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Numero do processo: 10865.720311/2008-38
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Aug 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 31 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2003
EMBARGOS INOMINADOS. INEXATIDÕES MATERIAIS DEVIDAS A ERROS DE ESCRITA. REQUISITO. LEGITIMADOS. NÃO ATENDIMENTO.
Os legitimados para opor embargos inominados são os mesmos relacionados para opor embargos de declaração, em lista exaustiva no art. 65, Anexo II do RICARF. O descumprimento do requisito implica na rejeição dos embargos.
Numero da decisão: 9101-003.026
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer dos embargos inominados. Votaram pelas conclusões os conselheiros Adriana Gomes Rego e Rafael Vidal de Araújo.
(assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente
(assinado digitalmente)
André Mendes de Moura - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: ANDRE MENDES DE MOURA
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ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ano-calendário: 2003 EMBARGOS INOMINADOS. INEXATIDÕES MATERIAIS DEVIDAS A ERROS DE ESCRITA. REQUISITO. LEGITIMADOS. NÃO ATENDIMENTO. Os legitimados para opor embargos inominados são os mesmos relacionados para opor embargos de declaração, em lista exaustiva no art. 65, Anexo II do RICARF. O descumprimento do requisito implica na rejeição dos embargos.
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ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2003 EMBARGOS INOMINADOS. INEXATIDÕES MATERIAIS DEVIDAS A ERROS DE ESCRITA. REQUISITO. LEGITIMADOS. NÃO ATENDIMENTO. Os legitimados para opor embargos inominados são os mesmos relacionados para opor embargos de declaração, em lista exaustiva no art. 65, Anexo II do RICARF. O descumprimento do requisito implica na rejeição dos embargos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer dos embargos inominados. Votaram pelas conclusões os conselheiros Adriana Gomes Rego e Rafael Vidal de Araújo. (assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto – Presidente (assinado digitalmente) André Mendes de Moura Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 86 5. 72 03 11 /2 00 8- 38 Fl. 302DF CARF MF Processo nº 10865.720311/200838 Acórdão n.º 9101003.026 CSRFT1 Fl. 303 2 Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório São embargos inominados opostos pela DRF/Limeira (efls. 293/296), previstos no art. 66, Anexo II do RICARF, em face do Acórdão nº 9101002.134, de 26 de fevereiro de 2015, proferido pela 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), que deu parcial provimento ao recurso da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional PGFN, para determinar o retorno dos autos à DRJ para a verificação da existência do direito creditório. Discorrem os autos sobre pedido de compensação enviado pelo Contribuinte em 12/03/2004, objetivando a liquidação de débito de CSLL (código 6773 – estimativa mensal – ajuste anual) com vencimento em 31/03/2004 (período de 2003), com crédito de CSLL, recolhido a maior em 31 de outubro de 2003, no valor total da guia Darf de R$ 2.256.106,69 (código 2484). O crédito utilizado no pedido de compensação foi de R$ 1.143.970,33. A DRF/Limeira indeferiu o pedido de compensação, decisão ratificada pela DRJ/Ribeirão Preto, por não considerar o pagamento a maior de estimativa mensal crédito líquido e certo, e entender que apenas ao final do anocalendário, quando se aperfeiçoa o fato gerador anual, podese falar em compensação, decorrente da apuração de eventual saldo negativo. Irresignada, a Contribuinte interpôs recurso voluntário, que foi provido pela 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da Primeira Seção, nos termos do Acórdão nº 120100.413 (efls. 191/210), na sessão de 23/02/2011, conforme a ementa: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2004 COMPENSAÇÃO. O pagamento da estimativa mensal da CSLL realizado em montante superior ao devido com base na receita bruta e acréscimos é passível de compensação mesmo antes de encerado o período de apuração anual. ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Anocalendário: 2004 SALDO NEGATIVO DE CSLL. COMPENSAÇÃO. MOMENTO. Inexistindo, na data da transmissão da DCOMP, norma que proíba a compensação da estimativa de CSLL paga a maior antes de encerado o período de apuração anual, não há razão para exigirse que o indébito integre o saldo da contribuição a pagar ou a restituir calculado ao final do ano. Fl. 303DF CARF MF Processo nº 10865.720311/200838 Acórdão n.º 9101003.026 CSRFT1 Fl. 304 3 A PGFN interpôs recurso especial. Na sessão de 26/02/2015, a Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais deu provimento parcial ao recurso, aplicando a Súmula CARF nº 84 e determinando o retorno dos autos para a DRJ verificar a existência do direito creditório, nos termos do Acórdão nº 9101002.134 (efls. 268/281), conforme ementa a seguir: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2010 ESTIMATIVAS DE IRPJ E CSLL. COMPENSAÇÃO ANTES DE ENCERRADO O RESPECTIVO ANO CALENDÁRIO. A teor da Súmula CARF n. 84, “pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação”. Recurso Especial da Fazenda Nacional parcialmente provido apenas para determinar o retorno dos autos à DRJ para verificação da existência do direito creditório. Na Resolução 143.661, da 5ª Turma da DRJ/RPO (efls. 291/292), determinou o retorno dos autos para a DRF/Limeira: Como os pedidos devem ser apreciados, em primeira vez, pela autoridade competente da DRF jurisdicionante do contribuinte, nos termos da legislação de regência, o presente processo deve retornar à Delegacia da Receita Federal do Brasil em Limeira para examinar o direito creditório, proferindo novo despacho decisório em face do que foi decidido pelo CARF. Por meio do Despacho DRF/Limeira, com assunto "Embargos de Declaração", discorre a embargante sobre equívocos cometidos na decisão da 1ª Turma da CSRF: o assunto não é IRPJ do anocalendário de 2010, mas sim CSLL do mês de setembro de 2003; a admissão do recurso especial deuse com base na Súmula CARF nº 84, decorrentes de alterações introduzidas pelas IN SRF 460/2004 e 600/2005, posteriores ao período tratado nos presentes autos, ou seja, a base legal utilizada não é aplicável ao fato tratado neste processo e não foi suscitada pela PGFN; a 3ª Câmara da Primeira Seção de Julgamento negou seguimento ao recurso especial apresentado pela contribuinte nos processos 10865.720291/200803, 10865.720292/200840 e 10865.720287/200837 justamente por causa da Súmula 84; discorre que para a solução do processo necessitase que o mérito seja apreciado, qual seja, se a contribuinte pode alterar ou não a forma de apuração da CSLL devida por estimativa após o término do período de apuração; esclarece que com essa mudança a contribuinte gerou diversos créditos de pagamento indevido no anocalendário de 2003, tanto de estimativa de CSLL quanto de IRPJ, e Fl. 304DF CARF MF Processo nº 10865.720311/200838 Acórdão n.º 9101003.026 CSRFT1 Fl. 305 4 que para a maior parte dos processos houve apresentação de recurso de divergência, alguns pela PGFN, outros pela contribuinte o que por si só ressalta a diferença de entendimento do CARF para a mesma matéria do mesmo contribuinte e praticamente do mesmo período, com um entendimento para a CSLL e outro para o IRPJ, conforme lista à efl. 295; Ao final, encaminha no sentido de propor retorno à Câmara Superior de Recursos Fiscais para verificar a conveniência de (1) saneamento do assunto e período indicados no Acórdão n.º 9101.002.134 bem como (2) da razão de decidir, uma vez que foi utilizada a Súmula CARF n.º 84, não suscitada pela PGFN e decorrente de mudanças ocorridas em período não abrangido no litígio deste processo e (3) a necessidade de esclarecimento sobre os efeitos da decisão para análise do crédito, o qual entendemos já ter sido enfrentado no despacho decisório, sendo premente a (4) expressa manifestação sobre a admissão ou não da mudança na forma de apuração da estimativa após o término do período de apuração, o que entendemos permitirá decisão conclusiva do CARF sobre a existência ou não do crédito. O despacho de efls. 297/301 admitiu os embargos inominados, com a seguinte conclusão: A situação de inexatidão material está indicada objetivamente. Assim, de fato em relação ao Acórdão nº 9101002.134, de 26.02.2015, efls. 268281, devem ser realizados os esclarecimentos necessários ao deslinde deste processo, com proposta de que os processos correlatos indicados na tabela anterior sejam tratados conjuntamente a fim de se uniformizar o entendimento e evitar decisões contraditórias como as ocorridas para os meses de janeiro a junho de 2003 em que foi dado provimento ao recurso da contribuinte no que se refere à CSLL e negado para o IRPJ do mesmo período e também quanto à admissibilidade ou não do recurso especial com base na Súmula n.º 84, em homenagem ao princípio da eficiência da Administração Pública. É o relatório. Voto Conselheiro André Mendes de Moura, Relator. Cabe examinar os requisitos de admissibilidade dos embargos inominados. Transcrevo dispositivos que tratam do assunto no Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF): Art. 65. Cabem embargos de declaração quando o acórdão contiver obscuridade, omissão ou contradição entre a decisão e os seus fundamentos, ou for omitido ponto sobre o qual deveria pronunciarse a turma. §1º Os embargos de declaração poderão ser interpostos, mediante petição fundamentada dirigida ao presidente da Fl. 305DF CARF MF Processo nº 10865.720311/200838 Acórdão n.º 9101003.026 CSRFT1 Fl. 306 5 Turma, no prazo de 5 (cinco) dias contado da ciência do acórdão: I por conselheiro do colegiado, inclusive pelo próprio relator; II pelo contribuinte, responsável ou preposto; III pelo Procurador da Fazenda Nacional; IV pelos Delegados de Julgamento, nos casos de nulidade de suas decisões; ou V pelo titular da unidade da administração tributária encarregada da liquidação e execução do acórdão. (...) Art. 66. As alegações de inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo existentes na decisão, provocados pelos legitimados para opor embargos, deverão ser recebidos como embargos inominados para correção, mediante a prolação de um novo acórdão. (...) (Grifei) Como se pode observar, o art. 65 relaciona os legitimados para a oposição de embargos de declaração. Ocorre que, no caso em tela, os embargos de efls. 171 não foram opostos pelo titular da unidade da administração tributária encarregada da liquidação e execução do acórdão, qual seja, o Delegado da DRFLIMEIRA. No caso em tela, o regimento interno não tolera exceções, sendo exaustiva a lista do art. 65, Anexo II. Nesse sentido, em razão de previsão regimental expressa, não há como se acolher os embargos. Ademais, ainda que se fosse apreciar o mérito, constatase que não ocorreu nenhum erro material na decisão embargada. A matéria devolvida para apreciação da 1ª Turma da Câmara Superior consistiu em questão de direito, relativa à possibilidade de se aproveitar pagamento a maior de estimativa mensal com crédito para fins de compensação. E o Colegiado, cumprindo expressa determinação do RICARF 1, aplicou o entendimento sumular. Observase ainda que o embargante pretende uma nova apreciação do mérito da decisão, ao discorrer que no caso a base normativa seria anterior aos anos de 2004 e 2006, quando foram editadas as IN SRF nº 460 e 600, o que não é possível na via estrita de cognição de embargos. Enfim, a existência de decisões divergentes em outros processos decorre do fato que o julgamento não foi realizado em conjunto, mas em separado. Assim, prevaleceu a convicção de cada julgador, e é natural que possam advir decisões não convergentes. De fato, a 1 RICARF, Anexo II: Art. 45. Perderá o mandato o conselheiro que: (...) VI deixar de observar enunciado de súmula ou de resolução do Pleno da CSRF, bem como o disposto no art. 62; Fl. 306DF CARF MF Processo nº 10865.720311/200838 Acórdão n.º 9101003.026 CSRFT1 Fl. 307 6 melhor técnica processual recomenda a apreciação de processos tratando do mesmo direito creditório em um julgamento numa só assentada. Contudo, como tal procedimento não foi viabilizado nas fases processuais anteriores, não há nenhuma previsão regimental que autorize um novo julgamento dos presentes autos com base em uma vinculação processual. O art. 6º, Anexo II do RICARF, ao tratar de processos vinculados, discorre apenas sobre processos ainda não julgados. De qualquer forma, no presente caso, como já esclarecido, restou não atendido requisito de ordem formal, processual, quanto à legitimidade para oposição do recurso. Diante do exposto, voto no sentido de rejeitar os embargos inominados. (assinado digitalmente) André Mendes de Moura Fl. 307DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10707.000936/2007-11
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jul 04 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Sep 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Ano-calendário: 2006
MULTA. ARQUIVOS MAGNÉTICOS. LEI 8.218/1991, ART. 12, III. ATRASO OU FALTA DE APRESENTAÇÃO.
É afastada a exigência de multa por atraso, ou falta de apresentação dos arquivos magnéticos, quando consta dos autos petição do contribuinte colocando à disposição da fiscalização arquivos em formato distinto.
MUDANÇA DE CRITÉRIO JURÍDICO DO LANÇAMENTO. VEDAÇÃO.
É vedada a modificação do critério jurídico do lançamento, nos termos do artigo 146, do Código Tributário Nacional.
Numero da decisão: 9101-002.961
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer parcialmente do Recurso Especial do Contribuinte, somente em relação à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que conheceram integralmente do recurso. No mérito, na parte conhecida, por maioria de votos, acordam em dar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego (relatora), Rafael Vidal de Araújo e Marcos Aurélio Pereira Valadão, que lhe negaram provimento. Acordam, ainda, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego, Rafael Vidal de Araújo e Marcos Aurélio Pereira Valadão, que lhe deram provimento. Votou pelas conclusões, em relação à preliminar de inovação, o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Cristiane Silva Costa. Nos termos do Art. 58, §5º, Anexo II do RICARF, o conselheiro José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado) não votou quanto ao conhecimento, por se tratar de questão já votada pelo conselheiro Luís Flávio Neto na sessão anterior.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Relatora
(assinado digitalmente)
Cristiane Silva Costa - Redatora Designada
Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado em substituição ao conselheiro Luís Flávio Neto) e Marcos Aurélio Pereira Valadão. Ausentes, justificadamente, os conselheiros Carlos Alberto Freitas Barreto e Luís Flávio Neto.
Nome do relator: ADRIANA GOMES REGO
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ementa_s : Assunto: Obrigações Acessórias Ano-calendário: 2006 MULTA. ARQUIVOS MAGNÉTICOS. LEI 8.218/1991, ART. 12, III. ATRASO OU FALTA DE APRESENTAÇÃO. É afastada a exigência de multa por atraso, ou falta de apresentação dos arquivos magnéticos, quando consta dos autos petição do contribuinte colocando à disposição da fiscalização arquivos em formato distinto. MUDANÇA DE CRITÉRIO JURÍDICO DO LANÇAMENTO. VEDAÇÃO. É vedada a modificação do critério jurídico do lançamento, nos termos do artigo 146, do Código Tributário Nacional.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 23; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 2379; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => CSRFT1 Fl. 1.339 1 1.338 CSRFT1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 10707.000936/200711 Recurso nº Especial do Procurador e do Contribuinte Acórdão nº 9101002.961 – 1ª Turma Sessão de 4 de julho de 2017 Matéria MULTA ARQUIVOS MAGNÉTICOS Recorrentes EMPRESA BRASILEIRA DE TELECOMUNICACOES S A EMBRATEL e FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Anocalendário: 2006 MULTA. ARQUIVOS MAGNÉTICOS. LEI 8.218/1991, ART. 12, III. ATRASO OU FALTA DE APRESENTAÇÃO. É afastada a exigência de multa por atraso, ou falta de apresentação dos arquivos magnéticos, quando consta dos autos petição do contribuinte colocando à disposição da fiscalização arquivos em formato distinto. MUDANÇA DE CRITÉRIO JURÍDICO DO LANÇAMENTO. VEDAÇÃO. É vedada a modificação do critério jurídico do lançamento, nos termos do artigo 146, do Código Tributário Nacional. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer parcialmente do Recurso Especial do Contribuinte, somente em relação à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que conheceram integralmente do recurso. No mérito, na parte conhecida, por maioria de votos, acordam em darlhe provimento, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego (relatora), Rafael Vidal de Araújo e Marcos Aurélio Pereira Valadão, que lhe negaram provimento. Acordam, ainda, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego, Rafael Vidal de Araújo e Marcos Aurélio Pereira Valadão, que lhe deram provimento. Votou pelas conclusões, em relação à preliminar de inovação, o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Cristiane Silva Costa. Nos termos do Art. 58, §5º, Anexo II do RICARF, o conselheiro José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado) não votou quanto ao conhecimento, por se tratar de questão já votada pelo conselheiro Luís Flávio Neto na sessão anterior. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 70 7. 00 09 36 /2 00 7- 11 Fl. 1367DF CARF MF 2 (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente em exercício (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Relatora (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Redatora Designada Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado em substituição ao conselheiro Luís Flávio Neto) e Marcos Aurélio Pereira Valadão. Ausentes, justificadamente, os conselheiros Carlos Alberto Freitas Barreto e Luís Flávio Neto. Relatório A FAZENDA NACIONAL recorre a este Colegiado, por meio do Recurso Especial contra decisão não unânime, contrária à lei ou à evidência de prova, de efls. 713 e seguintes, no caso, o Acórdão nº 120100.037 proferido pela 2ª Câmara 1ª Turma Ordinária, em 12 de maio de 2009 (fls. 674 e ss. do volume 7 do processo digitalizado) que, por maioria de votos, deu provimento parcial ao recurso voluntário apresentado por EMPRESA BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES S.A. EMBRATEL, nos seguintes termos: ARQUIVOS DIGITAIS MULTA PELO DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE APRESENTAÇÃO o dever de apresentação de arquivos digitais e sistemas relativos a processamento eletrônico de dados para registrar negócios e atividades econômicas ou financeiras, e a escrituração de livros ou elaboração de documentos de natureza contábil ou fiscal, é caracterizado como uma obrigação acessória autônoma. Dessa forma, a penalidade pelo seu descumprimento não pode ser dispensada em razão do instituto da denúncia espontânea disciplinado pelo art. 138 do CTN no caso de apresentação extemporânea voluntária. Todavia, a sanção pecuniária deve ser limitada a 0,5% da receita bruta do período se o contribuinte apresentou em formato diverso do estabelecido pela Secretaria da Receita Federal os referidos arquivos e sistemas ou se colocou à disposição para apresentar. Para fins da ciência da referida decisão, o presente processo foi encaminhado à PFN em 28/04/2011, como demonstra a tela do sistema COMPROT à fl. 683 do volume 7 digitalizado, e lá recebido em 05/05/2011, como atesta o protocolo no mesmo documento. Em 06/06/2011 o processo contendo o apelo especial foi enviado ao CARF, como demonstra a tela COMPROT à fl. 684, tendo sido recebido nesse mesmo dia, como demonstra o protocolo de recebimento no mesmo documento e na primeira folha da peça de defesa (fls. 684/685 do volume 7 digitalizado). O Recurso especial interposto, contra decisão não unânime, contrária à lei ou à evidência de prova, encontrava fundamento no art. 7º , I e 9º do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 147, de 25 de junho de 2007. Fl. 1368DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.340 3 Tratase de auto de infração que exige da interessada multa regulamentar equivalente a 0,02% da receita bruta do período por dia de atraso, limitada a 1% desta, pelo não cumprimento do prazo estipulado para apresentação de arquivos magnéticos e sistemas, totalizando o crédito tributário no valor total de R$ 370.685.629,18, com enquadramento legal nos arts. 11 e 12, III da Lei nº 8.218/91, com a redação dada pelo art. 72 da M.P. n° 2.158 34/2001 e reedições. Conforme relatório do acórdão recorrido e, nos termos do Relatório Fiscal de 24/07/07, fls. 08/10 do volume 1 digitalizado, a interessada foi intimada em 10/08/2006, (fls. 17/19 do volume 1 digitalizado), com prazo de 20 (vinte) dias para atendimento, a apresentar documentos e arquivos magnéticos, referentes aos anoscalendário de 2001 a 2005. Como não apresentou a documentação no prazo e completa, a Fiscalização lavrou a multa em comento. Salientase que o auto de infração com lançamento de oficio referente ao ano de 2001 foi controlado pelo processo 10707.001678/200618. Por essa razão, a Fiscalização destacou que o presente lançamento diz respeito apenas aos arquivos magnéticos da contabilidade referentes aos anoscalendário de 2002, 2003, 2004 e 2005. O colegiado a quo, por maioria de votos, entendeu, nos termos do voto vencedor, que a situação fática levaria ao enquadramento da interessada na circunstância atenuante prevista no inciso I, do art. da Lei nº 8.218/91, que estabelece multa de 0,5% (meio por cento) da receita bruta, uma vez que a resposta da interessada à intimação fiscal, no contexto dos próprios fatos narrados pela autoridade fiscal, como a constante colaboração da fiscalizada, deveria ser interpretada favoravelmente ao autuado. No apelo especial, aduz a PFN que a decisão atacada vai frontalmente de encontro ao estabelecido no art. 12, III da Lei n° 8.218/91, art. 2° da IN SRF 86/2001 e art. 97, VI do CTN, uma vez que a recorrida não apresentou as informações solicitadas pelo Fisco de modo tempestivo. Por essa razão, a penalidade a ser empregada passa a ser aquela prevista no inciso III do art. 12 da do Lei n° 8.218/91 e não no inciso I. Ademais, prossegue, seria irrelevante a circunstância de os arquivos magnéticos exigidos estarem em formato diverso daquele solicitado, pois a multa decorreu do descumprimento do prazo estabelecido para apresentação dos arquivos. Salienta que a imposição pelo inciso I somente teria lugar se houvesse a entrega tempestiva dos arquivos, porém sem atendimento à forma solicitada. Assevera que o art. 97, VI, do CTN, determina que somente a Lei pode estabelecer redução de penalidade e que ao afastar imotivadamente o referido comando, o colegiado a quo terminou por criar hipótese de redução de penalidade não prevista em lei, violando, por conseqüência, o Principio da Legalidade. Pede, ao final, pelo conhecimento e provimento do recurso para restabelecer a multa no percentual previsto no lançamento. Pelo Despacho de Admissibilidade 12010072 da 2ª Câmara da Primeira Seção do CARF, deuse seguimento ao Recurso Especial da PFN (efl.s 716/717). A interessada também foi cientificada do acórdão do colegiado a quo, em 17/07/2012 (conforme quota à efl. 693) e manejou Embargos de Declaração contra o acórdão ora recorrido (efls. 723/732). Além disso, foi cientificada do Recurso Especial da PFN e do despacho que o admitiu e também apresentou Contrarrazões ao Recurso Especial da PFN (efls. 737/771). Fl. 1369DF CARF MF 4 Já em preliminares afirma que o Recurso Especial da PFN não deve ser conhecido por não ter sido apontada, fundamentadamente, a contrariedade à lei. No mérito, defende que não há contrariedade à lei uma vez que não restaram atendidos os requisitos legais para imposição de multa tal como exigida no auto de infração, tendo em vista que a norma apontada pela auditoria sequer lhe seria aplicável. Destaca que, em que pese o acerto do colegiado a quo ao reconhecer a violação à lei contida no auto de infração pela indevida imposição da multa no patamar de 1%, a d. Câmara não poderia inovar ao lançamento, alterando o enquadramento legal da exigência, já que o lançamento é uma atividade privativa da autoridade administrativa lançadora, conforme prescreve o art. 142 do CTN. Nesse sentido, o correto teria sido anular o lançamento e, uma vez que tal providência não foi adotada, seria aqui que se caracterizaria à contrariedade à lei. Pede seja reconhecida a denúncia espontânea, eis que os arquivos magnéticos teriam sido entregues depois de readquirida a espontaneidade, como constou do voto vencido. Salienta que não houve no caso, atraso ou nãoapresentação de arquivos porque, embora não tenha havido a entrega dos arquivos no prazo inicial fixado pelo auditor no termo de intimação expedido com base no MPF n° 07.1.90.00200500407, é certo que, com a entrega dos mesmos em 03/04/2007, foi cumprida inteiramente a exigência, e antes que nova ação fiscal começasse. Após a lavratura do auto de infração e a interrupção do procedimento fiscal, a intimação de 04/08/2006 não mais existia juridicamente especialmente em 24/07/2007 data do auto, exatamente porque relativa a um MPF já exaurido e a uma ação fiscal já encerrada anteriormente e sem reiteração de novos atos escritos. Assinala que houve entrega dos arquivos requeridos, ainda que sob outro formato daquele exigido, e que isso possibilitou o desenvolvimento dos trabalhos fiscais, demonstrando que não houve qualquer prejuízo ao Fisco. Insiste que se havia também norma regulamentar garantindo ao contribuinte o direito de entregar os arquivos em formato diverso (art. 3°, §2°, da IN n° 86/01), sem cominação de multa, e se isso já fora aceito pela Receita em oportunidades anteriores, não poderia o AFRFB ter partido diretamente para a aplicação de sanção patrimonial, de valor extremamente elevado, sem considerar que a recorrente havia postulado, em 2006, ainda no curso da primeira fiscalização, a entrega dos arquivos em formato diverso, bem como que em 03/04/2007 a interessada procedeu a entrega da totalidade dos arquivos nos exatos moldes previstos na IN SRF nº 86/01. Registra ser absolutamente desproporcional o valor da multa pelo atraso no cumprimento de obrigação acessória lavrada, perto de 400 milhões de reais, se comparada ao crédito tributário constituído em relação ao mesmo período, de cerca de 140 milhões de reais Diz que o fato de ter sido lavrado auto de infração relativo a outro período, com base em arquivos magnéticos no formato antigo, demonstra que não houve prejuízo ao Fisco e defende o afastamento da multa por imutabilidade de lançamento anterior, regularmente notificado, relativo ao ano de 2002. Ao final requer preliminarmente o não conhecimento do Recurso Especial da Fazenda Nacional, ou, caso conhecido, sejalhe negado provimento haja vista a inexistência da contrariedade aos dispositivos legais. Os Embargos de Declaração apresentados pela interessada foram rejeitados por despacho do Presidente da Turma (efls. 772/778 e 780), que lhe foi cientificado em 29/05/2013, como demonstra a intimação e cópia do AR às efls. 781/783 A interessada solicitou a juntada de arquivos digitais contendo Recurso Especial e cópias de acórdãos paradigmas, em 17/06/2013 documento à efls. 784 Fl. 1370DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.341 5 acompanhada da justificativa de efls. 785. Por meio dessa justificativa explica que considerou como último dia de prazo para apresentação do apelo especial, o dia 14/06/2013. Contudo, teria se equivocado ao informar como número de referência no sistema SVA o processo nº 19515.000974/200534. Afirma que além de corrigir o erro, promoveu nova validação, dessa vez com o número correto do presente processo no mesmo dia 14/06/2013, tendo sido orientada a efetuar agendamento na DEMAC para comprovar a regularidade do procedimento e a tempestividade do recurso. Nas razões recursais (efls. 791/853), invoca divergência jurisprudencial entre o Acórdão nº 120100.037 e outras decisões do CARF/Conselho de Contribuintes, no que se refere aos seguintes temas: (i) quanto à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91, afirmando ser incabível a alteração e/ou desclassificação dos critérios jurídicos do lançamento e apregoando a autonomia das multas previstas nos incisos I, II e III. Indicou como paradigmas o Acórdão nº 10709.342 e o Acórdão nº 110100.622; (ii) quanto à interpretação do art. 146 do CTN, assinalando que a câmara a quo reduziu sua abrangência. Indicou como paradigma o Acórdão nº 9303001.702; (iii) no que toca à reaquisição da espontaneidade quando da lavratura do auto de infração, eis que a intimação fiscal anterior já não produzia mais efeitos em vista da ação fiscal anterior encerrada. Indicou como paradigmas o Acórdão nº 910100.020 e o Acórdão nº 110100.690; (iv) em relação à falta de motivação para a penalidade aplicada no auto de infração e no acórdão recorrido, com o conseqüente cerceamento do direito de defesa. Indicou como paradigmas o Acórdão nº 10194.934 e o Acórdão nº 230101.001. No mérito, em apertada síntese, aduz ser incabível a alteração, pela decisão recorrida, do critério jurídico do lançamento, com o reenquadramento dos fatos em outro dispositivo legal diferente daquele indicado no auto de infração, devendo o colegiado superior declarar a nulidade do lançamento. E isto porque o colegiado a quo já havia se pronunciado a respeito da inaplicabilidade, ao caso, da sanção prevista no inciso III do art. 12 da Lei n° 8.218/91, mas que, extrapolando de sua competência, alterou a subsunção dos fatos a outro dispositivo legal, no caso o inciso I da mesma Lei n° 8.218/91, que trata de sanção totalmente diversa daquela referida no inciso III. Prossegue afirmando que tal conduta implicou em inovação e, conseqüentemente, em novo lançamento cuja competência foi usurpada, já que privativa da autoridade lançadora e não da julgadora, implicando em violação de legalidade. Cita dispositivos legais e colaciona jurisprudência e interpretações doutrinárias. Lembra que decorrido o prazo de 60 (sessenta) dias de que trata o parágrafo 2º do art. 7º do Decreto nº 70.235/72, o contribuinte readquire a espontaneidade pela inércia da fiscalização na prática de ato escrito que indique o prosseguimento dos trabalhos e que, como conseqüência, a hipótese de incidência para aplicação dessa multa desaparece após a fluência desse prazo, sendo necessária uma nova intimação para estabelecer novamente o liame para a incidência da multa. Haveria, assim, no caso, ausência de suporte fático essencial para a aplicação da penalidade. Ressalta, como matéria de ordem pública, que o art. 8º da Lei n° 12.766/2012, claramente instituiu um regime sancionatório mais favorável do que aquele previsto no art. 12 da Lei n° 8.218/91 e que o art. 106, do CTN, impõe a retroatividade da lei que comina penalidade menos gravosa ao fato. Fl. 1371DF CARF MF 6 Pede, ao final, pelo provimento de seu Recurso Especial para que seja reformado o acórdão recorrido declarandose a improcedência total do auto de infração. Foi proferido, em 01/06/2012, pelo então presidente da 2ª Câmara da Primeira Seção do CARF, um primeiro despacho de admissibilidade desse REsp (efls. 1.259/1.261). Mas esse despacho analisou uma única divergência, aquela relativa à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91, admitindoa, mas silenciando quanto às demais questões divergentes. A PFN foi cientificada do Recurso Especial da interessada e do despacho de admissibilidade acima referido e apresentou Contrarrazões (efls. 1.263/1.276) na qual, em preliminares, pede pelo não conhecimento do apelo especial porque (i) a interessada teria inovado nas alegações de defesa, o que seria vedado em face do instituto da preclusão; e (ii) porque a situação jurídica dos paradigmas é diversa, eis que a infração apontada e, conseqüentemente, a fundamentação legal do lançamento, é diferente daquela que fundamentando a presente autuação, não se configurando, pois, a divergência jurisprudencial necessária para o conhecimento do recurso especial interposto. No mérito lembra que não cumprida a prestação de fazer ou de não fazer, havendo previsão de multa pelo inadimplemento, esta será tratada como obrigação principal e que a responsabilização pelo inadimplemento independe de dolo ou culpa e das conseqüências do ato praticado ou que se deixou de praticar. Assinala que as normas tributárias que versem sobre a dispensa do cumprimento de prestações de fazer e de não fazer devem ser interpretadas literalmente, sem margem para ampliação de seu sentido evidente. No caso dos autos, a obrigação tributária acessória prevista na Lei nº 8.218/91, determina que algumas entidades devem manter à disposição da Receita Federal do Brasil sua escrituração contábil eletrônica. Tratarseia de uma obrigação de fazer criada em 1991. Sustenta que o descumprimento dessa obrigação de fazer, a princípio, não acarreta penalidade, que é prevista apenas para o descumprimento de uma segunda obrigação de fazer, que é a de apresentar os arquivos que deveriam ser mantidos pelo contribuinte à disposição do Fisco. Presume, assim, a lei que o contribuinte que não apresenta os arquivos a tempo não os mantinha à disposição do Fisco, ou os mantinha fora do formato padrão, sem que tivesse condições de padronizálos a tempo. Outrossim, não haveria como incidir na espécie o mencionado inciso I, do art. 12, da Lei nº 8.218/91, eis que o contribuinte não entregou sua contabilidade eletrônica dentro do prazo assinalado, ainda que em formato diverso do solicitado pelo Fisco. Como não haveria controvérsia acerca da ausência de apresentação dos arquivos magnéticos solicitados no prazo fixado pela autoridade fiscal, revelarsia imperiosa a aplicação da multa prevista no art. 12, III, da Lei nº 8.218/91, tal como consta no auto de infração. Requer, ao final, preliminarmente, o não conhecimento do Recurso Especial do contribuinte e, no mérito, pelo seu improvimento com a conseqüente manutenção da exigência. Verificandose, posteriormente, que o despacho que admitiu o Recurso Especial da contribuinte analisou uma única divergência, foi proferido um despacho de admissibilidade complementar (efls. 1.285/1.291) e neste despacho também foi analisada mais uma única divergência, no caso aquela relativa a reaquisição da espontaneidade quando da lavratura do auto de infração. Também em relação a essa divergência foi dado seguimento ao apelo especial da contribuinte. Cientificada desse despacho de admissibilidade complementar a PFN apresentou Contrarrazões (efls. 1.293/1.299). Nessa peça a PFN reforça, em preliminares, a Fl. 1372DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.342 7 tese de não conhecimento do Recurso Especial da contribuinte por ausência de similitude fática entre o acórdão recorrido e os paradigmas indicados e aponta que restou vencedor o entendimento acerca da inaplicabilidade do instituto da denúncia espontânea, previsto no art. 138 do CTN, às obrigações acessórias autônomas, como é o caso da presente autuação. No mérito, reafirma as razões anteriormente deduzidas, pedindo pelo não conhecimento do REsp e, no mérito, pelo seu não provimento. Novamente verificouse que o Recurso Especial da contribuinte não fora totalmente apreciado e, assim, mais uma vez foi proferido um terceiro despacho de admissibilidade (efls. 1.306/1.317)), desta vez para análise das divergências que não haviam sido apreciadas, relativas a (a) interpretação do art. 146 do CTN e a (b) falta de motivação para a penalidade aplicada no auto de infração e no acórdão recorrido, com o conseqüente cerceamento do direito de defesa. Mas esse despacho considerou que as divergências não restaram caracterizadas e foi negado seguimento ao Recurso Especial no que se refere a esses dois temas. Contra essa decisão a contribuinte não apresentou agravo. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Adriana Gomes Rêgo Relatora 1 Recurso Especial da PFN O presente Recurso Especial é tempestivo. Portanto, dele tomo conhecimento. 1.1 PRELIMINARES Inicio por apreciar as alegações preliminares deduzidas nas Contrarrazões apresentadas pela contribuinte e que se referem a questões que impossibilitariam o conhecimento do Recurso Especial da Fazenda Nacional. A contribuinte afirma que o Recurso Especial da PFN não deve ser conhecido por não ter sido apontada, fundamentadamente, a contrariedade à lei. Contudo, sem razão a contribuinte porque a PFN, além de apontar que a decisão recorrida, ao aplicar ao caso o inciso I do art. 12 da Lei nº 8.218/91, em substituição ao inciso III do mesmo dispositivo legal adotado pela auditoria fiscal, no auto de infração, teria contrariado o próprio art. 12, inciso III, da Lei nº 8.218/91, afirmou ter a decisão contrariado o art. 2º da IN SRF nº 86/2001 e o art. 97, VI, do CTN. Por oportuno, transcrevo o seguinte trecho do recurso da Fazenda quando fala do cabimento do recurso especial: A decisão ora impugnada merece reforma, pois como será demonstrado detalhadamente adiante, contrariou o art. 12, III da Lei n° 8.218/91, art. 2° da IN SRF 86/2001 e art. 97, VI do CTN. Fl. 1373DF CARF MF 8 Na seqüência, quando trata dos fundamentos para a reforma do acórdão recorrido, o recurso se prestou, justamente, a fundamentar a contrariedade à lei invocada no apelo especial, transcrevendo as bases legais e trazendo o seu entendimento a justificar os motivos pelos quais entendeu que houve contrariedades às leis. Por tais razões afasto a preliminar suscitada pela defesa e conheço do Recurso Especial da PFN. 2 Recurso Especial da Contribuinte 2.1 TEMPESTIVIDADE A interessada foi cientificada do acórdão do colegiado a quo, em 17/07/2012 (conforme consta à efls. 718/722) e manejou Embargos de Declaração contra o acórdão ora recorrido (efls. 723/732). Foi cientificada do despacho que rejeitou os Embargos de Declaração, em 29/05/2013, quartafeira, como demonstra a cópia do AR à efls. 781/783. Foi solicitada a juntada de arquivos digitais contendo Recurso Especial e cópias de acórdãos paradigmas, em 17/06/2013 documento à efls. 784 acompanhada da justificativa de efls. 785, por meio da qual informa ter sido intimada no dia 29/05/2013 e que o dia 30/05/2013 teria sido declarado ponto facultativo, conforme item VIII da Portaria nº 3, de 3 de janeiro de 2013, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Explica que considerou como último dia do prazo para apresentação do apelo especial, o dia 14/06/2013. Contudo, teria se equivocado ao informar como número de referência no sistema SVA o processo nº 19515.000974/200534. Afirma que além de corrigir o erro, promoveu nova validação, dessa vez com o número correto do presente processo no mesmo dia 14/06/2013, tendo sido orientada a efetuar agendamento na DEMAC para comprovar a regularidade do procedimento e a tempestividade do recurso. Analisandose então essas alegações, constatase que, de fato, a Portaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, nº 3, publicada no DOU 1ª Seção, no dia 04/01/2013 (página 47), divulgou os dias de feriados nacionais e os dias de ponto facultativo no ano de 2013, e declarou o dia 30/05/2013, quintafeira, como ponto facultativo por ser considerado Corpus Christi. Contudo, essa mesma Portaria nº 3/2013, nada dispôs a respeito do dia 31/05/2013, sextafeira. Sendo assim, considerase o dia 31/05/2013, sextafeira, dia útil e, portanto, de expediente normal da repartição. Em razão disso, o dia 31/05/2013, sextafeira, é considerado o primeiro dia do prazo de 15 (quinze) dias destinado à apresentação tempestiva de Recurso Especial, no caso em apreço. Esse prazo encerrouse no dia 14/06/2013, também uma sextafeira. Consta dos documentos juntados aos autos às efls. 784/790 a comprovação de compareceu à Demac /RJ no dia 14/6/2013 para validar os documentos que tentou transmitir. Em face do exposto, é de se reconhecer a tempestividade do Recurso Especial da contribuinte. 2.2 PRELIMINARES A PFN, nas Contrarrazões apresentadas ao apelo especial da contribuinte, alega que as divergências apontadas não teriam sido caracterizadas em decorrência da falta de similitude fática entre as decisões paradigmas e o acórdão recorrido. Alega, ainda, que teria havido inovação nas razões de defesa. Assim, passo a analisar. Fl. 1374DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.343 9 A PFN aduz, no tocante à inovação, que a argumentação constante do recurso especial interposto pelo sujeito passivo diverge substancialmente da defesa apresentada por ocasião da impugnação e do recurso voluntário. Assinala que ao analisar as citadas peças de defesa apresentadas pela contribuinte, observarseia que a linha argumentativa adotada seria toda no sentido de buscar justificar a não apresentação dos arquivos magnéticos no prazo assinalado pela autoridade fiscal e propalar a falta de prejuízo para a União. Por outro lado, no recurso especial interposto, a contribuinte teria inovado, defendendo existir erro na fundamentação legal do lançamento. Não vejo, contudo, que tenha havido inovação nas razões de defesa deduzidas pela contribuinte. Primeiramente porque tal argumentação da defesa foi oferecida em sede de Recurso Voluntário (fls 614 e ss do volume 7 digitalizado) tendo, inclusive, sido contestada pela PFN em sede de Contrarrazões ao Recurso Voluntário (fls. 648 e ss do volume 7 digitalizado). Ademais, foi o voto vencedor proferido no acórdão recorrido que consignou ter havido erro na fundamentação legal do lançamento. Sendo assim, a contribuinte somente poderia apresentar Recurso Especial de divergência de questões abordadas no acórdão recorrido. E essa questão foi colocada pelo voto vencedor do acórdão guerreado. Afasto, portanto, a preliminar de inovação das razões de defesa apresentada pela PFN em suas Contrarrazões. Passo, agora, a verificar a caracterização dos temas apontados como divergentes pelo sujeito passivo. 2.2.1 Análise das Divergências Nas razões recursais (efls. 791/853) a interessada invocou divergência jurisprudencial entre o Acórdão nº 120100.037 e outras decisões do CARF/Conselho de Contribuintes, no que se refere aos seguintes temas admitidos: (i) quanto à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91, afirmando ser incabível a alteração e/ou desclassificação dos critérios jurídicos do lançamento e apregoando a autonomia das multas previstas nos incisos I, II e III. Indicou como paradigmas o Acórdão nº 10709.342 e o Acórdão nº 110100.622; e (ii) no que toca à reaquisição da espontaneidade quando da lavratura do auto de infração, eis que a intimação fiscal anterior já não produzia mais efeitos em vista da ação fiscal anterior encerrada. Indicou como paradigmas o Acórdão nº 910100.020 e o Acórdão nº 110100.690; 1ª Tema Divergente Admitido: quanto à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91 A Primeira Divergência aduzida pela contribuinte consta do seu recurso sob o tópico 3.2.2.1. Essa divergência foi admitida por meio do Despacho de efls. 1.259/1.261. Como a Procuradoria trouxe argumentos pelo não conhecimento em face da ausência de similitude fática, retomase ao cotejo das decisões recorrida e paradigmas. Pois bem, no voto vencedor, o redator assinalou que a conduta de não entregar arquivos magnéticos é mais grave do que aquela de entregar arquivos magnéticos em formato distinto daquele solicitado na intimação lavrada. Assim, frente à dificuldade de a Receita Federal efetuar a fiscalização diante da total ausência de arquivos magnéticos, essa conduta, por prejudicar o desenvolvimento dos trabalhos do Fisco, seria punida com uma multa mais gravosa, de 1% da receita bruta. Fl. 1375DF CARF MF 10 Por outro lado, a dificuldade do Fisco seria mitigada pela entrega dos arquivos magnéticos em formato diverso, já que a Receita Federal possuiria expertise suficiente a decodificar tais informações. Por tal razão, a conduta de entregar arquivos magnéticos em outro formato, que entendeu ter sido adotada pelo sujeito passivo, causaria prejuízo menor ao Fisco, em comparação com aquele experimentado no caso da não entrega de arquivos em qualquer formato. Assim, a lei também estabeleceu pena mais branda para esta hipótese, que é a multa no patamar de 0,5% da receita bruta. No caso, como entendeu o colegiado, por maioria, que a pessoa jurídica apresentou arquivos magnéticos em formato diverso daquele solicitado pela auditoria, aplicaram a penalidade mais branda do que aquela aplicada pela fiscalização, ou seja, ao invés da multa calculada em 1% da receita bruta, prevista no inciso III do art. 12, da Lei nº 8.218/91, fez incidir a multa de 0,5% da receita bruta, prevista no inciso I do mesmo dispositivo. Assim, o voto vencedor deduziu: Destarte, considero que a resposta à intimação fiscal no contexto dos próprios fatos narrados pela autoridade, como a constante colaboração da fiscalizada, deve ser interpretada favoravelmente ao autuado. Se tudo isso não bastasse, devemos ainda destacar a expressa regra de interpretação prevista no Código Tributário Nacional: Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpretase da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto; I a capitulação legal do fato; II a natureza ou ás circunstâncias materiais do fato, ou a natureza ou extensão dos seus efeitos; III a autoria, imputabilidade, ou punibilidade; IV a natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. Os elementos do feito, pelas razões acima expostas, formam a minha convicção de que a situação fática se enquadra na atenuante. Nada obstante, ainda que pairassem dúvidas, elas deveriam ser interpretadas a favor da autuada por força da cristalina dicção do CTN. O primeiro paradigma apresentado pela defesa, tem a seguinte ementa: Acórdão nº 10709.342 ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Exercício: 2000, 2001, 2002 MULTA REGULAMENTAR. ENTREGA DE INFORMAÇÕES EM MEIO MAGNÉTICO. FALHA NA LEITURA DOS ARQUIVOS. DESCUMPRIMENTO DAS ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA. SUCESSIVAS INTIMAÇÕES PARA CORREÇÃO DOS DEFEITOS. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE PENALIDADE. Tendo o contribuinte se desincumbido do dever instrumental de proceder à entrega das informações solicitadas pela fiscalização em meio magnético, a impossibilidade de acesso às informações por descumprimento das especificações de sistema constantes da legislação de regência enseja a aplicação da penalidade prevista no art. 12, I, da Lei nº 8.218/91, sendo ilegítima a aplicação da multa disciplinada no inciso II, posto que na hipótese não se cogita de omissão ou prestação defeituosa de informações. Fl. 1376DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.344 11 Sucessivas intimações do contribuinte para correção dos defeitos de forma verificados nos arquivos magnéticos, que, ao final, foram corrigidos, permitindo o acesso às informações prestadas, elidem a aplicação da multa prevista no art. 12, I, da Lei n°. 8.218/91. Precedentes. Neste caso, a relator do voto condutor explicou que a auditoria fiscal intimou o sujeito passivo a apresentar arquivos magnéticos em determinado formato. O sujeito passivo apresentou diversas mídias contendo os arquivos. Contudo, essas mídias, por estarem em formato diverso daquele solicitado, não puderam ser lidas, impossibilitando a auditoria fiscal de ter acesso aos dados nelas contidos. Foi, então, aplicada a multa prevista no inciso II do art. 12 da lei nº 8.218/91 multa por omissão de informações ou prestação incorreta destas, que é de 5% do valor da operação. Consignou o relator do voto condutor do paradigma 10709.342, que os fatos descritos apontam para a caracterização da infração prevista no inciso I, do art. 12, da Lei n°. 8.218/1991, ou seja, entrega das informações em meio magnético sem a observância da forma prevista na legislação de regência, impedindo o acesso das informações pelos agentes de fiscalização. E, ainda, mormente diante das sucessivas reintimações para que a pessoa jurídica procedesse à correção da forma de envio. Vêse, então, que as situações se assemelham, muito embora, no caso do recorrido a capitulação legal da autuação tenha sido diversa daquela do paradigma. A similitude decorre de que, em ambos os casos a auditoria fiscal adotou uma penalidade prevista em um dos incisos do art. 12 da Lei n°. 8.218/1991, e os colegiados entenderam que deveria ter sido imposta a penalidade prevista em outro inciso do mesmo artigo. Contudo, no caso do recorrido, o colegiado efetuou essa subsunção dos fatos à nova penalidade, enquanto que no paradigma entendeuse por manter a exoneração do lançamento, o que caracteriza a divergência jurisprudencial, devendo ser admitido o Recurso Especial nesta questão. Diante da caracterização da divergência na comparação entre o recorrido e este primeiro paradigma, me abstenho de analisar o segundo paradigma indicado para o tema, visto que isto é desnecessário. 2º Tema Divergente Admitido: reaquisição da espontaneidade quando da lavratura do auto de infração Esta divergência foi admitida por meio do Despacho de efls. 1.285/1.291, mas como também houve questionamento por parte da Fazenda Nacional, aduzindo pelo não conhecimento, fazse necessário rever essa admissibilidade. Aduz a contribuinte, neste tópico, que a reaquisição da espontaneidade antes da lavratura do auto de infração foi reconhecida pelo voto vencido, no acórdão recorrido, de lavra do Conselheiro Alexandre Barbosa Jaguaribe, que reproduz totalmente no Recurso Especial. Assinala que o voto vencedor preferiu negar a reaquisição da espontaneidade, sob o argumento de que há obrigação autônoma, que não se compatibiliza com o instituto da denúncia espontânea previsto no art. 138, do CTN, em entendimento divergente àqueles exarados pelos acórdãos paradigmas nº 910100.020 e nº 110100.690. Contudo, cotejando os votos em referência, não vislumbro a citada divergência jurisprudencial. É que o voto vencedor do acórdão recorrido afastou o entendimento do acórdão recorrido de que houve a reaquisição da espontaneidade por entender que, como a Fl. 1377DF CARF MF 12 autuação era por uma obrigação acessória autônoma, descabia falar em denúncia espontânea, e por conseguinte, não se podia admitir a tese da reaquisição da espontaneidade. Ocorre que o paradigma 910100.020 não tratou de exigência de multa por descumprimento de obrigação acessória, mas sim de tributo que foi objeto de parcelamento. São, portanto, situações distintas. Da mesma forma, também o acórdão 110100.690 não tratou de multa por obrigação acessória mas sim de lançamento de ofício de valores que a contribuinte argüiu terem sido incluídos em parcelamento especial em um momento de reaquisição de espontaneidade. Vejase que a questão de fundo para o voto vencedor do acórdão paradigma é o fato de se tratar de uma obrigação acessória autônoma. Assim, só poderia haver similitude fática acaso a situação analisada no paradigma fosse um lançamento de multa regulamentar por descumprimento de obrigação acessória e, ainda assim, o colegiado entendesse que haveria denúncia espontânea ou reaquisição de espontaneidade. Portanto, relativamente a este tema, houve equívoco no despacho de admissibilidade que admitiu a caracterização da divergência. Em razão da falta de caracterização de divergência jurisprudencial, em relação ao tema reaquisição da espontaneidade quando da lavratura do auto de infração, voto por não admitir o Recurso Especial nesta matéria. Em resumo, encaminho meu voto, em sede de preliminares, por conhecer integralmente o Recurso Especial da Procuradoria e por conhecer, em parte, o Recurso Especial da contribuinte, admitindo, apenas, a rediscussão do tema relativo à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91, eis que caracterizada a divergência, e negando seguimento ao Recurso Especial no que se refere ao tema reaquisição da espontaneidade quando da lavratura do auto de infração, eis que não caracterizado o dissenso jurisprudencial por ausência de prequestionamento da matéria. 3 Mérito No mérito a questão trazida para reapreciação diz respeito à incidência da multa regulamentar prevista nos artigos 11 e 12 da Lei nº 8.218, de 1991, ao caso concreto. Vejamos o referido dispositivo legal: Art. 11. As pessoas jurídicas que utilizarem sistemas de processamento eletrônico de dados para registrar negócios e atividades econômicas ou financeiras, escriturar livros ou elaborar documentos de natureza contábil ou fiscal, ficam obrigadas a manter, à disposição da Secretaria da Receita Federal, os respectivos arquivos digitais e sistemas, pelo prazo decadencial previsto na legislação tributária. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) § 1º A Secretaria da Receita Federal poderá estabelecer prazo inferior ao previsto no caput deste artigo, que poderá ser diferenciado segundo o porte da pessoa jurídica. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) § 2º Ficam dispensadas do cumprimento da obrigação de que trata este artigo as empresas optantes pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte SIMPLES, de que trata a Lei nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) Fl. 1378DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.345 13 § 3º A Secretaria da Receita Federal expedirá os atos necessários para estabelecer a forma e o prazo em que os arquivos digitais e sistemas deverão ser apresentados. .(Incluído pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) § 4º Os atos a que se refere o § 3o poderão ser expedidos por autoridade designada pelo Secretário da Receita Federal. .(Incluído pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) Art. 12 A inobservância do disposto no artigo precedente acarretará a imposição das seguintes penalidades: I multa de meio por cento do valor da receita bruta da pessoa jurídica no período, aos que não atenderem à forma em que devem ser apresentados os registros e respectivos arquivos; II multa de cinco por cento sobre o valor da operação correspondente, aos que omitirem ou prestarem incorretamente as informações solicitadas, limitada a um por cento da receita bruta da pessoa jurídica no período; .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) III multa equivalente a dois centésimos por cento por dia de atraso, calculada sobre a receita bruta da pessoa jurídica no período, até o máximo de um por cento dessa, aos que não cumprirem o prazo estabelecido para apresentação dos arquivos e sistemas. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) Parágrafo único. Para fins de aplicação das multas, o período a que se refere este artigo compreende o anocalendário em que as operações foram realizadas. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) No presente caso temse que, nos termos do Relatório Fiscal (fls. 08 e ss do volume 1 digitalizado), a contribuinte foi intimada em 10/08/2006 para, no prazo de 20 (vinte) dias, apresentar arquivos magnéticos com a contabilidade dos anoscalendário 2001 a 2005, nos termos da IN SRF nº 86/2001 e no formato estipulado pelo ADE COFIS nº 15/2001, conforme instruções contidas na própria intimação (fls. 17/19 do volume 1 digitalizado) e aviso de recebimento AR datado de 10/08/2006 (fl. 20 do volume 1 digitalizado). Esse prazo inicial de 20 (vinte) dias esgotouse em 30/08/2006. Ainda, nos termos do Relatório Fiscal, a contribuinte respondeu ao termo de intimação no dia 04/09/2006, expondo dificuldades em apresentar os arquivos e solicitando prazo adicional para atendimento da intimação em mais 30 (trinta) dias. A auditoria prorrogou por mais 20 (vinte) dias o prazo para apresentação dos arquivos magnéticos. Ou seja, os arquivos deveriam ter sido apresentados até 25/09/2006. Findo esse prazo, a fiscalização reintimou a pessoa jurídica, desta feita para apresentação dos arquivos magnéticos até 09/10/2006, portanto, concedendo um prazo adicional de 15 (quinze) dias. O AR data de 05/10/2006 (fls. 21/22 do volume 1 digitalizado). Vêse, então, que o prazo inicialmente concedido para apresentação dos arquivos magnéticos, de 20 (vinte) dias, foi estendido para nada menos do que 60 (sessenta). Mesmo assim, a obrigação não foi cumprida nos moldes que intimouse. Fl. 1379DF CARF MF 14 É verdade que a contribuinte solicitou, mas apenas em 09/10/2006, autorização para apresentar os arquivos magnéticos em outro formato e, ainda, somente nos termos do cronograma que ofereceu junto de sua solicitação (fls. 23 e ss do volume 1 digitalizado). Mas nessa data já havia sido transcorrido o triplo do prazo inicialmente concedido. E, ainda assim, a contribuinte ofereceu apenas uma alternativa à auditoria fiscal, ou seja, dispôsse a apresentar os arquivos de forma parcelada e em formato diverso daquele solicitado. Diante da postura do sujeito passivo, o agente fiscal aplicou a multa correspondente no inciso III do art. 12, da Lei nº 8.218/91 (multa equivalente a dois centésimos por cento por dia de atraso, calculada sobre a receita bruta da pessoa jurídica no período, até o máximo de um por cento dessa, aos que não cumprirem o prazo estabelecido para apresentação dos arquivos e sistemas) e consignou no Relatório Fiscal: [...] O contribuinte sempre se mostrou solicito e procurou oferecer parte dos arquivos â medida que ia conseguindo gerálos no formato da IN 86/2001. Contudo, a alternativa não pôde ser aceita porque somente se consegue realizar o trabalho fiscal com a contabilidade eletrônica se a totalidade dos arquivos estiver disponível. Aceitar apenas parte dos arquivos contáveis magnéticos equivaleria a concordar que o contribuinte mostrasse apenas algumas páginas de seus livros contábeis impressos à maneira tradicional. As argumentações do contribuinte sobre a quantidade de dados a serem gerados e o esforço computacional necessário para atendimento do Termo de Intimação Fiscal foram levadas em consideração, tanto que o prazo administrativo foi largamente estendido. 0 prazo total concedido foi de 60 (sessenta) dias, ou seja, 2 (dois) meses. Por outro lado, devese ter em conta que o dispositivo legal já citado obriga o contribuinte a preparar seus arquivos e manter sua contabilidade à disposição do fisco durante o prazo decadencial. Os contribuintes não devem esperar serem intimados para somente então prepararem os arquivos magnéticos de sua contabilidade. Assim, temse que não se trata, como assentou o voto vencedor do acórdão recorrido, de atendimento à intimação com a apresentação de arquivos em layout diverso. Até porque o pedido para apresentar em layout diverso foi efetuado somente em outubro, quando a primeira intimação foi feita ainda em agosto. A hipótese configura, sim, não atendimento à intimação no prazo estipulado pela autoridade fiscal. E isso se depreende claramente da resposta apresentada pela empresa em 09/10/2006, na qual consta expressamente, em negrito e sublinhada, o item: "proposta para atendimento à fiscalização". Nessa "proposta", enviada depois que se passou o triplo do prazo inicialmente concedido pela auditoria, a pessoa jurídica se dispõe a disponibilizar, de imediato, os arquivos de registros contábeis (item "a" do Termo de Intimação) e as tabelas de plano de contas e centro de custos e despesas (subitens 2 e 3 do item "h" do Termo de Intimação), referentes aos anos de 2001 a 2005, no formato exigido pelo ADE COFIS nº 15/2001. Aliás, é preciso observar que a pessoa jurídica se dispôs a disponibilizar os arquivos. Não há nada nessa resposta da contribuinte, ou no Relatório Fiscal, que indique que esses arquivos tenham sido efetivamente entregues no dia 09/10/2006, quando foi apresentada referida petição, motivo pelo qual sequer se pode concordar com a decisão recorrida de que houve apresentação em formato diverso. Fl. 1380DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.346 15 A respeito da decisão recorrida, é importante destacar que ela partiu da premissa de houve a apresentação, porém em formato diverso, conforme se pode observar dos seguintes trechos: Como a empresa apresentou os arquivos magnéticos após cinqüenta dias do prazo fixado na intimação fiscal, foilhe aplicado o percentual sancionador máximo, isto é, 1% sobre sua receita bruta. Ocorre que isso não aconteceu. A intimação da fiscalização (efls. 18/19) foi para apresentar os arquivos de registros contábeis, os arquivos de clientes e fornecedores, os arquivos de controle patrimonial, os arquivos das notas fiscais de emissão própria e de terceiros, os arquivos relativos ao comércio exterior, à folha de pagamento, além de algumas tabelas. Enquanto que a única informação nos autos de efetiva entrega consta das efls. 27 e seguintes por meio das quais foram apresentados apenas os arquivos relativos aos clientes e fornecedores. Assim, a hipótese é mesmo de não entrega no prazo estabelecido. É verdade que constou da referida resposta, no mesmo item "proposta para atendimento à fiscalização", a alternativa de apresentar esses mesmos arquivos em formato diverso daquele estipulado pelo ADE COFIS nº 15/2001, desde que, como ressaltou nesse mesmo documento, isso ficasse a critério da autoridade requisitante, nos termos art. 2º do ADE COFIS nº 15/2001. Assim, o que se vê de concreto nos autos é que a contribuinte, em que pese intimada e reintimada, não apresentou os arquivos magnéticos determinado pela IN SRF nº 86, de 2001, no formato exigido pelo ADE COFIS nº 15/2001 no prazo estipulado pela auditoria fiscal que foi, de início, de 20 (vinte) dias, posteriormente prorrogado até 60 (sessenta) dias. Por oportuno registro que é equivocado o entendimento assentado pelo voto vencedor do acórdão recorrido no que diz respeito à obrigatoriedade de a autoridade fiscal aceitar os arquivos em formato diverso daquele solicitado. Primeiramente porque, como sobejamente já deduzido em decisões pretéritas, o procedimento fiscal se deu no ano de 2006, enquanto que a exigência para manter arquivos digitais já existia desde 2002, tanto a própria determinação em si, contida na IN SRF nº 86, de 2001, quanto o layout exigido, também desde 2001, pelo ADE COFIS nº 15/2001. O fato de a pessoa jurídica não manter os arquivos digitais no formato exigido pela legislação à disposição do Fisco, desde 2002, já demonstra inobservância da norma definida no art. 11 da Lei nº 8.218/91: Art. 11. As pessoas jurídicas que utilizarem sistemas de processamento eletrônico de dados para registrar negócios e atividades econômicas ou financeiras, escriturar livros ou elaborar documentos de natureza contábil ou fiscal, ficam obrigadas a manter, à disposição da Secretaria da Receita Federal, os respectivos arquivos digitais e sistemas, pelo prazo decadencial previsto na legislação tributária. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) (*) destaquei Em seguida, porque o ADE COFIS nº 15/2001, no art. 2º, dispõe que fica a critério da autoridade fiscal aceitar arquivos em formato diverso daquele estipulado pelo próprio ADE COFIS nº 15/2001: Art. 2º. A critério da autoridade requisitante, os arquivos digitais de que trata § 1º do artigo anterior poderão ser apresentados em Fl. 1381DF CARF MF 16 forma diferente da estabelecida neste Ato, inclusive em decorrência de exigência de outros órgãos públicos. Ora, não se vê no dispositivo nenhuma obrigatoriedade por parte do agente fiscal em aceitar arquivos magnéticos em outro layout. Ao contrário, o que se vê é discricionariedade e conveniência do agente em aceitar, ou não, arquivos em formato diverso daquele estipulado pelo ADE COFIS nº 15/2001. No presente caso temse que o agente fiscal não acatou a apresentação dos arquivos magnéticos em formato diverso. E as justificativas apresentadas pela fiscalização para não aceitar layout diverso estão muito bem claras no Relatório Fiscal, conforme trechos que torno a transcrever: [...] O contribuinte sempre se mostrou solicito e procurou oferecer parte dos arquivos à medida que ia conseguindo gerálos no formato da IN 86/2001. Contudo, a alternativa não pôde ser aceita porque somente se consegue realizar o trabalho fiscal com a contabilidade eletrônica se a totalidade dos arquivos estiver disponível. Aceitar apenas parte dos arquivos contáveis magnéticos equivaleria a concordar que o contribuinte mostrasse apenas algumas páginas de seus livros contábeis impressos à maneira tradicional. As argumentações do contribuinte sobre a quantidade de dados a serem gerados e o esforço computacional necessário para atendimento do Termo de Intimação Fiscal foram levadas em consideração, tanto que o prazo administrativo foi largamente estendido. O prazo total concedido foi de 60 (sessenta) dias, ou seja, 2 (dois) meses. [...] Devese considerar que outros contribuintes de mesmo porte conseguiram observar o prazo concedido. A legislação sobre a matéria existe há vários anos (a Lei 8.218 é de 1991 e a IN 86 é de 2001). Portanto, houve tempo suficiente para todos se prepararem para uma exigência dessa natureza. Convém esclarecer que: (1) o formato dos arquivos é estabelecido pela Instrução Normativa do Secretário da Receita Federal n° 86, de 22/10/2001, regulamentada pelo Ato Declaratório Executivo COFIS n° 15, de 23/10/2001, devendo ser observado não apenas porque a atuação fiscal é vinculada, mas sobretudo por questão de compatibilidade com os sistemas existentes no âmbito da Secretaria da Receita Federal; [...] (3) é grande o prejuízo da Fazenda Nacional pelo atraso ou falta de entrega dos referidos arquivos, uma vez que o trabalho almejado é circularizar eletronicamente a contabilidade do interessado e também as contabilidades de seus fornecedores e clientes, confrontando os lançamentos de despesa e de receita de cada pessoa jurídica; [...] E, ainda, porque a solicitação da contribuinte somente foi formalizada 60 (sessenta) dias depois da primeira intimação, quando já havia se esgotado o prazo inicial concedido e suas prorrogações. Nesse momento já se encontravam os fatos subsumidos à hipótese de incidência do inciso III do art. 12, que é o não cumprimento do prazo estabelecido para apresentação de arquivos e sistemas. Mais uma vez, notese que a multa aplicada se deve ao descumprimento do prazo para atendimento das intimações lavradas para apresentação dos arquivos digitais. Fl. 1382DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.347 17 Portanto, a regramatriz de incidência da multa regulamentar em comento prevê que seu aspecto temporal seja o desrespeito, apenas e tão somente, ao prazo, que será concedido nas intimações lavradas para apresentação de arquivos digitais. Como esse prazo foi descumprido, deve então incidir o conseqüente da norma, que é a multa equivalente a dois centésimos por cento por dia de atraso, calculada sobre a receita bruta da pessoa jurídica no período, até o máximo de um por cento dessa. Ou seja, não existe discricionariedade para o aplicador dessa norma. Por essas razões é que também não cabe ao caso a aplicação do art. 112 do CTN, como entendeu o voto vencedor recorrido. Com a devida vênia, tal artigo tem lugar quando se tem uma dúvida na aplicação da norma. Aqui os fatos estão claros: não houve entrega dos arquivos no prazo estabelecido. A proposta de entregar em formato diverso não se equivale a entregar efetivamente em formado diverso. No que toca às alegações deduzidas em Contrarrazões ao Recurso Especial da PFN, a respeito de alteração, pela decisão recorrida, do critério jurídico do lançamento e da reaquisição de espontaneidade do sujeito passivo, temse que tais matérias foram objeto de argüição de divergência pela contribuinte em seu apelo especial, porém não admitidas. A contribuinte ainda reclama a aplicação, ao caso, do princípio da retroatividade benigna, em vista das alterações promovidas pelo art. 8º, da Lei nº 12.766, de 2012, no art. 57 da MP nº 2.158/2001, que assim dispõe: Art. 8o O art. 57 da Medida Provisória no 2.15835, de 24 de agosto de 2001, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 57. O sujeito passivo que deixar de apresentar nos prazos fixados declaração, demonstrativo ou escrituração digital exigidos nos termos do art. 16 da Lei no 9.779, de 19 de janeiro de 1999, ou que os apresentar com incorreções ou omissões será intimado para apresentálos ou para prestar esclarecimentos nos prazos estipulados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e sujeitarseá às seguintes multas: I por apresentação extemporânea: a) R$ 500,00 (quinhentos reais) por mêscalendário ou fração, relativamente às pessoas jurídicas que, na última declaração apresentada, tenham apurado lucro presumido; b) R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) por mêscalendário ou fração, relativamente às pessoas jurídicas que, na última declaração apresentada, tenham apurado lucro real ou tenham optado pelo autoarbitramento; II por não atendimento à intimação da Secretaria da Receita Federal do Brasil, para apresentar declaração, demonstrativo ou escrituração digital ou para prestar esclarecimentos, nos prazos estipulados pela autoridade fiscal, que nunca serão inferiores a 45 (quarenta e cinco) dias: R$ l.000,00 (mil reais) por mêscalendário; III por apresentar declaração, demonstrativo ou escrituração digital com informações inexatas, incompletas ou omitidas: 0,2% (dois décimos por cento), não inferior a R$ 100,00 (cem reais), sobre o faturamento do mês anterior ao da entrega da declaração, demonstrativo ou escrituração equivocada, assim entendido como a receita decorrente das vendas de mercadorias e serviços. Fl. 1383DF CARF MF 18 § 1o Na hipótese de pessoa jurídica optante pelo Simples Nacional, os valores e o percentual referidos nos incisos II e III deste artigo serão reduzidos em 70% (setenta por cento). § 2o Para fins do disposto no inciso I, em relação às pessoas jurídicas que, na última declaração, tenham utilizado mais de uma forma de apuração do lucro, ou tenham realizado algum evento de reorganização societária, deverá ser aplicada a multa de que trata a alínea b do inciso I do caput. § 3o A multa prevista no inciso I será reduzida à metade, quando a declaração, demonstrativo ou escrituração digital for apresentado após o prazo, mas antes de qualquer procedimento de ofício.” (NR) Entretanto, considerando que o legislador da Lei nº 12.766, de 2012, não revogou os arts. 11 e 12 da Lei nº 8.212, de 1991, é de se fazer uma interpretação sobre qual é o alcance do art. 57 da MP nº 2.15835, de 2001, com essa alteração trazida pela Lei nº 12.766, de 2012. Nesse sentido, verificase inicialmente (antes da alteração de 2012), o art. 57 da MP nº 2.15835, de 2001, destinavase a cominar penalidade para os casos de descumprimento de obrigações acessórias estabelecidas pela Secretaria da Receita Federal, para as quais não havia uma penalidade específica, haja vista a redação vigente à época: Art. 57. O descumprimento das obrigações acessórias exigidas nos termos do art. 16 da Lei no 9.779, de 1999, acarretará a aplicação das seguintes penalidades: I R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por mêscalendário, relativamente às pessoas jurídicas que deixarem de fornecer, nos prazos estabelecidos, as informações ou esclarecimentos solicitados; II cinco por cento, não inferior a R$ 100,00 (cem reais), do valor das transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa jurídica ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta. Parágrafo único. Na hipótese de pessoa jurídica optante pelo SIMPLES, os valores e o percentual referidos neste artigo serão reduzidos em setenta por cento. Para melhor compreensão, transcrevo também o art. 16 da Lei nº 9.779, de 1999: Art. 16. Compete à Secretaria da Receita Federal dispor sobre as obrigações acessórias relativas aos impostos e contribuições por ela administrados, estabelecendo, inclusive, forma, prazo e condições para o seu cumprimento e o respectivo responsável. Com a alteração promovida pela Lei nº 12.766, de 2012, passouse a incluir no bojo das multas de que trata o art. 57 a não apresentação, nos prazos fixados, de declaração, demonstrativo ou escrituração digital. Contudo, é de se verificar que em 2012 já se tinha a obrigatoriedade de apresentação da Escrituração Contábil Digital – ECD, da Escrituração Fiscal Digital – EFD, e outras escriturações e demonstrativos que passaram a ser de entrega obrigatória com a instituição do Sistema Público de Escrituração Digital – SPED. Assim, é nesse contexto que tais alterações precisam ser concebidas. Fl. 1384DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.348 19 Além disso, a redação atual do art. 57 da MP nº 2.15835, de 2001, por força das alterações promovidas pelo art. 57 da Lei nº 12.783, de 24 de outubro de 2013, já nem contempla mais as figuras dos arquivos digitais, como se pode observar: Art. 57. O sujeito passivo que deixar de cumprir as obrigações acessórias exigidas nos termos do art. 16 da Lei no 9.779, de 19 de janeiro de 1999, ou que as cumprir com incorreções ou omissões será intimado para cumprilas ou para prestar esclarecimentos relativos a elas nos prazos estipulados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e sujeitarseá às seguintes multas: (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) I por apresentação extemporânea: (Redação dada pela Lei nº 12.766, de 2012) a) R$ 500,00 (quinhentos reais) por mêscalendário ou fração, relativamente às pessoas jurídicas que estiverem em início de atividade ou que sejam imunes ou isentas ou que, na última declaração apresentada, tenham apurado lucro presumido ou pelo Simples Nacional; (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) b) R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) por mêscalendário ou fração, relativamente às demais pessoas jurídicas; (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) c) R$ 100,00 (cem reais) por mêscalendário ou fração, relativamente às pessoas físicas; (Incluída pela Lei nº 12.873, de 2013) II por não cumprimento à intimação da Secretaria da Receita Federal do Brasil para cumprir obrigação acessória ou para prestar esclarecimentos nos prazos estipulados pela autoridade fiscal: R$ 500,00 (quinhentos reais) por mêscalendário; (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) III por cumprimento de obrigação acessória com informações inexatas, incompletas ou omitidas: (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) a) 3% (três por cento), não inferior a R$ 100,00 (cem reais), do valor das transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa jurídica ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta; (Incluída pela Lei nº 12.873, de 2013) b) 1,5% (um inteiro e cinco décimos por cento), não inferior a R$ 50,00 (cinquenta reais), do valor das transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa física ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta. (Incluída pela Lei nº 12.873, de 2013) § 1o Na hipótese de pessoa jurídica optante pelo Simples Nacional, os valores e o percentual referidos nos incisos II e III deste artigo serão reduzidos em 70% (setenta por cento). (Incluído pela Lei nº 12.766, de 2012) § 2o Para fins do disposto no inciso I, em relação às pessoas jurídicas que, na última declaração, tenham utilizado mais de uma forma de apuração do lucro, ou tenham realizado algum Fl. 1385DF CARF MF 20 evento de reorganização societária, deverá ser aplicada a multa de que trata a alínea b do inciso I do caput. (Incluído pela Lei nº 12.766, de 2012) http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/anexoOutros.action? idArquivoBinario=0 § 3o A multa prevista no inciso I do caput será reduzida à metade, quando a obrigação acessória for cumprida antes de qualquer procedimento de ofício. (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) § 4o Na hipótese de pessoa jurídica de direito público, serão aplicadas as multas previstas na alínea a do inciso I, no inciso II e na alínea b do inciso III. (Incluído pela Lei nº 12.873, de 2013). Percebese, por conseguinte, que a redação volta a tratar de penalidades por descumprimento de obrigação acessória de forma genérica, não se aplicando para as hipóteses em que há penalidade específica, como é o caso dos arts. 11 e 12 da Lei nº 8.212, de 1991. Em face ao exposto, encaminho meu voto no sentido de: 1) conhecer do Recurso Especial da PFN e, no mérito, darlhe provimento e restabelecer a exigência da multa regulamentar prevista no inciso III, do art. 12, da Lei nº 8.218/91, calculada no valor máximo previsto que é de 1% (um por cento) da receita bruta; e 2) conhecer parcialmente do Recurso Especial da Contribuinte, relativamente à divergência arguida em relação à interpretação do art. 12, da Lei nº 8.218/91 e, no mérito, negarlhe provimento. É como voto. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Voto Vencedor Conselheira Cristiane Silva Costa Redatora Designada O presente voto tratará do mérito dos recursos especiais, no que fui acompanhada pela maioria do Colegiado. O acórdão recorrido decidiu pela manutenção em parte da multa imposta ao contribuinte, conforme voto vencedor, lavrado pelo Conselheiro Guilherme Adolfo Mendes: Dentre as alegações da defesa está a de que se colocou à disposição da fiscalização para apresentar as mesmas informações, mas em formato diverso daquele estipulado pela autoridade administrativa. Nesse caso, a sanção deveria ter sido limitada ao percentual de 0,5%, em razão do que dispõe o inciso I: "multa de meio por cento do valor da receita bruta da pessoa jurídica no período, aos que não atenderem à forma em que devem ser apresentados os registros e respectivos arquivos". Se a pessoa jurídica tivesse protocolado a entrega dos referidos arquivos em resposta à intimação fiscal, seria evidente a aplicação do limite de autuação. Fl. 1386DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.349 21 Todavia, nos autos, consta apenas uma resposta à intimação, mediante a qual a autuada solicita a entrega em formato diverso do exigido pela autoridade. Na sessão passada, discutimos a natureza desta resposta e como deveria ter a autoridade fiscal se comportado diante dela. Em primeiro lugar, não podemos deixar de considerar que o procedimento de fiscalização não pode ser visto como uma sucessão de atos mecânicos em que a autoridade fiscal e o representante da empresa colocamse como meros agentes autômatos. Eles são pessoas que devem se respeitar mutuamente e agir em conformidade com o trato social. Assim, é esperado que o representante da empresa, em razão de sua própria condição de sujeição ao poder a que está investido a autoridade fiscal, tratea com toda a cortesia possível. Se a autoridade o intimou para apresentar os arquivos magnéticos num certo formato, mas estavam disponíveis apenas os mesmos arquivos em formato diverso, não seria razoável que o representante, antes de apresentálos sem maiores explicações, solicitasse a sua entrega? Ora, não é crível que a empresa tenha se colocado à disposição para apresentar as informações em outro formato, a autoridade tenha tido conhecimento da inexistência destes mesmos arquivos e mesmo assim tenha afirmado que a empresa sempre colaborou com a fiscalização. Outro ponto levantado em nossas discussões é o de que a autoridade fiscal não poderia ter respondido positivamente ao pedido para apresentar arquivos em formato não previsto. Penso de forma diversa. Quando a autoridade intima a empresa fiscalizada para a apresentação de documentos e o atendimento é apenas parcial, a autoridade não deixa de recebêlos, mas apenas ressalva o atendimento parcial. De forma análoga, a autoridade fiscal poderia (em verdade, deveria) ter respondido à indagação da fiscalizada. Caso a resposta fosse positiva, ou seja, pela aceitação dos arquivos em formatos diversos, poderia ressalvar que isso não teria o condão de satisfazer por completo a obrigação de apresentação no formado previsto, o que implicaria a aplicação da sanção atenuada. Ao assim proceder, a Turma a quo manteve multa com fundamento no artigo 12, I, da Lei nº 8.218/1991, enquanto o lançamento tributário fundouse no inciso III do mesmo dispositivo legal, verbis: Art. 12 A inobservância do disposto no artigo precedente acarretará a imposição das seguintes penalidades: I multa de meio por cento do valor da receita bruta da pessoa jurídica no período, aos que não atenderem à forma em que devem ser apresentados os registros e respectivos arquivos; II multa de cinco por cento sobre o valor da operação correspondente, aos que omitirem ou prestarem incorretamente as informações solicitadas, limitada a um por cento da receita Fl. 1387DF CARF MF 22 bruta da pessoa jurídica no período; .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) III multa equivalente a dois centésimos por cento por dia de atraso, calculada sobre a receita bruta da pessoa jurídica no período, até o máximo de um por cento dessa, aos que não cumprirem o prazo estabelecido para apresentação dos arquivos e sistemas. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) Parágrafo único. Para fins de aplicação das multas, o período a que se refere este artigo compreende o anocalendário em que as operações foram realizadas. .(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) De fato, como mencionado pelo acórdão recorrido, consta intimação do contribuinte para apresentação de arquivos magnéticos. O contribuinte respondeu a esta intimação em 09/10/2006, nos seguintes termos (fls. 25, volume 1): De início, estão sendo disponibilizados os arquivos de registros contábeis (item a do Termo de Intimação Fiscal) e as tabelas de plano de contas e centro de custo e despesa (subitens 2 e 3 do item 11 do Termo de Intimação Fiscal), referentes ao período de 2001 a 2005, nas especificações técnicas disciplinadas no Ato Declaratório Executivo COFINS nº 15/01) Adicionalmente, tendo em vista o descrito no art. 2º do referido ato declaratório "a critério da autoridade requisitante, os arquivos digitais de que trata §1º do artigo anterior poderão ser apresentados em forma diferente da estabelecida neste Ato, inclusive em decorrência de exigência de outros órgãos públicos" e por já possuir um processo automatizado de geração dos dados solicitados no Termo de Intimação Fiscal, a empresa, como parte de seu compromisso de facilitar os trabalhos da Secretaria da Receita Federal, com a máxima transparência coloca à disposição toda e qualquer informação constante por sistemas da empresa utilizados para registrar seus negócios e atividades econômicas, que podem ser gravados em arquivos magnéticos e disponibilizados. O Auto de Infração foi lavrado apenas em 24/07/2007, portanto, meses depois da resposta acima, em que o contribuinte menciona a disponibilidade de arquivos magnéticos em formato distinto. A adequação, paulatina, dos arquivos do contribuinte ao formato solicitado pelo auditor fiscal (estabelecido pela IN 86/2001) é mencionada no Termo de Verificação Fiscal (fls. 10), como também a recusa no recebimento dos arquivos: O contribuinte sempre se mostrou solicito e procurou oferecer parte dos arquivos à medida que ia conseguindo gerálos no formato da IN 86/2001. Contudo, a alternativa não pôde ser aceita porque somente se consegue realizar o trabalho fiscal com a contabilidade eletrônica se a totalidade dos arquivos estiver disponível. Aceitar apenas parte dos arquivos contábeis magnéticos equivaleria a concordar que o contribuinte mostrasse apenas algumas páginas de seus livros contábeis impressos à maneira tradicional. Fl. 1388DF CARF MF Processo nº 10707.000936/200711 Acórdão n.º 9101002.961 CSRFT1 Fl. 1.350 23 Assim, constatase que o contribuinte solicitou a apresentação de arquivos em formato distinto, fato que indica a existência de arquivos mesmo que em formato equivocado, não se sustentando a imposição de multa por falta/atraso de apresentação destes. Ressalto que o Ato Declaratório Executivo COFIS nº 15/2001 possibilita que a autoridade fiscal rejeite o recebimento de arquivos digitais, possivelmente considerando a dificuldade técnica relacionada à recepção de documentos em formato distinto daquele processado pelo sistema da Receita Federal. Exatamente por isso, quando verificado que o auditor fiscal autuante recebeu pedido para apresentação de documentos em formato distinto, sendo possível a sua recusa pelo auditor fiscal, não se pode impor ao contribuinte o ônus pelo atraso ou não apresentação dos arquivos magnéticos em formato equivocado. No caso, só poderia ser imposta multa pela forma equivocada dos arquivos, como mencionado pelo acórdão recorrido. No entanto, é vedado aos julgadores administrativos alterar o critério jurídico do auto de infração, sob pena de ofensa ao artigo 146, do Código Tributário Nacional: Art. 146. A modificação introduzida, de ofício ou em conseqüência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução. Por tais razões, entendo que a multa imposta nestes autos é insubsistente, não sendo possível a modificação procedida pela Turma a quo no critério jurídico do lançamento, para justificar a manutenção em parte da multa, ajustando o lançamento a outro inciso do artigo 12. Assim, voto por dar provimento ao recurso especial do contribuinte e negar provimento ao recurso especial da Procuradoria. (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Fl. 1389DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16682.721067/2013-12
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jun 07 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Sep 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2009
PROVISÕES NÃO DEDUTÍVEIS. TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA.
Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos discutidos judicialmente, cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151 do Código Tributário Nacional, são indedutíveis para efeito de determinação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, por traduzir-se em nítido caráter de provisão (Lei 9.249/1995, art. 13, I). Além disso, não há nenhum antagonismo entre as regras da Lei 9.249/1995 (art. 13, I) e da Lei 8.981/1995 (art. 41, §1º, e art. 57). O sentido delas é o mesmo, ou seja, vedar a dedução antecipada de tributo com exigibilidade suspensa, dada a sua condição de incerteza. Nesse contexto, seja como provisão, seja como uma despesa que só pode ser deduzida pelo regime de caixa, os tributos com exigibilidade suspensa não podiam ter sido deduzidos da base de cálculo da CSLL.
Numero da decisão: 9101-002.898
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto (relator), Cristiane Silva Costa e José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado), que lhe deram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Declarou-se impedida de participar do julgamento a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, substituída pelo conselheiro José Eduardo Dornelas Souza.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente
(assinado digitalmente)
Luís Flávio Neto - Relator
(assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araujo Redator Designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Jose Eduardo Dornelas Souza, Gerson Macedo Guerra, Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício).
Nome do relator: LUIS FLAVIO NETO
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DEDUTIBILIDADE DE TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. Recorrente VALEPAR S/A Recorrida UNIÃO (FAZENDA NACIONAL) ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2009 PROVISÕES NÃO DEDUTÍVEIS. TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos discutidos judicialmente, cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151 do Código Tributário Nacional, são indedutíveis para efeito de determinação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, por traduzirse em nítido caráter de provisão (Lei 9.249/1995, art. 13, I). Além disso, não há nenhum antagonismo entre as regras da Lei 9.249/1995 (art. 13, I) e da Lei 8.981/1995 (art. 41, §1º, e art. 57). O sentido delas é o mesmo, ou seja, vedar a dedução antecipada de tributo com exigibilidade suspensa, dada a sua condição de incerteza. Nesse contexto, seja como provisão, seja como uma despesa que só pode ser deduzida pelo regime de caixa, os tributos com exigibilidade suspensa não podiam ter sido deduzidos da base de cálculo da CSLL. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto (relator), Cristiane Silva Costa e José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado), que lhe deram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Declarouse impedida de participar do julgamento a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, substituída pelo conselheiro José Eduardo Dornelas Souza. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 68 2. 72 10 67 /2 01 3- 12 Fl. 526DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 3 2 Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente (assinado digitalmente) Luís Flávio Neto Relator (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo – Redator Designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Jose Eduardo Dornelas Souza, Gerson Macedo Guerra, Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício). Relatório Tratase de recurso especial interposto pela VALEPAR S/A (doravante “contribuinte” ou “recorrente”), em que é recorrida Procuradoria da Fazenda Nacional (doravante “PFN” ou “recorrida”), em face do Acórdão n. 1301001.760 (doravante “acórdão a quo” ou “acórdão recorrido”), proferido pela 1a Turma Ordinária da 3a Câmara desta 1a Seção (doravante “Turma a quo”). O recurso especial versa sobre a possibilidade de dedução da base de cálculo da CSLL de tributos com exigibilidade suspensa devido a depósito judicial em sede de Mandado de Segurança. Conforme se colhe do Termo de Verificação Fiscal, esses são os fatos presentes neste caso (fls. 60 e 65 do eprocesso): “Da análise dos documentos apresentados pelo contribuinte verificase que as despesas deduzidas relativas as variações monetárias das contingências tributárias exigibilidade suspensa de PIS e COFINS na apuração do lucro contábil do ano calendário de 2009, no valor de R$ 135.983.021,05, foram adicionados corretamente na apuração do lucro real, conforme Ficha 09A, e LALUR”. (...) “Esta Fiscalização entende que os lançamentos contábeis relativos a essas Contingências Tributárias, incluindo suas variações monetárias, caracterizamse como provisões, por não refletirem obrigações fiscais efetivamente constituídas, sujeitas a exigência certa futura, mas, sim, um provisionamento contra eventuais riscos de as ações terem resultados desfavoráveis, precavendose a empresa contra os consequentes impactos negativos que tal resultado traria a seu patrimônio, impõese, portanto, a adição dos respectivos montantes na determinação da base de cálculo da CSLL”. Fl. 527DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 4 3 (...) “Concluise, assim, que os valores deduzidos na apuração do lucro contábil da empresa a título de contingência tributárias, ou seja, tributos ou contribuições com exigibilidade suspensa nos termos do art. 151 do CTN, devem ser adicionados na determinação da base de cálculo da CSLL, por força do disposto no art. 13, I, da Lei nº 9.249/1995”. A 2ª Turma da DRJ/CTA, por meio do acórdão n. 0644.247, julgou a impugnação administrativa improcedente, mantendo o lançamento em sua integridade (fls. 232 e seg. do eprocesso). A decisão restou assim ementada: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Data do fato gerador: 31/12/2009 LUCRO REAL ANUAL. TRIBUTOS OU CONTRIBUIÇÕES COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. DEDUÇÃO INDEVIDA COMO DESPESA. PROVISÃO NÃO DEDUTÍVEL. ADIÇÃO À BASE DE CÁLCULO. Devem ser adicionadas ao resultado do períodobase, para determinação da base de cálculo da CSLL, as importâncias antes deduzidas como despesas, segundo o regime de competência, relativas a tributos e contribuições cuja exigibilidade esteja suspensa nos termos do inciso II do art. 151 do CTN. Os lançamentos contábeis efetuados com tal finalidade constituem provisões e não despesas incorridas, em face de sua dependência ao trânsito em julgado de sentença judicial, estando vedada sua dedução de acordo com o disposto no art. 13, inciso I, da Lei nº 9.249/1995. Nesse seguir, foi interposto recurso voluntário pelo contribuinte (fls. 299 e seg. do eprocesso). Na decisão recorrida, a Turma a quo acordou, por maioria dos votos, em negar provimento ao recurso voluntário (fls. 339 e seg. do eprocesso). O acórdão recorrido restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2009 CSLL. PROVISÕES NÃO DEDUTÍVEIS. TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos ou Fl. 528DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 5 4 contribuições cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151 do Código Tributário Nacional, são indedutíveis para efeito de determinação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, por traduzirse em nítido caráter de provisão. Cientificada das aludidas decisões, o contribuinte, tempestivamente, interpôs recurso especial (fls. 363 e seg. do eprocesso), arguindo divergência de interpretação quanto a possibilidade de dedução de tributos com a exigibilidade suspensa. O despacho de admissibilidade (efls. 514 e seg.) admitiu integralmente o referido recurso especial. Em breve síntese, o contribuinte alega em seu recurso que: “Pois, de fato, os tributos suspensos configuramse efetiva obrigação tributária e não mera provisão para riscos, tratandose de obrigação vencida, não merecendo prosperar a decisão recorrida” (efls. 369). “Com a ocorrência do fato gerador, já se tem configurada a obrigação tributária do contribuinte para com o Fisco, o que torna impossível a qualificação das obrigações tributárias cuja exigibilidade esteja suspensa como ‘provisão’. Tratamse, em verdade, se situações – crédito/obrigação tributária com exigibilidade suspensa e provisão – antagônicas” (efls. 369). “É que a indedutibilidade dos tributos com exigibilidade suspensa é expressa para fins de apuração do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ, nos termos do parágrafo 1º do artigo 41 da Lei nº 8.981/95 e do artigo 344 do RIR/99, não existindo qualquer dispositivo legal semelhante aplicável à CSLL” (efls. 370). Cientificada, a PFN apresentou contrarrazões ao recurso especial do contribuinte (fls. 519 e seg. do eprocesso), as quais argumenta, em breve síntese, que: “Observase que existe clara distinção entre os conceitos. Enquanto a despesa representa o dispêndio realizado, o gasto consumado, a característica que determina uma provisão é a sua projeção para o futuro; é uma forma retenção que visa atender despesas supervenientes. A partir dessas considerações, tornase bastante evidente que um tributo cuja exigibilidade encontrase suspensa não representa, absolutamente, uma despesa, vale dizer, um gasto atual e presente. Afigurase muito mais como um dispêndio provável, mas que permanecerá incerto enquanto o crédito estiver sendo discutido” (efls. 521). Fl. 529DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 6 5 “Tributo cuja exigibilidade esteja suspensa não é tributo pago. Somente no futuro, com o pagamento, o tributo representará despesa com efetiva repercussão no conceito de lucro, base de cálculo da CSLL” (efls. 521522) A recorrida não se opôs a admissibilidade do recurso especial. Concluise, com isso, o relatório. Voto Vencido Conselheiro Luís Flávio Neto, Relator. Compreendo que o despacho de admissibilidade bem analisou o cumprimento dos requisitos para a interposição do recurso especial de divergência interposto, razão pela qual não merece reparo. No mérito, há ao menos duas diferentes perspectivas sobre a questão, que podem ser bem identificadas a partir de dois acórdãos do CARF: acórdão 140100.058, de 17.06.2009, do então i. Conselheiro Marcos Shigueo Takata: "Provisão passiva representa urna obrigação incerta, ou certa mas ilíquida. O ato legal, a lei, tem presunção de constitucionalidade e de legitimidade. A obrigação ex lege tributária desfruta desse atributo e só com o trânsito em julgado favorável ao contribuinte têmse derruídas a certeza e a liquidez: obrigação tributária com exigibilidade suspensa não traduz contabilmente uma provisão, mas um contas a pagar diversamente, por ex., de um passivo relativo a uma reclamação trabalhista ainda em curso". acórdão 1101000.792, de 11.09.2012, da então i. Conselheira Edeli Pereira Bessa: "Ocorre que não está em discussão a existência da obrigação, mas sim a sua certeza que decorre, justamente, de sua exigibilidade. Como dito, o passivo deve ser contabilizado, é originariamente uma obrigação legal, mas a retirada de um de seus atributos relevantes, que é a exigibilidade, altera sua natureza para provisão, e enseja a sua indedutibilidade no âmbito da apuração da CSLL. (...) Se a obrigação tributária foi contabilizada como despesa, e antes de seu vencimento, ou mesmo depois deste, a contribuinte é favorecida com decisão judicial que suspende sua exigibilidade, este passivo tem sua natureza alterada, e deve ser reclassificado como provisão, com o conseqüente estorno de seus efeitos na apuração do lucro tributável no momento em que a suspensão da exigibilidade for verificada, para que a dedução somente se efetive quando a exigibilidade for restabelecida". Embora ambas as correntes apresentem argumentos importantes, permissa vênia, compreendo que apenas a primeiro garante coerência ao sistema jurídico edificado pelo legislador tributário, o que pode ser evidenciado por uma interpretação histórica e sistemática dos enunciados legais geralmente suscitados para a regência da matéria. Fl. 530DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 7 6 No caso, a Lei n. 8.981, de 20.01.95, estabeleceu os seguintes enunciados prescritivos: Art. 41. Os tributos e contribuições são dedutíveis, na determinação do lucro real, segundo o regime de competência. § 1º O disposto neste artigo não se aplica aos tributos e contribuições cuja exigibilidade esteja suspensa, nos termos dos incisos II a IV do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, haja ou não depósito judicial. Como se pode observar, o legislador tributário prescreveu a indedutibilidade, da base de cálculo do IRPJ, de débitos tributários que se encontrem com a exigibilidade suspensa por causas específicas e muito bem delimitadas, quais sejam: o depósito do montante integral (inciso II); as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo (inciso III) e a concessão de medida liminar em mandado de segurança (inciso IV). Tal norma, é preciso frisar, se dirige apenas ao IRPJ (e não à CSLL). Expressamente, então, o legislador excluiu hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário dessa norma de restrição de dedutibilidade da base de cálculo do IRPJ, notadamente a "moratória" e outras hipóteses previstas no art. 151 do CTN. Por sua vez, pouco tempo depois, em 26.12.1995, o legislador competente enunciou a Lei n. 9.249, que assim dispõe: Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506, de 30 de novembro de 1964: I de qualquer provisão, exceto as constituídas para o pagamento de férias de empregados e de décimoterceiro salário, a de que trata o art. 43 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, com as alterações da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e as provisões técnicas das companhias de seguro e de capitalização, bem como das entidades de previdência privada, cuja constituição é exigida pela legislação especial a elas aplicável; Essa segunda norma, como se pode verificar, veda a dedução de "qualquer provisão" da base de cálculo tanto do IRPJ quanto da CSLL, salvo algumas exceções. Compreendo que a única forma de interpretar tais enunciados prescritivos sem que se admita a existência de um caos normativo em que convivem normas vigentes, subsequêntes e irremediavelmente conflitantes é assumir que o legislador, ao prescrever o art. 13, I, trata de questão diversa de tributos cuja exigibilidade se encontre suspensa. Portanto, no caso dos autos, em que se discute a dedutibilidade da base de cálculo apenas da CSLL de tributos e juros com exigibilidade suspensa, não há incidência do art. 41 da Lei n. 8.981/95 (pois este é aplicável apenas ao IRPJ), bem como não incide a restrição do art. 13 da Lei n. 9.249/95 (pois este não é aplicável a tributos com exigibilidade suspensa). Portanto, compreendo assistir razão ao contribuinte quanto a este tema. Fl. 531DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 8 7 O art. 57 da Lei n. 8.981/95 não altera essa conclusão: Art. 57. Aplicamse à Contribuição Social sobre o Lucro (Lei no 7.689, de 1988) as mesmas normas de apuração e de pagamento estabelecidas para o imposto de renda das pessoas jurídicas, inclusive no que se refere ao disposto no art. 38, mantidas a base de cálculo e as alíquotas previstas na legislação em vigor, com as alterações introduzidas por esta Lei. (Redação dada pela Lei no 9.065, de 1995). Referido enunciado prescritivo prevê remissão apenas para questões operacionais específicas e não tem o condão de ampliar o escopo do art. 41 da Lei n. 8.981, de 20.01.95 para alcançar também a CSLL. A ressalva expressa do legislador no art. 57 da Lei nº 8.981/95 deixa claro que, assim como a CSLL tem suas “alíquotas” estabelecidas por regras próprias (a alíquota da CSLL em geral é 9%, sem adicional, e não 15% com adicional de 10%, como se dá com o IRPJ, em geral), também para a “base de cálculo” da CSLL não há remissão necessária aos dispositivos que cuidam do IRPJ. A base de cálculo da CSLL é regulada por enunciados específicos ou, ainda, que cumulem expressamente a tutela dessa contribuição e do IRPJ. Nesse seguir, voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao recurso especial. (assinatura digital) Luís Flávio Neto Fl. 532DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 9 8 Voto Vencedor Conselheiro Rafael Vidal de Araujo Redator Designado. Em que pesem as razões de decidir do eminente relator, peço vênia para dele divergir quanto à dedutibilidade de tributos com a exigibilidade suspensa, relativamente à base de cálculo da CSLL. A questão sobre a dedutibilidade de tributos e contribuições com a exigibilidade suspensa, no que toca à base de cálculo da CSLL, gira em torno da incidência ou não do inciso I do art. 13 da Lei n. 9.249/1995, que veda a dedução de provisão que não esteja expressamente autorizada: Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506, de 30 de novembro de 1964: I de qualquer provisão, exceto as constituídas para o pagamento de férias de empregados e de décimoterceiro salário, a de que trata o art. 43 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, com as alterações da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e as provisões técnicas das companhias de seguro e de capitalização, bem como das entidades de previdência privada, cuja constituição é exigida pela legislação especial a elas aplicável;(Vide Lei 9.430, de 1996) Em relação a esse ponto, é relevante destacar que o conceito de provisão abarca situações variadas. O que caracteriza uma provisão é sua correspondência a situações sobre as quais paira algum grau de incerteza quanto à existência, ao valor, ao vencimento, etc., de uma obrigação ou de uma perda patrimonial. As provisões não abarcam apenas registros de "riscos" de perda patrimonial, como a "provisão para créditos de liquidação duvidosa". Há também provisões para encargos sociais e trabalhistas. Há ainda a própria "provisão para o imposto de renda" constituída no encerramento do período de apuração, quando já consumado o fato gerador. O próprio texto legal do inciso I do art. 13 da Lei 9.249/1995 não restringe o conceito de provisão às provisões para risco de perda patrimonial, que normalmente apresentam um maior grau de incerteza. Nesse passo, não se pode negar que uma obrigação tributária que está sendo discutida em juízo pela contribuinte, que está com a exigibilidade suspensa no contexto de um processo judicial, possui a característica essencial de uma provisão, que é, no caso, a incerteza quanto à sua própria existência. Fl. 533DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 10 9 É até contraditório que a contribuinte questione a existência da obrigação tributária, suspendendo inclusive a sua exigibilidade, e ao mesmo tempo defenda sua dedutibilidade como sendo uma obrigação certa. Não há dúvida de que o mesmo questionamento que resultou na suspensão da exigibilidade da obrigação tributária, poderá também resultar na sua própria extinção. Eis aí a incerteza em relação à existência da obrigação, que a contribuinte procura negar. Em reforço ao que está sendo dito, registro o conteúdo do voto que orientou o Acórdão nº 130100.794, de 17/01/2012, exarado pelo conselheiro Waldir Veiga Rocha, que também colaciona variada jurisprudência sobre o tema: O ponto central da discussão é a natureza das despesas com provisões para pagamento de tributos discutidos em juízo e cuja exigibilidade estava suspensa, se despesas efetivamente incorridas, como quer a interessada, ou se provisões, como entende o Fisco. Como corolário dessa questão, discutese também a dedutibilidade, ou não, de tais despesas (ou provisões) para fins de determinação da base de cálculo da CSLL. A matéria é bastante conhecida, e já foi objeto de apreciação por este colegiado, quando do julgamento dos processos nº 16327.000028/200517 e nº 16327.001299/200671, também sob minha relatoria, resultando, respectivamente, os acórdãos nº 130100.275, de 09/03/2010, e nº 1301 00.642, de 04/08/2011. Por bem refletir meu entendimento sobre o assunto, transcrevo, a seguir, excerto do voto proferido no primeiro processo e reproduzido no segundo, sendo em ambas as ocasiões acompanhado à unanimidade pela Turma. [...] Com efeito, as despesas com tributos, na situação em que estes estão submetidos ao crivo do Poder Judiciário e com exigibilidade suspensa, não se revestem da certeza e da liquidez indispensáveis a que sejam consideradas despesas incorridas a pagar. Em conseqüência, suas contrapartidas, registradas no passivo, se caracterizam como provisões para fazer face a evento futuro e incerto. Não se discute a correção do registro contábil, pertinente à luz dos princípios e convenções da contabilidade, especialmente aquele do conservadorismo. Também não se trata de glosa de despesas tidas por desnecessárias ou não usuais. O ponto central é que as despesas discutidas são incertas tanto para o contribuinte, que as considera indevidas e as discute judicialmente, quanto para o ente tributante, que se vê na dependência de manifestação do Poder Judiciário para que possa exigir o tributo. Isso ficou bem claro no voto condutor do acórdão recorrido, no trecho a seguir transcrito: 13 A obrigatoriedade de pagar os valores dependem de eventos futuros e incertos, ou seja, dependem de decisão judicial. Se for incerto, não pode ser classificado como contas a pagar, que por sua natureza, impõe liquidez e certeza. A provisão, por sua vez, não possui um dos Fl. 534DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 11 10 elementos, quais sejam liquidez e certeza, pois se assim fosse, um termo seria sinônimo do outro. 14 Ao interpor a ação judicial o interessado pretende ver dispensado do recolhimento do tributo. Para a administração tributária demonstra que, segundo seu entendimento, o valor não é devido, como também demonstra para seus sócios e terceiros que luta para não recolher o tributo. Em suma, tanto o interessado, quanto a administração tributária, não têm certeza sobre seus direitos. Ambos aguardam o pronunciamento do poder judiciário. Demonstrada a natureza de provisão dos valores ora discutidos, impõese sua adição para fins de apuração da base de cálculo da CSLL, ex vi do art. 13, inciso I, da Lei nº 9.249/1995. Tal foi exatamente o procedimento do Fisco, o qual reputo correto. [...] A jurisprudência administrativa é farta nessa linha, como se verifica das ementas a seguir transcritas, a título exemplificativo: CSLL — PROVISÕES NÃO DEDUTÍVEIS — TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA — Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos ou contribuições cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151 do Código Tributário Nacional, são indedutíveis para efeito de determinação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, por traduzirse em nítido caráter de provisão. (Ac. 10194.491, de 29/01/2004. Rec. 136.214. Rel. Cons. Valmir Sandri) (No mesmo sentido, Ac. 103 23.053, de 13/06/2007, Rec. 156.141. Rel. Cons. Leonardo de Andrade Couto) (No mesmo sentido, Ac. 10517.358, de 17/12/2008. Rec. 164.752. Rel. Cons. Marcos Rodrigues de Mello) CSLL — PROVISÕES NÃO DEDUTÍVEIS — TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA — Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos ou contribuições cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151 do Código Tributário Nacional, são indedutíveis para efeito de determinação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, por traduzirse em nítido caráter de provisão. JUROS DE MORA SOBRE TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA POR FORÇA DE MEDIDAS JUDICIAIS — Por constituírem acessório dos tributos sobre os quais incidem, os juros de mora sobre tributos cuja exigibilidade esteja suspensa por força de medidas judiciais seguem a norma de dedutibilidade do principal. Fl. 535DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 12 11 (Ac. 10195.727, de 20/09/2006. Rec. 135.395. Rel. Cons. Paulo Roberto Cortez) IRPJ — CSLL — PROVISÕES NÃO DEDUTIVEIS — TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA — Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos ou contribuições cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151 do Código Tributário Nacional, são indedutíveis para efeito de determinação da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, por traduzirse em nítido caráter de provisão. Assim, a dedutibilidade de tais rubricas somente ocorrerá por ocasião de decisão final da justiça, desfavorável à pessoa jurídica. JUROS DE MORA SOBRE TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA POR FORÇA DE MEDIDAS JUDICIAIS — Por constituírem acessório dos tributos sobre os quais incidem, os juros de mora sobre tributos cuja exigibilidade esteja suspensa por força de medidas judiciais a seguem a norma de dedutibilidade do principal. (Ac. 10196.008, de 01/03/2007. Rec. 151.401. Rel. Cons. Paulo Roberto Cortez) CSLL. DEDUTIBILIDADE DE TRIBUTOS E CONTRIBUIÇÕES COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. ANOCALENDÁRIO 1998. Os tributos e contribuições que estejam com exigibilidade suspensa, nos termos do art. 151, II a IV, do CTN, constituem provisões e não despesas incorridas, estando vedada sua dedução para apuração da base de cálculo da CSLL. (Ac. 10323.031, de 24/05/2007. Rec. 156.083. Rel. Cons. Aloysio José Percínio da Silva) PROVISÕES — provisões somente podem ser deduzidas das bases de cálculo da CSSL se assim a lei expressamente autorizar. Classificamse como tais, os elementos do passivo, cuja exigibilidade, montante ou data de liquidação, isolada ou conjuntamente, não são certos e determináveis no período de apuração. Assim, valores registrados como tributos, contribuições e demais acréscimos, não passíveis de serem exigidos por força de medida judicial, quadramse nesta classificação e devem ser adicionados à base de cálculo da contribuição social sobre o lucro, se seu registro contábil reduziu o resultado do exercício. (Ac. 10323.037, de 24/05/2007. Rec. 156.322. Rel. Cons. Guilherme Adolfo dos Santos Mendes) CSLL — BASE DE CÁLCULO — DEDUTIBILIDADE DE TRIBUTOS E CONTRIBUIÇÕES COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA — Os tributos e contribuições que estejam com exigibilidade suspensa, nos termos do art. 151, inciso II do CTN, constituem provisões e não despesas incorridas, estando vedada sua dedução para apuração da base de cálculo da CSLL, conforme regra do art. 13, inciso Fl. 536DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 13 12 I, da Lei 9.249/95. (Ac. 10808.126, de 02/12/2004. Rec. 139.544. Rel. Cons. Luiz Alberto Cava Macieira) Esta 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais também já manifestou entendimento de que os tributos com exigibilidade suspensa têm caráter de provisão e, como tais, não são dedutíveis na apuração da CSLL, conforme os seguintes julgados: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO. DEDUTIBILIDADE DE TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos discutidos judicialmente, cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151 do Código Tributário Nacional, são indedutiveis para efeito de determinação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Liquido, por traduzir se em nítido caráter de provisão. O mesmo ocorre com a provisão para juros sobre contingências fiscais os quais, por constituírem acessório dos tributos sobre os quais incidem, devem seguir a norma de dedutibilidade do principal. (Acórdão 910101.214, de 18/10/2011). CSLL. DEDUÇÕES DA BASE DE CÁLCULO. PROVISÕES NÃO DEDUTÍVEIS. TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. Por configurar uma situação de solução indefinida, que poderá resultar em efeitos futuros favoráveis ou desfavoráveis à pessoa jurídica, os tributos ou contribuições cuja exigibilidade estiver suspensa nos termos do art. 151, do Código Tributário Nacional CTN, são indedutíveis para efeito da determinação da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL, por traduzirse em nítido caráter de provisão. (Acórdão 9101 001.512, de 20/11/2012). Mesmo aderindo ao entendimento de que os tributos com exigibilidade suspensa têm caráter de provisão, o que já seria suficiente para o deslinde da controvérsia, há ainda outro aspecto a ser examinado. É que a questão sobre a dedutibilidade de tributos e contribuições com a exigibilidade suspensa, no que toca à base de cálculo da CSLL, também costuma ser abordada no contexto das regras previstas no art. 41, §1º c/c art. 57, ambos da Lei nº 8.981/1995: Art. 41. Os tributos e contribuições são dedutíveis, na determinação do lucro real, segundo o regime de competência. § 1º O disposto neste artigo não se aplica aos tributos e contribuições cuja exigibilidade esteja suspensa, nos termos dos incisos II a IV do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, haja ou não depósito judicial. [...] Art. 57. Aplicamse à Contribuição Social sobre o Lucro (Lei nº 7.689, de 1988) as mesmas normas de apuração e de pagamento estabelecidas para o imposto de renda das pessoas jurídicas, inclusive no que se refere ao disposto no art. 38, mantidas a base de cálculo e as alíquotas previstas na legislação em vigor, com as alterações introduzidas por esta Lei. (Redação dada pela Lei nº 9.065, de 1995) Fl. 537DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 14 13 Há uma linha de entendimento, adotada inclusive pelo voto do relator, que vê as referidas regras da Lei 9.249/1995 (art. 13, I) e da Lei 8.981/1995 (art. 41, §1º, e art. 57) como hipóteses excludentes e antagônicas. Ou seja, o tributo com exigibilidade suspensa configuraria efetiva obrigação tributária, e não mera provisão. E nesse passo, como obrigação tributária, a regra que poderia incidir seria aquela prevista na Lei 8.981/1995, e não a da Lei 9.249/1995. O problema, conforme apontado no voto do relator, é que o art. 41, §1º, da Lei 8.981/1995 só é aplicável ao IRPJ, de modo que nenhuma restrição legal haveria para que os tributos com exigibilidade suspensa fossem deduzidos da base de cálculo da CSLL pelo regime de competência. Entretanto, também divirjo do relator quanto a esse tipo de entendimento. Não estamos aqui diante de uma situação em que se pretende estender para a CSLL alguma regra que trata de item específico da base de cálculo do IRPJ. Não é esse o caso. Sabese muito bem que as obrigações tributárias configuram despesa dedutível tanto para o IRPJ, quanto para a CSLL, e que essa possibilidade de dedução é prevista individualmente, tanto nas regras que tratam da base de cálculo do IRPJ, quanto nas regras que tratam da base de cálculo da CSLL. O §1º do art. 41 da Lei 8.981/1995 não criou nenhuma dedução específica para o IRPJ. Esse dispositivo simplesmente definiu um regime (regime de competência ou regime de caixa) para o tipo de despesa que está sendo aqui tratado (despesa com tributos), levando em conta que essa despesa pode estar relacionada a uma obrigação tributária com exigibilidade suspensa. A questão da definição de regime para o reconhecimento de receitas e despesas é tipicamente uma "norma de apuração", e se encaixa exatamente no escopo do art. 57 da Lei 8.981/1995. Basta ver que quando é adotado o regime de caixa para o IRPJ (na apuração do lucro presumido, p/ ex.) este mesmo regime é adotado para a CSLL, também por força do art. 57 da Lei 8.981/1995, e ninguém pensa em alegar que esse dispositivo estaria sendo utilizado para desvirtuar a base de cálculo da CSLL, para acrescentar elementos na base de cálculo da CSLL que não estavam previstos nas suas próprias normas, etc. Assim, a regra do art. 41, §1º, da Lei 8.981/1995 é perfeitamente aplicável à CSLL. Não há nenhum antagonismo entre as referidas regras da Lei 9.249/1995 (art. 13, I) e da Lei 8.981/1995 (art. 41, §1º, e art. 57). É preciso ter em mente que a palavra do legislador muitas vezes não esgota as possibilidades de sentido que pode ser a ela atribuído. É sempre a interpretação das normas que dá o seu conteúdo ao longo do tempo, compondo as aparentes contradições e os excessos normativos. Fl. 538DF CARF MF Processo nº 16682.721067/201312 Acórdão n.º 9101002.898 CSRFT1 Fl. 15 14 E quanto à matéria em questão, o sentido das regras contidas na Lei 8.981/1995 (art. 41, §1º) e na Lei 9.249/1995 (art. 13, I) é exatamente o mesmo, ou seja, vedar a dedução antecipada de tributo com exigibilidade suspensa, dada a sua condição de incerteza. Nesse contexto, seja como provisão, seja como uma despesa que só pode ser deduzida pelo regime de caixa, os tributos com exigibilidade suspensa não podiam ter sido deduzidos da base de cálculo da CSLL. Desse modo, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial da contribuinte. (assinatura digital) Rafael Vidal de Araujo Fl. 539DF CARF MF
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Numero do processo: 18471.002066/2008-19
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jun 06 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Aug 11 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2002, 2003, 2004
DECADÊNCIA
Os tributos cuja constituição do crédito foi atribuída legalmente ao sujeito passivo (lançamento por homologação), sujeitam-se ao prazo decadencial pevisto no artigo 150, parágrafo 4o., do Código Tributário Nacional, havendo seu deslocamento para o artigo 173, I, desse código na hipótese de dolo, fraude ou simulação ou quando o sujeito não dá acesso ao fisco, mormente pelo pagamento, aplicando-se o precedente do STJ.
Numero da decisão: 9101-002.873
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em dar-lhe provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Adriana Gomes Rêgo, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto e Rafael Vidal de Araújo.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente
(assinado digitalmente)
Daniele Souto Rodrigues Amadio - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra.
Nome do relator: DANIELE SOUTO RODRIGUES AMADIO
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Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em darlhe provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Adriana Gomes Rêgo, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto e Rafael Vidal de Araújo. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente (assinado digitalmente) Daniele Souto Rodrigues Amadio Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 47 1. 00 20 66 /2 00 8- 19 Fl. 1373DF CARF MF 2 Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra. Relatório Tratase de Recurso Especial interposto pela FAZENDA NACIONAL em face do Acórdão n. 110300.378 (Efls. 1290 ss.), proferido pela 3a Turma Ordinária da 1a Câmara da 1a Seção de Julgamento, que negou provimento ao recurso de ofício e deu provimento parcial ao recurso voluntário, para reconhecer a decadência com relação aos fatos geradores ocorridos até 18.08.2003, por entender aplicável aos tributos sujeitos a lançamento por homologação o artigo 150, parágrafo 4o., do Código Tributário Nacional, independentemente de pagamento. O Auto de Infração (Efls. 250 ss.) foi lavrado em 19/08/2008 para a cobrança de IRRF relativo a fatos geradores de 01/2002 a 12/2004 em função da falta de recolhimento do IRRF sobre pagamentos a beneficiários não identificados, com a imposição de juros e multa proporcional. Insurgindose contra a autuação, a recorrida apresentou Impugnação Administrativa (Efls. 885 ss.) defendendo a sua nulidade em função da impossibilidade de (a) um segundo exame em relação ao mesmo exercício sem ordem escrita do Superintendente, Delegado ou Inspetor da Receita Federal e (b) duplicidade de lançamento. No mérito, alegou também (c) a decadência relativa ao período de janeiro/2002 a agosto/2003, (d) a apresentação dos comprovants de pagamentos considerados feitos a beneficiários não identificados nos autos do processo administrativo n. 18471.001364/200719, (e) confiscatoridade da multa e (f) ilegalidade da taxa Selic. O posicionamento da Administração Tributária, no entanto, foi parcialmente mantido pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento no Rio de Janeiro (Efls. 1174 ss.), em decisão assim ementada: “ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2008 ARGÜIÇÃO DE NULIDADE EM RAZÃO DE AUSÊNCIA DE ORDEM ESCRITA PARA REEXAME DE PERÍODO JÁ FISCALIZADO A alteração do Mandado de Procedimento Fiscal — MPF, determinada por ato do Delegado da Receita Federal, tendo por objetivo a correção de inexatidões materiais no lançamento original, supre a exigência de ordem escrita para reexame de período já fiscalizado, a que se refere o art. 906 do RIR/99. ARGÜIÇÃO DE NULIDADE EM RAZÃO DE DUPLICIDADE DE LANÇAMENTO. Não configura duplicidade de lançamento a lavratura de auto de infração complementar para fins de correção de inexatidões materiais no lançamento original. Fl. 1374DF CARF MF Processo nº 18471.002066/200819 Acórdão n.º 9101002.873 CSRFT1 Fl. 1.374 3 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Anocalendário: 2002, 2003, 2004 IREI. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DO RECOLHIMENTO ANTECIPADO. CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL. O imposto de renda retido na fonte segue o regime dos tributos lançados por homologação. Uma vez efetuado o recolhimento do imposto pela fonte pagadora, tem a Fazenda cinco anos para lançar eventuais diferenças, contandose o prazo decadencial a partir da data de ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4°, do I CTN). lnexistindo, todavia, o recolhimento, não ha simplesmente o que homologar; neste caso, o prazo decadencial só começará a correr a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado (art. 173, inciso I, do CTN). IRRF. AUTO DE INFRAÇÃO COMPLEMENTAR. DIFERENÇAS DECORRENTES DE ERRO NO REAJUSTAMENTO DA BASE TRIBUTÁVEL. Verificada a existência de incorreção no lançamento original do IRRF, motivada pelo reajustamento a menor do rendimento tributável, é lícito à autoridade fiscal lavrar auto de infração complementar para exigir as diferenças de imposto devidas. MULTA DE OFÍCIO DE 75%. ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. ALEGAÇÃO DE CONFISCO. A aplicação da multa de oficio de 75%, nas hipótese de falta de recolhimento de tributo ou de declaração inexata, está prevista expressamente no art. 44, inciso I, da Lei n°9.430/1996. Ao julgador administrative não cabe discutir a constitucionalidade de leis ou atos normativos validamente inseridos no ordenamento juridico. A apreciação de questões desta natureza constitui matéria reservada ao Poder Judiciário. TAXA SELIC. QUESTIONAMENTO DE SUA UTILIZAÇÃO PARA EFEITOS DE CÁLCULO DOS JUROS DE MORA DE DÉBITOS FISCAIS. A utilização da taxa Selic, para efeitos de atualização de débitos tributários, está prevista expressamente no art. 61, § 3', da Lei n° 9.430/1996. À autoridade administrative não é dado questionar o fundamento ontológico da referida taxa, mas tão somente aplicála, na forma prevista em lei. Lançamento Procedente em Parte. Vistos, relatados e discutidos os autos do processo em epígrafe, ACORDAM os membros da Turma, nos termos do relatório e do voto que integram o presente julgado: a) por unanimidade, REJEITAR as preliminares de nulidade levantadas pela Interessada; b) por maioria, ACOLHER a argüição de decadência, apenas em relação aos Fl. 1375DF CARF MF 4 fatos geradores ocorridos no anocalendário de 2002, e JULGAR PROCEDENTE, EM PARTE, o lançamento, REDUZINDO o valor do Imposto de Renda Retido na Fonte para o montante de R$ 2.905.127,79 (dois milhões, novecentos e cinco mil, cento e vinte e sete reais e setenta e nove centavos), sobre o qual serão aplicados multa de oficio, no percentual de 75%, e juros de mora, nos termos da legislação vigente. Vencida a julgadora Andréa Duck Simadtob, Presidente da Turma, que REJEITOU a argüição de decadência. (…)” Em face dessa decisão, a contribuinte interpôs Recurso Voluntário (Efl. 1212 ss.) tratando da necessidade de (a) ordem escrita para nova fiscalização, (b) reconhecimento da decadência relativa aos fatos geradores de janeiro a agosto de 2003, (c) exclusão dos valores admitidos no processo n. 18471.001364/200719, e novamente da (d) ilegalidade da taxa Selic. Como adiantado, o Acórdão n. 110300.378 (Efls. 1290 ss.), proferido pela 3a Turma Ordinária da 1a Câmara da 1a Seção de Julgamento, negou provimento ao recurso de ofício e deu provimento parcial ao recurso voluntário, para reconhecer a decadência com relação aos fatos geradores ocorridos até 18.08.2003, aplicandose o artigo 150, parágrafo 4o., do Código Tributário Nacional, independentemnete de pagamento, com a seguinte ementa: “Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física – IRPF Anocalendário: 2002, 2003, 2004 LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA. O Fisco dispõe de 5 (cinco) anos, contados a partir do fato gerador, para promover o lançamento de tributos e contribuições sociais enquadrados na modalidade do art. 150 do Código Tributário Nacional (CTN), a do lançamento por homologação, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, situação em que se aplica a regra do art. 173, I, do Código. Inexistência de pagamento ou descumprimento do dever de apresentar declarações não alteram o prazo decadencial nem o termo inicial da sua contagem. IRRF. PAGAMENTOS SEM COMPROVAÇÃO DA DESTINAÇÃO E SEM IDENTIFICAÇÃO DO BENEFICIÁRIO. Não logrando o sujeito passivo identificar a destinação e os beneficiários dos saques efetuados em sua contacorrente bancária, é de se manter a exigência do Imposto de Renda na Fonte. TAXA DE JUROS. SELIC. A partir de 1° de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, á. Taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade, NEGAR Fl. 1376DF CARF MF Processo nº 18471.002066/200819 Acórdão n.º 9101002.873 CSRFT1 Fl. 1.375 5 provimento ao recurso de oficio e, quanto ao recurso voluntário, por unanimidade, rejeitar a preliminar de nulidade e, por maioria, DAR provimento parcial para reconhecer a decadência do direito de constituir o crédito tributário relativo aos fatos geradores ocorridos até 18/08/2003, vencido o Cons. Mário Sérgio Fernandes Barroso (Relator). O Cons. Aloysio José Percinio da Silva foi designado para redigir o voto vencedor. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Hugo Correa Sotero (vicepresidente). ALOYSIO JOSÉ PERCNIO DA SILVA — Presidente e Redator Designado. MÁRIO SERGIO FERNANDES BARROSO — Relator Participaram do julgamento os Conselheiros Mário Sérgio Fernandes Barroso, Marcos Shigeo Takata, Gervásio Nicolau Recktenvald, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo (suplente convocada) e Aloysio José Percinio da Silva (Presidente). A Procuradoria da Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial (Efls. 1304 ss.) sustentando que, não havendo pagamento, a contagem do prazo decadencial para a constituição do crédito tributário em questão regerseia pelo artigo 173, I, do Código Tributário Nacional, devendose reformar a decisão a quo que considerou que a decadência alcançaria até agosto de 2003. O Recurso Especial foi recepcionado por Despacho de Admissibilidade (Efls. 1314 ss.) e, cientificada (Efls. 1327 a 1333 ss.), a contribuinte não recorreu ou apresentou contrarrazões ao recurso da Fazenda Nacional. Por fim, informase a existência de despacho de encaminhamento (Efl. 1372) comunicamento a transferência dos débitos em situação devedora para o processo n. 18470.720870/201601, conforme termo de transferência às folhas 1.334 a 1.338. Passase, então, à apreciação do recurso. Voto Conselheira DANIELE SOUTO RODRIGUES AMADIO Relatora PRELIMINARES Tempestividade do Recurso Especial Anteriormente à análise do mérito, verificarseá a tempestividade do recurso e o preenchimento dos requisitos para o seu conhecimento. Consta na efl. 1303 recebimento do processo pela PGFN em 21.08.2012, com juntada do recurso especial em Fl. 1377DF CARF MF 6 05.10.2012 (Efl. 1313), portanto, aplicandose o artigo 79 do Regimento Interno do CARF, considerase o presente recurso tempestivo. Conhecimento do Recurso Especial O conhecimento do Recurso Especial condicionase ao preenchimento de requisitos enumerados pelo artigo 67 do Regimento Interno deste Conselho, que exigem analiticamente a demonstração, no prazo regulamentar do recurso de 15 dias, de (1) existência de interpretação divergente dada à legislação tributária por diferentes câmaras, turma de câmaras, turma especial ou a própria CSRF; (2) legislação interpretada de forma divergente; (3) prequestionamento da matéria, com indicação precisa das peças processuais; (4) duas decisões divergentes por matéria, sendo considerados apenas os dois primeiros paradigmas no caso de apresentação de um número maior, descartandose os demais; (5) pontos específicos dos paradigmas que divirjam daqueles presentes no acórdão recorrido; além da (6) juntada de cópia do inteiro teor dos acórdãos indicados como paradigmas, da publicação em que tenha sido divulgado ou de publicação de até 2 ementas, impressas diretamente do sítio do CARF ou do Diário Oficial da União quando retirados da internet, podendo tais ementas, alternativamente, serem reproduzidas no corpo do recurso, desde que na sua integralidade. Observase que a norma ainda determina a imprestabilidade do acórdão utilizado como paradigma que, (1) na data da admissibilidade do recurso especial, contrarie (i) Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal (art. 103A da Constituição Federal); (ii) decisão judicial transitada em julgado (arts. 543B e 543C do Código de Processo Civil; (iii) Súmula ou Resolução do Pleno do CARF; ou (2) de sua interposição, tenha sido reformado na matéria que aproveitaria ao recorrente. Pois bem, voltandose ao caso concreto, observase que o acórdão recorrido decidiu que, independentemente de pagamento ou apresentacão de declaração, o IRRF se trataria de tributo sujeito a lançamento por homologação e, portanto, ao prazo quinquenal de decadência do artigo 150, parágrafo 4o., do Código Tributário Nacional, deslocado para o artigo 173, I, do CTN, somente na hipótese de dolo, fraude ou simulação. Por sua vez, no intuito de afastar a decisão a quo, que seguindo esse racional declarou a decadência do direito de constuição dos créditos tributários até agosto de 2003, a Fazenda Nacional sustenta que, não havendo o pagamento do imposto, aplicase o artigo 173, I, do Código Tributário Nacional, no lugar do seu artigo 150, parágrafo 4o, na linha que seguiram os paradigmas apresentados. Nesse sentido, identificase divergência no tocante à relevância do pagamento ou declaração para aplicação do artigo 150, parágrafo 4o., do CTN, com o consequente deslocamento do termo de início do prazo para o artigo 173, I, do código. Fl. 1378DF CARF MF Processo nº 18471.002066/200819 Acórdão n.º 9101002.873 CSRFT1 Fl. 1.376 7 Por essas razões, VOTASE POR CONHECER o recurso especial. MÉRITO Considerando a divergência identificada, delimitase que seu objeto referese à relevância da existência de pagamento ou declaração para a aplicação do artigo 150, parágrafo 4o., e consequente deslocamento do prazo para o artigo 173, I, do Código Tributário Nacional, tendo como suporte fáctico lançamento de ofício cientificado ao contribuinte em 19.08.2008 para a cobrança de IRRF em função da falta de recolhimento sobre pagamentos a beneficiários não identificados, relativo a fatos geradores de 01/2002 a 12/2004. Com efeito, considerase que o impropriamente chamado “lançamento por homologação”, porque lançamento é atividade priativa de autoridade administrativa nos termos do artigo 142 do Código Tributário Nacional, referese às situações em que a lei transfere ao sujeito passivo o ato de constituição do crédito tributário – ato este que se difere e é pressuposto lógico e cronológico do pagamento. Assim se compreende que, ocorrido o fato gerador de um tributo sujeito ao lançamento por homologação, em regra, fluiria o prazo decadencial de cinco anos para o lançamento de ofício pela fazenda caso não constituído o crédito pelo sujeito passivo ou, não havendo apenas o pagamento, surgiria a possibilidade direta de cobrança. Na realidade, não se vislumbra propriamente que o fisco estaria homologando um pagamento, sobretudo como pressuposto para se considerar constituído o crédito e aplicável então o artigo 150, parágrafo 4o. do Código Tributáro Nacional; o contrário: o que interessa, sim, é a verificação de sua constituição, para se definir se se inicia o prazo decadencial do seu direito de fazêlo. Noutras palavras, na linha adotada, o prazo que se opera não é para a referida homologação, ainda que tácita; mas de decadência do direito do fisco de proceder ao lançamento de ofício, na hipótese de o contribuinte não realizar a atividade de constituição que lhe atibuiu aprioristicamente a lei. Daí se entender a indiferença, nesse ponto, do pagamento para a aplicação do prazo decadencial do art. 150, mas apenas a necessidade de possibilidade do conhecimento do fisco do fato gerador e sua compatibilização com o artigo 173, I , que deslocaria o prazo para o primeiro dia do exercício seguinte, somente no caso de dolo, Fl. 1379DF CARF MF 8 fraude ou simulação, conforme disposição final do parágrafo 4o. do mencionado artigo 150. Nesse sentido e de forma objetiva, considerandose que o IRRF é tributo sujeito ao “lançamento por homologação”, aplicase o artigo 150, parágrafo 4o, do CTN, independentemente da existência de pagamento, porque o que se mostra relevante, na leitura que se faz dessa espécie, é a sua natureza e a possibilidade de constatação da constituição do crédito pelo contribuinte, o que muitas vezes pode se dar pelo próprio pagamento ou com a apresentação de declaração. Essa é a leitura que se faz do precedento do STJ na sistemática do recurso repetitivo no Recurso Especial n. 973.733/SC, de 12.08.2009, abaixo transcrito, que se torna de aplicação obrigatória por força do artigo 62 do Regimento Interno do CARF: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÁO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, sç 4°, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de oficio) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.I42/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontrase regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de oficio, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3' ed., Max Limonad, Sao Paulo, 2004, págs. 163/210). 3. O dies a quo do prazo qüinqüenal da aludida regra decadencial regese pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o 'primeiro dia do exercício seguinte aquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos sujeitos a Fl. 1380DF CARF MF Processo nº 18471.002066/200819 Acórdão n.º 9101002.873 CSRFT1 Fl. 1.377 9 lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, ,sç 4°, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3" ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs. 91/104; Luciano Amara, "Direito Tributário Brasileiro", 10" ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3" ed., Max Limonad, Sao Paulo, 2004, págs. 183/199). 5. In casu, consoante assente na origem: (I) cuidase de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deuse em 26.03.2001. 6. Destarte, revelamse caducos os créditos tributários executados, tendo em vista o decurso do prazo decadencial qüinqüenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de oficio substitutivo. 7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543 C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da PRIMEIRA SEC:4'0 do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Eliana Calmon e Francisco Falcão votaram coin o Sr. Ministro Relator.” Desse modo, na medida em que o lançamento de ofício foi cientificado ao contribuinte em 19.08.2008, relativo a fatos geradores de 01/2002 a 12/2004, com a aplicação do artigo 173, I, do Código Tributário Nacional, e não se vendo no caso concreto seja o pagamento, ou a apresentação das devidas declarações que pudessem dar acesso ao fisco ao conhecimento do fato gerador, votase por DAR PROVIMENTO ao Recurso Especial, reformandose a decisão a quo e mantendose o crédito tributário. (assinado digitalmente) Daniele Souto Rodrigues Amadio Fl. 1381DF CARF MF
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Numero do processo: 12448.724782/2012-48
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 08 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Sep 14 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007, 2008
ÁGIO ORIUNDO DE AQUISIÇÃO COM USO DE RECURSOS FINANCEIROS DE OUTREM. AMORTIZAÇÃO. INDEDUTIBILIDADE.
A hipótese de incidência tributária da possibilidade de dedução das despesas de amortização do ágio, prevista no art. 386 do RIR/1999, requer que participe da "confusão patrimonial" a pessoa jurídica investidora real, ou seja, aquela que efetivamente acreditou na "mais valia" do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição.
Não é possível o aproveitamento tributário do ágio se a investidora real transferiu recursos a uma "empresa-veículo" com a específica finalidade de sua aplicação na aquisição de participação societária em outra empresa e se a "confusão patrimonial" advinda do processo de incorporação não envolve a pessoa jurídica que efetivamente desembolsou os valores que propiciaram o surgimento do ágio, ainda que a operação que o originou tenha sido celebrada entre terceiros independentes e com efetivo pagamento do preço.
Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2007, 2008
TRIBUTAÇÃO REFLEXA
Sendo a tributação decorrente dos mesmos fatos e inexistindo razões que ensejem tratamento diverso, aplica-se à CSLL o quanto decidido em relação ao IRPJ.
Numero da decisão: 9101-003.006
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto o conselheiro Luís Flávio Neto. Declarou-se impedida de participar do julgamento a conselheira Lívia de Carli Germano (suplente convocada).
(Assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente.
(Assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araújo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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Recorrente ECISA PARTICIPAÇÕES LTDA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007, 2008 ÁGIO ORIUNDO DE AQUISIÇÃO COM USO DE RECURSOS FINANCEIROS DE OUTREM. AMORTIZAÇÃO. INDEDUTIBILIDADE. A hipótese de incidência tributária da possibilidade de dedução das despesas de amortização do ágio, prevista no art. 386 do RIR/1999, requer que participe da "confusão patrimonial" a pessoa jurídica investidora real, ou seja, aquela que efetivamente acreditou na "mais valia" do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição. Não é possível o aproveitamento tributário do ágio se a investidora real transferiu recursos a uma "empresaveículo" com a específica finalidade de sua aplicação na aquisição de participação societária em outra empresa e se a "confusão patrimonial" advinda do processo de incorporação não envolve a pessoa jurídica que efetivamente desembolsou os valores que propiciaram o surgimento do ágio, ainda que a operação que o originou tenha sido celebrada entre terceiros independentes e com efetivo pagamento do preço. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2007, 2008 TRIBUTAÇÃO REFLEXA Sendo a tributação decorrente dos mesmos fatos e inexistindo razões que ensejem tratamento diverso, aplicase à CSLL o quanto decidido em relação ao IRPJ. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 44 8. 72 47 82 /2 01 2- 48 Fl. 1283DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 3 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto o conselheiro Luís Flávio Neto. Declarouse impedida de participar do julgamento a conselheira Lívia de Carli Germano (suplente convocada). (Assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente. (Assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela contribuinte ECISA PARTICIPAÇÕES LTDA em 06/07/2015, com fundamento nos arts. 64, inciso II, 67 e seguintes do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09/06/2015 (RICARF/2015), em que se alega a existência de divergências jurisprudenciais acerca da legitimidade de aproveitamento fiscal da amortização de ágio (art. 386, inciso III do RIR/99). A recorrente insurgese contra o Acórdão nº 1402001.949 (efls. 981/1014), de 24/03/2015, por meio do qual os membros da 2a Turma Ordinária da 4a Câmara da 1a Seção de Julgamento do CARF decidiram, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício, e, por voto de qualidade, negar provimento ao recurso voluntário. O acórdão recorrido foi assim ementado: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2007, 2008 PROVA. REORGANIZAÇÕES QUE LEVAM AO MESMO RESULTADO TRIBUTÁRIO. CORRELAÇÃO DE LICITUDES. INEXISTÊNCIA. O simples fato de existir uma reorganização societária lícita que não utiliza empresa veículo não fundamenta adequadamente a conclusão de que outra Fl. 1284DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 4 3 forma de reorganização é lícita ou ilícita, utilize ela ou não aquele tipo de empresa, chegue ou não ao mesmo resultado tributário. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007, 2008 PROVISÃO PARA PERDAS EM INVESTIMENTOS E SUA REVERSÃO. Comprovado na impugnação, com confirmação em diligência efetuada, que as provisões para perdas em investimentos foram neutras relativamente à apuração da base de cálculo do IRPJ, e que as suas reversões só também ficaram neutras com as exclusões efetuadas pelo contribuinte, cancelase a glosa destas exclusões. IRPJ/CSLL. UTILIZAÇÃO DE SOCIEDADE VEÍCULO. REESTRUTURAÇÃO SOCIETÁRIA. ÁGIO TRANSFERIDO. AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO INDEVIDA. 1. O direito à contabilização do ágio não pode ser confundido com o direito à sua amortização. 2. Em regra, o ágio efetivamente pago em operação entre empresas não ligadas e calcadas em laudo que comprove a expectativa de rentabilidade futura deve compor o custo do investimento, sendo dedutível somente no momento da alienação de tal investimento (inteligência do art. 426 do RIR/99). 3. A exceção trazida pelo caput do art. 386, e seu inciso III, pressupõe uma efetiva reestruturação societária na qual a investidora absorve parcela do patrimônio da investida, ou viceversa (§6º, II). A operacionalização de tal reestruturação de forma artificial, calcada em operações meramente formais e com fins unicamente tributários mediante utilização de “empresas veículo”, não possui o condão de alterar a verdade dos fatos, de modo a transformar o que deveria ser contabilizado como custo do investimento em amortização de ágio. 3. A amortização do ágio oriundo de operações societárias, para ser eficaz perante o Fisco, deve decorrer de atos efetivamente existentes, e não apenas artificiais e formalmente revelados em documentação ou na escrituração mercantil ou fiscal. 4. Nesse cenário, o ágio artificialmente transferido não pode ser utilizado para redução da base de cálculo de tributos. 5. A utilização de sociedade veículo, de curta duração, constitui prova da artificialidade daquela sociedade e das operações nas quais ela tomou parte, notadamente, no caso concreto, a transferência do ágio ao real investidor para fins de amortização. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2007, 2008 LANÇAMENTOS DECORRENTES. CSLL. Fl. 1285DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 5 4 Aplicase ao lançamento tido como reflexo as mesmas razões de decidir do lançamento matriz, em razão de sua íntima relação de causa e efeito, na medida em que não há fatos ou elementos novos a ensejar conclusões diversas. [...] A contribuinte apresentou Recurso Especial (efls. 1074/1102) insurgindose contra o acórdão que apreciou seu recurso voluntário, sob a alegação de que ele teria dado à lei tributária interpretação diversa da que tem sido adotada em outros processos julgados no âmbito do CARF. O recurso especial apresentado pela contribuinte contesta a interpretação dada pelo acórdão recorrido em relação à legitimidade de aproveitamento fiscal da amortização de ágio (art. 386, inciso III do RIR/99). Em atendimento aos requisitos de admissibilidade do recurso especial, previstos nos arts. 67 e seguintes do Anexo II do RICARF/2015, a recorrente apontou acórdãos de turmas de câmara do CARF (nº1301001.505, de 06/05/2014 e nº 1302001.532, de 21/10/2014) que teriam dado ao tema combatido interpretação diversa daquela esposada pelo acórdão recorrido. Segundo o acórdão recorrido, a utilização da empresa veículo LICIA para aquisição, pela empresa BR MALLS, de participação societária da contribuinte ECISAPAR (de forma direta e, também, indireta, por meio da aquisição da totalidade das ações da empresa DYLPAR, que detinha quotas da contribuinte), seguida da incorporação da LICIA pela ECISAPAR, não revelaria propósito negocial e, portanto, não permitiria o aproveitamento fiscal do ágio pago na aquisição das quotas da contribuinte, conforme arts. 7º e 8º da Lei n° 9.532/97 (reproduzido pelo art. 386 do RIR). A interposição da LICIA e o aproveitamento fiscal do ágio pela própria ECISAPAR teria ocasionado uma economia de tributos diferente da que seria obtida sem a participação da empresa veículo, configurando típico planejamento fiscal inoponível ao fisco. Já os acórdãos paradigmas trariam o entendimento de que a utilização de empresa veículo, desde que dessa utilização não tenha resultado aparecimento de novo ágio, não resulta economia de tributos diferente da que seria obtida sem a utilização daquela empresa veículo e, por conseguinte, não poderia ser qualificada de planejamento fiscal inoponível ao fisco. Assim constou reproduzido no relatório do despacho (efls. 1228/1235) que examinou a admissibilidade do recurso especial: "Ou seja, segundo o ACÓRDÃO RECORRIDO, a utilização de LICIA para aquisição da participação societária de ECISAPAR e DYLPAR, seguida de cisão total de LICIA e DYLPAR e posterior incorporação das parcelas patrimoniais cindidas por ECISAPAR, não revelaria propósito negocial e, portanto, não permitiria o aproveitamento fiscal do ágio pago na aquisição de ECISAPAR, conforme admitido pelos arts. 7º e 8º da Lei n° 9.532/97 (reproduzido pelo art. 386 do RIR). Para o ACÓRDÃO RECORRIDO, a interposição de LICIA teria ocasionado uma economia de tributos diferente da que seria obtida sem a sua participação, configurando típico planejamento fiscal inoponível ao fisco. [...] Fl. 1286DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 6 5 No mesmo sentido do ACÓRDÃO PARADIGMA n° 1, o CARF entendeu que a utilização de empresa veículo não prejudicaria o direito de o contribuinte atribuir efeitos fiscais à amortização do ágio pago na aquisição de investimento. Segundo o ACÓRDÃO PARADIGMA N° 2, não haveria nenhuma vedação legal para a utilização de LAKELAND. [...] Tendo sido demonstrada a divergência jurisprudencial para fins de admissibilidade do presente recurso especial, nos termos do art. 67 do Regimento Interno do CARF, a RECORRENTE passa a demonstrar a improcedência do entendimento adotado pelo ACÓRDÃO RECORRIDO. O produto da amortização do ágio integra as contas de resultados d investidora, diminuindo o lucro líquido do exercício, não obstante, não é levado em consideração na determinação do lucro real da investidora e, por isso, seu valor é adicionado ao lucro líquido para fins de tributação, só produzindo efeitos fiscais à época da baixa do investimento, em razão de sua alienação ou liquidação (artigos 391 e 426, II, do RIR). Com a publicação da Lei n° 9.532/97 (base legal do art. 38 6 do RIR), foram introduzidos mecanismos que passaram a regular expressamente o tratamento fiscal do ágio no caso de fusão, cisão ou incorporação de empresas. De acordo com os arts 7° e 8° da Lei n° 9.532/97, a pessoa jurídica que tenha adquirido investimentos com ágio (i.e., a investidora), ao incorporar a sociedade em que feito o investimento (i.e., a investida) ou ser por ela incorporada (incorporação inversa), passa a ter o direito de atribuir efeitos fiscais à amortização do ágio conforme seu fundamento. Como demonstrado no decorrer do presente processo, a regulamentação do tratamento de ágio pago na aquisição de empresas foi extremamente importante para o processo de privatização que, na época da publicação da Lei n° 9.532/97, se encontrava em andamento no país. Com o expresso reconhecimento de que o ágio pago na aquisição das estatais poderia ser fiscalmente amortizado nas hipóteses de incorporação inversa, as autoridades governamentais buscaram tornar mais atraente o processo de privatização, aumentando o valor arrecadado com a venda das empresas estatais. Conforme mencionado por João Dácio Rolim e Frederico Almeida, "o governo buscou tornar os investimentos nas estatais mais interessantes para os potenciais investidores, na medida em que os ágios pagos nos leilões de privatização de estatais pudessem ser deduzidos fiscalmente na apuração do Imposto de Renda e da CSLL desses investidores" ("O Ágio e Investimentos e o uso de EmpresasVeículo", in Revista Dialética de Direito Tributário n° 158). Ressaltese, contudo, que as incorporações efetuadas logo após o processo de privatização não se justificariam senão em razão do próprio aproveitamento do ágio verificado, conforme expressamente previsto na Lei n° 9.532/97. É evidente que as empresas adquirentes, até mesmo em razão de terem sido constituídas exclusivamente para o processo de privatização, não exerciam quaisquer das atividades que até então eram predominantemente exercidas em território brasileiro pelas estatais. Ou seja, na data em que publicada a Lei n° 9.532/97, já era de pleno conhecimento do governo que Fl. 1287DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 7 6 nenhuma sinergia operacional entre a investidora e a investida poderia ser razoavelmente apresentada para justificar as incorporações que viriam a ser efetuadas, com a consequente dedutibilidade do ágio então verificado na aquisição da empresa. Por outro lado, era comum que as próprias regras dos editais de privatização exigissem a constituição de sociedade de propósito especifico para proceder à liquidação financeira da empresa então adquirida por privatização. Ao promulgar a Lei n° 9.532/97, o governo brasileiro já tinha ciência de que nenhum propósito relevante poderia ser apresentado para que as incorporações disciplinadas por seus artigos 1° e 8o pudessem ser efetuadas, sendo o aproveitamento do ágio por si só suficiente e justificável. Na realidade, a utilização de empresa veiculo para aquisição do investimento e posterior incorporação para fins de aproveitamento fiscal do ágio não foi vedado, mas até mesmo incentivado pelos referidos dispositivos legais. [...] 0 tratamento fiscal dado ao ágio pela Lei n° 9.532/97 não foi, contudo, expressamente circunscrito à aquisição das empresas ^st cais, sendo aplicável a todo e qualquer caso de aquisição empresas que viessem a ser incorporadas (conforme expressamente reconhecido pela transcrição constante do item anterior). Notese, nesse sentido, que até mesmo restruturações societárias consistentes na aquisição de investimento em empresa operacional por determinada sociedade, transferência do mesmo a empresa veículo e subsequente incorporação desta última pela empresa operacional foram expressamente aceitas e disciplinadas de forma genérica pela CVM, como forma de o contribuinte usufruir do tratamento fiscal dado ao ágio pela Lei n° 9.532/97. Importante destacar o seguinte trecho da Nota Explicativa da CVM à Instrução n° 349/01 [...]. A referida Nota Explicativa detalhou os procedimentos que deveriam ser observados pelas companhias abertas nas reestruturações previstas pela Lei n° 9.532/97, com ênfase para as incorporações precedidas da criação de veículos, tendo atribuído valor específico à economia fiscal que, nas incorporações inversas, o controlador transfere à controlada. Ou seja, reconhece os efeitos fiscais nos casos de incorporação de empresas veículo. Podese, assim, afirmar que o próprio Poder Executivo, por uma de suas autarquias (a CVM), reconhece, expressamente, que o registro de ágio por uma pessoa jurídica, inclusive um veículo criado após a aquisição dos investimentos de terceiros, com a subsequente incorporação da empresa investidora é apta a gerar a dedutibilidade do ágio nos termos dos arts. 1° e 8o da Lei n° 9.532/97, independentemente da existência de motivação negocial. Na realidade, conforme demonstrado ao longo do presente processo, a utilização de empresa veículo para a aquisição de investida e posterior incorporação daquela não tem influência direta no aproveitamento fiscal do ágio, pois ele seria possível mesmo que a utilização do veículo não tivesse ocorrido. Fl. 1288DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 8 7 Caso a empresa investidora tivesse diretamente adquirido a empresa investida, em vez de interpor um veículo, ainda assim nasceria o direito ao aproveitamento fiscal do ágio pago na aquisição do investimento, bastando que a investidora incorporasse a empresa investida (ou viceversa). A opção por utilizar qualquer um dos dois modelos acima descritos (com ou sem interposição de empresa veículo) para a estruturação do negócio planejado atende a critérios iminentemente societários e não acarreta qualquer prejuízo ao fisco, pois, como visto, o aproveitamento fiscal do ágio poderia ocorrer caso um ou outro modelo fosse adotado. O ACÓRDÃO RECORRIDO afirma que o planejamento tributário engendrado pela BR MALLS mediante a utilização de LICIA (empresa veículo) para aquisição da ECISAPAR seria ilícito porque realizado mediante abuso do direito. Ao contrário do que afirma o ACÓRDÃO RECORRIDO, o eventual abuso de direito não deve ser analisado com base nas operações societárias efetuadas. A utilização de empresa veículo não resulta, como afirma o ACÓRDÃO RECORRIDO, em economia de tributo diferente daquela que seria obtida sem a sua utilização, pois, repitase, o aproveitamento fiscal do ágio poderia ocorrer mesmo que o contribuinte não tivesse utilizado um veiculo. [...] De acordo com o entendimento do CARF, a reorganização societária somente poderia ser desconsiderada para fins fiscais se efetuada com o objetivo de criar uma vantagem fiscal adicional, o que não ocorre com a simples utilização de empresa veiculo. Em diversas oportunidades, o CARF adotou o entendimento de que é necessário perquirir a origem do ágio, e não o seu aproveitamento posterior por meio de incorporação, inclusive com a utilização de empresa veículo. Nesse sentido, temse admitido a dedução de despesas com amortização de ágio sempre que constatado que ele teve origem em uma efetiva aquisição onerosa de participação societária entre partes não relacionadas, com pagamento de preço. [...] No caso, a exemplo do que ocorreu nas situações analisadas nos Acórdãos acima mencionados, os ágios deduzidos pela ECISAPAR tiveram origem em operações onerosas e realizadas entre partes não relacionadas; ou seja, não há dúvida de que o ágio efetivamente existiu e que, por consequência, não poderia deixar de ser considerado e deduzido pela ECISAPAR. Neste particular, repisese que o lançamento efetuado, conforme demonstra o TERMO anexo aos AUTOS, não questiona a efetiva existência dos ágios e o fato de que as referidas aquisições foram feitas de forma onerosa e entre partes não relacionadas. Também não há qualquer questionamento quanto ao fundamento dos ágios, qual seja, perspectivas de rentabilidade futura. Além do mais, deve ser ressaltado que a utilização de LICIA foi motivada por fatores que não simplesmente a economia tributária. Podese citar, dentre outros de conveniência societária, a readequação da estrutura Fl. 1289DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 9 8 patrimonial da ECISAPAR e a consequente melhoria de sua capacidade financeira. Como se sabe, nos termos das Instruções da CVM n° 319/99, e n° 349/01, nas incorporações inversas, a parcela do ágio suscetível de ser aproveitada em termos fiscais é tratada como um ativo da incorporadora, cuja contrapartida é registrada em uma conta de patrimônio liquido (a reserva a que se refere o art. 6° da Instrução n° 319/99). Assim, a incorporação de LICIA pela RECORRENTE importou no aumento do valor de seu patrimônio líquido e na melhoria de suas condições de endividamento, fato importante a uma empresa operacional como a ECISAPAR. [...] Parece que a autoridade julgadora de segunda instância não compreendeu adequadamente os argumentos trazidos por ECISAPAR quando de sua sustentação oral na sessão de 24.03.2015. Aliás, cumpre esclarecer que os referidos argumentos não foram apresentados apenas oralmente, mas constam também dos itens 4.42 e 4.43 do recurso voluntário tempestivamente apresentado por ECISAPAR. Ao contrário do que parece ter entendido o ACÓRDÃO RECORRIDO, a necessidade de melhora na capacidade de endividamento era da ECISAPAR (e não de LICIA) que, por ser empresa operacional, teria em eventual empréstimo uma variante importante na consecução do seu plano de negócios. Por este mesmo motivo, é também completamente descabida a afirmação de que a BR MALLS poderia tomar empréstimos. Repitase, quem precisava incrementar sua capacidade de endividamento era a ECISAPAR, e não a BR MALLS. [...] O entendimento é totalmente equivocado. Para que possa considerar que uma empresa carece de propósito negocial é necessário que o fiscal examine todo o contexto de forma mais profunda, a fim de perquirir outros elementos que comprovem a alegada ausência de substância econômica. Qualquer empresa que adquire participação societária,e logo depois é incorporada, participa de um negócio por um curto lapso de tempo. Este fato, por si só, não é suficiente para consubstanciar o lançamento ora combatido, sendo certo que a fiscalização deveria ter se dedicado a carrear aos autos outros indícios que corroborassem a ausência de justificativa econômica. Em suma, não há qualquer fundamento para a desconsideração, para efeitos fiscais, das operações realizadas no caso ora em exame, devendo o ACÓRDÃO RECORRIDO ser reformado e, portanto, cancelados os créditos tributários lançados pelos AUTOS. [...] Por todo o exposto, pede e espera a RECORRENTE que seja o presente recurso especial admitido, conhecido e provido, de forma que seja reformado o ACÓRDÃO RECORRIDO e, consequentemente, integralmente cancelados os AUTOS." Fl. 1290DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 10 9 A irresignação da contribuinte foi submetida a juízo de admissibilidade, a fim de se verificar o atendimento aos requisitos regimentalmente exigidos dos recursos especiais. O resultado foi o já citado despacho (efls. 1228/1235), de 27/07/2015, que concluiu que restou configurada a divergência jurisprudencial apontada pelo sujeito passivo, já que os tratamentos dados à matéria discutida nos acórdãos examinados revelaramse discordantes: "Examinando os acórdãos paradigmas verificase que trazem o entendimento de que no contexto da legislação tributária, mediante utilização de empresa veículo, desde que dessa utilização não tenha resultado aparecimento de novo ágio, não resulta economia de tributos diferente da que seria obtida sem a utilização da empresa veículo e, por conseguinte, não pode ser qualificada de planejamento fiscal inoponível ao fisco. Consta no voto condutor do acórdão recorrido: Conforme se observa, os pontos destacados por Greco ressaltam aos olhos no caso concreto, pois as operações perpetradas pela Recorrente foram estruturadas em sequência, sem qualquer propósito negocial que não seja a mera economia tributária. Ou seja, utilizouse de sociedades de passagem a fim de que a mais valia na aquisição de ações contabilizada como ágio e que deveria compor o custo do investimento para fins de apuração de ganho de capital , após imediata incorporação reversa entre investida e investidora (empresa veículo), se transformasse em despesa dedutível na Recorrente mediante transferência do ágio a ser amortizado. Assim, considerandose que a real operação foi a aquisição das ações de ECISAPAR por BRMALLS e tais empresas jamais chegaram a tornarse uma única mediante incorporação ou fusão, não houve a ocorrência da extinção do investimento apta a permitir que o ágio pago na aquisição das ações pudesse ser amortizado, devendo tal valor compor o custo de aquisição das ações de ECISAPAR em eventual futura alienação de tais ações por parte de BRMALLS. O acórdão recorrido, por seu turno, vem considerar que o ágio artificialmente transferido não pode ser utilizado para redução da base de cálculo de tributos. A utilização de sociedade veículo, de curta duração, constitui prova da artificialidade daquela sociedade e das operações nas quais ela tomou parte, notadamente, no caso concreto, a transferência do ágio ao real investidor para fins de amortização. Portanto, as conclusões sobre a matéria ora recorrida nos acórdãos examinados revelamse discordantes, restando plenamente configurada a divergência jurisprudencial pelo Sujeito Passivo." Sendo assim, e restando cumpridos os demais requisitos de admissibilidade estabelecidos regimentalmente, o recurso especial foi admitido em relação a matéria arguida pelo recorrente: "Legitimidade do aproveitamento fiscal da amortização do ágio". Os autos seguiram então para a CSRF para o julgamento do recurso especial interposto pela contribuinte. Fl. 1291DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 11 10 Contrarrazões da PGFN às fls. 1237 a 1248, onde se tratou apenas do mérito; não tendo sido, portanto, levantada preliminar de não conhecimento. É o relatório. Fl. 1292DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 12 11 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. O ponto central do debate desenvolvido ao longo dos autos diz respeito à regularidade do procedimento adotado pela contribuinte ECISA PARTICIPAÇÕES LTDA. ECISAPAR (e condenado pela Fiscalização) de deduzir, nos anoscalendário de 2007 e 2008, do lucro real e da base de cálculo da CSLL, despesas com amortização do ágio registrado originalmente na contabilidade da empresa veículo LICIA PARTICIPAÇÕES LTDA., por ocasião da aquisição de quotas da autuada (operação ocorrida em 13/11/2006) e de ações da empresa DYLPAR PARTICIPAÇÕES S/A (evento de 20/12/2006), que também detinha participação societária na ECISAPAR. Tais aquisições foram pagas com recursos financeiros recebidos, pela LICIA, de sua controladora BR MALLS PARTICIPAÇÕES S/A. Esta empresa adquiriu 100% das quotas da LICIA em 20/10/2006 e aumentou seu capital social, então de apenas R$1.500,00, com aportes de R$191.822.729,85 (em 10/11/2006) e R$174.487.338,98 (em 20/12/2006), para fins de aquisição de quotas da ECISAPAR e de ações da DYLPAR e de uma terceira empresa., a ECISA ENGENHARIA COMÉRCIO E INDÚSTRIA S/A (ECISAENG). A aquisição de 28,8% das quotas da recorrente gerou, na contabilidade da LICIA, o registro de ágio no montante de R$58.320.450,11. Já a aquisição das ações da DYLPAR, que detinha 26,2% das quotas da recorrente, propiciou, também nos registros contábeis da LICIA, o aparecimento de ágio no valor de R$31.891.870,59. No final de dezembro de 2006, as empresas LICIA e DYLPAR sofreram cisão integral e metade da participação societária de cada uma destas empresas foi incorporada por sua então controlada, ECISAPAR, em operação conhecida como incorporação reversa. Assim, as quotas de participação societária da própria contribuinte foram introduzidas em sua contabilidade, juntamente com o ágio a elas associado. A contribuinte passou, então, a deduzir do lucro real e da base de cálculo da CSLL despesas decorrentes da amortização do ágio recém introduzido em seu patrimônio, considerando que tal prática estaria amparada pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997, também contempladas no Regulamento do Imposto de Renda (RIR/1999), nos arts. 385 e 386. A respeito da figura do ágio, há que se dizer que seu conceito tributário foi introduzido no ordenamento brasileiro pelo DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977. À época dos fatos discutidos nestes autos, dispunha o art. 20 do DecretoLei, antes de ter sua redação alterada pela Lei nº 12.973, de 13/05/2014: Art 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e Fl. 1293DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 13 12 II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento. § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras a e b do § 2º deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração. O art. 385 do RIR/1999 é basicamente uma cópia do art. 20 do DecretoLei nº 1.598/1977. Em ambos os dispositivos, encontrase a determinação de que contribuintes que avaliam investimentos em sociedade controlada ou coligada pelo valor do patrimônio líquido registrem o ágio apurado na aquisição de participação societária em subconta separada daquela que registra o valor do patrimônio líquido da investida na época da aquisição. Além disso, os dispositivos também prevêem que tal ágio deve ser fundamentado em pelo menos um dos três fatores: a) valor de mercado dos bens do ativo da investida superior ao registrado na contabilidade; b) expectativa de resultados positivos da investida nos exercícios futuros ou; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. Quando o art. 20 do DecretoLei nº 1.598/1977 e o art. 385 do RIR/1999 afirmam que o destinatário das regras ali expostas é o contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido, estão se referindo ao método da equivalência patrimonial. Segundo tal método, as variações observadas nos patrimônios líquidos da sociedades coligadas ou controladas provocam reflexos nos valores dos investimentos registrados na investidora. Observese o que dispõem os arts. 387 a 389 do RIR/1999, a respeito do método de equivalência patrimonial: Art. 387. Em cada balanço, o contribuinte deverá avaliar o investimento pelo valor de patrimônio líquido da coligada ou controlada, de acordo com o disposto no art. 248 da Lei nº 6.404, de 1976, e as seguintes normas (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 21, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso III): : I o valor de patrimônio líquido será determinado com base em balanço patrimonial ou balancete de verificação da coligada ou controlada levantado na mesma data do balanço do contribuinte ou até dois meses, no máximo, antes dessa data, com observância da lei comercial, inclusive quanto à Fl. 1294DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 14 13 dedução das participações nos resultados e da provisão para o imposto de renda; (...) Art. 388. O valor do investimento na data do balanço (art. 387, I), deverá ser ajustado ao valor de patrimônio líquido determinado de acordo com o disposto no artigo anterior, mediante lançamento da diferença a débito ou a crédito da conta de investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 22). (...) Art. 389. A contrapartida do ajuste de que trata o art. 388, por aumento ou redução no valor de patrimônio líquido do investimento, não será computada na determinação do lucro real (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 23, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso IV). (...) O art. 389 do RIR/1999 é explícito ao determinar que os resultados auferidos pelas empresas coligadas ou controladas não devem ser computados na determinação do resultado da investidora. Assim, lucros apurados em uma investida devem ser objeto de tributação somente no âmbito daquela empresa. Embora tenham o reflexo de majorar o valor do investimento registrado na investidora, os lucros da investida não devem integrar a base tributável da pessoa jurídica que nela detém participação societária, sob pena de configurarse hipótese de dupla tributação. Caso a investidora tenha registrado, em sua contabilidade, ágio decorrente da expectativa de rentabilidade futura da investida, concluise que a causa do pagamento a maior efetivamente se concretizou, mas foi tributada somente na coligada ou controlada. Sendo assim, não há que se cogitar de amortização do ágio na investidora, uma vez que não ocorre, nesta pessoa jurídica, tributação do resultado positivo da investida. Somente seria lógico falar em amortização daquele ágio caso a concretização do motivo que lhe deu causa, qual seja, a lucratividade futura da investida, tivesse reflexos tributários na pessoa jurídica que pagou a "mais valia". Dessa forma, o dispêndio a maior poderia ser gradativamente recuperado sob a forma de despesas dedutíveis, se os lucros que o motivaram provocassem um maior recolhimento de tributos nos períodos posteriores à aquisição do investimento. Como, por determinação legal, não é esta a hipótese que se verifica no método de equivalência patrimonial, podese concluir que a regra geral é a da impossibilidade de utilização fiscal do ágio registrado na investidora. É o que reza expressamente o art. 391 do RIR/1999: Art. 391. As contrapartidas da amortização do ágio ou deságio de que trata o art. 385 não serão computadas na determinação do lucro real, ressalvado o disposto no art. 426 (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 25, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso III). Parágrafo único. Concomitantemente com a amortização, na escrituração comercial, do ágio ou deságio a que se refere este artigo, será mantido Fl. 1295DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 15 14 controle, no LALUR, para efeito de determinação do ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação do investimento (art. 426). Existem, contudo, duas exceções a tal regra. A primeira delas é indicada pelo próprio art. 391, quando ressalva o disposto no art. 426 do mesmo RIR/1999: Art. 426. O valor contábil para efeito de determinar o ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor de patrimônio líquido (art. 384), será a soma algébrica dos seguintes valores (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 33, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso V): I valor de patrimônio líquido pelo qual o investimento estiver registrado na contabilidade do contribuinte; II ágio ou deságio na aquisição do investimento, ainda que tenha sido amortizado na escrituração comercial do contribuinte, excluídos os computados nos exercícios financeiros de 1979 e 1980, na determinação do lucro real; III provisão para perdas que tiver sido computada, como dedução, na determinação do lucro real, observado o disposto no parágrafo único do artigo anterior. A primeira exceção à regra da impossibilidade de aproveitamento tributário do ágio tratado pelo art. 385 do RIR/1999 diz respeito, portanto, à apuração de ganho ou perda de capital. Se o investimento que deu causa à "mais valia" for alienado ou liquidado, o ágio ou deságio registrados na contabilidade da controladora devem compor o custo de aquisição considerado no cálculo do resultado tributável da operação, sobre o qual incidirão IRPJ e CSLL. Já a segunda exceção, que interessa mais diretamente à discussão desenvolvida nos presentes autos, referese às transformações societárias envolvendo investidoras, investidas e o ágio associado aos investimentos. A respeito da evolução histórica das previsões legais que contemplaram a possibilidade de aproveitamento tributário do ágio em hipóteses de transformações societárias, remetome ao irretocável apanhado feito pelo nobre Conselheiro André Mendes de Moura no recente Acórdão nº 9101002.301: "Primeiro, o tratamento conferido à participação societária extinta em fusão, incorporação ou cisão, atendia o disposto no art. 34 do DecretoLei nº 1.598, de 1977: Art 34 Na fusão, incorporação ou cisão de sociedades com extinção de ações ou quotas de capital de uma possuída por outra, a diferença entre o valor contábil das ações ou quotas extintas e o valor de acervo líquido que as substituir será computado na determinação do lucro real de acordo com as seguintes normas: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) I somente será dedutível como perda de capital a diferença entre o valor contábil e o valor de acervo líquido avaliado a preços de mercado, e o contribuinte poderá, para efeito de determinar o lucro Fl. 1296DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 16 15 real, optar pelo tratamento da diferença como ativo diferido, amortizável no prazo máximo de 10 anos; (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) II será computado como ganho de capital o valor pelo qual tiver sido recebido o acervo líquido que exceder o valor contábil das ações ou quotas extintas, mas o contribuinte poderá, observado o disposto nos §§ 1º e 2º, diferir a tributação sobre a parte do ganho de capital em bens do ativo permanente, até que esse seja realizado. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 1º O contribuinte somente poderá diferir a tributação da parte do ganho de capital correspondente a bens do ativo permanente se: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) a) discriminar os bens do acervo líquido recebido a que corresponder o ganho de capital diferido, de modo a permitir a determinação do valor realizado em cada períodobase; e (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) b) mantiver, no livro de que trata o item I do artigo 8º, conta de controle do ganho de capital ainda não tributado, cujo saldo ficará sujeito a correção monetária anual, por ocasião do balanço, aos mesmos coeficientes aplicados na correção do ativo permanente. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 2º O contribuinte deve computar no lucro real de cada período base a parte do ganho de capital realizada mediante alienação ou liquidação, ou através de quotas de depreciação, amortização ou exaustão deduzidas como custo ou despesa operacional. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) O que se pode observar é que o único requisito a ser cumprido, como perda de capital, é que o acervo líquido vertido em razão da incorporação, fusão ou cisão estivesse avaliado a preços de mercado. Contudo, para que se consumasse a perda de capital prevista no inciso I, o valor contábil deveria ser maior do que o acervo líquido avaliado a preços de mercado, e tal situação se mostraria viável, especialmente, quando, imediatamente após à aquisição do investimento com ágio, ocorresse a operação de incorporação, fusão ou cisão. Ocorre que tal previsão se consumou em operações um tanto quanto questionáveis por vários contribuintes, mediante aquisição de empresas deficitárias pagandose ágio, para, em logo em seguida, promover a incorporação da investidora pela investida. As operações ocorriam quase simultaneamente. E, nesse contexto, o aproveitamento do ágio, nas situações de transformação societária, sofreu alteração legislativa. Vale transcrever a Exposição de Motivos da MP nº 1.602, de 19971, que, posteriormente, foi convertida na Lei nº 9.532, de 1997. 1 Exposição de Motivos publicada no Diário do Congresso Nacional nº 26, de 02/12/1997, pg. 18021 e segs, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. Fl. 1297DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 17 16 11. O art. 8º estabelece o tratamento tributário do ágio ou deságio decorrente da aquisição, por uma pessoa jurídica, de participação societária no capital de outra, avaliada pelo método da equivalência patrimonial. Atualmente, pela inexistência de regulamentação legal relativa a esse assunto, diversas empresas, utilizando dos já referidos "planejamentos tributários", vem utilizando o expediente de adquirir empresas deficitárias, pagando ágio pela participação, com a finalidade única de gerar ganhos de natureza tributária, mediante o expediente, nada ortodoxo, de incorporação da empresa lucrativa pela deficitária. Com as normas previstas no Projeto, esses procedimentos não deixarão de acontecer, mas, com certeza, ficarão restritos às hipóteses de casos reais, tendo em vista o desaparecimento de toda vantagem de natureza fiscal que possa incentivar a sua adoção exclusivamente por esse motivo. Não vacilou a doutrina abalizada de LUÍS EDUARDO SCHOUERI2 ao discorrer, com precisão sobre o assunto: Anteriormente à edição da Lei nº 9.532/1997, não havia na legislação tributária nacional regulamentação relativa ao tratamento que deveria ser conferido ao ágio em hipóteses de incorporação envolvendo a pessoa jurídica que o pagou e a pessoa jurídica que motivou a despesa com ágio. O que ocorria, na prática, era a consideração de que a incorporação era, per se, evento suficiente para a realização do ágio, independentemente de sua fundamentação econômica. (...) Sendo assim, a partir de 1998, ano em que entrou em vigor a Lei nº 9.532/1997, adveio um cenário diferente em matéria de dedução fiscal do ágio. Desde então, restringiramse as hipóteses em que o ágio seria passível de ser deduzido no caso de incorporação entre pessoas jurídicas, com a imposição de limites máximos de dedução em determinadas situações. Ou seja, nem sempre o ágio contabilizado pela pessoa jurídica poderia ser deduzido de seu lucro real quando da ocorrência do evento de incorporação. Pelo contrário. Com a regulamentação ora em vigor, poucas são as hipóteses em que o ágio registrado poderá ser deduzido, a depender da fundamentação econômica que lhe seja conferida. Merece transcrição o Relatório da Comissão Mista3 que trabalhou na edição da MP 1.609, de 19974: 2 SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo : Dialética, 2012, p. 66 e segs. 3 Relatório da Comissão Mista publicada no Diário do Congresso Nacional nº 27, de 03/12/1997, pg. 18494, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. 4 Na realidade, o número da Medida Provisória abordada é 1.602. Fl. 1298DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 18 17 O artigo 8º altera as regras para determinação do ganho ou perda de capital na liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor do patrimônio líquido, quando agregado de ágio ou deságio. De acordo com as novas regras, os ágios existentes não mais serão computados como custo (amortizados pelo total), no ato de liquidação do investimento, como eram de acordo com as normas ora modificadas. O ágio ou deságio referente à diferença entre o valor de mercado dos bens absorvidos e o respectivo valor contábil, na empresa incorporada (inclusive a fusionada ou cindida), será registrado na própria conta de registro dos respectivos bens, a empresa incorporador (inclusive a resultante da fusão ou a que absorva o patrimônio da cindida), produzindo as repercussões próprias na depreciação normal. O ágio ou deságio decorrente de expectativa de resultado futuro poderá ser amortizado durante os cinco anoscalendário subsequentes à incorporação, à razão de 1/60 (um sessenta avos) para cada mês do período de apuração. (...) Percebese que, em razão de um completo desvirtuamento do instituto, o legislador foi chamado a intervir, para normatizar, nos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, sobre situações específicas tratando de eventos de transformação societária envolvendo investidor e investida. Inclusive, no decorrer dos debates tratando do assunto, chegouse a cogitar que o aproveitamento do ágio não seria uma despesa, mas um benefício fiscal. Em breves palavras, caso fosse benefício fiscal, o próprio legislador deveria ter tratado do assunto, como o fez na Exposição de Motivos de outros dispositivos da MP nº 1.607, de 1997 (convertida na Lei nº 9.532, de 1997). Na realidade, a Exposição de Motivos deixa claro que a motivação para o dispositivo foi um maior controle sobre os planejamentos tributários abusivos, que descaracterizavam o ágio por meio de analogias completamente desprovidas de sustentação jurídica. E deixou claro que se trata de uma despesa de amortização." Depreendese da retrospectiva transcrita que os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 (produto da conversão da Medida Provisória nº 1.602/1997) foram erigidos pelo legislador com a específica finalidade de coibir a prática de planejamentos tributários abusivos em que empresas superavitárias adquiriam com ágio empresas deficitárias para serem em seguida incorporadas por elas. Tal incorporação reversa, também denominada de incorporação "às avessas", não tinha nenhum propósito negocial que não fosse a simples geração de ganhos de natureza tributária. Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 foram integralmente incorporados ao RIR/1999 por meio de seu art. 386. Como este artigo faz referência expressa a dispositivos do art. 385 (cópia do já reproduzido art. 20 do DecretoLei nº 1.598/1977), transcrevemse ambos a seguir: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição Fl. 1299DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 19 18 da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso I do §2º do artigo anterior, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso III do §2º do artigo anterior, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do §2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do §2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração do lucro real, levantados durante os cinco anoscalendário subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no mínimo, para cada mês do período de apuração. §1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §1º). Fl. 1300DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 20 19 §2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §2º): I o ágio em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; II o deságio em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. §3º O valor registrado na forma do inciso II (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §3º): I será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; II poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. §4º Na hipótese do inciso II do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos ou contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §4º). §5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §5º). §6º O disposto neste artigo aplicase, inclusive, quando (Lei nº 9.532, de 1997, art. 8º): I o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor do patrimônio líquido; II a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. §7º Sem prejuízo do disposto nos incisos III e IV, a pessoa jurídica sucessora poderá classificar, no patrimônio líquido, alternativamente ao disposto no §2º deste artigo, a conta que registrar o ágio ou deságio nele mencionado (Lei nº 9.718, de 1998, art. 11). Verificase que os arts. 385 e 386 do RIR/1999 guardam uma relação indissociável entre si, uma vez que requisitos à aplicação do segundo artigo são extraídos diretamente da redação do primeiro. O art. 385, conforme já mencionado, estabelece duas regras principais. A primeira determina que o ágio apurado em uma aquisição de participação societária em sociedade controlada ou coligada seja registrado em subconta separada daquela que registra o valor do patrimônio líquido da investida na época da aquisição. Já a segunda fixa os possíveis fundamentos econômicos do ágio pago na aquisição da participação societária (valor de mercado dos bens do ativo da investida superior ao registrado na contabilidade; expectativa de resultados positivos da investida nos exercícios futuros; fundo de comércio, intangíveis e Fl. 1301DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 21 20 outras razões econômicas). Por fim, o artigo ainda prevê que o ágio fundamentado em valor de mercado dos bens do ativo da investida ou na expectativa de resultados futuros deve ser baseado em documentação comprobatória, devidamente arquivada. Já o art. 386 trata, entre outras coisas, da possibilidade de aproveitamento tributário do ágio decorrente do fundamento econômico previsto no inciso II do §2º do artigo anterior (valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros). O caput do art. 386 traz o primeiro requisito que deve ser cumprido para que seja possível o aproveitamento do ágio: uma pessoa jurídica deve absorver o patrimônio de uma segunda, em que detenha participação societária adquirida com ágio. A respeito deste primeiro requisito exigido pela norma, recorro novamente ao Acórdão nº 9101002.301, pela assertividade da análise ali desenvolvida: "Percebese claramente, no caso, que o suporte fático delineado pela norma predica, de fato, que investidora e investida tenham que integrar uma mesma universalidade: A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio. A conclusão é ratificada analisandose a norma em debate sob a perspectiva da hipótese de incidência tributária delineada pela melhor doutrina de GERALDO ATALIBA 5. Esclarece o doutrinador que a hipótese de incidência se apresenta sob variados aspectos, cuja reunião lhe dá entidade. Ao se apreciar o aspecto pessoal, merecem relevo as palavras da doutrina, ao determinar que se trata da qualidade que determina os sujeitos da obrigação tributária. E a norma em análise se dirige à pessoa jurídica investidora originária, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição, e à pessoa jurídica investida. Ocorre que, em se tratando do ágio, as reorganizações societárias empreendidas apresentaram novas pessoas ao processo. Como exemplo, podemos citar situação no qual a pessoa jurídica A adquire com ágio participação societária da pessoa jurídica B. Em seguida, utilizase de uma outra pessoa jurídica, C, e integraliza o capital social dessa pessoa jurídica C com a participação societária que adquiriu da pessoa jurídica B. Resta consolidada situação no qual a pessoa jurídica A controla a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C controla a pessoa jurídica B. Em seguida, sucedese evento de transformação societária, no qual a pessoa jurídica B absorve patrimônio da pessoa jurídica C, ou vice versa. Ocorre que os sujeitos eleitos pela norma são precisamente a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) cuja participação societária foi adquirida com ágio. Para fins fiscais, não há nenhuma previsão para que o ágio contabilizado na pessoa jurídica A 5 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária, 6ª ed. São Paulo : Malheiros Editores, 2010, p. 51 e segs. Fl. 1302DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 22 21 (investidora), em razão de reorganizações societárias empreendidas por grupo empresarial, possa ser considerado "transferido" para a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C, ao absorver ou ser absorvida pela pessoa jurídica B, possa aproveitar o ágio cuja origem deuse pela aquisição da pessoa jurídica A da pessoa jurídica B. Da mesma maneira, encontramse situações no qual a pessoa jurídica A realiza aportes financeiros na pessoa jurídica C e, de plano, a pessoa jurídica C adquire participação societária da pessoa jurídica B com ágio. Em seguida, a pessoa jurídica C absorve patrimônio da pessoa jurídica B, ou vice versa, a passa a fazer a amortização do ágio. Mais uma vez, não é o que prevê o aspecto pessoal da hipótese de incidência da norma em questão. A pessoa jurídica que adquiriu o investimento, que acreditou na mais valia e que desembolsou os recursos para a aquisição foi, de fato, a pessoa jurídica A (investidora). No outro pólo da relação, a pessoa jurídica adquirida com ágio foi a pessoa jurídica B. Ou seja, o aspecto pessoal da hipótese de incidência, no caso, autoriza o aproveitamento do ágio a partir do momento em que a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) passem a integrar a mesma universalidade. São as situações mais elementares. Contudo, há reorganizações envolvendo inúmeras empresas (pessoa jurídica D, E, F, G, H e assim por diante). Vale registrar que goza a pessoa jurídica de liberdade negocial, podendo dispor de suas operações buscando otimizar seu funcionamento, com desdobramentos econômicos, sociais e tributários. Contudo, não necessariamente todos os fatos são recepcionados pela norma tributária. A partir do momento em que, em razão das reorganizações societárias, passam a ser utilizadas novas pessoas jurídicas (C, D, E, F, G, e assim sucessivamente), pessoas jurídicas distintas da investidora originária (pessoa jurídica A) e da investida (pessoa jurídica B), e o evento de absorção não envolve mais a pessoa jurídica A e a pessoa jurídica B, mas sim pessoa jurídica distinta (como, por exemplo, pessoa jurídica F e pessoa jurídica B), a subsunção ao art. 386 do RIR/99 tornase impossível, vez que o fato imponível (suporte fático, situado no plano concreto) deixa de ser amoldar à hipótese de incidência da norma (plano abstrato), por incompatibilidade do aspecto pessoal. Em relação ao aspecto material, há que se consumar a confusão de patrimônio entre investidora e investida, a que faz alusão o caput do art. 386 do RIR (A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio...). Com a confusão patrimonial, aperfeiçoa se o encontro de contas entre investidor e investida, e a amortização do ágio passa a ser autorizada, com repercussão direta na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Na realidade, o requisito expresso de que investidor e investida passam a compor o mesmo patrimônio, mediante evento de transformação societária, no qual a investidora absorve a investida, ou vice versa, encontra Fl. 1303DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 23 22 fundamento no fato de que, com a confusão de patrimônios, o lucro auferido pela investida passa a integrar a mesma universalidade da investidora. SCHOUERI6, com muita clareza, discorre que, antes da absorção, investidor e investida são entidades autônomas. O lucro auferido pela investida (que foi a motivação para que a investidora adquirisse a investida com o sobrepreço), é tributado pela própria investida. E, por meio do MEP, eventual acréscimo no patrimônio líquido da investida seria refletido na investidora, sem, contudo, haver tributação na investidora. A lógica do sistema mostrase clara, na medida em que não caberia uma dupla tributação dos lucros auferidos pela investida. Por sua vez, a partir do momento em que se consuma a confusão patrimonial, os lucros auferidos pela então investida passam a integrar a mesma universalidade da investidora. Reside, precisamente nesse ponto, o permissivo para que o ágio, pago pela investidora exatamente em razão dos lucros a serem auferidos pela investida, possa ser aproveitado, vez que passam a se comunicar, diretamente, a despesa de amortização do ágio e as receitas auferidas pela investida. Ou seja, compartilhando o mesmo patrimônio investidora e investida, consolidase cenário no qual a mesma pessoa jurídica que adquiriu o investimento com mais valia (ágio) baseado na expectativa de rentabilidade futura, passa a ser tributada pelos lucros percebidos nesse investimento. Verificase, mais uma vez, que a norma em debate, ao predicar, expressamente, que para se consumar o aproveitamento da despesa de amortização do ágio, os sujeitos da relação jurídica seriam a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, ou seja, investidor e investida, não o fez por acaso. Tratase precisamente do encontro de contas da investidora originária, que incorreu na despesa e adquiriu o investimento, e a investida, potencial geradora dos lucros que motivou o esforço incorrido. Prosseguindo a análise da hipótese de incidência da norma em questão, no que concerne ao aspecto temporal, cabe verificar o momento em que o contribuinte aproveitase da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, evento que provoca impacto direto na apuração da base de cálculo tributável. Considerandose o regime de tributação adotado pelo sujeito passivo, aperfeiçoase o lançamento fiscal e o termo inicial para contagem do prazo decadencial." Concluise, portanto, que o art. 386 do RIR/1999, sob o aspecto pessoal, se dirige à investidora que vier a incorporar sua investida (ou por ela ser incorporada), após ter efetivamente acreditado na mais valia do investimento, feito os estudos de rentabilidade futura e desembolsado os recursos para a aquisição da participação societária (tanto o valor do principal quanto o do ágio). Ou seja, quando ocorre a incorporação é que se dá a subsunção do fato à norma e surge a prerrogativa de amortização do sobrepreço, pago em momento anterior pela investidora em razão da confiança na rentabilidade futura da investida. Destaquese que a regra se aplica tanto à incorporação da investida pela investidora quanto, no sentido inverso, à hipótese em que a investidora é que é incorporada por 6 SCHOUERI, 2012, p. 62. Fl. 1304DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 24 23 sua investida. Em ambos os casos, a lei exige que a investidora envolvida na incorporação seja a "original" ou stricto sensu (no sentido de que a originalidade está indissociavelmente ligada à pessoa jurídica que paga o ágio e, por isso mesmo, tem confiança na rentabilidade futura, pois é quem assume o risco). A situação em que a investida incorpora sua investidora é denominada de incorporação reversa ou ainda de incorporação "às avessas". A previsão da possibilidade de aproveitamento fiscal do ágio nesta hipótese é trazida pelo §6º, inciso II, do art. 386 do RIR/1999. O dispositivo faz uso de uma técnica legislativa transitiva, indicando assim que o que vale para o caput do art. 386 do RIR/1999 vale também para o seu §6º. As premissas de exegese da norma não são afetadas, sendo necessárias apenas as devidas adaptações para contemplar a situação prevista. De forma correlata ao que se analisou quanto ao aspecto pessoal, a confusão de patrimônios, principal item do aspecto material para fins de enquadramento no art. 386 do RIR/1999, consumase quando, na sociedade incorporadora, o lucro futuro e o investimento original com expectativa desse lucro (aquele que foi sobreavaliado) passam a se comunicar diretamente (os riscos se fundem: o risco do investimento assim entendidos os recursos aportados e o risco do empreendimento). Compartilhando o mesmo patrimônio a investidora e a investida, consolidase cenário no qual a pessoa jurídica detentora da "mais valia" (ágio) do investimento baseado na expectativa de rentabilidade futura passa a ser responsável também por honrar tal rentabilidade. Assim, a legislação permite que o contribuinte considere perdido o capital que foi investido com o ágio e deduza a despesa relativa à "mais valia". Configuração semelhante ocorre na incorporação reversa, na medida em que a pessoa jurídica responsável por gerar a rentabilidade esperada para o futuro passa a ser a detentora do ágio baseado na expectativa de tal rentabilidade. Sendo assim, pressupõese que a "mais valia" porventura contabilizada tenha sido efetivamente suportada por alguma das pessoas que participam da "confusão patrimonial". Para fins de acesso à dedutibilidade estabelecida pelo art. 386 do RIR/1999, a pessoa jurídica que efetivamente suportou o ágio pago na aquisição de um investimento deve incorporar tal investimento (incorporação da investida pela investidora) ou ser incorporada pela empresa onde investiu (incorporação "às avessas"). Em síntese, a subsunção aos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997, assim como aos artigos 385 e 386 do RIR/1999, exige a satisfação dos aspectos temporal, pessoal e material das hipóteses ali previstas. Na atual redação destes dispositivos, exclusivamente no caso em que houver o efetivo desembolso de valores (ou sacrifício de outros ativos) a título de investimento da investidora (futura incorporadora ou, no caso da incorporação reversa, incorporada) na investida (futura incorporada ou, no caso da incorporação reversa, incorporadora), é que haverá o atendimento aos aspectos pessoal e material. Se o ágio não foi de fato arcado por nenhuma das pessoas participantes da "confusão patrimonial", não há sentido em clamarse pela dedutibilidade das despesas decorrentes de amortização de ágio instituída pelo art. 386 do RIR/1999. No caso analisado nos presentes autos, é incontroverso que houve desembolso de valores por ocasião da aquisição das quotas da recorrente (ECISAPAR) e das ações da DYLPAR (que detinha participação na recorrente), operações ocorridas em Fl. 1305DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 25 24 13/11/2006 e 20/12/2006, respectivamente. Também não se discute que tais valores superaram os valores contábeis das participações societárias alienadas. A existência dos ágios oriundos de tais operações não foi alvo de questionamento pela Fiscalização ou pela própria PGFN, nas contrarrazões que opôs ao recurso especial da contribuinte. Ocorre que os recursos financeiros utilizados na aquisição das participações societárias na recorrente e na DYLPAR (quotista da recorrente) não pertenciam à LICIA, mas à sua controladora BR MALLS, que realizou, entre novembro e dezembro de 2006, aportes de recursos que totalizaram mais de R$366.000.000,00 na LICIA, empresa que acabara de adquirir em outubro do mesmo ano, com a finalidade específica de aquisição de participação societária nas empresas ECISAPAR, DYLPAR e ECISAENG. Interpretandose o conteúdo do art. 386 do RIR/1999 sob a perspectiva da hipótese de incidência tributária, verificase que não restaram observados, no caso concreto, os aspectos pessoal e material necessários à subsunção da situação fática à previsão normativa. Sendo assim, a recorrente não fazia jus ao direito de deduzir as despesas decorrentes da amortização dos ágios oriundos das operações levadas a cabo em 13/11/2006 e 20/12/2006. Como não foi a LICIA que desembolsou os valores que deram origem aos ágios contábeis, restou desatendido o aspecto pessoal da hipótese de incidência do art. 386 do RIR/1999. O numerário que pagou pela aquisição das quotas da recorrente e das ações da DYLPAR, no ano de 2006, saiu dos ativos da real investidora: BR MALLS. A empresa LICIA, embora conste formalmente como a adquirente das quotas da contribuinte (tanto direta quanto indiretamente, via aquisição de ações da DYLPAR), não tinha lastro econômico para efetivamente realizar algum sacrifício patrimonial que justificasse a criação do ágio. Pertencia à empresa BR MALLS a capacidade econômica para levar adiante o negócio de aquisição das participações societárias e foi efetivamente esta empresa quem desembolsou recursos para a aquisição das quotas da recorrida. Observase, pela conjugação dos indícios e das características das operações societárias que se sucederam, que a participação da LICIA foi antecipada e artificialmente concebida como forma de o grupo econômico recémformado poder posteriormente clamar pelo direito ao aproveitamento tributário do ágio previsto no art. 386 do RIR/1999. A empresa, constituída no ano anterior por pessoas físicas e contando com capital social de apenas R$15.000,00, não apresentava atividade alguma até outubro de 2006, quando foi adquirida pela BR MALLS. Tal aquisição visou exclusivamente à sua utilização como "empresa veículo": a pessoa jurídica receberia valores da real investidora (BR MALLS), aplicaria tais riquezas na aquisição de ações da DYLPAR e de quotas da recorrente e seria, em seguida, incorporada por esta última. Verificase que a LICIA teve duração efêmera (principalmente sob a gestão da BR MALLS) e deixou como único legado a possibilidade de utilização indevida de um benefício fiscal, como é característico das "empresas veículos". A empresa veículo LICIA e a DYLPAR tiveram parte de seus patrimônios incorporados pela recorrente ao final de dezembro de 2006. A recorrente, julgando que estaria configurada a "confusão patrimonial" entre o ágio e o investimento que lhe deu causa, passou a aproveitar as despesas da amortização do ágio para fins tributários. Ocorre que tal "confusão patrimonial", principal manifestação do aspecto material necessário à efetiva incidência da norma tributária prevista no art. 386 do RIR/1999, Fl. 1306DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 26 25 deve obrigatoriamente se dar entre a investida e a investidora originária, real. Por investidora originária, entendese aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição da participação societária. Ou seja, no caso sob análise, só existe uma real investidora: BR MALLS. Sendo assim, a amortização operada pelo recorrente não teve amparo dos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 ou dos arts. 385 e 386 do RIR/1999. Conforme se viu, a possibilidade de aproveitamento fiscal do ágio, prevista no art. 386 do RIR/1999, só tem sentido em situações em que a investidora de fato, responsável por arcar com o dispêndio que faz nascer o ágio, incorpora a pessoa jurídica em que possua participação societária (investimento) ou seja por ela incorporada. No caso dos autos, a investidora originária não participou de "confusão patrimonial" alguma. Ainda que se analise a situação debatida nos autos sob outro enfoque, a conclusão alcançada continua sendo pela impossibilidade de utilização tributária do ágio pela recorrente. Tal aproveitamento tributário do ágio consiste, como já foi dito por diversas vezes, na dedução de despesas decorrentes de sua amortização na apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL. Fazse relevante, portanto, analisar o caso sob a perspectiva da teoria atinente às despesas que têm relevância fiscal. Uma vez mais, pedese vênia para transcreverse excerto extraído do Acórdão nº 9101002.301, por sua concisão e clareza: "Definido que o aproveitamento do ágio pode darse por meio de despesa de amortização, mostrase pertinente apreciar do que trata tal dispêndio. No RIR/99 (DecretoLei nº 3.000, de 26/03/1999), o conceito de amortização encontrase no Subtítulo II (Lucro Real), Capítulo V (Lucro Operacional), Seção III (Custos, Despesas Operacionais e Encargos). O artigo 299 do diploma em análise trata, no art. 299, na Subseção I, das Disposições Gerais sobre as despesas: Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º). § 3º O disposto neste artigo aplicase também às gratificações pagas aos empregados, seja qual for a designação que tiverem. Para serem dedutíveis, devem as despesas serem necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, e serem usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa. Fl. 1307DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 27 26 Por sua vez, logo após as Subseções II (Depreciação de Bens do Ativo Imobilizado) e III (Depreciação Acelerada Incentivada), encontra previsão legal a amortização, no art. 324, na Subseção IV do RIR/99. Percebese que a amortização constituise em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontrase submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99. Despesa Diante de Fatos Construídos Artificialmente No mundo real os fatos nascem e morrem, decorrentes de eventos naturais ou da vontade humana. O direito elege, para si, fatos com relevância para regular o convívio social. No que concerne ao direito tributário, são escolhidos fatos decorrentes da atividade econômica, financeira, operacional, que nascem espontaneamente, precisamente em razão de atividades normais, que são eleitos porque guardam repercussão com a renda ou o patrimônio. São condutas relevantes de pessoas físicas ou jurídicas, de ordem econômica ou social, ocorridas no mundo dos fatos, que são colhidas pelo legislador que lhes confere uma qualificação jurídica. Por exemplo, o fato de auferir lucro, mediante operações espontâneas, das atividades operacionais da pessoa jurídica, amoldase à hipótese de incidência prevista pela norma, razão pela qual nasce a obrigação do contribuinte recolher os tributos. Da mesma maneira, a pessoa jurídica, no contexto de suas atividades operacionais, incorre em dispêndios para a realização de suas tarefas. Contratase um prestador de serviços, comprase uma mercadoria, operações necessárias à consecução das atividades da empresa, que surgem naturalmente. Ocorre que, em relação aos casos tratados relativos á amortização do ágio, proliferaramse situações no qual se busca, especificamente, o enquadramento da norma permissiva de despesa. Tratamse de operações especificamente construídas, mediante inclusive utilização de empresas de papel, de curtíssima duração, sem funcionários ou quadro funcional incompatível, com capital social mínimo, além de outras características completamente atípicas no contexto empresarial, que recebem aportes de milhões e em questão de dias ou meses são objeto de operações de transformação societária. Tais eventos podem receber qualificação jurídica e surtir efeitos nos ramos empresarial, cível, contábil, dentre outros. Situação completamente diferente ocorre no ramo tributário. Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Impossível estender atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas, independente sua espécie, derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica. Fl. 1308DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 28 27 Admitindose uma construção artificial, consumarseia um tratamento desigual, desarrazoado e desproporcional, que afronta o princípio da capacidade contributiva e da isonomia, vez que seria conferida a uma determinada categoria de despesa uma premissa completamente diferente, uma liberalidade não aplicável à grande maioria dos contribuintes." Concluise, assim, que as despesas de amortização de ágio criado em operações como a encontrada nos presentes autos, atípicas e integrantes de um processo de planejamento tributário que tem a finalidade específica de criar artificialmente hipótese próxima à requerida pelo art. 386 do RIR/1999, não se revestem das características de necessidade, usualidade e normalidade requeridas para sua dedutibilidade. Diante de todo o exposto, relativamente ao pedido de reconhecimento da legitimidade da amortização de despesas de ágio nos moldes pretendidos, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial da contribuinte. Desse modo, voto no sentido de: CONHECER do recurso especial interposto pela contribuinte; no mérito, NEGARLHE PROVIMENTO, por considerar improcedente o pedido de reconhecimento da legitimidade do aproveitamento tributário do ágio para fins de redução do IRPJ e da CSLL devidos nos anoscalendário de 2007 e 2008. (Assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Fl. 1309DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 29 28 Declaração de Voto Não houve apresentação de declaração de voto no prazo regimental de 15 (quinze) dias, contados da data de julgamento do processo. Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015, Anexo II: Art. 63. ... § 6º As declarações de voto somente integrarão o acórdão ou resolução quando formalizadas no prazo de 15 (quinze) dias do julgamento. § 7º Descumprido o prazo previsto no § 6º, considerase não formulada a declaração de voto. Fl. 1310DF CARF MF
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Numero do processo: 11065.001087/2009-41
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Jun 08 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Aug 21 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2004, 2005
CONHECIMENTO. NECESSIDADE DE DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃOS RECORRIDO E PARADIGMA.
Tanto no acórdão recorrido quanto no paradigma entendeu-se aplicável a multa qualificada quando comprovado o evidente intuito de fraude do sujeito passivo, ou seja, não divergiram. O que ocorreu é que numa situação concreta entendeu-se existir comprovação do dolo e na outra não. E isso não é a divergência de posicionamento que se requer para efeitos de conhecimento do recurso especial - confirmando que o papel do colegiado refere-se à solução de um conflito de interpretações, na busca por uma uniformização de jurisprudência. Daí porque, para se verificar se o tratamento seria diferente, se precisaria estar diante de situações fácticas bastante aproximadas e mesmo assim o critério em tese utilizado não poderia ser o de haver ou não comprovação do dolo para a aplicação da multa.
Numero da decisão: 9101-002.942
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de intempetividade do Recurso Especial e em não conhecê-lo. Votaram pelas conclusões os conselheiros Adriana Gomes Rêgo, André Mendes de Moura, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra e Marcos Aurélio Pereira Valadão, que não reconheceram a similitude fática dos paradigmas. A matéria juros de mora sobre multa de ofício restou prejudicada.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente
(assinado digitalmente)
Daniele Souto Rodrigues Amadio - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra.
Nome do relator: DANIELE SOUTO RODRIGUES AMADIO
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ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2004, 2005 CONHECIMENTO. NECESSIDADE DE DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃOS RECORRIDO E PARADIGMA. Tanto no acórdão recorrido quanto no paradigma entendeuse aplicável a multa qualificada quando comprovado o evidente intuito de fraude do sujeito passivo, ou seja, não divergiram. O que ocorreu é que numa situação concreta entendeuse existir comprovação do dolo e na outra não. E isso não é a divergência de posicionamento que se requer para efeitos de conhecimento do recurso especial confirmando que o papel do colegiado referese à solução de um conflito de interpretações, na busca por uma uniformização de jurisprudência. Daí porque, para se verificar se o tratamento seria diferente, se precisaria estar diante de situações fácticas bastante aproximadas e mesmo assim o critério “em tese” utilizado não poderia ser o de haver ou não comprovação do dolo para a aplicação da multa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de intempetividade do Recurso Especial e em não conhecêlo. Votaram pelas conclusões os conselheiros Adriana Gomes Rêgo, André Mendes de Moura, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra e Marcos Aurélio Pereira Valadão, que não reconheceram a similitude fática dos paradigmas. A matéria juros de mora sobre multa de ofício restou prejudicada. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 06 5. 00 10 87 /2 00 9- 41 Fl. 866DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 3 2 (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente (assinado digitalmente) Daniele Souto Rodrigues Amadio Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marcos Aurélio Pereira Valadão, Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra. Relatório Tratase de Recurso Especial interposto pela FAZENDA NACIONAL em face do Acórdão n. 140200.498 (Efl. 01 ou efl. 537), proferido pela 2a Turma Ordinária da 4a Câmara da 1a Seção de Julgamento, que decidiu pela (i) insubsistência da multa qualificada diante da inexistência do dolo na operação de emissão de debêntures, reduzindo o percentual da multa de ofício de 150 para 75%, e (ii) incidência dos juros de mora de 1% sobre a multa, desde que a sua aplicação, entre o termo inicial e a data do pagamento, resultasse em valor menor que os juros calculados com base da Taxa Selic, para que não ocorresse reforma da decisão em prejuízo do sujeito passivo. A exigência em questão decorre de autuação fiscal (Efl. 393) que glosou despesas com a remuneração de debêntures consideradas emitidas apenas formalmente, entendendoas indedutíveis na apuração do IRPJ e CSLL porque mera liberalidade da empresa, aplicandose ainda, além da multa qualificada de 150% prevista no artigo 44, II, da Lei n. 9430/96 diante da acusão de sonegação, aquela isolada fixada em seu parágrafo 1o., IV, pelo não recolhimento das estimativas mensais, nos anos calendário 2004 e 2005. Formalizouse Representação fiscal para fins penais, sob o n. 11065.001088/200995. Como alternativa ao resumo dos pontos autuados, pedese licença para se trazer uma transcrição bastante extensa do relatório fiscal (efls 372 a 392), no intuito de facilitar o acesso ao texto àqueles interessados numa leitura mais detalhada de seus fundamentos, certamente importante para a investigação sobre a prova do evidente intuito fraudulento da contribuinte, que, adiantase, será o objeto do recurso especial mais à frente: “III. AS DEBÊNTURES EMITIDAS PELA FISCALIZADA 3.1 A la Emissão de Debêntures Em conformidade com a Ata da Assembléia Geral Extraordinária N° 20 (f Fl. 867DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 4 3 olhas 146 a 148), realizada às 14:30 horas do dia 31/08/2001, os acionistas da fiscalizada, com o objetivo de alocar recursos para otimizar as operações da empresa, bem como evitar a descapitalização da mesma em decorrência do vencimento das contas correntes dos acionistas, deliberaram e autorizaram a emissão de 500.000 debêntures, com as seguintes características: a) Valor nominal unitário de R$ 1,00. Portanto, o valor nominal da totalidade das debêntures emitidas corresponde a R$ 500.000,00; b) Prazo das debêntures de 24 meses, com vencimento em 31/08/2003; c) Fixação do preço total de subscrição e integralização das debêntures em R$ 4.566.626,32. Portanto, as debêntures foram subscritas com "ágio" (tecnicamente deveria ter sido chamado de prêmio) de R$ 4.066.626,32, ou seja, 813,33% do valor nominal. O motivo alegado para o "ágio" foi a perspectiva de rentabilidade futura da empresa; d) lntegralização das debêntures subscritas realizada através da conversão do passivo que a empresa tinha para com acionistas; e) Estabelecida remuneração para as debêntures de 50% dos lucros da empresa, antes dos impostos, excluídos os resultados da equivalência patrimonial; f) Remuneração devida mensalmente, no período de 1° de setembro de 2001 até 31 de agosto de 2003, com previsão de pagamento no 20° dia útil após a Assembléia Geral Ordinária de apreciação dos resultados do exercício anterior. 3.2 A 2a Emissão de Debêntures Inicialmente, cabe destacar que as debêntures objeto da 1a emissão, com vencimento em 31/08/2003, foram resgatadas de forma antecipada, em dezembro de 2002, conforme decisão tomada em reunião de Diretoria realizada em 03/12/2002 e posteriormente homologada pela Assembléia Geral de 29/04/2003 (Ata N° 23, fls. 152 a 157). De acordo com a Ata da referida Reunião de Diretoria (Ata de Reunião de Diretoria n° 154, de 03/12/02, constante das folhas 168), foi aprovado o resgate antecipado das debêntures objeto da 1a emissão, mediante pagamento do saldo não amortizado e de lucros remuneratórios devidos na data do resgate, totalizando R$ 7.539.504,35. A ata não faz qualquer referência ao motivo que levou a diretoria a decidir pelo resgate antecipado das debêntures. Foi, ainda, decidido que os créditos decorrentes do resgate antecipado das debêntures poderiam ser utilizados para conversão em novas debêntures, o que acabou, posteriormente, sendo efetivado. Em conformidade com a Ata da Assembléia Geral Extraordinária N°22 (folhas 149 a 151), realizada as 14:30 horas do dia 20/12/2002, os acionistas da fiscalizada, com o objetivo de alocar recursos para otimizar as operações da empresa, bem como evitar a descapitalização da mesma em decorrência do pagamento de juros sobre o capital próprio e do saldo da 1a emissão de debêntures, deliberaram e autorizaram a emissão de 1.000.000 debêntures, com as seguintes características: a) Valor nominal de cada debênture de R$ 1,00. Portanto, o valor nominal da totalidade das debêntures emitidas corresponde a R$ 1.000.000,00; b) Prazo das debêntures de 36 meses, com vencimento em 31/12/2005; c) Fixação do preço total de subscrição e integralização das debêntures em R$ 8.931.030,95. Portanto, as debêntures foram subscritas com "ágio" Fl. 868DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 5 4 (tecnicamente deveria ter sido chamado de prêmio) de R$ 7.931.030,95, ou seja, 793% do valor nominal. O motivo alegado para o "ágio" seria a perspectiva de rentabilidade futura da empresa; d) Integralização das debêntures subscritas através da conversão do passivo que a empresa tinha com acionistas e debenturistas credores; e) Remuneração estabelecida para as debêntures de 50% dos lucros da empresa, antes dos impostos, excluídos os resultados da equivalência patrimonial; f) Remuneração devida mensalmente, no período de 1° de dezembro de 2002 até 30 de novembro de 2005, com previsão de pagamento no 20° dia útil após a Assembléia Geral Ordinária de apreciação dos resultados do exercício anterior. 3.3 A Subscricão e Inteqralizacão das Debêntures Emitidas Tanto a 1a emissão como a 2a emissão de debêntures foi privada, sendo as debêntures subscritas, na sua integralidade, por acionistas da fiscalizada. Além disto, a quantidade de debêntures subscritas individualmente foi proporcional à participação de cada um dos acionistas no capital social da fiscalizada. Portanto, as debêntures emitidas pela fiscalizada foram subscritas exclusivamente pelos seus acionistas, observada a participação societária que cada um deles detinha. Em relação à 1a emissão, para integralização das debêntures subscritas e do prêmio ("ágio") pago, no valor total de R$ 4.566.626,32, os acionistas utilizaram "créditos" que detinham junto à própria fiscalizada. Esses "créditos" referiamse a dividendos a receber (num total de R$ 3.879.095,29) e a juros sobre o capital próprio a receber (num total de R$ 687.531,03). No que se refere à 2a emissão de debêntures, a integralização e o pagamento do prêmio ("ágio"), no valor total de R$ 8.931.000,00, se deu, mais uma vez, com a utilização de "créditos" dos subscritores junto à fiscalizada. Estes "créditos" se referiam a juros sobre o capital próprio a receber (R$ 1.391.526,61) e a liquidação das debêntures da 1 a emissão (R$ 7.539.504,34). Portanto fica evidenciado que por ocasião da intgralização das debentures emitidas pela fiscalizada, não houve o efetivo ingresso de "novos" recursos financeiros no ativo da empresa tendo em vista que a integraliza não se deu com "créditos" dos acionistas junto à fiscalizada. 3.4 As Despesas com a Remuneração das Debêntures nos anoscalendário 2004 e 2005 Em atendimento ao Termo de Solicitação de Informações e Documentos n° 01 (fls. 93 a 94), a fiscalizada relacionou os valores relativos à remuneração das debêntures nos anoscalendário 2004 e 2005 (fls. 95 a 98). Anexou, ainda, cópias do Livro Diário e do Livro Razão onde foram escriturados tais valores (fls.99 a 133). Examinando a documentação apresentada pela fiscalizada, constatamos que as remunerações foram contabilizadas a débito de conta de resultado — "1366 Remuneração de Debêntures" — e a crédito de conta do passivo Fl. 869DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 6 5 circulante — "1360 Debêntures a Pagar". (…) 3.5 O Resgate das Debêntures As debêntures a que se refere a 1a emissão foram resgatadas, de forma antecipada, em 20/12/2002. Tal decisão foi tomada pela Diretoria da fiscalizada, em 03/12/02, conforme Ata de Reunião de Diretoria n° 154, de 03/12/02 (fls. 168). Por ocasião deste "resgate antecipado" não foi feito qualquer pagamento aos subscritores das debêntures objeto da 1 a emissão, pois, na mesma data, foi efetivada a 2a emissão de debêntures para cuja integralização foram utilizados os "créditos" decorrentes do "resgate antecipado", no valor de R$ 7.539.504,34. No que se refere à 28 emissão, o resgate das debêntures ocorreu em 04/0412006, conforme deliberação na Assembléia Geral Extraordinária realizada nesta data. Em conformidade com a Ata n° 26 (fls. 160 a 162), de 04/04/2006, os acionistas da fiscalizada, em função (da Exposição Justificativa da Diretoria datada de 03/04/2006 (fls. 238 e 239) aprovaram por unanimidade o aumento do capital social de R$ 18.000.000,00 para R$ 34.000.000,00. Este aumento de capital social foi realizado mediante a incorporação dos seguintes recursos sociais: Reserva de Ágio na Subscrição de Debêntures R$ 7.931.030,95 Debêntures a Pagar R$ 7.931.028,41 Reserva Legal R$ 137.764,61 Lucros Acumulados R$ 176,03 Total do Aumento de Capital Social R$ 16.000.000,00 Verificase, portanto, que parcela do aumento do capital social (R$ 7.931.028,41) se deu por intermédio da quitação de obrigações que a fiscalizada tinha para com os subscritores das debêntures. Conforme demonstra o razão da rubrica contábil "001360 — Debêntures a Pagar" (fls.100), o saldo desta conta era de R$ 7.931.028,41, tendo sido baixado em 04/04/2006. Cabe destacar que este saldo era composto pelo somatório do valor nominal das debêntures emitidas em 20/12/2002 (R$ 1.000.000,00) e da remuneração destas debêntures (R$ 6.931.030,95). Portanto, no resgate das debêntures (tanto as da 1a emissão como as da 28 emissão), não houve qualquer fluxo financeiro. 3.6 Pagamento da Remuneração das Debêntures De acordo com as Atas das AGE analisadas (folhas 146 a 151), a remuneração aos subscritores das debêntures seria devida mensalmente, a medida em que os lucros da fiscalizada fossem sendo auferidos. O pagamento desta remuneração deveria ser efetuado até o 20° dia útil após a Assembléia Geral Ordinária que apreciasse os resultados do exercício anterior. Considerando que as AGO que apreciaram os resultados dos anoscalendário 2002, 2003, 2004 e 2005 já ocorreram, conforme comprovam as atas Fl. 870DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 7 6 constantes das folhas 152 a 165, os subscritores deveriam ter efetivamente recebido os valores relativos às remunerações em tela. Todavia, analisando a escrituração contábil da fiscalizada, constatamos que tais pagamentos não ocorreram, tendo sido contabilizados a crédito da conta patrimonial (passivo circulante) "001360 — Debêntures a Pagar". Em 04/04/2006, o saldo da conta do passivo "Debêntures a Pagar" (R$ 7.931.028,41) foi utilizado para aumento do capital social da fiscalizada. Fica, portanto, caracterizando o descumprimento daquilo que fora pactuado, sendo que os subscritores das debêntures não receberam qualquer parcela a título de remuneração e nem a fiscalizada fez qualquer pagamento. Tão somente foram realizados registros contábeis, sem que tenha havido qualquer fluxo financeiro. IV — AUTUAÇÃO ANTERIOR RELATIVAMENTE À REMUNERAÇÃO DAS DEBÊNTURES NOS ANOS DE 2001, 2002 e 2003 A glosa de despesas com remuneração de debêntures, contabilizadas pela fiscalizada nos anoscalendário 2001, 2002 e 2003 foi objeto da autuação consubstanciada no Auto de Infração lavrado em 20/05/2005, integrante do processo n° 11065.001117/200595. Posteriormente, em 11/12/2006, houve a lavratura de Auto de Infração complementar em função da qualificação da multa de ofício para o percentual de 150%, conforme processo n° 11065.003615/200653. Ambas autuações foram impugnadas tempestivamente pelo contribuinte. A 5a Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Porto Alegre apreciou tais impugnações, em conformidade com os Acórdãos n° 1010530, de 08/11/2006 (fls. 90) e n° 1011689, de 13/04/2007 (fls.91). Transcrevemos, abaixo, parte das ementas dos referidos Acórdãos: Acórdão n° 1010530, de 08 de Novembro de 2006. DESPESAS COM REMUNERAÇÃO DE DEBÊNTURES. Restando caracterizado o caráter de liberalidade dos pagamentos aos sócios, decorrentes de operações formalizadas apenas "no papel" e que transformaram lucros em remuneração de debêntures, consideramse indedutíveis as despesas contabilizadas, que reduziram artificialmente a base de cálculo dos tributos. Os elementos trazidos aos autos revelam que a operação foi simulada e, assim, seus efeitos não podem ser opostos ao fisco. À Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) aplicamse as mesmas conclusões, sobre a indedutibilidade das despesas contabilizadas, aplicáveis ao IRPJ. Acórdão n° 1011689, de 13 de Abril de 2007. PRESENÇA DE DOLO NA ATUAÇÃO DO CONTRIBUINTE. AGRAVAMENTO DA MULTA. Verificada a presença de dolo do sujeito passivo, não podendo ser reputado a mero erro a incompatibilidade entre a vontade declarada e aquela revelada pelas características dos atos realizados, concluise pela intenção de enganar o fisco, quanto à ocorrência do fato gerador do imposto, e, em especifico, no que se refere à base de cálculo. Assim, resta necessário o agravamento da multa. Portanto, a DRJ Porto Alegre entendeu que são indedutiveis, para fins de apuração das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, as despesas com a Fl. 871DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 8 7 remuneração das debêntures, cabendo o agravamento da multa de oficio para 150% em dercorrência da presença de dolo. Em função de recurso ao Conselho de Contribuintes interposto pela fiscalizada e pela DRJ em Porto Alegre, os processos n°s 11065.001117/200595 e 11065.003615/200653 encontramse, atualmente, na 7a Câmara do 1° Conselho de Contribuintes, aguardando sorteio para relator (fls. 92). V CONCEITUAÇÃO DE DEBÊNTURES E CARACTERÍSTICAS DESTES TÍTULOS DE CRÉDITO (…) VI ANÁLISE DAS OPERAÇÕES ENVOLVENDO AS DEBÊNTURES Por ocasião da emissão de debêntures, em 31/08/2001, o motivo alegado pela fiscalizada para a emissão dos títulos foi a necessidade de alocar recursos para otimizar as operações da empresa, bem como evitar a descapitalização da mesma em decorrência do vencimento das contas correntes dos acionistas. Cabe, então, analisar a origem destas "dívidas" para com acionistas (contas correntes) que, em função do seu vencimento, levariam a descapitalização da empresa. Estas "dívidas" referemse a Dividendos e a Juros sobre o Capital Próprio a serem pagos aos acionistas da fiscalizada. Ambas obrigações foram constituídas no dia 31/08/2001 (mesma data da primeira emissão de debêntures), na Assembléia Geral Extraordinária realizada as 9:30 horas, conforme fica evidenciado pela leitura da Ata N° 19 constan e das folhas 144 e 145. Inicialmente, deve ser reconhecido que, mesmo anteriormente a 31/08/2001, já existia a preocupação em evitar a descapitalização da empresa. Isto fica evidenciado pelas deliberações dos acionistas em relação à destinação dos lucros da empresa. A título exemplificativo, podemos citar a Assembléia Geral Ordinária realizada em 24/04/2001 (Ata n° 18 constante das folhas 141 a 143). Nesta Assembléia, os acionistas deliberaram a respeito da destinação do lucro líquido do anocalendário 2001, tendo sido decidido que apenas uma pequena parcela do lucro (12%) seria distribuído aos acionistas. O restante do lucro apurado (88%) seria destinado à constituição de reserva (Reserva Legal e Reserva para Aumento do Capital). Portanto, ao destinar parcela significativa do lucro da empresa para constituição de Reserva para Aumento Capital, a fiscalizada e seus acionistas demonstraram, claramente, a intenção de evitar a descapitalização da empresa. Assim, é de se estranhar que, na manhã do dia 31/08/2001, os acionistas da fiscalizada mudem radicalmente de idéia e decidam pagar Juros sobre Capital Próprio e, até mesmo, "desfazer" parcela da Reserva para Futuro Aumento de Capital e distribuir dividendos, por não haver mais intenção de aumentar o capital social da companhia (Ata da AGE n° 19 constante das folhas 144 e 145). E mais. Na tarde do dia 31/08/2001, os acionistas mudam de idéia, mais uma vez, e decidem emitir debêntures, subscritas e integralizadas pelos próprios acionistas, para evitar a descapitalização da empresa (Ata de AGE N°20, Fl. 872DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 9 8 constante das fls.146 a 148). Portanto, a justificativa utilizada pela fiscalizada para a emissão das debêntures alocar recursos para otimizar as operações da empresa, bem como evitar a descapitalização da mesma em decorrência do vencimento das contas correntes dos acionistas — é, no mínimo, questionável. Cabe analisar, também, a questão do ingresso de recursos financeiros no ativo que permitiram a "otimização de suas operações". Do visto no tópico relativo as características das debêntures, restou claro que, em sua essência, estes títulos correspondem a um empréstimo em que existe, em regra, a necessidade do efetivo ingresso de recursos financeiros no ativo da emissora, sob pena de que, não existindo tal ingresso, fique descaracterizada tal operação. A análise detalhada de toda a operação permite concluir que, no caso em tela, tal ingresso de "novos recursos" não se efetivou, pois, para a integralização das debentures subscritas, os acionistas utilizaram "créditos" que detinham junto à fiscalizada, sem que houvesse a entrega efetiva de recursos financeiros. Tratase de operação formalizada apenas "no papel". Sendo assim, não houve a captação efetiva de recursos e nem o ingresso, no ativo da fiscalizada, de recursos financeiros em função da emissão das debêntures. Ainda em relação à 1a emissão de debêntures, cabe destacar o expressivo prêmio ("ágio" como é denominado pela fiscalizada) pago pelos subscritores. Debêntures com valor nominal de R$ 500.000,00 foram subscritas por R$ 4.566.626,32, com "ágio" de R$ 4.066.626,32, ou seja, os acionistas aceitaram "pagar" um ágio de 813% !!! E qual foi a justificativa para o pagamento de tão expressivo "ágio"? A expectative de rentabilidade futura da empresa, supostamente "comprovada" através de laudo produzido pela empresa Audit Consultores S/C Ltda.. Analisando referido laudo, percebese que se trata de documento que nem ao menos demonstra, em termos quantitativos, qual seria esta "rentabilidade futura". Mais um aspecto importante merece ser destacado. Poderia ser aventada a hipótese de que a motivação para o pagamento do "ágio" de 813% na subscrição das debêntures fosse a expectativa dos acionistas receberem uma remuneração excepcional em função da futura rentabilidade da fiscalizada. Isto porque as debêntures previam remuneração equivalente a 50% dos lucros futuros da fiscalizada. Todavia, cabe recordar que para a integralização deste "ágio" foram utilizados "créditos" que os acionistas possuíam junto à própria fiscalizada e que a parcela mais expressiva destes "créditos" tinha origem em lucros anteriores da companhia que estavam destinados a futuro aumento do capital social (Reserva para Aumento de Capital Social). Ou seja, se referidos recursos tivessem sido efetivamente utilizados no aumento do capital social e a fiscalizada apresentasse futuramente a rentabilidade esperada, os acionistas 41) poderiam ser remunerados com 100% dos lucros futuros, não se justificando o pagamento do "ágio" na subscrição das debêntures. Para a emitente das debêntures — a empresa fiscalizada — o expressivo valor "recebido" a título de "ágio", sob o aspecto contábil, não resultou em alterações significativas na sua estrutura patrimonial. Isto porque o "ágio", no valor de R$ 4.066.626,32, foi escriturado a crédito da conta patrimonial Fl. 873DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 10 9 "Reserva Ágio na Subscrição de Debêntures", integrante do Patrimônio Líquido. Até o momento anterior à emissão das debêntures, parcela significativa (R$ 3.879.095,29) dos recursos utilizados no pagamento do "ágio" estava registrada, igualmente, em conta do Patrimônio Liquido da fiscalizada, na rubrica "Reserva para Aumento de Capital". Portanto, para a fiscalizada, sob o aspecto patrimonial, houve a "substituição" de uma Reserva por outra: A Reserva para Aumento de Capital foi substituída pela Reserva de Ágio na Subscrição de Debêntures. Cabe inclusive destacar que a "nova" Reserva foi, posteriormente, utilizada pela fiscalizada com a mesma destinação que receberia a "antiga" Reserva, ou seja, foi utilizada para aumento do capital social da fiscalizada. Isto fica evidenciado pela leitura da Ata da Assembléia Geral Ordinária N°23 realizada em 29/04/2003 (folhas 152 a 154), na qual foi deliberado que a "Reserva de Ágio na Subscrição de Debêntures", no valor de R$ 4.066.626,32, seria utilizada para aumento do capital social. Por oportuno, cabe resgatar que, em 31/08/2001 (Ata de AGE N° 19, fls. 144 e 145), os acionistas da fiscalizada decidiram distribuir, a título de dividendos, parcela dos lucros que, anteriormente, haviam sido destinados à constituição de "Reserva para Aumento de Capital", sob a justificativa de não haver mais intenção de aumentar o capital social da fiscalizada. Na mesma data (31/08/01), para evitar a "descapitalização"da empresa, foram emitidas debêntures com "ágio" (Ata de AGE N° 20, fls. 146 a 148), o que gerou a "Reserva de Ágio" utilizada justamente para aumentar o capital social da fiscalizada. Ora, se a intenção dos acionistas era aumentar o capital social da fiscalizada, por que distribuir dividendos, emitir debêntures, subscrevêlas com "ágio" e então utilizar a "Reserva de Ágio" para aumentar o capital social, em vez de simplesmente utilizar a "Reserva para Aumento de Capital" que já estava constituída anteriormente? O motivador destes procedimentos descortinase por completo ao analisarmos a "operação" de emissão de debêntures sob o ângulo tributário. O "ágio" recebido pela fiscalizada por ocasião da emissão das debêntures (R$ 4.066.626,32) não é passível de tributação em relação ao IRPJ e à CSLL, em função do disposto no art. 442, III do RIR/99. Por outro lado, a título de remuneração das debêntures, a fiscalizada passa a escriturar despesas, o que reduz o seu lucro contábil e, conseqüentemente, as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. Portanto, haveria uma "redução" da carga tributária de 34% para a fiscalizada (15% de IRPJ + 10% de Adicional do IRPJ + 9% de CSLL). Em dezembro de 2002, a fiscalizada decide antecipar o resgate das debêntures, cujo vencimento se daria somente em 31/08/2003. Tal decisão foi tomada pela Diretoria da fiscalizada, em 03/12/02 (Ata de Reunião de Diretoria n° 154, de 03/12/02, constante das folhas 168), sendo que a ata relativa a esta reunião não faz qualquer referência ao motive da decisão. Por ocasião deste "resgate antecipado" não foi feito qualquer pagamento aos subscritores das debêntures objeto da 1 a emissão, pois, na mesma data, foi efetivada a 2a emissão de debêntures para cuja integralização foram utilizados os "créditos" decorrentes do "resgate antecipado". Analisando a operação relativa a 2a emissão de debêntures, constatamos, mais uma vez, características já observadas na 1 a emissão, quais sejam: Fl. 874DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 11 10 a)As debêntures foram subscritas exclusivamente por acionistas da fiscalizada, tendo sido observado, na subscrição, a proporcionalidade da participação dos acionistas no capital social da fiscalizada; b) As debêntures teriam sido emitidas com o objetivo de alocar recursos para otimizar as operações da empresa, bem como evitar a descapitalização da mesma em decorrência do pagamento de juros sobre o capital próprio e do saldo da 1 a emissão de debêntures; c) Por ocasião da subscrição das debêntures, os acionistas da fiscalizada pagaram "ágio" bastante expressivo (793% do valor nominal das debêntures) por conta de perspectiva de rentabilidade futura da empresa; d) A integralização das debêntures subscritas se deu através da conversão de "dívidas" que a fiscalizada tinha para com os seus acionistas, em função da antecipação do resgate das debêntures objeto da 1 a emissão, dos rendimentos relativos a tais títulos e da decisão de remunerar os acionistas através de Juros sobre o Capital Próprio; e) Não houve, em função das debêntures emitidas, a captação efetiva de recursos junto a terceiros ou o ingresso de "novos" recursos financeiros no ativo da fiscalizada. Cabe, ainda, destacar alguns aspectos adicionais envolvendo as debentures emitidas pela fiscalizada. Analisando as Atas das Assembléias Gerais Extraordinárias que autorizaram a emissão das debêntures (folhas 146 a 151), verificamos que, tanto na 1 a como na 2a emissão, não existe a previsão de juros remuneratórios aos subscritores das debêntures. A remuneração se daria exclusivamente através da participação dos lucros futuros obtidos pela fiscalizada. A respeito do assunto, conforme destacado no item anterior do presente Relatório, Modesto Carvalhosa, assegura que a remuneração das debêntures deve, necessariamente, incluir juros fixos, por se tratar de um título que não possui caráter de incerteza, devendo, assim, ser remunerado através de juros. Para o autor, os juros fixos constituem a remuneração básica e indeclinável das debêntures, sendo as demais modalidades acessórias daqueles, como a participação nos lucros da companhia e/ou o prêmio de reembolso. Portanto, em mais este aspecto, as debêntures emitidas pela fiscalizada apresentam características conflitantes com as que normalmente são apresentadas por tais títulos. A falta de previsão de pagamento de juros e a remuneração vinculada à apuração de lucro pela sociedade, tornam o investimento realizado pelos acionistas uma operação de risco, não coincidindo com o real conceito de debêntures. Ainda no que tange à remuneração das debêntures outro aspecto chama a atenção: a falta de pagamento das remunerações aos subscritores nos prazos estabelecidos. De acordo com a Ata das AGE analisadas (folhas 146 a 151), a remuneração aos subscritores das debêntures seria devida mensalmente, a medida em que os lucros da fiscalizada fossem sendo auferidos. O pagamento desta remuneração deveria ser efetuado até o 200 dia útil após a Assembléia Geral Ordinária que apreciasse os resultados do exercício anterior. Considerando que as AGO que apreciaram os resultados dos anoscalendário 2002, 2003, 2004 e 2005, já ocorreram (Atas constantes das folhas 152 a 162), os subscritores deveriam ter efetivamente recebido os valores relativos às remunerações em tela. Fl. 875DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 12 11 Todavia, analisando a escrituração contábil da fiscalizada (fls.100), constatamos que os subscritores das debêntures não receberam qualquer parcela a título de remuneração e nem a fiscalizada fez qualquer pagamento. Tão somente foram realizados registros contábeis, sem que tenha havido qualquer fluxo financeiro. Conforme já frisado anteriormente, os valores referentes a remuneração das debêntures objeto da 1° emissão foi "paga" em dezembro de 2002, por ocasião do "resgate antecipado" destas debêntures. Neste evento não foi feito qualquer pagamento aos subscritores das debêntures objeto da 1 a emissão, pois, na mesma data, foi efetivada a emissão de debêntures para cuja integralização foram utilizados os "créditos" decorrentes do "resgate antecipado". Também não houve "pagamento" de remuneração aos subscritores das debentures da 2a emissão. Isto porque, em 04/04/2006, o saldo da conta "Debêntures a Pagar", no valor de R$ 7.931.028,41 foi utilizado para aumento do capital social da fiscalizada. Em conformidade com a Ata n° 26 (fls.160 a 162), na Assembléia Geral Extraordinária realizada em 04/04/2006 os acionistas da fiscalizada aprovaram por unanimidade o aumento do capital social de R$ 18.000.000,00 para R$ 34.000.000,00. Este aumento de capital social foi realizado mediante a incorporação dos seguintes recursos sociais: Reserva de Ágio na Subscrição de Debêntures R$ 7.931.030,95 Debêntures a Pagar R$ 7.931.028,41 Reserva Legal R$ 137.764,61 Lucros Acumulados R$ 176,03 Total do Aumento de Capital Social R$ 16.000.000,00 Portanto, as "obrigações" que a fiscalizada tinha para com os subscritores das debêntures decorrentes da subscrição e da remuneração destas debêntures foram "liquidadas" através de aumento do capital social. Cabe ainda destacar que a Reserva de Ágio na Subscrição de Debêntures, no valor de R$ 7.931.030,95, constituída em 20/12/2002, quando da subscrição das debêntures da 2a emissão, também foi utilizada para aumento do capital social em 04/04/2006. Todas esses aspectos nos permitem concluir que se trata de operações formalizadas apenas "no papel", não existindo qualquer fluxo financeiro (entrada ou saída de recursos), mas apenas uma série de papéis e assinaturas (atas de assembléias de acionistas, atas de reuniões de diretoria, lançamentos contábeis, etc.). VII— A INDEDUTIBILIDADE DAS DESPESAS COM REMUNERAÇÃO DAS DEBÊNTURES Feita a análise minuciosa das operações de emissão das debêntures, podese passar à avaliação da dedutibilidade das despesas decorrentes da remuneração dos referidos títulos. De acordo com o art. 462 do RIR/99, são dedutíveis na apuração do Lucro Real as participações nos lucros das pessoas jurídicas asseguradas a debêntures de sua emissão. Em função deste dispositivo legal, a partir de uma interpretação mais apressada e superficial, poderia se concluir pela dedutibilidade das despesas em tela. Fl. 876DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 13 12 Todavia, a legislação tributária precisa ser sempre interpretada de forma sistemática. O cerne da questão em análise demanda, sobretudo, o habitual exame acerca da necessidade e normalidade da despesa com debêntures de emissão da fiscalizada. Para tanto, em harmonia com a legislação que rege o IRPJ, não há que se contemplar como dedutível qualquer despesa com debêntures contabilizada pela empresa, mas tãosomente aquelas despesas que estejam revestidas dos predicados de usualidade e normalidade e que guardem uma natural e íntima relação com atividade da empresa e com a manutenção da respectiva fonte produtora, conforme dispõe o art. 299 do RIR/99. Portanto, para ser admitido como despesa dedutível, o gasto precisa atender, simultaneamente, aos requisites de necessidade, normalidade e usualidade. No que se refere à necessidade, o art. 299 do RIR/99 estabelece que o gasto é necessário quando essencial a qualquer transação ou operação exigida pela exploração das atividades que estejam vinculadas com as fontes produtoras de rendimentos. No caso em tela, não se podem admitir como necessárias despesas para remunerar debêntures que apresentam as seguintes características: a) Os recursos "captados" através das debêntures geraram despesas que consumiram a metade do lucro da empresa; b) Imediatamente antes da emissão das debêntures, parcela expressiva dos recursos utilizados pelos subscritores para a integralização das mesmas já pertencia a fiscalizada e estava destinada a futuros aumentos do capital social e, se fossem utilizados com esta finalidade, não gerariam qualquer custo ou despesa para a fiscalizada; c) Os recursos "captados" através da emissão de debêntures foram utilizados para aumento do capital social da fiscalizada. No que se refere à normalidade e usualidade, ainda de acordo com o art. 299 do RIR/99, despesas normais e usuais são aquelas que se verificam comumente no tipo de operações ou transações desenvolvidas pela empresa e que se apresentam de forma costumeira ou ordinária neste tipo de atividade. Consideramos que, de um modo geral, a utilização da emissão de debêntures para captação de recursos pelas companhias até possa ser considerada usual e normal, desde que presentes os requisitos e características comuns a este tipo de títulos, como, por exemplo: a) Resultar no efetivo ingresso de "novos" recursos financeiros externos; e) Utilização dos recursos captados em consonância com os objetivos pelos quais a emissão foi autorizada pela Assembléia de acionistas; c) A fixação de juros, fixos ou variáveis, para remunerar os subscritores das debêntures; e, d) Gastos, para a fiscalizada, com a remuneração dos recursos captados através das debêntures em montante inferior ao que seria devido caso houvesse a utilização de financiamentos ou empréstimos bancários. No caso em exame, nada disto ocorreu! A emissão de debêntures com as características que foram constatadas no curso da ação fiscal, já apresentadas e comentadas em itens anteriores do presente Relatório, afastam qualquer possibilidade de poder considerálas como usuais ou normais, nos termos definidos pelo art. 299 do RIR/99. Assim, pelas razões expostas, podese concluir que as despesas relativas à Fl. 877DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 14 13 remuneração de debêntures formalizadas "apenas no papel", relacionadas na (…) VII— DA CARACTERIZAÇÃO DE SONEGAÇÃO De acordo com o art. 71 da Lei n° 4.502/64, sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais. Examinando os procedimentos adotados pela fiscalizada constatamos que fica evidenciada a sonegação. Isto porque, para reduzir o lucro líquido e, conseqüentemente, as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, a fiscalizada utilizouse de despesas geradas com a remuneração de debêntures cuja emissão esteve cercada de artificialismo. A emissão de debêntures sem uma justificativa plausível e sem a captação de novos recursos, com o intuído de gerar despesas em decorrência da remuneração destes títulos evidencia a intenção da fiscalizada de reduzir os tributos devidos. Analisando as operações como um todo, verificase que o que realmente ocorreu ao final do processo foi o aumento do capital social com a utilização da reserva de ágio na emissão das debêntures e do saldo da conta do passivo "debêntures a pagar". Esse aumento/ de capital, no entanto, poderia ter sido realizado diretamente com a reserva para aumento de capital já existente, sem a necessidade de emissão das debêntures, as quais não trouxeram nenhum recurso novo para a sociedade. Tal procedimento caracteriza sonegação, tendo em vista que se trata de ação intencional (dolosa), caracterizada pela adoção de providências administrativas, societárias e contábeis que tiveram por intuito impedir o conhecimento, por parte da autoridade fazendária, da ocorrência do fato gerador de obrigação tributária. Os atos realizados — contabilização de despesas decorrentes de operações ormalizadas apenas "no papel" indicam a presença de dolo e a clara intenção de enganar o fisco quanto à ocorrência do fato gerador do imposto e, em específico, sua efetiva base de cálculo. VIII INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO DAS ESTIMATIVAS (…) IX — DAS MULTAS APLICADAS (…)” Insurgindose contra o lançamento de ofício, a Recorrida apresentou Impugnação (Efl. 418), alegando, preliminarmente, (a) a decadência para a constituição da multa isolada relativa ao período de 01 a 04/2004 e (b) a nulidade do lançamento porque a prescrição genérica do artigo 299 do RIR/99 não se aplicaria à questão, já que existiria a regra específia do seu artigo 462, I, para a dedutibilidade das debêntures. Fl. 878DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 15 14 Na sequência, esclarece, com relação aos fatos, que as debêntures foram emitidas com o objetivo de a companhia não se descapitalizar, permitindo uma novação da dívida que possuía com seus acionistas relativa à distribuição de lucros (1a. emissão), seguida de uma segunda emissão para a quitação deste novo débito surgido com a primeira e o pagamento de juros sobre o capital próprio. Nesse sentido, adentra ao mérito para afirmar que, seguindo o que autorizado em lei, (c) a operação teve como objetivo negocial a novação da dívida, evitandose descapitalizar a empresa, e assim, sem a necessidade de ingresso financeiro de novos valores; (d) não competiria à fiscalização determinar que a companhia optasse por contrair empréstimo ou financiamento no mercado, sobretudo porque na emissão de debêntures não exisiria prazo de carência, não se exigiria garantia e haveria maior flexibilidade no momento da negociaçãoo ou renovação com os acionistas; (e) no lugar de juros, a remuneração dos debenturistas foi feita por vinculação à lucratividade da empresa, com o que teria anuido o auditor fiscal, ao exigir o IRRF da pessoa física, de que resultou o processo administrativo n. 11065.001116/200541. Por fim, defendeuse a (f) inocorrência de sonegação fiscal que permitisse a qualificação da multa de ofício, (g) impossibilidade de sua aplicação concomitante com a multa isolada pela falta de recolhimento de estimativas e (h) a não incidência de juros moratórios sobre a multa de ofício. O posicionamento da Administração Tributária, no entanto, foi mantido por unanimidade pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Porto Alegre, em decisão bastante detalhada (Efl. 450), que resumidamente (a) afastou a alegação de nulidade e entendeu que o artigo 299 do RIR/99 seria aplicável às despesas de debêntures, que no presente caso não se enquadrariam nas condições de necessidade, normalidade e usualidade exigidas pelo dispositivo, consistindo em liberalidade da empresa a sua assunção; e considerou (b) caracterizado o “dolo em artifício sonegatório praticado pelo sujeito passivo” que justificasse a imputação de multa qualificada; (c) possível a concomitância das multas isolada e de ofício; (d) bem como que a autuação não teria tratado dos juros de mora sobre a multa de ofício, que só incidiriam após o seu vencimento. Em face dessa decisão, a DAIBY S.A interpôs Recurso Voluntário (Efl. 475), basicamente apresentado a mesma linha de argumentação de sua impugnação administrativa, acrescentando um pedido de baixa do processo em diligência para a realização de perícia, a fim de verificar a regularidade da operação. Na sequência, em 26 de fevereiro de 2010, a empresa protocolizou petição informando a sua adesão ao programa de parcelamento de débitos instituído pela Lei n. 11.941/2009, incluindo “os créditos tributários referentes ao imposto principal, juros e multa isolada de 50% que consta no item 9.1 do relatório fiscal. Portanto, Fl. 879DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 16 15 permanecerá em discussão (...) a multa de ofício qualificada de 150% aplicada pela fiscalização, conforme item 9.2 do relatório fiscal”, do que resultou o apartamento dos autos em função da desistência parcial do recurso voluntário (Efl. 525). Em 03 de setembro de 2010, a DAIBY S.A apresentou nova petição (Efl. 530) registrando que teve conhecimento de que a parcela relativa à multa isolada que pensava estar incluída no parcelamento não foi aceita, porque teria seu vencimento em 24.06.2009, ao passo que o IRPJ e a CSLL cobrados refeririamse aos anos calendários de 2004 e 2005 (artigo 5o, III, da Instrução Normativa n. 1049/2010 que regulamentou a referida lei). No seu entendimento, muito embora as multas isoladas possuíssem os seus vencimentos, de acordo com a RFB, na data mencionada, encontrarseiam vinculadas aos débitos de IRPJ e CSLL referentes aos anos calendários de 2004 e 2005. Assim, “como o art. 10, §2°, da Lei n.° 11.941/09 dispõe apenas que as dívidas sejam vencidas até 30/11/2008, logo, entendese que a Instrução Normativa n.° 1.049/10, superveniente a data da adesão ao parcelamento e a desistência parcial do presente processo administrativo, não pode restringir as multas isoladas de serem incluídas no parcelamento em questão”, explica. Requereu, então, que a multa isolada de 50% fosse reincluída no parcelamento ou voltasse a ser apreciada por este Conselho. O recurso voluntário foi julgado pelo Acórdão n. 120100.336, em que prevaleceu um voto vencedor a respeito da (a) insubsistência da multa qualificada por ausência da comprovação do dolo na operação de emissão de debêntures, reduzindo o percentual da multa de ofício de 150 para 75%, mantendo os demais termos do voto da Relatora, Conselheira Albertina Silva Santos de Lima, quanto (b) à incidência do juros de mora de 1% sobre a multa, desde que da sua aplicação, entre o termo inicial e a data do pagamento, resultasse valor menor que os juros calculados com base da Taxa Selic, para que não ocorresse reforma da decisão em prejuízo do sujeito passivo, e (c) à matéria objeto do conhecimento, considerando os débitos incluídos no programa de parcelamento, nos seguintes parâmetros: “De inicio devese delimitar o litígio, dado que a contribuinte parcelou parte dos débitos consubstanciados neste processo. A contribuinte se expressou no Anexo I do requerimento de desistência do recurso administrativo: Em relação aos créditos tributários lavrados no presente Auto de Infração, a requerente incluirá no parcelamento os créditos tributários referentes ao imposto principal, juros e multa isolada de 50% que consta no item 9.1 do relatório fiscal. Portanto, permanecerá em discussão e aguardando o julgamento da impugnação ao auto de infração a multa de oficio qualificada de 150% aplicada pela fiscalização, conforme item 9.2 do relatório fiscal. Fl. 880DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 17 16 Portanto, a glosa das despesas com remuneração de debêntures não mais está em discussão. A exigência da multa isolada por falta de recolhimento de estimativas também não está em litígio. Embora a contribuinte discuta a qualificação da multa de oficio, ainda está sob controle deste processo a totalidade da multa aplicada, ou seja, 150%. Tendo a contribuinte parcelado o IRPJ e a CSLL e tratandose de lançamento de ofício, incide ao menos a multa de 75%, nos termos do art. 44, I, da Lei 9.430/96. Estaria em litígio a aplicação dos juros sobre a totalidade da multa de ofício? Sim, porque permanece sob controle do presente processo a totalidade da multa de oficio. Estaria em discussão a aplicação concomitante da multa de ofício e da multa isolada por falta ou insuficiência de recolhimento de estimativas, de 50%? Entendo que não, pois, a contribuinte já concordou com a multa por falta de recolhimento de estimativas, ao parcelar o correspondente débito, sendo que no recurso voluntário argumentava que era indevida. Delimitado o litígio, passo inicialmente, à apreciação da qualificação da multa de oficio. A Procuradoria da Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial (Efl. 586) salientando (a) a inaplicabilidade da Súmula n. 14 do CARF, e defendendo (a) a manutenção da multa qualificada e da incidência da Taxa Selic sobre a multa de ofício, apresentando os Acórdãos n. 10194095 e 10323613 como paradigmas do primeiro tema e 10616.949 e CSRF/0400.651 do segundo. O Recurso Especial foi recepcionado por Despacho de Admissibilidade (Efl. 599) que, no que tange à qualificação da multa, entendeu aceitável o segundo acórdão como paradigma, excluindo o primeiro, e também admitiu as duas decisões apresentadas quanto à aplicação dos juros, não obstante tenha consignado “que a interpretação posta no acórdão recorrido não contemplou a tese esposada nos paradigmas, de cálculo dos juros de mora com base na taxa Selic, mas de aplicação do percentual de 1% (um por cento) ao mês”. O juízo exposto pode ser verificado na seguinte análise realizada no despacho: “No primeiro paradigma, a aplicação do percentual de 150% (cento e cinquenta por cento) decorreu da declaração reiterada de valores inferiores aos efetivamente escriturados: ‘(...) A infração apontada nestes autos diz respeito à falta ou insuficiência de recolhimento de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido e esta irregularidade foi apurada pela autoridade lançadora com base no confronto Fl. 881DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 18 17 entre a escrituração fiscal e comercial e a declaração de rendimentos. A multa de lançamento de ofício de 150% que a fiscalização aplicou e a autoridade julgadora de 1° grau confirmou, por entender que a prática reiterada de redução da receita bruta na declaração de rendimentos caracteriza conduta dolosa e justifica a multa qualificada, está consoante com a legislação tributária em vigor e jurisprudência administrativa predominante.’ Percebese que o contexto fático distinguese daquele de que cuidou o acórdão recorrido, como visto acima, não relacionado à constatação de diferenças entre valores escriturados e declarados, não havendo, portanto, se falar em dissídio jurisprudencial. No tocante ao segundo paradigma, a exasperação da penalidade decorreu basicamente do registro de operações fictícias (títulos do Tesouro americano) com o intuito de empregar tais valores como custos. Vejamos: ‘(...) Relevante o fato de o documento 26 (Laudo de Auditoria), reproduzir informações que se mostraram inverídicas, como a data de vencimento e o número dos títulos do Tesouro Americano, bem como a informação de que os títulos eram custodiados pela corretora situada no Uruguai. Assim, do conjunto dos autos, bem se vê que a recorrente, na verdade, registrou operações fictícias, com títulos inexistentes, na sua escrita contábil, o que desautoriza a sua aceitação para fins de dedução como custos. Por sua vez, reputo comprovada falsidade das operações descritas nos autos, fato que constitui prova direta do ‘evidente intuito de fraude’, requisito para aplicação da multa qualificada, no percentual de 150%, de que trata o art. 44, II, da Lei 9.430/96.’ À luz de tal decisão, podese concluir, neste juízo de cognição sumária, pela divergência de interpretação suscitada. Apesar de o acórdão recorrido não tratar de títulos emitidos pelo governo norte americano, cuidou da emissão, também supostamente fictícia, de debêntures com a consequente dedução de tais valores da apuração. Observe se que no próprio voto vencedor acima transcrito a conclusão da fiscalização, de que o contribuinte teria forjado operações com debêntures apenas para obter redução das bases de cálculo de IRPJ e CSLL, não foi infirmada pela maioria do colegiado, que conferiu destaque, para reduzir a penalidade, ao elemento subjetivo, de não haver provas nos autos de que a sociedade, no ato daquela emissão dos títulos societários, agira para impedir ou retardar a ocorrência do fato gerador. A recorrente ainda se insurge contra o cálculo dos juros de mora incidentes sobre a multa de ofício, tendo acostado os seguintes paradigmas: ‘JUROS DE MORA TAXA SELIC INCIDÊNCIA SOBRE O PRINCIPAL LANÇADO E SOBRE A MULTA DE OFÍCIO POSSIBILIDADE Na forma do art. 61, §3º, da Lei n° 9.430/96, incide juros de mora, à taxa Selic, sobre o imposto lançado a partir do mês seguinte ao vencimento Fl. 882DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 19 18 ordinário da obrigação, que serão capitalizados de forma simples, sendo acrescido de 1% no mês do pagamento. Em relação à multa de oficio, os juros de mora incidirão à taxa Selic a partir do mês seguinte ao trintídio contado da ciência do auto de infração, capitalizados de forma simples, e acrescido de 1% no mês do pagamento (...)” (1ºCC, 6ª Câmara, Acórdão nº 10616.949, de 25/06/08) JUROS DE MORA MULTA DE OFICIO OBRIGAÇÃO PRINCIPAL A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu não pagamento, incluindo a multa de oficio proporcional. O crédito tributário corresponde a toda a obrigação tributária principal, incluindo a multa de oficio proporcional, sobre o qual, assim, devem incidir os juros de mora à taxa Selic. (CSRF, Quarta Turma, Acórdão nº 0400.651, de 18/09/07) Considerando que a interpretação posta no acórdão recorrido não contemplou a tese esposada nos paradigmas, de cálculo dos juros de mora com base na taxa Selic, mas de aplicação do percentual de 1% (um por cento) ao mês, nos termos do art. 161, §1º, do Código Tributário Nacional, resta também caracterizado o dissídio jurisprudencial quanto à matéria.” Intimada do acórdão que julgou o recurso voluntário e da interposição do recurso especial pela Fazenda Nacional, a empresa opôs Embargos de Declaração (Efl. 611) em face dessa decisão com o intuito de que restasse esclarecido que parte da multa qualificada de 150%, correspondente aos 75% de ofício (art. 44, II, da Lei n.9430/96), já havia sido objeto de inclusão no parcelamento e, portanto, não mais estaria em discussão neste processo, mas com a ressalva de que, caso não se entendesse que a lide apenas se estaria restringindo aos 75% do majoramento (art. 44, parágrafo 1o., da Lei n. 9430/96), nesta oportunidade a contribuinte estaria formalizando sua desistência dessa parte. O apartamento do valor solicitado foi deferido em despacho de fls. 767. Os Embargos de Declaração (Efl. 777) foram admitidos e providos para considerar que a multa se dividiria na parte de ofício que acompanhou os débitos incluídos no parcelamento e foi transferida para o processo n. 10065.725082/201211 e na parcela referente ao agravamento em mais 75%, que foi afastada pelo acórdão do recurso voluntário, de modo que não caberia a intimação do sujeito passivo para pagar a multa. Esclareceuse, também que o pedido deduzido com relação à reinclusão da multa isolada no parcelamento ou retorno para discussão nesse processo, que não havia sido apreciado, foi equacionado com sua inclusão manual naquele programa pela contribuinte. Por fim, a DAIBY S.A ofereceu contrarrazões (Efl. 791) ao recurso especial, alegando, preliminarmente, que (a) o acórdão recorrido, ao afastar a multa qualificada com base na ausência de comprovação do evidente intuito de fraude, proferiu decisão com base na farta jurisprudência do CARF que deu origem à sua Súmula n. 14 e, Fl. 883DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 20 19 por essa razão, o recurso especial não poderia ser reconhecido, de acordo com o art. 67, parágrafo 2o., do Regimento Interno do órgão. Ainda em sede preliminar, argumentouse que o recurso especial também não poderia ser conhecido (i) porque versa sobre matéria fáctica e não divergência de interpretação, (ii) por falta de cotejo analítico que demonstre a divergência entre o acórdão recorrido e os paradigmas apresentados, justamente por não haver similitude fáctica entre as situações julgadas, tampouco divergência, já que os dois acórdão tiveram resultados diversos em função da prova feita da fraude nos dois casos. O mesmo se disse quanto à falta de cotejo também em relação aos juros aplicados sobre a multa. Com relação ao mérito, requereu fosse negado provimento ao recurso especial da PGFN, no que se refere à multa qualificada, (i) em face da ausência de prova material de que teria agido com o dolo de sonegar tributos, em consonância com a Súmula n. 14 do CARF, e relativamente à aplicação dos juros sobre multa, (ii) para afastálos ou mantêlos nos patamater fixados no acórdão recorrido, sob pena de reformar a decisão para pior – o que tiraria o direito recursal da PGFN. Passase, então, à apreciação do recurso. Voto Conselheira DANIELE SOUTO RODRIGUES AMADIO Relatora PRELIMINARES Tempestividade do Recurso Especial Anteriormente à análise do mérito, verificarseá a tempestividade do recurso e o preenchimento dos requisitos para o seu conhecimento. Consta na efl. 578 (a) um Termo de Intimação da Procuradoria da Fazenda Nacional de 06.07.2011, (b) uma assinatura sobre a ciência em 03.08.2011, sem o nome do procurador e (c) uma anotação manuscrita da Procuradora Mirza Andreina Portela de Sena Sousa, com os seguintes dizeres: “Ciente do Acórdão 140200498 em ‘28/09/2011’. Segue o Recurso Especial. Registrase que a assinatura acima não partiu da Procuradoria da Fazenda Fl. 884DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 21 20 Nacional, pois a RM de fls. 403 comprova que o processo foi enviado à PGFN em 30.08.2011. Presumindose a validade dessa certidão, que não foi inquinada pela Recorrida, como não se verifica nos autos registro da intimação pessoal do Procurador da Fazenda Nacional, entendese configurada a premissa necessária ao deslocamento da aplicação para a regra 79 do Regimento Interno do CARF. Desse modo, contandose o prazo de 15 dias (cf. artigo 68 do Regimento Interno) da intimação ocorrida 30 dias após o recebimento dos autos por meio digital (v. artigo 79), em 15.02.2011, e o extrato de movimentação do processo da PGFN para o CARF em 29.09.2011, como o recebimentodo recurso, no dia 03.10.2011, considerase o presente recurso tempestivo. Conhecimento do Recurso Especial O conhecimento do Recurso Especial condicionase ao preenchimento de requisitos enumerados pelo artigo 67 do Regimento Interno deste Conselho, que exigem analiticamente a demonstração, no prazo regulamentar do recurso de 15 dias, de (1) existência de interpretação divergente dada à legislação tributária por diferentes câmaras, turma de câmaras, turma especial ou a própria CSRF; (2) legislação interpretada de forma divergente; (3) prequestionamento da matéria, com indicação precisa das peças processuais; (4) duas decisões divergentes por matéria, sendo considerados apenas os dois primeiros paradigmas no caso de apresentação de um número maior, descartandose os demais; (5) pontos específicos dos paradigmas que divirjam daqueles presentes no acórdão recorrido; além da (6) juntada de cópia do inteiro teor dos acórdãos indicados como paradigmas, da publicação em que tenha sido divulgado ou de publicação de até 2 ementas, impressas diretamente do sítio do CARF ou do Diário Oficial da União quando retirados da internet, podendo tais ementas, alternativamente, serem reproduzidas no corpo do recurso, desde que na sua integralidade. Observase que a norma ainda determina a imprestabilidade do acórdão utilizado como paradigma que, (1) na data da admissibilidade do recurso especial, contrarie (i) Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal (art. 103A da Constituição Federal); (ii) decisão judicial transitada em julgado (arts. 543B e 543C do Código de Processo Civil; (iii) Súmula ou Resolução do Pleno do CARF; ou (2) de sua interposição, tenha sido reformado na matéria que aproveitaria ao recorrente. Pois bem, voltandose ao caso concreto, delimitase que o recurso especial apresenta dois temas para a análise de seu conhecimento: (1) aplicação da multa qualificada correspondente aos 75% não inclusos no parcelamento, afastada pelo acórdão recorrido por Fl. 885DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 22 21 se entender não estar comprovado o dolo de sonegar e (2) inciência da Taxa Selic sobre a multa, substituído na decisão recorrida pela taxa de 1%, ou a que for menor das duas. 1. Ausência de cotejo analítico entre os acórdãos recorrido e paradigmas Primeiramente, e de forma bastante direta, talvez justamente pela ausência da divergência apontada – já se adiantando o próximo tópico – impede o conhecimento do recurso o fato de a Procuradora da Fazenda Nacional não ter procedido ao devido cotejo analítico entre o acórdão recorrido e os paradigmas apresentados, conforme estabelecido como requisito formal pelo artigo 67 do Regimento Interno deste Conselho. Compulsandose o recurso especial, vêse que a Procuradora da Fazenda Nacional limitouse a fazer a seguinte digressão a título desse cotejo para fins de conhecimento do recurso. Com relação à MULTA QUALIFICADA: “O acórdão proferido pela 2a. Turma Ordinária da 4 a. Camara da 1a. Seção de Julgamento do CARE determinou a redução da multa de oficio ao percentual de 75%, apesar de restar claro nos autos os requisitos para a aplicação da multa disposta no art. 44, §1o. da Lei no. 9.430/96. Diferente foi o entendimento de outras Câmaras deste Tribunal Administrativo em julgamento de casos semelhantes. Vejamos: ‘Acórdão 10194095: PRELIMINAR. LANÇAMENTO. NULIDADE. Rejeição da preliminar de nulidade por cerceamento do direito de defesa quando o Auto de Infração e seus anexos descrevem minuciosamente as irregularidades cometidas pelo sujeito passivo e indicam os dispositivos legais infringidos. IRPJ/CSLL. FALTA DE RECOLHIMENTO. MULTA QUALIFICADA. A prática reiterada de infrações definidas como falta de recolhimento e/ou de declaração inexata, por diversos anos seguidos, caracteriza indício veemente da ocorrência de irregularidades definidas nos artigos 71 72 e 73 da Lei no. 4.502/64 e justifica a aplicação da multa qualificada. JUROS DE MORA. TAXA SEEIC. Os juros de mora, a taxa SELIC, está prevista no artigo 13 da Lei no. 9.065/95 e enquanto o dispositivo legal não for julgado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal e suspensa a sua execução pelo Senado Federal, as autoridades administrativas devem zelar pelo seu fiel cumprimento. Preliminar rejeitada. Negado provimento, no mérito. (Grifos nossos) (Doc. 01)’ Fl. 886DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 23 22 ‘Acórdão 10323613: "DESPESAS DE DEBÊNTURES — DEDUTIBILIDADE A dedução das despesas decorrentes das obrigações relativas a debêntures esta condicionada, entre outras, efetiva captação de novos recursos financeiros inerente à emissão desses títulos, circunstancia não verificada no presente caso. MULTA ISOLADA — MULTA DE OFICIO CONCOMITANCIA IMPOSSIBILIDADE A coexistência da multa de lançamento de oficio com a multa isolada no mesmo lançamento somente é possível quando as suas bases de cálculo forem distintas, o que é o caso dos autos. MULTA QUALIFICADA OPERAÇÕES COM TITULOS INEXISTENTES Comprovada a inexistência da operação de emissão de debêntures que deveriam ser integralmente subscritas por empresa estrangeira mediante a transferência de Títulos do Tesouro Americano é prova direta do evidente intuito de fraude, requisito para aplicação da multa qualificada, no percentual de 150%, de que trata o art. 44, II, da Lei 9.430/96. TRIBUTAÇÃO REFLEXA A decisão relativa ao auto de infração matriz deve ser igualmente aplicada no julgamento do auto de infração decorrente ou reflexo, uma vez que ambos os lançamentos, matriz e reflexo, estão apoiados nos mesmos elementos de convicção. Ementário publicado no DOU n" 13 de 20/01/2009. Págs. 05/09". (Grifos nossos) (Doc. 02)’ Sendo assim, a decisão recorrida diverge dos acórdãos paradigmas, cujos entendimentos retratam que é aplicável para a reiterada conduta ilícita da contribuinte, a imposição prevista no art. 44, §1o. da Lei no. 9.430/96. Dessa forma, demonstrada a divergência jurisprudencial diante das ementas anexas, encontramse presentes Os requisitos de admissibilidade do presente recurso especial.” Com relação à incidência dos JUROS SOBRE A MULTA: “Ao contrario do entendimento apresentado pela c. 2a. Turma, outras Câmaras decidiram que, em relação à multa de oficio, os juros de mora incidirão à taxa SELIC, conforme se extrai das ementas abaixo destacadas: Acórdão 10616.949: ‘Assunto: Imposto sobre a Renda dc Pessoa Física IRPF Exercício: 1999 Ementa: JUROS DE MORA TAXA SELIC INCIDÊNCIA SOBRE PRINCIPAL LANÇADO E SOBRE A MULTA DE OFÍCIO POSSIBILIDADE Na forma do art. 61, § 3o., da Lei n° 9.430/96, incide juros de mora, à taxa selic, sobre o imposto lançado a partir do mês seguinte ao vencimento ordinário da obrigação, que serão capitalizados de forma simples sendo acrescido de 1% no mês do pagamento. Em relação à multa de oficio, os juros de mora incidirão à taxa Selic a partir do mês seguinte ao trintídio contado da ciência do auto de infração, capitalizados de forma simples, e acrescido de 1% no mês do pagamento. Fl. 887DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 24 23 MULTA DE OFICIO PERCENTUAL DE 75% CONFISCO INOCORRÊNCIA — Incabível se falar em confisco no âmbito das multas pecuniárias. O principio constitucional do nãoconfisco se aplica, apenas, aos tributos. PRECARIEDADE DA SITUAÇÃO FINANCEIRA DA RECORRENTE — MEIO PARA ELIDIR A EXAÇÃO LANÇADA — IMPOSSIBILIDADE — A pretensão da recorrente somente poderia ser atendida se o instituto da remissão estivesse disciplinado por lei ordinária. Assim, não há base legal para deferir a pretensão vindicada. Recurso voluntário negado’. (g.n) (Doc. 03) Acórdão CSRF/0400.651: ‘JUROS DE MORA — MULTA DE OFICIO OBRIGAÇÃO MUNICIPAL — A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu não pagamento, incluindo a multa de ofício proporcional. O credito tributário corresponde a toda a obrigação tributária principal, incluindo a multa de oficio proporcional sobre o qual, assim, devem incidir os juros de mora à taxa Selic. Recurso não provido’. (g.n) (Doc. 04) Verificase, que diante de molduras fáticas similares, as quais se submetem à mesma disciplina jurídica, órgão recorrido e órgãos prolatores dos paradigmas chegaram a conclusões diversas. Ressaltese que em todos os casos analisados houve lançamento, acompanhado da multa de oficio. Não obstante, enquanto a Câmara a quo entendeu que se aplicava aos juros de mora incidents sobre a multa de oficio, a taxa de 1% ao mês nos termos do art. 161, §1o. do CTN, as outras Câmaras concluíram que caberia o emprego dos juros corn amparo na taxa selic. Dessa forma, demonstrada a divergência jurisprudencial diante das ementas anexas, encontramse presentes os requisitos de admissibilidade do presente recurso especial.” Acreditase que a simplicidade das colocações deduzidas no recurso especial não as torna capazes de configurar o cotejo analítico exigido para o seu conhecimento, haja vista todo o trabalho comparativo que teve que ser realizado neste voto para a verificação da existência ou não de divergência entre os acórdão recorrido e paradigmas, realizado a seguir. 2. Ausência de divergência entre o acórdãos recorrido e os paradigmas apresentados e a questão da Súmula CARF n. 14 Com relação à MULTA QUALIFICADA: Fl. 888DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 25 24 O acórdão recorrido teve como realidade fáctica a aplicação de multa qualificada em operação de emissão de debêntures realizada pela contribuinte para seus acionistas para novação de dívida, desconsiderada pela fiscalização para fins de dedutibilidade das respectivas despesas da base de cálculo do IRPJ e da CSLL e tomada como prática de sonegação fiscal, uma vez que em seu entender teria acontecido apenas formalmente, pelos motivos enumerados no relatório acima. Como solução à lide, no que interessa ao objeto do recurso, a turma a quo decidiu afastar a qualificação da multa sob o fundamento de que essa espécie de penalidade dependeria da efetiva comprovação do evidente intuito de fraude do sujeito passivo, não se podendo presumilo, o que não teria logrado fazer a fiscalização no caso concreto. O primeiro paradigma apresentado, acórdão n. 10194095, já havia sido afastado no exame de admissibilidade do recurso, não se vislumbrando nem aproximação entre as situações fácticas que levaram à aplicação da multa qualificada, tampouco e por via de consequência, paralelo que pudesse ser estabelecido entre as soluções conferidas nos dois casos, tornandose imprestável como paradigma para a fixação de divergência com a decisão recorrida a ser dirimida por este colegiado. Da mesma maneira, entendese que o acórdão n. 10323613 também não pode ser aceito como paradigma, desta vez porque, além de tratar de situação que num primeiro momento pudesse parecer semelhante, mas que se melhor verificada é diversa, se fossem similares, o resultado seria o mesmo, pois não há divergência entre os entendimentos de ambos os acórdãos: tanto num quanto noutro se entende aplicável a multa qualificada quando comprovado o evidente intuito de fraude do sujeito passivo, ou seja, não divergem em momento algum. O que acontece é que numa situação concreta entendeuse existir comprovação do dolo e na outra não. E isso não é a divergência de posicionamento que se requer para efeitos de conhecimento do recurso especial – confirmando que o papel do colegiado referese à solução de um conflito de interpretações, na busca por uma uniformização de jurisprudência. Daí porque, para se verificar se o tratamento seria diferente, se precisaria estar diante de situações fácticas bastante aproximadas e mesmo assim o critério “em tese” utilizado não poderia ser o de haver ou não comprovação do dolo para a aplicação da multa. Imaginese que diante (i) de duas situações fácticas próximas que se entendesse haver prova do dolo, o resultado seria a aplicação da multa qualificada e (ii) duas situações fácticas diferentes, se o critério fosse a existência de prova do dolo, o resultado também seria a aplicação da multa. A divergência existiria então, se se entendesse, de um lado, essencial a demonstração do intuito fraudulento e de outro que a aplicação da penalidade prescindiria dessa comprovação. Fl. 889DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 26 25 Outra possibilidade seria se analisar – caso se entendesse isso possível para fins de conhecimento do recurso especial – que duas situações fácticas aproximadas foram compreendidas de formas diferentes por duas decisões. Por exemplo, duas operações de emissão de debêntures com as mesmas características, que num julgamento tenha sido considerada fraudulenta pela fiscalização e no outro válida. No entanto, ainda que se admitisse esse raciocínio – o que inclusive foi questionado pela contribuinte em suas contrarrazões ao recurso especial –, também não caberia no caso em exame, porque os fatos relatados no acórdão n. 10323613, embora num primeiro momento possam sugerir o contrário, não se assemelham em tudo à operação realizada pela DAIBY S.A e julgada pelo acórdão recorrido. Leiase os trechos da decisão paradigma que tratam da emissão das debêntures e da multa aplicada: “Relatam as autoridades lançadoras que a contribuinte, que tem por objeto social a exploração de planejamento e assessoria de marketing, reduziu indevidamente o resultado dos períodos fiscalizados, para fins de determinação do IRPJ e da CSLL, haja vista ter registrado em sua contabilidade despesas a título de remuneração de debêntures, cuja emissão teria se dado com o fim específico de fraudar a legislação tributária, no sentido de reduzir os montantes dos tributos devidos.” “Em 30/04/1997, a contribuinte deliberou, em Assembléia Geral Extraordinária, por emissão de debêntures, no montante de R$ 10.000.000,00, com remuneração decorrente exclusivamente de seus lucros, que foram integralmente subscritas pela empresa Choy Sing Investments, com sede nos Estados Unidos, por meio da transferência de títulos do Tesouro Americano. Da data da emissão das debêntures (1997) até o final do anocalendário de 2005, a empresa subscritora foi remunerada com R$116.233.231,69, valor este que representa cerca de 86% do lucro líquido da fiscalizada. Em outras palavras, o lucro líquido da contribuinte ficou reduzido a cerca de 14% daquele efetivamente apurado. Não satisfeita com o desfecho do julgamento, a recorrente maneja o Recurso Ordinário, aonde, em síntese, repete os argumentos expendidos em sua impugnação, quais sejam: Defende a regularidade da operação, apontando como provas os documentos examinados pela fiscalização, como o laudo de auditoria emitido por P.M.P. Consultoria Contábil S/C Ltda, confirmando a validade e existência dos títulos do Tesouro Americano e o documento expedido pela empresa Choy Sing por meio dos qual autorizou o corretor Ignácio Rospide de Leon, sediado no Uruguai, a adquirir os 10.000 T'Bills em seu nome e repassálos à recorrente (fls. 491 e 492). Fl. 890DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 27 26 Também alega que fez endosso escritural (ordem de transferência) desses títulos para integralizar capital na empresa Brasilpar Investimentos e Participações, sediada na cidade de Funchal, Zona Franca da Madeira (fl. 496). Afirma, ainda, que os sócios da Brasilpar deliberaram sobre a aceitação do investimento e ratificação da regularidade dos títulos americanos a serem integralizados, no importe de 10.000 T'Bills, ficando o investimento pendente até que fosse feita a avaliação por um Revisor Oficial de Contas em Portugal (fls. 509 a 511 e 513 a 518). Discorre acerca da emissão das debêntures com participação em seus lucros e sobre o investimento que teria realizado na empresa Brasilpar, com o propósito de demonstrar a regularidade da operação, afirmando ter cumprido todas as formalidades legais pertinentes, e rebate as inconsistências apontadas pela fiscalização quando da análise dos documentos apresentados relativos à operação de lançamento das debêntures. Assevera não ser possível a desconsideração do ato jurídico face à ausência de lei ordinária permissiva (fl. 411), pois o parágrafo único do art. 116 do CTN, dispositivo que trata dessa possibilidade está condicionado à edição de lei ordinária ainda não editada. Além disso, referido dispositivo foi incluído no ordenamento jurídico em 11/01/2001, por meio da publicação da Lei Complementar n° 104, enquanto o ato tido como fraudulento ocorreu em 1997.” “A glosa das despesas está fundamentada no fato do fisco haver entendido que a, ora recorrente, teria agido com a intenção dolosa de reduzir tributo quando engendrou uma operação fraudulenta que envolveu a emissão de debêntures no valor de R$ 10.000.000,00 que foram integralmente subscritas pela empresa Choy Sing Investiments, com sede nos EUA, mediante a transferência de Títulos do Tesouro Americano, que provou não existirem. A análise dos autos denota inicialmente, que a recorrente, intimada e reintimada que foi para comprovar com documentos hábeis e idôneos a existência dos referidos Títulos, não logrou fazêlo. Da atenta leitura dos autos aflora que fiscalização produziu, com os documentos disponibilizados pela própria recorrente, uma análise bastante esclarecedora acerca da realidade fática que permeia o presente lançamento, tocando em pontos importantes, como é o caso do reconhecimento das assinaturas do documento 27, por meio do qual é solicitada a transferência de titularidade dos títulos do Tesouro Americano para a Brasilpar, meses depois da suposta efetivação do fato. Com isso foi constituído um conjunto indiciário robusto, como se vê no Termo de Verificação Fiscal, fl. 287 e seguintes, de onde extraio algumas passagens: ‘A contribuinte apresentou somente os documentos DOC 25, DOC 26, DOC 27, DOC 28 e DOC 29 durante o procedimento de fiscalização, com a tentativa de comprovar a operação da transferência dos títulos do Tesouro Americano, e conseqüentemente tentar comprovar o ingresso de recursos que justificasse a emissão de debêntures. Fl. 891DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 28 27 Esses documentos, que serão descritos e analisados, não deixam qualquer margem de dúvida de que o único motivo, ou a única intenção da contribuinte, bem assim, também, o único efeito que produziu tal operação artificial de emissão de debêntures, foi a redução ilegal dos tributos devidos. O documento 25 é uma correspondência enviada pela contribuinte a Corretora de Bolsa "Ignácio Rospide de Leon", no Uruguai, onde afirma ter recebido títulos do Tesouro Americano — ISIN US9127945433, com vencimento em 30 de junho de 1997, pelo preço unitário de 995,7129, perfazendo um total de U$10.000.000,00. Esta afirmação é falsa, visto que não existem títulos do Tesouro Americano com vencimento em 30 de junho de 1997 e muito menos existe titulo emitido pelo Tesouro Americano com o código CUS1P 912794543. De acordo com pesquisa (DOC 40) feita no "site" do Departamento do Tesouro Americano (vvvvw.publicdebt.treas.gov), somente foram emitidos títulos Treasury Bills com vencimento em 26 de junho de 1997 (CUSIP 9 I 27942R4) e 3 de julho de 1997 (CUS1P 9127945D2,). Realizando pesquisa pelo código CUSIP (DOC 41), verificamos também que não existe titulo emitido com o código CUSIP 912794543. O documento 26 é um Laudo de Auditoria, emitido por PMP Consultoria Contábil, que afirma que o montante registrado de U$10.000.000,00 corresponde ao saldo de 10.000 Treasury Bills, com vencimento em 30 de junho de 1997, 1SIN US9 I 27945433 e que os títulos estão custodiados junto a lgnácio Rospide de Leon, corretora de bolsa sediada no Uruguai. Este laudo contém as mesmas informações falsas do document anterior, ou seja, não existem títulos emitidos pelo Tesouro Americano com vencimento em 30 de junho de 1997 e com o código CUSIP 912794543. Alem disso, uma corretora sediada no Uruguai não pode custodiar títulos do Tesouro Americano. O documento 27 tratase de uma correspondência enviada pela contribuinte a Corretora de Bolsa Igná cio Rospide de Leon, solicitando a transferência da titularidade dos títulos do Tesouro Americano (T'Bills) para a empresa Brasilpar. Este documento possui diversas incoerências. A primeira diz respeito a data em que as assinaturas foram reconhecidas pelo I°. Tabelionato de Notas: 14 de novembro de 1997. Como a data poderia ser posterior ao pedido de transferência, 30 de maio de 1997? A segunda diz respeito a menção que a correspondência faz a um "Contrato de Compra e Venda de Notas do Tesouro Americano''. A contribuinte já informou, atendendo a Termo de Intimação Fiscal, que não existe tal contrato. A terceira incoerência é a inexistência na correspondência do código (et CUSIP/ISIN dos títulos do Tesouro Americano. Como a corretora poderia realizar a transferência dos títulos sem ter conhecimento dos códigos e sem receber um contrato? A quarta diz respeito ao valor atribuído aos títulos: U$10.043.055,00 e R$ 10.000.000,00. Fl. 892DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 29 28 Isto é impossível, uma vez que no dia 30/05/1997, U$1,00 equivalia a R$1,017. Cabe lembrar ainda que os documentos 25 e 26 mencionam um valor de R$10.000.000,00 para o titulo. O documento 29 é uma Nota de corretagem emitida pela Corretora Ignácio Rospide De Leon referente a uma ordem de compra, feita pela empresa Choy Sing, de títulos do Tesouro Americano. Este documento novamente faz menção a títulos do Tesouro Americano (T Bills) com vencimento em 30 de junho de 1997. Conforme já mencionado anteriormente, não existem títulos com vencimento nesta data. Resta claro que toda a documentação apresentada pela contribuinte não consegue comprovar a operação de transferência dos títulos do Tesouro Americano. O mais grave é que, alem de não comprovar, apresentou documentos com informações falsas. Em primeiro lugar porque não existem títulos 7 Bills com vencimento em 30 de junho de 1997 (DOC 40), em segundo lugar porque não existe título emitido pelo Tesouro Americano com o código CUS1P 912794543 (DOC 41) e por último porque nem mesmo o dígito verificador do código informado é correto.’ Como se vê não se trata de uma inconsistência isolada, mas de diversos pontos que ficam sem resposta na operação supostamente realizada pela recorrente. Relevante o fato de o documento 26 (Laudo de Auditoria), reproduzir informações que se mostraram inverídicas, como a data de vencimento e o número dos títulos do Tesouro Americano, bem como a informação de que os títulos eram custodiados pela corretora situada no Uruguai. Assim, do conjunto dos autos, bem se vê que a recorrente, na verdade, registrou operações fictícias, com títulos inexistentes, na sua escrita contábil, o que desautoriza a sua aceitação para fins de dedução como custos. Por sua vez, reputo comprovada falsidade das operações descritas nos autos, fato que constitui prova direta do "evidente intuito de fraude", requisito para aplicação da multa qualificada, no percentual de 150%, de que trata o art. 44, II, da Lei 9.430/96.” Essas transcrições são para se demonstrar que ainda que se adotasse a linha de que a divergência pudesse pautar na forma de qualificação dos fatos, as operações autuadas num e noutro caso revelamse distintas. Embora tenham alguns pontos comuns e igualmente questionados, envolvendo glosa de despesas decorrente da remuneração de debêntures, forma de remuneração dos debenturistas, dentre outros, no acórdão paradigma parece se destacar a inexistência dos títulos americanos emitidos para a subscrição, fornecimento de informações inverídicas e acusações de falsidade documental, com análise específica de vários documentos que registraram a operação. Fl. 893DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 30 29 Portanto, não se pode concluir que num caso o acórdão recorrido compreendeu não haver prova do dolo e afastou a multa qualificada e, no outro, a decisão paradigma reconheceu haver referida comprovação e manteve a penalidade, porque se tratam de situações fácticas com pontos comuns, mas peculiaridades que substancialmente as diferenciam e inquinam essa proximidade. Mais do que isso, o critério que define as decisões é absolutamente o mesmo: necessidade de demonstração do evidente intuito de fraude para incidência da multa qualificada, o que já é determinante para impedir a configuração da divergência necessária ao conhecimento do recurso especial, revelando, ao contrário, uma convergência de interpretações. Assim sendo, no que diz respeito à qualificação da multa, entendese não configurada a divergência para o conhecimento do recurso especial. É preciso se acrecentar que a inexistência de divergência ainda traz implicações diretas para a aplicação da Súmula CARF n. 14, tema trazido pelas duas partes no recurso especial e contrarrazões, para fins de seu conhecimento. Com efeito, dispões o verbete que “Súmula CARF nº 14: A simples apuração de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação do evidente intuito de fraude do sujeito passivo.” Relendose todos os acórdãos eleitos precedentes seus (Acórdãos n. 101 94258, 10194351, 10419384, 10419806 e 10419855), extraise que, não obstante tenham como situação fática casos de omissão de receitas/depósitos bancários, mais expressa ainda na redação da súmula que numa verificação imediatista parece restringir a sua aplicação, trazem uma interpretação geral quanto à produção da prova nos casos de sonegação fiscal, nos moldes em que tipificada a conduta da DAIBY S.A. nestes autos. Vejase, ilustrativamente, trechos dos seguintes acórdãos precedentes: Acórdão n. 10194258: “Entendo que para que a multa de lançamento de ofício seja transformada de 75% para 150%, é imprescindível que se configure o evidente intuito de fraude. Nesse caso, devese ter como princípio o brocado de direito que prevê que ‘fraude não de presume’, ‘se prova’. Ou seja, há que se ter provas sobre o evidente intuito de fraude praticado pela empresa. Não é razoável se querer, simplesmente, presumir a ocorrência de fraude, ainda mais que se trata de exigência constituída a partir de receitas tempestivamente declaradas ao fisco. Agindo assim, aplicou incorretamente a multa de ofício qualificada, pois não pode prevalecer a imposição, tendo em vista que na espécie de que se cuida, a infração não denota o evidente intuito de fraudar. A prova neste aspecto deve Fl. 894DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 31 30 ser material, evidente, como diz a lei.” Acórdão n. 10419.806: “SANÇÕES TRIBUTÁRIAS MULTA QUALIFICADA JUSTIFICATIVA PARA APLICAÇÃO EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE Qualquer circunstância que autorize a exasperação da multa de lançamento de ofício de 75%, prevista como regra geral, deverá ser minuciosamente justificada e comprovada nos autos. Além disso, para que a multa qualificada seja aplicada, exigese que o contribuinte tenha procedido com evidente intuito de fraude, nos casos definidos nos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 1964. A não inclusão como rendimentos tributáveis, na Declaração de Imposto de Renda, de valores depositados em contas correntes ou de investimentos pertencentes ao contribuinte fiscalizado, sem comprovação da origem dos recursos utilizados nessas operações, caracteriza falta simples de presunção de omissão de rendimentos, porém, não caracteriza evidente intuito de fraude, nos termos do art. 992, inciso II, do Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto n 1.041, de 1994.” Acórdão n. 10419.855: “IRPF MULTA QUALIFICADA FRAUDE A simples omissão de receitas não representa, por si só, fato relevante para a caracterização de fraude, que não se presume, devendo ser comprovada conduta material suficiente para sua caracterização.” Entendendose que a norma jurídica contida nessa Súmula que exige que a sonegação não seja presumida, seja provada, justamente como decidiu o acórdão recorrido, se aplicaria também o artigo 67 do Regimento Interno que determina a imprestabilidade do paradigma que, na data da admissibilidade do recurso especial, contrarie Súmula ou Resolução do Pleno do CARF. Ocorre que, apesar dessa adequação, como dizer que o segundo paradigma contrariou súmula do CARF se ele se mostra justamente convergente com essa orientação? Isso seria possível se o paradigma fosse válido ao que se presta e, indo de encontro com a orientação do acórdão recorrido, se encaixaria na hipótese da súmula, impedindo o conhecimento do recurso. Mas, tal como está, impede até mesmo esse tipo de verificação, o que se entende ratificar a impossibilidade de conhecimento do recurso por inexistência de divergência. Assim sendo, pela ausência de cotejo analítico, similitude fáctica entre os acórdãos recorrido e paradigma e confronto deste com súmula do CARF, VOTA SE POR NÃO CONHECER o Recurso Especial no que tange à qualificação da multa, restando prejudicada a questão da incidência de juros de mora sobre a penalidade. Fl. 895DF CARF MF Processo nº 11065.001087/200941 Acórdão n.º 9101002.942 CSRFT1 Fl. 32 31 (assinado digitalmente) Daniele Souto Rodrigues Amadio Fl. 896DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.001355/2008-39
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Sep 05 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2003, 2004, 2005, 2006
LANÇAMENTO. NULIDADE. VÍCIO FORMAL.
Não existe vício formal quando o erro identificado no lançamento diz respeito à prova da infração imputada ao sujeito passivo por parte da Fiscalização.
Numero da decisão: 9101-003.038
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer parcialmente do Recurso Especial, apenas em relação à natureza do vício, vencido o conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão (relator originário), que não conheceu do recurso. Designada para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, a conselheira Adriana Gomes Rego. No mérito, por unanimidade de votos, acordam em dar-lhe provimento. Votaram pelas conclusões da redatora ad hoc, os conselheiros Cristiane Silva Costa e Luís Flávio Neto. Declarou-se impedida de participar do julgamento a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, substituída pelo conselheiro José Eduardo Dornelas Souza. Nos termos do Art. 58, §13 do RICARF, foi designada pelo Presidente de Turma de Julgamento como redatora ad hoc para o mérito desse julgamento, a conselheira Adriana Gomes Rego. E, conforme Art. 58, §5º, Anexo II do RICARF, o conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto não votou nesse julgamento, quanto ao conhecimento, por se tratar de processo originalmente relatado pelo conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão, que ocupou a posição de presidente, com voto já proferido e consignado na sessão de 06/07/2017.
(assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Redatora ad hoc e Redatora Designada
Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Carlos Alberto Freitas Barreto, Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra e José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado em substituição à conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio).
Nome do relator: ADRIANA GOMES REGO
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Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2003, 2004, 2005, 2006 LANÇAMENTO. NULIDADE. VÍCIO FORMAL. Não existe vício formal quando o erro identificado no lançamento diz respeito à prova da infração imputada ao sujeito passivo por parte da Fiscalização. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer parcialmente do Recurso Especial, apenas em relação à natureza do vício, vencido o conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão (relator originário), que não conheceu do recurso. Designada para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, a conselheira Adriana Gomes Rego. No mérito, por unanimidade de votos, acordam em darlhe provimento. Votaram pelas conclusões da redatora ad hoc, os conselheiros Cristiane Silva Costa e Luís Flávio Neto. Declarouse impedida de participar do julgamento a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, substituída pelo conselheiro José Eduardo Dornelas Souza. Nos termos do Art. 58, §13 do RICARF, foi designada pelo Presidente de Turma de Julgamento como redatora ad hoc para o mérito desse julgamento, a conselheira Adriana Gomes Rego. E, conforme Art. 58, §5º, Anexo II do RICARF, o conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto não votou nesse julgamento, quanto ao conhecimento, por se tratar de processo originalmente relatado pelo conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão, que ocupou a posição de presidente, com voto já proferido e consignado na sessão de 06/07/2017. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 00 13 55 /2 00 8- 39 Fl. 1057DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.058 2 (assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Redatora ad hoc e Redatora Designada Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Carlos Alberto Freitas Barreto, Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra e José Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado em substituição à conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio). Relatório Na condição de Redatora ad hoc, reproduzo o relatório do Conselheiro Relator, Marcos Aurélio Pereira Valadão, depositado na sessão de julho de 2017: Por bem descrever os fatos, reproduzo o relatório da decisão recorrida, no que interessa à presente lide (destaques da transcrição): UNIBANCO UNIÃO DE BANCOS BRASILEIROS S/A recorre a este Conselho contra a decisão proferida pela OITAVA TURMA DA DRJ SÃO PAULO I, que julgou procedente a exigência do IRPJ e procedente em parte a CSLL, pleiteando sua reforma, com fulcro no artigo 33 do Decreto nº 70.235/1972 (PAF). [...]. Em razão de sua pertinência, transcrevo o relatório da decisão recorrida: Em consequência de procedimento de verificação do cumprimento das obrigações tributárias, em 17/09/2008, foram lavrados, contra a instituição financeira contribuinte acima identificada, os Autos de Infração a seguir discriminados, para formalização e cobrança do crédito tributário neles estipulados, no valor total de R$ 360.866.115,47, incluindo multa de ofício (75%) e juros de mora (calculados até 29/08/2008). A ciência da autuação ocorreu em 18/09/2008 (fls. 07 e 26). a) Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) Lucro Real (fls. 03 a 06verso): [...]; b) Contribuição Social (CSLL) (fls. 26verso a 30verso): [...]. Nas Folhas de Continuação dos Autos de Infração (fls. 05 e 27), o auditor fiscal autuante identifica as infrações à legislação tributária: IRPJ – “GLOSA DE PREJUÍZOS COMPENSADOS INDEVIDAMENTE. SALDO DE PREJUÍZOS INSUFICIENTES”, tendo em vista a inexistência de prejuízo fiscal a compensar, conforme controle SAPLI; e CSLL – “COMPENSAÇÃO INDEVIDA DE BASE DE Fl. 1058DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.059 3 CÁLCULO NEGATIVA DE PERÍODOS ANTERIORES (FINANCEIRAS)”, conforme demonstrativo SAPLI. O “Demonstrativo da Compensação de Prejuízos Fiscais SAPLI”, referente ao período de 1998 a 2006; o relatório de inconsistências referente à CSLL; o “Histórico da Compensação de Prejuízos Fiscais”, o “Demonstrativo da Base de Cálculo Negativa da CSLL (SAPLI)”; referente ao período de 1992 a 2006, e o Histórico da Contribuição Social sobre o Lucro, extraídos do “Sistema de Acompanhamento de Prejuízo, Lucro Inflacionário e Base de Cálculo Negativa da CSLL” (SAPLI), documentos sobre os quais se assentam as infrações constatadas pelas fiscalização, encontramse às fls. 08 a 24 e 34 a 44verso. Irresignada com o lançamento, a interessada, por intermédio de seu advogado e procurador (fls. 98 a 108, 96 e 62), apresentou, em 20/10/2008, a impugnação de fls. 63 a 93, acompanhada dos documentos de fls. 93 a 200, 203 a 429 e 432 a 468. Ao descrever os fatos, a impugnante assevera que, analisando os documentos intitulados “Histórico da Compensação de Prejuízos Fiscais” (fls. 34/37) e “Histórico da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido” (fls. 43/44verso), identificou uma série de referências a fiscalizações externas e a processos administrativos relativos a autos de infração anteriormente lavrados, o que o levou a concluir que a suposta insuficiência de prejuízos fiscais e base de cálculo negativa decorreu do fato de o ilustre fiscal autuante ter assumido, como definitivas, as compensações realizadas de ofício pela fiscalização naqueles outros autos de infração, os quais, contudo, são todos objeto de impugnações ainda pendentes, seja na esfera administrativa, seja na judicial, encontrandose o crédito tributário correspondente (e respectivas compensações de prejuízos) com sua exigibilidade suspensa. Alega que os autos de infração são nulos de pleno direito, por absoluta falta de motivação e por cerceamento do direito de defesa. [...]. 3.3. Registra também que a autoridade fiscal, relativamente ao crédito tributário lançado, não considerou diversas decisões proferidas nos processos referidos no SAPLI, que restabeleceram parte dos resultados negativos glosados; e nem considerou que a glosa remanescente, objeto do processo nº 16327.002295/200103, é questionada pelo Impugnante em processo judicial, nos autos do qual foi proferida decisão suspendendo a exigibilidade do crédito tributário, de modo que os valores de IRPJ e CSL correspondentes à compensação daqueles prejuízos fiscais (R$ 147.315.542,73) e base de cálculo negativa (R$ 208.833.899,31) deveriam ter sido lançados sem multa de ofício, nos termos do art. 63 da Lei nº 9.430/96, e com exigibilidade suspensa. [...]. Sob o tópico “I Preliminarmente: Nulidade do Auto de Infração por Cerceamento ao Direito de Defesa e Vício de Motivação”, subtópico “1.1 quanto à suposta insuficiência de Prejuízos Fiscais e Base de Cálculo Negativa da CSLL”, a impugnante sustenta que, no histórico em que constam diversas reduções de seu estoque de prejuízos fiscais e de base de cálculo negativa de CSLL, quanto aos anos de 1990 e 1991 (IRPJ fls. 34, históricos 2/27 e 4/27), e quanto ao ano de 1998 (CSLL fls. 43, histórico 5/14), consta apenas a indicação do motivo “05 Fl. 1059DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.060 4 Fiscalização Externa”, sem que tenha sido indicado o processo administrativo correspondente. Aponta que a falta de indicação do processo administrativo em que se procedeu à redução do prejuízo fiscal ou da base negativa da CSLL é prejudicial à sua defesa, uma vez que, por exemplo, no ano de 2002, o autuante considerou uma redução nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL de R$ 25.668.165,27 por conta do processo nº 16327.0001263/200514 (fls. 36verso, histórico 22/27 e 43verso, histórico 10/14), quando, na realidade, o auto de infração que deu origem àquela redução foi integralmente cancelado pelo Conselho de Contribuintes (doc. de fls. 109/121). Consigna, ainda, a impugnante, constar, às fls. 01 e 24, quanto aos anos de 2004 (IRPJ) e 2005 (CSLL), que, além da compensação ter excedido o saldo de prejuízos e base negativa da CSLL acumulados, teria também excedido o limite de 30% do lucro líquido ajustado, quando é certo, porém, que este excesso absolutamente não ocorreu, nem sequer está indicado em lugar algum. [...]. A impugnante alega, ainda, que houve decisões que interferem nos valores glosados, neste sentido aponta: quanto ao anocalendário de 1998 (base de cálculo negativa declarada R$ 157.865.202,28 fl. 299 histórico 3/14 fl. 44verso), a alteração do valor das adições (diferença de R$ 200.864.804,32 histórico 5/14 fl. 43) por força de fiscalização externa que a interessada identificou como sendo decorrente do auto de infração que deu origem ao processo 16327.001898/200261 (diferença a adicionar: R$ 168.733.831,26 fl. 315) e do processo 16327.002295/200103 (adição “exofício no valor de R$ 32.130.973,06 fl. 318). Ocorre que, nos autos daquele processo administrativo, foi interposto recurso ainda pendente de julgamento pelo Conselho de Contribuintes (doc. 09), sendo certo, porém, que, independentemente do julgamento daquele recurso, por conta da decisão final proferida nos autos do processo nº 16327.002295/200103, aquela adição “ex oficio”, no valor de 32.130.973,306, já deverá ser reduzida para R$ 15.804.928,72 (doc. 05). quanto ao anocalendário de 1999, relativamente ao IRPJ, houve um aumento do prejuízo fiscal para R$ 130.061.310,07, por força de “fiscalização externa”, acreditando a impugnante tratarse do mesmo processo nº 16327.001898/200261 (fls. 310/311 itens 6.2.2 e 6.2.3). O autuante, ao considerar como definitivas as compensações de ofício procedidas pela fiscalização, deveria também observar os prejuízos fiscais que passaram a existir por conta daqueles mesmos autos de infração. Entende que o prejuízo fiscal de 1999 foi alterado “para” R$ 121.938.921,12 (doc. 09) que, somados aos R$ 23.872.900,16, originalmente declarados, corresponderiam ao valor correto de prejuízos fiscais de R$ 145.801.821,28. de forma absolutamente contraditória, no ano de 2000, o ilustre fiscal autuante ainda reduz os prejuízos fiscais do Impugnante em R$ 7.100.863,41 (fls. 16), quando, conforme facilmente se verifica às fls. 62 (fl. 316) do referido processo nº 16327.001898/200261, esta compensação nada mais é do que uma parcela daquele prejuízo de R$ 121.928.921,12 revertido pela fiscalização para o ano de 1999, e desconsiderada pelo ilustre fiscal autuante, como visto acima. Fl. 1060DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.061 5 quanto ao ano de 2002, tanto para o IRPJ como para a CSL, constou uma redução de prejuízo fiscal (fls. 36verso, histórico 22/27) e base de cálculo negativa (fls. 43verso, histórico 10/14) no valor de R$ 25.668.165,27, por conta do auto de infração que deu origem ao processo nº 16327.001263/200514, que, por sua vez, foi integralmente cancelado pelo Conselho de Contribuintes (fls. 109 a 121). quanto ao IRPJ, no que diz respeito ao anobase de 1997, a alteração indicada às fls. 35 (histórico 9/27 e 10/27) decorre do processo 16327.002295/200103 (fls. 156/200 e 203/250), contudo, não foi registrada a parcela do prejuízo fiscal restabelecida pela decisão do Conselho de Contribuintes (totalizando um prejuízo compensado de ofício de R$ 147.315.542,73 = R$ 121.411.885,70 + R$ 25.903.657,03). Quanto à CSLL, observa a contribuinte que o valor indicado às fls. 44verso, como correspondendo ao lucro após a decisão do Conselho de Contribuintes naquele processo 16327.002295/200103 (de R$ 18.678.166,86), corresponde corretamente ao valor da infração mantido pelo Conselho (R$ 227.512.066,27 = R$ 170.789.082,41 + R$ 56.722.983,76) menos o prejuízo do exercício já compensado de ofício (R$ 208.833.899,31 = R$ 121.411.885,70 + 87.422.013,61). E prossegue: ~ em decorrência da decisão final proferida nos autos do processo administrativo nº 16327.002295/200103, foram realizadas compensações de ofício de prejuízos do próprio anobase de 1997, nos valores de R$ 147.315.542,73 (IRPJ) e R$ 208.833.899,31 (CSLL). Não concordando a impugnante com a exigência remanescente, desmembrada para o processo nº 16327.001040/200719, ajuizou a ação ordinária nº 2007.61.00.0184349, pleiteando a anulação total do lançamento, tendo sido deferida a antecipação de tutela pleiteada para suspender a exigibilidade do crédito tributário, nos termos do artigo 151, V, do CTN, doc. de fls. 348 a 445. Julgada procedente a ação judicial, restará cancelada a compensação de ofício realizada, decorrendo daí o cancelamento do presente lançamento no valor correspondente; não sendo definitiva tampouco aquela compensação de ofício, em face da tutela antecipada que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário, os valores de IRPJ e CSL que deixaram de ser pagos por conta da compensação, pelo Impugnante, daqueles prejuízos e base negativa deverão igualmente ter sua exigibilidade suspensa, não sendo devido qualquer valor a título de multa, nos termos do art. 63 da Lei nº 9.430/96. O mesmo ocorre quanto às adições “ex oficio” efetuadas por conta daquele processo 16327.002295/200103, nos autos do processo nº 16327.001898/200261; o mesmo raciocínio acima se aplica quanto ao valor remanescente exigido no processo nº 16327.000002/200498, também questionado em juízo, com liminar que suspende a exigibilidade do crédito tributário (ação ordinária nº 2007.61.00.0212266, doc. 10 fls. 446/449). [...]. A decisão recorrida está assim ementada: LANÇAMENTO. NULIDADE. Não procede a arguição de nulidade do lançamento quando não se vislumbra nos autos qualquer das hipóteses previstas no art. 59 do Decreto nº 70.235/72. DECISÕES JUDICIAIS. ALCANCE. Decisões judiciais que suspendem a exigibilidade de créditos tributários discutidos em outros processos administrativos não têm o condão de afastar a multa de ofício aplicada no presente processo, uma Fl. 1061DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.062 6 vez que o prejuízo fiscal e/ou base de cálculo negativa da CSLL, apontados pela fiscalização nesses outros processos administrativos, não foram objeto de demanda nem de decisão judicial. [...]. Lançamento Procedente. Cientificada da aludida decisão, a contribuinte apresentou recurso voluntário, no qual contesta as conclusões do acórdão recorrido, repisa as alegações da peça impugnatória e, ao final, requer o provimento. Ao julgar o recurso, a Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção do CARF proferiu o Acórdão nº 140200.538, de 24 de maio de 2011, cujas ementa e decisão transcrevo, no que interessa à presente lide: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA – IRPJ Data do fato gerador: 31/12/2003, 31/12/2004, 31/12/2005, 31/12/2006 LANÇAMENTO. NULIDADE. VÍCIO FORMAL. DETERMINAÇÃO DA EXIGÊNCIA. É nulo, por vício formal, o lançamento que, embora identifique a infração tributada, não atenda, adequadamente ao disposto no artigo 10, inciso V, do Decreto 70.235/1972, quanto à determinação da exigência. [...]. Recurso Voluntário Provido em Parte. [...]. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado: 1) por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício; 2) pelo voto de qualidade, dar provimento parcial ao recurso voluntário, para que os autos de infração sejam declarados parcialmente nulos, por vício formal, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencidos os Conselheiros Carlos Pelá, Moises Giacomelli Nunes da Silva e Leonardo Henrique Magalhães de Oliveira, que davam provimento ao recurso, acolhendo a preliminar de nulidade por vício material. Inconformado, o contribuinte apresenta recurso especial por divergência, argumentando, em síntese, que os vícios do lançamento não são vícios formais, como decidiu o acórdão recorrido, mas, sim, materiais, impossibilitando, nessa hipótese, seja efetuado novo lançamento após o transcurso do prazo decadencial previsto no art. 173, inciso I, do CTN. O recurso especial foi admitido pelo presidente da Quarta Câmara da Primeira Seção do CARF. Devidamente cientificada, a Fazenda Nacional apresentou contrarrazões, a seguir resumidas: a) que, preliminarmente, o Recorrente não pretende a uniformização de teses jurídicas, objetivo primordial do recurso especial interposto com base na configuração da divergência, mas, sim, o revolvimento do conjunto fático probatório; Fl. 1062DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.063 7 b) que, quanto à segunda divergência apontada, de que, caso admitido o vício formal, o novo lançamento estaria fulminado pela decadência, porquanto devem ser mantidos inalterados a descrição dos fatos, a capitulação legal e o quantum exigido, não merece prosperar, uma vez que sequer houve ainda um segundo lançamento; e c) que, no mérito, o vício do lançamento é formal, e não material, como defendido pela Recorrente. É o Relatório. Esse foi o relatório apresentado pelo Conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão. Voto Vencido Conselheira Adriana Gomes Rêgo Relatora ad hoc O voto depositado na sessão de julho de 2017, pelo relator originário, Dr Marcos Aurélio Pereira Valadão, era no sentido do não conhecimento de ambas as matérias suscitadas pelo Recurso Especial da Contribuinte, conforme ora se transcreve. O recurso é tempestivo, porém, entendo que a divergência não restou comprovada e, por isso, não conheço do especial. Da contraposição dos fundamentos expressos nas ementas e nos votos condutores dos acórdãos recorrido e paradigmas, evidenciase que a Recorrente não logrou êxito em comprovar a ocorrência do alegado dissenso jurisprudencial, como a seguir demonstrado, por matéria recorrida (destaques do original transcrito): (1) “existência de vício material, e não formal, a obstar a aplicação do art. 173, II, do CTN” Decisão recorrida: LANÇAMENTO. NULIDADE. VÍCIO FORMAL. DETERMINAÇÃO DA EXIGÊNCIA. É nulo, por vício formal, o lançamento que, embora identifique a infração tributada, não atenda, adequadamente ao disposto no artigo 10, Inciso V, do Decreto 70.235/1972, quanto à determinação da exigência. [...]. Ora, à toda evidência, os demonstrativos dos sistemas da Receita Federal de controle de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL, tomados como parte integrante do auto de infração, não possuem notas explicativas suficientemente adequadas para esclarecer a origem dos valores. A Fiscalização deveria ter juntado, além dos demonstrativos do Sapli, as DIPJ, autos de infração e demais decisões que embasaram seus cálculos e, principalmente, demonstrar adequadamente a origem das divergências encontradas. [...]. Fl. 1063DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.064 8 O limite entre o vício formal e o vício material é tênue. No presente caso, os lançamentos foram motivados, a infração foi adequadamente identificada, há descrição dos fatos e demonstrativo da determinação da exigência, porém este último insuficiente, o que caracteriza o vício formal. Acórdão paradigma nº 19200.015, de 2008: NULIDADE VÍCIO MATERIAL. ERRO NA CONSTRUÇÃO DO LANÇAMENTO. Comprovado, em grau de recurso, a existência de erro material na base de cálculo do imposto lançado, resta nulo o Auto de Infração. [...]. No Auto de Infração, acusase o Recorrente de ter praticado “omissão de rendimentos” quanto à importância recebida do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, da ordem de R$ 29.811,53, conforme se lê às fls. 04. Contudo, o AI (fl. 03) indica a importância de R$ 811,53 como sendo os “Rendimentos Tributáveis”, no que pode ter sido um erro de digitação, de processamento. Acórdão paradigma nº 20601.806, de 2009: PREVIDENCIÁRIO. NORMAS PROCEDIMENTAIS. LANÇAMENTO. ERRO [NA] DESCRIÇÃO DA BASE DE CÁLCULO. VÍCIO MATERIAL. NULIDADE. A descrição clara e precisa do fato gerador, bem como da base de cálculo (matéria tributável) do tributo lançado, in casu, contribuições previdenciárias, é condição sine qua non à validade do lançamento, e a sua ausência e/ou equívoco importa na nulidade material do ato, configurando afronta aos preceitos do artigo 142 do Código Tributário Nacional. RELATÓRIO FISCAL DA NOTIFICAÇÃO. OMISSÕES. O Relatório Fiscal tem por finalidade demonstrar/explicitar, de forma clara e precisa, todos os procedimentos e critérios utilizados pela fiscalização na constituição do crédito previdenciário, possibilitando ao contribuinte o pleno direito da ampla defesa e contraditório. Omissões ou incorreções no Relatório Fiscal, relativamente aos critérios de apuração do crédito tributário levados a efeito por ocasião do lançamento fiscal, que impossibilitem o exercício pleno do direito de defesa e contraditório do contribuinte, enseja a nulidade da notificação. [...]. Pugna a contribuinte pela reforma da decisão recorrida, a qual manteve parte substancial da exigência fiscal em comento, aduzindo para tanto que a ilustre autoridade fazendária, ao promover o lançamento, adotou base de cálculo equivocada. [...]. Consoante se positiva da Informação Fiscal acima transcrita, concluise que a fiscalização não logrou apurar, de forma clara e precisa, a base de cálculo das Fl. 1064DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.065 9 contribuições previdenciárias ora lançadas, contrariando o disposto na legislação de regência, notadamente no artigo 142 do CTN. Com relação a essa primeira matéria, não ocorre o alegado dissenso jurisprudencial, pois se trata de situações fáticas distintas. Enquanto na decisão recorrida tratouse de vício na determinação da exigência — os demonstrativos dos sistemas da Receita Federal de controle de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL, tomados como parte integrante do auto de infração, não possuem notas explicativas suficientemente adequadas para esclarecer a origem dos valores, nos acórdãos paradigmas apontados (Acórdãos nºs 19200.015, de 2008, e 20601.806, de 2009), ao contrário, tratouse de vício na base de cálculo do imposto lançado – indicação do valor de R$ 811,53, como rendimentos omitidos, quando o correto seria R$ 29.811,53 (primeiro acórdão paradigma) e de vício na descrição da base de cálculo — adoção de base de cálculo equivocada (segundo acórdão paradigma). Ou seja, no lançamento a que se reporta a decisão recorrida inexistiu qualquer erro ou vício na base de cálculo do imposto lançado, na descrição da base de cálculo ou, ainda, nos critérios de apuração do crédito tributário levados a efeito por ocasião do lançamento fiscal, mas, apenas, na demonstração adequada da origem das divergências encontradas. São, pois, situações fáticas distintas, a demandarem, forçosamente, decisões diversas, insuscetíveis de uniformização por meio do Recurso Especial de divergência. (2) “inaplicabilidade do art. 173, II, do CTN, quando o lançamento, refeito em razão da existência de vício formal no primeiro lançamento, diferir deste materialmente” Decisão recorrida: Não há ementa correspondente a essa matéria. [...]. Por fim, registro que cabe à unidade de origem promover a repetição dos autos, sanando as falhas ora apontadas, no prazo de 5 anos contados da definitividade desta decisão. Outrossim, na formalização de novo lançamento de ofício, a autoridade administrativa deverá também observar eventuais decisões que se tornaram ou vierem a se tornar definitivas após a lavratura dos autos de infração originais, bem como escoimar eventuais erros na determinação da base de cálculo dos autos ora anulado. Acórdão paradigma nº 10195.776, de 2006: LANÇAMENTO NULO POR VÍCIO FORMAL — NOVO LANÇAMENTO — Para que a regra decadencial, nos tributos lançados por homologação, se desloque para a do inciso II do artigo 173, o lançamento efetuado em consequência da declaração de nulidade por vício formal do primeiro deve, com este, coincidir materialmente, não podendo inoválo. [...]. Os principais requisitos dos dois lançamentos devem manterse inalterados: a descrição dos fatos, a capitulação legal e o quantum exigido. Fl. 1065DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.066 10 No caso dos autos, não há coincidência entre o primeiro lançamento, tornado nulo, e o novo lançamento, ora vergastado. [...]. Como não se trata de lançamento efetuado apenas com vista a corrigir erros formais, o presente lançamento deve ser analisado como um novo lançamento referente aos fatos geradores do anocalendário de 1992, cuja ciência do contribuinte só foi realizada em 03 de março de 2000. Acórdão paradigma nº 10323.064, de 2007: DECADÊNCIA. VÍCIO FORMAL. NOVO LANÇAMENTO COM ALTERAÇÃO DE CONTEÚDO MATERIAL. A norma do art. 173, II, da Lei 5.172/66 (CTN Código Tributário Nacional) contempla apenas as retificações de vícios de ordem formal, por disposição expressa, sem abranger a hipótese de alteração da materialidade do lançamento original. [...]. Sobre o tema, tenho a opinião de que a referida norma legal não comporta inovações no novo lançamento que não sejam aquelas estritamente relativas à correção do vício formal motivador da anulação do lançamento original. [...]. [...]. No caso concreto, cotejandose o auto de infração original, de IRPJ (fls. 08/27 do processo nº 13116.000941/200187), e o tratado neste processo (fls. 23/41), constatase que a nova descrição dos fatos é totalmente diversa da anterior e apenas cinco bases de cálculo são coincidentes, aquelas relativas aos meses de março, abril, maio, julho e dezembro de 1996, de um total de vinte e três. Além dessas inovações, também a multa originalmente aplicada, de 75%, nos termos do art. 44, I, da Lei 9.430/96, foi alterada para 150%, prevista no art. 44, II, do mesmo ato legal. No que se refere a essa segunda matéria, também não ocorre o alegado dissenso jurisprudencial, pois se trata de situações fáticas distintas. Enquanto na decisão recorrida tratase da futura formalização de novo lançamento de ofício, ainda não ocorrido por ocasião do julgamento de segunda instância, nos acórdãos paradigmas apontados (Acórdãos nºs 10195.776, de 2006, e 10323.064, de 2007), ao contrário, tratouse de lançamento já efetuado em consequência da declaração de nulidade por vício formal do primeiro lançamento. Esse ponto, aliás, foi bem frisado pela Fazenda Nacional, em suas Contrarrazões (efls. 980981, destaques do original): Quanto à segunda divergência apontada, de que, caso admitido o vício formal, o novo lançamento estaria fulminado pela decadência, porquanto devem ser mantidos inalterados a descrição dos fatos, a capitulação legal e o quantum exigido, não merece prosperar, uma vez que sequer houve ainda um segundo lançamento. Em um contexto fático jurídico totalmente diverso, os paradigmas reconheceram a ocorrência da decadência, apesar da anulação do lançamento por vício formal, porque ficou demonstrada a ausência de perfeita identidade entre Fl. 1066DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.067 11 os dois lançamentos, não podendo haver inovação material no lançamento tornado nulo por vício formal. Contudo, percebase que, no presente caso concreto, não há um segundo lançamento a demonstrar a divergência, o que houve até o momento foi tão somente o reconhecimento da existência de vício formal a ensejar novo lançamento. [...]. Pela simples leitura do acima transcrito, constatase que as decisões se deram diante [de] situações fáticas diversas, porquanto, tal discussão somente estará aberta quando ocorrer o novo lançamento. Ainda, o próprio Despacho de Admissibilidade de Recurso Especial (efls. 975) reconhece a dependência dessa segunda matéria à posterior lavratura de novo auto de infração (destaque do original): Em relação a esta matéria, trazida como divergente, vale lembrar que qualquer discussão sobre a possibilidade de novo lançamento, com fulcro no artigo 173, II, do Código Tributário Nacional, depende da verificação do que será alterado quando do novo (segundo) lançamento. É a partir desse lançamento que se abre o prazo e a possibilidade de discussão sobre a alteração do lançamento, se de ordem formal ou material. São, pois, situações fáticas distintas, a demandarem, forçosamente, decisões diversas, insuscetíveis de uniformização por meio do Recurso Especial de divergência. Também não ocorre o alegado dissenso jurisprudencial, por inexistir divergência de entendimento passível de uniformização. Tanto na decisão recorrida, quanto nos acórdãos paradigmas apontados (Acórdãos nºs 10195.776, de 2006, e 10323.064, de 2007), chegouse à mesma conclusão, de que cabe à unidade de origem promover a repetição dos autos, sanando as falhas [...] apontadas (acórdão recorrido), ou seja, de que é possível corrigir erros formais do lançamento (primeiro acórdão paradigma) e de que são admissíveis retificações de vícios de ordem formal (segundo acórdão paradigma). De se notar, por oportuno, que o fato de, no novo lançamento, se observar eventuais decisões que se tornaram ou vierem a se tornar definitivas após a lavratura dos autos de infração originais, bem como se escoimar eventuais erros na determinação da base de cálculo dos autos [...] anulado, não se confunde, de nenhuma forma, com inovação do lançamento ou com alteração da materialidade do lançamento original. Por conseguinte, voto por não conhecer do recurso especial do contribuinte, por não restar comprovada a existência de divergência jurisprudencial entre o acórdão recorrido e os paradigmas apontados. Esse foi o voto do relator Conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Fl. 1067DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.068 12 Voto Vencedor Conselheira Adriana Gomes Rêgo Redatora Designada Ouso discordar do eminente relator quanto ao conhecimento do Recurso Especial do Contribuinte apenas no que concerne aos dois paradigmas que tratam da matéria relacionada à natureza do vício: Acórdão nº 19200.015, de 2008, e nº 20601.806, de 2009. Do Conhecimento (1) Da Natureza do vício de nulidade: formal ou material Acordaram os membros da 2ª Turma da 4ª Câmara, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício; e, quanto ao recurso voluntário, pelo voto de qualidade, em dar provimento parcial ao recurso voluntário, anulando parcialmente os autos, por vício formal, sintetizado na ementa a seguir: Decisão recorrida nº140200.538: LANÇAMENTO. NULIDADE. VÍCIO FORMAL. DETERMINAÇÃO DA EXIGÊNCIA. É nulo, por vício formal, o lançamento que, embora identifique a infração tributada, não atenda, adequadamente ao disposto no artigo 10, Inciso V, do Decreto 70.235/1972, quanto à determinação da exigência. Acórdão paradigma 1: Acórdão nº 19200.015, de 2008: NULIDADE VÍCIO MATERIAL. ERRO NA CONSTRUÇÃO DO LANÇAMENTO. Comprovado, em grau de recurso, a existência de erro material na base de cálculo do imposto lançado, resta nulo o Auto de Infração. [...]. No Auto de Infração, acusase o Recorrente de ter praticado “omissão de rendimentos” quanto à importância recebida do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, da ordem de R$ 29.811,53, conforme se lê às fls. 04. Contudo, o AI (fl. 03) indica a importância de R$ 811,53 como sendo os “Rendimentos Tributáveis”, no que pode ter sido um erro de digitação, de processamento. Na decisão recorrida, não foi apontado inconsistência concreta na base de cálculo, sendo apontado apenas pelo relator um problema de indeterminação da base de Fl. 1068DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.069 13 cálculo, carecendo de maiores explicações a respeito de sua origem. Mas a defesa questionou também o montante da base de cálculo: [...]. Ora, à toda evidência, os demonstrativos dos sistemas da Receita Federal de controle de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL, tomados como parte integrante do auto de infração, não possuem notas explicativas suficientemente adequadas para esclarecer a origem dos valores. A Fiscalização deveria ter juntado, além dos demonstrativos do Sapli, as DIPJ, autos de infração e demais decisões que embasaram seus cálculos e, principalmente, demonstrar adequadamente a origem das divergências encontradas. [...]. No Acórdão paradigma, a defesa também se insurgiu contra a base de cálculo objeto da autuação, porém o apontamento da inconsistência concreta foi considerada grave pelo julgador, nos seguintes termos: No Auto de Infração, acusase o Recorrente de ter praticado "omissão de rendimentos" quanto à importância recebida do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, da ordem de R$ 29.811,53 conforme se lê às fls. 04. Contudo, o AI (fl. 03) indica a importância de R$ 811,53 como sendo os "Rendimentos Tributáveis", no que pode ter sido um erro de digitação, de processamento. O fato é que tal importância (R$ 811,53) é totalmente alienígena, não encontra respaldo em nada do que consta dos autos. (destacouse). (...) Também não me parece necessário perquirir sobre a validade, ou não, da aplicação do dispositivo isentivo pelo qual clama o Recorrente, ante a inconsistência do AI. Para tanto, seria imperativo "refazer" o AI, partindose da premissa de que o valor dos rendimentos nele lançados seja (devesse ser) R$ 29.811,53, o que abriria o debate sobre se esse é o valor correto ou a importância de R$ 24.857,18, lançada na declaração retificadora. Mas, a meu ver, a inconsistência do AI é tamanha que, se assim procedêssemos, estaríamos refazendo o lançamento. Quem julga não lança. Acórdão paradigma 2: Acórdão nº 20601.806, de 2009: Fl. 1069DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.070 14 PREVIDENCIÁRIO. NORMAS PROCEDIMENTAIS. LANÇAMENTO. ERRO [NA] DESCRIÇÃO DA BASE DE CÁLCULO. VÍCIO MATERIAL. NULIDADE. A descrição clara e precisa do fato gerador, bem como da base de cálculo (matéria tributável) do tributo lançado, in casu, contribuições previdenciárias, é condição sine qua non à validade do lançamento, e a sua ausência e/ou equívoco importa na nulidade material do ato, configurando afronta aos preceitos do artigo 142 do Código Tributário Nacional. Tratase também de situação que envolve a quantificação da base de cálculo. Neste caso, assim como no Recorrido, houve inicialmente a provocação da defesa apontando possíveis inconsistências do auto de infração. Da mesma forma que no Recorrido, o problema da indeterminação da base de cálculo também surge neste paradigma, em que pese ter seguido de um passo a mais: diligência para suprir tal indeterminação. Na diligência, o autuante não logrou êxito em sanar a inconsistência e desfazer a indeterminação, permanecendo a indeterminação detectada antes da diligência. Assim, o colegiado em face da clara inconsistência e indeterminação da base de cálculo apresentada, decidiu anular o auto de infração por vício material. Como se vê, a situação fática desse paradigma muito se assemelha ao do recorrido, apenas diferindo em relação ao grau de certeza da inconsistência encontrada, pois neste paradigma a inconsistência se mostra mais grave e exposta. Independentemente de, no recorrido, não ter sido apontado concretamente pelo julgador qualquer mácula na base de cálculo, assim como ocorreu no paradigma, não há como dissociar essa indeterminação dos elementos constitutivos da obrigação tributária, principalmente a verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação e a determinação da matéria tributável, discussão essa afeta a conteúdo que remete necessariamente aos elementos constituintes do art. 142 do CTN. Eis abaixo trecho do recorrido que deixa claro essa situação: O que existe, repito, são insuficiências nos elementos dos demonstrativos para determinação das exigências, anexados aos autos de infração (extratos do Sapli), que neste caso realmente dificultam ou em alguns casos inviabilizam a determinação da base de cálculo. O que para autoridade fiscal seria de simples entendimento, na verdade não é, daí a insuficiência. Frisese que, tal qual manifestou o ilustre conselheiro Carlos Pela, compartilho do entendimento de que a ausência ou insuficiência na descrição dos fatos é vício material, pois, fere o núcleo da regra matriz de incidência, implicando em descumprimento do disposto no art. 142 do CTN. Mas repito, não é essa a situação versada nos autos, cuja descrição da infração tributada – compensação indevida de prejuízos fiscais no IRPJ e bases negativas de períodos anteriores da CSLL – está adequada. Logo, não há que se falar em vício material. Fl. 1070DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.071 15 Dessa forma, discordo da conclusão chegada pelo relator ao analisar o conhecimento dessa matéria: (...) no lançamento a que se reporta a decisão recorrida inexistiu qualquer erro ou vício na base de cálculo do imposto lançado, na descrição da base de cálculo ou, ainda, nos critérios de apuração do crédito tributário levados a efeito por ocasião do lançamento fiscal, mas, apenas, na demonstração adequada da origem das divergências encontradas. Nos paradigmas, houve o entendimento de erro e indeterminação da base de cálculo. A diferença do paradigma 1 para o 2, é apenas uma questão de grau da inconsistência observada na base de cálculo, não afetando a estrutura da similitude naquilo que é relevante. No recorrido, não se entendeu que houve erro, mas, sim, indeterminação da base de cálculo. Nesse contexto, o elemento em comum aqui relevante é a indeterminação da base de cálculo e as consequências tributárias dela no sentido de afetar ou não núcleo da regra matriz de incidência tributária. Portanto, há o dissenso jurisprudencial na medida em que, enquanto os fatos expostos nos paradigmas indicam que a ausência de um dos elementos mencionados no art. 142 do CTN (matéria tributável), no caso a indeterminação da base de cálculo, implica em vício de natureza material; o acórdão recorrido sustenta que tal situação reflete vício de natureza formal. Por todo o exposto, conheço do recurso especial do contribuinte no que diz respeito a esses dois paradigmas (Acórdãos nº 19200.015 e nº 20601.806), porém não conheço da 2ª divergência, pelas mesmas razões que o relator. MÉRITO A matéria posta à apreciação desta Câmara Superior referese à existência, ou não, de vício formal no lançamento em análise, o que, em caso afirmativo, permitiria o reinício do prazo para novo lançamento, na forma do art. 173, inciso II, do Código Tributário Nacional – CTN (Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966). Defende a Recorrente que não se trata de vício formal, mas de vício material, impossibilitando que, nessa hipótese, seja efetuado novo lançamento após o transcurso do prazo decadencial previsto no art. 173, inciso I, do CTN. Analisase, primeiramente, a distinção existente entre vício formal e vício material. Em breve síntese, temse que o vício formal ou instrumental se caracteriza pela violação de normas de natureza formal, estando ligado ao desatendimento de dois dos cinco elementos do ato administrativo: a “competência” e a “forma”. Já o vício material ou substancial corresponde à transgressão de normas de conteúdo material, dizendo respeito, portanto, aos três elementos restantes do ato administrativo: o “objeto”, o “motivo” e a “finalidade”. Fl. 1071DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.072 16 Haverá, por conseguinte, vício formal nos casos de incompetência da autoridade e de inobservância do procedimento previsto em lei; ocorrerá vício material, por sua vez, nas situações de ilegalidade do objeto, de inexistência de motivos e de desvio de finalidade. Porém antes de se adentrar em critérios distintivos comumente debatidos na doutrina e jurisprudência administrativa entre um tipo de nulidade e outra, é bom que se verifique se, de fato, estarse diante de uma efetiva nulidade, e não de uma improcedência qualquer em relação ao mérito, porque se nem de nulidade, vista como gênero, se tratar, por qual razão averiguar a sua espécie (nulidade formal ou material)? Também é bom salientar que o escopo deste julgamento na CSRF se limita a determinar apenas o tipo de nulidade, uma vez que ficou assentado pela decisão recorrida que o auto de infração é nulo por vício formal, não recorrendo a PFN dessa situação e não podendo o CARF agravar a situação da recorrente (por aplicação do princípio do non reformatio in pejus). Todavia, também é sabido que a relevância dessa determinação prendese apenas a implicações relacionadas à decadência: se prevalecerá a regra do art. 173, II do CTN, ou não em relação a um novo lançamento que eventualmente se faça. Este é o fim maior desse recurso especial: afastar a regra do art. 173, II do CTN, vez que, na ótica da recorrente, seria uma nulidade material. Dessa forma, se ficar afastada a hipótese de nulidade como gênero, por óbvio, a regra da decadência que se aplicaria sobre o novo lançamento não seria a do art. 173, II do CTN, pois esta só se aplica para o gênero nulidade e a espécie vício formal. Caso contrário, ou seja, se ficar demonstrado que houve efetivamente uma nulidade como gênero, daí. sim, seria necessário ainda se averiguar que tipo de nulidade seria esta: formal ou material. Posto isso, passase à análise do critério que permitirá saber se se está efetivamente diante de uma nulidade como gênero. Critério do prejuízo A doutrina e a jurisprudência têm assentado que o critério de identificação de nulidade, de uma forma geral (nulidade como gênero), passa sempre pela demonstração da existência ou não de eventual prejuízo causado à defesa (princípio do prejuízo), passando ao largo de se importar se a origem da nulidade é formal ou material. Assim, se houve prejuízo à defesa e este é considerado grave, cerceando o seu direito de defesa, o auto de infração pode ser considerado nulo, a não ser que se esteja na fase inquisitória. Ou seja, não há nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans grief). É bom que se diga que embora o Acórdão recorrido tenha passado ao largo dessa verificação do prejuízo causado, indiretamente o fez através das seguintes passagens: A Fiscalização deveria ter juntado além dos demonstrativos do Sapli as DIPJ, autos de infração e demais decisões que embasaram seus cálculos e, principalmente, demonstrar adequadamente a origem das divergências encontradas. Fl. 1072DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.073 17 É certo que a recorrente buscou compreender a origem dessas glosas/diferenças e se defender do lançamento, até porque sua defesa foi produzida por profissionais experientes na área, o que não é privilégio de todos os contribuintes. É certo também ser majoritária a jurisprudência do Conselho no sentido de afastar as alegações de nulidade quanto o contribuinte demonstra compreender as infrações tributadas. Todavia, no presente caso, os vícios formais ultrapassam os limites do razoável e comprometem a certeza do crédito tributário. (...) O que existe, repito, são insuficiências nos elementos dos demonstrativos para determinação das exigências, anexados aos autos de infração (extratos do Sapli), que neste caso realmente dificultam ou em alguns casos inviabilizam a determinação da base de cálculo. O que para autoridade fiscal seria de simples entendimento, na verdade não é, daí a insuficiência. Na segunda passagem acima grifada, observese que o relator demonstra conhecimento em relação à tese que descarta a nulidade se ficar constatado a compreensão da matéria e assim permitir a sua defesa, sem lhe causar prejuízo. Porém, na primeira passagem quando afirma que a defesa foi elaborada por "profissionais experientes", na verdade deixa transparecer o fato de o contribuinte ter eventualmente compreendido a autuação. Entretanto, na terceira passagem, identifica possível prejuízo à defesa, correlacionando a uma eventual incerteza na base de cálculo. Ocorre que incerteza na base de cálculo é um problema eminentemente de mérito, ligandose à improcedência ou não do lançamento. Há nessas passagens, portanto, uma clara contradição na utilização do critério do prejuízo à defesa, mesmo que o relator não tenha se referido a esse critério de forma direta. Se por um lado, deixa a entender que o contribuinte entendeu a autuação, por outro, aponta um prejuízo à defesa, mas o faz associando isso a um problema de conteúdo, como ficará demonstrado mais adiante. Nesse contexto, a primeira conclusão a que se chega é que se estaria diante de um auto de infração que pecou, apenas, em não demonstrar adequadamente a origem das divergências encontradas, ainda que possam ter efetivamente ocorrido essas divergências. Vejase, exemplificativamente, o períodobase de 2000: Fl. 1073DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.074 18 No caso, deixouse indeterminada a origem da base de cálculo final na medida em que não haveria informações a respeito dos vários processos administrativos que afetaram o saldo que foi questionado, havendo apenas a informação genérica a respeito de que houve uma "fiscalização externa", o que poderia inviabilizar o direito de defesa do contribuinte. Como se vê, o lançamento fiscal desatendeu ao disposto no art. 9º do PAF (grifei): Art. 9o A exigência do crédito tributário e a aplicação de penalidade isolada serão formalizados em autos de infração ou notificações de lançamento, distintos para cada tributo ou penalidade, os quais deverão estar instruídos com todos os termos, depoimentos, laudos e demais elementos de prova indispensáveis à comprovação do ilícito. Dessa forma, estamos diante da matéria relacionada à existência e à quantificação do saldo de prejuízos fiscais que possui um determinado contribuinte. Isso porque a quantificação do saldo em determinado período de apuração depende de eventos ocorridos no passado que são informados pelo contribuinte, paulatinamente, em suas declarações de imposto de renda e são refletidas em um sistema próprio de controle da Receita Federal, denominado SAPLI. Ou seja, o sistema trabalha com informações fornecidas pelo contribuinte, porém eventualmente alteradas em função de autos de infração ou notificações de lançamento, quando esses têm repercussão no saldo de prejuízos e/ou bases de cálculo negativas. Ora, mas em casos como este, onde surge uma indeterminação em que se impede de fornecer respostas precisas ao contribuinte a respeito da formação da base de cálculo, flagrantemente se está colocando em xeque a própria base de cálculo, adentrouse indubitavelmente em questões de mérito e não de forma. De toda sorte, analisando o recurso bem se vê que a Recorrente defendese adequadamente, produzindo uma defesa robusta, que levou a DRJ a cancelar parte do lançamento e submetêlo a recurso de ofício. A informação que teoricamente faltava e que provocou a anulação do auto de infração indubitavelmente foi suprida pela defesa, indicando os referidos processos em que fora autuada, possibilitando que a DRJ produzisse um arrazoado substancial em relação à interferência desses processos na presente autuação. Ou seja, na fase em que o processo estava na instância ao quo do CARF, não se colocou mais em dúvida que os processos em referência eram aqueles mesmos, mas a discussão passou a ser de conteúdo, isto é, a respeito das implicações da existência daqueles processos no que se refere a afetar ou não a base de cálculo do tributo. O trecho abaixo extraído do voto da DRJ dá conta do nível de detalhe e precisão que estão sendo adotados, demonstrando que o exercício do direito de defesa e do contraditório estão sendo exercidos plenamente: Reclamação da defesa: Fl. 1074DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.075 19 Quanto ao ano de 1999, a interessada verificou, a partir dos históricos 14/27 e 17/27 do SAPLI (fls. 35verso e 36) que o prejuízo fiscal do exercício foi aumentado em decorrência de fiscalização externa (de R$ 23.872.900,16 para R$ 130.061.610,07), alteração que entende ser decorrente do P.A. n° 16327.001898/200261, já acima mencionado. Expõe a contribuinte que nos autos daquele processo o Termo de Verificação Fiscal (fls. 300/313) foi objeto de reratificação (fls. 314/318), em que o prejuízo fiscal de 1999 foi alterado para R$ R$ 145.801.821,28, e que tal alteração teria sido ignorada pela autoridade lançadora. Resposta DRJ: 6.2.1. Acontece que, segundo os históricos 14/27 a 17/27 (fls. 35 verso e 36), a alteração no SAPLI decorrente da ação fiscal a que se refere o Termo de Reratificação de Termo Fiscal ocorreu em 30/04/2002, após, portanto, a lavratura do referido termo de reratificação (24/04/2002). Além disso, em 27/12/2004, por força de ação fiscal controlada no Processo Administrativo n° 16327.001858/200481, foi consignado que, em 1999, a interessada havia apurado um Lucro real antes da compensação de R$ 69.698.398,79 (histórico 16/27) que, posteriormente, em consequência de decisão de I a instância, foi alterado para R$ 36.302.398,79 (histórico 15/27). Portanto, a retificação procedida pelo Termo de Reratificação não iria modificar o saldo de prejuízos fiscais para fins de utilização no presente processo. Outra reclamação da defesa: 6.3. Reclama ainda a autuada que de forma absolutamente contraditória no ano de 2000 o ilustre fiscal autuante ainda reduz os prejuízos fiscais do Impugnante em 7.100.863,41 (fls. 16), quando conforme facilmente se verifica às fls. 62 (fl. 3^5) do referido processo n° 16327.001898/200261 esta compensação nada mais é do que uma parcela daquele prejuízo de R$ 121.928.921,12 revertido pela fiscalização para o ano de 1999 e desconsiderada pelo ilustre fiscal autuante. Resposta da DRJ: 6.3.1. Com efeito, não há nada de contraditório entre a informação de valores a tributar extraída do Termo de re Ratifícação do Termo de Verificação (fls. 314/317) e o registro no SAPLI (fls. 36 e 26), isto porque foi consignado e devidamente registrado naquela autuação a compensação de prejuízo fiscal de R$ 7.100.863,41, para o anocalendário de 2000. E o debate prossegue sempre nesses mesmos termos, de forma que se percebe claramente que o pressuposto de os processos em referência serem outros que não aqueles indicados pela defesa, não mais é questionado durante o contraditório. Outrossim, é verdade que em situações como esta, envolvendo glosa de prejuízos fiscais, a jurisprudência tem, invariavelmente, empreendido diligências, para melhor Fl. 1075DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.076 20 instruir o processo, e não à sua anulação, pura e simples, quer seja por vício formal, quer seja vício material. Aliás, essa deveria ter sido a solução a ser adotada pelo colegiado a quo, que já não se pode propor aqui, haja vista, como dito, que implicaria uma reformatio in pejus. Mas a verdade é que esse caminho eventual da diligência é mais um indício de que não se está diante de uma nulidade, mas, no máximo, de improcedência. Dessa forma, concluise que não houve prejuízo à defesa no caso concreto para se afirmar que estarseia diante de uma nulidade (como gênero). E sendo assim, a regra da decadência que se aplicaria ao novo lançamento não seria a do art. 173, II do CTN, pois esta só se aplica para o gênero for nulidade e a espécie, vício formal. Mas ainda que se queira buscar a natureza de eventual vício no caso ora em análise, não se consegue chegar a um vício de natureza formal, como ora se passa a demonstrar. Da existência de três critérios para identificação da natureza do vício A linha entre o vicio material e o vício formal muitas vezes é tênue, por isso a doutrina e a jurisprudência têm construído alguns critérios objetivos, procurando facilitar a identificação de uma situação ou outra. Essa distinção, como já se colocou, tem sua razão prática de ser: alargar mais ou não a decadência a depender do tipo de nulidade envolvida. Por bem ilustrar essa questão, trago à colação trecho do voto do ilustre Conselheiro Rafael Vidal, proferido em sessão recente da CSRF (Acórdão nº 9101002.976, de 6/7/2017), que tratou detalhadamente a respeito da distinção da natureza desses vícios e abordando também os referidos critérios: (...) Nem sempre é tarefa fácil distinguir o vício formal do vício material, dadas as inúmeras circunstâncias e combinações em que eles podem se apresentar. O problema é que os requisitos de forma não são um fim em si mesmo. Eles existem para resguardar direitos (p/ ex., o direito ao contraditório e à ampla defesa). É a chamada instrumentalidade das formas, e isso às vezes cria linhas muito tênues de divisa entre o aspecto formal e o aspecto substancial das relações jurídicas. É esse o contexto quando se afirma que não há nulidade sem prejuízo da parte. Nesse sentido, vale trazer à baila as palavras de Leandro Paulsen: Não há requisitos de forma que impliquem nulidade de modo automático e objetivo. A nulidade não decorre propriamente do descumprimento do requisito formal, mas dos seus efeitos comprometedores do direito de defesa assegurado constitucionalmente ao contribuinte já por força do art. 5º, LV, da Constituição Federal. Isso porque as formalidades se justificam como garantidoras da defesa do contribuinte; não são um fim, em si mesmas, mas um instrumento para assegurar o exercício da ampla defesa. Alegada eventual irregularidade, cabe, à autoridade administrativa ou judicial verificar, pois, se Fl. 1076DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.077 21 tal implicou efetivo prejuízo à defesa do contribuinte. Daí falar se do princípio da informalidade do processo administrativo. (PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 13ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.) A Lei nº 4.717/1965 (Lei da Ação Popular), ao tratar da anulação de atos lesivos ao patrimônio público, permite, em seu art. 2º, uma análise comparativa entre os diferentes elementos que compõe o ato administrativo (competência, forma, objeto, motivo e finalidade): “Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observarseão as seguintes normas: a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou; b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo; d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido; e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.” (grifos acrescidos) Pela enumeração dos elementos que compõe o ato administrativo, já se pode visualizar o que se distingue da forma, ou seja, o que não deve ser confundido com a aspecto formal do ato (a competência, o objeto, o motivo e a finalidade). No contexto do ato administrativo de lançamento, vício formal é, via de regra, aquele verificado de plano, no próprio instrumento de formalização do crédito, e que não está relacionado à realidade jurídica representada (declarada) por meio deste ato. O vício formal normalmente não diz respeito aos elementos constitutivos da obrigação tributária, ou seja, à verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação, à determinação da matéria tributável, ao cálculo do montante do tributo devido e à identificação do sujeito passivo, porque aí está a própria essência da relação jurídicotributária. Fl. 1077DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.078 22 O vício formal a que se refere o artigo 173, II, do CTN abrange, por exemplo, a ausência de indicação de local, data e hora da lavratura do lançamento, a falta de assinatura do autuante, ou a falta da indicação de seu cargo ou função, ou ainda de seu número de matrícula, todos eles configurando elementos formais para a lavratura de auto de infração, conforme art. 10 do Decreto nº 70.235/1972, mas que não se confundem com a essência/ conteúdo da relação jurídicotributária, apresentada como resultado das atividades inerentes ao lançamento (verificação da ocorrência do fato gerador, determinação da matéria tributável, cálculo do montante do tributo devido, etc. CTN, art. 142). Aliás, um erro nos elementos que identificam a essência/conteúdo da relação jurídicotributária até pode ser considerado como um vício formal desde que, por exemplo, ele se apresente como resultado de uma evidente discrepância entre o que se pensou e o que se exteriorizou pela escrita (as inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo), quando todo o contexto do que está sendo dito aponta num determinado sentido, e um ponto específico, desconexo do conjunto das ideias, aponta em outro, ou dá uma informação simplesmente fora de contexto, etc. Mas mesmo diante desse tipo de situação, vale novamente lembrar que não há nulidade sem prejuízo da parte. Penso que a verificação da possibilidade de refazimento (repetição) do ato de lançamento, com o mesmo conteúdo, para fins de apenas sanear o vício detectado, é um referencial bastante útil para se examinar a espécie do vício. Se houver possibilidade de o lançamento ser repetido, com o mesmo conteúdo concreto (mesmos elementos constitutivos da obrigação tributária), sem incorrer na mesma invalidade, o vício é formal. Isso é um sinal de que o problema está nos aspectos extrínsecos e não no núcleo da relação jurídicotributária. Em resumo, os critérios normalmente utilizados pela doutrina e jurisprudência para separar um vício de outro são os seguintes: 1) Critério legal: 1.1) Critério do art. 10 do PAF; 1.2) Critério do art. 142 do CTN 2) Critério do motivo/motivação 3) Critério da inovação do lançamento É bom que se ressalve que o critério mais genérico do prejuízo, utilizado acima para concluir pela inexistência de vício, na verdade, permeia a aplicação de cada um Fl. 1078DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.079 23 deles, norteado pelo elemento teleológico do ato administrativo (finalidade) que por sua vez se guia também pelo princípio da instrumentalidade da forma1. Primeiro critério O primeiro critério, ora denominado de "critério legal", se vale de dispositivos de leis com determinados requisitos. A grosso modo, quando houver ofensa aos ditames do art. 10 do Código de Processo Administrativo Fiscal – PAF (Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972), regra de natureza processual, seria vício formal; se violar os ditames do art. 142 do CTN, norma de índole substancial, estaríamos diante de um vício material. Dispõe o art. 10 do PAF: Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente: (...) III a descrição do fato; (...); V a determinação da exigência e a intimação para cumprila ou impugnála no prazo de trinta dias; (...) Por sua vez, o art. 142 do CTN dispõe: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Segundo critério Um segundo critério utilizado seria assemelhado ao primeiro, porém só de natureza mais teórica. De toda sorte guardaria ainda uma certa simetria com o outro critério, se interligando um conceito de um com o dispositivo legal previsto no outro critério (art. 10 do PAF/art. 142 do CTN). Tratase de trazer os ensinamentos colhidos no direito administrativo para ser aplicado no ato administrativo do lançamento, referindose à distinção entre motivo e motivação. Cabe aqui antes bem assentar esses conceitos para depois verificar se o acórdão recorrido o utilizou de forma devida. Uma coisa é o motivo, que é o próprio fenômeno de ocorrência do fato gerador, independentemente da motivação trazida pelo fiscal, pois esta 1 As formas não são um fim em si mesmas, funcionando como meio de garantir determinado objetivo (efetividade do processo). (José Roberto dos Santos Bedaque Efetividade do processo e Técnica processual São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p.4950.) Fl. 1079DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.080 24 significa os fundamentos de fato e de direito transpostos em linguagem pela autoridade administrativa para sustentar o lançamento. Em apertada síntese, é um critério de distinção importado do direito administrativo e aplicado no direito tributário comportarseia da seguinte forma: 1) vício por ausência de motivo > vício material; 2) vício por ausência ou deficiência na motivação > vício formal Ou seja, se identificado vício no primeiro elemento (motivo), tratarseia de vício material porque afetaria o núcleo da regramatriz de incidência do tributo, descumprindo assim também o núcleo do art. 142 do CTN; caso contrário, isto é, se o vício estiver na ausência ou deficiência da motivação, seria de natureza formal, porque tratarseia apenas da exteriorização formal do motivo, este existente. Havendo então uma mácula na forma em que foi exteriorizado o motivo através de sua motivação, tratarseia de um vício formal, ligandose por consequência indiretamente ao não atendimento também dos requisitos do art. 10 do PAF. Caso essa mácula afete direta ou indiretamente os elementos constitutivos da obrigação tributária: fato gerador, base de cálculo, sujeição passiva etc, tratarseia de vício de natureza material. Terceiro critério O Acórdão já referido, da CSRF, da lavra do ilustre Conselheiro Rafael Vidal, também faz menção a um terceiro critério que seria como um teste de reforço aos dois primeiros. Tratarseia de verificar em tese se no refazimento do novo lançamento haveria a possibilidade de inovação ou não do mesmo: Penso que a verificação da possibilidade de refazimento (repetição) do ato de lançamento, com o mesmo conteúdo, para fins de apenas sanear o vício detectado, é um referencial bastante útil para se examinar a espécie do vício. Se houver possibilidade de o lançamento ser repetido, com o mesmo conteúdo concreto (mesmos elementos constitutivos da obrigação tributária), sem incorrer na mesma invalidade, o vício é formal. Isso é um sinal de que o problema está nos aspectos extrínsecos e não no núcleo da relação jurídicotributária. Há uma decisão da Câmara Superior de Recursos Fiscais, o Acórdão nº 910100.955, que explicita bem esse aspecto: Acórdão nº 910100.955 ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2000 NULIDADE DO LANÇAMENTO. VÍCIO MATERIAL. A verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação, a determinação da matéria tributável, o cálculo do montante do tributo devido e a identificação do sujeito passivo, definidos no art. 142 do Código Tributário Nacional — CTN, por serem elementos fundamentais, intrínsecos, do lançamento, sem cuja delimitação precisa não se pode admitir a existência da obrigação tributária em concreto, antecedem e são Fl. 1080DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.081 25 preparatórios à formalização do crédito tributário, a qual se dá no momento seguinte, mediante a lavratura do auto de infração, seguida da notificação ao sujeito passivo, quando, ai sim, deverão estar presentes os seus requisitos formais, extrínsecos, como, por exemplo, a assinatura do autuante, com a indicação de seu cargo ou função e o número de matricula; a assinatura do chefe do órgão expedidor ou de outro servidor autorizado, com a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. [...] Ocorre, no entanto, que o primeiro critério (legal), a depender do vício, não se mostra exaustivo, pois se não se confirmar a subsunção a seus elementos, ainda não se conclui peremptoriamente que não se trata de vício formal. Da mesma forma, o segundo critério (motivo/motivação) também apresenta dificuldades de aplicação, porque a descrição da motivação (motivos de fato e de direito), por ser a exteriorização do motivo (da ocorrência do fato gerador), faz com que uma coisa se confunda com a outra, levando o intérprete a vacilar, sem perceber essa correlação intrínseca. Aliás, esse problema da indeterminação e confusão que pode ocorrer na aplicação do segundo critério foi bem divisada pelo Conselheiro Rafael Vidal naquele voto aqui já referido quando enfrentou uma preliminar de conhecimento do recurso especial, nos seguintes termos: É que problemas relativos à motivação podem ser examinados sob dois tipos de abordagem: um deles consiste em examinar se a Fiscalização se desincumbiu do ônus de comprovar a ocorrência do fato gerador (aspecto material); o outro é entender que problemas na motivação (descrição do motivo) afrontariam disposições legais que regulam a feitura do lançamento (aspecto formal). Em face da indeterminação semântica, assentase aqui a premissa que o segundo critério (motivo/motivação) não é um bom caminho para diferenciar vício de natureza formal do vício de natureza material. Daí a necessidade de se fazer o seu desdobramento da seguinte forma , conforme já colocado: 1) vício no motivo > vício material; 2) vício relevante prescrito em lei na motivação, não afetando fato gerador> vício formal (art. 10 do PAF); 3) vício relevante na motivação (afetando o fato gerador)> vício no motivo > vício material. (art. 142 do CTN) Fl. 1081DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.082 26 4) vício na motivação irrelevante ato convalidado (não há nulidade) seja pelo art. 60 2do o PAF ou pelo critério de ausência de prejuízo à defesa (princípio da instrumentalidade das formas). O critério de distinção então deixa de ser o par (motivo/motivação), para ser (motivação relevante que afeta ou não o fato gerador). Bem se vê o esforço de tradução do mesmo para se chegar, apenas indiretamente, na mesma conclusão que pode se chegar pelo outro caminho: critérios legais. Ou seja, esse critério do motivo/motivação cria um grau teórico maior de abstração, talvez desnecessário e complicador, para depois se assentar, ao fim e ao cabo, nos art. 10 do PAF (Vício formal) e 142 do CTN (Vício Material). Daí porque o critério legal (art. 10 do PAF/art. 142 do CTN), é mais objetivo e simples de usar. Alinhavadas essas premissas iniciais, passase a averiguar o caso concreto, a partir dos critérios adotados pela decisão recorrida. O acórdão recorrido adotou a linha de raciocínio que se reflete na utilização tanto do primeiro critério (art. 10 do PAF/art. 142 do CTN) quanto o do segundo (motivo/motivação), com uma certa prevalência do segundo sobre o primeiro, na medida em que se baseou fortemente no posicionamento manifestado pelos ilustres doutrinadores Marcos Vinicius Neder e Maria Tereza Martinez. Eis abaixo o trecho o voto condutor: (...) O limite entre o vicio formal e o vício material é tênue. No presente caso os lançamentos foram motivados, a infração foi adequadamente identificada, há descrição dos fatos e demonstrativo da determinação da exigência, porém este último insuficiente, o que caracteriza o vício formal. Quanto a caracterização de vicio material, transcrevo o posicionamento manifestado pelo Marcos Neder e Maria Tereza Martinez na obra Processo Administrativo Fiscal Comentado, 3a. Edição (2010), pag. 206/207: "A Descrição do Fato Descrição é ato ou efeito de descrever. Descrever é contar, pormenorizadamente, o fato. Por meio da descrição, relevamse os motivos fático e legal que levaram à autuação, estabelecendo a conexão entre os meios de prova coletados e/ou produzidos e a conclusão chegada pela autoridade fiscal. Seu objetivo é convencer o julgador da plausibilidade legal da autuação, demonstrando a relação entre a matéria constatada no auto com a hipótese descrita na norma jurídica. 2 Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio. Fl. 1082DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.083 27 Os enunciados que atendem aos requisitos "III" (descrição dos fatos) e "IV" (disposição legal infringida) do artigo 10 do Decreto n° 70.235/72 formam a motivação do lançamento, que nada mais é que a descrição dos motivos que desencadeiam o surgimento da obrigação tributária em concreto, tornando possível identificar os sujeitos e quantificar o crédito tributário. Assim, a motivação elaborada pelo auditor é requisito de natureza formal do lançamento, enquanto a existência de motivo fático e legal vinculase ao conteúdo do ato. A indicação da disposição legal infringida é elemento essencial à lavratura do auto de infração, porém, a jurisprudência administrativa tem admitido que eventuais incorreções no enquadramento legal no auto de infração podem ser superadas quando descritos com precisão quais os fatos que deram margem à tipificação legal e à autuação. Por outro lado, a errônea compreensão dos fatos ocorridos ou do direito aplicável pelo auditor é vício que dificilmente poderá ser sanado no curso do processo, pois incide no motivo do ato. Não é vício formal na descrição, mas no próprio conteúdo do ato. Não adianta a repetição do lançamento pela autoridade com a finalidade de aproveitamento do ato anterior pela sua convalidação. pois remanesce na nova norma individual e concreta introduzida a mesma anomalia. A correção só poderá ser empreendida por meio da invalidação do lançamento original e a formalização de nova exigência fiscal, se ainda dentro do prazo decadencial. (...) Ressaltese que a lei traz a descrição dos fatos como elemento obrigatório do auto de infração, e, se constar de termo avulso (v.g., folha de continuação do auto de infração), devese fazer referência expressa desse fato no auto de infração. A ausência de correlação entre as duas peças pode levar à alegação de não conhecimento dos motivos da autuação pelo contribuinte e à nulidade do lançamento. No presente caso não há que se falar em "errônea compreensão dos fatos ocorridos ou do direito aplicável pelo auditor", também não se trata de vício na motivação do ato, muito menos há falta de correlação do termo de descrição dos fatos com os demonstrativos de determinação da exigência. Portanto, à luz da legislação, jurisprudência e doutrina, não há que se falar em vício material. O que existe, repito, são insuficiências nos elementos dos demonstrativos para determinação das exigências, anexados aos autos de infração (extratos do Sapli), que neste caso realmente dificultam ou em alguns casos inviabilizam a determinação da base de cálculo. O que para autoridade fiscal seria de simples entendimento, na verdade não é, daí a insuficiência. Porém, assim concluiu o relator: Fl. 1083DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.084 28 Frisese que, tal qual manifestou o ilustre conselheiro Carlos Pelá, compartilho do entendimento de que a ausência ou insuficiência na descrição dos fatos é vício material, pois, fere o núcleo da regra matriz de incidência, implicando em descumprimento do disposto no art. 142 do CTN. Mas repito, não é essa a situação versada nos autos, cuja descrição da infração tributada compensação indevida de prejuízos fiscais no IRPJ e bases negativas de períodos anteriores da CSLL está adequada. Logo, não há que se falar em vício material. Assim, temse que a decisão recorrida, pelo primeiro critério (art. 10 do PAF/ art. 142 do CTN), na prática, disse que a matéria tributável não foi afetada porque a descrição dos fatos relacionados à matéria tributada (art. 142 do CTN) foi adequada, não havendo vício material, mas houve apenas falha na determinação da exigência (art. 10, inciso V do PAF Vício formal): Eis abaixo trecho do recorrido que deixa claro esse aspecto: Todavia, a meu m ver, é patente o vício formal, em razão da inobservância do artigo 10, inciso V, do Decreto 70.235 de 1972, que dispõe: Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente; V a determinação da exigência e a intimação para cumpri la ou impugnála no prazo de trinta dias; (...) Ora, a toda evidência os demonstrativos dos sistemas da Receita Federal de controle de prejuízos fiscais e bases negativas da CSLL, tomados como parte integrante do auto de infração, não possuem notas explicativas suficiente adequadas para esclarecer a origem dos valores. (...) (grifos do original) Porém, como já se colocou retro, a análise da conformidade ao art. 142 do CTN deve ser uma análise de conteúdo e não de forma, motivo pelo qual se discorda desse entendimento. Já pelo segundo critério (motivo/motivação), em resumo, a decisão disse que não há problemas no motivo3 (fato gerador compensação de saldo de prejuízos insuficientes): No presente caso não há que se falar em "errônea compreensão dos fatos ocorridos ou do direito aplicável pelo auditor", também não se trata de vício na motivação do ato, muito menos há falta de correlação do termo de descrição dos fatos com os demonstrativos de determinação da exigência. Portanto, à luz da 3 Na verdade, o relator utilizase da terminologia motivo para se referir à motivação, à luz da doutrina que cita. Isso porque no parágrafo seguinte ele aponta erro em parte da motivação. Fl. 1084DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.085 29 legislação, jurisprudência e doutrina, não há que se falar em vício material. (...) Mas, apesar disso, afirma que a situação poderia ensejar a inviabilização na deteminação da base de cálculo: O que existe, repito, são insuficiências nos elementos dos demonstrativos para determinação das exigências, anexados aos autos de infração (extratos do Sapli), que neste caso realmente dificultam ou em alguns casos inviabilizam a determinação da base de cálculo. O que para autoridade fiscal seria de simples entendimento, na verdade não é, daí a insuficiência. (destacou se) Assim, parece haver uma certa contrariedade de fundamentos na decisão recorrida, motivo pelo qual não acompanho o relator. Feitas essas considerações, no que diz respeito ao lançamento propriamente dito, no que se refere especificamente ao IRPJ, aplicável também à CSLL (efls. 39 a 46) , tem se que, sob o ponto de vista meramente formal, de fato possui todos os requisitos previstos no art. 10 do PAF (I a qualificação do autuado; II o local, a data e a hora da lavratura; III a descrição do fato; IV a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; V a determinação da exigência e a intimação para cumprila ou impugnála no prazo de trinta dias; VI a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula). Assim, não há dúvida, pelo critério 1, que a descrição de fato e a determinação da exigência estão presentes no auto de infração sob o ponto de vista formal do art. 10 do PAF. Também não se vislumbra qualquer problema no procedimento, outro elemento que a doutrina e jurisprudência consideram como parte da forma do lançamento, que implicaria também em vício de natureza formal. Nesse contexto, é improcedente a conclusão chegada pela decisão recorrida de que não foram observados os requisitos previstos no art. 10 do Decreto 70.235/72. Diferentemente do alegado, a "determinação da exigência" (certa ou errada) consta do lançamento conforme tela extraída abaixo: "O sujeito passivo fica intimado a recolher ou impugnar, no prazo de 30 (trinta) dias, (...) o débito (...) acima discriminado (...)”. Fl. 1085DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.086 30 Portanto, não se trata mesmo de vício formal a irregularidade nele observada pela decisão recorrida. Sob o enfoque do art. 142 do CTN, temse que o lançamento (auto de infração) aparentemente contempla todas as exigências ali listadas: verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente; determinar a matéria tributável; calcular o montante do tributo devido; identificar o sujeito passivo; e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. (destacouse) Ocorre que a verificação quanto ao cumprimento dos critérios de que trata esse artigo 142 do CTN deve recair sobre uma análise do conteúdo do lançamento e não da forma. Por conseguinte, se o que se analisa é o conteúdo, chegase à conclusão que eventual vício que pode advir de uma indeterminação de base de cálculo só poderá ser de natureza material. Tanto é assim que, na parte dispositiva, o relator do acórdão recorrido deixa isso transparecer: Por fim, registro que cabe à unidade de origem promover a repetição dos autos, sanando as falhas ora apontadas, no prazo de 5 anos contados da definitividade desta decisão. Outrossim, na formalização de novo lançamento de oficio, a autoridade administrativa deverá também observar eventuais decisões que se tornaram ou vierem a se tornar definitivas após a lavratura dos autos de infração originais, bem como escoimar eventuais erros na determinação da base de cálculo dos autos ora anulado . Conclusão Diante do exposto, voto no sentido: 1) Negar provimento ao recurso de oficio; 2) Quanto ao recurso voluntário, sejam os autos de infração declarados parcialmente nulos, por vício formal, cabendo à unidade de origem realizar novo lançamento dessa parte com observância do art. 173 inciso II do CTN. Portanto, chegase à conclusão pelo primeiro critério, tanto o do art. 10 do PAF quanto pelo art. 142 do CTN, que se está mesmo diante de um vício de natureza material. Fl. 1086DF CARF MF Processo nº 16327.001355/200839 Acórdão n.º 9101003.038 CSRFT1 Fl. 1.087 31 Por conseguinte, não se tratando, no caso, de vício formal,— como entendeu a decisão recorrida, não é possível o reinício do prazo para novo lançamento na forma do art. 173, inciso II, do CTN. Do exposto, voto por conhecer do recurso especial do sujeito passivo para darlhe provimento. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Fl. 1087DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10925.001519/2006-31
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Aug 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Sep 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2001
CONSULTA. EFICÁCIA. LEGISLAÇÃO REVOGADA. ATIVIDADE RURAL.
A solução de consulta perde a eficácia quando há revogação das normas que a fundamentam.
ATIVIDADE RURAL. DESCARACTERIZAÇÃO. LEI 8.023/1990, ART. 2º, INCISOS IV E V. ABATE. VINICULTURA. SUINOCULTURA. TRANSFORMAÇÃO NA ÁREA RURAL EXPLORADA.
O abate de aves e suínos descaracteriza a atividade rural, por não se tipificar como avicultura e suinocultura, regidas pelo inciso IV, do artigo 2º, da Lei nº 8.023/1990
Nos termos do inciso V, do artigo 2º, da Lei nº 8.023/1990, a transformação de produtos agrícolas e pecuários apenas se ajusta ao conceito de atividade rural se a produção ocorrer na área rural explorada. É irrelevante a utilização de equipamentos de alta tecnologia.
Numero da decisão: 9101-003.012
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial. No mérito, (i) por unanimidade de votos, acordam em negar provimento ao recurso quanto ao tema efeitos de consulta; e (ii) por maioria de votos, em negar-lhe provimento quanto ao tema descaracterização da atividade rural, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Neste tema, votou pelas conclusões a conselheira Adriana Gomes Rego. Nos termos do Art. 58, §5º, Anexo II do RICARF, o conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto não votou quanto ao conhecimento do recurso, nem quanto ao mérito no tema efeitos de consulta, por se tratar de questões já votadas pelo conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão na sessão anterior. Julgamento iniciado na reunião de 07/2017 e concluído em 09/08/2017,
(assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente
(assinado digitalmente)
Cristiane Silva Costa - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: CRISTIANE SILVA COSTA
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 32; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1996; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => CSRFT1 Fl. 1.866 1 1.865 CSRFT1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 10925.001519/200631 Recurso nº Especial do Contribuinte Acórdão nº 9101003.012 – 1ª Turma Sessão de 09 de agosto de 2017 Matéria IRPJ Recorrente SADIA S/A Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2001 CONSULTA. EFICÁCIA. LEGISLAÇÃO REVOGADA. ATIVIDADE RURAL. A solução de consulta perde a eficácia quando há revogação das normas que a fundamentam. ATIVIDADE RURAL. DESCARACTERIZAÇÃO. LEI 8.023/1990, ART. 2º, INCISOS IV E V. ABATE. VINICULTURA. SUINOCULTURA. TRANSFORMAÇÃO NA ÁREA RURAL EXPLORADA. O abate de aves e suínos descaracteriza a atividade rural, por não se tipificar como avicultura e suinocultura, regidas pelo inciso IV, do artigo 2º, da Lei nº 8.023/1990 Nos termos do inciso V, do artigo 2º, da Lei nº 8.023/1990, a transformação de produtos agrícolas e pecuários apenas se ajusta ao conceito de atividade rural se a produção ocorrer na área rural explorada. É irrelevante a utilização de equipamentos de alta tecnologia. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial. No mérito, (i) por unanimidade de votos, acordam em negar provimento ao recurso quanto ao tema efeitos de consulta; e (ii) por maioria de votos, em negarlhe provimento quanto ao tema descaracterização da atividade rural, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Neste tema, votou pelas conclusões a conselheira Adriana Gomes Rego. Nos termos do Art. 58, §5º, Anexo II do RICARF, o conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto não votou quanto ao conhecimento do recurso, nem quanto ao mérito no tema efeitos de consulta, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 5. 00 15 19 /2 00 6- 31 Fl. 1866DF CARF MF 2 por se tratar de questões já votadas pelo conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão na sessão anterior. Julgamento iniciado na reunião de 07/2017 e concluído em 09/08/2017, (assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório Tratase de processo originado por Autos de Infração de IRPJ e CSLL quanto ao anocalendário de 2001, por indevidas (i) exclusões do lucro líquido (JCP), (ii) exclusões a título de depreciação incentivada de "bens não empregados na atividade rural", (iii) adições de juros recebido em razão de mútuo com pessoa jurídica vinculada no exterior, com a imposição de multa de ofício de 75% (FLS. 7/21). Consta no Relatório de Atividade Fiscal (fls. 22/49). Regularmente intimada através da intimação n° 333, de 05/08/2005 (fls. 221 a 257), a empresa fiscalizada descreveu a cadeia produtiva das aves e suínos desde sua origem até a saída dos produtos de seus estabelecimentos. A cadeia produtiva iniciase com aquisição de produtos agrícolas, sendo basicamente soja e milho que são transformados em ração em fábricas próprias (fls. 226 a 236). Ração esta que serve de alimento para aves e suínos desde o início até a faze de terminação (apronte para o abate). A criação de aves é feita através de parcerias firmadas com produtores rurais os quais participam com a infraestrutura, ou seja, instalações, água, mãodeobra, energia elétrica, aquecimento e serviço, e a empresa participa com o fornecimento dos pintos de um dia, rações, medicamentos, vacinas, transporte, demais insumos necessários à criação, e assistência técnica (fls. 240). O fornecimento dos insumos pela empresa fiscalizada é feito através de transferências (não representa operação de compra e venda) de seus estabelecimentos para os produtores rurais. Quando o lote está pronto para abate a parte das aves que cabe à empresa fiscalizada é transferida (não representa operação de compra e Fl. 1867DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.867 3 venda) do produtor rural para os estabelecimentos industriais da empresa fiscalizada. A parte que cabe ao produtor rural (na parceria, parte do resultado cabe à empresa e parte ao parceiro) é comprada pela empresa fiscalizada (fls. 240 a 241). A criação de suínos também é feita através de parcerias onde produtores rurais participam com a infraestrutura (instalações e serviço) e a empresa participa com o fornecimento dos leitões, ração e demais insumos necessários à criação (fls. 249 a 250). Para criação de suínos a empresa fiscalizada utilizase ainda da modalidade de integração, que consiste na venda pela empresa fiscalizada das matrizes e reprodutores, ração e demais insumos para produtores rurais que produzem leitões para recria (fls. 248 e 249) que posteriormente são comprados pela empresa fiscalizada e alojados em propriedades de outros produtores rurais no sistema de parceria, que farão a recria (engorda) até atingirem o peso ideal para o abate. De acordo com documentos apresentados em atendimento às diversas intimações, a empresa fiscalizada demonstra que a receita que aufere é essencialmente decorrente da venda no mercado interno e exportação de produtos que tem origem no fulcro de sua atividade, que consiste no abate de animais de pequeno porte (aves e suínos), realizada através de procedimentos industriais, utilizandose de maquinaria atípica em relação àquela usualmente utilizável na atividade rural. Conforme documentos às folhas 221 a 257, apresentados em resposta à intimação n° 333 constatase que a empresa fiscalizada dá saída de seus estabelecimentos de diversos produtos industrializados dentre eles frango e peru embalados e congelados, cortes de frango e peru embalados e congelados, perus e frangos temperados e cortes de suínos (fls. 245, 246, 256 e 257). Além dos produtos relacionados, a empresa fiscalizada produz e vende uma gama de produtos mais elaborados tais como salsichas, mortadelas, salames, presuntos, pizzas, margarinas dentre outros (fls. 364, 373, 382, 391, 402 e 411 DIPJ Ficha 28). A empresa fiscalizada considera da atividade rural as receitas decorrentes da venda no mercado interno e exportação dos produtos in natura, aves e cortes de aves e suínos e cortes de suínos congelados ou resfriados mesmo temperados (fls. 245 e 256). Para a tipificação legal da atividade rural inicialmente importa reproduzir o artigo 58 do vigente Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99) (...) Da inteligência do dispositivo legal retro citado constatase de pronto que são consideradas como rurais, pela legislação tributária, aquelas atividades tipicamente primárias, encontrandose nelas inseridas a transformação dos produtos delas decorrentes, única e exclusivamente sem que sejam alteradas a composição e as características do produto natural e quando feita pelo próprio agricultor ou criador, com Fl. 1868DF CARF MF 4 equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais. Com o advento da Lei n° 8.023/90, houve a eliminação de incentivos anteriormente concedidos àqueles que se utilizaram de procedimentos não artesanais, mas industriais. (...) A empresa fiscalizada utiliza os sistemas de parceria e integração, conceitos estes já relatados por esta fiscalização em parágrafos anteriores, com aplicação intensiva de capital em sistemas e equipamentos não usuais ao produtor rural, conforme observase nas fotografias ás folhas 246 e 257 e resposta à intimação n° 320 ás folhas 192 a 220. As fotos revelam a utilização de máquinas e equipamentos tipicamente industriais e os documentos de folhas 196 a 220 representam os comprovantes de aquisição e instalação de algumas das referidas máquinas e equipamentos. (...) A criação de animais que levam o sufixo "cultura" não implicam, necessariamente o abate destes. Logo a exploração da avicultura e suinocultura, termos estes constantes das atividades consideradas rurais, conforme inciso IV do artigo 2° da Lei 8.023/90, não pressupõe abate pelo criador, muito menos em escala industrial. Os termos avicultura e suinocultura não são sinônimos de abate. (...) A utilização de equipamentos e utensílios não usualmente empregados pelos produtores rurais, contraria o disposto no inciso V do artigo 2° da Lei n° 8.023/90 com redação do artigo 17 da Lei n° 9.250/95. No presente caso a atividade rural é desenvolvida pelos integrados e parceiros da empresa fiscalizada. Estes sim possuem atividade rural ao explorar a avicultura e suinocultura obtendo sua receita da comercialização da parte da produção que lhes cabe. Porém, esta fiscalização constatou através das respostas às intimações (fls. 226 a 257) que a receita da empresa fiscalizada que deriva da atividade rural resumese ás vendas das matrizes e dos reprodutores suínos aos produtores integrados, pois, estes animais são oriundos de granjas de propriedade da empresa fiscalizada e sua criação está inserida no conceito de suinocultura, atividade esta considerada rural conforme disposto no inciso IV do art. 58 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99), aprovado pelo Decreto n° 3.000/99. Desta forma, com exceção da suinocultura praticada em relação às matrizes e reprodutores suínos que são vendidos aos produtores integrados, a atividade desempenhada pela empresa fiscalizada não se subsume no inciso IV do artigo 2° da Lei n° 8.023/90 uma vez que esta atividade não pode ter cunho industrial, o que se reforça com o disposto no inciso V do mesmo artigo ao tratar dos utensílios usualmente empregados nas atividades rurais. Em relação à matériaprima, esta fiscalização observou que também não ocorre a situação descrita no inciso V do artigo 2° da Lei n° 8.023/90, vez que o abate ocorre em local diverso da área rural de onde se produz a matériaprima, que são as aves e suínos vivos, os quais são transportados até os complexos Fl. 1869DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.868 5 industriais da empresa, geralmente instalados em centros urbanos. (...) Verificase que a empresa fiscalizada teve como objeto social deste o ano de 1995 até o encerramento do período fiscalizado a exploração da atividade de abate de animais (aves e suínos) e preparação de carnes. Destarte os complementos ao objeto social, realizados no ano de 2000, a maioria dos ramos acrescidos não representa operações de exploração da atividade rural. Constatase que até o anocalendário 2000 a empresa não se declarou exploradora da atividade rural, passando a se declarar exploradora da atividade rural a partir do ano de 2001, período posterior à incorporação da empresa Sadia S/A (CNPJ 03.906.591/000159), conforme consulta às declarações do imposto de renda pessoa jurídica (DIPJ) às folhas 327. O contribuinte apresentou impugnação administrativa (fls. 565/593), que foi julgada improcedente pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Florianópolis (fls. 616/643, volume 3): ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2001 ATIVIDADE RURAL. DESCARACTERIZAÇÃO. O uso de equipamentos e utensílios que contrastam com aqueles usualmente empregados nas atividades rurais descaracteriza a atividade de transformação de produtos decorrentes da atividade rural, para efeitos do imposto de renda pessoa jurídica, inclusive depreciação, devendo o registro das receitas correspondentes constar como da atividade geral. MÚTUO COM PESSOA VINCULADA NO EXTERIOR. RECEBIMENTO DE JUROS. A pessoa jurídica mutuante domiciliada no Brasil deverá reconhecer como receita financeira correspondente à operação relativa ao recebimento de juros de pessoa vinculada, quando decorrentes de contrato não registrado no Banco Central do Brasil, no mínimo o valor calculado com base na taxa Libor, para depósitos em dólares dos Estados Unidos da América pelo prazo de seis meses, acrescida de três por cento anuais a título de spread, proporcionalizados em função do período a que se referirem os juros. JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO. TRIBUTAÇÃO. A pessoa jurídica tributada com base no lucro real, beneficiária de juros sobre o capital próprio, deverá computar esse valor no resultado tributável, como receita auferida, podendo deduzir o imposto de renda retido na fonte, que sobre ele incidiu. Fl. 1870DF CARF MF 6 ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2001 SOLUÇÃO DE CONSULTA. EFEITOS. A solução de consulta, certa ou errada, vincula a Administração em relação à consulente. Entretanto, se a legislação que amparou a solução de consulta é supervenientemente alterada ou revogada, a orientação administrativa perde sua eficácia, mormente quando são estabelecidas novas definições pela legislação de regência. TRIBUTAÇÃO REFLEXA Sempre que o fato se enquadrar ao mesmo tempo na hipótese de incidência de mais de um tributo ou contribuição, as conclusões quanto a ele aplicarseão igualmente no julgamento de todas as exações. Lançamento procedente. O contribuinte apresentou recurso voluntário (fls. 649/685 pdf 242, volume 3), ao qual foi negado provimento 2ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da Primeira Seção deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (fls. 1.505/1.537, volume 3), em acórdão assim ementado: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2001 Ementa: ATIVIDADE RURAL. DESCARACTERIZAÇÃO.O uso de equipamentos e utensílios que contrastam com aqueles usualmente empregados nas atividades rurais descaracteriza a atividade de transformação de produtos decorrentes da atividade rural, para efeitos do imposto de renda pessoa jurídica, inclusive depreciação, devendo o registro das receitas correspondentes constar como da atividade geral. REMUNERAÇÃO RECEBIDA À TÍTULO DE JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO A pessoa jurídica, beneficiária de juros sobre o capital próprio, deverá computar o valor recebido à titulo de juros sobre capital próprio na sua determinação do lucro real. JUROS RECEBIDOS RELATIVOS A EMPRÉSTIMOS COM CONTROLADAS NO EXTERIOR. A pessoa jurídica mutuante domiciliada no Brasil deverá reconhecer como receita de juros correspondente à contrato de mútuo celebrado com pessoa vinculada, residente no exterior, e não registrado no Banco Central do Brasil, no mínimo o valor calculado com base na taxa Libor, para depósitos em dólares dos Estados Unidos da América pelo prazo de seis meses, acrescida de três por cento, por ano, proporcionalizados em função do período a que se referirem os juros. Fl. 1871DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.869 7 CSLL TRIBUTAÇÃO REFLEXA Aplicase à exigência da CSLL, por estar expresso na legislação a sua aplicação a ela também. SOLUÇÃO DE CONSULTA. EFEITOS.A solução de consulta, certa ou errada, vincula a Administração em relação consulente. Entretanto, se a legislação que amparou a solução de consulta é supervenientemente alterada ou revogada, a orientação administrativa perde sua eficácia, mormente quando são estabelecidas novas definições pela legislação de regência. O contribuinte foi intimado em 31/01/2012 (fls. 1.537, volume 3), interpondo recurso especial em 14/02/2012, alegando, em síntese, alegando divergência na interpretação da lei tributária a respeito dos seguintes temas (fls. 1554/1606): (i) efeito vinculativo da Solução de Consulta Fiscal (processo 13983.00036/8932), apontando como paradigma os acórdãos (i.1) nº 101 94.191 (Processo Administrativo nº 11065.001117/0091), no qual se decidiu que: "a resposta à consulta, certa ou errada, vincula a administração até que seja alterada"; (i.2) nº 20303.174, constando desta decisão que "é nulo o Auto de Infração que exige crédito tributário contrariando decisão definitiva de processo de consulta formulado pela autuada, se que tenha havido prévia revogação dessa decisão pela autoridade administrativa competente". O Recorrente ainda identifica como paradigmas os acórdãos 10193.302, 3101 00415 e CSRF 03/03.333. (ii) Juros Sobre Capital Próprio serem dedutíveis, indicando como paradigmas os acórdãos (ii.1) 1401000.401, do qual se extrai: "Os dividendos, juros sobre capital próprio, juros pagos a terceiros, nada mais são que recursos utilizados para remuneração dos investidores, sendo que ambos possuem a mesma natureza contraprestação do investimento realizado seja o investimento em passivo exigível ou em patrimônio líquido da empresa investida." e (ii.2) CSRF / 01.015, no qual se decidiu: "São indedutíveis da base de cálculo da CSL os juros sobre o capital próprio durante todo ano calendário de 1996". (iii) comprovação da atividade rural, mencionando como acórdãos paradigmas os acórdãos (iii.1) 140200.271, do qual se extrai: "A lei prevê como condição para caracterizar a atividade como rural, a transformação de produtos, feita pelo próprio produtor, sem que haja alteração da composição e das características do produto in natura, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada. O emprego de equipamentos de alta tecnologia, não é vedado pela lei 8.023/1990" e (iii.2) 10179.258, no qual consta que "Empresa rural, avicultora, com abate, resfriamento e embalagens de aves de sua produção, para colocação do produto "in natura" no mercado goza do direito à tributação por alíquota reduzida e quando, além dessas atividades rurais, explora outras de natureza diversa, se sujeita, quanto aos resultados das atividades diversificadas, à tributação normal". Fl. 1872DF CARF MF 8 (iv) O benefício da depreciação acelerada, indicandose como paradigma o acórdão 10194.191, do qual se destaca: "afastada a descaracterização da atividade rural, legítima a depreciação acelerada incentivada" (v) O reconhecimento como receita de juros recebidos quanto a empréstimos para controlada no exterior, matéria tratada no seguinte acórdão identificado como paradigma: 101.97.072. O recurso especial foi parcialmente admitido pelo Presidente da 2ª Câmara da Primeira Seção deste Conselho (Conselheiro Rafael Vidal de Araújo), conforme razões a seguir reproduzidas (fls. 1.214/1.221): Para os efeitos de solução de consulta, a recorrente alega que, ao deixar de aplicar entendimento dado em solução de consulta formulada por sua incorporada, além de contrariar entendimento dado pelo Supremo Tribunal Federal, a decisão divergiu de entendimentos dados no Acórdão no 10194.191 do (extinto) Primeiro Conselho de Contribuintes (fls. 742/759), no Acórdão no 20303.174 da Terceira Câmara do (extinto) Segundo Conselho de Contribuintes (fls. 767/779), no Acórdão no 10193.302 da Primeira Câmara do (extinto) Primeiro Conselho de Contribuintes (fls. 780/793); no Acórdão n° 3101 00.415 da 1a Câmara/ 1a Turma Ordinária (fls. 794/803); e no Acórdão CSRF/0303.333 (fls. 760/766; fls. 805/821). Considerando que a recorrente mencionou mais de dois acórdãos que poderiam servir de paradigma para essa matéria sem indicar ordem de preferência, impõese analisar os requisitos para a demonstração de divergência apenas para os dois primeiros citados, ou seja, o Acórdão no 10194.191 do (extinto) Primeiro Conselho de Contribuintes e o Acórdão no 20303.174 da Terceira Câmara do (extinto) Segundo Conselho de Contribuintes (art. 67, §§4o e 5o , do Anexo II do RICARF). (...) Ao confrontar esses trechos com a ementa do recorrido, verificouse que em ambos entendeuse que a solução de consulta, certa ou errada, vincula a administração até que seja alterada. No caso da recorrente, ressalvouse que se a legislação que amparou a solução de consulta é supervenientemente alterada ou revogada, a orientação administrativa perde sua eficácia, mormente quando são estabelecidas novas definições pela legislação de regência. Já no paradigma, apontase a inexistência de alteração legal que justificasse o desenquadramento de atividades como sendo atividades rurais para fins de tributação (...) Concluise, portanto, que o ponto central da controvérsia, qual seja, se o conceito de atividade rural deveria ser o de solução de consulta dada antes da Lei n° 8.023/90, foi decidido de forma antagônica: no paradigma, considerouse que a conceituação de atividade legal dada por essa lei era menos restritiva; no recorrido, considerouse que essa lei teria trazido uma qualificação legal de atividades em relação ao conceito de "transformação", e que não poderia ser considerada menos restritiva. Fl. 1873DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.870 9 Para o segundo acórdão mencionado (Acórdão no 20303.174), a recorrente reproduziu parte da ementa e juntou cópia extraída de publicação não identificada, o que impede sua adoção como paradigma (art. 67, §§7o a 9o do Anexo II do RICARF). Uma vez que a recorrente demonstrou a divergência de entendimentos entre recorrido e um dos paradigmas para a matéria relativa aos efeitos da consulta sobre conceito de atividade rural, consideramse satisfeitos os requisitos para sua admissibilidade no que tange a essa matéria. Para a inclusão no lucro real de remuneração recebida a título de JCP, a recorrente alega que esses valores não poderiam ser adicionados ao lucro líquido para apuração da CSLL e muito menos para efeito de apuração do lucro real (IRPJ) porque sua natureza decorre da existência de lucros e lucros não podem gerar pagamentos de lucros, apenas dividendos. (...) Para demonstrar a divergência de entendimentos para essa matéria, foram indicados o Acórdão no 1401000.401, do qual foi reproduzida integralmente a ementa e apresentada sua cópia extraída do Diário Oficial da União divulgada pela internet (fl. 823), e o Acórdão CSRF/01 05.015, do qual foram juntadas cópias obtidas de fontes não identificáveis (fls. 812/812 e 829/840), reproduzido o inteiro teor da ementa e apresentada cópia obtida em consulta a site do Carf na internet (fl. 842) (art. 67, §§ 7º a 9º , do Anexo II do RICARF). (...) Examinando a ementa do Acórdão no 1401000.401, verificase que o entendimento manifestado não foi o defendido pela recorrente, uma vez que considera que os JCP recebidos devem ser computados na base de cálculo do IRPJ pelo lucro presumido. (...) No caso do segundo paradigma, o Acórdão CSRF/01 05.015, constatouse que foi interpretada regra aplicável ao tratamento a ser dado para a CSLL em relação a JCP pagos por pessoa jurídica tributada pelo lucro real, e não a regra que versava sobre tratamento a ser dado a JCP recebidos por pessoa jurídica que adota o lucro real, como foi o caso da recorrente. Assim sendo, concluise que a recorrente não demonstrou a divergência de entendimentos alegada para essa matéria por meio dos dois paradigmas que indicou. Para a matéria relativa à descaracterização do exercício de atividade rural; a recorrente defende que suas atividades, de avicultura e suinocultura, não deixam de estar abrangidas no conceito de atividade rural pelo fato de usar de equipamentos e maquinários de alta tecnologia nas fases de abate, congelamento, resfriamento, embalagem e tempero. Para ela, a decisão recorrida teria criado critério não previsto no art. 2º, V, da Lei n° 8.023/90, restringindo indevidamente o conceito de atividade rural, impedindoa de usufruir dos benefícios previstos para essas atividades. Além disso, a condição desse art. 2o , V, da Lei n° 8.023/90, de que a transformação sofrida pelo produto Fl. 1874DF CARF MF 10 não pode descaracterizar sua condição in natura, seria atendida por ela, pois seus produtos (aves e suínos) não sofrem qualquer alteração de sua condição in natura durante o processo de abate, resfriamento, congelamento, tempero ou embalagem. (...) O entendimento de que seus processos não desvirtuam a natureza de sua atividade e que esse tipo de restrição não está contemplada na Lei no 8.023/90 seria divergente daquele adotado no Acórdão no 140200.271, do qual reproduziu inteiro teor de sua ementa e apresentou cópia de seu inteiro teor (fls. 850/859) (...) Como no paradigma entendeuse que o uso de equipamentos e máquinas de alta tecnologia não é fator impeditivo ao enquadramento da atividade agropecuária no conceito de atividade rural do art. 2o, V, da Lei n° 8.023/90, concluise que a divergência de entendimentos foi demonstrada para esse ponto por meio desse paradigma. Para essa matéria foi mencionado o Acórdão no 10179.258, com vistas a demonstrar divergência de entendimentos quanto à inclusão dos produtos da recorrente no campo de incidência do IPI pelo art. 14 da Lei n.° 9.493/97. Entretanto, esse acórdão não pode ser analisado para fins de demonstração de divergência pois sua ementa foi reproduzida parcialmente e não foi juntada cópia de inteiro teor do acórdão ou da ementa (art. 67, §§ 7o a 9o , do Anexo II do RICARF). Ao iniciar sua exposição sobre a possibilidade de utilização da depreciação acelerada incentivada, a recorrente voltou a mencionar o paradigma da matéria relativa ao efeito de solução de consulta, o Acórdão no 10194.191, do qual reproduziu pequeno trecho da ementa(...) Concluiuse que a menção a esse acórdão não teve o intuito de indicálo para servir de paradigma para o tema tratado no tópico em que discursa sobre a possibilidade de utilização do benefício da depreciação acelerada e à inobservância subsidiária da depreciação normal, pois não há qualquer vinculação entre essa ementa e a exposição desses temas. Não tendo sido citado nenhum outro acórdão, concluise que não há demonstração de divergência para esses pontos (art. 67, §§4o e 6o , do Anexo II do RICARF). Para o reconhecimento como receita de juros recebidos relativos a empréstimos para controlada no exterior, a recorrente argumenta, em síntese, que o art. 22 da Lei n° 9.430, de1996, seria aplicável quando há dúvidas sobre a operação de mútuo, uma vez que serviria de limitador, para evitar evasão disfarçada de divisas e eventual sonegação fiscal. Esse não seria o seu caso, pois teria demonstrado, atestado e justificado as razões de ter contratado mútuo com coligada no exterior a taxa de juros menor do que a prevista nesse dispositivo de lei. Na sua opinião, ela não poderia ser penalizada por tal pratica, pois teria otimizado o resultado das coligadas, trazendo benefícios para as partes envolvidas, mas também para o Fisco, por meio de aumento de arrecadação. Fl. 1875DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.871 11 Encerrada sua argumentação sem que tenha citado acórdão para servir de paradigma, a recorrente reproduziu ementa do Acórdão no 10197.072, porém deixou de indicar ponto (tampouco foi possível identificar) em que teria sido manifestado entendimento divergente do aplicado no seu caso. Por não ter feito menção a acórdão que serviria de paradigma tampouco indicado ponto na ementa que reproduziu que fosse divergente de ponto específico no acórdão recorrido, concluise que a contribuinte não demonstrou divergência de entendimentos para essa matéria (art. 67, §3o, do Anexo II do RICARF). Temse, em síntese, foram demonstradas divergências de entendimentos para as matérias correlatas ao efeito de solução de consulta que tratou de conceituação de atividade rural e à descaracterização do exercício de atividade rural, mas não para as matérias correlatas à inclusão no lucro real de remuneração recebida a título de juros sobre capital próprio (JCP), à possibilidade de utilização do benefício da depreciação acelerada e à inobservância subsidiária da depreciação normal, à necessidade de reconhecer como receita juros recebidos relativos a empréstimos para controlada no exterior. (...) Atendidos os pressupostos de tempestividade e legitimidade, e tendo a recorrente comprovado a divergência jurisprudencial para parte de suas teses, quais sejam, as relativas ao efeito de solução de consulta que tratou de conceituação de atividade rural e à descaracterização do exercício de atividade rural, DOU SEGUIMENTO PARCIAL ao recurso especial (arts. 67 e 68 do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 256, de 22/06/2009, RICARF). O Presidente da CSRF confirmou a decisão da Presidente de Câmara, negando seguimento parcialmente ao recurso especial, conforme decisão proferida em 01/07/2015 (fls. 1.832/1.833). O contribuinte foi intimado em 30/03/2016 quanto às decisões que não conheceram, em parte, do seu recurso especial. A Procuradoria foi intimada para contrarrazões em 02/06/2016 (fls. 1.225), apresentando suas razões em 28/004/2016 (fls. 1860/1864), em síntese, alegando: (i) ausência de similitude fática quanto aos efeitos da solução de consulta, eis que o paradigma menciona que "a solução de consulta deve ser observada até que seja alterada, com a ressalva expressa de que não tenha 'havido alteração legal que justifique o desenquadramento'" (trecho do recurso especial); (ii) no mérito, sustenta que a solução de consulta perdeu eficácia com a legislação posterior (Lei nº 8.023/1990 e Lei nº 9.493, de 1997). Além disso, que a consulta trataria de processamento de aves, não abrangendo, assim, a produção de cortes suínos; (iii) a Lei nº 9.493/1997, em seu artigo 14, definiria que carnes e suínos seriam produtos industrializados e, assim, a atividade desenvolvida pelo contribuinte não seria rural. Acrescenta que a alta tecnologia empregada Fl. 1876DF CARF MF 12 impede se vislumbre natureza rural na atividade desenvolvida pelo Recorrente. É o relatório. Voto Conselheira Cristiane Silva Costa, Relatora O recurso especial do contribuinte é tempestivo e foi admitido pelo Presidente da Câmara quanto a dois temas: (i) efeitos de solução de consulta, matéria que foi admitida quanto ao primeiro acórdão paradigma indicado: nº 10194.191. O segundo paradigma deste tema (20303.174) não foi admitido porque pelo Presidente da Câmara “a recorrente reproduziu parte da ementa e juntou cópia extraída de publicação não identificada”; (ii) descaracterização do exercício de atividade rural, com relação ao primeiro paradigma do recurso especial (140200.271), não sendo admitido o segundo paradigma 10179.258, por falta de reprodução integral da ementa ou cópia do inteiro teor do acórdão. Passo à análise da divergência na interpretação da lei tributária com relação às matérias acima citadas, notadamente considerando que a Procuradoria alega ausência de similitude fática quanto ao primeiro paradigma admitido. Conhecimento: similitude fática 1) Efeitos da solução de consulta: Consta da ementa do acórdão recorrido a respeito do efeito de solução de consulta: SOLUÇÃO DE CONSULTA. EFEITOS.A solução de consulta, certa ou errada, vincula a Administração em relação consulente. Entretanto, se a legislação que amparou a solução de consulta é supervenientemente alterada ou revogada, a orientação administrativa perde sua eficácia, mormente quando são estabelecidas novas definições pela legislação de regência. Destaco trecho do voto vencido da exConselheira Nereida de Miranda Finamore Horta, ao julgar o tema trazido ao Colegiado: Em preliminar, requer a recorrente que seja reformado o Acórdão da DRJ e considerado nulo o lançamento de oficio, tendo em vista há uma solução de consulta expedida em 1989 que embasa o seu procedimento para apuração do cálculo do IRPJ e da CSLL. Concordo com o esclarecimento feito pela DRJ, que o exame dessa questão requer a apreciação dos efeitos da Fl. 1877DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.872 13 consulta, portanto, mister verificar se ha alteração legislativa e se, considerando a alteração, ainda abarca os fatos descritos pela autoridade fiscalizadora. Na análise desse item, temos que a solução da consulta foi expedida em 1989, quando a tributação das atividades rurais era tratada pelos Decretosleis n° 902/69 e n° 1.382/74, que dispunham: (...) Também temos o Parecer Normativo CST no 860/1986 que dispõe sobre a matéria, como cita a solução de consulta, que referendou a Decisão n° 77/86 da DIVTRI 9a R.F., o qual conclui que o simples abate de aves de sua produção própria ou em parceria, para venda, não configura transformação de seus produtbs ou subprodutos. A nova legislação, que é a Lei n° 8023/1990, com nova redação dada pela Lei no 9.250, de 1995 (transcrito no artigo 58 do RIR/99), em seu artigo 2° (transcrito no artigo 58 do RIR/99), considera como atividade rural, in verbis: (...) No caso concreto, temos que: na Solução de Consulta da recorrente, a administração pública esclarece, de inicio, que o processo da consulente tem o resfriamento, congelamento, despostejamento, corte e embalagem das aves abatidas. Conclui a administração que: "a atividade de abate de aves de sua produção, seu resfriamento e embalagem, objetivando a colocação do produto 'in natura' no mercado, pagará o imposto de renda A. aliquota de 6% sobre os lucros decorrentes desta atividade rural, cabendo o destaque contábil das operações quando, paralelamente, o contribuinte executa outras atividades não beneficiadas com a aliquota reduzida, devendo demonstrar no LALUR (Livro de Apuração do LucroReal), separadamente por aliquota de tributação..." a Instrução Normativa do SRF no 2/1997, foi revogada, e a atual Instrução Normativa do SRF n° 740/2007, dispõe da mesma forma a mesma orientação em seu artigo 14, § 6'; a relação de parceria da recorrente com os seus integrados, abarca o conceito de sua produção ou produção própria, tendo em vista que o integrado segue e tem que seguir todo o processo estipulado por ela (recorrente), mas realizado com seus integrados ou parceiros. Dessa forma, como a lei anterior era mais restrita e a atual mais abrangente, nos mesmos termos da transcrição do voto feita anteriormente, a Solução de Consulta da recorrente também foi acolhida pela nova legislação, que é mais abrangente. (...) Em face do exposto, dou provimento em parte ao Recurso Voluntário, considerando a Solução de Consulta eficaz à recorrente, bem como considerando como sendo de atividade rural as atividades da recorrente relacionadas As aves e aos suínos, as quais fazem jus ao beneficio de depreciação acelerada incentivada, segundo dispõe o artigo 314 do RIR/99. O voto vencedor, neste ponto, foi elaborado pelo exConselheiro Flavio Vilela Campos, verbis: Fl. 1878DF CARF MF 14 Há que se asseverar, de plano, que a consulta formulada só produz efeitos sobre o consulente, bem como sobre os fatos e objeto detalhadamente descritos e com a indicação de todas as informações e dispositivos necessários à elucidação da matéria. Na situação sobre análise, a consulta fiscal foi apresentada pela sucedida por incorporação (Sadia S/A Indústria e Comércio), formalizada em 26/04/1989, sob a descrição de que desenvolvia o "abate exclusivamente das aves produzidas em suas granjas e em parceria, ou seja, totalmente de produção própria" e o "resfriamento, congelamento, despojamento, corte e embalagem das aves abatidas". A legislação em que se embasou a solução expedida em 1989, DecretosLeis n° 902/69 e 1.382/74 foram posteriormente revogados, passando o conceito da atividade rural para fins de incidência do Imposto de Renda a ser disciplinado quando do fato gerador objeto do lançamento pela Lei 8.023/90. Da mesma forma, em 1997 a Lei 9.493 introduziu as carnes em geral, frescas, refrigeradas ou congeladas no campo de incidência do IPI, o que deixou claro passar referidos produtos por processo de industrialização, modificando os fundamentos da solução de consulta apresentada. Além disso, a consulta foi feita em relação ao processamento de aves, ou seja, não alcança a produção de cortes de suínos que também é objeto da atividade da recorrente e do presente lançamento. Desse modo, a solução de consulta invocada pela impugnante perdeu sua eficácia, por ter sido produzida anteriormente a esse novo ordenamento legal, que modificou a qualificação das atividades beneficiadas pelo incentivo fiscal e prescrevendo várias condicionantes para o enquadramento na atividade rural. O acórdão paradigma sobre este tema (nº 10194.191) trata do seguinte contexto fático, reproduzindo alegações da então Impugnante: Tempestivamente, a empresa impugnou a exigência alegando, em síntese: Quanto à descaraterização da atividade rural: Esclarece que formulou consulta pelo Processo 13053.000034/8728, cuja resposta (Decisão 078, de 15/07/1987) foi no sentido de que sua atividade é rural, e não industrial. Afirma que prossegue nas mesmas atividades, que as alterações legislativas havidas após a decisão mencionada não modificaram o conteúdo e o alcance dos institutos, conceitos e formas de direito privado. Acrescenta que o conceito de avicultura, modernamente, abrangeria inclusive a criação de aves para obtenção de carne, através do abate, justamente a atividade por ela exercida, estando alcançada pelo inciso IV do art. 2° da Lei n° 8.023/90, e não poderia ser afastada da atividade rural por falta de subsunção ao inciso V do mesmo art. 2°, que só alcança as atividades agrícolas e pecuárias. Diz ser absurda a posição dos fiscais, inspirados na IN 17/96, no sentido de que somente o abate em pequena escala e de forma artesanal, Fl. 1879DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.873 15 sem utilização de máquinas, equipamentos e utensílios industriais de elevado nível tecnológico poderia estar compreendido nas atividades rurais. Analisando este contexto fático, decidiu a Turma Julgadora no acórdão paradigma (10194.191): O exame dessa questão reclama, como preliminar, a apreciação dos efeitos da consulta formulada pela empresa no Processo 13053.00003418728, cuja solução (Decisão 078, de 15/07/1987), foi no sentido de que sua atividade é rural, e não industrial. Para isso é necessário averiguar se houve alteração legislativa de maneira a que a decisão não mais abrigasse a nova situação de direito. No ano da consulta (1987) a tributação das atividades rurais era regida pelos Decretosleis n° 902/69 e n° 1.382/74, que dispunham(...) A partir de 1990, a tributação das empresas de atividade rural passou a regerse pela Lei n°8.023, de 12 de abril de 1990, que dispõe (...) Necessário, pois, verificar se houve alteração na lei, quanto à caracterização de empresas de atividade rural, para efeito de tributação. Da leitura dos dispositivos legais supra transcritos vêse que, na vigência dos Decretosleis n° 902/69 e 1.382/74, poderiam gozar do regime tributário favorecido as empresas constituídas para exploração agrícola ou pastoril e das indústrias extrativas vegetal e animal, com exclusão das de transformação de seus produtos e subprodutos. Ou seja, as leis em vigor excluíam expressamente do conceito de atividade rural, para efeito do regime tributário diferenciado, a transformação dos seus produtos e subprodutos. Com a Lei n° 8.032/90 essa restrição foi limitada, pois, expressamente, passou a ser considerada atividade rural a transformação de produtos agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura e não configure procedimento Industrial, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada. Assim, se na vigência das leis que vedavam a transformação de seus produtos e subprodutos para enquadramento no regime favorecido específico para atividades rurais, a empresa, em processo formal de consulta, obteve solução da administração no sentido de que a atividade de "abate de aves de sua produção, seu resfriamento e embalagem, objetivando a colocação do produto 'in natura' no mercado, pagará o imposto de renda à alíquota de 6% sobre os lucros decorrentes desta atividade rural, cabendo o destaque contábil das operações quando, Fl. 1880DF CARF MF 16 paralelamente, o contribuinte executa outras atividades não beneficiadas com a alíquota reduzida, devendo demonstrar no LALUR (Livro de Apuração do Lucro Real), separadamente por alíquota de tributação, o lucro líquido e o lucro real dessas atividades (beneficiadas e não beneficiadas)..”, não se pode admitir que, tendo a lei se tomado menos restritiva, a resposta à consulta deixou de acobertála. Tal interpretação fere um dos argumentos lógicos da interpretação racional, o argumento a fortiori. A resposta à consulta, certa ou errada, vincula a administração até que seja alterada. Assim, tendo orientado o contribuinte no sentido de que determinadas atividades por ele praticadas se enquadravam como atividades rurais para efeitos de tributação, e não tendo havido alteração legal que justifique o desenquadramento, não pode, a Administração Pública, negar validade a procedimento do contribuinte que esteja em conformidade com a orientação recebida. Anoto: ambos os casos (paradigma e recorrido) tratam de pessoas jurídicas que, à luz da legislação anterior (Decretosleis n° 902/69 e 1.382/74) obtiveram resposta à consulta formal concluindo a Receita Federal que as consulentes se dedicariam à atividade rural. Com a alteração da legislação a respeito do conceito de atividade rural (notadamente pela Lei n° 8.023/90), discutese em ambos os acórdãos se haveria revogação da resposta à consulta anterior. Diante disso, rejeito a preliminar de não conhecimento do recurso especial. Assim, adotando as razões do Presidente de Turma e o complemento acima, conheço do recurso especial quanto aos efeitos de solução de consulta reconhecendo a existência de similitude fática com o acórdão paradigma nº 10194.191. Assim, conheço o recurso especial nesse ponto. 2) Descaracterização da Atividade Rural Sobre o segundo tema, decidiu a Turma Julgadora no acórdão recorrido, conforme voto vencedor: Quanto à consideração da Atividade Rural, a controvérsia principal do presente processo é se a atividade da autuada, proveniente do abate de aves e suínos, resfriamento, congelamento, despojamento, corte e embalagem das aves e suínos abatidos pode ser conceituada como "atividade rural", nos termos do disposto no inciso V, art. 20 da Lei n° 8.023, de 1990, e, consequentemente, se a recorrente poderia se utilizar do beneficio da depreciação acelerada incentivada de que trata o artigo 314 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR199). Por ter detida e claramente abordado a matéria a partir da análise da legislação aplicável e da natureza da atividade desenvolvida pela impugnante, bem como não ter a recorrente trazido novos argumentos em seu recurso voluntário, reproduzo a seguir os fundamentos da decisão recorrida, que adoto como meus: Por sua vez, os Decretosleis n° 902/69 e n° 1.382/74, que fundamentaram a solução de consulta, foram expressamente Fl. 1881DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.874 17 revogados pela Lei n° 8.023/90, resultante da conversão em lei da Medida Provisória n°167, de 16/03/1990, que dispôs em seu art. 2° sobre as atividades consideradas rurais, com a seguinte redação: "Art. 2° Considerase atividade rural: (...) IV a exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais; V a transforma cão de produtos agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura e não configure procedimento industrial feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada " Para explicitar o alcance da expressão "transformação de produtos decorrentes da atividade rural" foi editada a Instrução Normativa SRF n° 17/1996, que relacionou algumas atividades incluídas nesse conceito (grifei) (...) Da leitura do texto acima, constatase que a "transformação" de que se fala abrange o acondicionamento em embalagem de apresentação, de produtos zootécnicos como o mel, ou agrícolas como o suco de laranja. Deste modo, essas atividades não estão inseridas nas atividades de exploração da apicultura ou de vegetais, previstas nos incisos IV e III, respectivamente, do art. 2°, da Lei n°8.023/90, mas foram alocadas no inciso V desta lei, no âmbito da transformação de produtos decorrentes da atividade rural. A IN SRF n° 17/1996 ao elencar casos de "transformação" referese a casos de beneficiamento de arroz, moagem de trigo e de milho ou transformação de grilos em farinha, processos bem mais simples que o de abate de animais e processamento de suas carnes. Concluise, assim, que, nesta nova configuração da legislação, o abate de aves e suínos com o processamento de suas carnes e obtenção de cones frescos, resfriados ou congelados, típica da atividade zootécnica desenvolvida pela impugnante, não se insere no inciso IV da lei, nas atividades de avicultura ou suinocultura, como sustenta a impugnante, mas sim no inciso V. se forem observadas as condições previstas neste inciso. Tais condições serão analisadas no item seguinte. (...) Por outro lado, o inciso V do art. 2°, da Lei n° 8.023/90, prescreveu várias condicionantes para enquadramento na atividade rural. Na análise dessas condicionantes, releva avaliar a caracterização das instalações da empresa feita pela fiscalização (f. 29/30): (..) Fl. 1882DF CARF MF 18 No presente caso a atividade rural é desenvolvida pelos integrados e parceiros da empresa fiscalizada. Estes sim possuem atividade rural ao explorar a avicultura e suinocultura obtendo sua receita da comercialização da parte da produção que lhes cabe. (...) Em relação et matériaprima, esta fiscalização observou que também não ocorre a situação descrita no inciso V do artigo 2° da Lei n° 8.023/90, vez que o abate ocorre em local diverso da área rural de onde se produz a matériaprima, que são as aves e suínos vivos, os quais são transportados até os complexos industriais da empresa, geralmente instalados em centros urbanos ".(...) Além disso, a fiscalização verificou que a transformação dos produtos não é feita na área rural explorada, mas nos complexos industriais da empresa geralmente localizados em centros urbanos, contrariando mais uma das condicionantes previstas no inciso V do art. 2°, da Lei n°8.023/90. (...) Destarte, a atividade da recorrente não se enquadra no conceito de "atividade rural" para fins de apuração do IRPJ. A Recorrente indicou como paradigma o acórdão 140200.271, que tratou dos fatos descritos em seu relatório: 2) Durante a ação fiscal, constataramse divergências entre o que a lei conceitua como produtos de atividade rural e os produtos comercializados pela autuada. 3) Para eximir qualquer dúvida acerca da atividade da interessada, a fiscalização visitou o estabelecimento, e descreveu no Termo de Verificação Fiscal os procedimentos adotados, concluindo que são comercializados produtos industrializados com alta tecnologia, não se enquadrando, portanto, no conceito de Atividade Rural expresso no artigo 58 do RIR/99, cuja matriz legal é o artigo 2o da Lei n° 8.023/90. (...) 6) A atividade da autuada não se enquadra no novo conceito de atividade rural, definido no artigo 2º da Lei n° 8.023/90, uma vez que esta atividade não pode ter cunho industrial, o que se reforça com o disposto no inciso "V" do mesmo artigo ao tratar dos utensílios usualmente empregados nas atividades rurais. Diante disso, julgou a 2ª Turma Ordinária da 4ª Câmara do CARF no acórdão paradigma (140200.271): Pois bem. Conquanto a utilização de equipamentos de alta tecnologia essa matéria já foi por algumas vezes enfrentada neste Conselho que firmou entendimentos diversos, a exemplo dos acórdãos 10513579, de 21/08/2001, já citado na decisão da DRJ, e o acórdão nº 10709548, proferido na assentada de 12/11/2008, este último assim ementado: ATIVIDADE RURAL – COMPATIBILIDADE COM EQUIPAMENTOS USUALMENTE EMPREGADOS NA ATIVIDADE – EQUIPAMENTOS DE ALTA TECNOLOGIA A lei prevê como condicio juris para a caracterização da atividade como rural, a transformação de produtos, como os Fl. 1883DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.875 19 da exploração de avicultura, feita pelo próprio criador, sem que haja alteração da composição e das características do produto in natura, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada. Não caracteriza emprego de equipamentos inusuais, o fato de se usarem equipamentos de alta tecnologia, que implicam ganho de produção em escala. A utilização de equipamentos de elevada tecnologia, pelo criador de aves, na atividade de transformação, sem que haja alteração na composição e nas características do produto in natura, não tem o condão de desvirtuar o pressuposto legal para configuração de atividade rural. Tal exegese se extrai da interpretação finalística e funcional do preceito, bem como de interpretação históricoevolutiva. (grifei) A meu ver, o entendimento adotado no acórdão nº 10709548 não merece reparos, isso porque inexiste contradição entre evolução tecnológica e produção agropecuária, pelo contrário, somente esse desenvolvimento pode garantir alimentos em quantidade e qualidade para toda a população. A Lei não determina o uso de equipamentos rudimentares no beneficiamento da produção agropecuária, e sim utensílios usualmente empregados na atividade. Ora, hoje temos máquinas de alta tecnologia utilizadas desde o plantio, colheita e preparo de grãos (a exemplo de colheitadeiras com GPS e computador de bordo). Na retirada do leite das vacas temos ordenhadeiras totalmente automatizadas, e assim por diante. Entendo que com relação ao tema também há similitude fática, eis que amos os acórdãos tratam de desenvolvimento de atividades que o contribuinte alega rurais, mas com emprego de a equipamentos de alta tecnologia, em interpretação ao artigo .2º, incisos IV e V, da Lei nº 8.023/1990 Diante disso, conheço do recurso especial também quanto ao segundo tema. Mérito Tema 1: Efeitos de Consulta Destaco trecho do recurso especial, para elucidar a alegação da Recorrente, que destaca trecho de resposta à consulta e, assim, pleitea: Na resposta à consulta nº 13983.000036/8932, formulada pela empresa, a Divisão de Tributos da Superintendência Regional da Receita Federal na 9ª Região Fiscal, pronuncioiuse no sentido de que a ora Recorrente, por realizar como atividade final a venda de aves in natura, estaria sujeita à alíquota de 6% (seis por cento) prevista no artigo 06, do RIR/80, ei que não há transformação ou industrialização de produtos, conforme passa se a destacar: Fl. 1884DF CARF MF 20 '(...) Esclarece ainda que, no decorrer do processo, não ocorre qualquer preparo especial como cozimento, enchouriçamento, defumação, salgamento, embutimento ou qualquer outro tipo de preparo além do simples resfriamento, congelamento e conservação em câmara frigorífica, e que não compra aves de terceiros. Trazendo cópia do Parecer CST n.° 1.499/87, que examinou matéria análoga, dez entender que as operações acima descritas não configuram alteração ou transformação do produto pelo que a sua venda final é de aves "in natura", julgadose, por isso, com direito à tributação especial de 6% (seis por cento). O Parecer n° 1.499/87, cuja cópia a consulente juntou à consulta, tratando de matéria análoga, esclarece que, segundo entendimento expresso no Parecer CST n.° 2.181/80, o incentivo fiscal da tributação reduzida das empresas rurais está condicionado à exploração das atividades agropecuárias e das indústrias extrativas vegetal e mineral, desde que não haja transformação de seus produtos. (...)' (...) Vejase que, em situação análoga o Supremo Tribunal Federal já decidiu que deve ser mantido o posicionamento da Consulta Fiscal quando a contribuinte demonstrando confiança na autoridade fiscal e, portanto, adotando postura de inegável boa fé, como fora lançado, fezlhe uma consulta e, partir da orientação recebida, toma como base o seu conteúdo e procede perante o fisco com a certeza de estar realizando o que é correto Com efeito, a resposta à consulta foi dada ao contribuinte, sob contexto legislativo que será a seguir mencionado. O Decreto Lei nº 902/1969 tratava da forma de tributação dos rendimentos da exploração agrícola ou pastoril, definido em seu artigo 1º a pessoa física exploradora destas atividades: Art 1º Para os efeitos de incidência do impôsto de renda, o rendimento líquido auferido pelas pessoas físicas oriundo de exploração agrícola ou pastoril e das industrias extrativas vegetal e animal da transformação dos produtos agrícolas e pecuários, quando feita pelo próprio agricultor ou criador com matériaprima da propriedade explorada e os da exploração de apicultura, sericultura e piscicultura será apurado de acôrdo com as normas constantes dêste Decretolei. O mesmo DecretoLei nº 902/1969, em seu artigo 7º, trata das pessoas jurídicas que se dedicam à atividade similar, da forma que segue: Art 7º As emprêsas constituídas nos próximos dez anos para a exploração das atividades referidas no artigo 1º dêste Decreto lei, excetuadas as de transformação de seus produtos e subprodutos, gozarão, a contar de suas constituição, dos seguintes incentivos, respeitadas as condições e os limites máximos abaixo indicados: I isenção do impôsto de renda no primeiro biênio; II 50% (cinqüenta por cento) de redução do impôsto de renda devido no terceiro ano; Fl. 1885DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.876 21 III 25% (vinte e cinco por cento) de redução do impôsto de renda devido no quarto ano. Parágrafo único. Fica o Poder Executivo autorizado a conceder deduções dos lucros das emprêsas rurais, em função dos investimentos realizados no anobase, na forma do artigo 4º. Estes dispositivos legais foram reproduzidos no RIR/1980 (Decreto nº 85.840/1980), conforme artigo 278 e 406: Art. 278. A pessoa jurídica que tenha por objeto a exploração das atividades agrícolas ou pastoris, da apicultura, avicultura, sericicultura, piscicultura e outras, de pequenos animais, e das indústrias extrativas vegetal e animal, excetuadas as de transformação de seus produtos e subprodutos, pagará o imposto à alíquota especial de que trata o art. 406 (DecretoLei n° 1.382/74, art. 1°). § 1º O regime tributário previsto neste artigo aplicase exclusivamente aos lucros decorrentes da exploração das atividades especificadas no caput deste artigo (DecretoLei n° 1.382/74, art. 3°). § 2º Excetuadas as provenientes da venda de imóveis, poderão incluirse no regime do caput deste artigo receitas diversas decorrentes do giro normal da pessoa jurídica, desde que não ultrapassem o limite de 5% (cinco por cento) das receitas geradas pelas atividades próprias definidas neste artigo (DecretoLei n° 1.382/74, art. 3°, § único). § 3º A imputação, na receita da pessoa jurídica de que trata este artigo, de rendimento auferidos em outras atividades, com o objetivo de desfrutar indevidamente de tributação mais favorecida configura, para efeito de aplicação de penalidade, evidente intuito de fraude (DecretoLei n° 1.382/74, art. 5°). § 4º Na determinação do lucro real da pessoa jurídica beneficiada pelo regime previsto neste artigo, aplicase, no que couber, o disposto no art. 56, obedecidas as condições estipuladas nos artigos 57 e 58 (DecretoLei n° 902/69, art. 7, § único, e DecretoLei n° 1.382/74, art. 1°). § 5º Compete ao Ministro da Fazenda baixar normas quanto aos custos e despesas operacionais admissíveis para a pessoa jurídica que tenha por objeto a exploração agrícola ou pastoril, e das indústrias extrativas vegetal e animal, de transformação dos produtos agrícolas e pecuários, com matériaprima da propriedade explorada, e os da exploração da apicultura, avicultura, sericicultura, piscicultura e outras, de pequenos animais (DecretoLei n° 902/69, art. 7°, § único). Art. 406. A pessoa jurídica de que trata o art. 278 pagará o imposto à alíquota de 6% (seis por cento), observado o disposto no inciso I do art. 511 (DecretoLei n° 1.382/74, artigos 1° e 4°). Fl. 1886DF CARF MF 22 Parágrafo único. A determinação da base de cálculo, para efeito de aplicação da alíquota prevista neste artigo, será feita de acordo com o art. 278. É relevante observar que este artigo 7º exclui as empresas de transformação de seus produtos e subprodutos dos benefícios tratados pelas alíneas destes artigo. Pois bem. Sob este contexto legislativo, a Receita Federal do Brasil respondeu consulta do contribuinte (Processo Administrativo nº 13983.000036/8932), concluindo que 2.1. Entendo que sendo a empresa organizada,também,para desenvolver a criação e multiplicação de aves e posterior abate para entrega "in natura" ao mercado, enquadrase plenamente no dispositivo legal (artigo 406 do RIR/80, combinado com o artigo 278 do mesmo Regulamento), isso porque, não ocorre transfomação ou industrialização, conforme nos orienta. o Parecer Normativo CST no 880/71 (D.O.U. 25.10.71) que trata. de matéria correlata: "Abate de gado para extraçao de carne. A desossagem e conservaçao por refrigeraçao ou congelamento, sem que se modIfique a condição de "in natura", não caracterizam industrialização". 2.2 O Parecer CST n o 860/86, que referendou a Decisão n 2 77/86 da DIVTRI/9a. R.F., conclui que o simples abate de aves de sua produção própria ou em parceria, para venda, não configura transformação de seus produtos ou subprodutos. 3. Assim:, sendo, face ao entendimento exposto nos parece res antes indicados e legislação pertinente, proponho que se informe a consulente de que a atividade de abate de aves de sua produçao, seu resfriamento e embalagem, objetivando a colocação do produto "in natura" no mercado, pagara .o imposto de renda à a/iquota de 6% sobre . os lucros decorrentes desta atividade rural, cabendo O destaque contábil das operações quando, paralelamente, o contribuinte executa outras atividades não beneficiadas com a aliquota reduzida, devendo demonstrar rio LALUR^(Livro de Apuração do Lucro Real), separadamente por alíquota de tributação, o lucro líquido e o lucro real dessas atividades (beneficiadas e não beneficiadas na forma da Instrução Normativa SRF 059, de 23.04.87 DOU 24.04.87) (fls. 600 volume 3, pdf 194) A decisão foi objeto de recurso de ofício à Coordenação do Sistema de Tributação (fls. 603), que a confirmou. A resposta à consulta, assim, concluiu pela aplicação dos regimes do artigo 278 e 406, do RIR 1980 à consulente. Ocorre que este panorama legislativo foi substancialmente modificado pela Lei nº 8.023/1990, que em sua redação original, redefiniu o que seriam atividades rurais, nos seguintes termos: Art. 2º Considerase atividade rural: I a agricultura; Fl. 1887DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.877 23 II a pecuária; III a extração e a exploração vegetal e animal; IV a exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais; V a transformação de produtos agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura e não configure procedimento industrial feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada. Posteriormente, este artigo 2º, da Lei nº 8.023/1990 sofreu alteração pela Lei nº 9.250/1995, que também inseriu parágrafo único para assim dispor: Art. 2º Considerase atividade rural: (...) V a transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada, tais como a pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentação. (Redação dada pela Lei nº 9.250, de 1995) Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à mera intermediação de animais e de produtos agrícolas. (Incluído pela Lei nº 9.250, de 1995) Esta disposição foi reproduzida no Decreto nº 3.000/1999, Regulamento do Imposto de Renda, em seu artigo 58. É importante anotar que o DecretoLei nº 902/1969 e artigo 1º do Decreto Lei nº 1.382/1974, que são as matrizes legais dos artigos 278 e 406 do antigo RIR/1980, foram revogados expressamente pela Lei nº 8.023/1990, conforme seu artigo 23: Art. 23. Revogamse os DecretosLeis nºs 902, de 30 de setembro de 1969, 1.074, de 20 de janeiro de 1970, os arts. 1º, 4º e 5º do DecretoLei nº 1.382, de 26 de dezembro de 1974 e demais disposições em contrário. Nesse contexto, pareceme irretocável o voto condutor do acórdão recorrido, proferido pelo exConselheiro Flávio Vilela Campos: Em que pese o brilhantismo externado no Voto proferido pela ilustre relatora, Sra. Nereida de Miranda Finamore Horta, manifesto, entretanto, discordância em relação A parte do voto em que se propõe dar eficácia A solução de consulta Fl. 1888DF CARF MF 24 apresentada pela sucedida da recorrente, bem como em restar caracterizada a atividade rural da recorrente. Destaco que a divergência existente restringese tãosomente à questão reportada no parágrafo anterior, restando a total concordância em relação a todas as demais abordagens e conclusões trazidas pelo Voto ao final Vencido, os quais são expressamente ratificados nesta ocasião. Há que se asseverar, de plano, que a consulta formulada s6 produz efeitos sobre o consulente, bem como sobre os fatos e objeto detalhadamente descritos e com a indicação de todas as informações e dispositivos necessários A. elucidação da matéria. Na situação sobre análise, a consulta fiscal foi apresentada pela sucedida por incorporação (Sadia S/A Indústria e Comércio), formalizada em 26/04/1989, sob a descrição de que desenvolvia o "abate exclusivamente das aves produzidas em suas granjas e em parceria, ou seja, totalmente de produção própria" e o "resfriamento, congelamento, despojamento, corte e embalagem das aves abatidas". A legislação em que se embasou a solução expedida em 1989, DecretosLei n° 902/69 e 1.382/74 foram posteriormente revogados, passando o conceito da atividade rural para fins de incidência do Imposto de Renda a ser disciplinado quando do fato gerador objeto do lançamento pela Lei 8.023/90. Da mesma forma, em 1997 a Lei 9.493 introduziu as carnes em geral, frescas, refrigeradas ou congeladas no campo de incidência do IPI, o que deixou claro passar referidos produtos por processo de industrialização, modificando os fundamentos da solução de consulta apresentada. Além disso, a consulta foi feita em relação ao processamento de aves, ou seja, não alcança a produção de cortes de suínos que também é objeto da atividade da recorrente e do presente lançamento. Desse modo, a solução de consulta invocada pela impugnante perdeu sua eficácia, por ter sido produzida anteriormente a esse novo ordenamento legal, que modificou a qualificação das atividades beneficiadas pelo incentivo fiscal e prescrevendo várias condicionantes para o enquadramento na atividade rural. A solução de consulta analisa claramente a legislação revogada e que teve substancial alteração pelo novo regramento. Ressalto, ainda, que a Lei nº 9.430/1996 trata de solução de consulta, constando do §12, do artigo 48: Art. 48 (...) § 12. Se, após a resposta à consulta, a administração alterar o entendimento nela expresso, a nova orientação atingirá, apenas, os fatos geradores que ocorram após dado ciência ao consulente ou após a sua publicação pela imprensa oficial. Fl. 1889DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.878 25 Se a mera alteração de entendimento pela Administração Pública torna ineficaz a partir de então implica na perda da eficácia de consulta anterior, com mais razão, a alteração legislativa impede o prosseguimento dos efeitos da Solução de Consulta Diante disso, voto por negar provimento ao recurso especial da contribuinte a respeito do primeiro tema. Tema 2: Descaracterização da Atividade Rural Nos presentes autos, discutese a depreciação acelerada incentivada, na forma autorizada pela Medida Provisória nº 2.159/2001, que em seu artigo 6º prevê: Art. 6º Os bens do ativo permanente imobilizado, exceto a terra nua, adquiridos por pessoa jurídica que explore a atividade rural, para uso nessa atividade, poderão ser depreciados integralmente no próprio ano da aquisição. O benefício, portanto, depende dos seguintes requisitos: (a) pessoa jurídica exploradora de atividade rural; (b) sejam bens do ativo permanente imobilizado, exceto a terra nua, sujeitos à depreciação. O recurso especial ora analisado trata do primeiro destes requisitos, qual seja, a definição do que seja pessoa jurídica exploradora de atividade rural, para gozo deste benefício. Destaco trecho do Relatório Fiscal que acompanha o auto de infração, para elucidar a matéria em debate: Regularmente intimada através da intimação n° 333, de 05/08/2005 (fls. 221 a 257), a empresa fiscalizada descreveu a cadeia produtiva das aves e suínos desde sua origem até a saída dos produtos de seus estabelecimentos. A cadeia produtiva iniciase com aquisição de produtos agrícolas, sendo basicamente soja e milho que são transformados em ração em fábricas próprias (fls. 226 a 236). Ração esta que serve de alimento para aves e suínos desde o início até a faze de terminação (apronte para o abate). A criação de aves é feita através de parcerias firmadas com produtores rurais os quais participam com a infraestrutura, ou seja, instalações, água, mãodeobra, energia elétrica, aquecimento e serviço, e a empresa participa com o fornecimento dos pintos de um dia, rações, medicamentos, vacinas, transporte, demais insumos necessários à criação, e assistência técnica (fls. 240). O fornecimento dos insumos pela empresa fiscalizada é feito através de transferências (não representa operação de compra e venda) de seus estabelecimentos para os produtores rurais. Quando o lote está pronto para abate a parte das aves que cabe à empresa fiscalizada é transferida (não representa operação de compra e venda) do produtor rural para os estabelecimentos industriais da empresa fiscalizada. A parte que cabe ao produtor rural (na Fl. 1890DF CARF MF 26 parceria, parte do resultado cabe à empresa e parte ao parceiro) é comprada pela empresa fiscalizada (fls. 240 a 241). A criação de suínos também é feita através de parcerias onde produtores rurais participam com a infraestrutura (instalações e serviço) e a empresa participa com o fornecimento dos leitões, ração e demais insumos necessários à criação (fls. 249 a 250). Para criação de suínos a empresa fiscalizada utilizase ainda da modalidade de integração, que consiste na venda pela empresa fiscalizada das matrizes e reprodutores, ração e demais insumos para produtores rurais que produzem leitões para recria (fls. 248 e 249) que posteriormente são comprados pela empresa fiscalizada e alojados em propriedades de outros produtores rurais no sistema de parceria, que farão a recria (engorda) até atingirem o peso ideal para o abate. De acordo com documentos apresentados em atendimento às diversas intimações, a empresa fiscalizada demonstra que a receita que aufere é essencialmente decorrente da venda no mercado interno e exportação de produtos que tem origem no fulcro de sua atividade, que consiste no abate de animais de pequeno porte (aves e suínos), realizada através de procedimentos industriais, utilizandose de maquinaria atípica em relação àquela usualmente utilizável na atividade rural. Conforme documentos às folhas 221 a 257, apresentados em resposta à intimação n° 333 constatase que a empresa fiscalizada dá saída de seus estabelecimentos de diversos produtos industrializados dentre eles frango e peru embalados e congelados, cortes de frango e peru embalados e congelados, perus e frangos temperados e cortes de suínos (fls. 245, 246, 256 e 257). Além dos produtos relacionados, a empresa fiscalizada produz e vende uma gama de produtos mais elaborados tais como salsichas, mortadelas, salames, presuntos, pizzas, margarinas dentre outros (fls. 364, 373, 382, 391, 402 e 411 DIPJ Ficha 28). A empresa fiscalizada considera da atividade rural as receitas decorrentes da venda no mercado interno e exportação dos produtos in natura, aves e cortes de aves e suínos e cortes de suínos congelados ou resfriados mesmo temperados (fls. 245 e 256). Para a tipificação legal da atividade rural inicialmente importa reproduzir o artigo 58 do vigente Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99) (...) Da inteligência do dispositivo legal retro citado constatase de pronto que são consideradas como rurais, pela legislação tributária, aquelas atividades tipicamente primárias, encontrandose nelas inseridas a transformação dos produtos delas decorrentes, única e exclusivamente sem que sejam alteradas a composição e as características do produto natural e quando feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais. Fl. 1891DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.879 27 Com o advento da Lei n° 8.023/90, houve a eliminação de incentivos anteriormente concedidos àqueles que se utilizaram de procedimentos não artesanais, mas industriais. (...) A empresa fiscalizada utiliza os sistemas de parceria e integração, conceitos estes já relatados por esta fiscalização em parágrafos anteriores, com aplicação intensiva de capital em sistemas e equipamentos não usuais ao produtor rural, conforme observase nas fotografias ás folhas 246 e 257 e resposta à intimação n° 320 ás folhas 192 a 220. As fotos revelam a utilização de máquinas e equipamentos tipicamente industriais e os documentos de folhas 196 a 220 representam os comprovantes de aquisição e instalação de algumas das referidas máquinas e equipamentos. (...) A criação de animais que levam o sufixo "cultura" não implicam, necessariamente o abate destes. Logo a exploração da avicultura e suinocultura, termos estes constantes das atividades consideradas rurais, conforme inciso IV do artigo 2° da Lei 8.023/90, não pressupõe abate pelo criador, muito menos em escala industrial. Os termos avicultura e suinocultura não são sinônimos de abate. (...) A utilização de equipamentos e utensílios não usualmente empregados pelos produtores rurais, contraria o disposto no inciso V do artigo 2° da Lei n° 8.023/90 com redação do artigo 17 da Lei n° 9.250/95. No presente caso a atividade rural é desenvolvida pelos integrados e parceiros da empresa fiscalizada. Estes sim possuem atividade rural ao explorar a avicultura e suinocultura obtendo sua receita da comercialização da parte da produção que lhes cabe. Porém, esta fiscalização constatou através das respostas às intimações (fls. 226 a 257) que a receita da empresa fiscalizada que deriva da atividade rural resumese ás vendas das matrizes e dos reprodutores suínos aos produtores integrados, pois, estes animais são oriundos de granjas de propriedade da empresa fiscalizada e sua criação está inserida no conceito de suinocultura, atividade esta considerada rural conforme disposto no inciso IV do art. 58 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99), aprovado pelo Decreto n° 3.000/99. Desta forma, com exceção da suinocultura praticada em relação às matrizes e reprodutores suínos que são vendidos aos produtores integrados, a atividade desempenhada pela empresa fiscalizada não se subsume no inciso IV do artigo 2° da Lei n° 8.023/90 uma vez que esta atividade não pode ter cunho industrial, o que se reforça com o disposto no inciso V do mesmo artigo ao tratar dos utensílios usualmente empregados nas atividades rurais. Em relação à matériaprima, esta fiscalização observou que também não ocorre a situação descrita no inciso V do artigo 2° da Lei n° 8.023/90, vez que o abate ocorre em local diverso da área rural de onde se produz a matériaprima, que são as aves e suínos vivos, os quais são transportados até os complexos Fl. 1892DF CARF MF 28 industriais da empresa, geralmente instalados em centros urbanos. (...) Verificase que a empresa fiscalizada teve como objeto social deste o ano de 1995 até o encerramento do período fiscalizado a exploração da atividade de abate de animais (aves e suínos) e preparação de carnes. Destarte os complementos ao objeto social, realizados no ano de 2000, a maioria dos ramos acrescidos não representa operações de exploração da atividade rural. Constatase que até o anocalendário 2000 a empresa não se declarou exploradora da atividade rural, passando a se declarar exploradora da atividade rural a partir do ano de 2001, período posterior à incorporação da empresa Sadia S/A (CNPJ 03.906.591/000159), conforme consulta às declarações do imposto de renda pessoa jurídica (DIPJ) às folhas 327. A Lei nº 8.023/1995 trata da definição da atividade rural, destacandose os incisos IV e V tratados no Relatório que acompanha o auto de infração: Art. 2º Considerase atividade rural: I a agricultura; II a pecuária; III a extração e a exploração vegetal e animal; IV a exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais; V a transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada, tais como a pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentação. (Redação dada pela Lei nº 9.250, de 1995) Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à mera intermediação de animais e de produtos agrícolas. (Incluído pela Lei nº 9.250, de 1995) Tal dispositivo foi reproduzido no RIR/1999 alterou a disposição apenas para mencionar o seu artigo 58, que prevê: Art. 58. Considerase atividade rural (Lei nº 8.023, de 12 de abril de 1990, art. 2º, Lei nº 9.250, de 1995, art.17, e Lei nº 9.430, de 1996, art. 59): I a agricultura; II a pecuária; III a extração e a exploração vegetal e animal; Fl. 1893DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.880 29 IV a exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais; V a transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada, tais como a pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentação; VI o cultivo de florestas que se destinem ao corte para comercialização, consumo ou industrialização. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à mera intermediação de animais e de produtos agrícolas (Lei nº 8.023, de 1990, art. 2º, parágrafo único, e Lei nº 9.250, de 1995, art. 17). Lembro que o conceito amplo de atividade rural prestigiado pela Lei nº 8.023/1990 contempla a "exploração da apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais" (inciso IV, do art. 2º). Ocorre que, como consta do Relatório Fiscal, o abate descaracteriza a avicultura e suinocultura. Ressalto que a avicultura é prevista no código de atividades do IBGE dentro da Seção A, Divisão 01, Grupo 015, Classe 01555, Subitem 01555/01: Seção A Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura Divisão 01 Agricultura, Pecuária e serviços relacionados Grupo 015 Pecuária Classe 0155 Criação de aves Subclasse 01555/01 Criação de frangos para corte Notas Explicativas: Esta subclasse compreende: a criação de frangos para corte Esta subclasse não compreende: a produção de pintos de 1 dia (01555/02) a criação de outros galináceos, exceto para corte (01555/03) a produção de ovos de galinha (01555/05) o abate de aves (10121/01) a preparação de produtos de carne (10139/01) a preparação de subprodutos do abate (10139/02) (grifo nosso) A suinocultura é prevista no código de atividades do IBGE dentro da Seção A, Divisão 01, Grupo 015, Classe 01547, Subitem 01547/00: Fl. 1894DF CARF MF 30 Seção A Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura Divisão 01 Agricultura, Pecuária e serviços relacionados Grupo 015 Pecuária Classe 0154 Criação de suínos Subclasse 01547/00 Criação de suínos Notas Explicativas: Esta subclasse compreende: a criação de suínos para carne e banha Esta subclasse compreende também: a produção de sêmen de suínos Esta subclasse não compreende: o abate de suínos em frigoríficos (10121/03) o abate de suínos em matadouros (10121/04) a preparação de produtos de carne, banha e salsicharia (1013 9/01) a preparação de subprodutos do abate (10139/02) o curtimento e outras preparações do couro (15106/00) (grifo nosso) As atividades do contribuinte, portanto, não se amoldam à atividade de avicultura e suinocultura, como definidos pelo IBGE e pelo inciso IV, do artigo 2º, da Lei nº 8.023/1995. O contribuinte ainda não se amolda à previsão do artigo V, do artigo 2º, da Lei nº 8.023/1990, que prevê Art. 2º Considerase atividade rural: (...) V a transformação de produtos agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura e não configure procedimento industrial feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada. Não entendo que seja determinante a utilização de equipamentos de alta tecnologia, como também expresso no acórdão paradigma (140200.271): Pois bem. Conquanto a utilização de equipamentos de alta tecnologia essa matéria já foi por algumas vezes enfrentada neste Conselho que firmou entendimentos diversos, a exemplo dos acórdãos 10513579, de 21/08/2001, já citado na decisão da DRJ, e o acórdão nº 10709548, proferido na assentada de 12/11/2008, este último assim ementado: Fl. 1895DF CARF MF Processo nº 10925.001519/200631 Acórdão n.º 9101003.012 CSRFT1 Fl. 1.881 31 ATIVIDADE RURAL – COMPATIBILIDADE COM EQUIPAMENTOS USUALMENTE EMPREGADOS NA ATIVIDADE – EQUIPAMENTOS DE ALTA TECNOLOGIA A lei prevê como condicio juris para a caracterização da atividade como rural, a transformação de produtos, como os da exploração de avicultura, feita pelo próprio criador, sem que haja alteração da composição e das características do produto in natura, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matériaprima produzida na área rural explorada. Não caracteriza emprego de equipamentos inusuais, o fato de se usarem equipamentos de alta tecnologia, que implicam ganho de produção em escala. A utilização de equipamentos de elevada tecnologia, pelo criador de aves, na atividade de transformação, sem que haja alteração na composição e nas características do produto in natura, não tem o condão de desvirtuar o pressuposto legal para configuração de atividade rural. Tal exegese se extrai da interpretação finalística e funcional do preceito, bem como de interpretação históricoevolutiva. (grifei) A meu ver, o entendimento adotado no acórdão nº 10709548 não merece reparos, isso porque inexiste contradição entre evolução tecnológica e produção agropecuária, pelo contrário, somente esse desenvolvimento pode garantir alimentos em quantidade e qualidade para toda a população. A Lei não determina o uso de equipamentos rudimentares no beneficiamento da produção agropecuária, e sim utensílios usualmente empregados na atividade. Ora, hoje temos máquinas de alta tecnologia utilizadas desde o plantio, colheita e preparo de grãos (a exemplo de colheitadeiras com GPS e computador de bordo). Na retirada do leite das vacas temos ordenhadeiras totalmente automatizadas, e assim por diante. De toda sorte, o inciso V exige para caracterização de atividade como rural com transformação de produtos agrícolas ou pecuários, que seja utilizada matéria prima produzida na área rural explorada. Definitivamente não é o caso do contribuinte, como explicita o Relatório Fiscal: A criação de aves é feita através de parcerias firmadas com produtores rurais os quais participam com a infraestrutura, ou seja, instalações, água, mãodeobra, energia elétrica, aquecimento e serviço, e a empresa participa com o fornecimento dos pintos de um dia, rações, medicamentos, vacinas, transporte, demais insumos necessários à criação, e assistência técnica (fls. 240). O fornecimento dos insumos pela empresa fiscalizada é feito através de transferências (não representa operação de compra e venda) de seus estabelecimentos para os produtores rurais. Quando o lote está pronto para abate a parte das aves que cabe à empresa fiscalizada é transferida (não representa operação de compra e venda) do produtor rural para os estabelecimentos industriais da empresa fiscalizada. A parte que cabe ao produtor rural (na Fl. 1896DF CARF MF 32 parceria, parte do resultado cabe à empresa e parte ao parceiro) é comprada pela empresa fiscalizada (fls. 240 a 241). A criação de suínos também é feita através de parcerias onde produtores rurais participam com a infraestrutura (instalações e serviço) e a empresa participa com o fornecimento dos leitões, ração e demais insumos necessários à criação (fls. 249 a 250). Para criação de suínos a empresa fiscalizada utilizase ainda da modalidade de integração, que consiste na venda pela empresa fiscalizada das matrizes e reprodutores, ração e demais insumos para produtores rurais que produzem leitões para recria (fls. 248 e 249) que posteriormente são comprados pela empresa fiscalizada e alojados em propriedades de outros produtores rurais no sistema de parceria, que farão a recria (engorda) até atingirem o peso ideal para o abate. (...) Em relação à matériaprima, esta fiscalização observou que também não ocorre a situação descrita no inciso V do artigo 2° da Lei n° 8.023/90, vez que o abate ocorre em local diverso da área rural de onde se produz a matériaprima, que são as aves e suínos vivos, os quais são transportados até os complexos industriais da empresa, geralmente instalados em centros urbanos. (...) Diante disso, voto por conhecer e negar provimento ao recurso especial do contribuinte. (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Fl. 1897DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11831.002884/2001-60
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Jul 06 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Aug 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 1995
RECURSO ESPECIAL. SÚMULA CARF 91. PRAZO PARA RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. 10 ANOS. SÚMULA CARF 91. ARTIGO
Nos termos de decisão Plenária do STF e da Súmula CARF 91, o prazo para compensação é de 10 anos quanto às declarações de compensação apresentadas antes de 9 de junho de 2005. Recurso especial não conhecido, nos termos do artigo 67, §12, incisos II e III, do RICARF (Portaria MF nº 343/2015).
Numero da decisão: 9101-002.980
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Cristiane Silva Costa - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício).
Nome do relator: CRISTIANE SILVA COSTA
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 1995 RECURSO ESPECIAL. SÚMULA CARF 91. PRAZO PARA RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. 10 ANOS. SÚMULA CARF 91. ARTIGO Nos termos de decisão Plenária do STF e da Súmula CARF 91, o prazo para compensação é de 10 anos quanto às declarações de compensação apresentadas antes de 9 de junho de 2005. Recurso especial não conhecido, nos termos do artigo 67, §12, incisos II e III, do RICARF (Portaria MF nº 343/2015).
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SÚMULA CARF 91. PRAZO PARA RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. 10 ANOS. SÚMULA CARF 91. ARTIGO Nos termos de decisão Plenária do STF e da Súmula CARF 91, o prazo para compensação é de 10 anos quanto às declarações de compensação apresentadas antes de 9 de junho de 2005. Recurso especial não conhecido, nos termos do artigo 67, §12, incisos II e III, do RICARF (Portaria MF nº 343/2015). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 83 1. 00 28 84 /2 00 1- 60 Fl. 847DF CARF MF 2 Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício). Relatório Tratase de processo originado pela apresentação de Pedido de Compensação de crédito de prejuízo de CSLL do ano de 1995 (fls. 2 e 276), apresentado em 13/11/2001, com débitos nos códigos 8109 e 2172. A Delegacia da Receita Federal não homologou as compensações, pelas razões seguintes (fls. 546/549 volume 2): O contribuinte acima identificado, por seu representante legal, através do requerimento de fls. 01, de 13/11/2001, solicita Pedido de Restituição de Contribuição Social sobre Lucro Líquido recolhida por estimativa decorrente dos anoscalendário de 1992 a 2001, conjugandoo com Pedidos de Compensação de fls. 02. (...) Tendo em vista que o saldos credores de CSLL objeto da presente solicitação foram apurados nos anoscalendário de 1992 a 1995, e que o presente processo foi protocolado em 13/11/2001, a referida solicitação ficou prejudicada (ocorrência de decadência do direito A restituição do indébito para os pagamentos efetuados anteriormente a 14/11/1996). (...) No uso da competência delegada pela Portaria DERAT/SP n.° 54, de 10/10/2001, INDEFIRO o Pedido de Restituição AIL de fls. 01 e, em consequência, NÃO HOMOLOGO as compensações declaradas às fls. 02, bem como outras porventura vinculadas ao presente processo. Após a apresentação de manifestação de inconformidade (fls. 554/569), a Delegacia da Receita Federal de julgamento em São Paulo manteve a decisão da DRF (fls. 573 volume 3). O acórdão restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 1992, 1993, 1994, 1995 PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. Constituem crédito a restituir ou compensar os pagamentos a maior ou indevidos desde que ainda não tenham sido utilizados. DECADÊNCIA. O prazo para pleitear o reconhecimento do direito ao indébito, extinguese no decurso de 5 anos contados da data da extinção Fl. 848DF CARF MF Processo nº 11831.002884/200160 Acórdão n.º 9101002.980 CSRFT1 Fl. 848 3 do crédito tributário, em conformidade com o art.165 c/c o art.168 do Código PERÍCIA OU DILIGÊNCIA. Indeferese o pedido de perícia ou diligência quando a sua realização revelese prescindível para a formação de convicção pela autoridade julgadora. O contribuinte apresentou recurso voluntário (fls. 581), que foi acolhido pela 2ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da Primeira Seção, em acórdão assim ementado: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 1995 Ementa: SALDOS NEGATIVOS DE RECOLHIMENTO DO IRPJ E CSLL. O prazo para pleitear a restituição do saldo negativo de IRPJ ou CSLL, acumulado, devidamente apurado e escriturado, é de 5 anos contados do período que a contribuinte ficar impossibilitada de aproveitar esses créditos, mormente pela mudança de modalidade de apuração dos tributos ou pelo encerramento de atividades. Recurso Voluntário Provido Destaco trecho do voto condutor do acórdão recorrido, do exConselheiro Antônio José Praga do Souza: Conforme relatado, tratase de pedido de reconhecimento de direto creditório da CSLL apurado no encerramento do ano calendário de 1995, apresentado em 05/12/2001, que segundo a decisão recorrida foi fulminado pelo decurso do prazo decadencial, nos termos do art. 168, inciso I, do CTN. O recurso especial da contribuinte está calcado na tese dos “5 + 5” (cinco anos para homologar o lançamento mais cinco anos para pleitear a restituição do indébito). A Câmara Superior nos últimos 3 anos, havia sedimentado o entendimento no sentido que, regra geral, o prazo para pleitear a restituição extinguese mesmo após 5 anos, contados do pagamento, nos termos do art. 168, inciso I, do CTN, conforme decido no acórdão nº 016000, proferido em 12/08/2008. Especificamente quanto ao saldo negativo de recolhimentos de IRPJ e CSLL dos anoscalendário de 1993 a 1997, a 1a. Turma da CSRF vem decidindo que o inicio da contagem prazo desloca se para a data da entrega da declaração Nesse sentido citese o seguinte julgado. (...) Todavia, desde a sessão da CSRF de agosto/2010, revisitei a matéria adotando os fundamentos a seguir, transcritos do Acórdão 91000.347. (...) Constatase que o aproveitamento dos saldos negativos nos períodos de apuração seguintes independe autorização prévia da RFB, muito menos está sujeita a apresentação de DCOMP. Fl. 849DF CARF MF 4 Tratase de um verdadeiro contacorrente, a exemplo do que ocorre com o Imposto sobre Produtos Industrializado. A cada mês o contribuinte apura o tributo devido, verifica o saldo de recolhimento do período anterior (existência de saldo negativo), bem como as retenções na fonte, e apura o saldo a pagar ou o novo saldo negativo de recolhido. Tratase de um procedimento dinâmico, que deve ser controlado no Lalur. O contribuinte deve manter em boa guarda todos os comprovantes de apuração, retenção e recolhimentos, enquanto estiver realizando aproveitamento de saldos anteriores, tal qual ocorre com o saldo de prejuízos fiscais ou lucro liquido negativo ajustado. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para afastar o decurso de prazo para pleitear o crédito, determinando o retorno do autos à DRF de origem para verificar a procedência do direito creditório do contribuinte. A Procuradoria foi intimada em 04/02/2011 (622), apresentando recurso especial em 07/02/2011 (fls. 625), por divergência na interpretação da lei tributária a respeito do prazo para repetição de indébito na forma do artigo 168, do Código Tributário Nacional. Indica como paradigma o acórdão nº 10516.976, no qual se decidiu: "Em relação aos saldos negativos de IRPJ e CSLL apurados em 31.12.1997, poderia a empresa compensálos com débitos vencíveis a partir de abril de 1.998 até março de 2003." O recurso especial foi admitido pela então Presidente da 4ª Câmara da 1ª Seção deste Conselho, conforme despacho às fls. 643/644, do qual se extrai: Por sua vez, a recorrente aduz haver interpretação divergente conferida por outro colegiado à lei tributária, consubstanciada no seguinte julgado: RESTITUIÇÃO E COMPENSAÇÃO CONTAGEM DO PRAZO DE DECADÊNCIA O prazo para que o contribuinte possa pleitear a restituição de tributo ou contribuição pago indevidamente ou em valor maior que o devido; extinguese após o transcurso do prazo de cinco anos, contado da data da extinção do crédito tributário arts. 165 I e 168 I da Lei 5172 de 25 de outubro de 1966 (CTN). No caso do saldo negativo de IRPJ/CSLL (real anual), o direito de compensar ou restituir iniciase em abril de cada ano até 1.999 e em janeiro a partir 2.000 (Lei 9.430/96 art. 6° / RIR/99 ART. 858 § I° INCISO II — AD SRE 03/2000). O prazo para retificar a D1PJ é o mesmo que o fisco dispõe para rever o lançamento. No caso de lançamento por homologação é de cinco anos a contar dos fatos geradores. (Lei n° 5.172/66 art. 150 § 4º AC CSRF/0103.692 de 10.12.01). (1ºCC, 5ª Câmara, Acórdão nº 10516.976, de 17/04/08) Da simples leitura da ementa de tal acórdão paradigma, percebese que, ao contrário da interpretação fixada no acórdão recorrido, definiuse um prazo para se pleitear a restituição de saldos negativos. (...) Com fundamento nas razões expostas, nos termos dos art.18, III, c/c art.68, §1º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF, ADMITO o recurso especial interposto. Fl. 850DF CARF MF Processo nº 11831.002884/200160 Acórdão n.º 9101002.980 CSRFT1 Fl. 849 5 O contribuinte apresentou contrarrazões em 16/11/2011 (fls. 707). Sustenta a impossibilidade de conhecimento do recurso especial, pela falta de confronto analítico exigido pelo artigo 67, §4º e §6º, do RICARF vigente (Portaria MF 256/2009). No mérito, sustenta que inexiste limite de prazo para aproveitamento de saldo negativo e, além disso, que seria aplicável o prazo de 10 anos para restituição. Diante disso, pede seja negado provimento ao recurso especial. É o relatório. Voto Conselheira Cristiane Silva Costa, Relatora O recurso especial da Procuradoria da Fazenda Nacional é tempestivo, tendo sido demonstrada a divergência na interpretação da lei tributária. De toda forma, não conheço do recurso especial, conforme razões a seguir. A Procuradoria sustenta a contrariedade do acórdão recorrido ao artigo 168, I, do Código Tributário Nacional, que dispõe: Art. 168. O direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: I nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do crédito tributário; Para julgamento da matéria, sobreleva considerar a previsão dos artigos 3º e 4º, da Lei Complementar nº 118/2005, que prescrevem: Art. 3º Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, no momento do pagamento antecipado de que trata o § 1o do art. 150 da referida Lei. Art. 4o Esta Lei entra em vigor 120 (cento e vinte) dias após sua publicação, observado, quanto ao art. 3o, o disposto no art. 106, inciso I, da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional. Ao assim dispor, o citado artigo 4º tinha por finalidade atribuir eficácia retroativa à inovação veiculada pelo artigo 3º. Com efeito, o artigo 106, do Código Tributário Nacional é nos seguintes termos: Art. 106. A lei aplicase a ato ou fato pretérito: Fl. 851DF CARF MF 6 I em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; O Supremo Tribunal Federal decidiu em sessão do Pleno, aplicando a sistemática do artigo 5453B, do Código de Processo Civil, que: DIREITO TRIBUTÁRIO – LEI INTERPRETATIVA – APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI COMPLEMENTAR Nº 118/2005 – DESCABIMENTO – VIOLAÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA – NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DA VACACIO LEGIS – APLICAÇÃO DO PRAZO REDUZIDO PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITOS AOS PROCESSOS AJUIZADOS A PARTIR DE 9 DE JUNHO DE 2005. Quando do advento da LC 118/05, estava consolidada a orientação da Primeira Seção do STJ no sentido de que, para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo para repetição ou compensação de indébito era de 10 anos contados do seu fato gerador, tendo em conta a aplicação combinada dos arts. 150, § 4º, 156, VII, e 168, I, do CTN. A LC 118/05, embora tenha se autoproclamado interpretativa, implicou inovação normativa, tendo reduzido o prazo de 10 anos contados do fato gerador para 5 anos contados do pagamento indevido. Lei supostamente interpretativa que, em verdade, inova no mundo jurídico deve ser considerada como lei nova. Inocorrência de violação à autonomia e independência dos Poderes, porquanto a lei expressamente interpretativa também se submete, como qualquer outra, ao controle judicial quanto à sua natureza, validade e aplicação. A aplicação retroativa de novo e reduzido prazo para a repetição ou compensação de indébito tributário estipulado por lei nova, fulminando, de imediato, pretensões deduzidas tempestivamente à luz do prazo então aplicável, bem como a aplicação imediata às pretensões pendentes de ajuizamento quando da publicação da lei, sem resguardo de nenhuma regra de transição, implicam ofensa ao princípio da segurança jurídica em seus conteúdos de proteção da confiança e de garantia do acesso à Justiça. Afastandose as aplicações inconstitucionais e resguardandose, no mais, a eficácia da norma, permitese a aplicação do prazo reduzido relativamente às ações ajuizadas após a vacatio legis, conforme entendimento consolidado por esta Corte no enunciado 445 da Súmula do Tribunal. O prazo de vacatio legis de 120 dias permitiu aos contribuintes não apenas que tomassem ciência do novo prazo, mas também que ajuizassem as ações necessárias à tutela dos seus direitos. Inaplicabilidade do art. 2.028 do Código Civil, pois, não havendo lacuna na LC 118/08, que pretendeu a aplicação do novo prazo na maior extensão possível, descabida sua aplicação por analogia. Além disso, não se trata de lei geral, tampouco impede iniciativa legislativa em contrário. Reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC 118/05, considerandose válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tãosomente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005. Aplicação do art. 543B, § 3º, do CPC aos recursos sobrestados. Recurso extraordinário desprovido. (Tribunal Pleno, Recurso Fl. 852DF CARF MF Processo nº 11831.002884/200160 Acórdão n.º 9101002.980 CSRFT1 Fl. 850 7 Extraordinário nº 566.621, DJe 10/10/2011, Rel. Ministra Ellen Gracie) Os Conselheiros deste Conselho Administrativos de Recursos Fiscais devem reproduzir as decisões do Supremo Tribunal Federal, tomadas com fundamento no artigo 543 B, do antigo CPC/1973, na forma do artigo 62, §2º, do atual RICARF (Portaria MF nº 343/2015), verbis: Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Ressaltese, ainda, que a inconstitucionalidade da segunda parte do artigo 4º, da Lei Complementar nº 118/06 pode ser proclamada por este Colegiado em observância ao próprio RICARF (Portaria MF nº 343/2015), termos do artigo 62, §1º, I e II, alínea b: Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. § 1º O disposto no caput não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: I que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão definitiva plenária do Supremo Tribunal Federal; II que fundamente crédito tributário objeto de: b) Decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária; O citado dispositivo regimental encontra fundamento no artigo 26A, do Decreto nº 70.235/1972: Art. 26A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) (...) Fl. 853DF CARF MF 8 § 6o O disposto no caput deste artigo não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) I – que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão definitiva plenária do Supremo Tribunal Federal; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) Pois bem. Diante disso, entendo necessário adotar o entendimento do STF no julgamento acima, que reconheceu: (i) que a LC 118/2005 não é interpretativa, tendo alterado o prazo para restituição de indébito de 10 anos (contados do fato gerador), para 5 anos (do pagamento indevido). (ii) a segunda parte do artigo 4º, da Lei Complementar nº 118/05, é inconstitucional; (iii) o novo prazo para restituição de indébito (5 anos) só seria aplicável às ações ajuizadas a partir de 9/06/2005. Cumpre destacar, ainda, que o CARF aprovou Enunciado de Súmula em sentido similar, dispondo que: Súmula CARF nº 91: Ao pedido de restituição pleiteado administrativamente antes de 9 de junho de 2005, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, aplicase o prazo prescricional de 10 (dez) anos, contado do fato gerador. No caso destes autos, a Turma a quo deu provimento parcial ao recurso voluntário do contribuinte para assegurar o direito à compensação de saldo negativo de 1995 quanto às compensações realizadas em 2001. Nesse sentido, destaco trecho do acórdão recorrido: Conforme relatado, tratase de pedido de reconhecimento de direto creditório da CSLL apurado no encerramento do ano calendário de 1995, apresentado em 05/12/2001, que segundo a decisão recorrida foi fulminado pelo decurso do prazo decadencial, nos termos do art. 168, inciso I, do CTN. O recurso especial da contribuinte está calcado na tese dos “5 + 5” (cinco anos para homologar o lançamento mais cinco anos para pleitear a restituição do indébito). (...) Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para afastar o decurso de prazo para pleitear o crédito, determinando o retorno do autos à DRF de origem para verificar a procedência do direito creditório do contribuinte. O recurso especial da Procuradoria não se coaduna com o entendimento do Pleno do Supremo Tribunal Federal, conforme acórdão acima colacionado, como tampouco com a Súmula 91 do CARF. Diante disso, voto por não conhecer o recurso especial da Procuradoria, nos termos do atual RICARF (Portaria MF nº 343/2015): Fl. 854DF CARF MF Processo nº 11831.002884/200160 Acórdão n.º 9101002.980 CSRFT1 Fl. 851 9 Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. (...) § 12. Não servirá como paradigma o acórdão que, na data da análise da admissibilidade do recurso especial, contrariar: (...) II decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos dos arts. 543B e 543 C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil; e III Súmula ou Resolução do Pleno do CARF. Por tais razões, não conheço o recurso especial da Procuradoria da Fazenda Nacional, mantendo o acórdão recorrido. O processo deve retornar à unidade de origem para verificar a procedência do direito creditório do contribuinte, conforme acórdão da Turma a quo. (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Fl. 855DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13819.001595/2004-80
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Nov 10 00:00:00 UTC 2010
Ementa: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Exercício: 1997
PRESCRIÇÃO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
A pretensão ao reconhecimento do direito creditório relativo ao saldo negativo de CSLL do ano-calendário de 1996 que teve início em 01/01/1997 e pleiteado em 16/07/2004 está alcançado pela prescrição, tendo em vista o decurso do prazo superior a cinco anos.
Numero da decisão: 1801-000.396
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário para não reconhecer o direito creditório e não homologar a compensação, nos termos do voto da Relatora. Vencido o Conselheiro André Ricardo Lemes da Silva que adota a tese de que o prazo prescricional é de dez anos
Nome do relator: Carmen Ferreira Saraiva
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ementa_s : NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Exercício: 1997 PRESCRIÇÃO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. A pretensão ao reconhecimento do direito creditório relativo ao saldo negativo de CSLL do ano-calendário de 1996 que teve início em 01/01/1997 e pleiteado em 16/07/2004 está alcançado pela prescrição, tendo em vista o decurso do prazo superior a cinco anos.
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conteudo_txt : Metadados => date: 2010-11-18T23:46:41Z; pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; pdf:docinfo:title: Microsoft Word - 2034622_0.doc; xmp:CreatorTool: PScript5.dll Version 5.2; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; dc:creator: e_processo; dcterms:created: 2010-11-18T23:46:41Z; Last-Modified: 2010-11-18T23:46:41Z; dcterms:modified: 2010-11-18T23:46:41Z; dc:format: application/pdf; version=1.4; title: Microsoft Word - 2034622_0.doc; xmpMM:DocumentID: uuid:d622cccc-9efc-47a5-bbde-c26fbff6d309; Last-Save-Date: 2010-11-18T23:46:41Z; pdf:docinfo:creator_tool: PScript5.dll Version 5.2; access_permission:fill_in_form: true; pdf:docinfo:modified: 2010-11-18T23:46:41Z; meta:save-date: 2010-11-18T23:46:41Z; pdf:encrypted: true; dc:title: Microsoft Word - 2034622_0.doc; modified: 2010-11-18T23:46:41Z; Content-Type: application/pdf; pdf:docinfo:creator: e_processo; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; creator: e_processo; meta:author: e_processo; meta:creation-date: 2010-11-18T23:46:41Z; created: 2010-11-18T23:46:41Z; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 7; Creation-Date: 2010-11-18T23:46:41Z; pdf:charsPerPage: 1707; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; Author: e_processo; producer: Acrobat Distiller 6.0.1 (Windows); access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Acrobat Distiller 6.0.1 (Windows); pdf:docinfo:created: 2010-11-18T23:46:41Z | Conteúdo => S1-TE01 Fl. 275 1 274 S1-TE01 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS PRIMEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 13819.001595/2004-80 Recurso nº 506.591 Voluntário Acórdão nº 1801-00.396 – 1ª Turma Especial Sessão de 10 de novembro de 2010 Matéria PER/DCOMP Recorrente NHÁ BENTA INDÚSTRIA DE ALEIMENTOS LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Exercício: 1997 PRESCRIÇÃO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. A pretensão ao reconhecimento do direito creditório relativo ao saldo negativo de CSLL do ano-calendário de 1996 que teve início em 01/01/1997 e pleiteado em 16/07/2004 está alcançado pela prescrição, tendo em vista o decurso do prazo superior a cinco anos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário para não reconhecer o direito creditório e não homologar a compensação, nos termos do voto da Relatora. Vencido o Conselheiro André Ricardo Lemes da Silva que adota a tese de que o prazo prescricional é de dez anos. (assinado digitalmente) Ana de Barros Fernandes - Presidente (assinado digitalmente) Carmen Ferreira Saraiva - Relatora EDITADO EM: Composição do Colegiado: Participaram do presente julgamento os Conselheiros Carmen Ferreira Saraiva, André Ricardo Lemes da Silva, Maria de Lourdes Ramirez, Marcos Vinicius Barros Ottoni, Rogério Garcia Peres e Ana de Barros Fernandes. Fl. 853DF CARF MF Emitido em 02/03/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA Assinado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA, 19/11/2010 por ANA DE BARROS FERNAN DES 2 Relatório A Recorrente formalizou o Pedido de Ressarcimento ou Restituição/Declaração de Compensação (PER/DComp) em 16/07/2004, fls. 01/03, utilizando- se do crédito relativo ao saldo negativo de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) no valor de R$19.757,14 do ano-calendário de 1996. Em conformidade com o Despacho Decisório, fls. 96/97, as informações relativas ao reconhecimento do direito creditório foram analisadas das quais se concluiu pelo indeferimento ao argumento de que o pedido foi alcançado pela prescrição. Cientificada em 30/09/2008, fl. 112, a Recorrente apresentou a manifestação de inconformidade em 30/10/2008, fls. 123/133 e 185/195, argumentando em síntese que discorda da conclusão da análise do pedido. Argumenta que o termo inicial da contagem do prazo prescricional é a data em que o lançamento é homologado (§ 4 do art. 150 do Código Tributário Nacional – CTN). Conclui que o prazo é de dez anos a contar da ocorrência do fato gerador para os pedidos formalizados antes da edição da Lei Complementar nº 118, de 2005, em conformidade com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o princípio da irretroatividade legal. Diz demonstrar, conforme planilha, os pagamentos que entende são maiores que os tributos devidos. Argúi que o crédito tributário deve ser reconhecido acrescido da incidência de juros de mora equivalentes à taxa referencial do Selic. Indica a legislação que rege a matéria, princípios que alega foram violados ainda entendimentos doutrinários e jurisprudenciais em seu favor. Conclui Por todo o exposto, requer seja totalmente reformado o despacho decisório emanado pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em São Bernardo do Campo/SP nos autos deste processo administrativo n° 13819.001595/2004-80, para afastar a decadência alegada e finalmente deferir a compensação integral do saldo negativo da Contribuição Social Sobre Lucro Líquido, oriundo da competência de, dezembro de 1996, exercício de 1997, atualizado monetariamente e acrescido de juros equivalentes à SELIC, nos moldes da previstos pelo § 4° do artigo 39 da Lei n° 9.250/95, com débitos da COFINS apurados em junho de 2004, como medida que represente a mais perfeita e necessária JUSTIÇA TRIBUTÁRIA! Termos em que, Pede deferimento. Está registrado como resultado do Acórdão da 4ª TURMA/DRJ/CPS/SP nº 05-24.984, de 02/03/2009, fls. 250/254:“ Rest/Ress. Indeferido - Comp. não homologada”. Consta que ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Ano-calendário: 1996 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. CRÉDITO CORRESPONDENTE A SALDO NEGATIVO DE CSLL. PRAZO PARA UTILIZAÇÃO. Fl. 854DF CARF MF Emitido em 02/03/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA Assinado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA, 19/11/2010 por ANA DE BARROS FERNAN DES Processo nº 13819.001595/2004-80 Acórdão n.º 1801-00.396 S1-TE01 Fl. 276 3 É de cinco anos, contados da extinção do crédito tributário, o prazo para exercitar o direito à repetição do indébito. Nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, o pagamento antecipado extingue o crédito tributário, sob condição resolutória da ulterior não-homologação ao lançamento, operando-se, portanto, a extinção no momento em que efetuado o pagamento. DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. Indeferido o direito creditório, não se homologa a compensação. Notificada em 04/05/2009, fl. 257, a Recorrente apresentou o recurso voluntário em 03/06/2009, fls. 258/265, esclarecendo a peça atende aos pressupostos de admissibilidade. Discorre sobre o procedimento fiscal contra o qual se insurge. Reitera todos os argumentos apresentados na manifestação de inconformidade. Conclui Por todo o exposto, requer seja recebido e provido o presente recurso perante esse Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda, para o fim de se reformar integralmente o v. acórdão proferido pela 4a Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Campinas-SP, acolhendo-se as razões recursais acima suscitadas, com o escopo de promover compensação integral das quantias indevidamente recolhidas a título de saldo negativo de CSLL oriundo da competência de dezembro de 1996, exercício 1997, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros equivalentes à SELIC, nos moldes da previstos pelo § 4° do artigo 39 da Lei n° 9.250/95, com débitos de COFINS apurados em junho de 2004, como medida que represente a mais perfeita e necessária JUSTIÇA TRIBUTÁRIA! Termos em que, Pede e espera deferimento. É o Relatório. Voto Conselheira Relatora, Carmen Ferreira Saraiva O recurso voluntário apresentado pela Recorrente atende aos requisitos de admissibilidade previstos nas normas de regência. Assim, dele tomo conhecimento. A Recorrente discorda do procedimento fiscal. Cabe esclarecer que a CSLL está sujeita ao lançamento por homologação, nos termos do § 4 do art. 150 do CTN. No que se refere à prescrição, o Código Tributário Nacional prevê: Fl. 855DF CARF MF Emitido em 02/03/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA Assinado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA, 19/11/2010 por ANA DE BARROS FERNAN DES 4 Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I – em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; [...] Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos: I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; [..] Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: I - nas hipóteses dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do crédito tributário; A Lei Complementar nº 118, de 2005, determina: Art. 3o Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, no momento do pagamento antecipado de que trata o § 1o do art. 150 da referida Lei. Art. 4o Esta Lei entra em vigor 120 (cento e vinte) dias após sua publicação, observado, quanto ao art. 3o, o disposto no art. 106, inciso I, da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional. Cabe mencionar a jurisprudência administrativa sobre a questão (fonte: http://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/listaJurisprudencia.jsf, acesso em 14/10/2010): Nº Recurso 156649 - Número do Processo 11080.102959/2003- 11 -Turma 1ª Câmara Contribuinte COMERCIAL DE BEBIDAS AMAZONENSE LTDA Tipo do Recurso Recurso Voluntário - Negado Provimento Por Unanimidade-Data da Sessão 16/12/2008 Relator(a) Valmir Sandri Nº Acórdão 101-97053 -Tributo / Matéria IRPJ - restituição e compensação Decisão Por unanimidade votos, NEGAR provimento ao recurso voluntário. Declarou-se impedido, pela matéria, o Conselheiro João Carlos Lima Junior. Fl. 856DF CARF MF Emitido em 02/03/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA Assinado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA, 19/11/2010 por ANA DE BARROS FERNAN DES Processo nº 13819.001595/2004-80 Acórdão n.º 1801-00.396 S1-TE01 Fl. 277 5 Ementa Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Anos-calendário: 1997 e 1998 Ementa: RESTITUIÇÃO - RECOLHIMENTO INDEVIDO OU A MAIOR - PRESCRIÇÃO – PRAZO Mesmo antes da edição da Lei Complementar nº 118/2005, a jurisprudência majoritária deste E. Conselho de Contribuintes não acolhia a chamada tese dos "cinco mais cinco", pois entendia que, nos casos de recolhimento de tributo efetuado a maior ou indevidamente, o prazo prescricional a ser aplicado é o resultante da combinação dos artigos 168, I e 165, I do CTN, que estabelecem que o direito de pleitear restituição extingue-se com o decurso de prazo de cinco anos a contar da data do pagamento. Recurso Voluntário Improcedente [...] Nº Recurso 152044 -Número do Processo 11080.012500/2002- 38 -Turma 1ª Câmara Contribuinte AVIPAL S/A Tipo do Recurso Recurso Voluntário - Negado Provimento Por Unanimidade-Data da Sessão 16/12/2008 Relator(a) Valmir Sandri Nº Acórdão 101-97060 -Tributo / Matéria IRPJ - restituição e compensação Decisão Por unanimidade votos, NEGAR provimento ao recurso. Declarou-se impedido o Conselheiro José Ricardo da Silva. Ementa Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2002 Ementa: IRPJ DIREITO CREDITÓRIO - COMPENSAÇÃO – IRRF – Não tendo a contribuinte comprovado, com documentos hábeis e idôneos a totalidade do imposto de renda retido na fonte, compensado com o imposto devido por estimativa, impõe se a manutenção do direito creditório apurado pela decisão recorrida. RESTITUIÇÃO - RECOLHIMENTO INDEVIDO OU A MAIOR - PRESCRIÇÃO – PRAZO - Mesmo antes da edição da Lei Complementar nº 118/2005, este E. Conselho de Contribuintes não acolhia a chamada tese dos "cinco mais cinco", pois entendia que, nos casos de recolhimento de tributo efetuado a maior ou indevidamente, o prazo prescricional a ser aplicado é o resultante da combinação dos artigos 168, I e 165, I do CTN, que estabelecem que o direito de pleitear restituição extingue-se com o decurso de prazo de cinco anos a contar da data de extinção do crédito tributário. Recurso Voluntário Negado. Vale esclarecer que o art. 3 da Lei Complementar n 118, de 2005, está em vigor e tem efeito expressamente retroativo. Mesmo antes da edição desta norma, o entendimento jurisprudencial pacificado desta segunda instância de julgamento é no sentido de que prevalece o prazo prescricional qüinqüenal a contar do pagamento maior que o tributo devido. A pretensão ao reconhecimento do direito creditório relativo ao saldo negativo de CSLL do ano-calendário de 1996 teve início em 01/01/1997 e foi pleiteado em 16/07/2004, fls. Fl. 857DF CARF MF Emitido em 02/03/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA Assinado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA, 19/11/2010 por ANA DE BARROS FERNAN DES 6 01/03. Assim o pedido foi alcançado pela prescrição, tendo em vista o decurso do prazo superior a cinco anos. Por conseguinte, não cabem reparos ao procedimento fiscal. A Recorrente argúi que o crédito tributário deve ser reconhecido acrescido da incidência de juros de mora equivalentes à taxa referencial do Selic. A Instrução Normativa SRF nº 210, de 30 de setembro de 2002, que vigorava à época da entrega da Per/DComp, determinava: Art. 28. Na compensação efetuada pelo sujeito passivo, os créditos serão acrescidos de juros compensatórios na forma prevista nos arts. 38 e 39 e os débitos sofrerão a incidência de acréscimos moratórios, na forma da legislação de regência, até a data da entrega da Declaração de Compensação. (Redação dada pela IN SRF nº 323, de 24/04/2003) [...] Art. 38. As quantias recolhidas ao Tesouro Nacional a título de tributo ou contribuição administrado pela SRF serão restituídas ou compensadas com o acréscimo de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais, acumulados mensalmente, e de juros de 1% (um por cento) no mês em que a quantia for disponibilizada ou utilizada na compensação de débitos do sujeito passivo, [...] Tendo em vista o princípio da legalidade, os acréscimos legais são cabíveis de acordo com as normas de regência da matéria. Logo, estes consectários não podem ser afastados. No que se refere à interpretação da legislação e aos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais indicados na peça recursal, cabe esclarecer que somente devem ser observados os atos para os quais a lei atribua eficácia normativa, o que não se aplica ao presente caso (art. 100 do Código Tributário Nacional). Em relação aos princípios constitucionais que a Recorrente entende que supostamente foram violados, cabe transcrever o enunciado da Súmula CARF n 2, que é de adoção obrigatória (art. 72 do Anexo II da Portaria n 256, de 22 de junho de 2009, que aprova o Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - CARF), e que assim determina: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Logo, este argumento não pode prosperar. Em face do exposto voto, no mérito, por negar provimento ao recurso voluntário para não reconhecer o direito creditório e não homologar a compensação. (assinado digitalmente) Carmen Ferreira Saraiva Fl. 858DF CARF MF Emitido em 02/03/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA Assinado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA, 19/11/2010 por ANA DE BARROS FERNAN DES Processo nº 13819.001595/2004-80 Acórdão n.º 1801-00.396 S1-TE01 Fl. 278 7 Fl. 859DF CARF MF Emitido em 02/03/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA Assinado digitalmente em 18/11/2010 por CARMEN FERREIRA SARAIVA, 19/11/2010 por ANA DE BARROS FERNAN DES
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