórios e solicitamos a substituição dos anteriormente entregues e iremos providenciar o registro na JUCESC.” A fiscalização intimou a empresa a justificar a divergência entre o Lucro Líquido Apurado na Demonstração do Resultado do Exercício encerrado em 31/12/2005, constante do Diário apresentado (R$ 6.608.899,40, fls. 715) e o valor registrado como Resultado do Exercício deste mesmo ano no Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial em 31.12.2005, neste mesmo Diário apresentado, que era de apenas R$ 301.342,91 (fls. 714). A recorrente respondeu (fls. 322) que “não existe a divergência conforme novos balanços e razão.” Tendo ficado claro que os Livros Diário e Razão entregues seriam substituídos, a fiscalização reintimou a empresa a apresentar os Livros Diário e Razão corrigidos. A recorrente respondeu em 28.04.2010 (fls. 563) da seguinte forma: ‘... informamos que o Livro Diário e o Livro Razão referentes ao ano calendário de 2005 foram encadernados com erros de páginas, mas que as correções já foram efetuadas e os novos livros já foram encaminhados para esta fiscalização.’ Entretanto, consignou a fiscalização que o conjunto de folhas avulsas, que fora deixado na recepção do Serviço de Fiscalização, não possuía qualquer valor contábil, e novamente intimou a recorrente a apresentar os referidos livros (fls. 565-566). Por fim, na resposta em que informava a recorrente estar apresentando os livros reemitidos e também o balanço correto e que estaria buscando uma alternativa que permitisse o registro do livro corrigido na JUCESC, consignou a fiscalização que estava recebendo um livro Razão encadernado em espiral, e que não estava aceitando as folhas avulsas apresentadas como sendo o livro Diário (fls. 567). Não há registros posteriores de que o Diário corrigido tenha sido entregue. A fiscalização também intimou a empresa a justificar porque em sua escrita contábil não existia registro de nenhuma utilização dos insumos adquiridos ao longo do ano-calendário 2005 na montagem das dezenas de embarcações vendidas. A recorrente respondeu (fls. 570) o seguinte: ‘Com relação à falta de movimentação dos estoques informamos que até este momento não conseguimos documentos hábeis para garantir uma adequada apuração de custos dos produtos fabricados e vendidos, assim como não conseguimos reconstruir os estoques existentes no exercício de 2005. Por estas razões os estoques apontados no balanço não contempla as baixas dos produtos utilizados para fabricação dos produtos vendidos.’ De se ressaltar que se trata, no caso, de mais de 15.000 notas fiscais de materiais adquiridos. Para arrematar, os livros de Controle de Produção e Estoque, de Registro de Inventário, e de Apuração do Lucro Real (LALUR) — apesar das sucessivas intimações da fiscalização, e da afirmação da recorrente em resposta a todas elas (fls. 563, 567, 570) de que “estamos empenhados no sentido de reconstituí- los o mais breve possível, para poder efetuar a sua entrega a esta Fiscalização, conforme solicitado” — jamais foram apresentados. Após ter ciência do acórdão a quo, a PFN interpôs recurso especial, arguindo a divergência em relação a duas outras decisões proferida por diferentes Turmas do CARF quanto à aplicação da multa de oficio majorada em 50%, de forma a alcançar o patamar de 225% (fls. 4.174 e seg. do e-processo). Em seus fundamentos para a reforma do acórdão, a Fl. 4560DF CARF MF 8 PFN suscita que o referido agravamento da multa estaria previsto em lei e não poderia ser dispensado. Em 01/08/2012, foi proferido despacho de admissibilidade, no qual foi dado seguimento ao recurso especial da PFN (fls. 4.186 e seg. do e-processo). Em suas contrarrazões, o contribuinte afirmou, em especial (fls. 4.513 e seg. do e-processo): - em caráter preliminar, que o recurso fazendário não mereceria ser admitido, em vista da matéria já ter sido pacificada a favor do contribuinte no âmbito da CSRF; - no mérito, que ao contrário do que alega a PFN, a decisão recorrida não teria admitido o descumprimento de intimações fiscais sem agravamento da multa. A decisão reconheceria o não preenchimento da hipótese de incidência da multa agravada. A hipótese seria de arbitramento, tal como foi realizado pela fiscalização, e não de agravamento da multa. O contribuinte opôs embargos de declaração, apontando obscuridades, omissões, e contradições no acórdão a quo, os quais foram conhecidos mas desprovidos (fls. 4.228 e segs do e-processo). Ato contínuo, o contribuinte também interpôs recurso especial, arguindo a divergência em relação às seguintes matérias preliminares: nulidade do auto de infração por indevida quebra do sigilo bancário; inocorrência da infração e decadência; e no mérito, em relação à questão do arbitramento; à desconsideração da personalidade jurídica; aos lançamentos de IRPJ e reflexos pela quebra de sigilo bancário, e à aplicação de multa de 150% (fls. 4.244 e seg. do e-processo). Em 18/05/2015, foi proferido despacho de admissibilidade, no qual foi dado parcial seguimento ao recurso especial da contribuinte, para que fosse apreciada por esta CSRF somente as questões relativas à (1) desconsideração da segregação da pessoa jurídica e ao (2) afastamento da multa qualificada (fls. 4.523 e seg. do e-processo). Em relação às referidas matérias, arguiu o contribuinte, em apertada síntese (fls. 4.274 e seg. do e-processo): - a mesma situação fática destes autos já teria sido analisada pelo CARF em outra oportunidade (acórdão n. 103-23.357), referente a outro período de apuração, compreendendo-se regulares as operações. Naquela oportunidade, este Tribunal teria reconhecido a legitimidade das operações realizadas; - no caso concreto, a fiscalização teria alterado a narrativa dos fatos justamente para adequá-la às exigências presentes no acórdão n. 103- 23.357 e, assim, atribuir ao caso características de evasão fiscal; - SPA COMÉRCIO DE EMBARCAÇÕES E EQUIPAMENTOS NÁUTICOS LTDA (doravante “SPA”) e ESTALEIRO KIWI BOATS LTDA (doravante “KIWI BOATS ”) e a ESTALEIRO SCHAEFER existiriam de fato e desenvolveriam atividades individualizadas; Fl. 4561DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 6 9 - Falhas nos livros contábeis, ou mesmo a inexistência destes, não conduziriam, por si só, à desconsideração da personalidade jurídica das empresas em questão; - Erros nas declarações e em registros contábeis não configurariam o evidente intuito de fraude necessário para a qualificação da multa para 150%. A PFN apresentou suas contrarrazões (fls. 4.542 e seg. do e-processo) no qual consignou, em síntese: - em relação a primeira matéria admitida, a despeito do contribuinte defender a independência e autonomia de cada uma das empresas, a situação de fato verificada pela fiscalização teria seria distinta, uma vez que todas as empresas atuariam conjuntamente, com confusão entre elas. Entre as evidências, suscita que a movimentação de recursos entre as contas correntes das três empresas não teria observado a autonomia patrimonial de cada uma delas, bem como a constatação de que a área geográfica e a linha produção seriam contínuas. A fiscalização, então, teria agido corretamente, de forma a alcançar a situação que teria se tentado encobrir, revelando-se. Suscita que, a partir de 2010, o próprio grupo teria unificado formalmente as atividades na Estaleiro Schaefer; - em relação a segunda matéria admitida, restaria caracterizada a simulação, pois teria sido provado o intuito de fraude a que alude o artigo 44 da Lei n° 9.430/96, com a necessária qualificação da multa de ofício. Conclui-se, com isso, o relatório. Voto Este voto foi: • vencido no Conhecimento do Recurso Especial do Contribuinte; • vencido no Conhecimento do Recurso Especial da Fazenda Nacional; • vencedor no Mérito do Recurso Especial do Contribuinte; • vencedor no Mérito do Recurso Especial da Fazenda Nacional. Voto vencido - CONHECIMENTO DOS RECURSOS ESPECIAIS DO CONTRIBUINTE E DA PFN Conselheiro Luís Flávio Neto, relator. Os recursos interpostos pelo contribuinte e pela PFN são tempestivos, fazendo-se necessário, contudo, verificar o preenchimento dos demais requisitos de admissibilidade. Fl. 4562DF CARF MF 10 No que diz respeito ao recurso especial interposto pelo contribuinte, o despacho de admissibilidade considerou presente a divergência jurisprudencial quanto à desconsideração da segregação das pessoas jurídicas e à qualificação da multa para o percentual de 150%, nos seguintes termos: “2) Desconsideração da Pessoa Jurídica A recorrente alega que houve a desconsideração da personalidade jurídica das Empresas Estaleiro Schaefer Yatchts, Estaleiro Kiwi e SPA e insurge-se contra a decisão. Traz à divergência o Acórdão nº 103-23.357, que tratou do mesmo tema relativo à sociedade empresária Estaleiro Kiwi Boats Ltda., em que se entendeu que o desmembramento de atividades entre as três empresas não indicava tratar- se de simulação. A decisão foi ementada nos seguintes termos: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ Exercício: 2002 Ementa: SIMULAÇÃO – INEXISTÊNCIA – Não é simulação a instalação de duas empresas na mesma área geográfica com o desmembramento das atividades antes exercidas por uma delas, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. OMISSÃO DE RECEITAS – SALDO CREDOR DE CAIXA – DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA – A reunião das receitas supostamente omitidas por duas empresas para serem tributadas conjuntamente como se auferidas por uma só importa em erro na quantificação da base de cálculo e na identificação do sujeito passivo, conduzindo à nulidade do lançamento. Recurso provido. Considerando que essa decisão julgou exatamente a mesma questão objeto deste processo administrativo fiscal, envolvendo as mesmas empresas, entendo que, numa análise prelibatória como a de admissibilidade de recurso especial, houve a comprovação da divergência arguida. (...) 4) Multa de 150% - Ausência do “evidente intuito de fraude” (...) A contribuinte, com a finalidade de afastar a multa de 150%, pugna, também, pelo afastamento da hipótese de simulação. Quanto a esse fundamento, a recorrente argumenta a necessidade de considerar que no Acórdão nº 103- 23.357, relativo à empresa Kiwi Boats, no qual foi afastada essa hipótese, tendo o Colegiado decidido por anular o lançamento que imputava, dentre outros, a multa de 150%. (...) Tendo em vista tratar-se do exato caso em julgamento nestes autos, mas, referente à empresa Kiwi, entendo comprovada a divergência capaz de ensejar a subida dos autos à julgamento pela CSRF no que se refere ao pedido de afastamento da multa qualificada.” (grifos acrescidos) À primeira vista, o acórdão indicado como paradigma realmente aparenta demonstrar dissídio jurisprudencial, especialmente por envolver, em diferentes períodos de apuração, as mesmas empresas envolvidas no recurso especial ora sob exame. No entanto, a análise mais detida do caso demonstra não haver similitude fática ou divergência jurisprudencial que justifique o conhecimento do recurso especial por este Colegiado. Em especial, constata-se que: - no acórdão recorrido, a fiscalização demonstrou a prática de atos simulatórios e a confusão entre as empresas em questão, de forma que a Fl. 4563DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 7 11 Turma a quo compreendeu que a segregação das fontes de rendimentos seria inválida e inoponível ao fisco, devendo, ainda, ser qualificada a multa de ofício aplicada. - no caso do acórdão paradigma, a fiscalização não demonstrou a prática de atos simulatórios ou confusão entre as empresas em questão, de tal forma que a Turma julgadora compreendeu que a segregação de atividades levada a termo seria válida e oponível ao fisco. Nem a mesma situação fática foi julgada pelos acórdãos em questão, nem há divergência em relação à interpretação da legislação federal adotada pela decisão recorrida e pelo acórdão paradigma. Na verdade, ambos os acórdãos convergem para a mesma conclusão: caso seja demonstrada simulação de segregação das atividades operacionais em pessoas jurídicas diversas, esta não será oponível ao fisco. Nos termos do art. 67 do RICARF, a admissibilidade do recurso especial pressupõe, entre outras exigências, que o cotejo analítico entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma demonstre, cumulativamente: 1. Situação fática descrita: semelhantes (=) 2. Interpretação da legislação federal adotada: diversas (≠) No entanto, o cotejo analítico dos acórdãos em tela demonstra justamente o contrário, de forma a inviabilizar o conhecimento do recurso especial interposto. A tabela a seguir sintetiza a questão: ACÓRDÃO RECORRIDO Comparativo ACÓRDÃO PARADIGMA 1. Situação fática descrita: Simulação de segregação de pessoas jurídicas. ≠ Efetiva segregação de pessoas jurídicas. 2. Interpretação da legislação federal adotada: Em caso de simulação, a segregação das empresas deve ser desconsiderada, com qualificação da multa. = Em caso de simulação, a segregação das empresas deve ser desconsiderada, com qualificação da multa. 3. Solução para o caso concreto: Tributação consolidada dos rendimentos fictamente segregados e multa qualificada. ≠ Respeito às opções fiscais de cada unidade segregada. Note-se que, em geral, dois acórdãos proferidos por diferentes Turmas do CARF, em relação à mesma matéria e ao mesmo contribuinte fiscalizado em períodos subsequentes, com resultados opostos, realmente tendem a ser indicativos de divergência jurisprudencial apta a demandar o trabalho de uniformização desta CSRF. No entanto, uma série de fatores pode dar ensejo a situações excepcionais, como por exemplo: (i) deficiência na edificação dos fatos pela fiscalização em um dos casos, mas trabalho acurado de investigação e descrição dos fatos no outro caso; Fl. 4564DF CARF MF 12 (ii) alteração da operação das empresas envolvidas nos diferentes períodos de apuração, de forma que os ilícitos estejam presentes em alguns períodos e não em outros; Tanto no primeiro como no segundo exemplo, os fatos jurídicos capitados pelo agente fiscal na lavratura do auto de infração em um período de apuração podem ser diametralmente diferentes dos fatos jurídicos descritos pela fiscalização fiscal em outros períodos de apuração, ainda que em face do mesmo contribuinte. Se a consideração desses fatores pode ser considerada fruto da pragmática, também sob a perspectiva teórica não há óbices que acórdãos atinentes ao mesmo contribuinte, com vistas à mesma questão, mas com resultados opostos, não se prestem a evidenciar a divergência jurisprudencial, por ausência de semelhança fática. É conhecida a lição de TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR. 1 : “É preciso distinguir entre fato e evento. A travessia do Rubicão por César é um evento. Todavia, ‘César atravessou o Rubicão’ é um fato. Quando, pois, dizemos que ‘é um fato que César atravessou o Rubicão’, conferimos realidade ao evento. ‘Fato’ não é, pois, algo concreto, sensível, mas um elemento linguístico capaz de organizar uma situação existencial como realidade.” Sob uma perspectiva da teoria da linguagem 2 , há distinção fundamental entre “eventos”, ocorridos no mundo fenomênico a cada instante da vida que se esvai, e “fatos”, que são descrições, versões, reconstruções, traduções em linguagem daqueles eventos, sujeitos, portanto, a naturais imperfeições. Fatos são eventos vertidos em linguagem. Fatos jurídicos, por sua vez, são eventos vertidos em linguagem competente para lhes atribuir existência jurídica. O que importa neste julgamento é a análise dos fatos jurídicos trazidos aos presentes autos. Mesmo se os eventos relacionados ao acórdão paradigma e ao acórdão a quo forem semelhantes, jamais se saberá no âmbito deste processo administrativo: um evento, tal como ocorrido no mundo fenomênico, é irreconstituível em sua plenitude, sendo possível apenas conhecer suas versões vertidas em linguagem (“ fatos”). Assim, a partir dos autos deste processo administrativo, temos acesso às versões dos fatos descritos pela fiscalização, pelo contribuinte e, por fim, aquelas que realmente interessam no julgamento deste recurso especial: a versão dos fatos compreendida e reproduzida no acórdão a quo, bem como a versão dos fatos descrita no acórdão paradigma. É preciso comparar os fatos descritos em ambos aos acórdãos e, assim, verificar se há similitude que justifique a interposição de recurso especial à CSRF. Justamente porque eventos ocorridos no mundo fenomênico são inacessíveis anos após a sua ocorrência, interessa a este Colegiado verificar se há semelhança entre os fatos apresentados no acórdão a quo e no acórdão paradigma de divergência, o que não há. O acórdão a quo e o acórdão paradigma apresentam “fatos” diversos, conforme explicitado acima. Nesse seguir, voto por NÃO CONHECER o recurso especial interposto pelo contribuinte quanto às matérias admitidas por despacho. 1 FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão e dominação. São Paulo: Atlas, 2003, p. 271 2 Vide: CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 6ª ed. São Paulo: Noeses, 2015, p. 498-499 e 964-965; CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 123; TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no direito tributário. 2ª ed. São Paulo: Noeses, 2008, p. 33; CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lógico-semântico. 2ª ed. Sâo Paulo: Noeses, 2010, p. 526. Fl. 4565DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 8 13 Em relação ao recurso especial interposto pela PFN, que trata do tema do agravamento da multa de 150% para 225%, entendo que este também não deve ser conhecido. No caso, o acórdão recorrido compreendeu que não caberia o agravamento da multa de 150% para 225%, com vistas ao art. 44, § 2º, da Lei n. 9.430/96, como se observa do seguinte trecho: “Por entender ter havido o dolo, materializado nas figuras qualificadoras de sonegação e fraude, a multa de ofício imposta foi majorada para 150% dos tributos lançados, e pelo fato de não ter o contribuinte prestado os devidos esclarecimentos a que fora intimada, e não ter apresentado os arquivos ou sistemas previstos nos arts. 11 a 13 da Lei no 8.218/91, a multa foi agravada em 50%, do que resultou o percentual final de 225%. (...) Protesta a recorrente que o aumento em 50% da multa imposta é incabível, posto que em nenhum momento a recorrrente deixou de responder as intimações apresentadas pela fiscalização. De fato, houve resposta a todas as intimações feitas pela fiscalização, de sorte que não prosperaria o agravamento da multa por este motivo. Contudo, o agravamento aplicado pela fiscalização teve também outro fundamento. Consta do Termo de Verificação Fiscal, às fls. 880 o seguinte, no item ‘8.3 – Do agravamento das multas’: ‘Conforme consta às fls. 131, deste processo e fls. 142 do Anexo II, o contribuinte não forneceu os arquivos magnéticos a que fora intimado pelo Termo de Início de Fiscalização e reintimado pelo Termo de Intimação 01/2009.’ Tal assertiva em nenhum momento foi contraditada pela recorrente, aliás, ao contrário, esta expressamente reconheceu, em atendimento à intimação fiscal, a impossibilidade técnica de apresentar os arquivos solicitados, conforme consta às fls. acima referidas.” A decisão recorrida vai ao encontro da Súmula n. 96 do CARF, aprovada na sessão de 09.12.2013: Súmula CARF nº 96: A falta de apresentação de livros e documentos da escrituração não justifica, por si só, o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros. O acórdão recorrido, proferido em 14.03.2013, assim se manifestou sobre a matéria: “Contudo, nos debates ocorridos em sessão, restei convencido por meus pares de que, em casos como o presente — em que a apresentação dos arquivos magnéticos em questão em nada alteraria o lançamento afinal efetuado, que se operou sob a forma do lucro arbitrado — não se justifica a majoração da multa em 50%. Tal entendimento, ao que consta, já teria sido manifestado pela própria Câmara Superior de Recursos Fiscais, cuja função precípua é justamente uniformizar a jurisprudência das câmaras baixas a respeito da correta interpretação da lei tributária.” Por sua vez, prevê o art. 67, § 3 o , do RICARF: § 3 o . Não cabe recurso especial de decisão de qualquer das turmas que adote entendimento de súmula de jurisprudência dos Conselhos de Contribuintes, da CSRF ou do CARF, ainda que a súmula tenha sido aprovada posteriormente à data da interposição do recurso. Fl. 4566DF CARF MF 14 Compreendo, portanto, que também não deve ser conhecido o recurso especial interposto pela PFN. Voto vencedor - MÉRITO DOS RECURSOS DO CONTRIBUINTE E DA FAZENDA NACIONAL Conselheiro Luís Flávio Neto, relator. Por restar vencido quanto ao não conhecimento dos recursos interpostos, passo à análise do mérito de ambos, principiando com o recurso especial do contribuinte. O caso envolve o tema da segregação operacional e societária das fontes produtoras de rendimentos (“split strategy”). Por meio desta, em termos gerais, uma entidade empresarial é segmentada em mais do que uma pessoa jurídica, de forma que partes cindidas passam a explorar individualmente as atividades segregadas. Geralmente, segregam-se “atividades meio” que, em outro momento e por variadas razões, decidiu-se unificar em uma entidade. Há, em geral, a manutenção de relações societárias entre as partes segregadas, controladas por uma holding, embora seja possível cogitar que dessa segregação surjam empresas com rompimento de laços societários. A motivação para essa reestruturação pode ser variada, a exemplo da divisão do controle dos negócios entre diferentes membros da família, ganhos em eficiência, melhoria de organização, oportunidade de explorar e obter ganhos com trabalhos internos em face de demanda do mercado, venda da parcela segregada etc. Sob a perspectiva tributária, é comum que a segregação possibilite que alguma das empresas desmembradas se legitime à opção pelo lucro presumido, enquanto que a anterior unidade empresarial apenas poderia ser tributada pelo lucro real. A partir daí, a economia de opção prescrita pelo legislador permite que, entre as diversas hipóteses de reestruturação possíveis, se cogite situações em que, por exemplo: - as unidades empresariais se tornem fornecedoras de insumos para outras empresas do grupo empresarial; - as unidades empresariais segregadas passem a oferecer os seus préstimos diretamente ao consumidor. Tratando-se a sistemática do lucro presumido de uma economia de opção, a legitimidade de sua adoção depende exclusivamente do cumprimento dos requisitos prescritos pelo legislador. Os referidos requisitos, aplicáveis ao período compreendido no presente processo administrativo e vigentes até hoje, seriam: - limitação em função do volume de receitas brutas obtidas pela pessoa jurídica; - exercício da atividade que não obrigada ao lucro real. Com a real e efetiva segregação das fontes produtoras de receitas, resultante de reestruturação societária, cada uma das novas unidades empresariais pode verificar se preenche ou não os referidos requisitos e, sendo o caso, optar ou não pelo lucro presumido. No presente caso, a fiscalização imputou ao contribuinte a simulação da aludida reestruturação, de forma a tributar de forma aglutinada, em uma das empresas do Fl. 4567DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 9 15 grupo empresarial, todas as receitas reconhecidas pelas alegadas empresas segregadas. Foi imposta, ainda, multa qualificada, no percentual de 150%. Faz-se necessário, para este julgamento, distinguir hipóteses de reestruturações societárias reais, cujos efeitos jurídicos devem ser reconhecidos pela administração fiscal, de casos de simulação de reestruturações societárias, praticadas com o dolo da evasão de tributos, inoponíveis ao fisco e sujeitos à multa qualificada. 1. A legítima segregação das fontes produtoras de rendimentos: planejamento tributário oponível ao fisco. A primeira questão a ser analisada consiste em saber se a segregação das fontes produtoras de rendimentos, com ou sem a intenção principal (motivo íntimo preponderante) de permitir a alguma das unidades segregadas a opção pelo lucro presumido, é admitida pelo sistema jurídico brasileiro. No Brasil, o particular possui um núcleo de direitos livre de intervenções, dentro do qual está inserido o planejamento tributário 3 . Mais especificadamente, essa garantia dos contribuintes decorre das liberdades econômicas asseguradas pelo Constituinte. Conforme leciona TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR 4 , essas liberdades atribuem ao ser humano um espaço que não pode ser absorvido pela sociabilidade, tendo-se como reconhecida a capacidade de “reger o próprio destino, expressar a sua singularidade como indivíduo, igual entre iguais: o homem como distinto e singular entre iguais”. Não há dúvidas que o Estado, por meio da tributação, deve participar dos bem sucedidos resultados econômicos dos particulares a ele conectados. Conforme o princípio da legalidade, o legislador deve eleger, dentro de seu respectivo âmbito de competência tributária, fatos geradores que captem capacidades contributivas conforme uma dosagem adequada à divisão do custo estatal. Dessa forma, ao mesmo tempo em que a Constituição Federal garante aos particulares a existência desse âmbito de liberdade, outorga ao Poder Legislativo a competência para regular e interferir em seu exercício, seja para estabelecer a cobrança de tributos, seja para limitar planejamentos tributários. Não se trata de questão reclusa ao Direito brasileiro: geralmente, há nos ordenamentos jurídicos estrangeiros normas gerais (general anti avoindance rules – GAAR) ou normas específicas (specific anti avoindance rules – SAAR) para a reação aos planejamentos tributários não tolerados. As normas gerais de reação ao planejamento tributário se prestam a alcançar algumas ou todas as espécies tributárias, com a prescrição de critérios para a identificação do “abuso”. Já as normas específicas incluem no âmbito de incidência da norma tributária, casuisticamente, situações que potencialmente podem ser utilizadas pelo contribuinte como substitutas não tributadas ou ainda fiscalmente menos 3 Nesse sentido, vide: ÁVILA, Humberto. Eficácia do Novo Código Civil na Legislação Tributária. In Grumpenmacher, Betina Treiger (coord.) - Direito Tributário e o novo Código Civil - São Paulo: Quartier Latin, 2004, p. 75-77. 4 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Direito Constitucional: liberdade de fumar, privacidade, estado, direitos fundamentais e outros temas. – Barueri, SP : Manole, 2007, p. 196. Fl. 4568DF CARF MF 16 onerosas e que, por decisão do legislador, devem ser submetidas igualmente àquela tributação mais onerosa. No ordenamento jurídico brasileiro, quando houver clara decisão do legislador brasileiro, compete à administração fiscal o papel de atribuir eficácia à intervenção estatal sobre as liberdades econômicas dos particulares, especialmente sobre o seu patrimônio. Mas essa atuação da administração fiscal, invariavelmente, depende de prévia e clara autorização do legislador. Nesse cenário, a legitimidade de segregações societárias para ensejar a economia de opção do lucro presumido ou a outras formas de tributação (como o SIMPLES NACIONAL) deve ser compreendida com vistas a dois fatores fundamentais, analisados nos parágrafos seguintes: (i) as liberdades econômicas potencialmente restringidas pela vedação às referidas reestruturações societárias; (ii) a existência de decisão clara do legislador para a restrição das referidas liberdades econômicas por meio da tributação. Quanto a esse primeiro fator (liberdades econômicas), insta observar que a livre iniciativa foi erigida como fundamento da ordem econômica pelo caput do art. 170 da Constituição Federal, com a dupla feição de proteger tanto o capital quanto o trabalho. Na explicação de TERCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR, trata-se de mandamento para que o Estado atue de forma negativa, no sentido de não interferir na expansão da criatividade do indivíduo e, ainda, positiva, de atuação para a valorização do trabalho humano. A esse propósito, leciona o professor: “Não há, pois, propriamente, um sentido absoluto e ilimitado na livre iniciativa, que por isso não exclui a atividade normativa e reguladora do Estado. Mas há ilimitação no sentido de principiar a atividade econômica, de espontaneidade humana na produção de algo novo, de começar algo que não estava antes. Esta espontaneidade, base da produção da riqueza, é o fator estrutural que não pode ser negado pelo Estado. Se, ao fazê-lo, o Estado a bloqueia e impede, não está intervindo, no sentido de normar e regular, mas está dirigindo e, com isso, substituindo-se a ela na estrutura fundamental do mercado.” A autonomia privada decorre do princípio da livre iniciativa, atribuindo aos particulares o direito à liberdade contratual, isto é, de livremente celebrar ou não um contrato (liberdade de celebração), bem como de eleger o tipo contratual mais adequado (liberdade de seleção do tipo contratual, salvo restrição legal) e de preencher o seu conteúdo de acordo com os seus interesses (liberdade de fixação do conteúdo do contrato ou de estipulação). 5 Garante- se, por esse princípio, a liberdade de empresa, de investimento, de organização e de contratação 6 . 5 Cf. BOULOS, Daniel M. Abuso do Direito no novo Código Civil. São Paulo: Editora Método 2006, p. 226-240. No mesmo sentido, TÔRRES, Heleno Taveira. O conceito constitucional de autonomia privada como poder normativo dos particulares e os limites da intervenção estatal, in Direito e poder: nas instituições e nos valores do público e do privado contemporâneos. Heleno Taveira Torres (coordenador). Barueri : Manole, 2005, p. 567. 6 Cf. BARRETO, Paulo Ayres. Elisão tributária - limites normativos. Tese apresentada ao concurso à livre docência do Departamento de Direito Econômico e Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo : USP, 2008, p. 128-129. Fl. 4569DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 10 17 É pertinente notar, com TULIO ROSEMBUJ 7 , que a liberdade da empresa não se esgota no exercício da liberdade contratual, no exercício do direito de propriedade ou na atividade de produção de bens de terceiros no mercado livre: trata-se da garantia de poder decidir como combinar fatores de produção e de utilizar de riqueza para produzir nova riqueza. Se há limites ao exercício da liberdade, o Estado de Direito também pressupõe limites ao legislador para a sua restrição, pois, conforme salutar preocupação de TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR, “a liberdade pode ser disciplinada, mas não pode ser eliminada” 8 . Não poderia o Estado utilizar mecanismos de coerção para compelir o contribuinte à prática de determinados atos e, assim, à ocorrência de hipóteses de incidência de tributos (ou seja, de intervenção no patrimônio particular). Assim ocorrendo, como adverte LUÍS EDUARDO SCHOUERI 9 , estar-se-ia atentando de modo inadmissível contra a proibição ao confisco e o Direito à propriedade. Poder-se-ia questionar, assim, se seria legítimo ao legislador obrigar que um indivíduo ou uma sociedade concentrassem todo o seu universo patrimonial disponível em uma única pessoa jurídica, com a consolidação de todos os resultados na sistemática do lucro real, por ser esta a forma mais gravosa fiscalmente. Em outros termos: poderia o legislador considerar a segregação das fontes produtoras de rendimentos absolutamente inoponível ao fisco, sempre que a tributação sob a forma consolidada fosse capaz de gerar maior volume de receitas tributárias à União? No presente caso, contudo, não é necessário questionar qualquer ofensa do legislador à Constituição Federal por intervenção excessiva (o que não se poderia, de qualquer maneira, realizar-se em âmbito administrativo, conforme Súmula n. 2 do CARF). Ocorre que não há, no presente caso, qualquer lei que, de alguma forma, neutralize os efeitos da reorganização patrimonial sob julgamento: não há norma no Direito privado que vede os atos realizados, bem como não há normas tributárias específicas que impeçam a opção fiscal realizada pelo contribuinte (SAAR). Não há SAAR que, de alguma forma, restrinja reorganizações patrimoniais nesse sentido ou interfira na fruição de seus ordinários efeitos jurídicos, inclusive no que diz respeito à sistemática do lucro presumido. Tal como não há regras específicas para a tutela do caso concreto, também não há normas gerais que vedem a priori a efetiva segregação de fontes produtoras de rendimentos. Não há permissão, abstraída diretamente do Texto Constitucional, para que a administração fiscal atue como se possuísse ingerência na condução das atividades econômica empreendidas, substituindo as decisões do indivíduo, para fins tributários, por outras que lhe pareçam arbitrariamente mais adequadas, com discricionário incremento do ônus tributário. No caso, por força do art. 146 da Constituição, compete à lei complementar prescrever normas gerais de intolerância a planejamentos tributários. Assim, com a observância da Constituição Federal, compete ao legislador legitimamente eleito manifestar a decisão sobre em quais circunstâncias e em qual intensidade deverá o Estado intervir no exercício de liberdades econômicas. A exigência de lei para a 7 ROSEMBUJ, Tulio. El fraude de lei, la simulación y el abuso de las formas em el derecho tributario. Barcelona : Marcial Pons. 1999, p. 57. 8 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Direito Constitucional: liberdade de fumar, privacidade, estado, direitos fundamentais e outros temas. – Barueri, SP : Manole, 2007, p. 195. 9 SCHOUERI, Luís Eduardo. Normas tributárias indutoras e intervenção econômica. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 46. Fl. 4570DF CARF MF 18 desconsideração de planejamentos tributários, portanto, não encontra fundamento “apenas” no principio da legalidade em matéria tributária (art. 5 o e art. 150, I, da Constituição), mas também das normas de Direito econômico presentes no Texto Constitucional (arts. 170 e seg. da Constituição). O primado da legalidade exige decisão clara do legislador, como se observa de exemplos concretos do sistema tributário brasileiro. Um bom exemplo pode ser colhido da legislação atinente à contribuição ao PIS e à COFINS. No caso, o art. 3 o , IV, das Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003, autorizaram que o contribuinte, na apuração dessas contribuições pelo regime não cumulativo, apurasse créditos de “aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa”. Empresas que possuíam imóveis próprios, utilizados em sua atividade operacional, logo cogitaram da segregação de tais bens de seu patrimônio para integralização em pessoas jurídicas imobiliárias, que passariam a locá-los à sua anterior proprietária. Com isso, seria possível o aproveitamento de créditos de PIS e COFINS sobre o valor dos alugueis pagos. Nesse caso, por meio da Lei n. 10.865/2004, o legislador decidiu neutralizar os efeitos desse planejamento tributário e prescrever uma SAAR: Art. 31. É vedado, a partir do último dia do terceiro mês subsequente ao da publicação desta Lei, o desconto de créditos apurados na forma do inciso III do § 1 o do art. 3 o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, relativos à depreciação ou amortização de bens e direitos de ativos imobilizados adquiridos até 30 de abril de 2004. § 1 o Poderão ser aproveitados os créditos referidos no inciso III do § 1 o do art. 3 o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, apurados sobre a depreciação ou amortização de bens e direitos de ativo imobilizado adquiridos a partir de 1 o de maio. § 2 o O direito ao desconto de créditos de que trata o § 1 o deste artigo não se aplica ao valor decorrente da reavaliação de bens e direitos do ativo permanente. § 3 o É também vedado, a partir da data a que se refere o caput, o crédito relativo a aluguel e contraprestação de arrendamento mercantil de bens que já tenham integrado o patrimônio da pessoa jurídica. Por sua vez, no caso ora sob julgamento, o silêncio do legislador se alia à sonora ordem emanada das liberdades econômicas asseguradas pela Constituição, o que transmite eloquente mensagem ao contribuinte no sentido de que o planejamento tributário em questão é admitido no ordenamento jurídico brasileiro, sendo combatido, por parte do legislador complementar, atos simulados, fraudulentos, cometidos com o dolo da evasão de tributos. Não se trata de lacuna aleatória, mas de decisão consciente do legislador em não prever SAAR quanto ao planejamento tributário ora sob análise, inegavelmente presente no sistema jurídico brasileiro há décadas. Há mais um esclarecimento que se mostra necessário em face do planejamento tributário sob análise: não há qualquer norma, no ordenamento jurídico brasileiro, que autorize distinguir reorganizações patrimoniais motivadas por propósitos tributários ou extratributários. A adoção desse critério, à sombra da lacuna legislativa, entre muitos outros óbices que podem ser suscitados, encontra vedação no art. 108 do CTN, por ofensa à equidade e aos princípios gerais de direito público. A título ilustrativo, suponha-se que a sociedade familiar “A” vislumbre na segregação de suas atividades um ganho em organização, com a melhor divisão de responsabilidades e eficiência, bem como apaziguar brigas no seio familiar. Suponha-se, ainda, Fl. 4571DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 11 19 que a empresa “B” decida conduzir reestruturação semelhante à empresa “A”, com a segregação efetiva de pessoas jurídicas que passariam a dedicar-se, individualmente à exploração de atividades econômicas específicas, com a assunção dos riscos, responsabilidades e benesses atinentes à espécie. Suponha-se, por fim, que o único motivo para que a empresa “B” realizasse a referida reestruturação seria a redução da carga tributária. Nesse exemplo, fica evidente que haverá tratamento não isonômico entre as empresas “A” e “B” caso se discrimine, como critério para a legitimação do planejamento tributário, operações realizadas com ou sem propósitos extratributários (“propósito negocial”). No caso concreto, ora sob julgamento, NÃO há lei que autorize a referida discriminação com base na aferição subjetiva de motivos extratributários (“ propósitos negociais”) . Apenas se poderia atribuir tratamento distinto entre contribuinte que se encontram em condições semelhantes (“A” e “B”) caso o legislador houvesse prescrito tal discrímen, com o delineamento do que viria a ser esse conceito de “propósito negocial”, até hoje não delineado e desconhecido no Direito positivo brasileiro. Diante do cenário jurídico atinente à matéria sob julgamento, conclui-se que: - em vista das liberdades econômicas, o contribuinte brasileiro goza do direito de reestruturar a exploração do seu capital da forma mais eficiente, inclusive sob a perspectiva fiscal, salvo intervenção clara do legislador; - não há qualquer norma societária ou tributária que obrigue a concentração do universo patrimonial de um indivíduo ou de uma sociedade em uma única pessoa jurídica, com a sujeição dos rendimentos consolidados à sistemática do lucro real, por ser esta a mais onerosa; - A adoção da sistemática do lucro presumido depende exclusivamente do cumprimento do binômio: volume de receitas brutas obtidas pela pessoa jurídica e atividade que não obrigada ao lucro real; - não há qualquer norma específica de intolerância ao planejamento tributário em questão (SAAR), que impeça pessoas jurídicas resultantes de reestruturação societária optarem pela sistemática do lucro presumido; - trata-se de decisão consciente do legislador, que calibrou, com as ferramentas tributárias existentes, as liberdades econômicas e os mecanismos de incremento do desenvolvimento econômico; - para fins fiscais, devem ser reconhecidos os efeitos da efetiva segregação das fontes produtoras de rendimentos, tratando-se de planejamento tributário plenamente oponível ao fisco; - não se requer motivos extratributários (“propósito negocial”) para que segmentações de entidades empresariais (reais) legitimem que cada unidade segregada se legitime à opção pelo lucro presumido; Fl. 4572DF CARF MF 20 - segregações societárias meramente simuladas não são oponíveis ao fisco. Caracterizado o dolo da evasão de tributos, tais segregações simuladas sujeitam o contribuinte à exigência de multa qualificada. Em termos gerais, o entendimento aqui apresentado apreende a tradicional jurisprudência deste Tribunal. No acórdão n. 103-23357, de 23.01.2008, atinente inclusive às mesmas partes relacionadas no caso ora sob julgamento, o Primeiro Conselho de Contribuintes novamente reafirmou a proteção jurídica da segregação operacional e societária das fontes produtoras de rendimentos. Como naquele caso os julgadores constataram que não havia provas de artificialismo, sem que qualquer simulação houvesse sido demonstrada pela fiscalização, reconheceu-se o direito das partes segregadas optarem pelo lucro presumido. A referida decisão restou assim ementada: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Exercício: 2002 Ementa: SIMULAÇÃO – INEXISTÊNCIA – Não é simulação a instalação de duas empresas na mesma área geográfica com o desmembramento das atividades antes exercidas por uma delas, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. OMISSÃO DE RECEITAS – SALDO CREDOR DE CAIXA – DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA – A reunião das receitas supostamente omitidas por duas empresas para serem tributadas conjuntamente como se auferidas por uma só importa em erro na quantificação da base de cálculo e na identificação do sujeito passivo, conduzindo à nulidade do lançamento. Recurso provido. Publicado no D.O.U. nº 57, de 25/03/2008. No acórdão n. 3402-001.908, de 26.09.2012, a 2 a Turma Ordinária da 4 a Câmara de Julgamento, da 3 a Seção do CARF, igualmente confirmou o direito do contribuinte à segregação operacional e societária das fontes produtoras de rendimentos, consignando não haver simulação a ser combatida no caso analisado. A referida decisão restou assim ementada: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Período de apuração: 31/10/2001 a 31/12/2003 COFINS - ALÍQUOTA - PRODUTOS DE HIGIENE E BELEZA - ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAL E COMERCIAL - ARTS. 1º E 2º DA LEI Nº 10.147/00. Para o cálculo da Cofins incidente sobre a receita de venda dos produtos de higiene e beleza aplica-se a alíquota de 10,3% no caso de receita auferida por pessoa jurídica que proceda à industrialização ou importação dos citados produtos sendo que a alíquota é reduzida a zero, no caso de receita de revenda dos referidos produtos, auferida por pessoa jurídica não enquadrada na condição de industrial ou importador. COFINS - DESCONSIDERAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS - CISÃO PARCIAL - DESMEMBRAMENTO DE ATIVIDADE - SIMULAÇÃO - INOCORRÊNCIA - ART. 116, § ÚNICO DO CTN. Embora não se ignore que a autoridade administrativa pode desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, a Lei Complementar somente autoriza a desconsideração, desde que observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária (art. 116, § único do CTN). Assim o contrato só se transmuda em forma dissimulada quando ocorrer violação da própria lei e da regulamentação que o rege, donde decorre que a descaracterização do contrato só pode ocorrer quando fique devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, sendo que fora desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar um determinado contrato privado como outro de natureza diversa, para fins tributários. Não há simulação Fl. 4573DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 12 21 na cisão parcial através da qual se efetua o desmembramento de atividades em várias empresas, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária, não sendo lícita a pretensão fiscal de desconsiderar as distintas atividades e respectivas receitas segregadas em diferentes empresas do mesmo grupo, para tributá-las unificadamente. No acórdão n. 3302-003.138, de 17.03.2016, a 2 a Turma Ordinária, da 3 a Câmara da 3 a Seção do CARF, também confirmou o direito do contribuinte à segregação operacional e societária das fontes produtoras de rendimentos. Naquele caso, igualmente restou demonstrada a ausência de atos simulados. A referida decisão restou assim ementada: Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ano-calendário: 2008 SIMULAÇÃO. INEXISTÊNCIA. Simular é o ato de fingir, mascarar, esconder a realidade, camuflar o objetivo de um negócio jurídico valendo-se de outro, eis que o objetivo intentado seria alcançado por negócio diverso, daí o motivo de o artigo 167 do Código Civil dispor que o negócio jurídico simulado será nulo. Não é simulação o desmembramento das atividades por empresas do mesmo grupo econômico, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. Recurso de Ofício Negado Não apenas pela plena convicção de ser este o melhor direito, mas também pela função uniformizadora desta CSRF, o presente voto não destoa dessa tradição de garantia ao contribuinte da proteção jurídica dos efeitos da segregação operacional e societária das fontes produtoras de rendimentos, negando-a, contudo, aos casos simulados. 2. A desconsideração da simulada segregação de fontes produtoras de rendimentos: definição de “simulação” e critérios legais para a qualificação do caso concreto. Como se sabe, em conformidade com o art. 146 da Constituição Federal, compete ao legislador complementar decidir se haverá uma norma geral de reação a planejamentos tributários e, nesse caso, qual o critério para a identificação das hipóteses as quais o fisco não deverá tolerar (hidrômetro da intolerância). De forma concreta, o legislador complementar competente enunciou apenas norma de reação à fraude, à simulação, ao dolo na evasão de tributos (CTN, art. 149, VII), deixando ao legislador ordinário a tarefa de estabelecer o procedimento especial para que se descortinem os casos de dissimulação (CTN, art. 116, parágrafo único) ou, ainda, para a edição de normas de reação a planejamentos tributários específicos (SAAR). Nesse cenário, embora muito se discuta o assunto, o legislador complementar brasileiro sempre limitou os poderes da administração fiscal para desconsiderar atos praticados pelo contribuinte, restringindo-os para tornar inoponíveis apenas atos “simulados”, “fraudulentos”, cometidos com o dolo da evasão de tributos. Não há a outorga, pelo legislador competente (lei complementar), para que a administração fiscal considere inoponível atos que não possam ser qualificados como “simulados”. Isso significa que o legislador competente não considera intitutos como “simulação”, “fraude” ou “dolo tão estreitos a ponto de permitir atos que não deveriam Fl. 4574DF CARF MF 22 ser tolerados, nem tão amplos a ponto de permitir arbitrariedades por parte do fisco. O legislador tributário complementar, desde e edição do CTN (anos 60) até hoje, considera suficiente que a administração fiscal reaja exclusivamente em face de atos simulados, fraudulentos, com o dolo da evasão de tributos, reconhecendo-se a legitimidade das demais práticas (planejamento tributário). Em relação à fraude, colhe-se do art. 72, da Lei 4.502/64, tratar-se de “toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento”. A exigência do dolo, nesse enunciado prescritivo, tem o condão de agregar ao conceito de fraude a intenção de ofender ao Direito, de cometer ato sabidamente ilícito, e não qualquer hipótese na qual o contribuinte realiza atos para reduzir a ocorrência de fato gerador. O dolo, no Direito Civil, remete ao “emprego de um artifício ou expediente astucioso para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro” 10 . Dolo seria a própria intenção de causar dano a outrem, de contrariar o direito. 11 Quanto à simulação, pedra de toque para o presente julgamento, pode-se observar que as decisões do CARF, até o fim do século XX, apresentavam duas características fundamentais: (i) tratar-se-ia de um vício de consentimento, cuja mácula consistiria na divergência entre a vontade interna, subjetiva, e a vontade declarada; (ii ) seria exigida a demonstração dos atos realizados às escuras, divergentes daqueles levados ao público. 12 Assim, no acórdão n. 01-01857, de 15.05.95, julgado pela CSRF 13 , foram refutadas as alegações de simulação formuladas pela fiscalização, tendo em vista a inexistência de provas de que a vontade das partes, levada a cabo nos documentos formulados para uma incorporação, seria contraditória com a vontade intima efetivamente presente. Contudo, FABIO PIOVESAN BOZZA 14 sugere que, desde meados de 2005, a concepção de simulação em diversos casos no âmbito do CARF teria se tornado preponderantemente causalista, com contraposição à postura voluntarista até então adotada. O elemento fundamental para a caracterização da simulação não seria mais a divergência subjetiva, entre a vontade interna das partes e a manifestada nos negócios realizados. O foco, a partir de então, passaria a ser a incompatibilidade objetiva entre o modelo adotado nas operações realizadas para o negócio supostamente pretendido pelas partes. A partir daí, em muitos julgamentos passaram a ser despiciendas as provas quanto à verdadeira vontade das partes (modelo subjetivo). Em vez disso, pelo modelo objetivo, passaram a ter lugar deduções lógicas decorrentes de indícios dos mais variados, vocacionados a demonstrar a divergência do negócio realizado com a sua causa típica. Paradoxalmente, 10 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. São Paulo : Saraiva, 1998, p. 232. 11 PAULO AYRES BARRETO diferencia o dolo da simulação, na medida em que, naquele “apenas um dos interessados tem ciência do ato doloso, enquanto na simulação, ambas as partes têm participação na ação concertada”. A diferença de dolo e fraude residiria no fato de que esta “se consuma sem a intervenção pessoal do prejudicado. Além disso, enquanto o dolo geralmente antecede ou é concomitante à prática do negócio jurídico, a fraude é perpetrada posteriormente à sua celebração” (BARRETO, Paulo Ayres. Elisão tributária - limites normativos. Tese apresentada ao concurso à livre docência do Departamento de Direito Econômico e Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo : USP, 2008, p. 157-186) 12 Nesse sentido, vide: BOZZA, Fábio Piovesan. Planejamento tributário e autonomia privada. São Paulo : IBDT/Quartier Latin, 2015, p. 214. 13 CARF, CSRF, acórdão n. 01-01857, de 15.05.95. 14 BOZZA, Fábio Piovesan. Planejamento tributário e autonomia privada. São Paulo : IBDT/Quartier Latin, 2015, p. 218-224. Fl. 4575DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 13 23 observa FABIO PIOVESAN BOZZA 15 , muitas vezes o “conceito objetivo de simulação tornou-se de aplicação subjetiva”. Note-se que o legislador tributário não edificou um instituto distinto para a “simulação fiscal”, mas laborou com remissão normativa, acolhendo o conceito normativo de “simulação” prescrito pelo Direito privado. Por se tratar de questão fundamental, peço vênia para transcrever as seguintes constatações de HUMBERTO ÁVILA 16 , in verbis: “A referência deve ser havida como conceitual. Sempre que a legislação tributária faz menção a um termo e este termo é conceituado, só pode haver uma referência conceitual na medida em que não teria nenhum propósito lingüístico fazer uma referência sem que essa referência estivesse relacionada a um conceito. A referência é sempre feita a conceitos ‘civilmente impregnados’. Menciona-se ‘salário’ segundo o conceito que se tem de salário; faz-se referência à ‘mercadoria’ de acordo com o conceito que se tem de mercadoria. O problema, todavia, não é apenas esse. A questão crucial é saber se, havendo conceitos impregnados pelo Direito Civil (...), eles podem ou não ser alterados pelo legislador tributário. Nesse caso, temos dois caminhos: ou a legislação tributária não pode mudar o conceito - é o que se convencionou chamar de ‘primado do Direito Civil’ - ou o legislador tributário pode alterar o conceito. No primeiro caso, temos a ‘tese da rigidez’: o legislador tributário não pode alterar o conceito de Direito Privado que se tornou rígido pela sua incorporação ao Direito Tributário. No segundo, temos a ‘tese da flexibilidade’: o legislador pode alterar o conceito de Direito Privado porque tem liberdade para fazê-lo. “Em primeiro lugar, não havendo reserva constitucional, a atuação expressa do legislador implica modificações do conceito de Direito Privado - é o que se chama de ‘precedência do legislador tributário’; em segundo lugar, se o legislador tributário silenciar, vale o conceito de Direito Privado - é o chamado ‘primado do Direito Privado’.” Note-se, ainda, que o art. 109 do CTN prescreve que “os princípios gerais de direito privado utilizam-se para a pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários”. Daí decorre que, se determinado instituto do Direito privado compõe algum enunciado prescritivo de matéria tributária, ao menos duas hipóteses seriam possíveis: (i) pode o legislador tributário atribuir definição, conteúdo e alcance diversos do que se verifica no Direito privado (apenas o nome de batismo seria igual nas diferentes searas jurídicas), ou; (ii ) caso o legislador tributário silencie quanto à questão, deve o instituto deve ser compreendido conforme o seu perfil no Direito privado. Conjugando-se os artigos 109 e 110 do CTN, surge a questão: a lei tributária poderia utilizar o termo “simulação” para se referir a questão diversa da tutelada pelo Direito Civil, alterando a definição, o conteúdo e o alcance daquele instituto tradicional na seara privada? Em tese, sim, pois a expressão não fora utilizada, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias. No entanto, o 15 BOZZA, Fábio Piovesan. Planejamento tributário e autonomia privada. São Paulo : IBDT/Quartier Latin, 2015, p. 228. 16 ÁVILA, Humberto. Eficácia do Novo Código Civil na Legislação Tributária. In Grumpenmacher, Betina Treiger (coord.) - Direito Tributário e o novo Código Civil - São Paulo: Quartier Latin, 2004, p. 65-72. Fl. 4576DF CARF MF 24 legislador tributário não alterou o sentido desse instituto, utilizando-o tal qual no Direito privado. No âmbito privado, o perfil jurídico da simulação foi revisto em decorrência da enunciação do novo Código Civil, de 2002. No Código Civil de 1916, a simulação correspondia a um defeito do negócio jurídico, decorrente de vício na vontade do agente, que poderia agir tanto de forma maliciosa, quando o negócio seria anulável (art. 102), como inocente (art. 103), em que o negócio subsistiria. O novo Código Civil tutela a simulação em seu art. 167, da seguinte forma: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1 o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2 o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. A simulação trazida pelo novo Código Civil difere ao menos em dois pontos de sua conformação anterior. O negócio jurídico simulado será nulo (e não mais anulável), não surtindo efeitos desde a sua realização, bem como não se perpetuará no tempo, conforme o art. 169 do novo Código. Também não há mais menção à possibilidade de simulação inocente, pois a simulação deixa de se referir a um elemento subjetivo, configurando critério objetivo de validade do próprio negócio. No caso, então, a simulação a que se refere o art. 149, VII, do CTN, corresponderia à “mentira” quanto à prática de um ato relevante para fins tributários. Sonega- se da Administração Fiscal a verdade dos fatos ocorridos. O ato simulado é um ato aparente, que não existe no mundo dos fatos, mas apenas de forma precária no mundo jurídico. Na simulação absoluta, o contribuinte buscaria construir determinado invólucro que, caso real, lhe atribuiria benefícios fiscais, embora nada exista. Na simulação relativa, a ocorrência do fato gerador de uma obrigação tributária seria ocultada pela oposição do ato simulado. Com a simulação absoluta, expõe TULIO ROSEMBUJ 17 , as partes criariam com a sua declaração uma aparência de negócio que não querem realizar e do qual não esperam nenhum efeito. Seria uma aparência sem qualquer conteúdo verdadeiro e, assim, juridicamente inexistente, como é o caso da fraude contra credores em que se cria um passivo inexistente ou se diminui o ativo, sem que nada realmente tenha sido realizado. Com a simulação relativa, as partes criariam a aparência para um negócio jurídico diverso daquele que efetivamente querem. Seria um disfarce, em que apenas aparentemente se realizaria um negócio jurídico, para, na verdade, realizar-se outro negócio. Como exemplos de simulação, é possível cogitar a venda de bem imóvel por um valor abaixo do realizado, compatível com os limites exigidos pelo legislador para a adoção do lucro presumido ou a utilização de instrumentos antedatados de cessão gratuita do direito de uso de bem imóvel. 17 ROSEMBUJ, Tulio. El fraude de lei, la simulación y el abuso de las formas em el derecho tributario. Barcelona : Marcial Pons. 1999, p. 49. Fl. 4577DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 14 25 Cite-se, ainda, o Recurso Especial n. 243.767-MS, do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, para a distinção de simulação (absoluta) e dissimulação (relativa): “Duas situações, entretanto, podem verificar-se. Uma, em que a simulação seja absoluta. As partes não pretenderam concluir negócio algum, como no exemplo acima mencionado. Isso reconhecido, não produzirá efeito. Pode, entretanto, ser relativa a simulação. As partes efetivamente desejavam a pratica de determinado contrato, mas esse ficou dissimulado por um outro. Assim, por exemplo, fez-se uma doação, dissimulada em compra e venda. Em tal caso, prevalecerá o negócio real.” No Direito tributário brasileiro, então, a simulação se presta à sonegação, ou seja, ao ilícito. O que se combate não é a utilização de formas anormais, atípicas, para se alcançar determinado resultado. Combate-se o ato doloso da evasão de tributos em que as partes realizam um determinado negócio jurídico, mas declaram ao fisco que outro teria sido realizado. Note-se que, para aferir-se a ocorrência de simulação, não é relevante questionar a existência de razões extratributárias. Interessa demonstrar que, por meio dos negócios jurídicos apresentados pelo contribuinte, foram ocultadas do Fisco as verdadeira configuração dos atos praticados (dissimulação) ou, ainda, que nada realmente foi realizado (simulação absoluta). A apurada análise da questão exige que se diferencie a “simulação dos negócios jurídicos praticados” da “simulação da pessoa jurídica”. Nesse primeiro, reconhece- se a personalidade jurídica das pessoas jurídicas envolvidas, mas evidencia-se a simulação dos negócios jurídicos praticados por estas. Embora não descarte a priori a possibilidade de simulação da própria pessoa jurídica, parece-me tratar-se de hipótese rara. A “pessoa jurídica” é ficção criada pelo Direito para segregar uma personalidade jurídica dotada de direitos, inclusive patrimoniais, e apta a assumir deveres, com autonomia em relação ao seus sócios. A existência da pessoa jurídica, portanto, é questão mais de direito que de fato. Parece mais factível a ocorrência de simulação de negócios jurídicos, em que se atribuam a pessoas jurídicas existentes rendimentos que não decorram, verdadeiramente, de suas atividades. É preciso que a solução deste julgamento se mantenha coerente com esses fundamentos. No âmbito do Direito privado e, por remissão do legislador complementar, também no Direito tributário, são reais e existentes atos de transmissão que efetivamente façam com que seja alterado o titular de direitos e obrigações de um determinado acervo patrimonial. Ainda que uma reorganização patrimonial possa ser verificada documentalmente, pode ser irrelevante para fins tributários caso tais documentos contenham declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira capaz de qualificar as operações como simuladas. Operações que apenas simulam a segregação de fontes produtoras de rendimentos devem ser transparentes aos olhos da fiscalização tributária: inoponível, a operação dissimulada, por transparente aos olhos do fisco, conduz a que se desvende a operação verdadeira que se procurou ocultar, à qual devem ser aplicadas as consequências tributárias correspondentes à espécie. Fl. 4578DF CARF MF 26 O contribuinte que simular a segregação de fontes produtoras de receitas, submetendo indevidamente parte ou todos os seus rendimentos à tributação mais branda aplicável a uma outra pessoa jurídica (decorrente do lucro presumido, por exemplo), estará sujeito ao lançamento de ofício da diferença do tributo que seria devido conforme o regime que lhe seria verdadeiramente aplicável (lucro real, por exemplo). Caso não seja possível a apuração do lucro real, deve ser apurado, nos termos da legislação, o lucro arbitrado. Diante de simulação, com o dolo específico da evasão de tributos, deverá, ainda, ser imposta multa qualificada. A aferição da simulação, contudo, parece requerer considerações distintas diante de empresas com rendimentos ativos (indústria, por exemplo), daquelas que apresentam apenas rendimentos passivos (aplicações financeiras, por exemplo). Enquanto muitas vezes a obtenção dos primeiros (rendimentos ativos) pressupõe estrutura operacional robusta, a condução das atividades relacionados aos últimos (rendimentos passivos) pode exigir, por natureza, estrutura operacional mínima. No caso dos autos, as empresas do grupo empresarial desenvolvem atividades geradores de rendimentos primordialmente ativos. Nesse caso, em geral, alguns fatores podem ser considerados determinantes para qualificar-se uma reestruturação societária como simulada, enquanto outros relevantes, por corroborar com o acervo probatório, mas não necessariamente determinantes. A relevância de cada fator dependerá do particular contexto presente no caso específico, não se descartando a relativização de todos eles em vista de situações concretas. Em uma relação que não pretende ser exaustiva, é possível identificar alguns desses fatores, com especial enfoque na estrutura negocial, na estrutura contábil e financeira e, ainda, na estrutura física e operacional das empresas segregadas: A. ESTRUTURA NEGOCIAL � Assunção de efetiva responsabilidade pela atividade alegadamente desenvolvida. Gastos com folha de pagamento, com a manutenção da estrutura básica ou aquisição de insumos para as atividades específicas de uma das empresas, suportados aleatoriamente por outras empresas do grupo, na ausência de justificativa plausível, podem evidenciar, de forma determinante, confusão das unidades segregadas e simulação. � Assunção, pela pessoa jurídica segregada, dos riscos e das benesses sobre os ativos recebidos como contribuição ao capital social. Na reestruturação societária em análise, pode haver a contribuição de parcela do patrimônio outrora concentrado em uma pessoa jurídica, para a composição do capital social da pessoa jurídica que conduzirá a atividade segregada. Caso se declare ter transferido ativos a essa nova empresa para a integralização de seu capital, é plausível que esta assuma a responsabilidade, o risco e as benesses geradas por tais ativos. � Coerência negocial. É natural que operações que não apresentem, ao menos de forma aparente, coerência com os padrões normais de gestão, demandem certa atenção. Não se pode, contudo, punir fiscalmente um particular por adotar uma estrutura ineficiente ou com padrões não ortodoxos. Por essa razão, geralmente esse fator apresentar-se como não determinante ou mesmo irrelevante. � Prática de preços de mercado entre as partes segregadas. A manipulação dos preços praticados entre partes relacionadas pode ser uma evidência Fl. 4579DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 15 27 contundente quanto ao dolo da evasão de tributos. Além de poder atrair legislação própria para a regência de certos casos, como os de distribuição disfarçada de lucros, esse fator esse elemento também pode ser relevante para a evidenciar a vícios de regregação de atividades societárias. Assim, como os demais, contudo, pode ser relativizado: da mesma forma que a prática de preços de mercado não é, por si só, fator suficiente para legitimar as operações, a prática de preços menores que o de mercado também não conduz necessariamente a vícios no negócio jurídico. B. ESTRUTURA FINANCEIRA E CONTÁBIL � Confusão de titularidade dos recebíveis e dos passivos, capaz de evidenciar ausência de autonomia das partes e a unidade de empresas apenas formalmente segmentadas. A utilização injustificada e indiscriminada de contas bancárias centralizadas e outras sistemáticas de compensação financeira para o recebimento de receitas e o cumprimento de obrigações, mantidas por empresas do grupo empresarial diferentes daquela a que são imputadas para fins tributários, corresponde a uma evidência contundente. Certamente empréstimos entre empresas do mesmo grupo empresarial, respeitados os ditames legais, são lícitos. O que evidencia a simulação da segregação societária é a confusão e o descontrole financeiro entre as unidades supostamente segmentadas da entidade empresarial, que deve manter a assunção dos riscos e as benesses do negócio; � Informes financeiros devidamente formalizados. A contabilidade é instrumento hábil para descrever as mutações patrimoniais das empresas segregadas. Informes financeiros devidamente formalizados vinculam tanto o fisco como o contribuinte a assumir o ônus de provar que a realidade dos fatos é diversa daquela retratada pela contabilidade. As demonstrações contábeis, portanto, representam valioso instrumento para se aferir a existência de entidades segregadas. Há casos em que os vícios presentes na contabilidade tornam os informes financeiros imprestáveis, ou mesmo em que estes não foram escriturados, o que não conduz necessariamente à presunção de fraude. Inexistente esse importante meio probatório, outros meios de prova podem ser utilizados para evidenciar a realidade dos fatos. Certamente haveria ensejo ao arbitramento dos lucros, mas se este deve ser realizado de forma segregada ou aglutinada dependerá de outros fatores presentes no caso. Caso a fiscalização demonstre ter a contabilidade sido utilizada para simular uma determinada situação fática, o repertório probatório necessário para tanto possivelmente será suficiente para que a segregação fictamente alegada se torne inoponível. C. ESTRUTURA FÍSICA E OPERACIONAL. � Localização contígua das empresas. A adoção de endereços contíguos não conduz à presunção de irregularidades. A depender da dimensão da estrutura física de uma das empresas do grupo empresarial, pode ser plausível que a pessoa jurídica segregada utilize parte desta e, assim, ser justificável a Fl. 4580DF CARF MF 28 manutenção de endereços contíguos. Outras evidências devem ser verificadas, a fim de que se possa aferir se há confusão entre as empresas. � Estrutura operacional capaz de suprir toda a demanda da fonte produtora dos rendimentos: A aparente incompatibilidade da estrutura da empresa segregada com as receitas que lhe são atribuídas é um fator relevante e que suscita maiores cuidados. A partir daí, a fiscalização deve aprofundar a análise do caso concreto, de forma a corroborar com mais evidências quanto à validade ou a inoponibilidade da alegada segregação. Contudo, a relevância dessa evidência pode ser relativizada, pois não se pode deixar de cogitar hipóteses em que a segregação de atividades se justifica pela exploração de método negocial inovador, mais enxuto e eficiente, com a adoção, por exemplo, do modelo da terceirização de etapas produtivas. � Centralização de atividades administrativas. A centralização de departamentos administrativos, como um mesmo departamento de contas a pagar e a receber para diversas empresas ou um contrato único com empresas de cartão de crédito, pode ser indício de manutenção de uma unidade não segregada. No entanto, a questão demanda a investigação de outros aspectos, pois a existência de estrutura operacional compartilhada entre as empresas do grupo empresarial, com contrato de rateio de despesas (Cost Sharing), é sabidamente legítimo no Direito brasileiro. � Existência de operações realizadas fora do grupo empresarial: A segregação de atividades desenvolvidas interna corporis não impede que as empresas segregadas também desenvolvam as suas atividades em benefício de unidades do mesmo grupo empresarial. A obtenção de receitas por operações realizadas com agentes estranhos ao grupo econômico pode, contudo, evidenciar efetiva exploração do mercado pela empresa segregada e, assim, afastar suspeitas de simulação da exploração econômica da atividade empresarial. � Inexistência dos estabelecimentos declarados ao fisco. Nos ramos que pressupõem a condução de atividades em estabelecimentos físicos, a inexistência de fato dos estabelecimentos declarados formalmente corresponde a evidência contundente de simulação da condução de tais atividades pela empresa em questão. Os fatores em questão serão mais relevantes quanto mais estreito for o nexo entre o elemento simulado e o fato gerador do tributo que dolosamente se procurou ocultar. Este Tribunal administrativo mantém longa tradição ao tratar da segregação operacional e societária de fontes produtoras, com correta intolerância a reestruturações meramente simuladas, sujeitando-as, inclusive por dever funcional do agente fiscal (ato vinculado e não discricionário), às multas qualificadas. Um dos mais emblemáticos julgamentos sobre a matéria se deu em 25.02.1986 (Caso Grendene, acórdão n. 103-07260), em que o Primeiro Conselho de Contribuintes proferiu decisão assim ementada: IRPJ – TRANFERÊNCIA DE RECEITAS – EVASÃO FISCAL. Há evasão ilegal de tributos quando se criam oito sociedades de uma só vez, com os mesmos sócios que, sob a aparência de servirem à revenda dos produtos da recorrente, têm, na realizada, o objetivo admitido de evadir tributo, ao abrigo de regime de tributação mitigada (lucro presumido). Fl. 4581DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 16 29 Nesse julgamento, não se decidiu que a segregação operacional e societária de fontes de rendimentos seria algo intolerável. Pelo contrário, a referida decisão reagiu a operações que apenas simulavam tal segregação, mas que na verdade apenas esconderiam a manutenção da unidade empresarial original. Os silogismos adotados na decisão restaram claros: como as operações praticadas pelo contribuinte foram simuladas, então a economia de tributos gerada pela reestruturação societária não deveria ser reconhecida; mas se a segregação fosse verdadeira, então os seus efeitos jurídicos deveriam ser reconhecidos pela administração fiscal e o correspondente planejamento tributário respeitado. Na mesma linha, no acórdão n. 101-95.208, de 19.10.2005, o Primeiro Conselho de Contribuintes, de forma harmônica com o até aqui exposto, compreendeu que as segregações artificiais, com o propósito exclusivo de simular a legitimidade à opção pelo lucro presumido pelas partes, não poderia ser reconhecida para fins tributários. A decisão reconheceu o direito do contribuinte à reorganização societária e operacional de suas atividades e os efeitos tributários daí decorrente, mas se voltou contra a situação concreta, reputada como simulada. A referida decisão administrativa restou assim ementada: NULIDADE – INEXISTÊNCIA - MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL – PRORROGAÇÃO – REGISTRO ELETRÔNICO NA INTERNET – A prorrogação do MPF, à luz do que determina o artigo 13 da Portaria 3007/2001, se dá mediante registro eletrônico, disponível na Internet. IRPJ – CSL – CONSTITUIÇÃO DE EMPRESA COM ARTIFICIALISMO – DESCONSIDERAÇÃO DOS SERVIÇOS PRETENSAMENTE PRESTADOS – MULTA QUALIFICADA – NECESSIDADE DA RECONSTITUIÇÃO DE EFEITOS VERDADEIROS – Comprovada a impossibilidade fática da prestação de serviços por empresa pertencente aos mesmos sócios, dada a inexistente estrutura operacional, resta caracterizado o artificialismo das operações, cujo objetivo foi reduzir a carga tributária da recorrente mediante a tributação de relevante parcela de seu resultado pelo lucro presumido na pretensa prestadora de serviços. Assim sendo, devem ser desconsideradas as despesas correspondentes. Todavia, se ao engendrar as operações artificiais, a empresa que pretensamente prestou os serviços sofreu tributação, ainda que de tributos diversos, há de se recompor a verdade material, compensando-se todos os tributos já recolhidos. IRPJ – CSL – PIS – COFINS - SALDO CREDOR DE CAIXA – Não se tratando de empréstimos derivados de sócios ou administradores, mas restando os mesmos sem a devida comprovação, a glosa dos encargos deduzidos seria o procedimento correto. Optando a fiscalização por expurgar tais valores da conta caixa, para fins de apuração de saldo credor, deve fazê-lo tanto para os recebimentos quanto para os pagamentos dos empréstimos. Recurso voluntário parcialmente provido. Como regra a ser seguida, então, deve ser desconsiderada a segregação de fontes produtoras de rendimentos que se comprove simulada, respeitando-se, por sua vez, os efeitos tributários de legítimas reestruturações socitárias implementadas pelo particular. 3. Aplicação das normas jurídicas ao caso concreto: simulação de segregação das fontes produtoras de rendimentos. O acórdão a quo assentou questões fáticas que, aliadas às normas jurídicas acima expostas, permitem encontrar uma solução para o presente caso. Ocorre que há Fl. 4582DF CARF MF 30 evidências contundentes quanto à simulação da segregação das fontes produtoras de rendimentos, com o dolo de evadir tributos. 3.1. Evidências de simulação presentes na estrutura negocial do contribuinte. Entre as evidências que embasaram a conclusão do acórdão a quo quanto à ocorrência de simulação, foi suscitada a ausência de assunção de efetiva responsabilidade pela condução da atividade alegadamente desenvolvida, in verbis: “Tampouco a alegação da recorrente de que cada empresa teria seus próprios fornecedores se confirma. A fiscalização constatou que na escrita fiscal da empresa KIWI BOATS havia mais de 700 (setecentas) notas fiscais de entrada referentes a itens que são aplicados não na fabricação do casco, que seria alegadamente sua única atividade, mas sim na montagem da embarcação, atividade esta que alegadamente competiria à SCHAEFER YACHTS (v. Termo de Verificação e Encerramento de Ação Fiscal na empresa Kiwi Boats, fls. 635 a 660, e fls. 1046 a 1792 do Anexo II). São notas fiscais em que consta como adquirente a KIWI BOATS, e que descrevem itens tais como carregadores de bateria, máquina de fazer gelo, aquecedor de água, rádio, TV, DVD, microondas, antena, motor, hélice, tanque de combustível, sonda, ar condicionado, cabos e comandos eletrônicos, tecidos e estofamentos, entre muitos outros. Tais constatações, que demonstram a inexistência de segregação de custos e despesas, ou mesmo da atividade de cada parte, podem evidenciar ausência de autonomia das partes, de forma a haver uma unidade de empresas apenas formalmente segmentadas. Conforme já relatado, afirma a recorrente que a KIWI BOATS fabrica somente os cascos de fibra de vidro de acordo com a encomenda de clientes, e a SCHAEFER YACHTS apenas promove a instalação, nesses cascos, dos equipamentos que são adquiridos no mercado pelos seus clientes. Assim, segundo as alegações recursais, que são as mesmas opostas ao fisco, quer fazer crer a recorrente que todas as embarcações seriam feitas sob encomenda, como se os clientes comprassem separadamente o casco e os diversos equipamentos, para que a recorrente os montasse. De se reproduzir a resposta categórica por ela dada quando intimada a justificar por que a empresa não fazia o destaque do IPI nas notas fiscais de venda de mercadorias. Disse a recorrente (fls. 580, grifo nosso): ‘A empresa Estaleiro Schaefer Yachts Ltda não comercializa embarcações, somente realiza montagem de kit de acessórios solicitado pelo cliente que varia de acordo com cada pedido, por esta razão as notas fiscais não geravam débito de imposto (IPI).’” Note-se que as evidências em questão dizem respeito à simulação de elementos que afetam diretamente o fato gerador dos tributos discutidos neste processo. A inexistência da estrutura negocial para que cada empresa segregada explore a atividade que alega desenvolver, bem como evidências da confusão entre as empresas supostamente segmentadas, corroboram para que se conclua que o contribuinte procurou ocultar a exploração de uma única entidade patrimonial. 3.2. Evidências de simulação presentes na estrutura financeira e contábil do contribuinte. O acórdão recorrido também evidenciou a ausência de contabilidade ou documentação fiscal hábil a demonstrar as operações praticadas por cada uma das empresas que, no caso, alegadamente se dedicariam a segmentos do processo produtivo: Fl. 4583DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 17 31 “Com relação à falta de movimentação dos estoques informamos que até este momento não conseguimos documentos hábeis para garantir uma adequada apuração de custos dos produtos fabricados e vendidos, assim como não conseguimos reconstruir os estoques existentes no exercício de 2005. Por estas razões os estoques apontados no balanço não contempla as baixas dos produtos utilizados para fabricação dos produtos vendidos.” Trata-se de resposta idêntica, ipsis litteris, àquela dada pela SCHAEFER YACHTS quando questionada sobre a mesma situação, e que evidencia a imprestabilidade também da escrita da KIWI BOATS para fins de apuração dos seus resultados, acaso pudesse ela ser tratada como entidade autônoma. (...) A fiscalização, às fls. 843, relata como deveria dar-se a emissão e o registro dos documentos fiscais, caso as operações efetivamente tivessem ocorrido na forma que a recorrente alega (produção sob encomenda, aquisição do casco e dos equipamentos pelos clientes, e montagem pela SCHAEFER YACHTS), verbis: ‘Para que fossem tratadas de forma individualizada, ao concluir a fabricação do casco nu, a empresa Estaleiro Kiwi Boats Ltda., deveria emitir uma nota fiscal de venda do casco para o adquirente, para entrega por conta e ordem, para a empresa Estaleiro Schaefer Yachts Ltda. Por sua vez, a empresa Estaleiro Schaefer Yachts Ltda., deveria registrar a entrada deste produto em seu estabelecimento (tanto na escrita fiscal como contábil), proceder a montagem dos ‘kits’ e demais componentes e acessórios e, na saída da embarcação pronta, emitir uma nota fiscal, na qual deveria constar: a) o preço total do produto pronto; b) o valor dos insumos fornecidos pelo adquirente (casco, motor, etc); c) o valor total da industrialização (mão de obra aplicada no produto industrializado e o valor dos insumos de propriedade do industrializador - executor da encomenda - aplicados no produto), e calcular o IPI sobre os itens ‘b’ e ‘c’ (que compõe a base de calculo do IPI, conforme arts. 131 e 132 do RIPI/2002).’ A documentação fiscal emitida, contudo, não corrobora a suposta forma de produção alegada pela recorrente. Não existe uma única nota fiscal emitida pela KIWI BOATS para dar suporte à transferência do casco nu produzido para a SCHAEFER YACHTS, e nem há nesta última qualquer registro contábil ou fiscal da entrada destes cascos.” Como se pode observar, no presente caso não há documentos contábeis e mesmo fiscais adequadamente escriturados, que poderiam militar a favor do contrinbuinte e corroborar para a demonstração da verossimilhança formal da alegada segregação de empresas inexiste no presente caso. Na ausência de tais elementos, também não logrou o contribuinte demonstrar, por outros meios de prova, a segregação em questão seria real (material), como se constata do acórdão a quo. Quanto à incongruência dos documentos fiscais emitidos pelo contribuinte e a realidade fática aferida pela fiscalização, o acórdão a quo ainda assentou, in verbis: “Uma vez que a empresa realiza exclusivamente montagem, não efetua o débito na saída dos tributos destacados nas notas fiscais” Tais alegações, contudo, chocam-se frontalmente com a situação de fato verificada pela fiscalização. Consoante o Termo de Verificação Fiscal, as embarcações produzidas pela SCHAEFER YACHTS e KIWI BOATS são enviadas para a rede de revendedores (MM Náutica, Força 10, High Performance, Band Náutica, entre outras), suportadas por notas fiscais de Fl. 4584DF CARF MF 32 simples demonstração emitidas pela KIWI BOATS. Essas notas descrevem barcos prontos para demonstração e “test drive” (CFOP 5.912 e 6.912), diversas delas inclusive com destaque do IPI lançado. Nestes casos, quando o barco é vendido, a revenda emite uma nota de devolução (simbólica) do barco para a KIWI BOATS, também com destaque do IPI, e, então, posteriormente, são emitidas as notas fiscais de venda do casco, pela KIWI BOATS, e dos kits e montagens, pela SCHAEFER YACHTS. A documentação fiscal anexa aos autos, portanto, não confirma as alegações recursais a respeito da forma de comercialização dos seus produtos.” As referidas evidências consideradas pelo acórdão a quo mostram-se relevantes, pois estão intrinsecamente relacionadas ao fato gerador dos tributos em discussão e, somadas às demais evidências presentes, corroboram para a conclusão de que houve a simulação da segregação de fontes produtoras de rendimentos. 3.3. Evidências de simulação presentes na estrutura física e operacional do contribuinte. Em relação à localização geográfica e à estrutura operacional compartilhada, o acórdão a quo assentou, in verbis: “Inicialmente, registre-se que não há dúvidas de que as empresas SCHAEFER YACHTS e KIWI BOATS partilham de uma única área geográfica. Comprovam este fato as fotos anexas aos autos, e os relatos feitos de que o acesso a ambas as empresas, em que pese uma conste nos cadastros da RFB como sediada no nº 18.500, e a outra no nº 18.550, se dá pela mesma portaria, que há uma única recepção, que as instalações de direção e administração são comuns, que os funcionários da contabilidade são os mesmos, e que a máquina que emite as notas fiscais é a mesma. Estas são constatações feitas in loco pela fiscalização, e que em nenhum momento foram contraditadas pela recorrente. Por outro lado, até este ponto pode-se considerar tais providências como simples racionalização de operações com vistas a uma redução dos seus custos administrativos.” Acertadamente, o acórdão a quo considerou relevante observar que tais fatores não tornariam, por si só, ilegítima a segregação de empresas. Aprofundando a investigação, o acórdão a quo acrescentou: “Quanto à alegação recursal de que cada empresa teria instalações próprias, muito embora estejam situadas no mesmo espaço geográfico, cumpre destacar que foi firmado um contrato de locação entre as empresas, tendo a KIWI BOATS como locadora de parte do terreno de propriedade da SCHAEFER YACHTS, e pelo qual deveria pagar o valor anual de R$ 12.000,00. Tal contrato, assim, seria um instrumento formal para dar respaldo à alegação de individualidade das empresas. Entretanto, a fiscalização apurou que o valor do suposto aluguel não dera entrada nas contas Caixa ou Bancos da SCHAEFER YACHTS, e nem fora por ela apropriado como receita.” Também suscitou o acórdão a quo, in verbis: “De se observar que em casos como este, em que há o compartilhamento de instalações e equipamentos, deve ser feito o rateio das despesas, atendendo a algum critério lógico e razoável, em conformidade com as normas de contabilidade de custos. Há vários julgados no CARF reconhecendo a validade do rateio de custos e despesas entre empresas, quando atendida esta condição. Entretanto, com relação às despesas antes mencionadas, não consta Fl. 4585DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 18 33 que tal providência tenha sido tomada pela recorrente. Pelo contrário, o que os autos evidenciam é a inexistência de contabilidade de custos, tendo a própria recorrente reconhecido a impossibilidade de providenciar a adequada apuração dos seus custos dos produtos fabricados e vendidos.” O acórdão a quo também evidenciou haver confusão quanto à parte que realizaria uma ou outra atividade, in verbis: “Como elementos suplementares de prova de que a recorrente fabrica e comercializa barcos prontos, destaque-se os catálogos dos produtos, que contém a marca SCHAEFER YACHTS (às fls. 611 a 616, encontram-se catálogos dos barcos modelo Phantom), e a informação veiculada pela própria empresa em sua página na internet (fls. 377 do Anexo II), na qual o Sr. Márcio Schaefer é apresentado como o presidente da Schaefer Yachts e “responsável por projetar os barcos Phantom desde o começo até o fim, incluindo a distribuição dos quartos, e os métodos de construção, mas com foco especial no design”. Consta ainda no texto de apresentação da empresa o seguinte: ‘Uma lancha da Schaefer Yachts não é um projeto copiado ou adaptado de similares americanos ou europeus, (...) Verdadeiras naves, os barcos do estaleiro Schaefer têm cinco anos de garantia estrutural para o casco e são produzidos em sede própria de 9.000 m 2 , no município de Palhoça, Grande Florianópolis, numa fábrica totalmente setorizada e concebida para a produção de lanchas. Com mais de 800 unidades entregues desde sua fundação, o elevado grau de satisfação dos clientes Schaefer Yachts é sua maior garantia de estar adquirindo as melhores lanchas do país.’” O acórdão a quo também acrescentou, in verbis: “A fiscalização demonstrou que a linha de produção é contínua entre as duas empresas formalmente constituídas, sendo que a cada barco a ser construído corresponde uma única ordem de produção, cujo número identifica o modelo e o número de série da embarcação, ordem esta que a acompanha desde o início da moldagem do casco em uma empresa até a embarcação pronta e acabada na outra. Conforme o relato fiscal, e as fotos anexas aos autos, há um galpão no qual se inicia a produção dos cascos (setor de laminação), pela empresa KIWI BOATS, sendo que este galpão tem acesso direto a outros três galpões para onde são encaminhados os cascos, conforme o seu tamanho (setores de acabamento). Nestes últimos, além da conclusão do processo de fabricação dos cascos, ainda pela empresa KIWI BOATS, são também montados todos os demais acessórios e equipamentos, já pela empresa SCHAEFER YACHTS. Ora, como nem uma nem a outra escrituram nem o Livro Registro de Inventário, nem o Livro Registro de Controle da Produção e do Estoque (este obrigatório pela legislação do IPI – Decreto no 4.544/2002, art. 369), e não apuram os respectivos custos dos produtos vendidos, sendo que a produção se dá conforme acima descrito, iniciando-se com uma ordem de produção, e terminando com um barco pronto, tudo ocorrendo dentro de um mesmo complexo industrial, não há outra conclusão possível senão a de que inexiste a alegada segregação das operações de cada empresa. Assim, o que as notas fiscais emitidas pelas empresas em questão demonstram é tão somente uma ‘repartição’ do faturamento pela venda do produto final, em que a KIWI BOATS emite diretamente em nome do adquirente da Fl. 4586DF CARF MF 34 embarcação uma nota fiscal de venda do casco nu, e a SCHAEFER YACHTS emite outra nota fiscal para o mesmo adquirente, contendo a seguinte segregação: materiais montados no casco, e prestação de serviços.” Os elementos em questão, somados às demais evidências expostas, demonstram que, embora se tenha alegado a exploração de atividade econômica por cada uma das pessoas jurídicas segregadas, não houve, de fato, a segmentação do negócio. Ao menos no período de apuração atinente a este processo administrativo, resta demonstrada a existência de uma única unidade empresarial, que deve ser tributada como tal. Nesse cenário, compreendo não merecer reparo o acórdão a quo, que decidiu pela rejeitar os efeitos da segregação simulada, de forma a considerar, para fins tributários, uma única entidade. Há evidências suficientes para o enquadramento da espécie à figura da simulação prevista no art. 167 do Código Civil, bem como da existência de dolo para a evasão de tributos. Quanto à qualificação da multa de ofício, assim se manifestou o i. relator do acórdão a quo: “Quanto à aplicação da multa qualificada (150%), por todo o exposto, creio estar suficientemente demonstrado a presença de simulação nos atos praticados pelas empresas formalmente constituídas, ao tentar dar a aparência de que uma única atividade na verdade segregar-se-ia em três distintas empresas, localizadas todas de fato no mesmo espaço geográfico (embora uma delas declarasse ter sua sede em outro local, também naquele espaço comum desenvolveria suas atividades). Além de ter sido demonstrado que a forma de produção e de comercialização das embarcações não corresponde àquela alegada pela recorrente, ficou ainda evidenciada a interposição de empresa para recebimento de valores decorrentes de sua comercialização, empresa esta que nunca funcionou no endereço cadastral de sua sede — um depósito fechado e abarrotado de documentos, que fora supostamente sublocado do contador responsável pela escrituração das empresas, sem que tenha sido sequer feito prova do pagamento pela referida sublocação. Há contratos apresentados para justificar tal forma de comercialização, cujo teor ou existência foram frontalmente negados pelas contrapartes, supostas contratantes. Há ainda um contrato firmado entre as empresas KIWI BOATS e SCHAEFER YACHTS, para a suposta locação de parte do terreno de propriedade desta para aquela, o qual teria o intuito de dar respaldo formal à existência de uma sede própria à primeira, cujos efeitos não se materializaram, visto que não houve pagamento em decorrência do mesmo, e nem sequer a devida apropriação de receita. Assim, caracterizada in casu a simulação, provado, entendo eu, o intuito de fraude a que alude o artigo 44 da Lei n° 9.430/96, que prevê a exasperação da multa de ofício, vez que o evidente intuito de fraude possui um amplo conceito onde se inserem as condutas dolosas tipificadas como sonegação, fraude ou conluio, conforme previsto nos artigos 71 a 73 da Lei n° 4.502/64, por aquela lei referidos. Especificamente, entendo que, com os procedimentos adotados pela recorrente, tenham sido modificadas substancialmente, e de modo intencional, as características do fato gerador, o que levou à redução do imposto devido, conduta esta que se amolda ao conceito de fraude exposto no artigo 72 da Lei n° 4.502/64, verbis: Art. 72 Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente a ocorrência do fato gerador da Fl. 4587DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 19 35 obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a evitar ou diferir o seu pagamento. Além disto, ante a falta de apresentação por parte das empresas fiscalizadas do Livro de Controle de Produção e Estoque, do Livro de Registro de Inventário, do Livro de Apuração do Lucro Real, e a apresentação da escrituração comercial sem apuração dos custos dos produtos vendidos, e com seus balanços apresentando valores em total dissonância com o declarado na DIPJ, torna-se incompreensível saber com base em que informaram as empresas apuração pelo lucro real no ano calendário de 2005. De se salientar que tal situação de completo descontrole e confusão nos registros contábeis das empresas, e de total inadequação da escrituração por elas mantidas para a apuração do lucro real, se faz presente há vários anos, conforme se pode inferir das referências feitas nos autos às fiscalizações pretéritas, abrangendo anos-calendário anteriores (2002 e 2003, PAF nº 11516.004364/200750), caracterizando assim a reiteração na sua conduta dolosa. Portanto, plenamente justificada a exasperação da multa aplicada.” Nesse cenário, por todo o exposto, compreendo que também não merece reparo o acórdão a quo quanto à pertinência da qualificação da multa de ofício, no patamar de 150%, tendo em vista as práticas simulatórias demonstradas, com o dolo para a evasão de tributos. 4. O agravamento da multa de 150% para 225%. Por restar vencido quanto ao não conhecimento do recurso interposto pela PFN, passo à análise de seu mérito. O fato que enseja o agravamento da multa em 50% (tendo como base as multas de 75% e 150%) não é a imprestabilidade ou mesmo inexistência de documentos hábeis à apuração lucro real, o que é hipótese de arbitramento de lucros. Dá ensejo ao agravamento da multa a conduta omissiva do contribuinte que obstaculizar injustificamente o bom andamento do procedimento de fiscalização a ponto de colocar em risco a arrecadação tributária a que faria jus o erário público. Se a omissão do contribuinte não prejudicar a apuração de um efetivo fato tributável, sem prejuízos ao fisco para a constituição do tributo, não há a incidência da norma sancionatória e, assim, não deve ser agravada a multa. Esse entendimento não contraria a Súmula CARF n. 96, de 09.12.2013, mas lhe vivifica e dá cumprimento: Súmula CARF n. 96: A falta de apresentação de livros e documentos da escrituração não justifica, por si só, o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros. Ocorre que, enquanto a falta de apresentação de livros e documentos não justifica, por si só, o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros, também são necessários elementos diversos para justificar que o arbitramento de lucros conviva com a imposição de multa agravada. Fl. 4588DF CARF MF 36 Entre os precedentes que ensejaram e edição da Súmula CARF n. 96, destaca-se o acórdão n. 9101-000.766, proferido por esta CSRF em 13.12.2010, o qual restou assim ementado: MULTA AGRAVADA E ARBITRAMENTO - O que determina a aplicação da multa agravada é o não atendimento, no prazo assinalado, a intimação para prestar esclarecimentos. O não atendimento a intimação para apresentação de livros e documentos constitui hipótese legal de arbitramento dos lucros, não ensejando, por si só, o agravamento da penalidade. Em seu voto, o i. Conselheiro Valmir Sandri observou: “A lei determina a aplicação da multa agravada ‘nos casos de não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para prestar esclarecimento’. Assim, para que seja agravada a multa, é preciso que tenha se configurado a situação de ser o sujeito passivo intimado a prestar esclarecimentos e, no prazo assinalado, não atender a intimação. O não atendimento a intimação para apresentação de livros e documentos constitui hipótese legal de arbitramento dos lucros, não ensejando, por si só, o agravamento da penalidade. Eventualmente, se além de não apresentar livros e documentos, o contribuinte também deixar de atender intimação para prestar esclarecimentos, pode ser cabível o agravamento da multa. São hipóteses distintas, acarretando conseqüências jurídicas distintas, e que podem vir cumuladas. Assim, sendo a única acusação que pesa sobre o contribuinte a falta de apresentação de livros e documentos, que ensejou o arbitramento do lucro, andou bem a Câmara para cancelar o lançamento.” Em 16.08.2012, a CSRF prolatou acórdão que também serviu de precedente para a edição da Súmula CARF n. 96, assim ementado: MULTA DE OFÍCIO AGRAVADA. APRESENTAÇÃO PARCIAL DA DOCUMENTAÇÃO SOLICITADA. FALTA DE APRESENTAÇÃO DE LIVRO DIÁRIO E RAZÃO. ARBITRAMENTO DO LUCRO. FALTA DE ATENDIMENTO DE INTIMAÇÃO. HIPÓTESE DE INAPLICABILIDADE. Inaplicável o agravamento da multa de ofício em face do não atendimento à intimação fiscal para apresentação dos livros contábeis e documentação fiscal, já que estas omissões têm conseqüências específicas previstas na legislação de regência, que no caso foi o arbitramento do lucro em razão da falta da apresentação dos livros e documentos da escrituração comercial e fiscal. Também nesse caso, o voto do relator, i. Conselheiro JOSÉ RICARDO DA SILVA , consignou que teria sido arguido pela PFN “que não atendida a intimação, presume-se o embaraço à fiscalização. A simples falta de atendimento, o desprezo à administração tributária, é fato gerador da multa”, bem como que, “de acordo com a lei, o critério para o agravamento da multa não é subjetivo, mas de ordem objetiva”. Destaca-se o seguinte trecho do aludido voto, in verbis: “Firmo a minha posição no sentido de que não houve embaraço à fiscalzação. Isto porque, neste aspecto fundamentou o Sr. Auditor Fiscal terem sido apresentados os documentos requisitados de forma parcial, bem como não terem sido apresentadas respostas, esclarecimentos ou documentos referentes aos Termos de Intimação n° 001 e 002. Ora, a jurisprudência deste Colegiado tem se firmado no sentido de que, para se proceder o agravamento da penalidade é necessário que à conduta do sujeito passivo esteja associado um prejuízo concreto ao curso da ação fiscal. Ou seja, é medida aplicável naqueles casos em que o fisco só pode chegar aos valores tributáveis depois de expurgados os artifícios postos pelo sujeito passivo.” Fl. 4589DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 20 37 No caso concreto, retomam-se os seguintes trechos do acórdão a quo: “Por entender ter havido o dolo, materializado nas figuras qualificadoras de sonegação e fraude, a multa de ofício imposta foi majorada para 150% dos tributos lançados, e pelo fato de não ter o contribuinte prestado os devidos esclarecimentos a que fora intimada, e não ter apresentado os arquivos ou sistemas previstos nos arts. 11 a 13 da Lei no 8.218/91, a multa foi agravada em 50%, do que resultou o percentual final de 225%. (...) Protesta a recorrente que o aumento em 50% da multa imposta é incabível, posto que em nenhum momento a recorrrente deixou de responder as intimações apresentadas pela fiscalização. De fato, houve resposta a todas as intimações feitas pela fiscalização, de sorte que não prosperaria o agravamento da multa por este motivo. Contudo, o agravamento aplicado pela fiscalização teve também outro fundamento. Consta do Termo de Verificação Fiscal, às fls. 880 o seguinte, no item ‘8.3 – Do agravamento das multas’: ‘Conforme consta às fls. 131, deste processo e fls. 142 do Anexo II, o contribuinte não forneceu os arquivos magnéticos a que fora intimado pelo Termo de Início de Fiscalização e reintimado pelo Termo de Intimação 01/2009.’ Tal assertiva em nenhum momento foi contraditada pela recorrente, aliás, ao contrário, esta expressamente reconheceu, em atendimento à intimação fiscal, a impossibilidade técnica de apresentar os arquivos solicitados, conforme consta às fls. acima referidas. (...) Contudo, nos debates ocorridos em sessão, restei convencido por meus pares de que, em casos como o presente — em que a apresentação dos arquivos magnéticos em questão em nada alteraria o lançamento afinal efetuado, que se operou sob a forma do lucro arbitrado — não se justifica a majoração da multa em 50%. Tal entendimento, ao que consta, já teria sido manifestado pela própria Câmara Superior de Recursos Fiscais, cuja função precípua é justamente uniformizar a jurisprudência das câmaras baixas a respeito da correta interpretação da lei tributária. Restou assentado no acórdão a quo, portanto, que “houve resposta a todas as intimações feitas pela fiscalização” e que “a apresentação dos arquivos magnéticos em questão em nada alteraria o lançamento afinal efetuado, que se operou sob a forma do lucro arbitrado” . Logo, não há ensejo para o agravamento da multa, devendo ser mantida a decisão recorrida. 5. Dispositivo do voto Por todo o exposto, voto no sentido de NÃO CONHECER os recursos especiais interpostos pela PFN e pelo Contribuinte. Adentrando à análise de mérito, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO aos recursos interpostos pela PFN e pelo Contribuinte. (assinatura digital) Conselheiro Luís Flávio Neto – Relator Fl. 4590DF CARF MF 38 Voto Vencedor - CONHECIMENTO DO RECURSO ESPECIAL DO CONTRIBUINTE Conselheiro André Mendes de Moura, Redator Designado. Não obstante as considerações do I. Relator, tão bem expostas ao Colegiado, peço vênia para divergir quanto ao entendimento apresentado sobre a admissibilidade do recurso da Contribuinte, que votou para o seu não conhecimento. Vale registrar o que despacho de exame de admissibilidade (e-fls. 4523/4538) deu seguimento à duas matérias: 1) desconsideração da pessoa jurídica; e 2) afastamento da multa qualificada. E não tenho reparos a fazer quanto ao teor do despacho. Isso porque a divergência apresentada pela Contribuinte, para ambas as matérias, acórdão nº 103-23.357, tratou do mesmo suporte fático apreciado pelos presentes autos, envolvendo a pessoa jurídica Estaleiro Kiwi Boats Ltda. Nesse sentido, peço vênia para transcrever a análise do despacho, que adoto como fundamento para a decisão, com fulcro no art. 50, § 1º da Lei nº 9.784, de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal 18 . Sobre a matéria "desconsideração da pessoa jurídica": A recorrente alega que houve a desconsideração da personalidade jurídica das Empresas Estaleiro Schaefer Yatchts, Estaleiro Kiwi e SPA e insurge-se contra a decisão. Traz à divergência o Acórdão nº 103-23.357, que tratou do mesmo tema relativo à sociedade empresária Estaleiro Kiwi Boats Ltda., em que se entendeu que o desmembramento de atividades entre as três empresas não indicava tratar-se de simulação. A decisão foi ementada nos seguintes termos: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ Exercício: 2002 Ementa: SIMULAÇÃO – INEXISTÊNCIA – Não é simulação a instalação de duas empresas na mesma área geográfica com o desmembramento das atividades antes exercidas por uma delas, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. 18 Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: (...) V - decidam recursos administrativos; (...) § 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. Fl. 4591DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 21 39 OMISSÃO DE RECEITAS – SALDO CREDOR DE CAIXA – DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA – A reunião das receitas supostamente omitidas por duas empresas para serem tributadas conjuntamente como se auferidas por uma só importa em erro na quantificação da base de cálculo e na identificação do sujeito passivo, conduzindo à nulidade do lançamento. Recurso provido. Considerando que essa decisão julgou exatamente a mesma questão objeto deste processo administrativo fiscal, envolvendo as mesmas empresas, entendo que, numa análise prelibatória como a de admissibilidade de recurso especial, houve a comprovação da divergência argüida. (grifei) Sobre a matéria " afastamento da multa qualificada": A recorrente pede o afastamento da aplicação dos arts. 71,72 e 73 da Lei nº 4.502, de 1964, alegando que não há provas capazes de comprovar que tenha havido o evidente intuito de fraude, que ensejaria a aplicação da multa qualificada de 150%. (...) A contribuinte, com a finalidade de afastar a multa de 150%, pugna, também, pelo afastamento da hipótese de simulação. Quanto a esse fundamento, a recorrente argumenta a necessidade de considerar que no Acórdão nº 103-23.357, relativo à empresa Kiwi Boats, no qual foi afastada essa hipótese, tendo o Colegiado decidido por anular o lançamento que imputava, dentre outros, a multa de 150%. A decisão foi ementada nos seguintes termos: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ Exercício: 2002 Ementa: SIMULAÇÃO – INEXISTÊNCIA – Não é simulação a instalação de duas empresas na mesma área geográfica com o desmembramento das atividades antes exercidas por uma delas, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. OMISSÃO DE RECEITAS – SALDO CREDOR DE CAIXA – DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA – A reunião das receitas supostamente omitidas por duas empresas para serem tributadas conjuntamente como se auferidas por uma só importa em erro na quantificação da base de cálculo e na identificação do sujeito passivo, conduzindo à nulidade do lançamento. Recurso provido. Tendo em vista tratar-se do exato caso em julgamento nestes autos, mas, referente à empresa Kiwi, entendo comprovada a Fl. 4592DF CARF MF 40 divergência capaz de ensejar a subida dos autos à julgamento pela CSRF no que se refere ao pedido de afastamento da multa qualificada. Observa-se que, mediante mesmo suporte fático, a decisão recorrida e a paradigma deram interpretações divergentes à legislação tributária, para as matérias (1) desconsideração da pessoa jurídica e (2) afastamento da multa qualificada. A decisão recorrida entendeu pela confusão patrimonial e de atividades das empresas SPA COMÉRCIO DE EMBARCAÇÕES E EQUIPAMENTOS NÁUTICOS LTDA ("SPA") e ESTALEIRO KIWI BOATS LTDA ("KIWI BOATS"), sendo que a SPA representava interposta pessoa de SCHAEFER YACHTS e KIWI BOATS, dando ensejo à consideração das empresas com uma única entidade. Por consequência, foram tipificadas infrações tributárias e identificada ocorrência de dolo que motivou a qualificação da multa de ofício. Por sua vez, a decisão paradigma entendeu que, diante dos mesmos fatos, não teria procedência considerar as empresas envolvidas como uma única entidade, e, tampouco, poder-se-ia falar em simulação, vez que o desmembramento das atividades tinha como objetivo racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. Portanto, voto do sentido de conhecer o recurso interposto pela Contribuinte. Assinado Digitalmente André Mendes de Moura Fl. 4593DF CARF MF Processo nº 11516.002701/2010-70 Acórdão n.º 9101-002.397 CSRF-T1 Fl. 22 41 Voto Vencedor - CONHECIMENTO DO RECURSO ESPECIAL DA PFN Conselheiro Rafael Vidal de Araújo, Redator Designado. Não obstante as considerações do I. Relator, tão bem expostas ao Colegiado, peço vênia para divergir quanto ao entendimento apresentado sobre a admissibilidade do recurso da Fazenda Nacional, que votou para o seu não conhecimento. Veja como decidiu o acórdão recorrido. Ementa: MAJORAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO. A falta de apresentação à fiscalização dos arquivos magnéticos de que tratam os arts. 11 a 13 da Lei nº 8.218/91 não dá margem à majoração , em 50%, da multa de ofício aplicada, se em razão da ausência de escrituração contábil e fiscal, hábil a amparar a tributação do sujeito passivo com base no lucro real, este teve seu lucro arbitrado pela autoridade lançadora. Voto condutor (trecho que tratou da matéria): Protesta a recorrente que o aumento em 50% da multa imposta é incabível, posto que em nenhum momento a recorrrente deixou de responder as intimações apresentadas pela fiscalização . De fato, houve resposta a todas as intimações feitas pela fi scalização, de sorte que não prosperaria o agravamento da multa po r este motivo. Contudo, o agravamento aplicado pela fiscalização t eve também outro fundamento. Consta do Termo de Verificação Fiscal, às fls. 880 o seguinte, no item “8.3 – Do agravamento das multas”: “Conforme consta às fls. 131, deste processo e fls. 142 do Anexo II, o contribuinte não forneceu os arquivos magnéticos a que fora intimado pelo Termo de Início de Fiscalização e reintimado pelo Termo de Intimação 01/2009.” Tal assertiva em nenhum momento foi contraditada pe la recorrente, aliás, ao contrário, esta expressamente reconheceu, em ate ndimento à intimação fiscal, a impossibilidade técnica de apresentar os arquivos solicitados, conforme consta às fls. acima referidas. Confira-se o dispositivo legal que autoriza a majoração da multa nesses casos: Art. 44. ... ... § 2º As multas a que se referem os incisos I e II do caput passarão a ser de cento e doze inteiros e cinco décimos por cento e duzentos e vinte e cinco por cento, respectivamente, nos casos de não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para: I - prestar esclarecimentos; II - apresentar os arquivos ou sistemas de que tratam os arts. 11 a 13 da Lei nº 8.218, de 29 de agosto de 1991, com as alterações introduzidas pelo art. 62 da Lei nº 8.383, de 30 de dezembro de 1991; Fl. 4594DF CARF MF 42 Portanto, justificada estaria também a majoração da multa aplicada. Contudo, nos debates ocorridos em sessão, restei convencido por meus pares de que, em casos como o presente — em que a apresentação dos arquivos magnéticos em questão em nada alteraria o lançament o afinal efetuado, que se operou sob a forma do lucro arbitrado — não se j ustifica a majoração da multa em 50% . Tal entendimento, ao que consta, já teria sido manifestado pela própria Câmara Superior de Recursos Fiscais, cuja função precípua é justamente uniformizar a jurisprudência das câmaras baixas a respeito da correta interpretação da lei tributária. O lançamento da multa agravada ocorreu pela prática de duas condutas distintas: 1ª) não prestar esclarecimentos; e 2ª) não apresentação de arquivos magnéticos. Essas condutas foram previstas em dispositivos distintos, conforme visto da transcrição legal feita pelo relator do acórdão recorrido. Dessa forma, não se sustenta a aplicação da Súmula CARF nº 96, pois “a falta de apresentação de livros e documentos da escrituração” somente pode ser entendida como enquadrada na conduta “não prestar esclarecimentos”. Ademais, há um elemento nesta súmula que claramente não foi atendido: “por si só”. Obviamente, se no caso concreto houve uma segunda conduta (qual seja, a não apresentação de arquivos magnéticos), então não há que se falar em falta de apresentação de livros de documentos da escrituração por si só. Súmula CARF nº 96: A falta de apresentação de livros e documentos da escrituração não justifica, por si só , o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros. Não obstante, os paradigmas apresentados pela Fazenda Nacional, em sede do recurso especial, quais sejam o Acórdão nº 202-18.390 e o Acórdão nº 101-93.365, não trataram do agravamento da multa quando os arquivos magnéticos deixam de ser apresentados. Daí, portanto, na ausência de divergência quanto ao agravamento por falta de apresentação de arquivos magnéticos, em razão dos paradigmas não tratarem desse enquadramento legal, não se pode conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional para se discutir essa conduta, no âmbito do agravamento da multa de ofício. Entretanto, quanto ao que se deve entender por prestação de esclarecimentos, há de fato divergência jurisprudencial, pois os paradigmas entenderam que a falta de apresentação de notas fiscais e extratos bancários consiste em não atendimento à intimação para prestar esclarecimentos, enquanto o recorrido entendeu que não se configura não atendimento à intimação para prestar esclarecimentos quando o contribuinte responde às intimações, mesmo que não apresente livros e documentos da escrituração. Pelo exposto, o Recurso Especial da Fazenda Nacional deve ser parcialmente conhecido, de forma a se pacificar a divergência de interpretação quanto à expressão “prestar esclarecimentos”, adotada pelo parágrafo 2º do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Fl. 4595DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11050.002621/2006-52
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Dec 13 00:00:00 UTC 2016
Ementa: IMPOSTO SOBRE A EXPORTAÇÃO - IE
Data do fato gerador: 20/07/2001 a 28/12/2001
DEPÓSITO INTEGRAL. CONVERSÃO EM RENDA. RECURSO SEM
OBJETO.
Se os valores objeto de depósito judicial, após o trânsito em julgado do
mandado de segurança, foi convertido em renda e acerca de sua
tempestividade e integralidade não se opôs a Fazenda Nacional, o crédito
tributário está extinto, nos termos do que preceitua o art. 156, VI, do CTN.
Extinto o crédito tributário, o recurso perdeu seu objeto, pelo que dele não há
o que ser conhecido.
Recurso voluntário não conhecido.
Numero da decisão: 3402-003.656
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, por não se tomar conhecimento do Recurso Voluntário por falta de objeto, uma vez que a conversão em renda dos depósitos extinguiu o débito lançado no auto de infração. Vencidos os Conselheiros Maysa
de Sá Pittondo Deligne e Thais de Laurentiis Galkowicz, que conheceram do recurso e deram provimento. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro acompanhou a relatora pelas conclusões.
Designado o Conselheiro Jorge Freire
Nome do relator: MAYSA DE SA PITTONDO DELIGNE
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DEPÓSITO JUDICIAL. Recorrente INDUSTRIA DE PELES PAMPA LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: I MPOSTO SOBRE A EXPORTAÇÃO - IE Data do fato gerador: 20/07/2001 a 28/12/2001 DEPÓSITO INTEGRAL. CONVERSÃO EM RENDA. RECURSO SEM OBJETO. Se os valores objeto de depósito judicial, após o trânsito em julgado do mandado de segurança, foi convertido em renda e acerca de sua tempestividade e integralidade não se opôs a Fazenda Nacional, o crédito tributário está extinto, nos termos do que preceitua o art. 156, VI, do CTN. Extinto o crédito tributário, o recurso perdeu seu objeto, pelo que dele não há o que ser conhecido. Recurso voluntário não conhecido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, por não se tomar conhecimento do Recurso Voluntário por falta de objeto, uma vez que a conversão em renda dos depósitos extinguiu o débito lançado no auto de infração. Vencidos os Conselheiros Maysa de Sá Pittondo Deligne e Thais de Laurentiis Galkowicz, que conheceram do recurso e deram provimento. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro acompanhou a relatora pelas conclusões. Designado o Conselheiro Jorge Freire. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim - Presidente. Fl. 237DF CARF MF 2 (Assinado com certificado digital) Maysa de Sá Pittondo Deligne - Relatora. (Assinado com certificado digital) Jorge Freire - Redator Designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório Trata-se de Recurso Voluntário interposto em face do Acórdão n.º 07-15.294 da Delegacia de Julgamento de Florianópolis/SC, que manteve parcialmente o Auto de Infração objeto do presente processo, no qual se exige o recolhimento pelo ora Recorrente dos valores de Imposto de Exportação devidos em operações de exportação de couro incorridas entre 20/07/2001 a 28/12/2001. Segundo o Termo de Verificação Fiscal, os valores autuados estariam com a exigibilidade suspensa em razão de liminar concedida nos autos do Mandado de Segurança n.º 2001.71.01.001072-2 (principais peças às fls. 131/151), razão pela qual foi autuado somente o valor do tributo acrescido de juros. Em sua impugnação, a ora Recorrente informou que os valores autuados estavam integralmente depositados, trazendo aos autos as guias de depósito às fls. 153/184, requerendo, por conseguinte, o cancelamento integral da cobrança vez que os créditos tributários já foram devidamente constituídos pelos depósitos. Subsidiariamente, pleiteou a exclusão do valor dos juros de mora indevidamente cobrados e a realização de ajustes no cálculo do tributo realizado pela fiscalização. À esta defesa foi dado parcial provimento pelo Acórdão recorrido, para a exclusão do valor dos juros de mora e para o ajuste dos cálculos do tributo, mantendo o valor do tributo. Este julgado foi proferido nos seguintes termos: "ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 20/07/2001 a 28/12/2001 IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO. OPÇÃO PELA VIA JUDICIAL. IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO. A propositura pelo contribuinte, contra a Fazenda, de ação judicial, com o mesmo objeto da autuação, importa renúncia as instancias administrativas de julgamento. Devem ser excluídos da exigência os valores indevidamente computados no calculo do valor inscrito no auto de infração. NULIDADE. O depósito judicial da quantia exigida, conquanto afaste a incidência dos juros moratórios e mantenha suspensa a exigibilidade do crédito tributário em Fl. 238DF CARF MF Processo nº 11050.002621/2006-52 Acórdão n.º 3402-003.656 S3-C4T2 Fl. 238 3 questão até o transito em julgado de ação judicial de autoria da autuada, não representa impedimento para o lançamento, cuja inocuidade decorre da lei. Lançamento Procedente em Parte (...) Em outras palavras, segundo as disposições legais vigentes, não se opera a decadência de créditos tributários cujo montante tenha sido objeto de depósito e cuja exigibilidade esteja suspensa em razão de medida judicial. Em face, pois, do caráter facultativo atribuído ao presente lançamento, é de se reconhecer a inocuidade de seus efeitos, sobretudo relativamente A. prevenção da decadência do crédito tributário nele inscrito. Não decorrendo dessa circunstância a nulidade requerida pela impugnante, rejeito a preliminar por ela argüida. (...) Relativamente aos apontados equívocos cometidos na quantificação da exação, anote-se que seu esclarecimento está dificultado pela impossibilidade de se relacionar os valores consignados, data a data, As fls. 03 a 07, com os extratos dos registros de exportações integrantes das fls. 25 a 111. Todavia, apesar desse comprometimento, as provas carreadas aos autos pela impugnante, especificamente a cópia dos documentos de arrecadação, permitem a inferência de que a adição 001 do registro de exportação n° 01/1339773 foi objeto da retificação apontada pela impugnante; de que o valor de US$ 10.678,08 não poderia ser convertido em reais para R$ 241.113,33, mas sim para R$24.113,33, e de que não há correspondência entre os REs indicados na autuação com os valores tributáveis de R$ 24.620,65 e R$ 24.293,65, referentes aos fatos geradores ocorridos em 17 e 18 de setembro de 2001, respectivamente. Em razão dessas inexatidões, deve ser excluído da exigência o valor de R$ 19.530,00, correspondente ao Imposto de Importação inscrito na peça acusatória. Por força dos depósitos judiciais efetuados, deve igualmente ser excluído do crédito tributário o valor lançado a titulo de juros moratórios. Posto isso e observadas as disposições constantes do Ato Declaratório Normativo Cosit n° 3, de 1996, deve ser declarada a definitividade de parte do Imposto de Exportação inscrito no auto de infração, no valor de R$ 1.190.348,58." (fl. 196/199) Intimada desta decisão em 20/03/2009 (fl. 201), a ora Recorrente apresentou em 03/04/2009 o Recurso Voluntário sob análise (fls. 203/206), no qual requer o cancelamento integral do lançamento por inexistir fundamento legal para a manutenção do valor do imposto como o feito pela autoridade de primeira instância. Isso porque o art. 63 da Lei n.º 9.430/96, no qual se respaldou a fiscalização, não traz menção à hipótese dos autos de realização de depósito integral (art. 151, II, do CTN), mas apenas das hipóteses de liminar ou tutela antecipada (art. 151, IV e V, do CTN). Em 29/03/2012, o Chefe da SARAC apresentou petição e documentos de fls. 207/228 nos presentes autos, dos quais é possível denotar que os valores em discussão foram convertidos em renda na ação judicial, já baixada desde 13/05/2011. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Relatora Maysa de Sá Pittondo Deligne Fl. 239DF CARF MF 4 Comprovada a tempestividade do Recurso Voluntário, entendo que lhe deve ser dado integral provimento, para o cancelamento da exigência fiscal remanescente. Com efeito, o lançamento de ofício de débitos com exigibilidade suspensa somente é autorizada no art. 63 da Lei n.º 9.430/96 para as hipóteses de suspensão previstas nos incisos IV e V do art. 151 do Código Tributário Nacional (CTN), quais sejam, respectivamente, "a concessão de medida liminar em mandado de segurança" e " a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial". A redação do referido dispositivo legal é clara: "Débitos com Exigibilidade Suspensa Art. 63. Na constituição de crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributo de competência da União, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá lançamento de multa de ofício. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001) § 1º O disposto neste artigo aplica-se, exclusivamente, aos casos em que a suspensão da exigibilidade do débito tenha ocorrido antes do início de qualquer procedimento de ofício a ele relativo. (Vide Medida Provisória nº 75, de 2002) § 2º A interposição da ação judicial favorecida com a medida liminar interrompe a incidência da multa de mora, desde a concessão da medida judicial, até 30 dias após a data da publicação da decisão judicial que considerar devido o tributo ou contribuição. (Vide Medida Provisória nº 75, de 2002)" (grifei) Esta é a única autorização legal para a exigência, por lançamento de ofício, de tributos com a exigibilidade suspensa, dispositivo este no qual, inclusive, se respaldou a fiscalização para a realização do presente lançamento. Desta forma, a hipótese dos presentes autos, no qual foi realizado o depósito integral das parcelas em discussão (art. 151, II, do CTN), não se enquadra na previsão legal que autoriza o lançamento. Nesse sentido, atesta-se a inexistência de fundamento legal para o presente Auto de Infração, carecendo-lhe de requisito essencial de validade na forma do art. 10, IV, do Decreto n.º 70.235/72 e do art. 39, IV, do Decreto n.º 7.574/2011, devendo ser reconhecida sua nulidade e cancelada a exigência fiscal remanescente. Insta mencionar que essa ausência de fundamento legal para o lançamento de ofício nos casos de depósito judicial não prejudica de qualquer forma o Erário. Isso porque, como reconhece de forma pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o depósito judicial do montante integral de tributo sujeito ao lançamento por homologação constitui o crédito tributário, equivalendo-se a um lançamento (confissão de dívida/lançamento de ofício). É o que se depreende, a título ilustrativo, dos seguintes julgados daquela Corte, em entendimento igualmente aplicado no âmbito desta Corte Administrativa 1 : "TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - PRESCRIÇÃO - INEXISTÊNCIA - DEPÓSITO - CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO - LEVANTAMENTO INDEVIDO - EXIGIBILIDADE - TERMO A QUO. 1. O depósito do crédito tributário equivale ao lançamento tributário para fins de constituição da dívida. Precedentes. 2. O levantamento indevido de depósito judicial autoriza a cobrança da quantia percebida, no prazo de prescrição de 5 anos, contados da data da 1 Vide: Processo 11052.000872/2010-69, Acórdão 1402-001.570, Publicado: 18/06/2014 Fl. 240DF CARF MF Processo nº 11050.002621/2006-52 Acórdão n.º 3402-003.656 S3-C4T2 Fl. 239 5 extinção do depósito. 3. Inexistência de prescrição se o ajuizamento ocorreu 3 anos após o levantamento indevido do depósito. 4. Recurso especial não provido." (STJ, Recurso Especial n.º 1216466/RS, Rel. Des. Conv. Diva Malerbi, Segunda Turma, DJe 04/12/2014 - grifei) "TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. DEPÓSITO JUDICIAL. LANÇAMENTO FORMAL PELO FISCO. DESNECESSIDADE. AUSÊNCIA DE DECADÊNCIA. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. 1. Segundo a jurisprudência predominante neste STJ, no caso de tributos sujeitos a lançamento por homologação, o contribuinte, ao realizar o depósito judicial com vistas à suspensão da exigibilidade do crédito tributário, promove a constituição deste nos moldes do que dispõe o art. 150 e parágrafos do CTN, não havendo que se falar em decadência do direito do Fisco de lançar. Precedentes da Primeira Seção: EREsp 464.343/DF, Rel. Min. José Delgado, DJ de 29.10.2007; EREsp 898.992/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 27.8.2007; EREsp. n. 671.773-RJ, Primeira Seção, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23.6.2010. 2. Ressalva de entendimento do relator para quem o depósito judicial não tem a eficácia de constituir o crédito tributário. 3. Recurso especial não provido." (STJ, REsp 1008788/CE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 25/10/2010 - grifei) Ademais, concluída a discussão judicial e não tendo o contribuinte logrado êxito, os valores depositados são integralmente convertidos em renda da União Federal, conforme determinado pelo art. 1º, § 3º, III, da Lei n.º 9.703/1998 2 , como hipótese de extinção do crédito tributário (art. 156, VI, do CTN). Inclusive, foi isto o que ocorreu no presente caso, reforçando a necessidade de cancelamento da presente autuação. Como informado nos presentes autos às fls. 207/228, com a conclusão da discussão judicial, que transitou em julgado de forma contrária aos 2 "Art. 1º Os depósitos judiciais e extrajudiciais, em dinheiro, de valores referentes a tributos e contribuições federais, inclusive seus acessórios, administrados pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda, serão efetuados na Caixa Econômica Federal, mediante Documento de Arrecadação de Receitas Federais - DARF, específico para essa finalidade. (...) § 3º Mediante ordem da autoridade judicial ou, no caso de depósito extrajudicial, da autoridade administrativa competente, o valor do depósito, após o encerramento da lide ou do processo litigioso, será: I - devolvido ao depositante pela Caixa Econômica Federal, no prazo máximo de vinte e quatro horas, quando a sentença lhe for favorável ou na proporção em que o for, acrescido de juros, na forma estabelecida pelo § 4º do art. 39 da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e alterações posteriores; ou II - transformado em pagamento definitivo, proporcionalmente à exigência do correspondente tributo ou contribuição, inclusive seus acessórios, quando se tratar de sentença ou decisão favorável à Fazenda Nacional." Fl. 241DF CARF MF 6 interesses da ora Recorrente, os valores foram convertidos em renda da União, com a correspondente baixa do processo judicial. Assim, os valores objeto do Auto de Infração sob análise já se encontram definitivamente extintos com a conversão em renda, na forma do art. 156, VI, do CTN. Esse fato denota o descabimento de lançamentos como o presente, pelo qual foi constituído crédito tributário já constituído pelo depósito judicial integral. Diante do exposto, voto por dar provimento ao Recurso Voluntário para anular o Auto de Infração e cancelar a exigência fiscal remanescente. É como voto. Relatora Maysa de Sá Pittondo Deligne Voto Vencedor Conselheiro Jorge Freire Com as vênias de praxe, divirjo da insigne relatora. Ocorre que a mesma ao dar provimento ao recurso, por decorrência lógica conheceu do mesmo. E para que se conheça do recurso, cediço que seus pressupostos devem estar atendidos. Um deles é que o recurso tenha objeto, ou seja, que haja crédito tributário e que acerca dele haja controvérsia. Não é o que ocorre no presente caso, pois como bem relatado pela Dra. Maysa, consoante informação fiscal da unidade local da RFB datada de 26/03/2012, os valores que haviam sido depositados em renda no referido Mandado de Segurança n.º 2001.71.01.001072-2 (fls. 131/151), no qual a empresa sucumbiu em todas instâncias, mesmo em sede de Extraordinário (fl. 229), foram convertidos em renda da União, conforme despacho da Vara de origem, em 27/09/2010 (fl. 231). Ou seja, o lançamento foi levado a efeito com o escopo de prevenir o Erário federal dos efeitos da decadência. E tenho plena convicção, uma vez inconteste pela RFB a integralidade e tempestividade dos depósitos convertidos em renda, que o crédito tributário está extinto, nos termos do que preceitua o art. 156, VI, do CTN. Em assim sendo, o recurso perdeu seu objeto, pelo que não deve ser conhecido. Ante o exposto, não conheço do recurso voluntário. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire Fl. 242DF CARF MF Processo nº 11050.002621/2006-52 Acórdão n.º 3402-003.656 S3-C4T2 Fl. 240 7 Fl. 243DF CARF MF
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Numero do processo: 13707.001967/2007-88
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Apr 07 00:00:00 UTC 2010
Ementa: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte- Simples
Ano-calendário: 2004
Ementa: SIMPLES - VEDAÇÃO DE ENQUADRAMENTO - ATIVIDADE CONSTANTE NO CONTRATO SOCIAL MAS NÃO EXERCIDA - O registro, no contrato social, de atividade impeditiva, juntamente com outras não impeditivas, possibilita a opção e a permanência no Simples desde que a interessada exerça, exclusivamente, as atividades não vedadas.
Numero da decisão: 1103-000.161
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, DAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado.Vencido o Conselheiro Mário Sérgio Fernandes Barroso
Nome do relator: Gervasio Nicolau Recktenvald
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ementa_s : Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte- Simples Ano-calendário: 2004 Ementa: SIMPLES - VEDAÇÃO DE ENQUADRAMENTO - ATIVIDADE CONSTANTE NO CONTRATO SOCIAL MAS NÃO EXERCIDA - O registro, no contrato social, de atividade impeditiva, juntamente com outras não impeditivas, possibilita a opção e a permanência no Simples desde que a interessada exerça, exclusivamente, as atividades não vedadas.
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Numero do processo: 19311.720411/2011-09
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Aug 25 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Sep 30 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Ano-calendário: 2009, 2010
CONHECIMENTO. VALORAÇÃO DE PROVAS SUPOSTAMENTE DECORRENTES DA MESMA SITUAÇÃO FÁTICA.
Em se tratando do acórdão recorrido e do(s) paradigmas de mesma situação fática com caracterizada identidade probatória, é de se conhecer do feito, sob pena de se possibilitar a manutenção de decisões definitivas conflitantes em sede administrativa diante de idêntico suporte fático-probatório.
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS. CESSÃO DE MÃO-DE-OBRA. AUSÊNCIA DE PROVAS. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS. RETENÇÃO.
Nos contratos administrativos de concessão de serviço público de transporte coletivo de passageiros o particular executa em seu nome, por sua conta e risco, o serviço delegado. Assim, inexistindo provas de que a Administração Pública exercia qualquer interferência direta nos serviços desempenhados pelos trabalhadores contratados, descaracterizado está o conceito de cessão de mão-de-obra para fins de aplicação da retenção prevista no art. 31 da Lei nº 8.212/91.
Recurso Especial do Procurador Negado.
Numero da decisão: 9202-004.399
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional, vencidos os conselheiros Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri (relatora), Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes e Gerson Macedo Guerra, que não o conheceram, e, no mérito, por unanimidade de votos, em negar-lhe provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Maria Helena Cotta Cardozo, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Heitor de Souza Lima Junior e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (presidente em exercício). Designado para redigir o voto vencedor quanto ao conhecimento o conselheiro Heitor de Souza Lima Junior.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri - Relatora
(assinado digitalmente)
Heitor de Souza Lima Junior - Redator designado
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
Nome do relator: RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI
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CESSÃO DE MÃO DE OBRA. RETENÇÃO Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado SÃO PAULO SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTES ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Anocalendário: 2009, 2010 CONHECIMENTO. VALORAÇÃO DE PROVAS SUPOSTAMENTE DECORRENTES DA MESMA SITUAÇÃO FÁTICA. Em se tratando do acórdão recorrido e do(s) paradigmas de mesma situação fática com caracterizada identidade probatória, é de se conhecer do feito, sob pena de se possibilitar a manutenção de decisões definitivas conflitantes em sede administrativa diante de idêntico suporte fáticoprobatório. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS. CESSÃO DE MÃO DEOBRA. AUSÊNCIA DE PROVAS. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS. RETENÇÃO. Nos contratos administrativos de concessão de serviço público de transporte coletivo de passageiros o particular executa em seu nome, por sua conta e risco, o serviço delegado. Assim, inexistindo provas de que a Administração Pública exercia qualquer interferência direta nos serviços desempenhados pelos trabalhadores contratados, descaracterizado está o conceito de cessão de mãodeobra para fins de aplicação da retenção prevista no art. 31 da Lei nº 8.212/91. Recurso Especial do Procurador Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional, vencidos os conselheiros Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri (relatora), Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes e Gerson Macedo Guerra, que não o conheceram, e, no mérito, por unanimidade de votos, em negarlhe provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Maria Helena Cotta Cardozo, Elaine Cristina Monteiro e AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 31 1. 72 04 11 /2 01 1- 09 Fl. 1029DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS 2 Silva Vieira, Heitor de Souza Lima Junior e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (presidente em exercício). Designado para redigir o voto vencedor quanto ao conhecimento o conselheiro Heitor de Souza Lima Junior. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício (assinado digitalmente) Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri Relatora (assinado digitalmente) Heitor de Souza Lima Junior Redator designado Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Fl. 1030DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS Processo nº 19311.720411/201109 Acórdão n.º 9202004.399 CSRFT2 Fl. 1.030 3 Relatório Tratase de auto de infração lavrado contra o Município de São Paulo, por meio do qual exigese o recolhimento da Contribuição Previdenciária prevista no art. 31, §3º da Lei nº 8.212/91, com redação dada pela Lei nº 9.711/98, c/c o art. 219, §2º, inciso XIX do regulamento da Previdência, aprovado pelo Decreto nº 3.048/99, caracterizada pela retenção de 11% sobre o valor do documento fiscal emitido em razão da prestação de serviço de transporte público de passageiros. O entendimento do fiscal foi no sentido de os serviços prestados pelas empresas contratadas mediante contrato administrativo de concessão de serviço público, regido pelas Leis nº 8.666/93 e 8.987/95, caracterizam verdadeira cessão de mãodeobra em favor da municipalidade e como tal estariam sujeitos a retenção da citada contribuição. O lançamento foi lavrado também contra a concessionária prestadora do serviço, classificada como responsável solidária da obrigação tributária. Em sede de Impugnação a Prefeitura Municipal de São Paulo defende que no caso em tela inexiste cessão de mãodeobra. Estaríamos diante de prestação de serviço público de transporte à população por meio de concessionários, os quais recebem como contrapartida as tarifas pagas pelos usuários os verdadeiros tomadores do serviço, portanto não haveria fato gerador do tributo. Argumenta que se quer foi feita a verificação se houve o devido recolhimento da contribuição pela empresa prestadora do serviço. A empresa solidária, entre outros argumentos, reforça o entendimento de inexistir fato gerador ensejador da retenção, tece esclarecimentos acerca das diferenças de concessão de serviço público e mera prestação de serviço ao Poder Público, afirma ter efetuado o recolhimento da totalidade da Contribuição Previdenciária incidente sobre a folha de pagamento dos funcionários vinculados ao contrato administrativo, defende a inexistência de solidariedade e questiona a base de cálculo apurada. A Delegacia de Julgamento acolhendo os argumentos das Impugnantes julgou procedente as impugnações. Para o colegiado nos contratos de concessão de serviço publico nos moldes do ora discutido não há cessão de mãodeobra. Expôs, por meio de um verdadeiro tratado, que não tendo sido configurada a cessão de mãodeobra, assim entendida a colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a sua atividade fim, não há que se falar em obrigação de reter e recolher à previdência social a importância correspondente a 11% do valor da nota fiscal ou fatura emitida pela empresa contratada. Afastou ainda, expressamente, ad argumentandum tantum, a solidariedade passiva. Em recurso de ofício o Colegiado a quo confirmou, sem qualquer ressalva a decisão da Delegacia de Julgamento. Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional citando acórdão paradigma que segundo ela trataria de situação fática exatamente idêntica a do acórdão recorrido, mudando apenas a empresa contratada. Naquela oportunidade o colegiado entendeu estar caracterizada a cessão de mão obra na prestação de serviço de transporte urbano de passageiros no Município de São Paulo. Fl. 1031DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS 4 Foram apresentadas contrarrazões reiterando os argumentos da peça de impugnação e requerendo a manutenção da decisão recorrida por seus próprios fundamentos. É o relatório. Fl. 1032DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS Processo nº 19311.720411/201109 Acórdão n.º 9202004.399 CSRFT2 Fl. 1.031 5 Voto Vencido Conselheira Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri Relatora Da delimitação da lide: Apenas à título de esclarecimento destaco que o Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional insurgiuse apenas contra a parte da decisão que julgou o lançamento improcedente em razão da não caracterização da cessão de mãodeobra. Tanto a decisão da Delegacia de Julgamento quanto o acórdão recorrido, apesar de afastarem a ocorrência do fato gerador abordaram a questão da responsabilidade tributária e em ambas decisões concluise pela inaplicabilidade do instituto ao presente processo. Tal conclusão não foi objeto do recurso. Reforça as explicações acima o fato de o acórdão paradigma, apesar de ter concluído pela existência da cessão de mãodeobra, ter decido no sentido de inexistir solidariedade passiva entre a Prefeitura de São Paulo e a empresa cessionária do serviço de transporte. Também no entendimento daquele colegiado o "comando contido no inciso I do artigo 124 do CTN, que prevê a responsabilidade daqueles que têm interesse comum na ocorrência do fato gerador, não se aplica às hipóteses de contratação de serviços prestados mediante cessão de mãodeobra, pois a lei é clara ao delimitar a responsabilidade exclusiva do contratante (art. 31 c.c. art. 33, § 5°, da Lei n° 8.212/91)". Do conhecimento do recurso: Analisando o teor da decisão recorrida, do Recurso Especial e do acórdão apontado com paradigma, julgo pertinente haver uma reavaliação do juízo de admissibilidade da peça recursal. A Fazenda Nacional ao interpor seu recurso, afirma que a decisão recorrida, na parte em que considerou que os serviços de transporte coletivo público de passageiros noticiados nos autos não foram executados mediante cessão de mãodeobra, divergiu do entendimento dado ao Acórdão nº 2302003.083 da 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária. Para a recorrente "a situação fática trazida no acórdão paradigma é exatamente idêntica à do acórdão recorrido, qual seja, caracterização de cessão de mãodeobra na prestação de serviço de transporte urbano de passageiros no Município de São Paulo, mudando apenas a empresa contratada". Lembramos que o recurso é baseado no art. 67, do Regimento Interno (RICARF), o qual define que caberá recurso especial de decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria Câmara Superior de Recursos Fiscais. Fl. 1033DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS 6 No presente caso, ambas decisões recorrida e paradigma possuem o mesmo entendimento acerca da legislação, qual seja, é cabível a retenção de 11% sobre o valor do documento fiscal emitido em contratos administrativos que envolvem transporte coletivo de passageiros desde que fique configura cessão de mãodeobra. Percebese, portanto, que o objetivo do recurso interposto é na verdade a realização da revisão do juízo de valor exercido pelos julgadores da turma a quo, fato que conforme já me manifestei em outras ocasiões deveria ser suficiente para ensejar o não conhecimento do recurso. De toda forma, conhecendo o entendimento majoritário deste colegiado faço também outro apontamento que a meu ver nos leva a mesma conclusão. Segundo se depreende do relatório do acórdão paradigma o contrato objeto daquele lançamento, apesar de possuir traços semelhantes com o contrato ora discutido, possui uma especificidade: tratase de contrato de prestação de serviço, não submetido a processo de licitação e firmado única e exclusivamente para atender demanda emergencial da Municipalidade. E para chegar a minha conclusão cito parte do voto do Conselheiro André Luís Mársico Lombardi, relator do acórdão paradigma: Compatibilidade entre Cessão de Mãodeobra e Concessão. Natureza Jurídica do Contrato. Nomen Iuris. Conceitos Doutrinários x Realidade dos Autos. Da análise dos autos, destacase, de largada, que importa muito pouco, para o presente voto, a forma de contratação dos serviços, se mediante delegação, nas suas formas de permissão e concessão; ou por intermédio de mero contrato administrativo de prestação de serviço. Importanos, muito mais, como, efetivamente, foram cumpridas as obrigações das partes, se mediante cessão de mão deobra ou não. (grifei) Ora, se nos dois processos estivéssemos diante de contratos administrativos de concessão de serviço público derivados do mesmo certame licitatório, poderíamos até supor que ambos seriam iguais, ou pelo menos semelhantes, não havendo qualquer variação substancial em suas cláusulas capaz de afastar o entendimento daquele colegiado caso o presente processo o fosse submetido. Ocorre que pelas circunstâncias fáticas que envolveram a celebração do contrato analisado pelo acórdão paradigma e a respectiva prestação do serviço (atendimento a uma situação emergencial), apesar da semelhança exposta pelo relatório, não tenho segurança em afirma que estamos diante de instrumentos com conteúdos análogos e cujos serviços foram prestados segundo as mesmas regras. Importante mencionar ainda o fato de (após o exame de admissibilidade) ter ocorrido a reforma do acórdão paradigma, tendo essa Câmara Superior em sua composição anterior e por unanimidade dos votos, concluído pela não configuração da "cessão de mãode obra determinada na Lei 8.212/1991 (colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços), mas sim a prestação de serviço determinado, em que o prestador assume o risco da atividade econômica, motivo do cancelamento do lançamento e do conseqüente provimento do recurso do contribuinte citado." Diante do exposto voto pelo não conhecimento do recurso especial interposto pela Fazenda Nacional. Fl. 1034DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS Processo nº 19311.720411/201109 Acórdão n.º 9202004.399 CSRFT2 Fl. 1.032 7 Do mérito: Vencida quanto ao conhecimento, passo a me manifestar quanto ao mérito do recurso o qual, conforme acima esclarecido, limitase a discutir se há nos autos elementos suficientes para caracterizar como cessão de mãodeobra a prestação de serviço público de transporte de passageiros contratado mediante contrato administrativo de concessão de serviço público. E neste aspecto comungo do entendimento externado pela decisão da Delegacia Fiscal e também do colegiado a quo para os quais inexiste provas quanto a ocorrência da cessão de mãodeobra haja vista a ausência de caracterização de um dos elementos essenciais: colocação do segurados empregados da contratada à disposição da contratante. A obrigação dos tomadores de serviços de cessão de mãodeobra de reterem 11% sobre as faturas e notas fiscais correspondentes está prevista no art. 31 da lei nº 8.212/91, com a seguinte redação: Art. 31. A empresa contratante de serviços executados mediante cessão de mãodeobra, inclusive em regime de trabalho temporário, deverá reter 11% (onze por cento) do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e recolher, em nome da empresa cedente da mãodeobra, a importância retida até o dia 20 (vinte) do mês subsequente ao da emissão da respectiva nota fiscal ou fatura, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia, observado o disposto no § 5o do art. 33 desta Lei. § 1o O valor retido de que trata o caput deste artigo, que deverá ser destacado na nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, poderá ser compensado por qualquer estabelecimento da empresa cedente da mãodeobra, por ocasião do recolhimento das contribuições destinadas à Seguridade Social devidas sobre a folha de pagamento dos seus segurados. § 2o Na impossibilidade de haver compensação integral na forma do parágrafo anterior, o saldo remanescente será objeto de restituição. § 3o Para os fins desta Lei, entendese como cessão de mãode obra a colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a atividadefim da empresa, quaisquer que sejam a natureza e a forma de contratação. § 4o Enquadramse na situação prevista no parágrafo anterior, além de outros estabelecidos em regulamento, os seguintes serviços: I limpeza, conservação e zeladoria; II vigilância e segurança; Fl. 1035DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS 8 III empreitada de mãodeobra; IV contratação de trabalho temporário na forma da Lei no 6.019, de 3 de janeiro de 1974. § 5o O cedente da mãodeobra deverá elaborar folhas de pagamento distintas para cada contratante. § 6o Em se tratando de retenção e recolhimento realizados na forma do caput deste artigo, em nome de consórcio, de que tratam os arts. 278 e 279 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, aplicase o disposto em todo este artigo, observada a participação de cada uma das empresas consorciadas, na forma do respectivo ato constitutivo. No caso do serviços de transporte de passageiros a obrigatoriedade da retenção está prevista no art. 219, §2º, XIX do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048/99: Art.219. A empresa contratante de serviços executados mediante cessão ou empreitada de mãodeobra, inclusive em regime de trabalho temporário, deverá reter onze por cento do valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços e recolher a importância retida em nome da empresa contratada, observado o disposto no § 5º do art. 216. §1º Exclusivamente para os fins deste Regulamento, entendese como cessão de mãodeobra a colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a atividade fim da empresa, independentemente da natureza e da forma de contratação, inclusive por meio de trabalho temporário na forma da Lei nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, entre outros. §2º Enquadramse na situação prevista no caput os seguintes serviços realizados mediante cessão de mãodeobra: ... XIX operação de transporte de passageiros, inclusive nos casos de concessão ou subconcessão; ... A leitura dos dispositivos acima revelam que só estará obrigado à retenção aquele que contrata a cessão de mãodeobra. Assim, na prática, em cada contrato administrativo de prestação de serviços em favor do Poder Público, deve ser observado se há o elemento caracterizador da cessão de mãodeobra, qual seja, se os empregados do cedente são postos à disposição do tomador dos serviços, à semelhança do que ocorre em uma relação de emprego. Ora, como exaustivamente esclarecido na decisão de primeira instância e na decisão recorrida, estamos diante de contrato administrativo de concessão de serviço público de prestação de transporte coletivo de passageiros. Tal contrato é regido pelas leis 8.666/93 e 8.987/95 sendo que essa em seu art. 2º, II, conceitua concessão de serviço publico como sendo a delegação de funções essenciais do estado à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado: Fl. 1036DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS Processo nº 19311.720411/201109 Acórdão n.º 9202004.399 CSRFT2 Fl. 1.033 9 O Doutrinador Hely Lopes Meirelles, na obra Direito Administrativo Brasileiro, 30ª edição, p. 370/371, esclarece que "serviços concedidos são todos aqueles que o particular executa em seu nome, por sua conta e risco, remunerados por tarifa, na forma regulamentar, mediante delegação contratual ou legal do Poder Público concedente. Serviço concedido é serviço do Poder Público, apenas executado por particular em razão da concessão". Os professores Roque Antonio Carrazza e Eduardo Domingos Bottallo (in Revista Dialética de Direito Tributária nº 169. p. 136), sintetizaram muito bem a diferença ora discutida: A cessão (ou locação) é espécie do gênero prestação de serviços e se configura quando esforço humano posto à disposição do contratante (tomador dos serviços) consiste na própria colocação da mãodeobra, para que este dela faça uso, segundo suas conveniências e necessidades. Por outro lado, pode haver a contratação de prestação de serviços mediante utilização de pessoal pertencente a quadro próprio do prestador, que se encarrega da respectiva execução, ou, em outras palavras, de dar cumprimento à assumida obrigação de fazer. Nestes casos, embora exista prestação de serviços, não há cessão de mãodeobra. Como vemos, o elemento diferenciador entre a prestação de serviço (gênero) e a cessão ou locação de mãodeobra (espécie) reside no seguinte: se não houver subordinação dos empregados ao contratante (tomador de serviços), não haverá cessão ou locação de mãodeobra, mas apenas prestação de serviço. Já pelo contrário, se a sujeição dos empregados às ordens do tomador do serviço for característica marcante do contrato, então, aí sim, haverá autêntica prestação de serviços mediante cessão ou locação de mãodeobra. Diante dessa premissa é possível afirmar com segurança que no caso concreto não houve cessão de mão de obra, afinal o objeto do contrato era exatamente a prestação de um serviço pelo particular e não a contratação de mão de obra pelo Município. Para Prefeitura de São Paulo não importava a forma como os segurados empregados da contratada iriam executar o serviço, esses trabalhavam sob a gerência da própria contratada, o que lhe importava era o produto final da prestação: transporte eficiente, contínuo e com segurança a todos os cidadãos. Na prática são poucos os contratos de concessão de serviço público celebrados pela Administração Pública em que esta interfere diretamente nos trabalhos desenvolvidos pelo particular contratado, na grande maioria dos casos o ente não exerce qualquer ato de coordenação direta sobre os trabalhos da empresa contratada. Em regra o Poder Público limitase a verificar o regular cumprimento do contrato nos termos em que fixado pelo edital e essa interferência indireta é decorrência lógica do fato de a concessão ser sempre feita no interesse da coletividade, e, assim sendo, o concessionário ter o dever de prestar o serviço em condições adequadas para o público. A própria Constituição Federal, art. 175, parágrafo único, prevê esse Poder Dever da Administração Pública de regulamentar e fiscalizar os contratos de concessão de serviços públicos, exigindo do legislador a edição de lei para dispor sobre (I) o regime das Fl. 1037DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS 10 empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; (II) os direitos dos usuários; (III) política tarifária; e (IV) a obrigação de manter serviço adequado. E aqui estamos falando da já citada Lei nº 8.987/95, cujo art. 23 traz quais são as cláusulas essenciais que devem constar dos contratos administrativos de concessão de serviço público: Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de concessão as relativas: I ao objeto, à área e ao prazo da concessão; II ao modo, forma e condições de prestação do serviço; III aos critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores da qualidade do serviço; IV ao preço do serviço e aos critérios e procedimentos para o reajuste e a revisão das tarifas; V aos direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da concessionária, inclusive os relacionados às previsíveis necessidades de futura alteração e expansão do serviço e conseqüente modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e das instalações; VI aos direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização do serviço; VII à forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos, dos métodos e práticas de execução do serviço, bem como a indicação dos órgãos competentes para exercêla; VIII às penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita a concessionária e sua forma de aplicação; IX aos casos de extinção da concessão; X aos bens reversíveis; XI aos critérios para o cálculo e a forma de pagamento das indenizações devidas à concessionária, quando for o caso; XII às condições para prorrogação do contrato; XIII à obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de contas da concessionária ao poder concedente; XIV à exigência da publicação de demonstrações financeiras periódicas da concessionária; e XV ao foro e ao modo amigável de solução das divergências contratuais. Mais uma vez tomando os ensinamentos do Administrativista Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Brasileiro, 30ª edição p. 379/380) ressaltamos: a "fiscalização do serviço concedido cabe ao Poder Público concedente, que é o fiador da sua regularidade e boa execução perante os usuários. Já vimos que serviços públicos e serviços de Fl. 1038DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS Processo nº 19311.720411/201109 Acórdão n.º 9202004.399 CSRFT2 Fl. 1.034 11 utilidade pública são sempre serviços para o público. Assim sendo, é dever do concedente exigir sua prestação em caráter geral, permanente, regular, eficiente e com tarifas módicas (art. 6º, §1º). Para assegurar esses requisitos, indispensáveis em todo serviço concedido, reconhecese à Administração Pública o direito de fiscalizar as empresas, com amplos poderes de verificação de sua administração, contabilidade, recursos técnicos, econômicos e financeiros, principalmente para conhecer a rentabilidade do serviço, fixar as tarifas e punir as infrações regulamentares e contratuais." A meu ver as cláusulas integrantes do contrato celebrado entre a Prefeitura de São Paulo, por meio de sua Secretaria Municipal de Transportes, e o particular prestador do serviço, que na visão da Fiscalização ajudaram a caracterizar a cessão de mão de obra, são cláusulas que visaram exclusivamente dar cumprimento a determinação legal. Vale citar: trajetos e horários das viagens, quantidade e qualidade dos recursos materiais e humanos empregados, forma de remuneração direta (tarifas) e indireta (receitas adicionais), entre outros. No mais, parece inexistir fundamento para a alegação de que teria ocorrido a cessão de mãodeobra pelo simples fato de que a empresa contratada deixou de contar com a força do labor dos profissionais 'cedidos', ou seja, esses não estariam disponíveis para realização de outro trabalho; por questão lógica uma mesma pessoa não pode, em um mesmo momento, desempenhar suas funções em dois locais distintos. Vale citar ainda, que inexistia no contrato qualquer cláusula de exclusividade de atuação de determinado funcionário. Portanto, não havia qualquer impedimento do trabalhador ser deslocado pelo particular para exercer outras funções, o que havia era o impedimento de que o serviço fosse interrompido, devendo a contratada diligenciar no sentido de haver a manutenção do número de funcionários suficientes para o seu fiel cumprimento do contrato. Destacase que entre cláusulas contratuais que tratavam de mãodeobra havia apenas a exigência de operar somente com pessoal devidamente capacitado e habilitado, mediante contratações regidas pelo direito provado e legislação trabalhista, assumindo todas as obrigações delas decorrentes, não se estabelecendo qualquer relação jurídica entre os terceiros contratados pelo operador e o Poder Público, e ainda a obrigação de apresentar, quando solicitado, a comprovação de regularidade das obrigações previdenciárias e para com o FGTS. O fato de haver previsão de serem estabelecidos critérios (cláusula 19.1.25) para realização dos descontos das parcelas da remuneração dos funcionários destinados ao pagamento do INSS, a meu ver, tratase de questões operacional necessária. Estamos diante de um mesmo serviço que visa atender usuários de todo o município, entretanto é prestado por pessoas jurídicas distintas. Para não haver tratamento desigual entre os funcionários contatados pelo particular, gerando conflitos que poderiam prejudicar a correta prestação do serviço em sua totalidade, era crível que se estabelecesse um tratamento padrão. No mais, importante citar que o art. 71 da Lei nº 8.666/93 deixa claro que a responsabilidade pelos 'encargos trabalhistas' é da empresa contratada, sendo o Poder Público solidário apenas nos casos do descumprimento das obrigações previdenciárias: Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato. Fl. 1039DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS 12 § 1o A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis. § 2o A Administração Pública responde solidariamente com o contratado pelos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato, nos termos do art. 31 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. E aqui julgo pertinente fazer uma consideração sobre a remissão ao art. 31 da Lei nº 8.212/91. Por ora tenho dúvidas se a intenção do legislador foi a de exigir dos entes públicos a retenção dos 11% sobre a prestação do serviço. Isso porque a redação do art. 71 da Lei nº 8.666/93 foi dada pela Lei nº 9.032/95, sendo que nessa época a redação do art. 31 da Lei nº 8.212/95 não trazia qualquer previsão de retenção, na verdade apenas afirmava nos termos do parágrafo segundo que a Administração Pública era responsável solidária com os contratantes em relação aos débitos previdenciários. A obrigação da retenção surge a primeira vez apenas em 1998, com redação dada ao art. 31 pela Lei nº 9.711. Por fim, apesar de não ser esse o entendimento da maioria deste colegiado, manifestome que deve ser considerado o fato de que a retenção cobrada nada mais é do que uma antecipação do valor devido à título de contribuição correspondente aos 20% sobre a remuneração paga aos segurados. Assim, mesmo que tenha sido descumprida a obrigação e mesmo que haja a presunção de retenção nos termos do art. 33, §5º da Lei nº 8.212/91, a meu ver, essa regra não legitima a cobrança em duplicidade do crédito tributário, ou seja, havendo prova de que a empresa contratada pagou corretamente o débito (como ocorre nos autos), seria inviável exigirse o correlato crédito do Poder Público. Diante do exposto, ausente qualquer prova capaz de caracterizar cessão de mão de obra, nego provimento ao recurso interposto pela Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri Fl. 1040DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS Processo nº 19311.720411/201109 Acórdão n.º 9202004.399 CSRFT2 Fl. 1.035 13 Voto Vencedor Heitor de Souza Lima Junior, Redator designado Com a devida vênia ao posicionamento esposado pela Relatora, ouso discordar quanto ao conhecimento do pleito. Inicialmente, admito já ter me posicionado no sentido de não estar contemplada na cognição desta instância a solução de divergências decorrentes de exclusiva divergente valoração probatória na instância ordinária, a qual deveria ser resolvida através do instituto processual da conexão entre feitos (vide, a propósito, Declaração de Voto no âmbito do Acórdão CSRF 9202004.252, de 22 de junho de 2016). Todavia, vislumbro necessidade de rever o referido posicionamento, especificamente no caso em que haja identidade fáticoprobatória nítida entre Acórdão recorrido e paradigma, de forma a que, uma vez também não mais se devendo declarar conexos os processos (recomendável somente a conexão até o momento da distribuição, agora, em meu entendimento), caso não se conheça do Recurso, possa se estar a referendar decisões definitivas conflitantes em termos de critério jurídico aplicado em casos com nítida identidade fático probatória. Explico melhor. Há casos em que, repitase, temse: a) Identidade fático probatória caracterizada entre os feitos recorrido e paradigma(s); b) As decisões de piso são conflitantes em termos do critério jurídico aplicado aos dois cenários fáticoprobatórios (idênticos para fins de aplicação da solução jurídica) e c) Não é mais recomendável que se declare, a esta altura, a conexão entre os feitos, visto que um deles ou ambos já foi objeto de distribuição, de forma a que, assim, reste priorizado por este Órgão o princípio do juiz natural e garantida, desta forma, a completa imparcialidade deste Conselho, objetivonúcleo de tal princípio. Em tal cenário (e somente neste cenário, onde presentes as três condições acima, de forma cumulativa) entendo que, a fim de evitar a insegurança jurídica que adviria da prolação, por este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, de duas soluções jurídicas distintas, de caráter definitivo, diante de idênticos arcabouços fáticoprobatórios, deva se debruçar também esta Câmara Superior, aqui, sobre o Recurso Especial admitido, buscandose, assim, que se tenha, no âmbito deste CARF, decisões jurídicas uniformes acerca de um mesmo tema, quando considerados idênticos cenários fáticoprobatórios. Feita tal digressão e atendome especificamente agora ao caso em concreto, novamente com a devida vênia ao entendimento esposado pela Relatora, vislumbro clara identidade entre as situações fáticas dos Acórdãos recorrido e paradigma e também entre os contratos utilizados para fins de contratação do transporte público de passageiros sob análise nos feitos recorrido e paradigmático, não interferindo, em meu entendimento, para fins de análise da caracterização ou não do instituto de cessão de mão de obra (cerne do caso em questão), nem o nomen juris do contrato e nem a modalidade sob o qual foi realizado (mesmo certame licitatório ou não), sendo relevante, sim, a meu ver, a coincidência entre as cláusulas contratuais de interesse para análise do instituto, de forma a ter restado caracterizada, assim, a identidade fáticoprobatória supramencionada. Fl. 1041DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS 14 Destarte, diante de tal cenário, em que pese meu entendimento anteriormente manifestado acerca do limite de cognição desta Turma estar limitada a solução de divergências de natureza exclusivamente interpretativa, curvome, aqui, uma vez, repitase, caracterizada as divergentes decisões de piso em cenários fáticoprobatórios idênticos para fins de caracterização do instituto de cessão de mão de obra, e, também repetindo, uma vez não mais recomendável a reunião dos feitos por conexão a esta altura (há feito distribuído já em julgamento), à necessidade de se conhecer do pleito fazendário, sob pena de se estar a promover grave insegurança jurídica pela possibilidade de manutenção, por este CARF, de decisões administrativas definitivas conflitantes, sem que se caracterize, entre os diferentes casos, dessemelhança suficiente, seja quanto à situação fática, seja quanto aos elementos de prova relevantes para a decisão do feito. Assim, voto por conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional. É como voto. (assinado digitalmente) Heitor de Souza Lima Junior Fl. 1042DF CARF MF Impresso em 30/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por RITA ELIZA REIS DA COSTA BACCHIERI, Assinado digitalmente em 23/09/2016 por HEITO R DE SOUZA LIMA JUNIOR, Assinado digitalmente em 30/09/2016 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS
score : 1.0
Numero do processo: 10882.902907/2008-46
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jun 07 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Aug 17 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/06/2001 a 30/06/2001
PIS e COFINS. RECEITAS DE VENDAS A EMPRESAS SEDIADAS NA ZONA FRANCA DE MANAUS. INCIDÊNCIA.
Até julho de 2004 não existe norma que desonere as receitas provenientes de vendas a empresas sediadas na Zona Franca de Manaus das contribuições PIS e COFINS, a isso não bastando o art. 4º do Decreto-Lei nº 288/67.
Recurso Especial do Contribuinte Negado.
Numero da decisão: 9303-004.041
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, pelo voto de qualidade, negar provimento ao recurso especial. Vencidos os Conselheiros Vanessa Marini Cecconello, Tatiana Midori Migiyama, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran e Maria Teresa Martínez López, que davam provimento.
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Henrique Pinheiro Torres, Tatiana Midori Migiyama, Júlio César Alves Ramos, Demes Brito, Gilson Macedo Rosenburg Filho, Érika Costa Camargos Autran, Rodrigo da Costa Pôssas, Vanessa Marini Cecconello, Maria Teresa Martínez López e Carlos Alberto Freitas Barreto.
Nome do relator: CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO
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Incidência sobre receitas de vendas a empresas sediadas na ZFM. Recorrente SHERWINWILLIAMS DO BRASIL INDUSTRIA E COMERCIO LTDA. Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/06/2001 a 30/06/2001 PIS e COFINS. RECEITAS DE VENDAS A EMPRESAS SEDIADAS NA ZONA FRANCA DE MANAUS. INCIDÊNCIA. Até julho de 2004 não existe norma que desonere as receitas provenientes de vendas a empresas sediadas na Zona Franca de Manaus das contribuições PIS e COFINS, a isso não bastando o art. 4º do DecretoLei nº 288/67. Recurso Especial do Contribuinte Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, pelo voto de qualidade, negar provimento ao recurso especial. Vencidos os Conselheiros Vanessa Marini Cecconello, Tatiana Midori Migiyama, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran e Maria Teresa Martínez López, que davam provimento. Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Henrique Pinheiro Torres, Tatiana Midori Migiyama, Júlio César Alves Ramos, Demes Brito, Gilson Macedo Rosenburg Filho, Érika Costa Camargos Autran, Rodrigo da Costa Pôssas, Vanessa Marini Cecconello, Maria Teresa Martínez López e Carlos Alberto Freitas Barreto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 2. 90 29 07 /2 00 8- 46 Fl. 159DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10882.902907/200846 Acórdão n.º 9303004.041 CSRFT3 Fl. 3 2 Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela contribuinte com fulcro nos artigos 64, inciso II e 67 e seguintes do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 256/09, meio pelo qual busca a reforma do Acórdão nº 3801004.995, que negou provimento ao recurso voluntário. Decidiu o colegiado a quo pela incidência das contribuições sobre as receitas oriundas de vendas a empresas sediadas na Zona Franca de Manaus, no período tratado neste processo. Cientificado do mencionado acórdão o sujeito passivo apresentou recurso especial suscitando divergência jurisprudencial quanto à isenção das contribuições sobre as receitas decorrentes de vendas de mercadorias e serviços para empresas com domicílio na Zona Franca de Manaus. O recurso foi admitido por intermédio de despacho do Presidente da Câmara recorrida, e a Fazenda Nacional apresentou contrarrazões. É o relatório, em síntese. Voto Carlos Alberto Freitas Barreto, Relator Este processo foi julgado na sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9303003.934, de 07/06/2016, proferido no julgamento do processo 10650.902444/201141, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 9303003.934): "A matéria, única, posta ao exame do colegiado não é nova. Com efeito, já tivemos oportunidade de nos pronunciar sobre ela em diversas ocasiões, tendo eu firmado convicção pela inaplicabilidade de qualquer medida desonerativa (seja isenção, imunidade ou alíquota zero) aos fatos geradores anteriores a julho de 2004. No relatório da Dra. Vanessa consta que o contribuinte aduziu em seu recurso: "que: (a) o DecretoLei nº 288/67 equipara os efeitos das operações de venda para a Zona Franca de Manaus às exportações para o estrangeiro, sendolhes aplicáveis as vantagens fiscais estabelecidas pela legislação para as exportações, nos termos do seu art. 4º; (b) o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no sentido da não incidência de PIS sobre as receitas decorrentes das vendas para empresas sediadas na Zona Franca de Manaus; (c) o Supremo Tribunal Fl. 160DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10882.902907/200846 Acórdão n.º 9303004.041 CSRFT3 Fl. 4 3 Federal, ao proferir liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.3489, suspendeu a eficácia da expressão ‘na Zona Franca de Manaus’, contida no inciso I, do §2º do art. 14 da MP nº 2.03724/00, expressão suprimida do diploma legal pelo Poder Executivo ao editar, na mesma data, a MP nº 2.03725/2000; e, por fim, (d) não incide o PIS para os fatos geradores ocorridos em fevereiro de 2002, tendo em vista a revogação da expressão ‘na Zona Franca de Manaus’ do inciso I, §2º do art. 14 da MP nº 2.03725/2000 e a equiparação dos efeitos fiscais das vendas para a Zona Franca de Manaus às exportações para o exterior". Consideroos todos abarcados no voto que segue, proferido em sessão de 2011, no qual enfrentei ainda outros argumentos. Reconheço haver decisões do STJ em sentido oposto, mas, como nenhuma delas cumpre os requisitos do art. 62 do atual regimento interno desta Casa, peço vênia para continuar teimando. Disseo eu naquela ocasião: Vale iniciálo reenunciando o criativo entendimento da recorrente: a) não há necessidade de previsão legal expressa concessiva da isenção porque o decretolei 288 e o Ato Complementar 35/67 bastam; b) deferida isenção para exportações em geral, a vendas à ZFM está imediata e automaticamente estendida; c) tendo o Ato Complementar à Constituição de 67 a natureza de lei complementar, como pacificado em nossos Tribunais,. nenhuma lei ordinária o poderia revogar; d) a “revogação” pretendida somente vigorou entre ___ e ___, sendo de rigor reconhecer a isenção, ao menos, nos períodos anterior e posterior. Ainda que criativo, o raciocínio desenvolvido na defesa não merece prosperar cabendo a manutenção da decisão recorrida pelos motivos que se expõem em seguida. Em primeiro lugar, a premissa de que o decretolei 288 teria assegurado que todo e qualquer incentivo direcionado a promover as exportações deveria, imediata e automaticamente, ser estendido à Zona Franca de Manaus não resiste sequer ao primeiro dos métodos interpretativos consagradamente admitidos: a literalidade. É que tal extensão somente caberia se o citado decreto tivesse afirmado que as remessas de produtos para a Zona Franca de Manaus são exportação. Nesse caso, a equiparação valeria mesmo para outros efeitos, não fiscais. Poderia, para o que interessa, restringila a “todos os efeitos fiscais”. Se o tivesse feito, dúvida não haveria de que qualquer mudança posterior na legislação que viesse a afetar as exportações, no que tange a tributos, afetaria do mesmo modo e na mesma medida aquela zona. Fl. 161DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10882.902907/200846 Acórdão n.º 9303004.041 CSRFT3 Fl. 5 4 Mas já foi repetidamente assinalado que o artigo 4º daquele ato legal, embora traga de fato a expressão acima, apôs a ressalva “constantes da legislação em vigor”. Não vejo como essa restrição possa ser entendida de modo diverso do que tem sido interpretado pela Administração: apenas os incentivos às exportações que já vigiam em 1 de fevereiro de 1967 estavam “automaticamente” estendidos à ZFM por força desse comando. E ponho a palavra entre aspas porque nem mesmo o Poder Executivo – e vale assinalar que estamos falando de um período de exceção, em que o Poder executivo quase tudo podia – pareceu estar tão seguro desse automatismo, visto que fez editar, na mesma data, o Ato Complementar 35, cujo artigo 7º assegurou aquela extensão ao ICM. Aliás, da interpretação dada pela recorrente a este último ato também divergimos. Deveras, pretende ela que ele teria alçado ao patamar de lei complementar a equiparação já prevista no decretolei. A meu ver, porém, tudo o que faz é definir com maior precisão o que se entende por produtos industrializados para efeito da não incidência de ICM nas exportações já prevista na Constituição de 67. Defineos no parágrafo 1º, recorrendo à tabela do então criado imposto sobre produtos industrializados (tabela anexa à Lei 4.502). No parágrafo segundo, estende, também para efeito de ICM, aquela imunidade às vendas a zonas francas. Essa interpretação me parece forçosa quando se sabe que, segundo a boa técnica legislativa, os parágrafos de um dado artigo não acrescentam matéria ao disposto no caput, apenas esclarecem sobre o alcance daquela matéria. E ao esclarecer podem impor uma definição restritiva, como no parágrafo primeiro, ou extensiva, como no segundo. O que não pode um simples parágrafo é tratar de matéria que não esteja contida no caput e nos seus incisos. E não parece haver dúvida de que aí apenas se cuida da imunidade do ICM. Assim, o ato legal nem previu imunidade genérica, nem estendeu ao IPI a imunidade do ICM, como afirma a empresa. Ora, se a previsão do decretolei deveria alcançar “todos os efeitos fiscais” e já havia previsão de imunidade de ICM sobre produtos industrializados, para que tal parágrafo no ato complementar? Há, contudo, razões mais profundas do que a mera literalidade. É que a zona franca de Manaus não é meramente uma área livre de restrições aduaneiras, característica das chamadas zonas francas comerciais. O que se buscou com a sua criação foi induzir a instalação naquele distante rincão nacional de empresas de caráter industrial, que gerassem emprego e renda para a região Norte. Para tanto, definiuse um conjunto de incentivos fiscais que, à época de sua criação, seria suficiente, no entender dos seus formuladores, para gerar aquela atração. Tais incentivos, e apenas eles, configuram diferenciação em favor dos produtos importados e industrializados naquela área. Fl. 162DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10882.902907/200846 Acórdão n.º 9303004.041 CSRFT3 Fl. 6 5 Foi essa diferença tributária que induziu a criação do parque industrial que ali se veio a instalar e, assim, é apenas a retirada de algum daqueles incentivos que pode ser taxada de “quebra de contrato”. A contrário senso, novos incentivos fiscais que se venham a instituir podem ou não ser a ela estendidos conforme entenda útil o legislador por ocasião de sua instituição. Isso não se dá automaticamente com os incentivos genéricos à exportação cujo objetivo comum tem sido a geração das divisas imprescindíveis ao pagamento dos compromissos internacionais durante tanto tempo somente alcançáveis por meio das exportações. Por óbvio, a ninguém escapa que vendas à ZFM não geram divisas. Diferentes, pois, os objetivos, nenhum automatismo se justifica. Prova desse raciocínio é que dois anos apenas após a criação da ZFM, inventaram os “legisladores executivos” de então novo incentivo à exportação, o malsinado “crédito prêmio” posteriormente tão combatido nos acordos de livre comércio a que o País aderia. Sua legislação expressamente incluiu a Zona Franca. Fêlo, no entanto, apenas para os casos em que, após serem “exportados” para lá, fossem dali efetivamente exportados para o exterior (“reexportados”, na linguagem do declei). Em outras palavras, já em 1969 dava o executivo provas de que aquela extensão nem era automática, nem tinha que se dar sem qualquer restrição. Logo, ainda que se avance na interpretação da norma, ultrapassando o método literal e adentrandose o histórico e o teleológico, se chega à mesma conclusão: o decretolei 288 apenas determinou a adoção dos incentivos fiscais à exportação já existentes e acresceu incentivos específicos voltados a promover o desenvolvimento da região menos densamente povoada de nosso território. Nessa linha de raciocínio, portanto, há de se buscar na legislação específica do PIS e da COFINS, tributos somente instituídos após a criação da ZFM, dispositivo que preveja alguma forma de desoneração nas vendas àquela região, seja a não incidência, alíquota zero ou isenção. E não se precisa ir longe para ver que ela somente começa a existir em 2004, com a edição da Medida Provisória 202. De fato, a “exclusão das receitas de exportação” da base de cálculo do PIS tratada na Lei 7.714 e a isenção da COFINS sobre receitas de exportação prevista na Lei Complementar 70 e objeto da Lei complementar 85 não incluíram expressamente as vendas à ZFM ainda que tenham estendido o benefício a outras operações equiparadas a exportação. Um exame cuidadoso dessas extensões vai revelar o que se disse acima: todas elas geram, imediata ou mediatamente, divisas internacionais. A conclusão que se impõe, assim, é que não havia, até o surgimento da Medida Provisória 1.858 qualquer benefício fiscal Fl. 163DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10882.902907/200846 Acórdão n.º 9303004.041 CSRFT3 Fl. 7 6 que desonerasse de PIS e de COFINS as receitas obtidas com a venda de produtos para empresas sediadas na ZFM. É certo que esse entendimento não era uníssono, muita peleja tendo se travado entre o fisco e os contribuintes que pretendiam estarem tais vendas amparadas pelos atos legais mencionados. E essas divergências somente se agravaram com a edição da MP, cuja redação padece de diversas inconsistências. Com efeito, tal MP, que revogou a Lei 7.714 e a Lei Complementar 85, disciplinando por completo a isenção das duas contribuições nas operações de exportação trouxe dispositivo expresso “excluindo” as vendas à ZFM. Isso, por óbvio, aguçou a interpretação de que já havia dispositivo isentivo e que esse dispositivo estava sendo agora revogado. Defendo que não, embora seja forçoso reconhecer que o dispositivo apenas criou desnecessário imbróglio. Com efeito, ouso divergir da conclusão exposta no Parecer PFGN 1789 no sentido de que tal ressalva se destinava apenas aos comandos insertos nos incisos IV, VI, VIII e IX. A razão para tanto é que aí ventilamse hipóteses intrinsecamente ligadas ao objetivo que o ato pretende incentivar: vendas para o exterior que trazem divisas para o país. Refirome aos incisos VIII (vendas com o fim de exportação a trading companies e demais empresas exportadoras) bem como o fornecimento de bordo a embarcações em tráfego internacional (ship’s Chandler). Além disso, a interpretação não apenas retira um incentivo, ela pressupõe um desincentivo: qualquer trading do decretolei 1.248/72, exportadora inscrita na SECEX ou ship’s Chandler instalada em outro ponto do território nacional terá vantagem em relação à que ali se instale. Não faz sentido tal discriminação contra a ZFM. A interpretação dada pela douta PGFN parece buscar um sentido para o comando do parágrafo de modo a não tornálo redundante. Fêlo, todavia, da pior forma, a meu sentir, pois fixouse no método literal esquecendose de considerar o motivo da norma. Realmente, uma cuidadosa leitura do parecer permite ler o artigo, com o respectivo parágrafo segundo, da seguinte forma: há isenção quando se vende com o fim específico de exportação, desde que a empresa compradora (trading ou simples exportadora inscrita na SECEX) NÃO esteja situada na ZFM. Com a exclusão do parágrafo: há isenção quando se vende com o fim específico de exportação, mesmo que a empresa compradora (trading ou simples exportadora inscrita na SECEX) esteja situada na ZFM. Ora, o objeto da isenção versada nesses dispositivos nada tem a ver com a localização da compradora mas com o que ela faz. É a atividade (exportação com conseqüente ingresso de divisas) que se quer incentivar. O que se tem de decidir é se a mera venda à ZFM, que não gera divisa nenhuma, deve a isso ser equiparado. Foi isso, em meu entender, que o parágrafo quis dizer: não é o que o Parecer da PGFN consegue nele ler. Fl. 164DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10882.902907/200846 Acórdão n.º 9303004.041 CSRFT3 Fl. 8 7 Em conseqüência desse parecer, surgem decisões como as que ora se examinam: o pedido tinha a ver com venda a ZFM. A decisão abre a possibilidade de que tenha mesmo havido recolhimento indevido, mas por motivo completamente diverso. E mais, atribui ao contribuinte a prova dessa outra circunstância, que não motivara o seu pedido. Nonsense completo. Esse meu reconhecimento implica aceitar que o malsinado parágrafo estava sim se referindo, genericamente, às vendas à ZFM, ou, mais claramente, está ele a dizer que, para efeito do incentivo de PIS e COFINS, a mera venda a empresa sediada na ZFM não se equipara à exportação de que cuida o inciso II do ato legal em discussão. Mas, ao fazêlo, não está revogando dispositivo isentivo anterior: está simplesmente cumprindo o seu papel esclarecedor, ainda que nesse caso melhor fosse nada ter tentado esclarecer... Aliás, idêntico dispositivo esclarecedor poderia ter estado presente na LC 85 e na Lei 7.714 como já estivera no decretolei 491. Com isso, muita discussão travada administrativamente teria sido evitada ou transferida para o Judiciário. É a ausência de tal dispositivo e sua presença na nova lei que cria o imbróglio. Ele não leva, contudo, em minha opinião, à interpretação simplória de que tal ausência implicasse haver isenção. Para isso, primeiro, se tem de admitir que basta o Decretolei 288. Essa interpretação, pareceme, está em maior consonância com o espírito legisferante, pois não faz sentido considerar que uma norma que procura incentivar as exportações tenha instituído uma discriminação contra uma região (região, aliás, que sempre se procurou incentivar) em operações que produzem o mesmo resultado: a geração de divisas internacionais. A minha conclusão é, assim, de que mesmo entre 1º de fevereiro de 1999 e 31 de dezembro de 2000 há, sim, isenção das contribuições naquelas hipóteses, ainda que a empresa esteja situada na ZFM. Em outras palavras, a localização da empresa não é impeditivo à fruição do incentivo à exportação, desde que cumprido o que está previsto naqueles incisos. Mas tampouco há isenção APENAS PORQUE A COMPRADORA LÁ ESTEJA. Nos recursos ora em exame, esse foi o fundamento do pedido e a ele deveria terse restringido a DRJ. Nesses termos, só causa mais imbróglio a afirmação constante no acórdão recorrido de que “haveria direito” no período de 1º de janeiro de 2001 a julho de 2004 mas não estava ele adequadamente comprovado. Simplesmente não há o direito na forma requerida. E por isso mesmo não cabe a pretensão do contribuinte de que a Administração adapte o seu pedido fazendo as pesquisas internas que permitam apurar se alguma das empresas por ele listadas na planilha referida se enquadra naquelas disposições. Fl. 165DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10882.902907/200846 Acórdão n.º 9303004.041 CSRFT3 Fl. 9 8 O máximo que se poderia admitir, dado o teor da decisão, era que, em grau de recurso, trouxesse a empresa tal prova. Não o fez, porém, limitandose a postular a nulidade da decisão porque não determinou aquelas diligências. Não sendo obrigatória a realização de diligências, como se sabe (art. __ do Decreto 70.235), sua ausência não acarreta nulidade da decisão proferida por quem legalmente competente para tal. Cabe sim manter aquela decisão dado que o contribuinte não comprovou o seu direito como lhe exigem o Decreto 70.235, a Lei 9.784 e o próprio Código Civil (art. 333). Com tais considerações, nego provimento ao recurso do contribuinte. Com essas mesmas considerações, votei, também aqui, pelo não provimento do recurso do contribuinte, sendo esse o acórdão que me coube redigir." Aplicandose as razões de decidir, o voto e o resultado acima do processo paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, negase provimento ao recurso especial do contribuinte, em razão da incidência das contribuições sobre as receitas oriundas de vendas efetuadas a empresas sediadas na Zona Franca de Manaus, no período tratado neste processo. Carlos Alberto Freitas Barreto Fl. 166DF CARF MF Impresso em 17/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/08/2016 por CLEUZA TAKAFUJI, Assinado digitalmente em 16/08/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO
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Numero do processo: 10380.729113/2012-69
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 13 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Nov 07 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2008, 2009, 2010
INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO E DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. IMUNIDADE. FISCALIZAÇÃO. ATO DECLARATÓRIO DE EXCLUSÃO. IMPUGNAÇÃO.
Representa desatendimento aos requisitos necessários ao gozo da imunidade destinada às instituições de educação e de assistência social a constatação de que a beneficiária adotou as condutas a seguir elencadas: o oferecimento de publicidade em equipe esportiva da entidade para empresa do mesmo grupo econômico, sem a devida cobrança pelo serviço prestado; a concessão pela entidade de bolsas de estudo a empregados das empresas que compõem o grupo econômico em que se encontra inserida, sem qualquer contrapartida por parte das empregadoras; o pagamento de anúncios publicitários em empresas pertencentes ao grupo econômico de seus dirigentes em valores superiores aos preços praticados para os demais anunciantes; e a participação da interessada em grupo econômico com fins lucrativos.
Numero da decisão: 1401-001.713
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, EM NEGAR provimento ao recurso. Os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Ricardo Marozzi Gregorii, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Aurora Tomazini de Carvalho e Livia De Carli Germano votaram pelas conclusões, em função de entenderem que a aplicação em renda variável por entidade sem fins lucrativos por si só não seria suficiente para manter a suspensão da imunidade.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Marcos de Aguiar Villas Boas, Ricardo Marozzi Gregório, Luciana Yoshihara Argangelo Zani, Júlio Lima Souza Martins, Aurora Tomazini de Carvalho, Lívia de Carli Germano e Antonio Bezerra Neto
Nome do relator: ANTONIO BEZERRA NETO
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IMUNIDADE. FISCALIZAÇÃO. ATO DECLARATÓRIO DE EXCLUSÃO. IMPUGNAÇÃO. Representa desatendimento aos requisitos necessários ao gozo da imunidade destinada às instituições de educação e de assistência social a constatação de que a beneficiária adotou as condutas a seguir elencadas: o oferecimento de publicidade em equipe esportiva da entidade para empresa do mesmo grupo econômico, sem a devida cobrança pelo serviço prestado; a concessão pela entidade de bolsas de estudo a empregados das empresas que compõem o grupo econômico em que se encontra inserida, sem qualquer contrapartida por parte das empregadoras; o pagamento de anúncios publicitários em empresas pertencentes ao grupo econômico de seus dirigentes em valores superiores aos preços praticados para os demais anunciantes; e a participação da interessada em grupo econômico com fins lucrativos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, EM NEGAR provimento ao recurso. Os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Ricardo Marozzi Gregorii, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Aurora Tomazini de Carvalho e Livia De Carli Germano votaram pelas conclusões, em função de entenderem que a aplicação em renda variável por entidade sem fins lucrativos por si só não seria suficiente para manter a suspensão da imunidade. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 38 0. 72 91 13 /2 01 2- 69 Fl. 755DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 3 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Marcos de Aguiar Villas Boas, Ricardo Marozzi Gregório, Luciana Yoshihara Argangelo Zani, Júlio Lima Souza Martins, Aurora Tomazini de Carvalho, Lívia de Carli Germano e Antonio Bezerra Neto Fl. 756DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 4 3 Relatório Tratase de recurso voluntário interposto pelo contribuinte contra acórdão que julgou, por unanimidade dos votos, a manutenção do ato de suspensão de imunidade. Por bem descreve a questão ora examinada, adoto e transcrevo o relatório do órgão julgador a quo: Tratase de processo formalizado tendo em vista o rito processual determinado pelo art. 32 da Lei n° 9.430, de 1996, instrumentalizado a nível infra legal pelo art. 14 da Instrução Normativa SRF n° 113, de 1998, e pelo art. 123 do Decreto n° 7.574, de 2011, que tratam do procedimento a ser adotado para fins de suspensão da imunidade das instituições de educação e assistência social. Ao final do procedimento, deuse a emissão do Ato Declaratório Executivo n° 80, de 26 de outubro de 2012, fl. 607, declarando suspensa a imunidade tributária da pessoa jurídica Fundação Edson Queiroz, CNPJ 07.373.434/000186, em virtude da inobservância do disposto pelos artigos 9°, § 1° e 14, incisos I a III da Lei n° 5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN), com efeitos legais nos anos calendário 2008, 2009 e 2010, relativamente ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ e às contribuições sociais que lhe são reflexas (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL, Contribuição para o PIS/Pasep e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins). Em 23/08/2012, o representante legal da pessoa jurídica foi notificado de Relatório Fiscal, fls. 02/23, formalizado em razão do disposto pelo § 1° do art. 32 da Lei n° 9.430, de 19961, documento em que ficou consignado que a empresa beneficiária da imunidade praticou atos representativos de ofensa aos dispositivos do Código Tributário Nacional (CTN) supra referidos, tendo por consequência a suspensão do benefício fiscal usufruído pela instituição, tudo conforme discorrido nos itens subsequentes. BOLSAS DE ESTUDOS CONCEDIDAS A EMPREGADOS DE EMPRESAS DO GRUPO EDSON QUEIROZ • a Fundação Edson Queiroz contemplou funcionários de outras empresas do Grupo Edson Queiroz com bolsas de estudos com descontos nas mensalidades variando entre 5% e 47% (R$ 244.165,00 em 2008, R$ 225.775 em 2009 e R$ 194.850,00 em 2010); • tratandose de prática comum no mundo empresarial as pessoas jurídicas custearem cursos de graduação e de capacitação de seus funcionários, as integrantes do Grupo Edson Queiroz perceberam inegável vantagem direta, pois deixaram de pagar a parte Fl. 757DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 5 4 § 1° Constatado que entidade beneficiária de imunidade de tributos federais de que trata a alínea c do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal não está observando requisito ou condição previsto nos arts. 9°, § 1°, e 14, da Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional, a fiscalização tributária expedirá notificação fiscal, na qual relatará os fatos que determinam a suspensão do benefício, indicando inclusive a data da ocorrência da infração que normalmente é cobrada dos empregadores, representada pela parcela da bolsa de estudo sem qualquer contrapartida ofertada Fundação Edson Queiroz; • a Fundação Edson Queiroz não tem nenhum motivo para beneficiar um funcionário que não é seu, mas de outra empresa do mesmo grupo econômico; • o mesmo tratamento não foi observado em relação aos empregados das pessoas jurídicas em geral, não integrantes do Grupo Edson Queiroz, para as quais somente foram diagnosticados os chamados descontos comerciais ou aqueles destinados aos participantes do PROUNI, que tem regulamentação própria; • com a adoção desse procedimento a Fundação Edson Queiroz distribuiu parcela de seu patrimônio e/ou renda, infringindo os incisos I e II do art. 14 do CTN ao longo dos anoscalendário 2008 a 2010, motivo suficiente para a suspensão da imunidade tributária vez que conceder bolsas a funcionários de outras empresas do grupo significa distribuir parcela de seu patrimônio e/ou renda àquelas empresas, além de configurar aplicação de recursos em atividade distinta da manutenção de seus objetivos institucionais. GASTOS COM EQUIPE DE FUTSAL • a Fundação Edson Queiroz mantém uma equipe de futsal feminina cujas atletas, além da ajuda de custo que normalmente é oferecida, foram contempladas com bolsas de estudo da própria Fundação o que, visto de forma isolada, não representa qualquer impedimento para o gozo da imunidade; • acontece que referida equipe é conhecida como Nacional Gás UNIFOR, tem em seu uniforme o logotipo da Nacional em destaque maior até do que o da própria Fundação, além do que as cores de seu uniforme não são o azul e branco da UNIFOR, mas o vermelho, azul e branco da Nacional; • nos campeonatos disputados, a equipe é tratada como Nacional Gás (empresa do Grupo Edson Queiroz), e não como UNIFOR como seria de se esperar; • tal equipe esportiva é usada como instrumento de publicidade da Nacional Gás, ferindo os princípios institucionais da Fundação que dizem respeito à educação e ao ensino, e não à publicidade; • as atletas não são selecionadas dentre as alunas da Fundação, mas dentre aquelas com maior aptidão para a prática do esporte, com a oferta de bolsas de estudo e da ajuda de custo neste item tratada, de modo que ingressem na entidade; • a Nacional Gás não oferece qualquer contrapartida financeira em razão da publicidade recebida, que é totalmente gratuita, sendo que todos os gastos com a equipe, a exemplo da ajuda de custo, das bolsas de estudo e das despesas com as viagens, são arcados pela Fundação Edson Queiroz, sem que haja qualquer repasse por parte da Nacional Gás, fato reconhecido pela própria implicada; Fl. 758DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 6 5 • a publicidade gratuita constitui inegável distribuição de receita e/ou patrimônio da Fundação pois caso a Nacional Gás desejasse patrocinar qualquer outra equipe esportiva fatalmente teria que arcar com o recurso financeiro necessário para a realização da empreitada; • quanto à Fundação, em não se tratando de empresa do mesmo grupo, haveria a necessária cobrança pela publicidade oferecida; • no período fiscalizado, as ajudas de custo alcançaram a quantia de R$ 248.560,00 enquanto a renúncia da receita, em razão das bolsas de estudo, foi da ordem de R$ 50.018,25; • a equipe de futsal feminina da Nacional Gás UNIFOR apresenta grande destaque no cenário esportivo nacional, participando continuamente dos campeonatos estadual, regional e nacional da modalidade, com expressiva cobertura da imprensa especializada, além da presença do público nos jogos, pelo que a exposição da marca Nacional Gás não pode ser considerada desprezível, tudo isso com dispêndio em torno de R$ 300 mil para a Fundação e custo zero para a Nacional Gás; • a parcela que deixou de ser cobrada da Nacional Gás representou aplicação de recurso em atividade diversa dos objetivos institucionais da Fundação, com ofensa aos incisos I e II do art 14 do CTN, motivo suficiente para a suspensão da imunidade. PUBLICIDADE DE ENTIDADE BENEFICENTE • a despeito de inexistir dispositivo legal a vedar gastos com publicidade por parte das empresas imunes, deve ser elaborada uma análise detalhada dos dispêndios da interessada a este título realizados; • os gastos com publicidade da Fundação Edson Queiroz totalizaram R$ 13,14 milhões em 2008, R$ 12,68 em 2009 e R$ 14,48 em 2010 com variação de 3,53% de 2008 para 2009 e de 14,26% de 2009 para 2010; • quanto às bolsas de estudo concedidas, em 2008 foram de R$ 6,10 milhões, em 2009 de R$ 5,75 milhões e em 2010 de R$ 5,81 milhões com decréscimo de 6,09% de 2008 para 2009 e com crescimento de 1,12% de 2009 para 2010; • considerandose apenas as bolsas assistenciais (excluídas aquelas concedidas a funcionários e dependentes da Fundação, a empregados de outras empresas do Grupo e aquelas concedidas às atletas de futsal), em 2008 foram de R$ 3,78 milhões, em 2009 de R$ 3,45 milhões e em 2010 de R$ 3,49 milhões com variação negativa de 9,59% de 2008 para 2009 e positiva de 1,29% de 2009 para 2010; • no mesmo período o lucro real da Fundação foi de R$ 216,64 milhões em 2008, de R$ 212,85 milhões em 2009 e de R$ 227,87 milhões em 2010 com decréscimo de 1,75% e acréscimo de 7,06% respectivamente; • tal situação pode ser sintetizada no demonstrativa a seguir disposto: Fl. 759DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 7 6 Ano Publicidade (%) Bolsas (%) Lucro (%) 2008 16.139.967,90 6.103.105,18 216.642.745,99 2009 12.675.690,28 3,53 5.752.526,91 5,74 212.851.018,32 1,75 2010 14.483.165,55 14,26 5.816.681,76 1,12 227.872.950,26 7,06 ante os números apresentados, o lucro da Fundação Edson Queiroz não foi revertido em gratuidades, que deveria ser o objetivo institucional da fiscalizada, mas em gastos com publicidade o que pode ser observado pelo crescimento maior dos dispêndios com publicidade, quando comparado com as gratuidades, o que demonstra claramente que o foco não foi a prestação de serviços educacionais, mas sim o lucro e sua distribuição para outras empresas do Grupo Edson Queiroz, como indicado no demonstrativo a seguir disposto, contendo os gastos da Fundação com publicidade nas mencionadas empresas: Empresa Grupo EQ 2008 2009 2010 Editora Verdes Mares 3.310.684,38 3.678.303,63 4.450.304,00 Rádio Verdes Mares 598.942,50 614.015,00 638.230,00 Televisão Verdes Mares 4.406.762,37 4.279.751,65 5.145.914,55 TV Diário 4.823.578,65 4.103.620,00 4.250.717,00 Total 13.139.967,90 12.675.690,28 14.483.165,55 ao realizar tão elevados gastos com publicidade, a detentora do benefício fiscal teve como objetivo distribuir seus resultados positivos a outras empresas do mesmo grupo econômico, fazendoo de forma disfarçada, através de gastos com publicidade; se a intenção da Fundação Edson Queiroz fosse apenas a publicidade, teria veiculado as mensagens de forma mais pulverizada, de modo a alcançar um público maior e mais variado, não as concentrando apenas nas empresas do Grupo Edson Queiroz; • foi também feita uma análise comparativa entre os gastos com publicidade da Fundação e aqueles despendidos por alguns de seus concorrentes na atividade de educação superior na cidade de Fortaleza/CE, elaborada na forma de percentual dentre as despesas com publicidade e as respectivas receitas brutas: Ano Fundação Empresa A Empresa B Empresa C 2008 6,54% 2,46% 0,78% 2,17% 2009 5,93% 1,38% 0,61% 1,36% 2010 6,53% 1,02% 0,31% 1,05% a fiscalizada gastou com publicidade, tanto em valores absolutos, quanto em percentuais, muito mais do que suas principais concorrentes, todas elas empresas com fins lucrativos, o que demonstra que o fim verdadeiramente almejado com tão elevados pagamentos não é a simples publicidade, mas a efetiva distribuição de seu patrimônio e/ou receita a outras empresas do Grupo Edson Queiroz; também foi elaborado um demonstrativo em que foi cotejado o volume financeiro representado pela imunidade tributária incidente sobre o IRPJ (valores Fl. 760DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 8 7 encontrados na DIPJ, ficha DOAR Demonstração da Origem e Aplicação de Recursos, correspondendo a uma origem de recursos) com os valores aplicados pela Fundação na aquisição de ações, em publicidade e na disponibilização de bolsas de estudo: Ano Imunidade IRPJ Aquisição Ações Publicidade Bolsas 2008 32.496.411,90 24.630.943,86 13.139.967,90 6.103.105,18 2009 31.927.652,75 0,00 12.667.246,29 5.752.526,91 2010 34.180.942,54 26.852.405,43 14.483.165,55 5.816.681,76 Total 96.605.007,19 51.483.349,29 40.290.379,74 17.672.313,85 • a tudo isso foi acrescido ser a Fundação Edson Queiroz a maior anunciante de duas empresas do Grupo Queiroz Galvão que foram objeto de diligência fiscal por parte do autor do procedimento, a Editora Verdes Mares (Jornal Diário do Nordeste) e a TV Diário, tendo sido constatado que, a despeito de se declarar sem fins lucrativos, a Fundação Edson Queiroz gastou em publicidade nos referidos veículos de comunicação mais do que qualquer empresa com fim lucrativo; • na realidade, a interessada gasta em anúncio muito mais do que qualquer outro cliente pois, para se alcançar o valor pago com publicidade na Editora Verdes Mares, foi necessário somar os valores dos três maiores anunciantes subsequentes a ela e, no caso da TV Diário, a soma atingiu os seis maiores anunciantes colocados logo abaixo da Fundação. PAGAMENTO DE PUBLICIDADE EM CONDIÇÕES DE DESVANTAGEM • neste item foi perquirida a existência de sobrepreço nos gastos com publicidade; • na TV Diário Ltda foram analisadas as notas fiscais de prestação de serviços a diversos clientes, tendo sido observado que o custo unitário da tabela é o mesmo para todos os clientes, variando apenas em função do programa em que o comercial é exibido; • também foi observado que o valor de tabela não é cobrado pois, normalmente, a TV Diário concede generosos descontos a seus anunciantes, os quais variaram entre 41,67 e 87,61% para empresas não integrantes do Grupo Edson Queiroz; • quando o anunciante pertence ao Grupo Edson Queiroz, o desconto concedido foi sempre o mesmo, da ordem de 50%; • tratandose da Fundação Edson Queiroz, foi diagnosticado que os descontos foram de apenas 30%, tendo a autoridade fiscal concluído que referida pessoa jurídica pagou pela publicidade até 273% a mais pela publicidade do que pagaram as empresas sem vinculação com o grupo empresarial e, na comparação com as demais empresas do grupo, o acréscimo foi de 40% a mais pelos mesmos serviços prestados; • os pagamentos proporcionalmente maiores da Fundação Edson Queiroz chamam mais a atenção pelo fato de se tratar da maior anunciante da TV Diário e pelo fato de a prática comercial ser justamente na direção contrária, ou seja, quanto mais relevante for o anunciante, melhores são as condições contratuais pactuadas e mais generosos são os descontos; • a TV Diário trata muito mal seu melhor cliente e, mesmo assim, ele permaneceu com a sua política publicitária naquela emissora, tendo até mesmo Fl. 761DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 9 8 aumentado o valor gasto em períodos anteriores, o que demonstra que a Fundação Edson Queiroz distribuiu à TV Diário, empresa do Grupo Edson Queiroz, parcela de seu patrimônio e/ou renda que chegou ao montante de R$ 3,63 milhões entre os anos de 2008 e de 2010, segundo os cálculos elaborados pela autoridade fiscalizadora; • tudo isso demonstra que a Fundação Edson Queiroz distribuiu parcela de seu patrimônio e/ou receita, incorrendo nas vedações estabelecidas pelos incisos I e II do art. 14 do CTN nos anos de 2008 a 2010, representando motivação suficiente para a suspensão da imunidade do IRPJ e dos tributos reflexos no período considerado. PARTICIPAÇÃO EM GRUPO ECONÔMICO • existem os grupos econômicos de direito e os grupos econômicos de fato; • os grupos econômicos de direito são aqueles constituídos em conformidade com o art. 2561 da Lei n° 6.404, de 19762; • já os grupos econômicos de fato são classificados em regulares e irregulares; • são regulares aqueles que, apesar de não serem dotados de formalização legal, não realizam práticas dissuasivas irregulares, ao serem constituídos, sendo resultado de decisões legítimas de seus controladores, que, não pretendendo dar à sua organização as características expressadas na Lei n° 6.404, de 1976, promovem a constituição de empresas interligadas entre si e controladas direta ou indiretamente pelo mesmo grupo de pessoas, sem que se possa inferir, apesar desta circunstância, a ocorrência de práticas irregulares ou ilegais; • ainda que de fato, o grupo econômico assume, em geral, pública e ostensivamente a sua condição de "grupo"; • a Fundação Edson Queiroz faz parte de um grupo econômico de fato e regular, o Grupo Edson Queiroz, corroborando para este entendimento os fatos a seguir delineados: o grande parte da logística, a exemplo da contabilidade e dos setores financeiro e jurídico, encontrase centralizada no mesmo endereço, a Praça da Imprensa, s/n, sede do Grupo Edson Queiroz; o alguns funcionários trabalham indistintamente para várias empresas do grupo, inclusive para a Fundação, especialmente nos setores jurídico e de contabilidade, isso em espaços comuns localizados na Praça da Imprensa, s/n; o quando das diligências realizadas em quatro empresas do grupo (Editora Verdes Mares, CNPJ 07.209.299/000138; Esmaltec S/A, CNPJ 02.948.030/0001 50; Nacional Gás Butano Distribuidora LTDA, CNPJ 06.980.064/000182 e TV Diário Ltda, CNPJ 23.493.364/000156), os termos de início, de intimação e de encerramento foram recebidos pelo mesmo procurador da fundação, demonstrando unicidade de comando; 1 Art. 265. A sociedade controladora e suas controladas podem constituir, nos termos deste Capítulo, grupo de sociedades, mediante convenção pela qual se obriguem a combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetos, ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns Fl. 762DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 10 9 o os responsáveis pela Fundação participam ou participaram de diversas empresas do grupo, conforme exaustivamente discorrido pelo responsável pelo procedimento fiscal; o em convênio com a UNIMED, é excluída expressamente "do grupo econômico do Grupo Edson Queiroz" apenas a empresa CONPAR PRODUTOS MARINHOS S/A (Cláusula 4.6), donde se conclui que a Fundação Edson Queiroz faz parte do Grupo Edson Queiroz; o a responsável pela contabilidade da Fundação Edson Queiroz, Sra Maria de Fátima Farias Santos Rebouças (responsável pelo preenchimento da DIPJ nos exercícios 2009 a 2011), não consta da folha de pagamentos nem da GFIP da Fundação, tendo sido localizada na GFIP da empresa Paragás Distribuidora Ltda, CNPJ 05.840.319/000149, empresa do Grupo Edson Queiroz; o a Fundação Edson Queiroz é exibida na rede mundial de computadores (www.edsonqueiroz.com.br) como integrante do referido grupo, onde consta que "as empresas do Grupo Edson Queiroz exercem sua prática de responsabilidade social através da Fundação Edson Queiroz"; • como imaginar uma entidade beneficente participando de um grupo econômico se ela não tem o lucro como um de seus objetivos? A única resposta possível é que não se trata de uma entidade beneficente, mas sim de uma empresa, com fins econômicos como qualquer outra; • não se afirma que as entidades beneficentes não possam ter lucros ou não devam se estruturar da maneira mais eficaz possível; • apenas se afiança que o lucro não deve ser um de seus objetivos fundamentais, mas apenas uma consequência de uma administração eficiente e que sua organização deve ser individualizada, sob risco de se confundirem os recursos, bens, patrimônios e receitas da entidade com os de outras empresas, dado que as empresas componentes de Grupos Econômicos comportamse como se fossem uma única empresa; • a participação da Fundação em grupo econômico constitui um impedimento ao gozo da imunidade durante todo o período entre os anos de 2008 a 2010 visto demonstrar claramente que, embora seu Estatuto Social afirme que a Fundação tem por objeto projetos assistenciais, seu verdadeiro e maior objetivo é o lucro, ferindo, pois, o disposto no art. 9°, IV, "c" Lei n° 5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN); • se a natureza jurídica de entidade beneficente impossibilita a configuração de grupo econômico, é o mesmo que dizer que, se uma instituição participa de grupo econômico, ela não será uma entidade beneficente; • também impossibilita a participação de entidade beneficente em grupo econômico a solidariedade das contribuições previdenciárias e dos débitos trabalhistas existente entre as empresas integrantes do grupo, pelo que poderia a Fundação responder por débitos de outras empresas, configurando distribuição de receitas. INVESTIMENTO EM BOLSA DE VALORES Fl. 763DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 11 10 • ao longo do período fiscalizado a Fundação Edson Queiroz aplicou recursos em bolsa de valores, mais especificadamente em ações da Petrobrás S/A, da Companhia Vale do Rio Doce S/A e da TAM S/A, alcançando os valores globais de R$ 24.630.943,86 em 2008, de R$ 0,00 em 2009 e de R$ 26.852.405,43 em 2010; • considerandose os valores acumulados alocados nessa modalidade de investimento, chegase ao resultado de R$ 128.696.234,97 em 21/12/2008, de R$ 128.696.234,97 em 31/12/2009 e de R$ 155.529.669,87 em 2010; • essa prática de investimento caracteriza a aplicação em objetivos distintos das finalidades institucionais de uma entidade beneficente, ferindo assim o disposto no art. 14, II da Lei n° 5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN), constituindo motivo para suspensão da imunidade quanto ao IRPJ e tributos reflexos durante todo o período entre os anos de 2008 a 2010; • tais recursos deveriam ser aplicados nas atividades educacionais ou assistenciais da Fundação, e não na ciranda financeira; • seria admissível a aplicação do numerário em renda fixa, por exemplo, ou em outro investimento com igual risco, mas não no mercado de ações em que os lucros podem ser bem maiores, mas os riscos de perdas também o são, percebendo se que a Fundação objetivou o acúmulo de capital, e não simplesmente a manutenção do valor real dos seus recursos, para posterior reaplicação em seus objetivos institucionais; • investimentos permanentes na Petrobrás, na Vale e na TAM caracterizam não somente a aplicação de recursos em atividades diversas de seus objetivos institucionais, mas também a constituição de patrimônio de terceiros, sem cunho beneficente, pois é inegável que tais empresas visam o lucro e que a aquisição de suas ações faz com que a Fundação Edson Queiroz passe a deter parte destas companhias e também vise o lucro, ferindo o disposto no art. 9°, IV, "c" do CTN, já que a imunidade somente deve ser conferida às instituições sem fins lucrativos. PROJETOS ASSISTENCIAIS • não se quer ignorar, ou pior, negar a importância da Fundação Edson Queiroz para a sociedade cearense, seja oferecendo educação de reconhecida qualidade, seja disponibilizando opções de lazer, gratuitamente ou não, tais como teatro, espetáculos musicais, mostras de arte, seja oferecendo atendimento médico, odontológico, jurídico, educacional ou desportivo à parcela mais carente de Fortaleza; • por outro lado, é também inegável se reconhecer que a atuação da Fundação em assistência, além do inegável caráter social e humano, denota um componente econômico embutido; • isso porque em todas as unidades nas quais são prestados serviços gratuitos à população são utilizadas pela Fundação para treinamento e capacitação de seus profissionais e para estágio de seus alunos; • a Escola de Aplicação Yolanda Queiroz é utilizada pelo curso de Pedagogia, o Núcleo de Atenção Médica Integrada utilizado pelos cursos do Centro de Ciências da Saúde e do Curso de Psicologia, o Núcleo de Aplicação em Tecnologia da Informação é utilizado pelo curso de Computação, o Escritório de Prática Jurídica pelo curso de Direito, a Clínica Integrada de Odontologia pelo curso Fl. 764DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 12 11 de odontologia e a Academia Unifor pelos cursos de educação física, fisioterapia, ciências da nutrição e terapia ocupacional; • assim, estes equipamentos representam muito mais uma economia com os custos de estágio, que deve ser obrigatoriamente oferecido pela instituição de ensino segundo exigência do Ministério da Educação MEC, do que atividade assistencial. Em 24/09/2012, conforme facultado pelo § 2°2 do art. 32 da Lei n° 9.430, de 1996 , a pessoa jurídica apresentou documento contendo as alegações e as provas entendidas como suficientes para elidir o que foi considerado pela fiscalização, fls. 359/587. A matéria foi submetida à apreciação do Sr. Delegado da DRF Fortaleza que, tendo por substrato a Informação Fiscal de fls. 589/605, emitiu o Despacho Decisório de fl. 606 considerando improcedentes as contrarrazões apresentadas pela defesa e determinando a expedição de Ato Declaratório suspensivo da imunidade do Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ e das contribuições sociais reflexas (CSLL, Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins), com efeitos nos anos calendários de 2008, 2009 e 2010. Em conseqüência, foi editado o Ato Declaratório Executivo n° 80, de 26 de outubro de 2012, fl. 607, suspendendo a imunidade tributária da Fundação Edson Queiroz em virtude de inobservância ao disposto nos artigos 9°, § 1° e 14, incisos I a III da Lei n° 5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN), com efeitos para os anoscalendário 2008, 2009 e 2010. A ciência da Informação Fiscal, do Despacho Decisório e do Ato Declaratório deuse no dia 30/10/2012, fl. 609. Inconformado com o que foi deliberado, em 20/11/2012 a Fundação Edson Queiroz apresentou impugnação, fls. 612/625, conforme adiante reproduzido: VANTAGENS A EMPRESAS PERTENCENTES A SEUS DIRIGENTES BOLSAS DE ESTUDOS A EMPREGADOS A acusação de fornecimento de bolsas de estudos a empregados de empresas pertencentes a dirigentes da Fundação se mostra de todo infundada, uma vez que tal fato não caracteriza nenhuma vantagem às ditas empresas, dado que os beneficiários do fornecimento de bolsas de estudos são as pessoas físicas dos bolsistas e não as empresas e muito menos, seus dirigentes. Portanto, a acusação carece de fundamento fático e legal. Não procede também a conclusão do fisco de que o fornecimento de bolsas de estudo a funcionários do Grupo representa custo indireto suportado pela FEQ. Tal suposição é absolutamente fantasiosa e não passa de mera conjectura desprovida de qualquer fundamento legal. Não fosse assim, a visão do fiscal é estreita e distorcida, já que ele somente fala de bolsas conferidas a determinados grupos de pessoas que eventualmente fazem parte do Grupo Edson Queiroz, todavia, não menciona sequer uma vez as inúmeras bolsas de estudo conferidas a pessoas que nada tem a ver com o Grupo. Nesse sentido a auditoria fica completamente maculada pela parcialidade com que atuou o agente fiscal. 2 § 2° A entidade poderá, no prazo de trinta dias da ciência da notificação, apresentar as alegações e provas que entender necessárias. Fl. 765DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 13 12 Nesse passo é descabida a afirmação de que a Fundação teria distribuído parcela de seu patrimônio uma vez que ao fornecer bolsas de estudos, seja para funcionários do Grupo Edson Queiroz, seja para qualquer outra pessoa, a Instituição somente cumpre um de seus objetivos sociais, qual seja, o de "...elevar o nível cultural e educacional na área em que a Instituição venha a exercer as suas atividades." (cf. art. 1° da Escritura Pública de Constituição da Fundação Edson Queiroz). GASTOS COM EQUIPE DE FUTSAL No mesmo sentido, temse que a manutenção de time de futsal, ou outro de esporte qualquer, não representa afronta aos objetivos sociais da Instituição e nem tampouco ao artigo 14 do CTN. O fato de constar o nome da Nacional Gás juntamente com o da UNIFOR na camisa dos jogadores não representa descumprimento aos requisitos do mencionado artigo, uma vez que não há nesse comportamento descumprimento de atribuições estatutárias e nem tampouco distribuição de parcela do patrimônio. A acusação de que tal procedimento equivale à renúncia de receita também carece de prova, não passando de mera suposição, que não pode ser utilizada para a quebra da imunidade pretendida. Nesse diapasão, é bom deixar claro que a Fundação Edson Queiroz e as empresas do Grupo Edson Queiroz são administradas por pessoas diversas. A primeira, pelo Conselho Curador, e o segundo, por D. Yolanda Vidal Queiroz. E, em que pese o compartilhamento de espaços e eventualmente até mão de obra pela Fundação e algum funcionário do Grupo Edson Queiroz, isso não quer dizer que os objetivos da Fundação estejam sendo violados ou que ela vise o lucro. Ao contrário, o que há é uma racionalização na gerência e administração visando a economia de recursos. Por derradeiro, é bom não esquecer que a Fundação Edson Queiroz e o Grupo Edson Queiroz realmente estão intimamente ligados. Isto porque ambos foram concebidos e criados por Edson Queiroz, fato este que também não autoriza presumir, como faz várias vezes o Auditor Fiscal, que a Fundação tenha finalidade econômica e faça parte do Grupo empresarial Edson Queiroz. PUBLICIDADE DE ENTIDADE BENEFICENTE Como bem disse o Auditor Fiscal, não existe nos diplomas legais de regência, qualquer vedação aos gastos com publicidade. Assim, qualquer ilação, suposição ou presunção atinente à matéria não terá o condão de suspender a imunidade da Instituição. Ademais, não custa lembrar que a impugnante, mantenedora da UNIFOR UNIVERSIDADE DE FORTALEZA que vem a ser a única Universidade Particular do Estado, mantém em seu corpo discente cerca de 25.000 alunos, necessitando de publicidade para lá mantêlos e outros angariar, haja vista a grande e predadora concorrência, estabelecida por mais de 15 Faculdades particulares, que juntas não atingem o mesmo número de alunos da UNIFOR. Há de se destacar, necessariamente, que a publicidade combatida pela Fiscalização é essencial ao alcance dos objetivos da Fundação, uma vez que de cunho educacional, social, cultural, desportivo e científico. De fato, as mídias Fl. 766DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 14 13 impressas, televisivas e da Internet são meios extremamente eficazes de alcance de todas as camadas da sociedade. Assim, ao desenvolver a campanha publicitária "Doe de Coração" a Fundação não busca a captação de alunos, mas a conscientização de toda uma coletividade quanto à possibilidade de colaboração de cada indivíduo com a preservação da vida humana. Em outras palavras, seus esforços nesse segmento são voltados unicamente para a disseminação dos valores vida e solidariedade em cada cidadão. Do mesmo modo, quando a Fundação Edson Queiroz firma convênios com outras instituições e realiza a divulgação de eventos, tais como o Grand Prix Caixa/Unifor Internacional de Atletismo, ela divulga o esporte e este, é consagrado, não só no Brasil, mas em todo o mundo, como fator de desenvolvimento humano e social. Outro exemplo de publicidade não voltada estritamente para a divulgação dos cursos que oferece a toda a comunidade, é aquela que divulga os eventos culturais por ela promovidos, constantemente. Como atrair público para uma exposição de arte, gratuita, digase, sem utilizar veículos de grande alcance popular? Para isso, devese escolher veículos de grande audiência, do contrário, o conhecimento da realização do evento ficaria restrito àqueles cujo alcance aos meios tecnológicos é favorecido pelos recursos materiais. A TV Diário, por exemplo, é reconhecidamente um veículo de comunicação de grande alcance e com relevante audiência nas camadas sociais menos favorecidas, notadamente as chamadas classes C e D. Em sua programação estão incluídos programas de linguagem consideradas por muitos como "mais popular", mas também por programas regionais de elevado valor cultural, inclusive um telejornalismo de elevado nível. Portanto, quando a Fundação decide por veicular na TV Diário eventos culturais, esportivos e campanhas humanitárias o faz ciente de que o conteúdo de suas campanhas chegará a todos os lares, indistintamente. Ademais, ainda que divulgue seu calendário de matrículas e os cursos que oferta, é dever seu estimular a capacitação e formação educacional e científica, inclusive e principalmente dos cidadãos das classes C e D, como alicerce para o desenvolvimento da sociedade cearense. De outro lado, a forma como maneja os recursos da Fundação é de competência exclusiva do Conselho Curador. O fato de em um ano a Instituição gastar mais ou menos com publicidade ou fornecer mais ou menos bolsas de estudo é atribuição e decisão administrativa e gerencial, não importando tais decisões em motivação hábil e legal para a suspensão da imunidade. A fiscalização, mais uma vez, utiliza presunções, suposições e comparações não autorizadas por lei, com o único escopo de tentar cassar de forma ilegal a imunidade da Fundação Edson Queiroz. Quanto à afirmação de que "...é a Fundação que sustenta a Editora Verdes Mares e a TV Diário", não é verdade, eis ao verificar os balanços dos períodos em questão daquelas empresas, verseá que as mesmas auferem rendimentos de inúmeras fontes. Além do mais, nesse período, nenhum lucro ou dividendo foi distribuído aos sócios daquelas empresas, fato que por si só descaracteriza uma eventual tentativa de distribuição disfarçada do patrimônio da Fundação via de tais empresas, como foi aventado pela fiscalização, consoante se provou mediante a juntada dos balanços na Manifestação de Inconformidade apresentada em 24/09/2012. Fl. 767DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 15 14 Relativamente à afirmação de que a Fundação teria pago valores maiores que a concorrência pela publicidade, temse que a FEQ não tem acesso a política de preços praticada pelas empresas que contrata, portanto, utiliza o bom senso e os referenciais de mercado para negociar seus contratos. Interessante notar, por final, que os anúncios são veiculados no Diário tendo em vista que aquele matutino é o mais lido no Estado, com alcance em todos os municípios e a constante publicidade é necessária para enfrentar a concorrência predatória que as demais faculdades fazem, baixando de forma irreal os preços, todavia, em contrapartida, oferecendo ensino de péssima qualidade. A UNIFOR, por outro lado, já se inseriu no Estado e no País e até no exterior como um referência no ensino superior. Vejase que a UNIFOR tem inúmeros convênios de cooperação e estudos firmados com universidades da Europa e dos Estados Unidos. Conforme anteriormente destacado, as exposições que realiza e patrocina trazem para o Ceará mostras de artistas mundialmente consagrados, o que denota uma inequívoca disposição de melhorar e lapidar o nível cultural da sociedade cearense. Nesse sentido, reiterase, para que tais eventos tenham permeabilidade é preciso divulgálos, e é isso exatamente que a FEQ faz via os meios de comunicação que elege. Ainda quanto à TV Diário, a Fundação Edson Queiroz sempre pagou o valor da tabela apresentado pela Televisão e desconhece a política de descontos utilizada por aquela empresa. PARTICIPAÇÃO EM GRUPO ECONÔMICO Como já se disse alhures, a Fundação Edson Queiroz e o Grupo Edson Queiroz, embora, são entes diversos e autônomos, estão umbilicalmente ligados, uma vez que o criador de um foi o fundador da outra. Ademais, tanto as empresas do Grupo Edson Queiroz, quanto a Fundação Edson Queiroz, têm a família Queiroz, como sócios e curadores e não poderia ser diferente. A afirmação de grupo econômico é absurda e fantasiosa, uma vez que é impossível dissociar a FEQ da família Queiroz, senão vejase. A afirmação de que a Fundação faz parte do Grupo Edson Queiroz é totalmente descabida uma vez que, não se vislumbra em todo o trabalho fiscal um indício sequer de que a/as empresa/s do Grupo Edson Queiroz estivessem unidas em torno de um propósito comum, promovendo uma cadeia de negócios formalmente lícitos, mas com intuito substancial de desviar patrimônio da Fundação Edson Queiroz. Ao contrário, o que se vê é a administração eficiente e individualizada tanto das empresas do Grupo quanto da Fundação Edson Queiroz. As empresas são dirigidas por Yolanda Queiroz e a FEQ por Airton Queiroz, como já demonstrado na Manifestação de Inconformidade apresentada em 24/09/2012. Tudo o mais são conjecturas infundadas e presunções não autorizadas uma vez que não existe nenhum normativo na legislação pátria que proíba que uma família institua e administre uma fundação e tenha também negócios outros no âmbito empresarial. INVESTIMENTO EM BOLSA DE VALORES Fl. 768DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 16 15 A autoridade fiscalizadora afirma que a Fundação vem efetuando aplicações de recursos em ações da Petrobrás S/A e da Vale do Rio Doce, o que caracterizaria um desvio de seus objetivos institucionais. Inicialmente, vale lembrar que tanto a doutrina quanto a jurisprudência administrativa e judicial são unânimes em entender que a aplicação de recursos financeiros mediante remuneração compatível com as taxas vigorantes no mercado, não implica concluir que a entidade esteja descumprindo a condição fixada na Lei que é: "aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos sociais." Assim, o investimento das reservas da Entidade, seja em mercado de renda variável, renda fixa ou em qualquer outro tipo de investimento, visa, tão somente, preservar o patrimônio da Entidade, o que ao contrário do que foi dito pela autoridade recorrida, longe de ser infração é uma obrigação do gestor da Fundação. De outro lado, está pacificado o entendimento de que a Lei não estabelece prazo para que ocorra a aplicação dos recursos financeiros, até porque não teria sentido fixar tal exigência. Cada entidade é livre para julgar a oportunidade de realizar seus investimentos. O planejamento que vise a inversão de capital no desenvolvimento dos objetivos sociais pode ter como meta o longo prazo, e até que chegue a oportunidade de fazêlo, a instituição tem a liberdade de promover ou escolher a melhor forma de preservar suas disponibilidades. Cumpre consignar, por relevante, que o fato de determinada entidade ser classificada como de assistência social, filantrópica ou de educação, não implica, necessariamente, prestação de serviços gratuitos a todos quanto dela necessitem. Tal entendimento, segundo a mais abalizada doutrina, não encontra guarida nem no texto constitucional, nem nas regras jurídicas emanadas do Lei n°5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN). IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, em Parecer exarada a propósito de consulta formulada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, datado de 11 de dezembro de 2001, assim se manifestou sogre o assunto em foco: [...] A jurisprudência da Câmara Superior de Recursos Fiscais filiase à tese ora defendida. [...] No mesmo sentido, temos manifestações do Conselho de Contribuintes traduzidas nos Acórdãos n°s 10319.567, de 1998 e 103 23.066 de junho de 2007, "verbis": [...] Fl. 769DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 17 16 Por fim, vale notar que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 1.8023, cuja liminar foi por unanimidade concedida (DOUde 09/09/1998), assim se manifestou: [...] Dúvidas não restam, portanto, que o artigo 12 da lei ordinária n° 9.532/97 é inconstitucional, haja vista que a Constituição Federal ao mencionar a palavra lei, na alínea "c", do inc. VI, do art. 150 da CF/88, se referia a lei complementar e não lei ordinária. Portanto, o legislador fugiu de sua competência ao delimitar a aplicação da imunidade ali prevista. Esse entendimento já foi pacificado junto ao STF, no sentido de que a matéria de limitação constitucional ao poder de tributar caberá somente à Lei Complementar. Não fosse assim, a decisão contida na Medida Cautelar em epígrafe tem eficácia contra todos consoante disposto no artigo 11 da Lei 9.868/99. PROJETOS ASSISTENCIAIS O fato de a Fundação, que é a mantenedora da UNIFOR, utilizar as unidades nas quais são prestados serviços gratuitos à população para treinamento e estágios de alunos da UNIFOR em nada prejudica ou desnatura os objetivos de uma ou outra instituição. A capacitação e o treinamento de alunos da UNIFOR em unidades da Fundação traz benefícios à população, à UNIFOR, à sua mantenedora e aos alunos. Ademais, frisese que sua motivação é verdadeiramente de alcance social, porque os custos para oferecimento de estágio aos seus alunos em outras instituições, notadamente as de caráter público, são infinitamente menores. A manutenção de aparelhos como o NAMI, que prestam serviços à população mais carente, é por demais onerosa. Não há, portanto, que se falar em benefício próprio, o benefício é da sociedade. Nesse diapasão, não há nessa conduta, qualquer violação dos requisitos para fruição e gozo da imunidade tributária. CONCLUSÃO A fiscalização, nada obstante o hercúleo e bem elaborado trabalho, nada apontou de concreto que comprovasse a distribuição de qualquer parcela do patrimônio ou das rendas da FEQ; a não aplicação no País os recursos por ela angariados na manutenção dos seus objetivos sociais ou a falta de escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar a sua exatidão. Patinou a fiscalização apenas no campo da especulação, da suposição, da comparação e da presunção. Elementos estes não referendados pela legislação que rege a matéria, pelo que não podem ser utilizados em face da elevada dose de subjetividade suportada por aqueloutros elementos. Por isto mesmo a jurisprudência do CARF e a judicial são uníssonas ao entender que "A prova do desvio na aplicação de recursos de instituição a justificar a suspensão da imunidade tributária, deve ser evidente e cabal. Pequenas Fl. 770DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 18 17 irregularidades formais, não são capazes de desnaturar a sua condição. "(ac. 103 23.066 Conselho de Contribuintes). Insubsistem, desse modo, os alegados descumprimentos aos incisos I, II e III do artigo 14 e do art. 9°, IV, "c", ambos do CTN, uma vez que a impugnante não distribuiu qualquer parcela do seu patrimônio ou de suas rendas, nem tampouco aplicou recursos em objetivos diversos dos das suas finalidades institucionais. Como visto, é transparente que a Fundação Edson Queiroz segue rigorosamente os ditames aos quais está subordinada, cumprindo de forma eficiente e altiva os objetivos para os quais foi constituída. E mais, ao contrário do que a SRFB deseja fazer ver por meio de ilações das mais diversas matizes só vem a comprovar que a Fundação Edson Queiroz jamais descumpriu os incisos I e II do Art. 14 da Lei 5.172/66, senão vejase. DO PEDIDO Face ao exposto, requerse o cancelamento do Ato Declaratório Executivo n° 80, de 26 de outubro de 2012, com a manutenção do benefício fiscal da imunidade nos anos de 2008, 2009 e 2010. É o que se tem a relatar. A DRJ manteve a suspensão da imunidade, nos seguintes termos: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2008, 2009, 2010 INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO E DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. IMUNIDADE. FISCALIZAÇÃO. ATO DECLARATÓRIO DE EXCLUSÃO. IMPUGNAÇÃO. Representa desatendimento aos requisitos necessários ao gozo da imunidade destinada às instituições de educação e de assistência social a constatação de que a beneficiária adotou as condutas a seguir elencadas: o oferecimento de publicidade em equipe esportiva da entidade para empresa do mesmo grupo econômico, sem a devida cobrança pelo serviço prestado; a concessão pela entidade de bolsas de estudo a empregados das empresas que compõem o grupo econômico em que se encontra inserida, sem qualquer contrapartida por parte das empregadoras; a aplicação de recursos no mercado de ações, ato incompatível com a manutenção dos objetivos institucionais; o pagamento de anúncios publicitários em empresas pertencentes ao grupo econômico de seus dirigentes em valores superiores aos preços praticados para os demais anunciantes; e a participação da interessada em grupo econômico com fins lucrativos. Irresignada com a decisão de primeira instância, a interessada interpôs recurso voluntário a este CARF, repisando os tópicos trazidos anteriormente na impugnação na parte mantida, aduzindo em síntese: a Interessada nega qualquer favorecimento da Fundação para as empresas do grupo; Fl. 771DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 19 18 o oferecimento de bolsas de estudo a quaisquer beneficiários se enquadra em seu objetivo social; a simples aposição do nome de empresa do grupo nas camisas da equipe de futsal da UNIFOR não caracteriza descumprimento de atribuição estatutária; inexiste a apontada interrelação do Grupo Edson Queiroz com a Fundação, os quais são dirigidos por pessoas distintas, como nomeia; eventual utilização conjunta de instalações e mão de obra, não autoriza a se concluir que estejam sendo violados os objetivos da Fiscalizada, ou que ela vise lucro, pois tal fato representa racionalização na gerência e administração visando a economia de recursos; não há vedação legal aos gastos com publicidade, cabendo ao Conselho Curador da Fundação decidir a forma como maneja os seus recursos; as ilações ou suposições do autor do feito a esse respeito não se prestam a suspender a imunidade da Instituição; as referidas despesas se justificam para a manutenção e atração de novos alunos para a Universidade, diante da grande concorrência no mercado; não é verdadeira a afirmação do autor do feito, de que o jornal Diário do Nordeste (Editora Verdes Mares) e a TV Diário são sustentados pelas receitas oriundas da Fundação, pois têm eles inúmeras outras fontes de rendimentos, conforme os respectivos balanços; tampouco, no período em questão, foi distribuído qualquer lucro ou dividendo aos sócios das citadas empresas, fato que descaracteriza eventual tentativa de distribuição do patrimônio da Fundação; acerca do tratamento desvantajoso apontado pela Fiscalização, afirma que não tem acesso à política de preços praticada pelas empresas que contrata, utilizando o bom senso e os referenciais de mercado para negociar seus contratos; anuncia no Diário do Nordeste por ser o jornal mais lido no Estado, e a constante publicidade é necessária para enfrentar a concorrência observada no setor em que atua e divulgar os importantes eventos culturais que promove; quanto à TV Diário, a FEQ sempre pagou o valor da tabela apresentado pela emissora, desconhecendo a política de descontos por ela utilizada para os demais anunciantes. É o relatório. Fl. 772DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 20 19 Voto Conselheiro Antonio Bezerra Neto, Relator O recurso preenche os requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. Conforme relatado, tratase de recurso voluntário, envolvendo a suspensão da imunidade/isenção da entidade recorrente. A questão posta em debate diz respeito à Fundação Edson Queiroz, pessoa jurídica de direito privado considerada imune por se tratar de instituição de educação sem fins lucrativos (art. 150, inc. VI, "c" da Constituição Federal) que teria, em razão da prática de diversos atos que lhe foram imputados, infringido as disposições dos artigos 9°, § 1° e 14, incisos I a III da Lei n° 5.172, de 1966, o Lei n° 5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN), a seguir reproduzidos, o que teve por conseqüência a suspensão do benefício fiscal considerado: CONSTITUIÇÃO FEDERAL Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] VI instituir impostos sobre: [...] c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem _fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; [...] CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 9°É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] IV cobrar imposto sobre: [...] c) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, observados os requisitos fixados na Seção II deste Capítulo. [...] Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9° é subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas: Fl. 773DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 21 20 I não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; II aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; III manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. [destaques acrescidos] A imunidade tributária corresponde a uma expressa vedação constitucional determinando que a norma tributária não incida sobre um determinado fato ou uma especificada situação em relação aos quais, não fora o comando constitucional, normalmente incidiria, não se confundindo com a não incidência, menos ainda com a isenção. PREJUDICIAL DE MÉRITO (MANDADO DE SEGURANÇA) Alegou a Recorrente que o Auditor Fiscal não teria observado que a Entidade é detentora de decisão judicial transitada em julgado, reconhecendo o benefício fiscal de que se cuida, condicionada apenas ao cumprimento do inciso I, do art. 14, do CTN, o que comprometeria os pressupostos do raciocínio fiscal sob análise (na verdade, a dita condição alcança todo o art. 14, do CTN, conforme petição inicial da referida ação, constante das fls. 547/574). Porém, conforme muito bem observado pela decisão de piso, a matéria tratada no Mandado de Segurança n° 99.00096231, objeto da citada ação, diz respeito à imunidade das contribuições previdenciárias previstas no art. 22, da Lei n° 8.212, de 24 de julho de 2001, cuja decisão judicial transitada em julgado afastou a aplicação do disposto no art. 55 desta Lei, e de suas alterações introduzidas pela Lei n° 9.732, de 1998, assegurando a fruição do benefício com base apenas na observância do disposto no art. 14, do CTN, enquanto que os presentes autos cuidam de imunidade do Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ e tributação reflexa, nos anoscalendário de 2008 a 2010, restando, portanto, patente se tratarem de matérias distintas. Fatos Apontados na Autuação como Prejudiciais à Fruição da Imunidade/Isenção No mérito, a autuação se baseia em 2(dois) pressupostos básicos e seus desdobramentos para descaracterizar a imunidade da Recorrente: 1) A Fundação Edson Queiroz participa de grupo econômico de fato e regular o Grupo Edson Queiroz cujo objetivo é o lucro, contrariando o estatuto social da Entidade, ou seja, todo o contexto indica que a entidade não atenderia o primeiro requisito básico, que seria não possuir fins lucrativos. Esse pressuposto básico não atendido já de pronto seria suficiente para ensejar a descaracterização da entididade sem fins lucrativos; 2) Afora o desatendimento de critério básico referido no item anterior, a Recorrente descumpriu também os requisitos postos em lei para fruição dos benefícios fiscais aplicáveis às entidades imunes e que ensejaria também a suspensão da imunidade. Fl. 774DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 22 21 Ou seja, ofereceu, no período considerado, vantagens indiretas a seus dirigentes, por meio de empresas a eles pertencentes, componentes do Grupo Edson Queiroz, consubstanciadas nos seguintes fatos descritos na Notificação sob análise e que estariam também umbilicalmente ligados ao item 1 acima retratado: 2.1 A Fundação Edson Queiroz ofereceu vantagens a empresas pertencentes a seus dirigentes, através de oferta de bolsas de estudo a empregados de empresas componentes do Grupo Edson Queiroz, conforme detalha; ao conceder as referidas bolsas, a Interessada distribuiu parcelas de seu patrimônio e/ou renda, além de aplicar recursos em atividades distintas de seus objetivos institucionais, ferindo o disposto nos incisos I e II, do Art. 14, do CTN. 2.2 A Fundação Edson Queiroz ofereceu vantagens a empresas pertencentes a seus dirigentes, através de gastos com equipe feminina de futebol de salão (futsal), por meio da qual divulga gratuitamente, sob a forma de publicidade, a empresa NACIONAL GÁS BUTANO, componente do grupo econômico por eles controlado; os referidos gastos se referem ao pagamento de ajuda de custos às atletas que compõem a equipe e de despesas com a sua manutenção, como de viagens, entre outras, além de bolsas de estudos gozadas pelas atletas; 2.3) A Fundação Edson Queiroz ofereceu vantagens a empresas pertencentes a seus dirigentes, através de gastos com publicidade realizados exclusivamente em veículos de comunicação componentes do Grupo Edson Queiroz (Editora Verdes Mares Ltda, TV Diário Ltda, Rádio Verdes Mares Ltda e Televisão Verdes Mares Ltda); 2.4) A Fundação Edson Queiroz ofereceu vantagens a empresa pertencente a seus dirigentes, através de pagamentos com publicidade realizados em desvantagem em relação aos demais anunciantes de veículo de comunicação componente do Grupo Edson Queiroz; 2.5) A Fundação Edson Queiroz, durante o período sob auditoria, vem repetindo a prática, já observada em períodos anteriores, de efetuar aplicações no mercado de ações, investindo elevados recursos em companhias abertas, como a Petrobrás S/A, a Cia Vale do Rio Doce e a TAM S/A (chegando a um saldo de cerca de R$ 155 milhões em 2010); Tratandose a Fundação Edson Queiroz de uma instituição de ensino cuja imunidade foi suspensa pela DRF Fortaleza, há que se perquirir se existem nos autos elementos suficientes para comprovar que a pessoa jurídica canalizou seus recursos para propósitos diversos de suas finalidades essenciais, como apregoado pela fiscalização, ou, ao contrário, os argumentos apresentados pela Recorrente elidiriam essa infração. Passemos, então, a análise de cada um dos fundamentos da autuação, 1) A Fundação Edson Queiroz participa de grupo econômico de fato e regular Ao afirmar que os fatos apurados configuram o oferecimento de vantagens aos dirigentes da Fundação, o autuante tomou o cuidado primeiro de bem contextualizar a acusação fiscal, demonstrando a estreita interrelação existente entre a Entidade fiscalizada e as empresas que compõem o Grupo Edson Queiroz, não só na questão das pessoas que participam da direção de ambos todas componentes do grupo familiar como no entrelaçamento das Fl. 775DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 23 22 atividades por eles exercidas, inclusive com o concurso de empregados comuns, fartamente documentado nos autos pelo fiscal, como se resume a seguir a partir da decisão DRJ: • centralização na sede do Grupo Edson Queiroz de grande parte da logística de todas as empresas que o compõem, incluindo a Fundação (contabilidade, setores financeiro e jurídico); • identificação de funcionários que trabalham indistintamente em várias empresas do Grupo Edson Queiroz, inclusive para a Fundação (especialmente nos setores jurídico e de contabilidade); • unidade de comando pois os termos das diligências realizadas em diversas empresas do Grupo Edson Queiroz foram assinados pelo mesmo procurador da Fundação; • participação dos responsáveis pela Fundação na composição societária das diversas empresas do Grupo Edson Queiroz, como especificado; • existência de convênios para a prestação de serviços de saúde destinados aos funcionários, firmados conjuntamente pela Fundação e empresas do Grupo Edson Queiroz, assim como de convênios entre a Fundação e as demais empresas do Grupo Edson Queiroz para intermediar a venda de seus produtos para funcionários da Fundação; • a responsável pela contabilidade da Fundação é funcionária da Paragás Distribuidora Ltda, empresa pertencente ao Grupo Edson Queiroz; • a Fundação Edson Queiroz é exibida ao público no sítio do Grupo Edson Queiroz na rede mundial de computadores como parte integrante do grupo, tendo sido acrescido ainda que no citado sítio consta que “as empresas do Grupo Edson Queiroz exercem sua prática de responsabilidade social através da Fundação Edson Queiroz”. No entender do fiscal aqui se configuraria perfeitamente uma relação entre as empresas do grupo, sem, contudo, que seja possível identificar a existência de uma empresa líder, tratandose do chamado grupo econômico por coordenação, tese abraçada pelo TST e pelo STJ. Como corolário dessas constatações, o Auditor Fiscal, o fiscal lança a indagação se é possível que uma entidade sem fins lucrativos possa compor um grupo econômico que visa tão somente o lucro, para então concluir que a participação da Fundação em grupo econômico constitui um impedimento ao gozo da imunidade concernente ao IRPJ e às contribuições sociais, pois resta comprovado que o seu verdadeiro objetivo é, ao contrário do que prescreve o seu Estatuto Social, o auferimento de lucro, afrontando o disposto no art. 9°, inciso IV, alínea "c", do CTN, e determinando a suspensão do benefício fiscal destinado apenas às entidades sem fins lucrativos. Assim, por exemplo, ao oferecer bolsas de estudos aos funcionários e dependentes das empresas do aludido grupo empresarial, fato não contestado pela Interessada, a Fundação extrapola o seu objetivo social, pois é inegável que a sua atuação não pode ser direcionada a beneficiar determinados grupos de pessoas, apenas por estarem vinculadas às empresas controladas por seus dirigentes; tais benefícios configuram salário indireto dos funcionários, ônus esse, que passa a ser indevidamente arcado pela Entidade, e caracteriza, sim, distribuição indireta de resultado aos seus dirigentes que, como sócios e/ou acionistas daquelas Fl. 776DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 24 23 empresas, se beneficiam de seus resultados incrementados pelo custo suportado indevidamente pela Fundação. 2.1. VANTAGENS A EMPRESAS PERTENCENTES A SEUS DIRIGENTES BOLSAS DE ESTUDOS A EMPREGADOS Segundo a Fiscalização, a Fundação Edson Queiroz teria concedido bolsas de estudo a empregados de empresas do Grupo Edson Queiroz, favorecendo injustificadamente tais empresas por se eximirem do ônus financeiro que normalmente lhes seria exigível, abdicando indevidamente de parcela normalmente cobrada das pessoas jurídicas em geral, o que significaria uma forma indireta de desvio de recursos para o patrimônio das pessoas jurídicas do grupo. A Recorrente, por sua vez se defende dessa acusação alegando que o fato relatado pela fiscalização não caracteriza nenhuma vantagem às ditas empresas, configurando distribuição de seu patrimônio, dado que os beneficiários do fornecimento de bolsas de estudos são as pessoas físicas dos bolsistas e não as empresas e, muito menos, os seus dirigentes. Aduziu, por fim, que ao fornecer bolsas de estudos, seja para funcionários do Grupo Edson Queiroz, seja para qualquer outra pessoa, a Instituição somente cumpriria com um de seus objetivos sociais, previsto no art. 1o de sua Escritura Pública de Constituição, qual seja, o de "elevar o nível cultural e educacional na área em que a Instituição venha a exercer as suas atividades". Falaciosa a sua argumentação, pois ao oferecer bolsas de estudos aos funcionários e dependentes das empresas do aludido grupo empresarial, fato não contestado por ela, a Fundação extrapola o seu objetivo social, pois não há dúvidas que a sua atuação não pode ser direcionada a beneficiar determinados grupos de pessoas sem critério objetivo algum, como foi o caso. Nesse contexto, como as bolsas por estarem vinculadas às empresas controladas por seus dirigentes; tais benefícios configuram salário indireto dos funcionários, ônus esse, que passa a ser indevidamente arcado pela Entidade, e caracteriza, sim, distribuição indireta de resultado aos seus dirigentes que, como sócios e/ou acionistas daquelas empresas, se beneficiam de seus resultados incrementados pelo custo suportado indevidamente pela Fundação. Outrossim, como bem colocou a fiscalização, caindo por terra também a sua alegação recursal de que a DRJ teria inovado nesse fundamento: Ademais, a Fundação não tem motivo nenhum para beneficiar um funcionário que não é seu. mas de uma outra empresa do mesmo grupo econômico, demonstrando claramente que o real beneficiário não é o funcionário, mas a empresa para o qual este trabalha. Se não fosse assim, qualquer interessado em obter uma bolsa de estudos na Fundação teria a mesma chance que um funcionário de empresas do grupo, o que não se observa na prática, tendo em vista que as bolsas concedidas a pessoas que não são funcionários da Fundação ou de outras empresas do grupo somente acontecem mediante os chamados descontos comerciais ou àquelas pessoas participantes do PROUNI. 16. Desta forma, podese aferir que as empresas do Grupo Edson Queiroz foram beneficiadas com o fornecimento de bolsas pela Fundação Edson Queiroz em Fl. 777DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 25 24 R$ 909.432.72 (novecentos e nove mil. quatrocentos e trinta e dois reais e setenta e dois centavos). Portanto, considero injustificado o favorecimento e caracteriza, sim, salários indiretos pagos aos empregados das empresas do grupo, efetuado com a utilização de recursos da Fundação impropriamente direcionados para a cobertura de custos das empresas vinculadas aos dirigentes da entidade. 2.2 A Fundação Edson Queiroz ofereceu vantagens a empresas pertencentes a seus dirigentes, através de gastos com equipe feminina de futebol de salão (futsal), NACIONAL GÁS BUTANO Conforme bem ressaltou a fiscalização: Outro ponto importante é que a publicidade da Nacional Gás na equipe de futsal da Fundação Edson Queiroz é gratuita. Todos os gastos na manutenção da equipe (ajuda de custo, bolsas de estudo e despesas de viagem) foram realizados pela Fundação, não havendo qualquer repasse, ressarcimento, reembolso ou pagamento pela Nacional Gás, direta ou indiretamente, à Fundação, consoante reconhece a própria Nacional Gás no documento em anexo "Item 22 Resposta TIF". Ora. a publicidade a título gratuito constitui inegavelmente distribuição de receitas e/ou patrimônio da Fundação Portanto essa questão envolvendo a equipe esportiva da UNIFOR,/NACIONAL GÁS BUTANO que estampa em seus uniformes, sem ônus para os beneficiários(outras empresas do grupo), publicidade de empresa do Grupo Edson Queiroz, caracteriza, por um lado, uma clara renúncia de receita da Fundação, em detrimento de seus resultados sociais e, por outro, uma vantagem do anunciante que economiza a despesa de publicidade, aumenta o lucro no período e favorece os seus sócios pela disponibilização da correspondente renda adicional, fato que igualmente configura distribuição indireta de resultado da Entidade. A Recorrente alega em sua defesa o fato de a Fundação manter uma equipe de futsal não constitui qualquer impedimento para o gozo de imunidade, ao contrário, tratase de uma atividade normalmente desempenhada por instituições de ensino, beneficentes ou não. E que o oferecimento de ajuda de custo e de bolsas de estudo para as atletas também não pode ser considerado como restrição ao gozo da imunidade. O problema maior não é nem as estampas da UNIFOR que aparecem em menor destaque, mas sim o nome de outra empresa do grupo, pois na verdade, a equipe de futsal da Fundação é chamada de NACIONAL GÁS UNIFOR. Conforme descrito no TVF: "(...) o uniforme da equipe traz o logo da Nacional Gás em destaque maior do que o da Unifor e suas cores não são o azul e branco da Unifor. mas o vermelho, azul e branco, da Nacional Gás. Nos sítios oficiais dos campeonatos dos quais a equipe participa, não se vê em lugar nenhum o logotipo da Unifor. mas sim da Nacional Gás (documentos em anexo "Item 20 Equipe Futsal Símbolos". "Item 20 Equipe Futsal Notícias"). A equipe é conhecida por Nacional Gás. e não por Unifor. De tudo isso. analisando Fl. 778DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 26 25 quaisquer dos símbolos da equipe, identificase com muito mais clareza e facilidade a Nacional Gás do que a própria Unifor (Fundação). Registrese que a Nacional Gás compõe o Grupo Edson Queiroz, mesmo grupo econômico da Fundação. 21. Desta forma, percebese que a equipe de futsal é utilizada muito mais como um instrumento de publicidade da Nacional Gás do que para prática desportiva pelos alunos da fundação, ferindo assim seus princípios institucionais que deveriam ser educação e ensino, e não publicidade. Como reforço, percebese que as atletas não são selecionadas entre as alunas, a maioria é selecionada como atleta, para depois ser oferecida bolsa de estudo e assim compor o corpo discente da Unifor, ou seja. a equipe de futsal são surgiu naturalmente entre as alunas da Fundação, mas foi artificialmente criada como um instrumento de promoção da Nacional Gás. Esta afirmação é decorrente do fato de que as atletas sempre foram bolsistas da Unifor, desde seu ingresso na universidade. Gastando em torno de R$ 100 mil por ano com a equipe esportiva, a Fundação com uma administração eficiente, como diz que tem, e que tenha seu procedimento voltado para o atendimento das finalidades institucionais da entidade, deveria cobrar algum valor do anunciante, mas não o fez. Neste contexto, apesar de não se tratar de uma quantia de grande monta, tendo em vista o porte da Fundação, porém em conjunto com os outros descumprimentos, entendo haver sido demonstrada adequadamente a existência de injustificada renúncia de recurso da instituição em favor de empresa vinculada aos dirigentes da Recorrente, desatendendo também a condição estabelecida nos incisos I e II do art. 14 do CTN. 2.3 INVESTIMENTO EM BOLSA DE VALORES Conforme relatado pela fiscalização, a Fundação Edson Queiroz aplicou recursos na bolsa de valores, em ações da Petrobrás S/A, da Companhia Vale do Rio Doce S/A e da TAM S/A (lançamentos contábeis efetuados na conta contábil 13210009 Custo de Aquisição dos Investimentos). Os valores aplicados pela Fundação em cada exercício foram bastante significativos, de R$ 24.630.943,86. em 2008. R$ 0.00 em 2009. R$ 26.852.405.43 em 2010. Esses são os valores de novas ações adquiridas no período. Contudo, se contarmos os valores totais de recursos investidos em ações, temse que no final de cada um dos exercícios, a Fundação mantinha em ações destas empresas, os seguintes montantes: 31/12/2008, R$ 128.696.234.97; 31/12/2009. R$ 128.696.234,97; e 31/12/2010, R$ 155.529.669.87. Ora, é claro que a manutenção de recursos da Fundação Edson Queiroz em operações de renda variáveis com alto risco de perda (ações), em montantes bastante expressivos, caracteriza a aplicação em objetivos distintos das finalidades institucionais de uma entidade beneficente, ferindo assim o disposto no art. 14. II do CTN. constituindo motivo bastante suficiente para suspensão da imunidade. Tais recursos deveriam ser aplicados nas atividades educacionais ou assistenciais da Fundação, e não mercado financeiro. Fl. 779DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 27 26 É claro que a Fundação nem sempre consegue reaplicar o total de seu resultado positivo em suas atividades institucionais dada a magnitude deste resultado e tal "sobra" de caixa não pode ficar parado sem rendimentos. Assim seria perfeitamente admissível que este resultado positivo fosse aplicado em algum investimento que desse um bom retomo, mas sem nenhum risco de perda, como é o caso das aplicações de renda fixa, por exemplo, ou em outro investimento que não oferecesse risco. Entretanto, ao optar por investimentos que podem por um lado lhe dá um maior retorno financeiro em detrimento da segurança, revela mais uma vez que a fundação inserida umbilicalmente no grupo econômico visa de forma mais relevante o auferimento de lucro e o acúmulo de capital, e não simplesmente a manutenção do valor real dos seus recursos, para posterior reaplicação em seus objetivos institucionais. A doutrina é uníssima em revelar que em relação ã aplicação dos recursos auferidos, que o investimento deve ser em aplicações financeiras nas quais não seja caracterizado o risco elevado para não prejudicar o reconhecimento da condição de entidade sem fins lucrativos e desde que, os resultados obtidos sejam integralmente aproveitados em benefício da própria instituição. É também nessa linha de entendimento que o STF tem caminhado, mas não a ponto de amparar o caso concreto que se distingue do caso analisado pelo STF pelo fato de lá não se tratar de aplicações financeiras de risco como é o caso das aplicações em rendas variáveis no mercado acionário. Segundo a DIPJ da Fundação, esta recebeu a título de Juros de Capital Próprio e dividendos decorrentes da titularidade de ações de outras empresas os seguintes valores: Ano Dividendos JCP 2008 387.976,25' 3.525.564,90 2009 4.136.748,56 4.658.414,78 2010 877 452,96 5.468.095,63 Portanto, nesse contexto ferese novamente o disposto no art. 9o, IV. "c" do CTN, uma vez que a imunidade somente deve ser conferida às instituições SEM FINS LUCRATIVOS. Porém, relva ressaltar, em consonância com o art. 63, § 8º do RICARF, consigo que fui vencido pela maioria do colegiado quanto à esse fundamento, tendo a maioria do colegiado votado pelas conclusões em função apenas de entenderem que a aplicação em renda variável por entidade sem fins lucrativos por si só não seria suficiente para manter a suspensão da imunidade. 2.4) EXCESSIVOS GASTOS PUBLICITÁRIOS EM EMPRESAS DO GRUPO EDSON QUEIROZ, PAGOS EM CONDIÇÕES DESVANTAJOSAS Os dispêndios com publicidade em empresas do ramo das comunicações pertencentes ao Grupo Edson Queiroz foram considerados pelo fisco como desproporcionais, propositadamente voltados para a finalidade de distribuir indiretamente lucro da Fundação para as empresas do grupo, associado a isso ainda o fato de que os pagamentos foram efetivados em condição desvantajosa, relativamente aos demais anunciantes em geral. Fl. 780DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 28 27 O autuante apresentou essa questão por três prismas: o excesso de dispêndios, se comparados com os gastos de empresas concorrentes no mercado do ensino superior, todas elas com fins lucrativos e oneradas pela tributação que a Interessada não suportou no período, em razão da imunidade ora sob questionamento; o direcionamento dos anúncios exclusivamente para os veículos de comunicação pertencentes ao Grupo Edson Queiroz; a constatação de pagamentos com publicidade realizados em desvantagem em relação aos demais anunciantes da TV Diário. Quanto ao montante, o autuante trouxe à baila diversos demonstrativos buscando comprovar numericamente que, também sob esse aspecto, o modus operandis da Entidade contraria os seus objetivos sociais, por destinar valores excessivamente altos para anúncios publicitários veiculados sempre em empresas do grupo empresarial a que se acha ligada. A utilização de dados comparativos contidos na Notificação (evolução histórica dos gastos em questão, a sua relação com o montante do lucro real, da receita bruta e do IRPJ que deixou de ser recolhido no período por conta do benefício fiscal, e, ainda, o confronto desses dados com os gastos de outras empresas de educação congêneres teve o objetivo de bem contextualizar as conclusões a que chegou a autoridade fiscal. De fato, a meu ver esse tópico é o de todos os descumprimentos o que a meu ver mais depõe contra a Recorrente, seja pela excessividade dos gastos com publicidade, sejam em valores absolutos ou relativos (comparados com a concorrência); seja pelo suspeito direcionamento dos recursos tão somente para empresas do Grupo Edson Queiroz, influindo diretamente no resultado dessa pessoas jurídicas e, por fim, seja pela desproporcionalidade demonstrada pelo fiscal quanto a maior onerosidade dos valores cobrados da Fundação, quando comparados àqueles exigidos das demais empresas. O apontado excesso nas despesas em questão levou o autuante a tecer as seguintes considerações e assim concluir que as duas empresas de comunicação do Grupo são sustentadas pela Fundação: Demonstrouse que, embora se declare uma fundação sem fins lucrativos, a Fundação Edson Queiroz gastou em publicidade no jornal Diário do Nordeste e na TV Diário mais que qualquer outra empresa com fins lucrativos. Mas o fato não é apenas que a Fundação dispenda mais que qualquer outro anunciante, o fato é que a Fundação gasta em anúncios muito mais que qualquer outro cliente. Para se ter idéia, para se chegar ao valor gasto pela Fundação na Editora Verdes Mares, é preciso se somar os três maiores anunciantes depois dela. No caso da TV Diário, é necessário se somar os seis maiores anunciantes depois da Fundação. Ou seja, é a Fundação que sustenta a Editora Verdes Mares e a TV Diário, repassandoas parte de suas receitas, incorrendo nas vedações expressas no art. 14, I e II do CTN durante todo o período entre os anos de 2008 e 2010, constituindo motivo para a suspensão da imunidade quanto ao IRPJ e tributos reflexos Fl. 781DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 29 28 Nesse contexto ao realizar esses gastos da forma como foi feito só demonstra a clara intenção da fundação em distribuir seus resultados positivos a outras empresas do mesmo grupo econômico de forma disfarçada e infringindo, portanto, o inc. II do art. 14 do Lei n° 5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN). E essa conclusão final se acha perfeitamente demonstrada também pelo voto irreparável da decisão de piso que não foi de forma alguma infirmado pela Recorrente, razão pela qual adoto seus fundamentos como razão adicional de decidir: (...)Aquiesceu a fiscalização inexistir na legislação norma a vedar a efetivação de gastos com publicidade por parte das instituições imunes, o que não impede que o caso concreto seja posto na berlinda, feitas as comparações e digressões que se mostrarem necessárias ao esclarecimento dos fatos, tendo sido destacados os seguintes aspectos: gastos com publicidade da Fundação R$ 13,19 milhões em 2008; R$ 12,67 milhões em 2009; R$ 14,48 milhões em 2010; variação de 3,53% de 2008 para 2009 e de 14,26% de 2009 para 2010; bolsas de estudo concedidas pela Fundação R$ 6,10 milhões em 2008; R$ 5,75 milhões em 2009; e R$ 5,81 milhões em 2010; variação de 6,09% de 2008 para 2009 e de 1,12% de 2009 para 2010; e lucro real da Fundação R$ 216.642,74 milhões em 2008; R$ 212.851,01 em 2009; R$ 227.872,95 em 2010; variação de 1,75% de 2008 para 2009 e de 7,06% de 2009 para 2010. O demonstrativo que se segue relaciona os três fatores considerados pela fiscalização: Publicidade Bolsas de Estudo Lucro Real Ano R$ (%) R$ (%) R$ (%) 2008 13.139.967,90 6.103.105,18 216.642.745,99 2009 12.675.690,28 3,53 5.752.526,91 5,74 212.851.018,32 1,75 2010 14.483.165,55 14,26 5.816.681,76 1,12 227.872.950,26 7,06 No entendimento do responsável pelo procedimento, o lucro apurado pela instituição não foi revertido em gratuidades, fim precípuo da Fundação, mas em gastos com publicidade, conclusão corroborada pelo fato de as variações dos gastos publicitários haverem sido mais expressivos do que os educacionais, demonstrando claramente que a prioridade da entidade não seria a prestação de serviços educacionais, mas o lucro e a sua posterior distribuição para as empresas do grupo em que se acha inserida. Objetivando demonstrar o afirmado, elaborou demonstrativo contendo os dispêndios da Fundação com publicidade, por ano e por veículo de comunicação participante do Grupo Edson Queiroz: Empresas Grupo EQ AnoCalendário 2008 AnoCalendário 2009 AnoCalendário 2010 Editora Verdes Mares 3.310.684,38 3.678.303,63 4.450.304,00 Rádio Verdes Mares 598.942,50 614.015,00 636.230,00 TV Verdes Mares 4.406.762,37 4.279.751,65 5.145.914,55 TV Diário 4.823.578,65 4.103.620,00 4.250.717,00 Totais 13.139.967,90 12.675.690,28 14.483.165,55 Fl. 782DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 30 29 Na visão do AFRFB, ao assim proceder a Fundação "teve por objetivo distribuir seus resultados positivos a outras empresas do mesmo grupo econômico, disfarçada sob a aparente inocência de gastos com publicidade", que "Se o interesse da Fundação fosse apenas em publicidade para divulgar suas atividades assistenciais e sua marca, ela realizaria publicidade em diversos veículos de comunicação, e de forma mais pulverizada, afim de alcançar o maior e mais variado público possível, e não apenas naqueles veículos de comunicação do mesmo grupo econômico". A defendente, por seu lado, destacou ser a mantenedora da UNIFOR, única Universidade particular do Estado do Ceará, contando com cerca de 25.000 (vinte e cinco mil) alunos, "necessitando de publicidade para lá mantêlos e outros angariar, haja vista a grande e predadora concorrência, estabelecida por mais de 15 Faculdades particulares, que juntas não atingem o mesmo número de alunos da UNIFOR", que a publicidade é "essencial ao alcance dos objetivos da Fundação, uma vez que de cunho educacional, social, cultural, desportivo e científico", que ao desenvolver campanhas publicitárias do tipo "doe de coração a Fundação não busca a captação de alunos, mas a conscientização de toda uma coletividade quanto à possibilidade de colaboração de cada indivíduo com a preservação da vida humana", que "seus esforços nesse segmento são voltados unicamente para a disseminação dos valores vida e solidariedade em cada cidadão", procedimentos para os quais deve "escolher veículos de grande audiência, do contrário, o conhecimento da realização do evento ficaria restrito àqueles cujo alcance aos meios tecnológicos é favorecido pelos recursos materiais" exemplificando, para tanto, a TV Diário por ser "um veículo de comunicação de grande alcance e com relevante audiência nas camadas sociais menos favorecidas, notadamente as chamadas classes C e D". Fez constar ainda que "Quanto à afirmação de que '...é a Fundação que sustenta a Editora Verdes Mares e a TV Diário', não é verdade, eis ao verificar os balanços dos períodos em questão daquelas empresas, verseá que as mesmas auferem rendimentos de inúmeras fontes" e que "nesse período, nenhum lucro ou dividendo foi distribuído aos sócios daquelas empresas, fato que por si só descaracteriza uma eventual tentativa de distribuição disfarçada do patrimônio da Fundação via de tais empresas, como foi aventado pela fiscalização, consoante se provou mediante a juntada dos balanços na Manifestação de Inconformidade apresentada em 24/09/2012". A fiscalização afiançou ainda que a Fundação teria pago valores maiores do que a concorrência em publicidade, argumento que foi rechaçado pela defesa sob a alegação de que "a FEQ não tem acesso a política de preços praticada pelas empresas que contrata, portanto, utiliza o bom senso e os referenciais de mercado para negociar seus contratos". Em síntese, quanto aos gastos com publicidade, os pontos mais relevantes considerados pela fiscalização podem ser assim sintetizados: excesso de dispêndios comparativamente com os gastos de publicidade das concorrentes no mercado de ensino, empresas com fins lucrativos, oneradas por tributação não suportada pela impugnante; Fl. 783DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 31 30 direcionamento dos anúncios exclusivamente para veículos de comunicação integrantes do Grupo Edson Queiroz; e pagamentos de publicidade em desvantagem, relativamente aos demais anunciantes da TV Diário. Em primeiro plano, destaco a minha surpresa com tamanho empenho da Fundação em angariar novos alunos além dos vinte e cinco mil atuais, o que seria o mote dos dispêndios publicitários, juntamente com a divulgação dos projetos assistenciais. Não me parece ser comum às instituições sem fins lucrativos se envolverem em renhidas disputas de mercado, juntamente com empresas voltadas exclusivamente para o lucro, sem qualquer preocupação social. No que diz respeito à grandiosidade dos gastos com publicidade, os números e os demonstrativos apresentados pelo autor do feito demonstraram com perfeição que, diferentemente do esperado para uma entidade de ensino imune, os valores pagos a título de publicidade foram sobejamente superiores ao que foi gasto com a concessão de bolsas de estudos, senão vejamos: Ano Publicidade (A) (A / C) Bolsas (B) (B / C) Lucro (C) 2008 13.139.967,90 6,07% 6.103.105,18 2,82% 216.642.745,99 2009 12.675.690,28 5,96% 5.752.526,91 2,70% 212.851.018,32 2010 14.483.165,55 6,36% 5.816.681,76 2,55% 227.872.950,26 Total 40.298.823,73 6,13% 17.672.313,85 2,69% 657.366.714,57 No acumulado entre 2008 e 2010, a Fundação gastou com publicidade 6,13% do lucro do período. Por outro lado, no que concerne aos dispêndios com bolsas de valores, o percentual não passou dos 2,69%, o que nos permite afirmar que os gastos com publicidade superaram aqueles relacionados às bolsas de valores em 228,03%, procedimento que reputo incompatível para uma instituição de ensino imune aos tributos. Para que não se diga que a magnitude de tais gastos seria decorrente do elevado porte da Fundação, o AFRFB elaborou interessante investigação dos dispêndios com publicidade suportado pelas principais "concorrentes" (termo que não me parece adequado para uma entidade beneficente) da Fundação para, ao final, evidenciar que a interessada gasta mais do que qualquer outra empresa do ramo, seja em valores absolutos, seja em termos proporcionais Gastos com Publicidade / Receita Bruta de Serviços Ano Fundação Empresa A Empresa B Empresa C 2008 6,54% 2,46% 0,78% 2,17% 2009 5,93% 1,38% 0,61% 1,38% 2010 6,53% 1,02% 0,31% 1,05% Médias Individuais 6,33% 1,62% 0,57% 1,53% Média Concorrentes 1,24% Relativizandose os valores gastos com publicidade, denotase que, em média, no período fiscalizado as principais "concorrentes" da Fundação, todas com fins lucrativos, gastaram 1,24% das respectivas receitas brutas ao passo que na pessoa jurídica albergada pela imunidade o índice foi de 6,33%. Assim, em termos proporcionais o Fl. 784DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 32 31 dispêndio com publicidade da Fundação foi 410,48% superior ao de suas "concorrentes". Além da grandeza dos dispêndios, as publicidades foram direcionadas exclusivamente para veículos de comunicação integrantes do Grupo Edson Queiroz. Conforme diligência fiscal levada a termo na TV Diário e na Editora Verdes Mares, foi constatado ser a Fundação disparadamente a principal anunciante de ambas as pessoas jurídicas, gastando muito mais com publicidade do que qualquer outro anunciante com fins lucrativos: [...] para se chegar ao valor gasto pela Fundação na Editora Verdes Mares, é preciso se somar os três maiores anunciantes depois dela. No caso da TV Diário, é necessário se somar os seis maiores anunciantes depois da Fundação. Ou seja, é a Fundação que sustenta a Editora Verdes Mares e a TV Diário, repassandoas parte de suas receitas, incorrendo nas vedações expressas no art. 14, I e II do CTN durante todo o período entre os anos de 2008 a 2010, constituindo motivo para suspensão da imunidade quanto ao IRPJ e tributos reflexos. [demarquei] A impugnante, por sua vez, assegurou não ser verdadeira essa afirmação pois "eis ao verificar os balanços dos períodos em questão daquelas empresas, verseá que as mesmas auferem rendimentos de inúmeras fontes. Além do mais, nesse período, nenhum lucro ou dividendo foi distribuído aos sócios daquelas empresas, fato que por si só descaracteriza uma eventual tentativa de distribuição disfarçada do patrimônio da Fundação via de tais empresas, como foi aventado pela fiscalização, consoante se provou mediante a juntada dos balanços na Manifestação de Inconformidade apresentada em 24/09/2012". Quanto a este aspecto, socorrome da Informação Fiscal elaborada pela DRF Fortaleza, quando da análise das contrarrazões da pessoa jurídica, segundo a qual Não obstante algum exagero contido na aludida conclusão, é certo que os valores carreados àquelas empresas pela Fundação contribuíram decisivamente para os resultados por elas apurados no triênio, senão vejamos (análise realizada com base nas respectivas demonstrações financeiras juntadas pela defesa às fls. 405, 412, 420 e 423): a) no caso da Editora Verdes Mares, os valores recebidos da Fundação no período, a título de pagamento pela veiculação de anúncios publicitários (2008: R$ 3.657.903,00; 2009: R$ 3.676.683,63; e 2010: R$ 4.460.514,00), corresponderam, respectivamente, a 5,6%, 5,3% e 6,1% da receita bruta da empresa, e são, sim, diretamente responsáveis pelos resultados positivos (lucros) por ela apurados nos trés anos sob estudo, todos eles em valores inferiores ao citado faturamento (2008: R$ 3.233.910,26; 2009: R$ 2.949.073,75; e 2010: R$ 578.176,00). Ou seja, podese afirmar, com certeza, que, sem o faturamento oriundo da Fundação, a Editora Verdes Mares amargaria prejuízos em todos os trés anos objeto da análise, ressalvada a hipótese remotíssima, digase de passagem de os custos com a veiculação serem superiores à correspondente receita. Fl. 785DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 33 32 b) no que concerne à TV Diário, em que a participação da Fundação no seu faturamento é bem mais relevante que à da Editora Verdes Mares (2008: R$ 4.368.800,00 14,2%; 2009: R$ 4.103.620,00 17,5%; e 2010: R$ 4.250.717,00 17,4%), afora o ano de 2008, em que o lucro apurado foi superior aos pagamentos recebidos da Fundação (R$ 11.382.552,98), o quadro não se altera, ou seja, os lucros apurados são inferiores ao faturamento originado da Fundação (2009: R$ 3.007.633,16; e 2010: R$ 3.408.346,01), cabendo se concluir que, na auséncia deste, aqueles também seriam negativos. Quanto à alegação da Interessada de que, no período, não foi distribuído qualquer lucro ou dividendo aos sócios das citadas empresas, o fato em nada aproveita à defesa, uma vez que a caracterização de distribuição de resultados de forma indireta aos dirigentes da Fundação, por beneficiar empresas das quais estes são sócios ou acionistas, não fica condicionada a que estas distribuam os lucros que a Fundação contribuiu para incrementar, posto que estes lucros se incorporam ao patrimônio dos sócios, independentemente da destinação que a sociedade resolva lhes dar. Alinhome ao entendimento manifestado pela Unidade de Origem, tendo como minhas as considerações e conclusões exarados no apontado documento. Além de a Fundação gastar em demasia com publicidade, de direcionar os anúncios tão somente para as empresas do Grupo Edson Queiroz (itens já abordados), temse ainda um terceiro agravante consistente no fato de a interessada haver arcado com anúncios de publicidade mais custosos do que os que os valores cobrados dos demais anunciantes, conclusão a que chegou o autor do procedimento através de diligência fiscal realizada na TV Diário. Segundo apurado pela fiscalização, o valor de tabela nunca é cobrado. Normalmente a TV Diário concede os seguintes descontos a seus anunciantes: entre 47,25% e 85,19%, com média de 65%, para empresas que não compõem o Grupo Edson Queiroz e de 50% para uma amostragem de empresas do referido grupo, no caso a ESMALTEC e a INDAIÁ. Quando o anunciante é a Fundação, entretanto, o desconto é de apenas 30%. Pelos cálculos da autoridade fiscal, "a Fundação pagou até 273% a mais do que pagaram empresas de fora do Grupo Edson Queiroz para serviços do mesmo tipo e qualidade. Comparando com empresas do Grupo, a Fundação pagou 40% a mais pelos mesmos serviços". Tratandose a Fundação de maior anunciante na TV Diário, o esperado era que fosse contemplada com descontos mais vantajosos do que os oferecidos a qualquer outro anunciante. Essa é a regra do mercado, é o que ocorre no mundo dos negócios, não me parecendo factível o alegado pela interessada, consistente no fato de que "sempre pagou o valor da tabela apresentado pela Televisão e desconhece a política de descontos utilizada por aquela empresa", mostrandose pertinente uma nova reprodução de fragmento da Informação Fiscal que deu azo ao ADE impugnado: Mais uma vez é de se invocar a reconhecida excelência da gestão da Entidade e do Grupo Edson Queiroz, para se concluir que, exatamente por isso, e pelo entrelaçamento dos Fl. 786DF CARF MF Processo nº 10380.729113/201269 Acórdão n.º 1401001.713 S1C4T1 Fl. 34 33 negócios praticados por todos os componentes do Grupo (aí incluída a Fundação), o argumento esposado pela defesa não tem o poder de convencimento capaz de desfazer o quadro indiciário construído pelo autor do feito, no sentido de demonstrar que a política de gastos com publicidade da Fundação Edson Queiroz tinha, efetivamente, a finalidade de distribuir indiretamente resultados aos seus dirigentes, por meio das empresas do grupo empresarial por eles controlado (destinatárias dos recursos correspondentes aos gastos realizados àquele título). Também é o que penso. Não encontro no que foi afirmado pela defesa qualquer argumento contrário que se mostre convincente, demonstrando aptidão para descaracterizar o que foi considerado pela fiscalização, termos em que, tendo por devidamente caracterizadas a excessividade dos pagamentos com publicidade; a no mínimo suspeita canalização dos recursos tão somente para empresas do Grupo Edson Queiroz, influindo diretamente no lucro auferido por essas pessoas jurídicas; assim como a maior onerosidade dos valores cobrados da Fundação, quando comparados àqueles exigidos das demais empresas, alinhome ao entendimento do fisco quanto ao fato de que "ao realizar gastos com publicidade, a empresa teve por objetivo distribuir seus resultados positivos a outras empresas do mesmo grupo econômico, disfarçados sob a aparente inocência de gastos com publicidade", infringindo, portanto, o inc. II do art. 14 do Lei n° 5.172, de 1966, o Código Tributário Nacional (CTN). Por todo o exposto, NEGO provimento ao Recurso, mantenho a suspensão da imunidade quanto ao IRPJ e tributos reflexos. Antonio Bezerra Neto Relator Fl. 787DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10730.723977/2014-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 17 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Oct 10 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2013
PRECLUSÃO. DOCUMENTOS COLACIONADOS APÓS A IMPUGNAÇÃO.VERDADE MATERIAL.
O art. 16, § 4º do Decreto nº 70.235/72 estabelece o balizamento do momento para apresentação das provas pelo sujeito passivo no processo administrativo fiscal. A produção de provas pré-existentes por ocasião da interposição do recurso voluntário, não impede, de modo absoluto, a apreciação do julgador, diante das especificidades do caso concreto e das provas apresentadas. O processo é mero instrumento para a aplicação do direito material, devendo prevalecer para o presente caso a busca da verdade material.
DEDUÇÃO A TÍTULO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA.COMPROVAÇÃO.
São dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda os valores pagos a título de pensão alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em cumprimento de decisão judicial ou acordo homologado judicialmente.Comprovado o pagamento da pensão alimentícia mediante documentação idônea deve ser considerada devida a dedução perpetrada pelo contribuinte.
Numero da decisão: 2201-003.309
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao Recurso Voluntário.
Assinado digitalmente.
Carlos Henrique de Oliveira - Presidente.
Assinado digitalmente.
Daniel Melo Mendes Bezerra - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira (Presidente), Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Jose Alfredo Duarte Filho (Suplente Convocado), Maria Anselma Coscrato dos Santos (Suplente Convocada), Denny Medeiros da Silveira (Suplente Convocado), Daniel Melo Mendes Bezerra, Carlos César Quadros Pierre e Ana Cecília Lustosa da Cruz.
Nome do relator: DANIEL MELO MENDES BEZERRA
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DOCUMENTOS COLACIONADOS APÓS A IMPUGNAÇÃO.VERDADE MATERIAL. O art. 16, § 4º do Decreto nº 70.235/72 estabelece o balizamento do momento para apresentação das provas pelo sujeito passivo no processo administrativo fiscal. A produção de provas préexistentes por ocasião da interposição do recurso voluntário, não impede, de modo absoluto, a apreciação do julgador, diante das especificidades do caso concreto e das provas apresentadas. O processo é mero instrumento para a aplicação do direito material, devendo prevalecer para o presente caso a busca da verdade material. DEDUÇÃO A TÍTULO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA.COMPROVAÇÃO. São dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda os valores pagos a título de pensão alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em cumprimento de decisão judicial ou acordo homologado judicialmente.Comprovado o pagamento da pensão alimentícia mediante documentação idônea deve ser considerada devida a dedução perpetrada pelo contribuinte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao Recurso Voluntário. Assinado digitalmente. Carlos Henrique de Oliveira Presidente. Assinado digitalmente. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 73 0. 72 39 77 /2 01 4- 11 Fl. 65DF CARF MF Impresso em 10/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 20/0 9/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 06/10/2016 por CARLOS HENRIQUE DE OL IVEIRA, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA Processo nº 10730.723977/201411 Acórdão n.º 2201003.309 S2C2T1 Fl. 66 2 Daniel Melo Mendes Bezerra Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira (Presidente), Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Jose Alfredo Duarte Filho (Suple nte Convocado), Maria Anselma Coscrato dos Santos (Suplente Convocada), Denny Medeiros da Silveira (Suplente Convocado), Daniel Melo Mendes Bezerra, Carlos César Quadros Pierre e Ana Cecília Lustosa da Cruz. Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra a decisão de primeira instância, que julgou improcedente a impugnação do contribuinte, ofertada em face da lavratura de Notificação de Lançamento de IRPF. Os aspectos principais do lançamento estão delineados no relatório da decisão de primeira instância, nos seguintes termos: “Contra o contribuinte acima identificado, foi lavrada a notificação de lançamento de fl. 07, emitida em 22/09/2014, relativa ao imposto sobre a renda das pessoas físicas do anocalendário 2012, onde foi considerada indevida a dedução de R$ 70.745,73, a título de pensão alimentícia, por falta de comprovação de que seu pagamento decorre de escritura pública, decisão judicial ou acordo homologado judicialmente. Cientificado do lançamento em 01/10/2014 (fl. 13), o contribuinte apresentou, em 17/10/2015, a impugnação de fls. 02 e 03, alegando, em suma, que o valor glosado se refere a pagamentos efetuados a título de pensão alimentícia em virtude de sentença judicial, conforme consta do comprovante de rendimentos da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão”. A DRJ julgou improcedente a impugnação do contribuinte sob o argumento principal de que dedutibilidade do valor da pensão alimentícia somente é possível quando o pagamento se der em cumprimento de decisão ou acordo homologado judicial. Arremata a decisão de piso que a simples menção a esse valor no informe de rendimentos não prova, por si só, o direito do contribuinte. Cientificado do acórdão da DRJ em 22/12/2015, o contribuinte apresentou Recurso Voluntário tempestivamente em 21/01/2016, alegando em síntese que: No comprovante de rendimentos emitido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro está claro o desconto e para que se destina o valor descontado, pois o Governo do Estado não iria efetuar o desconto, se não existisse uma decisão judicial. Não houve erro. Há um processo judicial e um beneficiário qualificado. Suplica por um julgamento mais justo. Anexa cópia das petições de homologação de acordo e decisão judicial que obriga ao pagamento da pensão alimentícia. É o Relatório. Fl. 66DF CARF MF Impresso em 10/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 20/0 9/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 06/10/2016 por CARLOS HENRIQUE DE OL IVEIRA, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA Processo nº 10730.723977/201411 Acórdão n.º 2201003.309 S2C2T1 Fl. 67 3 Voto Daniel Melo Mendes Bezerra, Conselheiro Relator Admissibilidade Como relatado, o Recurso Voluntário é tempestivo. Ademais, preenche os demais requisitos de admissibilidade. Portanto, dele conheço. Produção de prova documental na fase recursal Com relação à apresentação de provas o Decreto nº 70.235/1972 dispõe em seu art.16: Art. 16. A impugnação mencionará: I a autoridade julgadora a quem é dirigida; II a qualificação do impugnante; III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993). IV as diligências, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação dos quesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, o nome, o endereço e a qualificação profissional do seu perito. (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993). V se a matéria impugnada foi submetida à apreciação judicial, devendo ser juntada cópia da petição. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005). § 1º Considerarseá não formulado o pedido de diligência ou perícia que deixar de atender aos requisitos previstos no inciso IV do art. 16. (Incluído pela Lei nº 8.748, de 1993). § 2º É defeso ao impugnante, ou a seu representante legal, empregar expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao julgador, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscálas. (Incluído pela Lei nº 8.748, de 1993). § 3º Quando o impugnante alegar direito municipal, estadual ou estrangeiro, provarlheá o teor e a vigência, se assim o determinar o julgador. (Incluído pela Lei nº 8.748, de 1993.) Fl. 67DF CARF MF Impresso em 10/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 20/0 9/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 06/10/2016 por CARLOS HENRIQUE DE OL IVEIRA, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA Processo nº 10730.723977/201411 Acórdão n.º 2201003.309 S2C2T1 Fl. 68 4 § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997). (Grifouse). a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; ( Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) b) refirase a fato ou a direito superveniente ;(Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) (Grifouse). § 5º A juntada de documentos após a impugnação deverá ser requerida à autoridade julgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas nas alíneas do parágrafo anterior. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) § 6º Caso já tenha sido proferida a decisão, os documentos apresentados permanecerão nos autos para, se for interposto recurso, serem apreciados pela autoridade julgadora de segunda instância. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) Como se vê, o § 4º do art. 16 do Decreto nº 70.235/1972 determina o momento processual para juntada de prova documental, sob pena de ocorrer a preclusão. Com isso, não estou a dizer que a regra inserta no o § 4º do art. 16 do Decreto nº 70.235/1972 é absoluta. O julgador, que é um intérprete da lei na acepção lato sensu deve aplicar o ordenamento jurídico. Assim, a mencionada regra processual deverá ser sopesada com o princípio da verdade material, que deve basilar o julgador ao dirimir as lides tributárias, quando possível. A autoridade julgadora de primeira instância fundamentou a decisão que resultou na improcedência da impugnação, exclusivamente no fato de a contribuinte não ter comprovado as suas alegações através de prova documental, consubstanciada na juntada da decisão judicial que obriga ao pagamento da pensão alimentícia. Entendeu que o comprovante de rendimentos emitido pela fonte pagadora, por si só, não é prova hábil a comprovar a regularidade da dedução efetuada. Em sede recursal, pretende o contribuinte a revisão do acórdão de primeira instância, sustentando que não havia base para o Governo do Estado do Rio de Janeiro efetuar os descontos, se não fosse em cumprimento de decisão judicial. Às fls. 58/62 dormitam as páginas extraídas dos autos do processo judicial que obrigam o sujeito passivo ao pagamento de 30% (trinta por cento) de seus rendimentos a título de pensão alimentícia judicial. No caso que se cuida depreendese que o sujeito passivo entendeu que a apresentação do Comprovante de Rendimentos Pagos e de Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (fl. 11) seria prova cabal para demonstrar a regularidade da dedução com pensão alimentícia efetuada. Fl. 68DF CARF MF Impresso em 10/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 20/0 9/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 06/10/2016 por CARLOS HENRIQUE DE OL IVEIRA, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA Processo nº 10730.723977/201411 Acórdão n.º 2201003.309 S2C2T1 Fl. 69 5 Esse documento chegou a ser valorado pela decisão de piso como meio de prova, ainda que insuficiente para revisar o lançamento. Contudo, o sujeito passivo junta por ocasião do presente recurso a decisão judicial que o autoriza a efetuar a dedução em comento. Nesse caso, a prova documental carreada deve ser apreciada em harmonia com o já mencionado documento de fl. 11, anexado por ocasião da impugnação. A prova apresentada permite um fácil e rápido convencimento do julgador acerca do direito que detinha o sujeito passivo de efetuar a dedução da pensão alimentícia, nos exatos termos do que constou em sua declaração de ajuste anual, exercício de 2013. É certo que o instituto da preclusão, inserto no § 4º, do art. 16 do Decreto nº 70.235/1972, deve ser a regra, uma baliza a ser seguida para a necessária ordem do processo. Entretanto, em casos excepcionais a preclusão pode ser afastada, como no caso em comento, em que se está diante de um direito comprovado pelo sujeito passivo, ainda que somente na fase recursal. Acrescentese que os documentos trazidos à colação no recurso voluntário, também, se prestam para contrapor as razões manejadas na decisão de piso, a qual não acolheu o comprovante de rendimentos como meio hábil para comprovar a regularidade da dedução efetuada. Conclusão Diante de todo o exposto, voto por dar provimento ao Recurso Voluntário. Daniel Melo Mendes Bezerra Relator Fl. 69DF CARF MF Impresso em 10/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 20/0 9/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA, Assinado digitalmente em 06/10/2016 por CARLOS HENRIQUE DE OL IVEIRA, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por DANIEL MELO MENDES BEZERRA
score : 1.0
Numero do processo: 10580.726589/2009-96
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jun 21 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Aug 26 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2005, 2006, 2007
RECONHECIMENTO DE OFÍCIO DE VÍCIO MATERIAL. IMPOSSIBILIDADE.
Não cabe o reconhecimento de nulidade, por eventual vício material, quando a matéria não tiver sido devidamente admitida, como objeto do recurso especial.
IRPF. VALORES INDENIZATÓRIOS DE URV, CLASSIFICADOS A PARTIR DE INFORMAÇÕES PRESTADAS PELA FONTE PAGADORA. INCIDÊNCIA.
Incide o IRPF sobre os valores de natureza remuneratória, ainda que classificados como indenizatórios pela fonte pagadora.
Precedentes do STF e do STJ.
IRPF. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE.
Consoante decidido pelo STF através da sistemática estabelecida pelo art. 543-B do CPC no âmbito do RE 614.406/RS, o IRPF sobre os rendimentos recebidos acumuladamente deve ser calculado utilizando-se o regime de competência.
Recurso especial provido em parte.
Numero da decisão: 9202-004.081
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, pelo voto de qualidade, em não conhecer a preliminar de nulidade por vício material suscitada de ofício pela Conselheira Ana Paula Fernandes, vencidos os conselheiros Ana Paula Fernandes, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Patrícia da Silva, Gerson Macedo Guerra e Maria Teresa Martínez López. Por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, pelo voto de qualidade, em dar-lhe provimento parcial para determinar o cálculo do tributo de acordo com o regime de competência, vencidos os conselheiros Ana Paula Fernandes, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Patrícia da Silva, Gerson Macedo Guerra e Maria Teresa Martínez López, que lhe deram provimento integral. Votaram pelas conclusões os conselheiros Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Gerson Macedo Guerra.
(Assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente e Relator
EDITADO EM: 17/08/2016
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente), Maria Teresa Martinez Lopez (Vice-Presidente), Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra.
Nome do relator: CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Exercício: 2005, 2006, 2007 RECONHECIMENTO DE OFÍCIO DE VÍCIO MATERIAL. IMPOSSIBILIDADE. Não cabe o reconhecimento de nulidade, por eventual vício material, quando a matéria não tiver sido devidamente admitida, como objeto do recurso especial. IRPF. VALORES INDENIZATÓRIOS DE URV, CLASSIFICADOS A PARTIR DE INFORMAÇÕES PRESTADAS PELA FONTE PAGADORA. INCIDÊNCIA. Incide o IRPF sobre os valores de natureza remuneratória, ainda que classificados como indenizatórios pela fonte pagadora. Precedentes do STF e do STJ. IRPF. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. Consoante decidido pelo STF através da sistemática estabelecida pelo art. 543-B do CPC no âmbito do RE 614.406/RS, o IRPF sobre os rendimentos recebidos acumuladamente deve ser calculado utilizando-se o regime de competência. Recurso especial provido em parte.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 7; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1645; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => CSRFT2 Fl. 22 1 21 CSRFT2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 10580.726589/200996 Recurso nº Especial do Contribuinte Acórdão nº 9202004.081 – 2ª Turma Sessão de 21 de junho de 2016 Matéria IRPF Recorrente EPAMINONDAS FERNANDES DA SILVA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2005, 2006, 2007 RECONHECIMENTO DE OFÍCIO DE VÍCIO MATERIAL. IMPOSSIBILIDADE. Não cabe o reconhecimento de nulidade, por eventual vício material, quando a matéria não tiver sido devidamente admitida, como objeto do recurso especial. IRPF. VALORES INDENIZATÓRIOS DE URV, CLASSIFICADOS A PARTIR DE INFORMAÇÕES PRESTADAS PELA FONTE PAGADORA. INCIDÊNCIA. Incide o IRPF sobre os valores de natureza remuneratória, ainda que classificados como indenizatórios pela fonte pagadora. Precedentes do STF e do STJ. IRPF. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. Consoante decidido pelo STF através da sistemática estabelecida pelo art. 543B do CPC no âmbito do RE 614.406/RS, o IRPF sobre os rendimentos recebidos acumuladamente deve ser calculado utilizandose o regime de competência. Recurso especial provido em parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 58 0. 72 65 89 /2 00 9- 96 Fl. 359DF CARF MF Impresso em 26/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por AFONSO ANTONIO DA SILVA, Assinado digitalmente em 25/08/2 016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10580.726589/200996 Acórdão n.º 9202004.081 CSRFT2 Fl. 23 2 Acordam os membros do colegiado, pelo voto de qualidade, em não conhecer a preliminar de nulidade por vício material suscitada de ofício pela Conselheira Ana Paula Fernandes, vencidos os conselheiros Ana Paula Fernandes, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Patrícia da Silva, Gerson Macedo Guerra e Maria Teresa Martínez López. Por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, pelo voto de qualidade, em darlhe provimento parcial para determinar o cálculo do tributo de acordo com o regime de competência, vencidos os conselheiros Ana Paula Fernandes, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Patrícia da Silva, Gerson Macedo Guerra e Maria Teresa Martínez López, que lhe deram provimento integral. Votaram pelas conclusões os conselheiros Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Gerson Macedo Guerra. (Assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente e Relator EDITADO EM: 17/08/2016 Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente), Maria Teresa Martinez Lopez (VicePresidente), Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra. Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do processo paradigma deste julgamento, n° 10580.720254/200964. O presente Recurso Especial trata de pedido de Análise de Divergência motivado pelo Contribuinte, em face de Acórdão proferido em julgamento de recurso voluntário. Tratase de lançamento de Imposto de Renda de Pessoa Física dos exercícios 2005, 2006 e 2007, anoscalendário 2004, 2005, e 2006, em razão de a autoridade fiscal ter classificado como rendimentos tributáveis, valores declarados como isentos ou não tributáveis tal como informado pela Fonte Pagadora Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. Referidos rendimentos correspondem a diferença entre a transformação de Cruzeiros Reais para Unidade Real de Valor – URV, reconhecidas e pagas em 36 meses, de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, com base na Lei Estadual nº 8.730/2003 do Estado da Bahia. As diferenças recebidas teriam natureza eminentemente salarial, pois decorreram de diferenças de remuneração ocorridas Fl. 360DF CARF MF Impresso em 26/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por AFONSO ANTONIO DA SILVA, Assinado digitalmente em 25/08/2 016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10580.726589/200996 Acórdão n.º 9202004.081 CSRFT2 Fl. 24 3 quando da conversão de Cruzeiro Real para URV em 1994, consequentemente, estariam sujeitas à incidência do imposto de renda, sendo irrelevante a denominação dada ao rendimento. Foi interposta impugnação foi indeferida em sede de julgamento de primeira instância. O Contribuinte interpôs Recurso, ao qual foi dado parcial provimento ao recurso para tão somente excluir a multa de ofício. O Contribuinte apresentou Recurso Especial ao qual foi dado parcial seguimento, para reapreciação apenas da matéria questão da natureza indenizatória, ou não. Em reexame, o exame de admissibilidade foi confirmado pelo Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais. Apresentadas contrarrazões pela Fazenda Nacional, vieram os autos conclusos. É o relatório. Voto Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto Relator Este processo foi julgado na sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9202004.026, de 21/06/2016, proferido no julgamento do processo 10580.720254/200964, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio nos termos regimentais, o inteiro teor do voto vencedor proferido naquela decisão (Acórdão 9202004.026): Em primeiro lugar, não conheço da preliminar de nulidade do lançamento, por vício material, suscitada de ofício pela Sra. Conselheira relatora. Com efeito, esta matéria não tendo sido admitida em sede de recurso especial, não está em discussão e, portanto, dela não conheço. Além disso, apenas para fins de esclarecimento, registrese que não vejo qualquer nulidade no lançamento da forma que ele foi realizado. Com efeito, o lançamento foi realizado com base em dispositivo vigente, cuja interpretação não havia sido considerada à época inconstitucional. Portanto, não há que se falar em nulidade. Entrando, agora, no mérito propriamente dito, entendo que a verba recebida tem caráter remuneratório e, assim, deve ser tributada. Questão dessa natureza já foi trazida, em 03/03/2015, Fl. 361DF CARF MF Impresso em 26/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por AFONSO ANTONIO DA SILVA, Assinado digitalmente em 25/08/2 016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10580.726589/200996 Acórdão n.º 9202004.081 CSRFT2 Fl. 25 4 à 2ª Turma desta Câmara Superior, no acórdão 9202003.585. Naquela ocasião, acompanhei o voto do relator Alexandre Naoki Nishioka, entendendo tratarse de verba de natureza remuneratória, e por isso peço vênia para adotar aqui os mesmos argumentos como razão de decidir, assim transcrevendoos: (...) Conforme dispõe o art. 2º da referida Lei, tais valores são relativos a “diferenças de remuneração ocorridas quando da conversão de Cruzeiro Real para Unidade Real de Valor – URV”. Da leitura do artigo, denotase que o pagamento de tais valores deveuse à necessidade de manutenção do valor real do salário, de forma a corrigir erros anteriores no cálculo da conversão da moeda nacional. A lei estadual acima citada não buscou, por meio do pagamento das diferenças, a recomposição de um prejuízo, ou dano material, sofrido pelo contribuinte, mas a compensação em razão da ausência de oportuna correção no valor nominal do salário, verificada quando da alteração da moeda. Portanto, tais valores integram a remuneração percebida pelo contribuinte, constituindo parte integrante de seus vencimentos. Estáse diante, pois, de acréscimo patrimonial tributável pelo Imposto de Renda, nos termos do art. 43 do Código Tributário Nacional, entendimento que fora inclusive salientado pelo acórdão proferido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Salvador (BA). Buscando reforçar o argumento, requereu o contribuinte a aplicação da Resolução n.º 245 do STF, assim como de consulta administrativa realizada pela Presidente do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, os quais disporiam acerca da remuneração dos magistrados. No entanto, mencionadas normas não se aplicam ao fim pretendido pelo contribuinte, ao contrário do que decidiu o acórdão recorrido. Inicialmente, cumpre salientar que a dita resolução dispôs acerca da forma de cálculo do abono salarial variável e provisório de que trata o art. 2º e parágrafos da Lei n.º10.474/2002, considerandoo como de natureza indenizatória. Neste sentido, o inciso I do art. 1º trouxe a forma de cálculo deste abono: “I apuração, mês a mês, de janeiro/98 a maio/2002, da diferença entre os vencimentos resultantes da Lei nº 10.474, de 2002 (Resolução STF nº 235, de 2002), acrescidos das vantagens pessoais, e a remuneração mensal efetivamente percebida pelo Magistrado, a qualquer título, o que inclui, exemplificativamente, as verbas referentes a diferenças de URV, PAE, 10,87% e recálculo da representação (194%)”. A própria redação da Resolução excluiu do valor integrante do abono as verbas referentes à diferença de URV, de onde Fl. 362DF CARF MF Impresso em 26/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por AFONSO ANTONIO DA SILVA, Assinado digitalmente em 25/08/2 016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10580.726589/200996 Acórdão n.º 9202004.081 CSRFT2 Fl. 26 5 se interpreta que esta não tem natureza indenizatória, mas de recomposição salarial. Tal tema inclusive já foi enfrentado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, tendo este reconhecido as diferenças entre o abono salarial tratado pela norma e a diferença da URV, conforme se verifica de voto da Ministra Eliana Calmon: “Na jurisprudência desta Casa, colho os seguintes precedentes, que sempre distinguiram as hipóteses de percepção das diferenças remuneratórias da URV do abono identificado na Resolução 245/STF: (...)” (STJ, Recurso Especial n.º 1.187.109/MA, Segunda Turma, Ministra Relatora Eliana Calmon, julgado em 17/08/2010) E tal também foi o entendimento do Ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, em decisão monocrática proferida nos autos do Recurso Extraordinário n.º 471.115, do qual se colaciona o seguinte excerto: “Os valores assim recebidos pelo recorrido decorrem de compensação pela falta de oportuna correção no valor nominal do salário, quando da implantação da URV e, assim, constituem parte integrante de seus vencimentos. As parcelas representativas do montante que deixou de ser pago, no momento oportuno, são dotadas dessa mesma natureza jurídica e, assim, incide imposto de renda quando de seu recebimento. No que concerne à Resolução no. 245/02, deste Supremo Tribunal Federal, utilizada na fundamentação do acórdão recorrido, temse que suas normas a tanto não se aplicam, para o fim pretendido pelo recorrido (...)” (STF, Recurso Extraordinário n.º 471.115, Ministro Relator Dias Toffoli, julgado em 03/02/2010) Concluise, portanto, pelo caráter salarial dos valores recebidos acumuladamente pelo Recorrente, razão pela qual deverão compor a base de cálculo do Imposto sobre a Renda de Pessoa Física, nos termos do art. 43 do Código Tributário Nacional. Assim, com base na argumentação exposta, sendo verbas remuneratórias as diferenças de URV recebidas, sobre elas incide imposto de renda da pessoa física. Todavia, cumpre verificar o quantum devido. Entendo que o tributo devido deva ser calculado de acordo com as tabelas vigentes à época em que seriam devidas as diferenças recebidas. Sobre o tema, cabe referir a discussão travada no processo 11040.001165/200591, com voto vencedor da lavra do conselheiro Heitor de Souza Lima Junior, cujos fundamentos, abaixo reproduzidos, acompanho. Fl. 363DF CARF MF Impresso em 26/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por AFONSO ANTONIO DA SILVA, Assinado digitalmente em 25/08/2 016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10580.726589/200996 Acórdão n.º 9202004.081 CSRFT2 Fl. 27 6 Verifico, a propósito, que a matéria em questão foi tratada recentemente pelo STF, no âmbito do RE 614.406/RS, objeto de trânsito em julgado em 11/12/2014, feito que teve sua repercussão geral previamente reconhecida (em 20 de outubro de 2010), obedecida assim a sistemática prevista no art. 543B do Código de Processo Civil vigente. Obrigatória, assim, a observância, por parte dos Conselheiros deste CARF dos ditames do Acórdão prolatado por aquela Suprema Corte em 23/10/2014, a partir de previsão regimental contida no art. 62, §2º do Anexo II do Regimento Interno deste Conselho, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015. Reportandome ao julgado vinculante, noto que, ali, se acordou, por maioria de votos, em manter a decisão de piso do STJ acerca da inconstitucionalidade do art. 12 da Lei no. 7.713, de 1988, devendo ocorrer a "incidência mensal para o cálculo do imposto de renda correspondente à tabela progressiva vigente no período mensal em que apurado o rendimento percebido a menor regime de competência (...)", afastandose assim o regime de caixa. Todavia, inicialmente, de se ressaltar que em nenhum momento se cogita, no Acórdão, de eventual cancelamento integral de lançamentos cuja apuração do imposto devido tenha sido feita obedecendo o art. 12 da referida Lei nº 7.713, de 1988, notese, diploma plenamente vigente na época em que efetuado o lançamento sob análise, o qual, ainda, em meu entendimento, guarda, assim, plena observância ao disposto no art. 142 do Código Tributário Nacional. A propósito, de se notar que os dispositivos legais que embasaram o lançamento constantes de efl. 12, em nenhum momento foram objeto de declaração de inconstitucionalidade ou de decisão em sede de recurso repetitivo de caráter definitivo que pudesse lhes afastar a aplicação ao caso in concretu. Deflui daquela decisão da Suprema Corte, em meu entendimento, inclusive, o pleno reconhecimento do surgimento da obrigação tributária que aqui se discute, ainda que em montante diverso daquele apurado quando do lançamento, o qual, repitase, obedeceu os estritos ditames da legalidade à época da ação fiscal realizada. Da leitura do inteiro teor do decisum do STF, é notório que, ainda que se tenha rejeitado o surgimento da obrigação tributária somente no momento do recebimento financeiro pela pessoa física, o que a faria mais gravosa, entendese, ali, inequivocamente, que se mantém incólume a obrigação tributária oriunda do recebimento dos valores acumulados pelo contribuinte pessoa física, mas agora a ser calculada em momento pretérito, quando o contribuinte fez jus à percepção dos rendimentos, de forma, assim, a restarem respeitados os princípios da capacidade contributiva e isonomia. Fl. 364DF CARF MF Impresso em 26/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por AFONSO ANTONIO DA SILVA, Assinado digitalmente em 25/08/2 016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 10580.726589/200996 Acórdão n.º 9202004.081 CSRFT2 Fl. 28 7 Assim, com a devida vênia ao posicionamento do relator, entendo que, a esta altura, ao se esposar o posicionamento de exoneração integral do lançamento, se estaria, inclusive, a contrariar as razões de decidir que embasam o decisum vinculante, no qual, reitero, em nenhum momento, notese, se cogita da inexistência da obrigação tributária/incidência do Imposto sobre a Renda decorrente da percepção de rendimentos tributáveis de forma acumulada. Se, por um lado, manterse a tributação na forma do referido art. 12 da Lei nº 7.713, de 1988, conforme decidido de forma definitiva pelo STF, violaria a isonomia no que tange aos que receberam as verbas devidas "em dia" e ali recolheram os tributos devidos, exonerar o lançamento por completo a esta altura significaria estabelecer tratamento antiisonômico (também em relação aos que também receberam em dia e recolheram devidamente seus impostos), mas em favor daqueles que foram autuados e nada recolheram ou recolheram valores muito inferiores aos devidos, ao serem agora consideradas as tabelas/alíquotas vigentes à época, o que deve, em meu entendimento, também se rechaçar. Pelo exposto, voto no sentido de conhecer do RE do contribuinte na matéria admitida, por darlhe provimento em parte, para determinar o cálculo do crédito tributário devido, considerando o regime de competência. Em face do acima exposto, voto no sentido de não conhecer da preliminar de nulidade por vício material suscitada, conheço do Recurso Especial do Contribuinte para, no mérito, darlhe provimento parcial, para determinar o cálculo do tributo de acordo com o regime de competência. (Assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Fl. 365DF CARF MF Impresso em 26/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por AFONSO ANTONIO DA SILVA, Assinado digitalmente em 25/08/2 016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO
score : 1.0
Numero do processo: 10830.722148/2013-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Aug 16 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Tue Sep 13 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2010
IMPOSTO DE RENDA. PERCEPÇÃO CUMULATIVA DE VALORES. TABELA PROGRESSIVA. ALÍQUOTA. RE Nº 614.406/RS.
No julgamento do Recurso Extraordinário nº 614. 406/RS, conduzido sob o regime de recursos repetitivos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, sem declarar a inconstitucionalidade do artigo 12 da Lei nº 7.713/88, reconheceu que o critério de cálculo dos Rendimentos Recebidos Acumuladamente adotado pelo supracitado artigo 12, representa transgressão aos princípios da isonomia e da capacidade contributiva do contribuinte, conduzindo a uma majoração da alíquota do Imposto de Renda.
A percepção cumulativa de valores há de ser considerada, para efeito de fixação de alíquotas, presentes, individualmente, os exercícios envolvidos.
Recurso Voluntário Provido.
Numero da decisão: 2401-004.464
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso voluntário, para, no mérito, por maioria, dar-lhe provimento, para que o cálculo do tributo devido relativo aos rendimentos tributáveis recebidos acumuladamente pelo Contribuinte seja realizado levando-se em consideração as tabelas e alíquotas vigentes nas competências correspondentes a cada uma das parcelas integrantes do pagamento recebido de forma acumulada pelo Recorrente. Vencido o conselheiro Carlos Alexandre Tortato que dava provimento, em maior extensão, para exonerar o crédito tributário.
(assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier Lazarini Presidente
(assinado digitalmente)
Luciana Matos Pereira Barbosa - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Cleberson Alex Friess, Luciana Matos Pereira Barbosa, Márcio de Lacerda Martins, Andréa Viana Arraes Egypto, Maria Cleci Coti Martins e Rayd Santana Ferreira.
Nome do relator: LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA
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PERCEPÇÃO CUMULATIVA DE VALORES. TABELA PROGRESSIVA. ALÍQUOTA. RE Nº 614.406/RS. No julgamento do Recurso Extraordinário nº 614. 406/RS, conduzido sob o regime de recursos repetitivos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, sem declarar a inconstitucionalidade do artigo 12 da Lei nº 7.713/88, reconheceu que o critério de cálculo dos Rendimentos Recebidos Acumuladamente adotado pelo supracitado artigo 12, representa transgressão aos princípios da isonomia e da capacidade contributiva do contribuinte, conduzindo a uma majoração da alíquota do Imposto de Renda. A percepção cumulativa de valores há de ser considerada, para efeito de fixação de alíquotas, presentes, individualmente, os exercícios envolvidos. Recurso Voluntário Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 83 0. 72 21 48 /2 01 3- 11 Fl. 311DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI 2 Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso voluntário, para, no mérito, por maioria, darlhe provimento, para que o cálculo do tributo devido relativo aos rendimentos tributáveis recebidos acumuladamente pelo Contribuinte seja realizado levandose em consideração as tabelas e alíquotas vigentes nas competências correspondentes a cada uma das parcelas integrantes do pagamento recebido de forma acumulada pelo Recorrente. Vencido o conselheiro Carlos Alexandre Tortato que dava provimento, em maior extensão, para exonerar o crédito tributário. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Lazarini– Presidente (assinado digitalmente) Luciana Matos Pereira Barbosa Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier Lazarini, Carlos Alexandre Tortato, Cleberson Alex Friess, Luciana Matos Pereira Barbosa, Márcio de Lacerda Martins, Andréa Viana Arraes Egypto, Maria Cleci Coti Martins e Rayd Santana Ferreira. Fl. 312DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI Processo nº 10830.722148/201311 Acórdão n.º 2401004.464 S2C4T1 Fl. 3 3 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra decisão de primeiro grau que negou provimento à impugnação apresentada pelo contribuinte. Em 11/03/2013, foi lavrada notificação de lançamento referente ao exercício de 2010, AnoCalendário 2009, na qual foi constatada a omissão de rendimentos sujeitos a tabela progressiva, no valor de R$ 61.817,11 (sessenta um mil, oitocentos e dezessete reais e onze centavos), recebidos pelo titular em virtude de Ação Judicial proposta para o recebimento de diferenças de pensões do período de 01/1991 a 04/2006. Inconformado com a notificação apresentada, o contribuinte protocolizou impugnação alegando que os rendimentos em análise devem ser tributados de acordo com tabela progressiva por se tratar de rendimentos recebidos acumuladamente. E sida que alegou em sua defesa o ato declaratório nº 1 de 2009, MP/2010 e a lei 12349/2012 lhe dão fundamento para deixar de recolher o imposto de renda ora cobrado. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Curitiba (PR) manteve o crédito tributário, com a seguinte consideração: “TRIBUTAÇÃO. RENDIMENTOS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. AÇÃO JUDICIAL. Os rendimentos referentes a anos anteriores ao da edição da Medida Provisória nº 49/2010, recebidos por força de decisão judicial, devem ser oferecidos à tributação no mês do seu recebimento com incidência sobre a totalidade dos rendimentos.” “Cabe observar que o regime de tributação do imposto de renda da pessoa física é o de caixa, ou seja, os rendimentos são tributados a partir do momento que efetivamente tornamse disponíveis. Quando são recebidos acumuladamente, em virtude de ação trabalhista, como é o caso, a regra permanece, não apenas pela lógica do regime de caixa, mas também por expressa disposição legal contida no art. 12 da Lei 7.713, de 1988. Portanto, incabível falar em fatos geradores ocorridos nos anos calendário de 1991 a 2006. De consequência, os rendimentos percebidos são acrescidos aos rendimentos tributáveis na Declaração de Ajuste Anual do respectivo exercício, ou seja, 2010, submetendose à aplicação das alíquotas constantes da tabela progressiva anual. Isso porque o fato gerador do Fl. 313DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI 4 imposto de renda de pessoa física é um exemplo clássico de tributo que se enquadra na classificação de fato gerador complexivo, apurado no ajuste anual, ou seja, aqueles que se completam após o transcurso de um determinado período de tempo e abrange um conjunto de fatos e circunstâncias que, isoladamente considerados, são destituídos de capacidade para gerar a obrigação tributária exigível. Assim é que a base de cálculo da declaração de rendimentos abrange todos os rendimentos tributáveis recebidos durante o ano calendário. Dessa forma, o fato jurídico tributário somente considerase consumado por ocasião da entrega da declaração de rendimentos. Tanto que o lançamento ou qualquer outro pronunciamento acerca do lançamento, por parte da Fazenda Pública, só pode ser efetuado após a data em que se instaure a possibilidade jurídica de assim procederse, ou seja, após a efetiva entrega da Declaração de Ajuste Anual, ou, em não ocorrendo tal entrega, após o prazo limite estipulado para a sua entrega. Somente após esse prazo é que se tem como verificado o descumprimento da obrigação tributária, pressuposto para a possibilidade de efetuar o lançamento de ofício. (...) Como os rendimentos em questão foram percebidos em 2009, não há que se reportar aos ditames normativos da Instrução Normativa da RFB 1.127/2011 e aos dispositivos da MP 49/2010 e da Lei nº 12.349/2012, pois esses se referem aos rendimentos recebidos acumuladamente a partir de 28 de julho de 2010.” Posteriormente, dentro do lapso temporal legal, foi interposto recurso voluntário, no qual o contribuinte alegou que: “As bases legais para o adotado procedimento encontramse fundamentadas pelo Ato Declaratório nº 1, de 27 de março de 2009 da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, a MP 49/2010 e a Lei nº 12.349/2012.” “Essas disposições legais preveem que o referido lançamento seja considerado pelo regime de competência para o calculo do exigido imposto, o que, neste caso geraria restituição do valor já retido, haja vista que o rendimento normal do Recorrente, mesmo com os acréscimos das diferenças não alcançaria o valor dos rendimentos considerados como tributáveis.” “O que importa deixar aqui assentado é que, conquanto reinem dúvidas sobre o significado, o conteúdo e o alcance da expressão “renda e proventos de qualquer natureza”, além da doutrina, a jurisprudência há muito já deixou assentado que ela não compreende as importâncias percebidas a título de rendimentos recebidos acumuladamente.” Fl. 314DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI Processo nº 10830.722148/201311 Acórdão n.º 2401004.464 S2C4T1 Fl. 4 5 (...) “Salientase, ainda que a cumulação das parcelas mensais não gera acréscimo patrimonial, fato gerador do pagamento de qualquer tributo e, ademais, porque considerado o pagamento individualizado, ou seja, mês a mês, o tributo, se devido fosse, o seria a uma alíquota menor, ou então não haveria montante a ser retido.” Por fim, colaciona diversas jurisprudências que trata sobre a matéria. É o relatório. Fl. 315DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI 6 Voto Conselheira Luciana Matos Pereira Barbosa, Relatora 1. DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE 1.1. DA TEMPESTIVIDADE O Recorrente foi cientificado da r. decisão em debate no dia 18/11/2013, conforme AR às fls. 211, e o presente Recurso Voluntário foi apresentado, TEMPESTIVAMENTE, no dia 13/12/2013, razão pela qual CONHEÇO DO RECURSO já que presentes os requisitos de admissibilidade. 2. DO MÉRITO Cuidase o presente lançamento de omissão de rendimentos sujeitos a tabela progressiva, no valor de R$ 61.817,11 (sessenta um mil, oitocentos e dezessete reais e onze centavos), recebidos pelo titular, em virtude de Ação Judicial proposta para o recebimento de diferenças de pensões do período de 01/1991 a 04/2006. 2.1. DOS RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS ACUMULADAMENTE. Nesse tocante, o artigo 62, § 2º do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015 impõe aos conselheiros, no julgamento dos recursos no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. A reprodução de decisões definitivas de mérito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista nos artigos 1.036 a 1.041 do Novo Código de Processo Civil. Sobre o tema, o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu pela improcedência do Recurso Extraordinário nº 614.406/RS, interposto pela União, no qual sobrou reconhecido que o critério de cálculo dos Rendimentos Recebidos Acumuladamente – RRA adotado pelo artigo 12 da Lei nº 7.713/88, representa transgressão aos princípios da isonomia e da capacidade contributiva do Contribuinte, conduzindo a uma majoração da alíquota do Imposto de Renda. Ficou sedimento o entendimento de que o imposto de renda, mesmo que incidente sobre rendimentos recebidos acumuladamente, deve ser apurado levandose em consideração as tabelas e alíquotas vigentes nos meses a que se referiam cada uma das parcelas integrantes do pagamento recebido de forma acumulada. Confirase: “IMPOSTO DE RENDA – PERCEPÇÃO CUMULATIVA DE VALORES – ALÍQUOTA. A percepção cumulativa de valores há de ser considerada, para efeito de fixação de alíquotas, presentes, individualmente, os exercícios envolvidos.” (STF, RE 614.406 RS) Fl. 316DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI Processo nº 10830.722148/201311 Acórdão n.º 2401004.464 S2C4T1 Fl. 5 7 Nesse interregno, como o julgamento do Recurso Extraordinário nº 614.406/RS foi realizado conforme a Sistemática dos Recursos Repetitivos atrai a incidência do disposto no §2º do artigo 62 do Regimento Interno do CARF. Recordese: “Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. § 1º O disposto no caput não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: I que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal; II que fundamente crédito tributário objeto de: a) Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 103A da Constituição Federal; b) Decisão do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos do art. 543B ou 543C da Lei nº 5.869, de 1973 Código de Processo Civil (CPC), na forma disciplinada pela Administração Tributária; c) Dispensa legal de constituição ou Ato Declaratório da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN) aprovado pelo Ministro de Estado da Fazenda, nos termos dos arts. 18 e 19 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; d) Parecer do AdvogadoGeral da União aprovado pelo Presidente da República, nos termos dos arts. 40 e 41 da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993; e e) Súmula da AdvocaciaGeral da União, nos termos do art. 43 da Lei Complementar nº 73, de 1973. § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973 Código de Processo Civil (CPC), deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF.” Por outro giro, o Código Tributário Nacional em seu artigo 149 prevê a prerrogativa do Fisco de rever o lançamento. Assim, como a época do Lançamento em questão não existia o Julgamento Plenário do RE nº 614.406/RS, deve o fisco rever o lançamento de maneira que possa aplicar no cálculo do tributo devido o critério adotado pelo Supremo. Confirase: “ Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: Fl. 317DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI 8 I quando a lei assim o determine; II quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária; III quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recusese a prestálo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória; V quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; VII quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; VIII quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.” Por todo o exposto, em atenção ao disposto no artigo 62, §2º do Regimento Interno do CARF e ao artigo 149, VIII, do Código Tributário Nacional, voto no sentido de, nesse específico particular, dar provimento ao Recurso Voluntário, para que o cálculo do tributo devido relativo aos rendimentos tributáveis recebidos acumuladamente pelo Contribuinte seja realizado levandose em consideração as tabelas e alíquotas vigentes nas competências correspondentes a cada uma das parcelas integrantes do pagamento recebido de forma acumulada pelo Recorrente. Nesse sentido entendimentos proferidos por esse egrégio Conselho Administrativo: “IRPF. RENDIMENTO RECEBIDO ACUMULADAMENTE. APLICAÇÃO DO REGIME DE COMPETÊNCIA. O Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos pagos acumuladamente deve ser calculado de acordo com as tabelas e alíquotas vigentes à época em que os valores deveriam ter sido adimplidos, observando a renda auferida mês a mês pelo segurado. Não é legítima a exigência do imposto de renda com parâmetro no montante global pago extemporaneamente. (Acordão nº 2202003.193, Processo nº 11080.731461/201324, rel. Conselheiro Martin da Silva Gesto, j. em 17/02/2016).” Fl. 318DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI Processo nº 10830.722148/201311 Acórdão n.º 2401004.464 S2C4T1 Fl. 6 9 3. CONCLUSÃO: Pelos motivos expendidos, CONHEÇO do Recurso Voluntário para, no mérito, DAR PROVIMENTO, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. É como voto. (assinado digitalmente) Luciana Matos Pereira Barbosa. Fl. 319DF CARF MF Impresso em 13/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2016 por LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA, Assinado digitalmente em 13/09/2016 por MIRIAM DENISE X AVIER LAZARINI
score : 1.0
Numero do processo: 13706.005900/2008-11
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 17 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Tue Sep 06 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2006
DESPESAS MÉDICAS. IDENTIFICAÇÃO DO BENEFICIÁRIO.
Na hipótese de o comprovante de pagamento do serviço médico prestado ter sido emitido em nome do contribuinte sem a especificação do beneficiário do serviço, pode-se presumir que esse foi o próprio contribuinte, exceto quando, a juízo da autoridade fiscal, forem constatados razoáveis indícios de irregularidades
Numero da decisão: 2202-003.536
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA BARBOSA - Presidente.
(Assinado digitalmente)
JÚNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO - Relator.
EDITADO EM: 22/08/2016
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (Presidente), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosemary Figueiroa Augusto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar, Wilson Antonio de Souza Correa (Suplente convocado) e Marcio Henrique Sales Parada
Nome do relator: JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA BARBOSA - Presidente. (Assinado digitalmente) JÚNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO - Relator. EDITADO EM: 22/08/2016 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (Presidente), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosemary Figueiroa Augusto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar, Wilson Antonio de Souza Correa (Suplente convocado) e Marcio Henrique Sales Parada
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IDENTIFICAÇÃO DO BENEFICIÁRIO. Na hipótese de o comprovante de pagamento do serviço médico prestado ter sido emitido em nome do contribuinte sem a especificação do beneficiário do serviço, podese presumir que esse foi o próprio contribuinte, exceto quando, a juízo da autoridade fiscal, forem constatados razoáveis indícios de irregularidades Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA BARBOSA Presidente. (Assinado digitalmente) JÚNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO Relator. EDITADO EM: 22/08/2016 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (Presidente), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosemary Figueiroa Augusto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar, Wilson Antonio de Souza Correa (Suplente convocado) e Marcio Henrique Sales Parada AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 70 6. 00 59 00 /2 00 8- 11 Fl. 60DF CARF MF Impresso em 06/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 2 6/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 05/09/2016 por MARCO AURELIO D E OLIVEIRA BARBOSA 2 Relatório Adoto, no que diz respeito, o relatório da Delegacia Regional de Julgamento do Rio de Janeiro: O presente processo trata de exigência constante de notificação de lançamento relativa ao Imposto de Renda Pessoa Física Exercício 2007, anocalendário 2006, lavrada em 07/07/2008, fls. 05/06, na qual se apurou crédito tributário no valor total de R$ 7.567,73, já acrescido da multa de ofício e dos juros legais calculados até 31/07/2008. De acordo com a Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal, fl. 06, foi glosado o montante de R$ 20.177,32, a título de despesas médicas, sob a fundamentação de que a esposa do contribuinte apresentou DIRPF em modelo simplificado, optando, assim, pelo desconto padrão. Só foram consideradas as despesas médicas do próprio contribuinte que puderam ser identificadas: R$ 11.400,00 – Spencer Mendes, R$ 50,00; Pro vacina, R$ 76,80; Lab. Sérgio Franco, R$ 7.932,57 (50%) Golden Cross e R$ 293,50 (50%) Vida Sist. De Emergência Móvel. Cientificado do lançamento em 24/07/2008 (fl. 17), ingressou o contribuinte, em 06/08/2008, com sua impugnação (fls. 02/04), e respectiva documentação. Em síntese, o contribuinte alega que não foram considerados os valores da Declaração de reembolso de Despesas MédicoHospitalares da empresa GoldenCross. Anexa relatório analítico fornecido pela operadora do plano de saúde (fls. 07/09). Em sessão de 22/08/2011 foi prolatado por esta 13a. Turma de Julgamento o Acórdão 12.39754 (fl. 25/30). Às fls. 31, em Despacho datado de 16/05/2013, manifestase a DICAT/DRFRJ1 acerca da incorreção do valor consignado na parte dispositiva do acórdão, encaminhando o processo em retorno a esta Turma de Julgamento para proceder à retificação A Delegacia Regional de Julgamento negou provimento a Impugnação apresentada em decisão cuja a ementa segue transcrita: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2006 DEDUÇÕES INDEVIDAS. DESPESAS MÉDICAS. NÃO COMPROVAÇÃO. Cabe ao Contribuinte, mediante apresentação de documentos hábeis e idôneos, comprovar a efetividade do Fl. 61DF CARF MF Impresso em 06/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 2 6/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 05/09/2016 por MARCO AURELIO D E OLIVEIRA BARBOSA Processo nº 13706.005900/200811 Acórdão n.º 2202003.536 S2C2T2 Fl. 61 3 pagamento da despesa médica para afastar a glosa da dedução. Na ausência de prova, mantémse a glosa. PARCELA NÃO CONTESTADA. BENEFICIÁRIOS. Não tendo sido expressamente contestada a parte do lançamento relativa aos beneficiários do contribuinte, considerase a mesma não impugnada, a teor do art. 17 do Decreto 70.235/72, que regula o processo administrativo" Cientificado da decisão da DRJ, o Impugnante, ora Recorrente, interpôs o Recurso Voluntário de fls. 51/52, por meio do qual limitase a pedir o cancelamento da exigência fiscal e a juntar, novamente, o comprovante relativo às despesas reembolsadas pela empresa Golden Cross. Voto Conselheira Relatora JÚNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO O recurso apresenta os pressupostos legais, portanto, dele conheço Conforme visto no relatório, a Delegacia da Receita Federal de Julgamento, negou provimento ao Recurso por entender que a declaração de reembolso fornecida pela Golden Cross e juntada novamente no Recurso Voluntário não seria documento hábil a legitimar a dedução pretendida, uma vez que nela não estão identificados os beneficiários dos serviços prestados, bem como quem são os benefíciários dos planos. A Lei 9.250, de 1995, em seu art. 8º, dispõe sobre os valores que poderão ser deduzidos da declaração de ajuste anual: Art. 8º (...); II das deduções relativas: a) aos pagamentos efetuados, no anocalendário, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias; (...) § 2º O disposto na alínea a do inciso II: II restringese aos pagamentos efetuados pelo contribuinte, relativos ao próprio tratamento e ao de seus dependentes; (grifamos) Fl. 62DF CARF MF Impresso em 06/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 2 6/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 05/09/2016 por MARCO AURELIO D E OLIVEIRA BARBOSA 4 Para que a despesa médica possa ser deduzida é fundamental que o contribuinte faça prova de que esta se refere ao pagamento de serviços médicos prestado a si mesmo ou a algum de seus dependentes, arrolados na sua declaração de ajuste anual. Como bem ressaltou a DRJ, "os elementos exigidos pela fiscalização para comprovar as deduções realizadas não se prestam apenas para aferir requisitos formais, mas também para que se possa verificar a efetividade da ocorrência do fato que autoriza a dedução, qual seja, o efetivo dispêndio com o usufruto de um serviço médico ou odontológico, tal como previsto em lei. Em face do exposto, nego provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Fl. 63DF CARF MF Impresso em 06/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 2 6/08/2016 por JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO, Assinado digitalmente em 05/09/2016 por MARCO AURELIO D E OLIVEIRA BARBOSA
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