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Numero do processo: 10120.006619/2002-95
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Mon May 15 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Ano-calendário: 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002
MULTA QUALIFICADA. PRÁTICA REITERADA.
A prática reiterada de declarar a menor valores apurados na escrituração contábil/fiscal, visando retardar o conhecimento da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal pela autoridade fazendária, caracteriza a figura da sonegação descrita no art. 71 da Lei nº4.502, de 1964, impondo-se a aplicação da multa de ofício qualificada, prevista no § 1º do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996.
Numero da decisão: 9303-005.058
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em dar-lhe provimento, vencidas as conselheiras Érika Costa Camargos Autran (relatora), Tatiana Midori Migiyama e Vanessa Marini Cecconello, que não conheceram e que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Charles Mayer de Castro Souza.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Érika Costa Camargos Autran - Relatora
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza - Relator designado
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: ERIKA COSTA CAMARGOS AUTRAN
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MULTA Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado OPCAO 10 DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS ALIMENTICIOS LTDA ME ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Anocalendário: 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002 MULTA QUALIFICADA. PRÁTICA REITERADA. A prática reiterada de declarar a menor valores apurados na escrituração contábil/fiscal, visando retardar o conhecimento da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal pela autoridade fazendária, caracteriza a figura da sonegação descrita no art. 71 da Lei nº4.502, de 1964, impondose a aplicação da multa de ofício qualificada, prevista no § 1º do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em darlhe provimento, vencidas as conselheiras Érika Costa Camargos Autran (relatora), Tatiana Midori Migiyama e Vanessa Marini Cecconello, que não conheceram e que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Charles Mayer de Castro Souza. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em Exercício AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 12 0. 00 66 19 /2 00 2- 95 Fl. 711DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 712 2 (assinado digitalmente) Érika Costa Camargos Autran Relatora (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Relator designado Participaram do presente julgamento os Conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello. Relatório Tratase de Recurso Especial de divergência interposto pela Fazenda Nacional contra o acórdão n.º 20309.273, de 04 de novembro de 2003, proferido pelo Segundo Conselho de Contribuintes, assim ementado, in verbis: NORMAS PROCESSUAIS — MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL — FORMALIDADE — DESCUMPRIMENTO — LANÇAMENTO — ANULAÇÃO — Estando inserta na legislação tributária, através Portaria/SRF, a emissão do MPF deve obedecer as regras próprias sob pena de nulidade do respectivo lançamento, quanto descumpridas suas formalidades essenciais. PIS — DECADÊNCIA — A Lei n° 8.212/91 estabeleceu o prazo de dez anos para a decadência da Contribuição para o PIS. Além disso, o STJ pacificou o entendimento de que o prazo decadencial, previsto no artigo 173 do CTN, somente se inicia após transcorrido o prazo previsto no artigo 150 do mesmo diploma legal. Recurso negado. A discussão dos presentes autos tem origem no auto de infração de PIS, anoscalendário 1997 a 2002, nos termos do art 926 do Decreto n.° 3.000, de 26 de março de 1999, fls. 354/369. Durante o procedimento de verificações obrigatórias foram constatadas divergências entre os valores declarados/recolhidos a título de PIS quando comparados com os valores de Receita escriturados no Livro de Registro de Apuração de ICMS. Foram apuradas divergências entre valores de Receita contidos na escrituração do livro fiscal de Registro de Apuração de ICMS, fls. 204/352, na Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Fl. 712DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 713 3 Jurídica — DIRPJ e na Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF, fl.s 137/200. Consoante explicita o auto de infração, a fiscalização apurou omissão de receitas, tendo em vista que houve divergências entre os valores declarados na DIPJ e aqueles escriturados nos livros de Registros de Apuração do ICMS, conforme Guias apresentadas à Secretaria da Fazenda do Estado. A fiscalização lavrou auto de infração em que exigiu o pagamento do PIS, mais consectários legais, qualificando a multa de ofício. O Contribuinte apresentou impugnação ao auto de infração, assim, a 2ª Turma da Delegacia de Julgamento em Brasília julgou improcedente a impugnação, nos termos do Acórdão n.º 3.244, de 04 de outubro de 2002. Irresignado com a decisão contrária ao seu pleito, o Contribuinte apresentou Recurso Voluntário. A Terceira Câmara do extinto Segundo Conselho de Contribuinte rejeitou as preliminares de nulidade e de mérito, restando vencido o relator quanto a preliminar de mérito. No mérito foi negado provimento ao recurso. O Contribuinte interpôs Recurso Especial de divergência, sendo que este foi julgado pela 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, a qual anulou o acórdão proferido pela Terceira Câmara do extinto Segundo Conselho de Contribuintes sob o supedâneo de omissão e contradição na decisão proferida. Os autos retornaram à Câmara para que fosse proferida nova decisão. Desta forma, o colegiado, deu provimento parcial ao Recurso Voluntário. A Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial de Divergência (fls. 651 a 663) em face do acordão recorrido que deu provimento parcial ao recurso do Contribuinte, a divergência suscitada da Fazenda Nacional diz respeito a configuração de circunstância qualificativa da infração, como a prática reiterada de prestação ao Fisco Federal de informações sobre o faturamento em valor muito inferior ao declarado ao Fisco Estadual. Fl. 713DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 714 4 Para comprovar a divergência foi apresentado, como paradigma, os acórdãos de números 1101001.268 e 9101001.533, cuja ementas foram transcrita na peça recursal. O Recurso Especial da Fazenda Nacional foi admitido, conforme despacho de fls. 665 a 668, sob o argumento que a decisão recorrida rechaçou o entendimento esposado pela Fiscalização no sentido de que a prestação de informações discrepantes aos fiscos estadual e federal, com omissão de parcela significativa dos rendimentos nas declarações prestadas a este último, de forma reiterada e continuada, demonstrava o intuito de fraude do contribuinte, e desqualificou a infração, com o consequente desagravamento da penalidade, enquanto o acórdão indicado como paradigma n.° 1101001.268, em sentido diametralmente oposto, assentou que a prática de informar ao Fisco, em todos os meses dos anoscalendário examinados, valores de receitas significativamente inferiores àqueles reconhecidos em sua escrituração e informados ao Fisco Estadual, caracteriza evidente intuito de fraude e autoriza a aplicação de multa de ofício agravada. Assim, julgando bem caracterizada a divergência jurisprudencial, entendeu se por dispensar o exame o acórdão n.º 9101001.533 O Contribuinte foi cientificado por edital (fls. 692) para apresentar contrarrazões e não se manifestou. É o relatório em síntese. Voto Vencido Conselheira Érika Costa Camargos Autran Relatora Depreendendose da análise do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, entendo que não deva ser admitido, ainda que o Recurso seja tempestivo, pelos motivos a seguir. Fl. 714DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 715 5 A decisão recorrida deu provimento parcial ao recurso para afastar a qualificação da multa de ofício e declarar a decadência de a Fazenda Pública constituir os créditos tributários referentes aos fatos geradores ocorridos antes de agosto de 1997. A divergência suscitada pela Representação Jurídica da Fazenda Nacional diz respeito a configuração de circunstância qualificativa da infração a prática reiterada de prestação ao Fisco Federal de informações sobre o faturamento em valor muito inferior ao declarado ao Fisco Estadual. Os acórdãos indicados como paradigma são os de n° 1101 001.268 e 9101001.533, assim ementados: Paradigma: 1101001.268 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA – IRPJ Anocalendário: 2008, 2009 OMISSÃO DE RECEITAS. DIFERENÇAS APURADAS EM RELAÇÃO AOS VALORES INFORMADOS AO FISCO ESTADUAL. Correta a exigência que toma por referência receitas reconhecidas na escrituração do sujeito passivo, mas não computadas nas declarações e no cálculo dos tributos devidos. MULTA PROPORCIONAL. QUALIFICAÇÃO. A prática de informar ao Fisco, em todos os meses dos anoscalendário examinados, valores de receitas significativamente inferiores àqueles reconhecidos em sua escrituração e informados ao Fisco Estadual, caracteriza evidente intuito de fraude e autoriza a aplicação de multa de ofício qualificada. AGRAVAMENTO. Afastase a majoração da penalidade se há dúvidas quanto à capitulação legal do fato e à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão de seus efeitos. MULTA POR ATRASO NA APRESENTAÇÃO DE ARQUIVOS MAGNÉTICOS. Se depois de estendido o prazo para apresentação dos arquivos magnéticos, concedendose ao sujeito passivo mais de 45 (quarenta e cinco) dias para sua apresentação, a entrega ainda assim se verifica com atraso, subsiste a multa calculada dentro do limite de 1% da receita da bruta do anocalendário. Fl. 715DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 716 6 Neste caso, o acordão paradigma foi provado que: “Ocorre que a falta de apresentação destes arquivos não foi adequadamente circunstanciada na acusação fiscal. Constatase que a Fiscalização exigiu a apresentação de arquivos SINTEGRA, que a contribuinte aparentemente entregou arquivos que não corresponderiam aos apresentados ao Fisco Estadual, exigindose então os recibos desta entrega, que foram parcialmente fornecidos. De outro lado, os arquivos do SINTEGRA apresentados pela contribuinte foram analisados pela Fiscalização, que apontou incompatibilidades entre suas informações e aquelas consignadas em outra declaração apresentada ao Fisco Estadual e em declarações ao Fisco Federal, além da incompatibilidade entre os arquivos e os recibos de sua entrega. Ao final, a Fiscalização obteve, junto ao Fisco Estadual, os arquivos do SINTEGRA apresentados pela contribuinte, e no Termo de Verificação Fiscal está consignado que na resposta de 13/02/2012 a contribuinte apresentou os arquivos magnéticos contábeis em atraso, mas não entregou os arquivos magnéticos de notas fiscais SINTEGRA. Assim, há dúvida se os arquivos foram apresentados com irregularidade, ou se os arquivos antes entregues são distintos daqueles referentes a notas fiscais¬ SINTEGRA posteriormente referidos no Termo de Verificação Fiscal. Ainda, embora possivelmente este arquivo magnético se enquadre dentre aqueles tratados nos arts. 11 a 13 da Lei nº 8.218/91, a autoridade lançadora também nada diz neste sentido. Tratandose de penalidade, o art. 112 do CTN determina sua interpretação mais favorável ao acusado em caso de dúvida quanto à capitulação legal do fato e à natureza ou às circunstâncias materiais do fato. Por tais razões, o presente voto é no sentido de DAR PROVIMENTO ao recurso voluntário quanto ao agravamento da multa proporcional, reduzindo¬a ao percentual de 150%. Paradigma: 9101001.533 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 2002, 2003, 2004 MULTA QUALIFICADA. FRAUDE COMPROVADA. INCIDÊNCIA. E cabível a aplicação da multa qualificada nos casos em que resta evidenciado o intuito de fraude do contribuinte ao declarar a menor o imposto devido, reiteradamente, e não escriturar corretamente os valores Fl. 716DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 717 7 nos livros fiscais exigidos pela legislação que devem ficar à disposição do ente tributante. Neste processo foi aplicada a multa de ofício em função das peculiaridades do caso concreto. Segundo o acordão paradigma “para a aplicação da multa qualificada de 150% é necessário que a fiscalização comprove, de forma inequívoca, que o contribuinte agiu dolosamente na execução de alguma das condutas previstas nos citados artigos, não bastando meros indício de sua conduta ilícita. No caso dos autos foi aplicada a multa qualificada porque a fiscalização entendeu que o contribuinte, por meio das incongruências entre valores escriturados e valores declarados relativos à receita bruta ocultou 90% (noventa por cento) dos rendimentos da empresa, simulando o faturamento de uma EPP Empresa de Pequeno Porte, agindo, portanto, com intenção de impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento da autoridade fazendária acerca da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária. Da análise dos autos extraise que o contribuinte apresentou declarações à Receita Federal, informando como base de cálculo do SIMPLES para todos os meses dos anos calendários de 2000; 2001; 2002 e 2003, apenas 10% (dez por cento) de seu faturamento registrado no livro de Registro de Apuração de ICMS. Aqui mantevese a multa agravada. Vale ressaltar que devese ter sempre em conta que o dissídio jurisprudencial consiste na interpretação divergente da mesma norma aplicada a fatos iguais ou semelhantes, o que implica a adoção de posicionamento distinto para a mesma matéria versada em hipóteses semelhantes na configuração dos fatos embaçadores da questão jurídica. A decisão recorrida considerou que “não há como presumir a fraude ou a sonegação, ela deve ser provada nos autos. Compulsando exaustivamente os autos de infração, não consigo identificar evidências mínimas de ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Logo, não resta caracterizada a fraude descrita pelo art. 72 da Lei nº 4.502/64. Tampouco vislumbro ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar o conhecimento por parte da Autoridade Fiscal da ocorrência do fato gerador ou as condições e pessoais do contribuinte, suscetíveis a afetar a obrigação tributária.”... “Pelas assertivas feitas, afluem razões jurídicas para afirmar que não foi Fl. 717DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 718 8 provado pelo Fisco a prática de fraude ou sonegação nos moldes previstos nos artigos 71 e 72 da Lei nº 4.502/64.” Nos Acórdãos paradigmas acima, reconheceram que a fiscalização deve provar, de forma inequívoca, que o contribuinte agiu dolosamente na execução de alguma das condutas previstas nos citados artigos, não bastando meros indício de sua conduta ilícita. Sendo que no primeiro acordão reconheceram isso e reduziram a multa e no segundo foi provado que o contribuinte agiu de máfé. Cotejando os acórdãos confrontados, reconheço que não há divergência interpretação das normas a respeito qualificação da multa. E que essas normas foram aplicadas de acordo com o caso concreto. Em razão do exposto, voto pelo não conhecimento do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional em razão da inexistência de aspecto divergente do Acórdão recorrido no paradigma admitido. Do Mérito Antes mesmo de contemplar o prazo decadencial, mister analisar a qualificação da multa . Isto porque, a eventual aplicação do artigo 150, § 4o , do CTN só pode prosperar se afastada a multa qualificada, uma vez que referida penalidade faz florescer a adoção do artigo 173, inciso I, do mesmo Diploma Legal para efeito da contagem do prazo decadencial. No Presente caso, a Fazenda Nacional entende que não ha decadência para efetuar o lançamento por ter o Contribuinte praticado a conduta discriminado no art. 44, II, da Lei nº 9.430/96. Assim, com a conduta qualificada, a regra para contagem da decadência passa da contida no art. 150, §4º, a prevista no art. 173, I, ambas do Código Tributário Nacional. No entanto, entendo que o acórdão recorrido não merece reforma No presente caso, o acordão recorrido após verificar que houve antecipação de pagamento, aplicou o art. 150, § 4º do CTN e afastou a conduta do art. 44, II, da Lei nº 9.430/96. Fl. 718DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 719 9 Inicialmente, cumpre trazer à baila os dispositivos legais que regulamentam a matéria, que assim prescrevem: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; [...] § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Por sua vez, os artigos 71, 72 e 73, da Lei nº 4.502/64, ao contemplarem as figuras do “dolo, fraude ou sonegação”, estabelecem o seguinte: “Art . 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72.” Consoante se infere dos dispositivos legais acima transcritos, impõese à autoridade lançadora a observância dos parâmetros e condições básicas previstas na legislação de regência em casos de imputação da multa qualificada, que somente poderá ser levada a Fl. 719DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 720 10 efeito quando àquela estiver convencida do cometimento do crime (dolo, fraude ou sonegação), devendo, ainda, relatar todos os fatos de forma pormenorizada, possibilitando ao contribuinte a devida análise da conduta que lhe está sendo atribuída e, bem assim, ao procurador de que o delito efetivamente praticado. Em outras palavras, não basta a indicação da conduta dolosa, fraudulenta, a partir de meras presunções e/ou subjetividades, impondo a devida comprovação por parte da autoridade fiscal da intenção prédeterminada do contribuinte, demonstrada de modo concreto, sem deixar margem a qualquer dúvida, visando impedir/retardar o recolhimento do tributo devido. Este entendimento, aliás, encontrase sedimentado no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF, conforme se extrai dos julgados com suas ementas abaixo transcritas: “MULTA AGRAVADA – Fraude – Não pode ser presumida ou alicerçada em indícios. A penalidade qualificada somente é admissível quando factualmente constatada as hipóteses de fraude, dolo ou simulação.” (8ª Câmara do 1° Conselho de Contribuintes – Acórdão n° 108¬07.561, Sessão de 16/10/2003) (grifamos) “ MULTA QUALIFICADA – NÃO CARACTERIZAÇÃO – Não tendo sido comprovada de forma objetiva o resultado do dolo, da fraude ou da simulação, descabe a qualificação da penalidade de ofício agravada.” (2ª Câmara do 1° Conselho de Contribuintes – Acórdão n° 102¬45.625, Sessão de 21/08/2002) “MULTA DE OFÍCIO – AGRAVAMENTO – APLICABILIDADE – REDUÇÃO DO PERCENTUAL – Somente deve ser aplicada a multa agravada quando presentes os fatos caracterizadores de evidente intuito de fraude, como definido nos artigos 71 a 73 da Lei n° 4.502/64, fazendose a sua redução ao percentual normal de 75%, para os demais casos, especialmente quando se referem à infrações apuradas por presunção.” (8ª Câmara do 1° Conselho de Contribuintes – Acórdão n° 10807.356, Sessão de 16/04/2003) (grifamos) Fl. 720DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 721 11 Depreendendose da análise dos autos do processo, compartilho do entendimento expressado pelo ilustre exConselheiro Gilson Macedo Rosenburg Filho. “...não há como presumir a fraude ou a sonegação, ela deve ser provada nos autos. Compulsando exaustivamente os autos de infração, não consigo identificar evidências mínimas de ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Logo, não resta caracterizada a fraude descrita pelo art. 72 da Lei nº 4.502/64. Tampouco vislumbro ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar o conhecimento por parte da Autoridade Fiscal da ocorrência do fato gerador ou as condições e pessoais do contribuinte, suscetíveis a afetar a obrigação tributária.”... “Pelas assertivas feitas, afluem razões jurídicas para afirmar que não foi provado pelo Fisco a prática de fraude ou sonegação nos moldes previstos nos artigos 71 e 72 da Lei nº 4.502/64. Compulsando os autos, como já mencionado, houve antecipação de pagamento conforme exige o art. 150, § 4º do CTN, de sorte que o prazo decadencial deverá começar a fluir a partir da ocorrência do fato gerador. O sujeito passivo tomou ciência do auto de infração em 09/08/2002. Portanto, o direito de a Fazenda Pública constituir os créditos tributários referentes aos fatos geradores ocorridos antes de 09/08/1997 tinha sido fulminado pela decadência à época do lançamento. Assim sendo cancelo a exigência tributária referente aos períodos de apuração anteriores a 09/08/1997.” Realmente verificando os autos, no curso da ação fiscalizadora a Recorrida recebeu inúmeras intimações, onde lhe foram exigidos apresentação de livros fiscais Fl. 721DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 722 12 e outras documentações, inclusive preenchimento em disquete de informações às quais não estava obrigado. Em resposta à mesma informou a totalidade de suas vendas e a apuração da base de cálculo, nos moldes em que a fiscalização determinou. Verificase que embora não tivesse a obrigatoriedade de preencher tal disquete ou qualquer outra declaração que não fossem as obrigações acessórias legalmente instituídas, de boa fé forneceu espontaneamente a totalidade do seu faturamento. Ademais, atesta o próprio Auto de Infração que todos os livros fiscais (apuração do ICMS) encontravamse correta e devidamente escriturados, sem omissão de receita ou faturamento. Tanto é verdade que os fiscais, reprisese, não verificaram nenhuma nota fiscal ou fatura, de tal sorte que a confiança deles quanto a conduta da Impugnante e com relação à emissão de notas ficais relativas às suas vendas era total. Frisese: o levantamento da receita foi confirmado com base no aludido livro. A caracterização do crime estaria patente se houvesse divergência, sistemática e reiterada, entre as notas fiscais emitidas e àquelas escrituradas nos livros fiscais e contábeis, ou, ainda, omissão de receita decorrente da falta de emissão de documento fiscal. Todavia, nada disso foi constatado. Outro fato, também consta do auto de infração, a frase “em Tese” mais precisamente na assertiva:"... constituindo, desta forma, EM TESE, crime contra a ordem tributária..." (maiúsculas e negrito da Impugnante). Desta maneira, entendo que aplicação ou agravamento da multa, em casos como dos autos, importaria em equiparar uma prática claramente identificada, aos fatos delituosos mais ofensivos à ordem legal, em que o agente sabe estar praticando o delito e o deseja, a exemplo de: adulteração de comprovantes, nota fiscal inidônea, conta bancária fictícia, falsificação documental, documento a título gracioso, falsidade ideológica, nota fiscal calçada, notas fiscais de empresas inexistentes (notas frias), notas fiscais paralelas, etc. E não supor que o Contribuinte praticou um crime contra a ordem tributária. Fl. 722DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 723 13 Em outras palavras, a fraude é um artifício malicioso que a pessoa emprega com a intenção de burlar, enganar outra pessoa ou lesar os cofres públicos, na obtenção de benefícios ou vantagens que não lhe são devidos. Ademais, conforme analise dos autos, verifiquei que o Contribuinte na verdade entendeu que a base de incidência da contribuição, para qualquer atividade, deve recair sobre o lucro bruto, tal qual se aplica às Instituições Financeiras e às empresas que operam com compra e venda de moeda. Portanto, se justifica tais diferenças encontradas pela fiscalização. Portanto, não há prova contundente de ter a contribuinte agido com "evidente intuito de fraude", ônus do qual não se desincumbiu o Fisco. Sendo a conduta do sujeito passivo dissociada dos conceitos qualificadores de fraude, sonegação e conluio, capazes de configurar o dolo, a mesma enquadrase em equívocos e erros na interpretação da legislação aplicável, afastando qualquer possibilidade de aplicação da penalidade da multa. No caso vertente, inobstante os argumentos da recorrente, não podemos afirmar com a segurança que o caso exige ter o contribuinte agido com dolo objetivando suprimir tributos, mesmo porque a pretensão da Fazenda Nacional se arrima simplesmente na conduta reiterada do autuado, fundamento insuficiente para a qualificação da multa, impondo seja rechaçada aludida penalidade. Desta maneira, mantenho afastada a multa qualificada e como houve antecipação de pagamento, a regra para contagem da decadência deve ser a contida no art. 150, §4º. Considerando todo o exposto, voto por negar provimento ao Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, mantendo o decidido no acórdão recorrido. É como voto. (assinado digitalmente) Érika Costa Camargos Autran Voto Vencedor Fl. 723DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 724 14 Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza Redator designado Com a devida vênia, discordamos do il. Relator. No que concerne ao conhecimento do recurso especial, o acórdão recorrido e paradigmas adotaram entendimentos divergentes para a mesma situação fática: a reiterada declaração a menor de valores registrados no mesmo Livro de Apuração de ICMS. E, conhecido, vemos assistir razão à Recorrente. É que, em casos idênticos, esta mesma Turma tem mantido a qualificação da multa de ofício, ao fundamento de quebem caracterizado o dolo, a ensejar a sua aplicação, não se tratando, portanto, de mera omissão, a atrair a incidência da Súmula CARF nº 14. Ilustrativamente: MULTA QUALIFICADA. PRÁTICA REITERADA. A prática reiterada de declarar a menor valores apurados na escrituração contábil/fiscal, visando retardar o conhecimento da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal pela autoridade fazendária, caracteriza a figura da sonegação descrita no art. 71 da Lei nº4.502, de 1964, impondose a aplicação da multa de ofício qualificada, prevista no § 1º do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996. (Acórdão 3ª Turma/CSRF nº 9303 004.319, de 15/09/2016) Ante o exposto, e sem maiores delongas, dou provimento ao recurso especial da Procuradoria, para restabelecer a aplicação da multa qualificada. É como voto. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 724DF CARF MF Processo nº 10120.006619/200295 Acórdão n.º 9303005.058 CSRFT3 Fl. 725 15 Fl. 725DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.721384/2011-16
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jan 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Sep 11 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/02/2006 a 30/08/2008
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. BÔNUS DE CONTRATAÇÃO (HIRING BÔNUS). PAGAMENTO VINCULADO A PERMANÊNCIA DO EMPREGADO NA EMPRESA E EM SUBSTITUIÇÃO DAS VANTAGENS SALARIAIS DEVIDAS DURANTE O PERÍODO DO LABOR. PARCELA DE NATUREZA SALARIAL. INCIDÊNCIA.
Tendo em vista que o pagamento do bônus de contratação se deu de forma a retribuir os trabalhos prestados na empresa contratante, com expressa determinação contratual de que o mesmo substitui e engloba todas as vantagens que o empregado poderia auferir no exercício de suas funções junto ao contratante, além de exigir-lhe tempo mínimo de permanência na empresa, é de se reconhecer a natureza salarial da verba, devendo compor a base de cálculo das contribuições previdenciárias lançadas.
Numero da decisão: 9202-005.156
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do contribuinte e, no mérito, por voto de qualidade, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Ana Paula Fernandes, Patrícia da Silva e Fábio Piovesan Bozza , que lhe deram provimento e, ainda, a conselheira Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deu provimento parcial. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Ana Paula Fernandes Relatora
(assinado digitalmente)
Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira - Redatora Designada
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior e Fábio Piovesan Bozza.
Nome do relator: ANA PAULA FERNANDES
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BÔNUS DE CONTRATAÇÃO (HIRING BÔNUS). PAGAMENTO VINCULADO A PERMANÊNCIA DO EMPREGADO NA EMPRESA E EM SUBSTITUIÇÃO DAS VANTAGENS SALARIAIS DEVIDAS DURANTE O PERÍODO DO LABOR. PARCELA DE NATUREZA SALARIAL. INCIDÊNCIA. Tendo em vista que o pagamento do bônus de contratação se deu de forma a retribuir os trabalhos prestados na empresa contratante, com expressa determinação contratual de que o mesmo substitui e engloba todas as vantagens que o empregado poderia auferir no exercício de suas funções junto ao contratante, além de exigirlhe tempo mínimo de permanência na empresa, é de se reconhecer a natureza salarial da verba, devendo compor a base de cálculo das contribuições previdenciárias lançadas. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do contribuinte e, no mérito, por voto de qualidade, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Ana Paula Fernandes, Patrícia da Silva e Fábio Piovesan Bozza , que lhe deram provimento e, ainda, a conselheira Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deu provimento parcial. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 72 13 84 /2 01 1- 16 Fl. 1144DF CARF MF 2 Luiz Eduardo de Oliveira Santos – Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Ana Paula Fernandes – Relatora (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Redatora Designada Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior e Fábio Piovesan Bozza. Relatório O presente Recurso Especial trata de pedido de análise de divergência motivado pelo Contribuinte face ao acórdão 2401003.708, proferido pela 1ª Turma Ordinária / 4ª Câmara / 2ª Seção de Julgamento. Tratase de processo que agrupa os Autos de Infração (AI), compreendendo o período de 02/2006 a 08/2008, lavrados: a) para a cobrança de contribuições previdenciárias destinadas a terceiros incidentes sobre pagamentos efetuados a segurados empregados (AI 37.318.1116); b) para a cobrança de contribuições previdenciárias parte da empresa e as destinadas ao financiamento do GILRAT incidentes sobre pagamentos efetuados a segurados empregados (AI 37.318.1108); e c) para a cobrança de multa por ter a recorrente deixado de informar em GFIP os fatos geradores das contribuições previdenciárias indicadas nos autos de infração supra (AI 37.318.1094). O Contribuinte apresentou sua impugnação em 28/11/2011, conforme fls. 268/299. A 12ª Turma da DRJ de São PauloI, às fls. 306/335, manteve o lançamento do crédito tributário. Em sede de Recurso Voluntário, às fls. 339/382, alegou, em síntese, que a imunidade dos pagamentos de PLR, prevista no art. 7º, inciso XI, da Constituição Federal deve ser autoaplicável, pois se trata de norma constitucional de eficácia plena. Afirmou, por conseguinte, que as verbas pagas a título de PLR efetivamente possuem tal natureza, tendo em vista que efetivamente decorrem dos resultados obtidos pela recorrente naquele período, sendo que todas as exigências constantes na Lei 10.101/00 fora atendidas. Pugnou pela exclusão dos juros sobre a multa de ofício e o reconhecimento da decadência para as competências de 02/2006 e 08/2006. Fl. 1145DF CARF MF Processo nº 16327.721384/201116 Acórdão n.º 9202005.156 CSRFT2 Fl. 10 3 A 3ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento, às fls. 865/887, DEU PARCIAL PROVIMENTO ao Recurso Ordinário, restando assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/02/2006 a 30/08/2008 DECADÊNCIA. SÚMULA VINCULANTE N. 08 DO STF. É de 05 (cinco) anos o prazo decadencial para o lançamento do crédito tributário relativo a contribuições previdenciárias. Decadência reconhecida por qualquer das regras do Código Tributário Nacional. PLR PAGA A DIRETORES NÃO EMPREGADOS.IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA. IDENTIDADE DE OBJETOS. CONCOMITÂNCIA. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO FISCAL. Tendo em vista que a recorrente impetrou Mandado de Segurança e Ação Ordinária com o mesmo objeto do presente processo administrativo fiscal, pleiteando o reconhecimento da não incidência das contribuições sobre pagamentos creditados a diretores não empregados, é de se reconhecer a renúncia ao contencioso administrativo fiscal. Aplicação da Súmula CARF n. 01. PLR PAGA A SEGURADOS EMPREGADOS. NÃO APRESENTAÇÃO DE MEMÓRIAS DE CÁLCULO DOS VALORES PAGOS. DESCONSIDERAÇÃO DO ACORDO EFETUADO. LANÇAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. A não apresentação das memórias de cálculo dos valores pagos a título de PLR autoriza que o lançamento das contribuições tidas por devidas seja realizado pela sistemática do arbitramento em conformidade com o art. 33 da Lei 8.212/91, o que não foi observado no presente caso, já que, pela não apresentação, houve a simples descaracterização do acordo levado a efeito pelas partes. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. BÔNUS DE CONTRATAÇÃO (HIRING BÔNUS). PAGAMENTO VINCULADO A PERMANÊNCIA DO EMPREGADO NA EMPRESA E EM SUBSTITUIÇÃO DAS VANTAGENS SALARIAIS DEVIDAS DURANTE O PERÍODO DO LABOR. PARCELA DE NATUREZA SALARIAL. INCIDÊNCIA. Tendo em vista que o pagamento do bônus de contratação se deu de forma a retribuir os trabalhos prestados na empresa contratante, com expressa determinação contratual de que o mesmo substitui e engloba todas as vantagens que o empregado poderia auferir no exercício de suas funções junto ao contratante, além de exigirlhe tempo mínimo de permanência na empresa, é de se reconhecer a natureza salarial da verba, devendo compor a base de cálculo das contribuições previdenciárias lançadas. INCIDÊNCIA DE JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. Incidem juros sobre a multa de ofício, a serem aplicados após a constituição do crédito. Recurso Voluntário Provido em Parte. Fl. 1146DF CARF MF 4 Após manifestarse expressamente seu desinteresse em recorrer (fl. 891), às fls. 895/897, a Fazenda Nacional apresentou Embargos de Declaração, sob a alegação de obscuridade do voto, porém, os mesmos restaram negado pela 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento, às fls. 905/907, por serem intempestivos. Às fls. 917/928, o Contribuinte interpôs Recurso Especial, alegando divergência jurisprudencial entre o acórdão recorrido e os paradigmas trazidos para analise, em relação a dois temas: bônus de contratação, pois enquanto a decisão recorrida entendeu que, mesmo não ocorrendo a prévia prestação de serviço por parte do segurado, o valor pago deve ser base de incidência da contribuição previdenciária, os paradigmas apontados são taxativos em dizer que é condição indispensável para que os valores sejam base da incidência contributiva previdenciária a efetiva prestação de serviço por parte do segurado, ou que a pessoa já tenha se colocado à disposição do empregador; e sobre juros sobre multa de ofício, verificase a divergência de entendimento nos acórdãos recorrido e paradigmas, tendo em vista que, enquanto a decisão recorrida entende que é legal a incidência dos juros sobre a multa de ofício, os paradigmas dizem que inexiste no ordenamento jurídico previsão para tal incidência. Às fls. 1123/1130, a 4ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento realizou o Exame de Admissibilidade do Recurso Especial interposto pelo Contribuinte, DANDO SEGUIMENTO ao recurso, uma vez vislumbrada a similitude das situações fáticas nos acórdãos recorrido e paradigmas, configurando a divergência jurisprudencial apontada. Às fls. 1132/1142, a Fazenda Nacional apresentou contrarrazões, adotando como suas contrarrazões, em síntese: em relação ao bônus de contratação, aduziu que tal parcela, também denominada hiring bonus, signon bonus, ou “luvas”, pode ser conceituado como a soma em dinheiro que a empresa oferece à profissional qualificado, normalmente com o perfil altamente especializado, como atrativo à respectiva contratação e consequente desvinculação do emprego anterior. Outrossim, tal montante traz ao futuro contratado o dever de permanência na empresa por determinado período. Tanto se está diante de uma remuneração pelo trabalho que, se deixar a empresa (se deixar de trabalhar), o empregado devolve o dinheiro antecipado na proporção dos meses que faltarem para completar o prazo abrangido pela antecipação. Nesse sentido, alega não ser uma verba indenizatória, pois entende que as verbas indenizatórias, em sua essência, são devidas por quem tenha de alguma maneira lesado o patrimônio ou um bem jurídico de outrem, sendo o seu escopo justamente o de recomposição desse patrimônio. Na hipótese dos bônus de contratação, data venia, não há que se falar em indenização no seu estrito sentido jurídico, pois o novo empregador não cometeu nenhum ato ilícito que ensejasse o dever legal de recomposição do patrimônio do empregado. Com relação aos juros de mora sobre multa de ofício, argumentou que a aplicação do art. 161 do Código Tributário Nacional decorre apenas de interpretação literal, porém, Em uma análise sistemática do Código Tributário Nacional, concluirseá que o crédito tributário engloba tanto o tributo quanto a multa. O art. 113, § 1º do CTN preceitua que a obrigação principal tem por objeto o pagamento do tributo ou penalidade pecuniária, donde se observa, conforme leciona Luciano Amaro2, que o critério utilizado pelo Código Tributário Nacional para distinguir obrigação acessória de obrigação principal é o conteúdo pecuniário. A obrigação acessória consiste em um fazer ou não fazer, enquanto que a obrigação principal implica em obrigação de dar dinheiro. Neste passo, resta evidente que a multa tem natureza de obrigação principal, visto que incontestável o seu conteúdo pecuniário. O conceito de crédito tributário está esculpido no art. 139 do CTN: “Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.” Desta forma, por ser a multa, indubitavelmente, obrigação principal, não se pode chegar a outra conclusão se não a de que o crédito tributário engloba o tributo e a multa. Logo, tanto sobre o tributo (principal) quanto sobre a multa deve incidir juros, como determina o § 1º do art. 161 do Código Tributário Nacional. Fl. 1147DF CARF MF Processo nº 16327.721384/201116 Acórdão n.º 9202005.156 CSRFT2 Fl. 11 5 Após, vieram os autos conclusos para julgamento. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Ana Paula Fernandes Relatora O Recurso Especial interposto pelo Contribuinte é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto, merece ser conhecido. Tratase de processo que agrupa os Autos de Infração (AI), compreendendo o período de 02/2006 a 08/2008, lavrados: a) para a cobrança de contribuições previdenciárias destinadas a terceiros incidentes sobre pagamentos efetuados a segurados empregados (AI 37.318.1116); b) para a cobrança de contribuições previdenciárias parte da empresa e as destinadas ao financiamento do GILRAT incidentes sobre pagamentos efetuados a segurados empregados (AI 37.318.1108); e c) para a cobrança de multa por ter a recorrente deixado de informar em GFIP os fatos geradores das contribuições previdenciárias indicadas nos autos de infração supra (AI 37.318.1094). O Acórdão recorrido deu parcial provimento ao Recurso Ordinário. O Recurso Especial apresentado pelo Contribuinte trouxe para análise as divergências jurisprudenciais no tocante a bônus de contratação e juros de mora sobre multa de ofício. A meu ver, mantendo posicionamento que já adotei em outros julgamentos, a exemplo do acórdão 9202004.308 – 2ª Turma, esta questão não gera dúvidas quanto a não aplicabilidade de contribuição previdenciária pela expressa não ocorrência do fato gerador do tributo em questão: Trabalho. Observese que o pagamento em questão (bônus de contratação), ocorre antes da relação de emprego ser instaurada. Se ocorre antes, logo não representa a contraprestação de um trabalho realizado pelo empregado, pois este ainda nem é empregado da empresa. A própria Consolidação das Leis do Trabalho – CLT não trata desse instituto, por não a considerar sob a rubrica de remuneração advinda do exercício de um trabalho. E por que a Justiça do Trabalho não considera o bônus de contratação como remuneração advinda de relação de trabalho? Por que no momento em que ela é operacionalizada, faltalhe o elemento fundamental da relação de emprego habitualidade. E por que a Justiça Federal Previdenciária não admite o bônus de contratação como salário de contribuição? Por que, da mesma forma, faltalhe o elemento da habitualidade para configurar a existência da relação de emprego da qual decorre a remuneração tributável. O argumento principal está na Constituição Federal, que prevê expressamente em seu artigo 201, § 11, que "os ganhos habituais devem incorporar o salário, originando obrigatoriamente o recolhimento de contribuições previdenciárias". A Constituição Federal, berço do custeio do Sistema de Regime Geral da Previdência Social não engloba verbas eventuais, ao contrário, as excetua. Assim, resta claro que, no caso em tela, não estamos tratando de ganhos habituais, portanto, estes não podem incorporar o salário de contribuição do empregado. Ainda, e não menos importante, a legislação previdenciária §9º do artigo 28 da lei 8.212/91 e decreto 3.048/99 (artigo 214, inciso IV, § 9º, letra “j”), é taxativa em Fl. 1148DF CARF MF 6 descrever todas as verbas que compõem o saláriodecontribuição do empregado, sendo que o bônus de contratação não foi discriminado, bem como há previsão expressa de isenção da contribuição previdenciária no pagamento de gratificações eventuais desvinculadas do salário de remuneração do trabalhador. Para a doutrina dominante, o bônus de contratação é a indenização oferecida pela empresa a um empregado que ela tenha interesse de contratar, pelo abandono que este empregado teria de expectativa de ganhos na atividade anterior. Representa um convite de risco com prévia indenização para que este empregado aceite a contração já previamente indenizado, justamente em razão do aceite desse “risco”, de largar algo estável e certo, ou até mesmo sua autonomia por algo novo (relação de emprego). Observese que a base de cálculo da Contribuição Previdenciária está amplamente prevista e debatida no texto da lei, a qual não comporta ilações, quanto menos alargamento forçado. É cabível cobrança de Contribuição Previdenciária patronal, portanto, exclusivamente, para rendimentos advindos do exercício do trabalho. É a Lei que diz isso. Contudo, registrese que no caso em tela fica nítido que a Fazenda Nacional não logrou êxito em provar o contrário, os rendimentos tributados equivocadamente não são fruto de contratos que os relacionem com contraprestação do exercício de trabalho, nem sequer com o cumprimento de metas advindas da contratação, quanto menos há compensação desta verba com o salário percebido posteriormente após o início da relação de emprego, logo, não há que se falar da incidência do tributo. Ainda no tocante ao caso concreto, importante ressalvar que o pagamento do referido bônus de contratação se deu em uma única parcela, ao contrário de outros pagamentos que sofrem críticas por serem parcelados por diversos meses nos quais já se iniciou o contrato de trabalho, não foi o que houve no caso dos autos, embora para meu posicionamento seja irrelevante. Diferentemente da norma tributária, a legislação previdenciária, no que tange às contribuições devidas pelo empregador, não permite presunções. A base de custeio previdenciário está disposta pormenorizadamente na norma legal, não podendo ser elastecida para atender os interesses da Administração Pública Fisco. Quanto ao juros sobre multa de ofício considero indevidos nos mesmos termos do acórdão paradigma, face a absoluta falta de previsão legal. Diante do exposto, conheço do Recurso do Contribuinte para no mérito dar lhe provimento, face a inequívoca falta de previsão legal para o lançamento e cobrança do tributo pretendido, bem como da cobrança de juros sobre multa nas contribuições previdenciárias. É como voto. (assinado digitalmente) Ana Paula Fernandes Fl. 1149DF CARF MF Processo nº 16327.721384/201116 Acórdão n.º 9202005.156 CSRFT2 Fl. 12 7 Voto Vencedor Conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Redatora Designada. Peço licença a ilustre conselheira Ana Paula Fernandes para divergir do seu entendimento quanto a exonerar o contribuinte de obrigação principal em relação a concessão de bônus de contratação HIRING BÔNUS. Recurso Especial do Contribuinte Em relação aos fundamentos que norteiam considerar o pagamento do bônus de contratação, como salário de contribuição, entendo que a questão foi devidamente fundamentada pelo acórdão recorrido, inclusive razão pela qual acompanhei o relator nessa parte. Dessa forma, transcrevo as partes pertinentes, adotandoo como razões de decidir. Senão vejamos Do bônus de contratação. Relativamente a este rubrica, assim fora justificado o lançamento pela fiscalização tributária: 45. não obstante a amplitude do conceito de salário de contribuição, o próprio artigo 28 em seu parágrafo 9º, prevê inúmeras situações especiais onde, mesmo havendo pagamento direto ao empregado, não haverá a incidência da contribuição previdenciária. Tais hipóteses consubstanciam isenções concedidas àqueles que têm o dever de contribuir com a Previdência Social, desonerandoos da exação. Por sua vez, a interpretação da norma isentiva não permite incluir nela situações que não estejam expressamente previstas no texto legal, em face da literalidade em que deve ser interpretada, conforme artigo 111, inciso II da Lei nº 5.172/66 – CTN. 46. Esta verba é paga no ato da contratação, negociada entre a empresa e o empregado, faz parte do pacote de remunerações para incentivar o empregado a ingressar nos quadros da empresa, denominada no mercado como "luvas", "hiring bônus" ou bônus de contratação, tem como natureza uma gratificação ajustada, não estando nas hipóteses de isenção previdenciária; 47. Da mesma forma é o entendimento da legislação trabalhista, conforme disposto no artigo 457, §1º da CLT; 48. Nesse sentido, quando a lei define remuneração paga a qualquer título, o pagamento de "luvas", que tem natureza de gratificação ajustada, está contido na definição legal de remuneração, sendo parte integrante do salário de contribuição; Fl. 1150DF CARF MF 8 49. No caso, verificase através dos contratos firmados entre a empresa e os empregados contratados a natureza de remuneração em troca do trabalho, conforme transcrito a seguir: "Abono de contratação firmado entre Itaú Corretora de Valores S A e Ricardo Jorge Fernandez Fernandez: (...) 2. Em reciprocidade pelo recebimento da importância acima, que após as deduções legais resultará no valor líquido de R$ 99.852,80 (Noventa e nove mil, oitocentos e cinqüenta e dois reais e oitenta centavos), o colaborador assume expressamente o compromisso de permanecer trabalhando nesta empresa por um período de 24 (vinte e quatro) meses.". Aditivo ao contrato individual de trabalho entre Itaú Corretora de Valores S A, empregador e Luiz Gustavo Cherman: (...) 1.m O funcionário comprometese a manter a relação de emprego pelo prazo mínimo de 36 meses e a cumprir todas as metas previstas até 30 de abril de 2011.” Em contrapartida, argumenta a recorrente que se trata, em verdade, de verba desvinculada do salário, uma vez que fora paga aos beneficiários no ato da contratação, momento no qual ainda não se dava a prestação dos serviços, motivo pelo qual deve ser reconhecido sobre ela não incidirem as contribuições previdenciárias. Pois, bem, sobre o assunto, inicialmente cabe frisar que a CF/88, em seu art. 195, I, “a”, definiu que o financiamento da Seguridade Social se faria, em parte pelas contribuições do empregador e do empregado incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos provenientes do trabalho, senão vejamos: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:(Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998) I do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Por sua vez, em face de referido comando constitucional, tais contribuições vieram a ser instituídas por meio da Lei 8.212/91, que em seu artigo 22, assim dispôs: Fl. 1151DF CARF MF Processo nº 16327.721384/201116 Acórdão n.º 9202005.156 CSRFT2 Fl. 13 9 rt. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: I vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999). E ao definir o conceito de salário de contribuição, no caso a base de cálculo das contribuições previdenciárias, a própria Lei n ° 8.212/91 definiu que, para o segurado empregado entendese por saláriodecontribuição: Art.28. Entendese por salário de contribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10/12/97)grifo nosso. Resta claro portanto que a cobrança das contribuições sociais previdenciárias somente poderá ser levada a efeito sobre valores que vierem ser creditados a segurados empregados ou contribuintes individuais quando estes venham a auferir remuneração destinada a retribuir um trabalho por eles prestado ao seu empregador ou tomador de serviços, não sendo abarcados na hipótese de incidência eventuais ganhos que não possuam qualquer vinculação com a prestação de trabalho com ou sem vínculo empregatício. O pagamento de verbas a título de hiring bônus ou bônus de contratação é uma ferramenta utilizada pelas empresas, sobretudo com o intuito de angariar funcionários de alta performance de mercado, com vínculo empregatício ou não, para os quadros de colaboradores de determinada empresa, diante da atual escassez no mercado de trabalho de profissionais especializados em determinada expertise ou mesmo de profissionais de alta capacidade operacional que se destacam no exercício de suas funções no empresariado brasileiro. Fl. 1152DF CARF MF 10 Tratase de uma forma encontrada, ainda, pelas empresas de adoçar a boca de executivos, para que os mesmos venham a auferir vantagens para que deixem os seus antigos postos de trabalho e venham a se filiar a uma nova empresa, pois, sem a concessão de melhores benefícios, certamente tais profissionais continuariam a exercer sua funções no antigo posto de trabalho não havendo para eles qualquer vantagem em transferir sua força de trabalho e conhecimentos a um novo empregador. Fato é que o pagamento do bônus de contratação não possui qualquer previsão legal acerca de sua obrigação ou não de pagamento, se traduzindo em nova prática de mercado, atualmente adotada por empresas brasileiras à exemplo da prática há muito já realizada no exterior, como forma das mesmas se manterem vivas e competitivas, certamente pela força de trabalho de profissionais mais especializados e mais respeitados em determinada área. Em se tratando de uma prática mais atual, também não houve qualquer previsão sobre tal pagamento nas hipóteses de isenção das contribuições previdenciárias previstas no §9o do art. 28 da Lei 8.212/91, de modo que o próprio legislador constituinte e o ordinário, ao definirem o salário contribuição, pela impossibilidade de previsão de todas as formas de remuneração que poderiam vir a ser criadas, determinou que todo o pagamento auferido em uma ou mais empresas que tiver como escopo a retribuição do trabalho prestado, deverá ser considerado como base de cálculo para fins de incidência da tributação pelas contribuições previdenciárias. Assim, em face do silêncio da legislação relativamente ao pagamento de bônus de contratação, cabe ao julgador, diante do caso em concreto, apurar se o pagamento efetuado teve realmente ou não a finalidade de retribuição de trabalho prestado, não havendo que se falar, apenas na tributação da verba sobre o argumento de que ela não consta expressamente dentre as hipóteses de isenção previstas no art. §9o do Art. 28 da Lei 8.212/91. A meu ver, o primeiro elemento que deve considerado para definição ou não do caráter de retributividade da verba, o qual a meu ver é incontroverso no presente caso, pois não veio a ser questionado pela fiscalização ou mesmo pela própria recorrente, é o momento em que a verba veio a ser paga. Consta do relatório fiscal que a verba foi paga no ato da contratação, ou seja, em momento no qual o seu beneficiário sequer estava formalmente ligado ao quadro de colaboradores da recorrente ou mesmo tenha até iniciado a prestação dos serviços para o qual fora contratado. Logo, em não havendo a prévia prestação do serviço, a meu ver, considerandose tal elemento, por si só no caso em concreto, não há que se falar que o pagamento da verba ou remuneração destinouse a retribuir qualquer trabalho prestado, diante da clara impossibilidade de tal fato pudesse mesmo ocorrer. [...] Fl. 1153DF CARF MF Processo nº 16327.721384/201116 Acórdão n.º 9202005.156 CSRFT2 Fl. 14 11 Dessa forma não concordo com a conclusão da fiscalização no presente caso de que o bônus de contratação se trata, em todos os casos, de uma gratificação ajustada, de modo a atrair a incidência das contribuições com fundamento no art. 457 da CLT. A meu ver uma gratificação, qualquer que seja sua forma, caracterizase como um pagamento feito por liberalidade do empregador, como uma forma de agradecimento ou reconhecimento de algo, no caso, uma vez que creditada ao seu empregado, certamente busca gratificálo pelos serviços já prestados ou mesmo como recompensa pelo respectivo tempo de serviço na empresa ou performance na execução de determinado serviço. [...] Pois bem. Não obstante as ponderações acima, no presente caso, o fiscal trouxe aos autos interessante dado, no caso, a informação de que o bônus de contratação, fora pago no ato da contratação e fora condicionado ao um período de permanência dos seus beneficiários nos quadros funcionais da recorrente, por vezes por um período de 24 (vinte e quatro) meses, por vezes por um período de 36 (trinta e seis) meses. Transcrevo o que consta no contrato dos beneficiários da verba: “O funcionário comprometese a manter a relação de emprego pelo prazo mínimo de 36 (trinta e seis meses) e a cumprir todas as metas até 30 de abril de 2011” E não é só. O instrumento que regulou o pagamento do hiring bônus no presente caso, além de determinar um prazo mínimo no qual o empregado deve manterse no seu emprego, prevê de forma expressa que: (i) o valor pago a título do bônus de contratação se caracteriza num adiantamento pelo compromisso firmado de permanecer no cargo pelo prazo de 36 meses; (ii) o recebimento de tal quantia quitará quaisquer vantagens que venha o empregado a adquirir até 30 de abril de 2011, excetuados os salários fixos e comissões de seu cargo; (iii) na hipótese de ocorrer abandono de emprego ou pedido de demissão antes de 36 meses, o empregado tem a obrigação de restituir o adiantamento na proporção de 1/36 por mês faltante para o cumprimento de referido prazo; E em face da presença de tais condições, indago se o fato da verba ter sido paga no ato da contratação, mesmo sem ter havido a efetiva prestação do serviços, pode ensejar a conclusão de que o pagamento visou/teve como finalidade atrair tais empregados para uma nova empresa e está desvinculado, neste caso, do trabalho prestado. Creio que não. Ora, somente o fato de constar no acordo do pagamento do hiring bônus que tais valores são um adiantamento pelo período futuro em que o empregado deverá ficar vinculado à empresa, já demonstra forte indício de que existe uma vinculação do seu Fl. 1154DF CARF MF 12 pagamento em razão da contraprestação do serviço no presente caso na forma de uma remuneração antecipada. Aliandose a tal condição, a obrigação de devolução dos valores em caso da quebra prematura do contrato de trabalho e a de que os valores constituem o pagamento de qualquer vantagem que o empregado venha ou possa adquirir em função do seu trabalho, realmente, não vejo como concluir pela desvinculação do pagamento em razão do trabalho a ser prestado como forma de atrativo ao empregado para compor os quadros de funcionários da recorrente. A meu ver, a forma pactuada pelas partes para o pagamento do bônus de contratação, se mostra muito mais e claramente como uma forma de manter o empregado vinculado à recorrente, e não como forma de atraílo a vir a fazer parte de seu quadro de colaboradores. Assim, afasto as alegações da recorrente. Pela análise da legislação previdenciária, qualquer rendimento pago em retribuição ao trabalho, qualquer que seja a forma de pagamento, enquadrase como base de cálculo das contribuições previdenciárias. Todavia, tendose em conta a abrangência do conceito de salário de contribuição, o legislador achou por bem excluir determinadas parcelas da incidência previdenciária, enumerando em lista exaustiva as verbas que estariam fora deste campo de tributação. Essa relação encontrase presente no § 9.º do artigo acima citado. De pronto, afasto qualquer argumentação de que esses ganhos seriam eventuais e por isso estariam livres da tributação em razão da norma inserta no item 7 da alínea “e” do § 9.º do art. 28 da Lei n. 8.212/1991. Senão vejamos: § 9º Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: (...) e) as importâncias: (...) 7.recebidas a título de ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário; (...) A interpretação do dispositivo acima não pode ser dissociada daquele inserto no “caput” do mesmo artigo, acima transcrito, mas que não custa apresentar mais uma vez: Entendo que somente os pagamentos que não guardam relação com o contrato de trabalho podem ser tidos por ganhos eventuais desvinculados, devendo decorrer de condições específicas de um trabalhador , como por exemplo destinação de valores em eventos de doença e outros sinistros fortuitos, sem relação direta ou indireta pela prestação de serviços. Não há dúvida de que o pagamento de bônus de contratação Hiring bônus, ou mesmo, gratificação em razão da admissão do empregado (utilizados por algumas empresas) tem relação direta com o vínculo contratual estabelecido entre as partes, e o seu principal objetivo é atrair profissionais para o quadro funcional da empresa, representando, a bem da verdade, um pagamento antecipado pela futura prestação de serviço do trabalhador. Fl. 1155DF CARF MF Processo nº 16327.721384/201116 Acórdão n.º 9202005.156 CSRFT2 Fl. 15 13 Assim sendo, observase que o referido bônus, nada mais é que um artifício para atrair trabalhadores valorizados em seu segmento profissional, funcionando como um diferencial em relação aos concorrentes. Por esse motivo, mesmo que a recorrente tente rotulá la como mera liberalidade, a rubrica em questão ostenta, no seu âmago, uma ponta de contraprestação, posto que tem por desiderato oferecer um atrativo econômico ao obreiro para com este firmar o vínculo laboral. Conclusão Pelo exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Especial do Sujeito Passivo. É como voto. (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Fl. 1156DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.720085/2013-26
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue May 23 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Sep 19 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Exercício: 2009
STOCK OPTIONS. NATUREZA REMUNERATÓRIA X MERCANTIL. DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA. TRIBUTOS DIFERENTES. POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO.
Restando demonstrado que outro colegiado ao analisar a natureza de plano de stock options ofertado em situações semelhante pela recorrente, atribui-lhe natureza diversa, é possível o conhecimento do recurso especial para dirimir dita divergência entre o acórdão recorrido e o paradigma.
RECURSO ESPECIAL DE DIVERGÊNCIA. PRESSUPOSTOS NÃO ATENDIDOS. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO.
Não há que se falar em dar interpretação divergente à legislação tributária, quando estão em confronto julgados exarados à luz de arcabouços normativos diversos, regulando incidências diferentes.
Hipótese em que discute-se o momento da ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda, tendo sido trazido, como acórdão paradigma, decisão em que foram discutidos aspectos do fato gerador de contribuições previdenciárias.
REMUNERAÇÃO BASEADA EM AÇÕES. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR.
Sobre a retribuição pela prestação de serviços na forma de acréscimo patrimonial derivado de ativo financeiro, opções de ações, conferidas a colaboradores vinculados à pessoa jurídica, incide imposto de renda, devendo ele ser retido pela fonte originária do acréscimo a esse direito.
IMPOSTO DE RENDA. FALTA DE RETENÇÃO E DE RECOLHIMENTO PELA FONTE PAGADORA. MULTA ISOLADA APLICÁVEL.
Encerrado o prazo para entrega da declaração de pessoa física, a responsabilidade pelo pagamento do respectivo imposto passa a ser do beneficiário dos rendimentos, cabível a aplicação, à fonte pagadora, da multa pela falta de retenção ou de recolhimento, prevista no art. 9º, da Lei nº 10.426, de 2002, com a redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007, tendo ou não os rendimentos sido submetidos à tributação no ajuste.
Numero da decisão: 9202-005.443
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer parcialmente do Recurso Especial, apenas quanto (i) à ocorrência do fato gerador pela natureza mercantil ou remuneratória do programa de remuneração por stock options e (ii) à multa isolada, por falta de retenção e recolhimento do Imposto de Renda na Fonte, vencidos os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que conheceram integralmente do recurso. Originalmente, nos termos do art. 60 do Anexo II da Portaria MF n° 343, de 2015, (a) os conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (relator), Maria Helena Cotta Cardozo e Heitor de Souza Lima Júnior haviam votado por conhecer parcialmente do recurso, apenas quanto à multa isolada por falta de retenção e recolhimento do Imposto de Renda na Fonte, (b) a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, havia votado por conhecer parcialmente do recurso, quanto à multa isolada e à ocorrência do fato gerador, pela natureza do programa e (c) os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri haviam votado por conhecer integralmente do recurso. No mérito, na parte conhecida, por voto de qualidade, acordam em negar provimento ao recuso, vencidos os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deram provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Designada para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Solicitaram apresentar declaração de voto as conselheiras Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira e Ana Paula Fernandes.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em Exercício e Relator.
(assinado digitalmente)
Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Redatora-Designada
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício).
Nome do relator: LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF Exercício: 2009 STOCK OPTIONS. NATUREZA REMUNERATÓRIA X MERCANTIL. DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA. TRIBUTOS DIFERENTES. POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO. Restando demonstrado que outro colegiado ao analisar a natureza de plano de stock options ofertado em situações semelhante pela recorrente, atribui-lhe natureza diversa, é possível o conhecimento do recurso especial para dirimir dita divergência entre o acórdão recorrido e o paradigma. RECURSO ESPECIAL DE DIVERGÊNCIA. PRESSUPOSTOS NÃO ATENDIDOS. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO. Não há que se falar em dar interpretação divergente à legislação tributária, quando estão em confronto julgados exarados à luz de arcabouços normativos diversos, regulando incidências diferentes. Hipótese em que discute-se o momento da ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda, tendo sido trazido, como acórdão paradigma, decisão em que foram discutidos aspectos do fato gerador de contribuições previdenciárias. REMUNERAÇÃO BASEADA EM AÇÕES. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. Sobre a retribuição pela prestação de serviços na forma de acréscimo patrimonial derivado de ativo financeiro, opções de ações, conferidas a colaboradores vinculados à pessoa jurídica, incide imposto de renda, devendo ele ser retido pela fonte originária do acréscimo a esse direito. IMPOSTO DE RENDA. FALTA DE RETENÇÃO E DE RECOLHIMENTO PELA FONTE PAGADORA. MULTA ISOLADA APLICÁVEL. Encerrado o prazo para entrega da declaração de pessoa física, a responsabilidade pelo pagamento do respectivo imposto passa a ser do beneficiário dos rendimentos, cabível a aplicação, à fonte pagadora, da multa pela falta de retenção ou de recolhimento, prevista no art. 9º, da Lei nº 10.426, de 2002, com a redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007, tendo ou não os rendimentos sido submetidos à tributação no ajuste.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer parcialmente do Recurso Especial, apenas quanto (i) à ocorrência do fato gerador pela natureza mercantil ou remuneratória do programa de remuneração por stock options e (ii) à multa isolada, por falta de retenção e recolhimento do Imposto de Renda na Fonte, vencidos os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que conheceram integralmente do recurso. Originalmente, nos termos do art. 60 do Anexo II da Portaria MF n° 343, de 2015, (a) os conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (relator), Maria Helena Cotta Cardozo e Heitor de Souza Lima Júnior haviam votado por conhecer parcialmente do recurso, apenas quanto à multa isolada por falta de retenção e recolhimento do Imposto de Renda na Fonte, (b) a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, havia votado por conhecer parcialmente do recurso, quanto à multa isolada e à ocorrência do fato gerador, pela natureza do programa e (c) os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri haviam votado por conhecer integralmente do recurso. No mérito, na parte conhecida, por voto de qualidade, acordam em negar provimento ao recuso, vencidos os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deram provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Designada para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Solicitaram apresentar declaração de voto as conselheiras Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira e Ana Paula Fernandes. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em Exercício e Relator. (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Redatora-Designada Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício).
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Recorrente UNIBANCOUNIAO DE BANCOS BRASILEIROS S.A. Interessado PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Exercício: 2009 STOCK OPTIONS. NATUREZA REMUNERATÓRIA X MERCANTIL. DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA. TRIBUTOS DIFERENTES. POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO. Restando demonstrado que outro colegiado ao analisar a natureza de plano de stock options ofertado em situações semelhante pela recorrente, atribuilhe natureza diversa, é possível o conhecimento do recurso especial para dirimir dita divergência entre o acórdão recorrido e o paradigma. RECURSO ESPECIAL DE DIVERGÊNCIA. PRESSUPOSTOS NÃO ATENDIDOS. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO. Não há que se falar em dar interpretação divergente à legislação tributária, quando estão em confronto julgados exarados à luz de arcabouços normativos diversos, regulando incidências diferentes. Hipótese em que discutese o momento da ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda, tendo sido trazido, como acórdão paradigma, decisão em que foram discutidos aspectos do fato gerador de contribuições previdenciárias. REMUNERAÇÃO BASEADA EM AÇÕES. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. Sobre a retribuição pela prestação de serviços na forma de acréscimo patrimonial derivado de ativo financeiro, opções de ações, conferidas a colaboradores vinculados à pessoa jurídica, incide imposto de renda, devendo ele ser retido pela fonte originária do acréscimo a esse direito. IMPOSTO DE RENDA. FALTA DE RETENÇÃO E DE RECOLHIMENTO PELA FONTE PAGADORA. MULTA ISOLADA APLICÁVEL. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 72 00 85 /2 01 3- 26 Fl. 1873DF CARF MF 2 Encerrado o prazo para entrega da declaração de pessoa física, a responsabilidade pelo pagamento do respectivo imposto passa a ser do beneficiário dos rendimentos, cabível a aplicação, à fonte pagadora, da multa pela falta de retenção ou de recolhimento, prevista no art. 9º, da Lei nº 10.426, de 2002, com a redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007, tendo ou não os rendimentos sido submetidos à tributação no ajuste. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em conhecer parcialmente do Recurso Especial, apenas quanto (i) à ocorrência do fato gerador pela natureza mercantil ou remuneratória do programa de remuneração por stock options e (ii) à multa isolada, por falta de retenção e recolhimento do Imposto de Renda na Fonte, vencidos os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que conheceram integralmente do recurso. Originalmente, nos termos do art. 60 do Anexo II da Portaria MF n° 343, de 2015, (a) os conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (relator), Maria Helena Cotta Cardozo e Heitor de Souza Lima Júnior haviam votado por conhecer parcialmente do recurso, apenas quanto à multa isolada por falta de retenção e recolhimento do Imposto de Renda na Fonte, (b) a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, havia votado por conhecer parcialmente do recurso, quanto à multa isolada e à ocorrência do fato gerador, pela natureza do programa e (c) os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri haviam votado por conhecer integralmente do recurso. No mérito, na parte conhecida, por voto de qualidade, acordam em negar provimento ao recuso, vencidos os conselheiros Patrícia da Silva, Ana Paula Fernandes, João Victor Ribeiro Aldinucci e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, que lhe deram provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Designada para redigir o voto vencedor, quanto ao conhecimento, a conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Solicitaram apresentar declaração de voto as conselheiras Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira e Ana Paula Fernandes. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em Exercício e Relator. (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira – RedatoraDesignada Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício). Fl. 1874DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.862 3 Relatório Trata o presente processo de exigência de multa exigida isoladamente por falta de retenção de Imposto sobre a Renda na Fonte – IRRF, conforme auto de infração de efls. 1190 a 1192, cientificado ao contribuinte em 21/02/2013 (efl. 1190). O procedimento fiscal com as razões da exigência dele decorrente está descrito no Termo de Verificação Fiscal – TVF, às efls. 1194 a 1215, sendo o montante do crédito tributário exigido de R$ 15.809.054,34. Os fatos geradores das multas isoladas lançadas foram as remunerações pagas a empregados e pessoas físicas sem vínculo empregatício, na forma de concessão de opções de compra de units (Certificado de Depósito de Ações grupo de ativos negociados em conjunto), stock options, sobre as quais não houve a devida retenção do imposto sobre renda pela fonte pagadora. De acordo com o Termo de Verificação Fiscal, o procedimento de remuneração por stock options se deu da seguinte forma: Linha Temporal Evento Características (1) Outorga da Opção Concessão gratuita do direito de futura aquisição de opção Condicionada à prestação de serviço durante o "prazo de exercício" (2) Aquisição da Opção Aquisição da opção de compra de ações ou units (Fato Gerador do IRRF) Gratuita e sem pendência de condição Na proporção de 1/3 das opções outorgadas por ano, após o prazo de 3 anos Retribuição pelo serviço prestado no "prazo de exercício" (3) Exercício da Opção Aquisição da Ação ou Unit, pelo preço predefinido na opção adquirida (4) Alienação da Ação ou Unit Venda da Ação ou Unit, no mercado Identificado o fato gerador nos termos acima, a fiscalização apurou a base de cálculo da seguinte forma: Base de Cálculo ( ) Preço de Mercado da Unit / Ação () Preço de Exercício da Opção (=) Valor da Remuneração por Unit / Ação (*) Qtd. de Opções Outorgadas/Adquiridas (=) Valor Total da Remuneração (Base de Cálculo) O auto de infração foi objeto de impugnação pelo contribuinte, em 25/03/2013, anexada às efls. 1219 a 1228 dos autos. A impugnação foi apreciada na 10ª Turma da DRJ/SP1 em que, em 04/07/2013, julgou a impugnação improcedente, por unanimidade, mantendo o crédito tributário exigido. Fl. 1875DF CARF MF 4 Irresignado, o contribuinte apresentou recurso voluntário, em 20/08/2013, às efls. 1286 a 1296. Naquele recurso, argumentou em síntese: § o plano de opções de compra de ações não tem natureza remuneratória, não se ligando ao contrato de trabalho, buscando apenas reter os colaboradores na empresa e sendo um típico negócio societário, como investimento em um mercado de risco, com os riscos desta natureza de negócio; § acórdãos da justiça trabalhista têm marcado o entendimento que planos de stock options não tem natureza salarial; § diferentemente do que entendeu a fiscalização, não haveria renda a ser tributada quando do término da carência para o exercício da opção, sem que ela fosse exercida, pois não se realizaria acréscimo patrimonial nesse momento; § não devem incidir juros de mora sobre a multa aplicada no corrente processo. Em 23/10/2013, às efls. 1325 a 1338, Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou contrarrazões ao recurso voluntário, no qual reafirma o caráter remuneratório das stock options, na partir também da análise de cláusulas do plano do banco e também assevera a legalidade da incidência de juros moratórios sobre as multas lançadas. Apreciando o recurso, a 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da Segunda Seção de Julgamento veio a prolatar, em 11/02/2015, o acórdão nº 2201002.685, às efls. 1377 a 1400, que foi assim ementado: OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. FATO GERADOR DE IMPOSTO DE RENDA. Os pagamentos efetuados a funcionários, executivos e demais prestadores de serviço da empresa, por meio de opção de compra de ações, caracterizamse como fato gerador de imposto de renda. FALTA DE RETENÇÃO/RECOLHIMENTO. MULTA. CABIMENTO. É cabível a aplicação da multa sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição que deixar de ser retida, conforme dispõe o art. 9º da Lei n.° 10.426/2002, com a redação dada pelo artigo 16 da Lei nº 11.488/2007. MULTA PELA FALTA DE RETENÇÃO/RECOLHIMENTO. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. É legítima a incidência de juros de mora sobre multa, que constitui espécie do gênero crédito tributário. O acórdão teve a seguinte redação: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, negar provimento ao recurso. Vencidos os Conselheiros NATHALIA MESQUITA CEIA e GERMAN ALEJANDRO SAN MARTÍN FERNÁNDEZ, que deram provimento integral ao recurso, inclusive relativamente à multa por falta de retenção na fonte e aos juros de mora sobre ela incidentes. O Conselheiro GUSTAVO LIAN HADDAD declarouse impedido. Fizeram Fl. 1876DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.863 5 sustentação oral pelo Contribuinte o Dr. Ricardo Krakowiak, OAB/SP 138.192 e pela Fazenda Nacional a Dra. Lívia da Silva Queiroz. As Conselheiras NATHALIA MESQUITA CEIA e MARIA HELENA COTTA CARDOZO farão declaração de voto. RE da contribuinte Cientificada do acórdão acima em 25/05/2015 (fl. 1542), o contribuinte apresentou recurso especial de divergência RE, às fls. 1544 a 1549, em 09/06/2015. No RE foram alegadas divergências quanto a três matérias: a) momento da ocorrência do fato gerador do imposto de renda nas operações de Stock Options; b) não ocorrência do fato gerador do imposto de renda nas operações de Stock Options; e c) não cabimento da multa isolada pela falta de retenção e recolhimento do IRRF por parte da fonte pagadora, após o término do prazo de entrega da Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física DIRPF. Quanto a primeira matéria, indica divergência do momento da ocorrência do fato gerador. Para isso, argumenta que: (a) o acórdão recorrido entendeu estar correto o critério da autuação, que considerou como ocorrido o fato gerador do IRRF no dia seguinte ao vencimento da carência das opções e que, entretanto; (b) no acórdão nº 2401003.891, indicado como paradigma, a 1ª Turma da 4ª Câmara da Segunda Seção de Julgamento considerou como marco do fato gerador de contribuição social previdenciária a data do exercício em relação às ações outorgadas. Além do acórdão acima referido, foi apontado também, como um segundo acórdão paradigma divergente, a decisão da mesma Turma, de nº 2401003.044, na qual se apurou a base de cálculo pela diferença entre o valor de mercado na data do exercício e o preço do exercício. A segunda matéria recorrida diz respeito a inexistência do próprio fato gerador que, no entendimento da recorrente, não seria remuneração. Nesse sentido, aponta como divergência jurisprudencial, o disposto no acórdão paradigma de nº 2401003.889 que viu nos stock options caráter mercantil e não remuneratório, por trabalhar sobre valor de mercado, liberdade de adesão e risco. Adicionalmente, indica ainda um segundo acórdão paradigma, de nº 280303.815, da 3ª Turma especial da Segunda Seção de Julgamento, que também trata de contribuições sociais previdenciárias em plano de stock option, com opção de compra. Por fim, quanto à multa isolada, por falta de rentenção e recolhimento do Imposto de Renda na Fonte, o contribuinte entende indevida a multa, por falta de base legal para sua aplicação de forma isolada. Para comprovação da divergência, apresenta paradigmas da 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, de números 9202002.288 e 9202 Fl. 1877DF CARF MF 6 001.886. Ambos esses paradigmas determinam o afastamento da multa isolada por falta de retenção e recolhimento do imposto de renda, quando não mais for possível exigirse da fonte pagadora o próprio imposto que deveria ter sido anteriormente retido. Em análise de admissibilidade do recurso especial do contribuinte, a Presidente da 2ª Câmara da Segunda Seção de Julgamento emitiu despacho, de fls. 1773 a 1788, em 30/03/2016, no qual deu seguimento parcial ao recurso, apenas no tocante à matéria c): não cabimento da multa isolada por falta de retenção e recolhimento do imposto de renda na fonte. Quanto às demais matérias, a) e b), negoulhes seguimento, por serem os paradigmas referentes ao conceito de salário de contribuição, relativos aos fatos geradores das contribuições sociais previdenciárias, portanto matérias diversas, não fazendo sentido falar em interpretação divergente da lei em casos de legislações distintas. Em face da negativa parcial de seguimento ao recurso especial, a decisão da Presidente da Câmara foi apresentada ao Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais, com base no art. 71, do Anexo II, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria n° 343 de 09/06/2015 (com a redação anterior à vigência da Portaria MF nº 152 de 03/05/2016, que o modificou), para reexame. O Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais apreciou o recurso, conjuntamente com o despacho da Presidente da Câmara recorrida, e, em sede de reexame, no despacho às efls. 1789 e 1790, confirmou as conclusões do exame de admissibilidade, dando seguimento ao recurso apenas quanto à questão da possibilidade de aplicação da multa isolada e negandolhe seguimento quanto às matérias concernentes (i) ao momento de ocorrência dos fatos geradores e (ii) da própria existência destes. Contrarrazões da Fazenda Nacional Cientificada do recurso e dos despachos em 04/04/2016, a Procuradoria da Fazenda Nacional manejou contrarrazões ao recurso especial do contribuinte em 07/04/2016, conforme fls. 1792 a 1800. Naquele momento, a Fazenda Nacional arguiu apenas a preclusão com relação à discussão da alegada não incidência da multa isolada, sob a alegação de que a matéria não fora expressamente impugnada pelo contribuinte e que que, em sede de recurso voluntário não teria sido sequer contestada. Nesse sentido, argumenta que a insurgência do contribuinte teria se resumido à incidência de juros moratórios sobre a multa. Mandado de Segurança Em 22/11/2012, o contribuinte juntou aos autos decisão liminar, no Mandado de Segurança nº 100921286.2016.4.01.3400, às efls. 1828 a 1833. Naquele mandamus, a magistrada determinou que fosse dado seguimento ao recurso especial do contribuinte para que fossem apreciadas, pela 2a Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, as três matérias que o contribuinte arrolou em seu recurso especial de divergência. Resolução Em 23/11/2016, com a 2a Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais reunida para apreciação do recurso especial, que havia sido devidamente pautado conforme publicação no Diário Oficial da União, no prazo regimental de dez dias da sessão de julgamento, em face da decisão no mandado de segurança, o relator votou por converter o julgamento do recurso em diligência, para que se desse ciência à Fazenda Nacional da Fl. 1878DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.864 7 admissão integral do recurso especial do contribuinte, abrindolhe prazo para contrarrazões quanto a todas essas matérias então admitidas. Contrarrazões complementares da Fazenda Nacional Cientificada para apresentação de complemento às suas contrarrazões em 12/12/2016, a Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou seus argumentos em 19/12/2016, às efls. 1842 a 1857. Inicia sua argumentação, procurando demonstrar que as stock options são um conjunto de benefícios e vantagens oferecidos aos colaboradores de companhias como parte da retribuição pela execução de tarefas, a lado dos planos de saúde, planos de aposentadoria, bônus e comissões. Afirma ausência de risco, ou contrato de natureza mercantil, pois não há óbice à venda imediata de metade das ações adquiridas, realizando a diferença entre preço de exercício e o valor de mercado, tendo a outra metade apenas restrição formal a sua venda, na medida que o Comitê pode autorizar a sua realização independentemente do referido prazo de dois anos. Quanto ao momento da ocorrência do fato gerador, reafirma o entendimento da fiscalização de que seria o momento de término da condição suspensiva, após ser cumprido o prazo de carência, quando o colaborador obtém efetiva vantagem vinculada a seu liame laboral com a empresa. É o relatório Fl. 1879DF CARF MF 8 Voto Vencido Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos Relator. O recurso é tempestivo, entretanto, quanto a seu conhecimento, cabem as seguintes colocações. Do conhecimento do RE Foi dado integral seguimento ao recurso especial de divergência em razão do Mandado de Segurança nº 100921286.2016.4.01.3400 (efls. 1828 a 1833), impetrado contra ato do Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais Câmara Superior de Recursos Fiscais CSRF, sem que até o momento haja qualquer decisão que afaste sua eficácia. Extraise da efl. 1832 o teor do mandamus: Ante o exposto, defiro o pedido liminar para determinar à Autoridade Impetrada seja dado seguimento integral ao Recurso Especial interposto pelo Impetrante (alíneas "a", "b" e "c") no Processo Administrativo nº 16327.720085/201326. (Sublinhei, negrito do original.) Observase que (a) o mandado de segurança foi impetrado contra ato monocrático do Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais e que (b) o pedido do contribuinte, então impetrante, objetivou que fosse dado seguimento ao recurso especial interposto, em sua totalidade, conforme se pode observar no primeiro parágrafo da decisão, à e fl. 1828. Em sua decisão, a magistrada expôs o seguinte argumento: Ressalto que o Presidente da Câmara Especial, em reexame de ofício, confirmou a conclusão do Presidente da Câmara recorrida, mantendo a decisão que deu seguimento apenas parcial ao Recurso Especial do impetrante, decisão contra a qual não havia previsão de recurso na via administrativa, devendo a parte interessada se valer da via judicial para buscar o resguardo do direito reputado líquido e certo. Atualmente, o art. 71 da RICARF foi alterado para admitir a interposição de Agravo pela parte prejudicada pela negativa de seguimento do recurso especial. E conforme bem explicado pela impetrante, a alteração teve por finalidade oportunizar ao interessado a explanação de suas razões para ver revista a decisão obstativa do seguimento do recurso especial, já que a anterior previsão era de reexame de ofício, em que a parte não tinha a faculdade de explanar seus argumentos. Assim, cumprida a decisão judicial, e tendo sido afastado o óbice de ver devolvida a este colegiado a competência para apreciar o integralmente o recurso especial, inicio aqui sua análise. Pois bem, assim como na apreciação de qualquer recurso especial Fl. 1880DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.865 9 admitido, inicio a análise deste recurso pelo conhecimento de suas matérias, com base no Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria n° 256 de 22/06/2009, vigente até 09/06/2015, data da interposição do referido recurso. Salientese que, não houve qualquer provimento jurisdicional que impedisse o colegiado de analisar o conhecimento do recurso. Com efeito, apenas foi afastada a decisão monocrática do Sr. Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais e determinado o seguimento do recurso em sua totalidade. Assim, apresento ao colegiado meu entendimento sobre a questão, nos termos a seguir. No presente caso, foram enfrentadas, pelo colegiado ora recorrido, as questões (a) da ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda na Fonte, no caso de remuneração por stock option e (b) do momento da ocorrência desse fato gerador. Entretanto, os acórdãos trazidos ao processo, a título de paradigma, pelo contribuinte, trataram das matérias: (a) momento da ocorrência do fato gerador de contribuições previdenciárias nas operações de stock options e (b) não ocorrência do fato gerador dessas contribuições previdenciárias nas operações de stock options. Ora, os fatos geradores de Imposto de Renda e de Contribuições Previdenciárias têm por base legislações específicas e diferentes, não se configurando em hipótese alguma norma geral de direito tributário. Sem dúvida, existe similitude fática, quanto aos negócios e procedimentos realizados, afinal de contas, todos os processos tratavam de remuneração por stock options. Entretanto, a questão é que os processos, envolvendo tributos distintos, analisam os fatos à luz de legislações distintas. Repitase, os paradigmas tratam de questões atinentes à contribuição social previdenciária, enquanto o recorrido trata de multa por falta de retenção de imposto de renda pela fonte. Para que haja infração no acórdão a quo, haveria a obrigação da realização da retenção de imposto de renda na fonte. Ainda que as contribuições sociais incidam sobre remuneração decorrente da contraprestação de serviços, e essa possa ser sujeita ao imposto de renda, o alcance deste tributo é maior que daquele, abrangendo até mesmo variações patrimoniais, que não decorram da percepção de remuneração pela contraprestação laboral. Portanto, tratandose de tributos distintos, a legislação, evidentemente, não é a mesma. Os fatos que se subsumem às normas podem até, eventualmente, ser idênticos, mas as normas não o são. Situações equivalentes a essa já foram apreciadas por este colegiado, que entendeu por não conhecer de recursos quando, apesar de o procedimento discutido ser similar, a legislação aplicável ao recorrido fosse diferente daquela aplicável ao paradigma. Nesse sentido, cabe referir o caso de recurso especial da Fazenda Nacional contra decisão que julgou improcedente a exigência de multa isolada por falta de recolhimento da antecipação mensal da pessoa física (denominada carnê leão), concomitantemente com o lançamento do tributo e da multa referentes à declaração de ajuste do IRPF. Compre referir que, nesse caso, a Fazenda Nacional havia apresentado, como paradigmas, decisões que julgaram procedente a exigência de multa isolada por falta de recolhimento da antecipação mensal da pessoa jurídica (denominada estimativa sobre a receita bruta e acréscimos), concomitantemente com o lançamento do tributo e da multa referentes à declaração de ajuste do IRPJ/CSLL. Frente a essa situação, a Câmara Superior de Recursos Fiscais, em que pese a Fl. 1881DF CARF MF 10 total semelhança dos procedimentos de antecipação mensal e ajuste de final de período, para pessoas físicas e jurídicas, pelo fato de os procedimentos estarem baseados em legislações diversas, não foi conhecido o recurso especial da Fazenda Nacional. Para ilustração do caso, cabe referência ao acórdão n° 9202003.434, cuja ementa e dispositivo encontramse a seguir reproduzidos: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício:2000 NORMAS PROCEDIMENTAIS/REGIMENTAIS. MULTA ISOLADA. CONCOMITÂNCIA MULTA DE OFÍCIO. RECURSO ESPECIAL . DIVERGÊNCIA NÃO COMPROVADA. NÃO CONHECIMENTO. Com arrimo no artigo 67 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, aprovado pela Portaria MF nº 256/2009, somente deverá ser conhecido o Recurso Especial, escorado naquele dispositivo regimental, quando devidamente comprovada a divergência arguida entre oAcórdão recorrido e o paradigma, a partir da demonstração fundamentada, acompanhada da cópia da publicação da ementa do Acórdão paradigma ou do seu inteiro teor, impondo, ainda, a comprovação do pré questionamento a respeito do tema. Mais especificamente, no caso de multa isolada relativo ao IRPF, pela falta de recolhimento mensal a título de carnê leão (artigo 44, § 1º, inciso III, da Lei nº 9.430/96), não se presta como paradigma o Acórdão que contempla a multa isolada inscrita no inciso IV daquele dispositivo legal, concernente a sistemática de recolhimento mensal da CSLL, com base no regime de estimativa, conforme precedentes do Pleno desta Egrégia Câmara Superior de Recursos Fiscais. Recurso especial não conhecido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso. A decisão acima ilustra o fato de que o caput e o § 1º do art. 67 do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF n° 343 de 09/06/2015, publicada no D.O.U de 10/06/2015, exige comprovação de interpretação diversa da legislação tributária, nos seguintes termos: Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. § 1º Não será conhecido o recurso que não demonstrar a legislação tributária interpretada de forma divergente. (Redação dada pela Portaria MF nº 39, de 12/02/2016) ... Fl. 1882DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.866 11 § 6º Na hipótese de que trata o caput, o recurso deverá demonstrar a divergência arguida indicando até 2 (duas) decisões divergentes por matéria. ... § 8º A divergência prevista no caput deverá ser demonstrada analiticamente com a indicação dos pontos nos paradigmas colacionados que divirjam de pontos específicos no acórdão recorrido. (Sublinhei.) Como o recurso especial foi protocolado em 08/06/2015, cabe a análise de sua admissibilidade pelo mesmo artigo 67 do Anexo II, mas do regimento anterior, aprovado pela Portaria n° 256 de 22/06/2009, vigente até a data em que ele foi interposto, onde se dispunha exatamente no mesmo sentido, conforme a seguir reproduzido: Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. § 1° Para efeito da aplicação do caput, entendese como outra câmara ou turma as que integraram a estrutura dos Conselhos de Contribuintes, bem como as que integrem ou vierem a integrar a estrutura do CARF. ... § 4° Na hipótese de que trata o caput, o recurso deverá demonstrar a divergência arguida indicando até duas decisões divergentes por matéria. ... § 6° A divergência prevista no caput deverá ser demonstrada analiticamente com a indicação dos pontos nos paradigmas colacionados que divirjam de pontos específicos no acórdão recorrido. (...) (Sublinhei.) Ou seja, considerandose tanto o regimento atual quanto o regimento então vigente, as divergências arguidas teriam que ser demonstradas com base na interpretação da legislação aplicável a fatos fatos semelhantes. Assim, os fatos devem ser similares a ponto de atrairem a mesma legislação para seu tratamento fiscal. Aliás, o Manual de Exame de Admissibilidade de Recurso Especial dessa casa, em sua versão 2.0 de maio de 2016, quando trata de análise de divergências, já orientava, à sua pág. 45, nesse sentido, conforme a seguir: 4.1 Caracterização de divergência jurisprudencial Fl. 1883DF CARF MF 12 A divergência jurisprudencial se caracteriza quando os acórdãos recorrido e paradigma, em face de situações fáticas similares, conferem interpretações divergentes à legislação tributária. (Destaquei.) Além disso, há nesse menual orientação específica para o tratamento de incidência tributária diversa da que orientou o recorrido, fundamentandose a negativa de seguimento ao recurso, à pág. 46: 4.1.2 Paradigma que trata de incidência tributária diversa da que orientou o recorrido É possível a demonstração de divergência jurisprudencial mediante o cotejo de acórdãos que, embora tratem de espécies de incidências diversas (ex.: o recorrido trata de IRPJ e o paradigma de ITR), a matéria suscitada diga respeito a normas gerais (ex.: necessidade de pagamento antecipado, para aplicação da decadência com base no art. 150, § 4º, do CTN). Entretanto, mesmo sem tratarse de normas gerais, é comum a indicação de paradigma que cuida de incidência tributária diversa daquela retratada no recorrido, o que de forma alguma caracteriza divergência jurisprudencial. Com efeito, não há que se falar em interpretação divergente, quando estão em confronto incidências diversas, regidas por legislações específicas, cada qual com suas características e nuances. (Destaquei.) Ou seja, admitirseia tratar de paradigmas com incidências tributárias distintas, mas somente se a matéria de divergência disser respeito a normas gerais; não é esse o caso aqui debatido. O manual salienta em nota que a alteração do regimento a partir de 10/06/2015, com a publicação da Portaria MF nº 343, simplesmente tornou mais patente esse entendimento, conforme dispõe em seu § 1º, determinando que não se conheça de tais recursos. Dessa forma, mantendo a coerência da jurisprudência deste colegiado e não tendo sido declarada a inconstitucionalidade ou ilegalidade, seja de forma incidental, seja de forma direta, das Portarias que se aplicam ao procedimento a ser seguido nessa casa, tendo em vista que a legislação base dos paradigmas e do recorrido são distintas, até porque se referem a distintos tributos, e não tendo o recorrente arguido matéria de norma geral, voto por não conhecer o RE no tocante a essas matérias, por não atender aos pressupostos regimentais. Prossigo o julgamento do mérito do recurso no tocante à matéria admitida no despacho do Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais CSRF e como fiquei vencido reste vencido quanto ao conhecimento, apresento, em seguida, também, a análise de mérito da matéria adicionalmente conhecida: a ocorrência do fato gerador. Cabimento da multa isolada pela falta de retenção e recolhimento do IRRF No tocante a aplicação da penalidade, entendo correta sua incidência, não havendo impossibilidade de seu lançamento de forma isolada, na forma realizada pela fiscalização. Fl. 1884DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.867 13 Primeiramente, a penalidade do art. 9º da Lei nº 10.426/2002, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 11.488/2007 descreve uma infração que é deixar a fonte pagadora de reter ou recolher o imposto ou contribuição, independentemente de ser o tributo pago ou não. Logo, não me parece lógico que a remissão ao artigo 44 da Lei 9.430/1996, também com a redação dada pela mesma lei de 2007, viesse para impossibilitar a penalização da conduta reprovada pelo sistema, que já existia. Entender diferente seria aceitar que a conduta reprovável não fosse sancionada pela mesma norma que impõe a sua sanção. Outrossim, o art. 44 da Lei 9.430/1996, definia fato gerador autônomo de penalidade e a multa por falta de recolhimento do IRRF se lastreava apenas na base de cálculo daquela norma; continuou a fazêlo após a edição da Lei nº 11.488/2007. Adoto ainda as considerações e argumentos sobre a matéria expostos pela i. Conselheira Dra. Maria Helena Cotta Cardozo, tratando da mesma matéria, em voto exarado no acórdão nº 9202003.583, de 03/03/2015, nesta 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais Câmara Superior de Recursos Fiscais CSRF, que aliás é quase idêntico ao voto por ela declarado no acórdão recorrido. Seguese o voto daquele acórdão: Referida multa foi aplicada à fonte pagadora, com fundamento no art. 9º, da Lei nº 10.426, de 24/04/2002, com a redação dada pelo artigo 16, da Lei nº 11.488, de 15/06/2007. De plano, não há que se falar em suposta retroatividade benigna (art. 106, inciso II, “a”, do CTN), considerandose que a penalidade em tela teria sido extinta inicialmente pela Medida Provisória n° 303, de 29/06/2006, que perdera eficácia, e depois pela Medida Provisória n° 351, de 22/01/2007, convertida na Lei n° 11.488, de 15/06/2007. Ora, os fatos geradores objeto da autuação ocorreram em novembro e dezembro de 2007, portanto já na vigência da Lei nº 11.488, de 15/06/2007, de sorte que se a penalidade ora tratada houvesse efetivamente sido extinta – o que aqui não se admite – ela haveria de ser afastada pela simples aplicação direta da citada lei, e não por meio do art. 106, II, “a”, do CTN. Entretanto, tal nuance não merece ser discutida, tendo em vista que a multa em tela nunca foi extinta, conforme será demonstrado. (...) O que está sendo cobrado, no presente caso, é unicamente a multa pelo não cumprimento, por parte da fonte pagadora, da obrigação de efetuar a retenção e o recolhimento do IRRF, a título de antecipação. A penalidade em tela foi instituída pela Medida Provisória nº 16, de 27/12/2001, convertida na Lei nº 10.426, de 2002, que assim estabelecia, em sua redação original: “Art.9º. Sujeitase às multas de que tratam os incisos I e II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, a fonte pagadora obrigada a reter tributo ou contribuição, no caso de falta de retenção ou Fl. 1885DF CARF MF 14 recolhimento, ou recolhimento após o prazo fixado, sem o acréscimo de multa moratória, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Parágrafo único. As multas de que trata este artigo serão calculadas sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição que deixar de ser retida ou recolhida, ou que for recolhida após o prazo fixado.” O dispositivo acima não deixa a menor brecha para que se entenda que a penalidade nele prevista poderia ser exigida de outra forma, que não a isolada. Com efeito, a penalidade está sendo aplicada à fonte pagadora, que não é a beneficiária dos rendimentos, portanto resta descartada qualquer possibilidade de cobrança desta multa juntamente com o imposto, cujo ônus, repitase, não é da fonte pagadora, e sim do beneficiário. Confirmando esse entendimento, o parágrafo único especifica a base de cálculo da multa, que nada mais é que o tributo que deixou de ser retido ou recolhido. O art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, por sua vez, tinha a seguinte redação: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição: I. de setenta e cinco por cento, nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, pagamento ou recolhimento após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa moratória, de falta de declaração e nos de declaração inexata, excetuada a hipótese do inciso seguinte; II. cento e cinqüenta por cento, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. §1º As multas de que trata este artigo serão exigidas: I juntamente com o tributo ou a contribuição, quando não houverem sido anteriormente pagos; II. isoladamente, quando o tributo ou a contribuição houver sido pago após o vencimento do prazo previsto, mas sem o acréscimo de multa de mora; III. isoladamente, no caso de pessoa física sujeita ao pagamento mensal do imposto (carnêleão) na forma do art. 8º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de fazêlo, ainda que não tenha apurado imposto a pagar na declaração de ajuste; IV. isoladamente, no caso de pessoa jurídica sujeita ao pagamento do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido, na forma do art. 2º, que deixar de fazêlo, ainda que tenha apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente; V. isoladamente, no caso de tributo ou contribuição social lançado, que não houver sido pago ou recolhido. (...)" Como se pode constatar, o art. 44, acima, não trata de multas incidentes sobre imposto cobrado por meio de responsabilidade tributária de fonte pagadora, e sim de penalidades que recaem diretamente sobre o imposto exigido do sujeito passivo, na qualidade de contribuinte, que relativamente ao Imposto de Renda é o próprio beneficiário dos rendimentos. Nesse passo, nenhuma das modalidades de exigência elencadas no § 1º se Fl. 1886DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.868 15 amolda à exigência estabelecida no art. 9º da Lei nº 10.426, de 2002, portanto não há que se falar que este último dispositivo tenha se referido ao art 44 da Lei nº 9.430, de 1996, para tomar de empréstimo algo além dos percentuais nele estabelecidos – 75% e 150%. Isso porque a problemática que envolve as modalidades de exigência das penalidades constantes do § 1º do art. 44 – vinculadas ao imposto ou exigidas isoladamente – não se coaduna com a multa por falta de retenção na fonte. Esta, quando exigida, obviamente será isolada, eis que o principal, ou seja, o imposto, será cobrado não da fonte pagadora, mas sim, repitase, do beneficiário dos rendimentos. Com estas considerações, constatase que a referência feita pelo art. 9º, da Lei nº 10.426, de 2002, aos incisos I e II, do art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, está focada nos incisos I e II do caput, e não nos incisos I e II do § 1º, do contrário estarseia atribuindo à fonte pagadora o papel de sujeito passivo contribuinte do tributo, e não o de mera intermediária entre este e o Fisco, responsabilidade esta conferida por lei. Ora, se os incisos I e II do caput do art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, tratam de penalidades aplicáveis ao sujeito passivo na qualidade de contribuinte, que no caso do Imposto de Renda é o próprio beneficiário dos rendimentos, e o art. 9º da Lei nº 10.426, de 2002, trata exclusivamente de multa por descumprimento da obrigação de reter e recolher o tributo, aplicável à fonte pagadora na qualidade de responsável, o único elemento passível de empréstimo, do art. 44 para o art. 9º, diz respeito efetivamente aos percentuais de 75% ou 150%. Com efeito, não existe qualquer outro liame entre os dois dispositivos legais. Corroborando este entendimento, a Exposição de Motivos da Medida Provisória nº 16, de 27/12/2001, que foi convertida na Lei nº 10.426, de 2002, encaminhada ao Congresso Nacional, assim esclarece: “Os arts. 7º a 9º ajustam as penalidades aplicáveis a diversas hipóteses de descumprimento de obrigações acessórias relativas a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, reduzindoas ou, no caso do art. 9º, instituindo nova hipótese de incidência, preenchendo lacuna da legislação anterior." (grifei) O texto acima não deixa dúvidas, no sentido de que o art. 9º, da Lei nº 10.426, de 2002, trata unicamente de multa por descumprimento de obrigação acessória pela fonte pagadora, portanto descartase a sua exigência juntamente com o respectivo imposto, cujo ônus é do beneficiário dos rendimentos. Ademais, fica patente que se trata de nova hipótese de incidência, o que também a desvincula definitivamente das hipóteses de incidência elencadas no § 1º do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, eis que estas já existiam no ordenamento jurídico muito antes do advento da Medida Provisória nº 16, de 2001. Fl. 1887DF CARF MF 16 Com a edição da Medida Provisória nº 351, de 22/01/2007, convertida na Lei nº 11.488, de 15/06/2007, foi alterado o art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, dentre outras finalidades, para extinguir a multa de ofício incidente sobre o pagamento de tributo ou contribuição fora do prazo, desacompanhado de multa de mora. Dito dispositivo passou a ter a seguinte redação: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I. de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; II. de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: a) na forma do art. 8º da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; (Incluída pela Lei nº 11.488, de 2007) b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. § 1º O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (...)” Assim, o art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, foi reformulado, mantendose a aplicação das multas de ofício vinculadas ao tributo, nos percentuais de 75% e 150%, a primeira mantida no inciso I, do caput, e a segunda não mais abrigada no inciso II, do caput, mas sim no inciso I, do §1º. O inciso II, do caput, que anteriormente continha a multa no percentual de 150%, passou a prever a multa isolada, no percentual de 50%, nos casos de falta de pagamento do carnêleão e de falta de pagamento do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido devido por estimativa (alíneas “a” e “b”). Quanto à multa isolada pelo pagamento de tributo ou contribuição fora do prazo sem o acréscimo de multa de mora, esta foi extinta. Observese que a extinção da multa isolada acima destacada, levada a cabo pela nova redação do art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, promovida pela Lei nº 11.488, de 2007, não tem qualquer reflexo nas multas do art. 9º, da Lei nº 10.426, de 2002, eis que, conforme já patenteado no presente voto, os dois dispositivos legais tratam de penalidades distintas, o primeiro disciplinando as exigências em face do sujeito passivo contribuinte, que no caso do Imposto de Renda é o beneficiário dos rendimentos, e o segundo regulamentando a incidência pelo descumprimento de obrigação de retenção e recolhimento do tributo pela fonte pagadora, na qualidade de responsável. Como ficou assentado, a conexão entre os dois dispositivos diz respeito unicamente aos percentuais de 75% e 150%. Fl. 1888DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.869 17 Tanto é assim que o art. 9º teve de sofrer também um ajuste, em função da realocação da multa de 150% (do caput para o § 1º). Ademais, também havia neste dispositivo a previsão de aplicação de multa de ofício à fonte pagadora, pelo recolhimento em atraso do Imposto de Renda Retido na Fonte, sem o acréscimo da multa de mora. Assim, na mesma linha da exclusão levada a cabo na nova redação do art. 44, esta penalidade teria de ser excluída do art 9º, já que não haveria sentido em permanecer no ordenamento jurídico apenas para apenar a fonte pagadora. Confirase a alteração do art. 9º, promovida pela mesma Lei nº 11.488, de 2007: “Art. 9º Sujeitase à multa de que trata o inciso I do caput do art. 44 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, duplicada na forma de seu § 1º, quando for o caso, a fonte pagadora obrigada a reter imposto ou contribuição no caso de falta de retenção ou recolhimento, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Parágrafo único. As multas de que trata este artigo serão calculadas sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição que deixar de ser retida ou recolhida, ou que for recolhida após o prazo fixado.” Ora, se a multa pela falta de retenção e recolhimento na fonte houvesse sido efetivamente extinta, não haveria qualquer razão para que se alterasse o art. 9º, da Lei nº 10.426, de 2002, como foi feito acima. A alteração visa claramente adaptar esse dispositivo à nova topografia do art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, o que de forma alguma sinaliza que dita penalidade teria sido extinta. Além disso, repitase que a nova redação visou excluir a exigência de multa de ofício pelo recolhimento, pela fonte pagadora, do IRRF fora do prazo sem multa de mora, tal como ocorrera com penalidade semelhante, que antes também era imposta ao beneficiário do rendimento, relativamente ao recolhimento do principal. Assim, igualouse a exoneração desta penalidade, tanto em face do sujeito passivo contribuinte da obrigação principal, como perante a fonte pagadora, na qualidade de responsável pela obrigação de reter e recolher o tributo. As conclusões acima ficam evidenciadas no quadro comparativo a seguir: Fl. 1889DF CARF MF 18 Além de todas as razões que conduzem à conclusão de que não ocorreu a alegada extinção da multa de ofício pela falta de retenção ou recolhimento do IRRF, é o fato de que a adoção de tal tese equivaleria a admitirse a instituição de uma obrigação – retenção e recolhimento do imposto pela fonte pagadora – sem o estabelecimento de sanção, o que seria inusitado no Sistema Tributário Nacional. Ademais, ninguém põe em dúvida a manutenção da multa pela falta de recolhimento do carnêleão, que pressupõe relação entre pessoas físicas, que nem sempre possuem estrutura para cumprir com a obrigação, sendo que quem recolhe a antecipação, nesse caso, é o próprio contribuinte que arca com o encargo financeiro do tributo, descartada a possibilidade de apropriação indébita. Nesse passo, causa ainda maior perplexidade a conclusão de que a multa pela falta de retenção e recolhimento do imposto pela fonte pagadora teria sido extinta, já que as Fl. 1890DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.870 19 fontes pagadoras, na sua maciça maioria, são pessoas jurídicas, que dispõem de meios adequados ao cumprimento da obrigação. Acrescentese que a retenção na fonte sem o respectivo recolhimento caracteriza apropriação indébita, portanto terse ia ainda a possibilidade do cometimento de crime, sem qualquer previsão de sanção na esfera tributária, o que também seria inédito no Sistema Tributário Nacional. Em síntese, no entender desta Conselheira, há que se diferenciar o imposto devido, cuja obrigação principal é do beneficiário do rendimento, da multa pela falta de retenção/recolhimento do IRRF, cuja obrigação é da fonte pagadora, na qualidade de responsável. Assim, após o prazo final para entrega da declaração de pessoa física, o que cessa é a responsabilidade da fonte pagadora sobre o recolhimento do tributo – cuja obrigação passa a ser do beneficiário. Entretanto, a falta de responsabilidade sobre o recolhimento do tributo não exime a fonte pagadora do pagamento da multa pelo descumprimento da obrigação de reter e recolher o imposto, e é exatamente esta a exigência que ora se analisa. Nesse passo, assim estabelece o item 16 do Parecer Normativo COSIT nº 1, de 2002, que deve ser considerado na sua integralidade, e não apenas em parte. Confirase: “16. Após o prazo final fixado para a entrega da declaração, no caso de pessoa física, ou, após a data prevista para o encerramento do período de apuração em que o rendimento for tributado, seja trimestral, mensal estimado ou anual, no caso de pessoa jurídica, a responsabilidade pelo pagamento do imposto passa a ser do contribuinte. Assim, conforme previsto no art. 957 do RIR/1999 e no art. 9º da Lei nº 10.426, de 2002, constatandose que o contribuinte: a) não submeteu o rendimento à tributação, serlheão exigidos o imposto suplementar, os juros de mora e a multa de ofício, e, da fonte pagadora, a multa de ofício e os juros de mora; b) submeteu o rendimento à tributação, serão exigidos da fonte pagadora a multa de ofício e os juros de mora.” Destarte, tendo ou não os rendimentos sido oferecidos à tributação, remanesce a aplicação da penalidade pela falta de retenção e recolhimento por parte da fonte pagadora. Não há que se falar aqui de aplicação do percentual de 50% à multa, por falta de previsão legal expressa, mas sim a aplicação dos percentuais defnidos em lei (75% ou 150%), conforme acima esclarecido. Assim, é de se negar provimento ao recurso especial do sujeito passivo quanto a esta matéria. Sobre a ocorrência do fato gerador Apesar de ter votado por não conhecer da matéria "ocorrência do fato gerador", como restei vencido quanto ao conhecimento, passo à análise de mérito da questão, Fl. 1891DF CARF MF 20 expressando, a seguir, meu entendimento em relação à ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda, na remuneração baseada em stock options. Para enfrentamento da questão da ocorrência, ou não, de fato gerador do Imposto de Renda em operações de remuneração baseada em ações, é necessário conhecer o conceito da operação. Como introdução, simplificada, cabe afirmar que as stock options são transações de remuneração de serviços com pagamento baseado em instrumento patrimonial (derivativo) outorgado, utilizadas nos casos em que a entidade negocia serviços, de seus administradores e empregados, para pagamento mediante a entrega de ações ou outros instrumentos financeiros que permitam a posterior aquisição de ações por valores vantajosos ao empregado ou administrador. O valor do serviço prestado é, de início mensurado pelo valor justo das ações ou dos instrumentos financeiros outorgados, porém nem sempre o valor de mercado dos títulos é facilmente obtido e, assim, é admitido que os instrumentos sejam mensurados pelo valor justo do serviço prestado. De qualquer forma, o valor atribuído a esses serviços, recebidos pela entidade, é registrado: a crédito de reserva de capital, representando o direito, do administrador ou do empregado, de adquirir ações da entidade em condições pré estabelecidas e a débito de despesa operacional, em virtude do serviço prestado à entidade, podendo também ser debitado à conta de estoque em elaboração, no ativo, no caso de o serviço estar sendo utilizado na fabricação de produtos. Na verdade, o lançamento acima é o resultado da reunião de dois lançamentos, que representam as duas faces da operação, conforme a seguir. (a) por um lado, pela prestação de serviços realizada pelo empregado ou administrador, a empresa deveria pagar um valor em dinheiro e reconhecer despesas ou custos: D = Despesa com benefícios a empregados ou diretores C = a Caixa XXX,XX (b) por outro lado, para que empregados, diretores ou terceiros pudessem adquririr o direito de entrar no quadro societário da companhia por um valor inferior ao de mercado, eles deveriam entregar algum valor, geralmente em dinheiro, para a sociedade: D = Caixa C = a Reserva de Capital (bônus de subscrição/opções outorgadas) XXX,XX Reparase que os lançamentos acima têm em comum a saída e a entrada de valor equivalente em caixa. Ora, no caso do pagamento baseado em ações, o empregado ou administrador adquire o direito de entrar no quadro societário da empresa sem entrega de dinheiro, mas com a entrega de seu serviço. Assim, não há entrada nem saída de dinheiro do caixa, mas remanescem: (a) o reconhecimento da despesa com a remuneração do empregado ou administrador e (b) o registro da reserva de capital, representando o dirieto de o empregado, ou o administrador, entrar no quadro societário da companhia. A seguir, o lançamento: D = Despesa com benefícios a empregados ou diretores Fl. 1892DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.871 21 C = a Reserva de Capital (bônus de subscrição/opções outorgadas) XXX,XX Num singelo exemplo: considere que um executivo tenha sido contratado por uma entidade e compondo sua remuneração ele tenha o direito ao recebimento de 10.000 opções de ações da companhia, por seu trabalho ao longo de três anos. Considere ainda que, na data da contratação, uma opção tenha valor de mercado de R$ 15,00. Repare que a parcela do serviço, prestado pelo executivo ao longo dos três anos contratados, a ser remunerada pelas opções outorgadas, está avaliada em R$ 15,00 x 10.000 opções = R$ 150.000,00. Portanto, a cada ano trabalhado, o executivo fará jus a 1/3 desse valor: D = Despesa com Salários C = a Opções Outorgadas 50.000,00 PL Todo esse tratamento é detalhadamente descrito no Pronunciamento Técnico CPC n° 10 (R1) Pagamento Baseado em Ações. Entendida a concepção básica do que é a remuneração baseada em stock options, é possível enfrentar o argumento do contribuinte, que tenta enquadrar seu plano como investimento em mercado, procurando demonstrar existência de risco, baseado em Termo de Constatação de empresa de auditoria (KPMG Tax Advisors Ltda.) que juntou às efls. 1407 a 1428, em 26/09/2014. Nesse sentido, cabe ressaltar que o mercado de opções, em sua gênese, se trata de mercado de derivativos voltado à gestão de risco, sendo as opções direitos de compra (ou de venda), a um preço predeterminado de um ativoobjeto em uma data específica ou até uma certa data. As opções negociadas em um mercado com liquidez são padronizadas pela instituição que o gerencia, como a BMF/Bovespa, no Brasil, a qual define as séries de opções a serem abertas, discriminadas por vencimento. Portanto, em negócios envolvendo opções de compra, os agentes econômicos podem, ao comprar determinadas opções na bolsa, buscar proteção contra as oscilações de preço de mercado, caso possuam ações da empresa; poderão simplesmente especular, ao adquirir opções de compra que não precifiquem, a seu ver, adequadamente as possibilidades de incremento no valor da empresa; ou ainda, montar estratégias de renda fixa mediante o uso simultâneo de opções de compra e de venda do ativo ("box" de opções). Tudo isso é viabilizado pela negociação em um mercado de livre acesso, que possibilita a adequada mensuração do preço do ativo que é a opção, preço esse chamado "prêmio", o qual por sua vez requer dos operadores a consideração de elementos tais como a volatilidade do ativoobjeto, a taxa de juros do mercado, tempo entre a negociação e o vencimento da opção, assim como, por óbvio, a diferença entre o preço do ativo em questão e o preço de exercício. Para tal feito, são utilizados sofisticados modelos matemáticos, sendo o mais conhecido dentre eles o modelo denominado "Black and Scholes". Todavia, a remuneração baseada em ações, pelas denominadas employee stock options, nos termos antes abordados, pelo menos até o momento em que o empregado ou administrador recebe um instrumento financeiro por seus serviços prestados, possuem natureza bastante diversa das operações de mercado, revestindose de características muito mais próximas da remuneração de serviços. Fl. 1893DF CARF MF 22 Historicamente, essa maneira peculiar de remuneração surgiu nos países do primeiro mundo, como parte do pacote de benefícios e vantagens oferecidas a administradores e empregados, visando: não somente a sua retenção nos quadros da empresa, em especial nas de pequeno e médio porte, que, descapitalizadas, necessitavam de trabalhadores qualificados para a consecução de seus objetivos, mas também a convergência dos interesses da empresa e seus acionistas com os interesses de longo prazo dos administradores, que passariam a se comprometer em maior grau com a valorização das ações da companhia. Por outro lado, para os empregados e administradores, a concessão de um direito de aquisição de uma participação no capital de uma empresa com potencial de crescimento, com a consequente perspectiva de valorização dessa participação ação revela se bastante atrativa, representando a outorga desse direito opção uma efetiva vantagem econômica para o beneficiário, frente a terceiros que não possuam vínculos com a companhia. Essa remuneração passou a ser, tão ou mais interessante, no médio e longo prazos, quanto à própria remuneração em espécie. No Brasil, a outorga de opções de compra de ações a administradores, empregados ou terceiros, por serviços prestados, está prevista no § 3° do art. 168 da Lei das S.A.: Art. 168. O estatuto pode conter autorização para aumento do capital social independentemente de reforma estatutária. (... ) § 3° O estatuto pode prever que a companhia, dentro do limite de capital autorizado, e de acordo com plano aprovado pela assembléiageral, outorgue opção de compra de ações a seus administradores ou empregados, ou a pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou a sociedade sob seu controle. A Comissão de Valores Mobiliários, por meio do Ofício Circular/CVM/SNC/SEP nº 01/2007, de 14/02/2007, no seu item 25.3, ao tratar da matéria na qualidade de regulador dos mercados mobiliários, também entende os planos de outorga de opções a empregados, administradores ou terceiros como uma maneira de remuneração, nos seguintes termos: A companhia aberta empregadora pode adotar vários tipos de planos para remunerar executivos e funcionários pela outorga de opções de compra de ações emitidas pela companhia. Nos planos de outorga de ações convencionais, por exemplo, a companhia empregadora outorga opções para compra de um número fixo de ações da companhia, a um preço estabelecido, durante um período específico, em troca de serviços correntes ou futuros dos executivos e funcionários. Este tipo de remuneração é usual no mercado americano e, em menor escala, nos mercados da comunidade européia, como forma de alinhar os objetivos dos investidores ao objetivo dos administradores e empregados. (grifos na transcrição) Fl. 1894DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.872 23 Aliás, o caráter remuneratório desse tipo de operação é reafirmado no âmbito do processo de convergência das normas contábeis brasileiras aos padrões internacionais de contabilidade, pela CVM, em sua Deliberação CVM n° 562/2008, que aprova o Pronunciamento Técnico CPC n ° 10, pagamento baseado em ações, em linha com o IFRS 2 Sharebased Payment, nos seguintes termos: Deliberação CVM n° 562, de 17 de dezembro de 2008 A PRESIDENTE DA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS CVM torna público que o Colegiado, (...) DELIBEROU: I aprovar e tornar obrigatório, para as companhias abertas, o Pronunciamento Técnico CPC 10, anexo à presente Deliberação, que trata de Pagamento Baseado em Ações, emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis CPC; (...) 12. Em geral, ações, opções de ações ou outros instrumentos patrimoniais são concedidos aos empregados como parte da remuneração destes, adicionalmente ao salário e outros benefícios concedidos (...) Ao beneficiar empregados com a concessão de ações ou opções de ações adicionalmente a outras formas de remuneração, a entidade visa a obter benefícios adicionais (...) (Grifos na transcrição.) A Leitura do próprio CPC 10 esclarece os procedimentos para contabilização desse tipo de transação, revelando sua natureza remuneratória de serviços, senão vejamos: 1. O objetivo do presente Pronunciamento é estabelecer procedimentos para reconhecimento e divulgação, nas demonstrações contábeis, das transações com pagamento baseado em ações realizadas pela entidade. Especificamente, exigese que os efeitos das transações com pagamento baseado em ações estejam refletidos no resultado e no balanço patrimonial da entidade, incluindo despesas associadas com transações por meio das quais opções de ações são outorgadas a empregados. (...) 8. Os produtos ou serviços recebidos ou adquiridos em transação com pagamento baseado em ações que não se qualifiquem para fins de reconhecimento como ativos, devem ser reconhecidos como despesa do período. ... 12. Via de regra, ações, opções de ações ou outros instrumentos patrimoniais são outorgados aos empregados como parte do pacote de remuneração destes, adicionalmente aos salários e outros benefícios. Normalmente, não é possível mensurar, de forma direta, os serviços recebidos por componentes específicos do pacote de remuneração dos empregados. Pode não ser Fl. 1895DF CARF MF 24 possível também mensurar o valor justo do pacote de remuneração como um todo de modo independente, sem se mensurar diretamente o valor justo dos instrumentos patrimoniais outorgados. Ademais, ações e opções de ações são, por vezes, outorgadas como parte de acordo de pagamento de bônus, em vez de serem outorgadas como parte da remuneração básica dos empregados. Objetivamente, tratase de incentivo para que os empregados permaneçam nos quadros da entidade ou de prêmio por seus esforços na melhoria do desempenho da entidade. Ao beneficiar os empregados com a outorga de ações ou opções de ações, adicionalmente a outras formas de remuneração, a entidade visa a obter benefícios marginais. Em função da dificuldade de mensuração direta do valor justo dos serviços recebidos, a entidade deve mensurálos de forma indireta, ou seja, deve tomar como base o valor justo dos instrumentos patrimoniais outorgados. ... 15. Se o direito aos instrumentos patrimoniais outorgados não for adquirido (do not vest) até que a contraparte complete um período de tempo específico de prestação de serviços, a entidade deve presumir que os serviços a serem prestados pela contraparte, em contrapartida aos instrumentos patrimoniais outorgados, serão recebidos no futuro, ao longo do período de aquisição de direito (vesting period). A entidade deve contabilizar os serviços prestados pela contraparte à medida que são prestados, ao longo do período de aquisição de direito (vesting period), com o correspondente aumento do patrimônio líquido. Por exemplo: (a) se a um empregado forem outorgadas opções de ações condicionadas ao cumprimento de três anos de serviços, então a entidade deve presumir que os serviços a serem prestados pelo empregado, em contrapartida às opções de ações, serão recebidos no futuro, ao longo dos três anos estabelecidos como período de aquisição de direito (vesting period). (Grifei.) Nos termos acima, é evidenciada a natureza de contraprestação pela prestação do trabalho em determinado período, e orienta para a contabilização do valor justo do direito à compra, a correção desse, com os seus respectivos débitos ao longo do vesting period (enquanto recebe a prestação dos serviços) como despesa, com contrapartida de créditos em reservas de capital. Todo o cuidado de mensurar o valor justo dos instrumentos patrimoniais, associandoos ao período de carência, que corresponde à fruição de tempo de trabalho, antes de findar a condição suspensiva da outorga do direito de compra das ações, demonstra claramente a natureza de contraprestação a ser remunerada ou gratificada, que é registrada como despesa para empresa, analogamente ao salário. Por fim, a doutrina também expressa o mesmo entendimento, de caráter remuneratório das opções outorgadas a empregados, administradores e terceiros, em oposição à natureza das operações de opção livremente negociadas no mercado. Nesse sentido, cabe referir a obra de Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins e outro, o Manual de Contabilidade Societária FIPECAFI, Ed. Atlas, à fl. 539, nos termos a seguir reproduzidos: Fl. 1896DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.873 25 Algumas empresas optam por remunerar seus empregados (executivos, administradores ou outros colaboradores) por meio de pacotes que incluem ações e opções de ações. A idéia subjacente à remuneração com base em ações é fazer com que os funcionários sejam incentivados a atingir determinadas metas e, assim, se tornem, também, donos da entidade ou tenham a oportunidade de ganhar pela diferença entre o valor de mercado das ações que subscrevem e o valor da subscrição. Esse tipo de remuneração visa incentivar os empregados ao comprometimento com a maximização do valor da empresa, alinhando seus interesses com aos dos acionistas. Isso é necessário, pois de acordo com a Teoria da Agência, os empregados (agentes) e os acionistas (principais) possuem objetivos que, por muitas vezes, podem ser conflitantes. Nesse cenário, os planos de ações e de opções de ações constituem uma característica comum da remuneração de diretores, executivos e outros empregados. (grifos na transcrição) Por tudo o que se encontra acima colocado, vemos claramente que: (a) até o final do vesting period, a relação é de prestação de serviços e remuneração, com despesa reconhecida pela empresa, mediante a entrega de instrumento financeiro ao empregado, administrador ou prestador de serviço; e (b) somente após esse período é que o empregado, administrador ou prestador de serviço, já titular do instrumento financeiro, poderá, aceitando o risco de mercado, decidir mantêlo, cedêlo, exercer ou não a opção que ele representa etc. No entender deste conselheiro, o recorrente tenta confundir esses dois períodos, enfatizando diferenças acidentais entre a remuneração por salário em espécie e a remuneração por stock options plan. Com efeito, mesmo que o plano não estabeleça um valor fixo de salário, ele define claramente a remuneração na forma de instrumento financeiro outorgado, que tem valor determinável, como retribuição pela continuidade do trabalho na organização. Esclareçase que o conceito de instrumento financeiro, definido no parágrafo 11 do Pronunciamento Técnico CPC n° 39 como um contrato que (i) para uma parte estabelece o surgimento de um recurso e (ii) para a outra parte estabelece o surgimento de uma obrigação ou um instrumento patrimonial. Ora, essa definição se aplica tanto a depósitos bancários, quando a aplicações financeiras, ações ou opções de ações, entre outros. Portanto, passado o vesting period, o direito pode, ser exercido. Se após o vencimento do prazo de exercício da aquisição o colaborador não puder ou não quiser pagar para exercer o direito que lhe foi outorgado (a opção de compra), não terá deixado de ter recebido sua retribuição, na forma do instrumento financeiro, pelo período trabalhado. No recurso, houve alegação de que, com base em auditoria da KPMG, após o prazo de carência, o valor de mercado das units seria inferior ao preço de exercício da opção de sua compra. Aqui, cabem três esclarecimentos: (1) não houve recurso especial quanto aos valores apurados pela fiscalização; Fl. 1897DF CARF MF 26 (2) o recorrente, apesar dos cálculos apresentados pela KPMG, não indicou qualquer erro nas tabelas em que a fiscalização apurou os ganhos no período autuado, elaboradas a partir de parâmetros informados em planilha da própria empresa, conforme TVF, às efls. 1212 e 1213; apenas afirmou a possibilidade de perda quando da aquisição das opções, sem demonstrar em quais das apurações feitas pela fiscalização essa perda teria ocorrido; e (3) a variação do preço das ações ou das units após o vesting period, não afetam o valor da remuneração, que foi realizada na forma de opções de compra. Em resumo, para fins de imposto de renda, o que importa é que se constate a existência de vantagem jurídica ou econômica, ainda que sob a forma de utilidades, no caso, opções de ações, conferidas de forma exclusiva a pessoas físicas prestadoras de serviços à pessoa jurídica. Dessa forma, voto pela improcedência do recurso especial do contribuinte quanto a essa matéria, reconhecendo a existência do fato gerador. Conclusão Pelos motivos expostos, voto por conhecer em parte do recurso especial de divergência, no que tange ao cabimento da multa isolada pela falta de retenção do imposto de renda pela fonte pagadora, após o término do prazo de entrega da declaração de imposto de renda da pessoa física DIRPF, para negar provimento ao recurso nessa matéria e, como restei vencido quanto ao não conhecimento da matéria ocorrência do fato gerador do imposto de renda nas operações de Stock Options, voto por também negar provimento, no mérito, ao recurso do contribuinte, com relação a essa matéria. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Fl. 1898DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.874 27 Voto Vencedor Conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira Redatora designada. Peço licença ao ilustre conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos, para divergir do seu entendimento com relação ao conhecimento do recurso especial do sujeito passivo. Do conhecimento Inicialmente, convém destacar que o presente processo, somente chegou para apreciação desse colegiado, face existência de liminar em mandado de segurança impetrado pelo sujeito passivo contra o despacho de admissibilidade que negou seguimento ao seu recurso. Para que a análise possa ser clara, primeiramente, devemos separar as matérias objeto de recurso especial do sujeito passivo: I) Momento de ocorrência do fato gerador – Quanto a inocorrência de Fato gerador do IRRF pelo simples vencimento do prazo de carência das Stock options; II) Quanto a inocorrência em si do fato gerador do IRRF em razão do CARATER NÃO REMUNERATÓRIO DOS STOCK OPTIONS; III) Multa pela ausência de Retenção na Fonte. No caso, para tratar de forma objetiva a questão, peço vênia aos ilustres conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (relator do processo) e Maria Helena Cotta Cardoso (que apreciou a admissibilidade do recurso) para discordar de seus posicionamentos quanto a demonstração da divergência APENAS em relação a segunda matéria suscitada pelo recorrente (II) Quanto a inocorrência em si do fato gerador do IRRF em razão do CARATER NÃO REMUNERATÓRIO DOS STOCK OPTIONS). Quanto as demais matérias trazidas no recurso, concordo que não há como conhecer do recurso, tendo em vista ser impossível a demonstração da divergência considerando que a legislação que fundamenta o lançamento de IRRF e Contribuições Previdenciárias ser totalmente distinta. Ultrapassado esse esclarecimento trago a baila trecho do recurso especial do recorrente às fls. 1553, onde encontramse descritos os argumentos para demonstrar tratamento divergente entre colegiados: Fl. 1899DF CARF MF 28 Contudo, ressaltou que ao assim decidir, o acórdão recorrido divergiu de decisão proferida pela 1ª turma da 4ª câmara em que, analisando o plano de outorga de opções mantido pelo ITAU UNIBANCO HOLDINGS, plano mantido por sociedade do mesmo grupo econômico do recorrente, que é idêntico em essência ao plano analisado no presente processo, foi dado provimento ao recurso voluntário: STOCK OPTIONS. CARÁTER MERCANTIL. PARCELA NÃO INTEGRANTE DO SALÁRIO REMUNERAÇÃO. No presente caso, o plano de stock options é marcado pela onero sidade, pois preço de exercício da opção de compra das ações é estabelecido a valor de mercado, pela liberalidade da adesão e pelo risco decorrente do exercício da opção de compra das ações, de modo que resta manifesto o seu c aráter mercantil, não devendo os montantes pagos em decorrência do r eferido plano integrarem o salário de contribuição. Recurso Voluntário Provido. Destaca que os mesmos argumentos utilizados pelo acórdão recorrido para negar provimento ao recurso voluntário do recorrente foram rejeitados por este primeiro paradigma. Quanto a este ponto, entendo restar demonstrar a divergência entre os julgados. Nesse ponto não se trata de empregar legislação diferentes para definir fato gerador, mas o discussão para por um ponto comum entre a legislação do IR e da Previdência social, qual seja, possuem os contratos de outorgas de ações, chamados de stocks options natureza mercantil ou remuneratória. Entendo que nesse ponto, para a averiguação do caráter mercantil ou remuneratório o paradigma apresentado mostrase válido, mesmo tratando de lançamento de contribuições previdenciárias. Observamos também essa discussão no acórdão recorrido, fls. 4: Cuida o presente processo de exigência fiscal de multa por falta de retenção do Imposto Sobre a Renda Retido na Fonte, relativo a pagamentos de valores a título de stock option. De um lado, a contribuinte aduz que a opção pela compra de ações é uma operação mercantil e não proporciona ao trabalhador qualquer vantagem de natureza salarial. Fl. 1900DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.875 29 Assevera que eventual lucro obtido com a venda das ações não se vincula direta ou indiretamente à força de trabalho. Sustenta ainda que o resultado é incerto e ilíquido, pois a participação societária adquirida não pode ser vendida de imediato, a não ser parcialmente. Finaliza seu inconformismo afirmando que “... se pretende exigir tributo sem a ocorrência do fato gerador que o suporte”. Em outra via, a autoridade lançadora entendeu que a outorga de opções de compra de ações para trabalhadores tem caráter salarial, sendo uma espécie de remuneração a longo prazo, devendo, portanto, integrar os rendimentos do trabalhador para fins de incidência do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF). Nesse passo, para que não tenha natureza salarial, não pode o exercício da opção de compra de ações pelo empregado estar atrelado ao trabalho de forma a caracterizar um “plus”, “prêmio” ou um tipo de “saláriocondição” em decorrência da prestação de serviços. Na verdade, na compra de ações deve sempre estar presente o risco do negócio, característica principal das operações mercantis. Tratase de situação completamente alheia à prestação de serviços, já que o contrato de outorga de opções de compra deve ser baseado na legislação societária, que não se confunde com o contrato de trabalho, uma vez que representa uma relação meramente mercantil, embora ensejada no curso da relação de emprego. Portanto, a vantagem não pode ser concedida pelo serviço prestado ou para o serviço prestado. Aliás, conforme trazido pelo próprio recorrente em sede de mandado de segurança para ter sua preensão atendida, disse que existe recurso da PGFN envolvendo questão idêntica, qual seja, natureza remuneratória ou mercantil do plano de stock options de outra empresa do grupo, onde o encaminhamento deuse no mesmo sentido, No caso citado, aceitouse para fins de demonstração da divergência quanto ao caráter mercantil ou remuneratório, paradigma de outro tributo, mesmo não se tratando de recurso acerca de norma geral. Contudo, em relação ao momento de ocorrência do fato gerador (I) Momento de ocorrência do fato gerador – Quanto a inocorrência de Fato gerador do IRRF pelo simples vencimento do prazo de carência das Stock options, entendo que razão não assiste ao recorrente, a definição do momento de ocorrência do fato gerador, obedece a legislação própria, o que não nos permite ultrapassar questões específicas de cada tributação para fazer o recurso do contribuinte ser apreciado sob a incidência de outra legislação. É como se estivessemos utilizando a fundamentação de outro tributo para subsidiar o lançamento, o que sabemos não é aceito nos nossos julgados. Ao contrário do discussão sobre natureza mercantil ou remuneratória da outorga de opções, que pode ser encontrada em qualquer dos tributos, seja lançamento de contribuições previdenciárias, IRPF ou mesmo IRPJ, por tratarse de uma discussão mais ampla, o momento e as condições para a incidência de cada um dos tributos obedece uma Fl. 1901DF CARF MF 30 sistemática restrita e objetiva que impossibilita o comparativo entre as situações, por tratarse de arcabouços juridicos diversos. Conclusão Face o exposto, encaminho por CONHECER EM PARTE do recurso especial do sujeito passivo. É como voto. (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. Fl. 1902DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.876 31 Declaração de Voto Conselheira Ana Paula Fernandes. Em que pese o excelente voto do relator peço vênia para registrar meu entendimento pessoal no que se refere ao item do seu voto – “ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda, na remuneração baseada em stock options”. O Relator afirma que “a remuneração baseada em ações, pelas denominadas employee stock options, nos termos antes abordados, pelo menos até o momento em que o empregado ou administrador recebe um instrumento financeiro por seus serviços prestados, possuem natureza bastante diversa das operações de mercado, revestindose de características muito mais próximas da remuneração de serviços.”, e neste ponto específico acredito serem cabíveis uma série de ponderações. A meu ver atualmente o comportamento da Administração Pública face ao conceito de salário de contribuição tem demonstrado uma insistente tentativa de alargamento forçado da base de cálculo das contribuições previdenciárias e demais reflexos que porventura a remuneração possa causar no imposto de renda, no tocante as obrigações ditigidas as empresas. É estranho acreditar que a Justiça do trabalho com viés nitidamente social e protetivo ao trabalhador, o qual é muitas vezes criticado pela sociedade, desconsidere a natureza remuneratória de uma verba sem elementos legais para tanto. Dessa forma, o que vemos é que a jurisprudência majoritária dos Tribunais do Trabalho não atribui natureza salarial a stock option, conforme se vê das seguintes ementas: “STOCK OPTIONS – INCENTIVO AO EMPREGADO – CARÁTER NÃO SALARIAL. Tratandose as denominadas stock options de incentivo ao empregado no desenvolvimento de seus misteres, condicionado, porém, a regras estabelecidas e não sendo gratuito, visto que sujeito a preço, embora com desconto, temse que não guardam tais opções de compra da empresa caráter salarial. Recurso Ordinário obreiro a que se nega provimento, no aspecto” (TRT 2ª Região – 42364200290202002 ROAc.20030636234 – 7ª T – Relª Juíza Anélia Li Chum – DOESP 5.12.2003) OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES ("STOCK OPTION"). REMUNERAÇÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. Os lucros decorrentes de opções de compra de ações (stock options) não configuram remuneração, nos termos do artigo 457 ou do artigo 458, da Consolidação das Leis do Trabalho. Embora normalmente resultem em acréscimo patrimonial, não visam a remunerar o trabalho, mas a incentivar a obtenção de um Fl. 1903DF CARF MF 32 melhor desempenho da companhia empregadora, o que as aproxima da participação nos lucros ou resultados. Por outro lado, a aquisição não é obrigatória e, sim, opcional, e as ações são transferidas a título oneroso, o que exclui a hipótese de constituirse salárioutilidade. Além do mais, tais opções implicam risco para o empregado adquirente, uma vez que as ações adquiridas podem valorizarse ou desvalorizarse, circunstância que a distingue do salário "stricto sensu", cujo caráter "forfetário" é conhecido. TRT 15ª Reg. (Campinas/SP), RO 0387200304515857, (Ac. 31971/07PATE, 3ªC.), Rel. Juiz Ricardo Regis Laraia. DJSP 13.7.07, p.76) “STOCK OPTIONS. NATUREZA JURÍDICA. Não se tratando de parcela destinada a contraprestação pelos serviços prestados,os Planos de Opção de Compra de Ações (Stock Option Plan) não ostentam natureza salarial, não integrando a remuneração do empregado nos termos definidos pelos artigos 457 e 458 da CLT.(TRT 15ª Região, RO 0212520071091500 2, Ac 80161/08 PATR 1ªC, DOE 05.12.08, p.54, Luiz Antonio Lazarim) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. Compra de ações vinculada ao contrato de trabalho. Stock options. Natureza não salarial. Exame de matéria fática para compreensão das regras de aquisição. Limites da Súmula nº 126/TST. As stock options, regra geral, são parcelas econômicas vinculadas ao risco empresarial e aos lucros e resultados do empreendimento. Nesta medida, melhor se enquadram na categoria não remuneratória da participação em lucros e resultados (art. 7º, XI, da CF) do que no conceito, ainda que amplo, de salário ou remuneração. De par com isso, a circunstância de serem fortemente suportadas pelo próprio empregado, ainda que com preço diferenciado fornecido pela empresa, mais ainda afasta a novel figura da natureza salarial prevista na CLT e na Constituição. De todo modo, tornase inviável o reconhecimento de natureza salarial decorrente da possibilidade de compra de ações a preço reduzido pelos empregados para posterior revenda, ou a própria validade e extensão do direito de compra, se a admissibilidade do recurso de revista pressupõe o exame de prova documental O que encontra óbice na Súmula nº 126/TST. Agravo de instrumento desprovido. (TST; AIRR 85740 33.2009.5.03.0023; Sexta Turma; Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado; DEJT 04/02/2011; Pág. 2143) PRELIMINAR DE NÃOCONHECIMENTO DO RECURSO DE REVISTA ARGUIDA EM CONTRARAZÕES. I. (...) STOCK OPTION PLANS. NATUREZA SALARIAL. Não se configura a natureza salarial da parcela quando a vantagem percebida está desvinculada da força de trabalho disponibilizada e se insere no poder deliberativo do empregado, não se visualizando as ofensas aos arts. 457 e 458 da CLT. (...). (TST; RR 3273/199806402 Fl. 1904DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.877 33 00; Quarta Turma; Rel. Min. Antônio José de Barros Levenhagen; Julg. 15/03/2006; DJU 31/03/2006) Este entedimento não nasceu pronto, ele veio sendo construído ao longo do tempo pela doutrina e jurisprudência. Para o desembargador Sérgio Pinto Martins, no plano de ‘stock option’ o empregado aceita os riscos inerentes ao negócio que lhe é oferecido e às condições contratualmente estabelecidas, pois não há garantia alguma contra perdas decorrentes das flutuações do preço das ações, que são negociadas na Bolsa, o que afasta qualquer natureza salarial: “Stock option plano. Natureza comercial. O exercício da opção de compra de ações pelo empregado envolve riscos, pois ele tanto poderá ganhar como perder na operação. Tratase, portanto, de operação financeira no mercado de ações e não de salário. Não há pagamento pelo empregador ao empregado em decorrência de prestação de serviço, mas risco do negócio. Logo, não pode ser considerada salarial a prestação" (TRT 2ª R. (20030145141) 3ª T Rel. Sérgio Pinto Martins DOESP 08.04.2003). Em decisão ainda mais recente o Tribunal Superior do Trabalho no RR 20100002.2008.5.15.0140, manteve este posicionamento, não entendendo pela natureza remuneratória: (...) PLANO DE AÇÕES. STOCK OPTIONS. INTEGRAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO. Em que pese a possibilidade da compra e venda de ações decorrer do contrato de trabalho, o trabalhador não possui garantia de obtenção de lucro, podendo este ocorrer ou não, por consequência das variações do mercado acionário, consubstanciandose em vantagem eminentemente mercantil. Dessa forma, o referido direito não se encontra atrelado à força laboral, pois não possui natureza de contraprestação, não havendo se falar, assim,em natureza salarial. Precedente. Recurso de revista de que não se conhece. Alegações de que o que é considerado pela Justiça do Trabalho não impactam naquilo que é compreendido pela Fazenda Nacional no momento de tributar o Contribuinte não podem prosperar. Repiso aqui meu próprio entendimento já registrado no Processo 10680.722449/201054, que embora trate de situações bem diversas aproveita na discussão central. Sendo a meu ver inadmissível para a segurança jurídica que o mesmo fato seja considerado de diferentes formas para o Estado ao mesmo tempo, ou seja, que para a Justiça do Trabalho não seja reconhecida natureza remuneratória de uma verba e para a Receita Federal o seja, unicamente com a finalidade de cobrar contribuição previdenciária, ou dar nova interpretação ao fato gerador do imposto de renda. Fl. 1905DF CARF MF 34 O mesmo fato não pode ser considerado de forma distinta quando aplicado sobre a ele a mesma lei. Para cobrar contribuição previdenciária é necessário que seja reconhecida a relação de emprego ou a natureza da verba havida nesta relação, dentro das hipóteses de prestação de serviço previstas em lei que o tomador é o responsável tributário. Nesta seara, a manifestação da Justiça do Trabalho se mostra mais específica, pois é de sua competência o reconhecimento destas relações. Entendo que vínculo de emprego deve ser vínculo de emprego ou a natureza da verba deve ser a mesma sob as mesmas circunstancias seja para o direito do trabalho seja para o tributário. Fato é que, em havendo sua comprovação aí sim, gera efeitos reflexos tributários que estão previstos na legislação previdenciária/tributária. Assim não há dúvida da ocorrência do fato gerador do imposto de renda para a pessoa física, contudo não se confunde com remuneração, mas apenas com ganho de capital. Em não havendo ligação lógica entre a verba discutida e a natureza remuneratória não há que se falar, por exemplo, na obrigação da Empresa pelo Imposto retido na fonte muito menos na aplicação da multa isolada. Desse modo, conheço do Recurso do Contribuinte para no mérito darlhe provimento. É como voto. (assinado digitalmente) Ana Paula Fernandes. Fl. 1906DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.878 35 Declaração de Voto Conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira. O objetivo da presente declaração é deixar claro as razões pelas quais acompanhei o relator pelas conclusões. No processo paradigma, que aliás, entendi que serviria para demonstrar a divergência em relação a matéria caráter remuneratório X mercantil do stock option fornecido pela autuada aos seus colaboradores, já havia apresentado declaração de voto destacando os motivos pelos quais entendo estar claramente demonstrado o carater remuneratório. Dessa forma, colaciono as razões lá apresentadas no presente processo, por entender que o plano apresentado assemelhase ao aqui apresentado. Primeiramente, naqueles autos, discordei da então relatora que havia trazido informação no meu entender equivocada de que a turma ao analisar situações anteriores firmou convicção nos acordãos acórdãos n.s 2401003.044 e 2401003.045, de que se trataria de típico contrato mercantil. [...] Na verdade nos citados acordãos, por maioria, entendeuse que os planos ali ofertados constituiriam sim, salário de contribuição, contudo, enquanto relatora iniciei meu voto, fazendo uma abordagem téorica sobre o tema, indicando que em sua concepção originária os stock options constituiriam contrato mercantil, mas, destaquei que, não é a mera nomenclatura atribuída pelo sujeito passivo elemento suficiente para excluir uma verba do conceito de remuneração, restando naquele caso demonstrado pela autoridade fiscal, que o plano de stock options posuia sim natureza salarial. Assim, repriso meu entendimento acerca do tema. Apenas, para melhor esclarecer, trago meu entendimento a repsito da questão, fazendo a seguir o cotejamento com o plano ora sob análise. DA DEFINIÇÃO DO STOCK OPTIONS Doutrinariamente, ou seja, em sua concepção original, o Stock Option Plan (Plano de Opção de Compra de Ações) representa um plano que determina regras e critérios para outorga a determinados trabalhadores da possibilidade de aquisição de ações da empresa. Esses trabalhadores podem encontrarse na situação de empregados, autônomos, administradores (contribuintes individuais para a previdência social). A opção por ações proporciona ao beneficiário a assinatura de um contrato mediante pagamento de um valor, para ter direito de compra de ações por uma valor pré determinado, após um período de carência previamente fixado (permanência na empresa) e a possibilidade de vendêlas no mercado de capitais auferindo lucro ao final desse prazo. No ordenamento jurídico brasileiro, a opção de compra de ações esta prevista no § 3º do artigo 168 da Lei nº 6.404/76, verbis: Art. 168. O estatuto pode conter autorização para aumento do capital social, independente de reforma estatutária. Fl. 1907DF CARF MF 36 Parágrafo 3º. O estatuto pode prever que a companhia, dentro do limite do capital autorizado, e de acordo com o plano aprovado pela assembléia geral, outorgue opção de compra de ações a seus administradores ou empregados, ou a pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou à sociedade sob seu controle. Para elucidar a definição do Plano de Opção de Compra de Ações, podemos citar o texto da lavra de “CALVO, Adriana Carrera. A natureza jurídica dos planos de opções de compra de ações no direito do trabalho – “employee stock option plans”. Clubjus, BrasíliaDF:25 ago. 2007”, que assim aborda a matéria: 1. Introdução Nas últimas décadas, o sistema de remuneração adotado pelas empresas brasileiras modificouse drasticamente, devido à transferência de investimentos de empresas estrangeiras para o Brasil, principalmente da área de tecnologia. Tal fato alterou o nosso cenário empresarial e influenciou diretamente a nossa política de recursos humanos. A nova política de remuneração abandonou como modelo único o sistema de salário fixo e introduziu o sistema remuneração variável. A mais importante estratégia de remuneração variável passou a ser a promessa da distribuição agressiva de planos de opções de compra de ações por preço prefixado (“employee stock options”). No início, estes programas foram implementados no Brasil com o intuito de manter os benefícios que os expatriados possuíam quando eram empregados da matriz da empresa no exterior. Posteriormente, passou a ser comum a oferta destes benefícios não somente aos empregados estrangeiros, como também aos novos gerentes contratados no Brasil. Mais tarde, passou a ser estendido também aos demais empregados brasileiros da empresa. Segundo o dicionário Barron’s Dictionary of Legal Terms, o termo “stock option” significa; “a outorga a um individuo do direito de comprar, em uma data futura, ações de uma sociedade por um preço especificado ao tempo em que a opção lhe é conferida, e não ao tempo em que as ações são adquiridas”. O plano de opção de compra de ações permite que o empregado tenha uma participação na valorização futura da empresa. O intervalo de tempo entre a atribuição das opções e a compra de ações transforma o plano em típico sistema de remuneração diferida, na medida em que quem recebe as opções de ações não pode dispor imediatamente do valor dessa remuneração. Esta prática permite alcançar 2 (dois) grandes objetivos primordiais para o sucesso de qualquer empresa: retenção dos empregados considerados “talentos” da empresa e o atingimento de resultados por meio de uma parceria entre os acionistas e empregados da empresa. É à busca da verdadeira relação do tipo “ganhaganha” no ambiente de trabalho. 2. O plano de opção de compra de ações Fl. 1908DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.879 37 O sistema de “stock options” consiste no direito de comprar lotes de ações por um preço fixo dentro de um prazo determinado. A empresa confere ao seu titular o direito de, num determinado prazo, subscrever ações da empresa para o qual trabalha ou na grande maioria da sua controladora no exterior, a um preço determinado ou determinável, segundo critérios estabelecidos por ocasião da outorga, através de um plano previamente aprovado pela assembléia geral da empresa. Em geral, o plano de “stock options” contém os seguintes elementos: (1) preço de exercício – preço pelo qual o empregado tem o direito de exercer sua opção (“exercise price”); (2) prazo de carência – regras ou condições para o exercício das opções (“vesting”) e; (3) termo de opção – prazo máximo para o exercício da opção de compra da ação (“expiration date”): O preço de exercício é o preço de mercado da ação na data da concessão da opção, sendo comum estabelecerse um desconto ou um prêmio sobre o valor de mercado. Neste aspecto, vale destacar que o referido valor do desconto ou prêmio não pode ser tão significativo que elimine o risco da operação futura, pois implicaria em gratuidade na concessão do plano, critério típico do salário utilidade. Quanto ao prazo de carência é definido como um número mínimo de tempo de serviço na empresa, que costuma variar de 3 (três) a 5 (cinco) anos. A prática de mercado é de um prazo máximo de termo de opção que varia de 5 (cinco) a 10 (dez) anos da data da concessão da opção de compra. Segundo o dicionário 'Barrons Dictionary of Legal Terms', o termo stock option significa: “a outorga a um indivíduo do direito de comprar, em uma data a futura, ações de uma sociedade por um preço especificado ao tempo em que a opção lhe é conferida, e não ao tempo em que as ações são adquiridas”. Assim, as opções representam o direito de comprar ações a um preço fixo, definido na data em que as opções são concedidas (preço de exercício). Após um determinado período (prazo de carência, também chamado de 'vesting'), esse direito de opção de compras pode ou não ser exercido, já que não se trata de obrigação, como mencionado acima e envolve risco para o empregado. Ou seja, no meu entender, na sua concepção original o stock options, ao possibilitar a assinatura de um contrato com o correspondente pagamento de um preço ajustado para ter o direito de comprar ações futuras (sem a devolução do valor já pago), é mera expectativa de direito do trabalhador (seja empregado, autônomo ou administrador). Consistiria em um regime de opção de compra de ações por preço prefixado, concedida pela empresa aos contribuintes individuais ou mesmo empregados, garantindolhe a possibilidade de participação no crescimento do empreendimento (na medida que o sucesso da empresa implica, valorização das ações no mercado), não tendo, dentro dessa concepção caráter salarial. Assim, não parto da premissa, de que qualquer plano de stock options teria natureza salarial, como também não há como se afirmar que ao atribuir a nomenclatura de "stock options", estará a empresa desobriga de incluir tal verba na base de cálculo de contribuições previdenciárias ou de qualquer outro tributo. Fl. 1909DF CARF MF 38 No mesmo sentido, temse encaminhado os renomados doutrinadores trabalhistas brasileiros, dentre eles citese a professora Alice Monteiro de Barros (in Curso de Direito do Trabalho, 6.ª ed., São Paulo: LTR, 2010, p. 783): "As stock option constituem um regime de compra ou de subscrição de ações e foram introduzidas na França em 1970, cujas novas regras encontramse na Lei n. 420, de 2001. Não se identificam com a poupança salarial. O regime das stock option permite que os empregados comprem ações da empresa em um determinado período e por preço ajustado previamente. É no mesmo sentido, que entendo que o simples fato de uma empresa ofertar aos seus trabalhadores, um plano de outorga de opção pela compra de ações de forma onerosa, não pode ser fundamentação isolada para a configuração de fato gerador de contribuições previdenciárias, partindo da premissa de que toda a forma de STOCK OPTIONS, tende a remunerar, premiar o trabalhador pela prestação de serviços. Contudo, a análise realizada acima, teve por escopo aspectos doutrinários do termo “STOCK OPTIONS”, sendo que a conclusão acerca da procedência do lançamento, ou seja, sobre a efetiva natureza salarial do plano de outorga ora apresentado, merece uma análise não apenas conceitual, mas especialmente, se o pagamento feito pela recorrente encontrase em perfeita consonância com a concepção original descrita acima, afastandose a natureza remuneratória, conforme argumentado pelo recorrente. Entendo que, apenas restando respeitada essa concepção original que envolveria um risco na assinatura do contrato, já que o trabalhador teria que pagar um valor para ter direito a participar do plano de stock options é que poderíamos dizer que a natureza seja mercantil. Em todos os demais casos, como nos presentes autos, onde a única exigência para que se tenha direito a participar do plano e comprar ações com um valor de deságio futuro, seja permanecer trabalhando, ou seja, cumprir uma carência de tempo de trabalho, fica nítido o carater salarial do plano, pois não envolve qualquer risco ao trabalhador. CONFIGURAÇÃO DA NATUREZA REMUNERATÓRIA DO STOCK OPTIONS Assim como descreve a doutrina, o recorrente e o próprio auditor fiscal, o surgimento do Plano de Opção pela Compra de Ações – chamado de stock options, deuse na lei da S.A em seu art. 128, o que lhe conferiu inicialmente caráter mercantil. Mas, o objetivo desse lançamento e de toda a discussão acerca do tema, é se o fato de a previsão para outorga de ações ter se dado na lei das S.A, afastaria qualquer possibilidade de considerar o benefício como salário indireto, e por conseguinte, incluílo na base de cálculo de contribuições? Acredito que não! O fato da legislação das S.A ter previsto essa modalidade de pagamento, não a excluiu do conceito do salário de contribuição. Nesse ponto, entendo oportuno a indicação do auditor que a verba não está contida no rol de exclusões do art. 28, §9º, mas devemos nos aprofundar nos fatos indicados no relatório fiscal para constituição do crédito ora sob análise. Tal fato mostrase relevante para evitar que as empresas passem a adotar sistemáticas de remuneração indireta, passando as chamálas de stock options. Vimos, no decorrer dos últimos anos, nascer, disseminar, e morrer diversas formas de pagamentos indiretos, como é o caso das empresas de premiação, que surgiram como ideias legítimas de satisfação dos empregados, ou mesmo de diminuição dos custos das Fl. 1910DF CARF MF Processo nº 16327.720085/201326 Acórdão n.º 9202005.443 CSRFT2 Fl. 1.880 39 empresas. É certo que o planejamento estratégico, muito presente nos dias atuais, tanto na contratação de trabalhadores, como organização das empresas, impulsiona os empresários a buscar formas de vencer no mercado, com a conseqüente diminuição de custos e aumento da eficiência. Mas, não podemos entender que o simples uso de uma nomenclatura seja capaz de excluir determinado benefício do conceito de remuneração. No caso, deve a autoridade fiscal e órgão julgador verificar se na essência o pagamento cumpriu sua premissa básica, aquela na qual original encontravase consubstanciado. Assim, não interessa se a nomenclatura atribuída a verba conferi lhe caráter indenizatório, se o pagamento da mesma consubstanciase em verba com cunho remuneratório. Como defendeu a autoridade fiscal, o caráter remuneratório nasce, na medida que se observa que o benefício concedido surge como um meio indireto de satisfazer o trabalhador, fidelizálo, ou simplesmente oferecerlhe um atrativo, de forma, que o mesmo veja no trabalho prestado na empresa uma possibilidade de remuneração indireta. Destaco, porém, que embora, não concorde com a frase dita de forma isolada, no contexto apresentado pelo auditor, entendo que a conclusão mostrase acertada. Os próprios comunicados e instrumentos de gerenciamento descrevem a nítida intenção de remunerar os trabalhadores por meio do stock options. E aqui, conforme descrito acima, não importa se estamos falando de empregado, ou mesmo prestador de serviços contribuinte individual. O termo “remuneração” deve ser tomado em sua acepção mais ampla, como qualquer pagamento tendente a remunerar o trabalho prestado ou o tempo a disposição do empregador. Partindo do posicionamento acima exposto, o qual já adoto nos meus julgados a respeito do tema, discordo do entendimento da relatora de que a fiscalização não aponta as características do plano que demonstram a sua natureza salarial. Realmente a primeira indicação da auotridade fiscal, é que o plano em questão é na verdade remuneração, mas ao contrário do que tenta demonstrar a relatora foram apreciados pontualmente características que me fazem concordar com o caráter salarial do benefício fornecido. Uma leitura do termo de verificação fiscal, deixa claro, ter a autoridade fiscal se debruçado sobre os planos e demais instrumentos e comunicados gerenciais da empresa, assim, como descrito pelo ilustre relator desse voto. No caso, restou suficientemente demonstrado que a nítida intenção do plano ofertado era de conferir um ganho indireto ao trabalhador, razão pela qual restou caracterizada a sua natureza salarial. Conforme descrito anteriormente, o argumento consistente para que a opção de compra de ações se afasta da natureza remuneratória e assuma a sua condição conceitual é o fato do risco atribuído ao empregado ou contribuinte individual, quando lhe é feita a opção pela compra de ações. Todavia, no presente caso, esse elemento resta mitigado, na medida que a empresa, vai criando políticas que permitem o acesso ao plano sem o desembolso de qualquer valor no momento de assinatura do contrato de opção pela compra de ações. Conforme podemos identificar nos autos não há pagamento no momento da assinatura do contrato de outorga de opção. Ou seja, não estabeleceu a empresa um valor ou antecipação no momento da contratação da outorga, demonstrando que o recorrente simplesmente atribuiu a possibilidade de aquisição (digase que não é obrigatório), permitindo, ao beneficiário a escolha do melhor momento para aquisição das ações (dentro de uma prazo limite estipulado pela empresa). Esse fato mostrase relevante, quando em outras oportunidades (outros planos de stock options) identificouse um desembolso no momento da assinatura do contrato de opção, sem nesse momento exercer qualquer tipo de direito, mas tão somente para Fl. 1911DF CARF MF 40 ter direito de futuramente exercêlas por um preço previamente estipulado. A atribuição de um valor no momento de assinatura do contrato, denotaria um risco, pois se o trabalhador futuramente não tiver interesse em exercer o direito de comprar, não terá direito ao reembolso do valor. Por fim, outro elemento trazido pelo recorrente para afastar a natureza salarial que não merece prosperar, posto que não enseja qualquer risco capaz de afastar a natureza salarial do plano é a impossibilidade de vender metade das ações por um determinado período (denominado lock up). Pelo contrário, entendo que a possibilidade de venda antecipada das ações (no caso de 50%), sem que se tenha cumprido todo o período de carência é que reforça a natureza salarial da verba, pois o beneficiário pode escolher momentos oportunos para realização da venda. Assim, pelas razões apresentadas acima, chego a mesma conclusão do relator de restar nitidamente caracterizado o caráter salarial do plano de stock options ofertado pela recorrente aos seus trabalhadores. É como voto. (assinado digitalmente) Elaine Cristina Monteiro e Silva Viera. Fl. 1912DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10183.906966/2011-76
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jun 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 3201-000.936
Decisão: Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Winderley Morais Pereira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Marcelo Giovani Vieira e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado).
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Winderley Morais Pereira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade, Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Marcelo Giovani Vieira e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado). Relatório Tratase de Recurso Voluntário apresentado pelo contribuinte supra identificado em face do acórdão da DRJ Florianópolis/SC que julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade manejada para se requerer a reforma do despacho decisório exarado pela repartição de origem. De acordo com o despacho decisório, o crédito informado na Declaração de Compensação já se encontrava integralmente alocado a outro débito do sujeito passivo, decorrendo daí a não homologação da compensação declarada. Na Manifestação de Inconformidade, o contribuinte requereu o reconhecimento do direito à restituição da contribuição recolhida sobre receitas estranhas ao conceito de faturamento, em face da inconstitucionalidade do art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/1998, declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento submetido à sistemática da repercussão geral, cujo teor deve ser reproduzido pelos Conselheiros do CARF, por força do disposto no art. 62A do Regimento Interno do CARF. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 01 83 .9 06 96 6/ 20 11 -7 6 Fl. 107DF CARF MF Processo nº 10183.906966/201176 Resolução nº 3201000.936 S3C2T1 Fl. 3 2 A decisão da DRJ Florianópolis/SC, denegatória do direito pleiteado, fundamentouse na falta de comprovação da liquidez e certeza do crédito, dada a ausência de retificação tempestiva da DCTF. Cientificado da decisão de primeira instância, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário, reiterando a existência do crédito tributário postulado e requerendo a integral homologação da compensação declarada, tendose em conta o princípio da verdade material que exige o aprofundamento da investigação dos fatos por parte da Fiscalização, em face do conjunto probatório por ele produzido. É o relatório. Voto Conselheiro Winderley Morais Pereira, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 3201000.905, de 29/06/2017, proferido no julgamento do processo 10530.904837/201156, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Resolução nº 3201000.905): A questão em apreço se resolveria pela aplicação do decidido pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral, conforme ementa a seguir transcrita: "RECURSO. Extraordinário. Tributo. Contribuição social. PIS. COFINS. Alargamento da base de cálculo. Art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. Inconstitucionalidade. Precedentes do Plenário (RE nº 346.084/PR, Rel. orig. Min. ILMAR GALVÃO, DJ de 1º.9.2006; REs nos 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJ de 15.8.2006) Repercussão Geral do tema. Reconhecimento pelo Plenário. Recurso improvido. É inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98." (RE 585235 QORG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 10/09/2008, REPERCUSSÃO GERAL MÉRITO DJe227 DIVULG 27 112008 PUBLIC 28112008 EMENT VOL0234310 PP02009 RTJ VOL0020802 PP00871 ) Temse, então, que o § 1° do art. 3° da Lei 9.718/98 foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Como sabido, a aplicação do decidido pela Corte Suprema em sede de repercussão geral é de aplicação obrigatória por parte deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, conforme se depreende da redação do art. do RICARF: "Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. § 1º O disposto no caput não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: Fl. 108DF CARF MF Processo nº 10183.906966/201176 Resolução nº 3201000.936 S3C2T1 Fl. 4 3 (...) II que fundamente crédito tributário objeto de: (...) b) Decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal o u do Superior Tribunal de Justiça, em sede de julgamento realizado nos termos dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei n º 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, na forma disciplinada pela Administração Tributária; (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016)" A jurisprudência deste colegiado administrativo é pacífica em relação ao tema. Vejamos: "Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Período de apuração: 01/09/2001 a 30/09/2001 COFINS. BASE DE CÁLCULO. ART. 3º, § 1º, DA LEI Nº 9.718/1998. INCONSTITUCIONALIDADE DE DECLARADA PELO STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO DO ART. 62 DO REGIMENTO INTERNO DO CARF. OBRIGATORIEDADE DE REPRODUÇÃO DO ENTENDIMENTO. O §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/1998 foi declarado inconstitucional pelo STF no julgamento do RE nº 346.084/PR e no RE nº 585.235/RG, este último decidido em regime de repercussão geral (CPC, art. 543B). Assim, deve ser aplicado o disposto no art. 62 do Regimento Interno do Carf, o que implica a obrigatoriedade do reconhecimento da inconstitucionalidade do referido dispositivo legal." (Processo 11516.002621/200719; Acórdão 3401003.239; Conselheiro LEONARDO OGASSAWARA DE ARAUJO BRANCO, Sessão de 26/09/2016) Ocorre que, no caso em debate tanto o despacho decisório, quanto a decisão proferida em sede de manifestação de inconformidade informam não estar comprovada a certeza e a liquidez do direito creditório. A decisão, portanto, foi no sentido de que inexiste crédito apto a lastrear o pedido da recorrente. No entanto, entendo como razoável as alegações produzidas pela recorrente aliado aos documentos apresentados nos autos, o que atesta que procurou se desincumbir do seu ônus probatório em atestar a existência dos créditos alegados. A recorrente além das DCTF's apresentou planilha de cálculo, balancete e comprovante de arrecadação referente ao período em apreço e, por fim, juntamente com o seu recurso anexa o LivroRazão. Neste contexto, a teor do que preconiza o art. 373 do diploma processual civil, teve a manifesta intenção de provar o seu direito creditório, sendo que tal procedimento, também está pautado pela boafé. Saliento o fato de assistir razão à recorrente quando alega que a falta de retificação de declaração não tem o condão de tornar devido o que é indevido, sob pena de ofensa aos princípios da legalidade e da verdade material. Fl. 109DF CARF MF Processo nº 10183.906966/201176 Resolução nº 3201000.936 S3C2T1 Fl. 5 4 Neste sentido já decidiu o CARF: "Assunto: Normas de Administração Tributária Anocalendário: 2002 CONEXÃO. IMPOSSIBILIDADE. Os processos referemse a períodos diferentes, o que ocasiona fatos jurídicos tributários diferentes, com a consequente diferenciação no que concerne à produção probatória, impossibilitando a conexão. FALTA DE RETIFICAÇÃO NA DCTF. Ainda que o sujeito passivo não tenha retificado a DCTF, mas demonstre, por meio de prova cabal, a existência de crédito, a referida formalidade não se faz necessária. Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Anocalendário: 2002 INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3º, §1º, DA LEI Nº 9.718/1998. RECONHECIMENTO. Quanto à ampliação da base de cálculo prevista pela Lei nº 9.718/1998, tal fato já foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal em regime de repercussão geral, RE 585235 QORG." (Processo 10280.905801/2011 89; Acórdão 3302003.619; Conselheira SARAH MARIA LINHARES DE ARAÚJO PAES DE SOUZA; Sessão de 21/02/2017) (nosso destaque) Recentemente, em questão similar, em processo relatado pela Conselheira Tatiana Josefovicz Belisário (10830.917695/201111 Resolução 3201000.848), esta Turma por unanimidade de votos, decidiu em converter o julgamento em diligência, conforme a seguir transcrito: "Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto da Relatora." Do voto da relatora destaco: "Na hipótese dos autos, observase que não houve inércia do contribuinte na apresentação de documentos. O que se verifica é que os documentos inicialmente apresentados em sede de Manifestação de Inconformidade se mostraram insuficientes para que a Autoridade Julgadora determinasse a revisão do crédito tributário. E, imediatamente após tal manifestação, em sede de Recurso Voluntário, foram apresentados novos documentos. Ademais, não se pode olvidar que se está diante de um despacho decisório eletrônico, ou seja, a primeira oportunidade concedida ao contribuinte para a apresentação de documentos comprobatórios do seu direito foi, exatamente, no momento da apresentação da sua Manifestação de Inconformidade. E, foi apenas em sede de acórdão, que tais documentos foram tidos por insuficientes. Sabese quem em autuações fiscais realizadas de maneira ordinária, é, em regra, concedido ao contribuinte diversas oportunidades de apresentação de documentos e esclarecimentos, por meio dos Termos de Intimação emitidos durante o procedimento. Assim, limitar, na autuação eletrônica, a oportunidade de apresentação de documentos à manifestação de inconformidade, aplicando a preclusão relativamente ao Recurso Voluntário, não me parece razoável ou isonômico, além de atentatório aos princípios da ampla defesa e do devido processo legal." Ademais, em casos análogos envolvendo a recorrente, este conselho administrativo nos processos 10530.902899/201123 e Fl. 110DF CARF MF Processo nº 10183.906966/201176 Resolução nº 3201000.936 S3C2T1 Fl. 6 5 10530.902898/201189 decidiu por converter o julgamento em diligência através das Resoluções 3801000.816 e 3801000.815. Assim, entendo que há dúvida razoável no presente processo acerca da liquidez, certeza e exigibilidade do direito creditório, o que justifica a conversão do feito em diligência, não sendo prudente julgar o recurso em prejuízo da recorrente, sem que as questões aventadas sejam dirimidas. Diante do exposto, voto pela conversão do julgamento em diligência à repartição de origem, para que possa ser apurado e informado, de modo pormenorizado, o valor do débito e do crédito existentes na data de transmissão dos PER/DCOMPs dos processos, bem como a existência do crédito postulado a partir de toda a documentação apresentada pelo contribuinte e outras diligências que possam ser realizadas a critério da autoridade competente, com a elaboração do devido relatório. Deve, ainda, a autoridade administrativa informar se há o direito creditório alegado pela recorrente e se o mesmo é suficiente para a extinção do débito existente tomando por base toda a documentação apresentada pelo contribuinte. Isto posto, deve ser oportunizada à recorrente o conhecimento dos procedimentos efetuados pela repartição fiscal, com abertura de vistas pelo prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, para que se manifeste nos autos e apresente documentos adicionais, caso entenda necessário, para, na sequência, retornarem os autos a este colegiado para prosseguimento do julgamento. Importante frisar que os documentos juntados pelo contribuinte no processo paradigma, como prova do direito creditório, também foram juntados em cópias nestes autos (planilha, balancete e/ou razão). Dessa forma, os elementos que justificaram a conversão do julgamento em diligência no caso do paradigma também a justificam no presente caso. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, decido por converter o julgamento em diligência, para que a Autoridade Preparadora certifique a efetiva existência do crédito postulado, a partir dos documentos apresentados pelo contribuinte e por meio de outras diligências que se mostrarem necessárias, apurando os valores do débito e do crédito existentes na data de transmissão do PER/DCOMP, consignandoos em relatório pormenorizado. Após a realização da diligência, concedase vista ao contribuinte pelo prazo de 30 (trinta dias) para se manifestar acerca das conclusões. Após, retornemse os autos para julgamento. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Fl. 111DF CARF MF
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Numero do processo: 10875.722997/2014-21
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 09 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Aug 30 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/03/2009 a 30/09/2012
INTIMAÇÃO. VIA POSTAL. DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
É válida a intimação feita por via postal no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo, sendo este aquele fornecido por ele, para fins cadastrais, à administração tributária.
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. OFENSA. FALTA DE COMPROVAÇÃO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
Não devem prosperar as alegações de ofensa ao contraditório e à ampla defesa quando destituídas de qualquer comprovação, em especial quando a documentação dos autos é incompatível com elas.
DECISÃO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
Considera-se fundamentada a decisão que contém elementos de fato e de direito suficientes para suportar as conclusões apresentadas, não estando o julgador obrigado a analisar argumentos que não teriam o condão de alterar o que foi decidido.
A omissão no julgado deve ser apontada objetivamente, não servindo para infirmá-lo alegações de cunho genérico.
AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL. COMPETÊNCIA. LANÇAMENTO E JULGAMENTO.
O Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil é a autoridade administrativa a quem compete privativamente constituir o crédito tributário por meio do lançamento de ofício, ao sujeito passivo e responsáveis solidários, bem como elaborar e proferir decisões ou delas participar em processo administrativo-fiscal.
MPF. NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
O MPF é instrumento interno de planejamento e controle das atividades e procedimentos fiscais de forma que eventuais irregularidades no seu trâmite ou emissão não teriam força para invalidar o auto de infração dele derivado.
O MPF é expedido em face do sujeito passivo fiscalizado, não havendo previsão de emissão para os sujeitos passivos solidários.
DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. FRAUDE,
DOLO OU SIMULAÇÃO.
Nos casos em que comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, o prazo decadencial começa a fluir no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o tributo poderia ter sido lançado.
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA.
Uma vez demonstrados o exercício de fato de poderes de administração pelas pessoas físicas apontadas como responsáveis, bem como o seu interesse jurídico comum na situação que gerou o fato gerador, estão presentes os requisitos para a responsabilização pelo crédito tributário lançado.
AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. PAGAMENTO EM ESPÉCIE. INCIDÊNCIA.
O auxílio-alimentação quando pago em espécie e com habitualidade integra o base de cálculo das contribuições previdenciárias.
VALE-TRANPORTE. ENUNCIADO Nº 89 DA SÚMULA CARF.
A contribuição social previdenciária não incide sobre valores pagos a título de vale-transporte, mesmo que em pecúnia.
MULTA QUALIFICADA. INTERPOSIÇÃO DE PESSOAS. SONEGAÇÃO. CABIMENTO.
É cabível a qualificação da multa no caso de fraude e sonegação, caracterizados pela utilização de interpostas pessoas e de sistema de controle de pagamento de remunerações "por fora", de modo a se furtar ao cumprimento das obrigações tributárias acessórias e principais.
PEDIDO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO.
A perícia é reservada à elucidação de pontos duvidosos que exijam esclarecimentos especializados para o deslinde da questão. Restringindo-se a questão controversa à apresentação de prova documental, torna-se prescindível, para solução do litígio, a realização de perícia visando tão somente suprir a obrigação do sujeito passivo em comprovar a regularidade de sua escrituração e de sua conduta.
ARGÜIÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE E ILEGALIDADE DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA. ENUNCIADO Nº 2 DA SÚMULA CARF.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
Numero da decisão: 2201-003.811
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, em dar provimento parcial ao recurso voluntário para excluir do lançamento os valores correspondentes ao vale-transporte.
(assinado digitalmente)
Carlos Henrique de Oliveira - Presidente.
(assinado digitalmente)
Dione Jesabel Wasilewski - Relatora.
EDITADO EM: 25/08/2017
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecilia Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim.
Nome do relator: DIONE JESABEL WASILEWSKI
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VIA POSTAL. DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. É válida a intimação feita por via postal no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo, sendo este aquele fornecido por ele, para fins cadastrais, à administração tributária. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. OFENSA. FALTA DE COMPROVAÇÃO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. Não devem prosperar as alegações de ofensa ao contraditório e à ampla defesa quando destituídas de qualquer comprovação, em especial quando a documentação dos autos é incompatível com elas. DECISÃO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. Considerase fundamentada a decisão que contém elementos de fato e de direito suficientes para suportar as conclusões apresentadas, não estando o julgador obrigado a analisar argumentos que não teriam o condão de alterar o que foi decidido. A omissão no julgado deve ser apontada objetivamente, não servindo para infirmálo alegações de cunho genérico. AUDITORFISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL. COMPETÊNCIA. LANÇAMENTO E JULGAMENTO. O AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil é a autoridade administrativa a quem compete privativamente constituir o crédito tributário por meio do lançamento de ofício, ao sujeito passivo e responsáveis solidários, bem como elaborar e proferir decisões ou delas participar em processo administrativo fiscal. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 87 5. 72 29 97 /2 01 4- 21 Fl. 12683DF CARF MF 2 MPF. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. O MPF é instrumento interno de planejamento e controle das atividades e procedimentos fiscais de forma que eventuais irregularidades no seu trâmite ou emissão não teriam força para invalidar o auto de infração dele derivado. O MPF é expedido em face do sujeito passivo fiscalizado, não havendo previsão de emissão para os sujeitos passivos solidários. DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. FRAUDE, DOLO OU SIMULAÇÃO. Nos casos em que comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, o prazo decadencial começa a fluir no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o tributo poderia ter sido lançado. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. Uma vez demonstrados o exercício de fato de poderes de administração pelas pessoas físicas apontadas como responsáveis, bem como o seu interesse jurídico comum na situação que gerou o fato gerador, estão presentes os requisitos para a responsabilização pelo crédito tributário lançado. AUXÍLIOALIMENTAÇÃO. PAGAMENTO EM ESPÉCIE. INCIDÊNCIA. O auxílioalimentação quando pago em espécie e com habitualidade integra o base de cálculo das contribuições previdenciárias. VALETRANPORTE. ENUNCIADO Nº 89 DA SÚMULA CARF. A contribuição social previdenciária não incide sobre valores pagos a título de valetransporte, mesmo que em pecúnia. MULTA QUALIFICADA. INTERPOSIÇÃO DE PESSOAS. SONEGAÇÃO. CABIMENTO. É cabível a qualificação da multa no caso de fraude e sonegação, caracterizados pela utilização de interpostas pessoas e de sistema de controle de pagamento de remunerações "por fora", de modo a se furtar ao cumprimento das obrigações tributárias acessórias e principais. PEDIDO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO. A perícia é reservada à elucidação de pontos duvidosos que exijam esclarecimentos especializados para o deslinde da questão. Restringindose a questão controversa à apresentação de prova documental, tornase prescindível, para solução do litígio, a realização de perícia visando tão somente suprir a obrigação do sujeito passivo em comprovar a regularidade de sua escrituração e de sua conduta. ARGÜIÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE E ILEGALIDADE DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA. ENUNCIADO Nº 2 DA SÚMULA CARF. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 12684DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.684 3 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, em dar provimento parcial ao recurso voluntário para excluir do lançamento os valores correspondentes ao valetransporte. (assinado digitalmente) Carlos Henrique de Oliveira Presidente. (assinado digitalmente) Dione Jesabel Wasilewski Relatora. EDITADO EM: 25/08/2017 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Henrique de Oliveira, Ana Cecilia Lustosa da Cruz, Dione Jesabel Wasilewski, José Alfredo Duarte Filho, Marcelo Milton da Silva Risso, Carlos Alberto do Amaral Azeredo, Daniel Melo Mendes Bezerra e Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim. Relatório Tratase da análise de recursos voluntários apresentados pelo contribuinte e responsáveis solidários em face do Acórdão nº 0834.106, da 6ª Turma da DRJ/FOR que negou provimento às impugnações formalizadas aos seguintes autos de infração: AI Debcad nº 51.073.2194, relativo à contribuição patronal no período de 03/2009 a 09/2012 e que totalizava, à época da constituição do crédito tributário, R$ 738.477,18; AI Debcad nº 51.073.2208, relativo às contribuições destinadas a terceiros no período de 03/2009 a 09/2012 e que totalizava, à época da constituição do crédito tributário, R$ 196.417,77. Nesta ocasião, utilizome do relatório preparado pela decisão de piso, destacando uma correção efetuada no item 1, em que, erroneamente, é nominada a empresa Fort Lub e que na transcrição efetuada é substituída pela designação correta da pessoa jurídica fiscalizada e autuada, PRV Comércio de Peças Ltda.: 1 Relatório Fiscal Consta no Relatório Fiscal que: 1. A empresa PRV Comércio de Peças Ltda. é uma loja de revenda de autopeças, integrante da REDE PRESIDENTE de autopeças. 2. O relatório utilizase de elementos coligidos nos processos administrativos fiscais nº 11020.723699/201218 e nº 15586.720329/201195, bem como no Inquérito Policial nº 256/2008DPF/MGA/PR, instaurado em 02/04/2008, por força Fl. 12685DF CARF MF 4 de requisição do Ministério Público Federal e que tramita da Delegacia da Polícia Federal de Maringá/PR. Tal inquérito encontrase distribuído para o Juízo Federal da 3ª Vara Criminal de Curitiba/PR, sob o nº 2008.70.0094275/PR. 3. No âmbito do inquérito policial, foram providenciados dois pedidos dequebra de sigilo de dados e/ou telefônico, em cujas decisões o Juízo fez constar que todos osdados e informações obtidos no inquérito fossem compartilhados com a Receita Federal do Brasil – RFB. Foi também determinada a quebra do sigilo fiscal, tributário e patrimonial de 110 pessoas físicas e jurídicas relacionadas à REDE PRESIDENTE, dentre os quais os integrantes da família Tolardo. Em cumprimento às decisões judiciais, a Polícia Federal franqueou o acesso da RFB aos dados coletados nas investigações do inquérito. 4. As investigações da Polícia Federal em conjunto com a RFB culminaram na deflagração da Operação Laranja Mecânica, realizada em 17/10/2012, com o cumprimento de diversos mandados de busca e apreensão. Todo o material foi disponibilizado à RFB. 5. As provas apontam para a existência de um grande empreendimento comercial, no ramo de autopeças (atacado e varejo), denominado REDE PRESIDENTE, com lojas em várias unidades da federação e que, embora formalmente constituída por diversas empresas, a quase totalidade em nome de laranjas, tratase, na verdade, de um único empreendimento, iniciado por Samuel Tolardo, já falecido, e transmitido aos seus herdeiros e atuais proprietários, sua esposa, Íris da Silva Tolardo, e os filhos, Robson Marcelo Tolardo, Rogério Márcio Tolardo, Samuel Tolardo Júnior e Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore. 6. Os mandados de busca e apreensão tiveram por alvo vários endereços, dentre eles endereços da família Tolardo, bunkers onde se encontravam armazenados documentos, endereços de laranjas e endereços das empresas que funcionavam como filiais do empreendimento. 7. Além dos arquivos com os documentos apreendidos, a Polícia Federal disponibilizou à RFB os laudos de perícia criminal relativos à mídia apreendida. DA ORIGEM (IMPORTADORA TOLARDO E REAL IGUAÇU) 8. Na base de dados da RFB foi identificada a empresa Importadora Tolardo Ltda. (CNPJ 79.112.637/000120), que tinha como sócios Samuel Tolardo e seu irmão Hélio Tolardo. Essa empresa tinha como atividade a exploração do comércio de compra, venda e importação de peças e acessórios para autos em geral, bem como representações por conta própria e foi aberta em 1962. 9. Em setembro/1983, a Importadora Tolardo Ltda. foi incorporada pela empresa Real Iguaçu Auto Peças Ltda. (CNPJ 77.597.318/000126), doravante mencionada simplesmente como Real Iguaçu. Essa empresa era da família Tolardo. No Bunker localizado na Rua Rui Barbosa, em Maringá/PR, foi encontrada a quarta alteração contratual da Real Iguaçu, de 10/11/1994, onde consta que até essa data os sócios eram José Dario Tolardo e Maria Silene Tolardo, marido e esposa. Fl. 12686DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.685 5 10. Foi encontrado, ainda, no bunker, dentre vários arquivos relacionados à REDE PRESIDENTE, um pendrive com um arquivo intitulado “TCC – Final Corrigido”, que se trata de um trabalho de conclusão de curso, elaborado por uma das funcionárias do esquema, Mirian Coutinho de Lima Lepetit, que se constitui em uma avaliação de desempenho como perspectiva de melhoria pessoal e organizacional em uma empresa de autopeças de na cidade de Maringá. Resta claro no trabalho que essa empresa era a REDE PRESIDENTE, tendo sido mencionada que a empresa surgiu em 1962, composta por três sócios, filhos de imigrantes italianos, chamados no trabalho de S, D e H, iniciais dos irmãos Tolardo. 11. De acordo com a alteração contratual da Real Iguaçu, constatase que até 1994, a empresa tinha a razão social de Tolardo Auto Peças. 12. Em 11/09/1991, faleceu um dos irmãos, Hélio Tolardo. Também na década de 90, a empresa Real Iguaçu, na época denominada de Tolardo Auto Peças, sofreu diversas autuações fiscais, o que parece ter motivado os novos rumos da empresa. A partir de então, iniciouse a empreitada ilícita do esquema fraudulento denominado REDE PRESIDENTE. 13. Em 1994, a Real Iguaçu altera seu endereço de Maringá/PR para Santo André/SP e, em novembro/1994, interpõe sócios laranjas em seu quadro societário. Em 1995, passa à condição de inativa. 14. A estratégia da empresa de mudança para Santo André/SP e inserção de sócios laranjas parece funcionar, já que, após a inscrição na Dívida Ativa dos débitos tributários, a execução fiscal teve que ser ajuizada em Santo André/SP, onde a empresa não existia de fato. A Real Iguaçu resta inativa desde 1995, abandonada pela família Tolardo em face de suas dívidas fiscais. DO SURGIMENTO DA RPT E REDE PRESIDENTE 15. Na segunda metade da década de 90, com a autuação fiscal e o consequente abandono da Real Iguaçu, ocorre a cisão dos irmãos Tolardo. 16. O mencionado trabalho de conclusão do curso de Mirian Coutinho de Lima Lepetit confirma a separação dos irmãos Tolardo. 17. Samuel Tolardo (“S”) e José Dario Tolardo (“D”) continuaram trabalhando no mesmo ramo, porém de forma separada. O primeiro ficou com a REDE PRESIDENTE, alvo da presente ação fiscal, e José Dario Tolardo com a rede de distribuição de autopeças denominada Vespor Automotive. 18. Nessa época, Samuel Tolardo adquire uma outra empresa do ramo de autopeças, a FORAMEC, criando a partir dessa “cria” a empresa RPT Distribuidora de Auto Peças Ltda., doravante mencionada apenas como RPT. O nome de fantasia PRESIDENTE passa a ser utilizado pelas lojas de Samuel Tolardo. A sigla RPT remete às iniciais de REDE PRESIDENTE. Fl. 12687DF CARF MF 6 19. O trabalho de Mirian Coutinho de Lima Lepetit confirma que os filhos de Samuel Tolardo o sucederam na empreitada e que Rogério Márcio Tolardo (chamado de “M”) tem a maior participação no negócio. Consta também o número de lojas da rede e os estados onde estão localizadas. 20. A RPT tinha endereço inicial em Tatuapé, São Paulo/SP. Mudou se, em 06/04/2000, para Guarulhos/SP. Em 21/06/2002, mudouse para o Rio de Janeiro/RJ. Sempre teve filiais espalhadas pelo país, várias delas com nome de fantasia “Distribuidora Presidente”. 21. As provas indicam que foram utilizados laranjas como sócios dessa empresa, além de constar laranja também no quadro societário da Mansfield Finance, por sua vez, sócia da RPT. DA REDE PRESIDENTE 22. Apesar de a empresa RPT ser mencionada pela denominação de REDE PRESIDENTE, ela é apenas uma das tantas empresas formalmente constituídas em nome de laranjas, mas que, em verdade, compõem um único empreendimento empresarial/comercial, que se passa a citar por REDE PRESIDENTE. 23. Diversas empresas foram constituídas, inclusive diversas factorings que serviam de elo financeiro para o esquema, centralizando recebimentos e pagamentos. A maioria dessas factorings foram abandonadas nos anos de 2007 e 2008, provavelmente por ter sofrido fiscalização da RFB. Outras empresas passaram a desempenhar essa função financeira, muitas sem ter sequer existência física. Algumas empresas serviam exclusivamente para centralizar as compras e distribuilas para as lojas. Várias outras foram constituídas para abrigar as diversas lojas de vendas de autopeças espalhadas pelo país. Entre elas, uma coisa em comum: todas com laranjas em seus quadros societários. 24. Há outras empresas, estas em nome dos verdadeiros mentores do esquema, porém utilizadas com a função de amealhar o patrimônio, principalmente imóveis, obtido de forma fraudulenta. 25. O logotipo da REDE PRESIDENTE identificado no sítio da internet é o mesmo utilizado em vários endereços físicos de lojas da rede espalhadas pelo território nacional. 26. Os colaboradores/funcionários do esquema se referem a ele ora como REDE PRESIDENTE, ora como DISTRIBUIDORA PRESIDENTE, ora simplesmente como PRESIDENTE. As lojas onde estão distribuídos os diversos CNPJ são chamadas de filiais. 27. O esquema REDE PRESIDENTE comprava peças junto aos fornecedores e as reembalava em caixas com a marca Napa Parts. Foi encontrado em computador apreendido, um arquivo contendo o planejamento estratégico de marketing dessa marca. O texto final do documento vincula a marca Napa Parts à REDE PRESIDENTE. O logotipo da Napa Parts aparece em muitas lojas da REDE PRESIDENTE ao lado do logotipo da REDE PRESIDENTE. Fl. 12688DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.686 7 28. Dentre os documentos encontrados, destacamse os de controle das filiais, que as identificavam com um número seguido do nome da cidade, relacionando também o CNPJ utilizado pela filial, o endereço, a inscrição estadual, telefone, email e o gerente. Foram encontrados nos bunkers do esquema carimbos e relatórios contendo, inclusive, as empresas já inativas, sendo identificadas mais de 80 (oitenta) empresas. 29. Dentre os diversos documentos de controle, no bunker situado na Rua das Camélias, foi encontrada a relação de funcionários, emitida em 08/10/2012, que os lista porfilial. No endereço residencial de Vânia Maria Lenarduzzi, foi encontrado documento que discrimina o salário 1 (registrado) dos funcionários e o salário 2 (popular “por fora”). Este último documento tem 727 nomes, distribuídos em 42 filiais, apenas as que têm ou tinham uma existência física. 30. Em outro documento encontrado, há um relatório bem mais enxuto das filiais, com razão social, CNPJ e sócios, constando 84 (oitenta e quatro) empresas do esquema REDE PRESIDENTE. 31. No endereço residencial de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore, foi encontrado um parecer emitido em fevereiro/2011 pela empresa Pactum Advocacia Empresarial, onde consta um “mapeamento fiscal” dirigido à REDE PRESIDENTE. Foi registrado que a REDE PRESIDENTE atua principalmente no mercado atacadista de autopeças e conta com uma rede de distribuição de amplitude nacional, estruturada a partir de diversas empresas distintas, com regimes tributários distintos. Há outros documentos colhidos que revelam a existência da REDE PRESIDENTE, todos anexados ao processo. LARANJAS UTILIZADOS PELO ESQUEMA 32. Os laranjas utilizados pelo esquema são funcionários, terceiros sem vínculo efetivo com a REDE, que recebiam pela utilização de seu nome, e pessoas que sequer sabiam da utilização dos seus nomes. 33. A par dos elementos apresentados no decorrer do relatório, devem ser salientadas as diligências efetuadas em procedimento fiscal realizado na DRF Caxias do Sul/RS junto à empresa NTE da REDE PRESIDENTE. Foram feitas diligências junto às sócias laranjas, Sra. Silvia Vilhalba e Sra. Petrona Ledesma Aliende, pessoas extremamente humildes, que confirmaram não serem sócias de nenhuma empresa. DOS SERVIÇOS EXECUTADOS POR FÁBIO NOVAES 34. Na residência de Fábio Novaes Moreira, que presta serviços contábeis por meio do escritório de contabilidade Transcontec, foram encontrados documentos que comprovam a utilização dos nomes e dados de pessoas físicas, inclusive paraguaios, para o preenchimento de documentos de identidade falsos, com o fim de utilizálos como laranjas nas empresas do esquema. Fábio Novaes Moreira enviava as Declarações Anuais de Ajuste de Imposto sobre a Renda de Pessoa Física – DIRFP relativas a essas pessoas. Fl. 12689DF CARF MF 8 35. No endereço de Fábio Novaes Moreira, foram encontrados documentos pessoais paraguaios e brasileiros. Várias carteiras de identidade tinham provas e características evidentes de falsificação. Havia documentos distintos com a mesma foto, além de incompatibilidade de algumas fotos com as idades registradas nos documentos. A necessidade da falsificação das CI deveuse ao fato de que passou a ser necessária a certificação digital para várias operações junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil, para cuja emissão há necessidade de comparecimento da pessoa. Tal necessidade gerou, inclusive, o pedido de aumento por parte das pessoas que emprestavam seu nome, pois agora deveriam comparecer no órgão certificador, segundo comprova troca de mensagens entre Robson Marcelo Tolardo e Daniel de Oliveira Junior. 36. Como exemplo das falsificações, destacase a identidade de Juarez Mielke, que já havia falecido da data da expedição do RG. Foram encontradas duas versões para a identidade de Maria Aparecida Ribeiro e duas para Cláudio Afonso Miranda. Além da versão original da CI de Cleonice da Silva Mielke encontrada na residência de Fábio Novaes, foi encontrada outra versão no seu escritório. A foto dessa carteira falsificada é a mesma de outra em nome de Elidia Mendes Santos. DA VINCULAÇÃO DE IPS UTILIZADOS PARA A TRANSMISSÃO DE DIRPF 37. Foram identificados quatro endereços IP (quatro computadores) de onde foram enviadas as DIRPF do exercício 2010 da família Tolardo, de Milton Assis de Oliveira, procurador da Mansfield Ltda. (sócia da RPT, empresa da REDE PRESIDENTE), de Luiz Tavares da Silva e de Francisco Tomaz Neto, estes dois últimos sócios laranjas da empresa Gama Factoring Ltda. Nas mesmas datas e em horários muito próximos, esses mesmos computadores foram utilizados para transmissão das DIRPF do exercício 2010 de vários outros contribuintes, dos quais 103 são laranjas da REDE PRESIDENTE. 38. No bunker da Rua Rui Barbosa, 1027, Maringá/PR, foi localizado relatório intitulado “Relação das Declarações do IRPF 2010”, com controle das DIRPF 2010 de mais de 200 pessoas físicas, dentre elas as 103 antes referidas. DOS LARANJAS PARA REGISTRO DE VEÍCULOS 39. Inúmeros veículos da REDE PRESIDENTE eram registrados em nome de laranjas. Havia controles dos veículos, que eram distribuídos entre as filiais (empresas do esquema) e as pessoas usadas como proprietárias eram pagas, sendo algumas funcionários das empresas. CARTÓRIO COSTA 40. Havia necessidade de autenticações cartorárias, reconhecendo a autenticidade das assinaturas dos laranjas. Praticamente 100% (cem por cento) das autenticações de reconhecimento de firma nos diversos contratos sociais das empresas e em outros documentos, como procurações, eram feitas no Cartório Costa ou Cartório IguatemiPR, que são o mesmo cartório. 41. Os nomes para feitura de documentos e reconhecimento de firma eram passados ao cartório, alguns verdadeiros e outros não. Há conversas nas Fl. 12690DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.687 9 quais se constata que o cartão de autógrafos era enviado para preenchimento fora do cartório, o que não é um procedimento normal, já que deveria ser confeccionado no tabelionato. Vários dos laranjas com assinaturas autenticadas viviam em cidades muito longe dali, como Ponta Porã/MS, e sequer tinham conhecimento de que constavam em quadro societário de alguma empresa. 42. Em outra conversa interceptada, constatase que havia autenticações por semelhança e “verdadeiras” e não era necessário o comparecimento dos laranjas para que as autenticações fossem feitas. Mesmo as assinaturas verdadeiras não eram feitas de forma presencial no cartório, em desobediência à lei. Os cartões eram enviados para preenchimento fora do cartório. EMPRESAS DIVERSAS DA REDE PRESIDENTE 43. No Relatório de Filiais tratado no tópico “REDE PRESIDENTE” foram verificadas 56 filiais, carimbos de 80 estabelecimentos e na pasta de empresas (ativas e inativas) foram identificadas 112 empresas. Na busca, junto às empresas, de pessoas físicas que tiveram suas DIRPF transmitidas pela REDE PRESIDENTE, constataramse 60 empresas, a maioria do ramo de autopeças, todas vinculadas à rede. Seguem alguns procedimentos que levaram à identificação dessas empresas. DEINF/SP 44. Em 2008, a Delegacia Especial das Instituições Financeiras – DEINF/SP promoveu verificações fiscais na Gama Factoring, quando foram identificados pagamentos efetuados por ela a fabricantes de autopeças. Essas empresas foram intimadas e, de forma uníssona, responderam que os pagamentos tinham origem em vendas efetuadas a empresas da REDE PRESIDENTE. 45. Todos os contratos sociais das empresas citadas pelas compradoras foram encontrados no bunker da Rua Rui Barbosa, 1027, Maringá/PR, o que comprova a sua vinculação com a REDE PRESIDENTE. DRF EM VITÓRIA/ES 46. A empresa Comercial Presidente de Auto Peças Ltda. foi objeto de fiscalização pela Delegacia da Receita Federal do Brasil DRF em Vitória/ES, tendo sido lavrado o Auto de Infração que compõe o processo administrativo 15586.720329/201195. Os seus fornecedores foram intimados a apresentar notas fiscais e comprovantes de pagamentos, tendo sido constatado que os pagamentos foram feitos por outras empresas, quase todas de factoring. 47. As empresas que efetuaram os pagamentos no ano se 2007 foram intimadas, via Correios, a justificar e comprovar os motivos que as levaram a efetuar tais pagamentos. As únicas três empresas que receberam a intimação (Dumas Factoring, PSE Com. de Peças e Uberpeças Dist Auto Peças) não a Fl. 12691DF CARF MF 10 atenderam. Em regra, as factoring não foram localizadas pelos Correios, pois não precisavam existir fisicamente. 48. Todas as empresas que efetuaram os pagamentos estavam constituídas em nome de laranjas. Com exceção da Duma Factoring e da PSE Com de Peças, todas estão na relação daquelas cujos sócios tiveram suas DIRPF/2010 transmitidas pelos mesmos computadores que transmitiram as declarações da família Tolardo e de outras duas pessoas vinculadas à REDE PRESIDENTE. Os sócios laranjas dessas empresas estão relacionados na Relação de Declarações do IRPF 2010 encontrada no bunker da Rua Rui Barbosa, 1027, Maringá/PR . 49. Deve ser destacado que, no ano de 2007, a regra era a utilização de factorings para efetuar os pagamentos, porém a partir dos anos de 2008 e 2009, em razão das investigações da DEINF/SP, a REDE PRESIDENTE abandonou suas factorings, passando a utilizar outras empresas. INVESTIGAÇÕES POLICIAIS – NAPA PARTS, AMAZON AUTO PEÇAS E SENSUS PEÇAS P VEÍCULOS 50. Em 02/04/2008, por solicitação da Procuradoria da República em Curitiba/PR, a Delegacia da Polícia Federal DPF de Maringá/PR instaurou o inquérito de número 256/2008DPF/MGA/PR, tendo sido solicitadas diligências para localizar as seguintes empresas e seus sócios: Amazon Auto Peças Ltda., Fabiro Factoring Ltda. e Napa Parts Dist de Auto Peças Ltda. 51. No endereço cadastral da Napa Parts Dist de Auto Peças Ltda., havia uma empresa denominada “Presidente Distribuidora”, a qual, segundo informações de um comerciante vizinho, possuía uma marca de peças chamada “Napa”. Suas sócias não foram encontradas nos seus endereços cadastrais. 52. A Amazon Auto Peças, supostamente sediada no Amapá, não foi localizada, tampouco seus sócios. 53. A DPF investigou e obteve o verdadeiro endereço de alguns dos sócios, sendo possível a oitiva de três deles, todos pessoas humildes, desenvolvendo as atividades de diarista (faxineira), auxiliar de serviços gerais e trabalhador de serraria. Todos disseram sequer conhecer as empresas investigadas. Uma outra sócia não foi localizada, mas foi obtida a informação de que teria sido presa em 2006. 54. Todos os documentos juntados ao feito têm firma reconhecida no Cartório Costa, localizado no distrito de Iguatemi, Maringá/PR, mesmo algumas empresas tendo domicílio em estados distantes da Federação, como Rio de Janeiro e Amapá. 55. Em diligência efetuada em Maringá/PR, que resultou na Informação nº 098/2010, foi constatado por entrevistas com funcionários que saíam do local e com um funcionário de estabelecimento próximo que a Napa Parts seria do “pessoal da Distribuidora Presidente” e que o seu dono seria uma pessoa de nome Marcelo Tolardo. 56. Em consulta aos bancos de dados disponíveis, a autoridade policial descobriu que Marcelo Tolardo seria o então empresário Robson Marcelo Fl. 12692DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.688 11 Tolardo, filho de Samuel Tolardo e irmão mais velho de Rogério Márcio Tolardo, que faziam parte do quadro societário da RPT Distribuidora de Auto Peças Ltda. – Distribuidora Presidente. 57. Havia, ainda, uma empresa denominada Napa Distribuidora de Auto Peças Ltda., sediada em Guarulhos/SP, que utilizou essa razão social até julho/2000. Após esse mês, essa empresa passou a utilizar o nome de Presidente Peças Ltda. Em julho/2003, a razão social passa a ser Presidente Peças para Veículos Automotores Ltda. e, finalmente, em junho/2005, passa a ser Sensus Peças para Veículos Automotores Ltda. PROCEDIMENTO CAXIAS DO SUL/RS 58. A DRF Caxias do Sul/RS realizou procedimento de fiscalização na empresa NTE Auto Peças Ltda., cuja razão social até dezembro/2008 era Alba Auto Peças Ltda. Foram efetuadas diligências junto a dois fornecedores, Cinpal Companhia Industrial de Peças para Automóveis e Tenneco Automotive Brasil Ltda, para que esclarecessem o motivo das transferências efetuadas para elas pela NTE. Ambas apresentaram farta documentação, a qual, em linhas gerais, evidencia que as transferências feitas pela NTE consistiam em pagamento parcial de vendas a outras empresas. DILIGÊNCIAS DA AUTAL FISCALIZAÇÃO 59. A fiscalização verificou que o maior volume de compras da REDE PRESIDENTE era efetuado por meio das empresas PRS e PSE e intimou mais de 40 fornecedores para prestar esclarecimentos. 60. Modine do Brasil Sistemas Térmicos Ltda. informou que o contato da empresa PRS seria o Sr. Bene, que representa também as empresas RPT Distr Auto Peças e PRV Comercio Atac de Peças Aut Ltda. 61. Indústria e Comércio de Auto Peças Rei Ltda. respondeu que o comprador da empresa PRS seria o Sr. Adailton Hilário da Silva, que representava também a Comercial Presidente de Auto Peças Ltda., Distribuidora Pinheirão Peças Automotivas Ltda. e a Retífica Presidente Prudente Peças p/ Veíc Ltda. 62. Jofund S/A informou que o contato em 2008 na PRS era o Sr. Adailton Hilário da Silva, também responsável pela empresa Comercial Presidente de Autopeças Ltda. Com relação ao período de 2009 a 2012, informou que ele era, ainda, o responsável pelas compras das empresas RPT Distribuidora de Auto Peças, Alba Autopeças Ltda., APE Auto Peças Ltda., PSE Comercial de Peças para Veículos Ltda., PRE Comércio e Distribuição de Auto Peças Ltda., PRV Comércio Atacado de Peças Automotivas Ltda. e KRE Comércio de Peças Ltda. 63. Cerâmica e Velas de Ignição NGK do Brasil Ltda. informou que o contato na PRS seria Edenilson Ferreira de Oliveira, encontrado no mesmo endereço do responsável por compras da RPT e da PRTS de Maringá/PR. Fl. 12693DF CARF MF 12 64. A empresa Meritor do Brasil informou que o atual contato comercial/financeiro da PRV trata e assunto comercial/financeiro relacionado à PRS, porém desconhece a exata relação jurídica entre essas empresas. 65. RHO Interruptores Automotivos Ltda. informou que de 2008 até 13/12/2012, o contato era o Sr. Estevão. A partir de 2013, o contato passou a ser Nélio Jonei Gonçalves de Oliveira, Alex Brito e Karen Rocha. Foi apresentada lista de 16 empresas, todas pertencentes à REDE PRESIDENTE. 66. Da mesma forma, as 13 empresas citadas por Susin Francescutti Metalúrgica Ltda. compõem a REDE PRESIDENTE. O contato da empresa RPS seria Francisca Dias ou o Sr. Edenilson. 67. A Max Gear informou que os contatos eram Karen Rocha, Johny Vieira e Edenilson. As empresas listadas, com 40 estabelecimentos de 28 CNPJ raiz, são todas da REDE PRESIDENTE. A Max Gear apresentou planilha referente ao período 2008 a 2010, com os pagamentos recebidos pelas vendas, identificando a empresa de acordo com o extrato bancário, onde se constata que as vendas feitas para a PRS foram pagas mediante transferências bancárias de outras 13 empresas, todas da REDE PRESIDENTE. 68. Affinia Automotiva Ltda. também apresentou planilha com a identificação das vendas efetuadas para a PRS no ano de 2008. A identificação das empresas “pagadoras” foi feita apenas pelo nome, provavelmente o nome que aparece no extrato bancário, todas da REDE PRESIDENTE. 69. Mann Hummel Brasil Ltda. disse que o contato da PRS era Edenilso Ferreira de Oliveira e apresentou rol de empresas relacionadas ao representante, todas da REDE PRESIDENTE. 70. A relação das empresas apresentada pela fornecedora TMD Triction do Brasil S/A intitulada “6. empresas do Grupo Presidente” também contém várias empresas representadas pela mesma pessoa da PRS, todas elas da REDE PRESIDENTE. São 42 estabelecimentos, com 23 CNPJ raiz. 71. Vários outros fornecedores apresentaram respostas praticamente nos mesmos termos, citando os mesmos contados e apresentando as mesmas empresas pertencentes à REDE PRESIDENTE. 72. Destacase que a fiscalização identificou 70 “empresas” do esquema que tiveram algum tipo de atividade no período de 2008 a 2012. RESPONSÁVEIS PELA REDE PRESIDENTE – FAMÍLIA TOLARDO 73. Conforme já dito, a REDE PRESIDENTE teve origem na empresa Real Iguaçu (ou Tolardo Auto Peças), dos irmãos Tolardo (Samuel Tolardo e José Dario Tolardo), sediada em Maringá/PR. Na década de 90 essa empresa sofreu diversas autuações fiscais e sua sede foi mudada para o estado de São Paulo, após o que foram interpostos laranjas no seu quadro societário. Em 1995, a Real Iguaçu, com pesadas dívidas fiscais, passou à condição de inativa e foi abandonada pela família Tolardo. Samuel Tolardo adquiriu a Fl. 12694DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.689 13 Foramec e a partir dela criou a RPT Distribuidora de Auto Peças Ltda., com o nome de fantasia “PRESIDENTE”. Fizeram parte do quadro societário dessa empresa Samuel Tolardo e Rogério Márcio Tolardo, seu filho. Robson Marcelo Tolardo, outro filho de Samuel Tolardo, teve vínculo empregatício de maio/2002 a maio/2010. 74. No final de 1999, a família Tolardo passou a incluir laranjas no quadro societário da RPT. 75. Destacase como prova desse fato, conversa telefônica de 05/05/2012 gravada pela Polícia Federal entre Íris da Silva Tolardo, esposa do falecido Samuel Tolardo, e sua amiga Leda (ou Ieda). Íris da Silva Tolardo comenta sobre a atitude de uma funcionária do esquema, Odete Cardoso Berti, que supostamente teria preterido um de seus filhos, Rogério Márcio Tolardo, na administração do esquema, ao dizer que o “patrão” seria apenas Robson Marcelo Tolardo. Ela diz ainda que, ao menosprezar o filho Márcio (Rogério Márcio Tolardo) em favor de Robson Marcelo Tolardo, Odete estaria menosprezando não apenas ele, mas também os demais, Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore e Samuel Tolardo Júnior. Isso porque todos seriam “sócios” da REDE PRESIDENTE. 76. Forte elemento de comprovação da participação da família Tolardo no esquema é o arquivo “ACERTOS CELO MAR JR ALTERADOS.xls”, encontrado no pendrive de Odete e no pendrive de Samuel Tolardo Júnior. Esse arquivo controla os débitos e créditos entre os irmãos Tolardo e os rendimentos obtidos no esquema da REDE PRESIDENTE desde 30/11/2007 até 31/05/2011. Foram encontrados no HD apreendido na residência de Samuel Tolardo Júnior os extratos de conta de cartão de crédito AMEX dos meses de abril/2008 e fevereiro/2009 a maio/2009, cujos valores constavam na planilha. Essa conta AMEX está em nome de Robson Marcelo Tolardo, mas contém detalhamento de valores de despesas dos demais irmãos, bem como da mãe Íris da Silva Tolardo. 77. Segundo a mencionada planilha, em todo o período de 30/11/2007 até 31/05/2011 cada irmão tinha direito a um “crédito mensal” de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Durante o período, o irmão Rogério Márcio Tolardo recebeu valores, normalmente em cheques de terceiros, bem superiores, o que gerava uma dívida, ou saldo devedor, como o excerto de 30/11/2010, no valor de R$ 647.887,53 (seiscentos e quarenta e sete mil, oitocentos e oitenta e sete reais e cinquenta e três centavos). Essa dívida não era paga e os outros irmãos passavam a ter um crédito adicional no período seguinte, a fim de se equipararem a Rogério. Na prática, no período mencionado, cada um dos 4 irmãos recebeu crédito superior a R$.200.000,00 (duzentos mil reais) mensais. Esses valores foram confirmados no programa CAIXA encontrado em computador apreendido na residência de Lais de Oliveira Wochner e Ronaldo Paixão Wochner e comprovam o vínculo da família com a REDE PRESIDENTE, PROGRAMA CAIXA Fl. 12695DF CARF MF 14 78. O Programa Caixa e todo o banco de dados alimentado por ele foram encontrados na residência de Lais de Oliveira Wochner, importante operadora do esquema, e Ronaldo Paixão Wochner, colaborador como programador no Departamento de Informática da filial 23. O programa provavelmente foi desenvolvido por este último. Conforme informado no Relatório Circunstanciado nº 176/2014 da Polícia Federal e Ofício 2348, de 24/09/2014, o programa e o banco de dados foram disponibilizados à fiscalização. 79. O programa consiste em uma espécie de contabilidade e controlava os recursos físicos (não bancários) de todo o esquema da REDE PRESIDENTE, controlando o seu fluxo financeiro, com as remessas de valores das empresas (ou “filiais”) e a destinação dos recursos em espécie. A fiscalização extraiu vários relatórios desse programa, estando todas as extrações validadas pelo Laudo 300/2014 e seu anexo de arquivos juntados ao presente processo. 80. Constavam no banco de dados várias “contas” representativas de custos, despesas, pagamentos, recebimentos, etc., bem como vários “centros de custos”, tais como os relativos a cada uma das “filiais”. Dentre os centros de custo destacase o “020 – DIRETORES”. Entre as subcontas, sobressaem aquelas inerentes a cada um dos integrantes da família Tolardo. Filtrandose o centro de custos “20DIRETORES” e aplicandose outro filtro relativos às subcontas, foi possível filtrar os pagamentos efetuados a cada um deles. 81. Como exemplo, os lançamentos do mês de janeiro/2009 relativos a Robson Marcelo Tolardo (Subconta Celo) totalizaram R$ 51.249,75 (cinquenta e um mil, duzentos e quarenta e nove reais e setenta e cinco centavos), correspondente a despesas pessoais como escola do filho, salário do caseiro, contas de telefone de casa, viagens aéreas, etc. Esse valor coincide com o valor da planilha “ACERTOS CELO MAR JR JI ALTERADOS.xls” encontrada nos pendrives de Odete e Samuel Tolardo Júnior. Essa coincidência de valores entre a mencionada base de dados e a planilha ocorre para os outros valores também. Algumas despesas eram rateadas entre os irmãos, como o aluguel de um salão de festas e uma conta de luz. SAMUEL TOLARDO 82. Já foi relatado o surgimento da REDE PRESIDENTE, acrescentandose neste tópico mais informações sobre o mentor e responsável pelo esquema, Samuel Tolardo, falecido em 2007. Samuel Tolardo era bastante conhecido no ramo de autopeças no Paraná, mais especificamente na cidade de Maringá. 83. Nas DIRPF do período 2001 a 2007 o endereço de Samuel Tolardo foi informado como sendo no estado de São Paulo, entretanto dado o seu costume de informar/declarar dados não verdadeiros para dificultar a fiscalização, nada mais profícuo do que a alteração do seu endereço. Rápida pesquisa na internet já demonstra que a cidade onde verdadeiramente residia era Maringá/PR, chegando ele a ser vítima de um sequestro no norte do Paraná. Fl. 12696DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.690 15 84. Em notícia do jornal eletrônico “Odiario.com”, de Maringá, vêse o relato de sua morte, tendo ocorrido um acidente quando dirigia a sua Pajero pela Avenida Parigot de Souza. Citase que era empresário do ramo de autopeças, conhecido por ser vítima de sequestro no Vale do Ivaí em 1999. 85. Na fiscalização da NTE Auto Peças Ltda. – EPP, foram obtidas cópias de cheques emitidos em 2006 por essa empresa, que tinha na época a razão social Alba Auto Peças Ltda., com assinaturas falsas de sua sócia laranja, Silvia Vilhalba. Esses cheques tinham que ser confirmados pelo titular da conta, em face das quantias elevadas. No Relatório Fiscal emitido naquele procedimento (Processo 11020.723699/201218) consta que foi encontrado o nome de Samuel Tolardo na parte superior dos cheques e o banco HSBC esquivouse de esclarecer esse fato. A exfuncionária do banco responsável pelas operações disse que era procedimento comum entrar em contato com as pessoas autorizadas pelas empresas, no caso de dúvidas quanto à liberação dos pagamentos. 86. Outro elemento que vincula Samuel Tolardo à REDE PRESIDENTE é o trecho da denúncia feita em 2006 à Polícia Civil (Delegacia de Defraudações) por um ex funcionário da RPT, Ivanilto Mascena dos Anjos. 87. No cumprimento dos Mandados de Busca e Apreensão foram encontradas várias procurações em benefício de Samuel Tolardo e relacionadas a empresas do esquema REDE PRESIDENTE. ÍRIS DA SILVA TOLARDO 88. Íris da Silva Tolardo é a matriarca da família Tolardo, viúva de Samuel Tolardo. Embora não aparente ter poder decisório no esquema, tem pleno conhecimento das atividades e de seu caráter ilícito, além de ser beneficiada por todo o patrimônio e rendimentos obtidos da atividade. Aparece também como administradora/responsável por uma empresa registrada em nome dos seus filhos, bem como procuradora ou caucionante de aluguel de empresas do esquema. 89. No Programa Caixa utilizado pela REDE PRESIDENTE, na Subconta Íris foram identificados diversos pagamentos de despesas pessoais como TV a cabo, plano de saúde, água, telefone, consertos, etc., além de vultosos pagamentos com o histórico “RETIRADAS”. As vultosas retiradas denotam a posição de Íris da Silva Tolardo como coproprietária do esquema. ROBSON MARCELO TOLARDO 90. Após o falecimento do pai, Robson Marcelo Tolardo tornouse o principal comandante da REDE PRESIDENTE. 91. Há várias provas do envolvimento e da posição de Robson Marcelo Tolardo no esquema, como a resposta a uma intimação de uma das fornecedoras da RPS, que o menciona como proprietário da empresa, conversas por email, escutas telefônicas, procuração das empresas e laranjas, procuração de seu pai para efetuar a compra de uma das empresas, Fl. 12697DF CARF MF 16 depoimento de seu tio à Polícia Federal, entrevistas com funcionários e ex funcionários. 92. Um elemento que comprova a participação de Robson Marcelo Tolardo, bem como de seus irmãos, no esquema é o arquivo “ACERTOS CELO MAR JR JI ALTERADOS.xls” encontrado nos pendrives de Odete e de Samuel Tolardo Júnior. O programa CAIXA confirma os pagamentos verificados nesse arquivo. A REDE PRESIDENTE pagava todo tipo de despesas pessoais de Robson Marcelo Tolardo. As vultosas quantias mensais denotam a posição de coproprietário do esquema, tratandose de verdadeiro prólabore. JEANE CRISTINE TOLARDO DALLE ORE 93. O arquivo “ACERTOS CELO MAR JR JI ALTERADOS.xls” e o programa CAIXA também comprovam a participação de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore, filha mais nova de Samuel Tolardo. As despesas pessoais dela eram custeadas pela REDE PRESIDENTE e ela realizava retiradas vultosas, o que denota sua condição de coproprietário do esquema. 94. Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore tinha participação ativa no esquema, sobretudo como administradora do grupo adquirido (Emprepar), conforme demonstram as ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal. Há, inclusive, ligações entre ela e sua mãe e entre esta e Robson Marcelo Tolardo, as quais demonstram que a filha do exdono da Embrepar ensinou Samuel Tolardo Júnior e Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore sobre os procedimentos do negócio adquirido. 95. Além de administrar a Embrepar, Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore tinha diversas procurações de sócios laranjas para gerir os negócios, era proprietária de diversos imóveis utilizados pela REDE PRESIDENTE, além de ser fiadora de contratos de locação de outros também utilizados pelo esquema. ROGÉRIO MÁRCIO TOLARDO 96. O arquivo “ACERTOS CELO MAR JR JI ALTERADOS.xls” e o programa CAIXA também comprovam a participação de Rogério Márcio Tolardo, da mesma forma que seus irmãos. Ele teve envolvimento ativo na REDE PRESIDENTE desde cedo, constando como sócio da RPT juntamente com seu pai. 97. Foram encontradas várias procurações outorgadas pelos laranjas, para que Rogério Marcelo Tolardo administrasse empresas do esquema. Além disso, ele é proprietário de seis imóveis utilizados pela REDE PRESIDENTE e aparece nas conversas telefônicas como administrador do esquema. SAMUEL TOLARDO JÚNIOR 98. Da mesma forma que seus irmãos, o arquivo “ACERTOS CELO MAR JR JI ALTERADOS.xls e o programa CAIXA comprovam a participação de Samuel Tolardo Júnior no esquema, no papel de sócios. Fl. 12698DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.691 17 99. No seu apartamento foram encontrados vários documentos do esquema, que comprovam a sua participação desde 1996. É dele a propriedade de vários imóveis utilizados pela REDE PRESIDENTE, além de lhe terem sido outorgadas procurações para administração das empresas. É de se destacar, ainda, as escutas telefônicas nas quais foi mencionado diversas vezes como integrante do esquema. DA SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS 100. Conforme visto e demonstrado exaustivamente no Relatório Fiscal, o acesso ao Sistema CAIXA pela Polícia Federal possibilitou que se verificasse os pagamentos efetuados pelo esquema, bem como a identificação das filiais. Essa identificação das filiais ou empresas envolvidas também pôde ser apurada nas planilhas de vendas encontradas no computador de Daniel de Oliveira Júnior e pelos diversos controles encontrados no cumprimento dos Mandados de Busca e Apreensão. 101. Depois do confronto das verbas verificadas com as folhas de pagamento e GFIP das várias empresas da REDE PRESIDENTE, a Auditoria constatou que tais documentos não traziam a maioria das verbas, ou seja, houve sonegação de contribuições previdenciárias. O grupo estava pagando, por exemplo, salários, valetransporte, valealimentação, aluguéis, comissões, gratificações, etc. sem considerálos para fins de incidência de contribuição previdenciária. 102. Para apurar o total de contribuição previdenciária sonegada, foram excluídas do Extrato da Conta Caixa todas as verbas que não possuíam natureza salarial, tendo sido constatado valores pagos a empregados das seguintes empresas do GRUPO PRESIDENTE: a. PRE Comércio e Distribuidora de Auto Peças Ltda.; b. A P E Auto Peças Ltda.; c. IME Peças para Veículos Ltda. – ME; d. PRV Comércio de Peças Ltda. – ME; e. Daniel de Oliveira Júnior; f. PRV Comércio Atacadista de Peças Automotivas Ltda.; g. PRS Peças para Veículos Ltda.; h. Fort Lub Produtos Automotivos Eireli – ME; i. RPT Distribuidora de Auto Peças Ltda. 103. Os valores pagos a empregados foram comparados com aqueles declarados em GFIP e a diferença foi considerada para apuração da base de cálculo das contribuições previdenciárias sonegadas. Fl. 12699DF CARF MF 18 104. Foram apurados valores pagos a pessoas físicas por serviços prestados como motoboys das seguintes empresas do GRUPO PRESIDENTE: a. PRE Comércio e Distribuidora de Auto Peças Ltda.; b. A P E Auto Peças Ltda.; c. IME Peças para Veículos Ltda. – ME; d. PRV Comércio Atacadista de Peças Automotivas Ltda.; e. PRS Peças para Veículos Ltda.; f. RPT Distribuidora de Auto Peças Ltda.; 105. Foram apurados valores pagos a diretores membros da família Tolardo por meio da empresa RPT Distribuidora de Auto Peças Ltda. 106. Com relação aos valores pagos aos motoboys e aos membros da família Tolardo, não houve deduções, pois não havia declaração de tais valores em GFIP. Apesar de ter sido declarado em GFIP prólabore pagos aos sócios laranjas, não houve nenhuma declaração em GFIP dos valores pagos à família Tolardo e discriminados no “Extrato de Conta Bancária”. DA EMPRESA PRV 107. A empresa PRV Comércio de Peças Ltda. ME é uma das empresas da REDE PRESIDENTE de autopeças e assim como as outras, encontrase constituída em nome de laranjas. O seu domicílio fiscal seria na cidade de Guarulhos/SP, contudo, conforme relato anterior, a sede administrativa de todo o esquema fica, na verdade, na cidade de Maringá/PR. Poucos meses após a sua criação, seu endereço foi alterado para o mesmo endereço da RPT e da A P E, ambas empresas do esquema. 108. Em diversos locais onde foram cumpridos os mandados de procedimento fiscal foram encontrados documentos que vinculam a PRV ao esquema, inclusive no endereço da sua sede. Ela consta também nos relatórios de controle das filiais. DO MODUS OPERANDI 109. A sistemática do GRUPO PRESIDENTE para sonegar as contribuições previdenciárias consistia em pagar em dinheiro ou depositar nas contas correntes de seus empregados verbas de cunho salarial sem considerálas na apuração desses tributos. Determinadas verbas (aluguel, valetransporte, auxílioalimentação, pagamento a motoboys, retiradas de diretores) eram sonegadas completamente. Outras (salário, gratificação, comissão, rescisão, férias, 13º), eram sonegadas em parte. 110. Em uma auditoria ordinária seria quase impossível a identificação desses valores, tendo a apuração sido possibilitada pela execução dos Mandados de Busca e Apreensão decorrentes da Operação Laranja Mecânica, quando a fiscalização pôde acessar o “Caixa 2”. Fl. 12700DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.692 19 111. Os Mandados de Busca e Apreensão tiveram como alvo vários endereços, destacandose o bunker da Rua das Camélias, 690, Maringá/PR, uma residência de alvenaria, sem identificação alguma. Esse lugar foi identificado nas investigações policiais, principalmente por escutas telefônicas, quando se apurou que lá funcionaria o controle de Recursos Humanos do esquema. Foi em um HD apreendido nesse endereço que se encontrou o programa CAIXA. 112. Além do pagamento de verbas a empregados registrados, foram detectados pagamentos de salário a empregados sem registro. Os salários desses empregados e verbas como férias eram objeto de recibos comuns. Foram encontrados também comprovantes de depósitos nas contas dos empregados em valores bem superiores àqueles declarados. DO VALETRANSPORTE PAGO EM DESCONFORMIDADE COM A LEGISLAÇÃO 113. A jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais é unânime em considerar o caráter salarial dos valores de valetransporte pagos em pecúnia, pois consiste em violação ao disposto no art. 5º do Decreto nº 95.247/1987, pelo qual é vedado ao empregados substituílo por antecipação em dinheiro ou qualquer outra forma de pagamento. Assim, deve integrar a base de cálculo das contribuições previdenciárias. 114. Também se defendeu a tese de que o vale transporte pago em dinheiro e de forma contínua passa a integrar a remuneração do empregado, incidindo a contribuição previdenciária com base no art. 201, § 11, da Constituição Federal. DO AUXÍLIOALIMENTAÇÃO PAGO EM DESCONFORMIDADE COM A LEGISLAÇÃO 115. O auxílioalimentação tem natureza salarial quando a empresa não está incluída no Programa de Alimentação do Trabalhador – PAT, nos termos da Lei nº 6.321/1976, conforme art. 28, §9º, da Lei nº 8.212/1991 e art. 3º da lei nº 6.321/1976. Assim, os valores pagos em dinheiro apurados foram considerados pela fiscalização como base de cálculo das contribuições previdenciárias. DA MULTA DE OFÍCIO 116. São utilizadas pessoas físicas “laranjas” na constituição de empresas participantes do esquema REDE PRESIDENTE, dentre as quais a fiscalizada. São usados expedientes escusos, como a falsificação de diversos documentos e assinaturas. Essa conduta visa a modificar uma característica essencial do fato gerador da obrigação, o real sujeito passivo, enquadrandose a situação no conceito de fraude previsto no art. 72 da Lei nº 4.502/1964. Igualmente, enquadrase no conceito de sonegação dado pelo art. 71, II, da mesma lei, vez que se constitui em ação dolosa tendente a impedir o conhecimento das condições pessoais do contribuinte suscetíveis de afetar a obrigação tributária ou o crédito tributário. Fl. 12701DF CARF MF 20 117. Os pagamentos “por fora” efetuados aos empregados, descobertos graças aos Mandados de Busca e Apreensão, consistem em omissão de parcela relevante da remuneração, incorrendo o contribuinte nos conceitos de fraude (ação tendente a impedir a ocorrência do fato gerador ou modificar suas características) e sonegação (ação tendente a impedir o conhecimento da autoridade tributária da ocorrência, natureza e circunstâncias do fato gerador, reduzindo o montante do tributo devido). 118. Ambas as condutas evidenciam claramente o dolo do contribuinte, impondo a aplicação da multa de ofício qualificada em percentual de 150% (cento e cinquenta por cento) prevista no art. 44 e seu §1º da Lei nº 9.430/1996. DA SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA 119. Em face da comprovação inequívoca de que os reais proprietários e administradores da fiscalizada são os integrantes da família Tolardo, eles são nomeados sujeitos passivos solidários mediante lavratura de Termo de Sujeição Passiva Solidária, com base no art. 124, I, e art. 135, III, do Código Tributário Nacional – CTN. 120. Como foi fartamente comprovado que os integrantes da família Tolardo são os verdadeiros proprietários e beneficiários do esquema REDE PRESIDENTE, resta inequívoco que têm interesse comum nos negócios desse esquema, do qual faz parte a empresa alvo do lançamento. Além disso, o art. 135 do CTN impõe a solidariedade dos verdadeiros diretores gerentes ou representantes do empreendimento. A responsabilidade pessoal decorre de atos praticados com excesso de poderes ou infração à Lei, exatamente o caso da família Tolardo, que se utiliza de meios fraudulentos, tais como interposição de laranjas em sua empresas, ou a larga prática de vendas sem nota fiscal, à margem da escrituração ou de declaração. 121. Dessa forma, lavramse os competentes Termos de Sujeição Passiva Solidária em desfavor dos reais sócios proprietários do esquema: Sra. Íris da Silva Tolardo, Sr. Robson Marcelo Tolardo, Sr. Rogério Márcio Tolardo, Sr. Samuel Tolardo Júnior e Sra. Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore. 2 Impugnação da PRV A empresa PRV Comércio de Peças Ltda. – ME foi cientificada em 12/12/2014, conforme Aviso de Recebimento – AR juntado aos autos. Em 07/01/2015, apresentou impugnação, alegando, em síntese: 1. A empresa teve lavrado contra si auto de infração em um processo inquisitivo sem que lhe fosse dado conhecimento dos fatos e dos documentos que levaram à abusiva exigência tributária. MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL 2. O Mandado de Procedimento Fiscal iniciouse em 27/02/2014, com o fim de ser efetuada fiscalização em relação ao Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica – IRPJ e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL para o período 09/2010 a 09/2012, com prazo de encerramento até 27/06/2014. Houve, entretanto, alteração e prorrogação do Mandado de Procedimento Fiscal sem a devida e necessária cientificação da impugnante. Fl. 12702DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.693 21 A prorrogação ocorreu até 24/10/2014, não tendo sido o Auto de Infração lavrado nesse prazo. O período de 26/03/2009 a 31/12/2010 sequer faz parte da fiscalização constante no MPF no tocante às contribuições previdenciárias. 3. A alteração do objeto e prorrogação sem a devida comunicação ao contribuinte causa a nulidade do procedimento, por afronta ao princípio da legalidade em face do descumprimento ao Decreto nº 7.574/2011, além de ferir o direito de defesa e ao devido processo legal do contribuinte. O art. 11 da Portaria RFB nº 3.014/2011, combinado com – c/c o Decreto nº 7.574/2011, prevê prazo de validade para o mandado de procedimento fiscal. O Decreto nº 7.574/2011, art. 33, §3º, dispõe que a prorrogação do mandado de procedimento fiscal deve ser cientificada ao sujeito passivo dentro do prazo anterior. CERCEAMENTO DE DEFESA 4. Houve a desconsideração de uma série de documentos comprobatórios de todas as operações realizadas pela impugnante, sem ter sido indicada a base legal para tanto e sem a especificação dos motivos pelos quais os documentos não foram aceitos. 5. Destaca o cerceamento de defesa, uma vez que foi requerido prazo para apresentação de documentos, que não foi concedido pelo Auditor Fiscal, pois tais documentos dependiam de terceiros, como instituições financeiras e Delegacia da Polícia Federal, que indevidamente os reteve. Sem prazo hábil para se defender, a impugnante teve cerceado seu direito. 6. Os documentos não foram devolvidos e deveriam ter acompanhado a peça do Auto de Infração, para que a impugnante tivesse assegurado o amplo direito de defesa e contraditório. Lavrado o Auto de Infração, os livros e documentos devem ser devolvidos ao contribuinte, por meio de lavratura de termo, no prazo estabelecido para defesa. Ademais, não foram disponibilizados ao impugnante os documentos referidos no Relatório Fiscal, embora tenha sido requerido no prazo para impugnação. Os processos administrativos fiscais 11020.723699/201218 e 15586.720329/201195 e o Inquérito Policial 256/2008 da Delegacia da Polícia Federal de Maringá não foram disponibilizados à empresa, não havendo como se defender. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA IMPUGNANTE E PROVA NULA 7. O processo administrativo foi instaurado com a utilização dos elementos coligidos nos processos administrativos fiscais 11020.723699/201218 e 15586.720329/2011 95 e no Inquérito Policial 256/2008 da Delegacia da Polícia Federal de Maringá, entretanto mostrase nulo o direcionamento administrativo contra a impugnante, como se sujeito passivo solidário fosse, por ausência de prova que o justifique, notadamente perante a ausência de qualquer demonstração de vínculo entre a impugnante e a empresa autuada naqueles autos. 8. A afirmação de que o sócio da impugnante seria laranja e faz parte de um grande esquema não é verdadeira e baseiase em meras presunções. A conclusão a que chegaram os Auditores Fiscais decorreu do inquérito Fl. 12703DF CARF MF 22 policial, que é um procedimento policial administrativo, de cunho meramente investigativo e inquisitivo, sem contraditório e ampla defesa, pois a impugnante, na pessoa de seu sócio, sequer foi ouvida pela autoridade policial. Não é admissível a prova emprestada, pois a sua produção ocorreu no âmbito do inquérito policial, sem ser observado o contraditório e a ampla defesa. DESOBEDIÊNCIA A REQUISITOS PARA O LANÇAMENTO 9. Não pertine à fiscalização a atribuição aos sócios da qualidade de laranjas e não lhe compete considerar a existência de um suposto “Grupo Rede Presidente”. A autoridade fiscal sustenta indício de fraude e utiliza elementos que não traduzem essa informação, como trechos de depoimentos os quais a empresa impugna, pois não foi obtida autorização judicial válida, sendo períodos posteriores ou anteriores à autorização, o que gera nulidade, conforme precedente do Supremo Tribunal Federal – STF. 10. Além disso, os diálogos não demonstram qualquer liame da empresa impugnante, utilizandose o Auditor Fiscal de presunção. O lançamento foi calcado em convencimento não baseado nas provas dos autos, tendo a autoridade fiscal insistido em lavrar o Auto de Infração mesmo não tendo a certeza dos fatos. A Auditoria preferiu interpretar os dados como atentatórios à Administração Pública, mesmo que incorretamente, a deixar de proceder ao lançamento. IMPOSSIBILIDADE DE PRESUNÇÃO PARA O LANÇAMENTO 11. A fiscalização autuou a empresa unicamente por presunção, sem demonstrar claramente os indícios que o levaram a fazer essa grave opção. A presunção, entretanto, não se aplica a esmo, tampouco cabe no lançamento tributário a tese de que os atos administrativos gozam de presunção de validade. 12. O art. 9º do Decreto nº 70.235/1972 exige a anexação de todos os documentos pertinentes à análise fiscal e a desobediência a ele implica em nulidade do Auto de Infração, por constituir transgressão à lei e por gerar cerceamento no direito de defesa do contribuinte. 13. Segundo o Código de Processo Civil – CPC, art. 333, cabe ao Fisco provar o fato constitutivo do seu direito, cabendo ao contribuinte provar fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autos. Violadas as regras que regem o ônus da prova, a nulidade deve ser declarada de pronto, pois está caracterizado vício insanável. Ademais, o art. 112 do CTN prevê que, em caso de dúvida, a lei tributária que define infrações deve ser interpretada de maneira mais favorável ao contribuinte. 14. “A presunção legal estabelecida pelo art. 42 da Lei 9.430/96 colide com as diretrizes do processo de criação das presunções legais, pois a experiência haurida com os casos anteriores evidenciou que entre esses dois fatos não havia nexo causal, vale dizer, constatouse não haver liame absoluto entre o depósito bancário e o rendimento omitido”. INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS INFORMADORES Fl. 12704DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.694 23 15. O Auto de Infração não observou os princípios e regras constitucionais: direito ao contraditório, à ampla defesa e ao devido processo legal, princípio da legalidade, princípio da imparcialidade decorrente do princípio da isonomia, princípio do informalismo, princípio da verdade real e princípio da publicidade. INEXISTÊNCIA DE PROVA MATERIAL 16. Há, no caso, total ausência de provas de qualquer atribuição da responsabilidade imputada à impugnante, a qual decorre de mera presunção. Não é lícito a autoridade fiscal presumir a máfé da impugnante, o que exige provas. 17. Violadas as regras que regem o ônus da prova, a nulidade deve ser declarada de pronto, pois está caracterizado vício insanável. UTILIZAÇÃO DE ELEMENTOS COLIGIDOS DE PROCESSOS ADMINISTRATIVOS NÃO TRANSITADOS EM JULGADO E DE INQUÉRITO POLICIAL AINDA NÃO FINALIZADO 18. Toda a fundamentação utilizada para a constituição do crédito tributário, com aplicação de multa qualificada e lavratura de termos de sujeição passiva solidária, foi pautada em processos administrativos não transitados em julgado e em inquérito policial ainda não finalizado. Esses processos administrativos não foram julgados até o momento e muito menos o inquérito policial foi concluído. 19. Se as movimentações financeiras e bancárias constituemse como marco inicial da investigação, eles não podem ser erigidos a fato indiciário na construção da aludida presunção legal, ou seja, não podem sustentar uma presunção legal, pois, além da ausência de correlação natural exigida na instituição desse artifício legal, tal providência implicaria na transferência do encargo probatório para o contribuinte. DA APRECIAÇÃO DAS PROVAS E DOS LIMITES DO “LIVRE CONVENCIMENTO” DA AUTORIDADE JULGADORA 20. A autoridade fiscal tece conclusões ilógicas, que não correspondem à real interpretação dos documentos juntados e nem aos fatos, exacerbando o livre convencimento da autoridade julgadora previsto em lei, para imputar uma conduta ilícita à impugnante. 21. Apesar de o Decreto nº 70.235/1972, nos termos do seu art. 29, permitir à autoridade fiscal a formação da sua livre convicção, essa formação tem limitadores constitucionais. A interpretação desse dispositivo deve ser a de que a Constituição e a lei impõem um convencimento racional e motivado à luz dos autos. A racionalidade é necessária, não podendo os auditores fiscais valorar as provas de forma passional, mesmo porque a atividade administrativa é regida pelo princípio da impessoalidade. 22. O convencimento da autoridade julgadora deve se basear por elementos concretos vindos exclusivamente dos autos, pois o emprego de outros transgride as garantias constitucionais do contraditório e do devido Fl. 12705DF CARF MF 24 processo legal, sendo fator de insegurança para as partes. A autoridade julgadora tem o dever de motivar a sua decisão e, em certos casos, o valor da prova é dimensionado pela lei e não por ela. IMPOSSIBILIDADE DE O AUDITOR CONSIDERAR COMO “LARANJAS” OS INTEGRANTES DA SOCIEDADE IMPUGNANTE 23. O registro de constituição societária da impugnante é plenamente válido e produz seus efeitos, nos termos da Lei nº 8.934/1994, que dispõe sobre o registro público de empresas mercantis. A Junta Comercial que registrou os atos de constituição da impugnante e posteriores alterações dos atos societários, dentro das suas atribuições legais e institucionais, já analisou os requisitos necessários e a exatidão dos dados trazidos a arquivamento. Os registros estão em conformidade com as normas legais e não existe qualquer indício de falsidade ou de simulação, pois retratam um negócio jurídico comprovadamente satisfeito em todos os seus contornos. Assim, não cabe a afirmação de que a impugnante foi constituída em nome de laranjas. 24. Para que o Auditor Fiscal descaracterizasse os contratos deve observar o parágrafo único do art. 116 do CTN, o qual exige que sejam observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. Não foram estabelecidos esses limites, tanto que o lançamento foi realizado sem qualquer fundamento para a desconsideração, o que torna nulo o ato procedido. 25. Houve abuso de direito por não haver previsão legal conferindo à fiscalização autoridade para ultrapassar o limite da estrita legalidade, buscando elementos para afirmar ou não a validade jurídica das operações. Ademais, para desconsiderar a personalidade jurídica, é necessária autorização judicial, especialmente diante do conteúdo do art. 50 do Código Civil Brasileiro. Somente o Juiz de Direito pode estabelecer a desconsideração da personalidade jurídica, devendo, assim, ser decretada a nulidade do Auto de Infração. FALTA DE MOTIVAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO 26. A autoridade fazendária tipificou as exigências em dispositivos genéricos, não especificando quais dispositivos embasam a motivação do lançamento tributário, o que contraria o art. 11, III, do Decreto nº 70.235/1972 e o art. 142 do CTN. 27. Se a empresa não pode apresentar os livros por estarem sob análise de outra autoridade, não pode ser punida. Da mesma forma, não pode haver lançamento se a autoridade fiscal informa que houve sonegação fiscal, mas não aponta precisamente de onde retirou os valores que alega como receita omitida. 28. “A descrição dos fatos e o respectivo enquadramento da penalidade cabível, onde haveria que adequar, apossibilidade (sic) de exigência do imposto de renda para que pudesse incidir a multa, há que apresentarse com clareza e perfeitamente consoante com a legislação vigente, sob pena a acarretar nulidade ... Assim percebese que, a autoridade fiscal, não tipificou a disposição legal para a exigência de imposto de renda, acarretando a nulidade do ato”. Fl. 12706DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.695 25 AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA UTILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS 29. O lançamento fiscal baseouse exclusivamente em documentos unilaterais apreendidos em nome de terceiros, que o Auditor Fiscal presumiu se referirem à impugnante. Não houve a expedição de nenhum mandado de busca e apreensão para o seu endereço, portanto nenhum documento seu foi apreendido. Assim, a apreensão de discos rígidos e computadores foi ilegal em relação a ela e os documentos apreendidos não podem ser usados como provas em processo judicial ou administrativo. 30. A Polícia Federal aproveitou um mandado de busca e apreensão destinado a outros endereços para vasculhar pessoas físicas e jurídicas não contempladas pelo documento. 31. Dessa forma, impõese reconhecer a nulidade das provas coligidas que embasaram o lançamento tributário, sob pena de se permitir prova ilícita no bojo dos autos. ILICITUDE DAS PROVAS UTILIZADAS 32. As provas utilizadas no processo administrativo, decorrentes de mandados de busca e apreensão são ilícitas, já que determinados por autoridade judicial incompetente para análise da matéria. 33. O inquérito policial teve origem em compartilhamento de dados entre o COAF, Receita Federal e Ministério Público, sem qualquer autorização judicial. “Além disso, o juízo que decretou a busca e apreensão, no momento em que houve a instauração dos procedimentos, nenhum dos crimes investigados eram crimes antecedentes do delito de lavagem de dinheiro. Portanto, a vara de lavagem de dinheiro não tinha competência para processar o feito”. 34. Ainda que fossem emanadas de juiz competente, houve extrapolação dos limites da ordem judicial pela autoridade fiscal, que se baseou em elementos de provas colhidas em computadores particulares de terceiros, para os quais não foram expedidos mandados de busca e apreensão específicos. Não houve, em relação a esses terceiros, autorização específica de quebra de sigilo de mensagens eletrônicas e arquivos digitais, o que causa a nulidade das provas. 35. Além de ter havido violação ao seu direito de privacidade e ao sigilo das comunicações telefônicas, as conversas desses terceiros não guardam qualquer relação com a autuação e fiscalização, não tendo sido sequer mencionada a empresa impugnante. 36. O sigilo bancário só pode ser quebrado mediante autorização judicial nas hipóteses de conduta delituosa configurada, nunca por arbítrio do agente fiscal. 37. Não foram observados os requisitos para a quebra do sigilo dos terceiros, não sendo as provas fundadas em elementos concretos, sérios e idôneos, sendo nula a decisão que não se ampara em fatos e fundamentos de pleno direito, especialmente quando o juiz era incompetente. Fl. 12707DF CARF MF 26 38. O acusado deve ter ciência da prova na primeira oportunidade após a sua realização, não se podendo cogitar de prova não sujeita ao contraditório. SOLICITAÇÃO DE DILIGÊNCIA 39. Em razão da arguição das nulidades demonstradas, a impugnante requer a realização das diligências necessárias pela Delegacia de origem, a fim de que seja atestada a ausência de qualquer irregularidade fiscal cometida pela impugnante, bem como a inexistência de qualquer ato que implique na constituição do crédito tributário. DO INQUÉRITO POLICIAL REALIZADO PELA POLÍCIA FEDERAL 40. Quanto aos trabalhos fiscais realizados com base exclusivamente no Inquérito Policial Federal, era necessária averiguação da fiscalização, não podendo servir de prova para o lançamento tributário. “Na verdade, as autoridades fiscais o (sic) colacionaram excertos do Inquérito Policial (que ainda não foi finalizado) na tentativa de impressionar os julgadores, sendo que estas questões sequer foram objeto de julgamento judicial, sendo que as provas coligidas são nulas de pleno direito”. PREJUDICIAL AO MÉRITO – NECESSIDADE DE SUSPENSÃO 41. Em face das diversas nulidades arguidas, principalmente pelo fato de não ter sido informado de onde se retirou os valores apurados como receita omitida e considerandose os princípios da presunção de inocência e da segurança jurídica, uma vez que o lançamento baseouse unicamente em inquérito policial não concluído e em processos administrativos que estão em análise, ou seja, com exigibilidade suspensa, impõese suspender a tramitação do presente processo administrativo. “A jurisprudência valida a suspensão do auto de infração enquanto perdurar medida judicial decisiva a perfeita exigência do crédito tributário”. A continuidade da exigência fiscal dependerá do julgamento dos processos administrativos e da conclusão do inquérito policial. 42. O Código de Processo Civil, em seu art. 13, determina que, verificada irregularidade na representação do contribuinte no processo, a autoridade julgadora deve suspender o processo, determinando prazo razoável para ser sanado o defeito. Em face do disposto no art. 265, IV, o julgamento do processo deve ser sobrestado até que o processo principal seja apreciado. O mesmo art. 265, no seu inciso III, determina que se suspende o processo quando a sentença de mérito dependa do julgamento de outra causa ou da declaração de existência da relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente. 43. Assim, a decisão deve ser pela suspensão do julgamento até supressão da causa impeditiva à continuidade da exigência fiscal. 44. Há necessidade de o processo administrativo fiscal aguardar o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal sobre a quebra do sigilo bancário diretamente pela autoridade administrativa, realizada pelo Auditor Fiscal sem qualquer justificação ou fundamentação, já que a Lei Complementar nº105 é objeto de 5 (cinco) Ações Diretas de Inconstitucionalidade – ADIN, toda apensadas à ADI 2390, ainda pendente de julgamento. Fl. 12708DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.696 27 45. Se o processo prosseguir haverá a nulidade das exigências fiscais, pois realizado com base em leis objeto de ações questionando a sua inconstitucionalidade. 46. A Portaria MF nº 103/2002 já previu que, no caso de julgamento pelo STF, os órgãos administrativos julgadores devem automaticamente adotar o seu entendimento jurisprudencial. Devem ser aguardados os julgamentos, a fim de que as decisões administrativas não sejam proferidas em confronto com o entendimento dessa corte. 47. Assim, a impugnante requer a suspensão do prosseguimento do processo administrativo fiscal, até a supressão da causa impeditiva à continuidade da exigência fiscal, objeto de análise pelo STF. AUSÊNCIA DE SOLIDARIEDADE – EMPRESAS AUTÔNOMAS 48. A RFB tenta imputar, indevidamente, às diversas empresas e pessoas físicas mencionadas no Auto de Infração a responsabilidade tributária por transferência, na graduação de solidariedade passiva, a qual somente ocorre quando duas ou mais pessoas são obrigadas por lei perante o Fisco. 49. O fato de os sócios de algumas das empresas indicadas no Relatório Fiscal terem sido funcionários da empresa pertencente ao falecido Sr. Samuel Tolardo Júnior Tolardo não é suficiente para a responsabilização de 70 empresas e seus respectivos sócios e de toda a família Tolardo, indicados equivocadamente como sócios de fato. Tampouco pode ser incluída sem prova a impugnante, empresa totalmente autônoma e com atividade própria. 50. Não existe previsão legal expressa que albergue a responsabilização efetuada. A lei não estabelece que familiares ou qualquer sócio eventualmente de fato devam ser responsáveis por solidariedade. 51. O legislador não pode estabelecer confusão entre os patrimônios das pessoas físicas e jurídicas, desconsiderando a personalidade jurídica e descaracterizando as sociedades limitadas, implicando em irrazoabilidade e afrontando os arts. 5º, XIII, e 170, parágrafo único, da Constituição Federal. 52. O enquadramento no art. 124, I, do CTN não pode prosperar, uma vez que as empresas são absolutamente autônomas, com sócios distintos, localizadas em bairros, cidades e estados distintos, sem qualquer identidade em seu quadro social e objeto social, com quadro de funcionários próprio. Não se trata sequer de grupo econômico, pois possuem administração própria e descentralizada e não realizavam conjuntamente a situação configuradora do fato jurídico tributário. 53. Ademais, o simples fato de as empresas se apresentarem como um grupo empresarial para o mercado não é suficiente para caracterizar a solidariedade por grupo econômico, devendo haver a comprovação de existência de unidade jurídica de controle ou planificação de atividade de forma que seja interligada a utilização da mão de obra, o que não se verifica no caso. Fl. 12709DF CARF MF 28 54. Não configura interesse comum na situação que constitui o fato gerador “o fato de serem pertencentes a uma mesma família, até porque cada qual possui seus rendimentos e atividades próprios”. 55. As empresas possuem CNAE distintos, não havendo que se falar em interesse comum entre elas. Não há que se falar em interesse jurídico das empresas e pessoas físicas incluídas indevidamente como responsáveis tributárias, para cuja configuração é relevante a participação na realização do lucro e não “mera participação nos resultados realizados pelo lucro ou interesse de ordem econômica, moral, social ou familiar. No caso, as pessoas não têm qualquer vinculação com o fato típico. 56. A responsabilidade solidária prevista no art. 124, I, do CTN se realiza quando todos os devedores tenham realizado conjuntamente o fato gerador, o que não se vislumbra no processo. No caso, os “sócios de fato” não praticaram o fato gerador em conjunto com a empresa. Não há vinculação da impugnante com os fatos geradores das demais empresas. 57. Não foi concebido um único ato, por exemplo, em que a Sra. Íris da Silva Tolardo ou o Sr. Samuel Tolardo Júnior realizou o fato tributário, sendo temerário, excessivo e ilegal a sua responsabilização. Afirmar que a Sra. Íris da Silva Tolardo sabia de tudo não é suficiente para que lhe seja imputada a responsabilidade solidária, mormente quando ela é absolutamente estranha à empresa. 58. A impugnante desconhece a formação do alegado grupo econômico, sendo seus sócios seus únicos administradores. 59. O simples fato de algumas sociedades pertencerem a um grupo econômico não acarreta a responsabilidade tributária prevista no art. 124, I, do CTN, ficando a Fazenda Pública impedida de imputar ao grupo a corresponsabilidade, já que o interesse em comum era apenas econômico e não jurídico. 60. O Auditor Fiscal extrapolou os limites da sua competência funcional prevista na Lei nº 10.593/2002 ao desconsiderar a personalidade jurídica da empresa e atribuir responsabilidade objetiva e solidária à impugnante, sem indicar concretamente os motivos. 61. Não cabe a imputação pelo art. 135 do CTN, pois foi efetuada de forma objetiva, sem provar que esteja relacionada à empresa autuada ou tenha praticado ato com excesso de poderes ou infração de lei. 62. A responsabilização efetuada pelo Auditor Fiscal escapa de sua competência, pois, além de não estar prevista em lei, compete exclusivamente ao Procurador da Fazenda Nacional, na esfera judicial. Assim, o ato é nulo, por incompetência, nos termos do art. 59, II, do Decreto nº 70.235/1972. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 63. O prazo decadencial está previsto no art. 173, I, do CTN. A extinção do crédito tributário pela decadência está previsto no art. 156, V, do CTN, que estipula ser de cinco anos o prazo para o lançamento do crédito tributário. Fl. 12710DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.697 29 64. O lançamento dos tributos deveria ser feito por homologação, o que não ocorreu. Assim, a Fazenda não constituiu devidamente o crédito tributário em relação à impugnante, já que não foi realizado o lançamento e a respectiva cientificação. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário, portanto, decaiu. 65. Não acatada a decadência, requer seja acatada a prescrição dos créditos tributários. INCONSISTÊNCIA DO ARBITRAMENTO 66. A simples ausência de identificação da efetiva movimentação financeira e bancária da empresa não enseja o arbitramento do lucro. A documentação fiscal e contábil foi apresentada e na falta de comprovação de fraude, rasuras ou inconsistências, o arbitramento foi totalmente descabido, no caso. OMISSÃO DE RECEITAS: INEXISTÊNCIA 67. Não houve omissão de receitas. Os documentos utilizados não foram apreendidos com a impugnante.A Auditoria se baseou em meras presunções e praticou bis in idem ao utilizar a mesma base de cálculo para todas as empresas. IRPJ 68. A exigência do IRPJ não procede, por se fundamentar em valores creditados em planilhas unilaterais, não havendo a certeza da sua titularidade, e em meros orçamentos. Não houve aquisição de renda, pois não houve acréscimo patrimonial. CSLL, PIS, COFINS E CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA: TRIBUTAÇÃO REFLEXA INDEVIDA 69. Sendo inexigível o Imposto sobre a Renda, também não são exigíveis os seus reflexos:CSLL, PIS, COFINS, contribuição previdenciária e penalidades, pois tiveram como base de incidência a indevida constituição de omissão de receitas. 70. Não foram expostas as fundamentações para a exigência da COFINS, do PIS, CSLL e penalidades. Da mesma forma, não foram indicados os motivos da cobrança da contribuição previdenciária patronal. PIS E COFINS 71. A exigência do PIS e da COFINS se dá apenas sobre o faturamento, devendo ser excluídos os valores repassados a terceiros e o valor do ICMS NÃO DEDUÇÃO DE RECOLHIMENTOS E DESCONSIDERAÇÃO DA NÃO CUMULATIVIDADE 72. Não foram consideradas na composição da base de cálculo as deduções e a não cumulativadade prevista em lei. Fl. 12711DF CARF MF 30 MULTA 73. A simples apuração de omissão de receita ou de rendimentos não autoriza a qualificação da multa de ofício ou de rendimentos. A presunção legal de omissão de receita ou de rendimentos também não autoriza a qualificação da multa. Ademais, a impugnante não pode responder pela empresa e sequer tinha conhecimento do mandado de procedimento fiscal, não podendo serlhe infringido ato praticado por outrem, o que ofende os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 74. Assim, a multa deve ser excluída, mesmo porque não se pode aplicar dupla penalidade: uma pelo arbitramento dos lucros e outra pela não entrega dos documentos, pois ambas decorrem do mesmo fato. 75. Não foi comprovado o intuito de fraude. 76. A multa tem caráter confiscatório e fere os princípios da razoabilidade e da capacidade contributiva, pois hodiernamente se admite pena em valor não superior a 2%, conforme Lei nº 9.298/1996. A proibição constitucional de confisco se estende às multas, não se restringindo somente aos tributos. A Administração não pode locupletarse em face dessa cobrança excessiva. O Tribunal Pleno do STF já entendeu que são abusivas as multas moratórias que superam os 100%. No caso, aplicouse duplamente a multa de 150%. O Min. Celso de Mello, em decisão monocrática no RE 754.554/GO reconhecer ser confiscatória multa de 25%. 77. Não há prova de que foi concedido prazo razoável à contribuinte para apresentar os documentos, “até porque a Impugnante não foi intimada de nada disso”. 78. Dessa forma, a multa deve ser excluída ou, eventualmente, reduzida para, no máximo, 10% (dez por cento). Caso não sejam acatados esses pedidos, pede que a multa seja reduzida de 150% para 75%. 79. A impugnante não praticou nenhuma fraude ou omissão dolosa durante o processo fiscalizatório. Não houve fraude, nem sonegação, pois a empresa entregou todos os documentos solicitados, informando, inclusive, que os demais estavam em poder da Polícia Federal. Ademais, o CARF decidiu que, havendo o arbitramento, que já é uma penalidade, não cabe o agravamento da multa. TAXA SELIC 80. É ilegal a aplicação da Taxa SELIC não deve ser aplicada para correção de créditos tributários. Essa taxa tem caráter estritamente remuneratório e embute os juros e a correção monetária, sendo elevada e onerosa para o contribuinte. Ademais, não foi estipulada em lei, havendo a sua estipulação pelo Banco Central contraria o art. 161, §1º, do Código Tributário Nacional, que exige a instituição da taxa de juros por lei ordinária. 81. O Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento de que a aplicação da Taxa SELIC é ilegal e inconstitucional. 82. Não há previsão legal para a cobrança de juros de mora sobre a multa de ofício. Nesse sentido já se manifestaram o CARF e o Superior Fl. 12712DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.698 31 Tribunal de Justiça. Assim, a impugnante pleiteia seu afastamento do Auto de Infração. 83. Além disso, os juros somente poderão incidir depois de decorrido o trâmite procedimental administrativo, a partir da intimação para pagamento depois do julgamento, caso seja mantida a condenação. PROVAS E IMPUGNAÇÃO 84. Deve haver igualdade entre a contribuinte e a Receita Federal do Brasil no processo. Enquanto esta última teve mais de dois anos para analisar os documentos, a impugnante teve que se contentar com 30 dias, ainda sem acesso ao conteúdo dos autos, por problemas técnicos da própria Receita Federal. 85. As provas são nulas porque os Auditores Fiscais consideraram provas ilícitas para justificar a caracterização de grupo econômico e arbitrar o faturamento, obtidas em locais que sequer possuem relação com a impugnante. 86. Caso não seja considerada a nulidade de tais provas, a impugnante requer a realização de perícia e colheita de depoimentos, cujos quesitos e rol serão apresentados quando ela tiver acesso ao conteúdo integral do processo. A contribuinte está impossibilitada de elaborar quesitos sem conhecimento prévio e amplo da acusação e da documentação em poder do Fisco, sob pena de violação ao devido processo legal. 87. Os quesitos da perícia são: “quais provas foram utilizadas que não foi dado à (sic) conhecer para (sic) a Impugnante? Quais os valores utilizados e se foram os mesmos documentos utilizados para as empresas? Houve diligência no endereço da Impugnante? Quais documentos foram presos em posse da Impugnante? Porque (sic) não foi considerada a contabilidade regular da empresa? Após o fornecimento e acesso integral aos autos, reservase no (sic) direito de apresentar quesitos suplementares”. 88. Nomeia seu assistente técnico, requerendo a sua intimação do dia e hora do início dos trabalhos periciais no endereço que apresenta. REQUERIMENTOS FINAIS 89. Pede que sejam reconhecidas as nulidades apontadas e, no mérito, seja julgada improcedente a exigência fiscal, sendo reconhecida a ausência de responsabilidade. 90. Requer a produção de provas pericial e oral e a juntada de documentos em ulterior fase, em razão do exíguo prazo que lhe foi concedido, bem como que seja intimada das decisões, reservandose o direito de complementar a defesa após ter acesso ao conteúdo integral do processo administrativo fiscal. 3 Ciência de Robson Marcelo Tolardo Fl. 12713DF CARF MF 32 Robson Marcelo Tolardo foi intimado no seu endereço em São Paulo/SP em 11/12/2014, conforme Aviso de Recebimento – AR juntado aos autos. A correspondência enviada para o endereço em Maringá/PR foi devolvida, tendo sido registrado pelos Correios como motivo “Mudouse – Casa Vazia”. Foram emitidos os seguintes editais eletrônicos: Edital Eletrônico emitido pela Delegacia Especial da Receita Federal do Brasil de Pessoas Físicas em São Paulo/SP, com data de publicação 15/12/2014 e data de ciência em 30/12/2014; Edital Eletrônico emitido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Maringá/PR, com data de publicação 15/12/2014 e data de ciência em 30/12/2014. 4 Impugnação de Rogério Márcio Tolardo Rogério Márcio Tolardo foi intimado em seu endereço de Curitiba/PR em 10/12/2014 e em seu endereço no Rio de Janeiro/RJ em 12/12/2014, conforme Avisos de Recebimento juntados aos autos. Em 07/01/2015, apresentou impugnação, alegando, em resumo que: TEMPESTIVIDADE 1. A impugnação é tempestiva, pois o impugnante tomou conhecimento do Auto de Infração por terceiros, não tendo acontecido a intimação pessoal. AUSÊNCIA DE MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL 2. De acordo com o Decreto nº 7.574/2011, art. 33, qualquer procedimento de apuração de créditos tributário impõe a necessidade de cientificação prévia do sujeito passivo, entretanto o impugnante não foi cientificado da existência de processo de fiscalização em andamento contra si, tampouco da desconsideração da personalidade jurídica da empresa autuada e da sua responsabilização solidária. 3. A Portaria RFB nº 3.014/2011, art. 4º e art. 7º, II, exige que seja emitido Mandado de Procedimento Fiscal que contenha os dados identificadores do sujeito passivo e que haja a ciência deste. 4. Uma vez que não houve a ciência do impugnante da ação fiscal, houve cerceamento do seu direito à ampla defesa e ao contraditório, não lhe sendo garantido o devido processo legal. 5. Em ofensa ao art. 296 do Código Tributário Nacional, não houve a lavratura do termo de início do procedimento em nome do impugnante, o que impossibilitou a sua defesa. 6. O impugnante sequer faz parte da pessoa jurídica autuada, que tem personalidade jurídica própria e distinta, e só tomou conhecimento do procedimento de fiscalização por meio do recebimento do Termo de Sujeição Passiva Solidária encaminhado por via postal quando da lavratura do Auto de Infração. Não havendo a cientificação, a sujeição passiva solidária baseouse em presunções. Fl. 12714DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.699 33 7. Assim, deve ser reconhecida a nulidade do processo administrativo fiscal. NULIDADE DA INTIMAÇÃO REALIZADA PELOS CORREIOS 8. Segundo o Decreto nº 70.235/1972, art. 23, a intimação pessoal é a regra e somente sendo ela infrutífera, podem ser procedidas as demais formas. Essa regra é repetida pelo Decreto nº 7.574/2011, art. 10, I. 9. Além disso, segundo os mesmos decretos, a intimação por via postal deve ser endereçada ao domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo. No caso, contudo, a correspondência foi enviada a outros endereços diferentes daquele constante na DIRPF do impugnante, o que gera a sua nulidade. 10. Não comprovada a ciência inequívoca do impugnante, deve ser reconhecida a nulidade da intimação por falta de observância da lei, devendo ser determinada a sua realização ou deve ser ela considerada efetivada quando da disponibilização do processo administrativo fiscal ao sujeito passivo. CERCEAMENTO DE DEFESA 11. Houve a desconsideração de personalidade jurídica e a responsabilização do impugnante por meio de um termo de sujeição passiva tributária, sem qualquer fundamentação ou elementos de convicção para tal, além de não ter ele participado do processo administrativo fiscal. Imputações dessa natureza não podem se basear em meras ilações e presunções, portanto deveriam ter sido enviados ao sujeito passivo cópias de todos os documentos utilizados pela Auditoria Fiscal, o que não ocorreu. 12. O impugnante compareceu à Unidade da Receita Federal do Brasil onde possui domicílio fiscal e entregou mídias para gravação, porém não lhe foi fornecido o conteúdo integral do processo administrativo. 13. Dessa forma, diante do cerceamento de defesa do impugnante e conforme art. 12, II, do Decreto nº 70.235/1972, é nulo o processo. ILEGITIMIDADE DO AUDITOR FISCAL 14. O Auditor Fiscal extrapolou os limites de sua competência funcional prevista na Lei nº 10.593/2002, ao desconsiderar a personalidade jurídica da empresa e atribuir responsabilidade objetiva e solidária ao impugnante sem indicar concretamente os motivos, notadamente porque o impugnante não é sócio da autuada e não exerce qualquer função dentro dela, não estando relacionado ao fato gerador do tributo lançado. 15. A responsabilidade invocada para o impugnante balizouse no art. 124, I, do CTN, sem ser indicado seu interesse ou relação com a situação que constituiu o fato gerador. E com respeito ao art. 135, III, do mesmo código, não foi provado pelo Auditor Fiscal que o impugnante esteja relacionado à empresa autuada como diretor, gerente ou representante e, nessa condição, tenha praticado qualquer ato com excesso de poder ou infração de lei. Fl. 12715DF CARF MF 34 ILICITUDE DAS PROVAS UTILIZADAS 16. Não há prova do envolvimento do impugnante. A utilização de um pendrive com um trabalho de conclusão de curso de terceiro como base para a transplantação da responsabilidade para o impugnante é presunção. A utilização de dados sigilosos, inclusive de terceiros, com a quebra de sigilos fiscais, de dados de informática e utilização de planilhas unilaterais, que sequer foram fornecidas à parte, constitui uso de provas ilícitas. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO IMPUGNANTE – IMPOSSIBILIDADE DE IMPUTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE A TERCEIRO 17. Não foi provado que o impugnante recebia recursos da pessoa jurídica autuada. A Auditoria sequer conseguiu provas de que o impugnante participou da administração da sociedade, como email ou mensagem, ordens, autorizações ou qualquer outro ato. 18. O impugnante tem outras atividades, sendo sócio de uma empresa que comercializa equipamentos eletrônicos, além de prestar serviços na mesma área, tudo devidamente declarado em seu Imposto sobre a Renda. “O simples fato de ser filho de Samuel Tolardo não implica em dizer que todas as autopeças que sofreram autuação fiscal são de responsabilidade de seu falecido pai”. Mesmo que ficasse configurada a responsabilidade de seu genitor, esse fato não é suficiente para a transferência da responsabilidade efetuada. 19. O impugnante nunca teve procuração da empresa ou de seus sócios para administrála. As procurações mencionadas dizem respeito a outros fatos e outras pessoas. Não há comprovação de atos praticados por ele que pudessem gerar débitos. 20. Não há vinculação do impugnante com os fatos geradores, tampouco o interesse comum previsto no art. 124 do CTN. Seria necessária a sua participação efetiva no fato gerador do tributo, conjuntamente com os outros sujeitos passivos. 21. O art. 134 do CTN dispõe que a responsabilidade de terceiros somente ocorre nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação pelo contribuinte. 22. Tampouco o impugnante se enquadra no art. 135 do CTN. Não é sócio da empresa, não a administra e ela continua ativa e sujeita à exigibilidade da autuação fiscal. Ademais, se não há responsabilidade do sócio gerente pelo simples inadimplemento do tributo, não pode haver a responsabilização objetiva do impugnante. 23. Os atos praticados foram descaracterizados pela Auditoria sem cumprimento do art. 116, parágrafo único do CTN. Inexiste lei ordinária e, conseqüentemente, a previsão dos procedimentos para a desconsideração de atos e fatos jurídicos, como fez a fiscalização. Além disso, para a desconsideração da personalidade jurídica, é necessária autorização judicial, não tendo o Auditor Fiscal poderes para tal. INEXISTÊNCIA DE PROVA DE BENEFÍCIO PELO IMPUGNANTE Fl. 12716DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.700 35 24. A responsabilização do impugnante foi pautada em documentos unilaterais elaborados por terceiros, sem qualquer identificação do Impugnante, tendo havido mera presunção. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO DE EMPREGADOS, AVULSOS, AUTÔNOMOS ETC. 25. O Auditor Fiscal não nominou no seu relatório os empregados a quem a empresa teria efetuado os pagamentos, tampouco a forma e as condições do pagamento. Baseouse em documentos apócrifos, unilaterais e inservíveis como prova. Em consequência, a Notificação é improcedente e nula. Foi infringido o art. 10 do Decreto nº 70.235/1972 e o direito da impugnante à ampla defesa. INCONSTITUCIONALIDADE – IMPOSSIBILIDADE DA AMPLIAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO 26. A redação original do art. 195, I, da Constituição Federal somente se referia à folha de salários, sendo inconstitucional a redação original da Lei nº 8.212/1991 que fazia incidir a contribuição sobre quaisquer rendimentos pagos ao trabalhador. Somente a partir da Emenda Constitucional nº 20/1998, o art. 195, I, da Constituição foi alterado para albergar quaisquer rendimentos do trabalho pagos à pessoa física. Assim, é flagrante a inconstitucionalidade da exigência da contribuição sobre a remuneração até 1999. 27. Mesmo após a Emenda Constitucional nº 20/1998, sobre as verbas com caráter indenizatório não incidem as contribuições previdenciárias, uma vez que não constituem retribuição pelo trabalho, mas sim objetivam reparar uma perda, repondo o patrimônio do ofendido. São elas: adicionais de periculosidade, insalubridade, noturno, abono de férias, horas extraordinárias, gorjetas, prêmios, abonos, ajudas de custo, diárias de viagens e outras. Da mesma forma, verbas não habituais não podem ser tributadas. 28. Assim, devem ser excluídas da base de cálculo lançada os valores que não são salário strictu sensu, com novos cálculos dos valores devidos. INEXIGÊNCIA DO SALÁRIOEDUCAÇÃO INCONSTITUCIONALIDADE 29. A contribuição denominada SalárioEducação não é contribuição para a Seguridade Social e não se enquadra no art. 240 da Constituição Federal. Dessa forma, o art. 1º da Medida Provisória nº 1.5651/97 e o art. 15 da Lei nº 9.424/1996 são inconstitucionais por elegerem a folha de salários como base de cálculo dessa contribuição, pois tal verba somente pode ser base de cálculo das contribuições para a Seguridade Social. INEXIGÊNCIA DO INCRA – EMPRESA DE PREVIDÊNCIA URBANA 30. O INCRA não é exigível, pois a empresa autuada é urbana e não exerce atividade rural. Esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça. 31. Mesmo que a empresa fosse contribuinte do INCRA, o STF equiparou tal contribuição àquelas das entidades de promoção profissional, “juridicizada pelo art. 21, §2º, da Carta de 1969”. Essa espécie de contribuição foi prevista na Constituição de 1988, no seu art. 149. Não tem, Fl. 12717DF CARF MF 36 pois, natureza de contribuição para a Seguridade Social. De acordo com a Constituição de 1988, a folha de salários somente pode ser base de cálculo das contribuições para a Seguridade Social e de formação profissional vinculada ao sistema sindical (art. 240). 32. O art. 62 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT, que determinou a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, não fez alusão às contribuições, como fez o art. 240 da Constituição Federal. Assim, houve a revogação da lei anterior relativa ao INCRA, por incompatível com a existência do SENAR, não havendo a recepção pela Constituição de 1988. INEXIGÊNCIA DO SAT – NECESSIDADE DE LEI COMPLEMENTAR 33. Quanto ao SAT, apesar de seu nomen juris indicar que se trata de uma contribuição complementar ou adicional à contribuição prevista no art. 22, I, da Lei nº 8.212/1991, é na verdade mais um tributo incidente sobre a mesma base de cálculo. Assim, é totalmente inconstitucional, pois os arts. 195, §4º, e 154, I, da Constituição Federal dispõem que a criação desse tributo somente poderia ocorrer por lei complementar. 34. Sob outro aspecto, o SAT é inconstitucional porque sua alíquota é definida por ato exclusivo do Poder Executivo, o qual definiu, por meio dos Decretos números 612/1992 e 2.173/1997 sua base de cálculo e alíquotas. Esse é o entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do STJ. ILEGALIDADE DA COBRANÇA SOBRE VERBAS 35. Devem ser excluídas, por falta de previsão legal, todas as verbas de caráter indenizatório, tais como: valores pagos nos 15 (quinze) primeiros dias de afastamento do empregado doente ou acidentado; aviso prévio indenizado e a projeção dele decorrente de um avo de décimo terceiro salário; o adicional de 1/3 (um terço) de férias, o abono de férias, férias indenizadas, salário maternidade, valetransporte, valores recebidos a título de ganhos eventuais, os abonos expressamente desvinculados do salário e o auxílioalimentação. 36. Já está pacificado no STJ o entendimento de que não incide contribuição previdenciária sobre o auxílio doença pago pelo empregador nos primeiros 15 (quinze) dias da licença, por constituir verba decorrente de inatividade, que não possui natureza salarial. 37. O art. 28, §9º, “e”, “7”, da Lei nº 8.212/1991 exclui da base de cálculo da contribuição previdenciária os valores recebidos a título de ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário. 38. O Pleno do egrégio STF, ao julgar o Recurso Extraordinário 478.410/SP em 10/03/2010, pacificou entendimento de que, mesmo quando pago em pecúnia, não há incidência de contribuição previdenciária sobre o valetransporte. 39. No próprio Relatório Fiscal consta que a empresa forneceu auxílio alimentação in natura a seus empregados. O STJ já se manifestou no sentido de que o pagamento in natura do auxílioalimentação, ou seja, quando a própria alimentação é fornecida pela empresa, não sofre incidência da contribuição previdenciária, por não constituir verba de natureza salarial, Fl. 12718DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.701 37 esteja ou não o empregador inscrito no Programa de Alimentação do Trabalhador – PAT. 40. A União desistiu das ações que discutem o fornecimento in natura do auxílioalimentação, bem como do valor pago a título de valetransporte e seguro de vida. A AdvocaciaGeral da União – AGU e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional – PGFN publicaram orientações para que os procuradores não recorram mais nessas situações. Há especificamente o Parecer PGFN/CRJ nº 2.117/2011 sobre o auxílioalimentação. INEXIGÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO AO SISTEMA “S” AUSÊNCIA DE VINCULAÇÃO DA ARRECADAÇÃO 41. As contribuições destinadas ao SESC, SENAC, SESI e SENAI são tributos vinculados, devendo haver uma contraprestação ao contribuinte por parte da entidade arrecadadora, o que não ocorre no caso das empresas de prestação de serviços. As entidades beneficiadas com a contribuição são aquelas destinadas aos comerciários, sendo o objetivo a melhoria das suas condições de trabalho e a promoção de cursos de qualificação. 42. Os demais argumentos do impugnante são idênticos àqueles expostos na impugnação da empressa, com exceção dos quesitos da perícia, não elaborados pelo impugnante. REQUERIMENTOS FINAIS 43. Pede que sejam reconhecidas as nulidades apontadas e, no mérito, seja julgada improcedente a exigência fiscal, sendo reconhecida a ausência de responsabilidade. 44. Requer a produção de provas pericial e oral e a juntada de documentos em ulterior fase, em razão do exíguo prazo que lhe foi concedido, bem como que seja intimada das decisões, reservandose o direito de complementar a defesa após ter acesso ao conteúdo integral do processo administrativo fiscal. 5 Impugnação de Íris da Silva Tolardo Íris da Silva Tolardo foi intimada em seu endereço de Maringá/PR em 10/12/2014 e em seu endereço em São Paulo/SP na mesma data, conforme Avisos de Recebimento juntados aos autos. Em 07/01/2015, apresentou impugnação na qual, em essência, repete as alegações relatadas quando da descrição da impugnação de Rogério Márcio Tolardo. Os requerimentos finais também são idênticos. 6 Impugnação de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore foi intimada em seu endereço de Curitiba/PR em 10/12/2014. A correspondência enviada para o seu endereço em São Caetano do Sul/SP foi devolvida com o motivo “Desconhecido”. Foram emitidos os seguintes editais eletrônicos: Fl. 12719DF CARF MF 38 Edital Eletrônico emitido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Maringá/PR, com data de publicação 15/12/2014 e data de ciência em 30/12/2014; Edital Eletrônico emitido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Santo André/SP, com data de publicação 15/12/2014 e data de ciência em 30/12/2014. Em 07/01/2015, ela apresentou impugnação com as mesmas alegações dos demais membros da família Tolardo. Os requerimentos finais também são idênticos. 7 Impugnação de Samuel Tolardo Júnior Samuel Tolardo Júnior foi intimado pelos Correios, com AR, em 17/12/2014, no mesmo endereço declarado por ele nas suas DIRPF do ano calendário 2013, exercício 2014, e anocalendário 2014, exercício 2015, situado no Rio de Janeiro/RJ. Foi intimado também em Curitiba/PR, também pelos Correios com AR, em 16/12/2014. Em 07/01/2015, ela apresentou impugnação com as mesmas alegações dos demais membros da família Tolardo. Os requerimentos finais também são idênticos. É o relatório. A decisão de 1ª instância administrativa restou consubstanciada em Acórdão que recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/03/2009 a 30/09/2012 CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL. DECADÊNCIA. DOLO E FRAUDE. Para fins do cômputo do prazo de decadência, tendo ocorrido dolo e frade, aplicase a regra do art. 173, I, do CTN, contandose o prazo do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. IMPUGNAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ALEGADO. A impugnação deve vir acompanhada de prova documental que ratifique as alegações apresentadas. Não deve ser deferida a oitiva de testemunhas, quando não foi especificado na impugnação o fato que seria provado, bem como sequer foi apresentado o rol. PRELIMINAR DE NULIDADE. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. Fl. 12720DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.702 39 Não há violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa se os fatos e a fundamentação legal foram minuciosamente descritos nos relatórios que compõem o Auto de Infração e o contribuinte e os responsáveis solidários foram devidamente intimados, tendolhes sido concedido o prazo legal para defesa e oportunizada a consulta aos autos do processo. MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL MPF. CIÊNCIA. TERMOS EMITIDOS PELA FISCALIZAÇÃO. VALIDADE DO LANÇAMENTO FISCAL. O Mandado de Procedimento Fiscal MPF é instrumento interno de planejamento e controle das atividades e procedimentos fiscais efetuados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. Mesmo se houver equívocos na formalização do MPF, tendo sido emitidos os termos previstos no art. 196 do Código Tributário Nacional e no art. 8º do Decreto nº 70.235/1972 nos moldes legais, não há que se falar em nulidade do procedimento fiscal. SOLIDARIEDADE. FRAUDE E DOLO. USO DE LARANJAS. EMPREENDIMENTO ÚNICO FORMALMENTE MASCARADO COMO VÁRIAS EMPRESAS PRETENSAMENTE INDEPENDENTES. Comprovado que houve fraude e dolo na ocultação dos verdadeiros sócios administradores de empreendimento único, apenas formalmente constituído por várias empresas, com o uso de laranjas, há infração à lei e ao contrato social, respondendo os verdadeiros sócios como responsáveis solidários pelo crédito tributário previdenciário, por previsão do CTN, art. 135, III. Se essas pessoas participarem dos atos que originaram os fatos geradores, também há enquadramento no art. 124, I, do mesmo código. UTILIZAÇÃO DE PROVAS COLHIDAS EM INQUÉRITO POLICIAL E EM PROCESSOS ADMINISTRATIVOS FISCAIS. A utilização, como base para o lançamento de crédito tributário, de provas colhidas em inquérito policial e processo administrativo fiscal diverso não é proibida, desde que sejam submetidas ao rito processual previsto em lei, com a abertura de prazo para defesa e possibilitação do exercício do direito ao contraditório. Não há ilegalidade na quebra de sigilo fiscal, bancário e de comunicações autorizada pelo Poder Judiciário. Fl. 12721DF CARF MF 40 INTIMAÇÃO POR VIA POSTAL COM AVISO DE RECEBIMENTO. EDITAL. A intimação pessoal não tem precedência sobre a intimação por via postal, com aviso de recebimento, efetuada no domicílio fiscal eleito pelo sujeito passivo. Sendo improfícua essa intimação, é válida a intimação por edital. INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. DISCUSSÃO NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO. A Administração deve absterse de reconhecer ou declarar a inconstitucionalidade e, sobretudo, de aplicar tal reconhecimento ou declaração nos casos em concreto, de leis, dispositivos legais e atos normativos que não tenham sido assim expressamente declarados pelos órgãos jurisdicionais e políticos competentes. APLICAÇÃO DAS DECISÕES DO STF E STJ NOS ACÓRDÃOS DE JULGAMENTO ADMINISTRATIVO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. A tese exarada em decisão definitiva do STJ ou do STF, na forma dos arts. 543B (rito de repercussão geral) ou 543C (rito dos recursos repetitivos), deve ser reproduzida pelo órgão julgador da primeira instância administrativa apenas na hipótese da comunicação da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional PGFN de que, com base na Lei nº 10.522/2002, não mais contestará ou recorrerá sobre a matéria. CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A TERCEIROS. SALÁRIOEDUCAÇÃO. CONTRIBUINTE. A Lei nº 9.424/1996 não excepciona nenhuma empresa da obrigatoriedade do recolhimento do SalárioEducação, motivo pelo qual o art. 2º do Decreto nº 6.003/2006, estabelece que são contribuintes de tal contribuição as empresas em geral e as entidades públicas e privadas vinculadas ao Regime Geral da Previdência Social. CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A TERCEIROS. INCRA. EMPRESAS URBANAS. A contribuição destinada ao INCRA tem natureza de contribuição de intervenção no domínio econômico e é devida pelos empregadores em geral, inclusive por empresas urbanas. GILRAT. ALÍQUOTA CONFORME ATIVIDADE PREPONDERANTE DA EMPRESA. Para apuração da contribuição prevista no art. 22, II, da Lei nº 8.212/1991 (GILRAT), o enquadramento da empresa Fl. 12722DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.703 41 no correspondente grau de risco para fins de apuração a alíquota é objetivo, dependendo do tipo de atividade preponderantemente exercida pela empresa, de acordo com as atividades especificadas no anexo ao Regulamento da Previdência Social RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048/1999. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. BASE DE CÁLCULO. Tendo a Auditoria identificado os montantes que compuseram as bases de cálculo das contribuições previdenciárias, inclusive identificando cada segurado empregado, não basta alegar de forma genérica que há verbas que não sofrem incidência dessas contribuições, devendo ser apresentadas provas. CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A TERCEIROS. SESC E SENAC. São devidas as contribuições destinadas ao SESC e ao SENAC pelas empresas que exercem atividades comerciais. LANÇAMENTO DE OFÍCIO. SONEGAÇÃO. MULTA QUALIFICADA. Restando configurada a sonegação definida no art. 71 da Lei nº 4.502/1964, a multa de ofício prevista no art. 44, I, da Lei nº 9.430/1996 deve ser aplicada em dobro, nos termos do art. 44, §1º, da Lei nº 9.430/1996. Segundo nota que consta no eprocesso, a empresa fiscalizada apresentou seu recurso voluntário inicialmente em 07/08/2015 (fls. 12.240/12.334) antes que o AR com a intimação nº 477, de 2015, retornasse. Como já havia sido enviada outra intimação (nº 561, de 2015), que foi recebida em 10 de agosto de 2015 (fl. 12.341), a empresa apresentou dentro do prazo de 30 dias (04/09/2015) novo recurso voluntário (fls. 12.562/12.656). Em relação aos sujeitos passivos solidários, o processo registra os seguintes atos quanto à intimação da decisão de 1ª instância: Rogério Márcio Tolardo, foi intimado por AR em 08/07/2015 (fl. 12.140); Samuel Tolardo Junior foi intimado também em 08/07/2015 por AR (fl. 12.137); Jeanne Cristine Tolardo Dalle Ore teve o AR devolvido (fl. 12.144) e foi intimada por edital eletrônico com data de ciência em 07/08/2015 (12.147); Robson Marcelo Tolardo foi intimado por edital eletrônico com ciência em 14/08/2015 (fl. 12.149) após a devolução do AR (fls. 12.148 e 12.150); Iris da Silva Tolardo foi intimada por AR em 07/07/2015 (fl. 12.134). Apresentaram tempestivamente seu recurso voluntário em 07/08/2015: Jeanne Cristine Tolardo Dalle Ore (fls. 12.344/12.413); Samuel Tolardo Junior (fls. 12.488/12.557); Rogério Márcio Tolardo (fls. 12.167/12.237). Fl. 12723DF CARF MF 42 A Sra. Iris da Silva Tolardo protocolou seu recurso voluntário na mesma data (fls. 12.417/12.483), contudo, considerando que sua intimação ocorreu em 07/07/2015, a apresentação foi intempestiva. Não foi localizado recurso por parte do Sr. Robson Marcelo Tolardo. Em suas razões de recorrer, a empresa PRV Comércio de Peças Ltda. ME, aduz, em síntese, que: 1. O acórdão de 1ª instância não apreciou a impugnação da recorrente, já que ao relatar os fatos do processo a identificou como "Fort Lub"; além disso a empresa não teria tido acesso aos documentos e resultados de escuta telefônica; 2. Nulidade da autuação por ofensa ao contraditório e à ampla defesa, já que não teria obtido cópia dos documentos que justificariam a autuação; 3. Nulidade da decisão recorrida por não ter analisado todas as questões invocadas pela defesa; 4. Nulidade da decisão recorrida por ter sido proferida por autoridade incompetente: a decisão foi proferida por auditorfiscal e não por Delegado da Receita Federal, o que ofenderia o Decreto nº 70.235, de 1972, em seu art. 25, "a"; 5. Nulidade por prorrogação indevida do Mandado de Procedimento Fiscal, em razão de não ter sido a recorrente cientificada da prorrogação e alteração do MPF; 6. Nulidade por cerceamento ao direito de defesa, já que não lhe teria sido deferido prazo para entregar documentos; 7. Nulidade por ilegitimidade passiva do recorrente e prova nula, pois não haveria prova que demonstrasse a existência de vínculo dele com a empresa em face da qual foi iniciada a investigação e as provas do inquérito não passaram pelo crivo do contraditório; 8. Nulidade por ausência de observância de requisitos no processo administrativo fiscal para o lançamento: a autoridade fiscal formou seu convencimento sem base nas provas do processo; 9. Nulidade por impossibilidade de presunção para o lançamento: o lançamento foi feito com base em presunção e ao lançamento tributário não se aplica a tese segundo a qual os atos administrativos gozam de presunção de validade; 10. Nulidade por inobservância dos princípios informadores: contraditório, ampla defesa, devido processo legal, legalidade, isonomia e imparcialidade; 11. Nulidade por inexistência de prova material: diante da total ausência de provas para a atribuição de responsabilidade à imputada, sua responsabilidade decorre de presunção; 12. Nulidade por utilização de elementos coligidos de processo administrativo não transitado em julgado e de inquérito policial ainda não finalizado; 13. Nulidade em função do desrespeito aos limites do livre convencimento do julgador; Fl. 12724DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.704 43 14. Nulidade pela impossibilidade do auditor considerar como "laranjas" os integrantes da sociedade recorrente; 15. Nulidade por falta de motivação e fundamentação, já que a autoridade fiscal teria tipificado as exigências em dispositivos genéricos, sem especificar quais artigos motivaram a lavratura do auto de infração; 16. Nulidade por ausência de autorização judicial para utilização dos documentos; 17. Nulidade por utilização de provas ilícitas, já que a ordem de busca e apreensão foi emanada por autoridade incompetente; 18. Pede que em face das nulidades acima relatadas o processo seja devolvido à Delegacia de origem para as diligências necessárias a fim de atestar ausência de irregularidades cometidas pela recorrente; 19. O inquérito policial não estava finalizado, por isso as provas não podem ser utilizadas; 20. Como prejudicial de mérito: necessidade de aguardar o encerramento do inquérito policial e de processos administrativos pendentes; 21. Como prejudicial de mérito: a necessidade de aguardar decisão do Supremo Tribunal Federal STF acerca da possibilidade de quebra do sigilo bancário diretamente por autoridade administrativa; 22. No mérito: ausência de solidariedade por se tratar de empresas autônomos, com sócios distintos, com quadro de funcionários próprios e estabelecidas em localidades diferentes; 23. O crédito tributário já estava extinto pela decadência ou pela prescrição; 24. Inconsistência do arbitramento: aqui a recorrente menciona a inexistência de prova de faturamento e arbitramento do lucro; 25. Inexistência de omissão de receita; 26. A exigência é improcedente por ausência da relação de empregados, avulsos e autônomos, o que prejudica o direito de defesa do recorrente; 27. Inconstitucionalidade da ampliação da base de cálculo prevista constitucionalmente, que se limita aos salários e não quaisquer rendimentos pagos à pessoa física como prevê a Lei nº 8.212, de 1991; 28. Inconstitucionalidade do salárioeducação; 29. Inexigência da contribuição ao INCRA por empresa urbana; 30. Inexigência do SAT por necessitar de lei complementar; Fl. 12725DF CARF MF 44 31. Ilegalidade da cobrança da contribuição previdenciária sobre verbas de caráter indenizatório; 32. Inexigência da contribuição previdenciária sobre auxílioalimentação fornecido in natura por empresa não cadastrada no PAT; 33. Inexigência de contribuição ao sistema "S" por ausência de vinculação da arrecadação; 34. Exclusão ou redução da multa por aplicação dos enunciados nº 14 e 25 da Súmula de jurisprudência do CARF, por ausência de comprovação do intuito de fraude e pela aplicação do princípio de nãoconfisco; 35. Redução da multa de ofício para 10% pela aplicação da proibição constitucional de confisco por tributos ou multas punitivas; 36. Redução da multa de ofício para 75% por ausência de fraude ou omissão dolosa; 37. Redução da penalidade por "bis in idem"; 38. Inaplicabilidade da taxa Selic; 39. Pede a realização de perícia e a colheita de depoimentos. Rogério Márcio Tolardo, por sua vez, inicia seu recurso invocando a nulidade da intimação da decisão de primeira instância, já que esta não teria sido realizado no endereço que indicou em sua impugnação. No mais, seu recurso apresenta, em sua maioria, os mesmos argumentos de defesa da empresa autuada, tanto na identificação dos itens como em sua redação. Por economia processual, serão listados abaixo apenas os argumentos que foram acrescidos pelo sujeito passivo solidário: 1. Nulidade por ausência de intimação pessoal; 2. Nulidade por ausência de Mandado de Procedimento Fiscal, em razão de não ter sido o recorrente cientificado da existência de processo de fiscalização contra si; 3. Nulidade por ilegitimidade passiva do recorrente, pois não haveria prova que demonstrasse a existência de vínculo dele com a empresa autuada; 4. Nulidade por ilegitimidade do auditorfiscal, que teria extrapolado os limites de sua competência funcional ao desconsiderar a personalidade jurídica da empresa e atribuir responsabilidade objetiva e solidária ao recorrente sem indicar os motivos para tanto; 5. No mérito, ausência de responsabilidade do recorrente, por ser pessoa estranha ao quadro societário da empresa autuada e por não haver prova de seu vínculo com ela e com o fato gerador do tributo; 6. Ausência de responsabilidade do recorrente por inexistência de prova do seu benefício; Os recursos voluntários de Samuel Tolardo Junior e Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore apresentam as mesmas razões de recorrer. Fl. 12726DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.705 45 É o que havia para ser relatado. Voto Conselheira Dione Jesabel Wasilewski Relatora Os recursos apresentados por PRV Comércio de Peças Ltda. ME (fls. 12.240/12.334 e 12.562/12.656); Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore (fls. 12.344/12.413); Samuel Tolardo Junior (fls. 12.488/12.557) e Rogério Márcio Tolardo (fls. 12.167/12.237) preenchem os requisitos de admissibilidade e deles conheço. Análise do Recurso Voluntário de PRV Comércio de Peças Ltda. ME Item 1. Ausência de análise da impugnação e negativa de acesso aos documentos e escuta telefônica Segundo a recorrente, o acórdão de 1ª instância não apreciou sua impugnação, já que, ao relatar os fatos do processo, a identificou como "Fort Lub". É verdade que a decisão de piso cometeu essa impropriedade, o que é compreensível já que várias autuações fiscais foram lavradas no contexto da mesma operação e nelas a autoridade fiscal fez uso do mesmo relatório, alterando itens específicos para adequálo à realidade de cada empresa autuada. Portanto, é aceitável o expediente utilizado pela DRJ, que também é adotado pelos recorrentes, já que se utilizam do mesmo texto de impugnação neste processo e nos lavrados contra outras pessoas jurídicas. Além disso, não se vislumbra qualquer prejuízo à recorrente, já que a DRJ enfrentou efetivamente os argumentos apresentados, tendo identificado corretamente a empresa autuada nos demais itens do Acórdão, conforme evidencia o seguinte excerto: DA EMPRESA PRV 107. A empresa PRV Comércio de Peças Ltda. ME é uma as empresas da REDE PRESIDENTE de autopeças e assim como as outras, encontrase constituída em nome de laranjas. O seu domicílio fiscal seria na cidade de Guarulhos/SP, contudo, conforme relato anterior, a sede administrativa de todo o esquema fica, na verdade, na cidade de Maringá/PR. Poucos meses após a sua criação, seu endereço foi alterado para o mesmo endereço da RPT e da A P E, ambas empresas do esquema. 108. Em diversos locais onde foram cumpridos os mandados de procedimento fiscal foram encontrados documentos que vinculam a PRV ao esquema, inclusive no endereço da sua sede. Ela consta também nos relatórios de controle das filiais. Fl. 12727DF CARF MF 46 Assim como não foi demonstrada a existência de prejuízo na decisão recorrida, também não há qualquer comprovação de que a empresa tenha requisitado documentos que instruíam o processo e de que eles não foram fornecidos. Na dialética das provas, caberia à recorrente demonstrar o quanto alegado, ônus de que não se desincumbiu. Pelo contrário, a fls. 11.900/11.904 há pedido de cópia do processo com "Termo de ciência, vista e entrega de cópia de processo digital" na qual se declara ciência de cópia integral do processo, dos documentos de fls. 01 a 11.633. Em razão do exposto, rejeito a primeira preliminar de nulidade. Item 2. Nulidade da autuação por ofensa ao contraditório e à ampla defesa, já que não teria obtido cópia dos documentos que justificariam a autuação Neste tópico a recorrente volta a alegar que não teve acesso a documentos e, mais uma vez, não apresenta qualquer comprovação do que é alegado. Ademais, a fls. 11.900/11.904 há pedido de cópia do processo com "Termo de ciência, vista e entrega de cópia de processo digital" na qual se declara ciência de cópia integral do processo, dos documentos de fls. 01 a 11.633. Por falta de comprovação de que houve negativa ao acesso aos documentos do processo, bem como pela existência de indício de que houve efetivamente acesso a eles, rejeito a segunda preliminar de nulidade. Item 3. Nulidade da decisão recorrida por não ter analisado todas as questões invocadas pela defesa A recorrente alega que a decisão de piso foi simplista e não analisou todas as questões invocadas, o que conduziria à sua nulidade. Quanto a esse aspecto, entendo que, embora a decisão deva ser fundamentada e levar em consideração os argumentos apresentados pelos impugnantes, pois isso consiste em uma das faces do contraditório (poder de influência), não há obrigatoriedade de análise de todos os argumentos de defesa. Com efeito, de acordo com o art. 489 do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105, de 2015): Art. 489. São elementos essenciais da sentença: I o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. Fl. 12728DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.706 47 § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (...) IV não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; (...) Isso significa que a omissão que vicia a decisão é aquela relativa a ponto que poderia alterar a decisão tomada. Nesse sentido, destaco o seguinte precedentes do STF (Embargos Declaração no Agravo Regimental no Recurso Extraordinário 733.596MA): “[...] EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. CONTRATAÇÃO PRECÁRIA DURANTE PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME. PRETERIÇÃO CARACTERIZADA. EXPECTATIVA DE DIREITO CONVOLADA EM DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO. PRECEDENTE. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. DESPROVIMENTO. 1. A omissão, contradição ou obscuridade, quando inocorrentes, tornam inviável a revisão em sede de embargos de declaração, em face dos estreitos limites do art. 535 do CPC. 2. O magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. (g.n.) 3. A revisão do julgado, com manifesto caráter infringente, revelase inadmissível, em sede de embargos. (Precedentes: AI n.799.509AgRED, Relator o Ministro Marco Aurélio, 1ª Turma, DJe de 8/9/2011; e RE n. 591.260AgRED, Relator o Ministro Celso de Mello, 2ª Turma, DJe de 9/9/2011). (...) 5. Embargos de declaração DESPROVIDOS. [...]” (Informativo 743/2014. EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 733.596MA. RELATOR: MIN. LUIZ FUX). No mesmo sentido, é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial nº 1.532.206 RJ (2015/01052895) relator o Ministro Marco Aurélio Bellizze: Ademais, não se exige do julgador examinar uma a uma as teses suscitadas pelo recorrente, tampouco a transcrição de fundamentos adotados per relationem à sentença, na esteira de precedentes desta Corte Superior (AgRg no AgRg no AREsp n. 630.003/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, DJe 19/5/2015; HC n. 103.158/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Fl. 12729DF CARF MF 48 Sexta Turma, DJe 8/6/2015; HC n. 315.106/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 11/3/2015; entre outros). Na hipótese em questão, devese considerar ainda o fato de que a alegação de nulidade da decisão foi efetuada de forma genérica, sem demonstrar a efetiva omissão e o prejuízo sofrido. Em contraponto, analisandose a decisão recorrida, vertida em um Acórdão de 74 páginas com o enfrentamento consciencioso de questões que foram repetidas na fase recursal, não é possível identificar o vício que lhe é impingido. Rejeito a terceira preliminar de nulidade. Item 4. Nulidade da decisão recorrida por ter sido proferida por autoridade incompetente Alegase também nulidade da decisão recorrida por ter sido proferida por autoridade incompetente, auditorfiscal e não Delegado da Receita Federal, o que ofenderia o Decreto nº 70.235, de 1972, em seu art. 25, "a". Ocorre que o art. 64 da Medida Provisória nº 2.15835, de 2001, deu nova redação a esse artigo 25, alterando o funcionamento das Delegacias da Receita Federal de Julgamento, pela instituição do julgamento colegiado: Art. 64. O art. 25 do Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972, com a redação dada pela Lei no 8.748, de 9 de dezembro de 1993, passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 25. O julgamento do processo de exigência de tributos ou contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal compete: I em primeira instância, às Delegacias da Receita Federal de Julgamento, órgãos de deliberação interna e natureza colegiada da Secretaria da Receita Federal; ................................................................ § 5o O Ministro de Estado da Fazenda expedirá os atos necessários à adequação do julgamento à forma referida no inciso I do caput." (NR) A regulamentação desse julgamento colegiado em 1ª instância dáse atualmente pela Portaria MF nº 341, de 12 de julho de 2011, de onde se extrai: Art. 2º As DRJ são constituídas por Turmas Ordinárias e Especiais de julgamento, cada uma delas integrada por 5 (cinco) julgadores, podendo funcionar com até 7 (sete) julgadores, titulares ou pro tempore. § 1º As Turmas Ordinárias podem ter até 2 (duas) Turmas Especiais a elas vinculadas, que serão instaladas pelo Secretário da Receita Federal do Brasil no ato de designação dos respectivos julgadores e terão a mesma competência para julgamento atribuída às Turmas Ordinárias a que se vinculam. § 2º As Turmas Ordinárias são dirigidas por um presidente nomeado entre os julgadores, sendo uma delas presidida pelo Fl. 12730DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.707 49 Delegado da Receita Federal do Brasil de Julgamento, que também exerce a função de julgador. § 3º As Turmas Especiais possuem caráter temporário, são integradas por julgadores pro tempore e dirigidas pelo Presidente da Turma Ordinária a que se vincula. § 4º A nomeação de Presidentes de Turmas e a designação de julgadores, titulares ou pro tempore, são de competência do Secretário da Receita Federal do Brasil. Art. 3º O julgador deve ser ocupante do cargo de AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB), preferencialmente com experiência na área de tributação e julgamento ou habilitado em concurso público nessa área de especialização. (grifouse) Logo, improcedente a alegação de incompetência da autoridade que prolatou a decisão recorrida. Rejeito a quarta preliminar de nulidade Item 5. Nulidade por prorrogação indevida do Mandado de Procedimento Fiscal Segundo a recorrente, o MPF iniciouse em 27/02/2014 com o fim de fiscalizar o IRPJ e CSLL nos períodos de 09/2010 a 09/2012, com prazo de encerramento em 27/06/2014. Contudo, teria sido prorrogado e alterado sem a devida ciência da fiscalizada, o que causaria nulidade da autuação. Esse argumento é superado pela leitura do Termo de Início da Ação Fiscal que está à fl. 10.810/10.811 e do AR de fl. 10.812 do processo eletrônico. Utilizandose dos dados fornecidos por esse TIAF no sítio da Secretaria da Receita Federal do Brasil na rede mundial de computadores, identificase o Termo de Distribuição de Procedimento Fiscal nº 08.111.002014008403, em face da empresa PRV Comércio de Peças Ltda., tendo como objeto contribuições do empregador e para outras entidades e fundos, no período de 03/2009 a 09/2012. O prazo para encerramento do procedimento seria 23 de janeiro de 2015 e o Termo de Encerramento da Ação Fiscal foi lavrado em 03 de dezembro de 2014 (fls. 10.947/10/948). A despeito disso, deve ser registrada a reiterada jurisprudência deste colegiado no sentido expresso pelo Acórdão 2301004.168, relatado pelo Conselheiro Natanael Vieira dos Santos, de acordo com o qual eventuais deficiências do MPF, se existissem, não maculariam o lançamento: 3. Ademais, o Mandado de Procedimento Fiscal é instrumento interno de planejamento e controle das atividades e procedimentos fiscais relativos aos tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal. 4. Consiste em uma ordem administrativa, emanada de dirigentes as unidades da Receita Federal para que seus Fl. 12731DF CARF MF 50 auditores executem as atividades fiscais, tendente a verificar o cumprimento das obrigações tributárias por parte do sujeito passivo. Sendo, portanto, ato praticado por autoridade competente (Coordenador, Superintendente, Delegado ou Inspetor, conforme o caso) e dirigido ao Auditor Fiscal da Receita Federal (AFRF), eventuais irregularidades verificadas no seu trâmite, ou mesmo na sua emissão, não tem condão de invalidar o auto de infração decorrente do procedimento fiscal relacionado. 5. A necessidade de cientificar o contribuinte da existência do MPF prendese tão somente a questões relacionadas a sua segurança contra pseudoações fiscais que poderiam ocorrer. Assim, o contribuinte pode, por precaução, praticar as medidas que julgar pertinentes para sua segurança durante o procedimento de fiscalização, enquanto não lhe for apresentado o MPF correspondente. Por essas razões, rejeito a quinta preliminar de nulidade argüida. Item 6. Nulidade por cerceamento ao direito de defesa Aqui a recorrente afirma que não lhe teria sido deferido prazo para entregar documentos, contudo não comprova documentalmente o quanto alegado. Ademais, dada a jurisprudência desse CARF que, em respeito à busca pela verdade material, tem conhecido argumentos e documentos apresentados mesmo após o protocolo do recurso voluntário, se houvesse real interesse da empresa em apresentar documentos ela já o teria feito. Ademais, a fls. 11.900/11.904 há pedido de cópia do processo com "Termo de ciência, vista e entrega de cópia de processo digital" na qual se declara ciência de cópia integral do processo, dos documentos de fls. 01 a 11.633. Rejeito a sexta preliminar de nulidade. Item 7. Nulidade por ilegitimidade passiva do recorrente e prova nula Neste item há dois argumentos diversos: primeiro afirmase que não haveria prova que demonstrasse a existência de vínculo da recorrente com a empresa em face da qual foi iniciada a investigação; em segundo, alegase que as provas do inquérito não passaram pelo crivo do contraditório. O primeiro argumento poderia se admitido como preliminar caso houvesse um flagrante equívoco na vinculação da empresa com os fatos que deram origem aos procedimentos investigatórios, o que não é o caso. Como essa linha de argumentação exige uma análise mais aprofundada da matéria, ela deve ser tratada como mérito, o que será feito mais adiante. Em relação ao segundo argumento, de que as provas utilizadas não passaram pelo crivo do contraditório, é necessário inicialmente lembrar a independência das esferas civil e penal, disciplinada pelos seguintes dispositivos legais: Código Civil: Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou Fl. 12732DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.708 51 sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. Código de Processo Penal: Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal , a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato . (grifos nossos) Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil : I o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II a decisão que julgar extinta a punibilidade; Com efeito, conforme menciona a recorrente de forma reiterada, o inquérito policial consiste em procedimento inquisitório e preparatório, que tem por objetivo a colheita de elementos sobre a autoria e a materialidade da conduta criminosa. Segundo a lição de Renato Brasileiro de Lima: Diferenciase o inquérito policial da instrução processual por esse motivo: enquanto a investigação criminal tem por objetivo a obtenção de dados informativos para que o órgão acusatório examine a viabilidade da propositura da ação penal, a instrução em Juízo tem como escopo colher provas para demonstrar a legitimidade da pretensão punitiva ou do direito de defesa. (Curso de Processo Penal Niterói; RJ, Impetus, 2013, p. 73) Assim, durante o inquérito seriam colhidos apenas elementos de informação, o que os diferencia das provas que são produzidas no curso do processo judicial, com as garantias do contraditório e da ampla defesa. Ocorre que, dada a independência das instâncias anteriormente mencionada, esses elementos de convicção serão livremente analisados na esfera civil, com as conseqüências que lhe são próprias. Assim como o inquérito policial, o procedimento fiscal também tem natureza inquisitória e preparatória, sendo o contraditório e a ampla defesa realizados na fase processual que, no âmbito da administração tributária federal, dáse pelo Processo Administrativo Fiscal regulado pelo Decreto nº 70.235, de 1972. Como conseqüência, o contraditório e a ampla defesa em face dos elementos de convicção coligidos durante a fase investigatória estão sendo franqueados aos recorrentes no processo ora em análise, onde não se logrou demonstrar a existência de qualquer vício que pudesse maculálo. Rejeito as preliminares de nulidade identificadas neste item. Item 8. Nulidade por ausência de observância de requisitos no processo administrativo fiscal para o lançamento Aqui atacase o procedimento da autoridade fiscal que teria formado seu convencimento sem base nas provas do processo. Fl. 12733DF CARF MF 52 Entendo que essa questão exige uma análise mais aprofundada das provas existentes, razão pela qual a matéria é atinente ao mérito e não à preliminar. Rejeito a preliminar identificada como item 8. Item 9. Nulidade por impossibilidade de presunção para o lançamento Segundo os argumentos de defesa, o lançamento teria sido realizado com base em presunção, pois não haveria provas no processo, e o lançamento tributário não gozaria de presunção de validade. Ao afirmar que o lançamento foi feito com base em presunção e não em provas, a recorrente está reiterando argumentos já tratados nos itens anteriores, em especial o identificado como item 8. Como já foi afirmado, a valoração das provas ou indícios utilizados serão tratados como matéria de mérito. Quanto ao segundo aspecto, que trata da presunção de legitimidade do lançamento, devese reconhecer que há alguma procedência nas alegações da recorrente. Tanto é assim que a legitimidade do lançamento pode ser discutida no âmbito do PAF, em que a impugnação apresentada instaura uma crise de certeza que passará pelo crivo de duas instâncias de julgamento. Neste caso, os elementos trazidos pela fiscalização serão sopesados com aqueles carreados pelos impugnantes/recorrentes tal como se dá no processo em questão. Como não me parece que as vias de impugnação tenham sido negadas aos recorrentes, bem como que estes tenham logrado demonstrar que a fiscalização tenha sonegado informações ou provas, o argumento se torna meramente retórico. Rejeito as preliminares identificadas como item 9. Item 10. Nulidade por inobservância dos princípios informadores: contraditório, ampla defesa, devido processo legal, legalidade, isonomia e imparcialidade Neste ponto do recurso a interessada menciona uma série de princípios que, de fato, devem orientar a atividade administrativa, contudo não demonstra como eles não teriam sido observados. Mais uma vez, rejeito a preliminar argüida. Item 11. Nulidade por inexistência de prova material Alega a empresa fiscalizada a total ausência de provas para a atribuição de responsabilidade à ela, o que conduzira à conclusão de que sua responsabilidade decorre de presunção da autoridade fiscal. Mais uma vez, esse argumento remete à valoração das provas carreadas ao processo, o que será feito na análise do mérito. Rejeito também essa preliminar. Item 12. Nulidade por utilização de elementos coligidos de processo administrativo não transitado em julgado e de inquérito policial ainda não finalizado Fl. 12734DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.709 53 Este argumento se confunde com o que foi tratado no segundo tópico (prova nula) do item 7, razão pela qual se remete à sua leitura. Rejeito igualmente essa preliminar de nulidade. Item 13. Nulidade em função do desrespeito aos limites do livre convencimento do julgador Sob esse tópico a defesa questiona as conclusões a que chegou a turma julgadora de 1ª instância a partir dos elementos de convencimento existentes no processo. Mais uma vez entendo que se trata de questão atinente à valoração das provas do processo, matéria a ser tratada no mérito. Preliminar de nulidade rejeitada. Item 14. Nulidade pela impossibilidade do auditor considerar como "laranjas" os integrantes da sociedade recorrente Aduz a recorrente que seus atos constitutivos são plenamente válidos no ordenamento jurídico e produzem efeitos. Para sua descaracterização seria necessário observar procedimentos que ainda não tem previsão legal: a regulamentação do art. 116, parágrafo único, do CTN. Nesse caso, a desconsideração da personalidade jurídica levada a efeito pela autoridade fiscal só seria possível através de autorização judicial. Sem razão a recorrente. De acordo com o art. 142 do CTN, compete à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Sujeito passivo, por outro lado, é aquele que tem relação pessoal e direta com a situação que constitui o fato gerador (contribuinte) e aquele cuja obrigação decorre de lei (responsável). Portanto, cumpre à autoridade fiscal identificar o efetivo sujeito passivo, seja ele contribuinte ou responsável e, para tanto, não está adstrito ao aspecto formal dos atos e negócios jurídicos. Com efeito, na linha de argumentação utilizada, a recorrente pretende seja reconhecida a prevalência da forma em relação à substância econômica ou empresarial. Porém, tal enfoque não é mais aceitável, conforme é possível observar das lições de Marco Aurélio Greco em artigo no qual critica o formalismo no Direito Tributário e faz escorço histórico a respeito de como o tema do planejamento tributário foi e vem sendo tratado na doutrina e na jurisprudência administrativa: Fl. 12735DF CARF MF 54 "(...), a liberdade absoluta do contribuinte levou a uma infinidade de estruturas negociais e reestruturações societárias que, com propriedade, foram consideradas meramente "de papel". A prevalência da forma levou, da perspectiva da legalidade, à veiculação de praticamente quaisquer conteúdos desde que através de lei em sentido formal; e da perspectiva da liberdade de autoorganização ao surgimento de "montagens jurídicas" sem qualquer substância econômica, empresarial ou extratributária." ( Cf. GRECO, Marco Aurélio. Crise do formalismo no Direito Tributário brasileiro. Revista da PGFN. Ano I, Número ,I, 2011, p. 14) Os conceitos de abuso de forma e de direito são amplamente debatidos no mundo jurídico, conforme doutrina a seguir: "...negócios jurídicos que não tenham nenhuma causa real distinguível, a não ser sua finalidade tributária, terão sido realizados em desacordo com o perfil objetivo do negócio e, como tal, assumem um caráter abusivo." ( Cf. HUCK, Hermes Marcelo. Evasão e elisão. Rotas nacionais e internacionais do planejamento tributário. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 153). Na hipótese em questão, tratandose de contribuições previdenciárias, deve ser considerado ainda o que determina a Consolidação das Leis do Trabalho nos seguintes dispositivos: Art. 2º Considerase empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. (...) Art. 3º Considerase empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. (...) Art. 9º Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. Esses comandos permitem à autoridade responsável superar atos formais que tenham por objetivo, entre outros, impedir o conhecimento do real empregador, sendo este aquele que efetivamente assume os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação dos serviços. Essa possibilidade não se confunde e não é excludente com aquela decorrente do art. 50 do Código Civil, com procedimento estabelecido no art. 133 do Código de Processo Civil. Portanto, quanto à possibilidade de a autoridadefiscal desconsiderar os elementos formais de constituição de empresa e de vínculo de emprego para fins de identificação do real sujeito passivo da obrigação tributária, também rejeito a preliminar de nulidade apresentada. Item 15. Nulidade por falta de motivação e fundamentação Fl. 12736DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.710 55 Segundo a recorrente, a autoridade fiscal teria tipificado as exigências em dispositivos genéricos, sem especificar quais artigos motivaram a lavratura do auto de infração, o que caracterizaria falta de fundamentação para o ato. Ao contrário do que se alega, entretanto, o auto de infração, através de seus vários elementos integrantes, identifica não apenas os dispositivos legais aplicáveis à espécie (Relatório Fundamentos Legais do Débito fls. 10.930/10.931 e 10.945/10.946), como faz uma exaustiva descrição dos fatos que ensejaram a responsabilidade de todos os sujeitos passivos (documentos intitulados Relatório Previdência PRV G Parte A, Relatório Previdência PRV G Parte B e Anexo Relatório PRV Guarulhos fls. 10.993/11.529). Portanto, não identifico a alegada ausência de motivação/fundamentação no lançamento. Rejeito a preliminar. Item 16. Nulidade por ausência de autorização judicial para utilização dos documentos Neste item a recorrente alega que nenhum documento foi obtido em seu endereço, logo a apreensão de documentos e discos rígidos seria ilegal em relação à ela. Considerandose que parte significativa dos endereços onde foram realizadas as buscas e apreensões não identificavam qualquer pessoa jurídica e que a autoridade judicial faz referência em suas decisões a uma rede de empresas em nome de laranjas, vêse que não faz sentido os argumentos apresentados neste tópico, já que o objetivo das investigações era exatamente identificar os componentes da rede. Na verdade, não é possível identificar, nos termos em que as decisões estão vertidas, qualquer delimitação quanto ao escopo das buscas no sentido pretendido pela recorrente. Preliminar de nulidade rejeitada. 17. Nulidade por utilização de provas ilícitas Neste tópico a recorrente afirma que a ordem de busca e apreensão foi emanada por autoridade incompetente. As provas utilizadas para o lançamento em questão foram obtidas através de decisões judiciais (fls. 633/645) em relação às quais não se demonstrou qualquer irregularidade. Embora a recorrente alegue a incompetência do juízo que determinou a busca e apreensão, a quebra dos sigilos e o compartilhamentos das informações, não demonstra que esse fato tenha sido assentado em decisão judicial, único meio capaz de infirmar a presunção de legitimidade que carrega uma decisão judicial. Portanto, em relação à competência da autoridade judicial, não há que se falar em provas ilícitas. Rejeito também esta preliminar de nulidade. 18. Pedido de diligência Fl. 12737DF CARF MF 56 Em face das nulidades acima relatadas pede a recorrente que o processo seja devolvido à Delegacia de origem para as diligências necessárias a fim de atestar ausência de irregularidades cometidas pela recorrente. Tendo sido afastadas todas as preliminares argüidas, não se vislumbra razão para a realização de qualquer diligência. 19. Impossibilidade de autuação com base em inquérito policial Alegase que o trabalho fiscal não pode ser realizado com base exclusivamente em inquérito policial. Quanto a esse aspecto, remetese para a leitura do item 7 onde já foi tratada a independência das instâncias civil e criminal, bem como sobre o caráter inquisitório do procedimento de fiscalização. Preliminar rejeitada. 20. Como prejudicial de mérito: necessidade de aguardar o encerramento do inquérito policial e de processos administrativos pendentes Este tópico também se confunde com o que foi tratado no item 7, a cuja leitura se remete. Quanto aos processos administrativos pendentes, parece que a recorrente está se referindo aos processos fiscais. Nesse caso, seria necessário demonstrar relação de prejudicialidade entre esse processo e outros pendentes de apreciação, ônus de que não se desincumbiu a recorrente. Com efeito, analisandose a matéria em tese e considerandose que neste processo há lançamento de contribuições previdenciárias do empregador e para terceiros não é possível vislumbrar hipótese em que fosse necessário aguardar o julgamento de outro processo administrativo. Rejeito esta prejudicial de mérito. 21. Como prejudicial de mérito: a necessidade de aguardar decisão do Supremo Tribunal Federal STF Também como prejudicial de mérito, alegase a necessidade e aguardar decisão do STF acerca da possibilidade de quebra do sigilo bancário diretamente por autoridade administrativa. Como essa matéria já foi solucionada de forma favorável à Fazenda Nacional e considerandose ainda a inexistência de previsão regimental neste sentido, rejeitase também esta prejudicial de mérito. Mérito 22. Ausência de solidariedade por se tratar de empresas autônomos, com sócios distintos, com quadro de funcionários próprios e estabelecidas em localidades diferentes Fl. 12738DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.711 57 Ao alegar a inexistência de solidariedade e a autonomia das empresas, a recorrente busca negar a existência da Rede Presidente. Quanto a esse aspecto, utilizome dos argumentos expendidos pela decisão de piso, de onde transcrevo: As provas carreadas aos autos pela Auditoria demonstram de forma contundente a existência de um esquema que consistia na criação de empresas que funcionavam, na realidade, como filiais de um empreendimento único. Como exemplo das provas relatadas, foi constatado que um mesmo endereço físico corresponde a endereços cadastrais de três filiais do esquema, apenas formalmente constituídas como empresas: RPT (CNPJ 62.622.881/001705), APE (CNPJ 06.987.857/000395) e matriz da PRV (CNPJ 09.521.678/0001 94). No local, há um grande depósito sem identificação, utilizado como centro de distribuição pelo esquema. Em um dos bunkers do esquema, localizado na Rua Rui Barbosa, 1.027, em Maringá/PR, havia um arquivo metálico com gavetas identificadas por “empresas ativas” e “empresas inativas”. No interior, dezenas de pastas com documentação das diversas empresasutilizadas pela REDE PRESIDENTE. Na gaveta das “empresas inativas” foram encontradas 52 pastas de empresas utilizadas e já abandonadas. Na das “empresas ativas”, mais de 60 pastas de empresas. A utilização de laranjas foi exaustivamente comprovada, sendo destacados nos parágrafos seguintes algumas das evidências relatadas. Sobressaemse os casos onde as pessoas usadas sequer tinham conhecimento da situação, o que evidencia o dolo e, pior, fraude praticada não só contra o Fisco, mas também contra pessoas humildes, que estão sendo procuradas por dívidas das empresas do esquema. Foi localizada em um dos bunkers do esquema uma denúncia feita em 2006, por um ex funcionário da RPT, Ivanilto Mascena dos Santos Viana à Polícia Civil (Delegacia de Defraudações) do Rio de Janeiro. Na denúncia, Samuel Tolardo aparece como o verdadeiro proprietário da RPT. Geraldo Richter, sócio laranja, aparece como pedreiro da REDE PRESIDENTE. Apesar de figurar como proprietário, Geraldo comentou certa vez “que isto era coisa do velho”. Foi dito também que o uso de nomes de funcionários como sócios de diversas empresas vinculadas à REDE PRESIDENTE era fato corriqueiro e muito comentado nos corredores da empresa. A denúncia foi motivada por o ex funcionário ter sido usado como laranja, ou estar sendo “preparado” para tal. Nessa condição, suas Declarações de Imposto sobre a Renda de Pessoa Física – DIRPF dos anoscalendário 2004 e 2005 foram transmitidas pela REDE. Com seu desligamento do quadro de pessoal, o Sr. Ivanildo fez a denúncia. Fl. 12739DF CARF MF 58 O Parecer Técnico 0123/2012, elaborado por Ezenil Consultoria e Assessoria Empresarial a pedido da PRTS, uma das empresas do esquema, alertou sobre a possibilidade de o Fisco incluir os reais proprietários nos polos passivos das autuações, nos casos em que fosse constatado fraude nos atos constitutivos ou contratos sociais, independentemente do laranja ter ciência da situação. A prática de utilização de laranjas é confirmada por Antônio Prudente Ferreira, caseiro da família Tolardo há mais de 14 anos. Na época do Mandado de Busca e Apreensão, ele trabalhava na casa de Íris da Silva Tolardo e declarou em depoimento à Polícia Federal que, a pedido do Sr. Samuel Tolardo, já falecido, é sócio de uma empresa cujo nome não recorda. Acrescentou que antes era pedreiro e que nunca trabalhou para nenhuma empresa. Em escuta telefônica efetuada em 08/08/2012 e autorizada pelo Poder Judiciário, Robson Marcelo Tolardo conversa com Nilson Roberto da Silva acerca de nomes que deveriam constar no contrato social de nova empresa a ser constituída. Em outro áudio, Aparecido Antônio de Lima (Cido) conversa com Liderci Luriko Nagabe de Oliveira sobre valores pagos a laranjas. No bunker da Rua Rui Barbosa, 1027, Maringá/PR, foi encontrada troca de mensagens eletrônicas entre Alice Teixeira Barroco e Liderci Luriko Nagabe de Oliveira, operadora do esquema, sobre futura utilização de uma nova empresa, constituída no nome da funcionária Alice, mera laranja. No computador de Daniel de Oliveira Junior, foi encontrado e mail de 25/01/2011, onde ele repassa a Robson Marcelo Tolardo uma mensagem eletrônica recebida da funcionária do esquema Lais Fernanda Oliveira Wochner, utilizada como laranja na empresa Administradora Confiança. Na mensagem, Daniel de Oliveira Junior sugere a troca de nome porque é complicado ficar levando talão de cheques e outros documentos para Lais Fernanda Oliveira Wochner assinar. Lais reclama por estarem falsificando a sua assinatura em documentos da empresa, ressaltando que é bastante acessível e que não era preciso “chegar a esse ponto”. A funcionária acrescenta que não vai atrapalhar o trabalho deles, mas quer saber sobre o andamento dos negócios para não ter problemas em decorrência do uso do seu nome. Mais grave, foi a constatação da falsificação de documentos de identidade de pessoas físicas humildes utilizadas como laranjas no esquema fraudulento. Cópias digitalizadas das identidades falsificadas de laranjas foram encontradas em um arquivo na pasta de downloads do HD apreendido na residência de Robson Marcelo Tolardo, em Maringá/PR, principal comandante e administrador do esquema. Foram encontradas correspondências e documentos que comprovam ter Fábio Novaes, contador, enviado para Robson Marcelo Tolardo um relatório com os 18 nomes de laranjas cujas DIRPF havia transmitido, cobrando R$ 500,00 por cada um. Na REDE PRESIDENTE essa listagem foi criticada, tendo Fl. 12740DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.712 59 sido descartados 2 nomes. Os 16 utilizados pelo esquema constaram em listagem digitada pela rede sob o título “Relatório de Serviço de Declaração do IRPF/2012”. Essa lista, juntamente com informações sobre a conta para depósito e a relação manuscrita original, foram reenviadas a Fábio Novaes via SEDEX. Foram encontradas várias carteiras de identidade no escritório de Fábio Novaes com provas e características evidentes de falsificação. Para Miguel Barbosa, utilizado na empresa SOS Distribuidora de Peças Automotivas Ltda. – ME, há três versões de identidades, com diferentes fotos e assinaturas. A foto de uma dessas carteiras foi utilizada na Carteira de Identidade CI de outros dois laranjas fabricados: Nelson Ferreira Castro e Euclides da Cunha. Nelson Ferreira de Castro já faleceu, conforme Certidão de Óbito encontrada no mesmo local. No cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão, foram localizados vários controles dos veículos utilizados por laranjas do esquema e listas com autuações de trânsito desses veículos. Em multas anexas ao documento de controle havia fotos de um veículo Fiat Uno Mille com logotipo da PRV, empresa do esquema REDE PRESIDENTE. Em um dos endereços investigados, foi encontrado o arquivo “Cópia de Carros_Presidente.xls”, com uma lista de veículos da REDE PRESIDENTE alocados à filial Guarulhos/SP, onde constam 42 veículos com a placa de identificação e o “proprietário”, na verdade, o laranja. Cada “filial” da REDE PRESIDENTE recebia o documento do veículo e o responsável assinava uma cópia que era devolvida à “central” em Maringá/PR. Eram veículos diversos, como motocicletas, automóveis, caminhonetes, caminhões, semi reboques, dentre outros. As cópias do CRLV do ano de 2012 ultrapassavam 180 veículos. Os 150 veículos do exercício 2011 eram registrados no nome de 59 pessoas diferentes. Apenas 8 desses veículos estavam registrados em nome de pessoas jurídicas da REDE PRESIDENTE (RPT e FEMAMAR). Havia, também, um veículo registrado no nome do principal comandante do esquema, Sr. Robson Marcelo Tolardo. Os demais veículos eram registrados em nome de laranjas da REDE PRESIDENTE, muitas deles funcionários da rede. O terceiro grupo de documentos consistia em originais de cerca de 200 Certificado de Registro de Veículo – CRV, documento utilizado para eventual transferência. Havia, ainda, outros controles de veículos, dentre eles um pelo último dígito da placa, contendo informações como placa, renavam e o nome do laranja. Foi interceptada conversa telefônica entre Robson Marcelo Tolardo e uma das laranjas com veículo registrado em seu nome, a qual pede que não seja cortada a verba de R$ 500,00 que lhe Fl. 12741DF CARF MF 60 era paga, alegando que não diria a ninguém que seu nome era usado e que precisava pagar a UNIMED. Quanto às autenticações fraudulentas em cartório, temse a sócia laranja Silvia Vilhalba, utilizada na empresa NTE, alvo de fiscalização pela DRF Caxias do Sul/RS, o que resultou no processo administrativo 11020.723699/201218. O real endereço da sócia era Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, onde trabalhava como doméstica. Ela relatou que jamais fora sócia de qualquer empresa e que não conhecia a outra sócia da empresa em questão. Mesmo residindo em Ponta Porã, ela supostamente assinava as respostas dadas à fiscalização e suas assinaturas eram autenticadas pelo Cartório Costa ou Cartório Iguatemi. 122. Foram apreendidas 21 fichas de controle de serviços, todas em nome da REDE PRESIDENTE, pelas quais se constatou 587 autenticações e 128 reconhecimentos de firma em um único mês, agosto/2012. Segundo planilha EXCEL que estava em computador apreendido, no mês de julho/2008, foram 327 autenticações e 108 reconhecimentos de firma. Deve também ser salientada a investigação desenvolvida pela Delegacia Especial das Instituições Financeiras – DEINF/SP iniciada na Gama Factoring, uma das empresas do esquema. As empresas que lhe fizeram pagamentos foram intimadas e responderam que tinham origem em vendas efetuadas por empresas da REDE PRESIDENTE. A Saol Participações Ltda. negou qualquer operação com a Gama Factoring, esclarecendo que os numerários recebidos por meio dessa empresa referemse a pagamentos efetuados pelo cliente Rede Presidente Ltda. A fabricante de autopeças THIP Industrial S/A, empresa quotista da Saol Participações Ltda., bem como o contador desta última, reafirmaram a transação comercial com a REDE PRESIDENTE e informaram que atualmente o grupo, seu cliente há alguns anos, tem utilizado o CNPJ da Retífica Presidente. A fornecedora de autopeças NGK do Brasil Ltda. apresentou relação de “clientes que compõem o Grupo Presidente de Auto Peças”, onde constam várias das empresas identificadas como sendo do esquema. Outra prova contundente da existência do esquema e da foma como era operacionalizado é o conteúdo do Programa Caixa, disponibilizado à fiscalização pela Polícia Federal. Esses fatos são apenas uma parte dos inúmeros que foram incluídos no relato da Auditoria e que comprovam a existência do esquema fraudulento. Não se trata, pois, de uma presunção calcada em um mero trabalho de conclusão de curso, como quis fazer parecer um dos impugnantes. O trabalho de conclusão de curso desenvolvido por uma das funcionárias do esquema é um indício que deve ser analisado em conjunto com outros numerosos indícios e provas que compõem o processo, levando à inevitável conclusão de que há um esquema para livrar o empreendimento da cobrança dos tributos que deixa de recolher. Fl. 12742DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.713 61 Além da sonegação dos tributos pelo encobrimento da existência dos fatos geradores, quando o Fisco consegue apurar tributo devido por elas, não há de quem cobrar, pois os verdadeiros proprietários se esquivam usando sócios laranjas e simplemente abandonam as empresas e suas dívidas. Embora a empresa autuada não apareça nos diálogos monitorados, estes em conjunto com as demais provas, mormente as listas das empresas encontrada em diversos documentos apreendidos e a conexão encontrada entre a autuada e a família Tolardo e demais empresas e fornecedores, evidencia de forma inequívoca que ela pertence à REDE PRESIDENTE. Se a comprovação do envolvimento da empresa autuada foi apurado em documentos apreendidos em endereços diversos do seu, isso não invalida de forma alguma as provas, principalmente no caso, onde ela faz parte de um empreendimento maior. O que importa é que a prova seja legítima e que a empresa tenha seu direito de defesa garantido, o que ocorre, no caso. Diante do conjunto probatório apresentado e do Relatório Fiscal minucioso, argumentar que os Auditores Fiscais se basearam em mera presunção é totalmente descabido. Não foram, pois, violadas as regras que regem o ônus da prova. Diante de tais elementos é totalmente descabida a alegação de que o lançamento e as imputações realizadas são fruto de presunções ou de ilações direcionadas. O que a autoridade fiscal trouxe aos autos não são meros indícios, mas provas irrefutáveis da existência de fato da Rede Presidente e de seus reais proprietários. A despeito disso, cumpre ressaltar que, ainda que se pudesse chamar os elementos de convicção aqui carreados de "meros indícios", os indícios também tem força probatório conforme revela o seguinte trecho do voto do Conselheiro Antonio Bezerra Neto, no Acórdão nº 1401001.726: Prova Indiciária É sabido que a evidência que se infere a partir de um único ou poucos indícios deve ser aceita com a devida cautela, pois, o indício é apenas o ponto inicial para o aprofundamento das investigações. Os indícios assim como as presunções são também considerados como provas no Direito tanto se vistos de forma objetiva, constituindose no conjunto de meios ou elementos destinados a demonstrar a existência ou inexistência dos fatos alegados, quanto subjetivamente falando, meio pelo qual o julgado normalmente se utiliza para formar convicção a respeito da existência ou não de um determinado fato ou situação. Os indícios para ter força probante precisam possuir 2(duas) características importantes: Precisão ou economia (conduzem a poucas hipóteses ou apontam para poucas causas) e convergência (quando se encaixa com outro indício, conduzindo a uma mesma conclusão). Fl. 12743DF CARF MF 62 Tendo estabelecido a existência da Rede Presidente, o vínculo da empresa PRV Comércio de Peças Ltda. Me está calcado nos elementos que são assim descritos pelo Anexo do Relatório Fiscal de fls. 11.327/11.529: Empresa 4 ) PRV COMERCIO DE PEÇAS LTDA (CNPJ 09.521.678/000194) 50. Outra empresa do esquema REDE PRESIDENTE é a PRV COMÉRCIO DE PEÇAS AUTOMOTIVAS LTDA, doravante denominada apenas por PRV, criada em abril de 2008. 51. Inicialmente a empresa foi criada em nome do casal ROSANA CRISTINA DE OLIVEIRA MANOEL (CPF 016.893.08974) e MARCOS MANOEL (CPF 168.293.85814), ambos, obviamente, laranjas22. Mais tarde (MAR/2013), segundo sistema CNPJ, ROSANA CRISTINA DE OLIVEIRA MANOEL retirase da sociedade, ficando suas quotas em tesouraria. 52. Notese que no procedimento realizado pela DRF Caxias do Sul/RS23, o fornecedor TENNECO cita a PRV como empresa relacionada à REDE PRESIDENTE, no pólo “compradora”. 53. O faturamento da PRV declarado à RFB, juntamente com a movimentação financeira dos últimos anos foram os seguintes: Ano Receita Declarada Movimentaçãom Financ 2009 R$ 2.703599,19 R$ 1.976.848,60 2010 R$ 9.821.130,50 R$ 10.763.146,19 2011 R$ 18.903.758,89 R$ 18.112.215,31 2012 R$ 27.932.271,40 R$ 13.217.172,06 54. Seu endereço inicial foi em São Paulo/SP, sendo alterado já em DEZ/2008, para o município de GUARULHOS/SP (Estrada da Água Chata, 1615. Poucos meses depois o nº foi alterado para 1447). Notese que este é o mesmo endereço de uma filial da RPT (CNPJ 62.622.881/001705) e também da APE (CNPJ 06.987.857/000395), ambas empresas do esquema REDE PRESIDENTE. Inclusive, neste endereço, foi efetuado MBA (GRU39 – fls 1.692 a 1.703). 55. Também foram vários os documentos ligados à PRV encontrados nos diversos locais do MBA. Dentre outros: a) cópias dos documentos (Carteira de Identidade e cartão CPF) dos sócios da empresa (Rosana e Marcos), juntamente com o contrato social e 1ª, 2ª e 3ª alterações societárias da PRV (MGA188.3 – fls 4.468 a 4.485); b) Contrato de Acesso às Informações e Serviços Bancários, entre Banco BRADESCO e a empresa PRV COMERCIO DE PEÇAS LTDA (MGA082.4 – fls 2.301 a 2.308); c) Documentos de fornecimentos feitos pela CINDUMEL, à PRT e à PRV (GRU38.1.1 – fls 1.348 a 1.440); d) Troca de email, datado de 05/10/2012, entre funcionários da REDE PRESIDENTE, onde Valquiria Fl. 12744DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.714 63 (valquiria.comprassp@gmail.com), solicita à Helena (helenamga1@gmail.com) que esta última envie cheque para pagamento da CINDUMEL referente compras feitas pela RPT e PRV (GRU38.1.2 – fls 1.441 a 1.448). e) Diversos pedidos de fornecimento de auto peças (a fornecedores diversos), em nome da PRV (GRU39.9.1 – fls 1.706 a 1.775); f) Diversos documentos de cobrança de títulos, tendo como cedente a PRV, e sacado o cliente AUTO PEÇAS RIALAN LTDA (GRU39.11.1 – fls 1.776 a 1.975); g) Notas fiscais de vendas da FORT LUB PROD. AUTOM. LTDA (empresa da REDE PRESIDENTE24) para PRV COMÉRCIO DE PEÇAS LTDA (GRU3911.6 – fls 1.987 a 1.997); h) Orçamento de XIS DESIGN COMUNICAÇÃO VISUAL, feito para a PRV, datado de 04/05/2012, cujo faturamento foi efetuado em nome da SOS DISTRIBUIDORA DE PEÇAS (outra empresa da REDE PRESIDENTE25) (GRU403.9 – fls 2.074 a 2.077); i) Vários recibos de entrega da RAIS do ano base 2010 de várias empresas da REDE PRESIDENTE, entre elas a PRV (MGA18 150 – fls 5.303 a 5.367); j) Cópia autenticada da 3ª alteração contratual da empresa PRV COMÉRCIO DE PEÇAS LTDA, datada de 22/12/2009 (MGA19 13.92 – fls 6.808 a 6.815); k) Contrato de locação de imóvel comercial na Estrada Àgua Chata nº 1447Guarulhos/SP de Robson Marcelo Tolardo para a PRV , de 01/10/2009 a 30/09/2011 (MGA1913.133 – 6.911 a 6.912); l) Carimbo da PRV (MGA18.103 – fls 5.111 a 5.115). 56. Enfim, da mesma forma que em relação à RPT, à PRS, ou à PRTS, também em relação à PRV foram vários os documentos localizados nos diversos locais de cumprimento dos MBAs, dos quais selecionouse a pequena amostra acima, apenas para fins de vinculação da PRV com a REDE PRESIDENTE. 57. Destacase também a presença da PRV nos documentos controle das filiais (MGA1919.214 e MGA1919.215 – fls 8.481 a 8.532), encontrados no “bunker” da rua Rui Barbosa, 1027, em Maringá/PR, que identifica as diversas empresas (filiais) da REDE PRESIDENTE. A PRV está identificada, nestes documentos, como “filial 59 – Água Chata”, tendo como Gerente Zaquel. A reforçar esses elementos, no Relatório Previdenciário Parte B (fls. 11.185/11.326), vêse que entre os vários HD encontrados, descobriuse o programa CAIXA, onde se lançavam todos os pagamentos efetuados pelas empresas do Grupo. Os lançamentos Fl. 12745DF CARF MF 64 realizados a título de contribuições previdenciárias consideraram os valores encontrados nesse programa em confronto com os declarados em GFIP. No que diz respeito à recorrente, a fiscalização apresenta como exemplo (item 675 do Relatório) as remunerações de Daniela Silva, empregada da PRV e declarada em suas GFIP de 11/2011 a 09/2012 e para a qual foram encontrados comprovantes de depósitos (item 676 do Relatório). Desse mesmo relatório extraise a menção aos documentos de fls. 10.064/10.070 que trariam pagamentos por fora para empregados de várias empresas, entre elas a aqui autuada (itens 681/682). A todos esses elementos de prova, a recorrente não opõe nada mais que argumentos retóricos, pois não apresenta um único documento a comprovar sua alegada "autonomia" em relação à Rede Presidente ou a capacidade de seus titulares formais. Também não apresenta qualquer elemento de fato que pudesse infirmar as conclusões a que chegaram a autoridade lançadora e a turma julgadora. Com base no exposto, rejeito os argumentos com os quais a recorrente busca demonstrar a ausência de solidariedade com base na suposta autonomia das empresas envolvidas. Item 23. O crédito tributário já estava extinto pela decadência ou pela prescrição Os fatos geradores lançados são do período compreendido entre 03/2009 e 09/2012. A ciência do lançamento ocorreu em datas diversas de dezembro de 2014. Neste caso, há nos autos robustas provas da ocorrência de conduta dolosa, fraudulenta e simulada, o que implica a contagem do prazo decadencial pela regra do art. 173, I, do CTN, de forma que o início do prazo se dará no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, ou seja, 1º de janeiro de 2010. Sendo de cinco anos o prazo, o termo final seria em 31 de dezembro de 2014. Logo, improcedente a alegação de decadência. O prazo prescricional, por outro lado, terá sua contagem iniciada apenas com o encerramento deste PAF, não sendo possível se falar em prescrição durante o seu curso, conforme estabelece o seguinte enunciado: Súmula CARF nº 11: Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. Nego provimento ao recurso quanto às alegações de decadência e prescrição. Item 24. Inconsistência do arbitramento Neste item a recorrente menciona a inexistência de prova de faturamento e arbitramento do lucro, matéria que não será objeto de análise por sua impertinência com os fatos geradores lançados, que tem por base remunerações pagas a empregados. Item 25. Inexistência de omissão de receita Fl. 12746DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.715 65 Este item não será objeto de análise por sua impertinência com os fatos geradores lançados, que tem por base remunerações pagas a empregados. Item 26. A exigência é improcedente por ausência da relação de empregados, avulsos e autônomos A recorrente alega que a ausência da relação de empregados, avulsos e autônomos prejudicaria sua defesa e implicaria nulidade do auto de infração. Ocorre que a comprovação da existência dos pagamentos a esse título foi feita a partir de extrato da conta caixa que registrava a atividade de todas as "filiais" do grupo, bem como de comprovantes de depósitos encontrados nos Bunkers mantidos por ele. Cabia às empresas e, por decorrência, aos responsáveis por ela, ter realizado o adequado controle dos beneficiários dos pagamentos e informado esses dados ao poder público. Com efeito, é o que determina o Decreto nº 3.048, de 1999: Art. 225. A empresa é também obrigada a: I preparar folha de pagamento da remuneração paga, devida ou creditada a todos os segurados a seu serviço, devendo manter, em cada estabelecimento, uma via da respectiva folha e recibos de pagamentos; II lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores de todas as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições da empresa e os totais recolhidos; III prestar ao Instituto Nacional do Seguro Social e à Secretaria da Receita Federal todas as informações cadastrais, financeiras e contábeis de interesse dos mesmos, na forma por eles estabelecida, bem como os esclarecimentos necessários à fiscalização; (...) Afastada qualquer alegação pertinente à ausência de vínculo e de responsabilidade da recorrente com os atos realizados pelas empresas integrantes da Rede Presidente, se não houve cumprimento de suas obrigações legais, não pode agora invocar esse fato em seu benefício. Com efeito, essa conclusão é decorrência de aplicação da máxima moralizante do venire contra factum proprio, cuja inteligência perpassa a aplicação de todas as regras do direito. Tanto isso é verdade, que a legislação previdenciária autoriza a fiscalização a utilizar o expediente da aferição indireta quando ficar comprovada a irregularidade no cumprimento de suas obrigações: Lei nº 8.212, de 1991 Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições sociais previstas no parágrafo Fl. 12747DF CARF MF 66 único do art. 11 desta Lei, das contribuições incidentes a título de substituição e das devidas a outras entidades e fundos. (...) § 6º Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, serão apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. Nesse sentido é a jurisprudência deste Colegiado conforme revela o Acórdão 2404005.672, cuja ementa é abaixo transcrita: CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. NÃO APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA ACERCA DOS SEGURADOS PRESTADORES DE SERVIÇOS. AFERIÇÃO INDIRETA. POSSIBILIDADE. COOPERATIVAS. EQUIPARAÇÃO A EMPRESAS. CONTRATADA PARA A PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. PERMISSÃO CONCEDIDA À COOPERATIVA. 1. Devidamente intimada, a contribuinte não apresentou os documentos que permitissem identificar (a) os segurados empregados; (b) os segurados contribuintes individuais eleitos para os cargos de direção e administração; (c) os segurados contribuintes individuais não associados; etc. 2. A contribuinte foi intimada sete vezes, mas não prestou os devidos esclarecimentos, tampouco apresentou a documentação comprobatória dos fatos relacionados à tributação. 3. A Lei 8.212/1991 e o Decreto 3.048/1999 prevêem o lançamento por aferição indireta. Apesar do que foi dito acima, deve ser ressaltado que no extrato da conta caixa, anexado a fls. 10.368/10.782, no histórico da planilha há a identificação dos beneficiários dos pagamentos, o que revela a impertinência do que foi alegado neste item. Nego provimento também quanto a esse tópico do recurso. Item 27. Inconstitucionalidade da ampliação da base de cálculo prevista constitucionalmente 28. Inconstitucionalidade do salárioeducação A alegação de inconstitucionalidade da norma tributária não pode ser conhecida no âmbito deste Colegiado, conforme preceitua o seguinte enunciado da Súmula de jurisprudência do CARF: Súmula CARF nº 2: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Portanto, as alegações de inconstitucionalidade da base de cálculo estabelecida na Lei nº 8.212, de 1991, e do salárioeducação não podem ser conhecidas. Item 29. Inexigência da contribuição ao INCRA por empresa urbana Fl. 12748DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.716 67 A alegação de inexigência da contribuição ao INCRA também está calcada na inconstitucionalidade das normas de regência, o que implicaria a aplicação do enunciado da Súmula acima transcrito. Em que pese a incidência desse enunciado, que seria suficiente para afastar as pretensões dos recorrentes, adoto também como razões de decidir o trecho abaixo transcrito, retirado do Acórdão 2401004.218, do Conselheiro André Luís Mársico Lombardi: Portanto, no foro administrativo, não merece prosperar a argumentação da recorrente quanto à inconstitucionalidade da contribuição ao INCRA. Quanto aos aspectos da legalidade, temos que a investigação a respeito da natureza jurídica da contribuição para o INCRA já foi por demais tormentosa ao longo dos últimos anos, sendo que hoje os tribunais superiores pacificaram entendimento no sentido de que consubstancia contribuição de intervenção no domínio econômico: VIGÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO AO INCRA. NATUREZA DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO. LEIS Nº 7.787/89 e 8.212/91. DESTINAÇÃO DIVERSA. EMPRESAS URBANAS. ENQUADRAMENTO. I A Primeira Seção do STJ, na esteira de precedentes do STF, firmou entendimento no sentido de que não existe qualquer óbice para a cobrança da contribuição destinada ao INCRA também das empresas urbanas. Precedentes: EDcl no AgRg no REsp nº 716.387/CE, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJ de 31/08/06 e EDcl no REsp nº 780.280/MA, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ 25/05/06. II Este Superior Tribunal de Justiça, após diversos pronunciamentos, com base em ampla discussão, reviu a jurisprudência sobre o assunto, chegando à conclusão que a contribuição destinada ao INCRA não foi extinta, nem com a Lei nº 7.787/89, nem pela Lei nº 8.212/91, ainda estando em vigor. III Tal entendimento foi exarado com o julgamento proferido pela Colenda Primeira Seção, nos EREsp nº 770.451/SC, Rel. p/ac. Min. CASTRO MEIRA, Sessão de 27/09/2006. Naquele julgado, restou definido que a contribuição ao INCRA é uma contribuição especial de intervenção no domínio econômico, destinada aos programas e projetos vinculados à reforma agrária e suas atividades complementares. Assim, a supressão da exação para o FUNRURAL pela Lei nº 7.787/89 e a unificação do sistema de previdência através da Lei nº 8.212/91 não provocaram qualquer alteração na parcela destinada ao INCRA. Fl. 12749DF CARF MF 68 IV Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg no AgRg no REsp 894345 / SP; Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO; T1 PRIMEIRA TURMA; DJ 24/05/2007, p. 331) (destaques nossos) Em aditamento ao voto proferido no EREsp 770.451/SC; a Min. Eliana Calmon sublinhou os traços fundamentais da espécie tributária em exame, rememorando magnífico trabalho doutrinário contido na tese apresentada pelo Dr. Luciano Dias Bicalho Camargo, em curso de doutorado da Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, o qual pedimos venia para transcrevêlo. “As contribuições interventivas têm como principal traço característico a finalidade eleita e explicitada na consequência da norma de incidência tributária. (...) Assim, para a perfeita compreensão da norma de incidência tributária das contribuições de intervenção sobre o domínio econômico, especificamente aquelas que se prestam à arrecadação de recursos para o custeio dos atos interventivos, há de se prever uma circunstância intermediária a vincular a hipótese de incidência e a consequência tributária, sem a qual não há de se falar da existência de norma de incidência válida. Assim, nas contribuições de intervenção sobre o domínio econômico deverá coexistir, para a sua perfeita incidência, os dois núcleos da hipótese de incidência: o "fato do contribuinte", relacionado ao domínio econômico, e os atos interventivos implementados pela União. (...) Assim, no caso específico das contribuições para o INCRA, elas somente se mostram válidas na medida em que o INCRA, efetivamente, promove desapropriações para fins de reforma agrária (circunstância intermediária), visando alterar a estrutura fundiária anacrônica brasileira, conforme minudentemente visto no capítulo 3, aplicando se, assim, os recursos arrecadados na consecução dos objetivos constitucionalmente previstos: função social da propriedade e diminuição das desigualdades regionais. Salientese, por relevante, que as contribuições devidas ao INCRA, muito embora não beneficiem diretamente o sujeito ativo da exação (empresas urbanas e algumas agroindustriais), beneficiam toda a sociedade, por ter a sua arrecadação destinada a custear programas de colonização e reforma agrária, fomentam a atividade no campo, que é de interesse de toda a sociedade (e não só do meio rural), tendo em vista a redução das desigualdades e a fixação do homem na terra. Não há que se falar da existência de uma referibilidade direta, que procura condicionar o pagamento das contribuições às pessoas que estejam vinculadas Fl. 12750DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.717 69 diretamente a determinadas atividades e que venham a ser beneficiárias da arrecadação. Ora, o princípio da referibilidade direta, como defendido por vários autores, simplesmente não existe no ordenamento jurídico pátrio, especialmente no que se refere às contribuições de intervenção no domínio econômico. Tratase de mera criação teórica e doutrinária, sem respaldo no texto da Constituição Federal. (...) Com efeito, a exação em tela é destinada a fomentar atividade agropecuária, promovendo a fixação do homem no campo e reduzindo as desigualdades na distribuição fundiária. Consequentemente, reduzse o êxodo rural e grande parte dos problemas urbanos dele decorrentes. Não pode ser negado que a política nacional de reforma agrária é instrumento de intervenção no domínio econômico, uma vez que objetiva a erradicação da miséria, segundo o preceituado no §1º do art. 1º da Lei nº 4.504/64 Estatuto da Terra. Dessa forma, a referibilidade das contribuições devidas ao INCRA é indireta, beneficiando, de forma mediata, o sujeito passivo submetido a essa responsabilidade”. (destaques nossos) Se bem observados os julgados acima, resta claro que, além da definição de sua natureza jurídica, o STJ afastou todas as argumentações relativas à inconstitucionalidade ou à ilegalidade da contribuição ao INCRA, com base na “referibilidade” ou no “benefício direto”, de sorte a se considerar que as empresas urbanas não seriam contribuintes da contribuição ao INCRA. Com efeito, além dos julgados acima do STJ, cumpre mencionar ainda a orientação do STF destacada no AI 761.127AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de 14.05.2010). É verdade que ainda encontrase pendente de análise pela Suprema Corte a recepção da contribuição ao INCRA no período posterior ao advento da Emenda Constitucional n° 33/2001, que alterou o artigo 149 da Constituição Federal (Repercussão Geral no Recurso Extraordinário n° 630.898, Rel Min. Dias Toffoli, Dje de 28/06/2012). Todavia, mesmo neste aspecto particular, a chance de reconhecimento da inconstitucionalidade parece remota, pois a interpretação restritiva que se pretende atribuir ao § 2º, inciso II, alínea a, destoa da inteligência do próprio caput do art. 149, não alterado pela EC nº 33/2001, sendo certo que o próprio STF já fixou a constitucionalidade da contribuição devida ao Fl. 12751DF CARF MF 70 SEBRAE, qualificada como contribuição de intervenção no domínio econômico (RE 396.266, Relator Min. Carlos Velloso), e da contribuição criada pela LC nº 110/2001, qualificada com contribuição social geral (ADIN 2.556, Relator Min. Moreira Alves), ambas incidentes sobre a folha de salário das empresas, já sob a égide da EC nº 33/2001. Sendo assim, deve ser mantida a exigência relativamente às contribuições ao INCRA. Logo, improcedentes as alegações quanto à inexigência das contribuições ao INCRA. 30. Inexigência do SAT por necessidade de lei complementar Conforme foi afirmado acima, a alegação de inconstitucionalidade da norma tributária não pode ser conhecida no âmbito deste Colegiado, conforme preceitua o enunciado nº 2 da Súmula de jurisprudência do CARF. Portanto, as alegações de inconstitucionalidade do SAT por necessidade de lei complementar não pode ser conhecida. 31. Ilegalidade da cobrança da contribuição previdenciária sobre verbas de caráter indenizatório Em relação a essa alegação, adoto, sem embargo, o seguinte excerto da decisão de piso: A impugnante faz referência a diversas verbas, dizendo não haver previsão legal para a sua cobrança. Não carreia aos autos, contudo, nenhum elemento probatório ou cálculo quantificando esses valores, o que contraria o art. 15 e o art. 16. III, do Decreto nº 70.235/1972. O abono de férias, as férias indenizadas, os ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário não compõem a base de cálculo das contribuições previdenciárias, nos termos do art. 28, §9º, “d”, “e.6”, “e.7”, da Lei nº 8.212/1991. Tratase de verbas que a norma legal excetua, excluindo da base de cálculo dessas contribuições. A impugnante apenas alega, de forma genérica, que essas importâncias não deveriam ter sido lançadas, sem comprovar que a Auditoria as lançou. Deve ser relembrado, ainda, que, sendo a atividade administrativa plenamente vinculada e sendo a tributação regida pelo princípio da legalidade, não pode a autoridade administrativa deixar de lançar contribuição prevista em lei em face de jurisprudência do Poder Judiciário, ainda que proveniente das cortes superiores, a não ser quando ocorrerem as exceções dantes explicitadas. A defendente alega que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ pacificou o entendimento de que a verba recebida pelo empregado a título de auxíliodoença nos primeiros 15 (quinze) dias de afastamento tem caráter previdenciário, não tendo, pois, natureza salarial. Dessa forma, não incidiria contribuição previdenciária sobre esse montante. Não colaciona aos autos, todavia, nenhuma prova de que dentre os valores lançados se encontra tal verba. Na verdade, no caso, seria estranho que houvesse esse tipo de verba, uma vez que os valores lançados não constaram nas folhas de pagamento da empresa. Além disso, mesmo que houvesse prova de que tais valores compõem a base de cálculo lançada, consta expressamente na Lei nº 8.213/1991, art. 43, §2º, que, Fl. 12752DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.718 71 durante os primeiros quinze dias de afastamento da atividade por motivo de invalidez, cabe à empresa pagar ao segurado empregado o salário. Da mesma forma, no art. 60, §3º, da mesma lei, consta que nesse período, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. Segundo o art. 59 do mesmo diploma legal, o auxíliodoença somente é pago a partir do décimo sexto dia após o afastamento. Depreendese do texto legal que a verba paga ao segurado empregado nos 15 (quinze) primeiros dias consecutivos ao do afastamento da atividade por doença não é auxíliodoença, já que esse benefício somente é devido a contar do décimo sexto dia. Além disso, a lei foi clara ao considerar salário o valor pago nos 15 (quinze) primeiros dias. No que diz respeito ao terço constitucional de férias, a interpretação acatada pelo Regulamento da Previdência Social – RPS, no seu art. 214, §4º, é a de que essa verba integra o salário de contribuição. Esse entendimento se coaduna com a tese de que a remuneração que compõe o salário de contribuição é, na verdade, um complexo de verbas recebidas não somente em virtude da prestação do serviço em si, mas também daquelas recebidas em virtude do contrato de trabalho. Além de haver disposição regulamentar expressa, a vigente Instrução Normativa RFB nº 971/2009 dispõe: Art. 57. As bases de cálculo das contribuições sociais previdenciárias da empresa e do equiparado são as seguintes: ... § 8º A remuneração adicional de férias, de que trata o inciso XVII do art. 7º da Constituição Federal, integra a base de cálculo, no mês a que ela se referir, mesmo quando paga antecipadamente na forma da legislação trabalhista. Quanto à jurisprudência dos nossos tribunais judiciais, apesar de a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ se inclinar pela não incidência da contribuição previdenciária sobre o terço constitucional de férias e a matéria ter sido submetida ao rito previsto no Código de Processo Civil, art. 543C (recursos repetitivos) juntamente com aviso prévio indenizado e valor pago nos primeiros quinze dias antes do auxíliodoença, no julgamento do Recurso Especial 1230957/RS, não houve ainda decisão sobre o assunto, estando os autos conclusos em razão de pedido de vista desde 17/06/2013. Mais importante, a não vinculação da RFB a esse entendimento resta evidente em face da existência da Nota PGFN/CRJ nº 640/2014, que expressamente determina que os procuradores devem continuar contestando e recorrendo das decisões emanadas do Poder Judiciário. Vale salientar, ainda, que a incidência de contribuição previdenciária sobre o terço constitucional de férias está submetida ao julgamento pelo Supremo Tribunal Federal – STF por meio do RE 593068/SC pelo rito estabelecido no Código de Processo Civil, art. 543B (Repercussão Geral), porém não há ainda decisão definitiva sobre esses temas, tendo sido o processo concluso ao relator em 01/08/2013. Além disso, o acórdão recorrido trata da contribuição para o Plano de Previdência do Servidor Público, e não da contribuição relativa ao Regime Geral de Previdência Social. Quanto ao saláriomaternidade, em momento algum a Auditoria citou verba recebida a esse título em seu relatório, mesmo porque, como já se viu, o lançamento trata de verbas não declaradas que não constam nas folhas de pagamento, as quais foram pagas mediante ardil para escondêlas. Sendo o saláriomaternidade um benefício pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, não cabe a Fl. 12753DF CARF MF 72 alegação da impugnante, não estando entre os pagamentos verificados. Ademais, mesmo que estivesse, o saláriomaternidade é base de cálculo da contribuição previdenciária conforme expressamente determinado pelo art. 28, §2º, da Lei nº 8.212/1991. Com efeito, compulsandose a planilha de fls. 10.368/10.782, vêse que os pagamentos são identificados por rubricas genéricas como "Comissões nao Lanc. no Re", "Salários/Ordenados", "Ferias e 1/3 Ferias", não sendo possível identificar de modo individualizado o valor de cada verba. Neste caso, caberia à recorrente fazer prova do pagamento de parcelas que não compõem o salário de contribuição, para que esses valores pudessem ser excluídos da base de cálculo tributável. Em razão do exposto, nego provimento ao recurso com relação às supostas parcelas de caráter indenizatório. 32. Inexigência da contribuição previdenciária sobre auxílioalimentação fornecido in natura por empresa não cadastrada no PAT Na planilha de fls. 10.368/10.782 estão listados os valores considerados pela fiscalização para fins de lançamento no levantamento PF Remunerações Pagas a Empregado, de onde foram posteriormente excluídas as importâncias já declaradas em GFIP. Para os CNPJ 09.521.678/000194 (Filial 059 Agua Chat) há efetivamente a identificação de valores pagos a título de "Alimentação Copa e Cozinh. Quanto ao auxílio alimentação, há jurisprudência recente da Câmara Superior de Recursos Fiscais no seguinte sentido: AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. IN NATURA. AUSÊNCIA DE INSCRIÇÃO NO PAT. PARECER PGFN/CRJ/Nº2117/2011. NÃO INCIDÊNCIA. Com a edição do parecer PGFN n 2117/2011, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional reconheceu ser aplicável a jurisprudência já consolidada do STJ, no sentido de que não incidem contribuições previdenciárias sobre valores de alimentação in natura concedidas pelos empregadores a seus empregados. (Acórdão 9202005.193 de relatoria do Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos) Da fundamentação desse Acórdão extraise que: Entendo que o lançamento ora sob enfoque, se enquadra na exclusão prevista no Parecer PGFN/CRJ/Nº 2.117/2011 da Procuradoria da Fazenda Nacional, aprovado pelo Senhor Ministro de Estado da Fazenda que ensejou a publicação do Ato Declaratório 03/2011, posto que a alimentação mencionada no dito Parecer se coaduna apenas com a fornecida in natura, ou seja, sob a forma de utilidades. Transcrevo abaixo, o referido parecer para esclarecimentos da sua aplicabilidade. ATO DECLARATÓRIO Nº 03 /2011 A PROCURADORA GERAL DA FAZENDA NACIONAL, no uso da competência legal que lhe foi conferida, nos termos do inciso II do art. 19 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, e do art. 5º do Fl. 12754DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.719 73 Decreto nº 2.346, de 10 de outubro de 1997, tendo em vista a aprovação do Parecer PGFN/CRJ/Nº 2117 /2011, desta ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional, pelo Senhor Ministro de Estado da Fazenda, conforme despacho publicado no DOU de 24.11.2011, DECLARA que fica autorizada a dispensa de apresentação de contestação e de interposição de recursos, bem como a desistência dos já interpostos, desde que inexista outro fundamento relevante: nas ações judiciais que visem obter a declaração de que sobre o pagamento in natura do auxílioalimentação não há incidência de contribuição previdenciária. JURISPRUDÊNCIA: Resp nº 1.119.787SP (DJe 13/05/2010), Resp nº 922.781/RS (DJe 18/11/2008), EREsp nº 476.194/PR (DJ 01.08.2005), Resp nº 719.714/PR (DJ 24/04/2006), Resp nº 333.001/RS (DJ 17/11/2008), Resp nº 977.238/RS (DJ 29/11/2007). Brasília, 20 de dezembro de 2011. ADRIANA QUEIROZ DE CARVALHO ProcuradoraGeral da Fazenda Nacional Portanto, com a edição do parecer PGFN2117/2011, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional reconheceu ser aplicável a jurisprudência já consolidada do STJ, no sentido de que não incidem contribuições previdenciárias sobre valores de alimentação in natura concedidas pelos empregadores a seus empregados. Daí decorre que a exceção à regra geral de tributação está adstrita ao auxílio alimentação pago in natura, o que não corresponde à situação dos autos, onde o pagamento ocorreu em moeda corrente. Ao contrário do que afirmam os recorrentes, o relatório fiscal evidencia, inclusive com cópia de depósitos realizados nas contas dos empregados (itens 685 e 686 do relatório fiscal), aquilo que já era sugerido pela conta caixa: que o auxílioalimentação foi prestado em pecúnia e não in natura. Neste caso, os valores assim despendidos devem ser incluídos na base de cálculo dos contribuições previdenciárias, razão pela qual nego provimento ao recurso no que diz respeito ao auxílioalimentação. Por outro lado, foram realizados também pagamentos a título de vale transporte e o relatório fiscal faz várias menções a eles. Para esta rubrica a solução é diferente, pois constitui matéria que já foi sumulada por este Colegiado, conforme evidencia o seguinte enunciado: Súmula CARF nº 89: A contribuição social previdenciária não incide sobre valores pagos a título de valetransporte, mesmo que em pecúnia. Fl. 12755DF CARF MF 74 De acordo com o art. 72 do Regimento Interno deste órgão colegiado, as decisões reiteradas e uniformes do CARF serão consubstancias em súmula de observância obrigatória pelos seus membros. Por outro lado, o art. 45 do mesmo regimento determina que perderá o mandato o conselheiro que deixar de observar enunciado de súmula ou de resolução do Pleno da CSRF. Em razão de aplicação do enunciado acima transcrito da Súmula de Jurisprudência deste CARF, fazse necessário dar provimento ao recurso apresentado pelos responsáveis solidários para excluir da base de cálculo tributável os valores relativos a vale transporte. Item 33 Inexigência de contribuição ao sistema "S" por ausência de vinculação da arrecadação Aqui também a recorrente busca negar validade às normas em vigor com argumentos de inconstitucionalidade, análise que esbarra no enunciado nº 2 da Súmula de jurisprudência do CARF. A despeito disso, adoto também como razões de decidir o seguinte excerto da decisão recorrida: As contribuições lançadas foram aquelas destinadas ao SESC e ao SENAC e a empresa é uma loja de revenda de autopeças e se ajusta ao Código Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 4530701, correspondente a “Comércio por atacado de peças e acessórios novos para veículos automotores”. Esse CNAE foi informado pela própria empresa em suas GFIP e se coaduna com as atividades por ela desenvolvidas. Assim, a alegação da impugnante é totalmente descabida e dissociada dos fatos aqui sob julgamento. Vale ressaltar, ainda, que mesmo que ela fosse uma prestadora de serviços, caberia a cobrança de tais contribuições. Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Resp 1255433, efetivado no rito previsto no Código de Processo Civil – CPC, art. 543C (Recursos Repetitivos), são devidas as contribuições para o SESC e SENAC pelas empresas prestadoras de serviços. Segue a ementa dessa decisão: TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. SÚMULA N. 284/STF. Recurso Especial representativo de controvérsia (art. 543C, do CPC). CONTRIBUIÇÃO AO SESC E SENAC. EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. INCIDÊNCIA. 1. Não merece conhecimento o recurso especial que aponta violação ao art. 535, do CPC, sem, na própria peça, individualizar o erro, a obscuridade, a contradição ou a omissão ocorridas no acórdão proferido pela Corte de Origem, bem como sua relevância para a solução da controvérsia apresentada nos autos. Incidência da Súmula n. 284/STF: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua Fl. 12756DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.720 75 fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia". 2. As empresas prestadoras de serviço são aquelas enquadradas no rol relativo ao art. 577 da CLT, atinente ao plano sindical da Confederação Nacional do Comércio CNC e, portanto, estão sujeitas às contribuições destinadas ao SESC e SENAC. Precedentes: REsp. n. 431.347/SC, Primeira Seção, Rel. Min Luiz Fux, julgado em 23.10.2002; e AgRgRD no REsp 846.686/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16.9.2010. (GRIFEI) 3. O entendimento se aplica às empresas prestadoras de serviços educacionais, muito embora integrem a Confederação Nacional de Educação e Cultura, consoante os seguintes precedentes: Pela Primeira Turma: EDcl no REsp. 1.044.459/PR; AgRg no Ag 882.956/MG; REsp. 887.238/PR; REsp. 699.057/SE; Pela Segunda Turma: AgRg no Ag 1.347.220/SP; AgRgRD no REsp. 846.686/RS; REsp. 886.018/PR; AgRg no REsp. 1.041.574 PR; REsp. 1.049.228/PE; AgRg no REsp. 713.653/PR; REsp. 928.818/PE. 4. A lógica em que assentados os precedentes é a de que os empregados das empresas prestadoras de serviços não podem ser excluídos dos benefícios sociais das entidades em questão (SESC e SENAC) quando inexistente entidade específica a amparar a categoria profissional a que pertencem. Na falta de entidade específica que forneça os mesmos benefícios sociais e para a qual sejam vertidas contribuições de mesma natureza e, em se tratando de empresa prestadora de serviços, há que se fazer o enquadramento correspondente à Confederação Nacional do Comércio CNC, ainda que submetida a atividade respectiva a outra Confederação, incidindo as contribuições ao SESC e SENAC que se encarregarão de fornecer os benefícios sociais correspondentes. (GRIFEI) 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543C, do CPC, e da Resolução STJ n. 8/2008. Argumentos rejeitados. Itens 34, 35, 36 e 37 Multa exclusão ou redução Em relação à multa aplicada, a recorrente inicia por afirmar que não houve comprovação do intuito de fraude. Em seguida, requer sua redução a 10% pela aplicação do princípio constitucional do não confisco e, invocando o princípio da eventualidade, requer sua redução para 75% por ausência de fraude ou omissão dolosa e acaba por alegar a existência de "bis in idem". A multa aplicada tem previsão legal no art. 44, I c/c § 1º da Lei nº 9.430, de 1996, e a validade dessa norma não foi afastada por qualquer decisão da corte que poderia fazer um juízo de sua inadequação com eficácia erga omnes. Portanto, a lei permanece em Fl. 12757DF CARF MF 76 vigor e deve ser respeitada pelos julgadores administrativos, conforme foi reiteradamente assentado neste voto. Por outro lado, o processo em análise contém provas indiscutíveis do comportamento artificioso dos sujeitos passivos identificados, com a criação de pessoas jurídicas constituídas por "laranjas", para o que foram falsificados documentos e assinaturas, incluindo Declarações de Imposto sobre a Renda de Pessoa Física. Em razão disso, devese concordar com a autoridade fiscal quando atribui aos sujeitos passivos a prática de condutas condizentes com a sonegação e a fraude, até porque as exigências fiscais evidenciam que as obrigações tributárias não foram cumpridas e seus fatos geradores foram ocultados pelas práticas adotadas. No mais, embora se faça menção ao "bis in idem", não é demonstrada sua ocorrência, de forma que essa alegação é por demais genérica para ser enfrentada. Nego provimento ao recurso quanto à exclusão ou redução da multa de ofício. 38. Inaplicabilidade da taxa Selic Essa matéria também se encontra pacificada no âmbito deste colegiado, conforme demonstra o seguinte enunciado: Súmula CARF nº 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. Alegações rejeitadas. 39. Realização de perícia e a colheita de depoimentos Em relação ao pedido de perícia, a recorrente protesta pela sua realização mas não apresenta nenhum argumento que evidencie a necessidade dela. A perícia é meio de prova a ser manejada quando houver insuficiência de informações no processo de modo a impossibilitar sua perfeita compreensão pelo julgador, mas não se presta a suprir omissões do sujeito passivo em comprovar o direito alegado. Não vejo neste processo nenhuma lacuna ou inconsistência que gere dúvida passível de ser esclarecida através de perícia. Nego provimento ao pedido de realização de perícia. Alegações dos sujeitos passivos solidários Como foi ressaltado no relatório, há uma grande identidade entre o recurso apresentado pela empresa autuada e pelos sujeitos passivos solidários. Uma vez que a maioria das questões já foram tratadas na análise do recurso de autoria da PRV, por economia processual, neste tópico serão enfrentados apenas os pontos residuais. Item 1. Preliminar de nulidade por ausência de intimação pessoal Fl. 12758DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.721 77 Os recorrentes alegam nulidade da intimação da decisão recorrida porque esta não respeitou as indicações de endereço feitas nas impugnação. O Decreto nº 70.235, de 1972, regulamenta a intimação no âmbito do Processo Administrativo Fiscal no seguinte dispositivo: Art. 23. Farseá a intimação: I pessoal, pelo autor do procedimento ou por agente do órgão preparador, na repartição ou fora dela, provada com a assinatura do sujeito passivo, seu mandatário ou preposto, ou, no caso de recusa, com declaração escrita de quem o intimar; II por via postal, telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova de recebimento no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo; III por meio eletrônico, com prova de recebimento, mediante: a) envio ao domicílio tributário do sujeito passivo; ou b) registro em meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo. § 1o Quando resultar improfícuo um dos meios previstos no caput deste artigo ou quando o sujeito passivo tiver sua inscrição declarada inapta perante o cadastro fiscal, a intimação poderá ser feita por edital publicado: I no endereço da administração tributária na internet; II em dependência, franqueada ao público, do órgão encarregado da intimação; ou III uma única vez, em órgão da imprensa oficial local. § 2° Considerase feita a intimação: I na data da ciência do intimado ou da declaração de quem fizer a intimação, se pessoal; II no caso do inciso II do caput deste artigo, na data do recebimento ou, se omitida, quinze dias após a data da expedição da intimação; III se por meio eletrônico: a) 15 (quinze) dias contados da data registrada no comprovante de entrega no domicílio tributário do sujeito passivo; b) na data em que o sujeito passivo efetuar consulta no endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, se ocorrida antes do prazo previsto na alínea a; ou c) na data registrada no meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo; IV 15 (quinze) dias após a publicação do edital, se este for o meio utilizado. Fl. 12759DF CARF MF 78 § 3o Os meios de intimação previstos nos incisos do caput deste artigo não estão sujeitos a ordem de preferência. § 4o Para fins de intimação, considerase domicílio tributário do sujeito passivo: I o endereço postal por ele fornecido, para fins cadastrais, à administração tributária; e II o endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, desde que autorizado pelo sujeito passivo. § 5o O endereço eletrônico de que trata este artigo somente será implementado com expresso consentimento do sujeito passivo, e a administração tributária informarlheá as normas e condições de sua utilização e manutenção. § 6o As alterações efetuadas por este artigo serão disciplinadas em ato da administração tributária. § 7o Os Procuradores da Fazenda Nacional serão intimados pessoalmente das decisões do Conselho de Contribuintes e da Câmara Superior de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda na sessão das respectivas câmaras subseqüente à formalização do acórdão. § 8o Se os Procuradores da Fazenda Nacional não tiverem sido intimados pessoalmente em até 40 (quarenta) dias contados da formalização do acórdão do Conselho de Contribuintes ou da Câmara Superior de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda, os respectivos autos serão remetidos e entregues, mediante protocolo, à Procuradoria da Fazenda Nacional, para fins de intimação. § 9o Os Procuradores da Fazenda Nacional serão considerados intimados pessoalmente das decisões do Conselho de Contribuintes e da Câmara Superior de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda, com o término do prazo de 30 (trinta) dias contados da data em que os respectivos autos forem entregues à Procuradoria na forma do § 8o deste artigo. (grifou se) Conforme se extrai da literalidade do artigo transcrito a intimação por via postal será feita no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo e este domicílio é o endereço fornecido por ele para fins cadastrais. Portanto, não há qualquer indicação de que o endereço informado na identificação da impugnação possa servir como domicílio para fins de intimação. Aliás, verificandose as impugnações apresentadas, vêse que sequer existe pedido para que esse endereço seja considerado e os sujeitos passivos alegam expressamente nulidade da intimação do auto de infração por não ter sido observado o endereço constante da DIRPF (item 3.5 da impugnação). Rejeito a preliminar argüida. Item 2. Preliminar de Nulidade por ausência de Mandado de Procedimento Fiscal Fl. 12760DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.722 79 Argumentam os recorrentes que o lançamento seria nulo por não terem sido cientificados da existência de processo de fiscalização contra eles. Como já foi anteriormente registrado, é entendimento deste colegiado que o MPF constitui instrumento de controle interno da ação fiscal, de forma que eventuais deficiências do MPF não maculariam o lançamento. Na hipótese em questão, no Termo de Início da Ação Fiscal (fl. 10.810) há a identificação do mandado de procedimento fiscal instaurado em face da empresa fiscalizada e do código de acesso para verificação de sua autenticidade. Pelos documentos de fls. 10.813/10.876 os sujeitos passivos solidários foram cientificados do termo de início da ação fiscal em face de algumas empresas e dos Termos de Intimação Fiscal em relação a outras, estando a empresa fiscalizada entre elas. Portanto, é improcedente a alegação de desconhecimento da ação fiscal. Cumpre ressaltar que não há, nas normas que regulamentam esse procedimento, previsão de que seja emitido MPF específico para os sujeitos passivos solidários. Nesse sentido, extraise do Acórdão nº 2202003.852, de relatoria da Conselheira Junia Roberta Gouveia Sampaio: NULIDADE DA IMPUTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA SEM A EMISSÃO DE MANDADO DE PROCEDIMENTO FISCAL ESPECÍFICO. Improcedente a alegação de que a imputação de responsabilidade solidária demandaria a emissão de um Mandado de Procedimento Fiscal específico para esse fim, uma vez que a apuração de atos que conduzem à responsabilidade fiscal dos sócios só será detectada com o desenvolvimento do trabalho fiscal. Dessa forma, em relação ao MPF, não vejo qualquer mácula no procedimento adotado pela fiscalização que pudesse levar à nulidade do lançamento. Rejeito a nulidade argüida. Item 3. Nulidade por ausência de intimação pessoal Esta questão já se encontra superada em função do enunciado nº 9 da Súmula de jurisprudência deste CARF: Súmula CARF nº 9: É válida a ciência da notificação por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário. Nulidade rejeitada. Item 4. Nulidade por ilegitimidade da atuação do AuditorFiscal Fl. 12761DF CARF MF 80 Sob esse tópico, alegam os recorrentes que o AuditorFiscal teria extrapolado os limites de sua competência funcional ao desconsiderar a personalidade jurídica da empresa e atribuir responsabilidade objetiva e solidária aos recorrentes sem indicar os motivos para tanto. Asseveram que: A responsabilização capitulada pelo Auditor Fiscal, entretanto, escapa de sua competência, pois além de não estar prevista expressamente na lei de regência de sua atividade, compete exclusivamente ao Procurador da Fazenda Nacional, na esfera judicial, fazêlo e desde que presentes os requisitos. Mais uma vez, não lhes assiste razão. Com efeito, de acordo com o Código Tributário Nacional CTN (Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966): Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Portanto, o lançamento fiscal é o momento adequado para a identificação do sujeito passivo da obrigação tributária e, segundo o mesmo código: Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz se: I contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei. (grifouse) Por outro lado, a Lei nº 10.593, de 2002, não deixa margem à dúvida sobre quem é a autoridade administrativa de que trata o CTN: Art. 6º São atribuições dos ocupantes do cargo de AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil: I no exercício da competência da Secretaria da Receita Federal do Brasil e em caráter privativo: a) constituir, mediante lançamento, o crédito tributário e de contribuições; b) elaborar e proferir decisões ou delas participar em processo administrativofiscal, bem como em processos de consulta, Fl. 12762DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.723 81 restituição ou compensação de tributos e contribuições e de reconhecimento de benefícios fiscais; c) executar procedimentos de fiscalização, praticando os atos definidos na legislação específica, inclusive os relacionados com o controle aduaneiro, apreensão de mercadorias, livros, documentos, materiais, equipamentos e assemelhados; d) examinar a contabilidade de sociedades empresariais, empresários, órgãos, entidades, fundos e demais contribuintes, não se lhes aplicando as restrições previstas nos arts. 1.190 a 1.192 do Código Civil e observado o disposto no art. 1.193 do mesmo diploma legal; e) proceder à orientação do sujeito passivo no tocante à interpretação da legislação tributária; f) supervisionar as demais atividades de orientação ao contribuinte; (...) Cumpre registrar, ainda, que o STJ, no âmbito do REsp 1110925/SP, julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, em Acórdão de lavra do Ministro Teori Albino Zavaski, assentou que: TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL SÓCIOGERENTE CUJO NOME CONSTA DA CDA. PRESUNÇÃO DE RESPONSABILIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA ARGUIDA EM EXCEÇÃO DE PRÉEXECUTIVIDADE. INVIABILIDADE. PRECEDENTES. 1. A exceção de préexecutividade é cabível quando atendidos simultaneamente dois requisitos, um de ordem material e outro de ordem formal, ou seja: (a) é indispensável que a matéria invocada seja suscetível de conhecimento de ofício pelo juiz; e (b) é indispensável que a decisão possa ser tomada sem necessidade de dilação probatória. 2. Conforme assentado em precedentes da Seção, inclusive sob o regime do art. 543C do CPC (REsp 1104900, Min. Denise Arruda, sessão de 25.03.09), não cabe exceção de pré executividade em execução fiscal promovida contra sócio que figura como responsável na Certidão de Dívida Ativa CDA. É que a presunção de legitimidade assegurada à CDA impõe ao executado que figura no título executivo o ônus de demonstrar a inexistência de sua responsabilidade tributária, demonstração essa que, por demandar prova, deve ser promovida no âmbito dos embargos à execução. 3. Recurso Especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543C do CPC. Essa decisão evidencia que a atribuição de responsabilidade tributária é questão afeta ao procedimento administrativo que dá origem à CDA. Ou seja, precede a instauração da execução fiscal. Fl. 12763DF CARF MF 82 Embora seja possível o redirecionamento da execução a pessoas que não constem nesse título ou, ainda, que seja realizada a desconsideração da personalidade jurídica de que trata o novo Código de Processo Civil, esses procedimentos se tornam necessários quando não foi efetuada a atribuição da responsabilidade no processo de sua formação (da CDA). Ou seja, esses procedimentos tem caráter residual e não têm o condão de excluir a competência da autoridade fiscal, lastreada no Código Tributário Nacional, norma com força de Lei Complementar. Rejeito também esta preliminar de nulidade. Item 5. Nulidade por ilegitimidade passiva do recorrente Item 6. Ausência de responsabilidade dos recorrentes, por serem pessoas estranhas ao quadro societário da empresa autuada e por não haver prova de seu vínculo com ela e com o fato gerador do tributo Item 7. Ausência de responsabilidade do recorrente por inexistência de prova do seu benefício Argumentam os recorrentes que não haveria prova que demonstrasse a existência de vínculo deles com a empresa autuada, o que poderia conduzir à nulidade por ilegitimidade passiva ou, ao menos, ausência de responsabilidade deles. Uma vez que não se trata de uma situação de evidente erro na identificação do sujeito passivo, esta matéria deve ser tratada como mérito e, para tanto, sirvome do que foi levantado pela decisão de piso, de onde se transcreve o que segue: 8. Da Responsabilidade dos Envolvidos A solidariedade dos integrantes da família Tolardo não se baseou em presunções, mas em provas irrefutáveis de que eles administravam a sociedade, conforme se verá adiante. A solidariedade foi aplicada não porque eles são sócios de fato do empreendimento, mas porque agiram com infração à lei e ao contrato social das empresas (CTN, art. 135, III), a começar pela utilização de sócios laranjas, com o intuito evidente de escaparem de uma possível cobrança dos tributos devidos e sonegados. Quanto ao art. 124, I, do CTN, está presente, no caso, o interesse jurídico, não por as pessoas físicas serem da mesma família, mas por terem participado ativamente, ainda que de forma oculta, da administração das empresas e, por consequência, dos fatos geradores que originaram os Autos de Infração. A própria Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, no já mencionado Parecer PGFN/CRJ/CAT 55/2009, entendeu que a responsabilidade do administrador pode ser declarada quando da lavratura do auto de infração que formalizar o lançamento do crédito tributário em face da pessoa jurídica contribuinte, como também pode ser declarado em auto de infração e em momento distintos, independentemente de ter o ato ilícito sido praticado no momento da ocorrência do fato jurídico tributário que deu origem à obrigação tributária principal. A responsabilidade de cada administrador pode ser declarada ao mesmo tempo e ato ou em tempos e atos distintos. Não há ilegalidade alguma na imputação da responsabilidade pelos Auditores Fiscais, os quais eram competentes para efetuar tal ato no momento em que apuraram os fatos que o fundamentava. Fl. 12764DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.724 83 Diante da constatação da existência da REDE PRESIDENTE e de sua administração pela família Tolardo, a ausência da vinculação formal de seus membros à empresa não os exime da responsabilização, diante do seu envolvimento de fato na administração de todo o empreendimento. Constavam no banco de dados utilizado pelo Programa Caixa várias “contas” representativas de custos, despesas, pagamentos, recebimentos, etc., bem como vários “centros de custos”, tais como os relativos a cada uma das “filiais”. Dentre os centros de custo destacase o “020 – DIRETORES”. Entre as subcontas, sobressaem aquelas inerentes a cada um dos integrantes da família Tolardo. Filtrandose o centro de custos “20DIRETORES” e aplicandose outro filtro relativos às subcontas, foi possível filtrar os pagamentos efetuados a cada um deles. Ademais, a planilha “ACERTOS CELO MAR JR JI ALTERADOS.xls”, encontrada nos pendrives de Odete, operadora do esquema, e Samuel Tolardo Júnior, corroboram os valores encontrados na base de dados do Programa Caixa, comprovando a distribuição de valores entre os componentes da família Tolardo. Especificamente em relação aos recorrentes, temse o que segue: 8.2. Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore Há robustas provas de que Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore participava ativamente do esquema, especialmente como administradora do grupo de empresas adquirido, Embrepar. Foram, inclusive, interceptadas pela Polícia Federal ligações telefônicas entre ela e sua mãe e entre esta e Robson Marcelo Tolardo, as quais demonstram que a filha do exdono da Embrepar ensinou a Samuel Tolardo Júnior e Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore os procedimentos do negócio adquirido. Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore foi sócia da Administradora Confiança. Foram localizadas várias procurações dos sócios laranjas para ela: outorgada por Geraldo Richter com poderes para vender ou incorporar as quotas da REDE PRESIDENTE (07/11/2002); outorgada pela RPT (representada por Geraldo Richter) para representação perante bancos (07/11/2002); outorgada pela RPT com poderes amplos e gerais (07/11/2002), outorgada pela RPT para representá la em bancos com poderes amplos, gerais e ilimitados (12/11/2003); outorgada pela RPT com poderes amplos, gerais e ilimitados (12/11/2003); outorgada pela Nobre Participações Ltda. (representada pela sócia laranja Mirian Coutinho de Lima para ela e seu irmão, Samuel Tolardo Júnior, conferindo poderes amplos e gerais (25/08/2004) Para que Daniel de Oliveira Junior, funcionário do esquema, locasse um imóvel em Maringá/PR, foi necessário um fiador, papel exercido por Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore e seu marido. Outro imóvel cuja locação teve Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore como fiadora foi o do bunker da Rua Rui Barbosa, 1027, Maringá/PR (aluguel do período 10/03/2011 a 09/03/2014) cuja locatária era Ana Maria Gimenez de Souza é importante operadora do esquema. Há, ainda, o contrato de locação de um barracão comercial em Bauru/SP, usado pela REDE PRESIDENTE, Filial 18. O contrato tem como locatária Fernanda Cristina de Lima dos Santos, usada como laranja na RPFL Auto Peças Ltda., e como fiadora Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore. Fl. 12765DF CARF MF 84 Além disso, existem imóveis de propriedade de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore que são usados pela REDE PRESIDENTE: galpão situado em Londrina/PR locado à REDE PRESIDENTE – Filial 14 e imóvel utilizado pelo esquema no Rio de Janeiro/RJ; imóvel comercial em Petrolina/PE, com galpões de estocagem, avaliado por laudos em R$.750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) e R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais). O primeiro laudo aponta como solicitante e ocupante do imóvel a empresa Napa Parts Dist de Auto Peças Ltda. Distribuidora de Auto Peças e como proprietária Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore. Outro imóvel de propriedade de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore utilizado pela REDE PRESIDENTE localizase em Imperatriz/MA, no endereço cadastral da IME Peças para Veículos Ltda. – ME. Foi encontrado laudo de avaliação datado de 23/03/2011, no qual ela consta como proprietária e Liderci Luriko Nagabe de Oliveira como solicitante. O imóvel foi avaliado em R$ 1.350.000,00 (um milhão, trezentos e cinquenta mil reais). O imóvel utilizado pela REDE PRESIDENTE em Feira de Santana/BA (Filial 74) também era de propriedade de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore, conforme laudos de avaliações realizadas em novembro/2011. As fotos que constam no laudo mostram que na fachada havia a logomarca da REDE PRESIDENTE. Esse imóvel foi avaliado em R$.1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) por um laudo e em R$ 1.516.000,00 (um milhão, quinhentos e dezesseis reais) por outro. Também era de propriedade de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore o imóvel utilizado pelo esquema em Piracicaba/SP (Filial 75), conforme laudos de avaliação feitos em 2011. O imóvel foi avaliado em R$ 1.524.705,05 (um milhão, quinhentos e vinte e quatro mil, setecentos e cinco reais e cinco centavos) e R$ 1.450.000,00 (um milhão, quatrocentos e cinquenta mil reais). Foi encontrado o registro desse imóvel. Constam também como de propriedade de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore 3 (três) lotes de terrenos contíguos em Fos do Iguaçu/PR, cujo barracão ali instalado serve de extensão para a PRE Comércio e Distribuição de Peças Ltda. (Filial 44), conforme certidão de escritura pública de compra e venda. A compra desse imóvel foi feita por procuração, justamente por Robson Marcelo Tolardo. O imóvel usado pela REDE PRESIDENTE em Londrina/PR (Filial 14) também era de propriedade de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore, conforme contrato de locação de 02/01/2007. Há, ainda, o imóvel registrado no me da filha de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore, a menor Julia Tolardo Dalle Ore, usado em Porto Alegre/RS pela REDE PRESIDENTE (Filial 60). Todos esses imóveis, com exceção dos de Foz do Iguaçu/PR e Imperatriz/MA, foram transferidos à empresa Zenith Administradora de Bens e Participações Ltda., a título de integralização do capital. Essa é uma das empresas criadas para administrar os bens da família Tolardo, tendo como sócia a própria Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore e suas filhas, Isabela Tolardo Dalle Ore e Julia Tolardo Dalle Ore. Os imóveis eram controlados pela REDE PRESIDENTE, segundo constatado em planilha encontrada por ocasião do cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão. Nessa planilha foi, ainda, identificado um imóvel denominado “C.MOURÃO”, para o qual encontrouse um laudo de avaliação de 28/08/2012 para imóvel situado em Campo Mourão/PR, com valor estimado de R$.440.000,00, de propriedade de Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore. Quanto ao imóvel identificado na planilha como “SPINHAIS”, foram localizados os registros dos imóveis de matrículas 19.136, 19.139, 19.140, 19.141, 19.142 e 19.143 no Registro de Imóveis Fl. 12766DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.725 85 de São José dos Pinhais/PR, adquiridos por Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore em 25/08/1997. 8.3. Rogério Márcio Tolardo Foram relatadas várias provas da atuação de Rogério Márcio Tolardo, como: a. Procuração de 10/10/1996 da então Foramec Auto Peças Ltda. (atual RPT), representada por ele e por seu irmão Samuel Tolardo Júnior, constituindo um procurador para representar a empresa perante repartições públicas; b. Procuração outorgada a ele por Adanice Gonçalves de Jesus, conferindolhe poderes amplos, gerais e ilimitados, datada de 03/04/20000; c. Procuração outorgada a ele pela empresa Rede Presidente Ltda., conferindolhe amplos, gerais e ilimitados poderes, datada de 03/04/2000; d. Procuração outorgada a ele em 07/101/2002 por Geral Richter (então laranja da RPT), conferindolhe amplos e gerais poderes para vender ou incorporar as quotas da RPT ou assinar quaisquer contratos de compra e venda, inclusive alterações contratuais; e. Procuração datada de 07/11/2002, por meio da qual a Rede Presidente, representada por Geraldo Richter, concedelhe amplos e gerais poderes para representar a empresa perante quaisquer estabelecimentos bancários, públicos ou privados do país; f. Procuração de 07/11/2002, outorgada a ele pela Rede Presidente, representada por Geral Richter, conferindolhe amplos e gerais poderes para constituir advogados, com todos os poderes inerentes. Na época do cumprimento dos Mandados de Busca e Apreensão, Rogério Márcio Tolardo residia em Curitiba/PR, onde é sócio de uma loja de aparelhos eletrônicos para uso doméstico, W2X – Comércio e Serviços de Equipamentos. Apesar de essa empresa aparentemente não ter relação com o esquema REDE PRESIDENTE, no período de abril/2005 a janeiro/2010, era seu sócio Francisnei Paulo Ferrarini, mero funcionário do esquema. Fracisnei também foi usado como laranja da FEMAMAR Repres. Comerciais Ltda., empresa da REDE PRESIDENTE, que fica no mesmo endereço de uma das filiais da RPT. Em depoimento prestado à Polícia Federal em 17/10/2012, Francisnei afirma que figurou como sócio da W2X a pedido de Rogério Márcio Tolardo, porém jamais exerceu qualquer atividade nessa empresa, gerida exclusivamente por Rogério. Notese que Fransicnei diz que aceitou a proposta porque tinha uma relação de amizade ou seria alguém de confiança de Rogério Márcio Tolardo, o que, por óbvio, decorreu da atuação e posição deste último na REDE PRESIDENTE. A participação de Rogério Márcio Tolardo fica mais clara diante dos imóveis de sua propriedade controlados pela planilha já mencionada, onde se constata ser ele proprietário de 6 (seis) imóveis: a. Um galpão em Guarulhos/SP, pertencente também a Samuel Tolardo Júnior. Foi localizado um contrato de locação de 1º/01/2010, constando ambos os irmãos como locadores e a RPT como locatária. No bunker da Rua Rui Barbosa, 1027, Maringá/PR, foi encontrada uma avaliação do imóvel de maio/2011, no valor de R$ 25.758.128,00 (vinte e cinco milhões, setecentos e cinquenta e oito mil, cento e vinte e oito reais). Apesar de o valor para locação do imóvel ser R$.257.581,28 Fl. 12767DF CARF MF 86 (duzentos e cinquenta e sete mil, quinhentos e oitenta e um reais e vinte e oito centavos), os irmãos o locam por R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Em dezembro/2009, esse imóvel foi dado em caução como garantia de um contrato de locação não residencial celebrado pela Fort Lub Produtos Automotivos Ltda.; b. Dois terrenos contíguos onde está construído um barracão usado pela REDE PRESIDENTE em Foz do Iguaçu (empresa PRE, Filial 44); c. Um terreno localizado em Maringá/PR, área muito bem localizada pertencente ao esquema; d. Imóvel localizado em Cabuy, Presidente Prudente/SP, onde funciona a Filial 38. No contrato de locação encontrado, datado de 1º/01/2010, a locatária é a empresa Rolcar Auto Peças, do esquema REDE PRESIDENTE; e. Imóvel localizado em Uberlândia/MG (Filial 64). Foi encontrada cópia da matrícula do imóvel. Posteriormente, esses imóveis foram dados como integralização de capital de uma das empresas do esquema, Magno Administradora de Bens e Participações Ltda. O capital, que era de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) passou para R$ 1.039.765,00 (um milhão, trinta e nove mil, setecentos e sessenta e cinco reais). Outro indicativo da posição de Rogério Márcio Tolardo é dado em conversa telefônica entre sua mãe e Leda ou Hieda, que o compara a Robson Marcelo Tolardo e comenta que Rogério também é sócio. Em outras duas gravações efetuadas pela Polícia Federal, constatase a existência de repasses ou pagamentos mensais que a família Tolardo fazia ao sócio Rogério Márcio Tolardo. 8.4. Samuel Tolardo Júnior No apartamento de Samuel Tolardo Júnior em Curitiba/PR, foram encontrados vários documentos relativos ao esquema. Ele participa há bastante tempo, como comprova a procuração da RPT, então Foramec Auto Peças Ltda., datada de 10/10/1996. Nessa procuração, ao lado de seu irmão Rogério Márcio Tolardo, ele consta como sócio da empresa que, praticamente, inaugurou a REDE PRESIDENTE. Ademais, Samuel Tolardo Júnior (ou Júnior) foi diversas vezes mencionado na escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, como, por exemplo, em conversa de 22/05/2012 entre sua mãe e sua irmã, Jeane Cristine Tolardo Dalle Ore, na qual fica clara a sua participação na empresa recém adquirida do Grupo Embrepar. Em outra interceptação telefônica, do dia 1º/08/2012, entre ele e Ana Maria Gimenez, resta evidente o seu envolvimento na análise de questões operacionais, como transferências dentre filiais e estoque negativo. Um imóvel onde se localizava um dos bunkers da REDE PRESIDENTE estava registrado no me de Daniel de Oliveira Júnior, constando uma procuração desse operador do esquema para a família Tolardo, inclusive para Samuel Tolardo Júnior, datada de 22/06/2009, concedendo poderes para vender, ceder, prometer, transferir ou de qualquer forma alienar esse imóvel. O endereço de Samuel Tolardo Júnior que consta nessa procuração é, na verdade, o endereço de uma filial da REDE PRESIDENTE, Filial 27, no Rio de Janeiro, apesar de constar nas suas DIRPF desde 2003 como sendo seu endereço residencial. Há outra procuração, outorgada por Genésio Bueno, laranja da A.P.E. Auto Peças Ltda. (dezembro/2004 a setembro/2013), conferindolhe amplos, gerais e ilimitados poderes. Idêntica procuração foi também concedida pela própria empresa, na época denominada A Presidente Auto Peças Ltda. Fl. 12768DF CARF MF Processo nº 10875.722997/201421 Acórdão n.º 2201003.811 S2C2T1 Fl. 12.726 87 Foi encontrado contrato de execução de construção por empreitada global entre Samuel Tolardo Júnior e Antonio Picoli Sobrinho, de 05/05/1992, para construção de barracão comercial em Curitiba/PR, provavelmente o mesmo imóvel da matrícula 51.835. Junto à cópia do registro da matrícula foi achado um recibo, no qual consta que o imóvel foi adquirido por Samuel Tolardo Júnior em 24/05/2005. Tratase de um barracão comercial utilizado pela Filial 23 da REDE PRESIDENTE. Foram encontradas duas avaliações do imóvel, uma delas solicitada por Samuel Tolardo Júnior. Outro imóvel adquirido por Samuel Tolardo Júnior é um barracão comercial em Cascavel/PR. Foram encontrados vários documentos referentes à obra, datados de final de 2011 e ano de 2012. A maioria dos emails tratando de assuntos da obra são assinados por Nilson Roberto da Silva, funcionário da REDE PRESIDENTE desde 09/06/2003. Há, ainda o imóvel de Guarulhos/SP, adquirido por Samuel Tolardo Júnior e Rogério Márcio Tolardo, conforme escritura pública de venda e compra de 28/06/2001. Também foi constatado serem de propriedade de Samuel Tolardo Júnior um apartamento em Curitiba/PR; um salão comercial em Londrina locado a Rogério José de Alencar e um terreno em Londrina. Desses imóveis, ao menos três deles (um em Curitiba/PR, o terreno de Londrina/PR e o de Cascavel/PR) foram transferidos em abril/2012 para a empresa Urbanos Administradora de Bens e Participações Ltda. como integralização de capital por parte de Samuel Tolardo Júnior. O capital da empresa passou de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para R$.563.280,00 (quinhentos e sessenta e três mil, duzentos e oitenta reais). O outro sócio fica apenas com R$ 1,00 (um real). Os elementos coligidos pelo Acórdão recorrido são suficientes para demonstrar a posição ocupada pelos membros da família Tolardo como reais proprietários e administradores da Rede Presidente. Além disso, são suficientes para afastar a alegação de ausência de responsabilidade do recorrente por inexistência de prova do seu benefício. Com efeito, basta lembrar que há comprovação de pagamentos de despesas pessoais feitos pela Rede Presidente, bem como de que os integrantes da família faziam retiradas de valores próximos a R$ 100.000,00 (cem mil reais) mensais cada, chegando, em alguns períodos, a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) cada documentos de fls. 9751/9754 e itens 418 a 433 do Relatório de Atividade Fiscal. Com base no exposto, afasto as alegações de ausência de prova do vínculo dos responsáveis solidários com os fatos geradores das obrigações tributárias, bem como de ausência de prova do seu benefício. Conclusões Com base em todo o exposto, voto por conhecer os recursos voluntários apresentados por PRV Comércio de Peças Ltda. ME, Jeanne Cristine Tolardo Dalle Ore, Samuel Tolardo Júnior e Rogério Márcio Tolardo, para, rejeitadas as preliminares, no mérito, darlhes parcial provimento para excluir da base de cálculo tributável os valores pagos a título de valetransporte. (assinado digitalmente) Fl. 12769DF CARF MF 88 Dione Jesabel Wasilewski Relatora Fl. 12770DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10665.904964/2012-19
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Jun 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 03 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Data do fato gerador: 30/06/2008
RECURSO VOLUNTÁRIO. PRAZO. INTEMPESTIVO.
É assegurado ao Contribuinte a interposição de Recurso Voluntário no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da ciência da decisão recorrida, após esse prazo legal considera-se intempestivo o recurso.
Recurso Voluntário não conhecido.
Numero da decisão: 3301-003.895
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, não conhecer do Recurso Voluntário, por ser intempestivo.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto do Couto Chagas - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Luiz Augusto do Couto Chagas, José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DO COUTO CHAGAS
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PIS/COFINS. Recorrente DISTRIBUIDORA AMARAL LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Data do fato gerador: 30/06/2008 RECURSO VOLUNTÁRIO. PRAZO. INTEMPESTIVO. É assegurado ao Contribuinte a interposição de Recurso Voluntário no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da ciência da decisão recorrida, após esse prazo legal considerase intempestivo o recurso. Recurso Voluntário não conhecido. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, não conhecer do Recurso Voluntário, por ser intempestivo. (assinado digitalmente) Luiz Augusto do Couto Chagas Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Luiz Augusto do Couto Chagas, José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Liziane Angelotti Meira, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen. Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto pelo Contribuinte contra decisão consubstanciada no Acórdão nº 02045.470, que julgou, por unanimidade de votos, improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada pelo Contribuinte, para não reconhecer o direito creditório postulado e não homologar a compensação em litígio. O Despacho Decisório proferido pela unidade de origem não homologou a compensação declarada em PER/DCOMP pela contribuinte acima qualificada, sob o fundamento de que, a partir das características do DARF descrito no PerDcomp, foram AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 66 5. 90 49 64 /2 01 2- 19 Fl. 93DF CARF MF Processo nº 10665.904964/201219 Acórdão n.º 3301003.895 S3C3T1 Fl. 3 2 localizados um ou mais pagamentos, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PerDcomp. Inconformada com a não homologação de sua compensação, interpôs a contribuinte manifestação de inconformidade, tempestivamente, conforme relatado na decisão recorrida, alegando, em síntese, o seguinte: verificase pelos documentos anexos, que foi realizada a apuração pelo regime não cumulativo no que atine ao mês em questão por meio do Dacon, porém segundo se apurou no Dacon retificador o valor do débito nãocumulativo devido seria inferior ao efetivamente recolhido, resultando um saldo a ser compensado no PerDcomp; deve ser esclarecido que, na época própria, o contribuinte realizou a devida retificação em anexo, porém, em virtude de alteração ocorrida na própria legislação que resultou na mudança de versões, tanto do Dacon quanto na DCTF, a retificação foi transmitida, gerando assim o débito constante do Despacho Decisório; contudo, a falha no sistema em deixar de transmitir a devida retificação não pode conduzir a que seja violado o princípio constitucional da nãocumulatividade, ainda que posteriormente demonstrada, de forma cabal e inequívoca, a existência do crédito que se pretende compensar; Requerendo, ainda, o acolhimento da manifestação de inconformidade para o fim de determinar o cancelamento do débito constante do presente processo. Tendo em vista a negativa do Acórdão da 2ª Turma da DRJ/BHE, que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada pelo Contribuinte, este ingressou com Recurso Voluntário visando reformar a referida decisão. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Augusto do Couto Chagas, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3301003.883, de 29 de junho de 2017, proferido no julgamento do processo 10665.900851/201236, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3301003.883): "O Recurso Voluntário, de 22 de agosto de 2013, interposto pelo Contribuinte, em face da decisão consubstanciada no Acórdão nº 0245.458, de 25 de junho de 2013, é intempestivo, logo não atende um pressuposto legal de admissibilidade, motivo pelo qual não deve ser conhecido. Fl. 94DF CARF MF Processo nº 10665.904964/201219 Acórdão n.º 3301003.895 S3C3T1 Fl. 4 3 O prazo para que seja interposto o Recurso Voluntário contra as decisões das Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento é de 30 dias a partir da ciência da referida decisão. Observase no presente processo que a Decisão recorrida foi proferida em 25 de junho de 2013 e o Contribuinte tomou ciência da decisão recorrida em 09 de julho de 2013 como se depreende da leitura do Termo de Abertura de Documento (fls. 95): TERMO DE ABERTURA DE DOCUMENTO O Contribuinte tomou conhecimento do teor dos documentos relacionados abaixo, na data 09/07/2013 8:14h, pela abertura dos arquivos correspondentes no link Processo Digital, no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (Portal eCAC) através da opção Consulta Comunicados/Intimações. Acórdão de Manifestação de Inconformidade Contribuinte: 21.759.758/000188 DISTRIBUIDORA AMARAL LTDA (ou seu Representante Legal) DATA DE EMISSÃO : 09/07/2013 Já às fls. 96 apurase no Termo de Ciência por Decurso de Prazo que essa ciência por decurso de prazo ocorreu em 19 de julho de 2013: TERMO DE CIÊNCIA POR DECURSO DE PRAZO Foi dada ciência, ao Contribuinte, dos documentos relacionados abaixo, por decurso de prazo de 15 dias a contar da disponibilização destes documentos através da Caixa Postal, Modulo eCAC do Site da Receita Federal. Data da disponibilização na Caixa Postal: 04/07/2013 Data da ciência por decurso de prazo: 19/07/2013 Acórdão de Manifestação de Inconformidade DATA DE EMISSÃO : 20/07/2013 Constatase assim que Contribuinte tomou ciência da decisão recorrida em 09 de julho de 2013 como se depreende da leitura do Termo de Abertura de Documento e pelo Termo de Ciência por Decurso de Prazo que essa ciência ocorreu em 19 de julho de 2013. Assim, no melhor dos quadros, o prazo final para interpor o recurso seria em 20 de agosto de 2013, e que só ocorreu em 22 de agosto de 2013. Para bem ilustrar o ocorrido cito abaixo imagem do Recurso Voluntário do Contribuinte com o devido protocolo da Analista Tributário Glêucia Felipe Santiago, matrícula 012.91476 (fls. 107): Fl. 95DF CARF MF Processo nº 10665.904964/201219 Acórdão n.º 3301003.895 S3C3T1 Fl. 5 4 Portanto, de acordo com a legislação vigente e os autos do processo, voto em não conhecer do Recurso Voluntário por ser intempestivo." Da mesma forma que no caso do paradigma, no presente processo o recurso voluntário foi apresentado em 22/08/2013, e a data da ciência da decisão da DRJ, por decurso de prazo, também ocorreu em 19/07/2013. Comprovado está que também nestes autos o recurso voluntário foi apresentado após o prazo de 30 dias, portanto, intempestivamente. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, não conheço do Recurso Voluntário, por ser intempestivo. assinado digitalmente Luiz Augusto do Couto Chagas Fl. 96DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13888.000591/2008-94
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jun 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Aug 28 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/04/1999 a 31/07/2004
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. PRAZO DECADENCIAL. CINCO ANOS. TERMO A QUO. AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO ANTECIPADO SOBRE AS RUBRICAS LANÇADAS. ART. 173, INCISO I, DO CTN.
O Supremo Tribunal Federal, conforme entendimento sumulado, Súmula Vinculante de n º 8, no julgamento proferido em 12 de junho de 2008, reconheceu a inconstitucionalidade do art. 45 da Lei n º 8.212 de 1991.
Não tendo havido pagamento antecipado sobre as rubricas lançadas pela fiscalização, há que se observar o disposto no art. 173, inciso I do CTN.
Numero da decisão: 9202-005.551
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em dar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício.
(assinado digitalmente)
Patrícia da Silva - Relatora.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro E Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício)
Nome do relator: PATRICIA DA SILVA
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PRAZO DECADENCIAL. CINCO ANOS. TERMO A QUO. AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO ANTECIPADO SOBRE AS RUBRICAS LANÇADAS. ART. 173, INCISO I, DO CTN. O Supremo Tribunal Federal, conforme entendimento sumulado, Súmula Vinculante de n º 8, no julgamento proferido em 12 de junho de 2008, reconheceu a inconstitucionalidade do art. 45 da Lei n º 8.212 de 1991. Não tendo havido pagamento antecipado sobre as rubricas lançadas pela fiscalização, há que se observar o disposto no art. 173, inciso I do CTN. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em darlhe provimento. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício. (assinado digitalmente) Patrícia da Silva Relatora. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 88 8. 00 05 91 /2 00 8- 94 Fl. 505DF CARF MF 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro E Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri, Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício) Relatório A Fazenda Nacional, inconformada com o decidido no Acórdão n.º 2803 00.770, proferido pela 3ª Turma Especial da 2ª Seção do CARF em 13/05/2011, interpôs recurso especial à Câmara Superior de Recursos Fiscais com fulcro no art. 67 do regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF n.º 256, de 22 de junho de 2009, com a seguinte ementa: A Fazenda Nacional embargou a decisão quem acolhidos parcialmente, externaram um "novo entendimento" da Turma no sentido de manter a exigibilidade do mês de dezembro de 1999, mas que não faria essa alteração naquele momento, obrigando esta Câmara Fl. 506DF CARF MF Processo nº 13888.000591/200894 Acórdão n.º 9202005.551 CSRFT2 Fl. 506 3 Superior a manifestarse quanto à decadência do mês de dezembro de 1999, que segundo aponta a divergência jurisprudencial, deve ter sua cobrança mantida. O contribuinte apresenta contrarrazões para que seja mantida a decisão a quo. Voto Conselheira Patrícia da Silva Relatora Pelo constante do processo entendo atendidos os requisitos de admissibilidade, motivo pelo qual conheço o recurso especial da Fazenda Nacional. Já quanto ao mérito, importa frisar que a decisão a quo em tese já contemplaria a decisão do STJ sobre a incidência do art. 173, I do CTN, quando não há pagamentos no período, entretanto, não foi o que prevaleceu, seja no acórdão, seja na decisão dos embargos. O período contido na NFLD abrange as competência de 04/99 a 07/2004, tendo sido consideradas como decaídas, pela Turma a quo, as competências lançadas até 12/1999, inclusive. Entretanto, a competência de dezembro de 1999 não decaiu, pois o crédito somente poderia ser constituído após o vencimento, data na qual se exigia o pagamento antecipado, ou seja, em janeiro de 2000. Com efeito, no julgamento do Resp nº 1.120.295SP, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 2152010, submetido ao rito dos recursos respectivos (art. 543C do CPC/73) decidiuse que o “prazo prescricional quinquenal para o Fisco exercer a pretensão de cobrança judicial do crédito tributário contase da data estipulada como vencimento para o pagamento da obrigação tributária declarada (mediante DCTF, GIA, entre outros), nos casos de tributos sujeitos a lançamento por homologação, em que, não obstante cumprido o dever instrumental de declaração da exação devida, não restou adimplida a obrigação principal (pagamento antecipado), nem sobreveio quaisquer das causas suspensivas da exigibilidade do crédito ou interruptivas do prazo prescricional”. Assim, o prazo decadencial possui como termo de início, a teor do art. 173, I do CTN o primeiro dia do exercício seguinte, ou seja, 1 de janeiro de 2001, o qual findaria somente em 1 de janeiro de 2006. Como visto o lançamento foi cientificado ao contribuinte em 04/11/2005, não havendo, portanto, a decadência de dezembro de 1999. Fl. 507DF CARF MF 4 Outrossim, voto em dar provimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Patrícia da Silva Fl. 508DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12448.724782/2012-48
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 08 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Sep 14 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007, 2008
ÁGIO ORIUNDO DE AQUISIÇÃO COM USO DE RECURSOS FINANCEIROS DE OUTREM. AMORTIZAÇÃO. INDEDUTIBILIDADE.
A hipótese de incidência tributária da possibilidade de dedução das despesas de amortização do ágio, prevista no art. 386 do RIR/1999, requer que participe da "confusão patrimonial" a pessoa jurídica investidora real, ou seja, aquela que efetivamente acreditou na "mais valia" do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição.
Não é possível o aproveitamento tributário do ágio se a investidora real transferiu recursos a uma "empresa-veículo" com a específica finalidade de sua aplicação na aquisição de participação societária em outra empresa e se a "confusão patrimonial" advinda do processo de incorporação não envolve a pessoa jurídica que efetivamente desembolsou os valores que propiciaram o surgimento do ágio, ainda que a operação que o originou tenha sido celebrada entre terceiros independentes e com efetivo pagamento do preço.
Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2007, 2008
TRIBUTAÇÃO REFLEXA
Sendo a tributação decorrente dos mesmos fatos e inexistindo razões que ensejem tratamento diverso, aplica-se à CSLL o quanto decidido em relação ao IRPJ.
Numero da decisão: 9101-003.006
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto o conselheiro Luís Flávio Neto. Declarou-se impedida de participar do julgamento a conselheira Lívia de Carli Germano (suplente convocada).
(Assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente.
(Assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araújo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2007, 2008 ÁGIO ORIUNDO DE AQUISIÇÃO COM USO DE RECURSOS FINANCEIROS DE OUTREM. AMORTIZAÇÃO. INDEDUTIBILIDADE. A hipótese de incidência tributária da possibilidade de dedução das despesas de amortização do ágio, prevista no art. 386 do RIR/1999, requer que participe da "confusão patrimonial" a pessoa jurídica investidora real, ou seja, aquela que efetivamente acreditou na "mais valia" do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição. Não é possível o aproveitamento tributário do ágio se a investidora real transferiu recursos a uma "empresa-veículo" com a específica finalidade de sua aplicação na aquisição de participação societária em outra empresa e se a "confusão patrimonial" advinda do processo de incorporação não envolve a pessoa jurídica que efetivamente desembolsou os valores que propiciaram o surgimento do ágio, ainda que a operação que o originou tenha sido celebrada entre terceiros independentes e com efetivo pagamento do preço. Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL Ano-calendário: 2007, 2008 TRIBUTAÇÃO REFLEXA Sendo a tributação decorrente dos mesmos fatos e inexistindo razões que ensejem tratamento diverso, aplica-se à CSLL o quanto decidido em relação ao IRPJ.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto o conselheiro Luís Flávio Neto. Declarou-se impedida de participar do julgamento a conselheira Lívia de Carli Germano (suplente convocada). (Assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente. (Assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 28; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1882; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => CSRFT1 Fl. 2 1 1 CSRFT1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 12448.724782/201248 Recurso nº Especial do Contribuinte Acórdão nº 9101003.006 – 1ª Turma Sessão de 08 de agosto de 2017 Matéria Legitimidade de aproveitamento fiscal da amortização de ágio. Recorrente ECISA PARTICIPAÇÕES LTDA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007, 2008 ÁGIO ORIUNDO DE AQUISIÇÃO COM USO DE RECURSOS FINANCEIROS DE OUTREM. AMORTIZAÇÃO. INDEDUTIBILIDADE. A hipótese de incidência tributária da possibilidade de dedução das despesas de amortização do ágio, prevista no art. 386 do RIR/1999, requer que participe da "confusão patrimonial" a pessoa jurídica investidora real, ou seja, aquela que efetivamente acreditou na "mais valia" do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição. Não é possível o aproveitamento tributário do ágio se a investidora real transferiu recursos a uma "empresaveículo" com a específica finalidade de sua aplicação na aquisição de participação societária em outra empresa e se a "confusão patrimonial" advinda do processo de incorporação não envolve a pessoa jurídica que efetivamente desembolsou os valores que propiciaram o surgimento do ágio, ainda que a operação que o originou tenha sido celebrada entre terceiros independentes e com efetivo pagamento do preço. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2007, 2008 TRIBUTAÇÃO REFLEXA Sendo a tributação decorrente dos mesmos fatos e inexistindo razões que ensejem tratamento diverso, aplicase à CSLL o quanto decidido em relação ao IRPJ. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 44 8. 72 47 82 /2 01 2- 48 Fl. 1283DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 3 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto o conselheiro Luís Flávio Neto. Declarouse impedida de participar do julgamento a conselheira Lívia de Carli Germano (suplente convocada). (Assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente. (Assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela contribuinte ECISA PARTICIPAÇÕES LTDA em 06/07/2015, com fundamento nos arts. 64, inciso II, 67 e seguintes do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09/06/2015 (RICARF/2015), em que se alega a existência de divergências jurisprudenciais acerca da legitimidade de aproveitamento fiscal da amortização de ágio (art. 386, inciso III do RIR/99). A recorrente insurgese contra o Acórdão nº 1402001.949 (efls. 981/1014), de 24/03/2015, por meio do qual os membros da 2a Turma Ordinária da 4a Câmara da 1a Seção de Julgamento do CARF decidiram, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício, e, por voto de qualidade, negar provimento ao recurso voluntário. O acórdão recorrido foi assim ementado: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2007, 2008 PROVA. REORGANIZAÇÕES QUE LEVAM AO MESMO RESULTADO TRIBUTÁRIO. CORRELAÇÃO DE LICITUDES. INEXISTÊNCIA. O simples fato de existir uma reorganização societária lícita que não utiliza empresa veículo não fundamenta adequadamente a conclusão de que outra Fl. 1284DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 4 3 forma de reorganização é lícita ou ilícita, utilize ela ou não aquele tipo de empresa, chegue ou não ao mesmo resultado tributário. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007, 2008 PROVISÃO PARA PERDAS EM INVESTIMENTOS E SUA REVERSÃO. Comprovado na impugnação, com confirmação em diligência efetuada, que as provisões para perdas em investimentos foram neutras relativamente à apuração da base de cálculo do IRPJ, e que as suas reversões só também ficaram neutras com as exclusões efetuadas pelo contribuinte, cancelase a glosa destas exclusões. IRPJ/CSLL. UTILIZAÇÃO DE SOCIEDADE VEÍCULO. REESTRUTURAÇÃO SOCIETÁRIA. ÁGIO TRANSFERIDO. AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO INDEVIDA. 1. O direito à contabilização do ágio não pode ser confundido com o direito à sua amortização. 2. Em regra, o ágio efetivamente pago em operação entre empresas não ligadas e calcadas em laudo que comprove a expectativa de rentabilidade futura deve compor o custo do investimento, sendo dedutível somente no momento da alienação de tal investimento (inteligência do art. 426 do RIR/99). 3. A exceção trazida pelo caput do art. 386, e seu inciso III, pressupõe uma efetiva reestruturação societária na qual a investidora absorve parcela do patrimônio da investida, ou viceversa (§6º, II). A operacionalização de tal reestruturação de forma artificial, calcada em operações meramente formais e com fins unicamente tributários mediante utilização de “empresas veículo”, não possui o condão de alterar a verdade dos fatos, de modo a transformar o que deveria ser contabilizado como custo do investimento em amortização de ágio. 3. A amortização do ágio oriundo de operações societárias, para ser eficaz perante o Fisco, deve decorrer de atos efetivamente existentes, e não apenas artificiais e formalmente revelados em documentação ou na escrituração mercantil ou fiscal. 4. Nesse cenário, o ágio artificialmente transferido não pode ser utilizado para redução da base de cálculo de tributos. 5. A utilização de sociedade veículo, de curta duração, constitui prova da artificialidade daquela sociedade e das operações nas quais ela tomou parte, notadamente, no caso concreto, a transferência do ágio ao real investidor para fins de amortização. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2007, 2008 LANÇAMENTOS DECORRENTES. CSLL. Fl. 1285DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 5 4 Aplicase ao lançamento tido como reflexo as mesmas razões de decidir do lançamento matriz, em razão de sua íntima relação de causa e efeito, na medida em que não há fatos ou elementos novos a ensejar conclusões diversas. [...] A contribuinte apresentou Recurso Especial (efls. 1074/1102) insurgindose contra o acórdão que apreciou seu recurso voluntário, sob a alegação de que ele teria dado à lei tributária interpretação diversa da que tem sido adotada em outros processos julgados no âmbito do CARF. O recurso especial apresentado pela contribuinte contesta a interpretação dada pelo acórdão recorrido em relação à legitimidade de aproveitamento fiscal da amortização de ágio (art. 386, inciso III do RIR/99). Em atendimento aos requisitos de admissibilidade do recurso especial, previstos nos arts. 67 e seguintes do Anexo II do RICARF/2015, a recorrente apontou acórdãos de turmas de câmara do CARF (nº1301001.505, de 06/05/2014 e nº 1302001.532, de 21/10/2014) que teriam dado ao tema combatido interpretação diversa daquela esposada pelo acórdão recorrido. Segundo o acórdão recorrido, a utilização da empresa veículo LICIA para aquisição, pela empresa BR MALLS, de participação societária da contribuinte ECISAPAR (de forma direta e, também, indireta, por meio da aquisição da totalidade das ações da empresa DYLPAR, que detinha quotas da contribuinte), seguida da incorporação da LICIA pela ECISAPAR, não revelaria propósito negocial e, portanto, não permitiria o aproveitamento fiscal do ágio pago na aquisição das quotas da contribuinte, conforme arts. 7º e 8º da Lei n° 9.532/97 (reproduzido pelo art. 386 do RIR). A interposição da LICIA e o aproveitamento fiscal do ágio pela própria ECISAPAR teria ocasionado uma economia de tributos diferente da que seria obtida sem a participação da empresa veículo, configurando típico planejamento fiscal inoponível ao fisco. Já os acórdãos paradigmas trariam o entendimento de que a utilização de empresa veículo, desde que dessa utilização não tenha resultado aparecimento de novo ágio, não resulta economia de tributos diferente da que seria obtida sem a utilização daquela empresa veículo e, por conseguinte, não poderia ser qualificada de planejamento fiscal inoponível ao fisco. Assim constou reproduzido no relatório do despacho (efls. 1228/1235) que examinou a admissibilidade do recurso especial: "Ou seja, segundo o ACÓRDÃO RECORRIDO, a utilização de LICIA para aquisição da participação societária de ECISAPAR e DYLPAR, seguida de cisão total de LICIA e DYLPAR e posterior incorporação das parcelas patrimoniais cindidas por ECISAPAR, não revelaria propósito negocial e, portanto, não permitiria o aproveitamento fiscal do ágio pago na aquisição de ECISAPAR, conforme admitido pelos arts. 7º e 8º da Lei n° 9.532/97 (reproduzido pelo art. 386 do RIR). Para o ACÓRDÃO RECORRIDO, a interposição de LICIA teria ocasionado uma economia de tributos diferente da que seria obtida sem a sua participação, configurando típico planejamento fiscal inoponível ao fisco. [...] Fl. 1286DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 6 5 No mesmo sentido do ACÓRDÃO PARADIGMA n° 1, o CARF entendeu que a utilização de empresa veículo não prejudicaria o direito de o contribuinte atribuir efeitos fiscais à amortização do ágio pago na aquisição de investimento. Segundo o ACÓRDÃO PARADIGMA N° 2, não haveria nenhuma vedação legal para a utilização de LAKELAND. [...] Tendo sido demonstrada a divergência jurisprudencial para fins de admissibilidade do presente recurso especial, nos termos do art. 67 do Regimento Interno do CARF, a RECORRENTE passa a demonstrar a improcedência do entendimento adotado pelo ACÓRDÃO RECORRIDO. O produto da amortização do ágio integra as contas de resultados d investidora, diminuindo o lucro líquido do exercício, não obstante, não é levado em consideração na determinação do lucro real da investidora e, por isso, seu valor é adicionado ao lucro líquido para fins de tributação, só produzindo efeitos fiscais à época da baixa do investimento, em razão de sua alienação ou liquidação (artigos 391 e 426, II, do RIR). Com a publicação da Lei n° 9.532/97 (base legal do art. 38 6 do RIR), foram introduzidos mecanismos que passaram a regular expressamente o tratamento fiscal do ágio no caso de fusão, cisão ou incorporação de empresas. De acordo com os arts 7° e 8° da Lei n° 9.532/97, a pessoa jurídica que tenha adquirido investimentos com ágio (i.e., a investidora), ao incorporar a sociedade em que feito o investimento (i.e., a investida) ou ser por ela incorporada (incorporação inversa), passa a ter o direito de atribuir efeitos fiscais à amortização do ágio conforme seu fundamento. Como demonstrado no decorrer do presente processo, a regulamentação do tratamento de ágio pago na aquisição de empresas foi extremamente importante para o processo de privatização que, na época da publicação da Lei n° 9.532/97, se encontrava em andamento no país. Com o expresso reconhecimento de que o ágio pago na aquisição das estatais poderia ser fiscalmente amortizado nas hipóteses de incorporação inversa, as autoridades governamentais buscaram tornar mais atraente o processo de privatização, aumentando o valor arrecadado com a venda das empresas estatais. Conforme mencionado por João Dácio Rolim e Frederico Almeida, "o governo buscou tornar os investimentos nas estatais mais interessantes para os potenciais investidores, na medida em que os ágios pagos nos leilões de privatização de estatais pudessem ser deduzidos fiscalmente na apuração do Imposto de Renda e da CSLL desses investidores" ("O Ágio e Investimentos e o uso de EmpresasVeículo", in Revista Dialética de Direito Tributário n° 158). Ressaltese, contudo, que as incorporações efetuadas logo após o processo de privatização não se justificariam senão em razão do próprio aproveitamento do ágio verificado, conforme expressamente previsto na Lei n° 9.532/97. É evidente que as empresas adquirentes, até mesmo em razão de terem sido constituídas exclusivamente para o processo de privatização, não exerciam quaisquer das atividades que até então eram predominantemente exercidas em território brasileiro pelas estatais. Ou seja, na data em que publicada a Lei n° 9.532/97, já era de pleno conhecimento do governo que Fl. 1287DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 7 6 nenhuma sinergia operacional entre a investidora e a investida poderia ser razoavelmente apresentada para justificar as incorporações que viriam a ser efetuadas, com a consequente dedutibilidade do ágio então verificado na aquisição da empresa. Por outro lado, era comum que as próprias regras dos editais de privatização exigissem a constituição de sociedade de propósito especifico para proceder à liquidação financeira da empresa então adquirida por privatização. Ao promulgar a Lei n° 9.532/97, o governo brasileiro já tinha ciência de que nenhum propósito relevante poderia ser apresentado para que as incorporações disciplinadas por seus artigos 1° e 8o pudessem ser efetuadas, sendo o aproveitamento do ágio por si só suficiente e justificável. Na realidade, a utilização de empresa veiculo para aquisição do investimento e posterior incorporação para fins de aproveitamento fiscal do ágio não foi vedado, mas até mesmo incentivado pelos referidos dispositivos legais. [...] 0 tratamento fiscal dado ao ágio pela Lei n° 9.532/97 não foi, contudo, expressamente circunscrito à aquisição das empresas ^st cais, sendo aplicável a todo e qualquer caso de aquisição empresas que viessem a ser incorporadas (conforme expressamente reconhecido pela transcrição constante do item anterior). Notese, nesse sentido, que até mesmo restruturações societárias consistentes na aquisição de investimento em empresa operacional por determinada sociedade, transferência do mesmo a empresa veículo e subsequente incorporação desta última pela empresa operacional foram expressamente aceitas e disciplinadas de forma genérica pela CVM, como forma de o contribuinte usufruir do tratamento fiscal dado ao ágio pela Lei n° 9.532/97. Importante destacar o seguinte trecho da Nota Explicativa da CVM à Instrução n° 349/01 [...]. A referida Nota Explicativa detalhou os procedimentos que deveriam ser observados pelas companhias abertas nas reestruturações previstas pela Lei n° 9.532/97, com ênfase para as incorporações precedidas da criação de veículos, tendo atribuído valor específico à economia fiscal que, nas incorporações inversas, o controlador transfere à controlada. Ou seja, reconhece os efeitos fiscais nos casos de incorporação de empresas veículo. Podese, assim, afirmar que o próprio Poder Executivo, por uma de suas autarquias (a CVM), reconhece, expressamente, que o registro de ágio por uma pessoa jurídica, inclusive um veículo criado após a aquisição dos investimentos de terceiros, com a subsequente incorporação da empresa investidora é apta a gerar a dedutibilidade do ágio nos termos dos arts. 1° e 8o da Lei n° 9.532/97, independentemente da existência de motivação negocial. Na realidade, conforme demonstrado ao longo do presente processo, a utilização de empresa veículo para a aquisição de investida e posterior incorporação daquela não tem influência direta no aproveitamento fiscal do ágio, pois ele seria possível mesmo que a utilização do veículo não tivesse ocorrido. Fl. 1288DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 8 7 Caso a empresa investidora tivesse diretamente adquirido a empresa investida, em vez de interpor um veículo, ainda assim nasceria o direito ao aproveitamento fiscal do ágio pago na aquisição do investimento, bastando que a investidora incorporasse a empresa investida (ou viceversa). A opção por utilizar qualquer um dos dois modelos acima descritos (com ou sem interposição de empresa veículo) para a estruturação do negócio planejado atende a critérios iminentemente societários e não acarreta qualquer prejuízo ao fisco, pois, como visto, o aproveitamento fiscal do ágio poderia ocorrer caso um ou outro modelo fosse adotado. O ACÓRDÃO RECORRIDO afirma que o planejamento tributário engendrado pela BR MALLS mediante a utilização de LICIA (empresa veículo) para aquisição da ECISAPAR seria ilícito porque realizado mediante abuso do direito. Ao contrário do que afirma o ACÓRDÃO RECORRIDO, o eventual abuso de direito não deve ser analisado com base nas operações societárias efetuadas. A utilização de empresa veículo não resulta, como afirma o ACÓRDÃO RECORRIDO, em economia de tributo diferente daquela que seria obtida sem a sua utilização, pois, repitase, o aproveitamento fiscal do ágio poderia ocorrer mesmo que o contribuinte não tivesse utilizado um veiculo. [...] De acordo com o entendimento do CARF, a reorganização societária somente poderia ser desconsiderada para fins fiscais se efetuada com o objetivo de criar uma vantagem fiscal adicional, o que não ocorre com a simples utilização de empresa veiculo. Em diversas oportunidades, o CARF adotou o entendimento de que é necessário perquirir a origem do ágio, e não o seu aproveitamento posterior por meio de incorporação, inclusive com a utilização de empresa veículo. Nesse sentido, temse admitido a dedução de despesas com amortização de ágio sempre que constatado que ele teve origem em uma efetiva aquisição onerosa de participação societária entre partes não relacionadas, com pagamento de preço. [...] No caso, a exemplo do que ocorreu nas situações analisadas nos Acórdãos acima mencionados, os ágios deduzidos pela ECISAPAR tiveram origem em operações onerosas e realizadas entre partes não relacionadas; ou seja, não há dúvida de que o ágio efetivamente existiu e que, por consequência, não poderia deixar de ser considerado e deduzido pela ECISAPAR. Neste particular, repisese que o lançamento efetuado, conforme demonstra o TERMO anexo aos AUTOS, não questiona a efetiva existência dos ágios e o fato de que as referidas aquisições foram feitas de forma onerosa e entre partes não relacionadas. Também não há qualquer questionamento quanto ao fundamento dos ágios, qual seja, perspectivas de rentabilidade futura. Além do mais, deve ser ressaltado que a utilização de LICIA foi motivada por fatores que não simplesmente a economia tributária. Podese citar, dentre outros de conveniência societária, a readequação da estrutura Fl. 1289DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 9 8 patrimonial da ECISAPAR e a consequente melhoria de sua capacidade financeira. Como se sabe, nos termos das Instruções da CVM n° 319/99, e n° 349/01, nas incorporações inversas, a parcela do ágio suscetível de ser aproveitada em termos fiscais é tratada como um ativo da incorporadora, cuja contrapartida é registrada em uma conta de patrimônio liquido (a reserva a que se refere o art. 6° da Instrução n° 319/99). Assim, a incorporação de LICIA pela RECORRENTE importou no aumento do valor de seu patrimônio líquido e na melhoria de suas condições de endividamento, fato importante a uma empresa operacional como a ECISAPAR. [...] Parece que a autoridade julgadora de segunda instância não compreendeu adequadamente os argumentos trazidos por ECISAPAR quando de sua sustentação oral na sessão de 24.03.2015. Aliás, cumpre esclarecer que os referidos argumentos não foram apresentados apenas oralmente, mas constam também dos itens 4.42 e 4.43 do recurso voluntário tempestivamente apresentado por ECISAPAR. Ao contrário do que parece ter entendido o ACÓRDÃO RECORRIDO, a necessidade de melhora na capacidade de endividamento era da ECISAPAR (e não de LICIA) que, por ser empresa operacional, teria em eventual empréstimo uma variante importante na consecução do seu plano de negócios. Por este mesmo motivo, é também completamente descabida a afirmação de que a BR MALLS poderia tomar empréstimos. Repitase, quem precisava incrementar sua capacidade de endividamento era a ECISAPAR, e não a BR MALLS. [...] O entendimento é totalmente equivocado. Para que possa considerar que uma empresa carece de propósito negocial é necessário que o fiscal examine todo o contexto de forma mais profunda, a fim de perquirir outros elementos que comprovem a alegada ausência de substância econômica. Qualquer empresa que adquire participação societária,e logo depois é incorporada, participa de um negócio por um curto lapso de tempo. Este fato, por si só, não é suficiente para consubstanciar o lançamento ora combatido, sendo certo que a fiscalização deveria ter se dedicado a carrear aos autos outros indícios que corroborassem a ausência de justificativa econômica. Em suma, não há qualquer fundamento para a desconsideração, para efeitos fiscais, das operações realizadas no caso ora em exame, devendo o ACÓRDÃO RECORRIDO ser reformado e, portanto, cancelados os créditos tributários lançados pelos AUTOS. [...] Por todo o exposto, pede e espera a RECORRENTE que seja o presente recurso especial admitido, conhecido e provido, de forma que seja reformado o ACÓRDÃO RECORRIDO e, consequentemente, integralmente cancelados os AUTOS." Fl. 1290DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 10 9 A irresignação da contribuinte foi submetida a juízo de admissibilidade, a fim de se verificar o atendimento aos requisitos regimentalmente exigidos dos recursos especiais. O resultado foi o já citado despacho (efls. 1228/1235), de 27/07/2015, que concluiu que restou configurada a divergência jurisprudencial apontada pelo sujeito passivo, já que os tratamentos dados à matéria discutida nos acórdãos examinados revelaramse discordantes: "Examinando os acórdãos paradigmas verificase que trazem o entendimento de que no contexto da legislação tributária, mediante utilização de empresa veículo, desde que dessa utilização não tenha resultado aparecimento de novo ágio, não resulta economia de tributos diferente da que seria obtida sem a utilização da empresa veículo e, por conseguinte, não pode ser qualificada de planejamento fiscal inoponível ao fisco. Consta no voto condutor do acórdão recorrido: Conforme se observa, os pontos destacados por Greco ressaltam aos olhos no caso concreto, pois as operações perpetradas pela Recorrente foram estruturadas em sequência, sem qualquer propósito negocial que não seja a mera economia tributária. Ou seja, utilizouse de sociedades de passagem a fim de que a mais valia na aquisição de ações contabilizada como ágio e que deveria compor o custo do investimento para fins de apuração de ganho de capital , após imediata incorporação reversa entre investida e investidora (empresa veículo), se transformasse em despesa dedutível na Recorrente mediante transferência do ágio a ser amortizado. Assim, considerandose que a real operação foi a aquisição das ações de ECISAPAR por BRMALLS e tais empresas jamais chegaram a tornarse uma única mediante incorporação ou fusão, não houve a ocorrência da extinção do investimento apta a permitir que o ágio pago na aquisição das ações pudesse ser amortizado, devendo tal valor compor o custo de aquisição das ações de ECISAPAR em eventual futura alienação de tais ações por parte de BRMALLS. O acórdão recorrido, por seu turno, vem considerar que o ágio artificialmente transferido não pode ser utilizado para redução da base de cálculo de tributos. A utilização de sociedade veículo, de curta duração, constitui prova da artificialidade daquela sociedade e das operações nas quais ela tomou parte, notadamente, no caso concreto, a transferência do ágio ao real investidor para fins de amortização. Portanto, as conclusões sobre a matéria ora recorrida nos acórdãos examinados revelamse discordantes, restando plenamente configurada a divergência jurisprudencial pelo Sujeito Passivo." Sendo assim, e restando cumpridos os demais requisitos de admissibilidade estabelecidos regimentalmente, o recurso especial foi admitido em relação a matéria arguida pelo recorrente: "Legitimidade do aproveitamento fiscal da amortização do ágio". Os autos seguiram então para a CSRF para o julgamento do recurso especial interposto pela contribuinte. Fl. 1291DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 11 10 Contrarrazões da PGFN às fls. 1237 a 1248, onde se tratou apenas do mérito; não tendo sido, portanto, levantada preliminar de não conhecimento. É o relatório. Fl. 1292DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 12 11 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. O ponto central do debate desenvolvido ao longo dos autos diz respeito à regularidade do procedimento adotado pela contribuinte ECISA PARTICIPAÇÕES LTDA. ECISAPAR (e condenado pela Fiscalização) de deduzir, nos anoscalendário de 2007 e 2008, do lucro real e da base de cálculo da CSLL, despesas com amortização do ágio registrado originalmente na contabilidade da empresa veículo LICIA PARTICIPAÇÕES LTDA., por ocasião da aquisição de quotas da autuada (operação ocorrida em 13/11/2006) e de ações da empresa DYLPAR PARTICIPAÇÕES S/A (evento de 20/12/2006), que também detinha participação societária na ECISAPAR. Tais aquisições foram pagas com recursos financeiros recebidos, pela LICIA, de sua controladora BR MALLS PARTICIPAÇÕES S/A. Esta empresa adquiriu 100% das quotas da LICIA em 20/10/2006 e aumentou seu capital social, então de apenas R$1.500,00, com aportes de R$191.822.729,85 (em 10/11/2006) e R$174.487.338,98 (em 20/12/2006), para fins de aquisição de quotas da ECISAPAR e de ações da DYLPAR e de uma terceira empresa., a ECISA ENGENHARIA COMÉRCIO E INDÚSTRIA S/A (ECISAENG). A aquisição de 28,8% das quotas da recorrente gerou, na contabilidade da LICIA, o registro de ágio no montante de R$58.320.450,11. Já a aquisição das ações da DYLPAR, que detinha 26,2% das quotas da recorrente, propiciou, também nos registros contábeis da LICIA, o aparecimento de ágio no valor de R$31.891.870,59. No final de dezembro de 2006, as empresas LICIA e DYLPAR sofreram cisão integral e metade da participação societária de cada uma destas empresas foi incorporada por sua então controlada, ECISAPAR, em operação conhecida como incorporação reversa. Assim, as quotas de participação societária da própria contribuinte foram introduzidas em sua contabilidade, juntamente com o ágio a elas associado. A contribuinte passou, então, a deduzir do lucro real e da base de cálculo da CSLL despesas decorrentes da amortização do ágio recém introduzido em seu patrimônio, considerando que tal prática estaria amparada pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997, também contempladas no Regulamento do Imposto de Renda (RIR/1999), nos arts. 385 e 386. A respeito da figura do ágio, há que se dizer que seu conceito tributário foi introduzido no ordenamento brasileiro pelo DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977. À época dos fatos discutidos nestes autos, dispunha o art. 20 do DecretoLei, antes de ter sua redação alterada pela Lei nº 12.973, de 13/05/2014: Art 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e Fl. 1293DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 13 12 II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento. § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras a e b do § 2º deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração. O art. 385 do RIR/1999 é basicamente uma cópia do art. 20 do DecretoLei nº 1.598/1977. Em ambos os dispositivos, encontrase a determinação de que contribuintes que avaliam investimentos em sociedade controlada ou coligada pelo valor do patrimônio líquido registrem o ágio apurado na aquisição de participação societária em subconta separada daquela que registra o valor do patrimônio líquido da investida na época da aquisição. Além disso, os dispositivos também prevêem que tal ágio deve ser fundamentado em pelo menos um dos três fatores: a) valor de mercado dos bens do ativo da investida superior ao registrado na contabilidade; b) expectativa de resultados positivos da investida nos exercícios futuros ou; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. Quando o art. 20 do DecretoLei nº 1.598/1977 e o art. 385 do RIR/1999 afirmam que o destinatário das regras ali expostas é o contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido, estão se referindo ao método da equivalência patrimonial. Segundo tal método, as variações observadas nos patrimônios líquidos da sociedades coligadas ou controladas provocam reflexos nos valores dos investimentos registrados na investidora. Observese o que dispõem os arts. 387 a 389 do RIR/1999, a respeito do método de equivalência patrimonial: Art. 387. Em cada balanço, o contribuinte deverá avaliar o investimento pelo valor de patrimônio líquido da coligada ou controlada, de acordo com o disposto no art. 248 da Lei nº 6.404, de 1976, e as seguintes normas (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 21, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso III): : I o valor de patrimônio líquido será determinado com base em balanço patrimonial ou balancete de verificação da coligada ou controlada levantado na mesma data do balanço do contribuinte ou até dois meses, no máximo, antes dessa data, com observância da lei comercial, inclusive quanto à Fl. 1294DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 14 13 dedução das participações nos resultados e da provisão para o imposto de renda; (...) Art. 388. O valor do investimento na data do balanço (art. 387, I), deverá ser ajustado ao valor de patrimônio líquido determinado de acordo com o disposto no artigo anterior, mediante lançamento da diferença a débito ou a crédito da conta de investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 22). (...) Art. 389. A contrapartida do ajuste de que trata o art. 388, por aumento ou redução no valor de patrimônio líquido do investimento, não será computada na determinação do lucro real (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 23, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso IV). (...) O art. 389 do RIR/1999 é explícito ao determinar que os resultados auferidos pelas empresas coligadas ou controladas não devem ser computados na determinação do resultado da investidora. Assim, lucros apurados em uma investida devem ser objeto de tributação somente no âmbito daquela empresa. Embora tenham o reflexo de majorar o valor do investimento registrado na investidora, os lucros da investida não devem integrar a base tributável da pessoa jurídica que nela detém participação societária, sob pena de configurarse hipótese de dupla tributação. Caso a investidora tenha registrado, em sua contabilidade, ágio decorrente da expectativa de rentabilidade futura da investida, concluise que a causa do pagamento a maior efetivamente se concretizou, mas foi tributada somente na coligada ou controlada. Sendo assim, não há que se cogitar de amortização do ágio na investidora, uma vez que não ocorre, nesta pessoa jurídica, tributação do resultado positivo da investida. Somente seria lógico falar em amortização daquele ágio caso a concretização do motivo que lhe deu causa, qual seja, a lucratividade futura da investida, tivesse reflexos tributários na pessoa jurídica que pagou a "mais valia". Dessa forma, o dispêndio a maior poderia ser gradativamente recuperado sob a forma de despesas dedutíveis, se os lucros que o motivaram provocassem um maior recolhimento de tributos nos períodos posteriores à aquisição do investimento. Como, por determinação legal, não é esta a hipótese que se verifica no método de equivalência patrimonial, podese concluir que a regra geral é a da impossibilidade de utilização fiscal do ágio registrado na investidora. É o que reza expressamente o art. 391 do RIR/1999: Art. 391. As contrapartidas da amortização do ágio ou deságio de que trata o art. 385 não serão computadas na determinação do lucro real, ressalvado o disposto no art. 426 (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 25, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso III). Parágrafo único. Concomitantemente com a amortização, na escrituração comercial, do ágio ou deságio a que se refere este artigo, será mantido Fl. 1295DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 15 14 controle, no LALUR, para efeito de determinação do ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação do investimento (art. 426). Existem, contudo, duas exceções a tal regra. A primeira delas é indicada pelo próprio art. 391, quando ressalva o disposto no art. 426 do mesmo RIR/1999: Art. 426. O valor contábil para efeito de determinar o ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor de patrimônio líquido (art. 384), será a soma algébrica dos seguintes valores (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 33, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso V): I valor de patrimônio líquido pelo qual o investimento estiver registrado na contabilidade do contribuinte; II ágio ou deságio na aquisição do investimento, ainda que tenha sido amortizado na escrituração comercial do contribuinte, excluídos os computados nos exercícios financeiros de 1979 e 1980, na determinação do lucro real; III provisão para perdas que tiver sido computada, como dedução, na determinação do lucro real, observado o disposto no parágrafo único do artigo anterior. A primeira exceção à regra da impossibilidade de aproveitamento tributário do ágio tratado pelo art. 385 do RIR/1999 diz respeito, portanto, à apuração de ganho ou perda de capital. Se o investimento que deu causa à "mais valia" for alienado ou liquidado, o ágio ou deságio registrados na contabilidade da controladora devem compor o custo de aquisição considerado no cálculo do resultado tributável da operação, sobre o qual incidirão IRPJ e CSLL. Já a segunda exceção, que interessa mais diretamente à discussão desenvolvida nos presentes autos, referese às transformações societárias envolvendo investidoras, investidas e o ágio associado aos investimentos. A respeito da evolução histórica das previsões legais que contemplaram a possibilidade de aproveitamento tributário do ágio em hipóteses de transformações societárias, remetome ao irretocável apanhado feito pelo nobre Conselheiro André Mendes de Moura no recente Acórdão nº 9101002.301: "Primeiro, o tratamento conferido à participação societária extinta em fusão, incorporação ou cisão, atendia o disposto no art. 34 do DecretoLei nº 1.598, de 1977: Art 34 Na fusão, incorporação ou cisão de sociedades com extinção de ações ou quotas de capital de uma possuída por outra, a diferença entre o valor contábil das ações ou quotas extintas e o valor de acervo líquido que as substituir será computado na determinação do lucro real de acordo com as seguintes normas: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) I somente será dedutível como perda de capital a diferença entre o valor contábil e o valor de acervo líquido avaliado a preços de mercado, e o contribuinte poderá, para efeito de determinar o lucro Fl. 1296DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 16 15 real, optar pelo tratamento da diferença como ativo diferido, amortizável no prazo máximo de 10 anos; (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) II será computado como ganho de capital o valor pelo qual tiver sido recebido o acervo líquido que exceder o valor contábil das ações ou quotas extintas, mas o contribuinte poderá, observado o disposto nos §§ 1º e 2º, diferir a tributação sobre a parte do ganho de capital em bens do ativo permanente, até que esse seja realizado. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 1º O contribuinte somente poderá diferir a tributação da parte do ganho de capital correspondente a bens do ativo permanente se: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) a) discriminar os bens do acervo líquido recebido a que corresponder o ganho de capital diferido, de modo a permitir a determinação do valor realizado em cada períodobase; e (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) b) mantiver, no livro de que trata o item I do artigo 8º, conta de controle do ganho de capital ainda não tributado, cujo saldo ficará sujeito a correção monetária anual, por ocasião do balanço, aos mesmos coeficientes aplicados na correção do ativo permanente. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 2º O contribuinte deve computar no lucro real de cada período base a parte do ganho de capital realizada mediante alienação ou liquidação, ou através de quotas de depreciação, amortização ou exaustão deduzidas como custo ou despesa operacional. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) O que se pode observar é que o único requisito a ser cumprido, como perda de capital, é que o acervo líquido vertido em razão da incorporação, fusão ou cisão estivesse avaliado a preços de mercado. Contudo, para que se consumasse a perda de capital prevista no inciso I, o valor contábil deveria ser maior do que o acervo líquido avaliado a preços de mercado, e tal situação se mostraria viável, especialmente, quando, imediatamente após à aquisição do investimento com ágio, ocorresse a operação de incorporação, fusão ou cisão. Ocorre que tal previsão se consumou em operações um tanto quanto questionáveis por vários contribuintes, mediante aquisição de empresas deficitárias pagandose ágio, para, em logo em seguida, promover a incorporação da investidora pela investida. As operações ocorriam quase simultaneamente. E, nesse contexto, o aproveitamento do ágio, nas situações de transformação societária, sofreu alteração legislativa. Vale transcrever a Exposição de Motivos da MP nº 1.602, de 19971, que, posteriormente, foi convertida na Lei nº 9.532, de 1997. 1 Exposição de Motivos publicada no Diário do Congresso Nacional nº 26, de 02/12/1997, pg. 18021 e segs, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. Fl. 1297DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 17 16 11. O art. 8º estabelece o tratamento tributário do ágio ou deságio decorrente da aquisição, por uma pessoa jurídica, de participação societária no capital de outra, avaliada pelo método da equivalência patrimonial. Atualmente, pela inexistência de regulamentação legal relativa a esse assunto, diversas empresas, utilizando dos já referidos "planejamentos tributários", vem utilizando o expediente de adquirir empresas deficitárias, pagando ágio pela participação, com a finalidade única de gerar ganhos de natureza tributária, mediante o expediente, nada ortodoxo, de incorporação da empresa lucrativa pela deficitária. Com as normas previstas no Projeto, esses procedimentos não deixarão de acontecer, mas, com certeza, ficarão restritos às hipóteses de casos reais, tendo em vista o desaparecimento de toda vantagem de natureza fiscal que possa incentivar a sua adoção exclusivamente por esse motivo. Não vacilou a doutrina abalizada de LUÍS EDUARDO SCHOUERI2 ao discorrer, com precisão sobre o assunto: Anteriormente à edição da Lei nº 9.532/1997, não havia na legislação tributária nacional regulamentação relativa ao tratamento que deveria ser conferido ao ágio em hipóteses de incorporação envolvendo a pessoa jurídica que o pagou e a pessoa jurídica que motivou a despesa com ágio. O que ocorria, na prática, era a consideração de que a incorporação era, per se, evento suficiente para a realização do ágio, independentemente de sua fundamentação econômica. (...) Sendo assim, a partir de 1998, ano em que entrou em vigor a Lei nº 9.532/1997, adveio um cenário diferente em matéria de dedução fiscal do ágio. Desde então, restringiramse as hipóteses em que o ágio seria passível de ser deduzido no caso de incorporação entre pessoas jurídicas, com a imposição de limites máximos de dedução em determinadas situações. Ou seja, nem sempre o ágio contabilizado pela pessoa jurídica poderia ser deduzido de seu lucro real quando da ocorrência do evento de incorporação. Pelo contrário. Com a regulamentação ora em vigor, poucas são as hipóteses em que o ágio registrado poderá ser deduzido, a depender da fundamentação econômica que lhe seja conferida. Merece transcrição o Relatório da Comissão Mista3 que trabalhou na edição da MP 1.609, de 19974: 2 SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo : Dialética, 2012, p. 66 e segs. 3 Relatório da Comissão Mista publicada no Diário do Congresso Nacional nº 27, de 03/12/1997, pg. 18494, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. 4 Na realidade, o número da Medida Provisória abordada é 1.602. Fl. 1298DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 18 17 O artigo 8º altera as regras para determinação do ganho ou perda de capital na liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor do patrimônio líquido, quando agregado de ágio ou deságio. De acordo com as novas regras, os ágios existentes não mais serão computados como custo (amortizados pelo total), no ato de liquidação do investimento, como eram de acordo com as normas ora modificadas. O ágio ou deságio referente à diferença entre o valor de mercado dos bens absorvidos e o respectivo valor contábil, na empresa incorporada (inclusive a fusionada ou cindida), será registrado na própria conta de registro dos respectivos bens, a empresa incorporador (inclusive a resultante da fusão ou a que absorva o patrimônio da cindida), produzindo as repercussões próprias na depreciação normal. O ágio ou deságio decorrente de expectativa de resultado futuro poderá ser amortizado durante os cinco anoscalendário subsequentes à incorporação, à razão de 1/60 (um sessenta avos) para cada mês do período de apuração. (...) Percebese que, em razão de um completo desvirtuamento do instituto, o legislador foi chamado a intervir, para normatizar, nos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, sobre situações específicas tratando de eventos de transformação societária envolvendo investidor e investida. Inclusive, no decorrer dos debates tratando do assunto, chegouse a cogitar que o aproveitamento do ágio não seria uma despesa, mas um benefício fiscal. Em breves palavras, caso fosse benefício fiscal, o próprio legislador deveria ter tratado do assunto, como o fez na Exposição de Motivos de outros dispositivos da MP nº 1.607, de 1997 (convertida na Lei nº 9.532, de 1997). Na realidade, a Exposição de Motivos deixa claro que a motivação para o dispositivo foi um maior controle sobre os planejamentos tributários abusivos, que descaracterizavam o ágio por meio de analogias completamente desprovidas de sustentação jurídica. E deixou claro que se trata de uma despesa de amortização." Depreendese da retrospectiva transcrita que os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 (produto da conversão da Medida Provisória nº 1.602/1997) foram erigidos pelo legislador com a específica finalidade de coibir a prática de planejamentos tributários abusivos em que empresas superavitárias adquiriam com ágio empresas deficitárias para serem em seguida incorporadas por elas. Tal incorporação reversa, também denominada de incorporação "às avessas", não tinha nenhum propósito negocial que não fosse a simples geração de ganhos de natureza tributária. Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 foram integralmente incorporados ao RIR/1999 por meio de seu art. 386. Como este artigo faz referência expressa a dispositivos do art. 385 (cópia do já reproduzido art. 20 do DecretoLei nº 1.598/1977), transcrevemse ambos a seguir: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição Fl. 1299DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 19 18 da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso I do §2º do artigo anterior, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso III do §2º do artigo anterior, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do §2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do §2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração do lucro real, levantados durante os cinco anoscalendário subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no mínimo, para cada mês do período de apuração. §1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §1º). Fl. 1300DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 20 19 §2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §2º): I o ágio em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; II o deságio em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. §3º O valor registrado na forma do inciso II (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §3º): I será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; II poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. §4º Na hipótese do inciso II do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos ou contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §4º). §5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, §5º). §6º O disposto neste artigo aplicase, inclusive, quando (Lei nº 9.532, de 1997, art. 8º): I o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor do patrimônio líquido; II a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. §7º Sem prejuízo do disposto nos incisos III e IV, a pessoa jurídica sucessora poderá classificar, no patrimônio líquido, alternativamente ao disposto no §2º deste artigo, a conta que registrar o ágio ou deságio nele mencionado (Lei nº 9.718, de 1998, art. 11). Verificase que os arts. 385 e 386 do RIR/1999 guardam uma relação indissociável entre si, uma vez que requisitos à aplicação do segundo artigo são extraídos diretamente da redação do primeiro. O art. 385, conforme já mencionado, estabelece duas regras principais. A primeira determina que o ágio apurado em uma aquisição de participação societária em sociedade controlada ou coligada seja registrado em subconta separada daquela que registra o valor do patrimônio líquido da investida na época da aquisição. Já a segunda fixa os possíveis fundamentos econômicos do ágio pago na aquisição da participação societária (valor de mercado dos bens do ativo da investida superior ao registrado na contabilidade; expectativa de resultados positivos da investida nos exercícios futuros; fundo de comércio, intangíveis e Fl. 1301DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 21 20 outras razões econômicas). Por fim, o artigo ainda prevê que o ágio fundamentado em valor de mercado dos bens do ativo da investida ou na expectativa de resultados futuros deve ser baseado em documentação comprobatória, devidamente arquivada. Já o art. 386 trata, entre outras coisas, da possibilidade de aproveitamento tributário do ágio decorrente do fundamento econômico previsto no inciso II do §2º do artigo anterior (valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros). O caput do art. 386 traz o primeiro requisito que deve ser cumprido para que seja possível o aproveitamento do ágio: uma pessoa jurídica deve absorver o patrimônio de uma segunda, em que detenha participação societária adquirida com ágio. A respeito deste primeiro requisito exigido pela norma, recorro novamente ao Acórdão nº 9101002.301, pela assertividade da análise ali desenvolvida: "Percebese claramente, no caso, que o suporte fático delineado pela norma predica, de fato, que investidora e investida tenham que integrar uma mesma universalidade: A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio. A conclusão é ratificada analisandose a norma em debate sob a perspectiva da hipótese de incidência tributária delineada pela melhor doutrina de GERALDO ATALIBA 5. Esclarece o doutrinador que a hipótese de incidência se apresenta sob variados aspectos, cuja reunião lhe dá entidade. Ao se apreciar o aspecto pessoal, merecem relevo as palavras da doutrina, ao determinar que se trata da qualidade que determina os sujeitos da obrigação tributária. E a norma em análise se dirige à pessoa jurídica investidora originária, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição, e à pessoa jurídica investida. Ocorre que, em se tratando do ágio, as reorganizações societárias empreendidas apresentaram novas pessoas ao processo. Como exemplo, podemos citar situação no qual a pessoa jurídica A adquire com ágio participação societária da pessoa jurídica B. Em seguida, utilizase de uma outra pessoa jurídica, C, e integraliza o capital social dessa pessoa jurídica C com a participação societária que adquiriu da pessoa jurídica B. Resta consolidada situação no qual a pessoa jurídica A controla a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C controla a pessoa jurídica B. Em seguida, sucedese evento de transformação societária, no qual a pessoa jurídica B absorve patrimônio da pessoa jurídica C, ou vice versa. Ocorre que os sujeitos eleitos pela norma são precisamente a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) cuja participação societária foi adquirida com ágio. Para fins fiscais, não há nenhuma previsão para que o ágio contabilizado na pessoa jurídica A 5 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária, 6ª ed. São Paulo : Malheiros Editores, 2010, p. 51 e segs. Fl. 1302DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 22 21 (investidora), em razão de reorganizações societárias empreendidas por grupo empresarial, possa ser considerado "transferido" para a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C, ao absorver ou ser absorvida pela pessoa jurídica B, possa aproveitar o ágio cuja origem deuse pela aquisição da pessoa jurídica A da pessoa jurídica B. Da mesma maneira, encontramse situações no qual a pessoa jurídica A realiza aportes financeiros na pessoa jurídica C e, de plano, a pessoa jurídica C adquire participação societária da pessoa jurídica B com ágio. Em seguida, a pessoa jurídica C absorve patrimônio da pessoa jurídica B, ou vice versa, a passa a fazer a amortização do ágio. Mais uma vez, não é o que prevê o aspecto pessoal da hipótese de incidência da norma em questão. A pessoa jurídica que adquiriu o investimento, que acreditou na mais valia e que desembolsou os recursos para a aquisição foi, de fato, a pessoa jurídica A (investidora). No outro pólo da relação, a pessoa jurídica adquirida com ágio foi a pessoa jurídica B. Ou seja, o aspecto pessoal da hipótese de incidência, no caso, autoriza o aproveitamento do ágio a partir do momento em que a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) passem a integrar a mesma universalidade. São as situações mais elementares. Contudo, há reorganizações envolvendo inúmeras empresas (pessoa jurídica D, E, F, G, H e assim por diante). Vale registrar que goza a pessoa jurídica de liberdade negocial, podendo dispor de suas operações buscando otimizar seu funcionamento, com desdobramentos econômicos, sociais e tributários. Contudo, não necessariamente todos os fatos são recepcionados pela norma tributária. A partir do momento em que, em razão das reorganizações societárias, passam a ser utilizadas novas pessoas jurídicas (C, D, E, F, G, e assim sucessivamente), pessoas jurídicas distintas da investidora originária (pessoa jurídica A) e da investida (pessoa jurídica B), e o evento de absorção não envolve mais a pessoa jurídica A e a pessoa jurídica B, mas sim pessoa jurídica distinta (como, por exemplo, pessoa jurídica F e pessoa jurídica B), a subsunção ao art. 386 do RIR/99 tornase impossível, vez que o fato imponível (suporte fático, situado no plano concreto) deixa de ser amoldar à hipótese de incidência da norma (plano abstrato), por incompatibilidade do aspecto pessoal. Em relação ao aspecto material, há que se consumar a confusão de patrimônio entre investidora e investida, a que faz alusão o caput do art. 386 do RIR (A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio...). Com a confusão patrimonial, aperfeiçoa se o encontro de contas entre investidor e investida, e a amortização do ágio passa a ser autorizada, com repercussão direta na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Na realidade, o requisito expresso de que investidor e investida passam a compor o mesmo patrimônio, mediante evento de transformação societária, no qual a investidora absorve a investida, ou vice versa, encontra Fl. 1303DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 23 22 fundamento no fato de que, com a confusão de patrimônios, o lucro auferido pela investida passa a integrar a mesma universalidade da investidora. SCHOUERI6, com muita clareza, discorre que, antes da absorção, investidor e investida são entidades autônomas. O lucro auferido pela investida (que foi a motivação para que a investidora adquirisse a investida com o sobrepreço), é tributado pela própria investida. E, por meio do MEP, eventual acréscimo no patrimônio líquido da investida seria refletido na investidora, sem, contudo, haver tributação na investidora. A lógica do sistema mostrase clara, na medida em que não caberia uma dupla tributação dos lucros auferidos pela investida. Por sua vez, a partir do momento em que se consuma a confusão patrimonial, os lucros auferidos pela então investida passam a integrar a mesma universalidade da investidora. Reside, precisamente nesse ponto, o permissivo para que o ágio, pago pela investidora exatamente em razão dos lucros a serem auferidos pela investida, possa ser aproveitado, vez que passam a se comunicar, diretamente, a despesa de amortização do ágio e as receitas auferidas pela investida. Ou seja, compartilhando o mesmo patrimônio investidora e investida, consolidase cenário no qual a mesma pessoa jurídica que adquiriu o investimento com mais valia (ágio) baseado na expectativa de rentabilidade futura, passa a ser tributada pelos lucros percebidos nesse investimento. Verificase, mais uma vez, que a norma em debate, ao predicar, expressamente, que para se consumar o aproveitamento da despesa de amortização do ágio, os sujeitos da relação jurídica seriam a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, ou seja, investidor e investida, não o fez por acaso. Tratase precisamente do encontro de contas da investidora originária, que incorreu na despesa e adquiriu o investimento, e a investida, potencial geradora dos lucros que motivou o esforço incorrido. Prosseguindo a análise da hipótese de incidência da norma em questão, no que concerne ao aspecto temporal, cabe verificar o momento em que o contribuinte aproveitase da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, evento que provoca impacto direto na apuração da base de cálculo tributável. Considerandose o regime de tributação adotado pelo sujeito passivo, aperfeiçoase o lançamento fiscal e o termo inicial para contagem do prazo decadencial." Concluise, portanto, que o art. 386 do RIR/1999, sob o aspecto pessoal, se dirige à investidora que vier a incorporar sua investida (ou por ela ser incorporada), após ter efetivamente acreditado na mais valia do investimento, feito os estudos de rentabilidade futura e desembolsado os recursos para a aquisição da participação societária (tanto o valor do principal quanto o do ágio). Ou seja, quando ocorre a incorporação é que se dá a subsunção do fato à norma e surge a prerrogativa de amortização do sobrepreço, pago em momento anterior pela investidora em razão da confiança na rentabilidade futura da investida. Destaquese que a regra se aplica tanto à incorporação da investida pela investidora quanto, no sentido inverso, à hipótese em que a investidora é que é incorporada por 6 SCHOUERI, 2012, p. 62. Fl. 1304DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 24 23 sua investida. Em ambos os casos, a lei exige que a investidora envolvida na incorporação seja a "original" ou stricto sensu (no sentido de que a originalidade está indissociavelmente ligada à pessoa jurídica que paga o ágio e, por isso mesmo, tem confiança na rentabilidade futura, pois é quem assume o risco). A situação em que a investida incorpora sua investidora é denominada de incorporação reversa ou ainda de incorporação "às avessas". A previsão da possibilidade de aproveitamento fiscal do ágio nesta hipótese é trazida pelo §6º, inciso II, do art. 386 do RIR/1999. O dispositivo faz uso de uma técnica legislativa transitiva, indicando assim que o que vale para o caput do art. 386 do RIR/1999 vale também para o seu §6º. As premissas de exegese da norma não são afetadas, sendo necessárias apenas as devidas adaptações para contemplar a situação prevista. De forma correlata ao que se analisou quanto ao aspecto pessoal, a confusão de patrimônios, principal item do aspecto material para fins de enquadramento no art. 386 do RIR/1999, consumase quando, na sociedade incorporadora, o lucro futuro e o investimento original com expectativa desse lucro (aquele que foi sobreavaliado) passam a se comunicar diretamente (os riscos se fundem: o risco do investimento assim entendidos os recursos aportados e o risco do empreendimento). Compartilhando o mesmo patrimônio a investidora e a investida, consolidase cenário no qual a pessoa jurídica detentora da "mais valia" (ágio) do investimento baseado na expectativa de rentabilidade futura passa a ser responsável também por honrar tal rentabilidade. Assim, a legislação permite que o contribuinte considere perdido o capital que foi investido com o ágio e deduza a despesa relativa à "mais valia". Configuração semelhante ocorre na incorporação reversa, na medida em que a pessoa jurídica responsável por gerar a rentabilidade esperada para o futuro passa a ser a detentora do ágio baseado na expectativa de tal rentabilidade. Sendo assim, pressupõese que a "mais valia" porventura contabilizada tenha sido efetivamente suportada por alguma das pessoas que participam da "confusão patrimonial". Para fins de acesso à dedutibilidade estabelecida pelo art. 386 do RIR/1999, a pessoa jurídica que efetivamente suportou o ágio pago na aquisição de um investimento deve incorporar tal investimento (incorporação da investida pela investidora) ou ser incorporada pela empresa onde investiu (incorporação "às avessas"). Em síntese, a subsunção aos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997, assim como aos artigos 385 e 386 do RIR/1999, exige a satisfação dos aspectos temporal, pessoal e material das hipóteses ali previstas. Na atual redação destes dispositivos, exclusivamente no caso em que houver o efetivo desembolso de valores (ou sacrifício de outros ativos) a título de investimento da investidora (futura incorporadora ou, no caso da incorporação reversa, incorporada) na investida (futura incorporada ou, no caso da incorporação reversa, incorporadora), é que haverá o atendimento aos aspectos pessoal e material. Se o ágio não foi de fato arcado por nenhuma das pessoas participantes da "confusão patrimonial", não há sentido em clamarse pela dedutibilidade das despesas decorrentes de amortização de ágio instituída pelo art. 386 do RIR/1999. No caso analisado nos presentes autos, é incontroverso que houve desembolso de valores por ocasião da aquisição das quotas da recorrente (ECISAPAR) e das ações da DYLPAR (que detinha participação na recorrente), operações ocorridas em Fl. 1305DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 25 24 13/11/2006 e 20/12/2006, respectivamente. Também não se discute que tais valores superaram os valores contábeis das participações societárias alienadas. A existência dos ágios oriundos de tais operações não foi alvo de questionamento pela Fiscalização ou pela própria PGFN, nas contrarrazões que opôs ao recurso especial da contribuinte. Ocorre que os recursos financeiros utilizados na aquisição das participações societárias na recorrente e na DYLPAR (quotista da recorrente) não pertenciam à LICIA, mas à sua controladora BR MALLS, que realizou, entre novembro e dezembro de 2006, aportes de recursos que totalizaram mais de R$366.000.000,00 na LICIA, empresa que acabara de adquirir em outubro do mesmo ano, com a finalidade específica de aquisição de participação societária nas empresas ECISAPAR, DYLPAR e ECISAENG. Interpretandose o conteúdo do art. 386 do RIR/1999 sob a perspectiva da hipótese de incidência tributária, verificase que não restaram observados, no caso concreto, os aspectos pessoal e material necessários à subsunção da situação fática à previsão normativa. Sendo assim, a recorrente não fazia jus ao direito de deduzir as despesas decorrentes da amortização dos ágios oriundos das operações levadas a cabo em 13/11/2006 e 20/12/2006. Como não foi a LICIA que desembolsou os valores que deram origem aos ágios contábeis, restou desatendido o aspecto pessoal da hipótese de incidência do art. 386 do RIR/1999. O numerário que pagou pela aquisição das quotas da recorrente e das ações da DYLPAR, no ano de 2006, saiu dos ativos da real investidora: BR MALLS. A empresa LICIA, embora conste formalmente como a adquirente das quotas da contribuinte (tanto direta quanto indiretamente, via aquisição de ações da DYLPAR), não tinha lastro econômico para efetivamente realizar algum sacrifício patrimonial que justificasse a criação do ágio. Pertencia à empresa BR MALLS a capacidade econômica para levar adiante o negócio de aquisição das participações societárias e foi efetivamente esta empresa quem desembolsou recursos para a aquisição das quotas da recorrida. Observase, pela conjugação dos indícios e das características das operações societárias que se sucederam, que a participação da LICIA foi antecipada e artificialmente concebida como forma de o grupo econômico recémformado poder posteriormente clamar pelo direito ao aproveitamento tributário do ágio previsto no art. 386 do RIR/1999. A empresa, constituída no ano anterior por pessoas físicas e contando com capital social de apenas R$15.000,00, não apresentava atividade alguma até outubro de 2006, quando foi adquirida pela BR MALLS. Tal aquisição visou exclusivamente à sua utilização como "empresa veículo": a pessoa jurídica receberia valores da real investidora (BR MALLS), aplicaria tais riquezas na aquisição de ações da DYLPAR e de quotas da recorrente e seria, em seguida, incorporada por esta última. Verificase que a LICIA teve duração efêmera (principalmente sob a gestão da BR MALLS) e deixou como único legado a possibilidade de utilização indevida de um benefício fiscal, como é característico das "empresas veículos". A empresa veículo LICIA e a DYLPAR tiveram parte de seus patrimônios incorporados pela recorrente ao final de dezembro de 2006. A recorrente, julgando que estaria configurada a "confusão patrimonial" entre o ágio e o investimento que lhe deu causa, passou a aproveitar as despesas da amortização do ágio para fins tributários. Ocorre que tal "confusão patrimonial", principal manifestação do aspecto material necessário à efetiva incidência da norma tributária prevista no art. 386 do RIR/1999, Fl. 1306DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 26 25 deve obrigatoriamente se dar entre a investida e a investidora originária, real. Por investidora originária, entendese aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição da participação societária. Ou seja, no caso sob análise, só existe uma real investidora: BR MALLS. Sendo assim, a amortização operada pelo recorrente não teve amparo dos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 ou dos arts. 385 e 386 do RIR/1999. Conforme se viu, a possibilidade de aproveitamento fiscal do ágio, prevista no art. 386 do RIR/1999, só tem sentido em situações em que a investidora de fato, responsável por arcar com o dispêndio que faz nascer o ágio, incorpora a pessoa jurídica em que possua participação societária (investimento) ou seja por ela incorporada. No caso dos autos, a investidora originária não participou de "confusão patrimonial" alguma. Ainda que se analise a situação debatida nos autos sob outro enfoque, a conclusão alcançada continua sendo pela impossibilidade de utilização tributária do ágio pela recorrente. Tal aproveitamento tributário do ágio consiste, como já foi dito por diversas vezes, na dedução de despesas decorrentes de sua amortização na apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL. Fazse relevante, portanto, analisar o caso sob a perspectiva da teoria atinente às despesas que têm relevância fiscal. Uma vez mais, pedese vênia para transcreverse excerto extraído do Acórdão nº 9101002.301, por sua concisão e clareza: "Definido que o aproveitamento do ágio pode darse por meio de despesa de amortização, mostrase pertinente apreciar do que trata tal dispêndio. No RIR/99 (DecretoLei nº 3.000, de 26/03/1999), o conceito de amortização encontrase no Subtítulo II (Lucro Real), Capítulo V (Lucro Operacional), Seção III (Custos, Despesas Operacionais e Encargos). O artigo 299 do diploma em análise trata, no art. 299, na Subseção I, das Disposições Gerais sobre as despesas: Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º). § 3º O disposto neste artigo aplicase também às gratificações pagas aos empregados, seja qual for a designação que tiverem. Para serem dedutíveis, devem as despesas serem necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, e serem usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa. Fl. 1307DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 27 26 Por sua vez, logo após as Subseções II (Depreciação de Bens do Ativo Imobilizado) e III (Depreciação Acelerada Incentivada), encontra previsão legal a amortização, no art. 324, na Subseção IV do RIR/99. Percebese que a amortização constituise em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontrase submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99. Despesa Diante de Fatos Construídos Artificialmente No mundo real os fatos nascem e morrem, decorrentes de eventos naturais ou da vontade humana. O direito elege, para si, fatos com relevância para regular o convívio social. No que concerne ao direito tributário, são escolhidos fatos decorrentes da atividade econômica, financeira, operacional, que nascem espontaneamente, precisamente em razão de atividades normais, que são eleitos porque guardam repercussão com a renda ou o patrimônio. São condutas relevantes de pessoas físicas ou jurídicas, de ordem econômica ou social, ocorridas no mundo dos fatos, que são colhidas pelo legislador que lhes confere uma qualificação jurídica. Por exemplo, o fato de auferir lucro, mediante operações espontâneas, das atividades operacionais da pessoa jurídica, amoldase à hipótese de incidência prevista pela norma, razão pela qual nasce a obrigação do contribuinte recolher os tributos. Da mesma maneira, a pessoa jurídica, no contexto de suas atividades operacionais, incorre em dispêndios para a realização de suas tarefas. Contratase um prestador de serviços, comprase uma mercadoria, operações necessárias à consecução das atividades da empresa, que surgem naturalmente. Ocorre que, em relação aos casos tratados relativos á amortização do ágio, proliferaramse situações no qual se busca, especificamente, o enquadramento da norma permissiva de despesa. Tratamse de operações especificamente construídas, mediante inclusive utilização de empresas de papel, de curtíssima duração, sem funcionários ou quadro funcional incompatível, com capital social mínimo, além de outras características completamente atípicas no contexto empresarial, que recebem aportes de milhões e em questão de dias ou meses são objeto de operações de transformação societária. Tais eventos podem receber qualificação jurídica e surtir efeitos nos ramos empresarial, cível, contábil, dentre outros. Situação completamente diferente ocorre no ramo tributário. Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Impossível estender atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas, independente sua espécie, derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica. Fl. 1308DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 28 27 Admitindose uma construção artificial, consumarseia um tratamento desigual, desarrazoado e desproporcional, que afronta o princípio da capacidade contributiva e da isonomia, vez que seria conferida a uma determinada categoria de despesa uma premissa completamente diferente, uma liberalidade não aplicável à grande maioria dos contribuintes." Concluise, assim, que as despesas de amortização de ágio criado em operações como a encontrada nos presentes autos, atípicas e integrantes de um processo de planejamento tributário que tem a finalidade específica de criar artificialmente hipótese próxima à requerida pelo art. 386 do RIR/1999, não se revestem das características de necessidade, usualidade e normalidade requeridas para sua dedutibilidade. Diante de todo o exposto, relativamente ao pedido de reconhecimento da legitimidade da amortização de despesas de ágio nos moldes pretendidos, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial da contribuinte. Desse modo, voto no sentido de: CONHECER do recurso especial interposto pela contribuinte; no mérito, NEGARLHE PROVIMENTO, por considerar improcedente o pedido de reconhecimento da legitimidade do aproveitamento tributário do ágio para fins de redução do IRPJ e da CSLL devidos nos anoscalendário de 2007 e 2008. (Assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Fl. 1309DF CARF MF Processo nº 12448.724782/201248 Acórdão n.º 9101003.006 CSRFT1 Fl. 29 28 Declaração de Voto Não houve apresentação de declaração de voto no prazo regimental de 15 (quinze) dias, contados da data de julgamento do processo. Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015, Anexo II: Art. 63. ... § 6º As declarações de voto somente integrarão o acórdão ou resolução quando formalizadas no prazo de 15 (quinze) dias do julgamento. § 7º Descumprido o prazo previsto no § 6º, considerase não formulada a declaração de voto. Fl. 1310DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11128.006467/2004-85
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jun 21 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Sep 18 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Classificação de Mercadorias
Data do fato gerador: 27/03/2001
PRODUTO COM NOME COMERCIAL R-054. MATÉRIA PRIMA UTILIZADA PARA OBTENÇÃO DE TINTA. INSUMO EMPREGADO NA FABRICAÇÃO DO PAPEL. MESMO PROCESSO FABRIL. PRODUTO UTILIZADO NA INDÚSTRIA DO PAPEL.
A mercadoria identificada como Sal de Zinco derivado do Ácido Salicílico e Copolímero à Base de Estireno, declarada como 3.5 DI Alfa-Metilbenzil Salicilato de Zinco/Estireno, Alfa Metilestireno Copolímero 85/15, Nome Comercial R-054, empregada na fabricação da tinta que, dentro de um mesmo processo fabril, é utilizada pela indústria do papel para fabricação de papel autocopiativo, classifica-se na NCM 3809.92.90.
Recurso Especial do Procurador Negado.
Numero da decisão: 9303-005.264
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Luiz Augusto do Couto Chagas (Suplente convocado), Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas.
Nome do relator: RODRIGO DA COSTA POSSAS
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Luiz Augusto do Couto Chagas (Suplente convocado), Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas.
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MATÉRIA PRIMA UTILIZADA PARA OBTENÇÃO DE TINTA. INSUMO EMPREGADO NA FABRICAÇÃO DO PAPEL. MESMO PROCESSO FABRIL. PRODUTO UTILIZADO NA INDÚSTRIA DO PAPEL. A mercadoria identificada como Sal de Zinco derivado do Ácido Salicílico e Copolímero à Base de Estireno, declarada como 3.5 DI AlfaMetilbenzil Salicilato de Zinco/Estireno, Alfa Metilestireno Copolímero 85/15, Nome Comercial R054, empregada na fabricação da tinta que, dentro de um mesmo processo fabril, é utilizada pela indústria do papel para fabricação de papel autocopiativo, classificase na NCM 3809.92.90. Recurso Especial do Procurador Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Charles Mayer de Castro Souza (Suplente convocado), Demes Brito, Luiz Augusto do Couto Chagas (Suplente convocado), Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 12 8. 00 64 67 /2 00 4- 85 Fl. 234DF CARF MF Processo nº 11128.006467/200485 Acórdão n.º 9303005.264 CSRFT3 Fl. 235 2 Relatório Tratase de recurso especial de divergência, tempestivo, interposto pela Fazenda Nacional ao amparo do art. 67, do Anexo II, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 256/2009, em face do Acórdão nº 3102002.181, que possui a seguinte ementa: PRODUTO COM NOME COMERCIAL R054. MATÉRIA PRIMA UTILIZADA PARA OBTENÇÃO DE TINTA. INSUMO EMPREGADO NA FABRICAÇÃO DO PAPEL. MESMO PROCESSO FABRIL. PRODUTO UTILIZADO NA INDÚSTRIA DO PAPEL. A mercadoria identificada como Sal de Zinco derivado do Ácido Salicílico e Copolímero à Base de Estireno, declarada como 3.5 DI AlfaMetilbenzil Salicilato de Zinco/Estireno, Alfa Metilestireno Copolimero 85/15, Nome Comercial R054, empregada na fabricação da tinta que, dentro de um mesmo processo fabril, é utilizada pela indústria do papel para fabricação de papel autocopiativo, classificase na NCM 3809.92.90. Recurso Voluntário Provido. O presente processo referese a auto de infração lavrado contra o contribuinte acima identificado para a exigência de Imposto sobre Produtos Industrializados, acrescido de juros de mora e multa proporcional, em razão da reclassificação fiscal da mercadoria descrita na DI 01/03068095, de 27/03/2001, como “3.5 DI ALFAMETILBENZIL SALICILATO DE ZINCO/ESTIRENO, ALFA METILESTIRENO COPOLIMERO 85/15, NOME COMERCIAL: R054”, do código NCM 3809.92.90 para o código 3824.90.89. A turma julgadora a quo, por maioria de votos, deu provimento ao recurso voluntário interposto pelo contribuinte, concluindo que o produto se enquadrava no código NCM 3809.92.90, por ser mais específico do que o código 3824.90.89, por se tratar de produto empregado na fabricação da tinta que, dentro de um mesmo processo fabril, é utilizado pela indústria de papel para fabricação de papel autocopiativo. A Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial de Divergência, no qual suscitou dissídio jurisprudencial quanto ao método interpretativo para a classificação fiscal do produto, segundo a sua utilização no processo industrial. O recurso foi admitido, conforme despacho de admissibilidade de fls.175 e 176. O sujeito passivo apresentou suas contrarrazões às fls. 188 a 198. É o relatório. Fl. 235DF CARF MF Processo nº 11128.006467/200485 Acórdão n.º 9303005.264 CSRFT3 Fl. 236 3 Voto Conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, Relator O recurso interposto pela Fazenda é tempestivo, de acordo com o disposto no art.7º, §§ 3º e 5º, da Portaria MF n º 527, de 2010, e foi admitido pela comprovação do dissídio jurisprudencial. A divergência suscitada foi quanto ao método interpretativo para a classificação fiscal do produto DI ALFAMETILBENZIL SALICILATO DE ZINCO/ESTIRENO, ALFA METILESTIRENO COPOLIMERO 85/15, nome comercial R 054, na NCM, segundo a sua utilização no processo industrial. Ainda que o acórdão paradigma (30238.542) e o acórdão recorrido tratem de classificações fiscais de produtos distintos, a divergência suscitada pela Fazenda Nacional resta caracterizada, visto que reside no método interpretativo para o enquadramento da classificação fiscal na Nomenclatura Comum do Mercosul. Enquanto o acórdão recorrido decidiu pela interpretação finalística, o acórdão paradigma entendeu que o produto deveria ser enquadrado segundo sua definição técnica. Diante da comprovação do dissídio jurisprudencial alegado e atendidos os demais requisitos de admissibilidade, conheço do recurso. Portanto, a matéria devolvida ao Colegiado cingese à questão da classificação fiscal do produto DI ALFAMETILBENZIL SALICILATO DE ZINCO/ESTIRENO, ALFA METILESTIRENO COPOLIMERO 85/15, nome comercial R 054, na NCM. Alega a recorrente que o produto seria “uma Preparação das Indústrias Químicas não especificada nem compreendida em outras posições”, enquadrandose na posição 3824, conforme adotado pelo Fisco. Segundo seu entendimento, o produto não poderia ser classificado na NCM 3809.92.90, visto que o laudo do LABANA dizia textualmente que “não se trata de Preparações dos tipos utilizados na indústria do papel ou semelhantes”. Segundo esse entendimento, o produto não era destinado diretamente à produção de papel, mas sim à produção de tinta, que poderia ser produzida de forma totalmente independente da produção de papel. Para melhor analisar a questão, vale transcrever a descrição das posições da NCM em análise: Capitulo 38 – PRODUTOS DIVERSOS DAS INDÚSTRIAS QUÍMICAS NCM 3809 AGENTES DE APRESTO OU DE ACABAMENTO, ACELERADORES DE TINGIMENTO OU DE FIXAÇÃO DE MATÉRIAS CORANTES E OUTROS PRODUTOS E PREPARAÇÕES (POR EXEMPLO, APRESTOS PREPARADOS E PREPARAÇÕES MORDENTES) DOS TIPOS UTILIZADOS Fl. 236DF CARF MF Processo nº 11128.006467/200485 Acórdão n.º 9303005.264 CSRFT3 Fl. 237 4 NA INDÚSTRIA TÊXTIL, NA INDÚSTRIA DO PAPEL, NA INDÚSTRIA DO COURO OU EM INDÚSTRIAS SEMELHANTES, NÃO ESPECIFICADOS NEM COMPREENDIDOS EM OUTRAS POSIÇÕES. NCM 3824 AGLUTINANTES PREPARADOS PARA MOLDES OU PARA NÚCLEOS DE FUNDIÇÃO; PRODUTOS QUÍMICOS E PREPARAÇÕES DAS INDÚSTRIAS QUÍMICAS OU DAS INDÚSTRIAS CONEXAS (INCLUÍDOS OS CONSTITUÍDOS POR MISTURAS DE PRODUTOS NATURAIS), NÃO ESPECIFICADOS NEM COMPREENDIDOS EM OUTRAS POSIÇÕES. Portanto, o ponto fundamental para classificarmos na posição 3809, específica, seria sua utilidade na indústria têxtil, na indústria de papel, na indústria de couro ou em outras indústrias semelhantes. A posição 3824 seria residual (aglutinantes não especificados nem compreendidos em outras posições). É incontroverso que a empresa autuada atuava na industrialização e comércio de papel. Também é decorrência lógica que a mercadoria R054 era passível de utilização na produção de papel autocopiativo, ou seja, a mercadoria seria utilizada na indústria de papel, ainda que indiretamente (o produto seria utilizado na produção de tinta, e essa seria utilizada na produção de papel autocopiativo), conforme posição manifestada pelo voto vencido do acórdão recorrido. Em que pese as alegações trazidas em Recurso Especial e aquelas manifestadas no voto vencido do acórdão recorrido, entendo que está plenamente demonstrado que o produto em questão é utilizado na indústria de papel, de forma a se enquadrar no texto da posição 3809, que seria mais específica. Mesmo que indiretamente, a mercadoria R054 é utilizada na indústria de papel, como insumo utilizado na fabricação de papel autocopiativo. Ainda que aparentemente o laudo técnico manifestasse de forma diversa (item 1 da resposta), no mesmo laudo encontramos a afirmação de que a mercadoria é utilizada na formulação da tinta que reveste o papel autocopiativo utilizado na confecção de notas fiscais e boletos (item 3 da resposta). Ou seja, a mercadoria é utilizada na indústria de papel. Transcrevo excerto do laudo do LABANA (fl. 18): “CONCLUSÃO: Tratase de Preparação constituída de Sal de Zinco de um Derivado de Ácido Salicilico e Copolimero à base de Estireno, na forma de pó. RESPOSTAS AOS QUESITOS: 1.Não se trata de Preparações dos tipos utilizados na indústria do papel ou semelhantes 2.Tratase de Preparação constituída de Sal de Zinco de um Derivado do Ácido Salicílico e Copolímero à base de Estireno, na forma de pó, uma Preparação das Indústrias Químicas não especificada nem compreendida em outras posições. Fl. 237DF CARF MF Processo nº 11128.006467/200485 Acórdão n.º 9303005.264 CSRFT3 Fl. 238 5 3.De acordo com Literatura Técnica Específica (cópia anexa), mercadoria de nome comercia1 R054 é utilizada na formulação da tinta que reveste o papel autocopiativo utilizado na confecção de notas fiscais, boletos, etc. 4.Não. 5.De acordo com Literatura Técnica Especifica (cópia anexa), a mercadoria é um produto obtido a partir da mistura de bis{2 Hidroxi3,5bis(aFeniletil)Benzoato, O1,O2} de Zinco (Sal de Zinco de Derivado do Ácido Salicílico) e Polímero de {6H dibenzo [e,e] [1,2] Oxafosforla6Oxido}, Etenilbenzeno e 1 MetilEtenilbenzeno (Copolímero à base de Estireno).” Ainda que o laudo do LABANA afirme que a mercadoria não se trata de preparações dos tipos utilizados na indústria do papel ou semelhante, o mesmo afirma que a mercadoria é utilizada na formulação da tinta que reveste o papel utilizado na confecção de notas fiscais, boletos, etc, ou seja, produtos da indústria do papel. Transcrevo excerto do voto vencedor do acórdão recorrido, cujo entendimento confirmo no presente voto e adoto como minhas razões de decidir: “(...) De início, creio que seja pertinente esclarecer que duas questões são passíveis de serem consideradas. Primeiro, se matériaprima importada destinase à fabricação de papel; segundo (e essa é a condição especificada no texto na Posição escolhida pelo contribuinte) se ela é ou será utilizada na indústria do papel ou semelhante. Entendo que às duas questões é possível responder afirmativamente. Com efeito, não me parece que, dentro de um mesmo processo fabril, o fato de a mercadoria ser utilizada como insumo na fabricação de outro insumo, este empregado de forma direta na industrialização do produto final, possa excluíla do conceito de matériaprima utilizada na fabricação desse produto final; no caso, o papel autocopiativo. E, com muito mais razão, não vejo como prosperar a afirmação de que a matériaprima não seja utilizada na indústria do papel. Como resta claro dos autos, não se levantaram dúvidas de que a Recorrente, importadora da mercadoria, tratase de uma indústria de papel, tampouco se cogitou da possibilidade de que a mercadoria não seja utilizada no seu processo fabril. A toda evidência, é no parque industrial da Recorrente, indústria destinada à fabricação de diversos tipos de papel, que a mercadoria foi utilizada. Ou seja, a meu sentir, a mercadoria importada tratase de um insumo destinado na fabricação de papel e, sem a menor chance de erro, utilizada na indústria do papel. (...)” Em face do exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial da Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Fl. 238DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10980.009653/2005-34
Turma: Primeira Turma Especial da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Sep 30 00:00:00 UTC 2011
Ementa: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Ano-calendário: 2001 PERÍCIA. INDEFERIMENTO. NULIDADE DA DECISÃO. Motivado o indeferimento do pedido de perícia pela turma julgadora a quo, não há que se invocar o cerceamento de defesa. A turma julgadora é livre para forma sua convicção quanto à necessidade ou não da realização de provas para dirimir o litígio administrativo fiscal, podendo indeferir o pedido formulado pelo contribuinte (art. 18, caput, PAF). MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DE DCTF. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. A denúncia espontânea (art. 138 do Código Tributário Nacional) não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração (Súmula CARF nº 49).
Numero da decisão: 1801-000.701
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em preliminar, em afastar a nulidade da decisão de primeira instância, e, no mérito, negar provimento ao recurso nos termos do voto da Relatora.
Matéria: DCTF - Multa por atraso na entrega da DCTF
Nome do relator: Ana de Barros Fernandes
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INDEFERIMENTO. NULIDADE DA DECISÃO. Motivado o indeferimento do pedido de perícia pela turma julgadora a quo, não há que se invocar o cerceamento de defesa. A turma julgadora é livre para forma sua convicção quanto à necessidade ou não da realização de provas para dirimir o litígio administrativo fiscal, podendo indeferir o pedido formulado pelo contribuinte (art. 18, caput, PAF). MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DE DCTF. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. A denúncia espontânea (art. 138 do Código Tributário Nacional) não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração (Súmula CARF nº 49). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em preliminar, em afastar a nulidade da decisão de primeira instância, e, no mérito, negar provimento ao recurso nos termos do voto da Relatora. (documento assinado digitalmente) Ana de Barros Fernandes – Presidente e Relatora Fl. 64DF CARF MF Emitido em 05/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 05/10/2011 por ANA DE BARROS FERNANDES, Assinado digitalmente em 05/10/2 011 por ANA DE BARROS FERNANDES 2 Participaram da sessão de julgamento, os Conselheiros: Carmen Ferreira Saraiva, Guilherme Pollastri Gomes da Silva, Maria de Lourdes Ramirez, Luiz Guilherme de Medeiros Ferreira, Edgar Silva Vidal e Ana de Barros Fernandes. Relatório A empresa recorre do Acórdão nº 0617304/08 exarado pela Sétima Turma de Julgamento da DRJ em Curitiba/PR, fls. 23 e ss, que manteve a autuação sofrida, consubstanciada no Auto de Infração lavrado para a exigência de multa devida ao atraso na entrega de DCTF relativas aos 1º, 2º, 3º e 4º trimestres do anocalendário de 2001 – fls. 13. Aproveito trechos do relatório do aresto vergastado para historiar os fatos: “Intimada, a empresa apresentou defesa tempestiva, alegando, em síntese, que a declaração foi entregue de forma espontânea, sendo descabida a aplicação de qualquer penalidade. Aduz que se não houver dolo ou culpa, inexiste infração tributária. Salientou, que não houve prejuízo causado ao fisco, tampouco intenção do contribuinte em lesálo. Ao final, pediu a improcedência da autuação e, não sendo o caso, a redução da multa, em observância ao principio da proporcionalidade.Por derradeiro, requereu prova pericial.” A turma julgadora de primeira instância manteve o lançamento fiscal afastando a aplicação do artigo 138 do Código Tributário Nacional – CTN, esclarecendo que o instituto da denúncia espontânea não se aplica às obrigações acessórias. A empresa, tempestivamente, interpôs o Recurso de fls. 35 e ss reprisando os termos da defesa inicial ao solicitar a exclusão da aplicação da multa pelo atraso em vista das DCTF terem sido entregues de forma espontânea. Aduz que a decisão de primeira instância deva ser considerada nula pelo cerceamento de defesa sofrido ante a impossibilidade de produzir as provas requeridas, essenciais ao deslinde do presente litígio administrativo. Requer, in fine: “a) suspender qualquer ato de lançamento em relação aos tributos aqui noticiados, enquanto pender de julgamento o recurso administrativo; b) receber o presente recurso sem o depósito recursal de 30% (trinta por cento), ante a sua total contrariedade aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório; c) afastar a aplicação de qualquer penalidade, uma vez que houve denúncia espontânea por parte do Requerente. d) declarar a nulidade da decisão proferida na lª instância administrativa, de modo a possibilitar a produção das provas pretendidas, a fim de resguardar os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório;” É o relatório. Passo à análise das razões recursais. Fl. 65DF CARF MF Emitido em 05/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 05/10/2011 por ANA DE BARROS FERNANDES, Assinado digitalmente em 05/10/2 011 por ANA DE BARROS FERNANDES Processo nº 10980.009653/200534 Acórdão n.º 180100.701 S1TE01 Fl. 61 3 Voto Conselheira Ana de Barros Fernandes, Relatora Conheço do recurso interposto, por tempestivo. Preliminarmente, esclareçase à recorrente que a decisão de primeira instância não padece de qualquer vício que possa lhe imputar a nulidade aventada, sobretudo por cerceamento de defesa. A turma a quo justificou o indeferimento de pedido de perícia realizado pela recorrente em fase de impugnação: “Perícia Apresentase despiciendo o pedido de perícia, haja vista o que se pretende provar encontramse materializados nos autos e não depende a sua análise de conhecimento técnico especializado. A serventia do procedimento diante da presente situação Mica, apenas procrastinaria o litígio, devendo, assim, ser recusada. Consoante dispõe o art. 420 do CPC aplicado subsidiariamente ao Processo Administrativo Fiscal: Parágrafo único. 0 juiz indeferirá a perícia quando: I aprova do fato não depender do conhecimento especial de técnico; II for desnecessária em vista de outras provas produzidas. Por outro giro, a empresa deixou de atender aos requisitos necessários A análise do pedido de perícia, previstos no Decreto if 70.235 de 6 de março de 1972, in verbis: Art.16. A impugnação mencionará: (.) IV as diligencias, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação dos quesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, o nome, o endereço e a qualificação profissional do seu perito.” E dispõe sobre o indeferimento do pedido de provas o artigo 18, caput, do Decreto nº 70.235/72, que rege o processo administrativo fiscal – PAF: Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observado o disposto no art. 28, in fine. (Redação dada pelo art. 1.º da Lei n.º 8.748/1993). Fl. 66DF CARF MF Emitido em 05/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 05/10/2011 por ANA DE BARROS FERNANDES, Assinado digitalmente em 05/10/2 011 por ANA DE BARROS FERNANDES 4 (grifos não pertencem ao original) Com efeito, acertado o decidido no que concerne ao pedido de perícia, porquanto a matéria objeto do presente litígio não demanda a realização de qualquer diligência ou perícia para que se avalie a aplicação do instituto da denúncia espontânea ao fato em concreto, ou seja, a cominação da multa pelo atraso nas entregas de DCTF, relativas aos quatro trimestres de 2001, fato não contestado pela recorrente. Restando motivado o indeferimento da perícia e escorado na legislação de regência, afasto, de plano, a arguição da nulidade suscitada. No mérito, a recorrente entende estar albergada pela denúncia espontânea na entrega das DCTF, ainda que em atraso, pelo que incabível a cominação da multa conforme autuada. Todavia, o seu entendimento não encontra guarida neste órgão colegiado de segunda instância. Em face a inúmeros julgados relativos a esta matéria, foi consolidada de forma mansa e pacífica a jurisprudência administrativa, resultante na edição da Súmula nº 49 do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF: Súmula CARF nº 49: A denúncia espontânea (art. 138 do Código Tributário Nacional) não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração. Destarte, tratandose de matéria sumulada por este órgão, fica vedado a esta turma divergir do enunciado, nos termos do artigo 72, caput, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – Ricarf (Portaria MF nº 256/09): Art. 72. As decisões reiteradas e uniformes do CARF serão consubstanciadas em súmula de observância obrigatória pelos membros do CARF. Pelo exposto, voto, em preliminar, em afastar a nulidade da decisão de primeira instância, e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário. (documento assinado digitalmente) Ana de Barros Fernandes – Relatora Fl. 67DF CARF MF Emitido em 05/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 05/10/2011 por ANA DE BARROS FERNANDES, Assinado digitalmente em 05/10/2 011 por ANA DE BARROS FERNANDES
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