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Numero do processo: 11040.901121/2014-24
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Apr 11 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Jul 03 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2014
DCOMP. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RETIFICAÇÃO DA DCTF APÓS O DESPACHO DECISÓRIO. NECESSIDADE DE PROVA INEQUÍVOCA. ERRO ALEGADO NÃO COMPROVADO. DENEGAÇÃO DO CRÉDITO PRETENDIDO.
Não se reconhece o crédito pretendido, referente a pagamento indevido ou a maior, fundamentado exclusivamente em DCTF retificadora apresentada após o despacho decisório, quando o contribuinte deixa de apresentar elementos de prova materiais, capazes de, cabalmente, comprovar erro supostamente cometido no preenchimento da declaração original.
Numero da decisão: 1402-003.106
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Paulo Mateus Ciccone - Presidente Substituto e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Rogério Borges, Caio Cesar Nader Quintella, Edgar Bragança Bazhuni, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Evandro Correa Dias, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei e Paulo Mateus Ciccone.
Nome do relator: PAULO MATEUS CICCONE
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 2014 DCOMP. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RETIFICAÇÃO DA DCTF APÓS O DESPACHO DECISÓRIO. NECESSIDADE DE PROVA INEQUÍVOCA. ERRO ALEGADO NÃO COMPROVADO. DENEGAÇÃO DO CRÉDITO PRETENDIDO. Não se reconhece o crédito pretendido, referente a pagamento indevido ou a maior, fundamentado exclusivamente em DCTF retificadora apresentada após o despacho decisório, quando o contribuinte deixa de apresentar elementos de prova materiais, capazes de, cabalmente, comprovar erro supostamente cometido no preenchimento da declaração original.
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PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RETIFICAÇÃO DA DCTF APÓS O DESPACHO DECISÓRIO. NECESSIDADE DE PROVA INEQUÍVOCA. ERRO ALEGADO NÃO COMPROVADO. DENEGAÇÃO DO CRÉDITO PRETENDIDO. Não se reconhece o crédito pretendido, referente a pagamento indevido ou a maior, fundamentado exclusivamente em DCTF retificadora apresentada após o despacho decisório, quando o contribuinte deixa de apresentar elementos de prova materiais, capazes de, cabalmente, comprovar erro supostamente cometido no preenchimento da declaração original. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Presidente Substituto e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Rogério Borges, Caio Cesar Nader Quintella, Edgar Bragança Bazhuni, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Evandro Correa Dias, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei e Paulo Mateus Ciccone. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 04 0. 90 11 21 /2 01 4- 24 Fl. 130DF CARF MF Processo nº 11040.901121/201424 Acórdão n.º 1402003.106 S1C4T2 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra v. Acórdão proferido pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento a quo, que negou provimento à Manifestação de Inconformidade apresentada pela Contribuinte, mantendo o r. Despacho Decisório que deixou de homologar a compensação pretendida, denegando a existência do crédito declarado em DCOMP, por não ter sido constatada qualquer monta de recolhimento a maior ou indevido. Em sua Manifestação de Inconformidade, em suma, alegou a ora Recorrente que teria havido recolhimento a maior de IRPJ e CSLL, fato este que teria sido percebido apenas após auditoria contábil externa. Assim, procedeu a Contribuinte a inúmeras compensações, valendose de tal valor. A Recorrente também esclarece que não foi reconhecida a existência do crédito pela Unidade Local pois apenas veio a retificar sua DCTF após a prolatação r. decisório de piso, corrigindo, então, suposto erro na declaração originalmente transmitida. Ao seu turno, a DRJ a quo proferiu o v. Acórdão, ora recorrido, negando provimento à defesa, por não ter a Contribuinte logrado êxito na comprovação da sua pretensão creditória, estando ausente nos autos qualquer demonstração ou prova de erro que justificaria a retificação procedida na DCTF. Diante de tal revés, a Contribuinte interpôs o Recurso Voluntário, agora sob análise, em suma, repetindo as suas alegações da Manifestação de Inconformidade, apontando expressamente para os motivos de reforma do v. Acórdão recorrido, afirmando ter constituído prova eficaz do seu direito. Na sequência, os autos foram encaminhados para este Conselheiro relatar e votar. É o relatório. Fl. 131DF CARF MF Processo nº 11040.901121/201424 Acórdão n.º 1402003.106 S1C4T2 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Paulo Mateus Ciccone, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1402003.112, de 11/04/2018, proferido no julgamento do Processo nº 11040.901104/2014 97, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1402003.112): "O Recurso Voluntário é manifestamente tempestivo e sua matéria se enquadra na competência desse N. Colegiado. Os demais pressupostos de admissibilidade igualmente foram atendidos. Ausentes alegações preliminares, passase ao mérito da demanda. Como relatado, a Recorrente alega ter recolhido valores de IRPJ e CSLL maiores do que aquilo efetivamente devido no período. Uma vez constatado tal excesso no adimplemento fiscal, prontamente procedeu a compensações via DCOMP. Contudo, apenas veio a retificar a DCTF correspondente posteriormente à prolatação do r. Despacho Decisório, motivo pelo qual a Autoridade Fiscal não teria reconhecido a existência de tal crédito naquela oportunidade. Restou firmado no v. Acórdão da DRJ que, ainda que retificada a DCTF, validando o cálculo da monta da pretensão creditícia da Contribuinte, não houve a comprovação da existência de erro na primeira declaração ou a prova de qualquer outro motivo que justificasse tal alteração. Em Recurso Voluntário a Recorrente afirma que possui a plena prerrogativa de proceder à retificação da sua DCTF e o fez regularmente, em momento adequado, dentro do prazo concedido pelas normas que regem a matéria em tela. Alega que denegar o crédito implicaria em enriquecimento ilícito da Fazenda Nacional. Ora, é certo que a Contribuinte tem a prerrogativa de retificar suas declarações, inclusive a DCTF. Todavia, os efeitos de tal correção não são automáticos e absolutos, para todos os fim tributários, quando envolvida a percepção de crédito em favor do contribuinte após tal manobra. Fl. 132DF CARF MF Processo nº 11040.901121/201424 Acórdão n.º 1402003.106 S1C4T2 Fl. 5 4 Nesse sentido, a Instrução Normativa RFB nº 1.110, de 24 de dezembro de 2010, aplicável ao presente caso, é clara ao regular o tema em seu artigo 9º: Art. 9º A alteração das informações prestadas em DCTF, nas hipóteses em que admitida, será efetuada mediante apresentação de DCTF retificadora, elaborada com observância das mesmas normas estabelecidas para a declaração retificada. § 1º A DCTF retificadora terá a mesma natureza da declaração originariamente apresentada e servirá para declarar novos débitos, aumentar ou reduzir os valores de débitos já informados ou efetivar qualquer alteração nos créditos vinculados. § 2º A retificação não produzirá efeitos quando tiver por objeto: I reduzir os débitos relativos a impostos e contribuições: a) cujos saldos a pagar já tenham sido enviados à ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN) para inscrição em DAU, nos casos em que importe alteração desses saldos; b) cujos valores apurados em procedimentos de auditoria interna, relativos às informações indevidas ou não comprovadas prestadas na DCTF, sobre pagamento, parcelamento, compensação ou suspensão de exigibilidade, já tenham sido enviados à PGFN para inscrição em DAU;ou c) que tenham sido objeto de exame em procedimento de fiscalização. II alterar os débitos de impostos e contribuições em relação aos quais a pessoa jurídica tenha sido intimada de início de procedimento fiscal. § 3º A retificação de valores informados na DCTF, que resulte em alteração do montante do débito já enviado à PGFN para inscrição em DAU ou de débito que tenha sido objeto de exame em procedimento de fiscalização, somente poderá ser efetuada pela RFB nos casos em que houver prova inequívoca da ocorrência de erro de fato no preenchimento da declaração e enquanto não extinto o crédito tributário. (Redação dada pela Instrução Normativa RFB nº 1.177, de 25 de julho de 2011) § 4º Na hipótese do inciso II do § 2º, havendo recolhimento anterior ao início do procedimento fiscal, em valor superior ao declarado, a pessoa jurídica poderá apresentar declaração retificadora, em atendimento a intimação fiscal e nos termos desta, para sanar erro de Fl. 133DF CARF MF Processo nº 11040.901121/201424 Acórdão n.º 1402003.106 S1C4T2 Fl. 6 5 fato, sem prejuízo das penalidades calculadas na forma do art. 7º. § 5º O direito de o contribuinte pleitear a retificação da DCTF extinguese em 5 (cinco) anos contados a partir do 1º (primeiro) dia do exercício seguinte ao qual se refere a declaração. § 6º A pessoa jurídica que apresentar DCTF retificadora, alterando valores que tenham sido informados: I na Declaração de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ), deverá apresentar, também, DIPJ retificadora; ehttp://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/anexoOutro s.action?idArquivoBinario=0 II no Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais (Dacon), deverá apresentar, também, Dacon retificador. (destacamos) Extraise de tal dispositivo que, promovida a alteração após a prolatação de r. Despacho Decisório, deveria a Contribuinte ter trazidos prova inequívoca da ocorrência de erro de fato no preenchimento da declaração original, demonstrando que os valores originalmente inseridos na declaração primeiramente transmitida não refletiam os fatos e eventos efetivamente apurados na mensuração das obrigações lá constituídas. Sobre isso, a Recorrente alegou que teria trazido aos autos sua DIPJ, dando o necessário respaldo probante ao seu direito. Ocorre que apenas foram juntadas Fichas isoladas da DIPJ do período. Nenhum elemento de prova material, relacionado à contabilidade ou mesmo às atividades da Contribuinte, foi acostado ao processo. Frisese que a DIPJ, ainda que integralmente considerada, regularmente preenchida e transmitida, tem caráter informativo, sendo confeccionada unilateralmente pelo contribuinte, sem a necessidade de instrução direta com documentos. Assim, mesmo que as informações inseridas na linhas das Fichas da Declaração acostada guardassem identicidade com aquilo trazido na DCTF retificadora, tal encontro de dados guarda valor probante extremamente relativo, não se revestindo de prova inequívoca. Nos casos referente a restituição e compensação, regulados pelo art. 74 da Lei nº 9.430/96, o ônus probatório do crédito alegado recai sobre contribuinte. Por fim, o entendimento acima professado possui pleno respaldo na jurisprudência atual desse E. CARF. Ilustrando, confirase o Acórdão nº 1301002.103, proferido pela C. 1ª Turma Ordinária da 3ª Câmara dessa mesma 1ª Seção, de relatoria do I. Fl. 134DF CARF MF Processo nº 11040.901121/201424 Acórdão n.º 1402003.106 S1C4T2 Fl. 7 6 Conselheiro José Eduardo Dornelas Souza, publicado em 23/08/2016: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007 PROCEDIMENTO DE COMPENSAÇÃO. RETIFICAÇÃO DA DCTF APÓS A CIÊNCIA DO DESPACHO DECISÓRIO. EXISTÊNCIA DE OUTROS IMPEDIMENTOS. IMPOSSIBILIDADE Não há impedimento para que a DCTF seja retificada após o despacho decisório, desde que sejam respeitadas as restrições impostas pela IN RFB nº 1.110, de 2010, e alterações posteriores. Necessidade de análise das restrições através do exame de documentação juntada ao processo, o que foi impossível, ante a não juntada de documentos pela interessada, sendo seu dever o ônus de provas. INDÉBITO.COMPROVAÇÃO. CERTEZA E LIQUIDEZ. A comprovação da certeza e liquidez dos créditos deve ocorrer pelo exame de documentação hábil e apta, cujo ônus de juntar a documentação pertinente pertence a parte que requer o reconhecimento do direito creditório. Ainda, na mesma esteira decidiuse no Acórdão nº 3402 004.849, prolatado pela C. 2ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da 3ª Seção dessa C. Corte Administrativa, de relatoria do I. Conselheiro Waldir Navarro Bezerra, publicado em 02/02/2018: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO CIDE Data do fato gerador: 29/07/2005 NULIDADE DO DESPACHO DECISÓRIO. FALTA DE MOTIVAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA Não ocorre a nulidade do feito fiscal quando a autoridade demonstra de forma suficiente os motivos pelos quais o lavrou, possibilitando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa ao contribuinte e sem que seja comprovado o efetivo prejuízo ao exercício desse direito. DCOMP. NÃO HOMOLOGAÇÃO. DCTF RETIFICADORA APRESENTADA APÓS CIÊNCIA DO DESPACHO DECISÓRIO. EFEITO. A retificação da DCTF após a ciência do Despacho Decisório que indeferiu o pedido de compensação não é suficiente para a comprovação do crédito, sendo indispensável a comprovação do erro em que se funde. Fl. 135DF CARF MF Processo nº 11040.901121/201424 Acórdão n.º 1402003.106 S1C4T2 Fl. 8 7 PROVA. RETIFICAÇÃO DE DCTF. REDUÇÃO DE DÉBITO. APÓS CIÊNCIA DE DECISÃO ADMINISTRATIVA. ÔNUS DO CONTRIBUINTE. Compete ao contribuinte o ônus da prova de erro de preenchimento em DCTF, consubstanciada nos documentos contábeis que o demonstre. PEDIDO DE DILIGÊNCIA. JUNTADA DE PROVAS. Deve ser indeferido o pedido de diligência, quando tal providência se revela prescindível para instrução e julgamento do processo. Recurso Voluntário Negado. Diante de todo o exposto, voto por negar provimento ao Recurso Voluntário, mantendose o v. Acórdão recorrido." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Fl. 136DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10860.001507/2004-46
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Mar 08 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Apr 30 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte - Simples
Ano-calendário: 1999
SIMPLES. EXCLUSÃO.
Escola de ensino médio economicamente organizada estava impossibilitada de optar pelo SIMPLES, por se tratar de atividade vedada.
Numero da decisão: 9101-003.483
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em dar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto e Daniele Souto Rodrigues Amadio, que lhe negaram provimento.
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Presidente
(assinado digitalmente)
Gerson Macedo Guerra - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros
André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Luis Flávio Neto, Flávio Franco Corrêa, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Adriana Gomes Rêgo (Presidente).
Nome do relator: GERSON MACEDO GUERRA
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ementa_s : Assunto: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte - Simples Ano-calendário: 1999 SIMPLES. EXCLUSÃO. Escola de ensino médio economicamente organizada estava impossibilitada de optar pelo SIMPLES, por se tratar de atividade vedada.
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D. S.C. LTDA. ASSUNTO: SISTEMA INTEGRADO DE PAGAMENTO DE IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES DAS MICROEMPRESAS E DAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE SIMPLES Anocalendário: 1999 SIMPLES. EXCLUSÃO. Escola de ensino médio economicamente organizada estava impossibilitada de optar pelo SIMPLES, por se tratar de atividade vedada. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em darlhe provimento, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto e Daniele Souto Rodrigues Amadio, que lhe negaram provimento. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Presidente (assinado digitalmente) Gerson Macedo Guerra Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 86 0. 00 15 07 /2 00 4- 46 Fl. 226DF CARF MF 2 André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Luis Flávio Neto, Flávio Franco Corrêa, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Adriana Gomes Rêgo (Presidente). Relatório Tratase de Recurso Especial de Divergência interposto pela PGFN, em face do acórdão nº 30335.895, onde restou decidido que carece de legitimidade a exclusão de escola de ensino médio economicamente organizada do Simples quando exclusivamente motivada no exercício da prestação de serviços profissionais de professor ou assemelhados. Na origem, tratase de exclusão da sistemática do Simples, por meio do Ato Declaratiário Executivo de fl. 17, datado de 05/11/1999, fundamentado no fato de que a contribuinte exerceria atividade econômica não permitida, a saber, ensino médio. Houve apresentação de Manifestação de Inconformidade pelo Contribuinte, que fora julgada improcedente pela DRJ. Apresentado Recurso Voluntário, a Turma a quo a ele deu provimento, conforme ementa abaixo: "ASSUNTO: SISTEMA INTEGRADO DE PAGAMENTO DE IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES DAS MICROEMPRESAS E DAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE SIMPLES Anocalendário: 1999 Simples. Exclusão desmotivada. Escola de ensino médioeconomicamente organizada. Atividade permitida. Carece de legitimidade a exclusão de escola de ensino médio economicamente organizada do Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples) quando exclusivamente motivada no exercício da prestação de serviços profissionais de professor ou assemelhados. A vedação imposta pelo inciso XIII do artigo 9° da Lei 9.317, de 1996, não alcança as microempresas nem as empresas de pequeno porte constituídas por empreendedores que agregam meios de produção para explorar atividades econômicas de forma organizada com o desiderato de gerar ou circular bens ou prestar quaisquer serviços. Ela é restrita aos casos de inexistência de atividade economicamente organizada caracterizada pela prestação de serviços profissionais como atividade exclusiva e levada a efeito diretamente pelos sócios da pessoa jurídica qualificados dentre as atividades indicadas no dispositivo legal citado. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros da terceira câmara do terceiro conselho de contribuintes, por unanimidade de votos, afastar a preliminar de nulidade da decisão de primeira instância. Por maioria de votos,dar provimento ao recurso voluntário, vencidos os Conselheiros Celso Lopes Pereira Neto e Luis Marcelo Guerra Fl. 227DF CARF MF Processo nº 10860.001507/200446 Acórdão n.º 9101003.483 CSRFT1 Fl. 206 3 de Castro. Designado para redigir o voto o Conselheiro Tarásio Campelo Borges." Cientificada da decisão, a Fazenda Nacional apresentou Recurso Especial de decisão não unânime da Câmara, por contrariedade à lei ou à evidência da prova. Demonstra a Fazenda que a decisão não foi unânime e que contrariou o artigo 9°, inciso XIII, da Lei 9.317/96, bem como do Ato Declaratório Normativo n° 29/1990. O Recurso da Fazenda foi conhecido, conforme despacho de admissibilidade Intimado do Recurso da Fazendo o contribuinte apresenta contrarrazões, pugnando pelo não conhecimento do Recurso ou, caso conhecido, pela manutenção do julgado a quo. É o relatório. Voto Conselheiro Gerson Macedo Guerra, Relator Sobre a admissibilidade do Recurso, entendo não haver reparos a serem feitos no despacho de admissibilidade, portanto, dele conheço. De fato, a decisão não foi unânime, como já visto anteriormente. Além disso, sobre a contrariedade à Lei afirma a Fazenda que a atividade de professor é vedada para o simples de acordo com a lei n. 9.317/1996, diferentemente do decidido pela Turma a quo. Portanto, requisitos para admissão do recurso da Fazenda satisfeitos. Sobre o mérito da questão, entendo que merece reparo decisão recorrida. À época da comunicação da contribuinte da exclusão em questão, ou seja, novembro de 1.999, assim vigia a vedação do artigo 9º, XIII, da Lei 9.317/96: Art. 9° Não poderá optar pelo SIMPLES, a pessoa jurídica: (...) XIII que preste serviços profissionais de corretor, representante comercial, despachante, ator, empresário, diretor ou produtor de espetáculos, cantor, músico, dançarino, médico, dentista, enfermeiro, veterinário, engenheiro, arquiteto, físico, químico, economista, contador, auditor, consultor, estatístico, administrador, programador, analista de sistema, advogado, psicólogo, professor, jornalista, publicitário, fisicultor, ou assemelhados, e de qualquer outra profissão cujo exercício dependa de habilitação profissional legalmente exigida; Pela interpretação literal ou teleológica da norma em questão podese concluir pela ausência da distinção entre "sociedades de profissionais" e "sociedade entre empresários", pois o art. 9°, inciso XIII, da • Lei n° 9.317, de 1996 não faz qualquer distinção entre forma de constituição das pessoas jurídicas. Fl. 228DF CARF MF 4 Interpretando tal norma a COSIT, através do ADN 29/1999, compreendeu que os. estabelecimentos de educação, inclusive infantil, prestam serviços vinculados a atividade de professor, estando impedidos de exercer a opção pelo SIMPLES. Nesse contexto, não vejo outra maneira de se interpretar a Lei em questão, senão no sentido de que, à época, todas as pessoas jurídicas que se dedicavam à atividade de ensino encontravamse impedidas de usufruir do SIMPLES. Só por isso, já seria possível concluir pela correção da exclusão em questão. Apesar disso, como bem mencionado no voto vencido, constante da decisão recorrida, a contribuinte em questão foi constituída na forma de Sociedade Civil, nos termos do antigo Código Civil. Esta Sociedade Civil era conhecida como "sociedade de profissionais", inclusive com beneficio da incidência diferenciada do ISS que é pago pelo número de profissionais e não pelo faturamento mensal da empresa, representando um alívio considerável em sua carga tributária. Essa sociedade se diferenciava das demais por não ser considerada uma sociedade empresária. Logo, também por essa razão deve ser reformada a decisão a quo. Importa destacar ainda, ad argumentandum tantum, mesmo que a Lei n° 10.034/2000 fosse apenas interpretativa, não inovando no ordenamento jurídico em nenhum aspecto, o fato de a atividade de ensino médio não ter sido excetuada da restrição de que trata o inciso XIII do art. 9° da Lei n° 9.317, de 1996, leva, contrario sensu, ao entendimento de que aquela atividade incorre na vedação de que trata o inciso XIII do art. 9° da Lei n° 9.317, de 1996. Por fim, considerando que a Fazenda traz em seu Recurso alegação de irretroatividade da Lei Complementar 123/07, mas que a decisão recorrida nada menciona quanto a essa matéria, entendo desnecessário discorrer sobre o tema. Nesse contexto, voto por dar provimento ao Recurso da Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Gerson Macedo Guerra Fl. 229DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10283.900010/2013-02
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu May 24 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Jun 21 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 03/10/2012
DIREITO CREDITÓRIO. PROVA. DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO
O reconhecimento do direito creditório pleiteado requer a prova de sua existência e montante, sem o que não pode ser restituído ou utilizado em compensação. Faltando ao conjunto probatório carreado aos autos pela interessada elemento que permita a verificação da existência de pagamento indevido ou a maior frente à legislação tributária, o direito creditório não pode ser admitido.
DCTF. CONFISSÃO DE DÍVIDA. RETIFICAÇÃO. DESPACHO DECISÓRIO. DIREITO CREDITÓRIO
A DCTF é instrumento formal de confissão de dívida, e sua retificação, posterior à emissão de despacho decisório, exige comprovação material a sustentar direito creditório alegado.
VERDADE MATERIAL. ÔNUS DA PROVA.
As alegações de verdade material devem ser acompanhadas dos respectivos elementos de prova. O ônus de prova é de quem alega. A busca da verdade material não se presta a suprir a inércia do contribuinte que tenha deixado de apresentar, no momento processual apropriado, as provas necessárias à comprovação do crédito alegado.
Numero da decisão: 3201-003.718
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza - Presidente
(assinado digitalmente)
Paulo Roberto Duarte Moreira - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisario, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior.
Nome do relator: PAULO ROBERTO DUARTE MOREIRA
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ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Data do fato gerador: 03/10/2012 DIREITO CREDITÓRIO. PROVA. DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO O reconhecimento do direito creditório pleiteado requer a prova de sua existência e montante, sem o que não pode ser restituído ou utilizado em compensação. Faltando ao conjunto probatório carreado aos autos pela interessada elemento que permita a verificação da existência de pagamento indevido ou a maior frente à legislação tributária, o direito creditório não pode ser admitido. DCTF. CONFISSÃO DE DÍVIDA. RETIFICAÇÃO. DESPACHO DECISÓRIO. DIREITO CREDITÓRIO A DCTF é instrumento formal de confissão de dívida, e sua retificação, posterior à emissão de despacho decisório, exige comprovação material a sustentar direito creditório alegado. VERDADE MATERIAL. ÔNUS DA PROVA. As alegações de verdade material devem ser acompanhadas dos respectivos elementos de prova. O ônus de prova é de quem alega. A busca da verdade material não se presta a suprir a inércia do contribuinte que tenha deixado de apresentar, no momento processual apropriado, as provas necessárias à comprovação do crédito alegado.
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PROVA. DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO O reconhecimento do direito creditório pleiteado requer a prova de sua existência e montante, sem o que não pode ser restituído ou utilizado em compensação. Faltando ao conjunto probatório carreado aos autos pela interessada elemento que permita a verificação da existência de pagamento indevido ou a maior frente à legislação tributária, o direito creditório não pode ser admitido. DCTF. CONFISSÃO DE DÍVIDA. RETIFICAÇÃO. DESPACHO DECISÓRIO. DIREITO CREDITÓRIO A DCTF é instrumento formal de confissão de dívida, e sua retificação, posterior à emissão de despacho decisório, exige comprovação material a sustentar direito creditório alegado. VERDADE MATERIAL. ÔNUS DA PROVA. As alegações de verdade material devem ser acompanhadas dos respectivos elementos de prova. O ônus de prova é de quem alega. A busca da verdade material não se presta a suprir a inércia do contribuinte que tenha deixado de apresentar, no momento processual apropriado, as provas necessárias à comprovação do crédito alegado. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Presidente AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 3. 90 00 10 /2 01 3- 02 Fl. 287DF CARF MF Processo nº 10283.900010/201302 Acórdão n.º 3201003.718 S3C2T1 Fl. 288 2 (assinado digitalmente) Paulo Roberto Duarte Moreira Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisario, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laercio Cruz Uliana Junior. Relatório Para bem relatar os fatos, transcrevese o relatório da decisão proferida pela autoridade a quo: Tratase de Despacho Decisório que homologou parcialmente Declaração de Compensação eletrônico. Na fundamentação do ato, consta: A partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, abaixo relacionados, mas parcialmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, restando saldo disponível inferior ao crédito pretendido, insuficiente para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP. (...) Diante do exposto, HOMOLOGO PARCIALMENTE a compensação declarada. Cientificada, a interessada apresentou Manifestação de Inconformidade alegando, em síntese, que: O crédito em comento decorreu do recolhimento em duplicidade do IOF devido sobre o saldo devedor dos contratos de mútuo (...) (doc. 06) (...). Nesse sentido, considerando que em 31.08.2012 o saldo devedor total dos referidos contratos era de R$ 142.703.000,00, em 05.09.2012, a Requerente efetuou recolhimento de IOF no montante de R$ 181.375,51. Essa obrigação foi devidamente declarada na DCTF (...) no código 115002 (Doc. 07) e recolhida aos cofres públicos conforme comprovante de pagamento anexo (Doc. 08). Ocorre que, por equívoco, em 03.10.2012 a Requerente acabou por efetuar novo recolhimento referente ao mesmo período de apuração. Nessa ocasião, a Requerente acresceu multa e juros ao montante principal de R$ 181.375,51, o que totalizou um recolhimento de R$ 199.948,35, como resta demonstrado no comprovante em anexo (Doc. 09). Fl. 288DF CARF MF Processo nº 10283.900010/201302 Acórdão n.º 3201003.718 S3C2T1 Fl. 289 3 ... Alegase no Despacho Decisório, em suma, que o valor DARF discriminado no PER/DCOMP como gerador do crédito passível de compensação foi utilizado em sua maior parte para quitação de outros débitos da Requerente. Mais especificamente, do crédito total de R$ 199.948,35 a RFB alega ter confirmado um crédito disponível de apenas R$ 4.788,31. A falta de confirmação do valor total do crédito certamente se deu em razão de outro equívoco cometido pela Requerente: após o recolhimento em duplicidade do IOF, a contabilidade da Requerente, de forma errônea, retificou a DCTF do período para aumentar o valor do débito supostamente devido, de R$ 181.375,51 para R$ 362.751,02. (...). Ocorre que, como demonstra o anexo relatório gerencial (Doc. 13), o saldo devedor dos empréstimos em comento em 31.07.2012 era efetivamente de R$ 142.703.000,00, de forma que o IOF devido em agosto de 2012 era de apenas R$ 181.375,51, como segue: R$ 142.703.000,00 x 0,0041% x 31 dias=R$181.375,51. Efetivamente, o conjunto probatório ora trazido aos autos deve prevalecer sobre as informações equivocadamente prestadas em DCTF, sob pena de afronta à verdade material e de exigência de tributo maior que o devido em face da legislação vigente. (...). Diante disso, há que ser reconhecido o crédito de IOF no montante total R$ 199.948,35 e, em consequencia, a necessidade de homologação integral da compensação discutida nestes autos. Ao final da manifestação de inconformidade pede a contribuinte pela produção de provas, "notadamente pela juntada posterior de novos documentos contábeis que corroborem o saldo devedor dos empréstimos sobre o qual incidiu o IOF". A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto/SP, por intermédio da 14ª Turma, no Acórdão nº 1455.077, sessão de 24/11/2014, julgou improcedente a manifestação de inconformidade do contribuinte. A decisão foi assim ementada: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES DE CRÉDITO, CÂMBIO E SEGUROS OU RELATIVAS A TÍTULOS OU VALORES MOBILIÁRIOS IOF Data do fato gerador: 03/10/2012 DIREITO CREDITÓRIO. PROVA. O reconhecimento do direito creditório pleiteado requer a prova de sua existência e montante, sem o que não pode ser restituído ou utilizado em compensação. Faltando ao conjunto probatório carreado aos autos pela interessada elemento que permita a verificação da existência de pagamento indevido ou a maior Fl. 289DF CARF MF Processo nº 10283.900010/201302 Acórdão n.º 3201003.718 S3C2T1 Fl. 290 4 frente à legislação tributária, o direito creditório não pode ser admitido. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido A decisão a quo manteve a não homologação da compensação sob o fundamento de que em sede de manifestação de inconformidade não foi apresentada prova documental que desse respaldo à DCTF retificadora, transmitida após a ciência no despacho decisório. Irresignado, o contribuinte interpôs recurso voluntário no qual reprisa seus argumentos e fundamentos arguidos em primeira instância, reapresentando os mesmos documentos. É o relatório. Voto Conselheiro Paulo Roberto Duarte Moreira, Relator O Recurso Voluntário atende aos requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento. Não assiste razão ao recorrente. Tratandose de direito creditório pleiteado sem qualquer comprovação documental de que a escrita contábil da contribuinte dera suporte fático às três retificações de DCTF, para que fosse alegado equívocos nos preenchimentos e recolhimentos em duplicidade do IOF devido em 31/08/2012, a decisão recorrida foi acertada. Iniciado então o contencioso com a manifestação de inconformidade era dever/ônus do contribuinte municiar sua defesa com os elementos de prova que suportassem as informações consignadas em sua última DCTF retificadora, apresentada em momento posterior à ciência no procedimento de não homologação da compensação. Do ponto de vista formal (documental), observase nos autos tanto em manifestação de inconformidade como e recurso voluntário que a contribuinte não traz qualquer elemento comprobatório que sustente suas alegações no sentido de que a DCTF foi retificada para refletir o suposto direito creditório decorrente de pagamento indevido de IOF. Pressupõese à evidência do pedido final da recorrente em sua manifestação de inconformidade de que haveria documentos contábeis a comprovar e sustentar o alegado pagamento em duplicidade, mas nada fora apresentado em sede recursal a este Conselho. Ora é de se presumir que a comprovação de um efetivo pagamento em duplicidade é deveras elementar: bastaria comprovar que os valores originais pagos em DARF corresponderiam a um mesmo período de apuração e de vencimento, conforme os registros contábeis efetuados nas contas envolvidas Fl. 290DF CARF MF Processo nº 10283.900010/201302 Acórdão n.º 3201003.718 S3C2T1 Fl. 291 5 A ausência da prova viola a regra jurídica adotada pelo direito pátrio de que a prova compete à pessoa que alega o fato, conforme se depreende do abaixo transcrito artigo 16, caput, III, do Decreto n° 70.235, de 1972 (PAF), que regulamenta o processo administrativo fiscal no âmbito federal, e do artigo 373, da Lei nº 13.115/2015 (Código de Processo Civil), verbis: Decreto n° 70.235, de 1972: Art. 16. A impugnação mencionará: III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir. § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) b) refirase a fato ou a direito superveniente; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) Lei nº 13.105/2015 CPC "Art. 373. 0 ônus da prova incumbe: I — ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II — ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor." Cabe assinalar que o reconhecimento de direito creditório contra a Fazenda Nacional exige a averiguação da liquidez e certeza do suposto pagamento indevido ou a maior de tributo, fazendose necessário verificar a exatidão das informações a ele referentes, confrontandoas com os registros contábeis e fiscais efetuados com base na documentação pertinente, com análise da situação fática, de modo a se conhecer qual seria o tributo devido e comparálo ao pagamento efetuado. A fim de comprovar a certeza e liquidez do crédito, o interessado deve, sob pena de preclusão, instruir sua manifestação de inconformidade com documentos que respaldem suas afirmações, considerando o que dispõem os dispositivos legais transcritos. E mais, conquanto o direito não restasse cabalmente comprovado em sede julgamento em primeira instância, mas caso houvesse, documentalmente, fortes indícios do alegado equívoco e desde que acompanhado da escrita contábil regular caberia uma reanálise do pretendido direito. O voto na decisão recorrida explicitou que havia "uma inconsistência nos documentos trazidos aos autos, inconsistência essa que somente o recurso à contabilidade do Fl. 291DF CARF MF Processo nº 10283.900010/201302 Acórdão n.º 3201003.718 S3C2T1 Fl. 292 6 sujeito passivo poderia resolver. No entanto, tal elemento de prova não foi juntado pela interessada. Com efeito, os documentos juntados, contratos e um demonstrativo do que seriam os saldos diários, não conseguem dar conta da necessária comprovação do saldo real dos contratos de mútuo mantidos pela interessada e, por conseguinte, o valor efetivo do tributo devido no período. Sem essa comprovação, a duplicidade do pagamento não se evidencia a ponto de levar ao reconhecimento da tese da contribuinte". Por outro lado, as situações em que se permitem a apresentação extemporânea de elementos probatórios encontramse bem delineados nas letras "a" a "c" do § 4º do art. 16 do PAF e não há demonstração nos autos de qualquer situação fática ou jurídica para superação da preclusão processual. Outrossim, não há fato ou razão renovadas trazida aos autos pela DRJ. O voto tece considerações no sentido de que o contribuinte não se desincumbiu do ônus de comprovar com elementos hábeis seu direito. Afastamse, portanto, as situações excepcionais e ensejadoras da apresentação extemporânea de elementos probatórios de que trata o § 4º do art. 16 do Decreto nº 70.235/76. Reconhecese na jurisprudência certo grau de atenuação dos rigores das normas processuais acerca da preclusão, isto é, afastase a preclusão em alguns casos excepcionais que notadamente referemse a fatos notórios ou incontroversos, no tocante a documentos que permitem o pronto convencimento do julgador. Logo, o direito da parte à produção de provas posteriores, até o momento da decisão administrativa comporta graduação e será determinado a critério da autoridade julgadora, com fulcro em seu juízo de valor acerca da utilidade e da necessidade, bem como à percepção de que efetivamente houve um esforço na busca de comprovar o direito alegado, que é ônus daquele que objetiva a restituição, ressarcimento e/ou compensação de tributos. No caso dos autos, evidenciase que o recorrente não se preocupou em produzir oportunamente os documentos que comprovariam suas alegações, ônus que lhe competia, segundo o sistema de distribuição da carga probatória adotado pelo Processo Administrativo Federal1, o PAF e o CPC. O princípio da verdade real (material) destinase à busca da verdade que está para além dos fatos alegados pelas partes, mas isto num cenário dentro do qual as partes trabalharam proativamente no sentido do cumprimento do seu ônus probandi. A verdade material não se efetiva como um salvo conduto no qual o contribuinte aguarda pelo momento que melhor lhe convier a apresentação de suas provas. O ônus processual probatório é regido por dispositivos legais e se trata de um requisito de admissibilidade dos pleitos de natureza creditório, exigindo sua evidência desde a instauração do contencioso. Destarte, mão é aceitável que um pleito, onde se objetiva a restituição de um alegado crédito, seja proposto sem a devida e minuciosa demonstração e comprovação da 1 Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, art. 36: Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto no artigo 37 desta Lei. Fl. 292DF CARF MF Processo nº 10283.900010/201302 Acórdão n.º 3201003.718 S3C2T1 Fl. 293 7 efetiva existência do indébito e que posteriormente, também em sede de julgamento, se oportunize tais demonstração e comprovação. A busca pela verdade material não se presta a suprir a inércia do contribuinte que tenha deixado de apresentar, no momento processual apropriado, as provas necessárias à comprovação do crédito alegado. O processo administrativo fiscal, conquanto admita flexibilização na apresentação de provas, não se coaduna com a supressão de instância. Desse modo, em homenagem aos princípios da preclusão probatória, do ônus probatório do direito creditório, à impossibilidade de supressão de instância, da impulsão oficial do processo e da celeridade, não vislumbro espaço para reanálise do despacho decisório, tampouco qualquer reforma na decisão recorrida. Conclusão Por todo o exposto, voto para NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário. Paulo Roberto Duarte Moreira Fl. 293DF CARF MF
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Numero do processo: 19515.720975/2013-17
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue May 22 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Jun 15 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 3302-000.757
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
Paulo Guilherme Déroulède - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), Fenelon Moscoso de Almeida, Walker Araujo, Vinicius Guimaraes, Jose Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior, Raphael Madeira Abad.
Relatório
Nome do relator: PAULO GUILHERME DEROULEDE
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Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. (assinado digitalmente) Paulo Guilherme Déroulède Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), Fenelon Moscoso de Almeida, Walker Araujo, Vinicius Guimaraes, Jose Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior, Raphael Madeira Abad. Relatório Tratase de Autos de Infração para constituição de crédito tributário de PIS/Pasep NãoCumulativo e Cofins NãoCumulativa, relativo ao período de janeiro de 2008 a setembro de2008, decorrentes da glosa de créditos sobre pallets e engradados utilizados para transporte, consumo de água para resfriamento, lavagem e funcionamento de equipamento, EPI, serviços de telefonia, peças de reposição de empilhadeiras e veículos de transporte interno de insumos, produtos semiacabados e acabados, materiais de laboratório e tratamento de efluentes, uniforme e ferramentas de uso pessoal, manutenção da instalação predial industrial, material de limpeza (álcool etílico), caixas de cervejas, alimentação, componentes de computadores, materiais prediais, material de escritório, óculos, ferramentas de uso pessoal, transportes diversos, material para a frota de veículos, material classificado como ativo permanente, material para bicicleta, mobiliário, cadeado, suprimentos de informática, água potável, material de medicação, manutenção de jardim, materiais de laboratório, vassoura, RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 95 15 .7 20 97 5/ 20 13 -1 7 Fl. 9358DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.359 2 materiais elétricos e eletrônicos e glosas sobre serviços utilizados como insumos, tais como troféu, refrigeração, serviços psicológicos, calibração de balança, desentupimento, concreto, serviço de limpeza, coleta de lixo/resíduos, "motoboy", consultas oftalmológicas, laboratório medico, mão de obra especializada, outros laboratórios, manutenção de informática, manutenção de rádios, manutenção de equipamentos em geral não vinculados à produção, transporte executivo de pessoas, outros fretes sem direito a credito, consultoria, serviços de saúde, curso de operador de empilhadeira, SESI _ serviço social da indústria, curso de inglês e outros. Além disso, pleiteou créditos extemporâneos, bem como estoques extemporâneos de abertura, energia elétrica extemporânea, aquisição de sucatas. Em impugnação, a recorrente alegou decadência para fatos geradores ocorridos anteriormente a 06/05/2008, por aplicação do prazo previsto no artigo 150, §4º do CTN; a inaplicabilidade da multa de ofício em razão de que os valores já constavam do Dacon; a nulidade da autuação por descrição genérica das infrações sem exame pormenorizado dos fatos; ataca o conceito de insumo adotado pela RFB, defendendo, por outro lado, o conceito calcado na essencialidade ao processo produtivo; o direito aos créditos de energia elétrica tidos por extemporâneos, o direito ao crédito presumido de estoque de abertura; das sucatas adquiridas; por fim, pediu a realização de perícia para constatação da utilização dos diversos produtos e serviços em seu processo produtivo. Apreciando a impugnação apresentada, a DRJ converteu o julgamento para que a autoridade fiscal analisasse a extensa documentação juntada em impugnação, bem como consolidar as glosas por natureza. Em cumprimento da diligência, a fiscalização elaborou relatório, enumerando os contratos relativos aos serviços mantidos em glosa, os contratos cujos serviços foram aceitos como base para creditamento, os bens decorrentes de compras diretas cujas glosas foram mantidas e cujas glosas foram revistas, as aquisições de materiais que foram aceitas e as mantidas em glosa, de modo que as glosas mantidas foram resumidas na planilha "RESUMOS DAS GLOSAS EFETUADAS", efls. 9169 (arquivo não paginável). Manifestando sobre o resultado da diligência, a recorrente reiterou o conceito de insumo defendido na impugnação, enumerando os bens e serviços que entendeu essenciais e necessários ao processo produtivo. Por sua vez, a DRJ proferiu o Acórdão nº 0369.942, julgando a impugnação parcialmente procedente, nos termos da seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Anocalendário: 2008 NÃO CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. INSUMOS. CONCEITO Os gastos incorridos no processo produtivo somente dão direito a crédito no regime de incidência nãocumulativa, se incorporados diretamente ao bem produzido ou se consumidos/alterados no processo de industrialização em função de ação exercida diretamente sobre o produto e desde que não incorporados ao ativo imobilizado. Geram créditos os dispêndios realizados com bens e serviços utilizados como insumos na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, observadas as ressalvas Fl. 9359DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.360 3 legais. O termo “insumo” não pode ser interpretado como todo e qualquer fator que onere a atividade econômica, mas tãosomente como aqueles bens ou serviços que sejam diretamente empregados na produção de bens ou na prestação de serviços. NÃO CUMULATIVIDADE. HIPÓTESES DE CREDITAMENTO. As hipóteses de crédito no âmbito do regime não cumulativo de apuração da Contribuição para o PIS/Pasep são somente as previstas na legislação de regência, dado que esta é exaustiva ao enumerar os custos e encargos passíveis de creditamento, não estando suas apropriações vinculadas à caracterização de sua essencialidade na atividade da empresa ou à sua escrituração na contabilidade como custo operacional. CREDITAMENTO EXTEMPORÂNEO. COMPROVAÇÃO. Para utilização de créditos extemporâneos é necessário que reste configurada a não utilização em períodos anteriores, mediante retificação das declarações correspondentes ou apresentação de outra prova inequívoca da sua não utilização. PRAZO DECADENCIAL. INÍCIO DA CONTAGEM. Nos exatos termos do Parecer PGFN/CAT nº 1.617/2008, para fins de cômputo do prazo de decadência, tendo havido pagamento antecipado, aplicase a regra do § 4º do art. 150 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, denominada Código Tributário Nacional CTN. Por outro lado, na ausência de pagamento, aplicase a regra do art. 173, inciso I do mesmo CTN. PIS. LANÇAMENTO DECORRENTE DA MESMA MATÉRIA FÁTICA. Aplicase ao lançamento da contribuição para o PIS/Pasep o decidido em relação à Cofins lançada a partir da mesma matéria fática. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte. Por ter exonerado crédito tributário superior ao limite estabelecido na Portaria MF nº 3/2008, o colegiado a quo recorreu de ofício. Inconformada, a recorrente interpôs recurso voluntário, reiterando o conceito de insumo defendido na impugnação e enumerando os bens e serviços que entendeu essenciais e necessários ao processo produtivo, bem como reiterando o crédito sobre energia elétrica tida por extemporânea, crédito presumido de estoque de abertura. Após a proclamação da decisão proferida pelo STJ sobre o conceito de insumos no REsp nº 1.221.170/RS, a recorrente pugnou pela realização de diligência para juntada de laudo técnico solicitado nos processos 19679.010892/200525 e 12585.000018/200911, no qual será descrito detalhadamente o processo produtivo. Na forma regimentar, o processo foi distribuído a este relator. É o relatório. Fl. 9360DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.361 4 Voto Conselheiro Paulo Guilherme Déroulède. O recurso interposto atende aos pressupostos de admissibilidade e dele tomo conhecimento. O litígio principal referese à definição do termo "insumos" na legislação das contribuições para o PIS/Pasep NãoCumulativo e a Cofins NãoCumulativa. A recorrente pugnou pela inaplicabilidade das IN SRF nº 247/2002 e 404/2004 quanto à definição de insumos, adotando um conceito de essencialidade, utilidade e necessidade ao processo produtivo. Relativamente à definição de insumos, a nãocumulatividade das contribuições, embora estabelecida sem os parâmetros constitucionais relativos ao ICMS e IPI, foi operacionalizada mediante o confronto entre valores devidos a partir do auferimento de receitas e o desconto de créditos apurados em relação a determinados custos, encargos e despesas estabelecidos em lei. A apuração de créditos básicos foi dada pelos artigos 3º das Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003, cujas atuais redações seguem abaixo: Lei nº 10.637/2002: Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: Produção de efeito (Vide Lei nº 11.727, de 2008) (Produção de efeitos) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) (Regulamento) I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) a) no inciso III do § 3o do art. 1o desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 11.727, de 2008). (Produção de efeitos) b) nos §§ 1o e 1oA do art. 2o desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 11.787, de 2008) (Vide Lei nº 9.718, de 1998) II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) III (VETADO) IV – aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa; V valor das contraprestações de operações de arrendamento mercantil de pessoa jurídica, exceto de optante pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte SIMPLES; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) Fl. 9361DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.362 5 VI máquinas, equipamentos e outros bens incorporados ao ativo imobilizado, adquiridos ou fabricados para locação a terceiros ou para utilização na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços. (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005) VII edificações e benfeitorias em imóveis de terceiros, quando o custo, inclusive de mãodeobra, tenha sido suportado pela locatária; VIII bens recebidos em devolução, cuja receita de venda tenha integrado faturamento do mês ou de mês anterior, e tributada conforme o disposto nesta Lei. IX energia elétrica e energia térmica, inclusive sob a forma de vapor, consumidas nos estabelecimentos da pessoa jurídica. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) X valetransporte, valerefeição ou valealimentação, fardamento ou uniforme fornecidos aos empregados por pessoa jurídica que explore as atividades de prestação de serviços de limpeza, conservação e manutenção. (Incluído pela Lei nº 11.898, de 2009) XI bens incorporados ao ativo intangível, adquiridos para utilização na produção de bens destinados a venda ou na prestação de serviços. (Incluído pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) Lei nº 10.833/2003: Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: (Produção de efeito) (Vide Medida Provisória nº 497, de 2010) (Regulamento) I bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) a) no inciso III do § 3o do art. 1o desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 11.727, de 2008) (Produção de efeitos) b) nos §§ 1o e 1oA do art. 2o desta Lei; (Redação dada pela lei nº 11.787, de 2008) (Vide Lei nº 9.718, de 1998) II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da Tipi; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) III energia elétrica e energia térmica, inclusive sob a forma de vapor, consumidas nos estabelecimentos da pessoa jurídica; (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) IV aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa; V valor das contraprestações de operações de arrendamento mercantil de pessoa jurídica, exceto de optante pelo Sistema Integrado Fl. 9362DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.363 6 de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte SIMPLES; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) VI máquinas, equipamentos e outros bens incorporados ao ativo imobilizado, adquiridos ou fabricados para locação a terceiros, ou para utilização na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços; (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005) VII edificações e benfeitorias em imóveis próprios ou de terceiros, utilizados nas atividades da empresa; VIII bens recebidos em devolução cuja receita de venda tenha integrado faturamento do mês ou de mês anterior, e tributada conforme o disposto nesta Lei; IX armazenagem de mercadoria e frete na operação de venda, nos casos dos incisos I e II, quando o ônus for suportado pelo vendedor. X valetransporte, valerefeição ou valealimentação, fardamento ou uniforme fornecidos aos empregados por pessoa jurídica que explore as atividades de prestação de serviços de limpeza, conservação e manutenção. (Incluído pela Lei nº 11.898, de 2009) XI bens incorporados ao ativo intangível, adquiridos para utilização na produção de bens destinados a venda ou na prestação de serviços. (Incluído pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) A regulamentação da definição de insumo foi dada pelo artigo 66 da IN SRF nº 247/2002, e artigo 8º da IN SRF nº 404/2004, de forma idêntica: Art. 66. A pessoa jurídica que apura o PIS/Pasep nãocumulativo com a alíquota prevista no art. 60 pode descontar créditos, determinados mediante a aplicação da mesma alíquota, sobre os valores: [...]§ 5º Para os efeitos da alínea " b" do inciso I do caput, entendese como insumos: I utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda: a) as matérias primas, os produtos intermediários, o material de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado; b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na produção ou fabricação do produto; II utilizados na prestação de serviços: a) os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços, desde que não estejam incluídos no ativo imobilizado; e b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na prestação do serviço. Fl. 9363DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.364 7 Art. 8º Do valor apurado na forma do art. 7º, a pessoa jurídica pode descontar créditos, determinados mediante a aplicação da mesma alíquota, sobre os valores: [...]§ 4º Para os efeitos da alínea "b" do inciso I do caput, entendese como insumos: I utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda: a) a matériaprima, o produto intermediário, o material de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado; b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na produção ou fabricação do produto; II utilizados na prestação de serviços: a) os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços, desde que não estejam incluídos no ativo imobilizado; e b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consumidos na prestação do serviço. A partir destas disposições, três correntes se formaram: a defendida pela Receita Federal, corroborada em julgamentos deste Conselho, que utiliza a definição de insumos da legislação do IPI, em especial dos Pareceres Normativos CST nº 181/1974 e nº 65/1979. Uma segunda corrente que defende que o conceito de insumos equivaleria aos custos e despesas necessários à obtenção da receita, em similaridade com os custos e despesas dedutíveis para o IRPJ, dispostos nos artigos 289, 290, 291 e 299 do RIR/99. Por fim, uma terceira corrente, defende, com variações, um meio termo, ou seja, que a definição de insumos não se restringe à definição dada pela legislação do IPI e nem deve ser tão abrangente quanto a legislação do imposto de renda. Constatase também que havia divergência no STJ sobre o tema. No REsp 1.246.317MG, de relatoria do Ministro Mauro Campbell, decidiuse pela ilegalidade parcial do artigo 66º da IN SRF nº 247/2002 e do artigo 8º da IN SRF nº 404/2004, na parte em que trata do conceito de insumos, adotando no acórdão um mais abrangente. De forma antagônica, no REsp Nº 1.128.018 RS, decidiuse pela legalidade das referidas INs e do conceito restrito de insumos. Em 22/02/2018, o STJ julgou a matéria, na sistemática de como recurso repetitivo, no REsp 1.221.170/PR, o qual restou decidido com a seguinte ementa: EMENTA TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. NÃOCUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. DEFINIÇÃO ADMINISTRATIVA PELAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS 247/2002 E 404/2004, DA SRF, QUE TRADUZ PROPÓSITO RESTRITIVO E DESVIRTUADOR DO SEU ALCANCE LEGAL. DESCABIMENTO. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE INSUMOS À LUZ DOS CRITÉRIOS DA ESSENCIALIDADE OU RELEVÂNCIA. RECURSO ESPECIAL DA CONTRIBUINTE Fl. 9364DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.365 8 PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NESTA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO, SOB O RITO DO ART. 543C DO CPC/1973 (ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015). 1. Para efeito do creditamento relativo às contribuições denominadas PIS e COFINS, a definição restritiva da compreensão de insumo, proposta na IN 247/2002 e na IN 404/2004, ambas da SRF, efetivamente desrespeita o comando contido no art. 3o., II, da Lei 10.637/2002 e da Lei 10.833/2003, que contém rol exemplificativo. 2. O conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios da essencialidade ou relevância, vale dizer, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de determinado item – bem ou serviço – para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte. 3. Recurso Especial representativo da controvérsia parcialmente conhecido e, nesta extensão, parcialmente provido, para determinar o retorno dos autos à instância de origem, a fim de que se aprecie, em cotejo com o objeto social da empresa, a possibilidade de dedução dos créditos relativos a custo e despesas com: água, combustíveis e lubrificantes, materiais e exames laboratoriais, materiais de limpeza e equipamentos de proteção individualEPI. 4. Sob o rito do art. 543C do CPC/1973 (arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015), assentamse as seguintes teses: (a) é ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002 e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de não cumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003; e (b) o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de terminado item bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo Contribuinte. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, por maioria, a pós o realinhamento feito, conhecer parcialmente do Recurso Especial e, nessa parte, darlhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, que lavrará o ACÓRDÃO. Votaram vencidos os Srs. Ministros Og Fernandes, Benedito Gonçalves e Sérgio Kukina. O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (votovista), Regina Helena Costa e Gurgel de Faria (que se declarou habilitado a votar) votaram com o Sr. Ministro Relator. Não participou do julgamento o Sr. Ministro Francisco Falcão. Brasília/DF, 22 de fevereiro de 2018 (Data do Julgamento). NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO MINISTRO RELATOR Embora publicado, tal acórdão ainda não transitou em julgado, sendo sua aplicação ainda não obrigatória. Fl. 9365DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.366 9 Dado o panorama, entendo que a melhor interpretação está com a terceira corrente, pelos motivos a seguir. Inicialmente, destacase que a materialidade do fato gerador dos tributos envolvidos é distinta, isto é, a incidência sobre o produto industrializado para o IPI, sobre o lucro (real, presumido ou arbitrado), para o IRPJ, ao passo que o PIS/Pasep e a Cofins incidem sobre a receita bruta. Esta distinção se refletiu na redação original do artigo 3º, na definição das hipóteses de crédito, especialmente a relativa a insumos, dada por "bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes". De plano, salta aos olhos a impropriedade de utilização da legislação do IPI como parâmetro, em razão da inclusão de serviços na mesma categoria normativa de bens, inaplicável à definição de IPI dada a bens. Outra distinção marcante relativo ao IPI reside na inclusão de combustíveis e lubrificantes na definição de insumos. A legislação do IPI delimitou o alcance da definição, especialmente no Parecer Normativo CST nº 65/1979, em função do contato físico direto com o produto em fabricação, o que levou à impossibilidade de tomada de crédito de IPI sobre tais bens, inclusive objeto de edição da Súmula CARF nº 19: Súmula CARF nº 19: Não integram a base de cálculo do crédito presumido da Lei nº 9.363, de 1996, as aquisições de combustíveis e energia elétrica uma vez que não são consumidos em contato direto com o produto, não se enquadrando nos conceitos de matériaprima ou produto intermediário. É cediço que combustíveis não entram em contato físico direto com os produtos durante o processo produtivo, razão pela qual não podem ser inseridos no conceito de insumo adotado pelo IPI. Sendo assim, concluise que as Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, ao inserirem os termos combustíveis e lubrificantes na categoria de insumo, estabelecem um marco jurídico distinto da legislação do IPI. Verificase que, de fato, a própria Receita Federal flexibilizou a questão do contato direto com o produto em fabricação. Vejamos a Solução de Divergência nº 14/2007 e nº 35/2008, as quais permitem a dedução de partes e peças de reposição de máquinas e equipamentos, desde que não incluídas no imobilizado: Solução de Divergência nº 14/2007: ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins EMENTA: Crédito presumido da Cofins. Partes e peças de reposição e serviços de manutenção. As despesas efetuadas com a aquisição de partes e peças de reposição e com serviços de manutenção em veículos, máquinas e equipamentos empregados diretamente na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, pagas à pessoa jurídica domiciliada no País, a partir de 1º de fevereiro de 2004, geram direito a créditos Fl. 9366DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.367 10 a serem descontados da Cofins, desde que às partes e peças de reposição não estejam incluídas no ativo imobilizado. Solução de Divergência nº 35/2008: Cofins nãocumulativa. Créditos. Insumos. As despesas efetuadas com a aquisição de partes e peças de reposição que sofram desgaste ou dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas utilizadas em máquinas e equipamentos que efetivamente respondam diretamente por todo o processo de fabricação dos bens ou produtos destinados à venda, pagas à pessoa jurídica domiciliada no País, a partir de 1º de fevereiro de 2004, geram direito à apuração de créditos a serem descontados da Cofins, desde que às partes e peças de reposição não estejam obrigadas a serem incluídas no ativo imobilizado, nos termos da legislação vigente. Esta distinção fica evidenciada na redação da Lei nº 10.276/2001, ao estabelecer o regime alternativo de crédito presumido de IPI sobre o ressarcimentos das contribuições para o PIS e a Cofins, delimitando a definição de insumos para o IPI a matériasprimas, produtos intermediários e material de embalagem, excluindo a energia elétrica e os combustíveis, distinguindose da redação dos incisos II dos artigos terceiros das leis instituidoras da não cumulatividade, a qual inclui combustíveis na qualidade de insumos. Por outro lado, a tese de que insumo equivaleria a custos e despesas dedutíveis necessários à obtenção da receita é por demais abrangente e não reflete a estrutura do artigo 3º das referidas leis. Este enumera as hipóteses de creditamento, sendo que todas se referem a custos ou despesas necessárias, o que afasta a definição abrangente, já que todas as demais hipóteses estariam abrangidas no inciso II, revelandose, assim desnecessárias. Assim, energia elétrica, aluguéis, contraprestação de arrendamento relativas a área administrativa são despesas necessárias, mas entretanto não são insumos e somente geram crédito por estarem previstas em hipóteses autônomas. O mesmo ocorre com a despesa de armazenagem e frete na operação de venda. A terceira corrente, buscando uma definição própria para insumos, se refletiu em vários acórdãos deste conselho, em maior ou menor abrangência: Acórdão nº 930301.740: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/10/2004 a 31/12/2004 COFINS. INDUMENTÁRIA. INSUMOS. DIREITO DE CRÉDITO.ART. 3º LEI 10.833/03. Os dispêndios, denominados insumos, dedutíveis da Cofins não cumulativa, são todos aqueles relacionados diretamente com a produção do contribuinte e que participem, afetem, o universo das receitas tributáveis pela referida contribuição social. A indumentária Fl. 9367DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.368 11 imposta pelo próprio Poder Público na indústria de processamento de alimentos exigência sanitária que deve ser obrigatoriamente cumprida é insumo inerente à produção da indústria avícola, e, portanto, pode ser abatida no cômputo de referido tributo. Recurso Especial do Procurador Negado. Acórdão nº 3202001.593: CONCEITO DE INSUMOS. DIREITO DE CRÉDITO. CRITÉRIOS PRÓPRIOS O conceito de insumos não se confunde com aquele definido na legislação do IPI restrito às matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagem aplicados diretamente na produção; por outro lado, também não é qualquer bem ou serviço adquirido pelo contribuinte que gera direito de crédito, nos moldes da legislação do IRPJ. Ambas as posições (“restritiva/IPI” e “extensiva/IRPJ”) são inaplicáveis ao caso. Cada tributo tem sua materialidade própria (aspecto material), as quais devem ser consideradas para efeito de aproveitamento do direito de crédito dos insumos: o IPI incide sobre o produto industrializado, logo, o insumo a ser creditado só pode ser aquele aplicado diretamente a esse produto; o IRPJ incide sobre o lucro (lucro = receitas despesas), portanto, todas as despesas necessárias devem ser abatidas das receitas auferidas na apuração do resultado. No caso do PIS/Pasep e da Cofins, a partir dos enunciados prescritivos contidos nas Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003, devem ser construídos critérios próprios para a apuração da base de cálculo das contribuições. As contribuições incidem sobre a receita da venda do produto ou da prestação de serviços, portanto, o conceito de insumo deve abranger os custos de bens e serviços, necessários, essenciais e pertinentes, empregados no processo produtivo, imperativos na elaboração do produto final destinado à venda, gerador das receitas tributáveis. Recurso Voluntário parcialmente provido. Acórdão nº 3201001.879: COFINS. NÃOCUMULATIVIDADE. INSUMOS. CONCEITO. O conceito de insumos no contexto da Cofins nãocumulativa é mais abrangente do que o conceito da legislação do IPI, devendo ser admitido todo dispêndio na contratação de serviços e aquisição de bens essenciais ao processo produtivo do sujeito passivo, independentemente de ter contato direto com o produto em fabricação. Acórdão nº 3401002.860: CONCEITO DE INSUMOS PARA FINS DE APURAÇÃO DE CRÉDITO DE PIS E COFINS NÃOCUMULATIVOS. Fl. 9368DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.369 12 O conceito de insumo deve estar em consonância com a materialidade do PIS e da COFINS. Portanto, é de se afastar a definição restritiva das IN SRF nºs 247/02 e 404/04, que adotam o conceito da legislação do IPI. Outrossim, não é aplicável as definições amplas da legislação do IRPJ. Insumo, para fins de crédito do PIS e da COFINS, deve ser definido como sendo o bem ou serviço utilizado direta ou indiretamente na produção de bens ou prestação de serviços, sendo indispensável a estas atividades e desde que esteja relacionado ao objeto social do contribuinte. Acórdão nº 3301002.270: COFINS/PIS. REGIME NÃO CUMULATIVO. INSUMOS. CONCEITO. A legislação do PIS/Cofins atribuiu conceito próprio de insumos para o fim de aproveitamento dos créditos da não cumulatividade. Este conceito não é tão restritivo quanto o da legislação do IPI e nem tão amplo quanto à legislação do imposto de renda. Acórdão nº 3403003.629: NÃOCUMULATIVIDADE. INSUMO. CONCEITO. O conceito de insumo na legislação referente à COFINS não guarda correspondência com o extraído da legislação do IPI (demasiadamente restritivo) ou do IR (excessivamente alargado). Em atendimento ao comando legal, o insumo deve ser necessário ao processo produtivo/fabril, e, consequentemente, à obtenção do produto final. Entendo, pois, que a expressão "bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda" deve ser interpretada como bens e serviços aplicados ou consumidos na produção ou fabricação e na prestação de serviços, no sentido de que sejam bens ou serviços inerentes à produção ou fabricação ou à prestação de serviços, independentemente de ter havido contato direto com o produto fabricado, a exemplo dos combustíveis e lubrificantes, expressos no texto legal Assim, devem ser entendidos como insumos, os custos de aquisição e custos de transformação que sejam inerentes ao processo produtivo e não apenas genericamente inseridos como custo de produção. Esta distinção é dada pela própria lei e também pelo STJ (AgRg no REsp nº 1.230.441SC, AgRg no REsp nº 1.281.990SC), quando excluem, por exemplo, dispêndios com valetransporte, valealimentação e uniforme da condição de insumos, os quais poderiam ser considerados custos de produção, mas que somente foram alçados a insumos a partir da Lei nº 11.898/2009, e apenas para as atividades de prestação de serviços de limpeza, conservação, manutenção. Destacase, ainda, que determinados custos de estocagem, embora, sejam considerados para avaliação de estoques, não podem ser considerados custos de transformação, pois são aplicados aos produtos já acabados. A partir das premissas acima mencionadas e tendo em vista já ter sido requerida a realização de diligência para detalhamento do processo produtivo, proponho a realização de diligência para que a recorrente identifique a utilização dos produtos/serviços, objetos das seguintes glosas efetuadas, nas atividades da empresa, detalhando sua natureza e local de aplicação ou consumo, forma de escrituração contábil, anexando o plano de contas e exemplos Fl. 9369DF CARF MF Processo nº 19515.720975/201317 Resolução nº 3302000.757 S3C3T2 Fl. 9.370 13 de lançamentos, para cada tipo de descrição e documentação comprobatória, como notas fiscais (amostragens), contratos e outros que entender necessários: Transporte de containers e transporte de carga; Softwares; Serviços de lubrificação e limpeza de máquinas fornecidos por Andrita Manutenção; Transporte de água por Rodoagua Transportes Ltda; Peças de reposição de equipamentos fornecidos por Andritz Separation Indústria e Comércio de Equipamentos de Filtração Ltda. A recorrente deverá ainda efetuar a discriminação dos fretes utilizados para transporte de insumos, de produtos semielaborados e de produtos acabados. Caberá a fiscalização a certificação da veracidade das informações prestadas, devendo elaborar relatório final com as considerações que julgar cabíveis, facultando à recorrente o prazo de trinta dias para se pronunciar sobre seu resultado, nos termos do parágrafo único do artigo 35 do Decreto nº 7.574/2011. (assinado digitalmente) Paulo Guilherme Déroulède Fl. 9370DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10680.913823/2012-91
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Mar 16 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri May 11 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 1302-000.567
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Julio Lima Souza Martins (suplente convocado), Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias, Lizandro Rodrigues de Sousa (suplente convocado) e Luiz Tadeu Matosinho Machado. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Cesar Candal Moreira Filho.
Nome do relator: LUIZ TADEU MATOSINHO MACHADO
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MONTREAL INFORMÁTICA S.A. Recorrida FAZENDA NACIONAL Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Julio Lima Souza Martins (suplente convocado), Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Gustavo Guimarães da Fonseca, Flávio Machado Vilhena Dias, Lizandro Rodrigues de Sousa (suplente convocado) e Luiz Tadeu Matosinho Machado. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Cesar Candal Moreira Filho. Relatório Tratase de Recurso interposto em relação ao Acórdão nº 09053.526, proferido pela 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Juiz de Fora/MG, que julgou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada pelo sujeito passivo. A Manifestação de Inconformidade foi apresentada contra o Despacho Decisório que indeferiu Pedido Eletrônico de Restituição (PER) referente a pagamento efetuado, em 28/04/2006, a título de estimativa mensal de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), relativa ao anocalendário de 2009, no âmbito de parcelamento acompanhado pelo processo administrativo nº 13009.000062/200504. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 06 80 .9 13 82 3/ 20 12 -9 1 Fl. 155DF CARF MF Processo nº 10680.913823/201291 Resolução nº 1302000.567 S1C3T2 Fl. 3 2 O indeferimento foi fundamentado no fato de que o pagamento estava integralmente alocado ao referido parcelamento, inexistindo, portanto, saldo passível de restituição. O PER, por outro lado, como esclarecido na Manifestação de Inconformidade, embasouse no fato de que o referido pagamento por estimativa não foi reconhecido no processo administrativo nº 13009.000190/0046, que tratou do Pedido de Restituição relativo ao saldo negativo de CSLL referente ao anocalendário de 1999. O Acórdão de primeira instância julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade do sujeito passivo uma vez que, a decisão final do processo administrativo nº 13009.000190/0046 reconheceu a existência de saldo a pagar de CSLL, em relação ao ano calendário de 1999, no montante de R$ 241.202,59, enquanto todos os pagamentos realizados no âmbito do processo administrativo nº 13009.000062/200504, a título de CSLL, somente totalizariam R$ 176.594,58, não havendo, portanto, qualquer valor a restituir. Previamente à apreciação dos Recursos, fazse necessário esclarecimento, de modo que deixo de detalhar as razões recursais e passo à elucidação dos pontos a serem esclarecidos. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Tadeu Matosinho Machado Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 1302 000.556, de 16.03.2018, proferido no julgamento do Processo nº 10680.913812/201219. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Resolução nº 1302000.556): O exame dos documentos constantes do processo nº 13009.00062/200504 indica que o sujeito passivo parcelou, em janeiro de 2005, débitos relativos a estimativas de CSLL, referente ao anocalendário de 1999, no total de R$ 588.468,60. Em agosto de 2006, contudo, o referido parcelamento foi rescindido, para adesão ao parcelamento especial instituído pela Medida Provisória nº 303, de 29 de junho de 2006. Em setembro de 2009, nova rescisão, desta vez para adesão ao parcelamento de que trata a Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Extrato constante à fl. 292 daquele processo, ainda, faz parecer que todo o débito teria sido quitado no âmbito deste último parcelamento. A quantificação correta dos valores extintos pelo sujeito passivo, a título de estimativas de CSLL, bem como a apuração dos montantes que permanecem disponíveis em relação a tais pagamentos, tem efeito direto na análise do PER de que trata o presente processo, bem como na análise de PER similares referentes aos demais pagamentos efetuados a título de estimativa de CSLL, no âmbito do processo n° 13009.00062/200504. Fl. 156DF CARF MF Processo nº 10680.913823/201291 Resolução nº 1302000.567 S1C3T2 Fl. 4 3 É que o presente processo constitui paradigma em relação a lote de processos com fundamento em idêntica questão de direito (repetitivos), na forma permitida pelo art. 47, §1º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RI/CARF), aprovado pela Portaria MF nº 343, de 9 de junho de 2015. PROCESSO DATA DO PAGAMENTO VALOR TOTAL DO PAGAMENTO 10680.913813/201255 30/06/2005 23.178,06 10680.913814/201208 29/07/2005 23.523,58 10680.913815/201244 31/08/2005 23.851,71 10680.913816/201299 30/09/2005 24.212,44 10680.913817/201233 31/10/2005 24.538,40 10680.913818/201288 30/11/2005 24.844,81 10680.913819/201222 29/12/2005 25.144,69 10680.913821/201200 31/01/2006 25.464,13 10680.913820/201257 24/02/2006 25.774,89 10680.913822/201246 31/03/2006 26.024,79 10680.913823/201291 28/04/2006 26.333,37 10680.913824/201235 31/05/2006 26.568,06 10680.913816/201299 30/06/2006 26.846,21 Isto posto, voto no sentido de converter o presente julgamento em diligência, para que o processo retorne à Unidade de origem (DRF/Belo Horizonte/MG), para que: a) informe sobre o saldo a pagar referente ao processo nº 13009.000190/0046, e, em caso de extinção total ou parcial, detalhar a forma de extinção do referido saldo; b) informar se os pagamentos realizados no processo nº 13009.00062/200504 foram utilizados para quitação de débitos, discriminadamente, bem como sobre eventual saldo disponível; c) ao fim, elaborese relatório de diligência contendo as informações acima requeridas, com o acréscimo daquelas que entender cabíveis para o deslinde do presente processo, dando ciência do resultado ao sujeito passivo e concedendolhe prazo para, querendo, manifestarse nos autos. Após, reencaminhese o processo a este Colegiado. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, converto o julgamento em diligência para que o processo retorne à Unidade de origem (DRF/Belo Horizonte/MG), para que: Fl. 157DF CARF MF Processo nº 10680.913823/201291 Resolução nº 1302000.567 S1C3T2 Fl. 5 4 a) informe sobre o saldo a pagar referente ao processo nº 13009.000190/0046, e, em caso de extinção total ou parcial, detalhar a forma de extinção do referido saldo; b) informar se os pagamentos realizados no processo nº 13009.00062/200504 foram utilizados para quitação de débitos, discriminadamente, bem como sobre eventual saldo disponível; c) ao fim, elaborese relatório de diligência contendo as informações acima requeridas, com o acréscimo daquelas que entender cabíveis para o deslinde do presente processo, dando ciência do resultado ao sujeito passivo e concedendolhe prazo para, querendo, manifestarse nos autos. Cumpridas as diligências, reencaminhese o processo a este Colegiado para prosseguimento do julgamento (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Fl. 158DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13770.000666/98-58
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Apr 12 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu May 24 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/01/1998 a 31/03/1998
IPI. CRÉDITO PRESUMIDO. BASE DE CÁLCULO. MATÉRIA-PRIMA E PRODUTO INTERMEDIÁRIO. VALOR DAS AQUISIÇÕES.
Para integrar a base de cálculo do crédito presumido do IPI, a matéria-prima e o produto intermediário devem sofrer desgaste ou dano decorrente do contato direto com o produto em fabricação. Conforme o parecer Normativo. (PN) CST n° 65, de 1979, e a diligência efetuada com informações da sobre o processo industrial do Contribuinte e laudos técnicos.
Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/01/1998 a 31/03/1998
RECURSO ESPECIAL. COMPROVAÇÃO DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NECESSIDADE.
Não se conhece de recurso especial ante a falta de comprovação de divergência quanto à interpretação de dispositivo legal. No presente caso, a decisão no acórdão recorrido é convergente com a tomada no acórdão apresentado como paradigma. Recurso Especial do contribuinte não conhecido.
Numero da decisão: 9303-006.684
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negar-lhe provimento. Acordam, ainda, por maioria de votos, em não conhecer do Recurso Especial do Contribuinte, vencidas as conselheiras Érika Costa Camargos Autran (relatora), Tatiana Midori Migiyama e Vanessa Marini Cecconello, que conheceram do recurso. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Andrada Márcio Canuto Natal.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Érika Costa Camargos Autran - Relatora
(assinado digitalmente)
Andrada Márcio Canuto Natal- Redator designado
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas, Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: ERIKA COSTA CAMARGOS AUTRAN
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CRÉDITO PRESUMIDO. BASE DE CÁLCULO. MATÉRIAPRIMA E PRODUTO INTERMEDIÁRIO. VALOR DAS AQUISIÇÕES. Para integrar a base de cálculo do crédito presumido do IPI, a matériaprima e o produto intermediário devem sofrer desgaste ou dano decorrente do contato direto com o produto em fabricação. Conforme o parecer Normativo. (PN) CST n° 65, de 1979, e a diligência efetuada com informações da sobre o processo industrial do Contribuinte e laudos técnicos. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/01/1998 a 31/03/1998 RECURSO ESPECIAL. COMPROVAÇÃO DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NECESSIDADE. Não se conhece de recurso especial ante a falta de comprovação de divergência quanto à interpretação de dispositivo legal. No presente caso, a decisão no acórdão recorrido é convergente com a tomada no acórdão apresentado como paradigma. Recurso Especial do contribuinte não conhecido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negarlhe provimento. Acordam, ainda, por maioria de votos, em não conhecer do Recurso Especial do Contribuinte, vencidas as conselheiras Érika Costa Camargos Autran (relatora), Tatiana Midori Migiyama e Vanessa Marini Cecconello, que conheceram do recurso. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Andrada Márcio Canuto Natal. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 77 0. 00 06 66 /9 8- 58 Fl. 1008DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 3 2 (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício (assinado digitalmente) Érika Costa Camargos Autran Relatora (assinado digitalmente) Andrada Márcio Canuto Natal Redator designado Participaram do presente julgamento os Conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas, Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello. Relatório Tratamse de Recurso Especial de Divergência interposto pela Fazenda Nacional e de Recurso Especial de Divergência interposto pelo Contribuinte contra o acórdão nº 340200.531, de 28 de abril de 2010 (fls. 813 a 818 do processo eletrônico), proferido pela Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção de Julgamento deste CARF, decisão que por unanimidade de votos, deu provimento parcial ao recurso, para reconhecer o direito ao credito relativo aos produtos considerados como insumos nos termos do Parecer CST 65/79. A discussão dos presentes autos tem origem no pedido de ressarcimento protocolado pelo Contribuinte, de crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), instituído pela Lei n° 9.363, de 13 de dezembro de 1996, apurado no primeiro trimestre de 1998. Posteriormente, foram apresentados pedidos de compensação com débitos relativos ao Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), à contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e à Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). A Delegacia da Receita Federal do Brasil em VitóriaES deferiu parcialmente o pedido e homologou as compensações pleiteadas, restando saldo passível de restituição em espécie, com fundamento no Parecer constante das fls. 404 e 411. 0 deferimento foi parcial em Fl. 1009DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 4 3 virtude das glosas nas aquisições dos insumos relacionados às fl. 408, no valor total de R$ 37.526,36 (trinta e sete mil quinhentos e vinte e seis reais e trinta e seis centavos). O contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade. A DRJ em Juiz de Fora/MG julgou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada pelo contribuinte. Irresignado com a decisão contrária ao seu pleito, o Contribuinte apresentou recurso voluntário, o Colegiado por unanimidade de votos, deu provimento parcial ao recurso, para reconhecer o direito ao credito relativo aos produtos considerados como insumos nos termos do Parecer CST 65/79, conforme acórdão assim ementado in verbis: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/01/1998 a 31/03/1998 IPI. CRÉDITO PRESUMIDO. BASE DE CÁLCULO. MATÉRIAPRIMA E PRODUTO INTERMEDIÁRIO. VALOR DAS AQUISIÇÕES. Para integrar a base de cálculo do crédito presumido do IPI, a matéria prima e o produto intermediário devem sofrer desgaste ou dano decorrente do contato direto com o produto em fabricação. PRODUÇÃO DE CELULOSE. PLANTIO DE ÁRVORES. FERTILIZANTES, FORMICIDAS E HERBICIDAS. Os fertilizantes, formicidas, herbicidas e outros bens destinados ao preparo do substrato ou utilizados no plantio e cultivo das árvores para obtenção da matériaprima para a celulose, que constitui etapa preliminar industrialização da celulose e não podem integrar o valor das aquisições na apuração da base de cálculo do crédito presumido do IPI. COMBUSTÍVEIS. SÚMULA N° 12. Não integram a base de cálculo do crédito presumido da Lei no 9.363, de 1996, as aquisições de combustíveis e energia elétrica uma vez que não são consumidos em contato direto com o produto, não se enquadrando nos conceitos de matériaprima ou produto intermediário. Fl. 1010DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 5 4 Recurso Provido em Parte A Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial de Divergência (fls. 821 a 831) em face do acordão recorrido que deu provimento parcial ao recurso do contribuinte, a divergência suscitada pela Fazenda Nacional diz respeito ao direito de apurar crédito presumido em relação a produtos intermediários que não se enquadram na definição do PN CST nº65/79. Para comprovar a divergência jurisprudencial suscitada, a Fazenda Nacional apresentou como paradigma os acórdãos de números 203 12.700 e 20312.702. A comprovação do julgado firmouse pela juntada de cópias de interior teor dos acórdãos paradigmas documentos de fls. 832 a 849. O Recurso Especial da Fazenda Nacional foi admitido, conforme despacho de fls. 853, sob o argumento que confrontando o acórdão recorrido e os paradigmas colacionados, verificouse que restou comprovado o dissídio jurisprudencial alegado. Isto porque enquanto no acórdão recorrido considerouse que os materiais intermediários, em relação aos quais foi deferido o ressarcimento, enquadravamse no PN CST nº 65/79; nos paradigmas colacionados o colegiado entendeu que os mesmos insumos eram ferramentas ou partes e peças de bens do ativo permanente, não se enquadrando no PN CST nº 65/79. O Contribuinte apresentou contrarrazões às fls. 923 a 933, manifestando pelo não provimento do Recurso Especial da Fazenda Nacional e que seja mantido o v. acórdão para reconhecer seu direito ao aproveitamento do crédito presumido de IPI previsto pela Lei n° 9.363/96. O Contribuinte também interpôs Recurso Especial de Divergência (fls. 861 a 874) em face do acordão recorrido que deu provimento parcial ao recurso voluntário, a divergência suscitada pelo Contribuinte diz respeito ao conceito de "processo produtivo" e à possibilidade de produtos utilizados em etapa não estritamente industrial, como fertilizantes, formicidas, herbicidas e outros bens destinados ao preparo do substrato ou utilizados no plantio Fl. 1011DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 6 5 e cultivo das árvores para obtenção da matériaprima para a celulose, gerarem crédito presumido de IPI. Para comprovar a divergência jurisprudencial suscitada, o Contribuinte apresentou como paradigma o acórdão de número 20217.662. A comprovação do julgado firmouse pela juntada de cópias de inteiro teor do acórdão, documentos de fls. 915 a 920. O Recurso Especial do Contribuinte foi admitido, conforme despacho de fls. 994 a 996, sob o argumento que na análise das ementas e dos votos condutores do acórdão recorrido e do paradigma restou evidenciada a divergência suscitada: no recorrido assentouse que o crédito presumido de IPI somente poderia decorrer de insumos que se desgastassem em razão do contato direto com o produto ou aplicados em processo industrial, o que não incluiria todo o processo produtivo; no paradigma, entendeuse que o crédito presumido de IPI poderia decorrer de insumos capazes de gerar o produto novo. A Fazenda Nacional apresentou contrarrazões às fls. 998 a 1006, manifestando pelo não provimento do Recurso Especial do Contribuinte e que seja mantido o v. acórdão. É o relatório em síntese. Voto Vencido Conselheira Érika Costa Camargos Autran Relatora Do Recurso da Fazenda O Recurso é tempestivo e preenche os requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele conheço. Fl. 1012DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 7 6 O Recurso Especial da Fazenda Nacional diz respeito aos materiais intermediários, em relação aos quais foi deferido o ressarcimento. Segundo a Fazenda Nacional tais insumos eram ferramentas ou partes e peças de bens do ativo permanente, não se enquadrando no PN CST nº 65/79. a) faca do picador; b) chapa fixação facas; c) peneira picador; d) contra faca triturador de casca; e) faca do picador de casca; f) segmento dentado; o) parafuso sext parc mg c110.9 M2OX 80MM; p) amortecedor; q) areia seca p/ leito fluidizado cal.aux; s) calcário calcitico CAC03>90%; O Acórdão Recorrido decidiu conforme o Parecer Normativo (PN) CST n° 65, de 1979, e de acordo com a diligência efetuada com informações da recorrente sobre o processo industrial, as fls. 586 a 590, laudos técnicos, às fls. 591 a 619, e informação fiscal, as fls. 649 a 655 conforme trecho abaixo: "Inicialmente, observese que a diligência determinada pela Terceira Camara do extinto Segundo Conselho de Contribuintes partiu da premissa de que ocorre processo de industrialização uno para obtenção do produto final "celulose", iniciandose com o recebimento de toras de eucalipto e terminando com a obtenção e o acondicionamento da celulose. O Parecer Normativo (PN) CST n° 65, de 1979, interpretando o supracitado dispositivo legal, interpretação essa que comungo e adoto, estendeu o alcance da expressão "consumidos no processo de industrialização" para considerar passível de gerar crédito do IPI a aquisição de bens que não sejam consumidos no estrito sentido da palavra, mas que sejam apenas desgastados ou danificados, desde que o desgaste, o desbaste ou o dano decorram de ação direta sobre o produto em fabricação. Fl. 1013DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 8 7 Verificase, portanto, que o abrigo legal alcança apenas as matériasprimas, os produtos intermediários e os materiais de embalagem e não os insumos em geral. Assim, na caracterização das aquisições, não é relevante a essencialidade do bem no processo produtivo, mas, sim, o fato de ele, no processo de obtenção do produto final, constituir matériaprima, produto intermediário ou material de embalagem. No caso em questão, os bens objeto do litígio não são matériaprima ou produto intermediário que integram o produto final, tampouco se trata de material de embalagem. Necessário então verificar se tais bens atendem duas condições cumulativas, no processo de industrialização, quais sejam: a) sofrer desgaste ou dano, e b) decorrer esse desgaste ou dano do contato direto com o produto em fabricação, que, no caso, é a celulose. Dos bens relacionados as fls. 561 a 566 da peça recursal, com a função correspondente descrita nos laudos técnicos produzidos pela recorrente, verificase que, com efeito, sofrem desgaste no processo de industrialização da celulose. Contudo, sequer trabalham em contato direto com o produto em fabricação, não se podendo dizer, portanto, que esse desgaste decorre do contato direto com a celulose em fabricação. Isso só ocorre com os bens relacionados às fls. 591 a 603, 605 a 610, que são utilizados na transformação das toras em cavacos e no tratamento da água usada nas caldeiras para cozimento da celulose e que se dissolvem nessa água, conforme funções descritas nos laudos técnicos correspondentes. A diligência que a autoridade preparadora trouxe aos autos e os laudos juntados pelo Contribuinte, trouxe esclarecimentos sobre cada etapa do processo produtivo da celulose, bem como quais materiais eram empregados, consumidos e desgastados e, ainda, especificando quais seriam insumos propriamente ditos e quais seriam apenas exemplares de peças ou equipamentos. Cumpre salientar que os produtos acima relacionados referemse exclusivamente às partes e peças de máquinas que, devido ao choque mecânico excessivo com Fl. 1014DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 9 8 outras peças da mesma máquina ou com parte das embalagens da celulose ou, ainda com as próprias toras/toretes de eucalipto, devem ser constantemente substituídos. Desta forma, importante lembrar que a admissão destes créditos deverá ser considerada para o cálculo do valor dos créditos decorrentes da aquisição de insumos utilizados no processo de produção da celulose. Assim sendo, nego provimento ao Recurso Especial da Fazenda, mantendo o acórdão recorrido. Do Recurso da Contribuinte Voto vencido sobre o conhecimento. O Recurso é tempestivo e preenche os requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele conheço. Desta maneira, entendo que o contraste das ementas e do teor dos votos das decisões evidencia a divergência entre o entendimento exarado no Acórdão Recorrido e os acórdãos paradigmas. Diante do exposto, comprovada a divergência, voto no sentido de conhecer do recurso interposto pelo contribuinte. Vencida no conhecimento, deixo de analisar o mérito. É como voto (assinado digitalmente) Érika Costa Camargos Autran Fl. 1015DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 10 9 Voto Vencedor Conselheiro Andrada Márcio Canuto Natal, redator designado. Com todo respeito ao voto da ilustre conselheira relatora, porém divirjo do seu entendimento quanto à possibilidade de conhecimento do recurso especial do contribuinte. Destaco, que acompanhei a relatora quanto ao mérito do recurso especial da Fazenda Nacional, no sentido de que o próprio acórdão recorrido adotou como regra de creditamento do crédito presumido do IPI, o disposto no Parecer Normativo CST nº 65/79. Esclarecese que este basicamente é o entendimento adotado por este relator e não cabe em sede de recurso especial reapreciar os elementos de prova. Portanto, no acórdão recorrido decidiuse que aqueles elementos analisados correspondiam ao disposto no referido parecer. Portanto o presente voto vencedor referese tão somente ao não conhecimento do recurso especial do contribuinte. O litígio trazido pelo contribuinte, referese ao direito de aproveitar créditos presumidos do IPI sobre o custeio agrícola de produção de madeira para a fabricação de celulose (custos/despesas com fertilizantes, adubos, calcário, formicidas, herbicidas, manejo e tratos culturais, colheita e transporte, combustíveis e lubrificantes e outros ligados à produção da madeira). Como visto no relatório, o acórdão ora recorrido negou o direito ao crédito dos insumos acima relacionados, adotando o critério disposto no Parecer Normativo CST nº 65/79, o qual traz o critério, amplamente conhecido da legislação do IPI, de que para dar direito ao crédito a matériaprima ou o produto intermediário devem ser consumidos ou sofrerem desgaste em contato direto com o processo produtivo na etapa industrial. Em seu recurso, o contribuinte apresentou como paradigma da divergência, o Acórdão nº 20217662, cujo inteiro teor encontrase às efls. 915/920. Este acórdão traz a seguinte ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados IPI Período de apuração: 01/01/2002 a 31/03/2002 Fl. 1016DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 11 10 Ementa: RESSARCIMENTO. SALDO CREDOR. CONCEITO DE MATÉRIAPRIMA, PRODUTO INTERMEDIÁRIO E MATERIAL DE EMBALAGEM. A legislação do IPI estabeleceu o limite até onde se pode considerar os bens consumidos no processo produtivo como matériaprima, produto intermediário ou material de embalagem. E tal limite é exatamente a capacidade do insumo em gerar o produto novo ou interagir diretamente com ele, não abrangendo aqueles produtos que atuam sobre as máquinas, equipamentos ou ferramentas, que se constituem nos meios dos quais se vale o industrial para obter esses produtos novos. Recurso negado. Ao ler esta ementa de maneira isolada, como fez o contribuinte e o despacho de admissibilidade, parece plausível que possa existir a propalada divergência de entendimento. Mas no relatório e voto nada se discutiu se os insumos da fase agrícola possam gerar crédito presumido de IPI. Abaixo transcrevo trecho do voto do acórdão paradigma, em que se constata que naquele a decisão caminhou exatamente no mesmo sentido do acórdão recorrido. Vejamos: (...) O que se busca perscrutar é o alcance do conceito de matériaprima, produto intermediário e material de embalagem pretendido pela norma. Entendo que a interpretação dada pela Administração Tributária quanto ao referido alcance legal está exaustivamente apreciada na decisão recorrida, a qual não merece qualquer reparo. (...) De forma técnica, o Parecer Normativo nº 65/79, transcrito pela decisão recorrida, demonstra esses limites, pouco ou nada havendo a acrescentar a seu texto. (...) Neste último caso, tais partes e peças (e este é o caso da recorrente) destinam se à manutenção do parque , produtivo, das máquinas que vão produzir e não podem ser confundidas com o próprio processo produtivo e o produto a ser obtido. Para o desgaste que elas sofrem existe a depreciação contábil. O imposto pago na aquisição das partes e peças destinadas à garantia de funcionalidade das máquinas e equipamentos faz parte do custo deles. Ou seja, do custo incorrido com a finalidade de manter operativo o patrimônio do estabelecimento industrial. Portanto, tais produtos não têm atuação direta sobre o produto industrializado. Têm atuação sobre as máquinas que vão possibilitar a obtenção do produto. E, neste caso, ficam circunscrita no âmbito dos custos indiretos de produção, sendo excluídos do conceito de insumos. Assim, a legislação do IPI estabeleceu um limite até onde se pode considerar matériaprima, produto intermediário ou material de embalagem. E tal limite é exatamente a capacidade do insumo em gerar o produto novo ou interagir Fl. 1017DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 12 11 diretamente com ele, não abrangendo aqueles produtos que atuam sobre as máquinas, equipamentos ou ferramentas, que se constituem nos meios dos quais se vale o industrial para obter esses produtos novos. Em palavras finais, os produtos glosados, cuja relação consta às fls. 103 a 107, demonstram claramente tratarse de partes e peças que atuam sobre as máquinas e equipamentos utilizados no processo de obtenção do produto novo, porém em nada se ligando a ele, não se desgastando ou se consumindo em razão do produto novo, mas em razão das máquinas e equipamentos que geram o produto novo. Esse o entendimento contido no parecer e nos atos normativos reproduzidos na decisão recorrida, cujo teor não deixa dúvidas quanto aos referidos limites do que sejam matériaprima, produto intermediário e material de embalagem. (...) É cristalino que da leitura do voto, ou de todo o teor do acórdão paradigma, a constatação inequívoca é que sua decisão é convergente com tudo o que decidiu o acórdão recorrido. Tanto é verdade, que no acórdão paradigma, o recurso voluntário do contribuinte também foi improvido. Ambos decidiram com base no conceito de insumos erigidos pelo Parecer Normativo CST nº 65/79. Veja o que dispõe o Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, a respeito do conhecimento do recurso especial de divergência: Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. § 1º Não será conhecido o recurso que não demonstrar a legislação tributária interpretada de forma divergente. (Redação dada pela Portaria MF nº 39, de 2016) (...) § 6º Na hipótese de que trata o caput, o recurso deverá demonstrar a divergência arguida indicando até 2 (duas) decisões divergentes por matéria. (...) Como bem esclarecido, o contribuinte apresentou somente um acórdão paradigma, sendo inconteste que a decisão nele tomada não representa elementos de divergência em relação ao acórdão recorrido. Fl. 1018DF CARF MF Processo nº 13770.000666/9858 Acórdão n.º 9303006.684 CSRFT3 Fl. 13 12 Diante do exposto, voto por não conhecer do recurso especial apresentado pelo contribuinte. (assinado digitalmente) Andrada Márcio Canuto Natal Fl. 1019DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.675896/2009-17
Turma: Primeira Turma Extraordinária da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue May 15 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jun 11 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 30/04/2002
INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE PELO CARF.
CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF nº2).
VALIDADE DA INTIMAÇÃO POSTAL
É válida a ciência do Despacho Decisório por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do
recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário (Súmula CARF nº 9).
Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Data do fato gerador: 28/02/2002
DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. CRÉDITO NÃO COMPROVADO.
Não se admite a compensação se o contribuinte não comprovar a existência e suficiência do crédito postulado.
Recurso Voluntário Negado
Numero da decisão: 3001-000.322
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar suscitada no recurso e, no mérito, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Orlando Rutigliani Berri - Presidente
(assinado digitalmente)
Cleber Magalhães - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Cleber Magalhães, Renato Vieira de Ávila e Francisco Martins Leite Cavalcante.
Nome do relator: CLEBER MAGALHAES
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar suscitada no recurso e, no mérito, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Orlando Rutigliani Berri - Presidente (assinado digitalmente) Cleber Magalhães - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Cleber Magalhães, Renato Vieira de Ávila e Francisco Martins Leite Cavalcante.
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IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE PELO CARF. CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF nº2). VALIDADE DA INTIMAÇÃO POSTAL É válida a ciência do Despacho Decisório por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário (Súmula CARF nº 9). ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Data do fato gerador: 28/02/2002 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. CRÉDITO NÃO COMPROVADO. Não se admite a compensação se o contribuinte não comprovar a existência e suficiência do crédito postulado. Recurso Voluntário Negado Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar suscitada no recurso e, no mérito, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Orlando Rutigliani Berri Presidente AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 67 58 96 /2 00 9- 17 Fl. 106DF CARF MF 2 (assinado digitalmente) Cleber Magalhães Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri, Cleber Magalhães, Renato Vieira de Ávila e Francisco Martins Leite Cavalcante. Relatório Por bem resumir os fatos, adoto o relatório produzido pelo tribunal de origem, a 2ªTurma da DRJ/Belo Horizonte (efl. 67 e ss): DESPACHO DECISÓRIO O presente processo trata de Manifestação de Inconformidade contra o Despacho Decisório nº rastreamento 849905919 emitido eletronicamente em 23/10/2009, referente ao PER/DCOMP nº 09040.68352.120506.1.3.040394. A Declaração de Compensação gerada pelo programa PER/DCOMP foi transmitida com o objetivo de compensar o(s) débito(s) discriminado(s) no referido PER/DCOMP com crédito de COFINS, Código de Receita 2172, no valor original na data de transmissão de R$441,41, decorrente de recolhimento com Darf efetuado em 30/04/2002. De acordo com o Despacho Decisório, a partir das características do DARF descrito no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP. Assim, diante da inexistência de crédito, a compensação declarada NÃO FOI HOMOLOGADA. Como enquadramento legal citouse: arts. 165 e 170, da Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional CTN),art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996. MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE Cientificado do Despacho Decisório em 06/11/2009, o interessado apresentou a manifestação de inconformidade em 28/11/2009, tendo indicado endereço para onde deverão ser enviadas todas as notificações e intimações referentes ao presente processo. Também aduziu que o débito decorrente da não homologação da compensação está com a sua exigibilidade suspensa, consoante legislação especificada. Em preliminar, argumenta que recebeu o despacho decisório questionado, mas o Aviso de Recebimento (AR) não foi juntado aos autos, como instrumento de prova, pelo fato de a Receita Federal não entregar cópia do documento em tempo hábil, Fl. 107DF CARF MF Processo nº 10880.675896/200917 Acórdão n.º 3001000.322 S3C0T1 Fl. 3 3 apesar de solicitado pelo manifestante. Requer a anexação do termo de assinatura do AR pelos motivos que passa a discorrer. Alega que o despacho decisório teria sido recebido por pessoa não autorizada para recebimento da sua correspondência e que apenas o sócio, o representante legal da empresa ou qualquer pessoa legitimada poderiam ter recebido a correspondência que trata de intimação com aviso de recebimento. Defende que os princípios da verdade material e da legalidade impõem à Administração rever seus atos contrários ao ordenamento jurídico, o que a leva a requerer a anulação da notificação do despacho decisório. Na possibilidade de que não ser acolhida a preliminar suscitada, passa a discorrer sobre o mérito da compensação. Nas questões de fato, alega que efetuou compensação em conformidade com o disposto no artigo 66 da Lei nº 8.383, de 30 de dezembro de 1991, tendo feito menção ainda ao Código Tributário Nacional (CTN) e às instruções normativas que regularam a matéria. O sistema, na hipótese de crédito proveniente de decisão judicial, apenas aceita a compensação se corretamente informada a data do trânsito em julgado da decisão judicial que reconheceu o direito creditório. Entende ser descabida tal exigência, na medida em que as compensações são realizadas dentro da sistemática do lançamento por homologação, na qual o contribuinte apura por sua conta e risco o valor devido ao Fisco. Argui que o processo eletrônico a impede de esclarecer a origem do crédito (“declaração expressa de inconstitucionalidade do STF”) e de exercer seu direito constitucional de petição, a qual somente pode ser providenciada com a interposição da manifestação de inconformidade. Na parte que trata dos fundamentos legais, assevera que recolheu a Cofins na forma prevista pela Lei nº 9.718, de 1998, a qual majorou a alíquota do tributo de 2% para 3%, inconstitucionalmente a seu ver, pois a Lei Complementar nº 70, de 1991, previa a alíquota de 2%. Assim, se viu obrigado a recuperar os valores indevidamente recolhidos por meio da compensação. Destaca que o legislador editou a Lei Complementar 70, de 1991, que descreveu minuciosamente a regra matriz da hipótese de incidência da Cofins, sendo sua base de cálculo o faturamento. Em seguida, o Poder Executivo, por meio da Medida Provisória nº 1.724, de 1998, teria alterado a base de cálculo da Cofins para receita bruta e majorado a alíquota para 3%, em afronta ao disposto no artigo 155 da Magna Carta, pois a tributação deveria recair apenas sobre o “faturamento”. Fl. 108DF CARF MF 4 Argumenta ainda que a inclusão das receitas financeiras no cálculo da Cofins somente foi permitida com a edição da Emenda Constitucional nº 20, de 1998. Contudo, a Lei nº 9.718, de 1998 foi editada em data anterior à emenda, e deveria ter respeitado o antigo texto do art. 195 da Constituição Federal, que não previa a cobrança de contribuições à seguridade social sobre receitas financeiras. Portanto, totalmente inconstitucional a alteração da base de cálculo da Cofins por lei ordinária, que não se convalida com a superveniência da Emenda Constitucional. Alega que a MP nº 1.724, de 1998, convertida na Lei nº 9.718, de 1998, que dispõe sobre a cobrança adicional de 1% da Cofins, fere o princípio da equidade na participação do custeio da seguridade social, tendo a Lei estabelecido que o acréscimo de 1% da Cofins deveria ser pago por todas as empresas, mas poderia ser compensado com a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Com isso, as empresas altamente lucrativas não sofreram os efeitos do aumento da carga tributária; somente as empresas que tiveram prejuízos ou lucro baixo, como o manifestante, é que arcaram com a majoração da Cofins. Passa, na continuação, a tratar do prazo prescricional para a repetição do indébito tributário. Defende que, para os tributos sujeitos ao lançamento por homologação, a extinção do crédito tributário se dá com a homologação, expressa ou tácita, do Fisco. Adotada esta premissa, o prazo prescricional para a recuperação de valores indevidamente recolhidos deveria ter início cinco anos após a data do efetivo pagamento (a chamada tese dos cinco mais cinco). Salienta que a empresa “efetuou a restituição do COFINS dentro do prazo prescricional” (sic), em conformidade com as jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Conselho de Contribuintes, tendo o manifestante dez anos para pedir de volta o que foi pago indevidamente. Assevera que, para fundamentar sua decisão, o julgador monocrático aduziu que a Lei Complementar 118/05, dispondo sobre a interpretação do inciso I do art. 168, descreveu que a extinção do credito tributário nos tributos com lançamento por homologação ocorre no pagamento, entendimento que considera equivocado, uma vez que a lei interpretativa deve esclarecer o significado de texto legal controverso, o que não foi o caso, posto que a interpretação posta foi inovadora e contrária à jurisprudência. No Recurso Voluntário, a Recorrente, em suma, repete as alegações já expressas na Manifestação de Inconformidade. É o relatório. Fl. 109DF CARF MF Processo nº 10880.675896/200917 Acórdão n.º 3001000.322 S3C0T1 Fl. 4 5 Voto Conselheiro Cleber Magalhães Relator. O limite da competência das Turmas Extraordinárias do CARF é de sessenta salários mínimos, segundo o 23B, do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015, com redação dada pela Portaria MF nº 329, de 2017. O valor do saláriomínimo nacional é de R$ 954,00, segundo Decreto nº 9.255, de 29 de dezembro de 2017. Dessa forma, o limite de valor de litígio para processos a serem julgados pelas turmas extraordinárias é de R$ 57.240,00. Como o valor em litígio é de R$ 1.183,26 (efl. 2), a análise do p.p. está dentro da alçada das turmas extraordinárias. Da preliminar Da intimação por via postal Quanto à arguição de nulidade do Despacho Decisório, uma vez que teria sido recebido por pessoa não autorizada pela empresa, cumpre destacar o que prescreve o inciso II do art. 23 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972: Art. 23. Farseá a intimação: [...]II por via postal, telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova de recebimento no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo; Exige a norma legal que a entrega da intimação seja efetuada no domicílio eleito pelo sujeito passivo. Não se impõe que o sócio ou representante legal do sujeito passivo pessoa jurídica tenha diretamente recebido a intimação cientificada por via postal. O próprio CARF já se posicionou sobre o assunto, por intermédio da na Súmula nº 9, nos seguintes termos: Súmula CARF nº 9: É válida a ciência da notificação por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário. Assim, voto por REJEITAR a preliminar de nulidade apresentada pela Recorrente. Do mérito Da Inconstitucionalidade da decorrente da alteração da base de cálculo da COFINS pela Medida provisória nº 1.724. Fl. 110DF CARF MF 6 No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade, consoante o disposto no art. 26A do Decreto nº 70.235, de 1972, na redação dada pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009, salvo os casos de declaração de inconstitucionalidade por decisão definitiva plenária do STF, e de edição de atos específicos do ProcuradorGeral da Fazenda Nacional e da AdvocaciaGeral da União, nos estritos termos previstos no § 6º da referida norma legal. No mesmo sentido, assim determina a Súmula CARF nº 2: O CARF não é competente pra se pronunciar sobre a constitucionalidade de lei tributária. Do não reconhecimento do crédito no montante postulado Em um processo de restituição, ressarcimento ou compensação, é o contribuinte que toma a iniciativa de viabilizar seu direito ao aproveitamento do crédito, quer por pedido de restituição ou ressarcimento, quer por compensação, em ambos os casos mediante a apresentação do PER/DCOMP, de tal sorte que, se a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) resistir à pretensão do interessado, indeferindo o pedido ou não homologando a compensação, incumbirá a ele – o contribuinte –, na qualidade de autor, demonstrar seu direito. Levandose em conta que o crédito oferecido à compensação deve ser líquido e certo (art. 170 do CTN), concluise que deve a RFB não homologar a compensação se ficar configurada a falta de certeza e liquidez, notadamente com base em informações prestadas em DCTF, quando o contribuinte deixa de comprovar eventual erro cometido no preenchimento daquela declaração. Esse entendimento aplicase também à restituição. Compete ao contribuinte comprovar o direito ao crédito postulado na Declaração de Compensação. Não se encontram nos autos, entretanto, smj, nenhuma prova robusta do solicitado. Não pode a administração tributária aquiescer com o pedido da Recorrente sem que ela apresente elementos que comprovem a justiça de seu pleito. Não há, assim, como acatar o pedido de reforma da decisão do tribunal a quo. Assim, por todo o exposto, voto por REJEITAR a preliminar de nulidade e, no mérito, NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. Fl. 111DF CARF MF Processo nº 10880.675896/200917 Acórdão n.º 3001000.322 S3C0T1 Fl. 5 7 (assinado digitalmente) Cleber Magalhães Fl. 112DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19515.721565/2013-85
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon Feb 19 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu May 10 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007, 2008, 2009
NULIDADE - DIREITO DE DEFESA
O lançamento não é nulo por cerceamento ao direito de defesa, em primeiro lugar, porque corresponde à fase inquisitiva; em segundo lugar, porque concretamente os fundamentos fáticos e jurídicos foram levados ao conhecimento do acusado.
DECADÊNCIA - DOLO
Uma vez caracterizado o caráter intencional da conduta, o prazo decadencial, mesmo em relação aos tributos lançados por homologação, deve ser aferido pela regra estampada no art. 173, inciso I, do CTN.
DOLO - MULTA QUALIFICADA
Tendo sido caracterizado o caráter intencional da conduta, impõe-se a qualificação da multa de ofício.
SÓCIOS E ADMINISTRADORES. GRUPO ECONÔMICO. SONEGAÇÃO FISCAL E FRAUDE. RESPONSABILIZAÇÃO TRIBUTÁRIA.
Os sócios, administradores e empresas que compõe o grupo econômico, sejam formais ou de fato, com ou sem procuração para representar o contribuinte, que praticam, de forma comissiva ou omissiva, conjuntamente com o contribuinte os crimes de sonegação e fraude, respondem pelo crédito tributário.
MULTA ISOLADA
A multa isolada pelo descumprimento do dever de recolhimentos antecipados deve ser aplicada sobre o total que deixou de ser recolhido, ainda que a apuração definitiva após o encerramento do exercício redunde em montante menor. Pelo princípio da absorção ou consunção, contudo, não deve ser aplicada penalidade pela violação do dever de antecipar, na mesma medida em que houver aplicação de sanção sobre o dever de recolher em definitivo. Esta penalidade absorve aquela até o montante em que suas bases se identificarem.
Numero da decisão: 1401-002.161
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares suscitadas para, no mérito, por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso voluntário com o fito de afastar as multas isoladas. Vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Ausente momentaneamente a Conselheira Lívia De Carli Germano.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Guilherme Adolfo dos Santos Mendes - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
Nome do relator: GUILHERME ADOLFO DOS SANTOS MENDES
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2007, 2008, 2009 NULIDADE - DIREITO DE DEFESA O lançamento não é nulo por cerceamento ao direito de defesa, em primeiro lugar, porque corresponde à fase inquisitiva; em segundo lugar, porque concretamente os fundamentos fáticos e jurídicos foram levados ao conhecimento do acusado. DECADÊNCIA - DOLO Uma vez caracterizado o caráter intencional da conduta, o prazo decadencial, mesmo em relação aos tributos lançados por homologação, deve ser aferido pela regra estampada no art. 173, inciso I, do CTN. DOLO - MULTA QUALIFICADA Tendo sido caracterizado o caráter intencional da conduta, impõe-se a qualificação da multa de ofício. SÓCIOS E ADMINISTRADORES. GRUPO ECONÔMICO. SONEGAÇÃO FISCAL E FRAUDE. RESPONSABILIZAÇÃO TRIBUTÁRIA. Os sócios, administradores e empresas que compõe o grupo econômico, sejam formais ou de fato, com ou sem procuração para representar o contribuinte, que praticam, de forma comissiva ou omissiva, conjuntamente com o contribuinte os crimes de sonegação e fraude, respondem pelo crédito tributário. MULTA ISOLADA A multa isolada pelo descumprimento do dever de recolhimentos antecipados deve ser aplicada sobre o total que deixou de ser recolhido, ainda que a apuração definitiva após o encerramento do exercício redunde em montante menor. Pelo princípio da absorção ou consunção, contudo, não deve ser aplicada penalidade pela violação do dever de antecipar, na mesma medida em que houver aplicação de sanção sobre o dever de recolher em definitivo. Esta penalidade absorve aquela até o montante em que suas bases se identificarem.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares suscitadas para, no mérito, por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso voluntário com o fito de afastar as multas isoladas. Vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Ausente momentaneamente a Conselheira Lívia De Carli Germano. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
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DECADÊNCIA DOLO Uma vez caracterizado o caráter intencional da conduta, o prazo decadencial, mesmo em relação aos tributos lançados por homologação, deve ser aferido pela regra estampada no art. 173, inciso I, do CTN. DOLO MULTA QUALIFICADA Tendo sido caracterizado o caráter intencional da conduta, impõese a qualificação da multa de ofício. SÓCIOS E ADMINISTRADORES. GRUPO ECONÔMICO. SONEGAÇÃO FISCAL E FRAUDE. RESPONSABILIZAÇÃO TRIBUTÁRIA. Os sócios, administradores e empresas que compõe o grupo econômico, sejam formais ou de fato, com ou sem procuração para representar o contribuinte, que praticam, de forma comissiva ou omissiva, conjuntamente com o contribuinte os crimes de sonegação e fraude, respondem pelo crédito tributário. MULTA ISOLADA A multa isolada pelo descumprimento do dever de recolhimentos antecipados deve ser aplicada sobre o total que deixou de ser recolhido, ainda que a apuração definitiva após o encerramento do exercício redunde em montante menor. Pelo princípio da absorção ou consunção, contudo, não deve ser aplicada penalidade pela violação do dever de antecipar, na mesma medida AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 72 15 65 /2 01 3- 85 Fl. 4364DF CARF MF 2 em que houver aplicação de sanção sobre o dever de recolher em definitivo. Esta penalidade absorve aquela até o montante em que suas bases se identificarem. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares suscitadas para, no mérito, por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso voluntário com o fito de afastar as multas isoladas. Vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Ausente momentaneamente a Conselheira Lívia De Carli Germano. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa. Relatório Tratase de recursos voluntários oferecidos pelo contribuinte e por responsáveis tributários contra decisão da DRJ às fls. 4.0594090. Para as peças iniciais do feito, tomo de empréstimo o relatório da decisão recorrida: O processo trata de impugnações a autos de infração (AI) de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), às fls. 876/895 e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), às fls. 896/910, relativos a fatos geradores havidos entre 31/01/2007 e 31/12/2009. A multa aplicada foi de150%, tendo havido representação fiscal para fins penais. Os fatos que levaram às emissões dos AI e à aplicação da multa agravada encontramse descritos no termo de verificação fiscal (TVF), às fls. 793/870. Foi também elaborado termo de sujeição passiva solidária (TSPS), às fls. 871/873, nos termos do art. 135 inc. III, da Lei nº 5.172 de 25/10/1966 – Código Tributário Nacional (CTN), em desfavor de Eloizo Gomes Afonso Durães, Silvio Marques, Helio Vieira, SP Alimentação e Serviços Ltda. e Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda., cujas responsabilidades estariam caracterizadas no TVF. Fl. 4365DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.365 3 Considerouse efetivada a ciência do AI e do respectivo TVF, por edital, à contribuinte em 16/08/2013 (fl. 3622). Os TSPS acompanhados do AI, TVF e termo de entrega de documentos foram cientificados aos demais responsáveis nas seguintes datas: NOME DO RESPONSÁVEL DATA DA CIÊNCIA Eloizo Gomes Afonso Durães 01/08/2013 (fl. 3604) Silvio Marques 01/08/2013 (fl. 3606) Helio Vieira 02/08/2013 (fl. 3611) SP Alimentação e Serviços Ltda. 01/08/2013 (fl. 3608) Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda. 19/08/2013 (fl. 3623). As exigências dos autos de infração são as seguintes: T V F O p r ocedimento de fiscalização se iniciou através do MPF nº 08190.002011008554, tendo a ciência do Termo de Início da Fiscalização ocorrido em 24/03/2011. E observase nos autos que ocorreram dificuldades em dar essa ciência, pois a empresa não operava mais no seu endereço cadastral. Em face dessa dificuldade, os termos de início de fiscalização foram encaminhados aos sócios da empresa e posteriormente a endereço de escritório administrativo localizado pela fiscalização. Mesmo intimado a regularizar sua situação cadastral, até o final da dos trabalhos da fiscalização tal regularização não ocorrera e não havia endereço definido para a empresa. A impugnante estaria envolvida com o grupo denominado “SP ALIMENTAÇÃO”, o qual atuava em fraudes de fornecimento de merenda escolar, tendo sido alvo de investigação pelo Ministério Público e pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. A verificação de tais práticas ilegais ficou denominada como “Operação Pratos Limpos”. O vínculo da fiscalizada com o grupo “SP ALIMENTAÇÃO” também implicou bloqueio judicial pela justiça de Jandira/SP (num. doc. 855.418/114) constante no cadastro da Junta Comercial do Estado de São Paulo. O objetivo desse grupo, com participação da fiscalizada, seria fraudar licitações públicas, com a corrupção de funcionários públicos municipais, e com isso fornecer merendas às escolas públicas. Além da Gourmaitre, comporiam tal grupo econômico a SP Alimentação e Serviços Ltda. e a Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda. A ligação entre as empresas para o esquema ilícito teria ficado comprovada pelos seguintes motivos: a) intensa movimentação financeira entre as três empresas; b) transferências bancárias assinadas por sócios das empresas na mesma época; c) plano de contas com previsão de empréstimos entre elas; d) sócios com atuação em mais de uma dessas empresas; e) empresa sócia de outra (Verdurama para com a Gourmaitre); f) sócio de uma empresa fundadora de outra (Sr. Sílvio Marques, sócio da Gourmaitre fundou a SP Alimentação); g) contas bancárias das empresas movimentadas por pessoas comuns, como os Srs. Antônio Marques Franco e Sílvio Marques; h) declaração do Sr. Gilmar da Silva (motoboy) que sacava cheques nos bancos para todo o grupo, entregando o dinheiro sacado conforme determinação para o pessoal da diretoria ou do departamento financeiro das mesmas. Observouse nas notas fiscais da Gourmaitre relativas às empresas fornecedoras, graves inconsistências caracterizadas como inidoneidade correspondente às seguintes pessoas jurídicas: a) Cenco Central de Comércio de Gêneros Alimentícios Ltda. (fl. 799); b) Cerealista Guimarães Ltda. Auto de infração Tributo Juros (até 07/2013) Multa Multa Isolada Total Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) 3.767.758,09 1.744.919,39 5.651.637,15 666.251,73 11.830.566,36 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) 1.366.829,49 631.735,87 2.050.244,24 349.273,41 4.398.083,01 Fl. 4366DF CARF MF 4 (fl. 799/800); c) Comércio Varejista de Hortifrutigranjeiro Vila Sônia Ltda. (fl. 800); d) CPA Comércio de Produtos Alimentícios Ltda. (fl. 800); e) Moema Hortifruti Granjeiro Ltda. (fl. 800); f) Vínculo Distribuidora de Produtos Alimentícios e Miudezas Ltda. (fl. 801); g) Genova Agro Comercial Ltda. (fl. 801) A partir de procedimentos do Ministério Público e da Secretaria da Fazenda Estadual do Estado de São Paulo, constatouse que essas empresas não operavam mais ou declararam nunca ter tido operações comerciais com a Gourmaitre. Também foi constatado que os pagamentos a esses fornecedores constantes na contabilidade do impugnante foram destinados a outras pessoas físicas ou jurídicas sem nenhum vínculo com os em tese fornecedores. Diante disso, caracterizada a falsidade das operações, essas aquisições foram glosadas pela fiscalização, pois integraram indevidamente o custo das mercadorias vendidas (ver demonstrativos e o Anexo I dos autos). Além das notas fiscais inidôneas, também foram glosados (ver tabela da fl. 803) os lançamentos contábeis relativos a pagamentos não justificados pela empresa, visto que essa não apresentou a correspondente documentação hábil e idônea, em que pese intimada mais de uma vez (fls. 741 e 745). Tanto a Gourmaitre, como seus sócios e demais empresas do grupo econômico foram objeto de denúncia pelo Ministério Público de São Paulo. Encontramse juntados aos autos, à disposição dos sujeitos passivos: a) Termos de início da fiscalização, entrega de documentos, intimações e reiterações de intimações por não atendimento (fls. 916/1176); b) Glosas dos custos (fls. 1177/1197); c) Cópias de notas fiscais/faturas (fls. 1198/2010); d) Pagamentos sem causa relacionados com o IRRF (fls. 2011/2067); e) Cópias dos cheques referentes a pagamentos a fornecedores inidôneos (fls. 2068/2367); f) Demonstrativo analítico das multas isoladas IRPJ e CSLL (fls. 2523/2527); g) Denúncia do Ministério Público através do Grupo Especial de Repressão aos Delitos Econômicos envolvendo o contribuinte (fls. 2528/2606); h) Planilhas com lançamentos do razão relativo aos fornecedores informando data, histórico, chaves, valores, etc. (fls. 2607/3603). IMPUGNAÇÕES A ciência do AI, do TVF e TSPS foi dada à contribuinte e demais solidários, conforme fls. 3604, 3606, 3608, 3610, 3622 e 3623. Contribuinte A contribuinte – Gourmaitre – apresentou, em 30/08/2013, impugnação às fls. 3813/3820, onde em síntese, faz as seguintes alegações: Preliminarmente: teria ocorrido a decadência dos períodos anteriores a julho de 2008. eram nulos o Termo de Sujeição Passiva e o AI com base no art. 11, do Decreto nº 70.235/72, pois ambos deveriam ter sido assinados pelo Delegado da Receita Federal de Fiscalização. No mesmo sentido o art. 59 dispõe que são nulos os atos e os termos lavrados por pessoa incompetente. Do Direito: a acusação contra si encontrase amparada somente em indícios da inexistência das empresas vendedoras, sendo que por mais elementos que apresentasse, jamais seria suficiente ao convencimento da SRF de que houve boafé nos atos praticados. não tem o condão ou competência de fiscalizar atos de terceiros, afirmando sua boafé, razão pela qual entende não dever ser penalizado. a publicação do Ato Declaratório de Inidoneidade demanda investigação da real situação do contribuinte e das operações por ele praticadas, devendo ser excluída a sua responsabilidade pela inidoneidade das notas fiscais. de acordo com o art. 5º da Constituição Federal ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei e que o art. 112, do CTN, dispõe que se deve interpretar a lei tributária de maneira mais favorável ao acusado em casos de dúvida. a multa isolada não pode ser mantida, visto que não agiu em desconformidade com a lei. os pagamentos tidos sem causa com aproveitamento contábil para o IRPJ e CSLL não se deram com dolo, mas em virtude de mera conseqüência contábil, devendo ser desagravadas as multas. Por fim, requer o conhecimento de sua defesa, sendo a mesma julgada totalmente procedente para declarar insubsistente o presente AI, e a redução das multas agravadas de 150% para 75%. Protesta, ainda provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos. Impugnações dos sujeitos passivos solidários Como outras pessoas foram relacionadas no TSPS, constantes nas fls. 871 a 873, houve a formulação de outras impugnações a seguir discriminadas: a) Sr. Eloízio Gomes Afonso Durães (fls. 3627/3646) Apresenta resumidamente os seguintes argumentos em impugnação entregue em 30/08/2013: Fl. 4367DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.366 5 a sua suposta participação está firmada na constatação de que o grupo “SP Alimentação” iniciou suas operações via Gourmaitre, introduzindo a Verdurama como sócia, representada pela sua ex esposa, sendo que o sócio da Gourmaitre, Silvio Marques, já teria sido sócio da SP Alimentação, e que, também, a Verdurama foi sócia da Gourmaitre, empresa essa que Eloízio já teria também sido sócio; ocorreu nulidade do TSPS e do AI por contrariar o art. 11, do Decreto nº 70.235/72, visto que os AuditoresFiscais que assinaram o AI estavam subordinados ao Chefe de Equipe de Fiscalização, que por sua vez era subordinado ao Delegado da Receita Federal de São Paulo. Esse último é que deveria ter assinado o AI ou ter dado autorização, arrolando também o art. 59, do mesmo decreto, sobre a nulidade de atos e termos lavrados por pessoa incompetente; houve cerceamento de defesa por não ter recebido os apensos que acompanham o AI e o Termo de Verificação Fiscal, requerendo cópia dos documentos que instruíram o processo ou que seja disponibilizada a sua vista aos autos; jamais pertenceu ao quadro societário da Gourmaitre, bem como jamais a administrou, não podendo ser penalizado com a sujeição passiva solidária; somente pode existir solidariedade nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, no caso a Gourmaitre, sendo que essa se encontra constituída e o sócio compareceu para atender o procedimento fiscal; o o art. 134, do CTN, prevê apenas a aplicação de penalidades moratórias, que significa que o responsável tributário somente seria atingido pelo atraso no pagamento do tributo e não pelas penalidades decorrentes da infração efetivamente praticada pelo contribuinte; diz também não se aplicar o inciso III, do art. 135, do CTN; meras suposições não têm o condão de comprovar as alegações apontadas contra si, citando o art. 112, do CTN, ou seja, que deve ser interpretada a lei tributária de maneira mais favorável ao acusado quando houver dúvidas; a competência exclusiva para apurar, processar e julgar fraudes processuais é da justiça criminal; o Ministério Público finca sua tese apenas em depoimentos em que se faz uso do Instituto da Delação Premiada, contudo nem mesmo a homologação deste acordo pelo judiciário houve; ocorreu decadência com relação aos fatos geradores ocorridos em 2007, visto que o direito do fisco constituir definitivamente o crédito tributário se extingue após 5 anos da ocorrência do fato gerador, nos termos do § 4º, do art. 150, do CTN. Requer que seja acolhida a preliminar aduzida e determinada a nulidade do procedimento fiscal; caso assim não se entenda, pede a entrega dos documentos apensos ou a disponibilização dos autos para vistas. Pede ainda que a sua defesa seja julgada totalmente procedente e declarando insubsistente o TSPS. Protesta provar a veracidade do alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, especialmente a juntada de documentos, vistorias, etc. b) SP Alimentação e Serviços Ltda. (fls. 3719/3732) Apresenta resumidamente os seguintes argumentos em impugnação entregue em 30/08/2013: ocorreu nulidade do Termo de Sujeição Passiva e do AI por contrariar o art. 11, do Decreto nº 70.235/72, visto que devem ser assinados por autoridade competente, no caso o Delegado da Receita Federal de Fiscalização ou alguém por este outorgado. Cita também o art. 59, do mesmo decreto, sobre a nulidade de atos e termos lavrados por pessoa incompetente; a acusação se encontra amparada apenas em indícios não condizendo com a verdade dos fatos, visto que os documentos foram entregues pelos fornecedores, bem como a defendente adotou todas as cautelas verificando a idoneidade das empresas vendedoras; afirma que o defendente procedeu dentro dos limites legais, recebendo as sanções impostas pela inidoneidade de notas fiscais das quais acreditava serem válidas, reafirmando sai boafé e colocandose como vítima de ardil cuja elucidação só poderia decorrer de ação fiscal da Secretaria da Fazenda que tinha a competência para tanto; os contribuintes não carregam consigo a competência legal que autorize a vasculhar a vida pessoal ou empresarial de terceiros (no caso, as empresas fornecedoras); o inciso II, art. 5º, da Constituição Federal, dispõe que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; o art. 112, do CTN, diz que deve a lei tributária ser interpretada de maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvidas; há vício no agravamento da multa, visto que efetuou transações comerciais dentro da mais absoluta legalidade, pagando pelas mercadorias e recebendo as respectivas notas fiscais; Fl. 4368DF CARF MF 6 quantos aos acréscimos de multas e de juros são os mesmos indevidos, visto que não se sustentariam os tributos lançados; com base nos arts. 150 e 156, do CTN, temos a indicação da decadência dos períodos lançados após 5 anos da ocorrência do fato gerador, em relação aos períodos do ano de 2007; o Ministério Público finca sua tese apenas em depoimentos em que se faz uso do Instituto da Delação Premiada, que sequer foi homologado pelo poder judiciário; a defendente jamais foi sócia ou participou da administração da empresa Gourmaitre, não sendo possível, através de conjecturas, incluíla como sujeito passivo dos tributos em comento. Requer, por fim, o reconhecimento das preliminares expostas, anulando o procedimento fiscal em comento, com o reconhecimento de sua defesa, para que esta seja julgada totalmente procedente, declarandose insubsistente o presente AI, e que também sejam reduzidas as multas agravadas para 75%. Protesta, ainda, provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos. c) Sr. Hélio Vieira (fls. 3876/3885) Apresenta resumidamente os seguintes argumentos em impugnação entregue em 30/08/2013: jamais foi administrador da empresa Gourmaitre, não podendo responder pela empresa pelo simples fato de constar no contrato social; ocorreu nulidade do Termo de Sujeição Passiva e do AI por contrariar o art. 11, do Decreto nº 70.235/72, visto que devem ser assinados por autoridade competente, no caso o Delegado da Receita Federal de Fiscalização ou alguém por este outorgado; cita também o art. 59, do mesmo decreto, sobre a nulidade de atos e termos lavrados por pessoa incompetente; a constatação da inidoneidade das operações com empresas localizadas no estado de Minas Gerais pela fiscalização estadual de São Paulo devem ser excluídas desse procedimento, pois o estado de São Paulo não possuía competência territorial para isso; por mais elementos que apresentasse, jamais seriam esses suficientes para convencimento da SRF de que houve boafé nos atos praticados; afirma ter procedido dentro dos limites legais, recebendo as sanções impostas pela inidoneidade de notas fiscais das quais acreditava serem válidas; não tem competência legal para vasculhar a vida pessoal ou empresarial de terceiros, no caso os fornecedores das notas fiscais; o inciso II, art. 5º, da Constituição Federal, dispõe que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; o art. 112, do CTN, diz que deve a lei tributária ser interpretada de maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvidas; há vício no agravamento da multa, visto que efetuou transações comerciais dentro da mais absoluta legalidade, pagando pelas mercadorias e recebendo as respectivas notas fiscais. Requer, por fim, o conhecimento de sua defesa para eu seja julgada totalmente procedente, declarandose insubsistente o AI, e que sejam reduzidas as multas agravadas de 150% para 75%. Protesta, ainda, pela produção de todos os meios de prova em direito admitidos. d) Sr. Sílvio Marques (fls. 3929/3938) Apresenta resumidamente os seguintes argumentos em impugnação entregue em 02/09/2013: ocorreu nulidade do Termo de Sujeição Passiva e do AI por contrariar o art. 11, do Decreto nº 70.235/72, visto que devem ser assinados por autoridade competente, no caso o Delegado da Receita Federal de Fiscalização ou alguém por este outorgado; Cita também o art. 59, do mesmo decreto, sobre a nulidade de atos e termos lavrados por pessoa incompetente. foi aplicada a glosa da totalidade dos créditos de PIS e de Cofins, sendo que a fiscalizada mantinha transações comerciais com outros fornecedores que não foram considerados inidôneos; Tendo sido considerados alguns pagamentos com a incidência do IRRF, não poderia haver a glosa do crédito correlato para as contribuições; Caso se entenda necessário deve ser o presente julgamento convertido em diligência para apurar os créditos efetivos; por mais elementos que apresentasse, jamais seriam esses suficientes para convencimento da SRF de que houve boafé nos atos praticados; Afirma ter procedido dentro dos limites legais, recebendo as sanções impostas pela inidoneidade de notas fiscais das quais acreditava serem válidas; não tem competência legal para vasculhar a vida pessoal ou empresarial de terceiros, no caso os fornecedores das notas fiscais; o inciso II, art. 5º, da Constituição Federal, dispõe que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; o art. 112, do CTN, diz que deve a lei tributária ser interpretada de maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvidas; Fl. 4369DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.367 7 há vício no agravamento da multa, visto que efetuou transações comerciais dentro da mais absoluta legalidade, pagando pelas mercadorias e recebendo as respectivas notas fiscais; Requer o conhecimento de sua defesa, para que seja julgada totalmente procedente, declarandose insubsistente o AI, e que sejam reduzidas as multas agravadas de 150% para 75%; Protesta, ainda, pela produção e todos os meios de prova em direito admitidos. e) Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda. (fls. 3988/3991) Apresenta resumidamente os seguintes argumentos em impugnação entregue em 18/09/2013: invoca o instituto da decadência a partir do mês de julho de 2008 para trás, conforme o disposto no inciso I, do art. 173, do CTN. invoca o instituto da nulidade com base no art. 11, do Decreto nº 70.235/72, vez que o AI não está assinado pelo Delegado da Receita Federal, bem como não vislumbra qualquer autorização do mesmo para algum outro funcionário. foi aplicada a glosa da totalidade dos créditos de PIS e de Cofins, sendo que a fiscalizada mantinha transações comerciais com outros fornecedores que não foram considerados inidôneos. Por isso, imperioso que se converta o julgamento em diligência para a apuração dos créditos que efetivamente devem ser glosados. a acusação está amparada simplesmente em indícios não condizendo com a verdade dos fatos, uma vez que o demandado agiu de acordo com a lei. não tem o demandado competência e poder para fiscalizar os atos de outras empresas. o demandado se trata de contribuinte de boafé em tais operações, devendo ser excluída a sua responsabilidade pela inidoneidade das notas fiscais apontadas. o inciso II, art. 5º, da Constituição Federal, dispõe que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. o art. 112, do CTN, diz que deve a lei tributária ser interpretada de maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvidas. os pagamentos tidos como sem causa foram contabilizados como aquisição de insumo, o que consequentemente seria aproveitado como crédito de PIS e de Cofins, em virtude de mera conseqüência contábil, devendo ser desagravadas as multas aplicadas. Requer, por fim, o recebimento de sua devesa para ser julgada procedente, in totum, declarando insubsistente o presente AI com a redução das multas agravadas para 75%. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos. DOS RECURSOS VOLUNTÁRIOS Foram apresentados recursos voluntários por (i) GOURMAITRE COZINHA INDUSTRIAL E REFEIÇÕES LTDA, na condição de contribuinte (fls. 4.2834.298) e os responsáveis Eloízio Gomes Afonso Durães (fls. 4.1294.164), SP Alimentação e Serviços Ltda. (4.2114.230), Sílvio Marques (fls. 4.3134.331) e Hélio Vieira (fls. 4.3324.351). Todos os recursos repetem as mesmas razões apresentadas nas impugnações; aliás, são praticamente cópias literais de peças inaugurais de defesa. É o relatório. Voto Conselheiro Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Relator Fl. 4370DF CARF MF 8 Preliminar de decadência Apesar de ter sido afastada parte da autuação em razão da decadência (a exoneração não foi objeto de recurso de ofício), alegase novamente esse instituto. A decisão recorrida não reconheceu a decadência na extensão pedida, pois adotou o prazo do art. 173 do CTN e não o previsto no § 4º, art. 150 da mesma codificação. Nada temos a reparar à decisão recorrida, uma vez que se caracterizou o caráter doloso da infração, o que impede a aplicação da regra mais favorável ao contribuinte. Abaixo, trataremos do caráter doloso ao analisarmos a aplicação da multa qualificada de 150%. Nego, pois, a preliminar suscitada de decadência. Demais preliminares Antes de passarmos à análise, vale registrar o que dispõe o art. 57 do RICARF, especialmente seu parágrafo 3º: Art. 57. Em cada sessão de julgamento será observada a seguinte ordem: I verificação do quórum regimental; II deliberação sobre matéria de expediente; e III relatório, debate e votação dos recursos constantes da pauta. § 1º A ementa, relatório e voto deverão ser disponibilizados exclusivamente aos conselheiros do colegiado, previamente ao início de cada sessão de julgamento correspondente, em meio eletrônico. § 2º Os processos para os quais o relator não apresentar, no prazo e forma estabelecidos no § 1º, a ementa, o relatório e o voto, serão retirados de pauta pelo presidente, que fará constar o fato em ata. § 3º A exigência do § 1º pode ser atendida com a transcrição da decisão de primeira instância, se o relator registrar que as partes não apresentaram novas razões de defesa perante a segunda instância e propuser a confirmação e adoção da decisão recorrida. (Redação dada pela Portaria MF nº 329, de 2017) (Nosso destaque) Pois bem, conforme registramos no relatório, todos os recursos não só reiteraram as mesmas razões das impugnações, como correspondem a peças literalmente iguais. Passamos, assim, à transcrição do voto condutor da decisão recorrida na parte das preliminares: 1.2. Nulidade do AI e do TSPS com base no Decreto nº 70.235/72 Não procedem as alegações de nulidade do auto de infração e nos termos de sujeição passiva, fundadas no fato de não haver outorga de poderes pelo Delegado da Receita Federal aos auditores fiscais que subscrevem o auto de infração, em face do disposto no art. 11 do Decreto nº 70.235, de 1972. O referido Decreto dispõe no art. 9º que a exigência do crédito tributário deve ser formalizada por auto de infração ou notificação de lançamento distinto para cada tributo ou penalidade. Nos arts. 10 e 11, o mesmo diploma estabelece os requisitos formais que devem ser observados pelas autoridades administrativas quando da lavratura de auto de infração e de notificação de lançamento. Tanto o auto de infração, como a notificação de lançamento, são atos administrativos que formalizam a exigência do crédito tributário, mas são atos distintos, na medida em que refletem a forma como as autoridades administrativas tomaram conhecimento da infração tributária cometida pelo contribuinte. Portanto, é importante distinguilas. Na notificação de lançamento a autoridade administrativa toma conhecimento da infração à legislação tributária no âmbito da verificação realizada a partir das informações prestadas pelo próprio contribuinte, que tem obrigação de prestar ao órgão de administração tributária um grande número de informações sobre suas operações e estabelecimentos, bem como por sistemas informatizados, que tornam cada vez mais possível a identificação da prática de infrações tributárias sem que se realize procedimentos de fiscalização junto aos contribuinte. Nessas hipóteses, por ter sido a infração identificada pelo órgão, a autoridade competente para formalizar a exigência do Fl. 4371DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.368 9 crédito tributário é o titular do órgão que administra o tributo, no caso o Delegado ou Inspetor da Receita Federal do Brasil, conforme prevê o art. 11 do Decreto nº 70.235, de 1972. O auto de infração difere tecnicamente da notificação de lançamento porque a autoridade administrativa toma conhecimento da infração tributária no curso de procedimento de fiscalização, que é a atividade investigatória desenvolvida pelo Estado visando identificar a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária e que permite ao agente fiscal ampla liberdade investigatória e probatória, inerente à função estatal, fundamentalmente no poder de polícia que ao Estado compete exercer com discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade, conforme art. 142 do Código Tributário Nacional e art. 10 do Decreto nº 70.235, de 1972. Neste caso, a autoridade competente é o AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil, conforme previsto pelo art. 6º, I, a, da Lei nº 10.593, de 2002, com a redação dada pela Lei nº 11.457, de 2007, cuja atividade é vinculada pelos arts. 3º e 142 do Código Tributário Nacional. Art. 6º São atribuições dos ocupantes do cargo de AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil: I no exercício da competência da Secretaria da Receita Federal do Brasil e em caráter privativo: a) constituir, mediante lançamento, o crédito tributário e de contribuições; b) elaborar e proferir decisões ou delas participar em processo administrativofiscal, bem como em processos de consulta, restituição ou compensação de tributos e contribuições e de reconhecimento de benefícios fiscais; c) executar procedimentos de fiscalização, praticando os atos definidos na legislação específica, inclusive os relacionados com o controle aduaneiro, apreensão de mercadorias, livros, documentos, materiais, equipamentos e assemelhados; d) examinar a contabilidade de sociedades empresariais, empresários, órgãos, entidades, fundos e demais contribuintes, não se lhes aplicando as restrições previstas nos arts. 1.190 a 1.192 do Código Civil e observado o disposto no art. 1.193 do mesmo diploma legal; e) proceder à orientação do sujeito passivo no tocante à interpretação da legislação tributária; f) supervisionar as demais atividades de orientação ao contribuinte; II em caráter geral, exercer as demais atividades inerentes à competência da Secretaria da Receita Federal do Brasil. No caso dos autos, a infração à legislação tributária foi identificada em procedimento de fiscalização, portanto, a autoridade competente para assinar o auto de infração é o AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil incumbido do procedimento, como também os TSPS, e não o chefe do órgão que administra o tributo. Portanto, não são nulos, por incompetência do agente, o auto de infração e os TSPS de que tratam os autos. (...) 3.4 Do cerceamento de defesa A alegação de cerceamento de defesa somente foi feita pelo contribuinte Eloízio Gomes Afonso Durães, responsável solidário, aduzindo que não teria recebido cópia dos apensos do AI e do Termo de Verificação Fiscal, requerendo cópia dos mesmos ou que fosse disponibilizada vista aos autos. Primeiramente é de se destacar que existem dois Apensos nos autos. O Apenso 1 não é do AI, nem do Termo de Verificação Fiscal, mas sim do próprio processo em si . O Apenso 2 contém o razão contábil da própria empresa relativo aos anoscalendários de 2007, 2008 e 2009, e é citado no TVF à fl. 812. As informações retiradas desse razão contábil estão devidamente discriminadas no relatório fiscal. De acordo com o Aviso de Recebimento de fl. 3604, foram enviados ao Sr. Eloízio os seguintes documentos: • TVF: com o relatório completo de todo o procedimento fiscal e de suas constatações; • AI: IRPJ, CSLL, PIS, Cofins e IRRF; • TSPS: envolvimento do contribuinte dentro dos ilícitos apurados; • Termo de Entrega de documentos. Tais documentos demonstram detalhadamente como foi realizada a fiscalização, com as análises do fisco e suas respectivas intimações; abrangência da fiscalização; apuração da existência do grupo econômico; existência de fornecedores inidôneos; registros das operações irregulares; apuração dos tributos devidos; glosas de custos e de créditos; registros de pagamentos sem causa; aplicação da multa isolada e qualificada; enquadramento legal; representação fiscal para fins penais; termos lavrados; envolvimento do contribuinte como responsável solidário; entre outros. Fl. 4372DF CARF MF 10 O contribuinte, inclusive, defendese desses aspectos em sua impugnação. Portanto, não há falar em cerceamento de defesa. Todos os elementos existentes no apenso (do processo e não do AI) citado pelo contribuinte estavam mencionados nas peças que lhe foram entregues. Aliás, foi plenamente atendido o disposto no art. 10, do Decreto nº 70.235/72, sobre o que deve conter obrigatoriamente o AI e Relatório Fiscal, senão vejamos: qualificação do autuado; local, data e hora da lavratura; descrição do fato; disposição legal infringida e penalidade aplicável; determinação da exigência e a intimação para cumprila ou impugnála no prazo de trinta dias; e a assinatura do autuante e a indicação do seu cargo ou função e o número de matrícula. Caso entendesse necessário vistas ao processo para formulação suplementar de sua defesa, o contribuinte deveria ter solicitado cópia ou vistas aos autos dentro do prazo legal, pois isso é direito assegurado pela Constituição Federal dentro da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal, não dependendo de nenhuma autorização. Não é após a apresentação da defesa e de extinto o prazo da mesma que o contribuinte vai vir pedir vistas com o nítido objetivo de ampliar esse prazo, ou seja, apenas com caráter protelatório e dilatador do tempo, pois não agiu com a diligência necessária durante todo o prazo de 30 dias que teve para requerer vistas aos autos ou obter cópias de outras peças que pudesse vir a entender necessárias. Descaracterizada, portanto, a alegação de cerceamento de defesa. Os recursos repetem as mesmas razões das impugnações e não dialogam com a decisão atacada. Assim, por concordar plenamente com a decisão de primeiro grau, adoto suas mesmas razões com base no parágrafo 3º, art. 57 da Portaria MF 343/2015 (RICARF). Mérito Também quando ao mérito, transcrevo o teor da decisão recorrida para adotar as suas mesmas razões em relação aos pontos de concordância, tal qual fizemos em relação às preliminares: 2. Dos Fatos Sobre os valores de custos glosados não se aceita possibilidade de considerálos despesas incorridas, pois se tratavam de operações lastreadas em notas fiscais inidôneas ou que se ligavam a lançamentos contábeis cujas operações não podiam ser identificadas pela documentação existente, e ainda mais – vários dos cheques de pagamentos de compras não foram efetivamente destinados aos fornecedores a que se refeririam, mas sim para outras pessoas físicas e jurídicas sem nenhum vínculo com eles. Esses lançamentos não justificados se encontram nas tabelas das fls. 803/804, sendo nessa última discriminado os valores e as competências para cada um dos fornecedores inidôneos. A apuração dos montantes mensais foi demonstrada com base na documentação obtida, sendo que os demonstrativos dos valores glosados relativos às notas fiscais inidôneas encontrase às fls. 816/831 e os lançamentos contábeis não justificados tem sua apuração demonstrada às fls. 832/833, todas no do Anexo I do TVF. As impugnações não apontam falhas relativamente às glosas apuradas, para fins de apuração da CSLL e IRPJ, centramse predominantemente em discutir a glosa de créditos de PIS/COFINS não cumulativos e da tributação de IRRF. Outrossim, não houve glosa integral dos custos, mas apenas daqueles que cujos registros contábeis não foram comprovados ou que foram suportados por notas inidôneas. Dessa forma, não há ainda se falar em realização de diligência, pois foram devidamente informados e demonstrados todos os valores constantes nos Autos de Infração, bem como todas as glosas efetuadas. A respeito da realização de diligência, rezam os artigos 16, inciso IV, § 1º, e 18, caput, do Decreto nº 70.235, de 06 de março de 1972, com as alterações introduzidas pela Lei nº 8.748, de 09/12/1993, a seguir transcritos: Art. 16. A impugnação mencionará: (...) IV. as diligências, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação de quesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, o nome, o endereço e a qualificação profissional do seu perito. Fl. 4373DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.369 11 § 1º Considerarseá não formulado o pedido de diligência ou perícia que deixar de atender aos requisitos previstos no inciso IV do art. 16. (...) Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observando o disposto no artigo 28,"in fine". (gn) Registrese que é justamente nesta fase do processo administrativo que a interessada deve exercer o seu direito de ampla defesa, ocasião em que deve comprovar suas alegações. No entanto, o contribuinte e os responsáveis não trouxeram aos autos, juntamente com as impugnações apresentadas, quaisquer provas que pudessem alterar o feito fiscal. À vista dos fatos, entendese que o processo está instruído de forma correta, e o julgamento prescinde de outras verificações, motivo pelo qual se rejeita o pedido de realização de diligência. 2.2. Da falta de competência territorial da Secretaria da Fazenda de São Paulo Como o início das verificações do esquema teve origem na fiscalização estadual de São Paulo, em trabalho conjunto com o Ministério Público, questionam algumas impugnações que essa não teria competência territorial sobre as operações realizadas com empresas localizadas no estado de Minas Gerais (sede de vários dos fornecedores considerados inidôneos). O argumento aqui apresentado foge a competência desta Delegacia de Julgamento, tendo em vista que os Autos de Infrações lavrados correspondem à procedimento de fiscalização independente dos atos praticados pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, sustentandose no Mandado de Procedimento Fiscal nº 08190.002011008554, nas inúmeras intimações que foram feitas, e nos documentos apresentados pelo contribuinte para a fiscalização juntados a esses autos. O conteúdo do processo, portanto, se restringe a tributos apurados pela Receita Federal do Brasil. Porém, mesmo que assim não fosse, é de se destacar que não ocorreu nenhuma irregularidade de competência territorial como alegado. Na verdade o que foi feito pela fiscalização nada mais é do que uma circularização a respeito de fortes indícios de notas fiscais frias, indícios esses que se confirmaram. Circularização é um procedimento adotado em auditoria para solicitar a confirmação de uma informação. Tal procedimento é previsto nas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) e pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) para fins de Auditoria. A alegação de incompetência territorial não se mantém, pois a circularização tratava de contribuinte com sede no estado de São Paulo que apresentava notas fiscais de fornecedores de outros estados, e que apenas foram objeto de verificação. Os procedimentos adotados pela Secretaria da Fazenda de São Paulo tinham origem na Gourmaitre e objetivavam apurar ilicitudes praticadas em operações da qual essa fazia parte. 3. Do Direito: 3.1. A acusação se basearia apenas em indícios, havendo boafé em todos atos praticados A alegação de algumas defesas é de que a acusação estaria amparada somente em indícios da inexistência das empresas vendedoras, tendo ocorrido por parte da Gourmaitre boafé nos atos praticados, ou seja, teria procedido dentro dos limites legais. É dito também que o Ministério Público fincou sua tese no sentido de ilícitos tributários apenas com base em depoimentos em que se fez uso do Instituto da Delação Premiada. Não têm razão as contestações nesse aspecto. A Gourmaitre foi intimada a apresentar durante o procedimento de fiscalização a documentação comprobatória dos registros constantes em parte de sua contabilidade. Com base nesses documentos e em circularização junto aos seus fornecedores foi descoberto e comprovado um esquema ilícito de grande proporção contra o erário público, como a emissão de documentos e notas fiscais falsas, a geração de créditos indevidos, e aí por diante. Já comentamos nesse voto, mas nunca é demais repetir as diversas irregularidades cometidas pelo contribuinte, no tocante a esses documentos fiscais (ver fls. 799 a 802): fornecedores com atividades paralisadas ou desativadas; declarações dos fornecedores que nunca tinham operado com a Gourmaitre; carimbos falsos; impressão de talonários e notas fiscais inidôneos; incompatibilidade das notas fiscais com a estrutura dos fornecedores; inexistência dos fornecedores nos endereços cadastrais; fornecedor atuante somente no mercado varejista e não atacadista; adulteração de documentos; inexistência de registros das notas fiscais nos órgãos estaduais; pagamentos de fornecedores destinados a pessoas físicas ou jurídicas diferentes das constantes nas notas fiscais; entre outros. Provada, pelos meios juridicamente admitidos (circunstâncias constatadas em diligências/fiscalizações, depoimentos, circularizações ou por consulta em sistemas informáticos) Fl. 4374DF CARF MF 12 que não houve os aludidos negócios jurídicos de aquisição, consideramse inidôneas as notas fiscais e, portanto tributariamente ineficazes. Não tem como se sustentar que esse amplo conjunto probatório seriam apenas indícios, e muito menos admitir boafé do contribuinte, visto que a análise dos autos permite concluir que essas operações jamais ocorreram, e, portanto, contrárias a alegação de boafé da contribuinte. É de se ressaltar que os referidos fornecedores afirmaram nunca terem realizado operações com a Gourmaitre. Tais ilícitos não foram constatados apenas no trabalho dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, mas também nas verificações do Ministério Público e da Secretaria da Fazenda de São Paulo, inclusive com a apresentação de denúncia crime contra os envolvidos. 3.2. Da incompetência do contribuinte para fiscalizar atos de terceiros Contestase que o contribuinte não teria competência legal de fiscalizar atos de terceiros, nem vasculhar a vida pessoal ou empresarial desses. Em nenhum momento se diz que o contribuinte teria que fiscalizar atos de terceiros, mas ao mesmo tempo ele não pode alegar que desconhecia dos seus próprios atos de comércio cometidos com esses terceiros. É sua responsabilidade a legalidade nas operações comerciais que realiza e ficou comprovada a falsidade da documentação comprobatória de suas operações com os fornecedores já arrolados, caberia então a ela comprovar esses custos com outros elementos que não a referida documentação; não logrou fazêlo. 3.3. Do art. 5º, da Constituição Federal, e do art. 112, do CTN Todos os impugnantes mencionam o art. 5º, da Constituição Federal – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei – e o art. 112, do CTN – devese interpretar a lei tributária de maneira mais favorável ao acusado em caso de dúvida. Não têm melhor sorte aqui também os impugnantes. Existe sim obrigação, em virtude de lei, de que as operações comerciais que realize com seus fornecedores sejam regulares e lícitas. O que ocorreu foi fraude a fiscalização tributária, e existe dispositivo legal dispondo ser crime contra a ordem tributária a utilização de notas fiscais inidôneas. Entre outras normas, podemos citar o art. 1º, da Lei nº 8.137/90: “Art. 1º. Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório mediante as seguintes condutas: I– omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II – fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal. Já a benignidade do art. 112, do CTN, é para casos em que exista dúvida, o que não espelha o que temos nesses autos, pois a ilicitude cometida pelo contribuinte não é passível de dúvidas, estando plenamente comprovada conforme já demonstrado. 3.4. Do quadro societário e da responsabilidade solidária De forma geral, alguns impugnantes alegaram jamais ter pertencido ao quadro societário da Gourmaitre. Também é dito que somente poderia existir solidariedade nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, e que no caso a Gourmaitre se encontrava devidamente constituída e seu sócio compareceu para atender ao procedimento fiscal. É comentado ainda em algumas defesas apresentadas, que o art. 134, do CTN prevê apenas a aplicação de penalidades moratórias, o que significaria que o responsável tributário somente seria atingido pelo atraso no pagamento do tributo e não pelas penalidades decorrentes da infração efetivamente praticada pelo contribuinte, aludindo complementarmente que não se aplicaria o inciso III, do art. 135, do CTN. Vejamos ambos dispositivos legais: Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: ... Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter moratório. Todavia, o enquadramento legal não se faz com base no art. 134 do CTN, que trata de solidariedade subsidiária. Mas dos arts. 124 e 135 do mesmo diploma, que dispõem: Art. 124. São solidariamente obrigadas: I as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; II as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem. Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I as pessoas referidas no artigo anterior; Fl. 4375DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.370 13 II os mandatários, prepostos e empregados; III os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. (Grifei.) Além do art. 124, do CTN, expressamente dizer que são solidariamente obrigados aqueles que tenham interesse comum na situação relativa à obrigação principal, o que se observa em relação a todos os arrolados como responsáveis solidários, não há também porque não se aplicar, como querem alguns desses, o art. 135, do CTN. O interesse comum já foi demonstrado em tópico anterior, e a jurisprudência administrativa, como não podia ser diferente, reconhece a responsabilidade solidária em tais situações: Acórdão DRJ, nº 1644016, de 2013 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. Interesse Comum. São solidariamente obrigadas as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. Essa característica do interesse comum é facilmente identificada nos responsáveis solidários em questão e se encontra em total consonância com o disposto na Nota GT sobre Responsabilidade Tributária nº 1, de 17/12/2010, da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional de onde destacamos o trecho a seguir: O art. 124, do CTN, comporta dois tipos de responsabilidade solidária: a de fato (art. 124, I), que exige interesse comum, e a de direito (art. 124, II). Visualizase interesse comum, por exemplo: nos grupos econômicos, se constatadas situações de confusão patrimonial, vinculação gerencial, coincidência de sócios e administradores; nas sociedades em comum, nas sociedades extintas de fato que continuam a exercer suas atividades por meio dos sócios (em relação aos fatos geradores ocorridos após a extinção) e nas sociedades conjugais, quando a apuração é feita em conjunto ou, em relação aos rendimentos de bens comuns, quando o regime de bens é o da comunhão (Grifei.) O Parecer PGFN/CRJ/CAT nº 55, de 2009, também aponta a responsabilidade solidária para tais situações. Reproduzimos algumas partes desse Parecer: k) a análise sistemática da ordem jurídica aponta para a responsabilidade solidária dos administradores, visto que estes, no regramento do Código Civil (art. 1.016), respondem solidariamente perante terceiros (inclusive o Estado) pela prática de atos ilícitos; não haveria sentido em ser o crédito tributário menos garantido que o crédito comum; l) a obrigação do responsável é autônoma à da pessoa jurídica no que tange à natureza (licitude ou ilicitude do fato jurídico), ao nascimento (momento do surgimento) e à cobrança (exigência simultânea ou não), mas é subordinada no que tange à existência, validade e eficácia; a obrigação da pessoa jurídica contribuinte, por sua vez, independe da obrigação do responsável no que tange a esses elementos; ... q) Quando incide o art. 135, III, do CTN, não se tem uma obrigação solidária, senão duas ou mais obrigações solidárias; tratase de solidariedade imprópria, em que obrigações distintas são atadas pelo nexo de adimplemento. r) Por se tratar de solidariedade imprópria, que não se dá entre contribuintes, mas sim entre contribuinte e responsável, não precisa este último estar mencionado no lançamento do crédito tributário como sujeito passivo; sua responsabilidade, como já se disse, pode ser atestada em ato apartado ... (Grifei.) É de se citar também os ensinamentos de Júlio Fabrício Mirabete sobre a autoria do fato delituoso no concurso de agentes ao professar que toda a pessoa que concorre para a produção do ilícito o causa em sua totalidade e, por ele, se imputa integralmente participante: “Segundo a concepção tradicional da teoria monista, unitária ou igualitária, o crime, ainda que tenha sido praticado em concurso de várias pessoas, permanece único e indivisível. Não se distingue entre as várias categorias de pessoas (autor, partícipe, instigador, cúmplice etc), sendo todos autores (ou coautores) do crime. Esta posição foi adotada pelo Código Penal de 1940 ao determinar no art.25 de “quem , de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas”. Desta regra se deduz que “ toda a pessoa que concorre para a produção do crime o causa em sua totalidade e, por ele, se imputa integralmente o delito a cada um dos partícipes.” (Grifei.) Ficou comprovada a relação entre as pessoas físicas e jurídicas discriminadas no AI com a Gourmaitre (Senhores Eloízio Durães, Sílvio Marques e Hélio Vieira, e as empresas SP Alimentação e Verdurama), a partir do momento em que caracterizado o grupo econômico formado com estrutura hierárquica e empresarial no intuito de fraudar as licitações e o erário público. Fl. 4376DF CARF MF 14 Essa ligação está respaldada pelos seguintes elementos: a) intensa movimentação financeira entre as três empresas; b) transferências bancárias assinadas por sócios das empresas na mesma época; c) plano de contas com previsão de empréstimos entre elas; d) sócios com atuação em mais de uma dessas empresas; e) empresa sócia de outra (Verdurama para com a Gourmaitre); f) sócio de uma empresa fundador de outra (Sr. Sílvio Marques, sócio da Gourmaitre fundou a SP Alimentação); g) contas bancárias das empresas movimentadas por pessoas comuns, como os Srs. Antônio Marques Franco e Sílvio Marques); h) declaração do Sr. Gilmar da Silva (motoboy) que sacava cheques nos bancos para todo o grupo, entregando o dinheiro sacado conforme determinação para o pessoal da diretoria ou do departamento financeiro das mesmas. Além da formação de grupo econômico da Gourmaitre junto com as empresas SP Alimentação e Verdurama, temos os sócios solidários com participação efetiva no esquema: a) Eloízio Gomes Afonso Durães – sócioadministrador da SP Alimentação e Serviços Ltda.; b) Sílvio Marques – sócio da Gourmaitre; c) Hélio Vieira – sócio da Gourmaitre. Aliás, a constatação da existência desse grupo econômico formado pelas três empresas não foi só alvo do Estado de São Paulo, como no caso desses autos, mas também de outras investigações, como por exemplo no Estado do Rio Grande do Sul. Apurou o Ministério Público do RS que as empresas Gourmaitre e Verdurama são coligadas da SP Alimentação, em questões envolvendo os municípios de Canoas e de Sapucaia do Sul 1, em fraude similar a desse processo: Ação civil pública aponta fraudes, favorecimento na licitação e enriquecimento ilícito do prefeito e de outros envolvidos O procurador da República no município de Canoas (RS) Adriano dos Santos Raldi pediu liminarmente que o prefeito de Sapucaia do Sul, Marcelo Machado, o viceprefeito, Gilberto Alves, além de secretários, envolvidos no caso da merenda escolar, sejam afastados dos cargos até o julgamento final da ação. O requerimento faz parte da ação civil pública, cumulada com ação de improbidade administrativa, protocolada hoje, 25 de novembro, na Justiça Federal de Canoas. A investigação desenvolvida pelo Ministério Público Federal apurou, também, o enriquecimento ilícito do prefeito e sua mulher, Ivete Beatriz da Rocha, após o início do mandato, em janeiro de 2005. O pedido de afastamento, de acordo com o procurador da República, se faz necessário devido à gravidade dos elementos reunidos no processo, composto por 48 volumes, totalizando mais de nove mil páginas. O MPF requer, ainda, a suspensão do contrato de terceirização da merenda em curso atualmente (com a empresa Verdurama) e a proibição de as empresas SP Alimentação, Verdurama e Gourmaitre celebrarem contratos com o município de Sapucaia do Sul. O procurador destaca que o procedimento investigatório instaurado no MPF deu origem á ação de improbidade administrativa contra o atual prefeito, seu vice, secretários municipais, as empresas SP Alimentação e Serviços Ltda., Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda e Gourmaitre Cozinha Industrial e Refeições Ltda, entre outros. No total, 20 réus deverão responder por atos de improbidade administrativa decorrentes de fraudes no processo de licitação e na contratação para fornecimento da merenda escolar em Sapucaia do Sul. "À semelhança do caso da merenda escolar em Canoas, a investigação em Sapucaia do Sul apontou favorecimento à empresa SP Alimentação, de São Paulo, bem como o envolvimento das empresas coligadas Verdurama e Gourmaitre, em processo licitatório fraudulento, superfaturamento do contrato e até mesmo baixa qualidade na merenda servida aos alunos da rede municipal de ensino", explica Raldi. O número do processo na Justiça Federal é 2008.71.120044344. Assessoria de Comunicação Procuradoria da República no Rio Grande do Sul A própria jurisprudência do CARF, antigo Conselho de Contribuinte, é no sentido de manter o julgamento dos responsáveis solidários que tenham interesse comum e que guardem nexo com os atos que foram cometidos, como se dispõe nos Acórdãos a seguir: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano calendário: 2002, 2003 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. Atribuise a responsabilidade solidária a terceira pessoa quando comprovado o nexo existente entre os fatos geradores e a pessoa a quem se imputa a solidariedade passiva, nos termos do art. 124, inciso I do CTN. O interesse comum na constituição do fato gerador da obrigação principal fica bem caracterizado quando o sócio majoritário deixa a sociedade colocando em seu lugar interposta pessoa, tornandose a partir daí um sócio oculto. 1 http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticiasdosite/copy_of_patrimoniopublicoesocial/mpf pedeafastamentodoprefeitodesapucaiadosul Fl. 4377DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.371 15 (Acórdão nº 1401000.878– 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária, sessão de 06 de novembro de 2012) ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Período de apuração: 01/06/2004 a 31/08/2008 RELAÇÃO JURÍDICA APARENTE DESCARACTERIZAÇÃO Pelo Princípio da Verdade Material, se restar configurado que a relação jurídica formal apresentada não se coaduna com a relação fática verificada, subsistirá a última. De acordo com o art. 118, inciso I do Código Tributário Nacional, a definição legal do fato gerador é interpretada abstraindose da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. .... SOLIDARIEDADE São solidariamente obrigadas as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. Provada a existência do interesse, correto o lançamento com base no instituto da responsabilidade solidária. Recurso Voluntário Negado (Acórdão 2402003.238 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, sessão de 22/01/2013) DA RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SOCIEDADE EMPRESÁRIA. SÓCIO ADMINISTRADOR. SOLIDARIEDADE. I Condutas do sócioadministrador,desde a não escrituração das operações contábeis, passando pelo não envio declarações obrigatórias de pessoa jurídica, consubstanciaram uma série de atos ordenados, um por um, visando ocultar as receitas auferidas que deveriam ter sido oferecidas á tributação. Tais ações e omissões, além de infringirem a legislação comercial e tributária vigente, caracterizaram o dolo, restando demonstrada subsunção ao inciso III, art. 135 do CTN. II O termo “pessoalmente responsáveis”, do artigo 135 do CTN, trata de responsabilidade surgida direta e pessoalmente, o que não quer dizer, contudo, que a pessoa jurídica fique desobrigada, até porque, caso o fosse, deveria haver uma menção expressa de exclusão de responsabilidade. (Acórdão 1302000458 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, sessão de 26 de janeiro de 2011). Tendo sido comprovado o interesse comum de todos os envolvidos, assim como sua participação no grupo econômico e nas irregularidades praticadas, mantémse a responsabilidade solidária argüida pela fiscalização. [Trecho suprimido por tratar de questão preliminar já enfrentada no início do voto] 3.5. Da multa aplicada A base legal das penalidades aplicadas está contida no art. 44 da Lei nº 9.430/1996, que tem a seguinte redação: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) ... b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no ano calendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. (Incluída pela Lei nº 11.488, de 2007) § 1º O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) Assim, para o agravamento da multa de ofício, conforme previsto no § 1º do art. 44, acima transcrito, deve estar presente o dolo na conduta do sujeito passivo, que é o elemento que se Fl. 4378DF CARF MF 16 relaciona com a consciência e a vontade de agir, presente em todos os tipos penais de que trata a Lei nº 4.502, de 1964 (arts. 71, 72 e 73), ou seja, a vontade de praticar a conduta, para a subseqüente obtenção do resultado. Deve estar claro que a conduta foi praticada conscientemente, voltada a suprimir ou reduzir o pagamento do tributo ou contribuições devidos e a esconder da fazenda pública a ocorrência dos fatos geradores. Esses elementos estão presentes no caso do presente processo. O autuante demonstrou de forma consistente que os integrantes do grupo SP Alimentação buscaram de forma dolosa benefícios tributários, mediante fraude e sonegação fiscal. Para tanto, conforme descrito no termo de verificação fiscal (fls. 793/870), praticaram um conjunto de irregularidades assim resumidas: • alguns fornecedores estavam com as atividades paralisadas, outros desativadas, nos períodos de emissão das notas fiscais; • fornecedores declararam nunca ter operado com a Gourmaitre; • existência de carimbos falsos em nome dos mesmos; • impressão de talonários e notas fiscais junto a Gourmaitre eram inidôneas, visto que não batiam com os dados constantes nos fornecedores; • incompatibilidade entre o que foi fornecido no histórico da operação das notas fiscais e a estrutura que alguns dos fornecedores possuíam; • inexistência de empresa nos endereços cadastrais; • atividades de fornecedor somente no mercado varejista e não atacadista; • adulteração de notas fiscais; • falsificações de dados nos documentos em geral; • inexistência de registros das notas fiscais nos órgãos estaduais; • nos pagamentos a esses supostos fornecedores através de cheques, constatouse que os valores foram na verdade destinados a outras pessoas físicas e jurídicas. Esses fatos configuram, sem dúvida, a conduta dolosa com o propósito de impedir ou retardar, o conhecimento por parte da autoridade fazendária, da ocorrência do fato gerador, ou de excluir ou modificar as suas características, enquadrandose nas hipóteses previstas nos art. 71 (sonegação) e 72 (fraude) da Lei nº 4.502, de 1964. Portanto, devese manter o agravamento da multa de ofício. Com base no parágrafo 3º, art. 57 da Portaria MF 343/2015 (RICARF) adotamos as mesmas razões de decidir para manter a exigência principal, a multa qualificada e as imposições de responsabilidade tributária. Discordamos, porém, da solução dada para as multas isoladas, que passamos a analisar a seguir. Das multas isoladas É de longa data meu posicionamento acerca da aplicação da multa isolada em concomitância com a multa proporcional. Abaixo, reproduzo meu voto, relativo à situação idêntica à presente neste feito, que conduziu o Acórdão nº 120100.235, de 07 de abril de 2010: As regras sancionatórias são em múltiplos aspectos totalmente diferentes das normas de imposição tributária, a começar pela circunstância essencial de que o antecedente das primeiras é composto por uma conduta antijurídica, ao passo que das segundas se trata de conduta lícita. Dessarte, em múltiplas facetas o regime das sanções pelo descumprimento de obrigações tributárias mais se aproxima do penal que do tributário. Fl. 4379DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.372 17 Pois bem, a Doutrina do Direito Penal afirma que, dentre as funções da pena, há a PREVENÇÃO GERAL e a PREVENÇÃO ESPECIAL. A primeira é dirigida à sociedade como um todo. Diante da prescrição da norma punitiva, inibese o comportamento da coletividade de cometer o ato infracional. Já a segunda é dirigida especificamente ao infrator para que ele não mais cometa o delito. É, por isso, que a revogação de penas implica a sua retroatividade, ao contrário do que ocorre com tributos. Uma vez que uma conduta não mais é tipificada como delitiva, não faz mais sentido aplicar pena se ela deixa de cumprir as funções preventivas. Essa discussão se torna mais complexa no caso de descumprimento de deveres provisórios ou excepcionais. Hector Villegas, (em Direito Penal Tributário. São Paulo, Resenha Tributária, EDUC, 1994), por exemplo, nos noticia o intenso debate da Doutrina Argentina acerca da aplicação da retroatividade benigna às leis temporárias e excepcionais. No direito brasileiro, porém, essa discussão passa ao largo há muitas décadas, em razão de expressa disposição em nosso Código Penal, no caso, o art. 3º: Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplicase ao fato praticado durante sua vigência. O legislador penal impediu expressamente a retroatividade benigna nesses casos, pois, do contrário, estariam comprometidas as funções de prevenção. Explico e exemplifico. Como é previsível a cessação da vigência de leis extraordinárias e certo, em relação às temporárias, a exclusão da punição implicaria a perda de eficácia de suas determinações, uma vez que todos teriam a garantia prévia de, em breve, deixarem de ser punidos. É o caso de uma lei que impõe a punição pelo descumprimento de tabelamento temporário de preços. Se após o período de tabelamento, aqueles que o descumpriram não fossem punidos e eles tivessem a garantia prévia disso, por que então cumprir a lei no período em que estava vigente? Ora, essa situação já regrada pela nossa codificação penal é absolutamente análoga à questão ora sob exame, pois, apesar de a regra que estabelece o dever de antecipar não ser temporária, cada dever individualmente considerado é provisório e diverso do dever de recolhimento definitivo que se caracterizará no ano seguinte. Nada obstante, também entendo que as duas sanções (a decorrente do descumprimento do dever de antecipar e a do Fl. 4380DF CARF MF 18 dever de pagar em definitivo) não devam ser aplicadas conjuntamente pelas mesmas razões de me valer, por terem a mesma função, dos institutos do Direito Penal. Nesta seara mais desenvolvida da Dogmática Jurídica, aplicase o Princípio da Consunção. Na lição de Oscar Stevenson, “pelo princípio da consunção ou absorção, a norma definidora de um crime, cuja execução atravessa fases em si representativas desta, bem como de outras que incriminem fatos anteriores e posteriores do agente, efetuados pelo mesmo fim prático”. Para Delmanto, “a norma incriminadora de fato que é meio necessário, fase normal de preparação ou execução, ou conduta anterior ou posterior de outro crime, é excluída pela norma deste”. Como exemplo, os crimes de dano, absorvem os de perigo. De igual sorte, o crime de estelionato absorve o de falso. Nada obstante, se o crime de estelionato não chega a ser executado, punese o falso. No presente processo, as multas isoladas foram aplicadas sobre valor que integrou completamente a base para a autuação de sanções punitivas proporcionais. A autoridade, assim, puniu conjuntamente o descumprimento do dever de antecipar e o de pagar em definitivo sobre idênticas bases. A sanção mais grave, contudo, absorve a outra. Dessarte, voto pela improcedência do lançamento relativo às multas isoladas. No mais, sigo o voto do eminente relator. Da juntada posterior de documentos Há ainda pedido de juntada posterior de documentos. Tal pleito é de possível deferimento, desde que se caracterize caso fortuito, força maior ou vise dialogar com fatos e argumentos introduzidos após o prazo para impugnar. Não há, pois, como se acatar pedidos genéricos. CONCLUSÃO Voto por rejeitar as preliminares suscitadas, para, no mérito, dar provimento parcial com o fito de afastar as multas isoladas. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Fl. 4381DF CARF MF Processo nº 19515.721565/201385 Acórdão n.º 1401002.161 S1C4T1 Fl. 4.373 19 Fl. 4382DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.728600/2011-92
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon Apr 09 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu May 10 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2005
PRELIMINAR. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA.
Em sendo o caso de qualificação da multa, o prazo decadencial para lançamento subsume-se à hipótese do art. 173, I, do CTN, descaracterizando a existência de decadência.
PERMUTA. DESCARACTERIZAÇÃO PARCIAL DA OPERAÇÃO.
Nos contratos firmados pelos particulares onde coexistam várias formas de pagamento, caracteriza-se a permuta apenas em relação às operações onde, inexiste a transferência financeira. A existência de contrato de permuta em que não há avaliação dos bens patrimoniais recebidos e que, dias antes da realização da operação os bens componentes do patrimônio permutado eram exclusivamente recursos financeiros, indica que houve a transformação da compra e venda em operação de permuta para o exclusivo fim de economia tributária.
Há de se reduzir o ganho de capital apurado em contratos do tipo misto apenas à parte dos negócios realizados onde restou caracterizada a compra e venda.
QUALIFICAÇÃO DA MULTA. PROCEDÊNCIA.
Decorre das provas dos autos que, após a celebração de negócio entre as partes, o recorrente atuou no sentido de evitar o pagamento de tributo sobre o ganho de capital da operação ao buscar a efetivação formal de negócio diverso da compra e venda para fugir da incidência tributária. Qualificação que se mantém.
JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE.
Na forma da legislação que trata da atualização monetária de créditos tributários, encontra-se o permissivo para a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA POR SUCESSÃO. PROCEDÊNCIA.
Sendo a responsabilidade apontada nos autos decorrente exclusivamente de sucessão de empresas por diversos tipos de transformação. Mantém-se a responsabilização dos sucessores que absorveram parte do patrimônio vertido.
Numero da decisão: 1401-002.343
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos: a) afastar a arguição de decadência. Vencidos os Conselheiros Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Breno do Carmo Moreira Vieira; b) dar parcial provimento ao recurso para reconhecer a existência de operação de permuta em relação ao recebimento da participação da Onyx 2006 e das ADR's do CBD para, ao final, reduzir o ganho de capital tributável apurado para o valor de R$ 810.693.181,00. Vencido o Conselheiro Daniel Ribeiro Silva; c) negar provimento ao recurso para manter a qualificação da multa de ofício. Vencidos os Conselheiros Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Breno do Carmo Moreira Vieira; d) negar provimento ao recurso em relação à incidência de juros sobre a multa de ofício. Vencidos os Conselheiros Letícia Domingues Costa Braga e Breno do Carmo Moreira Vieira; e) manter a responsabilidade solidária por sucessão. Vencido o Conselheiro Daniel Ribeiro Silva.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Abel Nunes de Oliveira Neto - Relator.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Breno do Carmo Moreira Vieira, Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga e Luiz Rodrigo De Oliveira Barbosa. Ausente momentaneamente a Conselheira Lívia De Carli Germano. Participou do julgamento o Conselheiro Breno do Carmo Moreira Vieira. Declarou-se impedido o Conselheiro Guilherme Adolfo dos Santos Mendes.
Nome do relator: ABEL NUNES DE OLIVEIRA NETO
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DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. Em sendo o caso de qualificação da multa, o prazo decadencial para lançamento subsumese à hipótese do art. 173, I, do CTN, descaracterizando a existência de decadência. PERMUTA. DESCARACTERIZAÇÃO PARCIAL DA OPERAÇÃO. Nos contratos firmados pelos particulares onde coexistam várias formas de pagamento, caracterizase a permuta apenas em relação às operações onde, inexiste a transferência financeira. A existência de contrato de permuta em que não há avaliação dos bens patrimoniais recebidos e que, dias antes da realização da operação os bens componentes do patrimônio permutado eram exclusivamente recursos financeiros, indica que houve a transformação da compra e venda em operação de permuta para o exclusivo fim de economia tributária. Há de se reduzir o ganho de capital apurado em contratos do tipo misto apenas à parte dos negócios realizados onde restou caracterizada a compra e venda. QUALIFICAÇÃO DA MULTA. PROCEDÊNCIA. Decorre das provas dos autos que, após a celebração de negócio entre as partes, o recorrente atuou no sentido de evitar o pagamento de tributo sobre o ganho de capital da operação ao buscar a efetivação formal de negócio diverso da compra e venda para fugir da incidência tributária. Qualificação que se mantém. JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. Na forma da legislação que trata da atualização monetária de créditos tributários, encontrase o permissivo para a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 72 86 00 /2 01 1- 92 Fl. 3279DF CARF MF 2 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA POR SUCESSÃO. PROCEDÊNCIA. Sendo a responsabilidade apontada nos autos decorrente exclusivamente de sucessão de empresas por diversos tipos de transformação. Mantémse a responsabilização dos sucessores que absorveram parte do patrimônio vertido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos: a) afastar a arguição de decadência. Vencidos os Conselheiros Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Breno do Carmo Moreira Vieira; b) dar parcial provimento ao recurso para reconhecer a existência de operação de permuta em relação ao recebimento da participação da Onyx 2006 e das ADR's do CBD para, ao final, reduzir o ganho de capital tributável apurado para o valor de R$ 810.693.181,00. Vencido o Conselheiro Daniel Ribeiro Silva; c) negar provimento ao recurso para manter a qualificação da multa de ofício. Vencidos os Conselheiros Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Breno do Carmo Moreira Vieira; d) negar provimento ao recurso em relação à incidência de juros sobre a multa de ofício. Vencidos os Conselheiros Letícia Domingues Costa Braga e Breno do Carmo Moreira Vieira; e) manter a responsabilidade solidária por sucessão. Vencido o Conselheiro Daniel Ribeiro Silva. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Abel Nunes de Oliveira Neto Relator. Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Breno do Carmo Moreira Vieira, Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Letícia Domingues Costa Braga e Luiz Rodrigo De Oliveira Barbosa. Ausente momentaneamente a Conselheira Lívia De Carli Germano. Participou do julgamento o Conselheiro Breno do Carmo Moreira Vieira. Declarouse impedido o Conselheiro Guilherme Adolfo dos Santos Mendes. Relatório Iniciemos com a transcrição do detalhado relatório da Decisão de Piso. O interessado foi autuado, em 16/06/2011, no IRPJ e CSLL, em razão da não tributação do ganho de capital de R$ 1.300.619.419,00, no anocalendário de 2005, obtido com a venda, com ágio, de ações da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD grupo Pão de Açúcar) ao grupo Casino, tendo sido dado ao negócio a aparência de permuta de ativos sem torna. Compensados o prejuízo fiscal e a base negativa provenientes de períodos anteriores nos Fl. 3280DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.280 3 termos da lei, foi exigido o crédito tributário total de R$ 1.366.760.751,33, incluindo imposto, contribuição, multas de 150% e juros de mora calculados até 31/05/2011, tendo sido atribuída responsabilidade tributária solidária a sete pessoas jurídicas, a saber (fls. 1 a 1439): O Termo de Verificação Fiscal (TVF), de fls. 1325 a 1378, reporta, em resumo, os seguintes fatos a respeito da alienação de ações, com ágio, feita pelos antigos controladores (grupo de empresas de Abílio Diniz) da Companhia Brasileira de Distribuição CBD (Pão de Açúcar) ao grupo francês Casino, que assim se tornou o novo controlador: 1 cabe explicar, de início, que a Rio Plate, CNPJ 07.274.029/000100, do grupo de empresas de Abílio Diniz, foi incorporada, em 30/11/2006, pela Supercred Assessoria e Serviços Ltda, CNPJ 43.653.591/000109, do mesmo grupo, e a sucessora, na mesma data, adotou a razão social da sucedida, de modo que a primeira será aqui identificada como “velha” Rio Plate, e a sucessora, a fiscalizada, como “nova” Rio Plate; 2 a CBD informou que: a) foi reconhecido cerca de 1,3 bilhão de reais de ágio em decorrência de permuta de ativos, efetuada em 8 de julho de 2005, entre o grupo Diniz e o grupo Casino, atuando o primeiro por intermédio da “velha” Rio Plate e o segundo por intermédio da Masmanidis Participações Ltda, CNPJ 07.077.447/000108; e, b) os ativos trocados e os valores que ensejaram o reconhecimento do ágio pela Masmanidis, depois levado para a CBD, foram os seguintes: 3 a “nova” Rio Plate confirmou esses dados, com pequena diferença qualitativa: Fl. 3281DF CARF MF 4 4 em resumo: o grupo Casino, que detinha metade das ações da Vieri (controladora da CBD), em troca da outra metade das ações da Vieri, que representava a titularidade de 20,3 bilhões de ações ON da CBD, escrituradas por cerca de 804 milhões de reais, cedeu à “velha” Rio Plate, por meio da Masmanidis, ativos no valor de cerca de 2,1 bilhões de reais, que consistiam em: a) participações societárias: Zabaleta (R$ 940.000.000); Onyx 2007 (R$ 60.000.000); Geant Fin (R$ 473.300.322); Onyx 2006 (R$ 519.760.368); e, b) ADRs representativos de 12,5 bilhões de ações preferenciais da CBD (R$ 112.207.413); 5 a ficha 48 da DIPJ do anocalendário de 2005 da “velha” Rio Plate mostra as participações societárias por ela detidas: 6 notese que a “velha” Rio Plate detinha, no final de 2005, quase todos os ativos recebidos da Masmanidis, a saber: Geant Fin (já com participação apenas simbólica), Zabaleta, Onyx 2006 e Onyx 2007); a DIPJ mostra apenas a receita de equivalência patrimonial no valor de R$ 75.598.852,91 e não aponta qualquer ganho de capital; 7 a “nova” Rio Plate apresentou cópias dos livros Diário, Razão e LALUR, de 2005 e 2006, nas quais: a) a conta Investimentos, no balancete de 01/2006, tinha R$ 802.774.591,51 de saldo inicial, embora constasse R$ 1.963.499.554,50 e R$ 1.160.724.962,59, em participações e deságio, respectivamente, como saldos da mesma conta em 12/2005, no mesmo balancete; Fl. 3282DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.281 5 b) o Diário Geral da “nova” Rio Plate (01/09/2006 a 31/12/2006) traz os deságios da Zabaleta, de R$ 718.057.055,12, e da Onyx 2006, de R$ 442.667.907,47, cuja soma resulta no deságio total registrado desde janeiro de 2006, de R$ 1.160.724.962,59, também informados na DIPJ do ano calendário de 2005 da “velha” Rio Plate; 8 os elementos pareciam indicar que a “velha” Rio Plate reconhecera contabilmente como permuta sem torna a transação com a Masmanidis: troca de 50% das ações da Vieri por 100% das quotas da Zabaleta, da Onyx 2006 e da Onyx 2007, 100% das ações da Geant Fin, bem como os ADRs da CBD; assim, não haveria que se falar em ganho de capital; 9 a soma dos deságios da Zabaleta e da Onyx 2006, de R$ 1.160.724.962,59, aproximase do ágio informado pela CBD, de R$ 1.300.619.420; 10 a respeito dos atos societários da Masmanidis, “velha” Rio Plate, Zabaleta, Onyx 2007, Onyx 2006 e Geant Fin, cabe destacar que: a) a Masmanidis, criada em 18/10/2004, por Textar Participações e Pacaembú Serviços e Participações, com R$ 100,00 de capital, foi transferida, em 14/06/2005, à Segisor (empresa francesa do grupo Casino), que o aumentou em R$ 473.300.221,56, por meio de conferência, em 05/07/2005, de todas as ações da Geant Financiera S.A (Geant Fin), do Uruguai, por ela já detidas; seu capital foi ainda aumentado no valor de mais R$ 1.519.760.368,00, por meio de conferência de todas as quotas da Onyx 2006, Onyx 2007 e Zabaleta, respectivamente, nos valores de R$ 519.760.368, R$ 60.000.000 e R$ 940.000.000; além disso, seu capital foi aumentado em mais R$ 112.207.413,33, em 07/07/2005, integralizado por Segisor com 2.236.310 mil ADRs que representavam ações preferenciais da CBD, completandose os ativos recebidos por Masmanidis da Segisor, que depois foram cedidos à “velha” Rio Plate na operação em tela; b) quanto à “velha” Rio Plate, seus atos societários não mostram que ela detinha as ações da Vieri cedidas na operação em tela; só o Livro de Registro de Ações Nominativas da Vieri, apresentado pela CBD, comprova que a “velha” Rio Plate detinha, por meio da Vieri, as ações ON (10.187.500.000) e PN (10.125.000.000) da CBD; aliás, esse Livro mostra que as ações da Vieri negociadas com a Masmanidis entraram e saíram da “velha” Rio Plate no mesmo dia; c) a Zabaleta, cujo objeto era participar de outras sociedades, foi criada por Texpar Participações (R$ 99,00) e Pacaembú Serviços e Participações (R$ 1,00), ambas no mesmo endereço, ficando inativa no anocalendário de 2004; em 14/06/2005, a Segisor ingressou na sociedade, integralizando R$ 939.999.900 no capital, ao qual foi acrescido R$ 100,00 proveniente da cessão das quotas até então detidas por Texpar e Pacaembú; assim, Segisor passa a deter todas as quotas, no total de 940 milhões de reais, que, em 05/07/2005, são transferidas, integralizadas em dinheiro, à Masmanidis; assim, três dias depois de a Zabaleta tornarse controlada da Masmanidis, ela Fl. 3283DF CARF MF 6 é negociada com a “velha” Rio Plate, por ações da Vieri, na operação em tela; d) a Onyx 2007 foi criada em 31/05/2005 e seus sócios se retiram em 09/06/2005, ingressando a Segisor, que, em 04/07/2005, integraliza R$ 60.000.000 no capital, "em moeda nacional", sendo transferida à Masmanidis, em 05/07/2005, e repassada à “velha” Rio Plate três dias depois, na operação em tela; e) a Onyx 2006, criada em 31/05/2005 com capital de R$ 100,00, teve seu primeiro registro na JUCESP apenas em 17/02/2006 (após a transação com o Casino), no qual constam como sócios a “velha” Rio Plate (R$ 519.760.367,00) e Abílio Diniz (R$ 1,00); segundo os atos que haviam sido apresentados, seu capital foi aumentado em R$ 309.721.115,00, em 09/06/2005, integralizado com 6.072.982.639 de ações PN da CBD que correspondiam ao acervo líquido decorrente da cisão da SPICE; com exceção de três quotas (R$ 1,00 cada), a Segisor detinha então 309.722.112 quotas do capital, no total de R$ 309.722.112,00; em 05/07/2005, seu capital foi aumentado em R$ 210.038.253,00, integralizado pela Segisor com 4.190.707.361 de ações PN da CBD, de modo que do seu capital eram detidos pela Segisor R$ 519.760.365,00, tendo outros três sócios uma quota de R$ 1,00, que, em 04/07/2005, são cedidas à Segisor, que no dia seguinte as transfere, todas, à Masmanidis, que as transfere à “velha” Rio Plate três dias depois, na operação em tela; f) quanto à Geant Fin, a Masmanidis informou, na sua 2ª alteração contratual, de 05/07/2005, que teve seu capital social integralizado com ações da Geant Fin S.A pela Segisor, avaliadas por R$ 473.300.322.00; conforme ato traduzido e arquivado em 06/07/2005 na JUCESP; em 20/05/2005, a Geant Fin teve seu capital social aumentado de US$ 5.000 para US$ 200.000.000; o documento traduzido aponta que há um comprovante bancário de um depósito de US$ 200.000.000, feito em 28/06/2005, em nome de "Geant Financiera S.A.", no Citibank de Nova Iorque, conta nº 36833282; 11 a respeito dos laudos de avaliação, realizados em 05/07/2005 (30/06/2005, no caso da Geant) cabe destacar que: a) quanto à Zabaleta, seu patrimônio líquido foi avaliado a valor contábil com base em balancete de 05/07/2005, que não mostra passivo exigível, sendo seu ativo constituído apenas por uma conta corrente com saldo de 940 milhões de reais; b) a Onyx 2007 também não possuía passivo exigível e seu único ativo era uma conta corrente com saldo de 60 milhões de reais; c) a Geant Fin possuía USS 200.000.000, em 28 de junho de 2005; d) a Onyx 2006 não possuía passivo exigível, sendo seus bens e direitos representados por 10.263.690.000 de ações preferenciais da CBD, no valor de R$ 519.760.368,00, sendo o investimento registrado pelo custo de aquisição; assim, esse era o valor do seu patrimônio líquido, em 05/07/2005; Fl. 3284DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.282 7 e) quanto aos ADRs, o laudo (07/07/2005) aponta que a Segisor detinha 2.236.310 mil ADRs que representavam 2.236.310.000 de ações preferenciais da CBD, cujo critério de valoração foi o preço dos ADRs no fechamento do pregão de 22/06/2005, na Bolsa de Nova Iorque, que foi US$ 20,95 cada, de modo que os ADRs foram avaliados por US$ 46.850.694,50, correspondentes a R$ 112.207.413,00, utilizados pela Segisor para integralizar o capital da Masmanidis; 12 a situação patrimonial das empresas avaliadas, quando da integralização de capital feita na Masmanidis, pode ser assim resumida, a teor dos respectivos laudos: a) a Zabaleta, sem passivo exigível, tinha como único ativo uma conta corrente com saldo de R$ 940.000.000,00; b) a Onyx 2007, sem passivo exigível, tinha como único ativo uma conta corrente com saldo de R$ 60.000.000,00; c) a Geant tinha como único ativo um saldo de pouco mais de US$ 200.000.000 e passivos insignificantes; d) a Onyx 2006 tinha como único ativo 10.263.690.000 de ações preferenciais da CBD, avaliadas por R$ 519.760.368,00, sem passivo exigível. O TVF traz os seguintes fatos adicionais, análises e conclusões: 1 a contabilização de uma permuta sem torna de participações societárias sujeitas ao método de equivalência patrimonial é feita escriturando o ágio pago no investimento, que corresponde ao deságio escriturado no investimento da parte que recebeu o ágio; ou seja: o que seria o ganho de capital do vendedor no caso de compra e venda deve ser escriturado como deságio, no caso de permuta sem torna, cuja consequência tributária é diferente da de uma compra e venda; nesta, o fato gerador do ganho de capital surge no momento da transação; no caso da permuta, o ganho de capital fica diferido como deságio e o fato gerador só se dará nas condições do art. 386 do RIR/99; 2 a doutrina transcrita é pacífica sobre as diferenças entre “permuta” e “compra e venda”, a saber, no que é relevante para o caso: a) na permuta, não há preço e não há dinheiro envolvido; há apenas troca de coisas, sendo irrelevante se os valores das coisas são iguais ou não; já se um dos contraentes paga parte em dinheiro e parte em coisa, o contrato tanto pode ser de permuta, como de compra e venda; pelo critério objetivo do maior valor, será compra e venda se a parte em dinheiro (“torna”) for superior; pelo critério subjetivo, vale a intenção das partes, pouco importando o nome dado ao contrato; um terceiro critério defende que quando há permuta de bens de valores desiguais, o contrato deve ser tido como permuta, salvo se o valor em dinheiro exceder tanto o valor da coisa, Fl. 3285DF CARF MF 8 que evidencia que o dinheiro é o mais importante para as partes; ou seja, a desigualdade de valor só desfigura a permuta se a “torna” vale mais que a coisa; os objetos da permuta são dois bens, de modo que se uma das partes, presta um serviço em vez de dar coisa, não há troca; esta corresponderia a uma dupla venda; b) na compra e venda: há, necessariamente, pagamento em dinheiro; 3 a aplicação da doutrina ao caso deixa claro que o contrato não foi de permuta, mas, sim, de compra e venda, tanto pelo critério objetivo quanto pelo subjetivo, pois os atos praticados pela “velha” Rio Plate revelam o desejo de ocultar sob a aparência de permuta sem torna o surgimento do fato gerador do ganho de capital decorrente da venda do controle acionário da CBD, razão pela qual a operação formalizada como permuta há que ser descaracterizada; 4 além disso, não há no contrato de “permuta” qualquer referência à vinculação entre os ativos cedidos e os recebidos, ou seja, nada mostra por que as quotas da Zabaleta foram trocadas por 5.602.917.000 de ações da Vieri; as da Onyx 2007 por 357.633.000 de ações da Vieri; as ações da Geant Fin por 10.125.000.000 de ações PN e 641.262.368 de ações ON da Vieri e assim por diante; 5 e ademais, os atos arquivados na JUCESP e os laudos de avaliação mostram que foram utilizadas pessoas jurídicas (Zabaleta, Onyx 2007 e Geant Fin) para dar a aparência de participações societárias ao que era, na verdade, dinheiro; recapitulando: a) o laudo da Zabaleta revela que seu único ativo era o depósito de R$ 940 milhões, na conta corrente n° 1554123, agência n° 001 do Banco Citibank., e que não possuía quaisquer passivos; b) o laudo da Onyx 2007 revela que seu único ativo era o depósito de R$ 60 milhões na conta corrente n° 1554131 do Citibank, agência n° 001, e que não possuía quaisquer passivos; c) ou seja: o pagamento de R$ 1 bilhão referido no Fato Relevante de 04/05/2005 e nos parágrafos 6 e 7 da Oferta Pública foi travestido de participações societárias na Zabaleta (R$ 940 milhões) e na Onyx 2007 (R$ 60 milhões), cabendo lembrar que a Zabaleta permaneceu inativa desde a sua criação em 2004 e só em 14/06/2005 (24 dias antes da "permuta"), teve seu capital integralizado; jamais teve funcionários e nem operação, limitandose a aplicar em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI’s); apesar de ter CNAE de holding, jamais investiu em participações societárias; o mesmo se deu com a Onyx 2007, pois iniciou suas atividades no dia da operação em tela (08/07/2005) e foi incorporada, em 30/07/2006, pela Onyx 2006; jamais teve funcionários e restringiuse a auferir rendimentos de aplicação financeira do pagamento recebido; apesar de ter CNAE de holding, jamais investiu em participações societárias; d) não foi diferente com a Geant Fin, pois os parágrafos 60 e 61 dos atos societários e o parágrafo 70 do laudo indicam que se tratava, também ela, de dinheiro travestido de participação societária, tendo sido utilizada apenas Fl. 3286DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.283 9 para ocultar o pagamento feito no exterior de US$ 200 milhões; recapitulando: a Geant praticamente possuía como único ativo, na época da transação, o depósito bancário de 200 milhões de dólares (conta corrente nº 36833282 do Citibank de Nova York); o passivo era irrisório, conforme balanço de 29/06/2005; não tinha estoque, cliente, equipamento, investimento, participação societária, terreno ou prédio; ainda que tivesse operado antes da transação em tela, nada existia em seu ativo, em 08/07/2005, a não ser o depósito bancário; notese que o parágrafo 6 do Fato Relevante de 04/05/2005 aponta que os USS 200 milhões “poderão ser reinvestidos em participação acionária no grupo Casino”; e consta no texto explicativo da oferta pública que os "US$ 200.000.000,00, equivalentes a R$ 473.660.000,00", convertidos pela PTAX de venda de 08/07/2005, foram pagos pelo Casino; corrobora o fato de que houve o efetivo pagamento a informação no próprio domínio da CBD na Internet (“gpari.com.br”), mais especificamente na nota 15 (b) da versão do relatório de informações trimestrais (ITR), data base de 30/09/2005, em inglês, cujo excerto mais relevante é o seguinte: “(b) Joint venture wilth Casino Group (...) The Casino Group made payments in cash to the Diniz Group for USS 200 million and R$ 1,029,000 to purchase 60 properties from CBD. (…)” (grifouse) 6 também o relatório 20F do exercício findo em 31/12/2004 da CBD, arquivado na SEC (Securities and Exchange Commission, equivalente norte americana da CVM), consultado em “google.brand.edgaronline. com”, e disponibilizado em português na CVM, revela que os US$ 200 milhões e o R$ 1 bilhão foram pagos à vista: “(…) The Casino group has made cash payments to the Diniz group of USS 200 million (which may be reinvested in an equity interest in the Casino group) and R$ 1 billion (which will be used to purchase 60 real estate properties from CBD, as described below). …." (grifouse) 7 a respectiva tradução seria: “O Grupo Casino efetuou pagamentos à vista ao Grupo Diniz de USS 200 milhões (que poderão ser reinvestidos em participação societária no Grupo Casino) e R$ 1 bilhão (que será usado para a compra de 60 imóveis da CBD, conforme descrito abaixo) ....” 8 as expressões “payments in cash” e "The transaction was financially settled on July 8, 2005" demonstram que os dois pagamentos foram feitos em dinheiro; mas essas informações sobre o pagamento em dinheiro e a respectiva liquidação financeira não constam do relatório trimestral traduzido para o português, no qual nada consta a respeito dos 200 milhões de dólares, como se verifica em “cbdri. com.br/port/download/itr/itr_3tri05.pdf”; ou Fl. 3287DF CARF MF 10 seja: a informação sobre os USS 200 milhões utilizados na liquidação financeira não consta do que deveria ser mera tradução para o português, não sendo plausível supor que tenha sido erro ou esquecimento; 9 assim, retirando a casca que encobria os recebimentos em dinheiro, verificase que a doutrina autoriza descaracterizar a permuta em face da prova (sem prejuízo dos demais indícios) de que a operação foi de compra e venda, conforme o critério objetivo do maior valor, pois há enorme desproporção entre dinheiro e bens, visto que Zabaleta, Onyx 2007 e Geant Fin representam R$ 1.473.300.322 em dinheiro, correspondente a 70% do total da operação; além disso, a doutrina também autoriza sustentar que em permuta não há estipulação de preço, diferentemente do que se vê no Acordo de Associação (Anexo 4 (b) (3) do Formulário 20F arquivado na CVM), de 03/05/2005, no qual há estipulação de preço, no "Capítulo III A Transação Principal e o Preço", à página 13 do Acordo, como segue: “Capítulo III A Transação Principal e o Preço 3.1. Em contrapartida ao fato de Casino ou uma ou mais de suas Afiliadas tornaremse proprietários das Ações da Empresa Holding, Casino pagará e/ou entregará ou fará com que uma ou mais de suas Afiliadas paguem e/ou entreguem ao Grupo AD, na Data de Fechamento, a titulo de preço de compra (o “Preço de Compra”): a) US$ 200.000.000 ..., da forma e modo a serem acordados até a Data de Fechamento; e b) R$ 1.000.000.000,00 ..., ficando neste ato ... entendido e acordado que o valor acima será entregue em última instância por Casino à CBD, em nome e por conta do Grupo AD, como parte do preço a ser pago pelo Grupo AD à CBD, nos termos do contrato referido na Cláusula 2.2(e) (iii) do ... Acordo, e da forma e modo a serem acordados até a Data de Fechamento; e c) 12.500.000.000 ... de Ações Preferenciais emitidas e em circulação da CBD, da forma e modo a serem acordados até a Data de Fechamento.” 10 notese, também, que a fiscalizada não apresentou os laudos de avaliação da Zabaleta, Onyx 2006, Onyx 2007 e Geant, respondendo, em relação às três primeiras que "por se tratar de permuta de ativos realizada com base em valores patrimoniais, ... não era necessária a emissão de laudos de avaliação'' (Doc. 59); quanto ao laudo da Geant Fin, informou que "não há vínculo societário entre a ... fiscalizada Rio Plate e Masmanidis. Em função disso, a ... Rio Plate não dispõe desses laudos ...'' (Doc. 107); 11 ora, como sucessora da “velha” Rio Plate, que recebeu essas "participações", a fiscalizada não poderia apresentar tais alegações, pois: a) os laudos existiam e já haviam sido entregues pela CBD; e b) não se perguntou sobre seu vínculo com a Masmanidis; 12 faz parte de qualquer “due diligence” procedimento que esmiuça a situação patrimonial das empresas e dos ativos em negociação a confecção de laudos para avaliar o patrimônio líquido das empresas objeto de grandes Fl. 3288DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.284 11 operações societárias; assim, a afirmação de que os laudos não existiam revela que a fiscalizada: a) desconhecia que os laudos já estavam com a fiscalização; e b) tinha a intenção de omitir informação relevante para a conclusão de que havia tributos devidos decorrentes da transação em tela, que deve ser interpretada como compra e venda, inclusive conforme o Acórdão n° 151.432, do antigo CC; eis sua ementa: “(...) PRELIMINAR DECADÊNCIA EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE. Nos tributos lançados por homologação, estando presente o evidente intuito fraudulento, a contagem do prazo decadencial se desloca daquele previsto no parágrafo 4º do artigo 150, para a estabelecida no artigo 173, I, ambos do Código Tributário Nacional. SIMULAÇÃO. EFEITOS JURÍDICOS. Caracterizada a simulação, os atos praticados com o objetivo de reduzir artificialmente os tributos não são oponíveis ao fisco, que pode desconsiderá los. DESCARACTERIZAÇÃO DE OPERAÇÃO DE PERMUTA VERDADEIRA ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO. Comprovado que os atos formalmente praticados, analisados pelo seu todo, demonstram não terem as partes outro objetivo que não se livrar de uma tributação específica, e seus substratos estão alheios às finalidades dos institutos utilizados ou não correspondem a uma verdadeira vivência dos riscos envolvidos no negócio escolhido, tais atos não são oponíveis ao fisco, devendo merecer o tratamento tributário que o verdadeiro ato dissimulado produz. Permuta de participação societária por dinheiro, traduz verdadeira alienação de participação societária e não permuta. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICAÇÃO. Presente o evidente intuito de fraude é correta a qualificação da multa de ofício aplicada, no percentual de 150%. (...)” 13 o ganho de capital auferido pela “velha” Rio Plate, de R$ 1.300.619.419, corresponde à diferença entre o valor dos ativos recebidos, de R$ 2.105.268.103, e o valor patrimonial das ações da Vieri cedidas, de R$ 804.648.684; eis a base legal dos lançamentos: a) IRPJ: arts. 247, 248, 251 e parágrafo único, 418 e 426, todos do RIR/99; e, b) CSLL: art. 2º da Lei n° 7.689/88; art. 1º da Lei n° 9.316/96 e art. 28 da Lei n° 9.430/96; art. 37 da Lei n° 10.637/02; 14 a transação entre a “velha” Rio Plate e a Masmanidis foi formalizada sob o manto de permuta, para que a primeira se furtasse ao pagamento dos tributos sobre o ganho de capital auferido na compra e venda; o artificialismo Fl. 3289DF CARF MF 12 empregado conduz à aplicação da multa qualificada, pois o art. 72 da Lei n° 4.502/64 assim define: “Art . 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a evitar ou diferir o seu pagamento.” 15 comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, o prazo decadencial passa a ser contado nos moldes do inciso I do art. 173 do CTN, que se esgota em 31/12/2011. O TVF aponta os arts. 129 e 132 e parágrafo único do CTN, assim como o art. 207, inciso III, o RIR/99, além de jurisprudência administrativa e judicial, como base para lançar o crédito tributário (inclusive multa qualificada) contra a “nova” Rio Plate, como sucessora por incorporação da “velha” Rio Plate, como segue. O art. 129 do CTN diz que: “SEÇÃO II Responsabilidade dos Sucessores Art. 129. O disposto nesta Seção aplicase por igual aos créditos tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data.” (grifouse) E o art. 132 do CTN diz que: “Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplicase aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.” No mesmo sentido, o art. 207, inciso III, do RIR/99: “Art. 207. Respondem pelo imposto devido pelas pessoas jurídicas transformadas, extintas ou cindidas (Lei nº 5.172, de 1966, art. 132, e DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 5º): (...) III a pessoa jurídica que incorporar outra ou parcela do patrimônio de sociedade cindida;” Fl. 3290DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.285 13 No caso em tela, impõese à incorporadora responder também pelas multas aplicáveis em função do descumprimento de deveres legais por parte da incorporada, ainda que cominadas após o evento sucessório, pois: 1 tanto a incorporada ("velha" Rio Plate) quanto a incorporadora ("nova" Rio Plate) estavam sujeitas ao mesmo controlador à época da incorporação, Abílio Diniz; portanto, não havia desconhecimento por parte da incorporadora dos atos ilícitos praticados pela incorporada e do passivo (aqui entendido lato sensu) desta, o que autoriza responsabilizar a sucessora pelas infrações imputadas à sucedida, conforme jurisprudência administrativa transcrita; 2 o art. 129 do CTN inaugura a Seção II (Responsabilidade dos Sucessores) do Capítulo V (Responsabilidade Tributária) do CTN e é inegável que dirige a responsabilidade tributária aos créditos tributários, sendo certo que, na acepção técnica, créditos tributários abarcam não só tributos, mas também eventuais multas; 3 apesar de o art. 132 do CTN se referir a tributos, a interpretação sistemática do dispositivo conduz à conclusão de que a responsabilidade dos sucessores alcança também as sanções imponíveis aos sucedidos, ainda que impostas após o evento sucessório, conforme jurisprudência administrativa e judicial transcritas. Por fim, o TVF traz os fatos, análises e conclusões que deram causa às imputações de responsabilidade tributária aos seguintes sujeitos passivos solidários: 1 em 30/08/2007, a Península Participações Ltda, única sócia da “nova” Rio Plate, deliberou: a) cindir parcialmente a “nova” Rio Plate e verter parcela do seu patrimônio, no valor de R$ 284.224.798,00, para uma nova sociedade criada para esse fim, a Rio Ceny Empreendimentos e Participações Ltda (Rio Ceny), de CNPJ 09.591.023/000192; b) o laudo de avaliação do patrimônio líquido da “nova” Rio Plate aponta que essa parcela correspondia ao valor registrado na Zabaleta como investimento subtraído do deságio, respectivamente, R$ 1.002.281.853,13 e R$ 718.057.055,12; Fl. 3291DF CARF MF 14 c) dessa forma foram transferidas à Rio Ceny as quotas do capital da Zabaleta, pelo seu valor contábil (balanço de 31/07/2007), resultando em redução do capital da “nova” Rio Plate, de R$ 850.835.398,00 para R$ 566.610.600,00; 2 embora a cisão não seja uma das operações do art. 132 do CTN , pois, à época da edição do CTN, a cisão ainda não era estritamente prevista na legislação comercial, sem dúvida ela é uma modalidade de "mutação empresarial", razão pela qual deve ser tratada como as demais espécies de sucessão, conforme doutrina e jurisprudência administrativa e judicial; 3 o art. 5° do Decretolei nº 1.598/77 (art. 207 do RIR/99) diz que: “Responsáveis por Sucessão Art 5º Respondem pelos tributos das pessoas jurídicas transformadas, extintas ou cindidas: I a pessoa jurídica resultante da transformação de outra; II a pessoa jurídica constituída pela fusão de outras, ou em decorrência de cisão de sociedade; III a pessoa jurídica que incorporar outra ou parcela do patrimônio de sociedade cindida; IV a pessoa física sócia da pessoa jurídica extinta mediante liquidação que continuar a exploração da atividade social, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual; V os sócios com poderes de administração da pessoa jurídica que deixar de funcionar sem proceder à liquidação, ou sem apresentar a declaração de rendimentos no encerramento da liquidação. § 1º Respondem solidariamente pelos tributos da pessoa jurídica: a) as sociedades que receberem parcelas do patrimônio da pessoa jurídica extinta por cisão; b) a sociedade cindida e a sociedade que absorver parcela do seu patrimônio, no caso de cisão parcial; c) os sócios com poderes de administração da pessoa extinta, no caso do item V.” 4 portanto, a “nova” Rio Plate e a Rio Ceny respondem solidariamente pelos tributos devidos pela cindida (“nova” Rio Plate), no que concerne a obrigações tributárias surgidas até a data da cisão; tal responsabilidade se estende às multas, pois cindida e cindenda permaneceram sob o controle da Península Participações Ltda; os fundamentos que conduzem à conclusão de que a Rio Ceny também é responsável pelas multas imputadas à cindida são os mesmos que foram aplicados para lançar o crédito tributário (inclusive as multas) contra a “nova” Rio Plate; 5 a 9ª alteração do contrato social, de 28/02/2009, mostra que a Zabaleta incorporou a responsável solidária Rio Ceny, sucedendo, portanto, a Rio Ceny em todos os seus bens, direitos e obrigações; Fl. 3292DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.286 15 6 além disso, as duas sociedades estavam sujeitas ao controle das mesmas pessoas físicas (controle direto, no caso da Rio Ceny, e indireto, no caso da Zabaleta), como demonstra o Anexo I da referida alteração; tais pessoas físicas eram: a) Abílio dos Santos Diniz; b) João Paulo Falleiros dos Santos Diniz; c) Ana Maria Falleiros dos Santos Diniz D'Ávila; d) Pedro Paulo Falleiros dos Santos Diniz; e) Adriana Falleiros dos Santos Diniz; 7 a 10ª alteração do contrato social da Zabaleta, de 28/10/2009, aponta a sua cisão parcial, com a versão de seis parcelas iguais do seu acervo líquido para as seguintes empresas: a) Papanicols Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ 10.499.756/000180; b) Chapelco Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ 10.521.183/0001 44; c) Ganesh Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ 10.458.536/000109; d) Santa Juliana Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ 10.551.586/000136; e) Naidiá Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ 10.665.857/000184; f) Ayann Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ 10.499.734/000110; 8 o item 5.2 do Protocolo e Justificação de Cisão Parcial da Zabaleta previa que: “5.2. As Novas Sociedades incorporarão as parcelas cindidas da Zabaleta, assumindo os respectivos ativos e os passivos descritos no item 5.3 abaixo, sucedendo, portanto, a Zabaleta unicamente em tais direitos e obrigações relacionados no item 5.3 abaixo, sem solidariedade com a Zabaleta, nos termos do artigo 233, Parágrafo Único, da Lei n° 6.404 /76.” 9 é certo que tal disposição pactuada entre as partes não é oponível à Fazenda Nacional, a teor do art. 123 do CTN: “Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.” 10 assim, convenções particulares não têm o condão de modificar a definição do sujeito passivo, vez que essa definição abarca a de responsável tributário (art. 121 do CTN), sendo inegável que a cláusula (Item 5.2 do referido Protocolo) não pode ser suscitada em detrimento da Fazenda Nacional; 11 portanto, nos termos dos arts. 124, 129 e 132 do CTN, c/c art. 5º do Decretolei n° 1.598/77, essas seis empresas são responsáveis tributárias Fl. 3293DF CARF MF 16 solidárias pelo crédito tributário da Zabaleta, originado de fatos ocorridos até a data da cisão parcial, de forma que além da própria Zabaleta, elas também são responsáveis solidárias pelo crédito tributário da “velha” Rio Plate que é ora lançado; foram formalizados a representação fiscal para fins penais (processo n° 10880.728603/201126) e o arrolamento de bens e direitos (processo n° 10880.728602/201181) em virtude, respectivamente, da Portaria RFB n° 2.439/2010 e da IN RFB n° 1.088/2010; 12 em resumo: a “nova” Rio Plate sofreu uma cisão parcial pela qual o investimento que ela detinha na Zabaleta foi vertido para a Rio Ceny (constituída para esse fim), o que tornou a Rio Ceny responsável solidária; em seguida, a Rio Ceny foi incorporada pela Zabaleta (incorporação reversa), o que tornou a Zabaleta responsável solidária; em seguida, a Zabaleta sofreu uma cisão parcial, com a versão de parcelas do seu acervo líquido para seis pessoas jurídicas Papanicols, Chapelco, Ganesh, Santa Juliana, Naidiá e Ayann o que as tornou responsáveis solidárias. Os fundamentos legais da autuação constam nos autos de infração (fls. 1379 a 1394) e os do IRPJ (fls. 1379 a 1384) são os seguintes: arts. 247, 248, 251 e parágrafo único, 418 e 426, todos do RIR/99. Os demonstrativos da compensação de prejuízos fiscais e bases negativas constam às fls. 1395 e 1396. FAPLI e FACS constam às fls. 1437 e 1438. As intimações da autuação, o Termo deArrolamento de Bens e Direitos, os Termos de Sujeição Passiva Solidária, assim como os respectivos ARs constam às fls. 1397 a 1436. A “nova” Rio Plate apresentou impugnação, em 14/07/2011 (fls. 1452 a 1507), por meio de seus advogados (fls. 1508 a 1528), acompanhada de elementos (fls. 1529 a 1708). Eis o resumo de seus argumentos: 1 o princípio da verdade material foi violado, pois a investigação se limitou à análise isolada das informações de: a) laudos de avaliação da Zabaleta, Onyx 2007 e Geant Fin; b) fatos relevantes publicados; e c) certas notas explicativas das demonstrações financeiras da CBD; 2 mas os documentos contábeis apresentados ou disponíveis (Diário e Razão) não podiam ser ignorados, pois fazem prova a favor do contribuinte; mas a fiscalização construiu fatos para justificar suposta compra e venda e consequente ganho de capital, cabendo notar que as informações: a) dos laudos de avaliação da Zabaleta, Onyx 2007 e Geant Fin (não entregues pela “velha” Rio Plate) já não refletiam as situações patrimoniais, por ocasião da permuta; b) das demonstrações financeiras, ainda que públicas, isoladamente, não provam a ocorrência de compra e venda; Fl. 3294DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.287 17 3 “... o que ... ocorreu conforme a real intenção das partes foi ... permuta ...” (sic), pois a verdade material é que antes da permuta foram alteradas as composições patrimoniais das empresas detidas pela Masmanidis, essenciais para reduzir a dívida da CBD e para a família Diniz obter participações em empresas possuidoras de direitos creditórios quitáveis com imóveis ou créditos imobiliários; tais alterações foram constituídas de adiantamentos de recursos financeiros, como segue: a) o primeiro, de R$ 29 milhões, em favor da Zabaleta, feito pelo Sr. Abílio Diniz (doc. anexo); b) o segundo, de R$ 60 milhões, em favor da Zabaleta, feito pela Onyx 2007, devidamente escriturado, que assim passou a deter não mais dinheiro, mas, sim, um direito creditório (docs. anexos); c) o terceiro, “operação ... entre a Zabaleta e a CBD, ... de R$ 1.029.000.000,00 ..., a ser liquidada unicamente com (i) imóveis, (ii) créditos da venda a prazo de imóveis, (iii) ações de empresa imobiliária ou (iv) ... ("CRl") (doc. anexo); com isso, “... a Zabaleta também passou a registrar em seu patrimônio, em julho de 2005, não mais dinheiro, mas, sim, um direito creditório contra a CBD, conforme ... balancete do mês de julho de 2005 ... e ... registros contábeis da Zabaleta (docs. anexos); 4 também antes da permuta, a Geant Fin emprestou US$ 200 milhões à Geant Internacional BV, de forma que no momento da permuta essa sociedade já não mais detinha "dinheiro vivo", mas, sim, um direito creditório que “foi liquidado pela entrega de TBill's com prazo de inalienabilidade de dois anos” (doc. anexo); 5 assim, provase, principalmente pelos documentos contábeis ora acostados, que quando se deu a permuta, a Zabaleta, a Onyx 2007 e a Geant Fin já não mais detinham "dinheiro vivo", mas, sim, direitos creditórios; portanto, não preponderando o dinheiro na transação, deuse, sim, a permuta; 6 além disso, o contexto não foi analisado (não se analisou o "filme" e sim uma "foto"), pois: a) após a permuta, em 10/2005, a CBD vendeu imóveis por R$ 1.029.000.000,00 (documento anexo a título exemplificativo) a um Fundo Imobiliário, sendo que, “de acordo com esse contrato de compra e venda, o valor seria pago pelo Fundo Imobiliário à CBD em 240 ... parcelas.”, passando a deter um direito creditório; b) em seguida, a CBD cedeu o crédito a uma Securitizadora (art. 8º da Lei n° 9.514/97), em troca de CRI's (art. 6º da Lei n° 9.514/1997); c) depois, a CBD transferiu esses CRI's à Zabaleta, quitando o empréstimo; ou seja, a partir de 11/2005, a Zabaleta passou a deter não mais um crédito em face da CBD, mas sim CRI's, conforme “fls. 06 a 09 do Livro Razão e fls. 21 do Livro Diário da Zabaleta (doc. anexo)”; Fl. 3295DF CARF MF 18 7 ou seja, mesmo após a permuta, a Zabaleta ainda possuía direito creditório em seu patrimônio e não dinheiro, concretizando o desejo inicial e explicando a necessidade dessas operações; notese que tais CRI's ainda permanecem no patrimônio da Zabaleta e de suas sucessoras; em resumo: o patrimônio de todas as sociedades recebidas na permuta e mesmo após o evento era composto por direitos creditórios, e não por "dinheiro", o que impede a descaracterização da permuta; 8 ademais, a Segisor detinha uma quota ("golden share"), para impedir a negociação dos CRI's (conforme itens 157 e 158 do TVF, com a composição societária dessas empresas), faltando, portanto, liquidez a essas empresas; eis trecho do Fato Relevante publicado pelo Casino, em 04/05/05: “A CBD, a família de Abilio Diniz, na qualidade de acionista único da sociedade de propósito específico, e o grupo CASINO, concordaram em assinar um acordo estabelecendo os princípios regulando as relações entre a CBD e a companhia imobiliária. Segundo as disposições do acordo de acionistas, a CBD e o grupo CASINO irão, cada um, deter uma “golden share” da sociedade de objeto imobiliário, que lhes conferirá direitos específicos, assegurando a estabilidade do uso dos imóveis pela CBD durante um longo período de tempo.” 9 “... caso as operações em questão fossem realizadas de ... outra forma mas, mantendose a essência e o objetivo do negócio, seriam assim sintetizadas: (i) Casino adquire os imóveis por R$ 1.029.000.000,00 da CBD e (ii) Casino permuta os imóveis por ações da Vieri. Ou seja, uma permuta não tributável, como reconheceu o ... Sr. Agente Fiscal.” (sic); eis trecho do Fato Relevante da CBD, de 08/07/2005 que provaria que o destino dos recursos era a CBD e que a intenção dessa transação era reduzir a dívida desta: "Em decorrência, a CBD recebeu recursos ... de R$ 1.029.000.000,00 ..." 10 vejase, também, que os valores no contrato de permuta foram apurados com base nos patrimônios das sociedades apenas para fins de registros contábeis e fiscais, já que o contrato, conforme cláusulas 1ª e 2ª, não menciona valores; 11 caso não se acolha a tese da permuta, devem ser excluídos da base tributável os valores correspondentes aos 2.236.310 mil ADR's e às quotas da Onyx 2006 (que detinha ações da CBD, como reconheceu a fiscalização), visto que os princípios da estrita legalidade e da verdade material não autorizam tributar a "parte pelo todo"; 12 qualquer multa é inaplicável neste caso, de sucessão por incorporação, pois o art. 132 do CTN determina que o sucessor responda apenas pelos tributos devidos até a data da sucessão, de forma que a multa só será transferida ao sucessor se ela tiver sido lançada antes do ato de sucessão, por já integrar o passivo da sucedida; 13 além disso, descabe tal imputação, em decorrência do caráter personalíssimo das multas, conforme doutrina e jurisprudência administrativa e judicial; Fl. 3296DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.288 19 14 nem se alegue, como fez a fiscalização, que a multa de 150% poderia ser aplicada nesse caso, pois impugnante (incorporadorsucessora)e incorporada (sucedida) "estavam sujeitas ao mesmo controlador à época da incorporação", pois tal tese não tem respaldo na jurisprudência administrativa transcrita; 15 além disso, não pode prevalecer a multa de 150%, pois não houve fraude, situação em que a fiscalização teria que, por meio de provas diretas, comprovar que as operações foram feitas com evidente intuito doloso de retardar ou impedir o surgimento da obrigação tributária, o que não ocorreu; ao contrário, a fiscalização apenas expôs, em um parágrafo, a necessidade de aplicar a multa qualificada; 16 de fato, para caracterizar a fraude, há que estar presente, necessariamente, a figura do dolo, caracterizado pela intenção manifesta do agente de omitir dados, informações ou procedimentos visando impedir ou retardar a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar suas características essenciais, condição “sine qua non” para a ocorrência desse tipo penal, conforme jurisprudência administrativa; De Plácido e Silva diz que para caracterizar o dolo, é necessário que se verifiquem os seguintes requisitos: “a) ânimo de prejudicar ou fraudar; b) que a manobra ou artifício tenha sido a causa da feitura do ato ou do consentimento da parte prejudicada; c) uma relação de causa e efeito entre o artifício empregado e o contrato por ele conseguido; d) a participação intencional de um dos contraentes no dolo.” 17 quem frauda realiza operações proibidas, não as escritura, não as declara e, quando fiscalizado, não entrega a documentação solicitada, procurando sob todas as formas ocultálas; e mais: adultera documentos, utiliza documentos paralelos, pessoas inexistentes ou "laranjas", documentos falsos e inidôneos; no caso, nenhuma destas condutas foi praticada; a fiscalização simplesmente alegou que: "a transação entre "velha" Rio Plate (Pão de Açúcar) e Mamanidis (Casino) foi formalizada sob o manto de uma permuta"; 18 as operações praticadas atenderam a todos os requisitos, eis que foram contabilizadas e suas demonstrações financeiras amplamente divulgadas e informadas aos órgãos competentes (JUCESP, BACEN, CVM e RFB), de modo que nada foi ocultado ou praticado ilícitamente; ao contrário, todos os atos foram realizados da forma mais adequada, lídima e transparente; 19 tampouco houve simulação, como parece ter entendido a fiscalização (citando tal ilícito como sinônimo de fraude, para justificar a aplicação do art. 173, I, do CTN, no item 105 do TVF), pois não houve ato cuja real vontade fosse diferente da vontade manifestada, e muito menos o intuito de prejudicar Fl. 3297DF CARF MF 20 terceiros e/ou de violar a lei, visto que a operação desejada a permuta , foi efetivamente realizada; 20 além disso, a “velha” Rio Plate entendia que todas as operações estavam conforme a correta interpretação da legislação societária e tributária, motivo pelo qual, no máximo, "ad argumentandum", teria havido erro de interpretação de lei ou da natureza da operação, o que não pode ser confundido com ato ilícito, conforme jurisprudência administrativa; assim, afastados o dolo e a máfé requisitos necessários à configuração da simulação, descabe a aplicação da multa qualificada; 21 não comprovado dolo, fraude ou simulação, a decadência deve ser reconhecida (art. 150, § 4º, do CTN), conforme argumentos de praxe e jurisprudência administrativa; 22 não pode prosperar a cobrança de juros de mora sobre as multas de ofício, por falta de previsão legal, conforme argumentos de praxe e jurisprudência administrativa. Os outros interessados responsáveis tributários solidários apresentaram impugnações, em 14/07/2011 (fls. 1452 a 1507), por meio de seus advogados (fls. 1508 a 1528). Eis o resumo de seus argumentos (no que diferem dos já apresentados): 1 a Rio Ceny não podia ser considerada responsável solidária, inclusive pela multa, pois a cisão parcial (art. 229 da Lei das S/A) não pode acarretar responsabilização solidária, visto que a doutrina autoriza, neste caso, atribuir direitos e responsabilidades a cada sociedade, o que foi feito (item II.5 do ato de cisão), afastando qualquer responsabilidade tributária da Rio Ceny e, por conseqüência, da Zabaleta e das sociedades decorrentes da cisão parcial desta, conforme decisões do STJ e do TRF da 4ª Região; 2 além disso, o art. 132 do CTN, e em especial seu parágrafo único, evidenciam que o intuito do legislador era disciplinar, para fins tributários, a responsabilidade solidária dos sucessores nas hipóteses de fusão, transformação e incorporação que culminassem na extinção da pessoa jurídica, o que não ocorreu, no caso; 3 alternativamente, há que se aplicar o parágrafo único do art. 233 da Lei das S/A, c/c o inciso II, do art. 5o, do Decreto 1.598/77, que mostram que o parágrafo permite que as sociedades estipulem, nos atos de cisão, as responsabilidades de cada uma; 4 nem se alegue que a deliberação nos atos de cisão não é oponível ao Fisco, pois o art. 123 do CTN diz que a convenção entre particulares não é oponível ao Fisco, salvo disposição de lei em contrário, disposição essa que é o parágrafo único do art. 233 da Lei das S/A; 5 é incabível o argumento de que a “nova” Rio Plate (incorporadora sucessora) e a Rio Ceny (incorporadasucedida) "estavam sujeitas ao mesmo controlador à época da incorporação", para justificar a multa ao sucessor, conforme jurisprudência Fl. 3298DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.289 21 administrativa, pois a Segisor era detentora de uma quota (“golden share”) do capital das sociedades às quais foi imputada responsabilidade tributária solidária. É o relatório. Analisando a impugnação apresentada juntamente com os argumentos que basearam a autuação a Delegacia de Julgamento proferiu decisão na qual julgou integralmente improcedente a impugnação mantendo o auto de infração e a responsabilidade solidária de todos os envolvidos. Cientificado da decisão da DRJ, o contribuinte apresentou recurso voluntário no qual aduziu, em apertada síntese, os seguintes argumentos: 1 Narrativa das operações: A recorrente apresenta a sua narração com o detalhamento das operações que levaram à operação final de permuta entre a Rio Plate e o Grupo Casino, operação esta que foi considerada pela fiscalização como operação de compra evenda e que levou à imputação da infração; 2 Violação ao Princípio da Verdade Material: Alega que tanto a fiscalização quanto a Delegacia de Julgamento não se fundaram em todas as provas existentes para chegaram às suas conclusões. Segundo a recorrente essas opiniões foram baseadas apenas nos laudos de avaliação, nos fatos relevantes publicados e nas notas explicativas das demonstrações da CBD. Que a fiscalização e a Delegacia de Julgamento não realizaram a análise de todo o filme do qual decorreu a operação final de permuta e, assim não atenderam ao princípio da Verdade Material. Que a turma julgadora deixou de analisar os 16 elementos de prova apresentados na impugnação sob alegação de que não se referiam ao caso, não estavam traduzidos ou não estavam acompanhados dos respectivos comprovantes de pagamento. Que caso a documentação apresentada não fosse suficiente na opinião da turma julgadora a formar sua convicção, que servisse como indício de prova e objeto para solicitação de complementação pela via da conversão do julgamento em diligência. 3 Do ônus da Prova no Processo Administrativo: Que a alegação de que o recorrente não apresentou os comprovantes das transferências junto com os contratos não poderia ser atribuída exclusivamente a este vez que as referidas empresa não faziam parte de seu grupo societário e assim, não havia como se obrigar a deter tais comprovantes. Entende assim, que existentes os registros contábeis das operações ao fisco caberia ao o dever de provar em sentido contrário para infirmar as operações. 4 Da Legitimidade das operações de Adiantamento anteriores à Permuta: Alega que está apresentando os comprovantes contábeis e bancários que possui relativos às operações de transferência de valores. Alega que os laudos analisados pela fiscalização foram produzidos a pedido da SEGISOR para aumento de capital nas empresas Zabaleta , onyx 2006 e Onyx 2007 e que estes laudos não foram utilizados como base para a operação de permuta porque esta se baseou em valores patrimoniais e, assim, não necessitariam de laudo para lhes suportar. Que a recorrente não omitiu qualquer informação da fiscalização e que apenas informou que não eram necessários laudos para a comprovação de operação baseada em valores patrimoniais. 5 Do momento da realização da operação de permuta (08/07/2005) Fl. 3299DF CARF MF 22 Alega que na operação ocorrida em 08/07/2005, a Masmanidis entregou ações da VIERI num montante de R$ 804.648.684,00 e recebeu em troca as quotas das empresas onyx 2006, onyx 2007, Zabaleta e Geant Fin Financeira S/A, além de 2.236.610 ADRs detidos pela Masmanidis num total de R$ 2.105.268.013,00. Que esta permuta ocorreu após muitas tratativas e negócios distintos, fazendo com que o filme de todo o negócio seja bem diferente da foto escolhida para análise pela fiscalização e pela DRJ, onde analisaram a situação existente antes da realização da permuta e entenderam que as sociedades possuíam apenas dinheiro em seu patrimônio. Que as CRIs detidas pela Zabaleta em razão de adiantamento à CBD fundamentado no adiantamento de recursos, representam os direitos sobre os imóveis utilizados pelo CBD e objeto de aluguel, cuja detenção de uma Golden Share era necessária para evitar que a alienação dos imóveis acarretasse prejuízos à CBD. Assim as ações detidas pela Segisor junto à Zabaleta não seriam meramente simbólicas, visto que conferiam poder decisório. 6 Da Inexistência de Compra e Venda Contesta a alegação de fiscalização de que na verdade não ocorreu permuta, mas sim compra e venda, vez que o patrimônio das empresas era composto apenas de dinheiro. Alega que estas afirmações foram baseadas em laudo feito em 05/07/2005, baseado nos balancetes de junho/2005. Por isso entende que a premissa da fiscalização se baseia em realidade diferente da existente à época da permuta. Que os adiantamentos de recursos foram realizados poucos dias após o levantamento dos balancetes de junho. Que a Delegacia de Julgamento desconsiderou a documentação apresentada pela empresa que comprovou a realização dos adiantamentos e, assim, a inexistência de prevalência de dinheiro em vez de bens para a caracterização da permuta. 7 Da Inexistência de ganho de capital passível de tributação Alega que, conforme afirmação da própria fiscalização e da doutrina, não há ganho de capital passível de tributação no caso de permuta, vez que é uma mera troca de bens de valor equivalente não havendo um resultado líquido a ser tributado. Assim, a inexistência de acréscimo patrimonial obstaculiza a incidência da tributação sobre a renda. Que mesmo no caso de o CARF entender por existente a compraevenda, que deva ser cancelada a autuação pois, ao menos 30% do valor da transação foi realizado mediante troca de ações, fazendo com que fosse tributado o todo pela parte, fato que desborda ao princípio da legalidade e conduz à nulidade de toda a autuação, ou que, na pior das hipóteses, seja excluída a permuta de 3.103.246.002 e 482.441.629 ações da Vieri por ações da Onyx 2006 e mais 2.236.610 ADRs da CBD. 8 Afastamento da Multa Agravada Entende que a multa agravada lavrada em 2011 contra a "nova" Rio Plate não poderia subsistir, visto que a multa se refere a atos praticados pela sociedade anterior à incorporação pela "nova" Rio Plate. Como esta multa ainda não estava lavrada quando da incorporação ocorrida em 2006, não pode agora ser lavrada contra a incorporadora. Apresenta a norma do art. 132, do CTN, como impeditiva da autuação. Fl. 3300DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.290 23 Apresenta Acórdão nº 10808.888, que dispõe no mesmo sentido. Alega que mesmo pertencendo ao mesmo grupo econômico não existe permissivo legal para suceder na imposição de multa. Apresenta precedentes do STF no mesmo sentido da impossibilidade de imposição ao sucessor de multa de ofício devida pela sucedida. 8.1 Inexistência de Dolo ou Fraude Alega que ainda que prevaleça o entendimento da manutenção da multa, que esta não deva permanecer no percentual de 150% como fora lançada, haja vista a inexistência de caracterização de dolo ou fraude passível desta caracterização. Alega que toso os atos praticados foram feitos na forma da Lei. Que as operações realizadas visavam ao fortalecimento da CBD e reestruturação de seus imóveis para culminar na troca de ativos. Alega que para a caracterização do dolo seria necessária a comprovação da intenção perniciosa, o que não teria ocorrido. Que as afirmações da fiscalização e da turma julgadora se basearam em análises superficiais e que não são suficientes para demonstrar o dolo. Alega ainda que o fato de todas as operações estarem devidamente registradas afasta o intuito de fraude e a existência do dolo. Alega que não pode existir a fraude quando, dentre as opções possíveis de negócio o sujeito passivo escolhe uma delas. Assim, escolhendo uma das hipóteses negociais, não pode ser acusado de fraude. Que devem ser levadas em consideração às presunções de boa fé e de inocência do sujeito passivo. 9 Da Decadência do Direito de Constituir o Crédito Tributário Entende que a simulação não restou caracterizada na autuação. Que a Turma julgadora estendeu a interpretação da fiscalização para tentar caracterizar a ocorrência de simulação e, assim, transportar o início da contagem do prazo decadencial para o primeiro dia do exercício seguinte. Alega que a fiscalização tratou dolo, fraudo e simulação como se fossem sinônimos, sem identificar as condutas caracterizadoras. Entende que a turma julgadora não poderia aperfeiçoar o trabalho da fiscalização para caracterizar a ocorrência de situação aplicadora da regra do art 173, do CTN.. Juntamente com este argumento aduz que inexiste prova da ocorrência de simulação como possibilidade de nulidade dos atos praticados pelo contribuinte. Neste sentido alega que todos os atos praticados foram regulares, públicos e devidamente arquivados nos órgãos de registro, razão pelas quais devem ser considerados legais e descaracterizando a ocorrência de simulação. Apresenta precedentes do CARF no sentido de que para se caracterizar a simulação seria necessário que o ato não pudesse ser praticado. Como consequência do raciocínio que entende inexistir a prova da existência de simulação, o recorrente entende que, neste caso, a norma de decadência que deve incidir é a do art. 150, § 4º, do CTN. 10 Ilegalidade da Cobrança de Juros sobre a Multa Fl. 3301DF CARF MF 24 Neste ponto apresenta extensa argumentação no sentido de informar que as normas que regem a atualização do crédito tributário não se aplicam às multas de ofício impostas. Assim, entende que não cabe a incidência de juros moratórios sobre a multa de ofício. Recurso Voluntário dos Sujeitos Passivos Solidários Os sujeitos passivos solidários, abaixo relacionados, também apresentaram recurso voluntário. ZABALETA PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ Nº 07.127.675/000145 PAPANICOLS EMP. E PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ Nº 10.499.756/000180 CHAPELCO EMP. E PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ Nº 10.521.183/000144 GANESH EMP. E PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ Nº 10.458.536/000109 SANTA JULIANA EMP. E PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ Nº 10.551.586/000136 NAIDIÁ EMP. E PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ Nº 10.665.857/000184 AYANN EMP. E PARTICIPAÇÕES LTDA, CNPJ Nº 10.499.734/000110 Em seus recursos alegam, em síntese, que a sujeição passiva atribuída à Zabaleta e às demais empresas em razão de originadas em cisão da Rio Plate, decorre da absorção de patrimônios existentes nas sociedades antes da cisão. Alega que a norma do art. 132 não menciona expressamente a hipótese de cisão como forma de sucessão tributária. Alega que as sociedades envolvidas na cisão podem estipular responsabilidades de cada uma delas, afastando com isso a solidariedade. Que a Rio Ceny assumiu apenas a responsabilidade pelo patrimônio recebido na cisão, qual seja, a participação na Zabaleta. Assim, como esta não realizou operação de compraevenda, não podendo ser responsabilizada por tais atos. Assim, alega que as deliberações estabelecidas no contrato de cisão devem ser respeitadas pela fisco, vez que baseadas em norma da Lei das S/A. Alega, também, a impossibilidade de imposição de multa de ofício na hipótese de responsabilidade solidária por sucessão. Repete os argumentos de que a multa isolada não pode ser aplicada ao sujeito passivo que não participou do ato considerado passível de multa. Alega que a operação ocorreu em 2005 e que incorporação da Rio Plate somente ocorreu em 2006. Finalmente, repisase os argumentos de impossibilidade de cobrança de juros sobre a multa de ofício. Das ContraRazões Da Procuradoria Da Fazenda Nacional Em suas alegações a Procuradoria assevera que a realização da comprae venda caracterizase em razão da existência de acordo firmado entre Casino, AD e CBD no qual foram estabelecidas as condições de venda das participações de AD em Vieri que era a controladora da CBD. Tal acordo fixa os preços e condições que, conforme suas alegações, foram posteriormente transformados em participações para fins de realização de operação de permuta, à qual foi atacada pela fiscalização. Fl. 3302DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.291 25 Entende que este acordo prévio firmado em maio/2005 demonstra que a real intenção era a venda e não a permuta, conforme realizada em julho. Para isto apresenta decisões na CVM entendendo pela existência de alienação de controle acionário. Alega que a existe a comprovação do pagamento do preço, tendo em vista que o grupo Casino realizou o pagamento de US$ 200.000.000,00 e de R$ 1.000.000.000,00 em benefício de AD, valores estes que somente à época da permuta foram transformados em bens diversos para oficializar a permuta contratualmente fechada em julho/2005, no mesmo dia de celebração do contrato de permuta. Que não poderia haver o registro de deságio diferido tendo em vista que não foi elaborado nenhum laudo da operação de modo a demonstrar que o patrimônio objeto de permuta era diferente de seu valor patrimonial. Em relação à aplicação de multa qualificada entende que a falsidade decorre da divergência entre a intenção das partes e a operação que foi montada exclusivamente com vistas a reduzir a tributação. Entende que a artificialidade da atuação dos envolvidos ao atribuir um tipo de negócio (permuta) em vez do negócio efetivo (compraevenda) traduz os elementos caracterizadores do intuito de fraude que objetivava unicamente à redução da incidência tributária. Da multa de ofício por sucessão. Entende que a despeito da norma do art. 132 do CTN, as penalidades em matéria tributária podem sim ser transmitidas por sucessão, posto que não se impõem à pessoa, mas sim ao patrimônio. Da responsabilidade em face da Cisão. Entende que não assiste razão aos recorrentes, tendo em vista que a especialidade da regra do art. 233, da lei das S/A não pode prevalecer de modo a impedir a imposição tributária. Voto Conselheiro Abel Nunes de Oliveira Neto O recurso é tempestivo e preenche os requisitos legais, assim dele tomo conhecimento. Iniciaremos a análise do presente processo, em face da grande abertura de pontos de discussão, a partir dos principais itens apresentados pela acusação e pela defesa a fim de entendermos, desde o início da análise, a lógica apresentada por cada lado de forma a podermos aprofundar e centrar nossa análise nos pontos de atrito entre os debates. Interessante destacar já no início deste voto que os posicionamentos e argumentos apresentados tanto pelos recorrentes, quanto pela Procuradoria da Fazenda Nacional calcamse na análise de parte da documentação constante do processo. Fl. 3303DF CARF MF 26 Em suas linhas de pensamento, cada argumentação traz à colação os itens de prova que entendem serem coerentes para demonstrar suas posições, fazendo crer, em certos pontos, que inexiste prova em sentido contrário. Destaco estes fatos apenas para ilustrar como, na tarefa de intérprete das normas e fatos, é delicada a função de relatar assuntos tão densos e intrincados como o deste processo. Desde o início o patrono dos recorrentes defende a ideia de que se trata de processo com fatos novos e diferentes dos normais processos de venda, onde existe o pagamento de preço e a discussão sobre ágio. Por seu turno a Procuradoria da Fazenda pretende justamente o contrário, qual seja, que se trata de um processo de compra onde os intervenientes buscaram disfarçar o seu efetivo objetivo para evitar a incidência tributária. Bastante robustos os argumentos das partes. Alguns meses atrás tive a oportunidade de relatar processo que tratava, este sim, da incidência de ágio em operação de venda. Naquela oportunidade a discussão sobre as operações de casa e separa de empresas e a operação final de venda que era caracterizada pela fiscalização residia, basicamente, na apuração do fato de qual era a real intenção das partes: associarse e compartilhar a administração de uma sociedade ou realizar uma compraevenda simples. Esta é a tarefa que consiste na análise de casos como o que agora nos detemos. A legalidade da realização de atos societários, como elemento de prova, beneficia o recorrente que, conforme o conjunto probatório, demonstra ter realizado os atos societários na forma da lei e devidamente registrados e comunicados aos órgãos de controle. Mais ainda, em fundamentadas alegações insiste na inexistência de prova no sentido de caracterizar a simulação de seus atos que possa provocar a desconsideração do negócio da forma como foi realizado. Por isso, para que se possa manter a autuação levada a efeito contra a recorrente, fazse necessário demonstrar a efetiva intenção negocial ocorrida entre as partes. Por óbvio não podemos, neste sentido, buscar um documento ou fato único que demonstre que as empresas, diante da iminência de realização de um negócio de compra e venda, decidiram fazer negócio diverso que impedisse ou reduzisse a incidência tributária. Seria se exigir demais, assim como não é possível se admitir que se produza uma prova cabal de corrupção. Quem se corrompe não passa recibo, não deposita o dinheiro em suas contas, ou seja, não deixa pistas claras sobre a origem e destino do dinheiro ilícito. Neste caso o que buscaremos identificar e apresentar para análise deste colegiado são os fatos e ocorrências que possam demonstrar todo o roteiro e acabamento do filme produzido pelas partes envolvidas na negociação de modo a que possamos subsumir a efetiva intenção das partes. Se este filme se apresentará favorável a uma das teses, a permuta ou a compra e venda, poderemos ver ao final deste voto e da análise dos colegas de turma. Para este fim, tentarei, na medida do possível, apresentar e tecer comentários sobre todo o argumento apresentado tanto pela fiscalização, quanto pela defesa. Pontos de Acusação da fiscalização: 1 Informação da Operação: 1.1 Informação apresentada pela CBD em procedimento anterior. Fl. 3304DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.292 27 1.2 Informação Confirmada pela Rio Plate 2. Valores de ganho da operação 3. Informações dos registros contábeis da Rio Plate Fl. 3305DF CARF MF 28 4. Contrato de Permuta apresentado. A Fiscalização alega que não houve informação no contrato de permuta acerca dos valores envolvidos na operação. Fl. 3306DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.293 29 5. Avaliação das participações detidas pela Rio Plate. Não havendo informação de valores do contrato de permuta, e informando o contribuinte não terem sido realizados laudos de avaliação, a fiscalização diligenciou junto à CBD, que estava amortizando o ágio pago na operação, acerca dos laudos de avaliação dos investimentos adquiridos do grupo Abílio Diniz. Os laudos foram elaborados à época em que o aumento da participação da Segisor nas empresas foi recepcionada pela Masmanidis para fins de integralização de cotas de capital. 5.1. Laudo de avaliação da Zabaleta Balancete levantado em 05/07/05 O patrimônio é constituído de uma contacorrente de R$ 940.000.000,00 Fl. 3307DF CARF MF 30 5.2. Laudo de Avaliação da Onyx 2006 Balancete de 30/06/2006 O patrimônio é constituído de ações da CBD no valor de R$ 519.760.368,00 5.2. Laudo de Avaliação da Onyx 2007 Balancete de 30/06/2006 O patrimônio é constituído de uma contacorrente de R$ 60.000.000,00 5.3. Laudo de Avaliação da Geant Financiera Balancete de 29/06/2005 O patrimônio é constituído de depósitos no valor de US$ 200.000.000,00 5.4 Laudo de Avaliação das ADR´s Base em 07/07/2005 2.236.310 ADR's avaliadas em R$ 112.207.413,00 Assim, o total do patrimônio detido pela Masmanidis antes da operação de permuta era de R$ 2.105.268.103,00. 6. Das considerações da Operação 7. Descaracterização da Operação de Permuta A operação registrada na "velha" Rio Plate foi descrita como permuta de participações avaliadas pelo patrimônio líquido. O objetivo da permuta, na opinião da fiscalização, seria ocultar uma operação de compra e venda. Entende a fiscalização que não se caracterizaria a permuta em razão de o objeto preponderante da operação ter sido dinheiro, o que remeteria a operação a uma compra e venda. Explica que o capital da Zabaleta, Onyx 2007 e Geant Financiera eram simplesmente depósitos em dinheiro e que os da Onyx 2006 e as ADR's eram facilmente conversíveis em espécie. Utiliza os seguintes pontos para descaracterizar a operação: Fl. 3308DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.294 31 a) A Zabaleta foi criada em 2004 e somente 24 dias antes da operação teve o capital de R$ 940.000.000,00 integralizado. Não possuía funcionários, nem jamais fez nenhum outra operação. b) A Onyx 2007 foi criada em 08/07/2005 e incorporada em 30/07/2006. Também nunca teve funcionários e sua única movimentação foi a aplicação do valor de R$ 60.000.000,00 recebido do Casino. Nunca funcionou como Holding. c) A Geant Fin, da mesma forma, só constituíase de dinheiro vivo no valor de avaliação de US$ 200.000.000,00, equivalente a R$ 473.300.322,00. Também não possuía clientes, movimentação e bens. O único ativo era dinheiro. d) Fato relevante publicado pelo CBD informando que o grupo Casino Pagou para o grupo Diniz, em dinheiro, US$ 200.000.000,00 e R$ 1.029.000.000,00 para a aquisição de 60 propriedades da CBD. Tradução da informação relevante ao caso: "O grupo Casino realizou pagamento em espécie para o Grupo Diniz de US$ 200 milhões e R$ 1.029.000.000,00 para a aquisição de 60 propriedades do CBD. Em 08 de julho de 2005, o Grupo Diniz pagou antecipadamente ao CBD R$ 1.029.000 para compra futura de sessenta propriedades, compreendendo 28 hipermercados Extra e 32 supermercados Pão de Açúcar, os quais serão transferidos para uma imobiliária adquirida pelo Grupo Diniz. Fl. 3309DF CARF MF 32 Estas lojas serão arrendadas para a CBD por ao menos 20 anos, com possibilidade de opções de renovação." Na tradução para o português desta mesma informação foi omitido o trecho de que houve o pagamento em dinheiro e, ainda, dos US$ 200.000.000,00. Conforme abaixo: 7.1.Formalização da Acusação de Descaracterização da Permuta A acusação apresenta a doutrina de alguns civilistas no sentido de que para a caracterização da permuta o valor das partes envolvidas não precisa ser igual, mas não pode ser uma diferença elevada entre eles. Assim, estabeleceu o seguintes entendimento. 7.2. Da não apresentação dos laudos pela Rio Plate A fiscalização alegou, ainda, na descaracterização da operação que a fiscalizada foi intimada a apresentar laudos de avaliação das empresas recebidas e informou não os têlos em função de ter realizada a permuta por valor patrimonial. A esta resposta a Fl. 3310DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.295 33 fiscalização alega estranhar que em um negócio de tal monta a empresa simplesmente tenha aceitado os valores apresentados pela outra parte sem a realização de due diligence para averiguação dos valores a serem permutados. 7.3. Conclusão da Fiscalização Entende, ao final, que comprovado que a maior parte do negócio foi realizada pela entrega de dinheiro e baseada na doutrina civilista e em precedentes do CARF, entende que a operação deve ser interpretada como compra e venda e desta forma deve ser tributada. Decadência Ciência em 16/06/2011 Alega a fiscalização que, tendo em vista a realização da operação sob a forma de permuta para fins de ocultação da compra e venda realizada, aplicase a regra do art. 173, I, do CTN. Assim, o prazo decadencial encerrarseia em 31/12/2011. Multa Qualificada Foi qualificada em função da caracterização de fraude. Art. 72, da Lei nº 4.502/64. Responsabilidade Solidária por Sucessão Pontos de Defesa apresentados pela recorrente 1. Violação ao princípio da Verdade material Entende que a fiscalização analisou apenas parte da operação e que os registros contábeis da empresa, que fazem prova em favor da mesma, demonstram a realização de operação simples de permuta. Entende que as informações obtidas das demonstrações financeiras, isoladamente, não possuem força probatória para sustentar a operação imaginada pela fiscalização. Que estas informações não dispensam a produção de provas pelo fisco. Fl. 3311DF CARF MF 34 2. Descrição da operação pela defesa Fundado no acordo entre os grupos Casino e Abílio Diniz a seguinte situação patrimonial foi firmada pouco antes da permuta realizada: Rio Plate detinha 20.312.500.000 ações ordinária e preferenciais da holding Vieri (que detinha ações como controladora do CBD) Masmanidis era controladora da Geant Fin, Zabaleta, Onyx 2006 e Onyx 2007 2.1. Atos que teriam sido realizados antes da permuta e não verificados pela fiscalização Onyx 2007 celebra contrato de adiantamento de recursos com a Zabaleta em 08/07/2005), registrando direito de crédito contra esta (fls. 1603). Onyx 2007 entregou os R$ 60.000.000,00 do caixa para Zabaleta e registrou créditos a receber. Zabaleta celebrou contrato de adiantamento de recursos para a CBD, cuja forma de quitação era o recebimento de CRI's. A defesa não fala, mas o registro contábil deve ter sido semelhante ao da operação anterior com crédito a receber da CBD. A quitação foi feita pelo Termo de Quitação datado de 03/11/2005. Não foi apresentado o Termo de Compromisso datado de 08/07/2005. Por fim a Geant Financiera S/A emprestou US 200.000.000,00 para a Geant International BV (fls.1611). Pagamento a ser realizado em um ano e a garantia era 5.000.000.000 de ações da Vieri. 2.2. Conclusão do negócio Dados estes fatos teriam sido permutadas as participações detidas pela da Rio Plate (detentora de ações da Vieri controladora da CBD) com as participações detidas pela Masmanidis (Geant Fin, Zabaleta e Onyx 2007 Créditos a receber) mais Onyx 2006 (detentora de ações da CBD e ADR's também da CBD) Destaca que na operação a permuta da Onyx que detinha participações da CBD foi absolutamente perfeita e, mesmo assim, foi desconsiderada pela fiscalização e glosada em razão da predominância de dinheiro na operação. Apresenta a seguinte sequência de alteração patrimonial a demonstrar o todo da operação: Fl. 3312DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.296 35 3. Da narração do Filme segundo a defesa Que a efetiva operação foi de permuta de participações societária Que a fiscalização, com base em laudos anteriores ao negócio alegou que três das quatro empresas controladas pela Masmanidis possuíam apenas dinheiro em seu patrimônio e não é o que ocorreu, pois o que existiria, em verdade, eram créditos a receber decorrentes das operações de empréstimo. Que os adiantamentos realizados à CBD por Zabaleta se deveram ao fato de que o destinatário final dos recursos era a CBD e não o grupo AD, para fins de redução do endividamento do grupo e fortalecimento da estrutura de capital. Que fica definitivamente provado que na data da realização do negócio o patrimônio das sociedades não era simplesmente dinheiro, mas sim créditos a receber, conforme constante de sua contabilidade. 4. Do momento da realização da permuta Graficamente a defesa apresenta os seguintes gráficos: Antes da operação: Fl. 3313DF CARF MF 36 Depois da operação: Apresenta os gráficos a fim de demonstrar que o que foi objeto de permuta foram as participações detidas e que as empresas possuíam créditos a receber e não dinheiro. Passa a apresentar a operação de securitização dos imóveis da CBD para o recebimento dos CRI's que foram dados em pagamento à Zabaleta em troca do adiantamento de R$ 1.029.000.000,00. 5. Da inexistência de compra e venda Não confirmação da premissa da fiscalização Alegação de compra e venda foi calcada em um entendimento errado da fiscalização. Toda a argumentação neste ponto se refere a reafirmar que o dinheiro foi convertido em créditos a receber antes da realização da permuta e, assim, não poderia prevalecer o argumento da compra e venda de que houve uma desproporção entre os bens permutados e o dinheiro envolvido na operação. Alega ainda que não houve acréscimo patrimonial em favor da empresa na operação e que, ocorrendo apenas uma alteração patrimonial, não á cabível a incidência do imposto sobre o ganho de capital, Alega, ainda, a incorreção da fiscalização em tributar todo o valor envolvido na operação quando, em relação ao valor da Onyx 2006 tratavase apenas de troca de participações. Fl. 3314DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.297 37 6. Da Inaplicabilidade da multa agravada. Entende que, mesmo subsistente a operação, pela eventualidade há de se afastar a multa agravada aplicada pela inexistência de intuito de fraudar na operação. Também discorre sobre a inexistência de dolo ou simulação. 7. Da decadência do direito de lançar. Inexistindo dolo, simulação ou fraude na sua argumentação, deveria ser aplicável a hipótese do art. 150 e, assim, considerado decaído o lançamento. 8. Dos juros sobre a multa de ofício Entende, igualmente, com base em extensa argumentação, pela impossibilidade da incidência de juros sobre a multa de ofício. Nossa Opinião Passada a apresentação da situação sob os pontos de vista da acusação e defesa devemos estabelecer o nosso entendimento acerca de qual filme efetivamente se delineou nesta operação A operação contestada pela fiscalização ocorreu com a troca de ativos entre a RIO PLATE e a MASMANIDIS em uma operação de permuta que, segundo o recorrente, foi o objetivo principal desde o início da formatação do negócio, e que, segundo a fiscalização, foi uma operação objeto de fraude para encobrir o real intento das partes que era o de realizar a compra e venda de participação societária. Dentro desta linha de entendimento, e a fim de estabelecermos o roteiro do filme que foi montado com a operação, forçoso é iniciarmos com o acordo realizado entre os grupos CASINO e ABILIO DINIZ, pelo qual o controle da CBD passaria a ser compartilhado entre os dois grupos. Quanto ao compartilhamento do controle não há discussão. Todas as operações foram realizadas de modo a transferir 50% do controle ao grupo CASINO. A primeira divergência entre a acusação e a defesa reside no acordo firmado entre as partes. Durante o curso da fiscalização a recorrente foi intimada a apresentar o acordo de associação firmado em 03/05/2005. Em resposta à fiscalização informou que não possuía os documentos do acordo, posto que não fazia parte do contrato firmado. Eis a resposta do contribuinte. Fl. 3315DF CARF MF 38 Devemos destacar ser no mínimo estranho que uma empresa do Grupo Abílio Diniz, que teve fundamental importância na formação com a participação de seu acionista majoritário, Sr. Abílio Diniz, não ter acesso aos documentos que geraram o patrimônio que passou a possuir. Inobstante esta estranheza, faz parte do interesse da empresa apresentar as provas que entende necessárias, apesar de, no meu entender, tal tipo de ação não condizer com a contribuição à formação da verdade material como, por muitas vezes, foi alegado pelo recorrente em sua defesa. Ora, para termos uma ideia do filme que estamos assistindo, devemos começar do preâmbulo. Negociação Realizada Pelos Grupos Assim, sem ter acesso ao acordo de associação, por diversas vezes citado nos contratos celebrados, inclusive na permuta, a fiscalização cuidou de obter o referido documento. Nesta busca obteve dois documentos de conteúdos semelhantes, mas bastante distintos para o que nos interessa. Informações apresentadas pela CBD junto à SEC, nos Estados Unidos: A informação apresentada no relatório trimestral da CBD junto à SEC, resta mais do que claro, até mesmo pela redundância que é comum em documentos formados nos Estados Unidos, que o Grupo CASINO fez PAGAMENTOS EM ESPÉCIE para o grupo DINIZ, destinados à aquisição de 60 propriedades Pão de Açúcar a serem alugadas à CBD. Por sua vez, no acordo de associação, que não foi disponibilizado à fiscalização, mas que foi obtido junto aos arquivos da CVM, consta, de modo idêntico, a existência de pagamento de preço por parte do Grupo CASINO. Fl. 3316DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.298 39 Por estes fatos, não contestados pelo recorrente, temse, incontroverso, que o acordo firmado entre os grupos CASINO e DINIZ, previa, desde 03 de maio de 2005, que o Grupo CASINO deveria pagar R$ 1.000.000.000,00 mais US$ 200.000.000,00 ao Grupo DINIZ, além de ações preferenciais, com vistas a obter 50% do controle acionário da CBD. Este é, sem sombra de dúvidas, o primeiro ato do filme que estamos visualizando. Arranjos Societários Anteriores ao Negócio de Permuta A partir deste acordo e para possibilitar a realização da transferência da participação societária, foram realizados diversos atos societários, pelos dois grupos. Por parte do Grupo Diniz, houve aumento de capital em VIEIRI (Holding controladora da CBD) para que 50% da participação detida pelo Grupo DINIZ pudesse ser transferido à MASMANIDIS, igualando o poder de mando após a transferência. Por seu turno, o Grupo Casino, adquiriu diversas empresas que não funcionavam anteriormente (Zabaleta, Onyx 2006, Onyx 2007), nelas injetou o valor total de R$ 1.000.000.000,00 que deveriam ser repassados ao Grupo Diniz. Além disso fez transferências de capital à Geant Financiera, sediada no Uruguay, para a mesma operação. Existência de Laudos de Avaliação das Empresas Capitalizadas por Masmanidis referentes a datas contemporâneas à operação de permuta. Desconsideração destes pelo recorrente. Um fato que merece relevo destacar é que, para fins de realização de aporte de capital em Masmanidis por meio dos depósitos realizados em Zabaleta, , Onyx 2007 e Geant Financiera por parte do Grupo Casino, foram elaborados laudos de avaliação baseados em balancetes apurados entre 30/06/2005 e 05/07/2005. Referidos laudos, já citados anteriormente, é que levaram a fiscalização a afirmar que a intenção sempre foi a de transferir dinheiro e não os CRI's alegados pela recorrente e que, por isso, dada a realização dos atos para evitar a Fl. 3317DF CARF MF 40 caracterização da compra e venda é que a fiscalização entendeu por desconsiderar a operação formalmente realizada e tributar o ganho da operação como um compra e venda simples. Merecem novo destaque dois fatos neste ponto: 1) O primeiro referese ao fato de a recorrente alegar que o auto de infração se baseia em laudos que não contemplam a situação patrimonial antes da operação; 2) O segundo, o fato de que a RIO PLATE, mesmo sucessora universal do patrimônio de Zabaleta, Onyx 2006, Onyx 2007 e Geant Financiera, ao ser intimado pela fiscalização, informou que não possuía os laudos de avaliação da operação por se tratar de permuta e que assim não era necessária a elaboração de laudos. Destacamos estes dois fatos para tecer alguns comentários. De início cabe destacar que, em relação aos laudos, mesmo a recorrente alegando que a situação patrimonial modificouse antes da permuta, não há como se deixar de levar em conta que, menos de uma semana antes da operação (em alguns casos apenas três dias), o patrimônio das empresas era exclusivamente dinheiro depositado, em cumprimento estrito ao que fora acordado e apenas no dia da permuta (08/07/2005) todo o dinheiro foi enviado à CBD em troca de créditos futuros. Mais ainda, a RIO PLATE, durante o procedimento de fiscalização sequer cuidou de apresentar estas justificativas à fiscalização, simplesmente omitiuse em informar das operações posteriores à emissão dos laudos, apresentando, apenas e tão somente o contrato de permuta. Assim atuando o recorrente, não sem razão, a fiscalização entendeu e informou que a operação se deu pela troca de dinheiro que, apenas em razão de uma operação transversa, foi transmutado em créditos a receber. A título de comentário é de se estranhar que o recorrente, à época da apresentação dos recursos clame pela busca da verdade material quando, de sua parte, não cuidou de apresentar os fatos em sua integralidade que demonstrassem a sua versão sobre o negócio. Em relação ao fato de a recorrente alegar que não foram elaborados laudos para a operação de permuta, deixo aqui minha surpresa e até espanto. Numa operação em que a recorrente estaria cedendo 50% do controle de uma das maiores empresas varejistas do país, não foi elaborado um único laudo de avaliação dos bens que, em teoria, seriam permutados. A hipótese é pouco provável. Simplesmente inexiste a possibilidade de o administrador realizar a avaliação deste tipo de operação e fixar os valores nele envolvidos sem que se realizem diligências para verificar o patrimônios, ativos e passivos das empresas envolvidas. A não ser que, conforme entende a fiscalização, já se soubesse que o patrimônio era apenas financeiro. Essa é a única possibilidade possível a explicar tamanho descompromisso com o patrimônio da própria empresa. Bem, passadas estas observações que considero relevantes ao caso, voltemos à narração do filme. Do adiantamento de recursos à CBD e da Formação dos CRIs Como já vimos nos primeiros capítulos, o acordo firmado previa a cessão de 50% do controle da CBD em troca de ações preferenciais e dinheiro. Tudo seguiu conforme o roteiro até que, em supreendente reviravolta, no dia da celebração do contrato de permuta, os recursos financeiros existentes em Zabaleta, , Onyx 2007, que haviam sido depositados pelo CASINO, foram integralmente transferidos para a CBD, além de mais R$ 29.000.000,00, emprestados pelo Sr. Abílio Diniz diretamente à Zabaleta. Um detalhe que releva considerar é que toda a transferência foi realizada a titulo de adiantamento à CBD sem que tenha sido apresentado pela recorrente, nem durante a fiscalização, nem ao tempo dos recursos, sequer um documento de registro do compromisso. O Fl. 3318DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.299 41 único documento apresentado para comprovar a transação foi o termo de quitação do adiantamento, quando a Zabaleta dá quitação daquele adiantamento mediante o recebimento dos CRI's dos imóveis. Em relação à operação de transformação dos créditos em CRI's o documento apresentado foi um dos contratos celebrados entre a CBD e o Banco Ouroinvest para a venda de quinze imóveis ao Banco, na qualidade de intermediário de um fundo imobiliário administrado pelo Sr. Abílio Diniz, para fins de formação de lastro da emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários que, só em novembro/2005, foram emitidos e repassados à Zabaleta como pagamento do adiantamento realizado em julho. Ora, da leitura do que ocorreu após a celebração do contrato de permuta, temos que foram cumpridas as cláusulas pactuadas na operação original, qual seja, a entrega de 50% do controle de CBD, o pagamento de 1 bilhão, e a transferência de imóveis da CBD ao Grupo Diniz para arrendamento à própria CBD. Do descompasso entre o Acordo, As informações à SEC/CVM e o realizado Só que tudo foi feito em desacordo com o originalmente acordado entre Grupo Casino e Grupo Diniz. O que teria motivado a modificação dos termos compromissados entre as partes e publicamente veiculados junto aos órgãos fiscalizadores SEC e CVM não se pode afirmar, pois é elemento de discussão interna dos grupos. Apenas conseguimos fazer ilações, sem qualquer elemento probatório, para melhor qualificarmos o debate. Aparentemente, como supôs a fiscalização, a modificação teria ocorrido para beneficiar a RIO PLATE ao encobrir uma operação de compra e venda, transmutandoa a uma permuta onde não haveria a apuração do ganho de capital de imediato. Ocorre que, consultando os documentos aos quais a fiscalização não teve acesso posto somente terem sido apresentados quando do recurso voluntário, observei que o ganho tributável não seria apenas da RIO PLATE. Vejamos. Os imóveis envolvidos na operação seriam 60, entre supermercados e hipermercados. Foi acostado um único contrato envolvendo a alienação de apenas 15 imóveis ao fundo imobiliário. Para minha surpresa os 15 imóveis foram avaliados em apenas pouco mais de 28 milhões. Não sei que imóveis foram esses e nem o valor dos outros 45 imóveis. Fazendo um exercício de suposição, mesmo que os demais imóveis valessem dez vezes mais, a avaliação total chegaria em perto de 300 milhões. Seguindo esse exercício o que ocorreria no patrimônio da CBD com a alienação dos imóveis ao Grupo Diniz pelo valor de avaliação? Simplesmente geraria outro ganho de capital a ser pago pela diferença entre 1,029 bilhão e o valor das avaliações. Seguindo o meu raciocínio, algo como 700 milhões e um valor a pagar de IR e CSLL de cerca de 200 milhões. Claro que tudo o que foi dito nos dois parágrafos acima é mera suposição, pois não temos como asseverar que assim ocorreu. Mas o que me parece claro, pela simples Fl. 3319DF CARF MF 42 lógica de como foram apresentados os fatos pelo contribuinte, é que após a formação do acordo de cessão do controle foi realizada a análise em face da normas tributárias do resultado da operação. Possivelmente neste momento compreenderam que a operação, sendo realizada da forma concebida, geraria a formação e apuração de ganho de capital em face de duas partes: da RIO PLATE, pelo ganho da transferência da participação em função do preço pago e da CBD, pelo ganho no valor recebido pela alienação dos imóveis pelo valor de 1 bilhão. Nossas Conclusões sobre o Filme Apresentadas, à exaustão, as versões da acusação e da defesa, temos que, em verdade foram apresentados dois filmes neste processo. O filme apresentado pela fiscalização iniciase no acordo firmado e encerrase na elaboração do contrato de permuta, com a desconsideração deste. E, o filme apresentado pela recorrente, que se inicia com o contrato de permuta e se encerra na transferência dos imóveis e entrega dos CRI's. Verificase que nenhuma das partes apresentou, em verdade, o filme completo da operação. Por isso, no trabalho inicial deste relator, o dever era construir, da melhor forma possível, o filme completo apresentado, sem nenhum edição, para que pudéssemos firmar nosso entendimento. Assim, o filme completo teria as seguintes fases: 1 Formação do acordo de associação que definiu o pagamento em dinheiro ao Grupo Diniz por 50% do controle da CBD, que seriam, em parte, utilizados na compra de 60 imóveis a serem mantidos alugados à CBD. 2 Elaboração de atos precedentes para a transferência de controle nas empresas do Grupo Diniz e dos recursos nas empresas Masmanidis, Zabaleta, , Onyx 2007 e Geant Financiera. 3 Elaboração do contrato de permuta, quando a transferência da parte em recursos financeiros foi modificada para a transferência de créditos contra a CBD, posteriormente transformados em CRI's, formados pelos mesmos imóveis já acordados e transferidos pela CBD em pagamento de devolução do valor cedido em adiantamento. 4 Finalização da operação dos imóveis que foram transferidos a Fundo Imobiliário do Grupo Diniz para a formação dos CRI's, entrega pelo CBD à Zabaleta como pagamento do adiantamento com encerramento da operação. Dado em palavras simples vendo filme ocorrido, percebese que entre a época da formação do acordo, 03/05/2005 e o dia 08/07/2005 (data da permuta) o acordo foi modificado pelas partes sem a existência de qualquer justificativa plausível que não a de economizar tributos. Sequer foi publicada justificativa aos órgãos de controle acerca da modificação dos termos acordados. A corroborar esta opinião temos de convir que toda a operação realizada pelo Grupo Casino por meio da injeção de recursos em Zabaleta, , Onyx 2007 e Geant Fin., foi na intenção de pagar o preço acordado. Somente na data da realização da operação é que houve a súbita transferência dos recursos para a CBD e a transformação do dinheiro em créditos a receber. Assim, entendemos existir o primeiro indício de que a intenção das partes foi modificada de modo a se tornar conveniente em matéria tributária. Fl. 3320DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.300 43 Outro fator a corroborar esta opinião é o fato de o único contrato a ser extemporâneo à época da realização da permuta é o que se refere à transferência dos imóveis ao Fundo Imobiliário do Grupo Diniz. Todos os fatos da operação foram realizados antes de 08/07/2005. Apenas a transação com os imóveis foi realizada posteriormente. Primeiro com um adiantamento de recursos ao CBD de 1,029 bilhão sem a apresentação de nem um mero recibo de antecipação e compromisso de pagamento. Segundo que somente cinco meses depois do adiantamento é que foi firmado um dos contratos de venda dos imóveis para formação dos CRI's. Depreendese assim, que aparenta não ter sido esta a intenção anterior das empresas, dada a demora em realizar esta parte da operação. Ora, dados estes fatos, me parece claro que a modificação dos termos acordados levada a conhecimentos dos órgãos reguladores do sistema foi modificada com vistas à simples redução da imposição tributária. Neste ponto levanto, de pronto, uma afirmação que pode ser apresentada pela defesa. Mas será que não é permitido ao particular contratar da forma que melhor lhe aprouver? Já respondo, claro que sim. O que não pode é o particular modificar contratos da forma que lhe convir apenas para impedir a imposição tributária. Esse tipo de planejamento tributário é abusivo e inoponível contra o fisco. Na tarefa de Conselheiros deste CARF nos deparamos com planejamentos tributários realizados das mais diversas formas possíveis. Alguns mais bem elaborados, outros não. O que não se pode é permitir que os contribuintes utilizem a formalização de contratos como forma de obtenção de benefícios tributários, como foi o ocorrido neste caso. Ao analisarmos o acordo de associação pudemos perceber que o objetivo, desde o princípio, foi de obter benefícios fiscais e depois da formação deste acordo, a busca foi a de tentar evitar a imposição tributária em outros itens. Vejamos as diferentes hipóteses de benefícios tributários aplicáveis ao caso que foram buscadas pelas partes: 1) Formação de ágio em Masmanidis => Qual a lógica negocial do Grupo Casino: injetar capital na CBD, por meio de terceiras empresas, sem fazêlo diretamente na CBD, buscando a obtenção de um ágio dedutível em CBD que não seria possível com a injeção direta de capital. Essa foi a primeira intenção, tanto que o ágio foi assim apurado pela Masmanidis. O ágio em questão foi formado e utilizado pela CBD. Foi, inclusive, confirmado em fiscalização realizada na CBD. Apenas o seu uso não foi autorizado em razão Fl. 3321DF CARF MF 44 de ter sido considerado ágio formado em empresa no exterior, conforme acórdão abaixo desta mesma turma ÁGIO GERADO EM OPERAÇÃO ENVOLVENDO EMPRESA DO EXTERIOR. IMPOSSIBILIDADE DE AMORTIZAÇÃO. A legislação que permite a amortização fiscal do ágio decorrente de expectativa de rentabilidade futura é nacional, devendo ser aplicada tão somente às empresas nacionais que adquirem investimentos com ágio. A extensão ao alcance das regras fiscais a reais adquirentes domiciliados no exterior, deve ser afastado pela fiscalização e o ágio amortizado deve ser objeto de glosa fiscal, justificada também em razão do desconhecimento do tratamento fiscal dispensado ao ágio no país de domicílio do real adquirente. (Acórdão nº 1401001.903, de 20 de junho de 2017) Ora, se ocorreu a apuração e utilização de ágio de uma parte, por óbvio deveria haver o ganho de capital na outra parte, no caso RIO PLATE. Se ocorreu o ágio em uma empresa, derivado do pagamento do preço, evidentemente esta mesma operação teria de gerar um ganho de capital tributável pelo recebimento do preço. 2) Exclusão da apuração de Ganho de Capital em CBD => Acaso em relação à parte do pagamento de R$ 1,029 bilhão em troca dos imóveis fosse realizada uma operação direta e simples, seria, possivelmente (digo possivelmente pois não há prova definitiva quanto a esta ilação, apenas subsumese dos elementos acostados com seus valores), apurado um ganho de capital da alienação a ser pago pela CBD. 3) Exclusão do Ganho de Capital pela RIO PLATE => Finalmente o terceiro benefício, não considerado quando da formação do acordo inicial e só elaborado a posteriori, foi o da formação de contrato de permuta em substituição ao contrato de compra e venda, para que o ganho de capital não fosse tributado no momento da contratação, postergandose para quando da alienação do investimento, no caso as CRI's recebidas. Percebese, destes três pontos acima narrados que, firmado o acordo de associação e definido o preço e forma de pagamento, as partes reorganizaram suas vontades para, dentro do mesmo acordo, impedir a formação de ganho de capital pelas operações anteriormente concebidas e, mantendo o benefício de formação do ágio anteriormente concebido, conseguir evitar o pagamento sobre outros dois ganhos de capital que deveriam ocorrer, acaso as operações fossem realizadas da forma acordada. Aliandose a todos estes considerandos, temos ainda que: a) o fato de as empresas objeto da permuta simplesmente inexistirem anteriormente e somente terem sido capitalizadas para fins da operação; b) todas as operações de troca de numerário e de contratos de mútuo terem sido realizadas no mesmo dia; c) que apenas a operação de criação dos CRI's baseados nos imóveis ter sido realizada em data posterior, indicando que não fora concebida originalmente e; d) finalmente, que a operação escriturada pela Masmanidis indica um ágio que consistia, em consequência em ganho de capital a ser apurado pela RIO PLATE Fl. 3322DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.301 45 Na conjunção destes fatores tudo se conforma, na opinião deste relator, no sentido de que a operação de permuta foi idealizada, após a celebração do acordo de associação, apenas e tão somente para impedir a incidência tributária, razão pela qual entendo assistir razão à fiscalização quando descaracterizou a operação de permuta, considerandoa operação de compra e venda e apurando e tributando o ganho de capital na operação. Neste sentido, apresento precedentes deste CARF a comungar deste entendimento. INCORPORAÇÃO DE EMPRESA. AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO INTERNO. NECESSIDADE DE PROPÓSITO NEGOCIAL.Inadmissível a formação de ágio por meio de operações internas, sem a intervenção de partes independentes e sem o pagamento de preço a terceiros. Não produz o efeito tributário almejado pelo sujeito passivo a sucessão de operações societárias sem qualquer finalidade negocial que resulte em incorporação de pessoa jurídica de mesmo grupo, com utilização de empresa veículo, unicamente para criar de modo artificial as condições para aproveitamento da amortização do ágio como dedução na apuração do lucro real e da contribuição social. Acórdão nº 1301002.019, de 04/05/2016 GANHO DE CAPITAL. TRIBUTAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. Inaceitável quanto aos efeitos fiscais a cessão de quotas à empresa alienígena para posterior alienação com tributação favorecida, sem demonstração de razão negocial que não a mera redução tributária. Acórdão nº 1402002.882, de 17/10/2017. GANHOS DE CAPITAL. OMISSÃO DE RECEITAS. ALIENAÇÃO DE BEM IMÓVEL. AUSÊNCIA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. PLANEJAMENTO FISCAL ABUSIVO. Comprovado nos autos que há ausência de propósito negocial na operação de alienação de bens imóveis realizada pelo contribuinte, merece prosperar a glosa fiscal, pois mesmo que tal ato seja lícito, rechaçase seus efeitos diante do planejamento fiscal abusivo perpetrado pelo contribuinte. Acórdão nº 1402002.720, de 15/08/2017. ALIENAÇÃO DE IMÓVEIS PERMUTA VIA OPERAÇÃO SOCIETÁRIA "CASAESEPARA" SIMULAÇÃO. Não há "propósito negocial" na integralização de capital social, por meio de imóveis, em empresa integrante do mesmo grupo econômico, tributada pelo lucro presumido, em sucessivas operações cujo único fim foi a redução da carga tributária incidente sobre operações imobiliárias. Acórdão nº 1402002.685, de 26/07/2017. A título de trazer mais luz ao debate e bem definir os termos do meu entendimento, na verdade a discussão apresentada tanto pela fiscalização, quanto pelo recorrente, sobre as opiniões doutrinárias acerca da caracterização dos contratos de permuta e de compra e venda não eram, em essência necessárias. Não se trata no presente caso, de caracterizar a operação como uma ou como outra. Tratase de demonstrar que a substituição de uma operação (compra e venda) pela outra (permuta) decorreu de um planejamento tributário abusivo que realizouse com o único objetivo de evitar a incidência tributária, escondendo o Fl. 3323DF CARF MF 46 pagamento do preço por meio da permuta, que foi o objeto da formação da autuação pela fiscalização. Neste sentido e comungando dos precedentes abaixo, da lavra deste mesmo CARF, voto no sentido de negar provimento ao recurso, mantendo a desconsideração da operação como operação de permuta. No entanto, aqui não se esgota esta análise. Da forma de cálculo do ganho Em relação à forma de cálculo de apuração do ganho o recorrente, em suas considerações entende que mesmo mantida a autuação, esta somente poderia incidir sobre 70% da operação, vez que os demais 30% foram realizados efetivamente por meio de troca de participações. Nesse sentido e considerando que a própria fiscalização indica, em seu relatório que, sendo uma operação de permuta de participações, mesmo em valores não equivalentes, não seria devido o ganho de capital quando da realização da operação, mas sim apenas quando da alienação do investimento, acho que assiste parcial razão ao recorrente neste particular. Foram apresentadas no TVF e nas peças recursais, diversos ponto de vista da doutrina em relação à caracterização do contrato como permuta ou como compra e venda. Tanto é assim que a própria recorrente, por diversas vezes insistiu que como na permuta formatada em 08/07/2005 o patrimônio das empresas era baseado em créditos junto à CBD e não em dinheiro em espécie, não se poderia caracterizar a compra e venda. Quanto a este fato já apresentamos nosso entendimento em favor da fiscalização quanto à descaracterização da permuta. No entanto nossa opinião é que o contrato realizado entre as partes não poderia se classificar, isoladamente, em uma ou outra espécie. Entendo que o contrato firmado seria de tipo misto ao envolver diferentes tipos de retribuição, sendo parte realizada pela troca de participações e parte realizada pelo pagamento de preço certo. Por isso, pedindo a devida venia à lógica apresentada pela fiscalização e aos argumentos apresentados pela recorrente, acho que a solução intermediária é a mais adequada ao caso. Efetivamente verificamos que parte da operação ocorreu com a simples troca de participações. no caso foram entregues ações ordinárias da VIERI (controladora da CBD) em troca de ações preferenciais mais ADR's do CBD. Realmente, em relação a esta parte da operação que decorreu de simples permuta não deveria incidir o pagamento do ganho de capital, tendo em vista que a própria fiscalização afirma neste sentido. Não que este relator compartilhe desta opinião, posto que, neste ponto haveriam maiores discussões acerca dos conceitos de alienação e alteração patrimonial sem a existência de pagamento em espécie. No entanto, não tendo sido tratado este ponto nos debates, deixarei de apresentar minhas considerações a respeito. Por isso, na linha de entendimento da fiscalização de que não caberia a apuração de ganho de capital quando da existência de simples operação de permuta, no presente caso pareceme claro que a operação de permuta formalmente executada pelas partes e desconsiderada totalmente pela fiscalização, em verdade consistiu em várias operações, perfeitamente identificáveis, conforme escriturado pelo próprio recorrente e pela Masmanidis. Fl. 3324DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.302 47 Assim, dada a possibilidade de fracionamento e individualização das operações no caso, entendo que é possível a apuração do ganho de capital apenas em relação à parte da operação que envolveu valores depositados e que foram convertidos posteriormente em créditos, e depois em CRI's. Por isso, considerando os próprios lançamentos do recorrente, entendo que a apuração do ganho de capital deve se restringir à parte do negócio que não envolveu a simples transferência de participações. Neste sentido apresentamos os valores confirmados pela RIO PLATE em relação às operações. Da tabela acima, as operações 4 e 5 envolveram a simples transferência de ações preferenciais e ADR's em troca das ações ordinárias da CBD. Desta forma, consistindo em efetiva operação de permuta esta parte do negócio, não haveria a obrigação de apuração de ganho de capital neste momento, mas sim apenas quando da realização do investimento, conforme dito pela fiscalização. O ganho de capital da parte em que ocorreu a compra e venda restringirseia às operações 1, 2 e 3, gerando um pagamento de preço no montante de R$ 1.473.300.322,00 para um patrimônio vertido de R$ 662.607.141,00, culminando num ganho de capital tributável no montante de R$ 810.693.181,00. Neste sentido, em relação à apuração do ganho de capital decorrente da descaracterização da permuta, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso para reconhecer a existência de operação de permuta apenas em relação ao recebimento da participação da Onyx 2006 e das ADR's do CBD para, ao final, reduzir o ganho de capital tributável apurado para o valor de R$ 810.693.181,00. MULTA QUALIFICADA Em relação à qualificação da multa esta foi qualificada em função da caracterização de fraude. Art. 72, da Lei nº 4.502/64, conforme abaixo: Fl. 3325DF CARF MF 48 Assim, ao entender que a operação formalizada sob a forma de permuta tinha como único objetivo o de evitar o pagamento do montante devido a fiscalização aplicou a qualificação da multa em conformidade com o § 1º, do art. 44, da Lei nº 9.430/96. Neste ponto evitarei me alongar demais na apresentação de minhas razões porque, ao concordar com a necessidade de descaracterização da operação de permuta em razão da utilização de planejamento tributário abusivo que visava unicamente a evitar a imposição tributária, este relator está incontinenti concordando, mesmo que em parte, com a argumentação da fiscalização de que houve fraude na formalização da operação da maneira concebida. Neste ponto a recorrente argumenta que, mesmo mantida a autuação não haveria a caracterização do intuito de fraude a gerar a aplicação da qualificação. Conforme já relatado mais acima, ao se elaborar o acordo de participações entre o Grupo Casino e o Grupo Abílio Diniz num momento e, após, ao apresentar justificativas que indicavam o pagamento do preço em comunicado aos órgãos reguladores realizando procedimento diverso sem a comunicação das modificações aos mesmos órgãos reguladores, formalizando negócio diferente do acordado sem a justificação de um real objetivo negocial, entendo que não há como deixar de considerar que houve, na essência, o objetivo de tentar evitar a imputação tributária, ou seja, tipificaramse os atos caracterizadores da fraude. Por óbvio que utilizar a palavra Fraude traz uma noção de coisa grave. Mas essa é a dicção legal. Aquele que realiza atos que visam a impedir a incidência tributária cometem atos fraudulentos. Talvez porque a tentativa de evitar a tributação possa ser considerada planejamento tributário por uns e fraude por outros nos leve, normalmente, a não utilizar a dicção fraude e sim a de simulação. No entanto os atos comissivos realizados e a intenção de evitar o pagamento do ganho tipificam a autuação do recorrente, por isso, justificam a aplicação da qualificação. Por isso, voto no sentido de manter a qualificação da multa. DECADÊNCIA. Com relação à decadência suscitada pelo recorrente, entendo não ser aplicável ao caso. O lançamento teve a sua multa de ofício qualificada em razão da existência de atos caracterizados pelo art. 72, da Lei nº 4.502/64 que obrigam à qualificação e, em consequência, à contagem do prazo decadencial na sistemática do art. 173, I, do CTN. Consoante o já exposto acima, este relator entende que a qualificação da multa deve ser mantida contra a empresa. Por esta razão, consectário deste entendimento é que mantendose a qualificação da multa, aplicase a hipótese do art. 173, I, do CTN para a contagem do prazo decadencial e, assim, não se caracteriza a decadência no presente lançamento. Fl. 3326DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.303 49 JUROS SOBRE A MULTA. Quanto à possibilidade de aplicação de juros sobre a multa de ofício, já por diversas vezes me pronunciei no sentido do cabimento. Assim, passo a transcrever trechos de voto já emitidos que correm no sentido do cabimento. Com relação à alegação de impossibilidade de incidência de juros calculados pela SELIC sobre a multa de ofício, entendo por bastante elucidativa a argumentação apresentada em voto proferido pela DRJ/Florianópolis no acórdão nº 0738.069 3ª Turma da DRJ/FNS relativo ao assunto. Por isso transcrevo a parte do mesmo o adoto como suficiente para justificar a não aceitação das alegações do recorrente quanto a este ponto. Fl. 3327DF CARF MF 50 Fl. 3328DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.304 51 Corroboram este entendimento os seguintes precedentes do CARF: JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. A multa de ofício, penalidade pecuniária, compõe a obrigação tributária principal, e, por conseguinte, integra o crédito tributário, que se encontra submetido à incidência de juros moratórios, após o seu vencimento, em consonância com os artigos 113, 139 e 161, do CTN, e 61, § 3º, da Lei 9.430/96. (Acórdão 9101003.009, de 08 de agosto de 2017) JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de ofício proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de ofício, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic. (Acórdão 9101002.957, de 03 de julho de 2017) Fl. 3329DF CARF MF 52 JUROS DE MORA. INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DA MULTA DE OFÍCIO. CÁLCULO INDIRETO. POSSIBILIDADE. A multa de oficio incide sobre o valor do crédito tributário devido e não pago, acrescido dos juros moratórios, calculados com base na variação da taxa Selic, logo, se os juros moratórios integram a base de cálculo da referida multa, necessariamente, eles comporão o valor da multa de ofício devida. (Acórdão 3302004.496, de 25 de julho de 2017) JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. De acordo com art. 161 do CTN, sobre o crédito tributário incidem juros de mora. Como a multa de ofício integra o crédito tributário, também sobre ela devem incidir juros de mora. (Acórdão 1401 001.903, de 20 de junho de 2017) Pelo apresentado acima, entendo estar correta a decisão de Piso na parte em manteve a exigência da aplicação da taxa SELIC sobre o crédito tributário relativo à multa de ofício. Assim, voto por negar provimento ao recurso quanto a este ponto. RESPONSABILIZAÇÃO SOLIDÁRIA POR SUCESSÃO Realizado o lançamento, a fiscalização atribuiu responsabilidade solidária a diversos outros sujeitos em razão da aplicação dos dispositivos dos arts. 129 e 132, do CTN, mais o art. 207, III, do Regulamento do Imposto de Renda, A responsabilização, neste caso, decorre dos eventos de sucessão ocorridos na antiga RIO PLATE conforme abaixo: 1 Incorporação da velha RIO PLATE pela Supercred e mudança de nome desta para "nova" RIO PLATE. Acresce, a título de comentário, que todas as operações foram realizadas sob a tutela do mesmo controlador, Sr. Abílio Diniz. Assim, absorvido todo o patrimônio e sendo este detido pelo mesmo controlador, os créditos tributários e as respectivas multas devem ser sujeitos à responsabilização solidária dos sucessores legais. 2. Operação de Cisão da "nova" RIO PLATE. Nesta operação parte do patrimônio foi cindido para a empresa Rio Ceny, conforme abaixo. Fl. 3330DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.305 53 Em relação a esta responsabilização aponta a norma do art. 5º, do Decreto Lei nº 1.598/77 que trata da responsabilidade em caso de pessoas jurídicas, transformadas, extintas ou cindidas. 3. Incorporação da Rio Ceny por Zabaleta. Tendo incorporado todo o patrimônio da Rio Ceny, a Zabaleta tornouse igualmente responsável pelos tributos decorrentes do lançamento e suas multas. Demonstrando a situação do controle da Zabaleta e Rio Ceny foi apresentado o seguinte gráfico: 4. Cisão parcial da Zabaleta e versão de parte do patrimônio líquido, em partes iguais, para as seguintes empresas: Fl. 3331DF CARF MF 54 Passa a apresentar a composição societária de cada uma das empresas acima que receberam parte do patrimônio da Zabaleta, para demonstrar que as empresas são controladas pelos mesmos sócios da Zabaleta. Assim, estas empresas, na qualidade de sucessoras de parte do patrimônio de Zabaleta também foram indicadas como responsáveis solidárias. Cabe aqui destacar indicação da fiscalização de cláusula constante no protocolo de justificação da cisão que visava a eximir a responsabilidade dos sucessores. Quanto a isto a própria fiscalização já superou a cláusula, da seguinte forma. Ao final apresenta o gráfico consolidado das operações de sucessão de modo a embasar a solidarização aplicada. Por seu turno as recorrentes entendem não ser possível a responsabilização em razão de sucessão por cisão em face da inexistência de previsão do art. 132, do CTN e que apenas parte do patrimônio foi vertido e, mais ainda, que a sucessão não se aplicaria às multas. Quanto à possível omissão do art. 132, do CTN para os casos de cisão, a própria fiscalização já apresentou argumento, do qual adoto, conforme abaixo: Fl. 3332DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.306 55 Fl. 3333DF CARF MF 56 Com base nestes argumentos, que entendo bastante suficientes, além de acompanhar os precedentes deste mesmo CARF, entendo que a atribuição de responsabilidade solidária aos sucessores por cisão é perfeitamente compatível com o nosso ordenamento jurídico e, admitirse o contrário, seria abrir, não uma brecha, mas sim uma avenida à impunidade daqueles que ilicitamente cometam crimes contra a ordem tributária e possam se subtrair da cobrança tributária subsequente. Com relação aos demais argumentos de que apenas parte do patrimônio foi vertido e que, assim a solidariedade não poderia ser integral, não entendo cabível. Com a aplicação da solidariedade ao caso concreto o sujeito passivo responde integralmente pelos tributos devidos. O cabimento de possíveis ações de regresso, em razão da proporcionalidade da responsabilidade entre os sócios em face do patrimônio vertido, é matéria a ser enfrentada entre os particulares e decorrente de seus próprios acordos, não sendo oponível ao fisco. Quanto às multas, entendo que estas acompanham o principal, mais ainda neste caso quando os responsáveis solidários compunham um mesmo grupo econômico cujos controladores eram os mesmos e, inclusive, com vínculo familiar. Não há, no presente caso, como não se admitir o desconhecimento das ações realizadas por parte dos sucessores e controladores. Acrescento, ainda, precedentes deste CARF neste sentido. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÃO. SUCESSÃO EMPRESARIAL. APLICAÇÃO DE MULTA PUNITIVA AO SUCESSOR. POSSIBILIDADE. Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão (Aplicação do disposto no art. 62, § 2º, do Anexo II do RICARF/2015). (Acórdão nº 3302005.264, de 27/02/2018) MULTA. PENALIDADE. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA SUCESSORA. STJRESP nº 923.012/MG. ART. 62, §2º, DO RICARF. A responsabilidade tributária do sucessor abrange, além dos tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas, que, por representarem dívida de valor, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor, desde que seu fato gerador tenha ocorrido até a data da sucessão. (Acórdão nº 9202006.516, de 27/02/2018) RESPONSABILIDADE DA SUCESSORA. MULTA FISCAL PUNITIVA APÓS A INCORPORAÇÃO. POSSIBILIDADE. O sucessor responde pelo crédito tributário lançado pela Fazenda Nacional, cujos fatos remetem a período anterior ao evento de sucessão. O crédito tributário contempla, além do tributo, os juros de mora e a multa de ofício, razão pela qual a sucessora passa a responder integralmente pelo lançamento tributário. (Acórdão nº 1401002.003, de 26/07/2017) Pelo exposto, voto no sentido de manter a responsabilidade solidária por sucessão apontada pela fiscalização. Fl. 3334DF CARF MF Processo nº 10880.728600/201192 Acórdão n.º 1401002.343 S1C4T1 Fl. 3.307 57 CONCLUSÃO À vista de todo o exposto e apresentado, voto no sentido de: 1) Rejeitar a preliminar suscitada; 2) Dar parcial provimento ao recurso apenas em relação ao cálculo da apuração do ganho de capital a fim de excluir do ganho as parcelas relativas à real operação de permuta realizada, reduzindo o ganho tributável para R$ R$ 810.693.181,00; 3) Negar provimento aos recursos voluntários dos responsáveis solidários de modo a manter integralmente a responsabilidade apontada por sucessão. Abel Nunes de Oliveira Neto Relator Fl. 3335DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13851.902680/2013-51
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Apr 13 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Jun 07 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2012
DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. DESPACHO DECISÓRIO. INTIMAÇÃO. INCONSISTÊNCIAS DO PEDIDO. NULIDADE INEXISTENTE.
Diante da certeza de que o despacho decisório de não homologação da compensação explicita de maneira fundamentada os motivos pelos quais o crédito pleiteado foi considerado inexistente, não assiste razão à Recorrente a respeito da alegação de sua nulidade. Também não acarreta nulidade a dispensa de intimação para a comprovação do crédito quando não há nenhuma dúvida quanto à sua falta de liquidez e certeza.
Numero da decisão: 1401-002.460
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso nos termos do voto do Relator.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Lívia De Carli Germano, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Abel Nunes de Oliveira Neto, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga e Luiz Augusto de Souza Gonçalves.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DE SOUZA GONCALVES
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PERDCOMP Recorrente JOSÉ MARIA DOS SANTOS TRANSPORTADORA ME Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2012 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. DESPACHO DECISÓRIO. INTIMAÇÃO. INCONSISTÊNCIAS DO PEDIDO. NULIDADE INEXISTENTE. Diante da certeza de que o despacho decisório de não homologação da compensação explicita de maneira fundamentada os motivos pelos quais o crédito pleiteado foi considerado inexistente, não assiste razão à Recorrente a respeito da alegação de sua nulidade. Também não acarreta nulidade a dispensa de intimação para a comprovação do crédito quando não há nenhuma dúvida quanto à sua falta de liquidez e certeza. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso nos termos do voto do Relator. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Lívia De Carli Germano, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Abel Nunes de Oliveira Neto, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 85 1. 90 26 80 /2 01 3- 51 Fl. 64DF CARF MF Processo nº 13851.902680/201351 Acórdão n.º 1401002.460 S1C4T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de PER/DCOMP em que a Contribuinte pretende compensar débito de sua titularidade com crédito de IRPJ, recolhido via DARF em 14/01/2013, no valor de R$ 6.083,76. Analisando o pedido, a Autoridade Administrativa que jurisdiciona a Recorrente não homologou a compensação pretendida ante a constatação de que o pagamento indicado teria sido integralmente utilizado para a quitação de outros débitos de sua responsabilidade, não restando crédito disponível para a compensação pretendida. Irresignado com o indeferimento do PER/DCOMP, a Contribuinte apresentou manifestação de inconformidade à DRJ, tendo a Delegacia de Julgamento assim se pronunciado: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2012 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. CRÉDITO NÃO COMPROVADO. Não se admite a compensação se o contribuinte não comprovar a existência de crédito líquido e certo. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Intimado do Acórdão de Manifestação de Inconformidade, apresentou Recurso Voluntário onde, em apertada síntese, argui o seguinte: 1) Reitera a arguição de nulidade do despacho decisório haja vista a forma sintética como foi tratado o direito da Recorrente, o que o estaria impedindo de ter uma visão clara do porque o seu crédito fora declarado inexistente. Fundamenta suas alegações no disposto no art. 59, inc. II, do Decreto 70.235/72; 2) Entende que deveria, obrigatoriamente, ter sido intimado previamente à edição do despacho decisório para que tivesse oportunidade de comprovar a existência do crédito pleiteado, conforme o disposto no art. 65, da Instrução Normativa SRF nº 900/2008. Afinal, vieram os autos para este Conselheiro relatar e votar. É o relatório. Fl. 65DF CARF MF Processo nº 13851.902680/201351 Acórdão n.º 1401002.460 S1C4T1 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1401002.457, de 13.04.2018, proferida no julgamento do Processo nº 13851.902677/201338, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1401002.457): O Recurso Voluntário é tempestivo e sua matéria se enquadra na competência deste Colegiado. Os demais pressupostos de admissibilidade igualmente foram atendidos. A peça recursal limitase a reclamar a nulidade do despacho decisório que não homologou a compensação pleiteada. Nenhuma arguição de mérito, principalmente em relação à existência do crédito declarado, foi trazida pelo recurso. E, como veremos adiante, as alegações de que o despacho decisório incorreria em nulidade são totalmente descabidas. O primeiro ponto, relativo à falta de motivação/fundamentação, que teria impedido a Contribuinte de "ter uma visão clara" do porque o seu crédito fora declarado inexistente foi assim tratado no acórdão recorrido: O despacho não deixa dúvida quanto à sua motivação: o fundamento de fato para a não homologação é a inexistência do crédito utilizado na compensação; o fundamento legal é, entre outros, o art. 74 da Lei n.º 9.430, de 1996. O caput do referido artigo diz que o sujeito passivo que apurar crédito passível de restituição ou de ressarcimento poderá utilizálo na compensação de débitos próprios. Isso significa que, se o sujeito passivo não apurar crédito passível de restituição ou ressarcimento, não poderá fazer compensação. Portanto, a inexistência do crédito utilizado no PER/DCOMP é fundamento de fato legítimo e suficiente para a não homologação. O despacho decisório explicita de maneira fundamentada, como se concluiu pela inexistência do crédito utilizado. Lá consta que o Darf apresentado como origem do crédito foi utilizado para pagamento de tributo declarado. Entre as informações nele apresentadas, estão o valor original do débito declarado, seu período de apuração e o código do tributo. Demonstrase, assim, que o despacho traz, de forma explícita, a motivação da não homologação. A exposição é clara e exaustiva, não havendo preterição do direito de defesa. Fl. 66DF CARF MF Processo nº 13851.902680/201351 Acórdão n.º 1401002.460 S1C4T1 Fl. 5 4 A análise da motivação é questão de mérito. Sua eventual improcedência não é motivo de nulidade e não afeta o estabelecimento da relação jurídica processual. Perfeita a análise empreendida pela DRJ. Os motivos pelos quais o despacho decisório declarou a inexistência do crédito estão muito bem delineados. Vejam abaixo uma fotografia do próprio despacho decisório que evidencia o dito pelo acórdão: Aliás, a própria decisão recorrida traz uma informação, não contestada pela Contribuinte no Recurso Voluntário, de que o mesmo DARF tido como origem do crédito teria sido utilizado em outras 19 (dezenove) PER/DCOMP, além desta. Vejam: Ainda que o DARF utilizado constituísse pagamento indevido, não seria suficiente para fazer frente a tantas compensações com ele pretendidas. O mesmo DARF, no valor de R$ 11.411,75, foi utilizado em 20 PER/DCOMP para compensar débitos que somam R$93.176,36, conforme abaixo discriminado: Então, resta claramente demonstrado que a Contribuinte sabia exatamente o que estava fazendo, bem assim do porque o alegado crédito seria inexistente. Também muito bem explicado o porque de a Contribuinte limitarse a aventar a nulidade do despacho decisório, ao invés de tentar demonstrar a existência do crédito. Fl. 67DF CARF MF Processo nº 13851.902680/201351 Acórdão n.º 1401002.460 S1C4T1 Fl. 6 5 O segundo ponto levantado pela Recorrente trata da pretensa obrigatoriedade de a Autoridade Administrativa intimála, previamente à edição do despacho decisório, para que comprovasse a existência do crédito pleiteado, diante da inconsistência apontada, conforme o disposto no art. 65, da Instrução Normativa SRF nº 900/2008. Curioso, neste ponto, é que quando da manifestação de inconformidade, a norma citada fora a Instrução Normativa SRF nº 1.300/2012, e não a IN SRF nº 900/2008. Ocorre que a IN SRF nº 900/2008 foi totalmente revogada pela IN SRF nº 1.300/2012, esta sim, passível de citação pelo Recurso Voluntário, eis que vigente à época da transmissão da PER/DCOMP. Fato é que a IN SRF nº 1.300/2012 reproduziu em seu art. 74 a redação contida no art. 65 da IN SRF nº 900/2008, utilizada pela Recorrente. Abaixo colaciono o referido dispositivo: IN SRF nº 1.300/2012 Art. 76. A autoridade da RFB competente para decidir sobre a restituição, o ressarcimento, o reembolso e a compensação poderá condicionar o reconhecimento do direito creditório à apresentação de documentos comprobatórios do referido direito, inclusive arquivos magnéticos, bem como determinar a realização de diligência fiscal nos estabelecimentos do sujeito passivo a fim de que seja verificada, mediante exame de sua escrituração contábil e fiscal, a exatidão das informações prestadas. Quer nos fazer crer a Recorrente que a expressão "poderá", grifada no texto, constituirseia em um poderdever da Administração de intimar o contribuinte quando, durante a análise de pedidos como este que estamos apreciando, houver sido verificada, em suas próprias palavras, "uma inconsistência nos créditos declarados pelo contribuinte". Aqui, claramente, estamos diante de uma tentativa de inversão do alcance do dispositivo colacionado. Tal norma nada mais é do que uma garantia posta ao Fisco de somente conceder a restituição/ressarcimento/compensação quando estiver seguro quanto a liquidez e certeza do crédito apresentado pelo Contribuinte. Em havendo dúvida por parte do Fisco em relação ao crédito apresentado, o referido dispositivo lhe permite condicionar o pagamento/compensação à sua efetiva comprovação, seja pela apresentação "de documentos comprobatórios do referido direito, inclusive arquivos magnéticos", seja pela determinação de "realização de diligência fiscal nos estabelecimentos do sujeito passivo a fim de que seja verificada, mediante exame de sua escrituração contábil e fiscal, a exatidão das informações prestadas". No caso em apreço, não houve dúvida nenhuma da parte do Fisco ao não homologar a compensação, eis que patente a inexistência do crédito pleiteado, ante à sua total utilização para a quitação de outros débitos que não aqueles apontados na PER/DCOMP sob análise. Fl. 68DF CARF MF Processo nº 13851.902680/201351 Acórdão n.º 1401002.460 S1C4T1 Fl. 7 6 Não se trata, portanto, de uma obrigação, mas tão somente de uma faculdade posta à disposição da Autoridade Administrativa para garantir a correção no deferimento dos pleitos dos Contribuintes. Portanto, também neste ponto, rechaço as alegações da Recorrente. Por todo o exposto, nego provimento ao recurso voluntário. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Fl. 69DF CARF MF
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