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Numero do processo: 13888.901399/2014-65
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 28 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Oct 17 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ano-calendário: 2012
NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA.
A existência de despacho decisório contendo motivação clara, explícita e congruente, desautoriza a alegação de cerceamento de defesa.
BASE DE CÁLCULO. ICMS. EXCLUSÃO.
O valor do ICMS devido pela própria contribuinte integra a base de cálculo da COFINS.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3402-003.334
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário.
(Assinado com certificado digital)
Antonio Carlos Atulim Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: ANTONIO CARLOS ATULIM
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Inclusão do ICMS na base de cálculo. Recorrente AÇOVIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ESTRUTURAS METÁLICAS E PRÉMOLDADOS DE CONCRETO LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Anocalendário: 2012 NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. A existência de despacho decisório contendo motivação clara, explícita e congruente, desautoriza a alegação de cerceamento de defesa. BASE DE CÁLCULO. ICMS. EXCLUSÃO. O valor do ICMS devido pela própria contribuinte integra a base de cálculo da COFINS. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim – Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório Tratase de pedido eletrônico de restituição da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins, cumulado com declaração de compensação, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 88 8. 90 13 99 /2 01 4- 65 Fl. 51DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901399/201465 Acórdão n.º 3402003.334 S3C4T2 Fl. 3 2 denegado em tempo hábil por meio de despacho decisório eletrônico, sob o fundamento de que o DARF representativo do pagamento indevido estava inteiramente alocado para a quitação de débitos anteriormente declarados pelo contribuinte. Em tempo hábil, foi apresentada manifestação de inconformidade na qual a defesa alegou, em síntese, que houve nulidade por cerceamento do direito de defesa e que o crédito do contribuinte decorre de pagamento indevido, em razão de ter sido incluído o ICMS na base de cálculo da contribuição. Afirmou que o ICMS é mero ingresso que não pode ser incluído no conceito de faturamento. Invocou o precedente consubstanciado no RE 240.785 do STF e informou que os artigos 73 e 74 da Lei nº 9.430/96 garantem seu direito de compensar o indébito apurado. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento rejeitou a preliminar de nulidade e, no mérito, decidiu o seguinte: a) o valor do DARF está inteiramente alocado para pagamento de débitos informados pelo próprio contribuinte; b) a lei apenas permite a exclusão da base de cálculo da contribuição do ICMS recolhido na condição de substituto tributário e da receita proveniente da alienação onerosa de créditos do ICMS; e c) o valor dos débitos declarados para compensação é de magnitude superior ao valor do único DARF vinculado a essas compensações. Regularmente notificado do Acórdão de primeira instância, o contribuinte apresentou em tempo hábil recurso voluntário a este Colegiado, alegando, em síntese, o seguinte: a) nulidade por cerceamento de defesa porque o despacho decisório não diz as razões pelas quais o contribuinte não tem o crédito que alega possuir. Essa omissão impediu o contribuinte de exercer a plena demonstração de seu crédito, pois não há como argumentar contra uma decisão que se mostra lacônica; b) a base de cálculo da contribuição sempre foi o faturamento e com o advento da Lei nº 10.833/2003 houve uma ampliação, passando a base de cálculo a abranger a totalidade das receitas auferidas pelo contribuinte. Entretanto, o valor do ICMS não pode ser considerado como receita do contribuinte, sob pena de violação do art. 110 do CTN, pois a lei não pode considerar receita o que não é receita. O ICMS representa para o contribuinte mero ingresso, pois o valor é posteriormente destinado ao fisco estadual. Tal interpretação foi cristalizada em caráter definitivo no RE 240.7852, que deve ser aplicado ao caso concreto. Reafirmou a existência do indébito e seu direito de compensálo com base nos arts. 73 e 74 da Lei nº 9.430/96. É o relatório. Voto Conselheiro Antonio Carlos Atulim, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3402003.317, de 28 de setembro de 2016, proferido no julgamento do processo 10865.904904/201231, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3402003.317): Fl. 52DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901399/201465 Acórdão n.º 3402003.334 S3C4T2 Fl. 4 3 "O recurso preenche os requisitos formais para sua admissibilidade e, portanto, dele se toma conhecimento. Relativamente à preliminar de nulidade, não assiste razão à defesa. Isso porque, ao contrário do alegado, o despacho decisório declinou com todas as letras o motivo pelo qual a Administração Tributária denegou o pleito do contribuinte e não homologou as compensações declaradas. O Despacho Decisório apresenta a seguinte motivação: "(...) A partir das características do DARF discriminado no PER/DECOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, abaixo relacionados, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando saldo disponível para compensação dos débitos informados no PER/DECOMP. (...)" No mesmo despacho encontramse perfeitamente identificados o número do PER/DECOMP, o número do DARF e o valor relativo ao suposto pagamento indevido. O texto acima transcrito revela que a compensação não foi homologada porque o valor do DARF está inteiramente alocado para o pagamento de débitos declarados pelo próprio contribuinte. Em outras palavras: o contribuinte não possui o crédito alegado no PER/DECOMP porque o valor já foi utilizado para extinguir débitos por ele próprio declarados. Portanto, o despacho decisório não foi lacônico, uma vez que declinou expressamente o motivo da não homologação da compensação: o contribuinte não tem o crédito alegado. Essa fundamentação está explícita de forma clara, precisa e congruente com a decisão de não homologar a compensação, o que atende às exigências do art. 50, § 1º, da Lei nº 9.784/99. Sendo assim, é improcedente a alegação de nulidade, pois o contribuinte não teve seu direito ao contraditório e à ampla defesa cerceados, mesmo porque a apresentação de impugnação e de recurso voluntário, deduzindo argumentos no sentido de demonstrar a existência jurídica do indébito desautorizam a invocação dessa preliminar. No mérito, deflui dos autos que o contribuinte apurou e recolheu a contribuição incluindo o ICMS na sua base de cálculo e agora comparece perante a Administração Tributária alegando que o recolhimento foi efetuado em montante superior ao devido porque a inclusão do ICMS no faturamento ou na receita é inconstitucional. O recolhimento efetuado pelo contribuinte, incluindo o ICMS na base de cálculo da contribuição, está calcado em entendimento sedimentado desde tempos imemoriais na seara tributária. Tal entendimento tem respaldo legal no art. 12 do DecretoLei nº 1.598/77 e na Instrução Normativa nº 51, de 03/11/1978, que a regulamentou. Fl. 53DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901399/201465 Acórdão n.º 3402003.334 S3C4T2 Fl. 5 4 O art. 12 do DecretoLei nº 1.598/77, na redação vigente na época do fato gerador relativo ao pagamento tido como indevido, estabelecia o seguinte: "Art 12 A receita bruta das vendas e serviços compreende o produto da venda de bens nas operações de conta própria e o preço dos serviços prestados. § 1º A receita líquida de vendas e serviços será a receita bruta diminuída das vendas canceladas, dos descontos concedidos incondicionalmente e dos impostos incidentes sobre vendas. (...)" (Fonte da transcrição: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decretolei/ del1598.htm) Já o item 4 da IN SRF nº 51/78, estabelece o seguinte: 4. A receita líquida de vendas e serviços é a receita bruta da vendas e serviços, diminuídas (a) das vendas canceladas, (b) dos descontos e abatimentos concedidos incondicionalmente e (c) dos impostos incidentes sobre as vendas. (...) 4.3 Para os efeitos desta Instrução Normativa reputamse incidentes sobre as vendas os impostos que guardam proporcionalmente (sic) com o preço da venda ou dos serviços, mesmo que o respectivo montante integra (sic) a base de cálculo, tais como o imposto de circulação de mercadorias, o imposto sobre serviços de qualquer natureza, o imposto de exportação, o imposto único sobre energia elétrica, o imposto único sobre combustíveis e lubrificantes etc. 4.3.1 Incluemse também neste item: a) taxas que guardam proporcionalidade com o preço de venda; b) a parcela de contribuição para o Programa de integração Social calculada sobre o faturamento; c) a quota de contribuição, ou retenção cambial, devida na exportação. (Fonte da transcrição: http://sijut.fazenda.gov.br/netahtml/ sijut/Pesquisa.htm) Portanto, o recolhimento efetuado pelo contribuinte está em conformidade com a legislação vigente e com entendimento sedimentado há anos na seara tributária, uma vez que o valor do ICMS integra o preço da mercadoria, sendo tal valor deduzido contabilmente como despesa operacional. O contribuinte alega, em síntese, a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo da contribuição porque o imposto estadual não se enquadra no conceito de faturamento ou mesmo no de receita estabelecido pela constituição. Ao contrário do alegado pelo contribuinte, tal argumento não pode ser acatado pelos órgãos administrativos de julgamento, pois o art. 26A do Fl. 54DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901399/201465 Acórdão n.º 3402003.334 S3C4T2 Fl. 6 5 Decreto nº 70.235/72 proíbe este colegiado de negar vigência a texto legal com hierarquia superior a Decreto, em razão de arguição de inconstitucionalidade, in verbis: "Art. 26A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade.(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) (...) § 6o O disposto no caput deste artigo não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo:(Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) I – que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão definitiva plenária do Supremo Tribunal Federal;(...)" O contribuinte invoca a seu favor o acórdão do STF proferido no RE 240.7852. Entretanto, esse recurso extraordinário ainda não foi definitivamente julgado, não se enquadrando no disposto no § 6º, I, acima transcrito, e nem nas disposições do Decreto nº 2.346/97, para que o entendimento possa ser estendido administrativamente a outros casos concretos. Não se olvide que essa questão é objeto do Tema 69 dos recursos submetidos à sistemática da repercussão geral no STF e será decidida no RE nº 574.706. Acrescentese que a Súmula CARF nº 2 estabelece que o CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade da lei tributária. Considerando que os recolhimentos efetuados pelo contribuinte, com a inclusão do ICMS na base de cálculo da COFINS, estão conformes à legislação vigente, voto no sentido de negar provimento ao recurso." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, negase provimento ao recurso voluntário, para não reconhecer o direito creditório em litígio. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim Fl. 55DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM
score : 1.0
Numero do processo: 13771.720572/2015-14
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 20 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Oct 20 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2014
PRORROGAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. REQUERIMENTO INDEFERIDO
Inexiste previsão legal para prorrogação do trâmite regular de processo administrativo fiscal em razão de litígio judicial estranho ao objeto da lide.
DESPESA COM PENSÃO ALIMENTÍCIA. DEDUTIBILIDADE PARCIAL
Somente são dedutíveis da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física - IRPF valores pagos a título de pensão alimentícia quando restar comprovado, além o efetivo pagamento, que os alimentos decorrem do cumprimento de decisão judicial, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública de separação ou divórcio consensual. A pensão paga em desconformidade com as normas do Direito de Família constitui mera liberalidade.
O pagamento de pensão alimentícia, por liberalidade, não pode ser deduzido da base de cálculo do imposto de renda. Inteligência do inciso II do art. 4º e a alínea f do inciso II do art. 8º da Lei nº 9.250/1995 e do enunciado da Súmula CARF nº 98.
DESPESAS MÉDICAS. APRESENTAÇÃO DE RECIBOS DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO PARA A DEMANDA DE COMPROVAÇÃO ADICIONAL.
Devem ser restabelecidas as despesas médicas amparadas por recibos emitidos pelos prestadores de serviços que preencham os requisitos do § 2º do art. 8º da Lei nº 9.250/95, salvo se por demanda fundamentada de comprovação adicional não for atendida.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 2402-005.509
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade, em conhecer do recurso e, por maioria dar-lhe parcial provimento para: a) restabelecer a dedução de R$ 8.476,20 (oito mil, quatrocentos de setenta seis reais e vinte centavos) a título de pensão alimentícia, nos termos do voto do Relator, vencidos os Conselheiros Ronnie Soares Anderson, Bianca Felícia Rothschild e João Victor Ribeiro Aldinucci, que davam provimento em maior extensão e b) restabelecer a dedução relativa às despesas médicas, vencidos o Conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho (Relator) que mantinha a glosa. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Ronnie Soares Anderson.
(assinado digitalmente)
Kleber Ferreira de Araújo - Presidente
(assinado digitalmente)
Mário Pereira de Pinho Filho - Relator
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Redator Designado
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Mário Pereira de Pinho Filho, Bianca Felícia Rothschild, João Victor Ribeiro Aldinucci, Ronnie Soares Anderson, Theodoro Vicente Agostinho, Túlio Teotônio de Melo Pereira e Amilcar Barca Teixeira Júnior.
Nome do relator: MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Exercício: 2014 PRORROGAÇÃO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. REQUERIMENTO INDEFERIDO Inexiste previsão legal para prorrogação do trâmite regular de processo administrativo fiscal em razão de litígio judicial estranho ao objeto da lide. DESPESA COM PENSÃO ALIMENTÍCIA. DEDUTIBILIDADE PARCIAL Somente são dedutíveis da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física - IRPF valores pagos a título de pensão alimentícia quando restar comprovado, além o efetivo pagamento, que os alimentos decorrem do cumprimento de decisão judicial, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública de separação ou divórcio consensual. A pensão paga em desconformidade com as normas do Direito de Família constitui mera liberalidade. O pagamento de pensão alimentícia, por liberalidade, não pode ser deduzido da base de cálculo do imposto de renda. Inteligência do inciso II do art. 4º e a alínea f do inciso II do art. 8º da Lei nº 9.250/1995 e do enunciado da Súmula CARF nº 98. DESPESAS MÉDICAS. APRESENTAÇÃO DE RECIBOS DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO PARA A DEMANDA DE COMPROVAÇÃO ADICIONAL. Devem ser restabelecidas as despesas médicas amparadas por recibos emitidos pelos prestadores de serviços que preencham os requisitos do § 2º do art. 8º da Lei nº 9.250/95, salvo se por demanda fundamentada de comprovação adicional não for atendida. Recurso Voluntário Provido em Parte.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade, em conhecer do recurso e, por maioria dar-lhe parcial provimento para: a) restabelecer a dedução de R$ 8.476,20 (oito mil, quatrocentos de setenta seis reais e vinte centavos) a título de pensão alimentícia, nos termos do voto do Relator, vencidos os Conselheiros Ronnie Soares Anderson, Bianca Felícia Rothschild e João Victor Ribeiro Aldinucci, que davam provimento em maior extensão e b) restabelecer a dedução relativa às despesas médicas, vencidos o Conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho (Relator) que mantinha a glosa. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Ronnie Soares Anderson. (assinado digitalmente) Kleber Ferreira de Araújo - Presidente (assinado digitalmente) Mário Pereira de Pinho Filho - Relator (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson - Redator Designado Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Mário Pereira de Pinho Filho, Bianca Felícia Rothschild, João Victor Ribeiro Aldinucci, Ronnie Soares Anderson, Theodoro Vicente Agostinho, Túlio Teotônio de Melo Pereira e Amilcar Barca Teixeira Júnior.
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AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. REQUERIMENTO INDEFERIDO Inexiste previsão legal para prorrogação do trâmite regular de processo administrativo fiscal em razão de litígio judicial estranho ao objeto da lide. DESPESA COM PENSÃO ALIMENTÍCIA. DEDUTIBILIDADE PARCIAL Somente são dedutíveis da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física IRPF valores pagos a título de pensão alimentícia quando restar comprovado, além o efetivo pagamento, que os alimentos decorrem do cumprimento de decisão judicial, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública de separação ou divórcio consensual. A pensão paga em desconformidade com as normas do Direito de Família constitui mera liberalidade. O pagamento de pensão alimentícia, por liberalidade, não pode ser deduzido da base de cálculo do imposto de renda. Inteligência do inciso II do art. 4º e a alínea “f” do inciso II do art. 8º da Lei nº 9.250/1995 e do enunciado da Súmula CARF nº 98. DESPESAS MÉDICAS. APRESENTAÇÃO DE RECIBOS DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO PARA A DEMANDA DE COMPROVAÇÃO ADICIONAL. Devem ser restabelecidas as despesas médicas amparadas por recibos emitidos pelos prestadores de serviços que preencham os requisitos do § 2º do art. 8º da Lei nº 9.250/95, salvo se por demanda fundamentada de comprovação adicional não for atendida. Recurso Voluntário Provido em Parte. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 77 1. 72 05 72 /2 01 5- 14 Fl. 73DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade, em conhecer do recurso e, por maioria darlhe parcial provimento para: a) restabelecer a dedução de R$ 8.476,20 (oito mil, quatrocentos de setenta seis reais e vinte centavos) a título de pensão alimentícia, nos termos do voto do Relator, vencidos os Conselheiros Ronnie Soares Anderson, Bianca Felícia Rothschild e João Victor Ribeiro Aldinucci, que davam provimento em maior extensão e b) restabelecer a dedução relativa às despesas médicas, vencidos o Conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho (Relator) que mantinha a glosa. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Ronnie Soares Anderson. (assinado digitalmente) Kleber Ferreira de Araújo Presidente (assinado digitalmente) Mário Pereira de Pinho Filho Relator (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Redator Designado Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Mário Pereira de Pinho Filho, Bianca Felícia Rothschild, João Victor Ribeiro Aldinucci, Ronnie Soares Anderson, Theodoro Vicente Agostinho, Túlio Teotônio de Melo Pereira e Amilcar Barca Teixeira Júnior. Fl. 74DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON Processo nº 13771.720572/201514 Acórdão n.º 2402005.509 S2C4T2 Fl. 74 3 Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Porto Alegre – DRJ/POA, que julgou procedente Notificação de Lançamento de Imposto de Renda das Pessoas Físicas IRPF (fls. 7/12), relativa ao ano calendário 2013 / exercício 2014, a qual resultou em imposto suplementar no valor de R$ 8.824,02 (oito mil, oitocentos e vinte e quatro reais e dois centavos). De acordo com a Notificação de lançamento, o crédito foi constituído em razão da glosa de valores deduzidos i) com pensão alimentícia, R$ 42.723,97 (quarenta e dois mil, setecentos e vinte e três reais e noventa e sete centavos), em razão de o termo de audiência apresentado ser datado de 1992 e o contribuinte não ter apresentado atualizados, confirmando se o referido termo ainda estava em vigor; ii) a título de despesas medicas, R$ 8.800,00 (oito mil e oitocentos reais), pela não apresentação de documentos aptos a comprovar o pagamento das despesas, conforme solicitado pela Fiscalização. O Recorrente apresentou impugnação por meio do documento de fls. 2/5, alegando, em síntese, que: a) os pagamentos efetuados a título de pensão alimentícia, inclusive a prestação de alimentos provisionais, foi realizado conforme normas do Direito de Família, em decorrência de decisão judicial, de acordo homologado judicialmente ou de escritura pública, no caso de divórcio consensual; a) a pensão alimentícia está devidamente amparada por Termo de Audiência de 1992 e Oficio 165/91, não procedendo a alegação de termos desatualizados, tendo em vista que a carta de sentença é indeterminada e vitalícia, sendo os valores deduzidos automaticamente pela fonte pagadora, obedecendo a determinação judicial; c) com relação às despesas médicas, os valores deduzidos referemse a pagamento parcelado de tratamento odontológico pago em 10 vezes, conforme recibos em anexo, datado, carimbado e assinado pelo profissional prestador dos serviços, em conformidade com os requisitos exigidos para dedução A DRJ/POA julgou a impugnação improcedente, acórdão de fls. 43/45, conforme se descreve a seguir: a) Pensão alimentícia Judicial: “A falta de documento expedido pelo Poder Judiciário, com a informação atualizada de que permanece a obrigação do contribuinte em prestar alimentos aos filhos e à exesposa, é fator determinante para a manutenção da glosa da despesa com pensão alimentícia”; b) Despesas Médicas: Fl. 75DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON 4 embora o Termo de Intimação Fiscal tenha determinado ao contribuinte “a apresentação dos ‘comprovantes originais e cópias das despesas médicas, bem como do seu efetivo pagamento (cópias de cheques, extratos bancários ou de cartões de crédito)’ (...) o contribuinte apresentou apenas os recibos de fls. 24/34. As cópias dos cheques, os extratos bancários ou extratos de cartão de crédito não foram apresentados”. “os recibos informam pagamentos mensais no valor de R$ 880,00 a partir do mês de março até dezembro de 2013. Entretanto, o prestador do serviço não informou em sua Declaração de Ajuste AnualDAA ‘rendimento tributável recebidos de pessoa física’ nos meses de março, maio, julho, agosto, outubro e dezembro, ou seja, os valores declarados pelo profissional não coincidem com aqueles informados como recebidos e constantes nos documentos por ele firmados os quais foram apresentados pelo notificado.” Por ocasião do recurso voluntário (fls. 52/70) o contribuinte argumenta que: a) os débitos glosados não procedem, tendo em vista que o desconto de Pensão Alimentícia permanece em vigor, vem sendo efetuado mensalmente em sua folha de pagamento em favor da exesposa Lea Maria Calmon Fernandes e a sentença judicial ainda vigora. Anexa documentação de fls. 65/67; b) no dia 5/4/2016, foi dada a entrada no Fórum de Linhares/ES, local de residência da exesposa, o pedido de exoneração da pensão dos filhos e manutenção da pensão em nome da mesma. Apresenta cópia de Petição Inicial (fls. 54/64); c) a Petição Inicial apresentada em 5/4/2016 ainda está em tramite e aguarda julgamento do juiz; d) quanto à glosa de despesas médicas, aduz não ter procedência, visto que os recibos foram apresentados. e) entende não haver a obrigatoriedade em efetuar os pagamentos com cheques ou cartão de crédito; e f) assevera não ser de sua responsabilidade o fato de o prestador de serviços ter deixado de declarar os valores por ele (prestador) recebidos em sua Declaração de Ajuste Anual – DAA como rendimentos tributáveis. Requer a prorrogação do Processo 13771720.572/201514, até que seja julgada a decisão da ação de revisão da pensão em curso; e o cancelamento do débito fiscal. É o relatório. Fl. 76DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON Processo nº 13771.720572/201514 Acórdão n.º 2402005.509 S2C4T2 Fl. 75 5 Voto Vencido Conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho Relator O recurso é tempestivo e atende às demais condições de admissibilidade, portanto, dele conheço. DA PRELIMINAR Com relação ao pedido de prorrogação do Processo objeto de análise, até que seja julgada a decisão da ação de revisão da pensão, em curso na Justiça do Espírito Santo. Em razão da inexistência de previsão legal que possa amparar a pretensão do Recorrente, indefiro o requerimento. DO MÉRITO Considerações Gerais As deduções pleiteadas pelo Recorrente encontramse disciplinadas nos dispositivos dos arts art. 4º e 8º da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, abaixo reproduzidos: Art. 4º. Na determinação da base de cálculo sujeita à incidência mensal do imposto de renda poderão ser deduzidas: [...] II – as importâncias pagas a título de pensão alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em cumprimento de decisão judicial, inclusive a prestação de alimentos provisionais, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública a que se refere o art. 1.124A da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil; [...] Art. 8º A base de cálculo do imposto devido no anocalendário será a diferença entre as somas: I de todos os rendimentos percebidos durante o anocalendário, exceto os isentos, os nãotributáveis, os tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação definitiva; II das deduções relativas: a) aos pagamentos efetuados, no anocalendário, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas com exames Fl. 77DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON 6 laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias; [...] f) às importâncias pagas a título de pensão alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em cumprimento de decisão judicial, inclusive a prestação de alimentos provisionais, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública a que se refere o art. 1.124A da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil; § 2º O disposto na alínea a do inciso II: I aplicase, também, aos pagamentos efetuados a empresas domiciliadas no País, destinados à cobertura de despesas com hospitalização, médicas e odontológicas, bem como a entidades que assegurem direito de atendimento ou ressarcimento de despesas da mesma natureza; II restringese aos pagamentos efetuados pelo contribuinte, relativos ao próprio tratamento e ao de seus dependentes; III limitase a pagamentos especificados e comprovados, com indicação do nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas CPF ou no Cadastro Geral de Contribuintes CGC de quem os recebeu, podendo, na falta de documentação, ser feita indicação do cheque nominativo pelo qual foi efetuado o pagamento; [...] O caput e os §§ 1º e 2º do art. 73 do Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 – Regulamento do Imposto de Renda (RIR), nos termos dos §§ 3º a 5º do DecretoLei nº 5.844, de 1943, estabelecem a necessidade de comprovação das despesas deduzidas da base de cálculo do IRPF e a possibilidade de glosa de deduções indevidas: Art. 73. Todas as deduções estão sujeitas a comprovação ou justificação, a juízo da autoridade lançadora (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 3º). § 1º Se forem pleiteadas deduções exageradas em relação aos rendimentos declarados, ou se tais deduções não forem cabíveis, poderão ser glosadas sem a audiência do contribuinte (Decreto Lei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 4º). § 2º As deduções glosadas por falta de comprovação ou justificação não poderão ser restabelecidas depois que o ato se tornar irrecorrível na esfera administrativa (DecretoLei nº 5.844, de 1943, art. 11, § 5º). Consoante estabelece o art. 73 do RIR, a autoridade administrativa pode, a seu juízo, exigir a comprovação ou justificação das despesas objeto de dedução com o fim de verificar sua efetiva ocorrência e o atendimento dos requisitos prescritos em lei e, caso o pagamento dessas despesas não restem comprovados ou verifiquemse ausentes outras condições legalmente estabelecidas, as deduções serão glosadas por meio do lançamento respectivo. Fl. 78DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON Processo nº 13771.720572/201514 Acórdão n.º 2402005.509 S2C4T2 Fl. 76 7 Dedução de Despesas com Pensão Alimentícia Da leitura das disposições normativas encimadas (inciso II do art. 4º e alínea “f” do inciso II do art. 8º da Lei nº 9.250/1995) verificase que as deduções a título de pensão alimentícia da base de cálculo do IRPF visam substituir os abatimentos realizados em relação ao imposto, relativos aos dependentes, suas despesas médicoodontológicas e com educação, dentre outros, por ocasião do rompimento da sociedade conjugal. Nesse contexto, importa recorrer ao conceito de dependente para os fins da legislação do Imposto de Renda. A esse respeito, dispõe o art. 35 da Lei nº 9.250/95: Art. 35. Para efeito do disposto nos arts. 4º, inciso III, e 8º, inciso II, alínea c, poderão ser considerados como dependentes: I o cônjuge; II o companheiro ou a companheira, desde que haja vida em comum por mais de cinco anos, ou por período menor se da união resultou filho; III a filha, o filho, a enteada ou o enteado, até 21 anos, ou de qualquer idade quando incapacitado física ou mentalmente para o trabalho; IV o menor pobre, até 21 anos, que o contribuinte crie e eduque e do qual detenha a guarda judicial; V o irmão, o neto ou o bisneto, sem arrimo dos pais, até 21 anos, desde que o contribuinte detenha a guarda judicial, ou de qualquer idade quando incapacitado física ou mentalmente para o trabalho; VI os pais, os avós ou os bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tributáveis ou não, superiores ao limite de isenção mensal; VII o absolutamente incapaz, do qual o contribuinte seja tutor ou curador. § 1º Os dependentes a que se referem os incisos III e V deste artigo poderão ser assim considerados quando maiores até 24 anos de idade, se ainda estiverem cursando estabelecimento de ensino superior ou escola técnica de segundo grau. [...] De se notar que as normas que disciplinam as hipóteses de dedução de despesas com pensão alimentícia na DAA determinam que essa dedução deve obedecer cumulativamente aos seguintes requisitos: i) a comprovação do efetivo pagamento aos alimentandos; ii) que esses pagamentos decorram do cumprimento de decisão judicial, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública de separação ou divórcio consensual; iii) que a pensão tenha sido paga em face das normas do Direito de Família; e iv) que os alimentos se destinem a substituir as despesas havidas com os dependentes do contribuinte no contexto da sociedade conjugal. Fl. 79DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON 8 Ainda com relação à prestação de alimentos, verificase que tal incumbência está fundada no binômio necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante, nesse sentido, os arts. 1.694, 1.695 e 1699 do Código Civil dispõem: Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. § 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. § 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. [...] Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo. No caso que ora se analisa, temse que o contribuinte deduziu de sua DAA valores relacionados a pensão alimentícia decorrente de acordo homologado judicialmente em 1994, destinada à exesposa e aos seus três filhos, no percentual de 40% sobre sua remuneração líquida mensal. Na petição de fls. 54/64, que tramita na Justiça do Espírito Santo (por meio da qual o contribuinte busca revisar a pensão paga a esposa e aos filhos), apresentada por ocasião do recurso voluntário, extraise informações essenciais para a análise da presente questão. Vejamos: a) dos 40% (quarenta por cento) incidentes sobre a remuneração líquida do Recorrente, pagos a título de pensão, são destinados 10% (dez por cento) para a exesposa e 10% (dez por cento) para cada um dos filhos; b) no tocante à idade de cada filho no início do ano calendário relativo à Notificação de Lançamento (2013), constatase que: Wellington Gustavo Fernandes Menezes, nascido no dia 04/12/1977, tinha 35 (trinta e cinco) anos; Fabio Fernandes Menezes, nascido no dia 20/06/1974, tinha 38 (trinta e oito) anos; e Luciana Fernandes Menezes, nascida no dia 08/12/1972, tinha 40 (quarenta) anos. Com base nos documentos acostados aos autos pelo Recorrente, é possível inferir que o acordo homologado judicialmente, do qual decorre o pagamento da pensão, ainda Fl. 80DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON Processo nº 13771.720572/201514 Acórdão n.º 2402005.509 S2C4T2 Fl. 77 9 encontrase válido. Do mesmo modo, o comprovante de rendimentos apresentado ainda na impugnação (fl. 21) demonstra que os pagamentos foram efetivamente realizados no ano calendário em que se deu o lançamento do crédito tributário. Por outro lado, fazse necessário verificar se as deduções efetuadas pelo contribuinte estão em conformidade com a legislação tributária. Para tanto, mesmo ainda estando válido o acordo judicial, esse precisa estar amparado pelas normas do Direito de Família e os alimentos devem se destinar a substituir as despesas que seriam havidas com os dependentes do contribuinte no contexto da sociedade conjugal. Com relação à exesposa do Recorrente, entendo que a dedução dos alimentos na DAA não encontra óbice nas normas tributárias ou do Direito de Família, devendose restabelecer a dedução. No tocante aos filhos do sujeito passivo, considero não haver indícios de que a prestação de alimentos esteja fundada no binômio necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante, consoante dispõem os arts. 1.694, 1.695 e 1699 do Código Civil, ou seja, tratase de situação que não encontra amparo nas normas do Direito de Família. Ademais, caso a sociedade conjugal não tivesse se dissolvido, esses não ser revestiriam da condição de dependentes eis que, para tanto, precisariam, nos termos do § 3º do art. 35 da Lei nº 9.250/95, ter no máximo 24 (vinte e quatro) anos de idade e estarem matriculados em estabelecimento de ensino superior ou escola técnica de segundo grau, o que não é o caso. De mais a mais, situações como a analisada no presente processo, em que a instituição da pensão não resulta da aplicação das normas relacionadas ao Direito de Família, pressupõem que os pagamentos a esse título foram feitos por mera liberalidade o que impossibilita sua de dedução na DAA. A esse respeito, vejamos o que dispõe a Súmula CARF nº 98, de observância obrigatória por este colegiado: Súmula CARF nº 98: A dedução de pensão alimentícia da base de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Física é permitida, em face das normas do Direito de Família, quando comprovado o seu efetivo pagamento e a obrigação decorra de decisão judicial, de acordo homologado judicialmente, bem como, a partir de 28 de março de 2008, de escritura pública que especifique o valor da obrigação ou discrimine os deveres em prol do beneficiário. Por todo o exposto, entendo que se deva restabelecer a dedução exclusivamente em relação à pensão paga à exesposa do Recorrente, em valor correspondente a 10% (dez por cento) de sua remuneração líquida, o que corresponde a R$ 8.476,20 [(R$ 90.097,82R$ 5.335,86) x 10%)], conforme dados extraídos de seu comprovante de rendimentos. Dedução de Despesas Médicas No tocante às despesas médicas, sua dedução está subordinada aos preceitos insculpidos na alínea “a” do inciso II e no § 2 º do art. 8º da Lei n° 9.250/95 e no caput e os §§ 1º e 2º do art. 73. De conformidade do citados dispositivos o direito à dedução pressupõe i) que os serviços tenham como destinatários o contribuinte ou seus dependentes legais no ano Fl. 81DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON 10 calendário referente à DAA; ii) em se tratando de pessoas físicas, que os serviços tenham sido prestados por profissionais médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, o que pressupõe seu registro no órgão profissional respectivo; e iii) que os pagamentos sejam especificados e comprovados, com indicação do nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica CNPJ de quem os recebeu. Impende rememorar que a Autoridade Fiscalizadora pode requisitar, além de comprovantes emitidos pelos prestadores de serviços, outros elementos que julgue necessário à efetiva comprovação do pagamento das despesas com tratamentos de saúde, obrigandose o contribuinte à indicação de documentos que possam corroborar os desembolsos. É certo que o sujeito passivo não está obrigado a efetuar pagamentos com serviços de saúde através de cheque ou cartão de crédito, tampouco tem qualquer responsabilidade pelas informações apresentadas ao Fisco pelos contribuintes que lhe tenham prestado qualquer tipo de serviço. Entretanto, mesmo que os pagamentos tenham sido feitos em dinheiro, poderia, por exemplo, fazer prova da disponibilidade financeira vinculada aos desembolsos na data da realização dos serviços, com a apresentação de extratos bancários com saques que justificassem os pagamentos, permitindose, assim, a verificação inequívoca do nexo causal entre os recibos apresentados e os pagamentos efetuados. Isso posto, não tendo sido comprovado o efetivo pagamento das despesas, entendo pela manutenção da glosa relativa às despesas com serviços de saúde. CONCLUSÃO Ante o exposto, voto no sentido de CONHECER e DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso voluntário para restabelecer a dedução de R$ 8.476,20 (oito mil, quatrocentos de setenta seis reais e vinte centavos) a título de pensão alimentícia. (assinado digitalmente) Mário Pereira de Pinho Filho. Fl. 82DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON Processo nº 13771.720572/201514 Acórdão n.º 2402005.509 S2C4T2 Fl. 78 11 Voto Vencedor Conselheiro Ronnie Soares Anderson – Redator Designado A dedução de despesas médicas e de saúde na declaração de ajuste anual tem como supedâneo legal as disposições da alínea “a” do inciso II e no § 2 º do art. 8º da Lei n° 9.250/95, e no caput e os §§ 1º e 2º do art. 73, mais acima transcritos. Vejase que a própria legislação tributária conferiu a documentos do tipo descrito no inciso III do § 2º do art. 8º da Lei nº 9.250/95, o valor de prova do pagamento um documento de transferência bancária, por exemplo, não possui todos os elementos discriminados na legislação, tal como o endereço do profissional prestador do serviço, ao contrário do recibo, que possui campos de preenchimento adequados para esses fins. Reconhecese, sob outro prisma, que a fiscalização bem como o julgador de primeiro grau, no caso de documentos apresentados em primeira mão nessa instância recursal tem a faculdade de demandar elementos adicionais com vistas a atestar a efetividade dos pagamentos, forte nos §§ 3º e 4º do art. 11 do DecretoLei nº 5.844, de 23 de setembro de 1943 (respectivamente, §§ 1º e 2º do art. 73 do Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 – RIR/99). Convém atentar, todavia, ser necessário que essas normas sejam lidas e interpretadas em conjunto com o art. 79, § 1º (art. 845, § 1º do RIR/99) desse mesmo diploma, o qual estabelece: Art. 79. Farseá o lançamento exofficio: (...) § 1º Os esclarecimentos prestados só poderão ser impugnados pelos lançadores, com elemento seguro de prova, ou indício veemente de sua falsidade ou inexatidão. (...) Desta sorte, a regra geral é a aceitação de recibos e/ou notas fiscais de prestação de serviços, caso atendidos os seus requisitos formais, motivo pelo qual a exigência de outros elementos para a comprovação das despesas médicas deve ser devidamente fundamentada, sob pena de violação do princípio da proteção da boafé e da legítima confiança que norteiam a relação fiscocontribuinte. No caso concreto, verificase que os pagamentos declarados como pagos a Anibal José Lopes da Silva Reis (R$ 8.800,00) foram glosados pela fiscalização sob a alegação de "falta de comprovação do pagamento" (fl.10). Não obstante, o contribuinte carreou aos autos recibos médicos atestando os pagamentos efetuados a esse profissional, os quais constam respectivamente às fls. 24/34. Fl. 83DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON 12 Notese que tanto a fiscalização quanto o aresto vergastado não apontaram qualquer mácula de cunho formal nos indigitados recibos. Nessa esteira, entendese que em uma situação extremada, como, por exemplo, na apresentação de documentos que sequer se constituíssem em recibos propriamente ditos, ou na ocorrência de uma desproporção inaceitável entre as despesas deduzidas e o total de rendimentos declarados, poderia ser superada a ausência de uma justificativa circunstanciada no lançamento para a exigência de comprovação efetiva dos pagamentos, privilegiandose a razoabilidade da manutenção do crédito tributário. Não se tratando de situação do gênero, contudo, cabe o restabelecimento das deduções de despesas médicas pagas a Anibal José Lopes da Silva Reis (R$ 8.800,00), conforme documentos colacionados aos autos. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson. Fl. 84DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 05 /10/2016 por MARIO PEREIRA DE PINHO FILHO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por KLEBER FERREIRA D E ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por RONNIE SOARES ANDERSON
score : 1.0
Numero do processo: 10980.933420/2009-88
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jan 24 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Feb 07 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 01/10/2002 a 31/10/2002
PIS/PASEP. COFINS. BASE DE CÁLCULO. INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º, DA LEI Nº 9.718/98, QUE AMPLIAVA O CONCEITO DE FATURAMENTO. NÃO INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO SOBRE RECEITAS NÃO COMPREENDIDAS NO CONCEITO DE FATURAMENTO ESTABELECIDO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL PREVIAMENTE À PUBLICAÇÃO DA EC Nº 20/98.
A base de cálculo do PIS e da COFINS é o faturamento, assim compreendido a receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços e de serviços de qualquer natureza. Inadmissível o conceito ampliado de faturamento contido no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, uma vez que referido dispositivo foi declarado inconstitucional pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF).
Diante disso, não poderão integrar a base de cálculo da contribuição as receitas não compreendidas no conceito de faturamento previsto no art. 195, I, b, na redação originária da Constituição Federal de 1988, previamente à publicação da Emenda Constitucional nº 20, de 1998.
Recurso Voluntário Provido.
Numero da decisão: 3402-003.746
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário para reconhecer a juridicidade do crédito vindicado, de modo que a compensação apresentada pelo contribuinte seja analisada pela RFB apenas para fins de apuração quanto à exatidão do montante compensado.
(assinado digitalmente)
Antonio Carlos Atulim - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: ANTONIO CARLOS ATULIM
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COMPENSAÇÃO. ALARGAMENTO DA BASE DE CÁLCULO. Recorrente BRASILSAT HARALD S A Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/10/2002 a 31/10/2002 PIS/PASEP. COFINS. BASE DE CÁLCULO. INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º, DA LEI Nº 9.718/98, QUE AMPLIAVA O CONCEITO DE FATURAMENTO. NÃO INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO SOBRE RECEITAS NÃO COMPREENDIDAS NO CONCEITO DE FATURAMENTO ESTABELECIDO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL PREVIAMENTE À PUBLICAÇÃO DA EC Nº 20/98. A base de cálculo do PIS e da COFINS é o faturamento, assim compreendido a receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços e de serviços de qualquer natureza. Inadmissível o conceito ampliado de faturamento contido no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, uma vez que referido dispositivo foi declarado inconstitucional pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Diante disso, não poderão integrar a base de cálculo da contribuição as receitas não compreendidas no conceito de faturamento previsto no art. 195, I, “b”, na redação originária da Constituição Federal de 1988, previamente à publicação da Emenda Constitucional nº 20, de 1998. Recurso Voluntário Provido. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário para reconhecer a juridicidade do crédito vindicado, de modo que a compensação apresentada pelo contribuinte seja analisada pela RFB apenas para fins de apuração quanto à exatidão do montante compensado. (assinado digitalmente) Antonio Carlos Atulim Presidente e Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 98 0. 93 34 20 /2 00 9- 88 Fl. 117DF CARF MF Processo nº 10980.933420/200988 Acórdão n.º 3402003.746 S3C4T2 Fl. 0 2 Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório 1. Tratase de processo administrativo decorrente da apresentação de manifestação de inconformidade contra despacho decisório que não homologou compensação declarada pelo contribuinte. 2. Segundo consta dos autos, o contribuinte alega possuir um crédito tributário decorrente do pagamento a maior de COFINS, nos termos exigidos pelo art. 3º, § 1º da Lei nº 9.718/98, o qual foi julgado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, por intermédio do RE n. 357.950, afetado por repercussão geral. 3. Referida manifestação de inconformidade foi julgada improcedente pela DRJCuritiba nos termos do que se depreende da ementa abaixo transcrita, na parte de interesse ao presente julgamento: ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE. COMPETÊNCIA DAS AUTORIDADES ADMINISTRATIVAS. O julgador da esfera administrativa deve limitarse a aplicar a legislação vigente, restando, por disposição constitucional, ao Poder Judiciário a competência para apreciar inconformismos relativos à sua validade ou constitucionalidade. Manifestação de Inconformidade Improcedente. Direito Creditório Não Reconhecido. 4. Diante deste quadro, o contribuinte interpôs recurso voluntário alegando, em suma, o que segue: (i) nulidade da decisão atacada, uma vez que ao pretexto de não poder analisar constitucionalidade de norma, a decisão vergastada deixou de analisar outros fundamentos jurídicos desenvolvidos pelo recorrente e que seriam autônomos e suficientes para a procedência do seu pleito; e, ainda (ii) que o crédito vindicado pelo contribuinte seria legítimo, nos termos da já citada decisão Pretoriana, a qual apresentaria caráter vinculativo para este CARF, conforme previsto no então vigente art. 62A do RICARF. 5. É o relatório. Fl. 118DF CARF MF Processo nº 10980.933420/200988 Acórdão n.º 3402003.746 S3C4T2 Fl. 0 3 Voto Antonio Carlos Atulim, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3402003.723, de 24 de janeiro de 2017, proferido no julgamento do processo 10980.933424/200966, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3402003.723): "6. O recurso voluntário é tempestivo e preenche os demais pressupostos formais de admissibilidade, motivo pelo qual dele tomo conhecimento. I. Da nulidade da decisão atacada 7. Não há nulidade da decisão atacada. Conforme se observa da própria manifestação de inconformidade do contribuinte, o pano de fundo a originar seu crédito para a contribuição em apreço é a inconstitucionalidade do art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98, reconhecida pelo STF. É o que se observa do seguinte trecho da sua manifestação: O contribuinte extinguiu o débito da COFINS, apurada conforme acima e declarada em DCTF, com DARF, período de apuração 28/02/2003, código de receita 2172, recolhido em 14/03/2003. Posteriormente, com a Declaração de inconstitucionalidade do art. 3º, parágrafo 1º, da Lei nº 9.718/98 surgiu para o contribuinte o crédito tributário oponível ao Fisco referente a COFINS incidente sobre as receitas financeiras no valor de R$ 18.459,40. 8. A decisão recorrida, por sua vez, partiu do pressuposto que a questão em apreço tocava a análise quanto à (in)constitucionalidade de normas, o que não seria passível de apreciação na instância administrativa, nos exatos termos da Súmula CARF no 2. 9. Assim, uma vez reconhecida a sua incompetência para a questão de fundo e cuja análise seria essencial para o deslinde da questão debatida, a DRJ não poderia seguir adiante na análise da manifestação de inconformidade proposta pelo contribuinte. 10. Todavia, ainda que se considere que a decisão recorrida apresenta uma mácula, o que se afirma aqui a título de obiter dicta, mesmo assim tal fato não seria impediente para a análise do recurso voluntário interposto, haja vista o disposto no art. 59, Fl. 119DF CARF MF Processo nº 10980.933420/200988 Acórdão n.º 3402003.746 S3C4T2 Fl. 0 4 §3º do Decreto m. 70.235/721, motivo pelo qual passo a análise de mérito do presente recurso. II. Do mérito da compensação perpetrada 11. Superada a questão preliminar, não há dúvida que, nos mérito, a juridicidade do crédito do contribuinte deve ser reconhecida, haja vista que a origem do citado crédito decorre da reconhecida inconstitucionalidade do art. 3º, §1º da Lei nº 9.718/98, assim reconhecida pelo STF quando do julgamento do RE nº 357.950, afetado por repercussão geral, e que restou assim ementado: CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI Nº 9.718, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1998 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1998. O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente. TRIBUTÁRIO INSTITUTOS EXPRESSÕES E VOCÁBULOS SENTIDO. A norma pedagógica do artigo 110 do Código Tributário Nacional ressalta a impossibilidade de a lei tributária alterar a definição, o conteúdo e o alcance de consagrados institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente. Sobrepõese ao aspecto formal o princípio da realidade, considerados os elementos tributários. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PIS RECEITA BRUTA NOÇÃO INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI Nº 9.718/98. A jurisprudência do Supremo, ante a redação do artigo 195 da Carta Federal anterior à Emenda Constitucional nº 20/98, consolidouse no sentido de tomar as expressões receita bruta e faturamento como sinônimas, jungindoas à venda de mercadorias, de serviços ou de mercadorias e serviços. É inconstitucional o § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98, no que ampliou o conceito de receita bruta para envolver a totalidade das receitas auferidas por pessoas jurídicas, independentemente da atividade por elas desenvolvida e da classificação contábil adotada. (STF; RE 390840, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/11/2005, DJ 15082006 PP 00025 EMENT VOL0224203 PP00372 RDDT n. 133, 2006, p. 214215) 1 "Art. 59. São nulos: (...). § 3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. (...)." Fl. 120DF CARF MF Processo nº 10980.933420/200988 Acórdão n.º 3402003.746 S3C4T2 Fl. 0 5 12. Referida decisão vincula este órgão julgador, nos termos art. 62, § 2º, do RICARF, in verbis: Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. (...). § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) 13. Assim, o crédito do contribuinte é juridicamente válido, cabendo à fiscalização tão somente apurar se o montante aproveitado pelo contribuinte efetivamente retrata o aludido crédito. Dispositivo 14. Diante do exposto voto por dar provimento ao recurso voluntário interposto pelo contribuinte, reconhecendo o direito ao crédito por ele vindicado, de modo que a compensação apresentada pelo contribuinte seja analisada pela RFB apenas para fins de apuração quanto à exatidão do quantum compensado." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, dou provimento ao recurso voluntário, para reconhecer a juridicidade do crédito por ele vindicado, de modo que a compensação apresentada pelo contribuinte seja analisada pela RFB apenas para fins de apuração quanto à exatidão do quantum compensado. assinado digitalmente Antonio Carlos Atulim Fl. 121DF CARF MF
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Numero do processo: 13864.000129/2009-46
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 11 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Sep 12 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2004
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO E OBSCURIDADE DO JULGADO. CABIMENTO.
São cabíveis embargos de declaração para suprir omissão e afastar obscuridade de acórdão.
No caso, a decisão embargada não enfrentou argumentos suscitados no recurso voluntário. Nada obstante, estes não são suficientes para alterar o conteúdo decisório.
Embargos Acolhidos
Numero da decisão: 1401-001.699
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, ACOLHER os embargos de declaração, para suprir as omissões e AFASTAR a obscuridade apontadas, integrando as razões de decidir com novos fundamentos, rerratificando o Acórdão nº 1401-001.402, de 05 de março de 2015, sem efeitos infringentes.
Documento assinado digitalmente.
Antonio Bezerra Neto - Presidente.
Documento assinado digitalmente.
Ricardo Marozzi Gregorio - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Marcos de Aguiar Villas-Bôas, Ricardo Marozzi Gregorio, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Aurora Tomazini de Carvalho, Livia De Carli Germano e Antonio Bezerra Neto.
Nome do relator: RICARDO MAROZZI GREGORIO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, ACOLHER os embargos de declaração, para suprir as omissões e AFASTAR a obscuridade apontadas, integrando as razões de decidir com novos fundamentos, rerratificando o Acórdão nº 1401-001.402, de 05 de março de 2015, sem efeitos infringentes. Documento assinado digitalmente. Antonio Bezerra Neto - Presidente. Documento assinado digitalmente. Ricardo Marozzi Gregorio - Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Marcos de Aguiar Villas-Bôas, Ricardo Marozzi Gregorio, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Aurora Tomazini de Carvalho, Livia De Carli Germano e Antonio Bezerra Neto.
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INTERM. E PARTICIPAÇÕES LTDA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2004 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO E OBSCURIDADE DO JULGADO. CABIMENTO. São cabíveis embargos de declaração para suprir omissão e afastar obscuridade de acórdão. No caso, a decisão embargada não enfrentou argumentos suscitados no recurso voluntário. Nada obstante, estes não são suficientes para alterar o conteúdo decisório. Embargos Acolhidos Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, ACOLHER os embargos de declaração, para suprir as omissões e AFASTAR a obscuridade apontadas, integrando as razões de decidir com novos fundamentos, rerratificando o Acórdão nº 1401 001.402, de 05 de março de 2015, sem efeitos infringentes. Documento assinado digitalmente. Antonio Bezerra Neto Presidente. Documento assinado digitalmente. Ricardo Marozzi Gregorio Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 86 4. 00 01 29 /2 00 9- 46 Fl. 1719DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO Processo nº 13864.000129/200946 Acórdão n.º 1401001.699 S1C4T1 Fl. 1.705 2 Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Marcos de Aguiar VillasBôas, Ricardo Marozzi Gregorio, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Aurora Tomazini de Carvalho, Livia De Carli Germano e Antonio Bezerra Neto. Relatório Tratase de embargos de declaração interpostos por STOCKOLOS AVENDIS EB EMPREEND. INTERM. E PARTICIPAÇÕES LTDA contra a decisão proferida no Acórdão nº 1401001.402, de 05 de março de 2015, que, por unanimidade, negou provimento aos recursos de ofício e voluntário e restou assim ementado: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ ANOCALENDÁRIO: 2004 DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. No tocante aos impostos e contribuições federais submetidos a lançamento por homologação, nas ocasiões em que fique caracterizada a existência de pagamento antecipado do tributo e sem indicação de multa qualificada, , o prazo decadencial regese pela norma contida no artigo 150, §4°, do Código Tributário Nacional CTN. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS EM CONTA CORRENTE NÃO CONTABILIZADOS. PRESUNÇÃO DE OMISSÃO DE RECEITA, A TEOR DO ART. 42 DA LEI N° 9.430/96. O art. 42 da lei n° 9.430/96 confere presunção de receita omitida à verificação de depósitos em conta corrente não contabilizados pela empresa, quando esta, devidamente intimada, não apresenta, por instrumentos idôneos, a origem de referidos depósitos. REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÃO FINANCEIRA SIGILO BANCÁRIO E SIGILO FISCAL. Desatendidas as intimações da Fiscalização para apresentação dos extratos de movimentação bancária do Contribuinte, podem os mesmos ser diretamente requisitados à Instituição Financeira, sem que isto implique em quebra de sigilo bancário, nos termo da Lei complementar n°. 105/2001. As informações albergadas pelo sigilo bancário objeto de fiscalização sujeitamse, igualmente, ao sigilo fiscal. MULTA DE OFÍCIO DE 75%. DEVIDA. A multa de 75%, prevista no art. 44, I, da Lei n°. 9.430/96 tem como pressuposto lógico a omissão de rendimento por parte do contribuinte que não o entrega à tributação. Em verdade, se não houvesse a referida omissão, não haveria a lavratura do auto de infração. Tratase de postura meramente omissiva por parte do Fl. 1720DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO Processo nº 13864.000129/200946 Acórdão n.º 1401001.699 S1C4T1 Fl. 1.706 3 contribuinte. Conforme reiterada jurisprudência firmada neste Conselho, a multa de ofício fixada no patamar de 75% não possui efeito confiscatório. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CONTRIBUIÇÃO PARA O PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL PIS. CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL. Aplicase às exigências reflexas o que foi decidido quanto à exigência matriz, devido à íntima relação de causa e efeito entre elas, ressalvadas as alterações exoneratórias a que se procedeu de ofício, decorrentes de novos critérios de interpretação ou de legislação superveniente. Em seu arrazoado, sustenta a embargante que, no r. acórdão, houve quatro omissões e uma obscuridade nos seguintes termos (cf. despacho de admissibilidade às fls. 1697 e 1698): a) primeira omissão: a Embargante alega que o Acórdão embargado não enfrentou o argumento de que, em se tratando de lucro presumido, os rendimentos somente serão adicionados por ocasião da alienação, resgate ou cessão do título ou aplicação, conforme determinava a então em vigor Instrução Normativa SRF 25, de 3/03/2001; b) segunda omissão: a Embargante alega que o Acórdão embargado "desconsiderou a documentação juntada, às fls. 1.147/1220, que abrange quatro trimestres da DCTF de 2004, cujos valores declarados alcançou o montante de R$ 1.006.747,86 e equivalem ao percentual médio de 0,938% do volume de negociações efetuadas no período, no valor de R$ 107.310.000,00, como receita operacional bruta da embargante"; c) terceira omissão: a Embargante argumenta que, quanto às operações efetuadas com Laeta S/A Distribuidora de Títulos, o Acórdão embargado silenciou quanto à alegação de que "nem toda a movimentação financeira corresponde a valores de propriedade da Recorrente, cabendo solicitar às Corretoras a confirmação dos valores efetivamente creditados à Stocklos como rendimentos líquidos". d) no título VI, intitulado "Da quarta omissão sobre ponto que a turma devia manifestarse e da obscuridade entre a ementa e o voto", a Embargante aduz: d.i) há obscuridade entre ementa e voto pois a ementa silencia relativamente à Súmula CARF no 2 sendo que, a fls. 1.654 do voto, este faz constar: "[...] Em virtude de não ser este Conselho competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF no 2) [...]"; e d.ii) "resta obscuridade pois a aplicação dela [Súmula CARF n. 2] ao caso concreto não observou a regra do artigo 62, parágrafo único e inciso I, do Anexo I, da Portaria MF no. 256, de 22/06/2009 (regimento interno), excerto in verbis: (...)" e, mais adiante: "resta a derradeira omissão pois, ao aplicar Sumula CARF n. 2 ao caso concreto, o i. relator deixou de observar a regra do artigo 62a, caput, do Anexo I da Portaria MF n. 256, de 22/06/2009 (regimento interno), excerto in verbis: (...)" Fl. 1721DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO Processo nº 13864.000129/200946 Acórdão n.º 1401001.699 S1C4T1 Fl. 1.707 4 Nesse sentido, requer o conhecimento e o provimento dos embargos, a fim de sanar os vícios apontados, com efeitos infringentes. Mediante despacho, a Conselheira Lívia De Carli Germano propôs a admissibilidade dos embargos, tendo esta sido confirmada pelo Sr. Presidente da presente Turma com a sua assinatura eletrônica no referido despacho. Posteriormente, em face de sua licença maternidade, a mencionada Conselheira devolveu o processo para sorteio no próprio colegiado. Sendo este, então, redistribuído para a minha relatoria. É o relatório. Voto Conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio, Relator Os embargos são tempestivos e, conforme decidido pelo Sr. Presidente, deles tomo conhecimento. A título de "primeira omissão", a embargante alega que o acórdão embargado não enfrentou o argumento segundo o qual, em se tratando de lucro presumido, os rendimentos financeiros somente devem ser adicionados por ocasião da alienação, resgate ou cessão do título ou aplicação, nos termos da IN/SRF nº 25/01. De fato, o voto condutor daquele acórdão não abordou explicitamente o assunto. Contudo, deixou claro que a tributação se deu em razão da não comprovação, através de documentação hábil e idônea, da origem dos depósitos bancários na conformidade da presunção legal estatuída no artigo 42 da Lei nº 9.430/96. Confirase, nesse sentido, os seguintes trechos: Ao longo da Fiscalização, o Recorrente foi intimado e reintimado a comprovar a origem de diversas movimentações bancárias, não constantes de sua documentação contábil, o que, no entanto, somente foi atendido parcialmente. Desta feita, de posse dos extratos fornecidos pelo Contribuinte e pelas instituições financeiras, a Fiscalização procedeu à confecção de planilhas cujo conteúdo fez menção de forma individualizada a todos os créditos efetuados nas contas do Recorrente, excluindo da autuação estornos e transferências, ao contrário do que pretende demonstrar o Contribuinte. Fl. 1722DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO Processo nº 13864.000129/200946 Acórdão n.º 1401001.699 S1C4T1 Fl. 1.708 5 Apesar de oportunizadas ciência e nova oportunidade de comprovação da origem de determinados créditos, o Recorrente, mais uma vez, não realizou determinada demonstração por meios hábeis e idôneos. No tocante à referida omissão de receitas, encontrase em vigência o art. 42 da Lei nº 9.430/96, que instituiu uma presunção relativa, na qual presume ser rendimento omitido os depósitos bancários cuja origem não for comprovada. (...) Ocorre que não há dúvida alguma quanto ao crédito tributário em discussão, já que demonstrados pela Fiscalização, conforme voto da DRJ (fls. 1.487): (i) a existência de créditos em conta corrente; (ii) a disparidade com os valores declarados; (iii) a impossibilidade de constatação de que tais créditos teriam sido contabilizados; (iv) a intimação do contribuinte para comprovar a origem desses créditos e (v) a não apresentação pelo contribuinte de provas documentais hábeis a comprovar a origem. Portanto, os créditos considerados como omissão de receita foram justamente aqueles que não puderam ser comprovados. A alegação de que existiriam créditos correspondentes a rendimentos de aplicações financeiras que já teriam sido oferecidos à tributação, se verdadeira, estaria inserida no âmbito da comprovação da origem. No entanto, como esclarecido no trecho acima reproduzido, a fiscalização depurou os créditos que entendeu serem comprovados. Se a recorrente discordava dessa depuração, deveria indicar analiticamente quais daqueles créditos se inseriam na referida situação, bem como apresentar (ou indicar, se já contida nos autos) a documentação hábil e idônea que lhes dava sustentação. Não basta apenas argumentar em caráter genérico. É preciso, efetivamente, comprovar a origem de cada crédito lançado. Destarte, quanto a essa omissão, não reconheço os efeitos infringentes. Sob o título de "segunda omissão", a embargante alega que o acórdão embargado "desconsiderou a documentação juntada, às fls. 1147/1220, que abrange quatro trimestres da DCTF de 2004, cujos valores declarados alcançou o montante de R$ 1.006.747,86 e equivalem ao percentual médio de 0,938% do volume de negociações efetuadas no período, no valor de R$ 107.310.000,00, como receita operacional bruta da embargante". A embargante faz referência às alegações contidas nas folhas 27 a 30 do seu recurso voluntário (fls. 1454 a 1457 do processo em papel). Nessas alegações, constatase a tentativa de justificar um volume de créditos equivalente a R$ 107.310.000,00 por meio do seguinte raciocínio: considerando que houve uma receita oferecida à tributação no valor de R$ 1.006.747,86 (calculada a partir dos valores dos tributos informados nas DCTF) e que o percentual médio de sua remuneração nas operações de intermediação financeira é de aproximadamente 0,938%, devese reconhecer como comprovada a origem daquele volume de créditos. Ora, esse singelo raciocínio não possui a capacidade de caracterizar a comprovação da origem, mediante documentação hábil e idônea, reclamada pela presunção legal contida no artigo 42 da Lei nº 9.430/96. Como já anunciado, é necessário que se faça a comprovação analítica (individualizada) de cada crédito lançado. Nada garante que a receita Fl. 1723DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO Processo nº 13864.000129/200946 Acórdão n.º 1401001.699 S1C4T1 Fl. 1.709 6 oferecida à tributação corresponda ou esteja contida no âmbito dos créditos lançados. Por isso, a necessidade da comprovação individualizada. Assim, também não reconheço os efeitos infringentes dessa omissão. No que diz respeito à "terceira omissão", a embargante afirma que o acórdão embargado silenciou quanto às operações efetuadas com a empresa LAETA S/A DISTRIBUIDORA DE TÍTULO uma vez que havia alegado que nem toda a movimentação financeira corresponde a valores de sua propriedade. No seu entender, seria necessário solicitar às corretoras a confirmação dos valores que efetivamente lhe foram creditados como rendimentos líquidos. Nada mais equivocado. Como bem apontado no voto condutor do acórdão recorrido, a presunção legal do artigo 42 da Lei nº 9.430/96 inverte o ônus da prova. É o contribuinte quem tem que fazer a prova da sua movimentação bancária. Nos embargos, a empresa tenta convencer que a "planilha de fls. 1042" (fls. 998 do processo em papel), "combinado com o razão analítico, de fls. 1043/1067" (fls. 999 a 1023 do processo em papel), seriam suficientes para acolher o seu pleito. A referida planilha tem como título a informação de que se trata de um "RELATÓRIO DE OPERAÇÕES EM BOLSA". Contém valores que, salvo melhor juízo, possuem correspondência com alguns dos vários lançamentos discriminados no referido razão analítico. Todavia, inexiste qualquer correlação desses valores com os depósitos considerados não comprovados pela fiscalização. A bem da verdade, conforme informa o Termo de Constatação Fiscal, a fiscalização também não verificou essa correlação e, por isso, convocou a presença de representante do contribuinte, ligado à área contábil, para apresentação de esclarecimentos adicionais a respeito dos ganhos obtidos com operações em bolsa de valores (item 24, fls. 1271 do processo em papel). O contribuinte, nada obstante, preferiu solicitar cópias das suas operações junto às empresas LAETA e FAIR CORRETORA sem que, segundo informa (item 25, fls. 1272 do processo em papel), tenha sido atendido. A fiscalização concedeu várias prorrogações do prazo para que os esclarecimentos fossem prestados, inclusive, deixando claro que seriam aceitos documentos que modificassem seu entendimento sobre o assunto enquanto os autos de infração não fossem lavrados (item 28, fls. 1272 do processo em papel). Contudo, nada mais foi esclarecido. Ainda assim, a fiscalização promoveu algumas exclusões com base nas referidas operações em bolsa de valores (item 30, fls. 1272 do processo em papel). Portanto, resta claro que foram dadas todas as oportunidades para que o contribuinte esclarecesse a correlação entre os depósitos que deveriam ser comprovados e as suas alegadas operações com a empresa LAETA. Isso não foi feito. Alegar, no recurso, que seria necessário ao órgão julgador requisitar informações a terceiros é fazer total distorção do ônus da prova. Deveras, não reconheço também os efeitos infringentes dessa omissão. Por fim, como última argumentação, a embargante sustenta ter havido uma "quarta omissão" cumulada com "obscuridade" pelo fato de a ementa ter silenciado sobre a aplicação da Súmula CARF nº 2 e pelo fato de que tal súmula estaria regimentalmente impedida de ser aplicada por haver decisão do STF que afastou a possibilidade de a Receita Federal ter acesso a dados bancários dos contribuintes. Fl. 1724DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO Processo nº 13864.000129/200946 Acórdão n.º 1401001.699 S1C4T1 Fl. 1.710 7 Não assiste razão à embargante. A Súmula CARF nº 2 foi invocada no voto do relator do acórdão embargado para rechaçar a alegação de que não caberia a aplicação da multa de ofício. No entanto, inexiste obrigação de que todos os fundamentos contidos nos votos condutores do acórdão sejam reproduzidos na ementa. A ementa tem a mera finalidade de facilitar futuras pesquisas por conter os argumentos principais da decisão. Nada obstante, seu conteúdo jamais poderá substituir os fundamentos dos votos. Por outro lado, quanto à decisão do STF, equivocase a embargante porque a referida súmula não foi utilizada na fundamentação que afastou a alegação de quebra do sigilo bancário. Com efeito, não há uma só palavra sobre ela no trecho que tratou do tema naquele voto. Além disso, a decisão mencionada pela embargante (proferida no julgamento do Recurso Extraordinário nº 389.808/PR) nunca possuiu o caráter "definitivo" necessário para a aplicação das regras regimentais que exigem a observância dos julgados do STF (artigos 62 e 62A do Anexo II da Portaria MF nº 256/09, atualmente, artigo 62 do Anexo II da Portaria MF nº 343/15). Tanto é que consulta realizada em 12/07/2016 no sítio do STF revela que o referido RE ainda não transitou em julgado e que está pendente de julgamento de embargos de declaração interpostos em junho e setembro de 2011. Ademais, é fato notório que o STF reverteu o posicionamento manifestado naquela decisão ao adotar, por maioria de nove a dois, os fundamentos do voto proferido pelo Ministro Dias Toffoli nos autos da ADI nº 2.390 reconhecendo a constitucionalidade do acesso aos dados bancários pela administração tributária. Portanto, também não reconheço os efeitos infringentes das alegadas omissão e obscuridade. Diante do exposto, oriento meu voto no sentido de acolher os embargos de declaração opostos, para suprir as omissões e afastar a obscuridade apontadas, e, assim, incluir nas razões de decidir o motivo pelo qual os alegados vícios não justificam a modificação dos créditos tributários lançados, rerratificando o Acórdão nº 1401001.402, de 05 de março de 2015, sem efeitos infringentes. Documento assinado digitalmente. Ricardo Marozzi Gregorio Relator Fl. 1725DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO Processo nº 13864.000129/200946 Acórdão n.º 1401001.699 S1C4T1 Fl. 1.711 8 Fl. 1726DF CARF MF Impresso em 12/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 23/08/2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 23/08/ 2016 por RICARDO MAROZZI GREGORIO, Assinado digitalmente em 11/09/2016 por ANTONIO BEZERRA NETO
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Numero do processo: 13888.901403/2014-95
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 28 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Oct 17 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ano-calendário: 2012
NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA.
A existência de despacho decisório contendo motivação clara, explícita e congruente, desautoriza a alegação de cerceamento de defesa.
BASE DE CÁLCULO. ICMS. EXCLUSÃO.
O valor do ICMS devido pela própria contribuinte integra a base de cálculo da COFINS.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3402-003.337
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário.
(Assinado com certificado digital)
Antonio Carlos Atulim Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: ANTONIO CARLOS ATULIM
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 5; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1817; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3C4T2 Fl. 2 1 1 S3C4T2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 13888.901403/201495 Recurso nº 1 Voluntário Acórdão nº 3402003.337 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 28 de setembro de 2016 Matéria COFINS. Inclusão do ICMS na base de cálculo. Recorrente AÇOVIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ESTRUTURAS METÁLICAS E PRÉMOLDADOS DE CONCRETO LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Anocalendário: 2012 NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. A existência de despacho decisório contendo motivação clara, explícita e congruente, desautoriza a alegação de cerceamento de defesa. BASE DE CÁLCULO. ICMS. EXCLUSÃO. O valor do ICMS devido pela própria contribuinte integra a base de cálculo da COFINS. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim – Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório Tratase de pedido eletrônico de restituição da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins, cumulado com declaração de compensação, AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 88 8. 90 14 03 /2 01 4- 95 Fl. 51DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901403/201495 Acórdão n.º 3402003.337 S3C4T2 Fl. 3 2 denegado em tempo hábil por meio de despacho decisório eletrônico, sob o fundamento de que o DARF representativo do pagamento indevido estava inteiramente alocado para a quitação de débitos anteriormente declarados pelo contribuinte. Em tempo hábil, foi apresentada manifestação de inconformidade na qual a defesa alegou, em síntese, que houve nulidade por cerceamento do direito de defesa e que o crédito do contribuinte decorre de pagamento indevido, em razão de ter sido incluído o ICMS na base de cálculo da contribuição. Afirmou que o ICMS é mero ingresso que não pode ser incluído no conceito de faturamento. Invocou o precedente consubstanciado no RE 240.785 do STF e informou que os artigos 73 e 74 da Lei nº 9.430/96 garantem seu direito de compensar o indébito apurado. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento rejeitou a preliminar de nulidade e, no mérito, decidiu o seguinte: a) o valor do DARF está inteiramente alocado para pagamento de débitos informados pelo próprio contribuinte; b) a lei apenas permite a exclusão da base de cálculo da contribuição do ICMS recolhido na condição de substituto tributário e da receita proveniente da alienação onerosa de créditos do ICMS; e c) o valor dos débitos declarados para compensação é de magnitude superior ao valor do único DARF vinculado a essas compensações. Regularmente notificado do Acórdão de primeira instância, o contribuinte apresentou em tempo hábil recurso voluntário a este Colegiado, alegando, em síntese, o seguinte: a) nulidade por cerceamento de defesa porque o despacho decisório não diz as razões pelas quais o contribuinte não tem o crédito que alega possuir. Essa omissão impediu o contribuinte de exercer a plena demonstração de seu crédito, pois não há como argumentar contra uma decisão que se mostra lacônica; b) a base de cálculo da contribuição sempre foi o faturamento e com o advento da Lei nº 10.833/2003 houve uma ampliação, passando a base de cálculo a abranger a totalidade das receitas auferidas pelo contribuinte. Entretanto, o valor do ICMS não pode ser considerado como receita do contribuinte, sob pena de violação do art. 110 do CTN, pois a lei não pode considerar receita o que não é receita. O ICMS representa para o contribuinte mero ingresso, pois o valor é posteriormente destinado ao fisco estadual. Tal interpretação foi cristalizada em caráter definitivo no RE 240.7852, que deve ser aplicado ao caso concreto. Reafirmou a existência do indébito e seu direito de compensálo com base nos arts. 73 e 74 da Lei nº 9.430/96. É o relatório. Voto Conselheiro Antonio Carlos Atulim, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3402003.317, de 28 de setembro de 2016, proferido no julgamento do processo 10865.904904/201231, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3402003.317): Fl. 52DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901403/201495 Acórdão n.º 3402003.337 S3C4T2 Fl. 4 3 "O recurso preenche os requisitos formais para sua admissibilidade e, portanto, dele se toma conhecimento. Relativamente à preliminar de nulidade, não assiste razão à defesa. Isso porque, ao contrário do alegado, o despacho decisório declinou com todas as letras o motivo pelo qual a Administração Tributária denegou o pleito do contribuinte e não homologou as compensações declaradas. O Despacho Decisório apresenta a seguinte motivação: "(...) A partir das características do DARF discriminado no PER/DECOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, abaixo relacionados, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando saldo disponível para compensação dos débitos informados no PER/DECOMP. (...)" No mesmo despacho encontramse perfeitamente identificados o número do PER/DECOMP, o número do DARF e o valor relativo ao suposto pagamento indevido. O texto acima transcrito revela que a compensação não foi homologada porque o valor do DARF está inteiramente alocado para o pagamento de débitos declarados pelo próprio contribuinte. Em outras palavras: o contribuinte não possui o crédito alegado no PER/DECOMP porque o valor já foi utilizado para extinguir débitos por ele próprio declarados. Portanto, o despacho decisório não foi lacônico, uma vez que declinou expressamente o motivo da não homologação da compensação: o contribuinte não tem o crédito alegado. Essa fundamentação está explícita de forma clara, precisa e congruente com a decisão de não homologar a compensação, o que atende às exigências do art. 50, § 1º, da Lei nº 9.784/99. Sendo assim, é improcedente a alegação de nulidade, pois o contribuinte não teve seu direito ao contraditório e à ampla defesa cerceados, mesmo porque a apresentação de impugnação e de recurso voluntário, deduzindo argumentos no sentido de demonstrar a existência jurídica do indébito desautorizam a invocação dessa preliminar. No mérito, deflui dos autos que o contribuinte apurou e recolheu a contribuição incluindo o ICMS na sua base de cálculo e agora comparece perante a Administração Tributária alegando que o recolhimento foi efetuado em montante superior ao devido porque a inclusão do ICMS no faturamento ou na receita é inconstitucional. O recolhimento efetuado pelo contribuinte, incluindo o ICMS na base de cálculo da contribuição, está calcado em entendimento sedimentado desde tempos imemoriais na seara tributária. Tal entendimento tem respaldo legal no art. 12 do DecretoLei nº 1.598/77 e na Instrução Normativa nº 51, de 03/11/1978, que a regulamentou. Fl. 53DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901403/201495 Acórdão n.º 3402003.337 S3C4T2 Fl. 5 4 O art. 12 do DecretoLei nº 1.598/77, na redação vigente na época do fato gerador relativo ao pagamento tido como indevido, estabelecia o seguinte: "Art 12 A receita bruta das vendas e serviços compreende o produto da venda de bens nas operações de conta própria e o preço dos serviços prestados. § 1º A receita líquida de vendas e serviços será a receita bruta diminuída das vendas canceladas, dos descontos concedidos incondicionalmente e dos impostos incidentes sobre vendas. (...)" (Fonte da transcrição: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decretolei/ del1598.htm) Já o item 4 da IN SRF nº 51/78, estabelece o seguinte: 4. A receita líquida de vendas e serviços é a receita bruta da vendas e serviços, diminuídas (a) das vendas canceladas, (b) dos descontos e abatimentos concedidos incondicionalmente e (c) dos impostos incidentes sobre as vendas. (...) 4.3 Para os efeitos desta Instrução Normativa reputamse incidentes sobre as vendas os impostos que guardam proporcionalmente (sic) com o preço da venda ou dos serviços, mesmo que o respectivo montante integra (sic) a base de cálculo, tais como o imposto de circulação de mercadorias, o imposto sobre serviços de qualquer natureza, o imposto de exportação, o imposto único sobre energia elétrica, o imposto único sobre combustíveis e lubrificantes etc. 4.3.1 Incluemse também neste item: a) taxas que guardam proporcionalidade com o preço de venda; b) a parcela de contribuição para o Programa de integração Social calculada sobre o faturamento; c) a quota de contribuição, ou retenção cambial, devida na exportação. (Fonte da transcrição: http://sijut.fazenda.gov.br/netahtml/ sijut/Pesquisa.htm) Portanto, o recolhimento efetuado pelo contribuinte está em conformidade com a legislação vigente e com entendimento sedimentado há anos na seara tributária, uma vez que o valor do ICMS integra o preço da mercadoria, sendo tal valor deduzido contabilmente como despesa operacional. O contribuinte alega, em síntese, a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo da contribuição porque o imposto estadual não se enquadra no conceito de faturamento ou mesmo no de receita estabelecido pela constituição. Ao contrário do alegado pelo contribuinte, tal argumento não pode ser acatado pelos órgãos administrativos de julgamento, pois o art. 26A do Fl. 54DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 13888.901403/201495 Acórdão n.º 3402003.337 S3C4T2 Fl. 6 5 Decreto nº 70.235/72 proíbe este colegiado de negar vigência a texto legal com hierarquia superior a Decreto, em razão de arguição de inconstitucionalidade, in verbis: "Art. 26A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade.(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) (...) § 6o O disposto no caput deste artigo não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo:(Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) I – que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão definitiva plenária do Supremo Tribunal Federal;(...)" O contribuinte invoca a seu favor o acórdão do STF proferido no RE 240.7852. Entretanto, esse recurso extraordinário ainda não foi definitivamente julgado, não se enquadrando no disposto no § 6º, I, acima transcrito, e nem nas disposições do Decreto nº 2.346/97, para que o entendimento possa ser estendido administrativamente a outros casos concretos. Não se olvide que essa questão é objeto do Tema 69 dos recursos submetidos à sistemática da repercussão geral no STF e será decidida no RE nº 574.706. Acrescentese que a Súmula CARF nº 2 estabelece que o CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade da lei tributária. Considerando que os recolhimentos efetuados pelo contribuinte, com a inclusão do ICMS na base de cálculo da COFINS, estão conformes à legislação vigente, voto no sentido de negar provimento ao recurso." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, negase provimento ao recurso voluntário, para não reconhecer o direito creditório em litígio. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim Fl. 55DF CARF MF Impresso em 17/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 05/10/2016 por MANUELLA BEATRIZ SANTOS VIEIRA, Assinado digitalmente em 07/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM
score : 1.0
Numero do processo: 15504.732104/2013-14
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jul 07 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Dec 12 00:00:00 UTC 2016
Numero da decisão: 1401-000.412
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Por maioria de votos, RESOLVERAM converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. Vencido o Conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio.
Documento assinado digitalmente.
Antonio Bezerra Neto - Presidente.
Documento assinado digitalmente.
Marcos de Aguiar Villas-Bôas - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (presidente da turma), Guilherme Adolfo Mendes, Luciana Zanin, Ricardo Marozzi Gregorio, Marcos de Aguiar Villas-Bôas (relator), Luis Rodrigo de Oliveira Barbosa, Aurora Tomazini de Carvalho e Lívia de Carli Germano.
Nome do relator: MARCOS DE AGUIAR VILLAS BOAS
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Atos cooperativos. Recorrente Cooperativa dos Anestesiologistas de Minas Gerais Recorrida Fazenda Nacional Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Por maioria de votos, RESOLVERAM converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. Vencido o Conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio. Documento assinado digitalmente. Antonio Bezerra Neto Presidente. Documento assinado digitalmente. Marcos de Aguiar VillasBôas Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (presidente da turma), Guilherme Adolfo Mendes, Luciana Zanin, Ricardo Marozzi Gregorio, Marcos de Aguiar VillasBôas (relator), Luis Rodrigo de Oliveira Barbosa, Aurora Tomazini de Carvalho e Lívia de Carli Germano. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 55 04 .7 32 10 4/ 20 13 -1 4 Fl. 1752DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 13 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário em face do Acórdão nº 1451.477 da 3ª Turma da DRJ/RPO (Ribeirão Preto/SP), que julgou, por unanimidade, improcedente a Impugnação apresentada pela contribuinte. Valhome de partes do Relatório da DRJ para narrar os fatos iniciais: "Em procedimento de verificação do cumprimento das obrigações tributárias, relativas aos anoscalendário de 2009 e 2010, pela contribuinte acima identificada, foi constatada receita de prestação de serviços escriturada e não declarada e ausência de inclusão na base de cálculo do IRPJ e CSLL da totalidade dos rendimentos e/ou ganhos líquidos de aplicações financeiras de renda fixa ou renda variável. [...] De acordo com o Estatuto Social a cooperativa tem como objeto social "organizar o exercício da atividade econômica de seus cooperados, prestando assistência administrativa nos contratos de serviços médicos de anestesiologia e tratamento de dor a serem executados pelos cooperados. Relatou que, da análise da DIPJ dos anoscalendário 2009 e 2010, constatou se que a contribuinte informou as receitas auferidas pela cooperativa, contabilizadas nas contas 3.1.1.01 000— Ingressos de Serviços, 3.1.1.02.000 Ingressos Taxa Contribuição Cooperados e 3.1.1.01.001 — Ingressos de Custos Hospitalares, como atos cooperativos, deduzindo das mesmas os valores das contas.3.1.2.01.001 Descontos e Abatimentos e 3.1 2.01.003 Faturas Canceladas e adicionando Rendimentos e Ganhos Líquidos Aplicações Renda Fixa/Renda Variável (Linha 10). No entanto, excluiu da base de cálculo do IRPJ e CSLL os resultados da aplicação do percentual sobre as receitas mencionadas acima, linha 23 da Ficha 14A e linha 19 da Ficha 18A (Resultados não tributáveis de sociedades cooperativas), somente apurando IRPJ a pagar no 2º, 3º e 4º trimestres de 2010 e CSLL a pagar nos 2º e 3º trimestres de 2009 e 2º, 3º e 4° trimestres de 2010, em decorrência da incidência dos tributos sobre os rendimentos de aplicações financeiras informadas na DIPJ. [...] Registrou que, no âmbito tributário, as cooperativas que obedecem ao disposto na Lei n° 5.764/71 e demais normas específicas não sofrem incidência tributária ao praticarem os chamados atos cooperativos, em respeito ao objeto para o qual elas foram idealizadas. Evidentemente, a não incidência abrange apenas os atos cooperativos, devendo integrar a base de cálculo do imposto de renda e das contribuições e ser tributadas as parcelas que não tenham origem nesses atos. O artigo 79 da Lei n° 5.764/71 dispõe: "Art. 79. Denominamse atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a .consecução dos objetivos sociais. "Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou / mercadoria." Informou que o mesmo diploma legal dispôs em seu art. 111 que serão considerados como renda tributável os resultados positivos obtidos pelas cooperativas nas operações de que tratam os arts. 85, 86 e 88 dessa lei, ou seja, estabeleceu como regra a isenção tributária das cooperativas, excepcionando, contudo, o resultado das operações das cooperativas com não associados, ou seja, atos impróprios, nãocooperatívos. Fl. 1753DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 14 3 Neste sentido, o artigo l83, inciso II do Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999 dispõe que: Art. 183. As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica pagarão o imposto calculado sobre os resultados positivos, das operações e atividades estranhas à sua finalidade, tais como (Lei n 25.764, de 1971, arts. 85, 86,88 e 111, e Lei.n 99.430, de 1996, arts. 1º e2º): (...) II de. fornecimento de bens ou serviços a não associados, para atender aos objetivos sociais; Do acima exposto, temse que os atos cooperativos são os representados pelas atividades fins destas, como sendo a prestação de serviços a seus associados, sem interesse negocial, ou fim lucrativo, os que extrapolam suas finalidades institucionais caracterizamse como atos não cooperativos. Assim, somente são isentas de tributação as receitas provenientes de atos cooperativos, sendo tributáveis as receitas das cooperativas em relação a atos não cooperativos, como o fornecimento de serviços a não associados, ainda que em atendimento ao seu objetivo social. Da análise dos Contratos/acordos e de notas fiscais apresentados o fisco verificou que a cooperativa ao contratar com terceiros praticou ato não cooperativo, devendo oferecer à tributação a receita proveniente da prestação de serviço aos contratantes. Ressaltouse que foram apresentados apenas os contratos/acordos firmados entre a fiscalizada e os tomadores relacionados no Anexo I do Termo de Constatação e Intimação Fiscal (TCIF) n° 01. Dessa forma, por meio de tais documentos, a fiscalização pode constatar que a atividade preponderante da fiscalizada é a prestação de serviços médico hospitalares a terceiros, por meio de contratos celebrados com pessoas jurídicas, estando, por isso, sujeita aos recolhimentos de tributos e contribuições. A. sociedade cooperativa que pratique atos não cooperativos previstos na legislação própria, sujeitase os resultados desses atos às normas que regem a tributação das operações das demais sociedades civis e comerciais. Portanto, o campo de nãoincidência corresponde às atividades inerentes à cooperativa. O que exorbita desse campo é tributável, ou seja, não leva à descaracterização da natureza jurídica da cooperativa, apenas à tributação dos atos não cooperativos. Essa concepção decorre de não haver proibição taxativa, no regime jurídico cooperativo, da prática de atos nãocooperativos não expressamente previstos. A única exigência é que sejam tributados. Dessa forma, o percentual de presunção a ser utilizado é de 32% sobre os valores das receitas auferidas pela cooperativa, contabilizadas na conta 3.1.1.01.000 Ingressos.de Serviços e o valor de R$ 21.959,82, informado equivocadamente na. conta 3.1.1.01.001. Ingressos de Custos Hospitalares, conforme resposta ao Termo de Intimação Fiscal n°.05, deduzindo das mesmas os valores das contas 3.1.2.01.001 Descontos e Abatimentos e 3.1.2.01.003Faturas Canceladas. Com relação ao IRPJ e CSLL a base de cálculo foi apurada conforme acima mencionado adicionandose à receita bruta ajustada os valores registrados nas contas contábeis 3.1.5.02 Ganhos com Aplicações Financeiras e 3.1.5.03 – Juros e Descontos Obtidos. Quanto ao IRPJ, foi aplicado o percentual de 15%, e o percentual de 10% a título de adicional de imposto de renda sobre a parcela do lucro presumido que exceder o valor resultante da multiplicação de R$ 20.000,00 (vinte mil Fl. 1754DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 15 4 reais) pelo número de meses do respectivo período de apuração, conforme Art. 3º, caput e § 1º da Lei 9.249 de 26/12/1995. Com relação a CSLL, foi aplicado sobre a base de cálculo apurada o percentual de 9%, conforme Art. 3º, II da Lei n° 7.689/88, com redação dada pelo art. 17 da Lei n° 11.727/08. Ressaltese que dos valores apurados foram deduzidos os valores declarados em DCTF e os valores retidos confirmados na Dirf, conforme Anexos VII e VIII. Notificada da autuação a contribuinte, representada pelos procuradores Emanuel M.S.Garcia e Sílvio Humberto P. Arantes (fls. 813 a 844), ingressou com a impugnação de fls.798 a 812, na qual alega: Depois de discorrer sobre os artigos 79 e 111 da Lei n° 5.764/71, concluiu a auditorafiscal, em livre interpretação, que "a cooperativa ao contratar com terceiros praticou ato não cooperativo, devendo oferecer à tributação a receita proveniente da prestação de serviço aos contratantes." É um equívoco, permissa vénia. A impugnante, cumprindo o seu objetivo, presta serviços cooperativos aos seus associados (art. 79 da Lei 5.764/71), sem fins lucrativos, e estes prestam serviços profissionais a terceiros, não cooperados. Não é a cooperativa, portanto, a prestadora de serviços aos não cooperados. Não é correto afirmar que "a atividade preponderante da fiscalizada é a prestação de serviços médicohospitalares a terceiros, por meio de contratos celebrados com pessoas jurídicas, estando, por isso, sujeita aos recolhimentos de tributos e contribuições." Eis o que dispõe o anexo Estatuto Social da impugnante: "Art. 2° A Cooperativa terá por objetivo organizar o exercício da atividade econômica de seus cooperados, prestando assistência administrativa, nos contratos de serviços médicos de anestesiologia e tratamento de dor a serem executados pelos cooperados. Parágrafo Primeiro A Cooperativa representará seus cooperados, celebrando convênios ou contratos com Hospitais, Empresas, Associações de Classe, Entidades ou órgãos Municipais, Estaduais ou Federais, recebendo os valores devidos pelos serviços profissionais prestados por seus cooperados, repassandoos aos mesmos. Parágrafo Segundo Poderá, também, complementarmente: a. Promover o aprimoramento profissional de seus Cooperados através da realização de cursos, seminários, congressos, debates, concursos e outros empreendimentos culturais. b. Promover ainda a educação cooperativista aos cooperados e participar de campanhas de expansão do cooperativismo e modernização de suas técnicas. Art. 3º As operações da Cooperativa não terão finalidades lucrativas." Os atos cooperativos, conforme definição contida no artigo 79 da Lei 5.764/71, são aqueles "praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associadas, para a consecução dos objetivos sociais." Já os atos não cooperativos são os que não se relacionam com os objetivos sociais das cooperativas, ou seja, são realizados com a participação de não cooperados e tem objetivo comercial, de lucro. A redação deste artigo 79 produz interpretações divergentes. Alguns interpretam de forma restritiva e entendem que os atos cooperativos são aqueles praticados única e exclusivamente com a participação dos cooperados e da cooperativa para atingir os objetivos sociais. Um exemplo disso seria uma cooperativa de trabalho médico, onde os médicos cooperados só pudessem atender aos próprios associados. Fl. 1755DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 16 5 Vale dizer que referida interpretação, não admitindo que a cooperativa coloque os produtos ou serviços dos cooperados no mercado (para terceiros), praticamente inviabilizaria a própria atividade em cooperativa. O nosso entendimento, e da maioria da doutrina e jurisprudência, é no sentido de que o ato cooperativo é aquele praticado sem fins lucrativos, visando ao cumprimento dos objetivos sociais, tendo necessariamente a cooperativa e o cooperado em duas pontas da relação e um terceiro na outra ponta. Tratase de uma relação triangular, onde a cooperativa presta serviços ao seu cooperado, buscando a inserção deste no mercado, e o cooperado, por sua vez, presta o serviço ao terceiro (cooperativa de trabalho). A lei tributaria deve ser interpretada conforme a hermenêutica geral do direito, mas com as especificidades próprias dos artigos 107 a 112 do CTN. O tratamento dado pela lei civil a institutos deste ramo do direito não pode ser alterado por força de disposições tributárias, no máximo podendo a lei tributária atribuirlhes efeitos pertinentes de direito tributário (art. 109 e 110). A integração analógica é admitida para beneficiar o contribuinte, mas não para permitir ao fisco utilizála para obter imposição maior do que a lei autoriza (art. 108 inciso l e §1° A equidade (art.108 inciso IV) beneficia o pagador de tributos, sendo sempre, na dúvida, beneficiado o contribuinte com a interpretação a seu favor, no caso de exigência tida por desconforme (art. 112). Em outras palavras, o exame das disposições colocadas no segmento dedicado à hermenêutica tributária revelase um autêntico estatuto de defesa do contribuinte, pois as disposições são voltadas a não permitir excesso de exação, interpretações coniventes ou convenientes a favor do Fisco, mas a estrita obediência da lei, e, na dúvida, sempre a favor do pagador de tributos. Deve, pois, o intérprete da lei tributária buscar orientarse pela intenção do legislador, pelo texto da lei, por seu enquadramento no sistema, pela história dos eventos que levaram à elaboração legislativa, pela finalidade do dispositivo e, principalmente, para que a norma produza os efeitos que o legislador pretendeu ao aprovála, no campo de sua concretude à ordem fática. No caso da impugnante, cooperativa de trabalho médico, os "atosmeio", ou "atos nãocooperativos intrínsecos", consistem em negociar com terceiros (planos de saúde) os honorários médicos que são recebidos e repassados aos seus cooperados, pelos serviços profissionais que estes prestam aos clientes/usuários das empresas contratantes. Não fosse assim, como poderia a cooperativa "prestar serviços aos seus associados", que se reúnem "para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum", como previsto nos artigos 3o e 4o da Lei n° 5.764/71? No PN CST 38/80, tais atos são tratados como verdadeiramente cooperativos: "3. DAS COOPERATIVAS DE MÉDICOS 3.1 Atos cooperativos. As cooperativas singulares de médicos, ao executarem as operações descritas em 2.3.1, estão plenamente abrigadas da Incidência tributária em relação aos serviços que prestem diretamente aos associados na organização e administração dos interesses comuns ligados à atividade profissional, tais como os que buscam a captação de clientela; a oferta pública ou particular dos serviços dos associados; a cobrança e o recebimento de honorários; o registro, controle e distribuição periódica dos honorários recebidos, a apuração e cobrança das despesas da sociedade, mediante rateio na proporção direta da fruição dos serviços pelos associados; cobertura de eventuais prejuízos com recursos provenientes do Fundo de Reserva (art. 28, l) e, supletivamente, mediante rateio, entres os associados, na razão direta dos serviços usufruídos (art. 89). Fl. 1756DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 17 6 3.2 Atos diversos dos legalmente permitidos. Se, conjuntamente com os serviços dos sócios a cooperativa contrata com a clientela, a preço global não discriminativo, ainda o fornecimento, a esta, de bens ou serviços de terceiros e/ou cobertura de despesas com (a) diárias e serviços hospitalares, (b) serviços de laboratórios, (c) serviços odontológicos, (d) medicamentos e e) outros serviços, especializados ou não, por não associados, pessoas físicas ou jurídicas, é evidente que estas operações não se compreendem nem entre os atos cooperativos nem entre os excepcionalmente facultados pela lei, resultando, portanto, em modalidade contratual com traços de segurosaúde." Demais disso, na relação contratual com terceiros, com a nítida finalidade de beneficiar os cooperados, não há receita, rendimento ou lucro para a cooperativa. Tanto assim que os cooperados são contribuintes do IRPF, que incide sobre os valores dos honorários que lhe são repassados. [...] Digase, desde logo, que o conceito de receita não se confunde e nem pode compreender todo o conjunto de ingressos de caixa que venha a ocorrer no curso das atividades desempenhadas pelos contribuintes, na medida em que estas se revestem de distintos fundamentos e origens, sujeitos a apreciação própria. Tais 'entradas', quando não se caracterizarem como fatores de remuneração de atividade econômica desenvolvida, obviamente, não servem de parâmetros para a adequada identificação da contrapartida que o 'faturamento' ou 'preço do serviço' devem representar; por outras palavras, elas não compartilham da natureza comum dos valores que irão compor, em conjunto, a base de cálculo do ISS, do PIS e da Cofins. O delicado ponto de distinção entre o que constitui receita tributável para o contribuinte destes tributos e aqueles valores que, embora transitando pelo seu caixa, não guardam tal configuração, foi muito bem demonstrado pelo saudoso Professor Geraldo Ataliba na seguinte passagem, que cabe como luva no presente contexto: 'O conceito de receita referese a uma espécie de entrada. Entrada é todo o dinheiro que ingressa nos cofres de determinada entidade. Nem toda entrada é receita. Receita é a entrada que passa a pertencer à entidade. Assim, só se considera receita o ingresso de dinheiro que venha a integrar o patrimônio da entidade que a recebe. Em nenhum momento constatou e demonstrou a auditora que a impugnante, realizando os supostos atos nãocooperativos, teria obtido acréscimo patrimonial o repasse aos cooperados dos honorários médicos contratados e recebidos é fato incontroverso in casu. Concluise, pois, que não poderia ter sido tomada como base de cálculo "a receita proveniente da prestação de serviço aos contratantes." Aliás, tanto o art. 111 da Lei n° 5.764/71, quanto o artigo 183, II, do RIR/99, consideram como renda tributável os resultados positivos decorrentes dos atos nãocooperativos. Por resultado, em sentido propriamente contábil, entendese a conclusão a que se chegou na verificação de uma conta ou no levantamento de um balanço (lucro ou prejuízo). Em relação às contas, referese ao saldo da Demonstração do Resultado do Exercício, que tanto pode ser credor como devedor. Sobre o tema, e tratando especificamente das sociedades cooperativas, eis a lição de Renato Lopes Becho: "O sistema cooperativista tem, nitidamente, um cunho empresarial. Acreditamos que seja importante destacarmos esse aspecto da atividade cooperativista, realçandoo para explicálo. Esse destaque da natureza empresarial das cooperativas vem destacado na doutrina tradicional, nacional e estrangeira. Dizer que uma cooperativa é uma empresa significa, para nós, dizer que há um grupo de pessoas que aportam capital, trabalho, dedicação, esforço e Fl. 1757DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 18 7 energia para a consecução de um fim específico, de conteúdo econômico, buscando um objetivo direto ou indireto, para si ou para os seus. Uma atividade empresarial que se diferencia pela finalidade e pela atuação da uma atividade pia, de natureza humanitária, caritária. Uma cooperativa não é uma instituição de caridade. É uma empresa. Entretanto, assim como as sociedades caritárias não possuem finalidade lucrativa, a cooperativa também não possui. Tanto é assim que, logo no art. 3° da Lei 5.764/71 encontramos, na definição legal de cooperativa, sua finalidade distanciada do lucro, ao lado do reconhecimento de sua natureza econômica. Essa natureza diferenciará, com traços indeléveis, as cooperativas das instituições humanitárias. E o meio econômico, assim como afasta o nosso objetivo de estudo das associações pias, aproximao das demais empresas, civis e comerciais. Tanto aproxima que as ações de uma cooperativa mais aparentam atividade comercial ou civil, genericamente, do que caridade. Porém, o objetivo não lucrativo das cooperativas é traço marcante para afastá la das demais formas empresariais. Entretanto, por ser atividade econômica, a cooperativa precisará ter contabilidade própria, operará no meio empresarial intensamente, e produzirá, como decorrência também econômica por trabalhar com dinheiro resultados econômicos. Esses resultados podem ser positivos, neutros ou negativos, da mesma forma que as empresas comerciais ou civis que trabalham com dinheiro. Se na aparência (que pouco significa para o Direito, v.g. ser o navio, em termos jurídicos, bem imóvel) esses resultados são iguais, juridicamente, se diferenciam radicalmente. [...] Os resultados positivos das cooperativas devem voltar para os associados, na proporção de suas operações com a instituição. Podem decidir, contudo, mantêlos na sociedade, ou como forma de aumento do capital (que não será remunerado) ou doálos à sociedade. Esse resultado positivo é chamado de excedente ou sobra, porque a empresa cooperativa busca, para si, apenas a satisfação dos custos administrativos e operacionais, para atingir resultado que lhe é obrigatório. E esse resultado é igual a zero. Estamos diante de outro ponto, dos mais relevantes, positivado em nossa legislação, no art. 4o, inciso vil, da Lei 5.764/71, nos seguintes termos: "...retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral." (....) Como visto, o sistema cooperativo não visa o lucro. Então poderseia perguntar: mesmo não visando o lucro, o sistema produz? A resposta é negativa. Mas esclareçase: uma cooperativa pode produzir sobras, que são o resultado positivo em suas Operações." (destacamos) Pertinente, ainda, a transcrição de trecho de voto proferido pelo Ministro Humberto Martins (Superior Tribunal de Justiça, Resp n° 885.564CE): "(...) Depreendese que a totalidade da receita auferida pela cooperativa convertese, necessariamente, aos seus membros. De igual forma, os ônus pecuniários são distribuídos de maneira proporcional entre os cooperados. Cumpre salientar que as sociedades cooperativas não detêm receita ou despesa. Os ingressos, por definição legal, são precários no patrimônio, sem elevação efetiva no ativo ou alteração significativa no passivo, permanecendo imutável o patrimônio societário." Fl. 1758DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 19 8 Tributar a receita da cooperativa (na realidade, a renda dos cooperados), mesmo nos atos considerados nãocooperativos, constituí flagrante desrespeito ao princípio da capacidade contributiva, insculpido no art. 145, § 1º, da Constituição Federal (CF). No presente caso, chegouse ao astronômico valor de R$ 15.842.253,85, calculado sobre os honorários médicos dos profissionais cooperados e que, se mantidas as autuações, deverá ser suportado por eles, com a renda do seu trabalho (já tributada) e prejuízo do seu patrimônio pessoal, uma vez que a cooperativa, por expressa disposição legal, não tem recursos próprios. Importante destacar que no Termo de Verificação Fiscal e nos seus anexos não houve a demonstração de qualquer resultado, SOBRA ou LUCRO da impugnante, decorrente do exercício de atos supostamente nãocooperativos. No Acórdão n° 130200.233, da 2ª Turma ordinária do Carf (Proc. n° 10925.000725/200542), concluiu o relator que os resultados de atos não cooperativos devem ser tributados tanto pelo IRPJ como pela CSLL, mas cuidou de ressalvar, para dar provimento ao recurso voluntário: "No entanto, para tanto, tornasse necessário que a fiscalização verifique a parcela do resultado que se refere a atos não cooperados, o que não ocorreu no caso concreto." Finalmente, para ilustrar o absurdo das autuações ora impugnadas, cabe comparar a tributação que ora se pretende impor à cooperativa (aos cooperados, portanto) com aquela a que estão sujeitas as demais sociedades de profissionais, simples ou empresárias. Nestas, tributase a renda da pessoa jurídica, mas os lucros distribuídos aos sócios são isentos do IRPF. No presente caso, exigese da cooperativa o pagamento do imposto sobre a renda que não é sua e de contribuição sobre lucro que não aufere, uma vez que os honorários médicos são repassados aos cooperados, a despeito de tais honorários já constituírem renda tributável das respectivas pessoas naturais beneficiárias". O Acórdão da DRJ ficou ementado da seguinte forma: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2009, 2010 COOPERATIVA DE TRABALHO. ATO COOPERATIVO. ISENÇÃO. A receita da cooperativa de trabalho configura ato cooperativo quando o serviço tiver sido prestado por associado e disser respeito à sua atividade econômica, sendo irrelevante o fato de o usuário final não compor o quadro associativo. HIPÓTESE DE TRIBUTAÇÃO DO RESULTADO GLOBAL DA COOPERATIVA. Se a escrituração da sociedade não estiver apoiada em documentação hábil que comprove a prática exclusiva de atos cooperativos, o resultado global da cooperativa será tributado, por ser impossível a determinação da parcela não alcançada pela não incidência tributária. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano calendário: 2009, 2010 INCONSTITUCIONALIDADE. ARGÜIÇÃO. Às instâncias administrativas não compete apreciar vícios de ilegalidade ou de inconstitucionalidade das normas tributárias, cabendolhes apenas dar fiel cumprimento à legislação vigente. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido". Inconformada com o Acórdão da DRJ, a contribuinte interpôs Recurso Voluntário, por meio do qual repete os argumentos trazidos em sua Impugnação e acrescenta Fl. 1759DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 20 9 os seguintes: a) o Acórdão da DRJ é improcedente, pois ele teria utilizado fundamento distinto do Termo de Verificação Fiscal para manter a exigência tributária e, inclusive, teria afastado expressamente o próprio fundamento do TVF; b) reforçando a alegação anterior, reafirmou que as provas seriam suficientes para demonstrar que se tenta tributar atos cooperativos por meio do Auto de Infração; c) quase todo o valor discutido neste processo foi repassado aos médicos cooperados, de modo que não se deve falar em renda da cooperativa; d) foram juntados novos contratos e outros documentos para suportar as alegações, os quais serão analisados no Voto. É o relatório. Voto Conselheiro MARCOS DE AGUIAR VILLASBÔAS Relator. O Recurso Voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, motivo pelo qual passo à sua análise. Necessidade de diligência A Recorrente alega que a DRJ teria rejeitado o motivo utilizado pelo Auto de Infração e, então, inserido outro para fundamentar a exigência tributária. O Termo de Verificação Fiscal (TVF) afirma que a Recorrente tem atividade não cooperativa preponderante, pois ela realiza a intermediação e a negociação da prestação de serviços dos cooperados a terceiros, o que é bem característico de cooperativas médicas. O TVF explica, então, que apenas foram apresentados "os contratos/acordos firmados entre a fiscalizada e os tomadores relacionados no Anexo I do Termo de Constatação e Intimação Fiscal TCIF nº 01". Da análise desses contratos, a Fiscalização concluiu, sem uma fundamentação muito rebuscada, que a maior parte da atividade era de atos não cooperativos. A DRJ, de fato, atesta expressamente que os contratos apresentados referemse a atos cooperativos, mas ressalva que mantém o lançamento pelo fato de que nem todos os contratos foram apresentados. É preciso, portanto, antes de decidir, esclarecer o contexto fáticoprobatório dos autos. Pareceme assistir razão à Recorrente quando afirma que a DRJ errou ao reconhecer que os contratos juntados aos autos referemse a operações isentas, mas, ao mesmo tempo, manteve todo o lançamento. Fl. 1760DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 21 10 É necessário, portanto, segregar as operações relativas a atos cooperativos daquelas relativas a atos não cooperativos. Deste modo, não vejo outra solução, senão baixar o processo em diligência para que a Recorrente seja intimada a apresentar os contratos relativos às notas fiscais ainda não suportadas neste processo administrativo, se eles existirem, fazendo o devido cruzamento entre as notas e os negócios jurídicos que lhe dão apoio, ou para que junte outros documentos hábeis à comprovação de que as notas fiscais relacionadas pelo Auto de Infração referemse a atos cooperativos. Por sinal, a Recorrente juntou mais alguns contratos ao seu Recurso Voluntário e, ainda, reconheceu que não havia juntado todos eles, de modo que há notas fiscais cujos fatos geradores não se sabe exatamente a natureza jurídica, motivo pelo qual o processo deve ser baixado em diligência à autoridade de origem, para que sejam esclarecidas as dúvidas em tela, conforme explicado abaixo. Além disso, a Recorrente trouxe em Recurso Voluntário documentos com o objetivo de comprovar que quase toda a renda tributada pelo Auto de Infração foi repassada aos médicos cooperados, não havendo que se falar na cooperativa como sua beneficiária. Há que se verificar em diligência a possibilidade de efetiva vinculação entre os valores tributados e os valores que teriam sido repassados, dando oportunidade para que a Recorrente apresente mais documentos comprobatórios, se assim o quiser. Não se esqueça que as cooperativas são uma forma de associação extremamente benéfica para a economia, motivo pelo qual a Constituição Federal de 1988 prescreveu expressamente no art. 146, III, "c", que "cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas". Na verdade, não foi instituída uma lei complementar para tanto, sendo, a lei que regula as cooperativas, aquela de 1971, extremamente defasada em termos de política tributária. Como se não bastasse o imenso atraso do sistema tributário brasileiro como um todo, mesmo com os avanços ocorridos nele, a lei das cooperativas não acompanhou tais mudanças. Se, por exemplo, a cooperativa repassa os seus ingressos aos cooperados, a renda, em princípio, não é dela, mas daqueles. Da análise dos autos, há realmente uma indicação de que ao menos uma parte dos valores ingressados decorre de atos cooperativos que resultaram em prestação de serviços a terceiros pelos cooperados, de modo que seria inapropriado tributar os valores duas vezes: na cooperativa (pessoa jurídica) e nos cooperados (pessoas físicas). Apesar de ser uma péssima política tributária, é fato que os dividendos não são tributados no Brasil, pois isentos pelo art. 10 da Lei 9.249/1995. Acaso se tribute as cooperativas e os cooperados, que obviamente terão os valores recebidos por eles considerados renda pela Receita Federal, tornarseá desinteressante a forma de associação por cooperativas, pois será o único caso no Brasil em que pessoas físicas se associam e são tributadas juntamente com as pessoas jurídicas por elas formadas. É preciso, portanto, tomar um grande cuidado com a tributação das cooperativas, que ainda parecem ser muito mal compreendidas no Brasil, tendo a falta de uma atualização legal colaborado em muito para isso. Fl. 1761DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 22 11 Os abusos pelos contribuintes precisam ser combatidos, porém isso não significa interpretar a legislação sempre restritivamente, sempre buscando tributar mais a sociedade. A dureza deve recair sobre o sonegador, sobre aquele que abusa, que planeja sem propósito negocial, e não sobre todo aquele que suporta o sistema. Devese verificar, portanto, se é possível vincular os valores tidos por renda neste processo administrativo fiscal com os valores que a Recorrente diz terem sido pagos aos cooperados, mas sem comprovar o critério para pagamento que os vincularia às receitas recebidas por ela e a efetiva entrega dos valores. Pelos documentos juntados aos autos, inclusive os relatórios de auditoria interna anexados ao Recurso Voluntário, notase que a Recorrente investe bastante em aplicações financeiras, o que está representado no seu Balanço Patrimonial. Se ela realiza muitas aplicações financeiras, isso quer dizer que boa parte da receita recebida não é repassada aos cooperados, mas objeto de investimentos para o aumento dessa riqueza, algo que começa a fugir do escopo da cooperativa. Por outro lado, esses mesmos documentos demonstram que, em alguns casos, há retenção do imposto (IRRF) pela própria tomadora dos serviços, sendo ele compensado com o imposto retido (IRRF) quando do pagamento aos cooperados, procedimento que faz sentido para se evitar uma bitributação. Como se nota, no entendimento deste Relator, é importante segregar com clareza não somente os atos cooperativos dos não cooperativos, mas também checar quando as receitas foram efetivamente distribuídas aos cooperados com pagamento do respectivo IRRF. Conclusões Pelo exposto, voto no sentido de baixar o processo em diligência para que: a) A Recorrente seja intimada a apresentar os contratos e as notas fiscais ainda não juntadas nos autos deste processo administrativo fiscal ou outros documentos que ajudem a comprovar que os valores em discussão têm natureza de pagamentos por atos cooperativos. b) A Recorrente seja intimada a apresentar documentos que comprovem a vinculação entre os valores discutidos nesse processo administrativo e aqueles efetivamente pagos aos cooperados nos anos calendários de 2009 e 2010. c) A Recorrente seja intimada a apresentar os comprovantes de pagamento do IRRF relativos às entregas de valores aos cooperados. Fl. 1762DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 23 12 d) Após encerrado o prazo para apresentação de documentos, a Autoridade de Origem informe quais notas fiscais estão acobertadas por quais contratos e quais não estão suportadas por nenhum deles. e) Após encerrado o prazo para apresentação de documentos, a Autoridade de Origem informe se é possível vincular os valores discutidos nesse processo administrativo com os pagamentos realizados aos cooperados e se houve o devido recolhimento do IRRF em relação a cada um desses pagamentos. f) Informe a Autoridade Origem se tem mais alguma consideração relevante a fazer relativa ao julgamento deste processo administrativo fiscal. g) A Recorrente seja intimada acerca do relatório final da diligência, para, caso queira, se manifestar. Documento assinado digitalmente. Marcos de Aguiar VillasBôas Fl. 1763DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16682.721256/2013-95
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 11 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Nov 24 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2008, 2009, 2010, 2011
Ementa:
DECADÊNCIA DO DIREITO DO FISCO. OPERAÇÕES COM ÁGIO. TERMO INICIAL. AMORTIZAÇÃO
A decadência do direito do fisco rever/constituir o crédito tributário. relaciona-se com a ocorrência do fato jurídico tributário. A contagem deste prazo decadencial somente tem início quanto o valor do ágio passa a compor (negativamente) a base de cálculo do IRPJ e CSLL, o que se dá com a sua amortização.
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. SIMULAÇÃO. INCONSISTÊNCIA. OPERAÇÃO COM ÁGIO
Ainda que o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada, a evidência de incompatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio, com efetivo acréscimo de valor, representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura legitima uma reinterpretação dos fatos e a glosa dos valores amortizados.
MULTA QUALIFICADA. REINTERPRETAÇÃO DOS FATOS. SIMULAÇÃO SEM FRAUDE
A reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, o constitui como simulado, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de simulação com fraude e simulação sem fraude. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa.
ADOÇÃO DE REGIME DE CAIXA. ART. 409 DO RIR/99.
A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte.
Numero da decisão: 1401-001.697
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, AFASTAR a decadência e, no mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso voluntário, nos seguintes termos: I) Por unanimidade de votos, DAR provimento para cancelar a multa de ofício de 150% (cento e cinqüenta por cento), reduzindo-a para 75% (setenta e cinco por cento); II) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação à glosa do aproveitamento do ágio. Vencida a Conselheiro Lívia De Carli Germano. Os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Antonio Bezerra Neto votaram pelas conclusões, em relação apenas às considerações em tese feitas pela Relatora em relação ao "ágio interno" e "propósito negocial" e o Conselheiro Marcos de Aguiar Villas Boas votou pelas conclusões em função apenas das considerações em tese relativas ao propósito negocial; e III) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação às exclusões feitas em 2008 e 2009. (segunda infração) Vencida a Conselheira Lívia De Carli Germano. A Conselheira Lívia De Carli Germano apresentou Declaração de Voto.
ANTONIO BEZERRA NETO - Presidente.
AURORA TOMAZINI DE CARVALHO - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (Presidente), Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Ricardo Marozzi Gregorio, Luiz Rodrigo De Oliveira Barbosa, Marcos De Aguiar Villas Boas, Aurora Tomazini De Carvalho
Nome do relator: AURORA TOMAZINI DE CARVALHO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2008, 2009, 2010, 2011 Ementa: DECADÊNCIA DO DIREITO DO FISCO. OPERAÇÕES COM ÁGIO. TERMO INICIAL. AMORTIZAÇÃO A decadência do direito do fisco rever/constituir o crédito tributário. relaciona-se com a ocorrência do fato jurídico tributário. A contagem deste prazo decadencial somente tem início quanto o valor do ágio passa a compor (negativamente) a base de cálculo do IRPJ e CSLL, o que se dá com a sua amortização. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. SIMULAÇÃO. INCONSISTÊNCIA. OPERAÇÃO COM ÁGIO Ainda que o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada, a evidência de incompatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio, com efetivo acréscimo de valor, representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura legitima uma reinterpretação dos fatos e a glosa dos valores amortizados. MULTA QUALIFICADA. REINTERPRETAÇÃO DOS FATOS. SIMULAÇÃO SEM FRAUDE A reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, o constitui como simulado, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de simulação com fraude e simulação sem fraude. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa. ADOÇÃO DE REGIME DE CAIXA. ART. 409 DO RIR/99. A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, AFASTAR a decadência e, no mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso voluntário, nos seguintes termos: I) Por unanimidade de votos, DAR provimento para cancelar a multa de ofício de 150% (cento e cinqüenta por cento), reduzindo-a para 75% (setenta e cinco por cento); II) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação à glosa do aproveitamento do ágio. Vencida a Conselheiro Lívia De Carli Germano. Os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Antonio Bezerra Neto votaram pelas conclusões, em relação apenas às considerações em tese feitas pela Relatora em relação ao "ágio interno" e "propósito negocial" e o Conselheiro Marcos de Aguiar Villas Boas votou pelas conclusões em função apenas das considerações em tese relativas ao propósito negocial; e III) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação às exclusões feitas em 2008 e 2009. (segunda infração) Vencida a Conselheira Lívia De Carli Germano. A Conselheira Lívia De Carli Germano apresentou Declaração de Voto. ANTONIO BEZERRA NETO - Presidente. AURORA TOMAZINI DE CARVALHO - Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (Presidente), Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Ricardo Marozzi Gregorio, Luiz Rodrigo De Oliveira Barbosa, Marcos De Aguiar Villas Boas, Aurora Tomazini De Carvalho
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OPERAÇÕES COM ÁGIO. TERMO INICIAL. AMORTIZAÇÃO A decadência do direito do fisco rever/constituir o crédito tributário. relacionase com a ocorrência do fato jurídico tributário. A contagem deste prazo decadencial somente tem início quanto o valor do ágio passa a compor (negativamente) a base de cálculo do IRPJ e CSLL, o que se dá com a sua amortização. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. SIMULAÇÃO. INCONSISTÊNCIA. OPERAÇÃO COM ÁGIO Ainda que o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada, a evidência de incompatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio, com efetivo acréscimo de valor, representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura legitima uma reinterpretação dos fatos e a glosa dos valores amortizados. MULTA QUALIFICADA. REINTERPRETAÇÃO DOS FATOS. SIMULAÇÃO SEM FRAUDE A reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, o constitui como “simulado”, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de “simulação com fraude” e “simulação sem fraude”. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa. ADOÇÃO DE REGIME DE CAIXA. ART. 409 DO RIR/99. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 68 2. 72 12 56 /2 01 3- 95 Fl. 1437DF CARF MF 2 A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, AFASTAR a decadência e, no mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso voluntário, nos seguintes termos: I) Por unanimidade de votos, DAR provimento para cancelar a multa de ofício de 150% (cento e cinqüenta por cento), reduzindoa para 75% (setenta e cinco por cento); II) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação à glosa do aproveitamento do ágio. Vencida a Conselheiro Lívia De Carli Germano. Os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Antonio Bezerra Neto votaram pelas conclusões, em relação apenas às considerações em tese feitas pela Relatora em relação ao "ágio interno" e "propósito negocial" e o Conselheiro Marcos de Aguiar Villas Boas votou pelas conclusões em função apenas das considerações em tese relativas ao propósito negocial; e III) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação às exclusões feitas em 2008 e 2009. (segunda infração) Vencida a Conselheira Lívia De Carli Germano. A Conselheira Lívia De Carli Germano apresentou Declaração de Voto. ANTONIO BEZERRA NETO Presidente. AURORA TOMAZINI DE CARVALHO Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (Presidente), Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Ricardo Marozzi Gregorio, Luiz Rodrigo De Oliveira Barbosa, Marcos De Aguiar Villas Boas, Aurora Tomazini De Carvalho Relatório O presente processo administrativo teve origem na lavratura de 2 (dois) Autos de Infração (fls. 805/836) em face da Recorrente Halliburton Serviços Ltda. para exigir valores a título de Imposto sobre a Renda Pessoa Jurídica – IRPJ e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL relativos aos anoscalendário de 2008, 2009, 2010 e 2011. As infrações imputadas ao contribuinte foram as seguintes: Infração 1: redução indevida do lucro real e da base de cálculo da CSLL decorrente da amortização de ágio interno constituído com ausência de propósito negocial e sem a ocorrência do efetivo pagamento; e Fl. 1438DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 11 3 Infração 2: exclusões indevidas na apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL sob o título “outras exclusões” por falta de apresentação de documentação comprobatória que respaldasse a justificativa declarada. No Termo de Verificação Fiscal (fls. 722/804), a Fiscalização descreve, de forma pormenorizada, as infrações imputadas ao Contribuinte. Tais razões podem ser assim sintetizadas: Infração 1: a) Foram apurados os seguintes valores como amortização de ágio nas aquisições de investimentos avaliados pelo Patrimônio Líquido nos períodos abrangidos pela fiscalização: b) O ágio amortizado decorreu da realização das seguintes operações societárias: i) Em 20.06.2003, a BITC HOLDINGS, sócia da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA., utilizou a participação que detinha nesta sociedade para integralizar o capital da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. Com isso, a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. e a BAROID INTERNACIONAL TRADINGS LLC passam a ser as sócias da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA.; ii) Em 20.06.2003, foi feito aumento do capital social da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., sendo emitidas novas quotas. O aumento de capital em questão foi subscrito pela sócia BITC HOLDINGS LLC, detentora da maioria das quotas. Uma única quota passou a ser detida pela outra sócia, BAROID INTERNATIONAL TRADING LLC. Ainda no mesmo ato, a BITC HOLDINGS LCC integralizou a totalidade de suas quotas mediante a conferência das quotas que detinha nas empresas HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA. e HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada). Nesta operação, foi constituído o ágio sobre investimentos intragrupo na sociedade HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., no montante de R$ 220.545.670,93; iii) Ainda em 20.06.2003, a BITC HOLDINGS transferiu as quotas restantes que detinha do capital da HALLIBURTON SERVIÇOS Fl. 1439DF CARF MF 4 LTDA. (Autuada) para a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. Como consequência, esta última empresa passou a deter 100% das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada); iv) Em 26.06.2003, foi emitido o protocolo de justificação dos motivos de incorporação, em que se informou o acervo líquido das incorporadas HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA. e HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., ambas incorporadas pela HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada), a fim de deduzir as despesas de amortização do ágio. A totalidade das quotas representativas do capital da empresa incorporadora (Autuada) passaram a ser da BITC HOLDINGS LLC e as quotas representativas do capital social das sociedades incorporadas foram extintas em razão da incorporação; v) Em 30.06.2003, finalmente, foi aprovado o protocolo de motivos de incorporação por meio da 64ª Alteração do Contrato Social da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada), que teve seu capital social aumentado em R$ 75.307.008,00. Como sócios quotistas, com as referidas participações, figuram: BITC HOLDINGS – 81.699.167 quotas; BAROIT INT. TRADING – 97 quotas; c) Todas as operações ocorreram intragrupo; d) A HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. era sociedade não operacional, não tendo auferido receita no ano anterior ao das operações. Tampouco figurou com holding. Foi utilizada, portanto, como “empresa veículo”; e) Todas as operações que geraram o ágio a ser amortizado foram realizadas em um único dia: 20.06.2003; f) a geração do ágio não envolveu desembolso ou obrigação correspondente, tendo correspondido a meros lançamentos contábeis; g) O patrimônio líquido da sociedade veículo (HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA.) variou de R$ 224.799,71 (31.12.2002) para R$ 124.761.198,43 (30.06.2003), unicamente por força das operações acima descritas, sem que fosse realizado qualquer pagamento ou desembolso; h) Foram utilizados critérios artificiais, estranhos à contabilidade, para reconhecimento e registro do ágio gerado internamente, o que torna inadmissíveis sua dedução do lucro real e da base de cálculo da CSLL; i) A despesa de amortização do ágio interno não se enquadra na definição de receita necessária; j) A incorporação reversa realizada é nula, por decorrer de simulação. l) Não há propósito negocial a motivar as operações realizadas. Fl. 1440DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 12 5 m) Sobre as diferenças apuradas em razão da amortização indevida do ágio foi aplicada multa de 150%, tendo em vista que os fatos se enquadram nas hipóteses dos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Infração 2: a) Não foram comprovados os requisitos legais necessários à aplicação da regra prescrita pelos artigos 407 a 409 do RIR/99. b) Tendo em vista a aplicação indevida da regra de tributação em regime de caixa, foi considerado postergado o IRPJ e a CSLL sobre o lucro líquido referente aos montantes de R$ 553.711,54 e R$ 4.573.377,41, excluídos nos anoscalendário de 2008 e 2009. Regularmente intimado, o contribuinte apresentou impugnação (fls. 873/919), na qual alegou o seguinte: • Decadência com relação a glosa do ágio, tendo em vista que seu registro contábil se deu em 2003. • Estão presentes todos os elementos necessários ao registro e à dedutibilidade da amortização do ágio: a) aquisição de investimento com ágio; b) fundamentação do ágio em expectativa de rentabilidade futura, conforme demonstrações contábeis; c) realização de operação de incorporação de controladora por controlada nos termos da legislação; • As operações societárias descritas no TVF foram realizadas com o objetivo de: a) separar os setores de energia e de engenharia do Grupo; e b) suprimir unidades e empresas cuja produção não justificasse o respectivo custo de manutenção; • A dedução da amortização do ágio é direito garantido pelo artigo 7º da Lei nº 9.532/97; • Havia propósito negocial nas operações realizadas, inseridas no contexto de reorganização mundial do Grupo; • Não houve uso de “empresaveículo”, uma vez que a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. não foi criada apenas para operação, sendo empresa que existe há mais de 55 anos, sendo a primeira subsidiária do Grupo HALLIBURTON no Brasil; Fl. 1441DF CARF MF 6 • Houve efetivo desembolso econômico: a BITC pagou a quantia de R$ 269.999.025,70 pela aquisição dos investimentos na HALLIBURTON SERVIÇOS e na HALLIBURTON CIMENTAÇÃO. O pagamento em questão foi realizado nos Estados Unidos, país de domicílio das sociedades envolvidas na transação; • Não houve, por isso, reavaliação espontânea do investimento, como forma de gerar ágio; • O ágio foi baseado em valor real de mercado e em laudo extenso e fundamentado, equivalendo, portanto, ao ágio gerado em operações entre empresas independentes; • O sobrepreço que deu origem ao ágio teve sua formação nos EUA. Seu impacto sobre as operações das sociedades brasileiras se deu no momento em que o capital da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO foi integralizado com as quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada); • O ágio interno, até 31.12.2013, era legítimo no Brasil, não existindo, até essa data, qualquer tipo de restrição legal a seu registro e dedutibilidade; • Não houve simulação ou qualquer outra hipótese de ato ilícito, não cabendo, por isso, a aplicação da multa de 150%; • A tributação das parcelas contabilizadas como “outras exclusões” é ilegal, tendo em vista tratarse de montantes já regularmente oferecidos à tributação; • As receitas somente foram excluídas da apuração do lucro real no ano calendário de 2009 em razão de o seu efetivo pagamento somente ter sido realizado pela Petrobrás em janeiro de 2010, momento em que foram imediatamente oferecidas à tributação. Em 14/05/2015, a 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Salvador/BA decidiu julgar improcedente a impugnação (fls. 1265/1332), mantendo as autuações em sua integralidade. Regularmente intimada do acórdão por meio do qual foi julgada sua impugnação, a empresa autuada apresentou Recurso Voluntário (fls. 1342/1393), no qual, em síntese, repete as alegações de mérito suscitadas na impugnação. É o relatório Voto Conselheira AURORA TOMAZINI DE CARVALHO A Recorrente foi intimada do acórdão da impugnação em 20/05/2015, conforme Termo de Abertura de Documento de fl. 1339. O prazo para interposição do recurso Fl. 1442DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 13 7 teve, portanto, início no dia 21/05/2015. Tendo em vista que o Recurso Voluntário foi recebido na unidade da Receita Federal em 19/06/2015, não há dúvida quanto à sua tempestividade. Verificase, ainda, que o recurso atende aos demais requisitos de admissibilidade, pelo que deve ser conhecido e apreciado. Examinado a peça recursal, verificase que quatro são as grandes questões controversas: (i) Decadência do direito de o Fisco constituir créditos tributários relativos à amortização de ágio registrado em 2003; (ii) Legalidade das operações que geraram o ágio, bem como de seu registro e dedução da respectiva amortização; (iii) ilegitimidade da multa de ofício de 150%; e (iv) ilegalidade da tributação dos montantes contabilizados como “outras exclusões”. Cada uma delas será examinada separadamente. 1. Prejudicial de mérito: decadência No que diz respeito à decadência, não há o que alterar na decisão da DRJ. Isso porque, como bem consignado naquele acórdão, o início do prazo decadencial para a constituição de créditos tributários decorrentes da ilegitimidade da dedução de despesas com amortização de ágio se dá com a efetiva dedução destas despesas, no momento da apuração das bases tributáveis pelo IRPJ e pela CSLL. Por “ágio” entendese a diferença positiva apurada entre o valor pago na aquisição de um investimento e aquele referente ao patrimônio adquirido. Nos casos de absorção patrimonial, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, quando essa diferença de valores se dá em função dos motivos que a lei explicitamente acolhe (dentre eles a expectativa de rentabilidade futura), permitese sua dedutibilidade na apuração da base de cálculo do IRPJ e CSLL nos exercícios posteriores à absorção, respeitada a proporção em que tal investimento tenha sido realizado. Assim, com relação ao ágio (possível de se deduzindo da base de cálculo do IRPJ) é importante separar dois momentos: i) o registro; e ii) a amortização. Com o registro se dá a sua constituição, ele passa a existir como valor escritural/fiscal positivo da empresa. Com a amortização este valor é descontado na apuração da base de cálculo do IRPJ e CSLL, nos termos e condições impostas pela legislação. No momento do registro, ainda não estamos no âmbito da apuração do tributo. Não há que se falar em incidência tributária porque este valor não faz parte da base tributária do IRPJ e CSLL. A decadência, como já tive oportunidade de esclarecer, “é uma norma que se enquadra como “primária sancionatória” encontrandose em relação de coordenação com as normas que prescrevem a competência do fisco para lançar (primárias dispositivas). Elas prescrevem a não competência do fisco para constituir o crédito tributário em razão do não Fl. 1443DF CARF MF 8 exercício deste direito durante certo decurso de tempo. É da conjunção das normas que atribuem competência (primarias dispositivas) com as de decadência que delimitamos a competência do fisco para lançar. Os prazos decadenciais presentes na legislação, enquanto intervalo de tempo, reportamse ao período em que o fisco tem o direito subjetivo de lançar. O dies ad quem destes prazos marca o instante eleito pelo direito tributário para a perda deste direito, isto é, o ponto na linha cronológica do tempo a partir do qual o titular do direito de lançar deixa de ter este direito”(Decadência e Prescrição em Direito Tributário, 2a. Ed. MP editora, 2010, p. 4546). Prescreve a legislação tributária que o fisco terá competência para, em 5 anos contados do fato gerador da obrigação tributária, rever a constituição do crédito feita pelo particular, nos chamados casos de lançamento por homologação (art. 150 § 4o do CTN), desde que não verificada ocorrência de dolo, fraude ou simulação ou 5 anos contados do 1o. dia do exercício seguinte aquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, quando não houver o que homologar (art. 173, I do CTN). Os prazos se referem ao lapso temporal em que o fisco têm o direito de lançar. O que significa dizer que, findo os 5 anos, operase a perda deste direito com a incidência da norma de decadência. Pressuposto lógico para o lançamento é a ocorrência do evento tributário (fato gerador da obrigação tributária), isto porque, o ato de lançamento é responsável pela incidência/aplicação da norma tributária e esta só pode incidir no caso concreto em razão da verificação de ocorrência do fato descrito na sua hipótese. A primeira etapa, o registro do ágio não tem qualquer relação na configuração do fato jurídico tributário do IRPJ e da CSLL, pois este pode ser registrado como valor contábil e não ser amortizado. Com a amortização o valor passa a integrar a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, ou seja, compõem o fato jurídico tributário de tais tributos. A norma de decadência extingue a competência do fisco para efetuar o lançamento tributário. Não há sentido em se sustentar que o início do prazo decadencial para o fisco constituir o crédito tributário (mediante o lançamento) se dá com o registro contábil do ágio, pois este acontecimento, sem a amortização, não faz do ágio parte integrante do fato jurídico tributário. E sem a existência do evento tributário, não há pressuposto para o lançamento. Nestes termos, cabe assim ressaltar, neste ponto, que o simples registro do ágio na contabilidade – como feito pela Recorrente no ano de 2003 – não implica a ocorrência do fato jurídico tributário, na medida em que sequer compôs a base de cálculo do IRPJ e da CSLL naquele exercício. Sustenta a Recorrente que o direito ao aproveitamento fiscal do ágio é adquirido no momento em que se verifica o cumprimento das condições previstas na lei (incorporação). Há de se diferenciar, no entanto, que uma coisa é o direito (do contribuinte) à amortização do ágio, outra coisa o direito (do fisco) de rever/constituir o crédito tributário. A decadência em questão, operase sobre o direito do fisco de rever/constituir o crédito tributário. Há uma confusão de conceitos neste sentido por parte da Recorrente nas alegações de seu recurso voluntário. O prazo decadencial, a que se refere o CTN é do direito do fisco efetuar o lançamento tributário, relacionase com a ocorrência do fato jurídico tributário. O valor do ágio só integra o fato jurídico tributário quando amortizado. Para fins de prazo decadencial do direito do fisco constituir o crédito tributário, o que importa é quando esse valor passa a compor a base de cálculo do IRPJ e CSLL, ou seja, quando passa a ser um valor relevante segundo a delimitação da hipótese da regramatriz de incidência destes tributos. Fl. 1444DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 14 9 Para acabar com a confusão basta observar a estrutura da norma de decadência do direito do fisco lançar. Ela tem como objeto o direito do fisco constituir o crédito tributário, não o direito do particular de amortizar o ágio. Mesmo considerando que o valor do ágio é um crédito fiscal (conforme sustenta a recorrente, ao defender a tese da decadência), as normas de decadência do direito do fisco lançar, previstas no CTN, não atingem este crédito, elas atingem o crédito tributário. O valor do ágio é um componente da base de cálculo tributária. Só passa a ser relevante para a norma de decadência do direito do fisco lançar quando integra a base decálculo tributária, ou seja, quando tem impacto sobre o crédito tributário. O que só acontece com a sua amortização. O entendimento aqui exposto já foi acolhido por este Conselho em casos análogos ao presente, como destacado na seguinte ementa: PRELIMINAR. DECADÊNCIA. FORMAÇÃO DE ÁGIO EM PERÍODOS ANTERIORES AO DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. INOCORRÊNCIA. Somente pode se falar em contagem do prazo decadencial após a data de ocorrência dos fatos geradores, não importando a data contabilização de fatos passados que possam ter repercussão futura. O art. 113, § 1º, do CTN aduz que “A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador” e o papel de Fisco de efetuar o lançamento, nos termos do art. 142 do Estatuto Processual, nada mais é do que o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente. Não é papel do Fisco auditar as demonstrações contábeis dos contribuintes a fim de averiguar sua correição à luz dos princípios e normas que norteiam as ciências contábeis. A preocupação do Fisco deve ser sempre o reflexo tributário de determinados fatos, os quais, em inúmeras ocasiões, advém dos registros contábeis. [...] O prazo decadencial somente tem início após a ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN), ou após o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido efetuado nas hipóteses do art. 173, I, do CTN. (Acórdão nº 1402001.460. 4ª Câmara, 2ª Turma Ordinária, julgado em 08.10.2013) Assim, não há que se falar, como pretende a Recorrente, em decadência do direito de rever/constituir o crédito tributário pelo fisco em razão de o ágio ter sido gerado e registrado em 2003. Afinal, as deduções das respectivas despesas de amortização somente ocorreram no período compreendido entre os anos de 2008 e 2011. Neste sentido, o marco inicial do prazo de decadência (conforme artigo 150, §4º, do CTN) se deu em 31 de dezembro de cada um desses anos – data de ocorrência do fato jurídico tributário, previsto na hipótese da regramatriz de incidência do IRPJ e da CSLL. Por esta razão, nego provimento ao Recurso Voluntário neste ponto. 2. Dedução indevida de despesa de amortização de ágio A discussão, neste ponto, gira em torno da possibilidade, ou não, de se deduzir despesas de amortização de “ágio interno” pela Recorrente, no caso concreto. A este respeito, importa destacar, de início, que não houve questionamento ou impugnação, pelas Fl. 1445DF CARF MF 10 Autoridades Fiscais, a respeito do valor do ágio registrado, tampouco do laudo que o fundamenta economicamente. Além disso, não há divergência entre acerca dos fatos ocorridos, tampouco a respeito da legislação que, do ponto de vista tributário, rege a matéria. A controvérsia está restrita, portanto, à análise do preenchimento, ou não, dos requisitos legais para aproveitamento das despesas com a amortização do ágio apurado em razão das operações societárias realizadas pela Recorrente em 2003. Sua apreciação passa, necessariamente, portanto, pela análise e compreensão dos requisitos legais para apropriação do ágio pelas empresas em geral e pela verificação dos fatos que ensejaram a apuração do ágio no caso concreto. A compreensão desses dois principais eixos analíticos permitirá, no fim, a conclusão pela legitimidade ou ilegitimidade das deduções realizadas pela Recorrente nos exercícios de 2008 a 2011. É, então, o que passo a fazer nos próximos itens. 2.1. O ágio na legislação fiscal Editada no contexto das grandes privatizações no Brasil,a Lei nº 9.532/97 criou benefício fiscal permitindo a amortização do ágio,apurado na aquisição de sociedades, da base de cálculo tributária.O benefício foi introduzido em nosso ordenamento a fim de tornar atrativo o processo das privatizações, incentivando reorganizações societárias, visando a estimular o aumento do preço pago por empresas estatais postas à venda. O benefício em questão consistia em permitir que os valores pagos por ações de uma pessoa jurídica, que fossem superiores a seu patrimônio líquido (sobrepreço) tendo em vista uma expectativa de rentabilidade futura do investimento, poderiam ser amortizados à razão de 1/60 por mês, desde que houvesse incorporação, fusão ou cisão da empresa adquirida. Consolidouse, a partir daí, a figura do ágio como importante elemento do planejamento fiscal das sociedades empresárias do país. Como já definido no item acima, por “ágio” entendese a diferença positiva apurada entre o valor pago na aquisição de investimento e o correspondente ao patrimônio adquirido. Quando essa diferença positiva se dá em razão dos motivos que a lei estabelece, ela pode ser deduzida na apuração do lucro real (base de cálculo do IRPJ e da CSLL), nos exercícios posteriores a aquisição e nos termos da legislação aplicável, gerando, assim, efeitos tributários. Para entender a sistemática do ágio é necessário separarmos dois momentos: i) a possibilidade de seu registro e mensuração, que se relaciona com a sua existência (para fins fiscais), ou seja, com seus requisitos constitutivos; e ii) a possibilidade de sua amortização, que se relaciona com sua dedução da base de cálculo tributária. Delimitados juridicamente pela incidência de normas diferentes. Os artigos 7º e 8º da Lei n° 9.532/97–incorporados no Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99), em seu artigo 386 –tratam do direito à amortização do ágio. Enquanto que o art. 20 do Decretolei no 1.598/1977, do direito a sua constituição, que se implementa com o registro. O artigo art. 20 do referido Decreto sofreu significativas alterações pela Lei no 12.973/14, mas que não têm aplicabilidade no presente caso concreto, por isso, passamos a analisar os termos da legislação vigente à época dos fatos relevantes para este processo. Fl. 1446DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 15 11 Na sua vigência antiga, o artigo 20 do Decretolei no 1.598/1977 determinava que a pessoa jurídica, na aquisição de participação societária em sociedade controlada ou coligada, que avaliasse o investimento pelo Método de Equivalência Patrimonial, deveria desdobrar o custo de aquisição do investimento em (i) valor do patrimônio líquido na época da aquisição e (ii) ágio ou deságio na aquisição. Neste sentido, dispunha o mencionado dispositivo legal: Art. 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. Tal dispositivo determinava, ainda, em seu § 2o, a necessidade de fundamentação do ágio ou do deságio apurado, indicando um dos seguintes fundamentos econômicos: (i) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; (ii)valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; ou (iii) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. Neste contexto legislativo, assim, vigia a seguinte norma jurídica, com relação ao registro e mensuração do ágio: H – “se for (i) a aquisição de participação societária em coligada ou controlada e (ii) a obrigatoriedade da sociedade avaliar o investimento efetuado pelo valor de patrimônio líquido”; deve ser C – “a obrigação do adquirente desdobrar o custo de aquisição do investimento em (a) valor do patrimônio líquido e (b) ágio ou deságio na aquisição do investimento, devendo indicar, quanto ao ágio ou deságio o seu fundamento dentre os seguintes: (i) valor de mercado dos bens da sociedade investida; (ii) valor de rentabilidade futura da investida ou, ainda, (iii) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas”.(Roberta Bordini Prado in Amortização do ágio e imposto sobre a renda: incorporação, fusão e cisão – Dissertação de Mestrado PUCSP 2012) Com o cumprimento desta norma o ágio é registrado e passa a existir enquanto um valor relevante para fins tributários. Cabe ressaltar ainda aqui que a legislação fala em “aquisição” mas não estabelece qualquer restrição ao negócio jurídico da aquisição (estando incluídos, portanto, a compra e venda, a permuta, a incorporação de ações ou qualquer outro negócio jurídico que importe a aquisição), bem como não exige qualquer forma de contraprestação pelo adquirente. Com relação à amortização do ágio, os enunciados normativos que estabelecem sua possibilidade, para fins de apuração do lucro real, encontramse nos artigos 7o. e 8o. da Lei no 9.532/1997, dispondo que: no caso da sociedade investidora absorver patrimônio de sociedade investida (e viceversa), que tenha sido adquirida com ágio ou deságio, em virtude de incorporação, fusão ou cisão,pode deduzir o valor do ágio na apuração do lucro real. Fl. 1447DF CARF MF 12 Esse diploma normativo, em sua redação original, previa que a dedução seria efetuada nos 10 anoscalendários subsequentes à sucessão societária, fracionado em parcelas não superiores a 1/60 do ágio por mês. Após a edição da Lei n° 9.718/98, o prazo foi alterado para 5 anoscalendários e o teto de 1/60 tornouse piso – valor mínimo – para a dedução. Neste sentido dispõe o mencionado dispositivo: Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977. I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "a" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "c" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados durante os cinco anoscalendários subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de 1/60 (um sessenta avos), no mínimo, para cada mês do período de apuração. No que concerne a possibilidade de amortização do ágio, com base nos enunciados acima, temos a seguinte norma jurídica: H – “Se uma pessoa jurídica absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio fundamentado no valor de rentabilidade da sociedade investida, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros da sociedade investida”; deve ser C – “a amortização do valor do ágio nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração”. (Roberta Bordini Prado in Amortização do ágio e imposto sobre a renda: incorporação, fusão e cisão – Dissertação de Mestrado PUCSP 2012) Com o cumprimento desta norma o ágio é descontado na apuração do lucro real, gerando uma redução na base tributária. Concluindo, a legislação aqui analisada permite, então, num primeiro momento o reconhecimento do ágio gerado na aquisição de participações societárias por valor superior a seu custo de aquisição contabilizado, desde que o fundamento econômico desse ágio seja devidamente identificado e demonstrado, por documento hábil, no momento da aquisição. Fl. 1448DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 16 13 Já em segundo momento, após a contabilização do ágio, caso se trate de ágio decorrente de expectativa de rentabilidade futura, poderá a pessoa jurídica se beneficiar da dedução das despesas de sua amortização, no caso de absorção patrimonial por incorporação, fusão ou cisão da investida. Os requisitos, assim, para aplicação das duas normas são: i) a aquisição de participação societária em coligada ou controlada; ii) ágio avaliado pelo valor de patrimônio líquido fundamentado em rentabilidade futura da sociedade investida; iii) absorção patrimonial da investida em virtude de incorporação, fusão ou cisão. Os requisitos em questão, muito embora de configuração aparentemente simples, se desdobram em diferentes aspectos, aumentando a complexidade acerca da análise sobre a legitimidade, ou não, do aproveitamento do ágio como despesa dedutível. 2.2. Planejamentos tributários, art. 116 do CTN e ágio interno Enquanto benefício fiscal, aferível em razão de aquisição de participação societárias, as operações com o ágio são comumente verificas em estruturações negociais decorrentes de planejamento tributário. Planejamento tributário é o nome que se dá ao conjunto de técnicas e organização estrutural de negócios jurídicos, realizados licitamente, no intuito de reduzir a carga tributária de pessoas físicas ou jurídicas. Notase que estamos no âmbito da licitude quando falamos em planejamento tributário. Quando estas técnicas e organização estrutural de negócios jurídicos são realizadas de modo ilícito não estamos mais no âmbito do planejamento tributário, mas da evasão fiscal, atrelada à ideia de fraude, sonegação e/ou conluio. No direito brasileiro vigente impera os princípios da legalidade, da livre iniciativa privada e da tipicidade das condutas ilícitas. Isto significa que: “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei”, o que importa dizer: “tudo que não está proibido está permitido”. Destes princípios decorre a prescrição de que a delimitação e a demarcação do âmbito da ilicitude devem estar precisamente enunciada em hipóteses de normas jurídicas sancionadoras para serem considerados como tal. Planejar a realização ou estruturação de negócios jurídicos visando reduzir carga tributária que os encobre é um direito de qualquer contribuinte, desde que não ingresse no campo da ilicitude normativamente demarcada. Por sua vez, também é um direito do fisco questionar as operações realizadas pelo contribuinte. Para que gere seus regulares efeitos fiscais. Uma operação societária precisa ser consistente, combinando a licitude da forma com a finalidade jurídica que o sistema do direito lhe atribui. Não estamos aqui a falar da teoria do conteúdo sobre a forma, como bem explica Paulo de Barros Carvalho: A prevalência do conteúdo sobre a forma é mais um dentre muitos falsos problemas de que perturbam a compreensão do direito positivo. Isso porque forma e conteúdo não são aspectos separáveis a ponto de tornarse possível preterir um em favor do outro, são dimensões de um objeto incindível. Com propriedade, o escritor e Fl. 1449DF CARF MF 14 crítico literário José Veríssimo: “a forma é o fundo aparecendo”. E não há outro jeito de se conhecer, descer às entranhas do significado atribuindolhe significação, senão pela contato com a forma com que se apresente o signo. (Paulo de Barros Carvalho, Derivação e Positivação no Direito Tributário I – Entre a forma e o conteúdo na desconstituição dos negócios jurídicos simulados. Editora Noeses, p. 12) Existe a forma da operação apresentada pelo contribuinte, que revela um conteúdo (existente e lícito) e a forma da operação interpretada pelo fisco, que revela outro conteúdo também existente e lícito. O direito tributário atribui a possibilidade da fiscalização rever operações realizadas pelo contribuinte e dálas nova roupagem, reinterpretandoas de forma diferente com relação aos fatos que as constituem e as normas que as regulamenta. Assim, prescreve o parágrafo único do art. 116 do CTN: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. No cenário brasileiro de hoje não há certezas nos planejamentos tributários, mesmo considerando que, ao falar de planejamento, estamos no âmbito da licitude das operações e das condutas praticas pelos nelas envolvidos. Isto porque o sistema prevê a possibilidade das formas dadas às operações, assim como da lei que as regulamentam, serem reinterpretadas e constituídas sobre forma diferente da feita pelo sujeito passivo tributário, quando não consistentes ou não se subsumirem as hipóteses normativas que as regulamentam. Em última instância, quando há divergência quanto à roupagem das operações, alguém no direito, será competente para dizer qual a é a roupagem que se enquadra na finalidade que lhe é proposta juridicamente, em razão de uma certa interpretação factual e normativa. O direito regula sua constituição, bem como a forma de produção de sua linguagem. A não compatibilidade dos fatos com as hipóteses eleitas pelo sistema na constituição da forma jurídica das operações ou estruturação negociais permitem sua desconsideração para fins tributários. Para entender melhor o dispositivo legal acima, que autoriza esta reinterpretação dos fatos e, por consequência, da forma das operações, pela fiscalização, é preciso esclarecer a ideia de dissimulação presente em seu enunciado. No âmbito do direito civil o conceito de dissimulação reportase a uma situação que oculta, ao conhecimento de outrem, uma outra existente, pretendendo incutir no espírito de alguém a inexistência da situação real por trás da aparente. O art. 167 do Código Civil, delimita os efeitos da dissimulação estabelecendo uma diferença entre seu conceito e o de simulação, ao prescrever: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: Fl. 1450DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 17 15 I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pósdatados. Diante deste dispositivo, a doutrina civil diferencia os conceitos de simulação (absoluta)e dissimulação (simulação relativa). A simulação (absoluta) provoca uma falsa crença num estado não real. É um ato que oculta uma situação não existente. A dissimulação oculta, ao conhecimento de outrem, uma situação existente. É um ato que camufla outro por trás do que aparece. Na dissimulação há dois negócios existentes juridicamente. Os dois são válidos e constituídos de forma lícita. Na simulação o negócio jurídico existente forja algo que não existe. A divisão destes conceitos no âmbito do direito civil causa algumas divergências quanto a interpretação do conceito de dissimulação para fins de incidência do art. 116 do CTN. Analisando tais conceitos no uso corriqueiro da linguagem “dissimular” está ligado à ideia ocultar algo e“simular” ao de fingir algo, fazer parecer como real aquilo que não é. Assim, o termo “dissimular” do art. 116 do CTN deve ser interpretado no sentido de “ocultar”. A autoridade administrativa poderá desconsiderar, para atribuição de efeitos tributários, atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de ocultar a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária. Ocultar o fato jurídico tributário ou a natureza dos elementos constitutivos do tributo pode se dar tanto por meio de uma situação que constitui juridicamente aquilo que não existe (simulação absoluta – nos termos da doutrina civil), quanto por meio de uma situação que camufla outra existente (simulação relativa – nos termos da doutrina civil). Em ambos os casos temos simulação (absoluta ou relativa), o que permite a reinterpretação e requalificação das operações para fins tributários, nos termos do artigo 116 do CTN. “Simular” nesta concepção mais abrangente, significa disfarçar uma realidade jurídica, encobrindo uma que é efetivamente praticada, ou que não existe. Parece um conceito simples, mas na prática é difícil de se identificar precisamente. Isto porque, para o direito, o que existe é aquilo que se constituí juridicamente, ou seja, formalmente, por meio da produção de uma linguagem jurídica. Para uma operação existir no mundo do direito ela tem que ser vertida numa linguagem própria do direito. E essa linguagem a constitui como tal. Assim, o que existe no mundo jurídico é a operação constituída pela linguagem que a formaliza. A simulação (relativa ou absoluta) passa a existir no mundo jurídico a partir do momento em que a autoridade administrativa não concorda com a roupagem jurídica dada pelo sujeito passivo na estruturação de seus negócios. Para isso, a fiscalização tem que identificar a forma que lhe parece mais condizente perante o sistema e demonstrar por meios comprobatórios, em razão de uma reinterpretação dos fatos e da legislação vigente, que a forma utilizada pelo sujeito passivo não tem consistência jurídica ou não condiz com as possibilidade juridicamente delimitadas no ordenamento jurídico vigente. Ao fazer isso ela atribui um sinal de “ilicitude” aos atos praticados pelo sujeito passivo e tem permissão, nos termos do art. 116 Fl. 1451DF CARF MF 16 do CTN para desconsiderar a “forma” mediante a qual tais operações se apresentam para efeitos tributários. Importante, no entanto, salientar que esta “ilicitude” é diferente daquela legalmente tipificada, delimitada por hipótese de incidência de norma sancionadora. Ela decorre de uma interpretação em relação a “roupagem jurídica” dada à operação. E, por isso, não gera efeitos sancionatórios ao sujeito passivo. Como já dito, em sede de planejamento tributário vige os princípios da livre iniciativa, da legalidade e da tipicidade. O sujeito passivo é livre para interpretar a legislação, as práticas que constituem seu negócio e atribuirlhes a roupagem jurídica que lhe parece mais adequada no contexto de sua interpretação, desde que não ingresse no âmbito da ilicitude. Isso causa certa insegurança quando lidamos com o tema do planejamento tributário. Há liberdade do contribuinte estruturar seus negócios desde que não incorra no âmbito da ilicitude, mas há autorização do sistema (arts. 116, 142 e 149 do CTN) para a autoridade administrativa rever e reinterpretar a forma dos negócios jurídicos constituídos pelo contribuinte, para fins tributários, quando não consistentes ou quando não se enquadram na finalidade que lhes é prescrita juridicamente, ou seja, quando na sua interpretação, encobre uma situação (lícita) e existente juridicamente, mas que não está revestida com a forma “própria” prescrita pelo direito. Com relação ao planejamento tributário e principalmente à dedutibilidade do ágio, a jurisprudência administrativa vem firmando posicionamento de que um dos critérios para a aplicação do art. 116 do CTN é a ausência de propósito negocial na operação, levando se em consideração o fim econômico dos negócios jurídicos praticados. Vale ressaltar que, em nossa concepção, a consistência dos negócios jurídicos que englobam um planejamento tributário não se confunde com a exigência do chamado "propósito negocial". Essa figura, por não ser contemplada em nosso ordenamento jurídico, não pode ser considerada requisito de qualquer operação societária que gere efeitos fiscais, como o aproveitamento do ágio. Mesmo porque a produção de tal prova não se constitui num critério objetivo. Como explica Maria Rita Ferragut: "Entendemos que o legislador também não contemplou o propósito negocial como elemento necessário à validade do negócio jurídico de consequências tributárias nem autorizou que, em sua ausência, a requalificação do fato, pela Administração ou pelo Judiciário seja possível. A ausência demanda, somente, uma fiscalização mais minuciosa no contribuinte." (Maria Rita Ferragut. As Provas e o Direito Tributário: teoria e prática como instrumentos para a construção da verdade jurídica. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 135) Desta forma, ao passo em que a consistência dos negócios jurídicos é circunstância essencial à apuração regular dos planejamentos tributário para fins fiscais, o chamado "propósito negocial" não o é, não havendo respaldo jurídico em nosso ordenamento para que seja utilizado como fundamento na desconstituição dos efeitos de negócios jurídicos lícitos. Especificamente com relação ao ágio, como fixado no item anterior, são incluídos como requisitos da sua dedutibilidade: i) a efetiva existência de investimento em Fl. 1452DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 18 17 sociedade empresária, mediante aquisição de participação societária; ii) prova da finalidade econômica das operações fundamentada no valor de rentabilidade da sociedade investida; iii) absorção patrimonial da investida em virtude de incorporação, fusão ou cisão. Relativamente ao segundo requisito, é indispensável a prova do fundamento econômico do valor de aquisição, cuja determinação é responsável pela criação do ágio. Daí a exigência reiteradamente feita por este Conselho e hoje positivada em lei de que seja produzido laudo idôneo para fundamentar o ágio (ou, em verdade, a expectativa de rentabilidade futura que o fundamenta e garante o direito ao aproveitamento do benefício fiscal acima mencionado). Aos requisitos acima analisados foram acrescidos outros, por meio da Lei nº 12.973/14, produto da conversão da MP 627. Além de inserir critérios de apuração que, na prática, levam à redução dos valores apurados a título de ágio (tendo em vista a exigência de reconhecimento a valor justo do patrimônio líquido antes de sua apuração), a nova legislação prescreveu proibição antes não existente no ordenamento jurídico: a de apuração e aproveitamento, para fins fiscais, do chamado "ágio interno". Importante ressaltar que antes da modificação legislativa não existia proibição no ordenamento jurídico da dedutibilidade do ágio gerado em operações entre partes relacionadas, desde que verificado a presença dos requisitos legais impostos de constituição e amortização do ágio e que os negócios constituídos juridicamente pelo sujeito passivo se encontrassem no âmbito da licitude e não caracterizassem atos evasivos. Feitas essas considerações cabe, agora, analisar se, no caso concreto, foram preenchidos os requisito necessários à dedução das despesas com amortização do ágio apurado nas operações societárias realizadas entre as empresas do Grupo da Recorrente. 2.3. O caso concreto Como explicado, as operações societárias que ensejaram a apuração do ágio podem ser sintetizadas da seguinte forma: • Estrutura societária do Grupo antes das operações As sociedades HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA LTDA., HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. e HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Recorrente) possuíam mesma composição societária, sendo suas quotas divididas entre a BAROID INTERNATIONAL e a BITC HOLDINGS: Baroid BITC Fl. 1453DF CARF MF 18 • 20.06.2003 É realizada operação de integralização de capital das quotas da BITC na HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., por meio das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA.: No mesmo ato, realizase aumento do capital social da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., com a emissão de novas quotas. Esse aumento foi subscrito pela sócia BITC HOLDINGS. Ainda no mesmo ato, a BITC HOLDINGS integralizou suas quotas mediante a conferência de quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA. e da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Recorrente). Essa operação de aporte de participação societárias gerou ágio sobre investimento no montante de R$ 220.545.670,93 (duzentos e vinte milhões, quinhentos e quarenta e cinco mil, seicentos e setenta reais e noventa e três centavos), contabilizado na HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., em decorrência da diferença entre o custo de aquisição das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS e seu valor patrimonial (mais valia fundamentada em expectativa de rentabilidade futura): Ainda na mesma data, a BITC HOLDINGS transfere as quotas que ainda detinha do capital da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Recorrente) para a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., que passa a deter 100% de suas quotas • 30.06.2003 Após a emissão e aprovação do Protocolo de Justificação dos motivos de incorporação, por meio da 64ª alteração de seu contrato social, a HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. incorpora a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. e a HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA LTDA. Cimentação Energia Serviços R$ 269.999.958,00 R$ 220.545.670,93 R$ 96.6730,00 R$ 270.096.631,00 Ágio Baroid BITC Cimentação Energia Serviços Baroid BITC Fl. 1454DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 19 19 Após as incorporações, a configuração das empresas passas a ser a seguinte A incorporação da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. por sua controlada (Recorrente) permitiu a dedução das despesas de amortização do ágio, nos termos da Lei nº 9.532/97. Do exposto, alguns pontos merecem destaque, dada sua relevância ao deslinde do caso. São eles: (i) Todas as operações foram realizadas entre empresas do mesmo grupo econômico, sem qualquer participação de terceiros; (ii) Não houve pagamento efetivo de valores na realização das operações, nem mesmo aquelas que implicaram aumento de capital ou investimento com emissão de novas ações; (iii) A sociedade Halliburton Cimentação Ltda., apontada pela Fiscalização como "empresaveículo" para a geração do ágio não foi criada para a operação, sendo sociedade préexistente e integrante do Grupo há mais de 5 anos; Cimentação (incorporada) Energia (incorporada) Serviços R$ 96.6730,00 R$ 124.761.188,46 R$ 124.857.968,56 Baroid 0,01% BITC 99,9% Serviços R$ 6.392.256,00 R$ 81.699.264,00 R$75.307.008,11 (emissão novas quotas) Fl. 1455DF CARF MF 20 (iv) Foi aumentado o capital dessa sociedade empresária, que recebeu aporte feito em quotas da Recorrente; (v) Essa empresa, no entanto, não era mais operacional, não tendo auferido qualquer receita no ano anterior ao das operações aqui analisadas, havendo intenção do Grupo de extinguila; (vi) Foram realizadas duas operações de "incorporação às avessas", em que a sociedade controladora foi incorporada pela controlada; (vii) A configuração final do Grupo, após a realização das operações acima descritas, gerou aumento de capital da ordem de 75 milhões de reais e ágio amortizável de mais de 200 milhões. O primeiro ponto destacado acima é de extrema relevância. Afinal, segundo afirma a Fiscalização, o fato de serem as operações societárias realizadas entre empresas do mesmo grupo bastaria à conclusão pela ilegitimidade da amortização do ágio, dada a suposta indedutibilidade do ágio interno já à época dos fatos. Essa afirmação, no entanto, não procede. O chamado ágio interno não encontrava, até a edição da MP 627/13, qualquer óbice na legislação pátria. Como visto no item anterior, não havia na legislação– e nem dela se podia inferir, como pretendeu afirmar a Fiscalização – qualquer requisito que implicasse a proibição do ágio apurado internamente, como consequência de operações societárias entre empresas ligadas. Afinal, diversamente do feito no TVF, não há como se afirmar de forma peremptória que o ágio interno é gerado sem que haja correspondente aplicação de capital. Tampouco se pode concluir de forma automática que o ágio interno corresponderia, necessariamente, a uma despesa artificialmente criada. Inexiste, portanto, qualquer fundamento jurídico que autorize a conclusão de que, se apurado internamente, seria ilegítimo o ágio. Não foi outra a razão pela qual, aliás, a vedação a esta modalidade de ágio precisou ser veiculada de forma expressa pela legislação, passando a integrar o ordenamento jurídico, portanto, somente a partir do início da vigência da lei nº 12.973/14. Assim, uma importante premissa deve ser firmada: o fato de ser o ágio aqui analisado gerado internamente, entre empresas do mesmo grupo, não é causa suficiente à manutenção das autuações. Passemos, então, à análise dos demais aspectos fáticos, seu confronto com a legislação aplicável e a interpretação jurídica dada aos fatos pelo sujeito passivo tributário na constituição da estruturação jurídica que gerou o ágio e permitiu sua dedução da base de cálculo tributária. No caso concreto, as operações societárias, em que pese seu grande potencial modificador das estruturas de controle das sociedades envolvidas, bem como seus impactos econômicos e fiscais, foram realizadas em curto espaço de tempo e sem desembolso de valores entre as sociedades "investidas" e "investidoras". O pagamento mencionado pela Recorrente às fls. 1354 (parágrafo 42 do recurso), suspostamente realizado no exterior, não gerou impactos diretos nas operações feitas no Brasil, não tendo constituído investimento de capital estrangeiro em empresas controladas brasileiras. Assim, ainda que tenha, de fato, ocorrido, não altera a circunstância de que as operações de reorganização do grupo realizadas no Brasil foram feitas sem desembolso de valores. Fl. 1456DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 20 21 Sobre este ponto, destaco trecho da decisão da DRJ, dada a clareza da exposição: "Ademais, se de fato o citado pagamento fosse um novo aporte de capital estrangeiro em empresa nacional, o capital investido deveria ser objeto de registro junto ao Banco Central do Brasil além de constar nos registros contábeis da empresa objeto do investimento, o que não se comprova nos autos, a teor do que determina o art. 5º, §1º da Lei nº 11.371, de 28 de novembro de 2006, que dispõe sobre operações de câmbio e registro de capitais estrangeiros [...]" (fls. 1317) E, em que pese a ausência de qualquer pagamento ou operação realizada em contexto de mercado, as modificações societárias empreendidas geraram aumento de capital social e grande valor de ágio a deduzir, por supostamente, terem envolvido a aquisição de quotas da Recorrente, em investimento feito por empresa estrangeira. Conforme pontuado acima, a legislação que trata da constituição do ágio fala em “aquisição” e não estabelece qualquer restrição ao negócio jurídico da aquisição, bem como não exige qualquer forma de contraprestação pelo adquirente, mas este é um ponto a ser observado no caso concreto para se aferir a consistência jurídica da estruturação, que juntamente com outros aspectos corroboram para uma reinterpretação das operações realizada pelo grupo para fins fiscais. Somase a este aspecto o fato de que foram utilizadas na operação, com finalidade de gerar o ágio apurado, empresas não operacionais, em exemplo típico de operação feita por meio das chamadas "empresasveículo". Destaco, neste ponto, que, muito embora a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. se trate de empresa antiga, com muitos anos de atuação no mercado, era, à época das operações, comercialmente inativa, não tendo auferido receita alguma no exercício de 2002. Aqui vale transcrever, uma vez mais, trecho da decisão de primeira instância: "É certo que a Halliburton Cimentação não foi criada em 1959 com a finalidade exclusiva de realizar uma transação comercial pra geração de ágio e posterior transporte para sua incorporadora e não se nega que no decorrer destes atos tenha de fato exercido sua atividade em algum momento, mas é igualmente certo que no presente caso, foi exatamente a função de 'empresa veículo' que desempenhou, restando caracterizada a sua utilização para geração artificial de ágio e posterior transporte e transferência deste ágio à sua incorporadora, mesmo por que, nos anos anteriores às operações societárias realizadas, a Halliburton Cimentação já não mais exercia nenhuma atividade operacional, como se comprova nos autos [...]" (1319/1320) As circunstâncias das operações em que a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO foi envolvida evidenciam muito mais uma forma de reavaliação econômica do grupo, do que uma aquisição com investimento de rentabilidade futura. Isso porque, muito embora a empresa adquirida (com ágio) estivesse já comercialmente inativa e deficitária e que, nos dizeres da própria Recorrente, e justificadamente, assim, foi levada à extinção pela incorporação reversa Fl. 1457DF CARF MF 22 realizada (fls. 1359/1360), na mesma semana, antes de ser incorporada, recebeu substancial aporte de capital, feito por meio das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS. Há, assim, incoerência entre as operações sociais do grupo e a forma que as constitui. Interpretandose os fatos trazidos aos autos o que aparece é uma reavaliação econômica do grupo. Esta reavaliação, depois de operações societárias de integralização de capital de uma entidade em outra seguida de incorporação as avessas criou um ágio deduzido fiscalmente. O fato das operações serem realizadas dentro do mesmo grupo por si só não é motivo para desconsiderar o ágio, nem o fato de terem sido realizadas por meio de integralização de quotas. Mas o ágio tem que representar um efetivo acréscimo de valor nas operações referindose a um investimento de rentabilidade futura, o que a meu modo de ver, não se verifica na estruturação dos negócios jurídicos que gerou o ágio no caso concreto. Verificase, assim, prática de atos societários carentes de consistência, realizados em desrespeito à necessária compatibilidade entre a forma adotada e prescrição jurídica da forma. Embora o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada em hipóteses sancionadoras, uma reinterpretação dos fatos evidencia não haver compatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura. Dizendo de outra forma, numa reinterpretação dos fatos eles não se subsomem à hipótese de incidência da norma de constituição do ágio. Tratase, portanto, dentro das delimitações feitas nos itens acima de ato simulado, que nos termos do art. 116 do CTN, pode ser desconsiderado para fins tributários. Alguns esclarecimentos, no entanto, ainda se fazem relevantes. Diversamente do afirmado no TVF e reiterado na decisão de 1ª Instância, não se pode concluir pela ilegalidade de uma operação societária pelo fato de uma de suas etapas corresponder a uma "incorporação reversa". Ora, assim como afirmado em relação ao ágio interno, não há óbice legal em nosso ordenamento à realização deste tipo específico de incorporação. Ela apenas precisa, reitero, ter consistência. É dizer: uma incorporação não é ilegítima porque a sociedade controlada incorpora sua controladora. O que pode fazer dela ilícita e, por isso, passível de desconsideração pelo Fisco, é o descasamento entre a finalidade de uma incorporação e os resultados obtidos de fato com a operação feita em cada caso concreto. Esse é o caso dos autos, não pelas incorporações reversas em si, mas pela sucessão de atos incompatíveis e incoerentes entre si (como o aumento de capital, com aporte em ações, com posterior extinção da sociedade por incorporação). Vejase que, ao explicar as razões que atribuiriam "propósito negocial" às operações realizadas, a Recorrente menciona a necessidade de reestruturação do Grupo no país, com racionalização da divisão dos ativos e setores explorados pelas empresas. A justificativa apresentada, muito embora fundamentada em fatos reais, não explica as operações feitas e tampouco consegue dar a elas a consistência necessária ao reconhecimento de sua licitude do ponto de vista fiscal. Assim, vislumbro no caso concreto a prática de operações em típico caso de simulação (absoluta), o que gerou uma dissimulação (simulação relativa) em relação a natureza de alguns elementos constitutivos do fato jurídico e da obrigação tributária. Toda estruturação negocial, que envolve a constituição e amortização do ágio apresentadas e operacionalizadas juridicamente pela Recorrente, camuflam uma reavaliação Fl. 1458DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 21 23 econômica do grupo empresarial, por meio da integralização de capital, subscrição de quotas e incorporação. O ato que gera, em essência, o ágio amortizado o investimento em sociedade empresarial – não ocorreu, em verdade. Ao contrário, as operações realizadas tinham como finalidade reduzir as proporções do grupo no país, diminuindo custos e porte das operações. Sequer havia a intenção de investir ou de aportar capital a qualquer título. No entanto, foram constituídas sob uma roupagem (inconsistente) diferente com vistas a aproveitar o benefício fiscal, o que caracteriza a simulação. O caso dos autos é, pois, justamente de simulação, na medida em que, todos os atos constituídos juridicamente pelo grupo espelham uma operação, mas a intepretação dos fatos levam a outra inexistente. Se pretendeu afirmar haver uma sucessão de atos visando à realização de investimentos em sociedades do grupo, mas o que se fez, foi uma reavaliação econômica do grupo, com a redução de suas proporções, extinguindo de imediato a suposta beneficiária do investimento. Utilizouse, no entanto, da “forma” jurídica“investimento com rentabilidade futura”, em razão da possibilidade de amortização do ágio. Nesta reinterpretação dos fatos, a forma utilizada pelo sujeito passivo não condiz com as possibilidade juridicamente delimitadas no ordenamento jurídico vigente para uso desta forma. Não houve, portanto, investimento de capital intragrupo a justificar a geração de ágio e, ainda mais, sua dedutibilidade para fins de apuração do IRPJ e da CSLL. Sem que tenha havido, de fato, investimento em sociedade empresária, não há causa para a geração do ágio e, por consequência, concluise que sua apuração no caso concreto foi artificial, simulada. Desta forma, retomando ponto tratado no item anterior deste voto, resta evidente, pelas provas dos autos e pelas próprias razões recursais, que falta ao caso concreto um dos dois elementos essenciais à aquisição do direito à amortização do ágio: a existência efetiva de investimento em sociedade empresária. Pelos motivos expostos, nego provimento ao Recurso Voluntário neste ponto, para manter integralmente a autuação relativa à glosa das despesas de amortização de ágio incorridas pela Recorrente nos exercícios de 2008 a 2011. 3. Da multa de ofício no percentual de 150% No Termo de Verificação Fiscal, alega a fiscalização que, no caso concreto, seria cabível a aplicação de multa no percentual de 150%,nos termos do § 1o. I do art. 44 da Lei 9.430/96, porque, no seu entender, houve prática de ações enquadráveis nas previsões dos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Vejamos os dispositivos que fundamentam o Termo de Verificação Fiscal: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: Fl. 1459DF CARF MF 24 I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis Art . 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I – da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II – das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. As hipóteses do artigos 71, 72 e 73 da Lei 4.502/64, que fundamentam a qualificação da multa são: (i) sonegação; (ii) fraude; (iii) conluio. Isto significa dizer que somente na presença destas circunstâncias é que a legislação tributária permite a duplicação do percentual de 75%. A estrutura normativa da multa qualificada é de fácil organização: H – “Se for a infração tributária decorrer de sonegação, fraude ou conluio”; dever ser C – “a qualificação da multa (duplicação do percentual de 75%). O problema é de ordem semântica e envolve a delimitação dos conceitos de “sonegação”, “fraude” e “conluio”. Mas, logo desaparece quando estabelecemos um núcleo significativo comum entre eles: a ideia de ato enganoso realizado por meio ilícito. Tanto o conceito de fraude, quanto sonegação e conluio estão relacionados à ideia de ato enganoso, de ação ardilosa, dolosa, ilícita, realizada de máfé, com o intuito de enganar outrem. Na fraude tributária, definida pelo art. 72, o sujeito passivo se utiliza de meios ardilosos ilícitos, visando reduzir sua carga tributária, impedindo a ocorrência do fato jurídico tributário ou modificando seus aspectos. O conceito de sonegação fiscal, dado pelo art. 71, também está relacionado a mesma ideia de ato enganoso (ilícito), realizado, no entanto, pelo sujeito passivo, com vistas a retardar ou impedir o conhecimento pelo fisco do fato jurídico tributário. E o conceito de conluio também se reporta à ideia de ato enganoso (ilícito) com vistas à redução da carga tributária, mas implementado mediante acordo entre duas ou mais pessoas. Assim, tanto a fraude, como a sonegação, quanto o conluio, enquanto condutas ilícitas, dolosamente delimitas e, assim só o são, porque tipificadas em hipótese de Fl. 1460DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 22 25 normas sancionadoras, o que juridicamente lhes coloca no âmbito da ilicitude. Como em nosso país vigora o princípio da livre iniciativa privada, de que tudo o que não está proibido, é permitido. A ilicitude, só pode existir juridicamente se tomada como hipótese de alguma norma jurídica sancionadora punitiva. A legislação penal tipifica pontualmente as condutas ilícitas em que o sujeito passivo tributário se utiliza dolosamente de meios ardilosos, com o intuito de enganar o fisco, visando a redução da sua carga tributária nos arts. 1o. da Lei 4.729/65 e da Lei 8.137/90: Art 1º Constitui crime de sonegação fiscal: I prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público interno, com a intenção de eximirse, total ou parcialmente, do pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei; II inserir elementos inexatos ou omitir, rendimentos ou operações de qualquer natureza em documentos ou livros exigidos pelas leis fiscais, com a intenção de exonerarse do pagamento de tributos devidos à Fazenda Pública; III alterar faturas e quaisquer documentos relativos a operações mercantis com o propósito de fraudar a Fazenda Pública; IV fornecer ou emitir documentos graciosos ou alterar despesas, majorandoas, com o objetivo de obter dedução de tributos devidos à Fazenda Pública, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis. Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; V negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecêla em desacordo com a legislação. Tendo em conta tais dispositivos, o âmbito da ilicitude das condutas realizadas no intuito de suprimir ou reduzir o pagamento de tributo é bem demarcada. O que restringe a aplicação da multa qualificada somente às situações acima enquadradas. E, o que importa, também dizer que, a simples finalidade de evitar ou reduzir o pagamento de tributos, por si só, quando realizado por meios lícitos, não configura hipótese qualificadora da multa tributária. Notase, assim, a presença de três critérios definidores da hipótese Fl. 1461DF CARF MF 26 qualificativa da multa tributária: (i) conduta dolosa; (ii) prática ilícita, tipificada e iii) finalidade de evitar ou reduzir o pagamento de tributos, todos conectados pela conjunção. Se não ficar devidamente comprovada a existência de conduta dolosa, realizada mediante a prática de ato ilícito, com o intuito de evitar ou reduzir o pagamento de tributos ou a ocultar a ocorrência de fato jurídico tributário, não é possível a majoração da multa para o percentual de 150%. Neste sentido já se posicionou este E. Conselho: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2001, 2002 MULTA QUALIFICADA. Para que se possa preencher a definição do evidente intuito de fraude que autoriza a qualificação da multa, nos termos do artigo 44, II, da Lei 9.430/1996, é imprescindível identificar a conduta praticada: se sonegação, fraude ou conluio respectivamente, arts. 71, 72 e 73 da Lei 4.502/1964. A mera imputação de simulação nãoé suficiente para a aplicação da multa de 150%, sendo necessário comprovar o dolo, em seus aspectos subjetivo (intenção) e objetivo (prática de um ilícito). (CARF, CSRF, 1ェ Turma, ACモRDテO 9101002.189, julgado em 21/01/2016) Com relação ao âmbito de incidência e aplicação da multa qualificada chegamos num entendimento: i) é indispensável a comprovação de que o agente atuou ilicitamente, de maneira dolosa, ou seja, com a intenção de enganar o fisco; ii) a ilicitude da conduta deve ser tipificada por hipóteses de incidência de normas sancionadoras presentes no sistema jurídico. Agora cabenos analisar o caso concreto. Pelo exame dos autos não se identifica prova cabal do elemento volitivo, ou seja, da inquestionável intenção de fraudar, nem a caracterização de qualquer ato ilícito utilizado pelo sujeito passivo tributário. Está caracterizado apenas, que a operação escolhida pelo sujeito passivo ao realizar sua reestruturação societária gerou uma redução em sua carga tributária. No entanto, limitase a fiscalização a alegar que houve intuito de fraude, mas não especifica nenhuma conduta gravada juridicamente pela ilicitude, capaz de subsumirse à situações delimitadas acima. No caso concreto, como afirmado em item anterior, houve simulação. Simulação, no entanto, decorrente de uma reinterpretação da operação apresentada pelo sujeito passivo, revelando outra que teria sido encoberta, ou criada pela roupagem formal constituída juridicamente por ele. Notase que não estamos diante de um ato enganoso realizado por meio de condutas ilícitas dolosamente tipificadas, a todo o instante o sujeito passivo age dentro da lei, interpretandoa a seu favor. A legislação tributária é extremamente complexa, há divergências interpretativas em todos os âmbitos, e ao fisco, nos casos em que o crédito tributário é constituído pelo sujeito passivo, cabe o direito de rever e reinterpretar os fatos que ensejam a constituição do crédito tributário. A elaboração de uma roupagem jurídica à operação pelo sujeito passivo que, segundo sua interpretação, lhe é permitida por lei, sem utilização de meios ilícitos, nem com vontade dirigida de realizar atos enganosos, que é reinterpretada pelo fisco para fins de ensejarlhe diferentes efeitos tributários, não pode ser apenada com a qualificadora em razão deste fato não preencher os critérios da norma. Diferente situação ocorre, no entanto, quando a operação é enganosa, realizada com dolo, com a utilização de meios ilícitos. Nestes casos, há suporte fáctico para aplicação da multa qualificada. Fl. 1462DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 23 27 Para melhor esclarecer, é importante estabelecer uma diferença entre o conceito de “simulação” e o de “fraude”. Nem todo ato tido como simulado é fraudulento. Há uma diferença entre os estes dois conceitos. Pode haver “simulação com fraude” e “simulação sem fraude”. E apenas a primeira enseja incidência da multa qualificada. A ideia de simulação no âmbito do direito tributário não está relacionada necessariamente à conduta ilícita, dolosamente direcionada, com o objetivo de suprimir ou reduzir a carga tributária. Relacionase sim a ideia de ato enganoso, mas que pode ser realizado mediante condutas ilícitas ou não. Na simulação sem fraude há interpretações diferentes com relação à linguagem jurídica que constitui os fatos capazes de ensejar efeitos tributários, ou seja, uma divergência interpretativa na forma como os fatos devem ser constituídos juridicamente para fins de aplicação da legislação tributária. O fisco dá uma roupagem diferente ao fato que foi constituído pelo contribuinte ao interpretar de maneira diferente as possibilidades permissivas da legislação tributária. Essa reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, com fundamento no art. 116 do CTN, é capaz de constituir como “simulado” um negócio para fins tributários, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de “simulação com fraude” e “simulação sem fraude”. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa. A respeito da impossibilidade de se equiparar a simulação às hipóteses prescritas pelos citados arts. 71, 72 e 73, destaco o seguinte trecho do voto condutor do Acórdão nº 9101002.189, proferido pela Câmara Superior deste Conselho: “Ocorre que o artigo 44, II, da Lei 9.430/1996 não faz qualquer menção à simulação. Na verdade, tal dispositivo estabelece a aplicação de multa de 150 % nos casos de evidente intuito de fraude, definidos nos arts.71, 72 e 73 da Lei n 4.502, de 30 de novembro de 1964,(...)(redação vigente à época da autuação). Ora, para que se pudesse completar a definição de "evidente intuito de fraude", que autorizaria a qualificação da multa de ofício, seria imprescindível a identificação da conduta praticada pelo contribuinte: se sonegação, fraude ou conluio respectivamente 71, 72 e 73 da Lei 4.502/1964. No caso porém, não houve qualquer fundamentação neste sentido, do que se conclui que o agravamento da penalidade carece de suporte material e, por isso, não pode subsistir” (Processo nº 18471.000009/200633. 1ª Turma. Sessão de 21.01.2016) Com relação ao caso concreto, conforme se pode verificar do TVF (fls. 785/878), a Fiscalização se limitou a afirmar a ocorrência de simulação, concluindo, sem maiores justificativas, pela aplicabilidade da multa prevista para as hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Sequer foi feito, em verdade, o enquadramento dos fatos a uma destas três diferentes hipóteses, como se fosse possível equiparar de forma direta o conceito de simulação com os de fraude, sonegação e conluio. Fl. 1463DF CARF MF 28 Assim, por não verificar a ocorrência de nenhuma das hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 acima transcritos, nem nas hipóteses que demarcam a ilicitude das operações, delimitadas pelos artigos 1o. da Lei 4.729/65 e da Lei 8.137/90 e, também, por não ter esse enquadramento sido feito de forma adequada pela Fiscalização, voto pelo provimento do recurso voluntário neste ponto, de modo a reduzir a multa aplicada para o percentual de 75%. 4. "Outras exclusões" Na segunda infração, a Fiscalização considerou como exclusões indevidas nos anoscalendário de 2008 e 2009 os valores de R$ 553.711,54 (quinhentos e cinquenta e três mil reais, setecentos e onze reais e cinquenta e quarto centavos) e R$ 4.573.377,41 (quatro milhões, quinhentos e setenta e três mil, trezentos e setenta e sete reais e quarenta e um centavos), respectivamente. A autuação se fundamentou na ausência de comprovação, pela Recorrente, das causas do art. 409 do RIR/99, que autorizam a adoção de regime de caixa nas hipóteses que definem. Referido artigo prescreve: Art. 409. No caso de empreitada ou fornecimento contratado, nas condições dos arts. 407 ou 408, com pessoa jurídica de direito público, ou empresa sob seu controle, empresa pública, sociedade de economia mista ou sua subsidiária, o contribuinte poderá diferir a tributação do lucro até sua realização, observadas as seguintes normas (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 10, § 3º, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso I): I poderá ser excluída do lucro líquido do período de apuração, para efeito de determinar o lucro real, parcela do lucro da empreitada ou fornecimento computado no resultado do período de apuração, proporcional à receita dessas operações consideradas nesse resultado e não recebida até a data do balanço de encerramento do mesmo período de apuração; II a parcela excluída nos termos do inciso I deverá ser computada na determinação do lucro real do período de apuração em que a receita for recebida. § 1º Se o contribuinte subcontratar parte da empreitada ou fornecimento, o direito ao diferimento de que trata este artigo caberá a ambos, na proporção da sua participação na receita a receber (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 10, § 4º). § 2º Considerase como subsidiária da sociedade de economia mista a empresa cujo capital com direito a voto pertença, em sua maioria, direta ou indiretamente, a uma única sociedade de economia mista e com esta tenha atividade integrada ou complementar. § 3º A pessoa jurídica, cujos créditos com pessoa jurídica de direito público ou com empresa sob seu controle, empresa pública, sociedade de economia mista ou sua subsidiária, decorrentes de construção por empreitada, de fornecimento de bens ou de prestação de serviços, forem quitados pelo Poder Público com títulos de sua emissão, inclusive com Certificados de Securitização, emitidos especificamente para essa finalidade, poderá computar a parcela do lucro, Fl. 1464DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 24 29 correspondente a esses créditos, que houver sido diferida na forma deste artigo, na determinação do lucro real do período de apuração do resgate dos títulos ou de sua alienação sob qualquer forma (Medida Provisória nº 1.74937, de 1999, art. 1º). Tratase, pois, de regra excepcional de tributação pelo IRPJ em regime de caixa, aplicável aos casos de contratos firmados com o Poder Público, contumaz pagador em atraso de seus deveres contratuais. Para a aplicação de referida regra, é imprescindível a prova dos requisitos exigidos pelo dispositivo legal, quais sejam: (i) contrato de empreitada ou fornecimento firmado com o Poder Público (direta ou indiretamente); (ii) com prazo de execução superior a um ano; (iii) a preço prédeterminado. Além desses requisitos, é necessário contabilizar de forma correta todos os recebimentos oriundos dos contratos que possuam as características aqui destacadas, de forma a permitir o controle do regime de caixa adotado. No caso dos autos, a Recorrente excluiu da apuração do lucro real os dois recebimentos acima mencionados, sob o argumento de que não teriam sido pagos no vencimento pela Petrobrás. Em relação ao montante relativo ao exercício de 2009, afirma, ainda, que foi levado à tributação em janeiro de 2010. A este respeito afirma, então, que no máximo poderiam ser cobrados juros e multa, decorrentes da postergação do pagamento dos tributos devidos. Não assiste, no entanto, razão à Recorrente. Isso porque, apesar suas alegações a respeito da natureza dessas exclusões, não foram trazidas aos autos provas de que os valores objeto da autuação que, ressalto, correspondem ao valor líquido da diferença entre as exclusões feitas em 2008 e 2009 e os valores adicionados se enquadrariam na regra do citado art. 409 do RIR/99. A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte. No caso dos autos, muito embora intimado a fazêlo diversas vezes, a Recorrente não produziu a prova necessária a dar respaldo a seu alegado direito. Destaquese, neste ponto, que a simples juntada de demonstrações fiscais (DIPJs) não é prova suficiente do direito aqui discutido. Afinal, à aplicação da regra do art. 409 do RIR é necessária a demonstração da origem das receitas cuja tributação é diferida, bem como sua adequada contabilização. É preciso ressaltar, a este respeito, que a simples contabilização das receitas, na forma prescrita pelo direito, não é suficiente para comprovar sua natureza e efetiva ocorrência. Conforme já decidido por este E. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, a escrita mantida pelo contribuinte somente faz prova em seu favor quando amparada em documentação hábil e idônea: ESCRITURAÇÃO. DOCUMENTAÇÃO HÁBIL. AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. PROVA DA INVERACIDADE DOS FATOS REGISTRADOS. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados, desde que comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais. Por sua vez, Fl. 1465DF CARF MF 30 deixa a escrituração de fazer prova ao contribuinte quando a autoridade administrativa constata a ocorrência de ilícitos, e demonstra com provas contundentes que a escrituração não traduz os fatos efetivamente ocorridos e não se encontra lastreada por documentação probatória pertinente. (CARF, Processo n. 10166.721589/201024. Rel. Cons. NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORTA. Sessão dia 11/02/2014) No presente caso, como explicado, tal prova não foi apresentada. Diante disso, e tendo em vista que não foi apresentado nenhum documento que comprove a natureza das receitas excluídas nos anoscalendário de 2008 e 2009, entendo pela manutenção da autuação neste ponto. Em vista disso, nego provimento ao recurso neste ponto. Conclusão Por tudo o que foi exposto, voto pelo PARCIAL PROVIMENTO do Recurso Voluntário, para cancelar a multa de ofício de 150%, reduzindoa para 75%, mantidos os demais termos das autuações. Sala de Sessões, 11 de agosto de 2016. (documento assinado digitalmente) Aurora Tomazini de Carvalho – Conselheira Relatora Declaração de Voto Conselheira LIVIA DE CARLI GERMANO Com a devida vênia ao entendimento da nobre Conselheira Relatora, orientei meu voto para dar provimento ao recurso da contribuinte quanto às despesas de amortização de ágio, pelas razões que passo a expor. É comum a menção de que a possibilidade de amortizar o ágio pago na aquisição de uma sociedade foi criada pela Lei 9.532/1997 e introduzida no contexto das privatizações no intuito de promover a valorização das empresas que eram objeto de tal processo. Isso porque, neste contexto, tal “benefício” seria levado em consideração pelos compradores na formação do preço, permitindo que apresentassem um lance maior pelas empresas a serem privatizadas. Fl. 1466DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 25 31 Todavia, a exposição de motivos da Medida Provisória 1.602/1997, convertida na Lei 9.532/1997 (e que por sua vez é a base legal do art. 386 do Regulamento do Imposto de Renda RIR/99, aprovado pelo Decreto 3.000/1999), traz um contexto um pouco diferente. Conforme se depreende do trecho abaixo, as novas exigências trazidas pela norma em especial de que o ágio tivesse por fundamento a rentabilidade futura da investida, bem como do prazo para a amortização fiscal, contado a partir da liquidação do investimento tiveram por escopo exatamente evitar “planejamentos tributários”, os quais consistiam, basicamente, na aquisição de empresa deficitária por valor acima de seu patrimônio líquido, imediatamente seguida de incorporação. Isso porque, antes da Lei 9.532/1997, tal medida acarretava o reconhecimento da totalidade do ágio como perda, passível de amortização integral imediata, independentemente da fundamentação do ágio. Vejase: “11. O art. 8º estabelece o tratamento tributário do ágio ou deságio decorrente da aquisição, por uma pessoa jurídica, de participação societária no capital de outra, avaliada pelo método de equivalência patrimonial. Atualmente, pela inexistência de regulamentação legal relativa a esse assunto, diversas empresas, utilizando dos já referidos ‘planejamentos tributários’, vêm utilizando o expediente de adquirir empresas deficitárias, pagando ágio pela participação, com a finalidade única de gerar ganhos de natureza tributária mediante o expediente, nada ortodoxo, de incorporação da empresa lucrativa pela deficitária. Com as normas previstas no Projeto, esses procedimentos não deixarão de acontecer, mas, com certeza, ficarão restritos às hipóteses de casos reais, tendo em vista o desaparecimento de toda vantagem de natureza fiscal que possa incentivar a sua adoção exclusivamente por esse motivo.” (Grifos nossos; vale notar que na conversão em lei o art. 8o acabou sendo reproduzido como art. 7º da Lei 9.532/97) Neste sentido, podemos citar como exemplo do "planejamento tributário" acima referido, o seguinte caso: Ementa: “IRPJ/CS – INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADE – AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO – DEDUTIBILIDADE – Na incorporação de sociedade, com acervo liquido da sociedade incorporada avaliado a valor de mercado, o ágio anteriormente registrado pela controladora e baixado em razão da liquidação do investimento é dedutível na apuração do lucro real e na determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro." (Processo 10980.00656119768, Acórdão 10705875, de 22/02/2000). Merecem destaque os seguintes trechos do voto vencedor do acórdão cuja ementa se transcreveu acima: “Obviamente que não se pode olvidar que as operações praticadas pela recorrente redundaram na absorção do ágio que anteriormente se Fl. 1467DF CARF MF 32 formara, reduzindo o seu lucro tributável. Mas, ao tempo em que tais operações se realizaram, além das regras insertas no citado art. 380 do RIR/94, não havia nenhuma outra vigente, o que em negócios do gênero (aquisições de sociedades seguidas de sua absorção) abria espaços para a estruturação de operações que, desde logo, permitiam a dedutibilidade do ágio pago. O legislador, ciente de que a reboque de tais negócios realizavamse operações de planejamento tributário, por intermédio da Lei 9532/97 veio a disciplinar a figura do ágio, estabelecendo o tratamento tributário de conformidade com a sua natureza. Portanto, considerando que a dedução do ágio que motivou o presente lançamento se verificou em momento anterior ao de vigência da referida lei, tendo as operações estruturadas se pautado pelas regras impostas na legislação societária e em conformidade com os princípios de contabilidade geralmente aceitos, não havendo, por parte da autoridade que presidiu o ato de lançamento, nenhuma acusação quanto a eventual ilicitude ou simulação dos atos praticados, realmente não vejo como se manter o lançamento. (...) o que se via no momento da realização das operações em questão era um absoluto vazio legislativo, que propiciava em operações da espécie a dedutibilidade imediata e integral do ágio, tanto que o legislador, talvez até tardiamente, tratou de adequadamente regulálas.” (grifamos) Assim, apesar do viés político que é atribuído a sua introdução na legislação, há que se salientar que a amortização do ágio pago na aquisição de sociedade brasileira tem lógica na própria sistemática de tributação do IRPJ e da CSLL, e existia muito antes da Lei 9.532/1997, a qual veio tão somente impor critérios objetivos para tal fruição quais sejam, vale repetir, a fundamentação da mais valia na rentabilidade futura da investida, bem como do prazo para a amortização fiscal, contado a partir da liquidação do investimento. A legislação tributária estabelece que o ágio pago em razão da rentabilidade futura da sociedade adquirida pode ser amortizado e deduzido da base de cálculo do IRPJ e da CSLL após a alienação ou a liquidação do investimento. Tais condições não são aleatórias. Na verdade, tanto a alienação do investimento quanto a sua liquidação são eventos que dão margem ao reconhecimento de um ganho ou uma perda, correspondentes à diferença entre o valor pago na aquisição da participação societária ("custo") e o valor pelo qual esta é alienada ou liquidada (respectivamente, valor de venda ou valor de patrimônio líquido). A ocorrência de tais eventos, nos termos do DecretoLei 1.598/1977 (em especial, arts. 25, 33 e 34), acarretava a tributação do ganho (quando realizado), assim como permitia considerar a perda uma despesa dedutível. Como visto, antes da edição da Lei 9.532/1997, para fins tributários o ágio era integralmente amortizado no momento em que houvesse a incorporação, e era assim não porque nesse momento a despesa com o ágio seria confrontada com a receita que lhe deu origem, ou porque neste momento ocorreria a "confusão patrimonial" entre investidora e investida, mas tão somente porque, a partir de então, aquele investimento necessariamente seria baixado, originando uma perda. Fl. 1468DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 26 33 Vale notar que tal tratamento tributário do ágio poderia ser aplicado ainda que o ágio tivesse sido amortizado contabilmente, sendo ainda aplicável inclusive às sociedades que não estivessem obrigadas a seguir o método de equivalência patrimonial, como reconheceu o §6º, I, do artigo 386 do RIR/99: Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): (...) III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (...) § 6º O disposto neste artigo aplicase, inclusive, quando (Lei nº 9.532, de 1997, art. 8º): I o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor do patrimônio líquido; (...) Em resumo, longe de criar um "benefício fiscal" visto que a amortização já era prevista na legislação, e em condições muito mais amplas , o que os arts. 7º e 8o da Lei 9.532/1997 (reproduzidos no art. 386 do RIR/99) trouxeram foram as condições objetivas para a amortização fiscal do ágio pago na aquisição de participações societárias. Condições que, conforme indica a própria exposição de motivos da norma, foram estabelecidas buscandose evitar os "planejamentos tributários" praticados com respaldo na anterior lacuna legislativa. Assim, uma vez que tais condições tenham sido observadas, a princípio a amortização fiscal do ágio há de ser admitida. Dizemos a princípio porque, como se sabe, as autoridades fiscais estão autorizadas a efetuar e rever de ofício o lançamento tributário nas hipóteses do artigo 149 do CTN, inclusive quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação (inciso VII). No caso em questão, entendo que não restam caracterizadas tais circunstâncias que permitiriam questionar a dedutibilidade fiscal do ágio. Isso porque o que se depreende é que, com as operações, as empresas desejaram, declararam e efetivamente realizaram (i) primeiramente, a segregação, tanto em âmbito internacional quanto no Brasil, entre as empresas das áreas de serviços e energia (que seriam mantidas sob o controle do grupo Halliburton) e aquelas relativas à construção e Fl. 1469DF CARF MF 34 engenharia (KBR), as quais seriam objeto de desinvestimento anos depois; e (ii) em um segundo momento, a reunião das empresas das áreas de serviços e energia sob uma única entidade no Brasil, de modo a refletir o desenho adotado pelo grupo em outros países e a incrementar sinergias, tendo em vista tratarse de atividades integradas e complementares. É verdade que a reunião referida em "(ii)" acima que foi a que gerou o ágio ora questionado poderia ter sido feita de outra forma. Por exemplo, em lugar de a Halliburton Cimentação ter adquirido participação societária nas empresas Halliburton Energia e Halliburton Serviços para depois haver a incorporação das primeiras por esta última, o mesmo resultado seria obtido caso tivesse havido a incorporação direta das sociedades Halliburton Energia e Halliburton Cimentação pela Halliburton Serviços. Em ambos os casos, ao final, a sócia estrangeira BITIC receberia, como de fato recebeu, capital da Halliburton Serviços em troca das participações societárias antes detidas nas demais sociedades brasileiras. Ora, diante de pelo menos duas possibilidades para a pretendida reunião de negócios procedeuse àquela que traria maior vantagem em termos tributários, cumprindose os requisitos legais para a fruição de tal vantagem nos termos da Lei 9.532/1997 em especial: houve efetiva aquisição (com pagamento em participação societária), o preço teve por base demonstrativo de rentabilidade futura contemporâneo à aquisição e a amortização fiscal do ágio obedeceu à razão mínima de 1/60 ao mês. Uma vez que as operações declaradas foram efetivamente praticadas, implementandose de fato todas as consequências jurídicas e negociais das formas adotadas, não há que se falar em simulação, negócio jurídico indireto, ou coisa que o valha. Se a reestruturação, em sua fase inicial, ainda no contexto internacional, eventualmente gerou ganho de capital tributável no Brasil, esta é uma outra questão. O fato de tal ganho ter ou não sido gerado e ter ou não sido tributado aqui em nada macula a operação ocorrida em etapa posterior, de reunião de negócios no Brasil, que deu origem ao ágio registrado por empresa brasileira. Fosse o caso de se questionar a tributação, no Brasil, das alienações ocorridas no exterior na etapa inicial da reestruturação em comento, isso deveria ser objeto de lançamento próprio, inclusive contra outros sujeitos passivos. Por fim, vale notar que, à época, o simples fato de se tratar de operação entre empresas de um mesmo grupo não era suficiente para se autorizar o questionamento acerca da dedutibilidade fiscal do ágio. Afinal, se a própria legislação exigia que o preço pago pela participação societária tivesse por base uma avaliação da rentabilidade futura da empresa adquirida, é porque, existindo tal avaliação e sendo esta idônea, entendese que a compra ocorreu com base em parâmetros de mercado, não havendo razão para, no silêncio da lei quanto a qualquer outro requisito, estabelecer tratamento diferenciado entre tal operação e aquela entre partes não relacionadas. E foi exatamente por reconhecer que os requisitos e condições para a amortização fiscal do ágio devem estar expressos na lei que, mais recentemente, foi editada a Lei 12.473/2014, contendo novos parâmetros a serem observados, bem como novas restrições no caso de operações entre empresas consideradas "dependentes" (conforme definidas no artigo 25 deste diploma). Tal legislação não estava vigente à época dos fatos objeto do presente auto de infração. Neste contexto, não vejo base jurídica para o questionamento da amortização fiscal do ágio em questão. Livia De Carli Germano Conselheira Fl. 1470DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 27 35 Fl. 1471DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10314.004310/2011-84
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 27 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Oct 05 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Data do fato gerador: 04/10/2003
DECADÊNCIA.
Prazo decadencial decorrido com a conseqüente perda do direito de a Fazenda Nacional lançar o crédito tributário.
Recurso de ofício negado.
Numero da decisão: 3402-003.257
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de voto, em negar provimento ao recurso de ofício.
assinado digitalmente
Antônio Carlos Atulim - Presidente.
assinado digitalmente
Jorge Olmiro Lock Freire - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: JORGE OLMIRO LOCK FREIRE
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ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Data do fato gerador: 04/10/2003 DECADÊNCIA. Prazo decadencial decorrido com a conseqüente perda do direito de a Fazenda Nacional lançar o crédito tributário. Recurso de ofício negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de voto, em negar provimento ao recurso de ofício. assinado digitalmente Antônio Carlos Atulim Presidente. assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 31 4. 00 43 10 /2 01 1- 84 Fl. 399DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 400 2 Relatório Por bem relatar os fatos, adoto o relatório da r. decisão, vazado nos seguintes termos: Em procedimento fiscal de verificação do cumprimento das obrigações tributárias pelo contribuinte, foram apuradas infrações aos dispositivos legais conforme se pode depreender do relato apresentado pela fiscalização. Conversão do Perdimento: Aplicação da multa equivalente ao valor da mercadoria pela impossibilidade de sua apreensão, face aos eventos constantes no relatório fiscal. Capitulação Legal: art. 23, §3º do Decreto 1455/76 – redação dada pelo art. 59 da Lei º 10.637/02, art. 2º do ADI nº 18/02. Valor: R$ 2.472.816,69. Descrição dos fatos No exercício das funções de auditorfiscal da Receita Federal do Brasil, a autoridade aduaneira lavrou o auto de infração em face da empresa Hi Care Promoções e Eventos Ltda Epp, com base no art. 27 do DL 1455/76 pela prática das infrações definidas como Dano ao Erário, sujeitando a autuada à pena de perdimento de mercadoria estrangeira ou nacional, na importação ou exportação. A lavratura do auto foi motivada pelos fatos que envolveram a autuada e outras empresas. Ao término do processo de investigação, concluiu a fiscalização que terceiros utilizaram a empresa Lírio Agência Marítima Imp. Exp. Ltda e seu sócio Agnaldo Gonzaga dos Santos para promover despachos de exportação em nome da autuada. A ação fiscal iniciouse quando a Alf/Porto de Vitória constatou que várias DDE registradas pela empresa Eletrotrading Repres. Imp. Exp. Ltda eram, em verdade, exportações fictícias pois, os dados de embarque de tais DDE foram realizados com a senha do despachante acima mencionado, sem que o mesmo soubesse da referida utilização. Ao ser indagado pela fiscalização sobre a citada ocorrência, o Sr. Agnaldo prestou as seguintes informações: · Não conhece nem trabalhou para a autuada; · A empresa Lírio, da qual é sócio, está desativada; Fl. 400DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 401 3 · Eventualmente, cedeu sua senha para ser utilizada pela comissária de despachos Intervix Despachos e Serviços Ltda, CNPJ 02.569.466/000138; · Não conhece os procedimentos relativos ao registro de presença de carga ou dados de embarque no Siscomex; · Jamais realizou qualquer serviço para a autuada ou para as demais empresas envolvidas. A Comissária Intervix Despachos e Serviços Ltda não foi localizada pela fiscalização no endereço fornecido. A autoridade aduaneira procedeu ao levantamento de todas as DDE cujos dados de embarque foram registrados, supostamente, pelo Sr. Agnaldo. Na diligência realizada, foram encontradas seis DDE da autuada vinculadas ao regime de “drawback suspensão” com suspeita de serem falsas. De acordo com a fiscalização, a autuada a empresa Hi Care e seus sócios, não foram encontrados no endereço cadastrado nos sistemas da RFB. Após a realização dos trabalhos, deduziu a autoridade fiscal que a autuada é empresa fantasma com sócios de paradeiros desconhecidos. Assim, pelos motivos expostos, a fiscalização concluiu que todas as DDE registradas com a senha do Sr. Agnaldo são ideologicamente falsas. Cita exemplos de vantagens, para os fraudadores, decorrentes da realização de exportação fictícia: 1. Lavagem de dinheiro – através da repatriação de dinheiro sujo do exterior simulando pagamento de mercadorias que nunca saíram do território nacional; 2. Desvio das mercadorias supostamente exportadas para o mercado interno, usufruindo benefícios fiscais destinados somente às exportações e, em particular, a isenção do ICMS; 3. Comercialização do produto à margem de controle fiscal; Infrações DecretoLei 1455/76, art. 24 cc DecretoLei 37/66, VI – define Dano ao Erário – utilização de qualquer documento falso – Art. 689 do Decreto 6759/2009 –Regulamento Aduaneiro. Todos os documentos envolvidos, inclusive os Registros de Exportação RE – e as Declarações de Exportação – DDE – foram consideradas ideologicamente falsos, pois refletem uma operação que nunca existiu. Fl. 401DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 402 4 Na impossibilidade de apreensão da mercadoria, seja por sua inexistência ou pelo tempo decorrido ou ainda pela inexistência da autuada, aplicase a penalidade prevista no § 1º do art. 689 que prevê a conversão da pena de perdimento em multa correspondente ao valor da mercadoria. Afirma a fiscalização que as mercadorias não foram exportadas. Sendo assim, para o valor aduaneiro foi atribuído aquele a que se refere o § 3º do art.23, do Decretolei 1455/76, em moeda nacional, convertido na data do registro das DDE. A autuada registrou as seguintes DDE no Siscomex na ALF/Vitória com a senha do Sr. Agnaldo: 2030901147/7; 2036901114/0; 2030901087/0; 2030901073/0; 2030901047/0 e 2030901012/8. De acordo com o art. 124 do Código Tributário Nacional, Lei nº. 5.172/66, os responsáveis pelos delitos cometidos são a autuada Hi Care e seus sócios: Carlos Augusto Santos, Claudina Salomão, Jan Claudius Knizek Szkely, José Eurípedes Salomão Camarano e Canuto Silvério Souza – os três últimos não constavam do quadro societário quando da lavratura do auto de infração, mas, sim, à época dos fatos. Também a Comissária Lírio e seus sócios Agnaldo dos Santos e Maria Silva Lima Gonzaga dos Santos que disponibilizaram senha pessoal e intransferível de acesso ao Siscomex a terceiros. Devidamente cientificados, a empresa autuada e seus responsáveis solidários, apresentaram suas impugnações alegando em síntese o que se segue: JAN CLAUDIUS KNIZEK SZKELY 1. Não há nos autos qualquer elemento que possa caracterizar o impugnante como responsável tributário; 2. fração menciona fatos ocorridos após a saída do impugnante do quadro societário da empresa em tela ocorrida em 02/07/2001, conforme cópia de contrato anexo; 3. O impugnante não consta no quadro societário da empresa denominada Hi Care Promoções e Eventos Ltda e, além de desconhecer totalmente os acontecimentos narrados, não possui com estes qualquer vinculação; 4. Para reafirmar o alegado, cita algumas decisões judiciais; 5. Deve ser destacado que o impugnante sequer constava no contrato social, assim, não poderia praticar condutas com excesso de poderes ou infração à lei; 6. Inadmissível ser responsabilizado pelos atos da citada empresa, vez que não pertence ao seu quadro social; Fl. 402DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 403 5 Perdimento: Possibilidade de Retificação de Declaração 7. Há a possibilidade de a mercadoria ter sido embarcada equivocadamente; 8. Caso seja comprovado o equívoco, não deverá ser considerada como falsa a declaração de conteúdo; 9. Desta forma,, não sendo considerada como falsa a declaração de conteúdo, deve ser afastada a pena de perdimento; 10. Inexiste qualquer elemento que possa sustentar a alegação da autoridade fiscal pois, o impugnante, não detinha poderes de administração na empresa, tendo se retirado do quadro social em julho de 2001; 11. Diante do exposto, requer a insubsistência e improcedência da autuação; 12. Em caso de novo lançamento, requer, ainda, a respectiva notificação sem prejuízo do disposto no art. 44, inciso I e § 3º da Lei nº. 9430/96. JOSÉ EURÍPEDES SALOMÃO CAMARANO Suspensão da exigência do Crédito Tributário 13. Enquanto não apreciada a impugnação até a sua decisão final, deve ser suspensa a exigibilidade do crédito tributáriona forma do art. 151, III do CTN. A discussão administrativa ou judicial fica pendente quanto à legalidade da cobrança do suposto débito fiscal; Dos fatos Decadência 14. O crédito tributário reclamado está fulminado pela decadência, fato este que o torna inexigível e acarreta a nulidade do presente auto de infração; 15. Além da impossibilidade da exigência do crédito tributário, face às ilegalidades que serão demonstradas, o Sr. Carlos Augusto Santos e a Srª Claudia Salomão, sócios da empresa Hi Care, são falecidos, conforme se constata das respectivas certidões de óbitos anexas; Do Mérito 16. Não exercido no prazo o lançamento, a administração perde o direito de fazêlo, conforme o art. 173 do CTN; Art. 173 – O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5(cinco) anos, contados: (...); Fl. 403DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 404 6 Parágrafo único – O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. 17. Prevê o CTN, em seu art. 156, V, que a decadência extingue o crédito tributário: Art. – Extinguem o crédito tributário: (...); V – a prescrição e a decadência; 18. Cita, nesse sentido, várias decisões da Terceira Câmara de Contribuintes; 19. A Atuação referese ao período de 24/10/2002 a 30/10/2003, porém, a fiscalização operouse apenas em 2009 e a autuação se deu tempos depois, ou seja, há mais de 05 (cinco) anos do período em que o crédito tributário poderia ser exigido; 20. Os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório foram feridos. A autoridade administrativa, ao efetuar o lançamento, citou diversos artigos infringidos sem especificar qual a infração praticada; 21. Pelo exposto, espera o acolhimento da impugnação, dandolhe integral provimento. CANUTO SILVÉRIO SOUZA Dos fatos Decadência 22. A autuação foi motivada sob a alegação de ter a impugnante promovido despacho de exportação de forma equivocada, causando, com isso, Dano ao Erário; 23. Supostamente, teria sido constatado que a empresa HI CARE se utilizou da empresa LÍRIO AGÊNCIA MARÍTIMA e seu sócio Agnaldo Gonzaga dos Santos para promover despachos de exportação em nome da autuada no período de 24/10/2002 e 30/10/2003; 24. Além de carecer de elementos fundamentais formadores de seu objetivo, fere os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório; 25. Ademais o crédito tributário exigido está fulminado pela decadência, tornandose inexigível; Do Mérito 26. Não exercido no prazo o lançamento, a administração perde o direito de fazêlo, conforme o art. 173 do CTN; Art. 173 – O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5(cinco) anos, contados: Fl. 404DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 405 7 (...); Parágrafo único – O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. 27. Prevê o CTN, em seu art. 156, V, que a decadência extingue o crédito tributário: Art. – Extinguem o crédito tributário: (...); V – a prescrição e a decadência; 28. Cita, nesse sentido, várias decisões da Terceira Câmara de Contribuintes; 29. A atuação referese ao período de 24/10/2002 a 30/10/2003, porém, a fiscalização operouse apenas em 2009 e o auto de infração se deu tempos depois, ou seja, há mais de 05 (cinco) anos do período em que o crédito tributário poderia ser exigido; 30. Os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório foram feridos. A autoridade administrativa, ao efetuar o lançamento, citou diversos artigos infringidos sem especificar qual a infração praticada; 31. Pelo exposto, espera o acolhimento da impugnação, dando lhe integral provimento. MARIA SILVA GONZAGA DOS SANTOS 32. Os fatos descritos no auto de infração, no que diz respeito à empresa Lírio Agência Marítima, não condiz com a verdade; 33. A empresa Hi Care não fez nenhum tipo de negócio com a empresa Lírio Agência Marítima; 34. A gerência da empresa Lírio Marítima sempre foi exercida por Agnaldo Gonzaga dos Santos, esposo da impugnante; 35. Nas investigações realizadas não encontraram documentos, relacionados às exportações, assinados pela impugnante nem por seu esposo ou por qualquer outro funcionário; 36. Alega que nunca trabalhou nos portos nem participou de qualquer tipo de negócio; 37. Desta forma, não há responsabilidades a serem impetradas, vez que encontrase desvinculada de tais operações AGNALDO GONZAGA DOS SANTOS 38. A descrição dos fatos não condiz com a verdade. A empresa HI CARE nunca fez negócio com a empresa LÍRIO MARÍTIMA; Fl. 405DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 406 8 39. A impugnante não conhece nenhum sócio ou representante legal da HI CARE e nunca fez contato com os mesmos; 40. Nas diligências efetuadas, não foram localizados documentos relativos às exportações, objeto do presente auto, assinados pelo impugnante nem por qualquer funcionário de sua empresa; 41. Apenas opera com exportações de fornecimento de bordo para navios e, todas devidamente autorizadas pela Receita Federal; 42. Somente, o despachante aduaneiro, Sr. Fabio da Silva Gonçalvez possuía a senha do Siscomex para o registro das DDE’s e RE’s de embarque de fornecimentos de bordo para navios nacionais e estrangeiros, função principal da Lírio Agência Marítima no porto de Vitória; 43. Diante do ocorrido, vem expressar sua indignação. HI CARE PROMOÇÃO DE EVENTOS LTDA Dos fatos Decadência 44. O crédito tributário vindicado está fulminado pela decadência, fato este que o torna inexigível, o que acarreta a nulidade do presente auto de infração; Do Mérito 45. Não exercido no prazo o lançamento, perde a administração o direito de fazêlo, conforme preceitua o art. 173 do CTN; Art. 173 – O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5(cinco) anos, contados: (...); Parágrafo único – O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. 46. Prevê o CTN, em seu art. 156, V, que a decadência extingue o crédito tributário: Art. – Extinguem o crédito tributário: (...); V – a prescrição e a decadência; 47. Cita, nesse sentido, várias decisões da Terceira Câmara de Contribuintes; 48. A Atuação referese ao período de 24/10/2002 a 30/10/2003, porém, a fiscalização operouse apenas em 2009 e a autuação se deu tempos depois, ou seja, há mais de 05 (cinco) anos do período em que o crédito tributário poderia ser exigido; Fl. 406DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 407 9 49. Os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório foram feridos. A autoridade administrativa, ao efetuar o lançamento, citou diversos artigos infringidos sem especificar qual a infração praticada; 50. Pelo exposto, espera o acolhimento da impugnação, dando lhe integral provimento. Conforme se verifica, às fls. 285, o presente processo foi convertido em diligência para que fossem anexados os seguintes documentos, indispensáveis ao julgamento da lide. 1 Extrato integral das Declarações de Exportação – DDE – ,objeto do auto de infração; 2. Cópia dos Atos Concessórios que ampararam as importações dos insumos incorporados aos produtos exportados, descritos nas citadas DDE. Após atendida a solicitação contida na diligência, o presente processo retornou a esta Delegacia de Julgamento para prosseguimento. A 23ª Turma da DRJ/SP1, em 29/09/2014, julgou procedente a impugnação, pois entendeu ter decaído o direito da Fazenda Nacional para constituir o crédito tributário, considerando as datas das ciências da exigência fiscal pela empresa e pelos responsáveis solidários e a data de embarque das respectivas DE. Considerando o valor exonerado ser maior que o de alçada, a turma julgadora recorreu de ofício de sua decisão a este Colegiado. É o relatório. Voto Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire, relator. Sem reparos à r. decisão. Em que pese a excelência do trabalho fiscal e a robustez da prova produzida que desvela um núcleo de pessoas físicas e jurídicas fraudando a legislação aduaneira, em desproveito da economia nacional, o acatamento da preliminar de mérito não nos permite adentrar nesses fatos. Como discorre a r. decisão, o lançamento foi formalizado em 26/04/2011 (fl. 5), porém a notificação da autuada e dos responsáveis solidários operouse entre 20/04/2012 a 11/6/2012. Esse os termos ad quem. A modalidade de lançamento no regime aduaneiro de drawback suspensão é por declaração. A partir da assinatura do termo de responsabilidade passaria a correr o prazo prescricional. Porém a prescrição fica suspensa até o termo final para a exportação da Fl. 407DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 408 10 mercadoria beneficiada, momento a partir do qual se passará a contar o prazo de 5 (cinco) anos que a Fazenda Nacional terá para exigir o imposto de importação. Já as seis exportações foram embarcadas em 04/10/2003. Quer com arrimo no art. 173, I, do CTN, quer tendo como suporte o art. 139 do DL 37/66, reproduzido pelo art. 753 do RA, o prazo para ciência do lançamento seria, no máximo, em 31/12/2009. Como as ciências da exação somente se perfectibilizaram a partir de 20/04/2012, estreme de dúvida que decaído o direito da Fazenda Nacional constituir o crédito tributário inserto nestes autos. Forte no exposto, nego provimento ao recurso de ofício. assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire relator Fl. 408DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM
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Numero do processo: 19647.001922/2004-07
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 24 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Oct 05 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 04/11/2002 a 30/12/2002
Ementa:
CRÉDITO-PRÊMIO DE IPI. VIGÊNCIA DO BENEFÍCIO FISCAL. PRECEDENTES DO STF E DO STJ
Segundo precedente firmado em Recurso Extraordinário com repercussão geral (RE n. 577.348) e Recurso Especial julgado sob o rito de recursos repetitivos (REsp n. 1.111.148), o crédito-prêmio de IPI teve vigência até 04 de outubro de 1990, por força do prescrito no § 1º do art. 41 do Ato de Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988.
Numero da decisão: 3402-003.224
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
Antonio Carlos Atulim - Presidente.
Diego Diniz Ribeiro- Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: DIEGO DINIZ RIBEIRO
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VIGÊNCIA DO BENEFÍCIO FISCAL. PRECEDENTES DO STF E DO STJ Segundo precedente firmado em Recurso Extraordinário com repercussão geral (RE n. 577.348) e Recurso Especial julgado sob o rito de recursos repetitivos (REsp n. 1.111.148), o créditoprêmio de IPI teve vigência até 04 de outubro de 1990, por força do prescrito no § 1º do art. 41 do Ato de Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. Antonio Carlos Atulim Presidente. Diego Diniz Ribeiro Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 64 7. 00 19 22 /2 00 4- 07 Fl. 291DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 01/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM 2 1. Por bem retratar os fatos aqui analisados, me valho de parte do Relatório desenvolvido pela DRJSalvador (acórdão n. 1514.159 fls. 246/253), o qual adoto como meu nos termos abaixo: A contribuinte acima identificada apresentou em 03/03/2004 Pedido de Ressarcimento de crédito do IPI (fls. 29/30), no valor de R$ 10.584.838,95, a título de "créditoprêmio" relativo a exportações realizadas no período de 04/11/2002 a 30/12/2002 (planilha às folhas 50/51), com base no art. 1° do Decretolei n° 491, de 5 de março de 1969; art. 1% § 1° da Lei n° 8.402, de 1992; art. Y do Decretolei n° 1.248, de 29 de novembro de 1972; art. 42 da Lei n° 9.532, de 10 de dezembro de 1997; e art. 8° da Instrução Normativa SRF de 10 de março de 1997. À folha 28 a interessada apresenta "Declaração de Compensação", sem contudo especificar quais os débitos a compensar, informando a palavra "futuro" na coluna "período de apuração". Às folhas 52/122, anexou fotocópias de notas fiscais de exportação emitidas pela filial (CNPJ n° 11.137.338/000297), e às folhas 31/49, fotocópias de acórdão proferido pela Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5a Região nos autos da Apelação em Mandado de Segurança n° 79.446PE, da qual é parte a Usina Trapiche S/A. Às folhas 134/135, o SEORT da DRF/Recife determinou o arquivamento deste processo, por estar em desacordo com a Instrução Normativa SRF n° 376, de 23 de dezembro de 2003, tendo a interessada sido cientificada em 03/03/2005 (Aviso de Recebimento — AR à folha 137). Posteriormente, ao presente processo foram anexados o processo n° 19647.001847/200557, com os pedidos de compensação de folhas 142/145 apresentados pela contribuinte, e o processo n° 19647.003132/200539, com Manifestação de Inconformidade contra a informação SEORT que determinou o arquivamento do processo (fls. 151/183). Em atendimento ao pleito da interessada (fls. 184/188), os débitos dos pedidos de compensação de folhas 142/145 foram excluídos do presente processo e vinculados ao processo n° 19647.011575/200412, conforme extrato às folhas 189/191. Por meio do despacho de folha 192, a DRJ/Recife devolveu o processo ao SEORT/DRF/Recife "para apreciar o requerimento denominado de manifestação de inconformidade como Pedido de Crédito de IPI, e demais providências ao seu cargo, expedindo, se for o caso, o competente Despacho Decisório". Desta forma, com base no Termo de Informação Fiscal de folhas 196/201, foi proferido o Despacho Decisório SEORT/IPI de folha 202 indeferindo o pedido de ressarcimento e não homologando as compensações de folhas 142/145, do qual a interessada foi cientificada em 23/02/2007 (AR à folha 208), apresentando em 07/03/2007 a Manifestação de Inconformidade de folhas 209/218, na qual alega, em síntese, que; Fl. 292DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 01/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 19647.001922/200407 Acórdão n.º 3402003.224 S3C4T2 Fl. 278 3 • O créditoprêmio de IPI não foi extinto pela Portaria MF n° 176, de 1984; • O créditoprêmio de IPI enquadrase nas hipóteses de restituição, ressarcimento ou compensação previstas na IN SRF n° 21, de 1997; • Os Decretosleis n° 1.658, de 1979, e n° 1.724, de 1979, são inválidos; • O créditoprêmio de IPI não foi extinto pelo art. 41 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988; • A Resolução do Senado Federal n° 71, de 27 de dezembro de 2005, reafirmou expressamente o direito ao créditoprêmio, confirmando julgamento do Supremo Tribunal Federal; • Conseqüentemente, tem direito à compensação do crédito prêmio de IPI com seus débitos tributários futuros. (...) (grifos nosso). 2. Submetida a julgamento, a Impugnação interposta pelo contribuinte foi julgada improcedente pela DRJSalvador (acórdão n. 1514.159 fls. 246/253), conforme expõe a ementa abaixo transcrita: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS • INDUSTRIALIZADOS — IPI Período de apuração: 04/11/2002 a 30/12/2002 CRÉDITOPRÊMIO DE IPI. O denominado créditoprêmio de IPI, de que trata o art. 1° do Decretolei n° 491, de 5 de março de 1969, extinguiuse em 30 de junho de 1983. Solicitação Indeferida. 3. Diante deste quadro, foi interposto o Recurso Voluntário de fls. 257/263, oportunidade em que o contribuinte repisou os fundamentos já externados em Manifestação de Inconformidade (fls. 209/218). 4. É o relatório. Voto Conselheiro Relator Diego Diniz Ribeiro 5. O recurso em apreço preenche os pressupostos formais de admissibilidade, motivo pelo qual dele tomo conhecimento. I. Da vigência do créditoprêmio de IPI à luz dos precedentes do STF e do STJ Fl. 293DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 01/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM 4 6. O presente caso não demanda uma acurada reflexão. Conforme exposto no relatório, tratase de pedido de ressarcimento de créditoprêmio de IPI que se refere às exportações realizadas pelo Recorrente no período de 04/11/2002 a 30/12/2002. Assim, a questão aqui se resume a saber se no período em comento o aludido créditoprêmio de IPI estava ou não vigente no ordenamento jurídico nacional. 7. Acontece que tal questão já foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal em sede de recurso extraordinário afetado por repercussão geral. Foi escolhido por aquela Corte Suprema como leading case o RE nº. 577.3485/RS, em substituição do RE nº 577.302 7/RS (onde foi reconhecida a repercussão geral1), o qual restou assim ementado: EMENTA TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS. CRÉDITOPRÊMIO. DECRETOLEI 491/1969 (ART. 1º). ADCT, ART. 41, § 1º. INCENTIVO FISCAL DE NATUREZA SETORIAL. NECESSIDADE DE CONFIRMAÇÃO POR LEI SUPERVENIENTE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRAZO DE DOIS ANOS. EXTINÇÃO DO BENEFÍCIO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E DESPROVIDO. I O créditoprêmio de IPI constitui um incentivo fiscal de natureza setorial de que trata o do art. 41, caput, do Ato das Disposições Transitórias da Constituição. II Como o créditoprêmio de IPI não foi confirmado por lei superveniente no prazo de dois anos, após a publicação da Constituição Federal de 1988, segundo dispõe o § 1º do art. 41 do ADCT, deixou ele de existir. III O incentivo fiscal instituído pelo art. 1º do DecretoLei 491, de 5 de março de 1969, deixou de vigorar em 5 de outubro de 1990, por força do disposto no § 1º do art. 41 do Ato de Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988, tendo em vista sua natureza setorial. IV Recurso conhecido e desprovido. (STF; RE 577348, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2009, REPERCUSSÃO GERAL MÉRITO DJe035 DIVULG 2502 2010 PUBLIC 26022010 EMENT VOL0239109 PP01977 RTJ VOL0021401 PP00541) (g.n.). 8. No transcorrer do seu voto, assim se manifestou o Ministro Ricardo Lewandowski, Relator do caso: 1 "EMENTA CONSTITUCIONAL. IPI. CRÉDITOPRÊMIO. EXTINÇÃO. ART. 41, § 1º, DO ADCT. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. Questão relevante do ponto de vista econômico e jurídico. (STF; RE 577302 RG, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 17/04/2008, DJe078 DIVULG 30042008 PUBLIC 02052008 EMENT VOL0231707 PP01402 )." Fl. 294DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 01/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 19647.001922/200407 Acórdão n.º 3402003.224 S3C4T2 Fl. 279 5 9. Nesta mesma linha é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, conforme se observa do precedente formado no Recurso Especial n. 1.111.148, julgado sob o rito de repetitivos e que restou assim ementado: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. Recurso Especial representativo de controvérsia (art. 543C, § 1º, do CPC). pedido de desistência.Indeferimento. violação ao art. 535, do CPC. INOCORRÊNCIA. IPI. CRÉDITOPRÊMIO. DECRETOLEI 491/69 (ART. 1º). VIGÊNCIA. PRAZO. EXTINÇÃO. PRESCRIÇÃO. (...). 3. Relativamente ao prazo de vigência do estímulo fiscal previsto no art. 1º do DL 491/69 (créditoprêmio de IPI), três orientações foram defendidas na Seção. A primeira, no sentido de que o referido benefício foi extinto em 30.06.83, por força do art. 1º do Decretolei 1.658/79, modificado pelo Decretolei 1.722/79. Entendeuse que tal dispositivo, que estabeleceu prazo para a extinção do benefício, não foi revogado por norma posterior e nem foi atingido pela declaração de inconstitucionalidade, reconhecida pelo STF, do art. 1º do DL 1.724/79 e do art. 3º do DL 1.894/81, na parte em que conferiram ao Ministro da Fazenda poderes para alterar as condições e o prazo de vigência do incentivo fiscal. 4. A segunda orientação sustenta que o art. 1º do DL 491/69 continua em vigor, subsistindo incólume o benefício fiscal nele previsto. Entendeuse que tal incentivo, previsto para ser extinto em 30.06.83, foi restaurado sem prazo determinado pelo DL 1.894/81, e que, por não se caracterizar como incentivo de natureza setorial, não foi atingido pela norma de extinção do art. 41, § 1º do ADCT. 5. A terceira orientação é no sentido de que o benefício fiscal foi extinto em 04.10.1990, por força do art. 41 e § 1º do ADCT, segundo os quais "os Poderes Executivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios reavaliarão todos os incentivos fiscais de natureza setorial ora em vigor, propondo aos Poderes Legislativos respectivos as medidas cabíveis", sendo Fl. 295DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 01/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM 6 que "considerarseão revogados após dois anos, a partir da data da promulgação da Constituição, os incentivos fiscais que não forem confirmados por lei". Entendeuse que a Lei 8.402/92, destinada a restabelecer incentivos fiscais, confirmou, entre vários outros, o benefício do art. 5º do DecretoLei 491/69, mas não o do seu artigo 1º. Assim, tratandose de incentivo de natureza setorial (já que beneficia apenas o setor exportador e apenas determinados produtos de exportação) e não tendo sido confirmado por lei, o créditoprêmio em questão extinguiuse no prazo previsto no ADCT. 6. Prevalência do entendimento no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o crédito prêmio do IPI, previsto no art. 1º do DL 491/69, não se aplica às vendas para o exterior realizadas após 04.10.90. Precedente no STF com repercussão geral: RE nº. 577.3485/RS, Tribunal Pleno, Relator Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13.8.2009. Precedentes no STJ: REsp. Nº 652.379 RS, Primeira Seção, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 8 de março de 2006; EREsp. Nº 396.836 RS, Primeira Seção, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, julgado em 8 de março de 2006; EREsp. Nº 738.689 PR, Primeira Seção, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 27 de junho de 2007. 7. O prazo prescricional das ações que visam ao recebimento do créditoprêmio do IPI, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/32, é de cinco anos. Precedentes: EREsp. Nº 670.122 PR Primeira Seção, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 10 de setembro de 2008; AgRg nos EREsp. Nº 1.039.822 MG, Primeira Seção, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 24 de setembro de 2008. 8. No caso concreto, tenho que o mandado de segurança foi impetrado em 27 de fevereiro de 2004, portanto, decorridos mais de cinco anos entre a data da extinção do benefício (5 de outubro de 1990) e a data do ajuizamento do writ, encontramse prescritos eventuais créditos de titularidade da recorrente. 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543C, do CPC, e da Resolução STJ n. 8/2008. (STJ; REsp 1111148/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/02/2010, DJe 08/03/2010) (g.n.). 10. Tais precedentes, por seu turno, devem ser seguidos por este Tribunal Administrativo, nos termos do que prevê o art. 62, § 1º, inciso II, alínea "b" do RICARF, já com a redação que lhe foi dada pela Portaria n. 152, de 03 de maio de 2016. 11 Assim, levando em consideração que as exportações aqui tratadas se referem ao período compreendido entre 04/11/2002 e 30/12/2002, i.e., quando já revogado o créditoprêmio de IPI, nos termos dos precedentes pretorianos alhures referidos, não resta alternativa senão reconhecer a improcedência do Recurso Voluntário interposto. Dispositivo Fl. 296DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 01/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 19647.001922/200407 Acórdão n.º 3402003.224 S3C4T2 Fl. 280 7 12. Diante do exposto, nego provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte. 13. É como voto. Relator Diego Diniz Ribeiro Fl. 297DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 15/09/2016 por DIEGO DINIZ RIBEIRO, Assinado digitalmente em 01/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM
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Numero do processo: 12466.720993/2012-93
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jan 24 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Feb 02 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 05/11/2008 a 10/06/2011
INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA PRESUMIDA. NÃO COMPROVAÇÃO DA ORIGEM E DISPONIBILIDADE DOS RECURSOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO EXTERIOR.
A não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados nas operações de comércio exterior justifica a presunção de interposição fraudulenta, a qual, entretanto, é juris tantum, ou seja, admite prova em contrário.
NÃO APRESENTAÇÃO OU NÃO MANUTENÇÃO, EM BOA GUARDA E ORDEM, DE DOCUMENTOS DE INSTRUÇÃO DO DESPACHO ADUANEIRO.
O importador tem a obrigação de manter, em boa guarda e ordem, os documentos relativos às transações que realizarem, pelo prazo decadencial estabelecido na legislação tributária a que estão submetidos, e de apresentá-los à fiscalização aduaneira quando exigidos. A declaração de importação será instruída com os documentos originais a que se refere o art. 553, do RA. A ausência desses documentos nos termos legais, constituem-se em fatos sancionáveis com a multa prevista no art. 70, II, b, item 1 da Lei nº 10.833/03 (art. 710 do Decreto nº 6.759/2009).
MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DE DADOS CONTÁBEIS EM MEIO MAGNÉTICO.
A não entrega dos arquivos contábeis-fiscais em meio magnético na forma definida pela legislação, dá azo a aplicação da multa a que alude o art. 12 da Lei 8.218/91.
Recursos de ofício e voluntário negados.
Numero da decisão: 3402-003.774
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento aos recursos de ofício e voluntário.
assinado digitalmente
Antonio Carlos Atulim - Presidente.
assinado digitalmente
Jorge Olmiro Lock Freire - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: JORGE OLMIRO LOCK FREIRE
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NÃO COMPROVAÇÃO DA ORIGEM E DISPONIBILIDADE DOS RECURSOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO EXTERIOR. A não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados nas operações de comércio exterior justifica a presunção de interposição fraudulenta, a qual, entretanto, é juris tantum, ou seja, admite prova em contrário. NÃO APRESENTAÇÃO OU NÃO MANUTENÇÃO, EM BOA GUARDA E ORDEM, DE DOCUMENTOS DE INSTRUÇÃO DO DESPACHO ADUANEIRO. O importador tem a obrigação de manter, em boa guarda e ordem, os documentos relativos às transações que realizarem, pelo prazo decadencial estabelecido na legislação tributária a que estão submetidos, e de apresentá los à fiscalização aduaneira quando exigidos. A declaração de importação será instruída com os documentos originais a que se refere o art. 553, do RA. A ausência desses documentos nos termos legais, constituemse em fatos sancionáveis com a multa prevista no art. 70, II, “b”, item 1 da Lei nº 10.833/03 (art. 710 do Decreto nº 6.759/2009). MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DE DADOS CONTÁBEIS EM MEIO MAGNÉTICO. A não entrega dos arquivos contábeisfiscais em meio magnético na forma definida pela legislação, dá azo a aplicação da multa a que alude o art. 12 da Lei 8.218/91. Recursos de ofício e voluntário negados. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 46 6. 72 09 93 /2 01 2- 93 Fl. 2530DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento aos recursos de ofício e voluntário. assinado digitalmente Antonio Carlos Atulim Presidente. assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da decisão a quo, vazado nos seguintes termos: As multas calculadas sobre o valor aduaneiro, tem base em uma lista de declarações de importação (DI) registradas no período de 05/11/2008 a 10/06/2011, conforme fls. 65/66 (multa de 100%) e 68/69(multa de 5%); A fiscalização informa (fls. 6) que as infrações foram identificadas por ocasião da aplicação de procedimento especial de fiscalização previsto na IN SRF Nº 228, de 2002. A fiscalização, as fls. 7 a 11 sistematiza dados pelos quais informa da existência de uma série de termos de intimação e reintimação efetuadas ao contribuinte e destaca o atendimento parcial ou não atendimento satisfatório destas pelo contribuinte, ocorridos no período de 11/07/2011 até 07/03/2012; A fiscalização, as fls. 11 a 25, lista cada um dos documentos entregues pela autuada e executa análises sobre as alegadas irregularidades que levaram a conclusão da não comprovação da efetiva transferência e disponibilidade dos recursos empregados no comércio exterior, das quais apresenta destaques negritados para cada item sobre os fatos que considera relevantes. As fls. 25 lista os itens das intimações, os quais entende não atendidos pela autuada: “Em resumo, conforme exposto acima, o contribuinte não atendeu a intimação e reintimação de forma satisfatória, atendendo integralmente, apenas, 11 itens (1, 2, 3, 4, 9, 11, 12, 14, 20, 22 e 29), não atendendo integralmente 9 itens (5, 10, 13, 19, 27, 28, 30, 31 e Fl. 2531DF CARF MF Processo nº 12466.720993/201293 Acórdão n.º 3402003.774 S3C4T2 Fl. 2.531 3 33) e não atendendo a 13 (6, 7, 8, 15, 16, 17, 18, 21, 23, 24, 25, 26 e 32) dos 33 itens com exigências.” A fiscalização caracteriza o quadro probatório e fundamentos legais que entende relevantes para a autuação relativos a: Interposição fraudulenta, as fls. 26 a 35; Não comprovação da integralização do capital social, da inexistência de fato e da baixa de ofício da autuada, as fls. 35 a 39; Não comprovação da disponibilidade dos recursos, a situação irregular da empresa nas operações de comércio exterior e sobre o que define como “fluxo financeiro deficitário” da autuada, as fls. 40 a 61; “falsidade de documentos necessários ao embarque ou desembaraço”, as fls. 61 a 64; Ocorrência do dano ao erário e a aplicação da multa equivalente ao valor aduaneiro, as fls. 64 a 66; Descumprimento da obrigação de manter em boa guarda os documentos ou de apresentálos a fiscalização quando exigido e a falta de entrega dos arquivos digitais solicitados, as fls. 66 a 72; A fiscalização informa (fls. 72) que decorrente da constatação de que a GATE DO BRASIL não comprovou a disponibilidade e a efetiva transferência dos recursos empregados no comércio exterior, foram lavradas 02 representações, sendo a primeira para fins de inaptidão do CNPJ e a outra para fins penais, nos termos da legislação em vigor. A GATE DO BRASIL IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA, apresenta sua peça impugnatória as fls. 1919 a 2001, trazendo documentos conforme lista de anexos descrita as fls. 2000, nos seguintes termos: Em sede de preliminar requer: Reconhecimento da tempestividade da impugnação. Anulação do lançamento por desvio de poder dos auditoresfiscais no procedimento de fiscalização e na lavratura dos autos, se referindo ao “modus operandi” da fiscalização na prática de seus atos. Nulidade dos autos, decorrente da inobservância das formalidades essenciais, por ausência de numeração das páginas. Nulidade dos autos por ausência de provas, alegando que: “Sem as provas, fica preterido o direito de defesa da recorrente, o que implica a nulidade da presunção” Relativamente a análise da fiscalização sobre a “boa guarda e apresentação dos documentos”, requer “nulidade da acusação por cerceamento do direito de defesa”.(fls. 1.993) Nos quesitos de mérito alega: Fl. 2532DF CARF MF 4 As fls. 1931 a 1957, que houve regularidade do atendimento das intimações pela impugnante e das legítimas justificativas apresentadas, apresentando explicações que pretendem contestar os itens listados pela fiscalização as fls. 25. As fls. 1957 a 1974, questiona a conclusão da fiscalização sobre a “comprovação da integralização do capital social”; A partir das fls. 1975 questiona os elementos que levaram a conclusão da fiscalização sobre a existência de interposição fraudulenta, destacando os seguinte pontos: As fls 1975, justifica que a “pulverização das vendas – característica inequívoca da ausência de predestinação das mercadorias” As fls. 1979, “inexistência de dano ao erário – ausência de interesse de quebra da cadeia de incidência do IPI”, pois “a grande maioria dos clientes da impugnante (cerca de 90%) são empresas optantes pelo simples” As fls. 1983, alega a prescrição da pretensão punitiva relativa a atos praticados anteriormente a 21 de março de 2007; As fls. 1984, questiona elementos que levaram a conclusão da fiscalização sobre o “fluxo financeiro” da empresa, em 03 pontos que cita “PLANILHA IMPRESTÁVEL COMO PROVA, TENTATIVA FRUSTADA DE ENGODO DOS JULGADORES e MÁFÉ DA FISCALIZAÇÃO AO ACUMULAR OS “AJUSTES” NA PLANILHA”. As fls. 1991, pela “inexistência de presunção de documentos falsos”; As fls. 1994, pela “inexigibilidade de conduta diversa”, pois alega que os documentos originais foram entregues a Receita Federal ou aos Recintos Alfandegados, logo houve “cumprimento do dever legal”. As fls. 1999, protesta pela realização de perícia e indica motivos, apresenta quesitos e indica pessoa para atuar na condição de assistente técnico para executála: “d) por eventualidade, seja determinada a realização de perícia nos registros e lançamentos financeiros da impugnante, assim como nos demonstrativos elaborados pela fiscalização;” “394 A perícia é necessária para se permitir o exercício do direito ao contraditório, uma vez que o auditorfiscal elaborou relatórios com inúmeros equívocos, desconsiderando diversos contratos de financiamento apresentados e explicações feitas pela empresa, sendo portanto um aspecto eminentemente fático e que requer conhecimentos técnicos especializado” As fls. 2.000, a autuada informa a lista de anexos a sua peça impugnatória: “I. Procuração, atos constitutivos e cópias dos documentos dos procuradores II. Comprovante de entrega dos correios III. Relação de clientes da Gate IV. Declaração de imposto de renda dos sócios V. Informações fiscais do contribuinte VI. Balancetes trimestrais de apuração VII.Contratos de mútuo firmado com a empresa Marchesan Representações Comerciais Ltda.; VIII. Contrato de Adesão a Produtos de Pessoa Jurídica do Banco do Brasil; IX. Contratos de financiamento com o HSBC Bank X. Extratos bancários da Gate indicados na impugnação XI. Extrato da conta da sócia Renata atestando integralização do capital social; Fl. 2533DF CARF MF Processo nº 12466.720993/201293 Acórdão n.º 3402003.774 S3C4T2 Fl. 2.532 5 XII. Recibo elaborado pela empresa nas operações por conta e ordem com demonstrativo de formação de preços, onde constam as despesas e os custos da operação XIII. Fluxos financeiros revisados XIV. Quesitos para o perito” Diligência Em razão da impossibilidade de conhecer dos documentos entregues pela autuada juntamente a sua peça impugnatória, por não estarem legíveis ou por apresentarem indícios de falta, conforme Despacho às fls. 2.374/2.375, este processo foi baixado em diligência, tendo retornado depois da anexação dos documentos às fls. 2.398/2.439, o que possibilita a continuidade de sua análise em respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa. A DRJ em Florianópolis, em 30/10/2014, julgou parcialmente procedente a impugnação (fls. 2475/2496), mantendo apenas a multa por não manutenção em boa guarda a documentação de importação (art. 70, II, b, I, da Lei 10.833/2003) e a multa por não entrega dos arquivos contábeis em meio digital de 2008 e 2011 (Art. 12, III, da Lei 8.218/90). Tendo sido exonerada a multa aplicada com arrimo § 2º do art. 23 do DecretoLei nº 1.455, de 1976, incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002, no valor histórico de R$ 2.035.524,00, foi interposto recurso de ofício nessa matéria. Não resignada com a decisão a quo que manteve as multas administrativas, a autuada interpôs recurso voluntário (fls. 2502/2506), no qual, em suma, alega que foi cerceado seu direito por não ter a fiscalização especificado quais documentos deixaram de ser apresentados. Acresce que os documentos originais foram entregues à própria Receita Federal ou aos recintos alfandegados e os que não o foram foi porque ela não teria a obrigatoriedade de fazêlo. Assevera que jamais "recebeu vias originais desses conhecimentos ou das faturas". Quanto à multa pela não entrega dos arquivos magnéticos, consigna que esses arquivos foram devidamente entregues e recebidos "sem qualquer ressalva", pelo que entende não razoável a aplicação daquela. Pede, alfim, a decretação de insubsistências das multas aplicadas. É o relatório. Voto RECURSO DE OFÍCIO Valhome dos fundamentos da r. decisão nesse tópico, as quais adoto como minhas razões para decidir o recurso de ofício quanto à questão da interposição fraudulenta. Assim sendo, concluise que será necessário analisar se a interposição ficou caracterizada, conforme tese da fiscalização, pela não comprovação da transferência e disponibilidade dos recursos empregados nas operações de comércio exterior. Diferentemente do que pretende a autuada, a não comprovação, quando instada pelo fisco, da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados nas operações de comércio exterior, segundo § 2º do art. 23 do DecretoLei nº 1.455, de 1976, incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002, implica em presunção legal da prática de interposição fraudulenta, ocasionando o dano ao erário e sujeitando as mercadorias a aplicação da pena de perdimento, ou multa equivalente ao valor aduaneiro, na importação, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida. Não se trata de presunção pessoal da fiscalização, porém de ordem legal entretanto, sendo de caráter "juris tantum", admitindo prova em contrário, que deve ser Fl. 2534DF CARF MF 6 apresentada por parte da GATE, a quem cabe, caso acusada, comprovar a origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados nas suas operações de comércio exterior. Neste ponto podese concluir a partir do texto extraído da intimação as fls. 88 a 94, que esta era bem clara e específica nos itens 6, 7, 8, 24 e 25, sobre sua pretensão durante o procedimento de fiscalização que se iniciava, ou seja, de que buscava juntamente a GATE documentos que lastreassem os recursos empregados nas operações de comércio exterior. “6. Apresentar documentação, hábil e idônea, coincidente em datas e valores que comprove a efetiva transferência dos recursos dos sócios à empresa, a fim de integralizar o capital em todas as suas alterações, tais como cheque microfilmado, comprovante de depósito autenticado, extrato bancário, comprovantes de TED/DOC e outros equivalentes. Os documentos apresentados deverão demonstrar a saída dos recursos da conta dos sócios (ex: extrato bancário) e a entrada desses recursos na conta da empresa. Caso o recurso tenha origem diversa da do sócio (empréstimos), identificar a pessoa física ou jurídica agente financiador da operação e comprovar a origem, a disponibilidade e a efetiva transferência de seus recursos; 7. Apresentar documentação, hábil e idônea, coincidente em datas e valores que comprove a transferência dos recursos dos sócios incluídos aos sócios excluídos, nas alterações do quadro societário. Caso o recurso tenha origem diversa da do sócio, identificar a pessoa física ou jurídica agente financiador da operação e comprovar a origem, a disponibilidade e a efetiva transferência de seus recursos. 8. Apresentar documentação comprobatória dos valores transferidos pela empresa aos sócios, a qualquer título; ... 24. Informar por escrito sobre a atividade dos sócios e dos procuradores do contribuinte em outras empresas: como gerente, cotista, com vínculos empregatícios ou outros; 25. Apresentar as declarações de renda e bens e direitos dos sócios da empresa, referentes aos exercícios de 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 (anoscalendário 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010); ... O que se verifica ao longo dos autos é que durante o procedimento de fiscalização, não houve o registro da entrega de todos os documentos hábeis que pudessem comprovar a integralidade dos lançamentos contábeis, pois a autuada entendia, "contrario sensu" ao previsto no art. 26, citado, que não seria obrigada a entregálos, conforme se extrai de parte dos textos da sua pugna as fls. 1952, item 163; 1954, item 176, : “ 163 Sobre a não apresentação da totalidade dos contratos de câmbio (item 27), ......... Além disso, tais informações constituem sigilo bancário, mas uma vez não podendo ser exigido da empresa”. Fl. 2535DF CARF MF Processo nº 12466.720993/201293 Acórdão n.º 3402003.774 S3C4T2 Fl. 2.533 7 “176 Ocorre que os dados relativos ao arremate ou liquidação dos financiamentos estão devidamente contabilizados e, ainda são protegidos pelo sigilo fiscal, não sendo obrigação da autuada de apresentálos” O autuado, em sua pugna, ao mesmo tempo que protesta pelo sigilo dos dados bancários para não entregálos a fiscalização, apresenta a tese favorável de que, por meio de RMF, esta poderia obter os dados pretendidos e assim verificar disponibilidade e transferência dos recursos empregados nas operações de comércio exterior, ou seja, tenta inverter o ônus da prova sem fundamento legal para tanto. Apesar de no curso do procedimento de fiscalização estar caracterizada a insistência da GATE, em não apresentar extratos bancários e outros documentos relevantes, traz estes anexos a sua pugna na tentativa de provar a transferência e disponibilidade dos recursos e desconstruir a tese da autuação, sendo eles: declaração anual de ajustes do Imposto de Renda anocalendário de 2010, exercício de 2011, dos sócios MARINA Lellis (fls. 2.123/2.128); RODOLPHO Alexandre (fls. 2.129/2.134); e RENATA Helena (fls. 2.135/2.141) extrato da conta corrente do sócio RODOLPHO, do banco HSBC, do dia 09 e 10/03/2011(Fls. 2291); cópia do Balancete Analítico do período de julho/2008 a Dezembro/2011 (2.244/ 2.242); extratos da conta corrente da Pessoa Jurídica GATE, para os seguintes períodos e bancos: Banco do Brasil – 28/11 a 31/12/2008 (fls. 2.248/2.249); HSBC – 01/09 a 30/09/2008 (fls. 2.251 a 2.252); HSBC – 01/12 a 29/12/2008 (fls. 2.253); Banco do Brasil – 30/12/2008 a 30/04/2009 (fls. 2.254/2.257 e 2.260/2.261); HSBC – 05/02 a 25/02/2009 (fls. 2.264), 04/05 a 24/09/2009 (fls. 2.265 a 2.270), e 03/11 a 26/12/2009 (fls. 2.271 a 2.272); HSBC – 26/02 a 30/04/2010 (fls. 2.273/2.275) e 30/06 a 30/12/2010(fls. 2.277/2.284); Banco Itaú (investimentos) – 15/10 (fls. 2.285); HSBC – 31/12/2010 a 26/01/2011 (fls. 2.286/2.287); Banco do Brasil – 31/01 a 22/03/2011 (fls. 2.288/2.290); Banco Itaú – 29/12/2010 a 31/01/2011 (fls. 2.292/2.293) e 24/02 a 31/03/2011 (fls. 2.294/2.295). Contrato Giro Fácil / Conta empresarial de 30/09/2008 (fls. 2.409); Contrato de crédito rotativo – Banco do Brasil (fls. 2.405/2.407); Contrato de Mútuo com Marchezan Representações Comerciais (2.402/2.403); O que se pôde verificar, inicialmente, foi um quadro probatório apresentado pela fiscalização para defender a sua tese de que houve ausência de comprovação de integralização de parte do capital social (20%), ou seja, do valor de R$ 20.000,00, que teriam sido entregues em espécie pela sócia majoritária, dinheiro este depositado na conta corrente da empresa, conforme informa a impugnante nos itens 202 a 287, as fls. 1957 a 1974 . Fl. 2536DF CARF MF 8 Diante dos fatos e documentos apresentados ao longo dos autos, o quadro probatório leva a concluir que não há controvérsia quanto a integralização e disponibilidade, por meio de depósito em conta da empresa, dos recursos necessários a formação do capital social, contudo não há documentos que provem a origem dos recursos entregues pela sócia majoritária Renata Aguiar, ou seja os R$ 20.000,00 em espécie. Para tal sócia, somente foram apresentados na pugna da GATE, Declarações de Ajustes Anual do Imposto de Renda, que comprovam bens e valores que possuía a partir do ano de 2009 (fls 2.136/2.141), contudo a integralização ocorreu no ano de 2006. No entanto, o foco principal da atuação se refere a não comprovação de origem, disponibilidade e transferência de recursos para as operações de comércio exterior que, no caso da GATE, se referem a DI registradas a partir de novembro de 2008, período não contemporâneo ao fato. Mesmo que a origem lícita destes recursos da ordem de R$ 20.000,00 para integralização do capital não tenha sido devidamente comprovada, há de se analisar a subsunção do fatos às normas, a qual requer que a “nãocomprovação” seja vinculada a “recursos” “empregados nas operações de comércio exterior”, pois a autuação não se refere a outro fundamento. Podese ver que a fiscalização não logrou êxito em provar a relação histórica desses recursos aportados no ano de 2006, por ocasião da constituição da empresa, aos aplicados operações de comércio exterior da GATE realizadas a partir do ano de 2008. Conforme se extrai do próprio relatório fiscal, para vários lançamentos escriturados no Livro Razão, confrontados com outros documentos, tais quais comprovantes de operações comerciais realizadas pela GATE ( Notas fiscais, DANFE, etc), a conclusão da fiscalização foi de que não houve prova da transferência e disponibilidade dos recursos, por ausência de documento hábil que os lastreasse, neste caso, os extratos bancários das contas da pessoa jurídica. A fiscalização também aponta o que aduz como divergências de valores e datas em algumas operações comerciais da GATE, escrituradas no Livro Razão, sistematizando estes fatos (fls. 42 a 58), resumindoos em uma tabela (fls. 57/58) intitulada “totalização mensal dos lançamentos não comprovados documentalmente”, referindose ao período que compreende os meses de outubro de 2008 a março de 2011. A fiscalização chega a elaborar planilha (fls. 58/59) construindo um fluxo de caixa com o intuito de provar a indisponibilidade dos recursos no período de registro das DI, por meio de glosa de valores, sem êxito, pois decorrente da análise dos livros fiscais e dos extratos de conta corrente, verificase que há provas de disponibilidade de diversos recursos, ou seja, havia disponibilidade financeira para a GATE executar suas operações, mesmo existindo algumas divergências sobre as datas de sua escrituração. A fiscalização aceita que a GATE realizou operações comerciais, que recebeu valores, porém, decorrente da ausência de extratos de conta corrente, conclui que não houve prova da transferência e disponibilidade dos recursos. Quanto à tabela “totalização mensal dos lançamentos não comprovados documentalmente”, a GATE traz a sua pugna (fls. 1987/1989) uma tabela comparativa, lastreada em extratos de suas contas correntes, em contratos de crédito com o Banco do Fl. 2537DF CARF MF Processo nº 12466.720993/201293 Acórdão n.º 3402003.774 S3C4T2 Fl. 2.534 9 Brasil e HSBC, além de outras provas, pelos quais comprova a transferência e disponibilidade dos recursos. A fiscalização também aponta o que aduz como divergências de valores e datas em algumas operações comerciais da GATE, escrituradas no Livro Razão, sistematizando estes fatos (fls. 42 a 58), resumindoos em uma tabela (fls. 57/58) intitulada “totalização mensal dos lançamentos não comprovados documentalmente”, referindose ao período que compreende os meses de outubro de 2008 a março de 2011. A fiscalização chega a elaborar planilha (fls. 58/59) construindo um fluxo de caixa com o intuito de provar a indisponibilidade dos recursos no período de registro das DI, por meio de glosa de valores, sem êxito, pois decorrente da análise dos livros fiscais e dos extratos de conta corrente, verificase que há provas de disponibilidade de diversos recursos, ou seja, havia disponibilidade financeira para a GATE executar suas operações, mesmo existindo algumas divergências sobre as datas de sua escrituração. A fiscalização aceita que a GATE realizou operações comerciais, que recebeu valores, porém, decorrente da ausência de extratos de conta corrente, conclui que não houve prova da transferência e disponibilidade dos recursos. Quanto a tabela “totalização mensal dos lançamentos não comprovados documentalmente”, a GATE traz a sua pugna (fls. 1987/1989) uma tabela comparativa, lastreada em extratos de suas contas corrents, em contratos de crédito com o Banco do Brasil e HSBC, além de outras provas, pelos quais comprova a transferência e disponibilidade dos recursos. A GATE apresenta inclusive cópias de contratos de concessão crédito automáticos (HSBC e Banco do Brasil), que garantem, um tipo de “limite” extra na conta corrente, similar ao de cheque especial , além dos extratos da conta corrente demonstrando o uso desses recursos ao longo dos anos mediante pagamento de juros. Para justificar origem de recursos de R$ 25.000,00, traz declaração de ajuste anual de imposto de renda ( fls. 2.133) entregue a Receita Federal, do sócio RODOLPHO, para demonstrar que este possuía recursos, em espécie, o que viria justificar sua origem, além da prova, por meio de extrato da conta corrente do dia 09 e 10/03/2011(Fls. 2291), da transferência dos recursos a GATE e de sua disponibilidade; Para os recursos contabilizados no Livro Razão, R$ 127.000,00 (fls. 55), que teriam sido obtidos a título de mútuo firmado com a MARCHESAN REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS LTDA, a qual não seria, segundo a fiscalização, pessoa jurídica cujo objeto seja a concessão de empréstimos, a GATE reapresenta o contrato de mútuo e extrato de sua conta corrente para provar que, diferentemente do que alega a fiscalização, pode provar a transferência e disponibilidade dos recursos (fls. 2.288). Sendo assim, verificase que: a fiscalização lastreou sua tese de que a GATE não havia provado a transferência e disponibilidade dos recursos empregados nas operações de comércio exterior do período pela ausência de documentos hábeis, construindo uma tabela de “fluxo negativo de caixa”, sem, contudo, tratar da questão relativa a origem dos recursos empregados; e Fl. 2538DF CARF MF 10 a GATE trouxe à sua pugna documentos que comprovaram a transferência e disponibilidade dos recursos empregados na operações de comercio exterior do período autuado, ou seja, de que não havia a situação definitiva como “fluxo negativo de caixa”. Logo, há de se concluir que não restou caracterizada a infração de interposição fraudulenta, conforme § 2º do art. 23 do DecretoLei nº 1.455, de 1976, incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002, pois, contrariamente a tese da atuação, restou provada a transferência e disponibilidade dos recursos empregados nas operações de comércio exterior do período atuado. Com base nesses fundamentos, nego provimento ao recurso de ofício. RECURSO VOLUNTÁRIO Quanto à preliminar de cerceio de defesa, é de ser rechaçada, pois o extenso relato fiscal deixou bem evidenciado toda dificuldade em receber os documentos, em relação aos quais a empresa foi intimada a apresentálos no curso do procedimento fiscal, e nele está bem claro quais os documentos que não foram apresentados, assim como o não atendimento quanto à forma magnética que os documentos deveriam ter sido apresentados e não o foram. Vejase que o contribuinte teve ciência da ação fiscal e com a intimação para apresentação de vários documentos em 21/06/2011, e até o mês de dezembro/2011 ainda não tinha atendido a toda solicitação do Fisco, o que, por si só, denota sua falta de diligência em prover os documentos solicitados pela fiscalização, o que é seu dever legal. Várias prorrogações de prazo lhe foram deferidas e mesmo assim, normalmente, o solicitado foi sendo atendido a conta gotas, o que fica muito bem delineado no relato fiscal. Em 28/09/2011 o contribuinte apresentou em meio digital os livros Diário e Razão referente ao ano de 2011 em formato PDF. Não o apresentou, porém, em meio físico, devidamente assinado pelo responsável da empresa, como deveria (RESPOSTA 28 09 2011). Importante destacar que esses arquivos foram apresentados visando atender ao quesito 12 do TERMO DE INÍCIO DE FISCALIZAÇÃO 201100413001, para entrega dos livros. De forma alguma supriram o quanto demandado no quesito 13, para entrega de arquivos digitais nos termos da IN SRF Nº 86/2001, pois não atendem à forma de apresentação, documentação de acompanhamento e especificações técnicas exigidos pela referida IN. ... No dia 01/11/2011, o contribuinte informou que ainda não tinha conseguido gerar os arquivos contábeis (item 4.1 do anexo do ADE COFIS Nº15/2011), ou seja, passados mais de 4 meses do Termo de Início de Fiscalização, a GATE não foi capaz de gerar os arquivos contábeis para o período de 2008 e 2011 exigidos em norma legal. Nesta mesma data apresentou o arquivo de Itens de Mercadorias/Serviços (item 4.3.2 do anexo do ADE COFIS Nº15/2011), já declarando estarem com inconsistências, ou seja, também não foi capaz de gerar um arquivo No dia 02/12/2011, o contribuinte foi cientificado do TERMO DE INTIMAÇÃO Nº 201100413005 (TIF 2011 00413 005), no qual é exigida a apresentação de documentação hábil e idônea Fl. 2539DF CARF MF Processo nº 12466.720993/201293 Acórdão n.º 3402003.774 S3C4T2 Fl. 2.535 11 que dê suporte aos lançamentos relacionados no termo. É exigida, ainda, a apresentação das Declarações de Importação na modalidade por conta própria acompanhadas dos documentos obrigatórios de instrução, nos termos do art. 553 do Decreto nº 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro). ... Em 25/01/2012, o contribuinte, pela 6ª vez, apresentou pedido de prorrogação de prazo de 7 dias para atendimento do TERMO DE REINTIMAÇÃO Nº 201100413 006 (PEDIDO DE PRORROGAÇÃO 25 01 2012). No dia 13/02/2012, o contribuinte apresentou documento de resposta ao TERMO DE REINTIMAÇÃO Nº 201100413006 (RESPOSTA 13 02 2012). Em anexo a este documento, a GATE apresentou faturas e conhecimentos de transporte originais de algumas poucas Declarações de Importação, não atendendo de forma satisfatória o quanto demandado (ANEXO RESPOSTA 13 02 2012). ... Declarou o contribuinte que apresentou “todos os contratos de câmbio” (item 27 do TERMO DE INÍCIO DE FISCALIZAÇÃO Nº 201100413001). Mais uma declaração falsa. Em meio a 81 operações de comércio exterior registradas, a GATE apresentou apenas 14 contratos de câmbio em documento de resposta de 01/08/2011 (RESPOSTA 01 08 2011) e mais 5 contratos de câmbio em documento de resposta de 27/09/2011 (RESPOSTA 27 09 2011), totalizando apenas 19 contratos de câmbio entregues. ... Apresentar contratos de compra e venda, ou outros, bem como todas as alterações, celebrados entre o contribuinte e as empresas nacionais (adquirentes de mercadorias importadas ou remetentes de mercadorias para exportação); Comentário: No dia 22/09/2011, o contribuinte não apresentou nenhum contrato e afirmou que “A GATE não possui contrato com seus clientes, como é prática de qualquer distribuidora”. Portanto, à toda evidência, o Fisco demonstrou inequivocamente quais os documentos obrigatórios que não foram entregues à fiscalização, o nos faz refutar a alegação de que não teria sido apontado em específico quais documentos não teriam sido entregues. E certo também que a recorrente prejudicou a celeridade e o bom andamento da ação fiscal. MULTA POR NÃO APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS RELATIVOS ÀS OPERAÇÕES DE IMPORTAÇÃO Foi aplicada multa proporcional de 5% do valor aduaneiro de importações realizadas relativas às DI listadas as fls. 68/69, conforme alega a fiscalização, pelo importador não ter apresentado, quando exigidos, os documentos relativos a transações que realizou, nos Fl. 2540DF CARF MF 12 termos da alínea “b” do inciso I do art. 70 e do caput do 71 da Lei n° 10.833/2003, replicado no RA nos seguintes termos: Art. 710. Aplicase a multa de cinco por cento do valor aduaneiro das mercadorias importadas, no caso de descumprimento de obrigação referida no caput do art. 18 (acima transcrito), se relativo aos documentos obrigatórios de instrução das declarações aduaneiras. O artigo 18 do Regulamento Aduaneiro (com redação do art. 70, da Lei 10.833/2003) é bem claro quanto à obrigação da manutenção dos documentos, dentro do prazo decadencial que deram suporte às operações de importação/exportação. Vejase a redação dessa norma: Art. 18 – O importador, o exportador ou o adquirente de mercadoria importada por sua conta e ordem têm a obrigação de manter, em boa guarda e ordem, os documentos relativos às transações que realizarem, pelo prazo decadencial estabelecido na legislação tributária a que estão submetidos, e de apresentá los à fiscalização aduaneira quando exigidos. No mesmo sentido, versa o art. 195, do CTN, quanto à guarda dos documentos fiscais. Verificase que o relatório fiscal demonstra uma ausência parcial do atendimento das intimações por parte do fisco, especificamente quanto aos documentos que ampararam as operações de importação listadas às fls. 68/69. Segundo a fiscalização, “Em resumo, conforme exposto acima, o contribuinte não atendeu a intimação e reintimação de forma satisfatória, atendendo integralmente, apenas, 11 itens (1, 2, 3, 4, 9, 11, 12, 14, 20, 22 e 29), não atendendo integralmente 9 itens (5, 10, 13, 19, 27, 28, 30, 31 e 33) e não atendendo a 13 (6, 7, 8, 15, 16, 17, 18, 21, 23, 24, 25, 26 e 32) dos 33 itens com exigências.” A GATE, na condição de importador, é sujeito ao cumprimento da obrigação acessória de boa guarda e ordem dos documentos, e entrega destes à fiscalização quando solicitado. Diferentemente do que aduz a recorrente, os documentos entregues à Receita Federal por ocasião dos despachos de importação, devem ser guardados pelo prazo previsto na legislação. Portanto, estreme de dúvidas que existe a obrigação legal da GATE, na qualidade de importador, de apresentar à fiscalização aduaneira os documentos de instrução das declarações aduaneiras, a correspondência comercial, incluídos os documentos de negociação e cotação de preços, os instrumentos de contrato comercial, financeiro e cambial, de transporte e seguro das mercadorias, os registros contábeis e os correspondentes documentos fiscais, quando exigidos, sujeitando, em caso de descumprimento desta obrigação acessória a multa aplicada de 5% sobre o valor aduaneiro. Com efeito, é de ser mantida esta multa. MULTA POR NÃO ENTREGA DE ARQUIVOS DIGITAIS Segundo a fiscalização, a GATE deixou de entregar os arquivos contábeis dos períodos de 2008 e 2011. A Lei nº 8.218, de 1991, em seu art. 11 e respectivos parágrafos, dispôs sobre a entrega de arquivos digitais a Receita federal: Fl. 2541DF CARF MF Processo nº 12466.720993/201293 Acórdão n.º 3402003.774 S3C4T2 Fl. 2.536 13 Art. 11. As pessoas jurídicas que utilizarem sistemas de processamento eletrônico de dados para registrar negócios e atividades econômicas ou financeiras, escriturar livros ou elaborar documentos de natureza contábil ou fiscal, ficam obrigadas a manter, à disposição da Secretaria da Receita Federal, os respectivos arquivos digitais e sistemas, pelo prazo decadencial previsto na legislação tributária. (Redação dada pela Medida Provisória nº 215835, de 2001). O art. 12 e respectivos parágrafos, de mesmo ato legal, trouxe a previsão da penalidade a ser aplicada no caso de descumprimento da obrigação acessória de entrega dos arquivos digitais. A IN SRF nº 86, de 2001, trouxe a forma e prazos para apresentação dos arquivos digitais e sistemas utilizados por pessoas jurídicas e determina nos seus art. 1º e 2º, reproduzidos na decisão a quo. Neste caso, verificase que os arquivos contábeis para os períodos de 2008 e 2011 não foram entregues, mesmo depois de devidamente intimada a GATE. Logo, cabe a multa aplicada que, foi calculada pelo seu valor máximo, em 1% da Receita Bruta, resultante do fato de a empresa ter ultrapassado o período de 50 dias sem o cumprimento da obrigação especificamente quanto a entrega das demonstrações contábeis em meio digital, conforme prevê a legislação em vigor, considerando apenas os anos citados. Sem embargo, também mantenho esta multa. CONCLUSÃO Forte em todo o exposto, nego provimento aos recursos de ofício e voluntário. assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire relator Fl. 2542DF CARF MF
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