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Numero do processo: 10840.003176/96-73
Turma: Terceira Câmara
Seção: Segundo Conselho de Contribuintes
Data da sessão: Tue May 08 00:00:00 UTC 2001
Ementa: NULIDADE — NOTIFICAÇÃO DE LANÇAMENTO.
É nulo o lançamento de crédito tributário efetuado por Notificação de Lançamento que não contenha os requisitos estabelecidos no artigo 11, do Decreto n° 70.235/72.
Numero da decisão: CSRF/03-03.175
Decisão: ACORDAM os Membros da Terceira Turma da Câmara Superior de
Recursos Fiscais, por maioria de votos, DECLARAR a nulidade do lançamento por vício formal, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencido o Conselheiro Henrique Prado Megda. O Conselheiro vencido fará a declaração de voto.
Nome do relator: Paulo Roberto Cuco Antunes
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conteudo_txt : Metadados => date: 2009-07-08T00:28:18Z; pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.6; pdf:docinfo:title: ; xmp:CreatorTool: CNC PRODUÇÃO; Keywords: ; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; subject: ; dc:creator: CNC Solutions; dcterms:created: 2009-07-08T00:28:18Z; Last-Modified: 2009-07-08T00:28:18Z; dcterms:modified: 2009-07-08T00:28:18Z; dc:format: application/pdf; version=1.6; Last-Save-Date: 2009-07-08T00:28:18Z; pdf:docinfo:creator_tool: CNC PRODUÇÃO; access_permission:fill_in_form: true; pdf:docinfo:keywords: ; pdf:docinfo:modified: 2009-07-08T00:28:18Z; meta:save-date: 2009-07-08T00:28:18Z; pdf:encrypted: false; modified: 2009-07-08T00:28:18Z; cp:subject: ; pdf:docinfo:subject: ; Content-Type: application/pdf; pdf:docinfo:creator: CNC Solutions; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; creator: CNC Solutions; meta:author: CNC Solutions; dc:subject: ; meta:creation-date: 2009-07-08T00:28:18Z; created: 2009-07-08T00:28:18Z; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 7; Creation-Date: 2009-07-08T00:28:18Z; pdf:charsPerPage: 1244; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; meta:keyword: ; Author: CNC Solutions; producer: CNC Solutions; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: CNC Solutions; pdf:docinfo:created: 2009-07-08T00:28:18Z | Conteúdo => MINISTÉRIO DA FAZENDA J.: CAMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA TURMA ' Processo n° : 10840.003176/96-73 Recurso n° : RP/203-0.071 Recorrida : TERCEIRA CÂMARA DO SEGUNDO CONSELHO DE CONTRIBUINTES Matéria : ITR Recorrente : FAZENDA NACIONAL Sujeito Passivo : JOSÉ CARLOS GUIMARÃES ALVIM Sessão de : 08 DE MAIO DE 2001 Acórdão n° : CSRF/03-03.175 NULIDADE — NOTIFICAÇÃO DE LANÇAMENTO. É nulo o lançamento de crédito tributário efetuado por Notificação de Lançamento que não contenha os requisitos estabelecidos no artigo 11, do Decreto n° 70.235/72. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto pela Fazenda Nacional. ACORDAM os Membros da Terceira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, por maioria de votos, DECLARAR a nulidade do lançamento por vício formal, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencido o Conselheiro Henrique Prado Megda. O Conselheiro vencido fará a declaração de voto. -• ON P RODRIGUES PRESIDEN Amar~1.11111111V-40'IMAIO - or PAUL. ROBE prY0 UCO ANTUNES RELATOR FORMALIZADO EM: 0 6 JULH Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros: CARLOS ALBERTO GONÇALVES NUNES, MOACYR ELOY DE MEDEIROS, MÁRCIA REGINA MACHADO MELARÉ, JOÃO HOLANDA COSTA E NILTON LUÍZ BARTOLI. Processo nr. 10840.003176/96-73 Acórdão nr. CSRF/03-03.175 Recorrente : FAZENDA NACIONAL Sujeito Passivo : JOSÉ CARLOS GUIMARÃES ALVIM RELATÓRIO Conforme ressalta o Relatório estampado na Decisão de fls. 30/32, contra o contribuinte acima identificado foi emitida a notificação de fls 05, para exigir-lhe o crédito tributário relativo ao Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) e as contribuições sindicais rurais, exercício 1995, no montante de R$296,55, incidente sobre o imóvel rural cadastrado na SRF sob o registro n° 0781425-9, com área de 58,1 ha, denominado "Fazenda São Paulo", localizado no município de Igarapava-SP. A exigência do ITR fundamenta-se na Lei n° 8.847/94; Lei n° 8.981/95 e Lei n° 9.065/91 e das contribuições no Decreto-lei n° 1.146/70, art. 5 0 , c/c o Decreto-lei n° 1.989/82, art. 1° e §§; Lei n°8.315/91 e Decreto-lei n° 1.166, art. 40 e parágrafos. Inconformado com o valor do crédito tributário exigido, o interessado ingressou com a petição de fls. 01/02, solicitando a retificação do lançamento, visando a redução do VTNm Tributado, alegando que esse valor é muito superior ao de mercado. Na região onde se localiza a Fazenda Porangaba (SIC) o preço da terra nua é de R$ 413,22 o hectare, conforme prova o laudo em anexo. Para instruir o processo, juntou inicialmente aos autos os documentos de fls. 03/04 e fls. 08 e, após intimado, os de fls. 22/28. Julgado procedente o lançamento inicial, o contribuinte recorreu ao E. Segundo Conselho de Contribuintes, apresentando um novo Laudo Técnico, que diz estar de acordo com as normas da ABNT, dentre outros documentos, pleiteando a revisão do VTN aplicado sobre o referido imóvel. 2 „ Processo nr. 10840.003176/96-73 Acórdão nr. CSRF/03-03.175 Pelo Acórdão n° 203-06.070, de 10/11/99, a Colenda Terceira Câmara do E. Segundo Conselho de Contribuintes, deu provimento ao Recurso interposto, sob fundamento de que: "Restou demonstrado o esforço do Recorrente, que no decorrer do presente processo apresentou três Laudos Técnicos de Avaliação — fls. 03/04, 22/25 e 38/43 — sendo que o último (fls. 38/43) está bem instruido e o seu valor é idêntico ao da pauta do ITB1, da Prefeitura do imóvel rural em questão (certidão de fls. 44).” Cientificada em 15/12/99 (fls. 57), a D. Procuradoria da Fazenda Nacional, inconformada com o "decisum" em questão, apresentou Recurso Especial (fls. 58/61), pleiteando a sua reforma. A petição recursória em comento foi emitida em 27/12/99, porém não consta, em local algum da mesma ou do processo, a data de recepção desse documento pela C. Câmara recorrida. Destacando vários tópicos informativos extraídos dos Laudos de Avaliação anexados, a D. Procuradoria pretende demonstrar que os dados não foram valorizados como devia. Ressalta a existência de algumas terras que possuem, em sua área, predominância de solos de bom nível como é o caso do "Latossolo", onde o Laudo registra ser "de grande potencialidade agrícola". Qualidade do Solo, Relevo, precipitações pluviométricas, etc., são também destacadas dos Laudos. Destaca, também, que o relevo é tão suave que permite seja utilizada de modo satisfatório, o percentual de 61% de sua área por meio de mecanização agrícola. E na sua totalidade, o aproveitamento da propriedade situa-se em aproximadamente 80% (oitenta por cento), o que é percentual excepcional em termos de propriedade. Possui recursos hídricos abundantes, vez que é entrecortada de riachos, nascidos na própria gleba e ainda com existência de outras nascentes. 3 , Processo nr. 10840.003176/96-73 Acórdão nr. CSRF/03-03.175 Realça, também, a valorização econômica, em decorrência da proximidade com os locais de consumo dos produtos agropecuários, produzidos na Fazenda Porangaba. Por estas razões deve-se concluir, segundo a Recorrente, pelos elementos trazidos no Laudo, que o valor da Terra Nua não pode ser aceito como incluso na generalidade das demais Terras Nuas da maioria das propriedades da região e, em conseqüência, o valor do ITR deve estar, evidentemente, em correlação com o nível de qualidade e aproveitamento da Terra Nua. Por fim, requer a reforma do R. Acórdão recorrido, restabelecendo-se a Decisão de primeira instância. O Contribuinte, no prazo regulamentar, apresentou "Contra-Alegações" ao Recurso Especial (fls. 66/70), onde argumenta, em síntese, que: - as razões elencadas pela Recorrente, que configuram as "boas características" do imóvel exercem muito pouca influência em seu valor venal, sendo que a tabela expedida pela Secretaria da Receita Federal tam a finalidade única e exclusiva de fixar valores apenas para fins de tributação, com vista a aumentar a arrecadação. A referida tabela é irreal e totalmente ignorada no mercado imobiliário. Os valores ali fixados atendem exclusivamente aos interesses da Receita Federal; - embora as características destacadas no Recurso da Fazenda Nacional, embora o imóvel possua determinados fatores que poderiam exercer algum tipo de influência no seu preço básico final, na prática a situação é outra, muito diferente, uma vez que aquelas características não exercem influência alguma e nem alteram o seu preço final, razão pela qual deve corresponder literalmente ao valor da terra nua; - os membros do E. Segundo Conselho de Contribuintes agiram acertadamente ao aceitarem o VTN fixado pela Prefeitura de Igarapava, pois aquela prefeitura, não fugindo à regra existente dentre as demais prefeituras, os valores cujos imóveis são tabelados para fins de recolhimento do ITBI, são obtidos através de vistorias feitas "in loco", sendo a opção acatada a mais certa, por ser método ser o mais correto. 4 it) Processo nr. 10840.003176/96-73 Acórdão nr. CSRF/03-03.175 Foram então os autos distribuídos a este Conselheiro para relatoria, conforme anuncia o Despacho de fls. 78 É o Relatório. 1 l /4r):v 1 1 ,, 1 ,,, 1 5 Processo nr. 10840.003176/96-73 Acórdão nr. CSRF/03-03.175 VOTO Conselheiro PAULO ROBERTO CUCO ANTUNES, Relator Sr. Presidente, Eméritos Pares, Antes de adentrarmos pelas razões de mérito contidas no Recurso Especial aqui em exame, entendo necessária a abordagem de questão preliminar, que levanto nesta oportunidade, concernente à legalidade do lançamento tributário que aqui se discute, no aspecto da formalidade processual que reveste tal lançamento. Com efeito, pelo que se pode observar a Notificação de Lançamento de fls. 05 trata-se de documento emitido por processo eletrônico, não constando da mesma a indicação do cargo ou função e a matrícula do funcionário que a emitiu. O Decreto n° 70.237/72, em seu artigo 11, estabelece: "Art. 11. A notificação de lançamento será expedida pelo órgão que administra o tributo e conterá obrigatoriamente: IV — a assinatura do chefe do órgão expedidor ou de outro servidor autorizado e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. Parágrafo único — Prescinde de assinatura a notificação de lançamento emitida por processo eletrônico." ¡Pelo que se pode concluir, a Notificação de Lançamento objeto do presente litígio, por ter sido emitida por processo eletrônico, estava dispensada de 6 Processo nr. 10840.003176/96-73 Acórdão nr. CSRF/03-03.175 assinatura. Porém, o mesmo não acontecia em relação à imprescindível indicação do cargo ou função e a matrícula do funcionário que a emitiu. Trata-se, em meu entendimento, de documento insubsistente, tornando impraticável o prosseguimento da ação fiscal de que se trata. Ante o exposto, voto no sentido de declarar, de ofício, nulo o lançamento efetuado pela repartição fiscal de origem e, conseqüentemente, todos os atos posteriormente praticados, documentados no processo administrativo que aqui se discute. Sala das Sessões, 08 de Maio de 2001. r7 or. "9":00ri- PAULO ROBE ' CO ANTUNES — Relator. 7 Page 1 _0000200.PDF Page 1 _0000300.PDF Page 1 _0000400.PDF Page 1 _0000500.PDF Page 1 _0000600.PDF Page 1 _0000700.PDF Page 1
score : 1.0
Numero do processo: 10680.722995/2010-95
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Sep 26 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Nov 27 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/06/2006 a 31/10/2008
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. AUTO DE INFRAÇÃO. APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009.
Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta.
O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.
Numero da decisão: 9202-005.810
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em dar-lhe provimento, para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14, de 2009.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em Exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Ana Cecília Lustosa da Cruz (suplente convocada) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
Nome do relator: LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/06/2006 a 31/10/2008 CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. AUTO DE INFRAÇÃO. APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 10; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1613; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => CSRFT2 Fl. 2 1 1 CSRFT2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 10680.722995/201095 Recurso nº 1 Especial do Procurador Acórdão nº 9202005.810 – 2ª Turma Sessão de 26 de setembro de 2017 Matéria CSP RETROATIVIDADE BENIGNA Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado MANUFATURA ALEFRA ARTEFATOS E CALCADOS LTDA EPP ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/06/2006 a 31/10/2008 CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. AUTO DE INFRAÇÃO. APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em darlhe provimento, para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14, de 2009. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 68 0. 72 29 95 /2 01 0- 95 Fl. 397DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 2 (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos – Presidente em exercício e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em Exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patricia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Ana Cecília Lustosa da Cruz (suplente convocada) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do processo paradigma deste julgamento, n° 15979.000274/200701. Tratase de auto de infração, referente às contribuições devidas ao INSS, destinadas à Seguridade Social. A divergência em exame reportase à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. A Fazenda Nacional interpôs recurso especial requerendo que a retroatividade benigna fosse aplicada, essencialmente, pelos critérios constantes na Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Cientificado, o sujeito passivo não apresentou contrarrazões. É o relatório. Fl. 398DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 3 Voto Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos – Relator Este processo foi julgado na sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9202005.782, de 26/09/2017, proferido no julgamento do processo 15979.000274/200701, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido naquela decisão (Acórdão 9202005.782): Pressupostos De Admissibilidade O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Do mérito Aplicação da multa retroatividade benigna Cingese a controvérsia às penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP nº 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009, quando mais benéfica ao sujeito passivo. A solução do litígio decorre do disposto no artigo 106, inciso II, alínea “a” do CTN, a seguir transcrito: Art. 106. A lei aplicase a ato ou fato pretérito: I em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II tratandose de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de definilo como infração; b) quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. (grifos acrescidos) De inicio, cumpre registrar que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), de forma unânime pacificou o entendimento de que na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade Fl. 399DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 4 benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Assim, a multa de mora prevista no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, não é aplicável quando realizado o lançamento de ofício, conforme consta do Acórdãonº9202004.262 (Sessão de23dejunhode2016), cuja ementa transcrevese: AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA MULTA APLICAÇÃO NOS LIMITES DA LEI 8.212/91 C/C LEI 11.941/08 APLICAÇÃO DA MULTA MAIS FAVORÁVEL RETROATIVIDADE BENIGNA NATUREZA DA MULTA APLICADA. A multa nos casos em que há lançamento de obrigação principal lavrados após a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, mesmo que referente a fatos geradores anteriores a publicação da referida lei, é de ofício. AUTO DE INFRAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA COMPARATIVO DE MULTAS APLICAÇÃO DE PENALIDADE. RETROATIVIDADE BENIGNA. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Se as multas por descumprimento de obrigações acessória e principal foram exigidas em procedimentos de ofício, ainda que em separado, incabível a aplicação retroativa do art. 32A, da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, eis que esta última estabeleceu, em seu art. 35A, penalidade única combinando as duas condutas. A legislação vigente anteriormente à Medida Provisória n° 449, de 2008, determinava, para a situação em que ocorresse (a) recolhimento insuficiente do tributo e (b) falta de declaração da verba tributável em GFIP, a constituição do crédito tributário de ofício, acrescido das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, respectivamente. Posteriormente, foi determinada, para essa mesma situação (falta de pagamento e de declaração), apenas a aplicação do art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991, que faz remissão ao art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996. Portanto, para aplicação da retroatividade benigna, resta necessário comparar (a) o somatório das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, e (b) a multa prevista no art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991. Fl. 400DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 5 A comparação de que trata o item anterior tem por fim a aplicação da retroatividade benigna prevista no art. 106 do CTN e, caso necessário, a retificação dos valores no sistema de cobrança, a fim de que, em cada competência, o valor da multa aplicada no AIOA somado com a multa aplicada na NFLD/AIOP não exceda o percentual de 75%. Prosseguindo na análise do tema, também é entendimento pacífico deste Colegiado que na hipótese de lançamento apenas de obrigação principal, a retroatividade benigna será aplicada se, na liquidação do acórdão, a penalidade anterior à vigência da MP 449, de 2008, ultrapassar a multa do art. 35A da Lei n° 8.212/91, correspondente aos 75% previstos no art. 44 da Lei n° 9.430/96. Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º doart. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pelaMP 449 (convertida na Lei 11.941, de 2009), tenham sido aplicadas isoladamente descumprimento de obrigação acessória sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal deverão ser comparadas com as penalidades previstas noart. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, bem assim no caso de competências em que o lançamento da obrigação principal tenha sido atingida pela decadência. Neste sentido, transcrevese excerto do voto unânime proferido no Acórdãonº9202004.499 (Sessão de 29desetembrode2016): Até a edição da MP 449/2008, quando realizado um procedimento fiscal, em que se constatava a existência de débitos previdenciários, lavravase em relação ao montante da contribuição devida, notificação fiscal de lançamento de débito NFLD. Caso constatado que, além do montante devido, descumprira o contribuinte obrigação acessória, ou seja, obrigação de fazer, como no caso de omissão em GFIP (que tem correlação direta com o fato gerador), a empresa era autuada também por descumprimento de obrigação acessória. Nessa época os dispositivos legais aplicáveis eram multa art. 35 para a NFLD (24%, que sofria acréscimos dependendo da fase processual do débito) e art. 32 (100% da contribuição devida em caso de omissões de fatos geradores em GFIP) para o Auto de infração de obrigação acessória. Contudo, a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, inseriu o art. 32A, o qual dispõe o seguinte: “Art. 32A. O contribuinte que deixar de apresentar a declaração de que trata o inciso IV do caput do art. 32 desta Lei no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentála ou a prestar esclarecimentos e sujeitarseá às seguintes multas: Fl. 401DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 6 I – de R$ 20,00 (vinte reais) para cada grupo de 10 (dez) informações incorretas ou omitidas; e II – de 2% (dois por cento) ao mêscalendário ou fração, incidentes sobre o montante das contribuições informadas, ainda que integralmente pagas, no caso de falta de entrega da declaração ou entrega após o prazo, limitada a 20% (vinte por cento), observado o disposto no § 3o deste artigo. § 1o Para efeito de aplicação da multa prevista no inciso II do caput deste artigo, será considerado como termo inicial o dia seguinte ao término do prazo fixado para entrega da declaração e como termo final a data da efetiva entrega ou, no caso de nãoapresentação, a data da lavratura do auto de infração ou da notificação de lançamento. § 2o Observado o disposto no § 3o deste artigo, as multas serão reduzidas: I – à metade, quando a declaração for apresentada após o prazo, mas antes de qualquer procedimento de ofício; ou II – a 75% (setenta e cinco por cento), se houver apresentação da declaração no prazo fixado em intimação. § 3o A multa mínima a ser aplicada será de: I – R$ 200,00 (duzentos reais), tratandose de omissão de declaração sem ocorrência de fatos geradores de contribuição previdenciária; e II – R$ 500,00 (quinhentos reais), nos demais casos.” Entretanto, a MP 449, Lei 11.941/2009, também acrescentou o art. 35A que dispõe o seguinte, “Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996.” O inciso I do art. 44 da Lei 9.430/96, por sua vez, dispõe o seguinte: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata “ Com a alteração acima, em caso de atraso, cujo recolhimento não ocorrer de forma espontânea pelo contribuinte, levando ao lançamento de ofício, a multa a ser aplicada passa a ser a estabelecida no dispositivo acima citado, ou seja, em havendo lançamento da obrigação principal (a antiga NFLD), aplicase multa de ofício no patamar de 75%. Essa conclusão levanos ao Fl. 402DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 7 raciocínio que a natureza da multa, sempre que existe lançamento, referese a multa de ofício e não a multa de mora referida no antigo art. 35 da lei 8212/91. Contudo, mesmo que consideremos que a natureza da multa é de "multa de ofício" não podemos isoladamente aplicar 75% para as Notificações Fiscais NFLD ou Autos de Infração de Obrigação Principal AIOP, pois estaríamos na verdade retroagindo para agravar a penalidade aplicada. Por outro lado, com base nas alterações legislativas não mais caberia, nos patamares anteriormente existentes, aplicação de NFLD + AIOA (Auto de Infração de Obrigação Acessória) cumulativamente, pois em existindo lançamento de ofício a multa passa a ser exclusivamente de 75%. Tendo identificado que a natureza da multa, sempre que há lançamento, é de multa de ofício, considerando o princípio da retroatividade benigna previsto no art. 106. inciso II, alínea “c”, do Código Tributário Nacional, há que se verificar a situação mais favorável ao sujeito passivo, face às alterações trazidas. No presente caso, foi lavrado AIOA julgada, e alvo do presente recurso especial, prevaleceu o valor de multa aplicado nos moldes do art. 32A. No caso da ausência de informação em GFIP, conforme descrito no relatório a multa aplicada ocorreu nos termos do art. 32, inciso IV, § 5º, da Lei nº 8.212/1991 também revogado, o qual previa uma multa no valor de 100% (cem por cento) da contribuição não declarada, limitada aos limites previstos no § 4º do mesmo artigo. Face essas considerações para efeitos da apuração da situação mais favorável, entendo que há que se observar qual das seguintes situações resulta mais favorável ao contribuinte: · Norma anterior, pela soma da multa aplicada nos moldes do art. 35, inciso II com a multa prevista no art. 32, inciso IV, § 5º, observada a limitação imposta pelo § 4º do mesmo artigo, ou · Norma atual, pela aplicação da multa de setenta e cinco por cento sobre os valores não declarados, sem qualquer limitação, excluído o valor de multa mantido na notificação. Levando em consideração a legislação mais benéfica ao contribuinte, conforme dispõe o art. 106 do Código Tributário Nacional (CTN), o órgão responsável pela execução do acórdão deve, quando do trânsito em julgado administrativo, efetuar o cálculo da multa, em cada competência, somando o valor da multa aplicada no AI de obrigação acessória com a multa aplicada na Fl. 403DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 8 NFLD/AIOP, que não pode exceder o percentual de 75%, previsto no art. 44, I da Lei n° 9.430/1996. Da mesma forma, no lançamento apenas de obrigação principal o valor das multa de ofício não pode exceder 75%. No AI de obrigação acessória, isoladamente, o percentual não pode exceder as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Observese que, no caso de competências em que a obrigação principal tenha sido atingida pela decadência (pela antecipação do pagamento nos termos do art. 150, § 4º, do CTN), subsiste a obrigação acessória, isoladamente, relativa às mesmas competências, não atingidas pela decadência posto que regidas pelo art. 173, I, do CTN, e que, portanto, deve ter sua penalidade limitada ao valor previsto no artigo 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Cumpre ressaltar que o entendimento acima está em consonância com o que dispõe a Instrução Normativa RFB nº 971, de 13 de novembro de 2009, alterada pela Instrução Normativa RFB nº 1.027 em 22/04/2010, e no mesmo diapasão do que estabelece a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, que contempla tanto os lançamentos de obrigação principal quanto de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente. Neste passo, para os fatos geradores ocorridos até 03/12/2008, a autoridade responsável pela execução do acórdão, quando do trânsito em julgado administrativo, deverá observar a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 que se reporta à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias nos lançamentos de obrigação principal e de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. De fato, as disposições da referida Portaria, a seguir transcritas, estão em consonância com a jurisprudência unânime desta 2ª Turma da CSRF sobre o tema: Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 Art. 1º A aplicação do disposto nos arts. 35 e 35A da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009, às prestações de parcelamento e aos demais débitos não pagos até 3 de dezembro de 2008, inscritos ou não em Dívida Ativa, cobrados por meio de processo ainda não definitivamente julgado, observará o disposto nesta Portaria. Art. 2º No momento do pagamento ou do parcelamento do débito pelo contribuinte, o valor das multas aplicadas será analisado e os lançamentos, se necessário, serão retificados, para fins de aplicação da penalidade mais benéfica, nos termos da alínea "c" do inciso II do art. 106 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN). Fl. 404DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 9 § 1º Caso não haja pagamento ou parcelamento do débito, a análise do valor das multas referidas no caput será realizada no momento do ajuizamento da execução fiscal pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN). § 2º A análise a que se refere o caput darseá por competência. § 3º A aplicação da penalidade mais benéfica na forma deste artigo darseá: I mediante requerimento do sujeito passivo, dirigido à autoridade administrativa competente, informando e comprovando que se subsume à mencionada hipótese; ou II de ofício, quando verificada pela autoridade administrativa a possibilidade de aplicação. § 4º Se o processo encontrarse em trâmite no contencioso administrativo de primeira instância, a autoridade julgadora fará constar de sua decisão que a análise do valor das multas para verificação e aplicação daquela que for mais benéfica, se cabível, será realizada no momento do pagamento ou do parcelamento. Art. 3º A análise da penalidade mais benéfica, a que se refere esta Portaria, será realizada pela comparação entre a soma dos valores das multas aplicadas nos lançamentos por descumprimento de obrigação principal, conforme o art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e de obrigações acessórias, conforme §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e da multa de ofício calculada na forma do art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009. § 1º Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, tenham sido aplicadas isoladamente, sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal, deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. § 2º A comparação na forma do caput deverá ser efetuada em relação aos processos conexos, devendo ser considerados, inclusive, os débitos pagos, os parcelados, os nãoimpugnados, os inscritos em Dívida Ativa da União e os ajuizados após a publicação da Medida Provisória nº 449, de 3 de dezembro de 2008. Art. 4º O valor das multas aplicadas, na forma do art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, sobre as contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, deverá ser comparado com o valor das multa de Fl. 405DF CARF MF Processo nº 10680.722995/201095 Acórdão n.º 9202005.810 CSRFT2 Fl. 0 10 ofício previsto no art. 35A daquela Lei, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009, e, caso resulte mais benéfico ao sujeito passivo, será reduzido àquele patamar. Art. 5º Na hipótese de ter havido lançamento de ofício relativo a contribuições declaradas na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP), a multa aplicada limitarseá àquela prevista no art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. Em face ao exposto, dou provimento ao recurso para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Por fim, destacase que, independente do lançamento fiscal analisado referirse a Auto de Infração de Obrigação Principal (AIOP) e Acessória (AIOA), este último consubstanciado na omissão de fatos geradores em GFIP, lançados em conjunto, ou seja formalizados em um mesmo processo, ou em processos separados, a aplicação da legislação não sofrerá qualquer alteração, posto que a Portaria PGFN/RFB nº 14/2009 contempla todas as possibilidades, já que a tese ali adotada tem por base a natureza das multas. Conclusão Face o exposto, voto no sentido de CONHECER do recurso ESPECIAL DA FAZENDA NACIONAL, para, no mérito, DAR LHE PROVIMENTO, para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. É como voto. Face o exposto, voto por conhecer do Recurso Especial e, no mérito, darlhe provimento, para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14, de 2009. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Fl. 406DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10280.905317/2011-50
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Oct 18 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 3402-001.072
Decisão: Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontá-los com o recolhido, apurando-se, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições.
(assinado digitalmente)
Jorge Olmiro Lock Freire - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: JORGE OLMIRO LOCK FREIRE
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decisao_txt : Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontá-los com o recolhido, apurando-se, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire - Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
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ALARGAMENTO DA BASE DE CÁLCULO. Recorrente RODOBENS CAMINHÕES CIRASA S.A. (SUCESSORA DE BELÉM DIESEL S.A.) Recorrida FAZENDA NACIONAL Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontálos com o recolhido, apurandose, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. RELATÓRIO Tratase de recurso voluntário contra decisão da Delegacia de Julgamento em Campinas que julgou improcedente a manifestação de inconformidade, conforme ementa abaixo: (...) AMPLIAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO. INCONSTITUCIONALIDADE. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 02 80 .9 05 31 7/ 20 11 -5 0 Fl. 207DF CARF MF Processo nº 10280.905317/201150 Resolução nº 3402001.072 S3C4T2 Fl. 186 2 A inconstitucionalidade da ampliação da base de cálculo da Cofins e da Contribuição para o PIS/Pasep, reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em recurso extraordinário, não gera efeitos erga omnes, sendo incabível sua aplicação a contribuintes que não façam parte da respectiva ação. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL (...) PROVA DOCUMENTAL. PRECLUSÃO. A prova documental do direito creditório deve ser apresentada na manifestação de inconformidade, precluindo o direito de o contribuinte fazêlo em outro momento processual sem que verifiquem as exceções previstas em lei. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Versa o processo sobre pedido de restituição de crédito de contribuição não cumulativa, o qual foi indeferido pela DRF de origem, em razão de o recolhimento indicado ter sido integralmente utilizado para quitação de débito confessado pela contribuinte em outro PER/DCOMP. A interessada apresentou a manifestação de inconformidade, sustentando seu direito creditório na inconstitucionalidade do art. 3º, § 1º da Lei nº 9.718/1998 (RE nº 390.840/MG e RE nº 585.235, com repercussão geral). O julgador de primeira instância não acolheu as razões de defesa da interessada, sob os seguintes fundamentos: A autoridade a quo procedeu corretamente ao indeferir o pleito da interessada, eis que existem débitos, confessado pela própria contribuinte por meio de DCTF e outro PER/DCOMP, no valor igual ao do recolhimento objeto do pedido de restituição, de forma que inexiste saldo passível de restituição. Seria necessário que, no mínimo, a interessada houvesse retificado sua DCTF até a transmissão do seu PER/DCOMP, fazendo constar o suposto débito inferior ao declarado, o que faria exsurgir a possibilidade de se alegar pagamento a maior. Como não o fez, não havia saldo de pagamento sobre o qual a autoridade fiscal tivesse que se manifestar. No tocante à inconstitucionalidade da ampliação da base de cálculo, não se discute o entendimento do STF, exposto nos REs mencionados pela interessada. Tampouco se questiona a vinculação do CARF à decisão proferida no RE julgado na sistemática de repercussão geral, conforme prevê seu regimento. Sobre a revogação do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718, pela Lei nº 11.941, apenas deve ser esclarecido que tal revogação não tem efeitos retroativos, e portanto não atinge o período a que se refere o PER/DCOMP em análise. Ainda que os óbices quanto à utilização integral do recolhimento não existissem, e que fosse possível estender os efeitos do julgado do STF para o presente caso, a interessada não se desincumbiu de demonstrar e provar o suposto recolhimento a maior. A cópia parcial do balancete apresentada permite vislumbrar tão somente as receitas financeiras do período, mas não o faturamento da empresa. Assim, não haveria como se apurar o total da base de cálculo e a contribuição devida, para comparála com o recolhimento efetuado e concluirse pela eventual existência de recolhimento a maior, e em que montante. E mais, não tendo a interessada apresentado provas de seu suposto crédito, precluiu do direito de fazêlo em outro momento, a teor do disposto no art. 16 do Decreto nº 70.235/72. Fl. 208DF CARF MF Processo nº 10280.905317/201150 Resolução nº 3402001.072 S3C4T2 Fl. 187 3 Cientificada, a contribuinte apresentou recurso voluntário tempestivo, alegando e requerendo o que se segue: a) Requer a recorrente a reunião dos processos apontados de modo a haver seu julgamento conjunto em face da existência de conexão entre os mesmos. b) Houve falta de aprofundamento da investigação dos fatos, o que contraria o contido no art. 76 da IN RFB nº 1300/12. A DCTF não é o único meio hábil de prova da existência de crédito passível de restituição. Nem o art. 165 do CTN e nem o art. 74 da Lei nº9.430/96 condicionam o reconhecimento do crédito à retificação de declarações, tratandose de formalidade, a qual não pode se sobrepor ao direito substantivo. c) Acerca das provas juntadas para demonstrar a existência do crédito pleiteado, a decisão recorrida alegou a insuficiência para o intento, entretanto esse entendimento não merece prosperar, eis que os documentos colacionados são suficientes para a comprovação do direito de crédito alegado. O valor recolhido indevidamente sobre as receitas financeiras está devidamente lastreado nas receitas financeiras destacadas no balancete em anexo à manifestação de inconformidade, documento este obrigatório paras as pessoas jurídicas, possuindo, inclusive, força probante para recolhimento de estimativas em caso de pessoa jurídica optante pelo lucro real mensal, nos termos do art. 230 do RIR/99. d) Com relação à preclusão da produção da prova, a alínea "c" do §4º do art. 16 do Dec. nº 70.235/72 possibilita a produção de provas em outro momento processual, quando se destine a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. Nesse passo, para corroborar os fatos já demonstrados pela documentação carreada à manifestação de inconformidade, e também com vistas a contrapor os argumentos da decisão recorrida, requer a juntada do livro Razão, o qual, por si só, tem o condão de comprovar o direito creditório ora postulado. e) Quanto ao mérito, a discussão encontrase totalmente superada na jurisprudência do STF que, em sessão plenária, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 no julgamento do RE nº 390840/MG em 9.11.2005. Não há dúvida de que esse entendimento do STF, com repercussão geral reconhecida, deve ser aplicado ao caso dos autos. Assim é que na base de cálculo do PIS e da Cofins somente deveriam ter sido incluídos pela recorrente os valores correspondentes ao seu faturamento, ou seja, os ingressos que correspondem as suas receitas das vendas de mercadorias e da prestação de serviços, razão pela qual a decisão a quo deve ser reformada a fim de que seja deferido o direito creditório pleiteado. É o relatório. VOTO Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 3402001.050, de 27 de setembro de 2017, proferida no julgamento do processo 10280.900096/201212, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu na Resolução 3402001.050: Fl. 209DF CARF MF Processo nº 10280.905317/201150 Resolução nº 3402001.072 S3C4T2 Fl. 188 4 "Atendidos os requisitos de admissibilidade, tomase conhecimento do recurso voluntário. Como se sabe, é obrigatória aos membros deste CARF a reprodução do conteúdo de decisão definitiva de mérito proferida pelo STF e pelo STJ na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil. Também não se desconhece que foi declarada a inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei 9.718/98 pelo Supremo Tribunal Federal, tendo sido reconhecida a repercussão geral, para reafirmar a jurisprudência do Tribunal nesse sentido1. Em consequência, para as empresas que se dedicam à venda de mercadorias comerciais e industriais e/ou à prestação de serviços, é ao total das receitas oriundas dessas atividades que corresponde a base de cálculo das contribuições do PIS e da Cofins enquanto aplicável aquele ato legal2 . No que concerne à possibilidade de reconhecimento do direito creditório independentemente da retificação da DCTF, este CARF já decidiu favoravelmente à própria contribuinte, mediante o Acórdão nº 3302004623 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, de 27 de julho de 2017, no processo nº 10280.905792/201126, no qual foi apurado, em diligência, que a recorrente demonstrou cabalmente a existência do crédito. Conforme assentado na Resolução nº 3401000.737, da 3ª Seção/4ª Câmara/1ªTurma Ordinária, de 24/07/2013, esta 3ª Seção de Julgamento do Carf tem orientado sua jurisprudência no sentido de que, não obstante a 1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. PIS. COFINS. Alargamento da base de cálculo. Art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. Inconstitucionalidade. Precedentes do Plenário (RE nº 346.084/PR, Rel. orig. Min. ILMAR GALVÃO, DJ de 1º.09.2006; REs 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 18.08.2006)Repercussão Geral do tema. Reconhecimento pelo Plenário. Recurso Improvido. É inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS, prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. (RE 585235/MG, Relator: Min. Cézar Peluso, julgado em 10/09/2008). 2 Acórdão nº 9303002.444– 3ª Turma, de 08 de outubro de 2013 Relator: JÚLIO CÉSAR ALVES RAMOS PIS E COFINS. ALARGAMENTO. EMPRESAS INDUSTRIAIS E DE SERVIÇOS. Nos termos do quanto decidido pelo Pleno do STF no julgamento dos recursos extraordinários nºs 357.950, 390840, 358273 e 346084, deve ser repudiada a ampliação do conceito de faturamento intentado pelo § 1º do art. 3º da Lei 9.718/98. Em conseqüência, para as empresas que se dedicam à venda de mercadorias comerciais e industriais e/ ou à prestação de serviços, é ao total das receitas oriundas dessas atividades que corresponde a base de cálculo das contribuições PISe PASEP enquanto aplicável aquele ato legal. Acórdão nº 3401003.828– 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária, de 29 de junho de 2017 Relator: LEONARDO OGASSAWARA DE ARAÚJO BRANCO ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/07/2003 a 31/07/2003 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. COFINS. BASE DE CÁLCULO. RECEITAS FINANCEIRAS. ART. 3º, § 1º, LEI Nº 9.718/98. INCONSTITUCIONALIDADE. As receitas que não se caracterizam como próprias da atividade da entidade, tal como estabelecido pelo estatuto ou contrato social, não compõem o seu faturamento, conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, ao declarar a inconstitucionalidade da ampliação do conceito de receita bruta promovida pelo art. 3º, § 1º da Lei nº 9.718/98. Devese, assim, ser acolhido o resultado da diligência constante no Relatório de Diligência Fiscal. Considerando a comprovação documental da validade do crédito, consistente em recolhimento indevido ou a maior de Cofins sobre receitas financeiras, deve o sujeito passivo ter atendido o seu pleito creditório. Recurso Voluntário provido. Direito creditório reconhecido. Fl. 210DF CARF MF Processo nº 10280.905317/201150 Resolução nº 3402001.072 S3C4T2 Fl. 189 5 preclusão do art. 16, §4° do Decreto nº 70.235/72, em situações em que há alguns indícios de provas, o julgamento pode ser convertido em diligência para análise da nova documentação acostada. No presente processo, embora a recorrente não tenha produzido a prova necessária por ocasião da apresentação de seu pedido ou da manifestação de inconformidade, apresentou, posteriormente, no Recurso Voluntário, outros documentos na tentativa de comprovação do direito alegado. Assim, resguardando eventual julgamento posterior do Colegiado na linha dos entendimentos acima apontados, voto no sentido de converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, um Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontálos com o recolhido, apurandose, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. Após a intimação da recorrente do resultado da diligência, concedendolhe o prazo de 30 (trinta) dias para manifestação, nos termos do art. 35 do Decreto nº 7.574/2011, o processo deve retornar a este Colegiado para prosseguimento." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, converto o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, um Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontálos com o recolhido, apurandose, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. Após a intimação da recorrente do resultado da diligência, concedendolhe o prazo de 30 (trinta) dias para manifestação, nos termos do art. 35 do Decreto nº 7.574/2011, o processo deve retornar a este Colegiado para prosseguimento. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire Fl. 211DF CARF MF
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Numero do processo: 10907.000180/95-12
Turma: Segunda Câmara
Seção: Segundo Conselho de Contribuintes
Data da sessão: Mon Aug 14 00:00:00 UTC 2000
Ementa: CLASSIFICAÇÃO FISCAL — ERRO — Sendo a descrição do produto suficiente para sua identificação, não havendo relevância o erro na classificação fiscal, vez que a saída é isenta ou imune, e não restando demonstrado que, ao classificar erradamente o produto na TIPI, o sujeito passivo pretendeu praticar ato ilícito de subfaturamento, não é aplicável a penalidade do artigo 365, inciso II, do RIPI/82.
Numero da decisão: CSRF/03-03.120
Decisão: Acordam os Membros da Terceira Turma da Câmara Superior de
Recursos Fiscais, por maioria de votos, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencido o Conselheiro Moacyr Eloy de Medeiros.
Nome do relator: Nilton Luiz Bartoli
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Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto pela FAZENDA NACIONAL Acordam os Membros da Terceira Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, por maioria de votos, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencido o Conselheiro Moacyr Eloy de Medeiros. SON PER -1D- c ES PRESIDENTE RELATOR FORMALIZADO EM: 1 4 DEZ 2000 Participaram, ainda, do presente julgamento os Conselheiros: CARLOS ALBERTO GONÇALVES NUNES,MÁRC1A REGINA MACHADO MÉLARE, HENRIQUE PRADO MEGDA, PAULO ROBERTO CUCO ANTUNES e JOÃO HOLANDA COSTA. Processo : 10907.000180195-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 Recorrente : FAZENDA NACIONAL Suj. Passivo : DAL PAI S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO RELATÓRIO O presente feito alçou à apreciação desta Egrégia Câmara Superior de Recursos Fiscais, em decorrência de Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional com fundamento no então vigente art. 31, parágrafo 1°, da Portaria ME n.° 538/92 e alterações da Portaria MF n.° 260/95 em face da decisão, por maioria de votos, da Eg. 2a Câmara do Segundo Conselho de Contribuintes, nos termos do Acórdão n.° 202-08.966, proferido em sessão realizada em 25.02.1997, que deu provimento ao recurso voluntário do contribuinte, cujos fundamentos estão consubstanciados na seguinte Ementa: IPI — PRODUTOS DESTINADOS À EXPORTAÇÃO — ERRO DE CLASSIFICAÇÃO NA TIPI — Se o produto é isento e destinado à exportação (imunidade) e não restando demonstrado que, ao classificar erradamente o produto na TIPI, o sujeito passivo pretendeu praticar ato ilícito de subfaturamento, não enseja a aplicação do artigo 240, c/c o artigo 365, inciso II, do RIPI/82. Recurso provido. O Recurso Especial da D. Procuradoria da Fazenda Nacional, visa a reforma do decisum, com base na verificação inconteste de a classificação fiscal adotada pela Interessada não é a apropriada para a mercadoria exportada. Para ilustração do caso em pauta, entendo pertinente realizar breve relato a cerca dos elementos de fato que circundam a questão. A Interessada deu saída de seu estabelecimento industrial de ._ .45mercadoria destinada à exportação, devidamente amparada pela Nota Fisc 1 2 Processo : 10907.000180195-12 Acórdão : CSRF/03-03 .120 n° 12.361, 31/10/94 e do RE n° 94/1097761-001, de 07/11/94, descrita como sendo "Para peito de Cedrinho" de 6.130,800 em metragem linear e de 22,745 em metragem cúbica. Entendeu a fiscalização, em ato de conferência física, que a descrição na Nota Fiscal não correspondia às referidas mercadorias, tratando-se de peças de madeira, simplesmente serradas, sem encaixes, entalhes ou qualquer outro dispositivo de união, que as identificasse como tendo as características essenciais de um "parapeito" (obra de carpintaria). Na impugnação a Recorrente defende sua posição de que o produto importado é "obra de carpintaria" classificada na posição 4418, juntando laudo (fls. 36/38) de Engenheiro Florestal que declina em seu favor. Após sanada as irregularidades do auto de infração, evidenciadas pela Decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Curitiba, que converteu o julgamento em diligência (fls. 43) e confirmadas na Informação DISIT/9° RF (fls. 45/46), acerca da ausência da correta capitulação legal da exigência tributária, da prova material e a descrição do produto, foi reaberta a oportunidade de defesa à Interessada, que se manifestou juntando cópia dos encartes técnicos do produto, esquema e fotos do modelo do produto exportado. Retornados os autos à Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Curitiba — PR, a autoridade julgadora de primeira instância manteve o lançamento, exarando a Decisão n° 4-015/96 (fls. 67/73) cujos fundamentos estão consubstanciados na seguinte ementa: "IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS PENALIDADES — MULTA — Emissão de Nota Fiscal que não corresponde à saída efetiva da mercadoria nela descrita do estabelecimento emitente. Ainda que o documento se refira a 3 4 Processo : 10907.000180/95-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 produto isento, sujeita-se à multa do art. 365, inciso II, do RIPI/82. Madeira serrada ou fendida longitudinalmente, cortada em folhas ou desenrolada, mesmo aplainada, polida ou unida por malhetes, de espessura superior a 6 mm, se classifica na posição TIPI 4407. LANÇAMENTO PROCEDENTE" Interposto o Recurso Voluntário a Egrégia Segunda Câmara do Segundo Conselho de Contribuintes proferiu acórdão, não unânime, que é ora recorrida pela Procuradoria da Fazenda Nacional. É o relatório. 4 Processo : 10907.000180/95-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 VOTO CONSELHEIRO NILTON LUIZ BARTOLI — RELATOR Preliminarmente, é de se ressaltar que a Interessada, apesar de requerer a manutenção da decisão recorrida, mantém em suas contra-razões a convicção de que o produto exportado estava corretamente descrito e classificado. Como bem levantou a questão a autoridade julgadora de primeira instância em sua apreciação preliminar (fls. 43), o lançamento tributário foi carecedor de elementos de constituição, haja vista que sequer uma prova do produto exportado foi remetido para análise e classificação por autoridade técnica habilitada. Tal fato, por si só, não seria suficiente para anular o lançamento, se no decorrer do procedimento fossem juntados elementos técnicos capazes de dirimir a dúvida acerca da correta classificação fiscal do produto. Ora, não há nas descrições do lançamento a informação de que as madeiras apresentavam-se da mesmo forma ou de forma diversa da que se visualiza na foto de fls. 49, obtida meses depois do ato de conferência física que ensejou o lançamento, nem tão pouco um laudo técnico por parte da autoridade fiscal que conclua de modo diverso do laudo apresentado pelo contribuinte. Inquestionável é que um conjunto de peças de madeira, harmonicamente constituídos, ainda que se apresente em partes separadas, deve ser considerado como produto final, e como ele classificado. Contudo, não há nos autos uma descrição suficientemente esclarecedora do produto exportado para declinar a respeito de sua classificação. 5 Processo : 10907.000180195-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 O art. 112 do Código Tributário Nacional assim dispõe: Art. 112 - A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto: I - à capitulação legal do fato; II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. No caso em tela operar-se-ia a hipótese normativa eleita pelo inciso II do artigo supra, vez que a permanece a dúvida quanto à natureza da mercadoria exportada e às circunstâncias do processamento na produção das provas. Corroborando às dúvidas das questões de fato, que já seriam suficientes para a aplicação da máxima "in dubio pro reu", há na presente demanda a verificação de ausência de tipicidade para aplicação da penalidade culminada. Senão vejamos. Como visto a Nota Fiscal de saída descreve a mercadoria como sendo "Para peito de Cedrinho" de 6.130,800 em metragem linear e de 22,745 em metragem cúbica. Informações estas que, excluído o termo "parapeito", é suficiente para identificar o produto objeto do Registro de Exportação n° 94/1097761-001, de 07/11/94, ou seja, de plano, em conferência física, de posse da documentação fiscal, a autoridade seria capaz de identificar o produto referido. Analogicamente, é cabível trazer a baila o Ato Declaratório Normativo da Coordenação do Sistema de Tributação n° 36/95, dispõe qul 6 Processo :10907.000180/95-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 "estando o produto corretamente descrito com todos os elementos necessários à sua identificação (. ) não configura declaração inexata para aplicação da multa.." . A norma em que se fundou o lançamento está assim descrita: "Art. 365. Sem prejuízo de outras sanções administrativas ou penais cabíveis, incorrerão na multa igual ao valor comercial da mercadoria ou ao que lhe for atribuído na nota fiscal, respectivamente (Lei n.° 4.502, de 1964, art. 83, e Decreto-lei n.° 400, de 1968, art. 1°, alteração 2a): II - os que emitirem, fora dos casos permitidos neste Regulamento, nota fiscal que não corresponda à saída efetiva, de produto nela descrito, do estabelecimento emitente, e os que, em proveito próprio ou alheio, utilizarem, receberem ou registrarem essa nota para qualquer efeito, haja ou não destaque do imposto e ainda que a nota se refira a produto isento (Lei n.° 4.502, de 1964, art. 83, inciso II, e Decreto-lei n.° 400, de 1968, art. 1°, alteração 2a)." Ora, o produto que saiu do estabelecimento da Interessada poderia não ser um "parapeito", mas indiscutivelmente foi madeira "cedrinho" de 27mm X 140 mm, num total de 6.130,800 metros lineares. Daí, porque entendo que a descrição do produto continha os elementos necessários à sua identificação. Se assim, não resta dúvida que o produto descrito foi o efetivamente saído do estabelecimento industrial, não tendo o tipo legal da penalidade culminada campo no mundo fático para produzir seus efeitos. Por outro lado, não verifico nos autos a intenção da parte em lesar o fisco, ou, ainda que a conduta de ter denominado o produto com o nome de parapeito fosse com o fim de sonegar ou dissimular situação que não quisesse fosse verificada, a ponto de que tal equívoco possa configurar ato doloso, fraudulento ou simulado. Como sempre tenho firmado em casos análogos ao presente Salta aos olhos que o dispositivo, supra transcrito, não se adequa ao fato tido como delituoso, i.e., a distinção entre a conduta dita como delituosa e a descrição 7 Processo : 10907.000180/95-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 normativa do fato punível é manifesta, o que afasta de imediato a exigência desta multa. De acordo com Damásio E. de Jesus , in "Comentários ao Código Penal", fato delituosos é aquele que se encaixa, se amolda à conduta criminosa descrita pelo legislador. Tipo é o conjunto de elementos descritivos do crime contido na lei penal,. Conclui-se, após análise da norma legal transcrita supra, ser incabível a aplicação da penalidade sobre o Imposto de Importação, que deixou de ser pago, pelo fato de que a mesma é aplicável na falta de Guia de Importação. Assevera Victor Villegas, com propriedade, que "A punibilidade de uma conduta exige sua exata adequação a uma figura legal. Contudo, tal adequação claudicará se a descrição do procedimento punível for incompleta ou confusa, não revelando conteúdo específico e expressão determinada. Gerd W. Rothmann, por sua vez, (in "A Extinção da Punibilidade nos Crimes contra a Ordem Tributária" RT-718/95, pg. 536/549) destaca que: "Tanto o crime fiscal como a mera infração administrativa se caracterizam pela anti-juridicidade da conduta, pela tipicidade das respectivas figuras penais ou administrativas e pela culpabilidade (dolo ou culpa). A anti-juridicidade envolve a indagação pelo interesse ou bem jurídico protegido pelas normas penais e tributárias relativas ao ilícito fiscal. (-.) A tipicidade é outro requisito do ilícito tributário penal e administrativo. O comportamento antijurídico deve ser definido por lei, penal ou tributária. Segundo RICARDO LOBO TORRES (Curso de Direito Financeiro e Tributário, 1993, pg. 268), a tipicidade é a possibilidade de subsunção de uma conduta no - tipo de ilícito definido na lei penal ou tributária. 8 Processo : 10907.000180/95-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 (—) Nisto reside a grande problemática do direito penal tributário: leis penais, freqüentemente mal redigidas, estabelecem tipos penais que precisam ser complementados por leis tributárias igualmente defeituosas, de difícil compreensão e sujeitas a constantes alterações." E, na mesma esteira doutrinada pelo festejado penalista Basileu Garcia (Instituições de Direito Penal, vol. I, Tomo I, Ed. Max Limonad, 4a edição, pg. 195): "No estado atual da elaboração jurídica e doutrinária, há pronunciada tendência a identificar, embora com algumas variantes, o delito como sendo a ação humana, anti-jurídica, típica, culpável e punível. O comportamento delituoso do homem pode revelar-se por atividade positiva ou omissão. Para constituir delito, deverá ser ilícito, contrário ao direito, revestir-se de anti-juricidade. Decorre a tipicidade da perfeita conformidade da conduta com a figura que a lei penal traça, sob a injunção do princípio nullum crimen, nulla poena sine lege. Só os fatos típicos, isto é, meticulosamente ajustados ao modelo legal, se incriminam." Já tivemos oportunidade de apreciar tese paralela em outro feito perante este mesmo E. Conselho, consignando no nosso voto que tais elementos fáticos estavam ausentes naqueles processos, como também estão ausentes no caso presente. Daí não ser punível a conduta do agente. Não será demais reproduzir mais uma vez a lição do já citado mestre de Direito Penal Damásio de Jesus, que ao estudar o FATO TÍPICO ( obra citada - 1° volume - Parte Geral (Ed. Saraiva - 15 Ed. - pág. 197) ensina: "Por último, para que um fato seja típico, é necessário que os elementos acima expostos ( comportamento humano, resultado e nexo causal) sejam descritos como crime" e complementa 9 Processo : 10907.000180/95-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 "Faltando um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir em indiferente penal. É um fato atípico." Nesta mesma linha de raciocínio nos ensina CLEIDE PREVITALLI CAIS, in O Processo Tributário, assim preleciona o princípio constitucional da tipicidade: "Segundo Alberto Xavier, "tributo, imposto, é pois o conceito que se encontra na base do processo de tipificação no Direito Tributário, de tal modo que o tipo, como é de regra, representa necessariamente algo de mais concreto que o conceito, embora necessariamente mais abstrato do que o fato da vida." Vale dizer que cada tipo de exigência tributária deve apresentar todos os elementos que caracterizam sua abrangência. "No Direito Tributário a técnica da tipicidade atua não só sobre a hipótese da norma tributária material, como também sobre o seu mandamento. Objeto da tipificação são, portanto, os fatos e os efeitos, as situações jurídicas iniciais e as situações jurídicas finais." O princípio da tipicidade consagrado pelo art. 97 do CTN e decorrente da Constituição Federal, já que tributos somente podem ser instituídos, majorados e cobrados por meio da lei, aponta com clareza meridiano os limites da Administração neste campo, já que lhe é vedada toda e qualquer margem de discricionariedade." (Grifo nosso) Como nos ensinou Cleide Previtalli Cais "... cada tipo de abrangência tributária deve apresentar todos os elementos que caracterizam sua abrangência... " , já que "... lhe é vedada (á Administração) toda e qualquer espécie de discricionariedade." No caso da multa aplicada com fulcro no art. 365, inciso II, do Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados, aprovado pelo Decreto n.° 87.981/82, os argumentos para a irregularidade de sua aplicação não são diferentes. Certo, portanto, que a errônea classificação fiscal do produto exportado não afetou a relação jurídica tributária, mesmo porque tratou-se de uma operação imune. Nem mesmo a tortuosa descrição do produto foi suficiente pa lo Processo : 10907.000180195-12 Acórdão : CSRF/03-03.120 dificultar ou impedir sua identificação, pelo que entendo inaplicável a penalidade do art. 365, inciso II, do Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados, aprovado pelo Decreto n.° 87.981/82. Diante do exposto NEGO PROVIMENTO ao recurso especial. Sala das sessões, Brasília, 14 de agosto de 2000. ABA OLI 11 Page 1 _0000200.PDF Page 1 _0000300.PDF Page 1 _0000400.PDF Page 1 _0000500.PDF Page 1 _0000600.PDF Page 1 _0000700.PDF Page 1 _0000800.PDF Page 1 _0000900.PDF Page 1 _0001000.PDF Page 1 _0001100.PDF Page 1 _0001200.PDF Page 1
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Numero do processo: 16682.720169/2015-82
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Sep 12 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Oct 24 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2010
REMUNERAÇÃO À CONTROLADORA INDIRETA NO EXTERIOR PELO LICENCIAMENTO DE DIREITOS SOBRE PROGRAMAS DE COMPUTADOR. INDEDUTIBILIDADE.
As remunerações pagas pela controlada à sua controladora no exterior, pelo licenciamento de direitos sobre programas de computador, ainda que de forma indireta, constituem royalties e são indedutíveis para efeito do Imposto de Renda. A IBM USA não cabe dentro da figura do "autor/criador" traçada pelo direito autoral brasileiro. E os rendimentos que ela recebe, quando autoriza a IBM Brasil a licenciar e distribuir cópias de seus programas de computador, são royalties. Não foi por acaso, e nem por equívoco, que a Lei que "atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais" no Brasil, a Lei nº 9.610/1998, disse com todas as letras em seu art. 11, que o "autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica".
PAGAMENTO DE ROYALTIES A SÓCIOS PESSOA JURÍDICA. REGRA GERAL. INDEDUTIBILIDADE.
Não são dedutíveis os royalties pagos a quaisquer sócios, pessoas físicas ou jurídicas, ou ainda a dirigentes de empresas e a seus parentes ou dependentes.
Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2010
PAGAMENTO DE ROYALTIES. DESPESAS. DEDUTIBILIDADE. BASE DE CÁLCULO DA CSLL. DISPOSIÇÃO EXPRESSA EM INSTRUÇÃO NORMATIVA.
Disposição expressa no Anexo I da IN RFB nº 1.700, de 2017, determina que as regras de indedutibilidade de royalties, previstas no art. 71, caput, alínea a, e parágrafo único, alíneas c a g, da Lei nº 4.506, de 1964, são aplicáveis apenas ao IRPJ, e não à CSLL.
Numero da decisão: 9101-003.063
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial. No mérito, (i) quanto à dedutibilidade dos royalties em relação ao IRPJ, por voto de qualidade, acordam em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento; (ii) quanto ao recebimento de royalties por sócio pessoa jurídica, por maioria de votos, acordam em negar-lhe provimento, vencida a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, que lhe deu provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra e (iii) quanto à dedutibilidade dos royalties em relação à CSLL, por unanimidade de votos, acordam em dar-lhe provimento. Manifestaram intenção de apresentar declaração de voto os conselheiros Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra.
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Presidente.
(assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araujo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Leonardo de Andrade Couto (suplente convocado), Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Adriana Gomes Rego (Presidente em exercício).
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2010 REMUNERAÇÃO À CONTROLADORA INDIRETA NO EXTERIOR PELO LICENCIAMENTO DE DIREITOS SOBRE PROGRAMAS DE COMPUTADOR. INDEDUTIBILIDADE. As remunerações pagas pela controlada à sua controladora no exterior, pelo licenciamento de direitos sobre programas de computador, ainda que de forma indireta, constituem royalties e são indedutíveis para efeito do Imposto de Renda. A IBM USA não cabe dentro da figura do "autor/criador" traçada pelo direito autoral brasileiro. E os rendimentos que ela recebe, quando autoriza a IBM Brasil a licenciar e distribuir cópias de seus programas de computador, são royalties. Não foi por acaso, e nem por equívoco, que a Lei que "atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais" no Brasil, a Lei nº 9.610/1998, disse com todas as letras em seu art. 11, que o "autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica". PAGAMENTO DE ROYALTIES A SÓCIOS PESSOA JURÍDICA. REGRA GERAL. INDEDUTIBILIDADE. Não são dedutíveis os royalties pagos a quaisquer sócios, pessoas físicas ou jurídicas, ou ainda a dirigentes de empresas e a seus parentes ou dependentes. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2010 PAGAMENTO DE ROYALTIES. DESPESAS. DEDUTIBILIDADE. BASE DE CÁLCULO DA CSLL. DISPOSIÇÃO EXPRESSA EM INSTRUÇÃO NORMATIVA. Disposição expressa no Anexo I da IN RFB nº 1.700, de 2017, determina que as regras de indedutibilidade de royalties, previstas no art. 71, caput, alínea ‘a’, e parágrafo único, alíneas ‘c’ a ‘g’, da Lei nº 4.506, de 1964, são aplicáveis apenas ao IRPJ, e não à CSLL. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 68 2. 72 01 69 /2 01 5- 82 Fl. 1300DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 3 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial. No mérito, (i) quanto à dedutibilidade dos royalties em relação ao IRPJ, por voto de qualidade, acordam em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento; (ii) quanto ao recebimento de royalties por sócio pessoa jurídica, por maioria de votos, acordam em negarlhe provimento, vencida a conselheira Daniele Souto Rodrigues Amadio, que lhe deu provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra e (iii) quanto à dedutibilidade dos royalties em relação à CSLL, por unanimidade de votos, acordam em darlhe provimento. Manifestaram intenção de apresentar declaração de voto os conselheiros Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Presidente. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Leonardo de Andrade Couto (suplente convocado), Luís Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Adriana Gomes Rego (Presidente em exercício). Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela contribuinte acima identificada, fundamentado atualmente no art. 67 e seguintes do Anexo II da Portaria MF nº 343, de 09/06/2015, que aprova o Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), em que se alega divergência de interpretação da legislação tributária quanto às seguintes matérias, conforme identificadas pela recorrente: 1 Violação ao artigo 146 do CTN Mudança de critério jurídico; 2 Não são equiparados a royalties os pagamentos a título de exploração de direito autoral efetuados ao próprio criador do bem ou da obra, inclusive pessoa jurídica, nos termos do artigo 22, alínea "d", da Lei 4.506/64; 3 O artigo 71, parágrafo único, alínea "d", da Lei n° 4.506/64 não veda a dedução dos royalties pagos a sócios pessoa jurídica ilegalidade do art. 353, inciso I, do RIR/99; e 4 Inaplicabilidade das regras de dedutibilidade de royalties ao cálculo da CSLL. Fl. 1301DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 4 3 No exame de admissibilidade, foi dado seguimento ao recurso apenas em relação às matérias constantes dos itens "2" e "3" acima indicados. Houve negativa de seguimento em relação às matérias tratadas nos itens "1" e "4", conforme o despacho exarado em 30/09/2016 pelo Presidente da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF. Na sequência, a contribuinte apresentou agravo contra o exame de admissibilidade, e esse agravo foi parcialmente acolhido pelo Presidente da Câmara Superior de Recursos Fiscais, que deu seguimento ao recurso também para a matéria tratada no item "4", mas confirmou a negativa de seguimento para a matéria do item "1", em caráter definitivo, conforme o despacho exarado em 28/11/2016. A recorrente insurgise contra o Acórdão nº 1201001.463, de 09/08/2016, por meio do qual a 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF decidiu, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário anteriormente apresentado pela contribuinte. O acórdão recorrido contém a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2010 MUDANÇA DE CRITÉRIO JURÍDICO. INOCORRÊNCIA. A mudança de critério jurídico vedada pelo artigo 146 do Código Tributário Nacional pressupõe a existência de dois ou mais lançamentos fundados em premissas distintas. A inexistência de lançamento anterior não gera conflito positivo e em nada ofende o dispositivo legal, sendo de rigor a autuação sempre que presentes os requisitos vinculantes do artigo 142 do mesmo diploma legal. IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA E CSLL. REMUNERAÇÃO À CONTROLADORA INDIRETA NO EXTERIOR PELO LICENCIAMENTO DE DIREITOS SOBRE PROGRAMAS DE COMPUTADOR. INDEDUTIBILIDADE. As remunerações pagas pela controlada à sua controladora no exterior, pelo licenciamento de direitos sobre programas de computador, ainda que de forma indireta, constituem royalties e são indedutíveis para efeito do Imposto de Renda e da CSLL. PAGAMENTO DE ROYALTIES A SÓCIOS. INDEDUTIBILIDADE. Não são dedutíveis os royalties pagos a quaisquer sócios, pessoas físicas ou jurídicas, ou ainda a dirigentes de empresas e a seus parentes ou dependentes. MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA. A multa de ofício integra a obrigação tributária principal e, por conseguinte, o crédito tributário, sendo legítima a incidência de juros de mora. No recurso especial, a contribuinte afirma que o acórdão recorrido deu à legislação tributária interpretação divergente da que foi dada em outros processos, relativamente às matérias acima mencionadas. Fl. 1302DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 5 4 Quanto às matérias admitidas do recurso, a contribuinte desenvolve os argumentos apresentados a seguir: ANÁLISE DE MÉRITO QUANTO À NÃO EQUIPARAÇÃO A ROYALTIES DOS PAGAMENTOS A TÍTULO DE EXPLORAÇÃO DE DIREITO AUTORAL EFETUADOS AO PRÓPRIO CRIADOR DO BEM OU DA OBRA, INCLUSIVE PESSOA JURÍDICA, NOS TERMOS DO ARTIGO 22, ALÍNEA "D" DA LEI 4.506/64 por expressa disposição do artigo 22, "d", da Lei 4.506/64 não são classificados como royalties para fins fiscais os rendimentos oriundos da exploração de direitos autorais quando pagos ao próprio autor ou criador da obra que lhe gerar referidos direitos, sendo justamente o que ocorre no caso concreto em relação aos softwares licenciados pela IBM americana para a Recorrente; no acórdão recorrido, no entanto, foi entendido que os contratos firmados com a referida empresa americana possuiriam a natureza de licenciamento de uso de direito autoral, cuja remuneração seria efetuada a título de royalties; no entanto, a prevalecer o entendimento acima farseá, em última instância, letra morta do comando normativo que se extrai do artigo 22, "d" da Lei 4.506/64, cuja aplicação no caso concreto é impositiva na medida em que no próprio contrato firmado pela Recorrente estão definidos na cláusula primeira, itens 4 e 6, como direitos autorais da IBM americana os programas protegidos pela Copyright IBM em relação aos quais esta tenha ou venha a ter direitos de licenciar ou sublicenciar: 4. Direitos de Autor da IBM significam todos e quaisquer direitos autorais sobre ou referentes a obras artísticas ou literárias, incluindo Programas, desde que válidos no Brasil, para os quais a IBM tem ou poderá vir a ter direito de licenciar ou sublicenciar uma subsidiaria, 6. Programas da IBM significam programas protegidos pela inscrição de Copyright IBM, que são comercializados pela IBM ou suas Subsidiárias, e que são licenciados, autorizados ou de qualquer outra forma fornecidos para a IBM Brasil através deste Contrato. nesse contexto, é irretocável a conclusão de Marco Aurélio Greco no sentido de que "os pagamentos feitos a título de licenciamento e distribuição de software ao seu autor (pessoa física ou jurídica, domiciliada no Exterior) estão enquadrados na ressalva ao conceito de royalty prevista na parte final da alínea 'd' do artigo 22 da Lei n. 4.506/64"; neste contexto, a Recorrente pede vênia ainda para citar outro decisório da 8a Câmara do antigo 1o Conselho de Contribuintes (Acórdão n° 10801.502) no qual foi também entendido que em situações em que o pagamento do direito autoral for percebido pelo próprio autor ou criador da obra não estará configurada situação de royalty, nos precisos moldes estabelecidos pelo artigo 22, alínea "d", da Lei 4506/64; nem se alegue, tal como consta também do v. acórdão recorrido, que a regra da alínea 'd' do artigo 22 da Lei n. 4.506/64 não se aplicaria ao caso concreto porque, por uma particular interpretação das Leis 9.609/98 e 9.610/98 que tratam de direitos autorais no Brasil a IBM americana, na condição de pessoa jurídica, poderia ser "titular de direitos patrimoniais, Fl. 1303DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 6 5 mas nunca considerada como criadora da obra intelectual." É o que consta no r. acórdão: [...]; com a vênia devida, a interpretação dada pelo v. acórdão recorrido às referidas leis não poderia se mostrar mais equivocada e, ao mesmo passo, tão distante da realidade que hoje se verifica na indústria de programas de computador; com efeito, a Recorrente já demonstrou que a Lei n° 9.610/98, que alterou, atualizou e consolidou a legislação sobre direitos autorais, incluiu expressamente dentre as obras intelectuais protegidas os programas de computador (softwares) (art. 7o, inciso XII); ao seu turno, ao regular a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, a Lei n° 9.609, de 19/02/1998, expressamente estendeu aos programas de computador "o regime de proteção à propriedade intelectual (...) conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País (...)", afastando qualquer dúvida acerca da aplicação da Lei n° 9.610/98 aos softwares; nesse contexto, ao contrário do que entendido no v. acórdão recorrido, deve ser compreendido o artigo 11 da referida Lei n° 9.610/98 que define como "autor" "a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica", estendendo expressamente a proteção que lhe é concedida às pessoas jurídicas (parágrafo único); além disso, a interpretação sistemática das Leis n° 9.609/98 e 9.610/98 revela que, ao tratarem do autor, não fizeram qualquer restrição ou ressalva sobre a possibilidade dele ser uma pessoa jurídica, bem como que a distinção apresentada no acórdão recorrido acerca dos conceitos de "autor" e "titular de direitos autorais" é nada mais do que, com a vênia devida, uma descabida elucubração do ilustre relator do acórdão recorrido; isto porque, não há dúvidas de que o artigo 3°, § 1o, inciso I, da Lei n° 9.609/98 reconhece expressamente que o autor do programa de computador pode ser uma pessoa jurídica, e não apenas detentor de direitos autorais, quando determina que o pedido de registro deve conter "os dados referentes ao autor do programa de computador e ao titular, se distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas " (destaques da Recorrente); reforça esse entendimento o conceito de "obra coletiva", inserto no art. 5º da Lei n° 9.610/98, o qual compreende aquela "criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem numa criação autônoma"; neste contexto, ressaltando que na atualidade a criação e o comércio dos mais avançados programas de computador estão associados a nomes de multinacionais que conquistaram o mercado e não à desconhecida figura de qualquer pessoa física, de grande contribuição é a parte do texto abaixo transcrita, de autoria de José de Oliveira Ascenção, professor catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa: "Reforçase consideravelmente a posição da empresa, o que é uma constante do regime criado para os programas de computador em todo o mundo. Na realidade, na produção de programas de computador a posição das grandes empresas é fundamental. Basta pensar que ninguém conhece um programa Fl. 1304DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 7 6 por ser do Sr. X, mas por ser da Apple, ou Microsoft. " (Direito Autoral. 2a Ed. Rio de Janeiro Ed. Renovar, 1997) os dizeres de Marco Aurélio Greco, em seu parecer já citado (doc. 01), são precisos neste sentido: "(...) Em suma, no mundo moderno, especialmente em softwares de grande porte ou alta complexidade, sua elaboração exige pessoas que se encontram nas mais diversas partes da Terra e que todas trabalhem em plena sintonia de objetivos, tempo, desempenho e resultado. Isto supõe uma organização empresarial que os reúna e dê sentido às suas atividades pontuais, a partir da concepção global do software envolvido. Os desafios nesse campo são muitos e exigem coordenação, sistemas de comunicação, sintonia entre equipes e pessoas no plano profissional, pessoal e cultural etc. Tudo isto faz com que o efetivo autor da obra final (o software em si) seja a pessoa jurídica que assumiu estas atividades globais e coordenou sua elaboração, forneceu as informações necessárias e os equipamentos para tanto, além de prover sistemas eficientes de comunicação e coordenação, bem como teve a habilidade de superar os impasses e desafios que daí surgiram. A capacidade de coordenação, concepção, sintonia e orientação dos diversos participantes no mundo todo são inegavelmente uma expressão de exercício de capacidade criadora da obra final que é desempenhada pela pessoa jurídica como um todo, posto não poder ser atribuída exclusiva e especificamente a nenhuma pessoa física isoladamente considerada. E a existência do organismo empresarial que faz com que a obra seja criada. Em suma, autor do software não é uma pessoa física isolada, nem a mera somatória de pessoas físicas. Autora do software é a pessoa jurídica que com sua capacidade empresarial de organização, coordenação, disponibilização de sistemas etc concebeu e fez com que surgisse o produto final: o software pronto. (...)" de se notar ainda que no v. acórdão recorrido verificase a alusão ao acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça nos autos do RESP n° 1.322.325/DF como suposto paradigma jurisprudencial que teria encerrado a conclusão de que, ainda que desenvolvida sob o vínculo laboral, ou dever funcional, a autoria de determinada obra ou criação deveria necessariamente recair sobre a respectiva pessoa física; no entanto, grande parte dos trechos daquele acórdão do Superior Tribunal de Justiça transcritos pelo relator do v. acórdão recorrido são artigos doutrinários de Plínio Cabral e Carlos Bittar, incluídos no decisório com a clara intenção de enriquecêlo com Fl. 1305DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 8 7 elementos para se delimitar em tese a questão da autoria, inclusive em uma relação de emprego; a leitura da íntegra do voto do relator daquele acórdão exarado nos autos do RESP n° 1.322.325/DF, contudo, revela que nele não restou decidido que a pessoa física lá Recorrente teria sido reconhecida de fato como a criadora da obra cuja autoria estava reclamando na medida em que, diferentemente do que se extrai da aludida doutrina de Plínio Cabral e Carlos Bittar, faltoulhe o requisito da criatividade; de fato, nenhuma pessoa física poderá ser considerada criadora de determinada obra se a tiver produzido nos estritos parâmetros previamente estabelecidos pelo seu empregador, e com dados também fornecidos por este; é justamente o que ocorre no caso concreto já que, na realidade das empresas que atuam na produção de programas de computador, diversas pessoas físicas podem ser contratadas para desenvolver um único software por competências que lhes são próprias, mas sempre agirão circunscritas a dados e parâmetros préestabelecidos pelo empregador e, sobretudo, dentro da estrutura por ele fornecida, sem a qual os softwares não seriam jamais produzidos; neste sentido o Ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça, ao proferir seu voto nos autos do RESP 118962/RJ bem elucidou que "o direito autoral protege a criação de uma obra, caracterizada como sua exteriorização sob determinada forma, não a idéia em si e nem um tema determinado"; é dizer, na esfera de direito autoral atinente a programas de computador, o objeto de proteção caracterizado como sua exteriorização se revela na forma do software desenvolvido sob os comandos da pessoa jurídica empregadora, que como tal será comercializado no mercado, e não a idéia, ou as idéias eventualmente advindas de pessoas físicas contratadas para o seu desenvolvimento; como se vê, portanto, ao contrário do que pretendeu fazer crer o relator do v. acórdão recorrido, no acórdão proferido no RESP n° 1.322.325/DF não foi concluído que a autoria de obras das mais variadas espécies necessariamente seria sempre atribuída a uma pessoa física, ainda que no exercício de um vínculo empregatício, mas sim que a pessoa física lá em questão não poderia ser considerada autora porque lhe faltou o requisito da criatividade, demonstrando, em última análise, que a pretensa regra comporta exceções, tal como aquelas que ocorrem no desenvolvimento e criação de programas de computador; e tanto é assim que outros julgados do Superior Tribunal de Justiça expressamente reconhecem que, em ações de pirataria, empresas como Microsoft são reconhecidas como autoras dos softwares pirateados e por isto devem ser indenizadas. Os trechos abaixo transcritos, extraídos do REsp 768783, bem comprovam esta situação: [...]; ademais, como bem observa Marco Aurélio Greco, "(...) ainda que, apenas para argumentar, a pessoa jurídica não pudesse ser a autora do software, ainda assim ela, quando menos, seria sua criadora o que também colocaria o caso debaixo da ressalva contida na alínea 'd' do artigo 22 da Lei n. 4.506/64 que se refere a pagamentos feitos 'ao autor ou criador do bem ou obra'"; Fl. 1306DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 9 8 e nem se alegue ainda, como também constou do acórdão recorrido, que ainda que se admitisse que os softwares em questão pudessem ter a sua autoria creditada a uma pessoa jurídica (IBM americana), "em nenhum momento se faz prova da autoria dos respectivos códigos e expressões ", e prossegue o relator para afirmar que como "o ônus da prova caberia ao interessado, percebese que a Recorrente não logrou êxito em demonstrar tal circunstância, essencial para a sua pretensão, ao menos nos próprios termos por ela defendidos"; ocorre que a natureza das despesas com licenciamento de uso de programa de computador criado pela International Business Machines Corporation não foi objeto de questionamento pela fiscalização, nem pela DRJ. De fato, como visto acima os pagamentos realizados e objeto de glosa pela fiscalização foram feitos com base em contratos celebrados pela IBM americana nos seguintes termos: "Cláusula Segunda 1. A IBM, pelo prazo deste Contrato garante à IBM Brasil sob os Direitos de Autor da IBM uma licença não exclusiva e os direitos de: a) licenciar e distribuir cópias de Programas da IBM para uso de seus Clientes. (...) " nesse contexto, não tendo esta questão jamais sido questionada pela fiscalização, os fatos "sub judice" reputamse incontroversos, sendo descabidas as ponderações acima sustentadas pelo ilustre relator do acórdão recorrido; aliás, ao contrário do que afirmado no acórdão recorrido, a teor do que estabelece o artigo 373 inciso I do Novo Código de Processo Civil, de aplicação subsidiária ao processo administrativo, o ônus da prova incumbe sempre ao autor do feito, no caso concreto, ao fisco, e eventual "inversão" de tal ônus somente seria possível nas situações previstas em lei; evidenciase, portanto, ao contrário do que entendido pelo v. acórdão recorrido, que nos termos do artigo 22, "d", da Lei 4.506/64, não há que se falar em royalties no caso concreto na medida em que a empresa International Business Machines Corporation é a autora, ou quando menos criadora, do software que licencia para a Recorrente no Brasil, de modo que as despesas incorridas se subsumem à regra do artigo 299 do RIR/99, sendo dedutíveis, pois, por representarem gastos necessários e normais à sua atividade conforme se infere de seu objeto social (doc. 01 da impugnação), verbis: ''Artigo 2o A Sociedade tem por objeto a pesquisa e o desenvolvimento, a indústria, o comércio e os serviços em geral, inclusive importação e importação; a prestação de serviços de informática, tais como o processamento de dados em geral e outros de natureza correlata; a produção, a comercialização e manutenção de programas de computador; a consultoria na área de informática e a prestação de serviços de integração, instalação e assistência técnica de equipamentos e sistemas de informática; o ensino e treinamento de recursos humanos em serviços de informática; bem Fl. 1307DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 10 9 como todas as atividades comerciais e de representação comercial necessárias para o cumprimento de seu objeto social. " ANÁLISE DE MÉRITO ACERCA DO FATO DE QUE O ART. 71, PARÁGRAFO ÚNICO, ALÍNEA "D", DA LEI N° 4.506/64 NÃO VEDA A DEDUÇÃO DOS ROYALTIES PAGOS A SÓCIOS PESSOA JURÍDICA ILEGALIDADE DO ART. 353, INCISO I, DO RIR/99 de fato, mesmo que se entenda que os valores pagos pela Recorrente à International Business Machines Corporation são royalties, o que se admite apenas para argumentar, a norma inserta no art. 71, parágrafo único, alínea "d", da Lei n° 4.506/64 não veda a dedução de royalties pagos a sócios pessoas jurídicas. Confirase: "Art. 71. A dedução de despesas com aluguéis ou royalties' para efeito de apuração de rendimento líquido ou do lucro real sujeito ao imposto de renda, será admitida: (...) Parágrafo único. Não são dedutíveis: (. . . ) d) os 'royalties' pagos a sócios ou dirigentes de empresas, e a seus parentes ou dependentes; e) os 'royalties' pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação ou pelo uso de marcas de indústria ou de comércio, quando: 1) Pagos pela filial no Brasil de empresa com sede no exterior, em beneficio da sua matriz; 2) Pagos pela sociedade com sede no Brasil a pessoa com domicílio no exterior que mantenha, direta ou indiretamente, controle do seu capital com direito a voto; (...) " a análise atenta da alínea "d" do parágrafo único do art. 71 da Lei nº 4.506/64 revela que esse dispositivo legal se dirige apenas às pessoas físicas, já que de outro modo ficaria completamente sem sentido a menção feita a "parentes ou dependentes", que se refere indistintamente aos sócios e dirigentes de empresas; sob o pretexto de regulamentar esse dispositivo legal, contudo, o inciso I do art. 353 do RIR/99 introduziu após a palavra "sócios" o aposto "pessoas físicas ou jurídicas", que não consta da norma legal, tampouco constava dos Regulamentos anteriores ao de 1994, nada obstante aquela norma seja de 1964. Confirase: "Art. 353. Não são dedutíveis (Lei n° 4.506, de 1964, art. 71, parágrafo único): I os royalties pagos a sócios, pessoas físicas ou jurídicas, ou dirigentes de empresas, e a seus parentes ou dependentes; (...) " Fl. 1308DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 11 10 parece claro que o atual Regulamento do Imposto de Renda, ao pretender impedir a dedução dos royalties pagos aos sócios pessoas jurídicas extrapolou o conteúdo do art. 71, parágrafo único, alínea "d", da Lei nº 4.506/64 o que, dada a sua inferior hierarquia e função instrumental, não poderia fazer, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade; no entanto, sobre o tema foi entendido no v. acórdão recorrido que o artigo 71, parágrafo único, alínea "d", da Lei n° 4.506/64, ao mencionar o termo "sócios", estaria se referindo a qualquer tipo de participação na sociedade, não restrita a pessoas físicas. Confira se: [...]; contudo, data máxima vênia, a interpretação do artigo 71, parágrafo único, alínea "d", da Lei n° 4.506/64 feita pelo i. relator do v. acórdão recorrido é manifestamente equivocada, pois desconsidera a integralidade do texto legal, bem como conduz a resultado absurdo, visto que a prevalecer tal interpretação terseia que admitir que nas hipóteses do artigo 50 da Lei nº 8.383/91, que permite a dedução dos royalties pagos à controladora estrangeira sob certas condições, os mesmos royalties seriam indedutíveis quando pagos à controladora brasileira; com o advento desse dispositivo legal, os royalties pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação ou pelo uso de marcas de indústria ou de comércio em benefício de pessoa jurídica situada no exterior que detenha participação societária, direta ou indireta, na pessoa jurídica brasileira (Lei n° 4.506/64, art. 71, parágrafo único, alínea "e", item 2) passaram a ser dedutíveis do lucro real sob certas condições; sendo assim, se a alínea "d" do parágrafo único do art. 71 da Lei n° 4.506/64 alcançasse os pagamentos feitos a sócios pessoas físicas ou pessoas jurídicas, chegaríamos à conclusão absurda de que os royalties pagos a sócios estrangeiros podem ser deduzidos, ao passo que esses mesmos royalties seriam indedutíveis se pagos à sócia pessoa jurídica brasileira; não faz sentido algum supor que o legislador ordinário pretendeu conferir tratamento mais benéfico aos pagamentos de royalties efetuados por empresas brasileiras a seus sócios no exterior do que àqueles feitos por aquelas mesmas empresas a sócios brasileiros; assim, parece claro que a intenção do legislador ordinário foi tornar indedutíveis apenas as despesas com royalties pagos a sócios pessoas físicas, já que de outro modo, além de ficar totalmente sem sentido a referência feita a "parentes ou dependentes", teríamos que admitir a existência de discriminação legal em detrimento de pagamentos de royalties feitos à sócia brasileira; nesse contexto, a única interpretação possível do art. 71 da Lei nº 4.506/64, que estabelece quais são as despesas que não podem ser deduzidas do lucro real, elencando dentre elas os royalties pagos exclusivamente a sócios pessoas físicas (alínea "d"), é no sentido de que a lei pretende claramente evitar que tais pessoas fossem indevidamente beneficiadas com o recebimento de tais valores que, em tese, poderia caracterizar distribuição disfarçada de lucro; ademais, não fosse esta a finalidade da alínea "d" do parágrafo único do art. 71, e considerando que esses dispositivo legal veda a dedução de todo e qualquer royalty quando pago a sócios, ficariam totalmente sem sentido as previsões da alínea "e", que elenca as hipóteses específicas de indedutibilidade no caso de pagamentos a pessoas jurídicas; Fl. 1309DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 12 11 mais ainda, parece óbvio que se tal alínea "d" estivesse se dirigindo também a sócios pessoas jurídicas teria o legislador feito menção expressa, trazendo termos que lhe são próprios, como, por exemplo, matriz, filial, estabelecimento, controladora, controlada, etc, utilizandose técnica redacional semelhante à que se verifica na alínea "e"; os fundamentos acima expostos foram bem apreendidos por Marco Aurélio Greco, conforme se verifica pela análise dos seguintes excertos de seu parecer (doc. 01): [...]; salientese que o acórdão 9101001.908 da Câmara Superior citado no acórdão recorrido não analisou essa questão, na medida em que se limitou a repetir a expressão constante no art. 353, inciso I, do RIR/99, sem tecer qualquer comentário acerca do conflito existente entre esse dispositivo regulamentar e a alínea "d" do parágrafo único do art. 71 da Lei n" 4.506/64; por outro lado, não passou despercebido àquele precedente a contradição que resultaria de se entender incluídas as pessoas jurídicas no inciso I do artigo 353 do RIR/99, face ao disposto no inciso III daquela mesma norma regulamentar. A "solução" dada naquele julgado a esta contradição, contudo, com a máxima vênia, contraria todas as regras conhecidas de hermenêuticas, e não enfrenta a questão da contradição em face do artigo 50 da Lei n° 8.383/91 acima referida; por isso, "data venia", não é possível afirmar, como consta do acórdão recorrido, que "Inexiste, portanto, qualquer ilegalidade ou vicio na norma veiculada pelo artigo 353 do RIR/99, quando cotejado com as disposições do artigo 71, da lei n. 4.506/64.", ainda mais quando se tem em mente que a mesma Câmara Superior de Recursos Fiscais, no já citado e parcialmente transcrito acórdão n° CSRF/0104.629, enfrentou frontalmente a matéria "sub judice" e decidiu que a vedação do artigo 71, parágrafo único, alínea "d", da Lei 4.506/64 não atinge os pagamentos efetuados a título de royalties a sócio pessoa jurídica; de se notar ainda que a jurisprudência de nossos tribunais judiciais não destoa de tal entendimento, sendo o que já decidiu a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça ao entender que se referia apenas a pessoas físicas o artigo 251, alínea "g" do RIR/66 ao tratar como norma de distribuição disfarçada de lucros os empréstimos concedidos a acionista, sócio, dirigente ou participante nos lucros de pessoa jurídica ou aos respectivos parentes ou dependentes por preço menor que o de mercado, verbis: [...] (Recurso Especial nº 384.309 RS 2001/01559320 DJ 27/03/06); pelo exposto, não há dúvidas de que na remota hipótese de se considerar royalties as despesas pagas pela Recorrente em razão do contrato firmado com a IBM americana, de todo modo é inquestionável que a vedação trazida pelo artigo 71, parágrafo único, alínea "d" da Lei 4.506/64 não se aplica a pagamentos efetuados a sócios pessoas jurídicas, sendo impositivo também neste tocante a reforma do r. acórdão recorrido; DEMONSTRAÇÃO DE MÉRITO DA INAPLICABILIDADE DAS REGRAS DE DEDUTIBILIDADE DE ROYALTIES AO CÁLCULO DA CSLL de fato, admitindose novamente apenas para argumentar, que as despesas pagas pela Recorrente à IBM em razão do contrato de licenciamento de software teriam a natureza jurídica de royalties, de todo modo as regras de dedutibilidade estabelecidas em relação ao cálculo do IRPJ não se aplicam à CSLL; Fl. 1310DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 13 12 com efeito, no lançamento relativo à CSLL o fisco tomou como base a despesa considerada como indedutível pela legislação do IRPJ, que no entanto não repercute no cálculo da CSLL conforme a legislação em vigor; de fato, a base de cálculo da CSLL está prevista no artigo 2° da Lei 7.689/88, verbis: [...]; como se vê, a base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido parte do resultado do exercício apurado de acordo com os princípios da legislação comercial, e a ela não se aplicam as regras de despesas consideradas indedutíveis para fins de apuração do imposto de renda, ou seja, de despesas efetivas que, por determinação legal, devam ser adicionadas na apuração do lucro real, salvo previsão expressa nesse sentido; como já mencionado, no entanto, o i. relator do acórdão recorrido entendeu que a dedução de despesas com royalties seria aplicável também na apuração da base de cálculo da CSLL, e na tentativa de embasar tal entendimento, dentre outros argumentos, foram transcritos os artigos 57, §3° e 4o, e 58 da Lei 8.981/95, bem como o artigo 28 da Lei 9.430/96, cujas redações suportariam a sua conclusão. Confirase: [...]; as demais afirmações trazidas sobre esta questão no v. acórdão recorrido enveredaram para situações em que determinados efeitos atinentes ao cálculo do IRPJ são estendidos, por expressa previsão legal, dada "a quase identidade entre os tributos", para o cálculo da CSLL, e para tanto invocouse como exemplo a extensão dos efeitos dos tratados internacionais para evitar a bitributação àquela contribuição; neste sentido, afirma o ilustre relator que "sempre defendi a aplicabilidade das regras para evitar a bitributação também para a contribuição, posição igual à de autores de escol e que, recentemente, foi finalmente expressa pelo legislador, nos termos do artigo 11, da Lei n. 13.202/2015"; tais afirmações, ao final, levaram o relator a concluir que "Em nome da coerência e de postulados lógicos fundamentais, ou um objeto guarda identidade com outro ou não guarda. Não existe espaço para manobras ou variações ao sabor do intérprete, vale dizer, a CSLL não pode ser suficientemente parecida com o IRPJ para que se aplique as regras dos tratados e, ao mesmo tempo, suficientemente diferente para que as regras de dedutibilidade sejam distintas"; no entanto, nenhuma das afirmações acima tem o condão de infirmar a realidade de que não há no ordenamento tributário nenhuma norma positivada pelo legislador que tenha vedado a dedução de despesas com royalties da base de cálculo da CSLL, tal como o fez em relação à apuração do lucro real; sendo assim, obviamente jamais se poderia admitir que por simples questão de "coerência" fosse extensível à apuração da CSLL uma disposição que, pela vontade do legislador, atinge somente o IRPJ, razão pela qual, também neste tocante, deve ser inteiramente reformado o v. acórdão recorrido; de fato, ao contrário do que entendido, especificamente a este respeito existem já diversos precedentes do antigo Conselho de Contribuintes e também do CARF que expressamente reconhecem que não se aplica à CSLL a indedutibilidade de despesas com royalties por falta de previsão legal. Confirase: [...]; Fl. 1311DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 14 13 aliás, são diversas as decisões no sentido de que os artigos 57 da Lei 8.981/95 e 28 da Lei 9.430/96 não justificam a aplicação à CSLL de adições previstas especificamente quanto ao IRPJ, "verbis": [...]; analisando especificamente o invocado artigo 57 da Lei 8.981, entendeu a 1a Turma Ordinária da 2a Câmara do 1o Conselho de Contribuintes que as regras deste dispositivo atinentes ao cálculo do IRPJ não se aplicam por analogia à CSLL uma vez que ele é expresso no sentido que se deve observar a legislação específica desta contribuição para se apurar a sua base de cálculo. Confirase: [...]; com efeito, aplicar à CSLL as mesmas normas de apuração e pagamento estabelecidas para o IRPJ não significa aplicar as mesmas normas relativas à determinação da base de cálculo (deduções, exclusões e adições); na realidade, é fato notório que quando pretende o legislador que uma regra produza efeitos tanto na base de cálculo do IRPJ como da CSLL, assim o determina expressamente, como aliás se verifica na própria Lei n° 8.981/95, que para limitar a compensação de prejuízos em 30% do lucro líquido ajustado dispôs a esse respeito em dois artigos distintos (art. 42 para o IRPJ e art. 58 para a CSLL), prova exatamente o contrário do que sustenta o ilustre relator do v. acórdão recorrido, pois obviamente seria desnecessária tal previsão se o artigo 57 tivesse a extensão pretendida; no mesmo sentido, quando se pretendeu estender para a CSLL as normas de tributação da renda em bases universais vigentes para o IRPJ desde a Lei n° 9.249/95, foi necessário que o artigo 21 da Medida Provisória n° 2.15835/01 assim expressamente previsse; mais uma vez, quando se pretendeu estender para a CSLL as vedações à compensação de prejuízos previstas para o IRPJ pelos artigos 32 e 33 do Decretolei n° 2.341/87 (respectivamente a mudança cumulativa de controle societário e ramo de atividade e incorporação), foi igualmente necessário que o artigo 22 da Medida Provisória n° 2.15835/01 expressamente dispusesse no sentido de que "Aplicase à base de cálculo negativa da CSLL o disposto nos arts. 32 e 33 do DecretoLei no 2.341, de 29 de junho de 1987"; da mesma forma, se houvesse uma necessária identidade entre as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, por óbvio não faria sentido algum que o artigo 28 da Lei n° 9.430/96, também invocado pelo i. relator do acórdão recorrido, tivesse assim disposto, "verbis": [...]; por fim, conclusão idêntica se aplica à Lei n° 12.973/14, que consignou expressamente no artigo 50 que "Aplicamse à apuração da base de cálculo da CSLL as disposições contidas nos arts. 2º a 8o, 10 a 42 e 44 a 49"; pelo exposto, admitindose para argumentar que as despesas em questão pudessem ser configuradas como royalties, de todo modo fazse necessária a reforma do r. acórdão recorrido diante da ausência de base legal que impeça a dedutibilidade para fins de apuração da base de cálculo da CSLL; DO PEDIDO Fl. 1312DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 15 14 portanto, configurada a divergência entre o que foi decidido nos acórdãos paradigmas acima relacionados e o v. acórdão recorrido, mostrase perfeitamente cabível o recurso especial previsto nos arts. 67 e seguintes do Anexo II do Regimento Interno do CARF; ante o exposto, pede e espera a Recorrente seja admitido e provido o presente Recurso Especial, reformandose o v. acórdão recorrido na esteira dos paradigmas colacionados para o fim de cancelar integralmente as exigências do IRPJ e CSLL, como medida de direito e de justiça. Como já mencionado, o recurso especial da contribuinte foi admitido em relação às seguintes matérias: 2 Não são equiparados a royalties os pagamentos a título de exploração de direito autoral efetuados ao próprio criador do bem ou da obra, inclusive pessoa jurídica, nos termos do artigo 22, alínea "d", da Lei 4.506/64; 3 O artigo 71, parágrafo único, alínea "d", da Lei n° 4.506/64 não veda a dedução dos royalties pagos a sócios pessoa jurídica ilegalidade do art. 353, inciso I, do RIR/99; e 4 Inaplicabilidade das regras de dedutibilidade de royalties ao cálculo da CSLL. Em 24/03/2017, o processo foi encaminhado à PGFN, para ciência dos despachos que deram seguimento parcial ao recurso especial da contribuinte, e em 07/04/2017, o referido órgão apresentou tempestivamente as contrarrazões ao recurso, com os seguintes argumentos: FUNDAMENTOS PARA MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO discutese nestes autos acerca da dedutibilidade dos pagamentos efetuados pela interessada à sua controladora no exterior, relativos a licenças de uso e distribuição de software negociadas no período fiscalizado; apurou a Auditoria Fiscal que a recorrente realizava pagamentos à International Business Machines Corporation, sua controladora sediada nos EUA, a título de remuneração por licença de uso e distribuição de software e os deduzia para o fim de determinar a base de cálculo da tributação sobre a renda; face à autuação, a defesa da Recorrente se funda em dois argumentos principais: (i) os valores pagos à matriz estrangeira dizem respeito a direitos autorais, não royalties decorrentes de licenciamento de software, pelo que sua dedutibilidade é plena; (ii) a redação do artigo 353, inciso I, do RIR/99 extrapolou a redação do art. 71, parágrafo único, alínea “d”, da Lei nº 4.506/64, pois estendeu a indedutibilidade de pagamentos a sócio pessoa jurídica. para examinar as alegações, cabe, em primeiro lugar, tratar do conceito de “royalties”, que está definido pelo artigo 22 da Lei n. 4.506/64: [...]; no tocante aos programas de computador, por meio de legislação específica, o ordenamento jurídico brasileiro conferiu aos direitos relacionados ao seu uso e à sua comercialização o tratamento jurídico dos direitos autorais. É o que expressamente consta do art. 2º da Lei n. 9.609/98, verbis: [...]; Fl. 1313DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 16 15 no ponto, cabe observar, ainda, que o art. 9º da Lei n. 9.609/98 vincula o uso de softwares no País à prévia obtenção da respectiva licença de uso (o uso do programa de computador no País será objeto de contrato de licença), o que significa dizer que seja qual for a utilização que se dê ao software adquirido (uso próprio ou comercialização), sempre se fará necessário que se obtenha, previamente, contrato de licença de uso do produto; extraise, então, da legislação vigente, que o contrato de aquisição de softwares no exterior para a sua posterior comercialização no País possui a natureza jurídica de contrato de licença de uso de direito autoral; por conseguinte, a remuneração devida nesse tipo de contrato, se faz mediante pagamento de royalties, uma vez que é sob esta rubrica que se remunera a aquisição de direitos autorais; com efeito, royalty é o pagamento feito, por uma pessoa, física ou jurídica, ao dono de propriedade ou ao criador de um trabalho original, para o privilégio de explorálo comercialmente. É, essencialmente, um método de partilhar o rendimento das vendas de um produto entre os que concorrem com o financiamento e a habilidade de comercialização e os que contribuem com a propriedade intelectual sob a forma de uma realização comercial (Dicionário de Economia, Editora Bloch, Arthur Seldon); frisese ainda a existência de acordos internacionais que dão aos rendimentos pela exploração de direitos autorais o tratamento de royalties. Para efeito ilustrativo, citese o Parecer Normativo CST 37/1974, relativamente ao Acordo SuéciaBrasil, em que se extrai a seguinte conceituação ao termo: [...]; não restam dúvidas de que os direitos pelo uso de programas de computadores, definidos no art. 1º da Lei n. 9.609/98 receberão o mesmo tratamento de direitos autorais e, pois, se lhes aplica a previsão do art. 22, “d” da Lei n. 4.506/64, ou seja, os pagamentos pela exploração de direitos autorais se fazem por meio de royalties; destarte, para fins tributários, o pagamento pela licença de uso de software submetese ao disposto no artigo 71, parágrafo único, alínea “d”, da Lei n. 4.506/64 e art. 353, inciso I, do RIR/1999, que prediz que os royalties pagos a sócios ou dirigentes de empresas são indedutíveis da base de cálculo do IRPJ; feitos os esclarecimentos conceituais, passase ao exame das alegações da contribuinte; ENQUADRAMENTO DOS VALORES PAGOS À CONTROLADORA COMO ROYALTIES: (I) IMPOSSIBILIDADE DE PESSOA JURÍDICA FIGURAR COMO CRIADORA DE OBRA AUTORAL E (II) AUSÊNCIA DE PROVA DA QUALIDADE DE CRIADORA a alegação de que tais valores não se amoldam ao conceito legal de royalties se funda no entendimento de que os pagamentos correspondem à exceção prevista na alínea “d”. Tratarseia, segundo defende a recorrente, de pagamentos direcionados a autor ou criador da obra cujos direitos se negocia; a pretensão da recorrente não merece prosperar eis que: (i) não pode a pessoa jurídica figurar como criadora ou autora de obra intelectual; (ii) ainda que pudesse, a Fl. 1314DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 17 16 recorrente não logrou comprovar que os pagamentos a título de royalties foram realizados diretamente ao criador ou autor da obra intelectual; a tese formulada pela recorrente parte de equivocada interpretação do art. 11 da Lei n. 9.610/98, que trata dos direitos autorais e, pois, regula o tratamento conferido ao software por força do art. 2º da Lei n. 9.680/97; a previsão é peremptória: a qualidade de autor é atribuível a pessoas físicas. Ao restringir sua previsão às pessoas físicas, o caput estabelece que não é possível a pessoas jurídicas figurarem na condição de autores; a recorrente pretende retirar do parágrafo único, que confere às pessoas jurídicas a proteção concedida ao autor nos casos previstos na Lei, a interpretação de que as pessoas jurídicas podem assumir a posição de autores ou criadores das criações intelectuais das pessoas a seu serviço; basta, todavia, hermenêutica fulcrada na análise gramatical e lógica da Lei para rejeitar o sentido normativo que almeja a contribuinte; diversamente do que entende, o parágrafo único reforça a previsão do caput. Ao estatuir que poderá aplicar a pessoas jurídicas a proteção concedida ao autor, a norma claramente estabelece que a pessoa jurídica não pode ser autora. Somente há necessidade de estender os direitos (proteção) do autor às pessoas jurídicas porque elas não ostentam aptidão para assumir a condição de autoras, caso em que tal proteção decorreria diretamente dessa condição. Se as pessoas jurídicas pudessem ser autoras, a previsão seria inteiramente dispensável; ademais, verificase que a norma restringe os direitos do autor que podem ser aplicados às pessoas jurídicas. A proteção se estenderá “nos casos previstos nesta Lei”; mais uma vez, a lógica e a semântica conduzem à conclusão de que as pessoas jurídicas não podem ser autoras, pois, se o fossem, gozariam plenamente dos direitos do autor em vez de usufruírem apenas daqueles que lhes são atribuídos por expressa previsão legal; o elemento histórico também ganha relevo para determinar a interpretação do dispositivo em comento. O art. 11 da Lei n. 9.610/98 corrigiu o art. 15 da Lei n. 5.988/73, que afirmava que uma empresa poderia ser titular de obra coletiva. A nova lei, coerente com a previsão do art. 11, em nenhum momento confere autoria a pessoas jurídicas. Elas podem ser titulares de direitos autorais, jamais autoras; nessa linha, notese que a Lei n. 9.609/98, em seu artigo 4º, ao cuidar dos programas de computador desenvolvidos no âmbito de relações funcionais, se utiliza do vocábulo pertencer, para definir quando os direitos da titularidade caberão à pessoa criadora ou à empresa, de forma a reafirmar que o que está ao alcance da pessoa jurídica é obter o direito de propriedade, o domínio sobre o software, mas não a condição de autora; tampouco corrobora o pleito da recorrente a previsão do art. 3º da Lei n. 9.609/98, que estabelece que, no pedido de registro, deverão constar os dados do autor e do titular, sejam pessoas físicas ou jurídicas; Fl. 1315DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 18 17 dado que as pessoas jurídicas podem ser titulares de direitos autorais, mas carecem de capacidade criativa para serem autoras, como já examinado, a previsão acerca dos registros, ao se referir a pessoas jurídicas, o faz porque elas podem ocupar a posição de titulares de direitos do autor; também inservíveis ao seu propósito os precedentes invocados. O Recurso Especial n. 1.403.865SP e o Recurso Especial n. 1.127.220/SP versaram sobre a proteção dos direitos de uma pessoa jurídica que é titular de direitos autorais; como já dito, titularidade não se confunde com autoria. A autoria corresponde a uma situação fática (fato jurídico em sentido estrito), criação de obra intelectual, da qual derivam direitos (direitos autorais) visando à proteção do trabalho intelectual empregado na criação; o direito positivo nacional classifica tais direitos em duas classes, morais e patrimoniais. Os primeiros não se alienam nem a eles se pode renunciar (art. 27 da Lei n. 9.610/98); já os direitos patrimoniais de propriedade intelectual são suscetíveis de negociação em âmbito de mercado, são transmissíveis, consoante art. 49 da Lei n. 9.610/98. Por conseguinte, a comprovação da titularidade de tais direitos não permite a inferência de que houve a criação dos programas pelo seu titular; registrese, no ponto, que a Convenção de Berna para proteção do direito autoral consagra a distinção entre autoria e titularidade, resguardando ao autor direitos não patrimoniais: [...]; há titulares de direitos autorais que não são os autores das criações e há criadores que não são titulares dos direitos patrimoniais sobre suas obras, mas ser autor é condição exclusiva de pessoas físicas; nesse sentido, já se posicionou este e. CARF em mais de uma oportunidade: Acórdão 10516451 e Acórdão n. 930301.864: [...]; outro não é o posicionamento que dimana da jurisprudência sedimentada no e. STJ, que enfrentou, em mais de uma oportunidade, a questão da autoria da obra no âmbito da relação empregatícia ( REsp 1322325/DF, REsp 617.130/DF e REsp 121.757/RJ); fazse válido transcrever excerto do julgamento do REsp 1.322.325/DF, que analisa, de forma detida, a questão da autoria de obra intelectual no âmbito da relação funcional: [...]; resta manifesto o óbice à pretensão de que se aplique ao caso a previsão excepcional do art. 22 da Lei n. 4.506/64 e se negue aos valores remetidos em retribuição à licença de uso de software a qualificação de royalties, pois não há que se reconhecer à pessoa jurídica a qualidade de autora ou criadora de obra intelectual; prosseguindo, em respeito ao princípio da eventualidade, cabe consignar que, ainda que houvesse, no ordenamento brasileiro, a possibilidade jurídica de reconhecer às pessoas jurídicas a qualificação de autoras de obras intelectuais, a recorrente teria seu pleito fulminado por ausência de prova; Fl. 1316DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 19 18 no caso, a recorrente apresentou alegação que entende apta a provocar mudança relevante na relação jurídicotributária, afirmou que a remuneração pelas licenças de uso de programas informatizados era destinada ao criador de tais programas, todavia deixou de constituir a prova correlata à referida argumentação, descumprindo, assim, a imposição do art. 16 do Decreto n. 70.235/72; como se infere da leitura dos elementos colacionados com escopo probatório, o contrato firmado entre a recorrente e a controladora estrangeira, a recorrente não logrou êxito em demonstrar que a beneficiária dos pagamentos é autora ou criadora dos programas que comercializou com a empresa brasileira; as cláusulas contratuais mencionadas pela interessada, acima transcritas, indicam que a International Business Machines Corporation é titular dos direitos autorais, que, aliás, é a expressão utilizada pela recorrente à fl. 334, mas não se prestam, nem mesmo em tese, a comprovar a autoria ou a criação dos programas de computadores cujos direitos foram licenciados para a contribuinte; para dar suporte à sua alegação, caberia à contribuinte demonstrar, de forma exaustiva, (i) quais foram os programas de computador que constituíram objeto das licenças que ensejaram os pagamentos deduzidos em sua base de cálculo e, em seguida, (ii) evidenciar que todos esses programas foram criados pela pessoa jurídica beneficiária dos pagamentos; dado que não realizou a prova necessária, também porque não se desincumbiu a contribuinte do ônus de comprovar que os valores pagos pela licença de uso se enquadram na hipótese de exclusão do conceito royalties prevista no art. 22 da Lei n.4.506/64, deve ser afastada a pretensão recursal; com o fito de exaurir a questão, cumpre recordar que o ônus da prova acerca da dedutibilidade da despesa cabe à contribuinte, conforme remansosa jurisprudência deste e. CARF. Acostamse os precedentes que seguem a título exemplificativo: [...]; APLICAÇÃO DO ART. 71 DA LEI N. 4.506/64 A PESSOAS JURÍDICAS a recorrente afirma que a expressão “sócio” presente no aludido artigo 71 tem seu âmbito de incidência restrito a pessoas físicas, e, portanto, a redação do RIR/99 que abrangeu as pessoas jurídicas importaria extrapolação carente de fundamento legal; todavia, não há suporte hermenêutico para a interpretação restritiva da palavra “sócio” pretendida pela recorrente; do ponto de vista do direito positivo, observese que o artigo 1.052 e seguintes do Código Civil se referem à palavra “sócio” indistintamente, sem diferir o sócio pessoa física do sócio pessoa jurídica; ademais, a Instrução Normativa DNRC nº 98/2003, a qual aprova o Manual dos Atos de Registro de Sociedade Limitada, prevê expressamente que a pessoa jurídica pode ser sócia nessa espécie empreendimento; descabida, portanto, a interpretação restritiva pregada pela recorrente. Dado que o legislador federal em momento algum distingue a pessoa física da pessoa jurídica na utilização da palavra “sócio”, tampouco cabe ao hermeneuta fazêlo; Fl. 1317DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 20 19 no presente caso, sequer se pode falar que a recorrente objetiva uma “interpretação restritiva”. Na verdade, o que busca é atuar como legisladora positiva, inserindo no preceito uma distinção que jamais foi veiculada no texto; a referência a “parentes e dependentes” não importa restringir o significado da palavra “sócio”. Não se trata de aposto restritivo, mas sim de diversos núcleos do objeto indireto colocados em paralelo por coordenação, conforme se pode notar da utilização da conjunção aditiva “e”; é dizer: evidentemente a expressão “parentes e dependentes” somente poderia se referir ao sócio pessoa física, uma vez que a pessoa jurídica não tem relações de parentesco. Essa circunstância, contudo, não justifica dizer que a expressão “sócio” só se refere a pessoas físicas, mas sim que apenas os sócios pessoas físicas têm parentes. A relação lógica se sucede em sentido diverso daquele defendido pela contribuinte. Do fato “somente o sócio pessoa física pode guardar relações de parentesco” não deriva a consequência “que somente pessoas físicas possam ser sócias para fins de aplicação da norma em comento”; tanto é assim que a doutrina, ao comentar o preceito em exame, é clara ao não distinguir sócios pessoas físicas e jurídicas: [...]; a jurisprudência da e. Câmara Superior de Recursos Fiscais já enfrentou a matéria e concluiu no sentido que aqui ora se defende ( Acórdão nº 9101001.908); a recorrente buscar arrimar, ainda, o pedido de afastar a incidência do art. 71 da Lei n. n. 4.507/64 no fato de que a beneficiária dos rendimentos a título de royalties é sua controladora indireta e não direta; todo e qualquer texto legal demanda interpretação para que dele se extraia o sentido adequado à aplicação no caso concreto. Para tanto, é preciso recorrer às regras da hermenêutica, bem definida por Tércio Sampaio Ferraz: [...]; no caso, a interpretação restritiva proposta pela contribuinte retira parcela significativa da eficácia da norma, pois bastaria a interposição de empresa veículo, ou uma reorganização entre as diversas empresas componentes de um mesmo grupo econômico, ainda que todas sejam produtivas, para que o pagamento de royalties a sócios jamais se aperfeiçoe; o caso em apreço é paradigmático, pois todas as empresas do grupo IBM são subsidiárias integrais da Internacional Business Machines Corporation (IBM), a pessoa jurídica beneficiária dos pagamentos (fls. 76 a 79); ante tal quadro, negar aplicação à norma porque formalmente a beneficiária não figura como sócia, embora a empresa brasileira seja, indiretamente, sua subsidiária integral, como bem posto pela decisão de piso, seria negar o mínimo essencial à preservação da eficácia do normativo em discussão, que corresponde a vedar a dedutibilidade do pagamento royalties entre pessoas (físicas ou jurídicas) relacionadas com a empresa que os paga; é preciso ressaltar que este Conselho vem reiteradamente decidindo por não atribuir higidez a estruturas societárias que tenham o único propósito de obstaculizar, de forma direta ou indireta, o recolhimento de tributos; Fl. 1318DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 21 20 sobre o ponto, acresce transcrever a análise promovida pela autoridade de primeira instância: [...]; a autoridade fiscal cita a recente jurisprudência a respeito da indedutibilidade de royalties pagos a outra empresa em razão da utilização de marca quando ambas fazem parte de um mesmo grupo econômico. Por oportuno, transcrevese o Acórdão nº 1402000.905 do CARF (processo administrativo n.º 16643.000085/200947): [...]; a efetiva ligação entre os envolvidos, seja direta ou indireta, está comprovada nos autos afastandose a independência comercial entre as partes, fato requerido pelo legislador para a dedução dos royalties; a finalidade do art. 353 do RIR/99 é obstaculizar o favorecimento irregular de sócios ou pessoas ligadas em detrimento do Fisco (fato verificado com a redução do lucro tributável da empresa que paga os royalties) ou em detrimento de outros sócios (fato verificado com a redução dos lucros a serem distribuídos). Como bem salientado pela autoridade fiscal em seu TVF a utilização de via oblíqua para a redução de tributos, por meio da dedução de royalties com restrição do alcance do artigo 71 da Lei n.º 4.506, de 1964, e admitir que o resultado expressamente vedado em lei (pagamento de royalties a sócios) seja atingido por via indireta, por meio de empresa do mesmo grupo, fere o objetivo do artigo em questão; a jurisprudência desta Corte corrobora o entendimento aqui manifestado, reconhecendo que a adequada interpretação do dispositivo deve abarcar a aplicação da norma a sócios indiretos. O Acórdão n. 1402000.905 analisou a questão de maneira detida: [...]; APLICAÇÃO DAS REGRAS DE DEDUTIBILIDADE DO IRPJ À CSLL inicialmente, cumpre destacar que, em relação ao presente ponto, o recurso especial interposto pela contribuinte não merece sequer ser conhecido. Isso porque o acórdão nº 9101001.776, único aceito em sede de agravo para demonstrar a suposta divergência jurisprudencial, trata de situação fática e jurídica bem diversa da observada nos presentes autos; confirase, por oportuno, trecho do primeiro exame de admissibilidade, realizado em 30/09/2016, que destacou de forma clara as diferenças entre os dois processos, as quais impedem o próprio conhecimento da insurgência do sujeito passivo: [...] Verificase que as duas decisões estão tratando da aplicação de dispositivos legais distintos. No acórdão paradigma, a decisão tratou da aplicabilidade da regra geral contida no artigo 2º da Lei nº 7.689, de 1988, relativamente à dedutibilidade de despesas operacionais, enquanto a decisão do acórdão recorrido tratou da vedação específica contida no artigo 71 da Lei nº 4.506, de 1964, relativamente ao pagamento de royalty. Não havendo a identidade dos dispositivos legais aplicados, não é possível afirmar que há divergência na interpretação de qualquer um deles, razão pela qual entendo que o acórdão paradigma não é hábil para estabelecer a divergência apontada e o recurso não deve ter seguimento quanto a esse tópico. Fl. 1319DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 22 21 ora, devidamente demonstrado que a questão fática e jurídica debatida no acórdão apontado como paradigma diverge da observada nos presentes autos, não deve ser conhecido o recurso especial da contribuinte na parte que trata sobre a dedutibilidade dos royalties da base de cálculo da CSLL, eis que, conforme já asseverado, o paradigma sequer aborda tal matéria; de qualquer forma, considerando o princípio da eventualidade, caso se conclua que o sujeito passivo logrou demonstrar a divergência jurisprudencial arguida, passase a apresentar as razões de mérito que conduzem à conclusão sobre a impossibilidade de acolher se a pretensão da autuada; a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL tem como fundamento constitucional o art. 195, I, “c”, da Constituição Federal, o qual prevê a incidência da contribuição social sobre o lucro do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei; no plano infraconstitucional, a CSLL está disciplinada pela Lei n. 7.689/88, que em seu art. 2º determina que a base de cálculo da contribuição é o valor do resultado do exercício, antes da provisão para o imposto de renda. Confirase: [...]; sobre o ponto, de início, cumpre asseverar que a escrituração contábil pela qual se apura o resultado do exercício, ponto de partida para se chegar à base de cálculo tanto do IRPJ como da CSLL, deve observar postulados e princípios contábeis. Assim, pelo princípio da entidade, uma despesa que não é necessária à empresa não deve estar na sua contabilidade; ademais, cabe destacar a proximidade entre as hipóteses de incidência da CSLL e do IRPJ, que há muito vem sendo debatida e reconhecida pela doutrina e jurisprudência dos tribunais pátrios, tendo, inclusive, sido objeto de manifestação do Supremo Tribunal Federal ao apreciar a argüição de inconstitucionalidade da contribuição social em questão no RE 138.284, Relator Min. Carlos Veloso, julgamento em 01.07.1992, DJ. 28.08.1992; no mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a legalidade da indedutibilidade do valor da CSLL na apuração do lucro real, previsto na Lei n.º 9.316/96, afirmou o seguinte: “É consabido que o aspecto quantitativo do fato gerador da contribuição social sobre o lucro se identifica com o do imposto de renda, pois a base de cálculo do imposto de renda é o montante real, arbitrado ou presumido da renda ou dos proventos tributáveis auferidos no anobase (art. 44 do CTN).” nessa toada, isto é, considerando essa relação de proximidade entre a CSLL e o IRPJ no tocante ao fato gerador e base de cálculo, o legislador ordinário, por meio da Lei 8.891/91 estabeleceu no art. 57 o seguinte: [...]; o preceptivo legal expressamente consigna se aplicar à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido “as mesmas normas de apuração e pagamento” do Imposto de Renda Pessoa Jurídica; ressaltese que o legislador ordinário não se limitou a dizer que as regras de recolhimento do IRPJ devem ser observadas para a CSLL. Ao revés, foi bastante claro ao Fl. 1320DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 23 22 determinar que também as regras de apuração são aplicáveis a essa espécie de contribuição social; ora, o que é apurar a não ser compor a base de cálculo tributável, efetuando se as devidas adições, exclusões e compensações previstas em lei. Se a legislação do IRPJ preceitua que determinada parcela deva ser adicionada/excluída ou não considerada para efeito da apuração do lucro real, idêntico procedimento deve ser efetuado para cálculo do valor devido da CSLL, por força do que dispõe o art. 57 da Lei n.º 8.891/91; ainda que a disposição acima não fosse clara o bastante, o art. 28 da Lei n. 9.430/96, afasta qualquer dúvida ao estatuir: [...]; e cumpre ressaltar que, contrariamente ao defendido pela recorrente, tal disposição importa vedação à dedutibilidade das despesas com pagamento de royalties, na medida em que determina aplicação do art. 1º da Lei n. 9.430/96 à CSLL, que dispõe sobre a apuração do IRPJ, estabelecendo que “a partir do anocalendário de 1997”, o tributo será determinado com observância da “legislação vigente”, com as alterações introduzidas pela Lei; não há dúvida de que o art. 71 da Lei n. 4.506/64 era norma vigente ao tempo da edição da Lei n. 9.430/96 e, pois, pela disposição dos artigos 28 e 1º da Lei n. 9.430/96, tornouse aplicável à CSLL; ante o exposto, resta claro que as regras de dedutibilidade da legislação do IRPJ são integralmente aplicáveis na apuração da base de cálculo da CSLL; é este, há muito, o entendimento que prevalece no âmbito desta Corte, conforme Acórdão nº 10708870 da Sétima Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, cuja ementa abaixo se reproduz: [...]; especificamente sobre a indedutilibidade das despesas oriundas do pagamento de royalties na determinação da base de cálculo da CSLL, já se manifestou o CARF no já referido Acórdão n. 1402000.905: [...]; a partir de todo o exposto extraise que, sob qualquer ângulo que se analise, a pretensão da contribuinte é manifestamente incabível; DO PEDIDO ante o exposto, a União (Fazenda Nacional) requer, preliminarmente, seja inadmitido o recurso especial interposto pela contribuinte; caso assim não se entenda, requer seja negado provimento à insurgência da autuada, mantendose integralmente o v. acórdão atacado. É o relatório. Fl. 1321DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 24 23 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. Conheço do recurso, pois este preenche os requisitos de admissibilidade. O presente processo tem por objeto lançamento a título de IRPJ e CSLL sobre fatos geradores ocorridos no anocalendário de 2010. O motivo da autuação foi a não adição de despesas indedutíveis ao lucro real e à base de cálculo da CSLL, correspondentes a pagamentos feitos à empresa International Business Machines Corporation (USA) pela licença de uso de software, que configuravam royalties de natureza de direito autoral. A empresa autuada (IBM Brasil) é subsidiária integral da referida empresa americana. O lançamento foi mantido na primeira e também na segunda instância administrativa (acórdão ora recorrido). A controvérsia que remanesce nessa fase de recurso especial diz respeito a três matérias. 1 QUESTÃO REFERENTE À FIGURA DO AUTOR/CRIADOR DO BEM OU DA OBRA. A contribuinte alega que os pagamentos foram feitos ao próprio criador do bem ou da obra, o que descaracterizaria a figura dos royalties, nos termos do art. 22, alínea "d", da Lei 4.506/64: Art. 22. Serão classificados como "royalties" os rendimentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição, exploração de direitos, tais como: [...] d) exploração de direitos autorais, salvo quando percebidos pelo autor ou criador do bem ou obra. A principal questão a ser enfrentada é se a empresa americana, na condição de pessoa jurídica, poderia ser considerada como autora/criadora de obra intelectual (como defende a contribuinte), ou se ela seria apenas titular de direitos patrimoniais (como entende o Fisco). O acórdão recorrido examinou com bastante profundidade esse assunto. Vale transcrever os seus fundamentos: 2. Da questão dos direitos autorais Fl. 1322DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 25 24 Aduz a Recorrente que a legislação brasileira prevê a possibilidade de que os direitos autorais pertençam a pessoa jurídica e que os programas de computador (software) são a eles equiparados. Contudo, os diversos artigos citados pela Recorrente parecem indicar sentido interpretativo diverso daquele atribuído pela interessada. Vejamos. A primeira tese trazida pela Recorrente defende que o artigo 11 da Lei n. 9.610/98 reconhece a possibilidade de que pessoas jurídicas sejam autoras de obras literárias, artísticas ou científicas e que, por força do artigo 2º da Lei n. 9.609/98 igual tratamento deve ser conferido nos casos de programas de computador: Lei n. 9.610/98 Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica. Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicarse às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei. Lei n. 9.609/98 Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei. § 1º Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o direito do autor de oporse a alterações nãoautorizadas, quando estas impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação. (grifamos) Notase, à evidência, que a interpretação laborada pela Recorrente não condiz com os dispositivos legais indicados. De plano, a simples leitura do artigo 11 demonstra que o conceito de autor é inequívoco e não deixa margem para dúvidas: autor é sempre a pessoa física, o indivíduo que a partir de seu gênio ou criatividade manifesta, de forma particular, uma ideia (a autoria não é ideia, mas sim a sua expressão). Sabemos que a construção normativa no Brasil sempre parte do caput (que traz a regra geral) para os incisos ou parágrafos, que veiculam situações especiais, mas nunca no sentido oposto. Notase que a dicção do parágrafo não reconhece que os autores possam ser pessoas jurídicas; em verdade, a norma permite que a proteção concedida ao autor, pessoa física, possa ser estendida às pessoas jurídicas, e ainda assim somente nos casos previstos na própria Lei n. 9.610/98. Fl. 1323DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 26 25 E nem poderia ser diferente, posto que se as pessoas jurídicas pudessem ser autoras sequer haveria necessidade do parágrafo; afinal, se pudessem assumir a condição de autoras gozariam automaticamente do direito inerente a esta condição e não precisariam que determinada proteção ou benefício lhes fosse estendido. Cabe ainda registrar que a Lei n. 5.988/73 incidentalmente reconhecia a possibilidade de uma pessoa jurídica ser titular de obra coletiva, realizada em seu nome. Contudo, o artigo 15 daquele diploma legal foi revogado pelo artigo 11 da Lei n. 9.610/98, que claramente identifica apenas as pessoas físicas como aptas a figurar como autoras. A confusão decorre da diferença entre ser autor e ser titular de direitos autorais. Existe nítida distinção entre os conceitos de ser autor da obra e ser titular dos seus direitos. Quando alguém escreve um livro certamente se enquadra como autor, mas ao assinar um contrato de publicação com a editora transfere a esta os direitos patrimoniais para a sua exploração, circunstância expressamente prevista na Convenção de Berna, que reconhece a diferença entre autoria e titularidade nos seguintes termos: ARTIGO 6BIS 1) Independentemente dos direitos patrimoniais de autor, e mesmo após a cessão dos referidos direitos, o autor conserva o direito de reivindicar a paternidade da obra e de se opor a qualquer deformação, mutilação ou outra modificação da obra ou a qualquer outro atentado contra a mesma obra, prejudicial à sua honra ou à sua reputação. (grifamos) Ressaltese que o tratamento previsto pela Convenção de Berna foi reproduzido pela Lei do Software, como visto no artigo 2º, § 1º, ao norte transcrito e novamente reproduzido: § 1º Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o direito do autor de oporse a alterações nãoautorizadas, quando estas impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação. (grifamos) É cediço, portanto, que os direitos autorais são divididos, para efeitos legais, em direitos morais e patrimoniais. Os chamados direitos morais são aqueles que asseguram a autoria da obra intelectual, sendo, portanto, intransferíveis e irrenunciáveis, enquanto que os direitos patrimoniais se referem à exploração econômica da obra e podem ser cedidos ou utilizados por terceiros. Também não procede o argumento da defesa, baseado no artigo 3º, § 1º, I, da Lei n. 9.609/98, que menciona que no pedido de registro do software deverão constar os dados do autor e do titular, sejam pessoas físicas ou jurídicas. Com efeito, o texto corrobora a distinção entre os conceitos e reconhece, apenas, que o titular dos direitos possa ser pessoa jurídica: Fl. 1324DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 27 26 Art. 3º Os programas de computador poderão, a critério do titular, ser registrados em órgão ou entidade a ser designado por ato do Poder Executivo, por iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência e tecnologia. § 1º O pedido de registro estabelecido neste artigo deverá conter, pelo menos, as seguintes informações: I os dados referentes ao autor do programa de computador e ao titular, se distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas; (...) Isso significa que se a exploração econômica dos direitos estiver a cargo de uma empresa, o registro compreenderá os seus dados e os do autor do programa de computador, posto que seriam, na hipótese, pessoas distintas. Tudo em perfeita consonância com o raciocínio até aqui desenvolvido. Ademais, sem prejuízo de todos os argumentos já apresentados, ressaltamos, por oportuno, que em nenhum momento a legislação brasileira indica que o conceito de autor previsto na Lei n. 9.610/98 é o mesmo daquele previsto para os programas de computador. Tanto assim que as duas normas são distintas e fazem ressalvas ao seu campo de aplicação, como se constata dos artigos já transcritos. O que a Lei n. 9.609/98 (software) faz é aplicar aos programas de computador o regime de proteção conferido às obras literárias ou artísticas, como se depreende da dicção do artigo 2º. Vale dizer, se o legislador entendesse pela total identidade entre os conceitos simplesmente reuniria toda a matéria numa única norma, em vez de publicar duas leis distintas e na mesma data (19 de fevereiro de 1998)! A obviedade dessa circunstância não passou despercebida pela melhor doutrina. Ressaltese, por todos, a posição de Denis Borges Barbosa (provavelmente o maior especialista brasileiro no assunto, recentemente falecido): O regime de proteção dos programas de computador segue, em parte, o da Lei 9.610/98, que protege no Brasil os Direitos Autorais. No entanto, com as muitas alterações introduzidas pela Lei 9.609/98 e a natureza claramente tecnológica dos programas de computador, inegavelmente estamos, na Lei em vigor, na presença de um tertius genus, à maneira de certos Direitos Conexos, cuja regulação acompanha talvez, na esfera internacional, o da Convenção de Berna vale dizer, o da matriz internacional dos Direitos Autorais no que com ela não contraste. (...) Em terceiro lugar, porque evidenciam a impropriedade de um regime autoral puro para a proteção dos programas de computador, guiando Fl. 1325DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 28 27 o intérprete quanto as normas da Lei Autoral que merecerão aplicação subsidiária à presente lei. (...) Com efeito, as leis de cunho autoral convivem há muito com as leis de patente, por exemplo, no campo do design, com a parte artística de uma padronagem restando sob o Direito Autoral, e sua aplicação industrial cabendo à patente própria hoje o registro de desenho industrial sob a Lei 9.279/96. Assim, a expressão de um programa pode restar sob a Lei do Software, enquanto que o uso do programa para fins de utilidade industrial, inclusive os conceitos e idéias que subjazem ao algoritmo, podem incidir sob a tutela da lei patentária. Nem o fim estético, literário, artístico ou musical, transfere o programa para o regime geral da lei autoral. A existência de um fim determinado qualquer seja ele é requisito de proteção sob a Lei do Software, mas não modifica a natureza da proteção, que será sempre a da lei específica. (grifamos) Portanto, o regime de proteção específico para os programas de computador é conexo àquele utilizado para as obras literárias e artísticas, o que não significa dizer que a autoria de um software pertença à pessoa jurídica, que poderá, da mesma forma que nos demais casos, ser titular de direitos patrimoniais, mas nunca considerada como criadora da obra intelectual. Essa posição encontra esteio na melhor doutrina e já foi, inclusive, reconhecida pelo STJ, que no REsp 1.322.325/DF analisou o tema da autoria no âmbito das relações de trabalho: Neste caso, quem é o autor? Não há dúvidas sobre isso. Os autoralistas são unânimes em reconhecer unicamente na pessoa física a capacidade para criar a obra de arte e engenho. Este é o pensamento predominante, especialmente nos países cujo ordenamento jurídico segue as concepções romanogermânicas. (...) A lei brasileira protege a empresa, pessoa jurídica, como titular de direitos autorais, mas não como autora. Além disso, é necessário considerar que a Lei n° 9.610/1998 excluiu a figura da obra de arte criada em função de contrato de trabalho ou sob encomenda, o que torna o autor, definitivamente, titular originário dos direitos sobre a obra que criou. Não há mais a figura da obra criada por encomenda ou sob contrato de trabalho, embora no art. 54 encontrese referência à obra futura. (CABRAL, Plínio. A lei de direitos autorais: comentários . 5. ed. São Paulo: Rideel, 2009, p. 6667). E prossegue o Acórdão: No entanto, a partir dessa constatação, que decorre da situação especial de relação empregatícia, nenhum outro direito adquire a empresa nesse relacionamento. Assim, de um lado, remanescem na esfera dos autos os direitos morais e todos os demais direitos patrimoniais não alcançados por sua Fl. 1326DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 29 28 atuação específica (dessa forma, não pode a empresa de televisão, depois, sem autorização expressa, extrair novas cópias e locálas ou vendêlas, ou, ainda, transferir a outras a exibição; não pode a empresa jornalística publicar depois, em outros veículos, os trabalhos feitos para jornal; ou a empresa cinematográfica dispor do filme para finalidades outras), a menos que os transfira por meio de contratos adequados, que, de qualquer modo, serão sempre entendidos nos seus estritos limites, obedecidos sempre os direitos morais.(BITTAR, Carlos Alberto. Direito de autor. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 64). O arremate da decisão do STJ não deixa margem para dúvidas: Nesse passo, mesmo que a referida produção de espírito tenha sido escrita no âmbito de seu dever funcional, o autor/empregado continua sendo o detentor dos direitos autorais, cabendo até mesmo ao empregador, caso pretenda explorar a obra, obter autorização expressa para a sua utilização (LDA, art. 29), sob pena de responsabilização. Portanto, diante da autonomia privada, poderá o autor ceder o direito de exploração econômica da obra ao empregador ou terceiro, isto é, a titularidade poderá ser adquirida por terceiros, seja em virtude de sucessão, pelo fato da morte, seja em razão do contrato, por vontade própria, ou ainda por disposição legal, ressalvando os direitos morais do autor que, por serem inalienáveis, irrenunciáveis e indisponíveis, irão se manter com o criador material da obra, que continuará com o direito de ver reconhecida a sua autoria na criação estética decorrente da paternidade” (grifamos). Concluímos, portanto, que o direito autoral brasileiro expressamente consagra a proteção de obras produzidas pelo gênio e espírito humanos e, nesse contexto, não há como albergar a figura do autor pessoa jurídica. Destaquese que a lei autoral, ao oferecer uma lista exemplificativa do que seriam as "obras intelectuais criadas pelo espírito humano", identifica o alcance da proteção e inclui entre as hipóteses os programas de computador: Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: (...) XII os programas de computador; (...) § 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica, observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis. (grifamos) A ressalva contida no § 1º deixa claro que não existe identidade absoluta nem equivalência total entre as obras intelectuais "tradicionais" e os programas de computador, mas sim proteção equivalente. Obras literárias e artísticas não são softwares e viceversa, assim como não existe, Fl. 1327DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 30 29 salvo engano, nenhum livro ou peça musical ou teatral criado por pessoa jurídica. [...] Importante registrar que o entendimento de que o autor/criador tem necessariamente que ser uma pessoa física não advém de uma legislação antiga, superada, com comandos que demandariam atualização. Quem diz que "autor é a pessoa física" é a própria Lei 9.610/1998, que, já no contexto econômico dos dias de hoje, atualizou e consolidou a legislação sobre direitos autorais no Brasil: Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica. Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicarse às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei. Tem razão o acórdão recorrido quando afirma que a dicção do parágrafo único do art. 11 da Lei 9.610/1998 não reconhece que os autores possam ser pessoas jurídicas, e também quando sustenta que se as pessoas jurídicas pudessem ser autoras sequer haveria necessidade desse parágrafo. Com efeito, se as pessoas jurídicas pudessem assumir a condição de autoras, elas gozariam automaticamente do direito inerente a esta condição, sem precisar que determinada proteção ou benefício lhes fosse estendido. Também acerta o acórdão recorrido quando afirma que a pessoa jurídica poderá ser titular de direitos patrimoniais, mas nunca considerada como autora/criadora da obra intelectual. A distinção entre ser autor e ser titular de direitos autorais, baseada nas dimensões moral e patrimonial do direito do autor, ao contrário do que diz a contribuinte, não configura nenhuma elucubração do voto do relator do acórdão recorrido. A referida Lei 9.610/1998 é farta em dispositivos que apontam para essa distinção: Capítulo II Dos Direitos Morais do Autor Art. 24. São direitos morais do autor: I o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; [...] Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis. Capítulo III Dos Direitos Patrimoniais do Autor e de sua Duração Fl. 1328DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 31 30 Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica. Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como: [...] Capítulo V Da Transferência dos Direitos de Autor Art. 49. Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a título universal ou singular, pessoalmente ou por meio de representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão ou por outros meios admitidos em Direito, obedecidas as seguintes limitações: I a transmissão total compreende todos os direitos de autor, salvo os de natureza moral e os expressamente excluídos por lei; [...] O mesmo se pode dizer sobre a Lei 9.609/1998, que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador no Brasil: Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei. § 1º Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o direito do autor de oporse a alterações nãoautorizadas, quando estas impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação. Os direitos patrimoniais se referem à exploração econômica da obra e podem ser cedidos ou utilizados por terceiros. E é exatamente nesse contexto que atua uma pessoa jurídica, no contexto do resultado econômico, que é a própria razão de ser da sociedade empresária (Código Civil, art. 981). Quando a Lei 4.506/1964 diz que não serão classificados como "royalties" os rendimentos percebidos pelo autor ou criador do bem ou obra, claramente está focando aí a dimensão moral do direito do autor, que apenas pode existir em uma pessoa física (pessoa natural). Com efeito, pela lista exemplificativa dada pelo referido art. 22 da Lei 4.506/1964, não é difícil perceber que os "royalties", enquanto "rendimentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição, exploração de direitos", tem a dimensão econômica própria das empresas. Fl. 1329DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 32 31 Uma pessoa jurídica nem tem dimensão moral. O que ela tem é a lei e seus atos constitutivos, que previamente já definem a sua razão de ser. Uma pessoa jurídica também não tem a subjetividade criadora das pessoas naturais. Os royalties surgem exatamente na dimensão patrimonial/econômica do direito do autor, na parte em que esse direito se institucionaliza, para circular na economia, e se distancia do verdadeiro titular do processo criativo, do autor (pessoa natural). Tem razão o acórdão recorrido ao afirmar que são os direitos morais que asseguram a autoria da obra. Aliás, isto está expresso no inciso I do art. 24 da Lei 9610/1998: Art. 24. São direitos morais do autor: I o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; Nesse mesmo passo, também acerta o acórdão recorrido quando afirma "que o direito autoral brasileiro expressamente consagra a proteção de obras produzidas pelo gênio e espírito humanos e, nesse contexto, não há como albergar a figura do autor pessoa jurídica". Efetivamente, a IBM USA não cabe dentro da figura do "autor/criador" traçada pelo direito autoral brasileiro. E os rendimentos que ela recebe, quando autoriza a IBM Brasil a licenciar e distribuir cópias de seus programas de computador, são royalties. O sentido da lei é de proteger o autor, na subjetividade criativa própria das pessoas naturais. Mas essa característica fica dispersa nos processos de produção fortemente institucionalizados das grandes corporações. Além dos dispositivos já mencionados neste voto e no acórdão recorrido, há muitos outros que reforçam as diferenças entre a figura do autor (pessoa física) e do titular de direitos autorais (pessoa física ou pessoa jurídica). O art. 5º, "h", da Lei 9.610/1998, por exemplo, quando define obra coletiva como sendo "a criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela participação de diferentes autores, cujas contribuições se fundem numa criação autônoma", considerando a participação de uma pessoa jurídica, não deixa de atribuir a autoria para as pessoas físicas ("diferentes autores"). O art. 17 da mesma lei também reforça o entendimento de que o organizador da obra coletiva (onde se encaixa a pessoa jurídica) não pode abarcar a condição de autor, justamente porque lhe falta a dimensão moral: Art. 17. É assegurada a proteção às participações individuais em obras coletivas. § 1º Qualquer dos participantes, no exercício de seus direitos morais, poderá proibir que se indique ou anuncie seu nome na obra coletiva, sem prejuízo do direito de haver a remuneração contratada. § 2º Cabe ao organizador a titularidade dos direitos patrimoniais sobre o conjunto da obra coletiva. Fl. 1330DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 33 32 § 3º O contrato com o organizador especificará a contribuição do participante, o prazo para entrega ou realização, a remuneração e demais condições para sua execução. Não foi por acaso, e nem por equívoco, que a Lei que "atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais" no Brasil, a Lei nº 9.610/1998, disse com todas as letras em seu art. 11, que o "autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica". Ademais, a correta compreensão da alínea “d” do art. 22 da Lei nº 4.506/64 é corroborada pelo artigo que trata dos rendimentos do trabalho nãoassalariado e assemelhados: Lei nº 4.506/64: Art. 22. Serão classificados como "royalties" os rendimentos de qualquer espécie decorrentes do uso, fruição, exploração de direitos, tais como: [...] d) exploração de direitos autorais, salvo quando percebidos pelo autor ou criador do bem ou obra. RIR 99: Art. 45. São tributáveis os rendimentos do trabalho nãoassalariado, tais como (Lei nº 7.713, de 1988, art. 3º, § 4º): I honorários do livre exercício das profissões de médico, engenheiro, advogado, dentista, veterinário, professor, economista, contador, jornalista, pintor, escritor, escultor e de outras que lhes possam ser assemelhadas; II remuneração proveniente de profissões, ocupações e prestação de serviços nãocomerciais; (...) VII direitos autorais de obras artísticas, didáticas, científicas, urbanísticas, projetos técnicos de construção, instalações ou equipamentos, quando explorados diretamente pelo autor ou criador do bem ou da obra; Assim, cabe NEGAR provimento ao recurso especial da contribuinte em relação a essa primeira divergência. 2 QUESTÃO REFERENTE AO RECEBIMENTO DE ROYALTIES POR SÓCIO PESSOA JURÍDICA Em relação ao fato de os royalties terem sido pagos à sua controladora indireta (IBM USA), a contribuinte alega, em síntese, que a vedação trazida pelo artigo 71, parágrafo único, alínea "d" da Lei 4.506/64 não se aplica a pagamentos efetuados a sócios pessoas jurídicas; que o RIR/99, no inciso I de seu art. 353, introduziu após a palavra "sócios" o aposto "pessoas físicas ou jurídicas", que não consta da norma legal, extrapolando o conteúdo da lei, e incorrendo em ilegalidade; que a interpretação contida no acórdão recorrido conduz a resultado absurdo: os royalties pagos a sócios estrangeiros poderiam ser deduzidos sob certas condições (Lei nº 8.383/1991, art. 50), ao passo que esses mesmos royalties seriam indedutíveis se pagos à sócia pessoa jurídica brasileira; e que se a alínea "d" do parágrafo único Fl. 1331DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 34 33 do referido art. 71 tratasse de pessoas jurídicas, ficariam totalmente sem sentido as previsões da alínea "e", que elenca as hipóteses específicas de indedutibilidade no caso de pagamentos a pessoas jurídicas. Eis a redação do dispositivo legal objeto de controvérsia, em negrito: Lei 4.506/64 Art. 71. A dedução de despesas com aluguéis ou "royalties" para efeito de apuração de rendimento líquido ou do lucro real sujeito ao impôsto de renda, será admitida: a) quando necessárias para que o contribuinte mantenha a posse, uso ou fruição do bem ou direito que produz o rendimento; e b) se o aluguel não constituir aplicação de capital na aquisição do bem ou direito, nem distribuição disfarçada de lucros de pessoa jurídica. Parágrafo único. Não são dedutíveis: a) os aluguéis pagos pelas pessoas naturais pelo uso de bens que não produzam rendimentos, como o prédio de residência; b) os aluguéis pagos a sócios ou dirigentes de emprêsas, e a seus parentes ou dependentes, em relação à parcela que exceder do preço ou valor do mercado; c) as importâncias pagas a terceiros para adquirir os direitos de uso de um bem ou direito e os pagamentos para extensão ou modificação do contrato, que constituirão aplicação de capital amortizável durante o prazo do contrato; d) os "royalties" pagos a sócios ou dirigentes de emprêsas, e a seus parentes ou dependentes; e) os "royalties" pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação ou pelo uso de marcas de indústria ou de comércio, quando: 1) Pagos pela filial no Brasil de emprêsa com sede no exterior, em benefício da sua matriz; 2) Pagos pela sociedade com sede no Brasil a pessoa com domicílio no exterior que mantenha, direta ou indiretamente, contrôle do seu capital com direito a voto; Cabe registrar que o art. 50 da Lei 8.383/1991 autorizou a dedução dos royalties previstos na alínea "e" acima transcrita, sob certos limites e condições. O Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto nº 3.000/1999, ao tratar da alínea "d" acima transcrita, realmente acrescentou o aposto "pessoas físicas ou jurídicas" após a palavra "sócios": Art. 353. Não são dedutíveis (Lei nº 4.506, de 1964, art. 71, parágrafo único): I os royalties pagos a sócios, pessoas físicas ou jurídicas, ou dirigentes de empresas, e a seus parentes ou dependentes; Fl. 1332DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 35 34 II as importâncias pagas a terceiros para adquirir os direitos de uso de um bem ou direito e os pagamentos para extensão ou modificação do contrato, que constituirão aplicação de capital amortizável durante o prazo do contrato; III os royalties pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação, ou pelo uso de marcas de indústria ou de comércio, quando: a) pagos pela filial no Brasil de empresa com sede no exterior, em benefício de sua matriz; b) pagos pela sociedade com sede no Brasil a pessoa com domicílio no exterior que mantenha, direta ou indiretamente, controle do seu capital com direito a voto, observado o disposto no parágrafo único; [...] Parágrafo único. O disposto na alínea "b" do inciso III deste artigo não se aplica às despesas decorrentes de contratos que, posteriormente a 31 de dezembro de 1991, sejam averbados no Instituto Nacional da Propriedade IndustrialINPI e registrados no Banco Central do Brasil, observados os limites e condições estabelecidos pela legislação em vigor (Lei nº 8.383, de 1991, art. 50). O acórdão recorrido não vislumbrou a alegada ilegalidade do Decreto nº 3000/1999: Com a devida vênia, não consigo vislumbrar qualquer argumento, gramatical, semântico ou jurídico capaz de invalidar o disposto em regulamento, até porque os dois comandos dizem exatamente a mesma coisa. É evidente que a lei, ao dizer "sócios", se refere a qualquer tipo de pessoa com participação na sociedade e não somente às pessoas físicas. O comando legal é claro e diz que são indedutíveis os royalties "pagos a sócios". O fato de, na sequência, existir a menção a "parentes ou dependentes" apenas demonstra a teleologia da norma, que buscou ser o mais ampla possível, até porque a partícula "e", na língua portuguesa, não serve como condicionante, mas como adição a conceitos já expressos. Em síntese, nenhum sócio ou dirigente, inclusive eventuais parentes e dependentes, quando existirem, poderão receber royalties dedutíveis para fins de IRPJ. O pagamento dos valores, por óbvio, decorre de liberalidade da empresa, desde que observadas as limitações legais para a dedutibilidade. [...] É importante destacar que o CARF, enquanto órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, pertencente à Administração Pública Federal, não pode negar validade a um decreto editado pelo Presidente da República. Nesse mesmo passo, o atual Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, estabelece no art. 62 de seu Anexo II que "fica vedado aos membros Fl. 1333DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 36 35 das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade". Ainda que a alegação seja de ilegalidade do decreto, por extrapolar a lei, esse tipo de questionamento implica reflexamente em alegação de inconstitucionalidade, pois é a constituição que impõe limite para expedição de decreto pelo Presidente da República (CF, art. 84, IV fiel execução da lei), de modo que o reconhecimento de que um decreto foi além dos limites legais implicaria, inevitavelmente, no reconhecimento de sua inconstitucionalidade. Há que conhecer também do inciso II do parágrafo único do art. 48 da Lei nº 11.941, de 27/05/2009, que seria incluído pelo art. 16 da Lei nº 12.833, de 20/06/2013, para tratar de prerrogativas do Conselheiro integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, mas que foi vetado. “Parágrafo único. São prerrogativas do Conselheiro integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF: (...) II emitir livremente juízo de legalidade de atos infralegais nos quais se fundamentam os lançamentos tributários em julgamento.” As razões do veto são eloquentes e falam por si mesmas: “O CARF é órgão de natureza administrativa e, portanto, não tem competência para o exercício de controle de legalidade, sob pena de invasão das atribuições do Poder Judiciário.” Mesmo diante das observações acima, cabe esclarecer que o art. 353, I, do RIR/99, ao esclarecer que a vedação em pauta abrange tanto sócios pessoas físicas, quanto sócios pessoas jurídicas, não incorre nas contradições apontadas pela contribuinte. Esta 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, ao proferir o Acórdão nº 9101001.908, de 13/05/2014, já encontrou a melhor solução para as questões suscitadas pela contribuinte em relação às disposições do art. 353 do RIR/99: Não se trata, como poderia parecer, de concluir genericamente que os royalties de qualquer tipo, pagos a sócios, são sempre indedutíveis, pois uma conclusão dessa ordem resulta em considerar inútil a restrição veiculada pela alínea “b” do inciso III. De fato, a “pessoa com domicílio no exterior que mantenha, direta ou indiretamente, controle do seu capital com direito a voto”, referida no inciso III, “b”, é elemento do conjunto “sócio, pessoa física ou jurídica” contida no inciso I. Assim, despicienda seria a vedação do inciso III, “b”, pois abrangida sempre pela vedação do inciso I, mais ampla. Nessa ordem de ideias, o inciso III só pode ser entendido como excepcionado, para particularizar, a vedação do inciso I. Explicitando: Os royalties pagos a sócio, pessoa física ou jurídica, são indedutíveis, exceto quando se tratar de royalties pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação, ou pelo uso de marcas de indústria, Fl. 1334DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 37 36 que só serão indedutíveis se pagos por filial no Brasil de empresa com sede no exterior, em benefício de sua matriz, ou pagos por sociedade com sede no Brasil a pessoa com domicílio no exterior que mantenha, direta ou indiretamente, controle do seu capital com direito a voto. A conclusão do acórdão guerreado foi em sentido oposto a essa interpretação, pois, assentou que os royalties em questão não se compreendem no inciso III (não decorrerem de uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação, ou pelo uso de marcas de indústria), e por isso não são indedutíveis. Ora, o simples fato de os royalties questionados serem pagos a sócio (pessoa física ou jurídica) os insere na regra de indedutibilidade, da qual poderiam ser excluídos (se não fossem pagos a controladora no exterior) se se tratasse de royalties pagos pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação, ou pelo uso de marcas de indústria. A vedação contida no inciso III do art. 353 do RIR/99 só pode ser entendida como uma exceção ao inciso I do referido artigo. E o mesmo se pode dizer das alíneas "d" e "e" do parágrafo único do art. 71 da Lei 4.506/1964. A regra geral é no sentido de que os royalties pagos a pessoas ligadas são indedutíveis, mas há exceções. Quando a lei diz que "royalties" pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de fabricação ou pelo uso de marcas de indústria ou de comércio são indedutíveis quando pagos a pessoas ligadas no exterior, ela diz implicitamente que esses mesmos tipos de royalties são dedutíveis quando pagos a pessoas ligadas no Brasil (salvo se a indedutibilidade tiver outra motivação, p/ ex., a falta de necessidade da despesa, a artificialidade da despesa criada por planejamento fiscal, etc., situações que podem afastar o enquadramento no art. 71, "a", da Lei 4.506/1964, reproduzido no art. 352 do RIR/99, independentemente do enquadramento nas alíneas do parágrafo único do mesmo art. 71). Vale novamente lembrar que o art. 50 da Lei 8.383/1991 autorizou a dedução desses tipos de royalties mencionados acima, mesmo quando pagos a pessoas ligadas no exterior, desde que observados determinados limites e condições. Então, não há nenhuma das contradições apontadas pela contribuinte. A interpretação acima não dá margem para que se permita a dedução de royalties pagos à controladora estrangeira sob certas condições, e não se permita a dedução de royalties nessas mesmas condições, quando eles são pagos à controladora brasileira. Também não há a alegada inutilidade da alínea "e" do parágrafo único do art. 71 da Lei 4.506/1964, por se considerar que a alínea "d" trata de pessoas jurídicas. Como já mencionado, a alínea "d" trata dos royalties em geral, prevendo sua indedutibilidade quando pagos a pessoas ligadas, enquanto que a alínea "e" trata de royalties específicos, admitindo a possibilidade de sua dedução mesmo quando pagos a pessoas ligadas, com maiores condicionantes quando pagos a empresas no exterior. Ou seja, a alínea "d" traz uma regra geral para todos os royalties e a alínea "e" traz regra específica para os royalties de patentes e marcas. Havendo norma específica, pelo Fl. 1335DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 38 37 princípio da especialidade, esta prevalece sobre a norma geral (obviamente, quando se tratar de royalties de patentes e marcas), não se podendo alegar a inutilidade da alínea "e". Ademais, o argumento da "letra morta" da alínea "e" também cai por terra ao se constatar que ele igualmente seria válido para a intepretação proposta pelo contribuinte para a alínea "d" (apenas aplicável a pessoas físicas), pois o item 2 da letra "e" fala em "pessoa com domicílio no exterior" e esta pessoa pode ser também pessoa física. Ou ainda, se a letra "e" é vazia de significado, então o será seja em se entendendo como o contribuinte, seja em se entendendo como o Decreto Presidencial. Os incisos I e III do art. 353 do RIR/99 comportam exatamente esse mesmo raciocínio. O que seria contraditório, e sem justificativa razoável, é pensar que a vedação para dedução dos royalties em geral, quando pagos para pessoas ligadas, conforme previsto na alínea "d" do parágrafo único do art. 71 da Lei 4.506/1964, abrange apenas sócios pessoas físicas. O acórdão recorrido, ao examinar questão sobre o fato de os royalties terem sido pagos à pessoa jurídica controladora indireta (IBM USA), traz observações relevantes a esse respeito: Se a vedação expressamente alcança os parentes e dependentes dos sócios, que seriam, no entendimento da lei, vetores oblíquos dos pagamentos, ou seja, receptores de valores que beneficiariam, pela via indireta, os titulares da empresa, qual seria a correta exegese em relação ao controlador indireto sediado no exterior? É inviável, ilógico e juridicamente incorreto afastar, a partir de tal premissa, o alcance da norma no que diz respeito ao controlador da própria empresa. O controlador, ainda que indireto, tem total interesse na atividade econômica e nos resultados da controlada. E mais, detém poder para decidir sobre pagamentos, contratos e demais compromissos jurídicos e financeiros, ao contrário dos parentes e dependentes, que não possuem tal capacidade. Ou seja, se a norma restringe, para fins tributários, o pagamento feito por mera liberalidade sempre que os destinatários são parentes, qual seria a interpretação na hipótese de o beneficiário ser o próprio controlador, vale dizer, a matriz do grupo econômico? Independente do arranjo societário (cuja atual dinâmica e internacionalização não poderia ser prevista pelo legislador, em 1964!), a teleologia, o objetivo e a razão de ser da norma não podem ser outros senão o de evitar a manipulação do resultado, mediante pagamentos a sócios ou quaisquer beneficiários em favor destes. A norma busca vedar, em sentido amplo, a destinação irregular de royalties em benefício dos sócios ou de pessoa que lhe faça as vezes, em prejuízo do Fisco ou mesmo de outros sócios minoritários. Se isso vale, inclusive, quando o beneficiário não compõe a estrutura da corporação nem detém poderes de decisão (como no caso de parentes e dependentes), com mais força e razão o comando se aplica ao controlador indireto, notadamente quando todos os envolvidos são subsidiárias integrais deste. Fl. 1336DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 39 38 Neste ponto, a questão me parece cristalina: não se trata de lacuna ou omissão legal, mas sim de situação perfeitamente enquadrada na dicção e vontade do legislador, que, por óbvio, não possui dons premonitórios capazes de conhecer, muito antes da realidade fática, as inúmeras variantes que hoje existem nas relações societárias internacionais. Esse tema também não é estranho ao CARF, posto que já se decidiu pela indedutibilidade quando os pagamentos são efetuados entre empresas do mesmo grupo econômico: [...] Portanto, não há como acolher o argumento de que a vedação contida na alínea "d" do parágrafo único do art. 71 da Lei 4.506/1964 alcança apenas sócio pessoa física. Caso não fosse assim, bastaria se interpor uma pessoa jurídica entre o pagador e a pessoa física e a norma antielisiva seria contornada. Ademais, tanto a atual Lei das Sociedades por Ações, Lei nº 6.404, de 15/12/1976, quanto a antiga, DecretoLei nº 2.627, de 26/09/1940, vigente muito antes da Lei nº 4.506/1964, já tratavam o termo sócio para designar tanto pessoas físicas como pessoas jurídicas. Analogamente é o tratamento dado pelo Código Civil vigente, a Lei nº 10.406, de 10/01/2002, quanto o anterior Código Civil de 1916, que empregam a palavra ‘sócio’ abrangendo pessoas naturais e sociedades. Portanto, à época de publicação da lei em questão e durante todo o período que se passou até hoje, entendese por sócio os seres humanos e as empresas. Desse modo, também NEGO provimento ao recurso especial da contribuinte em relação a essa segunda divergência. 3 QUESTÃO REFERENTE À DEDUTIBILIDADE DOS ROYALTIES EM RELAÇÃO À CSLL Quanto a esta última divergência, a contribuinte alega que as regras que vedam a dedução dos royalties são próprias do IRPJ, e não se aplicam à CSLL. Em sede de contrarrazões, a PGFN apresenta uma preliminar de não conhecimento do recurso, fundada na alegação de que a questão fática e jurídica debatida no acórdão apontado como paradigma diverge da observada nos presentes autos. Segundo o seu entendimento, o recurso não deveria ser conhecido na parte que trata sobre a dedutibilidade dos royalties da base de cálculo da CSLL, eis que o paradigma sequer aborda tal matéria. Como relatado no início, essa divergência foi admitida em julgamento de agravo contra o despacho de exame de admissibilidade, com base no Acórdão paradigma nº 9101001.776. O despacho de reexame exarado pelo Presidente desta CSRF, que entendeu comprovada a divergência em pauta, esclarece que a orientação do referido paradigma "foi no sentido de que a apuração da base de cálculo da CSLL tem regras próprias, não se podendo aplicar automaticamente o quanto previsto para o IRPJ, inexistindo no art. 2º, §1º da Lei nº 7.689/88 previsão para inclusão das despesas desnecessárias ou não dedutíveis do lucro real". Fl. 1337DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 40 39 O mesmo despacho de reexame esclarece que no caso recorrido, "a glosa se refere a despesas de royalties sob o fundamento de que teriam sido pagas a sócio controlador, hipótese que o art. 71 da Lei nº 4.506/64 enuncia como excludente do conceito de necessidade" (art. 71, alínea "a"). O cotejo entre os dois acórdãos (recorrido e paradigma), para fins de reconhecimento da divergência, se deu em torno dessa questão sobre o tratamento de despesas consideradas desnecessárias. Penso que a admissibilidade do recurso demanda uma análise mais simples. É que o acórdão recorrido não explora esse ponto abordado no despacho de reexame de admissibilidade, de que o art. 71 enuncia hipóteses excludentes do conceito de necessidade. O acórdão recorrido apenas generaliza a ideia no sentido de que "o que se tem, de fato, é a identidade, prevista em lei, quanto às sistemáticas de apuração da base de cálculo das duas figuras" (IRPJ e CSLL). Invocando o art. 57 da Lei 8.981/1995, o acórdão recorrido afirma que "as regras de apuração para o imposto de renda são aplicáveis ao cálculo da CSLL (o que se infere da dicção 'mesmas normas de apuração') e que o preceptivo só perderia eficácia se houvesse norma específica, relativa à contribuição, em sentido diverso". O paradigma acima mencionado, ao contrário, entende que "a apuração da base de cálculo da CSLL tem regras próprias, não se podendo aplicar automaticamente o quanto previsto para o IRPJ". A meu ver, isso basta para a caracterização da divergência jurisprudencial. Nesses termos, a preliminar de não conhecimento deve ser rejeitada. Quanto ao mérito, sempre houve muita polêmica em torno desse tipo de questão, ou seja, de definir quais regras do IRPJ (relativamente à apuração da base de cálculo) são também aplicáveis à CSLL. A Receita Federal, no intuito de reduzir a litigiosidade em relação a essas questões, editou a IN RFB nº 1.700, de 14/03/2017, listando uma série de ajustes à base de cálculo (adições e exclusões), e identificando quais deles seriam específicos para o IRPJ, e quais seriam aplicáveis aos dois tributos (IRPJ e CSLL). A referida instrução normativa apresenta o "ANEXO I TABELA DE ADIÇÕES AO LUCRO LÍQUIDO", contendo a seguinte informação sobre a matéria que aqui interessa: Nº Assunto Descrição do ajuste Aplicase ao IRPJ? Aplicase à CSLL? Dispositivo na IN 99 Royalties e Assistência Técnica, Científica e O valor dos royalties e das importâncias pagas a título de assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante, que forem indedutíveis nos termos: (1) dos arts. Sim Não Arts. 85 a 88 Fl. 1338DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 41 40 Administrativa 52 e 71, caput, alínea ‘a’, e parágrafo único, alíneas ‘c’ a ‘g’, da Lei nº 4.506, de 1964; (2) do art. 50 da Lei nº 8.383, de 1991; (3) do art. 74, caput, da Lei nº 3.470, de 1958; (4) do art. 12 da Lei nº 4.131, de 1962; e (5) do art. 6º do DecretoLei nº 1.730, de 1979. Como se trata de posicionamento do próprio órgão encarregado da administração e fiscalização dos tributos de competência da União, manifestando o mesmo entendimento que é defendido pela contribuinte, penso ser desnecessário outras considerações a respeito disso. Desse modo, voto no sentido de CONHECER do recurso especial e de lhe DAR provimento em relação a essa terceira divergência. Em resumo, voto no sentido de NEGAR provimento ao recurso especial da contribuinte quanto à dedutibilidade dos royalties em relação ao IRPJ (questão referente à figura do autor/criador do bem ou da obra, e questão referente ao recebimento de royalties por sócio pessoa jurídica), e de DAR provimento ao recurso quanto à dedutibilidade dos royalties em relação à CSLL. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Fl. 1339DF CARF MF Processo nº 16682.720169/201582 Acórdão n.º 9101003.063 CSRFT1 Fl. 42 41 Declaração de Voto Não houve apresentação de declaração de voto no prazo regimental de 15 (quinze) dias, contados da data de julgamento do processo. Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015, Anexo II: Art. 63. ... § 6º As declarações de voto somente integrarão o acórdão ou resolução quando formalizadas no prazo de 15 (quinze) dias do julgamento. § 7º Descumprido o prazo previsto no § 6º, considerase não formulada a declaração de voto. Fl. 1340DF CARF MF
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Numero do processo: 11065.903066/2008-81
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Oct 19 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Dec 07 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 1201-000.308
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência.
(assinado digitalmente)
Roberto Caparroz de Almeida - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida, Eva Maria Los, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Jose Carlos de Assis Guimarães e Eduardo Morgado Rodrigues.
Nome do relator: ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Roberto Caparroz de Almeida Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida, Eva Maria Los, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Jose Carlos de Assis Guimarães e Eduardo Morgado Rodrigues. Relatório Tratase de processo administrativo decorrente de DCOMP apresentada pelo DIMARI INDUSTRIAL DE COMPONENTES PARA CALÇADOS LTDA., CNPJ 89.420.372/000126, para fins de formalizar a compensação de determinado crédito oriundo de pagamento a maior com determinado débito de sua responsabilidade. Por meio de Despacho Decisório, o direito creditório não foi reconhecido, sob a alegação de insuficiência de crédito. Mais precisamente, aduz a autoridade fiscal competente que o DARF vinculado ao pretenso pagamento a maior já teria sido utilizado para quitar débito informado pelo próprio contribuinte em DCTF, não restando saldo disponível. A contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade, alegando que o crédito, na verdade, diz respeito a Saldo Negativo, e não pagamento a maior propriamente dito. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 10 65 .9 03 06 6/ 20 08 -8 1 Fl. 95DF CARF MF Processo nº 11065.903066/200881 Resolução nº 1201000.308 S1C2T1 Fl. 3 2 A DRJ não conheceu o pleito do contribuinte, sob duas premissas: (i) de que o processo administrativo fiscal não se prestaria a retificar DCTF; e (ii) de que a contribuinte não teria atacado os fundamentos do despacho decisório, que foi emitido com base em DCTF válida, eficaz e espontaneamente apresentada. A empresa, então, apresentou recurso voluntário, por meio do qual esclarece que houve erro de fato no preenchimento da DCOMP, e não da DCTF, sendo a negativa de análise do direito creditório fato que viola os princípios da eficiência, razoabilidade, proporcionalidade, verdade material e o artigo 112 do CTN. É o relatório. Voto Conselheiro Roberto Caparroz de Almeida Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 1201 000.294, de 19.10.2017, proferido no julgamento do Processo nº 11065.902152/200876, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Resolução nº 1201000.294): O recurso voluntário atende os pressupostos formais e materiais, razão pela qual dele tomo conhecimento e passo a apreciálo. Na DCOMP ora em análise, o contribuinte indicou como origem do crédito um pagamento a maior feito a título de estimativa. Como, porém, a DCTF indica a existência de débito no mesmo montante, o despacho eletrônico não acusou a existência de crédito. Por ocasião da Manifestação de Inconformidade e Recurso Voluntário, o contribuinte esclarece que, na verdade, o crédito diz respeito ao Saldo Negativo apurado no ano, e não a estimativa, assumindo que teria se equivocado no preenchimento da origem exata do crédito. E para justificar esse alegado erro, a contribuinte anexa a sua DIPJ, que realmente indica a apuração de Saldo Negativo no ano, assim como uma planilha que resume as compensações efetuadas com tal saldo. Já a decisão de primeira instância não analisou o mérito da questão, tendo indeferido o pleito por razões de incompetência. Nesse contexto, entendo que o mero erro de fato não é suficiente para não homologar a compensação, em razão dos princípios da legalidade e verdade material, sendo necessária a apreciação do mérito propriamente dito. Do exposto, voto no sentido de converter o julgamento em diligência, para determinar o retorno dos autos à unidade de origem, para que, diante das informações e documentos trazidos pela Recorrente na Fl. 96DF CARF MF Processo nº 11065.903066/200881 Resolução nº 1201000.308 S1C2T1 Fl. 4 3 defesa e recurso, seja verificado o mérito da existência, suficiência e disponibilidade do crédito de Saldo Negativo alegado. Após a conclusão desta diligência, deve ser cientificada a contribuinte acerca do Relatório Conclusivo, para que se manifeste no prazo de 30 (trinta) dias e, em seguida, retornem os autos para julgamento. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, voto por converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Roberto Caparroz de Almeida Fl. 97DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10480.722499/2009-54
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Nov 29 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Jan 29 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 31/05/2005 a 31/12/2007
OCORRÊNCIA DE EQUÍVOCO ORIGINÁRIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO.
Necessário o retorno dos autos ao Colegiado de origem quando há ocorrência de equívoco originário no acórdão recorrido.
Numero da decisão: 9303-005.972
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em dar-lhe provimento parcial, com retorno dos autos ao colegiado de origem, para analisar a classificação fiscal e as demais questões de mérito.
(Assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício
(Assinado digitalmente)
Tatiana Midori Migiyama Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Charles Mayer de Castro Souza (suplente convocado), Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire (suplente convocado), Valcir Gassen (suplente convocado em substituição à conselheira Érika Costa Camargo Autran) e Vanessa Marini Cecconello. Ausentes, justificadamente, os conselheiros Carlos Alberto Freitas Barreto e Érika Costa Camargos Autran.
Nome do relator: TATIANA MIDORI MIGIYAMA
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ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 31/05/2005 a 31/12/2007 OCORRÊNCIA DE EQUÍVOCO ORIGINÁRIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. Necessário o retorno dos autos ao Colegiado de origem quando há ocorrência de equívoco originário no acórdão recorrido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em darlhe provimento parcial, com retorno dos autos ao colegiado de origem, para analisar a classificação fiscal e as demais questões de mérito. (Assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas – Presidente em exercício (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama – Relatora AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 48 0. 72 24 99 /2 00 9- 54 Fl. 1396DF CARF MF 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Charles Mayer de Castro Souza (suplente convocado), Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire (suplente convocado), Valcir Gassen (suplente convocado em substituição à conselheira Érika Costa Camargo Autran) e Vanessa Marini Cecconello. Ausentes, justificadamente, os conselheiros Carlos Alberto Freitas Barreto e Érika Costa Camargos Autran. Relatório Tratase de Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional contra Acórdão nº 3302002.444, da 2ª Turma Ordinária da 3ª Câmara da 3ª Seção de Julgamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais que, por unanimidade de votos, deu provimento parcial ao recurso voluntário, consignando a seguinte ementa: “ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS Período de apuração: 31/05/2005 a 31/12/2007 RECLASSIFICAÇÃO DE PRODUTO INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 149 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL REVISÃO DE ERRO DE DIREITO. Apenas é permitida a revisão do lançamento tributário quando houver erro de fato, entendendose este como aquele relacionado ao conhecimento da existência de determinada situação. Não se admite a revisão quando configurado erro de direito consistente naquele que decorre do conhecimento e da aplicação incorreta da norma. Seguese a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça STJ, no sentido de que o contribuinte não pode ser surpreendido, após o desembaraço aduaneiro, com uma nova classificação, proveniente de correção de erro de direito. PRESCRIÇÃO 5 ANOS DO APROVEITAMENTO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO INAPLICABILIDADE DA CONTAGEM DO PRAZO DO MOMENTO DA GERAÇÃO DO CRÉDITO. Em relação ao saldo credor de 2003, aproveitado no ano de 2005, sem razão a recorrente. É fato que quando ocorreu a fiscalização já havia transcorrido 5 anos do momento da geração do crédito. Todavia, não havia transcorrido 5 anos do momento do aproveitamento do crédito tributário, e é este o período em que a fiscalização pode analisar a contabilidade do contribuinte. ” Fl. 1397DF CARF MF Processo nº 10480.722499/200954 Acórdão n.º 9303005.972 CSRFT3 Fl. 1.397 3 Irresignada, a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial contra o r. acórdão que sustentou que constitui modificação de critério jurídico, o resultado do procedimento de revisão aduaneira que implique alteração da classificação do produto NCM, anteriormente adotada pelo importador. Traz, entre outros, que, · Em consonância com disposto no inciso I, o artigo 54 do Decretolei n° 37, de 1966, com a redação dada pelo Decretolei nº 2.472, de 1988, prevê expressamente a possibilidade de realização, após o desembaraço aduaneiro ou liberação da mercadoria, do procedimento de revisão das informações tributárias e outra natureza, prestadas pelo importador na DI que serviu de base para o processamento do despacho aduaneiro; · O porcelanato é um produto cerâmico, e, como tal, por aplicação da RG/SHI nº. 01, deve ser classificado no capítulo 69, na posição 6907(se não vidrado nem esmaltado) ou na posição 6908 (se vidrado ou esmaltado), razão pela qual mostrase correta a reclassificação procedida pelo Fisco. Em despacho às fls. 1306 a 1308, foi dado seguimento ao recurso especial interposto pela Fazenda Nacional. Contrarrazões ao recurso especial foram apresentadas pelo sujeito passivo, trazendo, entre outros, que: · A mudança repentina de entendimento por parte da receita federal viola o princípio da segurança jurídica, haja vista a ilegal revisão do lançamento com efeitos retroativos, após o desembaraço respaldado no entendimento da própria autoridade mediante resposta a pedido de informação acostada aos autos; · Não tendo havido erro ou omissão por parte da contribuinte quanto à matéria de fato constante de declaração de importação, no que concerne à identificação física da mercadoria, não há que se admitir a Fl. 1398DF CARF MF 4 revisão do lançamento, como feito no Auto de Infração ora objurgado, consoante se denota da análise dos incisos IV e V, do art. 149, do CTN; · Em relação à correta classificação fiscal da mercadoria importada: ü O porcelanato em nada se aproxima da porcelana; ü O porcelanato é um produto composto por feldspato, dolomita, quartzo e uma pequena quantidade de argila, inferior a 15%, composição que, consoante restará evidenciado, é diversa da cerâmica e se assemelha a um granito, conforme laudo técnico elaborado com base no parecer técnico 8.202 do IPT e já convalidado pela DRJ em julgamento do processo 1964.013825/200882; ü As características técnicas do porcelanato são muito diferentes da cerâmica, posto que 75% do porcelanato é composto de matérias duras. Tratase de produto estável, mais resistente a temperaturas baixas, já a cerâmica sofre mais retração e expansão, com a oscilação de tempo; ü Quanto à cozedura e ponto de fusão há uma substancial diferença entre o porcelanato e uma cerâmica, o que demonstra o equívoco da Nota Coana/Cotac/Dinon 2007/0319 que ensejou a lavratura do auto de infração. Esse processo foi pautado para 18.1.2017, conforme publicação no Diário Oficial da União de 5.10.2017, retornando para julgamento, observandose pedido de vista, em novembro. É o relatório. Voto Conselheira Tatiana Midori Migiyama Relatora Depreendendose da análise do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, entendo que devo conhecêlo, eis que atendidos os pressupostos de admissibilidade constante do art. 67 do RICARF/2015 – Portaria MF 343/2015 com alterações posteriores. Fl. 1399DF CARF MF Processo nº 10480.722499/200954 Acórdão n.º 9303005.972 CSRFT3 Fl. 1.398 5 Ora, do simples cotejo entre as ementas dos acórdãos recorrido e indicados como paradigmas, constatase a efetiva existência de interpretação divergente quanto à ocorrência ou não de modificação de critério jurídico na reclassificação fiscal de mercadorias promovida em sede de revisão aduaneira. Em vista de todo o exposto, conheço o Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional. Contrarrazões devem ser consideradas, vez que tempestivas. Não obstante ao decidido em acórdão recorrido, para melhor entendimento, importante recordar: · O Auto de Infração no campo “Descrição dos Fatos e Enquadramento(s) Legal(is) trouxe, entre outros (Grifos meus): “001 – PRODUTO SAÍDO DO ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL OU EQUIPARADO A INDUSTRIAL COM EMISSÃO DE NOTA FISCAL OPERAÇÃO COM ERRO DE CLASSIFICAÇÃO FISCAL E ALÍQUOTA DO IPI Falta de lançamento de imposto por ter o estabelecimento industrial promovido a saída de produtos tributos, “Porcelanatos”, de tamanhos, colorações, brilhos, formatos etc diversificados, com falta de destaque do IPI, por ter cometido erro na classificação fiscal e erro da alíquota do imposto, como descrito no Termo de Verificação Fiscal anexo. [...] 002 – CRÉDITOS INDEVIDOS CRÉDITO BÁSICO INDEVIDO O estabelecimento industrial não recolheu o IPI por ter registrado em sua escrita fiscal um crédito indevido, na forma do saldo credor inicial de janeiro de 2005. [...]” Fl. 1400DF CARF MF 6 · O Termo de Verificação Fiscal trouxe, entre outros (Grifos meus): “[...] No presente caso, impende destacar que a presente autuação decorre de procedimento fiscal anterior que identificou erro nos despachos aduaneiros de importação da empresa, visto que ela dotava uma equivocada classificação fiscal para a placas de "porcelanato" que importava para industrialização em seu estabelecimento.[...] Foi realizada então uma análise nos arquivos digitais apresentados pelo contribuinte a fim de constatar se ele adotara o mesmo equívoco da alíquota do IPI nas saídas de produtos industrializados. Concluída essa análise, foi possível constatar que a empresa tributou seus produtos "porcelanato" (de formatos, cores e brilhos diversos) com a classificação fiscal e a alíquota do IPI usadas no âmbito do despacho aduaneiro de importação.[...] Sendo assim, neste auto de infração, não serão autuadas as importâncias do IPIvinculado não recolhidas, mas apenas os valores do IPI das saídas com falta de destaque do imposto, não escriturados no Livro Registro de Apuração do IPI (RAIPI), por conta do erro ma classificação fiscal adotada pela empresa em suas vendas de produtos "porcelanatos", como expresso em suas notas fiscais de saída. [...] Concluída essa análise, foi possível constatar que a empresa tributou seus produtos “porcelanato” (de formatos, cores, brilho diversos) com a classificação fiscal e a alíquota do IPI usadas no âmbito do despacho aduaneiro de importação. [...] Por conseguinte, em respeito à qualidade dos argumentos expendidos no mencionado processo (particularmente, a Nota COANA/COTAC/DINOM nº 2007/0319), adotase, sem qualquer ressalva, neste auto de infração de infração a mesma classificação fiscal ali retratada – 6907.90.00 (para os porcelanatos não vidrados ou esmaltados) ou 6908.90.00 (para Fl. 1401DF CARF MF Processo nº 10480.722499/200954 Acórdão n.º 9303005.972 CSRFT3 Fl. 1.399 7 os porcelanatos vidrados ou esmaltados), ambos com a mesma alíquota do IPI: [...] A prática do estabelecimento de promover saídas com a classificação fiscal errônea (NCM 6810.19.00) e a alíquota do IPI igual a 0% resultou, ao longo dos vários períodos de apuração, em infração à legislação do IPI, por ter deixado de realizar o destaque do imposto exigível na nota fiscal de saída e consequentemente ter deixado de recolher os eventuais saldos devedores do imposto, a serem detalhados. [...]” · A impugnação trouxe, entre outros: “[...] 14. A instauração de procedimentos administrativo com base em revisão de mercadorias importadas, regularmente desembaraçadas, submetidas a industrialização e comercialização, após quase 5 (cinco) anos, com base em mudança na classificação fiscal posterior, é manifestamente irregular e contrários às normas que regem o processo administrativo tributário pátrio, o que autoriza a decretação da nulidade de todos os atos até então praticados... [...]” · O acórdão de impugnação trouxe, entre outros: “[...] Partindo dessa premissa, não foram autuadas as importâncias relativas ao IPI vinculado à importação não recolhidas, mas apenas os valores do IPI correspondentes às saídas com falta de destaque do imposto, não escriturados no RAIPI, por conta do erro na classificação fiscal adotada pela empresa em suas vendas do produto, como expresso em suas notas fiscais de saída. [...]” · O acórdão de recurso voluntário trouxe, entre outros: “[...] Fl. 1402DF CARF MF 8 Conforme relatado, tratase de auto de infração lavrado em relação ao período de jan/2005 a dez/2007, em virtude da reclassificação fiscal dos produtos importados pela Recorrente, que entendia ser aplicável, quando do despacho aduaneiro, o código 6810.19.00, aplicável à “outras obras de cimento, de concreto ou de pedra artificial, mesmo armadas”, com alíquotas de 8% de II e 0% de IPI; enquanto a fiscalização entendia que os produtos deveriam ter sido importados sob as rubricas: 6907.90.00 (para os porcelanatos não vidrados nem esmaltados) e 6908.90.00 (para aqueles vidrados ou esmaltados), ambos com as mesmas alíquotas do IPI, a saber: 10% nos anos de 2005 e 2006; 5% no ano de 2007 (Decreto nº 6.006.2006). [...] Em resumo, tratase de diferença de crédito tributário apurada em procedimento de revisão aduaneira das Declarações de Importação da Recorrente em decorrência do entendimento da fiscalização de que houve adoção equivocada de critério de classificação fiscal.[...] Portanto, é condição necessária a existência de um prévio lançamento tributário. Os tributos recolhidos por ocasião do despacho aduaneiro configuram antecipação de pagamento, na modalidade do lançamento por homologação. Entender que a conferência aduaneira e o conseqüente desembaraço da mercadoria configurariam lançamento tributário implica em dizer que houve homologação expressa do lançamento previsto no artigo 150 do CTN (lançamento por homologação), o que de fato não resta configurado no despacho aduaneiro. O despacho aduaneiro de importação é um procedimento de fiscalização, previsto no regulamento aduaneiro Decreto nº 4.543, de 2002 art. 482 e no Decreto 70.235, de 1972, art. 7º, inciso III, com vistas ao desembaraço aduaneiro. [...]”. Vêse, pela leitura dos trechos dos autos desse processo, que se trata efetivamente de discussão acerca da promoção de saídas com classificação fiscal errônea, Fl. 1403DF CARF MF Processo nº 10480.722499/200954 Acórdão n.º 9303005.972 CSRFT3 Fl. 1.400 9 segundo a autoridade fiscal – que, por sua vez, trouxe que não foi realizado o destaque do imposto exigível na nota fiscal de saída. Tal constatação originouse da análise nos arquivos digitais apresentados pela contribuinte a fim de constatar se ele adotara o mesmo equívoco da alíquota do IPI nas saídas de produtos industrializados. Não se trata de classificação de IPI da “entrada”, tal como tratou o acórdão recorrido – que se adentrou ainda na discussão acerca da “revisão aduaneira”, mas sim da “saída”. Recordando ainda, quanto à menção de revisão aduaneira, que o auto se originou de análise nos arquivos digitais apresentados pelo sujeito passivo. Em vista de todo o exposto, considerando o equívoco trazido no acórdão recorrido, voto por dar provimento parcial ao recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, cancelando o acórdão recorrido com retorno dos autos ao colegiado de origem, para analisar a classificação fiscal e as demais questões de mérito. (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama Fl. 1404DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10935.904120/2012-32
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Oct 24 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Nov 16 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Período de apuração: 01/11/2007 a 30/11/2007
PIS/COFINS. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DO ICMS. RECURSO REPETITIVO. STJ. TRÂNSITO EM JULGADO. CARF. REGIMENTO INTERNO.
Em 13.03.2017 transitou em julgado o Recurso Especial nº 1144469/PR, proferido pelo STJ sob a sistemática do art. 543-C do CPC/73, que firmou a seguinte tese: "O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações", a qual deve ser reproduzida nos julgamentos do CARF a teor do seu Regimento Interno.
Em que pese o Supremo Tribunal Federal ter decidido em sentido contrário no Recurso Extraordinário nº 574.706 com repercussão geral, publicado no DJE em 02.10.2017, como ainda não se trata da "decisão definitiva" a que se refere o art. 62, §2º do Anexo II do Regimento Interno do CARF, não é o caso de aplicação obrigatória desse precedente ao caso concreto.
Recurso Voluntário Negado
Numero da decisão: 3402-004.742
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por voto de qualidade, em rejeitar a preliminar de sobrestamento do processo até a decisão final no Recurso Extraordinário 574.706 RG/PR, conforme proposição do Conselheiro Diego Ribeiro, vencido juntamente com os Conselheiros Thais De Laurentiis, Maysa Pittondo e Carlos Daniel; e, no mérito, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso, vencido o Conselheiro Diego Ribeiro.
(assinado digitalmente)
Jorge Olmiro Lock Freire - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: JORGE OLMIRO LOCK FREIRE
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Período de apuração: 01/11/2007 a 30/11/2007 PIS/COFINS. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DO ICMS. RECURSO REPETITIVO. STJ. TRÂNSITO EM JULGADO. CARF. REGIMENTO INTERNO. Em 13.03.2017 transitou em julgado o Recurso Especial nº 1144469/PR, proferido pelo STJ sob a sistemática do art. 543-C do CPC/73, que firmou a seguinte tese: "O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações", a qual deve ser reproduzida nos julgamentos do CARF a teor do seu Regimento Interno. Em que pese o Supremo Tribunal Federal ter decidido em sentido contrário no Recurso Extraordinário nº 574.706 com repercussão geral, publicado no DJE em 02.10.2017, como ainda não se trata da "decisão definitiva" a que se refere o art. 62, §2º do Anexo II do Regimento Interno do CARF, não é o caso de aplicação obrigatória desse precedente ao caso concreto. Recurso Voluntário Negado
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decisao_txt : Acordam os membros do Colegiado, por voto de qualidade, em rejeitar a preliminar de sobrestamento do processo até a decisão final no Recurso Extraordinário 574.706 RG/PR, conforme proposição do Conselheiro Diego Ribeiro, vencido juntamente com os Conselheiros Thais De Laurentiis, Maysa Pittondo e Carlos Daniel; e, no mérito, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso, vencido o Conselheiro Diego Ribeiro. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire - Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/11/2007 a 30/11/2007 PIS/COFINS. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DO ICMS. RECURSO REPETITIVO. STJ. TRÂNSITO EM JULGADO. CARF. REGIMENTO INTERNO. Em 13.03.2017 transitou em julgado o Recurso Especial nº 1144469/PR, proferido pelo STJ sob a sistemática do art. 543C do CPC/73, que firmou a seguinte tese: "O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendose à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações", a qual deve ser reproduzida nos julgamentos do CARF a teor do seu Regimento Interno. Em que pese o Supremo Tribunal Federal ter decidido em sentido contrário no Recurso Extraordinário nº 574.706 com repercussão geral, publicado no DJE em 02.10.2017, como ainda não se trata da "decisão definitiva" a que se refere o art. 62, §2º do Anexo II do Regimento Interno do CARF, não é o caso de aplicação obrigatória desse precedente ao caso concreto. Recurso Voluntário Negado Acordam os membros do Colegiado, por voto de qualidade, em rejeitar a preliminar de sobrestamento do processo até a decisão final no Recurso Extraordinário 574.706 RG/PR, conforme proposição do Conselheiro Diego Ribeiro, vencido juntamente com os Conselheiros Thais De Laurentiis, Maysa Pittondo e Carlos Daniel; e, no mérito, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso, vencido o Conselheiro Diego Ribeiro. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire Presidente e Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 93 5. 90 41 20 /2 01 2- 32 Fl. 58DF CARF MF Processo nº 10935.904120/201232 Acórdão n.º 3402004.742 S3C4T2 Fl. 3 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Relatório Versa o processo sobre pedido de restituição fundado em suposto pagamento indevido ou a maior face suposta inclusão indevida do ICMS na base de cálculo das contribuições. No que tange esta matéria, o pedido restou indeferido conforme Despacho Decisório que instrui os autos. Regularmente cientificada desta decisão, a interessada apresentou Manifestação de Inconformidade, alegando, em síntese, a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo das contribuições. A DRJ, através do Acórdão nº 06041.468, julgou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada. O julgador de primeira instância não acolheu as razões de defesa da impugnante, tendo em vista que não há, na legislação de regência, previsão para a exclusão do valor do ICMS das bases de cálculo do PIS e da Cofins, já que esse valor, ainda que assim não entenda a interessada, é parte integrante do preço das mercadorias e serviços vendidos, exceção feita para o ICMS recolhido mediante substituição tributária, pelo contribuinte substituto tributário, nos termos dos arts. 2º e 3º da Lei nº 9.718/98. A contribuinte foi cientificada dessa decisão, tendo apresentado recurso voluntário tempestivo, onde alega que o valor do ICMS não pode ser incluído na base de cálculo da Cofins e do PIS, por não estar abrangido nos conceito de "faturamento", tratandose de mero "ingresso" na escrituração contábil das empresas. É o relatório. Voto Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3402004.699, de 24 de outubro de 2017, proferido no julgamento do processo 10935.902211/201233, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão, (Acórdão 3402004.699): "Atendidos aos requisitos de admissibilidade, tomase conhecimento do recurso voluntário. Fl. 59DF CARF MF Processo nº 10935.904120/201232 Acórdão n.º 3402004.742 S3C4T2 Fl. 4 3 Em relação à inclusão do ICMS na base de cálculo das contribuições sociais, como esclarecido pelo Ilustre Conselheiro Antonio Carlos Atulim, no Acórdão 3402003.317, de 28 de setembro de 2016, que negou provimento ao recurso voluntário em votação unânime do Colegiado, "O recolhimento efetuado pelo contribuinte, incluindo o ICMS na base de cálculo da contribuição, está calcado em entendimento sedimentado desde tempos imemoriais na seara tributária. Tal entendimento tem respaldo legal no art. 12 do DecretoLei nº 1.598/771 e na Instrução Normativa nº 51, de 03/11/1978". Dessa forma, "o valor do ICMS integra o preço da mercadoria, sendo tal valor deduzido contabilmente como despesa operacional". A Lei nº 9.718/98 define a incidência das contribuições sociais sobre o faturamento, correspondente à receita bruta da pessoa jurídica, prevendo a exclusão das suas bases de cálculo somente do IPI e do ICMS, este apenas quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos serviços na condição de substituto tributário. Também as Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003, que instituíram a não cumulatividade na apuração dessas contribuições, definem que a base dessas contribuições é a totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade exercida e a classificação contábil adotada, sendo que, quanto ao ICMS, apenas preveem que as receitas decorrentes de transferência onerosa a outros contribuintes de créditos de ICMS originados de operações de exportação não integram a base de cálculo das contribuições. Ademais, em 13/03/2017 transitou em julgado o Recurso Especial nº 1144469/PR2, sob a sistemática do art. 543C do 1 Art. 12 A receita bruta das vendas e serviços compreende o produto da venda de bens nas operações de conta própria e o preço dos serviços prestados. §1º A receita líquida de vendas e serviços será a receita bruta diminuída das vendas canceladas, dos descontos concedidos incondicionalmente e dos impostos incidentes sobre vendas. 2 O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, com base nos seus registros processuais eletrônicos, acessados no dia e hora abaixo referidos CERTIFICA que, sobre o(a) RECURSO ESPECIAL nº 1144469/PR, do(a) qual é Relator o Excelentíssimo Senhor Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO e no qual figuram, como RECORRENTE, FAZENDA NACIONAL, (...) em 10 de Agosto de 2016, PROCLAMAÇÃO FINAL DE JULGAMENTO: "PROSSEGUINDO NO JULGAMENTO, A SEÇÃO, POR UNANIMIDADE, DEU PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL DA FAZENDA NACIONAL E, POR MAIORIA, VENCIDOS OS SRS. MINISTROS RELATOR E REGINA HELENA COSTA, NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL DA EMPRESA RECORRENTE, NOS TERMOS DO VOTO DO SR. MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES, QUE LAVRARÁ O ACÓRDÃO."; em 10 de Agosto de 2016, CONHECIDO O RECURSO DE FAZENDA NACIONAL E PROVIDO,POR UNANIMIDADE, PELA PRIMEIRA SEÇÃO RELATOR PARA ACÓRDÃO: MAURO CAMPBELL MARQUES; em 01 de Dezembro de 2016, ATO ORDINATÓRIO PRATICADO ACÓRDÃO ENCAMINHADO(A) À PUBLICAÇÃO PREVISTA PARA 02/12/2016; em 01 de Dezembro de 2016, DISPONIBILIZADO NO DJ ELETRÔNICO EMENTA / ACORDÃO; em 02 de Dezembro de 2016, PUBLICADO EMENTA / ACORDÃO EM 02/12/2016; (...)TRANSITADO EM JULGADO EM 10/03/2017; em 13 de Março de 2017, BAIXA DEFINITIVA PARA TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO; em 07 de Abril de 2017, ENTREGA DE ARQUIVO DIGITAL DOS AUTOS AO DR. WAGNER MUNDIM RIBEIRO OAB/DF 14.760. Certifica, por fim, que o assunto tratado no mencionado processo é: Base de Cálculo. Certidão gerada via internet com validade de 30 dias corridos. Esta certidão pode ser validada no site do STJ com os seguintes dados: Número da Certidão: 2015397 Fl. 60DF CARF MF Processo nº 10935.904120/201232 Acórdão n.º 3402004.742 S3C4T2 Fl. 5 4 CPC/73, que firmou, para efeito de recurso repetitivo a seguinte tese: "O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendose à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações", conforme ementa abaixo: RECURSO ESPECIAL DO PARTICULAR: TRIBUTÁRIO. RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. PIS/PASEP E COFINS. BASE DE CÁLCULO. RECEITA OU FATURAMENTO. INCLUSÃO DO ICMS. 1. A Constituição Federal de 1988 somente veda expressamente a inclusão de um imposto na base de cálculo de um outro no art. 155, § 2º, XI, ao tratar do ICMS, quanto estabelece que este tributo: "XI não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do imposto sobre produtos industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização, configure fato gerador dos dois impostos". 2. A contrario sensu é permitida a incidência de tributo sobre tributo nos casos diversos daquele estabelecido na exceção, já tendo sido reconhecida jurisprudencialmente, entre outros casos, a incidência: 2.1. Do ICMS sobre o próprio ICMS: repercussão geral no RE n. 582.461 / SP, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18.05.2011. 2.2. Das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS sobre as próprias contribuições ao PIS/PASEP e COFINS: recurso representativo da controvérsia REsp. n. 976.836 RS, STJ, Primeira Seção, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25.8.2010. 2.3. Do IRPJ e da CSLL sobre a própria CSLL: recurso representativo da controvérsia REsp. n. 1.113.159 AM, STJ, Primeira Seção, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 11.11.2009. 2.4. Do IPI sobre o ICMS: REsp. n. 675.663 PR, STJ, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 24.08.2010; REsp. Nº 610.908 PR, STJ, Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 20.9.2005, AgRg no REsp.Nº 462.262 SC, STJ, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20.11.2007. 2.5. Das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS sobre o ISSQN: recurso representativo da controvérsia REsp. n. 1.330.737 SP, Primeira Seção, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10.06.2015. 3. Desse modo, o ordenamento jurídico pátrio comporta, em regra, a incidência de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos ou do mesmo tributo. Ou seja, é legítima a incidência de tributo sobre tributo ou imposto Código de Segurança: 6250.8B72.58DF.245E Data de geração: 17 de Outubro de 2017, às 08:48:06 Fl. 61DF CARF MF Processo nº 10935.904120/201232 Acórdão n.º 3402004.742 S3C4T2 Fl. 6 5 sobre imposto, salvo determinação constitucional ou legal expressa em sentido contrário, não havendo aí qualquer violação, a priori, ao princípio da capacidade contributiva. 4. Consoante o disposto no art. 12 e § 1º, do DecretoLei n. 1.598/77, o ISSQN e o ICMS devidos pela empresa prestadora de serviços na condição de contribuinte de direito fazem parte de sua receita bruta e, quando dela excluídos, a nova rubrica que se tem é a receita líquida. 5. Situação que não pode ser confundida com aquela outra decorrente da retenção e recolhimento do ISSQN e do ICMS pela empresa a título de substituição tributária (ISSQNST e ICMSST). Nesse outro caso, a empresa não é a contribuinte, o contribuinte é o próximo na cadeia, o substituído. Quando é assim, a própria legislação tributária prevê que tais valores são meros ingressos na contabilidade da empresa que se torna apenas depositária de tributo que será entregue ao Fisco, consoante o art. 279 do RIR/99. 6. Na tributação sobre as vendas, o fato de haver ou não discriminação na fatura do valor suportado pelo vendedor a título de tributação decorre apenas da necessidade de se informar ou não ao Fisco, ou ao adquirente, o valor do tributo embutido no preço pago. Essa necessidade somente surgiu quando os diversos ordenamentos jurídicos passaram a adotar o lançamento por homologação (informação ao Fisco) e/ou o princípio da não cumulatividade (informação ao Fisco e ao adquirente), sob a técnica específica de dedução de imposto sobre imposto (imposto pago sobre imposto devido ou "tax on tax"). 7. Tal é o que acontece com o ICMS, onde autolançamento pelo contribuinte na nota fiscal existe apenas para permitir ao Fisco efetivar a fiscalização a posteriori, dentro da sistemática do lançamento por homologação e permitir ao contribuinte contabilizar o crédito de imposto que irá utilizar para calcular o saldo do tributo devido dentro do princípio da não cumulatividade sob a técnica de dedução de imposto sobre imposto. Não se trata em momento algum de exclusão do valor do tributo do preço da mercadoria ou serviço. 8. Desse modo, firmase para efeito de recurso repetitivo a tese de que: "O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendose à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações". 9. Tema que já foi objeto de quatro súmulas produzidas pelo extinto Tribunal Federal de Recursos TFR e por este Superior Tribunal de Justiça STJ: Súmula n. 191/TFR: "É compatível a exigência da contribuição para o PIS com o imposto único sobre combustíveis e lubrificantes". Súmula Fl. 62DF CARF MF Processo nº 10935.904120/201232 Acórdão n.º 3402004.742 S3C4T2 Fl. 7 6 n. 258/TFR: "Incluise na base de cálculo do PIS a parcela relativa ao ICM". Súmula n. 68/STJ: "A parcela relativa ao ICM incluise na base de cálculo do PIS". Súmula n. 94/STJ: "A parcela relativa ao ICMS incluise na base de cálculo do FINSOCIAL". 10. Tema que já foi objeto também do recurso representativo da controvérsia REsp. n. 1.330.737 SP (Primeira Seção, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10.06.2015) que decidiu matéria idêntica para o ISSQN e cujos fundamentos determinantes devem ser respeitados por esta Seção por dever de coerência na prestação jurisdicional previsto no art. 926, do CPC/2015. 11. Ante o exposto, DIVIRJO do relator para NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial do PARTICULAR e reconhecer a legalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS. RECURSO ESPECIAL DA FAZENDA NACIONAL: TRIBUTÁRIO. RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. PIS/PASEP E COFINS. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DOS VALORES COMPUTADOS COMO RECEITAS QUE TENHAM SIDO TRANSFERIDOS PARA OUTRAS PESSOAS JURÍDICAS. ART. 3º, § 2º, III, DA LEI Nº 9.718/98. NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA. NÃO APLICABILIDADE. 12. A Corte Especial deste STJ já firmou o entendimento de que a restrição legislativa do artigo 3º, § 2º, III, da Lei n.º 9.718/98 ao conceito de faturamento (exclusão dos valores computados como receitas que tenham sido transferidos para outras pessoas jurídicas) não teve eficácia no mundo jurídico já que dependia de regulamentação administrativa e, antes da publicação dessa regulamentação, foi revogado pela Medida Provisória n. 2.15835, de 2001. Precedentes: AgRg nos EREsp. n. 529.034/RS, Corte Especial, Rel. Min. José Delgado, julgado em 07.06.2006; AgRg no Ag 596.818/PR, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 28/02/2005; EDcl no AREsp 797544 / SP, Primeira Turma, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 14.12.2015, AgRg no Ag 544.104/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJ 28.8.2006; AgRg nos EDcl no Ag 706.635/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 28.8.2006; AgRg no Ag 727.679/SC, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 8.6.2006; AgRg no Ag 544.118/TO, Rel. Min. Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ 2.5.2005; REsp 438.797/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 3.5.2004; e REsp 445.452/RS, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 10.3.2003. 13. Tese firmada para efeito de recurso representativo da controvérsia: "O artigo 3º, § 2º, III, da Lei n.º 9718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o faturamento e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo Fl. 63DF CARF MF Processo nº 10935.904120/201232 Acórdão n.º 3402004.742 S3C4T2 Fl. 8 7 das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica". 14. Ante o exposto, ACOMPANHO o relator para DAR PROVIMENTO ao recurso especial da FAZENDA NACIONAL. (STJ REsp: 1144469 PR 2009/01124142, Redator: MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES, Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Data de Julgamento: 10/08/2016, S1 PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 02/12/2016) Como se sabe, nos termos do art. 62, §2º do Anexo II do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, na redação dada pela Portaria MF nº 152/2016, "As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF". Assim, aqui deve ser obrigatoriamente adotado o entendimento acima do STJ, proferido no Recurso Especial nº 1144469/PR, transitado em julgado em 13/03/2017 sob a sistemática do art. 543C do CPC/73, rejeitandose a argumentação da recorrente em sentido contrário. Em que pese o Supremo Tribunal Federal ter decidido de forma favorável à tese da ora recorrente no Recurso Extraordinário nº 574.706 com repercussão geral, publicado no DJE em 02.10.2017, como ainda não se trata da "decisão definitiva" a que se refere o art. 62, §2º do Anexo II do Regimento Interno do CARF, não é o caso de sua reprodução no presente julgamento. Nesse mesmo sentido foi decidido recentemente pelo CARF nos julgados abaixo: Processo nº 19515.000094/200720 Acórdão nº 3201003.084– 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 29 de agosto de 2017 Relator: Marcelo Giovani Vieira (...) VOTO (...) Fl. 64DF CARF MF Processo nº 10935.904120/201232 Acórdão n.º 3402004.742 S3C4T2 Fl. 9 8 Pelo contrário, o STJ, no Resp 114469/PR decidiu, no regime de recursos repetitivos, com trânsito em julgado em 13/03/2017, que o ICMS integra as bases de cálculo do Pis e da Cofins. O STF decidiu de forma diferente, no RE 574.706, em repercussão geral, porém o processo ainda não é definitivo, não sendo vinculante para os colegiados do Carf, nos termos do §2º do art. 625 do Ricarf. Com efeito, é possível que o STF module os efeitos da decisão. Pelo exposto, voto pelo desprovimento do recurso voluntário quanto aos ajustes na base de cálculo. (...) Processo nº 10980.900996/201183 Acórdão nº 3302004.500 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 25 de julho de 2017 Relatora: Lenisa Prado Redator designado: Walker Araújo (...) VOTO VENCEDOR (...) O RICARF prevê o requisito da decisão definitiva para a obrigatoriedade da aplicação do precedente, no caso em análise, o REsp 1.144.469/PR transitou em julgado em 10.03.2017 e o RE 574.706RG/PR ainda espera a modulação de seus efeitos, não havendo, portanto, trânsito em julgado. Logo, devese observar a decisão, já transitada em julgado, do Superior Tribunal de Justiça. (...) Assim, pelo exposto acima, voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário. Da mesma forma que ocorreu no caso do paradigma, no presente processo o litígio resumese ao direito creditório decorrente de pagamentos a maior de PIS/Pasep e Cofins, em razão da inclusão do ICMS na base de cálculo das contribuições. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o Colegiado negou provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire Fl. 65DF CARF MF
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Numero do processo: 10280.905322/2011-62
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Oct 18 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 3402-001.077
Decisão: Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontá-los com o recolhido, apurando-se, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições.
(assinado digitalmente)
Jorge Olmiro Lock Freire - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: JORGE OLMIRO LOCK FREIRE
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decisao_txt : Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontá-los com o recolhido, apurando-se, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire - Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto.
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ALARGAMENTO DA BASE DE CÁLCULO. Recorrente RODOBENS CAMINHÕES CIRASA S.A. (SUCESSORA DE BELÉM DIESEL S.A.) Recorrida FAZENDA NACIONAL Resolvem os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontálos com o recolhido, apurandose, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Jorge Olmiro Lock Freire, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. RELATÓRIO Tratase de recurso voluntário contra decisão da Delegacia de Julgamento em Campinas que julgou improcedente a manifestação de inconformidade, conforme ementa abaixo: (...) AMPLIAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO. INCONSTITUCIONALIDADE. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 02 80 .9 05 32 2/ 20 11 -6 2 Fl. 211DF CARF MF Processo nº 10280.905322/201162 Resolução nº 3402001.077 S3C4T2 Fl. 186 2 A inconstitucionalidade da ampliação da base de cálculo da Cofins e da Contribuição para o PIS/Pasep, reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em recurso extraordinário, não gera efeitos erga omnes, sendo incabível sua aplicação a contribuintes que não façam parte da respectiva ação. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL (...) PROVA DOCUMENTAL. PRECLUSÃO. A prova documental do direito creditório deve ser apresentada na manifestação de inconformidade, precluindo o direito de o contribuinte fazêlo em outro momento processual sem que verifiquem as exceções previstas em lei. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Versa o processo sobre pedido de restituição de crédito de contribuição não cumulativa, o qual foi indeferido pela DRF de origem, em razão de o recolhimento indicado ter sido integralmente utilizado para quitação de débito confessado pela contribuinte em outro PER/DCOMP. A interessada apresentou a manifestação de inconformidade, sustentando seu direito creditório na inconstitucionalidade do art. 3º, § 1º da Lei nº 9.718/1998 (RE nº 390.840/MG e RE nº 585.235, com repercussão geral). O julgador de primeira instância não acolheu as razões de defesa da interessada, sob os seguintes fundamentos: A autoridade a quo procedeu corretamente ao indeferir o pleito da interessada, eis que existem débitos, confessado pela própria contribuinte por meio de DCTF e outro PER/DCOMP, no valor igual ao do recolhimento objeto do pedido de restituição, de forma que inexiste saldo passível de restituição. Seria necessário que, no mínimo, a interessada houvesse retificado sua DCTF até a transmissão do seu PER/DCOMP, fazendo constar o suposto débito inferior ao declarado, o que faria exsurgir a possibilidade de se alegar pagamento a maior. Como não o fez, não havia saldo de pagamento sobre o qual a autoridade fiscal tivesse que se manifestar. No tocante à inconstitucionalidade da ampliação da base de cálculo, não se discute o entendimento do STF, exposto nos REs mencionados pela interessada. Tampouco se questiona a vinculação do CARF à decisão proferida no RE julgado na sistemática de repercussão geral, conforme prevê seu regimento. Sobre a revogação do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718, pela Lei nº 11.941, apenas deve ser esclarecido que tal revogação não tem efeitos retroativos, e portanto não atinge o período a que se refere o PER/DCOMP em análise. Ainda que os óbices quanto à utilização integral do recolhimento não existissem, e que fosse possível estender os efeitos do julgado do STF para o presente caso, a interessada não se desincumbiu de demonstrar e provar o suposto recolhimento a maior. A cópia parcial do balancete apresentada permite vislumbrar tão somente as receitas financeiras do período, mas não o faturamento da empresa. Assim, não haveria como se apurar o total da base de cálculo e a contribuição devida, para comparála com o recolhimento efetuado e concluirse pela eventual existência de recolhimento a maior, e em que montante. E mais, não tendo a interessada apresentado provas de seu suposto crédito, precluiu do direito de fazêlo em outro momento, a teor do disposto no art. 16 do Decreto nº 70.235/72. Fl. 212DF CARF MF Processo nº 10280.905322/201162 Resolução nº 3402001.077 S3C4T2 Fl. 187 3 Cientificada, a contribuinte apresentou recurso voluntário tempestivo, alegando e requerendo o que se segue: a) Requer a recorrente a reunião dos processos apontados de modo a haver seu julgamento conjunto em face da existência de conexão entre os mesmos. b) Houve falta de aprofundamento da investigação dos fatos, o que contraria o contido no art. 76 da IN RFB nº 1300/12. A DCTF não é o único meio hábil de prova da existência de crédito passível de restituição. Nem o art. 165 do CTN e nem o art. 74 da Lei nº9.430/96 condicionam o reconhecimento do crédito à retificação de declarações, tratandose de formalidade, a qual não pode se sobrepor ao direito substantivo. c) Acerca das provas juntadas para demonstrar a existência do crédito pleiteado, a decisão recorrida alegou a insuficiência para o intento, entretanto esse entendimento não merece prosperar, eis que os documentos colacionados são suficientes para a comprovação do direito de crédito alegado. O valor recolhido indevidamente sobre as receitas financeiras está devidamente lastreado nas receitas financeiras destacadas no balancete em anexo à manifestação de inconformidade, documento este obrigatório paras as pessoas jurídicas, possuindo, inclusive, força probante para recolhimento de estimativas em caso de pessoa jurídica optante pelo lucro real mensal, nos termos do art. 230 do RIR/99. d) Com relação à preclusão da produção da prova, a alínea "c" do §4º do art. 16 do Dec. nº 70.235/72 possibilita a produção de provas em outro momento processual, quando se destine a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. Nesse passo, para corroborar os fatos já demonstrados pela documentação carreada à manifestação de inconformidade, e também com vistas a contrapor os argumentos da decisão recorrida, requer a juntada do livro Razão, o qual, por si só, tem o condão de comprovar o direito creditório ora postulado. e) Quanto ao mérito, a discussão encontrase totalmente superada na jurisprudência do STF que, em sessão plenária, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 no julgamento do RE nº 390840/MG em 9.11.2005. Não há dúvida de que esse entendimento do STF, com repercussão geral reconhecida, deve ser aplicado ao caso dos autos. Assim é que na base de cálculo do PIS e da Cofins somente deveriam ter sido incluídos pela recorrente os valores correspondentes ao seu faturamento, ou seja, os ingressos que correspondem as suas receitas das vendas de mercadorias e da prestação de serviços, razão pela qual a decisão a quo deve ser reformada a fim de que seja deferido o direito creditório pleiteado. É o relatório. VOTO Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido na Resolução nº 3402001.050, de 27 de setembro de 2017, proferida no julgamento do processo 10280.900096/201212, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu na Resolução 3402001.050: Fl. 213DF CARF MF Processo nº 10280.905322/201162 Resolução nº 3402001.077 S3C4T2 Fl. 188 4 "Atendidos os requisitos de admissibilidade, tomase conhecimento do recurso voluntário. Como se sabe, é obrigatória aos membros deste CARF a reprodução do conteúdo de decisão definitiva de mérito proferida pelo STF e pelo STJ na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil. Também não se desconhece que foi declarada a inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei 9.718/98 pelo Supremo Tribunal Federal, tendo sido reconhecida a repercussão geral, para reafirmar a jurisprudência do Tribunal nesse sentido1. Em consequência, para as empresas que se dedicam à venda de mercadorias comerciais e industriais e/ou à prestação de serviços, é ao total das receitas oriundas dessas atividades que corresponde a base de cálculo das contribuições do PIS e da Cofins enquanto aplicável aquele ato legal2 . No que concerne à possibilidade de reconhecimento do direito creditório independentemente da retificação da DCTF, este CARF já decidiu favoravelmente à própria contribuinte, mediante o Acórdão nº 3302004623 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, de 27 de julho de 2017, no processo nº 10280.905792/201126, no qual foi apurado, em diligência, que a recorrente demonstrou cabalmente a existência do crédito. Conforme assentado na Resolução nº 3401000.737, da 3ª Seção/4ª Câmara/1ªTurma Ordinária, de 24/07/2013, esta 3ª Seção de Julgamento do Carf tem orientado sua jurisprudência no sentido de que, não obstante a 1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. PIS. COFINS. Alargamento da base de cálculo. Art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. Inconstitucionalidade. Precedentes do Plenário (RE nº 346.084/PR, Rel. orig. Min. ILMAR GALVÃO, DJ de 1º.09.2006; REs 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 18.08.2006)Repercussão Geral do tema. Reconhecimento pelo Plenário. Recurso Improvido. É inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS, prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. (RE 585235/MG, Relator: Min. Cézar Peluso, julgado em 10/09/2008). 2 Acórdão nº 9303002.444– 3ª Turma, de 08 de outubro de 2013 Relator: JÚLIO CÉSAR ALVES RAMOS PIS E COFINS. ALARGAMENTO. EMPRESAS INDUSTRIAIS E DE SERVIÇOS. Nos termos do quanto decidido pelo Pleno do STF no julgamento dos recursos extraordinários nºs 357.950, 390840, 358273 e 346084, deve ser repudiada a ampliação do conceito de faturamento intentado pelo § 1º do art. 3º da Lei 9.718/98. Em conseqüência, para as empresas que se dedicam à venda de mercadorias comerciais e industriais e/ ou à prestação de serviços, é ao total das receitas oriundas dessas atividades que corresponde a base de cálculo das contribuições PISe PASEP enquanto aplicável aquele ato legal. Acórdão nº 3401003.828– 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária, de 29 de junho de 2017 Relator: LEONARDO OGASSAWARA DE ARAÚJO BRANCO ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/07/2003 a 31/07/2003 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. COFINS. BASE DE CÁLCULO. RECEITAS FINANCEIRAS. ART. 3º, § 1º, LEI Nº 9.718/98. INCONSTITUCIONALIDADE. As receitas que não se caracterizam como próprias da atividade da entidade, tal como estabelecido pelo estatuto ou contrato social, não compõem o seu faturamento, conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, ao declarar a inconstitucionalidade da ampliação do conceito de receita bruta promovida pelo art. 3º, § 1º da Lei nº 9.718/98. Devese, assim, ser acolhido o resultado da diligência constante no Relatório de Diligência Fiscal. Considerando a comprovação documental da validade do crédito, consistente em recolhimento indevido ou a maior de Cofins sobre receitas financeiras, deve o sujeito passivo ter atendido o seu pleito creditório. Recurso Voluntário provido. Direito creditório reconhecido. Fl. 214DF CARF MF Processo nº 10280.905322/201162 Resolução nº 3402001.077 S3C4T2 Fl. 189 5 preclusão do art. 16, §4° do Decreto nº 70.235/72, em situações em que há alguns indícios de provas, o julgamento pode ser convertido em diligência para análise da nova documentação acostada. No presente processo, embora a recorrente não tenha produzido a prova necessária por ocasião da apresentação de seu pedido ou da manifestação de inconformidade, apresentou, posteriormente, no Recurso Voluntário, outros documentos na tentativa de comprovação do direito alegado. Assim, resguardando eventual julgamento posterior do Colegiado na linha dos entendimentos acima apontados, voto no sentido de converter o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, um Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo §1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontálos com o recolhido, apurandose, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. Após a intimação da recorrente do resultado da diligência, concedendolhe o prazo de 30 (trinta) dias para manifestação, nos termos do art. 35 do Decreto nº 7.574/2011, o processo deve retornar a este Colegiado para prosseguimento." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, converto o julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique a composição da base de cálculo adotada pela contribuinte ao recolher a Contribuição, levando em conta as notas fiscais emitidas, as escritas contábil e fiscal e outros documentos que considerar pertinentes, elaborando, ao final, um Relatório Conclusivo com a discriminação dos montantes totais tributados e, em separado, os valores de outras receitas tributadas com base no alargamento promovido pelo § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, de modo a se apurar os valores devidos, com e sem o alargamento, e confrontálos com o recolhido, apurandose, se for o caso, o eventual montante de recolhimento a maior em face do referido alargamento da base de cálculo das contribuições. Após a intimação da recorrente do resultado da diligência, concedendolhe o prazo de 30 (trinta) dias para manifestação, nos termos do art. 35 do Decreto nº 7.574/2011, o processo deve retornar a este Colegiado para prosseguimento. (assinado digitalmente) Jorge Olmiro Lock Freire Fl. 215DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10280.721522/2014-15
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 17 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Nov 06 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2010
NULIDADE. MOTIVAÇÃO DO LANÇAMENTO. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA.
A descrição dos fatos e o trabalho fiscal de um modo geral, em um contexto amplo, suprem a ausência da menção expressa ao objeto da autuação. A própria postura do recorrente e o teor de suas peças de defesa elucidam tal fato e levam a tal conclusão.
CONTRATOS DE MÚTUO. APROPRIAÇÃO DOS JUROS. VARIAÇÃO MONETÁRIA ATIVA. REGIME DE COMPETÊNCIA.
Os juros que remuneram o capital transferido por meio de mútuo e as variações monetárias ativas devem ser reconhecidas como receita operacional nos períodos a que se referem seu computo, independentemente do tempo em que forem recebidas.
MULTA DE OFÍCIO. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMA TRIBUTÁRIA. INCOMPETÊNCIA. SÚMULA Nº 2 DO CARF.
Reputar que o percentual contido no art. 44, inciso I da Lei nº 9430/96 seria exorbitante, ofendendo princípios constitucionais (princípio da vedação ao confisco e princípio da proporcionalidade) colocaria em xeque a validade do próprio dispositivo legal supracitado, que se encontra em plena vigência e eficácia. Significaria, então, compulsar este julgador a uma análise voltada exclusivamente para a constitucionalidade da norma, o que é notadamente vedado por meio de entendimento sumulado deste Conselho.
TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. DECORRÊNCIA.
Tratando-se de tributação reflexa decorrente de irregularidades apuradas no âmbito do Imposto sobre a Renda, constantes do mesmo processo, aplicam-se à CSLL, por relação de causa e efeito, os mesmos fundamentos do lançamento primário.
Numero da decisão: 1201-001.864
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Roberto Caparroz de Almeida - Presidente
(assinado digitalmente)
Luis Fabiano Alves Penteado - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida (Presidente), Luis Fabiano Alves Penteado, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães e Eduardo Morgado Rodrigues. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Rafael Gasparello Lima.
Nome do relator: LUIS FABIANO ALVES PENTEADO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2010 NULIDADE. MOTIVAÇÃO DO LANÇAMENTO. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. A descrição dos fatos e o trabalho fiscal de um modo geral, em um contexto amplo, suprem a ausência da menção expressa ao objeto da autuação. A própria postura do recorrente e o teor de suas peças de defesa elucidam tal fato e levam a tal conclusão. CONTRATOS DE MÚTUO. APROPRIAÇÃO DOS JUROS. VARIAÇÃO MONETÁRIA ATIVA. REGIME DE COMPETÊNCIA. Os juros que remuneram o capital transferido por meio de mútuo e as variações monetárias ativas devem ser reconhecidas como receita operacional nos períodos a que se referem seu computo, independentemente do tempo em que forem recebidas. MULTA DE OFÍCIO. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMA TRIBUTÁRIA. INCOMPETÊNCIA. SÚMULA Nº 2 DO CARF. Reputar que o percentual contido no art. 44, inciso I da Lei nº 9430/96 seria exorbitante, ofendendo princípios constitucionais (princípio da vedação ao confisco e princípio da proporcionalidade) colocaria em xeque a validade do próprio dispositivo legal supracitado, que se encontra em plena vigência e eficácia. Significaria, então, compulsar este julgador a uma análise voltada exclusivamente para a constitucionalidade da norma, o que é notadamente vedado por meio de entendimento sumulado deste Conselho. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. DECORRÊNCIA. Tratando-se de tributação reflexa decorrente de irregularidades apuradas no âmbito do Imposto sobre a Renda, constantes do mesmo processo, aplicam-se à CSLL, por relação de causa e efeito, os mesmos fundamentos do lançamento primário.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Roberto Caparroz de Almeida - Presidente (assinado digitalmente) Luis Fabiano Alves Penteado - Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida (Presidente), Luis Fabiano Alves Penteado, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães e Eduardo Morgado Rodrigues. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Rafael Gasparello Lima.
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MOTIVAÇÃO DO LANÇAMENTO. AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. A descrição dos fatos e o trabalho fiscal de um modo geral, em um contexto amplo, suprem a ausência da menção expressa ao objeto da autuação. A própria postura do recorrente e o teor de suas peças de defesa elucidam tal fato e levam a tal conclusão. CONTRATOS DE MÚTUO. APROPRIAÇÃO DOS JUROS. VARIAÇÃO MONETÁRIA ATIVA. REGIME DE COMPETÊNCIA. Os juros que remuneram o capital transferido por meio de mútuo e as variações monetárias ativas devem ser reconhecidas como receita operacional nos períodos a que se referem seu computo, independentemente do tempo em que forem recebidas. MULTA DE OFÍCIO. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMA TRIBUTÁRIA. INCOMPETÊNCIA. SÚMULA Nº 2 DO CARF. Reputar que o percentual contido no art. 44, inciso I da Lei nº 9430/96 seria exorbitante, ofendendo princípios constitucionais (princípio da vedação ao confisco e princípio da proporcionalidade) colocaria em xeque a validade do próprio dispositivo legal supracitado, que se encontra em plena vigência e eficácia. Significaria, então, compulsar este julgador a uma análise voltada exclusivamente para a constitucionalidade da norma, o que é notadamente vedado por meio de entendimento sumulado deste Conselho. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. DECORRÊNCIA. Tratandose de tributação reflexa decorrente de irregularidades apuradas no âmbito do Imposto sobre a Renda, constantes do mesmo processo, aplicamse à CSLL, por relação de causa e efeito, os mesmos fundamentos do lançamento primário. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 0. 72 15 22 /2 01 4- 15 Fl. 2978DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Roberto Caparroz de Almeida Presidente (assinado digitalmente) Luis Fabiano Alves Penteado Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida (Presidente), Luis Fabiano Alves Penteado, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães e Eduardo Morgado Rodrigues. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Rafael Gasparello Lima. Relatório Tratamse de autos de infração objetivando a cobrança de IRPJ, na monta de R$8.049.942,85, e de CSLL, no valor de R$2.897.979,42, referentes ao anocalendário de 2010, perfazendo um crédito tributário no total de R$10.947.922,27. Foi apurada falta de contabilização de atualização monetária sobre créditos/empréstimos com coligadas/interligadas, gerando, em consequência, redução indevida do lucro sujeito à tributação. Algumas contas tiveram seus lançamentos a débito lastreados em contratos de mútuo, que estipulavam contratualmente uma taxa de 6% ao ano. Para as contas nas quais o contribuinte não reconheceu as variações monetárias foram efetuados os cálculos dessas sobre os saldos mensais pela fiscalização, com aplicação da taxa contratual, com fundamento no art. 375 do Regulamento do Imposto sobre a Renda (RIR), aprovado pelo Decreto nº 70.235, de 1972. As contas que foram submetidas a esses cálculos foram as seguintes: Fl. 2979DF CARF MF Processo nº 10280.721522/201415 Acórdão n.º 1201001.864 S1C2T1 Fl. 3 3 Ainda foram identificadas outras contas (121010015 – Itaguarana S/A; 121010038 – Mamoaba Agro Pastoril S/A; e 121010045 – Versal Gráfica e Editora S/A), para as quais não foram apresentados contratos de mútuo, de modo que foram calculadas as variações monetárias ativas sobre os direitos de créditos do contribuinte nos termos do art. 375 do RIR, com aplicação da taxa Selic, haja vista o disposto no art. 591 do Código Civil; Os demonstrativos dos cálculos efetuados estão às fls. 2571 a 2615 e fazem parte do relatório fiscal. Impugnação Cientificado dos lançamentos o contribuinte apresentou sua defesa, cujos argumentos foram sintetizados pela 4ª Turma da DRJ/REC e são reproduzidos a seguir: “(...) 4.1. não se sabe ao certo se o lançamento recai sobre variação monetária – entendida como variação da moeda – ou se alcança juros moratórios. Isso porque a autoridade fiscal ora se refere a variação monetária, ora se refere a juros, eventos que não se confundem, restando incerta a matéria que se tem por tributável. Não afirma que o contribuinte auferiu receitas financeiras em face das operações de mútuo, nem que teria omitido registro de tais receitas para aviltar a renda/lucro. Ao contrário, por verificar a inexistência de receitas financeiras, resolveu quantificar o valor dos juros, inapropriadamente denominado de variação monetária, em função de previsões contratuais sobre juros moratórios. Evidente, pois, a ausência de receitas financeiras e consequente renda/lucro, o que inviabiliza a exigibilidade do crédito tributário constituído; 4.2. no caso, o contribuinte não fez cobrança de juros de suas empregas coligadas em função dos aludidos empréstimos. Aliás, cada contrato indica tempo de carência para a quitação da dívida, de modo que, mesmo que viesse a cogitar de tributação do IRPJ sobre prováveis receitas financeiras, observado o regime de competência, não seria procedente o lançamento pois Fl. 2980DF CARF MF 4 ainda não iniciado o pagamento da dívida. Conforme contratos, só se configurou obrigação pecuniária, inclusive para exigibilidade dos juros, depois de transcorrido o prazo de carência, não havendo, antes disso, disponibilidade econômica ou jurídica de renda; 4.3. por tal razão não há que se falar em auferimento de receitas financeiras e, por conseguinte, de omissão de receitas. O lançamento recai sobre fato inexistente, contrariando o art. 142 do CTN, e o art. 150, I, da Constituição Federal. Consoante o art. 43 do CTN, o imposto incide sobre a renda, que se expressa em efetivo acréscimo patrimonial, e não provável renda, a depender de futuro recebimento de juros após expirado o prazo de carência da obrigação; 4.4. a multa de 75% é desproporcional e confiscatória. Por se tratar de mera falta de recolhimento de tributo, se procedente fosse o lançamento só poderia ser aplicável o percentual previsto no art. 61, §2º da Lei nº 9.430, de 1996, qual seja, de 20%. 4.5. conclui, em resumo, que o lançamento é nulo por estar incerta a matéria tributável (se variação monetária ou juros moratórios). Se assim não se considerar, o lançamento é improcedente, uma vez que não houve auferimento de receitas, inexistindo renda/lucro. (...)” Acórdão nº 1148.458 4ª Turma da DRJ/REC De início considerouse não haver qualquer discussão por parte do contribuinte quanto ao fato de créditos com pessoas jurídicas interligadas/controladas registrados em contas do ativo (grupo 121010000 – Créditos em Interligadas) decorrerem de contratos de mútuo. Também constatouse não serem objeto de contenta os índices aplicados pela autoridade fiscal na determinação da variação monetária, ora utilizando os percentuais fixados nos contratos, ora aplicando a taxa Selic (nos termos dos arts. 406 e 591 do Código Civil) para as contas em relação às quais não foram trazidos os contratos pelo contribuinte. Em vista disso, optou a autoridade julgadora por não abordar tais questões. Quanto a nulidade suscitada pela impugnante, concernente a falta de clareza da matéria tributável, entendeuse não restar dúvidas, com base no relatório fiscal, de que a autoridade fiscal considerou que os juros ganhos em decorrência de mútuos realizados com empresas ligadas se enquadravam na definição de variações monetárias ativas nos termos do art. 375 do RIR/99. Ressalvouse, no entanto, que tais juros se subsumiriam ao conceito de receitas financeiras estabelecido no art. 373 do RIR/99. Reputouse, então, que tal impropriedade cometida quanto à titulação da receita não comprometeria o fato de tanto as receitas financeiras quanto as variações monetárias serem receitas operacionais do contribuinte passíveis de tributação pelo IRPJ e pela CSLL. Evidenciouse que o RIR/99 prevê que as Fl. 2981DF CARF MF Processo nº 10280.721522/201415 Acórdão n.º 1201001.864 S1C2T1 Fl. 4 5 receitas financeiras de juros e as variações monetárias são subseções da seção relativa a “Outros Resultados Operacionais”. Ademais, fora constatado que em ambas as hipóteses, os ganhos devem ser apropriados nos períodos a que competirem, ou seja, pelo regime de competência, independentemente da sua realização em moeda. O cerne da questão, segundo a autoridade julgadora, seria que os lançamentos decorreram da falta de contabilização e tributação de juros auferidos como remuneração de contratos de mútuos. Daí insurgiuse que o próprio contribuinte não contestou a existência das operações de mútuo, bem assim reconheceu o recebimento de juros. Independentemente da “titulação” da receita, entendeuse que esta ocorreu e fora omitida. Assim, a turma decidiu pelo não acatamento das nulidades suscitadas, considerando que a receita omitida estaria perfeitamente identificada, permitindo ao sujeito passivo o pleno exercício do seu direito de defesa. Restou oportuno registrar que os contratos de mútuo preveem a incidência de juros durante o prazo de carência, conforme pode ser visto, por exemplo, no contrato firmado com a Agrimex à fl. 423. Por fim, entenderam os julgadores que os juros deveriam ter composto a base de cálculo do IRPJ e da CSLL antes do seu efetivo recebimento, pois ainda que o recebimento dos juros em moeda somente tenha ocorrido após o prazo de carência, havia previsão contratual de incidência desde que os contratos foram firmados. Reputouse acertada, portanto, a apuração efetuada pela autoridade fiscal. Quanto a alegação de que a multa seria confiscatória e desproporcional, coube à autoridade julgadora esclarecer que o administrador é um mero executor de normas, não lhe cabendo questionar a legalidade ou constitucionalidade dessas. A análise de teses contra a legalidade ou a constitucionalidade de normas seria privativa do Poder Judiciário, conforme competência conferida constitucionalmente. Ponderouse que como no caso a multa de 75% por falta de recolhimento do tributo devido estaria prevista no art. 44, I, da Lei nº 9.430, de 1996, com redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007, e que tal dispositivo não fora declarado inconstitucional ou ilegal, seria devida a sua aplicação. Ao final, a impugnação foi julgada improcedente, sendo mantida integralmente o crédito tributário constituído. Recurso Voluntário Em suma, são repisados os argumentos trazidos em sede de impugnação. Constata inicialmente o recorrente que fora estabelecido contratualmente que os pagamentos dos empréstimos ocorreriam em 96 parcelas mensais, iguais e sucessivas, Fl. 2982DF CARF MF 6 somente a partir do 49º mês a contar da data da celebração dos contratos. E ainda que, nesses pagamentos, seriam incluídos juros de 6% ao mês, capitalizados, e que esses juros seriam retroativos à data de concessão do mútuo. Deste modo argui que durante o período de carência (48 meses) não haveria qualquer pagamento. Isto é: não teriam sido auferidas quaisquer receitas durante todo esse período. Em contrapartida, evidencia que contrariando a vontade expressa nos contratos entre particulares, ante a inexistência de receitas financeiras, resolveu a fiscalização da RFB quantificar o valor dos juros, denominado variação monetária de modo impróprio, em função de previsões contratuais sobre juros moratórios. Entende o recorrente, então, que o lançamento é manifestamente improcedente, uma vez que não teria havido cobrança de juros nas citadas operações de mútuo. Reputou que embora incompreensível juridicamente, a fiscalização entendeu que a simples previsão de cobrança de juros, expressa nos contratos de mútuos celebrados pelo recorrente, por si só, lhe daria suporte para quantificar correspondentes receitas financeiras, mesmo que, nos contratos, estejam previstos prazo de carência, termo inicial e quantidade de prestações, e ocorrerem futuramente. Decorre daí que só se configuraria a obrigação pecuniária, inclusive para efeito de exigibilidade de juros, depois de transcorrido o prazo de carência – o que denota a inexistência de disponibilidade, quer jurídica, quer econômica, de renda/lucro que dê ensejo à incidência de IRPJ/CSLL. Ademais disso, a recorrente reitera suas razões, em idênticos termos à impugnação, acerca da cobrança da multa no percentual de 75%. Voto Conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado Relator Admissibilidade O recurso interposto é tempestivo e encontrase revestido das formalidades legais cabíveis, merecendo ser apreciado. Mérito De início, devemos elucidar a diferença conceitual que distancia os juros das variações monetárias. Fl. 2983DF CARF MF Processo nº 10280.721522/201415 Acórdão n.º 1201001.864 S1C2T1 Fl. 5 7 Os juros perfazem a remuneração do capital (dinheiro) emprestado durante um determinado período (tempo). A forma de aplicação de juros decorrentes da outorga de crédito, ou concessão de financiamento, deve ser definida prévia e adequadamente no contrato assinado entre as partes. A correção monetária é a recuperação do poder de compra do valor emprestado. Decorre da variação ocorrida entre o valor de compra e o valor pago em função da valorização ou desvalorização da moeda corrente. Em dado momento, há certa confusão e instabilidade quanto a aplicação destas definições à concretude do caso analisado. O trabalho fiscal é enviesado, em sua inteireza, sob o revestimento formal de que todas as verbas não contabilizadas, identificadas como receitas omitidas, seriam variações monetárias ativas. Apesar deste invólucro, o relatório fiscal indica, de modo sutil, vale dizer, que as atualizações monetárias vinculadas a quaisquer dos contratos de mútuo firmados seriam definidas e tratadas como juros. De outro modo, aquelas movimentações que não atreladas à um empréstimo entre interligadas ou semelhante, seriam reputadas definitivamente como variações monetárias ativas de fato. Há uma indução lógica que nos leva a essa conclusão, mas não é algo explícito e expresso, sejamos francos. Algo facilmente perceptível pela recorrente (entidade que realizou os contratos com interligadas), pela própria fiscalização e pelas autoridades julgadoras, mas não por leigos ou sujeitos alheios ao conhecimento do caso concreto em seus pormenores. Veja que o relatório fiscal inclusive traz a definição da sistemática de formação dos juros, bem como seu respectivo tratamento legal (fls. 2648): Fl. 2984DF CARF MF 8 Mas a seguir claramente atribui a estas verbas a qualidade de variações monetárias ativas, frustrando todo o entendimento anteriormente exposto: Neste passo, no entanto, devemos invocar o princípio da verdade material, para identificar se a recorrente foi incapaz de conhecer da matéria tributável em sua completude, ou seja, se o relatório fiscal e se todas as informações prestadas pela fiscalização não foram suficientes para o perfeito entendimento do objeto da autuação. Tal medida é respaldada por posicionamento amplamente adotado por este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, conforme os recentes julgados a seguir expostos: FALTA DE INDICAÇÃO DE FUNDAMENTAÇÃO LEGAL DA INFRAÇÃO. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. A fundamentação legal não se estabelece somente pela indicação do dispositivo legal a que se refere. Ela também compreende a descrição do fato imponível, daquele que retrata a ocorrência do Fl. 2985DF CARF MF Processo nº 10280.721522/201415 Acórdão n.º 1201001.864 S1C2T1 Fl. 6 9 fato gerador da obrigação correspondente, que, a meu ver, é de mais alto relevo do que a própria descrição legal, pois permite à outra parte o perfeito conhecimento do que lhe está sendo arrogado. (Acórdão nº 1401001.900 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 20/06/2017) LANÇAMENTO QUE CONTEMPLA A DESCRIÇÃO DOS FATOS GERADORES, A QUANTIFICAÇÃO DA BASE TRIBUTÁVEL E OS FUNDAMENTOS LEGAIS DO DÉBITO. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA OU DE FALTA DE MOTIVAÇÃO. O fisco, ao narrar os fatos geradores e as circunstâncias de sua ocorrência, a base tributável e a fundamentação legal do lançamento, fornece ao sujeito passivo todos os elementos necessários ao exercício da ampla defesa, não havendo o que se falar em prejuízo ao direito de defesa ou falta de motivação do ato, mormente quando os termos da impugnação permitem concluir que houve a prefeita compreensão do lançamento pelo autuado. (Acórdão nº 2402005.880 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 08/06/2017) Neste sentido tornase essencial verificar se o modo como se concretizou a fiscalização, de alguma forma preteriu o direito de defesa do contribuinte, sob pena de decretação de nulidade. Ocorre que prontamente na impugnação e também no Recurso Voluntário a ora Recorrente se manifesta neste sentido. Nitidamente o contribuinte registra o equívoco cometido pela fiscalização, mas relevao e superao para desenvolver devidamente sua argumentação de defesa, atacando a todo o custo a falta de contabilização dos juros previstos contratualmente. A descrição dos fatos e o trabalho fiscal de um modo geral, em um contexto amplo, suprem a ausência da menção expressa ao objeto. A própria postura do recorrente e o teor de suas peças de defesa elucidam tal fato e nos levam a tal conclusão. Por mais que tenha detectadose um dito lapso por parte da fiscalização, bastava uma interpretação lógica para a correta segregação do que fora definido como juros e do que fora caracterizado como variação monetária ativa. E deveras o recorrente lançou inferências que exorbitaram a literalidade do relatório fiscal, demonstrando total compreensão quanto aos fatos ensejadores do lançamento. Reforça tal assertiva inclusive a percepção de que o contribuinte não reitera a arguição de nulidade em seu recurso voluntário, restando silente quanto a este ponto e mais uma vez contestando os pontos da autuação de modo irretocável, revelando total envolvimento e domínio acerca da matéria impugnada. Fl. 2986DF CARF MF 10 De fato, o enquadramento legal apontado pela fiscalização fora centralizado somente no art. 375 do RIR/99, ou seja, reputouse a totalidade das verbas como variações monetárias ativas. Eis a dicção legal do referido dispositivo: “Art. 375. Na determinação do lucro operacional deverão ser incluídas, de acordo com o regime de competência, as contrapartidas das variações monetárias, em função da taxa de câmbio ou de índices ou coeficientes aplicáveis, por disposição legal ou contratual, dos direitos de crédito do contribuinte, assim como os ganhos cambiais e monetários realizados no pagamento de obrigações.” Enquanto isso a tratativa fiscal concernente aos juros, efetivamente, está prevista no art. 373 do RIR/99: “Art. 373. Os juros, o desconto, o lucro na operação de reporte e os rendimentos de aplicações financeiras de renda fixa, ganhos pelo contribuinte, serão incluídos no lucro operacional e, quando derivados de operações ou títulos com vencimento posterior ao encerramento do período de apuração, poderão ser rateados pelos períodos a que competirem.” Como bem salientou o v. acórdão recorrido, ambos os artigos legais estão dispostos na mesma seção dentro do Regulamento do Imposto de Renda, ou seja, as receitas financeiras de juros e as variações monetárias são tipificadas em subseções (I e II, respectivamente) da Seção IV relativa a “Outros Resultados Operacionais”. Assim, as duas verbas são consideradas essencialmente receitas operacionais e devem ser registradas na contabilidade de modo semelhante, salientese, seguindo a mesma sistemática. Neste albor, a letra da lei em ambos os casos confere menção expressa ao reconhecimento destas receitas, mais especificamente quanto ao momento exato de seu registro na contabilidade da entidade que sentiu tais movimentações em seu resultado. O art. 375 do RIR/99 ratifica tal assertiva de modo latente, através da expressão: “de acordo com o regime de competência”. Também o art. 373 do RIR/99 referese ao aspecto temporal do registro contábil, de forma um pouco mais discreta, vejamos: “quando derivados de operações ou títulos com vencimento posterior ao encerramento do período de apuração, poderão ser rateados pelos períodos a que competirem”. Veja que nas duas oportunidades a norma traz a imperatividade de princípio basilar da seara contábil, compulsando o reconhecimento das receitas pelo regime de competência. O princípio da competência impõe a inclusão das receitas e das despesas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente, quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento. Em outras palavras, determinase que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidas nos períodos a que se referem. A realização da receita pode se dar em período posterior, ou seja, o pagamento/recebimento pode ser feito no futuro, mas a partir do momento em que tais receitas Fl. 2987DF CARF MF Processo nº 10280.721522/201415 Acórdão n.º 1201001.864 S1C2T1 Fl. 7 11 se originarem, este é o fato gerador de seu reconhecimento e dali em diante devem impactar no resultado da entidade. Ainda que se reconheça o lapso cometido pela fiscalização, este entendimento quanto ao momento de reconhecimento das receitas operacionais é comum a ambos os artigos de lei e, consequentemente, a ambas as espécies de receita, não prejudicando de qualquer forma a identificação do objeto da autuação. Tanto assim o foi que, repita, o recorrente compreendeu exatamente o alcance do lançamento e se defendeu de maneira apropriada. Ocorre que especificamente quanto a este ponto o recorrente lança argumentos equivocados. Traz aqui os pontos centrais e principais de sua defesa. Argui que os pagamentos dos empréstimos ocorreriam em 96 parcelas mensais, iguais e sucessivas, somente a partir do 49º mês a contar da data da celebração dos contratos. Assim, haveria um prazo de carência de 4 anos (48 meses) a contar da data dos contratos de mútuo firmados. Do exposto, conclui que o anocalendário de 2010 fora abarcado por tal período de carência, considerando a assinatura dos contratos em 2008 e 2009. Neste período, portanto, não haveria que se falar em juros computados. Nitidamente, há, neste racional, total afronta ao princípio da competência e, além disso, às próprias disposições contratuais firmadas pelo recorrente. De início devemos sustentar que os contratos evidenciam a incidência de juros desde o seu firmamento, desconsiderando o período de carência como um fator impeditivo do computo destas receitas financeiras. Vejamos a cláusula terceira de todos os contratos de mútuo realizados, a qual, uma vez reproduzida pelo próprio recorrente, faz prova contra si: “(...) TERCEIRA A DEVEDORA pagará à CREDORA a dívida de que trata este mútuo, depois de vencido o prazo de carência anteriormente referido, em 96 (noventa e seis) prestações mensais, iguais e sucessivas, acrescidas dos juros de 6% (seis por cento) ao ano, computados inclusive no prazo de carência, capitalizados de acordo com a lei. (...)” Resta cristalino que os juros passariam a ser computados incluindo o período de carência, o que abrange o anocalendário de 2010, período alvo desta autuação. Fl. 2988DF CARF MF 12 Sob este prisma, ainda que o pagamento ocorra de fato apenas 4 anos depois, o computo dos juros desde o início do contrato impõe aqui a aplicação do regime da competência. Resgatando as definições quanto ao referido princípio, não há como negar que apesar do recebimento dos juros ocorrer apenas após o prazo de carência, os efeitos da transação já são sentidos desde o início do contrato, a partir do momento em que estes são computados. Desta maneira, devem estas receitas financeiras serem reconhecidas no resultado (e na contabilidade, por óbvio) nos períodos a que se referem seu computo, independentemente do tempo em que forem recebidas. A vontade materializada por meio do contrato estabelece aqui o momento exato em que as receitas financeiras devem ser reconhecidas. O recorrente simplesmente nega a própria disposição contratual e não mais apresenta qualquer prova que respalde seu suposto direito. Quanto as variações monetárias ativas, a fiscalização adota o mesmo racional, ou seja, considera o seu reconhecimento quando de fato ocorreram, seguindo o regime de competência, sem se opor a tal fato o recorrente. Uma vez apuradas estas receitas operacionais no anocalendário de 2010, simultaneamente há que se considerar a concretização da hipótese de incidência do IRPJ e da CSLL. Uma vez constatada a falta de contabilização destas receitas e o não recolhimento dos impostos, merece total guarida e procedência esta autuação. Assim, diante do todo analisado, entendo pela procedência pela procedência do lançamento. Multa de Ofício Quanto a multa de ofício aplicada, limitase o recorrente a pugnar pela confiscatoriedade e desproporcionalidade da penalidade. Ora, tal medida perfaz consequência fática do quanto disposto no art. 44, inciso I da Lei nº 9.430/96, in verbis: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (...)” A letra da lei é cristalina e o enquadramento do que ali está definido à concretude deste caso resta inequívoca. O recorrente, conforme demonstrado, deixa de Fl. 2989DF CARF MF Processo nº 10280.721522/201415 Acórdão n.º 1201001.864 S1C2T1 Fl. 8 13 contabilizar receitas, quando o deveria, e neste ato incorre naturalmente na falta de pagamento e na falta de declaração destes valores, tornando a declaração, deste modo, inexata. A exorbitância do percentual responde apenas a frustração do financiamento da máquina estatal, da atuação plena do Poder Público e, finalmente, da materialização dos direitos e deveres imantados na Magna Carta. Reputar que tal patamar avantajado ofenderia princípios constitucionais (princípio da vedação ao confisco e princípio da proporcionalidade) colocaria em xeque a validade do dispositivo legal supracitado, que se encontra em plena vigência e eficácia. Significaria, então, compulsar este julgador a uma análise voltada exclusivamente para a constitucionalidade da norma. Acatar tal alegação do recorrente, reputandoa correta, representaria, em ultima ratio, atestar a inconstitucionalidade do referido artigo. É cediço, no entanto, que este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais não deve se pronunciar quanto a inconstitucionalidade da lei. Inclusive este entendimento se encontra sumulado e consolidado no âmbito deste órgão administrativo: Súmula CARF nº 2: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Sob pena de ofensa ao princípio da separação dos poderes, o qual legitima a organização do Estado de Direito e, por derradeiro, atribuindo a competência para tal ato ao Poder Judiciário, voto por rejeitar as alegações do recorrente quanto a redução da multa de ofício. Lançamento Reflexo Aplicamse ao lançamento de CSLL as razões de decidir relativas ao lançamento de IRPJ, haja vista ser reflexo deste. Conclusão Diante de todo o exposto, CONHEÇO do RECURSO VOLUNTÁRIO para, no MÉRITO, NEGARLHE PROVIMENTO. É como voto. (assinado digitalmente) Luis Fabiano Alves Penteado Fl. 2990DF CARF MF 14 Fl. 2991DF CARF MF
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