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Numero do processo: 13016.000419/2005-57
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jul 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Sep 29 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/07/2005 a 31/07/2005
NÃO-CUMULATIVIDADE. CESSÃO DE CRÉDITOS DE ICMS ACUMULADOS DECORRENTES DE EXPORTAÇÕES. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL VINCULANTE, NA FORMA REGIMENTAL.
Havendo decisão definitiva do STF, com repercussão geral, no sentido da não-incidência da Contribuição para o PIS e da Cofins na cessão onerosa para terceiros de créditos de ICMS acumulados, originados de operações de exportação, ela deverá ser reproduzida pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, por força regimental, para fatos geradores anteriores à produção de efeitos da Lei nº 11.945/2009, que expressamente previu a sua exclusão da base de cálculo das contribuições.
Recurso Especial do Procurador Negado.
Numero da decisão: 9303-005.384
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Luiz Augusto do Couto Chagas (Suplente convocado), Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas.
Nome do relator: RODRIGO DA COSTA POSSAS
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/07/2005 a 31/07/2005 NÃO-CUMULATIVIDADE. CESSÃO DE CRÉDITOS DE ICMS ACUMULADOS DECORRENTES DE EXPORTAÇÕES. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL VINCULANTE, NA FORMA REGIMENTAL. Havendo decisão definitiva do STF, com repercussão geral, no sentido da não-incidência da Contribuição para o PIS e da Cofins na cessão onerosa para terceiros de créditos de ICMS acumulados, originados de operações de exportação, ela deverá ser reproduzida pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, por força regimental, para fatos geradores anteriores à produção de efeitos da Lei nº 11.945/2009, que expressamente previu a sua exclusão da base de cálculo das contribuições. Recurso Especial do Procurador Negado.
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decisao_txt : Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Luiz Augusto do Couto Chagas (Suplente convocado), Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas.
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INCIDÊNCIA. CESSÃO ONEROSA DE CRÉDITOS DO ICMS. EXPORTAÇÃO. Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado MADEM SA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MADEIRAS E EMBALAGENS ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/07/2005 a 31/07/2005 NÃOCUMULATIVIDADE. CESSÃO DE CRÉDITOS DE ICMS ACUMULADOS DECORRENTES DE EXPORTAÇÕES. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL VINCULANTE, NA FORMA REGIMENTAL. Havendo decisão definitiva do STF, com repercussão geral, no sentido da nãoincidência da Contribuição para o PIS e da Cofins na cessão onerosa para terceiros de créditos de ICMS acumulados, originados de operações de exportação, ela deverá ser reproduzida pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, por força regimental, para fatos geradores anteriores à produção de efeitos da Lei nº 11.945/2009, que expressamente previu a sua exclusão da base de cálculo das contribuições. Recurso Especial do Procurador Negado. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Luiz Augusto do Couto Chagas (Suplente convocado), Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 01 6. 00 04 19 /2 00 5- 57 Fl. 185DF CARF MF Processo nº 13016.000419/200557 Acórdão n.º 9303005.384 CSRFT3 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Especial de Divergência interposto pela Fazenda Nacional contra o Acórdão 380300.862. Na parte de interesse ao presente litígio, o colegiado a quo decidiu que a cessão onerosa de créditos do ICMS não compõe a base de cálculo das contribuições do PIS e da COFINS. A Fazenda Nacional requer a reforma do acórdão argumentando, em síntese, que a cessão onerosa de créditos de ICMS é uma operação que equiparase a verdadeira alienação de direitos a titulo oneroso, originando receita tributável, devendo compor a base de cálculo da PIS/ COFINS, conforme dispõe o art. 1° §§ 1º e 2º da Lei nº 10.637/2002, bem como o art. 1° da Lei nº 10.833/2003. Mediante Despacho do Presidente da Câmara competente, foi dado seguimento ao recurso interposto. O contribuinte apresentou contrarrazões. É o Relatório. Voto Conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9303005.319, de 25/07/2017, proferido no julgamento do processo 13016.000004/200401, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 9303005.319): "Os requisitos para se admitir o Recurso Especial foram cumpridos e foram respeitadas as formalidades regimentalmente previstas. A matéria tratada no presente litígio restringese ao fato de se as receitas decorrentes da transferência onerosa de créditos de ICMS, acumulados em razão de exportação para o exterior, devem, ou não, ser excluídas da base de cálculo da Contribuição para o PIS e da Cofins. O tema não é mais passível de discussão no CARF, haja vista que o Supremo Tribunal Federal já decidiu a questão posta, com a devida declaração de repercussão geral, nos termos do artigo 543B da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, antigo Código de Processo Civil. Fl. 186DF CARF MF Processo nº 13016.000419/200557 Acórdão n.º 9303005.384 CSRFT3 Fl. 4 3 O Recurso Extraordinário nº 606.107/RS, que trata da matéria, foi interposto pela Fazenda Nacional, contra decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que considerou inconstitucional a inclusão, na base de cálculo da Contribuição para o PIS e da Cofins não cumulativas, dos valores dos créditos do ICMS provenientes de exportação que fossem cedidos onerosamente a terceiros. Em julgamento realizado pelo pleno do STF, em 22/05/2013, sob a relatoria da Ministra Rosa Weber, foi julgado o mérito, cuja decisão possui a seguinte ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. HERMENÊUTICA. CONTRIBUIÇÃO AO PIS E COFINS. NÃO INCIDÊNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA. EMPRESA EXPORTADORA. CRÉDITOS DE ICMS TRANSFERIDOS A TERCEIROS. I Esta Suprema Corte, nas inúmeras oportunidades em que debatida a questão da hermenêutica constitucional aplicada ao tema das imunidades, adotou a interpretação teleológica do instituto, a emprestarlhe abrangência maior, com escopo de assegurar à norma supralegal máxima efetividade. (...) VI O aproveitamento dos créditos de ICMS por ocasião da saída imune para o exterior não gera receita tributável. Cuidase de mera recuperação do ônus econômico advindo do ICMS, assegurada expressamente pelo art. 155, § 2º, X, “a”, da Constituição Federal. VII Adquirida a mercadoria, a empresa exportadora pode creditarse do ICMS anteriormente pago, mas somente poderá transferir a terceiros o saldo credor acumulado após a saída da mercadoria com destino ao exterior (art. 25, § 1º, da LC 87/1996). Porquanto só se viabiliza a cessão do crédito em função da exportação, além de vocacionada a desonerar as empresas exportadoras do ônus econômico do ICMS, as verbas respectivas qualificamse como decorrentes da exportação para efeito da imunidade do art. 149, § 2º, I, da Constituição Federal. VIII Assenta esta Suprema Corte a tese da inconstitucionalidade da incidência da contribuição ao PIS e da COFINS não cumulativas sobre os valores auferidos por empresa exportadora em razão da transferência a terceiros de créditos de ICMS. (...) Recurso extraordinário conhecido e não provido, aplicandose aos recursos sobrestados, que versem sobre o tema decidido, o art. 543B, § 3º, do CPC. O acórdão foi publicado em 25/11/2013 e o trânsito em julgado deu se em 05/12/2013. Fl. 187DF CARF MF Processo nº 13016.000419/200557 Acórdão n.º 9303005.384 CSRFT3 Fl. 5 4 Por força da disposição, a seguir transcrita, do § 2º do art. 62 do RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015, a mencionada decisão do STF deve ser reproduzida por este relator: Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. (...) § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 – Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) Registrese ainda, a título de observação, que, na forma da Lei nº 10.522/2002, art. 19, § 5º, com a redação dada pelo art. 21 da Lei nº 12.844/2013, também estão vinculadas a este entendimento as Delegacias de Julgamento e as Unidades de Origem da RFB, com a manifestação da PGFN na Nota transcrita parcialmente a seguir, no que interessa a esta discussão: NOTA /PGFN/CRJ/Nº 1.486/2013 (...) 2. Em razão de os referidos julgados terem repercussão na esfera administrativa e requerer atuação efetiva da RFB, e em observância do que foi definido na Nota PGFN/CRJ nº 1114/2012, que cumpre o disposto no Parecer PGFN/CDA nº 2025/2011, estas CRJ examina, infra, os itens referidos no parágrafo anterior, realizando a delimitação do tema ali tratado, nos seguintes termos: (...) 98 – RE 606.107/RS (...) Resumo: não incide PIS e COFINS sobre a cessão a terceiros do crédito presumido do ICMS decorrente de exportação. Data da inclusão:13/12/2013 DELIMITAÇÃO DA MATÉRIA DECIDIDA: as verbas referentes à cessão a terceiro de crédito presumido do ICMS decorrente de exportação não constituem base para incidência do PIS e da COFINS. Pelo exposto, voto por dar provimento ao Recurso Especial interposto pelo contribuinte." Fl. 188DF CARF MF Processo nº 13016.000419/200557 Acórdão n.º 9303005.384 CSRFT3 Fl. 6 5 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, nego provimento ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Fl. 189DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11543.002359/2005-13
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Aug 21 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004
DESPACHO DECISÓRIO. FUNDAMENTAÇÃO. INOVAÇÃO NO JULGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
No Processo Administrativo Fiscal (PAF), aprecia-se a legalidade ou não do despacho decisório, sendo vedado ao órgão julgador trazer nova fundamentação legal que não constava do despacho original. Deve-se anular a decisão da primeira instância para a realização de novo julgamento adstrita aos fundamentos trazidos no despacho decisório que decidiu pela homologação parcial do pedido de compensação.
Recurso voluntário Parcialmente Provido
Numero da decisão: 3201-003.026
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso voluntário para anular a decisão da primeira instância e a realização de novo julgamento adstrito aos fundamentos constantes no despacho decisório.
Winderley Morais Pereira - Presidente substituto e Relator.
Participaram do presente julgamento, os Conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Orlando Rutigliani Berri, Marcelo Giovani Vieira e Renato Vieira de Avila.
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004 DESPACHO DECISÓRIO. FUNDAMENTAÇÃO. INOVAÇÃO NO JULGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. No Processo Administrativo Fiscal (PAF), aprecia-se a legalidade ou não do despacho decisório, sendo vedado ao órgão julgador trazer nova fundamentação legal que não constava do despacho original. Deve-se anular a decisão da primeira instância para a realização de novo julgamento adstrita aos fundamentos trazidos no despacho decisório que decidiu pela homologação parcial do pedido de compensação. Recurso voluntário Parcialmente Provido
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso voluntário para anular a decisão da primeira instância e a realização de novo julgamento adstrito aos fundamentos constantes no despacho decisório. Winderley Morais Pereira - Presidente substituto e Relator. Participaram do presente julgamento, os Conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Orlando Rutigliani Berri, Marcelo Giovani Vieira e Renato Vieira de Avila.
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FUNDAMENTAÇÃO. INOVAÇÃO NO JULGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. No Processo Administrativo Fiscal (PAF), apreciase a legalidade ou não do despacho decisório, sendo vedado ao órgão julgador trazer nova fundamentação legal que não constava do despacho original. Devese anular a decisão da primeira instância para a realização de novo julgamento adstrita aos fundamentos trazidos no despacho decisório que decidiu pela homologação parcial do pedido de compensação. Recurso voluntário Parcialmente Provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso voluntário para anular a decisão da primeira instância e a realização de novo julgamento adstrito aos fundamentos constantes no despacho decisório. Winderley Morais Pereira Presidente substituto e Relator. Participaram do presente julgamento, os Conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente), Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Orlando Rutigliani Berri, Marcelo Giovani Vieira e Renato Vieira de Avila. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 54 3. 00 23 59 /2 00 5- 13 Fl. 2859DF CARF MF 2 Relatório Por bem descrever os fatos adoto, com as devidas adições, o relatório da primeira instância que passo a transcrever. "Tratase de reconhecimento de direito creditório de Cofins decorrente do regime de nãocumulatividade, no período de 01/01/05 a 31/03/05, no valor de R$3.947.366,00 (fl. 2), para fins de compensação. A autoridade fiscal decidiu (fl. 188) homologar parcialmente as compensações efetuadas, porque entendeu que a contribuinte não possuía o direito creditório no montante declarado. Reconheceu, no entanto, o valor de R$1.900.250,86, argumentando por meio do Parecer SEORT/DRF/VIT/ES nº 2.983/09 (fls. 169 e ss), em resumo, que: 1. a requerente tem por objeto social o comércio atacadista de café, comércio atacadista de algodão em pluma, fabricação de óleos vegetais e fiação de fibras de algodão, todas atividades com vendas no mercado interno e no mercado externo; 2. em razão da atividade desenvolvida e tendo em vista a apuração do IRPJ com base no lucro real no ano calendário 2004, neste ano ficou sujeita ao regime de incidência nãocumulativa da contribuição para o PIS/Pasep; 3. a contribuinte informou despesas (manutenção e reparos) não passíveis de aproveitamento de crédito, visto que não se enquadraram na definição de insumos esboçada pela legislação tributária, e em outras situações, não discriminou os serviços efetivamente incorridos; 4. as vendas de mercadorias realizadas pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento não são tributadas, portanto, não fazem jus ao crédito; 5. há compras de mais de 200 diferentes fornecedores, porém, uma amostragem de mais de 80% das compras de café acabou por definir análise da situação dos 55 maiores fornecedores, 15 são cooperativas, 1 é empresa do poder público, restando 39 fornecedores; 6. aproximadamente, 72% destes fornecedores analisados, enquadramse como pessoas jurídicas que se declararam à Receita Federal do Brasil em situação de inatividade, ou simplesmente estão omissas perante o órgão, outras ainda, quando prestaram tais informações, o fizeram de maneira irregular, eis que a receita declarada é totalmente incompatível com o valor das vendas realizadas, isto considerando apenas as operações mercantis com a requerente; 7. registrase que as compras de café de cooperativas foram desconsideradas do cálculo por possuírem tratamento diferenciado no que tange a apuração das contribuições nãocumulativas; 8. se tomados os valores de aquisição que foram declarados, das empresas analisadas, o percentual de aquisições que, em tese, sofreu a incidência do PIS/Pasep na etapa anterior é de impressionantes 28,69%, sublinhando que o levantamento se contentou em esquadrinhar apenas os valores declarados, independentemente do efetivo recolhimento de tais exações; 9. no caso examinado há Fl. 2860DF CARF MF Processo nº 11543.002359/200513 Acórdão n.º 3201003.026 S3C2T1 Fl. 3 3 presunção de que a abertura destas "pessoas jurídicas" era meramente casuística, indicando objetivos escusos, bastando verificar que aproximadamente 31% (trinta e um inteiros percentuais) destas "sociedades" analisadas iniciaram suas "operações" após 09/2002, quando foi publicada a Medida Provisória n° 66/2002, que instituiu a nãocumulatividade para a contribuição para o PIS/Pasep, o que reforça ainda mais as suspeitas; 10. assim, o que se verifica deste quadro é que, a bem da verdade, estas "pseudopessoas jurídicas" são apenas figuras formais, longa manus de pessoas inescrupulosas, que as utilizam em suas práticas ilegais, onde funcionam como intermediárias, com o único propósito de "fabricar" créditos da nãocumulatividade para as contribuições em comento; 11. não se está afirmando que a requerente agiu em conluio ou mesmo que tivesse conhecimento de tal situação, ao passo que não houve investigação neste sentido e não há prova que aponte tal realidade, pois não é este o escopo deste trabalho; 12. nesse contexto, a ausência de provas que unam a requerente aos seus fornecedores gera uma presunção de boafé em seu favor, todavia, em que pese tal circunstância, pressuposta inocência não pode lhe garantir o cômputo normal de tais créditos, justamente porque também foi vítima do procedimento ilegal; 13. não se concebe que a adquirente, neste ato requerente do crédito, possa transferir o seu pretenso prejuízo ao Estado, sob pena de se admitir a distribuição por toda a sociedade de um ônus individual; 14. nesta peça opinativa não se questiona a existência das operações de venda, mas sim, a inclusão das compras em debate no cálculo dos créditos a descontar dos valores devidos a título de PIS/Pasep e Cofins nãocumulativos, haja vista que sendo Fisco e contribuinte vítimas de um mesmo golpe, não é possível a socialização do prejuízo sofrido pelo adquirente, exigindose que o Estado arque com um prejuízo dobrado, qual seja, além de nada receber ainda ter de ressarcir aquilo que deveria ter sido recolhido e não foi, ainda que o adquirente tenha agido de boafé; 15. com estes fundamentos foi providenciado o reenquadramento dessas compras, consideradas irregulares pela presente fiscalização, para aquisições de pessoas físicas garantindose o direito ao crédito presumido, de acordo com a planilha de apuração das contribuições nãocumulativas; 16. o sujeito passivo apurou créditos referentes a embalagens adquiridas, de acordo com o DACON/Demonstrativo Analítico de apuração do PIS, referidas aquisições estão enquadradas nos CFOP de n°s 1920 e 2920, os quais se referem à entrada de sacaria e vasilhame; 17. foram desconsideradas as entradas de mercadorias sob os CFOP de n°s 1122, 2122, 1125 e 2125, visto que referidas aquisições foram contempladas no item Compras Terceiros PJ, conforme declaração do próprio contribuinte às fls. 191/192; 18. verifica se, pelo somatório da documentação apresentada, que o contribuinte não logrou êxito em confirmar as despesas de aluguel informadas, razão pela qual essa diferença foi desconsiderada para fins de apuração dos créditos a descontar; 19. o contribuinte ofereceu à base de cálculo dos créditos despesas de condomínio, mas não há previsão no texto Fl. 2861DF CARF MF 4 legal para a inclusão desta despesa no âmbito da despesa de aluguel, visto que possuem naturezas jurídicas distintas, desta forma, despesas de condomínio não foram consideradas como créditos passíveis de aproveitamento, tendo sido glosadas pela fiscalização; 20. procedeuse, então, à utilização dos créditos na dedução do débito do Cofins apurado no mês, além dos créditos vinculados ao mercado interno, consumiramse, também, créditos atrelados ao mercado externo, de sorte que restou saldo credor, a ser utilizado nas compensações de outros tributos ao final do 1º Trimestre de 2005 no montante de R$ 1.900.250,86. No Parecer Complementar DRF/VIT/SEORT nº 1672/2010 (fl. 199) não houve alteração da análise, nem do crédito reconhecido, mas a Delegacia incluiu mais uma Dcomp, no rol das compensações declaradas, a ser considerada por ocasião de efetivação do encontro de créditos. Cientificada da Decisão (fl. 222), em 17/08/10, a contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade (fls. 223 e seguintes), em 15/09/10, onde alegou, em resumo, que: 1. teve limitado seu direito a uma parcela do crédito pleiteado sem que tenham sido dados os fundamentos para a glosa, portanto, pleiteia a nulidade do processo; 2. as despesas pagas às pessoas jurídicas responsáveis pela manutenção e reparos de seus ativos se enquadram verdadeiramente no conceito de insumos albergado pela legislação fiscal de regência; 3. o direito ao crédito da contribuição nascerá em relação a toda e qualquer aquisição de bens e serviços, desde que: (i) tratemse de elementos sem os quais a receita de vendas não se realizaria; e, (ii) não haja vedação legal à apropriação de créditos calculados sobre tais dispêndios; 4. a Requerente esclarece que as tais despesas são registradas na conta 752.600 e referemse à utilização de serviços no beneficiamento do algodão; 5. se o art. 3º, II da Lei n.° 10.833/03 não restringiu o direito ao crédito apenas para as hipóteses em que os serviços são aplicados ou consumidos na produção, o ato administrativo ora mencionado (IN nº 247/02 com redação dada pela IN º 358/03) não poderia criar este limite, sob pena de ofensa ao Princípio da legalidade, alçado a patamares constitucionais por força do art. 150, I da Constituição Federal; 6. de fato, o art. 3º, §2°, II da Lei n.° 10.833/03 (com a redação dada pelo art. 37 da Lei n.° 10.865/04), veda o direito ao crédito calculado em relação às aquisições de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, inclusive no caso de isenção; 7. no entanto, é imperioso atentar para o fato de que nos tributos em que o ônus financeiro é transferido ao adquirente (tributos indiretos) há a obediência ao chamado Princípio Constitucional da NãoCumulatividade, pelo qual o contribuinte possui o direito de abater o tributo cobrado em etapas anteriores do que for devido em decorrência de suas próprias operações; 8. a idéia materializada nesse princípio é a de evitar o chamado efeito cascata, isto é, a incidência de tributo sobre tributo; 9. em relação aos fornecedores inidôneos, a Requerente acosta notas fiscais, comprovantes de pagamentos e de entrada de mercadorias, que comprovam as transações elencadas pelo Sr. AFRF; 10. cumpre destacar que a Lei nº 10.833/2003 não condicionou a apropriação de créditos ao pagamento do produto adquirido, mas sim a sua aquisição; 11. exigir que a Requerente Fl. 2862DF CARF MF Processo nº 11543.002359/200513 Acórdão n.º 3201003.026 S3C2T1 Fl. 4 5 tome os créditos apenas de pessoas jurídicas que estejam em dia com suas obrigações tributárias (principais e acessórias) é no mínimo paradoxal, na medida em que a Requerente não dispõe do mesmo aparato que o Fisco detém para constatar irregularidades tributárias; 12. ainda que existisse regra condicionando o crédito ao pagamento na etapa anterior, tratar seia de dispositivo absolutamente inócuo, na medida em que em virtude do sigilo fiscal (arts. 198 e 199 do CTN) não há como a Requerente constatar se seus fornecedores estão em dia com o Fisco; 13. assim, solicita o cancelamento da glosa referente às aquisições de pessoas jurídicas inidôneas; 14. o Parecer equivocouse ao glosar o crédito pleiteado pela Requerente (registrado na linha 02 da ficha 04 do DACON), na medida em que as embalagens registradas nessa linha do DACON (contabilizadas na conta 755.000) referemse àquelas consumidas na industrialização do óleo de algodão, não guardando qualquer/relação com aquelas adquiridas, sob o CFOP n°s 1.122, 2122, 1125 e 2125; 15. as demais despesas com embalagens citadas referemse às aquisições de sacaria utilizada na exportação, de café (linha 01 do DACON); 16. não há registro em duplicidade e, consequentemente, não há valores à serem glosados; 17. não há como prosperar a glosa efetuada em relação à aluguel, pois todos os dispêndios encontram se devidamente suportados por recibos e comprovantes de pagamento; 18. os dispêndios de condomínio compõem o valor da própria despesa de aluguel e, dessa forma, também geram direito ao crédito. A Inconformada cita legislação e jurisprudência, requerendo, ao final, reconhecimento do direito de crédito e homologação das compensações efetuadas. O processo fora baixado em diligência (fl. 1.823) para a Unidade a quo examinar, em resumo, se há alguma repercussão na controvérsia aqui instaurada e no crédito pleiteado dos mesmos fatos apurados nas operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, pedindo ainda esclarecimentos acerca de outros itens glosados. A Delegacia de origem no “Relatório Fiscal”, à fl. 2.152 e seguintes, responde positivamente a tal indagação, junta variados documentos, e, em síntese, justifica que: 1. a operação fiscal “TEMPO DE COLHEITA” foi deflagrada pela DRF/Vitória, em outubro de 2007, que resultou na operação BROCA parceria do Ministério Público, Polícia Federal, e Receita Federal, onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão e prisão; 2. no rol de supostos fornecedores da contibuinte, é importante mencionar a ACÁDIA, COLÚMBIA, DO GRÃO, L&L, J.C. BINS e V. MUNALDI, hipotéticas atacadistas de café localizadas na cidade de COLATINA, norte do ES, uns dos principais alvos na “Operação Tempo de Colheita”, deflagrada pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Vitória – ES; 3. a motivação da operação Tempo de Colheita foi a flagrante divergência entre as movimentações financeiras de pessoas jurídicas atacadistas – na ordem de 3 bilhões de Reais nos anos de 2003 a 2006 – e os valores insignificantes das receitas declaradas; 4. dezenove (53%) das empresas atacadistas fiscalizadas foram criadas a partir de 2002, e passaram a ter movimentação financeira crescente e Fl. 2863DF CARF MF 6 vultosa a partir do ano de 2003; 5. ao contrário dos tradicionais atacadistas, tais empresas ocupam salas pequenas e acanhadas, sem qualquer estrutura física ou logística, nem dispõem de funcionários para operar como atacadistas; 6. entre os documentos obtidos ao longo da operação “TEMPO DE COLHEITA” estão declarações de produtores rurais, maquinistas, corretores, sócios e pessoas ligadas às empresas de fachada, e, ainda, documentos relacionados a tais empresas; 7. do Ministério Público e da Polícia Federal a Fiscalização recebeu documentos fiscais e contábeis em papel e meio magnético; 8. com o objetivo de colher provas sobre o modus operandi do esquema, coletouse, durante as mencionadas operações, documentos, além de realizar diligências nas atacadistas e principais empresas exportadoras de café; 9. junto aos produtores rurais foi apurado que havia uma negociação direta, ou por meio de corretores, entre os produtores rurais e tradicionais maquinistas e empresas do ramo atacadistas, exportadoras ou indústrias, porém, nas notas fiscais apareciam como compradores pseudoatacadistas, tais como, Colúmbia, Do Grão, V. Munaldi, JC Bins, e outras; 10. os produtores rurais, via de regra, não preenchiam as notas fiscais, sendo que as mesmas eram preenchidas nos escritórios dos corretores e/ou compradores; 11. os corretores de café convergiram para firmar os pontos levantados pelos produtores rurais, especialmente, no que tange à utilização das pseudoempresas jurídicas para intermediar a venda do café do produtor para a comercial atacadista, inclusive, do pleno conhecimento da empresa, ora autuada, de tais operações; 12. os corretores afirmaram que as próprias empresas tradicionais de exportação e industrialização do café passaram a dificultar a compra com nota fiscal do produtor rural, exigindo notas em nome de pessoas jurídicas; 13. os corretores afirmaram que algumas empresas foram constituídas com a única e exclusiva finalidade de vender notas fiscais, e, ainda, que as Exportadoras/Indústrias tinham pleno conhecimento do esquema fraudulento; 14. a migração para empresas laranjas foi um movimento orquestrado, onde exportadoras e indústrias caminharam no mesmo sentido, com exigência inclusive de que as notas fiscais anotassem ficticiamente a incidência do PIS/COFINS, bem como as mesmas cautelas adotadas de consultar os cadastros fiscais no momento do recebimento do café por meio de empresas laranjas na tentativa de evitar problemas futuros; 15. restou demonstrado que a EISA não só tinha pleno conhecimento do esquema fraudulento como dele se beneficiava, apropriandose de créditos fictícios sobre notas fiscais ideologicamente falsas gerados por empresas atacadistas de fachada. Intimada do resultado da diligência (fl. 2316), em 20/04/13, a contribuinte ratificou os termos de sua Manifestação de Inconformidade, adicionando (fls. 2318 e ss), em resumo, que: 1. nenhum dos sócios, administradores ou empregados da Requerente foi investigado no âmbito do Inquérito Policial nº 541/2008 DPF/ SR/ES ou denunciado nos autos do Processo Criminal n° 2008.50.05.0005383, ou em qualquer outro processo criminal oriundo das operações "Tempo de Colheita" e "Broca"; 2. ao revés, em momento algum das investigações ocorridas houve a vinculação da Requerente ao suposto sistema Fl. 2864DF CARF MF Processo nº 11543.002359/200513 Acórdão n.º 3201003.026 S3C2T1 Fl. 5 7 fraudulento; 3. assim, resta evidente a precariedade da acusação da d. autoridade fiscal de que a Requerente teria se utilizado de empresas laranjas como intermediárias fictícias na compra de café de produtores, com o intuito exclusivo de apropriação de créditos da Contribuição ao PIS e da COFINS; 4. o volume de operações mantido com pessoas físicas pouco sofreu alterações com a instituição da nãocumulatividade das contribuições e previsão de direito ao crédito (anoscalendários 2002 e 2003), e com a mudança da legislação aplicável ao setor em 2012 (Lei n° 12.599/2012); 5. ainda que o nome do produtor rural, da fazenda de café e/ou da região fosse informado ao adquirente em referidas situações, como até hoje o é, este adquire o produto da empresa atacadista, que ao final é responsável pela entrega do produto em determinada quantidade, em boa qualidade e em determinado prazo e local; 6. as empresas atacadistas, comerciantes e exportadoras de café cru em grão não necessitam de estrutura física própria para operarem a não ser uma sala, onde localizado o estabelecimento comercial utilizado para a formalização da compra e venda do café, na medida em que referido produto, após adquirido, pode perfeitamente permanecer depositado em armazém geral até a ocasião da revenda; 7. em nenhum dos depoimentos constantes dos autos é feita menção à pessoa da Requerente ou de algum administrador/funcionário seu como participante do alegado esquema fraudulento; 8. em sendo inegável a boafé da Requerente, verificase a completa improcedência da glosa dos créditos apurados sobre aquisições de café cru em grão de pessoas jurídicas no período compreendido entre o 1º trimestre de 2004 e o 3° trimestre de 2005; 9. demonstrou a completa improcedência da glosa dos créditos originais das contribuições apurados pela Requerente sobre aquisições de café de pessoas jurídicas; 10. considerando a indiscutível boafé da empresa e nos termos do artigo 82, parágrafo único, da Lei n° 9.430/96, deve ser cancelada a glosa dos créditos levada a efeito em razão da suposta inidoneidade dos fornecedores da Requerente; 11. na remota hipótese da glosa em questão ser mantida, o que se admite apenas para fins de argumentação, há que ao mínimo se reconhecer o direito à apuração do crédito presumido de que trata a Lei n° 10.925/04, como fora inicialmente realizado pela d. autoridade fiscal; 12. ainda que não tivesse ocorrido a decadência para inovação dos fundamentos da glosa, apenas a título de argumentação, restará comprovado que a posição da 16ª Turma da DRJ/RJ1 quanto à apuração de crédito presumido de aquisições de café de produtores rurais não deve prosperar; 13. um dos requisitos para a apropriação do crédito presumido na aquisição de produto in natura consiste no fato de que o adquirente exerça a atividade agroindustrial, e a Requerente, na condição de encomendante, é considerada, para todos os fins fiscais, produtora de café e, por conseguinte, beneficiária do crédito presumido. Reitera, “com base nos argumentos constantes da Manifestação de Inconformidade apresentada, somados aos argumentos que aqui são apresentados”, pela reforma da decisão que não homologou os Fl. 2865DF CARF MF 8 pedidos de compensação, a fim de que seja reconhecido o crédito pleiteado em sua integralidade." A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento manteve integralmente o despacho decisório. A decisão foi assim ementada: “ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/01/2005 a 31/03/2005 Créditos a Descontar. Incidência nãoCumulativa. Não dá direito a crédito gastos ou despesas com bens ou serviços utilizados nas atividades da Empresa, quando não corresponderem ao conceito de insumo ou a outra expressa hipótese legal. Aquisições. Nãosujeitas a Cofins. Crédito Vedado. A Partir de 01/05/04. A alteração promovida pela Lei nº 10.865, de 30 de abril 2004, na Lei nº 10.833, no sentido de vedar o direito ao crédito da nãocumulatividade da Cofins, nos casos de aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, passou a produzir efeitos a partir de 01/05/04. Fraude. Dissimulação. Desconsideração. Negócio Ilícito. Comprovada a existência de simulação/dissimulação por meio de interposta pessoa, com o fim exclusivo de afastar o pagamento da contribuição devida, é de se glosar os créditos decorrentes dos expedientes ilícitos, desconsiderandose os negócios fraudulentos. Uso de Interposta Pessoa. Inexistência de Finalidade Comercial. Dano ao Erário. Caracterizado. Negócios efetuados com pessoas jurídicas, artificialmente criadas e intencionalmente interpostas na cadeia produtiva, sem qualquer finalidade comercial, visando reduzir a carga tributária, além de simular negócios inexistentes para dissimular negócios de fato existentes, constituem dano ao Erário e fraude contra a Fazenda Pública, rejeitandose peremptoriamente qualquer eufemismo de planejamento tributário. Manifestação de Inconformidade Procedente em Parte Direito Creditório Reconhecido em Parte” Cientificada da decisão, a autuada interpôs recurso voluntário, alegando em sede preliminar que a decisão da primeira instância inovou a matéria discutida nos presentes autos, ao trazer argumentos para manutenção do lançamento resultante de diligência realizada, que trariam afirmações que a Recorrente teria participado de suposto esquema visando gerar, fraudulentamente, créditos da Contribuição ao PIS e da Cofins. No restante do recurso são repisadas as alegações já apresentadas na impugnação. Fl. 2866DF CARF MF Processo nº 11543.002359/200513 Acórdão n.º 3201003.026 S3C2T1 Fl. 6 9 Ao apreciar o recurso voluntário, a turma resolveu converter o julgamento em diligência, nos seguintes termos: Nos termos aqui expostos, entendo que os documentos e informações constantes dos autos não são suficientes para definir com exatidão quais são os insumos glosados pela Fiscalização e quais deles o contribuinte tenta pleitear seus créditos. Assim, fazse necessário a baixa dos autos em diligência para que seja determinada com acuracidade, quais são as aquisições de bens e as despesas de serviços que foram utilizadas a título de crédito pela Recorrente, quais foram glosadas pela Fiscalização e qual a implicação destes bens e serviços no processo produtivo. Diante do exposto, buscando os esclarecimentos necessários ao prosseguimento do julgamento, voto no sentido de converter o julgamento em diligência a fim de que unidade preparadora: a) Intime a Recorrente para no prazo de 30 (trinta) dias prorrogável uma vez por igual período, detalhar o seu processo produtivo e indicar de forma minuciosa qual a interferência de cada um dos bens e serviços que pretende aferir créditos para apuração do PIS e a COFINS não cumulativos; b) A Receita Federal, deverá elaborar relatório identificando quais dos bens e serviços utilizados que foram objeto de glosa, indicando os motivos para tal indeferimento. Com a possibilidade, se julgar necessário, de manifestarse quanto as informações apresentadas, inclusive fazendo as diligências e intimações que julgar necessárias. A Unidade de Origem procedeu a diligência determinada pelo CARF, elaborando relatório fiscal. Informando que a Recorrente apresentou documentos referentes à glosa de despesas de manutenção e reparos e de aquisição de embalagens. A auditoria fiscal concluiu por manter a glosa referente a despesas com manutenção e reparo, por entender, que não estariam ligados a atividade de produção da Recorrente. Quanto as aquisições de embalagem, entendeu por acatar as alegações da Recorrente e afastar a glosa referente a este item. Cientificada da diligência, a Recorrente apresentou manifestação ,concordando com o afastamento da glosa sobre as aquisições de embalagem e afirmando que as despesas de manutenção e reparo estariam vinculados a atividade da empresa e portanto, também estariam aptas a serem utilizadas como créditos na apuração das contribuições. Com estas considerações, o processo retornou ao CARF para o prosseguimento do julgamento. É o Relatório. Voto Fl. 2867DF CARF MF 10 Conselheiro Winderley Morais Pereira, Relator. Os recursos são tempestivos e atendem aos demais requisitos de admissibilidade, merecendo, por isto, ser conhecido. Nos termos detalhados no relatório, em sede de recurso voluntário, a Recorrente alega a nulidade da decisão da primeira instância, sob o arrimo que o acórdão teria inovado nos fundamentos inicialmente citados no despacho negatório do pedido de compensação. Consultando a decisão da primeira instância é possível identificar o enfrentamento de matérias referentes a glosa de créditos, por entender que tais operação não estariam incluídas no conceito de insumo e outra discussão quanto a possibilidade de creditamento sobre operações realizadas com empresas que foram identificadas como inaptas ou inexistentes de fato. Para a segundo grupo de créditos glosados, a decisão recorrida trata de dois fundamentos para negar os créditos. O primeiro seria a inexistência de recolhimento das contribuições na etapa anterior e o segundo a existência de fraude na criação e operação de empresas declaradas inexistentes de fato ou declaradas inaptas pela receita federal. O acórdão da primeira instância adotou como fundamento da decisão, a fraude nas operações realizadas com empresas, conforme pode ser verificado no trecho abaixo, extraído no voto condutor do Acórdão da DRJ. Assim, considerando os fatos descritos, e sustentados por conjunto probatório robusto constante dos autos, é imperativo concluir que as ‘compras’ efetuadas pelo contribuinte, ora recorrente, de pessoas jurídicas artificialmente criadas e intencionalmente interpostas na cadeia produtiva sem qualquer finalidade comercial, visando reduzir a carga tributária no contexto da nãocumulatividade do PIS/Cofins, além de simular negócios de fato inexistentes para dissimular o negócio real entre o produtor rural/pessoa física e o contribuinte, constituem dano ao Erário e fraude contra a Fazenda Pública. A análise exposta acima leva à rejeição peremptória de eventual alegação de planejamento tributário, pois demonstra que o autuado participou da criação ou utilizou de pessoas jurídicas de existência fantasmagórica, a fim de interpor elo fictício na cadeia produtiva e, assim, escapar do pagamento de tributo de sua responsabilidade, por meio de compensação de créditos inexistentes de fato, e ainda com vultosos valores de ressarcimento em dinheiro. O trabalho fiscal, por ocasião da diligência realizada, fundouse em amplo material probatório, permitindo o exercício do direito de defesa e ao contraditório. No Relatório é comprovado detalhadamente o acerto das glosas efetuadas. Neste contexto, perderam relevância as notas fiscais e comprovantes de pagamento. Fl. 2868DF CARF MF Processo nº 11543.002359/200513 Acórdão n.º 3201003.026 S3C2T1 Fl. 7 11 Na decisão recorrida é possível identificar claramente que o enfrentamento da matéria, que nega o direito creditório da recorrente, possui como fundamento a aquisição de produtos de pessoas jurídicas, quando na verdade tratariamse de pessoas físicas. A decisão da primeira instância considerou que os dois fundamentos teriam sido enfrentados no despacho decisório, tanto a questão da ausência de recolhimento das contribuições nas etapas anteriores, bem como, a existência de aquisições de "pseudoatacadistas". Quanto ao primeiro fundamento discutido na decisão da DRJ é inequívoco a sua utilização pelo despacho decisório, que consta de forma explicita na sua conclusão, conforme se depreende do trecho abaixo do despacho decisório, exarado pela Unidade de Origem. Em resumo: . Restou demonstrado que não houve incidência econômica dos tributos na maior parte das aquisições realizadas; . A ocorrência da incidência jurídica é duvidosa, uma vez que as pessoas jurídicas que poderiam realizar o aspecto material da hipótese de incidência (faturamento), aparentam ser meros instrumentos para realização de práticas ilegais; . Sob o ponto de vista econômica, não houve qualquer oneração da cadeia produtiva em relação a tais operações; . Em não havendo tal oneração perde o sentido o dualismo cumulatividade x nãocumulatividade que justificou o escopo da alteração da legislação; . Em conclusão, não ocorrendo a indesejada cumulutividade que ensejou a mudança da sistemática da apuração das contribuições em apreço não há que se falar em saldo credor possível de ressarcimento. Quanto ao segundo fundamento, a decisão da Delegacia de Julgamento da RFB afirma existir no despacho decisório menção ao fato de existir fraude na criação e operação dos atacadistas revendedores de café, cito trecho abaixo constante da decisão da DRJ, que detalha estes argumentos. 2º argumento: Compras de “pseudoatacadistas” Se a instrução processual se encerrasse neste ponto, dificilmente poderia prosperar a glosa procedida sub examen. Porém, com a diligência veio o relatório, onde se concluiu que parte dos créditos de PIS/Cofins reivindicados nos pedidos de ressarcimento e utilizados nas declarações de compensação foi gerada através de simulação de aquisições de pessoas jurídicas, quando realmente o foi de aquisições de produtores rurais pessoas físicas. Tratase agora da hipótese já contida Parecer DRF/VIT/SEORT (fls. 247 e ss) de considerar as compras, correspondentes aos fornecedores irregulares, transações fictícias: Fl. 2869DF CARF MF 12 No caso em questão, aparentemente existiria a intermediação comercial por pessoa jurídica. Entretanto, se ditas "pessoas jurídicas" forem apenas instrumentos para práticas fraudulentas, acobertando vendas realizadas por outros sujeitos, muito provavelmente pessoas físicas, não haveria que se falar em hipótese de incidência de PIS/Pasep e Cofins não cumulativos e, muito menos, em créditos da não cumulatividade como ora pretendido. Entendese que a prova colacionada aos autos no âmbito da diligência lançou nova luz sobre os créditos relativos às compras de café pela contribuinte, que foram glosados pela Autoridade Fiscal. O quadro amplo traçado a partir das Operações Broca e Tempo de Colheita milita desfavoravelmente à contribuinte no que concerne a seu alegado direito de crédito. Além disso, há elementos nos autos que não permitem simplesmente entender pela completa “isenção” do contribuinte na frustração da Receita Federal em sua legítima pretensão de caráter constitucional de amealhar recursos ao Erário. Quanto a este segundo fundamento para afastar os créditos referentes a aquisição das empresas atacadistas consideradas inidôneas, divirjo do entendimento da decisão da primeira instância. Apesar de existir a citação da existência de operações realizadas com empresas inidôneas, o despacho decisório é claro ao afirmar que matéria não esta sendo objeto de enfrentamento e discussão, conforme consta do trecho abaixo extraído do despacho decisório. 52. No caso examinado há uma presunção que a abertura destas "pessoas jurídicas" era meramente casuística, indicando objetivos escusos, bastando verificar que aproximadamente 33% (trinta e três inteiros percentuais) destas "sociedades" analisadas iniciaram suas "operações" após 09/2002 (fls. 210;219), quando foi publicada a Medida Provisória nº 66/2002 que instituiu a nãocumulatividade para a contribuição para o PIS/Pasep, o que reforça ainda mais as suspeitas. 53. Assim, o que se verifica deste quadro é que, a bem da verdade, estas "pseudopessoas jurídicas" são apenas figuras formais, longa manus de pessoas inescrupulosas que as utilizam em suas práticas ilegais, onde funcionam como intermediárias, com o único propósito de "fabricar" créditos da não cumulatividade para as contribuições em comento. 54. Deixese claro, neste interim, que não se está com isto afirmando que a requerente agiu em conluio ou mesmo que tivesse conhecimento de tal situação, ao passo que não houve nenhuma investigação neste sentido e não há prova que aponte tal realidade, pois não é este o escopo deste trabalho. De forma alguma. Até porque, se isto ocorreu ou vem ocorrendo, estar seia diante de um crime contra a ordem tributária. 55. Nesse contexto, a ausência de provas que una a requerente aos seus fornecedores gera uma presunção de boafé em seu favor. Todavia, em que pese tal circunstância, pressuposta inocência não pode lhe garantir o cômputo normal de tais créditos, justamente porque também foi vítima do procedimento ilegal. Demais disso, não se concebe que a adquirente, neste ato Fl. 2870DF CARF MF Processo nº 11543.002359/200513 Acórdão n.º 3201003.026 S3C2T1 Fl. 8 13 requerente do crédito, possa transferir o seu pretenso prejuízo ao Estado, sob pena de se admitir a distribuição por toda a sociedade de um ônus individual. 56. Frisese: nesta peça opinativa não se questiona a existência das operações de venda, mas sim, a inclusão das compras em um debate no cálculo dos créditos a descontar dos valores devidos a título de PIS/Pasep e Cofins nãocumulativos, haja vista que sendo Fisco e contribuinte vítimas de um mesmo golpe, não é possível a socialização do prejuízo sofrido pelo adquirente, exigindose que o Estado arque com um prejuízo dobrado, qual seja, além de nada receber ainda ter de ressarcir aquilo que deveria ter sido recolhido e não foi, ainda que o adquirente tenha agido de boafé. Neste pormenor aplicase o princípio da prevalência dos interesses públicos sobre os particulares. 57. Como se pode extrair, a situação é paradoxal porquanto a Fazenda Nacional é instada a ressarcir um direito creditório que, como contrapartida, não possui o competente recolhimento dos tributos devidos na etapa imediatamente anterior. 58. Diante do que descortinado, a plausível conclusão conduz à inadmissibilidade do pleito formulado integralmente, no que toca às ditas compras de PJ, sob pena de gerar um claro enriquecimento sem causa em detrimento dos cofres públicos, o que representaria uma cessão de interesses públicos.(grifo nosso) A leitura do despacho decisório deixa evidente que não existiu o aprofundamento da matéria referente a aquisição de empresas inidôneas, tampouco tal fato foi utilizado como fundamento para negar o creditamento das operações da Recorrente. O Processo Administrativo Fiscal tem seu desenvolvimento a partir da existência de um lançamento ou decisão fiscal, que é objeto de questionamento por parte do contribuinte, que utilizando dos instrumentos da impugnação ou da manifestação de inconformidade, define as matérias sobre a qual discorda da decisão da autoridade fiscal. A delimitação da lide, submetida a apreciação dos julgamentos administrativos, está restrita aos fundamentos e fatos arrolados no despacho decisório, delimitado pelos argumentos trazidos pelo contribuinte nos seus recursos. No caso em tela, ao meu sentir, restou claramente identificado como fundamento utilizado no despacho decisório para negar os créditos referentes a aquisição de empresas atacadistas consideradas inidôneas, o fato de não existir o recolhimento das contribuições nas etapas anteriores. Assim, entendo que existiu na decisão da primeira instância, a utilização de fundamentos que não constariam do despacho decisório, determinando que tal decisão seja cancelada para realização de um novo julgamento adstrito aos fundamentos constantes do despacho decisório. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento parcial ao recurso voluntário para anular a decisão da primeira instância e a realização de um novo julgamento considerando unicamente os fundamentos constantes do despacho decisório. Fl. 2871DF CARF MF 14 Winderley Morais Pereira Fl. 2872DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10580.000413/2003-15
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon May 23 00:00:00 UTC 2011
Ementa: SISTEMA INTEGRADO DE PAGAMENTO DE IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES DAS MICROEMPRESAS E DAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE - SIMPLES Ano-calendário: 1998 OMISSÃO DE RECEITA. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. A presunção legal de omissão de receita prevista no art. 42 da Lei n° 9.430/1996 autoriza a tributação com base em depósitos bancários. OPERAÇÕES COM VEÍCULOS USADOS. A caracterização das operações como vendas em “consignação por comissão”, por abranger prestação de serviços, exige não apenas registros específicos nos livros fiscais, que devem guardar coerência com a movimentação financeira da empresa, mas também a demonstração de toda uma lógica própria, com regras que evidenciem as condições para a prestação destes serviços, os percentuais de comissão, a apuração desta etc. Se a Contribuinte pratica a compra e venda de veículos usados, ou mesmo a “consignação por venda”, a base para a incidência dos tributos deve abranger o total dos valores recebidos, e não apenas uma parcela destes, a título de comissão recebida. No caso, também não é aplicável a regra do art. 5º da Lei 9.716/1998, que permite a equiparação destas outras operações, para efeitos tributários, à operação de “consignação por comissão”, uma vez que a Contribuinte é optante do Simples, e, portanto, já usufrui de um tratamento tributário diferenciado. Se a sistemática do regime simplificado tivesse que abarcar as normas que tratam de isenções específicas, creditamento, reduções de base de cálculo, substituição tributária, diferimentos, etc., restaria bastante comprometida a simplificação na apuração dos tributos, e é esta a razão pela qual os benefícios obtidos com o Simples (que é opcional) excluem os outros previstos para as pessoas jurídicas que adotam os regimes normais de tributação. Fl. 1 DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/2003-15 Acórdão n.º 1802-00.870 S1-TE02 Fl. 284
Numero da decisão: 1802-000.870
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em REJEITAR as preliminares suscitadas e, no mérito, NEGAR provimento ao recurso.
Nome do relator: José de Oliveira Ferraz Corrêa
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: SISTEMA INTEGRADO DE PAGAMENTO DE IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES DAS MICROEMPRESAS E DAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE SIMPLES Anocalendário: 1998 OMISSÃO DE RECEITA. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. A presunção legal de omissão de receita prevista no art. 42 da Lei n° 9.430/1996 autoriza a tributação com base em depósitos bancários. OPERAÇÕES COM VEÍCULOS USADOS. 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(assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Presidente. (assinado digitalmente) José de Oliveira Ferraz Corrêa Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa, José de Oliveira Ferraz Corrêa, André Almeida Blanco, Nelso Kichel, Marcelo Assis Guerra e Marco Antônio Castilho. Fl. 2DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 285 3 Relatório Tratase de Recurso Voluntário contra decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Salvador/BA, que considerou procedente o lançamento realizado para a constituição de crédito tributário relativo ao Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ, à Contribuição para o Programa de Integração Social PIS, à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, à Contribuição para Financiamento da Seguridade Social – COFINS e à Contribuição para Seguridade Social INSS, conforme os autos de infração de fls. 4 a 40, lavrados de acordo com o regime de tributação simplificada – SIMPLES, nos valores de R$ 66.675,00, R$ 66.675,00, R$ 108.005,91, R$ 216.011,88 e R$ 287.815,70, respectivamente, incluindose nestes montantes os juros moratórios e a multa de 75%. O lançamento abrangeu fatos geradores ocorridos ao longo do anocalendário de 1998. Por muito bem descrever os fatos, reproduzo o relatório constante da decisão de primeira instância, Acórdão nº 08731, às fls. 205 a 213: (...) 2. O lançamento é decorrente de omissão de receitas, em face de depósitos bancários não escriturados, com fundamentação nos seguintes dispositivos: arts. 226 e 229 do RIR/94; art. 24 da Lei n° 9.249, de 1995; arts. 2°, §2°, 3°, §1°, alínea “a”, 5°, 7°, §1°, e 18, da Lei n° 9.317, de 1996; art. 42 da Lei n° 9.430, de 1996 (fl. 06). E mais a legislação específica das contribuições retromencionadas (vide fls. 18, 24, 30 e 36). 3. Consta no processo que o Mandado de Procedimento Fiscal foi expedido em 01/10/2002 (fl. 01), e o Termo de Início da Ação Fiscal em 14/10/2002 (fl. 62). Este solicitando que a contribuinte apresentasse a documentação contábil/fiscal necessária à realização da auditoria, e como não houve resposta, o pedido para apresentação da mesma documentação foi reiterado no Termo de Início da Ação Fiscal n° 02, de 11/11/2002 (fl. 64). O procedimento fiscal foi concluído em 17/01/2003, conforme Termo de Encerramento anexo à fl. 40, com lançamento do crédito tributário no valor acima referido, cuja ciência à autuada se deu em 24/01/2003, de acordo com o Aviso de Recebimento (AR) colado à fl. 138 dos autos. 4. O autuante relata na Descrição dos Fatos (fl. 05) que os valores utilizados no lançamento foram apurados com base em levantamento dos depósitos creditados na contacorrente da autuada, n° 33.7528, agência 31739, do Bradesco S/A, conforme quadros demonstrativos dos “Extratos Bancários” (fls. 41/61) e cópias dos respectivos extratos (fls. 82/136), fornecidas tanto pela contribuinte como também pela citada instituição bancária. Fl. 3DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 286 4 5. Ressalta ainda que a presente ação fiscal foi motivada pela Representação n° 032/2002, da Delegacia Federal de Julgamento em Salvador – Ba (DRJ/SDR/BA), decorrente do processo administrativo fiscal n° 10580.001866/200288 (vide cópias às fls. 76/81). Diz ainda que a contribuinte fora intimada através dos termos anexos ao presente processo, no entanto, não atendeu a nenhuma das intimações que lhe foram enviadas (fls. 62/65). 6. Ciente do feito em 24/01/2003 (fl. 138), a autuada apresenta impugnação em 25/02/2003 (fls. 139/182). A sua defesa se embasa em alusões de ilegalidade do ato, por ofensa a dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, e em citações de jurisprudência e doutrina, cujos tópicos estão sintetizados nos subitens abaixo. A contribuinte entrou com petição em 28/09/2005 (fls. 193/199), requerendo a esta Delegacia Federal de Julgamento (DRJ/SRD/Ba) a juntada da documentação que compõe os anexos I a IV destes autos (vide fls. 193/201). 6.1 Requer a nulidade do processo, pelo fato de ser optante do Simples desde o anocalendário de 1997, de modo que não deve prosperar a tributação em preço com base no lucro arbitrado, já que não houve prévia emissão de Ato Declaratório excluindo a autuada do Simples. 6.2 Desenvolve extensa redação, mencionando doutrina, jurisprudência e artigos da Constituição Federal de 1988 – CF/88, visando convencer que a via correta pela qual o Fisco poderia obter dados bancários de contribuintes sob investigação fiscal seria através do Poder Judiciário, e não mediante requisição direta do órgão fiscal como se dá no caso vertente. 6.3 Na petição de fls. 193/199, diz ter juntado cópias de todos os cheques emitidos pela autuada no período fiscalizado, através dos quais se poderia verificar que da contacorrente fiscalizada foram transferidos, via cheque nominal, para a Concessionária REVISA, os valores relativos aos veículos vendidos no mês da emissão, ou no mês imediatamente anterior. 6.4 Reforça que, assim, os valores que circularam na conta corrente auditada não constituiriam receita operacional da empresa GOODCAR, antes sendo valores de titularidade da REVISA, que os recebia em função da revenda de carros usados dados em consignação para venda à autuada, que, pela intermediação, auferia pequena comissão. 6.5 Alega que para facilitar a confrontação dos valores transferidos da contacorrente da autuada para a REVISA, a peticionária relacionou, em separado, com a devida identificação, os veículos vendidos mês a mês, durante todo o período de autuação, bem como os cheques envolvidos nessas operações. 6.6 Diz, ainda, que para comprovar a veracidade das suas alegações, junta cópia do “LIVRO CONTA CORRENTE DOS VEÍCULOS DA REVISA COM GOODCAR”, onde estão, dia a dia, detalhadas as operações realizadas. Fl. 4DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 287 5 6.7 Ante o exposto, requer a nulidade do lançamento, ou a sua improcedência, caso seja rejeitada a preliminar argüida. Como mencionado, a DRJ Salvador/BA considerou procedente o lançamento, expressando suas conclusões com a seguinte ementa: Assunto: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte Simples Anocalendário: 1998 Ementa: OMISSÃO DE RECEITA. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. A presunção legal de omissão de receita prevista no art. 42 da Lei n° 9.430, de 1996, autoriza a tributação de depósitos bancários de origem não comprovada, desde que o contribuinte tenha sido regularmente intimado. INCONSTITUCIONALIDADE. Não compete à autoridade administrativa apreciar argüições versando sobre inconstitucionalidade da legislação aplicável. Esta é uma prerrogativa reservada ao Poder Judiciário por designação Constitucional. PRELIMINAR DE NULIDADE. Não há que se cogitar de nulidade do procedimento fiscal, quando comprovado que não houve cerceamento do direito de defesa, e foram cumpridos os demais requisitos previstos no Processo Administrativo Fiscal (Decreto nº 70.235, de 1972). OPERAÇÕES COM VEÍCULOS USADOS. A equiparação das operações de venda de valores usados, adquiridos para revenda, às operações de consignação, não se aplica às empresas tributadas pelo Simples. Caso não haja um efetivo contrato de consignação por comissão, a operação deve receber o tratamento de mera compra e venda de veículo, devendo ser utilizada, como base de cálculo do montante devido, relativo ao Simples, o valor total constante das notas fiscais, que espelham o valor real das transações da pessoa jurídica. Lançamento Procedente Inconformada com essa decisão, da qual tomou ciência em 13/01/2006 (sextafeira), a Contribuinte apresentou em 14/02/2006 o recurso voluntário de fls. 224 a 248, desenvolvendo argumentos sobre os tópicos mencionados abaixo. Dos fatos: o mencionado Mandado de Procedimento Fiscal decorreu da Representação n° 032, de 29 de maio de 2002, acatada pela i. Sra.Presidente da 2ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Salvador BA, advinda do julgamento improcedente dos Autos de Infração concernentes ao Processo Administrativo Fiscal n° 10580.001866/200288, o qual se reporta ao mesmo período do exercício de 1998. Fl. 5DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 288 6 Do Processo Administrativo Fiscal nº 10580.001866/200288 (anterior ao lançamento em discussão): inicialmente, cabe frisar que o Processo Administrativo Fiscal n° 10580.0018661200288 decorre de procedimento de fiscalização iniciado com o Termo de Inicio de Ação em 29 de março de 2001; em atenção à intimação do i. Auditor Fiscal da Receita Federal, a Recorrente, em 20 de junho de 2001, formalizou resposta comunicando que estava obrigada, tão somente, à apresentação dos livros contábeis e dos comprovantes de pagamentos dos tributos. Afirmou, ainda, que não apresentaria os extratos bancários com movimentação financeira por entender que tais informações diziam respeito ao seu sigilo bancário e estavam protegidas por direito constitucionalmente assegurado; o i. Auditor Fiscal, por intermédio da Divisão de Fiscalização DIFIS, obteve os extratos bancários da Recorrente junto ao Banco Bradesco. Após, intimou o Recorrente para comprovar as origens dos valores creditados na respectiva conta bancária; no início da fiscalização, a Recorrente formalizou resposta direcionada ao i. Auditor Fiscal, Sr. Antonio Brasil Rocha, esclarecendo como exercia a sua atividade de comercialização de veículos usados, nos seguintes termos, às fls. 203/204: Esclarecimentos (...) Dirseà que, examinando as movimentações financeiras da CONTRIBUINTE, a fiscalização constatou a existência de valores creditados em sua conta corrente incompatíveis com a simples atividade de comercialização. Esse entendimento, todavia, não procede. É que, para viabilizar essa atividade de intermediação, a CONTRIBUINTE era obrigada a depositar todo o valor do veiculo em sua conta bancária, reembolsando o proprietário depois da compensação do cheque, retendo consigo o valor das comissões. Idêntico procedimento ocorria com as operações envolvendo financiamento dos veículos, a grande maioria delas. Nesses casos, os bancos ou as financeiras exigiam, como condição para o financiamento, que os valores do empréstimo fossem depositados na conta corrente da CONTRIBUINTE, o que geraria falsa compreensão de uma grande receita financeira. E justamente aí onde bate o ponto. Ainda que verdadeira fosse a alegação, não bastaria para se comprovar a omissão de rendimentos, a simples comprovação de depósitos. É imprescindível, em outras palavras, que seja comprovada a utilização desses valores depositados como renda consumida, visto que os depósitos bancários, por si só, não caracterizam disponibilidade econômica de renda e proventos e, por Fl. 6DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 289 7 conseqüência, não se traduzem em fato gerador do imposto de renda. Diante deste quadro, a CONTRIBUINTE toma a liberdade de juntar à presente todo movimento de débitos da conta a que V.Sa. tiveram o indevido acesso, a fim de evidenciar que em contrapartida aos depósitos e créditos existem os cheques emitidos para pagamento dos veículos objetos destas intermediações, de modo a afastar a mais leve dúvida de qualquer ato ou fato que represente omissão de rendimento, principalmente, quando não há comprovação de sinais exteriores de riqueza. Sem mais para o momento aguardamos retorno. Cordialmente, GOODCAR COMERCIO DE VEICULOS LTDA. em outras palavras, a receita operacional da Recorrente é a comissão auferida na intermediação de vendas ou compras de veículos de terceiros, à medida que aproximava vendedores e compradores; neste contexto, o i. Auditor Fiscal concluiu o procedimento de fiscalização com a lavratura dos Autos de Infração constituindo créditos de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS, os quais tiveram a base de cálculo arbitrada com suporte na movimentação bancária; a Recorrente apresentou a devida impugnação administrativa, e os Autos de Infração foram julgados improcedentes em razão da ilegalidade da constituição dos créditos fiscais, segundo as normas de tributação normal, sem que antes ocorresse a exclusão do regime do SIMPLES por intermédio de Ato Declaratório da autoridade fiscal da Secretaria da Receita Federal que jurisdicionava o contribuinte; em observância ao disposto no art. 12 do Decreto n° 70.235/72, a i. Relatora representou à i. Dra. Presidente da 2ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em SalvadorBA, a qual encaminhou os autos à Delegacia da Receita Federal em SalvadorBA para as devidas providências (fls. 77 a 81); neste contexto, o i. Sr. Delegado da Receita Federal em Salvador determinou a execução do Mandado de Procedimento Fiscal n° 05.1.002002007210, que originou o presente Processo Administrativo Fiscal, visando a averiguação da apuração fiscal da Recorrente no período de janeiro a dezembro de 1998. Dos Autos de Infração contidos no presente processo: os Autos de Infração em discussão foram lavrados em razão de suposta “OMISSÃO DE RECEITAS OPERACIONAIS: DEPÓSITOS BANCÁRIOS NÃO ESCRITURADOS”, as quais foram apuradas com base em levantamento dos depósitos creditados na contacorrente da autuada n° 33.752S, agência 31739, do BRADESCO S/A; os tributos foram materialmente apurados no regime do SIMPLES. Ou seja, os tributos decorreram da aplicação das alíquotas e da base de cálculo determinada pela legislação que regulamenta o SIMPLES, qual seja a Lei n° 9.317/96; Fl. 7DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 290 8 o Auditor desconsiderou que a Recorrente apenas era remunerada pela comissão nas vendas; equivocouse o i. Sr. Auditor Fiscal, assim como a Turma Julgadora, uma vez que a Recorrente não poderia se sujeitar ao regime de tributação do SIMPLES, porque, tomando como receita bruta o produto das vendas de veículos usados, a Recorrente ultrapassou os limites determinados pela legislação que permitiram tal enquadramento desde o exercício de 1997, fazendose imperioso a sua tributação no regime normal de apuração; não bastasse isso, improcedente a apuração do tributo em comento com base no produto dos valores decorrentes da comercialização dos veículos, haja vista que a atividade da Recorrente não se configura em compra e venda de veículos usados. Da impossibilidade de sujeição da Recorrente ao SIMPLES, por ultrapassar o limite de faturamento permitido com a operação de compra e venda: sustenta a decisão recorrida que a base de cálculo de apuração do presente crédito fiscal corresponde ao “valor constante das notas fiscais, que espelham o valor real das transações da pessoa jurídica”; inequívoco, portanto, que a Recorrente não poderia se sujeitar ao regime especial do SIMPLES, posto que, ao se considerar as operações como compra e venda, e, por conseguinte, alterar completamente a base de cálculo para apuração dos respectivos tributos, é inquestionável que a Contribuinte ultrapassou o limite de R$ 720.000,00 (setecentos e vinte mil reais) desde o ano de 1997 (ano de adesão); noutro dizer, tomando como base de cálculo o valor total das vendas de veículos usados, necessário se faz a anulação do presente débito fiscal apurado, uma vez que indevida a sua apuração na sistemática do regime especial do SIMPLES; é incontroverso no presente processo de fiscalização que, ao adotar como receita bruta o produto integral da venda de veículos, a Recorrente, desde o início (1997) da vigência da Lei n° 9.317/96, ultrapassava o limite imposto pela mencionada legislação; por tal razão, não pode se sujeitar a esse regime de tributação específico no período imediatamente posterior ao ano de 1997, qual seja o exercido de 1998, objeto da autuação cm comento; o entendimento do i. Sr. Auditor Fiscal, ratificado pela Egrégia Turma de Julgamento, no sentido de que o produto das vendas dos veículos comercializados compõe base de cálculo para apuração do SIMPLES, maculou de nulidade insanável todo o Processo Administrativo; seria impossível a tributação do exercício de 1998 da Recorrente neste regime especial de tributação, uma vez que desde o exercício de 1997, ano de adesão ao SIMPLES, ela ultrapassou o limite determinado pela Lei te 9.317/96; outrossim, verificase que a autuação incorreu em novo equivoco material, na medida em que se esquivou de apurar se a Recorrente estava enquadrada em alguma hipótese impeditiva de tributação no regime do SIMPLES, conforme advertido pela decisão proferida pela 2ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em SalvadorBA no Fl. 8DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 291 9 Processo Administrativo n° 10580.001866/200288 e respectiva Representação acatada pela i. Dra. Presidente daquela Turma de Julgamento, às fls. 81; desta forma, resta clara a nulidade do Auto de Infração em comento, haja vista que se encontra eivado de vícios insanáveis, que macularam todo o processo administrativo fiscal, merecendo, pois, a sua anulação, posto que o crédito fiscal em questão não poderia ser apurado no regime do SIMPLES. Da impossibilidade da operação realizada pela Recorrente configurarse em compra e venda de veículos usados: conforme documentos constantes nos presentes autos, a Recorrente não realizou operações de compra e venda de veículos; a operação de compra e venda pressupõe a transferência de propriedade de determinado bem, em contrapartida de certo preço; sendo o conceito de compra e venda fixado pela União, única pessoa política competente para regular a referida matéria, conforme preceitua a Constituição Federal, em seu art. 22, I, é vedada a sua alteração para fins tributários, pela Egrégia 4ª Turma da Delegacia de Julgamento da Receita Federal em Salvador, como pretende fazer no presente caso, conforme disposto no art. 110 do Código Tributário Nacional; no caso em tela, conforme comprovado nos autos, a Recorrente não era proprietária dos veículos objeto das intermediações, os quais pertenciam a terceiros que figuraram como vendedores nas operações. A Recorrente não assumia nem mesmo os riscos pela operação; consoante se verifica dos documentos anexados ao presente Processo Administrativo, não constam Certificados de Registro de Veículos em nome da Recorrente, nem mesmo de Autorização para Transferência de Veículo. Isto porque a Recorrente não figurava sequer de fato, muito menos juridicamente, como proprietária dos veículos vendidos; além disso, o Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, obriga “a expedição de novo Certificado de Registro de Veículo quando for transferida a propriedade”, conforme disposto no art. 123. Ou seja, ratificase que a Recorrente não dispunha da propriedade dos veículos, uma vez que não havia em seu nome Certificado de Registro de Veiculo; como muito bem observado pela r. decisão às fls. 213, a Recorrente nem mesmo expedia Nota Fiscal de saída ou de entrada autorizada pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, haja vista que não vendia veículos, mas unicamente intermediava sua venda. Tanto é assim, que a Recorrente não forneceu no exercício de suas atividades qualquer documento idôneo para viabilizar a expedição do Certificado de Registro de Veículo pelo órgão executivo de trânsito, conforme exigido no art. 122 do Código de Trânsito Brasileiro; sendo assim, inequívoco admitir que a Recorrente não era proprietária dos veículos usados, nem mesmo juridicamente, razão pela qual não poderia figurar como vendedora nas vendas que intermediava, e, por conseguinte, infundada a caracterização de compra e venda; Fl. 9DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 292 10 neste contexto, imperioso se faz a exclusão da base de cálculo de apuração do presente crédito dos valores devidamente comprovados e repassados aos proprietários dos veículos. Da impossibilidade da operação realizada pela Recorrente, entendida como corretagem, se sujeitar ao SIMPLES: não se sustenta também que o crédito fiscal em discussão decorra de apuração de eventual atividade de corretagem enquadrada pelo i. Sr. Auditor Fiscal, ou mesmo pela Egrégia Turma Julgadora, posto que a pessoa jurídica que presta serviços de corretor não se submete à legislação do SIMPLES, consoante determina o disposto no inciso XIII do art. 9° da Lei n° 9.317/1996; inferese, portanto, que ainda que a Fiscalização caracterizasse a atividade da Recorrente como de prestação de serviços de corretor, presente crédito não poderia subsistir, tendo em vista que tal atividade não se sujeita ao regime de tributação especifico do SIMPLES; além disso, ainda que desconsidere a impossibilidade supra mencionada, caso o i. Sr. Auditor Fiscal, bem como a Turma Julgadora, entendesse que se trata de prestação de serviços de corretagem, improcedente a presente autuação, haja vista que desconsiderou o valor da receita bruta do mencionado serviço (comissão); isto porque, nos termos do § 2° do art. 2° da Lei n° 9.3l7/96, a receita bruta na prestação de serviço consiste no preço dos serviços prestados, razão pela qual indevida a apuração da base de cálculo do tributo incluindo os valores repassados aos proprietários dos veículos usados; deste modo, cabe a anulação do presente auto de infração, para cancelar o crédito tributário constituído nos termos definidos no regime do SIMPLES por empresa vetada de se sujeitar a este regime, bem como para excluir da base de cálculo do presente tributo os valores que não correspondem a preço de serviço. Da exclusão da penalidade, juros de mora e atualização em razão da violação ao disposto no art. 100 do Código Tributário Nacional: não pode o i. Auditor Fiscal cobrar da Recorrente a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo, conforme determina o art. 100, III, c/c o seu parágrafo único, do Código Tributário Nacional; isto porque a Recorrente não recolheu o tributo no referido exercício, em razão da ausência, à época e em todos os demais períodos, de exigência do Fisco. Tal atitude caracterizou prática reiterada, nos temos do dispositivo supra, o que, por conseguinte, exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo; do contrário, seria temerário se, por cumprir as orientações do próprio credor, pudesse a Contribuinte vir a ser punida; nesse contexto, evidenciase que a Recorrente jamais poderá se sujeitar à cobrança de penalidades, juros ou correção monetária, uma vez que realizou o recolhimento Fl. 10DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 293 11 dos tributos à base de prática administrativa reiterada adotada pela Secretaria da Receita Federal. Este é o Relatório. Fl. 11DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 294 12 Voto Conselheiro José de Oliveira Ferraz Corrêa, Relator. O recurso é tempestivo e dotado dos pressupostos para a sua admissibilidade. Portanto, dele tomo conhecimento. Conforme relatado, a matéria em litígio diz respeito a lançamento para a exigência de tributos abrangidos pelo regime de tributação simplificada – Simples, no período de janeiro a dezembro de 1998. A base de cálculo foi extraída da movimentação bancária da Contribuinte, nos termos do art. 42 da Lei 9.430/1996. O presente lançamento decorreu de representação feita pela DRJSalvador (fls. 77), após terem sido consideradas improcedentes as exigências fiscais constantes do processo nº 10580.001866/200288, que abrangia os mesmos períodos do ano de 1998. Esta representação fiscal trouxe as seguintes informações: (...) Na oportunidade em que foi apreciado o processo em epígrafe, da contribuinte GOODCAR COMERCIO DE VEÍCULOS LTDA, CNPJ n.° 96.336.150/000109, referente a Auto de Infração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica e Autos Reflexos, (...), ano calendário de 1998, observouse que a base de calculo do IRPJ foi determinada mediante o arbitramento do lucro, com fulcro no artigo 47, inciso III, da Lei n° 8.981, de 20 de janeiro de 1995, porque a pessoa jurídica teria deixado de apresentar os documentos relativos à sua escrituração contábil/fiscal, inclusive de sua movimentação financeira, solicitados mediante Termo de Início de Ação Fiscal e posteriores. 2. Entretanto, relativamente ao anocalendário de 1998, a contribuinte encontravase no regime tributário denominado Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de pequeno Porte — SIMPLES, na condição de EPP, consoante cópia da Declaração Anual Simplificada PJ/1999 SIMPLES (cópia fls. 114 e 115 do processo). De acordo com o extrato de consulta feita aos sistemas informatizados da Receita Federal, a opção pelo SIMPLES foi feita em 13/03/1997 (fl. 346 do processo). (...) 9. Da leitura dos dispositivos legais supracitados, depreendese que a pessoa jurídica optante pelo SIMPLES somente poderá ser submetida às normas de tributação aplicáveis às demais pessoas jurídicas a partir do período em que se processarem os efeitos da exclusão daquela sistemática de tributação, e esta, por sua Fl. 12DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 295 13 vez, somente darseá em razão da ocorrência de uma e ou mais hipóteses de exclusão de oficio, previstas na lei, e mediante Ato Declaratório, expedido pelo Delegado da Receita Federal que jurisdicione a contribuinte. 10. Ante o exposto, votouse pela improcedência dos lançamentos, porque entendeuse que, caso a pessoa jurídica se enquadrasse em uma das hipóteses legais de exclusão de oficio, faltou requisito Legal obrigatório à sua exclusão do SIMPLES a expedição do competente Ato Declaratório para que depois, então, se procedesse ao arbitramento do lucro, a partir do período em que se processassem os efeitos da exclusão. E, caso a pessoa jurídica não se enquadrasse em nenhuma das hipóteses legais de exclusão do SIMPLES, a tributação somente poderia prosperar se estivesse de acordo com as normas aplicáveis a este regime tributário. 11. Ante o exposto, e visando preservar os interesses da Fazenda Nacional, REPRESENTO a V. S.a, com base no artigo 12 do Decreto n° 70.235, de 06 de março de 1972, para as providências cabíveis, enquanto não consumada a decadência, observando ainda o artigo 1° da Lei n° 10.034, de 24 de outubro de 2000, caso seja pertinente. Após, então, terem sido canceladas as exigência de IRPJ pelo regime do Lucro Arbitrado e reflexos, constantes do processo nº 10580.001866/200288, foi realizado um novo lançamento, desta vez na própria sistemática do Simples, que é objeto do processo ora examinado. Na impugnação deste segundo lançamento, a Contribuinte desenvolveu extenso arrazoado, defendendo a idéia de que o Fisco somente poderia obter dados bancários de contribuintes por meio do Poder Judiciário, e não mediante requisição direta do órgão fiscal, como ocorreu no caso vertente. Destacou também que era optante do Simples desde o anocalendário de 1997, e que, deste modo, não poderia prosperar a tributação com base no lucro arbitrado, já que não houve prévia emissão de Ato Declaratório excluindo a autuada do Simples. Posteriormente, mas antes de proferida a decisão de primeira instância, a Contribuinte apresentou documentos, dizendo ter juntado cópias de todos os cheques emitidos pela autuada no período fiscalizado, através dos quais se poderia verificar que da conta corrente fiscalizada foram transferidos, via cheque nominal, para a Concessionária REVISA, os valores relativos aos veículos vendidos no mês da emissão, ou no mês imediatamente anterior. De acordo com os seus argumentos, os valores que circularam na conta corrente auditada não constituiriam receita operacional da empresa GOODCAR, antes sendo valores de titularidade da REVISA, que os recebia em função da revenda de carros usados dados em consignação para venda à autuada, que, pela intermediação, auferia pequena comissão. Nesta petição, a Contribuinte também alegou que para facilitar a confrontação dos valores transferidos da contacorrente da autuada para a REVISA, estava Fl. 13DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 296 14 relacionando, em separado, com a devida identificação, os veículos vendidos mês a mês, durante todo o período de autuação, bem como os cheques envolvidos nessas operações. Disse, ainda, que para comprovar a veracidade de suas alegações, juntava cópia do “LIVRO CONTA CORRENTE DOS VEÍCULOS DA REVISA COM GOODCAR”, onde estão, dia a dia, detalhadas as operações realizadas. No novo julgamento em primeira instância, as preliminares foram rejeitadas. A DRJ também esclareceu que o segundo lançamento foi realizado em conformidade com a legislação do Simples, e não mais com base no Lucro Arbitrado, e que, portanto, seriam improcedentes as críticas da Contribuinte nesse sentido. Quanto aos documentos apresentados depois do prazo para impugnação, mas antes de proferida a decisão de primeira instância, a DRJ manifestouse nos seguintes termos: (...) 21. Verificase na impugnação interposta pela autuada, que a sua defesa se ampara em extensa argumentação sobre ilegalidade do feito, por suposta ofensa a dispositivos constitucionais e da legislação aplicável, fazendo citações de jurisprudência e doutrina, sem que lograsse anexar, prova documental hábil e idônea que sustentasse os seus argumentos. 22. Depois, a contribuinte apresenta a petição de fls. 193/199, requerendo a esta DRJ/SRD/Ba anexação da documentação arrolada nos anexos I a IV, visando provar que os valores depositados em sua conta no Bradesco S/A não constituiriam omissão de receita do Simples, uma vez que para viabilizar a atividade de intermediação de venda de veículos de terceiros seria obrigada a depositar todo o valor da venda do veículo na referida conta, reembolsando o proprietário depois da compensação do cheque, apenas retendo consigo o valor das comissões, querendo dizer que a tributação do Simples incidiria apenas sobre essa diferença recebida. 23. Como se trata de um volume grande de informações, relativa a um número grande de transações, anexada antes do julgamento do processo, e tendo em vista a busca da verdade material, acato essa documentação e passo a examinála neste voto. 24. Cabe lembrar que a pessoa jurídica que se dedicava ao "comércio de veículos em consignação", auferindo comissões sobre as vendas, não podia optar pelo SIMPLES, porque a Receita Federal entendia que a prestação desses serviços era assemelhada à de corretor. 25. Mas a questão hoje está pacificada, pois a Coordenação Geral de Tributação (COSIT) da SRF, acabou concluindo pelo ingresso no Simples das operadoras de venda por consignação de veículos usados, conforme o Parecer Cosit nº 45, de 17/10/2003, cuja ementa se transcreve a seguir: Fl. 14DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 297 15 “POSSIBILIDADE DE INGRESSO NO SIMPLES. OPERAÇÕES EM CONSIGNAÇÃO POR COMISSÃO. OPERAÇÕES DE VENDA DE VEÍCULOS USADOS. É facultado às pessoas jurídicas que realizem operações em consignação por comissão (contratos de comissão, arts. 693 a 709, do Novo Código Civil, Lei n° 10.406, de 2002), e às a elas equiparadas, o ingresso no Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples), por não configurarem estas atividades mera intermediação de negócios. Dispositivos Legais: Lei n° 9.317, de 05 de dezembro de 1996, art. 9°, XIII.” 26. Mas a equiparação das operações de venda de veículos usados, adquiridos para revenda, às operações de consignação, de que trata o art. 5º da Lei nº 9.716/1998 e a Instrução Normativa SRF nº 152/1998, não se aplica às empresas tributadas pelo Simples, pois estas estão impedidas de deduzir o custo de aquisição do veículo para determinar o valor do pagamento mensal unificado. 27. Na hipótese de não haver um efetivo contrato de consignação por comissão, a operação deve ser tratada como mera compra e venda de veículo, devendo ser utilizada, como base de cálculo do montante devido, referente ao Simples, o valor total constante das notas fiscais, que espelham o valor real das transações da pessoa jurídica. Neste caso, a receita bruta para efeito de tributação pelo Simples é aquela definida no art. 4° da IN SRF n° 355, de 2003, verbis: “Art. 4º Considerase receita bruta, para os fins de que trata esta Instrução Normativa, o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. § 1º Ressalvado o disposto no caput, para fins de determinação da receita bruta apurada mensalmente, é vedado procederse a qualquer outra exclusão em virtude da alíquota incidente ou de tratamento tributário diferenciado (substituição tributária, diferimento, crédito presumido, redução de base de cálculo, isenção) aplicáveis às pessoas jurídicas não optantes pelo regime tributário das microempresas e das empresas de pequeno porte, de que trata esta Instrução Normativa.” 28. Reforçam este entendimento as decisões em processos de consulta proferidas pelas Unidades Regionais da SRF, sintetizadas nas ementas infracitadas: “1. SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 303 de 30 de setembro de 2005, Superintendência Regional da Receita Federal 9ª Região Fiscal ASSUNTO: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte Simples EMENTA: A pessoa jurídica que efetua a venda de veículos, em nome próprio, pode aderir ao Simples, pois tal Fl. 15DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 298 16 atividade distinguese das atividades de representação comercial, intermediação e corretagem. Esclareçase que a equiparação das operações de venda de veículos usados, adquiridos para revenda, às operações de consignação, de que trata o art. 5º da Lei nº 9.716/1998 e a Instrução Normativa SRF nº 152/1998, não se aplica às empresas tributadas pelo Simples. Assim, caso não haja um efetivo contrato de consignação por comissão, a operação deve receber o tratamento de mera compra e venda de veículo, devendo ser utilizada, como base de cálculo do montante devido, relativo ao Simples, o valor total da receita constante das notas fiscais, que espelham o valor real das transações da pessoa jurídica. 2. SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 349 de 15 de outubro de 2004, Superintendência Regional da Receita Federal 10ª Região Fiscal EMENTA: Simples. Opção. Possibilidade. Venda de veículos sob consignação. Base de cálculo dos pagamentos. A pessoa jurídica que tenha como objeto social, declarado em seus atos constitutivos, a compra e venda de veículos automotores, e comercializeos sob consignação, pode aderir ao Simples, desde que atendidas as demais exigências da legislação de regência. A diferença entre o valor de alienação e o custo de aquisição do automóvel integra a base de cálculo do montante a ser pago pela sistemática do Simples. 3. SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 42 de 11 de abril de 2002, Superintendência Regional da Receita Federal 6ª Região Fiscal EMENTA: OPERAÇÕES COM VEÍCULOS USADOS. A equiparação das operações de venda de veículos usados, adquiridos para revenda, às operações de consignação, não se aplica às empresas tributadas pelo Simples. A receita a ser tomada como base de cálculo do montante devido, relativo ao Simples, deve ser sempre o valor total constante das notas fiscais que espelham o valor real das transações da pessoa jurídica, pois a empresa optante pelo Simples não pode deduzir o custo de aquisição do veículo para determinar o valor do pagamento mensal unificado. É vedado o exercício da opção pelo Simples às pessoas jurídicas que prestam quaisquer serviços que traduzam a mediação ou intermediação de negócios, e que resultem no pagamento de comissões, corretagens ou qualquer outra remuneração pela mediação na realização de negócios civis ou comerciais.” 29. Passando ao exame da documentação apresentada pela impugnante, constatase nos anexos I a IV, que toda ela é insuficiente para comprovar a alegada comercialização de carros usados, dados em consignação pela REVISA, para revenda pela autuada, senão vejamos: (a) relaciona alguns cheques compensados em favor da REVISA (fls. 03/29 dos anexos); (b) relaciona veículos vendidos no anocalendário de 1998 (fls.30/54); (c) anexa documento intitulado PEDIDO, mas sem número de seqüência nem de autorização para expedição pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, que são características de uma nota fiscal de venda, acompanhado de Certificado de Registro de Veículo (fls. 55/1064); (d) anexo IV, Fl. 16DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 299 17 que a interessada denomina de “LIVRO CONTA CORRENTE DOS VEÍCULOS DA REVISA COM GOODCAR VEÍCULOS”, mas que é apenas uma encadernação de anotações manuais de suposta compra/venda de veículos, sem nenhuma utilidade fiscal, como acontece com os demais papéis observados nos tais anexos. 30. As anotações juntadas pela impugnante, como de valores de venda de veículos no período fiscalizado (fls. 55/1064), fazem prova a favor do Fisco, já que constituem receita bruta do Simples, considerando que a empresa inscrita no referido sistema não pode computar a diferença entre o valor de venda de veículo e o custo de aquisição para determinar o valor do pagamento mensal unificado. As únicas deduções permitidas pela norma do Simples são as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos art. 2º, § 2º, da Lei nº 9.317/996, e art. 4° da IN SRF n° 355/2003. 31. Verificase, enfim, que os papéis anexados pela impugnante são meros controles pessoais, inócuos como meio de prova capaz de descaracterizar o lançamento fiscal. Em suma, a autuada não anexou qualquer documento hábil e idôneo, que pudesse contradizer o feito (livros fiscais, contratos de consignação, notas fiscais, etc), demonstrando que não mantinha escrita fiscal e contábil que registrasse as operações e atividades da empresa, inclusive bancária, no anocalendário de 1998, proveniente da realização de atividade de compra e venda de veículos automotores, mesmo aquela a que estava obrigada por imposição da legislação tributária. 32. Os cheques que foram depositados pela GOODCAR (fls. 03/29 do Anexo I) e compensados pela empresa REVISA, que, segundo a primeira, eram para pagamento de veículos adquiridos para revenda, não têm efeito sobre a base de cálculo do Simples, pois esta corresponde à receita bruta de venda constante da nota fiscal, sobretudo porque a autuada não apresenta os contratos que pudessem comprovar a operação de consignação por comissão na venda/revenda de veículos usados. 33. Notase também na documentação apresentada (anexos I a IV) as inconsistências a seguir: a) muitos dos carros negociados têm origem diversa da REVISA; b) não se consegue estabelecer uma vinculação dos cheques relacionados pela fiscalização (fls. 42/62) como os valores dos carros da REVISA; c) Muitos valores das transações divergem dos valores constante dos formulários, DUT, e listagens, apresentados nos referidos anexos; d) não consta em cada uma das vendas quanto recebia efetivamente a requerente de comissão. 34. Portanto, tendo em vista que os lançamentos foram efetivados com fundamento no art. 42 da Lei n° 9.430, de 1996, e outros que o complementa, julgo correto o lançamento, por estar em sintonia com a legislação de regência, e pelo fato de a documentação anexada não servir de instrumento de prova hábil e idôneo capaz de desqualificar o procedimento fiscal. (...) (grifos do original) Fl. 17DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 300 18 Em sede de recurso voluntário, a Contribuinte procura demonstrar que o lançamento está maculado por vício de nulidade, alegando que a tributação não poderia ter sido realizada no regime do Simples. De acordo com seus argumentos, ao se considerar as operações como compra e venda, e, por conseguinte, alterar completamente a base de cálculo para a apuração dos respectivos tributos, passa a ser inquestionável que a Contribuinte ultrapassou o limite de R$ 720.000,00 (setecentos e vinte mil reais) desde o ano de 1997 (ano de adesão). Assim, seria impossível a tributação no exercício de 1998 pelo regime simplificado, uma vez que desde o exercício de 1997, ano de adesão ao SIMPLES, ela teria ultrapassado o limite determinado pela Lei te 9.317/96. Outro ponto que enfatiza é a impossibilidade da operação realizada pela Recorrente, entendida como corretagem, se sujeitar ao SIMPLES, uma vez que existe vedação expressa no art. 9º, XIII, da Lei 9.317/1996. E ainda que se desconsidere essa impossibilidade para os serviços de corretagem, também seria improcedente a autuação, haja vista que a tributação não recaiu sobre o valor do mencionado serviço (comissão). Segundo argumenta, nos termos do § 2° do art. 2° da Lei n° 9.3l7/96, a receita bruta na prestação de serviço consiste no preço dos serviços prestados, razão pela qual seria indevida a apuração da base de cálculo do tributo incluindo os valores repassados aos proprietários dos veículos usados. A Recorrente novamente afirma que suas operações não podem ser configuradas como compra e venda de veículos usados, posto que não era a proprietária destes bens, e que, neste contexto, é imperioso excluir da base de cálculo os valores devidamente comprovados e repassados aos proprietários dos veículos. Quanto ao alegado excesso de receita no ano anterior (1997), que, segundo a Recorrente, prejudicaria a tributação pelo Simples no ano de 1998, é preciso deixar claro que a Fiscalização não adotou uma regra geral de dimensionamento de base de cálculo, a ser aplicada indistintamente a qualquer período, e que permitiria afirmar, de modo inquestionável, que a receita bruta em 1997 ultrapassou o limite permitido para o Simples. No caso, o critério adotado pela Fiscalização decorreu especificamente das circunstâncias do ano fiscalizado (1998), em relação ao qual a documentação apresentada não foi suficiente para demonstrar que boa parte dos depósitos bancários correspondia a receita de terceiros, e não da Recorrente, problema esse que não pode ser automaticamente estendido para 1997 (ano que nem mesmo foi objeto de fiscalização). Portanto, são improcedentes os argumentos que sustentam a impossibilidade de tributação em 1998 pelo Simples, em razão de excesso de receita no ano anterior. Acerca do outro aspecto que, segundo a Recorrente, também impediria a tributação pelo Simples, qual seja, a vedação expressa para os serviços de corretagem ou assemelhados, a DRJ já esclareceu que a Receita Federal, por meio do Parecer Cosit nº 45, de 17/10/2003, admitiu o enquadramento no Simples para as pessoas jurídicas que atuam no ramo Fl. 18DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 301 19 de comércio de veículos usados, realizando operações em “consignação por comissão”, por entender que esta atividade não configurava mera intermediação de negócios. Deste modo, também inexiste esta outra impossibilidade para a tributação pelo Simples. Fosse essa a atividade desenvolvida pela empresa, poderia ela estar enquadrada no Simples sem problemas, e a tributação recairia apenas sobre as comissões recebidas em razão dos serviços prestados. O grande obstáculo é que não houve comprovação de que esta foi a atividade desenvolvida pela Contribuinte no ano de 1998, e de que boa parte dos depósitos bancários correspondiam a receitas de terceiros (proprietários dos veículos), e não da Recorrente. Primeiramente, é importante destacar, conforme contrato social às fls. 69 a 75, que o objetivo da sociedade é o “comércio varejista de veículos”. Além disso, a alegação da Recorrente de que ela recebia os carros em consignação, para vendêlos na modalidade de “consignação por comissão” não subsiste diante da detalhada análise implementada pela DRJ na documentação apresentada, conforme os fundamentos transcrito nos parágrafos anteriores, os quais também adoto na presente decisão, posto que não foram refutados em sede de recurso. A caracterização das operações como vendas em “consignação por comissão”, por abranger prestação de serviços, exigiria não apenas registros específicos nos livros fiscais, que deveriam guardar coerência com a movimentação financeira da empresa, mas também a demonstração de toda uma lógica própria, com regras que evidenciassem as condições para a prestação destes serviços, os percentuais de comissão, a apuração desta, etc., e nada disso pode ser extraído dos documentos que foram juntados aos autos. Realmente, não há qualquer evidência de que a receita da Recorrente envolvia a prestação de serviços, e que era recebida a título de comissão. Se havia algum contrato de consignação firmado com os proprietários dos veículos, conforme alegado no recurso, seria na modalidade da chamada “consignação por venda”, que atualmente está prevista no Código Civil como “contrato estimatório” (arts. 534 a 537). No contrato estimatório, o consignatário atua perante terceiros como se fosse o real proprietário das coisas, exercendo em nome próprio o poder de disposição (que lhe foi regularmente transferido), e não como representante do consignante. Além disso, as condições que o consignatário ajusta com o terceiro adquirente para a alienação da coisa consignada não podem ser recusadas ou modificadas pelo consignante, e o valor recebido pelo consignatário é preço de venda, e não pagamento/remuneração por serviços prestados (comissão). O pagamento realizado ao consignante, por sua vez, configura custo para o consignatário. Assim, ainda que houvesse um contrato de consignação, na modalidade de “consignação por venda”, a base para a incidência dos tributos abrangeria o total dos valores recebidos, e não apenas uma parcela destes, a título de comissão recebida. Fl. 19DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 302 20 Devo registrar, no mesmo sentido como já mencionado pela DRJ, que no caso de operações de compra e venda de veículos usados, ou mesmo de “consignação por venda”, não seria aplicável para a Recorrente a regra do art. 5º da Lei 9.716/1998, que permite a equiparação destas operações, para efeitos tributários, à operação de “consignação por comissão”: Art. 5º As pessoas jurídicas que tenham como objeto social, declarado em seus atos constitutivos, a compra e venda de veículos automotores poderão equiparar, para efeitos tributários, como operação de consignação, as operações de venda de veículos usados, adquiridos para revenda, bem assim dos recebidos como parte do preço da venda de veículos novos ou usados. Parágrafo único. Os veículos usados, referidos neste artigo, serão objeto de Nota Fiscal de Entrada e, quando da venda, de Nota Fiscal de Saída, sujeitandose ao respectivo regime fiscal aplicável às operações de consignação. O sentido geral desta equiparação é que não seja computada toda a receita na base de cálculo dos tributos, inclusive daqueles que incidem sobre a receita bruta, mas somente a diferença entre o valor da venda e o custo de aquisição do bem. A IN SRF nº 152/98 deixa isso bastante evidente: Art. 1º A pessoa jurídica sujeita à tributação pelo imposto de renda com base no lucro real, presumido ou arbitrado, que tenha como objeto social, declarado em seus atos constitutivos, a compra e venda de veículos automotores, deverá observar, quanto à apuração da base de cálculo dos tributos e contribuições de competência da União, administrados pela Secretaria da Receita Federal – SRF, o disposto nesta Instrução Normativa. Art. 2º Nas operações de venda de veículos usados, adquiridos para revenda, inclusive quando recebidos como parte do pagamento do preço de venda de veículos novos ou usados, o valor a ser computado na determinação mensal das bases de cálculo do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido, pagos por estimativa, da contribuição para o PIS/PASEP e da contribuição para o financiamento da seguridade social – COFINS será apurado segundo o regime aplicável às operações de consignação. § 1º Na determinação das bases de cálculo de que trata este artigo será computada a diferença entre o valor pelo qual o veículo usado houver sido alienado, constante da nota fiscal de venda, e o seu custo de aquisição, constante da nota fiscal de entrada. § 2º O custo de aquisição de veículo usado, nas operações de que trata esta Instrução Normativa, é o preço ajustado entre as partes. Vêse que a regra de direito material contida no art. 5º da Lei 9.716/1998 poderia plenamente atender a pretensão da Contribuinte, desde que observadas as devidas obrigações Fl. 20DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 303 21 instrumentais de escrituração etc., mas ela não é aplicável aos optantes do Simples, conforme esclarece o art. 4° da IN SRF n° 355/2003: Art. 4º Considerase receita bruta, para os fins de que trata esta Instrução Normativa, o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. § 1º Ressalvado o disposto no caput, para fins de determinação da receita bruta apurada mensalmente, é vedado procederse a qualquer outra exclusão em virtude da alíquota incidente ou de tratamento tributário diferenciado (substituição tributária, diferimento, crédito presumido, redução de base de cálculo, isenção) aplicáveis às pessoas jurídicas não optantes pelo regime tributário das microempresas e das empresas de pequeno porte, de que trata esta Instrução Normativa. Realmente, não é possível usufruir cumulativamente de todos os benefícios fiscais ou tratamentos diferenciados previstos na legislação. Se a sistemática do regime simplificado tivesse que abarcar as normas que tratam de isenções específicas, creditamento, reduções de base de cálculo, substituição tributária, diferimentos, etc., restaria bastante comprometida a simplificação na apuração dos tributos, e é esta a razão pela qual os benefícios obtidos com o Simples (que é opcional) excluem os outros previstos para as pessoas jurídicas que adotam os regimes normais de tributação. Portanto, a base de incidência do Simples deve mesmo ser composta pelo total dos valores recebidos, sem qualquer possibilidade de exclusão na base de cálculo. Finalmente, são improcedentes os argumentos de que não caberia aplicação de penalidade, juros, etc., por força da regra contida no art. 100 do Código Tributário Nacional. No caso, o único limite imposto para a atuação do Fisco era o prazo de decadência, e com relação a isso não houve qualquer problema. Com efeito, a não atuação imediata da Fiscalização, logo após a ocorrência do fato gerador, não tem o condão de transformar a conduta irregular da Contribuinte em “práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas”, cuja observância excluiria “a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo”. Diante do exposto, voto no sentido de rejeitar as preliminares de nulidade, e, no mérito, nego provimento ao recurso. (assinado digitalmente) José de Oliveira Ferraz Corrêa Fl. 21DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.000413/200315 Acórdão n.º 180200.870 S1TE02 Fl. 304 22 Fl. 22DF CARF MF Emitido em 15/06/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA Assinado digitalmente em 10/06/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, 14/06/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA
score : 1.0
Numero do processo: 10680.018226/2007-93
Turma: Segunda Turma Especial da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Feb 23 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ
Exercício: 2006
DIPJ/DECLARAÇÃO SIMPLIFICADA. ENTREGA FORA DO PRAZO
ESTABELECIDO. MULTA POR ATRASO. APLICAÇÃO.
É devida multa por atraso na entrega das declarações obrigatórias de contribuinte que apresenta declarações após o prazo assinalado para cumprimento da obrigação acessória.
Numero da decisão: 1802-000.808
Decisão: ACORDAM os membros da 2ª Turma Especial da Primeira Seção de
Julgamento, por unanimidade de votos NEGAR provimento ao recurso
Matéria: IRPJ - multa por atraso na entrega da DIPJ
Nome do relator: Edwal Casoni de Paula Fernandes Junior
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ementa_s : IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 2006 DIPJ/DECLARAÇÃO SIMPLIFICADA. ENTREGA FORA DO PRAZO ESTABELECIDO. MULTA POR ATRASO. APLICAÇÃO. É devida multa por atraso na entrega das declarações obrigatórias de contribuinte que apresenta declarações após o prazo assinalado para cumprimento da obrigação acessória.
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ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 2006 DIPJ/DECLARAÇÃO SIMPLIFICADA. ENTREGA FORA DO PRAZO ESTABELECIDO. MULTA POR ATRASO. APLICAÇÃO. É devida multa por atraso na entrega das declarações obrigatórias de contribuinte que apresenta declarações após o prazo assinalado para cumprimento da obrigação acessória. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros da 2ª Turma Especial da Primeira Seção de Julgamento, por unanimidade de votos NEGAR provimento ao recurso (assinado digitalmente) ESTER MARQUES LINS DE SOUSA – Presidente. (assinado digitalmente) EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES JUNIOR – Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa, José de Oliveira Ferraz Corrêa, Edwal Casoni de Paula Fernandes Junior, Nelso Kichel, Gilberto Baptista e Diniz Rapouso e Silva. Fl. 53DF CARF MF Emitido em 28/07/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES Assinado digitalmente em 27/07/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA, 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES 2 Relatório Cuidase de Recurso Voluntário interposto pela contribuinte acima identificada, contra decisão proferida pela 2ª Turma da DRJ de Belo Horizonte/MG. Contra a recorrente foi lavrado auto de infração (fl. 05), com exigência do valor de R$5.516,65, referente à multa pelo atraso na entrega da Declaração Simplificada do Exercício de 2006, ano calendário 2005. Manifestando o inconformismo com a autuação a recorrente apresentou Impugnação (fls. 01 – 03), alegando em síntese que é optante pelo regime simplificado desde janeiro de 1997, cumprindo suas obrigações principais e acessórias. Argumentou que foi excluída do SIMPLES, por meio do Ato Declaratório Executivo n° 504.809 de 02 de agosto de 2004 e que o “sistema” da Receita Federal não acatou a entrega da declaração que originou a multa por atraso, mas em novembro de 2006 teria havido revisão do procedimento que a excluiu SIMPLES com efeitos retroativos. Sustentou, portanto, que estaria evidente que não houve negligencia, mas sim impedimento de cumprir com sua obrigação, tendo em vista a exclusão do regime simplificado. A 2ª Turma da DRJ de Belo Horizonte/MG, nos termos do acórdão e voto de folhas 22 a 25, julgou procedente o lançamento entendendo que uma vez confirmado o atraso na entrega das declarações obrigatórias, incide a multa aplicada. Devidamente cientificada (fl. 28) a contribuinte interpôs Recurso Voluntário (fls. 31 – 34) reiterando seus argumentos e pugnando pelo provimento do seu recurso. É o relatório. Fl. 54DF CARF MF Emitido em 28/07/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES Assinado digitalmente em 27/07/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA, 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES Processo nº 10680.018226/200793 Acórdão n.º 180200.808 S1TE02 Fl. 54 3 Voto Conselheiro EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES JUNIOR, Relator. O recurso é tempestivo e dotado dos pressupostos de admissibilidade. Dele tomo conhecimento. Como observado acima, a contribuinte é empresa optante pelo SIMPLES, ocorrendo que à época descrita no auto de infração, se achava excluída do aludido regime. Alega a recorrente que não apresentou sua Declaração Simplificada no prazo determinado precisamente porque, se achando excluída do SIMPLES, os “sistemas” da Receita Federal não aceitaram suas declarações, sendo que tão logo a autoridade administrativa, em processo de revisão, lhe enquadrou novamente no SIMPLES, apresentou a indigitada declaração. Entendeu a decisão recorrida, por seu turno, que estando excluída do SIMPLES, cumpria à recorrente apresentar declaração em conformidade com uma das demais regras de apuração da tributação. Pois bem, marcados os limites do caso proposto, cumpre registrar que a decisão proferida pela 2ª Turma da DRJ de Belo Horizonte/MG não está a merecer qualquer reparo. Com efeito, a recorrente se encontrava, como por ela admitido, excluída do regime do SIMPLES, logo, era sua obrigação cumprir as obrigações principais e acessórias como as demais pessoas jurídicas, conforme dispunha o artigo 16 da Lei nº 9.317/96 (vigente à época), cuja oportuna transcrição se faz abaixo: Art. 16. A pessoa jurídica excluída do SIMPLES sujeitarseá, a partir do período em que se processarem os efeitos da exclusão, às normas de tributação aplicáveis às demais pessoas jurídicas. Ora, a exclusão da recorrente do SIMPLES não teve o condão de desobrigála do cumprimento de suas obrigações tributárias, muito pelo contrário, justificouse apenas a vedação da continuidade num determinado regime de apuração e pagamento. Relembrese, destarte, que a obrigação considerada descumprida pela recorrente é do rol das chamadas “obrigações acessórias”, ou seja, daquelas que o Código Tributário Nacional traduz em positivas ou negativas (obrigação de fazer ou não fazer), mirando o interesse da arrecadação e fiscalização tributária, vejamos: Artigo 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. (...) § 2º A obrigação acessória decorrente da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela Fl. 55DF CARF MF Emitido em 28/07/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES Assinado digitalmente em 27/07/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA, 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES 4 previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. (...) É cediço que as obrigações acessórias objetivam dar meios à fiscalização tributária para investigar e controlar o recolhimento de tributos, que nada mais é, do que a obrigação principal a qual o próprio sujeito passivo da obrigação acessória, ou terceiro, estejam ou possam estar jungidos, em resumo, as obrigações acessórias viabilizam a aferição do cumprimento das obrigações tributárias em geral, por tal justificativa é que as obrigações tributárias formais, muito embora independam da efetiva existência de uma obrigação principal, se atrelam à possibilidade ou probabilidade de existência destas, dando à administração tributária meios de aferir a realidade fiscal dos contribuintes. No caso dos autos, a recorrente estava como todos os contribuintes estão adstrita ao cumprimento de obrigação acessória, aperfeiçoada na entrega da competente declaração, e o fez em inconteste atraso. É lícito depreender da sistemática vigente, portanto, que a obrigação formal deve ser cumprida da maneira legalmente estabelecida, ou seja, as informações precisam ser apresentadas a tempo e com dados fidedignos ou em caso de erro, retificadas até a data limite estabelecida. Por essas razões encaminho meu voto no sentido de negar provimento ao Recurso Voluntário. Sala das Sessões, em 23 de fevereiro de 2011. (assinado digitalmente) EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES JUNIOR Fl. 56DF CARF MF Emitido em 28/07/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES Assinado digitalmente em 27/07/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA, 22/07/2011 por EDWAL CASONI DE PAULA FERNANDES
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Numero do processo: 16366.000246/2009-19
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Aug 04 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008
Embargos. Omissão/contradição/obscuridade.
Identificada a existência de omissão/contradição/obscuridade no julgado embargado, tais vícios deverão ser sanados.
Embargos declaratórios acolhidos, com efeitos infringentes, nos termos do voto da Relatora, para fins de alterar o resultado do julgado para recurso voluntário provido em parte.
Numero da decisão: 3301-003.265
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os Embargos Declaratórios opostos, com efeitos infringentes, para: (a) integrar o voto proferido fazendo consignar a negativa da atualização pela taxa SELIC dos valores a serem ressarcidos; (b) corrigir o acórdão no sentido de que reste consignado que foi dado parcial provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte, admitindo-se a integralidade do crédito pleiteado, contudo, sem atualização pela taxa SELIC; (c) integrar o voto proferido fazendo constar a impossibilidade de o Poder Executivo restringir o direito creditório do contribuinte.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente.
(assinado digitalmente)
Maria Eduarda Alencar Câmara Simões - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d´Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Relatora), Antônio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas (Presidente).
Nome do relator: Maria Eduarda Alencar Câmara Simões
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ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008 EMBARGOS. OMISSÃO/CONTRADIÇÃO/OBSCURIDADE. Identificada a existência de omissão/contradição/obscuridade no julgado embargado, tais vícios deverão ser sanados. Embargos declaratórios acolhidos, com efeitos infringentes, nos termos do voto da Relatora, para fins de alterar o resultado do julgado para recurso voluntário provido em parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os Embargos Declaratórios opostos, com efeitos infringentes, para: (a) integrar o voto proferido fazendo consignar a negativa da atualização pela taxa SELIC dos valores a serem ressarcidos; (b) corrigir o acórdão no sentido de que reste consignado que foi dado parcial provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte, admitindose a integralidade do crédito pleiteado, contudo, sem atualização pela taxa SELIC; (c) integrar o voto proferido fazendo constar a impossibilidade de o Poder Executivo restringir o direito creditório do contribuinte. (assinado digitalmente) Luiz Augusto do Couto Chagas Presidente. (assinado digitalmente) Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d´Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Relatora), Antônio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Luiz Augusto do Couto Chagas (Presidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 36 6. 00 02 46 /2 00 9- 19 Fl. 453DF CARF MF 2 Fl. 454DF CARF MF Processo nº 16366.000246/200919 Acórdão n.º 3301003.265 S3C3T1 Fl. 456 3 Relatório A presente demanda versa sobre pedido de ressarcimento de créditos de Cofins nãocumulativa do 3º trimestre de 2008. A Delegacia da Receita Federal do Brasil em Londrina/PR reconheceu apenas parcialmente o montante pleiteado, estando a parte controvertida relacionada à taxa de seguro de mercadorias. Inconformado com o indeferimento parcial do seu pleito, o contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade, a qual foi julgada improcedente, com base nos seguintes fundamentos: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS. Período de Apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008 CRÉDITO. INSUMOS. DESPESAS COM ARMAZENAGEM DE PRODUTOS. TAXA DE SEGURO DE MERCADORIAS. Por falta de previsão legal, não dá direito ao crédito o gasto com seguro de mercadorias, ainda que cobrado juntamente com despesas de armazenagem. RESSARCIMENTO. JUROS EQUIVALENTES A TAXA SELIC É incabível a incidência de juros compensatórios com base na Taxa SELIC sobre valores recebidos a título de ressarcimento de créditos das contribuições ao PIS e à Confins. Manifestação de Inconformidade Improcedente. Direito Creditório não Reconhecido Insatisfeito com o conteúdo desta decisão, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário a este Conselho, através do qual pleiteou que fosse deferido integralmente o Pedido de Ressarcimento apresentado, referente à COFINSExportação do 3o trimestre de 2008, bem como reconhecido o direito à incidência de juros compensatórios de 1% e de correção monetária, por meio da Taxa SELIC, sobre o crédito concedido em favor da Recorrente, nos termos do artigo 39, §4°, da Lei 9.250 de 27.dez. 1995 c/c o art. 66, §3° da Lei n° 8.383 de 31.12.1991 e art. 108 do Código Tributário Nacional. Em sessão de julgamento realizada em 31 de janeiro de 2013, a 3a Turma Especial deu provimento ao Recurso Voluntário interposto pela EXPORTADORA E IMPORTADORA MARUBENI COLORADO LTDA., nos termos da ementa a seguir transcrita: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/07/2008 a 30/09/2008 COFINS. NÃO CUMULATIVIDADE. CRITÉRIO MATERIAL DIVERSO DAQUELE DO IPI.INSUMOS.TAXA DE SEGURO. Fl. 455DF CARF MF 4 Inexiste coincidência entre o regime não cumulativo do IPI e o da COFINS, pois os fatos tributários são diferentes já que esta última incide sobre a totalidade das receitas e aquele sobre a operação de industrialização de bens. Ademais, a legislação federal confere direito ao contribuinte em utilizar serviços como insumo na produção de bens destinados à venda e por isso não cabe ao Poder Executivo restringir este benefício. Tendo em vista a importância para a solução da presente lide, transcrevo a íntegra do voto proferido pelo Relator naquela oportunidade: Conselheiro Juliano Lirani O recurso voluntário é tempestivo e merece ser conhecido. A empresa tem como objeto social e finalidade principal o comércio, importação, exportação, beneficio de café, adquiridos de terceiros, conforme 31ª Alteração do Contrato Social e Contrato Social Consolidado, sendo que consta nos autos a informação de que a empresa tem registrado no sistema de comércio exterior da receita federal os valores de suas exportações. Na realidade a contribuinte tem direito ao crédito presumido destinado a empresas que tenham por atividade a agropecuária, conforme previsto no art. 29 da Lei 11.051/2004, sendo que o cerne da questão está justamente na interpretação do conceito de insumo. Analisando o caso concreto, compreendo que a DRJ realizou uma interpretação por demais restritiva para o art. 3º da Lei n.º 10.833/2003, que possui a seguinte redação. Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 22 a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: IX armazenagem de mercadoria e frete na operação de venda, nos casos dos incisos I e II, quando o ônus for suportado pelo vendedor. O CARF no PAF n.º 13053.000112/200518 Câmara Superior de Recursos Fiscais, por meio do Acórdão n.º 930301.740, julgado em 09.11.2011 – 3ª Turma, tem sinalizado para uma interpretação menos restritiva para o conceito de insumo: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004 COFINS. INDUMENTÁRIA. INSUMOS. DIREITO DE CRÉDITO.ART. 3º LEI 10.833/03. Os dispêndios, denominados insumos, dedutíveis da Cofins não cumulativa, são todos aqueles relacionados diretamente com a produção do contribuinte e que participem, afetem, o universo das receitas tributáveis pela referida contribuição social. A indumentária imposta pelo próprio Poder Público na indústria de processamento de alimentos exigência sanitária que deve ser obrigatoriamente cumprida é insumo inerente à produção da indústria avícola, e, portanto, pode ser abatida no cômputo de referido tributo. (grifo) Fl. 456DF CARF MF Processo nº 16366.000246/200919 Acórdão n.º 3301003.265 S3C3T1 Fl. 457 5 Conforme extraise do julgado acima, o insumo não deve em hipótese alguma estar restrito às matériasprimas, aos produtos intermediários e aos materiais de embalagem e outros bens que sofram alterações em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, em razão do caráter restritivo não imposto pela lei e pelo Texto Constitucional. Além do que, é sabido que a não cumulatividade é uma técnica, com o objetivo de dimensionar o montante da exigência e de evitar a incidência em cascata e ela deve estar atrelada à materialidade do tributo. Logo, o critério material da tributação deve estar condicionada a outros aspectos do tributo, inclusive a técnica de não cumulatividade. Com efeito, reconheço o direito ao creditamento em relação a despesa com seguro, uma vez que o conceito de insumo não pode ser o mesmo utilizado para fins do IPI, quando as materialidades da tributação são distintas – produto e receita –, assim os conceitos de insumos também deveriam ser distintos e por esse motivo que é insumo para geração de receita não é exatamente a mesma coisa do que é insumo para a industrialização de um produto, sendo que neste sentido cito a o Acórdão nº 320200.226, sessão de 08/12/2010, 2ª Câmara, 2ª Turma Ord., 3ª Seção. Ante o exposto, voto por dar provimento ao recurso. O conteúdo desta decisão foi incluído no eprocesso em 15/03/2013, após assinatura do Relator, Juliano Lirani, e do Presidente da Turma, Alexandre Kern. Ato contínuo, em 16/03/2013, o Conselheiro Alexandre Kern, com fulcro no art. 65 do Regimento Interno do CARF, apôs embargos declaratórios com base nos seguintes fundamentos: (i) Omissão quanto à correção do valor ressarcido pela aplicação da taxa SELIC. Aponta o Embargante que consta do último parágrafo do relatório que o recorrente teria requerido expressamente "... a aplicação da atualização monetária e juros sobre os valores a serem ressarcidos", mas que o Relator teria, "olimpicamente", passado ao largo dessa questão. (ii) Obscuridade quanto à possibilidade de o Poder Executivo restringir o benefício. Neste ponto, aponta o Embargante que na ementa do julgado a turma teria consignado que "a legislação federal confere direito ao contribuinte em utilizar serviços como insumos na produção de bens destinados à venda e por isso não cabe ao Poder Executivo restringir este benefício". Todavia, no voto do relator, essa possibilidade não teria sido enfrentada, tendo o voto se apoiado em tese distinta para dar provimento ao recurso. Os autos, então, vieramme conclusos para fins de julgamento dos referidos Embargos Declaratórios opostos. É o relatório. Fl. 457DF CARF MF 6 Voto Conselheira Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Os embargos são tempestivos e reúnem os demais requisitos de admissibilidade, portanto, deles conheço. Consoante acima narrado, o então Presidente de Turma opôs embargos declaratórios em face do Acórdão em questão, com base em omissão e obscuridade, as quais serão devidamente analisadas a seguir. Inicialmente, apontou que teria havido omissão do acórdão embargado quanto à correção do valor ressarcido pela aplicação da taxa SELIC. Aponta o Embargante que consta do último parágrafo do relatório que o recorrente teria requerido expressamente "... a aplicação da atualização monetária e juros sobre os valores a serem ressarcidos", mas que o Relator teria, "olimpicamente", passado ao largo dessa questão. Constato, então, que, de fato, houve pedido expresso do contribuinte no sentido de que fosse reconhecido o direito à incidência de juros compensatórios de 1% e de correção monetária, por meio da Taxa SELIC, sobre o crédito concedido em favor da Recorrente, nos termos do artigo 39, §4°, da Lei 9.250 de 27.dez. 1995 c/c o art. 66, §3° da Lei n° 8.383 de 31.12.1991 e art. 108 do Código Tributário Nacional. Verifico, ainda, que o voto constante da decisão recorrida não traz uma linha sobre este tema, o que confirma a omissão apontada nos embargos ora analisados. Constato ainda, que, neste caso específico, a ementa tampouco tratou deste tema. Apesar do acima exposto, verifico que nos autos do Proc. n. 16366.000242/200931, que trata sobre a mesma matéria aqui analisada, sendo diverso apenas o período de apuração, constou da ementa do julgado o seguinte: RESSARCIMENTO. JUROS. TAXA SELIC A legislação federal não prevê a incidência de juros compensatórios com base na taxa SELIC sobre valores recebidos a título de ressarcimento de créditos das contribuições ao PIS e à Cofins. Ou seja, com base no que constou da ementa supra transcrita, ainda que inserta em processo diverso do presente, entendo que a conclusão a que chegou a Turma Julgadora naquela oportunidade foi de que "a legislação federal não prevê a incidência de juros compensatórios com base na taxa SELIC sobre valores recebidos a título de ressarcimento de créditos das contribuições ao PIS e à COFINS". Ocorre, contudo, que o Relator deixou de trazer em seu voto, ou mesmo na ementa do presente processo, os fundamentos que levam a tal conclusão. Passo, então, a sanar tal omissão, cujas razões de decidir deverão integrar a decisão recorrida. Entendo que a Turma Julgadora concluiu pela inaplicabilidade da taxa SELIC no caso vertente tendo em vista o entendimento deste Conselho no sentido de que inexiste amparo legal tal concessão em casos de ressarcimento de valores de PIS e COFINS. Nesse Fl. 458DF CARF MF Processo nº 16366.000246/200919 Acórdão n.º 3301003.265 S3C3T1 Fl. 458 7 sentido, transcrevo a seguir fundamentos constantes do voto proferido no Proc. n. 10510.000367/200540 (Acórdão n. 3201002.433 de 25 de janeiro de 2017): Quanto à esta matéria devese consignar que de fato não existe amparo legal para a correção monetária conforme pleiteada pela Recorrente, restando correta a conclusão do resultado da diligência fiscal neste ponto. A atualização monetária autorizada por lei, relativamente à restituição ou compensação de indébitos, não abrange o ressarcimento de valores de PIS e Cofins retidos pelas fontes pagadoras, órgãos públicos. A hipótese tratada nos autos, referese a ressarcimento, uma vez que houve uma permissão concedida por instrução normativa vigente à época, conforme ressaltado pela própria Recorrente, para se compensar valores retidos com impostos e contribuições da mesma espécie, devidos relativamente a fatos geradores ocorridos a partir do mês da retenção. Ou seja, não se trata aqui de valores pagos indevidamente ou a maior, hipótese de que trata o Art. 39, § 4º, da Lei nº 9.250 de 1995, que diz respeito a casos que envolvem compensação ou restituição, mas não abordou a hipótese de ressarcimento. Dispõe o § 3º do art. 66 da Lei nº 8.383 de 30 de dezembro de 1991, que: “Art. 66. Nos casos de pagamento indevido ou a maior de tributos e contribuições federais, inclusive previdenciárias, mesmo quando resultante de reforma, anulação revogação ou rescisão de decisão condenatória, o contribuinte poderá efetuar a compensação desse valor no recolhimento de importância correspondente a períodos subsequentes. § 1º (...) § 2º (...) § 3º A compensação ou restituição será efetuada pelo valor do imposto ou contribuição corrigido monetariamente com base na variação da UFIR.” (Grifouse). Dentro dos princípios da hermenêutica jurídica, a interpretação do conteúdo de um parágrafo deve ser efetuada em conjunto com o caput do artigo e não isoladamente. Assim, o parágrafo completa o sentido do artigo ou acrescenta exceções ao seu enunciado. Verificase, portanto, que, ao estabelecer que a compensação ou restituição será efetuada pelo valor corrigido, o § 3º está completando o sentido do caput do art. 66, que trata exclusivamente de pagamento indevido ou maior que o devido de tributos e contribuições federais. O art. 39, § 4º, da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, estabeleceu: “Art. 39. A compensação de que trata o art. 66 da Lei nº 8.383, de 30 de dezembro de 1991, com a redação dada pelo art. 58 da Lei nº 9.069, de 29 de junho de 1995, somente poderá ser efetuada com o recolhimento de importância correspondente a imposto, taxa, contribuição federal ou receitas patrimoniais de mesma espécie e destinação constitucional, apurado em períodos subseqüentes. 1º (VETADO) Fl. 459DF CARF MF 8 2° (VETADO) 3° (VETADO) 4º A partir de 1º de janeiro de 1996, a compensação ou restituição será acrescida de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente, calculados a partir da data do pagamento indevido ou a maior até o mês anterior ao da compensação ou restituição e de 1% relativamente ao mês em que estiver sendo efetuada.” (Grifouse). Assim, ao se reportar ao art. 66 da Lei nº 8.383, de 1991, e dentro dos princípios da hermenêutica jurídica, verificase que o art. 39, § 4º, da Lei nº 9.250, de 1995, é aplicável apenas nos casos de pagamento indevido ou a maior que o devido de tributos e contribuições federais, o que não é a hipótese tratada nos presentes autos. Devese ainda esclarecer que, ao contrário do que afirma a Recorrente, não existe, no aludido Decreto nº 2.138, de 29 de janeiro de 1997, qualquer dispositivo que declare, expressamente, que os institutos da restituição e do ressarcimento estariam equiparados. Tal decreto dispõe sobre a compensação de créditos tributários com créditos do sujeito passivo decorrentes de restituição ou ressarcimento de tributos ou contribuições, regulamentando o disposto nos artigos 73 e 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996. Da mesma forma, o citado Parecer AGU nº CQ96 também tratou especificamente de repetição (restituição) de indébito, o que, como já visto, não se aplica à hipótese tratada nos autos. Finalmente, cabe informar que atualmente existe norma expressa na Lei nº 10.833, de 29/12/2003 (conversão da MP 135, de 31/10/2003, que tratou da cofins nãocumulativa), vedando, para o ressarcimento da Cofins e do PIS a correção monetária e a aplicação dos juros de mora. Confirase (grifo nosso): “Art. 13. O aproveitamento de crédito na forma do § 4o do art. 3o, do art. 4o e dos §§ 1o e 2o do art. 6o, bem como do § 2o e inciso II do § 4o e § 5o do art. 12, não ensejará atualização monetária ou incidência de juros sobre os respectivos valores. ... Art. 15. Aplicase à contribuição para o PIS/PASEP nãocumulativa de que trata a Lei no 10.637, de 30 de dezembro de 2002, o disposto nos incisos I e II do § 3o do art. 1o, nos incisos VI, VII e IX do caput e nos §§ 1o, incisos II e III, 10 e 11 do art. 3o, nos §§ 3o e 4o do art. 6o, e nos arts. 7o, 8o, 10, incisos XI a XIV, e 13.” Nesse contexto, vêse que os artigos 39, §4°, da Lei 9.250/1995, 66, §3° da Lei n° 8.383/1991 e 108 do Código Tributário Nacional, indicados pelo contribuinte em seu Recurso Voluntário, não o socorrem em seu pleito de aplicação da atualização monetária com base na taxa SELIC. Ademais, consoante também constou do voto supra transcrito, é cediço que, desde 2003, há previsão expressa vedando a aplicação da taxa SELIC no caso de ressarcimento do PIS e da COFINS. Destaquese, ainda, que as decisões colacionadas pelo contribuinte em seu Recurso tampouco o socorrem em seu pleito, visto que estão relacionadas à matéria estranha à presente demanda, por versarem sobre ressarcimento relativo a crédito presumido de IPI. No Fl. 460DF CARF MF Processo nº 16366.000246/200919 Acórdão n.º 3301003.265 S3C3T1 Fl. 459 9 sentido da inaplicabilidade da extensão do entendimento relativo ao IPI para o PIS e à COFINS, trazse à colação decisão deste Colegiado: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/07/2003 a 30/09/2003 RESSARCIMENTO. CONTRIBUIÇÕES NÃO CUMULATIVAS. ACRÉSCIMO DA TAXA SELIC. VEDAÇÃO. ORIENTAÇÃO DO STJ PARA O IPI. INAPLICÁVEL. Especificamente no caso da contribuição ao PIS e da Cofins apuradas pelo regime não cumulativo, o ressarcimento de saldos credores não se sujeita à remuneração pela Taxa Selic em virtude de expressa vedação nesse sentido, contida nos artigos 13 e 15 da Lei nº 10.833/2003. O entendimento veiculado pelo Recurso Especial nº 1.035.847, sob o rito do artigo 543C do anterior CPC, que diz respeito ao ressarcimento de créditos de IPI, não pode ser estendido para o ressarcimento de créditos das contribuições sociais não cumulativas, eis que, para essas, há a vedação de atualização monetária expressa em lei ordinária, o que não ocorre para o IPI. COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA. PER/DCOMP. CONFIGURAÇÃO DE PAGAMENTO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. EXONERAÇÃO DA MULTA MORATÓRIA. CABIMENTO. A compensação tributária, efetivada pelo contribuinte por meio de PER/DCOMP, constitui sistemática que acarreta num encontro de contas, tendo como resultado a extinção de duas obrigações contrapostas: relação jurídica tributária, em que o contribuinte tem débito perante o Fisco; e relação jurídica de restituição de indébito ou ressarcimento, na qual o contribuinte tem direito a crédito a ser pago pelo Fisco (artigo 170, CTN e artigo 74 da Lei n. 9.430/96). Há, portanto, concomitante pagamento de tributo e restituição do indébito ou ressarcimento do tributo. Ou seja, na compensação tributária há sim pagamento, de modo que é figura passível de ser abrangida pelo benefício da denúncia espontânea, com a consequente exclusão da multa moratória, nos termos do artigo 138 do CTN. Recurso Voluntário provido em parte. Diante de todo o exposto, concluiuse que o pedido constante do Recurso Voluntário de atualização do montante a ser ressarcido com base na taxa SELIC deve ser indeferido. É importante que se reconheça, outrossim, que a decisão recorrida incorreu ainda em contradição neste mesmo ponto, a qual precisa ser sanada nesta oportunidade. Isso porque, embora conste do acórdão a informação de que os membros do colegiado teriam acordado, por unanimidade, em dar provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto do relator, o indeferimento relativo à atualização pela taxa SELIC, no meu entender, leva ao provimento apenas parcial do recurso. Sendo assim, entendo que deverá ser sanada a omissão/contradição acima apontada, para fins de: (a) integrar o voto proferido, no sentido de trazer os fundamentos que Fl. 461DF CARF MF 10 levaram à negativa da atualização pela taxa SELIC dos valores a serem ressarcidos, conforme razões acima expostas; (b) corrigir o acórdão no sentido de que reste consignado que foi dado parcial provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte, admitindose a integralidade do crédito pleiteado, contudo, sem atualização pela taxa SELIC. Apontou, ainda, o Embargante que teria havido obscuridade na decisão recorrida quanto à possibilidade de o Poder Executivo restringir o benefício. Neste ponto, aponta o Embargante que na ementa do julgado a turma teria consignado que "a legislação federal confere direito ao contribuinte em utilizar serviços como insumos na produção de bens destinados à venda e por isso não cabe ao Poder Executivo restringir este benefício". Todavia, no voto do relator, essa possibilidade não teria sido enfrentada, tendo o voto se apoiado em tese distinta para dar provimento ao recurso. Na ementa do julgado o Relator assim consignou: COFINS.NÃO CUMULATIVIDADE.CRITÉRIO MATERIAL DIVERSO DAQUELE DO IPI.INSUMOS.TAXA DE SEGURO. Inexiste coincidência entre o regime não cumulativo do IPI e o da COFINS, pois os fatos tributários são diferentes já que esta última incide sobre a totalidade das receitas e aquele sobre a operação de industrialização de bens. Ademais, a legislação federal confere direito ao contribuinte em utilizar serviços como insumo na produção de bens destinados à venda e por isso não cabe ao Poder Executivo restringir este benefício. Já em seu voto, o Relator manifestouse da seguinte forma: Conforme extraise do julgado acima, o insumo não deve em hipótese alguma estar restrito às matériasprimas, aos produtos intermediários e aos materiais de embalagem e outros bens que sofram alterações em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, em razão do caráter restritivo não imposto pela lei e pelo Texto Constitucional. Além do que, é sabido que a não cumulatividade é uma técnica, com o objetivo de dimensionar o montante da exigência e de evitar a incidência em cascata e ela deve estar atrelada à materialidade do tributo. Logo, o critério material da tributação deve estar condicionada a outros aspectos do tributo, inclusive a técnica de não cumulatividade. Com efeito, reconheço o direito ao creditamento em relação a despesa com seguro, uma vez que o conceito de insumo não pode ser o mesmo utilizado para fins do IPI, quando as materialidades da tributação são distintas – produto e receita –, assim os conceitos de insumos também deveriam ser distintos e por esse motivo que é insumo para geração de receita não é exatamente a mesma coisa do que é insumo para a industrialização de um produto, sendo que neste sentido cito a o Acórdão nº 320200.226, sessão de 08/12/2010, 2ª Câmara, 2ª Turma Ord., 3ª Seção. (Grifos apostos). Ou seja, o Relator discorre em seu voto, na linha de inúmeras decisões proferidas por este Conselho, que o conceito de insumos para fins creditamento de IPI é diverso do conceito de insumos para fins de creditamento de PIS/COFINS. Em seguida, conclui em seu voto pelo reconhecimento do direito ao creditamento relativo à despesa com seguro, "uma vez que o conceito de insumo não pode ser o mesmo utilizado para fins do IPI". Fl. 462DF CARF MF Processo nº 16366.000246/200919 Acórdão n.º 3301003.265 S3C3T1 Fl. 460 11 De outro norte, na ementa, concluiu que não caberia ao Poder Executivo restringir o direito do contribuinte em utilizar serviços como insumos. Neste ponto, entendo que a obscuridade mencionada pelo Embargante diz respeito à ausência de indicação no voto do Relator do fundamento relativo à tal impossibilidade, o que passo a sanar nesta oportunidade. Embora não tenha o Relator discorrido expressamente em seu voto sobre a impossibilidade do Poder Executivo de restringir o direito creditório do contribuinte, entendo que esta impossibilidade decorre da própria interpretação do conceito de insumos feita pelo Relator. Ora, tendo em vista o conceito mais alargado do conceito de insumos para fins de crédito de PIS/COFINS, comparado com o conceito para fins de crédito de IPI, entendeu o Relator que possuía o contribuinte direito ao ressarcimento no montante integral pleiteado. E, com base na sua interpretação do conceito de insumos, o contribuinte possuía previsão legal para usufruir do crédito relativo à despesa com seguro. Logo, não cabia ao Poder Executivo restringir o direito creditório em questão, o qual encontra previsão na legislação do PIS/COFINS, conforme interpretação dada pelo Relator. Sendo assim, no intuito de sanar a obscuridade apontada pelo Embargante, entendo que as razões acima expostas também deverão integrar os fundamentos do voto proferido pelo Relator ao julgar o Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte no presente caso. Diante do acima exposto, acolho os Embargos Declaratórios opostos, com efeitos infringentes, para fins de sanar a omissão/contradição/obscuridade acima indicadas, no sentido de: (a) integrar o voto proferido com os fundamentos acima dispostos no que tange à negativa de atualização pela taxa SELIC dos valores a serem ressarcidos; (b) corrigir o acórdão no sentido de que reste consignado que foi dado parcial provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte, admitindose a integralidade do crédito pleiteado, contudo, sem atualização pela taxa SELIC; (c) integrar o voto proferido com as razões acima dispostas, relativas à impossibilidade de o Poder Executivo restringir o direito creditório do contribuinte. É como voto. Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Relatora Fl. 463DF CARF MF 12 Fl. 464DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10530.904841/2011-14
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jun 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 3201-000.956
Decisão: Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Winderley Morais Pereira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Marcelo Giovani Vieira e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado).
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Winderley Morais Pereira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Marcelo Giovani Vieira e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado). Relatório Tratase de Recurso Voluntário apresentado pelo contribuinte supra identificado em face do acórdão da DRJ Belo Horizonte/MG que julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade manejada para se requerer a reforma do despacho decisório exarado pela repartição de origem. De acordo com o despacho decisório, o crédito informado na Declaração de Compensação já se encontrava integralmente alocado a outro débito do sujeito passivo, decorrendo daí o indeferimento do pedido de restituição. Na Manifestação de Inconformidade, o contribuinte requereu o reconhecimento do direito à restituição da contribuição recolhida sobre receitas estranhas ao conceito de faturamento, em face da inconstitucionalidade do art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/1998, declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento submetido à sistemática da repercussão geral, cujo teor deve ser reproduzido pelos Conselheiros do CARF, por força do disposto no art. 62A do Regimento Interno do CARF. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 05 30 .9 04 84 1/ 20 11 -1 4 Fl. 1384DF CARF MF Processo nº 10530.904841/201114 Resolução nº 3201000.956 S3C2T1 Fl. 3 2 A decisão da DRJ Belo Horizonte/MG, denegatória do direito pleiteado, fundamentouse na falta de comprovação da liquidez e certeza do crédito, dada a ausência de apresentação da prova do indébito. Cientificado da decisão de primeira instância, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário, reiterando a existência do crédito tributário postulado e requerendo seu integral deferimento, tendose em conta o princípio da verdade material que exige o aprofundamento da investigação dos fatos por parte da Fiscalização, em face do conjunto probatório por ele produzido. É o relatório. Voto Conselheiro Winderley Morais Pereira, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 3201000.905, de 29/06/2017, proferido no julgamento do processo 10530.904837/201156, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Resolução nº 3201000.905): A questão em apreço se resolveria pela aplicação do decidido pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral, conforme ementa a seguir transcrita: "RECURSO. Extraordinário. Tributo. Contribuição social. PIS. COFINS. Alargamento da base de cálculo. Art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. Inconstitucionalidade. Precedentes do Plenário (RE nº 346.084/PR, Rel. orig. Min. ILMAR GALVÃO, DJ de 1º.9.2006; REs nos 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJ de 15.8.2006) Repercussão Geral do tema. Reconhecimento pelo Plenário. Recurso improvido. É inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98." (RE 585235 QORG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 10/09/2008, REPERCUSSÃO GERAL MÉRITO DJe227 DIVULG 27 112008 PUBLIC 28112008 EMENT VOL0234310 PP02009 RTJ VOL0020802 PP00871 ) Temse, então, que o § 1° do art. 3° da Lei 9.718/98 foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Como sabido, a aplicação do decidido pela Corte Suprema em sede de repercussão geral é de aplicação obrigatória por parte deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, conforme se depreende da redação do art. do RICARF: "Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. § 1º O disposto no caput não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: Fl. 1385DF CARF MF Processo nº 10530.904841/201114 Resolução nº 3201000.956 S3C2T1 Fl. 4 3 (...) II que fundamente crédito tributário objeto de: (...) b) Decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal o u do Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei n º 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária; (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016)" A jurisprudência deste colegiado administrativo é pacífica em relação ao tema. Vejamos: "Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Período de apuração: 01/09/2001 a 30/09/2001 COFINS. BASE DE CÁLCULO. ART. 3º, § 1º, DA LEI Nº 9.718/1998. INCONSTITUCIONALIDADE DE DECLARADA PELO STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO DO ART. 62 DO REGIMENTO INTERNO DO CARF. OBRIGATORIEDADE DE REPRODUÇÃO DO ENTENDIMENTO. O §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/1998 foi declarado inconstitucional pelo STF no julgamento do RE nº 346.084/PR e no RE nº 585.235/RG, este último decidido em regime de repercussão geral (CPC, art. 543B). Assim, deve ser aplicado o disposto no art. 62 do Regimento Interno do Carf, o que implica a obrigatoriedade do reconhecimento da inconstitucionalidade do referido dispositivo legal." (Processo 11516.002621/200719; Acórdão 3401003.239; Conselheiro LEONARDO OGASSAWARA DE ARAUJO BRANCO, Sessão de 26/09/2016) Ocorre que, no caso em debate tanto o despacho decisório, quanto a decisão proferida em sede de manifestação de inconformidade informam não estar comprovada a certeza e a liquidez do direito creditório. A decisão, portanto, foi no sentido de que inexiste crédito apto a lastrear o pedido da recorrente. No entanto, entendo como razoável as alegações produzidas pela recorrente aliado aos documentos apresentados nos autos, o que atesta que procurou se desincumbir do seu ônus probatório em atestar a existência dos créditos alegados. A recorrente além das DCTF's apresentou planilha de cálculo, balancete e comprovante de arrecadação referente ao período em apreço e, por fim, juntamente com o seu recurso anexa o LivroRazão. Neste contexto, a teor do que preconiza o art. 373 do diploma processual civil, teve a manifesta intenção de provar o seu direito creditório, sendo que tal procedimento, também está pautado pela boafé. Saliento o fato de assistir razão à recorrente quando alega que a falta de retificação de declaração não tem o condão de tornar devido o que é indevido, sob pena de ofensa aos princípios da legalidade e da verdade material. Fl. 1386DF CARF MF Processo nº 10530.904841/201114 Resolução nº 3201000.956 S3C2T1 Fl. 5 4 Neste sentido já decidiu o CARF: "Assunto: Normas de Administração Tributária Anocalendário: 2002 CONEXÃO. IMPOSSIBILIDADE. Os processos referemse a períodos diferentes, o que ocasiona fatos jurídicos tributários diferentes, com a consequente diferenciação no que concerne à produção probatória, impossibilitando a conexão. FALTA DE RETIFICAÇÃO NA DCTF. Ainda que o sujeito passivo não tenha retificado a DCTF, mas demonstre, por meio de prova cabal, a existência de crédito, a referida formalidade não se faz necessária. Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Anocalendário: 2002 INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3º, §1º, DA LEI Nº 9.718/1998. RECONHECIMENTO. Quanto à ampliação da base de cálculo prevista pela Lei nº 9.718/1998, tal fato já foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal em regime de repercussão geral, RE 585235 QORG." (Processo 10280.905801/2011 89; Acórdão 3302003.619; Conselheira SARAH MARIA LINHARES DE ARAÚJO PAES DE SOUZA; Sessão de 21/02/2017) (nosso destaque) Recentemente, em questão similar, em processo relatado pela Conselheira Tatiana Josefovicz Belisário (10830.917695/201111 Resolução 3201000.848), esta Turma por unanimidade de votos, decidiu em converter o julgamento em diligência, conforme a seguir transcrito: "Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto da Relatora." Do voto da relatora destaco: "Na hipótese dos autos, observase que não houve inércia do contribuinte na apresentação de documentos. O que se verifica é que os documentos inicialmente apresentados em sede de Manifestação de Inconformidade se mostraram insuficientes para que a Autoridade Julgadora determinasse a revisão do crédito tributário. E, imediatamente após tal manifestação, em sede de Recurso Voluntário, foram apresentados novos documentos. Ademais, não se pode olvidar que se está diante de um despacho decisório eletrônico, ou seja, a primeira oportunidade concedida ao contribuinte para a apresentação de documentos comprobatórios do seu direito foi, exatamente, no momento da apresentação da sua Manifestação de Inconformidade. E, foi apenas em sede de acórdão, que tais documentos foram tidos por insuficientes. Sabese quem em autuações fiscais realizadas de maneira ordinária, é, em regra, concedido ao contribuinte diversas oportunidades de apresentação de documentos e esclarecimentos, por meio dos Termos de Intimação emitidos durante o procedimento. Assim, limitar, na autuação eletrônica, a oportunidade de apresentação de documentos à manifestação de inconformidade, aplicando a preclusão relativamente ao Recurso Voluntário, não me parece razoável ou isonômico, além de atentatório aos princípios da ampla defesa e do devido processo legal." Ademais, em casos análogos envolvendo a recorrente, este conselho administrativo nos processos 10530.902899/201123 e Fl. 1387DF CARF MF Processo nº 10530.904841/201114 Resolução nº 3201000.956 S3C2T1 Fl. 6 5 10530.902898/201189 decidiu por converter o julgamento em diligência através das Resoluções 3801000.816 e 3801000.815. Assim, entendo que há dúvida razoável no presente processo acerca da liquidez, certeza e exigibilidade do direito creditório, o que justifica a conversão do feito em diligência, não sendo prudente julgar o recurso em prejuízo da recorrente, sem que as questões aventadas sejam dirimidas. Diante do exposto, voto pela conversão do julgamento em diligência à repartição de origem, para que possa ser apurado e informado, de modo pormenorizado, o valor do débito e do crédito existentes na data de transmissão dos PER/DCOMPs dos processos, bem como a existência do crédito postulado a partir de toda a documentação apresentada pelo contribuinte e outras diligências que possam ser realizadas a critério da autoridade competente, com a elaboração do devido relatório. Deve, ainda, a autoridade administrativa informar se há o direito creditório alegado pela recorrente e se o mesmo é suficiente para a extinção do débito existente tomando por base toda a documentação apresentada pelo contribuinte. Isto posto, deve ser oportunizada à recorrente o conhecimento dos procedimentos efetuados pela repartição fiscal, com abertura de vistas pelo prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, para que se manifeste nos autos e apresente documentos adicionais, caso entenda necessário, para, na sequência, retornarem os autos a este colegiado para prosseguimento do julgamento. Importante frisar que os documentos juntados pelo contribuinte no processo paradigma, como prova do direito creditório, também foram juntados em cópias nestes autos (planilha, balancete e/ou razão). Dessa forma, os elementos que justificaram a conversão do julgamento em diligência no caso do paradigma também a justificam no presente caso. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, decido por converter o julgamento em diligência, para que a Autoridade Preparadora certifique a efetiva existência do crédito postulado, a partir dos documentos apresentados pelo contribuinte e por meio de outras diligências que se mostrarem necessárias, apurando os valores do débito e do crédito existentes na data de transmissão do PER/DCOMP, consignandoos em relatório pormenorizado. Após a realização da diligência, concedase vista ao contribuinte pelo prazo de 30 (trinta dias) para se manifestar acerca das conclusões. Após, retornemse os autos para julgamento. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Fl. 1388DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10183.004486/2007-92
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Jul 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Aug 21 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR
Exercício: 2003, 2005
APP - ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. GLOSA. ADA - ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL INTEMPESTIVO.
Incabível o acolhimento de Área Preservação Permanente cujo ADA foi protocolado após o início da ação fiscal.
ARL - ÁREA DE RESERVA LEGAL. AVERBAÇÃO TEMPESTIVA. ATO CONSTITUTIVO.
A averbação da Área de Reserva Legal à margem da matrícula do imóvel, antes da ocorrência do fato gerador, autoriza o acolhimento da área averbada, independentemente do protocolo do ADA.
Numero da decisão: 9202-005.684
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por voto de qualidade, em dar-lhe provimento parcial, para (i) restabelecer a glosa da Área de Preservação Permanente (APP) no exercício de 2005 e (ii) restabelecer, em parte, a glosa da Área de Reserva Legal (ARL) no exercício de 2003, no que ultrapassar a área averbada de 3.364,48 ha, vencida a conselheira Patrícia da Silva, que lhe negou provimento e, ainda, os conselheiros Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deram provimento parcial em menor extensão. Ausente, momentaneamente, a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, substituída pelo conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Maria Helena Cotta Cardozo - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Joao Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício) e Mário Pereira de Pinho Filho (suplente convocado em substituição à conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira).
Nome do relator: MARIA HELENA COTTA CARDOZO
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GLOSA. ADA ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL INTEMPESTIVO. Incabível o acolhimento de Área Preservação Permanente cujo ADA foi protocolado após o início da ação fiscal. ARL ÁREA DE RESERVA LEGAL. AVERBAÇÃO TEMPESTIVA. ATO CONSTITUTIVO. A averbação da Área de Reserva Legal à margem da matrícula do imóvel, antes da ocorrência do fato gerador, autoriza o acolhimento da área averbada, independentemente do protocolo do ADA. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por voto de qualidade, em darlhe provimento parcial, para (i) restabelecer a glosa da Área de Preservação Permanente (APP) no exercício de 2005 e (ii) restabelecer, em parte, a glosa da Área de Reserva Legal (ARL) no exercício de 2003, no que ultrapassar a área averbada de 3.364,48 ha, vencida a conselheira Patrícia da Silva, que lhe negou provimento e, ainda, os conselheiros Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deram provimento parcial em menor extensão. Ausente, momentaneamente, a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, substituída pelo conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 18 3. 00 44 86 /2 00 7- 92 Fl. 372DF CARF MF 2 Maria Helena Cotta Cardozo Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Joao Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício) e Mário Pereira de Pinho Filho (suplente convocado em substituição à conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira). Relatório Trata o presente processo de exigência de ITR Imposto Territorial Rural dos exercícios de 2003 e 2005, acrescido de multa de ofício e juros de mora, relativo ao imóvel denominado "Fazenda Camararé I e II" (NIRF 1.595.3068), localizado no Município de Sinop/MT. Quanto ao exercício de 2003, foi glosada a Área de Reserva Legal de 5.553,1 hectares e, em relação ao de 2005, foram glosadas as Áreas de Preservação Permanente de 264,2 hectares e de Reserva Legal de 4.764,2 hectares, por falta de apresentação tempestiva do ADA Ato Declaratório Ambiental. Em ambos os exercício foi efetuado o arbitramento do VTN Valor da Terra Nua pelo SIPT Sistema Integrado de Preços de Terras. Em sessão plenária de 16/10/2013, foi julgado o Recurso Voluntário s/n, prolatandose o Acórdão 2202002.498 (efls 272 a 284), assim ementado: “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR Exercício: 2003, 2004 IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL. ÁREA TRIBUTÁVEL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) E ÁREA DE RESERVA LEGAL (ARL). DESNECESSIDADE DE ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL (ADA). Por se tratar de áreas que independem do reconhecimento do Poder Público para a exclusão da base tributável, desnecessária a apresentação de ADA para o reconhecimento de APP e ARL declaradas em DITR. Precedentes. RESERVA LEGAL. AVERBAÇÃO PRÉVIA NA MATRÍCULA DO IMÓVEL COMPROVADA. Tendo sido comprovada a prévia averbação de ARL na matrícula do imóvel, tal deve ser reconhecida e excluída da base tributável do ITR. VALOR DA TERRA NUA VTN ARBITRADO COM BASE NO SIPT. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO EM RECURSO VOLUNTÁRIO. MANUTENÇÃO. Não tendo sido impugnado o fundamento da decisão recorrida que confirmou o VTN arbitrado com base no SIPT, tal deve ser mantido para fins de cálculo do ITR, especialmente porque baseado na média por aptidão agrícola do município.” Fl. 373DF CARF MF Processo nº 10183.004486/200792 Acórdão n.º 9202005.684 CSRFT2 Fl. 373 3 A decisão foi assim registrada: "Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso para restabelecer os valores declarados como Área de Preservação Permanente APP e Área de Reserva Legal ARL. Vencido o Conselheiro Antonio Lopo Martinez que negava provimento ao recurso." O processo foi recebido na PGFN em 14/01/2014 (Relação de Movimentação de efls. 286). Assim, conforme o art. 7º, da Portaria MF nº 527, de 2010, a ciência presumida do Procurador ocorreu em 13/02/2014 e, em 28/02/2014, foi interposto o Recurso Especial de efls. 290 a 308 (Relação de Movimentação de efls. 289), com fundamento no 67, do Anexo II, do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 256, de 2009. O Recurso Especial visa rediscutir a necessidade de apresentação tempestiva do ADA Ato Declaratório Ambiental, para exclusão das Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal da tributação do ITR Imposto Territorial Rural dos exercício de 2003 e 2005. Ao Recurso Especial foi dado seguimento, por meio do Despacho de Admissibilidade de 25/09/2015 (efls. 309 a 311). Em seu apelo, a Fazenda Nacional apresenta os seguintes argumentos, em síntese: para efeito da exclusão das Áreas de Preservação Permanente e de utilização limitada da incidência do ITR, a partir do exercício de 2001, é indispensável que o contribuinte comprove o reconhecimento formal, específico e individual da área como tal; para isso, deverá protocolizar o ADA no Ibama ou em órgãos ambientais delegados por meio de convênio, no prazo de seis meses, contado a partir do término do prazo fixado para a entrega da declaração do ITR; nesse sentido, confirase o teor da Instrução Normativa SRF nº 73/00, vigente à época do fato gerador do tributo em questão: Art 17. Para fins de apuração do ITR, as áreas de interesse ambiental de preservação permanente ou de utilização limitada serão reconhecidas mediante ato do IBAMA, ou órgão delegado por convênio, observado o seguinte: I as áreas dc reserva legal, para fins de obtenção do ato declaratório do IBAMA, deverão estar averbadas à margem da inscrição da matrícula do imóvel no registro de imóveis competente, conforme preceitua a Lei n° 4.771, de 1965; II o contribuinte terá o prazo de seis meses, contado a partir da data final daentrega da DITR, para protocolizar requerimento do ato declaratório junto aoIBAMA; (...) (grifo do recorrente) nos termos da legislação retro citada, o contribuinte teria o prazo de seis meses, contado da data da entrega da DITR, para protocolizar requerimento do ato declaratório junto ao Ibama; Fl. 374DF CARF MF 4 no caso específico, com relação à Área de Preservação Permanente, não apresentou o Ato Declaratório Ambiental, condição inafastável para o gozo da pretendida isenção; a súmula n.° 41 do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, preceitua que: A não apresentação do Ato Declaratório Ambiental (ADA) emitido pelo IBAMA, ou órgão conveniado, não pode motivar o lançamento de ofício relativo a fatos geradores ocorridos até o exercício de 2000; ou seja, a partir do exercício de 2001, a apresentação do ADA é inarredável, pelo que não há que se acatar quais dos argumentos expendidos pelo contribuinte recorrente em sua peça impugnatória; ora, no processo sob estudo, tratase de ITR relativo ao exercício de 2005 e o ADA apresentado pelo contribuinte se refere ao exercício de 2008, não cumprindo, pois, as exigências legais pertinentes; nesse ponto, vale a pena destacar que a Administração Tributária, ao estabelecer a obrigatoriedade de apresentação do ADA, fixou condição para a não incidência tributária sobre as Áreas de Preservação Permanente e de utilização limitada, elencadas e definidas no Código Florestal e na legislação do ITR; dessa maneira, a exigência do ADA não caracteriza obrigação acessória, visto que a sua exigência não está vinculada ao interesse da arrecadação ou da fiscalização de tributos, nem se converte, caso não apresentado ou não requerido a tempo, em penalidade pecuniária, definida no art. 113, §§ 2° e 3", da Lei n° 5.172/1966 (Código Tributário Nacional CTN), ou seja, a ausência do ADA não enseja multa regulamentar o que ocorreria caso se tratasse de obrigação acessória , mas sim incidência do imposto; o Manual de Perguntas e Respostas do ITR, editado no ano de 2002 portanto, após a edição da Medida Provisória n° 2.16667/2001 ratifica, em suas perguntas de n°s 66 e 67, o entendimento de que não houve qualquer alteração na legislação, no que tange à existência de prazo para requerimento do ADA: 066 Qual é o prazo legal para requerimento do Ato Declaratório Ambiental (ADA)? O ADA deve ser protocolizado no Ibama no prazo de até 6 (seis) meses, contado a partir do término do prazo lixado para a entrega da declaração. Caso o ADA não seja requerido tempestivamente, ou seja denegado o requerimento, será efetuado lançamento de ofício com os acréscimos legais cabíveis.(Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 170, § 1 °, com a redação dada pela Lei n° 10.165, de 27 de dezembro de 2000, art. Io) 067 Caso o Ato Declaratório Ambiental (ADA) não tenha sido requerido, quais asconseqüências? Caso não seja requerido o Ato Declaratório Ambiental (ADA) dentro do prazo legal, poderá ocorrer uma das situações seguintes: 1) o contribuinte poderá pagar a diferença de imposto, com os acréscimos relativos à mora (multa e juros), desde que o faça Fl. 375DF CARF MF Processo nº 10183.004486/200792 Acórdão n.º 9202005.684 CSRFT2 Fl. 374 5 antes do início de qualquer procedimento fiscal tendente a verificar a infração tributária (pagamento espontâneo); ou 2) a Secretaria da Receita Federal (SRF) apurará o ITR efetivamente devido e efetuará, de ofício, o lançamento da diferença de imposto com os acréscimos legais cabíveis. (Lei n° 6.938, de 1981, art. 170, § Io, com redação dada pela Lei n° 10.165, art. Io, de 2000) desse modo, o prazo para apresentação do requerimento para emissão do ADA jamais deixou de existir, tanto é assim que o Decreto n° 4.382, de 19/09/2002, que regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação e administração do ITR (Regulamento do ITR), e que consolidou toda a base legal deste tributo que se encontrava em vigor à data de sua edição dispõe em seu art. 10: Art. 10. Área tributável é a área total do imóvel, excluídas as áreas: 1 de preservação permanente (Lei n° 4.771, de 15 de setembro de 1965 Código Florestal, arts. 2o e 3o, com a redação dada pela Lei n° 7.803, de 18 de julho de 1989, art. Io); II de reserva legal (Lei n° 4.771, de 1965, art. 16, com a redação dada pela Medida Provisória n° 2.16667, de 24 de agosto de 2001, art. Io); III de reserva particular do patrimônio natural (Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000, art. 21; Decreto n° 1.922, de 5 de junho de 1996); IV de servidão florestal (Lei n° 4.771, de 1965, art. 44A, acrescentado pela MedidaProvisória n° 2.16667, de 2001); V de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do órgão competente, federal ou estadual, e que ampliem as restrições de uso previstas nos incisos I e II do caput deste artigo (Lei n° 9.393, de 1996, art. 10, § Io, inciso II, alínea " b"); VI comprovadamente imprestáveis para a atividade rural, declaradas de interesseecológico mediante ato do órgão competente, federal ou estadual (Lei n° 9.393, de1996, art. 10, § Io, inciso II, alínea " c" ). (...) § 2o A área total do imóvel deve se referir à situação existente na data da efetiva entrega da Declaração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural DITR.. § 3o Para fins de exclusão da área tributável, as áreas do imóvel rural a que se refere o caput deverão: ser obrigatoriamente informadas em Ato Declaratório Ambiental ADA, protocolado pelo sujeito passivo no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Fl. 376DF CARF MF 6 Renováveis IBAMA, nos prazos e condições fixados em ato normativo (Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 170, § 5o, com a redação dada pelo art. Io da Lei n° 10.165, de 27 de dezembro de 2000); e estar enquadradas nas hipóteses previstas nos incisos I a VI em Io de janeiro do ano de ocorrência do fato gerador do ITR. (destaques não constam no original) a CoordenaçãoGeral de Tributação (Cosit), que tem a competência regimental de interpretar a legislação tributária no âmbito da Secretaria da Receita Federal, editou a Solução de Consulta Interna n° 12, de 21/05/2003, que ratifica o entendimento acima exposto, sendo oportuna a transcrição do trecho final do citado ato: 3.1.Diante do exposto, concluise que, para fins de exclusão das áreas não tributáveisda incidência do ITR, o sujeito passivo deverá, cumulativamente: a) atender a todas as condições exigidas para a caracterização de cada área declarada como não tributável; e b) informar, obrigatoriamente, as áreas mencionadas no item "a" em ADA, protocolado no Ibama no prazo de seis meses, contado a partir do término do período de entrega da declaração, obrigatoriedade esta que foi imposta desde o exercício de 1997, com base na Instrução Normativa SRF n° 43/97, com a redação dada pela Instrução Normativa SRF n° 67/97, ambas de 1997; na Instrução Normativa SRF n° 73/00, de 2000, e a partir do exercício de 2001, com base na Lei n° 6.938, de 1981, com a redação dada pela Lei n° 10.165, de 2000, e Instruções Normativas SRF n° 60, de 2001, e n° 256, de 2002. 3.2.Portanto, respondendo às questões formuladas na Consulta Interna: a) a falta de ADA, protocolado no Ibama, implica o não reconhecimento nela SRF das áreas de preservação permanente ou de utilização limitada: b) a SRF deve exigir toda a documentação comprobatória das áreas de preservação permanente ou de utilização limitada, inclusive o ADA protocolado tempestivamente no Ibama, sendo que este não substitui os demais documentos exigíveis; c) além de todos os demais documentos comprobatórios das áreas de preservação permanente ou de utilização limitada, deverá ser apresentada pelo contribuinte cópia do ADA entregue ao Ibama, não sendo suficiente a apresentação do protocolo de entrega, sendo que, na hipótese de descumprimento de tais exigências, ou se, após vistoria realizada pelo Ibama, seus técnicos verificarem que os dados constantes no Ato não coincidem com os efetivamente levantados e, por conseqüência, lavrarem, de ofício, novo ADA, contendo os dados reais, deverá ser apurado o ITR efetivamente devido c efetuado, dc ofício, o lançamento da diferença dc imposto com os acréscimos legais cabíveis, (destaques não constam no original) Fl. 377DF CARF MF Processo nº 10183.004486/200792 Acórdão n.º 9202005.684 CSRFT2 Fl. 375 7 a exigência do ADA se encontra consagrada na Lei n" 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 170, § 1o, com a redação dada pelo art. Io da Lei n° 10.165/2000; de fato, esse diploma reitera os termos da Instrução Normativa n° 73/00, no que concerne ao meio de prova disponibilizado aos contribuintes para o reconhecimento das áreas de preservação permanente e de utilização limitada, com vista à redução da incidência do ITR; nesse passo, convém assinalar alguns aspectos da exigência do ADA; primeiro, a obrigatoriedade da apresentação do ADA, registrese, não representa qualquer violação de direito ou do princípio da legalidade; ao contrário, a exigência se alinha com a norma que consagrou o benefício tributário (art. 10, § Io, II, da Lei n° 9.393/96), apontando os meios para a comprovação da existência das áreas de preservação permanente e de utilização limitada; com esse desiderato, foi prevista a apresentação do Ato Declaratório Ambiental ADA. Nos termos da IN SRF n° 43/97, com a redação da IN SRF n° 67/97, o contribuinte, para se valer do benefício, deve protocolar requerimento do ato declaratório junto ao Ibama; ora, o exercício do direito do contribuinte está atrelado a uma simples declaração dirigida ao órgão ambiental competente, tratase de norma amplamente favorável ao contribuinte do ITR, que, na hipótese de sua ausência, estaria sujeito a meios de prova notadamente mais complexos e dispendiosos, como, por exemplo, os laudos técnicos elaborados por peritos; de posse da declaração (ADA), o Ibama deverá, em momento oportuno, certificar a veracidade dos dados informados pelo proprietário do imóvel; a obrigatoriedade do ADA, portanto, não desborda da regulamentação dos dispositivos legais, porquanto não viola direitos do contribuinte, além de lhe ser claramente favorável; o que não se pode conceber é que o contribuinte queira se valer da exclusão das áreas tributáveis da incidência do ITR sem cumprir as exigências previstas na legislação; não é juridicamente sustentável a tese segundo a qual, diante da declaração do contribuinte de que sua propriedade está inserida em área de preservação permanente ou de utilização limitada, não possa a autoridade pública exigir a comprovação do alegado através da documentação competente; com efeito, o direito ao benefício legal deve estar documentalmente comprovado, sendo o ADA, apresentado tempestivamente, é documento exigido para tal fim; registrese que, no presente processo, não se discute a materialidade, ou seja, a existência efetiva das áreas de preservação permanente e utilização limitada, o que se busca é a comprovação do cumprimento de uma obrigação prevista na legislação, para fins de exclusão da tributação; Fl. 378DF CARF MF 8 no caso concreto, o contribuinte não apresentou o ADA, razão pela qual deve ser mantida a glosa efetivada pela fiscalização das áreas de preservação permanente e de utilização limitada. Ao final, a Fazenda Nacional pede o conhecimento e provimento do recurso, restaurandose o inteiro teor da decisão de Primeira Instância. Cientificado em 02/03/2016 (AR Aviso de Recebimento de efls. 366), o Contribuinte, em 16/03/2016 (carimbo aposto às efls. 334), ofereceu as Contrarrazões de efls. 334 a 357, argumentando, em síntese: em sintonia com o acórdão recorrido, a Contribuinte possui, desde 1991, devidamente disposto nas matrículas de registro de imóveis, as devidas averbações das áreas de utilização limitada, confirmadas via laudo técnico e imagens, emitidos por profissional competente e habilitado, atestando as existências as referidas áreas não tributáveis, ou seja, que as deduções das Áreas de Reserva Legal e Preservação Permanente estão de acordo com a realidade e legalidade; o próprio acórdão paradigma (nº 920201.008) atesta que Área de Reserva Legal devidamente averbada no corpo da matrícula de registro de imóveis não é tributável, independentemente da apresentação do ADA, ou seja, referido acórdão atesta que a área de proteção ambiental deve ser excluída do cômputo do ITR, não havendo assim qualquer divergência ao disposto no acórdão ora decorrido, restando correto afirmar também que, no tocante à Área de Preservação Permanente, a parte naqueles autos não comprovou sua existência; em resumo, no caso dos presentes autos (ITR 2003 e 2005), somada à existência das devidas averbações nas matrículas de registro de imóveis (desde 1991), restou comprovado nos autos a existência de tais áreas não tributáveis (Reserva Legal e Preservação Permanente), por meio de laudos e imagens, emitidos por profissional competente e habilitado, conforme destacado no acórdão proferido; assim, concluise, nos moldes das Planilhas de Cálculo em anexo, para fins de ITR/2003, há corretamente averbado no corpo das referidas matrículas de registro de imóveis 5.553,10 ha de Área de Reserva Legal; e para fins do ITR/2005, há devidamente averbado no corpo de referidas matrículas de registro de imóveis 4.764,20 ha de Área de Reserva Legal, bem como restou comprovada nos autos a existência de 264,20 ha de Área de Preservação Permanente; o entendimento proferido no acórdão exarado não merece reforma quanto ao fato das áreas não tributáveis não dependerem da apresentação do ADA para fins de suas exclusões no cômputo do ITR, uma vez que existem suas averbações nas matrículas de registro de imóveis (ARL); quanto a Área de Preservação Permanente, indicada no ITR/2005, restou comprovada sua existência mediante laudo técnico competente, que trouxe a verdade (sequer fora impugnado pela fazenda Nacional). Ao final, o Contribuinte pede que se negue provimento ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional. Voto Fl. 379DF CARF MF Processo nº 10183.004486/200792 Acórdão n.º 9202005.684 CSRFT2 Fl. 376 9 Conselheira Maria Helena Cotta Cardozo Relatora O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Trata o presente processo de exigência de ITR Imposto Territorial Rural dos exercícios de 2003 e 2005, relativo ao imóvel denominado "Fazenda Camararé I e II" (NIRF 1.595.3068), localizado no Município de Sinop/MT. Quanto ao exercício de 2003, foi glosada a Área de Reserva Legal de 5.553,1 hectares e, em relação ao de 2005, foram glosadas as Áreas de Preservação Permanente de 264,2 hectares e de Reserva Legal de 4.764,2 hectares, por falta de apresentação tempestiva do ADA Ato Declaratório Ambiental. Em ambos os exercício foi efetuado o arbitramento do VTN Valor da Terra Nua com base no SIPT Sistema Unificado de Preços de Terras. O Termo de Intimação Fiscal foi cientificado ao Contribuinte em 29/11/2006 (efls. 20 a 22). No acórdão recorrido, foram restabelecidas as áreas ambientais. A Fazenda Nacional, por sua vez, visa rever a necessidade de apresentação tempestiva do ADA Ato Declaratório Ambiental, para exclusão das Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal da tributação do ITR Imposto Territorial Rural. No que tange à APP Área de Preservação Permanente, examinandose a legislação de regência, verificase que, com o advento da Lei n° 10.165, de 2000, foi alterada a redação do §1° do art. 170, da Lei n° 6.938, de 1981, que tornou obrigatória a utilização do ADA Ato Declaratório Ambiental, para efeito de redução do valor a pagar do ITR. Assim, a partir do exercício de 2001, tal exigência passou a ter previsão legal, portanto é legítima, conforme a seguir: “Art. 17O. Os proprietários rurais que se beneficiarem com redução do valor do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR, com base em Ato Declaratório Ambiental ADA, deverão recolher ao Ibama a importância prevista no item 3.11 do Anexo VII da Lei no 9.960, de 29 de janeiro de 2000, a título de Taxa de Vistoria (Redação dada pela Lei nº 10.165, de 2000. § 1ºA. A Taxa de Vistoria a que se refere o caput deste artigo não poderá exceder a dez por cento do valor da redução do imposto proporcionada pelo ADA (incluído pela Lei nº 10.165, de 2000). § 1º A utilização do ADA para efeito de redução do valor a pagar do ITR é obrigatória”. É certo que, no caso da APP, tratase de acidentes geográficos já existentes na natureza, porém a exclusão da tributação desta área ambiental não está condicionada à criação da área e sim da sua preservação, como a própria denominação está a indicar. Como o lançamento se reporta à data de ocorrência do fato gerador do tributo (art. 144 do CTN) e, no que tange ao ITR, este foi fixado em 1º de janeiro (art. 1º da Lei nº. 9.393, de 1996), a fruição do benefício está condicionada à preservação à época do fato gerador. Nesse passo, a Receita Federal, utilizandose da prerrogativa de regulamentar a forma e os prazos para cumprimento de obrigações acessórias, especificou o prazo de seis meses após a data de entrega da DITR. Tratandose de declarar algo que a priori já existiria na natureza, este Colegiado consolidou a Fl. 380DF CARF MF 10 jurisprudência no sentido de aceitarse o ADA protocolado antes do início da ação fiscal, em respeito à espontaneidade do Contribuinte. Entretanto, no presente caso, a glosa da APP é relativa ao exercício de 2005, e o ADA Ato Declaratório Ambiental somente foi protocolado em 27/09/2007 (efls. 68/69), sendo que a ação fiscal foi cientificada ao Contribuinte em 29/11/2006 (efls. 20 a 22), portanto não há como acolher a APP de 264,2 hectares, no exercício de 2005. No que diz respeito à ARL Área de Reserva Legal, há um requisito específico para a sua exclusão da tributação do ITR, qual seja, a averbação no registro de imóveis competente. Tal obrigação encontra amparo na Lei nº 4.771, de 1965 (Código Florestal), com a redação dada pela Medida Provisória nº 16667, de 24/08/2001, conforme a seguir: “Art. 16 As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: (...) § 8º A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas neste Código." Nesse passo, filiome ao posicionamento adotado nesta Câmara Superior de Recursos Fiscais, no sentido de que a averbação da ARL Área de Reserva Legal à margem do registro do imóvel, antes da ocorrência do fato gerador, supre a necessidade de apresentação do ADA Ato Declaratório Ambiental. Compulsandose os autos, constatase a existência das seguintes averbações nas matrículas dos imóveis: Matrícula 9.565 AV019.565, de 17/07/1991: 1.175,8118 hectares (efls. 31/32); Matrícula 9.564 AV019.564, de 17/07/1991: 4.377,3472 hectares (e fls.34/35); AV039.564 – Termo de Responsabilidade de Manutenção de Floresta Manejada, de 31/10/2002: 2.188,6736 hectares (efls. 35); e AV059.564 Termo de Responsabilidade de Averbação de Reserva Legal, de 09/09/2003: 3.588,4386 hectares (efls. 35/36). Assim, em síntese, relativamente à ARL Área de Reserva Legal, observase a seguinte situação, considerandose as duas matrículas e as respectivas datas: de 17/07/1991 a 30/10/2002 5.553,1590 hectares (1.175,8118 + 4.377,3472); de 31/10/2002 a 08/09/2003 3.364,4854 (1.175,8118 + 2.188,6736); de 09/09/2003 em diante 4.764,2504 hectares (1.175,8118 + 3.588,4386) Fl. 381DF CARF MF Processo nº 10183.004486/200792 Acórdão n.º 9202005.684 CSRFT2 Fl. 377 11 Destarte, quanto ao ITR/2003, cujo fato gerador ocorreu em 1º/01/2003, a ARL Área de Reserva Legal averbada é de 3.364,48 hectares; quanto ao ITR/2005, com fato gerador em 1º/01/2005, o total é de 4.764,25 hectares. Diante do exposto, conheço do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional e, no mérito, doulhe provimento parcial para: relativamente ao ITR/2003, reduzir a ARL Área de Reserva Legal a 3.364,48 hectares; e quanto ao ITR/2005, restabelecer a glosa do total da APP Área de Preservação Permanente (264,2 hectares). (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Fl. 382DF CARF MF
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Numero do processo: 10469.720547/2007-66
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 17 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Oct 05 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2003, 2004
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. PRESSUPOSTOS RECURSAIS. LEGITIMIDADE. Não tem legitimidade recursal a pessoa física que não é indicada como contribuinte ou responsável no auto de infração.
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. ART. 124 DO CTN. PROCURADOR. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE DO AUTO DE INFRAÇÃO.
Não se mantém a responsabilidade solidária quando nem o auto de infração nem o Termo de Verificação Fiscal descrevem suficientemente a base legal e a hipótese fática que fundamentam a autuação. O artigo 124 do CTN trata de solidariedade que pode atingir o contribuinte (pessoa que tem relação com o fato gerador) e o responsável (pessoa assim indicada por lei), a depender da configuração do interesse comum (inciso I) ou da indicação da expressa previsão em lei (inciso II). Para aplicação do inciso II deve haver indicação no auto de infração de tal expressa previsão legal, de modo que a menção isolada ao artigo 124 do CTN não permite responsabilizar o procurador de sócia estrangeira. Já no caso do artigo 124, I, o interesse comum ali referido é jurídico e não meramente econômico. O interesse jurídico comum deve ser direto, imediato, na realização do fato gerador que deu ensejo ao lançamento, e resta configurado quando as pessoas participam em conjunto da prática dos atos descritos na hipótese de incidência, cada uma em nome próprio. Essa participação em conjunto pode ocorrer tanto de forma direta, quando as pessoas efetivamente praticam em conjunto o fato gerador, quanto indireta, em caso de confusão patrimonial, quando ambas dele se beneficiam em razão de sonegação, fraude ou conluio. Não havendo prova de que atuou em nome ou em benefício próprio, não se verifica na atuação do procurador o interesse comum que autoriza sua responsabilização com base no artigo 124, I, do CTN.
Recurso Voluntário Provido
Numero da decisão: 1401-002.066
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos não conhecer do recurso apresentado por Clidenor Aladim de Araújo Junior, por ausência do pressuposto recursal da legitimidade, bem como por conhecer e dar provimento ao recurso apresentado por Sebastião Rodrigues Leite Junior, para excluí-lo da responsabilização passiva solidária.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente
(assinado digitalmente)
Livia De Carli Germano - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Jose Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Livia De Carli Germano (vice-presidente) e Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
Nome do relator: LIVIA DE CARLI GERMANO
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2003, 2004 PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. PRESSUPOSTOS RECURSAIS. LEGITIMIDADE. Não tem legitimidade recursal a pessoa física que não é indicada como contribuinte ou responsável no auto de infração. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. ART. 124 DO CTN. PROCURADOR. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE DO AUTO DE INFRAÇÃO. Não se mantém a responsabilidade solidária quando nem o auto de infração nem o Termo de Verificação Fiscal descrevem suficientemente a base legal e a hipótese fática que fundamentam a autuação. O artigo 124 do CTN trata de solidariedade que pode atingir o contribuinte (pessoa que tem relação com o fato gerador) e o responsável (pessoa assim indicada por lei), a depender da configuração do interesse comum (inciso I) ou da indicação da expressa previsão em lei (inciso II). Para aplicação do inciso II deve haver indicação no auto de infração de tal expressa previsão legal, de modo que a menção isolada ao artigo 124 do CTN não permite responsabilizar o procurador de sócia estrangeira. Já no caso do artigo 124, I, o interesse comum ali referido é jurídico e não meramente econômico. O interesse jurídico comum deve ser direto, imediato, na realização do fato gerador que deu ensejo ao lançamento, e resta configurado quando as pessoas participam em conjunto da prática dos atos descritos na hipótese de incidência, cada uma em nome próprio. Essa participação em conjunto pode ocorrer tanto de forma direta, quando as pessoas efetivamente praticam em conjunto o fato gerador, quanto indireta, em caso de confusão patrimonial, quando ambas dele se beneficiam em razão de sonegação, fraude ou conluio. Não havendo prova de que atuou em nome ou em benefício próprio, não se verifica na atuação do procurador o interesse comum que autoriza sua responsabilização com base no artigo 124, I, do CTN. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 46 9. 72 05 47 /2 00 7- 66 Fl. 8499DF CARF MF 2 Recurso Voluntário Provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos não conhecer do recurso apresentado por Clidenor Aladim de Araújo Junior, por ausência do pressuposto recursal da legitimidade, bem como por conhecer e dar provimento ao recurso apresentado por Sebastião Rodrigues Leite Junior, para excluílo da responsabilização passiva solidária. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente (assinado digitalmente) Livia De Carli Germano Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Jose Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Livia De Carli Germano (vicepresidente) e Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa. Relatório Tratase de auto de infração lavrado contra a empresa apontando pessoas físicas como responsáveis solidárias com base no artigo 124, I, do CTN. A fiscalização efetuou o arbitramento do lucro da empresa dos anos calendário de 2003 e 2004 com base nos artigos 530, II e III, e 534 do RIR/99, tendo em razão de esta não possuir escrituração na forma das leis comerciais e fiscais, fato constatado após entrega pelo contribuinte de livros contábeis sem o devido registro, devolvidos para providências e não entregues mesmo após repetidas reiterações por parte das autoridades fiscais. Foram constatados também vícios na escrituração que a tornariam imprestável para apuração do lucro real decorrente de atividades imobiliárias, bem como omissão de receitas da venda de imóveis e omissão de receita caracterizada pela falta de comprovação da origem dos recursos depositados nas contas correntes da contribuinte (arts. 534 e 849 do RIR/99) A multa aplicada foi a qualificada de 150%, sendo a motivação para a exasperação a seguinte (fl. 652): "A apresentação da DIPJ/2004, em 30/06/2004 (fls. 317/347), contendo receitas despesas normais da atividade e sua retificação, em 21/07/2004 (fls. 348/378), sem declaração de quaisquer receita, custos e despesas, revelou, sem dúvida, a intenção de não pagar tributos, o que, efetivamente, ocorreu. Fl. 8500DF CARF MF Processo nº 10469.720547/200766 Acórdão n.º 1401002.066 S1C4T1 Fl. 8.500 3 Diante dos documentos e livros, posteriormente coletados pela fiscalização (remessas de recursos do exterior compromissos particulares de compra e venda, escrituras públicas de compra e venda de imóveis, depósito bancários, livros contábeis apresentados e não regularizados) revelando receitas e despesas normais da atividade imobiliária, as informações constantes da DIPJ retificadora e da DIPJ 2005, como inativa, revelaramse falsa obrigando a fiscalização ao agravamento da multa, (...)" O Termo de Verificação Fiscal de fls. 637/654 apontou os seguintes responsáveis e razões (grifamos): "a) Rodrigo de Paula Pessoa Freitas, CPF no. 030.860.14407, pelo fato de ter sido sócio minoritário da empresa nos Anos calendário de 2003 e 2004, responsável direto pela administração da mesma, conforme cláusula 7a do contrato social (fls. 42/45); sua saída expressa ocorreu em 03/03/2005, conforme Aditivo contratual no. 01 (fls. 46/48), quando já se concluíra a construção dos condomínios; b) Rogério de Almeida Freitas, CPF no. 175.150.76453, com procuração outorgada pela empresa com amplos, gerais e ilimitados poderes para representála perante bancos, casas de crédito, instituições financeiras, especialmente junto ao Banco Bilbao Vizcaya Argentaria Brasil S/A, podendo movimentar conta corrente no. 01000285244, agência 0032Natal/RN, assinar cheques, endossar...." (fls. 231 e 239). c) Sebastião Rodrigues Leite Junior, CPF no. 703.351.76453, o qual, nos seus próprios dizeres, às fls. 53, em resposta a Termo de Intimação da empresa a ele enviado por força de constar do cadastro da SRFB como representante legal da sócia majoritária estrangeira "Oficinadanet.com Conteúdos Multimedia S/A" junto ao Ministério da Fazenda, "foi constituído advogado da referida empresa com poderes para receber citação e intimação e representála judicial e administrativamente, tendo desenvolvido ditas atividades até meados de junho de 2005, quando a mesma concluiu seu último empreendimento nominado Condomínio Tucanos". Além de constar como representante legal da sócia majoritária da Perobas Beach Ltda no Brasil, o Dr. Sebastião aparece como signatário de diversos documentos denominados "Compromissos Particulares de Compra e Venda" e Escrituras Públicas de Compra e Venda de Imóvel como o das fls. 46 do Anexo no. 10, e fls. 127 do Anexo no. 02, ambas do processo administrativo fiscal. A Responsabilidade passiva solidária encontrase fundada no artigo 124 e parágrafo único do Código Tributário Nacional, aprovado pela Lei 5.172/66, nos seguintes termos "verbis": "Art. 124. São solidariamente obrigadas: 1 as pessoas que tenham Interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal: II as pessoas expressamente designadas por lei. Fl. 8501DF CARF MF 4 Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem." Cientificados (fls. 654 e 661), apenas as pessoas físicas identificadas como responsáveis acima apontadas apresentaram impugnações (fls.704/710 para Sebastião e 732/747 para Rogério e Rodrigo). Em 15 de maio de 2009, a DRJ no Recife proferiu o acórdão nº 1126.281 (fls. 767/772), julgando o lançamento procedente e entendendo que os aspectos relativos à responsabilidade pelos créditos tributários da pessoa jurídica constituíam matéria estranha ao processo administrativo fiscal regularmente instaurado contra esta última, devendo ser apresentada a defesa pertinente em caso de eventual execução fiscal do crédito tributário. As três pessoas físicas acima mencionadas então apresentaram seus recursos voluntários, tendo esta Turma proferido o acórdão 140100.428, de 26 de janeiro de 2011 (fls. 911916), o qual deu provimento aos recursos e determinou o retorno dos autos à DRJ no Recife para que fossem conhecidas e julgadas as impugnações dos responsáveis tributários. Em 31 de janeiro de 2012, a DRJ então apreciou a questão da responsabilidade passiva solidária tratada pelas manifestações apresentadas por Rodrigo de Paula Pessoa Freitas, Rogério de Almeida Freitas e Sebastião Rodrigues Leite Junior, julgando as improcedentes, em acórdão assim ementado: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Exercício: 2003, 2004 RESPONSABILIDADE PASSIVA SOLIDÁRIA. COMPROVAÇÃO DO INTERESSE DE TERCEIRO NOS FATOS QUE GERARAM A EXIGÊNCIA FISCAL. Segundo o art. 124, I, do CTN, são solidariamente obrigadas as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. Comprovado nos autos que os obrigados efetivamente conduziram os negócios da empresa, deve ser mantida a sujeição passiva solidária daqueles. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido As seguintes pessoas físicas foram intimadas do acórdão acima e apresentaram recursos voluntários: Responsável Data de recebimento do AR Data de apresentação do Recurso Voluntário Clidenor Aladim de Araujo Junior 14/03/2016 (fl. 8131) 28/03/2016 (fls. 81368193) Rodrigo de Paula Pessoa Freitas 14/03/2016 (fl. 8129) não apresentou. Pediu cópia do processo em 29/08/2016 (fls. 8486 8489) Rogério de Almeida Freitas 14/03/2016 (fl. 8127) não apresentou Sebastião Rodrigues Leite Junior 16/03/2016 (fl. 8133) 14/04/2014 (fls. 81958237) Em seu recurso voluntário, Sebastião Rodrigues Leite Junior sustenta sua ilegitimidade passiva, eis que, na hipótese do artigo 124, II do CTN (pessoas expressamente Fl. 8502DF CARF MF Processo nº 10469.720547/200766 Acórdão n.º 1401002.066 S1C4T1 Fl. 8.501 5 designadas em lei), não foi indicado o dispositivo legal que o complementa e, na hipótese do artigo 124, I (interesse comum), este apenas é aplicável a situações de solidariedade, em que para a mesma obrigação concorrem mais de um credor ou mais de um devedor, não se admitindo presunções em relação à solidariedade. Afirma ainda que não praticou quaisquer atos de gestão, sendo mero procurador da sócia estrangeira: Para corroborar suas alegações traz aos autos cópia de trechos de depoimentos proferidos nos autos da Ação Penal 000526218.2013.4.05.8400, a qual foi ajuizada para apurar conduta típica de sócio oculto da empresa Perobas Beach Ltda. de Armando Jorge Carneiro da Costa. Recebi o processo em distribuição realizada em 19 de maio de 2017. Voto Conselheira Livia De Carli Germano Relatora Conforme relatado, a empresa contribuinte não apresentou impugnação nem recurso. Já os apontados como responsáveis Rodrigo de Paula Pessoa Freitas e Rogério de Almeida Freitas não apresentaram recurso. Como resultado, temos que quanto a estes o processo administrativo está finalizado e devem ser seguidos os procedimentos normais de cobrança do débito em questão. O presente julgamento trata exclusivamente dos recursos apresentados por Clidenor Aladim de Araujo Junior e Sebastião Rodrigues Leite Junior. Quanto ao primeiro, o auto de infração não o indica como responsável, tanto que ele sequer foi intimado para apresentar impugnação. Na verdade, conforme se depreende da análise da fl. 654, tratase do contador que assinou a ciência do auto de infração como representante da empresa contribuinte. Neste sentido, não conheço do recurso voluntário Fl. 8503DF CARF MF 6 apresentado por Clidenor Aladim de Araujo Junior, por se tratar de terceiro não interessado em relação à presente lide, faltandolhe legitimidade recursal. Quanto a Sebastião Rodrigues Leite Junior, o Termo de Verificação Fiscal aponta sua responsabilidade fundada exclusivamente no art. 124 do CTN em razão de ele (i) constar do cadastro da Receita Federal como representante legal da sócia majoritária estrangeira Oficinadanet.com Conteúdos Multimedia S/A, com poderes para receber citação e intimação e representála judicial e administrativamente; (ii) nesta qualidade, ter assinado diversos Compromissos Particulares de Compra e Venda e Escrituras Públicas de Compra e Venda de Imóvel. Assim, a princípio, a indicação de Sebastião Rodrigues Leite Junior no TVF como responsável pode ser de duas ordens: (i) ou a autoridade autuante pretendeu responsabilizar a sócia majoritária estrangeira Oficinadanet.com Conteúdos Multimedia S/A, tendo o Sr. Sebastião sido intimado na exclusiva qualidade de representante legal desta (e não pessoalmente); (ii) ou a autoridade autuante pretendeu responsabilizar a pessoa física do Sr. Sebastião, por ele ter assinado os contratos cujas receitas foram omitidas pela contribuinte Perobas Beach Ltda.. Em ambos os casos, a fundamentação do auto de infração está no mínimo deficiente. Isso porque, se a intenção era responsabilizar Sebastião Rodrigues Leite Junior na qualidade de representante legal da sócia majoritária estrangeira, o TVF deveria ter expressamente mencionado tal circunstância, com a devida menção à base legal que permite a responsabilização do procurador no Brasil da sócia estrangeira, já que o artigo 124 do CTN, sozinho, não tem tal alcance. Por outro lado, se a autoridade autuante pretendia responsabilizar a pessoa física do Sr. Sebastião, a responsabilização com base no art. 124, I, do CTN dependeria de prova de seu "interesse comum" na atividade que gerou o fato gerador (ou seja, na omissão de receitas), o que pressupõe que ele tenha atuado em nome próprio e não como mero mandatário de outrem, prova esta que o TVF passa longe de ter realizado. Sobre o alcance da solidariedade e da responsabilidade tributária previstas no Código Tributário Nacional, temos que, inserido no Título III ("Da obrigação tributária"), o Capítulo IV é dedicado ao "Sujeito Passivo" e tem início com o artigo 121, o qual define o sujeito passivo da obrigação principal como pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e, em seu parágrafo único, esclarece que existem dois tipos de sujeito passivo: contribuinte e responsável. Vejase: Art. 121 Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal dizse: I contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei. (grifamos) Como assenta a doutrina, "Qualquer pessoa colocada por lei na qualidade de devedora da prestação tributária, será sujeito passivo, pouco importando o nome que lhe seja atribuído ou a sua situação de contribuinte ou responsável"1. Assim, o contribuinte (também denominado, na doutrina, de sujeito passivo direto, devedor direto ou destinatário legal tributário) tem relação causal, direta e pessoal com 1 Moraes, Bernardo Ribeiro. Compêndio de Direito Tributário, Vol. 2, 3ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 279. Fl. 8504DF CARF MF Processo nº 10469.720547/200766 Acórdão n.º 1401002.066 S1C4T1 Fl. 8.502 7 o pressuposto de fato que origina a obrigação tributária (artigo 121, I, do CTN). Já no caso do responsável tributário (por alguns chamado sujeito passivo indireto ou devedor indireto), não necessariamente há tal liame direto e pessoal com o fato jurídico tributário, decorrendo o dever jurídico de previsão legal (artigo 121, II, do CTN). Ainda no Capítulo IV, portanto tratando do sujeito passivo (que como vimos pode ser contribuinte ou responsável) temos a previsão constante do artigo 124, I, que prevê como solidariamente obrigadas “as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal” e o artigo 124, II, estabelecendo solidariedade entre "as pessoas expressamente designadas por lei". Mais adiante, o Capítulo V vai tratar especificamente da "Responsabilidade Tributária", iniciando com a previsão do artigo 128: Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindoa a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. Seguemse então no CTN disposições legais específicas tratando da Responsabilidade de Sucessores (Seção II) e da Responsabilidade de Terceiros (Seção III). Pois bem. Quanto ao artigo 124, conforme vimos, tratase de solidariedade que pode atingir seja o contribuinte (pessoa que tem relação com o fato gerador) seja o responsável (pessoa assim indicada por lei), a depender da configuração do "interesse comum" (inciso I) ou da designação expressa em lei (conforme prevê didaticamente, e de certa forma com redundância, o inciso II). Não se pode no caso pretender a aplicação do inciso II do artigo 124, já que nem o auto de infração nem o TVF mencionam qualquer outra base legal para a responsabilização em questão. Sobre o inciso I do artigo 124, existe um certo consenso de que o “interesse comum” referido no dispositivo deve ser jurídico e não meramente econômico. O alcance de tal interesse jurídico é que causa maiores discussões. É amplamente aceito que o artigo 124, I, do CTN se aplica a situações em que as pessoas compõem o mesmo pólo da relação jurídica. Assim, Sacha Calmon Navarro Coelho observa: “... o inciso I noticia a solidariedade natural. É o caso de dois irmãos que são coproprietários pro indiviso de um trato de terra. Todos são, naturalmente, codevedores solidários do imposto territorial rural (ITR).” 2. No mesmo sentido, Paulo de Barros Carvalho: "... o interesse comum dos participantes no acontecimento factual não representa um dado satisfatório para a definição do vínculo da solidariedade. Em nenhuma dessas circunstâncias cogitou o legislador desse elo que aproxima os participantes do fato, o que ratifica a precariedade do método preconizado pelo inc. I do art 124 do Código. Vale sim, para situações em que não haja bilateralidade no seio do fato tributado, como, por exemplo, 2 Coelho, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro, 5a ed., Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 594. Fl. 8505DF CARF MF 8 na incidência do IPTU, em que duas ou mais pessoas são proprietárias do mesmo imóvel. Tratandose, porém, de ocorrências em que o fato se consubstancie pela presença de pessoas em posições contrapostas, com objetivos antagônicos, a solidariedade vai instalarse entre sujeitos que estiveram no mesmo pólo da relação, se e somente se for esse o lado escolhido pela lei para receber o impacto jurídico da exação. É o que se dá no imposto de transmissão de imóveis, quando dois ou mais são os compradores; no ICMS, sempre que dois ou mais forem os comerciantes vendedores; no ISS, toda vez que dois ou mais sujeitos prestarem um único serviço ao mesmo tomador." 3. Nesse passo, o STJ tem decidido que tal interesse comum pode ocorrer "no ISS, toda vez que dois ou mais sujeitos prestarem um único serviço ao mesmo tomador"4. Também se reconhece que nem mesmo o fato de pessoas integrarem o mesmo grupo econômico é suficiente para a responsabilização solidária: "1. O entendimento prevalente no âmbito das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte é no sentido de que o fato de haver pessoas jurídicas que pertençam ao mesmo grupo econômico, por si só, não enseja a responsabilidade solidária, na forma prevista no art. 124 do CTN. (...)"5 É que integrar o grupo pode significar interesse (econômico) meramente indireto na realização do fato gerador (ou seja, intenção de participar dos respectivos resultados), mas não necessariamente interesse direto ou realização conjunta de tal situação. Assim, para que se configure o interesse jurídico comum é necessária a presença de tal interesse direto, imediato, no fato gerador, que acontece quando as pessoas atuam em comum na situação que constitui o fato imponível, ou seja, quando participam em conjunto da conduta descrita na hipótese de incidência, naturalmente cada uma atuando em nome próprio. Esta participação comum na realização da hipótese de incidência ocorre seja de forma direta, quando as pessoas efetivamente praticam em conjunto o fato gerador, seja indireta, em caso de confusão patrimonial e/ou quando dele se beneficiam em razão de sonegação, fraude ou conluio. Nesses termos, Kiyoshi Harada, fazendo referência a trecho de obra de Sampaio Costa: "Ensina Carlos Jorge Sampaio Costa: ... a solidariedade dos membros de um mesmo grupo econômico está condicionada a que fique devidamente comprovado: a) o interesse imediato e comum de seus membros nos resultados decorrentes do fato gerador; e∕ou b) fraude ou conluio entre os componentes do grupo. Há interesse comum imediato em decorrência do resultado do fato gerador quando mais de uma pessoa se beneficiam diretamente com sua ocorrência. Por exemplo, a afixação de cartazes de propaganda de empresa 3 Carvalho, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 1996. p. 220 4 AgRg no Ag 1.288.247∕RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 03∕11∕2010; AgRg no Ag 1.055.860∕RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJe 26∕03∕2009; REsp 884.845∕SC, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 05∕02∕2009, DJe 18∕02∕2009, REsp 1.001.450∕RS, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 27.3.2008. 5 Superior Tribunal de Justiça, EREsp 834.044∕RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 8.9.2010, DJe 29.9.2010 Fl. 8506DF CARF MF Processo nº 10469.720547/200766 Acórdão n.º 1401002.066 S1C4T1 Fl. 8.503 9 distribuidora de derivados de petróleo em postos de gasolina é, geralmente, um fato gerador de taxa municipal cuja ocorrência interessa não somente à empresa distribuidora, beneficiária direta da propaganda, como também ao posto de gasolina, que é solidário com aquela no pagamento da taxa. (...) Na fraude ou conluio, o interesse comum se evidencia pelo próprio ajuste entre as partes, almejando a sonegação. A solidariedade passiva no pagamento de tributos por aqueles que agiram fraudulentamente é pacífica. (...) (Solidariedade passiva e o interesse comum no fato gerador, Revista de Direito Tributário, Ano II, nº 4. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1978, p. 304)" 6 No caso, a análise dos contratos que a fiscalização indica serem prova do "interesse comum" de Sebastião Rodrigues Leite Junior revela que ele atuou apenas como procurador, não havendo qualquer menção sequer a indício de que ele tenha atuado em nome próprio ou se beneficiado diretamente de tais negócios para citar os mesmos exemplos mencionados pelo TVF, v. fls. 46 do Anexo 10 fls. 7829 do eprocesso , e fls. 127 do Anexo 02 fls. 1497 do eprocesso, os quais apenas contemplam a assinatura de Sebastião Rodrigues Leite Junior na qualidade de representante legal da sócia estrangeira, esta sim parte nos referidos contratos. Ressaltese que não há no TVF menção a qualquer outro fato que indique razão adicional para a conclusão de que houve "interesse comum" de Sebastião Rodrigues Leite Junior no caso em questão. Neste sentido, resta claro que a base legal da responsabilização, na hipótese em discussão, não seria o artigo 124, I, do CTN tal como indicado no TVF. Dito de outra forma, não havendo nos autos qualquer prova de que o procurador tenha atuado em nome ou no interesse próprio, não se verifica o interesse comum que autoriza sua responsabilidade solidária nos termos do artigo 124, I do CTN. Diante do exposto, voto por não conhecer do recurso apresentado por Clidenor Aladim de Araujo Junior, por ausência do pressuposto recursal da legitimidade, bem como por conhecer e dar provimento ao recurso apresentado por Sebastião Rodrigues Leite Junior, por deficiência na fundamentação do auto de infração. (assinado digitalmente) Livia De Carli Germano 6 Responsabilidade tributária solidária por interesse comum na situação que constitua o fato gerador, Disponível em http://www.investidura.com.br/ufsc/109direitotributario/3454responsabilidadetributariasolidariapor interessecomumnasituacaoqueconstituaofatogerador.html, acesso em 20.10.2016 Fl. 8507DF CARF MF 10 Fl. 8508DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10640.002174/2010-13
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 05 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Aug 09 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2005, 2006
DECADÊNCIA. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 173, I, DO CTN.STJ. RESP 973.733/SC. RECURSOS REPETITIVOS. RICARF, ART. 62, § 1º, II, B.
Não tendo ocorrido antecipação de pagamento, conta-se o prazo decadencial a partir do primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido realizado (CTN, Art. 17, I), conforme restou decidido pelo E. STJ no julgamento do REsp 973.733/SC, sob o rito do artigo 543-C do Código de Processo Civil (Lei nº 5.869/76).
Conforme determina o artigo 62, § 1º, II, b, do RICARF (Port. MF nº 343/15), ao membro do conselho é vedado afastar a aplicação de lei ou deixar de observá-la diante de arguição de inconstitucionalidade, exceto quando diante de hipótese que fundamente crédito tributário objeto de decisão definitiva do STF ou STJ em sede de julgamento realizado na sistemática dos artigos 543-B e 543-C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos artigos 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 - Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária.
No caso dos autos, com lançamento na modalidade de arbitramento, para os fatos geradores do IRRF ocorridos em 2005 e 2006, o lançamento poderia ter sido realizado em 2006 e 2007, respectivamente, tendo como marcos iniciais do prazo decadencial, 01/01/2006 e 01/01/2007, e como prazos finais, 31/12/2010 e 31/12/2011. No caso dos autos, a notificação se deu em 10/08/2010, período em que ainda não havia expirado o prazo decadencial.
INCONSTITUCIONALIDADE. INFORMAÇÕES BANCÁRIAS. EXTRATOS BANCÁRIOS. FORNECIMENTO À ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. LEGALIDADE DO LANÇAMENTO. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. STF. RE 601.314/SP. REPERCUSSÃO GERAL. RICARF, ART. 62, § 1º, II, B.
O artigo 6º da Lei Complementar nº 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal, conforme decisão terminativa de mérito transitada em julgado proferida pelo E. STF em sede de repercussão geral (CPC, Art. 1.036) no RE 601.314/SP, Sessão de 24/02/2016.
Conforme determina o artigo 62, § 1º, II, b, do RICARF (Port. MF nº 343/15), ao membro do conselho é vedado afastar a aplicação de lei ou deixar de observá-la diante de arguição de inconstitucionalidade, exceto quando diante de hipótese que fundamente crédito tributário objeto de decisão definitiva do STF ou STJ em sede de julgamento realizado na sistemática dos artigos 543-B e 543-C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos artigos 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 - Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária.
PAGAMENTO SEM CAUSA OU A BENEFICIÁRIO NÃO IDENTIFICADO. OPERAÇÕES NÃO COMPROVADAS. LEGALIDADE DO LANÇAMENTO. LEI 8.981/95, ART. 61.
Estão sujeitos à incidência do imposto sobre a renda exclusivamente na fonte, à alíquota de 35%, nos termos do art. 61 da Lei nº 8.981/1995, os pagamentos efetuados ou os recursos entregues pela pessoa jurídica a terceiros quando não comprovada a operação ou a causa a que se referem.
Sujeição passiva solidária artigo 124, I do CTN. Fato Gerador Tributável. Interesse comum Existência. Caracterização.
Uma vez que os fatos alegados pelo fisco se amoldam ao tipo previsto no artigo 124 do CTN, há que se sustentar a caracterização de sujeição passiva solidária de terceiros, dados seus interesses comuns na situação que constituiu o fato gerador da obrigação principal.
Neste contexto, a fiscalização é competente para identificar o sujeito passivo da obrigação, cujo conceito abrange os responsáveis solidários.
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. OCORRÊNCIA DE DOLO E FRAUDE. CABIMENTO.
A conduta fraudulenta do contribuinte a que se referem os artigos 71, 72 e 73, da Lei nº 4.502/1964, acarreta a qualificação da multa de ofício.
Numero da decisão: 2201-003.742
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário.
assinado digitalmente
Carlos Henrique de Oliveira - Presidente.
assinado digitalmente
Marcelo Milton da Silva Risso - Relator.
EDITADO EM: 31/07/2017
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim.
Nome do relator: MARCELO MILTON DA SILVA RISSO
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TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 173, I, DO CTN.STJ. RESP 973.733/SC. RECURSOS REPETITIVOS. RICARF, ART. 62, § 1º, II, “B”. Não tendo ocorrido antecipação de pagamento, contase o prazo decadencial a partir do primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido realizado (CTN, Art. 17, I), conforme restou decidido pelo E. STJ no julgamento do REsp 973.733/SC, sob o rito do artigo 543C do Código de Processo Civil (Lei nº 5.869/76). Conforme determina o artigo 62, § 1º, II, “b”, do RICARF (Port. MF nº 343/15), ao membro do conselho é vedado afastar a aplicação de lei ou deixar de observála diante de arguição de inconstitucionalidade, exceto quando diante de hipótese que fundamente crédito tributário objeto de decisão definitiva do STF ou STJ em sede de julgamento realizado na sistemática dos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos artigos 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária. No caso dos autos, com lançamento na modalidade de arbitramento, para os fatos geradores do IRRF ocorridos em 2005 e 2006, o lançamento poderia ter AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 64 0. 00 21 74 /2 01 0- 13 Fl. 2147DF CARF MF 2 sido realizado em 2006 e 2007, respectivamente, tendo como marcos iniciais do prazo decadencial, 01/01/2006 e 01/01/2007, e como prazos finais, 31/12/2010 e 31/12/2011. No caso dos autos, a notificação se deu em 10/08/2010, período em que ainda não havia expirado o prazo decadencial. INCONSTITUCIONALIDADE. INFORMAÇÕES BANCÁRIAS. EXTRATOS BANCÁRIOS. FORNECIMENTO À ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. LEGALIDADE DO LANÇAMENTO. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. STF. RE 601.314/SP. REPERCUSSÃO GERAL. RICARF, ART. 62, § 1º, II, “B”. O artigo 6º da Lei Complementar nº 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal, conforme decisão terminativa de mérito transitada em julgado proferida pelo E. STF em sede de repercussão geral (CPC, Art. 1.036) no RE 601.314/SP, Sessão de 24/02/2016. Conforme determina o artigo 62, § 1º, II, “b”, do RICARF (Port. MF nº 343/15), ao membro do conselho é vedado afastar a aplicação de lei ou deixar de observála diante de arguição de inconstitucionalidade, exceto quando diante de hipótese que fundamente crédito tributário objeto de decisão definitiva do STF ou STJ em sede de julgamento realizado na sistemática dos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos artigos 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária. PAGAMENTO SEM CAUSA OU A BENEFICIÁRIO NÃO IDENTIFICADO. OPERAÇÕES NÃO COMPROVADAS. LEGALIDADE DO LANÇAMENTO. LEI 8.981/95, ART. 61. Estão sujeitos à incidência do imposto sobre a renda exclusivamente na fonte, à alíquota de 35%, nos termos do art. 61 da Lei nº 8.981/1995, os pagamentos efetuados ou os recursos entregues pela pessoa jurídica a terceiros quando não comprovada a operação ou a causa a que se referem. Sujeição passiva solidária artigo 124, I do CTN. Fato Gerador Tributável. Interesse comum Existência. Caracterização. Fl. 2148DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.090 3 Uma vez que os fatos alegados pelo fisco se amoldam ao tipo previsto no artigo 124 do CTN, há que se sustentar a caracterização de sujeição passiva solidária de terceiros, dados seus interesses comuns na situação que constituiu o fato gerador da obrigação principal. Neste contexto, a fiscalização é competente para identificar o sujeito passivo da obrigação, cujo conceito abrange os responsáveis solidários. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. OCORRÊNCIA DE DOLO E FRAUDE. CABIMENTO. A conduta fraudulenta do contribuinte a que se referem os artigos 71, 72 e 73, da Lei nº 4.502/1964, acarreta a qualificação da multa de ofício. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário. assinado digitalmente Carlos Henrique de Oliveira Presidente. assinado digitalmente Marcelo Milton da Silva Risso Relator. EDITADO EM: 31/07/2017 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim. Relatório 1 Tratase de Recursos Voluntários (fls. 726/766 e 776/816) interpostos pelos sujeitos passivos solidários Maurício Detoni e Marcelo Detoni contra decisão da DRJ Juiz de Fora (fls. 701/716) que julgou improcedentes suas Impugnações (fls. 610/646 e 656/692) e manteve o crédito tributário lançado pelo Auto de Infração (fls. 04/62), relativo à Fl. 2149DF CARF MF 4 movimentação financeira incompatível com a receita declarada da pessoa jurídica autuada nos anoscalendário 2005 e 2006, que em procedimento fiscalização apurou imposto no valor de R$ 1.575.189,77, com multa de ofício qualificada no percentual de 150% (R$ 2.362.784,34); e juros de mora de R$ 803.695,24, no valor total de R$ 4.741.669,35. 2 Conforme consta do Relatório Fiscal (fls. 47/62), no anocalendário de 2005, a empresa autuada movimentou em suas contas bancárias o valor de R$ 27.785.109,28 e, em 2006, o volume de R$ 11.159,438,80. 3 O lançamento é fundamentado na seguinte infração: Falta de recolhimento de IRRF sobre pagamentos sem causa ou de operação não comprovada (RIR/99, Art. 674, §1°), em razão da qual foram lavrados Termos de Sujeição Passiva Solidária em desfavor de Marcelo Benoti e Maurício Detoni (fls. 579 e 580), os quais apresentaram Impugnações com identidade de conteúdo e forma, cujos principais termos foram relatados no reporte do julgador de piso, que por sucinto e claro, descrevo adiante: “II DO DIREITO II.1 DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ART. 124 DO CTN [..] para que ocorra a responsabilização nos termos do inciso I do art. 124 do CTN, é necessária a existência de "interesse comum", que decorra de uma situação jurídica, ou seja, não é um interesse meramente de fato, e sim um interesse jurídico na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. [..] a desconsideração de atos ou negócios jurídicos (in casu, a saída dos Srs. Marcelo Detoni e Mauricio Detoni do quadro societário da empresa, devidamente registrada) pela Autoridade Fiscal não pode ser realizada de forma discricionária, como de fato ocorreu na presente fiscalização para justificar um absurdo "interesse comum". [..] mesmo após a edição da Lei Complementar n° 10412001, que incluiu o comando contido no parágrafo único no art. 116 do CTN, a desconsideração e atos ou negócios jurídicos não pode ser efetivada pelo Fisco, em razão da ausência de legislação ordinária que estabelece as regras para a "atividade " de desconsideração por parte da Autoridade Fiscal [...]. [..] caso restasse efetivamente comprovado que os Srs. Marcelo Detoni e Maurício Detoni são sócios de fato da empresa fiscalizada, a sua Fl. 2150DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.091 5 responsabilização deveria respeitar o art. 135 do CTN e não o art. 124 do mesmo código [...]. II. 2 DA DECADÊNCIA [..] as competências de janeiro a julho de 2005 foram atingidas pelo instituto da decadência, tal como previsto no artigo 15° §4° do Código Tributário Nacional. II.3 DA INCONSTITUCIONALIDADE DA QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO Os lançamentos [..] tiveram por base, exclusivamente, a movimentação bancária da empresa autuada, obtida por esta autoridade fiscal sem a intervenção do Poder Judiciário, o que denota flagrante afronta ao princípio da reserva legal. [..] se aceitasse por absurdo que fosse a possibilidade da autoridade fiscal ser investida dos poderes de jurisdição inerentes aos magistrados, através da Lei Complementar n° 105/2001, ainda assim seria inconstitucional a quebra do sigilo bancário da impugnaste, por exclusiva ordem do funcionário do Poder Executivo, mediante o simples envio para instituição financeira de documento denominado [..] RMF, quando o art. 4º, § 7°, do Decreto n° 3.724/2001 não exige que a RMF apresente entre os seus requisitos obrigatórios a fundamentação que trata o art. 93, LX, da CF188. II.4 DO INDEVIDO LANÇAMENTO DE IMPOSTO DE RENDA COM BASE EXCLUSIVAMENTE EM EXTRATOS BANCÁRIOS [..] ao enumerar os depósitos do tipo "DP BLQ" na apuração da base de cálculo dos tributos lançados (presumida ou não), a Autoridade Coatora agiu de forma totalmente equivocada, pois, realizou o lançamento sobre supostos depósitos que sequer possuem confirmação, ou seja, sobre créditos não confirmados. [...] como a Autoridade Fiscal não verificou se as transferências foram realizadas entre as contas da empresa autuada, não se pode considerar as mesmas como base de cálculo de tributação, pois, desse modo, estaria cobrando a tributação duas vezes sobre a mesma base de cálculo. 11.5 DA MULTA CONFISCATÓRIA [..] é ilegal e inconstitucional afixação de multa à alíquota de 150% [...].” Fl. 2151DF CARF MF 6 4 A decisão da DRJJuiz de Fora (fls. 374/387) julgou improcedente as Impugnações dos sujeitos passivos solidários, conforme assim ementada: “ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2005, 2006 INCONSTITUCIONALIDADE E ILEGALIDADE. A autoridade administrativa não possui competência material para apreciar inconstitucional idade ou ilegalidade de lei ou ato normativo do poder público, cabendo tal prerrogativa ao Poder Judiciário. DECADÊNCIA. Para fins de cômputo do prazo de decadência, não tendo havido qualquer pagamento e, caracterizado o dolo, aplicase, na espécie, a regra do inciso I do art. 173 do CTN, não importando se houve ou não declaração, contando se o prazo do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA Uma vez que os fatos alegados pelo fisco se amoldam ao tipo previsto no artigo 124 do CTN, há que se sustentar a caracterização de sujeição passiva solidária de terceiros, dados seus interesses comuns na situação que constituiu o fato gerador da obrigação principal. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE – IRRF Anocalendário: 2005, 2006 HIPÓTESE CLÁSSICA DO ANTECEDENTE DE NORMA DISPOSITIVA. SUJEIÇÃO AO SEU CONSEQUENTE. Está sujeito à incidência do imposto, exclusivamente na fonte, à alíquota de trinta e cinco por cento, todo pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado. Tal incidência aplicase ainda aos pagamentos efetuados ou aos recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, quando não for comprovada a operação ou a sua causa. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido” Fl. 2152DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.092 7 5 Cientificados da decisão de piso (fls. 724/725), irresignados, os sujeitos passivos solidários interpuseram Recursos Voluntários (fls. 726/766 e 776/816), nos seguintes termos: a. “(...) resta claro que os Srs. Marcelo Detoni e Mauricio Detoni não podem ser responsabilizados pelo Auto de Infração ora recorrido, uma vez que não restou comprovado de forma inequívoca o "interesse comum" na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal, ou seja, não houve comprovação efetiva de que os mesmos são sócios de fato da empresa atuada. (...) a Autoridade responsabilizoulhes indevidamente com base no art 124 do CTN (regra geral), quando deveria ter respeitado a regra especial existente para sócios, qual seja, o art 135 do CTN.” b. Já não se encontravam no quadro societário da empresa atuada no período fiscalizado, fato este desconsiderado pela autoridade fiscal que tentou enquadrálos como sócios e, desse modo, responsabilizálos pela obrigação constituída; c. Operouse a decadência, com base no artigo 150, § 4º, do CTN, para os fatos geradores ocorridos em data anterior a 5 (cinco) anos do lançamento; d. É ilegal a quebra de sigilo bancário sem ordem judicial prévia; e. É ilegal o lançamento de IRRF efetuado pela autoridade fiscal com base exclusivamente em informações bancárias; f. Inocorreu situação que justificasse a qualificação da multa de ofício aplicada, que tem natureza confiscatória. 6 Posteriormente, os Recorrentes apresentaram Memoriais (fls. 827/834), reiterando cada um dos temas acima elencados, nos seguintes termos: a. “Para que ocorra a responsabilização nos termos do inciso I do art. 124 do CTN, é necessária a existência de "interesse comum, que decorra de uma situação jurídica, ou seja, não é um interesse meramente de fato, e sim um interesse jurídico na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal.”; Fl. 2153DF CARF MF 8 b. Além do interesse comum, a caracterização da responsabilidade tributária disposta no artigo 124, I, do CTN depende da prova inequívoca de que os Recorrentes teriam interesse comum na situação que constituía o fato gerador, e não em meras suspeitas, conforme é o caso doa autos; c. “(...) a Autoridade Fiscal não apresentou uma prova inequívoca, ao contrário, apresentou uma alegação totalmente incompleta, duvidosa, sem nenhum rastro de certeza. E o pior, tal Autoridade possuía totalcondição de efetuar uma análise mais aprofundada, mais detalhada, só que a mesma optou por presumir prematuramente um fato que, na verdade, não corresponde com a realidade dos fatos (...)”; d. Reafirmaram não serem sócios da autuada no período fiscalizado, fato este desconsiderado pela autoridade fiscal que tentou enquadrálos como sócios e, desse modo, responsabilizálos pela obrigação constituída, conduta entendida como discricionária; e. Se os Recorrentes forem considerados como sócios da empresa autuada, para que sejam responsabilizados pela dívida tributária, sua conduta deve se adequar aos requisitos elencados no artigo 135 do CTN, pois essa é a regra para os sócios, não podendo ser enquadrados na regra geral do artigo 124, do CTN; f. Reiteraram os demais argumentos apresentados nas razões recursais. 7 Pautado em sessão de 11/05/2017 os recorrentes impetraram mandado de segurança perante a Justiça Federal tendo por objeto o bônus de produtividade da MP 765/16, em que foi concedida liminar para retirada de pauta do processo. Cassada a medida liminar através de Agravo em decisão do Presidente do TRF da 1ª Região, estes autos foram pautados para essa sessão de Julho de 2017. É o relatório do essencial. Voto Conselheiro Marcelo Milton da Silva Risso 8 Os recursos compulsados estão previstos no artigo 33 do Decreto nº 70.235/72 que regulamenta o Processo Administrativo Fiscal , são tempestivos, se encontram Fl. 2154DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.093 9 devidamente fundamentados e foram interpostos por quem detém legitimidade para recorrer e possui interesse em reformar a decisão da DRJ. Portanto, deles conheço, passando ao exame do mérito. Preliminares Decadência 9 Nas suas razões recursais, alegam os Recorrentes, embasados no artigo 150, § 4º, do CTN, ter ocorrido a decadência de parte do crédito tributário lançado, relacionada aos fatos geradores ocorridos no período de janeiro a julho de 2005, pois foram cientificados do lançamento através do auto de infração recebido por eles em 10/08/2010 e, assim, estaria decaído o direito do fisco exigir tributo antes dessa data. 10 De início, cumpre esclarecer sobre a existência de dois momentos legalmente distintos considerados como termo a quo para a contagem da decadência do direito de o fisco constituir o crédito tributário. 11 O primeiro momento, regido pelo artigo 150, § 4°, do CTN, dispõe que o dies a quo para contagem da decadência do direito de o fisco constituir o crédito tributário deve ser considerado a data em que foi recolhido de forma parcial e antecipada o tributo sujeito a lançamento por homologação, sem que se constate a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. 12 O outro momento, amparado pelo artigo 173, I, do CTN, dispõe que o dies a quo para contagem da decadência do direito de o fisco constituir o crédito tributário deve ser considerado o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de ofício poderia ter sido realizado, o que ocorreu no caso dos autos. 13 A jurisprudência definitiva do STJ sobre essa matéria, definida em julgamento sob o rito do artigo 543C do antigo CPC (“recursos repetitivos”), ratifica o entendimento acima esposado, decidindo que, na hipótese de ausência de pagamento de tributo sujeito a lançamento por homologação, o prazo decadencial para lançamento do crédito segue a regra do artigo 173, I, do CTN. Entretanto, no caso de pagamento antecipado do tributo, Fl. 2155DF CARF MF 10 mesmo que a menor, e não sendo constatado dolo ou fraude, a regra legal aplicável para decadência é aquela prescrita no artigo 150, § 4º, do CTN. Vejamos: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontrase regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 163/210). 3. O dies a quo do prazo quinquenal da aludida regra decadencial regese pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à Fl. 2156DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.094 11 ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs.. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 183/199). 5. In casu, consoante assente na origem: (i) cuidase de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deuse em 26.03.2001. 6. Destarte, revelamse caducos os créditos tributários executados, tendo em vista o decurso do prazo decadencial quinquenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo. 7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543 C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.” (grifos nossos) 14 No mesmo sentido, o E. STJ vem confirmando seu entendimento, conforme julgados abaixo: “TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. PAGAMENTO A MENOR. TERMO A QUO. FATO GERADOR. INCIDÊNCIA DO ART. 150, § 4º, DO CTN. NECESSIDADE DE ANÁLISE DO CONJUNTO FÁTICO PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. (...) 2. O STJ possui jurisprudência no sentido de que, na hipótese de ausência de pagamento de tributo sujeito a lançamento por homologação, o prazo Fl. 2157DF CARF MF 12 decadencial para lançamento do crédito segue a regra do art. 173, I, do CTN. Entretanto, no caso de pagamento antecipado, mesmo que a menor, e não havendo dolo ou fraude, a regra legal aplicável para decadência é a do art. 150, § 4º, do CTN, o que ocorreu no caso dos autos segundo o acórdão recorrido. (...) (REsp 1.650.765/PE. Segunda Turma. Min. Rel. Herman Benjamin. Julgamento: 28/03/2017. Publicação: DJe 18/04/2017)” (grifei) “TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. APROVEITAMENTO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO E PAGAMENTO A MENOR. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE FRAUDE, DOLO OU SIMULAÇÃO. DECADÊNCIA. TERMO A QUO. FATO GERADOR. INCIDÊNCIA DO ART. 150, § 4º, DO CTN. NECESSIDADE DE ANÁLISE DO CONJUNTO FÁTICOPROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. (...) 2. Nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação não declarados e não pagos, o prazo decadencial contase nos moldes determinados pelo art. 173, I, do CTN, impossível, assim, a sua acumulação com o prazo determinado no art. 150, § 4º, do CTN. Contudo, uma vez efetuado o pagamento parcial antecipado pelo contribuinte, inclusive quando da realização aproveitamento de créditos, a decadência do direito de constituir o crédito tributário é regida pelo art. 150, § 4º, do CTN, salvo os casos de dolo, fraude ou simulação. (...) (AgRg no AREsp 706556. Segunda Turma. Min. Rel. Diva Malerbi (Des. Convocada TRF3). Julgamento: 19/04/2016. Publicação: DJe 27/04/2016)” (grifei) 15 Assim, segundo o entendimento definitivo do STJ sobre a matéria, alicerçado na legislação competente, para que o dies a quo da contagem do prazo decadencial Fl. 2158DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.095 13 que tem o fisco para constituir o crédito tributário seja aquele disposto no artigo 150, § 4º, do CTN, devem ser observadas as seguintes condições: i) pagamento antecipado; ii) pagamento parcial; iii) tributo sujeito a lançamento por homologação; e iv) inocorrência de dolo, fraude ou simulação. 16 Posto isso, aplico o entendimento acima esposado ao caso. 17 Compulsando os autos, entendo não merecerem prosperar as alegações dos Recorrentes, pois verifico não ter sido juntado qualquer documento ou comprovante de arrecadação de tributo. Outrossim, reporta o trabalho fiscal haver dolo dos Recorrentes e fraude na gestão da empresa autuada, decorrente da sua atuação indireta, posto terem sido considerados “sócios de fato” da empresa, situação esta encoberta pela figura de terceiros, conhecidos no jargão popular como "testadeferro" ou "laranjas", conforme conclusão do Termo de Verificação Fiscal, “Item 5.3 Conclusão” (fls. 58). Ainda, o “Item 6 “ do aludido termo reportou a ocorrência de Crime Contra a Ordem Tributada por parte dos Recorrentes (fls. 59). 18 Portanto, em razão desses motivos, entendo que, neste caso, deve ser aplicada a regra de decadência disposta no artigo 173, I, do CTN, que determina como dies a quo para contagem do prazo decadencial de o fisco cobrar o crédito tributário, o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de ofício poderia ter sido realizado. 19 A partir disso, constato que, para os fatos geradores do IRRF ocorridos em 2005 e 2006, o lançamento poderia ter sido realizado em 2006 e 2007, respectivamente, tendo como marcos iniciais do prazo decadencial, 01/01/2006 e 01/01/2007, e como prazos finais, 31/12/2010 e 31/12/2011. 20 Assim, como a notificação se deu em 10/08/2010 (fls. 607/608), período em que ainda não havia expirado o prazo decadencial, entendo que não ocorreu a decadência. Portanto, neste ponto, nego provimento aos recursos. Quebra de sigilo bancário sem prévia autorização judicial Fl. 2159DF CARF MF 14 21 Não merece prosperar a alegação dos Recorrentes quanto à ilegalidade do lançamento fundamentado em extratos bancários, relação de cheques (fls. 63/70 e 931/1.141) e cópias destes obtidos pela fiscalização junto às entidades bancárias, haja visto a permissão a ela conferida pela decisão definitiva de mérito transitada em julgado proferida pelo E. STF no julgamento do RE 601.314/SP, decidido sob o rito do artigo 1.036 do Novo Código de Processo Civil (CPC), publicada no DJE em 16/09/2016, com certidão de trânsito em julgado datada de 11/10/2016, cuja ementa e Acórdão transcrevo abaixo, em obediência ao artigo 62, § 2º do RICARF (Port. MF nº 343/15): “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. DIREITO AO SIGILO BANCÁRIO. DEVER DE PAGAR IMPOSTOS. REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÃO DA RECEITA FEDERAL ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. ART. 6º DA LEI COMPLEMENTAR 105/01. MECANISMOS FISCALIZATÓRIOS. APURAÇÃO DE CRÉDITOS RELATIVOS A TRIBUTOS DISTINTOS DA CPMF. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA NORMA TRIBUTÁRIA. LEI 10.174/01. 1. O litígio constitucional posto se traduz em um confronto entre o direito ao sigilo bancário e o dever de pagar tributos, ambos referidos a um mesmo cidadão e de caráter constituinte no que se refere à comunidade política, à luz da finalidade precípua da tributação de realizar a igualdade em seu duplo compromisso, a autonomia individual e o autogoverno coletivo. 2. Do ponto de vista da autonomia individual, o sigilo bancário é uma das expressões do direito de personalidade que se traduz em ter suas atividades e informações bancárias livres de ingerências ou ofensas, qualificadas como arbitrárias ou ilegais, de quem quer que seja, inclusive do Estado ou da própria instituição financeira. 3. Entendese que a igualdade é satisfeita no plano do autogoverno coletivo por meio do pagamento de tributos, na medida da capacidade contributiva do contribuinte, por sua vez vinculado a um Estado soberano comprometido com a satisfação das necessidades coletivas de seu Povo. 4. Verificase que o Poder Legislativo não desbordou dos parâmetros constitucionais, ao exercer sua relativa liberdade de conformação da ordem jurídica, na medida em que estabeleceu requisitos objetivos para a Fl. 2160DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.096 15 requisição de informação pela Administração Tributária às instituições financeiras, assim como manteve o sigilo dos dados a respeito das transações financeiras do contribuinte, observandose um translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal. 5. A alteração na ordem jurídica promovida pela Lei 10.174/01 não atrai a aplicação do princípio da irretroatividade das leis tributárias, uma vez que aquela se encerra na atribuição de competência administrativa à Secretaria da Receita Federal, o que evidencia o caráter instrumental da norma em questão. Aplicase, portanto, o artigo 144, §1º, do Código Tributário Nacional. 6. Fixação de tese em relação ao item “a” do Tema 225 da sistemática da repercussão geral: “O art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal”. 7. Fixação de tese em relação ao item “b” do Tema 225 da sistemática da repercussão geral: “A Lei 10.174/01 não atrai a aplicação do princípio da irretroatividade das leis tributárias, tendo em vista o caráter instrumental da norma, nos termos do artigo 144, §1º, do CTN”. 8. Recurso extraordinário a que se nega provimento.” (grifei) “ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por maioria e nos termos do voto do Relator, apreciando o tema 225 da repercussão geral, em conhecer do recurso e a este negar provimento, vencidos os Ministros Marco Aurélio e Celso de Mello. Por maioria, o Tribunal fixou, quanto ao item “a” do tema em questão, a seguinte tese: “O art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bem como Fl. 2161DF CARF MF 16 estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal”; e, quanto ao item “b”, a tese: “A Lei 10.174/01 não atrai a aplicação do princípio da irretroatividade das leis tributárias, tendo em vista o caráter instrumental da norma, nos termos do artigo 144, § 1º, do CTN”, vencidos os Ministros Marco Aurélio e Celso de Mello. Brasília, 24 de fevereiro de 2016. Ministro EDSON FACHIN Relator” (grifei) 22 Como visto, pela leitura da decisão terminativa de mérito transitada em julgado proferida pelo E. STF acima transcrita, se percebe que o órgão pautouse no dever do cidadão em pagar tributo; dever de cunho constituinte no que se refere à comunidade política, à luz da finalidade inerente à tributação, a de realizar a igualdade em seu duplo compromisso, ou seja, respeitar a autonomia individual, mas preservando o autogoverno coletivo. 23 Neste contexto, devo aplicar ao caso em análise o quanto restou decidido pelo STF no julgamento acima colacionado, pelo dever de cumprimento ao artigo 62, §1º, II, “b”, do Regimento Interno deste C. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) RICARF (Port. MF nº 343/15) – abaixo transcrito: “Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. § 1º O disposto no caput não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: (...) II que fundamente crédito tributário objeto de: (...) b) Decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária; (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) (...) Fl. 2162DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.097 17 § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016)” (grifei) 24 Pelo exposto, neste ponto, nego provimento aos recursos. Mérito IRRF Pagamentos Sem Causa e/ou a Beneficiários Não Identificados 25 O lançamento contestado é fundamentado na exigência de IRRF incidente sobre Pagamentos Sem Causa e/ou a Beneficiários Não Identificados, nos termos do artigo 61, da Lei nº 8.981/95 e artigo 674 do RIR/99 (Dec. nº 3.000/99), a saber: “Lei nº 8.981/95 Art. 61. Fica sujeito à incidência do Imposto de Renda exclusivamente na fonte, à alíquota de trinta e cinco por cento, todo pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado, ressalvado o disposto em normas especiais. § 1º A incidência prevista no caput aplicase, também, aos pagamentos efetuados ou aos recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, quando não for comprovada a operação ou a sua causa, bem como à hipótese de que trata o § 2º, do art. 74 da Lei nº 8.383, de 1991. § 2º Considerase vencido o Imposto de Renda na fonte no dia do pagamento da referida importância. § 3º O rendimento de que trata este artigo será considerado líquido, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto sobre o qual recairá o imposto.” “RIR/99 (Decreto nº 3.000/99) Pagamento a Beneficiário não Identificado Fl. 2163DF CARF MF 18 Art. 674. Está sujeito à incidência do imposto, exclusivamente na fonte, à alíquota de trinta e cinco por cento, todo pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado, ressalvado o disposto em normas especiais (Lei nº 8.981, de 1995, art. 61). § 1º A incidência prevista neste artigo aplicase, também, aos pagamentos efetuados ou aos recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, quando não for comprovada a operação ou a sua causa (Lei nº 8.981, de 1995, art. 61, § 1º). § 2º Considerase vencido o imposto no dia do pagamento da referida importância (Lei nº 8.981, de 1995, art. 61, § 2º). § 3º O rendimento será considerado líquido, cabendo o reajustamento do respectivo rendimento bruto sobre o qual recairá o imposto (Lei nº 8.981, de 1995, art. 61, § 3º).” 26 Da leitura dos dispositivos legais acima, se percebe que são sujeitos à incidência do IRRF, à alíquota de 35%, os pagamentos efetuados ou os recursos entregues pela pessoa jurídica a terceiros quando não comprovada a operação ou a causa a que se referem. 27 No caso, pela leitura das razões de mérito dos Recorrentes, mais especificamente do item “II.4 Do Indevido Lançamento de Imposto de Renda com Base Exclusivamente em Extratos Bancários” (fls. 760/761), estes aduzem que a autoridade fiscal agiu de forma coercitiva e equivocada ao efetuar o lançamento com base em supostos depósitos que não possuem confirmação, vale dizer, sobre créditos não confirmados, que denotam inexatidão quantitativa, não podendo, dessa maneira, serem considerados como base para tributação. 28 Em suas palavras: “(...) ao analisar a relação de "DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA" documento integrante do auto de infração recorrido , podese verificar que a maioria dos depósitos considerados pela Autoridade Fiscal contém em seu histórico/classificação a seguinte descrição: "DP BLQ". Tal sigla significa "DEPÓSITO BLOQUEADO", e é utilizado pelas instituições financeiras para os depósitos realizados em caixas automáticos ou efetuados com cheques, ou seja, para valores que precisam de confirmação posterior.” 29 Alegou ainda que: “(...) quando um depósito é realizado em caixas automáticos ou com cheques, apesar de constar imediatamente na conta da pessoa beneficiária o referido depósito de fornia positiva (creditamento), a operação é classificada Fl. 2164DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.098 19 como "DP BLQ" DEPÓSITO BLOQUEADO e somente se transformará em efetivo crédito após a confirmação do valor depositado (confirmação dos valores constantes no envelope) ou após a compensação positiva do cheque.” 30 Percebese, pelo teor das alegações, serem estas genéricas, desprovidas de cunho técnico capaz de ilidir as imputações feitas pelo trabalho fiscal, que culminaram na lavra do auto de infração, cujo relatório fiscal assim concluiu: “A Planilha Empresas ligadas a Mauricio e Marcelo Detoni foi confeccionada a partir de dados constantes nos sistemas da RFB. Nela estão relacionadas as empresas em que Mauricio e Marcelo Detoni participam ou participaram do quadro societário. Nesta planilha pode ser observada a grande rotatividade na composição do quadro societário das empresas, evidenciando, s.m.j, dentre outros motivos, uma forma de se beneficiar do Regime de Tributação do Simples. Creio que ficou claramente comprovado que os sócios da Detoni e Zambeli, relacionados nos itens "a" a "d" acima, não tinham capacidade financeira para aquisição de quotas da empresa e que mantinham estreita relação de subordinação profissional com os Detoni. Nos trabalhos desenvolvidos pela Delegacia da Receita Federal em Nova Iguaçu, conforme relatado no item 2 deste relatório, agregado aos fatos descritos neste tópico, ficou claramente evidenciado que, s.m.j., Mauricio Detoni e Marcelo Detoni são os sócios de fato da empresa Detoni e Zambelli Distribuidora de Carnes Ltda, situação esta encoberta pela figura de terceiros, conhecidos no jargão popular como "testadeferro" ou "laranias". Portanto, tendo restado caracterizada a sujeição passiva solidária nos termos do art. 124 da Lei n° 5.172, de 1966 (Código Tributário Nacional), na autuação efetuada na empresa Detoni e Zambeli Distribuidora de Carnes Ltda, constarão MAURÍCIO DETONI (CPF 014.217.50724) e MARCELO DETONI (011.191.80732) como sujeitos passivos solidários. 6) CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTARIA Fl. 2165DF CARF MF 20 O contribuinte apresentou para a RFB declaração de Inatividade para o anocalendário de 2005 e, no entanto, declarou para a Secretaria de Fazenda do Estado de Minas Gerais, saídas no valor de R$13.908.981,39 (fls.460 a 486), registrando ainda uma movimentação financeira de R$27.785.109,28. O contribuinte está omisso no anocalendário de 2006 e, no entanto, declarou para a Secretaria de Fazenda do Estado de Minas Gerais, saídas no valor de R$385.922,40 (fls.483 a 484), registrando ainda uma movimentação financeira de R$11.159.438,80. Em consulta aos sistemas da RFB, verificamos que a empresa BIGPLASTIC EMBALAGENS PLÁSTICAS LTDA, CNPJ 05.812.876/000156, declarou em no exercício de 2007 (anocalendário de 2006), saídas de produtos de sua fabricação para o destinatário DETONI E ZAMBELI no valor de R$39.548,15, evidenciando que a empresa adquiriu embalagens e, portanto, estava em atividade neste ano. A fiscalizada alterou seu domicilio fiscal para Nova Iguaçu no ano calendário de 2006, conforme descrito no item 2 deste relatório. As provas coletadas durante a ação fiscal iniciada pela Delegacia Federal do Brasil em Nova Iguaçu, levaram à convicção de que a DETONI E ZAMBELLI, apenas efetuou uma alteração de endereço no papel e que nunca esteve fisicamente naquela cidade. Omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades tributárias configuram Crime Contra a Ordem Tributária, definido pelo artigo 1° da Lei n° 8.137/1990.” Fl. 2166DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.099 21 31 Outrossim, compulsando os autos, se percebe que os Recorrentes não trouxeram aos autos documentação hábil que desnaturasse o quanto apurado no trabalho fiscal. De fato, vêse que a defesa foi embasada apenas em alegações, desacompanhadas de provas que pudessem confrontar a apuração fiscal ou comprovar o real beneficiário ou a verdadeira causa dos pagamentos consubstanciados nos cheques de sua emissão (fls. 107/479) e, por conseguinte, não logrou êxito em rebater as circunstâncias apontadas pela fiscalização que resultaram no lançamento. 32 Assim, entendo que os valores considerados pela fiscalização para apuração do crédito tributário condizem com o quanto disposto na legislação acima informada, razão pela qual voto por negar provimento aos recursos. Solidariedade Passiva Tributária (CTN, Art. 124, I) 33 Os Recorrentes alegam, nas suas razões de recurso, que para que ocorra a responsabilização nos termos do inciso I do artigo 124 do CTN, é necessária a existência de "interesse comum, que decorra de uma situação jurídica”, ou seja, não é um interesse meramente de fato, e sim um interesse jurídico na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. 34 Aduzem que, além do interesse comum, a caracterização da responsabilidade tributária do mencionado artigo depende da prova inequívoca de que os eles teriam interesse comum na situação que constituía o fato gerador, e não em meras suspeitas, conforme entendem ser o caso das apurações feitas no trabalho fiscal. 35 Afirmam que a Autoridade Fiscal não apresentou uma prova inequívoca, mas sim mera alegação totalmente incompleta, duvidosa, sem nenhum rastro de certeza, e que esta possuía totalcondição de efetuar uma análise mais aprofundada e detalhada dos fatos que imputa a eles, só que a mesma optou por presumir prematuramente um fato que, na verdade, não correspondeu com a realidade, entendendo ser esta uma conduta discricionária. 36 Declaram ainda que, se forem considerados sócios da empresa autuada, para que sejam responsabilizados pela dívida tributária, sua conduta deve se adequar aos Fl. 2167DF CARF MF 22 requisitos elencados no artigo 135 do CTN, pois essa é a regra para os sócios, não podendo ser enquadrados na regra geral do artigo 124 do CTN. 37 Inicialmente, cumpre frisar que, quanto à “responsabilidade de terceiro”, há duas normas jurídicas específicas, a saber: i) a “responsabilidade solidária”, prevista no artigo 124 do CTN, relativa ao fato gerador, com condutas e agentes próprios; e ii) a “responsabilidade de terceiros”, prevista no artigo 135 do CTN, que respondem pelo crédito tributário não por terem praticado o fato gerador da obrigação tributária, mas sim por condutas próprias que importem em violação de direito. 38 Na responsabilidade solidária, a defesa e o recurso abrangem tanto as questões relacionadas ao mérito da autuação como os fatos que caracterizam a solidariedade. 39 Nos casos de responsabilidade de terceiro, a defesa deste se relaciona às infrações que lhes são imputadas (ação ou omissão contrária à lei). 40 Feitos estes esclarecimentos, passo à análise dos fatos. 41 Encontrase nos autos rico conjunto probatório, a ver o Relatório Fiscal e os documentos que o alicerçaram, os quais entendo terem comprovado o nexo causal entre as condutas e o tipo legal previsto no artigo 124 do CTN, de sorte que restaram bastantes caracterizadas as sujeições passivas solidárias atermadas, conforme análise adiante. 42 De plano, mister considerar as constatações fiscais de movimentação financeira incompatível com a receita declarada pela empresa autuada. 43 Conforme apurado no “Item 6” do relatório fiscal (fls. 59/60), em 2005 a empresa autuada apresentou Declaração de Inatividade para a RFB, porém, declarou para a Secretaria de Fazenda do Estado de Minas Gerais “saídas” no valor de R$ 13.908.981,39, bem como registrou uma movimentação financeira da ordem de R$ 27.785.109,28. 44 Já em 2006, a empresa continuou omissa, mas informou à SEFA/MG “saídas” no montante de R$ 385.922,40, com movimentação financeira registrada de R$ 11.159.438,80. 45 O mesmo item do relatório apurou que, em consulta aos sistemas da RFB, foi constatado que a empresa BIGPLASTIC EMBALAGENS PLÁSTICAS LTDA, CNPJ 05.812.876/000156, declarou em no exercício de 2007 (anocalendário de 2006), saídas de produtos de sua fabricação para o destinatário DETONI E ZAMBELI, no valor de R$ Fl. 2168DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.100 23 39.548,15, evidenciando, assim, que a empresa adquiriu embalagens, levando à conclusão, portanto, que estava em atividade neste ano. 46 Vencido este passo, transcrevo a seguir as situações fáticas verificadas por ocasião da ação fiscal empreendida, circunstanciadas tanto naquele relatório, quanto na Representação Fiscal tratada às fls. 48/51 (PAF nº 15563.000241/200905), comprobatórias do inconteste conluio estabelecido entre a empresa autuada e os sujeitos passivos solidários, visando, com verdadeiro ânimo de propósito, a fraudar o fisco federal, e que foram eleitas pelo julgador de piso para a formação da sua convicção, as quais, per relacionem, faço minhas razões de decidir. Transcrevo: i.“A contribuinte alterou o endereço de sua sede (situada à Av. Francisco Valadares, n° 1.300, bairro Vila Ideal, Juiz de ForaMG), para a Rua André Ricardo, n° 27A, bairro Barão do Amapá, Nova IguaçuRJ, conforme sua 12' alteração contratual (Anexo); ii.Frustradas as várias tentativas de localização da contribuinte naquele domicílio tributário eleito por ela (Nova Iguaçu), concluiuse, com razão e com base na análise no contrato social e nas 6' a loa alterações contratuais obtidas junto à JUCERJA (processo apenso), que a efetiva localização da contribuinte não era nessa cidade até a data da 12" alteração contratual, pela qual os sujeitos passivos solidários foram sócios da contribuinte até 06/08/2003 (data do registro da 9' alteração contratual na JUCEMG Anexo); iii.Dados os fortes indícios da efetiva localização do verdadeiro domicílio fiscal da contribuinte, foi ele alterado de ofício para Juiz de Fora, em razão de que: iv. fotos impressas tiradas pelo fisco em razão de seu novo comparecimento à Rua André Ricardo n° 27, bairro Barão do Amapá, Nova IguaçuRJ (Anexo), dão conta da inexistência da contribuinte naquele local, além do que o domicílio naquela cidade é residencial; v. a proprietária do imóvel Andréa Cristina Valger Trindade – declarou ao fisco que esse esteve em seu poder para uso residencial desde 26/10/1988, sendo para uso próprio até 01/2009; Fl. 2169DF CARF MF 24 vi. à Av. Francisco Valadares, n° 1.300, bairro Vila Ideal, Juiz de Fora, há outras duas sociedades empresárias, cujos responsáveis e/ou sócios são os sujeitos passivos solidários, antigos sócios da contribuinte; vii. desde 29/09/2000, a sede da FRIPAI DISTRIBUIDORA DE CARNES LTDA., que possui o mesmo objeto e apresentar sócios em comum com os da contribuinte, também é à Av. Francisco Valadares n° 1.300, bairro Vila Ideal, Juiz de Fora, dando forte ensejo a que seja utilizada a mesma instalação, clientes e fornecedores da contribuinte, conforme se verá na declinação das interpostas pessoas adiante. viii.O Ato Declaratório Executivo n° 36/2009 de comunicação de alteração de ofício de domicílio fiscal (Anexo) e sobre o qual não foi dispensada linha passiva sequer sobre possível revogação de ante solicitação administrativa nos termos da IN/RFB 748/2007, ou medida de segurança judicial, teve as seguintes motivações: ix.I [...] o contribuinte acima mencionado procedeu à alteração o cSal perante o CNPJ com mudança de domicílio fiscal do Município de Juiz de Fora para este Município de Nova Iguaçu. x.II Em diligência efetuada junto ao endereço eleito pelo contribuinte, constatouse que este efetivamente jamais nele operou, caracterizando assim ocorrência de vício, conforme ficou demonstrado no bojo do processo administrativo n° 15563.0002411200905, motivo esse suficiente para ser declarada a nulidade do ato praticado perante o CNPJ, referente à alteração de seu domicilio [...J. xi.Da análise da documentação do Bradesco e do HSBC, recebida em razão das emissões das RMF, constatouse o que segue: xii. o Bradesco informou que a referida conta não foi movimentada por procuração e que a agência onde a conta corrente foi movimentada em 2005 era em Juiz de Fora; xiii. o HSBC informou (Anexo) que o Sr. Marco Antonio Lopes Vieira (administrador da contribuinte no período de 24/07/2003 a 20/01/2004 9 a alteração contratual) tinha poderes de procuração, cuja movimentação bancária também era em Juiz de Fora; xiv.Nas fichas cadastrais do HSBC (Anexo) consta, dentre outros, que os sujeitos passivos solidários figuram como diretores da contribuinte, detendo, cada um deles, 50% de participação, além do que são avalistas da contribuinte; Fl. 2170DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.101 25 xv.Lavrado Termo de Intimação Fiscal para comprovação dos valores creditados nas contas correntes, encaminhado ao sócio Antonio Ferreira da Silva, houve retorno da correspondência, por ser desconhecido o local, motivo pelo qual foi feita por edital; xvi.Os sujeitos passivos solidários foram intimados, no endereço de que trata o idêntico domicílio tributário por eles eleito Av. Getúlio de Moura, 1701, apt°. 601, Centro, RJ — fls. 384 e 419, conforme Anexo) a esclarecerem suas ligações com a contribuinte, sem que tal objeto tenha sido atendido, ainda que determinada pessoa as tenha recebido em 30/10/2008; xvii.Novas intimações foram feitas àqueles sujeitos passivos, encaminhadas para os endereços das pessoas jurídicas em que ambos eram responsáveis (Anexo), os quais as responderam (Anexo), por meio de procurações conferidas a Nunes Amaral Advogados, tendo sido informado que eles não participavam do quadro societário da contribuinte desde 24/07/2003, consoante a 9' alteração contratual; xviii.Enquanto Marcelo Detoni e Maurício Detoni declaram seus domicílios tributários à Rua Cautiero Franco, n° 205 e Rua Júlio Geraldo Loures, n° 01, bairro Granville, em Juiz de Fora, respectivamente (a ver os endereços informados naquelas procurações) seus cadastros na base CPF são idênticos, à Av. Getúlio de Moura, 1701, apt°. 601, Centro, NilópolisRJ. Somese a isso que referidas procurações tiveram firmas reconhecidas pelo 4° Ofício de Notas de Juiz de Fora; xix.Marcelo Detoni alterou seu domicílio tributário eleito à Av. Francisco Valadares, n° 1.300, em Juiz de Fora, para Nilópolis em 18/07/2005 (Anexo); xx.Nas DIRPF (Anexo) dos sócios Jaime José D'Ávila e Antonio Ferreira da Silva, que ingressaram no quadro societário da contribuinte em 16/08/2004 (11' alteração contratual — Anexo sendo Jaime o administrador), não há declaração das cotas da contribuinte, enquanto os valores declarados denotam falta de capacidade financeira para a integralização das cotas subscritas. xxi.Jaime José D'Avila, administrador da contribuinte, possui vínculo empregatício com a sociedade empresária FRIPAI (Cadastro Nacional de Informações Sociais CNIS Anexo sem informações de transferência/rescisão de contrato de trabalho), na qual os sujeitos passivos solidários integram seu quadro societário, cuja sede consta como Fl. 2171DF CARF MF 26 sendo no mesmo endereço da contribuinte em Juiz de Fora (Av. Francisco Valadares, n° 1.300). xxii.Em sua DIRPF/2007 simplificada (Anexo) Jaime declara rendimentos recebidos da FRIPAI, no valor de R$ 5.368,00, enquanto o extrato de fl. 262 espelha que aquele fonte pagadora informa que tais rendimentos são de trabalho assalariado (código de receita 0561), a ratificar o vínculo empregatício mesmo no período objeto do lançamento; xxiii.Antonio Ferreira da Silva integrou o quadro societário da FRIPAI no período de 24/09/1999 a 18/04/2002 (Anexo). Conforme o extrato do CNIS (Anexo) ele foi admitido na FRIPAI em 18/09/2001, sem informações de transferência/rescisão de contrato de trabalho, a evidenciar que ele mantinha vínculo empregatício com a FRIPAI quando do ingresso no quadro societário da contribuinte. xxiv.Aquele Antonio, além de ter integrado o quadro societário da FRIPAI no período de 24/09/1999 a 11/10/2001, também foi integrante da DISTRIBOI CARNES E DERIVADOS LTDA no período de 06/03/2003 a 06/08/2003, em franca evidência da prática da utilização de empregados das sociedades empresárias das quais os sujeitos passivos integravam seus quadros. xxv.Mudando o que deve ser mudado, aplicase a Antonio Ferreira da Silva as mesmas considerações feitas em relação ao Jaime, relativamente à DIRPF/2007 e aos valores declarados de rendimentos recebidos com vínculo empregatício junto à FRIPAI; xxvi.Marco Antonio Lopes Vieira, que ingressou no quadro societário da contribuinte como administrador em 24/07/2003 (9 a alteração contratual), cedeu e transferiu a totalidade de suas cotas para Alcemir Rodrigues Pedro em 20/01/2004. xxvii.Este, segundo a loa alteração contratual (Anexo) passou a exercer a administração da contribuinte até 16/08/2004 (lla alteração contratual) quando cedeu e transferiu suas cotas para Jaime José D'Ávila. xxviii.Conforme o extrato ao CNIS, Marco Antonio Lopes Vieira foi admitido diversas vezes na FRIPAI; a primeira, datada em 18/09/2000, com vínculo empregatício, foi rescindida em 04/07/2004. Portanto, referido senhor mantinha vínculo empregatício com a FRIPAI no mesmo período de sua integração no quadro societário da contribuinte, com plenos poderes de administração. Fl. 2172DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.102 27 xxix.E a recorrente sistemática conduta dolosa, ao propósito de fraudar o fisco, evidencia se mais uma vez pelo fato de que o domicílio tributário eleito por Marco Antonio Lopes Pereira é idêntico ao da FRIPAI (Av. Francisco Valadares, n° 1.300, Vila Ideal, Juiz de Fora), a exemplo da utilização de empregados daquelas sociedades empresárias das quais os sujeitos passivos solidários figuraram como sócios. xxx.À semelhança das demais pessoas declinadas nesse voto, na DIRPF/2004 simplificada daquele senhor também não foram declaradas as cotas que teriam sido adquiridas da contribuinte, além de não ter sido demonstrada ali capacidade financeira para adquiri las.” 47 Como se pôde constatar da leitura dos procedimentos que compuseram o trabalho fiscal, resta clara a caracterização da responsabilidade solidária dos Recorrentes. 48 Outrossim, entendo necessária uma análise complementar quanto aos fatos ocorridos. Vejamos. 49 Pela análise do extrato de Confronto de Sociedade emitido pela JUCEMG (fls. 510/511), bem como das versões do contrato social da empresa, acostados aos autos, se verifica que a sociedade foi constituída em 01/04/1990 (fls. 512/513), tendo como sócios Almir Ribeiro Viana; Antônio Carlos Viana Zambelli e Márcio Gomes Viana. Ao longo do tempo, os Recorrentes integraram seu quadro societário, vindo a se desligarem em 2009, restando atualmente os sócios Jaime José Dávila e Antônio Ferreira da Silva (fls. 514/516), que pela investigação feita no relatório fiscal (fls. 47/62), baseada nas suas declarações de ajuste anuais e endereços residenciais (“residências humildes”), se constata não possuírem patrimônio declarado compatível com aquele que seria esperado de sócios de empresa que movimentou em suas contas bancárias vultuosas quantias no período fiscalizado, ou seja, de R$ 27.785.109,28 em 2005 e R$ 11.159,438,80 em 2006. 49 Tal fato é corroborado pela apuração levada a termo às fls. 53, no relatório, que reporta que o sócio Jaime José Dávila declarou como ocupação laboral a atividade de “abatedor em matadouro”, tendo declarado ao fisco ter recebido rendimentos de R$ 15.020,00 e R$ 5.368,00 nos anoscalendário fiscalizados (2005 e 2006). Já o sócio Antônio Ferreira da Silva declarou como profissão a mesma informada pelo Sr. Jaime, tendo obtido rendimentos de R$ 12.050,00 e R$ 5.250,00 no período acima mencionado. Fl. 2173DF CARF MF 28 50 Outrossim, entendo que as constantes alterações de endereço da empresa caracterizam intuito de dificultar eventual ação fiscal, caracterizando esquiva a eventual indesejável atendimento a procedimentos de natureza fiscalizadora. 51 Ademais, se constata pela análise do Extrato de Informações Financeiras acostado às fls. 918/930 que os Recorrentes são avalistas das contas bancárias da empresa autuada (fls. 928), que diante da falta de aval dos mesmos, não seria movimentada. Neste ponto, é de se notar, inclusive, para as “Notas” registradas no referido extrato, às fls. 919, que informam o quanto segue: “CIDADE DE JUIZ DE FORA/MG E REGIAO DA ZONA DA MATA, POSSUI MONOPÓLIO; NÃO TENDO CONCORRENTE. ATUALMENTE, O CLIENTE DETÉM 100% DO MERCADO CONSUMIDOR NO ATACADO E VAREJO, SENDO SEUS PRINCIPAIS CLIENTES AÇOUGUES, SUPERMERCADOS, MERCADOS E RESTAURANTES, SUAS FONTES DE RECEITAS SÃO: VENDA E REVENDA DE CARNE BOVINA COM OSSO, VENDA DE SUB PRODUTOS COMO MIUDOS, CARNE SEM OSSO, SEBO CARNE PARA FINS INDUSTRIAIS E VENDA E REVENDA DE COURO BOVINO, ALEM DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS NO ABATE DE SUÍNOS, SENDO O UNICO MATADOURO DA CIDADE E REGIÃO, MANTÉM A MAIOR PARTE DE SUA MOV. CONOSCO. OS SEUS NEGÓCIOS SAO TRANSACIONADOS ATRAVÉS DO HSBC. O CLIENTE PRODUZ AINDA UMA QUALIDADE DE CARNE DENOMINADA CHARQUE, DETALHES NO RELATORIO DE VISITAS.” “CLIENTE POSSUI ÓTIMA CAPACIDADE DE PAGAMENTO, SEUS DEPOSITOS SAO REGULARES E PULVERIZADOS, ALÉM DE TER OTIMA CONDICAO ECONÔMICOFINANCEIRA E CADASTRAL (EMPRESA E SÓCIOS). POSSUI OTIMA EXPERIÊNCIA CREDITÍCIA EM TODAS AS OPERACOES DE CRÉDITO QUE EFETUAMOS (COMO DESCONTO DE CHEQUES. POSSUÍMOS INTERESSE COMERCIAL NA EMPRESA, POIS CONSIDERANDO SEUS SÓCIOS, FAMILIARES, FORNECEDORES E CLIENTES. TEMOS DIVERSAS C/CS CONTAS PESSOAS FÍSICAS E C/C DE PJ TODAS INDICADAS PELOS SÓCIOS DA Fl. 2174DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.103 29 EMPRESA, COM LIMITES DE CRÉDITO E ALGUMAS COM INVESTIMENTOS.” 52 Pela leitura das notas relativas aos Recorrentes, constantes do extrato de informações bancário acima aludido, se constata que estes, sobretudo, controlam e exercem, na região onde atuam, o monopólio da atividade econômica que exercem e, por isso, entendo restar demonstrado o “interesse” dos Recorrentes. 53 Outrossim a informação prestada pelos próprios recorrentes às fls. 1.233 (Marcelo Detoni) 1.277 (Maurício Detoni) quando perguntado pela fiscalização acerca de esclarecimentos quanto a ser avalista do sujeito passivo assim respondeu: 54 Os recorrentes não negam a condição de avalistas de tais contas, logo, há prova suficiente de que há interesse comum em relação ao fato gerador do referido tributo lançado que é o IRRF. 55 Além disso, o “item 5.3” do Relatório Fiscal (fls. 58) concluiu que os Recorrentes são os sócios “de fato” da Detoni e Zambelli Distribuidora de Carnes Ltda., situação esta encoberta pela figura de terceiros ("testadeferro" ou "laranjas"), os Srs. Jaime e Antônio. Fl. 2175DF CARF MF 30 56 Ademais, entendo que eventual prova direta da solidariedade seria compensada pelo conjunto probatório encartado aos autos, em especial a circunstância da empresa autuada não estar operando, aliada às efetivas e reiteradas condutas dolosas, além da indissociável omissão de receitas apurada, fatos suficientes para caracterizar a solidariedade dos Recorrentes. 57 Pelo exposto, em razão de todas as situações fáticas apontadas, outro não é, senão, o entendimento da comprovação da solidariedade passiva e das responsabilidades tributárias em face de MARCELO DETONI e MAURÍCIO DETONI, com fulcro no artigo 124, I, do CTN. 58 Assim, entendo terem sido tipificados na espécie os elementos subjetivos da hipótese a que alude o mencionado artigo, tal como considerado pelo fisco. 59 Esclarecida a questão relativa à responsabilidade solidária dos Recorrentes, passo adiante a descaracterizar a responsabilidade de terceiros no caso. 60 Por derradeiro, entendo que não se pode considerar o deslocamento da responsabilidade dos Recorrentes para o quanto disposto no artigo 135 do CTN, como estes sugerem, até porque o fisco não desconsiderou o ato/negócio jurídico de suas saídas do quadro societário da empresa, senão vejamos. 61 Não se pode confundir solidariedade tributária (Art. 124, I, CTN) e responsabilidade de terceiros (Art. 135, CTN). São figuras jurídicas distintas e como tais decorrem de situações fáticas distintas. 62 Neste ponto, passo a transcrever trechos de decisão proferida pela C. 2ª TO da 4ª Câmara da primeira Sessão de Julgamento deste C. CARF, ao julgar processo relativo aos mesmos ora Recorrentes, que integro a este julgado como razão de decidir per relationem, na forma abaixo: “(...) A solidariedade tributária inserese na Seção II do no Capítulo IV do Livro II do Código Tributário, que trata do sujeito passivo. A responsabilidade tributária de terceiros, incluindo aqui os sócios de direito e de fato, está disciplinada na Seção III do Capitulo V, do Livro II, do CTN. Necessário distinguir sujeito passivo de responsável tributário. O sujeito passivo de que trata o Capítulo IV pode ser o contribuinte (art. 121, § único Fl. 2176DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.104 31 I) ou o responsável, quando sem revestir a condição de contribuinte sua obrigação decorra de disposição expressa em lei. Em relação à distinção entre contribuinte e responsável atenhamonos às normas contidas no parágrafo único do artigo 121, “in verbis”: Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal dizse: I contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei. A solidariedade, que não se confunde com responsabilidade de terceiros, decorre das situações previstas no artigo 124, I e II, do CTN, sendo que o interesse comum de que trata o inciso I não se confunde com as situações contidas no inciso II em que a lei pode atribuir a condição de solidário. As hipóteses previstas no artigo 124, I, do CTN (interesse comum), tratam da solidariedade de quem tem qualidade para ser contribuinte direto ou sujeito passivo da obrigação tributária (devedor originário art. 121, I). Ex. IPTU entre coproprietários; Por sua vez, o artigo 124, II, contempla situação em que a lei pode atribuir responsabilidade solidária a pessoas que não revestem a condição de contribuintes, mas por estarem vinculadas ao fato gerador praticado pelo contribuinte podem vir a ser chamadas a responderem pelo crédito tributário, como ocorre, por exemplo, na importação por conta e ordem de terceiros (o artigo 32 do DecretoLei nº 37, de 1966, com a redação atribuída pelo artigo 77 da MP nº 2.15835, de 2001), ou nos casos de retenção de imposto de renda na fonte. O interesse comum de que trata o artigo 124, I, não é o interesse econômico, mas sim na questão relacionada à prática do fato gerador. Empresas de um mesmo grupo tem interesse econômico no resultado de suas operações, mas este interesse não serve para atribuir a uma delas a condição de solidária, visto que o interesse apto a qualificar a solidariedade é o interesse jurídico na situação que constitua o fato gerador da obrigação tributária, como Fl. 2177DF CARF MF 32 ocorre, por exemplo, em caso de copropriedade, com a exigência do IPTU e ITR. A solidariedade de que trata o artigo 124, incisos I e II, não está relacionada a atos ilícitos e se aplica a quem tem a qualidade para ser sujeito passivo da obrigação tributária, ainda que por responsabilidade decorrente de expressa disposição legal, como é dos exemplos já apontados (situações previstas no artigo 32 do DecretoLei nº 37, de 1966, com a redação atribuída pela MP nº 2.11535, de 2001 e Lei nº 11.281, de 2006). A situação prevista no artigo 124, I, não pode ser confundida com as situações de que trata o artigo 135 do CTN. Nas hipóteses contidas no artigo 135 vamos encontrar duas normas autônomas, uma aplicável em relação ao contribuinte, aquele que pratica o fato gerador (art. 121, I) e outra em relação ao terceiro que não participa da relação jurídica tributária, mas que, por violação de determinados deveres, pode vir a ser chamado a responder pela obrigação). (RE 562.726/PR, j. 03/11/2010, sob a forma do artigo 543B do CPC). (...) Outro detalhe importante é ter presente que o terceiro ou o sócio é responsáve lnão por ser sócio ou por constar do contrato social que exerce a gerência, ma spor praticar ato que caracteriza infração descrita em lei. (...) Nos casos em que a empresa não pratica as atividades constantes de seu objeto social, possuindo apenas existência formal, ainda que sirva para emissão de documento fiscal, a tributação deve recair em relação àquele que efetivamente praticou o ato jurídicotributário. Não é o registro formal, mas sim a efetiva existência no mundo real que identifica a ocorrência de situação sobre a qual incide a norma tributária. (...) Quando a pessoa jurídica materialmente existente, ou por assim dizer, dotada de estrutura necessária para exercer as atividades a que se propõe, as executa em conjunto com outra pessoa, natural ou jurídica, temse caracterizada a situação descrita no artigo 124, I, do CTN, isto é, a solidariedade decorrente de interesse comum a situação que constitua o fato gerador. Nestas situações todos são solidárias e qualquer um pode vir a responder pela integralidade do débito tributário. Fl. 2178DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.105 33 Para efeitos de delimitação da solidariedade, nos casos em que se têm mais de um contribuinte envolvido, necessário que se verifique quais os atos que estão vinculados à situação que constitua o fato gerador. Por exemplo, se dois prestadores de serviços vencerem uma licitação para desenvolverem determinados programas de informática ou para, mediante parceria, construírem uma ponte, por evidente que a solidariedade há de ficar limitada aos tributos relacionados à receita ou ao lucro decorrente dos serviços advindos do desenvolvimento dos programas de informática ou da construção da ponte. Não é possível estender a responsabilidade a outros atos que não estejam vinculados àqueles efetivamente praticados em conjunto pelas partes. Quanto ao comércio aplicase a mesma regra. Isto é, aquele que se associou, por exemplo, para importar e comercializar determinada mercadoria não pode vir a ser chamado a responder pelos tributos em relação a outras transações que o contribuinte a quem se associou vier a realizar com terceiros. Pensar de forma diversa seria atribuir responsabilidade solidária em relação a fato jurídico ou conduta não praticada por aquele a quem se imputa dita responsabilidade. Com as considerações acima relacionadas passo a analisar a situação dos autos onde a autoridade fiscal atribuiu a condição de solidários aos recorrentes não pelo fato destes serem sócios de fato ou de direito, mas sim por realizarem o comércio, junto com a empresa autuada. (CARF. Ac. 1402 001.571. Primeira Sessão de Julgamento. 4ª Câmara. 2ª Turma Ordinária. Rel. Cons. Moises Giacomelli Nunes da Silva. Sessão de 12/02/2014) 63 Assim, é de se concluir, por definitivo, a responsabilidade solidária dos Recorrentes, em detrimento da responsabilidade de terceiros. 64 Dessa forma, voto por negar provimento aos recursos e manter as solidariedades passivas. Multa de Ofício Qualificada Fl. 2179DF CARF MF 34 65 Em suas razões, por derradeiro, os Recorrentes alegam que inocorreu situação que justificasse a qualificação da multa de ofício aplicada, que tem natureza confiscatória. 66 Entendo, no entanto, que o produto apurado pelo relatório fiscal não homologa a alegação dos Recorrentes, senão vejamos. 67 Pela leitura das apurações noticiadas no relatório fiscal, este concluiu, em resumo, que os Recorrentes agiram de forma dolosa com a finalidade exclusiva de ocultar e retardar o conhecimento, pelo fisco, de fato gerador de obrigação tributária, havendo se utilizado de meios fraudulentos com a finalidade de alcançarem este objetivo, inclusive se valendo de interpostas pessoas e endereços fiscais precários. 68 A conduta fraudulenta dos Recorrentes, na forma como apurada no trabalho fiscal, ao meu entender, se adequa àquela disposta no artigo 72 da Lei nº 4.502/64, o que proporciona à autoridade fiscal, na vigência do seu trabalho, qualificar a multa aplicada nos casos de lançamento de ofício, de forma a duplicar sua imposição, na forma do artigo 44, § 1º, da Lei nº 9.430/96. Abaixo, transcrevo os dispositivos citados: “Lei nº 4.502/64 Art. 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento.” “Lei nº 9.430/96 Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de setenta e cinco por cento, nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, pagamento ou recolhimento após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa moratória, de falta de declaração e nos de declaração inexata, excetuada a hipótese do inciso seguinte; II cento e cinquenta por cento, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, Fl. 2180DF CARF MF Processo nº 10640.002174/201013 Acórdão n.º 2201003.742 S2C2T1 Fl. 2.106 35 independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis.” 69 Pela análise do farto conjunto probatório em desfavor dos Recorrentes, vejo que estes não trouxeram aos autos provas ou alegações técnicas consistentes que desconstituíssem a conduta fraudulenta apontada pelo fisco. Apenas alegou afronta à Constituição, por se tratar de multa confiscatória. 70 Quanto à essa alegação, não pode ser apreciada nos termos da Súmula CARF nº 2, que preconiza: "O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.” 71 Portanto, tendo o trabalho fiscal apurado conduta fraudulenta e dolosa dos Recorrentes com a finalidade exclusiva de ocultar e retardar o conhecimento, pelo fisco, de fato gerador de obrigação tributária, entendo cabível a qualificação da multa de ofício aplicada pelo lançamento fiscal. 72 Dessa forma, voto por negar provimento ao recurso. Conclusão 73 Diante de todo o exposto, voto por conhecer e NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS. assinado digitalmente Marcelo Milton da Silva Risso Relator Fl. 2181DF CARF MF 36 Fl. 2182DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19311.720728/2013-07
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 26 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Oct 05 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2010, 2012
DESPESAS FINANCEIRAS - CONTRATO DE INVESTIMENTO - BONIFICAÇÃO DE PRODUTIVIDADE - PAGAMENTO VIA NOTAS PROMISSÓRIAS CONDICIONADAS AO CUMPRIMENTO DO CONTRATO - SUMULA 238 DO STJ
A empresa credora de valores constantes notas promissórias vinculadas a contratos cujas condições são reproduzidas na própria cártula não pode registrar o predito crédito em conta do ativo e, consentaneamente, não pode deduzir quaisquer despesas concernentes à baixa ou redução dos créditos ali estampados.
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. FRAUDE. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO.
Quando o planejamento tributário evidencia uma intenção dolosa de alterar as características do fato gerador, com intuito de fazer parecer que se tratava de uma outra operação com repercussões tributárias diversas, tem-se a figura da fraude a ensejar a multa qualificada.
MULTA ISOLADA. MULTA DE OFÍCIO. LEI. NOVA REDAÇÃO. FATOS GERADORES A PARTIR DE 2007.
Após a alteração de redação do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, é plenamente aplicável a multa isolada de 50% em relação à insuficiência de recolhimento de estimativas e a multa de ofício de 75% sobre o lançamento complementar. O disposto na Súmula nº 105 do CARF aplica-se aos fatos geradores pretéritos ao ano de 2007.
EXIGÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS CALCULADOS PELA TAXA SELIC. JUROS SOBRE MULTA.
É legal a exigência de juros moratórios calculados pela taxa Selic, inclusive sobre os valores das multas não pagas no vencimento.
Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2010, 2012
LANÇAMENTO REFLEXO. CSLL.
Aplica-se aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles.
Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Data do fato gerador: 31/12/2010, 30/04/2012
LANÇAMENTO REFLEXO. COFINS.
Aplica-se aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles.
Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Data do fato gerador: 31/12/2010, 30/04/2012
LANÇAMENTO REFLEXO. PIS/PASEP.
Aplica-se aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles.
Numero da decisão: 1302-002.322
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer de parte das alegações trazidas apenas no recurso voluntário, devido à preclusão e rejeitar a alegação de decadência, no mérito, por unanimidade, em negar provimento ao recurso voluntário quanto à exigência tributária principal e à glosa de prejuízos fiscais e base de cálculo negativa de CSLL, e, por maioria de votos, em manter a multa qualificada; vencidos os conselheiros Gustavo Guimarães da Fonseca, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e Eduardo Morgado Rodrigues; votando estes últimos pelas conclusões e, por voto de qualidade, em negar provimento quanto à cobrança de multa isolada, vencidos os conselheiros Carlos César Candal Moreira, Gustavo Guimarães da Fonseca, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e Eduardo Morgado Rodrigues. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Paulo Henrique Silva Figueiredo.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente.
(assinado digitalmente)
Gustavo Guimarães da Fonseca - Relator.
(assinado digitalmente)
Paulo Henrique Silva Figueiredo - Redator designado.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos César Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Ester Marques Lins de Sousa, Eduardo Morgado Rodrigues (suplente convocado) e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
Nome do relator: GUSTAVO GUIMARAES DA FONSECA
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2010, 2012 DESPESAS FINANCEIRAS - CONTRATO DE INVESTIMENTO - BONIFICAÇÃO DE PRODUTIVIDADE - PAGAMENTO VIA NOTAS PROMISSÓRIAS CONDICIONADAS AO CUMPRIMENTO DO CONTRATO - SUMULA 238 DO STJ A empresa credora de valores constantes notas promissórias vinculadas a contratos cujas condições são reproduzidas na própria cártula não pode registrar o predito crédito em conta do ativo e, consentaneamente, não pode deduzir quaisquer despesas concernentes à baixa ou redução dos créditos ali estampados. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. FRAUDE. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. Quando o planejamento tributário evidencia uma intenção dolosa de alterar as características do fato gerador, com intuito de fazer parecer que se tratava de uma outra operação com repercussões tributárias diversas, tem-se a figura da fraude a ensejar a multa qualificada. MULTA ISOLADA. MULTA DE OFÍCIO. LEI. NOVA REDAÇÃO. FATOS GERADORES A PARTIR DE 2007. Após a alteração de redação do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, é plenamente aplicável a multa isolada de 50% em relação à insuficiência de recolhimento de estimativas e a multa de ofício de 75% sobre o lançamento complementar. O disposto na Súmula nº 105 do CARF aplica-se aos fatos geradores pretéritos ao ano de 2007. EXIGÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS CALCULADOS PELA TAXA SELIC. JUROS SOBRE MULTA. É legal a exigência de juros moratórios calculados pela taxa Selic, inclusive sobre os valores das multas não pagas no vencimento. Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL Ano-calendário: 2010, 2012 LANÇAMENTO REFLEXO. CSLL. Aplica-se aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles. Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Data do fato gerador: 31/12/2010, 30/04/2012 LANÇAMENTO REFLEXO. COFINS. Aplica-se aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles. Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Data do fato gerador: 31/12/2010, 30/04/2012 LANÇAMENTO REFLEXO. PIS/PASEP. Aplica-se aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer de parte das alegações trazidas apenas no recurso voluntário, devido à preclusão e rejeitar a alegação de decadência, no mérito, por unanimidade, em negar provimento ao recurso voluntário quanto à exigência tributária principal e à glosa de prejuízos fiscais e base de cálculo negativa de CSLL, e, por maioria de votos, em manter a multa qualificada; vencidos os conselheiros Gustavo Guimarães da Fonseca, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e Eduardo Morgado Rodrigues; votando estes últimos pelas conclusões e, por voto de qualidade, em negar provimento quanto à cobrança de multa isolada, vencidos os conselheiros Carlos César Candal Moreira, Gustavo Guimarães da Fonseca, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e Eduardo Morgado Rodrigues. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Paulo Henrique Silva Figueiredo. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente. (assinado digitalmente) Gustavo Guimarães da Fonseca - Relator. (assinado digitalmente) Paulo Henrique Silva Figueiredo - Redator designado. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos César Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Ester Marques Lins de Sousa, Eduardo Morgado Rodrigues (suplente convocado) e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
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PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. FRAUDE. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. Quando o planejamento tributário evidencia uma intenção dolosa de alterar as características do fato gerador, com intuito de fazer parecer que se tratava de uma outra operação com repercussões tributárias diversas, temse a figura da fraude a ensejar a multa qualificada. MULTA ISOLADA. MULTA DE OFÍCIO. LEI. NOVA REDAÇÃO. FATOS GERADORES A PARTIR DE 2007. Após a alteração de redação do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, é plenamente aplicável a multa isolada de 50% em relação à insuficiência de recolhimento de estimativas e a multa de ofício de 75% sobre o lançamento complementar. O disposto na Súmula nº 105 do CARF aplicase aos fatos geradores pretéritos ao ano de 2007. EXIGÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS CALCULADOS PELA TAXA SELIC. JUROS SOBRE MULTA. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 31 1. 72 07 28 /2 01 3- 07 Fl. 3700DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.701 2 É legal a exigência de juros moratórios calculados pela taxa Selic, inclusive sobre os valores das multas não pagas no vencimento. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2010, 2012 LANÇAMENTO REFLEXO. CSLL. Aplicase aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Data do fato gerador: 31/12/2010, 30/04/2012 LANÇAMENTO REFLEXO. COFINS. Aplicase aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Data do fato gerador: 31/12/2010, 30/04/2012 LANÇAMENTO REFLEXO. PIS/PASEP. Aplicase aos tributos lançados reflexamente ao IRPJ os mesmos fundamentos para manter a exigência, haja vista a inexistência de matéria específica, de fato e de direito a ser examinada em relação a eles. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer de parte das alegações trazidas apenas no recurso voluntário, devido à preclusão e rejeitar a alegação de decadência, no mérito, por unanimidade, em negar provimento ao recurso voluntário quanto à exigência tributária principal e à glosa de prejuízos fiscais e base de cálculo negativa de CSLL, e, por maioria de votos, em manter a multa qualificada; vencidos os conselheiros Gustavo Guimarães da Fonseca, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e Eduardo Morgado Rodrigues; votando estes últimos pelas conclusões e, por voto de qualidade, em negar provimento quanto à cobrança de multa isolada, vencidos os conselheiros Carlos César Candal Moreira, Gustavo Guimarães da Fonseca, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa e Eduardo Morgado Rodrigues. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Paulo Henrique Silva Figueiredo. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente. (assinado digitalmente) Gustavo Guimarães da Fonseca Relator. Fl. 3701DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.702 3 (assinado digitalmente) Paulo Henrique Silva Figueiredo Redator designado. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos César Candal Moreira Filho, Marcos Antônio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Ester Marques Lins de Sousa, Eduardo Morgado Rodrigues (suplente convocado) e Luiz Tadeu Matosinho Machado. Relatório Cuida o processo de autos de infração lavrados em desfavor da empresa recorrente, CELTA HOLDINGS S/A, a fim de lhe exigir a créditos tributários concernentes ao IRPJ, CSLL, COFINS e PIS, apurados nos anoscalendário de 2010 e 2012, por glosa de despesas financeiras indedutíveis. Como a premissa da autuação foi a concretização de atos simulados, foi aplicada a multa qualificada de 150%. Peço vênia, neste ponto, para reproduzir parte do relatório da DRJ, que bem resume os fatos relevantes ao entendimento do feito: Nesta fiscalização, foram questionados o registro das Notas Promissórias como ativos do contribuinte, bem assim a novação das obrigações relativas às notas promissórias. As notas teriam sido tratadas em Contrato de Investimento do ano 2006. Conteriam condições suspensivas vinculadas à execução de Contrato de Prestação de Serviços. Devido à existência dessas condições e vínculo, as notas não gozariam da autonomia e abstração dos títulos de crédito. Enquanto não ocorridas as condições suspensivas, não haveria direito algum, os créditos seriam na verdade cláusula contratual e, portanto não seriam coisas passíveis de compra e venda. As notas teriam sido adquiridas por empresa participante dos contratos de investimento e de prestação de serviços mediante Contrato de Compra e Venda. A despeito das condições suspensivas, teriam sido incorporadas ao ativo da empresa adquirente e contabilizadas pelo valor de face. Mediante sucessivas operações de cisão, integralização de capital e incorporação, as notas teriam sido transferidas para empresa veículo e ao final teriam sido recepcionadas pelo contribuinte como acervo de empresa incorporada. O contribuinte teria contabilizado reserva de ágio na emissão de ações. Não só as notas, mas também o contrato de compra e venda conteria condição suspensiva. O pagamento da compra poderia ser substituído pela devolução dos títulos. Os títulos poderiam assumir valor zero, e nesse caso obrigatoriamente voltariam à posse da compradora, que poderia devolvêlos ao vendedor. Tanto o preço quanto o pagamento seriam incertos no momento da contratação. Tratarseia de negócio com condição suspensiva cuja definição, se negócio de compra e venda ou se Fl. 3702DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.703 4 comodato, só ocorreria quando as partes decidissem se as notas seriam resgatadas ou devolvidas. Enquanto não definido como negócio de compra e venda, a transferência dos títulos se faria em comodato. Títulos recebidos em comodato não integrariam o ativo de quem os recebesse. Diante dessas constatações, concluiu a fiscalização que não existiriam ativos financeiros a serem baixados, nem reserva de ágio correspondente aos títulos, e tampouco variação monetária passiva a ser excluída do lucro apurado. As condições suspensivas não teriam ocorrido. Se tivessem ocorrido, o resgate dos títulos implicaria receita para a Celta Holdings, e não troca de ativos como teria pretendido o contribuinte. A novação seria tratada em Contrato de Associação, do ano 2010, que substituiria o contrato de investimento anterior. Quando da novação, os direitos expressos nas notas (obrigações de pagar do subscritor) estariam extintos. Segundo a fiscalização as condições não teriam ocorrido, sua ocorrência teria se tornado impossível e os títulos teriam sido devolvidos ao Grupo Fidelity. Portanto, não existiria dívida a ser negociada e não existiria novação. O valor repactuado constituiria nova receita, que teria sido paga em parcelas sujeitas a condição suspensiva. As partes teriam simulado a constituição dos ativos "Notas Promissórias", teriam contabilizado ativos inexistentes, e teriam simulado a novação de obrigações. Foi lançado de ofício os tributos IRPJ, CSLL, PIS e COFINS incidente sobre as receitas de R$ 6.283.676,40 e R$10.171.161,12 realizadas em dezembro de 2010 e abril de 2012 que não teriam sido reconhecidas pelo contribuinte, o IRPJ e CSLL incidentes sobre as glosas das variações monetárias passivas de R$ 23.742.900,00 em 2010 compensação indevida de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas de períodos anteriores compensados em 2012, e a multa de 50% sobre as estimativas não recolhidas de IRPJ e CSLL. Foi aplicada a multa qualificada de 150% devido às simulações. Cientificado da autuação, o contribuinte apresentou a sua impugnação sustentando, em apertadíssima síntese: a) que as notas promissórias atendiam todos os requisitos da legislação de regência para caracterízálas como títulos de crédito válidos (eficazes) e, portanto, como ativos financeiros da empresa; b) que o contrato de compra e venda pactuado entre a empresa Cetergy Capital e Certergy Ltda (CEY brasileira), ao contrário do que sustentaria a fiscalização, não desnatura as notas promissórias nem, tampouco, tipifica a figura de um comodato, como sustentado no TVF (as formas de pagamento tratadas no contrato não caracterizariam condições suspensivas); Fl. 3703DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.704 5 c) mais que isso, as condições contempladas no contrato de investimento se vinculavam, exclusivamente, ao direito, oriundo do contrato, de percepção do "bônus", não tendo relação com as notas promissórias emitidas, invocando, inclusive, os preceitos da cláusula 1.3.3.2 do contrato de investimento (que determina a restituição das notas caso não cumpridas as metas descritas na avença, relativas à migração e ao volume) para sustentar tal independência; d) aduz, ainda, que não teria havido a segregação, por parte da autoridade autuante, das obrigações impostas a cada parte separadamente: as obrigações cartulares havidas entre Fidelity International (Controladora CEY) e Cetergy Capital (CEY Capital); as obrigações surgidas a partir da aquisição das notas promissórias pela Cetergy Ltda junto à CEY Capital; as obrigações oriundas do contrato de investimento, concernentes exclusivamente ao "bonus de produtividade" que vincularia apenas as instituições bancárias e as empresas processadoras dos cartões; d) sustenta a validade da repactuação das dívidas retratadas pelas aludidas notas promissórias, viabilizada tanto pelo aditamento do Contrato de lnvestimento, como pelo alcunhado "Contrato de Associação", ambos firmados após a retirada do ABN do negócio, ante a sua incorporação pelo grupo Santander. Conforme as próprias palavras do recorrente, o aditamento anteriormente mencionado teria revogado "as condições contidas no contrato de investimento" e consignado "a redução do valor das Notas Promissórias" ao passo que o predito contrato de associação teria estabelecido "a repactuação do crédito e como se daria a forma de pagamento"; c) considerando a repactuação acima, o recorrente alegou que baixou as notas promissórias originárias, devolvendoas à Controladora CEY; através do contrato de associação, e afirma ter havido novação da dívida anterior e, em função dela, teria recebido os valores destacados no TVF, nos anos de 2010 e 2012, nos montantes de R$ 8.935.507,10 (dezembro de 2010) e R$ 10.171.161,12 (abril de 2012), ressaltando, na oportunidade, que teria oferecido à tributação o valor correspondente à R$ 2.651.830,70, "correspondente à diferença positiva entre o valor dos crédito repactuados e os valores baixados com relação às Notas Promissórias"; d) para tipificar a aludida novação (considerada não ocorrida pela fiscalização por não manter as mesmas obrigações anteriormente convencionadas, nem refletir os valores correspondentes à saída do ABN), reiterou a existência formal e fática das notas promissórias, afirmando que, através do citado contrato de associação, teria ocorrido "a extinção de uma obrigação (Contrato de Investimento , que continha disposições acerca do recebimento do Bônus por meio das Notas Promissórias) mediante a constituição de uma nova obrigação (Contrato de Associação, que previa a substituição das Notas Promissórias por novos créditos); e) o então impugnante reprisou, mais uma vez, ter havido novação, em especial a luz dos preceitos do art. 360 do Código Civil, não tendo havido "redefinição do negócio (...) mas somente a previsão de alterações necessária par adaptação do Contrato de Investimento à saída do ABN"; f) sustentou, mais, que, quanto as "variações cambiais passivas", estas seriam decorrência lógica da baixa do valor correspondente às notas promissórias registradas até a data da concretização da novação tratada anteriormente (R$ 118 milhões) e o registro do novo Fl. 3704DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.705 6 direito creditório surgido a partir da novação (R$ 94,4 milhões), permitindose, pois, a exclusão da base de cálculo do IR e da CSLL do montante de R$ 23,7 milhões; g) argumentou que ainda que não se considerasse a existência efetiva da novação, o fato é que houve baixa das notas promissórias por extinção, o que encerraria a anotação da respectiva contrapartida mediante "o reconhecimento (i) das despesas com variação cambial; bem como (ii) das despesas correspondentes ao próprio valor residual das Notas Promissórias constantes do ativo"; h) alegou, mais, que, ao considerar inexistentes as Notas Promissórias, a fiscalização teria incorrido em erro de determinação do fato gerador porquanto os fatos que fiscalização julga terem sido ocultados pela emissão e registro destas notas teriam ocorrido em 2006 e não em 2010 e 2012 (quando, de fato, registrados, apenas, os recebimentos dos valores pertinentes à novação tratada anteriormente), havendo, pois, nulidade do auto de infração ou, quando menos, a decadência do direito de constituir o aludido crédito tributário; i) sustentou, ainda, não ter havido fraude, simulação, conluio etc. a justificar a imposição da multa qualificada, a mingua da existência de atos dolosos tendentes à sonegação fiscal; j) pugnou pela impossibilidade de se exigir a multa isolada pelo não recolhimento de estimativas mensais, ante o encerramento do exercício financeiro; l) pretendeu afastar a legalidade da cominação conjunta da multa de ofício com a multa isolada concernente à falta de recolhimento de estimativas mensais; m) por fim, apontou a ilegalidade da incidência dos juros sobre a multa de ofício. Instada a se pronunciar sobre a impugnação, a DRJ /SP, sem se alongar, de fato, sobre as operações societárias que precederam os fatos objetos da autuação fiscal, houve por bem julgála improcedente, encampando os argumentos da fiscalização, reconhecendo a ocorrência de simulação na emissão das notas promissórias e no contrato de associação (afastando a ocorrência da alegada novação). Premeu, mais, pela validade da cobrança de multa isolada e de multa de ofício (concomitantemente) e, ainda, pela legalidade da incidência de juros sobre a multa de ofício. Cientificado dos termos do acórdão em 03/07/2014, o contribuinte interpôs recurso voluntário em 01/08/2014, reiterando, em linhas gerais, os argumentos da impugnação, acrescentando, todavia, que: a) a despeito da legalidade das operações praticadas, as opções intentadas pelas partes envolvidas nos contratos objetos deste feito seriam absolutamente válidas e impassíveis de ingerência por parte da fiscalização refutandose, assim, as assertivas constantes do acórdão da DRJ sobre a ausência do citado intento negocial verificável na reorganização societária e nas operações subsequentes; b) inovando a matéria discutida na impugnação, argumentou ter ocorrido erro no recálculo da base de cálculo negativa da CSLL, mormente por ter a fiscalização feito incidir sobre os valores de R$ 6.283.676,40 (omissão de receita verificável quando da repactuação do contrato de investimento novação) e R$ 23.742.900,00 (exclusão indevida de Fl. 3705DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.706 7 variação cambial passiva) a alíquota do tributo quando, em verdade, teria que ter adicionado tais valores à base de cálculo da CSLL e, somente então, aplicado a respectiva alíquota; nesta hipótese, as base de cálculo correta seria de R$ 13.122.101,80, hipótese em que o crédito tributário corretamente apurado seria de R$ 1.521.410,90 e não R$ 2.702.391,88; c) ainda quanto a recomposição do prejuízo fiscal e da base de cálculo negativa, e, ainda, inovando a discussão travada nestes autos, sustenta que deveriam ter sido consideradas, nos respectivos cálculos, os valores concernentes ao PIS e a COFINS também lançados neste processo. Em seguida, foram apresentadas contrarrazões pela PGFN que, além de afirmar a correção das premissas fiscais (invalidade/ineficácia das notas promissórias e inocorrência de novação, quando da retirada do ABN do contrato de investimento) acrescentou argumento que, até então, não havia sido trazido aos autos, que se destinaria a demonstrar, ao ver da Procuradoria, a inexistência de intento negocial e, ato contínuo, a simulação que dera ensejo à autuação fiscal, e que reproduzo a seguir: Com base no Contrato de Investimento, e afastando a existência das notas promissórias, em especial as “de migração” e a “de volume” (haja vista que são essas notas que delimitam o debate em tela), vêse que a obrigação da FIS de pagar os referentes bônus se caracterizaria como um direito dos bancos (contratualmente da CELTA HOLDINGS) caso as condições fossem cumpridas. Assim, havendo a migração de todos os clientes de todos os bancos, e sendo atingido o volume de negócios especificado no contrato até 36 meses da sua data de fechamento, pelo contrato, a FIS pagaria a CELTA HOLDINGS o valor de US$ 55 milhões. A CELTA HOLDINGS, por sua vez, ao receber tais bônus no valor de US$ 55 milhões, os registraria como receita decorrente de sua atividade. Esses recursos, portanto, ingressariam tanto em suas contas de resultado como no seu faturamento. E, sendo um bônus contratual, ou seja, um prêmio, não correspondendo à remuneração de uma atividade desenvolvida (custo), todo o valor recebido representaria acréscimo patrimonial da empresa. Assim, por outro lado, caso a CELTA HOLDINGS não recebesse os bônus, não auferiria qualquer prejuízo. Portanto, concluise que, caso as notas promissórias não tivessem sido emitidas, todo o valor pago a CELTA HOLDINGS pela FIS em face da “joint venture” pactuada seria tributado pelo IRPJ, CSLL, PIS e COFINS (grifos no oringinal). A PGFN aduz, ainda, argumentos diversos que, sob sua ótica, demonstravam que todas as operações engendradas (e não só a emissão das notas promissórias), objetivavam, tão só, alcançar uma "neutralidade tributária” na percepção do citado "bonus de produtividade", além de garantir à Recorrente e outras empresas do aglomerado Fidelity (FIS), benefícios que não seriam observáveis caso não houvesse, de fato, a emissão das preditas notas. Os autos, então, foram encaminhados a este colegiado. Fl. 3706DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.707 8 Este o relatório. Voto Vencido Conselheiro Gustavo Guimarães da Fonseca O recurso é tempestivo e, portanto, dele conheço em parte. Isto porque, em suas razões recursais o contribuinte sustenta ter ocorrido erro de cálculo, por parte do fisco, na formação da base de cálculo negativa; alega, mais, que seria necessário, ainda, deduzirse do computo do lucro real as parcelas afeitas aos créditos constituídos a título de PIS e COFINS. Estes argumentos, todavia, não foram objeto de análise na instância inferior porque trazidos, pela primeira vez, pelo contribuinte, em suas razões recursais. O contribuinte chegou, de fato, a afirmar serem incabidas as glosas pertinentes ao prejuizo fiscal e base de cálculo negativa, mas, tão somente, como consequência dos argumentos deduzidos a favor da validade das notas promissórias e da correção de seu registro como ativo financeiro. Em momento algum, em sua impugnação, o contribuinte cuidou do eventual erro de cálculo da parte do fiscal, nem tampouco deduziu quaisquer alegações concernentes à dedutibilidade das contribuições para o PIS e COFINS lançadas nestes autos. Conhecer, agora, de tais argumentos, representaria iniludível supressão de instância. Assim, com espeque nos preceitos dos arts. 17 e 33 do Decreto 70.235/75, voto por negar seguimento ao recurso voluntário tão somente quanto a estes argumentos. Mérito. Antes de abordar o mérito e, objetivamente, decidir a querela, tentarei, ao máximo, resumir os fatos que, efetivamente, importam ao processo e que, entendo, serão essenciais ao correto entendimento da celeuma pelos meus pares. Em 2006 as empresas ABN AMRO, Bradesco, Grupo Fidelity (constituido a partir de inúmeras outras empresas listadas no TVF) reuniramse numa joint venture objetivando otimizar e aprimorar o processamento de cartões de crédito, sendo que as duas primeiras participariam com a sua "capacidade de contratar" (conforme declarado pelo recorrente) e a terceira com a sua, também declarada, expertise em "serviços e produtos de meios de pagamento de alto valor agregado". Para viabilizar este encontro de esforços as empresas acima assinaram, em 27/03/2006, um contrato denominado "Contrato de Investimento" que, objetivamente, criava a predita joint venture e estabelecia a execução do objeto desta operação a partir da incorporação de empresas do Grupo Fidelity pela Recorrente, Celta Holdings, cujos principais acionistas eram, precisamente, os Bancos ABN e Bradesco. In casu, o citado grupo Fidelity continha em sua estrutura societária lotada no Brasil as empresas Fidelity Participações, posteriormente transformada em Cetergy Ltda. , Fl. 3707DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.708 9 Arcturus, HOLDCO ONE, Miaplácidos e Fidelity Processamentos, tendo estas duas últimas sido objeto da incorporação acima. Haveria, ai, uma intrincada rede de operações societárias que a despeito de causar estranheza à fiscalização (que teria alegado existirem empresas veículos criadas no curso da reestruturação), não foram, realmente, objeto de questionamento. O que importa é que, ao final da sequência de operações, apenas as instituições bancárias permaneceram como sócias da recorrente que, a esta altura, já detinha as notas promissórias que geraram este auto de infração. Sobre as aludidas notas, merece destaque, neste particular, e num primeiro momento, a Cláusula 1.3, que, em termos gerais, operacionaliza a citada joint venture mediante migração de todas contas de cartão havidas pelas instituições bancárias para Celta (que, após as citadas "intrincadas operações societárias", absorveu uma parte técnica Fidelity Process., e outra de "caixa" Miaplacidus , do Grupo Fidelity a fim de efetuar o "processamento de cartões"). Esta cláusula, digase, além de dispor sobre os volumes estimados de conta a serem migradas, estabeleceu um prazo limite para a conclusão desta mesma migração: 36 meses após o que o contrato chama de "data de fechamento" (ou a data em que foram concluídas todas as operações societárias realizadas para criar a joint venture). E aqui surge o cerne de todo o imbróglio: as cláusulas 1.3.3 e 1.3.4 determinam a emissão pela empresa Controladora do Grupo Fidelity de notas promissórias denominadas "notas de migração" e "notas de volume". O valor atribuído a cada qual esta ligado ao valor correspondente às contas de cartão de cada cliente (bancos). Vale neste ponto, transcrever o texto da seguinte cláusula do aludido contrato de investimento: 1.3.3.2 O detentor das Notas de MIgração somente apresentará as Notas de MIgração para pagamento na Data da Migração ou após esta data. Não obstante o disposto em qualquer Nota da MIgração, a Controladora CEY não terá obrigação de pagar quaisquer Notas da Migração apresentada para pagamento antes da Data da Migração. Se não houver uma Data da Migração, de acordo com os termos e condições estipulados no presente instrumento e nos Contratos de Serviços, as NOtas da Migração deverão ser devolvidas e entregues para a CEY (ou qualquer outra Entidade CEY indicada pela CEY) sem qualquer custo, e a respectiva promessa de pagamento será considerada retirada, e nenhuma pagamento será devido por qualquer Entidade CEY ou suas Afiliadas com relação ou como resultado dessas Notas de Migração. Em relação as preditas "notas de volume", a cláusula 1.3.4.2 estipula as mesmas regras acima, fixando, todavia, como marco temporal para a apresentação das notas promissórias para pagamento a data "da liberação do volume". Estes dois marcos temporais ("data da migração" e "data da liberação de volume"), cumpre esclarecer, são definidos, nas palavras do próprio recorrente, como sendo: Fl. 3708DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.709 10 a) a data em que ocorrer a completa e total "transferência à PROCESSADORA [ Celta ] dos Serviços as serem prestados a cada CLIENTE [ Bancos ]" "migração"; b) a "data em que os bancos estiverem efetivamente processando com a Celta pelo menos o seu respectivo Volume Esperado indicado na Tabela 1.3.1.2" data da "liberação do volume"; Pois bem. Ao que nos importa, aqui, as notas foram emitidas pela Controladora CEY (americana) para outra empresa do grupo (também americana); ao fim dessas operações, essas notas foram "compradas" pela CEY brasileira; sucessivamente, parte das notas promissórias chegaram às empresas Fidelity Processamentos e Miaplácidos; esta última controladora da primeira, foi incorporada pela Recorrente, quando, então, três notas promissórias anteriormente emitidas (duas notas de "migração" e uma "de volume") passaram a sua titularidade. Neste momento, a impugnante registra tais notas "em contas de seu ativo realizável a longo prazo" e dai extrai os benefícios criticados pelo TVF, em especial, a a redução dos ganhos pertinentes aos valores dos créditos quando da citada novação da dívida (reduzindose, pois, valores a pagar a título de PIS, COFINS, IRPJ e CSLL) e a exclusão da base de cálculo do IR e da CSLL da mencionadas variações cambiais ativas (diferenças entre o valor originariamente registrado no ativo, correspondente às três notas, e o valor remanescente após a retirada do ABN do negócio). As respostas que temos que buscar, neste ponto, é: seriam válidas/eficazes as preditas notas promissórias? Houve, de fato, novação das dívidas estampadas nas aludidas notas promissórias? Este o limite da querela. I. Sob o aspecto formal dos negócios pactuados. 1.1 Notas promissórias ("notas de migração" e "notas de volume"). Discorrendo sobre o título cambiário "nota promissória", Rubens Requião resume os requisitos necessários ao seu reconhecimento como título de crédito: São requisitos essenciais, sem o que o título não será cambiário, os seguintes, exigidos pela Lei Uniforme (art. 75): a) a denominação nota promissória inserida no próprio texto e expressa na língua empregada na redação do título; b) a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada; c) o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; d) a indicação da data em que a nota promissória é emitida; f) a assinatura de quem a emite (subscritor). A Lei Uniforme inclui entre os elementos a que a nota promissória deve conter, mais os seguintes: a época do pagamento e a indicação do lugar em que foi passada. Este não são requisitos essenciais, pois o art. 76 estabelece que, se a nota promissória não indicar a época do pagamento, será considerada pagável à vista; não indicado, de forma especial, o lugar onde o título foi emitido considerase como tendo sido o Fl. 3709DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.710 11 lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor;a que não contenha indicação do lugar onde foi passada considerase como tendo sido no lugar designado ao lado do nome do subscritor (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, 2º vol. 26ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p.p. 491). O mencionado Jurista, ainda, anota importante ressalva, concernente ao titular do crédito estampado na nota promissória; adverte que, não obstante, em sua opinião, inóqua, há regra expressa no Decreto 2.044, vedando a emissão de nota promissória "ao portador" e, em seguida, registra os motivos pelos quais o governo brasileiro impôs tal ressalva: O motivo da vedação dos títulos cambiários, com letra de câmbio e nota promissória ao portador (...) se deve ao receito oficial de que venham substituir o papelmoeda, que tem curso forçado (Op. cit. p.p. 491/492). Esta última ressalva, em especial, me parece extremamente importante ao caso; isto porque, inadmitindose a emissão desse tipo cambiário ao portador, as únicas formas válidas de fazêlo circular seriam mediante endosso ou, como bem lembra Fabio Ulhoa Coelho (Manual de Direito Comercial, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2004, p. 252), através da cessão civil de crédito (que não guarda, em sua substância, os mesmos efeitos do endosso). Além disso, vale destacar, não há na LUG, ou no Decreto 2.044, vedações a que a nota promissória garanta o cumprimento de outras obrigações não cartulares, sem que isso lhe desvirtue a natureza ou lhe retire, necessariamente e via de regra, a autonomia. Não raras vezes a nota promissória é utilizada como "garantia" para a execução de determinados tipos de contrato, em que o contratante as emite em prol do contratado a fim de, não adimplida a obrigação contratual, permitir a execução dos créditos estampados nos preditos títulos. Há, contudo, outras avenças em que pelas particularidades que lhe são próprias tornam ilíquidas, ou, quiçá, inexigíveis, as obrigações delas constantes; se a obrigação é ilíquida, a nota promissória porventura emitida para garantíla também se torna iliquida, porquanto contempla o dever de pagar a quantia estipulada em contrato. E aqui, digase, invocase, inclusive, o preceito da Súmula 258 do STJ: "A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou". Lado outro, condições que não estejam expressamente contempladas na cártula não podem ser oponíveis ao credor, pena de malferir o requisito da literalidade, intrínseco aos títulos cambiários. Passadas tais premissas, em principio as notas promissórias tratadas neste feito atenderiam os requisitos formais de validade, bastando, para tanto observálas a partir dos anexos ao TVF. Lá, digase, estão , de fato, descritos a denominação do título, a promessa de pagamento de valor certo e a certo tempo para pagamento; o nome do credor; a data de sua emissão e; finalmente, a sua assinatura pelo subscritor. Fl. 3710DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.711 12 Quanto prazo de vencimento, digase, os títulos definem um prazo específico e identificável (30 dias contados da sua apresentação). Formalmente (frisese) as preditas notas seriam, de fato, válidas. I.2 Dos contratos de investimento, de associação e a citada novação. Também não me parecem haver vícios de forma nos instrumentos contratuais em análise, fato, inclusive, nem mesmo debatido pela fiscalização. Importa, realmente, ao caso, a análise substancial dos negócios; e aqui, realmente, é que passo a decidir. II. Da substância dos negócios pactuados e do seu correto reflexo fiscal. II.1 Do registro da notas promissórias em conta do ativo Em relação às notas promissórias é preciso, desde logo, estabelecer algumas premissas; qual a função destes títulos nos negócios ora tratados? De acordo com o recorrente, as aludidas notas destinarseiam, em princípio, a garantir o pagamento de um "bonus" de produtividade contemplado pelo Contrato de Investimento. Vejase: De fato, com relação ao pagamento do Bônus, o Contrato de Investimento previu exclusivamente que este somente deveria ocorrer caso os Bancos observassem as condições de migração e volume; e, caso não ocorressem, deveriam ser devolvidas as Notas Promissórias de migração e volume para a Certegy Ltda. (como já destacado anteriormente), pelo fato de não perderem a sua cartularidade e legitimidade (grifos no original). Há, aqui, um primeiro problema: pelo que o expõe o contribuinte, neste ponto, parece defender que as aludidas notas promissórias seriam, de fato, espécie de “salvaguarda” (num sentido laico) ao pagamento do bônus tratado no contrato de investimento e nos contratos de serviços; invoca neste ponto, inclusive, as disposições da cláusula 1.3.3.2 já reproduzida anteriormente a fim de sustentar a ausência de vínculo entre as notas promissórias e as obrigações constantes do aludido contrato de investimento, mormente porque, caso não atingidas as metas ali estabelecidas os títulos deveriam ser devolvidos. Ora, mas a obrigação constante dos título não era autônoma? Porque a devolução? Mas, o mais importante, todavia, é que, não obstante o contribuinte frisar repetidas vezes que as notas eram autônomas e exequíveis, independentemente do cumprimento das avenças contratuais, o que se extrai, das próprias promissórias é outra verdade. Vejase o que dispõe a cártula: Esta primeira Promissória de Migração equivalente ao Primeiro Pagamento de MIgração é emitida em acordo com os termos e condições do Contrato de Investimento datado de 27 de março de 2006 (...). Diferentemente, pois, do que sustenta o recorrente, as condições do contrato de investimento estão, expressamente, contempladas na Nota Promissória, valendo, para este título, inclusive as condições necessárias para a data da sua apresentação para pagamento e que Fl. 3711DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.712 13 estabeleciam restrições quanto a própria nota e sua circulação (conforme se extrai da cláusula 1.3.3.3 que, inclusive, se contrapõe ao contrato de compra e venda noticiado, já que veda, expressamente, a cessão, endosso ou transferência das notas a terceiros não vinculados ao contrato de investimento). Mais que isso, o vencimento da nota não pode ser dissociado da data para apresentação, a teor das cláusulas 1.3.3.2 (Notas de Migração) e 1.3.4.2 (notas de volume), apenas parcialmente reproduzidas pelo recorrente em suas razões de insurgência... de fato, a p primeira parte da cláusula 1.3.3.2 (reproduzida, em quase sua totalidade pela cláusula 1.3.4.2), diz, de forma bastante clara que "o detentor das Notas de Migração somente apresentará as Notas de MIgração para pagamento na Data da Migração ou após esta data. Não obstante o disposto em qualquer Nota de Migração, a Controladora não terá obrigação de pagar quaisquer Notas de Migração apresentada para pagamento antes da Data da Migração". Dai se extrai duas conclusões: i) o vencimento da obrigação cambiária está intrinsecamente ligado ao contrato e ao cumprimento da condição contratual (por força de disposição literal fixada na própria promissória); ii) mesmo que determinada Nota Promissória estipule regra pertinente ao vencimento de forma distinta daquela constante da cláusula 1.3.3, prevalecerá a regra constante do Contrato de Investimento. Não há, de fato, autonomia; não há abstração; as notas promissórias e o contrato estão intrinsecamente vinculados, não sobrevivendo um ao outro. Como consequência, entendo que os créditos nelas estampados jamais poderiam ser objeto de registro em conta de ativos; e, vejam bem, não porque entendo haver um planejamento ilícito e, portanto, pretenderia aqui, afastar a existência material das notas. Pelo contrário, entendo que as notas existem e que seu emprego para garantir o contrato de investimento é procedimento absolutamente regular e validado pelo direito. O que, efetivamente, me faz concordar neste particular com as conclusões fiscais é que, uma vez vinculadas as obrigações estampadas nas notas promissórias à condições contempladas no contrato de investimento, à época de sua emissão e registro, o crédito respectivo era ilíquido e inexigível, ao menos no que concerne especificamente ao Banco ABN (que não havia, ainda, cumprido a sua condição relativa à migração, não por outra razão, quando da formalização de sua saída do negócio, viu necessário reduzir o valor dos créditos através do citado Contrato de Associação). O que havia, pois, até aqui, era uma mera expectativa de direito e não um direito certo e exigível valendo lembrar, aqui, as disposições da Súmula 258 do STJ, já citada acima segundo a qual, se vinculada a obrigação ilíquida (e, por analogia, também à obrigação inexigível), a nota promissória perde sua autonomia; ainda que estampado, pois, a promessa de pagamento na nota promissória, a mingua de sua autonomia, a obrigação somente se tornaria líquida e exigível quando cumpridas as metas estabelecidas pelo contrato de investimento. A meu sentir, pois, enquanto não vencido, o crédito é inexigível e, portanto, não pode compor conta de "ativo exigível no longo prazo da empresa". Destaquese: não fosse pactuada a emissão das preditas notas, o direito a bonificação não seria registrável como ativo. Considerando que as exigências aqui discutidas são reflexo, diretamente, deste registro por parte do contribuinte em conta do ativo dos créditos estampados nas Notas Promissórias, não vejo como discordar das conclusões fiscais (a despeito de não concordar com Fl. 3712DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.713 14 diversas ponderações concernentes aos motivos que levaram a fiscalização a desconsiderar o negócio). II.2 Do contrato de associação. As conclusões a que cheguei no tópico anterior tem vinculação direta, e produz consequências imediatas, quanto ao contrato de associação, tido e havido pelo recorrente como novação. Aqui, também concordo com a fiscalização; o fato de ter havido novação ou não das obrigações estampadas nas promissórias , por meio do citado Contrato de Associação não modifica o status destas mesmas obrigações, identificado anteriormente: elas continuavam ilíquidas e inexigíveis, uma vez que não ocorrido o marco temporal estabelecido como condição para apresentação dos títulos respectivos para pagamento. E, neste caso, como se pretender deduzir dos pagamentos pactuados e realizados em decorrência deste novo contrato, perdas com recebimento de créditos que, até então, não estavam, sequer, vencidos? Se os títulos não podiam ser registrados em conta do ativo, porque representavam, tão só, expectativa de direito, a redução dos valores esperados também não poderia autorizar quaisquer deduções por parte do contribuinte. É por isso mesmo, descabida a exclusão do valor correspondente à retirada do ABN do Contrato de Investimento, a título de variação cambial passiva; não houve perda ou baixa de ativo; houve, isso sim, redução dos valores concernentes a uma mera expectativa de direito que, todavia, não poderia causar impactos nem nos resultados, nem tampouco teria o condão de desvirtuar a natureza das parcelas percebidas pela recorrente como decorrência do contrato de Associação. Neste passo, insistase, entendo corretas as conclusões fiscais, devendo ser mantido o lançamento a glosa relativa aos saldos de prejuízos fiscais e bnase de cálculo negativa, bem como quanto as exigências do PIS, COFINS, IRPJ e CSLL sobre a integralidade das receitas percebidas pelo recorrente em função do aludido contrato de Associação. Nego, pois, provimento ao recurso. III. Do alegado erro de identificação do fato gerador e da decadência. Aduz o contribuinte que os fatos em que restaram calcadas as conclusões fiscais teriam ocorrido no ano de 2006, com o registro das notas promissórias na conta de ativo financeiro do recorrente; neste passo, os fatos ocorridos em 2006 é que teriam que ter sido objetos da fiscalização o que, no entanto, seria impossível uma vez que operada a decadência. Primeiramente, cumpre destacar que a obrigação tributária somente surge mediante verificação de seu fato gerador (art. 114 do CTN) e que tributo é imposição pecuniária decorrente de ato "lícito" (art. 3 do mesmo diploma), fácil concluir que o registro das notas promissórias, conquanto essencial à constituição do crédito tributário, é ato ilícito e, portanto, não compõe o fato gerador da obrigação tributária. Fl. 3713DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.714 15 O crédito tributário decorre da constatação da ilicitude afeita ao registro das notas promissórias em conta do ativo; tal constatação, todavia, tem reflexos em exercícios posteriores em que, aí sim, verificouse a ocorrência do fato tipo das exações tributárias (percepção de lucro e receitas). Não houve erro de identificado dos fatos tributáveis e tampouco há, na hipótese, decadência, como, alias, muito propriamente, afirmou a DRJ: Ademais as datas em que ocorreram as operações que deram origem aos lançamentos contábeis (registro da nota promissória) em questão constituem fatos passados com repercussão futura na apuração do IRPJ e da CSLL. Tratase de situação similar à do lucro inflacionário diferido, para o qual já há, inclusive, Súmula editada pelo CARF no sentido de que o prazo decadencial contase da data da realização. De fato, o prazo decadencial se conta da ocorrência do fato gerador e não a partir de atos ou fatos anteriores com repercussão no fatotipo; a decadência, digase, extingue apenas obrigação tributária e não a competência ou poder investigativo da Fiscalização que pode revolver fatos/atos/situações que tenham, com bem dito pela DRJ, "repercussão futura". Por tais razões, entendo, também aqui, não assistir razão à recorrente, pelo que, nego provimento. IV Da multa qualificada. Tal como expus anteriormente, concordei com as conclusões exaradas pela fiscalização no tocante as exigências impostas por meio deste auto de infração. Não concordo, todavia, com os fundamentos fáticos da exigência a fim de qualificar a multa. Realmente, vejo com ressalvas e críticas substanciais a aplicação irrestrita dos preceitos do art. 116, parágrafo único, do CTN. A luz da verdade, este preceito não é uma norma geral antielisiva e, por certo, não pode atingir atos que, não obstante almejarem a redução da carga tributária do contribuinte, são verdadeiros e legítimos. Este preceito, digase, atingiu, e, na opinião desse julgador, continua a atingir apenas atos ilícitos: a simulação e a dissimulação. Neste sentido é o escólio de Alberto Xavier: Para aqueles que aspiravam à ampla e inovadora consagração de uma cláusula geral antielisiva, a Lei Complementar de nº104, restrita à figura clássica da dissimulação foi, como na fábula de HORÁCIO, retomada por LA FONTAINE, a montanha que pariu um rato(...). Em nossa opinião, bem andou o Congresso Nacional em reformular o novo parágrafo único do art. 116 do modo que o fez. Por um lado, reiterou que a lei tributária não pode extravasar os limites da tipicidade, pois a declaração de ineficácia do ato simulado nada mais é que a tributação de uma fato típico o ato dissimulado em razão do princípio da verdade material, que o revela à plena luz. Mas, por outro lado, assegurou que, tendo restringido expressamente o âmbito da declaração de ineficácia ao mundo dos atos simulados, essa Fl. 3714DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.715 16 declaração de ineficiência não se estende a atos verdadeiros, ainda que de efeitos econômicos equivalentes aos dos atos típicos fiscalmente mais onerosos e independentemente dos motivos que levaram as partes à sua realização (XAVIER, Alberto. Tipicidade da Tributação, Simulação e Norma Antielisiva. Dialética, 2001, p.p. 156/157). Se determinado ato foi praticado dentro de uma estrutura elaborada para atingir objetivos lícitos e inerentes ao negócio, não me parece possível retirar desta estrutura apenas este mesmo ato sob a justificativa de ele, e apenas, ele, terá ali sido inserido para reduzir ou tornar neutra a exigência fiscal. Como bem pontuou o contribuinte, a adoção deste ou daquele caminho, desde que calcada em atos lícitos, existentes e formalmente corretos (e, por conseguinte, não revelem uma mera simulação de ato), é parte integrante da liberdade negocial que lhe franqueia o próprio ordenamento jurídico. O fato de, quanto a este ato, se constatar apenas efeitos tributários, sem o que a estrutura ainda sobreviveria, ou se concretizaria de forma mais rápida, não caracteriza, per se, a simulação; para tanto, há que se identificar quando menos a oclusão do fato típico e aí, sim, se demonstrar a ficção engendrada pelo contribuinte. No caso em testilha, a Fiscalização e o acórdão afirmam que a emissão das notas promissórias serviriam para ocultar a percepção do bonus tratado na Cláusula 1.5 do por vezes citado Contrato de Investimento, havendo, neste particular, a criação fictícia de um ativo financeiro. Todavia, como exposto anteriormente, não há vedações na lei ou em qualquer tipo de norma, quanto a opção realizada pelo contribuinte; isto é, a percepção de determinado valor mediante entrega de notas promissórias não é, nem de longe, vedada; mais ainda, se esta entrega ocorre concretamente e gera efeitos obrigacionais às partes, não há como desconsiderar a sua existência ou, em função, exclusivamente, das regras contidas no art. 116, parágrafo único, negarlhe eficácia. De mais a mais, digase, os efeitos tratados pela fiscalização, pela DRJ e, também, pela PGFN, jamais se concretizaram, dado que, como decidi acima, as preditas notas promissórias, com as condições que restaram estampadas na própria cártula, não podiam encerrar o registro de um ativo financeiro, uma vez que inexigíveis e ilíquidas as obrigações lá apostas. O contribuinte, portanto, errou ao consignar o valor das obrigações em conta de ativo; errou, mais uma vez, ao promover as exclusões noticiadas no auto de infração e, por certo, não andou bem ao não considerar como receita tributável a parcelas recebidas em decorrência do Contrato de Associação. Mas não incorreu em tais infrações por meio de simulação, como decidi anteriormente, mais por erro de avaliação das consequências advindas das notas promissórias emitidas. Neste passo, voto por afastar a aplicação da multa qualificada uma que vez entendo não ter ocorrido, aqui, a criação de atos simulados, dando provimento, neste ponto, ao recurso, para reduzila a 75%. V. Da cominação de multa isolada concomitantemente à multa de ofício. Fl. 3715DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.716 17 Quanto a este tema, também já tenho posição firme; no sentido de não se permitir a cumulação das duas penalidades. Por mais que se sustente que seus fatos geradores sejam distintos (a multa isolada seria exigida por descumprimento da obrigação acessória "pagar as estimativas", ao passo que a multa de ofício incidiria sobre o descumprimento da obrigação principal), entendo que se o contribuinte tem contra ele o lançamento do tributo informado em DIPJ, suportando a sua exigência em razão justamente da falta de recolhimento das estimativas mensais, a imposição das duas penalidades encerraria, a toda monta, bis in idem O fato tipo da imposição continua sendo o não recolhimento a tempo e modo da exação, fato que já é penalizado pela multa preconizada pelo art. 44, I, da Lei 9.430/96, que, aliás, em momento algum determina a aplicação cumulativa das duas penalidades (mesmo após o advento da Lei 11.488/2007). Entendo, neste particular, que a Súmula 105/CARF continua em vigor e aplicável, mesmo após modificação do art. 44 mencionada anteriormente, mormente porque os fundamentos que deram azo à formação desta súmula ainda são invocáveis. Não por outra razão, mesmo após a edição da lei acima lembrada, há decisões deste Conselho, afastando as concomitância das penalidades: Anocalendário: 2008, 2009, 2010 MULTA ISOLADA. DA DUPLICIDADE DE COBRANÇA NÃO CABIMENTO DE CUMULAÇÃO DA MULTA ISOLADA E DA MULTA DE OFÍCIO Ponto que reclama detida análise respeita à impossibilidade de cobrança cumulativa da multa de ofício e da multa exigida isoladamente, de sorte que ainda que a Recorrente tenha recolhido valor a menor de IRPJ e CSLL por estimativa, não pode haver sobre a mesma base de cálculo, a cumulação da multa isolada com qualquer outra penalidade, como ocorreu no presente caso (3ª Câmara, 1ª Turma. Acórdão 1301001.725 de 24/03/2015). Assim, voto, também neste ponto, por dar provimento ao recurso. VII Da incidência de juros sobre a multa de ofício. Este colegiado e boa parte das Turmas deste Conselho vem, cada vez mais, perfilhandose ao entendimento de que a exigência de juros sobre a multa de ofício é licita. Neste sentido, são inúmeras as decisões, conforme se extrai das ementas abaixo reproduzidas: JUROS SOBRE MULTA. As multas proporcionais aplicadas em lançamento de ofício, por descumprimento a mandamento legal que estabelece a determinação do valor de tributo administrado pela Receita Federal do Brasil a ser recolhido no prazo legal, estão inseridas na compreensão do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, sendo, portanto, suscetíveis à incidência de juros de mora à taxa Selic (Acórdão: 1301002.233 Fl. 3716DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.717 18 Número do Processo: 16561.720184/201335 Data de Publicação: 22/06/2017). JUROS SOBRE MULTA. As multas proporcionais aplicadas em lançamento de ofício, por descumprimento a mandamento legal que estabelece a determinação do valor de tributo administrado pela Receita Federal do Brasil a ser recolhido no prazo legal, estão inseridas na compreensão do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, sendo, portanto, suscetíveis à incidência de juros de mora à taxa Selic (Acórdão: 1301002.278 Número do Processo: 10830.016637/200945 Data de Publicação: 20/06/2017). Ainda que este entendimento desafie críticas, é fato inegável que a jurisprudência desta Corte está, realmente, sedimentada a respeito, razão pela qual não vejo como acolher os argumentos do contribuinte. VIII Conclusão Por todo o exposto, voto por dar parcial provimento ao recurso apenas para afastar a aplicação da multa qualificada e da multa isolada, mantendo o lançamento quanto aos demais pontos. É como voto. (assinado digitalmente) Gustavo Guimarães da Fonseca Voto Vencedor Conselheiro Paulo Henrique Silva Figueiredo Acompanho o voto do relator, à exceção das infrações descritas nos itens IV e V acima, em relação às quais estabeleço a divergência, pelas razões a seguir expostas: Da multa qualificada. O Termo de Verificação Fiscal justifica a qualificação da multa, detalhando com precisão os atos praticados pelo sujeito passivo e demais envolvidos na operações aqui tratadas. In verbis: "Elemento essencial dos negócios realizados em 2006 era a transferência patrimonial do Grupo Fidelity para os bancos. Buscouse obter isenção tributária, via variação de participação acionária, dos tributos IRPJ, CSLL, PIS e COFINS, além do benefício de reduzir das bases de cálculo do IRPJ e CSLL as despesas de amortização do ágio. Este benefício chegaria a cerca de 72 milhões de reais (34% de 211). Fl. 3717DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.718 19 Era necessário reificar (sic), transformar em coisas passíveis de compra e venda, as promessas de pagamento condicionadas aos contratos de serviços. Permitiria reconhecer antecipadamente o recebimento dos direitos, em vez de tratálos como receita quando da realização das condições. A economia tributária somente sobre as receitas de 118 milhões de reais constantes das notas promissórias cerca de 50 milhões de reais (25% de IRPJ, 9% de CSLL, 7,6% de COFINS e 1,65% de PIS). Ainda que não pagas, essas notas gerariam benefício fiscal para o contribuinte, pois recebidas a custo zero, gerariam perdas pelo não recebimento dos créditos a serem abatidas de receitas futuras na apuração do IRPJ e CSLL. O ganho tributário ainda seria de cerca de 40 milhões. A forma de retificar uma obrigação contratual de pagar é constituir títulos de crédito. Mas isso é impossível se a obrigação é condicionada ao cumprimento de uma cláusula contratual. Um título nessas condições só poderia circular gerando efeitos contra terceiros após a realização das condições previstas. Antes disso, não. A aquisição condicionada tratada no Contrato de Compra e Venda de Notas Promissórias, na forma em que foi feita, não é operação de compra. O fato de ter sido realizada por empresas do Grupo Cetergy não exclui a responsabilidade do contribuinte no negócio. As notas foram criadas para atender ao negócio de constituição da 'joint venture', em benefício do contribuinte e seus sócios. Todos lucraram com essas operações. Receber as notas promissórias pelo valor de face era essencial para o contribuinte. Se assim não fosse, o seu resgate constituiria receita. A contabilização, que consideramos uma fraude, foi feita dessa forma para beneficiar o contribuinte, de forma direta com a isenção do recebimento do ativo, e de forma indireta com a dedução da amortização do ágio de empresa investida. Não existisse essa contabilização, as notas sequer precisariam fazer parte do acervo da empresa incorporada. A transferência das notas como acervo faz parte do planejamento, com é possível concluir da leitura do Anexo 1.1.4 ao Contrato de Investimento, título "1. Capitalização e composição acionária da CEY Holdco I". Verificase ali que a preparação das empresas do grupo Fidelity não é um procedimento anterior ao contrato que o grupo tivesse feito em interesse próprio, mas sim algo que também faz parte do contrato. O Grupo Fidelity e os bancos prepararam, conjuntamente, a empresa Miaplacidus e a estrutura do grupo de modo que atendessem aos seus interesses. Já em 2010 a perda do valor das notas promissórias implicaria a baixa desses ativos e a redução do lucro tributável. O tratamento de novação dados às novas receitas implicaria a não incidência de PIS e COFINS e daria ao prêmio de Fl. 3718DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.719 20 amortização do ágio uma aparência de normalidade, na medida em que o ágio algum dia efetivamente seria pago. Entendemos que ambas as construções (os ativos de notas promissórias e sua novação) são atos simulados com o objetivo de obter economias tributárias e prêmio de amortização do ágio. Por esse motivo, efetuamos os lançamentos dos tributos devidos com multa qualificada de 150%, conforme art. 74, inc. I, §1º da Lei nº 9.430/96, c/c artigos 71, 72 3 73 da Lei nº 4.502/64." Em que pese a errônea indicação do art. 74, em lugar do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, todos os autos de infração apontam corretamente a base legal da multa qualificada. Segundo aquele dispositivo: "Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Vide Lei nº 10.892, de 2004) (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Vide Lei nº 10.892, de 2004) (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) (...) § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007)" (Destacouse) Os arts. 71 a 73 da Lei nº 4.502, de 1964, por sua vez, assim definem as condutas de sonegação, fraude e conluio, que ensejam a qualificação da multa: "Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72." Fl. 3719DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.720 21 A penalidade qualificada foi mantida pela decisão a quo, pelos seguintes fundamentos: "Na situação versada nos autos, pelas razões já expostas, ficou caracterizada a prática de simulação com a utilização das pretensas notas promissórias, quando a real intenção das partes foi "a aquisição, pela Impugnante, do direito ao recebimento de bônus pela assinatura de contratos". Houve uma sequência de operações praticadas a fim que fosse gerada artificialmente uma novação de obrigação, bem assim o surgimento de falsas variações monetárias passivas, que foram deduzidas na apuração do IRPJ e da CSLL. Destarte, a simulação praticada dolosamente teve o fim de impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, de modo que ficou caracterizada a prática da conduta prevista no art. 71, I, da Lei nº 4.502/1964. Mais que isso, a simulação foi fruto de conluio entre as empresas acima nominadas razão pela qual também ficou caracterizada a prática de conluio, definido no art. 73 da Lei nº 4.502/1964 como o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72." Em seu Recurso Voluntário, o sujeito passivo alega, inicialmente, que a autuação teria qualificado genericamente a sua conduta como dolosa, sem apontar de quais das hipóteses previstas pela Lei nº 4.502, de 1964, tratarseia. Desse modo, a decisão de primeira instância teria indevidamente aperfeiçoado os fundamentos da autuação. Em seguida, a Recorrente alega a inexistência das condutas de sonegação, fraude e conluio. Sustenta que todas as operações foram contabilizadas e declaradas; que não teria sido comprovado o dolo, tratandose apenas de erro de interpretação; e, igualmente, não teria sido comprovado o conluio. Não procedem as alegações da Recorrente. Conforme transcrito acima, a autoridade fiscal vinculou a qualificação às três condutas previstas nos arts. 71 a 73 da Lei nº 4.502, de 1964, descrevendoas com exatidão. Foi apontado o benefício tributário almejado pela Recorrente e as práticas por ela adotadas, em conjunto com as demais pessoa jurídicas envolvidas, no sentido de conferir, aos reais fatos, aparência de uma realidade distinta, de modo a escapar à tributação. A existência dos registros contábeis não afasta a fraude apontada pela fiscalização. Pelo contrário, é um dos elementos apontados no Termo de Verificação Fiscal como parte da construção engendrada pela Recorrente para ocultar o fato gerador dos tributos. Com detalhes, ao longo do referido Termo, a autoridade fiscal detalha todas as atividades preparatórias e posteriores à emissão das "notas promissórias", seu descolamento com a realidade dos fatos e os reflexos em relação à tributação. Concordo com o Relator, no sentido de que os sujeitos passivos detém plena liberdade negocial para praticar atos lícitos (acrescento, e verdadeiros), no intuito de escaparem Fl. 3720DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.721 22 ou minorarem a tributação sobre os seus negócios, uma vez que o propósito primeiro do negócio é a majoração do lucro e a economia tributária é das variáveis a serem consideradas em tal desiderato. Não se pode, portanto, taxar de ilícito o planejamento tributário, apenas, porque este teve como único propósito a economia tributária (embora a ausência do propósito negocial ou extratributário possa, em determinados casos, ser empregada como mais um dos elementos que conduzem à conclusão do planejamento tributário ilícito). Contudo, a liberdade negocial de que gozam os sujeitos passivos não possui a amplitude de lhes permitir falsear a realidade, praticando atos que visem dificultar ou impedir o conhecimento da ocorrência do fato gerador por parte da autoridade tributária. É exatamente isso que entendo presente no caso sob análise, de modo que plenamente justificável a qualificação da multa de ofício. Jamais pode ser admitida a alegação da Recorrente de que teria havido mera divergência ou erro na interpretação da lei. Há não um, mais uma sequência de atos praticados (contratos, reorganizações societárias, emissão de "notas promissórias", "novação"), conforme descrição da autoridade tributária, que tiveram o intuito deliberado de simular uma realidade distinta da efetivamente presente. Plenamente aplicável, portanto, as mesmas conclusões a que chegou, recentemente, a Conselheira Adriana Gomes Rêgo, em caso de planejamento tributário envolvendo ágio, no qual a realidade registrada documentalmente também se dissociava dos fatos efetivos (Acórdão nº 9101002.802, 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, sessão de 10 de maio de 2017): "Pois bem, entendo que a qualificação da multa de ofício é devida no presente processo pois, em que pesem todos os fatos terem sido registrados e contabilizados, sob o aspecto tributário, não se tem dúvida de que todo o planejamento visou alterar as características do fato gerador da obrigação tributária, de modo a reduzir o montante do imposto devido, nos termos do art. 72 da Lei nº 4.502, de 1964." Também não se trata aqui, como invocado pelo Relator, da aplicação do parágrafo único do art. 116 do CTN, posto que, inegavelmente, este depende de regulamentação, ainda inexistente. Em nenhum momento, este dispositivo é citado na autuação, nem se trata de desconsideração de atos ou negócios jurídicos. O que se a autoridade fiscal fez foi, tributar os fatos geradores de tributo, qualificandoos adequadamente, tal qual efetivamente praticados, e a despeito da realidade fictícia que o sujeito passivo buscou criar. Isto é algo que o CTN, desde a origem, permite, conforme art. 149, inciso IV: "Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: (...) IV quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória;" Fl. 3721DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.722 23 Isto posto, diferentemente do Relator, entendo aplicável in casu a qualificação da multa de ofício, conforme art. 74, inciso I, §1º, da Lei nº 9.430, de 1996, c/c os artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 1964, votando, portanto, por negar provimento ao Recurso Voluntário quanto a este tópico. Da cominação de multa isolada concomitantemente à multa de ofício. Por fim, a Recorrente se insurge contra a aplicação da multa isolada pelo não recolhimento de estimativas de IRPJ e CSLL. Por um lado, sustenta que tal penalidade seria inaplicável após o encerramento do anocalendário, citando alguma jurisprudência do CARF e a Súmula CARF nº 82. Por outro, alega que a referida penalidade não poderia ser exigida cumulativamente com a multa de ofício, por possuírem a mesma materialidade. Mais uma vez, cita julgados do CARF. A argumentação da Recorrente não merece ser acolhida. Conforme art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, não há impedimento para a aplicação concomitante das referidas penalidades, que possuem bases de cálculo distintas: "Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata;(Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) a) na forma do art. 8o da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) b) na forma do art. 2o desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007)" A multa de ofício sobre o ajuste anual é embasada no inciso I do referido dispositivo é calculada sobre a diferença de imposto apurada ao final do exercício; a multa isolada é calculada sobre o valor devido no mês correspondente. A primeira alegação da Recorrente é totalmente despida de sentido, já que o momento de aplicação da penalidade isolada é exatamente após o encerramento do ano calendário. Antes disso, a autoridade fiscal exigirá o próprio tributo devido por estimativa. É essa a justificativa, portanto, para a Súmula CARF nº 82. Quanto à alegada concomitância, diferentemente do Relator, entendo que também não há razão para acolhêla. Fl. 3722DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.723 24 Todas as decisões do CARF trazidas pela Recorrente para fundamentar a sua tese se referem à redação anterior do referido art. 44, e que fundamentaram, inclusive, a edição da Súmula CARF nº 105. É que na redação original do dispositivo legal, a multa de ofício aplicada ao final do exercício e a multa pelo não recolhimento da estimativa tinham, ambas, como fundamento legal o inciso I do citado art. 44, razão pela qual se firmou a tese da inaplicabilidade concomitante. Após a alteração da redação, promovida pela Lei nº 11.488, de 2007, entendese plenamente cabível a aplicação concomitante das duas penalidades. É esta a precisa conclusão da Conselheira Adriana Gomes Rêgo, no Acórdão nº 9101002.438 (1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, sessão de 20 de setembro de 2016), de sua relatoria: "A alteração legislativa promovida pela Medida Provisória nº 351, de 2007, portanto, claramente fixou a possibilidade de aplicação de duas penalidades em caso de lançamento de ofício frente a sujeito passivo optante pela apuração anual do lucro tributável. Somente desconsiderandose todo o histórico de aplicação das penalidades previstas na redação original do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, seria possível interpretar que a redação original não determinou a aplicação simultânea das penalidades. A redação alterada é direta e impositiva ao firmar que "serão aplicadas as seguintes multas". Ademais, quando o legislador estipula na alínea "b" do inciso II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, a exigência isolada da multa sobre o valor do pagamento mensal ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base negativa no anocalendário correspondente, claramente afirma a aplicação da penalidade mesmo se apurado lucro tributável e, por conseqüência, tributo devido sujeito à multa prevista no inciso I do seu art. 44. Acrescentese que não se pode falar, no caso, de bis in idem sob o pressuposto de que a imposição das penalidades teria a mesma base fática. Basta observar que as infrações ocorrem em diferentes momentos, o primeiro correspondente à apuração da estimativa com a finalidade de cumprir o requisito de antecipação do recolhimento imposto aos optantes pela apuração anual do lucro, e o segundo apenas na apuração do lucro tributável ao final do anocalendário. A análise, assim, não pode ficar limitada, por exemplo, à omissão de receitas ou ao registro de despesas indedutíveis, especialmente porque, para fins tributários, estas ocorrências devem, necessariamente, repercutir no cumprimento da obrigação acessória de antecipar ou na constituição, pelo sujeito passivo, da obrigação tributária principal. A base fática, portanto, é constituída pelo registro contábil ou fiscal, ou mesmo sua supressão, e pela repercussão conferida pelo sujeito passivo àquela ocorrência no cumprimento das obrigações tributárias. Como esta conduta se dá em momentos distintos e com finalidades distintas, duas penalidades são aplicáveis, sem se cogitar de bis in idem." Fl. 3723DF CARF MF Processo nº 19311.720728/201307 Acórdão n.º 1302002.322 S1C3T2 Fl. 3.724 25 Essa tem sido a jurisprudência dominante sobre o tema, inclusive no âmbito da Câmara Superior de Recursos Fiscais, conforme ilustra a ementa a seguir referenciada: "Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2009 (...) MULTA ISOLADA. MULTA DE OFÍCIO. LEI. NOVA REDAÇÃO. FATOS GERADORES A PARTIR DE 2007. Tratam os incisos I e II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996 de suportes fáticos distintos e autônomos com diferenças claras na temporalidade da apuração, que tem por consequência a aplicação das penalidades sobre bases de cálculo diferentes. A multa de ofício aplicase sobre o resultado apurado anualmente, cujo fato gerador aperfeiçoase ao final do anocalendário, e a multa isolada sobre insuficiência de recolhimento de estimativa apurada conforme balancetes elaborados mês a mês ou ainda sobre base presumida de receita bruta mensal. O disposto na Súmula nº 105 do CARF aplicase aos fatos geradores pretéritos ao ano de 2007, vez que sedimentada com precedentes da antiga redação do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, que foi alterada pela MP nº 351, de 22/01/2007, convertida na Lei nº 11.489, de 15/07/2007." (Acórdão nº 9101002.801 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, sessão de 10 de maio de 2017) Após a alteração da redação, entendese, como já dito, plenamente cabível a aplicação concomitante das duas penalidades. Isto posto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO VOLUNTÁRIO. (assinado digitalmente) Paulo Henrique Silva Figueiredo Fl. 3724DF CARF MF
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