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Numero do processo: 16327.720497/2011-02
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jan 19 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Mar 10 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007
JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. FACULDADE SUJEITA AO REGIME DE COMPETÊNCIA E A CRITÉRIOS TEMPORAIS. DEDUÇÃO EM EXERCÍCIOS POSTERIORES. VEDAÇÃO.
1- O pagamento ou crédito de juros sobre capital próprio a acionista ou sócio representa faculdade concedida em lei, que deve ser exercida em razão do regime de competência. Incabível a deliberação de juros sobre capital próprio em relação a exercícios anteriores ao da deliberação, posto que os princípios contábeis, a legislação tributária e a societária rejeitam tal procedimento, seja pela ofensa ao regime de competência, seja pela apropriação de despesas em exercício distinto daquele que as ensejou.
2- As despesas de Juros com Capital Próprio devem ser confrontadas com as receitas que formam o lucro do período, ou seja, tem que estar correlacionadas com as receitas obtidas no período que se deu a utilização do capital dos sócios, no período em que esse capital permaneceu investido na sociedade.
3- A aplicação de uma taxa de juros que é definida para um determinado período de um determinado ano, e seu rateio proporcional ao número de dias que o capital dos sócios ficou em poder da empresa, configuram importante referencial para a identificação do período a que corresponde a despesa de juros, e, conseqüentemente, para o registro dessa despesa pelo regime de competência,
4- Não existe a possibilidade de uma conta de despesa ou de receita conservar seus saldos para exercícios futuros. Em outros termos, apurado o resultado, o que era receita deixa de sê-lo e também o que era despesa deixa de sê-lo. Apenas as contas patrimoniais mantém seus saldos de um ano para outro. os JCPs podem passar de um exercício para o outro, desde que devidamente incorrida e escriturada a despesa dos JCPs no exercício em que o capital dos sócios foi utilizado pela empresa, com a constituição do passivo correspondente.
CSLL. LANÇAMENTO REFLEXO.
Aplica-se ao lançamento reflexo o mesmo tratamento dispensado ao lançamento principal, em razão da relação de causa e de efeito que os vincula.
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de ofício proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de ofício, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic.
Numero da decisão: 9101-002.180
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Decisão dos membros do colegiado: por unanimidade de votos, recurso Especial do Contribuinte conhecido e, no mérito, pelo voto de qualidade, recurso negado provimento, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Maria Teresa Martinez Lopez. Os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) apresentarão Declaração de Voto.
(documento assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente.
(documento assinado digitalmente)
Rafael Vidal De Araujo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO, CRISTIANE SILVA COSTA, ADRIANA GOMES REGO, LUÍS FLÁVIO NETO, ANDRE MENDES DE MOURA, LIVIA DE CARLI GERMANO, RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO, RONALDO APELBAUM, MARIA TERESA MARTINEZ LOPEZ (Vice-Presidente), CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO (Presidente).
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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Recorrente ITAU UNIBANCO S.A. Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007 JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. FACULDADE SUJEITA AO REGIME DE COMPETÊNCIA E A CRITÉRIOS TEMPORAIS. DEDUÇÃO EM EXERCÍCIOS POSTERIORES. VEDAÇÃO. 1 O pagamento ou crédito de juros sobre capital próprio a acionista ou sócio representa faculdade concedida em lei, que deve ser exercida em razão do regime de competência. Incabível a deliberação de juros sobre capital próprio em relação a exercícios anteriores ao da deliberação, posto que os princípios contábeis, a legislação tributária e a societária rejeitam tal procedimento, seja pela ofensa ao regime de competência, seja pela apropriação de despesas em exercício distinto daquele que as ensejou. 2 As despesas de Juros com Capital Próprio devem ser confrontadas com as receitas que formam o lucro do período, ou seja, tem que estar correlacionadas com as receitas obtidas no período que se deu a utilização do capital dos sócios, no período em que esse capital permaneceu investido na sociedade. 3 A aplicação de uma taxa de juros que é definida para um determinado período de um determinado ano, e seu rateio proporcional ao número de dias que o capital dos sócios ficou em poder da empresa, configuram importante referencial para a identificação do período a que corresponde a despesa de juros, e, conseqüentemente, para o registro dessa despesa pelo regime de competência, 4 Não existe a possibilidade de uma conta de despesa ou de receita conservar seus saldos para exercícios futuros. Em outros termos, apurado o resultado, o que era receita deixa de sêlo e também o que era despesa deixa de sêlo. Apenas as contas patrimoniais mantém seus saldos de um ano para outro. os JCPs podem passar de um exercício para o outro, desde que devidamente incorrida e escriturada a despesa dos JCPs no exercício em que o capital dos AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 72 04 97 /2 01 1- 02 Fl. 475DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 475 2 sócios foi utilizado pela empresa, com a constituição do passivo correspondente. CSLL. LANÇAMENTO REFLEXO. Aplicase ao lançamento reflexo o mesmo tratamento dispensado ao lançamento principal, em razão da relação de causa e de efeito que os vincula. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de ofício proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de ofício, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Decisão dos membros do colegiado: por unanimidade de votos, recurso Especial do Contribuinte conhecido e, no mérito, pelo voto de qualidade, recurso negado provimento, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Maria Teresa Martinez Lopez. Os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) apresentarão Declaração de Voto. (documento assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal De Araujo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO, CRISTIANE SILVA COSTA, ADRIANA GOMES REGO, LUÍS FLÁVIO NETO, ANDRE MENDES DE MOURA, LIVIA DE CARLI GERMANO, RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO, RONALDO APELBAUM, MARIA TERESA MARTINEZ LOPEZ (VicePresidente), CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO (Presidente). Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela contribuinte acima identificada em 11/10/2013, fundamentado atualmente no art. 67 e seguintes do Anexo II da Portaria nº 343, de 09/06/2015, que aprova o Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), pelo qual a contribuinte alega divergência jurisprudencial em relação à dedução de despesa com pagamento de juros sobre o capital próprio (JCP) relativos a anos anteriores, e também à incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. A recorrente insurgise contra o Acórdão nº 1201000.857, de 10/09/2013, por meio do qual a 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, por voto de qualidade, negou provimento a recurso voluntário, para fins de manter a autuação fiscal Fl. 476DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 476 3 a título de IRPJ e CSLL por excesso de dedução de despesas a título de JCP, e também manter a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício. O acórdão recorrido contém a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007 JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO. PATRIMÔNIO LÍQUIDO DE PERÍODOS ANTERIORES. INCIDÊNCIA. FACULDADE. EXERCÍCIO. A dedução de juros a título de remuneração do capital próprio está limitada, dentre outros aspectos, à variação da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP verificada no período ao qual se referem os lucros destinados. Ao deixar de segregar o resultado comum de sua atividade daquele atribuível à utilização do capital dos sócios, a sociedade designa integralmente o lucro apurado como remuneração deste capital, e somente pode destinálos aos sócios mediante distribuição de dividendos. Inadmissível, portanto, a dedução posterior de juros sobre capital próprio tendo por referência a variação da TJLP em períodos passados. REGIME DE COMPETÊNCIA. Ainda que os juros sobre o capital próprio pudessem ser pagos/creditados ao titular, sócios ou acionistas da pessoa jurídica em um determinado período base, relativamente ao patrimônio líquido de períodos base anteriores, a respectiva despesa com esses juros deverá ser atribuída aos períodos anteriores, haja vista que, em observância ao regime de competência, a despesa com juros deve ser apropriada nos mesmos períodos em que a pessoa jurídica empregou o capital no desenvolvimento de suas atividades. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2007 JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. Por ser parte integrante do crédito tributário, a multa de ofício sofre a incidência dos juros de mora. No recurso especial, a contribuinte afirma que o acórdão recorrido deu à legislação tributária interpretação divergente da que foi dada em outros processos quanto às matérias acima referidas. Para o processamento do recurso, ela desenvolve os argumentos descritos abaixo: o Recorrente sofreu ação da Fiscalização que culminou na lavratura dos Autos de Infração em comento, na qualidade de sucessor por incorporação de E. Johnston Representação e Participações S.A., por força dos quais o Fisco, relativamente ao ano calendário de 2007, glosou parcela da despesa relativa ao pagamento de juros sobre o capital próprio ("JCP"), sob a alegação de que o Recorrente teria apropriado valor superior ao limite permitido para o referido anocalendário; tais autuações decorreram única e exclusivamente do fato de que o Recorrente efetuou em 2007 pagamento de juros sobre capital próprio tomando por base o patrimônio líquido de 2002, 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007, deduzindo, quando do efetivo Fl. 477DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 477 4 pagamento/crédito, os valores pagos/creditados a tal título da base de cálculo do IRPJ e da CSL e recolhendo o IRF devido; em seu recurso, demonstrou o Recorrente que o valor pago em 2007 relativo àqueles anos anteriores atendeu os limites daqueles anos e poderia ter sido pago portanto naqueles períodos, sendo que a menção na ata societária ao fato de que parte dos lucros de 2007 destinavase ao pagamento de JCP referese exatamente a isto, ou seja, à destinação dos lucros de 2007, e não à base sobre o qual calculados os JCP; DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO ESPECIAL QUANTO À POSSIBILIDADE DO PAGAMENTO E DEDUÇÃO DE JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO COM BASE NAS CONTAS DE PATRIMÔNIO LÍQUIDO DE PERÍODOS PASSADOS o v. acórdão recorrido diverge de jurisprudência deste E. CARF, que, como demonstrado a seguir, entende: (i) que é admissível a dedução posterior de JCP referente a períodos passados; e, (ii) em observância ao regime de competência, a despesa com os JCP deve ser apropriada no período em que a despesa for efetivamente deliberada; o v. acórdão recorrido divergiu inicialmente de recente decisão da C. 1ª Turma da 4ª Câmara da 1ª Seção do CARF no julgamento do processo n° 16327.001409/2010 81, ocorrido em 04.12.2012, com a seguinte ementa: Acórdão nº 1401000.901 JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO DED UTIBILIDADE LIMITE TEMPORAL. O período de competência, para efeito de dedutibilidade dos juros sobre capital próprio da base de cálculo do imposto de renda, é aquele em que há deliberação de órgão ou pessoa competente sobre o seu pagamento ou crédito. Inclusive, a remuneração do capital próprio pode tomar por base o valor existente em períodos pretéritos, desde que respeitado os critérios e limites de dedutibilidade previstos em lei na data da deliberação do pagamento ou creditamento. RENÚNCIA. NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. Não há previsão legal sobre a configuração de renúncia de direito no caso de ausência da deliberação do pagamento dos JCP. A renúncia de direitos deve ser interpretada de forma restrita, não devendo o silêncio do acionista ser interpretado como ato volitivo de abdicação de direito, gerando efeitos tributários. LANÇAMENTO DECORRENTE CSLL. Tratandose de lançamento reflexo, a solução dada ao lançamento matriz é aplicável, no que couber, ao lançamento decorrente, quando não houver fatos novos a ensejar decisão diversa, ante a íntima relação de causa e efeito que os vincula. divergiu, também, de recente decisão proferida pela C. 2ª Turma da 4ª Câmara da 1ª Seção do CARF no julgamento do processo n° 16327.000585/201003 ocorrido em 11.09.2012, com a seguinte ementa: Acórdão nº 1402001.178 JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO JCP. DEDUTIBILIDADE. REGIME DE COMPETÊNCIA. LIMITE TEMPORAL. O período de competência, para efeito de dedutibilidade dos juros sobre capital próprio, é aquele em que há deliberação para pagamento ou crédito dos mesmos, podendo, inclusive, remunerar o capital tomando por base o valor existente em períodos pretéritos, desde que respeitado os critérios e limites previsto em lei na data da deliberação do pagamento ou crédito. Fl. 478DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 478 5 Nada obsta a distribuição acumulada de JCP, desde que provada, ano a ano, ter esse sido passível de distribuição, levando em consideração os parâmetros existentes no anocalendário em que se deliberou sua distribuição. DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO ESPECIAL QUANTO À NÃO INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS SOBRE O VALOR DA MULTA DE OFÍCIO para a incidência de juros moratórios sobre o valor da multa de ofício calculados à taxa Selic, a recorrente aponta como paradigma da divergência o Acórdão nº 3403001.541, com a seguinte ementa: JUROS DE MORA SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. Não existe amparo legal para a exigência de juros de mora sobre a multa de ofício. Recurso voluntário provido em parte. DAS RAZÕES PARA O PROVIMENTO DO PRESENTE RECURSO ESPECIAL QUANTO À POSSIBILIDADE DO PAGAMENTO E DEDUÇÃO DE JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO COM BASE NAS CONTAS DE PATRIMÔNIO LÍQUIDO DE PERÍODOS PASSADOS. DA LEGALIDADE DO PROCEDIMENTO DO RECORRENTE ao contrário do que foi concluído no v. acórdão recorrido, o procedimento adotado pelo Recorrente é legalmente amparado pelo artigo 9º da Lei 9.249/95; a legalidade do procedimento adotado pelo Recorrente foi atestada pela C. 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça que, em 2009, proferiu decisão favorável ao sujeito passivo na matéria objeto desses autos de infração Recurso Especial n° 1.086.752PR; a respeito da decisão proferida pelo E. STJ, o I. Conselheiro relator do v. acórdão recorrido ponderou que "é importante ressalvar que se trata da única decisão do STJ sobre o assunto, e que, a meu sentir, não é negligenciável a possibilidade de a Corte vir a rever seu entendimento em outra oportunidade"; com a devida vênia, fato é que tal decisão vem orientando a jurisprudência dos TRF, como bem demonstra a decisão recentemente proferida pelo E. TRF da 3ª Região (ementa transcrita no recurso); a legislação previu apenas as conseqüências fiscais do pagamento ou crédito de juros sobre o capital próprio (tributação na fonte à alíquota de 15% na data do pagamento ou crédito, dedução da despesa respectiva para fins de determinação da base de cálculo do IRPJ e da CSL, desde que observados os limites materiais e requisitos formais previstos na lei), não cuidando de permissões ou vedações desse pagamento, nem da época em que deverão ou poderão ser deliberados, creditados e/ou pagos, o que fica a critério da empresa decidir; a remuneração do capital dos sócios ou acionistas mediante pagamento ou crédito de juros é uma faculdade, que a sociedade pode exercer amparada pelos princípios da livre iniciativa e autonomia da vontade, dependendo apenas de decisão formal nesse sentido (deliberação), tomada em assembléia de acionistas ou reunião de quotistas, ou em virtude de cláusula do estatuto ou do contrato social, momento em que surge a despesa a eles relativa; Fl. 479DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 479 6 na ausência de previsão legal que determine sejam as deliberações, os pagamentos ou os créditos feitos em cada ano calendário, ou de dispositivo que vede o pagamento de juros sobre o capital próprio, tendo como base o patrimônio líquido de exercícios já encerrados, o Recorrente tem absoluta liberdade para deliberar, no futuro, efetuar pagamento de valores relativos a juros sobre capital que poderia ter deliberado efetuar em exercícios passados, não cabendo falar em preclusão temporal nem em renúncia do direito; a glosa de despesa mantida pela r. decisão recorrida, além de representar inadmissível ingerência na liberdade da pessoa jurídica de decidir sobre se, em que valor e quando efetuará o pagamento dos JCP, implica negar ao Recorrente o direito à dedutibilidade de uma despesa contra a expressa previsão em lei; o pagamento dos JCP se justifica em razão do tempo pelo qual o capital dos sócios permanece à disposição da pessoa jurídica, sendo uma prerrogativa do Recorrente decidir sobre todas as circunstâncias fáticas que envolvem esse pagamento; a Lei n° 9.249/95 veio apenas disciplinar o tratamento tributário do pagamento desses juros, quando pagos ou creditados nos limites e nas condições nela previstos, atribuindolhe o mesmo tratamento dos juros devidos a terceiros, não interferindo em absoluto na liberdade da empresa de decidir sobre aquelas circunstâncias fáticas; para efeito de enquadramento no referido regime tributário, os limites para a apuração do valor dos juros sobre capital próprio em cada anocalendário são o valor das contas do patrimônio líquido e a variação "pro rata die", da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP. Já a condição para o seu pagamento é a existência de lucros do exercício ou de lucros acumulados e reservas de lucros em valor igual ou superior a duas vezes o valor dos juros a serem pagos ou creditados. Finalmente, a dedutibilidade dos juros fica condicionada ao efetivo pagamento ou crédito; atendidos esses limites e condições nada mais pode ser exigido do Recorrente para justificar a validade da dedução dos juros pagos, muito menos que efetuasse o pagamento ou crédito dos referidos juros no mesmo anocalendário em que foram calculados, como pretendeu o fiscal autuante; no mesmo sentido foi a conclusão de Ricardo Mariz de Oliveira em parecer elaborado especialmente para o caso concreto (doc. 04 ), "verbis": [...] Em suma: a despesa somente nasce se estiver juridicamente constituída, o que, "in casu", por não haver previsão estatutária de obrigatória distribuição de JCP, somente ocorre quando houver deliberação do órgão competente, que no caso da Unibanco Holdinss é a Assembléia Geral ou o Conselho de Administração (Estatuto Social, art. 16, inciso IV); ademais, a despesa somente é dedutível se houver o pagamento ou crédito individualizado dos JCP. e somente é dedutível no períodobase em que ocorrer um destes eventos, o qual, portanto, é o períodobase competente. (...) Fl. 480DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 480 7 Tendo em vista todos os fatos, fundamentos e razões que apresentei nos cinco primeiro capítulos deste parecer, concluo que: (...) no caso da E. Johnston, em que o órgão competente para decidir pagar JCP é seu Conselho de Administração ou sua Assembléia Geral, a despesa somente foi incorrida quando houve deliberação, no ano de 2007, e a dedução da despesa foi correta porque houve pagamento ou crédito individualizado no mesmo período, além de que foram obedecidos os limites de cinqüenta por cento do lucro líquido ou dos lucros acumulados e reservas de lucro existentes nos mesmos períodos em que ocorreram os pagamentos (ademais, o valor calculado sobre anos anteriores, com guarda da proporção de TJLP sobre os respectivos PL, também não excedeu os mesmo limites de lucros em cada um desses anos), (doc. 04 destaques nossos). realmente, como afirmado por Ricardo Mariz neste último parágrafo, foram efetivamente obedecidos pelo Recorrente os limites acima referidos, conforme demonstrado no quadro abaixo (quadro constante do recurso); não obstante, fundamentandose em acórdão da C. 1ª Turma da 1ª Câmara da 1ª Seção relatado pela I. Conselheira Edeli Pereira Bessa e proferido nos autos do processo n° 16327.002051/200716, assim entendeu a decisão recorrida, "verbis": Portanto, segundo o acórdão acima referido, cujas conclusões aqui adoto, a lei não permite que os JCP incidam sobre o patrimônio líquido de períodos anteriores, em especial, porque nos anos anteriores, à falta do exercício tempestivo da faculdade de pagar/creditar JCP, a pessoa jurídica destinou integralmente o lucro ao pagamento de dividendos, ou à reserva de lucros para posterior distribuição. com a devida vênia, o próprio artigo 9º da Lei n° 9.249/95 revela a incorreção da premissa adotada pela i. Conselheira Edeli e reproduzida no voto do I. relator do v. acórdão recorrido, pois, se a empresa pode pagar JCP em determinado exercício mesmo tendo prejuízo, justamente com base nos lucros acumulados, resta claro que o fato de um lucro gerado em ano anterior não ter sido "destacado" para o pagamento de JCP não impede que a empresa, em exercício posterior, delibere pagar juros sobre capital próprio com vistas à remuneração dos acionistas pelo capital que deixaram à disposição da sociedade naquele ano, utilizando inclusive aquele lucro acumulado para realizar tal pagamento; vale salientar que a própria Conselheira Edeli apercebeuse deste paradoxo, tanto que expressamente enfrenta a questão no último parágrafo da fl. 09 do v. acórdão recorrido, sustentando que "o fato de a remuneração do capital próprio por meio de juros atribuídos aos sócios ter seus limites estabelecidos, também, em função do montante de lucro acumulados no momento da deliberação, não significa que o cálculo dos juros podem considerar períodos passados de apuração anteriores, cujos resultados integram aquele saldo acumulado, mas apenas que os juros incorridos no período de referência podem ser pagos ainda que superem o resultado do exercício correspondente, desde que haja saldo em conta de lucro acumulados que suportem o pagamento"; contudo, "data máxima vênia", a justificativa dada não supera a contradição com a norma legal apontada, pois se em todos os períodos posteriores a empresa só tiver tido prejuízos é evidente que o pagamento dos juros sobre capital próprio expressamente permitido pela lei se dará sim por meio da utilização daqueles lucros acumulados; Fl. 481DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 481 8 além disso, tivesse o artigo 192 da Lei das S.A. o efeito preclusivo pretendido no voto da I. Conselheira Edeli, nem sequer dividendos compostos pelos lucros auferidos em um exercício poderiam ser posteriormente distribuídos aos sócios caso não houvesse a deliberação da sua distribuição por ocasião da deliberação das demonstrações financeiras pela assembléia geral ordinária, o que evidentemente não corresponde aos fatos, já que não existe tal vedação na lei; por fim, o fato de os lucros posteriormente distribuídos a título de JCP terem sido oferecidos à tributação no exercício em que auferidos não implica a impossibilidade da sua distribuição posterior como JCP, sobretudo quando se considera que tal pagamento posterior é, na verdade, benéfico para o Fisco, já que resulta em uma postergação de dedução de despesa que jamais justificaria o presente lançamento, como será oportunamente demonstrado; DO REGIME DE COMPETÊNCIA o procedimento adotado pela Recorrente está de pleno acordo com o regime de competência, ao contrário do que afirmaram a d. autoridade lançadora e o v acórdão recorrido; o regime de competência está umbilicalmente ligado ao conceito de "despesa incorrida" e a despesa só se torna incorrida no momento em que é formada a relação jurídica em razão da qual a pessoa jurídica se torna devedora dos juros e o seu beneficiário passa a poder exigir o pagamento dos juros como direito seu; no caso dos juros sobre capital próprio a pessoa jurídica se torna devedora e o sócio ou acionista pode exigir o pagamento do valor respectivo apenas após a deliberação da sociedade decidindo efetuar o pagamento, fixando os montantes respectivos e determinado o momento em que tal pagamento ocorrerá. Assim, o período de competência, no qual o montante dos juros deve ser registrado como despesa financeira da sociedade, é aquele em que há a deliberação determinando o pagamento dos juros, no caso, 2007; antes da deliberação societária no sentido de que se efetue o pagamento de juros sobre o capital próprio não há de se falar em direito subjetivo dos sócios ou acionistas ao seu recebimento e nem em despesa incorrida, não se podendo cogitar antes disso em observância ao regime de competência posto que não há ato jurídico tornando a empresa devedora dos referidos juros; embora os juros pagos e deduzidos em 2007 tenham sido calculados também com base nas contas do patrimônio líquido de anoscalendário anteriores de 2002 a 2006, tratase de despesas relativas ao anocalendário de 2007, e não de 2002 a 2006, tendo em vista que somente em 2007 ocorreu a deliberação sobre o pagamento/crédito dos valores desses juros; pelas razões acima expostas, não tem amparo legal estabelecer como condição para a dedução dos juros sobre o capital próprio que o pagamento desses mesmos juros seja efetuado em cada anocalendário, cujo valor das contas do patrimônio líquido foi tomado como base para seu cálculo, como entendeu a r. decisão recorrida; daí porque a previsão da IN 11/96, no sentido de que os juros sobre capital próprio são dedutíveis segundo o regime de competência, significa apenas que a despesa a eles Fl. 482DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 482 9 relativa deve ser reconhecida no período em que for deliberado o seu crédito ou pagamento, pois apenas nesse momento é que nasce a obrigação a eles relativa; para argumentar, ainda que se admitisse, como alega a v. decisão recorrida, que "a faculdade de pagar/creditar JCP incidente sobre o patrimônio líquido de 2002 a 2006, a respectiva despesa com JCP deveria ter sido apropriada nos anos de 2002 a 2006, e não em 2007, como fez a recorrente", estaria a ocorrer mera postergação de despesas que no caso concreto jamais poderia ter ocasionado o lançamento, sem a prova de que daí teria decorrido qualquer prejuízo do Fisco; o Parecer Normativo COSIT n° 57/1979 expressamente reconhece que "a contabilização posterior de custo ou dedução não ocasionam, via de regra, prejuízo para o Fisco, quando então tais eventos não autorizam efetivação de lançamento"; este, aliás, é também o entendimento pacífico da jurisprudência administrativa (ementas transcritas); realmente, em se tratando de apropriação de despesa em período posterior àquele em que incorrida (tese sustentada pela v. decisão recorrida), é até intuitivo que via de regra tal procedimento em lugar de prejudicar o Fisco acaba por lhe trazer um benefício, já que o contribuinte estaria a antecipar o recolhimento de tributo; de qualquer modo, e conforme jurisprudência igualmente pacífica, consubstancia ônus exclusivo da Fiscalização a demonstração de que a postergação de despesa em um determinado caso concreto causou prejuízo ao Fisco, sendo certo ademais que neste caso o lançamento a ser efetuado jamais poderia corresponder à glosa integral da despesa apropriada tardiamente (no entendimento da v. decisão recorrida, frisese bem), como ocorreu no caso, estando limitado ao prejuízo demonstrado; ante o exposto, mesmo que para argumentar se admitisse a conclusão da v. decisão recorrida no sentido de que "a faculdade de pagar/creditar JCP incidente sobre o patrimônio líquido de 2002 a 2006, a respectiva despesa com JCP deveria ter sido apropriada nos anos de 2002 a 2006, e não em 2007, como fez a recorrente", estaria a ocorrer mera postergação de despesas, que no caso concreto jamais poderia ter gerado a glosa nos termos em que foi efetuada; por fim, cabe salientar que não procede entendimento que, embora não tenha sido suscitado nem pela i. autoridade fiscal nem pelo v. acórdão recorrido, tem sido invocado pela Fazenda em outros processos, segundo o qual o fato de o contribuinte não deliberar no próprio ano a distribuição de JCP consistiria em "renúncia" tácita que geraria a "preclusão" temporal para a distribuição dos JCP em períodos posteriores, tendo sido tal alegação profundamente examinada e refutada por Ricardo Mariz de Oliveira no referido parecer (transcrição contida no recurso); no mesmo sentido manifestouse a C. 1ª Turma da 4ª Câmara da 1ª Seção, quando do julgamento do já referido recurso voluntário interposto no processo n° 16327.001631/201088 (primeiro paradigma); é princípio básico do direito que inexiste renúncia a direito "implícita", ou presumida, e a prova de que no caso jamais se pretendeu renunciar ao direito à remuneração pelos seus acionistas consiste na própria deliberação nesse sentido ocorrida em 2007; Fl. 483DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 483 10 DA JURISPRUDÊNCIA ADMINISTRATIVA por fim, cabe salientar que a jurisprudência administrativa vem reconhecendo o direito ora sustentado pelo Recorrente (ementas transcritas); QUANTO À NÃO INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS SOBRE O VALOR DA MULTA DE OFÍCIO com a devida vênia, é a decisão do E. STJ invocada pelo v. acórdão recorrido (e não a decisão do E. STJ invocada pelo Recorrente quanto ao mérito da questão principal) que encerra "a possibilidade de a Corte vir a rever seu entendimento em outra oportunidade'", já que se fundamenta única e exclusivamente em dois outros precedentes relativos a legislações tributárias estaduais que ao contrário da federal efetivamente prevêem a incidência de juros sobre a multa de ofício; tais precedentes não se aplicam ao caso concreto, pois, diferentemente do que ocorre com a legislação federal (Lei n° 9.430/96), em que, como já demonstrado no recurso voluntário, não há previsão expressa da incidência de juros moratórios sobre a multa de ofício, as legislações estaduais pertinentes aos casos julgados pelo E. Superior Tribunal de Justiça prevêem expressamente tal incidência; o Recorrente não desconhece que em alguns artigos do Código Tributário Nacional a expressão "crédito tributário" necessariamente também abrange, além do montante do tributo devido, a multa, os juros e demais acréscimos porventura cabíveis; exemplo de artigo em que a expressão "crédito tributário" deve evidentemente incluir a penalidade pecuniária é o artigo 151, que trata da suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Caso contrário, a impugnação tempestivamente apresentada pelo sujeito passivo suspenderia a exigibilidade do tributo, mas não da multa decorrente do seu não pagamento, o que seria absurdo; por outro lado, assim como a interpretação de determinados artigos do Código Tributário Nacional que trate do crédito tributário pode exigir que naquela norma específica (como no artigo 151) a expressão signifique também os juros e multas, a interpretação de outros artigos pode exigir exatamente o oposto, ou seja, que o crédito tributário corresponda apenas ao valor do tributo devido, sem acréscimo de juros e multa. É o que ocorre, por exemplo, com o artigo 157, que integra, aliás, a sessão do Código que trata do "pagamento" no qual se insere o artigo 161; o que o artigo 157 quer dizer é que, não pago o tributo no seu vencimento, a multa porventura imposta não substitui o imposto, não dispensa o seu pagamento, mas a ele se soma. É cristalinamente claro que, ao dizer que "a imposição de penalidade não ilide o pagamento integral do crédito tributário", o artigo 157 quer dizer exatamente que "a imposição de penalidade não ilide o pagamento integral do tributo"; é exatamente o que ocorre quanto ao artigo 161 do CTN; a exemplo do que ocorre no artigo 157 do Código, no qual nitidamente o "crédito tributário" exclui a penalidade, temos no caput do artigo 161 uma clara distinção entre o "crédito" mencionado no seu início, o qual é acrescido de juros de mora, e as "penalidades Fl. 484DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 484 11 cabíveis" que podem ser aplicadas se o crédito não for pago no vencimento e que não são prejudicadas pela incidência dos juros de mora; distintas as "penalidades cabíveis" do "crédito", é de se concluir que o caput do artigo 161 pretende simplesmente dizer que ao tributo não pago no vencimento são acrescidos os juros de mora, e que tais juros, por decorrerem única e exclusivamente da mora do sujeito passivo, não excluem a imposição das "penalidades cabíveis", que têm como causa a infração tributária; ora, se o caput do artigo 161 do Código Tributário Nacional pretende dizer apenas que o tributo não pago no vencimento é acrescido de juros e esses juros não impedem a imposição das penalidades cabíveis, não faz sentido atribuir ao "crédito" nele tratado amplitude para abranger, além do tributo, a penalidade pecuniária; o intérprete do Código Tributário Nacional não pode atribuir à expressão "crédito tributário" o sentido que lhe aprouver, devendo buscar, na leitura do dispositivo legal específico e efetuada a necessária interpretação, o sentido que se revele adequado ao caso concreto; a conseqüência da interpretação contida no acórdão recorrido seria absurda, pois a redação legal permitiria não apenas que sobre a penalidade pecuniária não paga no vencimento incidissem juros, mas também que sobre essa "penalidade pecuniária''' não paga no vencimento (trinta dias contados do lançamento, no caso dos tributos federais) fosse imposta nova "penalidade cabível", e assim por diante, em uma seqüência infinita de multas sobre multas impostas a cada trinta dias; muito embora o v. acórdão recorrido não tenha esclarecido qual dispositivo de lei ordinária, em sua opinião, justificaria a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício, é sabido que a Administração Tributária procura habitualmente justificar a imposição de juros moratórios sobre multa de ofício em outros dispositivos legais, a saber, os artigos 43 e 61 da Lei n° 9.430/96, que a Recorrente passa a analisar; de todas as multas que podem ser impostas pela Receita Federal na sua atividade de lançamento, a única que não se encontra sujeita à regra do artigo 43, reservada para os autos de infração sem a exigência de tributo, é justamente a multa de lançamento de ofício, exigida conjuntamente com o tributo lançado e inteiramente regulada pelo artigo 44; em segundo, e mais importante, enquanto o artigo 43, no seu parágrafo único, prevê expressamente a incidência dos juros moratórios sobre as multas impostas sem a exigência de tributo, o artigo 44, que dispõe sobre a multa de lançamento de ofício, depois de prever alíquotas e hipóteses de incidência no caput e incisos, estabelecer hipóteses de qualificação no § 1º, dispor sobre os casos de agravamento no § 2º, fixar hipóteses de redução no § 3º e estender a imposição da multa a situações antes não contempladas nos §§ 4º e 5º, ou seja, de tratar a multa do lançamento de ofício de forma muito mais exaustiva do que a multa imposta sem a exigência de tributo, SIMPLESMENTE TERMINA! SEM DIZER UMA ÚNICA PALAVRA SOBRE A (SUPOSTA) INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS SOBRE A MULTA DE LANÇAMENTO DE OFÍCIO! caso o legislador efetivamente tivesse querido prever a incidência de juros moratórios sobre multa de lançamento de ofício, bastaria ter acrescentado ao artigo 44, a Fl. 485DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 485 12 exemplo do que fez no parágrafo único do artigo 43, um simples parágrafo nesse sentido, de teor idêntico ao parágrafo único do artigo 43; de outro lado, nem se diga que a exigência de juros de mora sobre multa de ofício teria fundamento no art. 61 da Lei n° 9.430/96, já que o artigo 61 da Lei nº 9.430/96 regula os acréscimos moratórios, e não a multa de ofício, como já decidiu o E. STJ (Agravo Regimental no Recurso Especial n° 868.847/RS, julgado pela C. 1" Turma do STJ em 15.12.2009); por se tratar de "Normas sobre o Lançamento de Tributos e Contribuições" que orientam os "PROCEDIMENTOS DE FISCALIZAÇÃO", e sendo tanto o lançamento por força do artigo 142 do Código Tributário Nacional quanto (obviamente) a fiscalização procedimentos reservados à Administração Tributária, os artigos 43 e 44 da Lei n° 9.430/96 têm como únicos destinatários os agentes da Administração Tributária. São as autoridades fiscais que, no exercício da atividade de lançamento, aplicarão os artigos 43 e 44 da Lei n° 9.430/96; o artigo 61, por outro lado, não faz parte do capítulo sobre os "PROCEDIMENTOS DE FISCALIZAÇÃO", integrando, todavia, o Capítulo V da lei, que trata das "DISPOSIÇÕES GERAIS", e, mais especificamente, a Seção IV sobre "Acréscimos Moratórios", juntamente com o artigo 62, sobre o termo inicial da incidência dos juros no pagamento parcelado do IRPF e no pagamento das quotas de ITR, e o artigo 63, que permitiu ao contribuinte que vê cassada a liminar ou sentença que suspendia a exigibilidade do tributo pagar o mesmo só com a multa e os juros moratórios; especificamente, o artigo 61 da Lei n° 9.430/96 teve como única finalidade reduzir os percentuais de multa de mora, como bem demonstra a exposição de motivos (que se refere ao artigo 63 do projeto, que virou o artigo 61 da lei), "verbis": "38. Também visando adequar a legislação tributária à nova realidade econômica, propõese, no art. 63, a redução da multa moratória, hoje variando de dez a trinta por cento, para trinta e três centésimos por cento ao dia de atraso, não cumulativa, até o limite máximo de vinte por cento." (Exposição de Motivos n° 470, de 15.10.1996, do Sr. Ministro de Estado de Fazenda.) como se vê, portanto, e assim como os artigos 62 e 63, o artigo 61 da Lei n° 9.430/96 tem como destinatário única e exclusivamente o sujeito passivo, pois, por se tratar de regra pertinente à multa de mora, que é a multa devida pelo contribuinte que paga o tributo em atraso sem que tenha havido lançamento de ofício, referese a multa que só pode ser paga enquanto a Autoridade Administrativa não tiver efetuado lançamento de ofício, hipótese na qual a multa de mora cede lugar à multa de ofício. Portanto, é o sujeito passivo que, ao pagar sem qualquer ordem prévia da Administração Tributária o tributo em atraso, aplicará o artigo 61 da Lei n° 9.430/96; bem se vê, portanto, que não só por um lado as regras dos artigos 43 e 44, e, por outro, a regra do artigo 61, ambas da Lei n° 9.430/96, tratam de matérias diferentes (os artigos 43 e 44 do lançamento de tributo ou acréscimo, e o artigo 61 o pagamento de tributo em atraso antes do lançamento), mas também tais regras dirigemse a destinatários distintos, o artigo 43 e 44 ao agente da Administração Tributária, e o artigo 61 ao sujeito passivo da obrigação tributária; Fl. 486DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 486 13 o que significa que tais regras são não apenas distintas, mas também mutuamente excludentes, não sendo logicamente possível nem a aplicação das regras dos artigos 43 e 44 aos acréscimos moratórios (para fazer incidir, por exemplo, multa de ofício sobre multa de mora), nem, a aplicação do artigo 61 aos acréscimos originados no lançamento, como pretende a Fazenda para fazer incidir artificialmente, com a devida vênia, juros moratórios sobre a multa de ofício, sob pena de se chegar a conclusão absurda; com efeito, caso substituamos, como pretende a interpretação sustentada pela Fazenda Nacional, a expressão "débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal" constante do caput do artigo 61, bem como a expressão "débitos a que se refere este artigo" constante do § 3º, pela expressão "débitos de tributos e contribuições, multas de ofício e juros de mora", teremos como conseqüência a incidência de multa de mora não só sobre os débitos de tributos e contribuições pagos em atraso, mas também sobre a multa de ofício e os juros de mora (caput), bem como a incidência de juros de mora não só sobre débitos de tributos e contribuições pagos em atraso (o que admite o Agravante) e sobre a multa de mora (o que sustenta a Fazenda Nacional e não admite o Agravante), mas também sobre os próprios juros de mora (§ 3º), que assumiriam, assim, a forma de juros compostos calculados mediante fórmula de progressão geométrica e não, como efetivamente é e sempre foi, de juros simples calculados por meio de fórmula de progressão aritmética; ora, a partir do momento que se considera que a Receita Federal, que pratica a atividade de lançamento "vinculada e obrigatória''' por força do parágrafo único do artigo 142 do Código Tributário Nacional, jamais entendeu possível (e muito menos tentou) fazer incidir multa de mora sobre multa de ofício e juros de mora, nem juros de mora sobre os próprios juros de mora sob a forma de juros compostos, demonstrado está que A INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 61 DA LEI N° 9.430/96 QUE AMPARARIA A PRETENSÃO DA FAZENDA DE FAZER INCIDIR JUROS MORATÓRIOS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO É "DATA MÁXIMA VENIA" ABSURDA ATÉ MESMO SOB A ÓTICA DA PRÓPRIA RECEITA FEDERAL; por fim, ainda que para argumentar concluísse esta C. Turma ser legítima a incidência de juros sobre a multa de ofício, ela só poderia se dar a partir do trigésimo dia posterior a eventual decisão administrativa definitiva que mantivesse a lançamento. Quando do exame de admissibilidade do recurso especial da contribuinte, o Presidente da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, por meio do Despacho nº 1200 00.046, de 10/03/2014, admitiu o recurso fazendo as seguintes considerações sobre as divergências suscitadas: [...] Segundo a recorrente, em situações semelhantes, ou seja, em ano posterior ao do capital objeto da remuneração, na decisão recorrida considerouse ser inadmissível deduzir JCP tendo como referência a TJLP de períodos passados, ao passo que no paradigma entendeuse que o período de competência da dedução de JCP é aquele da deliberação de pagálo ou creditálo. Verificouse que, de fato, as situações são semelhantes: em ambos os casos foram distribuídos aos sócios juros sobre capital próprio com base em períodos anteriores ao da dedução do IRPJ e, conseqüentemente, da CSLL. Já as decisões foram antagônicas: no recorrido, decidiuse que essa dedução era inadmissível, e que teria sido desrespeitado o regime de competência; no paradigma, decidiuse que Fl. 487DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 487 14 era possível deduzir despesas com JCP tendo como base valor existente em períodos pretéritos e que o regime de competência para a dedução de JCP é aquele em que há a deliberação para fazêlo. Desse modo, concluise que a divergência jurisprudencial está suficientemente demonstrada por meio desse paradigma. Em reforço à demonstração da divergência, foi indicado outro acórdão como paradigma, o de nº 1402001.178, do qual a recorrente apresentou cópia de seu inteiro teor e reproduziu ementa e trecho do voto condutor (art. 67, §§7o a 9o, do RICARF). Basta consultar a ementa do paradigma para constatar a divergência de entendimento alegada pela recorrente: [...] Assim sendo, concluise que a divergência de entendimentos foi efetivamente demonstrada por meio de ambos os paradigmas. Para a incidência de juros moratórios sobre o valor da multa de ofício calculados à taxa Selic, a recorrente aponta como paradigma da divergência o Acórdão nº 3403 001.541, do qual apresenta cópia de seu inteiro teor (art. 67 do RICARF). Além de reproduzir trechos dos votos condutores de recorrido e paradigma, reproduz trechos de interesse extraídos das respectivas ementas, contrapondoos: [...] Verificouse que, de fato, as ementas dos acórdãos são suficientes para demonstrar a divergência de entendimentos alegada: no recorrido, considerou que multa de mora incide sobre multa de ofício, enquanto que no paradigma entendeuse que não existe amparo legal para essa incidência. Assim sendo, também para essa matéria a divergência jurisprudencial alegada está suficientemente demonstrada. Em 22/04/2014, o processo foi encaminhado à PGFN, para ciência do despacho que admitiu o recurso especial da contribuinte, e em 28/04/2014 o referido órgão apresentou tempestivamente as contrarrazões ao recurso, com os seguintes argumentos: DOS FUNDAMENTOS PARA A MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO (JCP) – LIMITES DEDUTÍVEIS – IMPOSSIBILIDADE DE EFETUAR A DEDUÇÃO DE VALORES DECORRENTES DE EXERCÍCIOS ANTERIORES o pagamento de JCP é uma faculdade conferida aos acionistas, e decorre de princípios como a livre iniciativa e a autonomia privada, dependendo apenas de decisão formal deles próprios, por meio de deliberação tomada em assembléia. A pessoa jurídica, com base nos princípios mencionados, tem liberdade e autonomia para decidir o melhor momento e a forma para remunerar o capital dos sócios. Poderá, inclusive, optar pela taxa de rentabilidade que julgar mais adequada. A dedutibilidade, porém, estará sempre sujeita às regras trazidas pela Lei nº 9.249/95; o artigo 132 da Lei n° 6.404/76 impõe a obrigatoriedade da empresa realizar uma assembléiageral ordinária anual, nos quatro primeiros meses seguintes ao término do exercício social, no intuito de, entre outras matérias, I tomar as contas dos administradores, Fl. 488DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 488 15 examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras; e II deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos; de acordo com o artigo 134, § 6º, da Lei nº 6.404/76, a ata da assembléia geral ordinária será arquivada no registro do comércio e publicada; pelos dispositivos transcritos, temse que os sócios, durante as assembléias, devem deliberar sobre as contas e resultados econômicos do período, estabelecendo, ainda, o modo de sua remuneração. É nesse momento que deverão decidir sobre o pagamento de juros sobre o capital próprio; nos termos do artigo 1072 do Código Civil, aplicado às sociedades anônimas em razão do artigo 1.089 do mesmo código, "§ 5º As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes". O artigo 48 do mesmo Código ainda traz uma regra geral aplicável a todas as pessoas jurídicas: Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso. Parágrafo único. Decaí em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude. significa, então, que as deliberações tomadas em assembléia pelos acionistas não podem ser simplesmente revogadas ou modificadas a qualquer tempo. Na qualidade de negócio jurídico tutelado pelo Direito, a anulação da manifestação de vontade externada na reunião somente pode ocorrer se ficar comprovado erro, dolo, fraude ou simulação, conforme art. 171 e seguintes do Código Civil; no presente caso, quanto aos exercícios sociais pretéritos, é certo que já houve a realização de assembléia, na qual foi externada a vontade social sobre a destinação dos lucros e a aprovação das demonstrações financeiras; como visto, os sócios já deliberaram sobre a destinação a ser dada aos lucros do período. De acordo com a recorrente, como esse valor está abaixo do limite dedutível fixado pela lei para o período, teria um ‘estoque’ para ser utilizado em anos posteriores; todavia, esse entendimento está equivocado. Como já foi dito, essa forma de remuneração dos sócios é uma faculdade conferida à empresa que, se optar por ela, poderá deduzila até o limite fixado pela lei. Se em determinado período a empresa deliberou sobre JCP abaixo do limite dedutível, significa dizer que a própria empresa renunciou a tal direito. Temse, então, ato jurídico perfeito, estando apto a produzir todos os seus efeitos; ocorre que os acionistas, em 2007, determinaram o pagamento de JCP acima do montante autorizado para fins de dedução. No intuito de se aumentarem esse limite e deduzirem todo o valor, usam argumento de que uma parte do excesso decorre de ‘estoque’ não utilizado em anos anteriores (2002 a 2006); não existe óbice para a assembléia, em exercício posterior, deliberar sobre a remuneração do capital dos sócios na forma que melhor lhe aprouver. Os critérios trazidos pela Fl. 489DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 489 16 Lei n° 9249/95 dizem respeito apenas aos efeitos fiscais, ou seja, a dedução do lucro real para fins de apuração do imposto de renda da pessoa jurídica. Logo, a empresa pode determinar o pagamento de juros sobre o capital próprio até mesmo acima dos limites trazidos pela Lei n° 9.249/95. Tratase de um direito exercido com base nos princípios da livre iniciativa e da autonomia privada; porém, a parcela dedutível deve sempre obedecer aos requisitos indicados na legislação. Um dos critérios trazidos pela norma tem natureza quantitativa, a parcela dedutível limitase ao maior valor entre: a) 50% do lucro líquido do período de apuração antes da dedução desses juros, após a dedução da CSLL e antes da provisão para o IRPJ, ou b) 50% do somatório dos lucros acumulados e reservas de lucros; e mais, a remuneração é calculada sobre as contas do patrimônio líquido, limitada à variação pro rata dia da TJLP. Por óbvio, na apuração do montante dedutível para o anocalendário, a TJLP deve ser aplicada apenas quanto ao PL do respectivo período, e não quanto a exercícios anteriores, sob pena de se tornar inócuo o limite trazido pela Lei; não pode a empresa tentar dilatar esse limite, sob o fundamento de que está realizando pagamento ‘acumulado’, referente a exercícios anteriores. Independentemente do montante pago, a parcela dedutível obedecerá ao critério quantitativo previsto na legislação e, por óbvio, deverá ser calculada para o exercício no qual foi deliberado o pagamento do JCP, e não conforme exercícios sociais anteriores já devidamente encerrados; ademais, a dedução de valores pagos a título de JCP, nos limites autorizados pela lei, é uma faculdade conferida à empresa, e não um direito absoluto. Até a edição da Lei nº 9.249/95, o ordenamento jurídico proibia esse tipo de dedução, conforme constava do artigo 49 da Lei n° 4.506/64; a deliberação acerca da destinação dos lucros referentes aos anos pretéritos é um ato jurídico perfeito. Cabe à empresa apenas cumprir as determinações constantes da assembléia, onde houve a aprovação das demonstrações financeiras e ficou decidido sobre o tratamento a ser dado ao lucro apurado no período. Eventual modificação dependeria de alteração do balanço e a prova de algum vício no tocante à manifestação de vontade. Como já houve a destinação do lucro do período, não pode a empresa simplesmente ignorar a deliberação e nos exercício seguinte determinar o pagamento de JCP; "não há como imputar a exercícios passados os efeitos de deliberação societária (sujeita a uma disciplina jurídica específica) tomada no presente. Essa imputação só poderá ocorrer se o Balanço vier a ser retificado por determinação dos sócios ou acionistas, mas tal retificação só poderia ser juridicamente justificada se demonstrada a anterior ocorrência de erro, dolo ou simulação" (Trecho extraído do artigo de Edmar Oliveira de Andrade Filho publicado no site Fiscosoft); não se está defendendo que a empresa está proibida de realizar o pagamento de JCP no montante e momento que julgar adequado. Evidentemente que tais decisões encontramse no âmbito de sua autonomia privada. Porém, o efeito fiscal do pagamento deve obedecer à legislação que trata do assunto. A recorrente não pode efetuar a dedução dos valores sem observar os limites impostos pela lei tributária, muito menos tentar se esquivar de tais limites, defendendo que o excesso decorre de faculdade não exercida em anos anteriores; Fl. 490DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 490 17 por fim, ao caso não se aplica o artigo 6°, §5º, do DL n. 1.598/77, segundo o qual a inexatidão quanto ao período base de escrituração de dedução não é fundamento para autuação, pois houve a redução indevida do lucro real, autorizando o lançamento em análise; OBSERVÂNCIA DO REGIME DE COMPETÊNCIA – LEGALIDADE DO ARTIGO 29 DA IN SRF 11/96 outro ponto que não pode deixar de ser analisado diz respeito à observância do regime de competência, por ser regra geral, bem como critério básico para registro das operações da pessoa jurídica na contabilidade societária e fiscal, no termos do art. 177 da Lei 6.404/76; o artigo 29 da Instrução Normativa 11/96 ratifica que a despesa de juros sobre o capital próprio deve observar o regime de competência. Tal norma não é ilegal, pois tem como fundamento de validade o artigo 177 da Lei 6.404/77, bem como o art. 6° do DecretoLei n° 1.598/77, segundo o qual "Lucro real é o lucro liquido do exercício ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela legislação tributária"; o conceito de competência decorre da necessidade de enquadrar as demonstrações financeiras aos fatos econômicos e financeiros ocorridos nos espaço de tempo a que elas reportam; como a despesa somente será considerada incorrida quando houver a deliberação, é incompatível defender a aplicação de TJLP sobre o saldo de contas do patrimônio líquido de exercícios anteriores, quando já houve manifestação societária sobre o assunto e ficou decidido pelo pagamento da despesa abaixo do limite dedutível. O direito aos juros sobre o capital próprio nasce a partir da decisão societária, não sendo autorizado recuperar a dedutibilidade de despesa que, por determinação da própria empresa, não foi suportada em anos anteriores; em suma, não é possível trazer para o presente a dedução de juros calculados sobre contas do patrimônio líquido de exercícios passados. Para tanto, era necessária a tempestiva manifestação da sociedade. Se isso não ocorreu ou a deliberação foi pelo pagamento de juros abaixo do limite dedutível, é certo que tal fato não irá alterar a dedução do períodobase seguinte, que continuará atrelada aos critérios trazidos pela Lei nº 9.249/95; nesse sentido também são as conclusões de Edmar Oliveira de Andrade Filho, expostas no artigo já citado: Fundamentados em todo o acima exposto, concluímos que: a) por força do disposto no art. 6º do Decretolei nº 1.598/77, todas as mutações patrimoniais devem ser reconhecidas segundo o regime de competência. A Lei nº 9.249/95 e a Lei nº 9.430/96, não revogaram de forma expressa ou tácita o art. 6º do Decretolei nº 1.598/77, de modo que o encargo denominado "juro sobre o capital social" se submete para fins de dedutibilidade ao regime de competência; b) o período de competência dos juros sobre o capital é aquele em que há deliberação de órgão ou pessoa competente sobre o pagamento ou crédito dos mesmos. Assim, enquanto não houver o ato jurídico que determine a obrigação de pagar os juros não existe a despesa ou o encargo respectivo e não há que se cogitar de dedutibilidade de algo ainda inexistente; Fl. 491DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 491 18 c) a aferição das condições e limites de dedutibilidade do encargo relativo aos juros sobre o capital deverá ser feita no período em que ocorrer a deliberação de seu pagamento ou crédito, de forma incondicionada. De fato, é neste nesse período que o encargo existe do ponto de vista jurídico e a aferição de sua dedutibilidade para fins fiscais será feita de acordo com as condições vigentes neste mesmo período; e d) é impossível, do ponto de vista lógico e jurídico, a imputação, a exercícios passados, dos efeitos produzidos por uma decisão societária atual porque o Balanço, depois de aprovado pelos sócios ou acionistas, constitui ato jurídico perfeito e que só pode ser validamente modificado se demonstrada a anterior ocorrência de erro, dolo ou simulação. Em face do exposto cabe referir que não existe amparo legal para sustentar a dedutibilidade do montante dos juros sobre o capital que vier a ser declarado, pago ou creditado e que se reporte a exercícios anteriores, salvo se os resultados pudessem ser retificados em razão de erro, dolo ou fraude. Todavia, isto não impede que a empresa decida remunerar o capital tomando por base o valor existente em anos anteriores, mas, se isto ocorrer, a dedutibilidade será aferida com base nos critérios e limites previstos em lei na data da deliberação do pagamento ou crédito. JURISPRUDÊNCIA CONTRÁRIA À TESE DEFENDIDA PELA EMPRESA corroborando a adoção do regime de competência para o presente caso, é válido transcrever trecho do voto vencedor do ilustre Conselheiro Marcelo Cuba Netto, proferido no acórdão 120100.348 (transcrição contida nas contrarrazões); existem outros julgados do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais que também são contrários à tese defendida pela empresa (ementas transcritas); por fim, importante destacar que o TRF da 4ª Região, em julgamento recente, sessão realizada em 15 de janeiro de 2013, acabou por rejeitar a dedução acumulada de juros sobre o capital próprio APELAÇÃO CÍVEL Nº 500542755.2012.404.7005/PR (ementa transcrita); a jurisprudência transcrita acima confirma a legalidade do lançamento, razão pela qual deve ser negado provimento ao recurso da empresa; DA INCIDÊNCIA DOS JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO é preciso mencionar, inicialmente, que as decisões administrativas que afastam a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício o fazem a partir da literalidade do art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996. Segundo defendem, apenas o valor de tributos e contribuições submeterseia aos juros moratórios; entretanto, uma interpretação efetivamente literal conduz a uma conclusão diferente, autorizando a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. Isso porque não pode olvidar do termo "decorrente de", aposto antes das palavras "tributos e contribuições" no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996. Dizer que "os débitos decorrentes de tributos e contribuições", ou seja, "débitos cuja origem remonta a tributos e contribuições", se sujeitam a juros de mora não é o mesmo que afirmar que "apenas os débitos de tributos e contribuições submeterseiam aos juros de mora"; Fl. 492DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 492 19 outrossim, necessário lembrar a finalidade da lei para alcançar a efetiva compreensão do comando legal. As multas encerram em si duas finalidades precípuas: uma finalidade punitiva, em razão da prática de uma conduta reprovada pelo ordenamento jurídico e uma finalidade educativa, na medida em que o contribuinte transgressor, bem como os demais contribuintes, serão compelidos a não repetir tal conduta juridicamente indesejada; afastar a incidência de juros moratórios sobre as multas de ofício seria frustrar totalmente a finalidade dos dispositivos legais que cominam multa de ofício. O prazo necessário à conclusão do processo administrativo, somado ao tempo de uma posterior fase judicial acabariam por aniquilar o impacto punitivo ou educativo da multa, dada a corrosão pela inflação; vislumbrase ainda outro grave comprometimento da administração tributária. A partir do lançamento, o tributo e a multa de ofício passam a ser devidos pelo contribuinte, e esse valor será uniformemente corrigido de acordo com a legislação. Não há possibilidade para a segregação das formas de correção desse montante total; em outras palavras, não é lógico que o valor do tributo sofra a incidência de juros moratórios, enquanto que a multa de ofício não, sendo que ambas as verbas fazem parte de um mesmo todo (crédito tributário); convém transcrever julgado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que utiliza justamente o fundamento acima exposto para manter os juros sobre a multa de ofício TRF4ª Região, Ap. Cível nº 2005.72.01.0000311/SC, Rel. Des. DIRCEU DE ALMEIDA SOARES, 2ª T., v.u., j. em 29/01/2008, DE de 21/02/2008 (ementa transcrita); a Primeira e a Segunda Turma do STJ já decidiram por manter os juros sobre a multa de ofício, nos seguintes acórdãos REsp 1146859/SC e REsp 1129990/PR; há ainda expressiva jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais sobre o tema: TRF 3ª Região Ap./Reexame Necessário nº 001857343.2003.4.03.6182/SP e AMS 187426; TRF 4ª Região, AC 2006.71.13.0027875; no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, a jurisprudência preponderante sobre o tema não é diferente. Há diversos julgados do CARF reconhecendo a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício, dentre eles mencionem se: Acórdãos 10322197, 10322917 e 20218737. A legalidade da incidência de juros sobre a multa de ofício também já foi reconhecida pela 1ª Turma da CSRF, na sessão realizada em outubro de 2011, no processo 10680.007190/200631; a dicção da Súmula nº 4 do CARF corrobora nossos argumentos, na medida em que fala genericamente em débitos tributários: "Súmula CARF nº 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais"; pelas razões expostas, deve ser mantida a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. Fl. 493DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 493 20 É o relatório. Fl. 494DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 494 21 Voto Voto Vencedor Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. 2. A divergência jurisprudencial restou perfeitamente configurada, e foram atendidos todos os demais requisitos que oportunizam o recurso. 3. Portanto, conheço do Recurso Especial. Dividirei o presente voto nos seguintes títulos: · Escopo · Da natureza jurídica dos JCPs · Do tratamento societário das despesas (de JCP) · Do regime de competência · Da existência, ou não, do direito de fazer incorrer em exercícios subseqüentes despesas de exercícios anteriores não incorridas · Da interpretação do art. 9 da Lei nº 9.429/95 · Da interpretação da IN da RFB de 1996 · Da Deliberação CVM nº 207, de 13 de dezembro de 1996 · Do precedente do STJ e do regime de caixa · Da renúncia e da decadência · Da postergação de tributo · DOS JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO Escopo 4. A matéria trazida à nossa apreciação diz respeito a: a) possibilidade de deduzir da base de cálculo do IRPJ (e da CSLL) pagamentos feitos a título de remuneração de Juros sobre Capital Próprio (JCP) relativos a anos anteriores; b) incidência de juros de mora sobre multa de ofício. Fl. 495DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 495 22 5. O dispositivo legal que dá ensejo a interpretações divergentes é o art. 9º, caput e §1º, da Lei nº 9.249, de 26/12/1995. Transcrevoo integralmente: Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP. § 1º O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados. (Redação dada pela Lei nº 9.430, de 1996) § 2º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crédito ao beneficiário. § 3º O imposto retido na fonte será considerado: I antecipação do devido na declaração de rendimentos, no caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no lucro real; II tributação definitiva, no caso de beneficiário pessoa física ou pessoa jurídica não tributada com base no lucro real, inclusive isenta, ressalvado o disposto no § 4º; ... § 5º No caso de beneficiário sociedade civil de prestação de serviços, submetida ao regime de tributação de que trata o art. 1º do DecretoLei nº 2.397, de 21 de dezembro de 1987, o imposto poderá ser compensado com o retido por ocasião do pagamento dos rendimentos aos sócios beneficiários. § 6º No caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no lucro real, o imposto de que trata o § 2º poderá ainda ser compensado com o retido por ocasião do pagamento ou crédito de juros, a título de remuneração de capital próprio, a seu titular, sócios ou acionistas. § 7º O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo do disposto no § 2º. § 8º Para os fins de cálculo da remuneração prevista neste artigo, não será considerado o valor de reserva de reavaliação de bens ou direitos da pessoa jurídica, exceto se esta for adicionada na determinação da base de cálculo do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido. 6. Há inúmeros julgados do CARF relativos a questão em apreço, tanto em um sentido (favorável a recorrente) quanto em outro (desfavorável a ela). Não pretendo aqui esgotar as diversas facetas da polêmica; mas apenas, além de apresentar minha visão, tratar de alguns pontos que entendo essenciais nas discussões, ainda que posteriores a este processo. 7. Entendo que não assiste razão à recorrente, pelos motivos que passo a expor. Da natureza jurídica dos JCPs 8. Faço a constatação da existência de uma premissa fundamental que, embora bastante simples, acaba por ser totalmente esquecida, qual seja, que a natureza jurídica dos Juros sobre Capital Próprio não é derivada da norma fiscal que delimita condições para a sua dedutibilidade do IRPJ e da CSLL. Fl. 496DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 496 23 8.1. Os equívocos que encontrei em alguns precedentes que julgaram o tema consistiram em extrair a natureza jurídica dos JCPs do seu artigo de dedução fiscal. O fato é que isso acabou desfigurando a verdadeira natureza jurídica dos JCP e implicou numa teoria que resultou na inobservância da legislação societária. 8.2. Portanto, não me resta outra alternativa, antes de aprofundar no estudo das divergências entre o recorrido e os paradigmas, senão apontar algumas características essenciais da natureza jurídica dos JCPs. 9. Cito inicialmente duas características essenciais da natureza jurídica dos Juros sobre Capital Próprio: a) a primeira é que visam à REMUNERAÇÃO DOS SÓCIOS; e b) a segunda é que são JUROS (como o próprio nome os qualificam). 9.1. Constatase, com isso, que as quantias que os sócios recebem à título de remuneração do capital próprio não podem se confundir com o patrimônio da entidade. Assim, para estar de acordo com a real natureza jurídica, os JCPs somente podem ser entendidos como elementos que não venham a se integrar ao patrimônio da sociedade (consistindo numa rubrica redutora do mesmo), ou seja, não podem estar em contas redutoras dos lucros acumulados, das reservas de lucros ou de outras contas do patrimônio líquido. 9.2. Portanto, pela razão do subitem 9.1, na apuração do lucro líquido do exercício, os valores destinados aos sócios como remuneração do capital devem compor o lucro contábil da entidade; o que implica, necessariamente, em reconhecêlos como integrantes do resultado do exercício da sociedade, ou, seja, assumindo a natureza de DESPESA, não se admitindo que sejam incorridos apenas no momento em que sejam decididas as destinações dos lucros. 9.3. Entender diferentemente seria negar validade ao princípio da entidade, que veda confundir o patrimônio dos sócios com o patrimônio da sociedade, bem como prever o enriquecimento dos sócios em detrimento da empresa. Confirase o que diz a Resolução nº 750, de 29/12/1993, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), sobre o princípio da entidade: CAPÍTULO I DOS PRINCÍPIOS E DE SUA OBSERVÂNCIA Art. 1º Constituem PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE (PFC) os enunciados por esta Resolução. § 1º A observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). § 2º Na aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade há situações concretas e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais. CAPÍTULO II DA CONCEITUAÇÃO, DA AMPLITUDE E DA ENUMERAÇÃO ... SEÇÃO I O PRINCÍPIO DA ENTIDADE Art. 4º O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de Fl. 497DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 497 24 pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por conseqüência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Parágrafo único – O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômicocontábil. 9.4. Deste Princípio Fundamental da Contabilidade (PFC) societária saltam conceitos como de autonomia patrimonial, de diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, além da evidente e contundente conseqüência: "o patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição". Assim, para que esse PFC seja observado, é de rigor que o incorrimento dos JCPs não se dê na integração do patrimônio da sociedade; devendo, os Juros sobre Capital Próprio, inevitavelmente, transitar pelo resultado da sociedade como despesa. 9.5. O CFC, considerando a conveniência de um maior esclarecimento sobre o conteúdo e abrangência dos PFCs, emitiu a Resolução nº 774, de 16/12/94, dando interpretação à Resolução CFC nº 750/93, por meio de um apêndice. Sobre o princípio da entidade foi melhor detalhada a questão da autonomia patrimonial: 2.1.1 – A autonomia patrimonial O cerne do Princípio da ENTIDADE está na autonomia do patrimônio a ela pertencente. O Princípio em exame afirma que o patrimônio deve revestirse do atributo de autonomia em relação a todos os outros Patrimônios existentes, pertencendo a uma Entidade, no sentido de sujeito suscetível à aquisição de direitos e obrigações. A autonomia tem por corolário o fato de que o patrimônio de uma Entidade jamais pode confundirse com aqueles dos seus sócios ou proprietários. Por conseqüência, a Entidade poderá ser desde uma pessoa física, ou qualquer tipo de sociedade, instituição ou mesmo conjuntos de pessoas, tais como: famílias; empresas; governos, nas diferentes esferas do poder; sociedades beneficentes, religiosa, culturais, esportivas, de lazer, técnicas; sociedades cooperativas; fundos de investimento e outras modalidades afins. No caso de sociedades, não importa que sejam sociedades de fato ou que estejam revestidas de forma jurídica, embora esta última circunstância seja a mais usual. O Patrimônio, na sua condição de objeto da Contabilidade, é, no mínimo, aquele juridicamente formalizado como pertencente à Entidade, com ajustes quantitativos e qualitativos realizados em consonância com os princípios da própria Contabilidade. A garantia jurídica da propriedade, embora por vezes suscite interrogações de parte daqueles que não situam a autonomia patrimonial no cerne do Fl. 498DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 498 25 Princípio da Entidade, é indissociável desse princípio, pois é a única forma de caracterização do direito ao exercício de poder sobre o mesmo Patrimônio, válida perante terceiros. Cumpre ressaltar que, sem autonomia patrimonial fundada na propriedade, os demais Princípios Fundamentais perdem o seu sentido, pois passariam a referirse a um universo de limites imprecisos. A autonomia patrimonial apresenta sentido unívoco. Por conseqüência, o patrimônio pode ser decomposto em partes segundo os mais variados critérios, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Mas nenhuma classificação, mesmo que dirigida sob ótica setorial, resultará em novas Entidades. Carece, pois, de sentido, a idéia de que as divisões ou departamentos de uma Entidade possam constituir novas Entidades, ou “microentidades”, precisamente por que sempre lhes faltará o atributo da autonomia. A única circunstância em que poderá surgir nova Entidade, será aquela em que a propriedade de parte do patrimônio de uma Entidade, for transferida para outra unidade, eventualmente até criada naquele momento. Mas, no caso, teremos um novo patrimônio autônomo, pertencente a outra Entidade. Na contabilidade aplicada, especialmente nas áreas de custos e de orçamento, trabalhase, muitas vezes, com controles divisionais, que podem ser extraordinariamente úteis, porém não significam a criação de novas Entidades, precisamente pela ausência de autonomia patrimonial. 9.6. Da interpretação autêntica do princípio da entidade, percebese que o cerne deste está na autonomia patrimonial, que está indissociavelmente ligado à garantia jurídica da propriedade, como "única forma de caracterização do direito ao exercício de poder sobre o mesmo patrimônio, válida perante terceiros". 9.6.1. Daí se conclui que terceiros (a exemplo dos sócios) não podem dispor livremente (fora das formas jurídicas concebidas para a correta disposição) do patrimônio da sociedade, que detém autonomia patrimonial e garantia jurídica de sua propriedade. 9.6.2. Portanto, para que haja o respeito à autonomia patrimonial da sociedade e de forma a respeitar o seu direito de propriedade, os JCPs devem passar pelo resultado da sociedade no momento do reconhecimento da despesa do exercício, e não serem incorridos a partir do seu patrimônio já formado. 9.7. Desse raciocínio, verifico mais uma característica essencial da natureza jurídica do JCPs: transitam pelo resultado por serem despesas, sendo deduzidas para formação1 do lucro líquido do exercício. Ademais, essa característica está de acordo com o fato dos Juros sobre Capital Próprio serem Juros, pois os outros tipos de juros sempre são despesas para quem os deve. 9.7.1. Esta característica já foi sabiamente identificada no Acórdão do Processo nº 13888.721267/201290, Acórdão nº 1101001.186, da lavra da Conselheira Edeli Pereira Bessa: Assim, embora os juros sobre o capital próprio apresentem alguma semelhança com o tratamento societário conferido aos dividendos, consoante alegado pela contribuinte em sua impugnação, há uma diferença essencial entre eles: os juros sobre o capital próprio representam o custo do capital investido pelos sócios e, portanto, despesa da pessoa jurídica, ao passo que os dividendos correspondem a distribuição do resultado. Como despesa, conceitualmente os juros sobre o capital próprio antecedem a apuração do lucro contábil. O crédito ou pagamento futuro de 1 Todos os interessados na escrituração da sociedade, sejam os clientes, os fornecedores, os sócios/acionistas, a própria sociedade, tem direito a evidenciação desse fato. Fl. 499DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 499 26 juros sobre o capital próprio, portanto, exige o seu prévio provisionamento, de modo a reduzir o lucro do período. Se desta forma não se procede, o resultado do período, majorado pela ausência daquela dedução, passa a ter o status de lucro a ser destinado nos termos do art. 192 da Lei nº 6.404/76. Ainda que os limites legais de dedutibilidade tenham em conta as reservas de lucros e lucros acumulados, a fixação de tais limites tem por objetivo apenas evitar a descapitalização da pessoa jurídica com a remuneração dos sócios, e não evidencia, por si só, que valores já destinados a reservas de lucros e lucros acumulados possam ter sua natureza revertida, por deliberação futura, de lucro para despesa. Vejase que a referida provisão, com vistas a reduzir o lucro do período ao qual competiriam os juros, não resulta em despesa dedutível na medida em que legislação exige deliberação e individualização do pagamento ou crédito dos juros sobre o capital próprio. Mas é essencial para evitar que tais valores integrem o lucro e sejam destinados a outro fim. Em suma, cabe à sociedade decidir como remunerar o capital investido pelos sócios: por meio de juros ou de lucros. E esta decisão deve ser tomada antes da destinação do lucro líquido do exercício, na forma do art. 192 da Lei nº 6.404/76. Ultrapassado este momento, sem o prévio provisionamento dos juros, a deliberação de seu pagamento futuro, associada ao crédito ou pagamento individualizado, não é suficiente para constituir, neste segundo momento, despesa dedutível na apuração do IRPJ e da CSLL, como defende a recorrente. 9.8. Ainda que não seja causa do fato dos JCPs serem despesas, mas conseqüência disso, o que concorda com a realidade dos outros tipos de juros, constatase que, para aqueles que recebem JCPs, estes são considerados receitas e assim tributados. 9.9. Um corolário imediato da característica essencial dos Juros sobre Capital Próprio SEREM JUROS é que: para haverem juros, há de haver empréstimo ou financiamento2 de algo. E esse algo, no caso dos JCP, é o capital dos sócios, ou seja, há de haver "empréstimo" do capital dos sócios. 9.10. Digo isso porque é comum as abordagens sobre esse tema fazerem analogia entre os Juros sobre Capital Próprio (pago aos sócios) e os juros pagos a terceiros por empréstimos contraídos pela empresa. 9.11. Essa analogia faz sentido na medida em que: a integralização do capital da pessoa jurídica se dá pela transferência de capital dos sócios para a empresa; a empresa realiza suas atividades com esse capital dos sócios que foi para ela transferido/disponibilizado; o patrimônio líquido da pessoa jurídica representa "dívida" desta para com os sócios (por isso, aliás, o PL figura na coluna do passivo). 9.12. Mas a "dívida" que motiva o pagamento de JCP também guarda diferenças com as dívidas que fundamentam o pagamento de juros por empréstimos contraídos com terceiros, especialmente no que diz respeito aos índices de remuneração do capital "emprestado" e às condições para a sua dedutibilidade, que são fixadas em lei e não em um contrato de empréstimo tomado, por exemplo, junto a uma instituição financeira. 2 A partir desse momento, citarei apenas empréstimo, sem prejuízo de financiamento se mostrar como o instituto jurídico mais apropriado. Fl. 500DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 500 27 9.13. No caso, de acordo com o art. 9º da Lei nº 9.249/1995, o índice de remuneração do capital admitido para fins de apuração do lucro real é a Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP definida especificamente para o período em que o capital dos sócios ficou à disposição da empresa, ou cinco por cento ao ano (o que for menor). 9.14. Vale registrar que a TJLP é definida por períodos trimestrais, e que o dispositivo legal acima referido estabelece que tanto essa taxa quanto os cinco por cento ao ano devem ser aplicados "pro rata die", ou seja, proporcionalmente aos dias em que o capital dos sócios ficou em poder da empresa. 9.15. A aplicação de uma taxa de juros que é definida para um determinado período de um determinado ano, e seu rateio proporcional ao número de dias que o capital dos sócios ficou em poder da empresa, configuram importante referencial para a identificação do período a que corresponde a despesa de juros, e, conseqüentemente, para o registro dessa despesa pelo regime de competência, que é matéria examinada adiante. Do tratamento societário das despesas (de JCP) 10. Pois bem, uma vez sedimentado que os JCP transitam pelo resultado como despesas, há que perquerir qual o tratamento específico dado pela legislação a essas despesas. Consultandose a legislação societária, constatase que, de fato, não há nenhum tipo de tratamento específico às despesas de JCPs. Em assim sendo, frente a esse vazio normativo da legislação comercial, concluo que as despesas de JCP entram nas regras gerais de tratamento de despesas. 11. Como bem sabido, despesa é um item do resultado do exercício. Apurado o resultado do exercício a partir das receitas e das despesas, encerramse as receitas e as despesas, as contas contábeis onde são registradas são zeradas ao final do exercício. 11.1. Não existe a possibilidade de uma conta de despesa ou de receita conservar seus saldos para exercícios futuros. Em outros termos, apurado o resultado, o que era receita deixa de sêlo e também o que era despesa deixa de sêlo. 11.2. Apenas as contas patrimoniais tem influencia de um ano para outro, as contas de resultado de um exercício não podem influenciar anos subseqüentes, é um pilar essencial que as contas de resultado iniciamse e extinguemse dentro de um mesmo exercício. 11.3. É o que se deduz do art. 187 da Lei nº 6.404, de 15/12/1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações (S.A.): Art. 187. A demonstração do resultado do exercício discriminará: I a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; Fl. 501DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 501 28 IV o lucro ou prejuízo operacional, as receitas e despesas não operacionais; (Redação dada pela Lei nº 9.249, de 1995) V o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto; VI as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, e as contribuições para instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados; VII o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social. § 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos. 12. Uma despesa, para ser deduzida do resultado societário de outro exercício, necessita de autorização legal nesse sentido que venha a ser uma exceção ao §1º do art. 187 da Lei das S.A. 13. O conceito de exercício é precisamente definido pela legislação societária e, conforme o art. 175 da Lei das S.A., bem delimitado temporalmente (tendo duração de um ano), sem possibilidade de alteração desse período (exceto nos casos especiais relacionado no parágrafo único deste mesmo artigo); apenas a data de término pode ser alterada. SEÇÃO I Exercício Social Art. 175. O exercício social terá duração de 1 (um) ano e a data do término será fixada no estatuto. Parágrafo único. Na constituição da companhia e nos casos de alteração estatutária o exercício social poderá ter duração diversa. 13.1. Ademais, o conceito de exercício é tão caro para a legislação societária que os próprios conceitos de resultado e de lucro líquido estão sobre eles assentados, é o que se infere da leitura dos arts. 176, 189 e 191 da Lei nº 6.404/1976. Do regime de competência 14. A Lei das Sociedades por Ações estabeleceu como regra de observância obrigatória o regime de competência, através de seu art. 177, a seguir transcrito: Escrituração Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. Fl. 502DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 502 29 § 1º As demonstrações financeiras do exercício em que houver modificação de métodos ou critérios contábeis, de efeitos relevantes, deverão indicála em nota e ressaltar esses efeitos. ... 14.1. Dessa imposição legal, verificase que as mutações patrimoniais da sociedade estão vinculadas ao regime de competência. Essa é a regra geral da Lei das S.A., e não é somente a regra geral, é a regra para a totalidade dos casos; pois, na legislação societária, não foi normatizada nenhuma exceção. E, onde não há exceção, na ausência de disposição expressa em contrário, a regra se aplica. 14.2. Como não foi criada para as despesas de Juros com Capital Próprio nenhuma exceção própria ao regime de competência, daí então se conclui que elas estão submetidas a esse regime. Não há necessidade de disposição expressa na Lei das S.A. que preveja especificamente para as despesas de JCPs que elas devam atender ao regime de competência. 15. Quando se fala em regime de competência, um outro conceito é interno a este, qual seja, o conceito de exercício social (estudado no item 13). Assim regime de competência depende de exercício social, ou seja, é função deste; em outras palavras, mudouse o exercício social, mudouse o regime de competência; não se pode, portanto, construir um conceito de regime de competência dissociado de exercício social. 16. Ademais regime de competência é um instituto jurídico tradicional, de definição bem precisa e sobre o qual a legislação fiscal pôde estruturar a tributação no tempo. Confirase as disposições do art. 9º da Resolução CFC nº 750/93: SEÇÃO VI O PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA Art. 9º As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento. § 1º O Princípio da COMPETÊNCIA determina quando as alterações no ativo ou no passivo resultam em aumento ou diminuição no patrimônio líquido, estabelecendo diretrizes para classificação das mutações patrimoniais, resultantes da observância do Princípio da OPORTUNIDADE. § 2º O reconhecimento simultâneo das receitas e despesas, quando correlatas, é conseqüência natural do respeito ao período em que ocorrer sua geração. (...) 17. O regime de competência apresenta o seguinte elemento chave: o correlacionamento simultâneo entre as receitas e as despesas (também entendido como princípio do confronto das despesas com as receitas e com os períodos contábeis). A concretização do regime de competência para as despesas consiste no reconhecimento das despesas no momento em que incorridas, não estando relacionado (sendo o reconhecimento independente) com recebimentos ou pagamentos. Fl. 503DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 503 30 17.1. Sobre essa realidade não preciso muito discorrer, sendo suficiente a lição da FIPECAFI3, em seu Manual4: 3.1.5.4 O PRINCÍPIO DO CONFRONTO DAS DESPESAS COM AS RECEITAS E COM OS PERÍODOS CONTÁBEIS ENUNCIADO: "Toda despesa diretamente delineável com as receitas reconhecidas em determinado período, com as mesmas deverá ser confrontada; os consumos ou sacrifícios de ativos (atuais ou futuros), realizados em determinado período e que não puderam ser associados à receita do período nem às dos períodos futuros, deverão ser descarregados como despesa do período em que ocorrerem..." É importante notar que a base do confronto não está relacionada ao montante dos recursos efetivamente recebido em dinheiro ou pago, no período, mas às receitas reconhecidas (ganhas), nas bases já mencionadas, e às despesas incorridas (consumidas) no período. Assim, podemos consumir ativos pagos no mesmo período ou adquiridos em períodos anteriores. Pode ocorrer o caso de sacrifícios de ativos, no esforço de propiciar receita, cujos desembolsos efetivos somente irão ocorrer em outro exercício, ou de se incorrer em despesas a serem desembolsadas posteriormente (sacrifício de ativo no futuro, ativo esse que pode nem existir hoje). Todas as despesas e perdas ocorridas em determinado período deverão ser confrontadas com as receitas reconhecidas nesse mesmo período ou a ele atribuídas, havendo alguns casos especiais: a) os gastos de períodos em que a entidade é total ou parcialmente pré operacional. São normalmente ativados para amortização como despesa a partir do exercício em que a entidade, ou a parte do ativo, começar a gerar receitas; b) a parcela dos gastos dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento que superar o montante necessário para manter o setor em funcionamento, independentemente do número de projetos em execução. (Esses últimos gastos incluem os salários fixos dos pesquisadores e as depreciações dos equipamentos permanentes.) Todo o gasto incremental necessário para determinado projeto poderá ser ativado e, quando o projeto iniciar a geração de receitas, amortizado contra as receitas. Os gastos diferidos que não vierem a gerar receitas deverão ter seus valores específicos descarregados como perda no período em que se caracterizar a impossibilidade da geração de receita ou o fracasso ou desmobilização do projeto. Os gastos com propaganda e promoção de venda, mesmo institucional, deverão ser considerados como despesas dos períodos em que ocorrerem. Somente um motivo muito forte e preponderante pode fazer com que um gasto deixe de ser considerado como despesa do período, ou através do confronto direto com a receita ou com o período. Se somos conservadores no reconhecimento da receita, devemos sêlo, em sentido oposto, com a atribuição de despesas. 3 FIPECAFI = Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras, FEA/USP. 4 Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações (aplicável às demais sociedades). IUDÍCIBUS, Sérgio; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. São Paulo: Editora Atlas S.A. 6a Edição, pgs. 64 e 65. Fl. 504DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 504 31 Os juros e encargos financeiros decorrentes da obtenção de recursos para construção ou financiamento de ativos de longo prazo de maturação ou construção somente poderão ser ativados durante o período préoperacional. Entretanto, seu montante deverá ser contabilizado em conta específica de ativo a ser amortizada a partir do exercício em que o ativo entrar em operação. As demais despesas financeiras serão apropriadas aos períodos em que foram incorridas. 17.2. Alguns pontos devem ficar bastante sedimentados, quais sejam: a) a base de confronto não está relacionada aos recursos pagos; b) as despesas financeiras devem ser apropriadas no período em que incorridas, excetuado os casos de despesas préoperacionais (aqui inaplicável); e c) somente situações extremamente especiais (como as mencionadas na lição, entre as quais não se enquadra o presente processo), autorizase a quebra da consideração da despesa do período através do confronto direto com a receita do período. 18. Bem situadas essas verdades, a aplicação ao caso concreto leva a constatar que as despesas de Juros com Capital Próprio devem ser confrontadas com as receitas que formam o lucro do período, ou seja, tem que estar correlacionadas com as receitas obtidas no período que se deu a utilização do capital dos sócios, no período em que esse capital permaneceu investido na sociedade. 18.1. Assim, andou bem o voto vencedor do Acórdão nº 120100.348, de 11/11/2010, da lavra do Conselheiro Marcelo Cuba Netto, ao dizer: a pessoa jurídica deverá reconhecer a despesa ao longo do tempo em que empregado o capital objeto da remuneração. 18.2. Também acertado o voto condutor do Acórdão n° 1201000.857, do mesmo Conselheiro citado, de 10/09/2013: a despesa com juros deve ser apropriada nos mesmos períodos em que a pessoa jurídica empregou o capital no desenvolvimento de suas atividades. 19. Daí então se conclui que o incorrimento da despesa deve se dar no exercício das receitas (geradas pelo uso do capital) que vão formar o resultado do mesmo exercício; que, em sendo positivo, será chamado de lucro líquido daquele exercício. 19.1. Sendo certo que as despesas devem estar correlacionadas com as receitas do mesmo exercício, questionase: o que as despesas de JCPs de um exercício têm a ver com as receitas do exercício anterior, ou com as receitas do exercício de dois, três, quatro ou cinco anos anteriores? Pareceme que nada. 19.2. De fato, as despesas de JCP só guardam alguma correlação com as receitas que formam o lucro líquido do mesmo exercício, pois é neste período que o capital próprio foi empregado para geração de receitas (e, conseqüentemente, do lucro) daquele exercício. 20. Portanto, eventual data da assembléia que determine pagamento de JCP não consegue atender ao regime de competência, primeiro porque se utilizou do principal fator que este regime teve o cuidado de absolutamente afastar (qual seja, o pagamento); depois porque a data de assembléia não representa duração de utilização, pela sociedade, do capital que lhe foi disponibilizado pelos sócios; e, por fim, esta data não é tempo de geração de receitas, para fins de confrontação. Fl. 505DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 505 32 20.1. A defesa da recorrente é insistente em afirmar que o incorrimento da despesa é o momento do pagamento (seja o determinado no estatuto ou contrato social, seja na data da assembléia que delibere sobre pagamento, seja na data da decisão da administração no silêncio destes). Nada mais contrário ao regime de competência, no qual o tempo do pagamento é totalmente irrelevante para o reconhecimento das despesas. 21. Sabendose que o incorrimento da despesa se dá no exercício da aplicação do capital investido pelos sócios/acionista na sociedade (no tempo em que a empresa faz usufruto desse capital), ou ainda, o incorrimento da despesas num exercício se opera quando há correlação com as receitas de igual exercício; é elementar ver que data de AG que delibere sobre pagamento de JCPs não tem o condão de modificar a data do incorrimento das despesas de JCPs. 22. Não obstante tudo o que se disse, é muito importante deixar claro que é possível fazer incorrer as despesas de JCP de um exercício relativamente ao capital disponibilizado naquele exercício e não efetuar pagamento algum a título de JCPs (assim não haverá lançamento do caixa/banco contra despesas). Neste caso, o que deve ser feito é a constituição da OBRIGAÇÃO/DÍVIDA DE PAGAR JCPs, que formará uma dívida da sociedade para com os sócios (sendo registrada no passivo), de forma que esse DEVER da empresa fique evidenciado. Isso está perfeitamente de acordo com o regime de competência. 23 O tempo da constituição da obrigação de pagar juros é simultâneo ao do incorrimento das despesas, pois essa obrigação é a contrapartida contábil (para atender o método das partidas dobradas) do registro das despesas incorridas. 23.1. E essa obrigação pode ser conservada ao longo de vários exercícios (ou seja, num exercício poderá haver passivos de JCPs de exercícios anteriores), sem que se aponte qualquer inobservância ao regime de competência; de forma que, quando se der o pagamento, satisfeita será a dívida, sem qualquer vinculação com as despesas de JCPs incorridas no eventual exercício em que houver o pagamento. 23.2. Esses fatos serão relevantes mais a frente ao se enfrentar a interpretação da norma fiscal: o art. 9º da Lei nº 9.249/95. Da existência, ou não, do direito de fazer incorrer em exercícios subseqüentes despesas de exercícios anteriores não incorridas 24. Analiso agora se as despesas de JCP que deixaram de ser incorridas em exercícios anteriores, que deixaram de ir ao resultado destes exercícios, podem ser incorridas em exercícios posteriores. Ou ainda, se a sociedade adquiriu, frente à legislação societária, o direito de deduzir, do lucro líquido, a despesa incorrida com a manutenção do capital dos sócios na sociedade em anos anteriores (embora não tenha deliberado sobre isso no momento adequado). 25. Como visto no tópico anterior, as despesas de JCP, por não serem exceção ao regime de competência, são despesas padrão: devem ser levadas ao resultado quando incorridas (ao tempo em que o sócio disponibilizou o capital para a empresa) e independem do pagamento para sua dedução na contabilidade societária. Fl. 506DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 506 33 26. Assim, a despesa é incorrida pela manutenção do capital dos sócios na empresa durante o exercício em que o resultado é apurado. Se a despesa for incorrida em exercício diferente ao do qual o capital vinculado a essa despesa esteve disponibilizado, então essa despesa não estará mais vinculada ao capital do exercício anterior, mas sim ao capital do exercício em curso; havendo, portanto, flagrante desrespeito à regra do confronto, e, conseqüentemente, ao regime de competência. 27. O direito de fazer incorrer despesa na lei societária é determinado no tempo do art. 175 da Lei das S.A., ou seja, no exercício, assim não existe direito de fazer incorrer despesa de exercícios anteriores (art. 187, III e IV e §1ºb). Na observância do regime de competência, também não há direito de postergação de despesa para exercícios seguintes. 28. Ademais, as despesas de exercícios anteriores que deveriam ter lá tido seu incorrimento não podem ser incorridas em exercícios futuros, conforme vedação do art. 186, §1º, da Lei nº 6.404/1976: Art. 186. ... ... § 1º Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a fatos subseqüentes. ... 29. Portanto, o que ocorreu nos autos não foi mudança de critério contábil e também não foi retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a fatos subseqüentes. 30. Pelo exposto, concluo que não há direito algum5 de fazer incorrer em exercícios subseqüentes despesas de exercícios anteriores não incorridas, ou seja, inexiste direito da sociedade a deduzir do lucro líquido do ano despesas de JCP que deixaram de ser incorridas em anos anteriores, tanto por contrariedade ao art. 177 (regime de competência) como por não se enquadrar no art. 186, §1º, e no art. 187, III e IV e §1ºb, todos da Lei nº 6.404/1976 (Lei das S.A). 31. O art. 192 da Lei das S.A. também auxilia na compreensão do problema: Proposta de Destinação do Lucro Art. 192. Juntamente com as demonstrações financeiras do exercício, os órgãos da administração da companhia apresentarão à assembléiageral ordinária, observado o disposto nos artigos 193 a 203 e no estatuto, proposta sobre a destinação a ser dada ao lucro líquido do exercício. 32. A destinação do lucro é uma decisão submetida à assembléia de sócios/acionistas do exercício. E estes devem estar atentos aos itens de custos e despesas que acabam por reduzirem os seus lucros. Daí porque talvez a Lei das S.A. tenha sido tão restritiva 5 O direito somente é adquirido se estiver de acordo com ordenamento jurídico, o que não se deu. Fl. 507DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 507 34 no seu art. 186, §1º, em razão da seriedade que envolve a apuração do lucro líquido do exercício, com a conseqüente destinação dos lucros, impactando todos os exercícios futuros. 32.1. Uma despesa que deixe de ser incorrida em um exercício e que pretensamente venha a ser ratificada em outro exercício pode acabar por reduzir o lucro de um quadro de sócios/acionistas diferente do quadro de sócios/acionistas do exercício em que a despesa não foi considerada, prejudicando uns em detrimento dos outros; e, inevitavelmente, influenciando o valor das ações. 32.2. Esta consideração apenas não seria válida se a estrutura societária se mantivesse intacta durante os cinco anos ou mais, o que é muito improvável em se tratando de sociedade de capital aberto, ainda mais que a norma em debate é de aplicação aos mais diferentes setores da economia. 32.3. E isso evidencia mais um problema para a tese de que "despesas" que poderiam/deveriam ter reduzido o lucro dos anoscalendário de 2002 a 2006 (se tivessem efetivamente existido naquela época) sejam computadas como tal no anocalendário de 2007. Da interpretação do art. 9º da Lei nº 9.429/95 33. O art. 9º da Lei nº 9.429/95 não modifica nada que esteja assentado na legislação comercial/societária, pelo contrário, ele deve ser interpretado de forma a se harmonizar com os princípios e regras gerais dessa legislação. 33.1. A referida norma legal apenas concedeu autorização de dedutibilidade do lucro real das despesas incorridas6 e pagas, não concedeu esse tratamento para despesas pagas e não incorridas (como é o caso de despesas que deixaram de ser incorridas no exercício anterior, que poderiam ser despesas no exercício anterior; mas, nesse exercício, não são despesas, nem conservam a capacidade de serem incorridas). 34. Na óptica da analogia que se fez com os empréstimos de modo geral como fundamento para pagamento de juros, a empresa não está limitada a deduzir, do lucro líquido do exercício, qualquer valor de despesas de JCP. Ou seja, para a legislação societária, não há qualquer restrição de quantidade, daí porque o capital pode ser disponibilizado para a empresa a taxas maiores do que a TJLP. Já no âmbito fiscal não se pode dizer o mesmo. As despesas de JCP do exercício devem observar conjuntamente os limites do caput e do §1º do art. 9º da Lei nº 9.429/95 e o excesso dessas despesas devem ser estornadas, em obediência ao art. 6º, §2º "a", do DecretoLei nº 1.598, de 26/12/1977. 35. Conforme visto nos itens 22 e 23, os JCPs podem passar de um exercício para o outro, desde que devidamente incorrida e escriturada a despesa dos JCPs no exercício em que o capital dos sócios foi utilizado pela empresa, e devidamente escriturada (no passivo) e constituída7 a corresponde obrigação/dívida de pagálos. Foi visto que essa forma de agir não contraria o regime de competência. A dúvida surge em relação a saber se este procedimento prejudica a norma do ponto de vista fiscal, o que demanda análise. 6 Porque se não forem incorridas sequer despesas serão. 7 Conforme o item 23.1, é igual o tempo da constituição da obrigação de pagar juros e o do incorrimento das despesas, pois aquela é quem equilibra contabilmente o lançamento datas. Fl. 508DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 508 35 36. A expressão utilizada pelo art. 9º da Lei nº 9.429/95 não foi "despesa de juros pagos ou creditados", foi apenas "juros pagos ou creditados"; assim, não se pode limitar esse artigo de forma a permitir apenas a dedução de despesas incorridas no exercício e pagas no mesmo exercício. Portanto, os "juros" devem ser entendidos como "despesa de juros" e "obrigações/dívidas8 de juros". 36.1. Assim, podese falar em direito em relação a descontar juros pagos, seja pagamento das despesas de JCPs do exercício, seja satisfação pelo pagamento da dívida de pagar JCPs que tiveram suas despesas incorridas em exercícios anteriores. Concluise, dessa leitura do dispositivo fiscal, que o procedimento dos itens 22/23 e 35 não impossibilitam a dedução da despesa. 36.2. O contribuinte alega inexistir restrição temporal neste artigo. Não há, propriamente, restrição temporal, há restrição material, explico: para que os JCP sejam pagos, é necessário que os JCP a serem pagos existam; caso contrário estarseia pagando outra coisa indedutível que não JCP (como foi o caso que resultou na autuação em julgamento). 36.3. Ou ainda, há de existirem as despesas de JCPs do exercício (que serão pagas no exercício, o que dispensa a necessidade da constituir obrigação de pagar) ou existir obrigação de pagar JCPs para serem satisfeitas pelo pagamento, obrigação esta constituída em razão das despesas de juros relativas a exercícios anteriores não terem sido pagas nos exercícios em que incorridas. 36.4. Não obstante, ainda que a norma fiscal não vede a dedução do lucro real dos valores pagos para extinguir a dívida de pagar JCPs de exercícios anteriores, também o montante pago daí originado está submetido aos dois limites (o do caput e o do §1º) do art. 9º da Lei nº 9.429/95. 36.5. Ademais, tendo em vista serem os limites direcionados para os "juros" (assim entendido o gênero, dos quais as despesas e as obrigações seriam espécies), então este limite deve ser compartilhado (ou seja, os valores devem ser somados) entre o total das despesas pagas de JCPs do exercício e o total dos pagamentos para quitar as dívidas de pagar JCPs de exercício anteriores, estando o excesso submetido ao art. 6º, §2º, "a", do DecretoLei nº 1.598/1977. 37. No caso dos autos, não haviam obrigações/dívidas (ausência de passivo), da sociedade, de pagar JCPs vinculadas a despesas de JCPs incorridas em exercícios anteriores, estas dívidas inexistiam, em virtude de não terem sido constituídas pela falta do incorrimento, nos exercícios anteriores, das despesas de JCPs, resultando em desobediência do art. 177 (regime de competência) e do art. 186, §1º, da Lei das S.A. 37.1. Assim, o que foi estornado sequer pode ser chamado de excesso de Juros sobre Capital Próprio (pois não era baixa de passivo de JCP, nem tampouco despesas de JCP já que essas somente as incorridas no exercício). Tratouse, na realidade, da conversão de bens (numerários) da empresa em direitos desta para com os sócios ou em redução dos direitos destes para com a sociedade; contabilmente (na legislação societária), deuse9 permutação de ativos (redução dos ativos de recursos contra aumento dos ativos de direitos exigíveis dos 8 Ou juros a pagar. 9 E assim, portanto, deveriam ter sido tratados na escrituração da sociedade. Fl. 509DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 509 36 sócios – a exemplo de empréstimos aos sócios) ou troca dos ativos de recursos por redução do patrimônio líquido (seja da conta dos lucros acumulados, seja da conta das reservas de lucros, ou ainda da redução do capital social respectivo aos sócios que receberam os citados recursos), sendo assim destinação do próprio PL (o que ratifica que não pode haver nenhuma repercussão fiscal). Improcedente, portanto, reduzir os ativos de recursos tendo por contrapartida a redução dos exigíveis de IRPJ e CSLL. Da interpretação da IN da RFB de 1996 38. A Instrução Normativa (IN) SRF nº 11, de 21/02/1996, ao tratar dos Juros sobre Capital Próprio, trouxe o caput do art. 29 com a seguinte redação: Art. 29. Para efeito de apuração do lucro real, observado o regime de competência, poderão ser deduzidos os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP. 39. Comparandose o texto do caput do art. 29 da IN SRF nº 11/1996 com o caput do art. 9º da Lei nº 9.249/1995, observase que foi incluído a expressão "observado o regime de competência". 40. Surgiram questionamentos a respeito da legalidade do caput do citado art. 29, por ter incluído essa expressão em sua redação. 40.1. A legalidade dessa inclusão me parece tão obvia que, para defendêla, entendo suficiente a leitura do dispositivo sem a expressão atacada para verificar que não haverá nenhuma modificação de aplicação do caput do art. 29 da IN SRF nº 11/1996, ou seja, com ou sem a expressão incluída o artigo tem a mesma efetividade. 40.2. É fato que não é a expressão guerreada que impõe a observância do regime de competência, nem para a legislação societária, tampouco para a legislação fiscal. Como ficou cristalino no item 14 e seus subitens, o regime de competência é dever legal, é regra geral, sem exceção para a legislação societária e com exceções para a legislação fiscal desde que expressas (entre as quais os JCP não se enquadram). 40.3. Aqui dáse a velha retórica, eu enuncio no dispositivo específico a regra geral, leio o dispositivo específico e vejo que a regra geral não está escrita nele, em seguida tento defender que, como a regra geral não está ali expressa, então tratase de uma exceção. A isso se responde apenas que a exceção não se presume nem que a regra geral tem que ser escrita em todos os lugares. 40.4. Assim, não há qualquer ilegalidade no caput do art. 29 da IN SRF nº 11/1996. Da Deliberação CVM nº 207, de 13 de dezembro de 1996 41. Em sede de memoriais, levantouse a improcedência do premissa básica admitida neste voto, qual seja, o de que os JCP são despesas. Para isso, foi apontado como Fl. 510DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 510 37 definitivo para desnaturar essa premissa, o inciso I da Deliberação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nº 207, de 13/12/1996, que reproduzo abaixo e passo a sua interpretação, com todo o respeito, com toda a deferência, aos que entendem diferentemente. I Os juros pagos ou creditados pelas companhias abertas, a título de remuneração do capital próprio, na forma do artigo 9º da Lei nº 9.249/95, devem ser contabilizados diretamente à conta de Lucros Acumulados, sem afetar o resultado do exercício. 41.1. Da ementa da referida Deliberação percebese que esta surgiu no contexto da regulamentação do artigo fiscal, como esta mesma anuncia: "Dispõe sobre a contabilização dos juros sobre o capital próprio previstos na Lei nº 9.249/95". Assim, tudo indica que surgiu para adaptar as conseqüências dos JCP, em razão da efetivação desse instituto jurídico que se tornou interessante com o tratamento tributário. 41.2. O inciso I da Deliberação não tem o condão de modificar a natureza jurídica dos JCP, tanto é que o próprio inciso é bem claro ao prescrever: devem ser contabilizados, tratase de norma contábil, de determinação para modo de proceder aos registros contábeis, nada mais. Esse inciso não teve a presunção de dizer que não é despesa algo que é, antes pelo contrário, o só fato desta norma existir é sinal evidente de que, em sua ausência, a contabilização ocorreria através de conta de resultado. 41.3. Ao dizer "sem afetar o resultado do exercício", está enunciando que a contabilização deve ocorrer que modo diverso ao que originalmente ocorreria, ou seja, como sem a norma a despesa de JCP afetaria o resultado do exercício, então, com a norma essa despesa de JCP não afetará o resultado do exercício. 41.4. Não se trata de uma norma declaratória de conteúdo, antes pois é uma norma que institui uma conduta, qual seja, a conduta de fazer dessa forma (contabilizar diretamente à conta de Lucros Acumulados sem transitar pelo resultado) e não daquela forma (contabilizar como despesa financeira transitando pelo resultado), ou ainda, ao instituir a conduta que pretende impor acaba por revelar qual a conduta se deseja evitar. E ao se refletir sobre a conduta evitável, tornase evidente que, na ótica do próprio legislador (o colegiado da CVM), os JCP são despesas. 41.5. Ademais, não é uma norma absoluta, foi excetuada na própria Deliberação CVM, senão vejamos os incisos: VII, VIII e IX: VII O disposto nesta Deliberação aplicase, exclusivamente, às demonstrações financeiras elaboradas na forma dos artigos 176 e 177 da Lei nº 6.404/76, não implicando alteração ou interpretação das disposições de natureza tributária. VIII Caso a companhia opte, para fins de atendimento às disposições tributárias, por contabilizar os juros sobre o capital próprio pagos/creditados ou recebidos/auferidos como despesa ou receita financeira, deverá proceder à reversão desses valores, nos registros mercantis, de forma a que o lucro líquido ou o prejuízo do exercício seja apurado nos termos desta Deliberação. IX A reversão, de que trata o item anterior, poderá ser evidenciada na última linha da demonstração do resultado antes do saldo da conta do lucro líquido ou prejuízo do exercício. Fl. 511DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 511 38 41.6. Não é preciso ir muito longe para encontrar o que prevê o inciso VIII: "caso a companhia opte, para fins de atendimento às disposições tributárias, por contabilizar os juros sobre o capital próprio pagos/creditados ... como despesa ... financeira, ...". Onde estão as disposições tributárias que conduzem a conduta do inciso VIII? Na própria IN SRF nº 11/1996! Transcrevo mais alguns de seus dispositivos: Art. 29. Para efeito de apuração do lucro real, observado o regime de competência, poderão ser deduzidos os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a § 1º À opção da pessoa jurídica, o valor dos juros a que se refere este artigo poderá ser incorporado ao capital social ou mantido em conta de reserva destinada a aumento de capital. ... § 3º O valor do juros pagos ou creditados, ainda que capitalizados, não poderá exceder, para efeitos de dedutibilidade como despesa financeira, a cinqüenta por cento de um dos seguintes valores: a) do lucro líquido correspondente ao períodobase do pagamento ou crédito dos juros, antes da provisão para o imposto de renda e da dedução dos referidos juros; ou b) dos saldos de lucros acumulados de períodos anteriores. ... Art. 30. O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo da incidência do imposto de renda na fonte. Parágrafo único. Para efeito de dedutibilidade na determinação do lucro real, os juros pagos ou creditados, ainda que imputados aos dividendos ou quando exercida a opção de que trata o § 1º do artigo anterior, deverão ser registrados em contrapartida de despesas financeiras. 41.7. Assim, na existência de disposições tributárias, é forçoso atender a conduta dos incisos VIII e IX, em detrimento da conduta do inciso I, que acabou por não ter aplicação prática, por estar em vigor concomitantemente com a IN SRF nº 11/1996. 41.8. Uma interpretação sistemática da Deliberação CVM nº 207/1996, deixa claro que o objetivo do seu inciso I não foi, mais uma vez, dizer que os JCP não são despesa, mas sim tornar a informação dessas despesas bastante evidente (o inciso IX se utilizou do termo "evidenciada") na demonstração para os sócios, de forma que esses tivessem uma visão facilitada dos valores de JCP (a posição junto a conta de Lucros Acumulados é bastante estratégica), ao invés de terem que consultar as despesas da sociedade e, no meio de todas as outras despesas, localizarem esses valores. 41.9. Vejase que esse estudo apenas confirmou o acerto na consideração dos JCP como despesas, ainda que seja desnecessário aprofundar o estudo de normas procedimentais de contabilização, tanto é que somente nesse momento (depois de vários meses de julgamento iniciado) sobre isso me manifesto, após levantado o tema, não por desconhecimento dessa Fl. 512DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 512 39 norma, mas por entendêla sem muita relevância; conservando, obviamente a devida vênia, que é máxima, aos entendimentos em sentido contrário. Do precedente do STJ e do regime de caixa 42. Para um acertado exame do precedente do STJ (Recurso Especial nº 1086752/PR, de 17/02/2009), é preciso diferenciar inicialmente o regime de competência do regime de caixa, especificamente aplicado à despesa. Em se tratando de despesas, o regime de competência estabelece que o reconhecimento da despesa se dá no mesmo exercício do incorrimento, já o regime de caixa estabelece que o reconhecimento da despesa não ocorre no exercício do incorrimento e sim no exercício do pagamento (parto do pressuposto que o pagamento se deu em exercício diferente do incorrimento; se se der no mesmo, a questão se torna diferenças mensais). 42.1. Diferentemente de regime de competência que é um conceito da legislação societária, adotada pela legislação fiscal, a expressão regime de caixa está mais associada à legislação fiscal pelo seguinte fato: não há aplicação do regime de caixa na lei das S.A; como se viu em tópico próprio, não há exceção a este regime no âmbito societário. Mas, mesmo quando o regime de caixa é permitido pela legislação fiscal, isso se reflete apenas para apuração de tributos, pois a sociedade, se submetida a Lei nº 6.404/76, ainda deverá apurar o lucro líquido do exercício pelo regime de competência. 43. Então o tratamento de uma despesa submetida a regime de caixa "fiscal"10 é: seguir o regime de competência para apuração do lucro líquido do exercício (ou seja, a despesa continua a ser reconhecida no momento em que incorrida) e ajustar esse lucro de forma a desconsiderar o reconhecimento desta despesa e controlála, fora da escrituração societária, de modo a vir a incluíla no lucro fiscal somente no momento do pagamento. 43.1. Assim, a adoção do regime de caixa permite a formação de um outro tipo de lucro, destinado a fins fiscais e que não é o lucro societário apurado para atendimento da Lei das S.A. 43.2. Chamo atenção então para o fato de que a despesa, ainda que submetida ao regime de caixa "fiscal", para a legislação societária, continua a ser reconhecida no momento em que incorrida, conseqüência esta da manutenção nesta seara do direito do regime de competência. 43.3. Assim, esta despesa não deixa de ser despesa do exercício; no exercício do pagamento não é despesa de exercício anterior, absolutamente, é apenas uma despesa diferida para fins fiscais, ou ainda, mantendo o estrito rigor técnico sequer é despesa, na realidade, é um valor diferido para fins fiscais ou então pode ser chamada de uma despesa "fiscal". 44. Examino então se esta dinâmica é apropriada aos Juros sobre Capital Próprio. A pergunta que se impõe: o regime de caixa que precisa ser aplicado para conservar as autuações envolvidas é o regime de caixa existente em alguns casos na legislação tributária (o que outrora denominei regime de caixa "fiscal") ou é um regime de caixa inédito (inovador) a ser aplicável mesmo no âmbito da Lei das S.A.? 10 A expressão é para se contrapor a regime de caixa "societário", que é desconhecido pelo ordenamento jurídico brasileiro. Fl. 513DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 513 40 44.1. Em resposta a esta pergunta, frente ao que se expôs no item 43 e em seus subitens, há que verificar que a aplicação do regime de caixa adotado pela legislação tributária não supre a necessidade do recorrido de fazer incorrer no exercício de 2007, na escrituração societária, despesas que deixaram de ser incorridas nos exercícios de 2002 a 2006. 44.2. Então, por exclusão, resta que o regime de caixa pretendido e ao qual o STJ atendeu em caso assemelhado, é um regime de caixa adequado ao caso, uma exceção jurisprudencial ao art. 177 da Lei nº 6.404/76. É difícil até mesmo conceber a redação de um dispositivo legal que permita um regime de caixa útil para manutenção da conduta que se deseja. 45. Assim, o exame do precedente do STJ nos coloca uma questão bem simples: existe a possibilidade de aplicação do regime de caixa no âmbito da legislação societária sem previsão legal e exclusivamente para os Juros sobre o Capital Próprio, mantendo o regime de competência quanto ao mais? Firmei convicção, mesmo sem aqui contraditar as razões de decidir ali apresentadas, que essa possibilidade não deve prevalecer. Da renúncia e da decadência 46. Quanto à renúncia, mesmo que esta questão não tenha mais importância para o deslinde da questão por tudo o que já foi dito, devo me pronunciar, e o faço dizendo que entendo não ser o caso, pelos motivos que apresento. 47. Tendo em vista que tanto a renúncia quanto a decadência tratam de formas que impedem o exercício de um direito: esta por implicar na caducidade do direito por perda do prazo de sua duração e aquela por perda do direito pela manifestação de não exercêlo, entendo por bem tratálas no mesmo tópico. 48. No âmbito tributário, a meu ver, o que ocorreu foi ausência de atendimento de requisito para gozo de benefício fiscal, mas não de ordem temporal e sim material: não existiam JCP para serem pagos! Deuse a situação de ausência de juros (seja por ausência de despesa já que a despesa só pode ser do exercício; seja por ausência de conversão da obrigação de pagar JCP). 48.1. Ou seja, não houve o incorrimento da despesa com JCP e a conseqüente constituição da obrigação de pagar os JCP, o que permitiria, no caso de pagamento ou crédito, o enquadramento ao benefício fiscal de dedutibilidade do lucro real. O que foi pago, embora tenha sido denominado de "à título de JCP" não corresponde à satisfação (por meio de pagamento ou crédito) de obrigações com despesas incorridas de JCP. 48.2. Portanto, não há que se cogitar de renúncia no âmbito tributário, se não atendo aos requisitos para usufruto de um benefício fiscal, isso não implica em concluir que estou renunciando ao mesmo, implica em concluir que sequer tenho a capacidade de renunciálo; ou, que se o fizer, essa renúncia não produz efeito algum, pois de que adianta renunciar a algo que não obteria ainda que não houvesse renunciado. 49. Ainda que fosse caso de aplicação dos institutos jurídico da renúncia ou da decadência11, esta seria no âmbito societário e não no âmbito fiscal; seria, assim, 11 Impróprio, portanto, cogitarse de não ocorrência da decadência de que trata o Decreto nº 20.910/1942, em virtude de não se estar situado no âmbito tributário. Fl. 514DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 514 41 renúncia/perda de prazo de fazer incorrer a despesa de JCP na lei societária, ou ainda, do direito de deduzir do lucro líquido (e não do lucro real) essa despesa incorrida em exercícios anteriores. 50. Ocorre que o pressuposto lógico para aplicação dos institutos da renúncia e também da decadência é haver a existência de algum direito. Como mesmo reconhece a própria recorrente, não há direito dos sócios de exigir os juros sobre o capital próprio, tampouco há obrigação da sociedade, quando da ausência da deliberação, de fazêlos incorrer ou de pagá los. 50.1. Como visto antes, a simples manutenção do capital na empresa não pode ser presumida como intenção de receber JCPs e não constitui uma obrigação da sociedade de remunerar os sócios através de JCP; o mero fato da permanência do capital dos sócios na empresa não pode, na ausência de ficções legais (a exemplo de presunção) ou de manifestação de vontade, ser juridicamente associado a uma forma específica de remuneração do capital. 50.2. Caso se aceite a existência do "direito" de fazer incorrer em exercícios subseqüentes despesas de exercícios anteriores não incorridas (pois não houve renuncia, já que não houve manifestação de vontade em não fazer, e nem decadência, já que não há prazo que fulmine esse direito), aí sim a discussão teria algum sentido. 50.2.1. Mas já se verificou que esse direito não existe, pois somente poderia se sustentar se as prescrições da própria legislação societária tivessem sido observadas e não haver aplicação de nenhuma das suas vedações. 50.2.2. Como se viu anteriormente, o art. 177, o art. 186, §1º, e o art. 187, III e IV e §1º, "b", da Lei das S.A. não foram respeitados, a sociedade não observou o regime de competência (ausência de correlação despesareceita/capital), bem como se encaixou na vedação das possibilidades de ajustes extemporâneos. Aqui, a situação é de não cumprimento de obrigação: ao não fazer da forma correta, surge a vedação de fazer. 50.2.3. Não é que o regime de competência disponha sobre prazo decadencial do direito de deduzir do lucro líquido despesas incorridas em anos anteriores ou permita essa dedução, desde que esse direito não seja renunciado. Na verdade, o regime de competência simplesmente não permite12 a dedução do lucro líquido de despesas incorridas em anos anteriores, ou seja, esse direito sequer existe, ainda mais quando não há autorização para fazer incorrer a despesa. Como esse assunto já foi suficientemente explorado em tópicos anteriores, entendo não ser preciso dizer mais. 51. Concluo, portanto, que, na ausência de direito a deduzir do lucro líquido despesas de JCP incorridas em anos anteriores, não há que se falar nos institutos jurídicos da renúncia ou da decadência, por falta do pressuposto básico dos mesmos. 52. Apenas para encerrar a discussão, analiso qual o direito que nasce com a deliberação decorrente da assembléia geral relativa ao pagamento ou crédito de JCP. 12 Exceto os decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não possam ser atribuídos a fatos subseqüentes. Fl. 515DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 515 42 52.1. Certamente dessa deliberação nasceu um direito para os sócios de receber JCP pagos ou creditados, bem como nasce um dever para a sociedade de pagálos ou creditálos. 52.2. Em se tratando das despesas de JCP do exercício, a sociedade entendeu que o pagamento/crédito se daria ao mesmo tempo do exercício, então a contrapartida dessa despesa se deu em caixa/banco. 52.3. Em se tratando do restante, que não pode corresponder à conversão de obrigações anteriores de JCP, já que não houve incorrimento de despesas de JCP em anos anteriores, resta apenas a alternativa de reclassificar o que está denominado de pagamento a título de JCP, para registro de algum tipo de direito da sociedade para com os sócios, distribuição de dividendos, etc. Da postergação de tributo 53. Não é o caso, não estamos frente a uma situação em que um tributo deixou de ser pago em exercícios anteriores e seria devido no exercício fiscalizado. 53.1. O que poderia até se defender (no máximo) é que houve "postergação de despesa", logo, em exercícios anteriores, teria havido antecipação de tributo; e, portanto, no exercício fiscalizado estaria havendo "compensação" desses tributos antecipados. 53.2. Entretanto, esta defesa não procede porque não se trata de despesa (não foi incorrida nos anos anteriores); depois, ainda que fosse, essa "postergação de despesa" foi indevida (em desrespeito à legislação societária, e, conseqüentemente, à legislação fiscal). Assim, o tributo não foi realmente antecipado, sempre foi tributo devido. DOS JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO 54. Sobre este tema, adoto as razões de decidir do Acórdão nº 910100.539, da relatoria da Conselheira Viviane Vidal Wagner: De fato, como bem destacado pelo relator, o crédito tributário, nos termos do art. 139 do CTN, comporta tanto o tributo quanto a penalidade pecuniária. Em razão dessa constatação, ao meu ver, outra deve ser a conclusão sobre a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício. Uma interpretação literal e restritiva do caput do art. 61 da Lei n° 9.430/96, que regula os acréscimos moratórios sobre débitos decorrentes de tributos e contribuições, pode levar à equivocada conclusão de que estaria excluída desses débitos a multa de ofício. Contudo, uma norma não deve ser interpretada isoladamente, especialmente dentro do sistema tributário nacional. No dizer do jurista Juarez Freitas (2002, p.70), "interpretar uma norma é interpretar o sistema inteiro: qualquer exegese comete, direta ou obliquamente, uma aplicação da totalidade do direito." Fl. 516DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 516 43 Merece transcrição a continuidade do seu raciocínio: "Não se deve considerar a interpretação sistemática como simples instrumento de interpretação jurídica. E a interpretação sistemática, quando entendida em profundidade, o processo hermenêutico por excelência, de tal maneira que ou se compreendem os enunciados prescritivos nos plexos dos demais enunciados ou não se alcançará compreendêlos sem perdas substanciais. Nesta medida, mister afirmar, com os devidos temperamentos, que a interpretação jurídica é sistemática ou não é interpretação." (A interpretação sistemática do direito, 3.ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 74). Daí, por certo, decorrerá uma conclusão lógica, já que interpretar sistematicamente implica excluir qualquer solução interpretativa que resulte logicamente contraditória com alguma norma do sistema. O art. 161 do CTN não distingue a natureza do crédito tributário sobre o qual deve incidir os juros de mora, ao dispor que o crédito tributário não pago integralmente no seu vencimento é acrescido de juros de mora, independentemente dos motivos do inadimplemento. Nesse sentido, no sistema tributário nacional, a definição de crédito tributário há de ser uniforme. De acordo com a definição de Hugo de Brito Machado (2009, p.172), o crédito tributário "é o vínculo jurídico, de natureza obrigacional, por força do qual o Estado (sujeito ativo) pode exigir do particular, o contribuinte ou responsável (sujeito passivo), o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (objeto da relação obrigacional)." Convertese em crédito tributário a obrigação principal referente à multa de ofício a partir do lançamento, consoante previsão do art. 113, §1°, do CTN: "Art. 113 A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1° A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito tributário dela decorrente. A obrigação tributária principal surge, assim, com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu não pagamento, o que inclui a multa de ofício proporcional. A multa de ofício é prevista no art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996, e é exigida "juntamente com o imposto, quando não houver sido anteriormente pago" (§1°). Assim, no momento do lançamento, ao tributo agregase a multa de ofício, tornandose ambos obrigação de natureza pecuniária, ou seja, principal. A penalidade pecuniária, representada no presente caso pela multa de ofício, tem natureza punitiva, incidindo sobre o montante não pago do tributo devido, constatado após ação fiscalizatória do Estado. Fl. 517DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 517 44 Os juros moratórios, por sua vez, não se tratam de penalidade e têm natureza indenizatória, ao compensarem o atraso na entrada dos recursos que seriam de direito da União. A própria lei em comento traz expressa regra sobre a incidência de juros sobre a multa isolada. Eventual alegação de incompatibilidade entre os institutos é de ser afastada pela previsão contida na própria Lei n° 9.430/96 quanto à incidência de juros de mora sobre a multa exigida isoladamente. O parágrafo único do art. 43 da Lei n° 9.430/96 estabeleceu expressamente que sobre o crédito tributário constituído na forma do caput incidem juros de mora a partir do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. O art. 61 da Lei n° 9.430, de 1996, ao se referir a débitos decorrentes de tributos e contribuições, alcança os débitos em geral relacionados com esses tributos e contribuições e não apenas os relativos ao principal, entendimento, dizia então, reforçado pelo fato de o art. 43 da mesma lei prescrever expressamente a incidência de juros sobre a multa exigida isoladamente. Nesse sentido, o disposto no §3° do art. 950 do Regulamento do Imposto de Renda aprovado pelo Decreto n° 3.000, de 26 de março de 1999 (RIR/99) exclui a equivocada interpretação de que a multa de mora prevista no caput do art. 61 da Lei n° 9.430/96 poderia ser aplicada concomitantemente com a multa de ofício. Art. 950. Os débitos não pagos nos prazos previstos na legislação específica serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento por dia de atraso (Lei nº 9.430, de 1996, art. 61). § 1º A multa de que trata este artigo será calculada a partir do primeiro dia subseqüente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento do imposto até o dia em que ocorrer o seu pagamento (Lei nº 9.430, de 1996, art. 61, §1º). § 2º O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por cento (Lei nº 9.430, de 1996, art. 61, § 2º). § 3º A multa de mora prevista neste artigo não será aplicada quando o valor do imposto já tenha servido de base para a aplicação da multa decorrente de lançamento de oficio. A partir do trigésimo primeiro dia do lançamento, caso não pago, o montante do crédito tributário constituído pelo tributo mais a multa de ofício passa a ser acrescido dos juros de mora devidos em razão do atraso da entrada dos recursos nos cofres da União. No mesmo sentido já se manifestou este E. colegiado quando do julgamento do Acórdão n° CSRF/0400.651, julgado em 18/09/2007, com a seguinte ementa: JUROS DE MORA MULTA DE OFÍCIO OBRIGAÇÃO PRINICIPAL A obrigação tributária principal surge com a Fl. 518DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 518 45 ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu não pagamento, incluindo a multa de oficio proporcional. O crédito tributário corresponde a toda a obrigação tributária principal, incluindo a multa de oficio proporcional, sobre o qual, assim, devem incidir os juros de mora à taxa Selic. Nesse sentido, ainda, a Súmula Carf n° 5: “São devidos juros de mora sobre o crédito tributário não integralmente pago no vencimento, ainda que suspensa sua exigibilidade, salvo quando existir depósito no montante integral.” Diante da previsão contida no parágrafo único do art. 161 do CTN, buscase na legislação ordinária a norma complementar que preveja a correção dos débitos para com a União. Para esse fim, a partir de abril de 1995, temse a taxa Selic, instituída pela Lei n° 9.065, de 1995. A jurisprudência é forte no sentido da aplicação da taxa de juros Selic na cobrança do crédito tributário, como se vê no exemplo abaixo: REsp 1098052 / SP RECURSO ESPECIAL 2008/02395728 Relator(a) Ministro CASTRO MEIRA (1125) Órgão Julgador T2 SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 04/12/2008 Data da Publicação/Fonte DJe 19/12/2008 Ementa PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO. NÃOOCORRÊNCIA. LANÇAMENTO. DÉBITO DECLARADO E NÃO PAGO. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE. TAXA SELIC. LEGALIDADE. 1. É infundada a alegação de nulidade por maltrato ao art. 535 do Código de Processo Civil, quanto o recorrente busca tãosomente rediscutir as razões do julgado. 2. Em se tratando de tributos lançados por homologação, ocorrendo a declaração do contribuinte e na falta de pagamento da exação no vencimento, a inscrição em dívida ativa independe de procedimento administrativo. 3. E legítima a utilização da taxa SELIC como índice de correção monetária e de juros de mora, na atualização dos créditos tributários (Precedentes: AgRg nos EREsp 579.565/SC, Primeira Seção, Rel. Min. Humberto Martins, DJU de 11.09.06 e AgRg nos EREsp 831.564/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 12.02.07).(g.n.) No âmbito administrativo, a incidência da taxa de juros Selic sobre os débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal foi pacificada com a edição da Súmula CARF n° 4, nos seguintes termos: Súmula CARF nº 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. Fl. 519DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 519 46 55. Na esteira dessas bem lançadas razões de decidir, NEGO provimento ao Recurso Especial interposto pelo Contribuinte. É como voto. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Fl. 520DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 520 47 Declaração de Voto Conselheiro Luís Flávio Neto. Na reunião de janeiro de 2016, a Câmara Superior de Recursos Fiscais (doravante “CSRF”) analisou o recurso especial interposto pela ITAU UNIBANCO S.A. (doravante “ITAÚ”, “recorrente” ou “contribuinte”), em que é recorrida a Procuradoria da Fazenda Nacional (doravante “PFN” ou “recorrida”), no processo n. 16327.720497/201102. Em tal recurso, a contribuinte requer a reforma do acórdão n. 1201000.857 (doravante “acórdão a quo” ou “acórdão recorrido”), proferido pela r. 1a Turma Ordinária da 2a Câmara desta 1a Seção (doravante “Turma a quo”), entre outras coisas, no que concerne à dedutibilidade de Juros sobre o Capital Próprio (doravante “JCP”). Em brevíssima síntese, o contribuinte argumenta que a glosa empreendida pela fiscalização não possui fundamento legal de validade, devendo ser afastada, reconhecendose, assim, a legitimidade do pagamento ou creditamento de JCP apurados acumuladamente, com base em exercícios anteriores. Por sua vez, sustenta a PFN que somente o valor do JCP apurado pelo sócio no mesmo períodobase de seu pagamento/crédito pode ser considerado dedutível do lucro líquido para a apuração do IRPJ e da CSL. Ocorre que a fiscalização considerou que JCP pago ou creditado, para fins de dedutibilidade do IRPJ e da CSL, apenas poderia tomar como base o capital mantido pelo acionista na mesma competência em que o pagamento ou credito tenha sido realizado. No recurso especial em análise, está em questão saber se esse argumento subsiste à legislação federal aplicável. O acórdão recorrido restou assim ementado: “JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. Por ser parte integrante do crédito tributário, a multa de ofício sofre a incidência dos juros de mora. A dedução de juros a título de remuneração do capital próprio está limitada, dentre outros aspectos, à variação da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP verificada no período ao qual se referem os lucros destinados. Ao deixar de segregar o resultado comum de sua atividade daquele atribuível à utilização do capital dos sócios, a sociedade designa integralmente o lucro apurado como remuneração deste capital, e somente pode destinálos aos sócios mediante distribuição de dividendos. Inadmissível, portanto, a dedução posterior de juros sobre capital próprio tendo por referência a variação da TJLP em períodos passados. REGIME DE COMPETÊNCIA. Ainda que os juros sobre o capital próprio pudessem ser pagos/creditados ao titular, sócios ou acionistas da pessoa jurídica em um determinado período base, relativamente ao patrimônio líquido de períodos base anteriores, a respectiva despesa com esses juros deverá ser atribuída aos períodos anteriores, haja vista que, em observância ao regime de competência, a despesa juros com juros deve ser apropriada nos mesmos períodos em que a pessoa jurídica empregou o capital no desenvolvimento de suas atividades.” Nesta declaração de voto, permissa vênia, apresento os fundamentos que me fizeram votar pelo não provimento do recurso especial interposto pelo contribuinte, por compreender Fl. 521DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 521 48 que a cobrança tributária em questão ofende as normas que tutelam a matéria, especialmente aquelas que decorrem do art. 9o da Lei n. 9.249/95. 1. O conceito de “Juros sobre Capital Próprio” (“JCP”). O JCP corresponde a um mecanismo de integração adotado pelo legislador brasileiro. Busca amenizar o desestímulo reconhecido pela Ciência Econômica causado pela dupla tributação da lucro empresarial tanto na órbita da pessoa jurídica quanto nas mãos de seus sócios (pessoas físicas ou jurídicas)13, bem como induzir a preferência ao investimento de capital próprio dos sócios (participações permanentes) à capitalização da companhia com recursos de terceiros (“alavancagem”). Por se tratar de medida com reflexo em políticas econômicas amplas, cabe a cada Estado decidir, por meio de seus agentes competentes, qual método de integração será adotado para a tributação da renda da pessoa jurídica e de seus sócios ou, ainda, se não irá adotar algum deles. Assim, por exemplo, podem as leis de um país tributar apenas as pessoas físicas, deixando as pessoas jurídicas na zona de não incidência tributária. Outros, por sua vez, podem tributar a renda em ambos os níveis, mas conceder aos sócios o direito ao crédito do imposto pago pela pessoa jurídica. O certo é que os métodos de integração podem ser os mais variados. O Brasil adota em especial dois métodos de integração para a tributação da renda: ‐ Dividendos: Os lucros da empresa devem ser tributados no âmbito da pessoa jurídica, com alíquotas de IRPJ e CSL próximas a 34%. Por sua vez, os lucros distribuídos sob a forma de dividendos, observadas as regras vigentes, não devem ser tributados nas mãos dos sócios que os recebem e nem são dedutíveis para a empresa que os distribui. Nesse caso, o método de integração consiste na isenção dos dividendos recebidos por quotistas ou acionistas. ‐ JCP: Os lucros da empresa devem ser tributados no âmbito da pessoa jurídica, com alíquotas de IRPJ e CSL próximas a 34%. O JCP pago ou creditado pela pessoa jurídica aos seus sócios poderá ser deduzida de seu lucro líquido, de forma a neutralizar proporcionalmente a tributação de IRPJ e CSL sobre tais porções. O JCP recebido pelo sócio, por sua vez, está sujeito ao imposto de renda, retido na fonte, à alíquota de 15% (tributação definitiva para as pessoas físicas e mera antecipação para as pessoas jurídicas) . 13 Remonta aos primeiros registros de tributação da renda de pessoas jurídicas a preocupação dos Estados com a adoção de mecanismos de integração entre a empresa e os sócios, a fim de que a mesma renda não fosse duplamente tributada. Ocorre que o interesse arrecadatório do Estado é garantido não quando se arrecada muito de uma vez só, mas sim com a continuidade da atividade empresarial, que gere lucros perenes sujeitos à tributação razoável. Como a tributação do lucro empresarial tanto nas mãos da pessoa jurídica quanto na pessoa física de seus sócios pode gerar desestímulo à constituição e condução dos negócios por meio de pessoas jurídicas, à geração de emprego e ao desenvolvimento, os métodos de integração compõem as políticas econômicas dos Estados. Nesse sentido, vide: SANTOS, Ramon Tomazela. Aspectos controvertidos atuais dos juros sobre capital próprio (JCP): o impacto das mutações no patrimônio líquido, o pagamento acumulado e a sua qualificação nos acordos de bitributação, in Revista Dialética de Direito Tributário n. 214. São Paulo : Dialética, 2013, p. 109 e seg. Fl. 522DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 522 49 Tal como o regime de tributação dos dividendos, o JCP corresponde a um mecanismo de integração da empresa com o sócio, prescrito pelo legislador brasileiro para amenizar a dupla tributação nefasta à livre iniciativa e ao desenvolvimento econômico. A adoção pelo legislador brasileiro do JCP como método de integração tem o claro propósito de induzir o investimento e a manutenção de capital investido em pessoas jurídicas nacionais. Sob a perspectiva da empresa, há incentivo à capitação de recursos dos sócios e não de terceiros, já que a remuneração de ambos se tornou igualmente dedutível. Somese a isso vantagens do JCP, a exemplo do fato de que a capitação de recursos dos sócios não influencia no nível de endividamento da companhia, bem como que estes são remunerados por índice geralmente menor que o de mercado, qual seja, a Taxa de Juros de Longo Prazo (doravante “TJLP”). 2. A norma de dedutibilidade de JCP pago ou creditado. Caso se adote o sentido estrito da expressão “planejamento tributário” 14, o tema “JCP” estará fora da matéria. Ocorre que a regra expressa pelo art. 9o da Lei n. 9.249/95 o situa, em termos estritos, entre as “economias de opção” ou “opções fiscais”. Nas chamadas opções fiscais, o sistema jurídico tributário oferece ao contribuinte mais de uma sistemática para que submeta os seus signos de riqueza à tributação: é garantida ao contribuinte a liberdade para optar pelo caminho que lhe parecer mais adequado, seja por praticidade ou por lhe proporcionar menor ônus tributário. Explorando o exemplo da DIRPF15, com opção pela sistemática simplificada ou completa, verificase que o legislador prescreveu ao contribuinte uma fórmula procedimental básica a ser seguida pela pessoa física: no programa de computador fornecido pela Receita Federal, o contribuinte deve pura e simplesmente optar pelo modelo simplificado ou completo. O programa de computador calcula para o contribuinte qual opção lhe trará o menor custo de IRPF e, caso se opte pelo modelo mais oneroso, o sistema não prossegue até que o contribuinte confirme estar certo de que realmente irá optar por pagar mais (mensagem semelhante não aparece caso o contribuinte opte pelo caminho mais natural de poupar despesas tributárias). Neste exemplo, não estaria o contribuinte realizando um “planejamento tributário”, mas algo 14 Em meio às muitas divergências que o tema suscita na doutrina nacional, alguns autores incluem no conceito de planejamento tributário a utilização de opções fiscais e de normas tributárias indutoras, já que o contribuinte, ao praticar os referidos atos, certamente teria realizado prévio estudo, planejandoos. Nesse sentido, vide: ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Planejamento tributário. São Paulo : Saraiva, 2009, p. 02. Outros, por sua vez, as excluem “do âmbito do planejamento, pois correspondem a escolhas que o ordenamento positivo coloca à disposição do contribuinte, abrindo expressamente a possibilidade de escolha” Nesse sentido, vide: GRECO, Marco Aurélio. Planejamento tributário. São Paulo : Dialética, 2008, p. 100. BARRETO, Paulo Ayres. Elisão tributária limites normativos. Tese apresentada ao concurso de livre docência do Departamento de Direito Econômico e Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo : USP, 2008, p. 240. 15 DIRPF Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física. Fl. 523DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 523 50 não apenas tolerado como regulado e incentivado pelo legislador: “opções fiscais” ou “economias de opção”. Outra economia de opção conhecida consiste nos regimes de tributação da renda pelo “lucro real”, “lucro presumido” ou, ainda, SIMPLES NACIONAL. Nestes, o legislador oferece caminhos diversos que podem ser adotados pelos contribuintes e que podem apresentar elevada variação na obrigação tributária que a União seria legitimada a exigir. A escolha de um desses caminhos, por si só, não corresponde a um planejamento tributário em sentido estrito, mas uma mera opção fiscal. O que se dá com o regime jurídico do JCP não é diferente. A norma jurídica, construída a partir do art. 9o, da Lei n. 9.249/95, estabelece uma opção à pessoa jurídica, que poderá destinar uma parte de seus lucros aos seus sócios qualificandoos como “JCP” e não como dividendos. O mesmo dispositivo prescreve as duas consequências jurídicotributárias do pagamento ou creditamento de JCP: (i) a pessoa jurídica que realiza o pagamento ou creditamento do JCP poderá deduzílos diretamente à conta de lucros acumulados da companhia, com a proporcional redução da base de cálculo do IRPJ e da CSL; (ii) a parte beneficiária do JCP (sócio da pessoa jurídica) está sujeita à tributação de imposto de renda, com retenção pela fonte pagadora à alíquota de 15% na data de seu pagamento ou creditamento. A norma prescreve uma fórmula de cálculo, com limites quantitativo e temporal. Há também um outro fator temporal prescrito pela Lei n. 9.249/95, mas que não se refere ou mesmo interfere no cálculo do JCP. Tratase da tutela do momento em que o JCP se torna dedutível à pessoa jurídica e tributável do sócio. O legislador foi claro e expresso em relação a esses elementos, não autorizando a dedutibilidade de valores que com eles não se coadunem. Por outro lado, a clareza e o modo expresso com que o legislador tratou a questão também conferem segurança jurídica ao contribuinte, que encontra na lei ordinária a moldura dentro da qual o seu agir estará em conformidade com a economia de opção que lhe foi outorgada. Assim, se por um lado da moeda não é possível exigir do particular o cumprimento de requisitos ou a observância de limites não requeridos pelo legislador, pelo outro deve ser exigido do contribuinte o efetivo cumprimento dos aludidos fatores prescritos em lei. Aludidos elementos serão analisados mais detidamente nos tópicos “3” e “4”da presente declaração de voto. A base jurídica para a apuração e identificação das consequências tributárias do JCP consiste no art. 9o da Lei 9.249, de 26.12.1995, que passou por alterações em 1996 (Lei 9.430/96), 2014 (Lei 12.973/14) e 2015 (Medida Provisória nº 694, de 30.09.2015, não convertida em lei até essa data). Fl. 524DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 524 51 No presente caso, os lançamentos tributários se reportam ao período de 2007, quando foram pagos/creditados JCP calculados acumuladamente, com base também exercícios anteriores (2002 a 2007). Dessa forma, interessa à solução dessa contenda a seguinte redação da Lei 9.249/95, art. 9o: Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP. § 1º O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados.16 § 2º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crédito ao beneficiário. § 3º O imposto retido na fonte será considerado: I antecipação do devido na declaração de rendimentos, no caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no lucro real; II tributação definitiva, no caso de beneficiário pessoa física ou pessoa jurídica não tributada com base no lucro real, inclusive isenta, ressalvado o disposto no § 4º; § 4º (Revogado pela Lei nº 9.430, de 1996) § 5º No caso de beneficiário sociedade civil de prestação de serviços, submetida ao regime de tributação de que trata o art. 1º do DecretoLei nº 2.397, de 21 de dezembro de 1987, o imposto poderá ser compensado com o retido por ocasião do pagamento dos rendimentos aos sócios beneficiários. § 6º No caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no lucro real, o imposto de que trata o § 2º poderá ainda ser compensado com o retido por ocasião do pagamento ou crédito de juros, a título de remuneração de capital próprio, a seu titular, sócios ou acionistas. § 7º O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo do disposto no § 2º. § 8º Para os fins de cálculo da remuneração prevista neste artigo, não será 16 Redação dada pela Lei nº 9.430, de 1996. Em seu original: “§ 1º. O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados”. Fl. 525DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 525 52 considerado o valor de reserva de reavaliação de bens ou direitos da pessoa jurídica, exceto se esta for adicionada na determinação da base de cálculo do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido. § 9º. (Revogado pela Lei nº 9.430, de 1996) § 10. (Revogado pela Lei nº 9.430, de 1996) 3. A fórmula de cálculo do JCP. A pessoa jurídica optante pelo lucro real poderá destinar aos seus acionistas ou quotistas JCP calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da TJLP (art. 9o, caput, da Lei n. 9.249/95). Como limites quantitativos à dedutibilidade do JCP, o seu valor deve ficar adstrito a um dos seguintes montantes: (i) 50% do lucro líquido do período em que for realizado o pagamento/crédito ou; (ii) 50% dos lucros acumulados e das reservas de lucros de períodos anteriores (art. 9o, § 1º, da Lei n. 9.249/95). Notese que a norma traz uma única limitação temporal, ao prescrever que o JCP deverá ser dedutível apenas sobre o período que o acionista manteve o seu capital investido na pessoa jurídica, devendo o seu cálculo ser realizado “pro rata dia”. Desse modo, o JCP “deverá ser calculado com base na TJLP do espaço temporal de manutenção, na pessoa jurídica, do capital próprio a ser remunerado, ou seja, aplicada a taxa sobre o respectivo patrimônio líquido, proporcionalmente aos respectivos dias, ou seja, ‘pro rata die’ para mais ou para menos, descontada apenas a reserva de reavaliação ainda não tributada” 17. Podese cogitar, por exemplo, de um particular, em 20X2, investir capital em uma companhia que tenha deliberado e pago JCP pela última vez em 20X0. Caso a assembleia delibere, em 20X4, que serão pagos JCP aos acionistas sobre o capital mantido naquela sociedade desde o último pagamento realizado, o particular em questão não faria jus a qualquer valor atinente ao ano de 20X1, pois não manteve capital investido na sociedade nesse período. No caso, a regra expressa no art. 9o da Lei 9.249/95 apresenta dois efeitos: ‐ limita o pagamento de JCP à proporção temporal (“pro rata dia”) de manutenção do capital investido na pessoa jurídica. O particular, no exemplo citado, estaria limitado a receber JCP em relação aos anos de 20X2, 20X3 e 20X4. 17 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Juros sobre o Capital Próprio – momento de dedução da despesa, in Revista de Direito Tributário Atual n. 28. São Paulo : IBDT/Dialética, 2012, p. 318. Fl. 526DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 526 53 ‐ garante ao particular o direito receber JCP sobre todo o período (“pro rata dia”) que mantiver capital investido na pessoa jurídica, caso assim delibere a assembleia geral da companhia. O particular, no exemplo citado, teria garantido o direito de receber JCP em relação aos anos de 20X2, 20X3 e 20X4, submetendose, naturalmente ao imposto de renda na fonte, à alíquota de 15%, sobre todo o período. Como decorrência dessa delimitação temporal, se o investidor mantiver o seu capital por período superior a um anobase, poderá ser, pro rata dia, remunerado por JCP em relação ao todo esse período, mas nem um dia a mais do que isso. 4. O momento em que o JCP se torna dedutível à pessoa jurídica e tributável do sócio: “regime de competência” e “regime de caixa”. No âmbito contábil, a adoção do regime de competência corresponde a um princípio fundamental de contabilidade. Notese o que prescreve o art. 177 da Lei n. 6.404/76: Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. (grifos acrescidos) O legislador foi enfático, pois entre os “princípios de contabilidade geralmente aceitos” ou “princípios fundamentais de contabilidade”18 está justamente o princípio da competência. A adoção de tais princípios contábeis como regra geral para a apuração do resultado das companhias também foi prescrita pelo art. 187 da Lei n. 6.404/76: Art. 187. A demonstração do resultado do exercício discriminará: (...) § 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos. A Resolução CFC n. 750/93 também exprimiu ser decorrência necessária do princípio da competência a adoção do método (ou “princípio”) do confronto das receitas e despesas, como se observa do art. 9o da aludida norma contábil: Art. 9º. As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento. 18 Vide: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do imposto de renda. São Paulo : Quartier Latin, 2008, p. 1038 e seg. Fl. 527DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 527 54 § 1º O Princípio da COMPETÊNCIA determina quando as alterações no ativo ou no passivo resultam em aumento ou diminuição no patrimônio líquido, estabelecendo diretrizes para classificação das mutações patrimoniais, resultantes da observância do Princípio da OPORTUNIDADE. § 2º O reconhecimento simultâneo das receitas e despesas, quando correlatas, é conseqüência natural do respeito ao período em que ocorrer sua geração. Com as alterações introduzidas pela Resolução CFC n. 1.282/10, o aludido dispositivo passou a constar com outra redação, sem alterar em nada o princípio do emparelhamento das receitas e despesas. Como nem poderia ser diferente, a norma contábil reafirma o método do emparelhamento de receitas e despesas como pressuposto para a concretização do princípio da competência: Art. 9º. O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. ELISEU MARTINS, ERNESTO RUBENS GELBCKE, ARIOSVALDO DOS SANTOS e SÉRGIO DE IUDÍCIBUS19 lecionam que, no regime de competência, “as receitas e despesas são apropriadas ao período em função de sua ocorrência e da vinculação da despesa à receita, independentemente de seus reflexos no caixa”, apontando que “A Lei das Sociedades por Ações não admite exceções”. Noutro diapasão, no âmbito do Direito tributário, especialmente no que se refere à tributação da renda, o regime de caixa e o regime de competência convivem harmonicamente. O CTN, ao exercer a competência atribuída ao legislador complementar pelo art. 146 da Constituição Federal, conferiu ao legislador ordinário a possibilidade de tributar a renda das pessoas físicas e jurídicas pelo regime de caixa ou pelo regime de competência. Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. Embora não seja ponto livre de debates doutrinários, é possível afirmar ser razoavelmente difundida a ideia de que a “aquisição da disponibilidade econômica”, referida no caput do art. 43 do CTN, corresponde ao “regime de caixa”, enquanto que a “aquisição da disponibilidade jurídica” conduz ao “regime de competência”. Fl. 528DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 528 55 Nesse seguir, o legislador ordinário possui competência para adotar o regime de competência ou o regime de caixa no exercício de seu poder para tributar a renda. Possui, assim, autonomia em relação ao princípio contábil da competência, podendo adotálo (como o faz, em geral), afastálo (com a adoção do regime de caixa) ou, ainda, adequálo para as suas necessidades. A sua autonomia em relação à contabilidade permite ao legislador tributário não apenas adotar regime diverso ao regime de competência, de forma a tributar a renda apenas conforme o regime de caixa. O legislador também pode, por exemplo, a adotar o regime de competência com ajustes, atribuindolhe feições diversas das verificadas exclusivamente sob a perspectiva contábil. Ocorre que, em relação a tal aspecto, o legislador encontra limites apenas na Constituição Federal e no CTN. Para a tutela do JCP, o legislador se valeu de tal autonomia, do seguinte modo: ‐ O legislador elegeu o JCP não como uma despesa propriamente dita, a qual pressupõe, para a sua dedutibilidade, contribuição para a manutenção das atividades da pessoa jurídica. Tratase de forma de remuneração do capital próprio investido pelos sócios na pessoa jurídica, dedutíveis, portanto, diretamente dos lucros desta, não se sujeitando às regras ordinárias aplicáveis às despesas em geral; ‐ O legislador elegeu o efetivo pagamento como evento relevante para a incidência da norma tributária de JCP (Lei n. 9.249/95, art. 9o, caput). Assim, o nascimento do direito à dedutibilidade do JCP pago e a obrigação tributária do sócio que o recebe se dá, nessa hipótese, pelo regime de caixa. A adoção do referido regime será analisada com mais detalhes no subtópico “4.1”; ‐ O legislador também elegeu o creditamento como evento relevante para a incidência da norma tributária de JCP (Lei n. 9.249/95, art. 9o, caput). Assim, o nascimento do direito à dedutibilidade da empresa que credita o JCP e a obrigação tributária do sócio que é creditado se dá, nessa hipótese, por um regime de competência, embora com distinções relevantes em relação ao princípio contábil da competência. A adoção do referido regime será analisada com mais detalhes no subtópico “4.2”; Os referidos regimes foram adotados pelo legislador tributário para estabelecer o período a que pertencem os JCP, isto é, quando estes podem ser deduzidas. No entanto – e isso é decisivo para a solução do presente caso – o legislador não se baseou nos aludidos regimes para a composição da fórmula de cálculo do JCP a ser pago ou creditado. Significa dizer que o fato do JCP passar a ser dedutível no momento em que apurado pelo regime de caixa ou de competência em nada interfere no seu montante ou em seu cálculo sobre exercícios anteriores. 19 MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens; SANTOS, Ariosvaldo dos; IUDÍCIBUS, Sérgio de. Manual de Contabilidade Societária da FIPECAFI. São Paulo : Atlas, 2013, p. 4. Fl. 529DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 529 56 4.1. O reconhecimento do JCP pelo regime de caixa: a hipótese de efetivo pagamento aos sócios. O legislador ordinário tradicionalmente tributa as pessoas físicas pelo regime de caixa e as pessoas jurídicas pelo regime de competência. No entanto, embora o regime de competência seja a regra para a tributação da renda das pessoas jurídicas, há uma série de exceções. Entre outros exemplos, é possível verificar que, na sistemática de tributação da renda pelo lucro presumido, o regime de caixa é uma opção em relação ao regime de competência. Muitas pessoas jurídicas podem, anualmente, manifestar a sua opção pela tributação conforme o regime de caixa, excepcionando a regra geral do regime de competência. O regime de apuração adotado (caixa ou competência) deverá ser consistente em relação ao IRPJ, à CSL, à contribuição ao PIS e à COFINS durante todo o exercício fiscal atinente à opção.20 Entre as empresas tributadas pelo lucro real, o pagamento de JCP corresponde a hipótese em que o regime de competência pode dar lugar à adoção do regime de caixa para a apuração deste evento relevante ao IRPJ e à CSL. O art. 9o da Lei 9.249/95 prevê, para que a dedutibilidade do JCP seja regida pelo regime de caixa, dois fatos que devem estar necessariamente presentes: 1o fato: A deliberação da assembleia geral da companhia para que sejam pagos JCP aos acionistas, a partir do que este se considera “incorrido”, pois, a partir daí, os acionistas passam a ter direito ao pagamento ou creditamento de tais valores. Pelo regime de competência, aplicável em geral, seria desde já possível à pessoa jurídica deduzir aludidas despesas incorridas. A Lei n. 9.249/95, contudo, não autoriza a dedutibilidade do JCP meramente incorrido, exigindo o aperfeiçoamento do pagamento. 2o fato: O efetivo pagamento individualizado ao acionista nos moldes decididos na assembleia antecedente. Com o efetivo pagamento, evento típico do regime de caixa, a Lei n. 9.249/95 autoriza a dedutibilidade do JCP, o que antes de tal evento não seria permitido. Desse modo, não vige na legislação do imposto de renda um regime de competência absoluto e inarredável. O JCP é apenas mais uma exceção àquela regra geral. 20 Vide: Solução de Divergência COSIT n. 37, de 5.12.2013. Fl. 530DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 530 57 O JCP é, ele próprio, algo excepcional. Tratase de elemento enunciado no ordenamento jurídico em 1995 e com raros paralelos na legislação estrangeira (ao que parece, apenas a Bélgica apresenta instituto semelhante). O seu arranjo foi introduzido pelo legislador em meio a esse seu caráter excepcional, sendo compreensível a adoção, portanto, de exceção à regra do regime de competência. 4.2. O reconhecimento do JCP pelo regime de competência: a hipótese de creditamento aos sócios. Conforme o princípio da competência, as mutações positivas e negativas devem ser apropriadas ao patrimônio da entidade, respectivamente, conforme a aquisição dos respectivos direitos (receitas e rendimentos) ou incorrimento das obrigações (custos, despesas e perdas).21 Assim, a receita deve ser reconhecida no período em que vier a ser obtido o título jurídico que lhe dê suporte em caráter definitivo e incondicional, independentemente do seu recebimento, enquanto que a despesa será apropriada no período em que for exigível o cumprimento da obrigação correspondente, independentemente do seu pagamento. Notese que, nos termos do Parecer Normativo CST 110/71, conforme o regime de competência, “permitese deduzir do lucro das pessoas jurídicas, para efeito do Imposto de Renda, as despesas pagas ou incorridas no anobase da declaração de rendimentos, entendendose por incorridas as que embora realizadas e quantificadas não tenham sido pagas”. A noção de despesa incorrida é, portanto, fundamental à apuração do lucro real pelo regime de competência: devese considerar como dedutível da base de cálculo do IRPJ e da CSL as despesas que, independentemente de efetivo fluxo financeiro ou sacrifício para o seu adimplemento, possam ser consideradas como incorridas, ou seja, que já tenham caráter definitivo e incondicional, podendo ser juridicamente exigido pela parte credora. O art. 9o da Lei n. 9.249/95, além da possibilidade de adoção do regime de caixa para a dedutibilidade do JCP (subtópico “4.1”), também previu a adoção do regime de competência, embora com distinções relevantes em relação ao princípio contábil da competência: 1o fato: A deliberação da assembleia geral da companhia para que sejam pagos JCP aos acionistas, a partir do que já se poderia considerar a despesa como incorrida, já que, apenas a partir daí, os acionistas passam a ter direito ao recebimento de tais valores. Pelo regime de competência “puro”, aplicável em geral, já seria possível à pessoa jurídica deduzir aludidas despesas incorridas. A Lei n. 9.249/95, contudo, não autoriza a dedutibilidade do JCP meramente incorrido, exigindo, ao menos, o aperfeiçoamento de seu “creditamento”. 21 Nesse sentido, vide: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Juros sobre o Capital Próprio – momento de dedução da despesa, in Revista de Direito Tributário Atual n. 28. São Paulo : IBDT/Dialética, 2012, p. 318 e seg. Fl. 531DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 531 58 2o fato: efetivo crédito individualizado ao acionista nos moldes decididos na assembleia antecedente. A Lei n. 9.249/95 deslocou o evento relevante para o regime de competência, que geralmente seria momento em que juridicamente a pessoa jurídica se torna juridicamente obrigada a cumprir uma despesa (no caso, a assembleia geral de deliberação), para o efetivo creditamento individualizado do JCP ao sócio. A questão é bem observada pela doutrina, como se observa deste trabalho de RICARDO MARIZ DE OLIVEIRA22: “Realmente, apesar de a obrigação já ter sido constituída desde a deliberação, o parágrafo 1o do art. 9o da Lei 9.249 somente permite a dedução fiscal a partir do momento em que ela for cumprida no âmbito do direito privado mediante a efetivação do pagamento ou do crédito em conta individualizada do sócio ou acionista. Isso explica porque o regime de competência se constitui na regra geral acima descrita, mas nosso sistema legal relativo ao IRPJ e à CSL contém várias regras relacionadas à dedutibilidade de determinadas despesas ou custos, as quais estão inseridas no ordenamento jurídico a par da regra geral do regime de competência, sendo que algumas delas excepcionam, condicionam ou complementam tal norma geral. Assim, ao lado das regras que existem para declarar a indedutibilidade de determinadas despesas ou custos, ou para limitar o valor dedutível, ou para condicionar a dedução a esta ou àquela circunstância, há outras que, excepcionalmente, estabelecem o momento da dedução em momento distinto daquele em que o encargo já está incorrido.” O que se conclui é que o legislador não incorporou em sua integralidade o princípio contábil da competência, pois, conforme este, os valores em questão já deveriam ser reconhecidas desde a realização da assembleia geral da companhia em que o pagamento do JCP fosse aprovado. Tratase de um regime de competência ajustado. Assim, a Lei n. 9.249/95 adotou o regime de caixa e um regime de competência ajustado para estabelecer o momento em que o JCP se torna dedutível à empresa e rendimento tributável dos sócios. Significa dizer que o JCP pertence ao período em que o seu pagamento ou creditamento primeiro ocorrer. 5. A contabilidade: relevância para a apuração do JCP, com possíveis ajustes determinados pela lei fiscal; irrelevância para a tutela jurídicotributária das consequências fiscais do JCP pago ou creditado. 22 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Juros sobre o Capital Próprio – momento de dedução da despesa, in Revista de Direito Tributário Atual n. 28. São Paulo : IBDT/Dialética, 2012, p. 324. Fl. 532DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 532 59 Na sistemática do lucro real, a base de cálculo adotada pelo legislador corresponde ao “lucro líquido do período de apuração ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas” por lei. E o lucro líquido será apurado “com observância das disposições das leis comerciais”, ou seja, a partir da contabilidade da pessoa jurídica.23 Para a solução do recurso especial ora em análise, é necessário verificar e distinguir a relevância da contabilidade para a apuração do JCP e para a delimitação da incidência da norma de dedutibilidade do JCP. Há um íntimo relacionamento entre as searas contábil e tributária, marcada por recente revolução. Durante décadas, a contabilidade brasileira esteve vinculada às necessidades da legislação do imposto de renda, o que não ocorre mais desde a edição da Lei n. 11.638/2007. A importante missão da contabilidade de informar usuários internos e externos à entidade hoje é cumprida adotando padrões internacionais e não da legislação tributária. Ao se reportar à “promulgação das Leis n. 11.638/07 e 11.941/09 (MP 449/08) e a independência da contabilidade brasileira”, no Manual de Contabilidade Societária da FIPECAFI, seus autores ELISEU MARTINS, ERNESTO RUBENS GELBCKE, ARIOSVALDO DOS SANTOS e SÉRGIO DE IUDÍCIBUS24 trazem mensagem bastante esclarecedora: “A partir dessas legislações passou a ser possível praticarse, de fato, Contabilidade no Brasil sem influências diretas ou indiretas de natureza fiscal, com a Secretaria da Receita Federal Brasileira passando a ser enorme parceira da evolução contábil. De agora em diante, trabalham juntas, as normas contábeis e as normas fiscais, cada um seguindo o seu caminho. Nenhuma norma contábil nova, convergente às internacionais, provoca qualquer efeito tributário, aumentando ou reduzindo tributos, sem que haja uma outra norma de natureza fiscal para fazêlo; não saindo essa nova norma tributária, prevalece o que existia anteriormente (até o final de 2013 ainda prevalecem as do final de 2007). Por outro lado, se o Fisco determinar uma nova forma de apropriação de receita ou despesa para fins próprios, isso não tem automática aplicação na Contabilidade, sem que saia uma nova norma contábil. E todas essas diferenças são controladas no Lalur, agora ELalur, no FCont etc. Devemos, os Contabilistas brasileiros, aplaudir estes momentos históricos que estamos vivendo e aproveitar para fazer valer a grande utilidade da nossa profissão: a de ajudar no processo de controle e no bem informar.” Até 2007, receitas e receitas seriam reconhecidas pela contabilidade de maneira formalística (forma jurídica sobre a substância), em obediência à legislação tributária ou à normas de Direito privado. Naquele estágio, a contabilidade estava presa às amarras do Direito tributário, mas este jamais teve amarras involuntárias nas normas contábeis. 23 Decreto 3000/00 (Regulamento do Imposto de Renda), art. 247; DecretoLei no 1.598, de 1977, art. 6; Lei no 8.981, de 1995, art. 37, §1. 24 MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens; SANTOS, Ariosvaldo dos; IUDÍCIBUS, Sérgio de. Manual de Contabilidade Societária da FIPECAFI. São Paulo : Atlas, 2013, p. 21. Fl. 533DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 533 60 É premissa fundamental que a resposta para “o que gera o dever de pagar tributos” não pode ser construída imediatamente com base na contabilidade. A análise de relatórios financeiros, pura e simples, não é conclusiva para a definição do quantum debeatur. A decisão sobre “o que gera o dever de pagar tributos” e, ainda, “quanto deve ser pago”, demanda, no regime democrático brasileiro, a decisão do legislador competente. Os eventos contábeis adquirem importância para o Direito tributário na medida em que são acolhidos pelo legislador. Também é preciso ter claro que não há comunicação necessária e indissociável entre a contabilidade e o Direito tributário. O legislador tributário pode, inclusive, se valer de conceitos próprios para capturar signos presuntivos de riqueza passíveis de tributação. Uma “receita” ou “despesa”, para fins societários e contábeis, pode não ter o mesmo sentido e tratamento para fins fiscais. Assim, tal como convergências conceituais da contabilidade e do Direito tributário podem ser facilmente encontradas no que tange ao IRPJ e à CSL, também não há dificuldade para se encontrar divergências, sem que isso represente qualquer ruído sistêmico. Nem a contabilidade e nem o Direito tributário ignoram tais possibilidades, antes as têm como naturais, de forma que cada qual possui as suas próprias soluções. Notese que, desde as Leis 11.638/07 e 11.941/09, a contabilidade brasileira ganhou independência em relação Direito tributário, mas este permanece, tal como antes, autônomo em relação àquela. A relação do Direito tributário com a contabilidade é de simbiose, quase parasitária, pois o legislador tributário se aproveita apenas daquilo que lhe interessa. O que não há, tal como nunca houve, é sujeição do legislador tributário à cogência das normas contábeis. No presente caso, o legislador tributário prevê que a contabilidade possui relevância para a apuração do JCP, com possíveis ajustes determinados pela lei fiscal. Tratase de um caso que o legislador tributário, em pleno exercício de suas funções e dentro dos limites que lhe são imanentes, seleciona da contabilidade aquilo que interessa para a mensuração do JCP. A relevância da contabilidade para a apuração do JCP passível de dedução fiscal será tanto maior quanto a evidenciação, reconhecimento e mensuração contábeis se derem em consonância com a fórmula adotada no art. 9o da Lei n. 9.249/95. Quanto mais a contabilidade se afastar dessa fórmula, menos relevante será para a aplicação da norma de dedutibilidade do JCP pago ou creditado. Por sua vez, é necessário reconhecer que as normas contábeis são irrelevantes para a tutela jurídicotributária das consequências fiscais do JCP pago ou creditado. Ainda que o princípio contábil da competência possa orientar a escrituração contábil do JCP de uma determinada forma, isso em nada influencia para que se deflagre a sua dedutibilidade fiscal. Importa unicamente que se cumpram os elementos tal qual prescritos no art. 9o da Lei 9.249/95. Fl. 534DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 534 61 Prova disso é que a legislação tributária prevê a solução a ser adotada caso a contabilidade reconheça JCP que (ainda) não possa ser considerado dedutível da base de cálculo do IRPJ e da CSL. Com a aplicação cumulativa do art. 9o e do art. 13, I, da própria Lei 9.249/95, na hipótese da contabilidade, por hipótese, evidenciar o JCP no ato da assembleia que determinar o seu pagamento, este deverá ser considerado, para fins fiscais, como mera provisão indedutível, devendo ser adicionada ao lucro líquido do período para apuração do lucro tributável respectivo. No futuro, quando de fato se concretizar o pagamento/creditamento individualizado exigido para fins de dedutibilidade fiscal, este será realizada a débito da provisão e não do lucro líquido desse período.25 Dessa forma, cumprese o disposto no art. 6o do Decretolei 1.598/7726. 5. O vício imputado pela fiscalização para a glosa da dedução de JCP efetivamente pagos aos acionistas. No presente caso, a autuação fiscal em discussão decorreu de pagamentos/creditamentos efetivamente realizados pelo contribuinte, a título de JCP, no ano de 2007, o qual foi calculado tomandose por base também os exercícios anteriores (2002 a 2007). 5.1. O pagamento ou creditamento de JCP acumuladamente, com base em exercícios anteriores. O investimento no capital social de pessoas jurídicas é, por definição, uma “participação permanente”27, o que evidencia uma noção de continuidade, perenidade. Embora o liame societário em questão possa ser extinto (realização do investimento), há expectativa de que o período de permanência do capital investido pelo acionista ou cotista perdure por mais de um exercício. Ao tutelar a remuneração do capital próprio investido pelos sócios (detentores dessa participação permanente), o legislador tributário precisou considerar tais fatores. O legislador precisou considerar tanto o pressuposto da continuidade do investimento mantido pelo sócio no capital social da pessoa jurídica investida, quanto a possibilidade legal de extinção desse liame societário a qualquer tempo. Quanto à possibilidade de extinção desse liame societário, o legislador prescreveu a única limitação temporal atinente ao JCP, analisada no tópico “3”, acima: somente será 25 Nesse sentido, vide: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Juros sobre o Capital Próprio – momento de dedução da despesa, in Revista de Direito Tributário Atual n. 28. São Paulo : IBDT/Dialética, 2012, p. 3256. 26 Decretolei 1.598/77, art 6º. Lucro real é o lucro líquido do exercício ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela legislação tributária. (…) § 4º Os valores que, por competirem a outro períodobase, forem, para efeito de determinação do lucro real, adicionados ao lucro líquido do exercício, ou dele excluídos, serão, na determinação do lucro real do período competente, excluídos do lucro líquido ou a ele adicionados, respectivamente. 27 Vide Lei n. 6.404/74, art. 179. As contas serão classificadas do seguinte modo. (…) III em investimentos: as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulante, e que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa; Fl. 535DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 535 62 considerado dedutível o JCP calculado sobre o período em que o sócio manteve o seu capital investido na pessoa jurídica, devendo, assim, ser calculado “pro rata dia”. Por sua vez, tendo em vista que o período de permanência do capital investido pelo acionista ou cotista tende a perdurar por mais de um exercício, o legislador, de forma bastante técnica, prescreveu que o limite quantitativo aplicável (vide tópico “3”) pode ser tanto de 50% do lucro liquido do exercício, como de 50% dos lucros acumulados ou reservas de lucros, que se reportam justamente aos anos anteriores. Daí a correta assertiva doutrinaria de que, “não fosse assim, ou seja, fossem os JCP vinculados em seu cálculo exclusivamente aos presente períodobase, a lei teria limitado o seu valor apenas à metade do lucro líquido deste período”28. Assim fez o legislador, ao prescrever que o efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados (Lei 9.249/95, art. 9o, § 1). Além disso, prescreveu expressamente o legislador (Lei 9.249/95, art. 9o): § 7º. O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo do disposto no § 2º. O dispositivo da Lei das S.A., a que faz referência a Lei 9.249/95, segue transcrito: “Art. 20229. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância determinada de acordo com as seguintes normas: I metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores: a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e b) importância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão da mesma reserva formada em exercícios anteriores; II o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser 28 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Juros sobre o Capital Próprio – momento de dedução da despesa, in Revista de Direito Tributário Atual n. 28. São Paulo : IBDT/Dialética, 2012, p. 334. No mesmo sentido, vide: SANTOS, Ramon Tomazela. Aspectos controvertidos atuais dos juros sobre capital próprio (JCP): o impacto das mutações no patrimônio líquido, o pagamento acumulado e a sua qualificação nos acordos de bitributação, in Revista Dialética de Direito Tributário n. 214. São Paulo : Dialética, 2013, p. 114115. 29 Em sua redação original, alterada pela Lei nº 10.303, de 2001, o caput e os seus incisos I, II e III possuíam a redação a seguir: “Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto, ou, se este for omisso, metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores: I quota destinada à constituição da reserva legal (artigo 193); II importância destinada à formação de reservas para contingências (artigo 195), e reversão das mesmas reservas formadas em exercícios anteriores; III lucros a realizar transferidos para a respectiva reserva (artigo 197), e lucros anteriormente registrados nessa reserva que tenham sido realizados no exercício.” Fl. 536DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 536 63 limitado ao montante do lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a diferença seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197); III os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização. (...)” (grifos acrescidos) Conforme a norma societária, os acionistas têm direito a receber dividendo obrigatório, em cada exercício, equivalente à parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, em conformidade com as regras estabelecidas na Lei das S.A. Entre essas regras, prevê o legislador societário que os valores registrados em reservas de lucros ou lucros acumulados de exercícios anteriores devem, após a sua realização, ser distribuídos na primeira oportunidade a título de dividendos. O legislador tributário fez remissão expressa à lei societária, atraindo para o JCP a norma societária originalmente aplicável apenas aos dividendos. Diante da referida remissão legal, constróise norma segundo a qual os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização, podendo, ainda, ser destinados ao pagamento de juros sobre capital próprio. O legislador tributário prescreveu que o JCP, por também ter a natureza de distribuição de lucros, poderá ser pago no lugar dos dividendos obrigatórios referidos pelo art. 202 da Lei 6.404/76, destinando, inclusive, 50% dos valores registrados em reservas de lucros ou lucros acumulados de exercícios anteriores. Por remissão expressa na Lei 9.249/95, o legislador, que é uno, prescreve que até 50% das reservas de lucros ou lucros acumulados referidos pela Lei das S.A. podem: (i) servir de limite para o cálculo do JCP, coerentemente com a possibilidade de cálculo deste em relação aos períodos anteriores (Lei 9.249/95, art. 9, § 1º) e; (ii) ainda, servir de fonte de recursos para o pagamento do JCP, que de outra forma se prestariam apenas à distribuição de dividendos (Lei n. 9.249/95, art. 9o, § 7º). A norma prescrita pela Lei n. 9.249/95 é clara. O legislador não apenas permitiu o pagamento de JCP relativos a períodos anteriores, como também editou mais do que um parágrafo para regular a utilização de reservas de lucros ou lucros acumulados de períodos anteriores para o cálculo e fonte de recursos. Dessa forma, o auto de infração lavrado em face do contribuinte padece de vício insanável quanto à compreensão da norma de dedutibilidade do JCP. A aplicação Fl. 537DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 537 64 equivocada do art. 9o da Lei n. 9.249/95 conduziu a fiscalização a restringir a dedutibilidade desses valores, não obstante a assembleia geral ter deliberado o pagamento de JCP relacionados aos anos 2002 a 2007 e tais valores tenham, de fato, sido efetivamente pagos ou creditados aos acionistas. Não se pode deixar de observar que sequer a equivocada qualificação do JCP como tendo natureza de juros comuns justificaria a glosa atinente aos exercícios anteriores. Ocorre que a relevância da autonomia e independência dos exercícios restou enfraquecida desde os idos de 1978, quando da introdução do Decretolei 1.598 ao sistema jurídico brasileiro. Até esse marco jurídico, as despesas atinentes a um exercício não poderiam ser deduzidas em outro, qualquer que fosse o motivo. O Decretolei 1.598, contudo, expressamente passou a autorizar deduções extemporâneas.30 Nesse cenário, a glosa empreendida pela fiscalização não possui fundamento legal de validade, devendo ser afasta, reconhecendose, assim, a legitimidade do pagamento ou creditamento de JCP acumuladamente, com base em exercícios. 5.2. A compatibilidade do art. 29, da IN 11/96, com a Lei 9.249/95. Após a edição da Lei 9.249/95, foi publicada a Instrução Normativa n. 11, de 21.02.1996, veiculando o seguinte texto em seu art. 29: Art. 29. Para efeito de apuração do lucro real, observado o regime de competência, poderão ser deduzidos os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração de capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio liquido e limitados à variação pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). § 1º À opção da pessoa jurídica, o valor dos juros a que se refere este artigo poderá ser incorporado ao capital social ou mantido em conta de reserva destinada a aumento de capital. § 2º Para os fins do cálculo da remuneração prevista neste artigo, não será considerado, salvo se adicionado ao lucro líquido para determinação do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro, valor: a) da reserva de reavalição de bens e direitos da pessoa jurídica; b) da reserva especial de trata o art. 428 do RIR/94; c) da reserva de reavaliação capitalizada nos termos dos arts. 384 e 385 do RIR/94, em relação às parcelas não realizadas. § 3º O valor do juros pagos ou creditados, ainda que capitalizados, não poderá exceder, para efeitos de dedutibilidade como despesa financeira, a cinqüenta por cento de um dos seguintes valores: 30 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Juros sobre o Capital Próprio – momento de dedução da despesa, in Revista de Direito Tributário Atual n. 28. São Paulo : IBDT/Dialética, 2012, p. 334. Fl. 538DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 538 65 a) do lucro líquido correspondente ao períodobase do pagamento ou crédito dos juros, antes da provisão para o imposto de renda e da dedução dos referidos juros; ou b) dos saldos de lucros acumulados de períodos anteriores. § 4º Os juros a que se refere este artigo, inclusive quando exercida a opção de que trata o § 1º ou quando imputados aos dividendos, auferidos por beneficiário pessoa jurídica submetida ao regime de tributação com base no: a) lucro real, serão registrados em conta de receita financeira e integrarão lucro real e a base de cálculo da contribuição social sobre o lucro; b) lucro presumido ou arbitrado, serão computados na determinação da base de cálculo do adicional do imposto. § 5º Os juros serão computados nos balanços de suspensão ou redução (art. 10). § 6º Os juros remuneratórios ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crédito. § 7º O imposto de renda incidente na fonte: a) no caso de beneficiário pessoa jurídica submetida ao regime de tributação com base no lucro real, será considerado antecipação do devido na declaração de rendimentos ou compensado com o que houver retido por ocasião do pagamento ou crédito de juros, a título de remuneração do capital próprio, a seu titular, sócios ou acionistas. b) será considerado definitivo, no caso de beneficiário pessoa física ou pessoa jurídica não submetida ao regime de tributação com base no lucro real, inclusive isenta; c) no caso de beneficiária sociedade civil de prestação de serviços, submetida ao regime de tributação de que trata o art. 1º do Decretolei nº 2.397, de 1987, poderá ser compensado com o retido por ocasião do pagamento de rendimentos a seus sócios ; d) deverá ser pago até o terceiro dia útil da semana subsequente à do pagamento ou crédito dos juros. § 8º A pessoa jurídica que exercer a opção de que trata o § 1º assumirá o ônus do imposto incidente na fonte sobre os juros. § 9º O valor do imposto será determinado sem o reajuste da respectiva base de cálculo e não será dedutível para fins de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro. § 10. O imposto incidente na fonte, assumido pela pessoa jurídica, será recolhido no prazo de quinze dias contados do encerramento do períodobase em que tenha ocorrido a dedução dos juros, sendo considerado: a) definitivo, nos casos de beneficiário pessoa física ou jurídica não submetida ao regime de tributação com base no lucro real, inclusive isentas; b) como antecipação do devido na declaração, no caso de beneficiário pessoa jurídica submetida ao regime de tributação com base no lucro real. § 11. Na hipótese da alínea "b" do § anterior, a pessoa jurídica beneficiária Fl. 539DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 539 66 deverá registrar, como receita financeira, o valor dos juros capitalizados que lhe couber e o do imposto de renda na fonte a compensar. § 12. O valor do imposto registrado como receita poderá ser excluído do lucro líquido para determinação do lucro real. Logo em seu caput, o art. 29 fez referência à observância do regime de competência, o que pode ter dado origem à questão ora submetida a esta CSRF. Ocorre que a fiscalização considerou que JCP pago ou creditado, para fins de dedutibilidade do IRPJ e da CSL, apenas poderia tomar com base o capital mantido pelo acionista na mesma competência em que o pagamento ou credito tenha sido realizado. Não se trata de interpretação exclusiva que possa ser obtida imediatamente dos elementos textuais do art. 29, da IN 11/96. Pelo contrário, RAMON TOMAZELA SANTOS31 bem explicitou outra interpretação que se coerentemente obter do aludido dispositivo, in verbis: “Na prática, significa dizer que a dedução da despesa deve ocorrer no momento em que a pessoa jurídica efetuar o pagamento do JCP em favor do sócio ou acionista, em caráter definitivo e incondicional, ainda que a deliberação societária determine que o prazo de cômputo deve abranger lapso temporal superior a um anocalendário, com o objetivo de remunerar o capital investido pelo sócio ou acionistas em períodos pretéritos.” A questão deve ser solucionada com vistas ao tema das fontes do Direito tributário: instruções normativas correspondem a fontes secundárias, do Direito, cuja função subalterna é de apenas explicitar normas enunciadas por fontes primárias, entres as quais tem destaque a lei ordinária. Assim, a interpretação do art. 29, da IN 11/96, deverá ser empreendida de tal forma que este seja consentâneo com a norma veiculada pelo art. 9o da Lei n. 9.249/95. Como se viu no subtópico “5.1”, o art. 9o da Lei n. 9.249/95 legitima o pagamento ou creditamento de JCP acumuladamente, com base em exercícios anteriores. O legislador não se baseou no regime de caixa ou de competência para a composição da fórmula de cálculo do JCP a ser pago ou creditado, mas apenas para marcar o momento em que este passa a ser dedutível. 5.3. Jurisprudência do STJ sobre o objeto do recurso especial em análise. A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça analisou recurso especial aparentemente com o mesmo objeto do recurso administrativo ora em análise. A r. decisão restou assim ementada: 31 SANTOS, Ramon Tomazela. Aspectos controvertidos atuais dos juros sobre capital próprio (JCP): o impacto das mutações no patrimônio líquido, o pagamento acumulado e a sua qualificação nos acordos de bitributação, in Revista Dialética de Direito Tributário n. 214. São Paulo : Dialética, 2013, p. 109 e seg. Fl. 540DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 540 67 MANDADO DE SEGURANÇA. DEDUÇÃO. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO DISTRIBUÍDOS AOS SÓCIOS/ACIONISTAS. BASE DE CÁLCULO DO IRPJ E DA CSLL. EXERCÍCIOS ANTERIORES. POSSIBILIDADE. I Discutese, nos presentes autos, o direito ao reconhecimento da dedução dos juros sobre capital próprio transferidos a seus acionistas, quando da apuração da base de cálculo do IRPJ e da CSLL no anocalendário de 2002, relativo aos anoscalendários de 1997 a 2000, sem que seja observado o regime de competência. II A legislação não impõe que a dedução dos juros sobre capital próprio deva ser feita no mesmo exercíciofinanceiro em que realizado o lucro da empresa. Ao contrário, permite que ela ocorra em anocalendário futuro, quando efetivamente ocorrer a realização do pagamento. III Tal conduta se dá em consonância com o regime de caixa, em que haverá permissão da efetivação dos dividendos quando esses foram de fato despendidos, não importando a época em que ocorrer, mesmo que seja em exercício distinto ao da apuração. IV "O entendimento preconizado pelo Fisco obrigaria as empresas a promover o creditamento dos juros a seus acionistas no mesmo exercício em que apurado o lucro, impondo ao contribuinte, de forma oblíqua, a época em que se deveria dar o exercício da prerrogativa concedida pela Lei 6.404/1976". V Recurso especial improvido. (STJ, REsp 1086752/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/02/2009, DJe 11/03/2009) Em seu voto, o i. Min. FRANCISCO FALCÃO consignou ser aplicável ao JCP o regime de caixa e não o regime de competência, como se observa do seguinte trecho: “Com efeito, a legislação não impõe que a dedução dos juros sobre capital próprio deva ser feita no mesmo exercíciofinanceiro em que realizado o lucro da empresa. Ao contrário, permite que ela ocorra em anocalendário futuro, quando efetivamente ocorrer a realização do pagamento. Tal conduta se dá em consonância com o regime de caixa, em que haverá permissão da efetivação dos dividendos quando esses foram despendidos, não importando a época em que ocorrer, mesmo que seja em exercício distinto ao da apuração”. Conforme exposto nesta declaração de voto, me alinho à conclusão dos Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça do STJ, no sentido de que “a legislação não impõe que a dedução dos juros sobre capital próprio deva ser feita no mesmo exercíciofinanceiro em que realizado o lucro da empresa”. No entanto, permissa venia, a r. decisão parece ter analisado apenas a hipótese em que há efetivo pagamento de JCP, em que o regime de caixa foi realmente adotado pelo legislador. Conforme os fundamentos expostos no tópico “4.2”, acima, o legislador tributário também elegeu o creditamento da JCP como elemento temporal para que este se torne dedutível, o que remete, então, a um regime de competência ajustado. Fl. 541DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 541 68 Dessa ressalva decorre que a assertiva do i. Min. FRANCISCO FALCÃO deve, permissa venia, ser complementada do seguinte modo: “Ao contrário, permite que ela ocorra em ano calendário futuro, quando efetivamente ocorrer a realização do pagamento” ou creditamento. 6. Conclusão. Por todo o exposto, deve ser dado provimento ao recurso especial do contribuinte quanto à matéria analisada nesta declaração de voto. A glosa empreendida pela fiscalização não possui fundamento legal de validade, devendo ser afastada, reconhecendose, assim, a legitimidade do pagamento ou creditamento de JCP apurados acumuladamente, com base em exercícios anteriores. É como voto. Conselheiro Luís Flávio Neto. (assinado digitalmente) Fl. 542DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 542 69 Declaração de Voto Conselheiro Ronaldo Apelbaum, Em relação ao conhecimento do Recurso Especial interposto pelo Contribuinte, acompanho o d. Relator no sentido de que a divergência jurisprudencial exigida pelo Art. 67 e parágrafos do RICARF encontrase devidamente comprovada. Por esse motivo, o Recurso Especial deve ser conhecido. Quanto ao mérito, contudo, ouso divergir completamente do d. Relator, pelas razões que serão expostas a seguir. Essa divergência não retira nem diminui os elogios que são merecedores o d. Relator pela profunda pesquisa realizada. Em primeiro lugar, vale transcrever o art. 9º da Lei 9.249/95, que disciplina o pagamento a título de Juros sobre Capital Próprio, mas apenas nos trechos que impactam a presente discussão: Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo TJLP. § 1º O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados. (Redação dada pela Lei nº 9.430, de 1996) (...) § 7º O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo do disposto no § 2º. O artigo 9º da Lei n.º 9.249/95 limitase a autorizar a dedução, para fins fiscais, de “juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP”. Essa legislação dá ao contribuinte a faculdade de pagar ou creditar JCP a seus sócios sobre contas do patrimônio líquido e determina que esse valor poderá ser deduzido para fins de apuração do lucro real no momento de seu pagamento ou crédito. Já o §1º do referido artigo 9º determina que o efetivo pagamento ou crédito dos JCP dependem da existência de lucros correntes ou acumulados em valor igual ou superior a duas vezes os juros a serem pagos. Nesse ponto, a legislação traz uma limitação quantitativa para o pagamento dos juros sobre o capital próprio, mas não faz qualquer limitação ao pagamento relativo à aplicação da TJLP sobre as contas de patrimônio líquido de períodos anteriores. Mesmo a IN RFB n.º 11/96, vigente à época dos fatos ora analisados, não traze qualquer restrição à adoção, como base para determinação dos JCP, de contas de Fl. 543DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 543 70 patrimônio líquido de períodos anteriores. Tanto essa IN quanto a Solução de Consulta 329/14 da COSIT, utilizadas como referência para a manutenção da autuação, não devem ser consideradas como válidas por partires do pressuposto de que o pagamento de JCP se trata de despesa de juros, o que não é o caso para a específica situação dos JCP, pelo que será exposto na análise dos primados contábeis. a) dos Princípios Contábeis aplicáveis ao caso em questão Em sua fundamentação, o d. Relator também se fundamenta em dois postulados contábeis para justificar a impossibilidade de pagamento de JCP sobre períodos passados: (i) Princípio da Entidade e (ii) Princípio da Competência. A análise das normas contábeis, embora não disciplinadoras dos efeitos fiscais de seus regramentos, são de extrema relevância no presente contexto. E por isso merecem análise pormenorizada, em conjunto com a legislação societária vigente no Brasil: (i) Princípio da Entidade O Princípio da Entidade é um postulado que determina que a contabilidade de determinada entidade não se confunde com a pessoa de seus sócios ou quotistas. Com base nesse Princípio, o d. Relator desenvolve raciocínio a partir do qual os JCPs devem ser caracterizados como despesa de juros, e, portanto, devem ser reconhecidas a cada ano calendário em que o resultado permitir tal disponibilização. Esse argumento não se sustenta na medida em que a necessidade de segregação contábil da “Entidade” foi observada pela Recorrente. É certo que a discussão sobre a natureza desse pagamento advém da legislação fiscal e societária e o momento correto de seu reconhecimento advém da regra contábil específica dos JCPs. Estamos falando de (i) momento de reconhecimento e (ii) natureza do pagamento, e não de confusão contábil entre a empresa e seus quotistas titulares. Por conta disso, nos itens abaixo, compreendo que essa discussão poderá ser mais frutífera, deixando de lado desde já qualquer descumprimento ao Primado da “Entidade”. (ii) Princípio da Competência Conforme já ressaltado anteriormente, os primados contábeis são de extrema relevância e devem sempre ser observados em conjunto com a legislação fiscal. A observância do Princípio da Competência é, indubitavelmente, um dos pilares da Contabilidade e é objeto de profunda análise em normas exaradas por entidades como a CVM, IBRACON, entre outras. O voto do d. Relator demonstra, de forma clara, a relevância e aplicação desse Princípio. Ocorre que há um severo engano nas conclusões do voto vencedor, na medida em que considera que as regras estipuladas na Lei 9.249/95 se amoldam ao Princípio da Competência de forma estrita, ou melhor, necessariamente relacionada ao período de apuração do JCP e não do pagamento efetivo dessa verba. É sempre relevante relembrar que a competência para a regra temporal de dedução de pagamentos na apuração do lucro real é matéria reservada à Lei. É a Lei 9.249/95, portanto, que define o momento em que deve ser considerada a dedução na base de cálculo do imposto. Ademais, é necessário ainda lembrar que o pagamento de JCP não é classificado como despesa, o que poderia gerar controvérsia quanto à necessidade de reconhecimento Fl. 544DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 544 71 imediato desse pagamento como despesa do próprio período, em consonância com outras despesas comumente reconhecidas pelos contribuintes, de forma geral. Isso porque os JCP não devem ser considerados como dispêndio que contribuem para manutenção do patrimônio ou para incremento de receitas da atividade. Trata se de destinação de resultado após apurado o lucro, não sendo aplicadas as regras de competência para o registro de despesas, porque de despesa não se trata. É uma dedução legal criada por lei para incentivar a capitalização das empresas e favorecer o investimento em atividade produtiva. São uma forma de remuneração do investimento realizado por sócios ou acionistas. Esses juros foram criados como uma alternativa ou complementação ao pagamento de dividendos e, até por sua natureza, consiste em uma faculdade à empresa e não uma obrigação. Podemos dizer, portanto, que os JCP somente serão considerados existentes a partir do momento em que os sócios ou acionistas definem sua aprovação e seu pagamento. Dessa forma, fica claro que o período de competência não pode ser outro se não aquele em que é definido o seu pagamento, momento no qual é gerada uma obrigação para a empresa e um direito creditório aos sócios e acionistas. Essa conclusão também se depreende da Deliberação CVM 207/96, que determina a contabilização dos JCP diretamente à conta de lucros acumulados: I Os juros pagos ou creditados pelas companhias abertas, a título de remuneração do capital próprio, na forma do artigo 9º da Lei nº 9.249/95, devem ser contabilizados diretamente à conta de Lucros Acumulados, sem afetar o resultado do exercício. b) dos JCP como forma de remuneração do capital Conforme anteriormente mencionado, os JCP foram instituídos na legislação brasileira pela Lei 9.249/95. A partir desse momento, as empresas passaram a ter mais flexibilidade para remunerar seus sócios ou acionistas, com a possibilidade de antecipação do pagamento de dividendos, através do pagamento de JCP, autorizado pelo art. 9º dessa Lei. Tais juros possuem a mesma natureza jurídica da distribuição de dividendos, ambos representando formas de remuneração do capital ao acionista. Essa afirmação é confirmada pelo parágrafo 7º, do artigo 9º da Lei n.º 9.249/95, que admite sua imputação ao valor dos dividendos previstos no artigo 202 da Lei n.º 6.404/76. Já o art. 202 da Lei 6.404/76, faz referência aos dividendos obrigatórios, que a empresa tem a autonomia em definir quando distribuir, de modo a não comprometer sua situação financeira, não havendo qualquer vedação legal expressa que estabeleça um limite temporal para esta distribuição. “Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância determinada de acordo com as seguintes normas: (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001) I metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores: (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001) Fl. 545DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 545 72 a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e (Incluída pela Lei nº 10.303, de 2001) b) importância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão da mesma reserva formada em exercícios anteriores; (Incluída pela Lei nº 10.303, de 2001) II o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado ao montante do lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a diferença seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197); (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001) III os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido absorvidos por prejuízos em exercícios subseqüentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização. (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001) (…) § 4º O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em que os órgãos da administração informarem à assembléiageral ordinária ser ele incompatível com a situação financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá dar parecer sobre essa informação e, na companhia aberta, seus administradores encaminharão à Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização da assembléiageral, exposição justificativa da informação transmitida à assembléia. § 5º Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º serão registrados como reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios subseqüentes, deverão ser pagos como dividendo assim que o permitir a situação financeira da companhia.” A leitura desse artigo da Lei n. 6.404/76 revela claramente a preocupação do legislador de retirar parte da discricionariedade da companhia no pagamento de dividendos, garantindo o pagamento de um mínimo a todos os acionistas, o que protege os direitos dos acionistas minoritários, que teriam pouco poder na deliberação sobre o pagamento dos dividendos. Mas não o fez com relação aos juros em comento e, portanto, não cabe à autoridade fazendária inferir que deveria assim ocorrer. Aqui é importante ressaltar outro ponto relevante trazido à tona pelo d. Relator: a impossibilidade de pagamento de JCP retroativos em face da possibilidade de prejuízo aos acionistas ou quotistas “originários” do período dos Juros levantados. Nesse quesito, é importante mencionar que não há tal prejuízo, já que existe é fartamente reconhecida a possibilidade de distribuição posterior, aos titulares do momento de deliberação. A própria CVM, em seu Parecer 2004/0381, reconheceu a possibilidade de recebimento de dividendos retroativos. Se dividendos, que têm sua distribuição mínima obrigada por Lei, podem ser distribuídos dessa forma, os JCP também estariam no mínimo albergados pela mesma regra. A conclusão desse Parecer é clara a respeito de dividendos: Conclusão 17. Assim, pelas razões antes expostas, meu voto é no sentido de responder à consulta no sentido de manifestar o entendimento, aplicável apenas aos pagamentos de dividendo que vierem a ocorrer após a publicação da decisão que vier a acolher esta proposta, de que, em qualquer caso de declarações tardias, retificadoras ou complementares de dividendos (ou outros Fl. 546DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Processo nº 16327.720497/201102 Acórdão n.º 9101002.180 CSRFT1 Fl. 546 73 proventos) devidos por companhias abertas cujas ações sejam admitidas à negociação,o pagamento deve ser feito às pessoas titulares das ações na data da declaração tardia, retificadora ou complementar, ou em outra data posterior,tornada pública de maneira concomitante com a declaração. Não restam dúvidas, portanto, que os JCP representam remuneração de capital, não há obrigação legal de reconhecimento no período a que se refere e que a distribuição tardia dos mesmos não representa prejuízo aos quotistas e/ou acionistas do período base de cálculo dos Juros. E, de acordo com o art. 9º da Lei 9.249/95, o Período de Competência aplicável ao pagamento dos Juros é o da efetiva deliberação e não do período base de cálculo desses Juros. c) dos juros sobre a multa Nesse ponto, acompanho o d. Relator. A partir da edição da Lei 9430/96, compreendo que as multas de mora se enquadram no conceito de “débito decorrente de tributo” e, portanto, há incidência de juros sobre a multa de ofício, para fatos ocorridos a partir de 01 de janeiro de 1997. É como voto. (documento assinado digitalmente) Ronaldo Apelbaum Fl. 547DF CARF MF Impresso em 10/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/03/20 16 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJ O, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalmente em 10/03/2016 por RONALDO APELBAUM, Assinado digitalmente em 27/02/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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Numero do processo: 13708.000059/94-63
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jul 17 00:00:00 UTC 2012
Data da publicação: Wed Jan 06 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Exercício: 1989
Ementa:
IRPJ. RECURSO ESPECIAL DA PFN CONTRA DECISÃO NÃO UNÂNIME EM CONTRARIEDADE À LEI. GLOSA DE CUSTOS APROPRIADOS INDEVIDAMENTE. Não havendo motivo que leve à desclassificação da escrita, a opção do sujeito passivo pela apuração dos seus resultados pelo lucro real deve ser preservada. A mera glosa de custos por falta da apresentação de elementos probatórios da sua correta apropriação, por si só, não se constitui em motivo suficiente para que seja modificada a forma de apuração de lucro real para arbitrado, diante da subjetividade que envolve a mensuração da relevância dessa glosa de custos em relação à receita total declarada.
Recurso provido em parte.
Numero da decisão: 9101-001.396
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, recurso provido em parte com retorno à câmara a quo, para exame das glosas.
(Assinado digitalmente)
Otacílio Dantas Cartaxo Presidente
(Assinado digitalmente)
Paulo Roberto Cortez Redator Ad Hoc - Designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Otacílio Dantas Cartaxo (Presidente), Susy Gomes Hoffmann, Karem Jureidini Dias, Orlando José Gonçalves Bueno (suplente convocado), José Ricardo da Silva, Alberto Pinto Souza Júnior, Valmar Fonseca de Menezes, Jorge Celso Freire da Silva, Valmir Sandri e Francisco de Sales Ribeiro de Queiroz. Ausente, justificadamente, o Conselheiro João Carlos de Lima Júnior.
Nome do relator: José Ricardo da Silva
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ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Exercício: 1989 Ementa: IRPJ. RECURSO ESPECIAL DA PFN CONTRA DECISÃO NÃO UNÂNIME EM CONTRARIEDADE À LEI. GLOSA DE CUSTOS APROPRIADOS INDEVIDAMENTE. Não havendo motivo que leve à desclassificação da escrita, a opção do sujeito passivo pela apuração dos seus resultados pelo lucro real deve ser preservada. A mera glosa de custos por falta da apresentação de elementos probatórios da sua correta apropriação, por si só, não se constitui em motivo suficiente para que seja modificada a forma de apuração de lucro real para arbitrado, diante da subjetividade que envolve a mensuração da relevância dessa glosa de custos em relação à receita total declarada. Recurso provido em parte.
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RECURSO ESPECIAL DA PFN CONTRA DECISÃO NÃO UNÂNIME EM CONTRARIEDADE À LEI. GLOSA DE CUSTOS APROPRIADOS INDEVIDAMENTE. Não havendo motivo que leve à desclassificação da escrita, a opção do sujeito passivo pela apuração dos seus resultados pelo lucro real deve ser preservada. A mera glosa de custos por falta da apresentação de elementos probatórios da sua correta apropriação, por si só, não se constitui em motivo suficiente para que seja modificada a forma de apuração de lucro real para arbitrado, diante da subjetividade que envolve a mensuração da relevância dessa glosa de custos em relação à receita total declarada. Recurso provido em parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, recurso provido em parte com retorno à câmara a quo, para exame das glosas. (Assinado digitalmente) Otacílio Dantas Cartaxo – Presidente (Assinado digitalmente) Paulo Roberto Cortez – Redator Ad Hoc Designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Otacílio Dantas Cartaxo (Presidente), Susy Gomes Hoffmann, Karem Jureidini Dias, Orlando José Gonçalves AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 70 8. 00 00 59 /9 4- 63 Fl. 358DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO 2 Bueno (suplente convocado), José Ricardo da Silva, Alberto Pinto Souza Júnior, Valmar Fonseca de Menezes, Jorge Celso Freire da Silva, Valmir Sandri e Francisco de Sales Ribeiro de Queiroz. Ausente, justificadamente, o Conselheiro João Carlos de Lima Júnior. Relatório Tratase de Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional (fls. 94/103) contra decisão não unânime proferida no Acórdão nº 10322.973, na sessão de 30 de março de 2007 (fls. 80/90), pela extinta Terceira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por contrariedade às provas constantes nos autos e à lei (fls. 274), com espeque no art. 7º do então vigente Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF n° 147, Anexo II, de 25 de junho de 2007, o qual, no seu inciso I, dispõe que cabe recurso especial ao Procurador da Fazenda Nacional de decisão não unânime da Câmara quando "for contrária à lei ou à evidência de prova". A controvérsia posta em discussão está devidamente delineada no Recurso Especial, consoante excertos a seguir transcritos (fls. 271): (...). I — Da decisão recorrida A União (Fazenda Nacional) se insurge contra os capítulos do acórdão de fls. 256/266 dos presentes autos, que, por maioria de votos, deu provimento ao recurso voluntário, para cancelar as glosas de montante de custos declarados pelo contribuinte, em decisão que restou assim ementada: "IRPJ E CSLL. ARBITRAMENTO DO LUCRO. GLOSA DE PARTE SUBSTANCIAL DOS CUSTOS. DESCLASSIFICAÇÃO DA ESCRITA CONTÁBIL/FISCAL. Efetuada pela fiscalização a glosa de parte significativa dos custos auferidos pelo contribuinte vis a vis os valores declarados, incumbelhe desclassificar a escrita contábil/fiscal apresentada por ser esta evidentemente inservível para a apuração do lucro real. Nesses casos, deve a Autoridade arbitrar o lucro da pessoa jurídica, sob pena de fazer incidir os citados tributos sobre valores que sabidamente não caracterizam renda (lucro) do contribuinte. O arbitramento considera, por ficção legal, as despesas incorridos pelo contribuinte para a geração da receita. Em síntese, aduz a recorrente que: a) o julgado deve ser reformado, nos termos do art. 7º, I, do RICSRF, por contrariedade à lei e às provas constantes nos autos; b) a discussão em tela cingese em verificar se a autoridade fiscal agiu corretamente ao corrigir a base de cálculo do IRPJ e seus reflexos, efetuando a glosa dos custos deduzidos/declarados pela contribuinte, porquanto não lograra Fl. 359DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13708.000059/9463 Acórdão n.º 9101001.396 CSRFT1 Fl. 3 3 comprovar a condição de dedutibilidade dos custos de obras nos termos do art. 280 do RIR/80; c) entendeu a Câmara de julgamento a quo que “nas hipóteses de opção pelo regime de lucro real, tornase imperiosa a desclassificação pela Fiscalização da escrituração comercial e fiscal eventualmente apresentada pelo contribuinte sempre que (i) apenas parcela reduzida das movimentações realizadas no período estiver respaldada na documentação comercial e fiscal, ou ainda, (ii) quando forem glosados custos e despesas em montante significativo em relação à totalidade dos montantes deduzidos pelo contribuinte do lucro líquido”; d) esse não é o melhor entendimento, pois a decisão recorrida foi de encontro ao conjunto probatório constante nos autos, e também dos documentos apresentados, onde se constata a inexistência de dados que permitam atestar a veracidade dos custos apropriados, fato este que ficou claro na decisão da DRJ; e) o contribuinte teve diversas oportunidades de justificar suas deduções de custos das obras nos valores levados a efeito, contudo não o fez. Logo, nada justifica a desconsideração dos documentos presentes nos autos pela Câmara a quo, sob o argumento de que “a glosa dos custos se deu em montante significativo”; f) a glosa foi efetuada de acordo com os fatos e documentos que a fiscalização teve acesso por meio da própria contribuinte; g) o fundamento para manter a glosa procedida a título de custos indedutíveis baseouse no fato de a contribuinte não ter observado as regras do art. 280, do RIR/80, segundo o qual na apuração do resultado de contratos, com prazo de execução superior a um ano, de construção por empreitada ou de fornecimento, a preço determinado, de bens ou serviços a serem produzidos, serão computados em cada períodobase; h) houve, também, a inobservância das regras estipuladas pela IN 21/79, que versa sobre a escrituração dos referidos custos e sobre o registro individuado dos mesmos, dos quais a contribuinte foi cientificada antes da autuação, conforme Termo de Intimação lavrado em 11/12/1993 e reiterados no Termo de Intimação lavrado em 17/12/1993; i) a contribuinte pretendeu deduzir custos indevidos e, por não ter outra saída, passara a atacar o lançamento por suposto descumprimento aos princípios norteadores da determinação do lucro real, defendendo, portanto, que a glosa da totalidade dos custos implicaria na tributação da totalidade da receita como se lucro fosse; j) a decisão de primeira instância, analisando os documentos acostados aos autos, deixou claro que a contribuinte, mesmo tendo sido, por diversas vezes, intimada a prestar esclarecimentos sobre a dedutibilidade dos custos declarados, não logrou fazêlo; k) o conselheiro relator original percebera esses fatos, deixandoos consignados no seu voto ; Fl. 360DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO 4 l) é confuso que uma empresa ao realizar a sua atividade econômica sujeitese a efetivação de custos em montante tão alto quanto a receita recebida, porém foram essas as conclusões retiradas das informações e documentos apresentados pelo próprio contribuinte, os quais não incontestáveis; m) ao escolher a tributação por meio do lucro real, a contribuinte se sujeitou às disposições que aqui se pretende aplicar. Assim, teria a mesma a faculdade de se utilizar de lucro presumido de tributação, não tendo sido essa sua opção, devendo, portanto, arcar com as conseqüências do seu ato; n) o relator do voto vencido salientou, corretamente, que “não é crível que o desenvolvimento de atividade econômica formal confira ao contribuinte ‘renda’ (lucro) em montantes superiores a 50% ou 60% das receitas omitidas. Fosse verdadeira tal assertiva, e ressalvada as restritivas hipóteses de vedação legal (inocorrentes no caso), o contribuinte certamente apuraria seu lucro por meio do regime do lucro presumido”; o) o arbitramento do lucro seria incabível ao caso em tela, posto que as disposições legais o relegam a hipóteses taxativas, nas quais não se incluem o caso dos autos; p) ao final pede o provimento ao recurso, para restabelecer a decisão de primeira instância. Ao proceder o exame de admissibilidade do Recurso Especial (fls. 105, v. 3), a Presidenta da 3ª Câmara do antigo Primeiro Conselho de Contribuintes entendeu que, por se tratar de decisão não unânime, o recurso preenchera as condições de admissibilidade, ordenando, por conseguinte, o encaminhamento dos autos à Delegacia da Receita Federal do Brasil de Administração Tributária do Rio de Janeiro, para que fosse possibilitada a apresentação de contrarrazões por parte da contribuinte. Cientificada, a contribuinte contra arrazoou o Recurso Especial (fls. 107, v. 3), sob os seguintes argumentos (fls. 108/129, v. 3): a) em preliminar, argumenta que só é cabível a interposição, pelo Procurador da Fazenda Nacional, de Recurso Especial com fulcro no art. 7º, inciso I, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, quando a decisão recorrida for contrária à lei ou à evidência das provas constantes dos autos; b) que o Procurador da Fazenda Nacional justificou a interposição de seu apelo especial na suposta contrariedade do acórdão recorrido com as provas constantes nos autos, contudo, não o demonstrou de forma fundamentada; c) que os membros da 3ª Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes deram provimento ao seu Recurso Voluntário sob fundamento jurídico diverso, que prescinde da análise de qualquer elemento probatório, mas apenas da legislação aplicável à espécie; d) isto porque o fiscal autuante glosara custos relativos às obras identificas contabilmente como 034/Engevix; 035/Michelin; 036/Constran; 037/Norberto Odebrecht/Varig e 038/Norberto Odebrecht/Infraero (item 2 do AI), sob a alegação de que a recorrida não teria logrado provar a condição de dedutibilidade dos custos, descrita no art. 280, do RIR/80, c/c as regras previstas na IN SRF 21/79; e) que, em seu recurso voluntário, argüiu e demonstrou que os lançamentos fiscais não poderiam prevalecer, já que, realizada a glosa da totalidade dos custos, Fl. 361DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13708.000059/9463 Acórdão n.º 9101001.396 CSRFT1 Fl. 4 5 deveria a Autoridade Fiscal, em observância aos Princípios Gerais de Determinação do Lucro, em especial o Princípio do Confronto de Receitas com Despesas, arbitrar os custos para a apuração do lucro, sob pena de violação ao conceito de renda, previsto no art. 43, do CTN, eis que a não computação dos custos na apuração da base de cálculo do imposto de renda acarreta a tributação de patrimônio ao invés de renda e que todos os contratos firmados pela Contribuinte para a execução de obras no anobase de 1988 teriam sido de curto e não de longo prazo, sendo inaplicável, portanto, o art. 280, do RIR/80, além da IN SRF 21/79, capitulados pelo Fiscal autuante; f) que a reforma da decisão de primeira instância pelo Conselho de Contribuintes se dera sob o fundamento de que a Autoridade Administrativa deveria ter desclassificado a escrita contábil da fiscalizada, procedendo, em seguida, à apuração do IRPJ e da CSLL pelo regime do lucro arbitrado, uma vez que fora glosada parte significativa dos custos auferidos, pois somente assim seriam considerados os custos incorridos para a geração da receita, evitandose a tributação, pelo imposto de renda e reflexos, de seu patrimônio, ao invés da renda (lucro); g) que, assim, os membros da 3ª Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes decidiram não com base nas provas carreadas aos autos, mas sim porque entenderam que, tendo sido glosados os custos incorridos pela Contribuinte, deveria a Autoridade Fiscal ter procedido à apuração do IRPJ e CSLL pelo regime do lucro arbitrado, que considera, por ficção legal, os custos incorridos pelo contribuinte para geração da receita”; h) que os julgadores não precisaram analisar os documentos mencionados e anexados aos autos para concluir que as aludidas obras foram executadas em prazo inferior a 1 ano, no ano de 1988, o que, à luz do que dispõe o art. 281, do RIR/80, possibilitaria a dedução plena de todos os custos das obras contratadas quando realizados, independentemente de controles específicos de porcentagem pelo prazo de conclusão; i) que, desta forma, como o acórdão recorrido não se baseou nas provas, incabível se falar em acórdão contrário às provas dos autos; j) que, quando o acórdão proveu o Recurso Voluntário do contribuinte sob o entendimento de que a autoridade administrativa não poderia glosar a totalidade de custos e despesas sem arbitrar o lucro, deixou claro que a análise das provas constantes dos autos eram irrelevantes. Assim, não mais se discute a questão de se saber se os contratos eram de curto ou longo prazo, para fins de dedução dos custos das obras executadas; k) que fica claro, assim, que a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial com intuito protelatório, eis que não preencheu os requisitos pertinentes ao seu cabimento, alegando inadvertidamente que a Câmara a quo teria desconsiderado a documentação acostada aos autos, quando, em verdade, a análise de tal documentação se tornou desnecessária em razão do fundamento em que se assentou o acórdão ora recorrido; l) que, desta forma, entende que o Recurso Especial não deve ser conhecido, já que a Fazenda Nacional deixou de demonstrar a suposta contrariedade do acórdão recorrido com as provas carreadas aos autos; Fl. 362DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO 6 m) que, no mérito, informa que a glosa da totalidade dos custos registrados, relativos às obras, é, no presente caso, totalmente ilegal, na medida em que, para prestar os seus serviços, incorrera em custos relativos ao pagamento de mãode obra, materiais aplicados nas obras etc., não se podendo permitir à autoridade fiscal glosar a totalidade dos custos efetivamente incorridos durante todo o ano de 1998, registrados na rubrica relativa às obras; n) que, como salientado no acórdão recorrido, realizada a glosa de todos os custos incorridos, deve a autoridade fiscal, em observância aos princípios gerais de determinação do lucro, em especial ao princípio do confronto de receitas com despesas, arbitrar os custos para a apuração do lucro, sob pena de violação ao conceito de renda, previsto no art. 43, do CTN, eis que a não computação dos custos na apuração da base de cálculo do imposto de renda acarreta a tributação de patrimônio ao invés de renda; o) que o princípio geral de determinação do lucro, adotados no processo de identificação, mediação e relação de receitas e despesas de uma empresa para um período contábil, dentre os quais se destaca o princípio do confronto das receitas com as despesas, determina que quando for reconhecida a receita, deve, também, ser reconhecido o custo ou a despesa que lhe corresponda; p) que, assim, não pode a autoridade fiscal reconhecer as receitas decorrentes da execução das obras e, ao mesmo tempo, glosar todos os seus custos registrados no ano de 1988, para fins de lançamento do imposto de renda do período, eis que tal procedimento causa violação ao conceito de renda, na medida em que a não computação dos custos na apuração da base de cálculo do imposto de renda acarreta a tributação do patrimônio ao invés de renda, conforme art. 43, do CTN, que se mantém em harmonia com o art. 153, III, da CF; q) que a existência de renda pressupõe a existência de acréscimos patrimoniais, entendido como produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos. Contudo, só se pode ter acréscimo patrimonial se houver a dedução dos custos sofridos pela pessoa jurídica quando da realização de seu objeto social; r) que a vedação à dedução dos custos, como fez a fiscalização tributária, impede que a disponibilidade econômica a qual se refere o CTN se dê de forma concreta e real, já que o valor considerado como “renda” não corresponde ao verdadeiro acréscimo patrimonial auferido pela empresa; s) que os custos ocasionam uma necessária e evidente redução do patrimônio na pessoa jurídica que, sendo impossibilitada a deduzilo integralmente, terá uma tributação sobre o “lucro”, que não representa o efetivo acréscimo patrimonial; t) cita os acórdãos 10704219 e 10705987, onde o entendimento fixado foi o que ora se defende; u) que o que não se pode admitir é a glosa da totalidade dos custos relativos às obras, sem o arbitramento do lucro, pois assim estarseia admitindo – ilegalmente – a tributação do imposto de renda sobre receita bruta e não sobre renda, como determina o art. 43, do CTN; v) que a necessidade de arbitramento do lucro no presente caso nada diz respeito à opção do regime de tributação pelo lucro real; w) que o arbitramento se mostra necessário para que sejam computados, ainda que por presunção legal, os custos incorridos para a execução das obras, evitandose que seja tributada indevidamente a receita bruta, mas a renda/lucro, com a Fl. 363DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13708.000059/9463 Acórdão n.º 9101001.396 CSRFT1 Fl. 5 7 dedução dos inegáveis custos, nos termos do art. 43, do CTN, c/c/ o art. 153, III, da CF; x) que, ainda que se admitisse que os contratos celebrados eram de longo prazo, os custos não poderiam ser totalmente glosados, como fez a fiscalização; y) que, neste caso, deveria ser observando os princípios gerais de determinação do lucro e o princípio do confronto de receitas com despesas, arbitrar os custos para a apuração do lucro, sob pena de violação ao conceito de renda, previsto no art. 43 do CTN; z) que em momento algum celebrou contratos de longo prazo com as empresas mencionadas, motivo pelo qual não estava obrigada à observância das regras do aludido dispositivo legal; aa) que todos os contratos firmados para a execução de obras no anobase de 1988 foram de curto prazo, o que, à luz do disposto no art. 281, do RIR/80, torna os custos das obras contratadas plenamente dedutíveis quando realizados independentemente de controles específicos de porcentagem pelo prazo de conclusão; bb) que os contratos celebrados, relativos a serviços de engenharia elétrica, são executados, via de regra, em curto intervalo de tempo, e que são, em sua maioria, pagos através de medição; cc) que o prazo de execução das obras, em geral, é de 150 a 200 dias, não se caracterizando em contratos de longo prazo; dd) que, na época, possuía profunda especialização na atividade de engenharia elétrica; ee) que esses serviços de engenharia elétrica, mesmo em grandes obras, são realizados em curto espaço de tempo, demorando menos de 12 meses para se findarem; ff) que os contratos com a Engevix, Michelin, Constran e Odebrecht, juntados aos autos, comprovam as assertivas, seja no objeto, seja no prazo, bastando compulsálos, com minudência, para constatar; gg) que, como o fiscal autuante, à época, não se ateve à detida análise dos contratos das obras que respaldaram os custos incorridos e registrados na contabilidade, cometerase o equívoco de entender que as obras com as empresas Engevix, Michelin, Constran e Odebrecht seriam únicas, uma vez que no plano de contas se adotara apenas um número para obras diversas com o mesmo contratante, e estes números identificadores apareceram na escrita contábil por vários anos; hh) que contratara diversas obras distintas com as mesmas empresas, embora todas com similares características, como o prazo de execução de menos de 12 meses e recebimento à medida que concluída cada etapa; ii) que a comprovação de que os custos glosados pela fiscalização se referiam às obras objeto de contratos de curto prazo, reportase aos termos e transcrições constantes de sua peça impugnatória e Recurso Voluntário, e destaca que juntou aos autos documentos (docs. de 8 a 399, dos volumes I e II), dentre os quais constam contratos relativos às obras identificadas contabilmente como 034/Engevix; 035/Michelin; 036/Constran; 037/Norberto Odebrecht/Varig e 038/Norberto Odebrecht/Infraero, bem como atestados emitidos pelos clientes e Fl. 364DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO 8 Ordens de Serviços e Notas Fiscais, que demonstram a execução dos serviços no ano de 1988; jj) que, quanto ao prazo de execução dos contratos, ressalta que, em relação aos quatro clientes contratantes das obras, constam documentos que comprovam, claramente, o prazo inferior a um ano, como, por exemplo, o Cronograma Físico Financeiro da Obra (Michelin), Programa de Desembolso (pagamento) do Cliente (Odebrecht), Certidões de Acervo Técnico (Odebrecht), Notas Fiscais Relativas às medições de serviços mensais (Constran) e o próprio contrato (Engevix); kk) que entende que o acórdão recorrido deve ser mantido, uma vez que os contratos executados são de curto e não de longo prazo, o que impossibilita a aplicação do art. 280, do RIR/80 e a IN SRF 21/79, capitulados pelo fiscal autuante. É o relatório. Voto Conselheiro Paulo Roberto Cortez, Redator Ad Hoc Designado. Inicialmente é de se ressaltar, que em face da necessidade da formalização da decisão proferida no acórdão nº 9101001.396, de 17 de julho de 2012, processo de competência da 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais e, tendo em vista que o Conselheiro José Ricardo da Silva, relator do processo, não mais faz parte de nenhum dos colegiados que integram o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o Presidente da 1ª Turma da CSRF resolveu designar este conselheiro como redator ad hoc, para formalizar o acórdão já proferido, nos termos do item III do art. 17 do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 256, de 22 de junho de 2009 (RICARF). O recurso especial da Procuradoria da Fazenda Nacional é tempestivo e assente em lei, obtendo seguimento através do Despacho nº 1030.0017/2009 (fls. 281/282), em face de a sua fundamentação ter sido por decisão não unânime proferida em contrariedade à lei ou às provas constantes dos autos, prevista no inciso I do art. 7º do então vigente Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF n° 147, Anexo II, de 25 de junho de 2007. A autuação em causa decorreu da inobservância das condições ditadas pelo art. 280 do RIR/80 para efeito da dedutibilidade dos custos da fiscalizada, restandonos definir se ao caso deveria ter sido aplicado, pela autoridade de fiscalização, o lucro arbitrado, conforme entendimento exarado no voto condutor da decisão recorrida, ou se estaria correta a glosa dos custos e a consequente tributação pelo lucro real, de acordo com o lançamento fiscal que fora mantido pelo órgão julgador de primeira instância administrativa, cujo entendimento é agora reivindicado pela Procuradoria da Fazenda Nacional para restabelecer o lançamento de ofício, sendo essa a única matéria que remanesce à apreciação deste Colegiado. Extraise da Peça Básica, como DESCRIÇÃO DOS FATOS E ENQUADRAMENTO LEGAL IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA (fls. 07. vol. 1), que a acusação tipificada pela autoridade de fiscalização foi assim descrita: CUSTOS INDEDUTÍVEIS – Glosa dos custos relativos às obras enumeradas no Termo de Intimação datado de 111293 (doc. de fls. 04/09) tendo em vista que a empresa não logrou provar a Fl. 365DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13708.000059/9463 Acórdão n.º 9101001.396 CSRFT1 Fl. 6 9 condição de dedutibilidade descrita no Art. 280 do RIR/80 c/c as regras prescritas na IN/SRF nº 21/79. (destaques acrescidos) Enquadramento legal: Art. 191 e § 1º, art. 280 do RIR/80 c/c IN/SRF nº 21/79 e 387 inciso I. Da leitura desses fundamentos ensejadores da autuação, percebese que o lançamento de ofício foi realizado em face da inobservância das regras contidas no art. 280 do RIR/80, disciplinadas pela IN/SRF 21/79, que seriam aplicáveis ao caso. Compulsandose os autos verificase que na DIPJ foram declaradas receitas da atividade da empresa no montante de CZ$776.010.896,00 e o montante de CZ$759.797.104,00 a título de custos de bens ou serviços vendidos, representando 97,91% da receita declarada. Verificase, ainda, na Peça Básica, às fls. 07, que a glosa dos custos levada a efeito pela fiscalização montou em CZ$377.848.731,16, ou seja, 49,73% do custo total declarado, reduzindo esse custo total para CR$381.948.372,84 (49,22% da receita total). Extraise, ainda, dos autos, conforme Intimação de fls. 20 a 25, datada de 11/12/1993, reiterada no dia 17 de dezembro seguinte, que a empresa não logrou apresentar os elementos necessários à apropriação dos custos relativos a contratos celebrados com prazo de execução superior a um ano, de construção por empreitada ou de fornecimento de bens ou serviços a serem produzidos, nos termos do art. 280 do RIR/80 c/c com a IN/SRF Nº 021/79, tendo a íntegra desses dispositivos sido transcrita no corpo da referida Intimação, para que dúvida não restasse acerca da exigência. Não tendo sido satisfeitos seus insistentes pedidos para a apresentação dos mencionados documentos comprobatórios, não restou outra alternativa à autoridade fiscal senão a de considerar infringidas as normas legais que regulam a utilização dos questionados custos, procedendo a sua glosa. Com a devida vênia, não vejo nesse procedimento fiscal excesso no lançamento do tributo que deixara de ser apurado na DIPJ apresentada, sendo legítima a imposição dos gravames pelo descumprimento das regras que devem ser observadas pelas pessoas jurídicas que desenvolvem atividades enquadráveis nos mencionados dispositivos disciplinadores da apuração do lucro real. Tampouco entendo que a opção exercida pela fiscalizada para a apuração dos seus resultados em bases reais devesse ser desconsiderada pela autoridade fiscal, sem que a escrita que lhe foi apresentada no curso da ação fiscal contivesse vícios, lacunas ou quaisquer outras deficiências que de acordo com a legislação o obrigasse a desclassificála, considerando a imprestável para a aferição dos reais resultados, apurados mediante os questionados ajustes que, de ofício, foram realizados. Aqui também não se está tratando de glosa excessiva de custos em relação às receitas totais declaradas na DIPJ, conforme se pode observar dos valores acima referidos, cujo percentual de glosa reduziu os custos totais de 97,91% para 49,22% da receita total. Ademais, essa mensuração do que seria ou não excesso de glosa em relação às receitas declaradas é por demais subjetiva, sendo de bom alvitre que extremos devam ser considerados como motivo de arbitramento, entretanto não é essa a situação de que trata o lançamento de ofício sob questão. Fl. 366DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO 10 Cumpre observar, para concluir, que o fundamento utilizado no acórdão recorrido para exonerar o lançamento foi unicamente o da mencionada glosa excessiva, advindo daí a discordância da Procuradoria da Fazenda Nacional quanto à contrariedade à lei, não se adentrando na análise de provas sobre se os contratos seriam realmente de longo prazo, como bem salienta a contribuinte nas suas contrarazões, das quais extraio os excertos a seguir, constantes do Relatório: Cientificada, a contribuinte contra arrazoou o Recurso Especial (fls. 107, v. 3), sob os seguintes argumentos (fls. 108/129, v. 3): (...); j) que, quando o acórdão proveu o Recurso Voluntário do contribuinte sob o entendimento de que a autoridade administrativa não poderia glosar a totalidade de custos e despesas sem arbitrar o lucro, deixou claro que a análise das provas constantes dos autos eram irrelevantes. Assim, não mais se discute a questão de se saber se os contratos eram de curto ou longo prazo, para fins de dedução dos custos das obras executadas; (...). Sendo assim, entendo que assiste razão à recorrente, pelo que voto no sentido de dar provimento parcial ao seu recurso especial, com retorno à câmara a quo, para exame das glosas. É como voto. (Assinado digitalmente) Paulo Roberto Cortez Fl. 367DF CARF MF Impresso em 06/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/10/2014 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por PAULO ROBERTO CORTEZ, Assinado digitalmente em 09/10/2014 por OTACILIO DANTAS CARTAXO
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Numero do processo: 19515.001329/2010-04
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Feb 02 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Sat Feb 20 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2006
Ementa:
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic.
Recurso Especial do Contribuinte Negado.
Numero da decisão: 9101-002.209
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, em relação à matéria da trava de 30%, por voto de qualidade, negar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Maria Teresa Martinez Lopez; em relação à matéria dos juros sobre a multa de ofício, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, vencida a Conselheira Cristiane Silva Costa.
(assinado digitalmente)
CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO - Presidente
(assinado digitalmente)
ADRIANA GOMES RÊGO Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rego, Luís Flávio Neto, Andre Mendes De Moura, Livia De Carli Germano (Suplente Convocada), Rafael Vidal De Araújo, Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado), Maria Teresa Martinez Lopez e Carlos Alberto Freitas Barreto.
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COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS. LIMITE DOS 30% DO LUCRO REAL. Inexiste previsão legal para se proceder à compensação de prejuízos (trava), além do percentual de 30% do lucro real, ainda que a pessoa jurídica esteja no encerramento das suas atividades. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2006 Ementa: ENCERRAMENTO DE ATIVIDADES. COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS. LIMITE DOS 30% DO RESULTADO AJUSTADO. Inexiste previsão legal para se proceder à compensação de prejuízos (trava), além do percentual de 30% do resultado do período de apuração ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação da CSLL, ainda que a pessoa jurídica esteja no encerramento das suas atividades. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2006 Ementa: JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic. Recurso Especial do Contribuinte Negado. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 13 29 /2 01 0- 04 Fl. 696DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 696 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, em relação à matéria da trava de 30%, por voto de qualidade, negar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Maria Teresa Martinez Lopez; em relação à matéria dos juros sobre a multa de ofício, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, vencida a Conselheira Cristiane Silva Costa. (assinado digitalmente) CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Presidente (assinado digitalmente) ADRIANA GOMES RÊGO – Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rego, Luís Flávio Neto, Andre Mendes De Moura, Livia De Carli Germano (Suplente Convocada), Rafael Vidal De Araújo, Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado), Maria Teresa Martinez Lopez e Carlos Alberto Freitas Barreto. Relatório COMPANHIA BRASILIANA DE ENERGIA recorre a este Colegiado, por meio do Recurso Especial de efls 520 e ss., contra o acórdão nº 110100.691, de 16 de março de 2012 (efls 454 e ss.), que, no mérito e por voto de qualidade, negou provimento ao recurso voluntário. A ora recorrente opôs embargos de declaração em face do acórdão em tela, os quais foram acolhidos (acórdão nº 1101001.256, efls. 500 a 509), para retificar a ementa do acórdão embargado e sanar as omissões apontadas, conforme ementa parcialmente transcrita a seguir: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2006 (...) COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS E BASES NEGATIVAS. DECLARAÇÃO FINAL. LIMITAÇÃO DE 30%. Não há previsão legal que permita a compensação de prejuízos fiscais e bases negativas acima do limite estabelecido, ainda que seja no encerramento das atividades da empresa. A Medida Provisória nº 998, de 1995, convertida na Lei nº 9.065, de 1995, apenas permite a compensação até o limite de 30% do lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação, e sua Exposição de Motivos somente assegura a compensação integral dos prejuízos e bases negativas acumulados se estes valores forem inferiores a 30% do resultado do período. A renda da pessoa jurídica corresponde à diferença entre a universalidade patrimonial no início do período de apuração e a universalidade patrimonial no final do mesmo, descontadas as transferências patrimoniais, e não contempla Fl. 697DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 697 3 prejuízos e bases negativas apurados em períodos anteriores. Interpretação restritiva de norma que exclui crédito tributário. (...) JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa SELIC. Aponta a Recorrente divergência jurisprudencial em relação aos acórdãos nº 1103001.057 (na matéria do limite de 30% para compensação de prejuízos/bases negativas no momento da extinção da pessoa jurídica) e nº CSRF/0203.133 (na matéria dos juros sobre a multa de ofício), cujas ementas estão, respectivamente, assim redigidas na parte de interesse: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2008 PESSOA JURÍDICA EXTINTA POR INCORPORAÇÃO. COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS SEM A TRAVA DE 30%. A pessoa jurídica incorporada pode compensar no balanço de encerramento de atividades o prejuízo fiscal acumulado sem observância da "trava" de 30%. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/03/1999 a 31/12/2003 (...) ATUALIZAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO. INAPLICABILIDADE. FATOS GERADORES A PARTIR DE 1°/01/97. Os juros de mora só incidem sobre o valor do tributo, não alcançando o valor da multa de oficio aplicada. No mérito, em relação à matéria do limite de 30% para compensação de prejuízos/bases negativas no momento da extinção da pessoa jurídica, a Recorrente argumenta que "as regras de aproveitamento de prejuízos fiscais acumulados pela pessoa jurídica surgiram para resolver uma questão orçamentária ou de fluxo de caixa do Poder Público", sendo "certo que o legislador nunca quis cercear o direito do contribuinte compensar os prejuízos acumulados" e que tal premissa consta da própria exposição de motivos da Lei nº 9.065, de 1995. Aduz que, caso a trava de 30% seja aplicada nos casos em que há o encerramento de atividades da pessoa jurídica, como é o caso da incorporação, não haverá meios de os saldos negativos serem utilizados nos anos subsequentes, o que, além de usurpar o direito de compensação, resulta na tributação de valores de prejuízo. Menciona o princípio da continuidade da pessoa jurídica e afirma que também no âmbito da legislação comercial, os prejuízos de exercícios anteriores representam condição necessária para aferição da efetiva situação da pessoa jurídica e que, se não levados em consideração, não haverá a real dimensão do acréscimo patrimonial. E conclui que "o prejuízo fiscal e a base negativa da CSL são pressupostos para a apuração da materialidade da tributação sobre a renda e, no caso de comprovada impossibilidade de utilização futura desses prejuízos, a trava não deve ser aplicada". Ao colacionar precedentes em suporte de seus argumentos, assinala que a hipótese em discussão não corresponde à analisada pelo Supremo Tribunal Federal nos RE nºs Fl. 698DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 698 4 545.308/SP e 344.994/PR, asseverando que nesses julgados apenas se decidiu "pela constitucionalidade da denominada 'trava de 30%' em um contexto de continuidade jurídica", não se tendo decidido que a trava deve ser aplicada nos casos de extinção da pessoa jurídica detentora dos prejuízos. E aduz que a exclusão de prejuízos faz parte do próprio cálculo do acréscimo patrimonial, razão pela qual o aproveitamento de prejuízos fiscais não pode ser entendido como uma isenção ou benefício concedido pelo legislador, não sendo aplicável o art. 111 do CTN. Finaliza afirmando que o posicionamento adotado pelo CARF no acórdão nº 910100.401 não representa um posicionamento novo mas um caso isolado, decidido por voto de qualidade, que "não anula e nem mesmo rebate as convicções firmadas nos últimos 10 anos de jurisprudência do Conselho de Contribuintes", afirmando, também, que a tese que defende é majoritária no âmbito do CARF. Já no que toca à matéria dos juros sobre a multa de ofício, a Recorrente aduz que a Lei nº 9.250, de 1995, que instituiu a taxa Selic como parâmetro para a correção de débitos tributários somente é aplicável ao valor dos tributos e contribuições propriamente ditos mas não sobre a multa de ofício, que é penalidade. Traz precedentes do Conselho de Contribuintes e da Câmara Superior de Recursos Fiscais. Anotese, que a Recorrente alega também em sua peça recursal (no item "B" do item IV "A multa de Ofício") "excesso na exigência de multas de ofício de 75% sobre os pretensos débitos de IRPJ e CSLL em questão, os quais devem ser reduzidos a percentuais razoáveis", mas, acerca deste ponto, não é apontada qualquer divergência jurisprudencial. Pede, então, que o presente recurso seja conhecido e provido, sendo cancelada na sua totalidade a exigência objeto do auto de infração, e, caso não integralmente provido, requer "seja afastada ou reduzida a multa aplicada ou, subsidiariamente, afastada a aplicação da taxa SELIC sobre a multa". O recurso foi admitido por meio do Despacho de efls. 658 e ss., tendo a Fazenda Nacional apresentado contrarrazões (efls. 662 e ss.). Aduz a Fazenda, em essência, que o Supremo Tribunal Federal (RE 344.994/PR), ao julgar a constitucionalidade da limitação de 30% para compensação dos prejuízos fiscais, declarou a constitucionalidade do art. 58 da Lei n.º 8.981/95, sacramentando o "posicionamento segundo o qual a compensação de prejuízos fiscais de exercícios anteriores constitui autêntico benefício fiscal, que pode ser revisto a qualquer tempo pelo ente público competente para a instituição do tributo, portanto, vinculado ao princípio da legalidade". E que, sob essa perspectiva, incumbe exclusivamente ao ente público competente pela instituição do tributo delinear os contornos legais do benefício fiscal a ser concedido, devendo tanto o contribuinte, como a autoridade autuante e o julgador, se ater aos ditames previstos na lei, trazendo jurisprudência do Superior Tribunal de justiça STJ nesse sentido. Assevera, também, que "viola os princípios basilares da hermenêutica jurídica tributária concluir que, em se tratando de benefício fiscal, eventual silêncio do legislador significaria a permissão para estender às situações não abrangidas pela lei de regência", acrescentando que "sequer é possível defender que o legislador foi silente, pois a limitação consta das Leis n° 8.981/95 e 9.065/95 e deve ser aplicada em qualquer hipótese, sem exceção", aduzindo que "se o legislador pretender excepcionar alguma situação específica, deverá fazêlo de forma expressa, como foi o caso dos lucros auferidos pelas Fl. 699DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 699 5 empresas inseridas no regime Befiex". E acrescenta que o STJ se posicionou pela impossibilidade de empresa incorporadora aproveitar os prejuízos fiscais de anos anteriores de empresa incorporada, justamente considerando a natureza jurídica de benefício fiscal da compensação. Conclui, então, que o acolhimento da pretensão da Contribuinte implicaria (1) permitir que a incorporada compense integralmente os prejuízos fiscais de anos anteriores, sem qualquer respaldo legal, o que significa criar benefício fiscal por mera exegese, usurpando se a competência do ente federativo responsável pela instituição do tributo; e (2) demandaria ao CARF agir como legislador positivo. É o relatório. Voto Conselheira Adriana Gomes Rêgo, Relatora O recurso é tempestivo e, à exceção da matéria do "B" do item IV da peça recursal ("A multa de Ofício"), atende aos demais requisitos de admissibilidade. Com efeito, no tópico em tela, a Recorrente alega "excesso na exigência de multas de ofício de 75% sobre os pretensos débitos de IRPJ e CSLL em questão, os quais devem ser reduzidos a percentuais razoáveis", mas, como consignado no relatório e como apontado no despacho de admissibilidade de efls. 658 e ss., não é demonstrada qualquer divergência jurisprudencial. Por essa razão, nos moldes do despacho de admissibilidade, não conheço do recurso com relação a essa matéria. Limite de 30% na extinção da pessoa jurídica O presente processo tem por objeto lançamento de IRPJ e CSLL decorrente de compensação de prejuízo fiscal e base de cálculo negativa de CSLL sem observância do limite de 30% do lucro líquido/resultado ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação, tendo a autuada justificado a inobservância do limite em razão de ter sido incorporada à outra pessoa jurídica, e, assim, extinta. Cingese aqui a controvérsia à aplicação ou não do limite de 30% para compensação de prejuízos/bases de cálculo negativas de CSLL no momento da extinção da pessoa jurídica. Em que pese os argumentos trazidos pela Recorrente e a controvérsia que possa ter havido no âmbito do CARF sobre a matéria, entendo não haver exceção para os casos de extinção da pessoa jurídica quanto ao limite imposto pelo permissivo legal de compensação de prejuízos contido nos arts. 15 e 16 da Lei nº 9.065, de 1995, os quais cumpre transcrever: Art. 15. O prejuízo fiscal apurado a partir do encerramento do anocalendário de 1995, poderá ser compensado, cumulativamente com os prejuízos fiscais apurados até 31 de dezembro de 1994, com o lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação do imposto de renda, observado o limite máximo, para a compensação, de trinta por cento do referido lucro líquido ajustado. Produção de efeito (Vide Lei nº 12.973, de 2014) Fl. 700DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 700 6 Parágrafo único. O disposto neste artigo somente se aplica às pessoas jurídicas que mantiverem os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios do montante do prejuízo fiscal utilizado para a compensação. Art. 16. A base de cálculo da contribuição social sobre o lucro, quando negativa, apurada a partir do encerramento do anocalendário de 1995, poderá ser compensada, cumulativamente com a base de cálculo negativa apurada até 31 de dezembro de 1994, com o resultado do período de apuração ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação da referida contribuição social, determinado em anoscalendário subseqüentes, observado o limite máximo de redução de trinta por cento, previsto no art. 58 da Lei nº 8.981, de 1995. Produção de efeito Parágrafo único. O disposto neste artigo somente se aplica às pessoas jurídicas que mantiverem os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios da base de cálculo negativa utilizada para a compensação. Assim, com respeito à argumentação da Recorrente no sentido de que "o prejuízo fiscal e a base negativa da CSL são pressupostos para a apuração da materialidade da tributação sobre a renda e, no caso de comprovada impossibilidade de utilização futura desses prejuízos, a trava não deve ser aplicada", temse que não compete a este Colegiado juízo quanto à ofensa ou não pelos dispositivos legais retrotranscritos à materialidade do Imposto sobre a Renda, uma vez que é vedado a este tribunal afastar lei vigente. Contudo, apenas para título de argumentação, vale assinalar que se a trava de 30% estivesse afastando o conceito de renda, ela não o estaria fazendo apenas para a situação de extinção da pessoa jurídica, já que no que diz respeito ao fato gerador do IRPJ/CSLL, que tem delimitação temporal, ela está limitando a compensação dos prejuízos no período, independe de qualquer evento societário. Na esteira desse raciocínio, convém trazer à colação voto do Min. Garcia Vieira do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial nº 188.855GO, segundo o qual: "Há que compreenderse que o art. 42 da Lei 8.981/1995 e o art. 15 da Lei 9.065/1995 não efetuaram qualquer alteração no fato gerador ou na base de cálculo do imposto de renda. O fato gerador, no seu aspecto temporal, como se explicará adiante, abrange o período mensal. Forçoso concluir que a base de cálculo é a renda (lucro) obtida neste período. Assim, a cada período corresponde um fato gerador e uma base de cálculo próprios e independentes. Se houve renda (lucro), tributase. Se não, nada se opera no plano da obrigação tributária. Daí que a empresa tendo prejuízo não vem a possuir qualquer “credito” contra a Fazenda Nacional. Os prejuízos remanescentes de outros períodos, que dizem respeito a outros fatos geradores e respectivas bases de cálculo, não são elementos inerentes da base de cálculo do imposto de renda do período em apuração, constituindo, ao contrário, benesse tributária visando minorar a má atuação da empresa nos anos anteriores." E é na linha da “benesse tributária” que o Supremo Tribunal Federal tem tratado a compensação de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL, como se depreende dos RE 344.994/PR e 545.308/SP, e demais julgados posteriores daquela Corte. Por oportuno, transcrevese: EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO. BASE DE CÁLCULO: LIMITAÇÕES À DEDUÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS. ARTIGO 58 DA LEI 8.981/1995: CONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 5º, INC. II Fl. 701DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 701 7 E XXXVI, 37, 148, 150, INC. III, ALÍNEA "B", 153, INC. III, E 195, INC. I E § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTE: RECURSO EXTRAORDINÁRIO 344.944. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO PROVIDO. 1. Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal firmado no julgamento do Recurso Extraordinário 344.944, Relator o Ministro Eros Grau, no qual se declarou a constitucionalidade do artigo 42 da Lei 8.981/1995, "o direito ao abatimento dos prejuízos fiscais acumulados em exercícios anteriores é expressivo de benefício fiscal em favor do contribuinte. Instrumento de política tributária que pode ser revista pelo Estado. Ausência de direito adquirido". 2. Do mesmo modo, é constitucional o artigo 58 da Lei 8.981/1995, que limita as deduções de prejuízos fiscais na formação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro. 3. Recurso extraordinário não provido. (RE 545.308, 8/10/2009, Rel. P/ acórdão Min. Cármen Lúcia) EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Demonstrações financeiras. Saldos de prejuízos fiscais do IRPJ e das bases negativas da CSLL. Natureza de benefício fiscal. Correção monetária. Revogação. Questão infraconstitucional. Ausência de previsão legal. Impossibilidade de atuação do Poder Judiciário como legislador positivo. Precedentes da Corte. 1. A questão alusiva à revogação da correção monetária pelo art. 4º da Lei nº 9.249/95 repousa na esfera da legalidade. A afronta ao texto constitucional, se ocorresse, seria meramente reflexa ou indireta. 2. Nos julgamentos do RE nº 344.994/PR e do RE nº 545.308/SP, o Tribunal concluiu que a dedução de prejuízos de exercícios anteriores da base de cálculo do IRPJ e a compensação das bases negativas da CSLL constituem favores fiscais. 3. Impossibilidade de atualização monetária do saldo a ser compensado em períodos futuros, por ausência de previsão legal. 4. Agravo regimental não provido. (AgR no RE 807.062, 2/9/2014, Rel. Min. Dias Tóffoli) Vejase aqui que a observação da Recorrente no sentido de que a hipótese em discussão nesses julgados do STF não é exatamente a da extinção da pessoa jurídica em nada altera o fato de que aquela Corte qualificou a compensação de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL como benesse fiscal, suscetível de limitações impostas pelo Poder Público. É oportuno também, nesse passo, ponderar que, se quisesse o legislador ressalvar a possibilidade de, na incorporação, permitir a compensação integral, teria feito de forma expressa, como o fez por ocasião do art. 1º da Lei nº 9.065, de 1995, em relação às empresas inseridas no Befiex. Assim, inexiste fundamentação legal que autorize este colegiado a afastar os arts. 15 e 16 da Lei nº 9.065, de 1995, ao caso concreto. Observese, por fim, que o posicionamento adotado pelo CARF no acórdão nº 910100.401 (1ª Turma da CSRF, 2/10/2009, Relatora Ivete Malaquias Pessoa Monteiro), ao invés de representar um caso isolado, como afirma a Recorrente, é representativo da posição atual do CARF, que, alinhada com a dicção do STF nos julgados antes mencionados, vai no sentido de que "em sendo a compensação de prejuízos fiscais espécie incentivo fiscal outorgado por lei e não um patrimônio do contribuinte a ser socializado, não se pode ampliar o sentido da lei nem ampliar o seu significado eis que a norma que cuida de benefícios fiscais devem ser interpretadas de forma restritiva, nos termos do artigo 111 do Código Tributário Nacional". Citese como exemplo de julgado mais recente desta 1ª Turma da CSRF a manifestar o mesmo entendimento o acórdão nº 9101001.760 (de 16/10/2013, Redator Designado Marcos Aurélio Pereira Valadão). Fl. 702DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 702 8 Juros de mora sobre a multa de ofício A Lei nº 9.430, de 1996, estabelece, em seu art. 61, § 3º, que sobre os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal incidirão juros de mora à taxa SELIC. Vejase (sublinhei): Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. (...) § 3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês do pagamento. De outra banda, está estampado na Súmula CARF nº 5 que são devidos juros de mora sobre o crédito tributário não integralmente pago no vencimento. Confirase (sublinhei): Súmula CARF nº 5: São devidos juros de mora sobre o crédito tributário não integralmente pago no vencimento, ainda que suspensa sua exigibilidade, salvo quando existir depósito no montante integral. Ora, dos arts. 113, § 1º, e 139, do CTN, deflui que o crédito tributário, que decorre da obrigação principal, compreende tanto o tributo em si, quanto a penalidade pecuniária, o que inclui, à toda evidência, a multa de oficio proporcional de caráter punitivo. Vale transcrever os dispositivos (sublinhouse): Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Sendo assim, outra não pode ser a interpretação da expressão “débitos decorrentes de tributos e contribuições” expressa no retrotranscrito art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, senão a de que abarca a integralidade do crédito tributário, incluindo a multa de oficio proporcional punitiva, constituída por ocasião do lançamento. Outro não é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, como se vê no julgamento do Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1.335.688/PR, em 4/12/2012, Relator Min. Benedito Gonçalves (sublinhouse): AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA SOBRE MULTA. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMA QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. 1. Entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: "É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário." (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Fl. 703DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 19515.001329/201004 Acórdão n.º 9101002.209 CSRFT1 Fl. 703 9 Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010. 2. Agravo regimental não provido Vale destacar o seguinte trecho da decisão: Quanto ao mérito, registrou o acórdão proferido pelo TRF da 4ª Região à fl. 163: "... os juros de mora são devidos para compensar a demora no pagamento. Verificado o inadimplemento do tributo, é possível a aplicação da multa punitiva que passa a integrar o crédito fiscal, ou seja, o montante que o contribuinte deve recolher ao Fisco. Se ainda assim há atraso na quitação da dívida, os juros de mora devem incidir sobre a totalidade do débito, inclusive a multa que, neste momento, constitui crédito titularizado pela Fazenda Pública, não se distinguindo da exação em si para efeitos de recompensar o credor pela demora no pagamento." No mesmo sentido vão os seguintes precedentes desta 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais: Acórdão nº 910100.539, de 11/03/2010, Redatora Designada Viviane Vidal Wagner: JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic. Conclusão Em face do exposto, conheço parcialmente do recurso interposto pelo sujeito passivo quanto às matérias do limite de 30% para compensação de prejuízos/bases negativas no momento da extinção da pessoa jurídica e da incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício, e, no mérito, negolhe provimento. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Fl. 704DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 17/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 18/02/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO
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Numero do processo: 16643.000079/2009-90
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jan 19 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Sat Feb 20 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2004, 2005, 2006, 2007
MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO.
A demonstração da existência de fraude, a partir de uma conduta dolosa específica, a ensejar qualificação da multa de ofício, deve ser feita no momento do lançamento de maneira a evidenciar a conduta dolosa do contribuinte, a caracterizar as figuras delitivas dos arts. 71 a 73 da Lei 4.502/1964.
Numero da decisão: 9101-002.183
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional, e, quanto ao mérito, no Tema Ágio, por maioria de votos, dar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Maria Teresa Martinez Lopez e, no Tema Qualificação da Multa, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Adriana Gomes Rego e André Mendes Moura.
(Assinado digitalmente)
CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO - Presidente.
(Assinado digitalmente)
MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO - Relator.
EDITADO EM: 12/02/2016
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente), Maria Teresa Martínez López (Vice-Presidente), Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rego, Luís Flávio Neto, André Mendes de Moura, Livia De Carli Germano (Suplente Convocada), Rafael Vidal de Araújo e Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado).
Nome do relator: MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 2004, 2005, 2006, 2007 MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. A demonstração da existência de fraude, a partir de uma conduta dolosa específica, a ensejar qualificação da multa de ofício, deve ser feita no momento do lançamento de maneira a evidenciar a conduta dolosa do contribuinte, a caracterizar as figuras delitivas dos arts. 71 a 73 da Lei 4.502/1964.
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ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2004, 2005, 2006, 2007 ÁGIO NA AQUISIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. AMORTIZAÇÃO. OPERAÇÃO ALIENÍGENA. Não é dedutível o pretenso ágio na aquisição de participação societária apurado no estrangeiro, em operação envolvendo pessoas jurídicas domiciliadas no exterior, mesmo que sem qualquer vinculação entre si, ainda mais quando, tanto o laudo de avaliação apresentado, quanto o lançamento fiscal se baseiam em ágio contabilizado mais de dois anos depois, oriundo de operações envolvendo empresas já pertencentes ao mesmo grupo econômico, domiciliadas no Brasil, caracterizando ágio interno. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2004, 2005, 2006, 2007 ÁGIO NA AQUISIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. AMORTIZAÇÃO. ALCANCE. Não é dedutível o pretenso ágio na aquisição de participação societária apurado no estrangeiro, em operação envolvendo pessoas jurídicas domiciliadas no exterior, mesmo que sem qualquer vinculação entre si, ainda mais quando, tanto o laudo de avaliação apresentado, quanto o lançamento fiscal se baseiam em ágio contabilizado mais de dois anos depois, oriundo de operações envolvendo empresas já pertencentes ao mesmo grupo econômico, domiciliadas no Brasil, caracterizando ágio interno. É correta, portanto, a glosa das exclusões não previstas na legislação da CSLL, e da redução do lucro tributável por despesa atribuída a ágio, mas que não se reveste das características necessárias para ser assim classificada. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2004, 2005, 2006, 2007 MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 64 3. 00 00 79 /2 00 9- 90 Fl. 2540DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 3 2 A demonstração da existência de fraude, a partir de uma conduta dolosa específica, a ensejar qualificação da multa de ofício, deve ser feita no momento do lançamento de maneira a evidenciar a conduta dolosa do contribuinte, a caracterizar as figuras delitivas dos arts. 71 a 73 da Lei 4.502/1964. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional, e, quanto ao mérito, no Tema Ágio, por maioria de votos, dar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Maria Teresa Martinez Lopez e, no Tema Qualificação da Multa, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, vencidos os Conselheiros Adriana Gomes Rego e André Mendes Moura. (Assinado digitalmente) CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Presidente. (Assinado digitalmente) MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO Relator. EDITADO EM: 12/02/2016 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente), Maria Teresa Martínez López (VicePresidente), Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rego, Luís Flávio Neto, André Mendes de Moura, Livia De Carli Germano (Suplente Convocada), Rafael Vidal de Araújo e Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado). Relatório Fl. 2541DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 4 3 Por bem descrever os fatos, transcrevo a parte inicial da decisão recorrida (destaques do original): Tratase de recurso de ofício e de recurso voluntário, este interposto pelo contribuinte, em face de decisão de primeira instância que deferiu parcialmente a impugnação contra o lançamento de IRPJ e CSLL referente aos anoscalendário de 2004 a 2007, decorrente de glosa do encargo de amortização de ágio, com acusação de ter sido gerado internamente ao grupo econômico da Johnson Controls, acrescido de multa qualificada de 150%, em razão de detecção de procedimento fraudulento, enquadrado no art. 72 da Lei nº 4.502/64. Foram lançados: I Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ (fls. 667 a 670), no total de R$ 15.534.152,32, com multa de 150% e juros de mora, calculados até 30/11/2009, com fundamento legal no art. 13, inciso III, da Lei nº 9.249/1995, arts. 247, 249, inciso I, 251 e parágrafo único, 299, 324 §§ 1º, 2º e 4º, 325, 385, 386, do RIR/99; e II Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL (fls. 676 a 679), no total de R$ 5.039.162,27, com multa de 150% e juros de mora, calculados até 30/11/2009, com fundamento legal no art. 2º, e §§, da Lei nº 7.689/88, art. 1º da Lei nº 9.316/96; art. 28 da Lei nº 9.430/96; e art. 37 da Lei nº 10.637/2002. Os fundamentos fáticos da autuação, consoante o Termo de Verificação Fiscal (fls. 712/725), em suma, foram: (i) a fiscalizada (JCBA) reconheceu, no balanço do ano de 2002, um investimento permanente de R$ 4.249.936,98 em coligadas/controladas (fls. 216), e no balanço de 2003, esse investimento aumentou para R$ 38.090.019,30 (fls. 217); (ii) o aumento foi provocado pela transferência, para a JCBA (fiscalizada), do total das quotas que a empresa Hoover Universal INC (HOOVER), sua controladora, possuía da empresa JCAE do Brasil (JCAE); (iii) a transferência ocorreu com um ágio de R$ 75.759.917,68 (fls. 217), cuja contrapartida foi o aumento de capital de R$ 109.600.000,00; (iv) não houve qualquer desembolso (saída de caixa) da JCBA (fiscalizada) (ou de qualquer outra empresa do grupo) para aquisição do ágio. O lançamento contábil (fl. 51) na JCBA (fiscalizada) do recebimento das quotas da HOOVER foi a débito de investimento (R$ 33.840.082,32) e ágio (R$ 75.759.917,68) e a crédito de capital subscrito (R$ 109.600.000,00); (v) as empresas envolvidas JCBA (fiscalizada), HOOVER e JCAE pertencem ao mesmo grupo econômico (fls. 33 a 50); Fl. 2542DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 5 4 (vi) em 18/10/2002, o capital da empresa JCAE do Brasil era dividido entre os sócios Johnson Controls Automotive Eletronics (46.974.358 quotas), Johnson Controls Holding (8.311.168 quotas) e Nicolas Donjon (1 quota), com quotas ao valor nominal de R$ 1,00; (vii) em 10/12/2003, a Johnson Controls Holding cedeu sua participação na JCAE para a HOOVER (fls. 57/68); (viii) em 17/12/2003, a Johnson Controls Automotive Eletronics e o Sr. Nicolas Donjon também cederam sua participação na JCAE para a HOOVER (fls. 69/71); (ix) no mesmo dia, a HOOVER cedeu e transferiu para a JCBA (fiscalizada) todas as quotas que detinha na JCAE, as quais foram incorporadas ao capital social da JCBA (fiscalizada) por R$ 109.600.000,00, ou seja, com um ágio de R$ 75.759.917,68 (fls. 72/74); (x) o laudo da avaliação (fls. 85 a 144), que serviu de base para a avaliação das quotas da JCAE do Brasil Ltda., empregou a metodologia do fluxo de caixa futuro descontado. O valor de mercado, atribuído pela empresa avaliadora foi de R$ 109.600.000,00, baseado na posição da JCAE em 30/11/2003; (xi) em 31/08/2004, a JCBA (fiscalizada) incorporou a sua controlada JCAE e começou a amortizar o ágio de R$ 75.759.917,68, à razão de 1/60 por mês, a partir de setembro de 2004. A autoridade fiscal glosou o ágio criado pela operação e exigiu multa qualificada de 150%, a teor do art. 72 da Lei nº 4.502/64, considerando ter havido fraude no procedimento da fiscalizada. Na impugnação, a autuada apresentou as razões de inconformidade, alegando que a autuação é improcedente, pois a operação completa, da qual o auditorfiscal relatou apenas parte, envolveu a aquisição de controle de empresas que pertenciam ao grupo Sagem, que não tem qualquer vinculação com o grupo econômico da fiscalizada. Descreveu, em suma, as transações realizadas: (1) O grupo JCI adquire, por intermédio da JCH SAS, braço francês do grupo, a totalidade das ações da SAGEM SAS, situada na França, mediante pagamento de Є 525.000.000,00, e que, por sua vez, controlava a SAGEM (EUA) e a SAGEM (BR). Após a venda, os nomes das empresas foram alteradas para JCAE SAS, JCAE Inc e JCAE do Brasil, respectivamente; (2) A empresa JCHC e a empresa HOOVER, ambas controladas pela JCI, adquirem a totalidade das quotas da JCAE do Brasil por US$ 37.202.650,00, sendo que a empresa JCHC pagou US$ 31.611.092,00 e a HOOVER US$ 5.591.558,00. Fl. 2543DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 6 5 (3) Redução do capital da JCHC, no valor de US$ 31.611.092,00, mediante a transferência das quotas da JCAE do Brasil para a JCI, sua controladora. (4) Aumento do capital da HOOVER em US$ 31.611.092,00, mediante subscrição e integralização pela JCI das quotas da JCAE do Brasil. (5) Aumento do capital da fiscalizada, JCBA (fiscalizada), em R$ 109.375.791,00 mediante subscrição e integralização das quotas da JCAE do Brasil, feita pela sua controladora HOOVER, representando esse valor a mera conversão do valor em dólares (US$ 31.611.092,00, rectius US$ 37.202.650,00) para a moeda nacional, à taxa de câmbio da época (R$ 2,94). (6) A JCBA (fiscalizada) incorpora a JCAE do Brasil, mediante avaliação de seu acervo líquido, incorporado a valores contábeis e, a partir daí, a fiscalizada começou a amortizar o ágio relativo à expectativa de resultados futuros da JCAE do Brasil, à razão máxima de 1/60, considerando a despesa correspondente dedutível na apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL. Contestou a alegação [de] que o ágio teria sido gerado apenas quando da conferência das quotas da JCAE do Brasil ao capital da JCBA (fiscalizada), pois a operação inicial foi feita entre partes independentes e que, no valor total pago pelo grupo JCI (Є 525.000.000,00) estaria o valor de Є 42.192.265,00 que corresponderia ao valor de US$ 37.202.780,00, valor este equivalente ao valor do custo que a HOOVER incorrera para adquirir as quotas da JCAE do Brasil (R$ 109.375.791,00). Alegou que não é o valor das quotas que determina o custo de aquisição e que, a partir da aquisição da empresa SAGEM SAS e suas subsidiárias, pelo grupo JCI, o valor das quotas da SAGEM BR passa a não ter qualquer relação com o custo de aquisição, que passa a ser o valor pago pela JCI. Discorreu sobre a inexistência de lesão ao Fisco para alegar que, independentemente da forma pela qual a operação fosse feita, o resultado alcançado teria sido o mesmo, com a geração de ágio no valor de R$ 75.759.917,68, sendo o efeito o mesmo para o Fisco. Alegou que não podem ser aplicados aos fatos os atos emitidos pela CVM mencionados no Termo de Verificação Fiscal, uma vez que os atos normativos não se aplicariam à fiscalizada pelo fato de ela não ser constituída na forma de sociedade anônima de capital aberto e, sim, na forma de sociedade limitada e, além disso, os atos somente foram emitidos em 2007 e 2008 e os fatos fiscalizados ocorreram em anos anteriores. Contestou a alegação de que o ágio apurado pela fiscalizada não é passível de contabilização, devido à ausência de custo histórico, argumentando que a operação foi feita entre partes não relacionadas e houve desembolso financeiro, afirmando Fl. 2544DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 7 6 ainda que não é correta a alegação [de] que, por não ter ausência de saída de caixa quando da aquisição de um ativo, o seu custo de aquisição seria inexistente. Discorreu sobre a não obrigatoriedade [de] haver saída de caixa para que o custo de aquisição possa ser reconhecido, citando resoluções do CFC que embasariam sua tese, argumentando que vários negócios, tais como incorporações, permutas, contribuições ao capital, aquisição de investimentos via transferência por sucessão universal, etc. não envolvem saída de caixa, o que não prejudica o fato de que houve efetiva transferência de titularidade da participação societária, citando ainda Instrução CVM nº 247/1997, doutrina e acórdãos do Conselho de Contribuintes. Alegou que é improcedente a afirmação [de] que o valor de amortização de ágio não pode ser considerado como despesa incorrida, repetindo a argumentação [de] que o ágio não foi gerado entre empresas relacionadas e [de] que cumpriu todos os requisitos para que fosse reconhecido contabilmente. Alegou que a metodologia de ágio guarda relação direta com observância do regime de competência que seria de adoção obrigatória na apuração do Lucro Real e da base de cálculo da CSLL, discorreu sobre o regime de competência e ainda afirmou que o art. 386 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99) não faz qualquer restrição a respeito da forma que a empresa foi adquirida, ao dispor das regras para amortização de ágio. Alegou que, em nenhum momento, a autoridade fiscal questionou o laudo de avaliação que fundamentou o ágio relativo à expectativa de rentabilidade futura da JCAE do Brasil. Discorreu longamente contra a imposição da multa qualificada, citando tributaristas, exposição de motivos na edição de medida provisória, acórdãos do Conselho de Contribuintes, para concluir que não houve fraude, dolo ou simulação nas operações efetuadas. Requereu a improcedência total dos autos de infração ou, ao menos, que fosse afastada a multa qualificada de 150%. O acórdão nº 1624.709, da 5ª Turma da DRJ/SPOI, teve a seguinte ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Data do fato gerador: 31/12/2004, 31/12/2005, 31/12/2006, 31/12/2007 INCORPORAÇÕES DE SOCIEDADES. AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO NA AQUISIÇÃO DE AÇÕES. FALTA DE EFETIVO PAGAMENTO. DEDUÇÃO INDEVIDA. A legislação fiscal somente admite a dedutibilidade da amortização do ágio proveniente de compra ou incorporação entre sociedades do mesmo grupo econômico, se efetivamente Fl. 2545DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 8 7 ocorre o desembolso do valor pago a este título, do mesmo modo que se exige o efetivo pagamento para toda e qualquer dedução pleiteada no âmbito fiscal, ainda que a incorporação realizada tenha observado os ditames da legislação societária. MULTA QUALIFICADA. CRITÉRIOS. Se não é evidente a ocorrência de dolo, fraude ou simulação que justificasse a aplicação da multa qualificada de 150% sobre o lançamento efetuado, exonerase o acréscimo correspondente, mantendose a multa de oficio de 75%. Em razão do montante exonerado, a DRJ recorreu de ofício ao CARF. Cientificado em 20/05/2010 (fl. 1527), o contribuinte, inconformado, interpôs recurso voluntário ao Carf, em 21/06/2010 (fls. 1528/1597), contestando a decisão que julgou parcialmente procedente a impugnação, em suma, pelos seguintes motivos preliminares: (i) o principal argumento utilizado pelo órgão julgador de primeira instância para manter a glosa da dedução da despesa de amortização do ágio relativo ao investimento realizado na empresa JCAE BR foi a suposta ausência de dispêndio financeiro na referida operação; (ii) o julgador se baseou em série de equívocos, como, por exemplo: (i) confundiu o custo de aquisição das quotas da JCAE BR com o valor nominal destas quotas; e (ii) manteve o entendimento equivocado da autoridade autuante de que a operação em questão se deu entre partes relacionadas e que, portanto, o ágio relativo ao investimento realizado na JCAE BR teria sido gerado internamente; (iii) a decisão recorrida confundiu diversos conceitos, bem como parte de um entendimento completamente distorcido dos fatos; (iv) em relação à multa qualificada de 150%, a decisão recorrida determinou, com acerto, o seu afastamento, em virtude do fato de não ter havido dolo, fraude ou simulação por parte da Recorrente. A seguir, relembra os fatos descritos na Impugnação (parágrafos 15 a 42), sintetizando a sequência das operações: Passo 1 — Grupo JCI, por intermédio da JCH SAS, adquire a totalidade das ações da SAGEM SAS, mediante pagamento de US$ 525.000.000,00 Passo 2 — Aquisição, pela JCHC e pela HOOVER, da totalidade das quotas da JCAE BR (antiga SAGEM BR), por US$ 31.611.092,00 e US$ 5.591.558,00, respectivamente, totalizando US$ 37.202.650,00 Fl. 2546DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 9 8 Passo 3 — Redução do capital da JCHC, no valor de US$ 31.611.092,00, mediante transferência das quotas da JCAE BR para a JCI Inc. Passo 4 — Aumento do capital da HOOVER em US$ 31.611.092,00, mediante subscrição e integralização, pela JCI Inc., das quotas da JCAE BR de sua titularidade Passo 5 — Aumento do capital da JCBA (fiscalizada) em R$ 109.375.791,00 (correspondentes a US$ 37.202.650,00), mediante subscrição e integralização, pela HOOVER, das quotas da JCAE BR de sua titularidade Passo 6 — Incorporação da JCAE BR pela JCBA (fiscalizada) Critica a conclusão do julgador de que seria possível realizar a agregação das duas entidades jurídicas de imediato, pelos seguintes motivos, entre outros: (i) as diferenças culturais entre as gestões de dois grupos econômicos totalmente distintos (SAGEM e JCI); (ii) o fato de a operação de aquisição, em si, só ter sido concretizada no ano seguinte à assinatura do primeiro contrato entre as partes, quando da formalização, em fevereiro de 2002, do Termo de Acordo (doc. 06 da Impugnação); e (iii) o fato de que todos os sistemas operacionais e administrativos de ambas as empresas (tais como de venda, de faturamento, de controle de estoques, de compras, de recursos humanos, etc.) eram diferentes, e independentes, havendo a necessidade de integrálos em momento anterior à efetiva absorção de uma sociedade por outra. Apresenta as seguintes razões para a reforma parcial da decisão recorrida: (i) das inconsistências fáticas: a autoridade autuante não considerou a sequência de operações de transferência das quotas da empresa JCAE BR para glosar o ágio apurado, mas apenas considerou os dois últimos passos implementados (passo 5 e passo 6); em 18 de fevereiro de 2002, o capital social da JCAE BR permanecia sendo R$ 23.894.162,00, e não R$ 55.285.527,00, conforme consta da decisão recorrida; o capital social da JCAE BR não “pulou” inexplicavelmente de R$ 23.894.162,00 para R$ 55.285.527,00, em 10 de dezembro de 2003. De fato, em 18 de setembro de 2002, houve um aumento de capital que elevou o capital social da JCAE BR em R$ 31.391.365,00. Foram completamente omitidas, na decisão recorrida, que: (i) houve uma operação efetiva de compra e venda; (ii) que houve efetivo pagamento em recursos financeiros; e (iii) que o valor total pago foi de US$ 37.202.650,00 (parágrafos 22 e 27 da Impugnação); Fl. 2547DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 10 9 não especifica suposta “discrepância de valores e datas entre os contratos firmados no Brasil e os contratos traduzidos do original inglês”; não faz qualquer sentido a comparação de fatos e valores que se tenta demonstrar, já que os R$ 46.974.358,00 correspondem ao valor nominal das 46.974.358 quotas e os US$ 31.611.092,00 referemse ao valor efetivamente pago pela JCHC pelas 46.974.358 quotas da empresa JCAE BR, ou seja, representa o custo de aquisição dessas quotas para os seus titulares, não sendo o valor nominal das quotas que determina o valor do seu custo de aquisição; omitiu o fato de que o ágio originouse de operação entre empresas de grupos distintos, em diversas etapas; houve, sim, saída de caixa na operação, mas não é necessário que haja dispêndio de recursos financeiros para que seja apurado ágio em aquisições de participações societárias ou qualquer ato ou negócio que resulte na transferência da titularidade de uma participação societária; as 55.285.526 quotas da JCAE BR foram, em todas as etapas da operação (desde a aquisição das empresas do Grupo SAGEM até a conferência de tais quotas ao capital da JCBA), transferidas pelo valor total de US$ 37.202.650,00, jamais pelo valor nominal total de R$ 55.285.527,00, ou R$ 1,00 por quota (que, convertido para dólares pela taxa média de R$ 2,90, por exemplo, corresponderia a US$ 19.063.974,82, ou US$ 0,34 por quota); (i) uma operação de aquisição de participações societárias realizadas entre empresas não relacionadas entre si, na qual houve pagamento de ágio decorrente da expectativa do retorno financeiro que esse novo investimento geraria; e, em seguida (ii) a unificação das sociedades adquiridas (entre elas, a SAGEM BR, posteriormente, JCAE BR) com as entidades já existentes que desenvolviam atividade semelhante (no caso, a JCBA (fiscalizada), e o não reconhecimento do ágio no investimento na JCAE BR traria implicações adversas às demonstrações contábeis da Recorrente, submetida ao regime contábil da “competência”. Aponta as seguintes inconsistências decorrentes das considerações abstratas contidas na decisão recorrida: o julgador, ao “raciocinar abstratamente” sobre a real motivação dos atos e negócios ora examinados, em alguns pontos, não observa os fatos concretamente ocorridos; a recorrente sempre afirmou que não houve prática elisiva alguma, que os negócios não foram feitos com a intenção de pagar menos imposto; a decisão recorrida desvia o foco da questão, indevidamente, para discussões teóricas sobre “planejamento” e “elisão”, mas a Fl. 2548DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 11 10 Administração Tributária não pode desconsiderar os fatos, desde que observados os procedimentos mencionados no parágrafo único do artigo 116 do CTN; decisão insiste, indevidamente, que a operação em questão se deu entre partes relacionadas; não aponta o real entendimento da finalidade da Instrução CVM nº 349/2001, já que esta apenas se aplica a (i) incorporação reversa; e (ii) que envolva a incorporação de empresa veículo; julgador verificou abuso de direito em razão da (i) a inexistência de causas reais que justificassem a operação; bem como (ii) a operação envolvendo a Recorrente não teria observado o ordenamento jurídico, porque foi feita com a finalidade predominante de pagar menos imposto. Cita ainda o Pronunciamento Técnico CPC 15, para sustentar que, nas operações em que há “combinação de negócios”, como no caso, entre outros, de aquisição de participações societárias mediante compra e venda, incorporações e conferência de quotas ou ações ao capital de outra entidade, o ágio gerado na operação deve ser registrado pela entidade que obtém o controle do negócio ou negócios obtidos por meio da operação, sendo que, no caso, a real “adquirente contábil” das quotas da SAGEM BR (posteriormente JCAE BR) é a JCBA (fiscalizada), e que tal escolha não se deu em virtude da busca dos efeitos tributários decorrentes da amortização do ágio gerado. Afirma que, independentemente da forma pela qual a operação fosse implementada, o resultado alcançado teria sido o mesmo: haveria a apuração de ágio no investimento na JCAE BR, passível de amortização e dedução na apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL. Aduz que, ao embasar seu entendimento no artigo 187 do Código Civil de 2002, a autoridade julgadora pretende imputar à Recorrente a prática de um ilícito civil. Ao afirmar que a autoridade fiscal, em sua essência, desconsiderou negócio praticado pela Recorrente sem propósito negocial, a própria decisão recorrida demonstra, com toda a clareza, a aplicação do parágrafo único do artigo 116 do CTN ao presente caso, pois tal regra destinouse a coibir, justamente, os atos ou negócios praticados pelo contribuinte com a intenção de economizar tributo mediante abuso de forma ou falta de propósito negocial. Assim, conclui pela ilegalidade do lançamento fiscal. Ao final, pede que a decisão de primeira instância seja julgada parcialmente improcedente, mantendose apenas a redução da multa qualificada. Em contrarrazões, a PGFN defende a validade integral do lançamento, inclusive da multa qualificada, pelos fundamentos sintetizados abaixo. Fl. 2549DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 12 11 Sustenta a indedutibilidade do ágio criado pelo contribuinte, apontando que a criação de um ágio fictício, simulado, que não apresenta qualquer propósito negocial e substrato econômico a justificar a sua existência real, não permite a dedução da despesa com sua amortização, nos termos previstos pela legislação tributária nos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 (arts. 385 e 386 do RIR/99). Alega, em seguida, que: (i) após a aquisição da empresa francesa SAGEM SAS pelo Grupo JCI em 25/07/2001, todas as operações societárias realizadas no Brasil e no exterior com as quotas da JCAE BR foram promovidas por empresas pertencentes ao Grupo JCI e que, quando da alienação das quotas da JCAE BR à JCBA (fiscalizada), a empresa norteamericana HOOVER ocupou simultaneamente os dois polos do negócio firmado comprador e vendedor, cobrando o ágio de si mesma; (ii) muito antes do aumento do capital da JCBA (fiscalizada) com a totalidade das quotas da JCAE BR, com a criação do ágio, o objetivo final da reestruturação societária a ser realizada sempre foi a reunião dessas duas empresas brasileiras em uma só, e que o investimento de R$ 109.600.000,00 realizado pela empresa HOOVER na JCBA (fiscalizada), teve um curtíssimo tempo de vida; (iii) o resultado líquido da engenharia societária adotada pelo grupo econômico do qual o contribuinte faz parte é igual à incorporação direta da JCBA (fiscalizada) pela JCAE BR, com exceção do direito à amortização do ágio na apuração da base de cálculo do IRPJ e da CSSL, a serem recolhidos pela empresa resultante. Sobre a indedutibilidade do ágio fictício (ágio cobrado de si mesmo) e a ausência de propósito negocial e substrato econômico, aponta os fundamentos dos arts. 385 e 386 do RIR/99 para aduzir que o ágio ou deságio deve sempre ter como origem um propósito negocial (aquisição de um investimento) e um substrato econômico (transação comercial), decorrente da efetiva aquisição de um investimento oriundo de um negócio comutativo, onde as partes contratantes, interdependentes entre si e ocupando posições opostas, tenham interesse em assumir direitos e deveres proporcionais, além de importar o dispêndio de um gasto (econômico ou patrimonial) pelo adquirente e o ganho (também econômico ou patrimonial) pelo alienante. Sustenta que devem ser observados o OfícioCircular/ CVM/SNC/SEP nº 01/2007, emitido pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, e o item 50 da Orientação Técnica CPC 02/2008, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Sobre a ausência de propósito negocial, aponta que, por meio de uma visão global da reestruturação adotada, evidenciase que o resultado conjunto das duas operações fora a simples unificação das atividades da JCBA com as da JCAE BR, o que poderia ter sido alcançada desde o início somente com a incorporação de Fl. 2550DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 13 12 uma sociedade pela outra, tal como foi feito por meio da segunda operação. Nesse sentido, sustenta que: (i) o ágio decorrente da aquisição de um investimento deve ser registrado por quem o efetivamente suporta, e quem adquiriu a JCAE BR com ágio não foi a recorrente, em 18/12/2003, mas sim o Grupo JCI, em 25/07/2001, quando da aquisição da empresa francesa SAGEM SAS, não podendo ser aplicada a autorização contida no artigo 386, inciso II, do RIR/99; (ii) o propósito negocial foi eminentemente fiscal, já que, em razão da incorporação realizada, o investimento adquirido pela JCBA (fiscalizada) de sua controladora HOOVER fora integralmente cancelado, sendo mantido, porém, o ágio pago por ele. Com isso, a previsão da rentabilidade futura da empresa que não mais existia, contudo, permaneceu registrada. Não poderia a JCBA (fiscalizada), em 2003, ao adquirir a JCAE BR pelo mesmo preço pago pelo Grupo JCI em 2001, registrar o mesmo ágio como se a JCAE BR tivesse mantido a mesma projeção de rentabilidade futura. Sobre a ausência de substrato econômico, aduz que: (i) tanto a JCBA (fiscalizada) como a JCAE BR eram controladas diretamente pela sua única sócia: a empresa norte americana HOOVER (a qual, por sua vez, fazia parte do Grupo JCI) e, em razão disso, não houve dispêndio de qualquer espécie de recurso; (ii) a partir da análise global da reorganização societária realizada, o único substrato econômico existente é aquele oriundo da amortização do ágio na conta de resultado da JCBA (fiscalizada), após a incorporação, e que o ágio criado, por ser inexistente de fato, não é válido e nem eficaz para ser amortizado na conta de resultado do recorrente; (iii) assim, a despesa amortizada pelo sujeito passivo na apuração de seu lucro líquido não se enquadra em nenhuma das hipóteses de dedutibilidade previstas pelos artigos 324 a 327 do RIR/99. Quanto ao RECURSO DE OFÍCIO, defende a qualificação da multa de ofício em razão da simulação cometida pelo contribuinte, sustentando, em suma, que: (i) existe contradição no acórdão prolatado pela DRJ São Paulo I/SP, pois, em um primeiro momento, reconhece que o ágio registrado pelo contribuinte fora criado de forma simulada, ou seja, sem qualquer propósito negocial e substrato econômico, e, em seguida, ao tratar da qualificação da multa, diz que as operações que o sujeito passivo declarou realmente ocorreram; (ii) a despesa amortizada pelo contribuinte autuado fora criada de forma simulada, por meio de um evidente intuito doloso de fraudar o Fisco, razão pela qual a qualificação da multa deve ser mantida; Fl. 2551DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 14 13 (iii) a própria confissão do contribuinte de que o ágio foi criado para transferir para si um investimento com ágio realizado anteriormente pelo Grupo JCI e de que não houve qualquer dispêndio financeiro tornam incontestável o intuito doloso do contribuinte na criação de um ágio que nunca existiu; (iv) de fato, a ausência de propósito negocial e de substrato econômico, da mesma forma que impedem a existência material do ágio, atestam a simulação praticada pelo contribuinte; (v) existiram a) uma vontade declarada de aquisição de um investimento com ágio pela JCBA (fiscalizada), traduzido no valor de mercado da integralidade das quotas da JCAE BR, calculado na previsão de rentabilidade futura da empresa; e b) uma vontade real de criação de um investimento artificial, a fim de gerar um ágio que seria utilizado pela JCBA (fiscalizada) para reduzir a tributação a ser paga após a incorporação. Essa diferença entre a vontade declarada e a vontade real caracteriza a simulação praticada, nos termos do art. 167, parágrafo 1º, inciso II, do Código Civil Brasileiro, in fine; (vi) a operação realizada pelo contribuinte autuado não traduziu a aquisição de um investimento com supedâneo na previsão de rentabilidade futura da JCAE BR. Com a incorporação, esse investimento foi anulado, porém o direito à amortização do ágio mantido; (vii) a criação do ágio fictício foi iniciada com a aquisição do investimento pela JCBA (fiscalizada) e concluída com a incorporação dessa sociedade com a JCAE BR; (viii) o evidente intuito doloso do contribuinte, nos ilícitos tributários cometidos pelo contribuinte, resta caracterizado pelo fato de ele saber, desde o início, que a JCAE BR seria incorporada por ele; (ix) reforçam o evidente intuito do contribuinte: a) o fato de a reorganização societária em tela ter sido planejada desde o ano de 2001, juntamente com a ajuda de consultoria especializada, b) por meio de laudo de avaliação da JCAE BR (fls. 86/144), procurou dar uma aparência de legalidade a uma operação não prevista na legislação; (x) de forma inexplicável, o contribuinte trouxe aos autos um laudo elaborado pela CF Solutions, pelo qual é apurado o valor de mercado da JCAE BR com base em sua rentabilidade futura, antes da aquisição de suas quotas pela JCBA (RECORRENTE). Em nenhum momento, o laudo cita o negócio realizado em 2001 entre o Grupo SAGEM e o Grupo JCI, tendo analisado aspectos intrínsecos e extrínsecos da JCAE BR, e projetado a rentabilidade de empresa no lapso de 5 anos e 1 mês após a sua elaboração; (xi) a simulação resta inequívoca, uma vez que havia motivos à sua realização (criação de um benefício fiscal indevido), assim como, com a incorporação, o negócio realizado (aumento de Fl. 2552DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 15 14 capital decorrente de um investimento) não foi executado materialmente; (xii) a fraude, correspondente à atitude dolosa do contribuinte em reduzir o montante do imposto devido, está mais do que comprovada, sendo inegável o conluio, este é inegável, uma vez que a reorganização societária envolveu todas as pessoas jurídicas que fazem/faziam parte do grupo econômico internacional JCI. Pede, ao final, que seja provido o recurso de ofício e negado provimento ao recurso voluntário. O Colegiado proferiu acórdão cuja ementa transcrevo: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Exercício: 2005, 2006, 2007, 2008 ÁGIO INTERNO. EFETIVO DISPÊNDIO E FALTA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. DESCARACTERIZAÇÃO. Verificado que as negociações de reorganização societária ocorreram com empresas de diferentes grupos econômicos e que houve o efetivo desembolso financeiro na operação de aquisição da empresa incorporada, é de se afastar os fundamentos utilizados pelo agente fiscal quanto à falta de propósito negocial e do efetivo dispêndio de recursos nas operações de aquisição/reestruturação societária. ÁGIO. SURGIMENTO. TRANSFERÊNCIA. AMORTIZAÇÃO. O ágio nasce quando uma empresa adquire participação relevante em outra sociedade e somente se transfere por incorporação reversa, cisão ou fusão (art. 386 do RIR/99). A transferência de quotas na integralização de capital não implica em transferência do ágio, mas em extinção do ágio que havia na alienante e surgimento de um novo ágio na adquirente. O ágio gerado no aumento de capital da fiscalizada mediante conferência de quotas da investida, com atendimento dos requisitos do art. 385 do RIR/99, é um ágio novo e pode ser amortizado a partir da incorporação dessa última, nos termos do art. 386 do RIR/99. MULTA QUALIFICADA. EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS. RECURSO DE OFÍCIO NEGADO. A ausência de elementos que demonstrem o evidente intuito de fraude, a partir de uma conduta dolosa, ensejam a desqualificação da multa de ofício. A Fazenda Nacional apresentou recurso especial, alegando divergência jurisprudencial relativamente a três pontos, a saber: Fl. 2553DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 16 15 I) (im)possibilidade de dedução, da base de cálculo do IRPJ e da CSLL de despesas com ágio não suportadas pela fiscalizada; II) falta (ou não) de previsão legal para amortização de ágio da base de cálculo da CSLL; e III) necessidade (ou não) de qualificação da multa de ofício. O recurso foi integralmente admitido pelo presidente da 2ª Câmara da 1ª Seção do CARF. Devidamente cientificado, o sujeito passivo apresentou contrarrazões em que, preliminarmente, pugna pelo não conhecimento do recurso especial da Fazenda Nacional, por supostamente não atender aos requisitos dos arts. 67 e 68 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (RI/CARF), aprovado pela Portaria MF nº 256, de 22 de junho de 2009 e, ainda, por inovar na fundamentação jurídica do lançamento e, no mérito, requer o desprovimento do recurso especial, devendo ser mantido em sua integralidade o acórdão recorrido. É o Relatório. Voto Conselheiro MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO O recurso é tempestivo, entendo que a divergência restou comprovada e, por isto, conheço do recurso especial. De início, e quanto à preliminar do sujeito passivo em contrarrazões, pelo não conhecimento do recurso especial da Fazenda Nacional, reportome integralmente ao despacho proferido em Exame de Admissibilidade de Recurso Especial, do qual extraio os seguintes excertos (efls. 2.397 a 2.412): (1) Para demonstrar a divergência de entendimentos sobre a dedução de amortização de ágio da base de cálculo de IRPJ e CSLL, a recorrente indica os Acórdãos nºs 130200.834 e 105 17.219 para servirem de paradigmas, dos quais, em conformidade ao previsto no art. 67, § 9º do Anexo II do RICARF, reproduz o inteiro teor das suas ementas. [...]. Verificouse que, de fato, em ambos os casos o ágio cuja despesa foi deduzida do lucro real teve origem em operação realizada Fl. 2554DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 17 16 por outras pessoas jurídicas, as quais efetuaram o desembolso financeiro. No recorrido, decidiuse que era possível deduzir despesas desse tipo na apuração do lucro real; no paradigma, concluise que isso não era possível. Desse modo, a divergência de entendimentos está demonstrada. [...]. Verificouse que o fato de não ter havido desembolso financeiro pela autuada foi considerado relevante para descartar a possibilidade de dedução de despesa com amortização com ágio, ou seja, em situação semelhante à do recorrido, decidiuse que não era possível deduzir despesa com ágio, entendimento que diverge do recorrido. Concluise, portanto, que a divergência de entendimentos para essa matéria foi demonstrada por meio de ambos os paradigmas. [...]. (2) Levando em conta a possibilidade de sua tese sobre a impossibilidade de deduzir despesa com amortização de ágio realizado por outra pessoa jurídica não ser acolhida, a recorrente adiciona argumentação alternativa para a impossibilidade de amortização de ágio da base de cálculo da CSLL. Para demonstrar divergência de entendimento, a recorrente volta a empregar o Acórdão nº 130200.834, do qual, além de reproduzir integralmente a ementa, a recorrente extraiu trecho do voto condutor. Destacamse trecho da ementa e do voto condutor que versam sobre essa matéria: [...]. Ou seja, no caso do paradigma, considerouse que não há previsão legal para a dedução desse tipo de despesa da base de cálculo da CSLL, ao passo que, na decisão recorrida, foi aceita sua dedução tanto para IRPJ quanto a CSLL. Desse modo, a recorrente logrou demonstrar a divergência de entendimentos também para essa matéria. (3) Para a qualificação da multa de ofício, o argumento da recorrente centrase na similaridade entre as circunstâncias do recorrido e a de dois paradigmas indicados, quais sejam, o Acórdão nº 10196.724 e o Acórdão nº 10323.290 (ementas integralmente reproduzidas no recurso especial). Em todos, teria havido a criação de ágio artificial, sem qualquer propósito negocial, com o único e evidente intuito de auferir um benefício fiscal sabidamente indevido, mas essas circunstâncias redundaram em diferentes conclusões quanto à caracterização do intuito de fraude. [...]. Tanto no primeiro paradigma quanto no segundo, foi manifestado o entendimento de que a ausência de propósito Fl. 2555DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 18 17 negocial ou societário para a realização dos atos societários com a exclusiva finalidade de reduzir tributos justifica a aplicação da multa qualificada. No recorrido, considerouse que essa circunstância era insuficiente para caracterizar o intuito de fraude e, consequentemente, aplicar a multa qualificada. Desse modo, também para essa matéria, a recorrente demonstrou a divergência de entendimentos. Já no que se refere à preliminar do sujeito passivo em contrarrazões, de alegada inovação na fundamentação jurídica do lançamento, por se pretender discutir, no recurso especial da Fazenda Nacional, alternativamente, a impossibilidade de amortização de ágio da base de cálculo da CSLL, entendo que inocorre no presente caso. A uma, porque, se não questionou a fiscalização especificamente esse ponto, apenas não o fez por não admitir, genericamente, qualquer possibilidade de amortização de ágio; a duas, porque o voto vencedor da decisão recorrida é expresso ao admitir essa possibilidade, tanto para a base de cálculo do IRPJ, quanto para a base de cálculo da CSLL, como segue (efls. 2.315): Em face do exposto, é de se dar provimento ao recurso voluntário quanto à matéria relativa à dedutibilidade do ágio na apuração do IRPJ e da CSLL. Passo ao mérito. A matéria posta à apreciação por esta Câmara Superior referese à amortização de ágio na aquisição de participação societária, na forma prevista no art. 386, inciso III, do Regulamento do Imposto de Renda RIR/1999 (Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999). No presente caso, a acusação fiscal gira, basicamente, em torno da questão relativa aos encargos de amortização de ágio por terem sido gerados internamente ao grupo econômico. Ou seja, a glosa foi efetuada por ter sido considerado que a transação se deu entre empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico e que não houve efetivo dispêndio financeiro, inexistindo propósito negocial e efetivo substrato econômico. Foi aplicada, ainda, a multa qualificada de 150% (cento e cinquenta por cento), em razão de suposta detecção de procedimento fraudulento. Inicio com o relato dos fatos apurados. Em data de 18/12/2003, a controladora da autuada (HOOVER) transferiu a ela todas as quotas da empresa JCAE do Brasil. Assim, seu ativo permanente (da autuada) passou de R$ 4.249.936,98, em 2002, para R$ 38.090.019,30, em 2003 (diferença de R$ 33.840.082,32). A transferência ocorreu com um ágio de R$ 75.759.917,68, a crédito de capital subscrito de R$ 109.600.000,00, sem qualquer desembolso por parte da fiscalizada. Em 31/08/2004, a autuada incorporou a sua controlada JCAE do Brasil e começou a amortizar o ágio de R$ 75.759.917,68, à razão de 1/60 por mês, a partir do mês de setembro de 2004. Fl. 2556DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 19 18 A defesa da fiscalizada centrase, basicamente, na afirmação de que a operação completa teria envolvido a aquisição de controle de empresas (SAGEMFrança) que não teriam qualquer vinculação com o grupo econômico da autuada (JCIEstados Unidos). Sucede, porém, que o ágio objeto de questionamento fiscal é aquele no valor de R$ 75.759.917,68, e que foi objeto de amortização, à razão de 1/60 por mês, a partir do mês de setembro de 2004, quando a fiscalizada incorporou a sua controlada (JCAE do Brasil). Esse ágio somente foi contabilizado na operação de subscrição de capital, ocorrida em 18/12/2003, entre a autuada e a sua controladora HOOVER, como acima descrito. De todo modo, o surgimento do alegado ágio, em moeda estrangeira, pelo que se pode deduzir do processo, teria se efetivado em operação envolvendo empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico, em 17/12/2003, a saber: “A empresa JCHC e a empresa HOOVER, ambas controladas pela JCI, adquirem a totalidade das quotas da JCAE do Brasil por U$ 37.202.650,00, sendo que a empresa JCHC pagou US$ 31.611.092,00 e a HOOVER US$ 5.591.558,00” (efls. 2.285). É que, da multiplicação dessa soma (US$ 37.202.650,00) pela taxa cambial da época (US$ 2,94) teria resultado o montante de R$ 109.375.791,00, bem próximo àquele de R$ 109.600.000,00, antes referido. Com relação à assertiva da fiscalizada de que, quando da operação inicial de compra do grupo SAGEMFrança pelo grupo JCIEstados Unidos, por Є 525.000.000,00, ocorrida em 25/07/2001 — ou seja, mais de dois anos antes —, estaria nela incluído o valor de Є 42.192.265,00, que corresponderia à quantia de US$ 37.202.780,00, é bem de se ver que esse destaque de valor somente se deu posteriormente, por ocasião da aquisição das quotas da JCAE do Brasil pelas empresas JCHC e HOOVER, ambas controladas pela JCIEstados Unidos, e não antes. E, ainda que assim não fosse, tratarseia, no caso, de ágio na aquisição de participação societária apurado no estrangeiro, em operação envolvendo pessoas jurídicas domiciliadas no exterior, sem qualquer repercussão perante as disposições tributárias internas. E, mesmo que repercussão pudesse haver — apenas para argumentar —, aquele ágio apurado no estrangeiro sobre rentabilidade futura, mais de dois anos antes do suposto ágio que se pretendeu amortizar no Brasil, não poderia — à toda evidência — ser o mesmo ágio, uma vez que, nesse interregno de tempo de mais de dois anos, parte daquela rentabilidade futura, então prevista, já teria, forçosamente, se consumado. Evidentemente que não se trata mais de "ágio", embora possa ter esse liame, que subsiste em caráter puramente econômico, sem poder resultar nenhum efeito tributário. Ou seja, há que se concordar com os argumentos da recorrente no ponto em que sustenta: (i) o ágio decorrente da aquisição de um investimento deve ser registrado por quem o efetivamente suporta, e quem adquiriu a JCAE BR com ágio não foi a recorrente, em 18/12/2003, mas sim o Grupo JCI, em 25/07/2001, quando da aquisição da empresa francesa SAGEM SAS, não podendo ser aplicada a autorização contida no artigo 386, inciso II, do RIR/99; Fl. 2557DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 20 19 Vejase, por pertinente, que o laudo de avaliação apresentado pela autuada, que fundamentou o ágio relativo à expectativa de rentabilidade futura da JCAE do Brasil, é datado de 18/12/2003, ou seja, do mesmo dia em que a controladora da fiscalizada (HOOVER) transferiu a ela todas as quotas da empresa JCAE do Brasil, com um ágio de R$ 75.759.917,68, não fazendo, aquele laudo de avaliação, qualquer referência à operação anteriormente ocorrida mais de dois anos antes, em 25/07/2001. Por outro lado, não se pode considerar que os requisitos autorizadores da amortização do ágio na aquisição de participação societária, quais sejam, o propósito negocial — compreendido como a motivação para adquirir um investimento por valor superior ao custo original —, e o substrato econômico — entendido como decorrente da aquisição de negócio comutativo entre partes independentes, com dispêndio de recursos e previsão de ganho —, além do desembolso financeiro, possam ser buscados em negócio jurídico celebrado por pessoas jurídicas diversas daquela que efetivamente procedeu à amortização do ágio. Quanto a esse ponto, afirma o voto vencedor da decisão recorrida que (efls. 2.315): Em síntese, do ponto de vista jurídico, o ágio registrado na JCBA é um novo ágio que nasce apenas no momento em que ela aumenta o seu capital com quotas da JCAE do Brasil. Não existe uma transferência jurídica do ágio que havia na antiga investidora HOOVER para a JCBA. O que foi transferido foi a titularidade das quotas. Dessa forma, forçoso concluir que o ágio gerado no aumento de capital da JCBA (fiscalizada), mediante conferência de quotas da JCAE do Brasil, é um ágio novo e atendeu aos requisitos do art. 385 do RIR/99, podendo ser amortizado a partir da incorporação dessa última (investida), nos termos do art. 386 do RIR/99, e ser excluído da base de cálculo na apuração do IRPJ e da CSLL, exatamente como procedido pela autuada. Este argumento é um equívoco. Aqui, a contradição é evidente. Se se trata de “ágio novo”, como dito — “São ágios diferentes. O primeiro ágio surgiu com as negociações realizadas entre a HOOVER (USA) e a JCI (USA). O segundo, quando do aumento de capital realizado pela HOOVER (USA) em sua controlada, a JCBA (fiscalizada)” (efls. 2.312) —, não se pode ter, como atendidos, requisitos legais para a amortização de ágio na aquisição de participação societária, tomandose, para esse efeito, o “ágio velho”, como pretendeu, inadvertidamente, aquele voto vencedor. Seria — como bem ressaltado pela Fazenda Nacional, em seu recurso especial —, “aproveitar o melhor de dois mundos”, como seja (efls. 2.381 e 2.382, destaques do original): i. Da operação de compra da SAGEM SAS (controladora da SAGEM BR, posteriormente denominada JCAE BR), ele retira a existência do ágio (propósito negocial e substrato econômico). ii. Da aquisição de investimento e incorporação que envolveram a JCAE BR e a JCBA, os requisitos formais à dedutibilidade da amortização desse ágio (em especial, a confusão patrimonial Fl. 2558DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 21 20 entre investimento e investidor e o laudo de rentabilidade futura). Afirma a autuada, ainda, que, independentemente da forma pela qual a operação fosse implementada, o resultado alcançado teria sido o mesmo. Ocorre, porém, que as disposições tributárias se aplicam a fatos concretos (o denominados fatos geradores), efetivamente realizados — e não a possibilidades abstratas, fruto de elucubrações metafísicas —, não se podendo decidir tendo como base apenas hipóteses e suposições. Cumpre, portanto, perquirir da consistência/validade do referido ágio de R$ 75.759.917,68, de modo a averiguar o cabimento de sua amortização ou não, lembrando que o que interessa, no caso, não é a eventual existência de lesão ao Fisco, mas a subordinação da constituição e da amortização desse ágio aos estritos requisitos da lei. Pois bem, dispõe o art. 386 do RIR/1999, na parte que aqui interessa: Tratamento Tributário do Ágio ou Deságio nos Casos de Incorporação, Fusão ou Cisão Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): [...]; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior [valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros, esclareço], nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; Como visto, é pressuposto do “tratamento tributário do ágio ou deságio nos casos de incorporação, fusão ou cisão”, que se trate de participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 385 do mesmo RIR/1999, de seguinte dicção: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. Fl. 2559DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 22 21 § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). Observese que o ágio surge (é desdobrado ou segregado contabilmente), por ocasião da aquisição da participação societária com ágio. Há, aqui, portanto, um problema crucial: a fiscalizada não adquiriu participação societária com ágio, de modo a poder desdobrálo. Na verdade, a controladora da autuada (HOOVER) transferiu a ela (autuada), em 18/12/2003, mediante subscrição de capital, todas as quotas da empresa JCAE do Brasil, por ela (HOOVER) possuídas. Esta, por sua vez (HOOVER), também não adquiriu participação societária com ágio, de modo a poder desdobrálo, se é que isso fosse possível (tratase de empresa norte americana). Na verdade, a controladora da controladora da autuada (JCIEstados Unidos) transferiu a ela (HOOVER), também em 18/12/2003, mediante subscrição de capital, todas as quotas da empresa JCAE do Brasil, por ela (JCIEstados Unidos) possuídas. Afirma o voto vencedor, a esse respeito, que (efls. 2.311): Conforme descrito acima, as operações de aquisição das empresas envolvidas, dentre elas a aquisição do controle societário da SAGEM (BR) (denominação depois alterada para JCAE do Brasil (incorporada pela fiscalizada JCBA), iniciaram se em 25/07/2001, quando a empresa JCI (USA) adquire, por intermédio da JCH SAS, braço francês do grupo JCI, a totalidade das ações da SAGEM SAS (França), mediante pagamento de Є 525.000.000,00. A SAGEM SAS (França), por seu turno, detinha o controle da SAGEM (BR). Em consequência dessas transações, podese facilmente verificar que, no valor pago de Є 525.000.000,00, encontravase o ativo representado pelas quotas da SAGEM BR (JCAE do Brasil) pertencentes à empresa adquirida, a SAGEM SAS (França). Ora, se assim é, a aquisição da participação societária com ágio, passível de desdobramento, se deu mais de dois anos antes das operações havidas no Brasil, em 25/07/2001, e, mais ainda, envolvendo pessoas jurídicas domiciliadas no exterior, não submetidas, por óbvio, às normas tributárias nacionais. Esse ágio, porventura havido, ainda que decorrente de negociações com empresas de diferentes grupos econômicos, entre suas controladoras domiciliadas fora do Brasil (EUA e França) e com a ocorrência de efetivo desembolso financeiro — como defendido no voto vencedor (efls. 2.312) —, submetese, evidentemente, às normas alienígenas do país da empresa adquirente — no caso, os Estados Unidos —, e não às do Brasil. A legislação tributária nacional, como se sabe, destinase precipuamente às entidades empresariais domiciliadas no Brasil. Em resumo, de duas uma: ou o pretendido ágio é o oriundo da aquisição, ocorrida em 25/07/2001, da SAGEM SAS francesa (controladora da SAGEM BR, que veio a se tornar a JCAE do Brasil) pela JCI norteamericana, o que, como visto, o torna insuscetível de consideração pela legislação brasileira —; ou o pretendido ágio é o proveniente da contabilização da operação de subscrição de capital, ocorrida em 18/12/2003, entre a Fl. 2560DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 23 22 fiscalizada e a sua controladora HOOVER, e que também, como visto, não atende aos requisitos da legislação brasileira para a amortização de ágio. A legislação de regência sobre o tema da dedução do ágio, nos termos pleiteados pelo contribuinte são os artigos 7º e 8º da Lei nº 9532/1997, abaixo transcritos: Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977: (Vide Medida Provisória nº 135, de 30.10.2003) I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "a" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "c" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (Redação dada pela Lei nº 9.718, de 1998) IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados durante os cinco anoscalendários subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de 1/60 (um sessenta avos), no mínimo, para cada mês do período de apuração. § 1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão. § 2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar: a) o ágio, em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; b) o deságio, em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. § 3º O valor registrado na forma do inciso II do caput: a) será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu Fl. 2561DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 24 23 causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; b) poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. § 4º Na hipótese da alínea "b" do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos e contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente. § 5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito. Art. 8º O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando: a) o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor de patrimônio líquido; b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. Tais dispositivos estão regulamentados nos arts. 385 (que trata do art. 20 do DecretoLei nº 1.598/1977) e 386 do RIR/99, e no nosso entendimento, conforme demonstrado acima, o ágio pleiteado não se amolda aos seus preceitos. Adicionalmente, cumpre destacar, mas seguindo outra linha argumentativa, que, porém, desagua na mesma conclusão, é que o alegado ágio (construído internamente, pois quando surge em 18/12/2003 a Hoover já controlava a JCAE e a JCBA) é indedutível, pois a absorção patrimonial requerida pela Lei (no caso, uma incorporação da JCAE pela JCBA), deve se dar entre partes que seriam partes não relacionadas anteriormente à operação de aquisição (nos termos da Lei n. 9532/1997, art. 7º caput: “A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra...”). Porém, a aquisição foi consubstanciada no aumento do capital da JCBA, mediante subscrição e integralização pela controladora comum HOOVER das cotas da JCAE; assim, não existe no presente caso a possibilidade da confusão (por absorção) patrimonial requerida pela lei, pois investidora e investida já faziam parte de uma mesma unidade econômica antes das operações que originaram o suposto ágio (ágio de si mesmo, por “aquisição” de participação de si mesmo —, pois nesta fase da operação não há outra pessoa jurídica envolvida, no sentido que lhe empresta a Lei, pois ninguém adquire algo de si mesmo) — portanto, a previsão legal que permite a aproveitamento de ágio não se aperfeiçoou. Assim, temse que o suposto ágio apurado — seja no exterior, seja no Brasil,—, não atendem às prescrições legais e, por conseguinte, não pode ser objeto de amortização dedutível. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) Fl. 2562DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 25 24 Em seu recurso a recorrente pretende que o cálculo da CSLL não seja afetado pela dedução de ágio, ainda que se entendesse que este ágio fosse dedutível para o IRPJ. Esta fundamentação (ver Ac. 1302000.834, citado no recurso), que na verdade, poderia ser tratada como tema autônomo, mesmo porque só foi aventada no especial e não constou das discussões anteriores do processo, resta totalmente superada, no caso presente, pela conclusão de que se trata de ágio interno e, portanto, indedutível para qualquer efeito tributário, seja o IRPJ seja a CSLL. Assim, as despesas de ágio, devem ser também adicionadas à base de cálculo da CSLL, já que são indedutíveis para efeitos tributários. Qualificação da multa de ofício Resta, por fim, analisar o tema da multa de ofício lançada de forma qualificada (150%) pela fiscalização e reduzida a 75% pela DRJ, que recorreu de ofício e teve a decisão mantida pelo Acórdão recorrido (dec. unânime neste ponto). Considerando o que se contém nos autos e os argumentos da recorrente e recorrida, não vislumbro razão para manter a qualificação da multa de ofício. Isto porque a acusação de fraude, constante da acusação fiscal, a qual deve se inserir, nas previsões normativas dos art.s 71 a 73 da Lei n. 4.502/1964 aos quais remete o art. 44 da Lei n. 9.430/1995, não ficou suficientemente demonstrada, pois a mera constatação de ausência de propósito negocial em uma fase da operação, em que os fatos são todos reais e declarados ao Fisco, não enseja, per se a qualificação, porque a fraude deve ser melhor demonstrada, pois se trata de dolo o se quer indicar. Embora haja o argumento de simulação no recurso, esta não foi a acusação fiscal (TVF itens 46 a 51, de fls. e1192). Acerca dessa questão, estou de inteiro acordo com o posicionamento adotado pela unanimidade da turma recorrida, no seguinte sentido (efls. 2.309) (voto da lavra C. Viviane Vidal Wagner): A qualificação da multa é medida extrema que exige a demonstração do evidente intuito de fraude a partir de uma conduta dolosa. Inexiste, nos autos, a demonstração de que houve a utilização de algum mecanismo ou instrumento fraudulento a ensejar a qualificação da multa, mas apenas a acusação de que o contribuinte tinha consciência da falta de propósito negocial. Nesse caso, é de se concordar com a conclusão da DRJ, pois o direito de defesa da recorrente restaria prejudicado, em razão dos termos da acusação não permitirem o alcance pretendido pela PGFN. Vejase, também, que o 1o Acórdão paradigma trazido pela recorrente para o tema do ágio (Ac. 1302000.834) neste ponto desqualificou a multa (também por unanimidade), e no segundo, o Ac. 10517.219, não houve sequer lançamento de multa qualificada. Com efeito, não se fundamentando a qualificação procedida pela fiscalização em suposta “simulação” cometida pela sujeito passivo, mas, sim, na sua “perfeita consciência da falta de propósito negocial do ágio gerado internamente”, toda a argumentação da Fazenda Nacional, naquele sentido, revelase improcedente. Fl. 2563DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000079/200990 Acórdão n.º 9101002.183 CSRFT1 Fl. 26 25 Conclusão Do exposto, voto por dar provimento parcial ao recurso especial da Fazenda Nacional, para restabelecer integralmente a exigência fiscal, exceto no que se refere à multa de ofício, que deve ser aplicada no percentual de 75% (setenta e cinco por cento), mantendose a decisão recorrida nesta parte. (Assinado digitalmente) MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO Relator Fl. 2564DF CARF MF Impresso em 22/02/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 12/02/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO, Assinado digitalmente em 16/02/2016 por CARLOS ALBERT O FREITAS BARRETO
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Numero do processo: 16327.000484/2008-18
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Dec 08 00:00:00 UTC 2015
Data da publicação: Mon Jan 25 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2006
ENCERRAMENTO DE ATIVIDADES. COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS. LIMITE DOS 30% DO LUCRO REAL. INAPLICABILIDADE. Inexiste previsão legal para se proceder à compensação de prejuízos (trava), além do percentual de 30% do lucro real, ainda que a pessoa jurídica esteja no encerramento das suas atividades.
Recurso Especial do Procurador Provido em Parte.
Numero da decisão: 9101-002.153
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, 1) Quanto ao conhecimento, por unanimidade de votos, Recurso Especial da Fazenda Nacional conhecido. 2) Quanto ao mérito, por maioria de votos, recurso provido em parte, com retorno dos autos à Câmara a quo para análise das demais matérias, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada) e Maria Teresa Martinez Lopez.
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente
Adriana Gomes Rêgo - Relatora
EDITADO EM: 08/01/2016
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rêgo, Luis Flávio Neto, André Mendes de Moura, Lívia de Carli Germano, Rafael Vidal de Araújo, Maria Teresa Martínez López e Carlos Alberto Freitas Barreto. O Conselheiro Ronaldo Apelbaum declarou-se impedido.
Nome do relator: ADRIANA GOMES REGO
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COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS. LIMITE DOS 30% DO LUCRO REAL. INAPLICABILIDADE. Inexiste previsão legal para se proceder à compensação de prejuízos (trava), além do percentual de 30% do lucro real, ainda que a pessoa jurídica esteja no encerramento das suas atividades. Recurso Especial do Procurador Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, 1) Quanto ao conhecimento, por unanimidade de votos, Recurso Especial da Fazenda Nacional conhecido. 2) Quanto ao mérito, por maioria de votos, recurso provido em parte, com retorno dos autos à Câmara a quo para análise das demais matérias, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada) e Maria Teresa Martinez Lopez. Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente Adriana Gomes Rêgo Relatora EDITADO EM: 08/01/2016 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rêgo, Luis Flávio Neto, André Mendes AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 00 04 84 /2 00 8- 18 Fl. 506DF CARF MF Impresso em 25/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 08/01/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 12/01/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assin ado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO Processo nº 16327.000484/200818 Acórdão n.º 9101002.153 CSRFT1 Fl. 3 2 de Moura, Lívia de Carli Germano, Rafael Vidal de Araújo, Maria Teresa Martínez López e Carlos Alberto Freitas Barreto. O Conselheiro Ronaldo Apelbaum declarouse impedido. Relatório A FAZENDA NACIONAL recorre a este Colegiado, por meio do Recurso Especial de fls. 271/287, contra Acórdão nº 140200.063, de 10 de dezembro de 2009, fls. 266/268, que, por maioria de votos, deu provimento ao recurso voluntário impetrado por SANTANDER BRASIL ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A, nos seguintes termos “Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2006 Ementa: ENCERRAMENTO DE ATIVIDADES. COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS. LIMITE DOS 30% DO LUCRO REAL. INAPLICABILIDADE. Inexiste amparo para se proceder a limitação da compensação de prejuízos (trava), no percentual de 30% do lucro real, a que se reporta o artigo 15 da Lei n° 9.065, no encerramento das atividades da empresa. Recurso Provido.” Alega a recorrente divergência jurisprudencial em relação ao Acórdão nº 910100.401, que recebeu a seguinte ementa: “COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS IRPJ, DECLARAÇÃO FINAL LIMITAÇÃO DE 30 COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS. 0 prejuízo fiscal apurado poderá ser compensado com o lucro real, observado o limite máximo, para a compensação, de trinta por cento do referido lucro real. Não há previsão legal que permita a compensação de prejuízos fiscais acima deste limite, ainda que seja no encerramento das atividades da empresa." Ao detalhar os fundamentos para a reforma do acórdão, a Fazenda destaca dois temas contra os quais se insurge: Limitação à Compensação de Prejuízos Fiscais e Responsabilidade da Sucessora em relação à Multa de Ofício; por fim, pede pela reforma do acórdão recorrido e que se restaure o inteiro teor da decisão de primeira instância. Por meio do Despacho Presi nº 140000.311, fls. 322/324, a Presidente da Câmara a quo dá seguimento ao recurso, analisando apenas a divergência jurisprudencial apontada no tocante à compensação de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL. Na seqüência, o contribuinte apresenta Contrarrazões onde, em apertada síntese, requer a manutenção do acórdão recorrido, aduzindo que o recurso especial não pode ser admitido haja vista que o acórdão ora guerreado tratou apenas da limitação à compensação de saldo de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas da CSLL na hipótese de incorporação, que a PGFN não apresentou embargos para sanear a omissão relativa à multa aplicada na sucessora e, por conseguinte, ficou impossibilitada de demonstrar a divergência entre o acórdão recorrido e o paradigma. Fl. 507DF CARF MF Impresso em 25/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 08/01/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 12/01/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assin ado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO Processo nº 16327.000484/200818 Acórdão n.º 9101002.153 CSRFT1 Fl. 4 3 No mérito, ressalta que os artigos 15 e 16 da Lei nº 9.065, de 1995, limitam a compensação, mas permitem que ela ocorra nos anos seguintes e traz decisões do Antigo Conselhos de Contribuintes e do Superior Tribunal de Justiça neste sentido, para concluir que, nos casos de incorporação e conseqüente extinção da personalidade jurídica, como não é possível essa compensação em períodos seguintes, tem que haver a compensação integral, sob pena de terem, as sociedades incorporadas, “tributado não o seu lucro mas, na verdade, o seu patrimônio”. É o relatório. Voto Conselheira Adriana Gomes Rêgo O recurso é tempestivo e preenche aos demais requisitos de admissibilidade, motivo pelo qual dele tomo conhecimento. No que diz respeito ao mérito, entendo que assiste razão à recorrente, vez que a Lei nº 9.065/95 é muito clara no sentido de estabelecer a trava sem qualquer exceção, senão vejamos: Art. 15. O prejuízo fiscal apurado a partir do encerramento do anocalendário de 1995, poderá ser compensado, cumulativamente com os prejuízos fiscais apurados até 31 de dezembro de 1994, com o lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação do imposto de renda, observado o limite máximo, para a compensação, de trinta por cento do referido lucro líquido ajustado. Produção de efeito (Vide Lei nº 12.973, de 2014) Parágrafo único. O disposto neste artigo somente se aplica às pessoas jurídicas que mantiverem os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios do montante do prejuízo fiscal utilizado para a compensação. Art. 16. A base de cálculo da contribuição social sobre o lucro, quando negativa, apurada a partir do encerramento do ano calendário de 1995, poderá ser compensada, cumulativamente com a base de cálculo negativa apurada até 31 de dezembro de 1994, com o resultado do período de apuração ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação da referida contribuição social, determinado em anoscalendário subseqüentes, observado o limite máximo de redução de trinta por cento, previsto no art. 58 da Lei nº 8.981, de 1995. Produção de efeito Parágrafo único. O disposto neste artigo somente se aplica às pessoas jurídicas que mantiverem os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios da base de cálculo negativa utilizada para a compensação. Se a lei ofende ou não ao art. 43 do CTN, não compete a este Colegiado tal juízo, pois é vedado a este tribunal afastar lei vigente. Fl. 508DF CARF MF Impresso em 25/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 08/01/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 12/01/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assin ado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO Processo nº 16327.000484/200818 Acórdão n.º 9101002.153 CSRFT1 Fl. 5 4 Contudo, apenas para título de argumentação, se a trava de 30% estivesse afastando o conceito de renda, ela não estaria o fazendo apenas para a situação de extinção da pessoa jurídica, já que no que diz respeito ao fato gerador do IRPJ/CSLL, que tem delimitação temporal, ela está limitando a compensação dos prejuízos no período, independe de qualquer evento societário. Na esteira desse raciocínio, convém trazer à colação voto do Min. Garcia Vieira no Recurso Especial nº 188.855GO, segundo o qual: “Há que compreenderse que o art. 42 da Lei 8.981/1995 e o art. 15 da Lei 9.065/1995 não efetuaram qualquer alteração no fato gerador ou na base de cálculo do imposto de renda. O fato gerador, no seu aspecto temporal, como se explicará adiante, abrange o período mensal. Forçoso concluir que a base de cálculo é a renda (lucro) obtida neste período. Assim, a cada período corresponde um fato gerador e uma base de cálculo próprios e independentes. Se houve renda (lucro), tributase. Se não, nada se opera no plano da obrigação tributária. Daí que a empresa tendo prejuízo não vem a possuir qualquer “credito” contra a Fazenda Nacional. Os prejuízos remanescentes de outros períodos, que dizem respeito a outros fatos geradores e respectivas bases de cálculo, não são elementos inerentes da base de cálculo do imposto de renda do período em apuração, constituindo, ao contrário, benesse tributária visando minorar a má atuação da empresa nos anos anteriores.” E é na linha da “benesse tributária” que o Supremo Tribunal Federal tem tratado a compensação de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL, como se depreende dos RE 344.994/PR e 545.308/SP, e demais julgados posteriores daquele tribunal. Por oportuno, transcrevo: EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO. BASE DE CÁLCULO: LIMITAÇÕES À DEDUÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS. ARTIGO 58 DA LEI 8.981/1995: CONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 5º, INC. II E XXXVI, 37, 148, 150, INC. III, ALÍNEA "B", 153, INC. III, E 195, INC. I E § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTE: RECURSO EXTRAORDINÁRIO 344.944. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO PROVIDO. 1. Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal firmado no julgamento do Recurso Extraordinário 344.944, Relator o Ministro Eros Grau, no qual se declarou a constitucionalidade do artigo 42 da Lei 8.981/1995, "o direito ao abatimento dos prejuízos fiscais acumulados em exercícios anteriores é expressivo de benefício fiscal em favor do contribuinte. Instrumento de política tributária que pode ser revista pelo Estado. Ausência de direito adquirido". 2. Do mesmo modo, é constitucional o artigo 58 da Lei 8.981/1995, que limita as deduções de prejuízos fiscais na formação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro. 3. Recurso extraordinário não provido. ( RE 545.308, 8/10/2009, Rel. P/ acórdão Min. Cármen Lúcia) Fl. 509DF CARF MF Impresso em 25/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 08/01/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 12/01/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assin ado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO Processo nº 16327.000484/200818 Acórdão n.º 9101002.153 CSRFT1 Fl. 6 5 EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Demonstrações financeiras. Saldos de prejuízos fiscais do IRPJ e das bases negativas da CSLL. Natureza de benefício fiscal. Correção monetária. Revogação. Questão infraconstitucional. Ausência de previsão legal. Impossibilidade de atuação do Poder Judiciário como legislador positivo. Precedentes da Corte. 1. A questão alusiva à revogação da correção monetária pelo art. 4º da Lei nº 9.249/95 repousa na esfera da legalidade. A afronta ao texto constitucional, se ocorresse, seria meramente reflexa ou indireta. 2. Nos julgamentos do RE nº 344.994/PR e do RE nº 545.308/SP, o Tribunal concluiu que a dedução de prejuízos de exercícios anteriores da base de cálculo do IRPJ e a compensação das bases negativas da CSLL constituem favores fiscais. 3. Impossibilidade de atualização monetária do saldo a ser compensado em períodos futuros, por ausência de previsão legal. 4. Agravo regimental não provido. (AgR no RE 807.062, 2/9/2014, Rel. Min. Dias Tóffoli) É oportuno também ponderar que, se quisesse o legislador ressalvar a possibilidade de, na incorporação, permitir a compensação integral, teria feito de forma expressa, como o fez por ocasião do art. 1º da Lei nº 9.065/95, em relação às empresas inseridas no Befiex. Assim, inexiste fundamentação legal que autorize este colegiado a afastar os arts. 15 e 16 da Lei nº 9.065/1995 ao caso concreto. No que diz respeito à multa de ofício aplicada na sucessora, como foi dado o recurso voluntário da contribuinte no tocante à multa, esta não foi analisada pelo colegiado a quo, motivo pelo qual manifestome pela devolução dos autos ao colegiado a quo, para manifestarse sobre o assunto, já que a autuação está sendo restabelecida. Em face do exposto, conheço do recurso especial da Fazenda Nacional no tocante à inobservância à trava de 30%, e doulhe provimento para manter o limite legal de 30% na compensação de prejuízo fiscal e bases negativas da CSLL, e devolver os autos à turma ordinária para julgamento da multa na sucessora. Adriana Gomes Rêgo Relatora Fl. 510DF CARF MF Impresso em 25/01/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 08/01/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 12/01/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO, Assin ado digitalmente em 08/01/2016 por ADRIANA GOMES REGO
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Numero do processo: 18471.001082/2007-11
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Feb 04 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Mar 14 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2002
DECADÊNCIA - TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO - TERMO INICIAL.
Em se tratando de tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício), conta-se do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ser efetuado (art. 173, I, do CTN), nos casos em que constatado dolo, fraude ou simulação do contribuinte, ou ainda, mesmo nas ausências desses vícios, nos casos em que não ocorreu o pagamento antecipado da exação e inexista declaração com efeito de confissão de dívida prévia do débito, conforme entendimento pacificado pelo E. Superior Tribunal de Justiça ao julgar o mérito do Recurso Especial nº 973.733/SC, na sistemática dos recursos repetitivos previsto no artigo 543-C do CPC, e da Resolução STJ nº 08/2008. Essa interpretação deve ser reproduzida pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, nos termos do que determina o §2º do art. 62 do Anexo II do atual Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015.
Não havendo pagamento e nem confissão dos débitos de IRPJ e CSLL com fato gerador em 31/12/2002, resta afastada a decadência.
MULTA AGRAVADA. LUCRO ARBITRADO.
Súmula CARF nº 96: A falta de apresentação de livros e documentos da escrituração não justifica, por si só, o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros.
Numero da decisão: 9101-002.233
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Decisão dos membros do colegiado Quanto à primeira matéria (Decadência): Recurso Especial da Fazenda Nacional conhecido e dado provimento por maioria de votos, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada) e Maria Teresa Martinez Lopez. Quanto à segunda matéria (Agravamento da Multa): Recurso conhecido e, no mérito, negado provimento por unanimidade de votos.
(documento assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente.
(documento assinado digitalmente)
Rafael Vidal De Araujo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO, CRISTIANE SILVA COSTA, ADRIANA GOMES REGO, LUÍS FLÁVIO NETO, ANDRE MENDES DE MOURA, LIVIA DE CARLI GERMANO (Suplente Convocada), RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO, RONALDO APELBAUM (Suplente Convocado), MARIA TERESA MARTINEZ LOPEZ (Vice-Presidente), CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO (Presidente).
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Decisão dos membros do colegiado Quanto à primeira matéria (Decadência): Recurso Especial da Fazenda Nacional conhecido e dado provimento por maioria de votos, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada) e Maria Teresa Martinez Lopez. Quanto à segunda matéria (Agravamento da Multa): Recurso conhecido e, no mérito, negado provimento por unanimidade de votos. (documento assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal De Araujo - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO, CRISTIANE SILVA COSTA, ADRIANA GOMES REGO, LUÍS FLÁVIO NETO, ANDRE MENDES DE MOURA, LIVIA DE CARLI GERMANO (Suplente Convocada), RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO, RONALDO APELBAUM (Suplente Convocado), MARIA TERESA MARTINEZ LOPEZ (Vice-Presidente), CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO (Presidente).
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Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado INEPAR S.A. INDUSTRIA E CONSTRUÇÕES ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 DECADÊNCIA TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO TERMO INICIAL. Em se tratando de tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício), contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ser efetuado (art. 173, I, do CTN), nos casos em que constatado dolo, fraude ou simulação do contribuinte, ou ainda, mesmo nas ausências desses vícios, nos casos em que não ocorreu o pagamento antecipado da exação e inexista declaração com efeito de confissão de dívida prévia do débito, conforme entendimento pacificado pelo E. Superior Tribunal de Justiça ao julgar o mérito do Recurso Especial nº 973.733/SC, na sistemática dos recursos repetitivos previsto no artigo 543C do CPC, e da Resolução STJ nº 08/2008. Essa interpretação deve ser reproduzida pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, nos termos do que determina o §2º do art. 62 do Anexo II do atual Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015. Não havendo pagamento e nem confissão dos débitos de IRPJ e CSLL com fato gerador em 31/12/2002, resta afastada a decadência. MULTA AGRAVADA. LUCRO ARBITRADO. Súmula CARF nº 96: A falta de apresentação de livros e documentos da escrituração não justifica, por si só, o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 47 1. 00 10 82 /2 00 7- 11 Fl. 534DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O 2 Decisão dos membros do colegiado – Quanto à primeira matéria (Decadência): Recurso Especial da Fazenda Nacional conhecido e dado provimento por maioria de votos, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada) e Maria Teresa Martinez Lopez. Quanto à segunda matéria (Agravamento da Multa): Recurso conhecido e, no mérito, negado provimento por unanimidade de votos. (documento assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal De Araujo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO, CRISTIANE SILVA COSTA, ADRIANA GOMES REGO, LUÍS FLÁVIO NETO, ANDRE MENDES DE MOURA, LIVIA DE CARLI GERMANO (Suplente Convocada), RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO, RONALDO APELBAUM (Suplente Convocado), MARIA TERESA MARTINEZ LOPEZ (VicePresidente), CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO (Presidente). Relatório Tratase de Recurso Especial de divergência (fls.296/311), interposto pela Fazenda Nacional, em 11/03/2009, contra o Acórdão nº 10196.961, de 15/10/2008, (fls.284/292) proferido pela 1ª Câmara do 1º Conselho de Contribuintes, que deu provimento parcial ao recurso voluntário para afastar o IRPJ e a CSLL, relativos ao 1º e 2º trimestres do ano calendário de 2002, e reduzir a multa de ofício de 112% (agravada) para 75%, cientificado à Recorrente em 10/03/2009. O Acórdão Recorrido está assim ementado (fl.284), no que interessa: “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 Ementa: DECADÊNCIA LUCRO ARBITRADO Se a fiscalização descaracteriza a apuração do lucro real anula feita pela pessoa jurídica e procede ao arbitramento, o termo inicial para a contagem da decadência é a data de ocorrência do fato gerador do períodobase do arbitramento, ou seja, o ultimo dia de cada trimestre. APURAÇÃO DO TRIBUTO ARBITRAMENTO A falta de apresentação da maior parte da documentação em que se lastreia a escrituração justifica a descaracterização da contabilidade e arbitramento do lucro. PENALIDADE AGRAVAMENTOA falta de apresentação da documentação solicitada dá causa ao arbitramento do lucro e não justifica, por si só, o agravamento da penalidade. ...” No Recurso Especial, a Recorrente insurgese contra o mencionado Acórdão, no que tange a aplicação do art. 150, § 4º, do CTN, para fins de contagem do prazo Fl. 535DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O Processo nº 18471.001082/200711 Acórdão n.º 9101002.233 CSRFT1 Fl. 535 3 decadencial, sem levar em consideração a ausência de pagamento, e ainda, contra a redução da multa de ofício originalmente agravada (de 112% para 75%). No que concerne ao prazo decadencial, a Recorrente alega que a decisão recorrida diverge das decisões proferidas nos Acórdãos nº 10323.091, de 04/07/2007, e nº 10320.952, de 19/06/2002, e, no tocante ao desagravamento da multa, o acórdão recorrido diverge da decisão proferida no Acórdão nº 10809.635, de 25/06/2008. Sobre a admissibilidade do Recurso Especial, vale transcrever o seguinte resumo do segundo exame de admissibilidade (fl.505): “Consta à fl. 431/432 despacho da Presidência desta Câmara, proferido em 18/12/2009, admitindo recurso especial interposto pela Procuradoria da Fazenda Nacional em razão de divergência verificada entre o que decidido no Acórdão nº 10196.961 (fls. 284/292) e os paradigmas de nº 10323.091 e 10320.952, no que tange à aplicação do art. 150, §4º, do CTN para fins de contagem do prazo decadencial, mesmo na ausência de pagamento. Os autos seguiram à unidade de origem para ciência à contribuinte, com vistas a facultarlhe apresentação de contrarrazões, porém lá se constatou que a Procuradoria da Fazenda Nacional também se insurgira contra a redução da multa de ofício originalmente agravada, motivo pelo qual os autos foram devolvidos a este Conselho para esclarecimentos (fl.438). De fato, o recurso especial interposto pela Procuradoria da Fazenda Nacional também veicula divergência jurisprudencial no tocante ao agravamento da multa de ofício, apontando como paradigma o Acórdão nº 10809.635, no qual verificouse a mesma situação do presente feito, pois o contribuinte foi também intimado e informou a inviabilidade de obtenção de seus documentos contábeis, e ainda assim o agravamento da penalidade foi mantido. ...” Eis a razão de dois exames de admissibilidade (um para cada matéria), fls.431/432 e fls.505/506, que deram seguimento ao Recurso Especial da PFN. Em relação à decadência, a Recorrente alega que: conforme DIPJ de fls. 4 a 77, no anocalendário de 2002, a interessada optou pelo regime de tributação do lucro real anual; no caso da pessoa jurídica tributada com base no lucro real anual, a apuração do resultado tributável é efetuada em 31 de dezembro de cada ano ou na data de encerramento de suas atividades, data em que se consuma o fato gerador. Dessa forma, ocorrido o fato gerador em 31/12/2002, o prazo final para a decadência seria o dia 31/12/2007, ainda que aplicada a regra do artigo 150, §4º, do CTN; e, como a ciência do lançamento ocorreu em 21/09/2007, não há que se falar em decadência. O acórdão trazido como paradigma de divergência está assim ementado, na parte que diz respeito ao prazo decadencial: Acórdão nº 10323.091, de 04/07/2007 Fl. 536DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O 4 IRPJ. DECADÊNCIA. FATO GERADOR COMPLEXIVO. Visto ser complexivo o fato gerador do IRPJ calculado com base em apuração anual este somente se aperfeiçoa em 31 de dezembro de cada ano calendário, iniciandose a contagem do prazo decadencial a partir do anocalendário subseqüente. Argúi a Recorrente que, mesmo restando não caracterizada a divergência jurisprudencial com o citado paradigma, em outro paradigma da Colenda 3ª Câmara do Egrégio do Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, restou fixado que a regra decadencial a ser seguida não é a do artigo 150, § 4º, do CTN, mas sim a do artigo 173, inciso I, do CTN, no caso de ausência de pagamento do tributo. Traz à colação o acórdão nº 10320.952 de 19/06/2002, assim ementado, na parte que diz respeito ao prazo decadencial: IRPJ LUCRO PRESUMIDO AUSÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO DECADÊNCIA Nas exações cujo lançamento se faz por homologação, havendo pagamento antecipado, contase o prazo decadencial a partir da ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4°, do CNT), todavia, quando não há pagamento antecipado, ou há prova de fraude, dolo ou simulação se aplica o disposto no art. 173, I, do CTN. Finalmente, a Recorrente conclui que, diferentemente do entendimento do acórdão ora recorrido, de acordo com o acórdão paradigma, não havendo pagamento do tributo (como no caso em tela), a regra a ser invocada no tocante à questão da decadência é a do artigo 173, inciso I, do CTN e não a do artigo 150, § 4º, do CTN. Em relação ao desagravamento da multa de ofício (de 112% para 75%), a Recorrente discorda do entendimento consignado no acórdão recorrido de que o fato de a autuada não ter apresentado os documentos, sob alegação de não ter conseguido obtêlos, é motivo de desclassificação da escrita, mas não para agravar a multa. Argúi que tal entendimento diverge da decisão proferida no Acórdão nº 108 09.635, de 25/06/2008, da Colenda 8ª Câmara do Egrégio 1º Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, assim ementado, na parte que diz respeito ao agravamento da multa: CONDUTA DOLOSA INTUITO DE FRAUDE MULTA QUALIFICADA Inequívoca a intenção dolosa da Recorrente, com vistas a fraudar o Fisco, o qual apura a ocorrência diversas operações realizadas e, em contrapartida, a ausência de registro das receitas auferidas, especialmente diante da afirma do contribuinte de que entregou suas declarações com a informação "sem movimento" porque ficou impossibilitada de apresentar as DCTF e DIPJ obrigatórias em razão do extravio de seus documentos contábeis. Manutenção da multa qualificada conforme determina o art. 44, inciso II, da Lei n° 9430/96. NÃO ATENDIMENTO ÀS INTIMAÇÕES AGRAVAMENTO DA MULTA PROCEDÊNCIA. O não atendimento às várias intimações encaminhadas pela fiscalização justifica o agravamento da multa para 225%, nos termos do art. o art. 44, §2º, da Lei nº 9430/96. Não prospera a reles alegação, desacompanhada de provas, de que seus documentos contábeis foram extraviados. Cientificada do seguimento do Recurso Especial, eletronicamente, por decurso de prazo em 12/06/2014, a empresa interessada apresentou contrarrazões em 11/06/2014, em que defende os mesmos fundamentos do acórdão recorrido, tanto em relação à decadência relativa aos dois primeiros trimestres do ano calendário de 2002, quanto ao Fl. 537DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O Processo nº 18471.001082/200711 Acórdão n.º 9101002.233 CSRFT1 Fl. 536 5 desagravamento da multa lançada de ofício, ressaltando o entendimento do CARF constante da Súmula nº 96, verbis: A falta de apresentação de livros e documentos da escrituração não justifica, por si só, o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros. Finalmente a empresa recorrida requer que não se conheça do recurso especial interposto pela Fazenda Nacional. É o relatório. Fl. 538DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O 6 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. O Recurso Especial, interposto pelo procurador da Fazenda Nacional, é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade. Dele conheço. Conforme relatado, a Recorrente alega que a decisão recorrida diverge da decisão proferida no Acórdão nº 10320.952, 19/06/2002, pois, enquanto no acórdão recorrido entendeuse que o termo inicial para a contagem da decadência é a data de ocorrência do fato gerador do períodobase do arbitramento, ou seja, o ultimo dia de cada trimestre, sem a ressalva da inexistência de pagamento do tributo, no acórdão paradigma, restou fixado que a regra decadencial a ser seguida não é a do artigo 150, § 4º, do CTN, mas, sim, a do artigo 173, inciso I, do CTN, no caso de ausência de pagamento do tributo. De fato, acertada a tese de que, em não havendo pagamento antecipado, descabe a aplicação do art. 150, § 4º, do CTN, vez que não há pagamento a ser homologado, pois não há o que a administração tributária homologar. Não consta dos autos que houve pagamento do IRPJ ou da CSLL relativo ao ano calendário de 2002. A DIPJ/2003 (fls.10/19) também demonstra que não houve apuração de IRPJ e CSLL, haja vista a inexistência de lucro real e base de cálculo negativa mensal e anual relativos ao mencionado ano calendário. Desse modo, a regra da contagem do prazo decadencial aplicável deve ser a regra geral do art. 173, inciso I, do CTN; iniciandose, por conseguinte, a contagem do prazo decadencial a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos termos do que já vem decidindo o Superior Tribunal de Justiça – STJ, conforme ementa que ora colaciono: TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. 1. No lançamento por homologação, o contribuinte, ou o responsável tributário, deve realizar o pagamento antecipado do tributo antes de qualquer procedimento administrativo, ficando a extinção do crédito condicionada à futura homologação expressa ou tácita pela autoridade fiscal competente. Havendo pagamento antecipado, o Fisco dispõe do prazo decadencial de cinco anos, a contar do fato gerador, para homologar o que foi pago ou lançar a diferença acaso existente (art.150, § 4º, do CTN). 2. Se não houve pagamento antecipado pelo contribuinte, não há o que homologar, nem se pode falar em lançamento por homologação. Surge a figura do lançamento direto substitutivo, previsto no art. 149, V, do CTN, cujo prazo decadencial se rege pela regra geral do art. 173, I, do CTN: cinco anos a contar do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o pagamento antecipado deveria ter sido realizado. 3. A tese segundo a qual a regra do art. 150, § 4º, do CTN deve ser aplicada cumulativamente com a do art. 173, I, do CTN, resultando em prazo decadencial de dez anos, já não encontra guarida nesta Corte. Fl. 539DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O Processo nº 18471.001082/200711 Acórdão n.º 9101002.233 CSRFT1 Fl. 537 7 Precedentes. 4. Recurso especial do autor provido, prejudicado o da municipalidade. (REsp 1024092/SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 07.08.2008, DJe 04.09.2008) (Grifei) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por ocasião do julgamento do Recurso Especial nº 973.733/SC, submetido ao regime do artigo 543C do CPC e da Resolução STJ 08/2008, ou seja, com efeito repetitivo, firmou o seguinte entendimento em relação à questão da decadência, que põe fim à tese de que o que importa é o regime de lançamento do tributo: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito. (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008). Essa interpretação deve ser reproduzida pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, conforme determina o § 2º do art. 62 do Anexo II do atual Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015: As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973 Código de Processo Civil (CPC), deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. De acordo com o STJ, devese aplicar o artigo 173, I, do CTN, quando, a despeito da previsão legal de pagamento antecipado da exação, o mesmo inocorre e inexiste declaração prévia do débito capaz de constituir o crédito tributário. No caso em comento, os lançamentos do IRPJ e da CSLL (fls.138/154) dizem respeito a fatos geradores ocorridos nos trimestres findos em 31/03/2002, 30/06/2002, 30/09/2002 e 31/12/2002, e a ciência dos autos de infração ocorreu em 21/09/2007. Na DIRPJ/2003 do anocalendário de 2002, fls. 10/19, consta que não foi apurado imposto ou contribuição a pagar. Fl. 540DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O 8 Logo, tal como alega a Fazenda Nacional, entendo que a contagem do prazo decadencial para o Fisco promover o lançamento se iniciou em 1º de janeiro de 2003, porque o lançamento em relação aos 03 (três) primeiros trimestres de 2002 poderia ter ocorrido ainda em 2002, já que a apuração pelo arbitramento é trimestral. Portanto, iniciado o prazo em 1º de janeiro de 2003, temse que o Fisco poderia efetuar o lançamento relativo aos fatos geradores ocorridos em 31/03/2002 e 30/06/2002 até 31/12/2008. Tendo ocorrido a ciência dos autos de infração em 21/09/2007, descabe falar em decadência do direito do Fisco para efetuar o lançamento em relação aos mencionados trimestres. Nesse passo, tem razão a Fazenda Nacional, no sentido de restabelecer as exigências que foram exoneradas pela decisão recorrida, ou seja, fatos geradores ocorridos em 31/03/2002 e 30/06/2002. Em relação ao desagravamento da multa de ofício (de 112,5% para 75%), a Recorrente discorda do entendimento expendido no acórdão recorrido de que o fato de a autuada não ter apresentado os documentos, sob alegação de não ter conseguido obtêlos, é motivo de desclassificação da escrita, mas não para agravar a multa de ofício. No entendimento da Recorrente e no acórdão trazido como paradigma de divergência, o não atendimento às várias intimações encaminhadas pela fiscalização justifica o agravamento da multa para 112,5%. O voto condutor do acórdão recorrido adotou os seguintes fundamentos para o desagravamento da multa (fl.291): No que respeita ao agravamento da multa, razão cabe ao contribuinte. De fato, o dispositivo legal indicado no auto de infração como fundamento para o agravamento da multa tem a seguinte dicção: Se o contribuinte não atender, no prazo marcado, à intimação para prestar esclarecimentos, as multas a que se referem os incisos I e II do caput passarão a ser de cento e doze inteiros e cinco décimos por cento e de duzentos e vinte e cinco por cento, respectivamente. Como se viu do relatório, o contribuinte não deixou de atender às intimações para prestar esclarecimentos, O fato de não ter apresentado os documentos, sob alegação de não ter conseguido obtêlos, é motivo de desclassificação da escrita, o que, de fato, foi feito. Para melhor clarificar a matéria transcrevese, a seguir, a legislação que rege a aplicação da multa de ofício, verbis: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) a) na forma do art. 8º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar Fl. 541DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O Processo nº 18471.001082/200711 Acórdão n.º 9101002.233 CSRFT1 Fl. 538 9 na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; (Incluída pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. (Incluída pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) § 1º O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) (...) § 2º Os percentuais de multa a que se referem o inciso I do caput o § 1º deste artigo serão aumentados de metade, nos casos de não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) I prestar esclarecimentos; (Renumerado da alínea “a” pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) II apresentar os arquivos ou sistemas de que tratam os arts. 11 a 13 da Lei nº 8.218, de 29 de agosto de 1991; (Renumerado da alínea “b” com nova redação pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) III apresentar a documentação técnica de que trata o art. 38 desta Lei. (Renumerado da alínea “c” com nova redação pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) (GRIFEI) Da redação do artigo transcrito, notase que a lei pretendeu restringir os casos para agravamento da penalidade elegendo as três hipóteses dispostas nos incisos "I", "II" e "III" do artigo 44, §2°, da Lei nº 9430/96. Os autos não tratam das situações descritas nos incisos "II" e "III", compreendidos como rol taxativo de documentos que, se não entregues no prazo estipulado na intimação, autorizam o agravamento. Quanto à prestação de esclarecimento prevista no inciso "I" do artigo transcrito, temse que o conhecimento do fato é pressuposto para que sobre ele sejam prestados esclarecimentos, o que não se confunde com a entrega de livros e documentos fiscais e contábeis necessários ao procedimento fiscal e sua falta suficiente ao arbitramento dos lucros. O entendimento no acórdão recorrido é que não justifica o agravamento da multa de ofício, porque o contribuinte não deixou de atender às intimações para prestar esclarecimentos, e sim deixou de apresentar os livros e documentos da sua escrituração, sob alegação de não ter conseguido obtêlos, motivo que levou à desclassificação da escrita e consequente arbitramento dos lucros. Conforme explicitado acima, inferese do inciso I do § 2º do art.44 da Lei nº 9.430/96 que o agravamento da multa de ofício tem cabimento quando o sujeito passivo não Fl. 542DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O 10 atende, no prazo marcado, à intimação para prestar esclarecimentos; que, à obviedade, devem guardar relação com a matéria apurada pela fiscalização, em contraste com o pagamento a menor ou com a declaração, inexata ou inexistente, com ela incompatível. No caso dos autos, a fiscalizada deixou de apresentar às autoridades fiscais os livros e documentos da sua escrituração, razão pela qual se deu o arbitramento dos lucros. Dos dispositivos do art. 44 da Lei nº 9.430/1996 depreendese que não se impõe penalidade para o fato de o contribuinte deixar de apresentar os livros fiscais e contábeis e documentos da sua escrituração, pois o §2° do citado art.44 é exaustivo e não permite a interpretação extensiva pelo aplicador da lei, já que estabelece uma penalidade. Partilho do entendimento dos que laboram na tese de que, nos casos em que se adota o regime de tributação com base no lucro arbitrado, tornase incabível o agravamento da multa de ofício de 75% para 112,5% (que é o caso), ou de 150% para 225% quando o contribuinte não exibe, à fiscalização, os livros comerciais e fiscais e que foi motivo para o arbitramento do lucro pela autoridade lançadora. (Precedente nos Acórdãos nº 10194.147, em 19/03/2003 (DOU 03/06/2003), e nº 10194.444, em 03/12/2003 (DOU 18/03/2004). Sendo o caso dos presentes autos, resta afastado o agravamento da multa de ofício aplicada; reduzindoa, portanto, de 112,5% para 75%, inclusive com supedâneo na Súmula CARF nº 96, verbis: Súmula CARF nº 96: A falta de apresentação de livros e documentos da escrituração não justifica, por si só, o agravamento da multa de oficio, quando essa omissão motivou o arbitramento dos lucros. Por todo o exposto, voto no sentido de DAR provimento PARCIAL ao Recurso Especial do procurador da Fazenda Nacional da seguinte forma: DANDO provimento quanto à decadência, mas NEGANDO provimento quanto ao agravamento da multa de ofício. É como voto. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Relator Fl. 543DF CARF MF Impresso em 14/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 14/03/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/20 16 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRET O
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Numero do processo: 16643.000338/2010-16
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Feb 02 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Mar 04 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2006
PREÇO DE TRANSFERÊNCIA. PRL-60. ADOÇÃO OBRIGATÓRIA. IMPORTAÇÃO DE COMPRIMIDOS A GRANEL. BLISTERIZAÇÃO. PROCESSO DE PRODUÇÃO. O processo de blisterização e a embalagem em caixas de papelão dos medicamentos importados a granel para venda no mercado interno constitui-se em uma última etapa do processo de produção, agregando valor ao produto e vinculando a apuração do ajuste de preço de transferência ao método PRL-60, em detrimento do método PRL-20, utilizável apenas e tão somente nos casos de simples revenda da mercadoria importada.
Recurso Especial do Procurador Provido.
Numero da decisão: 9101-002.198
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, pelo voto de qualidade, dar provimento ao Recurso, com retorno dos autos à Câmara a quo, para análise das demais questões não apreciadas pelo acórdão recorrido, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Daniele Souto Rodrigues Amadio (Suplente Convocada) que negavam provimento ao recurso. O Conselheiro Luís Flávio Neto apresentará declaração de voto.
(Assinado digitalmente)
CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO - Presidente
(Assinado digitalmente)
ADRIANA GOMES RÊGO - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rêgo, Luis Flávio Neto, André Mendes de Moura, Lívia de Carli Germano (Suplente Convocada), Rafael Vidal de Araújo, Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado), Daniele Souto Rodrigues Amadio (Suplente Convocada) e Carlos Alberto Freitas Barreto. Ausente, justificadamente, a Conselheira Maria Teresa Martinez Lopez.
Nome do relator: ADRIANA GOMES REGO
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PRL60. ADOÇÃO OBRIGATÓRIA. IMPORTAÇÃO DE COMPRIMIDOS A GRANEL. BLISTERIZAÇÃO. PROCESSO DE PRODUÇÃO. O processo de blisterização e a embalagem em caixas de papelão dos medicamentos importados a granel para venda no mercado interno constituise em uma última etapa do processo de produção, agregando valor ao produto e vinculando a apuração do ajuste de preço de transferência ao método PRL60, em detrimento do método PRL20, utilizável apenas e tão somente nos casos de simples revenda da mercadoria importada. Recurso Especial do Procurador Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, pelo voto de qualidade, dar provimento ao Recurso, com retorno dos autos à Câmara a quo, para análise das demais questões não apreciadas pelo acórdão recorrido, vencidos os Conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Lívia De Carli Germano (Suplente Convocada), Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado) e Daniele Souto Rodrigues Amadio (Suplente Convocada) que negavam provimento ao recurso. O Conselheiro Luís Flávio Neto apresentará declaração de voto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 64 3. 00 03 38 /2 01 0- 16 Fl. 2155DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.156 2 (Assinado digitalmente) CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Presidente (Assinado digitalmente) ADRIANA GOMES RÊGO Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Cristiane Silva Costa, Adriana Gomes Rêgo, Luis Flávio Neto, André Mendes de Moura, Lívia de Carli Germano (Suplente Convocada), Rafael Vidal de Araújo, Ronaldo Apelbaum (Suplente Convocado), Daniele Souto Rodrigues Amadio (Suplente Convocada) e Carlos Alberto Freitas Barreto. Ausente, justificadamente, a Conselheira Maria Teresa Martinez Lopez. Relatório A FAZENDA NACIONAL recorre a este Colegiado, por meio do Recurso Especial de efls. 2076/2108, contra o Acórdão nº 1301000.995, de 07 de agosto de 2012, e fls. 2026/2038, que, por unanimidade de votos, deu provimento ao recurso voluntário, nos seguintes termos: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2006 PREÇO DE TRANSFERÊNCIA. PRL20. IMPORTAÇÃO DE COMPRIMIDOS A GRANEL. BLISTERIZAÇÃO. EXIGÊNCIAS PARA A COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS. Conforme se verifica da análise dos elementos contidos nos autos, o simples processo de “blisterização” não se caracteriza como específico processo de “produção” a descaracterizar a possibilidade de aplicação do critério do PRL20 de que tratavam as disposições originárias do Art. 18, inciso II, alínea d, item 2 da Lei 9.430/96. Tal procedimento, conforme se verifica, é exigência para a comercialização do produto importado no mercado interno, não compreendendo, dessa forma, qualquer ato de aplicação do produto importado na produção. O recurso tem seu fundamento art. 7º, inciso II, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, tendo a recorrente apresentando como acórdão paradigma o de nº 130200.915, proferido em 10/04/2012, pela 2ª Turma da 3ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, que recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Ano calendário: 2002 DECADÊNCIA IRPJ E CSLL – ANO CALENDÁRIO DE 2002 – O fato gerador de IRPJ e CSLL é o lucro real anual e conclui Fl. 2156DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.157 3 se em 31122002, operandose a decadência apenas a partir de 31122007. DIVERGÊNCIA NA ADIÇÃO DE PREÇO DE TRANSFERÊNCIA – ÔNUS DA PROVA – A autoridade fiscal analisou os suportes analíticos apresentados pela contribuinte e notou insuficiência na adição voluntária de preço de transferência por ela efetuada. A contribuinte nega esse erro, mas não traz quaisquer outros documentos ou suportes que possam infirmar os controles verificados em sede de fiscalização. O ônus da prova cabe à contribuinte que dele não se desincumbiu. PREÇO DE TRANSFERÊNCIA MÉTODO DE PREÇO DE REVENDA MENOS LUCRO – PRL – PRODUTOS IMPORTADOS A GRANEL ACONDICIONAMENTO E EMBALAGEM – O acondicionamento dos medicamentos importados a granel em embalagens para venda no mercado interno altera a apresentação do produto e caracteriza processo de industrialização que agrega valor ao produto final, impondo se o ajuste no preço de transferência utilizandose a margem de lucro de 60%, quando for adotado o método de Preço de Revenda Menos Lucro (PRL60%). PREÇO DE TRANSFERÊNCIA – PRL 60% IN SRF 243/02 – ILEGALIDADE –A IN 243/02 buscou interpretar a Lei, porém excedeu seus limites ao presumir, sem autorização legal ou suporte fático, o valor agregado no Brasil por uma regra de proporcionalidade. Para não resultar em ajuste, tal valor teria que ser no mínimo custo incorrido no Brasil agregado à margem de 150% (60% do preço). As margens fixas determinadas pela Lei 9.430/96 aplicamse apenas aos custos importados de determinadas partes ou aos respectivos preços de revenda, não aos custos ou preços de itens nacionais e nem à margem ou ao valor agregado no Brasil. A IN 243/02 não está de acordo nem com o texto ou com o contexto da Lei. A Fazenda Nacional suscita divergência de interpretação da legislação tributária haja vista que o acórdão recorrido entendeu ser o método PRL20 aplicável para o ajuste de preços de transferência no caso de acondicionamento e embalagem de produtos adquiridos a granel. Já o acórdão colacionado como paradigma traz o entendimento de que em casos tais, ocorre efetivamente uma industrialização sobre o produto e, nesse caso, o método PRL60 deve ser aplicado para a determinação do ajuste a ser feito. Discorre, também, a Procuradoria, a respeito da estrita legalidade e aplicabilidade ao presente caso da Instrução Normativa SRF nº 243/2002, no que diz respeito à metodologia de cálculo do preço parâmetro pelo método PRL60. Também discorre a respeito da inclusão dos custos com frete, seguros e impostos incidentes na importação no valor efetivamente pago pela mercadoria importada para efeito de determinar o custo da operação controlada (ou o “preço praticado”). Defende que tais custos sejam considerados para efeito de aferição da dedutibilidade. Por fim, defende também a aplicação de juros sobre a multa de ofício e requer, seja dado provimento integral ao recurso, “para reformar o acórdão recorrido no ponto em que considerou adequado o cancelamento do auto de infração no tocante à utilização do método PRL pela contribuinte”. Fl. 2157DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.158 4 O recurso foi admitido por meio do Despacho do Presidente da 3ª Câmara, 1ª Seção de Julgamento, de 22 de julho de 2014, efls. 2.110/2.113, havendo a Interessada apresentado as Contrarrazões de efls. 2.119/2.151, por meio das quais, em síntese, aduz: · Preliminarmente, propugna pelo não conhecimento do recurso especial, ou o seu conhecimento apenas de forma parcial, pelo fato deste não ter demonstrado o dissídio jurisprudencial em relação a alguns tópicos destacados, mormente os que versam sobre a aplicabilidade da IN SRF 243/2002, o cômputo dos custos relativos ao frete, seguro e impostos incidentes na importação para efeito de dedutibilidade, conforme o disposto no art. 18, § 6º, da Lei 9.430/96 e a legalidade da incidência de juros sobre a multa de ofício; · No mérito, em primeiro lugar, pelo cabimento da adoção do método PRL 20 defende que o simples procedimento de acondicionamento do produto no Brasil, sem qualquer processo de transformação ou alteração em suas características originais, não configura produção, razão pela qual se aplica o método PRL20; o conceito de produção previsto na Lei 9.430/96 não guarda qualquer vínculo com o conceito de industrialização previsto no Regulamento do IPI, sendo, portanto, conceitos distintos; os bens importados em questão não são aplicados em processo produtivo, na medida que a etapa que precede a sua revenda consiste em simples acondicionamento, não havendo qualquer alteração em relação à identidade original dos referidos produtos; · Ainda no mérito, propugna a interessada que é incabível a adoção da metodologia prevista na IN SRF 243/02 para o cálculo do PRL60, haja vista que tal procedimento vai de encontro ao estabelecido pela Lei nº 9.430/96, sendo, portanto, ilegal; · Por último, em se entendendo aplicável o método PRL60, conforme a metodologia constante da IN SRF 243/02, os custos incorridos com frete, seguro e impostos incidentes na importação devem ser neutros para efeitos de preço de transferência, devendo ser excluídos do preço parâmetro. Pelos motivos acima elencados, requer a Interessada seja negado provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional. É o relatório. Voto Conselheira Adriana Gomes Rego, Relatora O recurso é tempestivo mas como teve a sua admissibilidade questionada pela recorrida, faço algumas considerações. Trouxe a recorrente, Fazenda Nacional, apenas um dissídio jurisprudencial para justificar a propositura do presente recurso. O referido Acórdão, proferido pela 2ª Turma Fl. 2158DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.159 5 da 3ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, em 10/04/2012, recebendo o nº 1302 00.915, decidiu de forma diametralmente oposta ao acórdão recorrido, pelo menos no que tange à aplicabilidade do método PRL60 para o ajuste de preços de transferência no caso de acondicionamento e embalagem de produtos adquiridos a granel. Coincidentemente, a contribuinte objeto da decisão paradigma também é uma multinacional do ramo farmacêutico, realizando, portanto, a mesma atividade empreendida pela ora recorrida. Assim, correto o despacho de admissibilidade ao receber o recurso especial. Em relação às demais matérias tratadas pela Fazenda Nacional, a Procuradoria não poderia apontar a divergência, porque o acórdão recorrido, ao afastar o método utilizado pela Fiscalização, cancelou o lançamento em sua totalidade, ficando prejudicada as demais matérias. Assim, se o julgamento desta CSRF entender cabível o PRL 60, será necessário devolver à apreciação da Câmara a quo os demais assuntos. Portanto, a discussão objeto deste julgamento cingirseá à aplicabilidade do método PRL20 ou do método PRL60 ao caso tratado. Para contextualizar, destaco que a contribuinte importa medicamentos em forma de comprimidos, que chegam ao país à granel e, por força da legislação brasileira, se obriga a acondicionar o produto, antes de revendêlo localmente, em blísteres e caixas de papelão. Às caixas de remédio ainda são adicionadas as respectivas bulas. A contribuinte, para efeito de apurar eventual ajuste de preços de transferência, aplica aos produtos que importa o método PRL20, enquanto que a fiscalização entende ser obrigatória a adoção do método PRL60. O art. 18 da Lei nº 9.430/96 define o método PRL como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos de alguns valores, dentre eles, a margem de lucro, presumida em 60% na hipótese de bens aplicados à produção. No caso de simples revenda das mercadorias, estabelece a lei que essa presunção é de 20%. O cerne da questão, assim, é determinar se a blisterização dos comprimidos, sua colocação em caixas de papelão e ulterior adição da bula consiste em mais uma etapa do processo produtivo, como defende a Fazenda Nacional, ou se se trata de mero acondicionamento uniforme em quantidades usadas para fins terapêuticos, sem que haja qualquer processo de transformação ou alteração de suas características originais, não configurando produção, como entende a empresa NOVARTIS. Mas qual o conceito de processo produtivo? Processo produtivo, em sentido lato, nada mais é do que a combinação de fatores de produção que proporciona a obtenção de um dado produto final. Num processo produtivo são incorporados fatores que, após sua transformação, levam a um produto final (ou acabado). Saliento que esses conceitos estão à disposição em qualquer manual de engenharia de produção ou de administração de produção, com pequenas alterações nos seus termos. Aprofundando um pouco a temática e me socorrendo na melhor doutrina, posso dizer que “Processo é qualquer atividade que recebe uma entrada (input), agregalhe valor e gera uma saída (output) para um cliente interno ou externo, fazendo uso dos recursos da organização para gerar resultados concretos” (HARRINGTON, H. J. Aperfeiçoando processos empresariais. São Paulo: Makron Books, 1993, p.10). Fl. 2159DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.160 6 Por sua vez, Hammer e Champy (HAMMER, Michael; CHAMPY, James. Reengineering the Corporation. New York; HarperBusiness, 1994, p. 2), afirmam que “um processo é um grupo de atividades realizadas numa sequência lógica com o objetivo de produzir um bem ou um serviço que tem valor para um grupo específico de clientes”. Com efeito, o conceito de produção equivale ao de fabricação ou industrialização. Já o conceito de industrialização, de longa data, está consignado no Regulamento do IPI, encontrando seu fundamento nas Leis nº 5.172/1966 (CTN) e nº 4.502/1964. Segundo esse conceito, utilizado aqui de forma subsidiária, industrialização é qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, entre elas a que importe em alterar a apresentação do produto pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento). É o que dispõe o art. 4º do Regulamento do IPI (Decreto nº 7.212/2010 que revogou o Decreto nº 4.502/2002), verbis: Art. 4o Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como (Lei nº 5.172, de 1966, art. 46, parágrafo único, e Lei nº 4.502, de 1964, art. 3º, parágrafo único): (...) IV a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento); ou (...) Dos conceitos apontados, extraise que no processo produtivo, ou “produção”, alguns elementos são essenciais: combinação de fatores de produção (capital, trabalho, instrumentos de produção etc.), entradas e saídas (produto final), numa sequência lógica, e agregação de valor. No caso em apreço, a NOVARTIS importa o produto à granel e, localmente, o embala em blísteres e caixas de papelão, sem o que não poderia comercializálo, por força da legislação sanitária brasileira. Ora, se o seu produto só pode ser vendido se for devidamente embalado, resta óbvio que não estamos falando de simples revenda e, por conseguinte, que o procedimento de blisterização e a colocação em caixas de papelão dos comprimidos fazem parte do processo produtivo, constituindo uma última etapa da produção, antes de ser entregue ao respectivo departamento comercial. Blíster é o nome da embalagem em formato de cartela, composta por um cartão ou filme plástico que serve de base para a fixação do produto dentro de uma bolha plástica (o blister) normalmente com o formato dos contornos do produto. Essa bolha é moldada pelos processos de “Vacuum Forming” ou Termoformagem, utilizandose de filmes plásticos de PVC ou PET. Ou seja, não é uma operação qualquer de “mero acondicionamento”, como quer fazer supor a empresa NOVARTIS; faz parte efetivamente de um processo, atualmente, quase que totalmente automatizado, com a utilização de mão de obra especializada para a operação e manuseio das máquinas. Fl. 2160DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.161 7 Feita a blisterização, o produto ainda passa por um processo de colocação das cartelas com os comprimidos em caixas de papelão, adição da respectiva bula e aposição de selo de segurança, o que dá maior confiabilidade à mercadoria e, consequentemente, maior valor agregado. Só então, podese considerar que o produto está totalmente acabado e pronto para comercialização. No caso dos autos, não resta dúvida que a blisterização e o acondicionamento dos medicamentos importados à granel em embalagens de papelão, alterando a apresentação do produto para venda no mercado interno, caracteriza etapa do processo de produção que agrega valor ao produto final. Evidente que após esta última etapa de produção foi agregado valor ao produto inicialmente importado. A embalagem foi totalmente realizada em suas unidades no Brasil, utilizando mão de obra local, maquinário específico, imobilizado em suas indústrias, com aposição de sua marca ao produto. Tudo isso tem valor e pode ser estimado; se representa 10%, 15% ou qualquer outro percentual do produto final, não importa para efeitos legais, porque ao tempo dos fatos, a legislação só apresentava dois percentuais: ou se tratava de revenda, ou de produção. Não há meiotermo. E, como dito, de revenda não se trata. A embalagem do produto poderia ter sido feita ainda no exterior, mas não o foi até por questões óbvias: sai muito mais barato para a empresa transportar os comprimidos a granel para localmente embalálos do que importálos definitivamente prontos. Isso é fato, eis que em termos de volume, a mesma quantidade de comprimidos a granel representa muito menos do que se já estivesse acondicionado em caixas, gerando um custo de transporte muito maior. A própria mão de obra utilizada no Brasil sabese ser muito mais barata do que nos países de primeiro mundo de onde se origina o produto importado. Convém registrar, ainda, que não se trata de mera embalagem para transporte, mas de apresentação comercial do produto, da qual resulta agregação de valor em relação ao produto importado à granel. A aposição da marca SANDOZ na embalagem (caso dos comprimidos importados pela interessada), com sua exposição à venda, por si só também agrega valor ao mesmo, eis que se traduz em marca conhecida globalmente pela gama e qualidade dos produtos ofertados. Por conseguinte, não se trata de mera revenda dos produtos na forma como foram importados, sendo inaplicável o método PRL20, haja vista o disposto no art. 18, inc. II, alínea "d", itens 1 e 2, da Lei nº 9.430/96, abaixo reproduzido verbis: Art. 18. Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e direitos, constantes dos documentos de importação ou de aquisição, nas operações efetuadas com pessoa vinculada, somente serão dedutíveis na determinação do lucro real até o valor que não exceda ao preço determinado por um dos seguintes métodos: (...) II Método do Preço de Revenda menos Lucro PRL: definido como a média aritmética dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos: (...) d) da margem de lucro de: 1. sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e do valor Fl. 2161DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.162 8 agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção; 2. vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda, nas demais hipóteses. (Negritei) É bem verdade que, de acordo com a Lei nº 9.430/96, dependendo do produto aplicado à produção, a utilização do método PRL60 poderia, sim, trazer algum tipo de distorção. Porém, não nos cabe fazer este tipo de avaliação. Devemos, sim, aplicar a legislação a partir do caso concreto, amoldando os fatos à norma. Por oportuno, destaco que essa mesma lei tem sofrido alterações desde a sua edição, no sentido de acomodar os diversos interesses envolvidos e, efetivamente, mitigar eventuais distorções. Com efeito, a Lei nº 12.715, de 17 de setembro de 2012, modificou o art. 18 da Lei nº 9.430/96, introduzindo o § 12, abaixo reproduzido: § 12. As margens a que se refere a alínea d do inciso II do caput serão aplicadas de acordo com o setor da atividade econômica da pessoa jurídica brasileira sujeita aos controles de preços de transferência e incidirão, independentemente de submissão a processo produtivo ou não no Brasil, nos seguintes percentuais: I 40% (quarenta por cento), para os setores de: a) produtos farmoquímicos e farmacêuticos; b) produtos do fumo; c) equipamentos e instrumentos ópticos, fotográficos e cinematográficos; d) máquinas, aparelhos e equipamentos para uso odontomédico hospitalar; e) extração de petróleo e gás natural; e f) produtos derivados do petróleo; II 30% (trinta por cento) para os setores de: a) produtos químicos; b) vidros e de produtos do vidro; c) celulose, papel e produtos de papel; e d) metalurgia; e III 20% (vinte por cento) para os demais setores (Negritei) Portanto, conforme se verifica na legislação hoje vigente, os produtos farmacêuticos estão sujeitos a um percentual de 40% (nem 20%, nem 60%) de margem de lucro para ser deduzido no cálculo do preço de referência. Mas, à época, o único percentual possível era o de 60%. Assim, entendo correto o método utilizado pela Fiscalização, mas como dito por ocasião da admissibilidade, fazse necessário que a Câmara a quo analise as matérias trazidas pela recorrente que não foram apreciadas porque o lançamento havia sido cancelado. Ante todo o exposto, voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao Recurso Especial da Fazenda Nacional, reconhecendo ser devida a adoção do método PRL60 ao presente caso, mas determinando que a Câmara a quo se manifeste sobre:. 1 legalidade e aplicabilidade ao presente caso da Instrução Normativa SRF nº 243/2002, no que diz respeito à metodologia de cálculo do preço parâmetro pelo método PRL60; Fl. 2162DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.163 9 2 inclusão ou não dos custos com frete, seguros e impostos incidentes na importação no valor efetivamente pago pela mercadoria importada para efeito de determinar o custo da operação controlada (ou o “preço praticado”); e 3 aplicação de juros sobre a multa de ofício. É como voto. (Assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Declaração de Voto Conselheiro Luís Flávio Neto Na reunião de fevereiro de 2016, a Câmara Superior de Recursos Fiscais (doravante “CSRF”) analisou o recurso especial interposto pela Procuradoria da Fazenda Nacional (doravante “PFN” ou “recorrente”), em que é recorrida a NOVARTIS BIOCIÊNCIAS S.A. (doravante “NOVARTIS”, “recorrida” ou “contribuinte”), no processo n. 16643.000338/201016. Em tal recurso, a PFN requer a reforma do acórdão n. 1301000.995 (doravante “acórdão a quo” ou “acórdão recorrido”), proferido pela r. 1a Turma Ordinária da 3a Câmara desta 1a Seção (doravante “Turma a quo”). O acórdão recorrido, proferido por unanimidade pela Turma a quo, restou assim ementado: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2006 PREÇO DE TRANSFERÊNCIA. PRL20. IMPORTAÇÃO DE COMPRIMIDOS A GRANEL. BLISTERIZAÇÃO. EXIGÊNCIAS PARA A COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS. Conforme se verifica da análise dos elementos contidos nos autos, o simples processo de “blisterização” não se caracteriza como específico processo de “produção” a descaracterizar a possibilidade de aplicação do critério do PRL20 de que tratavam as disposições originárias do Art. 18, inciso II, alínea d, item 2 da Lei 9.430/96. Tal procedimento, conforme se verifica, é exigência para a comercialização do produto importado no mercado interno, não compreendendo, dessa forma, qualquer ato de aplicação do produto importado na produção. Fl. 2163DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.164 10 No julgamento do recurso especial interposto pela PFN, a CSRF, por voto de qualidade, decidiu reformar o acórdão da Turma a quo, de forma a manter a cobrança do tributo, multa e juros lançados no AIIM. Nesta declaração de voto, permissa vênia, apresento os fundamentos que me fizeram votar pelo não provimento do recurso especial interposto pela Fazenda PFN, por compreender que a cobrança tributária em questão ofende as normas que tutelam a matéria, em especial aquelas que decorrem do art. 18, II, “d”, “1” e “2”, da Lei n. 9.430/96, na redação que lhe foi dada pela Lei n. 9.959/00. À época dos fatos atinentes ao presente caso (2006), a Lei 9.430/96, com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 9.959/00, apresentava os seguintes enunciados prescritivos: Art. 18. Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e direitos, constantes dos documentos de importação ou de aquisição, nas operações efetuadas com pessoa vinculada, somente serão dedutíveis na determinação do lucro real até o valor que não exceda ao preço determinado por um dos seguintes métodos: (...) d) da margem de lucro de: 1. sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os valores referidos nas alíneas anteriores e do valor agregado no País, na hipótese de bens importados aplicados à produção; 2. vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda, nas demais hipóteses. O legislador prescreveu, então, duas margens para o cálculo do PRL: uma mais elevada, de 60%, exclusivamente para “hipótese de bens importados aplicados à produção” (doravante “PRL60”), e outra mais branda, de 20%, aplicável a todas as demais hipóteses (doravante “PRL20”). No caso dos autos, a NOVARTIS importou comprimentos de medicamento (“Prexige 400 mg”) fornecidos por empresa que lhe era relacionada, submetendose, portanto, à legislação de preços de transferência. O medicamento foi adquirido pronto e acabado para o consumo, “a granel”. No Brasil, cumprindo com as exigências das agências reguladoras nacionais, que vedam a venda de medicamento ao consumidor a modalidade “a granel”, a NOVARTIS realizou a “blisterização” e embalagem dos comprimentos, que consistiu no acondicionamento dos comprimentos em “blisters” e caixas de papelão, sem a oposição de marca. O núcleo do presente recurso especial consiste, portanto, em saber se a reunião em pequenas quantidades e acondicionamento de comprimidos que foram importados prontos e acabados de uma parte relacionada, nos termos do art. 18 da Lei n. 9.430/96, faz com que tais medicamentos sejam considerados “bens importados aplicados à produção”. Em outras palavras, é necessário compreender se tal conduta configura a Fl. 2164DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.165 11 produção, à qual deve ser aplicado a margem de 60% para o cálculo do PRL, por ser situação particular a todas as “demais hipóteses” às quais se aplicariam a margem de 20%. A investigação quanto ao sentido da “produção” e “aplicação” de bens importados, para o controle dos preços de transferência estabelecido pelo art. 18, II, “d”, “1” e “2”, da Lei n. 9.430/96, pode ser conduzida ao menos por duas vertentes: i) pela tomada em empréstimo dos significados tradicionais das expressões na legislação aplicável ao IPI; ii) pela construção de sentido a partir da Lei n. 9.430/96 e dos propósitos da legislação de preços de transferência. De início, é controvertida a tomada em empréstimo da legislação aplicável ao IPI para a interpretação da expressão “bens importados aplicados à produção”, contida no art. 18 da Lei n. 9.430/96. Não se trata apenas de tributos diversos, como também é muito distinto o contexto e a finalidade com que leva à escolha dos termos utilizados em seus enunciados prescritivos. Não obstante, esse foi o caminho trilhado pela i. Conselheira Relatora, que equiparou o termo “produção”, inserto no art. 18 da Lei n. 9430/96, ao termo “industrialização” para fins da legislação do IPI. Por esse expediente interpretativo, considerouse abarcadas por “produção” as condutas elencadas nos incisos do art. 4o do Decreto nº 7.212/2010 (Regulamento do IPI), em especial o “acondicionamento ou reacondicionamento”: Art. 4o Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como: I a que, exercida sobre matériasprimas ou produtos intermediários, importe na obtenção de espécie nova (transformação); II a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o acabamento ou a aparência do produto (beneficiamento); III a que consista na reunião de produtos, peças ou partes e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal (montagem); IV a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento); ou V a que, exercida sobre produto usado ou parte remanescente de produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produto para utilização (renovação ou recondicionamento). Parágrafo único. São irrelevantes, para caracterizar a operação como industrialização, o processo utilizado para obtenção do produto e a localização e condições das instalações ou equipamentos empregados. Fl. 2165DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.166 12 No entanto, ainda que se tome de empréstimo a legislação do IPI para o deslinde da demanda, permissa venia, não se pode concordar com a equiparação dos termos “produção” e “industrialização”. Essa assertiva pode ser confirmada pela investigação da própria legislação do IPI. Ocorre que, no âmbito do IPI, “industrialização” é gênero do qual “produção” e “acondicionamento” ou “reacondicionamento” são espécies. Ou seja, “industrializar” é mais amplo que “produzir”, não podendo ser equiparados tais termos. Por sua vez, “produzir” e “acondicionar” são espécies distintas do gênero “industrializar” precisamente devido às características que as distinguem e, portanto, não se confundem. De fato, a produção, para os propósitos do Regulamento do IPI, é melhor descrita no inciso II do art. 4o, como a conduta que, “exercida sobre matériasprimas ou produtos intermediários, importe na obtenção de espécie nova”, de forma a ocorrer “transformação”. Por sua vez, “acondicionamento” ou “reacondicionamento” também são espécies do gênero industrialização, reguladas no inciso II do referido art. 4o, mas que não de confundem com produção ou transformação. Tratase de conduta “que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria”. A questão é conhecida pela doutrina. LUÍS EDUARDO SCHOUERI1 identifica a referida “produção” como “aquela etapa depois da qual o produto sofre tamanha mudança, que já não mais é possível dizer que de trata daquele mesmo produto”, que mais se aproxima da “transformação” referida na legislação do IPI. E conclui o referido professor: “7.2.4.5.3. Tal não é o caso de processos de beneficiamento, acondicionamento e reacondicionamento. Na montagem, pode ser possível fazer referencia a um todo, sem que se mencionem as partes. Estas, entretanto, são plenamente localizáveis e individualizáveis, caracterizando, à toda prova, uma revenda.” Dessa forma, caso se recorra ao Regulamento do IPI como fonte de sentido para a expressão bens importados aplicados à produção”, contida no art. 18 da Lei n. 9.430/96, apenas uma conclusão seria possível: a blisterização realizada pela NOVARTIS dos comprimidos importados a granel seria considerada industrialização por acondicionamento, mas não produção ou transformação. Por consequência, então, deverseia aplicar o art. 18, “d”, “2” da Lei 9.430/96, que estabelece a margem de 20%. Embora o caso concreto possa ser solucionado desse modo, não se pode deixar de registrar que esse expediente interpretativo não é hábil para a solução de todas as situações. Ocorre que significado da expressão “bens importados aplicados à produção” deve ser construído a partir da Lei n. 9.430/96 e dos propósitos da legislação de preços de transferência. 1 SCHOUERI, Luís Eduardo. Preços de transferência no Direito tributário brasileiro. São Paulo : Dialética, 2006, p. 140. Fl. 2166DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.167 13 Nesse sentido, LUÍS EDUARDO SCHOUERI2 bem ilustra os riscos desse recurso à legislação do IPI sem a devida ponderação, in verbis: “7.2.4.5.4. Nesse sentido, o termo ‘produção’ deve se restringir aos casos de ‘transformação’ e, ainda assim, nem sempre. Com efeito, nos termos da legislação do IPI, basta que um produto obtenha nova classificação fiscal para que se tenha uma transformação. Ocorre que, muitas vezes, se dão classificações fiscais diversas a produtos idênticos, conforme o estado em que se apresentem. Isso é muito comum para os produtos químicos. Ora, tal ‘transformação’ não implica se perca o produto, que continua plenamente localizável e, portanto, sujeito a ser revendido, tal como entende a fiscalização.” Dessa forma, ainda que uma operação seja classificada para fins de IPI como “transformação”, não necessariamente deverá ser considerada “produção” para fins de preços de transferência. Não há comunicação obrigatória e necessária de tal jaez. Ocorre que a legislação de preços de transferência, vigente à época dos fatos relacionados ao presente caso, adotou a margem de 60% considerando que o bem importado seria de tal forma alterado, representando apenas um dos insumos do produto final produzido, que o processo realizado pelo adquirente nacional lhe agregaria considerável valor. Daí a distinção da margem de 20% adotada pelo legislador quando se tratasse de bens importados revendidos e de 60% para a “hipótese de bens importados aplicados à produção”. O caso dos autos evidencia tal questão. Ainda que a legislação do IPI classificasse a conduta do contribuinte como “transformação” (o que, como se viu, não é o caso, pois se trata de mero “acondicionamento”), o comprimido importado corresponde a 95% do produto final, de forma a ser razoável classificar a operação como mera revenda. Não seria razoável que, agregandose tão pouco ao bem importado, terseia a migração de uma margem de 20% para uma margem de 60%. Nesse cenário, foi acertada a decisão exarada por unanimidade pela Turma a quo, com destaque ao seguinte trecho: “A respeito das operacõ̧es praticadas pela contribuinte e consideradas pela fiscalização, relevante se faz o destaque de que, tanto os argumentos apresentados pelas próprias autoridades fiscalizatórias quanto a contribuinte/fiscalizada apontam que, na importacã̧o de produtos advindos de empresas a ela ligadas, na forma de comprimidos a granel, à contribuinte impõese a necessidade de alteracã̧o da forma de apresentacã̧o do produto, referente à colocação em blísteres e caixas (embalagens primária e secundária). A questão então que se impõem é a de verificar se as operacõ̧es, da forma como realizadas, caracterizam, ou não, efetiva “produção” – como continuidade/finalização, do processo de industrializacã̧o iniciado no exterior , ou se de mero acondicionamento para a comercialização no país. 2 SCHOUERI, Luís Eduardo. Preços de transferência no Direito tributário brasileiro. São Paulo : Dialética, 2006, p. 140. Fl. 2167DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO Processo nº 16643.000338/201016 Acórdão n.º 9101002.198 CSRFT1 Fl. 2.168 14 Analisando todas as consideracõ̧es apresentadas, e, de acordo com as normas regentes da matéria, entendo, com a devida vênia, assistir razão à contribuinte, tendo em vista que, conforme restou amplamente demonstrado nos autos, não se trata, de forma alguma, em qualquer processo de alteracã̧o do produto final comercializado, mas sim, apenas e tão somente de procedimento voltado ao atendimento de normas internas aplicadas à comercializacã̧o específica do produto importado, que, em absolutamente nada, representa alteracã̧o em sua substância. Nessa linha, a par dos valorosos argumentos trazidos pela fiscalização, e, ainda, apresentados pela r. decisão de primeira instância ou mesmo nas razões aduzidas pela douta procuradoria, entendo que, na linha destacada pelas resposta de consultas trazidas pela contribuinte, e, ainda, de acordo com os argumentos por ela mesma apresentados, a introdução dos referidos comprimidos (importados à granel) em embalagens exigidas pela vigilância sanitária brasileira não pode, de forma alguma, ser considerada como procedimento de produção, agregando valor ao produto, a ponto de exigir a aplicacã̧o da sistemática do indicado PRL60, da forma como pretende a douta fiscalização.” De fato, a conduta do contribuinte corresponde à revenda, em quantidades menores e com o acondicionamento exigido pelas normas sanitárias brasileiras, o mesmo bem importado a granel. Portanto, a recorrente agiu corretamente ao adotar, na apuração de ajustes para fins de preços de transferência, a margem de 20% prescrita pelo art. 18, “d”, “2” da Lei 9.430/96, com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 9.959/00. Pelo exposto, voto para negar provimento ao recurso especial interposto pela PFN, de forma a manter a correta decisão da Turma a quo, que afastou a indevida cobrança tributária em tela. (Assinado digitalmente) Luís Flávio Neto Fl. 2168DF CARF MF Impresso em 04/03/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 26/02/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/03/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 02/03/2016 por LUIS FLAVIO NETO, Assinado digitalm ente em 03/03/2016 por CARLOS ALBERTO FREITAS BARRETO
score : 1.0
Numero do processo: 13819.001713/2003-79
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jan 26 00:00:00 UTC 2010
Ementa: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Ano-calendário: 1997, 1998
DECADÊNCIA - PIS, COFINS, CSLL E INSS
A partir da Súmula 8 do STF, a contagem do prazo decadencial para o lançamento das contribuições sociais deve orientar-se pelos dispositivos do Código Tributário Nacional - CTN, e não mais pelo art. 45 da Lei 8.212/1991.
DECADÊNCIA - RH, PIS, COFINS, CSLL E INSS
Estando claramente configuradas nos autos as hipóteses excludentes do prazo decadencial reduzido (Dolo e Fraude), o inicio da contagem se desloca para o art. 173 do CTN.
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ
Ano-calendário: 1997, 1998
PAGAMENTOS EFETUADOS NO REGIME DE TRIBUTAÇÃO SIMPLIFICADA - SIMPLES
Havendo pagamentos realizados na sistemática simplificada, estes devem ser considerados para efeito de dedução no presente auto de infração, uma vez que dizem respeito ao próprios tributo e aos mesmos períodos autuados.
DUPLICIDADE DE COBRANÇA - DÉBITO INCLUÍDO EM PROCESSO
DE PARCELAMENTO
Caso seja confirmado o Parcelamento Especial - PAES - Conta n°
100300372066, bem como a coincidência entre os tributos e os períodos de apuração, incumbe à Delegacia de origem fazer o ajustamento entre os processos, mediante a devida imputação dos valores já pagos, especialmente em relação aos acréscimos legais (multa e juros).
ACRÉSCIMOS MORATÓRIOS - TAXA SELIC
Perfeitamente cabível a exigência dos juros de mora calculados à taxa referencial do sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, para
títulos federais, acumulada mensalmente, conforme os ditames do art. 61, § 3°, e art. 5°, § 3°, ambos da Lei n° 9.430/96, uma vez que se coadunam com a norma hierarquicamente superior e reguladora da matéria - Código Tributário Nacional, art 161, § 1°.
ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - TAXA SELIC
O controle de constitucionalidade dos atos legais é matéria afeta ao Poder Judiciário. Descabe às autoridades administrativas de qualquer instância examinar a constitucionalidade das normas inseridas no ordenamento jurídico
nacional.
ASSUNTO: OUTROS TRIBUTOS OU CONTRIBUIÇÕES
Ano-calendário: 1997, 1998
LANÇAMENTOS DECORRENTES
Tratando-se da mesma matéria fática, e não havendo questões de direito específicas a serem apreciadas, o decidido quanto ao lançamento de IRPJ deve ser estendido às contribuições - PIS, COFINS, CSLL e INSS.
Numero da decisão: 1802-000.332
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar
provimento parcial ao recurso, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente
julgado.
Nome do relator: José de Oliveira Ferraz Corrêa
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ementa_s : NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano-calendário: 1997, 1998 DECADÊNCIA - PIS, COFINS, CSLL E INSS A partir da Súmula 8 do STF, a contagem do prazo decadencial para o lançamento das contribuições sociais deve orientar-se pelos dispositivos do Código Tributário Nacional - CTN, e não mais pelo art. 45 da Lei 8.212/1991. DECADÊNCIA - RH, PIS, COFINS, CSLL E INSS Estando claramente configuradas nos autos as hipóteses excludentes do prazo decadencial reduzido (Dolo e Fraude), o inicio da contagem se desloca para o art. 173 do CTN. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ Ano-calendário: 1997, 1998 PAGAMENTOS EFETUADOS NO REGIME DE TRIBUTAÇÃO SIMPLIFICADA - SIMPLES Havendo pagamentos realizados na sistemática simplificada, estes devem ser considerados para efeito de dedução no presente auto de infração, uma vez que dizem respeito ao próprios tributo e aos mesmos períodos autuados. DUPLICIDADE DE COBRANÇA - DÉBITO INCLUÍDO EM PROCESSO DE PARCELAMENTO Caso seja confirmado o Parcelamento Especial - PAES - Conta n° 100300372066, bem como a coincidência entre os tributos e os períodos de apuração, incumbe à Delegacia de origem fazer o ajustamento entre os processos, mediante a devida imputação dos valores já pagos, especialmente em relação aos acréscimos legais (multa e juros). ACRÉSCIMOS MORATÓRIOS - TAXA SELIC Perfeitamente cabível a exigência dos juros de mora calculados à taxa referencial do sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, para títulos federais, acumulada mensalmente, conforme os ditames do art. 61, § 3°, e art. 5°, § 3°, ambos da Lei n° 9.430/96, uma vez que se coadunam com a norma hierarquicamente superior e reguladora da matéria - Código Tributário Nacional, art 161, § 1°. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - TAXA SELIC O controle de constitucionalidade dos atos legais é matéria afeta ao Poder Judiciário. Descabe às autoridades administrativas de qualquer instância examinar a constitucionalidade das normas inseridas no ordenamento jurídico nacional. ASSUNTO: OUTROS TRIBUTOS OU CONTRIBUIÇÕES Ano-calendário: 1997, 1998 LANÇAMENTOS DECORRENTES Tratando-se da mesma matéria fática, e não havendo questões de direito específicas a serem apreciadas, o decidido quanto ao lançamento de IRPJ deve ser estendido às contribuições - PIS, COFINS, CSLL e INSS.
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I W MINISTÉRIO DA FAZENDA • A, CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS PRIMEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo n° 13819.001713/2003-79 Recurso n° 158.799 Voluntário Acórdão n° 1802-00.332 — 2. Turma Especial Sessão de 26 de janeiro de 2010. Matéria SIMPLES Recorrente TRANSPACON LOCAÇÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS LTDA. Recorrida 2' TURMA/DRJ-CAMPINAS/SP ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano-calendário: 1997, 1998 DECADÊNCIA - PIS, COFINS, CSLL E INSS A partir da Súmula 8 do STF, a contagem do prazo decadencial para o lançamento das contribuições sociais deve orientar-se pelos dispositivos do Código Tributário Nacional - CTN, e não mais pelo art. 45 da Lei 8.212/1991. DECADÊNCIA - RH, PIS, COFINS, CSLL E INSS Estando claramente configuradas nos autos as hipóteses excludentes do prazo decadencial reduzido (Dolo e Fraude), o inicio da contagem se desloca para o art. 173 do CTN. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ Ano-calendário: 1997, 1998 PAGAMENTOS EFETUADOS NO REGIME DE TRIBUTAÇÃO 1 SIMPLIFICADA - SIMPLES Havendo pagamentos realizados na sistemática simplificada, estes devem ser considerados para efeito de dedução no presente auto de infração, uma vez que dizem respeito ao próprios tributo e aos mesmos períodos autuados. DUPLICIDADE DE COBRANÇA - DÉBITO INCLUÍDO EM PROCESSO DE PARCELAMENTO Caso seja confirmado o Parcelamento Especial - PAES - Conta n° 100300372066, bem como a coincidência entre os tributos e os períodos de apuração, incumbe à Delegacia de origem fazer o ajustamento entre os processos, mediante a devida imputação dos valores já pagos, especialmente em relação aos acréscimos legais (multa e juros). ACRÉSCIMOS MORATÓRIOS - TAXA SELIC Perfeitamente cabível a exigência dos juros de mora calculados à taxa referencial do sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, para títulos federais, acumulada mensalmente, conforme os ditames do art. 61, § 3°, e art. 5°, § 3°, ambos da Lei n° 9.430/96, uma vez que se coadunam com a norma hierarquicamente superior e reguladora da matéria - Código Tributário Nacional, art 161, § 1°. ARGUIÇÃO DE INCONSITMCIONALIDADE - TAXA SELIC O controle de constitucionalidade dos atos legais é matéria afeta ao Poder Judiciário. Descabe às autoridades administrativas de qualquer instância examinar a constitucionalidade das normas inseridas no ordenamento jurídico nacional. ASSUNTO: OUTROS TRIBUTOS OU CONTRIBUIÇÕES Ano-calendário: 1997, 1998 LANÇAMENTOS DECORRENTES Tratando-se da mesma matéria fática, e não havendo questões de direito específicas a serem apreciadas, o decidido quanto ao lançamento de IRPJ deve ser estendido às contribuições - PIS, COEINS, CSLL e INSS. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento parcial ao recurso, nos termos • • elatório e voto que passam a integrar o presente julgado. ESTER ri' QUES LINS DE SOU' — Presidente (i 9— ,l( n ------7 1 J . DE OLIVEIRA FERRAZ .4 " '. A — Relator •EDITADO EM: 8 8 ABR 2010 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa (Presidente da Turma), João Francisco Bianco (Vice-Presidente), José de Oliveira Ferraz Corrêa, Natanael Vieira dos Santos (Suplente convocado), Nelso Kichel (Suplente convocado) e Edwal Casoni de Paula Femandes hmior. Ausente justificadamente o conselheiro Leonardo Lobo de Almeida. 2 Processo na 13819.001713/2003-79 SI-TE02 Acórdão n.° 180240332 Fl. 2 Relatório Trata-se de Recurso Voluntário contra decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Campinas/SP, que considerou parcialmente procedente o lançamento realizado para a constituição de crédito tributário relativo ao Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica — IRPJ, à Contribuição para o Programa de Integração Social - PIS, à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido — CSLL, à. Contribuição para Financiamento da Seguridade Social — COFINS e à Contribuição para Seguridade Social - INSS, conforme os autos de infração de fls. 42 a 96, lavrados de acordo com o regime de tributação simplificada — SIMPLES para os fatos geradores ocorridos no ano de 1997, e no regime de tributação geral para os fatos geradores de 1998, com arbitramento do lucro nos trimestres desse segundo ano. De acordo com o Termo de Verificação e Constatação Fiscal, às fls. 40 e 41, o lançamento sob exame decorreu de ação fiscal desenvolvida inicialmente em nome de João Pascon Filho, CPF n°388.154.358-91, sócio-administrador da empresa acima referida. O Termo de Encerramento da ação fiscal realizada na pessoa fisica (fls. 6 e 7) esclarece que aquela outra fiscalização teve como objetivo verificar se valores remetidos ao exterior haviam sido declarados pelo Contribuinte, bem como a existência de contas correntes no exterior, e ainda a movimentação financeira incompatível com a renda declarada nos anos- calendário de 1997 e 1998. Constam ainda as seguintes informações: - a pessoa fisica, apesar de intimada e reintimada, não conseguiu apresentar os extratos bancários solicitados, o que levou à emissão de Requisição de Informação sobre Movimentação Financeira — RNIF, dirigida às instituições financeiras; - após o recebimento e análise dos extratos bancários, o Contribuinte pessoa fisica foi então intimado a apresentar justificativas e/ou comprovações dos valores creditados nas contas correntes, em seu nome, conforme "Quadros Demonstrativos dos Depósitos/Créditos efetuados nas contas correntes em 1997 e 1998"; - em resposta, o Sr. João Pascon Filho declarou que os valores cogitados estavam acobertados pelos depósitos de clientes como pagamentos à empresa Transpacon Locação de Máquinas e Equipamentos, da qual é sócio juntamente com sua esposa, apresentando documentos comprobatórios que identificam que parte dos recebimentos refere- se a vendas de imóveis entregues como receitas de serviços prestados pela citada empresa, mas não depositados na conta corrente da mesma. A auditoria na pessoa fisica foi encenada sem resultados, mas em razão dos fatos apurados foi iniciada fiscalização na mencionada empresa. O já referido Termo de Verificação e Constatação Fiscal, às fls. 40 e 41, traz os seguintes fundamentos para o lançamento realizado na pessoa jurídica: 3 03. Verificadas as Declarações Anuais Simpltficaelas (fls. 34/36), anos-calendário de 1997 e 1998, da empresa cogitada, detectou- se que os valores apontados nos "Quadros Resumos dos Totais de Depósitos/Créditos Efetuados nas Contas-Correntes em 1997 e 1998" (fls. 37/38) não foram declarados pela empresa, considerando-se assim receitas ou rendimentos "omissos", que acrescidos aos valores declarados extrapolam limites legais estabelecidos, tanto para microempresas, quanto para as empresas de pequeno porte (EPP), no sistema SIMPLES; 05. Sendo assim lavramos Autos de Infração, nos quais estamos adicionando os valores declarados em suas Declarações PJ — SIMPLES, anos-calendário de 1997 e 1998 (fls. 34/36), aos valores constantes dos "Quadros Resumos dos Totais de Depósitos/Créditos Efetuados nas Contas-Corrente em 1997 e 1998", em nome do sócio da empresa (11s. 37/38), onde constam os depósitos/créditos, que por falta de apresentação de documento hábil e idôneo, !astreado em escrituração contábil- fiscal da empresa em epígrafe, estão caracterizados como "omissão de receitas ou rendimentos". Sendo que, no primeiro ano, conforme legislação de regência, permanece sua opção pelo SIMPLES, mas incluindo-se a omissão (somatórios mensais dos Quadros Resumos), enquanto no ano seguinte, os valores foram arbitrados, tendo em vista não haver resposta do sócio responsável ao Termo encaminhado (fl. 30), sendo a empresa descaracterizada do sistema SIMPLES, conforme determinação legal. Em todos os autos de infração, foi aplicada a multa de oficio de 75%. Instaurada a fase contenciosa, com a apresentação da impugnação de fls. 114/115, a Contribuinte alegou basicamente que os tributos do ano de 1997 não podiam mais ser cobrados em razão da prescrição, que extingue o crédito tributário. Conforme já mencionado, a DPI em Campinas/SP, ao proferir o Acórdão n° 05-13.917, em 05/07/2006, considerou parcialmente procedente o lançamento, expressando suas conclusões com a seguinte ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 1997, 1998 Ementa: DECADÊNCIA — OMISSÃO DE RECEITAS — TRIBUTOS. O prazo decadencial regido pelas disposições do art. 150, §4°, do Código Tributário Nacional, tem como termo de inicio a data de ocorrência do fato gerador, desde que vinculado à efetiva apuração regularmente informada à SRF, em estrita observância à legislação tributária. Comprovada a omissão de receitas na base , tributável reconhecida pela pessoa jurídica, detectada pelo Fisco em fontes alheias aos dados fornecidos pela contribuinte à administração tributária, o inicio da contagem do prazo se desloca para o art. 173. Processo n° 13819.001713/2003-79 S1 -TE02 Acórdão' n.° 1802-00.332 Fl 3 DECADÊNCIA — CONTRIBUIÇÕES. Segundo a legislação tributária, o prazo decadencial para a Fazenda Pública apurar e constituir os créditos relativos às Contribuições Sociais é de dez anos, contados a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o crédito poderia ter sido constituído. Assunto: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte - Simples Ano-calendário: 1997 Ementa: DEPÓSITOS BANCÁRIOS - RECEITAS NÃO ESCRITURADAS— EXCLUSÃO DO SIMPLES. Os valores creditados em cont&corrente, em relação aos quais o sujeito passivo não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações, evidenciam omissão de receita. Comprovado pela fiscalização que a pessoa jurídica auferiu receitas em montante superior ao limite de enquadramento das microempresas e empresas de pequeno porte, fica descaracterizada a opção da contribuinte pelo simples no ano subseqüente, sendo exigíveis as diferenças de tributos e contribuições ainda na sistemática do SIMPLES no ano em que ocorrido o excesso. Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 1998 Ementa: ESCRITURAÇÃO INSUFICIENTE - LUCRO ARBITRADO - DESENQUADRAMENTO. Constatada a omissão de receitas pelo Fisco e inexistindo escrituração suficiente para apuração do lucro real ou presumido, a pessoa jurídica desenquadrada do SIMPLES terá o lucro arbitrado no ano subseqüente em que constatado o excedente de receita. Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ano-calendário: 1997, 1998 Ementa: TRIBUTAÇÃO REFLEXA — CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS A decisão acerca de exigências decorrentes deve seguir a mesma orientação decisória prolatada no processo principal em virtude da íntima relação de causa e efeito que os vincula. Comprovada a omissão de receitas no período fiscalizado, correta a exigência das contribuições incidentes sobre a base não oferecida à tributação. s Lançamento Procedente em Parte Inconformada com essa decisão, da qual tomou ciência em 03/10/2006, a Contribuinte apresentou em 03/11/2006 o recurso voluntário de fls. 224 a 236, onde desenvolve argumentos sobre os pontos descritos a seguir: Da decadência: - o Auditor Fiscal não levou em conta que o correto seria promover a apuração do fato gerador dos impostos com bases mensais, pois à época estes tributos estavam sujeitos a lançamento por homologação, destarte, e com base no próprio relatório elaborado pelo Sr. Auditor, deveria ser considerado como fato gerador o último dia útil do mês corrente à época do fato gerador, - o lançamento se consumou em 05/06/2003, portanto, nessa data já ocorrera a extinção do direito de constituir os créditos tributários do ano de 1997 até maio de 1998; - a decadência ocorreu tanto em relação ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica, quanto em relação às Contribuições. Dos Débitos relativos ao ano-calendário de 1998: - os créditos tributários referentes ao ano-calendário de 1998, contidos no presente lançamento, encontram-se em fase de parcelamento especial — PAES — conta n° 100300372066, cujo pedido foi validado em 07/07/2003 e permanece ativo e adimplente, conforme Extrato Demonstrativo de Pagamentos realizados (Doc. n° 04/06); - para corroborar tal afirmativa, estão acostados aos autos o Recibo de Entrega da DIPJ do ano-calendário 1998, contendo o demonstrativo dos valores dos impostos confessados pela ora Recorrente (Doc. n° 07), os quais deverão ser comparados ao Extrato da Dívida confessada no PAES (Doc. n° 08/09), onde a igualdade dos valores e seus respectivos meses de competência estão demonstrados. Da compensação dos tributos recolhidos: - na remotíssima possibilidade do não reconhecimento do efeito prescricionalldecadencial, a compensação é fato real, pois conforme relatório constante do Auto de Infração, em nenhum momento o Sr. Auditor demonstrou a compensação dos valores 1 pagos, sendo que neste mesmo documento afirma-se que a empresa autuada deveria recolher os impostos sobre a diferença do valor das notas fiscais e do valor efetivamente declarado; - sendo assim, requer-se o detalhamento no que consiste entre o valor do tributo com base no valor da nota fiscal e o valor já recolhido pela empresa. Da multa penal agravada para 75%: - o lançamento da multa agravada para 75% não é procedente, porque a Digna Autoridade Fiscal não apontou qualquer situação que a justificasse; - o fato ensejador da multa agravada em 75% deve ser caracterizado como de má-fé ou de evidente intuito doloso. No caso em tela, não há nem referência nem prova dessa situação; 1-13 Processo n° 13819.001713/2003-79 81-TE02 Acórdão n.° 1802-00.332 Fl. 4 - simples omissão de receita constitui fato objetivo. Para qualificá-lo como de má-fé ou decorrente de evidente intuito de fraude — em tese crime contra a ordem tributária — é essencial que se demonstre ou prove o elemento subjetivo ou a vontade dirigida para o resultado ilícito. Da taxa SELIC: - a taxa SELIC é apurada unilateralmente pelo Poder Público, sendo considerado no seu cálculo tanto os juros quanto a inflação; - os juros devem ser fixados em lei, nunca em ato administrativo, nem mesmo quando o ato administrativo é cometido por indevida delegação legislativa; - se a correção monetária foi expressamente revogada por lei, essa medida tem que valer tanto para a Receita quanto para os contribuintes; - há julgados proferidos pelo Superior Tribunal de Justiça que reforçam os argumentos apresentados. Este é o Relatório. 9, 7 Voto Conselheiro JOSÉ DE OLIVEIRA FERRAZ CORRÊA, Relator O recurso é tempestivo e dotado dos pressupostos para a sua admissibilidade. Portanto, dele tomo conhecimento. Conforme o relatório, a Fiscalização apurou nos anos de 1997 e 1998 receitas da empresa que foram movimentadas na conta bancária de seu sócio, e que não foram declaradas pela Contribuinte. Em 1997, o lançamento foi realizado no regime do SIMPLES, e em 1998, no regime normal de tributação, em razão de a empresa ter extrapolado no ano anterior o limite de receitas permitido para a tributação simplificada. Diante da não apresentação de escrituração suficiente para apuração do lucro real, foi realizado o arbitramento dos lucros em 1998. Quanto à decadência, a DRJ em Campinas aplicou o art. 173, I, do CTN, cancelando as exigências de IRPJ cujos fatos geradores ocorreram até novembro de 1997. Já em relação às Contribuições (CSLL, PIS, COFINS e INSS), o prazo adotado foi o de 10 anos, conforme previsto no art. 45 da Lei 8.212/91, e a preliminar foi totalmente rejeitada. O lançamento ocorreu em 05/06/2003. Dentre os argumentos contidos na decisão de primeira instância para a aplicação do art. 173, I, do CTN, destaco o seguinte: Deveras, no caso de omissão de receitas torna-se patente a intenção da contribuinte de não oferecer à tributação os rendimentos auferidos nas operações constatadas posteriormente pela fiscalização junto a terceiros. Tratando-se, pois, de fatos detectados sem qualquer cooperação da pessoa jurídica, não há que se falar em homologação tácita no prazo de cinco anos prevista no §4 0 do art. 150 do C77n1, mas sim no prazo previsto no artigo 173, inciso 1, do CT1V. Portanto, a manutenção de rendimentos à margem da tributação, com o evidente intuito de reduzir o montante de sua obrigação tributária principal mediante inobservância de suas atribuições legais como contribuinte, não pode ser objeto de homologação tácita, ficando tais fatos sujeitos à revisão de oficio pela autoridade administrativa, deslocando-se o prazo para o art 173, inc. 1, do CT1V, dispondo, assim, a Fazenda Pública de um prazo maior para apuração das ocorrências concernentes aos tributos devidos no período. Considero correto o entendimento da Delegacia de Julgamento, inobstante o fato de a Autoridade Fiscal não ter aplicado a multa qualificada no percentual de 150% No caso, vejo claramente configuradas nos autos as hipóteses excludentes do prazo decadencial reduzido (Dolo e Fraude), uma vez que além de as receitas estarem sendo auferidas mediante Processo n° 13819.001713/2003-79 81-TE02 Acórdão n.° 1802-00332 Fl. 5 conta bancária não pertencente à empresa, a sua apuração só foi possivel com a colaboração de terceiros, por meio de expedição de RMF. Além disso, não é demais lembrar que o tipo legal para a qualificação da multa (artigos 71 a 73 da Lei 4.502/1964) não é coincidente com aquele que enseja a ampliação do prazo decadencial (art. 150, § 4°, do CTN), abrangendo, inclusive, figuras jurídicas distintas, de onde posso afirmar uma independência, pelo menos relativa, no processo de subsunção a estas normas. Portanto, não merece reparo a aplicação do art. 173, I, do CTN, para fins de contagem do prazo decadencial em relação ao IRPJ. Quanto às contribuições, cabe mencionar que o Supremo Tribunal Federal — STF aprovou em 12106/2008 a Súmula Vinculante n° 8 (publicada em 20/06/2008), declarando inconstitucional o artigo 45 da Lei 8.212/1991, que previa o prazo decadencial de 10 anos para o seu lançamento. Assinalo também que nos termos do art. 103-A da Constituição, essa súmula alcança a Administração Pública, que deve, portanto, observá-la. Deste modo, não apenas para o 1RPJ, mas também para as contribuições abrangidas nesse processo, há que se reconhecer a decadência para os fatos geradores ocorridos até novembro de 1997. Em relação ao aproveitamento dos pagamentos feitos pela Recorrente, sob o regime do SIMPLES, merecem ser acolhidos os argumentos de defesa. Isto porque o SIMPLES não se caracteriza como um tributo, mas apenas como uma forma simplificada de recolhimento dos vários tributos que engloba, dentre eles o IRPJ e as contribuições aqui em pauta, que mantêm, cada uma deles, sua perfeita identidade, mesmo nesse regime de tributação, inclusive sob o aspecto quantitativo, uma vez que a lei especifica as parcelas relativas a cada imposto ou contribuição, em termos percentuais. Não ha que se falar na necessidade de compensação via PER/DCOMP (compensação eletrônica), posto que os pagamentos referem-se aos mesmos tributos e períodos autuados. Portanto, devem ser deduzidos do presente auto de infração os valores espontaneamente recolhidos na sistemática do SIMPLES, na medida em que forem confirmados pela unidade preparadora. Quanto às considerações relativas ao Parcelamento Especial — PAES, cabe mencionar que a Contribuinte tomou ciência do lançamento em 05/06/2003, vindo alegar no recurso que teve seu pedido de parcelamento validado em 07/07/2003, o que evidencia uma aparente contradição, pois, embora alegue ter ingressado com os débitos em processo de parcelamento, continuou questionando esses mesmos débitos, inclusive junto a essa segunda instância administrativa. De todo modo, nada convalida uma cobrança em duplicidade, pelo que a Delegacia de origem deverá realizar o ajustamento de um processo com o outro, na medida em que realmente haja coincidência entre os tributos e os períodos de apuração, mediante a devida imputação dos valores já pagos, especialmente em relação aos acréscimos legais (multa e juros). 9 Quanto à multa de oficio, cabe esclarecer que não foi aplicada pela Fiscalização a multa qualificada no percentual de 150%, mas sim a multa de oficio padrão, no percentual de 75%, que é cabível para os casos de simples falta de recolhimento de tributo, situação que está devidamente caracterizada, tanto o é que os tributos estão sendo exigidos no presente processo. No que toca às alegações da Recorrente acerca da taxa SELIC, cujo acolhimento implicaria no afastamento de norma legal vigente (art. 61 da Lei 9.430/96), por suposto vício de inconstitucionalidade e afronta ao Código Tributário ao Nacional, cabe ressaltar que falece a esse órgão de julgamento administrativo competencia para provimento dessa natureza, que está a cargo do Poder Judiciário, exclusivamente. tkortuno lembrar que apenas de modo excepcional, havendo prévia decisão por parte do Supremo Tribunal Federal, e cumpridos os requisitos do Decreto n° 2.346/97 ou do art. 103-A da Constituição, o que não ocorre no presente caso, é que a Administração Pública deixaria de aplicar a norma legal. O art. 161 da Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966— Código Tributário Nacional, estabelece que o crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora..., e no seu parágrafo primeiro determina que se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de I% (um por cento) ao mês. Portanto, a taxa de juros de mora a ser exigida sobre os débitos fiscais de qualquer natureza para com a Fazenda Pública pode ser definida em percentual diferente de 1%. Basta que uma lei ordinária assim determine. Neste contexto, o artigo 61 da Lei n° 9.430, de 27 de dezembro de 1996, assim dispõe: Artigo 61 — Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria de Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1° de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação especifica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. § 3° Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3 0 do art. 5°, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês do pagamento. E o § 3° do art. 5° da Lei n°9.430/1996, por sua vez, estabelece que: § 3° As quotas do imposto serão acrescidas de juros equivalente à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia — SELIC, para títulos federais, acumulada mensalmente, calculados a partir do primeiro dia do segundo mês subseqüente ao do encerramento do período de apuração até o último dia do mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês do pagamento. 90 Processo n° 13819.00171312003-79 S1-TE02 Acórdão n.° 1802-00332 Fl. 6 Portanto, incumbe a esse órgão julgador cumprir a norma legal que se encontra em pleno vigor, aplicando-a às situações concretamente verificadas, não lhe cabendo a apreciação da alegada inconstitucionalidade ou ilegalidade da taxa SELIC Apenas vale frisar que essa mesma taxa de juros é garantida aos contribuintes nos casos de restituição de indébitos. O tratamento, portanto, é isonômico, ou seja, tanto vale para a cobrança, quanto para a devoluçZto de valores, o que reforça a justeza de sua aplicação. Registro ainda que a matéria já se encontra sumulada: Súmula Y CC n°2 - O Primeiro Conselho de Contribuintes não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Súmula 1° CC n° 4 - A partir de 1° de abril de 1995, os juros moratórias incidentes sobre débitos ti butários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no penado de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais. Todos os argumentos acima valem tanto para o IRPJ, quanto para as contribuições PIS, COFINS, CSLL e INSS. Diante do exposto, dou provimento parcial ao recurso para: - acolher, em relação às Contribuições, a preliminar de decadência para os fatos geradores ocorridos até o mês de novembro de 1997, no mesmo sentido que a DRJ já havia decidido para o IRPJ; - determinar que sejam deduzidos da parte remanescente do presente auto de infração os valores espontaneamente recolhidos na sistemática do SIMPLES, na medida em que os pagamentos forem confirmados pela unidade preparadora; - que seja realizado o ajustamento deste processo com o Parcelamento Especial — PAES — Conta n° 100300372066, na medida em que seja confirmada a coincidência entre os tributos e os períodos de apuração, mediante a devida imputação dos valores já pagos, especialmente em relação aos acréscimos legais (multa e juros). je-- aÉ DE OLIVEIRA FERRAZ CORRÊA II MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS Processo : 13819.001713/2003-79 Recurso : 158799 Acórdão : 1802-00.332 TERMO DE INTIMAÇÃO Em cumprimento ao disposto no § 3° do artigo 81 do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Portaria MF n° 259/2009), intime-se o(a) Senhor(a) Procurador(a) Representante da Fazenda Nacional, credenciado junto à Segunda Câmara da Primeira Seção do CARF, a tomar ciência do inteiro ter do Acórdão n° 1802-00.332. Brasília - DF, em 14 de abril de 2010 /_----- /José Roberto França Secre ' o da r Câmara da Primeira Seção CARI Ciente, com a observação abaixo: [ ] Apenas com Ciência [ ] Com Recurso Especial [ ] Com Embargos de Declaração Data da ciência: Procurador(a) da Fazenda Nacional 1
score : 1.0
Numero do processo: 16327.001526/2010-44
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Nov 22 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Dec 08 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2006
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO.
Não podem ser acolhidos embargos de declaração opostos contra Acórdão de Recurso Especial que versam sobre matéria que não foi trazida por ocasião do Recurso Voluntário ou em razões ao Recurso de Ofício.
Numero da decisão: 9101-002.479
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer dos Embargos de Declaração opostos pelo contribuinte.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício), Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal De Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Demetrius Nichele Macei (suplente convocado). Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto.
Nome do relator: ADRIANA GOMES REGO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2006 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO. Não podem ser acolhidos embargos de declaração opostos contra Acórdão de Recurso Especial que versam sobre matéria que não foi trazida por ocasião do Recurso Voluntário ou em razões ao Recurso de Ofício.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer dos Embargos de Declaração opostos pelo contribuinte. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente em exercício (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo - Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício), Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal De Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Demetrius Nichele Macei (suplente convocado). Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto.
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score : 1.0
Numero do processo: 10708.000038/00-61
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jul 12 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Aug 12 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 1999
COMPOSIÇÃO DO SALDO NEGATIVO. PROVA.
A prova do indébito tributário, fato jurídico a dar fundamento ao direito à compensação, compete ao sujeito passivo que teria efetuado o pagamento ou sofrido retenções em valor maior que o imposto devido. Mas nada impede que o Fisco verifique a existência e procedência dos valores que compuseram o saldo negativo pleiteado, a partir dos elementos constantes de suas bases de dados, se o contribuinte se encontra impossibilitado de fazê-lo por comprovado motivo de força maior.
Recurso Especial do Contribuinte Não Conhecido.
Numero da decisão: 9101-002.370
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Hélio Eduardo de Paiva Araújo, André Mendes de Moura, Adriana Gomes Rêgo, Rafael Vidal de Araújo, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Luis Flávio Neto, Nathalia Correia Pompeu e Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em exercício). Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: ADRIANA GOMES REGO
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 1999 COMPOSIÇÃO DO SALDO NEGATIVO. PROVA. A prova do indébito tributário, fato jurídico a dar fundamento ao direito à compensação, compete ao sujeito passivo que teria efetuado o pagamento ou sofrido retenções em valor maior que o imposto devido. Mas nada impede que o Fisco verifique a existência e procedência dos valores que compuseram o saldo negativo pleiteado, a partir dos elementos constantes de suas bases de dados, se o contribuinte se encontra impossibilitado de fazê-lo por comprovado motivo de força maior. Recurso Especial do Contribuinte Não Conhecido.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo - Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Hélio Eduardo de Paiva Araújo, André Mendes de Moura, Adriana Gomes Rêgo, Rafael Vidal de Araújo, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Luis Flávio Neto, Nathalia Correia Pompeu e Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em exercício). Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
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NÃO RECONHECIMENTO Recorrente MATOS TEIXEIRA CONSTRUÇÕES E TERRAPLANAGEM LTDA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 1999 COMPOSIÇÃO DO SALDO NEGATIVO. PROVA. A prova do indébito tributário, fato jurídico a dar fundamento ao direito à compensação, compete ao sujeito passivo que teria efetuado o pagamento ou sofrido retenções em valor maior que o imposto devido. Mas nada impede que o Fisco verifique a existência e procedência dos valores que compuseram o saldo negativo pleiteado, a partir dos elementos constantes de suas bases de dados, se o contribuinte se encontra impossibilitado de fazêlo por comprovado motivo de força maior. Recurso Especial do Contribuinte Não Conhecido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Hélio Eduardo de Paiva Araújo, André Mendes de Moura, Adriana Gomes Rêgo, Rafael Vidal de Araújo, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Luis Flávio Neto, Nathalia Correia Pompeu e Marcos Aurélio AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 70 8. 00 00 38 /0 0- 61 Fl. 910DF CARF MF Impresso em 12/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 09/08/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 09/08/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 10/08/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 10708.000038/0061 Acórdão n.º 9101002.370 CSRFT1 Fl. 911 2 Pereira Valadão (Presidente em exercício). Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório MATOS TEIXEIRA CONSTRUÇÕES E TERRAPLENAGEM LTDA recorre a este Colegiado, por meio do Recurso Especial (efls. 737/777), contra o acórdão de nº 130200.342 (efls. 691/701) que, por unanimidade de votos, deu provimento parcial ao seu recurso voluntário e reconheceu, em parte, o direito creditório pleiteado. Transcrevese a ementa do acórdão recorrido: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 1999 DIREITO CREDITORIO. RECONHECIMENTO. DOCUMENTAÇÃO. EXTRAVIO. Provado por meio de elementos carreados aos autos que o contribuinte não deu causa ao extravio dos documentos de suporte dos registros feitos em Declaração de Informações, e que foram adotadas as providências exigidas pela legislação de regência, o eventual indeferimento do pedido de reconhecimento do direito creditório deve ser feito a partir da indicação de justificativas inequívocas da insubsistência dos elementos formadores do crédito pleiteado. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. LIQUIDEZ E CERTEZA. COMPROVAÇÃO, DECADÊNCIA, INOCORRÊNCIA. Tratandose de aferição de liquidez e certeza de direito crédito, promovida dentro do prazo regulamentar, descabe falar em decadência do direito de se constituir o crédito tributário. Recurso Voluntário Provido em Parte. A Recorrente aponta divergência jurisprudencial entre o Acórdão nº 1302 00.342, e os Acórdãos nº 10193.224 e 10195.683, no que respeita ao tema "penalização do contribuinte, na ocorrência de caso fortuito, ao exemplo do arbitramento". As ementas dos paradigmas são as seguintes: Acórdão nº 10193.224 IRPJ LUCRO ARBITRADO DETERIORAÇÃO DE LIVROS E DOCUMENTOS CASO FORTUITO Se por ocasião da elaboração das declarações de rendimentos e sua apresentação nos respectivos prazos, o sujeito passivo tinha a escrituração contábil e a documentação em ordem, a deterioração posterior em virtude de inundação, não pode dar causa a arbitramento de lucro fundada na recusa de apresentação dos mesmos livros e documentos, já que não há indícios de que o sujeito passivo tenha deixado de tomar as cautelas necessárias para evitar o caso fortuito ou de força maior. Acórdão nº 10195.683 Fl. 911DF CARF MF Impresso em 12/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 09/08/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 09/08/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 10/08/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 10708.000038/0061 Acórdão n.º 9101002.370 CSRFT1 Fl. 912 3 IRPJ LUCRO ARBITRADO DETERIORAÇÃO DE LIVROS E DOCUMENTOS CASO FORTUITO Se por ocasião da elaboração das declarações de rendimentos e sua apresentação nos respectivos prazos, o sujeito passivo tinha a escrituração contábil e a documentação em ordem, a deterioração posterior em virtude de inundação, não pode dar causa a arbitramento de lucro fundada na recusa de apresentação dos mesmos livros e documentos, já que não há indícios de que o sujeito passivo tenha deixado de tomar as cautelas necessárias para evitar o caso fortuito ou de força maior. O contribuinte, em suas razões recursais: a) preliminarmente, ressalta que o valor a restituir de IRPJ é da ordem de R$ 221.033,27, não restando quaisquer dúvidas; no mérito, defende que: b) houve caso fortuito comprovado nos autos, em que a documentação contábil e fiscal foi destruída por fenômeno natural, não tendo como promover sua reconstituição; c) a presunção de veracidade da DIPJ do exercício 1999, anocalendário 1998, não pode ser elidida pelo fisco, pois foram declarados corretamente os valores; d) ao final, deve ser reformada a decisão para que sejam desfeitas as glosas efetuadas. O recurso foi admitido por meio do Despacho de efls. 893/896, e a PFN apresentou Contrarrazões às fls. 899/907, em que aduz: a) não merece prosperar a intenção do contribuinte em ver seu direito creditório atendido em face da nãodemonstração da origem, liquidez e certeza do crédito pleiteado, b) apesar da demora na apreciação do pedido por parte da RFB e, ainda que tenha ocorrido o evento natural que resultou na destruição de seus documentos, esses fatos não descaracterizam a necessidade de ser demonstrado o direito pleiteado; c) a diligência, efetuada pelo fisco buscou comprovar os créditos que a interessada pleiteia em relação ao anocalendário 1999, ocorreu em 2003, ocasião em não foram homologados os valores por falta de comprovação, não havendo que se falar em aceitação obrigatória dos valores em decorrência de admissão tácita; d) que seja improvido o Recurso Especial do contribuinte. É o relatório. Voto Conselheira Adriana Gomes Rêgo, Relatora. O recurso é tempestivo. Mas, com a devida vênia, discordo de sua admissibilidade por entender que a divergência argüida não se caracterizou, vez que a decisão do acórdão recorrido analisou situação distinta dos acórdãos trazidos como paradigma. No caso dos autos, a recorrente pleiteia o reconhecimento de direito creditório relativo a saldo negativo de IRPJ do anocalendário 1999, no valor de R$ 221.033,97, para utilizálo em compensações com outros débitos. O acórdão recorrido entendeu que, como a contribuinte comprovou que não deu causa ao extravio da documentação que deu suporte à declaração apresentada, para deixar Fl. 912DF CARF MF Impresso em 12/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 09/08/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 09/08/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 10/08/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 10708.000038/0061 Acórdão n.º 9101002.370 CSRFT1 Fl. 913 4 de reconhecer o crédito, a autoridade administrativa deveria indicar os elementos que tornaram o crédito insubsistente. A partir dessa premissa, verificou o que constava da declaração retificadora, comparou com declarações de anos anteriores, e reconheceu uma parte do crédito pleiteado. Por outro lado, ambos os paradigmas apreciaram constituição de crédito tributário pelas regras do arbitramento dos lucros. Para demonstrar melhor a falta de similitude fática entre as decisões, transcrevo os seguintes excertos do acórdão paradigma nº 10193.224: [...] No mérito, o lançamento diz respeito a lucros arbitrados nos anoscalendário de 1994 e 1995, por infração do inciso III, do artigo 539 do RIR/94 com a seguinte dicção: [...] Efetivamente e como diz a recorrente, há uma incompatibilidade entre a descrição do fundamento para arbitramento do lucro com a capitulação legal contida no Auto de Infração. Se o sujeito passivo não mantinha a escrituração contábil como diz o item 25 1, Termo n° 13 — Constatação Final, não poderia recusarse a apresentar os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal à autoridade tributária. A autoridade julgadora de 1° grau percebeu esta discordância e na tentativa de sanar a incompatibilidade disse que existiram as duas infrações, ou seja, falta de escrituração em virtude de não reconstituição e recusa da apresentação da escrituração, também, pela não reconstituição da escrituração comercial e fiscal. Em verdade, este posicionamento não se sustenta por falta de um mínimo de lógica porque não ficou evidenciado nos autos que o sujeito passivo tenha sido intimado para apresentar os livros comerciais e fiscais relativos aos anoscalendário de 1994 e 1995. Uma retrospectiva dos procedimentos adotados pela autoridade lançadora pode esclarecer melhor o fato acima examinado, porquanto as intimações expedidas pela fiscalização, em sua maior parte, diziam respeito aos anoscalendário de 1996 e 1997 e de um momento para outro passou a exigir a reconstituição da escrituração contábil de 1994 e 1995, sem a prévia intimação para apresentar os livros e os respectivos documentos. [...] A bem da verdade, as três intimações expedidas e que se relacionam com anoscalendário de 1994 e 1995 não tem qualquer eficácia pretendida pela fiscalização posto que somente em 30 de novembro de 1999, o Senhor Delegado da Receita Federal em Guarulhos, em Memorando n° 0129/99/DRF/GUA/GAB, de fls 89, autorizou a reabertura da fiscalização na FORMILINE INDÚSTRIA DE LAMINADOS LTDA., para os anoscalendário objeto dos presentes autos e o Fl. 913DF CARF MF Impresso em 12/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 09/08/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 09/08/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 10/08/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 10708.000038/0061 Acórdão n.º 9101002.370 CSRFT1 Fl. 914 5 Auto/de Infração foi lavrado no dia subseqüente, ou seja, no dia 10 de dezembro de 1999. Se a autorização para a reabertura da fiscalização deuse no dia 30 de novembro de 1999, qualquer providencia anterior a esta autorização não poderia ter qualquer eficácia e, portanto, restaria válido apenas o Termo n° 13 Constatação Final, que arbitrou o lucro. Com estas considerações e tendo em vista que não restou comprovada a recusa do sujeito passivo para apresentar os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal à autoridade tributária e que o sujeito passivo não foi intimado em nenhum momento para apresentar a escrituração fiscal e comercial, não vejo como prosperar o arbitramento do lucro. O paradigma de nº 10195.683 também tratou de analisar autos de infração para constituição de crédito tributário pelo lucro arbitrado: [...] Como visto do relatório, tratase de arbitramento dos lucros da interessada, tendo em vista a falta de apresentação à fiscalização, os livros e documentos contábeis e fiscais por parte da recorrente. [...] À época do exame de admissibilidade do REsp da contribuinte, o Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 256, de 2009, dispunha, no caput do art. 67: Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. (*) (*) destaquei Ora, não se pode dizer que os mesmos comandos normativos (lei tributária) regem declarações de compensação e autos de infração pelo arbitramento dos lucros. Vejase que, em ambos os casos do paradigmas o comando legal adotado para fundamentar as autuações foi o artigo do regulamento do imposto de renda que trata de arbitramento no caso do RIR/94, o art. 539 e, no caso do RIR/99, o art. 530 enquanto que no caso do recorrido o Despacho Decisório que não reconheceu o direito creditório pleiteado e não homologou as compensações, fundamentouse nos seguintes dispositivos normativos (fls. 92/94 do volume 1 digitalizado): Art. 170, II, do CTN; Lei nº 10.637, de 2002; Art. 21, §§ 1º e 2º e 35, §§ 1º e 2º, ambos da IN SRF nº 210, de 2002. Poderseia dizer que a similitude fática entre as decisões residiria na deterioração dos livros e documentos da escrituração contábil e fiscal dos contribuintes, por Fl. 914DF CARF MF Impresso em 12/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 09/08/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 09/08/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 10/08/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 10708.000038/0061 Acórdão n.º 9101002.370 CSRFT1 Fl. 915 6 ocorrência de caso fortuito/força maior o que, com efeito, ocorreu em todos os casos recorrido e paradigmas. Mas esse fato deterioração dos livros e documentos da contabilidade foi considerado irrelevante, tanto no caso do recorrido, quanto no caso dos paradigmas, para o deslinde dos litígios. Pelo contrário, no caso do acórdão recorrido, constou expressamente do voto do relator: Divergindo do posicionamento adotado pela autoridade julgadora de primeira instância, entendo que, na medida em que Recorrente trouxe aos autos elementos suficientes a comprovação de que não deu causa ao extravio da documentação de suporte da declaração apresentada e que adotou as providências exigidas pela legislação de regência, a autoridade administrativa, para decidir pela ausência de liquidez e certeza do crédito pleiteado, deveria indicar, de forma inequívoca, os elementos que, contribuindo para a formação do crédito, o tornaram insubsistente. Não identifico, também, recomendação no parágrafo 2° do art. 264 do RIR/99 no sentido de que o contribuinte deveria envidar esforços para reconstruir a escrituração contábil e recuperar as informações que dela constavam, bem como os papéis e documentos pertinentes, eis que o citado dispositivo trata tão somente da legalização de novos livros e documentos. (*) (*) negritei Como visto, o extravio dos livros e documentos fiscais também não pesou na decisão consignada pelo paradigma de nº 10193.224, como se verifica do extenso trecho do voto reproduzido anteriormente, já que, naquele caso, o relator entendeu que não havia autorização para que a fiscalização procedesse ao arbitramento dos lucros nos anoscalendário 1994 e 1995, pois “porque não ficou evidenciado nos autos que o sujeito passivo tenha sido intimado para apresentar os livros comerciais e fiscais relativos aos anoscalendário de 1994 e 1995”, ou seja, a motivação para afastar o arbitramento é peculiar e em nada pode ser aplicada ao presente processo. E, no mesmo sentido do recorrido, o paradigma de nº 10195.683: Como visto acima, a recorrente tomou todas as providências legais exigidas em vista do infortúnio ocorrido, denotando que não houve recusa na apresentação dos livros fiscais e comerciais e respectivos documentos. Também não seria cabível argumentar no sentido de que teria ocorrido a falta de adoção de medidas mínimas para preservar seus livros e documentos contábeis e fiscais, pois a inundação, conforme comprovam os documentos juntados aos autos, abrangeu todo o município de Nova Friburgo/RJ, tendo motivado a decretação de situação de emergência por parte do Executivo Municipal. [...] Fl. 915DF CARF MF Impresso em 12/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 09/08/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 09/08/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 10/08/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 10708.000038/0061 Acórdão n.º 9101002.370 CSRFT1 Fl. 916 7 No caso, devese registrar que, diante dos fatos em análise, não houve recusa, mas sim impossibilidade de apresentação ao fisco dos documentos destruídos pela inundação. [...] Portanto, além de entender que as situações fáticas analisadas são distintas, se semelhança houvesse, as decisões comparadas não seriam divergentes, mas exatamente convergentes sobre o ponto questionado. Conclusão Em face ao exposto, voto no sentido de não conhecer do Recurso Especial da Contribuinte. Adriana Gomes Rêgo Relatora Fl. 916DF CARF MF Impresso em 12/08/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 09/08/2016 por ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 09/08/2016 p or ADRIANA GOMES REGO, Assinado digitalmente em 10/08/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO
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