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Numero do processo: 11080.910285/2013-95
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jan 30 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Mar 19 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/04/2008 a 30/06/2008
RESSARCIMENTO DE IPI. SALDO CREDOR DO TRIMESTRE CALENDÁRIO. GLOSA. AUTO DE INFRAÇÃO. JULGAMENTO CONJUNTO DE PROCESSOS.
Os julgamentos do auto de infração por insuficiência de recolhimento de IPI e dos pedidos de ressarcimento de créditos de IPI só fazem sentido se concomitantes. Sendo improcedente o auto de infração, é de se afastar as glosas efetuadas e determinar à unidade de origem que proceda ao encontro de contas estampado no PER/DCOMP apresentado, homologando total ou parcialmente, de acordo com o resultado da apuração e comprovação de todos os valores envolvidos.
Recurso voluntário parcialmente provido.
Numero da decisão: 3301-004.187
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso voluntário, para afastar as glosas efetuadas e determinar à unidade de origem que proceda ao encontro de contas estampado no PER/DCOMP apresentado, homologando total ou parcialmente, de acordo com o resultado da apuração e comprovação de todos os valores envolvidos, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado.
José Henrique Mauri - Presidente.
Semíramis de Oliveira Duro - Relatora.
Participaram da presente sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri (Presidente), Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Valcir Gassen, Liziane Angelotti Meira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Ari Vendramini e Semíramis de Oliveira Duro.
Nome do relator: SEMIRAMIS DE OLIVEIRA DURO
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Recorrida Fazenda Nacional ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/04/2008 a 30/06/2008 RESSARCIMENTO DE IPI. SALDO CREDOR DO TRIMESTRE CALENDÁRIO. GLOSA. AUTO DE INFRAÇÃO. JULGAMENTO CONJUNTO DE PROCESSOS. Os julgamentos do auto de infração por insuficiência de recolhimento de IPI e dos pedidos de ressarcimento de créditos de IPI só fazem sentido se concomitantes. Sendo improcedente o auto de infração, é de se afastar as glosas efetuadas e determinar à unidade de origem que proceda ao encontro de contas estampado no PER/DCOMP apresentado, homologando total ou parcialmente, de acordo com o resultado da apuração e comprovação de todos os valores envolvidos. Recurso voluntário parcialmente provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso voluntário, para afastar as glosas efetuadas e determinar à unidade de origem que proceda ao encontro de contas estampado no PER/DCOMP apresentado, homologando total ou parcialmente, de acordo com o resultado da apuração e comprovação de todos os valores envolvidos, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. José Henrique Mauri Presidente. Semíramis de Oliveira Duro Relatora. Participaram da presente sessão de julgamento os Conselheiros José Henrique Mauri (Presidente), Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Valcir Gassen, Liziane Angelotti Meira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Ari Vendramini e Semíramis de Oliveira Duro. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 91 02 85 /2 01 3- 95 Fl. 15953DF CARF MF Processo nº 11080.910285/201395 Acórdão n.º 3301004.187 S3C3T1 Fl. 15.954 2 Relatório Adoto o relatório da decisão recorrida, o qual segue transcrito: Tratase de manifestação de inconformidade (efls. 2 a 51) apresentada em 07 de março de 2014 contra despacho decisório (efls. 15437 a 15441) de 07 de fevereiro de 2014, cientificado em 20/02/2014, que não homologou declarações de compensação com créditos de IPI do 2º trimestre de 2008, apresentadas a partir de 18 de março de 2013. De acordo com o despacho decisório, foi apurado o seguinte: Analisadas as informações prestadas no PER/DCOMP e período de apuração acima identificados, constatouse o seguinte: Valor do crédito solicitado/utilizado: R$ 8.477.230,30 Valor do crédito reconhecido: R$ 0,00 O valor do crédito reconhecido foi inferior ao solicitado/utilizado em razão do(s) seguinte(s) motivo(s): Constatação de que o saldo credor passível de ressarcimento é inferior ao valor pleiteado. Redução do saldo credor do trimestre, passível de ressarcimento, resultante de débitos apurados em procedimento fiscal. Informações complementares da análise do crédito estão disponíveis na página internet da Receita Federal, e integram este despacho. Diante do exposto: NÃO HOMOLOGO a compensação declarada no(s) seguinte(s) PER/DCOMP: 05817.47515.141113.1.3.014255 42414.10854.150513.1.3.019804 02235.71696.090513.1.7.010446 INDEFIRO o pedido de restituição/ressarcimento apresentado no(s) PER/DCOMP: 25935.20866.180313.1.1.015636 Na manifestação de inconformidade, a Interessada alegou, inicialmente, que “a discussão sobre a existência dos créditos que são objeto da presente manifestação de inconformidade é decorrente de suposta infração ainda debatida no Processo Administrativo n° 10830.725456/201217.” A despeito de se tratar de procedimento decorrente do contido nos mencionados autos, seria necessário a apresentação da manifestação de inconformidade para efeito de suspensão da exigibilidade dos créditos, razão Fl. 15954DF CARF MF Processo nº 11080.910285/201395 Acórdão n.º 3301004.187 S3C3T1 Fl. 15.955 3 pela qual requereu a suspensão do processo administrativo até o “efetivo julgamento do processo administrativo 10830.725456/201217”. Atacou a não aplicação do art. 265 do Código de Processo Civil, citando ementas de acórdãos dos antigos Conselhos de Contribuintes, da Câmara Superior de Recursos Fiscais e do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A seguir, passou a tratar das razões de direito para o reconhecimento do crédito declarado, apresentando inicialmente um histórico do processo administrativo de auto de infração mencionado. Esclareceu que houve a reconstituição de sua escrita fiscal em função do estorno de créditos de IPI da ordem de vinte milhões de Reais. Argumentou que a autuação teria decorrido de uma interpretação equivocada da legislação, passando a demonstrar o processo de habilitação que deu origem à Portaria Interministerial MCT/MDIC/MF n. 985, de 2006, relativa à aprovação de seu processo produtivo básico e incentivo no âmbito do IPI. Apresentou, ainda, as razões alegadas no processo de auto de infração, que se referiram à nulidade da autuação por falha na busca da verdade material, à decadência dos lançamentos e estornos de créditos relativos aos meses de março a agosto de 2007. Relativamente ao mérito, alegou que todos os equipamentos vendidos estariam “rigorosamente enquadrados na Portaria Interministerial n. 985/2006”. Contestou a conclusão da Fiscalização de que “a regra contida na Portaria n° 685/2007 e a decisão proferida pelo CARF no Acórdão n° 3302 01.389 lhe dariam suporte ao presente lançamento.” Alegou ainda: Da mesma forma que consta expressamente do processo de habilitação da Manifestante as definições para cada um dos modelos mencionados, também consta que todos eles PODEM apresentar características alternativas (Seção C, páginas 223 a 254 do processo de habilitação fls. 12.111/12.142 do Doe. 03), relativas aos seguintes componentes: Gabinete, Placa mãe, Processador, Memória, Disco rígido, Disco flexível, Disco ótico, Placa de vídeo, Placa de áudio, Placa de rede, Faxmodem, Sistema Operacional (OS), Software aplicativos. Descreveu as diferenças entre os modelos, por meio de uma tabela, e esclareceu por que os produtos vendidos seriam de características alternativas aos constantes da Portaria conjunta mencionada, representando versões diferentes de um mesmo modelo de produto, conforme o laudo que apresentou no processo de auto de infração e que também anexou à manifestação de inconformidade. Fl. 15955DF CARF MF Processo nº 11080.910285/201395 Acórdão n.º 3301004.187 S3C3T1 Fl. 15.956 4 Ademais, alegou que seria improcedente o auto de infração por suprimir o benefício fiscal por eventual descumprimento de obrigação acessória, “Porque a partir da edição da Portaria Interministerial MCT/MDIC n° 685, de 25 de outubro de 2007, que instituiu o sistema eletrônico de inclusão de novos modelos ao processo de habilitação para fruição dos benefícios fiscais previstos na Lei n° 8.248/91 ("Sigplani"), foi introduzida uma nova definição de modelo, específica para habilitação no Sigplani, que não existia até então nas normas que regulamentavam o assunto.” Acrescentou o que segue: Portanto, há que se ter bem claro que a inclusão no Sigplani das novas versões de modelos habilitados pela Manifestante tiveram apenas o efeito de propiciar ao MCTI e MDIC o controle da utilização correta do incentivo pela Manifestante; ou seja, propiciar a verificação de que as novas versões não se tratavam de novos produtos, os quais, caso fossem, estariam sujeitos a novo processo de habilitação. E justamente porque não se tratavam de outros produtos, não habilitados ao incentivo, é que as novas versões dos modelos já habilitados foram aprovadas pelo MCTI. Assim, por ter sido o registro dessas versões junto ao Sigplani procedimento meramente informativo, acautelatório, da parte da Manifestante, o fato de terem sido essas novas versões comercializadas antes de publicadas na página eletrônica da SEPIN/MCT e/ou SDP/MDIC não deveria afetar o direito a fruição do benefício. Assim, a “habilitação para 'novos modelos' de produtos já habilitados” seria uma obrigação acessória criada pelo art. 1º da Portaria Interministerial n. 685, de 2007, que teria caráter meramente declaratório. Não haveria, ainda, segundo a Interessada, previsão legal para habilitação específica de novos modelos, nos termos da análise que fez a seguir da Lei n. 9.248, de 1991, sua regulamentação e alterações, pois seriam as seguintes as condições para fruição do benefício: (i) produzir bens de informática e automação, dentre os relacionados pelo Poder Executivo, de acordo com processo produtivo básico definido pelo Poder Executivo; (ii) investir em P&D de acordo com os termos do art. 11 da Lei n° 8.248/91; (iii) implantar sistema de qualidade na forma definida pelo Poder Executivo; (iv) implantar programa de participação dos trabalhadores nos lucros e resultados da empresa nos termos da legislação aplicável vigente (no caso, Lei n° 10.101/00); e (v) habilitar projeto perante o Ministério da Ciência e Tecnologia. Acrescentou que a disposição da Portaria MF n° 685, de 2007, art. 1º, I, seria ilegal que, por se tratar de benefício concedido por prazo certo, “não Fl. 15956DF CARF MF Processo nº 11080.910285/201395 Acórdão n.º 3301004.187 S3C3T1 Fl. 15.957 5 poderia ser revogado ou modificado sequer por lei, conforme determina o art. 178 do CTN”. Ao julgar a manifestação de inconformidade, a 8ª Turma da DRJ/RPO proferiu o Acórdão nº 1454.179, com a seguinte ementa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/04/2008 a 30/06/2008 IPI. RESSARCIMENTO. REDUÇÃO DECORRENTE DE DÉBITOS APURADOS EM AUTO DE INFRAÇÃO. SOBRESTAMENTO DO PROCESSO. IMPOSSIBILIDADE. Inexiste previsão legal, regulamentar ou regimental para o sobrestamento de processo de ressarcimento de IPI decorrente de procedimento anterior que resultou em lavratura de auto de infração. IPI. RESSARCIMENTO. DÉBITOS LANÇADOS EM AUTO DE INFRAÇÃO. ABSORÇÃO DOS CRÉDITOS. CONSEQUÊNCIA. Tratandose de procedimento decorrente de auto de infração mantido por decisão de primeira instância anterior, cabe a aplicação da referida decisão para dar o mesmo destino à manifestação de inconformidade. A Recorrente apresentou recurso voluntário, no qual repisa as razões de sua manifestação de inconformidade e combate ponto a ponto a decisão de piso. É o relatório. Voto Conselheira Semíramis de Oliveira Duro O recurso voluntário é tempestivo e atende aos pressupostos legais de admissibilidade, por isso deve ser conhecido. Conforme relatado, foi constatada a falta de lançamento de imposto por ter o estabelecimento industrial promovido a saída de produtos tributados com redução da alíquota do IPI, em razão de uso indevido de benefício fiscal (sobre bens de informática) instituído pela Lei nº 8.191, de 11 de junho de 1991 e por inobservância de alíquota de IPI, o que resultou na reconstituição da escrita fiscal e consequente redução do saldo credor ressarcível ao final do trimestre. O auto de infração foi formalizado no processo administrativo nº 10830.725456/201217. Fl. 15957DF CARF MF Processo nº 11080.910285/201395 Acórdão n.º 3301004.187 S3C3T1 Fl. 15.958 6 É cristalino o fato de que o presente processo é totalmente vinculado ao processo nº 10830.725456/201217, que trata de auto de infração de IPI, como bem apontou a decisão de piso: Conforme esclarecido pela Interessada, o auto de infração constante do processo administrativo n. 10830.725456/201217 disse respeito a lançamento de IPI não destacado em notas fiscais, implicando reconstituição da escrita e apuração de débitos, que tiveram reflexo na apuração dos saldos credores apurados pela Interessada. No caso dos autos, conforme demonstrativos de efls. 15438, a reconstituição gerou anulação dos créditos apurados nos meses de abril a junho de 2008, que, somados, resultam o valor de R$ 20.492.303,94. (...) Portanto, a redução a zero do valor do ressarcimento decorreu unicamente da inclusão dos débitos apurados no auto de infração mencionado no relatório, que amortizou totalmente os créditos e ainda resultou na exigência de IPI nos três meses do trimestre calendário. Dessa forma, o presente procedimento decorre do procedimento relativo ao auto de infração. Não há, assim, questão de mérito propriamente dito a ser discutida no presente processo. (...) Assim, tendo sido julgada a impugnação de lançamento em processo próprio, descabe a apreciação, em sede de julgamento de manifestação de inconformidade, da matéria já julgada em primeira instância, devendo o resultado do acórdão ser aplicado ao caso dos autos. Por conseguinte, diante da vinculação deste julgamento ao do auto de infração, há que se aplicar a decisão proferida no processo nº 10830.725456/201217, cuja ementa foi assim redigida: DECADÊNCIA. Se após a reconstituição da escrita fiscal no RAIPI, houver créditos validados pelo Fisco para compensar parte do saldo devedor, então houve pagamento parcial, apto a atrair a aplicação do art. 150, §4º, do CTN. Logo, contase o prazo decadencial de cinco anos a partir do fato gerador do tributo. IPI. LEI DE INFORMÁTICA. BENEFÍCIO FISCAL. DISTINÇÃO ENTRE NOVO MODELO E VERSÃO DO MODELO HABILITADO. Mediante a juntada de laudos técnicos, demonstrado que os equipamentos objetos do auto de infração apresentam as características técnicas dos modelos já habilitados Fl. 15958DF CARF MF Processo nº 11080.910285/201395 Acórdão n.º 3301004.187 S3C3T1 Fl. 15.959 7 no incentivo fiscal e que são, portanto, versões, resultantes da combinação de características alternativas que podem pertencer a cada um dos modelos, conforme já constara no processo de habilitação, então não houve descumprimento da Portaria de concessão do benefício fiscal. Legítima a saída com as reduções de IPI. PROVA. LAUDO TÉCNICO ELABORADO PELO INSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGIA. Nos termos do art. 30 do Decreto 70.235/72 cabe ao Instituto Nacional de Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia, a elaboração de laudo visando ao esclarecimento de questões de natureza técnica postas ao deslinde dos órgãos julgadores administrativos, cujas conclusões sobre tais questões técnicas, devem ser acatadas pelas instâncias julgadoras. MULTA ISOLADA POR FALTA DE DESTAQUE DE IPI COM COBERTURA DE CRÉDITO. A multa isolada por falta de destaque de IPI com cobertura de crédito encontrase prevista na legislação vigente, art. 80, §8, da Lei 4.502/64. Recurso voluntário provido. Diante disso, como todo pedido de ressarcimento depende da existência de um crédito, o qual deve ser reconhecido na exata medida de sua comprovação, a Recorrente deve ter seu direito creditório analisado e apurado pela unidade de origem. Logo, voto por dar provimento parcial ao recurso voluntário, para que a unidade de origem proceda ao encontro de contas estampado no PER/DCOMP 25935.20866.180313.1.1.015636, homologando total ou parcialmente, de acordo com o resultado da apuração e comprovação de todos os valores envolvidos. (Assinado digitalmente) Semíramis de Oliveira Duro Relatora Fl. 15959DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.724446/2010-87
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 21 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Apr 23 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/09/2005 a 30/09/2009
CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. BASE DE CÁLCULO. EXCLUSÃO.
O valor apurado do crédito presumido do ICMS concedido pelos Estados e pelo Distrito Federal não integra a base de cálculo da Cofins apurada no regime não cumulativo.
ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP
Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/09/2005 a 30/09/2009
CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. BASE DE CÁLCULO. EXCLUSÃO.
O valor apurado do crédito presumido do ICMS concedido pelos Estados e pelo Distrito Federal não integra a base de cálculo do PIS apurada no regime não cumulativo.
Recurso Voluntário Provido
Numero da decisão: 3301-004.395
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Vencido o Conselheiro José Henrique Mauri, que negava provimento.
José Henrique Mauri - Presidente.
Valcir Gassen - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros José Henrique Mauri, Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Ari Vendramini, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen.
Nome do relator: VALCIR GASSEN
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Vencido o Conselheiro José Henrique Mauri, que negava provimento. José Henrique Mauri - Presidente. Valcir Gassen - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros José Henrique Mauri, Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Ari Vendramini, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/09/2005 a 30/09/2009 CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. BASE DE CÁLCULO. EXCLUSÃO. O valor apurado do crédito presumido do ICMS concedido pelos Estados e pelo Distrito Federal não integra a base de cálculo da Cofins apurada no regime não cumulativo. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/09/2005 a 30/09/2009 CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. BASE DE CÁLCULO. EXCLUSÃO. O valor apurado do crédito presumido do ICMS concedido pelos Estados e pelo Distrito Federal não integra a base de cálculo do PIS apurada no regime não cumulativo. Recurso Voluntário Provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Vencido o Conselheiro José Henrique Mauri, que negava provimento. José Henrique Mauri Presidente. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 72 44 46 /2 01 0- 87 Fl. 530DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 531 2 Valcir Gassen Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros José Henrique Mauri, Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Ari Vendramini, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen. Relatório Tratase de Recurso Voluntário (fls. 484 a 497) interposto pelo Contribuinte, em 30 de setembro de 2013, contra decisão consubstanciada no Acórdão nº 1046.104 (fls. 466 a 473), de 30 de agosto de 2013, proferido pela 2ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Porto Alegre (RS), que julgou, por unanimidade de votos, improcedentes as Impugnações, mantendo o crédito tributário exigido nos dois lançamentos. Visando a elucidação do caso e a economia processual adoto e cito o relatório do referido Acórdão (fl. 467): Trata o presente processo de autos de infração de Pis e Cofins nãocumulativos efetivados em 14/10/2010, contra a empresa acima identificada. O Auto de infração de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins totalizou o valor R$ 828.623,14, incluindo a contribuição (R$ 407.618,25), multa de ofício de 75% (R$ 305.713,52) e juros calculados até 30/09/2010 (R$ 115.291,37), conforme fls. 262/282. Por sua vez, o lançamento da Contribuição Para o Pis – Programa de Integração Social totalizou o valor R$ 183.281,59, incluindo a contribuição (R$ 90.035,33), multa de ofício de 75% (R$ 67.526,30) e juros calculados até 30/09/2010 (R$ 25.719,96), conforme fls. 301/306. No Relatório de Auditoria Fiscal (fls. 283/288), constatase que a autuação devese basicamente à não inclusão na base de cálculo do Pis e da Cofins dos valores relativos à título de crédito presumido de ICMS, oriundo de incentivo fiscal previsto no art. 32, incisos LXIX (redação dada pelo Decreto Estadual N0 42.563/2003 e alterações posteriores) do Regulamento do ICMS do estado do Rio Grande do Sul (Decreto Estadual No 37.699/1997), o qual não estaria incluído nas hipóteses enumeradas no §3o incisos I a VI do art. 10 da Lei 10.833/2003. Estes valores estão discriminados na planilha de fls. 284. Cientificada em 14/10/2010, a Empresa, por sua vez, contestou as exigências em 16/11/2010, através das impugnações de fls. 317/337 e 388/406. Relativamente ao crédito presumido de ICMS, afirma que somente constitui receita, e portanto base de cálculo das contribuições para o PIS/Cofins, o ingresso de novos valores ao patrimônio da empresa. Como os créditos presumidos de ICMS nada mais são do que um benefício fiscalescritural (relacionado à redução de custos na industrialização da farinha de trigo para que a Empresa obtenha maior competitividade em relação aos produtos derivados do trigo), não configuram receita auferida pela empresa a ensejar capacidade contributiva, sendo equivocado o procedimento da sua inclusão como receita para o cálculo das contribuições. Aduz Fl. 531DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 532 3 como suporte à sua tese, precedentes do CARF (relativo à Lei 9.718/98) e do TRF da 4a Região. Argumenta ainda que a RFB incorre em “bis in idem”, uma vez que a impugnante já é obrigada a recolher o Pis e a Cofins sobre o valor do ICMS destacado nas operações de vendas de mercadorias, sendo que, mantido o entendimento da Fiscalização, teria que adicionar o crédito presumido do ICMS na base de cálculo destas contribuições federais. Transcreve Acórdão do TRF da 4a Região relativo a caso análogo e que seria aplicável a sua tese. Postula também a suspensão da exigibilidade do crédito tributário lançado até o julgamento definitivo do presente processo administrativo. Pelos elementos juntados ao processo, teria havido equívoco na juntada da impugnação ao processo 11080.723477/201081 (que trata de Ressarcimento), conforme Termo de Entrega da DRF Porto Alegre a fls.457 e Despacho a fls. 465, que confirmou a tempestividade das peças entregues e encaminhouas à DRJ. Tendo em vista a decisão consubstanciada no Acórdão ora recorrido, o Contribuinte ingressou com Recurso Voluntário para que seja reformada a referida decisão. É o relatório. Voto Conselheiro Valcir Gassen O Recurso Voluntário interposto pelo Contribuinte, em face da decisão consubstanciada no Acórdão nº 1046.104, é tempestivo e atende os pressupostos legais de admissibilidade, motivo pelo qual deve ser conhecido. O ora analisado Recurso Voluntário visa reformar decisão que possui a seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/09/2005 a 30/09/2009 CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. O crédito presumido do ICMS integra a base de cálculo do PIS e da COFINS. Não existe previsão legal para a exclusão do crédito presumido de ICMS da base de cálculo do tributo. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/09/2005 a 30/09/2009 CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. O crédito presumido do ICMS integra a base de cálculo do PIS e da COFINS. Não existe previsão legal para a exclusão do crédito presumido de ICMS da base de cálculo do tributo. Impugnação Improcedente Fl. 532DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 533 4 Crédito Tributário Mantido Observase que o Contribuinte, por meio do Recurso Voluntário apresentado, visa a reforma da decisão consubstanciada no ora analisado Acórdão para que se afaste a incidência de PIS e Cofins dos créditos presumidos de ICMS, cancelando totalmente o crédito tributário objeto do presente processo. Nesse sentido, cito trecho do referido Recurso em que o Contribuinte explicita as razões de reforma do Acórdão ora recorrido: Ocorre que tal decisão não encontra guarida na legislação atinente ao caso em comento, tampouco está em concordância com a jurisprudência, seja do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, seja dos Tribunais Regionais Federais, seja do Superior Tribunal de justiça, conforme restou devidamente comprovado por meio de todo o aqui exposto. Assim, cotejando os documentos apresentados pela recorrente ao longo do processo administrativo com a legislação aplicável à espécie e o entendimento dos respeitáveis Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, Tribunal Regional Federal da 4ª Região e Superior Tribunal de justiça, chancelando o direito ora pleiteado, fica evidente a extinção do crédito tributário em foco nos moldes do art. 156 do CTN. Já o entendimento trazido pelo voto no referido Acórdão é no sentido de que o crédito presumido de ICMS deve integrar a base de cálculo do PIS e Cofins, uma vez que se trata de uma receita que não tem previsão legal de exclusão ou mesmo isenção, conforme se verifica neste seguinte trecho do voto: O crédito presumido de ICMS enquadrase no conceito de receita – outras receitas operacionais, conforme previsto no art. 392, inciso I do Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 (RIR) e deve integrar a base de cálculo do PIS e da Cofins. Não há dúvida de que a autora obtém vantagens financeiras com o crédito presumido do ICMS, qual seja, a dispensa do pagamento do imposto estadual nas saídas tributadas, podendo assim dispor dos recursos próprios (não despendidos) como capital de giro ou mesmo na aplicação em investimentos. Outrossim, considerando que tal crédito é presumido, inferese que o mesmo constitui receita nova, ou melhor “receita decorrente de benefício fiscal”, concedido pela Fazenda Estadual, no caso de ser compensado com o ICMS devido. Portanto, em síntese, tratase de receita auferida pelas empresas independentemente de sua denominação ou classificação contábil. Do ponto de vista jurídico, podemos dizer que o crédito presumido não significa devolução de algo indevido, eis que nada foi pago pela autora de forma indevida, mas sim estímulo de ordem financeira a prestigiar o setor contemplado. O crédito presumido não deixa, pois, de ser espécie de subvenção governamental para este setor, uma subvenção de custeio, já que, por ela, recuperamse custos, conforme previsto no art. 392, inciso I do Regulamento do Imposto de Renda: Subvenções e Recuperações de Custo Art. 392. Serão computadas na determinação do lucro operacional: Fl. 533DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 534 5 I – as subvenções correntes para custeio ou operação, recebidas de pessoas jurídicas de direito público ou privado, ou de pessoas naturais (Lei nº 4.506, de 1964, art. 44, inciso IV); Esse dispositivo é claro no sentido de que o crédito presumido do ICMS é receita e, portanto, entra no cômputo do Lucro como rendimento das pessoas jurídicas. Subvenção, sob o ângulo da legislação do imposto renda das pessoas jurídicas, é um auxílio que não importa em qualquer exigibilidade para o seu recebedor, ou seja, o patrimônio da empresa beneficiária é enriquecido com recursos vindos de fora sem que isto importe na assunção de uma dívida ou obrigação. As subvenções, quando feitas pelo Poder Público, podem se traduzir através de redução, isenção ou dedução de impostos, como no caso presente. As subvenções têm natureza de receitas e são, de ordinário, tributáveis, tanto que foram classificadas pela legislação do Imposto de Renda como "Outros Resultados Operacionais", na modalidade subvenção correntes para custeio ou operação (art. 335 do RIR, de 1994 ou art. 392 do RIR, de 1999). E como o próprio nome diz, subvenção são créditos, concedidos por lei, cujo objetivo é beneficiar determinado setor da economia, caracterizandose assim como benefício fiscal. No caso em comento, como o crédito presumido é compensado com o ICMS devido pela Impugnante fica evidenciada a sua natureza de “receita decorrente de benefício fiscal”, desonerando o valor devido do imposto estadual. Juridicamente, podese afirmar que o crédito presumido do ICMS não significa devolução de um pagamento indevido, posto que nada foi recolhido indevidamente pela impugnante, mas implica, isto sim, um estímulo financeiro para prestigiar o setor contemplado. E esta forma de renúncia fiscal caracteriza uma subvenção de custeio. O incentivo relativo ao crédito presumido de ICMS concedido pelo Decreto Estadual, constitui, para os fins da legislação tributária federal, subvenção corrente para custeio ou operação, devendo integrar a base de cálculo do PIS e da Cofins, visto tratarse de receita para a qual não há expressa previsão legal de exclusão ou isenção. (grifouse). Em que pese o entendimento da DRJ/POA, acredito que se encontra consolidada a jurisprudência no sentido de o crédito presumido de ICMS não integrar a base de cálculo do PIS e da Cofins por se tratar apenas de mera recuperação de custos. Nesse sentido, considero relevante citar na íntegra o voto vencedor do il. Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, consubstanciado no Acórdão nº 9303005.783 da 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais do CARF, proferido em 20 de setembro de 2017 no processo nº 13401.000483/200675, que bem elucida a questão e que serve de razões para decidir: Está mais do que pacificada na jurisprudência a tese de que o crédito presumido de ICMS concedido pelos Estados às pessoas jurídicas que neles se instalem ou aumentem a produção já instalada não integra a base de cálculo do PIS/Cofins não cumulativos, por constituirse, segundo este entendimento, apenas mera recuperação de custos. Exemplificativamente, confiramse as seguintes ementas de decisões do Superior Tribunal de Justiça – STJ, a quem cabe, como se sabe, a tarefa de uniformizar a interpretação de lei federal: Fl. 534DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 535 6 TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INCLUSÃO DO CRÉDITO PRESUMIDO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO DO PIS E DA COFINS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO À CLÁUSULA DA RESERVA DE PLENÁRIO. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. I. Agravo interno interposto em 20/04/2016, contra decisão publicada em 29/03/2016. II. Na esteira do entendimento firmado no STJ, "o crédito presumido de ICMS configura incentivo voltado à redução de custos, com vistas a proporcionar maior competitividade no mercado para as empresas de um determinado estadomembro, não assumindo natureza de receita ou faturamento, motivo por que não compõe a base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS" (STJ, AgRg no AREsp 626.124/PB, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 06/04/2015). No mesmo sentido: STJ, AgRg no REsp 1.402.204/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de 02/06/2015. III. Consoante a jurisprudência desta Corte, "a questão referente à ofensa ao princípio da reserva de plenário (art. 97 da CF) não deve ser confundida com a interpretação de normas legais embasada na jurisprudência deste Tribunal" (STJ, AgRg no REsp 1.330.888/AM, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe de 21/02/2014). IV. Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp 843051 / SP, Rel. Min. Assussete Magalhães, DJe 02/06/2016). PROCESSUAL REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. CRÉDITOS PRESUMIDOS DE ICMS. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO DO PIS/PASEP E DA COFINS. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STJ ACERCA DA MATÉRIA. SÚMULA 83/STJ. 1. Não se conhece do Recurso Especial em relação à ofensa ao art. 535 do CPC quando a parte não aponta, de forma clara, o vício em que teria incorrido o acórdão impugnado. Aplicação, por analogia, da Súmula 284/STF. 2. O acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento do STJ de que os créditos presumidos de ICMS, por se tratarem de mero ressarcimento, não representam ingresso de valores nos caixas da empresa e, portanto, não são tributáveis. Incidência da Súmula 83/STJ. 3. Agravo Regimental não provido. (AgRg no REsp 1573339 / SC, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 24/05/2016). PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PIS E COFINS. BASE DE CÁLCULO. CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. NÃO INCLUSÃO. INCENTIVO FISCAL. NATUREZA JURÍDICA DIVERSA DE RECEITA OU FATURAMENTO. Fl. 535DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 536 7 1. Segundo a jurisprudência desta Corte os valores provenientes do crédito presumido do ICMS não ostentam natureza de receita ou faturamento, mas de recuperação de custos na forma de incentivo fiscal concedido pelo governo para desoneração das operações, razão pela qual não integra a base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS. Precedentes: AgRg no AREsp 626.124/PB, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 6/4/2015; AgRg no REsp 1.494.388/ES, Rel. Ministra Marga Tessler (Juíza Federal convocada do TRF 4a Região), Primeira Turma, DJe 24/3/2015; AgRg no AREsp 596.212/PR, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 19/12/2014; AgRg no REsp 1.329.781/RS, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 3/12/2012. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1247255 / RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 26/11/2015). TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. LEIS 10.637/02 E 10.833/03: O CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS CONFIGURA INCENTIVO VOLTADO À REDUÇÃO DE CUSTOS, COM VISTAS A PROPORCIONAR MAIOR COMPETITIVIDADE NO MERCADO PARA AS EMPRESAS DE UM DETERMINADO ESTADOMEMBRO, NÃO ASSUMINDO NATUREZA DE RECEITA OU FATURAMENTO, PELO QUE NÃO COMPÕE A BASE DE CÁLCULO DO PIS/COFINS. ENTENDIMENTO APLICÁVEL AO IRPJ E À CSLL. PRECEDENTE: AGRG NO RESP. 1.227.519/RS, REL. MIN. BENEDITO GONÇALVES, DJE 7.4.2015. AGRAVO REGIMENTAL DA FAZENDA NACIONAL DESPROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça assentou o entendimento de que o crédito presumido de ICMS configura incentivo voltado à redução de custos, com vistas a proporcionar maior competitividade no mercado para as empresas de um determinado estadomembro, não assumindo natureza de receita ou faturamento, motivo por que não compõe a base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS. 2. A Primeira Turma desta Corte assentou o entendimento de que o crédito presumido de ICMS não se inclui na base de cálculo do IRPJ e da CSLL; Não há dúvida alguma que a aplicação desse sistema de incentivo aos exportadores amplia os lucros das empresas exportadoras. Se não ampliasse, não haveria interesse nem em conceder, nem em utilizar. O interesse é que move ambas as partes, o Fisco e o contribuinte; neste caso, o Fisco tem o interesse de dinamizar as exportações, por isso concede o benefício, e os exportadores têm o interesse de auferir maiores lucros na atividade exportadora, por isso correm reivindicam o benefício. Isso é absolutamente básico e dispensável de qualquer demonstração. 3. Nesse sentido, deve o legislador haver ponderado que, no propósito de menor tributação, a satisfação do interesse público primário representado pelo desenvolvimento econômico, pela geração de emprego e de renda, pelo aumento de capacidade produtiva, etc. preponderaria sobre a pretensão fiscal irrestrita, exemplo clássico de interesse público secundário. 4. Agravo Regimental da Fazenda Nacional desprovido. (AgRg no REsp 1461415 / SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 26/10/2015). Fl. 536DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 537 8 PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. BASE DE CÁLCULO DO IRPJ E DA CSLL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. Recurso especial em que se discute a inclusão do crédito presumido de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na base de cálculo de: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição para Programa de Integração Social (PIS) e Constribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). 2. "O crédito presumido de ICMS configura "benefício fiscal" que ao ser lançado na escrita contábil da empresa promove, indiretamente, a majoração de seu lucro e impacta, consequentemente, na base de cálculo do IRPJ e da CSLL". Nesse sentido: AgRg nos EDcl no REsp 1.458.772/RS, Rel Ministro HUMBERTO MARTINS, Segunda Turma, DJe 13/10/2014; AgRg no REsp 1.461.032/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, DJe 27/11/2014; AgRg nos EDcl no REsp 1.465.870/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, DJe 31/3/2015. 3. "Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, os valores provenientes do crédito do ICMS não ostentam natureza de receita ou faturamento, mas mera recuperação de custos na forma de incentivo fiscal concedido pelo governo para desoneração das operações, NÃO integrando, portanto, a base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS". Nesse sentido: AgRg no REsp 1422739/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma, DJe 18/02/2014; AgRg no REsp 1.463.364/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, Segunda Turma, julgado em 24/3/2015, DJe 30/3/2015. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1402204 / SC, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 02/06/2015). O fundamento de tais decisões judiciais reside no disposto na alínea “b” do inciso V do § 3º do art. 1º das Leis no 10.637, de 30 de dezembro de 2002 e 10.833, 29 de dezembro de 2003, que assim determinam: Art. 1º A Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS, com a incidência nãocumulativa, tem como fato gerador o faturamento mensal, assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. (...) § 3º Não integram a base de cálculo a que se refere este artigo as receitas: (...) V referentes a: (...) b) reversões de provisões e recuperações de créditos baixados como perda que não representem ingresso de novas receitas, o resultado positivo da avaliação de investimentos pelo valor do patrimônio líquido e os lucros e Fl. 537DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 538 9 dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisição que tenham sido computados como receita. (g.n.) Esse entendimento também foi compartilhado pelo ProcuradorGeral da República, como se vê do parecer que exarou nos autos do Recurso Extraordinário – RE nº 835818/PR, no qual reconhecida a repercussão geral da matéria levada à apreciação do Supremo Tribunal Federal: PARECER No 117184/2016 – ASJCIV/SAJ/PGR Recurso Extraordinário 835818 – PR Relator: Ministro Marco Aurélio Recorrente: União Recorrida: O.V.D. Importadora e Distribuidora Ltda. DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO TRIBUTÁRIO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 843. CRÉDITOS PRESUMIDOS DE ICMS. NÃO INCLUSÃO NO CONCEITO DE RECEITA. PRINCÍPIOS DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA, DA ISONOMIA E DA PROPORCIONALIDADE. NÃO INCIDÊNCIA DE PIS/COFINS. DESPROVIMENTO. 1 – Proposta de Tese de Repercussão Geral (Tema 843): Devem ser excluídos da base de cálculo do PIS e da COFINS os valores correspondentes a créditos presumidos de ICMS decorrentes de incentivos fiscais concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal, sob pena de ofensa aos princípios da capacidade contributiva, da isonomia e da proporcionalidade. 2 – Parecer pelo não provimento do recurso extraordinário. Brasília (DF), 30 de maio de 2016. Rodrigo Janot Monteiro de Barros ProcuradorGeral da República Portanto, na esteira de remansosa jurisprudência do STJ, o crédito presumido de ICMS conferido pelos estados não integra a base de cálculo do PIS/Cofins, razão pela qual DOU PROVIMENTO ao recurso especial da contribuinte. Com isso, me filio a posição adotada no voto supracitado, uma vez que considero que os créditos presumidos de ICMS concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal às pessoas jurídicas não integram a base de cálculo de PIS e Cofins nãocumulativo. Reforço a posição com a decisão proferida por maioria de votos no Acórdão 3301004.055, de 27 de setembro de 2017, de relatoria do il. Conselheiro Marcelo Costa Marques d'Oliveira, que ficou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 31/10/2009 a 31/12/2009 CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. SUBVENÇÃO PARA CUSTEIO. INCIDÊNCIA DE PIS Tratase de incentivo fiscal, cujo objetivo é o de reduzir a despesa com ICMS. Portanto, não é receita e não deve ser incluído nas bases de cálculo do PIS. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 31/10/2009 a 31/12/2009 CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. SUBVENÇÃO PARA CUSTEIO. INCIDÊNCIA DE COFINS Fl. 538DF CARF MF Processo nº 11080.724446/201087 Acórdão n.º 3301004.395 S3C3T1 Fl. 539 10 Tratase de incentivo fiscal, cujo objetivo é o de reduzir a despesa com ICMS. Portanto, não é receita e não deve ser incluído nas bases de cálculo do COFINS. Neste mesmo sentido temse a decisão proferida em 07 de dezembro de 2017 pelo Superior Tribunal de Justiça no REsp 1606998/SC de relatoria da il. Ministra Regina Helena Costa: Ementa TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. ICMS. CRÉDITO PRESUMIDO. PIS. COFINS. IRPJ. CSLL. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO. IMPOSSIBILIDADE. MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS. ART. 85, § 11, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. NÃO CABIMENTO. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. I Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplicase o Código de Processo Civil de 2015. II O crédito presumido de ICMS, concedidos pelos EstadosMembros, configura incentivo voltado à redução de custos, não assumindo natureza de receita ou faturamento, motivo pelo qual não compõe a base de cálculo das contribuições destinadas ao PIS e à COFINS. III Revelase incabível a inclusão do crédito presumido de ICMS na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. IV Tratandose de recurso especial sujeito ao Código de Processo Civil de 1973, impossibilitada a majoração de honorários nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil de 2015. V A Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida. VI Agravo Interno improvido. (grifouse). Portanto, tendo em vista a legislação aplicável ao caso e a jurisprudência mais recente sobre o tema, voto no sentido de dar provimento ao Recurso Voluntário. Valcir Gassen Relator Fl. 539DF CARF MF
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Numero do processo: 16561.720172/2012-20
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Jan 18 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Mar 05 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2009, 2010
PREMISSA. INSTITUTO JURÍDICO-TRIBUTÁRIO.
O conceito do ágio é disciplinado pelo art. 20 do Decreto-Lei nº 1.598, de 27/12/1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, e trata-se de instituto jurídico-tributário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica.
APROVEITAMENTO DO ÁGIO. INVESTIDORA E INVESTIDA. EVENTOS. SEPARAÇÃO. UNIÃO.
São dois os eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformam-se em uma só universalidade (em eventos de cisão, incorporação e fusão).
DESPESAS. AMORTIZAÇÃO. ÁGIO.
A amortização, a qual se submete o ágio para o seu aproveitamento, constitui-se em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontra-se submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99, submetendo-se aos testes de necessidade, usualidade e normalidade.
DESPESAS. FATOS ESPONTÂNEOS.
Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Não há como estender os atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica.
CONDIÇÕES PARA AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. TESTES DE VERIFICAÇÃO.
A cognição para verificar se a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência dos arts. 385 e 386 do RIR/99, segundo, se requisitos de ordem formal estabelecidos encontram-se atendidos, como arquivamento da demonstração de rentabilidade futura do investimento e efetivo pagamento na aquisição, e, terceiro, se as condições do negócio atenderam os padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes e reorganizações societárias com substância econômica.
AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. INVESTIDOR E INVESTIDA. MESMA UNIVERSALIDADE.
Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997 se dirigem às pessoas jurídicas (1) real sociedade investidora, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura, decidiu pela aquisição e desembolsou originariamente os recursos, e (2) pessoa jurídica investida. Deve-se consumar a confusão de patrimônio entre essas duas pessoas jurídicas, ou seja, o lucro e o investimento que lhe deu causa passam a se comunicar diretamente. Compartilhando do mesmo patrimônio a controladora e a controlada ou coligada, consolida-se cenário no qual os lucros auferidos pelo investimento passam a ser tributados precisamente pela pessoa jurídica que adquiriu o ativo com mais valia (ágio). Enfim, toma-se o momento em que o contribuinte aproveita-se da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, para se aperfeiçoar o lançamento fiscal com base no regime de tributação aplicável ao caso e estabelecer o termo inicial para contagem do prazo decadencial.
MULTA QUALIFICADA. ADMISSIBILIDADE.
O art. 67, Anexo II do RICARF determina que o recurso deve demonstrar interpretação divergência da legislação tributária dada por outra decisão paradigma. A operação de interpretação passa tanto pela "qualificação" do fato, quanto pela consequente identificação da norma jurídica aplicável do fato interpretado. Situação no qual a utilização de empresas "intermediárias", rotuladas "empresas veículos", encontra-se presente tanto nos presentes autos quanto no paradigma, e cuja diferença reside precisamente na "qualificação" atribuída ao fato em cada uma das decisões, tendo como consequência enquadramentos diferentes na norma, caracteriza a divergência regimental, fazendo com que a matéria deva ser conhecida.
MULTA QUALIFICADA.
A acusação de artificialismo de uma operação baseada na ausência de seu propósito negocial revelada pela geração de ágio interno e com uso de empresa veículo, sem a demonsração cabal de invalidades efetivas e do intuido de fraudar, sonegar ou atuar em conluio do sujeito passivo, com a devida subsunção aos artigos 71, 72 e 73 da Lei n. 4502/64 não autoriza a qualificação da multa de ofício, independentemente do posicionamento que se tenha quanto à dedutibilidade do ágio na questão.
Numero da decisão: 9101-003.365
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Daniele Souto Rodrigues Amadio (relatora), Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Acordam, ainda, por voto de qualidade em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional pelo paradigma 101-96.724, vencidos os conselheiros Daniele Souto Rodrigues Amadio (relatora), Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que não conheceram do recurso. No mérito, por maioria de votos, acordam em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros André Mendes de Moura, Rafael Vidal de Araújo e Adriana Gomes Rêgo, que lhe deram provimento. Designado para redigir o voto vencedor, em relação ao conhecimento do recurso fazendário e ao mérito do recurso do contribuinte, o conselheiro André Mendes de Moura.
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo Presidente
(assinado digitalmente)
Daniele Souto Rodrigues Amadio - Relatora
(assinado digitalmente)
André Mendes de Moura Redator Designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Luis Flávio Neto, Flávio Franco Corrêa, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Adriana Gomes Rêgo.
Nome do relator: DANIELE SOUTO RODRIGUES AMADIO
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EMPRESA VEÍCULO. Recorrentes JOHNSON & JOHNSON DO BRASIL INDUSTRIA E COMERCIO DE PRODUTOS PARA SAUDE LTDA. FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2009, 2010 PREMISSA. INSTITUTO JURÍDICOTRIBUTÁRIO. O conceito do ágio é disciplinado pelo art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, e tratase de instituto jurídicotributário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica. APROVEITAMENTO DO ÁGIO. INVESTIDORA E INVESTIDA. EVENTOS. SEPARAÇÃO. UNIÃO. São dois os eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformamse em uma só universalidade (em eventos de cisão, incorporação e fusão). DESPESAS. AMORTIZAÇÃO. ÁGIO. A amortização, a qual se submete o ágio para o seu aproveitamento, constituise em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontrase submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99, submetendose aos testes de necessidade, usualidade e normalidade. DESPESAS. FATOS ESPONTÂNEOS. Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Não há como estender os atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 56 1. 72 01 72 /2 01 2- 20 Fl. 8437DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.438 2 CONDIÇÕES PARA AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. TESTES DE VERIFICAÇÃO. A cognição para verificar se a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência dos arts. 385 e 386 do RIR/99, segundo, se requisitos de ordem formal estabelecidos encontram se atendidos, como arquivamento da demonstração de rentabilidade futura do investimento e efetivo pagamento na aquisição, e, terceiro, se as condições do negócio atenderam os padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes e reorganizações societárias com substância econômica. AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. INVESTIDOR E INVESTIDA. MESMA UNIVERSALIDADE. Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997 se dirigem às pessoas jurídicas (1) real sociedade investidora, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura, decidiu pela aquisição e desembolsou originariamente os recursos, e (2) pessoa jurídica investida. Devese consumar a confusão de patrimônio entre essas duas pessoas jurídicas, ou seja, o lucro e o investimento que lhe deu causa passam a se comunicar diretamente. Compartilhando do mesmo patrimônio a controladora e a controlada ou coligada, consolidase cenário no qual os lucros auferidos pelo investimento passam a ser tributados precisamente pela pessoa jurídica que adquiriu o ativo com mais valia (ágio). Enfim, tomase o momento em que o contribuinte aproveitase da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, para se aperfeiçoar o lançamento fiscal com base no regime de tributação aplicável ao caso e estabelecer o termo inicial para contagem do prazo decadencial. MULTA QUALIFICADA. ADMISSIBILIDADE. O art. 67, Anexo II do RICARF determina que o recurso deve demonstrar interpretação divergência da legislação tributária dada por outra decisão paradigma. A operação de interpretação passa tanto pela "qualificação" do fato, quanto pela consequente identificação da norma jurídica aplicável do fato interpretado. Situação no qual a utilização de empresas "intermediárias", rotuladas "empresas veículos", encontrase presente tanto nos presentes autos quanto no paradigma, e cuja diferença reside precisamente na "qualificação" atribuída ao fato em cada uma das decisões, tendo como consequência enquadramentos diferentes na norma, caracteriza a divergência regimental, fazendo com que a matéria deva ser conhecida. MULTA QUALIFICADA. A acusação de artificialismo de uma operação baseada na ausência de seu propósito negocial revelada pela geração de ágio interno e com uso de empresa veículo, sem a demonsração cabal de invalidades efetivas e do intuido de fraudar, sonegar ou atuar em conluio do sujeito passivo, com a devida subsunção aos artigos 71, 72 e 73 da Lei n. 4502/64 não autoriza a qualificação da multa de ofício, independentemente do posicionamento que se tenha quanto à dedutibilidade do ágio na questão. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 8438DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.439 3 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Daniele Souto Rodrigues Amadio (relatora), Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Acordam, ainda, por voto de qualidade em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional pelo paradigma 10196.724, vencidos os conselheiros Daniele Souto Rodrigues Amadio (relatora), Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que não conheceram do recurso. No mérito, por maioria de votos, acordam em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros André Mendes de Moura, Rafael Vidal de Araújo e Adriana Gomes Rêgo, que lhe deram provimento. Designado para redigir o voto vencedor, em relação ao conhecimento do recurso fazendário e ao mérito do recurso do contribuinte, o conselheiro André Mendes de Moura. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo – Presidente (assinado digitalmente) Daniele Souto Rodrigues Amadio Relatora (assinado digitalmente) André Mendes de Moura – Redator Designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Luis Flávio Neto, Flávio Franco Corrêa, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Adriana Gomes Rêgo. Relatório Tratamse de autos de infração (Efls. 5927 ss.) lavrados para a exigência de IRPJ e CSLL relativos aos anos calendário de 2009 e 2010, acrescidos de multa qualificada de 150%, em razão da glosa de valores amortizados como ágio, sob a justificativa de que haveria sido gerado em operação intragrupo e, ainda que assim não fosse, não teria cumprido condição essencial para a sua dedutibilidade fiscal, correspondente à confusão patrimonial, como resumido pela parte transcrita do Termo de Verificação Fiscal (Efls. 5946 ss.), ao qual se remete para uma leitura completa: “(...) 3. Breve síntese das operações societárias de interesse e da infração fiscal apontada 11. O presente Termo de Verificação Fiscal tem por objeto principal a glosa de encargos de amortização de ágio fundado em expectativa de rentabilidade futura e, consequentemente, a reconstituição das bases de cálculo do IRPJ e da Fl. 8439DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.440 4 CSLL da JJ Produtos. 12. Foram duas as razões jurídicas, cada qual caracterizada como fundamento suficiente, para a autuação. A primeira diz respeito à origem do ágio, que o qualifica como intragrupo; a segunda se refere ao não cumprimento de condição essencial para a dedutibilidade fiscal de sua amortização, nos termos da legislação tributária de regência. 13. A natureza intragrupo do ágio, cuja amortização foi glosada, foi plenamente caracterizada. Demonstrase que todas as operações que lhe deram origem foram realizadas entre sociedades (nacionais e estrangeiras) pertencentes ao grupo Johnson & Johnson, sob controle comum, direto ou indireto, de uma mesma sociedade a Johnson Corporate e que as sociedades envolvidas não possuíam sequer em seus quadros sócios minoritários externos ao citado grupo. 14. São apresentados dois "blocos" de operações realizadas entre 2005 e 2007: um exclusivamente entre sociedades estrangeiras, outro com a participação também de sociedades nacionais, dentre as quais o fiscalizado. A finalidade de tais operações foi majorar ilicitamente os custos de aquisição dos investimentos em duas sociedades nacionais do grupo — a JJ Comercio e a JJ Produtos – para possibilitar a posterior amortização dos respectivos ágios com efeitos redutores da tributação nacional sobre o lucro. 15. O primeiro bloco de operações, do qual resultou uma artificial majoração dos custos de aquisição registrados, foi realizado no exterior para evadir da tributação nacional o ganho de capital decorrente dessa alteração da base de avaliação de investimentos. Já mediante o segundo bloco, o grupo Johnson & Johnson "transferiu" para o Brasil tais custos de aquisição majorados a fim de aproveitar ilicitamente a amortização fiscal dos ágios decorrentes. 16. No item 4.1.1 do presente termo, foram descritas todas as operações societárias que compõem o referido panorama fático. 17. Quanto ao primeiro bloco de operações, até 2005 a Johnson Corporate possuía 57% de participação no capital da JJ Produtos e praticamente 100% de participação no capital da JJ Comércio, a qual possuía os 43% restantes do capital da JJ Produtos, conforme representação abaixo: (…) I8. Ao final desse ano (2005), foram realizadas duas operações societárias, por meio das quais a Johnson Corporate integralizou capital na Kthicon e na Bella 7 com as participações, respectivamente, da JJ Produtos e da JJ Comércio. As referidas sociedades passaram a compor o seguinte organograma: (…) 19. As participações na JJ Produtos e na JJ Comercio estavam registradas na Johnson Corporate pelo custo histórico — e assim permaneceram na Kthicon e na Bella 7 por um valor total de USS 24.549.865,00. 20. Num conjunto imediatamente posterior de operações ainda desse primeiro bloco, iniciadas menos de um mês após os fatos antes descritos e ocorridas em um período de apenas três meses (entre 13/12/2005 e 16/03/2006), as participações que a Johnson Corporate detinha na Bella 7 e na Kthicon passaram a pertencer à Latam Investment e a ser registradas por um valor total de USS 1.575.477.384,00, montante este lastreado nas supostas rentabilidades futuras das sociedades nacionais JJ Comércio e JJ Produtos. 21. Decorridos pouco mais de outros três meses, a Bella 7 e a Kthicon foram dissolvidas e liquidadas no final de junho de 2006 e, por conseguinte, as sociedades nacionais (JJ Comércio e JJ Produtos) passaram ao controle direto da Latam Investment. 22. Mediante esse primeiro bloco de operações realizadas exclusivamente entre Fl. 8440DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.441 5 sociedades do grupo, tendo sido duas destas (Bella 7 e Kthicon) empregadas como empresasveículo (empresas "de passagem"), o conglomerado Johnson & Johnson aumentou os registros dos custos de aquisição das participações nas sociedades nacionais (JJ Comércio e JJ Produtos), mas até então ainda sem reflexos diretos no Brasil. 23. O segundo bloco de operações foi promovido com o fito de transferir os custos de aquisição artificialmente majorados para sociedades nacionais e aqui amortizar fiscalmente seus respectivos ágios. 24. Em setembro de 2006, após três meses do encerramento do primeiro bloco de operações, a Lalam Investment utilizou as duas participações (JJ Comercio e JJ Produtos) para integralizar capital na JJ Administração no ato da sua constituição. Como resultado, passou a deter quase 100% do capital da nova sociedade (a JJ Industrial era a outra sócia na criação da JJ Administração, mas possuía apenas uma fração simbólica do capital), que passou a controlar diretamente as sociedades II Comércio e JJ Produtos. 25. Abaixo, segue a representação esquemática dessas operações: (…) 26. Ao final dessa etapa, a JJ Administração passou a deter as participações na JJ Produtos e na JJ Comercio, supostamente registradas a valores de mercado, cujos custos de aquisição foram desdobrados em valores patrimoniais e ágios. 27. Por derradeiro, o segundo bloco e o conjunto global de operações, que se iniciaram no exterior com o objetivo de burlar a legislação nacional, foi encerrado com a incorporação da JJ Administração e da JJ Comércio pela JJ Produtos, a qual passou a amortizar os respectivos ágios, conforme a seguir esquematicamente apresentado: (…) 28. No item 4.1.2, foram quantificados os valores indevidamente amortizados em cada um dos anoscalcndário a que se refere a presente fiscalização. 29. No item 4.2, foram apresentadas pormenorizadamente as razões jurídicas para a glosa dos encargos de amortização dos ágios decorrentes das operações anteriormente descritas. No subitem 4.2.1, discorrese sobre a indedutibilidade da amortização do ágio intragrupo com o respaldo inclusive da jurisprudência do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Piscais). 30. Já no 4.2.2, apresentase mais uma razão jurídica suficiente em si para a glosa: a ausência de "confusão patrimonial". É que, nesse caso, ainda que o ágio não tivesse se caracterizado como intragrupo, a sua amortização não poderia reduzir as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL á luz da legislação vigente. Por outras palavras, mesmo que o ágio tivesse origem em operações realizadas entre partes independentes, sua amortização não seria dedutível, pois a legislação tributária só autoriza tal dedução em uma situação especial: quando houver confusão patrimonial entre a sociedade investida e a investidora originais, o que não ocorreu na presente situação, (caso não ocorra a confusão patrimonial, o aproveitamento fiscal do ágio lastreado em rentabilidade futura só se dá quando da alienação do investimento, porquanto neste momento o ágio pago – ainda que contabilmente amortizado comporá o custo do investimento para fim de apuração do ganho de capital. 31. No item 5, apresentamse as razões para a qualificação da multa no patamar de 150%. 32. No item 6, discorrese acerca da retificação da DIPJ relativa ao ano calendário de 2010 realizada pelo fiscalizado no curso deste procedimento fiscal e de suas repercussões no presente lançamento de ofício. (…)” (grifouse) Fl. 8441DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.442 6 Insurgindose, a contribuinte apresentou impugnação (Efls. 6070 ss.) deduzindo em sua defesa as razões resumidas pelo relatório da decisão da DRJ, que se lê: “OS FATOS Breve histórico sobre o grupo Johnson & Johnson e início do Projeto “Business Integration” 6.1. Abaixo reproduzo parte do apresentado pela Impugnante com respeito ao projeto “Business Integration”: A partir do ano calendário de 2005, visando otimizar sua estrutura operacional, administrativa e gerencial, o grupo Johnson & Johnson passou a discutir possíveis alternativas para a reorganização de suas atividades, incluindo, dentre outros pontos, a centralização de centros de custo e de tesourarias sob a empresa irlandesa Johnson & Johnson International Financial Services Company ("IFSC"); e a criação de centros de prestação de serviços compartilhados ("CSCs") na América Latina. Como será comentado adiante, a IFSC era uma sociedade holding que desempenhava serviços administrativos de natureza financeira para todo o grupo Johnson & Johnson, centralizando pagamentos (administração de caixa) e concentrando as atividades de tesouraria em geral, facilitando os fluxos financeiros entre as diversas empresas do grupo. A IFSC, antes da implementação do Projeto "Business Integration", já administrava recursos financeiros de subsidiárias do grupo Johnson & Johnson localizadas na Europa, como ocorria, por exemplo, na Itália, na Polônia, na Hungria, na Eslováquia e na República Tcheca. Já a criação dos CSCs visava concentrar, sob uma entidade centralizadora, atividades administrativas do grupo Johnson & Johnson que, até então, vinham sendo desenvolvidas pelas subsidiárias latino americanas de forma descentralizada, gerando custos desnecessários e criando ineficiências administrativas para o grupo. Assim, o presente caso deve ser analisado no contexto acima, qual seja, o de um processo de reorganização internacional das atividades do grupo Johnson & Johnson. De fato, o chamado Projeto "Business Integration" não envolveu apenas sociedades brasileiras, como equivocadamente assumiu a D. Fiscalização, tendo sido também implementado na Argentina, no Uruguai, no Chile, no Paraguai, na Venezuela, na Colômbia, no Equador, no Peru, no Caribe e no México, conforme o cronograma abaixo (.............). (.................) A partir dessas informações, podese desde já concluir que a premissa adotada pela D. Fiscalização no presente caso é descabida, na medida em que, se a intenção do grupo Johnson & Johnson fosse apenas a de suprimir tributos no Brasil, como pretende fazer crer a D. Fiscalização, seria ilógico supor que o grupo Johnson & Johnson estruturaria um projeto de nível mundial, envolvendo tantas jurisdições e empresas distintas, ao longo de mais de dois anos. Outra questão que deve ser destacada e que deve orientar a análise dos fatos que passarão a ser descritos a seguir é que, sendo a JJ US uma companhia aberta com ações negociadas em Bolsa de Valores e sujeita a avaliações, tanto por parte de agências classificadoras de riscos, quando pela própria comissão de valores mobiliários norteamericana (Securíties and Exchange Commission "SEC"), as operações efetuadas entre empresas do grupo Johnson & Johnson deveriam ser realizadas em condições de mercado, como se efetuadas entre Fl. 8442DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.443 7 partes independentes. (.................) Com a transferência da participação detida pela JJ US nas sociedades brasileiras para a holding Latam Investment foi concluída a primeira etapa do Projeto “Business Integration”. Passouse à etapa seguinte da reestruturação. À época (setembro de 2006) o grupo não sabia ainda ao certo se a forma mais eficiente do ponto de vista organizacional era o da segregação de suas principais linhas de produção (farmacêutica, produtos médicohospitalares e consumo), ou integrar as diversas etapas dos processos produtivos de cada dessas sociedades. Para o exame dessas questões, com cautela absoluta com o sigilo das informações, o grupo JJ criou a JJ Adminstração, para a qual foram transferidos os principais Diretores de cada uma das sociedades: JJ Comércio; JJ Produtos; JJ Industrial e Janssen BR. A JJ Administração possuía real substância, empregados, receitas, despesas e operações próprias e teve duração superior a um ano, de modo que as alegações da fiscalização de que essa sociedade seria um mero veículo para internalizar ágios não encontram respaldo fático. Para comprovar tais fatos são apresentados documentos. O início da etapa brasileira do Projeto ocorreu com a contribuição das quotas detidas pela Latam Investment na JJ Comércio e na JJ Produtos em aumento do capital da JJ Administração pelos exatos valores que a Latam Investment tinha praticado na sua aquisição, ou seja, a valor justo de mercado (arm’s length). A JJ Administração adquiriu quotas da JJ Comércio e da JJ Produtos a valores justos de mercado, pagando essa aquisição por meio da entrega de quotas de capital social de sua emissão. A própria legislação fiscal reconhece que a contribuição de participação societária em aumento de capital social de uma sociedade constitui, para essa sociedade que recebe o investimento, uma verdadeira forma de aquisição. A JJ Administração ficou obrigada pela legislação em vigor a registrar o investimento (controladas) pela método da equivalência patrimonial, desdobrando o seu custo em: valor do patrimônio líquido e ágio. São também descabidas as alegações da fiscalização de que, pelo fato de a operação em questão ter se dado entre empresas ligadas ao grupo Johnson, os laudos de avaliação preparados pela empresa independente Ernst & Young não poderiam ser aceitos, já que não teriam sido "testados pelo mercado". As discussões, por mais de um ano, das possíveis alternativas para otimizar os processos produtivos e da estrutura administrativa das principais sociedades do grupo JJ no Brasil produziram longos e detalhados estudos que a Impugnante pede vênia para colacionar ao presente processo. A esse respeito, cabe notar que a Impugnante chegou a detalhar todas essas deliberações da JJ Administração para a fiscalização ao longo do procedimento de fiscalização, mas que, para a surpresa da Impugnante, não levou em consideração essas informações na análise do presente caso. Em 31/10/2007, após mais de um ano avaliando as possíveis alternativas para maximização de eficiências administrativas no Brasil, o grupo Johnson & Johnson deliberou uma série de providências quanto à integração total ou parcial dos diversos processos internos dessas sociedade (..............). Com isso, foi realizada uma série de mudanças no grupo JJ, dentre as quais se destacam as seguintes: (i) JJ produtos passou a chamar JJ do Brasil Ind. e Com. de Produtos para a Saúde Ltda., ora Requerente; (ii) cisão parcial da Janssen BR. A parcela farmacêutica foi mantida, ao passo que a linha de comércio e Fl. 8443DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.444 8 distribuição foi incorporada pa JJ Prudutos (Requerente); (iii) incorporação da JJ Comércio pela JJ Produtos (Requerente) para concentrar todas as atividades de comércio e distribuição do grupo JJ e (iv) com a segregação das linhas de produção do grupo e a conclusão da integração de seus processos administrativos internos, a JJ Administração, cuja denominação passara a ser JJBR Latam Administração de Investimentos e Participações Ltda. (JJBR Latam) foi incorporada pela JJ Produtos (Requerente). Notese que o Projeto "Business Integration" trouxe mudanças tão marcantes para as operações do grupo Johnson & Johnson no Brasil, que chegou a ser destaque de duas matérias jornalísticas publicadas no jornal "Valor Econômico", de 4/4/2007 (docs. nº 51 e 52), das quais a Requerente pede vênia para destacar os seguintes trechos: (.............). (...................) Como se pode notar, não houve atos artificiais ou que visassem burlar a legislação fiscal brasileira nas operações acima, como equivocadamente supôs a D. Fiscalização em seu Termo de Verificação. Cada uma das operações acima está suportada em documentação hábil e idônea, devidamente registrada nos órgãos oficiais conforme a regulamentação em vigor. A esse respeito, é importante enfatizar especialmente que essas operações foram motivadas por razões empresariais não tributárias, que são precedentes e independentes de qualquer efeito fiscal. (..................) O DIREITO 6.2. A Impugnante faz um resumo das operações realizadas e as razões, que inclusive já foram apresentadas acima, para contestar, no entender dela, a equivocada premissa adotada pela fiscalização de que o grupo JJ teria implementado uma “manobra”, sem qualquer propósito negocial e com o exclusivo fim de “iternalizar” um ágio “artificialmente” pago no exterior, e, assim, obter um benefício fiscal indevido no País. 6.3. Com base nos pontos apresentados, resta claro que não houve atos ilegítimos ou artificiais por parte da Impugnante nas operações em exame, mas apenas a implementação de operações motivadas por razões empresariais e não tributárias. 6.4. No entanto a fiscalização alega duas razões principais para proceder à glosa das despesas de ágio amortizadas, quais sejam: (i) o ágio registrado pela JJ Administração teria resultado da mera “internalização” de outro ágio que teria supostamente sido ocorrido pela sociedade Latam Investment no exterior, de forma que, não tendo havido a “confusão patrimonial” entre a Latam Investment e a Impugnante, o requisito legal de absorção de patrimônio exigido pela legislação nacional para a amortização de ágio não teria sido cumprido; e (ii) o ágio em questão supostamente não poderia ser amortizado em razão de ser caracterizar como um “ágio intragrupo”, o que no entender da fiscalização levaria à falta de confiabilidade. A não “Internalização” do ágio registrado pela JJ Administração 6.5. O primeiro ponto a ser aqui demonstrado é que o ágio registrado pela JJ Administração não foi “internalizado”, mas sim, decorreu da aplicação obrigatória do método da equivalência patrimonial por essa sociedade quando do recebimento da JJ Comércio e da JJ Produtos em aumento de seu capital social. 6.6. Somente se pode falar em “ágio” para fins do artigo 385 do RIR/99 quando se esteja diante da situação em que uma determinada sociedade, obrigada a avaliar investimento em controlada ou coligada pelo método de equivalência Fl. 8444DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.445 9 patrimonial, desdobra seu custo de aquisição nessa participação societária em valores de patrimônio líquido e ágio ou deságio. 6.7. Assim, o fato de a Latam Investment ter efetuado o pagamento do valor justo de mercado das sociedades brasileiras, posteriormente contribuídas na JJ Administração, não fez com que ela tivesse de registrar um "ágio" para fins do artigo 385 do RIR/99, mas apenas um "custo de aquisição", já que esse dispositivo legal não poderia obrigar essa sociedade no exterior. De fato, o conceito de ágio (ou deságio) conforme a legislação brasileira decorre da aplicação obrigatória do método de avaliação dos investimentos pela equivalência patrimonial às empresas Brasileiras. Contribuição é forma de aquisição 6.8. E nem se diga que o fato de a JJ Administração ter recebido esses investimentos em aumento de capital não poderiam ser equiparados a uma “aquisição” desses investimentos, para fins do artigo 385 do RIR/99. 6.9. Como visto, o artigo 7o da Lei 9.532/97, que serve de base legal do artigo 385 do RIR/99, estabelece que: "a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo 20 do DL 1.598/77, poderá amortizar o ágio nas condições estabelecidas nos parágrafos seguintes". 6.10. Do ponto de vista da JJ Administração, o recebimento das quotas da JJ Comércio e da JJ Produtos como contribuição em aumento de seu capital social funcionou como verdadeira "aquisição", para quaisquer fins de direito, inclusive do artigo 7° da Lei 9.532/97. 6.11. A aquisição de um bem ou direito pode se dar de várias formas, entre elas, compra e venda, permuta, recebimento de doação, de contribuição em aumento de capital, de dação em pagamento etc. 6.12. A esse respeito, é importante esclarecer que a conferência de bens em integralização de capital é ato de alienação/aquisição, conforme o artigo 3º § 3o da Lei n° 7.713/88, que determina a tributação dessa renda pelo Imposto sobre a Renda da Pessoa Física. 6.13. Desse modo, constatase que o termo alienação corresponde a todo e qualquer ato que implique a transferência da propriedade de um determinado bem para outra pessoa. Nesse mesmo sentido já se pronunciou a própria RECEITA FEDERAL DO BRASIL (SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 288/2006). 6.14. Fica aclaro que a JJ Administração efetivamente adquiriu a JJ Comércio e a JJ Produtos para os fins do artigo 7o da Lei 9.532/97. O referido dispositivo não definiu forma específica pela qual uma participação poderia ser adquirida com ágio. Ou seja, o legislador não quis disciplinar apenas as aquisições feitas através de contratos de compra e venda ou de permuta de ativos, como equivocadamente supõe fiscalização. Ao contrário, todas as formas legais de aquisição são válidas para fins dessa previsão legal. Artigo 7º da Lei nº 9.532/97 – Aquisição foi feita com ágio 6.15. Em decorrência do acima exposto, resulta que adquirir participação societária com ágio é uma questão factual e não uma questão interpretativa. Ao mencionar o artigo 20 do DL 1.598/77 no corpo do próprio artigo 7o da Lei 9.532/97, o legislador deixou claro que o ágio mencionado naquele dispositivo referese à diferença positiva entre o custo incorrido na aquisição de uma determinada participação societária e o seu correspondente patrimônio líquido. A avaliação das quotas contribuídas 6.16. O artigo 7º da Lei das S.A. dispõe que o capital social pode ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de Fl. 8445DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.446 10 avaliação em dinheiro. Porém, a legislação estabelece uma rígida disciplina para a contribuição de capital com bens que necessita de avaliação efetuada por três peritos ou empresa especializada. No caso específico, o valor das quotas objeto de integralização de capital da JJ Administração foi atestado com base nos estudos de avaliação econômicofinanceira da JJ Comércio e da JJ Produtos, preparados pela Ernst & Young, sendo cumprida a exigência legal. 6.17. Não encontra nenhum respaldo legal a afirmação da fiscalização de que a JJ Administração deveria ter avaliado os bens contribuídos pela Latam Investment (JJ Comércio e a JJ Produtos) considerando os correspondentes custos históricos das participações, ainda quando elas eram detidas diretamente pela JJ US. 6.18. Não existe nenhuma previsão na legislação societária ou fiscal que faça com que a avaliação de um bem contribuído em aumento de capital de determinada sociedade deva levar em consideração seu último custo quando negociado com terceiros. 6.19. O grupo JJ considerou para fins da contribuição da JJ Comércio e da JJ Produtos em aumento de capital da JJ Administração valores devidamente validados pelos laudos elaborados por empresa independente e especializada e, além disso, os valores atribuídos para a operação foram exatamente os mesmos que haviam sido pagos pela Latam Investment, seis meses antes. 6.20. Essa prática demonstra que o grupo JJ não pretendia obter nenhum ganho indevido com a operação em referência, mas apenas preservar os valores praticados nas aquisições feitas a valores justos de mercado. A obrigatoriedade de desdobramento do valor do investimento em patrimônio líquido e ágio 6.21. Nos casos de avaliação do investimento sujeito ao método de equivalência patrimonial, o artigo 385 do RIR/99 obriga a pessoa jurídica a desdobrar o custo de aquisição em valores do patrimônio líquido e o ágio ou deságio. 6.22. Foi o que fez a JJ Administração, quando adquiriu as quotas da JJ Comércio e JJ Produtos, na contribuição em aumento de capital feita pela Latam Investment. Desdobrou, em sua contabilidade, o custo de aquisição do investimento que passou a deter nessas sociedades em: (i) valor do patrimônio líquido e o (ii) ágio. A permissão legal para a amortização fiscal do ágio 6.23. O artigo 386, inciso III do RIR/99 (base legal, artigo 7º da Lei nº 9.532/97) prevê que: se uma pessoa jurídica que detenha participação societária registrada com ágio, com base na expectativa de rentabilidade futura da sociedade investida, vier a unificar seu patrimônio com o da sociedade investida por meio de incorporação, esse ágio passará a ser tratado como um ativo amortizável para fins fiscais na sociedade sobrevivente à incorporação, em um prazo mínimo de cinco anos. 6.24. Todos os itens enumerados pela fiscalização como obrigatórios a serem atendidos para a garantia da dedutibilidade fiscal da amortização do ágio, principalmente a que prevê que deve haver o encontro da participação societária adquirida e do ágio pago por tal participação em um mesmo patrimônio (confusão patrimonial) foram atendidos pela Impugnante. 6.25. Desse modo, não se chega à outra conclusão senão a de que os valores apurados a título de ágio pela Requerente são válidos e legítimos, de modo que seu aproveitamento, inclusive para fins fiscais, não poderia ser glosado pela fiscalização, como acabou ocorrendo no lançamento ora impugnado. A não vedação à amortização do ágio ora examinado Fl. 8446DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.447 11 6.26. Outro fundamento utilizado pela fiscalização para desqualificar a validade e a legitimidade do valor do ágio ora discutido é o fato de ter sido, formalmente, originado de operações entre partes relacionadas. A Impugnante irá demonstrar de forma clara e inequívoca que apesar das operações possam ter ocorrido entre partes relacionadas, os efeitos desses mesmos fatos foram, em essência, os mesmos que teriam decorrido de uma negociação conduzida entre partes independentes. A não vedação à apuração de ágio em operações entre partes relacionadas 6.27. O mero fato de haver ágio decorrente de negociações realizadas entre partes relacionadas não pode implicar a indedutibilidade desses valores, se todos os requisitos previstos na legislação, notadamente, os artigos 385 e 386 do RIR/99 estão presentes, em entendimento que é corroborado pela doutrina e jurisprudência nesse sentido. 6.28. Embora a fiscalização não tenha mencionado de forma expressa em seu Termo de Verificação, a suposta invalidade do ágio apurado em operações entre partes relacionadas decorre de interpretação de normativos de natureza contábil, por exemplo, OfícioCircular/ CVM/SNC/SEP nº 01/2007 e Resolução CFC nº 1.157/2009. Os laudos de avaliação a validação dos preços praticados pelo grupo Johnson & Johnson 6.29. A Obrigatoriedade de as empresas negociarem a valores justos de mercado decorria não apenas de políticas internas do Grupo JJ, mas também da própria imposição da legislação norteamericana e da condição da JJ US de empresa listada em bolsa de Valores naquele país. 6.30. Importante ressaltar que a fiscalização não questionou o valor apurado pela Ernst & Young, que procedeu à avaliação do valor de mercado das subsidiárias do Grupo JJ no Brasil. Se a fiscalização não concorda com os laudos produzidos por empresa independente e especializada, ela deveria ter, no mínimo, apresentado outros estudos ou laudos de avaliação. A legislação brasileira sobre DDL e Preços de Transferência e a obrigatoriedade de negociar a valores de mercado 6.31. Como é de conhecimento geral, a legislação brasileira visa especialmente impedir que os preços praticados nas transações envolvendo pessoas jurídicas relacionadas não correspondam a valores de mercado. Exemplos dessa vedação são a aplicação das regras de Preços de Transferência e a aplicação das regras de Distribuição Disfarçada de Lucros ("DDL"). Nessas regras, a legislação tributária obriga que as operações sejam feitas a valor de mercado, justamente por envolver partes do mesmo grupo econômico. 6.32. Portanto, a fiscalização não poderia questionar o fato de a JJ Administração ter recebido bens avaliados a valor de mercado, quando de seu aumento de capital, somente porque dessa avaliação resultou a contabilização de parcelas de ágio. A negociação a valores justos de mercado entre partes relacionadas ressaltese, é uma atitude não apenas recomendada, por questão de transparência e neutralidade na condução dos negócios, mas também por imposição legal, sendo as regras de Preços de Transferência e de DDL dois exemplos que ilustram tal situação. A JJ Administração não era uma “empresa veículo” 6.33. A princípio, cabe esclarecer que a expressão “empresa veículo” quer dizer, que uma determinada sociedade é dita “de passagem”, ou seja, ela não tem nenhuma outra função além de servir de efêmero canal de transmissão de direitos no context considerado. 6.34. Não é o caso da JJ Administração, que havia sido constituída como Fl. 8447DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.448 12 sociedade holding, de forma que bastaria que o seu objeto social, fosse a participação, como sócia ou acionista, em outras sociedades. Porém, ela desde do início de suas atividades já contava com empregados, faturamento, receitas e despesas próprias, conforme evidenciam os documentos apresentados pela Impugnante. E, além disso, a JJ Administração também foi diretamente envolvida no processo de aquisição da divisão “Consumer Healthcare Business”, então detida pelo grupo Pfzer. 6.35. E, ainda que assim não fosse, o que se admite apenas para argumentar, em recentes julgamentos o CARF consignou expressamente que a utilização de sociedades veículo não tem o condão de, por si só, invalidar as transações das quais decorra o aproveitamento fiscal do ágio. 6.36. Portanto, está demonstrado o absoluto descabimento da acusação feita pela fiscalização, no sentido de que a JJ Administração seria considera como mera empresa veículo e, com isso, as despesas de ágio amortizadas seriam ilegítimas. Outras questões apontadas pela fiscalização 6.37. Além dos pontos acima tratados a fiscalização aduz ainda outros pontos de questionamento que têm por objetivo desqualificar as operações realizadas. A seguir a Impugnante passará a comentar a improcedência desses itens. 6.38. Um dos pontos subsidiariamente mencionados pela fiscalização referese à questão envolvendo o pagamento de ganhos de capital no Brasil, quando da alienação de sociedades brasileiras no exterior. 6.39. No entanto, a legislação fiscal não condiciona a dedutibilidade das despesas de amortização de ágio a um pagamento prévio de Imposto sobre a Renda sobre eventual ganho de capital. 6.40. Em todo caso, uma vez que o tema não é objeto de questionamento específico da fiscalização, não cabe a ela invocar tal fato para tentar descaracterizar situação jurídica distinta, que é a amortização de ágio. Tratase de decorrência direta da chamada boafé objetiva, ou seja, validar o entendimento da fiscalização seria agir de maneira contraditória ao ordenamento jurídico. 6.41. A fiscalização tenta desqualificar a amortização do ágio com base em normas contábeis, especificamente a Resolução 1.157/09, que aprova o Comunicado Técnico CGT 02. A fiscalização destaca o item 50, segundo o qual só pode ser reconhecido o ativo intangível do ágio por expectativa de rentabilidade futura se o investimento for adquirido de terceiros. Porém, esta disposição somente pode ser levada em consideração para fins contábeis, e não fiscais. 6.42. Além disso, o ágio tratado nesta Resolução se refere ao “ágio gerado internamente” que no âmbito da “CVM” e no meio contábil, popularizouse com a publicação do OfícioCircular/ CVM/SNC/SEP nº 01/2007, e diz respeito exclusivamente a operações específicas de “reavaliação espontânea” de sociedades controladas e coligadas. 6.43. Concluise que houve um "custo de aquisição" incorrido na aquisição da JJ Comércio e da JJ Produtos, de modo que as disposições contábeis relativas a "ágio gerado internamente" não são aplicáveis ao caso em questão. 6.44. Além disso, a Resolução 1.157/09 somente entrou em vigor em 13/02/2009. A fiscalização também mencionou o artigo 7º da Resolução CFC nº 750/93 e, alega que este artigo menciona que somente seria admitido o custo histórico como base de valor para a mensuração de ativos e passivos. Porém esta Resolução não impossibilita o reconhecimento de ágio em aquisições verdadeiras e legítimas, ainda que realizadas entre partes relacionadas. Fl. 8448DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.449 13 6.45. Aliás, aqui cabe fazer outra ponderação, no sentido de que as regras contábeis não podem ser invocadas pela fiscalização para gerar direitos ou deveres. A função da Contabilidade não é essa, sendo que, a determinação de quaisquer efeitos fiscais, deverá levar em conta a legislação fiscal aplicável, e não orientações diretivas de natureza não normativa. 6.46. A fiscalização também aponta uma suposta inconsistência com respeito à data de aquisição da Bella 7 e da Ethicon pela Latam Investment. Conforme consta do Contrato de Compra e Venda entre a Latam Properties e a Latam Investment a data de 28/04/2006, a que se refere a fiscalização, era a data limite para a conclusão da transação. 6.47. Ao final do Termo de Verificação, a fiscalização tenta mais uma vez descaracterizar os efeitos fiscais da apuração, registro e amortização de ágio pela Impugnante lançando mão de dois exemplos, denominados pela fiscalização de "Enfoque 1" e "Enfoque 2". Confirase: (...) podese encarar a operação da qual resultou o pagamento do ágio pela Latam Investment (investidora/adquirente) sob duas perspectivas: (i) considerar que a operação de aquisição teve formalmente como objeto as participações na Bella 7 e na Ethicon (e, portanto, admitir que o ágio teve como fundamento a previsão de rentabilidade futura de tais sociedades estrangeiras) hipótese adiante referida como 'Enfoque 1'; ou (ii) assumir que as participações na JJ Produtos e na JJ Comércio (ainda que por intermédio de suas controladoras diretas Bella 7 e Ethicon) constituíram o real objeto da operação de aquisição, tendo o ágio se fundado na expectativa de rentabilidade das sociedades brasileiras hipótese a seguir identificada como 'Enfoque 2”. 6.48. Entretanto, com o devido respeito à fiscalização, tanto as premissas do "Enfoque 1" quanto do "Enfoque 2" são igualmente equivocadas, pois, como visto, o pagamento feito pela Latam Investment não foi o que gerou o ágio finamente amortizado pela Requerente e que é objeto destes autos. O ágio em referência somente surgiu como decorrência da aplicação do método da equivalência patrimonial pela JJ Administração quando da avaliação de suas controladas JJ Comércio e JJ Produtos. 6.49. A Impugnante faz um resumo dos julgados no CARF, de cada um dos casos semelhantes ao caso em discussão (Tele Norte, Santander, Gerdau) que tiveram decisões favoráveis aos contribuintes e, no caso da Mahle a decisão do Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários. 6.50. Na tentativa de aduzir elementos que possam corroborar suas alegações, a fiscalização menciona alguns casos julgados pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, especialmente os Acórdãos n°s 130100.058, de 13.5.2009; 140201.080, de 14.6.2012; 120200.753, de 12.4.2012; 110300.501, de 30.6.2011; e 10196.724, de 28.5.2008. 6.51. Ocorre que, se examinados os fatos e as razões de Direito consubstanciadas em cada um desses Acórdãos, notase que o presente caso a eles em nada se assemelha, de modo que as conclusões daqueles casos não podem ser utilizadas pela fiscalização para descaracterizar as operações em exame. A Impugnante faz um resumo de cada Acórdão mencionado. 6.52. Embora o Auto de Infração ora impugnado se baseie no entendimento de que a operação realizada deveria ser caracterizada como prática "artificial", tendo em vista a suposta ausência de propósito negocial, não poderia a presente autuação fiscal desconstituir uma operação realizada em absoluta conformidade com a legislação em vigor, unicamente por conta das suas motivações econômicas. Fl. 8449DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.450 14 6.53. Cabe lembrar que referida interpretação passou a ser adotada pelas autoridades fiscais a partir da edição da Lei Complementar n° 104/2001 que alterou o artigo 116, parágrafo único, do CTN. No entanto, da parte final do referido dispositivo notase que ele não é autoaplicável, mas depende de regulamentação por lei ordinária, a qual não ocorreu até o presente momento. 6.54. Assim, ainda que o caso em exame não estivesse revestido de propósito negocial, o que se admite apenas para argumentar, resta claro que a fiscalização não poderia pretender desconsiderar os negócios jurídicos aqui examinados apenas com base nessa infundada justificativa. MULTA QUALIFICADA 6.55. O Impugnante apresenta, quanto à multa qualificada, as seguintes alegações: Inocorrência de fraude, simulação ou dolo: (i) a fiscalização deve trazer provas inequívocas da ocorrência dos vícios previsto nos artigos 71 a 73 da lei nº 4.502/64, para aplicar a qualificação; (ii) a fiscalização sequer utiliza em seu Termo de Verificação os termos “simulação”, “fraude”, ou “dolo”; (iii) os elementos de prova apresentados, não permitem que se cogite de uma suspeita minimamente racional de fraude ou de qualquer conduta dolosa. Não se pode falar em “evidente intuito de fraude”; (iv) além de registrar todos os seus atos nos estritos termos da legislação em vigor, a Impugnante portouse ainda de forma exemplar durante a fase de fiscalização e disponibilizou todas as informações e documentos solicitados. Os elementos da penalidade tributária: a “teoria da imputação subjetiva” e o artigo 112 do CTN: (i) Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial, ao dispor sobre a aplicação de sanções tributárias, o CTN encampa a chamada "teoria da imputação subjetiva", segundo a qual a aplicação de penalidade deve levar em consideração a conduta do contribuinte diante de um risco novo e injusto, e não apenas sob a perspectiva da mera ação materialmente realizada: (ii) Em outras palavras, para que reste configurada a hipótese de aplicação de uma penalidade, a fiscalização deve demonstrar a ocorrência de aspectos objetivos e subjetivos na conduta do contribuinte, sendo que somente após essa avaliação, podese decidir pela aplicação ou não da penalidade; (iii) Portanto, sob o ponto de vista da "teoria da imputação subjetiva" resta claro que a Requerente não incorreu em nenhum dos aspectos de ordem objetiva e subjetiva que permitissem a aplicação da penalidade qualificada; Erro de proibição e dúvida relevante: (i) Outro ponto que merece destaque no presente caso é o fato de que as operações autuadas pela fiscalização como inoponíveis à Administração Tributária eram, até a época dos fatos ora discutidos (2005), largamente reconhecidas como válidas pela jurisprudência administrativa: (ii) Assim, não se pode argüir simulação, fraude ou dolo; quando muito se poderia falar em "erro de proibição", pois, se é que havia qualquer ilicitude nas operações examinadas, o que se admite para argumentar, não havia ao menos conhecimento por parte da Requerente acerca dessa suposta ilicitude do negócio. É nesse sentido que tem decidido a jurisprudência administrativa: O princípio da proporcionalidade e o artigo 142 do CTN: (i) Por fim, importa notar que a aplicação de sanções deve sempre seguir o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, conforme o artigo 2º parágrafo único, inciso VI, da Lei 9.784/99, que rege supletivamente o processo administrativo fiscal; Fl. 8450DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.451 15 6.56. Por todas as razões acima expostas, resta demonstrado o total descabimento da aplicação da multa qualificada de 150% à Requerente no presente caso, razão pela qual se pleiteia seu imediato cancelamento. JUROS 7. A taxa SELIC não pode ser aplicada aos créditos tributários e, se admitida a sua aplicação, só poderá incidir sobre o crédito tributário principal, não podendo recair sobre o valor da multa de ofício, que é penalidade e não tem natureza tributária.” Na sequência, a Delegacia da Receita Federal de Julgamento em São Paulo I proferiu o acórdão n. 1646.738 (Efls. 7618 ss.) mantendo o lançamento tributário, pelas razões resumidas na seguinte ementa: “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2009, 2010 INCORPORAÇÃO DE EMPRESA. AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO INTRAGRUPO. INDEDUTIBILIDADE. Não produz o efeito tributário almejado pelo sujeito passivo a incorporação de pessoa jurídica, em cujo patrimônio constava registro de ágio com fundamento em expectativa de rentabilidade futura apurado em decorrência de aquisição de empresa do mesmo grupo societário. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. Aplicase a multa de ofício qualificada no percentual de 150%, quando o procedimento fiscal evidenciou que o contribuinte realizou operações visando à criação de ágio intragrupo e sua amortização para redução indevida da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. AUTO REFLEXO CSLL. O decidido, no mérito do IRPJ, repercute na tributação reflexa. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido” Em face da referida decisão, a contribuinte interpôs recurso voluntário (Efls. 7681 ss.) no mesmo sentido que sua impugnação administrativa e a Fazenda Nacional, por sua vez, apresentou contrarrazões (Efls. 7837 ss.). Do julgamento do recurso pela Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção resultou o acórdão n. 1201001.470 (Efls. 7892 ss.), em que basicamente se manteve a glosa da amortização do ágio, por se considerar as respectivas despesas indedutíveis tratandose de empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico e o uso de empresa veículo, mas se desconstituiu a qualificação da multa, diante da ausência de demonstração cabal da ocorrência de fraude. Leiase a sua ementa: “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 2009, 2010 DESPESAS COM AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. EMPRESAS DE MESMO GRUPO ECONÔMICO. INDEDUTIBILIDADE. Incabível a dedução de amortização de ágio decorrente de operação societária realizada entre empresas de mesmo grupo econômico, pela inexistência da contrapartida do terceiro que gere o efetivo dispêndio. INCORPORAÇÃO DE EMPRESA. AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO INTERNO. Fl. 8451DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.452 16 NECESSIDADE DE PROPÓSITO NEGOCIAL. Inadmissível a formação de ágio por meio de operações internas, sem a intervenção de partes independentes e sem o pagamento de preço a terceiros. Não produz o efeito tributário almejado pelo sujeito passivo a sucessão de operações societárias sem qualquer finalidade negocial que resulte em incorporação de pessoa jurídica de mesmo grupo, com utilização de empresa veículo, unicamente para criar de modo artificial as condições para aproveitamento da amortização do ágio como dedução na apuração do lucro real e da contribuição social. DESPESAS COM AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. EMPRESA VEÍCULO. AUSÊNCIA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. Não há como aceitar a dedução do ágio com utilização de empresa veículo, quando o procedimento do sujeito passivo não se reveste de propósito negocial mas revela objetivo exclusivamente tributário. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2009, 2010 ACÓRDÃO DRJ. COMPOSIÇÃO DA TURMA INCOMPLETA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. A Portaria 341/11 que estabelece que somente quando presente a maioria dos membros da Turma, poderá haver deliberação, bem como, que o Delegado da DRJ pode designar julgador ad hoc para participar de sessão específica em Turma de julgamento, visando garantir o quorum mínimo de 03 julgadores que uma vez alcançado, possibilita o julgamento. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. REDUÇÃO. A multa deve ser reduzida ao percentual de 75% por não haver nos autos comprovação cabal das hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 1964. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em segunda votação, por dar parcial provimento ao recurso, para afastar a qualificação da multa, reduzindoa para 75%, vencidos os conselheiros Luis Fabiano, José Roberto e Ronaldo Apelbaum, que lhe davam provimento e José Carlos e Ester Marques, que lhe negavam provimento. Designada a Conselheira Eva Maria Los para redigir o voto vencedor. O Conselheiro Ronaldo entendeu que não era cabível a aplicação de multa e apresentará declaração de voto. (assinado digitalmente) ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Presidente. (assinado digitalmente) LUIS FABIANO ALVES PENTEADO Relator. (assinado digitalmente) EVA MARIA LOS Redator Designado” Contra o referido acórdão, primeiramente, a Fazenda Nacional interpôs recurso especial (Efls. 7960 ss.), pretendendo fosse restabelecida a qualificação da multa, diante da existência de fraude na conduta da contribuinte que descreveu, para o que apresentou os acórdãos n. 120200.753 e n. 10196.724 como paradigmas da divergência. O recurso foi recepcionado por despacho de admissibilidade (Efls. 7981 ss.) e, intimada, a contribuinte opôs embargos de declaração (Efls. 7994 ss.) visando sanar as omissões enumeradas pelo despacho (Efls. 8141) que não os admitiu: “ (...) embora a penalidade tenha sido reduzida para 75%, foi levantada questão Fl. 8452DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.453 17 de ordem pelo Conselheiro Ronaldo Apelbaum, de que a penalidade sequer deveria ser aplicada, constando que apresentaria Declaração de Voto; porém, tal declaração de voto não consta; o que devido à falta de consenso dos julgadores, que apontaram 3 (três) caminhos de decisão, foi realizada nova votação, na qual proposta do Conselheiro Ronaldo Apelbaum não foi considerada, tendo sido analisadas apenas 2 (duas) das soluções; aponta que ocorreu vício na votação desta matéria (art. 60 do RICARF); e requer que se analise a aplicação da multa, à luz do art. 112 do CTN, eliminandoa, por se tratar de processo envolvendo dúvida sobre a capitulação dos fatos; no mérito, relativamente à dedutibilidade das despesas de amortização de ágio, seriam 6 (seis) as omissões na análise: 1. não havia qualquer vedação na legislação fiscal, explícita ou implícita, que restringisse o reconhecimento de ágio, quando a aquisição tivesse sido realizada entre partes relacionadas, antes da MP nº 627, de 2013, convertida na Lei nº 12.973, de 2014; 2. a necessidade de negociação em bases comutativas também decorre da legislação norteamericana, onde a matriz do grupo Johnson & Johnson negocia ações em ambiente de Bolsa de Valores; o Acórdão assume a premissa de que por se tratarem de operações entre partes relacionadas, não poderia haver o reconhecimento de ágio, mas não leva em consideração que mesmo no Brasil, partes relacionadas devem transacionar sempre em bases "estritamente comutativas", ou seja, como se terceiros independentes fossem; e a reorganização societária foi empreendida em bases mundiais; 3. por ter havido um efetivo pagamento de preço nas participações adquiridas, houve um legítimo custo de aquisição, que poderia ser perfeitamente adotado para fins da contribuição em aumento de capital da JJ Administração, tendo em vista o disposto no artigo 26, §3o, da IN n° 208, de 27.9.2002, posteriormente confirmado pelo artigo 23, §Io, da IN n° 1.455, de 6.3.2014; 4. mesmo sob a perspectiva contábil o grupo Johnson & Johnson estaria autorizado a reconhecer e a amortizar o ágio surgido com a contribuição das controladas brasileiras em aumento de capital da Johnson & Johnson Administração de Investimentos Ltda. PJJ Administração, pois Eliseu Martins e Jorge Vieira Costa Júnior reconhecem expressamente que sob a égide da Lei 9.532/97 não havia vedação ao registro de ágio em operações entre partes relacionadas; que a vedação somente começou em 2010; 5. a decisão embargada deixa de considerar que sob a perspectiva da matriz do grupo Johnson & Johnson, essa redomiciliação levou à tributação de mais de USD 11 bilhões em razão do "Homeland Investment Act'; ao alegar que o ágio somente poderia ser considerado como amortizável e dedutível para fins fiscais no Brasil se houvesse a correspondente tributação da maisvalia, trouxe um questionamento que não é objeto de autuação neste caso e não considera que a matriz do grupo Johnson & Johnson reconheceu valores tributáveis nos Estados Unidos em decorrência dessa operação, razão pela qual não se pode dizer que tenha apresentado razões exclusivamente ligadas à amortização de ágio no Brasil; 6. indevida alegação de que a JJ Administração seria uma sociedade veículo e teria internalizado um "ágio interno", dado que essa sociedade teve existência superior a dois anos e exerceu papel decisivo nas diretrizes do grupo Johnson & Johnson, possuindo empregados próprios e atividades próprias; e esteve envolvida em outras aquisições realizadas pelo grupo Johnson & Johnson com partes não relacionadas; a conclusão do Acórdão é contraditória com precedentes proferidos pelo próprio CARF.” Fl. 8453DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.454 18 Na sequência, a contribuinte apresentou contrarrazões (Efls. 8097) apontando, de modo preliminar, a (i) impossibilidade de conhecimento do recurso especial da Fazenda Nacional por falta de cotejo analítico e também de configuração da divergência entre os acórdão recorrido e paradigmas, uma vez que o primeiro deles (acórdão n. 1202 00.753) condiciona a aplicação da multa qualificada à constatação de fortes indícios da ocorrência de simulação, o que não seria o caso dos presentes autos, além do que não se poderia reexaminar provas nesta instância administrativa. Já o segundo, acordão n. 101 96.724, trataria de fatos totalmente diversos, tendo havido uma reavaliação espontânea de investimentos, sem qualquer propósito negocial, e com prova do intuito fraudulento. Por fim, concluiu que o entendimento formado no CARF seria o de que a indedutibilidade do ágio, por si só, nao autorizaria a qualificação da multa, pois à época dos fatos muitos casos eram reiteradamente validados por autoridades adminsitrativas, e reiterou as questões de mérito já desenvolvidas. A contribuinte também interpôs recurso especial (Efls. 8156 ss.), suscitando divergência para enfrentar as seguintes matérias enumeradas, com os respectivos paradigmas: (i) ágio decorrente de operação entre partes relacionadas (acórdãos n. 1302001.978 e 1301001.224); e (ii) suposta utilização indevida de empresa veículo (acórdãos n. 1302002.045 e 1301001.950), ao que foi dado seguimento integralmente pelo despacho de admissibilidade às Efls. 8385 ss. Em conclusão, a Fazenda Nacional ofereceu contrarrazões (Efls. 8391 ss.) reiterando os argumentos deduzidos nas contrarrazões apresentadas em face do recurso voluntário anteriormente. Passase, assim, à apreciação dos recursos. Voto Vencido Conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio Relatora CONHECIMENTO O conhecimento do Recurso Especial condicionase ao preenchimento de requisitos enumerados pelo artigo 67 do Regimento Interno deste Conselho, que exigem analiticamente a demonstração, no prazo regulamentar do recurso de 15 dias, de (1) existência de interpretação divergente dada à legislação tributária por diferentes câmaras, turma de câmaras, turma especial ou a própria CSRF; (2) legislação interpretada de forma divergente; (3) prequestionamento da matéria, com indicação precisa das peças Fl. 8454DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.455 19 processuais; (4) duas decisões divergentes por matéria, sendo considerados apenas os dois primeiros paradigmas no caso de apresentação de um número maior, descartandose os demais; (5) pontos específicos dos paradigmas que divirjam daqueles presentes no acórdão recorrido; além da (6) juntada de cópia do inteiro teor dos acórdãos indicados como paradigmas, da publicação em que tenha sido divulgado ou de publicação de até 2 ementas, impressas diretamente do sítio do CARF ou do Diário Oficial da União quando retirados da internet, podendo tais ementas, alternativamente, serem reproduzidas no corpo do recurso, desde que na sua integralidade. Observase que a norma ainda determina a imprestabilidade do acórdão utilizado como paradigma que, na data da admissibilidade do recurso especial, contrarie (1) Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal (art. 103A da Constituição Federal); (2) decisão judicial transitada em julgado (arts. 543B e 543C do Código de Processo Civil; e (3) Súmula ou Resolução do Pleno do CARF. Com relação ao recurso especial apresentado pela Fazenda Nacional, a contribuinte alega em suas contrarrazões inexistir divergência entre os acórdãos recorrido e paradigmas, o que se passa a analisar, partindose, por oportuno, da recordação de que a razão para a desqualificação da multa de ofício pelo acórdão recorrido deuse“por não haver nos autos comprovação cabal das hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 1964.” Leia se o trecho do voto em que se trata da penalidade: “No julgamento de que resulta o presente Acórdão, resultou vencedora a tese de que não foram preenchidas as condições do art. 386 do RIR de 1999, porquanto tivessem sido legais e como argumenta a Recorrente, no interesse dos negócios do grupo empresarial, as operações societárias realizadas não configuram a situação que autoriza à incorporadora deduzir o ágio relativo às empresas incorporadas. A Recorrente apontou que as operações autuadas pela fiscalização como não oponíveis à Administração Tributária eram, até a época dos fatos (2005), largamente reconhecidas como válidas pela jurisprudência administrativa; por isso, não se pode argüir simulação, fraude ou dolo; quando muito se poderia falar em "erro de proibição", pois, se é que havia qualquer ilicitude nas operações examinadas, o que apenas admite para argumentar, não havia ao menos conhecimento por parte da Requerente acerca dessa suposta ilicitude do negócio. Efetivamente, não há elementos a apontar dolo, fraude, ou simulação; ou que operações tenham sido ocultadas, dado que foram regularmente declaradas, com registros oficiais, junto a órgãos reguladores. Neste contexto, tratase de discussão sobre tema controverso, questão técnica, não havendo justificativa para a qualificação da multa; neste caso, correta é a aplicação da multa de ofício. À vista de não restar evidente a infração à Lei nº 4.502, de 1964, deve a multa qualificada ser convertida na multa de ofício do art. 44, I da Lei nº 9.430, de 1996, isto é deve ser reduzida a 75%.” Fl. 8455DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.456 20 Verificandose o primeiro paradigma apresentado, acórdão n. 1202 00.753, é possível se inferior logo de sua ementa que, muito embora também tenha como tema subjacente a questão do ágio interno, no caso julgado foi imputada a presença de “prova direta da ocorrência de simulação” e “a constatação do evidente intuito de fraudar o Fisco, pela intencional prática de atos simulados”, o que ensejaria a qualificação da multa de ofício. Leiase: “DESPESAS COM AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. OPERAÇÃO INTERNA. SIMULAÇÃO. GLOSA. A criação de ágio por meio de reorganização societária entre empresas do mesmo grupo econômico, pautada em fortes indícios, além de prova direta da ocorrência de simulação revelase artificial e não gera direito à dedução das respectivas despesas de amortização. MULTA QUALIFICADA. A constatação de evidente intuito de fraudar o Fisco, pela intencional prática de atos simulados, enseja a qualificação da multa de ofício.” Considerandose, pois, para além do distanciamento entre as duas qualificações dadas à operação com ágio interno como simulatória, que o acórdão recorrido desqualificou a multa por ausência de prova cabal das hipóteses dos artigos 71,72 e 73 da Lei n. 4502/64 e o paradigma qualificou, justamente porque havia prova do evidente intutio de fraude, o que se conclui é que os dois acórdãos são convergentes e não divergentes, como se espera para o conhecimento do recurso especial. Entendese, nesse sentido, que só seria possível a configuração da divergência numa hipótese em que, diante de provas nos dois casos ou ausência de provas em ambos, se decidisse opostamente quanto à aplicação da multa ou, ainda, na hipótese de duas situação fáticas estritamente próximas se aplicasse a legislação de forma divergente, qualificandose uma num sentido, por exemplo, como simulação, e noutra não, o que ainda demandaria o enfrentamento da possibilidade de se reexaminar provas nesta instância. Mas não é o caso dos autos. O mesmo se diga com relação ao segundo paradigma, acórdão n. 101 96.724. Neste caso, além de se estar diante de uma situação fática ainda mais distante daquela subjacente ao acórdão recorrido, a qualificação da multa se resume a uma frase da ementa dessa decisão: “MULTA QUALIFICADA A simulação justifica a aplicação da multa qualificada.” Pela simples leitura dessa conclusão, entendese que critério de decidir do segundo acórdão paradigma é a constatação da simulação, leiase o voto a esse respeito: “A sucessão dos atos, a proximidade temporal entre eles e a extinção da empresa por incorporação revelam que nunca houve a intenção real de constituir uma empresa (a ZBT, constituída em junho de 1998 e extinta em Fl. 8456DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.457 21 agosto de 1998) para efetivamente operar segundo seu objetivo social, mas sim de criar uma sociedade efêmera, de passagem, que possibilitasse um registro de ágio a ser amortizado por empresa do grupo. Conforme deixa claro o Termo de Verificação, a ZBT TERMINAIS foi constituída em 01 de junho de 1998, com capital inicial de R$ 1.000,00, subscrito, conforme AGE de 17/06/98 por duas pessoas fisicas, sendo R$999,00 pelo Sr. Gonçalo Borges Torrealba, também acionista da Libra Terminais S/A e da Libra Terminal 35 S/A. Em 05/08/1998 foi aprovado o aumento de capital mediante a subscrição de mais 10 milhões de ações ordinárias, subscritas por LIBRA TERMINAIS S/A (que passou a deter 99,99% das ações) Esse ato foi que possibilitou o surgimento do ágio que daria origem às despesas de amortização, pois a integralização deuse com ações da Libra Terminal 35 avaliadas em R$ 123.157.000,00. Em 06/08/1998 o patrimônio da ZBT é cindido e seu acervo é incorporado pela LIBRA TERMINAL 35 S/A Durante toda a sua existência formal, de junho de 1998 a 06 de agosto de 1998, a ZBT não praticou qualquer ato vinculado com seu objetivo social. Alega a Recorrente a existência de alternativas que atendiam o requisito legal para a amortização dedutível, quais sejam: (a) a incorporação da Libra Terminal 35 S/A pela Libra Terminais S/A; (b) a incorporação da Libra Terminais S/A pela Libra Terminal 35 S/A, e (c) a cisão parcial da Libra Terminal S/A, mediante destaque de parcela do patrimônio, formado pelo investimento (com ágio) na Libra Tenninal 35 S/A, sendo tal parcela incorporada por esta última. Olvidouse a Recorrente de observar que enquanto existiam apenas a Libra Terminais S/A e a Libra Terminal 35 S/A não havia contabilização de investimento adquirido com ágio, a ser amortizado em uma das alternativas mencionadas. O surgimento do ágio foi possibilitado com a constituição (exclusivamente formal) da ZBT. Nada do que foi trazido no recurso sensibiliza meu espírito a ponto de produzir dúvida quanto à inexistência de fato da ZBT, que foi constituída exclusivamente para possibilitar a formação de um ágio, passível de gerar despesa de amortização. Ao final das alegações recursais, suscita a Recorrente impossibilidade de lavratura de auto de infração sobre fatos já fiscalizados e expressamente validados pela Receita Federal, e a impossibilidade de desconstituir negócios jurídicos societários realizados em 1998, em razão de ter ocorrido a prescrição. A Secretaria da Receita Federal não valida ou invalida fatos, mas analisa sua repercussão frente à legislação tributária e exige os tributos porventura deles decorrentes. A fiscalização anterior, relativa ao anocalendário de 1998, nada exigiu em relação às operações questionadas, porque elas se deram naquele próprio ano, e sua repercussão tributária só surgiria com a amortização do ágio, nos períodos subseqüentes.” Nesse sentido, compreendese que não se trata do mesmo pressuposto adotado pelo acórdão recorrido, que se relembra, desqualificou a multa com base na ausência de comprovação de sonegação, fraude ou conluio nas operações realizadas. Fl. 8457DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.458 22 Assim sendo, votase por NÃO CONHECER o recurso da Fazenda Nacional pelas razões expostas, CONHECENDOSE o recurso do sujeito passivo, nos termos do despacho de admissibilidade. MÉRITO De acordo com a análise de conhecimento procedida, devolvese ao julgamento desta instância as seguintes matérias as quais se relembra para melhor demarcação do objeto a ser enfrentado nesta decisão: (i) ágio decorrente de operação entre partes relacionadas, (ii) suposta utilização indevida de empresa veículo, por caracterizar a ausência de propósito negocial e a (iii) correspondente qualificação da multa de ofício, na evetualidade de conhecido o recurso da Fazenda Nacional, passandose a enfrentálas. Em conformidade com o acórdão recorrido, vêse que a indedutibilidade do ágio foi fundamentada na sua verificação dentro do mesmo grupo econômico, pois inexistente a contrapartida do terceiro gerador do efetivo dispêndio, com o uso de empresa veículo, que indicariam a inexistência de propósito negocial, reduzindose a multa qualificada, por ausência de prova cabal das hipóteses dos artigos 71,72 e 73 da Lei n. 4502/64. Não se está diante assim de se inquinar o cumprimento dos requisitos ao seu abatimento, a exemplo do pagamento, que se demonstrou efetuado em moeda nos autos, comprovação documental por laudo preparado por terceiro independente, o que num primeiro momento poderseia afirmar o não questionamento dos requisitos dos artigos 7o. e 8o. da Lei n. 9.532/97 em si: “Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977: (Vide Medida Provisória nº 135, de 30.10.2003) I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "a" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "c" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (Redação dada pela Lei nº 9.718, de 1998) (...) Fl. 8458DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.459 23 § 1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão. § 2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar: a) o ágio, em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; b) o deságio, em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. § 3º O valor registrado na forma do inciso II do caput: a) será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; b) poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. § 4º Na hipótese da alínea "b" do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos e contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente. § 5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito.” “Art. 8º O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando: a) o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor de patrimônio líquido; b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária.” A questão que se coloca, precisamente, então, referese à possiblidade de abatimento do ágio gerado intragrupo, porque o pagamento não viria de terceiro gerador do efetivo dispêndio, e com a utlização de empresa veículo, porque indicariam a ausência de propósito negocial na operação, que teria como único intuito a geração do ágio. Relativamente ao ágio haver sido gerado internamente, a circunstância de não haver previsão legal que vedasse à sua utilização à época dos fatos me é suficiente para afastar a possibilidade de negativa à sua dedutibilidade sob essa fundamentação, ausência legislativa essa que veio a ser confirmada pela Exposição de Motivos da MP 627/13, que antecedeu, aí sim, a proibição normativa sobre a questão, veiculada pela Lei n. 12.973/14, com vigência a partir de 10.01.2015. De todo modo, buscouse demonstrar o atendimento ao sistema de Fl. 8459DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.460 24 negociação em termos comutativos, já que diante de partes relacionadas, inclusive para o atendimento de normas internacionais que exigiam transações com parâmetros de mercado. A exemplo das colocações sintetizadass pela contribuinte, “9. Essa reorganização teve duração de 3 anos e foi realizada em bases estritamente comutativas por políticas de transparência do próprio grupo, como se ocorresse com partes totalmente independentes. As participações societárias transferidas foram adquiridas com pagamento efetivo em caixa, todos os preços estavam devidamente suportados por laudos de avaliação produzidos por peritos especializados e, sobretudo, havia razões empresariais justificando o negócio. 10. O chamado “Business Integration Project” ocorreu no Brasil e em outras nove jurisdições na América Latina, nos moldes do que já havia sido feito em países europeus (Itália, Polânia, Hungria, Eslováquia e República Tcheca).” No mesmo sentido, e já se passando para o segundo ponto quanto ao uso da empresa veículo, também se buscou demonstrar que “a JJ Administração era uma sociedade que exerceu papel decisivo nas diretrizes relacionadas à reorganização brasileira (questões jurídicas e regulatórias ligadas à ANVISA, supply chain, TI, organização das linhas de negócio, logística, recursos humanos, etc.) e também participou diretamente da aquisição da divisão consumer junto ao grupo Pfizer, terceiro não relacionado (vide docs. 30 a 42 da Impugnação, que provam sua real existência).” Também no que se refere ao uso de empresa veículo, verificase que foi sustentada a infração, ao final, com base na ausência de propósito negocial, e como já pontuado, não vejo que isso seja impedimento para o seu uso, novamente diante da ausência de previsão legislativa no ordenamento jurídico brasileiro a esse respeito, mas se estando diante de produções doutrinárias e importações do direito alienígena, que não guardam correspondente internamente, o que seria diferente caso imputados vícios concretos capazes de invalidar a constituição da JJ Admnistração, ainda que isso leve a uma redução da carga fiscal verificada. De todo modo, entendo demonstrado nos autos o propósito negocial da utilização da JJ Admnistração e da operação em si. No mesmo sentido, mas independentemente do posicionamento que se tenha quanto ao ágio interno e uso da empresa veículo, não se vê como ser restabelecida a qualificação da multa, assim como decidido pelo acórdão recorrido a esse respeito,uma vez que se observa que não foi realizada imputação e qualificação de sonegação, conluio ou fraude, nos termos dos artigos 71, 72 ou 73 da Lei n. 4.502/64. Afinal, tudo isso é diferente de se considerar a operação artificial por falta de propósito negocial, inoponível ao fisco, uma vez que se exige mais da conduta do contribuinte, a exemplo de ilícitos como falsificação, sendo que no caso não se pode negar a existência de publicidade e legitimidade, a priori, dos atos. Fl. 8460DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.461 25 Talvez porque essa não tenha sido a premissa da fiscalização, também não se constata prova do evidente intuito de fraude, que novamente é o que se exige para a qualificação da multa, mas alegações da fiscalização quanto à ausência de substância negocial da empresa veículo. Finalmente, apenas a título de argumentação para se demonstrar o que já afirmado, ainda que como simulação pudesse ser qualificada, certamente não se estaria diante de simulação absoluta, mas de interpretação possível do sujeito passivo, não aceita pela fiscalização e autoridade julgadora, o que se confirma pela ausência de uniformidade na jurisprudência a respeito da questão, especialmente à época dos fatos. Por essa razão, além de se compreender dedutíveis os valores correspondentes ao ágio apurado na operação, não se entende possível a qualificação da multa de ofício com o percentual de 150%, pela ausência de comprovação do evidente intuito de fraude, sonegação ou conluio pela autuação. Assim sendo, votase por DAR PROVIMENTO ao recurso da contribuinte e NEGAR PROVIMENTO ao recurso da Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Daniele Souto Rodrigues Amadio Voto Vencedor Conselheiro André Mendes de Moura, Redator designado. Não obstante o substancioso voto da I. Conselheira, peço vênia para discordar em relação a dois pontos: (1) mérito do recurso especial da Contribuinte, no qual se aprecia a despesa de amortização de ágio, sob dois aspectos: (1.1) ágio decorrente de operação entre partes relacionadas e (1.2) suposta utilização indevida de empresa veículo, por caracterizar a ausência de propósito negocial; e (2) admissibilidade do recurso especial da PGFN, no qual se discute o conhecimento da matéria qualificação da multa de ofício. Passo ao exame. I. Recurso Especial da Contribuinte. Mérito. Ágio. Os dois aspectos suscitados no mérito do recurso, (1) ágio decorrente de operação entre partes relacionadas e (2) suposta utilização indevida de empresa veículo, por caracterizar a ausência de propósito negocial, encontramse inseridos no contexto da matéria glosa de despesa de amortização de ágio. Fl. 8461DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.462 26 Assim, para a devida apreciação, propõese, inicialmente, discorrer sobre uma análise histórica e sistêmica sobre o tema, para depois tratar do caso concreto. 1. Conceito e Contexto Histórico Podese entender o ágio como um sobrepreço pago sobre o valor de um ativo (mercadoria, investimento, dentre outros). Tratandose de investimento decorrente de uma participação societária em uma empresa, em brevíssima síntese, o ágio é formado quando uma primeira pessoa jurídica adquire de uma segunda pessoa jurídica um investimento em valor superior ao seu valor patrimonial. O investimento em questão são ações de uma terceira pessoa jurídica, que são avaliadas pelo método contábil da equivalência patrimonial. Ou seja, a empresa A detém ações da empresa B, avaliadas patrimonialmente em 60 unidades. A empresa C adquire, junto à empresa A, as ações da empresa B, por 100 unidades. A empresa C é a investidora e a empresa B é a investida. Interessante é que emergem dois critérios para a apuração do ágio. Adotandose os padrões da ciência contábil, apesar das ações estarem avaliadas patrimonialmente em 60 unidades, deveriam ainda ser objeto de majoração, ao ser considerar, primeiro, se o valor de mercado dos ativos tangíveis seria superior ao contabilizado. Assim, supondose que, apesar do patrimônio ter sido avaliado em 60 unidades, o valor de mercado seria de 70 unidades, considerase para fins de apuração 70 unidades. Segundo, caso se constate a presença de ativos intangíveis sem reconhecimento contábil no valor de 12 unidades, temse, ao final, que o ágio, denominado goodwill, seria a diferença entre o valor pago (100 unidades) e o valor de mercado mais intangíveis (60 + 10 + 12 = 82 unidades). Ou seja, o ágio passível de aproveitamento pela empresa C, decorrente da aquisição da empresa B, mediante atendimento de condições legais, seria no valor de 18 unidades. Ocorre que o legislador, ao editar o DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977, resolveu adotar um conceito jurídico para o ágio próprio para fins tributários. Isso porque positivou no art. 20 do mencionado decretolei que o denominado ágio poderia ter três fundamentos econômicos, baseados: (1) no sobrepreço dos ativos; e/ou (2) na expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido e/ou (3) no fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. E, posteriormente, os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, autorizaram a amortização do ágio nos casos (1) e (2), mediante atendimento de determinadas condições. Na medida em que a lei não determinou nenhum critério para a utilização dos fundamentos econômicos, consolidouse a prática de se adotar, em praticamente todas as operações de transformação societária, o reconhecimento do ágio amparado exclusivamente no caso (2): expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido. O ágio passou a ser simplesmente a diferença entre o custo de aquisição e o valor patrimonial do investimento. Assim, voltando ao exemplo, a empresa C, investidora, ao adquirir ações da empresa investida B avaliadas patrimonialmente em 60 unidades, pelo valor de 100 unidades, poderia justificar o sobrepreço de 40 unidades integralmente com base no fundamento econômico de expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido. Na realidade, a legislação tributária ampliou o conceito do goodwill. E como darseia o aproveitamento do ágio? Em duas situações. Fl. 8462DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.463 27 Na primeira, quando a empresa C realizasse o investimento, por exemplo, ao alienar a empresa B para uma outra pessoa jurídica. Assim, se vendesse a empresa B para a empresa D por 150 unidades, apuraria um ganho de 50 unidades. Isso porque, ao patrimônio líquido da empresa alienada, de 60 unidades, seria adicionado o ágio de 40 unidades. Assim, a base de cálculo para apuração do ganho de capital seria a diferença entre 150 e 100 unidades, perfazendo 50 unidades. Na segunda, no caso de a empresa C (investidora) e a empresa B (investida) promoverem uma transformação societária (incorporação, fusão ou cisão), de modo em que passem a integrar uma mesma universalidade. Por exemplo, a empresa B incorpora a empresa C, ou, a empresa C incorpora a empresa B. Nesse caso, o valor de ágio de 40 unidades poderia passar a ser amortizado, para fins fiscais, no prazo de sessenta meses, resultando em uma redução na base de cálculo do IRPJ e CSLL a pagar. Naturalmente, no Brasil, em relação ao ágio, a contabilidade empresarial pautouse pelas diretrizes da contabilidade fiscal, até a edição da Lei nº 11.638, de 2007. O novo diploma norteouse pela busca de uma adequação aos padrões internacionais para a contabilidade, adotando, principalmente, como diretrizes a busca da primazia da essência sobre a forma e a orientação por princípios sobrepondose a um conjunto de regras detalhadas baseadas em aspectos de ordem escritural 1. Nesse contexto, houve um realinhamento das normas contábeis no Brasil, e por consequência do conceito do goodwill. Em síntese, ágio contábil passa (melhor dizendo, volta) a ser a diferença entre o valor da aquisição e o valor patrimonial justo dos ativos (patrimônio líquido ajustado pelo valor justo dos ativos e passivos). E recentemente, por meio da Lei nº 12.973, de 13/05/2014, o legislador promoveu uma aproximação do conceito jurídicotributário do ágio com o conceito contábil da Lei nº 11.638, de 2007, além de novas regras para o seu aproveitamento, que não são objeto de análise do presente voto. Enfim, resta evidente que o conceito do ágio tratado para o caso concreto, disciplinado pelo art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, alinhase a um conceito jurídico determinado pela legislação tributária. Tratase, portanto, de instituto jurídicotributário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica. 2. Aproveitamento do Ágio. Hipóteses Apesar de já ter sido apreciado singelamente no tópico anterior, o destino que pode ser dado ao ágio contabilizado pela empresa investidora merece uma análise mais detalhada. Há que se observar, inicialmente, como o art. 219 da Lei nº 6.404, de 1.976 trata das hipóteses de extinção da pessoa jurídica: Art. 219. Extinguese a companhia: I pelo encerramento da liquidação; II pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão de todo o patrimônio em outras sociedades. 1 IUDÍCIBUS, Sérgio de. Manual de contabilidade das sociedades por ações: (aplicável às demais sociedades), 1ª ed. São Paulo : Editora Atlas, 2008, p. 31. Fl. 8463DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.464 28 E, ao se tratar de ágio, vale destacar, mais uma vez, os dois sujeitos, as duas partes envolvidas na sua criação: a pessoa jurídica investidora e a pessoa jurídica investida, sendo a investidora é aquela que adquiriu a investida, com sobrepreço. Não por acaso, são dois eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformamse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). Podese dizer que os eventos (1) e (2) guardam correlação, respectivamente, com os incisos I e II da lei que dispõe sobre as Sociedades por Ações. 3. Aproveitamento do Ágio. Separação de Investidora e Investida No primeiro evento, tratase de situação no qual a investidora aliena o investimento para uma terceira empresa. Nesse caso, o ágio passa a integrar o valor patrimonial do investimento para fins de apuração do ganho de capital e, assim, reduz a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. A situação é tratada pelo DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977, arts. 391 e 426 do RIR/99: Art. 391. As contrapartidas da amortização do ágio ou deságio de que trata o art. 385 não serão computadas na determinação do lucro real, ressalvado o disposto no art. 426 (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 25, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso III). Parágrafo único. Concomitantemente com a amortização, na escrituração comercial, do ágio ou deságio a que se refere este artigo, será mantido controle, no LALUR, para efeito de determinação do ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação do investimento (art. 426). (...) Art. 426. O valor contábil para efeito de determinar o ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor de patrimônio líquido (art. 384), será a soma algébrica dos seguintes valores (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 33, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso V): I valor de patrimônio líquido pelo qual o investimento estiver registrado na contabilidade do contribuinte; II ágio ou deságio na aquisição do investimento, ainda que tenha sido amortizado na escrituração comercial do contribuinte, excluídos os computados nos exercícios financeiros de 1979 e 1980, na determinação do lucro real; III provisão para perdas que tiver sido computada, como dedução, na determinação do lucro real, observado o disposto no parágrafo único do artigo anterior. (...) (grifei) Assim, o aproveitamento do ágio ocorre no momento em que o investimento que lhe deu causa foi objeto de alienação ou liquidação. 4. Aproveitamento do Ágio. Encontro entre Investidora e Investida Fl. 8464DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.465 29 Já o segundo evento aplicase quando a investidora e a investida transformaremse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). O ágio pode se tornar uma despesa de amortização, desde que preenchidos os requisitos da legislação e no contexto de uma transformação societária envolvendo a investidora e a investida. Contudo, sobre o assunto, há evolução legislativa que merece ser apresentada. Primeiro, o tratamento conferido à participação societária extinta em fusão, incorporação ou cisão, atendia o disposto no art. 34 do DecretoLei nº 1.598, de 1977: Art 34 Na fusão, incorporação ou cisão de sociedades com extinção de ações ou quotas de capital de uma possuída por outra, a diferença entre o valor contábil das ações ou quotas extintas e o valor de acervo líquido que as substituir será computado na determinação do lucro real de acordo com as seguintes normas: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) I somente será dedutível como perda de capital a diferença entre o valor contábil e o valor de acervo líquido avaliado a preços de mercado, e o contribuinte poderá, para efeito de determinar o lucro real, optar pelo tratamento da diferença como ativo diferido, amortizável no prazo máximo de 10 anos; (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) II será computado como ganho de capital o valor pelo qual tiver sido recebido o acervo líquido que exceder o valor contábil das ações ou quotas extintas, mas o contribuinte poderá, observado o disposto nos §§ 1º e 2º, diferir a tributação sobre a parte do ganho de capital em bens do ativo permanente, até que esse seja realizado. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 1º O contribuinte somente poderá diferir a tributação da parte do ganho de capital correspondente a bens do ativo permanente se: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) a) discriminar os bens do acervo líquido recebido a que corresponder o ganho de capital diferido, de modo a permitir a determinação do valor realizado em cada períodobase; e (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) b) mantiver, no livro de que trata o item I do artigo 8º, conta de controle do ganho de capital ainda não tributado, cujo saldo ficará sujeito a correção monetária anual, por ocasião do balanço, aos mesmos coeficientes aplicados na correção do ativo permanente. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 2º O contribuinte deve computar no lucro real de cada períodobase a parte do ganho de capital realizada mediante alienação ou liquidação, ou através de quotas de depreciação, amortização ou exaustão deduzidas como custo ou despesa operacional. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) O que se pode observar é que o único requisito a ser cumprido, como perda de capital, é que o acervo líquido vertido em razão da incorporação, fusão ou cisão estivesse avaliado a preços de mercado. Contudo, para que se consumasse a perda de capital prevista no Fl. 8465DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.466 30 inciso I, o valor contábil deveria ser maior do que o acervo líquido avaliado a preços de mercado, e tal situação se mostraria viável, especialmente, quando, imediatamente após à aquisição do investimento com ágio, ocorresse a operação de incorporação, fusão ou cisão 2. Ocorre que tal previsão se consumou em operações um tanto quanto questionáveis por vários contribuintes, mediante aquisição de empresas deficitárias pagandose ágio, para, em logo em seguida, promover a incorporação da investidora pela investida. As operações ocorriam quase simultaneamente. E, nesse contexto, o aproveitamento do ágio, nas situações de transformação societária, sofreu alteração legislativa. Vale transcrever a Exposição de Motivos da MP nº 1.602, de 1997 3, que, posteriormente, foi convertida na Lei nº 9.532, de 1997. 11. O art. 8º estabelece o tratamento tributário do ágio ou deságio decorrente da aquisição, por uma pessoa jurídica, de participação societária no capital de outra, avaliada pelo método da equivalência patrimonial. Atualmente, pela inexistência de regulamentação legal relativa a esse assunto, diversas empresas, utilizando dos já referidos "planejamentos tributários", vem utilizando o expediente de adquirir empresas deficitárias, pagando ágio pela participação, com a finalidade única de gerar ganhos de natureza tributária, mediante o expediente, nada ortodoxo, de incorporação da empresa lucrativa pela deficitária. Com as normas previstas no Projeto, esses procedimentos não deixarão de acontecer, mas, com certeza, ficarão restritos às hipóteses de casos reais, tendo em vista o desaparecimento de toda vantagem de natureza fiscal que possa incentivar a sua adoção exclusivamente por esse motivo. Não vacilou a doutrina abalizada de LUÍS EDUARDO SCHOUERI4 ao discorrer, com precisão sobre o assunto: Anteriormente à edição da Lei nº 9.532/1997, não havia na legislação tributária nacional regulamentação relativa ao tratamento que deveria ser conferido ao ágio em hipóteses de incorporação envolvendo a pessoa jurídica que o pagou e a pessoa jurídica que motivou a despesa com ágio. O que ocorria, na prática, era a consideração de que a incorporação era, per se, evento suficiente para a realização do ágio, independentemente de sua fundamentação econômica. (...) Sendo assim, a partir de 1998, ano em que entrou em vigor a Lei nº 9.532/1997, adveio um cenário diferente em matéria de dedução fiscal do ágio. Desde então, restringiramse as hipóteses em que o ágio seria passível de ser deduzido no caso 2 Ver Acórdão nº 1101000.841, da 1ª Turma Ordinária da 1ª Câmara do CARF, da relatora Edeli Pereira Bessa., p. 15. 3 Exposição de Motivos publicada no Diário do Congresso Nacional nº 26, de 02/12/1997, pg. 18021 e segs, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. 4 SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo : Dialética, 2012, p. 66 e segs. Fl. 8466DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.467 31 de incorporação entre pessoas jurídicas, com a imposição de limites máximos de dedução em determinadas situações. Ou seja, nem sempre o ágio contabilizado pela pessoa jurídica poderia ser deduzido de seu lucro real quando da ocorrência do evento de incorporação. Pelo contrário. Com a regulamentação ora em vigor, poucas são as hipóteses em que o ágio registrado poderá ser deduzido, a depender da fundamentação econômica que lhe seja conferida. Merece transcrição o Relatório da Comissão Mista 5 que trabalhou na edição da MP 1.602, de 1997: O artigo 8º altera as regras para determinação do ganho ou perda de capital na liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor do patrimônio líquido, quando agregado de ágio ou deságio. De acordo com as novas regras, os ágios existentes não mais serão computados como custo (amortizados pelo total), no ato de liquidação do investimento, como eram de acordo com as normas ora modificadas. O ágio ou deságio referente à diferença entre o valor de mercado dos bens absorvidos e o respectivo valor contábil, na empresa incorporada (inclusive a fusionada ou cindida), será registrado na própria conta de registro dos respectivos bens, a empresa incorporador (inclusive a resultante da fusão ou a que absorva o patrimônio da cindida), produzindo as repercussões próprias na depreciação normal. O ágio ou deságio decorrente de expectativa de resultado futuro poderá ser amortizado durante os cinco anoscalendário subsequentes à incorporação, à razão de 1/60 (um sessenta avos) para cada mês do período de apuração. (...) Percebese que, em razão de um completo desvirtuamento do instituto, o legislador foi chamado a intervir, para normatizar, nos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, sobre situações específicas tratando de eventos de transformação societária envolvendo investidor e investida. Inclusive, no decorrer dos debates tratando do assunto, chegouse a cogitar que o aproveitamento do ágio não seria uma despesa, mas um benefício fiscal. Em breves palavras, caso fosse benefício fiscal, o próprio legislador deveria ter tratado do assunto, como o fez na Exposição de Motivos de outros dispositivos da MP nº 1.602, de 1997 (convertida na Lei nº 9.532, de 1997). Na realidade, a Exposição de Motivos deixa claro que a motivação para o dispositivo foi um maior controle sobre os planejamentos tributários abusivos, que descaracterizavam o ágio por meio de analogias completamente desprovidas de sustentação jurídica. E deixou claro que se trata de uma despesa de amortização. E qual foram as novidades trazidas pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997? Primeiro, há que se contextualizar a disciplina do método de equivalência patrimonial (MEP). 5 Relatório da Comissão Mista publicada no Diário do Congresso Nacional nº 27, de 03/12/1997, pg. 18024, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. Fl. 8467DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.468 32 Isso porque o ágio aplicase apenas em investimentos sociedades coligadas e controladas avaliado pelo MEP, conforme previsto no art. 384 do RIR/99. O método tem como principal característica permitir uma atualização dos valores dos investimentos em coligadas ou controladas com base na variação do patrimônio líquido das investidas. As variações no patrimônio líquido da pessoa jurídica investida passam a ser refletidas na investidora pelo MEP. Contudo, os aumentos no valor do patrimônio líquido da sociedade investida não são computados na determinação do lucro real da investidora. Vale transcrever os dispositivos dos arts. 387, 388 e 389 do RIR/99 que discorrem sobre o procedimento de contabilização a ser adotado pela investidora. Art. 387. Em cada balanço, o contribuinte deverá avaliar o investimento pelo valor de patrimônio líquido da coligada ou controlada, de acordo com o disposto no art. 248 da Lei nº 6.404, de 1976, e as seguintes normas (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 21, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso III): (...) Art. 388. O valor do investimento na data do balanço (art. 387, I), deverá ser ajustado ao valor de patrimônio líquido determinado de acordo com o disposto no artigo anterior, mediante lançamento da diferença a débito ou a crédito da conta de investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 22). (...) Art. 389. A contrapartida do ajuste de que trata o art. 388, por aumento ou redução no valor de patrimônio líquido do investimento, não será computada na determinação do lucro real (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 23, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso IV). (...) Resta nítida a separação dos patrimônios entre investidora e investida, inclusive as repercussões sobre os resultados de cada um. A investida, pessoa jurídica independente, em razão de sua atividade econômica, apura rendimentos que, naturalmente, são por ela tributados. Por sua vez, na medida em que a investida aumenta seu patrimônio líquido em razão de resultados positivos, por meio do MEP há uma repercussão na contabilidade da investidora, para refletir o acréscimo patrimonial realizado. A conta de ativos em investimentos é debitada na investidora, e, por sua vez, a contrapartida, apesar de creditada como receita, é excluída na apuração do Lucro Real. Com certeza, não faria sentido tributar os lucros na investida, e em seguida tributar o aumento do patrimônio líquido na investidora, que ocorreu precisamente por conta dos lucros auferidos pela investida. E esclarece o art. 385 do RIR/99 que se a pessoa jurídica adquirir um investimento avaliado pelo MEP por valor superior ou inferior ao contabilizado no patrimônio líquido, deverá desdobrar o custo da aquisição em (1) valor do patrimônio líquido na época da aquisição e (2) ágio ou deságio. Para a devida transparência na mais valia (ou menor valia) do investimento, o registro contábil deve ocorrer em contas diferentes: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): Fl. 8468DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.469 33 I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). (grifei) Como se pode observar, a formação do ágio não ocorre espontaneamente. Pelo contrário, deve ser motivado, e indicado o seu fundamento econômico, que deve se amparar em pelo menos um dos três critérios estabelecidos no § 2º do art. 385 do RIR/99, (1) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade, (2) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros (3) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. E, conforme já dito, por ser a motivação adotada pela quase totalidade das empresas, todos os holofotes dirigemse ao fundamento econômico com base em expectativa de rentabilidade futura da empresa adquirida. Tratase precisamente de lucros esperados a serem auferidos pela controlada ou coligada, em um futuro determinado. Por isso o adquirente (futuro controlador) se propõe a desembolsar pelo investimento um valor superior ao daquele contabilizado no patrimônio líquido da vendedora. Por sua vez, tal expectativa deve ser lastreada em demonstração devidamente arquivada como comprovante de escrituração, conforme previsto no § 3º do art. 385 do RIR/99. E, finalmente, passamos a apreciar os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, consolidados no art. 386 do RIR/99. Como já dito, em eventos de transformação societária, quando investidora absorve o patrimônio da investida (ou vice versa), adquirido com ágio ou deságio, em razão de cisão, fusão ou incorporação, resolveu o legislador disciplinar a situação: Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): Fl. 8469DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.470 34 I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso I do § 2º do artigo anterior, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso III do § 2º do artigo anterior, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração do lucro real, levantados durante os cinco anoscalendário subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no mínimo, para cada mês do período de apuração.(...) (grifei) Fica evidente que os arts. 385 e 386 do RIR/99 guardam conexão indissociável, constituindose em norma tributária permissiva do aproveitamento do ágio nos casos de incorporação, fusão ou cisão envolvendo o investimento objeto da mais valia. 5. Amortização. Despesa. Definido que o aproveitamento do ágio pode darse por meio de despesa de amortização, mostrase pertinente apreciar do que trata tal dispêndio. No RIR/99 (DecretoLei nº 3.000, de 26/03/1999), o conceito de amortização encontrase no Subtítulo II (Lucro Real), Capítulo V (Lucro Operacional), Seção III (Custos, Despesas Operacionais e Encargos). O artigo 299 do diploma em análise trata, no art. 299, na Subseção I, das Disposições Gerais sobre as despesas: Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º). § 3º O disposto neste artigo aplicase também às gratificações pagas aos empregados, seja qual for a designação que tiverem. Para serem dedutíveis, devem as despesas serem necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, e serem usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa. Fl. 8470DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.471 35 Por sua vez, logo após as Subseções II (Depreciação de Bens do Ativo Imobilizado) e III (Depreciação Acelerada Incentivada), encontra previsão legal a amortização, no art. 324, na Subseção IV do RIR/99 6. Percebese que a amortização constituise em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontrase submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99. 6. Despesa Em Face de Fatos Construídos Artificialmente No mundo real os fatos nascem e morrem, decorrentes de eventos naturais ou da vontade humana. O direito elege, para si, fatos com relevância para regular o convívio social. No que concerne ao direito tributário, são escolhidos fatos decorrentes da atividade econômica, financeira, operacional, que nascem espontaneamente, precisamente em razão de atividades normais, que são eleitos porque guardam repercussão com a renda ou o patrimônio. São condutas relevantes de pessoas físicas ou jurídicas, de ordem econômica ou social, ocorridas no mundo dos fatos, que são colhidas pelo legislador que lhes confere uma qualificação jurídica. Por exemplo, o fato de auferir lucro, mediante operações espontâneas, das atividades operacionais da pessoa jurídica, amoldase à hipótese de incidência prevista pela norma, razão pela qual nasce a obrigação do contribuinte recolher os tributos. Da mesma maneira, a pessoa jurídica, no contexto de suas atividades operacionais, incorre em dispêndios para a realização de suas tarefas. Contratase um prestador de serviços, comprase uma mercadoria, operações necessárias à consecução das atividades da empresa, que surgem naturalmente. Ocorre que, em relação aos casos tratados relativos á amortização do ágio, proliferaramse situações no qual se busca, especificamente, o enquadramento da norma permissiva de despesa. Tratamse de operações especialmente construídas, mediante inclusive utilização de empresas de papel, de curtíssima duração, sem funcionários ou quadro funcional incompatível, com capital social mínimo, além de outras características completamente atípicas no contexto empresarial, envolvendo aportes de substanciais recursos para, em questão de dias ou meses, serem objeto de operações de transformação societária. Tais eventos podem receber qualificação jurídica e surtir efeitos nos ramos empresarial, cível, contábil, dentre outros. 6 Art. 324. Poderá ser computada, como custo ou encargo, em cada período de apuração, a importância correspondente à recuperação do capital aplicado, ou dos recursos aplicados em despesas que contribuam para a formação do resultado de mais de um período de apuração (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, e DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 15, § 1º). § 1º Em qualquer hipótese, o montante acumulado das quotas de amortização não poderá ultrapassar o custo de aquisição do bem ou direito, ou o valor das despesas (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, § 2º). § 2º Somente serão admitidas as amortizações de custos ou despesas que observem as condições estabelecidas neste Decreto (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, § 5º). § 3º Se a existência ou o exercício do direito, ou a utilização do bem, terminar antes da amortização integral de seu custo, o saldo não amortizado constituirá encargo no período de apuração em que se extinguir o direito ou terminar a utilização do bem (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, § 4º). § 4º Somente será permitida a amortização de bens e direitos intrinsecamente relacionados com a produção ou comercialização dos bens e serviços (Lei nº 9.249, de 1995, art. 13, inciso III). Fl. 8471DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.472 36 Situação completamente diferente ocorre no ramo tributário. Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Impossível estender atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas, independente sua espécie, derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica. Admitindose uma construção artificial do suporte fático, consumarseia um tratamento desigual, desarrazoado e desproporcional, que afronta o princípio da capacidade contributiva e da isonomia, vez que seria conferida a uma determinada categoria de despesa uma premissa completamente diferente, uma liberalidade não aplicável à grande maioria dos contribuintes. 7. Hipótese de Incidência Prevista Para a Amortização Realizada análise do ágio sob perspectiva do gênero despesa, cabe prosseguir com a apreciação da legislação específica que trata de sua amortização. Vale recapitular os dois eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida (investida) com ágio; (2) a investidora e a investida transformamse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). E repetir que estamos, agora, tratando da segunda situação. Cenário que se encontra disposto nos arts. 7º e 8º da Lei n° 9.532, de 1997, e nos arts. 385 e 386 do RIR/99, do qual transcrevo apenas os fragmentos de maior interesse para o debate: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em Fl. 8472DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.473 37 demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): (...) III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (...) (grifei) Percebese claramente, no caso, que o suporte fático delineado pela norma predica, de fato, que investidora e investida tenham que integrar uma mesma universalidade: A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio. A conclusão é ratificada analisandose a norma em debate sob a perspectiva da hipótese de incidência tributária delineada pela melhor doutrina de GERALDO ATALIBA 7. Esclarece o doutrinador que a hipótese de incidência se apresenta sob variados aspectos, cuja reunião lhe dá entidade. Ao se apreciar o aspecto pessoal, merecem relevo as palavras da doutrina, ao determinar que se trata da qualidade que determina os sujeitos da obrigação tributária. E a norma em análise se dirige à pessoa jurídica investidora originária, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, coordenou e comandou os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição, e à pessoa jurídica investida. Ocorre que, em se tratando do ágio, as reorganizações societárias empreendidas apresentaram novas pessoas ao processo. Como exemplo, podemos citar situação no qual a pessoa jurídica A adquire com ágio participação societária da pessoa jurídica B. Em seguida, utilizase de uma outra pessoa jurídica, C, e integraliza o capital social dessa pessoa jurídica C com a participação societária que adquiriu da pessoa jurídica B. Resta consolidada situação no qual a pessoa jurídica A controla a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C controla a pessoa jurídica B. Em seguida, sucedese evento de transformação societária, no qual a pessoa jurídica B absorve patrimônio da pessoa jurídica C, ou vice versa. Ocorre que os sujeitos eleitos pela norma são precisamente a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) cuja participação societária foi adquirida com ágio. Para fins fiscais, não há nenhuma previsão para que o ágio contabilizado na pessoa jurídica A (investidora), em razão de reorganizações societárias empreendidas por grupo empresarial, possa ser considerado "transferido" para a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C, ao absorver ou ser absorvida pela pessoa jurídica B, possa aproveitar o ágio cuja origem deuse pela aquisição da pessoa jurídica A da pessoa jurídica B. 7 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária, 6ª ed. São Paulo : Malheiros Editores, 2010, p. 51 e segs. Fl. 8473DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.474 38 Da mesma maneira, encontramse situações no qual a pessoa jurídica A realiza aportes financeiros na pessoa jurídica C e, de plano, a pessoa jurídica C adquire participação societária da pessoa jurídica B com ágio. Em seguida, a pessoa jurídica C absorve patrimônio da pessoa jurídica B, ou vice versa, a passa a fazer a amortização do ágio. Mais uma vez, não é o que prevê o aspecto pessoal da hipótese de incidência da norma em questão. A pessoa jurídica que adquiriu o investimento, que acreditou na mais valia e que desembolsou os recursos para a aquisição foi, de fato, a pessoa jurídica A (investidora). No outro pólo da relação, a pessoa jurídica adquirida com ágio foi a pessoa jurídica B. Ou seja, o aspecto pessoal da hipótese de incidência, no caso, autoriza o aproveitamento do ágio a partir do momento em que a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) passem a integrar a mesma universalidade. São as situações mais elementares. Contudo, há reorganizações envolvendo inúmeras empresas (pessoa jurídica D, E, F, G, H e assim por diante). Vale registrar que goza a pessoa jurídica de liberdade negocial, podendo dispor de suas operações buscando otimizar seu funcionamento, com desdobramentos econômicos, sociais e tributários. Contudo, não necessariamente todos os fatos são recepcionados pela norma tributária. A partir do momento em que, em razão das reorganizações societárias, passam a ser utilizadas novas pessoas jurídicas (C, D, E, F, G, e assim sucessivamente), pessoas jurídicas distintas da investidora originária (pessoa jurídica A) e da investida (pessoa jurídica B), e o evento de absorção não envolve mais a pessoa jurídica A e a pessoa jurídica B, mas sim pessoa jurídica distinta (como, por exemplo, pessoa jurídica F e pessoa jurídica B), a subsunção ao art. 386 do RIR/99 tornase impossível, vez que o fato imponível (suporte fático, situado no plano concreto) deixa de ser amoldar à hipótese de incidência da norma (plano abstrato), por incompatibilidade do aspecto pessoal. Em relação ao aspecto material, há que se consumar a confusão de patrimônio entre investidora e investida, a que faz alusão o caput do art. 386 do RIR (A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio...). Com a confusão patrimonial, aperfeiçoase o encontro de contas entre o real investidor e investida, e a amortização do ágio passa a ser autorizada, com repercussão direta na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Na realidade, o requisito expresso de que investidor e investida passam a compor o mesmo patrimônio, mediante evento de transformação societária, no qual a investidora absorve a investida, ou vice versa, encontra fundamento no fato de que, com a confusão de patrimônios, o lucro auferido pela investida passa a integrar a mesma universalidade da investidora. SCHOUERI8, com muita clareza, discorre que, antes da absorção, investidor e investida são entidades autônomas. O lucro auferido pela investida (que foi a motivação para que a investidora adquirisse a investida com o sobrepreço), é tributado pela própria investida. E, por meio do MEP, eventual acréscimo no patrimônio líquido da investida seria refletido na investidora, sem, contudo, haver tributação na investidora. A lógica do sistema mostrase clara, na medida em que não caberia uma dupla tributação dos lucros auferidos pela investida. 8 SCHOUERI, 2012, p. 62. Fl. 8474DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.475 39 Por sua vez, a partir do momento em que se consuma a confusão patrimonial, os lucros auferidos pela então investida passam a integrar a mesma universalidade da investidora. Reside, precisamente nesse ponto, o permissivo para que o ágio, pago pela investidora exatamente em razão dos lucros a serem auferidos pela investida, possa ser aproveitado, vez que passam a se comunicar, diretamente, a despesa de amortização do ágio e as receitas auferidas pela investida. Ou seja, compartilhando o mesmo patrimônio investidora e investida, consolidase cenário no qual a mesma pessoa jurídica que adquiriu o investimento com mais valia (ágio) baseado na expectativa de rentabilidade futura, passa a ser tributada pelos lucros percebidos nesse investimento. Verificase, mais uma vez, que a norma em debate, ao predicar, expressamente, que para se consumar o aproveitamento da despesa de amortização do ágio, os sujeitos da relação jurídica seriam a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, ou seja, investidor e investida, não o fez por acaso. Tratase precisamente do encontro de contas da investidora originária, que incorreu na despesa e adquiriu o investimento, e a investida, potencial geradora dos lucros que motivou o esforço incorrido. Prosseguindo a análise da hipótese de incidência da norma em questão, no que concerne ao aspecto temporal, cabe verificar o momento em que o contribuinte aproveita se da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, evento que provoca impacto direto na apuração da base de cálculo tributável. Registrese que a consumação do aspecto temporal não se confunde com o termo inicial do prazo decadencial. Isso porque, partindose da construção da norma conforme operação no qual "Se A é, B deveser", onde a primeira parte é o antecedente, e a segunda é o consequente, a consumação da hipótese de incidência localizase no antecedente. Ou seja, "Se A é", indica que a hipótese de incidência, no caso concreto, mediante aperfeiçoamento dos aspectos pessoal, material e temporal, concretizouse em sua plenitude. Assim, passase para a etapa seguinte, o consequente ("B deveser"), no qual se aplica o regime de tributação a que encontra submetido o contribuinte (lucro real trimestral ou anual), efetuase o lançamento fiscal com base na repercussão que as glosas despesas de ágio indevidamente amortizadas tiveram na apuração da base de cálculo, e, por consequência, determinase o termo inicial para contagem do prazo decadencial. 8. Consolidação Considerandose tudo o que já foi escrito, entendo que a cognição para a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência, segundo, se requisitos de ordem formal estabelecidos pela norma encontramse atendidos e, terceiro, se as condições do negócio atenderam os padrões normais de mercado. A primeira verificação parece óbvia, mas, diante de todo o exposto até o momento, observase que a discussão mais relevante inserese precisamente neste momento, situado antes da subsunção do fato à norma. Falase insistentemente se haveria impedimento para se admitir a construção de fatos que buscam se amoldar à hipótese de incidência de norma de despesa. O ponto é que, independente da genialidade da construção empreendida, da reorganização societária arquitetada e consumada, a investidora originária prevista pela norma não perderá a condição de investidora originária. Quem viabilizou a aquisição? De onde Fl. 8475DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.476 40 vieram os recursos de fato? Quem efetuou os estudos de viabilidade econômica da investida? Quem tomou a decisão de adquirir um investimento com sobrepreço? Respondo: a investidora originária. Ainda que a pessoa jurídica A, investidora originária, para viabilizar a aquisição da pessoa jurídica B, investida, tenha (1) "transferido" o ágio para a pessoa jurídica C, ou (2) efetuado aportes financeiros (dinheiro, mútuo) para a pessoa jurídica C, a pessoa jurídica A não perderá a condição de investidora originária. Podese dizer que, de acordo com as regras contábeis, em decorrência de reorganizações societárias empreendidas, o ágio legitimamente passou a integrar o patrimônio da pessoa jurídica C, que por sua vez foi incorporada pela pessoa jurídica B (investida). Ocorre que a absorção patrimonial envolvendo a pessoa jurídica C e a pessoa jurídica B não tem qualificação jurídica para fins tributários. Isso porque se trata de operação que não se enquadra na hipótese de incidência da norma, que elege, quanto ao aspecto pessoal, a pessoa jurídica A (investidora originária) e a pessoa jurídica B (investida), e quanto ao aspecto material, o encontro de contas entre a despesa incorrida pela pessoa jurídica A (investidora originária que efetivamente incorreu no esforço para adquirir o investimento com sobrepreço) e as receitas auferidas pela pessoa jurídica B (investida). Mostrase insustentável, portanto, ignorar todo um contexto histórico e sistêmico da norma permissiva de aproveitamento do ágio, despesa operacional, para que se autorize "pinçar" os artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, promover uma interpretação isolada, blindada em uma bolha contábil, e se construir uma tese no qual se permita que fatos construídos artificialmente possam alterar a hipótese de incidência de norma tributária. Caso superada a primeira verificação, cabe prosseguir com a segunda verificação, relativa a aspectos de ordem formal, qual seja, se a demonstração que o contribuinte arquivar como comprovante de escrituração prevista no art. 20, § 3º do Decreto Lei nº 1.598, de 27/12/1977 (1) existe e (2) se mostra apta a justificar o fundamento econômico do ágio. Há que se verificar também (3) se ocorreu, efetivamente, o pagamento pelo investimento. Enfim, referese a terceira verificação a constatar se toda a operação ocorreu dentro de padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes, distante de situações que possam indicar ocorrência de negociações eivadas de ilicitude, que poderiam guardar repercussão, inclusive, na esfera penal, como nos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 1990. 9. Sobre o Caso Concreto Feitas as considerações, passo a analisar o caso concreto. Os valores financeiros das operações serão citados em valores aproximados. Adoto os fatos bem descritos no voto vencedor da decisão recorrida: Citese o Autuante no termo de Verificação Fiscal: 75. Deve ser sublinhado que do custo total de USS 1.575.477.384,00, nenhuma parcela foi originalmente adquirida de um terceiro estranho ao grupo Johnson & Johnson. A despeito dessa conclusão poder ser coligida das informações já até aqui apresentadas, o próprio fiscalizado claramente assim reconhece tal traço marcante das Fl. 8476DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.477 41 transações em comento, conforme retratado em sua resposta ao Item 05, "f, do Termo de Intimação datado de 22/05/2012 (Doc. 93): "A Fiscalizada esclarece que não houve parcela paga a sociedade de fora do grupo Johnson &Johnson." 76. Diante das informações anteriores, deduzse que após as operações realizadas em 13/12/2005 e 16/03/2006 e que foram empreendidas exclusivamente entre empresas do próprio grupo Johnson & Johnson o valor total do custo dos investimentos na Bella 7 e na Ethicon, antes registrado na Johnson Corporate por US$ 24.549.865,00 passou a ser registrado na Latam Investment por US$ 1.575.477.384,00. Tais operações societárias resultaram em que a JJ Produtos, passou a deduzir ágio relativo a ela mesma, e que foi gerado nas transações intragrupo. Em 2005, as empresas JJProdutos e a JJ Comércio eram 99,9999% de propriedade da Johnson Corporate (vide 5.6 do relatório) a estrutura inicial do processo em discussão era, simplificadamente: Johnson Corporate no exterior, que controla (99,9999%) a JJ Produtos e a JJ Comércio, no Brasil. Em seguida, ao final de 2005, mantevese a mesma situação de 99,9999% de propriedade, porém por intermédio das empresas Ethicon e Bella 7 a Johnson Corporate, proprietária 100% da Ethicon e Bella 7, que em conjunto, eram proprietárias 99,9999% da JJ Produtos e JJ Comércio as quotas da JJ Produtos e JJ Comércio foram usadas para integralizar o capital da Ethicon e da Bella 7, pelo valor patrimonial contábil que era de US$24.549.865. No período de 13/12/2005 a 16/03/2006, a Johnson Corporate contribuiu as participações que detinha na Ethicon e Bella 7 para outra empresa no exterior controlada, a Latam Investement o valor das participações da Bella 7 e da Ethicon nas empresas controladas no Brasil, JJ Produtos e JJ Comércio, foi registrado como US$1.575.477.384 (56,99% da JJ Produtos US$576.758.000; 99,99999% da JJ Comercio US$1.246.783.000), com base em laudos de avaliação econômica de suas rentabilidades futuras esperadas. Essas operações consistiram em: a) Johnson Corporate vendeu 80,9% da Bella 7 para a Jahnssen Pharmaceutical; b) Johnson Corporate contribuiu 19,10% da participação societária na Bella 7 para a Jahnssen Pharmaceutical, completando os 100%; c) Johnson Corporate vendeu 62,74% da Ethicon para a Johnson IFSC; d) Johnson Corporate contribuiu 37,24% da participação societária na Ethicon para a Jahnssen Pharmaceutical, totalizando 99,98%; a) US$1.000.000.000 (em dinheiro) b) US$236.093.943,14 em resumo, Bella 7 US$ 1.236.093.943,14 c) US$197.070.000 (em dinheiro) d) US$116.973.012,43 em resumo, Ethicon US$ 314.043.012,43 Bella 7 mais Ethicon totalizaram US$1.550.136.955,57 Seguidas das seguintes operações: 1) Jahnssen Pharmaceutical contribuiu 100% da Bella 7 na Johnson IFSC 2) Jahnssen Pharmaceutical contribuiu 37,24% da Ethicon na Johnson IFSC Fl. 8477DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.478 42 Em seguida: a Johnson IFSC vendeu 100% da Bella 7 e 100% da Ethicon para Latam Properties US$ 1.550.270.000 (em dinheiro) Em 16/03/2006: Latam Properties vendeu 100% da Bella 7 e 100% da Ethicon para Latam Investment US$ 1.575.477.384 (em dinheiro) Ato contínuo, no final de 2006, foram extintas as empresas intermediárias Ethicon (em 30/06/2006) e Bella7 (em 29/06/2006), passando a JJ Produtos e a JJ Comércio 7 ao controle direto da Latam Investment. Essas operações societárias ocorreram no exterior. Em seguida, já no Brasil, a Latam Investment (com uma participação mínima da JJ Industrial, empresa do grupo no Brasil) constituiu a JJ Administração, com as quotas que detinha na JJ Produtos e na JJ Comércio. A partir desse momento em que as operações societárias se dão no Brasil, os investimentos na JJ Produtos e JJ Comércio foram registrados desdobrandose o valor de cada uma em patrimonial e ágio. Finalmente, a JJ Produtos incorporou a JJ Comércio e a JJ Administração e passou a amortizar os respectivos ágios: a) dela mesma (registrado na JJ Administração incorporada); b) e da incorporada JJ Comércio. Resultou a estrutura final em que a Johnson Corporate controla a Latam Investement (100%), ambas no exterior, que controla a JJ Produtos no Brasil (99,9999%). O que se observa é a ocorrência de dois blocos de operações societárias, primeiro no exterior, e posteriormente no Brasil. No exterior, a JOHNSON CORPORATE era controladora das empresas JJPRODUTOS, JJCOMERCIO E LATAM INVEST. Ao final de 2005, as quotas da JJPRODUTOS e JJCOMERCIO foram utilizadas para integralizar o capital social da ETHICON e BELLA7, pelo valor patrimonial contábil de US$ 24,5 milhões. ETHICON passa a controlar JJPRODUTOS e BELLA7 passa a controlar JJCOMERCIO, todas sob controle da JOHNSON CORPORATE. Entre março e junho de 2006, a LATAM INVEST. passa a controlar as empresas ETHICON e BELLA7, com base nas participações da JOHNSON CORPORATE, no qual foi registrado valor de US$1,5 bilhões. Na sequência, foram extintas as empresas ETHICON E BELLA7, passando a JOHNSON CORPORATE a controlar a LATAM INVEST, e a LATAM INVEST a controlar a JJPRODUTOS e JJCOMERCIO, cenário consolidado em 30/06/2006. Passando para o Brasil, a LATAM INVEST, em setembro de 2006, constituiu a JJADMINISTRAÇÃO, com as quotas que detinha na JJPRODUTOS E JJCOMERCIO, no qual foi contabilizado ágio de US$2,4 bilhões. Ou seja: a JOHNSON CORPORATE era controladora da LATAM INVEST, e a LATAM INVEST controladora da JJADMINISTRAÇÃO, que era controladora direta da JJPRODUTOS e JJCOMERCIO, cujo registro das quotas deuse com ágio. Fl. 8478DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.479 43 Em seguida, a JJPRODUTOS incorporou a JJCOMERCIO e a JJADMINISTRAÇÃO, e passou a amortizar os ágios, por entender consumada a hipótese de incidência prevista na legislação tributária. Em dezembro de 2007, consumouse estrutura societária no qual a JOHNSON CORPORATE (exterior) é controladora direta da LATAM INVEST (exterior), que é controladora direta da JJPRODUTOS. Estrutura praticamente similar àquela consolidade em 30/06/2006, quando JOHNSON CORPORATE (exterior) era controladora direta da LATAM INVEST (exterior), que por sua vez controladova diretamente a JJPRODUTOS e a JJCOMERCIO. O que se observa é que tal interpretação não encontra amparo na legislação. Diante de todo o escrito no presente voto, a operação em análise não passa pela primeira verificação (vide item 8 do voto). Quanto ao aspecto pessoal, constatase que a utilização da JJADMINISTRAÇÃO, empresa intermediária e criada especificamente para "carregar" o ágio, impediu que o evento de incorporação tivessem como participantes a pessoa jurídica investidora e a pessoa jurídica investida. A "valorização" dos investimentos JJPRODUTOS e JJCOMERCIO, intragrupo, deuse com a sua integralização para o capital da JJADMINISTRAÇÃO, que passou a controlar os investimentos. Os eventos posteriores, no qual a JJPRODUTOS incorpora JJCOMERCIO, e depois incorpora a JJADMINISTRAÇÃO, não conferem à JJADMINISTRAÇÃO a condição de pessoa jurídica investidora. A JJADMINISTRAÇÃO foi meramente receptora dos investimentos com sobrepreço. Ainda que se falasse em um sobrepreço nos investimentos JJPRODUTOS e JJCOMERCIO na integralização das quotas, a pessoa jurídica detentora de tais investimentos era a LATAM INVEST, que por sua vez era controladora da JOHNSON CORPORATE. Da mesma maneira, não há que se falar na concretização do aspecto material, vez que os patrimônios que se comunicaram foram os dos investimentos JJPRODUTOS e JJCOMERCIO, e o da empresa intermediária JJADMINISTRAÇÃO. Verificase que os aspectos (i) ágio decorrente de operação entre partes relacionadas e (ii) suposta utilização indevida de empresa veículo, por caracterizar a ausência de propósito negocial, são complementares, e inaptos para tornar o ágio dedutível no caso em tela. A empresa "veículo", ou empresa "intermediária", JJADMINISTRAÇÃO, criada no âmbito do mesmo grupo empresarial, entre partes relacionadas, com o intuito específico de carregar o ágio, não logra êxito em construir a hipótese de incidência da norma tributária. A tentativa foi de se empreender a construção artificial do suporte fático, para que se pudesse amoldar à hipótese de incidência de despesa de amortização do ágio (item 6 do presente tópico). Resta evidente o deliberado intuito de fabricar uma despesa com repercussão na base tributável. Portanto, cabe ser mantida a autuação fiscal em relação ao ágio. Nesse sentido, devese negar provimento ao recurso especial da Contribuinte. Fl. 8479DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.480 44 II. Recurso Especial da PGFN. Admissibilidade. Qualificação da Multa de Ofício. Discutese a admissibilidade do recurso especial da PGFN, em relação à matéria qualificação da multa de ofício. Compreendo que o acórdão paradigma nº 10196.724 mostrouse apto para demonstrar a divergência na interpretação da legislação tributária prevista no art. 67, Anexo II do RICARF. A operação de interpretação passa tanto pela "qualificação" do fato, operação concretizada na premissa menor, quanto pela consequente identificação da norma jurídica decorrente do fato interpretado, procedimento no escopo da premissa maior, nos termos da construção proposta por KARL ENGISCH 9. No caso paradigmático, a empresa ZBT é criada especificamente, na condição de empresa "intermediária", para receber o ágio, e logo na sequência ser incorporada pelo investimento LIBRA TERMINAL 35. A utilização das empresas "intermediárias", ou rotuladas "empresas veículos", encontrase presente tanto nos presentes autos quanto no paradigma. A diferença reside precisamente na "qualificação" atribuída ao fato em cada uma das decisões. No recorrido, a utilização da empresa intermediária não foi qualificada como artificial, o que por consequência afastou incidência da norma relativa à qualificação da multa. Por outro lado, no paradigma, a empresa intermediária foi qualificada como artificial (premissa menor), atraindo a incidência da norma que imputa à multa de ofício o percentual de 150%. Nesse sentido, demonstrada a divergência, razão pela qual se deve dar seguimento ao recurso. Portanto, voto para dar conhecer do recurso especial da PGFN. III. Conclusão. Diante do exposto, o presente voto é no sentido de negar provimento ao recurso especial da Contribuinte, e conhecer do recurso especial da PGFN. (assinado digitalmente) André Mendes de Moura 9 Adotase o modelo previsto por ENGISCH para o operação de subsunção, entendendose premissa menor como o fato a ser qualificado e a premissa maior a norma jurídica. Ver: ENGISCH, Karl. Introdução ao Pensamento Jurídico. Calouste Gulbenkian: Lisboa, 2001 Fl. 8480DF CARF MF Processo nº 16561.720172/201220 Acórdão n.º 9101003.365 CSRFT1 Fl. 8.481 45 Fl. 8481DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.687315/2009-90
Turma: Segunda Turma Extraordinária da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Mar 15 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Mar 29 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/10/2006 a 31/10/2006
COMPENSAÇÃO. ÔNUS PROBATÓRIO DO CONTRIBUINTE.
É do contribuinte o ônus de comprovar a certeza e a liquidez do crédito para o qual pleiteia compensação.
DILIGÊNCIA FISCAL. FINALIDADE.
A diligência fiscal tem a finalidade de dirimir dúvidas sobre fatos relacionados ao litígio, não de trazer aos autos as provas documentais que cabia ao sujeito passivo produzir.
Numero da decisão: 3002-000.060
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. Votou pelas conclusões a conselheira Maria Eduarda Alencar Câmara Simões.
(assinado digitalmente)
Larissa Nunes Girard - Presidente e Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Alberto da Silva Esteves, Diego Weis Junior, Larissa Nunes Girard e Maria Eduarda Alencar Câmara Simões.
Nome do relator: LARISSA NUNES GIRARD
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/10/2006 a 31/10/2006 COMPENSAÇÃO. ÔNUS PROBATÓRIO DO CONTRIBUINTE. É do contribuinte o ônus de comprovar a certeza e a liquidez do crédito para o qual pleiteia compensação. DILIGÊNCIA FISCAL. FINALIDADE. A diligência fiscal tem a finalidade de dirimir dúvidas sobre fatos relacionados ao litígio, não de trazer aos autos as provas documentais que cabia ao sujeito passivo produzir. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. Votou pelas conclusões a conselheira Maria Eduarda Alencar Câmara Simões. (assinado digitalmente) Larissa Nunes Girard Presidente e Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Alberto da Silva Esteves, Diego Weis Junior, Larissa Nunes Girard e Maria Eduarda Alencar Câmara Simões. Relatório Trata o processo de declaração de compensação na qual o contribuinte informa a ocorrência de pagamento indevido ou a maior de Cofins e requer a compensação de AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 68 73 15 /2 00 9- 90 Fl. 89DF CARF MF Processo nº 10880.687315/200990 Acórdão n.º 3002000.060 S3C0T2 Fl. 3 2 R$ 33.151,87, relativos ao período de apuração de outubro/2006, com débitos de IRPJ. O Per/Dcomp foi transmitido em maio/2008 (fls. 7 a 11). Por meio de despacho decisório à fl1. 2, a Derat São decidiu pela não homologação da compensação por concluir que o crédito relativo ao Darf discriminado havia sido utilizado integralmente na quitação de outros débitos do contribuinte, não restando crédito para a realização de compensação. A recorrente apresentou manifestação de inconformidade na qual expressou seu entendimento de que a compensação teria sido negada pela ausência de análise do DACON, que havia sido retificado antes do pedido de compensação, e solicitava a sua apreciação conjuntamente com a da DCTF, que não havia sido retificada, mas para a qual solicitava retificação de ofício a ser realizada pela Receita Federal (fls. 12 a 15). Instruiu sua manifestação de inconformidade com cópia do despacho decisório, procuração, contrato social e recibo de retificação de Dacon (fls. 16 a 28). A Delegacia de Julgamento proferiu o Acórdão nº 1638.057 (fls. 32 a 38), por meio do qual decidiu pela improcedência da impugnação, tendo em vista a inexistência de prova do alegado direito de crédito, nos termos da ementa a seguir: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Data do fato gerador: 15/05/2006 DCOMP. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. É requisito indispensável ao reconhecimento da compensação não homologada a comprovação dos fundamentos da existência e a demonstração do montante do crédito que lhe dá suporte, sem o que não pode ser admitida. A mera alegação da existência do crédito, desacompanhada de elementos cabais de prova quanto aos motivos determinantes das alterações nos débitos confessados originalmente por intermédio da DCTF, não é suficiente para reformar a decisão não homologatória de compensação. DCTF. CONFISSÃO DE DÍVIDA. Considerase confissão de dívida os débitos declarados em DCTF (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais), motivo pelo qual qualquer alegação de erro no seu preenchimento deve vir acompanhada de declaração retificadora munida de documentos idôneos para justificar as alterações realizadas no cálculo dos tributos devidos. DCOMP. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. Considerando que o DARF indicado no PER/DCOMP (Pedido de Ressarcimento ou Restituição / Declaração de Compensação) 1 A numeração informada segue a que foi atribuída pelo eprocesso, e não a realizada manualmente. Fl. 90DF CARF MF Processo nº 10880.687315/200990 Acórdão n.º 3002000.060 S3C0T2 Fl. 4 3 como origem do crédito foi totalmente utilizado para quitar outro débito do Contribuinte, a compensação não poderá ser homologada. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Cientificado da decisão, o contribuinte interpôs recurso voluntário, no qual apresentou as seguintes alegações (fls. 80 a 86): a) a recorrente é empresa prestadora de serviço (organização de feiras e eventos) e, à época dos fatos, apurava as contribuições sociais na modalidade nãocumulativa, tendo deixado de se creditar de despesas incorridas "em razão da dubiedade da legislação", o que implicou em pagamento a maior de Cofins em outubro/2006; b) solicita o creditamento das despesas de aluguel de pavilhão das empresas Adm. Vera Cruz, Corumbal e Orion (contas 816700, 816702 e 816704) e das despesas de manutenção corretiva ou preventiva (contas 845785, 845790 e 845805), com fundamento, respectivamente, nos incisos IV e VII do art. 3º da Lei nº10.833, de 2003; c) o creditamento dessas despesas foi solicitado dentro do prazo decadencial e foram efetuadas as retificações necessárias no DACON; e d) a recorrente requer que, caso a documentação juntada seja insuficiente para a formação de convicção, que o julgamento seja convertido em diligência. É o relatório. Voto Conselheira Larissa Nunes Girard O recurso voluntário é tempestivo, preenche os requisitos formais de admissibilidade, inclusive quanto à competência das Turmas Extraordinárias e, portanto, dele tomo conhecimento. Requer a recorrente que se aprecie prova trazida aos autos pela primeira vez apenas nesta fase recursal, sem maiores considerações sobre a omissão em fazêlo no momento oportuno. Sobre esse ponto irá residir o cerne deste julgamento. A compensação somente pode ser concedida para créditos líquidos e certos, conforme estabelece o art. 170 do Código Tributário Nacional (CTN), in verbis: Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública. (grifado) A demonstração da certeza e liquidez, nos casos de solicitação de restituição, compensação e ressarcimento de crédito contra a Fazenda Nacional, é ônus que pertence ao Fl. 91DF CARF MF Processo nº 10880.687315/200990 Acórdão n.º 3002000.060 S3C0T2 Fl. 5 4 requerente. Define o Código de Processo Civil (CPC) em seu artigo 373 que, quanto ao fato constitutivo de seu direito, o ônus da prova incumbe ao autor. E, ainda sobre as provas, dispõe da seguinte maneira o Decreto nº 7.574, de 2011, que regulamenta o processo de determinação e de exigência de créditos tributários da União: Art. 28. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e sem prejuízo do disposto no art. 29 (Lei nº 9.784, de 1999, art. 36). (grifado) Dessa forma, para que a Receita Federal autorize a compensação, deve a recorrente demonstrar de forma inequívoca seu crédito, por meio de alegações e provas, e o momento de fazêlo é quando da apresentação da manifestação de inconformidade, em obediência ao Decreto nº 70.235, de 1972, que assim institui: Art. 15. A impugnação, formalizada por escrito e instruída com os documentos em que se fundamentar, será apresentada ao órgão preparador no prazo de trinta dias, contados da data em que for feita a intimação da exigência. Art. 16. A impugnação mencionará: (...) III os motivos de fato e de direito em que se fundamentar, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; (...) § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; b) refirase a fato ou a direito superveniente; c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidos aos autos. § 5º A juntada de documentos após a impugnação deverá ser requerida à autoridade julgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas nas alíneas do parágrafo anterior. (grifado) Disso decorre que a recorrente deveria ter explicado suas razões e juntado a documentação necessária para comprovar o seu direito quando decidiu recorrer do despacho decisório. Foi aí que se iniciou o contencioso e foram definidos os limites desta lide. Esses dispositivos legais, fundamentais no contencioso administrativo, visam garantir, entre outros, que regra geral uma matéria somente seja apreciada em segunda instância após sua apreciação, na integralidade do que compõe o contraditório, pela primeira instância. Ao admitir o início da produção de provas em fase de recurso voluntário, Fl. 92DF CARF MF Processo nº 10880.687315/200990 Acórdão n.º 3002000.060 S3C0T2 Fl. 6 5 promovemos a supressão do exame da matéria pelo colegiado a quo, de fato, uma supressão de instância. Não obstante a clareza do dispositivo, nenhum preceito foi atendido. Não se informou na manifestação de inconformidade qual seria o fundamento jurídico para o pedido de compensação e, quanto aos documentos probatórios, juntouse apenas um recibo de entrega da retificação do DACON, além de não ter sido providenciada a retificação da DCTF, que permaneceu em desacordo com o DACON e com o Per/Dcomp. A recorrente não logrou demonstrar sequer indício de direito em sua manifestação de inconformidade. Nos §§ 4º e 5º do art. 16 do PAF, acima transcritos, estão explicitadas as hipóteses em que, mediante petição fundamentada, podese aceitar a apresentação de prova documental após a manifestação de inconformidade: quando impossível a sua apresentação oportuna, por força maior; quando se refira a fato ou direito superveniente; ou quando se destine a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidos aos autos. Em não ocorrendo nenhuma dessas situações, está precluso o direito de juntada de provas, o que é o caso destes autos. Entretanto, ressalvase que haveria situações em que se poderia aceitar a juntada posterior e, para tanto, concorreria o fato de o contribuinte ter providenciado uma manifestação de inconformidade bem fundamentada, já com elementos relevantes de prova, somado à força probatória acrescida pela nova documentação que se quer juntar ou pela existência de alguma singularidade no transcorrer do processo. Em suma, é condição que o contribuinte tenha desempenhado minimamente sua atividade probatória. No presente caso, após uma manifestação de inconformidade quase nula de informações relevantes, temos um recurso voluntário que pretende remediar a omissão e afinal expor suas razões, mas, diferentemente dos demais processos similares deste contribuinte distribuídos para esta julgadora, não se juntou qualquer documento a este recurso voluntário, exceto pelas representações e identificações. Dada a discrepância em relação aos demais, verifiquei no Termo de Análise de Solicitação de Juntada, à fl. 87, que nenhum documento foi rejeitado, dando a entender que poderia ter havido algum lapso em relação a este processo, mas que irá, de toda sorte, receber o mesmo tratamento dos demais. Finalmente ficamos sabendo as razões de pedir – creditamento relativo às despesas com aluguel de prédios utilizados nas atividades da empresa e benfeitorias em imóveis também utilizados nas atividades da empresa, incisos IV e VII do art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003. Em tese, uma empresa prestadora de serviços de organização de eventos poderia se creditar das despesas citadas, mas é necessário que seja demonstrado, de fato, que incorreu em tais despesas, que elas se relacionaram com o desempenho das atividades da empresa, que foram adequadamente apropriadas, com respeito à legislação do IRPJ, e que está correta a nova composição da base de cálculo da Cofins, o que não é tarefa simples. Fl. 93DF CARF MF Processo nº 10880.687315/200990 Acórdão n.º 3002000.060 S3C0T2 Fl. 7 6 Estamos diante de uma realidade complexa que demandaria a análise pela unidade de origem de um conjunto de documentos contábeis/fiscais, hábeis e suficientes. Mas para tanto a recorrente deveria ter agido no momento certo. Em julgamento de primeira instância, em se constatando dúvidas ou insuficiência de documentação probatória, poderia ter havido intimação para sua complementação. Demandar diligência neste momento, visando a suprir sua própria omissão em relação a seu ônus probante, não é razoável. A diligência se presta à sanar dúvidas sobre os fatos relacionados ao litígio, a partir da instrução promovida pelo interessado. É de ressaltar que a concessão de exceções à regra posta deve ser realizada com muito zelo, sob pena de a tornar letra morta e violar princípios caros ao direito administrativo como a legalidade, eficiência e razoabilidade. Com frequência, deparase com pedido para juntada intempestiva de provas em nome do princípio da verdade material, que é um norte para o direito tributário, mas que não pode ser utilizado para afastar as demais normas e princípios que devem ser igualmente atendidos pelas partes em prol do devido processo. Devese buscar um equilíbrio razoável entre os princípios e o respeito à norma posta quando ela claramente define um limite temporal. A avaliação dos documentos e do histórico do contribuinte no processo nos leva a concluir que não estão presentes os elementos que possam autorizar a excepcionalidade de se iniciar a produção de provas em fase de recurso voluntário. Tendo em vista a omissão do contribuinte em produzir provas e a ausência de justificativa sobre essa omissão, determinar diligência neste momento, como requerido, estendendo por tempo indefinido este julgamento, significaria prolongar esta lide sem motivação legal. Pelo exposto, voto por conhecer o recurso voluntário e, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Larissa Nunes Girard Relatora Fl. 94DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10735.904263/2009-03
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Feb 21 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Apr 20 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2006
PAGAMENTO INDEVIDO. COMPROVAÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO QUE SE RECONHECE.
Confirmado por documentação contemporânea aos fatos que houve pagamento indevido pelo contribuinte e, por consequência, a existência de crédito líquido e certo, a homologação da compensação de tal crédito com débitos da recorrente, deve ser atendida até o limite do direito creditório reconhecido.
Numero da decisão: 1402-002.903
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso para homologar as compensações pleiteadas, tendo em vista o reconhecimento do indébito no valor de R$ 64.036,97, conforme decidido no bojo do processo 10735.904263/2009-03.
(assinado digitalmente)
Leonardo de Andrade Couto - Presidente
(assinado digitalmente)
Paulo Mateus Ciccone - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Mateus Ciccone, Caio Cesar Nader Quintella, Marco Rogério Borges, Eduardo Morgado Rodrigues, Evandro Correa Dias, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei e Leonardo de Andrade Couto (Presidente). Ausente justificadamente o Conselheiro Leonardo Luis Pagano Gonçalves.
Nome do relator: PAULO MATEUS CICCONE
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2006 PAGAMENTO INDEVIDO. COMPROVAÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO QUE SE RECONHECE. Confirmado por documentação contemporânea aos fatos que houve pagamento indevido pelo contribuinte e, por consequência, a existência de crédito líquido e certo, a homologação da compensação de tal crédito com débitos da recorrente, deve ser atendida até o limite do direito creditório reconhecido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso para homologar as compensações pleiteadas, tendo em vista o reconhecimento do indébito no valor de R$ 64.036,97, conforme decidido no bojo do processo 10735.904263/200903. (assinado digitalmente) Leonardo de Andrade Couto Presidente (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Mateus Ciccone, Caio Cesar Nader Quintella, Marco Rogério Borges, Eduardo Morgado Rodrigues, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 73 5. 90 42 63 /2 00 9- 03 Fl. 870DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 871 2 Evandro Correa Dias, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei e Leonardo de Andrade Couto (Presidente). Ausente justificadamente o Conselheiro Leonardo Luis Pagano Gonçalves. Fl. 871DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 872 3 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto pela contribuinte acima identificada em face de decisão exarada pela 1ª Turma da DRJ/RJ1 em sessão de 11 de agosto de 2011 (fls. 65/68)1, que julgou improcedente a manifestação de inconformidade interposta e manteve o Despacho Decisório que declarou não homologada a compensação declarada (nº de rastreamento 831661592 – 20/04/2009 fls. 7) e PER/DCOMP nº 06470.56143.260707.1.7.04 1603 (fls. 2/6), referente ao código de receita 236201 IRPJ Demais PJ obrigadas ao lucro real/Estimativa mensal período de apuração janeiro/2006. Irresignado, o sujeito passivo interpôs manifestação de inconformidade (fls. 8/18) onde alegou erro material no preenchimento da DCFT do mês de março/2006 (IRPJ) que 1 A numeração referida das fls., quando não houver indicação contrária, é sempre a digital Fl. 872DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 873 4 deveria apontar valor devido de R$ 326.840,18 e não R$ 390.877,15; que a DIPJ do período confirma o primeiro valor; que recolheu R$ 249.713,63 (DARF) e compensou R$ 141.163,52, de modo que recolheu a maior R$ 64.036,97, montante (parcial) do qual se utilizou para efetivar a compensação não homologada. Juntou cópia da DCTF retificadora do 1º trim/2006, cópia da DIPJ do ano calendário/2006 e cópia do DARF pago. Apreciando a MI, a 6ª Turma da DRJ/RJ1 negou provimento ao pedido por entender (fls. 68): “A DIPJ, desde o anocalendário de 1999, tem caráter meramente informativo, isto 6, as informações nela prestadas não configuram confissão de divida – a Instrução Normativa n° 127, de 30 de outubro de 1998, que extinguiu, em seu art. 6 0, inciso I, a DIRPJ — Declaração de Rendimentos da Pessoa Jurídica e instituiu, em seu art. 1º, a DIPJ — Declaração de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica, deixou de fazer referência confissão de tributos ou contribuições a pagar. Por sua vez, a DCTF — Declaração de Contribuições e Tributos Federais, instituída pela Instrução Normativa SRF n° 129/1986, sempre foi destinada a tal fim A DCTF, sendo confissão de divida, tem o condão de constituir, formalmente, o crédito tributário, materializandoo. O darf foi alocado conforme DCTF. A DCTF juntada pelo próprio interessado, às fls. 27/28, confirma a alocação apontada no Despacho Decisório. Eventual retificação da DCTF, após o Despacho Decisório, não produz efeito. O Despacho Decisório recorrido deve, então, ser mantido, por não terem sido elididos os fatos que lhe deram causa”. O Acórdão recorrido tem a seguinte ementa: ASSUNTO: OUTROS TRIBUTOS OU CONTRIBUIÇÕES Anocalendário: 2006 RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. Mantémse o despacho decisório, se não elididos os fatos que lhe deram causa. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Credit6rio Não Reconhecido Cientificada em 27/09/2011 (“AR” fls. 75), a contribuinte interpôs recurso voluntário em 27/10/2011 (fls. 76/90) no qual rebate a decisão recorrida e basicamente repisa a argumentação expendida na manifestação de inconformidade. Subindo os autos ao Colegiado de 2º Piso, a então 2ª Turma Especial da 1ª Sejul converteu o julgamento em diligência (Resolução nº 1802000.340, de 08/10/2013 – fls. 123/131). Fl. 873DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 874 5 Com a Informação Fiscal de 01/10/2015 (fls. 858/864 e documentos juntados), os autos retornaram para julgamento e foram redistribuídos a este Relator em razão da extinção da Turma original (2ª Turma Especial da 1ª Sejul). É o relatório do essencial. Fl. 874DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 875 6 Voto Conselheiro Paulo Mateus Ciccone Relator O Recurso Voluntário é tempestivo (ciência da decisão recorrida em 27/09/2011 – “AR” fls. 75 e protocolização da peça recursal em 27/10/2011 – fls. 76), a representação da contribuinte está corretamente formalizada (fls.104/111) e os demais pressupostos exigidos para admissibilidade foram atendidos, de modo que o recebo e dele conheço. O tema em discussão prendese em definir se as alegações da recorrente de que teria recolhido a maior o valor de estimativa mensal de IRPJ de março/2006 restaria confirmado em razão de equívoco no preenchimento da DCTF e se este montante poderia ser utilizado na compensação de débito de sua responsabilidade perante a Fazenda Nacional, ou se, como assentado pelo DD e decisão recorrida, inexistiu tal comprovação e o eventual pagamento a maior estaria alocado a débitos confessados. Mais ainda, que, “O darf foi alocado conforme DCTF”; que “A DCTF juntada pelo próprio interessado, às fls. 27/28, confirma a alocação apontada no Despacho Decisório”, e que, “Eventual retificação da DCTF, após o Despacho Decisório, não produz efeito” (decisão recorrida – fls. 68). Já a recorrente sustenta ter cometido equívoco ao preencher e transmitir a DCTF com o valor da estimativa de março/2006 apontando débito de R$ 390.877,15, devidamente recolhido ou compensado (R$ 249.713,63 e R$ 141.163,52, respectivamente), quando deveria declarar como valor devido o montante de R$ 326.840,18. Com isto, no dizer da recorrente, seria detentora de crédito, por pagamento a maior e indevido, de R$ 64.036,97, que utilizou (parcialmente) na compensação não homologada e objeto deste litígio. Pois bem, em casos de estimativas mensais, como se sabe, a) os recolhimentos estimados são obrigatórios para os contribuintes que optam pelo Lucro Real e devem ser feitos tendo como base de cálculo a receita bruta e acréscimos; b) tais recolhimentos podem ser reduzidos ou mesmo dispensados em casos de levantamento de balanços ou balancetes de suspensão; e, c) o demonstrativo da base de cálculo e dos valores apurados são informados pelos contribuintes na DIPJ do período (no caso de IRPJ, na Ficha 11). A compulsação dos autos mostra que a recorrente, nos doze meses, utilizou se da receita bruta e acréscimos para apuração das estimativas, ou seja, a pessoa jurídica, em tese e a princípio, não quis ou não conseguiu se utilizar da prerrogativa legal de, mediante “balancetes de redução ou suspensão”, adequar o recolhimento dos valores estimados ao “lucro real”, preferindo a via mais simples de calcular o montante a ser recolhido sobre sua receita. Nesse ponto, segundo a recorrente assevera e encontrase transcrito na DIPJ – Ficha 11 (fls. 33), a “estimativa” de março/2006 seria de R$ 326.840,18 (já com a dedução dos incentivos fiscais), conforme abaixo demonstrado: Fl. 875DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 876 7 Ocorre que, CONTRARIAMENTE ao acima estampado, a recorrente informou em DCTF o valor devido de R$ 390.877,15 (fls. 29), quitado da seguinte forma (DARF – R$ 249.713,63 – fls. 34) e “compensação” de R$ 141.163,52 (fls. 30). Nestas condições, não haveria ressalva a fazer ao decidido no Despacho Decisório (fls. 7) isto porque, à época, o confronto das informações prestadas no PER/DCOMP com as existentes nos sistemas da RFB revelava que o DARF discriminado para fins de compensação já se encontrava integralmente utilizado para quitação de débitos do interessado, não restando crédito disponível. Em outras palavras, o recolhimento feito em DARF foi alocado à DCTF transmitida pelo sujeito passivo. Mesmo entendimento esposado na decisão recorrida, acrescido ao fato de que, segundo a Relatoria de 1º Grau, a interessada não se desincumbiu do dever de comprovar o equívoco que alegou no preenchimento da DCTF. Todavia, não se pode olvidar e este é o pensamento deste Relator e, na mesma linha, do voto condutor da Resolução da então 2ª Turma Especial da 1ª Seção que apreciou inicialmente estes autos e converteu o julgamento em diligência , o processo administrativofiscal é regido pelo “princípio da busca da verdade material”, de modo que, em face do quanto alegado no recurso voluntário e à vista dos documentos juntados com o procedimento diligenciador, os argumentos expendidos pela contribuinte devem ser analisados, ainda que a decisão de 1º pugne, de forma diversa e em sentido oposto, que “eventual retificação da DCTF, após o Despacho Decisório, não produz efeito” (Ac. DRJ – fls. 68). Nesse sentir, pareceme induvidoso que regramentos de cunho acessório que se fazem presente nas informações prestadas pelos contribuintes aos Órgãos Tributários não podem ser imutáveis, até por força da falibilidade humana. De outro lado, claro, ao Poder Tributante é lícito, mais ainda, é imperativo sejam dadas condições legais e normativas para que possa impor aos jurisdicionados a obrigatoriedade da prestação de informações de interesse do Órgão, até porque envolve o interesse público, em última análise, a própria sociedade organizada. Dito isto, é certo que as informações de natureza tributária que devem prestar ao Fisco as pessoas jurídicas que adotem o Lucro Real baseiamse, sempre e sempre, na sua escrituração, nos seus livros e nos documentos que os lastreiem, vale dizer, “DIPJ”, Fl. 876DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 877 8 “DCTF”, “DACON” e outros e que, no fundo, nada mais são que verdadeiras “FERRAMENTAS”, melhor, são meios, jamais fim em si mesmo, não podendo ser INTOCÁVEIS. Em outras palavras, o que alimenta tais demonstrativos, declarações e informações é a escrituração (tida em seu aspecto amplo) e esta é a que deve prevalecer em última análise. Foi dentro dessa linha de pensamento que a então 2ª Turma Especial da 1ª Seção, pelo voto do Relator original, Conselheiro Nelso Kichel, expresso na Resolução nº 1802000.340, decidiu pela conversão do julgamento em diligência, na forma abaixo reproduzida (destaques do original): “No caso, a recorrente efetuou compensação tributária, sob condição resolutória, do débito informado na DCOMP, com utilização de pretenso crédito do IRPJ estimativa mensal do P.A março/2006, conforme DCOMP retificadora transmitida eletronicamente em 26/07/2007, mediante programa gerador PER/DCOMP (fls.01/05). Entretanto, a decisão recorrida, na mesma esteira do despacho decisório, não reconheceu o direito creditório utilizado/pleiteado, deixando de homologar a compensação tributária, ante a inexistência de pagamento indevido ou maior do IRPJ estimativa mensal do P.A. março/2006. Nesta instância recursal, a recorrente nas razões do recurso rebelase contra a decisão recorrida, argumentando que o crédito pleiteado existe, aduzindo: que o valor principal do débito do IRPJ estimativa mensal do P.A março/2006, confessado na respectiva DCTF, está equivocado; que houve erro material no preenchimento da DCTF; que o débito correto é o informado na DIPJ respectiva, e não o valor constante da DCTF; que não houve retificação da DCTF para ajustar o valor débito, para coincidir com o valor informado na DIPJ, pois o erro material foi constatado após ciência do despacho decisório, o qual impede transmissão eletrônica de DCTF retificadora, pela perda de espontaneidade. Compulsando os autos, constato que atinente ao P.A março/2006: a contribuinte confessou débito do IRPJ estimativa mensal no valor de R$ 390.877,15, conforme DCTF transmitida eletronicamente em 30/07/2008, cuja cópia consta das fls.27/28; que esse débito confessado na DCTF teria sido adimplido do seguinte modo: a) pagamento por DARF no valor de R$ 249.713,63, data de recolhimento 28/04/2006, cópia do DARF (fl. 32); b) – outras compensações no valor de R$ 141.163,52, mediante utilização de crédito do IPI (DComp: 09231.74003.270406.1.3.018112 e DComp: 07398.18112.270406.1.3.015150) – informação constante da cópia da DCTF (fls. 28/29). Fl. 877DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 878 9 que, entretanto, o débito apurado e informado na DIPJ, quanto ao PA março/2006, foi menor, em relação débito informado na respectiva DCTF. Vale dizer, a contribuinte informou débito do IRPJ estimativa mensal, P.A. março 2006, o valor de R$ 326.840,18, na DIPJ 2007, anocalendário 2006, Ficha 11 – Cálculo do Imposto de Renda Mensal por Estimativa, com base na receita bruta e acréscimos (fl. 31), transmitida eletronicamente em 29/06/2007, conforme recibo de entrega (fl. 29). Como visto, quanto ao PA março/2006 a contribuinte, em tese, teria adimplido IRPJ estimativa mensal a maior, ou indevidamente, no valor de R$ 64.036,97 e que, desse valor original, utilizou parcela de crédito original de R$ 5.717,19 para compensar débito informado na compensação objeto destes autos. Constato pela cópia da DIPJ que, em princípio, a contribuinte não alterou critério de apuração do IRPJ estimativa mensal de receita bruta e acréscimos para balancete de suspensão/redução. Então, em tese é plausível a alegação de erro material quanto ao débito informado na DCTF. Além do mais, a DCTF foi transmitida eletronicamente, praticamente, 01 (um) ano após a entrega da DIPJ, o que reforça a tese do erro material, quanto ao real valor do débito. No âmbito da DRF/Nova Iguaçu (unidade de origem), não houve intimação da contribuinte para comprovação, à luz da escrituração contábil e respectivos documentos de suporte idôneos dos registros contábeis, a apuração do IRPJ do PA março/2006 e dos demais meses desse anocalendário, para que houvesse esclarecimento cabal, se houve, ou não, erro material no preenchimento da DCTF. Simplesmente a unidade de origem da RFB emitiu despacho decisório do qual consta que o direito creditório demandado é inexistente, pois os valores adimplidos foram consumidos pelo respectivo débito confessado na DCTF, não restando crédito disponível. Na decisão ora atacada, consta que a DRJ/Rio de Janeiro I, embora a contribuinte tivesse pleiteada a realização de diligência, entendeu não ser cabível o pleito de produção de prova, conforme fundamentação constante do voto condutor (fls. fls. 51/52), in verbis: (...) Pelo entendimento exarado na decisão recorrida, existindo divergência entre DCTF e DIPJ quanto ao débito apurado e informado, prevalece aquela e não está, pois somente a DCTF tem caráter de confissão de dívida. Esse entendimento não merece prosperar. Embora a DCTF seja o instrumento por excelência para confissão de débito tributário (mas, não o único!), não tem caráter absoluto essa confissão em DCTF, se houver erro material nos valores confessados e, ainda, não prescrito o direito de repetição do indébito tributário. A decisão recorrida refutou o protesto de produção de todas as provas admitidas em direito, fundamentada no entendimento de que as provas deveriam ter sido juntadas aos autos junto com a impugnação e não o foram; que a faculdade processual restou preclusa; que a contribuinte é autora do pedido de direito creditório contra o fisco; que, no processo de compensação tributária, o ônus probatório do fato constitutivo do direito de crédito contra o fisco é do autor do pedido. Fl. 878DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 879 10 Mas, tanto o despacho decisório, quanto a decisão recorrida, pecam por não apontarem, de forma clara e objetiva, à contribuinte qual o elemento de prova necessário para a comprovação do direito creditório pleiteado, em face do alegado erro material de preenchimento da DCTF. Em momento algum nos autos o fisco solicitou à contribuinte a apresentação da escrituração contábil, para dirimir a dúvida sem houve, ou não, o alegado erro material no preenchimento da DCTF. Apenas o fisco aduziu que, no caso, preponderam os dados constantes da DCTF. As cópias da DCTF, da DIPJ e do DARF, sem a apresentação da respectiva escrituração contábil, não têm o condão de comprovação do direito creditório pleiteado, pois é necessário cotejar a escrituração contábil e a escrituração fiscal, para demonstração do alegado erro material. Embora no processo de compensação tributária o ônus probatório do fato constitutivo do direito (da liquidez e certeza do crédito demandado) seja da contribuinte, pois ela é a autora da demanda nos termos do art. 333, I, do Código de Processo Civil Brasileiro e do art. 170 do Código Tributário Nacional, entendo que esse rigor probatório deve ser mitigado, com base no princípio da verdade material, pois a unidade de origem da Receita Federal, bem como a DRF/Rio de Janeiro I, em relação ao alegado erro material deixaram de intimar a contribuinte para apresentação da escrituração contábil e respectivos documentos idôneos de suporte dos registros contábeis. Como visto, a instrução processual dos autos está incompleta, não permitindo a formação de convicção do julgador quanto ao direito creditório demandado. Além disso, se restar comprovado o alegado erro material de preenchimento da DCTF é cabível a restituição ou devolução/aproveitamento do excesso do pagamento mensal por antecipação do referido período de apuração (não relacionado com a receita bruta ou com balancete de suspensão ou redução) sem necessidade de leválo para o ajuste anual ou para compor o saldo negativo, em face da revogação do art. 10, 2ª parte, da IN SRF 600/2005 pelo art. 11 da IN RFB 900/2008. Esse ato normativo tem efeito ou aplicação retroativa. Nesse sentido, é o entendimento do CARF, conforme Súmula CARF nº 84, in verbis. (...) Em face disso, justamente para afastar eventual prejuízo à defesa (aos princípios do contraditório e da ampla defesa), propugno pela conversão do julgamento em diligência, para que a unidade de origem da RFB, no caso a DRF/Nova Iguaçu, à luz da escrituração contábil da contribuinte, apure: a) se houve erro material no preenchimento da DCTF quanto ao valor do débito do IRPJ estimativa mensal do PA março/2006; b) se as DCOMP nºs 09231.74003.270406.1.3.018112 e 07398.18112.270406.1.3.015150) foram homologadas, ou não ( fls. 28/29); c) se houve adimplemento a maior ou indevido do IRPJ estimativa mensal do PA março/2006 e se o valor foi levado, ou não, para a declaração de ajuste desse ano calendário (se foi computado em eventual apuração de saldo de imposto a pagar ou a restituir); Fl. 879DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 880 11 d) se o crédito pleiteado está disponível para efetuar a compensação objeto dos autos”. Para concluir: “No término da diligência fiscal, a unidade de origem da RFB (DRF/Nova Iguaçu) deverá elaborar relatório circunstanciado com resultado conclusivo, devidamente fundamentado e demonstrado, quanto ao crédito demandado”. Diligência cumprida, com ela vieram a Informação Fiscal (fls. 858/864) e documentos juntados no procedimento (fls. 135/857). Antes de tudo, ressalto a lamentável forma com que foram juntados aos autos os documentos relativos à escrituração contábil e fiscal da recorrente, sem um mínimo de ordenamento lógico que permitisse aferir e contrapor rapidamente as provas juntadas com o alegado nos autos e, mais ainda, sem que a interessada tivesse feito sequer um índice racional para manuseio de tal documentação; ao contrário, referidas provas – cujo maior interesse em vêlas aceitas, presumese, seja da recorrente – foram acostadas dispersa e aleatoriamente. Nesse sentido: IRPJ – PROVA – Cumpre à impugnante demonstrar o efeito modificativo ou extintivo do crédito constituído pelo lançamento. Não basta ao impugnante juntar documentos aos autos, sendo indispensável que ele demonstre o efeito probatório por eles produzido. (Acórdão nº 10707882) Este fato levou ao exaustivo trabalho elaborado pela autoridade fiscal diligenciadora em parcimoniosa e detalhada Informação e exigiu não menos esforço deste Relator para que pudesse se chegar o mais próximo possível da “verdade material” tão reclamada. Consignada a ressalva acima, passo às conclusões do voto. Segundo a Informação de Diligência (fls. 859), no que tange ao “quesito a” da Resolução nº 1802000.340 (“se houve erro material no preenchimento da DCTF quanto ao valor do débito do IRPJ estimativa mensal do PA março/2006”): “Quesito a) Considerando que não foram encontrados no processo, documentos juntados pelo contribuinte que comprovassem as suas argumentações relativamente ao erro material alegado, não obstante o art. 16, §4º do Decreto nº 70.235, de 06/03/1972, que dispõe sobre o processo administrativo fiscal, e tendo em vista, principalmente, as solicitações do CARF em diligência, o contribuinte foi intimado a apresentar documentos que respaldassem suas alegações de erro material no preenchimento da DCTF, conforme intimação juntada ao processo. Em análise aos documentos apresentados pela contribuinte, podese dizer que aparentemente não houve erro material no preenchimento da DCTF, na medida em que os documentos apresentados, notadamente o seu “Livro Diário Geral” e demais documentos, não nos permitem aferir que a contribuinte tenha, de fato, apurado e contabilizado suas estimativas mensais nos valores e períodos por ele sustentados, posto que, nos lançamentos contábeis apresentados, não consta os valores das estimativas “mês a mês”. Ressaltese ainda que, posteriormente à Fl. 880DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 881 12 resposta da intimação, a contribuinte foi contatada, por telefone, sendo solicitado os documentos contábeis que embasassem tais lançamentos, sendo que, os documentos apresentados não identificam lançamentos de provisão de IRPJ e CSLL mês a mês, não contemplando, dessa forma, o que foi solicitado, referente à estimativa de IRPJ de março de 2006, o que não serviu para aferir o que por ela foi alegado. Vêse na manifestação da autoridade que presidiu a diligência a ratificação do que já dito neste voto acerca da dispersão das provas, juntadas aleatoriamente e sem nenhuma concatenação lógica, tanto que a Informação Fiscal é clara ao dizer que não permitiram “aferir que a contribuinte tenha, de fato, apurado e contabilizado suas estimativas mensais nos valores e períodos por ele sustentados”; que, “nos lançamentos contábeis apresentados, não consta os valores das estimativas “mês a mês”; e, que, “os documentos apresentados não identificam lançamentos de provisão de IRPJ e CSLL mês a mês, não contemplando, dessa forma, o que foi solicitado, referente à estimativa de IRPJ de março de 2006”. Mais ainda, “podese dizer que aparentemente não houve erro material no preenchimento da DCTF”. De fato, como este Relator teve oportunidade de confirmar ao analisar minudentemente os autos, visàvis, lançamento a lançamento, os Livros Diário e Razão, a recorrente não teve por hábito contabilizar a “provisão de IRPJ e CSLL mês a mês” (como ressaltado pela diligência), procedimento que contemplaria, sem dúvida, maior técnica contábil, quando os montantes provisionados são lançados no passivo e posteriormente baixados contra o circulante. Tivesse assim procedido a contribuinte, a visão dos fatos se faria sem maior esforço. Todavia, o fato de a recorrente ter adotado método mais simplificado de escrituração, debitando uma conta de ativo (tributos a recuperar) e creditando diretamente o circulante (Caixa/Bancos) pelo pagamento, SEM PROVISIONAMENTO anterior, não desnatura a contabilização nem traz reflexos tributários. Vejase a forma de contabilização assumida, naquilo que interessa (estimativa de IRPJ – março/2006): Ø Livro Diário (fls. 764/765): Ø Livro Razão (fls. 435): Ø Conferindo: Fl. 881DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 882 13 ESTIMATIVA IRPJ MARÇO/2006 1. Pagamento (DARF) 249.713,63 2. Compensação DCOMP nº 07398.18112.270406.1.3.015150 7.103,35 3. Compensação DCOMP nº 09231.74003.270406.1.3.018112 134.060,17 4. Estimativa IRPJmarço/2006paga/compensada (1+2+3) 390.877,15 Parece induvidoso que, na contemporaneidade dos fatos, a recorrente, de uma forma ou outra, preliminarmente, apurou como “estimativa de IRPJ de março/2006”, o valor de R$ 390.877,15 que buscou adimplir mediante o pagamento (DARF) de R$ 249.713,63 e compensações de R$ 7.103,35 e R$ 134.060,17 e só POSTERIORMENTE, quando da elaboração da DIPJ (em junho/2007) é que chegou definitivamente ao débito de R$ 326.840,18 (DIPJ – Ficha 11 – Linha 12 fls. 167). Então cabe a pergunta: por que a recorrente recolheu/compensou R$ 390.877,15 em 28/04/2006 (DARF – código de receita 2362 fls. 34), gerando um recolhimento em excesso de R$ 64.036,97? A resposta, até pelo longo lapso de tempo (cerca de dez anos...), óbvio, passa por um verdadeiro exercício de imaginação e muitas suposições. Porém, conhecendo o universo das empresas, é lícito presumir que, em 30 de abril de 2006, quando vencia o prazo para recolhimento da estimativa de março/2006, a escrituração da recorrente ainda não tinha sido “fechada”, ou seja, provavelmente faltavam alguns documentos para serem contabilizados e, neste contexto, até para evitar penalidades e acréscimos moratórios, a contribuinte apurou “estimadamente” o valor “devido” e o recolheu/compensou. Somente depois, passado mais de um ano, por ocasião da elaboração e transmissão da DIPJ do anocalendário de 2006 (ex/2007) em 29/06/2007 (fls. 31) é que a empresa teria chegado ao montante correto devido (R$ 326.840,18), de forma que, recolhido/compensado o valor de estimativa de R$ 390.877,15 nada restaria a pagar e, ao contrário, a contribuinte se tornaria credora da Fazenda Pública em R$ 64.036,97. Então, cabe a segunda pergunta: qual o motivo da não homologação da compensação? Por três pontos principais: a) porque, quando da emissão do Despacho Decisório, o valor pago de R$ 390.877,15 estava totalmente declarado em DCTF e integralmente alocado; b) porque a Turma a quo, que analisou a manifestação de inconformidade, concluiu que a contribuinte não teria conseguido comprovar o alegado equívoco (erro material) no preenchimento da referida DCTF; e, c) a impossibilidade da retificação de DCTF após a emissão do Despacho Decisório. Entretanto, com a conversão em diligência, vieram aos autos, ainda que dispersa e aleatoriamente, documentos e escrituração que deram às alegações da recorrente, maior robustez, exigindo aprofundamento da análise. Nesse cenário, a conjunção de vários fatores leva a algumas conclusões relevantes e favoráveis à tese da recorrente, o primeiro deles o fato de, à época, a contribuinte já possuir direito contra a Fazenda Pública Federal em razão de “ressarcimento de IPI” no Fl. 882DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 883 14 valor de R$ 141.163,52 e, ainda assim, recolher mais R$ 249.713,63 em moeda corrente, chegando ao total de R$ 390.877,15 (estimativa de março/2006). Tivesse condições de apurar naquele instante corretamente a estimativa do mencionado mês, R$ 326.840,18 (o que só veio a ocorrer depois), certamente iria recolher R$ 185.676,66 e não R$ 249.713,63. Em outras palavras, não desembolsaria, por mera liberalidade, R$ 64.036,97 (R$ 390.877,15 – R$ 326.840,18). Se assim fez, parece óbvio ter apurado (no instante em que teve de efetuar o recolhimento, em 28/04/2006), ainda que estimadamente, o valor de R$ 390.877,15, justificando o “erro material” alegado. Depois, o fato de a recorrente haver assumido como base de cálculo das estimativas mensais durante todo o anocalendário de 2006 a “receita bruta e acréscimos” e não “balanços ou balancetes de redução ou suspensão”, sendo de se presumir que os valores apurados e recolhidos ainda eram “estimados” e não definitivos (assim fosse, certamente recolheria/compensaria R$ 326.840,18 e não R$ 390.877,15. Em exprimir diverso, se os “balanços ou balancetes de redução ou suspensão” tivessem sido elaborados à época dos fatos, já com conotação de definitividade, obviamente a contribuinte apuraria R$ 326.840,18 e não R$ 390.877,15 e aquele seria o montante devido e não este. Se fez o inverso, a conclusão plausível é que este último montante, em 28/04/2006, data do recolhimento, ainda era meramente uma estimativa e não o valor final devido, o que dá sustentação a alegação de que teria cometido “erro material” quando do preenchimento da DCTF. Mais, a contabilização, em 31/07/20072, do valor definitivo da estimativa de março/2006 no importe de R$ 326.840,18 (Livro Razão – fls. 465), escrituração que se fez cronologicamente: i) depois que a estimativa de março/2006 já havia sido recolhida em 28/04/2006, reforçando o argumento de que, nesta data (abril/2006), não se conhecia o valor final a pagar, o que só veio a ocorrer em 2007, quando da preparação da DIPJ a ser entregue (em junho); ii) praticamente no mesmo momento da elaboração da DIPJ do exercício de 2007 (transmitida em 29/06/2007) corroborando o pensamento de que, neste estágio, já se havia chegado ao importe correto, tanto que incluído na Ficha 11 da citada DIPJ; iii) antes da entrega da DCTF (30/07/2008 – fls. 29); iv) quase no mesmo dia de transmissão do PER/DCOMP nº 06470.56143.260707.1.7.041603 (26/07/2007 fls. 2/6), de modo que, neste instante, presumivelmente, já se conhecia o montante efetivamente apurado; e, v) muito antes do Despacho Decisório que declarou não homologada a compensação (nº de rastreamento 831661592 – 20/04/2009 fls. 7) ter sido exarado. 2 Fl. 883DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 884 15 Esta cronologia demonstra que, como a recorrente não conhecia em 28/04/2006 (quando efetuou o recolhimento), o valor definitivo da estimativa de março/2006, optou por assumir a “receita bruta e acréscimos” para encontrar, naquele momento, o quantum a ser pago (R$ 390.877,15), só chegando ao montante depurado e conciliado (R$ 326.840,18) no ano seguinte. Fatores que reforçam seus argumentos e levam à comprovação do equívoco cometido e, em última análise, do alegado “erro material”. Fortalece ainda mais este raciocínio a manifestação da própria autoridade que presidiu a diligência quando, depois de ressalvar a dispersão das provas, acaba por concluir, em relação ao questionado valor de R$ 64.036,97 – quesito “d”3, que (Informação Fiscal – fls. 863): “Ante todo o exposto, em relação ao quesito (d), onde é questionado se o montante requerido pelo contribuinte, no valor de R$ 64.036,97, relativo suposto recolhimento a maior de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ (2362), alusivo ao período de apuração de março de 2006, recolhido em 28/04/2006, no valor de R$ 249.713,63, encontrase disponível para efetuar a compensação objeto dos autos, temos que, fazendo uma análise restrita ao período de apuração de março, se for considerado somente o IRPJ referente à estimativa de março/2006, aceitando o erro material alegado pelo contribuinte no preenchimento da DCTF, considerando o valor de R$ 326.840,18, e tendo sido esse valor parcialmente quitado através de duas DCOMP que remontam: 141.163,52, que foram homologadas, resta a pagar somente R$ 185.676,66. Uma vez que o valor recolhido foi de R$ 249.713,63, restaria o valor de R$ 64.036,97. Ressaltese no entanto que, conforme já dito em resposta ao quesito “a”, não foram apresentados documentos contábeis com lançamentos mensais das estimativas que nos permitam aferir se efetivamente houve o erro material alegado no preenchimento da DCTF”. (o negritado foi acrescido). Pois bem, informado na diligência que, “Uma vez que o valor recolhido foi de R$ 249.713,63, restaria o valor de R$ 64.036,97”, confirmase o crédito alegado pela recorrente que estaria, assim, “disponível para efetuar a compensação objeto destes autos”. Sobre a ressalva presente no final da manifestação (“Ressaltese no entanto que, conforme já dito em resposta ao quesito “a”, não foram apresentados documentos contábeis com lançamentos mensais das estimativas que nos permitam aferir se efetivamente houve o erro material alegado no preenchimento da DCTF”), disso já se tratou exaustivamente neste voto, pelo que superada. Porém, há mais informações vindas com a diligência (quesitos “b” e “c”) que merecem apreciação. A respeito ao primeiro deles4 (fls. 859): 3 “d) se o crédito pleiteado está disponível para efetuar a compensação objeto dos autos”. 4 “(...) propugno pela conversão do julgamento em diligência, para que a unidade de origem da RFB, no caso a DRF/Nova Iguaçu, à luz da escrituração contábil da contribuinte, apure: (...) Fl. 884DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 885 16 “Quesito b) A DCOMP nº 09231.74003.270406.1.3.018112 foi retificada pela DCOMP nº 07978.09220.220410.1.7.019848. Esta última foi analisada e parcialmente homologada, restando quitado mediante pagamento a diferença do débito compensado, conforme telas extraídas dos sistemas RFB, juntadas ao processo. A DCOMP nº 07398.18112.270406.1.3.015150 foi retificada pela DCOMP nº 19917.09797.200410.1.7.012030. Esta última foi analisada e parcialmente homologada, restando quitado mediante pagamento a diferença do débito compensado, conforme telas extraídas dos sistemas RFB, juntadas ao processo. Com a resposta positiva ao quesito, fica ratificado o procedimento da recorrente, destacandose, por relevante, que estas duas DCOMP (posteriormente retificadas, mas igualmente homologadas) referemse exatamente à compensação da estimativa de março/2006 com crédito de IPI (ressarcimento) que a recorrente possuía e utilizou para compensar parte do débito. As informações relativas quesito “c”5 vinculamse com a posição final do IRPJ devido em 31/12/2006 e sua contraposição com os recolhimentos/compensações de estimativas e outras deduções legais permitidas (PAT/PDTI, etc.) e se tal saldo remanescente restaria adimplido. Ou seja, cuidase do valor devido no “ajuste anual”. Segundo a DIPJ do período, Ficha 12A (fls. 825), os valores estão assim retratados: b) se as DCOMP nºs 09231.74003.270406.1.3.018112 e 07398.18112.270406.1.3.015150) foram homologadas, ou não ( fls. 28/29)”; 5 “(...) propugno pela conversão do julgamento em diligência, para que a unidade de origem da RFB, no caso a DRF/Nova Iguaçu, à luz da escrituração contábil da contribuinte, apure: (...) c) se houve adimplemento a maior ou indevido do IRPJ estimativa mensal do PA março/2006 e se o valor foi levado, ou não, para a declaração de ajuste desse anocalendário (se foi computado em eventual apuração de saldo de imposto a pagar ou a restituir)”; Fl. 885DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 886 17 De acordo com resposta da contribuinte, a quitação deste valor deuse da seguinte forma (planilha elaborada por esta Relatoria, à vista da informação de fls. 804 e dos lançamentos presentes no Livro Diário juntado aos autos – cf. fls. indicadas): DATA LACTO. FLS. AUTOS DATA PAGTO. MEIO DE PAGTO. VALOR 30/03/2007 784 30/03/2007 DARF 175.470,03 29/07/2007 785 30/07/2007 PER/DCOMP 6.821,08 01/08/2007 792 30/07/2007 PER/DCOMP 9.408,04 01/08/2007 792 30/07/2007 PER/DCOMP 6.791,47 29/09/2007 786 29/03/2007 PER/DCOMP 1.167,26 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 2.578,70 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 1.041,74 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 1.318,80 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 1.350,68 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 5.104,17 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 5.246,28 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 5.425,24 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 6.079,81 29/09/2007 786 30/03/2007 PER/DCOMP 6.215,95 29/09/2007 785 30/03/2007 PER/DCOMP 8.431,00 29/09/2007 785 30/03/2007 PER/DCOMP 22.819,98 29/09/2007 785 30/03/2007 PER/DCOMP 45.552,51 29/09/2007 785 30/03/2007 PER/DCOMP 55.504,83 30/03/2007 793/794 25/07/2007 PER/DCOMP 240.309,52 29/09/2007 785 29/03/2007 PER/DCOMP 12.055,34 TOTAL 618.692,43 Significa dizer que, admitidas como corretas as informações acima, o valor devido (residual) no ajuste anual corresponderia a R$ 618.692,41, estando totalmente resgatado. Destaquese, por relevante que, neste caso, o valor considerado das estimativas mensais (DIPJ Ficha 12A – Linha 16 – R$ 3.078.609,35) foi o somatório do informado na Ficha 11 da Declaração, consignandose no mês de março/2006 o importe de R$ 326.840,18 e não R$ 390.877,15: jan/06 234.134,64 fev/06 223.355,19 mar/06 326.840,18 abr/06 191.972,70 mai/06 221.685,51 jun/06 275.355,38 jul/06 307.741,40 ago/06 347.928,52 set/06 291.113,20 Fl. 886DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 887 18 out/06 206.212,15 nov/06 250.383,48 dez/06 201.887,00 TOTAL 3.078.609,35 Pois bem, se os valores “apurados e devidos” no final do exercício “fecham” quando contrapostos com as deduções legais e estimativas mensais e esta, no mês de março/2006, foi considerada como R$ 326.840,18 (ver acima), parece certo que a diferença entre este montante e o que foi pago/compensado pela recorrente no referido mês (R$ 390.877,15), ou seja, R$ 64.036,97 se constitui em legítimo indébito tributário, exteriorizado na forma de “direito creditório” e passível de restituição/compensação. É o que deflui dos autos e do resumo da posição final em 31/12/2006, conforme planilhas abaixo, da lavra deste Relator, à vista dos documentos acostados ao processo: 1. Com a estimativa informada na DIPJ: APURAÇÃO DO IRPJ EM 31/12/2006 CONSIDERANDO ESTIMATIVA DE MARÇO/2006 INFORMADA NA DIPJ 1. IRPJ DEVIDO À ALIQUOTA DE 15% 2.337.089,13 2. ADICIONAL DE IRPJ 1.534.059,42 3. TOTAL DO IRPJ APURADO (1 + 2) 3.871.148,55 () DEDUÇÕES 4. OPERAÇÕES DE CARÁTER ART./CULTURAL 84.552,00 5. PAT 57.989,00 6. IRRFONTE 31.305,79 7. ESTIMATIVAS MENSAIS 6 3.078.609,35 8. TOTAL DAS DEDUÇÕES (4 +5 + 6 + 7) 3.252.456,14 9. IRPJ A PAGAR AJUSTE ANUAL (3 8) 618.692,41 10. PAGTOS/COMPENSAÇÕES AJUSTE ANUAL 618.692,41 11. VALOR RESIDUAL A PAGAR (9 10) 0,00 2. Com a estimativa efetivamente paga/compensada: 6 Valor da estimativa considerado – R$ 326.840,18 Fl. 887DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 888 19 APURAÇÃO DO IRPJ EM 31/12/2006 CONSIDERANDO ESTIMATIVA MARÇO/2006 RECOLHIDA EM ABRIL/2006 1. IRPJ DEVIDO À ALIQUOTA DE 15% 2.337.089,13 2. ADICIONAL DE IRPJ 1.534.059,42 3. TOTAL DO IRPJ APURADO (1 + 2) 3.871.148,55 () DEDUÇÕES 4. OPERAÇÕES DE CARÁTER ART./CULTURAL 84.552,00 5. PAT 57.989,00 6. IRRFONTE 31.305,79 7. ESTIMATIVAS MENSAIS7 3.142.646,32 8. TOTAL DAS DEDUÇÕES (4 +5 + 6 + 7) 3.316.493,11 9. IRPJ A PAGAR AJUSTE ANUAL (3 8) 554.655,44 10. PAGTOS/COMPENSAÇÕES AJUSTE ANUAL 618.692,41 11. VALOR RESIDUAL A PAGAR (9 10) (64.036,97) Em resumo, se o débito do IRPJ do período, aí incluído o “ajuste anual” foi totalmente adimplido (planilha 1) nada haveria a ser recolhido. Entretanto, como foi recolhida/compensada a estimativa de março/2006 em valor maior que o devido, a recorrente passou a dispor de direito creditório (indébito) em face do Poder Público Federal no valor de R$ 64.036,97 (planilha 2). Até aqui, não há controvérsia, restando apenas aferir se o saldo a pagar apurado no ajuste anual (R$ 618.692,41) teria sido efetivamente recolhido/compensado como assenta a recorrente. Acerca desse ponto, a Informação Fiscal da diligência, depois de longo e detalhado trabalho de composição de valores e de compensações manejadas pela recorrente, resume o tema (fls. 860/863) nos seguintes termos, respondendo ao quesito “c” da Resolução (“se houve adimplemento a maior ou indevido do IRPJ estimativa mensal do PA março/2006 e se o valor foi levado, ou não, para a declaração de ajuste desse anocalendário (se foi computado em eventual apuração de saldo de imposto a pagar ou a restituir”): Quesito c) O contribuinte anexou tabela em que lista a forma de quitação das estimativas de IRPJ. Para efeito de verificação e batimento dos valores informados em DIPJ com aqueles declarados em DCTF, foi procedida a análise a seguir: (...) 7 Valor da estimativa considerado – R$ 64.036,97 Fl. 888DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 889 20 Assim, o total quitado na apuração anual é de R$ 620.133,30 (R$ 444.663,27 + R$ 175.470,03), sendo suficiente à quitação do IRPJ a pagar informado em DIPJ. No entanto, não será suficiente à quitação do IRPJ a pagar encontrado, considerando as DCOMP que não foram homologadas ou que se encontram inscritas em Dívida Ativa da União, posto que, uma vez considerado que houve DCOMP não homologadas e inclusive DCOMP cujo débito foi inscrito em DAU, o saldo de IRPJ a pagar seria de R$ 783.728,00. E ainda, caso considere a diferença de recolhimento requerida em DCOMP, o saldo de IRPJ a pagar passaria a ser de R$ 847.765,97, como já descrito. (...)”. Portanto, em relação ao saldo remanescente a pagar (ajuste anual – 31/12/2006 – R$ 618.692,41), a diligência conclui que, a princípio, o valor pago seria “suficiente à quitação do IRPJ a pagar informado em DIPJ”, deixando de sêlo quando se leva em conta compensações não homologadas ou já inscritas em dívida ativa. Com a devida vênia, não vejo como estas pendências das compensações utilizadas no ajuste anual possam afetar o valor de R$ 64.036,97, direito creditório aqui discutido, isto porque, tais compensações, se não homologadas, como algumas parecem não ter sido, permanecem em discussão em outros processos e, caso confirmado suas não ratificações, o crédito tributária já estará constituído (pelas DCOMP) e poderá ser objeto de execução pela Procuradoria Fazendária, não tendo qualquer relação com o direito creditório aqui discutido. Em outro dizer, a única ressalva feita pela Autoridade Fiscal relacionouse ao saldo do ajuste anual, não havendo qualquer contraposição ao montante sob questionamento nestes autos, ou seja, o eventual direito creditório de R$ 64.036,97, nascido de recolhimento/compensação (devidamente homologada) de estimativa de março de 2006 e incluído no cálculo do ajuste anual (R$ 326.840,18 frente a recolhimento/compensação de R$ 390.877,15). Nesse eito, a Informação Fiscal é clara ao definir que “fazendo uma análise restrita ao período de apuração de março, se for considerado somente o IRPJ referente à estimativa de março/2006, aceitando o erro material alegado pelo contribuinte no preenchimento da DCTF, considerando o valor de R$ 326.840,18, e tendo sido esse valor parcialmente quitado através de duas DCOMP que remontam: 141.163,52, que foram homologadas, resta a pagar somente R$ 185.676,66. Uma vez que o valor recolhido foi de R$ 249.713,63, restaria o valor de R$ 64.036,97”. (destacouse). A propósito e por relevante, impende registrar que situação fática do mesmo teor já foi enfrentada profundamente pela então Conselheira Edeli Pereira Bessa (Ac. 1101 000.330 – 09/07/2010) valendo a reprodução de excertos de seu esclarecedor voto naqueles autos, em tudo aqui aplicáveis (os destaques foram acrescidos por este Relator): “Relativamente aos indébitos de estimativas, não vejo como tratar a restrição inserta a partir da Instrução Normativa SRF n° 460/2004 como procedimental. Não vislumbro espaço para a Administração Tributária definir, para além das normas que estabelecem a incidência do IRPJ ou da CSLL, em qual momento é possível pleitear a restituição ou compensar um recolhimento indevido decorrente de erro na determinação ou recolhimento de estimativas. (...) Fl. 889DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 890 21 Concordo que há questões de ordem operacional que merecem a atenção da Administração Tributária, especialmente quanto a eventuais abusos na alegação de indébitos desta natureza, com vistas a antecipar a utilização de saldo negativo que somente se formaria ao final do anocalendário. Todavia, como já conclui em voto anterior apresentado a esta Turma, confrontando as disposições normativas e o conteúdo da Lei n° 9.430/96, tenho que a supressão da vedação veiculada com a Instrução Normativa RFB n° 900/2008 melhor se adequou à sistemática de apuração anual do IRPJ e da CSLL. Transcrevo, a seguir, minha manifestação acerca da matéria: (...) Eventualmente a contribuinte pode, por facilidade operacional, computar estimativas recolhidas indevidamente na formação do saldo negativo, mas este procedimento em nada prejudica o Fisco, na medida em que desloca para momento futuro a data de formação do indébito e assim reduz os juros de mora sobre ele aplicáveis. Por outro lado, se a contribuinte erra ao calcular ou recolher a estimativa mensal, não vejo, ante o contexto que expus, obstáculo legal ao pedido de restituição ou à compensação deste indébito antes de seu prévio cômputo na apuração ao final do anocalendário. Comprovado o erro e, por conseqüência, o indébito, o pedido de restituição ou a declaração de compensação já podem ser apresentados, incorrendo juros de mora contra a Fazenda a partir do mês subseqüente ao do pagamento a maior, na forma do art. 39, § 4° da Lei n" 9,250/95 c/c art. 73 da Lei n° 9.532/97. Em conseqüência, por ocasião do ajuste anual, o contribuinte deve confrontar, apenas, as estimativas que considerou devidas, sob pena de duplo aproveitamento do mesmo crédito. Ainda, ao interpretar que somente as estimativas devidas na forma da Lei n° 9.430/96 são passíveis de dedução na apuração anual do IRPJ ou. da CSLL, concluo que, mesmo após o encerramento do anocalendário, se o contribuinte identificar um erro em sua apuração e ele repercutir não só em sua apuração final, mas também no resultado de seus balancetes de suspensão/redução, tem ele o direito de pleitear o indébito na data do recolhimento da estimativa correspondente, ao invés de apenas reconstituir a apuração anual do IRPJ ou da CSLL. Esta interpretação, friso, tem por pressuposto a ocorrência de erro no cálculo ou no recolhimento da estimativa. Não está aqui abarcada a mudança de opção quanto à sistemática de cálculo das estimativas, formalizada definitivamente quando o contribuinte determina o valor inicialmente recolhido com base na receita bruta e acréscimos ou em balancetes de suspensão/redução”. Ora, no caso aqui tratado, como no acórdão adotado, i) a contribuinte não modificou em nenhum momento a sua forma de apuração (mantevese estável nos doze meses com base na “receita bruta e acréscimos” e, ii) comprovouse o erro no cálculo e/ou no recolhimento do mês de março/2006. Mais a mais, a matéria, por força de reiteradas decisões das diversas Turmas do Colegiado (dentre elas, além da acima citada, os Acórdãos nº 120100.404, de 23/2/2011; Fl. 890DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 891 22 nº 120200.458, de 24/1/2011; nº 910100.406, de 02/10/2009 e nº 10515.943, de 17/8/2006), acabou por ser sistematizada pela Súmula CARF nº 84: Súmula CARF nº 84: Pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação. Nestas condições, considerando i) que, caso as compensações utilizadas para quitação do valor devido de IRPJ no ajuste anual (R$ 618.692,41) venham a ser, total ou parcialmente, não homologadas, o crédito tributário de responsabilidade da recorrente já estará declarado e consequentemente constituído, não afetando o direito creditório aqui discutido; ii) que, restando comprovado o alegado erro material de preenchimento da DCTF é cabível a restituição ou devolução/aproveitamento do excesso do pagamento mensal por antecipação do referido período de apuração, nos termos da Súmula CARF nº 84; e, iii) o que mais consta nos autos e com suporte na conclusão da diligência, fonte de que deve se fiar o julgador (conforme pacificado no CARF)8 e nos documentos com ela juntados, entendo comprovado o equívoco no preenchimento da DCTF e confirmado o “erro material” alegado. Pelo exposto, VOTO no sentido de DAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário ofertado pela recorrente para RECONHECER o indébito de R$ 64.036,97 e HOMOLOGAR a compensação aqui discutida, até o limite do direito creditório aqui reconhecido. É como voto. Brasília (DF), em 21 de fevereiro de 2018. (assinado digitalmente) 8 Processo nº 10580.011166/200200 Acórdão nº 110100008 – Sessão de 11/03/2009 – Relator Valmir Sandri Decisão – Provimento parcial ao recurso para reduzir a matéria tributável para (...) valor apurado na diligência fiscal. RECOMPOSIÇÃO DE BASES A diligência fiscal resultou em recomposição das bases tributáveis objeto do lançamento. O julgamento administrativo é norteado pelo Princípio da Verdade Material, constituindose em dever do Julgador Administrativo a sua busca incessante. Adequação do lançamento de acordo com ajustes reconhecidos pela própria autoridade fiscal em diligência realizada. Fl. 891DF CARF MF Processo nº 10735.904263/200903 Acórdão n.º 1402002.903 S1C4T2 Fl. 892 23 Paulo Mateus Ciccone Fl. 892DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11891.000024/2007-72
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 31 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Feb 21 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 09/02/2006
CONCOMITÂNCIA. RENÚNCIA À ESFERA ADMINISTRATIVA. NULIDADE. FALTA DE APRECIAÇÃO. IMPROCEDENTE.
Súmula CARF nº 1: Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial.
Recurso Voluntário Negado. Crédito Tributário Mantido.
Numero da decisão: 3302-005.154
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer parcialmente do recurso voluntário e, na parte conhecida, em negar-lhe provimento.
(assinatura digital)
Paulo Guilherme Déroulède - Presidente
(assinatura digital)
Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza - Relatora
Participaram do julgamento os Conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), José Fernandes do Nascimento, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, José Renato Pereira de Deus, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Jorge Lima Abud, Diego Weis Júnior e Walker Araujo.
Nome do relator: SARAH MARIA LINHARES DE ARAUJO PAES DE SOUZA
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RENÚNCIA À ESFERA ADMINISTRATIVA. NULIDADE. FALTA DE APRECIAÇÃO. IMPROCEDENTE. Súmula CARF nº 1: Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. Recurso Voluntário Negado. Crédito Tributário Mantido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer parcialmente do recurso voluntário e, na parte conhecida, em negarlhe provimento. (assinatura digital) Paulo Guilherme Déroulède Presidente (assinatura digital) Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza Relatora Participaram do julgamento os Conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), José Fernandes do Nascimento, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, José Renato Pereira de Deus, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Jorge Lima Abud, Diego Weis Júnior e Walker Araujo. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 89 1. 00 00 24 /2 00 7- 72 Fl. 148DF CARF MF 2 Relatório Por bem transcrever os fatos e ser sintético, adotase o relatório da DRJ/Florianópolis, fls. 118 e seguintes1: Trata o presente processo de autos de infração lavrados em 25/01/2007 (folhas 02 a 11) para constituição e exigência de crédito tributário no valor total de R$29.052,69, referentes ao IPI Imposto sobre Produtos Industrializados, contribuições PIS/Pasepimportação e Cofinsimportação e juros de mora. Depreendese da descrição dos fatos e enquadramento legal do auto de infração que a interessada submeteu a despacho de importação mercadorias amparada pela Declarações de Importação DI nº 06/01622248 e nº 06/01622426, ambas registradas em 09/02/2006. Conforme despacho às folhas 49, as citadas Declarações de Importação foram registradas sob o amparo de depósito em juízo do montante integral do crédito, conforme processo judicial n° 2005.38.00.0457803 da 14ª Vara da Justiça Federal de 1º Grau em Minas Gerais. De acordo com comprovantes às folhas 43 e 44, os depósitos foram efetuados no dia seguinte ao registro da DI, em 10/02/2006. De acordo com a certidão da 7ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais, constante às folhas 36, a Inicial, que visava o desembaraço aduaneiro das mercadorias regularmente importadas com amparo das DIs em referência, teve pedido liminar indeferido e Agravo de instrumento interposto negado. Mediante depósito judicial, decisão deferiu a liminar, autorizando a liberação das mercadorias. O crédito tributário foi lançado através do presente Auto de Infração e está com a exigibilidade suspensa face ao Depósito em Juízo do Montante Integral do tributo em questão, conforme processo judicial em referência (art. 151, inciso II do Código Tributário Nacional). Considerando que a liminar em tela não se constitui em instrumento hábil para suspender a exigência dos tributos em despacho foram lavrados os autos de infração do presente processo para constituição e exigência dos tributos, acompanhada de juros de mora até a data da lavratura das autuações. Cientificada a interessada apresentou impugnação na qual alega, em síntese: que se realizou o depósito judicial da quantia de R$26.091,45. consoante se depreende dos Darfs em anexo, não faz sentido a presente autuação, pois tal depósito equivale ao pagamento integral da exação, e mesmo que haja sucumbência da autuada nos autos do Mandado de Segurança nº 2005.38.00.0457803, o depósito será convertido em renda da União. 1 Todas as páginas, referenciadas no voto, correspondem ao eprocesso. Fl. 149DF CARF MF Processo nº 11891.000024/200772 Acórdão n.º 3302005.154 S3C3T2 Fl. 3 3 que através do Mandado de Segurança no 2003.51.03.002947 7 distribuído junto à 2ª Vara Federal de Campos dos Goytacazes, a Defendente pleiteou a suspensão da exigibilidade do credito tributário referente à COFINS (art. 56 da Lei 9.430/96), bem como a autorização para efetuar a compensação das parcelas recolhidas indevidamente. ao estar vedada ao direito de apresentar a declaração de compensação em relação aos tributos e contribuições incidentes no registro da importação, se viu compelida diretamente a pagar os referidos tributos incidentes no desembaraço da mercadoria. Requer a impugnante: a) seja cancelado o auto de infração aqui impugnado, uma vez que o valor integral da exigência fiscal está depositado judicialmente, e que faz com que mesmo que tenha sua pretensão negada ao final do julgamento do aludido processo, não incidam multa ou juros sobre o valor já depositado; b) alternativamente, ad argumentandun, seja transitado em julgado decisão desfavorável ao contribuinte, SEM ANALISADA A PRESENTE DEFESA, haja vista os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, bem como os depósitos judiciais efetuados, no valor lançado pelo presente auto; c) que após a análise das questões de mérito seja homologado o desembaraço aduaneiro das máquinas descritas originariamente nas LI nº 05/20131506 e nº 05/20131514, sem os valores do IPI, PIS e COFINS incidentes na operação de importação com a conseqüente baixa no Débito e arquivamento do Processo Administrativo. A DRJ/Florianópolis reconheceu de forma parcial a impugnação e, na parte, conhecida julgou improcedente, vide ementa abaixo: ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Data do fato gerador: 09/02/2006 AÇÃO JUDICIAL. EFEITOS. LANÇAMENTO DESTINADO A PREVENIR DECADÊNCIA. FORMALIZAÇÃO CABÍVEL. RENÚNCIA À INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA. A discussão da matéria tributável na esfera judicial não elide o dever da autoridade administrativa de constituir o crédito tributário. A propositura de qualquer ação judicial anterior, concomitante ou posterior a procedimento fiscal, com o mesmo objeto do lançamento, importa em renúncia ou desistência à apreciação da mesma matéria na esfera administrativa. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. CONSTITUIÇÃO. AÇÃO JUDICIAL. As matérias submetidas à via judicial devem ter o crédito tributário lançado, pois a atividade do lançamento é obrigatória e vinculada em relação à autoridade fiscal. Fl. 150DF CARF MF 4 JUROS DE MORA. EXIGIBILIDADE. São inexigíveis os juros de mora em lançamento com a exigibilidade suspensa na hipótese de depósito do montante integral. A contribuinte então apresentou Recurso Voluntário, questionando sobre a existência de depósito integral e seus efeitos, bem como a respeito da inconstitucionalidade do ICMS na base de cálculo do PISimportação e COFINSimportação. É o relatório. Voto Conselheira Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza, Relatora. 1. Dos requisitos de admissibilidade O Recurso Voluntário foi apresentado de modo tempestivo, a ciência do acórdão ocorreu em 23 de junho de 2015, fls. 128, e o recurso foi protocolado em 14 de julho de 2015, fls. 131. Tratase, portanto, de recurso tempestivo e de matéria que pertence a este colegiado. 2. Da concomitância e da circunscrição da lide administrativa A Recorrente impetrou mandado de segurança a fim de discutir a incidência de tributos na importação, questionando em sede de Recurso Voluntário sobre a lavratura de auto de infração, já que há depósito em juízo do montante integral e sobre a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo do PISimportação e COFINS importação É certo que quando o contribuinte opta pela esfera judicial, automaticamente, ele renuncia à esfera administrativa, vide súmula Carf: Súmula CARF nº 1: Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. No mesmo sentido, vide o Decreto nº 7574/2011: Decreto nº 7574/2011 Art. 87. A existência ou propositura, pelo sujeito passivo, de ação judicial com o mesmo objeto do lançamento importa em renúncia ou em desistência ao litígio nas instâncias administrativas (Lei no 6.830, de 1980, art. 38, parágrafo único). Parágrafo único. O curso do processo administrativo, quando houver matéria distinta da constante do processo judicial, terá prosseguimento em relação à matéria diferenciada. Fl. 151DF CARF MF Processo nº 11891.000024/200772 Acórdão n.º 3302005.154 S3C3T2 Fl. 4 5 Esta turma já decidiu nos seguintes termos, vide acórdão nº 3302002.957, Relatora Maria do Socorro Ferreira Aguiar: ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS Período de apuração: 01/05/1992 a 31/12/1995 AÇÃO JUDICIAL. CONCOMITÂNCIA DE PEDIDO. RENÚNCIA À INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA. DEFINITIVIDADE DA EXIGÊNCIA. A opção pela via judicial quanto ao questionamento da incidência do IPI sobre os cartões com tarja magnética importa renúncia à instância administrativa, tornando definitiva, nesta esfera, a discussão da matéria sub judice. DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. PROVIDÊNCIAS DE COMPETÊNCIA DA UNIDADE. Existindo decisão judicial transitada em julgado, favorável ao contribuinte, declarando a não ocorrência do fato gerador do IPI, compete à unidade as providências no âmbito de sua competência. No caso em análise, somente se conhece do questionamento da lavratura do auto de infração em razão da existência do depósito em juízo do montante integral, pois tal matéria não é concomitante com a lide judicial. 3. Do depósito em juízo do montante integral A Recorrente insurgese contra os autos de infrações, pleiteando pelo cancelamento, pois há depósito do montante integral, o que acarreta a suspensão da exigibilidade. Quanto à matéria do depósito integral, o Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou em 2010 em sede de repetitivo: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. AÇÃO ANTIEXACIONAL ANTERIOR À EXECUÇÃO FISCAL. DEPÓSITO INTEGRAL DO DÉBITO. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO (ART. 151, II, DO CTN). ÓBICE À PROPOSITURA DA EXECUÇÃO FISCAL, QUE, ACASO AJUIZADA, DEVERÁ SER EXTINTA. 1.O depósito do montante integral do débito, nos termos do artigo 151, inciso II, do CTN, suspende a exigibilidade do crédito tributário, impedindo o ajuizamento da execução fiscal por parte da Fazenda Pública. (...) 2. É que as causas suspensivas da exigibilidade do crédito tributário (art. 151 do CTN) impedem a realização, pelo Fisco, Fl. 152DF CARF MF 6 de atos de cobrança, os quais têm início em momento posterior ao lançamento, com a lavratura do auto de infração. 3. O processo de cobrança do crédito tributário encarta as seguintes etapas, visando ao efetivo recebimento do referido crédito: a) a cobrança administrativa, que ocorrerá mediante a lavratura do auto de infração e aplicação de multa: exigibilidade autuação; b) a inscrição em dívida ativa: exigibilidadeinscrição; c) a cobrança judicial, via execução fiscal: exigibilidade execução. 4. Os efeitos da suspensão da exigibilidade pela realização do depósito integral do crédito exequendo, quer no bojo de ação anulatória, quer no de ação declaratória de inexistência de relação jurídicotributária, ou mesmo no de mandado de segurança, desde que ajuizados anteriormente à execução fiscal, têm o condão de impedir a lavratura do auto de infração, assim como de coibir o ato de inscrição em dívida ativa e o ajuizamento da execução fiscal, a qual, acaso proposta, deverá ser extinta. 5. A improcedência da ação antiexacional (precedida do depósito do montante integral) acarreta a conversão do depósito em renda em favor da Fazenda Pública, extinguindo o crédito tributário, consoante o comando do art. 156, VI, do CTN, na esteira dos ensinamentos de abalizada doutrina, verbis: (...) 6. In casu, o Tribunal a quo, ao conceder a liminar pleiteada no bojo do presente agravo de instrumento, consignou a integralidade do depósito efetuado, às fls. 77/78: (...) 7. A ocorrência do depósito integral do montante devido restou ratificada no aresto recorrido, consoante dessumese do seguinte excerto do voto condutor, in verbis: (...) 8. In casu, o Município recorrente alegou violação do art. 151, II, do CTN, ao argumento de que o depósito efetuado não seria integral, posto não coincidir com o valor constante da CDA, por isso que inapto a garantir a execução, determinar sua suspensão ou extinção, tese insindicável pelo STJ, mercê de a questão remanescer quanto aos efeitos do depósito servirem à fixação da tese repetitiva. 9. Destarte, ante a ocorrência do depósito do montante integral do débito exequendo, no bojo de ação antiexacional proposta em momento anterior ao ajuizamento da execução, a extinção do executivo iscal é medida que se impõe, porquanto suspensa a exigibilidade do referido crédito tributário. Fl. 153DF CARF MF Processo nº 11891.000024/200772 Acórdão n.º 3302005.154 S3C3T2 Fl. 5 7 10. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543C do CPC e da Resolução STJ 08/2008." (grifos não constam no original) (STJ; REsp 1.140.956/SP; Relator: Ministro Luiz Fux; Data da sessão: 24.11.2010) Em consulta ao sítio eletrônico da Justiça Federal de Minas Gerais em relação aos autos de mandado de segurança, autos 2005.38.00.0457803, em trâmite na 7ª Vara Federal de Belo Horizonte, não há a informação de conversão do depósito em renda da União, assim, isso gera uma dúvida quanto à hipótese de ter ocorrido ou não levantamento dos valores por parte da contribuinte. Até poderseia aplicar o repetitivo em questão, mas, por uma questão de cautela, e já que não haverá qualquer tipo de prejuízo à Recorrente, pois quando houver a referida conversão, haverá o cancelamento do auto, deixase de aplicar o precedente do Superior Tribunal de Justiça. 3. Conclusão Diante do exposto, conheço, parcialmente, do recurso voluntário e, na parte conhecida, nego provimento. Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza Fl. 154DF CARF MF
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Numero do processo: 10140.722271/2014-82
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 17 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Mar 14 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2013
NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
Tendo sido o auto de infração lavrado por autoridade competente, observados os requisitos previstos na legislação que rege o processo administrativo tributário, e não demonstrado óbice ao pleno exercício do direito de defesa, não há que se falar em nulidade do lançamento.
AÇÃO JUDICIAL. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO.
A existência de ação judicial não transitada em julgado implica em renúncia ao contencioso administrativo no tocante à matéria em que os pedidos - administrativo e judicial - são idênticos, devendo o julgamento ater-se à matéria remanescente, caso haja. Nos termos da Súmula CARF nº 1.
AÇÃO JUDICIAL. PREVENÇÃO DE DECADÊNCIA.
Nos termo do artigo 63 da Lei 9.430/96, é permitida a constituição do crédito tributário para garantir a exigibilidade das contribuições previdenciárias previstas no artigo 25, inciso I da Lei nº 8.212/91, discutidas no âmbito judicial, com o fito de prevenir decadência.
PRODUTOR RURAL PESSOA FÍSICA. SUBROGAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SOBRE A RECEITA BRUTA DA PESSOA JURÍDICA ADQUIRENTE.
São devidas pelo produtor rural pessoa física empregador e pelo segurado especial as contribuições incidentes sobre a receita bruta proveniente da comercialização de sua produção rural, ficando a pessoa jurídica adquirente responsável pela retenção e recolhimento dessas contribuições em virtude da sub-rogação a que está legalmente obrigado.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. Nos termos da Súmula CARF nº 2, este Colegiado não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
Numero da decisão: 2401-005.197
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade, em conhecer do recurso voluntário, rejeitar a preliminar e, no mérito, negar-lhe provimento..
(assinado digitalmente)
Cleberson Alex Friess Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Luciana Matos Pereira Barbosa - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Cleberson Alex Friess, Andréa Viana Arrais Egypto, Luciana Matos Pereira Barbosa, Virgilio Cansino Gil e Rayd Santana Ferreira. Ausentes os Conselheiros Miriam Denise Xavier e Francisco Ricardo Gouveia Coutinho.
Nome do relator: LUCIANA MATOS PEREIRA BARBOSA
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INEXISTÊNCIA. Tendo sido o auto de infração lavrado por autoridade competente, observados os requisitos previstos na legislação que rege o processo administrativo tributário, e não demonstrado óbice ao pleno exercício do direito de defesa, não há que se falar em nulidade do lançamento. AÇÃO JUDICIAL. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO. A existência de ação judicial não transitada em julgado implica em renúncia ao contencioso administrativo no tocante à matéria em que os pedidos administrativo e judicial são idênticos, devendo o julgamento aterse à matéria remanescente, caso haja. Nos termos da Súmula CARF nº 1. AÇÃO JUDICIAL. PREVENÇÃO DE DECADÊNCIA. Nos termo do artigo 63 da Lei 9.430/96, é permitida a constituição do crédito tributário para garantir a exigibilidade das contribuições previdenciárias previstas no artigo 25, inciso I da Lei nº 8.212/91, discutidas no âmbito judicial, com o fito de prevenir decadência. PRODUTOR RURAL PESSOA FÍSICA. SUBROGAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SOBRE A RECEITA BRUTA DA PESSOA JURÍDICA ADQUIRENTE. São devidas pelo produtor rural pessoa física empregador e pelo segurado especial as contribuições incidentes sobre a receita bruta proveniente da comercialização de sua produção rural, ficando a pessoa jurídica adquirente AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 14 0. 72 22 71 /2 01 4- 82 Fl. 190DF CARF MF 2 responsável pela retenção e recolhimento dessas contribuições em virtude da subrogação a que está legalmente obrigado. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. Nos termos da Súmula CARF nº 2, este Colegiado não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade, em conhecer do recurso voluntário, rejeitar a preliminar e, no mérito, negarlhe provimento.. (assinado digitalmente) Cleberson Alex Friess – Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Luciana Matos Pereira Barbosa Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Cleberson Alex Friess, Andréa Viana Arrais Egypto, Luciana Matos Pereira Barbosa, Virgilio Cansino Gil e Rayd Santana Ferreira. Ausentes os Conselheiros Miriam Denise Xavier e Francisco Ricardo Gouveia Coutinho. Fl. 191DF CARF MF Processo nº 10140.722271/201482 Acórdão n.º 2401005.197 S2C4T1 Fl. 3 3 Relatório Contra o contribuinte em epígrafe fora lavrado o presente Auto de Infração (DEBCAD nº 51.062.8222 – fl. 06), relativo às contribuições devidas à Seguridade Social, da parte da empresa (2%), devidas, por subrogação, pelo adquirente de produto rural de produtor rural pessoa física, no montante de R$ 3.123.809,04 (três milhões, cento e vinte e três mil e oitocentos e nove reais e quatro centavos), incluindo juros e multa, relativo às competências 01/2012 a 12/2013, consolidado em 14/10/2014. De acordo com a Fiscalização (fls. 18/20), constituem fatos geradores das contribuições lançadas os valores da comercialização de produção rural, referentes às operações de aquisição de produto rural de produtores rurais pessoas físicas. O Relatório Fiscal destaca o seguinte: O Sujeito Passivo ajuizou ação judicial n° 008173873.2013.4.01.3400, 20ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, pleiteando a declaração incidental de inconstitucionalidade do art. 25 da Lei n° 8.212/91. Após sentença desfavorável relativa ao pedido de antecipação de tutela, impetrou agravo de instrumento no TRF da Primeira Região (processo n° 001378306.2014.4.01.0000). Em decisão proferida pelo Des. Clodomir Roberto Veloso, foi deferida parcialmente a antecipação da tutela recursal para suspender a exigibilidade apenas da contribuição prevista no art. 25, inciso I, da Lei 8.212/91, conforme cópia em anexo (Resposta ao TIPF); Desta forma, os créditos previdenciários lançados encontramse com sua exigibilidade suspensa nos termos do inciso V, art. 151, do Código Tributário Nacional – CTN; As bases de cálculo lançadas foram os valores mensais de aquisição de produção rural, de produtores rurais pessoas físicas, apurados nas Notas Fiscais eletrônicas de entrada, emitidas pelo Sujeito Passivo; As Tabelas 01 e 02, item 2.4.3. do Relatório Fiscal, apresentam os valores das referidas Notas Fiscais, que foram obtidas diretamente no Sistema Público de Escrituração Digital – SPED; As contribuições ora lançadas e os respectivos fatos geradores não foram declarados na Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social GFIP. Diante disto, foi lavrada Representação Fiscal para Fins Penais, tendo em vista que os fatos apurados configuram, em tese, o crime previsto no inciso III, artigo 337A, do DecretoLei n° 2.848/40. Fl. 192DF CARF MF 4 A situação descrita ensejou a emissão de Representação Fiscal para Fins Penais – RFFP, com comunicação à Autoridade competente, da prática, em tese do crime. Devidamente cientificada em 22/10/2014, fl. 07, a Interessada apresentou, tempestivamente, em 21/11/2014, por meio de seu procurador, a impugnação (fls. 82/102), alegando, resumidamente, o que segue: (i) Que o AI 51.062.8222 padece de vício material, devendo ser declarado nulo, pois, ao contrário do mencionado no item 1.3 do Relatório Fiscal, o Contribuinte não atua na atividade de transporte rodoviário de cargas. A Alteração Contratual anexada comprova esta afirmação. (ii) No tocante à ação judicial ajuizada pelo contribuinte, autos 0081738 73.2013.4.01.3400, com liminar obtida via Agravo de Instrumento autos 0013783 06.2014.4.01.0000, observase que se trata de Ação Declaratória, com liminar concedida em 20/03/2014, enquanto o presente auto de infração versa sobre o período de 01/2012 a 12/2013. Assim, é plenamente possível e pertinente a discussão do crédito lançado no AI 51.062.8222 pela via administrativa. (iii) Com relação aos AI´s 51.062.8230 (RAT) e 51.062.8249 (SENAR), informa que dentro do prazo legal efetuou o parcelamento dos débitos, conforme documentos anexos. Desta forma, estes autos de infração devem ser desconsiderados e excluídos do debate, sob pena de exigência em duplicidade. (iv) Da Inconstitucionalidade da Contribuição Social Rural Discorre sobre a contribuição que vem sendo cobrada a título de FUNRURAL, enfatizando sua inconstitucionalidade. Cita novamente o RE 363852, onde o STF apontou a inconstitucionalidade da exação. (v) Da Supressão da Contribuição Social Rural Traça o histórico do PRORURAL, e suas duas fontes de custeio: contribuição do produtor rural sobre o valor comercial dos produtos rurais, e contribuição sobre a folha de salários devidas pelas empresas. Apresenta farta jurisprudência. Conclui que diante de tudo o que se afirmou, não são devidas mais as alíquotas referentes ao FUNRURAL (2,3% no que tange o percentual de 2,1%) e nem as sobre o valor comercial dos produtos rurais, ambas previstas no artigo 15 da Lei Complementar 11/77, tendo em visita que a primeira (inciso II, do art. 15, da LC nº 11/71) foi suprimida pelo art. 3º, § 1º da Lei 7.787/89, uma vez que integrada pela alíquota de 20% (vinte por cento) prevista no inciso I do artigo supracitado. E a segunda (inciso I, do art. 15, da LC n° 11/71) foi extinta com a edição da Lei n° 8.213/91, em seu art. 138. (vi) Do Posicionamento do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal Menciona o Recurso Especial nº 445.096 e o Recurso Extraordinário nº 363.852/MG, e reafirma a inexigibilidade da contribuição em epígrafe. (vii) Da Repercussão Geral e dos Recursos Repetitivos Discorre sobre a repercussão geral, criada pela Emenda Constitucional nº 45/04, apoiandose em renomado jurista. Transcreve os artigos 543A e 543B do Código de Processo Civil. Na sequência, aborda os recursos repetitivos, artigo 543C do Código de Processo Civil. Transcreve julgados do CARF. Fl. 193DF CARF MF Processo nº 10140.722271/201482 Acórdão n.º 2401005.197 S2C4T1 Fl. 4 5 Destaca que embora tais decisões tenham a natureza de produzir efeitos apenas inter partes, não há como negar que, por tabela, elas acabam por produzir efeitos erga omnes, uma vez que qualquer pessoa que tiver relação jurídica de venda de produto com empresas desobrigadas da sub rogação por tais decisões, estarão contempladas pelos efeitos dos referidos julgados. Deste modo, em respeito aos princípios constitucionais da igualdade, isonomia e economia processual, o Impugnante deve ter reconhecido em seu favor a inexigibilidade do dever de subrogação da retenção e do recolhimento da contribuição sobre a produção rural. (viii) Dos pedidos Por todo o exposto, requer que seja acatada a preliminar argüida, declarandose a nulidade do Relatório Fiscal e do Auto de Infração, com a conseqüente extinção do lançamento. Caso seja superada a preliminar, e demonstrada a inconstitucionalidade da cobrança, requer que seja declarada a improcedência da ação fiscal, e cancelado o débito fiscal reclamado. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo (SP) lavrou Decisão Administrativa textualizada no Acórdão nº 1669.714 da 14ª Turma da DRJ/SPO, às fls. 138/153, não conheceu de parte da impugnação objeto de ação judicial concomitante e julgou improcedente a impugnação no que se refere às matérias em que não houve renúncia ao contencioso administrativo, mantendo o crédito tributário exigido em sua integralidade. Recordese: “ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2013 NULIDADE. INOCORRÊNCIA. O Auto de Infração encontrase revestido das formalidades legais, apresentando adequada motivação jurídica e fática, bem como os pressupostos de liquidez e certeza, não havendo que se falar em sua nulidade. AÇÃO JUDICIAL E IMPUGNAÇÃO ADMINISTRATIVA. MATÉRIA IDÊNTICA RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO. MATÉRIA DISTINTA APRECIAÇÃO E JULGAMENTO ADMINISTRATIVO. A existência de ação judicial não transitada em julgado implica renúncia ao contencioso administrativo no tocante à matéria em que os pedidos administrativo e judicial são idênticos, devendo o julgamento aterse à matéria diferenciada. Por força do princípio da unidade jurisdicional, a decisão judicial é soberana e sobrepõese a qualquer manifestação administrativa eventualmente produzida, de forma que, nos casos de partes e objetos idênticos, se opera a renuncia à discussão administrativa. No entanto, as discussões suscitadas apenas no âmbito administrativo deverão ter seu prosseguimento normal, Fl. 194DF CARF MF 6 com a finalidade de garantir ao contribuinte o contraditório e a ampla defesa. AÇÃO JUDICIAL. PREVENÇÃO DA DECADÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE ÓBICE AO LANÇAMENTO. A existência de ação judicial não transitada em julgado, acerca da exigibilidade das contribuições previdenciárias previstas no art. 25, inciso I da Lei nº 8.212/91 implica a constituição do crédito tributário correspondente, com o fito de se prevenir a decadência, não havendo decisão que proíba tal procedimento. ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE E ILEGALIDADE. INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação, ou deixar de observar lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade, cujo reconhecimento encontrase na esfera de competência do Poder Judiciário. As decisões judiciais em recursos repetitivos ou repercussão geral demandam edição de ato administrativo pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional para ter efeitos cogentes à administração tributária. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido” Inconformada com a decisão exarada pelo órgão julgador a quo, a Recorrente interpôs Recurso Voluntário às fls. 161/183, reprisando os mesmos argumentos já lançados em sua peça de impugnação. É o relatório. Fl. 195DF CARF MF Processo nº 10140.722271/201482 Acórdão n.º 2401005.197 S2C4T1 Fl. 5 7 Voto Conselheira Luciana Matos Pereira Barbosa – Relatora 1. DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE A Recorrente foi cientificada da r. decisão em debate no dia 30/07/2015 conforme fl. 159, e o presente Recurso Voluntário foi apresentado, TEMPESTIVAMENTE, no dia 28/08/2015 (fl. 187), razão pela qual CONHEÇO DO RECURSO já que presentes os requisitos de admissibilidade. 2. DO MÉRITO Conforme relatado, a Recorrente, reprisa os mesmos argumentos lançados em sua peça de Impugnação, sem expor claramente os fundamentos da pretensão à reforma. Todavia, extraise que, no mérito, a Recorrente discorre acerca da ilegalidade da exigência formulada contra o adquirente da produção rural, por subrogação nas obrigações do produtor rural empregador pessoa física. Sustenta a inconstitucionalidade dos incisos I e II do artigo 25 da Lei nº 8.212/91, matéria já enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal (RE 363.852/MG). Discorre sobre o tema demonstrando que embora o caput do artigo 25 esteja em consonância com o ordenamento vigente, seus incisos padecem do vício da inconstitucionalidade, pois veiculados por lei ordinária quando o texto Constitucional então vigente exigia lei complementar. Reforça, neste sentido, com a transcrição do julgamento do RE 363.852/MG pela Suprema Corte, articulando que somente o caput do referido artigo não legitima a cobrança da contribuição em debate, nem a Emenda Constitucional nº 20/1998 convalida o vício que teve origem em lei outrora declarada inconstitucional. Noticia, em acréscimo, que o § 2º do referido art. 25 já havia sido declarado inconstitucional e pacificado, no mesmo sentido, pelo CARF. Sem razão. O Sujeito Passivo ajuizou ação judicial n° 008173873.2013.4.01.3400, 20ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, pleiteando a declaração incidental de inconstitucionalidade do art. 25 da Lei n° 8.212/91. Após sentença desfavorável relativa ao pedido de antecipação de tutela, impetrou agravo de instrumento no TRF da Primeira Região (processo n° 001378306.2014.4.01.0000). Em decisão proferida pelo Des. Clodomir Roberto Veloso, foi deferida parcialmente a antecipação da tutela recursal para suspender a exigibilidade apenas da contribuição prevista no art. 25, inciso I, da Lei 8.212/91. Conforme já esclarecido na instância a quo e previsto na Súmula CARF nº 1, importa em renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o Fl. 196DF CARF MF 8 mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. A existência de ação judicial não transitada em julgado implica renúncia ao contencioso administrativo no tocante à matéria em que os pedidos administrativo e judicial são idênticos, devendo o julgamento aterse à matéria diferenciada. Nesse diapasão, por força do princípio da unidade jurisdicional, a decisão judicial é soberana e sobrepõese a qualquer manifestação administrativa eventualmente produzida, de forma que, nos casos de partes e objetos idênticos, se opera a renuncia à discussão administrativa. No entanto, as discussões suscitadas apenas no âmbito administrativo deverão ter seu prosseguimento normal, com a finalidade de garantir ao contribuinte o contraditório e a ampla defesa. Já no que se refere à arguição de inconstitucionalidade e ilegalidade arguída na peça recursal, melhor sorte não assiste ao Contribuinte, nos termos da Súmula 2 desse Egrégio Tribunal, no âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação, ou deixar de observar lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade, cujo reconhecimento encontrase na esfera de competência do Poder Judiciário. Ante o exposto, não vislumbro razões de reforma no decisum de primeira instância, motivo pelo qual nego provimento ao recurso nesse ponto. 3. CONCLUSÃO: Pelos motivos expendidos, CONHEÇO do Recurso Voluntário da recorrente, para, no mérito, NEGARLHE provimento, mantendo incólume o v. Acórdão de 1ª Instância. É como voto. (assinado digitalmente) Luciana Matos Pereira Barbosa. Fl. 197DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16349.000260/2009-21
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 27 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Mar 19 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 3201-001.155
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente
(assinado digitalmente)
Marcelo Giovani Vieira - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Marcelo Giovani Vieira. Fez sustentação oral a patrona Anali Caroline Castro Sanches Menna Barreto, OAB/SP 273.768, escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados.
Nome do relator: MARCELO GIOVANI VIEIRA
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira - Presidente (assinado digitalmente) Marcelo Giovani Vieira - Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Marcelo Giovani Vieira. Fez sustentação oral a patrona Anali Caroline Castro Sanches Menna Barreto, OAB/SP 273.768, escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente (assinado digitalmente) Marcelo Giovani Vieira Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Marcelo Giovani Vieira. Fez sustentação oral a patrona Anali Caroline Castro Sanches Menna Barreto, OAB/SP 273.768, escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados. Relatório Tratase de Pedidos de Ressarcimento de Cofins, vinculada a exportação, relativa a abril de 2006, com fundamento no artigo 6º da Lei 10.833/2003, cumulada com Declarações de Compensação. O Despacho Decisório decidiu por não homologar as compensações, em vista da glosa dos créditos, conforme os seguintes motivos: RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 63 49 .0 00 26 0/ 20 09 -2 1 Fl. 497DF CARF MF Processo nº 16349.000260/200921 Resolução nº 3201001.155 S3C2T1 Fl. 498 2 equívocos no rateio de créditos vinculados à exportação; glosa sobre aquisições de materiais de limpeza e os equipamentos de segurança; glosa de despesas de frete: de transporte de container vazio; devolução de caixas de coleta de recicláveis “Top Verde”; glosa de valores relativos à tomada de crédito sobre encargos de depreciação sobre móveis, utensílios e equipamentos de informática, os quais, segundo o Fisco, não estavam relacionados à produção; impossibilidade de ressarcimento de Pis e Cofins pagos na importação, que deveriam ser somente compensados com a apuração das próprias contribuições; Como resultado das glosas, a homologação foi homologada parcialmente. Cientificada, a empresa apresentou Manifestação de Inconformidade, argumentando: que o Despacho Decisório seria nulo, porque não fundamentou a glosa relativa aos insumos; que houve equívoco no apuração do rateio entre receita tributadas no mercado interno, receita não tributadas no mercado interno e receitas exportadas; que a data de embarque não pode ser considerada para fins de apuração da receita exportada, mas sim a data da nota fiscal, em vista do conceito de faturamento como base de cálculo das contribuições; legitimidade dos créditos tomados em relação a fretes relativos às caixas Top Verde; tal glosa seria indevida, porque são embalagens utilizadas para recolher mercadorias para reciclagem, se tratando, desse modo, em gasto necessário para aquisição de insumos; o mesmo para a movimentação de conteineres vazios; e que os fretes na remessa de peças para substituição em garantia estarima no mesmo conceito de frete na venda, cf. inciso IX do art. 3º da Lei 10.833/2003; defende a possibilidade de ressarcimento de Pis e Cofins incidentes na Importação; A impugnante expressamente deixa de recorrer quanto às glosas relativas a material de limpeza, de segurança. Não houve impugnação quanto ao crédito sobre depreciações. A DRJ/Porto Alegre/RS – 2ª Turma decidiu pela improcedência da Manifestação de Inconformidade, mantendo integralmente o teor do Despacho Decisório. Transcrevo a ementa: NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. Fl. 498DF CARF MF Processo nº 16349.000260/200921 Resolução nº 3201001.155 S3C2T1 Fl. 499 3 Deve ser afastada a preliminar de nulidade por ausência de fundamentação ou motivação, quando o Despacho Decisório indica todos os pressupostos de fato e de direito que embasaram a sua decisão, inclusive com planilhas e demonstrativos como suporte. DESPESAS FORA DO CONCEITO DE INSUMOS. Existe vedação legal para o creditamento de despesas que não podem ser caracterizadas como insumos dentro da sistemática de apuração de créditos pela nãocumulatividade. BASE DE CÁLCULO. RECEITA, E NÃO O LUCRO. A base de cálculo do PIS e da Cofins determinada constitucionalmente é a receita obtida pela pessoa jurídica, e não o lucro. CRÉDITOS DECORRENTES DE ENCARGOS DE DEPRECIAÇÃO. Não há previsão legal para aproveitamento de créditos de bens do ativo imobilizado que não sejam utilizados na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços. CRÉDITOS. IMPORTAÇÃO. De acordo com os dispositivos legais que tratam do assunto, os créditos advindos de importação de bens e de serviços não são passíveis de ressarcimento. PERÍCIA. PEDIDO INDEFERIDO. Indefereseo pedido de perícia quando as informações necessárias se encontram nos autos e não é demonstrada sua real necessidade para asolução do litígio. Ainda mais quando o constatado pela DRF jurisdicionante está baseado em documentação apresentada pelo próprio contribuinte, ou seja, em sua própria contabilidade. A empresa então interpôs o Recurso Voluntário, reforçando os argumento da Manifestação de Inconformidade, acrescentando defesa quanto ao crédito tomado sobre depreciações do ativo imobilizado. É o relatório. Voto O processo ainda não está maduro para julgamento. Os créditos de Pis e Cofins, relativos a insumos e outros dispêndios vinculados a vendas tributadas no mercado interno podem ser objeto de compensação com os respectivos débitos, inclusive de meses subsequentes, em vista do art. 3º, caput, das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, e §4º1. No caso de créditos de Pis e Cofins, relativos a insumos e outros dispêndios vinculados a exportação, eventual saldo credor pode ser objeto de pedido de compensação com outros débitos, e inclusive ressarcidos, nos termos do artigo 5º das mesmas 1 § 4o O crédito não aproveitado em determinado mês poderá sêlo nos meses subseqüentes. Fl. 499DF CARF MF Processo nº 16349.000260/200921 Resolução nº 3201001.155 S3C2T1 Fl. 500 4 Leis. 2 Para esse fim, calculase o rateio proporcional entre receita de exportação e receita bruta. Não há acusação, por parte do Fisco, de exportações fictícias. Não obstante, constatase que as exportações mensais consideradas pelo Fisco são sistematicamente menores que as exportações informadas em Dacon. O total trimestral difere em dezenas de mihões de reais. A mera diferença de metodologia de apuração, pela data de embarque, não ensejaria essa diferença, em valores agregados. Aparentemente, as notas fiscais de saída para exportação, cujo embarque tenha ocorrido no mês seguinte, não foram computadas nas receitas de exportação em nenhum mês. Mas não há, nos autos, elementos suficientes para dirimir a dúvida. Desse modo, proponho a conversão do julgamento em diligência, para que a Receita Federal providencie os seguintes esclarecimentos: qual a composição das receitas exportadas em cada mês consideradas no Despacho Decisório ? Todos os embarques de exportação em cada mês foram considerados, ou somente os embarques relativos a notas fiscais do próprio mês ? caso todas as notas fiscais de exportação, tanto do próprio mês, quanto de meses anteriores, tiverem sido consideradas no cálculo do valor exportado de cada mês, qual a origem da diferença substancial dos valores agregados de exportação ? Após relatório conclusivo, com as considerações que entender pertinentes, a Delegacia da Receita Federal deve providenciar a cientificação da recorrente para manifestar se, se desejar, no prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 30, e devolver o processo a este Carf. Marcelo Giovani Vieira, Relator. 2 Art. 5o A contribuição para o PIS/Pasep não incidirá sobre as receitas decorrentes das operações de: Produção de efeito I exportação de mercadorias para o exterior; II prestação de serviços para pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior, cujo pagamento represente ingresso de divisas; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) III vendas a empresa comercial exportadora com o fim específico de exportação. § 1o Na hipótese deste artigo, a pessoa jurídica vendedora poderá utilizar o crédito apurado na forma do art. 3o para fins de: I dedução do valor da contribuição a recolher, decorrente das demais operações no mercado interno; II compensação com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, observada a legislação específica aplicável à matéria. § 2o A pessoa jurídica que, até o final de cada trimestre do ano civil, não conseguir utilizar o crédito por qualquer das formas previstas no § 1o, poderá solicitar o seu ressarcimento em dinheiro, observada a legislação específica aplicável à matéria. Fl. 500DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13807.004238/2005-93
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Fri Feb 02 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Mar 09 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/01/2005 a 31/03/2005
LUCRO ARBITRADO. IMPOSSIBILIDADE DE APURAÇÃO DO PIS E DA COFINS PELA SISTEMÁTICA NÃO CUMULATIVA.
As pessoas jurídicas tributadas pelas regras do lucro arbitrado ficam impossibilitadas de apurar o PIS e a Cofins pelo regime da não cumulatividade, ficando sujeitas à apuração pela sistemática cumulativa.
LUCRO ARBITRADO. IRPJ. DECISÃO DEFINITIVA. APLICAÇÃO AO CASO CONCRETO.
Tendo transitado em julgado a decisão que considerou legítimo o arbitramento do lucro, o seu resultado impacta diretamente na solução do caso concreto.
Numero da decisão: 3201-003.406
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário.
Winderley Morais Pereira - Presidente.
Leonardo Vinicius Toledo de Andrade - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima e Leonardo Vinicius Toledo de Andrade.
Nome do relator: LEONARDO VINICIUS TOLEDO DE ANDRADE
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/01/2005 a 31/03/2005 LUCRO ARBITRADO. IMPOSSIBILIDADE DE APURAÇÃO DO PIS E DA COFINS PELA SISTEMÁTICA NÃO CUMULATIVA. As pessoas jurídicas tributadas pelas regras do lucro arbitrado ficam impossibilitadas de apurar o PIS e a Cofins pelo regime da não cumulatividade, ficando sujeitas à apuração pela sistemática cumulativa. LUCRO ARBITRADO. IRPJ. DECISÃO DEFINITIVA. APLICAÇÃO AO CASO CONCRETO. Tendo transitado em julgado a decisão que considerou legítimo o arbitramento do lucro, o seu resultado impacta diretamente na solução do caso concreto.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário. Winderley Morais Pereira - Presidente. Leonardo Vinicius Toledo de Andrade - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima e Leonardo Vinicius Toledo de Andrade.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 11; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1545; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3C2T1 Fl. 2 1 1 S3C2T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 13807.004238/200593 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 3201003.406 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 02 de fevereiro de 2018 Matéria PISPASEP Recorrente INDÚSTRIAS REUNIDAS CMA LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2005 a 31/03/2005 LUCRO ARBITRADO. IMPOSSIBILIDADE DE APURAÇÃO DO PIS E DA COFINS PELA SISTEMÁTICA NÃO CUMULATIVA. As pessoas jurídicas tributadas pelas regras do lucro arbitrado ficam impossibilitadas de apurar o PIS e a Cofins pelo regime da não cumulatividade, ficando sujeitas à apuração pela sistemática cumulativa. LUCRO ARBITRADO. IRPJ. DECISÃO DEFINITIVA. APLICAÇÃO AO CASO CONCRETO. Tendo transitado em julgado a decisão que considerou legítimo o arbitramento do lucro, o seu resultado impacta diretamente na solução do caso concreto. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário. Winderley Morais Pereira Presidente. Leonardo Vinicius Toledo de Andrade Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima e Leonardo Vinicius Toledo de Andrade. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 80 7. 00 42 38 /2 00 5- 93 Fl. 4306DF CARF MF 2 Relatório Por retratar com fidelidade os fatos, adoto, com os devidos acréscimos, o relatório produzido em primeira instância e que consta na Resolução 3201000.345, de 24 de setembro de 2012, o qual está consignado nos seguintes termos: "Tratase de Manifestação de Inconformidade interposta em face do Despacho Decisório, em que foi apreciado Pedido de Ressarcimento relativo a um crédito de PIS não cumulativo decorrente de operações de exportação no 1º trimestre de 2005. Originalmente a empresa ingressou com o pedido de ressarcimento no valor de R$ 205.429,80, conforme documentos de fls. 1 ao qual foram anexadas Declarações de Compensação em que o contribuinte pretende compensar débitos utilizando o crédito deste processo. O contribuinte baseou seu pleito no previsto no §2º do art. 6º da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003. Em 21/09/2007 a DRF de São José do Rio Preto, SP, foi notificada da decisão judicial exarada nos autos da Ação Cautelar nº 2007.61.00.0060715 que determinou a apreciação, com brevidade, dos pedidos de ressarcimentos feitos pela INDUSTRIAS REUNIDAS CMA LTDA. A fiscalização efetuou então os procedimentos fiscais com vistas a verificar a regularidade do valor pleiteado para ressarcimento. Em função de uma operação desencadeada pela Polícia Federal, denominada “Operação Grandes Lagos”, descobriuse que os principais fornecedores da INDUSTRIAS REUNIDAS CMA LTDA faziam parte de uma grande organização criminosa criada com o objetivo de fraudar a administração tributária cujo modus operandi é a interposição de pessoas físicas e jurídicas com o objetivo de eximir os titulares de fato do pagamento de tributos e contribuições sociais. Um dos fornecedores da CMA é uma empresa criada para vender notas fiscais “frias” a sonegadores. Outra é uma empresa “fantasma” criada com o único objetivo de vender notas fiscais “frias” para terceiros, com receita fictícia de R$172 milhões sem ter movimentado um centavo sequer em suas contas bancárias. Como essas e outras empresas do esquema estavam entre os fornecedores da CMA nos anoscalendários 2004 e 2005, foi necessário que a fiscalização fizesse uma análise minuciosa da contabilidade da empresa, da forma adotada para a apuração de seus lucros, assim como das declarações enviadas à Receita Federal do Brasil, o que envolveu, entre outros, a verificação da escrituração de seus livros comerciais. Após intimações parcialmente atendidas e verificações efetuadas, detalhadamente descritas na Informação Fiscal de fls. 29/40 e tendo em vista que a escrituração da CMA, relativamente aos anos calendários 2004 e 2005 continha evidentes indícios de fraudes e vícios, erros e deficiências que a Fl. 4307DF CARF MF Processo nº 13807.004238/200593 Acórdão n.º 3201003.406 S3C2T1 Fl. 3 3 tornaram imprestável para a apuração do lucro real e que, regularmente intimada, deixou de apresentar os livros auxiliares de sua escrituração referente ao mesmo período, a fiscalização decidiu arbitrar o seu lucro em cada um dos trimestres desses anoscalendários, de acordo com o disposto no RIR/99, art. 530 , II, b e III. O arbitramento do lucro da CMA nos períodos supracitados implicou na lavratura dos autos de infração de IRPJ, CSLL, PIS e Cofins, nos quais foram descritas de forma detalhada as irregularidades constatadas na contabilidade da CMA, bem como as fraudes por ela praticadas. Tendo em vista que nos trimestres dos anoscalendários 2004 e 2005 o lucro da CMA foi arbitrado de ofício, a base de cálculo do PIS e da Cofins foi também apurada de ofício, mensalmente, na sistemática cumulativa, haja vista que a sistemática não cumulativa dessas contribuições é exclusiva para contribuintes tributados com base no lucro real, conforme dispõe o art. 8º, II da Lei 10.637 de 2002 (PIS), e o art. 10, II, da Lei 10.833, de 2003 (Cofins). Assim sendo, tendo em vista a necessidade da apuração do PIS e da Cofins na sistemática cumulativa para as pessoas jurídicas tributadas pelo imposto de renda com base no lucro arbitrado, os pedidos de ressarcimento de créditos de PIS e Cofins não cumulativos foram indeferidos pelo Despacho Decisório de fls. 52/56 e as compensações não homologadas. Irresignada, a contribuinte interpôs manifestação de inconformidade às fls. 60/68, na qual alega, em síntese, que: A empresa ofereceu impugnação ao processo que contém os autos de infração resultantes do arbitramento do lucro e, não havendo decisão administrativa transitada em julgado a respeito do arbitramento, isso não pode ser utilizado pelo Fisco como escusa para negar ao contribuinte seu direito à compensação pretendida; A negativa da administração em reconhecer um direito creditício regularmente comprovado por um contribuinte por qualquer razão traz um abalo na confiança que este contribuinte depositou na administração, bem como um abalo na segurança jurídica em abstrato, nas relações entre contribuintes e Fazenda Pública; É cediço em nossa doutrina jurídica que o arbitramento não pode ter caráter de penalidade, mas tão somente como forma de aferição de lucros com o fim de definirse a base de cálculo do imposto perseguido. Não havendo caráter punitivo, este não pode ter o condão de interferir negativamente em um direito do contribuinte. Se há quantificação do valor devido, bem como do direito ao ressarcimento por créditos da mesma natureza, não se justifica a negativa oferecida; A compensação traduzse na concreção de um direito do contribuinte oponível ao Estado. Se há um crédito do contribuinte em relação ao Estado, este não pode, ao arbitrar o lucro da empresa ou sob qualquer outro pretexto, negarlhe a restituição; O crédito existe, portanto, o devedor, no caso a Fazenda, deve satisfazêlo sob pena de incorrer em apropriação Fl. 4308DF CARF MF 4 indébita ou enriquecimento ilícito; O direito à compensação tem inegável fundamento na Constituição Federal. Isto quer dizer que nenhuma norma inferior pode, validamente, negar esse direito, seja por via oblíqua, tornando impraticável seu exercício; O crédito do contribuinte é parcela de seu patrimônio. É sua propriedade. Na medida em que não se admite a compensação de créditos do contribuinte com dívidas fiscais suas, está se admitindo verdadeiro confisco de seus créditos; Acerca da investigação criminal em andamento conhecida como “Operação Grandes Lagos”, a fiscalização tributária deve pautarse nas operações investigadas em cada auto, não podendo presumirse fraudes ou irregularidades pelo fato de haver uma investigação criminal contra a autuada, quanto mais que não há condenação penal que pese contra a recorrente. Ao final, requereu que seja acolhida a presente manifestação de inconformidade reconhecendose o direito do contribuinte aos créditos pretendidos bem como homologando as compensações pleiteadas." A decisão recorrida julgou improcedente a manifestação de inconformidade e apresenta a seguinte ementa: "ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2005 a 31/03/2005 Ementa: DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. O direito creditório só é passível de ser reconhecido se lastreado em documentação fiscal e contábil, demonstrada nos autos pelo contribuinte. COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA. Apenas os créditos líquidos e certos são passíveis de compensação tributária, conforme artigo 170 do Código Tributário Nacional. LUCRO ARBITRADO. IMPOSSIBILIDADE DE APURAÇÃO DO PIS E DA COFINS PELA SISTEMÁTICA NÃO CUMULATIVA. As pessoas jurídicas tributadas pelas regras do lucro arbitrado ficam impossibilitadas de apurar o PIS e a Cofins pelo regime da não cumulatividade, ficando sujeitas à apuração pela sistemática cumulativa. Manifestação de Inconformidade Improcedente" O recurso voluntário da recorrente foi interposto de forma hábil e tempestiva, contendo, em breve síntese, os seguintes argumentos: (i) que o direito de creditamento foi negado em razão de o seu lucro ter sido arbitrado nos anos calendários de 2004, 2005 e 2006; (ii) que por adotar a sistemática do lucroreal faz jus ao creditamento de PIS e COFINS; Fl. 4309DF CARF MF Processo nº 13807.004238/200593 Acórdão n.º 3201003.406 S3C2T1 Fl. 4 5 (iii) o fato da autoridade fazendária ter arbitrado o lucro da Recorrente, somente nos anos de 2009 e 2010. relativamente aos anos calendário 2004, 2005 e 2006, e conseqüentemente ter apurado de ofício a base de cálculo do PIS e da COFINS na sistemática cumulativa, não tem o condão de extirpar o seu direito ao creditamento de PIS c COFINS; (iv) a autoridade fazendária ao indeferir os pedidos de ressarcimento de crédito de PIS e COFINS está afrontando demasiadamente o princípio da capacidade contributiva; (v) o arbitramento do seu lucro se baseou em meros indícios, sendo que os mesmos foram tirados de inquérito policial, afrontando também os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório; (vi) que tem um crédito em face da Fazenda Pública, o tem como parcela de seu patrimônio, confia na legislação que garante seu direito a tal crédito, e espera o seu reconhecimento; (vii) o direito de compensar é decorrência natural da garantia dos direitos de crédito, que consubstanciam parcelas do direito de propriedade, combinada com outros preceitos constitucionais; (viii) na medida em que não se admite a compensação de créditos do contribuinte com dívidas fiscais suas, se está admitindo verdadeiro confisco de seus créditos; (ix) nulidade do arbitramento do seu lucro sendo que os mesmos foram basicamente tirados de inquérito policial (Operação Grandes Lagos); (x) só há menção de existência de escrituração com indícios de fraudes e de vícios, erros e deficiências que a tornaram imprestável para determinar o lucro real, sendo certo que somente foi consignado nos autos pela autoridade fazendária apenas e tão somente de forma genérica tais irregularidades, não demonstrando de forma inequívoca a ocorrência das mesmas; (xi) o processo em questão é inconsistente e baseiase em prova ilícita, nula de pleno direito, posto que não foi submetida ao crivo do contraditório e da ampla defesa, bem como viola o princípio da presunção de inocência, além do órgão autuador não ter produzido provas cabais; (xii) que o Superior Tribunal de Justiça, no Inquérito Policial da Operação Grandes Lagos concedeu ordem de Habeas Corpus para trancar a ação penal, decorrente da Operação Grandes lagos, em face de Patrícia Buzolin Mozquatro (STJ HC 86715SP); (xiii) que há requisitos e princípios legais e constitucionais a serem observados para utilização da prova emprestada, o que não ocorreu no caso; (xiv) no caso dos autos, o órgão julgador não fez prova lícita e inequívoca dos motivos que levaram ao arbitramento do lucro; (xv) a ação penal a qual o inquérito deu origem sequer foi julgada em 1ª instância; Fl. 4310DF CARF MF 6 (xvi) que deve ser observado o princípio da presunção de inocência; (xvii) que houve violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa; (xviii) compete a Administração Tributária o ônus de analisar a documentação juntada e comprovar de maneira incontestável os supostos motivos que levaram ao arbitramento de seu lucro; (xix) cita doutrina e jurisprudência sobre suas alegações. O processo foi distribuído a 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária da 3ª Seção de Julgamento deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF tendo sido deliberado em sessão ocorrida em 24 de setembro de 2012, através da Resolução 3201000.345, pela conversão do feito em diligência para que a autoridade lançadora juntasse cópia integral do processo nº 16004.000029/200938. Em nova Resolução (3201000.384), de 25 de junho de 2013 foi decidido pelo retorno dos autos à instância de origem para o efetivo cumprimento do contido na Resolução 3201000.345. A diligência foi devidamente cumprida tendo a recorrente se manifestado em 02/09/2013, através de petição em que, basicamente, repisa os argumentos tecidos em seu recurso. Por sua vez, a Fazenda Nacional, manifestouse após o cumprimento da diligência, arguindo, em breve síntese, que: (i) escrituração contábil da empresa, relativamente aos anos calendários 2004 e 2005, contém evidentes indícios de fraudes, vícios, erros e deficiências que a tornaram imprestável para a apuração do lucro real e, além disso, a empresa, regularmente intimada, deixou de apresentar livros auxiliares de sua escrituração referente ao mesmo período, o que obrigou a fiscalização a arbitrar o seu lucro em cada um dos trimestres desses anoscalendário; (ii) como agravante, a chamada "Operação Grandes Lagos", desencadeada pela polícia federal, descobriu e identificou fornecedores da contribuinte que emitiram notas fiscais "frias", parte de um grande esquema criminoso para fraudar a administração; (iii) o crédito de PIS e Cofins exportação é uma forma de desonerar a exportação e incentivar a empresa exportadora, ressarcindoa dos tributos que ela efetivamente pagou na compra dos produtos e insumos utilizados na fabricação das mercadorias exportadas. Assim sendo, se os fornecedores da empresa emitiram notas fiscais "frias" o tributo pode não ter sido efetivamente pago pela mercadoria adquirida e,uma vez que a contabilidade da Indústrias Reunidas CMA contém indícios de fraude, vícios e erros, evidentemente não é possível apurarse a liquidez e certeza do direito creditório se não se conseguiu sequer apurar o crédito tributário; (iv) o resultado da diligência atestou que não há um crédito do contribuinte, estando sua contabilidade insubsistente, repleta de erros, vícios e fraudes que não se presta a comprovar o seu direito creditório; (v) A questão nuclear prendese à definição de insumos considerados como crédito no regime de incidência não cumulativa da COFINS. O art. 6º da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, prevê a isenção da Cofins não cumulativa sobre as receitas de vendas Fl. 4311DF CARF MF Processo nº 13807.004238/200593 Acórdão n.º 3201003.406 S3C2T1 Fl. 5 7 destinadas à exportação ou a empresa comercial exportadora com o fim específico de exportação, e (vi) As normas que regulamentam o direito ao ressarcimento ou compensação dos créditos de PIS e Cofins não cumulativos decorrentes de exportação estão explícitas na lei, que não foi declarada inconstitucional até a presente data. Desta forma, como a utilização de crédito resulta em redução da contribuição devida, há que se observar o princípio da interpretação literal, não se podendo estender o conceito conferido pela Lei para acrescer o volume de crédito apurado, o que resulta em dispensa de pagamento de tributo não prevista em lei e vedada pelo art. 111 do CTN. Ao final, a Fazenda Nacional, pugna pela manutenção da decisão de piso. É o relatório. Voto Conselheiro Leonardo Vinicius Toledo de Andrade Em que pese a irresignação da recorrente seus argumentos não merecem prosperar. A recorrente, conforme consignado no relatório da decisão recorrida, teve seu lucro arbitrado, o que gerou a lavratura de diversos autos de infração. Consta do relatório, in verbis: "Após intimações parcialmente atendidas e verificações efetuadas, detalhadamente descritas na Informação Fiscal de fls. 29/40 e tendo em vista que a escrituração da CMA, relativamente aos anos calendários 2004 e 2005 continha evidentes indícios de fraudes e vícios, erros e deficiências que a tornaram imprestável para a apuração do lucro real e que, regularmente intimada, deixou de apresentar os livros auxiliares de sua escrituração referente ao mesmo período, a fiscalização decidiu arbitrar o seu lucro em cada um dos trimestres desses anoscalendários, de acordo com o disposto no RIR/99, art. 530 , II, b e III. O arbitramento do lucro da CMA nos períodos supracitados implicou na lavratura dos autos de infração de IRPJ, CSLL, PIS e Cofins, nos quais foram descritas de forma detalhada as irregularidades constatadas na contabilidade da CMA, bem como as fraudes por ela praticadas. Tendo em vista que nos trimestres dos anoscalendários 2004 e 2005 o lucro da CMA foi arbitrado de ofício, a base de cálculo do PIS e da Cofins foi também apurada de ofício, mensalmente, na sistemática cumulativa, haja vista que a sistemática não cumulativa dessas contribuições é exclusiva para contribuintes tributados com base no lucro real, conforme dispõe o art. 8º, II Fl. 4312DF CARF MF 8 da Lei 10.637 de 2002 (PIS), e o art. 10, II, da Lei 10.833, de 2003 (Cofins). Assim sendo, tendo em vista a necessidade da apuração do PIS e da Cofins na sistemática cumulativa para as pessoas jurídicas tributadas pelo imposto de renda com base no lucro arbitrado, os pedidos de ressarcimento de créditos de PIS e Cofins não cumulativos foram indeferidos pelo Despacho Decisório de fls. 52/56 e as compensações não homologadas." Como visto, o lançamento combatido pela recorrente nestes autos decorre do arbitramento do seu lucro, tendo gerado a lavratura do auto de infração integrante do processo 16004.000029/200938. Na Resolução 3201000.345 foi consignado que: "Como podemos observar do processo, este discute o direito ao crédito de PIS sobre operações de exportação. Como decidiu a decisão recorrida, o crédito foi negado porque, nos autos do processo n.º 16004.000029/200938, a contabilidade da empresa foi desconsiderada e seu lucro foi arbitrado, o que impediria o direito ao crédito daquela contribuição. Como o julgamento daquele outro processo administrativo impacta no julgamento deste, se faz necessária a juntada de cópia integral daquele, com a respectiva decisão final proferida." Temse, então, que este Colegiado, acertadamente, deliberou pela conversão do feito em diligência, pois a decisão a ser tomada neste processo depende da decisão final adotada nos autos 16004.000029/200938. Assim, entendo que neste processo não há outra decisão a ser proferida que não seja, seguir a decisão já transitada em julgado no processo 16004.000029/200938. No volume 20 do processo 16004.000029/200938 anexado ao presente, consta a decisão de 1ª instância proferida pela 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Ribeirão Preto (Acórdão 1436.312), a qual deliberou pela improcedência da impugnação. Referida decisão está ementada nos seguintes termos: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Data do fato gerador: 31/03/2004, 30/06/2004, 30/09/2004, 31/12/2004, 31/03/2005, 30/06/2005, 30/09/2005, 31/12/2005 PROVA EMPRESTADA DESCLASSIFICAÇÃO DA ESCRITA MULTA QUALIFICADA INCONSTITUCIONALIDADE É válida a utilização, em processo administrativo tributário, de provas colhidas no curso de investigação policial, desde que a autoridade administrativa extraia suas próprias conclusões das provas emprestadas. A Fl. 4313DF CARF MF Processo nº 13807.004238/200593 Acórdão n.º 3201003.406 S3C2T1 Fl. 6 9 condenação em processo penal não é requisito para a utilização, em ação fiscal, de prova colhida por autoridade policial. Impõese a desclassificação da escrita e o conseqüente arbitramento do lucro quando forem constatados evidentes indícios de fraudes, bem como vícios, erros e/ou deficiências que a tornam imprestável para determinar o lucro real. É cabível a imposição de multa qualificada (150%) quando for demonstrado que o contribuinte agiu dolosamente na pratica das infrações tributárias apuradas. A autoridade administrativa não tem competência para apreciar alegações de inconstitucionalidade e/ou invalidade de lei ou ato normativo. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE 0 LUCRO LÍQUIDO CSLL Data do fato gerador: 31/03/2004, 30/06/2004, 30/09/2004, 31/12/2004, 31/03/2005, 30/06/2005, 30/09/2005, 31/12/2005 AUTO REFLEXO Quanto à impugnação de auto de infração lavrado como reflexo de fatos apurados para o lançamento do IRPJ, são aplicáveis as mesmas razões que deram fundamento à decisão acerca da impugnação a este, quando não houver alegação especifica no tocante ao auto reflexo. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA 0 FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Data do fato gerador: 28/02/2004, 31/03/2004, 30/04/2004, 31/05/2004, 30/06/2004, 31/07/2004, 31/08/2004, 30/09/2004, 31/10/2004, 30/11/2004, 31/12/2004, 31/01/2005, 28/02/2005, 31/03/2005, 30/04/2005, 31/05/2005, 30/06/2005, 31/07/2005, 31/08/2005, 30/09/2005, 31/10/2005, 30/11/2005, 31/12/2005 AUTO REFLEXO Quanto à impugnação de auto de infração lavrado como reflexo de fatos apurados para o lançamento do IRPJ, são aplicáveis as mesmas razões que deram fundamento A decisão acerca da impugnação a este, quando não houver alegação especifica no tocante ao auto reflexo. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA 0 PIS/PASEP Data do fato gerador: 28/02/2004, 31/03/2004, 30/04/2004, 31/05/2004, 30/06/2004, 31/07/2004, 31/08/2004, 30/09/2004, 31/10/2004, 30/11/2004, 31/12/2004, 31/01/2005, 28/02/2005, 31/03/2005, 30/04/2005, 31/05/2005, 30/06/2005, 31/07/2005, 31/08/2005, 30/09/2005, 31/10/2005, 30/11/2005, 31/12/2005 Fl. 4314DF CARF MF 10 AUTO REFLEXO Quanto à impugnação de auto de infração lavrado como reflexo de fatos apurados para o lançamento do IRPJ, são aplicáveis as mesmas razões que deram fundamento à decisão acerca da impugnação a este, quando não houver alegação especifica no tocante ao auto reflexo. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido" E tal decisão transitou em julgado sem a interposição de recurso por parte da ora recorrente, consone se depreende dos seguintes documentos encartados nos autos que se referem ao processo 16004.000029/200938: (i) Carta ciência endereçada ao contribuinte cientificandoo da decisão, conforme acórdão 1436.312; (ii) Aviso de recebimento AR; (iii) Edital 0002/2012 para intimação do contribuinte acerca da decisão; (iv) Termo de Perempção datado de 21/06/2012; (v) Despacho para inscrição em dívida ativa da União do processo 16004.000029/200938, e (vi) Inscrições em dívida ativa decorrentes do processo 16004.000029/2009 38. Assim, diante da decisão proferida no processo 16004.000029/200938 ter transitado em julgado, com resultado desfavorável à recorrente, a qual sequer interpôs recurso voluntário em tal processo, entendo, conforme já dito, que não há outro caminho a ser trilhado que não seja a aplicação do lá decidido nestes autos. Neste contexto, mantido o arbitramento do lucro, entendo como correta a decisão combatida que consignou que as pessoas jurídicas tributadas pelas regras do lucro arbitrado ficam impossibilitadas de apurar o PIS e a Cofins pelo regime da não cumulatividade, ficando sujeitas à apuração pela sistemática cumulativa. Diante do exposto, nego provimento ao recurso voluntário interposto. Leonardo Vinicius Toledo de Andrade Relator Fl. 4315DF CARF MF Processo nº 13807.004238/200593 Acórdão n.º 3201003.406 S3C2T1 Fl. 7 11 Fl. 4316DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.681135/2009-02
Turma: Primeira Turma Extraordinária da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Feb 21 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Mar 06 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 3001-000.018
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do recurso em diligência à Unidade de Origem, para que a unidade fiscal de origem analise os documentos acostados aos autos.
(assinado digitalmente)
Orlando Rutigliani Berri - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Cleber Magalhães, Renato Vieira de Avila e Cássio Schappo.
Nome do relator: ORLANDO RUTIGLIANI BERRI
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Recorrida FAZENDA NACIONAL Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do recurso em diligência à Unidade de Origem, para que a unidade fiscal de origem analise os documentos acostados aos autos. (assinado digitalmente) Orlando Rutigliani Berri Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Cleber Magalhães, Renato Vieira de Avila e Cássio Schappo. RELATÓRIO Dos fatos Cuidase de recurso voluntário interposto contra o Acórdão 0949.119, da 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Juiz de Fora /MG DRJ/JFA que, em sessão de julgamento realizada no dia 23.01.2014, julgou improcedente a manifestação de inconformidade. Por bem sintetizar os fatos, transcrevo o relatório do acórdão recorrido (efls. 129 a 133): Trata o presente processo de PER/DCOMP nº 33311.44320.281008.1.3.049349, com crédito proveniente de pagamento indevido ou a maior, relativo ao DARF no valor de R$ 54.850,28, recolhido em 19/04/2007. Após análise dos elementos constitutivos do crédito pleiteado, foi emitido Despacho Decisório eletrônico que não homologou a compensação declarada, por inexistência de crédito, tendo em vista RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 08 80 .6 81 13 5/ 20 09 -0 2 Fl. 206DF CARF MF Processo nº 10880.681135/200902 Resolução nº 3001000.018 S3C0T1 Fl. 207 2 que o pagamento indicado como indevido ou a maior não oferecia saldo disponível para compensação, uma vez que foi integralmente utilizado para quitação de débitos da contribuinte. Regularmente cientificada do Despacho Decisório, por via postal, a contribuinte apresentou manifestação de inconformidade, alegando, em breve síntese, que transmitiu DCTF retificadora que confirma o seu crédito e que o crédito informado no PER/DCOMP é suficiente para a compensação do(s) débito(s) declarado(s). É o relatório do necessário. Da decisão de 1ª Instância A 1ª Turma da DRJ/JFA, ao julgar improcedente a manifestação de inconformidade, exarou citado acórdão, cuja ementa foi vazada nos seguintes termos: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 19/04/2007 DÉBITO INFORMADO EM DCTF. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO ERRO. A simples retificação de DCTF para alterar valores originalmente declarados, desacompanhada de documentação hábil e idônea, não pode ser admitida para modificar Despacho Decisório. COMPENSAÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. Constatada a inexistência do direito creditório por meio de informações prestadas pelo interessado à época da transmissão da Declaração de Compensação, cabe a este o ônus de comprovar que o crédito pretendido já existia naquela ocasião. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Da ciência O contribuinte, por meio do "Aviso de Recebimento" (efl. 135), tomou conhecimento da "INTIMAÇÃO Nº 254/2014" (efl. 134) em 14.02.2014, dando conta do acórdão vergastado. Irresignado com a referida decisão, conforme o "Termo de Análise de Solicitação de Juntada" (efl. 204), o recorrente, em 14.03.2014, registra a solicitação de juntada do recurso voluntário apresentado (efls. 137 a 203). No caso, compulsando as datas acima destacadas, concluise que o recurso voluntário é tempestivo e reúne os demais requisitos de admissibilidade previstos na legislação; de modo que dele conheço. Do recurso voluntário Fl. 207DF CARF MF Processo nº 10880.681135/200902 Resolução nº 3001000.018 S3C0T1 Fl. 208 3 Sintetizo os argumentos de defesa apresentado que entendo suficiente para evidenciar a necessidade de deferirse a diligência pleiteada. Alega o recorrente que: 1 é pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido e, portanto, o regime de tributação das contribuições ao PIS e Cofins é o cumulativo; 2 apurou saldo devedor de Cofins no valor de R$ 54.850,28, referente a março/2007 e providenciou o devido recolhimento por meio de DARF; 3 constatou que apurou de forma indevida o referido saldo a pagar de Cofins no citado período, tendo em vista que, para as operações de industrialização por encomenda, a legislação reduziu a alíquota desta contribuição, ficando alterada de 3% para zero, gerando crédito em seu favor; 4 em face da legislação aplicável às operações de industrialização por encomenda, o valor correto a ser recolhido no referido período era de R$ 125,23, gerando, por consequente, um saldo credor de R$ 54.725,05; 5 desse modo, apresentou a DCOMP 33311.44320.281008.1.3.049349, com o objetivo de quitar débitos de tributos federais com o valor que recolheu indevidamente; 6 a fiscalização, ao analisar o direito creditório pleiteado, ao proferir o despacho decisório, não o homologou, por haver concluído que respectivo valor serviu para quitar integralmente os débitos informados na DCTF e Dacon; 7 a não homologação decorreu da não apresentação da DCTF e do Dacon retificados, o que impossibilitou de a fiscalização identificar que o saldo recolhido de Cofins não estava de acordo com a realidade dos fatos e, por conseguinte, de aferir o crédito existente a seu favor, em face do recolhimento a maior; 8 se a fiscalização o tivesse intimado a prestar esclarecimentos sobre referida divergência, à época, já poderia explicar que por mero vício formal não retificou em tempo a DCTF e o Dacon, o que não desqualifica a materialidade de seu crédito de Cofins; 9 com vista a sanar o equívoco que maculou o despacho decisório, ao apresentar a manifestação de inconformidade, procedeu à retificação dos referidos documentos (DCTF e Dacon), para que estes demonstrassem o saldo creditório correto, que por um lapso divergia de sua documentação contábil e fiscal; 10 a questão suscitada no acórdão recorrido não merece prosperar, pois comprovou que o crédito discutido surgiu de apuração equivocada de Cofins em relação à operação de industrialização por encomenda, conforme consta de seu Livro Razão e Balancete; 11 no intuito de corroborar com a verdade material dos fatos, possibilitar a aferição do crédito e consequente homologação da DComp, aproveita esta oportunidade para apresentar sua documentação contábil, bem como a fiscal, que inegavelmente comprovam a existência do direito creditório ora pleiteado. Do encaminhamento Fl. 208DF CARF MF Processo nº 10880.681135/200902 Resolução nº 3001000.018 S3C0T1 Fl. 209 4 O processo digital, então, foi encaminhado para ser analisado por este CARF na forma regimental. É o relatório. VOTO Conselheiro Orlando Rutigliani Berri, Relator Da admissibilidade O Recurso Voluntário é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, devendo ser conhecido por este Colegiado. Do voto condutor do acórdão recorrido Do voto condutor do acórdão recorrido colhese: (...) No caso, é inconteste que, segundo as informações constantes da DCTF apresentada pelo contribuinte até a data entrega do PER/DCOMP, não havia pagamento a maior ou indevido que respaldasse o crédito utilizado na compensação. Portanto, cabe ao interessado a prova de que cometeu erro de preenchimento na DCTF original e que o valor efetivamente devido é aquele declarado na DCTF retificadora (entregue após a transmissão do PER/DCOMP). Entretanto, a contribuinte limitouse a apresentar a DCTF retificadora e a informar que o crédito decorre da retificação da DCTF. Nada mais foi trazido, como, por exemplo, escrituração contábil, documentos fiscais e controles internos. Em situações tais como a analisada, somente a apresentação de documentos integrantes da escrituração contábil e fiscal da empresa poderia comprovar que inexistia tributo devido no período, e que, desta forma, o pagamento efetuado em DARF daria ao interessado crédito passível de ser compensado com outros débitos. São os livros fiscais e contábeis mantidos pelo contribuinte, os elementos capazes de fornecer à Fazenda Nacional conteúdo substancial válido juridicamente para a busca da verdade material dos fatos. De acordo com o § 11 do art. 74 da Lei n.º 9.430/96, aplicase ao presente processo o rito estabelecido no Decreto nº 70.235/72. Esse Decreto, com força de Lei, determina em seu art. 16 que a impugnação (manifestação de inconformidade) contenha as razões e provas que o interessado possua. No mesmo sentido, a Lei n.º 9.784/99, de aplicação subsidiária ao rito processual do Decreto n.º 70.235/72, estabelece, em seu art. 36, que cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, em consonância, ainda, com o artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil, que afirma que o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito. Fl. 209DF CARF MF Processo nº 10880.681135/200902 Resolução nº 3001000.018 S3C0T1 Fl. 210 5 Com efeito, cumpre elucidar ainda que, nos moldes do art. 214, do Código Civil1, para a desconsideração da confissão de dívida por erro de fato, o equívoco deve ser devidamente comprovado, sendo do sujeito passivo (assim como ocorre em relação à comprovação do indébito) o encargo probante da circunstância, por aplicação do já comentado art. 333, I, do CPC. E isto deve ser feito por intermédio de documentos robustos, especialmente dos assentamentos contábeis/fiscais do contribuinte, não sendo suficiente, por si só, como prova a mera apresentação de DCTF retificadora. É assente na doutrina que direito líquido e certo é aquele cujos aspectos de fato possam comprovarse documentalmente. A jurisprudência do Conselho de Contribuintes (atual Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF) é firme nesse sentido, conforme exemplificam as seguintes ementas: (...) Deste modo, considerando que a DCTF retificadora foi entregue somente após a transmissão do PER/DCOMP e que não foram aduzidos aos autos quaisquer elementos comprobatórios do crédito pleiteado, concluise que não há qualquer reparo a ser feito no Despacho Decisório sob análise. Nessa perspectiva, cumpre assinalar que, de acordo com a peça de defesa, a interessada também retificou o Dacon, em 30/03/2009 (fls. 21 a 64), alterando o valor da contribuição devida nos mesmos moldes da DCTF retificadora (fls. 65 a 106). Tal retificação, que resultou na diminuição do débito confessado, se deu em virtude da alteração da origem de grande parte da receita auferida, primeiramente informada como venda de produtos sujeitos à tributação monofásica e posteriormente alterada para revenda dos referidos produtos, cuja receita é tributada à alíquota zero. Entretanto, a interessada não comprovou a procedência da alteração efetuada, indispensável no presente caso, especialmente porque a atividade da contribuinte é, entre outras, a fabricação de medicamentos farmacêuticos, situação em que a tributação é concentrada no fabricante (fls. 111 a 125 e 128). Diante do exposto, voto por considerar improcedente a manifestação de inconformidade, ratificando o Despacho Decisório de não homologação da compensação. Da justificativa para a proposta de diligência Compulsandose os autos verificase que o pedido de compensação do recorrente foi indeferido, por meio de despacho decisório eletrônico, Número de Rastreamento 849875806, em decorrência da inexistência de crédito. O recorrente apresentou DCTF e Dacon retificadora, informando este fato quando da apresentação da manifestação de inconformidade. No seu entender, com a apresentação dessas declarações retificadora estaria sanada a irregularidade apontada no despacho decisório. Entretanto, o acórdão recorrido manteve o indeferimento do pedido de compensação sob o argumento de que o interessado não apresentou qualquer elemento contábil Fl. 210DF CARF MF Processo nº 10880.681135/200902 Resolução nº 3001000.018 S3C0T1 Fl. 211 6 que demonstrasse ter havido pagamento a maior ou indevido e, deste modo, o recorrente não comprovou a liquidez e certeza do crédito informado na DComp em questão. Portanto, em síntese, o fundamento da decisão recorrida foi a falta de apresentação de documentação probante satisfatória (escrituração contábilfiscal) que corroborasse as informações apresentadas, notadamente, na DCTF retificadora. O interessado, quando da apresentação do recurso voluntário, afirma, com suas próprias palavras, que houve erro quando do preenchimento da DCTF, razão pela qual apresentou a retificadora da DCTF, juntamente com a Dacon, e, no seu entender, seria suficiente para a solução do litígio uma vez que o fundamento do despacho decisório seria apenas a inexistência de débito. Como o acórdão recorrido proferido pela 1ª Turma da DRJ/JFA indeferiu sua manifestação de inconformidade, agora pela falta de apresentação de documentação probante que demonstrasse o seu direito, o recorrente apresentou esses documentos, que entende serem suficientes para a devida comprovação do direito à compensação solicitada. Requer a realização de diligência para o esclarecimento acerca do crédito compensado, caso entendase necessário. Pois bem. Entendo que há razoável dúvida quanto à certeza e liquidez dos alegados direitos aos créditos que o recorrente pretende compensar. É certo que é condição indispensável à compensação de tributos a liquidez e certeza do crédito, nos termos do que dispõe o art. 170A da Lei nº 5.172, de 1966 (Código Tributário Nacional CTN). Necessário, neste sentido, a comprovação cabal da existência desses supostos créditos, o que pode ser demonstrados com base na análise da documentação contábilfiscal do contribuinte. Deste modo, visando propiciar a ampla oportunidade para o recorrente esclarecer e comprovar os fatos alegados, em atendimento aos princípios da verdade material, da ampla defesa e do contraditório, concluo que o presente julgamento deve ser convertido em diligência. Desta forma, por entender que a mencionada retificação (DCTF e Dacon) levada a efeito pelo recorrente, sinaliza com a possibilidade de acerto quanto ao correto valor do indébito de Cofins, e, com isto, o reconhecimento da extinção do débito tributário objeto da compensação, nos termos do inciso II do artigo 156 do CTN, ainda mais com os documentos lastreados aos presentes autos, com a apresentação do recurso voluntário de que se cuida. Da conclusão Em face do acima exposto, nos termos dos artigos 18 e 29 do Decreto nº 70.235, de 1972, proponho a realização de diligência para que a autoridade fiscal da repartição de origem proceda à análise da documentação apresentada pelo recorrente em seu recurso voluntário, bem como intimeo para apresentar outros documentos e/ou esclarecimentos que entenda necessários, a critério da fiscalização, com vistas a esclarecer e comprovar a existência dos supostos créditos suscetíveis de serem utilizados na compensação de tributos. Desta forma, os autos devem retornar à repartição de origem DERAT SÃO PAULO para realização da diligência solicitada. Fl. 211DF CARF MF Processo nº 10880.681135/200902 Resolução nº 3001000.018 S3C0T1 Fl. 212 7 Ao término dos trabalhos, a autoridade fiscal da repartição de origem deverá elaborar relatório conclusivo sobre os fatos apurados na diligência, inclusive manifestandose sobre a existência de crédito líquido e certo suscetível de ser utilizado pelo recorrente na PER/DCOMP 33311.44320.281008.1.3.049349. Encerrada a instrução processual o recorrente deverá ser intimado para manifestarse no prazo de 30 (trinta) dias, antes da devolução do processo para este CARF, para julgamento. É como voto. (assinado digitalmente) Orlando Rutigliani Berri Fl. 212DF CARF MF
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