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Numero do processo: 16327.001916/00-90
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Apr 06 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 03 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 1998
RECURSO POR CONTRARIEDADE A LEI. INDICAÇÃO DA LEI CONTRARIADA.
Não se conhece de Recurso por contrariedade a lei quando houver erro na identificação do dispositivo legal tido por contrariado na decisão não-unânime de Câmara.
Numero da decisão: 9101-002.787
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em não conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego e Carlos Alberto Freitas Barreto, que conheceram do recurso.
(documento assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente.
(documento assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araujo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Jose Eduardo Dornelas Souza, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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LIMITE LEGAL. Recorrente PROCURADORIAGERAL DA FAZENDA NACIONAL Interessado BANCO DE INVESTIMENTOS CREDIT SUISSE (BRASIL) S/A. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 1998 RECURSO POR CONTRARIEDADE A LEI. INDICAÇÃO DA LEI CONTRARIADA. Não se conhece de Recurso por contrariedade a lei quando houver erro na identificação do dispositivo legal tido por contrariado na decisão não unânime de Câmara. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em não conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego e Carlos Alberto Freitas Barreto, que conheceram do recurso. (documento assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Jose Eduardo Dornelas Souza, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 00 19 16 /0 0- 90 Fl. 530DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 3 2 Contra o Sujeito Passivo acima identificado foi lavrado o Auto de Infração às fls. 0512, com a exigência do crédito tributário no valor de R$ 1.821.891,37, a título de Imposto Sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e juros de mora apurado pelo regime de tributação com base no lucro real nos anoscalendário de 1996, 1997 e 1998. Ressaltese que não houve aplicação da multa de ofício proporcional com base no art. 63 da Lei n° 9.430 de 27 de dezembro de 1996, tendo a suspensão da exigibilidade do crédito tributário por força de Medida Liminar concedida em Mandado de Segurança nº 96.00165238, atualmente tramitando sob o nº 001652343.1996.4.03.6100, da 10ª Vara Federal da 3ª Região tendo como impetrante Varbra S/A e Outros, incluindo a incorporada CSFB Factoring S/A. em face do Delegado da Receita Federal em São Paulo Sul (incisos II e IV do art. 151 do Código Tributário Nacional). Consta na Descrição dos Fatos: 001 GLOSA DE PREJUÍZOS COMPENSADOS INDEVIDAMENTE INOBSERVÂNCIA DO LIMITE DE 30% (INFRAÇÃO NÃO SUJEITA À REDUÇÃO POR PREJUÍZO) Compensação indevida de prejuízos fiscais apurados relativos à incorporada CSFB Factoring S/A, tendo em vista a inobservância do limite de compensação de 30% do lucro líquido, ajustado pelas adições e exclusões previstas e autorizadas pela legislação do Imposto de Renda, conforme Termo de Verificação n°03. Consta no Termo de Verificação Fiscal nº 03, fls. 1316: 1. COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS NA INCORPORADA O BANCO DE INVESTIMENTOS CREDIT SUISSE FIRST BOSTON GARANTIA S/A, CNPJ n° 33.987.793/000133, incorporou em 10 de setembro de 1998 a empresa CSFB FACTORING S/A, CNPJ n° 35.940.378/000150, da qual era o único acionista. Em virtude desta incorporação, com base no artigo 207, III do Decreto n° 3.000/99 Regulamento do Imposto de Renda, o BANCO DE INVESTIMENTOS CREDIT SUISSE FIRST BOSTON GARANTIA S/A revestese na figura de sucessor das obrigações tributárias relativas à CSFB FACTORING S/A, respondendo pelos tributos e contribuições devidas pela incorporada. No caso em questão, o BANCO DE INVESTIMENTOS CREDIT SUISSE FIRST BOSTON GARANTIA S/A responde pelos os prejuízos fiscais compensados indevidamente pela CSFB FACTORING S/A nos anoscalendário de 1996 a 1998. A CSFB FACTORING S/A efetuou a compensação de prejuízos fiscais nos anoscalendário de 1996 a 1998, não respeitando o limite de 30% do Lucro Real do período, previsto no artigo 42 da Lei n°8 .981/95, com redação dada pelos artigos 12 e 15 da Lei n° 9.065/95, tendo em vista a Medida Liminar em Mandado de Segurança concedida nos autos do Processo n° 96.00165238 da 10ª Vara Federal em São Paulo, conforme tabela a seguir: Anocalendário Lucro Real do Prejuízo fiscal Limite de 30% Compensação a Fl. 531DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 4 3 período compensado do Lucro Real maior 1996 1.183.365,15 1.183.365,15 355.009,55 534.569,01 1997 4.162.084,05 4.162.084,05 1.248.625,22 2.913.458,83 1998 1.781.896,69 4.162.084,05 534.569,01 1.247.327,68 2. DA MATÉRIA TRIBUTÁVEL O artigo 15 da Lei n°9.065/95, prevê: Art. 15. O prejuízo fiscal apurado a partir do encerramento do ano calendário de 1995 poderá ser compensado, cumulativamente com os prejuízos fiscais apurados até 31 de dezembro de 1994, com o lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação do imposto de renda, observado o limite máximo, para a compensação de trinta por cento do referido lucro líquido ajustado. Parágrafo único. O disposto neste artigo somente se aplica às pessoas jurídicas que mantiverem os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios do montante do prejuízo fiscal utilizado para a compensação. 3. DO VALOR TRIBUTÁVEL O valor tributável corresponde aos valores de prejuízos fiscais compensados indevidamente acima do limite de 30% do Lucro Real, conforme tabela a seguir: Anocalendário Valor Tributável 1996 828.355,60 1997 2.913.458,83 1998 1.247.327,68 4. DO ENQUADRAMENTO LEGAL Arts. 12 e 15 da Lei n° 9.065/95; Art. 63 da Lei n° 9.430/96; Art. 132 da Lei n° 5.172/66 Código Tributário Nacional; Art. 5o , III do DecretoLei n° 1.598/77. 5. DO ENCERRAMENTO De acordo com os fatos acima expostos, o montante do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica compensado indevidamente pela incorporada CSFB FACTORING S/A, nos anoscalendário de 1996 a 1998, será lançado de ofício, através da lavratura de Auto de Infração com os acréscimos legais e sem multa de ofício com base no art. 63 da Lei n°9.430/96, tendo a sua exigibilidade suspensa por força de Medida Liminar concedida nos autos do Processo n° 96.00165238 da 10ª Vara Federal [3ª Região] (art. 151, inciso II e IV do CTN ). Fl. 532DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 5 4 O contribuinte BANCO DE INVESTIMENTOS CREDIT SUISSE FIRST BOSTON GARANTIA S/A revestese na figura de sucessor das obrigações tributárias relativas à incorporada, respondendo pelos tributos e contribuições devidas pela mesma, com base no artigo 207, III do Decreto n° 3.000/99 Regulamento do Imposto de Renda, artigo 132 da Lei n° 5.172/66 Código Tributário Nacional e artigo 5º, III do DecretoLei n° 1.598/77. E para constar e surtir os efeitos legais, lavramos o presente termo em três vias, de igual teor e forma, que vão assinados por mim, Auditor Fiscal da Receita Federal e pelo representante do contribuinte, a quem é entregue uma das vias. Cientificado, o Sujeito Passivo apresentou a impugnação, fls. 149159. Está registrado no Acórdão da 10ª TURMA/DRJ/SPO/SP nº 07.353, de 20.06.2005, fls. 203211: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 1996, 1997, 1998 Ementa: SUSPENSÃO DE EXIGIBILIDADE. MANDADO DE SEGURANÇA. VALIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. A suspensão de exigibilidade, por força de liminar em mandado de segurança, não inibe a Fazenda Pública de constituir o crédito tributário respectivo para fins de prevenir a decadência. CSLL. EXIGIBILIDADE SUSPENSA. INDEDUTIBILIDADE PELO REGIME DE COMPETÊNCIA. Os tributos e contribuições são dedutíveis, na determinação do lucro real, segundo o regime de competência, exceto se estiverem com a exigibilidade suspensa, nos termos dos incisos II a IV do art. 151 da Lei n.° 5.172, de 25 de outubro de 1966, haja ou não depósito judicial. JUROS DE MORA. TAXA SELIC. PREVISÃO LEGAL. A falta de pagamento do tributo na data do vencimento implica a exigência de juros moratórios, tendo a aplicação da taxa SELIC previsão legal, cuja verificação de constitucionalidade é de competência exclusiva do Poder Judiciário. Lançamento Procedente Vistos, relatados e discutidos os autos do presente processo, acordam os membros da 10ª Turma de Julgamento, por unanimidade de votos, considerar PROCEDENTE o lançamento, conforme voto da relatora. Notificado, o Sujeito Passivo apresentou o recurso voluntário, fls. 217244. Está registrado no Acórdão nº 10196,012, de 01.03.2007, fls. 329341: IRPJ BASE DE CÁLCULO TRIBUTOS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA IMPOSSIBILIDADE Fl. 533DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 6 5 Os tributos e contribuições que estiverem com sua exigibilidade suspensa não são dedutíveis na determinação da base de cálculo do IRPJ. No presente caso a CSLL encontrase com sua exigibilidade suspensa em face de determinação judicial. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso voluntário interposto por BANCO DE INVESTIMENTOS CREDIT SUISSE FIRST BOSTON GARANTIA S.A. ACORDAM os Membros da Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por unanimidade de votos, em REJEITAR a preliminar suscitada e, no mérito, pelo voto de qualidade, DAR provimento PARCIAL ao recurso para cancelar a exigência do ano de 1998, nos termos do relatório e voto que passam integrar o presente julgado. (grifos acrescidos) O processo foi encaminhado à ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN) em 18.08.2009 (Despacho de Encaminhamento de fls. 342243). De acordo com o disposto no art. 79 do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 2015, a intimação presumida da PGFN ocorreu em 18.09.2009. Em 28.08.2009, tempestivamente, foi interposto o recurso especial de efls. 344349 (Despacho de Encaminhamento de efl. 350). Suscita que: I DOS FATOS Insurgese a Fazenda Nacional contra o r. acórdão proferido pela e. Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes que, pelo voto de qualidade, deu provimento parcial ao recurso do contribuinte para cancelar a exigência do ano de 1998. [...] II DO CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL Nos termos do artigo 4º do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (aprovado pela Portaria n° 256, de 22 de junho de 2009), os recursos com base no art. 1° , inciso I, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais ainda poderão ser interpostos em face de acórdãos proferidos nas sessões de julgamento ocorridas em data anterior à vigência do Anexo II da referida Portaria. [...] Sendo assim, estando presentes os requisitos de admissibilidade do presente recurso especial, passase à análise do mérito da lide. III [...] BASE DE CÁLCULO INCORPORAÇÃO COMPENSAÇÃO LIMITE 30%. O artigo 33 do Decretolei n. 2.341/87 (art. 504, do RIR/94) determina: [...] A norma é clara e expressa, no sentido de vedação legal de compensação de prejuízos da sucedida pela empresa incorporadora e isto tem sua razão de ser: inibir incorporações que manifestamente têm como único sentido realizar evasão fiscal. Ignorar tal preceito normativo é declarar a sua inconstitucionalidade, o que esbarra na Súmula do 1°CC, n° 2: Fl. 534DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 7 6 "O Primeiro Conselho de Contribuintes não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária". Nesse mesmo sentido, caso seja entendida a possibilidade de compensação dos prejuízos verificados na empresa sucedida, devese forçosamente limitála a 30% (trinta por cento), conforme reiterados entendimentos a respeito do próprio Conselho de Contribuintes, pois incide o artigo 15 da Lei n. 9.065/95 que prescreve: [...] Percebese, pois, que a lei não traz qualquer exceção à regra de compensação de 30%, sendo temerário o julgador fazer. Se isso ocorrer, estarseá limitando a plenitude da norma e entendendoa parcialmente inconstitucional (esbarrando na Súmula n. 2 do 1º CC novamente), embora sem redução do texto. Vale citar o ensinamento doutrinário constitucional a respeito desta técnica de interpretação que não deixa de ser uma forma de declarar a inconstitucionalidade de determinada norma, ainda que de forma tácita: [...] Por estas razões, a compensação dos prejuízos fiscais oriundos de empresa incorporada não realizada, pois cabível supracitado Decretolei. E, ainda, caso não haja este entendimento, requerse, ao menos, seja mantida a limitação de 30%, porque a Lei n. 9.065/95 não faz qualquer ressalva, nem sequer autoriza a criação de exceções a esta regra. Por fim, para corroborar o que foi até aqui exposto, trazse à colação dois acórdãos: o primeiro, proferido pela Terceira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, que veda expressamente a compensação de prejuízos fiscais da empresa sucedida no caso de incorporação, e o segundo, proferido pela Sétima Câmara do Primeiro Conselho, no sentido de se entender cabível a compensação de prejuízos, aplicandose o limite de 30% (trinta por cento). Tratamse dos seguintes acórdãos respectivamente, n°. 10321.813 e n. 10708.441, cujas ementas passase a transcrever: [...] V PEDIDO Por todos esses fundamentos, requer a União (Fazenda Nacional) seja o presente recurso conhecido e provido, para que seja reformado o r. acórdão, preservandose, via de conseqüência, a decisão proferida em primeira instância. Foi dado seguimento ao recurso especial da PGFN, conforme o Despacho de Exame de Admissibilidade exarado em 18/12/2009 pelo Presidente da Primeira Câmara da Primeira Seção do CARF (fls. 351352). Notificado em 14.01.2013, efl. 409, o Sujeito Passivo apresentou em 29.01.2013, efl. 411, as suas contrarrazões, efls. 411430. Argui que: 2. DOS FATOS Fl. 535DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 8 7 2. 1.Tratase de Auto de Infração ("AI") lavrado para constituir crédito tributário relativo ao Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica ("IRPJ") supostamente devido nos anoscalendário de 1996, 1997 e 1998, que deixou de ser recolhido por CSFB FACTORING S.A. ("FACTORING"), sucedida, por incorporação, pela RECORRIDA, em razão da não observância do limite quantitativo de 30% do lucro real, previsto no art. 42 da Lei n.° 8.981, de 20.01.1995, Para a compensação de prejuízos fiscais apurados em períodos anteriores. 2.2. Como expressamente declara o Termo de Verificação Fiscal ("TVF"), o AI foi lavrado para prevenir decadência e, portanto, sem exigência de multa de ofício (art. 63 da Lei n.° 9.430, de 27.12.1996), uma vez que o crédito tributário nele lançado encontravase com a exigibilidade suspensa por força de Medida Liminar concedida nos autos do Mandado de Segurança n.° 96.00165238 (art. 151, incisos IV do Código Tributário Nacional "CTN"). [...] 2.6. A RECORRIDA demonstrará, inicialmente, a inadmissibilidade do presente Recurso Especial, e, ato seguinte, na hipótese absurda de o recurso ser admitido, sua improcedência. 3. DA INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO PELA FAZENDA NACIONAL 3.1. O inciso I e o §1º do art. 7º do antigo RICSRF previa a possibilidade de a Fazenda Nacional interpor, privativamente, recurso especial contra decisão não unânime, proferida por Câmara do antigo CC, contrária à lei ou à evidência da prova, nos seguintes termos: [...] 3.2. Muito embora não haja mais possibilidade de interposição do recurso especial privativo da Fazenda Nacional, o atual RICARF dispõe, em seu art. 4º, que: [...] 3.3. Em razão do Anexo II do RICARF ter produzido efeitos somente a partir de 01.07.2009, ou seja, em data posterior à que foi proferida a decisão ora recorrida (01.03.2007), o presente Recurso Especial é regido exclusivamente pelo RICSRF. 3.4. O §1° do art. 15 do RICSRF estabelecia, como pressuposto para o conhecimento do Recurso Especial por contrariedade à lei ou à evidência da prova, que: (i) a decisão objeto do Recurso Especial fosse não unânime: e (ii) que a referida contrariedade fosse fundamentadamente demonstrada: [...] 3.5. Na tentativa de sustentar o cabimento do presente Recurso Especial, a RECORRENTE alegou que a decisão recorrida teria sido proferida de forma contrária ao que preceitua o art. 33 do DecretoLei n.° 2.341, de 29.07.1987 ("DL n.° 2.341/87"). É o que demonstra os trechos do Recurso Especial, abaixo reproduzidos: [...] 3.6. O art. 33 do DL n.° 2.341/87 determina que: [...] 3.7. A norma em comento é, portanto, expressa no sentido de proibir a compensação de prejuízos da sucedida pela empresa incorporadora. Contudo, não se trata do caso dos autos, uma vez que não foi a RECORRIDA (sucessora, por incorporação, de FACTORING) que realizou a Fl. 536DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 9 8 compensação do saldo de prejuízo fiscal apurado por FACTORING (empresa sucedida), mas, sim, a própria FACTORING que compensou prejuízo fiscal apurado por ela mesmo. E o que se depreende dos seguintes trechos: [...] 3.8. Frisese: o objeto do lançamento é a compensação pela FACTORING de 100% do prejuízo fiscal apurado pela própria FACTORING. nos anoscalendários de 1996, 1997 e 1998. O AI foi lavrado contra a RECORRIDA, em virtude da extinção da FACTORING, por incorporação, e, não, por ter a RECORRIDA utilizado prejuízo fiscal apurado por FACTORING. 3.9. Portanto, ao contrário do que pretende sustentar a Fazenda Nacional, a decisão recorrida não contrariou o art. 33 do DL n.° 2.341/87. Tratase, na realidade, de mera alegação desprovida de qualquer fundamento, incapaz de motivar o conhecimento do Recurso Especial interposto pela Fazenda. 3.10. Diante do exposto, a RECORRENTE não logrou êxito em apresentar fundamentadamente a contrariedade à lei ou à evidência da prova suscitada, razão pela qual o presente Recurso Especial não deve ser admitido. 4. DA TOTAL IMPROCEDÊNCIA DO RECURSO ESPECIAL 4.1. Caso, entretanto, sejam ultrapassados os argumentos sustentados no item 3 acima, o que se admite para argumentar, o presente Recurso Especial é improcedente. 4.2. Ao dispor sobre a compensação de prejuízos fiscais, a legislação tributária determinou que: [...] 4.3. Conforme se verifica no parecer acima transcrito, o propósito da referida limitação não foi o de retirar do contribuinte o direito de compensar integralmente seus prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas de CSL, mas apenas o de diferir a referida compensação no tempo, de forma a garantir uma parcela da arrecadação do IRPJ e da CSL. 4.4. Como anteriormente mencionado, o art. 33 do DL n.° 2.341/87 expressamente proíbe que a pessoa jurídica sucessora por incorporação, fusão, ou cisão, compense os prejuízos fiscais e as bases negativas de CSL da sucedida. Dessa forma, a aplicação do referido limite de 30% em tais situações teria o efeito não apenas de diferir, mas sim de retirar do contribuinte o direito à compensação integral de seus prejuízos fiscais e bases negativas de CSL, contrariando o objetivo buscado pelo legislador com a referida norma. 4.5. De fato, a justificativa apresentada pelo Deputado MUSSA DEMES para a criação do limite de 30% foi a de que ela apenas propiciaria um fluxo de arrecadação, "sem retirar do contribuinte o direito de compensar". Tanto assim é que o referido limite jamais correspondeu a uma restrição da compensação a 30% do montante dos prejuízos, mas sim a 30% do valor do lucro real apurado em determinado período, sendo permitida a utilização do restante do prejuízo fiscal e da base negativa de CSL em períodos de apuração posteriores. Fl. 537DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 10 9 4.6. Assim, se a lei não impede a compensação integral, mas apenas a posterga, sendo vedada, paralelamente, a utilização do prejuízo fiscal e da base negativa de CSL pela sucessora, caberia à sucedida, no momento da sua extinção, compensálo sem a limitação de 30%, sob pena de se tornar impossível a integral utilização do prejuízo fiscal e da base negativa de CSL, o que seria contrário ao objetivo da norma. 4.7. Essa é a conclusão que decorre, necessariamente, da interpretação teleológica do art. 15 da Lei n.° 9.065/95, corretamente adotada pela DECISÃO RECORRIDA, conforme se depreende dos trechos abaixo transcritos: [...] 4.8. Nem se alegue que a possibilidade de compensação do prejuízo fiscal, por caracterizarse como um benefício fiscal, deve ser interpretada literalmente, nos termos do art. 111 do Código Tributário Nacional ("CTN"). 4.9. De fato, o referido artigo apenas determina a interpretação literal de legislação relativa à isenção tributária, suspensão ou exclusão do crédito tributário e dispensa de cumprimento de obrigações acessórias, e não daquela que verse sobre benefício fiscal de outra natureza, como é o caso do aproveitamento de prejuízos fiscais. 4.10. Com efeito, dispõe o art. 111 do CTN: [...] 4.11. Por outro lado, mesmo a interpretação literal das normas que estabelecem benefício fiscal não pode ter o condão de limitar o alcance pretendido pelo legislador. [...] 4.15. Dessa forma, ainda que admitida a compensação como um benefício fiscal sujeito à regra do art. 111 do CTN, não haveria óbice a que o limite de 30% a ela imposto fosse interpretado teleologicamente, ou seja, com a busca da sua finalidade, como forma de definir seu alcance e sentido, que, como visto, não foi o de suprimir o direito do contribuinte à compensação integral dos prejuízos fiscais e das bases negativas de CSL, mas apenas o de diferir a compensação no tempo. 4.16. Nesse sentido havia se consolidado a jurisprudência administrativa. [...] 4.24. Conforme se verifica, até mesmo a 1ª Câmara do antigo 1º CC, que, no Acórdão n.° 10193.438, havia decidido de forma contrária ao contribuinte, se curvou ao entendimento da CSRF, passando a não mais admitir o limite de 30% às compensações efetuadas na declaração de rendimentos do períodobase de encerramento da pessoa jurídica. 4.25. Em 17.08.2010, no Acórdão n.° 910100.401, a CSRF deixou de seguir a até então consolidada jurisprudência sobre a matéria, para concluir, pelo voto de qualidade, que não haveria amparo legal para a compensação de prejuízos sem a observância do limite de 30% na extinção de pessoa jurídica. [...] 4.28. Portanto, deve ser integralmente mantido o entendimento da decisão recorrida no que se refere ao cancelamento da exigência fiscal do ano de 1998, e, consequentemente, negado provimento ao Recurso Especial interposto pela RECORRENTE. 5. DO PEDIDO Fl. 538DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 11 10 5.1. Pelo exposto, a RECORRIDA requer que o Recurso Especial interposto pela RECORRENTE não seja conhecido, em virtude da ausência dos requisitos legais estabelecidos pelo art. 7º, I, do antigo RICSRF, indispensáveis para a respectiva admissibilidade. 5.2. Caso, por absurdo, o Recurso Especial seja conhecido, requer seja este julgado totalmente improcedente, mantendose, assim, a decisão recorrida no que se refere ao cancelamento da exigência fiscal do ano de 1998. Além das contrarrazões ao recurso da PGFN, o Sujeito Passivo também apresentou o seu próprio recurso especial, suscitando divergência jurisprudencial em relação à parte da decisão de segunda instância administrativa que não permitiu que a CSLL (lançada na mesma data que o IRPJ, mas em outro processo), por se tratar de tributo com exigibilidade suspensa, fosse deduzida na apuração do IRPJ referente ao anocalendário de 1996. Nesse caso, foi negado seguimento ao recurso especial da contribuinte, em razão da ausência de caracterização de divergência jurisprudencial, conforme o Despacho de Exame de Admissibilidade exarado em 10/03/2016 pelo Presidente da Primeira Câmara da Primeira Seção do CARF. E essa negativa de seguimento foi confirmada, em caráter irrecorrível, por Despacho de Reexame de Admissibilidade exarado pelo Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais. É o Relatório. Fl. 539DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 12 11 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araújo, Relator. Preliminar Admissibilidade do Recurso Especial da PGFN Consta no Despacho de Admissibilidade do Recurso Especial de 18.12.2009, fls. 351352: Salientese que, embora não esteja previsto no atual Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (RICARF), aprovado pela Portaria MF n° 256, de 22/06/2009, o recurso especial por contrariedade à lei ou a evidência da prova, referente a acórdão prolatado em sessão de julgamento ocorrida até 30/06/2009, será, nos termos do artigo 4o do RICARF, processados de acordo no rito previsto no Regimento Interno da CSRF aprovado pela Portaria n° 147, de 25/06/2007 (RICSRF). O recurso é tempestivo (fls. 342 e 344), a decisão não foi unânime, e a sessão de julgamento é anterior a 30/06/2009. Passo a análise da contrariedade indicada. A recorrente indica que o acórdão recorrido teria contrariado o artigo 33 do Decretolei n° 2.341/87 (art. 504 do RIR/94) no que respeita a não permissão da pessoa jurídica sucessora compensar prejuízos fiscais da sucedida, ou, ao máximo, limitar a compensação a 30% do prejuízo fiscal, conforme prescrito no artigo 15 da Lei n° 9.065/95. Em segundo momento, às fls. 348 do recurso, a Fazenda Nacional também suscita divergência na interpretação da norma tributária entre decisões deste órgão colegiado, citando ementas no corpo do recurso, das quais transcrevo duas, por oportuno: Ac. n° 10515.908 INCORPORAÇÃO DECLARAÇÃO FINAL Inexiste amparo, para, a luz da legislação que rege a matéria, se proceder, em virtude do desaparecimento da empresa em decorrência de reorganização societária, a compensação dos prejuízos fiscais sem observância do limite de 30% a que se reporta o artigo 15 da Lei n° 9.065, de 1995. No contexto do ordenamento jurídicotributário, em homenagem ao princípio da legalidade, o silêncio da lei não pode ser preenchido pelo seu intérprete, mormente na situação em que tal interpretação objetiva assegurar direito não contemplado, nem mesmo pela via de exceção, nos diplomas legais que regem a matéria. Ac. n° 10321.813 REDUÇÃO DO PREJUÍZO FISCAL COMPENSAÇÃO CISÃO PARCIAL O artigo 33 do Decretolei n° 2.341/87 determina que a pessoa jurídica sucessora por incorporação, fusão ou cisão não poderá compensar prejuízos fiscais da sucedida, dispondo seu parágrafo único que, no caso de cisão parcial, a pessoa jurídica Fl. 540DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 13 12 cindida poderá compensar os seus próprios prejuízos, proporcionalmente à parcela remanescente do patrimônio líquido. Conheço do recurso quanto à tempestividade e, da análise do acórdão vergastado, constato que procede a argumentação trazida em fase do recurso especial, estando atendidos os pressupostos para a sua admissibilidade. Em face do exposto, DOU seguimento ao recurso e, por força do art. 69 do Anexo II do RICARF, encaminhemse os autos à unidade de origem para dar ciência ao contribuinte do acórdão e deste despacho, podendo apresentar contrarrazões e/ou recurso especial no prazo de 15 dias, a seguir retornar ao CARF. Em sede de contrarrazões, o sujeito passivo apresenta preliminar de não conhecimento do recurso especial da PGFN, argumentando: que na tentativa de sustentar o cabimento do presente recurso especial, a PGFN alegou que a decisão recorrida teria sido proferida de forma contrária ao que preceitua o art. 33 do DecretoLei n.° 2.341/1987; que a norma em comento é expressa no sentido de proibir a compensação de prejuízos da sucedida pela empresa incorporadora, e que esse não é o caso dos autos, uma vez que não foi a RECORRIDA (sucessora, por incorporação, de FACTORING) que realizou a compensação do saldo de prejuízo fiscal apurado por FACTORING (empresa sucedida), mas, sim, a própria FACTORING que compensou prejuízo fiscal apurado por ela mesma; que a decisão recorrida não contrariou o art. 33 do DL n.° 2.341/87; e que a PGFN não logrou êxito em apresentar fundamentadamente a contrariedade à lei, razão pela qual o seu recurso especial não deveria ser admitido. A preliminar de não conhecimento é procedente. Vêse que a PGFN indicou contrariedade apenas ao art. 33 do DL n.° 2.341/87: Quando citou o art. 15 da Lei n° 9.065/95, o fez como pedido subsidiário e mais dentro do contexto do mérito e não do conhecimento. Fl. 541DF CARF MF Processo nº 16327.001916/0090 Acórdão n.º 9101002.787 CSRFT1 Fl. 14 13 ... De fato, entendo que as partes não precisam dividir o recurso em capítulos, títulos ou seção; mas, uma vez que o fazem, penso que isso deve ser considerado. A PGFN ainda apresentou precedentes do CARF, no sentido de que o limite legal de 30% a que se reporta o artigo 15 da Lei n° 9.065/1995 deve ser aplicado mesmo diante do desaparecimento da empresa em decorrência de reorganização societária. Mais uma vez: isso ocorreu no contexto do mérito, dentro do pedido subsidiário. E o recurso não é por divergência, pois nas fls. 344 e 346, o procurador claramente o qualificou como recurso por contrariedade à lei, e assim foi como o recurso teve sua admissibilidade examinada, conforme trecho do despacho já transcrito. Adequase ao caso precedente unânime desta Turma de minha relatoria, o Acórdão nº 9101002.017, do qual se extrai o seguinte entendimento da ementa: "... Não se conhece de Recurso ... quando houver erro na identificação do dispositivo legal tido por contrariado na decisão nãounânime de Câmara. ..." Desse modo, voto no sentido de NÃOCONHECER do recurso interposto pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN). É como voto. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Fl. 542DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11516.006348/2009-63
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Mar 15 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2004, 2005
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SOLIDARIEDADE.
Nos exatos termos do Parecer/PGFN/CRJ/CAT nº 55, de 2009, a responsabilidade dos administradores, de acordo com a jurisprudência do STJ, não pode ser entendida como exclusiva (responsabilidade substitutiva), porquanto se admite na Corte Superior que a ação de execução fiscal seja ajuizada, ao mesmo tempo, contra a pessoa jurídica e o administrador. Ainda, para efeito de aplicação do art. 135, III, do CTN, responde também a pessoa que, de fato, administra a pessoa jurídica, ainda que não constem seus poderes expressamente do estatuto ou contrato social. Se é perfeitamente possível promover a execução fiscal conjuntamente contra a pessoa jurídica e seus administradores, por óbvio que também é perfeitamente possível realizar o lançamento contra a pessoa jurídica (contribuinte) e contra os seus administradores (responsáveis tributários).
Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2004, 2005
LANÇAMENTO REFLEXO DO IRPJ. IMPOSTO DE RENDA NA FONTE. PAGAMENTOS A BENEFICIÁRIOS NÃO IDENTIFICADOS E/OU SEM COMPROVAÇÃO DA OPERAÇÃO OU SUA CAUSA.
Procedente o lançamento que exige imposto de renda na fonte na situação em que o contribuinte, devidamente intimado, não logrou identificar os beneficiários de pagamentos e, cumulativamente, comprovar a operação correspondente e/ou sua causa. Não há qualquer incompatibilidade intrínseca entre o regime do lucro real e o lançamento de IR/Fonte sobre pagamento a beneficiário não identificado ou sem causa. As bases jurídicas para a incidência do IRPJ/Lucro Real e do IR/Fonte sobre pagamento a beneficiário não identificado ou sem causa são completamente distintas.
Numero da decisão: 9101-002.605
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, por maioria de votos, em: (i) negar provimento ao recurso em relação à responsabilidade tributária, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento e, (ii) negar provimento ao recurso em relação à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa e Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, que lhe deram provimento. Declarou-se impedida de participar do julgamento a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, substituída pelo conselheiro suplente Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, o qual solicitou apresentar declaração de voto.
(assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente
(assinado digitalmente)
Rafael Vidal De Araujo - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente) e Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa.
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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(Responsáveis Tributários: MÁRIO KENJI IRIÊ e ELISEU MACHADO DE LIMA) Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2004, 2005 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SOLIDARIEDADE. Nos exatos termos do Parecer/PGFN/CRJ/CAT nº 55, de 2009, “a responsabilidade dos administradores, de acordo com a jurisprudência do STJ, não pode ser entendida como exclusiva (responsabilidade substitutiva), porquanto se admite na Corte Superior que a ação de execução fiscal seja ajuizada, ao mesmo tempo, contra a pessoa jurídica e o administrador”. Ainda, “para efeito de aplicação do art. 135, III, do CTN, responde também a pessoa que, de fato, administra a pessoa jurídica, ainda que não constem seus poderes expressamente do estatuto ou contrato social.” Se é perfeitamente possível promover a execução fiscal conjuntamente contra a pessoa jurídica e seus administradores, por óbvio que também é perfeitamente possível realizar o lançamento contra a pessoa jurídica (contribuinte) e contra os seus administradores (responsáveis tributários). ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Anocalendário: 2004, 2005 LANÇAMENTO REFLEXO DO IRPJ. IMPOSTO DE RENDA NA FONTE. PAGAMENTOS A BENEFICIÁRIOS NÃO IDENTIFICADOS E/OU SEM COMPROVAÇÃO DA OPERAÇÃO OU SUA CAUSA. Procedente o lançamento que exige imposto de renda na fonte na situação em que o contribuinte, devidamente intimado, não logrou identificar os beneficiários de pagamentos e, cumulativamente, comprovar a operação correspondente e/ou sua causa. Não há qualquer incompatibilidade intrínseca entre o regime do lucro real e o lançamento de IR/Fonte sobre pagamento a beneficiário não identificado ou sem causa. As bases jurídicas para a AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 51 6. 00 63 48 /2 00 9- 63 Fl. 16075DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 3 2 incidência do IRPJ/Lucro Real e do IR/Fonte sobre pagamento a beneficiário não identificado ou sem causa são completamente distintas. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, por maioria de votos, em: (i) negar provimento ao recurso em relação à responsabilidade tributária, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento e, (ii) negar provimento ao recurso em relação à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa e Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, que lhe deram provimento. Declarouse impedida de participar do julgamento a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, substituída pelo conselheiro suplente Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, o qual solicitou apresentar declaração de voto. (assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente (assinado digitalmente) Rafael Vidal De Araujo Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente) e Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa. Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pelo sujeito passivo Mário Kenji Iriê, fundamentado atualmente no art. 67 e seguintes do Anexo II da Portaria MF nº 343, de 09/06/2015, que aprova o Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), em que se alega divergência de interpretação da legislação tributária quanto às seguintes matérias: (1) responsabilidade pessoal e exclusiva do administrador art. 135 do CTN; (2) impossibilidade da exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas; (3) impossibilidade de apuração do custo das mercadorias vendidas e conseqüente obrigatoriedade de lançamento pela sistemática do lucro arbitrado; (4) iliquidez dos autos de infração relativos ao PIS e à COFINS; e (5) decadência. O exame de admissibilidade do recurso especial foi feito pela Presidente da 3ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, que só admitiu o recurso em relação à primeira e segunda divergências acima mencionadas, que tratam, respectivamente, da questão da imputação de responsabilidade tributária e da exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas. Fl. 16076DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 4 3 Houve negativa de seguimento do recurso em relação às demais divergências suscitadas, o que foi confirmado por despacho de reexame de admissibilidade exarado pelo Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais, em caráter definitivo, nos termos do art. 71 do Anexo II do RICARF. É oportuno registrar que a própria contribuinte, ou seja, a pessoa jurídica MKJ Importação e Comércio Ltda. também apresentou recurso especial de divergência, e que a Presidente da 3ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF negou seguimento a esse recurso, decisão que também foi confirmada por despacho de reexame de admissibilidade exarado pelo Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais, em caráter definitivo, nos termos do art. 71 do Anexo II do RICARF. No recurso especial, o recorrente Mário Kenji Iriê insurgese contra o Acórdão nº 1301001.079, de 06/11/2012, por meio do qual a 1ª Turma Ordinária da 3ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, decidiu, entre outras questões, manter o vínculo de responsabilidade tributária e também a incidência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas. O acórdão recorrido contém a ementa e a parte dispositiva descritas abaixo: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 2005, 2006 Ementa: CONTRIBUIÇÕES NÃO CUMULATIVAS. MONTANTE A PAGAR. DETERMINAÇÃO. REVISÃO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA. PROCEDÊNCIA. Não é merecedora de reparo a decisão que, constatando que a autoridade fiscal deixou de considerar valores que deveriam integrar a determinação dos montantes a pagar das exações lançadas, promove a revisão dos cálculos, indicando, adequadamente, a fonte da qual os dados foram extraídos e a metodologia empregada. DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. CIÊNCIA. VALIDADE. É válida a ciência da notificação por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário (SÚMULA CARF Nº 9). IMPUGNAÇÃO. AUSÊNCIA. INSTAURAÇÃO DO LITÍGIO. INOCORRÊNCIA. Na ausência de impugnação, descabe falar em fase litigiosa do procedimento. Revelase plenamente válida a ciência da intimação para pagar ou impugnar a exigência formalizada, efetivada por meio de EDITAL, quando a intimação por via postal mostrarse improfícua. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. PROCEDÊNCIA. Se as provas carreadas aos autos deixam fora de dúvida que a gestão da empresa era exercida, de fato, por pessoa não integrante do seu quadro societário, tendo ela influência direta nos fatos que redundaram em evasão Fl. 16077DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 5 4 fiscal, tal pessoa deve ser mantida no pólo passivo das obrigações tributárias correspondentes, vez que presente hipótese legal autorizadora. Nos termos do art. 135 do Código Tributário Nacional, os mandatários, prepostos, empregados, diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado, são pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultante de atos praticados com infração de lei. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SOLIDARIEDADE. Nos exatos termos do Parecer/PGFN/CRJ/CAT nº 55, de 2009, “a responsabilidade dos administradores, de acordo com a jurisprudência do STJ, não pode ser entendida como exclusiva (responsabilidade substitutiva), porquanto se admite na Corte Superior que a ação de execução fiscal seja ajuizada, ao mesmo tempo, contra a pessoa jurídica e o administrador”. Ainda, “para efeito de aplicação do art. 135, III, do CTN, responde também a pessoa que, de fato, administra a pessoa jurídica, ainda que não constem seus poderes expressamente do estatuto ou contrato social.” PAGAMENTOS A BENEFICIÁRIOS NÃO IDENTIFICADOS. PAGAMENTOS SEM CAUSA. Nos casos de pagamentos efetuados pelas pessoas jurídicas a beneficiários não identificados, bem como naqueles efetuados ou entregues a terceiros ou sócios em que não for comprovada a operação ou a sua causa, os valores correspondentes se submetem à incidência do Imposto de Renda exclusivamente na fonte, à alíquota de trinta e cinco por cento. INCONSTITUCIONALIDADES. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (súmula CARF nº 2). MULTA QUALIFICADA. Se os fatos apurados pela Autoridade Fiscal permitem caracterizar o intuito deliberado do contribuinte de subtrair valores à tributação, é cabível a aplicação sobre os valores apurados da multa de ofício qualificada de 150%, prevista no inciso II do artigo 44 da Lei nº 9.430, de 1996. DECADÊNCIA. Na ocorrência de dolo, fraude ou simulação, a teor do parágrafo 4º do art. 150 do Código Tributário Nacional, a regra de decadência ali prevista não opera. Nesse caso, a melhor exegese é aquela que direciona para aplicação da regra geral estampada no art. 173, I, do mesmo diploma legal (Código Tributário Nacional). A expressão EXERCÍCIO a que alude o referido comando legal só pode ser concebido como o ano posterior ao correspondente ao da concretização das hipóteses de incidência, pois, em conformidade com a lei (art. 175 da Lei nº 6.404, de 1976), o exercício social tem duração de um ano. DECADÊNCIA. PAGAMENTO A BENEFICIÁRIO NÃO IDENTIFICADO. IMPOSTO DE RENDA TRIBUTADO EXCLUSIVAMENTE NA FONTE. Fl. 16078DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 6 5 A aplicação do disposto no art. 61 da Lei nº. 8.981/95 (art. 674 do RIR/99) decorre, sempre, de procedimentos investigatórios levados a efeito pela Administração Tributária, não sendo razoável supor que o contribuinte, espontaneamente, promova pagamentos sem explicitação da causa ou a beneficiários não identificados e, em razão disso, antecipe o pagamento do imposto à alíquota de 35%, reajustando a respectiva base de cálculo. A incidência em referência sustentase na presunção (da lei) de que os pagamentos foram utilizados em operação, passível de tributação, em que, em virtude do desconhecimento do beneficiário ou da sua natureza, deslocase a responsabilidade pelo recolhimento do tributo correspondente para quem efetuou o pagamento. No caso, a constituição do crédito tributário correspondente só pode ser efetivada com base no art. 149, I, do Código Tributário Nacional, sendo a decadência do direito de se promover tal procedimento disciplinada pelo disposto no art. 173 do mesmo diploma. REGIME DE TRIBUTAÇÃO. ARBITRAMENTO. IMPROCEDÊNCIA. Independentemente do montante glosado, a desconsideração de custos lastreados em notas fiscais inidôneas não dá causa ao arbitramento do lucro, vez que a adoção da referida sistemática devolve ao contribuinte o direito de deduzir parcela desses mesmos dispêndios, o que, à luz da moralidade e da legalidade, não é aceitável. DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. LANÇAMENTO. REVISÃO. Identificadas incorreções na determinação das exações devidas, há de se promover a devida revisão dos lançamentos tributários, de modo a tornar líquidas e certas as exigências tributárias. No caso, descabe falar em mudança de critério jurídico ou constituição de crédito por autoridade incompetente. JUROS SELIC. A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os membros da 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária da Primeira Seção de Julgamento: a) quanto à responsabilidade tributária do Sr. Mário Kenji Iriê, negar provimento ao RECURSO VOLUNTÁRIO, por maioria; vencido o Conselheiro Carlos Augusto de Andrade Jenier; b) quanto à incidência do Imposto sobre a Renda na Fonte, negar provimento ao RECURSO VOLUNTÁRIO, pelo voto de qualidade; vencidos os Conselheiros Valmir Sandri, Edwal Casoni de Paula Fernandes Júnior e Carlos Augusto de Andrade Jenier; c) quanto ao regime de tributação adotado pela autoridade fiscal para o anocalendário de 2004, negar provimento ao RECURSO VOLUNTÁRIO, por maioria; vencidos os Conselheiros Valmir Sandri, e Carlos Augusto de Andrade Jenier; d) quanto aos juros de mora sobre a multa de ofício, negar provimento ao RECURSO VOLUNTÁRIO, por maioria; vencidos os Conselheiros Plínio Rodrigues Lima e Wilson Fernandes Guimarães, que entenderam pela aplicação do percentual de juros de mora de 1%; e) quanto às demais matérias suscitadas, negar provimento ao RECURSO VOLUNTÁRIO, por Fl. 16079DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 7 6 unanimidade; e f) negar provimento, por unanimidade, ao RECURSO DE OFÍCIO, nos termos do voto do Relator. Quanto às matérias admitidas do recurso especial apresentado pelo responsável tributário Mário Kenji Iriê (imputação de responsabilidade tributária e exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas), o recorrente desenvolve os argumentos apresentados a seguir: RESPONSABILIDADE PESSOAL E EXCLUSIVA DO ADMINISTRADOR ART. 135 DO CTN no Auto de Infração lavrado contra a MKJ, foi arrolado como sujeito passivo solidário o Sr. Elizeu Machado de Lima, então administrador da MKJ, responsável pelos atos imputados à empresa, uma vez que agiu em infração à lei e com excesso de poderes que lhes foram conferidos de acordo com o contrato social. No entanto, o ora Recorrente também figurou no polo passivo, como sujeito passivo solidário do referido Auto de Infração, nos termos do art. 135 do CTN, por terlhe sido atribuída a condição de suposto "administrador de fato da empresa"; restou demonstrado, todavia, tanto na Impugnação quanto no Recurso Voluntário, que o Recorrente não era o administrador da MKJ à época dos fatos e, por consequência, não praticou quaisquer das condutas que ensejaram a lavratura do Auto de Infração. Diante disso, o Recorrente argumentou no sentido de que não poderia ser responsabilizado pelo crédito tributário exigido no Auto de Infração, vez que foram lavrados em razão de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos pelo então administrador da MKJ, fato que, de acordo com o art. 135, inciso III, do CTN atribui a este responsabilidade pessoal e exclusiva; apesar disso, foilhe atribuída, conforme o v. Acórdão guerreado, responsabilidade pessoal e solidária com a empresa e com o então administrador, nos termos do art. 135 do CTN; restou assentado, no v. Acórdão que, apesar de a letra da lei constar "pessoalmente responsáveis", a responsabilidade não seria exclusiva, fundamentandose, para tanto, no Parecer/PGFN/CRJ/CAT n° 55, de 2009; ao assim decidir, todavia, o v. acórdão recorrido divergiu do quanto já decidido pelo E. CARF no Acórdão n° 1101000.754: SÓCIO ADMINISTRADOR. ARTIGO 135, III, DO CTN. RESPONSABILIDADE PESSOAL E EXCLUSIVA. A responsabilidade prevista no artigo 135, inciso III, do CTN, é pessoal e exclusiva do sócio administrador que age em exacerbação de poderes ou em contrariedade à lei ou aos atos constitutivos. Descabe o Fisco pugnar pela solidariedade deste com a pessoa jurídica, arrimado no dispositivo legal citado, mormente quando inexista demonstração cabal de circunstância autorizativa dessa responsabilização, inconfundível com a mera apuração de omissão de receitas. verificase do paradigma acima que, diversamente do que decidido pelo v. acórdão recorrido, a responsabilidade prevista no artigo 135, inciso III, do CTN, é pessoal e Fl. 16080DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 8 7 exclusiva do sócio ou do administrador que age em exacerbação de poderes ou em contrariedade à lei ou aos atos constitutivos, e jamais solidária; a atribuição de responsabilidade por aplicação do artigo 135 do CTN decorre da prática de atos abusivos ou com infringência de lei, contrato social ou estatutos que tenham desencadeado uma relação jurídica obrigacional stricto sensu entre Fisco e terceiros, que praticaram estes atos; como se depreende do voto condutor do acórdão paradigma acima citado, o artigo 135 dispõe sobre uma obrigação tributária decorrente da prática de fato ilícito doloso por parte do administrador, disciplinando a hipótese de substituição da responsabilidade tributária, nos termos do acórdão paradigma; ao realizar conduta ilícita, o administrador passa a integrar o pólo passivo de relação sancionatória, oportunidade na qual exclusivamente os seus bens responderão pela prestação punitiva administrativofiscal que lhes compete. A responsabilidade nessas hipóteses é, portanto, pessoal e exclusiva, e não solidária; depreendese, assim, que o terceiro que age com dolo, contrariando a lei, o mandato, o contrato social ou o estatuto, dos quais decorrem os seus deveres, tornase, no lugar do próprio contribuinte, o único responsável pelos tributos decorrentes da infração praticada; além do citado paradigma, o CARF vem, de longa data, decidindo reiteradamente acerca da responsabilidade pessoal e exclusiva dos agentes que praticaram atos com infração à lei, contrato social ou estatutos (ementas trasncritas); do mesmo modo, os tribunais pátrios também já se manifestaram reiteradamente quanto à responsabilidade pessoal e exclusiva dos agentes nessas hipóteses, conforme se depreende de acórdãos do TRF da 2ª Região e do E. STJ (ementas transcritas); evidente, portanto, que o artigo 135 do CTN só é aplicável às hipóteses de responsabilidade pessoal do agente, ou seja, quando a Fiscalização verifica que ele agiu com o dolo específico de fraudar o surgimento de obrigação tributária, devendo, conseqüentemente, imputarlhe responsabilidade pessoal, i.e., exclusiva; é de se ressaltar, que, no presente caso, os D. Julgadores a quo entenderam que o artigo 135, inciso III, do CTN, prevê hipótese de responsabilidade solidária, fundamentando tal entendimento no Parecer PGFN/CRJ/CAT n° 55/2009, que dispõe sobre "a natureza da responsabilidade tributária dos administradores sócios ou não das sociedades limitadas e das sociedades anônimas, derivadas da aplicação do art. 135, III, do Código Tributário Nacional"; necessário ressaltar que a finalidade do referido Parecer consiste na correta atribuição de responsabilidade em casos de "dissolução irregular" de sociedades, com o objetivo de dilapidar o patrimônio da empresa, para tentar salvar ao máximo os bens da execução fiscal. Ocorre que não se trata do caso em tela. Assim, a solidariedade entre o então administrador, o Recorrente e a MKJ não se sustenta; desse modo, a aplicação do Parecer citado pelo v. Acórdão recorrido ao presente caso deve ser afastada, devendo ser excluídos do polo passivo tanto o Recorrente Fl. 16081DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 9 8 quanto a MKJ. Isto é, a responsabilidade é pessoal e exclusiva do Sr. Elizeu Machado de Lima, que era o administrador da empresa na época; além disso, o suposto poder de mando do Recorrente alegado por ocasião da autuação e reconhecido pelo v. Acórdão guerreado não foi provado uma única vez. Não existe uma carta, um email, um depoimento que seja, no mínimo, um indício de que o Recorrente era o "administrador de fato" da MKJ. A única exceção é o depoimento do Sr. Elizeu, que obviamente deve ser analisado com muita cautela por este ter interesse em se esquivar da responsabilidade pessoal e exclusiva que tem em relação aos créditos tributários exigidos nos presentes autos; deveras, como acima referido, não há qualquer indício de que o Recorrente tenha participado dos fatos objeto do Auto de Infração, sendo que sua inclusão no polo passivo ocorreu com base em indícios duvidosos e em meras suspeitas. Por sua vez, a atuação do Sr. Elizeu Machado de Lima, como administrador da MKJ à época dos fatos, restou fartamente comprovada nos autos; portanto, além de não ter qualquer interesse jurídico na ocorrência do fato gerador, o Recorrente não pode ser considerado responsável solidário com fundamento no artigo 135, inciso III, do CTN, pois não era administrador de direito e, muito menos, de fato da MKJ; diante disso, com base na divergência jurisprudencial demonstrada, deve ser o v. Acórdão reformado, para excluir o Recorrente do polo passivo deste processo administrativo, já que a responsabilidade é pessoal e exclusiva do então administrador, único responsável pelos atos por si cometidos em infração à lei e ao contrato social; IMPOSSIBILIDADE DA EXIGÊNCIA DO IR/FONTE SOBRE PAGAMENTOS SEM CAUSA QUANDO JÁ HOUVE A GLOSA DOS CUSTOS/DESPESAS em razão da contabilização de supostas notas fiscais inidôneas, a Fiscalização glosou os custos incorridos pela MKJ concernentes às referidas notas fiscais. Além disso, sobre os supostos pagamentos das mencionadas operações foilhe aplicada a exigência do IR/Fonte, à alíquota de 35%, com base no artigo 61 da Lei n° 8.981/95; o Recorrente se insurgiu contra a concomitância das imposições, uma vez que há duplicidade de penalização sobre o mesmo fato. No entanto, o v. Acórdão recorrido assim não entendeu, afirmando que "as infrações são de naturezas absolutamente distintas, motivo pelo qual geram conseqüências tributárias da mesma forma distintas" (p. 37, fl. 14424); porém, ao decidir desta forma o v. Acórdão recorrido divergiu de julgados em que o CARF entendeu que a exigência do citado IR/Fonte somente persiste caso a mesma hipótese não enseje tributação por redução do lucro líquido, a exemplo da glosa de custos: Fl. 16082DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 10 9 Acórdão n° 920200.686 (doc. 04) Assunto: Imposto de Renda Retido na Fonte IRFonte IRFONTE PAGAMENTO SEM CAUSA ART. 61 DA LEI N°8.981, DE 1995 LUCRO REAL REDUÇÃO DE LUCRO LIQUIDO MESMA BASE DE CÁLCULO INCOMPATIBILIDADE. A aplicação do art. 61 da Lei n° 8.981, de 1995, está reservada para aquelas situações em que o Fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, desde que a mesma hipótese não enseje tributação por redução do lucro líquido, tipicamente caracterizada por omissão de receita ou glosa de custos/despesas, situações próprias da tributação do IRPJ pelo lucro real. Precedente da CSRF. Acórdão n° CSRF/0401 094. Jul. 03/11/2008 Rel. Conselheira Ivete Malaquias Pessoa Monteiro. No caso concreto, por presunção, foi considerado omissão de receita o dinheiro creditado em conta bancária da empresa no dia 18/02/97. Assim, se houve receita omitida aumentouse o lucro e exigiuse IRPJ, CSLL, COFINS, PIS. Todavia, quando o dinheiro saiu do caixa da empresa para pagar, com juros, o valor que foi considerado receita omitida, tal importância não pode ser considerada pagamento sem causa, sob pena de efetivamente confirmar que não se tratava de receita omitida, mas sim empréstimo com obrigação de restituição dos valores. como se pode depreender do acórdão paradigma acima citado, o artigo 61 da Lei n° 8.981/95 não pode ser aplicado se os fatos que lhe são subjacentes também foram objeto de redução do lucro líquido da empresa, para fins de apuração do Lucro Real, por meio de glosa de custos ou despesas. Ressaltase que o citado acórdão paradigma da CSRF faz referência à utilização de "notas frias", similar à acusação constante dos presentes autos; podese, também, citar como paradigma o Acórdão n° 10422.249 (doc. 05), que restou ementado como segue: "IRRFONTE PAGAMENTO SEM CAUSA ART. 61, DA LEI N°. 8.981, DE 1995 LUCRO REAL REDUÇÃO DE LUCRO LIQUIDO MESMA BASE DE CÁLCULO INCOMPATIBILIDADE A aplicação do art. 61, está preservada para aquelas situações em que o fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, desde que a mesma hipótese não enseje tributação por redução do lucro liquido, tipicamente caracterizada por omissão de receita ou glosa de IRPJ pelo lucro real." o I. Conselheiro Relator, ao longo do voto, enfatiza a impossibilidade de aplicação do artigo 61 da Lei n° 8.981/95 ao mesmo tempo em que a operação que lhe deu causa serviu para reduzir o lucro líquido. Confirase: "Em sendo assim, a aplicação do art. 61, está reservada para aquelas situações em que o fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado e, o que é mais importante, desde que o mesmo fato/valor que servir de base, não caracterize hipótese de redução do lucro líquido, quer por receita omitida, quer por glosa de custos e/ou despesas, situações tipicamente submetidas ao IRPJ segundo as normas pertinentes à tributação pelo lucro real. (...) Desse ensaio, dentre outras Fl. 16083DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 11 10 verdades, podemos extrair que é absolutamente vedada ao fisco a possibilidade de escolha, ou seja, se cabível a tributação pelo IRPJ por redução do lucro líquido, não pode a autoridade lançadora simplesmente abandonar essa tributação para eleger a mais gravosa contida no art. 61, em comento e, muito menos e pelos mesmos motivos, lançar as duas exações. Isto porque e, por óbvio, a Lei n° 8981/95 não revogou as normas que regem a tributação pelo lucro real." o I. Conselheiro Relator, aprofundando suas análises, se debruça sobre a evolução legislativa que culminou com a publicação do artigo 61 da Lei n° 8.981/95 e traça as situações em que referido dispositivo pode ser aplicado. Vejase: "Continuando e apenas para registro, seria o caso de investigar, então, quais seriam as hipóteses contempladas pela tributação de Fonte, com base de cálculo reajustada, nos exatos termos do art. 61, da Lei n° 8.981/95 que, a meu juízo em análise breve e preliminar, seriam as seguintes: 1. Qualquer pagamento (a sócio, sem causa e/ou a beneficiário não identificado), quando a Pessoa Jurídica estiver em fase pré operacional, isto pela impossibilidade de tributação do IRPJ. 2. Pagamentos a sócio sem causa, pagamentos a beneficiários outros não identificados e/ou sem causa que não caracterizem custo ou despesa, tais como aqueles representativos de aquisição de algum ativo (ex. compra de veículo), sempre ausente a hipótese de redução do lucro líquido, que é própria da tributação pelo lucro real. 3. Qualquer pagamento nos casos em que a tributação eleita pela Pessoa Jurídica tenha como base o Lucro Presumido, Arbitrado ou Simples, com a ressalva de que, neste último tópico, me reservo o direito de aprofundar e rever a matéria." depreendese que o caso em tela não se amolda em quaisquer das hipóteses para a aplicação do dispositivo analisado. De fato, as notas fiscais consideradas inidôneas ensejaram a glosa dos custos da empresa autuada e, concomitantemente, respectivos pagamentos deram causa à incidência do IR/Fonte em razão de pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado; além disso, desconsiderar as deduções efetuadas na apuração de IRPJ e CSLL, que se encontram devidamente documentadas e contabilizadas, a fim de se recompor a base de cálculo desses tributos, e, ao mesmo tempo, considerar sem causa os pagamentos que deram suporte a essas deduções, para fins de IR/Fonte, seria, além de tributar duas vezes o contribuinte, imporlhe tributação mais onerosa que a estabelecida na legislação do Lucro Real. Tratase de clara afronta ao art. 112 do CTN; a jurisprudência desse Egrégio CARF não deixa dúvidas: optar por tributação mais gravosa ao contribuinte (IR/Fonte sobre pagamentos sem causa), ou tributálo duas vezes sobre a mesma base (glosa para fins de IRPJ/CSLL e pagamentos sem causa para fins de IR/Fonte), é procedimento que não encontra guarida na legislação tributária; no presente caso, a Fiscalização considerou inidôneos os documentos emitidos por empresas fornecedoras da MKJ e glosou todos os custos que tinham por base Fl. 16084DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 12 11 esses documentos, considerando, ao mesmo tempo, como sem causa os pagamentos feitos às tais empresas, pois, supostamente, as mercadorias por elas vendidas jamais teriam circulado; o v. Acórdão recorrido reputou válido tal procedimento, sob o falacioso argumento de que o lançamento de IRPJ teria como base de cálculo as compras (custos glosados), e o IR/Fonte, os pagamentos; ora, esse raciocínio corrobora que as duas imposições (IRPJ e IR/Fonte) foram efetuadas sobre a mesma manifestação econômica, afinal as compras (custos glosados) foram quitadas por meio dos exatos mesmos pagamentos sem causa que motivaram o lançamento do IR/Fonte. Prova disso é que os custos glosadas e os pagamentos reputados sem causa têm exatamente os mesmo valores. Tratase, portanto, de argumento notoriamente infundado, já que tenta tratar como se fossem duas bases de cálculo distintas os dois aspectos intrínsecos e logicamente inseparáveis de uma única operação; resta claro o bis in idem das exações, fato que o próprio CARF já rechaçou, como se pode constatar pelos Acórdãos paradigmas acima citados, demonstrandose, cabalmente, a divergência com o v. Acórdão ora recorrido, que merece ser reformado; entretanto, na remota hipótese de que essa E. Câmara não entenda dessa forma, o que se aduz somente para argumentar, devese levar em conta que, para que possa haver a incidência do IR/Fonte em razão de pagamento sem causa ou para beneficiário não identificado, deve restar provado, nos autos do processo, a efetiva realização do pagamento. Contudo, contrariamente ao que consta do v. Acórdão recorrido (pp. 36 e 37), não há a prova do efetivo pagamento; e não há necessidade de se efetuar reanálise de quaisquer elementos de prova: no Termo de Verificação Fiscal ("TVF"), a própria Fiscalização coloca em dúvida a existência dos pagamentos aos fornecedores reputados inidôneos, tratando a ocorrência dos pagamentos como mera hipótese, a exemplo dos seguintes excertos: Página 9 do TVF "2 Os pagamentos destas notas fiscais teriam sido feitos exclusivamente por Caixa, mediante duplicata. A maior parte das duplicatas não apresenta a data de pagamento e o valor efetivamente pago; (...) 8 (...) Cotejando os registros contábeis com as duplicatas, verificamos que os pagamentos teriam sido efetuados com grandes atrasos em relação aos vencimentos." (grifos do Recorrente) Página 11 do TVF "11 (...) a. No caso da Usion, a MKJ não adquiriu mercadorias deste fornecedor em 2005. Durante o ano de 2005, teria havido apenas pagamentos à Usion. E quase todos esses pagamentos teriam sido feitos por Caixa; b. No caso da Green Way, a MKJ teria efetuado pagamentos ao longo de todo o ano de 2005 e só teria voltado a comprar mercadorias em Fl. 16085DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 13 12 dezembro de 2005 (com as mesmas características atípicas das compras de dezembro de 2004); c. No caso da Blue River, cujas compras teriam ocorrido em 2003, a MKJ não teria adquirido mais nenhuma mercadoria em 2005 e teria feito todos os pagamentos por Caixa; d. No caso da Central Ind e Com Têxtil, a MKJ teria efetuado pagamentos ao longo de todo o ano de 2005 e só teria voltado a comprar mercadorias em 28 de dezembro de 2005 (com as mesmas características atípicas das compras de dezembro de 2004)." (grifos do Recorrente) Páginas 20 e 21 do TVF "(...) Neste novo depoimento, o antigo administrador da empresa afirmou (doc. fls. 206 a 207): (...) Que 100% dos pagamentos da MKJ eram feitos por bancos, que pagamentos por Caixa eram irregulares e que nunca viu fornecedor vir receber pagamento em dinheiro na empresa (grifamos)" (grifos conforme original) Páginas 48 e 49 do TVF "Resumidamente, as compras realizadas de Green Way, BlueRiver, Central e Usion não foram comprovadas, pois tais operações não ocorreram de fato. Todavia, a MKJ registrou na contabilidade nos anos fiscalizados dezenas de milhares de reais em supostos pagamentos a estes fornecedores, em valores expressivos. Os pagamentos foram feitos quase exclusivamente por Caixa, sem nenhum outro comprovante a não ser os documentos inidôneos." (grifos do Recorrente) e assim arremata a Fiscalização: "É de se considerar que, por definição, a conta Caixa representa os recursos efetivamente disponíveis em moeda corrente na empresa para fazer face às pequenas despesas do dia a dia. Caso estes pagamentos houvessem sido efetivamente feitos por Caixa (que fica em Florianópolis, onde se concentra a atividade mercantil), a cada pagamento um representante do fornecedor teria de deslocarse de São Paulo para Santa Catarina para receber dezenas de milhares de reais em notas e moedas. Se o pagamento ocorresse em São Paulo, um representante da MKJ teria de ir até lá. Além disso, os pagamentos da Usion e da Blue River teriam acontecido após a extinção destas empresas. Este procedimento não seria nada prático e usual, dada a falta de segurança física envolvida. Certamente estes procedimentos de pagamento seriam lembrados por todos os envolvidos. Por que ninguém se lembra de nada acerca destes pagamentos? Simplesmente porque esses pagamentos não ocorreram!" (Pp. 21 e 22 do TVF; grifos do Recorrente e no original) Fl. 16086DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 14 13 como se nota dos trechos acima, a própria Fiscalização coloca em xeque, a todo momento, a ocorrência dos pagamentos relativos às notas fiscais inidôneas, e conclui, expressamente, que não ocorreram de fato; diante disso, podese constatar que a hipótese de incidência do IR/Fonte sobre pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado não se aperfeiçoou. De fato, para haver a referida incidência, há um pressuposto inafastável e anterior até mesmo à verificação da existência de causa para o pagamento ou da identificação de seu beneficiário. Tal pressuposto é a própria ocorrência do pagamento, cuja efetividade deve ser comprovada pela Autoridade Fiscal por meio de documentação hábil, não podendo, em hipótese alguma, ser presumida; tal entendimento advém da orientação recentemente emanada pela Cosit, que, por meio da Solução de Consulta Interna n° 11, de 08.5.2013 (doc. 06), fixou o entendimento de que, quando houver glosa pelo Fisco de custo ou despesa baseada em nota fiscal inidônea que gera exigência imediata do IRPJ , somente se pode exigir o IR/Fonte nos casos em que houver comprovação, pela autoridade fiscal, do efetivo pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado; com efeito, analisando o questionamento efetuado pela CoordenaçãoGeral de Contencioso Administrativo e Judicial Cocaj, a Cosit decidiu que, nos termos do art. 61, caput e § 1º, da Lei n° 8.981/9512 (dispositivo reproduzido no art. 674 do RIR), que instituiu a tributação exclusiva na fonte sobre rendimentos pagos a beneficiários não identificados ou quando não for comprovada a operação ou a sua causa, o fato gerador que dá substrato à exigência do IR/Fonte sobre o pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado é considerado ocorrido na data do pagamento. Logo, segundo a Cosit, para que se faça regular a exigência de IR/Fonte sob tal fundamento, deve haver, como pressuposto, a existência concreta de um pagamento; assim, a Consulta Interna foi solucionada no sentido de que a aplicação do citado art. 61 da Lei n° 8.981/95 está reservada para as situações em que o Fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado; o próprio CARF já vinha adotando o posicionamento contido na Consulta Interna aqui mencionada, conforme se verifica pelo Acórdão n° 1301000.468 (doc. 07) e pelo Acórdão n° 2202002.221 (doc. 08), que se oferecem como paradigmas. Confirase: Acórdão n° 1301000.468 Ementa: "PAGAMENTO A BENEFICIÁRIO NÃO IDENTIFICADO. PAGAMENTO SEM CAUSA. DESCARACTERIZAÇÃO. Ausente a prova da conduta exigida na norma (pagamento), cancelase o lançamento." Voto: "Enfim, a efetuação do pagamento é pressuposto material para a ocorrência da incidência do imposto de renda exclusivamente na fonte, conforme o disposto no artigo 61, da Lei n° 8.981, de 1995. No caso, considero que não restou comprovada, nos autos, a entrega de recursos a terceiros, ou seja, não há prova da saída de recursos da pessoa jurídica, pelo que o lançamento deve ser cancelado." Fl. 16087DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 15 14 (grifos do Recorrente) Acórdão n° 2202002.221 Ementa: "PAGAMENTO. CARACTERIZAÇÃO DO ATO. ÔNUS DA PROVA. A caracterização pela fiscalização, mediante provas, de que ocorreu pagamento é pressuposto material para o lançamento do Imposto de Renda Retido na Fonte incidente sobre pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, de que trata o caput do art. 61 da Lei 8.981/95." Voto: "A dúvida que existia nos autos é se os valores que foram lançados na contabilidade como despesa de Incentivos Desempenho teriam sido pagos ou não. A caracterização pela fiscalização, mediante provas, de que ocorreu pagamento é pressuposto material para o lançamento do Imposto de Renda Retido na Fonte incidente sobre pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, tal como prescreve o caput do art. 61 da Lei 8.981/95. (...) Tendo em vista que não ficou demonstrado nos autos, particularmente a partir da informação fiscal as fls. 851 e 856, que ocorreu o pagamento a beneficiários não identificados, não há como prosperar o lançamento." (grifos do Recorrente) nesse último acórdão, discutiuse se determinada verba lançada na contabilidade do contribuinte como despesa havia sido paga ou não. O contribuinte logrou êxito em demonstrar que referidos valores tratavamse, na verdade, de provisão de despesas, contabilizadas em razão da obediência ao regime de competência, sem o respectivo desembolso. Diante disso, em razão de a "fiscalização não ter comprovado o efetivo pagamento, cancelouse o Auto de Infração; é exatamente esta a situação dos presentes autos. No entanto, de forma diametralmente oposta, decidiu o V. Acórdão recorrido pela manutenção da imposição do IR/Fonte, sem a necessária demonstração da ocorrência dos pagamentos; diante disso, seja porque não pode haver incidência do IR/Fonte aqui tratado de modo concomitante à glosa dos custos (em virtude de notas fiscais inidôneas), seja por não restar cabalmente comprovado o efetivo pagamento das operações, o v. Acórdão deve ser reformado, para cancelar a exigência do IR/Fonte lançado com base no o art. 61 da Lei n° 8.981/95, em consonância com os acórdãos divergentes proferidos por esse E. Conselho em caso análogos. Como já mencionado, quando do exame de admissibilidade do recurso especial apresentado pelo sujeito passivo Mário Kenji Iriê (na condição de responsável tributário), a Presidente da 3ª Câmara da 1ª Seção do CARF deu seguimento parcial ao recurso, reconhecendo a existência de divergência em relação à imputação de responsabilidade tributária e à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa, quando já houve a glosa dos custos/despesas, nos seguintes termos: Fl. 16088DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 16 15 [...] RESPONSABILIDADE PESSOAL E EXCLUSIVA DO ADMINISTRADOR ART. 135 DO CTN [...] Penso que, no caso, o dissídio jurisprudencial restou demonstrado, eis que o acórdão recorrido, rejeitando argumentos trazidos em sede de recurso voluntário, sustenta que a responsabilidade tributária a que faz referência o art. 135 do CTN é de natureza solidária, enquanto o paradigma colacionado aos autos, de forma contrária, assevera que ela é exclusiva. IMPOSSIBILIDADE DA EXIGÊNCIA DO IRFON SOBRE PAGAMENTOS SEM CAUSA QUANDO JÁ HOUVE A GLOSA DOS CUSTOS/DESPESAS Quanto à matéria em destaque, assinala o acórdão recorrido: [...] Os acórdãos paradigmas trazidos ao processo (920200.686 e 10422.249), na parte que interessa ao presente exame, foram assim ementados: [...] No acórdão nº 920200686, o voto condutor correspondente assinala: [...] Constato, pois, que embora a questão enfrentada pelo acórdão paradigma não seja exatamente a retratada nos presentes autos, vez que ali a concomitância de exigências estava representada pela imputação de omissão de receitas e de pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, a análise empreendida por meio do referido acórdão foi feita de forma mais ampla, alcançando de forma clara a enfrentada pelo acórdão recorrido, mas com ele colidindo em sua conclusão. A meu ver, o dissídio jurisprudencial também resta comprovado em relação à matéria em relevo. Em relação à admissibilidade do recurso especial, e conforme relatado acima, é importante registrar que no mesmo item que trata do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa, quando já houve a glosa dos custos/despesas, o recorrente também suscitou divergência em relação à falta de comprovação dos pagamentos que ensejaram essa tributação. Contudo, o recurso especial em relação a essa matéria, que está abrangido no mesmo item "2" mencionado no início deste relatório, não foi admitido pela Presidente da 3ª Câmara da 1ª Seção do CARF (despacho de exame) em razão da falta de prequestionamento da matéria: Registro que o Recorrente, neste mesmo item, traz considerações acerca da comprovação, ou não, dos pagamentos considerados desprovidos de causa ou cujos beneficiários não foram identificados. Entretanto, em virtude do disposto nas normas regimentais aplicáveis (parágrafo 3º do art. 67 do ANEXO II do Regimento aprovado pela Portaria MF nº 256, de 2009, e parágrafo 5º do art. 67 do ANEXO II do Regimento aprovado pela Portaria Fl. 16089DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 17 16 MF nº 343, de 2015), tal matéria não pode ser apreciada em sede de recurso especial, eis que não foi prequestionada. Neste particular, inclusive, o acórdão recorrido, a partir da constatação de que a questão não foi ventilada no recurso voluntário, assinala: Relativamente à incidência do imposto de renda na fonte, cabe destacar, de início, que a efetivação dos pagamentos, fato autorizador da aplicação da presunção prevista no art. 61 da Lei nº 8.981, de 1995, constitui matéria incontroversa nos presentes autos, eis que admitida pela própria contribuinte no curso do procedimento fiscal, conforme transcrição abaixo (resposta apresentada no curso da ação fiscal – fls. 198/199). (GRIFEI) Prezados Senhores Na qualidade de administrador de MKJ IMPORTAÇÃO E COMÉRCIO LTDA. ("Contribuinte"), inscrito no CNPJ/MF sob o n.° 03.403.405/000169, e em atenção ao TI em referência, vimos, pela presente, tecer os seguintes esclarecimentos. Os pagamentos objeto das questões constantes do TI eram feitos exclusivamente pelo então administrador da empresa, Sr. Elizeu Machado de Lima, que geria o caixa da empresa. (GRIFO DO ORIGINAL) O Sr. Elizeu Machado de Lima desligouse da empresa há tempos, de modo que os atuais administradores não têm conhecimento sobre como eram feitos tais pagamentos. Assim, a única pessoa apta a prestar os esclarecimentos requeridos no TI é o mencionado Sr. Elizeu Machado de Lima. Estamos à inteira disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais. Em 25/09/2015, o processo foi encaminhado à PGFN, para ciência do despacho que admitiu parcialmente o recurso especial do sujeito passivo (responsável tributário), e em 01/10/2015 o referido órgão apresentou tempestivamente as contrarrazões ao recurso, com os seguintes argumentos: RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. ART. 135 DO CTN em breve resumo, registrase que apesar de, formalmente, a fiscalizada (MKJ Importação e Comércio Ltda.) apresentar estrutura societária que não indica, à época da ocorrência dos fatos, o Sr. Mário Kenji Iriê como seu sócio ou administrador, os elementos subsidiários colhidos pela Fiscalização apontam na direção de que, de fato, a gestão do Grupo Econômico sempre permaneceu na esfera de decisão do Sr. Mário Kenji Iriê e de sua família; não se trata de imputação de responsabilidade baseada no simples fato de o imputado ser sócio de empresa, mas, sim, de providência amparada em conjunto probatório robusto, autorizador da medida de garantia dos interesses da Fazenda Pública, uma vez que, para efeito de aplicação do art. 135 do CTN, responde também a pessoa que, de fato, administra a pessoa jurídica, ainda que não constem seus poderes expressamente do estatuto ou contrato social, como no caso dos autos; Fl. 16090DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 18 17 o recorrente pretende afastar a responsabilização solidária, fundada no art. 135 do CTN, ao argumento de que o vínculo pronunciado no art. 135, incisos II e III, seria de responsabilidade exclusiva (responsabilidade por substituição), e não de responsabilidade solidária (responsabilidade por transferência); ora, concessa venia, o argumento do recorrente, nesse aspecto, não se sustenta na correta inteligência dos incisos II e III do art. 135 do CTN, assim como destoa inteiramente dos elementos constantes da autuação; cabe dizer que o art. 135 do Código Tributário Nacional – CTN, ao disciplinar espécie de “Responsabilidade de Terceiros”, sob nenhuma hipótese, pensou em constituir forma de responsabilidade exclusiva ou por substituição, não tendo, por conclusão, afastado a responsabilidade do sujeito passivo da obrigação tributária principal; de fato, o art. 135 veio prever casos em que terceiros, de forma dolosa, tenham praticado atos “com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos”, o que ensejaria a responsabilização na sua pessoa, daí porque se diz que a responsabilidade é “pessoal”, mas nunca exclusiva ou por substituição; a interpretação sustentada nesta defesa é de que o vínculo contido no art. 135 é de solidariedade entre o responsável e o sujeito passivo originário (que tanto pode ser um contribuinte como um responsável, nos termos do art. 121 do CTN), e tem por base interpretação sistemática e teleológica daquele dispositivo de lei, além da interpretação da doutrina mais consentânea e do entendimento do STJ; o art. 135 do CTN, em nenhum momento, prevê a exclusão da responsabilidade do sujeito passivo da obrigação principal para pronunciar a responsabilidade exclusiva dos terceiros ali indicados; ou seja, a técnica de definição do sujeito passivo aqui utilizada, conforme salientado, é a da “responsabilidade por transferência”, e não a da “substituição tributária”; com efeito, a técnica da “responsabilidade por substituição”, em tudo mais grave, porquanto, por vezes, exime o sujeito passivo originário do cumprimento da obrigação, exige previsão legal expressa, que, entretanto, inexiste na hipótese sub examinem (CTN, art. 128); a solidariedade contida no art. 135 tem por base o art. 124, II, do CTN, porque decorrente de lei, ao passo que é denominada de “solidariedade imperfeita”, uma vez que o vínculo de garantia só nasce quando do implemento da situação prevista em lei; a solidariedade dita “imperfeita”, ao contrário da solidariedade “perfeita” não contém única obrigação solidária, mas 2 (duas) obrigações ligadas pelo vínculo de solidariedade, já que as aludidas obrigações se originam em momentos distintos; na hipótese vertente, a primeira obrigação nasce quando da ocorrência do fato gerador e obriga o sujeito passivo da obrigação principal, enquanto a segunda obrigação, surge com a ocorrência de “atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos” e vinculam terceiros denominados de “responsáveis”. Entretanto, ambas as obrigações se encontram ligadas por um vínculo de garantia, de modo que a extinção da primeira, importa automaticamente na extinção da segunda, não havendo, pois, como fugir da existência de um nexo de solidariedade; Fl. 16091DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 19 18 acrescentese ainda que os atos praticados pelos agentes ou prepostos do sujeito passivo originário com infração da lei, contrato ou estatuto, obrigam este último diante de terceiros de boa fé, em especial a União, não havendo razão legal ou jurídica para excluílo do pólo passivo da obrigação tributária; pronunciando o art. 135, II e III, do CTN uma relação de garantia da obrigação tributária, não há sentido em excluir, in casu, o sujeito da obrigação principal, de forma a atribuir ao crédito tributário menor benefício que os detidos pelos créditos civis, em relação aos quais o art. 1016 do Código Civil pronuncia que “os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho das suas funções”; do mesmo modo, se interpretado o art. 135 conjuntamente com o art. 134, ambos do CTN, os quais igualmente consagram hipótese de responsabilidade de terceiros, ver seá que o primeiro dispositivo de lei previu atos de maior gravidade do que os contemplados no segundo dispositivo; a diferença entre as 2 (duas) normas legais reside no modo de agir do terceiro responsável. Enquanto art. 134 contempla casos de atuação culposa de agentes que assumam determinados deveres em face do sujeito passivo originário, o art. 135 disciplina hipóteses de atuação dolosa desses mesmos agentes (inciso I), além de mandatários, prepostos e empregados (inciso II) e diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado (inciso III); ora, se o referido art. 134, que prevê condutas culposas do responsável, institui vínculo de solidariedade com benefício de ordem entre o sujeito passivo originário e os terceiros ali enumerados, perguntase: porque o legislador, nos casos de autuação dolosa e, portanto mais grave, do art. 135 instituiria apenas responsabilidade exclusiva do terceiro para fim de excluir do pólo passivo o sujeito originário, dotando, assim, o crédito tributário de menor garantia? de fato, não há a menor razão lógica no entendimento adotado pelo recorrente, que, concessa venia, atribui interpretação equivocada ao art. 135 do CTN, retirando do crédito tributário, sem qualquer autorização legal, garantia conferida pelo legislador; o entendimento do Superior Tribunal de Justiça também não diverge da interpretação adotada pela Fazenda Nacional, tendo em vista que a sua jurisprudência tem permitido, sem maiores discussões, que os responsáveis do art. 135 do CTN sejam acionados: a) conjuntamente com o sujeito passivo originário em sede de execução fiscal; b) por redirecionamento em sede de executivo fiscal inicialmente proposto em face do sujeito passivo originário; ou c) isoladamente, prática que consagra a inevitável tese da solidariedade (Embargos de Divergência nº 702.232/RS ementa e voto transcritos); o Parecer PGFN/CRJ/CAT nº 55/200949 corrobora o que ora se defende (transcrição contida nas contrarrazões); DA INCIDÊNCIA DO IRFONTE SOBRE OS PAGAMENTOS SEM CAUSA quanto à segunda insurgência do recorrente, melhor sorte não lhe assiste. No argumento de que o art. 61 da Lei nº 8.981/95 somente poderia incidir se não houvesse Fl. 16092DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 20 19 redução do lucro líquido, quando a entidade observar a sistemática do lucro real, o qual se confunde com a alegada bitributação pelo emprego da mesma base de cálculo, verificase que há uma confusão entre dois tributos diferentes; o IRPJ é devido pela entidade que efetuou o pagamento sem causa em razão de se ter verificado uma omissão de receita que altera a sua renda, enquanto que o IRFONTE é tributo devido em função de ocorrência de renda para o beneficiário do pagamento. São fatos geradores distintos e diversos são os beneficiários dos rendimentos. Houve renda omitida pelo pagador e houve renda para aquele que recebeu a quantia; a confusão decorre da sistemática de cobrança do segundo, a qual se dá exclusivamente na fonte, isto é, a entidade que efetuou o pagamento sem causa recolhe o tributo por aquele que dela recebeu a disponibilidade econômica; por essa razão, percebese que o que há é uma mera substituição tributária, onde terceiro é obrigado a recolher tributo em nome do beneficiário da disponibilidade econômica; pedese vênia para se adotar como fundamento deste recurso as razões do i. Conselheiro Relator do acórdão recorrido, pela clareza com que enfrentou a questão (transcrição contida nas contrarrazões); assim, afastados os argumentos do recorrente, deve ser mantida a decisão vergastada, na medida em que o art. 61 da Lei nº. 8.981/95 deve incidir na espécie nos moldes delineados no auto de infração, uma vez que comprovado o suporte fático para a sua aplicação. É o relatório. Fl. 16093DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 21 20 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. Conheço do recurso, pois este preenche os requisitos de admissibilidade. O presente processo tem por objeto lançamento a título de IRPJ e tributos reflexos sobre fatos geradores ocorridos nos anoscalendário 2004 e 2005. Por meio de procedimento de circularização junto aos fornecedores da MKJ Importação e Comércio Ltda., a fiscalização constatou que a referida empresa realizou e contabilizou operações de compra de mercadorias suportadas por notas fiscais inidôneas. A autuação fiscal consistiu na glosa das despesas amparadas por essa documentação, o que gerou as exigências de IRPJ e CSLL (Lucro Real). Tal glosa também resultou na exigência de PIS e Cofins nãocumulativos, vez que os créditos dessas contribuições, oriundos das questionadas operações, também foram desconsiderados. Além disso, ao entender que essas notas fiscais inidôneas estavam amparando pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa, a fiscalização também constituiu crédito tributário a título de IR/Fonte, com tributação exclusiva na fonte à alíquota de 35%. Foi ainda imputada responsabilidade tributária solidária aos administradores da empresa. De acordo com a fiscalização, o administrador da MKJ na época dos fatos geradores era Elizeu Machado de Lima. E Mário Kenji Iriê exercia a administração superior de fato da sociedade, tendo, em conjunto com o Sr. Elizeu, o domínio sobre os fatos narrados. A decisão de primeira instância administrativa realizou ajustes na apuração de PIS e COFINS, e exonerou parte da exigência relativa a essas contribuições. A decisão de segunda instância administrativa (acórdão ora recorrido), por sua vez, ao analisar o recurso voluntário de Mário Kenji Iriê (único recurso voluntário que foi conhecido pelo colegiado), negoulhe provimento. As matérias que remanescem em litígio nesta fase de recurso especial dizem respeito à imputação de responsabilidade tributária a Mário Kenji Iriê e à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa, quando já houve a glosa dos custos/despesas. 1ª DIVERGÊNCIA Mário Kenji Iriê suscitou divergência jurisprudencial em relação à parte da decisão que manteve a sua responsabilidade tributária pelos débitos apurados junto à empresa MKJ Importação e Comércio Ltda. Para tanto, ele apresentou como paradigma de divergência o Acórdão nº 1101000.754, com a seguinte ementa sobre a matéria em questão: Fl. 16094DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 22 21 SÓCIO ADMINISTRADOR. ARTIGO 135, III, DO CTN. RESPONSABILIDADE PESSOAL E EXCLUSIVA. A responsabilidade prevista no artigo 135, inciso III, do CTN, é pessoal e exclusiva do sócio administrador que age em exacerbação de poderes ou em contrariedade à lei ou aos atos constitutivos. Descabe o Fisco pugnar pela solidariedade deste com a pessoa jurídica, arrimado no dispositivo legal citado, mormente quando inexista demonstração cabal de circunstância autorizativa dessa responsabilização, inconfundível com a mera apuração de omissão de receitas. No caso paradigma, a decisão de afastar a responsabilidade solidária dos sócios administradores e gerentes apresenta os seguintes fundamentos, extraídos do voto do relator do acórdão: (6) Da responsabilidade solidária dos sócios administradores e gerentes O agente lançador, ao lavrar os autos de infração ora guerreados, houve por bem imputar, aos sócios administradores e gerentes da pessoa jurídica – José Renato Rocha (fls. 1330/1332), Elaine Maria Rocha Botta (fls. 1321/1323), João Domingos Rocha (fls. 1324/1326) e Paulo Eduardo Rocha (fls. 1327/1329) –, responsabilidade solidária, nos alegados termos do artigo 135, inciso III, do CTN: [...] Ocorre, em primeiro lugar, que, em meu sentir, a responsabilidade esculpida pelo artigo 135 do CTN é exclusiva, e não solidária. Nesse sentido, o comando normativo em epígrafe, ao dispor sobre a possibilidade de os diretores e gerentes responderem pelos débitos tributários, prescreve pessoalidade, e não concomitância. De fato, as pessoas arroladas no estresido artigo adquirem responsabilidade pessoal à medida que praticam atos com excesso de poderes ou em infração à lei e aos atos constitutivos da pessoa jurídica. Ao extrapolarem o mister de gerência e de representação da sociedade, os referidos sujeitos acabam por suportar, em lugar da sociedade, os reflexos da infração fiscal a que deram exclusiva causa. Logo, se o Fisco intentar atribuir responsabilidade aos citados administradores, não poderia, logicamente, autuar a pessoa jurídica, face ao disposto no artigo 135, III, do CTN. A menção ao artigo 124, inciso I, do Codex não altera esse cenário, eis que esse preceito sequer devesse se aplicar, haja vista não se poder vislumbrar de qualquer interesse comum na situação constitutiva dos fatos geradores da obrigação. Salvo contrário, estarseia dirimindo, insidiosamente, a autonomia da personalidade jurídica, fazendo confundir esta com os interesses dos sócios administradores. De toda maneira, creio não ser o caso de aplicação da responsabilização pessoal dos gerentes. Não há, no caso, demonstração de que estes agiram em efetiva exacerbação de seus poderes contratuais ou estatutários, de forma deliberada. Fl. 16095DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 23 22 Não é a simples omissão de receitas que poderá constituir autorização para a cominação da regra do artigo 135 do CTN. Imaginar que os sócios administradores possam responder por quaisquer créditos fiscais derivados de omissão de receitas significaria expandir sobremaneira o alcance do preceito em estudo. A responsabilização dos sócios, por pessoal, operada nessas condições, levaria à insidiosa interpretação de que a pessoa jurídica jamais responderia por passivos lançados por forca de averiguação de rendimentos sonegados. A clandestinação parcial das bases de cálculo, fosse entendida sempre como fruto de atividade gerencial “resultante de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos”, levaria à impunidade potencial da pessoa jurídica e, em última análise, ao esvaziamento da independência patrimonial desta. Ratifica nosso posicionamento o fato de parte das exigências em debate terem fulcro em simples presunção omissiva, encampada pelo artigo 42 da Lei nº 9.430/96. Inexistindo prova direta da infração, não há que se falar, obviamente, em demonstração das circunstâncias permissivas da responsabilização pessoal, necessariamente atreladas a dolo específico dos administradores. Não visualizado, pois, espaço para a responsabilização solidária pretendida. É importante registrar que o voto do relator do acórdão paradigma, em item específico, defendia também o afastamento da multa qualificada, mas o relator restou vencido em relação a essa matéria, e o acórdão paradigma, embora tenha afastado a responsabilidade tributária dos sócios administradores e gerentes pelos fundamentos acima transcritos, acabou mantendo a multa qualificada de 150%, como evidencia um outro tópico da ementa do referido acórdão e o voto vencedor sobre essa matéria: OPERAÇÕES MERCANTIS. VALORES SIGNIFICATIVOS. CONTAS BANCÁRIAS NÃO CONTABILIZADAS E MOVIMENTADAS PELOS GERENTES DA SOCIEDADE. EVIDÊNCIAS DE FRAUDE. Correta a qualificação da penalidade quando a autoridade lançadora demonstra que a contribuinte fiscalizada omitiu reiteradamente valores significativos de receitas decorrentes de operações mercantis, deixando de escriturar as contas bancárias correspondentes, e assim declarando ao Fisco valores mínimos de receitas auferidas para manter sua opção pelo regime simplificado de recolhimentos. [...] Voto Vencedor [...] Dentre outros aspectos, a autoridade lançadora destacou: 1) que a contribuinte declarou a Receita Federal do Brasil, receita bruta anual de R$ 896.011,19 (fls. 45) e teve movimentação financeira da ordem de R$ 8.754.405,32 (fls. 15) (= 9,8 x receita declarada), 2) que os livros contábeis expressavam o mesmo valor de receita declarada e abrangiam apenas uma das contas bancárias movimentadas no período fiscalizado; e 3) que os depósitos bancários equivalentes a R$ 3.591.006,34 (ver planilha 11 às fls.1290) são provenientes de operações de cobranças bancárias, desconto Fl. 16096DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 24 23 de títulos, cartões de créditos, adiantamentos de cartão de créditos e de recebimentos de cliente, evidenciando operações comerciais não escrituradas ou declaradas, embora correspondentes a receitas perfeitamente identificadas. A multa qualificada recaiu apenas sobre este último grupo de exigências, a evidenciar que não se trata, aqui, de simples apuração de omissão de receitas, mas sim da constatação de que os gerentes da sociedade tinham conhecimento da receita auferida em operações evidentemente comerciais, e intencionalmente a ocultaram de sua escrituração fiscal, em conduta reiterada por todos os períodos fiscalizados, o que, juntamente com o volume subtraído das bases tributáveis, afasta a possibilidade de erro. A recorrente, de outro lado, limitase a afirmar que registrou regularmente suas operações e que a autuação está fundada em presunção, nada opondo especificamente quanto às evidências reunidas pela autoridade lançadora, antes mencionadas. Ignora, assim, a presunção legal estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96, bem como as circunstâncias acrescidas pela autoridade lançadora em razão da natureza das operações identificadas nos depósitos bancários não contabilizados e do volume e freqüência das omissões. Invoca o princípio da capacidade contributiva e reafirma a inexistência de dolo ou máfé, na medida em que todos seus documentos fiscais e legais são devidamente emitidos, como se nenhuma acusação específica tivesse sido feita pela autoridade lançadora. E ainda aduz que não ficou provada a apropriação ou destaque do imposto em situação não prevista na legislação fiscal, como se não tivesse ficado claro, nas constatações fiscais, que o dolo está presente na conduta de ocultar operações e minorar significativamente a receita declarada, de modo a reiteradamente deixar de recolher tributos e manterse na sistemática simplificada de recolhimento. Em suma, a acusação fiscal é clara e motivada, reúne os elementos necessários para qualificação da penalidade, e a recorrente não logrou desconstituílos. Por todo o exposto, o presente voto expressa o entendimento majoritário desta Turma de Julgamento, contrário à declaração de nulidade do lançamento, bem como favorável à manutenção integral da exigência formalizada contra a contribuinte autuada, inclusive no que tange à multa de ofício aplicada no percentual de 150%. O cotejo dos votos que orientaram o acórdão paradigma revela que a responsabilidade tributária dos sócios administradores e gerentes não foi afastada em razão do argumento de que não havia comprovação de dolo, de que inexistia prova direta da infração, de que a autuação estava baseada em uma simples presunção de omissão de receitas, etc. Tais argumentos, constantes do voto do relator, não deram base para o que afinal restou decidido, até porque o acórdão paradigma manteve a multa qualificada de 150%. É importante perceber que se o acórdão paradigma tivesse afastado a responsabilidade tributária por todos os fundamentos indicados no voto do relator, a própria caracterização da divergência jurisprudencial estaria prejudicada. Fl. 16097DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 25 24 Isto porque o paradigma estaria analisando um caso em que não havia conduta dolosa, não havia prova direta da infração, um caso que tratava de simples presunção de omissão de receita com multa de 75%, enquanto o acórdão recorrido estaria tratando de caso distinto, em que havia conduta dolosa, havia prova direta da infração, com multa qualificada, etc. E esses diferentes contextos inviabilizariam a caracterização da divergência jurisprudencial. Mas, como já demonstrado acima, não é essa a situação sob exame. O acórdão paradigma reconheceu um contexto fático bem semelhante àquele que foi examinado pelo acórdão recorrido (inclusive, com manutenção da multa qualificada), mas, mesmo assim, afastou a responsabilidade tributária. A primeira impressão é até de que houve uma contradição no acórdão paradigma, já que os fundamentos que ele adotou para afastar a responsabilidade tributária (contidos no voto do relator) são conflitantes com os fundamentos que ele adotou para manter a multa qualificada (contidos no voto vencedor sobre essa matéria). Vale registrar que a conselheira que fez o voto vencedor sobre a multa qualificada, também fez declaração de voto defendendo a manutenção da responsabilidade tributária, mas em relação a essa matéria ela ficou vencida. Embora haja uma aparente contradição no acórdão paradigma, há um fundamento que se aproveita do voto do relator, e que dá base à decisão de cancelamento da responsabilidade tributária naquele caso. De acordo com o voto do relator do acórdão paradigma, o comando normativo do art. 135 do CTN, ao dispor sobre a possibilidade de os diretores e gerentes responderem pelos débitos tributários da pessoa jurídica, prescreve pessoalidade, e não concomitância; os referidos sujeitos acabam por suportar, em lugar da sociedade, os reflexos da infração fiscal a que deram exclusiva causa; e se o Fisco intenta atribuir responsabilidade aos citados administradores, não pode, logicamente, autuar a pessoa jurídica. O que se depreende desses argumentos é que o Fisco não pode autuar concomitantemente, pelos mesmos débitos, a pessoa jurídica e seus diretores e gerentes. E se o Fisco arrolou esses dois tipos de sujeito passivo, deve prevalecer apenas o lançamento contra o sujeito passivo original (o contribuinte, que é a pessoa jurídica), restando prejudicado o lançamento contra os indigitados responsáveis tributários. É exatamente em relação a esse ponto que cabe conhecer do recurso especial na parte que ele trata da imputação, pelo acórdão recorrido, de responsabilidade tributária à Mário Kenji Iriê, uma vez que essa decisão, diferentemente do paradigma, expressamente admitiu a possibilidade de coexistência de lançamentos contra a pessoa jurídica e contra os responsáveis tributários. A análise dessa questão foi realizada com muita propriedade pelo PARECER PGFN/CRJ/CAT/Nº 55/2009, que já foi trazido à baila pelo acórdão recorrido, e que abaixo está transcrito, na parte que aborda os aspectos doutrinários e jurisprudenciais que mais interessam aqui: Fl. 16098DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 26 25 [...] A NATUREZA DA RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES 63. De início, achamos relevante rememorar as teses possíveis de serem adotadas no que tange à natureza da responsabilidade tributária decorrente da incidência do art. 135, III, do CTN (ver item III do parecer): i) Responsabilidade por substituição, exclusiva do administrador que incidiu numa das hipóteses legais; ii) Responsabilidade subsidiária, em sentido próprio, do administrador e “responsabilidade” principal da sociedade; iii) Responsabilidade principal do administrador e subsidiária da sociedade; iv) Responsabilidade subsidiária, em sentido impróprio, do administrador; v) Responsabilidade solidária do administrador que responde com a sociedade igualmente e sem benefício de ordem. 64. A mera leitura dos acórdãos do Superior Tribunal de Justiça pode levar confusão mental ao estudioso do tema. Em muitos acórdãos, lêse que a responsabilidade tributária prevista no art. 135 do CTN é por substituição (p. ex., AgRg no REsp 724.180/PR, REsp 670.174/RJ). Noutros julgados, está expresso que a responsabilidade acolhida nesse preceito legal é subsidiária (p. ex., REsp 833.621/RS, REsp 545.080/MG); logo, por transferência tributária. Noutros, mencionase a responsabilidade solidária (p. ex., REsp 86.439/ES, AgRg no AG 748.254/RS). Chegamos a encontrar ementa de acórdão em que se refere, simultaneamente, à responsabilidade subsidiária e à responsabilidade por substituição (EDcl no REsp 724.077/SP). 65. A existência de julgados aparentemente contraditórios, porém, não exime o intérprete da lei e da jurisprudência de examinálos procurando coerência. Ainda que a lei não seja coerente, nem o seja a prática judicial, deve sêlo o hermeneuta, por imposição não só de técnica, mas também de justiça. É o que indica Norberto Bobbio: “Là dove la coerenza non è condizione di validità, è però pur sempre condizione per la giustizia dell’ordinamento” 1 (grifo do original). 66. Apesar da aparente dissonância, não cremos que exista verdadeira divergência jurisprudencial nesse ponto. Em verdade, o Superior Tribunal de Justiça simplesmente não acolhe a distinção feita doutrinariamente entre responsabilidade por substituição e por transferência. Assim, quando se lê que o sócio responde “por substituição”, não se quer desonerar a sociedade. Simplesmente, querse dizer que o sóciogerente responde em lugar da (em substituição à) sociedade quando esta não adimple os créditos tributários e é caso de aplicação do art. 135, III, do CTN. 67. Na prática, em grande parte dos casos, a Fazenda Pública costuma buscar primeiro o patrimônio da sociedade para só então, em caso de insucesso, pesquisar bens pessoais dos administradores, o que é coerente com um sistema de responsabilidade subsidiária. Essa práxis é abonada pela jurisprudência, batizandose essa operação de “redirecionamento da 1 Teoria Generale del Diritto, Torino, Giappichelli, 1993, p. 234. Fl. 16099DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 27 26 execução fiscal”. Neste, a ação de execução fiscal é ajuizada contra a sociedade e, não havendo satisfação do crédito, incluise o administrador no pólo passivo do processo executivo. Admitese, ainda, que a ação de execução seja diretamente ajuizada contra sociedade e administrador, se o nome deste constar da Certidão da Dívida Ativa. Nessa hipótese, é incongruente afirmar que a responsabilidade do sóciogerente é por substituição, visto que, no mesmo processo, estáse cobrando dele o crédito tributário sem “irresponsabilizar” a sociedade. 68. A análise da jurisprudência do STJ no que tange à responsabilidade derivada da aplicação do art. 135, III, do CTN deve se basear mais nos seus pressupostos e conclusões do que em atenção aos signos “substituição”, “pessoalmente”, “subsidiária” e “solidária” que comumente surgem qualificando a responsabilidade tributária do “sóciogerente” que comete infração à lei. Assim, para se desvendar a natureza da responsabilidade acolhida, devemos partir, antes de tudo, da natureza dos atos que ensejam essa responsabilidade. 69. Como vimos no item anterior, o STJ, quando admite o chamamento do administrador à execução fiscal, parte da idéia de responsabilidade por ato ilícito. É a ilicitude que permite sua responsabilização, ilicitude esta que deve ter sido praticada durante o exercício da gerência. É irrelevante a condição de sócio; não é suficiente a condição de administrador; é necessária a prática de ato ilícito. 70. Pois bem. Se o elemento relevante para a caracterização da responsabilidade tributária do art. 135, III, do CTN fosse a condição de sócio, faria sentido a tese da responsabilidade subsidiária. Deveras, se o terceiro respondesse por ser sócio, seria plenamente razoável que demandasse o esgotamento do patrimônio da sociedade para que só então viesse a ser chamado a pagar o crédito tributário. Como, porém, não responde por ser sócio, mas porque, na condição de administrador, pratica ato ilícito, não faz o menor sentido que seja facultado a ele esquivarse da responsabilidade exigindo que, primeiro, responda a sociedade para, só em caso de sua insolvabilidade, seja a ele imposta a sanção pela ilicitude. 71. A concepção de responsabilidade por ato ilícito exclui o caráter de subsidiariedade da obrigação do infrator. Este deve responder imediatamente por sua infração, independentemente da suficiência do patrimônio da pessoa jurídica. Eis o sentido de estar expresso no caput do art. 135 do CTN que são “pessoalmente responsáveis” os administradores infratores da lei. Dessa forma, deve ser excluída a tese da responsabilidade subsidiária em sentido próprio. 72. Dessa forma, ainda nos casos em que os julgados do STJ mencionam a “responsabilidade subsidiária”, só é razoável interpretálos como referentes à responsabilidade subsidiária em sentido impróprio, tal qual já a conceituamos no início. Vale dizer, nesse caso, estariam os julgadores exigindo, para a responsabilização do administradorinfrator, três requisitos cumulativos: (a) a própria condição de administrador, (b) a prática de ato ilícito e (c) a ausência de pagamento do crédito tributário no prazo da lei ou do regulamento; não se deve exigir, porém, o esgotamento do patrimônio da pessoa jurídica. 73. O afastamento da tese da responsabilidade subsidiária ainda é corroborado por importante precedente da egrégia Primeira Seção. Tratase Fl. 16100DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 28 27 dos Embargos de Divergência 702.232/RS (Rel. Min. Castro Meira, julgado em 14.9.2005 e publicado em 26.9.2005), o qual, apesar de ter por mira a presunção de certeza e liquidez da Certidão da Dívida Ativa, acabou por firmar que, estando o administrador (sóciogerente) nela contemplado, pode ser a execução movida diretamente contra ele, ao lado da pessoa jurídica. Vejamos a ementa: “TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ART. 135 DO CTN. RESPONSABILIDADE DO SÓCIOGERENTE. EXECUÇÃO FUNDADA EM CDA QUE INDICA O NOME DO SÓCIO. REDIRECIONAMENTO. DISTINÇÃO. 1. Iniciada a execução contra a pessoa jurídica e, posteriormente, redirecionada contra o sóciogerente, que não constava da CDA, cabe ao Fisco demonstrar a presença de um dos requisitos do art. 135 do CTN. Se a Fazenda Pública, ao propor a ação, não visualizava qualquer fato capaz de estender a responsabilidade ao sóciogerente e, posteriormente, pretende voltarse também contra o seu patrimônio, deverá demonstrar infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos ou, ainda, dissolução irregular da sociedade. 2. Se a execução foi proposta contra a pessoa jurídica e contra o sóciogerente, a este compete o ônus da prova, já que a CDA goza de presunção relativa de liquidez e certeza, nos termos do art. 204 do CTN c∕c o art. 3º da Lei n.º 6.830/80. 3. Caso a execução tenha sido proposta somente contra a pessoa jurídica e havendo indicação do nome do sóciogerente na CDA como coresponsável tributário, não se trata de típico redirecionamento. Neste caso, o ônus da prova compete igualmente ao sócio, tendo em vista a presunção relativa de liquidez e certeza que milita em favor da Certidão de Dívida Ativa. 4. Na hipótese, a execução foi proposta com base em CDA da qual constava o nome do sóciogerente como coresponsável tributário, do que se conclui caber a ele o ônus de provar a ausência dos requisitos do art. 135 do CTN. 5. Embargos de divergência providos” 74. Transcrevemos o trecho mais importante do voto do Min. Relator: “A questão dos autos (responsabilização tributária do sócio gerente) aponta para três situações de fato distintas: a) execução promovida exclusivamente contra a pessoa jurídica e, posteriormente, redirecionada contra o sóciogerente, cujo nome não constava da CDA; b) execução inicialmente proposta contra a pessoa jurídica e o sóciogerente e c) execução promovida exclusivamente contra a pessoa jurídica, embora do título executivo constasse o nome do sóciogerente como coresponsável. Fl. 16101DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 29 28 Cada uma dessas hipóteses implica solução jurídica diferenciada. No primeiro caso, correta a orientação adotada pela Primeira Turma. Iniciada a execução contra a pessoa jurídica e, posteriormente, redirecionada contra o sóciogerente, que não constava da CDA, cabe ao Fisco demonstrar a presença de um dos requisitos do art. 135 do CTN. Se da CDA consta apenas a pessoa jurídica como responsável tributária, decorre que a Fazenda Pública, ao propor a ação, não visualizava qualquer fato capaz de estender a responsabilidade também ao sóciogerente. Se, posteriormente, pretende voltarse também contra o patrimônio do sócio, deverá demonstrar a infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos ou, ainda, dissolução irregular da sociedade. Nesse sentido, há precedentes de ambas as Turmas: (...) Na segunda hipótese, encontrase correta a tese esposada pela Segunda Turma. Se a execução foi proposta contra a pessoa jurídica e contra o sóciogerente, a questão resolvese com a inteligência do art. 204 do CTN c/c o art. 3º da Lei n.º 6.830∕80, segundo os quais a Certidão de Dívida Ativa goza de presunção relativa de liquidez e certeza (admite prova em contrário, a cargo do responsável), tendo o efeito de prova pré constituída. Proposta a execução, simultaneamente, contra a pessoa jurídica e o sóciogerente, haverá inversão do ônus da prova, cabendo a este último demonstrar que não se faz presente qualquer das hipóteses autorizativas do art. 135 do CTN. Nesta senda, também não há discordância entre as Turmas: (...) Como se vê, as duas teses são perfeitamente conciliáveis, adotandose uma ou outra a depender da situação fática subjacente à lide. A terceira situação não difere substancialmente das duas anteriores. Se da CDA consta o nome do sóciogerente, mas a execução é proposta somente contra a pessoa jurídica, é de se reconhecer que o ônus da prova compete igualmente ao sócio, tendo em vista a presunção relativa de liquidez e certeza que milita em favor da Certidão de Dívida Ativa. Em conclusão: no caso em que a CDA já indica a figura do sócio gerente como coresponsável tributário, tendo sido a ação proposta somente contra a pessoa jurídica ou também contra o sócio, há presunção relativa de liquidez e certeza do título que embasa a execução, cabendo o ônus da prova ao sócio. Na hipótese típica de redirecionamento, há presunção também relativa de que não estavam presentes, na propositura da ação, os requisitos necessários à constrição patrimonial do sócio. Nessa circunstância, invertese o ônus da prova, que passará à Fazenda Pública exeqüente” (grifo nosso). Fl. 16102DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 30 29 75. De acordo com o voto do Min. Relator, há três situações admissíveis: i) o nome do administrador não está na CDA e a execução é ajuizada contra a pessoa jurídica: tratase de redirecionamento em sentido estrito; ii) o nome do administrador está na CDA, mas a execução é ajuizada somente contra a pessoa jurídica: tratase de redirecionamento em sentido impróprio, pois o responsável já consta do título executivo; iii) o nome do administrador está na CDA e a execução é ajuizada diretamente contra o sócio, ao lado da pessoa jurídica: não se trata de redirecionamento. 76. Para efeito de análise da responsabilidade derivada do art. 135, III, do CTN, é útil analisar a hipótese iii, em que se admite o ajuizamento da execução fiscal diretamente contra o administrador (sóciogerente), o que denota a existência, desde o início, de pretensão do Fisco diretamente contra ele, em momento em que ainda não se procurou esgotar os bens do patrimônio da pessoa jurídica. 77. Devese notar que a admissão do responsável, desde o início, no pólo passivo do processo de execução não se resume à questão de legitimidade. Se se estivesse diante de processo de conhecimento, poderseia estar diante de mera análise de legitimidade, pois uma pessoa pode participar desse tipo de processo ainda que não haja pretensão de direito material contra si, havendo o autor, mesmo no caso de improcedência, exercido seu direito de ação. 78. No processo de execução, as coisas se passam distintamente. Neste, não se admite o processamento da ação se o juízo não estiver convencido da existência da pretensão e da ação de direito material. É que a exigibilidade do crédito (ou, impropriamente, do “título executivo”) é pressuposto do processo de execução. É o que nos ensinam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart: “O título executivo, judicial ou extrajudicial, deve conter obrigação certa, líquida e exigível. É o que prescreve claramente o art. 586 do CPC, em relação à execução de títulos extrajudiciais, e também o que decorre da leitura do contido nos arts. 475I, § 2º, e 475J do CPC. Tais características eram comumente associadas ao título executivo, mas na verdade – como agora fazem questão de esclarecer as novas redações dos arts. 580 e 586 (introduzidas pela Lei 11.382/2006) – são atributos da obrigação a ser executada. Ou seja, é a obrigação que deve ser certa, líquida e exigível e não propriamente o título” 2 (grifo nosso). 79. Dessa forma, se o STJ admite que, estando presumida a responsabilidade do sóciogerente (mencionado na CDA), é possível que a execução seja ajuizada diretamente contra ele, está também admitindo que, nessa hipótese, a Fazenda Pública tem, desde o início, pretensão plenamente exigível contra esse administrador, pois não é possível impor a execução a alguém contra quem não se tem obrigação exigível. Ora, se a 2 Curso de Processo Civil – Execução, v. 3, São Paulo, RT, 2007, p. 119. Fl. 16103DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 31 30 obrigação contra o responsável é desde já exigível, não dependendo de condição futura (como, p. ex., o esgotamento da busca do patrimônio da pessoa jurídica), é insustentável defender que essa responsabilidade seja subsidiária em sentido próprio. 80. Notese bem a diferença: (a) no processo de conhecimento, o juiz pode permitir que figure no pólo passivo da demanda pessoa contra quem não tenha o autor ainda crédito exigível (por exemplo, obrigação com condição ou termo); (b) no processo de execução, o juiz não pode permitir que figure no pólo passivo da demanda pessoa contra quem não tenha o autor crédito exigível. Logo, se a jurisprudência permite que a execução seja proposta contra o terceiro – responsável –, está, conseqüentemente, admitindo que tem este obrigação exigível para com a Fazenda Pública. 81. No processo de execução, o juiz, para admitir o processamento da ação, parte do direito material já atestado. Como diz Paulo Cesar Conrado: “(...) i) se, por meio do primeiro (processo de conhecimento), o Estadojuiz ‘diz o direito material tributário’ (partindo dos fatos sociais que foram reconstruídos, no processo, por meio da linguagem das provas), ii) no processo de execução, o Estadojuiz parte do ‘direito material tributário já dito’, reconhecendo que a obrigação (tributário ou sua anversa) já se encontra ‘dita’ (...)” 3. A citação encaixase perfeitamente em nosso caso. Se o STJ admite a execução contra o administrador, diretamente e não por mero redirecionamento, é porque reconhece, por pressuposto, a exigibilidade da obrigação do responsável, o qual, nesse caso, não responde por mera subsidiariedade. Do contrário, estarseia admitindo “denunciação da lide realizada pelo autor em processo de execução”, o que é inadmissível, ao menos no Brasil 4. 82. Não existe ação de execução sem a presença de pretensão a uma prestação exigível. O processamento dessa ação depende da existência de pretensão a ser exercida. Assim, no processo executório, diferentemente do processo cognitivo, é válida a afirmação de F.C. Pontes de Miranda no sentido de que “se se exerce a ação, exercese a pretensão de que faz parte" 5. Destarte, podemos assegurar que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ao admitir o ajuizamento da execução fiscal diretamente contra o sóciogerente, ao lado da sociedade, está por admitir também que a pretensão contra este é desde já exigível, podendo o Fisco ingressar em seu patrimônio sem que seja necessário esgotar a busca de bens da empresa. Assim, devese excluir tanto a tese da responsabilidade subsidiária (em sentido próprio) do administrador quanto a tese da responsabilidade subsidiária da pessoa jurídica. 83. Por força do mesmo julgado (EREsp 702.232/RS), absolutamente seguido pelas Turmas que compõem a Primeira Seção daquela colenda Corte Superior, que admite que figurem como réus da execução tanto o administrador quanto a pessoa jurídica, não é possível acolher a tese da responsabilidade por substituição. Ora, se o administrador responde ao lado da pessoa jurídica, obviamente, sua responsabilidade não é exclusiva, não devendo ser desonerada a sociedade empresária. 3 Tutela Jurisdicional Diferenciada (Cautelar e Satisfativa) em Matéria Tributária, in Processo Tributário Analítico, São Paulo, Dialética, 2003, p. 130. 4 A observação é do Dr. João Batista de Figueiredo, Procurador da Fazenda Nacional atuante perante o Superior Tribunal de Justiça, exresponsável pelo acompanhamento especial da PGFN naquela Corte. 5 Tratado de Direito Privado, t. VI, 1ª ed., Campinas, Bookseller, 2000, p. 105. Fl. 16104DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 32 31 84. Realmente, preocupandose o Direito Tributário com o fato econômico da circulação de riqueza, se a pessoa jurídica promove esse fato econômico, surge para si a obrigação tributária, independentemente de haver ilicitude ou não por parte dos administradores. Não há o menor sentido em “desonerar” dos respectivos tributos a pessoa jurídica que “auferiu faturamento”, “vendeu mercadorias”, “prestou serviços”. Portanto, deve ser excluída a tese da responsabilidade tributária exclusiva, por substituição propriamente dita. 85. Por tudo isso, cremos que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sustenta, em substância, a tese da responsabilidade solidária. Essa conclusão é confirmada por precedente em que a própria Fazenda Pública saiu derrotada. Tratase do REsp 717.717/SP, em que a Primeira Seção do STJ, apesar de ter acatado tese desfavorável ao INSS, negando validade à interpretação do art. 13 da Lei 8.620/93 que permitia a responsabilização de sócios sem poderes de gerência, arrimouse no art. 1.016 do atual Código Civil, que determina a responsabilidade solidária dos administradores perante terceiros (inclusive o Fisco). A idéia principal desse acórdão é que, ainda em relação às contribuições para a Seguridade Social, os sócios gerentes somente são “solidariamente” responsáveis quando cometerem um dos atos do art. 135 do CTN. Ora, assim, presumiuse que a responsabilidade do art. 135 é solidária. 86. De fato, representando as normas de responsabilidade tributária “garantia” especial ao crédito tributário, não faz sentido algum interpretar o Código Tributário Nacional de modo a dotar essa espécie de crédito de menor garantia que os créditos comuns da empresa para com terceiros. Assim, se, por força do Código Civil, respondem os administradores solidariamente com a pessoa jurídica pelos atos ilícitos que cometerem, não é possível aceitar que, se o ato ilícito for cometido contra a Administração Tributária, a responsabilidade desse administrador fique condicionado à ausência de bens da sociedade, bem como não é correto defender que a pessoa jurídica fique desonerada 6. 87. A tese da responsabilidade subsidiária – em sentido próprio – peca por ler implícito no art. 135 do CTN a condição de “impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte” (pessoa jurídica), condição esta que só está expressa no art. 134 do CTN, que, de fato, instituiu responsabilidade subsidiária para as pessoas ali descritas. Demais disso, se a responsabilidade do art. 135 do CTN também fosse subsidiária, perderia sentido o inciso I desse mesmo art. 135. Qual é o sentido de responsabilizar subsidiariamente, pela prática de ato ilícito, quem já é responsável subsidiário? O único sentido possível do inciso I do art. 135 do CTN é o seguinte: os responsáveis subsidiários do art. 134, caso pratiquem ilicitude, passam a ter responsabilidade solidária, respondendo juntamente com a pessoa jurídica independentemente de haver “impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal” por parte desta; nesse caso, a responsabilidade subsidiária cede para a responsabilidade solidária, que é mais rigorosa. 6 A menção ao regramento do Código Civil, que também impõe a responsabilidade solidária dos administradores que infringirem a lei, é feita com maestria pelo eminente Procurador da Fazenda Nacional Dr. Marcus Abraham, em artigo científico ainda pendente de publicação. Também faz referência à responsabilidade solidária dos sócios gerentes, em decorrência do Código Civil, José Eduardo SOARES E MELO: Curso de Direito Tributário, 4ª ed., São Paulo, Dialética, 2005, p. 211. Fl. 16105DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 33 32 88. Por sua vez, a tese da responsabilidade por substituição, pessoal e exclusiva, peca por prever implícito no art. 135 do CTN a desoneração da pessoa jurídica contribuinte, coisa que não está dita nem insinuada nesse dispositivo legal. A desoneração do contribuinte não pode ocorrer por obra de mera interpretação extensiva; demanda, rigorosamente, norma expressa de desoneração. Logo, não havendo qualquer preceito que afaste o dever da pessoa jurídica de pagar o crédito tributário, continua ela com este dever, sem óbice para a exigência de pagamento também do terceiro responsável. 89. Em verdade, a responsabilidade tributária imposta ao administrador em decorrência da prática de ato ilícito é, no que tange ao nascimento, à natureza e à cobrança, autônoma da responsabilidade (em sentido amplo) da pessoa jurídica contribuinte pelo pagamento do crédito tributário. O dever desta decorre de ato lícito: o fato jurídico tributário propriamente dito (evento econômico – produção, circulação ou detenção de riqueza). Já a responsabilidade daquele decorre de ato ilícito: a “infração de lei” prevista no caput do art. 135 do CTN. A hipótese normativa de nascimento duma obrigação é fato lícito; a doutra, fato ilícito. Em substância, as naturezas de ambas as obrigações são distintas. A obrigação do responsável é tributária tãosó mediatamente, pois a norma que a impõe remete seu prescritor à obrigação tributária stricto sensu. Em suma, tratase de obrigações distintas, autônomas (nesses termos), atadas entre si simplesmente pelo nexo de adimplemento: o pagamento duma extingue a outra. 90. Assim, surgindo a responsabilidade do administradorinfrator, não temos uma obrigação solidária propriamente dita, senão obrigações solidárias. Explicamos. Não temos uma obrigação unitária com pluralidade de sujeitos passivos na relação jurídica. Temos, isto sim, duas ou mais obrigações, ligadas pelo vínculo da solidariedade. É o que a doutrina antiga chamava de solidariedade imprópria. 91. J.M. de Carvalho Santos7, citando a lição de Windscheid baseada no direito romano, diferenciava a solidariedade perfeita da solidariedade imperfeita. Na primeira, haveria unidade de obrigação e pluralidade de sujeitos. Na última, haveria pluralidade de obrigações e unidade de execução. Essa distinção também foi mencionada por Paulo de Lacerda8. F.C. Pontes de Miranda9, por sua vez, assim explica os conceitos de que estamos tratando: “Entre diferentes créditos do mesmo credor contra diferentes devedores, pode darse que um se libere se o outro solve a dívida. A causa seria a mesma, na solidariedade: na solidariedade imperfeita, há duas ou mais, conforme o número de devedores. Podese dizer que a solidariedade dita imperfeita não é solidariedade? Não. O que não se confunde com a solidariedade é a concorrência de pretensões sem solidariedade”. 92. A utilidade do conceito de solidariedade imperfeita para a análise da responsabilidade do terceiro infrator está em observar que sua obrigação não se confunde com a obrigação do contribuinte. As referidas obrigações 7 Código Civil Brasileiro Interpretado, v. 11, 12ª ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1984, pp. 1789. 8 Manual do Código Civil Brasileiro – Direito das Obrigações, v. 10, Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, 1928, p. 225. 9 Tratado de Direito Privado, t. XXII, 1ª ed., Campinas, Bookseller, 2000, p. 402. Fl. 16106DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 34 33 nascem em momentos distintos, têm natureza distinta uma da outra e podem ser declaradas pela autoridade competente em momentos distintos; nesse sentido, são autônomas. Sem embargo disso, há entre elas nexo de adimplemento, de modo que o pagamento duma obrigação extingue a outra, por isso podemos dizer que são obrigações solidárias (solidariedade imperfeita). Além disso, a responsabilidade em sentido estrito (do administrador que incorre no art. 135 do CTN) é subordinada à obrigação tributária do contribuinte, no sentido de que sua existência, validade e eficácia dependem de ser existente, válida e eficaz esta última. Isso demonstra que estamos diante de relação jurídica de garantia. Nesse sentido, a obrigação do responsável é subordinada (à existência, validade e eficácia da obrigação do contribuinte). 93. Enfim, tomando por base a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, cremos que devam ser descartadas as teses da responsabilidade substitutiva e subsidiária (em sentido próprio) do administrador que comete ato ilícito e incorre no art. 135 do CTN. Assim, quando se lê nos julgados a menção de que respondem os “sóciosgerentes” “por substituição”, devese entender aí meramente a referência à responsabilidade em sentido amplo, em que o responsável responde “em lugar” do contribuinte. Por sua vez, nas ementas em que se observa a expressão “responsabilidade subsidiária”, somente podemos aí tomar a responsabilidade subsidiária em sentido impróprio, a qual exige, além da condição de administrador e da prática de ato ilícito, a ausência pagamento pontual do tributo (a antiga “insolvência comercial”), e não a insolvabilidade do contribuinte (pessoa jurídica). A responsabilidade subsidiária em sentido impróprio confundese, em seus efeitos práticos, com a responsabilidade solidária. 94. Assim, em conclusão, restando somente as teses da responsabilidade subsidiária em sentido impróprio e a da responsabilidade solidária, pensamos ser mais adequada a adoção desta última, seja em razão dos fundamentos encontrados nos mais diversos julgados do Superior Tribunal de Justiça, seja em razão da interpretação sistemática da ordenação tributária. Logo, o terceiro que (a) for administrador e (b) cometer o ato ilícito no exercício da gerência da empresa responde solidariamente com a pessoa jurídica pelo pagamento do crédito tributário, sendo sua responsabilidade (do administradorinfrator) autônoma da obrigação do contribuinte quanto ao nascimento, à natureza e à cobrança, mas subordinada quanto à existência, validade e eficácia. Demais disso, as responsabilidades de cada responsável são autônomas entre si, quanto à existência, validade e eficácia, sendo atadas tãosomente pelo nexo de adimplemento. 95. Por fim, ressalvamos que o art. 135, III, do CTN pode ser aplicado para responsabilizar não só o administrador de direito, mas também o administrador de fato da empresa. Assim, ainda que o estatuto ou contrato social não confira poderes a um dos sócios para praticar atos de gerência, se este é o administrador de fato da pessoa jurídica, deve ser igualmente responsabilizado pela prática de atos ilícitos. [...] De acordo com o referido parecer, "a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ao admitir o ajuizamento da execução fiscal diretamente contra o sóciogerente, ao lado da sociedade, está por admitir também que a pretensão contra este é desde já exigível, Fl. 16107DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 35 34 podendo o Fisco ingressar em seu patrimônio sem que seja necessário esgotar a busca de bens da empresa. Assim, devese excluir tanto a tese da responsabilidade subsidiária (em sentido próprio) do administrador quanto a tese da responsabilidade subsidiária da pessoa jurídica." "Por força do mesmo julgado (EREsp 702.232/RS), absolutamente seguido pelas Turmas que compõem a Primeira Seção daquela colenda Corte Superior, que admite que figurem como réus da execução tanto o administrador quanto a pessoa jurídica, não é possível acolher a tese da responsabilidade por substituição. Ora, se o administrador responde ao lado da pessoa jurídica, obviamente, sua responsabilidade não é exclusiva, não devendo ser desonerada a sociedade empresária." O Direito Tributário se preocupa com o fato econômico da circulação de riqueza, e "se a pessoa jurídica promove esse fato econômico, surge para si a obrigação tributária, independentemente de haver ilicitude ou não por parte dos administradores. Não há o menor sentido em 'desonerar' dos respectivos tributos a pessoa jurídica que 'auferiu faturamento', 'vendeu mercadorias', 'prestou serviços'. Portanto, deve ser excluída a tese da responsabilidade tributária exclusiva, por substituição propriamente dita." Se as normas de responsabilidade tributária representam "garantia" especial do crédito tributário, "não faz sentido algum interpretar o Código Tributário Nacional de modo a dotar essa espécie de crédito de menor garantia que os créditos comuns da empresa para com terceiros. Assim, se, por força do Código Civil, respondem os administradores solidariamente com a pessoa jurídica pelos atos ilícitos que cometerem, não é possível aceitar que, se o ato ilícito for cometido contra a Administração Tributária, a responsabilidade desse administrador fique condicionado à ausência de bens da sociedade, bem como não é correto defender que a pessoa jurídica fique desonerada." "A tese da responsabilidade por substituição, pessoal e exclusiva, peca por prever implícito no art. 135 do CTN a desoneração da pessoa jurídica contribuinte, coisa que não está dita nem insinuada nesse dispositivo legal. A desoneração do contribuinte não pode ocorrer por obra de mera interpretação extensiva; demanda, rigorosamente, norma expressa de desoneração. Logo, não havendo qualquer preceito que afaste o dever da pessoa jurídica de pagar o crédito tributário, continua ela com este dever, sem óbice para a exigência de pagamento também do terceiro responsável." "Logo, o terceiro que (a) for administrador e (b) cometer o ato ilícito no exercício da gerência da empresa responde solidariamente com a pessoa jurídica pelo pagamento do crédito tributário, sendo sua responsabilidade (do administradorinfrator) autônoma da obrigação do contribuinte quanto ao nascimento, à natureza e à cobrança, mas subordinada quanto à existência, validade e eficácia. Demais disso, as responsabilidades de cada responsável são autônomas entre si, quanto à existência, validade e eficácia, sendo atadas tãosomente pelo nexo de adimplemento." Realmente, a responsabilidade tributária prevista no art. 135 do CTN está caracterizada pelo vínculo de solidariedade existente entre os administradores que cometeram ato ilícito no exercício da gerência da empresa e a pessoa jurídica. Não foi correta a decisão contida no acórdão paradigma, que, mesmo tendo reconhecido a hipótese de conduta dolosa e mantido a multa qualificada de 150%, afastou a responsabilidade tributária prevista no art. 135 do CTN, com o entendimento de que a responsabilidade dos diretores e gerentes é exclusiva; de que o Fisco não pode autuar Fl. 16108DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 36 35 conjuntamente a pessoa jurídica e seus administradores; e que, isso ocorrendo, deve prevalecer apenas o lançamento contra a pessoa jurídica (que foi o que se deu no caso paradigma). Se é perfeitamente possível promover a execução fiscal conjuntamente contra a pessoa jurídica e seus administradores, por óbvio que também é perfeitamente possível realizar o lançamento contra a pessoa jurídica (contribuinte) e contra os seus administradores (responsáveis tributários). No contexto do art. 135 do CTN, a responsabilidade do administrador é solidária, seja com a pessoa jurídica, seja com eventuais outros administradores que possam ter participado dos mesmos atos/condutas que ensejaram a responsabilização. Desse modo, voto no sentido de NEGAR provimento ao recurso especial de Mário Kenji Iriê, para fins de manter sua condição de responsável pelos créditos tributários constituídos contra a empresa MKJ Importação e Comércio Ltda. 2ª DIVERGÊNCIA A segunda divergência a ser examinada diz respeito à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa, quando já houve a glosa dos custos/despesas. É preciso fazer uma observação em relação ao exame de admissibilidade do recurso especial para o IR/Fonte. Já foi relatado que no mesmo item "2" do recurso (na verdade item III.2), que trata do IR/Fonte sobre pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa, quando já houve a glosa dos custos/despesas, o recorrente também suscitou divergência em relação à falta de comprovação dos pagamentos que ensejaram essa tributação; e que o recurso especial sobre esse ponto não foi admitido no despacho de exame de admissibilidade, por falta de prequestionamento. O problema é que o despacho de reexame de admissibilidade se ateve aos títulos dos itens do recurso, e não se deu conta de que o item "2" (na verdade, item III.2 do resp) tratava de duas matérias relativas ao IR/FONTE, que foram analisadas separadamente no despacho de exame, com seguimento do recurso para a primeira, e negativa de seguimento do recurso para a segunda matéria. Nestes termos, a impressão que se tem é que o despacho de reexame, embora tenha dito que mantinha na íntegra o despacho de exame, acabou admitindo integralmente o item "2" do recurso, uma vez que não fez qualquer menção à matéria desse item que teve seu seguimento negado (falta de comprovação dos pagamentos). Entretanto, conforme já explicitado no despacho de exame de admissibilidade exarado pela Presidente da 3ª Câmara da 1ª Seção do CARF, o recurso especial em relação à referida matéria não deve mesmo ser conhecido, por falta de prequestionamento. Com efeito, na fase anterior do processo (recurso voluntário), o recorrente suscitou várias questões sobre o IR/Fonte, mas nenhuma delas tratava da falta de comprovação dos pagamentos. Fl. 16109DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 37 36 O recorrente sustentou a "Ausência de Previsão Legal para Incidência do IR/Fonte" (recurso voluntário, item III.3), alegando que não foi a MKJ que procedeu a tais pagamentos, e que, portanto, ela não teria legitimidade para compor o pólo passivo nessa autuação; que os fatos imputados como ilícitos (pagamentos sem causa) não foram praticados pela MKJ, mas, sim, diretamente pela pessoa física que a administrava naquela oportunidade, o Sr. Elizeu Machado de Lima. O recorrente também sustentou a "Impossibilidade da Exigência do IR/Fonte sobre Pagamentos Sem Causa Quando já Houve a Glosa das Despesas" (recurso voluntário, item III. 7), onde alegou que estaria havendo dupla tributação sobre os mesmos fatos (IRPJ/CSLL e IR/Fonte), matéria que foi novamente trazida no recurso especial, e admitida. Há também um tópico que tratou do "Reajustamento da Base de Cálculo do IR/Fonte — Ofensa aos Princípios da Razoabilidade, Proporcionalidade e da Vedação de Utilização de Tributo com Efeito de Confisco" (recurso voluntário, item III.9), e ainda um outro intitulado "Tributo não é Sanção a Ato Ilícito — Ofensa ao Artigo 3° do Código Tributário Nacional" (recurso voluntário, item III.10). A abordagem do IR/Fonte na fase processual anterior foi feita no contexto dos temas acima descritos. Em nenhum momento o recorrente alegou que inexistia comprovação dos pagamentos. Ao contrário disso, ele sempre procurou demonstrar que os pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa (que ensejaram a tributação pelo IR/Fonte) foram realizados pela pessoa que administrava a MKJ naquela oportunidade, o Sr. Elizeu Machado de Lima. Aliás, como bem observou o despacho de exame de admissibilidade, o acórdão recorrido, logo de início, fez constar expressamente que "a efetivação dos pagamentos, fato autorizador da aplicação da presunção prevista no art. 61 da Lei nº 8.981, de 1995, constitui matéria incontroversa nos presentes autos", uma vez que no curso do procedimento fiscal a informação prestada à fiscalização foi de que "os pagamentos objeto das questões constantes do TI eram feitos exclusivamente pelo então administrador da empresa, Sr. Elizeu Machado de Lima, que geria o caixa da empresa". Desse modo, não cabe mesmo conhecer do recurso especial quanto à segunda divergência suscitada no item que trata do IR/Fonte (item III.2 do resp), relativamente à falta de comprovação dos pagamentos que ensejaram a incidência desse tributo, uma vez que a matéria realmente não foi prequestionada. Já a primeira divergência apontada nesse mesmo item, referente à impossibilidade de exigência do IR/Fonte sobre pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa, quando já houve a exigência de IRPJ/CSLL por glosa de custos/despesas, deve ser conhecida, pelas razões contidas no despacho de exame de admissibilidade. Em síntese, o recorrente alega que não se pode admitir lançamento de IR/Fonte concomitante à exigência do IRPJ/CSLL por glosa de despesas; que o artigo 61 da Lei n° 8.981/95 não contempla a hipótese de exigência do imposto sobre pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa que, ao mesmo tempo, configuram redução indevida do resultado da pessoa jurídica. Fl. 16110DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 38 37 Entretanto, os fundamentos do acórdão recorrido sustentam um entendimento que dá a melhor solução à questão suscitada: [...] Equivocase o Recorrente quando sustenta não ser possível a exigência do imposto de renda retido na fonte concomitantemente com a glosa da despesa (ou do custo). Com efeito, as infrações são de naturezas absolutamente distintas, motivo pelo qual geram conseqüências tributárias da mesma forma distintas (“uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”). A glosa de despesa/custo, no caso vertente, tomou por base a constatação de inserção de documentos inidôneos para servir de suporte para os dispêndios realizados. Se, por outro lado, inexiste controvérsia acerca da efetivação dos pagamentos, e, em relação a estes, o contribuinte não faz prova de quem foram os verdadeiros beneficiários dos recursos, é perfeitamente cabível a aplicação da presunção estampada no art. 61 da Lei nº 8.981, de 1995. Incorre em equívoco novamente o Recorrente ao afirmar que a consideração de que houve pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado significa dizer que os valores referentes a esses pagamentos não transitaram pela contabilidade. A ausência de contabilização de pagamentos autoriza a aplicação de presunção de omissão receitas, nos exatos termos do disposto no art. 40 da Lei nº 9. 430, de 1996, não guardando qualquer relação com a prevista no citado art. 61 da Lei nº 8.981, de 1995. O pressuposto, no caso, é que, não havendo a identificação do beneficiário dos pagamentos ou não sendo justificada a causa da sua realização, estamos diante de renda que deveria ser submetida à tributação, estabelecendo a lei que, em tais circunstâncias, a incidência se dará naquele que efetuou os referidos pagamentos, devendo, inclusive, ser reajustada a base para fins de tributação, eis que se considera que o valor do pagamento representa o montante líquido recebido pelo beneficiário. Os demais argumentos, quais sejam, desconformidade do art. 61 da Lei nº 8.981, de 1995, com o art. 43 do Código Tributário Nacional; ofensa aos princípios da razoabilidade, proporcionalidade e da vedação de utilização de tributo com efeito de confisco, face ao reajustamento da base de cálculo na determinação do imposto; e ofensa ao conceito de tributo em virtude da natureza sancionatória da norma prevista no referido art. 61, cabe, apenas, esclarecer que, nos termos da súmula CARF nº 2, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. As bases jurídicas para a incidência do IRPJ/Lucro Real e do IR/Fonte sobre pagamento a beneficiário não identificado ou sem causa são completamente distintas. Não há que se falar que essas incidências tributárias se dão sobre uma mesma base, sobre uma mesma materialidade, que há alguma cumulatividade de incidências, etc. Fl. 16111DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 39 38 No IRPJ, a empresa está na condição de contribuinte, e responde por fato gerador por ela mesma praticado. A renda é dela. Já no caso do IR/Fonte, a renda é do beneficiário do pagamento. A empresa, que é a fonte pagadora, apenas se torna "responsável" pelo recolhimento do imposto que seria devido por outrem. Ela não está na condição de contribuinte, mas precisamente na condição de responsável, conforme previsto no art. 121, II, do Código Tributário Nacional. O fato é que diante da onerosidade das relações que uma empresa trava com terceiros, como regra, e da impossibilidade de se buscar o imposto devido por aquele que recebeu o pagamento, por não identificado ou por falta de comprovação da causa da operação, a permitir a incidência tributária, a lei institui essa modalidade de tributação por IR exclusivo na fonte. A questão deve ser colocada nos seguintes termos: (1) não é qualquer dispêndio da empresa que pode figurar como despesa dedutível. Um pagamento feito a beneficiário não identificado ou sem causa comprovada não pode amparar uma despesa que irá reduzir o lucro real da empresa. É isso que justifica a glosa da despesa quando se está apurando o IRPJ pelo lucro real; e (2) o fato desse dispêndio (pagamento feito a beneficiário não identificado ou cuja causa não seja comprovada) não configurar despesa dedutível no lucro real da empresa (fonte pagadora) em nada interfere no acréscimo patrimonial auferido por aquele que foi beneficiário do pagamento, cuja renda deve ser tributada. Por essas razões, cabe rejeitar a alegação do recorrente, endossada pelos paradigmas, no sentido de que haveria uma incompatibilidade intrínseca entre o regime do lucro real e o lançamento de IR/Fonte sobre pagamento a beneficiário não identificado e/ou sem comprovação da operação ou de sua causa. Correto, portanto, o posicionamento adotado pelo acórdão recorrido. Desse modo, voto no sentido de também NEGAR provimento ao recurso especial de Mário Kenji Iriê, relativamente à "exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas". Em resumo, CONHEÇO do recurso especial de Mário Kenji Iriê em relação às divergências quanto à responsabilidade tributária que lhe foi imputada e quanto à "exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas, e lhe NEGO provimento no mérito. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Fl. 16112DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 40 39 Declaração de voto Conselheiro Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa. Apesar do brilhante voto do Conselheiro Relator, peço permissão para discordar do seu entendimento em relação à exigência do IR/Fonte sobre pagamentos a beneficiários não identificados ou sem causa, quando já houve a glosa dos custos/despesas, devidamente tributadas pelo IRPJ e CSLL. No meu entendimento, quando existir Glosa de Custos e Despesas na apuração do IRPJ e CSLL por notas fiscais inidôneas, mostrase contraditória a tributação do Imposto de Renda em virtude de pagamentos sem causa, pois o registro contábil de despesa amparado em nota fiscal inidônea não autoriza, por si só, além da exigência do IRPJ e da CSLL (em face da glosa da despesa inexistente ou não comprovada), a cobrança do IRRF por pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado. A aplicação do art. 61, da Lei nº 8.981, de 1.995, está reservada para aquelas situações em que o fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado, desde que a mesma hipótese não enseje tributação por glosa de custos e despesas, como foi o caso concreto, onde houve a incidência do IRPJ e CSLL. Com a edição da Lei nº 9.249/96, surge clara a opção do legislador pela adoção da tributação segredada, ou seja, se o rendimento foi tributado na pessoa jurídica não será mais tributado, não só na pessoa física como em outra pessoa jurídica, eventual e presumidamente beneficiárias. Nesse novo quadro, temos o desaparecimento do art. 44, que tinha por fim tributar as situações em que, por presunção de que a receita omitida e/ou a redução do lucro líquido era distribuída a sócios que, repetindo, não comportavam a utilização do art. 61, da Lei nº 8.981/95. Em outras palavras, significa dizer que o art. 61, da Lei nº 8.981/95, evidentemente, não pode ser aplicado às situações que anteriormente eram acobertadas pelo art. 44, da Lei nº 8.541/95. Em sendo assim, a aplicação do art. 61 está reservada para aquelas situações em que o fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado e, o que é mais importante, desde que o mesmo fato/valor que serve de base, não caracterize hipótese de redução do lucro líquido, quer por receita omitida, quer por glosa de custos e/ou despesas, situações tipicamente submetidas ao IRPJ segundo as normas pertinentes à tributação pelo lucro real ou presumido. Dispunha o art. 44 da Lei nº 8.541/92, na redação que lhe foi dada pelo art. 3º da Medida Provisória nº 492/94, convertida na Lei nº 9.064/95: “Art. 44 A receita omitida ou a diferença verificada na determinação dos resultados das pessoas jurídicas por qualquer procedimento que implique redução indevida do lucro líquido será considerada automaticamente recebida pelos sócios, acionistas ou titular da empresa individual e tributada exclusivamente na fonte à alíquota de 25%, sem prejuízo da incidência do imposto sobre a renda da pessoa jurídica. Fl. 16113DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 41 40 § 1º O fato gerador do imposto de renda na fonte considerase ocorrido no dia da omissão ou da redução indevida. § 2º O disposto neste artigo não se aplica a deduções indevidas que, por sua natureza, não autorizem presunção de transferência de recursos do patrimônio da pessoa jurídica para o dos seus sócios.” Por outro lado, temos o preceito legal trazido no enquadramento legal do Auto de Infração, em relação ao imposto de renda retido na fonte, mais precisamente o art. 61 da lei nº 8.981/95: “Art. 61. Fica sujeito à incidência do imposto de renda exclusivamente na fonte, à alíquota de 35%, todo pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado, ressalvado o disposto em normas especiais. § 1º A incidência prevista no caput aplicase, também, aos pagamentos efetuados ou aos recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, quando não for comprovada a operação ou a sua causa, bem como à hipótese de que trata o § 2º, do art. 74, da Lei nº 8.383, de 1991. § 2º Considerase vencido o imposto de renda na fonte no dia do pagamento da referida importância. § 3º O rendimento de que trata este artigo será considerado líquido, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto sobre o qual recairá o imposto.” Da leitura desses dispositivos, há de se concluir que o art. 61 da Lei nº 8.981/95 não convivia com o art. 44 da Lei nº. 8.541/92, significando dizer que, quando, ainda que por presunção, o rendimento era distribuído aos sócios tinha aplicação o art. 44, nunca o art. 61. Confirmando essa afirmação, temos a disposição expressa no art. 62 da mesma Lei nº 8.981/95, nos seguintes termos: Art. 62 A partir de 1º de janeiro de 1995, a alíquota do imposto de renda na fonte de que trata o art. 44, da Lei nº 8.541, de 1992, será de 35%. Fl. 16114DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 42 41 Houve, portanto, uma clara distinção, ou seja, o art. 61 também comportava uma presunção de distribuição de recursos a sócios, desde que não pela via da omissão de receitas, mas sempre pela subtração de resultados ainda não tributados, mesmo porque não faria sentido algum tributar a presunção da distribuição na omissão de receita a 25% e a presunção de distribuição por outros meios a 35%. Ficava, então, o art. 61, reservado para aquelas situações em que o fisco provava a existência de um pagamento, cujo beneficiário ou causa não restasse comprovada. Vamos, agora, ao que ficou estabelecido após a edição do art. 24 da Lei nº 9.249/96, que revogou o art. 44 da Lei nº 8.541/92. Art. 24 Verificada a omissão de receita, a autoridade tributária determinará o valor do imposto e do adicional a serem lançados de acordo com o regime de tributação a que estiver submetida à pessoa jurídica no períodobase a que corresponder a omissão. § 1º No caso de pessoa jurídica com atividades diversificadas tributadas com base no lucro presumido ou arbitrado, não sendo possível a identificação da atividade a que se refere à receita omitida, esta será adicionada àquela a que corresponder o percentual mais elevado. § 2º O valor da receita omitida será considerado na determinação da base de cálculo para o lançamento da contribuição social sobre o lucro líquido, da contribuição para a seguridade social COFINS e da contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS/PASEP. (...) Art. 36 Ficam revogadas as disposições em contrário, especialmente”: (...). IV os art. 43 e 44 da Lei nº. 8.541, de 23 de dezembro de 1992; (...)”. Portanto, com a edição da Lei nº 9.249/96, surge clara a opção do legislador pela adoção da tributação segregada, ou seja, se o rendimento foi tributado na pessoa jurídica Fl. 16115DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 43 42 não será mais tributado, não só na pessoa física como em outra pessoa jurídica, eventual e presumidamente beneficiárias. Nesse novo quadro, temos o desaparecimento do art. 44 que tinha por fim tributar as situações em que, por presunção de que a receita omitida e/ou a redução do lucro líquido era distribuída a sócios que, repetindo, não comportavam a utilização do art. 61 da Lei nº 8.981/95. Em outras palavras, significa dizer que o art. 61 da Lei nº 8.981/95, evidentemente, não pode ser aplicado às situações que anteriormente eram acobertadas pelo art. 44 da Lei nº 8.541/95. Em sendo assim, a aplicação do art. 61 está reservada para aquelas situações em que o fisco prova a existência de um pagamento sem causa ou a beneficiário não identificado e, o que é mais importante, desde que o mesmo fato/valor que servir de base, não caracterize hipótese de redução do lucro líquido, quer por receita omitida, quer por glosa de custos e/ou despesas, situações tipicamente submetidas ao IRPJ segundo as normas pertinentes à tributação pelo lucro real e ao lucro presumido. Não é outra, ainda que por outro enfoque e por via de raciocínio diverso, a conclusão a que chegou o ilustre professor José Antonio Minatel em seu artigo publicado na Revista Dialética, o qual reproduzimos parte, litteris: “Só depois de esgotadas essas verificações elementares, será possível promover o adequado enquadramento da situação fática à hipótese normativa que lhe corresponda. Essa cautela é recomendada para que se evitem os excessos costumeiramente praticados pelos agentes do Fisco, mormente quando deparam com pagamentos registrados como custo ou despesa na escrituração contábil da empresa fiscalizada, em que os reais beneficiários não se encontram identificados a contento. Nessa específica hipótese, estando a empresa na sistemática do lucro real para tributação de seus resultados pelo Imposto de Renda, o procedimento fiscal culmina, via de regra, com a lavratura de autos de infração para exigência de IRPJ e CSLL, acrescidos de juros moratórios e multa aplicada de ofício (75% ou 150%), sob o fundamento de glosa da dedutibilidade de despesas/custos não comprovados. Concomitantemente, lavrase outro auto de infração fundamentado no art. 61 da Lei nº 8.981/95, com exigência do malfadado IRFonte de 35%, acrescido, também, de juros e nova multa aplicada de ofício (75% ou 150%), agora sob o fundamento de que os mesmos gastos, contabilizados como custos/despesas, estão acobertando pagamentos sem causa ou a beneficiário não identificado. Evidente que há exageros e não se pode compactuar com a sobreposição e penalidades sancionando a mesma conduta. Com efeito, ante a nãocomprovação dos gastos contabilizados como custos/despesas, está legitimada a formalização de exigência do IRPJ e da CSLL indevidamente reduzidos, sendo pertinente que essa conduta que ocasionou indevida redução de tributos seja sancionada com a imposição de Fl. 16116DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 44 43 multa de ofício (75% ou 150%). No entanto, não cabe outra penalidade sobre a mesma constatação fática, sendo indevida a exigência de 35% a título de IRFonte sob o pressuposto de falta de identificação do beneficiário do pagamento da mesma operação que teve a dedutibilidade negada, pois essa exigência tem nítido caráter de penalidade, como já demonstrado. Mais grave ainda é ver essa penalidade pecuniária de 35% travestida de tributo ser gravada com nova penalidade, uma vez que sobre o valor do IRFonte exigido no auto de infração é calculada nova multa de ofício (75% ou 150%). Lamentavelmente, lançamentos contaminados com essa grave deformação têm sido confirmados, sem mais reflexão, pelos órgãos encarregados de solucionar os conflitos entre Fisco e contribuinte, como se vê do pronunciamento da 4.ª Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, aqui reproduzido na parte atinente à matéria em estudo, verbis: ‘PAGAMENTO A BENEFICIÁRIO NÃO IDENTIFICADO – PAGAMENTO EFETUADO A BENEFICIÁRIO SEM CAUSA PAGAMENTOS EFETUADO SEM COMPROVAÇÃO OU CAUSA NOTAS FISCAIS INIDÔNEAS ARTIGO 61 DA LEI nº 8.981, DE 1995 CARACTERIZAÇÃO. A pessoa jurídica que efetuar pagamento a beneficiário não identificado ou não comprovar a operação ou a causa dos pagamentos efetuados ou recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, bem como não comprovar o pagamento do preço respectivo e o recebimento dos bens, direitos ou mercadorias ou a utilização dos serviços, referidos em documentos emitidos por pessoa jurídica considerada ou declarada inapta, sujeitarseá à incidência do imposto, exclusivamente na fonte, à alíquota de 35%, a título de pagamento a beneficiário não identificado e/ou pagamento a beneficiário sem causa. O ato de realizar o pagamento é pressuposto material para a ocorrência da incidência do imposto de renda exclusivamente na fonte, conforme o disposto no art. 61 da Lei nº. 8.981, de 1995’. Agride a estrutura da regra jurídica do Imposto sobre a Renda a afirmação final contida na ementa de que “o ato de realizar pagamento é pressuposto material para a ocorrência da incidência do imposto de renda exclusivamente na fonte”. A afirmação estará a salvo se vista a referida incidência com caráter de penalidade, para a qual o ato de realizar pagamento a beneficiário não identificado é que lhe dá tipicidade. Portanto, é imperioso admitir que há limites e condições para a aplicação da penalidade prevista no art. 61 da Lei nº 8.981/95, a qual, quando cabível, deve ser vista com a mesma natureza da chamada “multa isolada”, sendo certo que sua aplicação por meio de lançamento de ofício (auto de infração) não comporta novo cálculo de multa sobre multa, sendo totalmente inadequada à imposição de multa de ofício de 75% ou 150% sobre o valor da penalidade quantificada em 35% do valor do pagamento sem causa, ou a beneficiário não identificado. Fl. 16117DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 45 44 O grifo em quando cabível é para deixar registrado, pedindo vênia pela ênfase em discurso repetitivo, que essa penalidade de 35% do art. 61 da Lei nº 8.981/95 somente pode ser aplicada quando não houver exigência concomitante de tributo (IRPJ e CSLL) sobre a mesma operação, pois, nessa hipótese, a formalização de exigência de cunho tributário com a imposição da penalidade correspondente, que é o objetivo primeiro da administração tributária, absorve a multa isolada prevista para idêntica conduta. Em conclusão, a imposição da multa isolada de 35% só é adequada para sancionar condutas que impeçam a identificação da causa ou do beneficiário de pagamento, praticada por pessoas jurídicas não submetidas à tributação pelo lucro real ou presumido.” (Grifei) Desse ensaio, dentre outras lições, podemos extrair que é absolutamente vedada à possibilidade de escolha, ou seja, se cabível a tributação pelo IRPJ e CSLL por redução do lucro líquido, não pode a autoridade lançadora simplesmente abandonar essa tributação para eleger a mais gravosa contida no art. 61 em comento e, muito menos e pelos mesmos motivos, lançar as duas exações. Isto porque e, por óbvio, a Lei nº 8.981/95 não revogou as normas que regem a tributação pelo lucro real e lucro presumido. Com essa ordem de ideias, manifestase inarredável a conclusão de que o lançamento de ofício ora vergastado deve ser anulado quanto ao IRRF, em face da evidente impossibilidade jurídica de concomitância com a tributação decorrente da glosa de custos e despesas por parte da fiscalização. Por todo o exposto, voto por dar PROVIMENTO ao recurso especial do Contribuinte relativamente à "exigência do IR/Fonte sobre pagamentos sem causa quando já houve a glosa dos custos/despesas”. É como voto. (assinado digitalmente) Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa Fl. 16118DF CARF MF Processo nº 11516.006348/200963 Acórdão n.º 9101002.605 CSRFT1 Fl. 46 45 Fl. 16119DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10073.900745/2011-31
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 11 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon May 15 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2008
RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. SNIRPJ/AC2008.
Confirmada a existência do direito creditório pleiteado, há que se homologar as compensações até o limite do crédito reconhecido
Numero da decisão: 1302-002.099
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do relatorio e votos que integram o presente julgado.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente.
(assinado digitalmente)
Alberto Pinto Souza Junior - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente), Alberto Pinto Souza Júnior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Rogério Aparecido Gil, Ester Marques Lins de Sousa e Gustavo Guimarães da Fonseca.
Nome do relator: ALBERTO PINTO SOUZA JUNIOR
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SNIRPJ. Recorrente PEUGEOT CITROEN DO BRASIL AUTOMÓVEIS LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2008 RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. SNIRPJ/AC2008. Confirmada a existência do direito creditório pleiteado, há que se homologar as compensações até o limite do crédito reconhecido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do relatorio e votos que integram o presente julgado. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente. (assinado digitalmente) Alberto Pinto Souza Junior Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente), Alberto Pinto Souza Júnior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Rogério Aparecido Gil, Ester Marques Lins de Sousa e Gustavo Guimarães da Fonseca. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 07 3. 90 07 45 /2 01 1- 31 Fl. 688DF CARF MF 2 Versa o presente processo sobre recurso voluntário, interposto pelo contribuinte em face do Acórdão nº 1244.717 da 1ª Turma da DRJ/RJ1, cuja ementa assim dispõe: Assunto: Outros Tributos ou Contribuições Anocalendário: 2008 RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO. Mantémse o despacho decisório, se não elididos os fatos que lhe deram causa. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Velamos os seguintes excertos do voto vencedor do referido acórdão, in verbis: “A DRF/Volta Redonda, através do Despacho Decisório SAORT/DRF/VRA nº 01/2012 (fls. 262/265), reconheceu crédito de R$6.525.916,68, referente a saldo negativo de IRPJ do ano calendário de 2008. Na referida decisão aponta que: o alegado direito creditório de saldo negativo de IRPJ do ano calendário 2008 de R$6.953.685,50 originouse, essencialmente, conforme se verifica na Ficha 12A da DIPJ do exercício 2009 (fl. 153), da dedução do valor de R$6.790.381,57, a título de Imposto de Renda Retido na Fonte na linha 12A/14, do valor de R$163.303,92, a título de IR Retido na Fonte por demais Entidades da Administação Pública Federal na linha 12A/16, e do valor de R$144.763.733,86, a título de Imposto de Renda Mensal pago por Estimativa na linha 12A/18; na Ficha 11 – Cálculo do Imposto de Renda Mensal por Estimativa da DIPJ 2009 (fls. 149/152) consta que, no mês de dezembro de 2008, a base de cálculo do imposto de renda foi determinada com base em balanço ou balancete de suspensão ou redução, enquanto que nos demais meses a base de cálculo do imposto de renda foi determinada com base na receita bruta e acréscimos; no caso, as estimativas mensais do Imposto de Renda de janeiro a novembro de 2008 foram extintas por pagamentos, mediante DARF, os quais se encontram comprovados nos sistemas de controle da Receita Federal; já o Imposto de Renda apurado por estimativa em dezembro foi deduzido, essencialmente, pela utilização do valor de R$139.884.291,28, a título de Imposto de Renda devido em meses anteriores na linha 11/06, e do valor de R$4.879.442,57, a título de Imposto de Renda Retido na Fonte na linha 11/07, totalizando o saldo de R$0,00 de Imposto de Renda a pagar, na linha 11/12; tanto o valor de Imposto de Renda Retido na Fonte de R$4.879.442,57, indicado na linha 07 da Ficha 11, quanto o valor de R$6.790.381,57 e de R$163.303,92, indicados, respectivamente, na linha 14 e 16 da Ficha 12A, em confronto com as informações contidas na ficha IRPJ Retido na Fonte da declaração de compensação em comento, estão comprovados em DIRF; Fl. 689DF CARF MF Processo nº 10073.900745/201131 Acórdão n.º 1302002.099 S1C3T2 Fl. 689 3 de outra parte, a linha11/06 Imposto de Renda devido em meses anteriores, que deve ser utilizada somente nos meses em que a pessoa jurídica levantou balanço ou balancete de suspensão ou redução, como no presente caso, deve conter o somatório do Imposto de Renda devido nos meses anteriores do mesmo anocalendário, abrangidos pelo período em curso compreendido na demonstração; não obstante, o valor de R$139.884.291,28, indicado na linha 06 da Ficha 11 encontrase em divergência com o somatório dos valores do Imposto de Renda mensal efetivamente pago por estimativa como declarado na DIPJ 2009 e nas respectivas DCTF confome a tabela que apresenta (fl. 263), ou seja, considerando os valores declarados em DCTF, o Imposto de Renda mensal devido em meses anteriores efetivamente pago totaliza a importância de R$139.456.522,46, e não o valor utilizado pelo interessado na linha 06 da Ficha 11, de R$139.884.291,28; o valor do imposto efetivamente pago por estimativa corresponde ao somatório dos valores mensais relativos à seguinte operação: IEFP = Imposto Mensal Efetivamente Pago por Estimativa = Linhas 11/07 + 11/08 + 11/09 + 11/10 + 11/11 + Pagamentos de IRPJ mensal + Pagamentos Finor/Finam/Funres até o limite permitido no ajuste anual + Compensação solicitada mediante Declaração de Compensação (PER/DComp) ou processo administrativo, e compensação autorizada por medida judicial; no caso, o valor do imposto pago por estimativa declarado na linha 12A/18 é igual ao somatório do valor declarado na linha 11/06 – Imposto de Renda devido em meses anteriores, de R$139.884.291,28, e do valor declarado na linha 11/07 – Imposto de Renda Retido na Fonte, de R$4.879.442,57, totalizando a importância de R$144.763.733,86 (= R$139.884.291,28 + R$4.879.442,57); por isso, a diferença a maior entre o valor declarado na linha 11/06 e o somatório dos valores de estimativas mensais efetivamente pagos, de R$427.768,82 (= R$139.884.291,28 – R$139.456.522,46) deve ser deduzida do valor do Imposto de Renda Mensal pago por estimativa, declarado na linha 18 da Ficha 12A, resultando no valor de R$144.335.965,04 (= R$144.763.733,86 – R$427.768,82); em consequência, refazendose o cálculo do Imposto de Renda sobre o Lucro Real na Ficha 12A, obtémse o valor de R$6.525.916,68, a título de saldo negativo de IRPJ do ano calendário 2008, conforme a tabela à fl. 264. .................................................................................... Na manifestação de inconformidade, o interessado não apresentou qualquer elemento de prova que conduzisse a conclusão diversa da apresentada na decisão recorrida, nem mesmo contestou a diferença apontada (inclusive, alega que promoveu o pagamento mensal de IRPJ no valor total de R$139.454.719,45, conforme Ficha 11 da DIPJ/2009, valor este menor do que o considerado pela DRF, R$139.456.522,46, Fl. 690DF CARF MF 4 com base em DCTF), que reduziu o saldo negativo informado na DIPJ limitouse a pleitear o valor informado na DIPJ (que foi alterado, em razão da análise efetuada pela DRF).”. A recorrente, cientificada do Acórdão nº 1244.717 em 10/04/2012 (AR a fls. 317), interpôs, em 16/04/2012, recurso voluntário (doc. a fls. 318 e segs.), no qual alega as seguintes razões de defesa: a) que, por meio da PER/DCOMP nº 28644.31345.161009.1.3.027429, transmitida em 16.10.2009, a Recorrente promoveu.a compensação do prejuízo fiscal [sic] apurado em 2008, no valor total de R$ 61953.685,50, com débitos da Contribuição ao PIS e da COFINS, apurados em. setembro de 2009, nos valores de, respectivamente, R$ 70.972,09 (Código da Receita 8496), R$ 4.207.934,50 (Código da Receita 6912), R$ 2.919.846,20 (Código da Receita 5856) e R$ 340.433, 03. (Código da Receita 8645); b) que, no anocalendário de 2008, a Recorrente promoveu o pagamento mensal do IRPJ, mensurado sobre a base de cálculo estimada no valor total anual de R$ 139.454.719,45, mediante DARF, além de ter promovido o pagamento de parte do IRPJ apurado em novembro de 2008 mediante dedução do Imposto de Renda Retido na Fonte no valor de R$ 429.571,83, conforme se constata da Ficha11, constante as fls. 08/12 da DIPJ 2009, perfazendo o montante total anual de pagamento por estimativa de R$ 139.884.291,28; c) que ao final do referido anocalendário, quando da apuração anual do IRPJ, realizada através da DIPJ 2009, AnoCalendário 2008, a Recorrente apurou prejuízo fiscal, o que gerou.lhe um saldo negativo passivo de compensação no valor de R$ 6.953.685,50, o que pode ser constatado na Ficha 12A, constante às fls. 12, da DIPJ 2009; d) que, em função, disso, a Recorrente formalizou pedido de restituição, através . da PER/DCOMP n° 28644.31345:161009.1.3.027429, do valor de R$ . 6.953.685,50, correspondente ao prejuízo fiscal [sic], apurado naquele anocalendário, promovendo a compensação deste crédito com os seguintes débitos: TRIBUTO CÓD. RECEITA PA VCTO VALOR (R$) PIS 8496 09/2009 23/10/09 70.972,09 Cofins 8645 09/2009 23/10/09 340.433,03 PIS 6912 09/2009 23/10/09 4.207.934,50 Cofins 5856 09/2009 23/10/09 2.919.846,20 TOTAL 7.539.185,82 e) que, uma vez demonstrada a existência do prejuízo fiscal [sic] apurado através da DIPJ 2009, bem como dos pagamentos do IRPJ realizados sob a base de cálculo estimada e das retenções deste imposto sofridas pela Recorrente no anocalendário2008, impõese a homologação das compensações efetuadas; f) que, muito embora o despacho decisório e o acórdão ora recorrido tenham . reconhecido, parcialmente o direito creditório, no montante de R$ 6.525.916,68 , a título de saldo negativo do IRPJ do anocalendário 2008, desconsiderou, equivocadamente, o valor de R$ 429.571,83, correspondente ao Imposto de Renda Retido na Fonte, constante na linha 11/07, referente ao mês de novembro de 2008; Fl. 691DF CARF MF Processo nº 10073.900745/201131 Acórdão n.º 1302002.099 S1C3T2 Fl. 690 5 g) que a d. Fiscalização esqueceuse de adicionar ao valor total das estimativas pagas mediante DARF no anocalendário 2008 o valor de R$ 429.571,83, a título do Imposto de Renda Retido na Fonte, recolhido no mês de novembro, indicado na linha 07, da Ficha 11, da DIPJ 2009; h) que nem se alegue, por oportuno, que a retenção acima comporia o montante de R$ 4.879.442,57, referente ao Imposto de Renda Retido na Fonte indicado na linha 07, da Ficha 11, relativoao mês de dezembro; i) que o manual de preenchimento da DIPJ veda a mclusãc das deduções feitas com IRRF na Linha 11/07, conforme se depreende da transcrição abaixo: “Linha 11/07 () Imposto de Renda. Retido na Fonte ...................................................................................... Atenção: . Os valores de imposto de renda, retido na fonte já compensados na apuração do imposto a pagar dos meses anteriores não podem ser compensados novamente nesta linha, em qualquer mês subsequente.” j) que, conforme orientação do próprio manual da DIPJ 2009, o valor que a d. Fiscalização ignorou efetivamente compõe o pagamento feito por estimativa no mês de novembro; l) que o o valor de . R$ 139.884.291,28, a titulo de Imposto de Renda Devido em Meses Anteriores, bem como o valor correspondente a R$ 144.763.7.33, 86, a titulode Imposto de Renda Mensal Pago por Estimativa, indicados nas Linhas 11/06 e 12A/18 estão corretos. Na Sessão de Julgamento de 25/11/2014, esta Turma converteu o julgamento em diligência, por meio da Resolução nº 1302000.348 ( a fls. 596 e segs.), para que a DRF/VRA: a) verificasse se houve declaração, em DIRF, do IRRF no valor R$ 429.571,83, informado na linha 7 da Ficha 11 do mês de novembro da DIPJ do AC 2008, apresentada pela recorrente; b) informasse se o IRRF no valor de R$ 429.571,83 entrou no cálculo do montante informado na linha 14 da Ficha 12A (R$ 6.790.381,57); e c) desse ciência à recorrente do seu relatório de diligência, concedendolhe prazo razoável para que se manifeste nos autos, após o que, retorne os autos ao CARF, para prosseguimento do feito. A fls. 678 e segs., consta o Relatório de Diligência Fiscal, o qual assim responde as questões postas: “03. Visando trazer aos autos os elementos necessários que pudessem atender à diligência solicitada, consultouse a DIRF da recorrente, como beneficiária, e constatouse que ao longo do anocalendário 2008 a mesma sofreu retenções de Imposto de Renda no montante de R$ 12.229.550,61, vide fl. 675. Tal fato pode ser comprovado pelas DIRF’s entregues pelas fontes pagadoras, que foram 66 (sessenta e seis) no total, vide fls. 607 a 674, em especial a fl. 673, na qual observase esse total bem como o montante do imposto retido (R$ 12.852.257,86). Na totalidade do imposto retido estão incluídas algumas retenções de PIS e COFINS, mas conferiuse todas as retenções, receita por receita, e constatouse que de Imposto de Renda o total retido foi de R$ Fl. 692DF CARF MF 6 12.229.550,61, vide fl. 675. Portanto, resta comprovado, a partir das verificações realizadas, bem como da documentação juntada aos autos, qual seja, DIRF do beneficiário (Todos os códigos de Receita) e Soma do Imposto de Renda Retido (IRRF), que o valor informado na linha 7 da Ficha 11 do mês de novembro da DIPJ do AC 2008 está totalmente respaldado pelas DIRF’s entregues pelas fontes pagadoras. 04. Com relação ao item “b” da diligência, vide 2º parágrafo, o IRRF no valor de R$ 429.571,83 não entrou no montante informado na linha 14 da Ficha 12A, pois o contribuinte só pode “levar” para essa linha a “sobra” do IRRF que não foi utilizado anteriormente. Ao somar as parcelas utilizadas, constatase que o total está totalmente coerente, vide tabela abaixo. Nesse somatório buscase encontrar o total utilizado e ele deve estar respaldado pelo total retido ao longo do ano. Em hipótese alguma se poderia encontrar um valor superior, mas, nesse caso, a utilização está correta, pois o total utilizado está respaldado pelo total retido.”. A fls. 686, consta Despacho da ARF/RES/RJ, com o seguinte teor: “Contribuinte foi cientificado do resultado da diligência em 21/06/2016, com prazo de 30 dias para eventual manifestação. Mantevese silente. Trasncorrido o prazo, retorno os autos ao CARF, para prosseguimento do julgamento administrativo.” É o relatório. Voto Conselheiro Alberto Pinto Souza Junior Relator. O recurso voluntário é tempestivo e foi subscrito por mandatária com poderes para tal, conforme procuração a fls. 57/59 e substabelecimento a fls. 61/63, razão pela qual dele conheço. Ressalto que a questão posta em julgamento reside em saber se a recorrente faz jus ao crédito no valor de R$ 427.768,82, pois, no PER/DCOMP a fls. 3, ela pleiteou o direito creditório a título de SNIRPJ/2008 no valor de R$ 6.953.685,50, porém teve reconhecido apenas R$ 6.525.916,68 pelo Despacho Decisório (doc. a fls. 265), o qual foi confirmado pela decisão recorrida. Por sua vez, a controvérsia reside toda com relação a estimativa de novembro de 2008, a qual está assim declarada: Discriminação Novembro FORMA DE DETERMINAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO DO IMPOSTO DE RENDA Com Base na Receita Bruta e Acréscimos 01.Base de Cálculo do Imposto de Renda …………………………………………………72.143.944,63 IMPOSTO DE RENDA APURADO 02.A Alíquota de 15% ……………………………………………………………………..10.821.591,69 03.Adicional 7.212.394,46 04.Diferença de IR Devida pela Mudança de Coeficiente s/ Receita Bruta ………………………….0,00 Fl. 693DF CARF MF Processo nº 10073.900745/201131 Acórdão n.º 1302002.099 S1C3T2 Fl. 691 7 DEDUÇÕES 05.()Deduções de Incentivos Fiscais ………………………………………………………………...0,00 06.()Imp. de Renda Devido em Meses Anteriores 07.()Imp. de Renda Retido na Fonte ……………………………………………………….429.571,83 08.()Imp. Pago no Ext. s/ Lucros, Rend. e Ganhos de Capital ………………………………………0,00 09.()IR Retido na Fonte por Órgãos Aut. e Fund. Fed. (Lei nº 9.430/1996) ………………………...0,00 10.()IR Retido na Fonte p/ Demais Ent. da Adm. Púb. Fed. (Lei n° 10.833/2003) ………………….0,00 11.()Imp. de Renda Pago s/ Ganhos no Mercado de Renda Variável 12.IMPOSTO DE RENDA A PAGAR……………………………………………………17.604.414,32 13.IMPOSTO DE RENDA A PAGAR DE SCP……………………………………………………… 0,00 Ocorre que o Despacho Decisório ao calcular os IRPJEstimativa pagos de janeiro a novembro (tabela a fls. 263), para fins de cálculo do valor a declarar na linha 12A/18, considerou, para o mês de novembro, o valor de R$ 17.604.414,32. A recorrente entende que o correto seria considerar o valor pago (R$ 17.604.414,32) mais o valor que foi deduzido a título de IRRF (R$ 429.571,83). Vale, por oportuno trazer a lume a Ficha 12A da DIPJ/09 apresentada pela recorrente (doc. a fls. 153): Discriminação Valor IMPOSTO SOBRE O LUCRO REAL 01.À Alíquota de 15% …………………………………………………………………………………………89.133.911,55 02.Adicional …………………………………………………………………………………………….……...59.398.607,70 DEDUÇÕES 03.()Operações de Caráter Cultural e Artístico ……………………………………………………….……..…2.865.356,46 04.()Programa de Alimentação do Trabalhador ………………………………………………………….…..…..203.428,94 05.()Desenvolvimento Tecnológico Industrial / Agropecuário ……………………………………………….…………0,00 06.()Atividade Audiovisual ……………………………………………………………………………….……...700.000,00 07.()Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente…………………………………………………..………….….. 0,00 08.()Atividades de Caráter Desportivo ………………………………………………………...........................................0,00 09.()Isenção de Empresas Estrangeiras de Transporte ………………………………………………………...…….……0,00 10.()Isenção e Redução do Imposto ………………………………………………………….…………………………...0,00 11.()Redução por Reinvestimento ……………………………………………………………………………………...…0,00 12.()Valor Remuneração da Prorrogação LicençaMaternidade (Lei nº 11.770/2008) ………………………………...…0,00 13.()Imp. Pago no Ext. s/ Lucros, Rend. e Ganhos de Capital………………………………………………………….....0,00 14.()Imp. de Renda Ret. na Fonte …………………………………………………………………………......6.790.381,57 15.()IR Retido na Fonte por Órgãos, Aut. e Fund. Fed. (Lei nº 9.430/1996) …………………………………..………...0,00 16.()IR Retido na Fonte p/ Demais Ent. da Adm. Púb. Fed. (Lei n° 10.833/2003) …………………………….....163.303,92 17.()Imp. Pago Inc. s/ Ganhos no Mercado de Renda Variável ……………………………..............................................0,00 18.()Imp. de Renda Mensal Pago por Estimativa ………………………….…………………………........144.763.733,86 19.()Parcelamento Formalizado de IR sobre a Base de Cálculo Estimada ………………………………...……………...0,00 20.IMPOSTO DE RENDA A PAGAR …………………………………………………………..………..…..6.953.685,50 21.IMPOSTO DE RENDA A PAGAR DE SCP ……………………………………………………………...…………...0,00 22.IMPOSTO DE RENDA SOBRE A DIFERENÇA ENTRE O CUSTO ORÇADO E O CUSTO EFETIVO…...……...0,00 23.IMPOSTO DE RENDA POSTERGADO DE PERÍODOS DE APURAÇÃO ANTERIORES…………………...…...0,00 Notese que o valor declarado na linha 18 é composto das seguintes rubricas: Valor do IRPJEstimativa pago de jan/nov de 2008…….R$ 139.454.719,45 IRRF (linha 7 da Ficha 11 – novembro)………………….….R$ 429.571,83 IRRF (linha 7 da Ficha 11 – dezembro)……………………R$ 4.879.442,57 _________________ Total………… R$ 144.763.733,85 Fl. 694DF CARF MF 8 Ou seja, a primeira questão que aflora do acima exposto é que o Despacho Decisório glosou o valor do IRRF declarado na linha 7 da Ficha 11 de novembro, mas aceitou o IRRF declarado na linha 7 da Ficha 11 de dezembro. A única diferença entre o pagamento mensal de novembro e o de dezembro é que: o primeiro foi calculado sobre a receita bruta e o IRRF no valor de R$ 429.571,83 foi computado como dedução, restando IRPJestimativa no valor R$ 17.604.414,32; enquanto o do mês de dezembro foi calculado sobre o balanço de suspensão, sendo que o IRRF no valor de R$ 4.879.442,57 também entrou como dedução, não restando nenhuma valor a ser recolhido como antecipação mensal. Observo que, do cotejo entre a DIPJ a fls. 150 e a DCTFJunho/2008 a fls. 161, constatase que, embora a recorrente tenha declarado na DIPJ um IRPJEstimativa no valor de R$ 10.727.521,20, ela declarou na DCTF um débito e um pagamento no valor de R$ 10.729.321,20. A decisão recorrida considerou o valor declarado na DCTF (R$ 10.729.321,2), justamente por isso há uma diferença entre o valor ora em julgamento R$ 427.768,82 (direito creditório não reconhecido na decisão recorrida) e o valor do IRRF não considerado nos cálculos pela decisão recorrida – R$ 429.571,83. Se a decisão recorrida tivesse levado em conta apenas os valores declarados na DIPJ, o crédito não reconhecido seria justamente o valor do IRRF declarado em novembro R$ 429.571,83. Alerto, porém, que essa diferença no montante de R$ 1.803,01 não está em julgamento, já que o pleito da recorrente se limita ao SNIRPJ, conforme declarado na sua DIPJ/09, razão pela qual, ainda que venha a ser confirmado o IRRF no valor R$ 429.571,83, o direito creditório a ser reconhecido, nestes autos, limitarseá ao valor não reconhecido do SNIRPJ declarado na DIPJ/09, no montante de R$ 427.768,82. Lembro que o SNIRPJ declarado na DIPJ/09 (R$ 6.953.685,50) é o valor do crédito pleiteado na PER/DCOMP, razão pela qual se viermos a reconhecer o direito creditório relativo ao IRRF (R$ 429.571,83) e considerar o valor do IRPJestimativa efetivamente pago (R$ 10.729.321,2), como fez a DRJ, estaremos reconhecendo um SNIRPJ superior ao declarado e pleiteado na PER/DCOMP (superior em R$ 1803,01). Da leitura do Despacho Decisório não se entende o porquê da glosa apenas do IRRF declarado como dedução do IRPJestimativa de novembro (R$ 429.571,83), se não vejamos o seguinte excerto: “Tanto o valor de Imposto de Renda Retido na Fonte de R$ 4.879.442,57, indicado na linha 07 da Ficha 11, quanto o valor de R$ 6.790.381,57 e de R$ 163.303,92, indicados, respectivamente, na linha 14 e 16 da Ficha 12A, em confronto com as informações contidas na ficha IRPJ Retido na Fonte da declaração de compensação em comento, estão comprovados em DIRF. Não obstante, o valor de R$ 139.884.291,28, indicado na linha 06 da Ficha 11 encontrase em divergência com o somatório dos valores do Imposto de Renda mensal efetivamente pago por estimativa como declarado na DIPJ 2009 e nas respectivas DCTF, confome a seguinte tabela: (…) Ou seja, considerando os valores declarados em DCTF, o Imposto de Renda mensal devido em meses anteriores efetivamente pago totaliza a importância de R$ 139.456.522,46, e não o valor utilizado pela interessada na linha 06 da Ficha 11, de R$ 139.884.291,28.”. Ora, o Despacho Decisório confirma a existência em DIRF tanto do IRRF declarado na linha 14 da Ficha 12A (R$ 6.790.381,57) como do IRRF declarado na linha 7 da Ficha 11 do mês de dezembro (R$ 4.879.442,57 ), mas nada fala sobre o IRRF declarado na linha 7 da Ficha 11 do mês de novembro, no valor de R$ 429.571,83. Fl. 695DF CARF MF Processo nº 10073.900745/201131 Acórdão n.º 1302002.099 S1C3T2 Fl. 692 9 Como os documentos que constavam dos autos eram insuficientes para provar, primeiro, a existência desse IRRF (R$ 429.571,83) e que ele não tinha entrado no cômputo do montante declarado na linha 14 da Ficha 12A R$ 6.790.381,57, o processo foi baixado em diligência conforme já relatado, tendo sido confirmada tanto a existência de retenções na fonte a suportar o montante de IRRF declarado na linha 7 da Ficha 11 do mês de novembro, no valor de R$ 429.571,83, como também que ele não entrou no cômputo do montante declarado na linha 14 da Ficha 12A R$ 6.790.381,57. Diante do exposto, voto por dar provimento ao recurso voluntário, para reconhecer o direito creditório no valor de R$ 427.768,82 e homologar as compensações até o limite do direito creditório reconhecido. Alberto Pinto Souza Junior Fl. 696DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10882.002183/2009-10
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Feb 22 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Mar 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Data do fato gerador: 18/05/2005
COMPENSAÇÃO DE CRÉDITO RECONHECIDO POR DECISÃO JUDICIAL. RESPEITO À COISA JULGADA
Deve ser admitida a compensação, com base na legislação contemporânea à efetivação do encontro de contas entre Fisco e contribuinte. Tal procedimento não configura desrespeito à coisa julgada, porém forma célere de solucionar a pendência entre as partes, privilegiando princípios que regem a Administração Pública e o Processo Administrativo Fiscal.
Recurso Voluntário Provido
Direito Creditório Reconhecido
Numero da decisão: 3301-003.206
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. Os conselheiros Liziane, Antonio Carlos e Luiz Augusto, votaram pelas conclusões..
Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente.
Marcelo Costa Marques d'Oliveira - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto do Couto Chagas (Presidente), Semíramis de Oliveira Duro, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Valcir Gassen, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Jose Henrique Mauri, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões
Nome do relator: MARCELO COSTA MARQUES D OLIVEIRA
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. Os conselheiros Liziane, Antonio Carlos e Luiz Augusto, votaram pelas conclusões.. Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente. Marcelo Costa Marques d'Oliveira - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto do Couto Chagas (Presidente), Semíramis de Oliveira Duro, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Valcir Gassen, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Jose Henrique Mauri, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões
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RESPEITO À COISA JULGADA Deve ser admitida a compensação, com base na legislação contemporânea à efetivação do encontro de contas entre Fisco e contribuinte. Tal procedimento não configura desrespeito à coisa julgada, porém forma célere de solucionar a pendência entre as partes, privilegiando princípios que regem a Administração Pública e o Processo Administrativo Fiscal. Recurso Voluntário Provido Direito Creditório Reconhecido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. Os conselheiros Liziane, Antonio Carlos e Luiz Augusto, votaram pelas conclusões.. Luiz Augusto do Couto Chagas Presidente. Marcelo Costa Marques d'Oliveira Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto do Couto Chagas (Presidente), Semíramis de Oliveira Duro, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Valcir Gassen, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Jose Henrique Mauri, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 2. 00 21 83 /2 00 9- 10 Fl. 221DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 11 2 Relatório Por bem relatar os fatos, adoto o relatório da decisão de primeira instância: "Tratase de Despacho Decisório, fls. 114/119, que não homologou Declaração de Compensação por força do exposto no Parecer SEORT/DRF/OSA nº 1205/2009, nos seguintes termos: 'Trata o presente processo de análise de Declaração(ões) de Compensação (DCOMP(s))eletrônica(s) (fls. 02/5, n° 31134.14349.240605.1.3.540166), com suposto(s) crédito(s) proveniente(s) de Pagamento Indevido/a Maior oriundo de Ação Judicial, relativo ao período de 01/07/1990 a 30/09/1995, no montante atualizado de R$ 4.903.633,82. ... Às 62/6, encontrase cópia da sentença proferida pela autoridade judiciária de primeira instância, em 11/09/2000, onde esta julga "... PARCIALMENTE PROCEDENTE a presente ação", declarando "... a inexistência de relação jurídica tributária que obrigue a autora ao recolhimento da contribuição para o PIS na forma prevista pelos Decretosleis n°s 2.445/88 e 2.449/88, ficando a mesma obrigada ao recolhimento do citado tributo apenas, e tão somente, na forma prevista pela Lei Complementar n° 7/70, deferindolhe ainda o direito a compensação dos valores indevidamente pagos com base nos citados decretosleis com valores vincendos da mesma contribuição para o PIS, no período de dez anos anteriores à propositura da presente ação, conforme documentos (DARFs) juntados aos autos, com parcelas devidas do mesmo tributo..." (grifouse). As fls. 67/87, encontrase cópia de voto do relator e Acórdão, exarado em sede de Apelação, em 19/03/2003. Nessa esteira, a Desembargadora relatora aduziu (fl. 70) que "A autora, em suas razões, requer a inclusão de todos os expurgos inflacionários inclusive os dos meses de julho e agosto de 1994; requer, ainda, a reforma da r. sentença quanto a condenação em verbas sucumbenciais, uma vez que não foram fixadas nos termos do § 3°, do Art. 20, do CPC e ,por fim, sustenta a aplicação da Taxa Selic a partir de 1°/01/96". Dispôs, ainda, que (fl. 75) "No mérito, o contribuinte faz jus ao crédito sobre o PIS" (grifos do original), finalizando, a respeito da questão da compensação, com os seguintes dizeres (fl. 79): "Portanto, é de se manter o `decisum', quanto ao reconhecimento do direito da impetrante compensar os valores recolhidos a maior, a titulo de PIS com parcelas vincendas do próprio PIS" (grifouse). Não foi em outra direção a Ementa do Acórdão, ao afirmar que (fl. 86) "II — Considerando haver disposições de lei complementar genérica (CTN) e de lei ordinária especifica (Lei n° 8383/91), autorizando a compensação de pagamento indevido de tributos federias, temse por conclusivo que a pretensão de compensar os valores pagos indevidamente a titulo de PIS, com débitos do próprio PIS, é hipótese legal de compensação tributária". As fls. 88/103, encontrase cópia de voto do relator e Acórdão, exarado em sede de embargos infringentes interpostos pela União Federal, apoiada em voto vencido que acolhia a preliminar de prescrição. Foi negado o seguimento de tais embargos. O Agravo foi, pois, desprovido, em 17/08/2004 (fl. 101). Tal Acórdão transitou em julgado em 18/01/2005 (fl. 109). À fl. 54, encontrase cópia do Fl. 222DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 12 3 Despacho exarado, em 17/06/2005, pelo Delegado da Receita Federal em Taboão da Serra, com base no Parecer DRF/TSR/SACAT n° 216/2005, habilitando crédito reconhecido por decisão judicial transitada em julgado. ... Verificase que as decisões supra mencionadas foram proferidas já na vigência da Lei n° 9.430/96, cujo art. 74 prevê a possibilidade de compensação de créditos do sujeito passivo perante a Secretaria da Receita Federal com quaisquer tributos ou contribuições por ela administrados. No caso, o provimento jurisdicional afastou a aplicação do art. 74 da Lei n° 9.430/96 para se fiar no artigo 66 da Lei n° 8.383/91, dispondo, nesse diapasão, conforme transcrito acima, "quanto ao reconhecimento do direito da impetrante compensar os valores recolhidos a maior, a titulo de PIS com parcelas vincendas do próprio PIS". Todavia, não foi esse o procedimento levado a termo pelo contribuinte, que efetivou sua compensação com débito de IRPJ (fl. 05). Nesse contexto, há que ser respeitada a interpretação dada à lei pelo julgador, pois que não cabe à RFB e a seus servidores descumprir uma decisão judicial proferida por autoridade ou órgão competente da Justiça Federal, ainda que sob alegação de que referida decisão contraria disposição literal de lei ou de que o contribuinte estaria sendo "prejudicado" por ter recorrido ao Poder Judiciário. ... Pelo exposto, tendo em vista que a decisão judicial limitou a possibilidade de compensação com débitos alusivos exclusivamente ao PIS, não podendo o contribuinte requerer administrativamente a compensação com débitos do Imposto de Renda, a compensação efetivada pelo contribuinte será considerada não homologada. Cientificada, a contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade, alegando, em síntese: Em que pese a absoluta regularidade do crédito tributário em questão, o qual, inclusive, encontrase devidamente habilitado pela Autoridade Fiscal desde 17.06.2005, o ilustre Sr. Delegado da Delegacia da Receita Federal do Brasil em Osasco proferiu Despacho Decisório aprovando o Parecer SEORT/DRF/OSA n° 1205/2009, no qual restou não homologada a compensação pleiteada ao argumento de que "a decisão judicial limitou a possibilidade de compensação com débitos alusivos exclusivamente ao PIS", cabendo à Autoridade Fazendária cumprir seus exatos termos, sob pena de violar o instituto da coisa julgada. ... Contudo, deve ser reformado o referido despacho decisório, pois aquele não só se equivoca com relação à decisão judicial ter afastado a aplicação do artigo 74, da Lei n° 9.430/96, cujo caput teve sua redação alterada pela Medida Provisória n° 66/2002, posteriormente convertida na Lei n° 10.637/2002, mas também acaba por contrariar a NOTA COSIT n° 141, de 23 de maio de 2003, ato este expedido pela própria Administração Federal que, expressamente, autoriza a compensação ora pleiteada pela Recorrente, conforme restará demonstrado nesta oportunidade. ... Ocorre que, ao contrário do que pretendeu fazer crer a d. Autoridade Julgadora, a compensação de créditos tributários com quaisquer débitos Fl. 223DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 13 4 administrados pela Receita Federal do Brasil, consoante previsto no artigo 74 da Lei n° 9.430/96 tal como hoje conhecemos, somente foi implementada pela Medida Provisória n° 66/2002, posteriormente convertida na Lei n° 10.637/2002, legislação esta, portanto, superveniente à prolação da sentença que transitou em julgado, fato este de suma importância para a correta resolução do presente conflito. ... (...) em 27/12/1996, com o advento da Lei n° 9.430, o legislador ordinário introduziu no ordenamento a possibilidade de se compensar débitos e créditos originados de espécies tributárias distintas, mediante, contudo, prévio requerimento do contribuinte à Secretaria da Receita Federal, autoridade competente para, após a análise de cada caso concreto, autorizar a referida compensação. (...). Consectariamente, a autorização da Secretaria da Receita Federal constituía pressuposto para a compensação pretendida pelo contribuinte, sob a égide da redação primitiva do artigo 74, da Lei n° 9.430/96, em se tratando de tributos sob a administração do aludido órgão público, compensáveis entre si. Somente em dezembro 2002, com o advento da Medida Provisória n° 66/02, posteriormente convertida na Lei n° 10.637/02 essa situação foi modificada, não só para sedimentar a desnecessidade de equivalência da espécie dos tributos compensáveis e dispensar a necessidade de prévia autorização da Secretaria da Receita Federal para a compensação tributária, mas também para unificar as sistemáticas da compensação que vigeram anteriormente. A partir desse momento, portanto, a nova redação dada ao artigo 74 da Lei n° 9.430/96 autorizou, para os tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal, a compensação de iniciativa do contribuinte, mediante entrega de declaração contendo as informações sobre os créditos e débitos utilizados, cujo efeito é o de extinguir o crédito tributário, sob condição resolutória de sua ulterior homologação (...). ... Em síntese, com o advento da Lei n° 10.637/02, fora introduzida no ordenamento pátrio uma nova sistemática de compensação, unificando as modalidades anteriores a fim de que o contribuinte pudesse, a partir de então, por sua conta e risco, compensar créditos e débitos tributários de diversas espécies. No caso em análise, verificase que a fundamentação do r. despacho decisório proferido simplesmente ignorou todo o histórico acima expendido. De fato, como poderia uma sentença proferida em 11/09/00, anteriormente ao advento da MP n° 66/02, afastar a aplicação de uma modalidade de compensação que não existia na redação original do artigo 74, da Lei n° 9.430/96? A resposta a essa pergunta é inexorável: não poderia. ... Esse entendimento, contudo, não pode prevalecer, haja vista que representa um apego exagerado e infundado ao instituto da coisa julgada, na contramão da realidade factual e legal hodierna, em especial, da interpretação dada pelaprópria CoordenaçãoGeral de Tributação (COSIT) à matéria versada nos presentes autos. ... Nesse sentido, instada a se manifestar a respeito da correta interpretação a ser dada ao § 40 do artigo 37 da Instrução Normativa SRF n° 210/02, a Fl. 224DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 14 5 CoordenaçãoGeral de Tributação pacificou a matéria versada nos autos ao expedir a Nota Cosit n° 141, em 23 de maio de 2003, dispondo o quanto segue: '3. No entanto, a questão que tem gerado dúvidas às unidades da SRF diz respeito à observância, na homologação de procedimento de compensação efetuado pelo sujeito passivo, nos exatos termos da decisão judicial que reconheceu seu direito creditório e que dispôs sobre a forma de utilização de seus créditos na compensação de seus débitos para com a Fazenda Nacional, na hipótese de a legislação superveniente (editada posteriormente à decisão judicial e antes da efetivação da compensação) tratar a compensação de forma mais benéfica ao sujeito passivo do que a norma na qual a decisão judicial foi fundamentada, por vezes revogandoa expressa ou tacitamente. ... 11. Não obstante isso, concluise que tratamento similar deve ser dispensado pela Administração Tributária ao caso em comento, qual seja a execução da decisão judicial transitada em julgado em conformidade com a norma que fundamentou a decisão até a data de inicio da vigência da norma que regulou a matéria objeto do litígio de forma mais favorável ao sujeito passivo, após a qual referida decisão deve ser executada em conformidade com a legislação superveniente.' ... Da leitura do texto acima transcrito, dessumese que a própria Administração Fazendária compartilha do entendimento esposado pela Requerente, no sentido de não só ser possível, mas sim necessária, a aplicação de lei posterior que permite a compensação dos créditos com quaisquer débitos administrados pela Receita Federal do Brasil a uma decisão transitada em julgado que somente permitia a compensação de valores com o PIS, não havendo razão plausível, portanto, para o indeferimento de sua pretensão compensatória. Ressaltese, novamente, que, no caso em comento, a sentença que reconheceu o direito de a Requerente compensar os valores recolhidos a maior de PIS com parcelas vincendas do próprio PIS foi proferida em 11 de setembro de 2000, logo, anos antes de a Medida Provisória n° 66/02 ser editada e entrar em vigor, a qual autorizou a compensação dos créditos relativos aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal com quaisquer débitos próprios relativos aos tributos também administrados pelo mesmo órgão, exatamente como o caso indicado no item 6 e 7 da Nota Cosit retro transcrita. ... Relembrese que, na Nota Cosit n° 141, de 23 de maio de 2003, a Coordenação Geral reconheceu, no que se refere à compensação de créditos para com a Fazenda Nacional relativamente aos tributos e contribuições administrados pela SRF, a possibilidade de se aplicar ao contribuinte legislação superveniente e mais favorável a este do que aquela que estava em vigor à data em que foi proferida a decisão judicial transitada em julgado, sem que isso represente uma violação ao principio da coisa julgada. ... Entender de forma diferente, isto é, considerar que, no presente caso, os créditos de PIS somente podem ser compensados com os débitos desse mesmo tributo, implica em afronta ao principio da isonomia, postulado que traz em si a Fl. 225DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 15 6 idéia de que não só aqueles que se encontram em igual situação merecem tratamento idêntico, como também a de que os desiguais devem ser tratados na medida de suas desigualdades. ... Por todo o exposto, é a presente para requerer se digne V.Sas. conhecer e julgar procedente a presente Manifestação de Inconformidade, para reformar o despacho decisório, a fim de que seja integralmente homologada a compensação dos valores recolhidos a maior a titulo de PIS, relativo ao período de 01/07/1990 a 30/09/1995, no montante atualizado de R$ 4.903.633,82, consoante reconhecido em decisão judicial transitada em julgado, com os débitos próprios de Imposto de Renda, nos exatos termos da Nota Cosit n° 141/03, a qual, ao fim e ao cabo valida integralmente o pleito em questão, conforme demonstrado acima." A DRJ em Ribeirão Preto (SP) julgou improcedente a manifestação de inconformidade e o Acórdão foi assim ementado: "ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Data do fato gerador: 11/11/2005 AÇÃO JUDICIAL. CRÉDITO RECONHECIDO. COMPENSAÇÃO. SENTENÇA. LIMITES. A compensação de créditos reconhecidos em decisão judicial definitiva há de se conformar aos limites impostos pelo pedido e pela sentença, ainda mais quando formulados já na vigência de legislação tributária que define limites mais dilatados. Determinado na sentença a compensação de créditos de contribuição social com débitos da mesma espécie, indevida a compensação que pretenda extinguir débitos de outra espécie. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido" Inconformado, o contribuinte interpôs recurso voluntário em que, basicamente, repetiu os argumentos contidos na manifestação de inconformidade. É o relatório. Fl. 226DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 16 7 Voto Conselheiro Relator Marcelo Costa Marques d'Oliveira O recurso voluntário preenche os requisitos legais de admissibilidade, pelo que dele tomo conhecimento. Tratase de Despacho Decisório (fls. 114 a 118), que não homologou a compensação de crédito de PIS reconhecido por decisão judicial transitada em julgado (fls. 89 e 90) com débito de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ). O crédito fora objeto de Pedido de Habilitação de Crédito Reconhecido por Sentença Transitada em Julgado, deferido pela DRF em Taboão da Serra/SP (fl. 57). O contribuinte pleiteou judicialmente o reconhecimento de créditos de PIS, derivados de pagamentos indevidos realizados com base nos Decretoslei n° 2.445/88 e 2.449/88, considerados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal e cujas execuções foram suspensas pela Resolução do Senado Federal n° 49/05. A compensação não foi homologada, sob a alegação de que a decisão judicial autorizou a compensação exclusivamente com débitos vincendos de PIS. O valor do crédito restou incontroverso. Na manifestação de inconformidade e no recurso voluntário, a Recorrente alegou que a decisão judicial foi tomada sob a égide do art. 66 da Lei n° 8.383/91 e art. 74 da Lei n° 9.430/96. A primeira admitia a compensação, sem necessidade de anuência prévia do Fisco, desde que entre tributos da mesma espécie. A segunda, por sua vez, autorizava compensações entre tributos de espécies distintas, porém somente se precedida de autorização concedida pela Receita Federal do Brasil (RFB). Mencionou a Nota COSIT n° 141/2003, que, ao tratar do tema, dispõe que a compensação entre tributos de espécies diferentes não representava inobservância do provimento judicial, porém a "(. . .) implementação da decisão, mediante sua necessária integração à legislação superveniente e mais favorável ao sujeito passivo (. . .)." E neste sentido, colaciona diversas decisões administrativas e judiciais e até mesmo soluções de consulta. A DRJ rechaçou tal argumento, alegando que, à época do ingresso em juízo, (25 de fevereiro de 2000), já havia sido publicada a Lei n° 9.430/96, que autorizava a compensação entre tributos de espécies diferentes. Voto no sentido de reconhecer o direito à compensação dos créditos judiciais de PIS com quaisquer tributos federais, pelas razões adiante expostas. Inicio por prover a Turma das informações necessárias à formação de seu juízo acerca da matéria. Primeiro, do processo judicial, reproduzo o "Pedido" e a ementa da decisão transitada em julgado: "Pedido" Ação Declaratória processo n° 2000.61.00.0059536 Fl. 227DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 17 8 "I. conceder o pedido de tutela antecipada, para que possa compensarse dos valores indevidamente recolhidos ao PIS, no período de Fevereiro de 90 a Setembro de 95, nos termos dos DecretosLei 2445/88 e 2449/88, conforme o quadro demonstrativo anexo. II. mandar citar a requerida para que, querendo, conteste a presente, sob pena de revelia, devendo a mesma, ao final, ser julgada PROCEDENTE, com a consolidação do seu direito consistente da compensação das contribuições pagas indevidamente ao PIS. sob a égide dos DecretosLeis 2445/88 e 2449/88. com o COFINS e o PIS. devidos e vincendos, até a exaustão do seu crédito, determinadose a aplicação do Artigo 6° parágrafo único da Lei Complementar 7170, com a correção monetária integral dos mesmos. incluindose os IPC 's expurgados da economia, subtraindo a requerente dos efeitos da Instrução Normativa da Receita Federal n°21/97, com a condenação da requerida no pagamento das custas processuais, despesas judiciais e honorários advocaticios. na base de 20% (vinte Dor cento) da condenação, tudo devidamente corrigido de acordo com a legislação em vigor, e demais cominações legais; III. sucessivamente, se ao final ser considerado como inaplicável a compensação tributária, acolhase o pedido de repetição do indébito, igualmente com os acréscimos e condenações acima mencionados; (. . .)" Ementa da decisão transitada em julgado "DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PARA 0 PIS. DECRETOSLEIS N° 2.445/88 E N° 2.449/88. INCONSTITUCIONALIDADE. RECONHECIMENTO PRETORIANO (RE 148.7542). COMPENSAÇÃO COM 0 PRÓPRIO PIS. HIPÓTESE LEGAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. IPCs DEVIDOS. TAXA SELIC. APLICAÇÃO. I Restou descaracterizada a obrigatoriedade do recolhimento do PIS sob os ditames dos DecretosLeis n° 2.445/88 e n° 2.449/88, dada a inconstitucionalidade das modificações procedidas, como assentou o Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinário n° 148.7542, por seu Tribunal pleno. II Considerando haver disposições de lei complementar genérica (CTN) e de lei ordinária especifica (Lei 8383/91), autorizando a compensação de pagamento indevido de tributos federais, temse por conclusivo que a pretensão de compensar os valores pagos indevidamente a titulo de PIS, com débitos do próprio PIS, é hipótese legal de compensação tributária. III A incidência do índice do IPC é de rigor, uma vez que a Lei n° 7.730/89 limitouse a extinguir um indexador, remanescendo a exigência legal de se atualizar os débitos. Inaplicação do IPC de jan./89 e mar/90, não alcançados pela lide. Fl. 228DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 18 9 IV A partir de 1° de janeiro de 1996 é plenamente aplicável a taxa Selic, entretanto, sua incidência excluirá a aplicação de quaisquer outros indices a titulo de juros e/ou de correção monetária." A seguir, transcrevo os artigos 66 da Lei n° 8.383/91, que introduziu a sistemática de compensação, porém somente entre tributos de mesma espécie, 74 da Lei n° 9.430/96 (redação original e vigente na data do indeferimento do crédito), que decidiu por admitila entre tributos distintos, porém desde que autorizada pela RFB, e, por fim, 49 da Lei n° 10.637/02, que alterou a redação do art. 74 da Lei n° 9.430/96 e encontrase atualmente em vigor. Lei n° 8.383/91 "Art. 66. Nos casos de pagamento indevido ou a maior de tributos, contribuições federais, inclusive previdenciárias, e receitas patrimoniais, mesmo quando resultante de reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória, o contribuinte poderá efetuar a compensação desse valor no recolhimento de importância correspondente a período subseqüente. (Redação dada pela Lei nº 9.069, de 29.6.1995) (Vide Lei nº 9.250, de 1995) § 1º A compensação só poderá ser efetuada entre tributos, contribuições e receitas da mesma espécie. (Redação dada pela Lei nº 9.069, de 29.6.1995) § 2º É facultado ao contribuinte optar pelo pedido de restituição. (Redação dada pela Lei nº 9.069, de 29.6.1995) § 3º A compensação ou restituição será efetuada pelo valor do tributo ou contribuição ou receita corrigido monetariamente com base na variação da UFIR. (Redação dada pela Lei nº 9.069, de 29.6.1995) § 4º As Secretarias da Receita Federal e do Patrimônio da União e o Instituto Nacional do Seguro Social INSS expedirão as instruções necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 9.069, de 29.6.1995)" Lei n° 9.430/96 "Art. 74. Observado o disposto no artigo anterior, a Secretaria da Receita Federal, atendendo a requerimento do contribuinte, poderá autorizar a utilização de créditos a serem a ele restituídos ou ressarcidos para a quitação de quaisquer tributos e contribuições sob sua administração." Lei n° 10.637/02 Fl. 229DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 19 10 " Art. 49. O art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: Produção de efeito 'Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá utilizálo na compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. (. . .)' Por fim, colaciono ementa de decisão do STJ, constante do recurso voluntário, e trechos da Nota COSIT n° 141/03, cujos teores são cruciais para o deslinde da questão: Decisão do STJ TRIBUTÁRIO. COMPENSAÇÃO. TRIBUTOS DE ESPÉCIES DISTINTAS. APLICAÇÃO DO DIREITO SUPERVENIENTE NA VIA ESPECIAL. LEI N.º 10.637/02. IMPOSSIBILIDADE. 1. Na compensação tributária, deve ser observada a legislação vigente à época do ajuizamento da ação, não podendo ser julgada a causa à luz do direito superveniente (Lei n.º 10.637/2002), ressalvandose a possibilidade de a parte autora proceder à compensação dos créditos pela via administrativa, em conformidade com as normas posteriores, desde que atendidos os requisitos próprios (EREsp n.º 434.143/BA, Rel. Min. Teori Zavascki). 2. "É inviável, na hipótese, apreciar o pedido à luz do direito superveniente, porque os novos preceitos normativos, ao mesmo tempo em que ampliaram o rol das espécies tributárias compensáveis, condicionaram a realização da compensação a outros requisitos, cuja existência não constou da causa de pedir e nem foi objeto de exame nas instâncias ordinárias" (EREsp n.º 488.992/MG, Rel. Min. Teori Zavascki). 3. Recurso especial improvido. (STJ REsp: 695301 MG 2004/01461326, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, Data de Julgamento: 08/02/2006, S1 PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJ 02/05/2006 p. 245) Nota COSIT n° 141/03 Fl. 230DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 20 11 (. . .) A fiscalização e a DRJ ativeramse à literalidade da decisão judicial, que restringiu a compensação à liquidação de contribuições para o PIS vincendas. E também ao fato de que, à época da propositura da ação judicial e, por conseguinte, prolação da sentença, já estar em vigor a compensação indiscriminada (art. 74 da Lei n° 9.430/96). Quanto ao segundo argumento, rebateu a Recorrente, alegando que, em sede da ação judicial, não poderia ter invocado o art. 74 da Lei n° 9.430/96, posto que este condicionava a compensação entre tributos de espécies distintas ao prévio consentimento do Fisco. Portanto, não se poderia dizer que introduzira uma sistemática de "compensação indiscriminada". A meu ver, para solução do tema, não precisamos, ou melhor, não devemos ingressar na discussão travada entre o Fisco e o contribuinte, centrada na literalidade da decisão judicial e do art. 74 da Lei n° 9.430/96. Fl. 231DF CARF MF Processo nº 10882.002183/200910 Acórdão n.º 3301003.206 S3C3T1 Fl. 21 12 Há bens jurídicos mais relevantes que devem ser preservados, sem ofensa ao bom direito: a busca de uma solução, prática e rápida, para pendências débitos e créditos fiscais recíprocos existentes entre Fisco e contribuinte. Se considerarmos o gigantesco volume de débitos e créditos atualmente em discussão, tal solução, aplicada em larga escala, traria enormes economias para Fisco e contribuinte e benefícios para a sociedade como um todo. Para tanto, devemos ler com atenção a Nota COSIT n° 141/03 e a ementa da decisão do STJ. Percebese, nitidamente, que a intenção é a de instrumentalizar, da forma mais célere possível, um "encontro de contas" entre partes (Fisco e contribuinte), cujas bases encontramse acordadas na legislação contemporânea à efetivação da compensação. E pouco importa se a legislação atual é diferente daquela que vigorava à época da propositura da ação judicial. Ambas as partes, por meio de seus representantes, já estabeleceram as condições para concluir a questão. E as bases estão integralmente em linha com os princípios que regem a Administração Pública, previstos no art. 2° da Lei n° 9.784/99, notadamente os da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, interesse público e eficiência. E também com o do Formalismo Moderado, um dos que norteia o processo administrativo fiscal. Assim, vejo o indeferimento da compensação como um excesso de rigor formalístico, que somente traz prejuízos ao Fisco e ao contribuinte. Portanto, de todo o exposto, voto pelo reconhecimento do direito à compensação do crédito de PIS com qualquer tributo administrado pela Receita federal do Brasil. A homologação dos PER/DCOMPs deverá ser efetivada, considerando o valor do crédito pleiteado, o qual, reitero, restou incontroverso. É como voto. Relator Marcelo Costa Marques d'Oliveira Fl. 232DF CARF MF
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Numero do processo: 15586.720742/2012-31
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 21 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon May 08 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007
GANHO DE CAPITAL - CISÃO PARCIAL - CONSTITUIÇÃO DE NOVA PESSOA JURÍDICA. SIMULAÇÃO. NÃO CONFIGURADA.
Nem toda ação ou omissão do contribuinte com o fito de reduzir sua base tributável antes da ocorrência do fato gerador pode ser enquadrada como fraudulenta, pois somente aquelas que sejam ilícitas poderiam levar a tal conclusão.
Não se pode enquadrar como simulação a cisão realizada para constituir uma outra sociedade, com o fim de que esta viesse a alienar o bem recebido em integralização, pois se trata apenas de um negócio jurídico indireto, pelo qual a nova sociedade é constituída para surtir os efeitos que lhes são próprios e não para dissimular outros negócios jurídicos.
INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO. LUCRO REAL DE SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO.
A falta de escrituração do Lalur não autoriza a Autoridade Fiscal a tomar como lucro real o lucro contábil apurado pela SCP. Se não apresentado o Lalur da SCP após devidamente intimada a sócia ostensiva, deve ser arbitrado o lucro da SCP.
TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL.
Tratando-se da mesma situação fática e do mesmo conjunto probatório, a decisão prolatada com relação ao lançamento do IRPJ é aplicável, mutatis mutandis, ao lançamento da CSLL.
Numero da decisão: 1302-002.062
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em REJEITAR a preliminar de nulidade e, no mérito, em DAR provimento ao recurso voluntário. Vencida a Conselheira Ana de Barros Fernandes Wipprich que divergiu com relação à infração 001 (Ganho de Capital). O Conselheiro Luiz Tadeu Matosinho Machado votou pelas conclusões do relator quanto à infração 001.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente.
(assinado digitalmente)
Alberto Pinto Souza Junior Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente), Ana de Barros Fernandes Wipprich, Rogério Aparecido Gil, Alberto Pinto Souza Junior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa.
Nome do relator: ALBERTO PINTO SOUZA JUNIOR
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2007 GANHO DE CAPITAL - CISÃO PARCIAL - CONSTITUIÇÃO DE NOVA PESSOA JURÍDICA. SIMULAÇÃO. NÃO CONFIGURADA. Nem toda ação ou omissão do contribuinte com o fito de reduzir sua base tributável antes da ocorrência do fato gerador pode ser enquadrada como fraudulenta, pois somente aquelas que sejam ilícitas poderiam levar a tal conclusão. Não se pode enquadrar como simulação a cisão realizada para constituir uma outra sociedade, com o fim de que esta viesse a alienar o bem recebido em integralização, pois se trata apenas de um negócio jurídico indireto, pelo qual a nova sociedade é constituída para surtir os efeitos que lhes são próprios e não para dissimular outros negócios jurídicos. INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO. LUCRO REAL DE SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. A falta de escrituração do Lalur não autoriza a Autoridade Fiscal a tomar como lucro real o lucro contábil apurado pela SCP. Se não apresentado o Lalur da SCP após devidamente intimada a sócia ostensiva, deve ser arbitrado o lucro da SCP. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. Tratando-se da mesma situação fática e do mesmo conjunto probatório, a decisão prolatada com relação ao lançamento do IRPJ é aplicável, mutatis mutandis, ao lançamento da CSLL.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em REJEITAR a preliminar de nulidade e, no mérito, em DAR provimento ao recurso voluntário. Vencida a Conselheira Ana de Barros Fernandes Wipprich que divergiu com relação à infração 001 (Ganho de Capital). O Conselheiro Luiz Tadeu Matosinho Machado votou pelas conclusões do relator quanto à infração 001. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente. (assinado digitalmente) Alberto Pinto Souza Junior Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente), Ana de Barros Fernandes Wipprich, Rogério Aparecido Gil, Alberto Pinto Souza Junior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa.
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SIMULAÇÃO. NÃO CONFIGURADA. Nem toda ação ou omissão do contribuinte com o fito de reduzir sua base tributável antes da ocorrência do fato gerador pode ser enquadrada como fraudulenta, pois somente aquelas que sejam ilícitas poderiam levar a tal conclusão. Não se pode enquadrar como simulação a cisão realizada para constituir uma outra sociedade, com o fim de que esta viesse a alienar o bem recebido em integralização, pois se trata apenas de um negócio jurídico indireto, pelo qual a nova sociedade é constituída para surtir os efeitos que lhes são próprios e não para dissimular outros negócios jurídicos. INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO. LUCRO REAL DE SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. A falta de escrituração do Lalur não autoriza a Autoridade Fiscal a tomar como lucro real o lucro contábil apurado pela SCP. Se não apresentado o Lalur da SCP após devidamente intimada a sócia ostensiva, deve ser arbitrado o lucro da SCP. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. Tratandose da mesma situação fática e do mesmo conjunto probatório, a decisão prolatada com relação ao lançamento do IRPJ é aplicável, mutatis mutandis, ao lançamento da CSLL. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em REJEITAR a preliminar de nulidade e, no mérito, em DAR provimento ao recurso voluntário. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 58 6. 72 07 42 /2 01 2- 31 Fl. 1869DF CARF MF 2 Vencida a Conselheira Ana de Barros Fernandes Wipprich que divergiu com relação à infração 001 (Ganho de Capital). O Conselheiro Luiz Tadeu Matosinho Machado votou pelas conclusões do relator quanto à infração 001. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente. (assinado digitalmente) Alberto Pinto Souza Junior – Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente), Ana de Barros Fernandes Wipprich, Rogério Aparecido Gil, Alberto Pinto Souza Junior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa. Relatório Versa o presente processo sobre recurso voluntário, interposto pelo contribuinte em face do Acórdão nº 1255.622 da 5ª Turma da DRJ/RJ1, o qual foi assim ementado: “ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Exercício: 2007 CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. Tendo em vista que a exigência fiscal foi formalizada com observância das normas aplicáveis e ao fiscalizado foi possibilitada a oportunidade para defenderse plena e tempestivamente da irregularidade que lhe foi imputada, não cabe a arguição de nulidade do lançamento. NULIDADE. AUTO DE INFRAÇÃO. INOCORRÊNCIA. Não se verificando a ocorrência de nenhuma das hipóteses previstas no artigo 59 do Decreto nº 70.235/72 e observados todos os requisitos do artigo 10 do mesmo diploma legal, não há que se falar em nulidade da autuação. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2007 SIMULAÇÃO. OPERAÇÕES ESTRUTURADAS EM SEQUÊNCIA. OCORRÊNCIA. O fato de cada uma das transações, isoladamente e do ponto de vista formal, ostentar legalidade, não garante a legitimidade do conjunto de operações, quando fica comprovado que os atos praticados tinham objetivo diverso daquele que lhes é próprio. SIMULAÇÃO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO EXTRATRIBUTÁRIA. OCORRÊNCIA. A liberdade de autoorganização não endossa a prática de atos sem motivação negocial, sob o argumento de exercício do planejamento tributário. MULTA QUALIFICADA. SIMULAÇÃO. APLICABILIDADE. Fl. 1870DF CARF MF Processo nº 15586.720742/201231 Acórdão n.º 1302002.062 S1C3T2 Fl. 1.870 3 Constatada a prática de simulação, perpetrada mediante a articulação de operações com o intuito de evitar a ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda, é cabível a exigência do tributo, acrescido de multa qualificada. JUROS. SELIC. INCONSTITUCIONALIDADE. ILEGALIDADE. APRECIAÇÃO. VEDAÇÃO. Não compete à autoridade administrativa manifestarse quanto à inconstitucionalidade ou ilegalidade das leis, por ser essa prerrogativa exclusiva do Poder Judiciário. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007 GANHO DE CAPITAL. VENDA DE BEM DO ATIVO IMOBILIZADO. OCORRÊNCIA. Incide a tributação do imposto de renda sobre o ganho de capital auferido, no caso de venda de bem pertencente ao Ativo Imobilizado. MULTA ISOLADA. FALTA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS DE IRPJ. INCIDÊNCIA. Incide multa de ofício isolada sobre os valores do imposto de renda, calculados sobre a base de cálculo estimada, ainda que apurado prejuízo fiscal no encerramento do período de apuração. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. PREJUÍZOS FISCAIS. PERIODOS ANTERIORES. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. A ausência do registro de prejuízos fiscais de períodos anteriores de forma destacada no Livro de Apuração do Lucro Real da sócia ostensiva da Sociedade em Conta de Participação, ou em livro específico da sociedade, implica no não reconhecimento da compensação efetuada, para fins de apuração do tributo devido. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. Aplicase às exigências ditas reflexas o que foi decidido quanto à exigência matriz, devido à íntima relação de causa e efeito entre elas. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido.” A recorrente, cientificada do Acórdão nº 1255.622 em 8/07/2013 (AR a fls. 1745), interpôs, em 02/08/201312/08/2013 (conforme petição a fls. 1747), recurso voluntário (doc. a fls. 1748 e segs.), no qual aduz as seguintes razões de defesa: a) que é o auto de infração é nulo, porque aplicou pena sem o devido processo legal; a.1) que, por se tratar o debito apontado no AI em comento de penalidade pecuniaria emanada de procedimento administrativo, há evidente nulificação, ante a ofensa ao princípio do devido processo legal, inscrito no Art. 5°, LV da Constituicao Federal de 1988; a.2) que, quando da lavratura do AI em tela, não foi oportunizada a recorrente a apresentação de defesa antes da realização do lançamento ex officio da severa penalidade multa, tributos e juros no estratosférico valor de R$ 11.431.953,02; a.3) que tal fato feriu frontalmente os princípios gerais de Direito, uma vez que a recorrente foi submetida a procedimento de fiscalização que concluiu, de maneira sumária, que a contribuinte, supostamente, se encontrava em situação de irregularidade, Fl. 1871DF CARF MF 4 aplicandose imposição tributária antes do transito em julgado de decisão administrativa pertinente para a apuração da procedência da mesma, violando, desta maneira, o previsto nos incisos XXXIV, LIV e LV, do Art. 5° da Carta Política de 1988, que consagram os princípios do due process of law e da ampla defesa e do contraditório; b) que a cisão da Acta Engenharia para criação da Acta Empreendimentos foi escorreita e legal; b.1) que entendeu a fiscalização que a ora recorrente desconsiderou na apuração de seu lucro tributável os valores obtidos a título de ganho de capital na venda de imóvel de sua propriedade, comercializado pela Acta Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ 09.064.832/000146; b.2) que, conforme se infere do Termo de Verificação Fiscal, parte integrante do Auto de Infração em referência, o Ilmo. Auditor Fiscal teria constatado que o resultado obtido pela Acta Empreendimentos e Participações LTDA em relação a venda do terreno a Aquarius SPE LTDA, foi considerado, especificamente para fins tributarios no que se refere ao IRPJ e a CSLL, como sendo auferido pela Acta Engenharia LTDA.; b.3) que afirmou o Ilmo. Auditor Fiscal que a empresa Acta Empreendimentos e Participacoes LTDA teria sido constituída exclusivamente para fins de realizar a alienação do somatório de áreas do Loteamento denominado Residencial Aquarius, situado em Manguinhos, Serra/ES, com o objetivo de deslocar a incidência tributária do lucro real para o lucro presumido, favorecendo assim, indevidamente, segundo a fiscalização, a empresa Acta Engenharia LTDA, ora recorrente, em desfavor do fisco; b.4) que concluiu a fiscalização que ao extrair o imóvel do patrimônio da Acta Engenharia LTDA e repassálo a Acta Empreendimentos e Participações LTDA, antes de alienálo a terceiros, teria obtido a recorrente uma substancial "economia" tributária, no que se refere ao IRPJ e a CSSL, contudo, tal operação teria sido irregular, visto que não há previsão legal para que o contribuinte, tributado pelo lucro real, separe determinada parcela de sua receita para tributála em outro regime mais favorável, como ocorreu com a constituição de uma outra empresa, tributada pelo lucro presumido, para realizar a operação de alienação do terreno; b.5) que tais considerações, permissa venia, restam de todo equivocadas, tanto que somente foram corroboradas por parte dos membros da colenda 5ª Turma de Julgamento, sendo oportuno afastar as ilações do Ilmo. Auditor Fiscal, narrandose a realidade dos fatos, o que se faz a seguir; b.6) que a empresa ACTA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA fora constituída em 24/08/2007, pela ACTA ENGENHARIA LTDA, ora recorrente, e seus sócios, tendo como Objeto Social o "planejamento e a participação em empreendimentos em geral, em parceria ou não, e a participação no capital de outras Sociedades"; b.7) que, como forma de integralizar e subscrever parte do Capital Social da Acta Empreendimentos que foi de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais) , a Acta Engenharia, ora recorrente, incorporou ao patrimonio daquela, áreas integrantes do Loteamento denominado "Residencial Aquarius", situado em Manguinhos, no Município de Serra/ES, adquiridas por esta mediante compra e venda em 30/12/1982, totalizando, nesta operação, o valor de R$ 594.402,58 (quinhentos e noventa e quatro mil, quatrocentos e dois reais e cinquenta e oito centavos), sendo esta operação lídima e estando devidamente documentada; b.8) que não existe qualquer dúvida quanta a esse procedimento de incorporação ou conferência de bens ao capital quando o imóvel já é de propriedade do sócio e assim está registrado no cartorio de imóveis; Fl. 1872DF CARF MF Processo nº 15586.720742/201231 Acórdão n.º 1302002.062 S1C3T2 Fl. 1.871 5 b.9) que o aporte realizado pela recorrente, consubstanciado na incorporação dos imóveis em tela ao patrimônio da Acta Empreendimentos, revestiuse de toda a legalidade, restando lícita e escorreita, conforme se verifica na documentação anexada aos autos quando da apresentação da impugnação; b.10) que alguns meses após a constituição da Acta Empreendimentos e Participações LTDA, deliberaram seus sócios, ante o recebimento de oferta extremamente atraente, pela venda dos imóveis em tela a empresa Aquarius SPE LTDA, tendo sido esta operacão concretizada de forma lícita e perfeita em 08/11/2007, recolhendo, inclusive, a Acta Empreendimentos e Participações LTDA, de forma escorreita os tributos incidentes sobre a operação; b.11) que levando em consideração o tempo transcorrido entre a constituição da Acta Empreendimentos e Participações LTDA e a venda dos imóveis que compunham o seu patrimônio, e que o Ilmo. Auditor Fiscal concluiu, de forma equivocada, concessa venia, que a criação da referida empresa teria se operado com o fim exclusivo de alienar o imóvel em tela, para desviar o foco da incidência tributária; b.12) que é cediço no meio imobiliário, que 02 (dois) meses é tempo suficiente para que uma transação, mesmo que de grande porte como esta, possa ser concluída, não podendo assim, por este frágil argumento, o Ilmo. Auditor Fiscal supor que a negociação tenha ocorrido antes da constituição da Acta Empreendimentos e Participacoes LTDA.; b.13) que não restou evidenciado nos autos, ainda que por meros indícios, que a recorrente já havia recebido a proposta para alienação dos imóveis antes de verter parte do capital social para constituição de outra pessoa jurídica; b.14) que a empresa Acta Empreendimentos e Participações LTDA, mesmo após a concretização do referido negócio, encontrase em pleno funcionamento, possuindo diversos negócios em trâmite, pois ela opera, esta em pleno funcionamento e possui diversos outros negocios, conforme documentos jáque anexados; b.15) que cumpre ainda refutar expressamente o que constou no Acordão recorrido quanto ao funcionamento da Acta Empreendimentos, visto que, não obstante não tenha auferido receita, já que as DIPJs relativas ao anocalendário de 2010 e 2011 assim informaram, ao teor dos documentos colacionados aos autos inferese que a mesma continua atuando normalmente no mercado; b.16) que , conforme se observa na documentação já anexada, a empresa ora recorrente transferiu em 07/12/2011, mediante contrato particular de promessa de compra e venda, pelo valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), 50% (cinquenta por cento) que lhe cabia de áreas localizadas em Jardim Limoeiro, no Município de Serra, adquiridas em 30/04/2009 por meio de compra e venda da empresa Tomazelli Engenharia Comércio e Planejamento Ltda, a empresa Itapé Construtora e Incorporadora Ltda, sendo que sobre a operação incidiram todos os tributos a ela concernentes, sendo todos eles devidamente recolhidos pela ACTA ENGENHARIA, ora recorrente, empresa tributada pelo lucro real, sendo que a Acta Empreendimentos, proprietária dos outros 50% (cinquenta por cento) das referidas áreas, não vendeu sua parte, prosseguindo no negócio imobiliário, apesar das dificuldades do mercado; b.17) que caso houvesse a intenção da recorrente em lesar o fisco, com o pagamento de menos tributos, quem teria vendido as áreas a empresa Itapé Construtora e Incorporadora Ltda seria a Acta Empreendimentos e não a Acta Engenharia, o que demonstra, Fl. 1873DF CARF MF 6 sob mais este aspecto, a conduta lídima da recorrente na operação descrita no Termo de Verificação Fiscal em tela; b.18) que uma das formas de planejamento tributário é justamente a cisão empresarial, na qual uma empresa se subdivide em outras, criando assim personalidades jurídicas distintas, como no caso em apreço, e, nesse aspecto, tendo em vista que a Acta Empreendimentos alienou licitamente imóvel de sua propriedade, recolheu os tributos incidentes sobre essa operação de forma escorreita, distribuiu os lucros relativos a operação aos seus sócios, NÃO HÁ QUE SE FALAR EM SONEGAÇÃO FISCAL; c) que realizouse um planejamento tributário, não uma simulação; c.1) que, para que reste configurada a existência de planejamento tributário, são necessários dois requisitos: o cronológico e o da licitude: pelo requisito cronológico, somente pode ser considerado como planejamento tributário aqueles atos realizados antes da incidência do tributo, ou seja, antes da ocorrência do fato gerador; já pelo critério da licitude, os atos e os efeitos dos atos praticados pelo contribuinte no sentido de reduzir ou excluir o ônus tributário devem ser lícitos; c.2) que vale trazer a lume o seguinte aresto do TRF da 4ª Região: “Dáse a elisão fiscal quando, por meios lícitos e diretos, o contribuinte planeja evitar ou minimizar a tributação. Esse planejamento se fundamenta na liberdade que possui de gerir suas atividades e seus negócios em busca da menor onerosidade tributaria possível, dentro da zona de licitude que o ordenamento jurídico lhe assegura."[...] Tal liberdade é possível apenas anteriormente a ocorrência do fato gerador, pois, uma vez ocorrido este, surge a obrigação tributária. STJ, 2a T, RESP 946707RS (TRF4a R, 2a T, AC 2004.71.10.0039659/RS)”; c.3) que não há qualquer ato simulado na hipótese em tela, seja porque foi declarado exatamente o que foi realizado e que corresponde a verdade real dos fatos; não há nem nunca houve qualquer outro negócio jurídico que pudesse corresponder a suposta vontade declarada enganadora; não houve intenção de prejudicar o fisco, apenas e tão somente houve transmissão de propriedade de bens imóveis e, POSTERIORMENTE, recebimento de proposta comercial que culminou com a alienação dos imóveis dados para integralização do capital da empresa de participações; d) quanto à sociedade em conta de participação: d.1) que, de acordo com a fiscalização, houve recolhimento do IRPJ e da CSLL a menor pela SCP Acta/Tomazelli; d.2) que vale ressaltar que a recorrente utiliza o regime de custos orçados para apuração de seus resultados em todas as obras por regime de empreitada global apurando os resultados com base nos custos realizados proporcional a receita orçada; d.3) que Com relação ao contrato firmado com a CESAN para construção do esgotamento sanitário de Manguinhos, em Serra, a obra foi realizada em parceria com a Construtora Tomazelli Ltda por meio de constituição de uma SCP; d.4) que a obra teve início em agosto de 2006 com previsão para término em 2009 e considerando que a recorrente era a sócia ostensiva, emitia as notas fiscais e efetuava os custos em seu nome; d.5) que o empreendimento foi deficitário em todos os exercícios, totalizando um prejuízo na ordem de R$ 72.898,69 (setenta e dois mil, oitocentos e noventa e oito reais e sessenta e nove centavos); d.6) verificase que nada é devido, também, em relação a SCP Acta/Tomazelli; restando igualmente inconsistente a autuação e o que sustentado no v. Acordão recorrido; Fl. 1874DF CARF MF Processo nº 15586.720742/201231 Acórdão n.º 1302002.062 S1C3T2 Fl. 1.872 7 e) que é inconstitucional a aplicação da Taxa Selic na atualização de créditos tributários; f) que a multa aplicada viola os princípios da capacidade contributiva, razoabilidade e nãoconfisco; g) que requer seja conhecido e provido o recurso em tela e, por conseguinte, seja reformada a r. decisão proferida, para que seja julgado NULO de pleno direito o Auto de Infração epigrafado e, consequentemente, extinto sem apreciação de mérito o Processo Administrativo instaurado, e, no mérito, caso superada a matéria de índole formal, REQUER seja julgado completamente INSUBSISTENTE o Auto de Infração em referência. É o relatório. Voto Conselheiro Alberto Pinto S. Jr.. O recurso voluntário é tempestivo e foi subscrito pelo representante legal da recorrente, conforme Cláusula Sétima do contrato social a fls. 1861, razão pela qual dele conheço. Preliminarmente, há que se afastar a nulidade suscitada, pois durante a fase inquisitorial do processo administrativo fiscal, momento no qual as Autoridades Tributárias fazem o seu juízo de valor sobre a matéria sob fiscalização, não há que se falar em contraditório, salvo logicamente em situações extraordinárias previstas expressamente em lei, como por exemplo, na hipótese do art. 42 da Lei 9.430/96 – o que não é o caso dos autos. GANHO DE CAPITAL CISÃO PARCIAL – CONSTITUIÇÃO DA ACTA EMPREENDIMENTOS Este ponto se refere ao item 001 do auto de infração do IRPJ (a fls. 1513) e da CSLL (a fls. 1530), no qual o autuante recompôs o lucro real da recorrente, ao incluir o ganho de capital apurado pela Acta Empreendimento, pelas razões a seguir expostas no Termo de Verificação Fiscal (a fls. 1489): 22. Como se observa, não restam dúvidas de que a “engenharia empresarial” promovida pelo contribuinte na constituição de outra empresa para realizar a venda do terreno não teve outro objetivo senão a redução do impacto tributário da operação. E aqui é importante mais uma vez ressaltar, que não há previsão legal para que uma empresa tributada pelo lucro real desmembre parte de sua receita, mesmo que não operacional, para ser tributada em outro regime menos oneroso. 23. Desse modo, no âmbito do procedimento fiscal, o resultado obtido pela Acta Empreendimentos e Participações Ltda em relação à venda do terreno à Aquarius Spe Ldta, foi considerado, especificamente para fins tributários no que se refere ao IRPJ e à CSLL, como sendo auferido pela Acta Engenharia Ltda. Fl. 1875DF CARF MF 8 O autuante sustenta que o ganho de capital em tela foi auferido pela recorrente, porque desconsiderou a personalidade jurídica da Acta Empreendimentos e enquadrou a conduta da recorrente como fraudulenta, se não vejamos o seguinte excerto do TVF: “58. Como amplamente demonstrado neste relatório, através de uma operação planejada, estruturada em sequência, promoveu indevidamente o contribuinte o deslocamento da base tributável (da Acta Engenharia Ltda para a Acta Empreendimentos e Participações Ltda), impedindo a ocorrência do fato jurídico tributário na Acta Engenharia Ltda, com o claro propósito de reduzir drasticamente os encargos tributários incidentes sobre a venda do imóvel, o que caracteriza, em tese, fraude, como tipificada no art. 72 da Lei n° 4.502, de 1964.”. O citado art. 72 da Lei 4.502/64 dispõe que “Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento”. De plano, há que se descartar qualquer ação ou omissão do recorrente no sentido de impedir ou retardar a ocorrência do fato gerador. Restaria, então, saber se a conduta da recorrente pode ser enquadrada na hipótese final do dispositivo, ou seja, se ela visou modificar as características essenciais do fato gerador com o fim de reduzir a carga tributária. Ora, a questão que se coloca é se toda ação ou omissão do contribuinte, antes da ocorrência do fato gerador, que reduza sua base tributável pode ser enquadrada como fraude? A resposta é indubitavelmente negativa, pois somente atos ilícitos poderiam levar a tal enquadramento. A título ilustrativo, vejamos que não comete fraude uma pessoa jurídica que opta, no início do ano, pelo lucro real anual porque sabe que o lucro real trimestral lhe será mais oneroso; da mesma forma não é fraudador uma pessoa física que resolve investir em plano de previdência privada do tipo PGBL, apenas para reduzir a base tributável de um ano no qual teve muitos rendimentos extraordinários, sem qualquer intenção de realmente fazer uma previdência privada para sua futura aposentadoria, mas apenas aguardar o melhor momento para liquidar o ativo, assim que aplicável a menor alíquota da tabela regressiva. Notese que todos esses exemplos são caminhos lícitos percorridos pelo contribuinte e que estão dentro da sua esfera de liberdade. Por que então seria indevida a cisão feita pela recorrente, para constituir a Acta Empreendimentos e lhe transferir a propriedade de imóvel, para futura venda? O autuante não explica, mas apenas sustenta que a recorrente promoveu indevidamente o deslocamento da base tributável para a Acta Empreendimentos. Alerto que não se pode enquadrar a conduta da recorrente como simulação, pois a cisão realizada para constituir uma outra sociedade, com o fim de que esta viesse a alienar o bem recebido, é apenas um negócio indireto, já que a Acta Empreendimentos foi constituída para surtir os efeitos que lhes eram próprios e não para dissimular outros negócios jurídicos. Com o fito de melhor aclarar o meu entendimento, valhome de exemplo meramente ilustrativo: alguém que simula uma compra e venda para dissimular uma doação, não deseja os efeitos que são próprios da venda o pagamento, pois deseja os efeitos da doação. No caso em tela, os efeitos buscados pelos autuantes ao criarem a Acta Empreendimentos eram justamente os efeitos formais e visíveis de tais atos. Fl. 1876DF CARF MF Processo nº 15586.720742/201231 Acórdão n.º 1302002.062 S1C3T2 Fl. 1.873 9 Sobre a diferença entre simulação relativa e negócio jurídico indireto, vale a transcrição do seguinte excerto da lavra do ex Ministro Moreira Alves, em parecer apresentado em outro processo que tramitou neste CARF, in verbis: "Assim sendo, tem razão a imensa maioria da doutrina quando acentua, como o faz Domingues de Andrade, que o negócio jurídico sempre se distinguirá da simulação (relativa), uma vez que as partes querem verdadeiramente o negóciomeio, com os efeitos que lhes são próprios, embora só para conseguirem através dele um resultado prático diverso do que lhe é normal, ou, como, em substanciosa monografia sobre a simulação nos negócios jurídicos, refere Distaso, aderindo à posição de Pugliese no sentido de que a decisiva diferença entre negócio indireto e o negócio relativamente simulado é que 'o negócio indireto é um negócio real, empregado efetivamente pelas partes como meio para alcançar o escopo ulterior, que não se realiza na verdade através de um negócio diverso daquele que aparece celebrado, enquanto, no caso de simulação relativa, o negócio simulado não é senão uma forma negocial aparente diversa da forma negocial que assume a intenção realmente perseguida pelas partes'. (...) Em suma, como enfatiza Domenico Barbero, quanto ao negócio jurídico indireto, e a observação se aplica como luva ao caso sob exame, 'não há simulação, porque nada é fingido, tudo é real e realmente querido', inclusive acrescento as consequências jurídicas de cada um dos negócios que integraram essa combinação de negócios com escopo indireto ora sob consulta. 4. No tocante ao segundo quesito 'Não sendo simulação, a negociação feita através dos atos descritos na consulta é válida perante o direito privado? , respondo que, não tendo havido simulação no caso, como salientei na resposta ao quesito anterior, é válida perante o direito privado, a negociação que foi feita por meio da combinação dos negócios com escopo indireto objeto da presente consulta. Não existindo simulação, não há também, na espécie sob exame, a ilicitude que resulta da figura da fraude à lei, mas se impõem que se faça a análise a respeito dela, porquanto, como observa Domenico Rubino, o negócio indireto se presta perfeitamente a tornase instrumento da fraude: quando o seu resultado ulterior é proibido, temse um negócio in fraudem legis." Frisese que, como já anteriormente pontuado, os resultados ulteriores buscados ao se criar a Acta Empreendimentos eram todos lícitos, ao não ser que existisse norma que impusesse ao contribuinte a obrigação de, diante de dois caminhos lícitos, optar por aquele que levaria ao maior ônus tributário. Assim, sustento que estamos diante de uma elisão fiscal, ou seja, de atos lícitos praticados com o único condão de reduzir tributos. Será então que teria o Auditor Fiscal base legal para desconsiderar a personalidade jurídica da Acta Empreendimentos e transferir as suas bases tributáveis para a Acta Engenharia (recorrente)? Fl. 1877DF CARF MF 10 Antes mesmo da entrada em vigor do art. 187 da Lei 10.406/02, já se discutia o abuso de direito no campo tributário, quando da discussão da inserção do parágrafo único no art. 116 do CTN, pela Lei Complementar 104/01. Sobre isso, importante a transcrição do seguinte trecho de artigo publicado por Vitório Cassone ( no site: www.agu.gov.br/page/download/index/id/892382), in verbis: A “justificação” do anteprojeto que resultou na LC 104 (Ofício SRF/GAB n°1.594/99, de 08.09.1999), é versada nos seguintes termos: “5. A inclusão do parágrafo único ao art. 116 fazse necessária para estabelecer, no âmbito da legislação brasileira, norma que permita à autoridade tributária desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de elisão, constituindose, dessa forma, em instrumento eficaz para o combate aos procedimentos de planejamento tributário adotados com abuso de forma ou de direito.” Dessa forma, não podemos nos esquecer que, mesmo antes da positivação do abuso de direito no Estatuto Civil, o legislador complementar alterou o CTN, para introduzir no parágrafo único do art. 116 o instrumento para o combate ao abuso de direito no campo tributário, o qual assim dispõe: Art. 116. Omissis. Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. Ora, se este era o instrumento de que podia se valer o Fisco para desconsiderar os atos de abuso de direito praticados pelos controladores das ditas “empresas veículos”, comprometida estará a autuação, por ser inaplicável tal parágrafo único enquanto não forem estabelecidos em lei ordinária os procedimentos para tal desconsideração dos atos abusivos. Cabe lembrar que os artigos 13 a 19 da Medida Provisória nº 66/2002, que tratavam dos procedimentos exigidos para a aplicação do parágrafo único do art. 116 do CTN, foram retirados do texto da lei de conversão (Lei 10.637/02) pelo Congresso Nacional. Ora, à míngua da regulamentação da norma específica no campo tributário para combater o abuso de direito (parágrafo único do art. 116 do CTN), pode ser aplicável o posterior art. 187 do Código Civil? Lógico que não, pois se o legislador complementar exigiu que a lei ordinária estipulasse procedimentos específicos como condição para a aplicação da norma tributária específica sobre abuso de direito (parágrafo único do art. 116 do CTN), não vejo como tal condição seja dispensável para a aplicação da norma de direito privado sobre o abuso do direito (art. 187 do CC) no campo tributário. Observese que é totalmente justificável a preocupação do legislador complementar ao exigir que a lei ordinária disciplinasse os procedimentos para que o Fisco pudesse desconsiderar atos abusivos, tendo em vista que, ao contrário do abuso direito no campo cível que ocorre em uma relação de coordenação entre particulares; no campo tributário, há sempre uma relação de subordinação, na qual em razão do interesse público é conferida uma superioridade ao Estado Fiscal sobre o particular. Por isso, é necessário que se estabeleça procedimentos, para garantir o mais amplo direito de defesa ao contribuinte, em razão do enorme poder que foi conferido ao Estado Fiscal por uma norma de caráter excessivamente aberto. Fl. 1878DF CARF MF Processo nº 15586.720742/201231 Acórdão n.º 1302002.062 S1C3T2 Fl. 1.874 11 Além disso, ainda que fosse aplicável na espécie o parágrafo único do art. 116 do CTN, sem os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária, ele só permitiria ao autuante desconsiderar atos abusivos, mas não a personalidade jurídica de sociedade devidamente constituída. Entendo que a desconsideração da personalidade jurídica extrapola os parâmetros hermenêuticos do parágrafo único do art. 116 do CTN, quando dispõe que “autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios”. Por essas razões, entendo que ainda que estejamos diante de uma elisão fiscal, não há respaldo no ordenamento jurídico pátrio para o autuante desconsiderar a personalidade jurídica da Acta Empreendimento e incluir nas bases tributáveis da recorrente o ganho de capital por aquela auferido. Razão pela qual voto pelo provimento do recurso voluntário neste ponto. INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO – SCP ACTA/TOMAZELLI Este ponto se refere aos itens 002 e 003 do auto de infração do IRPJ (a fls. 1513) e ao item 002 do auto de infração de CSLL (a fls. 1531), sobre os quais o TVF assim informa: “31. No que tange aos resultados obtidos na Sociedade em Conta de Participação SCP, tratase de valores oriundos da SCP formalizada entre a Acta Engenharia Ltda e a Tomazelli, Comércio e Planejamento Ltda, CNPJ 35.971.142/000180, especificamente em relação ao ano calendário 2008. 32. A SCP Acta/Tomazelli foi formalizada por instrumento particular em 17/07/2006 (cópia anexa ao processo), tendo como sócia ostensiva a Acta Engenharia Ltda e como sócia participante a Tomazelli, Comércio e Planejamento Ltda, cada uma com cota de 50% (cinquenta por cento) nos custos e nos resultados econômicofinanceiros do contrato. 33. Como se sabe, a SCP não é obrigada à inscrição no CNPJ, mas é equiparada à pessoa jurídica para fins de aplicação da legislação do Imposto de Renda, nos termos dos artigos 148 e 149 do Decreto n° 3.000, de 1999. As operações podem ser escrituradas nos livros do sócio ostensivo ou em livros específicos da própria SCP. Em todo caso, os registros contábeis devem ser destacados, a fim de evidenciar os resultados obtidos na SCP. Eventuais prejuízos fiscais apurados na SCP podem ser compensados apenas com lucros da própria SCP, nos termos do art. 515, do Decreto n° 3.000, de 1999. 34. No caso em tela, como sócio ostensivo da SCP, coube à Acta Engenharia Ltda a apuração dos resultados e o recolhimento dos tributos devidos. E para apurar os esses resultados, a Acta Engenharia Ltda promoveu a contabilização da SCP em livros próprios (Livros Diários específicos), adotando a mesma sistemática do sócioostensivo, com a apuração do lucro real com base anual. Assim procedendo, foi apurado na SCP, no ano calendário 2008, o lucro líquido de R$ 632.775,18, como demonstrado no Demonstrativo de Resultados do Exercício – DRE, cópia anexa. 35. No que se refere ao IRPJ e à CSLL incidentes sobre os resultados apurados na SCP, com exceção das estimativas mensais relativas a 01/2008 (objeto de pedidos de compensação posteriormente), nada mais foi recolhido pelo contribuinte. 36. Quanto a eventuais aproveitamentos de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas de CSLL, cabe o registro de que SCP, no ano calendário 2008, apesar da existência de prejuízos acumulados no balanço patrimonial, nada informou no Lalur (destacadamente no próprio Lalur do Fl. 1879DF CARF MF 12 sócio ostensivo, ou em Lalur específico para a SCP – não apresentado pelo contribuinte, apesar de formalmente intimado a fazêlo), ou em eventual livro específico para a apuração de bases negativas da CSLL, como disciplinam os arts. 15 e 16 da Lei n° 9.065, de 1995, e art. 515, do Decreto n° 3.000, de 1999. 37. Em resposta ao Termo de Constatação e Intimação Fiscal emitido em 27/08/2012, formulou o contribuinte resposta datada de 12/09/2012 (cópia anexa), na qual alegou, em síntese, que de 2006 a 2009, período de duração da obra relativa ao empreendimento conduzido pela SCP (contrato firmado com a Cesan para o esgotamento sanitário do bairro Manguinhos, Serra/ES), o resultado, considerando os custos orçados, representou um prejuízo total de R$ 72.898,69 (sendo registrado prejuízo de R$ 25.898,01 no ano calendário 2008); e que foram levantados balancetes financeiros para acompanhamento gerencial. 38. (...) Portanto, para o reconhecimento de prejuízos com fins fiscais, não basta a escrituração comercial ou a elaboração de balancetes financeiros como procedeu o contribuinte em relação à SCP. É imprescindível a escrituração do Lalur, com os ajustes ao lucro líquido, a demonstração do lucro real, e os registros correspondentes nas contas de controle. Assim, na ausência de Lalur com informações específicas da SCP, considerando que sobre esse tema o procedimento fiscal limitouse ao ano calendário 2008, foram considerados os resultados escriturados pelo contribuinte no Livro Diário da SCP, como expressos no Demonstrativo dos Resultados do Exercício – DRE (cópias anexas ao processo). 39. Os valores relativos a IRPJ e CSLL recolhidos a título de estimativas mensais em 01/2008, foram compensados pelo contribuinte com outros tributos devidos à RFB. As declarações de compensação foram formalizadas pelas Per/Dcomp n°s 08109.77876.120312.1.3.028000, 23258. 51337.190312.1.3.029066, 33160.33957. 180412.1.7.022883, 00298.67364. 090312.1.7.035820 e 00373.30379.180412. 1.7.030896, cujas cópias seguem anexas. 40. Assim, tomando como referência os registros contábeis e os valores constantes na DIPJ, DCTF e Per/Dcomp, foi efetuado o recálculo, apurando as diferenças relativas ao IRPJ e à CSLL, nos termos do art. 3°, caput e §1°, da Le n° 9.249, de 1995, e art. 37, da Lei n° 10.637, de 2002, e, posteriormente, art. 17, da Lei n° 11.727, de 2008, como demonstrado no anexo II. (...) 46. Consideradas as irregularidades no cumprimento das obrigações tributárias relativas aos resultados obtidos na SCP, foi efetuado o lançamento dos tributos devidos (IRPJ e à CSLL), como determina o art. 142, da Lei n° 5.172, de 1966 e o art. 836, do Decreto n° 3.000, de 1999. 47. No anexo II estão detalhados os valores apurados, as bases de cálculo e os respectivos tributos (IRPJ e CSLL); destacando, dessa forma, o lucro real obtido na SCP do apurado no sócio ostensivo (Acta Engenharia Ltda), nos termos dos arts. 254, II, e 515, do Decreto n° 3.000, de 1999. 48. Na coluna “diferenças IRPJ e CSLL” do anexo II, constam os valores dos tributos devidos de acordo com as novas bases de cálculo apuradas (não deduzidos eventuais prejuízos de exercícios anteriores, visto que não foram atendidas as formalidades para o seu aproveitamento; e não deduzidos os recolhimentos e as retenções na fonte, uma vez que foram objeto de compensações formalizadas em Per/Dcomp). 49. No que se refere ao IRPJ, sobre o lucro real apurado foi aplicada a alíquota de 15% (quinze por cento), mais o adicional de 10% (dez por cento) sobre a parcela que excedeu a R$ 240.000,00 no ano, como dispõe o art. 3°, caput e §1°, da Lei n° 9.249, de 1995. Fl. 1880DF CARF MF Processo nº 15586.720742/201231 Acórdão n.º 1302002.062 S1C3T2 Fl. 1.875 13 50. E no tocante à CSLL, sobre a base de cálculo do tributo foi aplicada a alíquota de 9% (nove por cento), nos termos do art. 37 da Lei n° 10.637, de 2002, e art. 3°, II, da Lei n° 7.689, de 1988, na redação dada pela Lei n° 11.727, de 2008.” Ora, em razão da falta de escrituração do Lalur o autuante tomou como lucro real o lucro contábil apurado pela SCP Acta/Tomazelli na DRE a fls. 418, o que não encontra respaldo na legislação de regência do IRPJ. Se não foi apresentado o Lalur da SCP, após intimada a recorrente (sócio ostensivo), deveria ter sido arbirado o lucro da SCP, Ademais, se a SCP foi constituída em 2006, a falta de escrituração do Lalur por 3 anos calendários consecutivos, tornava imperioso o arbitramento do seu lucro. Tanto a escrita contábil não permitia a apuração do lucro real com a precisão devida, que o autuante não acatou a alegação do recorrente de que teria prejuízo fiscal/base negativa a compensar pela SCP em 2008, já que não houve o controle devido em Lalur dos ajustes ao lucro líquido. Notese que o autuante até vislumbra que poderia realmente existir prejuízo fiscal/base negativa a compensar em 2008, quando ressalta que existia prejuízos acumulados no balanço patrimonial, mas a falta de controle do prejuízo fiscal/base negativa no Lalur tornava incerta a sua existência. Por essa razão, voto por dar provimento ao recurso voluntário também neste ponto. Como o lançamento da multa isolada é decorrente dos dois pontos acima tratados, voto também por dar provimento ao recurso voluntário para cancelar o item 004 do auto de infração do IRPJ (a fls. 1514) e item 003 do auto de infração da CSLL (a fls. 1531) Em face do exposto, voto por dar provimento ao recurso voluntário. Alberto Pinto Souza Junior Relator Fl. 1881DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10940.002380/2003-10
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon Feb 20 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Mar 07 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/01/1998 a 31/03/1998
Ementa:
AUTO DE INFRAÇÃO ELETRÔNICO. FUNDAMENTAÇÃO DO LANÇAMENTO. IMPROCEDÊNCIA.
Comprovado que o processo judicial informado na DCTF existe e trata do direito creditório que se informa ter utilizado em compensação, deve ser considerado improcedente o lançamento eletrônico que tem por fundamentação proc. jud. não comprova.
Numero da decisão: 3401-003.406
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Ausente, justificadamente, o Conselheiro André Henrique Lemos.
ROSALDO TREVISAN- Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, Fenelon Moscoso de Almeida, André Henrique Lemos, Rodolfo Tsuboi (suplente) e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice-presidente).
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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FUNDAMENTAÇÃO DO LANÇAMENTO. IMPROCEDÊNCIA. Comprovado que o processo judicial informado na DCTF existe e trata do direito creditório que se informa ter utilizado em compensação, deve ser considerado improcedente o lançamento “eletrônico” que tem por fundamentação “proc. jud. não comprova”. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Ausente, justificadamente, o Conselheiro André Henrique Lemos. ROSALDO TREVISAN Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (presidente), Robson José Bayerl, Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, Fenelon Moscoso de Almeida, André Henrique Lemos, Rodolfo Tsuboi (suplente) e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vicepresidente). Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 94 0. 00 23 80 /2 00 3- 10 Fl. 194DF CARF MF 2 Versa o presente sobre o Auto de Infração eletrônico de fls. 6 a 111, para exigência de COFINS relativa ao 1o trimestre de 1998, em valor original de R$ 39.610,70, e de juros de mora e de multa de ofício (75%) decorrentes. Na folha de descrição dos fatos e enquadramento legal, imputase "falta de recolhimento ou pagamento do principal, declaração inexata". Nos Anexos da autuação, dáse conta de que houve, em todos os meses do 1o trimestre de 1998, "comp. s/ DARF Outros PJU", mencionandose o processo judicial 96.00181861, com a ocorrência "proc. jud. não comprova". A empresa apresenta Impugnação em 04/09/2003 (fls. 3 a 5), argumentando, em síntese, que: (a) efetuou compensação com base em decisão judicial (tutela antecipada) no processo no 96/181861, confirmada em sentença que transitou em julgado em 28/04/1999; e (b) as compensações (com créditos de FINSOCIAL recolhido a maior) foram devidamente informadas em DCTF (cópias às fls. 28 a 59). Em anexo, junta, ainda, a empresa, cópia da decisão que concedeu a tutela antecipada (fls. 13 a 15), sentença (fls. 16 a 26) e certidão de trânsito em julgado (fl. 27). Às fl. 74 a 80, há informação fiscal da unidade local da RFB, de 11/08/2006, no sentido de que os créditos judicialmente assegurados não foram suficientes para quitar os débitos de COFINS compensados pela empresa restando débitos referentes aos períodos de apuração 01/98 a 03/98, propondose (fl. 79) a revisão do auto de infração eletrônico, mantendose como devidos apenas os débitos dos períodos de apuração 02/98 e 03/98 e parte do débito do período de apuração 01/98. Em 22/11/2006 ocorre o julgamento de primeira instância (fls. 92 a 97), no qual se decide, por maioria, rejeitar a nulidade do procedimento de revisão de ofício levado a efeito pela unidade local da RFB, que culminou no cancelamento da parcela de R$ 12.979,51 relativa a COFINS, e julgar procedente o lançamento, mantendose a exigência de R$ 26.631,10, relativa a COFINS, além da multa de ofício e dos juros de mora decorrentes. Cientificada do acórdão da DRJ em 07/12/2006 (AR à fl. 100), a empresa apresenta Recurso Voluntário em 28/12/2006 (fls. 101 a 107), argumentando que: (a) o Acórdão da DRJ é nulo, pois inovou na motivação, superando a externada na autuação (processo judicial não comprovado), considerando fato diverso (a insuficiência de crédito para a compensação), como destacado na declaração de votovencido no julgamento de piso; (b) a comunicação sobre a revisão de ofício não tem o condão de alterar a autuação, por ausência dos requisitos previstos no art. 10 do Decreto no 70.235/1972, e não pode servir de lançamento complementar, pois nesse caso deveria ser assegurada devolução do prazo para defesa; e (c) a exigência fiscal encontrase fulminada pela decadência, sendo exigidas em 2006 rubricas da competência de 1998. Em, 04/03/2009 o processo foi julgado, no CARF (Acórdão no 220100.045, fls. 121 a 123, sendo dado provimento ao recurso voluntário, por unanimidade, reconhecendo se, em função da Súmula no 8, do STF, a decadência "para os fatos geradores de janeiro, fevereiro e março de 1998, visto que a ciência do lançamento de seu em 08/08/2003. A Fazenda Nacional, cientificada do julgamento, em 31/10/2009 (fl. 124), interpôs, em 04/11/2009, embargos de declaração (fls. 126 a 128), sustentando ter havido omissão e contradição no julgamento, em função de não ter havido pagamento de COFINS, tema sobre o qual não se manifestou o colegiado, e altera a contagem do prazo decadencial. 1 Todos os números de folhas indicados nesta decisão são baseados na numeração eletrônica da versão digital do processo (eprocessos). Fl. 195DF CARF MF Processo nº 10940.002380/200310 Acórdão n.º 3401003.406 S3C4T1 Fl. 195 3 O colegiado reaprecia o tema, então, em 03/02/2010, por meio do Acórdão no 340100.556 (fls. 131 a 135), no qual foram unanimemente acolhidos os embargos, embora tenha sido mantida inalterada a decisão embargada, por considerar que o pagamento realizado na forma de compensação desloca a regra de contagem do prazo decadencial para o disposto no § 4o do art. 150 do Código Tributário Nacional (merece destaque que quatro dos seis julgadores votaram pelas conclusões). A Fazenda Nacional, cientificada do julgamento, em 05/07/2010 (fl. 136), interpôs, em 07/07/2010, recurso especial (fls. 138 a 143), alegando, além da divergência jurisprudencial, que não ocorreu pagamento antecipado nos meses de fevereiro e março de 1998, merecendo reforma a decisão, para alinharse ao entendimento externado pelo STJ sobre a matéria (mencionando o REsp no 973.333/SC). Admitido o recurso especial pelo despacho de fls. 147/148, em 05/04/2011, e cientificada a empresa em 27/04/2011 (fl. 150), sem que houvesse pronunciamento no prazo regular, o processo foi julgamento, em 25/11/2014, pela Câmara Superior de Recursos Fiscais, por meio do Acórdão no 9303003.176 (fls. 155 a 160), no qual o colegiado concluiu, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso especial, tendo em conta que o STJ se pronunciou sobre a matéria na sistemática do art. 543C do Código de Processo Civil vigente à época, e que "para efeito de aplicação do recurso repetitivo, as compensações ora informadas não podem ser consideradas pagamento". Ao final do voto condutor, determinase o retorno dos autos ao colegiado para julgamento do mérito do recurso voluntário, sendo a empresa cientificada em 05/06/2015 (fl. 166). Em 17/03/2016 o processo foi distribuído a este relator, por sorteio, tendo sido retirado de pauta em setembro de 2016, por falta de tempo hábil para julgamento, e indicado para a pauta de outubro de 2016, em sessão suspensa por determinação do CARF, assim como em novembro e dezembro do mesmo ano. Em janeiro de 2017, o processo também foi indicado para pauta, e retirado por falta de tempo hábil para julgamento. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevisan, relator O recurso apresentado já teve sua admissibilidade apreciada quando do primeiro julgamento, por este CARF, e, portanto, dele se toma conhecimento. É preciso retomar, a nosso ver, o rumo do processo, que se perdeu na discussão sobre a decadência, nos últimos 10 anos. Definida a regra decadencial aplicável em última instância administrativa, cabe analisar o mérito da autuação eletrônica. Em função da decisão pela decadência, o CARF deixou de analisar dois argumentos presentes no recurso voluntário interposto: o de que o Acórdão da DRJ seria nulo, Fl. 196DF CARF MF 4 por inovar na motivação, e o de que a revisão de ofício efetuada não poderia alterar a autuação (matéria também debatida na decisão de piso, principalmente na declaração de votovencido). Salta aos olhos que o recurso voluntário parece tratar de contencioso diverso, pois os temas em discussão sequer eram suscitados na impugnação, e pelo simples fato de não haver nenhuma imputação fiscal afora a não comprovação do processo judicial informado. Vejase a descrição dos fatos e o enquadramento legal da autuação eletrônica (fl. 7): A justificativa é toda genérica, mas há menção a um demonstrativo, que se encontra à fl. 08, na qual a ocorrência, para os três meses iniciais de 1998, é "Proc. jud. não comprova": Eis a imputação fiscal. Embora o texto esteja todo abreviado, queremos crer que a autuação se refere a processo judicial não comprovado. E se a autuação é fundada na falta de comprovação do processo judicial, assume importância substancial a questão referente à efetiva existência do processo referido na própria autuação: "96.00181861". A empresa, em sua impugnação, em 2003, limitase a informar que o processo existe, e trata do crédito em questão, relativo ao primeiro trimestre de 1998. E isso resta nítido das cópias anexadas aos autos. Fl. 197DF CARF MF Processo nº 10940.002380/200310 Acórdão n.º 3401003.406 S3C4T1 Fl. 196 5 E nem é necessário checar se as cópias são fiéis, pois a própria fiscalização, depois da impugnação, mas antes que o processo fosse apreciado pela DRJ, em 11/08/2006, "revisa de ofício" a autuação, reconhecendo parcialmente créditos do citado processo. Da decisão, é dada ciência à empresa em 22/08/2006 (fl. 89). Assim, o único fundamento da autuação (processo judicial não comprovado, ou, nos dizeres do auto de infração, " Proc. jud. não comprova", é improcedente. E, por certo, não poderia ser alterado em 2006, para exigir créditos de 1998. A nosso ver, a "revisão de ofício" poderia até excluir valores da autuação (ou informar à DRJ que tais valores são indevidos para que esta os excluísse, em virtude de já estar inaugurado o contencioso), mas não alterar seu fundamento, no caso em análise, inaugurando, de fato, contencioso diverso sobre os mesmos períodos, após a apresentação da impugnação e fora do período decadencial. Então, sob pena de ilegalidade, o fundamento da autuação permanece: " Proc. jud. não comprova". E, comprovado o processo judicial, resta maculado o fundamento da autuação, não havendo que se falar em nulidade (como demanda a recorrente), mas em improcedência desta, visto que a fundamentação adotada (“proc. jud. não comprova”) não ampara a autuação. Assim, descabe a continuidade da análise do recurso voluntário apresentado, visto que já afastada a razão da autuação: o processo foi comprovado e trata do direito creditório que se afirma ter utilizado. Nesse sentido reiteradas decisões deste CARF, todas unânimes, aqui sintetizadas em análise de Recurso Especial da PGFN pela Câmara Superior de Recursos Fiscais: “Assunto: Processo Administrativo Fiscal Período de apuração: 01/01/1997 a 30/06/1997 NORMAS PROCESSUAIS. IMPROCEDÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO DO LANÇAMENTO. Comprovado que o processo judicial informado na DCTF existe e trata do direito creditório que se informa ter utilizado em compensação, deve ser considerado improcedente o lançamento “eletrônico” que tem por fundamentação “proc. jud. não comprova”. Recurso negado.” (grifo nosso) (Acórdão n. 9303002.326, Rel. Cons. Henrique Pinheiro Torres, unânime, sessão de 20.jun.2013) Em endosso, informo que, nos processos sob minha relatoria, de longa data venho sustentando, neste tribunal administrativo, o entendimento aqui externado, sempre contando com acolhida unânime do colegiado: AUTO DE INFRAÇÃO ELETRÔNICO. FUNDAMENTAÇÃO DO LANÇAMENTO. IMPROCEDÊNCIA. Comprovado que o processo judicial informado na DCTF existe e trata do direito creditório que se informa ter utilizado em compensação, deve ser considerado improcedente o lançamento “eletrônico” que tem por fundamentação “proc. jud. não comprova” . (grifo nosso) (Acórdão n. 3403002.700, Rel. Cons. Rosaldo Trevisan, unânime, sessão de 28.jan.2014) Fl. 198DF CARF MF 6 AUTO DE INFRAÇÃO ELETRÔNICO. FUNDAMENTAÇÃO DO LANÇAMENTO. IMPROCEDÊNCIA. Comprovado que o processo judicial informado na DCTF existe e trata do direito creditório que se informa ter utilizado em compensação, deve ser considerado improcedente o lançamento “eletrônico” que tem por fundamentação “proc. jud. não comprova”. (grifo nosso) (Acórdão n. 3403002.870, Rel. Cons. Rosaldo Trevisan, unânime, sessão de 26.mar.2014) AUTO DE INFRAÇÃO ELETRÔNICO. FUNDAMENTAÇÃO DO LANÇAMENTO. IMPROCEDÊNCIA. Comprovado que o processo judicial informado na DCTF existe e trata do direito creditório que se informa ter utilizado em compensação, deve ser considerado improcedente o lançamento “eletrônico” que tem por fundamentação “proc. jud. não comprova”. (grifo nosso) (Acórdão n. 3403003.018, Rel. Cons. Rosaldo Trevisan, unânime, sessão de 27.mai.2014) AUTO DE INFRAÇÃO ELETRÔNICO. FUNDAMENTAÇÃO DO LANÇAMENTO. IMPROCEDÊNCIA. Comprovado que o processo judicial informado na DCTF existe e trata do direito creditório que se informa ter utilizado em compensação, deve ser considerado improcedente o lançamento “eletrônico” que tem por fundamentação “proc. jud. não comprova”. (grifo nosso) (Acórdão n. 3403003.125, Rel. Cons. Rosaldo Trevisan, unânime, sessão de 24.jul.2014) Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso voluntário apresentado. Rosaldo Trevisan Fl. 199DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13873.000115/2007-51
Turma: Terceira Turma Especial da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu May 26 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ
Ano calendário: 2003
MASSA FALIDA. SUJEIÇÃO PASSIVA. Massa falida é sujeito passivo de
obrigação tributária e a realização de operação ou a prática de atos de que decorram o fato gerador da obrigação tributária principal reclamam que, contra ela, se constitua o crédito tributário correspondente.
IMPUTAÇÃO PROPORCIONAL. MULTA DE MORA ISOLADA.
Conforme exposto no Parecer PGFN CDA nº 1.936/2005, a imputação
proporcional é o único método afeiçoado aos princípios esculpidos no Código Tributário Nacional para apurar diferenças decorrentes do recolhimento em atraso de tributos, sendo indevida a exigência de multa de mora isolada.
JUROS DE MORA. Os juros moratórios correm contra a massa falida e a hipótese em que eles não são cabíveis, por indisponibilidade de ativo para o pagamento do principal, é estranha ao processo administrativo fiscal.
Numero da decisão: 1803-000.899
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do relatório e votos que integram o presente julgado. Vencidos os conselheiros Selene Ferreira de Moraes e Sérgio Rodrigues Mendes.
Matéria: DCTF_IRPJ - Auto eletronico (AE) lancamento de tributos e multa isolada (IRPJ)
Nome do relator: Walter Adolfo Maresch
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SUJEIÇÃO PASSIVA. Massa falida é sujeito passivo de obrigação tributária e a realização de operação ou a prática de atos de que decorram o fato gerador da obrigação tributária principal reclamam que, contra ela, se constitua o crédito tributário correspondente. IMPUTAÇÃO PROPORCIONAL. MULTA DE MORA ISOLADA. Conforme exposto no Parecer PGFN CDA nº 1.936/2005, a imputação proporcional é o único método afeiçoado aos princípios esculpidos no Código Tributário Nacional para apurar diferenças decorrentes do recolhimento em atraso de tributos, sendo indevida a exigência de multa de mora isolada. JUROS DE MORA. Os juros moratórios correm contra a massa falida e a hipótese em que eles não são cabíveis, por indisponibilidade de ativo para o pagamento do principal, é estranha ao processo administrativo fiscal. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do relatório e votos que integram o presente julgado. Vencidos os conselheiros Selene Ferreira de Moraes e Sérgio Rodrigues Mendes. (assinado digitalmente) Selene Ferreira de Moraes Presidente. (assinado digitalmente) Walter Adolfo Maresch Relator. Fl. 55DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 51 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Selene Ferreira de Moraes (Presidente), Sérgio Rodrigues Mendes, Walter Adolfo Maresch, Sérgio Luiz Bezerra Presta, Meigan Sack Rodrigues e Victor Humberto da Silva Maizman. Relatório COMPANHIA AMERICANA INDUSTRIAL DE ÔNIBUS (MASSA FALIDA), pessoa jurídica já qualificada nestes autos, inconformada com a decisão proferida pela DRJ RIBEIRÃO PRETO (SP), interpõe recurso voluntário a este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, objetivando a reforma da decisão. Adoto o relatório da DRJ por bem retratar os fatos. Tratase de lançamento consubstanciado em auto de infração, lavrado em 05/03/2007, em virtude de apuração de irregularidades quanto a quitação de débitos declarados em Declaração de Contribuições e Tributos federais (DCTF), para exigir da autuada multa de mora na importância de R$ 1.495,48 em face do não recolhimento desse acréscimo quando do pagamento do Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) devido pelo lucro real, concernente ao ajuste anual, código de receita n° 2430, apurado no anocalendário de 2002. Regularmente cientificada, a autuada ingressou com a impugnação de fls. 01/07, acompanhada dos documentos de fls. 08/19, por meio da qual fustiga a exigência ao argumento, em síntese, que não caberia a multa em função da situação de falida da impugnante, consoante tem entendido o Judiciário e previsto no artigo 112 do Código Tributário Nacional. Pugna, também, pelo não cabimento de juros, salvo aqueles contados até a data da quebra. Ao final, requer o acolhimento da impugnação, perícia, oitiva de testemunhas e juntada de documentos. A DRJ SÃO JOSÉ DO RIO PRETO/SP, através do acórdão 1421.740, de 05 de dezembro de 2008 (fls. 27/29), julgou procedente o lançamento, ementando assim a decisão: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2002 AUDITORIA INTERNA NA DCTF. IRPJ. MULTA DE MORA. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA. O recolhimento de tributo a destempo deve se fazer acompanhado do acréscimo de multa de mora, segundo ordenamento jurídico vigente, o qual também prevê a cobrança de oficio da parcela não solvida, integral ou complementarmente. Lançamento Procedente. Fl. 56DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 52 3 Ciente da decisão em 06/04/2009, conforme Aviso de Recebimento – AR (fl. 34), apresentou o recurso voluntário em 06/05/2009 fls. 39/44, onde reitera os argumentos da inicial de que dada a sua condição de falida não está sujeita a multas e juros de mora. É o relatório. Voto Conselheiro Walter Adolfo Maresch O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos legais para sua admissibilidade, dele conheço. Trata o presente processo de auto de infração decorrente de auditoria de DCTF pelo qual se exige de ofício a multa de mora decorrente do pagamento em atraso de IRPJ relativo ao ano calendário 2002 e recolhido em 31/07/2003. Alega a recorrente que conforme reconheceu o Egrégio Superior Tribunal de Justiça, considerando a sua condição de massa falida, não está sujeita a multas e juros de mora incidente sobre exações tributárias. Não assiste razão à interessada. Com efeito, conforme tem decidido reiteradamente este órgão colegiado julgador administrativo, a análise da cobrança ou não de multas e juros de mora está afeta à fase de cobrança judicial dos débitos tributários, não interferindo na legalidade e procedência do lançamento tributário, cujo poder/dever é atribuído em caráter privativo à autoridade fiscal, que dele não se pode furtar. Por bem descrever a distinção entre as situações, transcrevo o bem lançado voto constante do processo nº 11030.002717/200225, acórdão 20312.261, da Terceira Câmara do então Segundo Conselho de Contribuintes: (...) Do cabimento de multa e juros contra a massa falida. Argúi a impugnante o descabimento de multa de ofício e do juros de mora em face do que dispõem os artigos 23 e 26 do DecretoLei n° 7.661, de 21 de junho de 1945 — Lei de Falências, bem assim das Súmulas n°192 e n°565 do STF. Reproduzemse os dispositivos invocados pela defendente: "Art. 23. Ao juízo da falência clivem concorrer todos os credores do devedor comum, comerciais ou civis, alegando e provando as seus direitos. Parágrafo único. Não podem ser reclamadas na falência: (...) Fl. 57DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 53 4 — as penas pecuniárias por infração das leis penais e administrativas. Art. 26. Contra a massa não correm juros, ainda que estipulados forem, se o ativo apurado não bastar para o pagamento do principal. (g.n) A respeito da matéria, o Supremo Tribunal Federal editou as Súmulas 192 e 565, que preceituam: "Súmula 192 Não se inclui no crédito habilitado em falência a multa fiscal com efeito de pena administrativa." "Súmula 565. A multa fiscal moratória constitui pena administrativa, não se incluindo no crédito habilitado em falência." Por outro lado, a Lei n 6.830, de 22 de setembro de 1980 — Lei de Execuções Fiscais, estabelece que: "Art. 5°. A competência para processar e julgar a execução da Dívida Ativa da Fazenda Pública exclui a de qualquer outro Juízo, inclusive o da falência, da concordata, da liquidação, da insolvência ou do inventário. (...) Art. 29. A cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, concordata, liquidação, inventário ou arrolamento. (...) Art. 31. Nos processos de falência, concordata, liquidação, inventário,. arrolamento . ou ,concurso de . credores, • nenhuma alienação será judicialmente autorizada sem a prova de quitação da Dívida Ativa ou a concordância da Fazenda Pública. (...) Acerca da questão, assim se pronunciou a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, em Parecer de nº 1.400/99: "Em assim sendo, tornouse pacífico nos tribunais pátrios que o dispositivo da Lei de Falências, analogamente aplicado ao da Lei n° 6.024/74 (art. 18, alínea 'f'), não atinge os créditos, cuja cobrança é regida pela Lei das Execuções Fiscais, em cumprimento ao comando emergente do seu art. 29." A análise mais acurada dos preceptivos legais até aqui colacionados revela que, a rigor, não são eles de maior relevância para a hipótese dos autos, pois seus comandos regulam uma fase posterior à da constituição do crédito tributário, qual seja, a sua cobrança. A constituição do crédito tributário, cuja legitimidade se está a examinar. na presente demanda, incluiu a aplicação da multa de ofício e dos juros de mora com amparo nos artigos 44,1, e 61, § 3, da Lei n°9.430, de Fl. 58DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 54 5 27 de dezembro de 1996 c/c artigos 5' e 29° da Lei n°6.830, de 22 de setembro de 1980, não havendo nenhuma disposição legal que exima tais gravames do contribuinte com falência decretada. Em conseqüência, não poderia a. autoridade fiscal autuante furtarse a aplicálos, ante o caráter obrigatório e vinculado de que se reveste o lançamento (art. 142, parágrafo único, da Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966 — Código Tributário Nacional — CTN). Clara está portanto, a imposição legal para a inclusão da multa de oficio e dos juros de mora na constituição do crédito tributário, independentemente da decretação da falência do contribuinte. Como já visto, o diploma legal de que se socorreu a impugncozte não infirma este entendimento, vez que não se reporta à fase da constituição do crédito, e sim da sua cobrança ocasião em que aí sim será discutida a exigência perante o juízo competente. Nem poderia ser diferente, pois, a priori, nada impede que se reverta o estado falimentar, antes do trânsito em julgado da falência. hipótese em que a Fazenda Pública não poderia exigir os acréscimos legais se já os houvesse excluído quando do lançamento. Por outras palavras, à autoridade fiscal cabe, por dever de oficio, nos termos do art. 142 do C1N, constituir, pelo lançamento, o crédito tributário em sua totalidade, não lhe sendo atribuída qualquer faculdade discricionária que lhe permitisse se abster de aplicar as penalidades aos dispositivos infringidos. Ao juiz, nos casos de falência, compete, por sua vez, habilitar os créditos reclamados contra a massa falida e, aí sim, nessa oportunidade, obstruir aquelas parcelas cujo seguimento fosse legalmente vedada. Apenas como argumento subsidiário, pois a recorrente não se subsume ao regramento da nova Lei de Falências, essa polêmica não mais subsiste, pois, com a edição da Lei n° 11.101, de 2005, que, revogou o Decretolei n° 7.661, de 1945, vindo a regular a "recuperação judicial, deixou isso bem assente, conforme se verifica da redação de seus arts.83 e 84, litteris: "Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I — os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados 'a 150 (cento e cinqüenta) saláriosmínimos por, credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; créditos com garantia real até o limite do valor do. bem gravado; III — créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV— créditos com privilégio especial, a saber: a) a c) ... omissis ...; V — créditos com privilégio geral, a saber: a) a c)... omissis ...; VI — créditos quirografários, a saber: Fl. 59DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 55 6 a) a c)... omissis ...; VII — as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas inclusive as multas tributárias; VIII — créditos subordinados, a saber: a) e b) omissis ...; § 1° a 4º ...omissis Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a: I a V —... omissis ..." Deixou portanto bastante assente a falta de qualquer impedimento legal a que sejam reclamadas, na falência, as multas tributárias, sejam as de oficio ou as de mora, devendo elas, apenas, obedecer à primazia de créditos de outras naturezas (créditos extraconcursais, créditos trabalhistas, com garantia real, tributários, com privilégios especiais, com privilégios gerais, e quirografários). Relativamente aos juros de mora, a dicção do art. 124 da mesma Lei n°11.101, de 2005, é a seguinte, litteratim: "Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência. previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados." Como se observa, tanto pela Lei 11.101/2005 quanto pela antiga Lei de Falências, a decretação de falência não impede que se cobrem juros de mora da massa falida, por isso que a sua exigibilidade ficará condicionada ao fato de a futura realização do ativo superar, ou não, o passivo da entidade (suficiência do ativo). A despeito de que as decisões judiciais não sejam vinculantes, vale realçar que as súmulas e os acórdãos trazidos a lume pela impugnante confirmam que os mencionados dispositivos da Lei . de Falências referemse à fase de cobrança, e não a fase administrativa. Acerca da. exigibilidade da multa de oficio e dos juros de mora no lançamento, assim se manifestaram a Câmara Superior de Recursos Fiscais e os Conselhos de Contribuintes: "FALÊNCIA — Multa de lançamento 'ex officio'. A multa de lançamento 'ex officio' é exigível de empresas falidas, sobre o imposto apurado em procedimento de ofício." (Ac. CSRF n 01 01.187, sessão de 26/11/81) "IPI MASSA FALIDA ENCARGOS LEGAIS 1) MULTA E JUROS Integram o crédito tributário tendo a fiscalização o Fl. 60DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 56 7 direito à exigência. Jurisprudência deste Colegiado." (Ac. n 203 00766, sessão de 19/10/93) "MULTA DE OFÍCIO FALÊNCIA A multa de lançamento de ofício deve ser aplicada às empresas falidas sobre o imposto apurado em procedimento de oficio, podendo ser excluída, apenas, em juízo, nos termos do art. 23 do Decretolei n 7.661/45 (Lei de Falências)." (Ac. n 10806212, sessão de 17/08/2000) grifos do original (...) No mesmo sentido o Acórdão 10322399, da Terceira Câmara do então Primeiro Conselho de Contribuintes, prolatado na Sessão de 26/04/2006, processo administrativo fiscal nº 10980.009714/200482: MASSA FALIDA. MULTA EX OFFICIO E JUROS DE MORA. No âmbito do processo administrativo fiscal, em que se examina a legalidade do lançamento tributário, é descabido cogitarse de exclusão de multa e juros de mora. Desta forma, a procedência ou não de multas de mora ou de ofício bem como dos juros de mora, regularmente lançados em procedimento de ofício contra massa falida, é matéria alheia ao processo administrativo fiscal, ficando sua discussão restrita ao momento da execução fiscal ou cobrança judicial dos débitos tributários. No entanto, embora não tenha sido corretamente alegada pela recorrente impende reconhecer que a cobrança isolada de multa de mora, prática adotada por determinado tempo no âmbito da Secretaria da Receita Federal, não se coaduna com as disposições emanadas do Código Tributário Nacional. Com efeito, conforme reconheceu com muita propriedade o Parecer PGFN CDA nº 1.936/2005, o lançamento de valores “linha a linha” adotado pela SRF no sentido de dar eficácia ao art. 43 da Lei nº 9.430/96, não se afeiçoa ao regramento esculpido no Código Tributário Nacional, sendo a imputação proporcional de pagamentos a única forma adequada para apurar diferenças no recolhimento em atraso de tributos federais. Extraise do mencionado Parecer os seguintes excertos: Ementa. Amortização linear. Impossibilidade. No silêncio do art. 163 do Código Tributário Nacional, aplicase o disposto no art. 167, por analogia e simetria. Quando se trata da imputação do pagamento entre os valores do “principal”, “multa” e “juros”, de um mesmo crédito tributário, a amortização proporcional é a única forma admitida pelo Código Tributário Nacional. (...) 7. Do exposto, à toda evidência, o raciocínio desenvolvido no âmbito da Secretaria da Receita Federal para fundamentar a criação da chamada “Amortização Linear” não resiste a uma interpretação sistemática que leve em consideração o disposto no Código Tributário Nacional, como norma geral em matéria de legislação tributária. (...) Fl. 61DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 57 8 9. No que diz respeito ao artigo 43 da Lei nº 9.430/1996, temos que o objetivo do legislador foi o de permitir o lançamento de ofício de todas as multas (multas de ofício e multas de mora), bem como dos juros de mora, de forma isolada ou conjunta, através da sistemática do chamado –auto de infração sem tributo. É de se observar que, tanto a multa (de ofício ou de mora) quanto os juros não estariam vinculados a um determinado valor de tributo, isto é, ocupariam no DARF o campo do valor principal e sobre eles é que incidiria o percentual de juros de mora previsto no parágrafo unido do art. 43 da Lei nº. 9430/1996. 10. Já o art. 44, I e § 1°, II da Lei nº. 9.430/1996 criou uma nova possibilidade para a Administração Tributária Federal ao determinar o lançamento de multa de ofício isolada decorrente do recolhimento do tributo atrasado sem o pagamento da respectiva multa de mora. Tal lançamento se dá sem o prejuízo do lançamento de forma isolada da multa de mora não paga, na forma do art. 43. Em ambos os casos não haveria vinculação a um determinado valor de tributo, isto é, ambas as multas ocupariam em DARFs distintos o campo do valor principal e sobre esse principal é que incidiria o percentual de juros de mora previsto no parágrafo único do art. 43 da Lei nº. 9430/96. 11. Desse modo, muito embora os artigos 43 e 44 da Lei nº. 9430/96 tenham criado novas práticas para a Administração Tributária Federal, não temos dúvida de que não determinaram o tratamento das três rubricas componentes do DARF (valor principal, multa e juros) como créditos estanques para efeito de imputação de pagamento. Isto porque não se deve confundir a rubrica ou campo do DARF ocupado com a natureza do crédito que lá tem lugar. Vejase que o que a lei determina é que determinados créditos (multas de ofício, multas de mora não pagas, juros de mora não pagos) sejam lançados isoladamente, isto é, sem tributo, mas com a incidência de juros SELIC. Coincidentemente, para que tais créditos sejam lançados de modo isolado, deverão ocupar no DARF a posição de – principal . Daí decorre que uma mesma rubrica ou campo do DARF pode abrigar créditos de tributos, multa de mora, multa de ofício ou juros de mora. Na prática, é o adjetivo – isolado , que se opõe ao termo – vinculado , que determina que certo tipo de crédito ocupará o campo reservado ao valor principal no DARF. Indubitavelmente, tal não implica de modo necessário na adoção de um método de amortização linha a linha do documento de arrecadação. (...) 14. Na esteira da recomendação do uso da analogia como forma primeira de integração, para o caso em apreço, entendemos ser de boa técnica jurídica a utilização do texto do art. 167 da própria norma geral de Direito Tributário, a saber (grifo nosso): (...) Fl. 62DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 58 9 16. Essa mesma constatação foi feita pela Secretaria da Receita Federal através da aprovação da Nota Cosit nº. 106, de 20 de abril de 2004, que também fez considerações ao estudo sob exame, in litteris (grifo nosso): ‘5. Isto posto, cumpre desde logo asseverar que o regramento da imputação de pagamentos a débitos tributários deve ser inicialmente buscado na Lei nr. 5.172/66 – CTN, norma que prevê o pagamento como forma de extinção do crédito tributário (art. 156, inciso I) e que regula esse instituto em seus artigos 157 a 169, os quais correspondem às Seções II e III do Capítulo IV do Título III do Livro Segundo do aludido Código. 6. Mediante leitura dos aludidos dispositivos legais, verificase que o CTN não aborda diretamente a questão da imputação do pagamento efetuado pelo sujeito passivo entre as parcelas que compõem o débito tributário (principal, multa e juros moratórios). 7. Em seu art. 163, o CTN apenas determina que a autoridade administrativa competente para receber o pagamento determinará a respectiva imputação, na hipótese de existência simultânea de dois ou mais débitos do sujeito passivo, in verbis: (...) 8. Uma vez que o art. 163 do CTN não fixou regra de precedência entre tributo, multa (de mora ou de ofício) e juros moratórios – parcelas em que se decompõe determinado débito do contribuinte com a Fazenda , poderseia desde logo inferir, a contrario sensu, que o CTN teria dado idêntico tratamento, no que se refere à imputação de pagamentos, entre referidas exações. 9. Tal entendimento é então ratificado pelo 167 do CTN, que estabelece que a restituição total ou parcial do tributo dá à restituição, na ‘mesma proporção’, dos juros de mora e das penalidades pecuniárias, in verbis: (...). 10. A partir de uma interpretação conjunta dos arts. 163 e 167 do CTN, chegase a conclusão de que referido Diploma Legal não só estabelece, na imputação de pagamentos pela autoridade administrativa, a inexistência de precessão entre tributo, multa e juros moratórios, como também veda ao próprio sujeito passivo estabelecer precedência de pagamento entre as parcelas que compõem um mesmo débito tributário, ou seja, veda ao sujeito passivo imputar seu pagamento apenas a uma das parcelas que compõem o débito tributário. 10.1 É que somente se pode falar em obrigatória proporcionalidade entre as parcelas que compõem o indébito tributário se houver obrigatória proporcionalidade na imputação do pagamento sobre as parcelas que compõem o débito tributário.’ 17. Com esses argumentos, não nos restam dúvidas de que o método de amortização proporcional é o único atualmente admitido pelo Código Tributário Nacional. 18. Sendo assim, partindo do princípio de que a lei não possui palavras inócuas, resta saber, para por termo às dúvidas levantadas pelo estudo elaborado pela SRF, em que hipóteses se efetivam as previsões do lançamento dos juros de mora isolados (art. 43 da Lei nº. 9.430/96) e do lançamento da multa de ofício isolada decorrente do recolhimento do tributo atrasado sem o pagamento da respectiva multa de mora (art. 44, I e § 1, II da Lei nº. 9430/96). Resolvidas essas controvérsias, também consideramos por conseqüência resolvida a questão do lançamento conjunto das respectivas parcelas. 19. Para respondermos a essas questões devemos abandonar a seara administrativa e adentrar ao campo judicial, onde o Fl. 63DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 59 10 crédito tributário, como um todo ou isoladamente em suas rubricas (tributo, multa, juros), pode ser impugnado. Hipoteticamente, qualquer contribuinte pode conseguir uma ordem judicial preventiva ou repressiva que, sob a pecha de ilegalidade ou inconstitucionalidade da exação, lhe permita não recolher determinada rubrica. 20. Desse modo, a realização do lançamento de é possível quando determinado contribuinte consegue ordem judicial para impedir a formação do seu crédito tributário com essa rubrica. O crédito vem a ser constituído, pago e extinto sem taxa de juros e, ao final do julgamento, decidese que os juros eram sim devidos. Não resta alternativa ao órgão lançador que não lançar os juros isoladamente. Da mesma maneira ocorre quando o devedor consegue uma ordem judicial prévia para que não seja constituído o crédito tributário com a respectiva multa de mora e aquele vem a ser extinto por pagamento, decidindose, ao final do julgamento, que a multa era devida ab ovo. Neste caso, será lançada a multa de ofício isolada prevista no art. 44, I da Lei nº. 9430/96. Outra hipótese seria a obtenção pelo devedor de uma ordem judicial preventiva para o não recolhimento da multa de mora que, ao final da demanda, vem a ser revogada, ensejando o recolhimento da multa de mora em determinado prazo. O devedor, não o fazendo, estará sujeito à multa de ofício isolada de que trata o art. 44, I da Lei nº 9430/96. 26. Ante o exposto, tendo em vista que a adoção do “sistema de amortização linear” não encontra respaldo na legislação citada, que o “sistema de amortização proporcional” é o único admitido pelo Código Tributário Nacional, que a própria Secretaria da Receita Federal (Nota Cosit nº. 106, de 20 de abril de 2004) já se pronunciou nesse sentido e que os créditos tributários submetidos ao método da “amortização linear” carecem de liquidez e certeza, entendemos que todos os créditos tributários submetidos ao método de “amortização linear” deverão ter a inscrição em Dívida Ativa da União negada ou, caso já realizada, anulada e serem devolvidos para a Secretaria da Receita Federal, acompanhados de cópia deste parecer. Destarte, considero que a imputação proporcional é a única forma de se dar pleno atendimento à interpretação harmônica das regras contidas no Código Tributário Nacional nos casos de recolhimento de tributo em atraso, realizado com insuficiência em virtude da incidência dos acréscimos legais de juros e/ou multa de mora. Assim, nos casos de recolhimento de tributo em atraso, deve ser considerado o recolhimento como um todo, aplicandose a imputação proporcional, restando descabida a cobrança isolada de multa de mora. De sorte que as multas de mora exigidas isoladamente em lançamento de ofício, devem ser canceladas por evidente ofensa às disposições contidas no Código Tributário Nacional que repelem a denominada “amortização linear”, acolhendo somente o método de “amortização proporcional” para exigência de diferenças havidas por recolhimento a menor de tributos federais em atraso. Fl. 64DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH Processo nº 13873.000115/200751 Acórdão n.º 180300.899 S1TE03 Fl. 60 11 No caso específico do presente processo, impende ainda reconhecer que não há exigência de juros de mora no procedimento de ofício e tão somente a exigência de multa de mora pelo recolhimento em atraso, incidindo, no entanto normalmente caso fosse mantida a exigência constante do lançamento de ofício. Ante o exposto, voto por dar provimento ao recurso e excluir a multa de mora de R$ R$ 1.495,48. (assinado digitalmente) Walter Adolfo Maresch Relator Fl. 65DF CARF MF Emitido em 07/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARESCH Assinado digitalmente em 07/06/2011 por SELENE FERREIRA DE MORAES, 03/06/2011 por WALTER ADOLFO MARE SCH
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Numero do processo: 13833.720047/2014-46
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 07 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Mar 28 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 2402-000.585
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência nos termos do voto da Relatora.
(assinado digitalmente)
Kleber Ferreira de Araújo - Presidente
(assinado digitalmente)
Bianca Felícia Rothschild - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Túlio Teotônio de Melo Pereira, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, João Victor Ribeiro Aldinucci e Bianca Felicia Rothschild.
Nome do relator: BIANCA FELICIA ROTHSCHILD
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Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência nos termos do voto da Relatora. (assinado digitalmente) Kleber Ferreira de Araújo Presidente (assinado digitalmente) Bianca Felícia Rothschild Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Túlio Teotônio de Melo Pereira, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, João Victor Ribeiro Aldinucci e Bianca Felicia Rothschild. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 38 33 .7 20 04 7/ 20 14 -4 6 Fl. 72DF CARF MF Processo nº 13833.720047/201446 Resolução nº 2402000.585 S2C4T2 Fl. 3 2 RELATÓRIO Conforme relatório da decisão recorrida, contra a contribuinte acima identificada foi emitida a notificação de lançamento de fls. 26/29, relativa ao imposto sobre a renda das pessoas físicas, anocalendário 2011, por meio da qual se apurou a omissão de rendimentos recebidos de São Paulo Transporte S.A., no valor de R$ 21.785,45. Cientificada do lançamento em 05/02/2014 (fl. 31), a contribuinte apresentou, em 25/02/2014, a impugnação de fl. 2, acompanhada dos documentos de fls. 3/5, na qual alega que os rendimentos de R$ 21.785,45 são isentos por se tratar de proventos de pensão de declarante com 65 anos ou mais. Acrescenta que esses rendimentos são proventos de benefício de pensão deixada pelo marido, conforme comprovante anexo, e não rendimentos do trabalho assalariado. A decisão da autoridade de primeira instancia julgou improcedente em 3 de junho de 2014 a impugnação da Recorrente cuja ementa se reproduz abaixo (fl. 59): OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA. Os rendimentos recebidos a título de pensão sujeitamse à tributação pelo imposto de renda, só se podendo afastar sua incidência quando o contribuinte comprove que satisfaz as condições necessárias para se enquadrar em alguma hipótese de isenção prevista em lei. Impugnação Improcedente Outros Valores Controlados Cientificado da decisão de primeira instancia em 16/06/2014, o contribuinte apresentou tempestivamente, fls. 68/69, em 07/07/2014, o recurso voluntário aduzindo, em síntese que: Em nenhum momento foi analisado o mérito da questão que seria: rendimento de pensão recebido por contribuinte de moléstia grave. O lançamento efetuado como rendimento tributável deve ser considerado como rendimento isento, o qual referese a rendimentos de pensão recebidos por portadora de moléstia grave (neoplasia maligna). É o relatório. Fl. 73DF CARF MF Processo nº 13833.720047/201446 Resolução nº 2402000.585 S2C4T2 Fl. 4 3 VOTO Conselheira Bianca Felícia Rothschild Relatora O recurso é TEMPESTIVO, eis que intimado da decisão no dia 16/06/2014, interpôs recurso voluntário no dia 07/07/2014, atendendo também às demais condições de admissibilidade. Portanto, merece ser CONHECIDO. Discutese o direito à isenção sobre rendimentos de pensão de portador de moléstia grave, relativamente a saber se foi ou não comprovado que os rendimentos são provenientes de pensão e se a Recorrente possui moléstia grave. Em relação ao diagnostico de moléstia grave, foram apensos aos autos: i) exame de mama que diagnostica a mastopatia (fl. 81); ii) 3 laudos médicos oficiais cujo diagnóstico é neoplasia maligna (fls. 78 a 80) e iii) exame de histeopatia que diagnostica a neoplasia de mama (fl. 82). Do exposto, concluímos que há comprovação, por laudo pericial emitido por serviço médico oficial, de que a Recorrente foi diagnosticada com doença prevista no inciso XIV, do art. 6o, da Lei no 7.713/1988, pelo que deve ser reconhecido o seu direito à isenção do imposto de renda incidente sobre os rendimentos de pensão e aposentadoria. No que se refere a natureza dos proventos ora debatidos, o relatório fiscal indicou que os comprovantes de rendimentos demonstram que a Recorrente aposentada recebe diversos rendimentos e que haveria omitido o recebimento do valor de R$ 21.785,45 a título de rendimento de trabalho assalariado A recorrente alega que tal rendimento não se trata de rendimento de trabalho assalariado, mas sim pensão. Todavia, não está suficientemente comprovado que os rendimentos sejam provenientes de pensão, pois foram acostados aos autos, os documentos de fl. 13 e 22 indicando que são rendimentos provenientes de trabalho assalariado (cód receita 0651). No entanto, a Recorrente trouxe aos autos o extrato de rendimentos (fl. 61) cuja descrição do valor total de R$ 21.785,45 consta de "dif. comp. aposentadoria" e "compl. de pensão". A confrontação de tais documentos enseja dúvidas quanto a real natureza dos proventos recebidos pela empresa São Paulo Transportes S/A no ano calendário de 2011. Entendo, neste caso, que somente a fonte pagadora pode informar seguramente se todos rendimentos pagos ao recorrente são proventos isentos (pensão). Dessa forma, em homenagem ao princípio da busca da verdade material, o julgamento deve ser convertido em diligência. Diante do exposto, devese realizar diligência a fim de que a Unidade da Receita Federal de origem intime a fonte pagadora, São Paulo Transportes S/A CNPJ 60.498.417/000258 para que informe se o total dos rendimentos brutos pagos ao recorrente, Fl. 74DF CARF MF Processo nº 13833.720047/201446 Resolução nº 2402000.585 S2C4T2 Fl. 5 4 no anocalendário 2011 é provento de pensão e caso haja rendimentos de outra natureza, discriminar os respectivos valores. (assinado digitalmente) Bianca Felícia Rothschild. Fl. 75DF CARF MF
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Numero do processo: 10830.912322/2012-26
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 28 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Apr 20 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 3402-000.986
Decisão: ACORDAM os membros da 4ª Câmara /2ª Turma Ordinária da Terceira Seção de Julgamento, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do Relator.
(Assinado com certificado digital)
Antonio Carlos Atulim - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: ANTONIO CARLOS ATULIM
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ENTIDADES BENEFICENTES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Recorrente CASA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DE VALINHOS GRUPO GENTE NOVO RUMO Recorrida FAZENDA NACIONAL ACORDAM os membros da 4ª Câmara /2ª Turma Ordinária da Terceira Seção de Julgamento, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do Relator. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório Tratase de manifestação de inconformidade contra Despacho Decisório eletrônico que indeferiu o Pedido de Restituição Eletrônico PER, referente a alegado crédito de pagamento indevido ou a maior efetuado por meio do DARF. Segundo o Despacho Decisório, o DARF informado no PER foi integralmente utilizado na quitação do respectivo débito, não restando crédito disponível para restituição. Em sua manifestação de inconformidade a interessada argumentou, em resumo, que o pagamento indevido decorre de sua condição de imune às contribuições sociais, nos termos do § 7º do art. 195, c/c 146, inc. II, ambos da Constituição Federal, e do art. 14 do CTN. Isso porque tem a natureza jurídica de associação civil sem fins lucrativos e o objetivo de prestar assistência integral à criança e ao adolescente, na forma dos arts. 203 da CF/88 e 2º do Estatuto da Criança. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 08 30 .9 12 32 2/ 20 12 -2 6 Fl. 70DF CARF MF Processo nº 10830.912322/201226 Resolução nº 3402000.986 S3C4T2 Fl. 3 2 Uma vez processada a manifestação de inconformidade, esta foi julgada improcedente nos termos da ementa abaixo transcrita: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2008 RESTITUIÇÃO. PIS – FOLHA DE PAGAMENTO. ATIVIDADE DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. INCIDÊNCIA. São contribuintes do PIS/Pasep incidente sobre a folha de salário, e não sobre o faturamento, as instituições beneficentes de assistência social, de caráter filantrópico, recreativo, cultural, científico e as associações, quando atendidas as condições e requisitos legais. Manifestação de Inconformidade Improcedente. Direito Creditório Não Reconhecido.. Diante deste quadro, o contribuinte interpôs o recurso voluntário em que alegou, em suma: (i) que é imune ao pagamento do PIS, haja vista o disposto no art. 195, § 7º, c.c. o art. 146, inciso II, ambos da Magna Lex, bem como o disposto no art. 14 do CTN; e, ainda (ii) que a recorrente atende todos os requisitos estabelecidos em lei para gozar da imunidade citada e que, para o período em tela, foi declarada entidade pública federal, nos termos da Portaria Federal n. 685, de 04/04/2007, bem como possui o CEBAS Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social, sob o n. 71000.114296/200930. É o relatório. Resolução Conselheiro Antonio Carlos Atulim, relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 3402000.939, de 28 de março de 2017, proferida no julgamento do processo 10830.912270/201298, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu na Resolução 3402000.939: "5. O presente recurso voluntário preenche os pressupostos formais de admissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento. 6. Como visto alhures, tratase de pedido de ressarcimento com o fito de ver reconhecido crédito de PIS decorrente da imunidade da recorrente, uma vez que a mesma enquadrarseia no conceito de entidade beneficente. Fl. 71DF CARF MF Processo nº 10830.912322/201226 Resolução nº 3402000.986 S3C4T2 Fl. 4 3 7. Para provar sua condição de entidade beneficente, a recorrente anexa à sua manifestação de inconformidade os documentos de fls. 21/28 [(i) certificado de utilidade pública nacional, emitido pelo Ministério da Justiça; (ii) atestado de registro no Conselho Nacional de Assistência Social; (iii) Portaria Municipal que reconhece o caráter assistencial da recorrente; e, ainda, (iv) cópia da lei municipal n. 4.812/2012, que autoriza a concessão de subvenções às entidades assistenciais do Município de Valinhos, dentre as quais encontrase a recorrente]. 8. Não obstante, juntamente com seu recurso voluntário, o contribuinte apresenta outro documento (fl. 65) que atestaria sua condição de entidade beneficente. Tratase do ofício n. 959/20013, emitido pela Coordenação Geral de Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social, que assim comunica: 9. Da análise de todos os documentos aqui tratados, é possível cogitar que, de fato, a recorrente enquadrase no conceito de entidade assistencial apta a gozar de imunidade tributária. Acontece que, todos os documentos trazidos nos autos pela recorrente com o escopo de provar tal condição referemse à momento posterior ao período do crédito em análise, o qual diz respeito ao mês de fevereiro de 2006 (fl. 32). 10. Neste diapasão, tendo em vista que o acervo probatório trazidos aos autos aparentemente induz à conclusão de que a recorrente preenche as condições para gozar de imunidade tributária, bem com ainda pautado pela ideia de instrumentalidade do processo, resolvo por converter o presente julgamento em diligência para que a unidade preparadora providencie: Fl. 72DF CARF MF Processo nº 10830.912322/201226 Resolução nº 3402000.986 S3C4T2 Fl. 5 4 · a intimação do contribuinte para apresentar o Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social CEBAS válido para o período do crédito aqui vindicado. 11. É a resolução." Importante frisar que os documentos juntados pela contribuinte no processo paradigma, como prova do direito creditório alegado, também foram juntados em cópias nestes autos. Desta forma, os elementos que justificaram a conversão do julgamento em diligência no caso do paradigma também a justificam no presente caso. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, convertese o presente julgamento em diligência, para que a unidade preparadora intime o contribuinte para apresentar o Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social CEBAS válido para o período do crédito aqui vindicado. Após, retornemse os autos para julgamento. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim Fl. 73DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.922011/2009-62
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Dec 07 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Tue Mar 21 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/09/2004 a 30/09/2004
CONTRATOS. PREÇO PREDETERMINADO. ÍNDICE DE REAJUSTE. DESCARACTERIZAÇÃO.
Incumbe à empresa postulante à manutenção na sistemática cumulativa da contribuição a demonstração de que o índice empregado cumpre os requisitos legais, expressamente a de que a variação dos custos efetivamente ocorrida seria igual ou superior à praticada com base no índice contratualmente definido.
Recurso Especial do Procurador Provido.
Numero da decisão: 9303-004.499
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por voto de qualidade, em dar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Tatiana Midori Migiyama, Erika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado) e Vanessa Marini Cecconello, que lhe negaram provimento.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: RODRIGO DA COSTA POSSAS
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PREÇO PREDETERMINADO. CORREÇÃO. IGPM. Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado COMPANHIA ESTADUAL DE GERAÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA CEEEGT ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/09/2004 a 30/09/2004 CONTRATOS. PREÇO PREDETERMINADO. ÍNDICE DE REAJUSTE. DESCARACTERIZAÇÃO. Incumbe à empresa postulante à manutenção na sistemática cumulativa da contribuição a demonstração de que o índice empregado cumpre os requisitos legais, expressamente a de que a variação dos custos efetivamente ocorrida seria igual ou superior à praticada com base no índice contratualmente definido. Recurso Especial do Procurador Provido. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por voto de qualidade, em darlhe provimento, vencidos os conselheiros Tatiana Midori Migiyama, Erika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado) e Vanessa Marini Cecconello, que lhe negaram provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 92 20 11 /2 00 9- 62 Fl. 824DF CARF MF Processo nº 11080.922011/200962 Acórdão n.º 9303004.499 CSRFT3 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Especial apresentado pela Fazenda Nacional contra o Acórdão nº 3803005.944, que julgou o recurso voluntário interposto pela contribuinte contra a não homologação de compensação declarada (PER/DCOMP). A compensação está lastreada em crédito oriundo de pagamento de contribuição supostamente efetuado a maior, em razão de apuração efetuada na sistemática nãocumulativa. O colegiado a quo entendeu, em síntese, que a correção dos preços pelo IGP M não descaracteriza a natureza de preço predeterminado para os efeitos da tributação pelas contribuições cumulativas, incidentes sobre contratos de longo prazo firmados antes de 31 de outubro de 2003, conforme previsão contida no inciso XI, b, do artigo 10 e inciso V do artigo 15 da Lei nº10.833/2003. Com esse entendimento, ficou caracterizado o pagamento a maior em razão da apuração da contribuição na sistemática não cumulativa. Para comprovar a divergência de interpretação necessária ao conhecimento do seu recurso, a Fazenda Nacional aponta decisões que enfrentaram exatamente a mesma situação mesmo setor econômico, mesmo índice em discussão e concluíram de modo antagônico. Após, sobrevieram contrarrazões em que o sujeito passivo defende o acerto da decisão questionada e pugna pela sua manutenção. É o Relatório. Voto Conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9303004.467, de 07/12/2016, proferido no julgamento do processo 11080.909061/201179, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 9303004.467): O recurso cumpre os requisitos regimentais para que seja apreciado; dele conheço. Começo com o registro de que concordo com quase todos os fundamentos da decisão recorrida, da lavra do douto e coerente ex Fl. 825DF CARF MF Processo nº 11080.922011/200962 Acórdão n.º 9303004.499 CSRFT3 Fl. 4 3 membro desta casa, o dr. Belchior Melo de Souza. De fato, apenas discordo dele quando vislumbra diferença semântica relevante entre as locuções presentes na lei ("reajuste em função de ...") e no ato normativo que buscou regulamentar o assunto ("reajuste em percentual ... "). Para mim, nenhuma diferença há aí: reajuste "em função de" quer dizer exatamente "aplicando o percentual previsto no" índice. O que se tem de ver é se o índice cumpre os requisitos da lei, isto é, refletir "a variação ponderada dos custos dos insumos utilizados, nos termos do inciso II do §1º do art. 27 da Lei nº 9.069, de 29 de junho de 1995". É que, como já reiteradamente transcrito, a norma que temos de aplicar autoriza a adoção de dois critérios alternativos e mutuamente excludentes para fixação do reajuste do preço: pode ele expressar a variação dos custos ou se basear em índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos utilizados. Por "variação dos custos", entendo eu, quer o ato legal se referir à variação efetivamente ocorrida e devidamente apurada pela empresa em sua escrita contábil. Já o índice que se empregue pode, em princípio, ser qualquer um objeto do acordo celebrado com o cliente, mas não pode superar a efetiva variação dos custos. A meu sentir, a norma sob análise decorre das especificidades do setor em discussão. Como é bem sabido, tratase de uma atividade essencialmente monopolizada, na qual prestador e tomador acordam condições que prevalecerão por períodos de tempo bastante longos. Nesses casos, inexistente um "mercado fixador", o preço é contratualmente definido, especificando o contrato também a forma de reajuste que o preserve dos efeitos inflacionários. Outra especificidade do setor diz com o elevado aporte de capital necessário a sua exploração, o que o fez, até há duas décadas, exclusivamente estatal. A privatização do setor, ocorrida nos idos dos anos 90 do século passado, exigia, por isso, que se garantisse (até onde possível) uma remuneração ao capital privado suficiente a estimular o seu ingresso. E na fixação desse percentual, obviamente, um fator essencial é a "margem de contribuição", no dizer dos contabilistas, ou o markup, na dos economistas: em ambos as acepções, a diferença entre o preço e o custo (unitário, na primeira; marginal, na segunda). E tal diferença, sabidamente, é influenciada pela tributação que incida sobre o setor. É por isso que o legislador, a meu ver acertadamente, previu que o reajuste do preço em percentual "compatível" com a variação efetiva dos custos, por si só, não afetaria a forma de tributação pelas contribuições PIS e COFINS que vigia quando os contratos foram assinados. A rigor, tal regra limitaria a correção dos preços à efetiva variação ocorrida nos custos, mas o legislador a ampliou ao deferir que fosse usado índice, desde que ele refletisse a variação ponderada dos custos dos insumos utilizados. É importante aqui considerar, como minudentemente feito no voto do dr. Belchior, a diferença entre reajuste, recomposição e repactuação. Citoo: Fl. 826DF CARF MF Processo nº 11080.922011/200962 Acórdão n.º 9303004.499 CSRFT3 Fl. 5 4 Nesse passo, importa identificar três formas de fixação de preços nos contratos em andamento: a repactuação ou revisão, a recomposição e o reajuste. A autorizada doutrina de Marçal Justen Filho1 define o que vêm a ser recomposição e reajuste. “A recomposição é o procedimento destinado a avaliar a ocorrência de evento que afeta a equação econômico financeira do contrato e promove adequação das cláusulas contratuais aos parâmetros necessários para recompor o equilíbrio original. Já o reajuste é procedimento automático, em que a recomposição se produz sempre que ocorra a variação de certos índices, independentemente de averiguação efetiva do desequilíbrio” A recomposição, também chamada de revisão, decorre de fatos imprevisíveis: caso de força maior, caso fortuito, fato do príncipe ou álea econômica extraordinária. O reajuste objetiva reconstituir os preços praticados no contrato em razão de fatos previsíveis, é dizer, álea econômica ordinária, no momento da contratação, ante a realidade existente, como a variação inflacionária. Por decorrência, o reajuste deve retratar a alteração dos custos de produção a fim de manter as condições efetivas da proposta contratual, embora muitas vezes não alcance este desiderato relativamente a certo segmento ou agente econômico. A repactuação visa à adequação dos preços contratuais aos novos preços de mercado e, no âmbito da Administração Pública Federal, encontrase regulamentada no art. 5º do Decreto nº 2.271, de 7 de julho de 19972. A possibilidade de repactuação prevista neste decreto não se faz acompanhar de disciplina acerca dos seus efeitos tributários, valendo a citação apenas para destacar a definição do signo repactuação. Novamente, em nada posso divergir dessa conceituação, mas tampouco posso concordar com a conclusão que dela extrai meu celebrado colega: para mim, a possibilidade de o contrato estabelecer cláusula de alteração em consequência de mudança tributária que venha a afetar o preço, implementada posteriormente à assinatura do contrato, está exatamente a validar o meu entendimento. É que ela seria totalmente desnecessária (ao menos no tocante às contribuições em tela) se fosse possível mantêlo no regime cumulativo pela aplicação de qualquer índice contratual, pois, nesse caso, nunca haveria impacto tributário do reajuste. Penso que, ao contrário, ela pode se dar (caso a correção pelo índice leve à tributação não cumulativa) o que atrai o procedimento de recomposição. Divirjo, portanto, dos que entendem (como parece ser a conclusão da decisão recorrida) que a autorização legal esteja a permitir que a 1 Filho, Marçal Justen. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. São Paulo: Dialética, 10. ed., 2004, p. 389. 2 Art. 5º Os contratos de que trata este Decreto, que tenham por objeto a prestação de serviços executados de forma contínua poderão, desde que previsto no edital, admitir repactuação visando à adequação aos novos preços de mercado, observados o interregno mínimo de um ano e a demonstração analítica da variação dos componentes dos custos do contrato, devidamente justificada. Fl. 827DF CARF MF Processo nº 11080.922011/200962 Acórdão n.º 9303004.499 CSRFT3 Fl. 6 5 empresa adote um determinado índice e não mais precise averiguar se ele é inferior ou superior à efetiva variação dos seus custos. É óbvio que se for inferior, não estará autorizada a deixar de aplicar o índice contratualmente previsto para reajuste. Aplicamse, nesse caso, as disposições contratuais relativas à recomposição e/ou repactuação, conforme didaticamente exposto pelo dr. Belchior em seu voto. O que isso não implica, porém, é que, em qualquer caso, mantém se o regime cumulativo, pois não é isso o que diz o ato legal. Necessário, pois, provar. Quando se trata de lançamento de ofício, essa prova, a meu sentir, há de ser exigida e desconstituída fundamentadamente pela fiscalização para que possa ser mantido o lançamento. Já nos casos, como o presente, em que é a própria empresa quem postula administrativamente a sistemática cumulativa, ela deve ser a primeira peça a instruir o seu pleito. No presente caso, do relatório da decisão recorrida e da leitura da íntegra do processo, não encontro qualquer prova, no entanto, ainda que a empresa tenha afirmado em seu recurso voluntário que: "(...) em nenhum momento foram aferidos os custos de produção do contribuinte no período fiscalizado. Nesse caso, mesmo considerando que o IGPM desfigura o conceito normativo de preço predeterminado, não poderia ter sido ignorada outra prerrogativa legal, a qual estabelece um percentual não superior ao acréscimo do custo de produção". Como já repetidamente afirmado, tal prova competia a ela, postulante, e não à fiscalização. Fora isso, a defesa da empresa lastreiase essencialmente no ato da ANEEL, que efetivamente afirma que o IGPM cumpre o requisito legal relativo à tributação aqui discutida. Isso não obstante, rejeito o argumento, pois a competência da ANEEL não alcança matéria tributária. Com efeito, entre as atribuições daquela agência reguladora, exaustivamente elencadas na própria lei que a criou3, nada há acerca da tributação incidente sobre o setor. Assim, as Notas Técnicas e as Resoluções daquela agência reguladora aplicamse às questões inerentes à geração e à distribuição de energia elétrica e às atividades correlatas. Sua competência, pois, restringese à seara dos contratos, dos preços da energia e da remuneração das concessionárias e permissionárias desses serviços públicos. Por óbvio, entre tais atribuições está dizer que possa ser contratualmente previsto o IGPM. O que não pode é dizer que isso implica tal ou qual consequência tributária. No presente caso, como já afirmado, embora postule a compensação, nada trouxe a empresa que comprovasse a adequação do índice aos ditames legais. Voto, pois, por dar provimento ao recurso da Fazenda Nacional. 3 Lei 9.427/96, arts. 3º e 4º Fl. 828DF CARF MF Processo nº 11080.922011/200962 Acórdão n.º 9303004.499 CSRFT3 Fl. 7 6 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, conheço do recurso especial da Fazenda Nacional, e, no mérito, doulhe provimento. assinado digitalmente Rodrigo da Costa Pôssas Fl. 829DF CARF MF
score : 1.0