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Numero do processo: 12448.900800/2012-02
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 23 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Jun 12 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Ano-calendário: 2003
ÔNUS DA PROVA. DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. DIREITO DE CRÉDITO. LIQUIDEZ E CERTEZA. ARTIGOS 16 E 17 DO DECRETO Nº 70.235/1972.
Nos processos em que as declarações de compensação não são homologadas por constar perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil a utilização integral do crédito para quitação de outro débito, é ônus do Contribuinte apresentar as provas necessárias para demonstrar a liquidez e certeza de seu pedido, aplicando-se o artigo 373, inciso I do Código de Processo Civil.
Recurso Voluntário Negado.
Direito Creditório Não Reconhecido.
Numero da decisão: 3402-006.420
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Rodrigo Mineiro Fernandes, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Pedro Sousa Bispo, Cynthia Elena de Campos, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra (Presidente).
Nome do relator: WALDIR NAVARRO BEZERRA
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Ano-calendário: 2003 ÔNUS DA PROVA. DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. DIREITO DE CRÉDITO. LIQUIDEZ E CERTEZA. ARTIGOS 16 E 17 DO DECRETO Nº 70.235/1972. Nos processos em que as declarações de compensação não são homologadas por constar perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil a utilização integral do crédito para quitação de outro débito, é ônus do Contribuinte apresentar as provas necessárias para demonstrar a liquidez e certeza de seu pedido, aplicando-se o artigo 373, inciso I do Código de Processo Civil. Recurso Voluntário Negado. Direito Creditório Não Reconhecido.
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decisao_txt : Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra - Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Rodrigo Mineiro Fernandes, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Pedro Sousa Bispo, Cynthia Elena de Campos, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra (Presidente).
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DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. DIREITO DE CRÉDITO. LIQUIDEZ E CERTEZA. ARTIGOS 16 E 17 DO DECRETO Nº 70.235/1972. Nos processos em que as declarações de compensação não são homologadas por constar perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil a utilização integral do crédito para quitação de outro débito, é ônus do Contribuinte apresentar as provas necessárias para demonstrar a liquidez e certeza de seu pedido, aplicandose o artigo 373, inciso I do Código de Processo Civil. Recurso Voluntário Negado. Direito Creditório Não Reconhecido. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Rodrigo Mineiro Fernandes, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Pedro Sousa Bispo, Cynthia Elena de Campos, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra (Presidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 44 8. 90 08 00 /2 01 2- 02 Fl. 139DF CARF MF Processo nº 12448.900800/201202 Acórdão n.º 3402006.420 S3C4T2 Fl. 3 2 Relatório Trata de Recurso Voluntário contra decisão da DRJ, que considerou improcedente a Manifestação de Inconformidade contra despacho decisório, nos seguintes termos: (...) PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO INTEGRALMENTE UTILIZADO PARA COMPENSAÇÃO DE DÉBITOS DA CONTRIBUINTE. A compensação de créditos tributários (débitos do contribuinte) só pode ser efetuada com crédito líquido e certo do sujeito passivo, nas condições e sob as garantias estipuladas em lei; no caso, o direito creditório pleiteado foi utilizado integralmente para compensar débitos da contribuinte. (...) Cientificada da decisão de 1ª, a contribuinte apresentou Recurso Voluntário com os seguintes argumentos: i) Que presta serviços de reboque de navios às empresas transportadoras marítimas (armadores) sediadas e domiciliadas no exterior, cujas embarcações são oriundas do estrangeiro e que atracam em diversos portos brasileiros para importação e exportação de mercadorias; ii) Que apurou débito inferior ao declarado originalmente na DCTF e no Dacon do período, mas posteriormente retificou o Dacon para demonstrar a existência do crédito alegado; iii) Que o crédito pleiteado seria decorrente de pagamento indevido, referente à receita de prestação de serviço de pessoa jurídica domiciliada no exterior, no caso armador estrangeiro; iv) Que a Consulta nº 185, de 28/06/2007, objeto do processo nº 10768.005618/200561, confirma o entendimento de nãoincidência do PIS/Cofins sobre as receitas decorrentes da prestação de serviço a pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no estrangeiro. É o relatório. Fl. 140DF CARF MF Processo nº 12448.900800/201202 Acórdão n.º 3402006.420 S3C4T2 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Waldir Navarro Bezerra, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 3402006.419, de 23de abril de 2019, proferido no julgamento do Processo nº 12448.900798/201263. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 3402006.419): " Afirma a Recorrente que o valor de R$ 59.507,84 não se trata de débito de PIS, mas de crédito originado de recolhimento indevido, uma vez que sobre a receita de prestação de serviços a pessoa jurídica domiciliada no exterior não incidem PIS/COFINS, conforme Solução de Consulta nº 185/2007. Observou, ainda, que apurou débito inferior ao declarado originalmente na DCTF e no Dacon, retificando posteriormente o Dacon para demonstrar a existência do crédito, sendo que toda a sua documentação contábilfiscal demonstram a origem do direito de compensação. Da análise dos autos, verifico que consta às fls. 26 o comprovante de arrecadação do valor de R$ 105.657,40 (cento e cinco mil, seiscentos e cinquenta e sete reais e quarenta centavos), referente ao período de apuração de 31/12/2013, recolhido em data de 15/01/2004. Por sua vez, a Solução de Consulta nº 185/2007 foi anexada às fls. 2742, pela qual a Autoridade Administrativa adotou o posicionamento da Solução de Consulta Interna nº 12, de 13/06/2007, que analisou o vínculo negocial estabelecido entre o agente marítimo e o transportador estrangeiro, efetivado através de representante no País sob a luz dos dispositivos legais referentes à nãoincidência das contribuições no regime de apuração nãocumulativa, concluindo pela nãoincidência desde que: i) o representante agir como mero mandatário, nos termos previstos pelo artigo 653 da Lei nº 10.406/2002 (Código Civil) e, ii) se ocorrer efetivo ingresso de divisas no País, comprovando o nexo causal entre o pagamento recebido e a prestação de serviços a pessoa física ou jurídica domiciliada no exterior. Em suma, a Recorrente tem como fundamento principal de defesa a origem do direito creditório pleiteado, sustentado com a Solução de Consulta já mencionada. No entanto, a conclusão do I. Julgador de 1ª Instância decorre do fato de constar dos Sistemas da Receita Federal do Brasil que o valor objeto deste pedido fora reconhecido e integralmente homologado em outro processo, restando comprovado que não resta crédito disponível para a restituição pleiteada nestes autos. Fl. 141DF CARF MF Processo nº 12448.900800/201202 Acórdão n.º 3402006.420 S3C4T2 Fl. 5 4 Vejamos a tela de fls. 50 que serviu de base para a decisão recorrida: Portanto, a discussão sobre a origem do direito creditório resultante do recolhimento indevido pleiteado pela Contribuinte não é questão controversa nos autos, resultando na análise apenas quanto à utilização deste mesmo crédito em outro Pedido de Compensação. E, de fato, o valor de R$ 59.507,84, pleiteado através do PERD/COMP nº 04970.83046.281008.1.3.042893, consta como homologado em sua totalidade em data de 03/10/2009, resultando na ausência de saldo remanescente quanto ao Pedido de Restituição nº 12731.79648.261007.1.2.045412, objeto deste processo. Aplicase, neste caso, o artigo 373, inciso I do Código de Processo Civil, que atribui o ônus da prova ao autor quanto ao fato constitutivo de seu direito, bem como a incidência do artigo 16, § 4º, do Decreto nº 70.235/72. Fl. 142DF CARF MF Processo nº 12448.900800/201202 Acórdão n.º 3402006.420 S3C4T2 Fl. 6 5 Observo ainda que não consta nos autos sequer indício de que a compensação informada pelo Sistema da Receita Federal do Brasil não esteja correta. Neste sentido, foi proferido pela 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais1 o Acórdão nº 9303007.218. Por este motivo, considerando que a Contribuinte não trouxe aos autos prova de eventual equívoco das informações apresentadas no processo, tampouco argumentou sobre a homologação retratada pelas telas acima colacionadas, não há como amparar seus argumentos, devendo ser mantida a decisão recorrida. 3. Dispositivo Ante o exposto, conheço e nego provimento ao Recurso Voluntário. É como voto." Importa registrar que nos autos ora em apreço, a situação fática e jurídica encontra correspondência com a verificada no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o colegiado decidiu por conhecer do Recurso Voluntário e negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra 1 ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Data do Fato Gerador: 20/04/2007 DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. Incumbe ao sujeito passivo a demonstração, acompanhada das provas hábeis, da composição e a existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa. Fl. 143DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10707.001235/2008-81
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 09 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Jun 12 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2004, 2005, 2006, 2007
IMPUGNAÇÃO NÃO CONHECIDA. INTEMPESTIVIDADE.
Não cabe tomar conhecimento de impugnação intempestiva, apresentada fora do prazo de trinta dias previsto no art. 15 do Decreto n° 70.235, de 06 de março de 1972.
NOTIFICAÇÃO POR VIA POSTAL. VALIDADE. SÚMULA CARF Nº 9.
Conforme Súmula CARF nº 9, é válida a ciência da notificação por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário.
Numero da decisão: 2202-005.066
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente
(assinado digitalmente)
Martin da Silva Gesto - Relator
Participaram do julgamento os Conselheiros Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Thiago Duca Amoni (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto
Nome do relator: MARTIN DA SILVA GESTO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Exercício: 2004, 2005, 2006, 2007 IMPUGNAÇÃO NÃO CONHECIDA. INTEMPESTIVIDADE. Não cabe tomar conhecimento de impugnação intempestiva, apresentada fora do prazo de trinta dias previsto no art. 15 do Decreto n° 70.235, de 06 de março de 1972. NOTIFICAÇÃO POR VIA POSTAL. VALIDADE. SÚMULA CARF Nº 9. Conforme Súmula CARF nº 9, é válida a ciência da notificação por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson - Presidente (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto - Relator Participaram do julgamento os Conselheiros Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Thiago Duca Amoni (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto
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INTEMPESTIVIDADE. Não cabe tomar conhecimento de impugnação intempestiva, apresentada fora do prazo de trinta dias previsto no art. 15 do Decreto n° 70.235, de 06 de março de 1972. NOTIFICAÇÃO POR VIA POSTAL. VALIDADE. SÚMULA CARF Nº 9. Conforme Súmula CARF nº 9, é válida a ciência da notificação por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Relator Participaram do julgamento os Conselheiros Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Thiago Duca Amoni (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 70 7. 00 12 35 /2 00 8- 81 Fl. 226DF CARF MF Processo nº 10707.001235/200881 Acórdão n.º 2202005.066 S2C2T2 Fl. 227 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto nos autos do processo nº 10707.001235/200881, em face do acórdão nº 1323.072, julgado pela 2ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento no Rio de Janeiro (DRJ/RJOII), em sessão realizada em 23 de janeiro de 2009, no qual os membros daquele colegiado entenderam por não conhecer da impugnação apresentada pela contribuinte. Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da DRJ de origem que assim os relatou: “Contra o Contribuinte em epígrafe foi lavrado o Auto de Infração de fls.1,2, 12 a 17 em virtude da apuração das seguintes infrações: 1) DEDUÇÃO INDEVIDA DE DEPENDENTE — glosa de deduções com dependentes pleiteadas indevidamente nos exercícios 2004 a 2007, com aplicação de multa de 150% sobre o imposto apurado, conforme Termo de Constatação de fls. 3 a 11. Enquadramento legal: art. 11, §3°, do Decretolei n° 5.844, de 1943, art. 73 e 83, inciso II, do RIR/1999, art. 8° da Lei n° 9.250, de 1995, c/c art. 2° da Medida Provisória n° 22/2002, convertida na Lei n° 10.451, de 2002; 2) DEDUÇÃO INDEVIDA DE DESPESAS MÉDICAS — glosa de deduções com despesas médicas pleiteadas indevidamente nos exercícios 2004 a 2007, com aplicação de multa de 150% sobre o imposto apurado, conforme Termo de Constatação de fls. 3 a 11. Enquadramento legal: art. 11, §3°, do Decretolei n° 5.844, de 1943, e arts. 73 e 80 do RIR/1999; 3) DEDUÇÃO INDEVIDA DE DESPESAS COM INSTRUÇÃO — glosa de deduções de despesas com instrução, pleiteadas indevidamente; nos exercícios 2004 a 2007, com aplicação de multa de 150% sobre o imposto apurado, conforme Termo de Constatação de fls. 3 a 11. Enquadramento legal: art. 11, §3 0, do Decretolei n° 5.844, de 1943, art. 8°, inciso II, alínea "b" da Lei d 9.250, de 1995, c/c art. 2° da Medida Provisória n° 22/2002, convertida na Lei d 10.451, de 2002; 4) DEDUÇÃO INDEVIDA DE PREVIDÊNCIA PRIVADA/FAPI — redução indevida da base de cálculo com despesas de previdência privada pleiteadas indevidamente exercícios 2004 a 2007, com aplicação de multa de 150% sobre o imposto. apurado, conforme Termo de Constatação de fls. 3 a 11. Enquadramento legal: art. 11, §3°, do Decretolei n° 5.844, de 1943, art. 4% inciso V, da Lei n° 9.250, de 1995, art. 11 da Lei n° 9.532, de 1997, arts. 73, 82 e § 1% do RIR/1999, e art. 61 da Medida Provisória n° 2.15835. Sobre o imposto apurado, no valor de R$ 31.393,90, foi aplicada multa de 150% e juros de mora regulamentares perfazendo um total de R$ 88.283,3 1. Fl. 227DF CARF MF Processo nº 10707.001235/200881 Acórdão n.º 2202005.066 S2C2T2 Fl. 228 3 Após cientificado do Auto de Infração, o contribuinte apresentou em 22/10/2008 a impugnação de fls 55 a 61, valendose, em síntese, dos seguintes argumentos: que não houve a constituição do crédito tributário, com as respectivas multas por ausência de formalidade essencial para sua constituição, que é a devida notificação do sujeito passivo. Alega que um vizinho tomou ciência do auto de infração e que só o comunicou e entregou o auto de infração em 30/09/2008, apesar de ter recebido em 26 de agosto de 2008. Afirma que a notificação pessoal do sujeito passivo é de suma importância e fundamental para que se tenha a constituição definitiva do lançamento tributário, além de assegurar o devido processo legal calcado nos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Menciona doutrina e jurisprudências. Ao final requer o cancelamento do auto de infração, a fim de afastar os seus efeitos, e devolvendo em favor do contribuinte novo prazo de 30 dias por meio de nova notificação no intuito de ser exercido o direito de optar pelo recolhimento a vista ou parcelado com as reduções legais, ou apresentar defesa em face do lançamento. À fl.90 foi juntada cópia do aviso de recebimento referente ao auto de infração.” A DRJ de origem entendeu por não conhecer da impugnação apresentada, em razão da intempestividade da mesma. A contribuinte apresentou Recurso Voluntário às fls. 206/218, alegando, em suma, a nulidade da intimação, tendo em vista que quem assinou a Carta AR teria sido o vizinho, de modo que a contribuinte só teve efetiva ciência no dia 30/09/2008. Assim, postulou o acolhimento do recurso, para que houvesse o cancelamento da notificação do Auto de Infração em questão, possibilitando à contribuinte novo prazo de trinta dias para apresentação de defesa ou pagamento do crédito lançado. É o relatório. Voto Conselheiro Martin da Silva Gesto Relator O recurso voluntário foi apresentado dentro do prazo legal, reunindo, ainda, os demais requisitos de admissibilidade. Portanto, dele conheço. Preliminarmente, verificase que impugnação apresentada não foi conhecida pela autoridade julgadora de primeira instância face a intempestividade da mesma. Na ocasião, foi compreendido pela DRJ de origem que: “O contribuinte apresentou sua impugnação em 22 de outubro de 2008, insurgindose contra o lançamento, no tocante à formalidade do crédito tributário, uma vez que a ciência do lançamento foi dada a terceiro. [...] Fl. 228DF CARF MF Processo nº 10707.001235/200881 Acórdão n.º 2202005.066 S2C2T2 Fl. 229 4 À fl.90, consta aviso de recebimento, datado de 26/08/2008, enviado para a Rua Tras os Montes,l,casa 11, Vista Alegre. Tal endereço, coincide com o constante do extrato CPF/Consulta de fl.95.” Tendo sido suscitada como preliminar a tempestividade da impugnação foi analisada a questão no acórdão recorrido, tendo compreendido a DRJ de origem corretamente que a intimação realizada foi plenamente válida. Assim, tendo sido apresentada a peça de defesa fora do prazo previsto no artigo 15 do Decreto n° 70.235/72, resta caracterizada a sua intempestividade. Entendo que não assiste razão à recorrente. O artigo 15 do Decreto n.º 70.235/1972 dispõe sobre o prazo para interposição de impugnação da exigência pela lavratura de auto de infração: Art. 15. A impugnação, formalizada por escrito e instruída com os documentos em que se fundamentar, será apresentada ao órgão preparador no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data em que for feita a intimação da exigência. No presente caso, a ciência se deu por via postal comprovada por carta com aviso de recebimento (AR) com data de 26/08/2008, consoante extrato dos Correios, de fl. 100. A impugnação, às fls. 108/120 foi protocolizada em 22/10/2008, ultrapassado, portanto, o prazo legal previsto para a interposição do recurso, que é de trinta dias. O art. 23, inciso II, do Decreto n.º 70.235/72 autoriza a intimação por via postal, com prova do recebimento, in verbis: Art. 23. Farseá a intimação: (...) II por via postal, telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova de recebimento no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo; (Redação dada pelo art. 67 da Lei n.º 9.532/1997) Por sua vez, o §2º do art. 23 do Decreto n.º 70.235/72 trata da data do recebimento da intimação por via postal, vejamos: § 2° Considerase feita a intimação: (...) II no caso do inciso II do caput deste artigo, na data do recebimento ou, se omitida, quinze dias após a data da expedição da intimação; Ainda, o inciso I do § 4º do art. 23 do Decreto n.º 70.235/72 refere que deve ser considerado como domicílio tributário do sujeito passivo o endereço postal por ele fornecido, para fins cadastrais, à administração tributária, in verbis: Fl. 229DF CARF MF Processo nº 10707.001235/200881 Acórdão n.º 2202005.066 S2C2T2 Fl. 230 5 § 4º Para fins de intimação, considerase domicílio tributário do sujeito passivo: I o endereço postal por ele fornecido, para fins cadastrais, à administração tributária; e (grifouse) Alega a recorrente que não foi ela quem firmou o AR, ensejando a nulidade da intimação. Todavia, o domicílio tributário da contribuinte era, conforme se depreende das Declarações de Ajuste Anual (exercícios 2004, 2005, 2006, 2007), de fls. 40, 48, 56 e 64, a “Rua Tras os Montes, n.º 01, casa 11, Bairro Vista Alegre, no Rio de Janeiro/RJ, CEP n.º 21230530” que coincide com o endereço para o qual foi enviada via postal a intimação. Ademais, verificase que em 11/02/2008 a contribuinte recebeu intimação por carta AR durante o procedimento fiscal no endereço “Rua Tras os Montes, n.º 01, casa 11, Bairro Vista Alegre, no Rio de Janeiro/RJ, CEP n.º 21230530”, conforme fl. 72 dos autos. Por fim, conforme consulta datada de 09/01/2009, de fl. 184 o endereço da contribuinte cadastrado junto a Receita Federal do Brasil persiste o mesmo, vejamos: Comprovado que o endereço para o qual foi enviada via postal a intimação coincide com o endereço postal por ela fornecida à Receita Federal do Brasil, afastase a nulidade nesse aspecto. Assim, quanto ao fato de que o aviso de recebimento não tenha sido firmado pela própria contribuinte, o entendimento é que é regular o recebimento do AR por qualquer pessoa que se encontre em seu domicílio fiscal. Neste sentido segue jurisprudência: INTIMAÇÃO ENVIADA AO DOMICÍLIO FISCAL – REGULARIDADE. A intimação por via postal considerase perfeita quando o AR tenha sido encaminhado para o domicílio fiscal do contribuinte, ainda que recebido pelo porteiro. (Acórdão n.º 10806.254, Sessão de 18/10/2000) Este entendimento também consta na Súmula nº 09 do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), que deve ser observada pelos Conselheiros, nos termos do art. 72 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF: Fl. 230DF CARF MF Processo nº 10707.001235/200881 Acórdão n.º 2202005.066 S2C2T2 Fl. 231 6 SÚMULA CARF Nº 9: É válida a ciência da notificação por via postal realizada no domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário. Não há, portanto, o que se falar em qualquer tipo de nulidade no ato notificatório, já que a contribuinte foi notificada regularmente, conforme previsto no art. 23, inciso II do Decreto nº 70.235/72. Assim, entendo por intempestiva a impugnação apresentada. No processo administrativo fiscal, decorrido o lapso temporal previsto em lei sem que ocorra a apresentação da Impugnação, não se instaura o litígio, tal como estipulado no art. 14 do Decreto n.º 70.235/1972, não merecendo reforma o acórdão recorrido. Ante o exposto, voto por negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Relator Fl. 231DF CARF MF
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Numero do processo: 10283.902063/2008-92
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu May 16 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Tue Jul 02 00:00:00 UTC 2019
Numero da decisão: 1301-000.689
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por maioria de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. Vencidos o Conselheiro Nelso Kichel que votou por dar provimento parcial ao recurso voluntário determinar o retorno dos autos à unidade de origem para reinício do exame do mérito do pedido, superando o óbice da retificação da DCTF, se fosse o caso, apurasse a liquidez e certeza do crédito pleiteado, e o Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto que votou por rejeitar a realização de diligência.
(assinado digitalmente)
Fernando Brasil de Oliveira Pinto - Presidente
(assinado digitalmente)
José Eduardo Dornelas Souza - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Roberto Silva Júnior, José Eduardo Dornelas Souza, Nelso Kichel, Carlos Augusto Daniel Neto, Giovana Pereira de Paiva Leite, Amélia Wakako Morishita Yamamoto, José Roberto Adelino da Silva (suplente convocado) e Fernando Brasil de Oliveira Pinto (Presidente). Ausente a Conselheira Bianca Felícia Rothschild, substituída pelo Conselheiro José Roberto Adelino da Silva.
Nome do relator: JOSE EDUARDO DORNELAS SOUZA
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Resolvem os membros do colegiado, por maioria de votos, em converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. Vencidos o Conselheiro Nelso Kichel que votou por dar provimento parcial ao recurso voluntário determinar o retorno dos autos à unidade de origem para reinício do exame do mérito do pedido, superando o óbice da retificação da DCTF, se fosse o caso, apurasse a liquidez e certeza do crédito pleiteado, e o Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto que votou por rejeitar a realização de diligência. (assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto Presidente (assinado digitalmente) José Eduardo Dornelas Souza Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Roberto Silva Júnior, José Eduardo Dornelas Souza, Nelso Kichel, Carlos Augusto Daniel Neto, Giovana Pereira de Paiva Leite, Amélia Wakako Morishita Yamamoto, José Roberto Adelino da Silva (suplente convocado) e Fernando Brasil de Oliveira Pinto (Presidente). Ausente a Conselheira Bianca Felícia Rothschild, substituída pelo Conselheiro José Roberto Adelino da Silva. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 02 83 .9 02 06 3/ 20 08 -9 2 Fl. 332DF CARF MF Processo nº 10283.902063/200892 Resolução nº 1301000.689 S1C3T1 Fl. 333 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte acima identificado contra o acórdão nº 0119.838, proferido pela 3ª Turma da DRJ/BEL que, ao apreciar a Manifestação de Inconformidade apresentada, entendeu, por unanimidade de votos, julgála improcedente. Por bem descrever o ocorrido, valhome do relatório elaborado por ocasião do julgamento de primeira instância, a seguir transcrito: Tratase de declaração de compensação transmitida em 30/07/2004 pela contribuinte acima identificada, na qual indicou crédito de R$ 120.213,13, resultante de pagamento indevido ou a maior originário de DARF relativo à receita de Código 2484, do período de apuração de 31/12/2003, no valor originário de R$ 226.312,52. A Delegacia de origem, em. análise datada de 18.07.2008 (fl, 06), constatou que "a partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP .(...) foram localizados um ou mais pagamentos (...), mas integralmente utilizados para a quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMF'". Assim, não homologou a compensação declarada. Cientificada em 31/07/2008, a interessada. apresentou, em 19.08.2008, manifestação de inconformidade na qual alega'(fls. 10/13): "(...) a Recorrente procedeu a compensação dos valores recolhidos a maior indevidamente a titulo de IRPJ e CSLL, visto que além de proceder o recolhimento indevido a maior, por algum lapso, não retificou as DCTF:s para que o sistema da Receita Federal do Brasil aloque em seus sistemas o valor correto dos débitos/pagamentos. Portanto, no momento da realização da PER/DCOMP, o sistema informatizado da Receita Federal do Brasil não visualizou o pagamento a maior, a medida em que o período compensado, permanecia como o valor devido, ou seja, o valor declarado erroneamente. Tendo em vista tal despacho e visando sanar as irregularidades, bem como ver deferido o seu pedido , de restituição, a recorrente transmitiu, em 13 08 2008, DCTF retificadora, com o valor devido a época da primeira transmissão. (...) Portanto, ilustríssimo julgador, no caso em tela não há que se falar em manutenção do débito, visto que o simples erro formal no preenchimento da declaração não é causa geradora de débitos Fl. 333DF CARF MF Processo nº 10283.902063/200892 Resolução nº 1301000.689 S1C3T1 Fl. 334 3 tributários, e é neste diapasão que se torna possível a retificação da DCTF. (...) Como já narrado anteriormente, a própria Receita Federal do Brasil da a possibilidade ao contribuinte que por algum equivoco errou no preenchimento da DCTF, em retificála. (...) Portanto, Ilustre examinador, visando à imediata regularização da situação fiscal da empresa, bem como pela legislação supra, a recorrente retificou as DCTFs, sem ferir nenhum artigo da Instrução Normativa 786, de 19 de novembro de 2007, para tanto a recorrente retificou suas DCTFs, para o valor que realmente era devido, sendo assim, não há que se falar em manutenção dos débitos ora exigidos pelo despacho decisório discutido na presente demanda. Cumpre ainda mencionar, a titulo de quaisquer possibilidades de ser interpretado a possibilidade de inclusão de multa à recorrente, que no caso em tela é cabível o instituto da denúncia espontânea, explicita no art. 138 do Código Tributário Nacional. (...) O objetivo da norma é estimular o contribuinte infrator a colocar se em situação de regularidade, resgatando as pendências deixadas e ainda desconhecidas por parte do fisco, com o que este recebe o que lhe deveria ter sido pago e cuja satisfação, não fosse a iniciativa do contribuinte, talvez jamais ocorresse. Resta então configurada a exclusão de multa no caso em tela, posto que o fisco só obteve ciência por causa do pedido de restituição formulado pelo contribuinte. (...) Assim, dissecado o tema sobre tal despacho decisório, resta comprovado que não deve prosperar tal decisão, não restando outra alternativa ao recorrente senão ingressar com a presente manifestação de inconformidade. (...)" É o relatório. Naquela oportunidade, a r.turma julgadora julgou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada, cujo julgamento se encontra sintetizado pela seguinte ementa: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2004 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. ÔNUS DA PROVA. Fl. 334DF CARF MF Processo nº 10283.902063/200892 Resolução nº 1301000.689 S1C3T1 Fl. 335 4 Considerase não homologada a declaração de compensação apresentada pelo sujeito passivo quando não reste comprovada a existência do crédito apontado corno compensável. Nas declarações de compensação referentes a pagamentos indevidos ou a maior o contribuinte possui o ônus de prova do seu direito. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Ciente em 03/02/2011 do acórdão recorrido (fls. 55), e com ele inconformado, a recorrente apresentou em 03/03/2011 (fl.56 e seguintes), tempestivamente, recurso voluntário, através de patrono legitimamente constituído, pugnando por provimento, onde apresenta argumentos que serão a seguir analisados. É o relatório. Voto Conselheiro José Eduardo Dornelas Souza, Relator Atendidos os requisitos de admissibilidade, conheço do apelo. Porém, do exame dos autos, considero que o processo ainda não reúne condições de julgamento, pelos motivos que passo a expor. Da Análise do Recurso Voluntário Resumo dos Fatos Inferese dos autos que a Recorrente reivindica a titularidade de direito creditório, no valor de R$ 120.213,13, oriundo de recolhimento indevido, a título de estimativa mensal de CSLL, período de apuração de 12/03, apurado por balancete de suspensão/redução, para utilizálo por compensação com débitos próprios. Ao analisar seu pleito, a Autoridade Fiscal prolatora do Despacho Decisório, não reconheceu o direito creditório e conseqüentemente não homologou a compensação declarada, por constatar que "a partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP (...) foram localizados um ou mais pagamentos (...), mas integralmente utilizados para a quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP". Inconformada com o Despacho Decisório, a Recorrente apresentou Manifestação de Inconformidade, sendo julgada improcedente pelo Colegiado da DRJ, sob os seguintes argumentos: Assim, é condição necessária — embora não suficiente — a que o sujeito passivo pleiteie o reconhecimento de direito creditório referente a débito confessado em DCTF a apresentação prévia de nova declaração, retificando a confissão anterior. Esclareçase, ainda em relação ao tema, que a. desconstituição do crédito tributário formalizado pelo pagamento e confessado em DCTF não depende apenas da apresentação de DCTFRetificadora, mas igualmente da Fl. 335DF CARF MF Processo nº 10283.902063/200892 Resolução nº 1301000.689 S1C3T1 Fl. 336 5 comprovação inequívoca, por meio de documentos hábeis e idôneos, de que houve pagamento indevido ou a maior. Ou seja, para ilidir a presunção de legitimidade do crédito tributário vinculado ao pagamento antecipado (lançamento por homologação), não se mostra suficiente que o contribuinte promova a redução do débito confessado em DCTF (o que, vale destacar,' somente veio a fazer após ser cientificado do despacho decisório objeto de recurso), fazendose necessário,'notadamente, que demonstre, por intermédio de sua escrita contábil e fiscal e respectiva documentação de suporte, que o pagamento foi realmente indevido. Desta feita, ambas as condições devemse encontrar presentes para que possa ser reconhecida a pretensão creditória do sujeito passivo. No caso concreto, deixou a contribuinte de trazer aos autos qualquer prova do direito que invoca, resultando notória a impossibilidade de ser acolhida sua pretensão. Notese que a DRJ, apesar de entender pela necessidade de apresentação prévia ao despacho decisório de nova declaração, avançou na análise do pleito, e entendeu que o contribuinte não trouxe prova do direito invocado, especialmente escrita contábil e fiscal e respectiva documentação que a suporte, para demonstrar que o pagamento foi realmente indevido. Ainda irresignado com a decisão que lhes foi desfavorável, o contribuinte apresenta recurso voluntário a este Conselho, juntando na oportunidade novos documentos, e ao final, pugna pela procedência do recurso. Do Pedido patrono julgamento em conjunto com outros processos Através de petição de fls., o patrono informa existirem outros processos em tramitação no CARF, não distribuídos a este Relator, requerendo a reunião e o julgamento em conjunto com aqueles. Ocorre que o art. 6º do Anexo II do RICARF somente possibilita a vinculação de processos para julgamento em conjunto, não determinando que assim seja realizado, sendo certo que os pedidos de julgamento conjunto somente se justificam caso haja uma relação de prejudicialidade no julgamento de alguns processos em relação ao julgamento do processo principal, não sendo, a meu ver, o que ocorre nos presentes autos. Por outro lado, o escopo de julgamento em conjunto é a reunião de processos que tem como objeto acelerar o julgamento, não sendo, portanto, razoável a retirada de pauta de processos que se encontram em condição de julgamento. Desta forma, rejeito o pedido de solicitação de distribuição de processos conexos, por não haver relação de prejudicialidade com os incluídos em pauta. Da Juntada de Novos Documentos em sede de Recurso Voluntário Antes da análise dos argumentos de defesa, deve ser submetida à deliberação deste Colegiado a possibilidade de juntada de novos documentos, e que eles sejam admitidos como provas no processo. Esses documentos foram acostados ao processo quando da apresentação do recurso voluntário. Fl. 336DF CARF MF Processo nº 10283.902063/200892 Resolução nº 1301000.689 S1C3T1 Fl. 337 6 Em relação a esse ponto, é importante destacar a disposição contida no §4º do art. 16 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, que trata da apresentação da prova documental na impugnação. De fato, o §4o do art. 16 do PAF determina a apresentação da prova documental na impugnação, precluindo o direito de fazêlo em outro momento processual. No caso, penso ser possível se admitir a análise das novas provas, aplicandose a exceção do inciso “c” do mesmo dispositivo legal, que permite a juntada de provas em momento posterior quando se destine a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. Afinal, o contribuinte trouxe na defesa inicial os documentos que julgava aptos a comprovar seu direito, e, ao analisar os argumentos do julgador a quo que não lhe foram favoráveis, trouxe provas complementares. Além disso, há ainda um outro fundamento para aceitar a juntada de tais documentos: não se deve cercear o direito de defesa do contribuinte, impedindoo de apresentar provas, sob pena de ferir os princípios da verdade material, da racionalidade, da formalidade moderada e o da própria efetividade do processo administrativo fiscal. De acordo com o Decreto nº 70.235, artigo 18, pode o julgador, espontaneamente, em momento posterior à impugnação, determinar a realização de diligência, com a finalidade de trazer aos autos outros elementos de prova para seu livre convencimento e motivação da sua decisão. Se isso é verdade, porque não poderia o mesmo julgador aceitar provas, ainda que trazidas aos autos após à Impugnação, quando verificado que são pertinentes ao tema controverso e servirão para seu livre convencimento e motivação da decisão? A rigidez na aceitação de provas apenas em um momento processual específico não se coaduna com a busca da verdade material, que é indiscutivelmente informador do processo administrativo fiscal pátrio. Desse modo, existindo matéria controvertida, e o contribuinte traz novos elementos de provas relacionados a essa matéria, de modo a corroborar, materialmente, com o desfecho da lide, ainda que as apresente após sua Impugnação. não deve estas provas ser desconsideradas pelo julgador administrativo, em face do momento processual em que ocorre a juntada. Notese que a possibilidade de conhecer de elementos de provas trazidos posteriormente à impugnação, não só representa uma medida de racionalização e maximização da efetividade jurisdicional do processo administrativo fiscal, como também representa um positivo reflexo na redução da judicialização de litígios tributários. Logo, embora o artigo 16, §4ª, de tal Decreto estabeleça regra atribuindo o efeito de preclusão a respeito de prova documental, isso não impede, segundo meu modo de ver, com base em outros princípios contemplados no processo administrativo fiscal, em especial os princípios da verdade material, da racionalidade e o da própria efetividade do processo administrativo fiscal, que o julgador conheça e analise novos documentos apresentados após a defesa inaugural. Fl. 337DF CARF MF Processo nº 10283.902063/200892 Resolução nº 1301000.689 S1C3T1 Fl. 338 7 Semelhante raciocínio chegou o CSRF, no julgamento do Acórdão nº 9101 002.781, em que também se conheceu da possibilidade de juntada de documentos posterior à apresentação de impugnação administrativa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Ano calendário:2004 RECURSO VOLUNTÁRIO. JUNTADA DE DOCUMENTOS. POSSIBILIDADE. DECRETO 70.235/1972, ART. 16, §4º. LEI 9.784/1999, ART. 38. É possível a juntada de documentos posteriormente à apresentação de impugnação administrativa, em observância ao princípio da formalidade moderada e ao artigo 38, da Lei nº 9.784/199 (G.N) Por estes motivos, os documentos apresentados em sede de recurso devem ser admitidos e apreciados. Da Conversão do Julgamento em Diligência Como se viu, admitiuse a juntada dos documentos e sobre eles não se manifestou a unidade de origem. Da análise destes documentos, em tese, vêse que eles podem comprovar a existência do direito creditório postulado. Além do mais, vêse que se trata de pleito em que se alega erro de fato na apuração da estimativa devida, e, sendo assim, é necessário, primeiro, definir qual a forma adotada pelo contribuinte para calcular o recolhimento mensal, se com base na RECEITA BRUTA ou com suporte em BALANÇOS OU BALANCETES DE SUSPENSÃO OU REDUÇÃO, e, depois, confrontálo com o que foi apurado à época em que a ESTIMATIVA era devida Obviamente, se o contribuinte recolhe a ESTIMATIVA com base na RECEITA BRUTA e, em momento posterior, levanta um BALANÇO DE SUSPENSÃO E REDUÇÃO que aponta para PREJUÍZO FISCAL no período acumulado, descabe falar em pagamento a maior ou indevido, eis que o recolhimento foi efetuado com base na legislação de regência. Embora o contribuinte alegue recolhimento a maior, ele não junta qualquer documento que demonstre efetivamente o erro cometido. Por outro lado, as instâncias administrativas precedentes rejeitaram a homologação da compensação pleiteada , sem, portanto, examinarem o mérito da existência (ou não) do alegado pagamento à maior de estimativas. Em decorrência, deixaram de instruir o processo com cópia da DIPJ integral, no mínimo, e sequer informaram se o valor pago teria sido eventualmente levado pelo contribuinte como crédito na apuração do resultado. Desta forma, entendo razoável oportunizar à interessada trazer novos elementos e esclarecimentos que possam demonstrar que tratase de erro de fato na apuração do imposto que resultou em pagamento indevido e não mera reapuração de estimativa promovida após a sua determinação e recolhimento regulares. Ante ao exposto, conduzo meu voto, no sentido de converter o julgamento em diligência para que a autoridade administrativa da unidade de origem: a) Acostar aos autos DIPJ do período, original e retificadoras, se houver; Fl. 338DF CARF MF Processo nº 10283.902063/200892 Resolução nº 1301000.689 S1C3T1 Fl. 339 8 b) Intimar a recorrente a esclarecer e comprovar o erro que levou ao alegado recolhimento a maior de estimativa de CSLL no período. Apresentar memórias de cálculo, balanços/balancetes de suspensão/redução, além de outros documentos que a própria autoridade diligenciante entender pertinentes. c) A autoridade fiscal designada para o cumprimento das diligências solicitadas deverá apresentar relatório conclusivo acerca das alegações e documentos apresentados pelo contribuinte, se manifestando ao final sobre a existência, ou não, de recolhimento em valor maior, além de informar se o valor pago teria sido eventualmente levado pelo contribuinte como crédito na apuração do resultado, trazendo, a seu juízo, outras considerações que entender relevantes para o deslinde da questão. d) Ao final do relatório conclusivo, o contribuinte deverá ser cientificado do seu resultado, facultandolhe a oportunidade de se manifestar nos autos sobre suas conclusões, no prazo de 30 dias, em conformidade com o parágrafo único, art. 35, do Decreto 7.574/2011. Na seqüência, o processo deverá retornar ao CARF para prosseguimento do julgamento, sendo distribuído a este Conselheiro independentemente de sorteio. (assinado digitalmente) José Eduardo Dornelas Souza Fl. 339DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10380.725183/2017-52
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jun 04 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Tue Jul 09 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA (IRPF)
Data do fato gerador: 09/08/2012, 21/02/2013, 09/11/2015, 07/10/2016
GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO A PRAZO. PAGAMENTO PARCELADO. MOMENTO DO FATO GERADOR.
Nas alienações a prazo, o fato gerador do ganho de capital aperfeiçoa-se no efetivo recebimento de cada parcela do preço ajustado entre as partes, quando então nasce a obrigação tributária de pagamento do imposto sobre a renda, na proporção delas.
IMPOSTO DE RENDA. ALIENAÇÃO. GANHO DE CAPITAL. SUJEITO PASSIVO.
Havendo alienação da propriedade, o nu-proprietário está sujeito à apuração do imposto de renda sobre o ganho de capital.
FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÕES. FIP. DESNECESSIDADE. FALTA DE PROPÓSITO NEGOCIAL.
O fundo de investimento em participações tem como finalidade precípua a realização de investimentos novos e não a mera alienação de parte de investimento antigo dos cotistas fundadores do fundo, a reduzir artificialmente a tributação e possibilitar a conclusão de anterior negociação de venda cujo principal entrave residia justamente no preço da venda.
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. INTERPOSIÇÃO DE FUNDOS DE INVESTIMENTO.
Identificado o dolo do agente na interposição de fundos de investimento entre seus cotistas e a companhia operacional vendida, para beneficiar-se de isenção de imposto de renda sobre o ganho de capital na mencionada venda, deve-se qualificar a multa de ofício.
ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
Data do fato gerador: 09/08/2012, 21/02/2013, 09/11/2015, 07/10/2016
INCONSTITUCIONALIDADE. INCOMPETÊNCIA.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF nº 2).
ERRO IDENTIFICAÇÃO SUJEITO PASSIVO. PESSOA JURÍDICA EXTINTA POR LIQUIDAÇÃO.
É nulo, por erro na identificação do sujeito passivo, eventual lançamento formalizado contra pessoa jurídica extinta por liquidação voluntária ocorrida e comunicada ao Fisco Federal antes da lavratura do auto de infração (Súmula CARF n° 112).
Numero da decisão: 2401-006.611
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento aos recursos voluntários. Vencidos os conselheiros Rayd Santana Ferreira, Matheus Soares Leite, Andréa Viana Arrais Egypto e Luciana Matos Pereira Barbosa, que davam provimento aos recursos.
(documento assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier - Presidente
(documento assinado digitalmente)
José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Cleberson Alex Friess, Rayd Santana Ferreira, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite, Marialva de Castro Calabrich Schlucking, Andrea Viana Arrais Egypto, Luciana Matos Pereira Barbosa e Miriam Denise Xavier.
Nome do relator: JOSE LUIS HENTSCH BENJAMIN PINHEIRO
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ALIENAÇÃO A PRAZO. PAGAMENTO PARCELADO. MOMENTO DO FATO GERADOR. Nas alienações a prazo, o fato gerador do ganho de capital aperfeiçoa-se no efetivo recebimento de cada parcela do preço ajustado entre as partes, quando então nasce a obrigação tributária de pagamento do imposto sobre a renda, na proporção delas. IMPOSTO DE RENDA. ALIENAÇÃO. GANHO DE CAPITAL. SUJEITO PASSIVO. Havendo alienação da propriedade, o nu-proprietário está sujeito à apuração do imposto de renda sobre o ganho de capital. FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÕES. FIP. DESNECESSIDADE. FALTA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. O fundo de investimento em participações tem como finalidade precípua a realização de investimentos novos e não a mera alienação de parte de investimento antigo dos cotistas fundadores do fundo, a reduzir artificialmente a tributação e possibilitar a conclusão de anterior negociação de venda cujo principal entrave residia justamente no preço da venda. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. INTERPOSIÇÃO DE FUNDOS DE INVESTIMENTO. Identificado o dolo do agente na interposição de fundos de investimento entre seus cotistas e a companhia operacional vendida, para beneficiar-se de isenção de imposto de renda sobre o ganho de capital na mencionada venda, deve-se qualificar a multa de ofício. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 09/08/2012, 21/02/2013, 09/11/2015, 07/10/2016 INCONSTITUCIONALIDADE. INCOMPETÊNCIA. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula CARF nº 2). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 38 0. 72 51 83 /2 01 7- 52 Fl. 2201DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 ERRO IDENTIFICAÇÃO SUJEITO PASSIVO. PESSOA JURÍDICA EXTINTA POR LIQUIDAÇÃO. É nulo, por erro na identificação do sujeito passivo, eventual lançamento formalizado contra pessoa jurídica extinta por liquidação voluntária ocorrida e comunicada ao Fisco Federal antes da lavratura do auto de infração (Súmula CARF n° 112). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento aos recursos voluntários. Vencidos os conselheiros Rayd Santana Ferreira, Matheus Soares Leite, Andréa Viana Arrais Egypto e Luciana Matos Pereira Barbosa, que davam provimento aos recursos. (documento assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier - Presidente (documento assinado digitalmente) José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro - Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Cleberson Alex Friess, Rayd Santana Ferreira, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite, Marialva de Castro Calabrich Schlucking, Andrea Viana Arrais Egypto, Luciana Matos Pereira Barbosa e Miriam Denise Xavier. Relatório Trata-se de Recurso Voluntário interposto em face de decisão da 6ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Fortaleza que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a impugnação contra Auto de Infração de imposto de renda da pessoa física, suplementar - código 2904, por omissão de ganho de capital auferido na alienação de ações não negociadas em bolsa nas datas de 09/08/2012, 21/02/2013, 09/11/2015 e 07/10/2016, no valor total de R$ 48.369.258,73, a incluir juros de mora e multa qualificada. O lançamento foi efetivado em face do contribuinte Dario Araujo Telles e do responsável Everardo Ferreira Telles. Do Demonstrativo de Responsáveis Tributários (Fls. 04/05), extrai-se: a) O contribuinte da relação jurídico-tributária é menor impúbere, nascido em 18/10/2007; e, em todos os atos caracterizadores do ilícito tributário sob exame foi representado por seu pai e patriarca da Família Telles, o Sr. Everardo Ferreira Telles, CPF 013.240.713-20. b) No instrumento de doação de ações da TELLES PARTICIPAÇÕES e no instrumento de autorização para integralização das cotas do TELLES FIP, nos quais figura como parte o menor, constam cláusulas em que: (1) ficou Fl. 2202DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 estipulado o usufruto vitalício, extensivo aos poderes de gestão dos referidos entes, em benefício do doador, o Sr. Everardo Ferreira Telles, tanto das ações como das cotas; (2) ficaram reservados ao Sr. Everardo todos os direitos patrimoniais sobre esses títulos, dentre os quais: o direito de recebimento de dividendos; de bonificações em dinheiro ou em ações; direitos de preferências e outros acessórios; direito de recebimento de rendimentos, bem como o direito de resgate das cotas etc. Além disso, a doação das ações foi gravada com a cláusula de incomunicabilidade, impenhorabilidade e inalienabilidade, e impostas aos autorizados, no instrumento de autorização acima referido, as cláusulas de impenhorabilidade e inalienabilidade em relação às cotas gravadas, seja a que título for (Anexo 2 do Termo de Verificação Fiscal - TVF, anexo e parte integrante e inseparável do presente auto de infração). c) Deste modo, revela-se o interesse comum do contribuinte e do Sr. Everardo na situação constitutiva do fato gerador tributário; devendo recair sobre o último a responsabilidade pela satisfação do crédito tributário constituído, nos termos dos Art. 124, I, c/c Arts. 134, e 135, I, todos do CTN. No Termo de Verificação Fiscal (fls. 14/36), a própria autoridade lançadora apresentou breve resumo das infrações detectadas: Resumo Foram realizadas fiscalizações junto a pessoas físicas, membros do mesmo grupo familiar, que eram sócias da empresa holding TELLES PARTICIPAÇÕES E NEGÓCIOS S/A, CNPJ n° 02.806.215/0001-20. O grupo familiar utilizou um planejamento tributário abusivo, com a criação, sem propósitos negociais, de fundos de investimento, com o intuito de se eximir do pagamento do imposto devido sobre ganho de capital na venda da empresa YPIÓCA AGROINDUSTRIAL DE BEBIDAS S/A, CNPJ n° 15.209.980/0001-04, uma das empresas pertencentes a holding. O grupo extinguiu a empresa holding após transferir suas participações societárias para o TELLES FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÕES (TELLES FIP), CNPJ n° 14.769.978/0001-27, como forma de integralização das cotas deste, que por sua vez teve suas cotas transferidas para o ALVORADA FUNDO DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO CRÉDITO PRIVADO (ALVORADA FIM) CNPJ n° 15.091.732/0001-01, também para fins de integralização das cotas do último. As operações societárias foram realizadas quase que concomitantemente à venda da empresa fabricante de bebidas YPIÓCA AGROINDUSTRIAL DE BEBIDAS S/A e a soma dos valores não recolhidos ultrapassa os cem milhões de reais. Por conta do planejamento tributário abusivo, a venda das ações da YPIÓCA AGROINDUSTRIAL DE BEBIDAS S/A realizou-se, então, artificial e formalmente, através do TELLES FIP, com o que se pretendeu afastar a incidência do imposto de renda devido sobre o ganho de capital obtido. Para facilitar a compreensão, transcrevo didático histórico dos eventos veiculado nas contrarrazões da União (fls. 2096/2102): Fl. 2203DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Os eventos antecedentes à alienação relevantes para o deslinde da controvérsia são enumerados a seguir: I – Em 14.12.2011, criou-se o fundo Telles Fundo de Investimento em Participações (TELLES FIP). II – Em 29.12.2011, integralizaram-se as cotas do TELLES FIP com ações da holding do Grupo Telles, a Telles Participações e Negócios S.A. (TELLES PARTICIPAÇÕES), e-fls. 108 e ss. O valor das ações integralizadas perfez R$ 410.689.100,00 segundo laudo de avaliação elaborado por PAX Corretora de Valores e Câmbio S.A. III –Em 22.02.2012 foi constituído o Telles Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado, o qual, após duas mudanças de denominação, passou a ser designado Alvorada Fundo de Investimentos Multimercado Investimento no Exterior (ALVORADA FIM). IV – Em 23.04.2012 as quotas do ALVORADA FIM foram integralizadas com quotas do TELLES FIP. Paralelamente à constituição dos fundos acima referidos e à correlata reestruturação societária do Grupo Telles, as sociedades componentes do grupo sofreram modificações: I – Em 02.01.2012, Ypióca Agroindustrial Ltda, controlada pela TELLES PARTICIPAÇÕES, transformou-se em sociedade por ações. II – Em 29.02.2012, foi criada a Ypióca Agroindustrial de Bebidas Ltda (YPIÓCA BEBIDAS), tendo como sócios Everardo Ferreira Telles e Ypióca Industrial S/A. III – Em 20.03.2012, foi alterado o contrato social para registrar o aumento de capital na YPIÓCA BEBIDAS, o qual foi integralizado por Ypióca Industrial S/A mediante entrega de bens. O capital social passou a ser de R$ 17.906.000,00 IV – Em 30.04.2012, TELLES PARTICIPAÇÕES sofreu cisão parcial e o acervo foi vertido para Ypióca Agroindustrial S/A, agora denominada Agropaulo Agroindustrial S/A (AGROPAULO), sua controlada. V – Na mesma data, o capital social da YPIÓCA BEBIDAS foi aumentado para R$ 62.453.300,00, integralmente subscrito por AGROPAULO e integralizado com bens. VI – Em 04.05.2012, YPIÓCA BEBIDAS foi transformada em sociedade por ações. As operações narradas acima promoveram a concentração dos ativos atinentes ao chamado “negócio da cachaça” na YPIÓCA BEBIDAS. As alterações na estrutura de controle do Grupo são representadas por meio dos diagramas abaixo: Fl. 2204DF CARF MF Fl. 5 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Em maio de 2012, aproximando-se a data em que assinado o contrato de compra e venda, mais alterações no Grupo Telles foram realizadas: I – Em 10.05.2012, o regulamento do TELLES FIP foi alterado quanto aos critérios de definição da carteira de investimentos do Fundo. Especificamente quanto à YPIÓCA BEBIDAS a avaliação seria feita pelo método da avaliação econômica (Anexo 17). II – 11.05.2012, a sociedade AGROPAULO foi cindida parcialmente. O capital cindido correspondia às participações na sociedade YPIÓCA BEBIDAS, além daquelas nas sociedades YPARK e YPLASTIC. Todas as parcelas cindidas foram vertidas em favor de TELLES PARTICIPAÇÕES, sua controladora. Assim, neste momento, a configuração societária passou a ser a seguinte: Fl. 2205DF CARF MF Fl. 6 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 III – Em 12.05.2012, a Assembleia Geral da holding TELLES PARTICIPAÇÕES deliberou por sua dissolução. Em consequência, os ativos detidos pela sociedade passaram à titularidade do seu único sócio, o TELLES FIP. Eis a estrutura final: Uma vez promovidas todas as modificações necessárias, em 23.05.2012, a Assembleia Geral do TELLES FIP aprovou a venda da totalidade das ações da YPIÓCA BEBIDAS para a CINTER. Assim, em 25.05.2012, foi assinado contrato de compra e venda e em 03.08.2012 foi assinado aditivo ao contrato de compra e venda. Consoante nota a fiscalização, as demonstrações contábeis do TELLES FIP indicam o fechamento do contrato se deu em 09.08.2012. O montante pago foi de R$ 902.017.655,20, dos quais R$ 224.802.784,20 foram retidos como garantia por eventuais contingências e ônus imobiliários, ficando depositados em contas de garantia no Deutsche Bank S.A. Fl. 2206DF CARF MF Fl. 7 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Desta forma restam apresentadas as operações realizadas pelo Grupo Telles para concretizar a alienação do negócio da cachaça/YPIÓCA BEBIDAS para a CINTER, destacando-se as alterações societárias que constituem eventos antecedentes relevantes. Em 09/08/2017, Dário Araújo Telles apresentou documentos de n° 01 ao n°16 (fls. 1152/1673) e impugnação (fls. 1111/1151), considerada tempestiva, em síntese, alegando: a) Nulidade do lançamento fiscal devido a erro na identificação do sujeito passivo. b) Nulidade do lançamento fiscal devido à decadência do direito de lançar. c) No mérito, a criação do TELLES FIP, bem como dos demais Fundos de Investimentos criados pelo Grupo TELLES fez parte de um processo de reestruturação iniciado em 1998, decorrente de um planejamento societário e sucessório. d) O objetivo central do processo de reestruturação foi prover aos membros da família Telles uma gestão profissional de suas empresas operacionais, assim como manter distante, dessas empresas, eventuais divergências pessoais entre os membros da família. d) Deve-se compensar o imposto pago nos valores de R$22.066.198,00 e R$4.349.999,61 com o imposto lançado. f) Em relação à multa qualificada, indícios podem autorizar, quando muito, a presunção, mas não no presente caso. As presunções somente são admitidas quando previstas em lei. Em direito, a guisa de princípio maior, tem-se assente que a simulação, a fraude, o conluio, etc, não se presumem, devem ficar sobejamente comprovados, estreme de qualquer dúvida, o que não encontramos nos autos. g) Consoante o princípio da vedação ao confisco, o RE 523471 admite como razoável apenas penalidades cujo valor não ultrapasse o limite de 30% do crédito tributário. No presente caso estamos falando de 5 (cinco) vezes esse limite. Em 25/08/2017 (fls. 1676), aditou-se (fls. 1677/1678) a impugnação para apresentação de tradução juramentada dos docs. 08 a 11 da impugnação (fls. 1679/1711). Do Acórdão atacado (fls. 1712/1740), em síntese, se extrai que: a) Glossário. Para evitar repetições desnecessárias e simplificar a identificação das diversas sociedades e entidades, aduz-se tabela com a nomenclatura que será utilizada no Relatório e Voto, a seguir. DENOMINAÇÃO CITADA NO RELATÓRIO E/OU VOTO RAZÃO SOCIAL CNPJ TELLES PARTICIPAÇÕES Telles Participações e Negócios S/A. 02.806.215/0001-20 YPIÓCA BEBIDAS Ypióca Agroindustrial de Bebidas Ltda. 15.209.980/0001-04 Fl. 2207DF CARF MF Fl. 8 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 AGROPAULO Ypióca Agroindustrial Ltda. Depois mudou sua razão social para Ypióca Agroindustrial S/A. Depois mudou sua razão social para Agropaulo Agroindustrial S/A. 05.373.212/0001-38 ALVORADA FIM Telles Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado. Depois mudou sua razão social para Alvorada Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado. Depois mudou sua razão social para Alvorada Fundo de Investimento Multimercado Investimento no Exterior. 15.091.732/0001-01 TELLES FIP Telles Fundo de Investimento em Participações 14.769.978/0001-27 ALVORADA FIM II Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado Investimento no Exterior 14.437.442/0001-04 ALVORADA FIM III Alvorada 3 Fundo de Investimento Multimercado - Crédito Privado Investimento no Exterior 17.627.173/0001-37 FIEL Fiel Fortaleza Importação e Exportação Ltda. 07.374.549/0001-95 NATURÁGUA Naturágua Aguas Minerais Ind. Com. S/A. 07.576.952/0001-05 YPLASTIC Yplastic Embalagens Plásticas S/A. 15.293.108/0001-97 CEARÁ-MIRIM Ceará-Mirim Agroindustrial S/A. 20.809.373/0001-15 YPETRO Ypetro Distribuidora de Combustíveis S/A. 11.775.945/0001-00 PECEM Pecem Agroindustrial S/A. 06.604.714/0001-95 IPARK Ipark Entretenimentos S/A. 15.320.814/0001-80 HALLEY Halley Transporte Propaganda e Marketing S/A. 10.483.071/0001-46 b) Nulidade por erro na identificação do sujeito passivo. A desconsideração dos fundos de investimentos não faz retroagir a estrutura societária do grupo empresarial para o momento anterior à criação dos mencionados fundos, pelo que o fato gerador do tributo deve ser analisado (inclusive quanto à identificação do sujeito passivo) na data de sua efetiva ocorrência, apenas retirando os fundos de investimento da citada estrutura. Desconsiderar um fundo de investimento significa apenas extirpar o falso manto interposto com a sua constituição, imputando-se aos cotistas a titularidade pelo ato jurídico praticado. Como inicialmente foi desconsiderado o TELLES FIP, a venda por ele praticada foi imputada ao seu cotista único (ALVORADA FIM). Como, ato contínuo, o ALVORADA FIM também foi desconsiderado, a venda foi imputada aos seus cotistas, é dizer, aos membros da família Telles (pessoas físicas). c) Decadência. Para fins de contagem do prazo decadencial, a data da venda é irrelevante porque o Imposto sobre a Renda da Pessoa Física – IRPF, mais especificamente sobre os ganhos de capital, obedece ao regime de caixa (Lei n° 8.981, de 1995, art. 21, § 1°; e Lei n° 7.713, de 1988, art. art. 21, caput). Na espécie, a data mais antiga de recebimento de recursos alusivos à venda de ações da YPIÓCA BEBIDAS aconteceu em 09/08/2012 (p. 7/8 e 20 do TVF, com as planilhas ali demonstradas). Como não transcorreu o lapso quinquenal do lançamento fiscal cientificado ao administrado em 14/07/2017 (fl. 1104), não resta decaído o débito tributário lançado. O termo de início da decadência sucedeu em 01/01/2013, pois não se poderia aplicar a regra geral do art. 150, § 4°, do CTN, tendo em vista que: a) inexistiu pagamento antecipado do IRPF sobre ganho de capital [consoante tópico “DO CÁLCULO DO IR SOBRE GANHO DE CAPITAL (COMPENSAÇÃO DE IMPOSTO PAGO)”, infra]; b) houve incidência de dolo do contribuinte [consoante tópico “DA MULTA QUALIFICADA”, infra]. Logo, o caso deveria sofrer os efeitos da regra especial Fl. 2208DF CARF MF Fl. 9 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 do art. 173, I, do CTN, para o qual o termo inicial só ocorre no início do exercício seguinte (01/01/2013). No trecho aludido pelo impugnante (parágrafo 21, item “a”, retro), a autoridade lançadora estava explicitamente citando o Relatório do Cade, cujo entendimento se deu no sentido da ocorrência da venda da YPIÓCA BEBIDAS em 25/05/2012. Tal excerto, portanto, não expressa o juízo do auditor fiscal. A venda se deu em 09/08/2012. Portanto, não foi o Fisco que intentou fazer crer que a transação aconteceu nessa data, mas o fundo pertencente, em última análise, aos membros da família Telles. Caso o impugnante entenda que a venda ocorreu em outra data, deveria ter trazido provas aos autos nesse sentido, mas não o fez. Em resumo, aplicando-se, respectivamente, o art. 150, § 4°, do CTN ou o art. 173, I, do mesmo Código, inexistiu caducidade do direito de lançar. d) Mérito. Do propósito Negocial. Grosso modo, a YPIÓCA BEBIDAS foi vendida para o grupo DIAGEO/CINTER e tal venda foi objeto do ganho de capital ora analisado. Em resumo, os fatos e argumentos da autoridade lançadora para desconsiderar os fundos de investimento (TELLES FIP e ALVORADA FIM): a) Em 11/05/2012 a empresa AGROPAULO sofreu cisão parcial, vertendo parte do seu capital, compreendido pelas participações societárias nas empresas YPIÓCA BEBIDAS (apenas elementos do ativo, com ações ordinárias no valor de R$ 62.453.300,00), YPLASTIC e IPARK para a empresa TELLES PARTICIPAÇÕES (p. 6 do TVF). b) Em 12/05/2012 foi decidido em Assembleia Geral a dissolução da empresa TELLES PARTICIPAÇÕES. Com a dissolução da companhia, a YPIÓCA BEBIDAS passou a pertencer diretamente ao TELLES FIP (p. 6 do TVF). c) Em 23/05/2012, a Assembleia Geral do TELLES FIP aprovou a venda da totalidade das ações da YPIÓCA BEBIDAS para a empresa CINTER INTERNATIONAL BRANDS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA, CNPJ n° 60.699.865/0001-10 (p. 6 do TVF). d) Sendo o fundo de investimento uma reunião de recursos para aplicação em diversos ativos e, no caso específico do Fundo de Investimento em Participações, em ações de companhias das quais o fundo deve participar da gestão, qual a finalidade de se integralizar as quotas de um fundo recém-criado com ações de empresa das quais os próprios cotistas do fundo eram os proprietários? Se o objetivo de um investimento é a aplicação de recursos para a obtenção de um ganho com esses investimentos, que ganhos os cotistas do TELLES FIP esperariam obter com o Fundo que não obteriam se mantivessem diretamente o controle das ações das empresas? Qual o propósito negocial, então, de se integralizar as quotas do fundo com as ações da TELLES PARTICIPAÇÕES? Nenhum. O Fundo, neste caso, se apresenta como mero ente interposto entre as empresas e os seus acionistas/cotistas (p. 18 do TVF). e) As negociações com vistas à venda da YPIÓCA BEBIDAS, como é usual nesse tipo de operação, já vinham ocorrendo há bastante tempo, antes mesmo da constituição do TELLES FIP e do ALVORADA FIM (p. 19 do TVF). f) Estranhamente, o Sr. Everardo Ferreira Telles recebeu, conforme deliberações da Assembleia do TELLES FIP, de 23/05/2012, plenos poderes para a concretização do negócio quais sejam: estabelecer o preço da venda e quaisquer outras cláusulas ou condições do negócio e assinar quaisquer documentos necessários para o seu implemento (p. 6 do TVF). g) m 22/02/2012, foi constituído o ALVORADA FIM (p. 3 do TVF). h) Em 23/04/2012, por decisão em Assembleia Geral, os cotistas do TELLES FIP utilizaram todas as suas cotas para a integralização das cotas do ALVORADA FIM. Desse Fl. 2209DF CARF MF Fl. 10 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 modo, o ALVORADA FIM passou a deter com exclusividade 100% das cotas do TELLES FIP (fundo exclusivo) (p. 4 do TVF). i) Os ganhos decorrentes da venda da YPIÓCA BEBIDAS foram recebidos inicialmente pelo TELLES FIP, que seria o proprietário das ações, e esses recursos foram repassados a título de amortização para o ALVORADA FIM, único cotista do TELLES FIP. Em ambos os casos, por se tratar de fundos de investimento, não haveria incidência de imposto, seja sobre ganho de capital, seja sobre rendimentos do fundo decorrentes da operação de venda da empresa (p. 15 do TVF). j) A prevalecer à pretensão dos contribuintes, dada essa configuração, a única possibilidade de haver a incidência imediata do imposto seria se o ALVORADA FIM amortizasse cotas em favor dos seus cotistas, os membros do grupo familiar TELLES, o que, até o momento em que se escreveu este TVF, não ocorreu (p. 15 do TVF). k) O ALVORADA FIM utilizou os recursos recebidos em várias aplicações, em outros fundos que, por sua vez, os aplicaram na aquisição de cotas de outros fundos e em variados tipos de ativos (Anexo 33). Aliás, o que justificaria a criação do ALVORADA FIM e a transferência para este Fundo da totalidade das cotas do TELLES FIP seria exatamente, além do afastamento da exigência do imposto de renda sobre os ganhos decorrentes da alienação da YPIÓCA BEBIDAS, a ampliação das possibilidades de escolha de ativos para a aplicação dos recursos (p. 15 do TVF). l) É que, se o produto da venda da YPIÓCA BEBIDAS permanecesse no TELLES FIP, este teria que aplicá-lo predominantemente (90%) na aquisição de ações, debêntures, bônus de subscrição, ou outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão de companhias, abertas ou fechadas, conforme artigo 6° c/c artigo 2° da Instrução n° 391/2003, da Comissão de Valores Mobiliários - CVM (p. 16 do TVF). As alíneas de “a” até “f” do parágrafo anterior estão relacionadas especificamente ao TELLES FIP; e, de “g” até “l”, referem-se ao ALVORADA FIM. A impugnação sustenta ter havido reestruturação visando gestão profissional, a afastar divergência entre membros da família. A finalidade central de um fundo de investimento em participações - FIP, segundo o art. 2º da Instrução CVM nº 391/2003, se realiza por meio da aquisição de ações e de outros títulos e valores mobiliários. Como ninguém tem como objetivo adquirir algo que previamente já estava sob seu domínio, o objetivo precípuo do TELLES FIP deveria ser a realização de investimentos novos, e não a gestão profissional de investimentos antigos (representados, na espécie, por empresas operacionais que já pertenciam àquele grupo empresarial antes da criação do FIP), demonstrando-se, assim, a falta de propósito negocial do TELLES FIP. O argumento acima está em consonância com o fundamento fiscal disposto na alínea “d” do item d4 retro. Antes da criação do TELLES FIP, o Grupo Telles era administrado por meio de holding (TELLES PARTICIPAÇÕES) que, por isso, já cumpria esse papel de interface administrativa entre os membros da famílias TELLES e as empresas operacionais, além da possibilidade de gestão profissional de tais empresas. Assim, não convencem as alegadas vantagens, aduzidas pelo impugnante, em alterar o tipo de controladora das empresas operacionais, saindo de um modelo de holding para o modelo de FIP. Como a atuação efetiva da TELLES PARTICIPAÇÕES (holding) já permitiria a prática de governança corporativa, mais uma vez não convence o fundamento, aduzido pelo impugnante, em alterar o tipo de controladora das empresas operacionais, saindo de um modelo de holding para o modelo de FIP. A impugnação sustenta que estar sendo assediada para vender a Ypióca Fl. 2210DF CARF MF Fl. 11 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 não é prova de planejamento ilícito em abril de 2012. Em cada negócio efetivado pelo TELLES FIP, inclusive quanto à venda da YPIÓCA BEBIDAS, deveria o impugnante demonstrar (e não o fez!) que a citada companhia operacional teria o aspecto de um investimento novo, configurando assim em parte integrante do propósito negocial do TELLES FIP que, dessa forma, encontrar-se-ia apto para obter a isenção de imposto de renda sobre eventual ganho de capital. A Assembleia Geral do TELLES FIP promoveu alteração de seu Regulamento, em 23/04/2012, com o seguinte teor: DELIBERAÇÕES: Os Cotistas deliberaram, por unanimidade, com base na pauta acima, aprovar todas as seguintes alterações no Regulamento do Fundo. (...) f) Alterar o Artigo 30 para esclarecer que o Comitê Gestor e de Investimento não tem competência exclusiva e não necessita, nem deve deliberar sobre assuntos que já tenham sido objeto de deliberação por parte da Assembleia Geral de Cotistas. g) Alterar o Artigo 17 para acrescentar um texto final ao Parágrafo Terceiro desse artigo para deixar claro que, especialmente no caso de ativos vinculados a garantias dadas ao comprador de ativo desinvestido, conforme previsto na alínea c) do Inciso II do parágrafo 3° do Artigo 6°-A da Instrução CVM 391, o valor desse tipo de ativo deverá ser somado aos ativos fins do Fundo, não implicando, portanto, em desenquadramento da carteira. h) Alterar o Parágrafo Quarto ao Artigo 31 para acrescentar que os deveres e prerrogativas do Comitê Gestor e de Investimento, enquanto não eleito o Comitê pela Assembleia Geral, serão exercidas pelo maior cotista do Fundo ou usufrutuário da maior quantidade de cotas, que seja detentor dos direitos sobre mais de 50% das cotas emitidas; cotista que poderá receber procuração do Fundo para representá-lo perante as companhias investidas. Apesar de a venda da YPIÓCA BEBIDAS não estar finalizada, as alterações acima promovidas no Regulamento revelam toda a preparação/preocupação para a citada venda, mediante: a) limitação da competência do Comitê Gestor e de Investimento (art. 30); b) explicação sobre os cálculos alusivos a desenquadramento da carteira, na forma do art. 6º-A, § 3º, II, “c”, da Instrução CVM nº 391/2003 (art. 17, § 3º); c) inclusão de competência do maior cotista do Fundo ou usufrutuário da maior quantidade de cotas acima de 50% para receber procuração do Fundo para representá-lo perante as companhias investidas (art. 31, § 4º). A impugnação assevera: “(...) desde abril de 2007, (...) que o Grupo TELLES vem utilizando-se de fundo de investimento exclusivo (sem participação de outras pessoas físicas ou jurídicas, que não as do Grupo TELLES), em sua organização. Fundos esses que poderiam ter sido utilizados para albergar as empresas operacionais do Grupo, bastando simplesmente alterar seu regulamento perante a CVM. Será que, se o Grupo Telles tivesse utilizado o fundo de investimento criado em 2007 também seria considerado pelo Fisco como parte de um ‘planejamento tributário ilícito’? É evidente que não!”. Se a venda da YPIÓCA BEBIDAS tivesse se dado por meio de outro fundo de investimento, o contribuinte teria, da mesma forma, o ônus de demonstrar que a YPIÓCA BEBIDAS teria o aspecto de um investimento novo, configurando-se assim como parte integrante do propósito negocial de determinado fundo de investimento que, só assim, encontrar-se-ia apto para obter a isenção de imposto de renda sobre eventual ganho de capital. Caso Fl. 2211DF CARF MF Fl. 12 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 contrário, esse fundo também seria desconsiderado para apuração de tal imposto. Com a exceção do acordo de confidencialidade com a DIAGEO (parcela do doc. 11 anexo à impugnação), os demais documentos relativos ao assédio de empresas globais em nada interferem no lançamento fiscal ora analisado. Como a própria CVM prevê a formação de um fundo exclusivo, a premissa fiscal de que os fundos de investimento têm “o objetivo de promover a aplicação coletiva de recursos” não foi utilizada no presente Voto como fundamento, pelo que não será analisada a contestação do contribuinte sobre esse tema. No que tange à alegação do impugnante no sentido de que “um fundo de investimento em participações (FIP) é um mecanismo legal, (...), que permite ao investidor diversificar as aplicações de recursos financeiros”, trata-se de argumento que milita em favor da autoridade lançadora, já que no caso ora examinado o Grupo TELLES usou o TELLES FIP para controlar sociedades que eram previamente controladas pelo citado Grupo, e não para diversificar investimentos em empresas alheias. O direito individual de auto-organizar-se e a liberdade de iniciativa, como qualquer direito individual, não possuem caráter absoluto, não podendo gerar dano social. Se o Grupo TELLES promoveu a existência de uma entidade interposta entre as empresas e seus acionistas/cotistas, tal ato se conforma ao conceito de simulação, que vem a ser a violação da lei exigida pelos Acórdãos mencionados na defesa. A defesa aduziu normas da Constituição da República de 1988 – CR/1988, relativas aos valores sociais da livre iniciativa (art. 1º, IV), à livre concorrência (art. 170, IV), ao princípio da legalidade (art. 5º, II), à garantia do direito de propriedade (art. 5º, XXII). Todavia, essa mesma Constituição traz também valores opostos àqueles, como o objetivo de construir uma sociedade solidária (art. 3º, I), a função social da propriedade (art. 5º, XXIII, e art. 170, III) e o princípio da capacidade contributiva (art. 145, § 1º). A impugnação pergunta: “(...) que planejamento tributário ilícito é este, no qual o contribuinte paga R$22.066.198,00 de imposto de renda, a título de ganho de capital, sem que, à época do pagamento, não havia nenhuma venda confirmada?”. O citado pagamento refere-se a imposto de renda incidente sobre ganho de capital, em dezembro/ 2011, alusivo à alienação das ações da TELLES PARTICIPAÇÕES para o TELLES FIP (transferência para integralização das cotas do fundo – fls. 220/223), aqui denominado como evento 1. Portanto, trata-se de tema estranho a presente lide que se limita a examinar o ganho de capital sobre a venda de ações de outra sociedade (YPIÓCA BEBIDAS), aqui denominado como evento 2. Para fins de exercício argumentativo, se houvesse correlação entre o imposto pago em referência ao evento 1 e o imposto pago em referência ao evento 2, verifica-se que os membros da família TELLES pagaram R$22.066.198,00 (= R$3.152.314,00 x 7 filhos) pelo evento 1, ao passo que, nos lançamentos ora em julgamento, foi formalizado a quantia principal de R$114.071.898,71 (= R$16.295.985,53 x 7 filhos). Aí residiria o planejamento tributário: uma economia com tributos no expressivo valor de R$92.005.700,71 (= R$114.071.898,71 – R$22.066.198,00). As etapas do ciclo de investimentos de um fundo são: a) captação de recursos; b) identificação de oportunidades; c) seleção, estruturação e acompanhamento de investimentos; Fl. 2212DF CARF MF Fl. 13 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 d) desinvestimento. A negociação para a venda da YPIÓCA BEBIDAS começou no início do ano de 2011; a negociação foi longa e difícil, como não poderia deixar de sê-la, tendo em vista os inúmeros detalhes de uma venda desse porte. Acompanhando a peça impugnatória, o administrado aduziu acordo de confidencialidade firmado por DIAGEO, Ypióca Agroindustrial Ltda (neste voto denominado por AGROPAULO) e outras empresas do Grupo TELLES, celebrado em 22/12/2010 (parcela do doc. 11 anexo à impugnação). Esse acordo é o primeiro documento assinado entre o potencial comprador e o vendedor, por meio do qual os envolvidos na potencial transação se comprometem a manter em sigilo todas as informações sobre a negociação e dados obtidos da outra parte durante o período dessas tratativas. Portanto, como a Assembleia Geral do TELLES FIP decidiu pela venda da YPIÓCA BEBIDAS apenas em 23/05/2012, a negociação se estendeu, no mínimo, pelo período de 18 meses. Já a YPIÓCA BEBIDAS somente passou a pertencer diretamente ao TELLES FIP em 12/05/2012, onze dias antes da citada Assembleia. Por via de consequência, das etapas de um ciclo de investimento, o TELLES FIP só teria atuado, em tese, na etapa final relativa ao “desinvestimento” (venda da YPIÓCA BEBIDAS). Aqui se utilizou a expressão “em tese” porque, mesmo nessa última fase, o Sr. Everardo Ferreira Telles recebeu, conforme deliberações da Assembleia Geral do TELLES FIP, de 23/05/2012, plenos poderes para a concretização do negócio, quais sejam: estabelecer o preço da venda e quaisquer outras cláusulas ou condições do negócio e assinar quaisquer documentos necessários para o seu implemento. Em outras palavras, a existência do TELLES FIP – e de seus profissionais de mercado – se mostrou inteiramente desnecessária em todas as etapas do ciclo de investimentos na YPIÓCA BEBIDAS, somente emergindo o referido fundo no momento de obter indevidamente a isenção do ganho de capital ora analisado. Daí o estranhamento causado na autoridade lançadora, conforme p. 6 do TVF, o que não foi compreendido pelo impugnante. Quanto à desconsideração do ALVORADA FIM, deve-se manter a ineficácia desse fundo na venda da YPIÓCA BEBIDAS, isto é, o objetivo da interposição do ALVORADA FIM foi, além da isenção do imposto sobre o ganho de capital na venda da YPIÓCA BEBIDAS, a ampliação das possibilidades de escolha de ativos para a aplicação dos recursos que um fundo de investimento multimercado tem em cotejo com o fundo de investimento em participações. Em relação aos contratos com a Fundação Dom Cabral (docs. 03 e 04 anexos à impugnação) e ao documento intitulado “Estrutura de Governança – Situação Futura” (doc. 05 anexo à impugnação), trata-se de elementos que, respectivamente, ocorreram em 2013 (docs. 03 e 04) ou criaram expectativa para o período posterior a 07/08/2017, data da impugnação (doc. 05), e, portanto, não influenciaram na venda da YPIÓCA BEBIDAS ocorrida em 2012. Quanto às notícias publicadas em 12/04/2012 e 03/05/2012 (docs. 06 e 14 anexos à impugnação), é normal que o processo de negociação de venda de companhia do porte da YPIÓCA BEBIDAS envolva idas e vindas, desistências e retomadas das tratativas. Nesse contexto, resta claro que a definitividade da venda só ficou demarcada com a assinatura do Contrato de Compra e Venda de Ações em 25/05/2012 (Anexo 24 do TVF) e do Fl. 2213DF CARF MF Fl. 14 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Aditamento e Consolidação do Contrato de Compra e Venda de Ações em 03/08/2012 (Anexo 25 do TVF). Porém, tendo em vista o porte da YPIÓCA BEBIDAS, o acordo de confidencialidade firmado com a DIAGEO em 22/12/2010 (parcela do doc. 11 anexo à impugnação) e a quantidade de empresas globais interessadas na YPIÓCA BEBIDAS, é razoável e plausível que o Grupo TELLES tenha se preparado juridicamente para a hipótese de a venda se tornar realidade, atos preparatórios esses que restaram demonstrados conforme visto. Mantêm-se, pois, as infrações descritas pela autoridade fiscal. e) Cálculo do IR e Compensação de Imposto Pago. A YPIÓCA BEBIDAS, objeto do ganho de capital ora sob exame, só foi criada em 29/02/2012 (dois meses depois do ganho de capital ocorrido em dezembro/2011). O fato alegado pelo contribuinte ocorreu em 30/12/2011 e o objeto do ganho de capital incidiu na alienação de ações da TELLES PARTICIPAÇÕES. Já os fatos tributários ora analisados ocorreram em 09/08/2012, 21/02/2013, 09/11/2015 e 07/10/2016 e consistem em ganhos de capital na alienação de ações da YPIÓCA BEBIDAS. Destarte, os elementos material e temporal dos fatos geradores são distintos. Demais disso, a YPIÓCA BEBIDAS resultou da segregação de atividades da Ypióca Agroindustrial S/A (futura AGROPAULO). Essa última sociedade, bem como NATURÁGUA, FIEL, BOTICÁRIO, HALLEY e PECEM, são empresas operacionais que, na época, eram controladas pela TELLES PARTICIPAÇÕES e foram objeto da avaliação (efetuada pela PAX Corretora de Valores e Câmbio S/A) que serviu de base para o ganho de capital ocorrido em dezembro/2011. Assim, resta plausível que o custo de aquisição das ações vendidas da YPIÓCA BEBIDAS (R$62.453.300,00), em agosto/2012, tenha nele embutido a valorização calculada por ocasião do evento de dezembro/2011. De qualquer sorte, o impugnante sequer se esforçou para demonstrar – mediante escrituração contábil devidamente suportada por documentos – que o evento de dezembro/2011 foi influenciado, pelo menos em parte, por fatos imputáveis futuramente à YPIÓCA BEBIDAS (que só foi criada em fevereiro/2012); tampouco quantificou essa parte. Portanto, denega-se o pleito do administrado para excluir, do imposto lançado, o tributo pago sobre ganho de capital ocorrido em 30/12/2011. Não se acolhem os alegados pagamentos de imposto de renda, tendo em vista suposta amortização de cotas do ALVORADA FIM (doc. 13 anexo à impugnação), pois: (1) o impugnante não explicitou o fundamento fático que determinou a alegada amortização de cotas, tampouco a norma do Regulamento que embasou sua realização. Como o ALVORADA FIM detém o controle do TELLES FIP (que, por seu turno, controla diversas empresas operacionais, tais como, AGROPAULO, NATURÁGUA, PECÉM, HALLEY, CEARÁ- MIRIM, YPETRO, YPLASTIC e IPARK), os rendimentos conferidos aos cotistas podem ter como fundamento quaisquer desses ativos (sociedades operacionais). E mais importante: o impugnante não demonstrou – por meio de escrituração contábil devidamente suportada por documentos – que o fundamento da amortização de cotas do ALVORADA FIM seria a venda das ações da YPIÓCA BEBIDAS; (2) o impugnante aduziu meros “extratos de Fl. 2214DF CARF MF Fl. 15 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 conta depósito”, sem qualquer formalidade, tampouco assinatura. Nesse passo, não demonstrou sequer que houve efetivamente amortização de cotas do ALVORADA FIM; (3) no caso do Sr. DARIO ARAÚJO TELLES (ora contribuinte), ele não obteve qualquer rendimento recebido consoante fls. 1432 e 1441, pelo que não teve obviamente qualquer imposto retido; (4) no caso do imposto pago referente a Sra. MARIA HELOISA FERREIRA DE MELO, como se trata de pessoa que não se encontra como contribuinte em nenhum dos processos ora analisados em conjunto, tal matéria é estranha ao presente feito; (5) já o Sr. EVERARDO FERREIRA TELLES encontra-se como parte neste processo na qualidade de responsável (art. 121, parágrafo único, II, do CTN), pelo que suposto crédito dele não pode ser compensado com débito do contribuinte (art. 121, parágrafo único, I, do CTN), já que está vedada a compensação de débito fiscal com alegado crédito de terceiro (art. 74, caput e § 12, II, “a”, da Lei n° 9.430/1996). f) Multa qualificada. Diferentemente do que apontou o contribuinte, a autoridade lançadora não se resumiu a dois fundamentos, tendo apontado para tópicos antecedentes ao da “qualificação da multa aplicada”, consoante seu trecho inicial (p. 20 do TVF). Em suma, os fundamentos anotados pela autoridade lançadora no TVF são: (1) planejamento tributário abusivo para afastar o ganho de capital [p. 2 do TVF]; (2) não há finalidade negocial em se integralizar as quotas de um fundo recém-criado com ações de empresa das quais os próprios cotistas do fundo eram os proprietários, apresentando-se o fundo como mero ente interposto entre as empresas e os seus acionistas/cotistas. [p. 18 do TVF]; (3) o que justificaria a criação do ALVORADA FIM e a transferência para este Fundo da totalidade das cotas do TELLES FIP seria exatamente, além do afastamento da exigência do imposto de renda sobre os ganhos decorrentes da alienação da Ypióca Agropecuária de Bebidas S/A, a ampliação das possibilidades de escolha de ativos para a aplicação dos recursos (Anexo 33); (4) estando caracterizada a ausência de propósito negocial na integralização das cotas do TELLES FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÕES (TELLES FIP) com as ações da TELLES PARTICIPAÇÕES E NEGÓCIOS S/A, desnuda-se o real propósito da operação. Houve simulação com atos aparentes para interpor TELLES FIP e ALVORADA FIM entre a sociedade operacional e os acionistas/cotistas (membros da família Telles). O dolo está demonstrado pelos seguintes elementos: (1) como fundo de investimentos, o TELLES FIP deveria ter como função precípua a realização de investimentos novos, e não a gestão profissional de investimentos antigos; (2) a YPIÓCA BEBIDAS passou a pertencer diretamente ao TELLES FIP, depois da cisão parcial da AGROPAULO (11/05/2012) e da dissolução da TELLES PARTICIPAÇÕES (12/05/2012), e assim, evitou-se deliberadamente, às vésperas da Assembleia Geral do TELES FIP de 23/05/2012, que a YPIÓCA BEBIDAS pertencesse diretamente à AGROPAULO ou à TELLES PARTICIPAÇÕES. Essa concatenação de atos societários concentrados em período curto teve como objetivo tornar isenta a venda da YPIÓCA BEBIDAS, com evidente economia de custos tributários; (3) concentração de poderes nas mãos do Sr. Everardo Ferreira Telles para a concretização do negócio da venda da Fl. 2215DF CARF MF Fl. 16 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 YPIÓCA BEBIDAS, demonstrando, mais uma vez, a desnecessidade do TELLES FIP. Logo, houve ação dolosa tendente a impedir ou retardar a ocorrência de fato gerador de imposto de renda sobre ganho de capital na venda daquela companhia, haja vista que os verdadeiros contribuintes desse tributo eram os cotistas do ALVORADA FIM (membros da família Telles, entre eles, o ora impugnante). g) Multa qualificada e natureza confiscatória. A multa foi aplicada com fulcro no art. 44, I e §1º, da Lei nº 9.430/1996, sendo vedado o reconhecimento administrativo da inconstitucionalidade da lei (Decreto n° 70.235, de 1973, art. 26-A). O contribuinte também aduziu o Ag. Reg. no RE 754.554, no sentido de que o princípio da vedação ao confisco seria aplicável não só aos tributos, mas também às multas fiscais. O referido precedente do STF é inaplicável na espécie, pois: a) trata-se de julgado da lavra da 2ª Turma da Suprema Corte, e não de seu plenário, configurando, portanto, decisão não vinculante para a Administração Judicante (art. 26-A, § 6°, I, do Decreto nº 70.235/1972); b) mesmo que fosse de observância obrigatória, não restou caracterizado, no caso concreto, o efeito confiscatório da multa de 150% sobre o imposto devido; c) mesmo que fosse de observância obrigatória, o caso julgado pelo STF diz respeito à multa cobrada pelo Estado de Goiás, ou seja, ali a Suprema Corte não decidiu sobre a constitucionalidade da normas que embasaram a aplicação da penalidade ora sob exame (art. 44, I e § 1°, da Lei n° 9.430/1996). O impugnante também arguiu em seu favor o Ag. Reg. no RE 523.471, no sentido de que, consoante o princípio da vedação ao confisco, a multa não poderia ultrapassar o percentual de 30%. O mencionado precedente do STF é inaplicável na espécie, pois: a) trata-se de julgado da lavra da 2ª Turma da Suprema Corte, e não de seu plenário, configurando, portanto, decisão não vinculante para a Administração Judicante (art. 26-A, § 6°, I, do Decreto nº 70.235/1972); b) o caso julgado pelo STF diz respeito à multa de mora, paga espontaneamente por mero inadimplemento no recolhimento de tributos; ao passo que a matéria aqui tratada se refere à multa de ofício, exigida mediante lançamento de ofício, na hipótese de falta de lançamento por homologação; c) mesmo que fosse de observância obrigatória, o caso julgado pelo STF diz respeito à multa previdenciária, ou seja, ali a Suprema Corte não decidiu sobre a constitucionalidade da normas que embasaram a aplicação da penalidade ora sob exame (art. 44, I e § 1°, da Lei n° 9.430/1996). Esclareça-se, por fim que em relação à multa de ofício qualificada aplicada na forma do art. 44, I e § 1°, da Lei n° 9.430/1996, corre no STF recurso extraordinário que decidirá sobre a eficácia confiscatória de tal penalidade, sob o rito da repercussão geral, consoante RE 736.090 RG. Enquanto não houver o julgamento desse tema pela Suprema Corte, descabe ao órgão administrativo de julgamento a discussão sobre constitucionalidade de lei, que autoriza, por enquanto, a cobrança de multa de ofício qualificada no percentual ali indicado. Intimado Dário Araujo Telles foi em 07/12/2017 (fls. 2089) e intimado Everardo Ferreira Telles em 14/12/2017(fls. 2090), Dário Araujo Telles apresentou recurso voluntário (fls 1756/1794), acompanhado de documentos (fls. 1795/1920) em 21/12/2017 (fls. 1755) e Everardo Fl. 2216DF CARF MF Fl. 17 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Ferreira Telles apresentou recurso voluntário (fls. 1922/1960), acompanhado de documentos (fls. 1961/2088) em 21/12/2017 (fls. 1921). Como as razões recursais veiculam os mesmos argumentos, em síntese, os explicito: a) Tempestividade. O recorrente Dário tomou ciência do Acórdão em 30/11/2017, portanto tempestivo o recurso. O recorrente Everardo tomou ciência do acórdão em 30/11/2017, portanto tempestivo o recurso. b) Nulidade - Erro da identificação do sujeito passivo. Caso venha a prevalecer a tese da desconsideração dos Fundos FIP-TELLES e FIM - ALVORADA, o sujeito passivo deve ser a proprietária original das participações societárias vendidas - a empresa Agropaulo Agroindustrial S/A., ou na pior das hipóteses, a antiga controladora da Agropaulo Agroindustrial S/A, a holding Telles Participações S/A., mas jamais as pessoas físicas proprietárias do FIM-ALVORADA, como pretendeu a fiscalização, afinal essas pessoas físicas jamais foram proprietárias diretas das participações societárias alienadas. Para a DRJ, os Fundos tem "eficácia relativa" e que todos os seus atos são válidos, exceto para o fim de identificação do sujeito passivo da operação de alienação, objeto do auto de infração. Mantido esse entendimento, toda alienação de participação societária originalmente da Holding TELLES que o FIP-TELLES vier a realizar o sujeito passivo não será o FIP-TELLES, mas seus cotistas. Ou os Fundos foram constituídos licitamente ou todos seus atos devem ser desconsiderados. Se os Fundos são obras simuladas, as participações devem retornar ao status quo ante. Os membros da família jamais foram proprietários da YPIÓCA BEBIDAS e quando da constituição do FIP-TELLES ela sequer existia. Logo, o sujeito passivo é a AGROPAULO e o auto de infração é nulo por erro na identificação do sujeito passivo (CTN, art. 142; e jurisprudência).Cabe ao contribuinte responder por seus próprios atos e os membros da família não praticaram nenhum ato em relação à constituição e alienação da YPIÓCA BEBIDAS. O erro em tela é vício é material, não podendo o fisco escolher a seu bel prazer o sujeito passivo (jurisprudência; Parecer PGFN n° 278, de 2014; e Solução de Consulta Interna Cosit n° 08, de 2013). c) Nulidade - decadência. Os cotistas recolheram o imposto de renda de ganho de capital quando da constituição do FIP-TELLES, trazendo para aquela data o termo inicial da contagem do prazo decadencial. Tendo o Fisco desconsiderado o ato jurídico decorrente da criação do TELLES FIP, o imposto de renda recolhido sobre o ganho de capital, naquela data, obrigatoriamente, deve representar parte do recolhimento do IR devido na operação de compra e venda de participações acionárias, conforme apuração dos ganhos de capital. Assim sendo, tendo sido recolhido o IR em 27 de janeiro de 2012, e tendo a venda, formalmente, se concretizado em 25/05/2012 (Relatório do CADE), o fato gerador do tributo deve ser o dies a quo da contagem do prazo decadencial (25/05/2012). Contudo, invocando relatório de Demonstrações Contábeis, o Fisco quer fazer crer que a transação ocorreu em 09/08/2012. Tendo havido recolhimento do imposto de renda sobre o ganho de capital, como ocorreu, não se aplica o art. 173, I, do CTN (jurisprudência vinculante RE 973.733/SC). A contagem do prazo Fl. 2217DF CARF MF Fl. 18 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 decadencial se inicia na data de formalização no negócio (25/05/2012) e, havendo pagamento parcial, o fisco só poderia lançar o tributo até 24/05/2017 (jurisprudência). Não há dolo, fraude ou simulação, tendo o fisco se limitado a invocar os art. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 1964, para qualificar a multa e que o TELLES FIP foi constituído cinco meses antes da venda para a CINTER. Contudo, o TVF não menciona que houve um longo planejamento societário/sucessório ainda não concluído e estando a cargo da Fundação Dom Cabral e que foram diversas as oportunidades de venda de empresas do Grupo Telles não concretizadas, além de o Grupo Telles em 2007 ter criado o Fundo Halley e o Fundo Telles Exclusivo, ou seja, ser a criação de fundos parte indissociável do planejamento societário/sucessório, implantado desde 1998. Note-se que os direitos acionários levados para o TELLES FIP poderiam ter sido levados para qualquer dos outros fundos, a revelar a ausência de fraude, dolo ou simulação. Logo, impõe-se o reconhecimento da decadência. d) Mérito. Propósito negocial. Por falta de propósito negocial na constituição dos fundos de investimentos FIP-TELLES e FIM-ALVORADA proprietários direto e indireto, respectivamente, da empresa alienada YPIÓCA BEBIDAS, a fiscalização considerou haver planejamento ilícito idealizado pelos membros da família Telles e o ganho de capital auferido pelo FIP-TELLES foi considerado como sendo das pessoas físicas da família. Contudo, a criação dos fundos fez parte de processo de reestruturação do Grupo Telles, objetivando a sucessão do controle e políticas de governança corporativa e gestão profissionalizada, bem como permitir maior visibilidade e negociabilidade das empresas operacionais. Os argumentos do Acórdão recorrido não se sustentam. Os fundos de investimento são notadamente empregados para gerir empresas operacionais e fundos exclusivos não são utilizados única exclusivamente para gerir investimentos novos, conforme informações disponibilizadas pela CVM (ex. fundo FIP-DIBRA). Além disso, a legislação não impede a constituição de fundo de investimento cujo patrimônio seja composto de participações anteriormente pertencentes aos cotistas fundadores do referido fundo. Os fundos não foram constituídos para criar entidade interposta entre as empresas e seus acionistas/cotistas para, de forma simulada, promover a alienação da YPIÓCA BEBIDAS, a qual sequer existia quando da criação dos fundos. Caso essa fosse a intenção, seria mais fácil a AGROPAULO criar um único fundo de investimento, como se verificou no caso do FIP- DIBRA e do FIP-BERTIN, este considerado como ato simulado e sem finalidade negocial pelo Acórdão 12-1-001.640. No caso concreto, a situação é bem diferente da do FIP-BERTIN. A AGROPAULO teve suas atividades segregadas com a criação da YPIÓCA BEBIDAS e de duas outras empresas em fevereiro de 2012, a revelar planejamento estratégico e não tendo sido essas outras duas empresas negociadas. O planejamento se iniciou em 1998, conforme histórico de fls. 1773/1777 e 1939/1943, e, ao contrário do que deixou transparecer o Acórdão, o FIP-TELLES vem realizando investimentos na ampliação dos negócios do Grupo Telles (fls. 1777/1778 e 1943/1944), não sendo ficção ou simulação. A simulação teria Fl. 2218DF CARF MF Fl. 19 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 o intuito único e exclusivo da "isenção" tributária na operação de venda da YPIÓCA BEBIDAS. Mas, não existe isenção tributária em FIP. O que há é uma antecipação de tributos no momento da subida das empresas para o FIP, como foi o caso da criação do FIP-TELLES, quando os membros da família Telles recolheram a titulo de ganho de capital antecipado valor superior a R$ 22 milhões decorrente da avaliação econômica da TELLES PARTICIPAÇÕES E NEGÓCIOS SA, e um diferimento de tributos para o momento em que ocorrer amortizações ou resgates. Inclusive este diferimento deixou de existir a partir da MP n° 806/2017. E mais, a partir desta MP, todos os ganhos realizados pelo FIP, inclusive estes que estão sendo cobrados através de auto de infração, deverão ser tributados pelo IR, independentemente de amortizações ou resgates. A "isenção fiscal" dos fundos de investimento tem fundamento na geração de novos investimentos e negócios e foi eliminado pela MP n° 806, de 2017, ao prever tributação trimestral de IR (come-cotas) a partir de maio de 2018. Com a criação do FIP-TELLES, o Grupo Telles perdeu a isenção que tinha na distribuição de dividendos pelas empresas operacionais, pois a partir da entrada em vigor da IN 1585/15, dita distribuição de dividendos para os FIPs passou a integrar o patrimônio liquido desses fundos e consequentemente tributados por ocasião das amortizações ou resgate e com a MP n° 816, de 2017, o tributo ora lançado será cobrado novamente em maio de 2018, caracterizando dupla tributação sobre a mesma base de cálculo. As negociações com o grupo DIAGEO foram longas e outras longas negociações não se concretizaram (DISTEL, CAMPARI e PERNOD RICARD), logo o FIP-TELLES não foi criado para a venda operada seis meses depois. A simulação deve ser comprovada, não bastando meros indícios (jurisprudência). Se a operação é ilícita, não haveria motivo para se recolher mais de 22 milhões de imposto de renda sobre ganho de capital antecipadamente quando da criação de FIP/FIM. Logo, observaram-se os arts. 1°, IV, 170. IV, 5° II e XXII, da Constituição, sendo o planejamento societário e sucessório regular, lícito e sem dolo. e) Mérito. Calculo do IR sobre Ganho de Capital. Os pagamentos de IR a título de Ganho de Capital quando da constituição do FIP-TELLES, bem como os pagamentos de IR, também sobre Ganho de Capital, quando das amortizações ocorridas após a alienação da YPIOCA BEBIDAS, não foram considerados no lançamento. Mas, esses pagamentos tiveram a mesma base para tributação. Em outras palavras, se quando da constituição do TELLES FIP foi recolhido a título de imposto de renda sobre o ganho de capital, calculado sobre a diferença entre o valor econômico e o valor contábil das empresas quando da integralização das cotas do TELLES FIP, tal valor deveria ser considerado para fins de cálculo do imposto devido no presente caso. E mais, entre a data de constituição dos fundos TELLES FIP e ALVORADA FIM e a data de hoje, ocorreram amortizações no ALVORADA FIM pelas pessoas físicas, o que ensejou o recolhimento de imposto de renda sobre ganho de capital, na forma da legislação vigente, conforme extratos de movimentação apresentados quando da impugnação. Logo, tais recolhimentos devem ser considerados, sob pena de Fl. 2219DF CARF MF Fl. 20 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 enriquecimento sem causa da Fazenda Nacional. O Acórdão sustenta que esses fatos são diversos da venda da YPIÓCA BEBIDAS, mas, se os fundos são desconsiderados, tais valores devem ser utilizados para abater o IR apurado. O Acórdão sustenta ainda que por ter sido a YPIÓCA BEBIDAS criada após o FIP-TELLES não poderia ser considerado o ganho apurado anteriormente, mas essa argumentação justamente revela não ser cabível a desconsideração dos fundos. A parcela da YPIÓCA BEBIDAS na TELLES PARTICIPAÇÕES é determinante, conforme laudo de avaliação econômica (fls 165/219) e laudos de avaliação (docs. 15 e 16) na dissolução da TELLES PARTICIPAÇÕES (a indicar YPIÓCA BEBIDAS representar 76,38% do valor de avaliação utilizado na constituição do FIP-TELLES), fazendo a contabilidade do FIP-TELLES, bem como demais informações sobre o referido fundo parte do PAF (fls. 865/890). Além disso, para se saber a participação da YPIÓCA BEBIDAS no FIP-TELLES basta consultar o site da CVM (docs. 17 e 18, em junho de 2012 76,126%). Sobre o aproveitamento das amortizações de Everardo Ferreira Telles e Maria Heloisa Ferreira de Melo, deve se ter em mente que ambos são usufrutuários de parte significativa do FIM-ALVORADA, conforme documentos de constituição (fls. 112/164), para os quais são destinados os ganhos auferidos pelo fundo sobre as cotas para as quais detêm o usufruto e como tal destinatários finais dos ganhos obtidos no fundo. Assim, todos os valores de IR retidos em nome dos referidos usufrutuários devem ser utilizados (compensados) para a determinação do IR devido no presente caso, sob pena de tributação do ganho em duplicidade. f) Multa qualificada. Por duas razões, o fisco concluiu pela qualificação: i) reduzido tempo entre a criação do TELLES FIP e a venda da Ypióca Agroindustrial de Bebidas S/A (seis meses); e ii) matéria dos jornais "O Valor" e "O Povo", datados de 28/05/2012; 29/05/2012; e 15/10/2012, onde o Sr. Everardo Ferreira Telles, controlador do Grupo Telles informa, que o negócio com a Diageo estava em andamento desde o ano anterior (2011). Entretanto, em data anterior o mesmo Sr. Everardo declarou a imprensa que o negócio que estava em andamento com a Diageo foi cancelado, pois as empresas não conseguiram chegar a um acordo em relação aos valores da negociação. Qualquer negócio só está fechado após contrato assinado e dinheiro depositado, tendo havido inúmeras tentativas de negociações ao longo dos anos (Pernod Ricard, Campari, Distell e Diageo; e propostas dos bancos de investimento UBS, BTG PACTUAL, CREDIT SUISSE). O fisco também não citou a criação dos Fundos HALLEY e TELLES EXCLUSIVO, parte indissociável do planejamento societário/sucessório. E mais, a cessão dos direitos acionários levados para o TELLES FIP, criado em dezembro de 2011, poderiam ter sido levados para quaisquer dos dois fundos existentes, criados em 2007 e 2009, bastando para tanto alterar o Regulamento dos ditos fundos junto a CVM. Se isso tivesse ocorrido, o Fisco não poderia dizer que o TELLES FIP foi criado especificamente para receber as ações da Ypióca Agroindustrial de Bebidas S/A. E o Grupo Telles só não fez isso, para não mexer na estrutura de Fundos concebida no planejamento societário. Logo, não há fraude, dolo ou simulação. Como já Fl. 2220DF CARF MF Fl. 21 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 demonstrado, houve lícito planejamento societário/sucessório, a afastar o dolo. Além disso, é do fisco a prova do ilícito alegado (jurisprudência), não se podendo presumir a fraude, o dolo e a simulação. Houve planejamento e o fato do Sr. Everardo Ferreira Telles ter sido nomeado procurador do FIP- TELLES na alienação da YPIÓCA BEBIDAS não revela dolo, ainda mais sendo membro do Comitê de Investimento do FIP-TELLES e usufrutuário da maioria das participações. g) Multa de 150% - confisco. A penalidade de 150% é confiscatória e não razoável (jurisprudência e doutrina). h) Pedidos. Requer a reforma do Acórdão recorrido para, preliminarmente, ser reconhecido o erro na identificação do sujeito passivo e, subsidiariamente, a decadência e, no mérito, a improcedência pela existência de propósito negocial e, subsidiariamente, a consideração do IR já recolhido, a retirada da qualificadora e a redução da multa a limites estipulados pela jurisprudência do STF, haja vista seu caráter confiscatório. A União (Fazenda Nacional) apresentou contrarrazões (fls. 2093/2166) requerendo que se negue provimento aos recursos voluntários. Em 28/08/2018 (fls. 2170), Dário Araújo Telles apresentou razões aditivas ao recurso voluntário (fls. 2171/2179), acompanhada de documentos (fls. 2180/2182), em síntese, sustentando: a) O erro de identificação do sujeito passivo é matéria de ordem pública a ser conhecida em qualquer tempo e fase do processo (CPC, art. 485, VI e § 3°; e jurisprudência). b) Dário Araújo Telles, nu-proprietário das ações da holding TELLES PARTICIPAÇÕES e das cotas do FIM-ALVORADA e do FIP-TELLES não foi beneficiado pelo ganho de capital alegado pelo fisco, já que detém apenas a nua-propriedade. Qualquer ganho de capital só pode ter como beneficiário os usufrutuários desses títulos patrimoniais, os quais gozam da disponibilidade econômica e jurídica dos valores recebidos (Código Civil, arts. 1.228, 1.390 e 1.394; e jurisprudência). Logo, o auto de infração é nulo por vício material (SCI Cosit n° 8/2013, Parecer PGFN n° 278/2014; e jurisprudência). É o relatório. Voto Conselheiro José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Relator. Admissibilidade. Intimado Dário Araujo Telles em 07/12/2017 (fls. 2089), o recurso interposto em 21/12/2017 (fls. 1755) é tempestivo (Decreto n° 70.235, de 1972, arts. 5° e Fl. 2221DF CARF MF Fl. 22 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 33). Intimado Everardo Ferreira Telles em 14/12/2017(fls. 2090), o recurso interposto em 21/12/2017 (fls. 1921) é tempestivo (Decreto n° 70.235, de 1972, arts. 5° e 33). Presentes os pressupostos de admissibilidade, tomo conhecimento dos recursos voluntários. Acrescento que a alegação de erro de identificação do sujeito passivo veiculada no aditamento das razões recursais apresentado em 28/08/2018 (fls. 2170) será conhecida, eis que se trata de matéria de ordem pública. Identificação do sujeito passivo. O presente lançamento envolve ganho de capital pela alienação da propriedade de participações societárias. A jurisprudência invocada diz respeito ao lançamento pertinente a juros sobre capital próprio. Não se pode transferir o usufruto por alienação; sendo que apenas seu exercício pode ser cedido a título gratuito ou oneroso (Código Civil, art. 1.393). No caso, houve imputação de venda da propriedade e o ganho auferido na operação em questão não reverte para usufrutuário. Portanto, o nu-proprietário Dario Araújo Telles é sujeito passivo do lançamento. Apesar de no TVF a fiscalização ter afirmado que os fundos de investimento não teriam propósito negocial, a leitura de todo o TVF revela que a imputada ausência de propósito negocial se delimita a venda por meio dos fundos (TELLES FIP e ALVORADA FIM) do negócio da cachaça, concentrado na YPIÓCA BEBIDAS, a ensejar a ineficácia da interposição dos fundos apenas em relação ao contrato de venda e compra, ou seja, ineficácia da interposição dos fundos para reduzir artificialmente o ganho de capital no que toca aos efetivos beneficiários do negócio jurídico de venda e compra. Essa leitura do TVF foi corretamente empreendida pela DRJ tanto que afirma caber demonstração em relação a cada companhia operacional se uma eventual venda se amoldaria ou não ao propósito negocial do TELLES FIP para gerar a isenção do imposto de renda sobre eventual ganho de capital. Logo, não há que se falar em modificação da fundamentação do Auto de Infração, sendo referida delimitação evidente, tanto que o recorrente sustenta não ser possível a desconsideração seletiva dos fundos. Destarte, não houve declaração de nulidade dos fundos ou de atos por eles praticados e nem imputação de ineficácia de todo e qualquer ato praticado pelos fundos ou a ser por eles praticados no futuro. A partir da prova carreada aos autos, a fiscalização apenas imputou a indevida interposição dos fundos em relação à venda da YPIÓCA BEBIDAS, a gerar desdobramentos apenas no plano da eficácia e em relação à venda e compra. Em outras palavras, a interposição ocultou o real sujeito passivo, a atrair o lançamento tributário em face do real beneficiário do ganho de capital. Não podem constar do polo passivo do lançamento pessoas jurídicas que não eram mais titulares das participações societárias da YPIÓCA BEBIDAS ao tempo do ganho de capital (AGROPAULO ou TELLES PARTICIPAÇÕES). Com relação à AGROPAULO, quando da alienação da YPIÓCA BEBIDAS (contrato de 23/05/2012, aditado em 03/08/2012), a YPIÓCA BEBIDAS não mais era de titularidade da AGROPAULO, eis que na cisão parcial desta, em 11/05/2012, a YPIÓCA BEBIDAS passou a ser controlada diretamente pela TELLES PARTICIPAÇÕES e, posteriormente, com a liquidação da TELLES PARTICIPAÇÕES, passou a ser controlada diretamente pelo TELLES FIP, não sendo, por conseguinte, a AGROPAULO, esta também Fl. 2222DF CARF MF Fl. 23 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 controlada pelo TELLES FIP, beneficiada com a alienação da YPIÓCA BEBIDAS. Note-se que a cisão não foi considerada irregular pela fiscalização. Ao tempo da alienação da YPIÓCA BEBIDAS, a TELLES PARTICIPAÇÕES sequer existia, não se podendo efetuar o lançamento contra pessoa jurídica extinta, nos termos da Súmula CARF n° 112: Súmula CARF nº 112 É nulo, por erro na identificação do sujeito passivo, o lançamento formalizado contra pessoa jurídica extinta por liquidação voluntária ocorrida e comunicada ao Fisco Federal antes da lavratura do auto de infração. Acórdãos Precedentes: 103-22.779, de 06/12/2006; 1401-00.377, de 11/11/2010; 1401-00.786, de 08/05/2012; 9101-001.298, de 26/01/2011; 9101-001.705, de 18/07/2013. No polo passivo, deve constar o efetivo beneficiário do ganho de capital. Nesse sentido, ainda que a Súmula CARF n° 12 seja pertinente a rendimentos sujeitos ao ajuste anual, pode ser invocada a inteligência a ela subjacente: Súmula CARF nº 12 Constatada a omissão de rendimentos sujeitos à incidência do imposto de renda na declaração de ajuste anual, é legítima a constituição do crédito tributário na pessoa física do beneficiário, ainda que a fonte pagadora não tenha procedido à respectiva retenção. Acórdãos Precedentes: Acórdão nº 102-45558, de 19/06/2002 Acórdão nº 102-45717, de 19/09/2002 Acórdão nº 104-19081, de 05/11/2002 Acórdão nº 104-17093, de 09/06/1999 Acórdão nº 106- 14387, de 26/01/2005 No caso concreto, a fiscalização considerou como tendo se beneficiado do ganho de capital o nu-proprietário Dário Araújo Telles, sendo o Sr. Everardo Ferreira Telles responsável por interesse comum (CTN, art. 124, I) e por força dos arts. 134 e 135, I, do CTN, em face dos fatos evidenciados pela fiscalização nos autos. Diante desse contexto, não houve erro de identificação do sujeito passivo e nem há qualquer nulidade a ser declarada. Inocorrência de decadência. A venda e compra foi firmada em 25/05/2012 (fls. 696/767) e aditada em 03/08/2012 (fls. 768/843). Em 27/01/2012, não houve pagamento referente ao negócio contratado em 25/05/2012 e aditado em 03/08/2012, não havendo, por conseguinte, como se acolher a alegação de antecipação de pagamento em relação aos valores recolhidos em razão da integralização das participações societárias da TELLES PARTICIPAÇÕES no TELLES FIP em 12/2011. A fiscalização não imputou nulidade na criação do TELLES FIP, mas que houve na venda da YPIÓCA BEBIDAS ocultação do real sujeito passivo. Ainda que se considere que a simulação havida na venda da YPIÓCA BEBIDAS já estaria sendo gestada quando da constituição do TELLES FIP e integralização da TELLES PARTICIPAÇÕES, tal integralização Fl. 2223DF CARF MF Fl. 24 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 constituiu-se em ato lícito e regular, a caracterizar fato gerador de imposto de renda sobre ganho de capital diverso do gerado na venda da YPIÓCA BEBIDAS, eis que o TELLES FIP poderia ter se comportado após a integralização como um fundo de investimento em participações em relação ao negócio da cachaça (YPIÓCA BEBIDAS). Adiante-se que a falta de propósito negocial em relação aos fundos se dá apenas quando se considera a venda da YPIÓCA BEBIDAS, sendo esta venda ineficaz e não a integralização das cotas do TELLES FIP com ações da TELLES PARTICIPAÇÕES. Não se trata de desconsideração seletiva dos fundos, mas de se reconhecer que a ineficácia se opera em relação à venda e compra e não em relação aos fundos ou a todos os atos por eles praticados ou a serem praticados, estando correto o lançamento tal como efetivado. Em circunstâncias fáticas diversas, a venda da YPIÓCA BEBIDAS pelo TELLES FIP poderia ter sido regular, mas no caso concreto, como bem demonstrado pela fiscalização, não o foi, configurando-se inclusive o dolo voltado à supressão ou redução de tributo, logo cabível a aplicação do art. 173, I, do CTN. Na venda a prazo, o fato gerador do ganho de capital ocorre na data de pagamento de cada parcela e na proporção delas, eis que o acréscimo patrimonial se dá com o recebimento de cada parcela (CTN, art. 43; Lei n° 7.713, de 1988, arts. 2°, 3°, §§ 2°, 3° e 4°, e 21; e Lei n° 8.981, de 1995, art. 21). Nesse sentido, tem se desenvolvido a jurisprudência: GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO A PRAZO. PAGAMENTO PARCELADO. MOMENTO DO FATO GERADOR. Nas alienações a prazo, o fato gerador do ganho de capital aperfeiçoa-se no efetivo recebimento de cada parcela do preço ajustado entre as partes, quando então nasce a obrigação tributária de pagamento do imposto sobre a renda, na proporção delas. (Acórdão n° 2401-006.117, de 14/03/2019) DECADÊNCIA. GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO DE AÇÕES A PRAZO. FATO GERADOR. Nas vendas a prazo o fato gerador do Imposto de Renda se realiza com o efetivo pagamento da parcela acordada pelas partes, devendo este ser o termo inicial para contagem do prazo decadencial. (Acórdão n° 9202-007.321, de 25/10/2018) Por força da legislação, a data da alienação é utilizada apenas para fins de apuração do ganho de capital, como se o negócio fosse à vista (Regulamento do Imposto de Renda/99, art. 140), não havendo óbice em dissociar o momento em que se aperfeiçoa a obrigação tributária daquele estipulado para a quantificação dessa mesma obrigação tributária. Destarte, efetuados os pagamentos em 09/08/2012, 21/02/2013, 09/11/2015 e 07/10/2016 e cientificado o lançamento em 13/07/2017, não se configura a decadência. Ausência de Propósito Negocial. Dispõem os arts. 2°, caput, 10 e 15, I a XI, da IN CVM n° 391, de 2003, aplicável ao tempo dos fatos: Art. 2 o O Fundo de Investimento em Participações (fundo), constituído sob a forma de condomínio fechado, é uma comunhão de recursos destinados à aquisição de ações, Fl. 2224DF CARF MF Fl. 25 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 debêntures, bônus de subscrição, ou outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão de companhias, abertas ou fechadas, participando do processo decisório da companhia investida, com efetiva influência na definição de sua política estratégica e na sua gestão, notadamente através da indicação de membros do Conselho de Administração. (...) Art. 10. O administrador terá poderes para exercer todos os direitos inerentes aos títulos e valores mobiliários integrantes da carteira do fundo, inclusive o de ação e o de comparecer e votar em assembleias gerais e especiais, podendo delegar para o gestor esses poderes, no todo ou em parte. §1 o Nos casos em que o administrador ou gestor compartilhe com o conselho ou comitê decisões inerentes à composição da carteira de investimentos, incluindo mas não se limitando à aquisição e à venda de ativos da carteira do fundo, os procedimentos referentes ao compartilhamento de tais decisões deverão estar claramente explicitados no regulamento. §2 o Os membros do conselho ou comitê deverão informar ao administrador, e este deverá informar aos cotistas, qualquer situação que os coloque, potencial ou efetivamente, em situação de conflito de interesses com o fundo. Art. 15. Competirá privativamente à assembléia geral de cotistas: I – tomar, anualmente, as contas relativas ao fundo e deliberar, até 30 de junho de cada ano, sobre as demonstrações contábeis apresentadas pelo administrador; I – tomar, anualmente, as contas relativas ao fundo e deliberar, em até 150 (cento e cinquenta) dias após o término do exercício social, sobre as demonstrações financeiras apresentadas pelo administrador; Inciso I com redação dada pela Instrução CVM nº 535, de 28 de junho de 2013. II – alterar o regulamento do fundo; III – deliberar sobre a destituição ou substituição do administrador e escolha de seu substituto; IV – deliberar sobre a fusão, incorporação, cisão ou eventual liquidação do fundo; V – deliberar sobre a emissão e distribuição de novas cotas; VI – deliberar sobre o aumento na taxa de remuneração do administrador, inclusive no que diz respeito à participação nos resultados do fundo; VII – deliberar sobre a prorrogação do prazo de duração do fundo; VIII – deliberar sobre a alteração do quorum de instalação e deliberação da assembléia geral; IX – deliberar sobre a instalação, composição, organização e funcionamento dos comitês e conselhos do fundo; e X – deliberar, quando for o caso, sobre requerimento de informações de cotistas, observado o disposto no parágrafo único do art. 14 desta Instrução. IX – deliberar sobre a instalação, composição, organização e funcionamento dos comitês e conselhos do fundo; X – deliberar, quando for o caso, sobre requerimento de informações de cotistas, observado o disposto no parágrafo único do art. 14 desta Instrução; e Incisos IX e X com redação dada pela Instrução CVM nº 535, de 28 de junho de 2013. XI – deliberar sobre a prestação de fiança, aval, aceite, ou qualquer outra forma de coobrigação, em nome do fundo. Inciso XI incluído pela Instrução CVM nº 535, de 28 de junho de 2013. Fl. 2225DF CARF MF Fl. 26 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Desde a origem, o TELLES FIP continha disposições em seu Regulamento passíveis de enfraquecer a norma da IN CVM n° 391, de 2003, de a administração e gestão do fundo dever ficar a cargo de uma administração profissional ou, nos termos de Regulamento, compartilhada com o Conselho ou Comitê (fls. 50): Art. 17 (...) Parágrafo Décimo - Na realização dos investimentos do Fundo, o Administrador e o Gestor OBSERVARÃO as deliberações da Assembleia Geral de Cotistas e do Comitê Gestor e de Investimento, tomadas de acordo com os Capítulos VI e VII deste Regulamento, sem prejuízo do direito do Gestor de vetar os investimentos que se encontrem em desacordo com a política de investimento estabelecida neste Regulamento, na legislação aplicável ou que implique na aquisição de valores mobiliários ou ativos financeiros de pessoas que tenham sido indiciados por fraude ou demais processos criminais. (Grifos acrescidos) Logo, o administrador e gestor Ouro Preto Gestão de Recursos Ltda (fls. 42) poderia ficar reduzido a um mero executor das decisões da Assembleia de Quotistas e do Comitê Gestor e, no caso concreto, não houve pelo exíguo prazo de tempo até a venda da YPIÓCA BEBIDAS efetiva mudança voltada à profissionalização da administração, tendo sido inclusive dispensada a participação do Comitê Gestor ou da Assembleia de Quotistas ao se atribuir as decisões sobre investimentos ao "maior cotista do Fundo ou usufrutuário da maior quantidade de quotas", conforme alteração do Regulamento aprovado na Assembleia Geral de 23/04/2012 (fls. 250): "DELIBERAÇÕES: Os Cotistas deliberaram, por unanimidade, com base na pauta acima, aprovar todas as seguintes alterações no Regulamento do Fundo. (...) f) Alterar o Artigo 30 para esclarecer que o Comitê Gestor e de Investimento não tem competência exclusiva e não necessita, nem devo deliberar sobre assuntos que já tenham sido objeto de deliberação por parte da Assembleia Geral de Cotistas. g) Alterar o Artigo 17 para acrescentar um texto final ao Parágrafo Terceiro desse artigo para deixar claro que especialmente no caso de ativos vinculados a garantias dadas ao comprador de ativo desinvestido, conforme previsto na alínea c) do Inciso II do parágrafo 3° do Artigo 6°-A da Instrução CVM 391, o valor desse tipo de ativo deverá ser somado aos ativos fins do Fundo, não implicando, portanto, em desenquadramento da carteira. h) Alterar o Parágrafo Quarto ao Artigo 31 para acrescentar que os deveres e prerrogativas do Comitê Gestor e de Investimento, enquanto não eleito o Comitê pela Assembleia Geral, serão exercidas pelo maior cotista do Fundo ou usufrutuário da maior quantidade de cotas, que seja detentor dos direitos sobre mais de 50% das cotas emitidas; cotista que poderá receber procuração do Fundo para representá-lo perante as companhias investidas." A gestão do investimento/desinvestimento consubstanciado na YPIÓCA BEBIDAS permaneceu com as pessoas físicas do Grupo Econômico, em especial sob o controle de seu efetivo administrador Sr. Everardo Telles e as decisões sobre a alienação da YPIÓCA BEBIDAS puderam ser tomadas pela Assembleia de Quotistas ou especificamente pelo Sr. Everardo Telles e o foram, eis que a Assembleia Geral deliberou pela venda em 23/05/2012 e atribuiu plenos poderes para o Sr. Everardo concretizar o negócio de venda da YPIÓCA BEBIDAS, quais sejam: estabelecer o preço da venda e quaisquer outras cláusulas ou condições do negócio e assinar quaisquer documentos necessários para o seu implemento (fls. 477): Fl. 2226DF CARF MF Fl. 27 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 TELLES FUNDO DE INVESTIMENTO EM PARTICIPAÇÕES CNPJ nº 14.769.978/0001-27 Ata da Assembleia Geral Extraordinária de Cotistas realizada em 23/05/2012 (...) PRESENÇA: Presente o único cotista do Fundo, a saber: ALVORADA FUNDO DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO CRÉDITO PRIVADO, representado por sua administradora OURO PRETO GESTÃO DE RECURSOS LTDA, por sua vez representada na forma estabelecida em seu contrato social, pelo diretor estatutário João Baptista Peixoto Neto. A assinatura do representante do cotista encontra-se aposta na lista de Presença. Presente também a ADMINISTRADORA. COMPOSIÇÃO DA MESA: João Baptista Peixoto Neto - Presidente, representante do único cotista do FIP, e representante da Administradora; Andrea Padilla - Secretária. ORDEM DO DIA: Considerando que o Fundo recebeu por parte da empresa Cinter International Brands Indústria e Comércio Ltda. oferta vantajosa pelas ações de companhia fechada, controlada pelo fundo, que se dedica à produção, comercialização e distribuição de vários tipos de cachaça e destilados, definido como "Negócio de Cachaça", decidiu-se a realização desta Assembleia Geral de Cotistas para deliberar tal desinvestimento, com a venda pelo Fundo das ações da companhia que se dedica a esse segmento de negocio. DELIBERAÇÕES: Os Cotistas deliberaram, por unanimidade, aprovar a venda da totalidade das ações pertencentes ao Fundo da companhia fechada YPIÓCA AGROINDUSTRIAL DE BEBIDAS S/A, inscrita no CNPJ/MF sob o número 15.209.980/0001-04, para a empresa CINTER INTERNATIONAL BRANDS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., sociedade empresária limitada, com sede na Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na Rua Olimpíadas, n.º 205, 11º andar, conjunto 111, sala 01, Vila Olímpia, CEP 04551-000, inscrita perante o CNPJ/MF sob o n.º 60.699.865/0001-10, com seu Contrato Social e última alteração contratual registrados perante a Junta Comercial do Estado de São Paulo ("JUCESP") sob NIRE 35.202.937.S68 e n.º 104.264/10-0, em sessões de 14 de setembro de 1984 e 29 de março de 2010; podendo quaisquer documentos necessários para a concretização do negócio acima descrito ser assinados pelo sr. Everardo Ferreira Telles, que já recebeu plenos poderes do Fundo para essa finalidade, inclusive para estabelecer o preço da venda e quaisquer outras cláusulas ou condições para a sua concretização, e também pela Administradora e Gestora do Fundo na pessoa de seu representante legal, podendo qualquer um dos dois assinar todos e quaisquer documentos relativos à compra e venda do "Negócio Cachaça"e à transferência das ações para a compradora. O Parecer anexo aos Memoriais apresentados pelo recorrente sustenta que essa delegação de poderes para o Sr. Everardo Telles estaria em conformidade com a regulamentação dos fundos de investimento em razão de precedentes da CVM admitirem a influência dos quotistas nas decisões de investimento do fundo, estando preservada a possibilidade de identificação do efetivo responsável pela decisão e permanecendo o gestor como responsável final pelas decisões. Como revela o próprio Parecer, as Instruções Normativas da CVM e os precedentes da CVM admitem a influência do quotista de um fundo exclusivo por meio de estruturas formais de governança, como a Assembleia Geral de Quotistas e o Comitê Gestor de Investimento. Fl. 2227DF CARF MF Fl. 28 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 No caso concreto, a documentação não evidencia uma estrutura formal de governança, mas sim que quem efetivamente tomava as decisões e a frente dos negócios referentes à venda era a pessoa física do Sr. Everardo Telles, supostamente como usufrutuário da maior quantidade de cotas do TELLES FIP, eis que na dicção do Parágrafo Quarto do Artigo 31 do Regulamento do TELLES FIP, dada pela Assembleia Geral de 23/04/2012, ficou asseverado: "enquanto não eleito o Comitê pela Assembleia Geral, serão exercidas pelo maior cotista do Fundo ou usufrutuário da maior quantidade de cotas, que seja detentor dos direitos sobre mais de 50% das cotas emitidas; cotista que poderá receber procuração do Fundo para representá-lo perante as companhias investidas." Note-se, contudo, que o Sr. Everardo Telles não era cotista e nem usufrutuário da maior quantidade de cotas do TELLES FIP, mas usufrutuário da maior parte das quotas do ALVORADA FIM, fundo este que é o único quotista do TELLES FIP. Patente a inconsistência da alegação de o propósito negocial residir na profissionalização e sucessão de controle em relação aos membros da família empreendida desde 1998 e não concluída, eis que tais elementos, em tese, já estariam presentes na holding TELLES PARTICIPAÇÕES, ainda que em menor grau, e a cronologia dos fatos em relação a venda da YPIÓCA BEBIDAS revelam não ter havido qualquer ganho em tal sentido. Como evidenciado pela fiscalização, o tempo exíguo entre o investimento e o desinvestimento e a nítida condução do desinvestimento da YPIÓCA BEBIDAS pelo Sr. Everardo Telles e não pelo gestor do TELLES FIP, bem como a evidente alteração do Regulamento do TELLES FIP para se tentar atribuir aparência de regularidade à atuação direta do Sr. Everardo Telles, revelam que, no caso concreto, o TELLES FIP não atuou como um verdadeiro fundo de investimento em participações. A prova constante dos autos evidencia que o TELLES FIP, em relação à venda objeto do presente lançamento, adquiriu a qualidade de mero ente interposto, eis que não se cumpriu todas as etapas de um ciclo de um investimento novo (captação de recursos, identificação de oportunidades, seleção, estruturação e acompanhamento de investimentos e, finalmente, desinvestimento) esperado de um fundo de investimento em participações e nem ao menos se influiu efetivamente no processo de estruturação e decisório da empresa vendida pelo exíguo tempo de investimento e nem influiu no de desinvestimento, tendo a venda sido efetivamente estruturada pelo Sr. Everardo Telles e não pelo gestor do TELLES FIP, ainda que o gestor fosse formalmente responsável perante a CVM. A participação do TELLES FIP e do ALVORADA FIM na venda da YPIÓCA BEBIDAS, como bem descrito pela fiscalização, foi irrelevante, salvo na esfera da redução de carga tributária incidente sobre a venda. A rigor, não caberia a um FIP, cuja natureza jurídica é de um condomínio, investir em empresas que anteriormente eram de propriedade dos cotistas fundadores, pois se trata do mesmo investimento. Contudo, pode ser demonstrado tratar-se materialmente de efetivo investimento novo e não de uma mera continuidade de um investimento antigo, mediante prova inequívoca de que houve efetiva atuação de um fundo de investimento em participações a agir enquanto tal e a influir na política estratégica e na gestão da sociedade operacional alterando-se substancialmente a natureza do investimento. Fl. 2228DF CARF MF Fl. 29 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 No caso concreto, tal prova não foi produzida e, pelo contrário, a prova dos autos é clara a demonstrar que o tempo decorrido entre o investimento e o desinvestimento é irrisório e que não há como se reconhecer presente os elementos inerentes a uma real atuação de um fundo de investimentos em participações, ainda mais quando se verifica a existência de uma anterior negociação para venda do negócio da cachaça em curso e que ponto relevante a impedir sua celebração residia na definição do preço, como reconhecem os próprios recorrentes (fls. 1786 e 1952), sendo inegável que a estruturação via fundos (TELLES FIP e ALVORADA FIM) reduziu a carga tributária, a possibilitar uma maior negociabilidade lastreada em artificial planejamento tributário. A existência de outras negociações ou de outras propostas não descaracteriza o fato de a venda para a CINTER/DIAGEO estar em negociação e que dificuldade residia no preço a ser estipulado, conforme evidenciam os recorrentes ao invocarem declaração do Sr. Everardo Telles para o jornal O POVO publicada em 12/04/2012, transcrevo (Doc. 6 da impugnação, fls. 1168): O diretor presidente da Ypióca, Everardo Telles, 69, confirmou ao O POVO que chegou a negociar a venda de parte da empresa para o grupo inglês Diageo PLC, o maior do mundo do setor de bebidas (em receita). Contudo, segundo ele, o martelo não foi batido porque não houve acordo quanto ao valor. Conjectura acerca de não ter sido adotado um planejamento tributário irregular com artificialidades ainda mais patentes é irrelevante. A situação fática (vinculação fundo - empresa operacional) se amolda à inteligência veiculada no precedente do CARF referente ao FIP BERTIN - Acórdão n° 1201-001.640, estando clara a existência de um planejamento tributário ilícito no presente caso concreto. Reitere-se que não se declarou a nulidade dos fundos ou de atos por eles praticados e nem se imputou ineficácia de todo e qualquer ato praticado pelos fundos ou a ser por eles praticados no futuro. Não é relevante se os fundos mantém outros investimentos e nem como se comportam em tais investimentos. A questão a ser apreciada para o deslinde do presente processo reside em se definir se houve ou não falta de propósito negocial em relação à venda da YPIÓCA BEBIDAS. No que toca a essa questão, os elementos probatórios colhidos pela fiscalização e bem explicitados no TVF comprovam a utilização dos fundos sem se incorrer em sua causa típica e sendo patente o propósito (causa objetiva) de se reduzir artificialmente a tributação, ensejando a venda em tais termos ofensa à livre concorrência e abuso da liberdade de iniciativa, da liberdade de auto-organização e do direito de propriedade. Uma vez identificada, no curso do processo administrativo, a interposição irregular (sem razão econômica e sem nenhum propósito extratributário) de entidades despersonalizadas (TELLES FIP e ALVORADA FIM), a identificação do real sujeito passivo pelo fisco, com a pertinente classificação dos rendimentos auferidos, revela-se obrigatória e necessária por força dos princípios constitucionais da legalidade (CF, art. 5º, II), da solidariedade (CF, art. 3º, I), a capacidade contributiva (CF, art. 145, §1º) e a isonomia (CF, art. 150, II), além dos artigos 118, I, 142 e 149, VII, do Código Tributário Nacional. Fl. 2229DF CARF MF Fl. 30 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Cálculo do IR sobre ganho de capital. O imposto de renda recolhido sobre o ganho de capital havido na integralização da TELLES PARTICIPAÇÕES no TELLES FIP não pode ser tido como antecipação do ganho de capital incorrido na alienação da YPIÓCA BEBIDAS. Os elementos material e temporal dos fatos geradores são distintos. Além disso, reitere-se que, ainda que se considere que a simulação havida na venda da YPIÓCA BEBIDAS já estaria sendo gestada quando da constituição do TELLES FIP, a integralização da TELLES PARTICIPAÇÕES no TELLES FIP é ato lícito e regular, a caracterizar fato gerador de imposto de renda sobre ganho de capital diverso do gerado na venda da YPIÓCA BEBIDAS, eis que o TELLES FIP poderia ter se comportado após tal integralização como um efetivo fundo de investimento em participações em relação ao negócio da cachaça (YPIÓCA BEBIDAS). Não tendo o TELLES FIP o ALVORADA FIM atuado como efetivos fundos de investimento, impõe-se o reconhecimento da sua interposição no momento da venda contratada em 25/05/2012 e aditada em 03/08/2012 e não da ineficácia da integralização da TELLES PARTICIPAÇÕES no TELLES FIP, momento em que a YPIÓCA BEBIDAS sequer existia. Reitere-se que não se trata de desconsideração seletiva dos fundos, mas de se reconhecer que a ineficácia se opera em relação à venda e compra e não em relação à integralização. Logo, não há como compensar/apropriar no lançamento valor correspondente ao autuado no imposto pago de R$ 22.066.198,00 quando da integralização da TELLES PARTICIPAÇÕES no TELLES FIP em 30/12/2011. Por essa razão, de plano, restam prejudicadas todas as considerações dos recorrentes acerca dos laudos e cálculos para tal apropriação e aproveitamento. Acerca da alegação de diferimento do imposto sobre ganho de capital para o momento de amortização ou resgates, devemos ponderar que a legislação é clara ao determinar que os rendimentos dos fundos de investimento de alienação, liquidação, resgate, cessão ou repactuação dos títulos, aplicações financeiras e valores mobiliários integrantes de sua carteira são isentos do Imposto de Renda, nos termos do art. 28, §10º e §11º da Lei n° 9.532, de 1997. Se há tributação nas amortizações ou resgates, haverá outro fato gerador, não sendo o mesmo que trata o presente lançamento. De todo modo, especificamente sobre o pedido de compensação do valor de R$ 4.349.999,61 em amortizações no ALVORADA FIM pelas pessoas físicas (extratos de fls. 1431/1438), devemos acrescentar que não houve explicitação do fundamento fático para tal amortização de cotas, nem da legislação que a amparou, detendo o ALVORADA FIM o TELLES FIP e este detendo diversas empresas operacionais podendo ter os rendimentos auferidos pelos cotistas origem em quaisquer dessas empresas. Além disso, o imposto de renda sobre ganho de capital lançado de ofício no presente auto de infração se refere ao contribuinte Dario Araujo Telles e nos Extratos de Conta Depósito a ele pertinentes não consta qualquer valore recolhido a título de IR (fls. 1432 e 1441). Prejudicadas todas as alegações lastreadas na MP n° 806, de 2017, eis que não convertida em lei. Por fim, não há fundamento legal para se converter o presente julgamento em procedimento de restituição ou compensação. Fl. 2230DF CARF MF Fl. 31 do Acórdão n.º 2401-006.611 - 2ª Sejul/4ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10380.725183/2017-52 Multa qualificada. A prova constante nos autos revela, como bem descrito pela fiscalização e já evidenciado no presente voto, nítido planejamento tributário ilícito, objetivando suprimir ou reduzir dolosamente tributo. Não houve presunção de dolo, fraude ou simulação. As provas são claras e diretas e não indiciárias. O negócio da cachaça poderia ter ido para os dois outros fundos mais antigos, criados em 2007 e 2009, mas, a se proceder da mesma forma, haveria igualmente interposição de tais fundos na venda, eis que não atuariam como Fundos em relação à venda da YPIÓCA BEBIDAS. Logo, cabível a qualificação. O percentual de 150% está previsto em lei e não cabe ao presente colegiado afastá-lo sob alegação de ofensa ao princípio constitucional da vedação do confisco (Súmula CARF n° 2). Isso posto, voto por CONHECER DOS RECURSOS VOLUNTÁRIOS, REJEITAR AS PRELIMINARES e, no mérito, NEGAR-LHES PROVIMENTO. (documento assinado digitalmente) José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro Fl. 2231DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10680.927913/2016-92
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon Jun 17 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Jul 24 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Data do fato gerador: 25/03/2010
COMPENSAÇÃO DE OFÍCIO. DISCORDÂNCIA DO CONTRIBUINTE. CRÉDITO TRIBUTÁRIO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA NOS TERMOS DO ART. 151 DO CTN. RETENÇÃO DO VALOR A SER RESSARCIDO. IMPOSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO VOLUNTÁRIA. HOMOLOGAÇÃO. STJ. RECURSO REPETITIVO. ART. 62, §2º DO RICARF.
Não se pode impor compensação de ofício ou reter valores passíveis de ressarcimento, nos termos do parágrafo único do artigo 73 da Lei n° 9.430/1996 c/c § 4º do art. 89 da Instrução Normativa RFB nº 1.717/2017, quando os débitos do contribuinte para com o Fisco estiverem com exigibilidade suspensa nos termos do art. 151 do CTN. Deve ser homologada a compensação voluntária declarada. Reprodução do entendimento firmado pelo STJ no Resp n°1.213.082/PR, julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, por força do §2° do art. 62 do RICARF.
Numero da decisão: 3401-006.462
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Rosaldo Trevisan - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Lázaro Antonio Souza Soares, Fernanda Vieira Kotzias, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Oswaldo Gonçalves de Castro Neto, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco e Rosaldo Trevisan.
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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DISCORDÂNCIA DO CONTRIBUINTE. CRÉDITO TRIBUTÁRIO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA NOS TERMOS DO ART. 151 DO CTN. RETENÇÃO DO VALOR A SER RESSARCIDO. IMPOSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO VOLUNTÁRIA. HOMOLOGAÇÃO. STJ. RECURSO REPETITIVO. ART. 62, §2º DO RICARF. Não se pode impor compensação de ofício ou reter valores passíveis de ressarcimento, nos termos do parágrafo único do artigo 73 da Lei n° 9.430/1996 c/c § 4º do art. 89 da Instrução Normativa RFB nº 1.717/2017, quando os débitos do contribuinte para com o Fisco estiverem com exigibilidade suspensa nos termos do art. 151 do CTN. Deve ser homologada a compensação voluntária declarada. Reprodução do entendimento firmado pelo STJ no Resp n°1.213.082/PR, julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, por força do §2° do art. 62 do RICARF. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Lázaro Antonio Souza Soares, Fernanda Vieira Kotzias, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Oswaldo Gonçalves de Castro Neto, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco e Rosaldo Trevisan. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 68 0. 92 79 13 /2 01 6- 92 Fl. 45DF CARF MF 2 Relatório Tratase de recurso voluntário em face da decisão da Delegacia de Julgamento em Curitiba que julgou improcedente a manifestação de inconformidade, conforme ementa abaixo transcrita: (...) DCOMP. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. NÃO HOMOLOGAÇÃO. CRÉDITO INTEGRALMENTE RECONHECIDO EM PER. DISCORDÂNCIA QUANTO À COMPENSAÇÃO EM PROCEDIMENTO DE OFÍCIO. Correta a não homologação da declaração de compensação vinculada a pedido de restituição deferido parcialmente e a manifesta discordância do contribuinte quanto aos procedimentos de compensação de ofício, tendo em vista que o direito creditório reconhecido encontrase retido até que os débitos existentes em nome do contribuinte para com a Fazenda Pública sejam liquidados. Cientificada do acórdão de piso, a empresa interpôs Recurso Voluntário, sustentando que: a) o crédito utilizado na compensação já foi reconhecido pela autoridade administrativa, como consta expressamente da decisão recorrida; b) o crédito não deve ser objeto de retenção, com fundamento no parágrafo único do artigo 73 da Lei n° 9.430/1996 c/c § 4º do art. 89 da Instrução Normativa RFB nº 1.717/2017, em razão da discordância da Recorrente quanto à realização da compensação de ofício, pois os débitos estão com exigibilidade suspensa conforme a certidão positiva com efeitos de negativa apresentada; c) as normas que preveem a retenção de créditos em razão da negativa de se proceder à compensação de ofício de débitos com exigibilidade suspensa contrariam o art. 151 do Código Tributário Nacional e o art. 146, III, ‘b’ da Constituição, que confere a tal código a competência para dispor sobre crédito tributário; d) deve ser reproduzida pelo Conselho a tese formulada pelo STJ no REsp n° 1.213.082/PR, julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, que considera ilegal a compensação de ofício de débitos com exigibilidade suspensa na forma do art. 151 do CTN, por força do §2° do art. 62 do RICARF. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevsan, Relator Fl. 46DF CARF MF Processo nº 10680.927913/201692 Acórdão n.º 3401006.462 S3C4T1 Fl. 3 3 O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 3401006.346, de 17 de junho de 2019, proferido no julgamento do Processo nº 10680.925847/201616. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 3401006.346): "A controvérsia posta nos autos, acerca da não homologação da compensação declarada no PER/DCOMP nº 17327.68767.220416.1.3.040501, reside especificamente na possibilidade de o Fisco reter os créditos que a Recorrente pretende compensar em razão da discordância desta quanto à realização de sua compensação de ofício com outros débitos da empresa, os quais se encontram com exigibilidade suspensa, nos termos do art. 151 do CTN. A fiscalização aplicou à espécie o parágrafo único do artigo 73 da Lei n° 9.430/1996 c/c § 4º do art. 89 da Instrução Normativa RFB nº 1.717/2017, a seguir reproduzidos: Lei 9.430, de 27 de dezembro de 1996 (...) Art. 73. A restituição e o ressarcimento de tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil ou a restituição de pagamentos efetuados mediante DARF e GPS cuja receita não seja administrada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil será efetuada depois de verificada a ausência de débitos em nome do sujeito passivo credor perante a Fazenda Nacional. (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) I (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) II (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) Parágrafo único. Existindo débitos, não parcelados ou parcelados sem garantia, inclusive inscritos em Dívida Ativa da União, os créditos serão utilizados para quitação desses débitos, observado o seguinte: (Incluído pela Lei nº 12.844, de 2013) I o valor bruto da restituição ou do ressarcimento será debitado à conta do tributo a que se referir; (Incluído pela Lei nº 12.844, de 2013) II a parcela utilizada para a quitação de débitos do contribuinte ou responsável será creditada à conta do respectivo tributo. (Incluído pela Lei nº 12.844, de 2013) Instrução Normativa RFB nº 1.717 de 2017 (...) Da Compensação de Ofício Fl. 47DF CARF MF 4 Art. 89. A restituição e o ressarcimento de tributos administrados pela RFB ou a restituição de pagamentos efetuados mediante DARF e GPS cuja receita não seja administrada pela RFB será efetuada depois de verificada a ausência de débitos em nome do sujeito passivo credor perante a Fazenda Nacional. § 1º Existindo débito, ainda que consolidado em qualquer modalidade de parcelamento, inclusive de débito já encaminhado para inscrição em Dívida Ativa da União, de natureza tributária ou não, o valor da restituição ou do ressarcimento deverá ser utilizado para quitálo, mediante compensação em procedimento de ofício. § 2º A compensação de ofício de débito parcelado restringese aos parcelamentos não garantidos. § 3º Previamente à compensação de ofício, deverá ser solicitado ao sujeito passivo que se manifeste quanto ao procedimento no prazo de 15 (quinze) dias, contados do recebimento de comunicação formal enviada pela RFB, sendo o seu silêncio considerado como aquiescência. § 4º Na hipótese de o sujeito passivo discordar da compensação de ofício, a autoridade da RFB competente para efetuar a compensação reterá o valor da restituição ou do ressarcimento até que o débito seja liquidado. (grifo nosso) Assim, verificada a existência de débitos e ante a discordância da Recorrente quanto à realização da compensação de ofício, os valores a serem restituídos foram retidos até a liquidação dos débitos em aberto e, com isso, indeferido o pedido de compensação por ausência de saldo disponível, procedimento que veio a ser confirmado pela decisão recorrida. A Recorrente se insurge contra tal procedimento, sob a alegação de que seus débitos em aberto estariam com exigibilidade suspensa nos termos do art. 151 do CTN, fazendo prova do alegado mediante juntada de certidão positiva com efeitos de negativa. Deste modo, procederse à compensação de ofício de créditos tributários com exigibilidade suspensa significaria extinguir compulsoriamente créditos sequer exigíveis, tendo a Instrução Normativa RFB nº 1.717/2017 exorbitado de seu poder regulamentar ao contrariar o art. 151 do CTN e a própria Constituição Federal em seu art. 146, III, b, que atribui competência à lei complementar para dispor sobre crédito tributário. Sobre o tema, o STJ já se manifestou, sob a sistemática dos recursos repetitivos (tema 484), no Resp. n° 1.213.082/PR, cujo ementa reproduzo: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA (ART. 543C, DO CPC). ART. 535, DO CPC, AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. COMPENSAÇÃO DE OFÍCIO PREVISTA NO ART. 73, DA LEI N. 9.430/96 E NO ART. 7º, DO DECRETOLEI N. 2.287/86. CONCORDÂNCIA TÁCITA E RETENÇÃO DE VALOR A SER RESTITUÍDO OU RESSARCIDO PELA SECRETARIA DA Fl. 48DF CARF MF Processo nº 10680.927913/201692 Acórdão n.º 3401006.462 S3C4T1 Fl. 4 5 RECEITA FEDERAL. LEGALIDADE DO ART. 6º E PARÁGRAFOS DO DECRETO N. 2.138/97. ILEGALIDADE DO PROCEDIMENTO APENAS QUANDO O CRÉDITO TRIBUTÁRIO A SER LIQUIDADO SE ENCONTRAR COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA (ART. 151, DO CTN). 1. Não macula o art. 535, do CPC, o acórdão da Corte de Origem suficientemente fundamentado. 2. O art. 6º e parágrafos, do Decreto n. 2.138/97, bem como as instruções normativas da Secretaria da Receita Federal que regulamentam a compensação de ofício no âmbito da Administração Tributária Federal (arts. 6º, 8º e 12, da IN SRF 21/1997; art. 24, da IN SRF 210/2002; art. 34, da IN SRF 460/2004; art. 34, da IN SRF 600/2005; e art. 49, da IN SRF 900/2008), extrapolaram o art. 7º, do DecretoLei n. 2.287/86, tanto em sua redação original quanto na redação atual dada pelo art. 114, da Lei n. 11.196, de 2005, somente no que diz respeito à imposição da compensação de ofício aos débitos do sujeito passivo que se encontram com exigibilidade suspensa, na forma do art. 151, do CTN (v.g. débitos inclusos no REFIS, PAES, PAEX, etc.). Fora dos casos previstos no art. 151, do CTN, a compensação de ofício é ato vinculado da Fazenda Pública Federal a que deve se submeter o sujeito passivo, inclusive sendo lícitos os procedimentos de concordância tácita e retenção previstos nos §§ 1º e 3º, do art. 6º, do Decreto n. 2.138/97. Precedentes: REsp. Nº 542.938 RS, Primeira Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 18.08.2005; REsp. Nº 665.953 RS, Segunda Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5.12.2006; REsp. Nº 1.167.820 SC, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05.08.2010; REsp. Nº 997.397 RS, Primeira Turma, Rel. Min. José Delgado, julgado em 04.03.2008; REsp. Nº 873.799 RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12.8.2008; REsp. n. 491342/PR, Segunda Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 18.05.2006; REsp. Nº 1.130.680 RS Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19.10.2010. 3. No caso concreto, tratase de restituição de valores indevidamente pagos a título de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica IRPJ com a imputação de ofício em débitos do mesmo sujeito passivo para os quais não há informação de suspensão na forma do art. 151, do CTN. Impõese a obediência ao art. 6º e parágrafos do Decreto n. 2.138/97 e normativos próprios. 4. Recurso especial parcialmente provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543C, do CPC, e da Resolução STJ n. 8/2008. (REsp 1213082/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/08/2011, DJe 18/08/2011) Fl. 49DF CARF MF 6 No julgado, a Corte reconheceu a ilegalidade da imposição de compensação de ofício aos débitos com exigibilidade suspensa por força do art. 151 do CTN e, in casu, verificase que a certidão apresentada às fls. 27/28 menciona expressamente que os débitos da Recorrente estão com exigibilidade suspensa nos termos do art. 151 do CTN. Desta feita, impende a aplicação do §2° do art. 62 do RICARF para reproduzir o entendimento do STJ, a fim de possibilitar a compensação pleiteada, ressalvandose a necessidade de renovação da certidão positiva com efeitos de negativa por ocasião da liquidação deste julgado para se verificar a permanência do requisito de suspensão da exigibilidade dos débitos. Ante o exposto, voto por CONHECER do Recurso Voluntário e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao mesmo." Importa registrar que nos autos ora em apreço, a situação fática e jurídica encontra correspondência com a verificada no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o colegiado decidiu por CONHECER do Recurso Voluntário e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao mesmo. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevsan Fl. 50DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13851.903377/2012-95
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Mon Jun 17 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Jul 26 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 31/03/2009
COMPENSAÇÃO NÃO HOMOLOGADA. MATÉRIA NÃO IMPUGNADA.
Considerar-se-á não impugnada a matéria que não tenha sido expressamente contestada pelo impugnante.
Numero da decisão: 3401-006.335
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Rosaldo Trevisan - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Lázaro Antonio Souza Soares, Fernanda Vieira Kotzias, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Oswaldo Gonçalves de Castro Neto, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco e Rosaldo Trevisan.
Nome do relator: ROSALDO TREVISAN
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ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Data do fato gerador: 31/03/2009 COMPENSAÇÃO NÃO HOMOLOGADA. MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. Considerar-se-á não impugnada a matéria que não tenha sido expressamente contestada pelo impugnante.
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MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. Considerarseá não impugnada a matéria que não tenha sido expressamente contestada pelo impugnante. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Lázaro Antonio Souza Soares, Fernanda Vieira Kotzias, Carlos Henrique de Seixas Pantarolli, Oswaldo Gonçalves de Castro Neto, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco e Rosaldo Trevisan. Relatório Tratase de recurso voluntário em face da decisão da Delegacia de Julgamento em Curitiba que julgou improcedente a manifestação de inconformidade, conforme ementa abaixo transcrita: (...) MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 85 1. 90 33 77 /2 01 2- 95 Fl. 59DF CARF MF 2 A matéria não especificamente contestada na manifestação de inconformidade é reputada como incontroversa, com a aceitação tácita da interessada, e é insuscetível de ser trazida à baila em momento processual subsequente. Ciente do acórdão de piso, a empresa protocolou Recurso Voluntário repisando os exatos argumentos constantes da Manifestação de Inconformidade. É o relatório. Voto Conselheiro Rosaldo Trevsan, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 3401006.326, de 17 de junho de 2019, proferido no julgamento do Processo nº 13851.903368/201202. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 3401006.326): "Tratase de recurso contra acórdão que manteve a decisão que deixou de homologar a compensação declarada pela Recorrente, pois reconheceu inexistir matéria impugnada na manifestação de inconformidade, posto que a impugnante trouxe alegações completamente estranhas ao teor do processo, como se depreende do excerto do voto condutor abaixo transcrito: As alegações da interessada não dizem respeito ao despacho decisório, pois, ao contrário do que argumentou, não existem nos autos: exigência de “multa e juros de mora de 40%”; discussão sobre omissão de receitas; discussão relativa a créditos sobre aquisição de embalagens; auto de infração a ser modificado; multa e juros a serem afastados. Em síntese, na ausência da apresentação de argumentos contrários ao despacho decisório, reputamse incontroversos os motivos pelos quais a DRF não homologou a compensação, razão pela qual VOTO pela improcedência da manifestação de inconformidade. De fato, em se tratando de Despacho Decisório que deixou de homologar a compensação sob o argumento de que o crédito a ser aproveitado já teria sido integralmente utilizado, há que se Fl. 60DF CARF MF Processo nº 13851.903377/201295 Acórdão n.º 3401006.335 S3C4T1 Fl. 3 3 reconhecer a impertinência das alegações trazidas pela então impugnante e ora reproduzidas no Recurso Voluntário. Ademais, não procede a alegação genérica de ausência de fundamentação do despacho decisório, posto que o mesmo trouxe em seu o teor a razão específica para que a compensação não fosse homologada, a ausência de crédito disponível, e indicou especificamente o pagamento ao qual fora alocado o crédito que a Recorrente pretendia levar à compensação, matéria sobre a qual silenciou a Recorrente, de modo que tenho por incontroversos os fatos apontados pela fiscalização. Ante o exposto, voto por CONHECER do Recurso Voluntário e, no mérito, NEGAR PROVIMENTO ao mesmo. Importa registrar que nos autos ora em apreço, a situação fática e jurídica encontra correspondência com a verificada no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o colegiado decidiu por CONHECER do Recurso Voluntário e, no mérito, NEGAR PROVIMENTO ao mesmo. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevsan Fl. 61DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10980.725834/2011-50
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jun 11 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Jul 05 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009
AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. ARBITRAMENTO DO LUCRO.
O lucro da pessoa jurídica será arbitrado quando o contribuinte não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais, ou deixar de apresentar à autoridade fiscal os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal. Diante desta circunstância fática, não há que falar em nulidade do auto de infração.
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA (IRPJ)
Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009
ARBITRAMENTO DE LUCRO. CABIMENTO.
A adoção do regime de tributação pelo lucro arbitrado só é aplicável pela autoridade tributária quando a pessoa jurídica deixar de cumprir as obrigações acessórias relativas à determinação do lucro real ou presumido (artigos 529 a 539 do RIR). Logo, é cabível o arbitramento do lucro quando a fiscalização não possuir meios hábeis de apuração direta do lucro real.
PRESUNÇÃO DE OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. APLICABILIDADE.
A autoridade fiscal observou os dois pressupostos hábeis a legitimar a adoção da presunção de omissão de receitas prevista no artigo 42, da Lei nº 9.430/96: respeitou os limites legais ao individualizar os lançamentos considerados de origem não comprovada e intimou o contribuinte para comprovar a origem dos depósitos bancários. Diante da ausência de provas, deve ser mantida a exigência.
ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009
LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA.
Diante da ausência de recolhimento por parte do sujeito passivo, o prazo decadencial terá início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, aplicando-se a regra do artigo 173, I, do CTN e não a do §4º do artigo 150 do CTN.
APLICAÇÃO DE MULTA QUALIFICADA. AUSÊNCIA DE CARACTERIZAÇÃO DE CONDUTA DOLOSA.
A autoridade fiscal não logrou êxito em comprovar que a contribuinte teria praticado quaisquer das condutas dolosas descritas nos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Nos termos das Súmulas CARF nºs 14, 25 e 34, o simples fato da existência de omissão de receitas não autoriza a aplicação de multa qualificada prevista no artigo 44, §1º da Lei nº 9.430/96.
Numero da decisão: 1201-002.977
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria, em dar parcial provimento ao recurso para afastar a aplicação de multa qualificada de 150%, reduzindo para 75%. Vencidos os conselheiros Allan Marcel Warwar Teixeira, Efigênio de Freitas Júnior e Lizandro Rodrigues de Sousa, que negavam provimento ao recurso. Ausente temporariamente o conselheiro André Severo Chaves (suplente convocado). Compôs o colegiado a conselheira Mauritânea Elvira de Sousa Mendonça (suplente convocada).
(assinado digitalmente)
Lizandro Rodrigues de Sousa - Presidente.
(assinado digitalmente)
Gisele Barra Bossa - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Neudson Cavalcante Albuquerque, Luis Henrique Marotti Toselli, Allan Marcel Warwar Teixeira, Gisele Barra Bossa, Efigênio de Freitas Junior, Alexandre Evaristo Pinto, Mauritânea Elvira de Sousa Mendonça (Suplente Convocada) e Lizandro Rodrigues de Sousa (Presidente).
Nome do relator: GISELE BARRA BOSSA
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Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009 AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. ARBITRAMENTO DO LUCRO. O lucro da pessoa jurídica será arbitrado quando o contribuinte não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais, ou deixar de apresentar à autoridade fiscal os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal. Diante desta circunstância fática, não há que falar em nulidade do auto de infração. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA (IRPJ) Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009 ARBITRAMENTO DE LUCRO. CABIMENTO. A adoção do regime de tributação pelo lucro arbitrado só é aplicável pela autoridade tributária quando a pessoa jurídica deixar de cumprir as obrigações acessórias relativas à determinação do lucro real ou presumido (artigos 529 a 539 do RIR). Logo, é cabível o arbitramento do lucro quando a fiscalização não possuir meios hábeis de apuração direta do lucro real. PRESUNÇÃO DE OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. APLICABILIDADE. A autoridade fiscal observou os dois pressupostos hábeis a legitimar a adoção da presunção de omissão de receitas prevista no artigo 42, da Lei nº 9.430/96: respeitou os limites legais ao individualizar os lançamentos considerados de origem não comprovada e intimou o contribuinte para comprovar a origem dos depósitos bancários. Diante da ausência de provas, deve ser mantida a exigência. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009 LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 98 0. 72 58 34 /2 01 1- 50 Fl. 6846DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 Diante da ausência de recolhimento por parte do sujeito passivo, o prazo decadencial terá início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, aplicando-se a regra do artigo 173, I, do CTN e não a do §4º do artigo 150 do CTN. APLICAÇÃO DE MULTA QUALIFICADA. AUSÊNCIA DE CARACTERIZAÇÃO DE CONDUTA DOLOSA. A autoridade fiscal não logrou êxito em comprovar que a contribuinte teria praticado quaisquer das condutas dolosas descritas nos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Nos termos das Súmulas CARF nºs 14, 25 e 34, o simples fato da existência de omissão de receitas não autoriza a aplicação de multa qualificada prevista no artigo 44, §1º da Lei nº 9.430/96. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. 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O presente processo administrativo versa sobre lançamentos de IRPJ e reflexos relativos aos anos-calendário 2006, 2007, 2008 e 2009, lavrados por arbitramento do lucro em razão, segundo a fiscalização, do sujeito passivo não ter apresentado os livros e Fl. 6847DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 documentos da sua escrituração, ainda que devidamente intimado, configurando a hipótese prevista no artigo 530, inciso III, do RIR/99. 2. O lançamento tem como base as seguintes matérias: 2.1. Receita operacional omitida – Prestação de serviços gerais: Trata-se de receita apurada mediante seleção de valores (fls. 1788/1846) dos extratos bancários cujo histórico do lançamento foi suficiente para a fiscalização identificar estes valores como oriundos de receitas da atividade da empresa. Foi aplicada multa de ofício qualificada de 150% em razão da suposta prática dolosa do contribuinte em apresentar DIPJ´s e DCTF´s com valor de receita bruta inferior ao real; 2.2. Depósitos bancários de origem não comprovada: Foi caracterizada a presunção de omissão de receitas por valores (fls. 1844/1939) creditados em contas de depósito que o contribuinte não foi capaz de comprovar a origem mediante documentação hábil e idônea quando intimado. Foi aplicada multa de ofício de 75%; 2.3. Receitas operacionais declaradas – Prestação de serviços: Trata-se de valores informados em DIPJ (fl. 1679). Imputou-se multa de ofício de 75%; 2.4. Outras receitas – Arbitramento do lucro com base no capital social: Diante da ausência de apresentação dos livros contábeis pela empresa a fiscalização concluiu que não houve receita bruta conhecida e arbitrou o lucro do período de 10/2009 a 12/2009 com base em 7% do valor do capital social registrado nos termos do art. 535, III, do RIR/99 (fl. 1787). Imputou-se multa de ofício de 75%; 2.5. Outras receitas – Arbitramento do lucro com base no valor dos salários pagos. Diante da ausência de apresentação dos livros contábeis, o lucro do período de 01/2009 a 09/2009 foi arbitrado com base em 80% da soma dos valores devidos no mês aos empregados, nos termos do artigo 535, VII, do RIR/99 e com base nas informações prestadas pela empresa no arquivo SEFIP. Imputou-se multa de ofício de 75%; 3. Conforme o demonstrativo consolidado do crédito tributário de fl. 2, o lançamento apresenta a seguinte composição: Imposto / Contribuição Juros de Mora Multa Valor do crédito apurado IRPJ 1.975.882,83 720.837,30 1.751.659,17 R$ 4.448.379,30 PIS 132.787,96 50.148,33 128.404,68 R$ 311.340,97 CSLL 607.678,60 220.909,31 544.280,19 R$ 1372868,10 COFINS 612.869,27 231.456,08 592.640,12 R$ 1.436.965,47 TOTAL 3.329.218,66 1.223.351,02 3.016.984,16 R$ 7.569.553,84 4. Devidamente cientificado em 05/12/2011 (fls. 1.942), o sujeito passivo apresentou, tempestivamente, a impugnação administrativa de fls. 1.944/1.964. 5. Em 10 de maio de 2012 foi proferido despacho pela 1ª Turma da DRJ/CTA (fls. 6617/6619) propondo a realização de diligência e em seguida houve o retorno do órgão Fl. 6848DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 fiscalizador com informações (fls. 6618/6619 e 6625/6626). Vale conferir os seguintes trechos, verbis: "DILIGÊNCIA 8.1 Esclareça e demonstre, fundamentada e conclusivamente, se os valores referentes ao histórico “DESBLOQUEIO DE DEPÓSITO” já teriam sido considerados, ou não, anteriormente na base tributável, incluídos sob o histórico de “DEPÓSITOS EM CHEQUE” (ou outra nomenclatura indicando depósitos em cheque). 8.2 Faça a juntada de algumas folhas (por volta de quinze a vinte) dos extratos originais, obtidos junto às instituições financeiras, onde aparecem lançamentos com o histórico “DESBLOQUEIO DE DEPÓSITO”. 8.3 Esclareça, fundamentada e conclusivamente, por quê a grande discrepância entre a receita bruta declarada e a receita omitida e os depósitos bancários de origem não comprovada foi impeditivo para que a primeira (receita bruta declarada) pudesse ser abatida da base tributável, apurada com base nos créditos em conta de depósito. 8.4 Aponte as folhas dos autos, ou o fato, no qual se baseou para afirmar que “a empresa também recebe pagamentos através de dinheiro, que sequer transita pelas contas bancárias”, esclarecendo, fundamentada e conclusivamente, por quê concluiu pelo teor da afirmativa. 8.5 Selecione amostra de, pelo menos, 1% (um por cento) do universo de documentos compreendidos de fls. 2073-6598; intime a empresa fiscalizada a fornecer o nome completo, endereço e CPF dos clientes selecionados na amostra; intime os clientes selecionados a confirmarem se efetivamente cancelaram suas matricula e participação, conforme cópia do “Requerimento de Cancelamento” que dever ser anexado à intimação, e se receberam importância em devolução, declinando a forma e o valor devolvido, se houver. 8.6 Intime a empresa fiscalizada a fornecer documentos comprobatórios da titularidade das contas abaixo relacionadas, que alega serem da TS Cursos Preparatórios Ltda, CNPJ 03.841.751/000129, conforme citado em fls. 2029: " INFORMAÇÕES "8.1 Os créditos de histórico “DESBLOQUEIO DE DEPOSITO” são exclusivos das contas da empresa no Banco do Brasil (código de banco 001). O Banco do Brasil adota como sistemática de fazer um lançamento no dia do depósito no valor dos cheques depositados, porém sem efeito contábil, com a indicação de “*” na coluna indicativa de D/C. Somente após a compensação é que é feito o crédito, com o histórico já citado. Todos os extratos do Banco do Brasil estão na resposta apresentada pelo banco, nas folhas 60 a 760 deste processo. Já na primeira folha dos extratos (folha 93) pode-se perceber o mecanismo à primeira vista. No trabalho com os arquivos digitais do Banco do Brasil estes lançamentos marcados com o “*” são expurgados. Desta forma, em Fl. 6849DF CARF MF Fl. 5 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 hipótese alguma valores creditados sob o histórico “DESBLOQUEIO DE DEPOSITO” foram considerados anteriormente na base tributável sob outro histórico. 8.2 Como mencionado acima, todos os extratos originais do Banco do Brasil já constam do processo, estando presentes na resposta apresentada pelo banco às folhas 60 a 760 deste processo. Da folha 93 em diante há centenas de folhas com lançamentos com o histórico “DESBL. DEPOSITO”, que é o histórico abreviado, sendo que nos arquivos digitais fornecidos vem o histórico completo “DESBLOQUEIO DE DEPOSITO”. 8.3 Em 2006, 2007, 2008 e 2009 a receita bruta declarada foi, respectivamente, 1,49%, 17,41%, 14,28% e 0% do valor de omissão de receitas e depósitos bancários de origem não comprovada. Como o ramo de atividade da empresa envolve muitos recebimentos em dinheiro (como será abordado abaixo), esta grande discrepância permite assumir que a receita bruta declarada sequer chega a cobrir os recebimentos em espécie. 8.4 Na confecção do auto a afirmação de que a empresa também recebe em dinheiro foi baseada no tipo de atividade da empresa e no contato próprio e de colegas com a mesma. A afirmação de que sequer transita pelas contas bancárias se deve à quantidade baixa de depósitos em dinheiro nas contas bancárias. Com a juntada dos documentos referentes a cancelamentos pela empresa (folhas 2.156 a 6.598) passou-se a ter exemplos documentais no processo da grande proporção de recebimentos em dinheiro. São muitos os comprovantes que indicam o pagamento em dinheiro. Um modelo exemplificativo pode ser encontrado na folha 2.257. 8.5 Na folhas 6.621 a 6.623 está a intimação feita à empresa, com a amostra feita nos moldes solicitados. Na folha 6.624 está o AR comprovando o recebimento da intimação. A empresa não atendeu à intimação, motivo pelo qual fica prejudicada a intimação aos clientes. Porém, pelos documentos apresentados pela empresa dá para se perceber nas anotações que é muita Recorrente a prática de pagamento em vários cheques pré- datados. E que, quando do cancelamento, os cheques simplesmente são devolvidos. Ou seja, não chegam a transitar pelas contas da empresa. Também há vários cancelamentos no qual é feito o cancelamento da cobrança no cartão de crédito. Neste caso também os recursos nunca chegam a passar pelas contas da empresa. 8.6 Foi feita a intimação, conforme intimação mencionada acima. A empresa não atendeu à intimação”. 6. Em sessão de 07 de março de 2013, a 1ª Turma da DRJ/CTA, por maioria de votos, julgou procedente em parte a impugnação do contribuinte, exonerando-se de IRPJ o valor de R$ 51.520,39; de CSLL o valor de R$ 18.547,34; e respectivas multas de ofício calculadas ao percentual de 75%, nos termos do voto relator, Acórdão nº 06-39.683 (fls. 6697/6731), cuja ementa recebeu o seguinte descritivo, verbis: “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009 REVISÃO DE ACÓRDÃO. Revisa-se acórdão proferido com inexatidões materiais por lapso manifesto, devendo ser lavrado novo acórdão, nos termos do artigo 32 do Decreto 70.235/72 e artigo 22, § 1º, da Portaria MF 58/2006. DECADÊNCIA LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. Presentes o dolo, a fraude ou a simulação, e ainda constatada a ausência de pagamento antecipado, não há que se aplicar as regras do artigo 150, §4º, do CTN, regendo-se o instituto da decadência pelos ditames que emanam do art. 173, contando-se o prazo de 5 anos a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetivado. ARBITRAMENTO DO LUCRO. FALTA DE APRESENTAÇÃO DE LIVROS CONTÁBEIS OBRIGATÓRIOS. Fl. 6850DF CARF MF Fl. 6 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 Caracteriza causa de arbitramento a não apresentação de livros contábeis obrigatórios, nos termos da Lei 8981/95, artigo 47, III e VIII. AUTO DE INFRAÇÃO. CRÉDITOS EM CONTA DE DEPÓSITO. PRESUNÇÃO DE OMISSÃO DE RECEITAS. Configura presunção de omissão de receitas os valores creditados em conta de depósito, para os quais o titular da conta não logra justificar, com documentos hábeis e idôneos, coincidentes em datas e valores, a origem das importâncias adentradas em sua conta. OMISSÃO DE RECEITAS. VALORES CREDITADOS EM CONTA BANCÁRIA. PROVA MEDIANTE HISTÓRICO DO LANÇAMENTO. DENOTAÇÃO DE AUFERIMENTO DE RECEITAS. Resta caracterizada omissão de receitas quando valores depositados em conta bancária são apontados como produto de auferimento de receitas, com base no histórico dos lançamentos, e a interessada não contesta esse critério de determinação e tampouco apresenta provas de que referidas importâncias não são verbas tributáveis. RECEITA DECLARADA. FALTA DE COMPROVAÇÃO DE TRIBUTAÇÃO EM DUPLICIDADE. EXCLUSÃO DA BASE TRIBUTADA. FALTA DE PROVAS DE SUA INSERÇÃO. É de se manter na base tributada a receita declarada pelo contribuinte, com a devida dedução dos tributos e contribuições já pagos, quando o Fisco aponta peculiaridade na situação, que não é elidida mediante argumentos e provas contrárias à pretensão fiscal. ARBITRAMENTO. RECEITA BRUTA NÃO CONHECIDA. IMPOSSIBILIDADE, QUANDO A RECEITA BRUTA É CONHECIDA. O arbitramento, com base nos diversos critérios previstos na legislação, para os casos em que a receita bruta não é conhecida, somente podem ser utilizados nessa circunstância. Conhecendo-se a receita bruta, ainda que parcial, o arbitramento deve, preferencialmente, ser realizado conforme os critérios baseados na receita bruta conhecida. MULTA QUALIFICADA Procedente a aplicação de multa qualificada quando o contribuinte, reiteradamente, apresenta DIPJ e DCTF com valores inferiores ao das receitas omitidas apuradas mediante procedimento fiscal, ocultando, assim sua verdadeira receita e movimentação financeira. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte”. 7. Relevante consignar que, foi proferido acórdão revisor em razão de erro de soma na determinação do montante do IRPJ exonerado. Com efeito, após julgamento pela DRJ, o crédito tributário lançado ficou assim demonstrado: Fl. 6851DF CARF MF Fl. 7 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 8. Cientificada da decisão (AR de 09/04/2013, fl. 6747) a Recorrente interpôs Recurso Voluntário (fls. 6749/6777) em 08/05/2013, reiterando as razões já expostas em sua Impugnação (fls. 1944/1964) e trouxe as seguintes alegações complementares: 8.1. O lançamento é contraditório, a autoridade autuante realizou o arbitramento do lucro com base na folha de pagamento ao mesmo tempo em que promoveu exigências tributárias com base em omissão de receitas. Se a fiscalização foi capaz de apurar receita omitida fica evidente que existe receita conhecida, razão pela qual o lançamento que se baseia no arbitramento do lucro deve ser anulado; 8.2. Argui que não é possível o emprego de depósitos bancários para a apuração de receitas (exigência de tributos por prova direta), pois não comprovam que os valores neles contidos são de fato receitas da empresa e compõem a base de cálculo dos tributos lançados; 8.3. Afirma que, dentre os valores considerados como receita pela fiscalização, há montantes relativos a empréstimos tomados pela Recorrente mediante contratos com instituições financeiras, as quais concediam crédito muitas vezes em espécie. O referido montante foi equivocadamente contabilizado na base de cálculo pelo autoridade fiscal; 8.4. A fiscalização não foi capaz de provar que a Recorrente agiu com flagrante intuito de fraudar o fisco e fundamentou a qualificação da multa em meros indícios de má conduta. Assim sendo, a qualificação da multa merece ser afastada; 8.5. Argui que o pressuposto para o agravamento da multa não se completa com a mera omissão de resposta a um termo de intimação. No curso do procedimento fiscal a Recorrente sempre atendeu às solicitações do fisco e, portanto, não cabe a aplicação da multa agravada. 9. Ao final, a Recorrente requer que: (i) seja reconhecida a decadência dos créditos tributários de fatos geradores anteriores ao dia 03/11/2006; (ii) a declaração da nulidade dos lançamentos; (iii) os valores anteriormente tributados, os depósitos bancários e os valores devolvidos pelos clientes da ora Recorrente sejam excluídos da base de cálculo dos tributos lançados; e (iv) sejam afastadas a qualificação e o agravamento da multa. 10. Em 10/07/2013 a 3ª Turma Ordinária da 1ª Câmara do CARF resolveu, por unanimidade de votos, sobrestar o julgamento do presente processo, nos termos do 62-A, §1º, do Anexo II, do Regimento Interno do CARF, em virtude do Recurso Extraordinário nº 601.314/SP tratar da possibilidade ou não do fisco obter dados bancários diretamente das instituições financeiras. Tal procedimento se verificou no presente caso. 11. Em 27/07/2018, esta 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara do CARF resolveu, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência, nos termos do voto desta relatoria, para fins de intimar a ora Recorrente a: "relacionar/cotejar os cancelamentos de matrícula e os comprovantes de depósito bancário com os lançamentos constantes da individualização dos depósitos de origem não comprovada e a respectiva documentação fiscal e contábil". Fl. 6852DF CARF MF Fl. 8 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 12. O Termo de Diligência Fiscal foi devidamente elaborado (fls. 6838/6839) e a contribuinte intimada (AR, fls. 6843), mas não apresentou resposta. É o relatório. Voto Conselheira Gisele Barra Bossa, Relatora. 13. O Recurso Voluntário interposto pela Recorrente é tempestivo e cumpre os demais requisitos legais de admissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento e passo a apreciar. 14. Ademais, os motivos que levaram ao sobrestamento deste processo já não se encontram presentes, posto que o Recurso Extraordinário nº 601.314/SP foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 24/02/2016, em repercussão geral, e transitou em julgado em 11/10/2016. Questões Preliminares I. Da Inocorrência de Decadência 15. Em que pese a Recorrente alegue ter operado a decadência com relação aos fatos geradores compreendidos nos períodos entre janeiro e novembro de 2006, considero que esta não restou configurada em vista da ausência de pagamento de tributos ou contribuições durante todo o ano de 2006. 16. Embora a fiscalização não tenha logrado êxito em comprovar que a Recorrente tenha praticado quaisquer condutas dolosas descritas nos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64, restou demonstrada (fls. 6637/6660) a ausência de recolhimentos no período. Diante desta circunstância fática, não há como proceder a contagem do prazo de acordo com o artigo 150, §4º, do CTN, verbis: "Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. (...) § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação." 17. Nesta situação, o prazo decadencial a ser observado é o previsto no artigo 173, inciso I, do CTN, verbis: Fl. 6853DF CARF MF Fl. 9 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 “Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento.” (grifos nossos) 18. Do exposto, verifica-se que é cabível o lançamento de ofício, devendo ser observado o prazo decadencial constante do dispositivo supra, a contagem se inicia no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. 19. Como a ciência do lançamento se deu em 03/11/2011, os valores lançados para o período entre janeiro e novembro de 2006 não se encontram alcançados pela decadência. Afasto, portanto, a alegação da Recorrente. II. Da Ausência de Nulidade do Lançamento 20. A Recorrente alega que o lançamento é nulo pelo fato da autoridade autuante ter arbitrado o lucro mesmo em posse dos extratos bancários apresentados no curso do procedimento fiscalizatório. Considera que as movimentações bancárias fornecem base suficiente para se chegar a receita bruta e, consequentemente, para proceder ao lançamento dos tributos devidos pela sistemática do lucro presumido ou real. 21. Entretanto, tal alegação não se sustenta visto que a Recorrente deixou de apresentar seus livros contábeis e demais documentos necessários à apuração do lucro real. 22. Nota-se que, a adoção do regime de tributação pelo lucro arbitrado só é aplicável pela autoridade tributária quando a pessoa jurídica deixar de cumprir as obrigações acessórias relativas à determinação do lucro real ou presumido, em consonância com o artigo 530, do Decreto nº 3.000/99 (Regulamento de Imposto de Renda - RIR) e com o artigo 47, da Lei nº 8.981/95, verbis: RIR “Art. 530. O imposto, devido trimestralmente, no decorrer do ano-calendário, será determinado com base nos critérios do lucro arbitrado, quando: I - o contribuinte, obrigado à tributação com base no lucro real, não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais, ou deixar de elaborar as demonstrações financeiras exigidas pela legislação fiscal; II - a escrituração a que estiver obrigado o contribuinte revelar evidentes indícios de fraudes ou contiver vícios, erros ou deficiências que a tornem imprestável para: a) identificar a efetiva movimentação financeira, inclusive bancária; ou b) determinar o lucro real; Fl. 6854DF CARF MF Fl. 10 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 III - o contribuinte deixar de apresentar à autoridade tributária os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal, ou o Livro Caixa, na hipótese do parágrafo único do art. 527; IV - o contribuinte optar indevidamente pela tributação com base no lucro presumido; V - o comissário ou representante da pessoa jurídica estrangeira deixar de escriturar e apurar o lucro da sua atividade separadamente do lucro do comitente residente ou domiciliado no exterior (art. 398); VI - o contribuinte não mantiver, em boa ordem e segundo as normas contábeis recomendadas, Livro Razão ou fichas utilizados para resumir e totalizar, por conta ou subconta, os lançamentos efetuados no Diário”. (grifos nossos) Lei nº 8.981/95 Art. 47. O lucro da pessoa jurídica será arbitrado quando: I - o contribuinte, obrigado à tributação com base no lucro real ou submetido ao regime de tributação de que trata o Decreto-Lei nº 2.397, de 1987, não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais, ou deixar de elaborar as demonstrações financeiras exigidas pela legislação fiscal; II - a escrituração a que estiver obrigado o contribuinte revelar evidentes indícios de fraude ou contiver vícios, erros ou deficiências que a tornem imprestável para: a) identificar a efetiva movimentação financeira, inclusive bancária; ou b) determinar o lucro real. III - o contribuinte deixar de apresentar à autoridade tributária os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal, ou o livro Caixa, na hipótese de que trata o art. 45, parágrafo único; IV - o contribuinte optar indevidamente pela tributação com base no lucro presumido; V - o comissário ou representante da pessoa jurídica estrangeira deixar de cumprir o disposto no § 1º do art. 76 da Lei nº 3.470, de 28 de novembro de 1958; VII - o contribuinte não mantiver, em boa ordem e segundo as normas contábeis recomendadas, livro Razão ou fichas utilizados para resumir e totalizar, por conta ou subconta, os lançamentos efetuados no Diário. VIII – o contribuinte não escriturar ou deixar de apresentar à autoridade tributária os livros ou registros auxiliares de que trata o § 2º do art. 177 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e § 2º do art. 8º do Decreto-Lei no 1.598, de 26 de dezembro de 1977 § 1º Quando conhecida a receita bruta, o contribuinte poderá efetuar o pagamento do Imposto de Renda correspondente com base nas regras previstas nesta seção. § 2º Na hipótese do parágrafo anterior: a) a apuração do Imposto de Renda com base no lucro arbitrado abrangerá todo o ano-calendário, assegurada a tributação com base no lucro real relativa aos meses não submetidos ao arbitramento, se a pessoa jurídica dispuser de escrituração exigida pela legislação comercial e fiscal que demonstre o lucro real dos períodos não abrangido por aquela modalidade de tributação, observado o disposto no § 5º do art. 37; b) o imposto apurado com base no lucro real, na forma da alínea anterior, terá por vencimento o último dia útil do mês subseqüente ao de encerramento do referido período. Fl. 6855DF CARF MF http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2397.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3470.htm#art70§1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm#art177§2.. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm#art177§2.. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm#art177§2.. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1598.htm#art8§2. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1598.htm#art8§2. Fl. 11 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 23. Da leitura dos dispositivos fica claro que o arbitramento do lucro é método excepcional, previsto no artigo 44, do CTN 1 , que só deve ser utilizado quando a apuração do lucro real se mostra impossível em razão da imprestabilidade ou inexistência da escrituração contábil e fiscal. 24. Dito de outra forma, o lucro da pessoa jurídica deverá ser arbitrado quando o contribuinte, obrigado à tributação com base no lucro real, não mantiver escrituração na forma das leis regulamentares, ou deixar de apresentar à autoridade fiscal os livros e documentos obrigatórios da escrituração comercial e fiscal. 25. A jurisprudência deste E. CARF, aliás, já se consolidou no sentido de que a aplicação do método de arbitramento constitui medida extrema que só deve ser utilizada como último recurso, ou seja, na ausência absoluta de outro meio de apuração direta da base tributável. Confira-se: "ARBITRAMENTO DO LUCRO FALTA DE APRESENTAÇÃO DE ESCRITURAÇÃO - O arbitramento dos lucros é medida extrema sim, por isso foi tomado no presente caso, pois apesar das inúmeras intimações à fiscalizada esta somente apresentou parte da documentação solicitada. E em relação à parte apresentada a fiscalização mostra que não reúne as condições necessárias para sustentar apuração pelo lucro real, mormente pela falta de contabilização de expressiva movimentação bancária o que, por si só, já a torna imprestável, nos termos da legislação de regência." (grifos nossos) (Processo nº 19647.007748/2006-60, Acórdão nº 10709.513, 1º Conselho de Contribuintes / 7ª Câmara, Sessão de 15 de outubro de 2008, Relatora Albertina Silva Santos de Lima). "ARBITRAMENTO. OMISSÃO DE RECEITAS. SALDO CREDOR DE CAIXA. RECOMPOSIÇÃO DA CONTA CAIXA. POSSIBILIDADE. Quando constatada pela Fiscalização a ocorrência de saldo credor de caixa, é adequada e cabível a recomposição da conta caixa, desde que os livros e a sistemática de registro e escrituração eleita pelo contribuinte permitam a obtenção de valores que, fielmente, representem a movimentação de numerário ocorrida. O arbitramento não é modalidade de sanção fiscal e tampouco uma prerrogativa ou uma faculdade do contribuinte quando autuado. Trata-se de modalidade de apuração do lucro tributável, aplicável quando verificadas, concretamente, suas hipóteses legais de adoção. A legítima constatação de omissão de receitas tributáveis constitui presunção relativa, cabendo ao contribuinte o ônus da prova da insubsistência da infração, em contraposição direta aos fundamentos trazidos pela Fiscalização." (grifos nossos) (Processo nº 13971.723117/2014-33, Acórdão nº 1402-002.603, 2ª Câmara / 2ª Turma Ordinária / 1ª Seção, Sessão de 20 de junho de 2017, Relator Caio Cesar Nader Quintella). 26. Ocorre que, in casu, a Recorrente deixou de apresentar seus livros contábeis quando intimada e, por mais que tenha disponibilizado sua DIPJ e movimentação bancária, tais documentos não se mostram suficientes para apuração na sistemática do lucro real 1 Art. 44. A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos tributáveis. Fl. 6856DF CARF MF Fl. 12 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 ou do lucro presumido. Vejam que, por meio destes documentos, não é possível verificar elementos essenciais como despesas e custos. 27. Ao deixar de apresentar a respectiva documentação, a administração fiscal passa a não ter meios para apurar com assertividade o lucro da ora Recorrente e/ou proceder eventual correção. Logo, considero que a situação concreta dos autos preenche a hipótese prescrita na lei e, assim sendo, o arbitramento do lucro deve ser realizado pela autoridade fiscalizadora, sob pena de responsabilidade funcional. Este é o teor do artigo 142, do CTN: "Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional." 28. Se a lei determina que o arbitramento é cabível quando o contribuinte deixa de apresentar seus livros e documentos contábeis e fiscais, inclusive os auxiliares da escrituração, a autoridade tributária, nesses casos, não possui margem de discricionariedade. A própria conveniência e oportunidade da Administração Pública deve estar pautada na lei. 29. E, por mais que a contribuinte considere possível utilizar os extratos bancários para o lançamento dos tributos, ela própria coloca em dúvida a consistência dos créditos em suas contas de depósito para serem tomados como receita tributável. Em outros termos, de um lado sustenta a possibilidade de os extratos bancários poderem formar base imponível e de outro refuta os lançamentos bancários como possíveis fontes de riqueza (receitas). 30. Ademais, com se sabe, a apuração do lucro real não pode pautar-se apenas nos créditos em contas de depósito, máxime porque, na sua apuração, outros elementos estão envolvidos (e.g., custo de serviços e despesas), aos quais o fisco não teve acesso. 31. Por fim, quanto à hipótese de eventual tributação pelo lucro presumido, entendo que essa forma de tributação é opção do contribuinte, nos termos do artigo 26, §1º, da Lei nº 9.430/96. Esse dispositivo define que tal opção será manifestada com o pagamento da primeira ou única quota do imposto devido, correspondente ao primeiro período de apuração de cada ano-calendário ou início de atividade, desde que ainda não tenha iniciado qualquer procedimento fiscal de ofício. 32. A opção fiscal de tributação pelo lucro presumido só pode ser eleita pelo próprio fiscalizado, e somente de forma espontânea, antes de iniciado procedimento de ofício. No caso concreto, verifica-se que a ora Recorrente não fez essa opção, já que não houve nenhum pagamento nessa forma de tributação (consulta ao sistema SINAL09, fls. 6637/6660). Ao fisco, no procedimento de lançamento de ofício, é vedada tal escolha, ainda mais quando existe direcionamento expresso em lei para que o caminho a trilhar seja o do arbitramento. 33. Neste sentido, são os julgados deste E. CARF, verbis: Fl. 6857DF CARF MF Fl. 13 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 "IRPJ - AÇÃO FISCAL - LUCRO PRESUMIDO X LUCRO ARBITRADO - A opção pela tributação com base no lucro presumido é sempre de iniciativa do contribuinte. Em ação fiscal, jamais pode o fisco apurar o imposto por esta sistemática se o contribuinte por ela não optou tempestivamente. Sendo impossível apurar o lucro real, não resta outra alternativa que não o arbitramento do lucro." (grifos nossos) (Processo nº 16707.001105/2003-10, Acórdão nº 10708.045, 1º Conselho de Contribuintes / 7ª Câmara, Sessão de 14 de abril de 2005, Relator Luiz Martins Valero). "OMISSÃO DE RECEITA LUCRO PRESUMIDO - Ao fisco é vedado o exercício, em substituição ao contribuinte, da opção pelo regime presumido de tributação (...)." (Processo nº 13842.000174/00-59, Acórdão nº 105-15.316, 1º Conselho de Contribuintes / 5ª Câmara, Sessão de 19 de outubro de 2005, Relatora Nadja Rodrigues Romero). 34. Em vista do exposto, considero correta a capitulação legal dos fatos constantes da lavratura dos autos de infração relativamente aos anos-calendário de 2006, 2007 e 2008 (lucro arbitrado nos termos do artigo 530, III, do RIR/99) e afasto a alegação da Recorrente de que o arbitramento do lucro não pode prosperar. 35. Assim, como a constituição do crédito tributário foi feita de maneira correta e a não apresentação de livros e documentos contábeis é causa inexorável para arbitramento do lucro, afasto a caracterização de nulidade. Mérito I. Da Aplicação do Arbitramento do Lucro 36. Conforme consignado no item anterior, entendo que a fiscalização, quando da lavratura do auto de infração, aplicou corretamente as regras de arbitramento do lucro para os créditos tributários dos anos-calendário de 2006, 2007 e 2008. 37. Adicionalmente, a Recorrente alega duplicidade de tributação pelo fato da receita bruta declarada nos citados anos-calendário não ter sido excluída da respectiva base tributável quando do lançamento. 38. Acerca desse questionamento, as autoridades fiscais e julgadoras apontam com exatidão os motivos pelos quais a alegação da contribuinte não se sustenta. Confira-se: “O Termo de Verificação de Infração”, fls. 1786, assevera que “Sobre a possibilidade de a receita bruta declarada estar inclusa nos lançamentos de receita omitida e depósitos bancários de origem não comprovada, também não é razoável se admitir, face à grande discrepância entre a receita bruta declarada e a receita omitida e os depósitos bancários de origem não comprovada”. (...) A Fiscalização acrescentou que “Em 2006, 2007, 2008 e 2009 a receita bruta declarada foi, respectivamente, 1,49%, 17,41%, 14,28% e 0% do valor de omissão de receitas e depósitos bancários de origem não comprovada. Como o ramo de atividade da empresa envolve muitos recebimentos em dinheiro (como será abordado Fl. 6858DF CARF MF https://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/listaJurisprudenciaCarf.jsf https://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/listaJurisprudenciaCarf.jsf Fl. 14 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 abaixo), esta grande discrepância permite assumir que a receita bruta declarada sequer chega a cobrir os recebimentos em espécie.” (fls. 6625) (...) A autoridade lançadora, como resultado de atividade intelectual presuntiva, afirma um fato: o fato de que a receita declarada foi toda recebida em dinheiro e este numerário não transitou pelas contas bancárias do autuado, as quais, por sua vez, tendo sido utilizadas como base tributável do lançamento, não contém aqueles valores da receita declarada. Portanto, referida receita declarada também há de ser utilizada como base tributável do lançamento, com a devida dedução dos tributos e contribuições pagos sobre ela, não correndo a duplicidade de tributação, como alega o impugnante” (grifos nossos). 39. A contribuinte teve a oportunidade de apresentar escrituração contábil e documentação hábil e idônea que comprovasse a suposta coincidência entre a receita declarada e a omitida, o que acarretaria não apenas a exclusão da receita bruta declarada da base tributável quando do lançamento, mas afastaria a própria presunção de omissão de receitas e, em última análise, poderia até viabilizar a apuração direta do lucro pela sistemática do lucro real. 40. In casu, a Recorrente foi incapaz de demonstrar que a receita tida como omitida e os depósitos bancários de origem não comprovada estão inseridos em parte na receita bruta declarada, tampouco contra-argumentou por meio de documentos hábeis e idôneos a conclusão das autoridades fiscais e julgadoras de que "a receita bruta declarada sequer chega a cobrir os recebimentos em espécie" (valores que não transitam pela sua contabilidade). A existência de documentação fiscal e contábil que lastrei suas operações não é prova impossível, mas dever legal. 41. Concordo com a Recorrente que tal conjectura fática por si só não pode afastar a exclusão dos valores declarados da base de cálculo dos valores lançados. Contudo, tal indício decorre justamente (i) da grande discrepância entre a receita bruta declarada e a receita omitida e os depósitos de origem não comprovada (TVF, fls. 1786 e resposta à diligência de fls. 6625); e (ii) da falta de escrituração contábil, o que, inclusive, levou a efeito a aplicação da presunção constante do artigo 42, da Lei nº 9.430/96 e do arbitramento do lucro, respectivamente. 42. A comprovação material pode ser feita por um conjunto de indícios ou provas indiretas que, em conjunto, tem o condão de estabelecer a inequivocidade de uma situação de fato. Foram trazidos elementos de provas capazes, por consequencia lógica, a encadear as conclusões apresentadas pelas autoridades fiscal e julgadora. 43. No mais, verifico que a autoridade fiscal cuidou de deduzir dos tributos apurados os valores referentes aos tributos já pagos pela contribuinte, conforme demonstrativo de apuração do auto de infração (fls. 1684/1685, fls. 1688/1689 e fls. 1692/1693). 44. Do exposto, deixo de acolher o pedido da Recorrente de exclusão dos valores declarados da base de cálculo dos lançamentos constantes deste processo administrativo. 45. Por fim, cumpre consignar que, com o mesmo grau de coerência e assertividade, a r. decisão de piso afastou, com relação ao ano-calendário de 2009, a utilização do arbitramento com base no capital social e em folhas de pagamento (fls. 6724/6725). Tal parcela do lançamento foi devidamente exonerada, não havendo nada a acrescentar a respeito. Fl. 6859DF CARF MF Fl. 15 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 II. Da Exigência de Tributos por Prova Direta: Receita Omitida 46. No caso dos autos, parte dos créditos em contas de depósito foram tributados por presunção legal de omissão de receitas, lastreada no artigo 42 da Lei 9.430/96, conforme item 002 do Auto de Infração de IRPJ e reflexos (fls. 1675/1678). Uma outra parte foi tributada como omissão de receitas por prova direta, conforme item 001 do Auto de Infração de IRPJ e reflexos (fls. 1672/1675), vez que a autoridade autuante considerou, o histórico dos lançamentos constantes dos extratos bancários, prova suficiente da ocorrência de pagamentos dos clientes à contribuinte por meio de cartões de débito e crédito. 47. Em sede de Impugnação, o sujeito passivo não atacou de forma pontual tal segregação e nem questionou o critério utilizado (histórico dos lançamentos), mas apontou a existência de vício material no lançamento. Por considerar superado o argumento de nulidade, a r. decisão de piso considerou incontroversa essa discussão. 48. Em resposta, a ora Recorrente cuida de afirmar que, aos valores lançados no item 001 do auto de infração, não foi aplicada a técnica de presunção de omissão de receitas legalmente prescrita e, por consequência, o ônus da prova de que tais valores são receitas recai, exclusivamente, à autoridade fiscal. 49. Na esteira desse raciocínio, a contribuinte sustenta que a fiscalização deixou de produzir qualquer outra espécie de prova apta a demonstrar que os referidos lançamentos são receitas. Logo, pelo fato da acusação ser desprovida da força probante da presunção, os valores desses depósitos devem ser excluídos da base de cálculo do lançamento. 50. De antemão, como o CARF exerce papel de controle da legalidade dos atos administrativos e revisa os atos de lançamentos tributários contestados pelos contribuintes (artigo 5º, inciso XXXIV, alínea "a" e inciso LV, da Constituição Federal), considero plausível a interpretação mais ampla do artigo 17, do Decreto 70.235/72 2 , para deixar de reconhecer a preclusão por suposta inovação de argumentos em sede de Recurso Voluntário. In casu, entendo que tais razões são complementares a própria matéria em litígio. 51. E mais, o termo "matéria" não pode ser considerado sinônimo de "alegações" sob pena de cerceamento do direito de defesa do contribuinte (artigo 59, do Decreto nº 70.235/72), razão pela qual enfrentarei a linha argumentativa apresentada pelo ora Recorrente. 52. Em análise do auto de infração, TVF e Demonstrativo de Omissão de Receitas (fls. 1671/1783, fls. 1784/1787 e fls. 1788/1940), evidencio que a autoridade fiscal fundamentou, tanto a omissão de receitas (item 001) como a omissão de receitas por depósitos de origem não comprovada, nos artigos 27, inciso I e 42, da Lei nº 9.430/96, bem como fez constar, quando da individualização das receitas omitidas (fls. 1788/1940), a totalidade dos lançamentos bancários (itens 001 e 002). 53. Portanto, a acusação fiscal não está desprovida da força probante da presunção constante do artigo 42, da Lei nº 9.430/95. No mais, os depósitos/valores constantes do item 001 foram devidamente individualizados e a contribuinte intimada a apresentar prova de 2 "Art. 17. Considerar-se-á não impugnada a matéria que não tenha sido expressamente contestada pelo impugnante." Fl. 6860DF CARF MF Fl. 16 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 que tais valores não correspondem a receitas omitidas. Ocorre que, tal comprovação não lastreou o presente processo administrativo. 54. Diante do exposto, deixo de acolher a pretensão da Recorrente e mantenho os valores lançados relativos ao item 001 do auto de infração. II. Da Omissão de Receitas por Depósitos de Origem não Comprovada 55. De acordo com a Súmula CARF nº 26: "A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada". 56. Logo, basta a autoridade autuante demonstrar a existência de depósitos bancários de origens não comprovadas para que se presuma, até prova em contrário, a cargo do contribuinte, a ocorrência de omissão de rendimentos. Trata-se de presunção legal do tipo juris tantum e, portanto, cabe ao fisco comprovar apenas o fato definido na lei como necessário e suficiente ao estabelecimento da presunção, para que fique evidenciada a omissão de rendimentos. 57. Vejam que, o teor do artigo 42, da Lei nº 9.430/96, juntamente com a interpretação constante da Súmula CARF nº 26, devem observar os limites da lei. Não se trata de "cheque em branco" dado às autoridades fiscais para aplicar indistintamente tal presunção. 58. Assim, considero fundamental a observância de dois pressupostos para legitimar a adoção da presunção em questão: respeito aos limites legais constantes do artigo 42, da Lei nº 9.430/96, leia-se individualização dos lançamentos considerados de origem não comprovada e efetiva intimação do contribuinte para comprovar a origem dos depósitos bancários. 59. Primeiro, a autoridade deve cuidar de respeitar as disposições e limites constantes, do artigo 42, da Lei nº 9.430/96, verbis: " Art. 42. Caracterizam-se também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações § 1º O valor das receitas ou dos rendimentos omitido será considerado auferido ou recebido no mês do crédito efetuado pela instituição financeira. §2º Os valores cuja origem houver sido comprovada, que não houverem sido computados na base de cálculo dos impostos e contribuições a que estiverem sujeitos, submeter-se-ão às normas de tributação especificas, previstas na legislação vigente à época em que auferidos ou recebidos. §3º Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: I - os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica; II - no caso de pessoa física, sem prejuízo do disposto no inciso anterior, os de valor individual igual ou inferior a R$ 12.000,00 (doze mil reais), desde que o seu somatório, dentro do ano-calendário, não ultrapasse 0 valor de R$ 80.000, 00 (oitenta mil reais)." Fl. 6861DF CARF MF Fl. 17 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 60. A partir da análise do dispositivo supra, o lançamento com base em depósito bancário de origem não comprovada tem validade apenas se a autoridade fiscal individualiza os depósitos que entende como não comprovados, para que, com base nessa segregação, o autuado se defenda e apresente provas. 61. Nesse sentido, é o r. Acórdão nº 1302001.642, cuja ementa segue abaixo transcrita, verbis: "OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. INTIMAÇÃO PARA COMPROVAÇÃO POR VALORES GLOBAIS. FALTA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DOS CRÉDITOS. IMPROCEDÊNCIA DO LANÇAMENTO. Caracterizam omissão de receita os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, coincidente em datas e valores, a origem dos recursos utilizados nessas operações. A ausência de intimação que discrimine individualizadamente os créditos a serem comprovados, nos termos da lei, implica a improcedência do lançamento". (Processo nº 18471.001400/200736, Acórdão nº 1302001.642, 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária/ 1ª Seção, Sessão de 5 de fevereiro de 2015, Relator Waldir Veiga Rocha). (grifos nossos) 62. Da leitura do julgado em questão, fica claro o dever da autoridade fiscal de intimar regularmente o contribuinte para que esclareça a origem dos créditos bancários e de fazer constar da intimação a discriminação individualizada dos valores a serem comprovados. Tais deveres asseguram o direito dos contribuintes ao contraditório efetivo e a ampla defesa 3 , bem como convergem com o disposto no artigo 142, do CTN. 63. Toda a presunção, ainda que estabelecida em lei, deve ter relação entre o fato adotado como indiciário e sua consequência lógica, a fim de que se realize o primado básico de se partir de um fato conhecido para se provar um fato desconhecido. 64. Os indícios em questão decorrem de questões fáticas levantadas tanto pela autoridade fiscal, como pelo contribuinte, que legalmente intimado, deve fazer prova da origem dos créditos bancários recebidos e demonstrar a ocorrência de lançamentos em duplicidade e/ou que não correspondem às receitas tributáveis, como é o caso dos resgates, estornos e transferências entre contas do mesmo titular. 65. No presente caso, a partir das informações fornecidas pelas instituições financeiras, a fiscalização intimou o sujeito passivo a comprovar a origem de cada um dos depósitos/créditos efetuados em sua conta corrente. Ressalte-se que, consoante se atesta no 3 Lei nº 13.105/2015 Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Lei nº 9.784/1999 Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Fl. 6862DF CARF MF Fl. 18 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 Termo de Intimação Fiscal nº 2 de fls. 1286/1459, a fiscalização relacionou, de forma individualizada, os créditos cuja origem deveria ser comprovada. 66. A Recorrente, devidamente intimada em 07/10/2011 (fl. 1462), não atendeu a solicitação de comprovação da origem dos lançamentos individualizados pela autoridade fiscal. Diante da inércia da contribuinte, restou configurada a omissão de receitas decorrentes de depósitos de origem não comprovada, com fundamento no artigo 42, da Lei nº 9.430/96. 67. Em seus instrumentos de defesa, a Recorrente alega que parte dos valores não deve ser considerada receita tributável por ter como origem: (i) empréstimos/antecipação de crédito; (ii) transferência entre empresas do mesmo grupo empresarial; (iii) antecipações dos recebimentos em cheque; (iv) valores em duplicidade referentes a depósitos em cheque e desbloqueio de depósitos; (v) outros empréstimos recebidos em espécie; e (vi) valores relativos à devoluções aos seus clientes (cancelamento dos serviços). (i) Empréstimos/Antecipação de Crédito 68. A Recorrente argumenta que parte dos ingressos em suas contas são oriundos de empréstimos tomados junto às operadoras de cartão de crédito, que posteriormente foram devolvidos às referidas operadoras e, por conseguinte, não constituem receitas tributáveis. 69. Contudo, o que acontece na prática é uma antecipação de valores de vendas já efetuadas pelos estabelecimentos, que normalmente lhe seriam creditados em 30 (trinta) dias. Nessa dinâmica de antecipação, a operadora adianta os créditos mediante certa remuneração. 70. Portanto, para que haja essa antecipação de créditos é condição sine qua non que as vendas já tenham sido efetivadas, pois o que se adianta é justamente o valor do recebimento delas. Ou seja, o estabelecimento necessariamente há de ter efetuado a venda e, portanto, auferido receita. 71. Uma vez antecipado o crédito na conta bancária do interessado, por óbvio, novo crédito não virá da operadora de cartão. Resta disso que, as antecipações de valores realizadas pelas operadoras de cartão não são meros empréstimos, mas antecipação de recebimento de vendas que já se realizaram, razão pela qual representam efetivos ingressos tributáveis. 72. No mais, a contribuinte não apresenta qualquer documentação capaz de comprovar que tais ingressos não são receitas tributáveis. Logo, tal valor merece ser mantido. (ii) Transferência entre Empresas do mesmo Grupo Empresarial 73. A Recorrente sustenta que muitos dos valores tributados dizem respeito a meras transferências de recursos entre contas-correntes das diversas empresas que compõe o grupo, o que por si só demonstra não serem receitas. Fl. 6863DF CARF MF Fl. 19 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 74. No entanto, deixa de acostar provas convincentes de tal assertiva. Ao contrário, o próprio sujeito passivo reconhece que não há sequer devoluções de valores em quantias semelhantes às entradas em suas contas bancárias ou contratos de mútuos estipulando formas e prazos de pagamentos atinentes a tais "transferências". 75. O que a contribuinte alega é perfeitamente possível, mas há de ser dito na linguagem competente, a linguagem das provas. Não havendo provas, não há como acatar sua tese. 76. Ademais, nos termos da Solicitação de Documentos de fls. 6621, a contribuinte foi intimada a apresentar documentos comprobatórios da titularidade das contas bancárias relacionadas no item 2 daquele documento, que são as mesmas que elencou a seu favor em seus instrumentos de defesa, mas nada apresentou. 77. Desse modo, não há outra alternativa senão manter a exigência em questão. (iii) Antecipações dos Recebimentos em Cheque 78. Aduz, ainda, que os ingressos sob os títulos CHEQUE DESCONTADO, LIBERAÇÃO CRÉDITO CESSÃO CHQ P, CRÉD TRANS GERENCIAL, CRÉDITO DE OPERAÇÃO DESCONTO D, DESC CHEQUE PRÉDATADO, LIB DESCONTO CH e LIB VINCULADA referem-se a operações de crédito (empréstimos) e não são receitas de prestação de serviços. 79. Consigna fazer parte da sua dinâmica operacional receber cheques pós- datados e, junto a instituição bancária, promover um empréstimo garantido por estes cheques que serão exigíveis no futuro. 80. Contudo, considero que a mera existência de uma operação bancária creditícia leva a presunção de que os valores de tal natureza derivam de receitas. Ora, a condição de cheque descontado, por exemplo, não retira dele a possibilidade de se referir a serviços que já foram prestados, e que, portanto, já haja receita auferida. Na mesma linha, verifico várias operações que sugerem o uso de cheques nessas condições, v.g., CRÉDITO DE OPERAÇÃO DESCONTO e LIB DESCONTO CH. 81. Ademais, usualmente os cheques pré-datados são "vendidos" para instituições financeiras que antecipam esses valores para seus clientes. Por suposto, o montante recebido pelo usuário é inferior àquele constante do cheque pré-datado. Em outro termos, ao ceder a titularidade desses cheques ao banco, os usuários recebem valores (receitas líquidas) em contrapartida, ainda que em valor inferior ao nominal. Nesta hipótese, a contribuinte teria sim auferido receitas tributáveis. 82. Noutro turno, é possível também que exista entre os cheques descontados vários que digam respeito a adiantamento de serviços (ainda não prestados). Contudo, cabe ao contribuinte o ônus afastar a presunção erigida pelo fisco por meio de provas como: cópia dos contratos, dos borderôs, dos avisos de crédito, etc. Fl. 6864DF CARF MF Fl. 20 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 83. Sem quaisquer provas, é impossível concluir que tais operações de créditos são, na prática, empréstimos. A simples listagem de valores não é suficiente para demonstrar a natureza de empréstimo das referidas operações. Logo, os valores em questão merecem ser mantidos. (iv) Valores em Duplicidade referentes a Depósitos em Cheque e Desbloqueio de Depósitos 84. Em relação à alegação de valores considerados em duplicidade referentes a depósitos em cheque e desbloqueio de depósito, a autoridade fiscal, em resposta a solicitação de diligência (fls. 6625), afirma que: "No trabalho com os arquivos digitais do Banco do Brasil estes lançamentos marcados com o “*” são expurgados. Desta forma, em hipótese alguma valores creditados sob o histórico “DESBLOQUEIO DE DEPOSITO” foram considerados anteriormente na base tributável sob outro histórico.” 85. Já a r. decisão de piso, ao analisar os extratos bancários de fls. 93/760, apresenta sua concordância com relação ao trabalho da fiscalização, nos seguintes termos: "(...) basta ver, como exemplo, o extrato de fls. 97, que aponta um depósito bloqueado no dia 20.01.2006, sob o histórico “911DEP. BL. 1D ÚTIL”, Documento 014122, valor de R$ 903,00. Esse depósito, conforme extrato de fls. 98, foi desbloqueado no dia 23.01.2006, sob o histórico “631DESBL. DEPOSITO”, Documento 000000, no mesmo valor de R$ 903,00. Agora, consultando às fls. 1287, verifica-se que o contribuinte foi intimado a justificar apenas o valor do desbloqueio ocorrido no dia 23/01/2006. Não há instamento para se justificar o depósito bloqueado do dia 20/01/2006. Portanto, não houve cômputo em duplicidade desses valores, como alega o impugnante". 86. Por sua vez, a Recorrente se limita a repetir integralmente suas razões já expostas em sede de impugnação sem confrontar os apontamentos feitos pelas autoridades fiscal e julgadora e/ou trazer à baila os supostos episódios de dupla tributação. Assim sendo, considero que tais valores merecem ser mantidos. (v) Outros Empréstimos recebidos em Espécie 87. Por fim, a Recorrente alega que alguns valores considerados como receitas consistem em empréstimos recebidos em espécie (busca de capital de terceiros para financiar suas atividades), entretanto não traz aos autos nenhum contrato de empréstimo que justifique tal afirmação. Logo, os valores em questão merecem ser mantidos. (vi) Valores Relativos a Devoluções aos seus Clientes (cancelamento dos serviços) 88. No caso em questão, considerando o ramo de atividade da Recorrente, é plausível que haja grande número de desistência e cancelamento de matrículas, com a posterior devolução de valores aos clientes da empresa. 89. E, por mais que a r. decisão de piso entenda serem os documentos probatórios de produção da própria contribuinte, esta relatoria não poderia deixar de considerar o Fl. 6865DF CARF MF Fl. 21 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 fato de, parte deles, terem sido acompanhados dos respectivos comprovantes depósito em favor dos clientes da contribuinte (fls. 2073/6598). 90. Diante do forte indício de que tais valores teriam sido devolvidos aos clientes da contribuinte em razão da desistência dos cursos que estavam inscritos, o presente feito foi convertido em diligência. 91. No entanto, a ora Recorrente, ainda que devidamente intimada, não relacionou/cotejou "os cancelamentos de matrícula e os comprovantes de depósito bancário com os lançamentos constantes da individualização dos depósitos de origem não comprovada e a respectiva documentação fiscal e contábil". 92. Dessa forma, deixo de acolher o pedido por ela formulado e mantenho a respectiva exigência. III. Da Ausência de Pressupostos para Aplicação da Multa Qualificada 93. As autoridades fiscal e julgadora consideraram que a contribuinte, ao apresentar DIPJ e DCTF, reiteradamente, com valores de receita bruta muito inferior aos valores de receita omitida, teria agido de forma dolosa com a intenção de impedir o conhecimento por parte da Receita Federal da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, o que enseja a aplicação da multa qualificada de 150%, conforme atual §1° do artigo 44 (antigo inciso II), da Lei nº 9.430/96, verbis: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I - de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (...) § 1º. O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. 94. Não podemos olvidar que a aplicação de multa qualificada é medida de caráter excepcional. Na prática, as autoridades fiscal e julgadora não lograram êxito em comprovar que a Recorrente teria praticado quaisquer das condutas dolosas descritas nos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. 95. Conforme disposto no artigo 71 da Lei nº 4.502/64, sonegar é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do evento tributário, sua natureza ou circunstâncias materiais, bem como das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente: “Art. 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I - da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; Fl. 6866DF CARF MF Fl. 22 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 II - das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente.” 96. Da leitura, é possível concluir que a sonegação implica em descumprimento por parte do sujeito passivo de dever instrumental prejudicando a constituição da obrigação do crédito tributário. Em termos fáticos, a autoridade fiscal deve provar que a conduta do contribuinte impediu a apuração dos créditos tributários e, consequentemente, prejudicou o lançamento. 97. A segunda hipótese de aplicação de multa qualificada é a fraude, definida sobre a ótica tributária, do seguinte modo: “Art. 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento.” 98. Fraude no sentido da lei é ato que busca ocultar algo para que possa o contribuinte furtar-se do cumprimento da obrigação tributária. Ao contrário do dolo, que busca induzir terceiro a praticar algo, a fraude é ato próprio do contribuinte que serve para lograr o fisco. 99. Apesar disso, o artigo 72 supra, utilizou-se do conceito de dolo para a definição de fraude. O "dolo" referido no artigo é o dolo penal, não o civil, porque o segundo ocorre sempre com a participação da parte prejudicada. Não por acaso, tais ilícitos tributários tem repercussões penais, nos termos dos artigos 1º e 2º, da Lei nº 8.137/90. 100. Conforme o artigo 18 do Código Penal, crime doloso ocorre quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo, assim, o dispositivo legal está conforme a teoria da vontade adotada pela lei penal brasileira. Para que o crime se configure, o agente deve conhecer os atos que realiza e a sua significação, além de estar disposto a produzir o resultado deles decorrentes. Assim, a responsabilidade pessoal do agente deve ser demonstrada/provada. 101. Portanto, é imperioso encontrar evidenciado nos autos o intuito de fraude, não sendo possível presumir sua ocorrência. As próprias Súmulas CARF nºs 14, 25 e 34, afastam a presunção de fraude e deixam clara a necessidade de comprovação do "evidente intuito de fraude do sujeito passivo". "Súmula CARF nº 14 A simples apuração de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação do evidente intuito de fraude do sujeito passivo. Súmula CARF nº 25 A presunção legal de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação de uma das hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64. Súmula CARF nº 34 Fl. 6867DF CARF MF Fl. 23 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 Nos lançamentos em que se apura omissão de receita ou rendimentos, decorrente de depósitos bancários de origem não comprovada, é cabível a qualificação da multa de ofício, quando constatada a movimentação de recursos em contas bancárias de interpostas pessoas." (grifos nossos)" 102. Em linha este raciocínio, para o Alberto Xavier4, a figura da fraude exige três requisitos. O um, que a conduta tenha finalidade de reduzir o montante do tributo devido, evitar ou diferir o seu pagamento; o dois, o caráter doloso da conduta com intenção de resultado contrário ao Direito; e, o três, que tal ato seja o meio que gerou o prejuízo ao fisco. 103. Na prática, a comprovação da finalidade da conduta, do seu caráter doloso e do nexo de causalidade entre a conduta ilícita do contribuinte e o prejuízo ao erário é condição sine qua non para enquadrar determinada prática como fraudulenta. 104. Logo, para restar configurada a fraude, a autoridade fiscal deve trazer aos autos elementos probatórios capazes de demonstrar que o sujeito passivo praticou conduta ilícita e intencional hábil a ocultar ou alterar o valor do crédito tributário, bem como que tal ato afetou a própria ocorrência do fato gerador. 105. A terceira hipótese de aplicação da multa qualificada é a prática do conluio que visa o dolo ou fraude por meio de ato intencional entre duas ou mais pessoas: “Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72.” 106. Como se nota, o conluio é qualquer ato intencional praticado por mais uma parte visando o dolo ou a fraude. O que qualifica o conluio, distinguindo-o de outra espécie de conduta dolosa ou fraudulenta, é o aspecto subjetivo, isto é, a existência de mais de um sujeito que ajustem atos que visem à sonegação ou fraude. 107. É importante reforçar que o reconhecimento de quaisquer destas práticas deve ser comprovado pela autoridade fiscal através do nexo entre caso concreto e a suposta sonegação, fraude ou conluio e caracterização efetiva do dolo. Esse é o entendimento deste E. C. CARF, verbis: "(...) MULTA QUALIFICADA. FALTA DE COMPROVAÇÃO DE DOLO. NÃO CABIMENTO. É incabível a aplicação de multa qualificada, com percentual de 150%, quando não restar comprovada a conduta dolosa do sujeito passivo, em especial nos casos de planejamento tributário acerca do qual haja divergência na doutrina e na jurisprudência. (...)" (Processo nº 16682.720182/2010-27, Acórdão nº 1301002.670, 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária / 1ª Seção, Sessão de 18 de outubro de 2017, Relator Roberto Silva Junior). (grifos nossos) 108. Vejamos trecho deste acórdão sobre o assunto: "O pressuposto de multa qualificada, de acordo com o §1º do art. 44 da Lei nº 9.430/96, é a existência de sonegação, fraude ou conluio. É preciso que o sujeito passivo tenha 4 XAVIER, Alberto. Tipicidade da Tributação, Simulação e Norma Antielisiva. São Paulo: Dialética, 2000, p. 78. Fl. 6868DF CARF MF Fl. 24 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 agido de forma deliberada e consciente, buscando obter um ganho indevido, em detrimento da Fazenda. É necessária a prova da conduta dolosa. Os fatos comprovados nos autos devem gerar a convicção de que os autuados, tendo consciência da ilicitude, deliberam prosseguir na ação ilícita a fim de obter vantagem tributária a que não tinham direito.” (grifos nossos) 109. Já o Acórdão nº 1301002.628, proferido a partir do Recurso de Ofício da Fazenda Nacional, ao tratar do tema omissão de receitas, depósitos bancários de origem não comprovada, afasta a multa qualificada ante a ausência de comprovação da intenção do agente de fraudar e sonegar, verbis: "MULTA QUALIFICADA. OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. ORIGEM NÃO COMPROVADA. EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE. NÃO CARACTERIZAÇÃO. A infração de omissão de receitas caracterizada pela via presuntiva, na hipótese em que valores creditados em conta de depósito ou de investimento, mantida junto a instituição financeira, não tenham sua origem comprovada por seu titular, impede, por contradição lógica, concluir que sua prática ocorreu com evidente intuito de fraude, circunstância qualificadora da multa de oficio que pressupõe um juízo de certeza acerca da natureza jurídica daqueles valores.(...)" (Processo nº 19515.002704/2007-20, Acórdão nº 1301002.628, 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária / 1ª Seção, Sessão de 5 de fevereiro de 2015, Relatora Amélia Wakako Morishita Yamamoto). (grifos nossos) 110. Cumpre destacar o seguinte trecho do voto condutor: "A DRJ entendeu que o dolo não ficou comprovado, faltou à fiscalização a comprovação de fatos que motivassem a aplicação da multa de 150%. (...) No seu entendimento, a simples constatação de conduta omissa de receitas por parte do contribuinte não é condição suficiente para qualificá-la. Ou seja, não bastaria a mera constatação de um ilícito, mas deveria ser verificada uma incontestável intenção de fraudar/sonegar. E isso que diferencia a conduta mais gravosa, da simples omissão de receitas, por falta de declaração de valores tributáveis ao fisco. No caso em destaque, a infração de omissão de receitas foi caracterizada pela presunção, nos termos do art. 42 da Lei 9430/96, cuja consequência foi a aplicação da exigência de ofício dos tributos devidos, e a circunstância que o qualificava – evidente intuito de fraude não foi comprovado pela Autoridade Fiscal.”(grifos nossos) 111. Os acórdãos citados deixam clara a necessidade observância dos três requisitos expostos nos itens 102 a 104, conduta ilícita, intenção e nexo de causalidade entre a ação do sujeito passivo e o prejuízo ao erário, para fim de justificar a efetiva ocorrência das práticas infracionais em comento. 112. As autoridades fiscais, no curso do processo administrativo, não cuidaram de trazer elementos probatórios sólidos hábeis a demonstrar o intuito doloso do contribuinte, além da própria omissão de receitas, capazes de caracterizar a aplicação da multa qualificada. Ao revés, limitaram-se a dizer que a apresentação de declarações com valores inferiores aos valores de receita omitida de forma reiterada enseja a qualificação, sem adentrar na questão da existência ou não de sonegação, fraude ou conluio (fl.1786). Fl. 6869DF CARF MF Fl. 25 do Acórdão n.º 1201-002.977 - 1ª Sejul/2ª Câmara/1ª Turma Ordinária Processo nº 10980.725834/2011-50 113. Por fim, nos termos do artigo 112, do CTN, "a lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto: (...) IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação." 114. Em vista de todas as razões fáticas e jurídicas aqui expostas, não cabe aplicar in casu penalidade no percentual de 150% como se estivéssemos diante de um caso de interposição fraudulenta de pessoas e/ou falsificação de documentos fiscais. Tal imputação, além de violar o artigo 112, do CTN, afronta as já citadas Súmulas CARF nºs 14, 25 e 34. 115. Portanto, considerando a falta de elementos trazidos pelas autoridades fiscal e julgadora, acolho o pedido da Recorrente para que seja afastada a qualificação da multa de ofício (de 150% para 75%). VI. Do não Agravamento da Multa (de 150% para 225%) 116. Em seu instrumento de defesa, a Recorrente afirma que “o lançamento em foco contou com a aplicação de multa agravada” e requer o afastamento da multa em comento. 117. No entanto, em análise ao auto de infração de fls. 1671/1783, verifico que foram aplicadas apenas as multas de ofício de 75% e a qualificada de 150%, razão pela qual não há que se falar em procedência ou não do agravamento da multa. 118. De fato, no caso dos autos, não seria cabível o agravamento da multa e a autoridade fiscal cuidou de não imputar tal penalidade. Conclusão 119. Diante do exposto, VOTO no sentido de CONHECER do presente RECURSO, e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO apenas para afastar a aplicação de multa qualificada de 150% (reduzindo-a de 150% para 75%). É como voto. (assinado digitalmente) Gisele Barra Bossa Fl. 6870DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10783.720616/2012-36
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jun 18 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Jul 11 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/07/2009 a 30/09/2009
NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
Não há que se cogitar de nulidade do auto de infração lavrado por autoridade competente e com a observância dos requisitos previstos na legislação que rege o processo administrativo tributário.
ATOS ANTERIORES AO LANÇAMENTO. PRINCÍPIO INQUISITÓRIO. AUSÊNCIA DE NULIDADE.
O procedimento fiscal que culmina no ato de lançamento é governado pelo princípio inquisitório. O direito à ampla defesa e ao contraditório somente se instalam e são exercíveis no processo administrativo (governado pelo Decreto 70.235/72 e pela Lei n. 9.784/99), que se inicia com a pretensão resistida (contencioso).
SIMULAÇÃO. INTERPOSIÇÃO. VENDA DE CAFÉ. CREDITAMENTO
Comprovada a aquisição de café, de fato, de pessoas físicas, quando os documentos apontavam para uma intermediação por pessoa jurídica, incabível o creditamento integral das contribuições, sendo válida apenas a tomada do crédito presumido pela aquisição de pessoas físicas.
AQUISIÇÃO DE COOPERATIVA. CAFÉ EM GRÃO CRU. PRODUTO BENEFICIADO. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO INTEGRAL. POSSIBILIDADE.
É válida a apropriação de crédito integral da Contribuição ao PIS e da COFINS nas aquisições de café de cooperativas de produção agropecuária, sujeitas ao regime de tributação normal, uma vez comprovado que se trata de compra de "café em grão cru", produto este já submetido a beneficiamento (disposto no §6º do artigo 8º da Lei n. 10.965/2004). As notas fiscais são aptas a comprovar que a compra do produto "café em grão cru" é feita com a incidência da Contribuição ao PIS e da COFINS, afastando a suspensão das contribuições e a consequente necessidade de utilização do crédito presumido.
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. COMPROVAÇÃO DAS CONDUTAS DE SONEGAÇÃO E FRAUDE FISCAIS. IMPOSSIBILIDADE.
É cabível a aplicação da multa de ofício qualificada de 150% (cento e cinquenta por cento), prevista no artigo 44, §1º, da Lei nº 9.430, de 1996, se provadas nos autos as condutas de sonegação ou fraude tributária.
Numero da decisão: 3402-006.706
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário para reconhecer o direito de crédito integral da Contribuição ao PIS e da COFINS relativo às aquisições de café em grão cru (beneficiado) de cooperativa. Vencidos os Conselheiros Maria Aparecida Martins de Paula e Waldir Navarro Bezerra que negavam provimento integral ao Recurso Voluntário em razão da não comprovação pela Recorrente do enquadramento no art. 9º, §1º, II, da Lei n. 10.925/2004. Vencido o Conselheiro Diego Diniz Ribeiro que dava integral provimento ao Recurso Voluntário em razão da nulidade das provas produzidas quanto à conduta simulada no setor cafeeiro, conforme declaração de voto lida em sessão.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Presidente
(assinado digitalmente)
Thais De Laurentiis Galkowicz - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Rodrigo Mineiro Fernandes, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Pedro Sousa Bispo, Cynthia Elena de Campos, Thais De Laurentiis Galkowicz, e Waldir Navarro Bezerra.
Nome do relator: THAIS DE LAURENTIIS GALKOWICZ
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INEXISTÊNCIA. Não há que se cogitar de nulidade do auto de infração lavrado por autoridade competente e com a observância dos requisitos previstos na legislação que rege o processo administrativo tributário. ATOS ANTERIORES AO LANÇAMENTO. PRINCÍPIO INQUISITÓRIO. AUSÊNCIA DE NULIDADE. O procedimento fiscal que culmina no ato de lançamento é governado pelo princípio inquisitório. O direito à ampla defesa e ao contraditório somente se instalam e são exercíveis no processo administrativo (governado pelo Decreto 70.235/72 e pela Lei n. 9.784/99), que se inicia com a pretensão resistida (contencioso). SIMULAÇÃO. INTERPOSIÇÃO. VENDA DE CAFÉ. CREDITAMENTO Comprovada a aquisição de café, de fato, de pessoas físicas, quando os documentos apontavam para uma intermediação por pessoa jurídica, incabível o creditamento integral das contribuições, sendo válida apenas a tomada do crédito presumido pela aquisição de pessoas físicas. AQUISIÇÃO DE COOPERATIVA. CAFÉ EM GRÃO CRU. PRODUTO BENEFICIADO. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO INTEGRAL. POSSIBILIDADE. É válida a apropriação de crédito integral da Contribuição ao PIS e da COFINS nas aquisições de café de cooperativas de produção agropecuária, sujeitas ao regime de tributação normal, uma vez comprovado que se trata de compra de "café em grão cru", produto este já submetido a beneficiamento (disposto no §6º do artigo 8º da Lei n. 10.965/2004). As notas fiscais são aptas a comprovar que a compra do produto "café em grão cru" é feita com a AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 78 3. 72 06 16 /2 01 2- 36 Fl. 1301DF CARF MF 2 incidência da Contribuição ao PIS e da COFINS, afastando a suspensão das contribuições e a consequente necessidade de utilização do crédito presumido. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. COMPROVAÇÃO DAS CONDUTAS DE SONEGAÇÃO E FRAUDE FISCAIS. IMPOSSIBILIDADE. É cabível a aplicação da multa de ofício qualificada de 150% (cento e cinquenta por cento), prevista no artigo 44, §1º, da Lei nº 9.430, de 1996, se provadas nos autos as condutas de sonegação ou fraude tributária. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário para reconhecer o direito de crédito integral da Contribuição ao PIS e da COFINS relativo às aquisições de café em grão cru (beneficiado) de cooperativa. Vencidos os Conselheiros Maria Aparecida Martins de Paula e Waldir Navarro Bezerra que negavam provimento integral ao Recurso Voluntário em razão da não comprovação pela Recorrente do enquadramento no art. 9º, §1º, II, da Lei n. 10.925/2004. Vencido o Conselheiro Diego Diniz Ribeiro que dava integral provimento ao Recurso Voluntário em razão da nulidade das provas produzidas quanto à conduta simulada no setor cafeeiro, conforme declaração de voto lida em sessão. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Presidente (assinado digitalmente) Thais De Laurentiis Galkowicz Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Rodrigo Mineiro Fernandes, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Pedro Sousa Bispo, Cynthia Elena de Campos, Thais De Laurentiis Galkowicz, e Waldir Navarro Bezerra. Relatório Tratase de recurso voluntário interposto em face da decisão proferida pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento (“DRJ”) do Rio de Janeiro/RJ, que declarou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada pela Contribuinte sobre pedido de ressarcimento de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Para iniciar o relato do caso, por bem consolidar os fatos que ensejaram a atuação fiscal, colaciono os principais trechos do acórdão recorrido in verbis: Trata o presente processo de pedido de ressarcimento lastreado em pretensos créditos oriundos da incidência nãocumulativa da contribuição para a COFINS, tal como estatuído na Lei 10.833/03, e posteriores alterações, relativo ao 4º trimestre de 2008. Fl. 1302DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 251 3 A DRF/Vitória exarou o despacho decisório de fl. 115, com base no Parecer Fiscal GAB903/ DRF/VIT/ES nº 2/2013 em fls. 109/114, decidindo reconhecer parcialmente o direito creditório pleiteado e, em decorrência, homologar parcialmente as compensações declaradas. Do referido Parecer cabe transcrever o seguinte trecho: “[...]STOCKL CAFÉ foi objeto de procedimento de auditoria amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal nº 2011.018224 que teve como escopo a verificação de pretensos créditos, oriundos da aquisição de café utilizado como insumos, deduzidos contabilmente pela empresa com os valores devidos das contribuições não cumulativas para a COFINS, bem como utilizados na compensação de tributos/contribuições mediante pedido de ressarcimento/compensação por meio de processo administrativo ou PER/DCOMP. A auditoria fiscal examinou a escrituração contábil com enfoque na conta representativa de fornecedores e restou comprovado à saciedade que a STOCKL CAFÉ apropriouse de créditos integrais fíctos decorrentes da compra de café. STOCKL CAFÉ lançou mão de um ardil disseminado por todo o estado do Espírito Santo, que consiste na interposição fraudulenta de pseudoatacadistas – empresas laranjas para dissimular vendas de café de pessoa física (produtor/maquinista) para empresas exportadoras e torrefadoras, gerando dessa forma, ilicitamente, créditos integrais da COFINS na sistemática da nãocumulatividade que de outra forma, segundo a legislação vigente, não seriam cabíveis. (...) Os créditos integrais, apropriados indevidamente nos livros contábeis da STOCKL CAFÉ, foram glosados e reconhecido o direito ao crédito presumido sobre tais operações, na forma da legislação aplicável. Após a recomposição dos saldos, as diferenças da COFINS devidas foram lançados de ofício, além da multa isolada a ser aplicada sobre as compensações indevidas, nãohomologadas, vinculadas a pedidos de ressarcimento de créditos da COFINS que não foram reconhecidos na sua integralidade. Importante frisar que a fiscalização ora encerrada decorre das investigações originadas na operação fiscal TEMPO DE COLHEITA deflagrada pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Vitória/ES, em outubro de 2007, que resultou na comunicação dos fatos apurados ao Ministério Público Federal em agosto de 2009. Em 01/06/2010, deflagrouse a operação BROCA, fruto da parceria entre o Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal, na qual foram cumpridos mandados de busca e apreensão e prisão. Fl. 1303DF CARF MF 4 As provas e documentos produzidos nos curso dos trabalhos fiscais que constam do processo administrativo nº 10783.720897/201316, bem como o Termo de Encerramento da Ação Fiscal, serão cientificados simultaneamente à STOCKL CAFÉ, por se tratarem do mesmo objeto, qual seja: análise, glosa e recomposição dos créditos a descontar. (...) Inconformada com o despacho decisório, a interessada apresentou manifestação de inconformidade alegando em síntese o seguinte: 1. Preliminares 1.1. Requer seja o presente feito apensado aos processos relacionados, para julgamento conjunto; 1.2. A Contribuinte alega que não teve direito de participar da coleta dos depoimentos prestados pelos supostos profissionais do mercado de café, como legítimo exercício do direito ao contraditório e a ampla defesa. 1.3. Aduz, ainda, que o Parecer Fiscal se omite quanto à fundamentação das glosas de créditos integrais da COFINS referentes às aquisições de café de Cooperativas. 1.4. Assevera que, com exceção de uma breve referência da suspensão da incidência da COFINS nas aquisições de Cooperativas, feita na ementa do Parecer Fiscal, nada mais há no ato administrativo que subsidie a conclusão pela glosa dos créditos integrais e deferimento de créditos presumidos. 1.5. Conclui afirmando que diante da ausência de motivação, requisito obrigatório do ato administrativo, nos termos do art. 92, inciso X da Constituição, deve ser decretada a nulidade do Parecer Fiscal citado; 2. Mérito 2.1. Fornecedores Irregulares/pseudoatacadistas A manifestação de inconformidade, quanto ao mérito, pode ser sintetizada nas seguintes alegações: i) a boafé da Contribuinte é demonstrada pelo fato de que teve o zelo de fazer consultas ao banco de dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil, com o objetivo de comprovar a regularidade jurídica das empresas fornecedoras; ii) os atos que declaram as empresas como "inapta", "baixada" ou "nula" ocorreram posteriormente às compras realizadas. A Contribuinte ainda alega que: iii) deve ser considerado o que dispõe o parágrafo único do artigo 82 da Lei n° 9.430/96; iv) há efetiva comprovação de que promoveu o pagamento do valor acordado para aquisição das mercadorias e recebeu o produto em um dos seus estabelecimentos; v) as aquisições de bens se deram por intermédio de fornecedora (pessoa jurídica) ativa no CNPJ Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, bem como no SINTEGRA; vi) toda a documentação acerca das operações de aquisição de mercadorias das empresas fornecedoras foi lançada na contabilidade da empresa, e devidamente analisada pela fiscalização, o que comprova que a Contribuinte agiu de boafé, de forma que as operações ocorreram de modo efetivo, o que invalida as alegações lançadas pela fiscalização federal, e; vii) não se pode exigir da Contribuinte que adote providências de caráter extraordinário, pois estas fogem à natureza comercial de suas operações, principalmente, em virtude das especificidades do setor café em grãos. Fl. 1304DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 252 5 2.2. Compras de Cooperativas A Autoridade Fiscal também glosou os créditos integrais sobre aquisições das cooperativas, pois entendeu supridos os requisitos estabelecidos para a aplicação da suspensão nas compras de café efetuadas destas empresas, conforme disposto na Lei n° 10.925/2004. A Contribuinte contesta o ponto, pois entende que o adquirente das sociedades cooperativas de produção agropecuária tem direito ao aproveitamento integral dos créditos da contribuição em referência, porque estas (as cooperativas) não têm direito à manutenção dos créditos ordinários originados da aquisição de bens e serviços. Argumenta que a autoridade fiscal desconsiderou uma das etapas do processo produtivo do café, mais especificamente, a 2ª etapa; pois somente na saída do café in natura, destinado à utilização como insumo de produção do café cru em grão, é obrigatória a suspensão da exigibilidade da Cofins, assim, o aproveitamento do crédito presumido ocorre apenas nessa etapa (2ª), mas ela, Contribuinte, atua na 3ª etapa. Diante deste contexto, foi negado provimento à impugnação, por julgamento datado de 9 de abril de 2015, pela DRJ São Paulo/SP, nos termos da ementa a seguir colacionada: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/10/2009 a 31/12/2009 FRAUDE. DISSIMULAÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO. NEGÓCIO ILÍCITO. Comprovada a existência de simulação/dissimulação por meio de interposta pessoa, com o fim exclusivo de afastar o pagamento da contribuição devida, é de se glosar os créditos decorrentes dos expedientes ilícitos, desconsiderando os negócios fraudulentos. USO DE INTERPOSTA PESSOA. INEXISTÊNCIA DE FINALIDADE COMERCIAL. DANO AO ERÁRIO. CARACTERIZADO. Negócios efetuados com pessoas jurídicas, artificialmente criadas e intencionalmente interpostas na cadeia produtiva, sem qualquer finalidade comercial, visando reduzir a carga tributária, além de simular negócios inexistentes para dissimular negócios de fato existentes, constituem dano ao Erário e fraude contra a Fazenda Pública, rejeitandose peremptoriamente qualquer eufemismo de planejamento tributário. COOPERATIVA. REGIME DE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE. OBRIGATORIEDADE. A obrigatoriedade do regime de suspensão de exigibilidade do crédito tributário, no âmbito da nãocumulatividade de PIS e Cofins, nas vendas da cooperativa agropecuária para a agroindústria, não se desqualifica pelo descumprimento de obrigações acessórias impostas às partes envolvidas no negócio, havendo, por outro lado, o benefício fiscal do crédito presumido para o adquirente. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/10/2008 a 31/12/2008 NULIDADE. Fl. 1305DF CARF MF 6 Não padece de nulidade o despacho decisório ou o auto de infração, lavrado por autoridade competente, contra o qual o contribuinte pode exercer o contraditório e a ampla defesa, onde constam requisitos exigidos nas normas pertinentes ao processo administrativo fiscal. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. ELEMENTOS DE PROVA. A prova documental deve ser apresentada na impugnação, precluído o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, exceto quando justificado por motivo legalmente previsto. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Irresignada, a Contribuinte recorre a este Conselho, repisando os argumentos trazidos em sua impugnação ao lançamento tributário. Outrossim, traz argumentos sobre a nulidade do Acórdão da DRJ, que teria deixado de devidamente apreciar a suas preliminares de defesa, além de afirmar existir inovação nos argumentos utilizados pela DRJ para sustentar a desconsideração dos negócios jurídicos praticados. O caso veio a julgamento deste Colegiado, em 25 de outubro de 2017, oportunidade em que se decidiu converter o julgamento em diligência, uma vez constada a relação de prejudicialidade entre este processo (pedido de ressarcimento) e outros processos relativos a pedidos de ressarcimentos de outros trimestres de 2008 e 2009, bem como com os autos de infração em razão da não homologação das compensações e da cobrança de multa isolada (Processos n. 10783.720897/201316 e 10783.720898/201352). Requereuse a reunião dos processos relacionados para minha relatoria e julgamento conjunto. É o relatório. Voto Conselheira Thais De Laurentiis Galkowicz, Relatora Os requisitos de admissibilidade do recurso voluntário já foram anteriormente reconhecidos por este Conselho, de modo que passo a sua apreciação. Inicialmente, saliento que este processo está sendo julgado conjuntamente com os demais processos relacionados, conforme mencionado no relato acima. Passo assim aos pontos apresentados na defesa da Recorrente. 1. Preliminares 1.1. Alegado desrespeito ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa A Recorrente alega que não participou das investigações da Polícia Federal conhecidas como Broca e Tempo de Colheita, de modo que não teve seu direito ciência, manifestação e participação resguardados. Conclui, por isso, que provas teriam sido constituídas à revelia de sua participação. Um primeiro ponto a ser colocado é que tais alegações não constaram da impugnação apresentada pela Contribuinte, de modo que seriam preclusas, nos termos do artigo 17 do Decreto 70.235/72. Fl. 1306DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 253 7 Porém, mesmo se fosse o caso de conhecêlas, é certo que a Recorrente em nenhum momento prova que, efetivamente, as pessoas físicas e jurídicas a ela relacionadas não compuseram as investigações da DRF/Vitória/ES (“Operação Tempo de Colheita”), iniciadas em 10/2007, e que resultaram posteriormente na Operação “Broca”, deflagrada em 01/06/2010, fruto da parceria entre o Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal. A alegação genérica sobre os vícios processuais que eventualmente maculariam esse processo não podem resguardar a Recorrente. É seu o ônus da prova dos fatos que alega, uma vez que se trata fatos impeditivos, modificativos, extintivos do direito da Fiscalização (artigo 373, inciso II NCPC). Ainda quanto à aventada nulidade, cabe relembrar que o procedimento fiscal é inquisitório e aos particulares cabe colaborar com a autoridade administrativa, pois nessa fase não se formou ainda a relação jurídica processual e os particulares não atuam como parte. Isto somente acontece com o ato de lançamento e a respectiva impugnação, quando se instaura o contencioso administrativo, com todos os deveres e direitos expostos no Decreto 70.235/72 e na Lei n. 9.784/99. Assim, antes da apresentação da impugnação, não há litígio, não há contraditório, e o procedimento é levado a efeito de ofício pelo fisco. Coerentemente com essa interpretação, o art. 14 do Decreto 70.235, de 1972, preceitua: “a impugnação da exigência instaura a fase litigiosa do procedimento ”. É a partir desse momento que, iniciada a fase processual, passa a vigorar na esfera administrativa o princípio constitucional da garantia ao devido processo legal, no qual está compreendido o respeito à ampla defesa e ao contraditório, com os meios e recursos a eles inerentes, nos termos do art. 5º, inciso LV, da CF. No presente caso, pela análise do relatório fiscal, constato que todos os direitos da Contribuinte foram seguidos durante o curso da ação fiscal (fls 368). Afinal, o auto de infração foi instruído com as provas que motivaram o entendimento firmado pela fiscalização, todos plenamente à disposição da Recorrente para que pudesse se defender no momento processual adequado. Assim, afasto o argumento de preliminar da sobre a ofensa ao contraditório e ampla defesa, inexistindo lugar para a aplicação do artigo 59 do Decreto 70.235/72. 1.2. Da ilegítima inovação aos fundamentos da glosa de crédito inaplicabilidade da legislação civil e do artigo 116, p. único do CTN para a desconsideração dos negócios jurídicos A Recorrente alega que a DRJ, em seu acórdão, teria inovado a motivação utilizada pela fiscalização no momento de efetuar o lançamento tributário, usando o argumento que haveria dissimulação nas operações de compra e venda auditadas. Com isso, desconsiderou os negócios jurídicos. Esse raciocínio, segundo seu entendimento, está implicitamente pautado no artigo 116, parágrafo único do CTN. Passa a discorrer como o parágrafo único do artigo 116 ainda demanda lei ordinária para ter eficácia e ser aplicado. Coloca ainda que não se poderiam utilizar categorias próprias do direito privado, como a dissimulação, para fundamentar um lançamento tributário. Não poderia subsistir, portanto, auto de infração que o tenha como base. Cita o artigo 109 do Fl. 1307DF CARF MF 8 CTN em sua defesa. No mais, apresenta argumentos que se confundem com o mérito da acusação fiscal. Entendo que não lhe assiste razão. A acusação fiscal foi de simulação na apropriação de créditos fiscais, em nada tangenciando a problemática relacionada aos citados institutos utilizados para desconsiderar planejamentos tributário ilícitos. Nas palavras da fiscalização (fls 316, 369 e 370): O farto conjunto probatório colhido no curso das investigações que antecederam a presente ação fiscal comprovou que toda a cadeia de comercialização do café passou a ESQUEMATIZAR SE em função do novo regime de tributação do PIS/COFINS, qual seja: da não cumulatividade; de tal sorte que as aquisições de café de produtores rurais/maquinistas passaram a ser guiadas fraudulentamente com notas fiscais de empresas laranjas visando o creditamento integral das alíquotas do PIS/COFINS. (...) 5. INFRAÇÕES APURADAS 5.1 GLOSA DO CRÉDITO INTEGRAL DO PIS E DA COFINS SOBRE NOTAS FISCAIS DE EMPRESAS DE FACHADA (PSEUDO ATACADISTAS) Diante dos fatos e documentos acostados ao presente Relatório, os Auditores Fiscais constataram infração tributária relacionada à apropriação indevida de creditos integrais das contribuições sociais nãocumulativas do PIS (1,65%) e da COFINS (7,6%), calculados sobre os valores das notas fiscais de aquisição de café em grãos; quando o correto seria a apropriação de créditos presumidos. Isso porque as pretensas aquisições de pessoas jurídicas por parte da STOCKL CAFÉ em nome das comprovadas empresas de fachada, abaixo consolidadas, foram usadas para dissimular as verdadeiras operações realizadas, quais sejam: aquisições de café em grãos diretamente de pessoas físicas, produtores rurais/maquinistas A simples utilização das palavras "fraudulentamete" e "dissimular" para descrever nas 76 páginas do relatório fiscal todo o modus operandi orquestrado no setor cafeeiro para a tomada de créditos da Contribuição ao PIS e da COFINS , não faz com que a clara imputação da simulação seja afastada. A definição de “simulação” como causa de nulidade do negócio jurídico encontrase no artigo 167, do Código Civil, enquanto que o §1º do mesmo dispositivo elenca os elementos objetivos para a qualificação do ato simulado, in verbis: Artigo 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. §1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: Fl. 1308DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 254 9 I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós datados. Na simulação, que, repito, constitui um dos motivos de invalidade dos negócios jurídicos, há a conluio de ambas as partes visando desviar de obrigações legais e enganar terceiros ao criar uma aparência de negócio que não se coaduna com a vontade real dos sujeitos. Em termos práticos, na simulação as partes formalizam ato não praticado (simulação absoluta) ou ato diferente daquele efetivamente praticado (simulação relativa). Assim, não houve qualquer inovação por parte da decisão da DRJ, cuja decisão, apesar do desapego à rigidez da nomenclatura dos institutos sob discussão, foi pela existência de simulação in casu. Veja a ementa do julgado: FRAUDE. DISSIMULAÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO. NEGÓCIO ILÍCITO. Comprovada a existência de simulação/dissimulação por meio de interposta pessoa, com o fim exclusivo de afastar o pagamento da contribuição devida, é de se glosar os créditos decorrentes dos expedientes ilícitos, desconsiderando os negócios fraudulentos. Com efeito, em nenhum momento foi sequer mencionado o parágrafo único do artigo 116 do CTN da decisão recorrida. Assim, afasto a alegação de alteração da fundamentação do auto de infração. 2. Mérito 2.1. A comprovação da conduta simulada no setor cafeeiro O assunto tratado nos presentes autos não é novo neste Conselho, tampouco neste Colegiado. Muitos são os casos de empresas do setor cafeeiro que sofreram autuações fiscais por apropriação ilícita de créditos da Contribuição ao PIS e da COFINS, sendo que o fundamento da glosa desses créditos é o esquema fraudulento deflagrado nas operações Broca e Tempo de Colheita. A Recorrente defendese dizendo que não participava do esquema fraudulento constatado pelas autoridades fiscais. Pois bem. Sobre as provas apresentadas no lançamento tributário acerca da fraude imputada à Recorrente, destaco as seguintes passagens da decisão a quo: As provas constantes dos autos acima examinadas revelam que a prática reiterada de atos conscientemente planejados não Fl. 1309DF CARF MF 10 suscitava outra reprimenda senão a multa qualificada de 150% sobre a diferença de tributo devida, prevista no art. 44, §1º, da Lei nº 9.430/96; independentemente de outras sanções administrativas e penais também aplicáveis, senão vejamos. O primeiro ponto a ser ressaltado quanto à auditoriafiscal levada a cabo pelas autoridades da Receita Federal é que este procedimento se insere no bojo da operação fiscal Tempo de Colheita, que teve sequência em outra operação, denominada BROCA, deflagrada em 01/06/10. Segundo Nota Conjunta da Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público Federal, as firmas de exportação e torrefação envolvidas na fraude investigada utilizavam empresas “laranjas”, que apenas vendiam notas fiscais, como intermediárias fictícias na compra de café dos produtores rurais. A prática criminosa vem ocorrendo, segundo a Nota, desde 2003 causando prejuízo de bilhões aos cofres públicos. Registrese, de passagem, que dos treze fornecedores da contribuinte, listados na manifestação de inconformidade constante dos autos do processo nº 10783.720617/201281, apenas dois (Celba Comercial Importação e Exportação Ltda e Gold Coffee Comércio de Café Ltda) foram constituídos antes do advento da MP nº 66, de 29/08/2002, que passou a dispor sobre a apuração nãocumulativa do PIS/Pasep, e que, posteriormente, foi convertida na Lei nº 10.637, de 30/12/2002. (...) Devese notar, em primeiro lugar, que a maior parte das pessoas jurídicas atacadistas, fornecedoras indicadas pelo contribuinte interessado, constituídas como visto, quase todas já em pleno regime da nãocumulatividade, estiveram quase sempre em situação irregular no período em que foram fiscalizadas, seja por omissão em relação as suas obrigações acessórias, seja em relação ao pagamento de tributos, várias já com declaração de inaptidão. O quadro abaixo, conforme dados extraídos dos sistemas informatizados da SRFB (...) No conjunto, as empresas deste quadro movimentaram em vendas para a interessada, no período entre o 4o trimestre de 2008 e o quarto trimestre de 2009, mais de 10 milhões de reais, mas nada declararam ou recolheram de PIS/Cofins no período. A este quadro de incompatibilidade entre volume financeiro movimentado e total de tributos recolhidos, acrescentado de situação de omissão e inatividade declarada – inapta, baixada ou suspensa , se junta mais um fato, constatado em diligências nas empresas: nenhuma das empresas diligenciadas possui patrimônio ou capacidade operacional, nenhum funcionário contratado, nenhuma estrutura logística. Ora, tudo que se espera de uma empresa atacadista de café é a existência de uma estrutura que a capacite movimentar grandes volumes de café. Ofende, portanto, a qualquer limite de razoabilidade a inexistência de depósitos, funcionários e logística, encontrandose, ao invés disso, escritórios Fl. 1310DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 255 11 estabelecidos em pequenas salas comerciais de acomodações acanhadas. Tudo indica que as autodenominadas “atacadistas” são empresas de fachadas, que se prestaram a uma simulação/dissimulação de uma operação de compra e venda de café, pois financeiramente movimentavam grandes somas, mas não tinham como operar com as mercadorias. Além do fato de ter, como se viu, uma existência fantasmagórica do ponto de vista da tributação, descumprindo obrigações acessórias e também a principal, consistente em pagar tributo. Na seqüência dos fatos levantados, encontramse depoimentos esclarecedores fornecidos pelos próprios sócios de algumas das empresas atacadistas fornecedoras da interessada (Termo de Encerramento da Ação Fiscal – processo 10783.720897/2013 16). (...) Quanto à origem dos recursos creditados nas contas correntes, afirmaram categoricamente que eram recursos que pertenciam a terceiros compradores do café: (...) Asseveraram que NÃO são e NUNCA foram empresas COMERCIALIZADORAS ou ATACADISTAS de café: (...) Esclareceram que, em alguns casos, os compradores entravam em contato com a COLÚMBIA, ACÁDIA, DO GRÃO e L & L informando que estavam no mercado comprando café e elas localizavam os vendedores (produtores rurais/maquinistas) e retornavam a informação às compradoras. (...)Recebida a informação de quem era o vendedor, o comprador poderia ou não fazer contato com o mesmo. Certo é que o comprador depositava o valor na conta da COLÚMBIA, ACÁDIA, DO GRÃO e L & L e “exigia que o produtor ‘guiasse’ o produto com nota de produtor para a fiscalizada”. (...) Em outros casos, alegaram que desempenhavam a função de meras intermediárias financeiras: (...) Criouse, então, a figura da intermediária fictícia, cujo objetivo era vender nota fiscal. (...) Documentos arrecadados na Operação Broca comprovam exatamente o relatado acima: operações de aquisição de café por parte da COMERCIAL DE CAFÉ STOCKL, de Fl. 1311DF CARF MF 12 MIGUEL STOCKL, de produtores mediante utilização de uma empresa laranja como intermediária fictícia. Nos esclarecimentos prestados à fiscalização, em 17/11/2008, Waldecir Sperandio e Vladimir Gasperazzo afirmaram que, além de serem produtores rurais, fazem intermediação de café de terceiros mediante recebimento de uma comissão. Contactam corretores, que representam os exportadores e indústrias, para conseguir melhor preço para o produtor rural. Citou o corretor Wendel Mielke com quem realizou operações. (...) Compulsando a DIRF apresentada pela STOCKL CAFÉ no ano de 2009, a WENDEL MIELKE CORRETORA DE CAFÉ foi a segunda corretora de maior participação na prestação de serviços de corretagem. A fiscalização diligenciou mais de uma centena de produtores rurais do ES. No início, a maioria produtores de café conilon do norte e noroeste do estado, estendendo posteriormente para o SUL do ES (REGIÃO DO CAPARAÓ) e de outros estados (Bahia e Minas Gerais). Os produtores ouvidos mostraram total desconhecimento acerca das pseudoempresas atacadistas usadas para guiar o café. Negociavam com pessoas conhecidas, de sua confiança, ou seja, os corretores, maquinistas e empresas da sua região, contudo, no momento da retirada do café surgiam nomes de “empresas” desconhecidas. No Termo de Encerramento da Ação Fiscal foi consignado que sem exceção, os depoimentos dos produtores têm o mesmo teor: as notas fiscais do produtor rural, preenchidas pelos compradores/corretores/maquinistas ou a mando deles, têm como destinatárias supostas “empresas” totalmente desconhecidas dos depoentes e que não são as reais adquirentes do café negociado. As empresas exportadoras e indústrias, sabedoras que nessas aquisições não havia qualquer incidência econômica das citadas contribuições, na tentativa de se protegerem de eventual questionamento do Fisco, subverteram a regra das operações normais tributadas, fazendo nelas constar aquilo que a legislação dispensa. Então, cada exportadora/torrefadora criou o seu próprio padrão para fazer referência à tributação do PIS/COFINS no corpo das notas fiscais, conforme declaração unânime dos corretores. (...) Fl. 1312DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 256 13 Luiz Mazolini, produtor rural/maquinista de Barra do triunfo – João Neiva/ES, também deu os mesmos detalhes. Alegou que por ser uma pessoa de confiança na região, diversos produtores rurais o procuram para que o café seja armazenado no ARMAZÉNS GERAIS MAZOLINI. Depois efetua a intermediação entre o produtor rural e a corretora CASA DO CAFÉ, do citado Luiz Fernandes Alvarenga. Para resumir, afirmou que o café próprio ou de terceiros era guiado em nome de diversas empresas [laranjas]: as mesmas já arroladas por Luiz Alvarenga, não obstante o café ser descarregado em armazéns gerais localizados em Colatina, Linhares, Grande Vitória e Marechal Floriano, precisamente no ARMAZÉNS GERAIS STOCKL, de Miguel Stockl. (...) Antônio Ferreira da Silva, CPF 079.150.45733, sócio da CAFEEIRA GUANDU COMERCIAL LTDA, de Afonso Cláudio, afirmou à fiscalização, em 20/12/2011, que sempre atuou como corretor de café. Afirmou também “que a corretagem é efetuada com produtores de café que vendem para torrefadoras do nordeste e exportadoras do ES, entre as quais o declarante cita (...) COMERCIAL DE CAFÉ STOCKL e outras, digo, (...)”. Aufere nessas operações tão somente o ganho equivalente à corretagem. Indagado sobre os motivos que o levaram a constituir a CAFEEIRA GUANDU? Que constituiu a CEFEEIRA GUANDU sob a orientação das próprias empresas compradoras; que basicamente a função da Cafeeira Guandu é receber NF do produtor e emitir a NF da cafeeira para as compradoras; que nessa operação continua ganhando o valor da corretagem. O produtor rural Gilberto Belmok encaminhou à fiscalização a relação das notas fiscais de produtor rural emitidas entre 2008 e 2010. Gabriel Krohling, acompanhado do Dr. Luiz Augusto Mill, OAB/ES 4712, afirmou à fiscalização que efetua corretagem para diversas exportadoras, dentre as quais a CAFEEIRA STOCKL, nome de fantasia da COMERCIAL DE CAFÉ STOCKL, de Miguel Stockl. (...) Fl. 1313DF CARF MF 14 Diversos outros produtores rurais encaminharam à fiscalização planilhas contendo as notas fiscais emitidas entre 2008 a 2010. O mesmo cenário: negociação envolvendo corretores/corretoras, mas café sendo guiado em nome de empresa laranja. (...) No dia anterior à implantação da NFe (01/09/2009), os compradores do ES e de MANHUAÇU/MG de uma exportadora travaram diálogo no qual demonstraram a cautela do mercado, mas, para acalmar os operadores do esquema, informam já haver empresas laranjas em MANHUAÇU habilitadas para emitirem NFe (funcionário x do ES): como ta este assunto de NFe ai na região? (funcionário y de MANHUAÇU): rapaz esta todos com muita caultele (funcionário y de Manhuaçu): digo cautela (funcionário x do ES): certo (funcionário y de MANHUAÇU): mas já tem umas oito empresas (laranja) já cadastradas (funcionário y de MANHUAÇU): e prontas para emitirem nf eletronica (...) (funcionário x do ES): o pessoal conseguiu se habilitar sem problema p emitir NFe? (funcionário y de MANHUAÇU): acho que no inicio agora não vai acontecer muita coisa nao (funcionário y de MANHUAÇU): pois para habilitar não tem muitos problemas nao (funcionário y de MANHUAÇU): agora so iria pegar se a receita federal começar a exigir das empresas o recolhimento dos tributos, ai sim iria ter uma modificação (funcionário x do ES): é verdade (funcionário y de MANHUAÇU): mas pelo que estou vendo os laranjas vão se cadastrar e continuar do mesmo jeito sem (funcionário y de MANHUAÇU): se a receita começar a exigir o recolhimento ai muda radical as coisas (...) (funcionário y de MANHUAÇU): então, se a receita levar realmente ao pe da letra ai sim pode pegar mesmo Fl. 1314DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 257 15 (funcionário x do ES): se estiver ruim bloqueia o cnpj e a inscrição (...) (funcionário x do ES): Vc acredita q os exportadores ai vão deixar de compras das firmas por causa deste risco ?? (funcionário y de MANHUAÇU): no momento não (funcionário x do ES): certo (...) Uma planilha de controle de compras de uma exportadora demonstra claramente a diferenciação entre VENDEDOR (empresa laranja) e ORIGEM (produtor rural/maquinista). Um vasto rol de empresas laranjas: CAFEEIRA CASTELENSE, MUNDIAL, ADAME, WR DA SILVA, COFFEE TRADE, COFFER SUL, MAIS, LÍDER, MARACA e RADIAL. Por fim, operações de venda de café nas quais o produtor rural identifica MIGUEL STOCKL como a pessoa com o qual a negociação se processou. O produtor Silvino Rossi encaminhou à fiscalização a relação de notas fiscais na qual identifica Miguel Stockl como a pessoa com quem negociou, não obstante o café ter sido documentado em nome da empresa laranja CAFÉ DE MONTANHA. Constam também nos autos do processo administrativo nº 0783.720553/201218, em face da COMERCIAL DE CAFÉ STOCKL LTDA, diversos depoimentos de produtores rurais que afirmaram categoricamente que não obstante o café ter sido negociado diretamente com MIGUEL STOCKL e/ou descarregado nos ARMAZENS GERAIS STOCKL fora o mesmo guiado em nome de uma pessoa jurídica alheia a todo o processo: empresa laranja. JOILSO PLASTER, produtor rural no município de Domingos Martins, exemplificou a interposição fraudulenta de uma pseudoatacadista citando 04 (quatro) operações: Uma em 2006 e três em 2007; café negociado pessoalmente pelo declarante e vendido costumeiramente para empresas exportadoras/atacadistas, dentre as quais, STOCKL CAFÉ, mas guiado em nome da empresa laranja CONARA. Segundo Plaster, “que a nota fiscal de produtor rural foi preenchida sob a responsabilidade dos compradores”. Fl. 1315DF CARF MF 16 Ao final, afirmou que não conhece os sócios da CONARA; nunca negociou com a mesma; e nunca “bateu” [descarregou] café no endereço da CONARA em Castelo/ES. WILSON PAGANINI, produtor de café na região de Alfredo Chaves/ES, afirmou à fiscalização, em 06/10/2010, que a única negociação de café foi efetivada pelo Sr. Lourenço Fornazier Bozzetti com o armazém pertencente a MIGUEL STOCKL, identificado como “comprador de café localizado em Santa Maria – Marechal Floriano – ES”. O referido café foi secado, pilado e transportado pelo Sr. Lourenço até a sede dos Armazéns Gerais Stockl, não obstante “constar na respectiva nota fiscal como local de descarga a sede da empresa [laranja] CONARA”. Por fim, afirmou que o pagamento correspondente à citada operação de venda foi efetivado por MIGUEL STOCKL via depósito em conta corrente. Paganini apresentou os blocos de notas fiscais, sendo que a fiscalização extraiu cópia de algumas delas, por exemplo: nota fiscal de produtor nº 51, de 23/12/2006; 100 sacas de café conilon; local de descarga: O MESMO; destinatário: CONARA COMÉRCIO E TRANSPORTES LTDA; motorista: OSMIR BOZZETTI. Também em 06/10/2010, OSMIR BOZZETTI, produtor de café na região de Alfredo Chaves, compareceu ao Serviço de Fiscalização da DRF Vitória/ES e afirmou que “lembra que negociou café, em 2006, diretamente com o Sr. Miguel Stockl”. Sendo que “as notas fiscais foram emitidas, na mesma data, em nome da empresa CONARA COMÉRCIO E TRANSPORTES LTDA, porém, o café foi descarregado nos Armazéns Gerais Stockl Ltda, apesar de constar nas referidas notas fiscais e nas informações recebidas para preenchimento dessas notas fiscais (cópia de facsímile), referência ao endereço da empresa CONARA”. Concluiu afirmando que “o próprio declarante ou parentes próximos que faziam o transporte do café até o destino, que era no armazém do Sr. Miguel Stockl, em Marechal FlorianoES”; e que “os pagamentos em decorrência da venda de café eram depositados em sua conta corrente, após negociação de preço e pesagem da mercadoria, diretamente com o Sr. Miguel Stockl”. ABEL LUIZ CAUS, pequeno produtor rural do Distrito de Ribeirão de Santo Antônio, município de Alfredo Chaves/ES, com produção média anual de 70 sacas de café. Fl. 1316DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 258 17 Afirmou que “o café era negociado com a Cafeeira Stockler [Stockl] ou com a Cafeeira (...), ambos localizados no distrito de Santa Maria , município de Marechal Floriano”. Complementou asseverando que não preenchia as notas fiscais de produtor rural, pois as mesmas eram deixadas na COMERCIAL STOCKL para preenchimento. Que as Notas Fiscais de Produtor Rural foram deixadas no escritório das cafeeiras citadas acima para preenchimento e lhes foram entregues posteriormente. Apesar de o café ser negociado diretamente com as Cafeeiras citadas e as ordens de pagamento advirem dos responsáveis das mesmas, Abel Caus desconhece a empresa Conara, mesmo porque “na região de Marechal Floriano e adjacências a maior parte do café é negociado pela Cafeeira (...) ou pela Cafeeira Stolckler [Stockl – distrito de Santa Maria]”. (...) Concluindo, a introdução do regime nãocumulativo do PIS/COFINS foi um novo marco regulatório na comercialização de café em grão no país. As exportadoras e indústrias, por razões óbvias, demonstraram para os corretores resistência na aquisição de café de produtores rurais, pois não dava direito ao crédito de PIS/COFINS integral de 9,25% do valor da operação, conforme narrado por diversos corretores. Esse novo marco regulatório foi resumido nas palavras do comprador de uma certa exportadora: “o modelo de firmas laranjas foi a solução à nova lei do PIS/COFINS”. Concluise, portanto, que a migração para empresas laranjas foi um movimento orquestrado e coordenado. Exportadoras e indústrias caminharam no mesmo sentido, com exigência inclusive de que as notas fiscais anotassem de forma fictícia a incidência do PIS/COFINS, bem como as mesmas cautelas adotadas de consultar os cadastros fiscais no momento do recebimento do café por meio de empresas laranjas na tentativa de evitar problemas futuros. Esse foi o quadro delineado de como o mercado de café atuava no país, antes das modificações introduzidas pela Lei n° 12.599/2012 e da MP n° 609/2013. A própria mudança da tributação do café não torrado no mercado interno veio ao encontro do que foi apurado nas investigações. Fl. 1317DF CARF MF 18 Verificase que foram analisados minuciosamente a origem e o modus operandi do esquema de interposição de empresa de fachada, “laranja”, para apenas gerar créditos ilícitos em operações fictícias de compra e venda de café. Dos trechos supra transcritos, pincelados entre uma enormidade mais de provas apresentadas nos presentes autos, só posso concluir que não há fundamento para a alegação da Recorrente no sentindo de inexistirem provas sobre sua participação no esquema fraudulento do setor cafeeiro (tópico "da inexistência de comportamento ativo da Stockl no esquema fraudulento" do recurso voluntário). Com efeito, a Recorrente discorre sobre "imprescindibildade de prova objetiva a cargo do fisco". É bem verdade que deve ser demonstrada, pelo Fisco, a simulação por parte dos agentes privados no momento da lavratura do auto de infração, e foi exatamente isso que aconteceu no presente caso. Em síntese, a Recorrente suscita a insuficiência de provas de sua participação nos procedimentos ilícitos no âmbito das operações “Broca” e “Tempo de Colheira”, afirmando que não teria ficado comprovado que ela coordenava tais ilícitos, isto é, que tivesse comportamento ativo. Outrossim, alega que teria feito as compras de boafé e que nenhum de seus sócios foi denunciado na esfera criminal. Entretanto, conforme retratado acima, o modo fraudulento de interpor empresas laranjas era de pleno conhecimento dos atadistas de café. As empresas “laranjas” não tinham patrimônio, estrutura, capacidade financeira, operacional ou logística, ou conhecimento para as operações. Uma vez fiscalizadas, confessaram todo o esquema. Está provado que a Recorrente fazia conscientemente parte desse quadro de ilícitos, sendo despicienda a prova de que seja ela quem tenha "orquestrado" (para usar suas palavras) o esquema, para que fique caracterizada a simulação e, consequentemente, sejam negados os créditos pleiteados. Para que haja a simulação, é imperioso que esteja demonstrado o conluio entre as partes, e não necessariamente que uma ou outra foi a arquiteta do negócio simulado. Nos diversos depoimentos coletados, vários indicam expressamente o sócio da empresa, Sr. Miguel Stockl, como negociador com as empresas “laranjas”, o que ratifica que a Recorrente conhecia e compactuava com o esquema fraudulento. Sobre os depoimentos de produtores rurais e de corretores, tratase de base de uma cesta de indícios (e.g. fiscalizações in loco, mensagens eletrônicas e notas fiscais) apontados pela fiscalização, e não da única prova trazida aos autos, acerca da simulação perpetrada no setor. Saliento que compunha o quadro societário da STOCKL CAFÉ no período fiscalizado MIGUEL STOCKL e LEANDRO STOCKL. Miguel Stockl era sócio ainda nas seguintes empresas do ramo de café: ARMAZÉNS GERAIS STOCKL LTDA EPP – CNPJ 01.998.256.000100, e COMERCIAL DE CAFÉ STOCKL LTDA, CNPJ 39.319.033/000134, que também foi selecionada para fiscalização com fundamento na mesma operação (PIS/COFINS créditos decorrentes da não cumulatividade, abrangendo o período do 1º T/2009 ao 4º T/2010). Em pesquisa no sítio eletrônico do CARF, constato que todos os casos julgados em nome da COMERCIAL DE CAFÉ STOCKL LTDA, sobre o mesmo tema e debruçandose sobre o mesmo conjunto probatório, também se concluiu pela comprovação da Fl. 1318DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 259 19 participação no esquema para a apropriação ilícita de créditos das contribuições sociais (Acórdãos 3401005.774, 3401005.708 e 3201003.641). Dito isto, com relação aos fundamentos da defesa sobre as "confirmações de negócios realidade do mercado de café", "certificação da origem do café" e "da impossibilidade da extensão dos efeitos dos atos praticados no âmbito criminal na esfera das operações Tempo de Colheita e Broca” concordo com as colocações do Acórdão 3201003.641 (Recorrente COMERCIAL DE CAFÉ STOCKL LTDA), a seguir transcritas: Nesse item a recorrente alega que a existência de Selos de Certificados de Origem do café importa em que a empresa tenha conhecimento da região de origem do café e do produtor, o que entende como indício a seu favor, porque não implicaria o conhecimento dos corretores. Todavia, a necessidade de conhecimento da região e do produtor é, na verdade, indício em desfavor da recorrente, porque, para garantir a região e o produtor, deve conhecer e confiar nos corretores e atravessadores, que foram empresas “laranjas”. De qualquer modo, tais elementos são irrelevantes diante das demais provas coletadas nas operações. (...) Da impossibilidade da extensão dos efeitos dos atos praticados no âmbito criminal na esfera das operações “Tempo de Colheita” e “Broca” Neste item a recorrente diz que não foi denunciada pelo Ministério Público, e portanto, não pode sofrer a extensão dos efeitos das operações. Tal alegação não lhe socorre, posto que os procedimentos penal e tributário são distintos e percorrem trâmites e fundamentos independentes. Com relação ao último ponto, é de se destacar ainda que, assim como visto no tópico 1.1, a Recorrente nem em sua impugnação, nem em seu recurso voluntário, apresenta efetiva prova da alegação de que não fora denunciada pelo Ministério Público ou que as constatações no processo criminal lhe sejam benéficas. Ou seja, a Recorrente não trouxe nenhum elemento aos autos que pudesse infirmar a conclusão alcançada pela fiscalização (simulação, com a participação da Recorrente). Nem mesmo qualquer elemento capaz de causar dúvida no espírito dessa julgadora, o que permitiria a abertura da possibilidade para incrementar a prova por meio de diligência ou perícia. 2.2. Das glosas de créditos de aquisições feitas de pessoas jurídicas inativas, omissas ou sem receita declarada: reconhecimento do direito em razão da boa fé; e da interpretação da DRJ sobre o artigo 82, p.u. da Lei n. 9430 A Recorrente alega que pesquisou a regularidade das empresas no sítio eletrônico da Receita Federal, sendo todas devidamente inscritas no CNPJ à época. Assim, com fundamento no princípio da boafé, clama pelo reconhecimento de que as operações comerciais foram válidas, Fl. 1319DF CARF MF 20 Acerca da alegação de boafé da empresa para manutenção dos créditos, reproduzo abaixo voto da lavra do Conselheiro Jorge Lock Freire, no Acórdão 3402002.969, onde questão idêntica foi apreciada: Ressaltese que, independentemente da declaração de inaptidão em ato oficial adequado emitido pela autoridade competente da Receita Federal do Brasil (RFB), a documentação fiscal pode ser considerada como tributariamente ineficaz quando comprovada por outros meios a inexistência de fato de uma empresa supostamente fornecedora ou a inexistência de fornecimentos específicos desta com elementos irrefutáveis como a não localização da empresa no endereço informado à RFB, não comprovação do transporte de mercadorias, por exemplo, como in casu. Em que pese não tenha tratado o procedimento fiscal em exame de situações de declaração de inaptidão, ou mesmo da inidoneidade dos documentos fiscais emitidos pelos fornecedores do interessado, fato é que a menção da fiscalização sobre supostas irregularidades nas empresas fornecedoras, demandariam do adquirente/interessado, na comprovação do direito creditório postulado, demonstração cabal, por intermédio dos competentes registros contábeis e fiscais, da efetividade de suas aquisições e do ingresso das mercadorias adquiridas (café) nos seus estabelecimentos, de modo a ensejar a apropriação de créditos pretendida pelo contribuinte. Alem das provas indiciárias acostadas aos autos e convergentes no sentido de que a recorrente fazia parte desse "esquema criminoso" para "fabricar" créditos, ela não se desincumbiu de provar que os pagamentos foram feitos a essas empresas, e nem poderia, pois restou provada a simulação de compras de café das mesmas, pois, tudo leva a crer, as compras foram feitas de produtores rurais. Como antes abordado, ao contribuinte em processos de restituição/compensação cabe, nos termos da legislação que disciplina a matéria, a demonstração da existência do direito ao crédito alegado e sua liquidez. Assim, tendo sido invocadas pela fiscalização supostas irregularidades fiscais nos fornecedores relacionados, caberia a recorrente, na demonstração de seu suposto direito, a comprovação por intermédio de notas fiscais, comprovantes de pagamento, extratos bancários, comprovantes de recebimento, registros contábeis e fiscais, etc da efetividade de suas aquisições junto a esses fornecedores. A parca documentação anexada à Manifestação de Inconformidade apresentada não nos permite, contudo, chegar à conclusão sobre a realização das aquisições glosadas pela fiscalização. Demais disso, pouco serve juntar vários documentos sem articulálos com o objeto da defesa, no caso provar que pagou e que a mercadoria adentrou seu estabelecimento. Causame espécie a defendente alegar que verificava se a empresa simplesmente estava ativa pelo CNPJ e o SINTEGRA. Quero crer que relações comerciais com gastos em um único mês em valores tão expressivos não tenham se dado com base em trocas de correspondência entre seus funcionários e os das Fl. 1320DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 260 21 empresas fornecedoras. Tratandose dos valores em comento, não é crível que sequer não conhecesse as mesmas in loco. Diante de todas circunstâncias, com razão a autoridade fiscal que veicula em sua informação o contexto das operações que se analisa em relação às chamadas operações Tempo de Colheita e Broca, onde restou provado à exaustão (conforme o relatório de diligência fiscal formulado em relação à recorrente devido a questionamentos da DRJ/RJ em outros autos, mas anexado a estes) que havia um "esquema" criminoso de interposição fraudulenta dos pseudoatadistas de café, quando em verdade a compra era de produtor rural, com o fim específico de criar créditos fictícios de forma a diminuir os valores a pagar das compras e as entrada das mesmas em seu estabelecimento, de modo que fique, nos termos do art. 82 da Lei 9.430/96, provada a boafé que alega em seu proveito. Ressaltese que, independentemente da declaração de inaptidão em ato oficial adequado emitido pela autoridade competente da Receita Federal do Brasil (RFB), a documentação fiscal pode ser considerada como tributariamente ineficaz quando comprovada por outros meios a inexistência de fato de uma empresa supostamente fornecedora ou a inexistência de fornecimentos específicos desta com elementos irrefutáveis como a não localização da empresa no endereço informado à RFB, não comprovação do transporte de mercadorias, por exemplo, como in casu. Ressalto que a Recorrente colaciona a conhecida jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (Recurso especial representativo de controvérsia RESp 1.148.444/MG e Súmula 509), 1 segundo a qual, uma vez comprovada a ocorrência efetiva das operações de compra e venda, devem ser concedidos os créditos tributário correspondentes. Entretanto, trata se de simples "defesa em tese", já que em nenhum momento a Recorrente se esmera em realmente comprovar a ocorrência das operações em questão. Dessarte, não se pode concluir que a boafé ou as efetivas operações de compra e venda existam in casu. Permanecemos, assim, sem elementos para afastar a simulação demonstrada pela autoridade fiscal. 3. Do não cabimento da multa qualificada e demais questões relativas às penalidades aplicadas Cumpre então analisar a questão colocada pela Recorrente sobre a qualificação da multa em 150%. É tranquila a jurisprudência deste Conselho sobre a necessidade de demonstração da conduta dolosa do contribuinte pela Fiscalização, quando da lavratura o auto de infração, para fins de subsunção aos tipos previstos pelos artigos os artigos. 71 e 72 da Lei nº 4.502/64 (sonegação fiscal e fraude). Vale dizer, a ação ou omissão dolosa “tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou 1 Súmula 509 do STJ: É lícito ao comerciante de boafé aproveitar os créditos de ICMS decorrentes de nota fiscal posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a veracidade da compra e venda. Fl. 1321DF CARF MF 22 circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente”, ou ainda “tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento”, deve ser cabalmente provada pelo Fisco no momento do lançamento tributário. Não há dolo presumido. A fraude ou sonegação tem que sem comprovada. No presente caso, a comprovação de condutas fraudulentas, objetivando a tomada ilícita de créditos da Contribuição ao PIS e da COFINS encontrase plenamente realizada, como descrito nos tópicos acima. Assim, entendo que está provado que houve a intenção da Recorrente de praticar o ilícito, tentando ludibriar o Fisco, havendo, portanto, motivo certo para qualificação da multa agravada de 150%, conforme dispõe o artigo 44, §1º da Lei nº 9.430/96: "Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Com efeito, a documentação dos autos demonstra claramente, seja por meio de depoimentos, seja por meio da descrição e comprovação do modus operandi, que existia um claro esquema de "compras" efetuadas pela recorrente, de pessoas jurídicas artificialmente criadas e intencionalmente interpostas na cadeia produtiva sem qualquer finalidade comercial, visando reduzir a carga tributária no contexto da nãocumulatividade do PIS/Cofins, além de simular negócios de fato inexistentes para mascarar o negócio real entre o produtor rural/pessoa física e a defendente. Tratase, então, de fatos enquadráveis na hipótese do art. 72 c/c art. 73 da Lei n° 4.702/64. Concluo, portanto, ser devida a qualificação da penalidade aplicada à Recorrente, a qual deve ser mantida no patamar de 150%. No que tange às demais razões expostas pela Recorrente para afastar as penalidades que lhe foram aplicadas, são irretocáveis as razões expostas no Acórdão recorrido, as quais adoto como razão de decidir, com fulcro no artigo 50, §1º da Lei n, 9.784/99, transcrevendoas abaixo: Quanto ao requerimento alternativo apresentado pela impugnante para que o percentual de multa aplicado (150%) seja reduzido para aqueles indicados pelos §§ 15, 16 e 17 do art. 74 da Lei n°. 9.430/1996, com redação dada pela Lei n°. 10.249/2010, conforme determina o art. 112 do CTN, cabe registrar que a penalidade prevista no dispositivo invocado ão se aplica ao caso dos autos de infração ora em exame. Tal dispositivo trata de multa isolada sobre o valor de crédito objeto de declaração de compensação não homologada, salvo no caso de falsidade da declaração. O lançamento em análise trata de multa aplicada sobre o valor de débitos não pagos e não declarados, apurados em procedimento de ofício, tendo sido aplicada a multa prevista no art. 44, §1º, da Lei nº 9.430/96. Fl. 1322DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 261 23 A impugnante alega, ainda, que os débitos exigidos nos autos já haviam sido informados e deduzidos nos DACONs podendo, em tese, serem cobrados com acréscimo de multa moratória de 20%, o que representaria a cobrança cumulativa de duas multas sobre um único comportamento. Também neste ponto não assiste razão à impugnante. É de fundamental importância observar que apenas a entrega de DCTF comunicando a existência de crédito tributário constitui se confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente à exigência do crédito tributário, nos termos do artigo 5o, § 1o do Decretolei nº 2.124, de 1984. Ressaltese que o DACON tem natureza apenas informativa. Além disso, as contribuições informadas no DACON, apuradas como devidas pelo contribuinte, foram deduzidas dos créditos apurados no regime não cumulativo, não restando saldo de contribuição a pagar. Portanto, ainda que o DACON se caracterizasse como instrumento de confissão de dívida, não haveria, nas declarações apresentadas, débito a ser exigido com acréscimo de multa moratória, mas apenas débitos informados como quitados mediante utilização de créditos da apuração nãocumulativa do PIS e da Cofins. Também não se verifica, no caso, a alegada concomitância de multas exigidas (multa isolada e multa de ofício). As multas constituídas no processo 10783.720898/201352 (multa isolada) e nestes autos (10783.720897/201316 falta de recolhimento do PIS e COFINS) decorrem de infrações distintas, estão previstas em legislação específica e possuem bases de incidência diversas. A primeira (multa isolada) aplicase em razão de não homologação da compensação quando comprovada a falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. Tem como base de cálculo o valor total do débito indevidamente compensado e está prevista no art. 18 da Lei 10.833/2003, com redação da Lei 11.488/2007 e no art. 74, §§ 15 e 16 da Lei 9.430/96, incluídos pela Lei 12.249/2010, nos casos de pedido de ressarcimento apresentado a partir de 14/06/2010. A segunda aplicase sobre os valores de débitos não pagos e não declarados, apurados em procedimento de ofício em consequência dos ajustes efetuados pela autoridade fiscal na base de cálculo dos créditos no regime nãocumulativo. É que a glosa de créditos indevidos pela autoridade administrativa resultou não só na diminuição do saldo de créditos passíveis de ressarcimento/compensação, mas também em saldo de contribuição a pagar, em alguns períodos de apuração. A previsão legal encontrase no art. 44, §1º, da Lei nº 9.430/96. Por esses fundamentos, entendo que devem ser mantidas as multas aplicadas à Recorrente. 4. Aquisição de cooperativas Fl. 1323DF CARF MF 24 A Autoridade Fiscal ainda glosou os créditos integrais sobre aquisições das cooperativas, pois, no seu sentir, estavam atendidos os requisitos estabelecidos para a aplicação da suspensão das Contribuições sobre as receitas destas empresas, conforme disposto na Lei n° 10.925/2004, e, por conseguinte, do direito tão somente à apropriação do crédito presumido por parte da compradora (Recorrente). Assim efetuouse a glosa dos créditos integrais sobre tais aquisições e apurouse o crédito presumido previsto no art. 8° da Lei n° 1 0.925/2004. É o que consta das fls 374 e 375 do TVF: Desse modo, a STOCKL CAFÉ preenche os requisitos estabelecidos para a aplicação da suspensão nas compras de café efetuadas com as cooperativas, a saber: a) apura IRPJ com base no lucro real; b) exerce atividade agroindustrial definida no art. 6°, II; e c) utiliza o café adquirido com suspensão como insumo na fabricação de produtos de que trata o inciso I do art. 5°. STOCKL adquiriu café da Coopertiva Agropecuária Centro Serrana – COOPEAVI – CNPJ 27.942.085/000850 nos seguintes valores de aquisições de café sobre os quais apropriouse de crédito integral. (...) Importante, nesse aspecto, é trazer à vista o artigo 9º, §1º, II, da Lei n. 10.925/2004, que trata da suspensão da Contribuição ao PIS e da COFINS sobre as receitas das cooperativas: Lei nº 10.925, de 2004: Art. 9º A incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins fica suspensa no caso de venda: I de produtos de que trata o inciso I do §1º do art. 8º desta Lei, quando efetuada por pessoas jurídicas referidas no mencionado inciso; (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] III de insumos destinados à produção das mercadorias referidas no caput do art. 8º desta Lei, quando efetuada por pessoa jurídica ou cooperativa referidas no inciso III do § 1° do mencionado artigo. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) § 1º O disposto neste artigo: (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) I aplicase somente na hipótese de vendas efetuadas à pessoa jurídica tributada com base no lucro real; e (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) II não se aplica nas vendas efetuadas pelas pessoas jurídicas de que tratam os §§ 6º e 7º do art. 8º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) Por sua vez, os citados §§6º e 7º do artigo 8º da mesma Lei 10.925/2004, possuem o seguinte texto: Art. 8º. As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2, 3, Fl. 1324DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 262 25 exceto os produtos vivos desse capítulo, e 4, 8 a 12, 15, 16 e 23, e nos códigos 03.02, 03.03, 03.04, 03.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, exceto os códigos 0713.33.19, 0713.33.29 e 0713.33.99, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.01, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da NCM, destinadas à alimentação humana ou animal, poderão deduzir da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3º das Leis nºs 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) § 1º O disposto no caput deste artigo aplicase também às aquisições efetuadas de: I cerealista que exerça cumulativamente as atividades de limpar, padronizar, armazenar e comercializar os produtos in natura de origem vegetal, classificados nos códigos 09.01, 10.01 a 10.08, exceto os dos códigos 1006.20 e 1006.30, 12.01 e 18.01, todos da NCM; (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005) II pessoa jurídica que exerça cumulativamente as atividades de transporte, resfriamento e venda a granel de leite in natura; e III pessoa jurídica que exerça atividade agropecuária e cooperativa de produção agropecuária.(Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] § 6º Para os efeitos do caput deste artigo, considerase produção, em relação aos produtos classificados no código 09.01 da NCM, o exercício cumulativo das atividades de padronizar, beneficiar, preparar e misturar tipos de café para definição de aroma e sabor (blend) ou separar por densidade dos grãos, com redução dos tipos determinados pela classificação oficial. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) (Revogado pela Medida Provisória nº 545, de 2011) (Revogado pela Lei nº 12.599, de 2012). § 7º O disposto no § 6º deste artigo aplicase também às cooperativas que exerçam as atividades nele previstas. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) (Revogado pela Medida Provisória nº 545, de 2011) (Revogado pela Lei nº 12.599, de 2012). Ou seja, existem duas situações diferentes, segundo a legislação em comento. Na primeira, as cooperativas que realizarem a venda de café/insumo para a Recorrente, que é pessoa jurídica tributada com base no lucro real, devem fazêlo com a suspensão da incidência da Contribuição ao PIS e da COFINS. Nessa hipótese, aos adquirentes (no caso, a Recorrente) possibilitase a apuração de crédito presumido sobre o valor das compras. Tudo nos termos do artigo 7º da IN SRF n. 660, de 16/07/2006. De outro lado, haja vista que sobre a receita de venda do café submetido ao processo agroindustrial descrito nos §§6º e 7º do artigo 8º da Lei nº 10.925, de 2004 não se aplica a suspensão da Contribuição para o PIS e da COFINS, há direito ao creditamento Fl. 1325DF CARF MF 26 integral das Contribuições pelos compradores de café já submetido a essa operação no período discutido no presente processo. Essa questão foi analisada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil na Solução de Consulta COSIT n. 65, de 10/03/2014, cuja ementa segue abaixo reproduzida: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP REGIME DE APURAÇÃO NÃO CUMULATIVA. CRÉDITOS. AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DE COOPERATIVA. Pessoa jurídica, submetida ao regime de apuração não cumulativa da Contribuição para o PIS/Pasep, não está impedida de apurar créditos relativos às aquisições de produtos junto a cooperativas, observados os limites e condições previstos na legislação. Dispositivos Legais: Lei nº 10.637, art. 3º ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS REGIME DE APURAÇÃO NÃO CUMULATIVA. CRÉDITOS. AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DE COOPERATIVA. Pessoa jurídica, submetida ao regime de apuração não cumulativa da Cofins, não está impedida de apurar créditos relativos às aquisições de produtos junto a cooperativas, observados os limites e condições previstos na legislação. Dispositivos Legais: Lei nº 10.637, art. 3º. Transcrevo o excerto dos fundamentos da referida Solução de Consulta, para melhor elucidação a discussão: “11. Até o anocalendário de 2011, enquanto vigiam para o café os artigos 8º e 9º da Lei nº 10.925, de 2004, os exportadores de café não podiam descontar créditos em relação às aquisições do produto com as suspensões previstas nos incisos I e III do art.9º. [...]. Por outro lado, havia direito ao creditamento nas aquisições de café já submetido ao processo de produção descrito nos §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei nº 10.925, de 2004, tendo em vista que sobre a receita de venda do café submetido a esta operação não se aplicava a suspensão da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins (art.9º, §1º, II, da Lei nº10.925, de 2004).” Tendo isso em vista, a Recorrente: i) esclareceu que adquire "café em grão cru", que é produto já submetido a beneficiamento (disposto no §6º do artigo 8º da Lei n. 10.965/2004), tanto que possui suas principais qualidade de comercialização (café beneficiado cru, não descafeinado, grão arábica ou conilon); ii) apontou a existência de notas fiscais de aquisição de café beneficiado da cooperativa (fls 22 e seguintes), as quais demonstram que a compra do produto "café em grão cru" é sempre feita com a incidência da Contribuição ao PIS e da COFINS. Com efeito, as citadas notas fiscais comprovam justamente o quanto alegado pela Recorrente, e, consequentemente, o direito a tomada do crédito integral da Contribuição ao PIS e da COFINS. Fl. 1326DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 263 27 Situações como a presente já foram enfrentadas por este Conselho em algumas oportunidades. Destaco o Acórdão n. 3102002.343, cujo voto vencedor, de lavra do Conselheiro Ricardo Rosa, bem esclarece o ponto da prova e do direito ora sob discussão: Foram colacionadas aos autos, pela recorrente, ainda que por amostragem, notas fiscais de aquisição do produto “café em grão cru” ou “café beneficiado”, com a indicação da incidência da contribuição para o PIS e a COFINS. Segundo o entendimento da recorrente, a incidência das contribuições teria sido obrigatória, devido a submissão dos cafés adquiridos pelas cooperativas ao processo produtivo previsto no §6º do art. 8º da Lei nº 10.925/2004, fato esse impeditivo para a saída posterior suspensa na forma do art. 9º do inciso II da mesma lei. Entendo que o registro das referidas expressões nas notas fiscais, informando que operação estava sujeita a tributação normal das citadas contribuições, traz uma presunção de licitude das operações de aquisição de café de cooperativa, sujeitas ao recolhimento regular das contribuições. Afirmar que a operação devidamente escriturada teria, na verdade, forma diversa daquela exposta nos registros fiscais, conferindo efeito diverso daquele indicado, demandaria uma prova oposta por parte do fisco, inexistente no presente processo. A comprovação do fato jurídico tributário depende, em regra geral, de que o administrado apresente os documentos que a legislação fiscal o obriga a produzir e manter sob guarda, ou declare sua ocorrência em declaração prestada à autoridade pública. Uma vez que essa particularidade seja compreendida, há que se sublinhar que nada dispensa a Administração de laborar em busca das provas de que o fato ocorreu e de instruir o processo administrativo com elas. Como consta, a desconsideração das provas se deu porque, no entendimento do Fisco, a interessada limitouse a apresentar as notas fiscais de aquisição das mercadorias. Peço vênia para discordar dessas conclusões. Não me parece que a acusação de que a operação praticada pela recorrente não foi aquela por ela declarada e escriturada. Ainda que passível de dúvidas acerca da veracidade das operações, tais dúvidas deveriam ter sido esclarecidas durante o procedimento fiscal, de forma a contraproduzir elementos probantes para desconsiderar aquelas notas fiscais apresentada. Nada disso ocorreu. A comprovação de que as operações foram tributadas, ensejando o crédito à adquirente, foi feita pela recorrente. Caberia ao fisco comprovar que tais cooperativas não exerciam a atividade agroindustrial, o que não foi feito. Em suma, mediante as provas que constam nos autos, conclui se que o “café cru em grão” ou “café beneficiado” foram adquiridos de cooperativa agropecuária de produção, e que a Fl. 1327DF CARF MF 28 sociedade cooperativa vendedora realizou as operações descritas no do art. 8o, § 6o, da Lei 10.925/2004. Também este Colegiado, em sua anterior composição, já enfrentou a matéria no Acórdão 3402004.088, cujas palavras do Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto foram: Portanto, parece que se torna uma questão eminentemente probatória, acerca de como demonstrar que as cooperativas realizam atividade de produção, para fim de excluílas do regime de suspensão. E para isso, pareceme que basta que se demonstre que a cooperativa também vende café beneficiado por ela, isto é, adquirido de cooperado pessoa física ou de pessoa física e beneficiado para venda. Para isto, entendo que a apresentação de notas fiscais que demonstrem que, além do café cru, as cooperativas também beneficiam e vendem café beneficiado, é prova suficiente da sua condição subjetiva que a enquadra na exceção do regime de suspensão das contribuições sociais. Desse modo, ela deve recolher o PIS/Cofins integral nas suas saídas, do mesmo modo que, ao contrário do sustentado pela fiscalização, tem direito a Embargante ao crédito integral dessas aquisições. Por esses fundamentos, entendo que a Recorrente faz jus ao crédito integral da Contribuição ao PIS e da COFINS relativo às aquisições de café em grão cru (beneficiado) de cooperativa. Dispositivo Por tudo quanto exposto, voto por dar provimento parcial ao recurso voluntário reconhecendo o direito de crédito integral da Contribuição ao PIS e da COFINS relativo às aquisições de café em grão cru (beneficiado) de cooperativa. Thais De Laurentiis Galkowicz Declaração de Voto Conselheiro Diego Diniz Ribeiro. 1. Conforme já relatado pela I. Relatora do caso, tratase de Auto de Infração que redundou a exigência de PIS e COFINS contra a recorrente. Segundo a acusação fiscal, a recorrente teria arquitetado um esquema fraudulento que, dentre ouras medidas, teria implicado a criação de empresas para intermediar a compra de café com os seus produtores. Este suposto ardil teria por escopo gerar créditos (nãocumulatividade) de PIS e COFINS para a recorrente. Fl. 1328DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 264 29 2. Não obstante, ainda segundo se constata dos autos, este suposto esquema fraudulento teria sido apurado mediante um trabalho conjunto realizado entre a Polícia Federal e a Receita Federal do Brasil, trabalho este deflagrado a partir de depoimentos/testemunhos de produtores de café e intermediadores. Em outros termos, tais declarações colhidas unilateralmente pela Receita Federal do Brasil e, preponderantemente, em outros processos administrativos que não o aqui tratado, configuraram o marco deflagrador do presente processo administrativo e de todas as demais “provas” aqui apuradas. É exatamente aí que se encontra a nulidade absoluta a macular o processo administrativo em epígrafe. 3. Para se chegar à sobredita conclusão, insta desde já destacar que a natureza predominantemente inquisitorial de um procedimento fiscalizatório por parte do Fisco não lhe atribui um poder, ou melhor, um deverpoder absoluto, até porque inexistem direitos absolutos (seja ele do Fisco ou do contribuinte) no ordenamento jurídico nacional. 2 4. O que se quer dizer com isso é que, apesar da fiscalização ter o dever poder de ouvir depoimentos/testemunhos em sede fiscalizatória – o que não se limita pelo presente voto –, não pode fazêlo com portas cerradas, como se estivesse conduzindo um processo inquisitório de idos medievais.3 Em tempo de pósmodernidade não se pode olvidar que mesmo um procedimento inquisitorial está inserido e, portanto, contextualizado, em um Estado Democrático de Direito, devendo, pois, respeitar os valores e limites próprios deste modelo de comunidade histórica, dentre os quais destacamos o devido processo legal e seus consectários lógicos, i.e., o contraditório e a ampla defesa. 5. Logo, não há vedação para que a fiscalização, em fase inquisitorial, colha declarações/depoimentos que venham contribuir com a apuração dos fatos em cotejo e objeto de fiscalização. O que não se admite é que tais declarações sejam colhidas sem a substancial participação do contribuinte fiscalizado ou do interessado. Assim, em situações como essa, é dever da fiscalização intimar o contribuinte para que (i) lhe seja dado ciência do dia e local em que as declarações serão colhidas, bem como para que, nesta oportunidade, (ii) lhe seja franqueada a possibilidade dele (contribuinte) também realizar questionamentos ao declarante/depoente 6. Nem se alegue que a ulterior intimação do contribuinte para se manifestar a respeito das declarações colhidas unilateralmente pelo Fisco seria suficiente para pretensamente legitimar as garantias fundamentais aqui tratadas. Por se tratar de uma prova dinâmica, a colheita de declarações/testemunhos também pressupõe um contraditório dinamizado, ou seja, que garanta, na realização do ato (colheita dos depoimentos), a oportunidade para que a parte interessada efetivamente participe da produção da prova, ou seja, do seu processo de enunciação. Simplesmente permitir que o contribuinte se manifeste a respeito das declarações já enunciadas, ou seja, depois de já produzidas e materializadas de forma documental, é apequenar indevidamente as garantias aqui tratadas e reduzila a uma questão de forma. 4 2 1 Convém lembrar que mesmo o direito a vida, o mais importante bem jurídico salvaguardado pelo direito, não constitui um direito absoluto. Nesse esteio, basta a leitura do art. 5º, inciso XLVII, alínea “a” da CF, bem como algumas excludentes de ilicitude próprias do direito penal, mais precisamente a legítima defesa e o estado de necessidade, para afastar esse tipo de “fundamentalismo”. 3 2 A clássica obra de Beccaria, Dos delitos e das penas, já tratou disso em 1764, ano da sua publicação. 4 Acontece que o due processo of law tratase de uma garantia fundamental que vai para muito além de forma. Como já dito, é um dos pilares essenciais para a material existência de um Estado Democrático de Direito. Logo, deve ser tutelado sob uma perspectiva eminentemente substancial. Nesse sentido: Fl. 1329DF CARF MF 30 7. Ademais, não há que se falar em incidência da súmula n. 46 deste Tribunal Administrativo.5 Referido enunciado sumular é passível de convocação quando o Fisco, munido previamente de documentos formados e apresentados pelo contribuinte fiscalizado (v.g., notas fiscais, livros e demais documentos fiscais), lavra a autuação exclusivamente com base em tais documentos. De fato, nesta hipótese não há que se falar, ao menos em tese, em ofensa ao devido processo legal e seus consectários lógicos, já que referida documentação é de conhecimento prévio do contribuinte, já que por ele produzido. Não é esse, todavia, o caso dos autos, já que as provas aqui debatidas – e que deflagraram todo o procedimento fiscalizatório que se seguiu – são testemunhais e, portanto, produzidas no bojo do processo fiscalizatório do presente processo administrativo ou, o que é ainda mais grave, em outro processo administrativo onde a recorrente sequer figura como parte. 8. Não obstante, ainda em relação às limitações do caráter inquisitorial das declarações/depoimentos colhidos em sede de processo administrativo fiscal, convém destacar que tais balizas devem ser aqui prestigiadas (no âmbito tributário) com um maior rigor, na medida em que tais declarações são colhidas (processo de enunciação) pela parte diretamente interessada no seu resultado (enunciado), quer dizer, pelo Fisco. O Fisco colhe as declarações para, eventualmente, delas se aproveitar ulteriormente na lavratura de uma exigência fiscal e multa. Fundamental, portanto, que o processo de produção desta prova também seja franqueado ao contribuinte interessado, de modo a existir um contraponto substancial minimamente válido aos interesses do Fisco enquanto parte. 9. Tal fundamentação também serve para aqueles testemunhos/depoimentos acostados nos autos na qualidade de prova emprestada. Ressaltese, desde que já, que entendemos perfeitamente válida a utilização de prova emprestada no processo administrativo fiscal, haja vista o disposto no art. 30 do Decreto 70.235/1972, arts. 24 e 64 do Decreto 7.574/2011 e, ainda, o que prevê o art. 332 do Código de Processo Civil, o qual se aplica aqui subsidiariamente. 10. A validade, todavia, quanto ao uso da prova emprestada no processo administrativo não lhe afasta de certas limitações. Nesse sentido, o primeiro aspecto a se destacar é que a prova emprestada é utilizada no processo onde será aproveitada com a mesma natureza probatória que lhe fora atribuída no processo em que produzida. Assim, em se tratando de um testemunho/depoimento emprestado, referida prova, embora se materialize documentalmente, mantém a natureza de prova testemunhal, motivo pelo qual é imprescindível que se dê oportunidade para que o contribuinte interfira no seu processo de produção (enunciação) e não para que apenas fale a seu respeito após a sua juntada nos autos no qual será emprestada (enunciado). 6 A única exceção admissível ocorreria na hipótese do testemunho/depoimento ter sido produzido no processo de origem com a efetiva participação O princípio do devido processo legal, contudo, não pode e não deve ser entendido como mera forma de procedimentalização do processo, isto é, da atuação do Estadojuiz em determinados modelos avalorativos, neutros, vazios de qualquer sentido ou finalidade mas, muito além disto, ele diz respeito à forma de atingimento dos fins do próprio Estado. É o que parcela da doutrina acaba por denominar “legitimação” pelo procedimento, no sentido de que é pelo processo devido (e, por isto não é qualquer processo que se faz suficiente) que o Estado Democrático de Direito terá condições de realizar amplamente suas finalidades.(...). O princípio do devido processo legal, neste contexto, é amplo o suficiente para se confundir com o próprio Estado Democrático de Direito. (BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil – volume 01. 4ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 138.) (grifos do Autor). 5 Súmula CARF nº 46 O lançamento de ofício pode ser realizado sem prévia intimação ao sujeito passivo, nos casos em que o Fisco dispuser de elementos suficientes à constituição do crédito tributário. 6 Neste diapasão: DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil – volume 02. 10ªed. Salvador:JusPodivm. 2015, pp. 131/132. Fl. 1330DF CARF MF Processo nº 10783.720616/201236 Acórdão n.º 3402006.706 S3C4T2 Fl. 265 31 do contribuinte78 contra a qual o testemunho/depoimento será direcionado no processo para o qual a prova será emprestada, sob pena de nulidade da prova emprestada, bem como de todas as provas daí derivadas (fruits of the poisonous tree). 9 11. Em não se tratando da exceção alhures não haveria que se falar em permissão para o uso da prova emprestada. Neste caso, deveria a fiscalização novamente colher os depoimentos que ela (fiscalização) entendesse pertinentes à apuração dos fatos fiscalizados, oportunizando ao contribuinte a possibilidade de conteudisticamente participar da produção da enunciação da referida prova, conforme já mencionado anteriormente. 12. Por fim, também não há que se falar que, em razão da natureza inquisitorial do procedimento administrativo anterior à impugnação, não haveria que se oportunizar o contraditório e a ampla defesa ao contribuinte, em analogia com o que ocorre nos inquéritos policiais e as correlatas ações penais. Isso porque, no âmbito criminal, as provas produzidas na fase inquisitorial apresentam um caráter precário e, parta quer tenham validade, necessariamente precisam ser reproduzidas no âmbito judicial, sob o crivo do devido processos legal e perante um terceiro que tem por dever manterse equidistante das partes e promover um tratamento isonômico. Não é isso, todavia, que ocorre no âmbito administrativofiscal, já que as provas orais colhidas na fase procedimental não são reproduzidas na fase contenciosa, i.e., após a impugnação. Em verdade, ganham um indevido caráter documental, o que só reforça a nulidade aqui suscitada. 13. Tecidas tais considerações e analisando o caso decidendo é possível constatar que os depoimentos/testemunhos de terceiros e que foram colhidos ba fase procedimental foram fundamentais para a autuação do recorrente e para a derivação das demais provas acostadas no presente processo administrativo. Fazendo um exercício de abstração e imaginando inexistir nos autos tais declarações, o que se encontraria aqui seriam os seguintes elementos de prova: 7 Ainda que na qualidade de interessado, haja vista o teor do disposto no art. 3o., inciso II da lei n. 9.784/99. 8 Quando se fala em “efetiva participação” o que se quer dizer é que o Fisco deverá oportunizar ao contribuinte/interessado a possibilidade de interferir ativamente no processo de construção do testemunho que será colhido, o que consiste em franquear ao contribuinte a possibilidade de realizar perguntas ao depoente. 9 A teoria dos frutos da árvore envenenada já vem sendo acolhida pelo Supremo Tribunal Federal de longa data, conforme se observa do julgado cuja ementa segue abaixo transcrita: PROVA ILÍCITA: ESCUTA TELEFÔNICA MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL: AFIRMAÇÃO PELA MAIORIA DA EXIGÊNCIA DE LEI, ATÉ AGORA NÃO EDITADA, PARA QUE, "NAS HIPÓTESES E NA FORMA" POR ELA ESTABELECIDAS, POSSA O JUIZ, NOS TERMOS DO ART. 5., XII, DA CONSTITUIÇÃO, AUTORIZAR A INTERCEPTAÇÃO DE COMUNICAÇÃO TELEFÔNICA PARA FINS DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL; NÃO OBSTANTE, INDEFERIMENTO INICIAL DO HABEAS CORPUS PELA SOMA DOS VOTOS, NO TOTAL DE SEIS, QUE, OU RECUSARAM A TESE DA CONTAMINAÇÃO DAS PROVAS DECORRENTES DA ESCUTA TELEFÔNICA, INDEVIDAMENTE AUTORIZADA, OU ENTENDERAM SER IMPOSSÍVEL, NA VIA PROCESSUAL DO HABEAS CORPUS, VERIFICAR A EXISTÊNCIA DE PROVAS LIVRES DA CONTAMINAÇÃO E SUFICIENTES A SUSTENTAR A CONDENAÇÃO QUESTIONADA; NULIDADE DA PRIMEIRA DECISÃO, DADA A PARTICIPAÇÃO DECISIVA, NO JULGAMENTO, DE MINISTRO IMPEDIDO (MS 21.750, 24.11.93, VELLOSO); CONSEQUENTE RENOVAÇÃO DO JULGAMENTO, NO QUAL SE DEFERIU A ORDEM PELA PREVALÊNCIA DOS CINCO VOTOS VENCIDOS NO ANTERIOR, NO SENTIDO DE QUE A ILICITUDE DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA A FALTA DE LEI QUE, NOS TERMOS CONSTITUCIONAIS, VENHA A DISCIPLINÁLA E VIABILIZÁLA CONTAMINOU, NO CASO, AS DEMAIS PROVAS, TODAS ORIUNDAS, DIRETA OU INDIRETAMENTE, DAS INFORMAÇÕES OBTIDAS NA ESCUTA (FRUITS OF THE POISONOUS TREE), NAS QUAIS SE FUNDOU A CONDENAÇÃO DO PACIENTE. (STF; HC 69912 segundo, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 16/12/1993, DJ 25031994 PP06012 EMENT VOL0173801 PP00112 RTJ VOL0015502 PP00508). Fl. 1331DF CARF MF 32 · notas fiscais de saída regularmente emitidas pelas empresas intermediárias para a Recorrente; · registro de entradas das referidas notas fiscais pela recorrente; · pagamento das mercadorias retratadas em tais notas fiscais, o que foi feito pela recorrente em favor das empresas intermediárias por meio de depósito bancário; · empresas intermediárias idôneas à época dos fatos aqui narrados, bem como existentes, em sua maioria, muito antes do benefício fiscal que teria sido gozado pelo recorrente, o que afastaria a ilação de que tais intermediárias teriam sido criadas com o propósito exclusivo de permitir o gozo do aludido benefício; e, por fim · Registro e utilização regular do crédito de PIS e COFINS aqui debatido. 14. Percebese, portanto, que as provas acima referidas e que, em princípio, atestavam a licitude da operação perpetrada pela recorrente só foram retiradas deste contexto a partir dos depoimentos/testemunhos já mencionados e que, a nosso ver, encontramse calcados de notória ilegalidade. 15. Por tais razões, voto para reconhecer a nulidade das provas produzidas no processo em epígrafe e, por conseguinte, do próprio processo em si considerando, razão pela qual dou provimento ao recurso voluntário aqui interposto. 16. É como declaro meu voto. Diego Diniz Ribeiro Fl. 1332DF CARF MF
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Numero do processo: 10730.903859/2012-23
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu May 23 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Tue Jul 23 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
Data do fato gerador: 24/09/2010
CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ÔNUS DA PROVA. ERRO EM DECLARAÇÃO.
A DCTF retificadora apresentada após o início de procedimento fiscal não têm o condão de provar suposto erro de fato que aponta para a inexistência do débito declarado. O contribuinte possui o ônus de prova do direito invocado mediante a apresentação de escrituração contábil e fiscal, lastreada em documentação idônea que dê suporte aos seus lançamentos.
Numero da decisão: 3302-007.201
Decisão:
Acordam os membros do Colegiado, NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
Gilson Macedo Rosenburg Filho - Presidente Substituto e Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Gilson Macedo Rosenburg Filho (presidente substituto), Corintho Oliveira Machado, Jorge Lima Abud, Luis Felipe de Barros Reche (Suplente Convocado), Raphael Madeira Abad, Walker Araujo, José Renato Pereira de Deus e Denise Madalena Green.
Nome do relator: PAULO GUILHERME DEROULEDE
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conteudo_txt : Metadados => date: 2019-07-22T12:19:49Z; pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.5; xmp:CreatorTool: Microsoft® Word 2010; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; language: pt-BR; dcterms:created: 2019-07-22T12:19:49Z; Last-Modified: 2019-07-22T12:19:49Z; dcterms:modified: 2019-07-22T12:19:49Z; dc:format: application/pdf; version=1.5; Last-Save-Date: 2019-07-22T12:19:49Z; pdf:docinfo:creator_tool: Microsoft® Word 2010; access_permission:fill_in_form: true; pdf:docinfo:modified: 2019-07-22T12:19:49Z; meta:save-date: 2019-07-22T12:19:49Z; pdf:encrypted: true; modified: 2019-07-22T12:19:49Z; Content-Type: application/pdf; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; dc:language: pt-BR; meta:creation-date: 2019-07-22T12:19:49Z; created: 2019-07-22T12:19:49Z; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 3; Creation-Date: 2019-07-22T12:19:49Z; pdf:charsPerPage: 1912; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; pdf:docinfo:created: 2019-07-22T12:19:49Z | Conteúdo => S3-C 3T2 Ministério da Economia Conselho Administrativo de Recursos Fiscais Processo nº 10730.903859/2012-23 Recurso Voluntário Acórdão nº 3302-007.201 – 3ª Seção de Julgamento / 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 23 de maio de 2019 Recorrente G.M.A.P. SUPERMERCADOS LTDA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 24/09/2010 CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ÔNUS DA PROVA. ERRO EM DECLARAÇÃO. A DCTF retificadora apresentada após o início de procedimento fiscal não têm o condão de provar suposto erro de fato que aponta para a inexistência do débito declarado. O contribuinte possui o ônus de prova do direito invocado mediante a apresentação de escrituração contábil e fiscal, lastreada em documentação idônea que dê suporte aos seus lançamentos. Acordam os membros do Colegiado, NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. (assinado digitalmente) Gilson Macedo Rosenburg Filho - Presidente Substituto e Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros: Gilson Macedo Rosenburg Filho (presidente substituto), Corintho Oliveira Machado, Jorge Lima Abud, Luis Felipe de Barros Reche (Suplente Convocado), Raphael Madeira Abad, Walker Araujo, José Renato Pereira de Deus e Denise Madalena Green. Relatório Trata o presente processo da DCOMP eletrônica, transmitida com objetivo de declarar a compensação do(s) débito(s) nela apontado(s), com crédito proveniente de pagamento indevido ou a maior, relativo ao DARF indicado, referente ao PIS/Cofins. A matéria foi objeto de decisão proferida por intermédio do Despacho Decisório eletrônico, no qual a Delegacia de origem, após constatar a improcedência do crédito original informado no PER/DCOMP, não reconheceu o valor do crédito pretendido e decidiu NÃO HOMOLOGAR a compensação declarada. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 73 0. 90 38 59 /2 01 2- 23 Fl. 88DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 3302-007.201 - 3ª Sejul/3ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10730.903859/2012-23 Regularmente cientificada da não homologação, a contribuinte protocolou suas razões de defesa alegando que, quando da confecção do Per/Dcomp, por lapso, não foi retificada a DCTF. Procedeu a retificação, dentro do prazo legal, alterando o débito do período de apuração correspondente. Por seu turno, a DRJ julgou improcedente a manifestação de inconformidade, por entender que compensação pressupõe a existência de direito creditório líquido e certo, direito esse evidenciado na DCTF anterior ou, no máximo, contemporânea à Dcomp, exceto quando comprovado erro no preenchimento da referida declaração. Regularmente cientificada de decisão, a recorrente interpôs recurso voluntário, aduzindo, em síntese apertada que: (i) a retificação da DTCF após o despacho decisório não pode ser impedimento ao reconhecimento do crédito apurado; e (ii) os documentos carreados aos autos se prestam à comprovar a origem do crédito. É o relatório. Voto Conselheiro Gilson Macedo Rosenburg Filho - Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplica-se o decidido no Acórdão 3302- 006.936, de 22 de maio de 2019, proferido no julgamento do processo 13227.901478/2012-98, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevem-se, como solução deste litígio, nos termos regimentais, os entendimentos que prevaleceram naquela decisão (Acórdão 3302-006.936): O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, dele tomo conhecimento. Inicialmente, destaca-se que a DRJ manteve o despacho decisório por dois motivos, a saber: Assim sendo e, considerando que a DCTF retificadora foi entregue somente após a transmissão do PER/DCOMP e que não foram trazidos aos autos quaisquer elementos comprobatórios do crédito pleiteado, conclui-se que não há qualquer reparo a ser feito no Despacho Decisório sob análise e que não há direito creditório a ser reconhecido para a compensação pretendida. Ao meu ver, o primeiro motivo para DRJ seria totalmente superado, caso o contribuinte tivesse demonstrado à origem do crédito, o que não ocorreu no presente processo, senão vejamos. É incontroverso que a Recorrente cometeu irregularidade no preenchimento do DACON e da DCTF e, que a retificação do último documento fora realizada somente após a transmissão do PER/DCOMP objeto dos autos. Contudo, independentemente das declarações retificadoras terem sido apresentadas pela Recorrente após a transmissão do PER/DCOMP, o que não é causa impeditiva do reconhecimento do crédito, deveria o contribuinte ter comprovado documentalmente a origem dos créditos. Com efeito, a DCTF e o DACON contêm dados e informações declarados pelo próprio contribuinte que devem ser lastreados com a correspondente documentação fiscal que Fl. 89DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 3302-007.201 - 3ª Sejul/3ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10730.903859/2012-23 comprove os lançamentos contábeis. A simples apresentação de cópias das referidas declarações são insuficientes para comprovar o origem do pretenso crédito almejado pela Recorrente, inviabilizando a confirmação dos valores registrados nas declarações. Não bastasse isso, a Recorrente deveria ter apresentado argumentos mais robustos para comprovar seu direito. Nada foi explicitada em sede de manifestação e recurso. Com todo respeito, os argumentos apresentados pela Recorrente não fazem prova de crédito algum, sequer demonstram qual a composição e/ou origem do crédito que ela alegar possuir. Mais uma vez, repita-se, que é necessário que sejam colacionados aos autos excertos da escrituração contábil e fiscal do contribuinte, lastreados em documentação idônea que dê suporte a tais lançamentos. Diante do exposto, nego provimento ao recurso voluntário. Importante frisar que as situações fática e jurídica presentes no processo paradigma encontram correspondência nos autos ora em análise. Desta forma, os elementos que justificaram a decisão no caso do paradigma também a justificam no presente caso. Aplicando-se a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu por NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário do contribuinte. (assinado digitalmente) Gilson Macedo Rosenburg Filho - Relator Fl. 90DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 18108.002166/2007-11
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jun 04 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Jun 27 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Data do fato gerador: 29/10/2007
NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
Não há ocorrência de nulidade, pois não houve violação aos requisitos do artigo 59 do Decreto 70.235/72.
DECADÊNCIA. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. SÚMULA VINCULANTE Nº 8.
Dispõe a Súmula Vinculante nº 8 do STF: São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-lei 1569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário. O prazo decadencial para o lançamento de contribuições sociais é de 5 anos.
DECADÊNCIA. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. TRIBUTOS LANÇADOS POR HOMOLOGAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 150, § 4º DO CTN. COMPROVAÇÃO DE PAGAMENTO.
Tratando-se de tributos sujeitos à homologação e comprovada a ocorrência de antecipação de pagamento, aplica-se, quanto à decadência, a regra do art. 150, § 4 º do CTN.
REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. PRONUNCIAR. CARF. COMPETÊNCIA. NÃO TEM.
Súmula CARF nº 28: "O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais."
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. ATRIBUIR. EM SEDE DE RECURSO. CARF. IMPOSSIBILIDADE.
Em sede de recurso, não há possibilidade de incluir responsável no polo passivo, tendo em vista que não é competência do CARF atribuir responsabilidade solidária, sendo que tal atribuição compete, no âmbito da ação fiscal, a autoridade lançadora.
RECURSO VOLUNTÁRIO. APRESENTAÇÃO TEMPESTIVA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO.
A apresentação tempestiva da Recurso Voluntário suspende a exigibilidade do crédito tributário nos termos do inciso III, art. 151 do CTN.
JURISPRUDÊNCIAS. NÃO TRANSITADO EM JULGADO. SEM DECISÕES DEFINITIVAS DE MÉRITO. NÃO VINCULAM. JULGAMENTO.
As jurisprudências referentes a processos judiciais, ainda não transitados em julgado, sem decisões definitivas de mérito, não vinculam o julgamento na esfera administrativa.
OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. APRESENTAR GFIP. EM DESACORDO COM AS NORMAS. DESCUMPRIMENTO. PENALIDADE. APLICAÇÃO. CFL 68.
Apresentar as Guias de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social - GFIP sem informar os dados correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições, configura infração à legislação previdenciária.
JULGAMENTO. PRIMEIRA INSTÂNCIA. ERRO MATERIAL. PROCESSO MADURO. APRECIAÇÃO. SEGUNDA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE.
Processo com erro material ocorrido no Acórdão da primeira instância administrativa, mas em condições de julgamento e devidamente instruído, pode ser apreciado pelo Colegiado de segunda instância, uma vez que se trata de processo maduro, em nome da economia processual e da verdade material.
EXCLUSÃO DE CONTRIBUIÇÃO. DECADÊNCIA. JULGAMENTO DE PROCESSOS. OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS. BASE DE CÁLCULO. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. NECESSIDADE. RECALCULO DA MULTA.
Faz-se necessário recalcular o valor da multa, quando, após julgamento, houver o reconhecimento de decadência de períodos referentes a obrigações principais que serviram de base de cálculo para apurar a multa devida por descumprimento de obrigação acessória.
LANÇAMENTO. DOCUMENTOS. ESCRITURAÇÃO. NÃO APRESENTAÇÃO. AFERIÇÃO INDIRETA. ARBITRAMENTO. SISTEMAS RFB. RAIS. DIRPJ. GFIP. LEGALIDADE.
Quando a contribuinte deixar de apresentar ou apresentar com deficiência a sua escrituração e os documentos solicitados, compete a Autoridade Fiscal, sem prejuízo da penalidade cabível, lançar de ofício a importância que considerar devida, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário.
A Fiscalização dispõe de instrumentos legais para aferir de forma indireta, arbitramento, a base de cálculo para o lançamento das contribuições devidas, sendo válido o procedimento lastreado em informações registradas na DIRPJ, na RAIS, na GFIP e nos Sistemas da RFB.
Numero da decisão: 2202-005.248
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso, para que o lançamento seja recalculado considerando-se o resultado do julgamento, nesta sessão, dos processos nos 18108.002144/2007-42, 18108.002090/2007-15, 18108.002132/2007-18 e 18108.002196/2007-19, referentes às obrigações principais.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente
(assinado digitalmente)
Rorildo Barbosa Correia - Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Leonam Rocha de Medeiros, Fernanda Melo Leal (suplente convocada) e Ronnie Soares Anderson. Ausente a conselheira Andréa de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RORILDO BARBOSA CORREIA
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NÃO OCORRÊNCIA. Não há ocorrência de nulidade, pois não houve violação aos requisitos do artigo 59 do Decreto 70.235/72. DECADÊNCIA. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. SÚMULA VINCULANTE Nº 8. Dispõe a Súmula Vinculante nº 8 do STF: São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decretolei 1569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário. O prazo decadencial para o lançamento de contribuições sociais é de 5 anos. DECADÊNCIA. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. TRIBUTOS LANÇADOS POR HOMOLOGAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 150, § 4º DO CTN. COMPROVAÇÃO DE PAGAMENTO. Tratandose de tributos sujeitos à homologação e comprovada a ocorrência de antecipação de pagamento, aplicase, quanto à decadência, a regra do art. 150, § 4 º do CTN. REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. PRONUNCIAR. CARF. COMPETÊNCIA. NÃO TEM. Súmula CARF nº 28: "O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais." RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. ATRIBUIR. EM SEDE DE RECURSO. CARF. IMPOSSIBILIDADE. Em sede de recurso, não há possibilidade de incluir responsável no polo passivo, tendo em vista que não é competência do CARF atribuir responsabilidade solidária, sendo que tal atribuição compete, no âmbito da ação fiscal, a autoridade lançadora. RECURSO VOLUNTÁRIO. APRESENTAÇÃO TEMPESTIVA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 10 8. 00 21 66 /2 00 7- 11 Fl. 531DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 532 2 A apresentação tempestiva da Recurso Voluntário suspende a exigibilidade do crédito tributário nos termos do inciso III, art. 151 do CTN. JURISPRUDÊNCIAS. NÃO TRANSITADO EM JULGADO. SEM DECISÕES DEFINITIVAS DE MÉRITO. NÃO VINCULAM. JULGAMENTO. As jurisprudências referentes a processos judiciais, ainda não transitados em julgado, sem decisões definitivas de mérito, não vinculam o julgamento na esfera administrativa. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. APRESENTAR GFIP. EM DESACORDO COM AS NORMAS. DESCUMPRIMENTO. PENALIDADE. APLICAÇÃO. CFL 68. Apresentar as Guias de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social GFIP sem informar os dados correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições, configura infração à legislação previdenciária. JULGAMENTO. PRIMEIRA INSTÂNCIA. ERRO MATERIAL. PROCESSO MADURO. APRECIAÇÃO. SEGUNDA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. Processo com erro material ocorrido no Acórdão da primeira instância administrativa, mas em condições de julgamento e devidamente instruído, pode ser apreciado pelo Colegiado de segunda instância, uma vez que se trata de processo maduro, em nome da economia processual e da verdade material. EXCLUSÃO DE CONTRIBUIÇÃO. DECADÊNCIA. JULGAMENTO DE PROCESSOS. OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS. 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Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra o acórdão nº 1729.470 proferido pela 10ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em São Paulo II / SP DRJ/SPOII, a qual julgou procedente, em parte, o lançamento e manteve, em parte, o crédito tributário exigido no Auto de Infração AI DEBCAD 31.130.0983, com fundamento no art. 32, Inciso IV, § 5º da Lei 8.212/91, na redação da Lei nº 9.528/97, regulamentada pelo Decreto n° 3.048/99 e alterações posteriores, pois houve a apresentação das Guias de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social GFIP, com dados não correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições previdenciária (fls. 356/365 e 385/413). Do Lançamento Tributário No tocante ao lançamento tributário, o relatório que acompanha a decisão da DRJ/SPO II (fl. 357) mencionou o seguinte: 1. Tratase de infração ao art.32, Inciso IV, § 5º da Lei 8.212/91, na redação da Lei 9.528/97, regulamentada pelo Decreto n° 3.048/99 e alterações posteriores, a apresentação de GFIP Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social, com dados não correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições previdenciárias. 5. A multa foi aplicada em conformidade com o art.32, inciso IV, § 5º da Lei 8.212/91 e art. 284, inciso II do Regulamento da Previdência Social RPS, aprovado pelo Decreto 3.048/99, ou seja; 100% (Cem por cento) do valor devido relativo à contribuição não declarada, limitada por competência em função do número de segurados da empresa, observados os limites mensais previstos no inciso I, resultando no valor total de R$ 1.463.439,49 (Hum milhão e quatrocentos e sessenta e três mil e quatrocentos e trinta e nove reais e quarenta e nove centavos), conforme consta do Relatório Fiscal da Aplicação da Multa às fls.42 e planilha de cálculo de fls. 43 a 46). Fl. 533DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 534 4 Regularmente intimada do lançamento, a contribuinte apresentou impugnação, com bem sintetizado pela DRJ (fls. 358/359) , alegando que (fls. 299/326): A técnica implementada pela Auditoria Fiscal para fundamentar o arbitramento da base tributável foi utilizada ao arrepio das disposições legais. Não foram respeitados os seguintes princípios: liquidez e certeza, reserva legal, prova segura e tipicidade. Infere, ainda, que o lançamento é duvidoso eis que não foi comprovado, de forma segura, a ocorrência do fato gerador do tributo, uma vez que não foram realizadas as inspeções necessárias à obtenção dos elementos de convicção e certeza à constituição do crédito tributário. A falta de apresentação das folhas de pagamento e documentos como: GFIP's e GPS ou mesmo a escrituração contábil e fiscal do período fiscalizado, por si só, não autoriza o fiscal a utilizarse da constituição de crédito tributário como instrumento punitivo, transferindo ao contribuinte o ônus da prova. Na obtenção dos dados de todas as GFIP's e GPS com a utilização do banco de dados Dataprev/CNIS para apuração do presente débito o Auditor Fiscal também deveria ter considerado as informações a respeito das retenções que foram efetuadas da Impugnante e aquelas efetuadas de seus subempreiteiros, com vistas a dar mais segurança e certeza para o levantamento, o que evidencia a nulidade do Auto de Infração. Pleiteia a aplicação do prazo decadencial de 05 anos, a teor das disposições contidas no art. 173 e do §4° do art. 150 do CTN. Com o advento da Lei nº 9.711/98 que alterou a sistemática de recolhimento da contribuição social instituindo a retenção de 11% do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e considerando que sua atividade exclusiva era a prestação de serviços de manutenção de redes telefônicas, mediante o fornecimento de mão de obra, em contratos firmados unicamente com as empresas TELESP S/A, BRASIL TELECOM S/A e TELEMAR S/A, elas são responsáveis por substituição e devem ser incluídas no pólo passivo do presente processo administrativo. Com referência à Representação Fiscal para Fins Penais, alega que a caracterização do ilícito penal está a depender da procedência do lançamento fiscal eis que se trata de um crime material, de resultado, em que a supressão ou redução do tributo caracterizada, além do que a Autoridade Fiscal está proibida por lei (art. 83 da Lei 9.430/96) de encaminhar a representação ao Ministério Público, razão porque o Inquérito Policial decorrente de tal representação está inquinado pelo vício da ilegalidade. e pede o efeito suspensivo do lançamento. A impugnação foi julgada improcedente pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento DRJ/SPOII (fls. 356/365). Da Decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento Quando da análise do presente caso, a DRJ/SPOII apreciou o lançamento e proferiu o acórdão (fl. 357): "Acordam os membros da 10ª Turma de Julgamento, por unanimidade de votos, considerar procedente o lançamento, mantendo o crédito tributário Fl. 534DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 535 5 exigido, nos termos do relatório e voto, que integram o presente julgado." que em síntese, assim relatado (fls. 357/365): 9. A fiscalização constituiu o crédito previdenciário correspondente, conforme determina o art. 37, da Lei n° 8.212/91 e art. 229 do Decreto n° 3.048/99, com discriminação clara e precisa dos fatos geradores, das contribuições devidas e dos períodos a que se referem, em total consonância com as normas legais, inclusive, em atendimento ao disposto no art. 142 e seu parágrafo 1, do Código Tributário Nacional CTN. 11. Assim, a motivação do presente Auto de Infração é a apresentação de GFIP com dados não correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições previdenciárias. Houve omissão de fato gerador de contribuições previdência rias, na forma do disposto no art. 32, inciso IV da Lei 8212/91. Os valores que deixaram de ser informados nas Guias de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social GFIP's encontramse demonstrados no Relatório Fiscal da Infração (doe. de fls. 21 a 41). 12. Ao deixar de informar na Guia de Recolhimento do FGTS e Informações a Previdência Social GFIP os valores integrais pagos ou creditados aos segurados empregados, a empresa infringiu o art. 32, IV, parágrafo 5o da Lei 8212/91, na redação dada pela Lei 9.528/97(...). 13. A multa aplicada equivale a 100% (cem por cento) do valor da contribuição não declarada, por competência, limitada aos valores constantes da tabela ao art. 32, IV, parágrafo 4o, da Lei 8212/91. O enquadramento da empresa é realizado em função do número de segurados empregados que possui. A demonstração do cálculo da multa encontrase planilhada pelo Auditor Fiscal nas fls.43 a 46. 15. Considerando que nenhuma prova em contrário foi apresentada, a alegação da empresa serve apenas para reforçar o procedimento fiscal, vez que ela mesma admite não ter apresentado toda a documentação solicitada (fls. 431). Tenta justificar tal falta inferindo que a Auditoria Fiscal, de forma superficial, conduziu o procedimento administrativo destinado à definição do crédito tributário uma vez que suas tomadoras de serviços deveriam também ser objeto de inspeções. 24. Com referência ao pleito de incluir no pólo passivo as empresas tomadoras de serviços elencadas na impugnação, têm se que o presente levantamento de débitos não se trata de responsabilidade solidária. Em face de todo o exposto, voto pela procedência em parte do lançamento, com a alteração do valor da multa, conforme discriminado pelo auditorfiscal, resultando na seguinte modificação do valor do crédito tributário: Valor lançado (R$) Valor exonerado (R$) Valor mantido (R$) Fl. 535DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 536 6 RS 1.463.436,49 R$ 896.347,30 RS 567.089,10 Para melhor entendimento, transcrevo as ementas do acórdão proferido pela DRJ/SPOII (fl. 356): Assunto: Obrigações Acessórias Data do fato gerador: 29/10/2007 Auto de Infração Debcad n° 37.130.0983 DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA . A Apresentação de GFIP Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social com dados não correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições previdenciárias constitui infração ao art. 32, Inciso IV, parágrafo 5o, da Lei n° 8.212/91 e alterações posteriores. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. DECADÊNCIA. PRAZO QUINQUENAL Em face da Súmula Vinculante n° 08, que declarou a inconstitucionalidade do artigo 45 da Lei n° 8.212/91, o crédito devido à Seguridade Social deve ser constituído dentro do lapso qüinqüenal de que trata o CTN. Em Direito Tributário, as obrigações acessórias, ou formais, somente se justificam enquanto houver a possibilidade de constituição do crédito para cuja fiscalização as mesmas serviram de instrumento. Inconstitucionalidade Compete exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal decidir sobre matéria relativa a constitucionalidade de lei. Lançamento Procedente em Parte Do Recurso Voluntário A empresa, devidamente intimada da decisão da DRJ/SPOII (fls. 383/384) em 25/06/2009, conforme Aviso de Recebimento AR (fl. 384), apresentou, em 22/06/2009, recurso voluntário (fls. 385/413). Em sede de recurso voluntário, a recorrente se insurgiu contra a decisão da DRJ/SPOII, questionando preliminarmente sobre: a) dos procedimentos utilizados para fundamentar o arbitramento das receitas e b) dos procedimentos incorretos utilizados para efeito do apuração do "Auto de Infração com Lançamento Complementar"; apresentando as seguintes alegações: Das Irregularidades e dos Procedimentos Que a técnica implementada pela Auditoria Fiscal para fundamentar o arbitramento da base tributável foi utilizada ao arrepio das disposições legais e que o auto de infração deve ser pautado pelos princípios da legalidade e segurança jurídicas, porque, salvo Fl. 536DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 537 7 nas hipóteses em que a legislação expressamente autoriza o emprego da presunção, a acusação de falta de recolhimento de parte das contribuições previdenciárias, há que se fundar em provas concretas e hábeis, de modo a caracterizar com inarredável certeza a ocorrência da Infração Que os fatos apresentados para embasar a presunção dos valores das contribuições não recolhidas se tornaram improcedentes por absoluta falta de requisitos técnicos no que tange a sua apuração e fundamentação de direito para utilização como prova que pudesse transmitir à AFRFB a certeza necessária quanto à efetiva ocorrência da omissão de recolhimento das contribuições previdenciárias, requisito indispensável para a configuração da efetiva existência do fato gerador do tributo e por conseqüência possibilitar o lançamento complementar do crédito tributário. Que não foram respeitados os seguintes princípios: liquidez e certeza, reserva legal, prova segura e tipicidade e ainda que o lançamento é duvidoso, pois não foi comprovado, de forma segura, a ocorrência do fato gerador do tributo, uma vez que não foram realizadas as inspeções necessárias à obtenção dos elementos de convicção e certeza à constituição do crédito tributário. Que a falta de apresentação das folhas de pagamento e documentos como: GFIP's e GPS ou mesmo a escrituração contábil e fiscal do período fiscalizado, por si só, não autoriza o fiscal a utilizarse da constituição de crédito tributário como instrumento punitivo, transferindo ao contribuinte o ônus da prova. Que não se está discutindo o fato do Ilmo. AFRFB ter aplicado o arbitramento dos valores, uma vez que não lhe foram apresentados as folhas de pagamento, documentos e livros fiscais e contábeis solicitados, mas sim a forma superficial utilizada na condução do procedimento administrativo destinado à definição da do crédito tributário. Que o arbitramento feito de ofício é o recurso da fiscalização previdenciária da Receita Federal do Brasil, quando se vê impossibilitada de aceitar ou de apurar o valor da contribuição devida pelo contribuinte. Por isso, o Conselho de Contribuintes tem reiteradamente decidido que essa modalidade de tributação é excepcional e deve ser aplicada quando esgotadas de fato as possibilidades de apuração do tributo. Que no caso da retenção de 11% a ser efetuada pelo tomador do serviço, o fato gerador da obrigação previdenciária principal é a prestação do serviço, ou seja, não importa se houve ou não emissão de nota fiscal, recibo ou fatura, o que prevalece para a Previdência Social é exclusivamente a prestação do serviço. Que o valor retido será compensado pela empresa contratada, referente ao mesmo estabelecimento ou obra de construção civil da empresa que sofreu a retenção, quando do recolhimento das contribuições previdenciárias devidas sobre a folha de pagamento dos seus trabalhadores. Que da mesma forma como se obteve os dados do Conta Corrente SAFIS e de todas as GFIP's e GPS utilizadas no banco de dados Dataprev/CNIS, também detém informações a respeito das retenções que foram efetuadas da Impugnante, bem como daquelas retenções por esta efetuada de seus subempreiteiros. Assim, a auditoria fiscal deveria levar em consideração e consequentemente reduzir dos montantes apurados, os valores "retidos da", bem como "retidos pela" impugnante, Fl. 537DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 538 8 com vistas a dar um pouco mais de segurança e certeza para o embasamento do Auto de Infração, destituindoo das características nítidas de superficialidade que o trabalho apresenta. Da Nulidade Que ficou claramente evidenciada a nulidade do Auto de Infração uma vez que para sua lavratura não foram observadas as disposições contidas na legislação tributária. (fl. 393). Da Decadência Pleiteia a aplicação do prazo decadencial de 05 anos, a teor das disposições contidas no art. 173 e do §4° do art. 150 do CTN. "Do raciocínio acima exposto e encampado por abalizada doutrina e jurisprudência mais excelente, podese concluir que o prazo decadencial para a constituição do crédito tributário, em sede de contribuições sociais, permanece o de cinco anos, a teor das disposições do artigo 173 e do § 4o do art. 150 do CTN." Acrescenta ainda que "sendo inconstitucional, deve prevalecer a regra do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/66), que é de 05 (cinco) anos, conforme estatuído no art. 173." para isto cita decisão do TRF 4ª Região. Da Responsabilidade Solidária Alegou ainda sobre a ocorrência de responsabilidade solidária, afirmando que com o advento da Lei 9.711/98 que alterou a sistemática de recolhimento da contribuição social instituindo a retenção de 11% do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e considerando que sua atividade exclusiva era a prestação de serviços de manutenção de redes telefônicas, mediante o fornecimento de mão de obra, em contratos firmados unicamente com as empresas TELESP S/A, BRASIL TELECOM S/A e TELEMAR S/A, elas são responsáveis por substituição e devem ser incluídas no pólo passivo do presente processo administrativo. Da Representação Fiscal Para Fins Penais Que em relação à Representação Fiscal para Fins Penais caracterização do ilícito penal está a depender da procedência do lançamento se trata de um crime material, de resultado, em que a supressão ou redução do tributo deve ser caracterizada, além do que a Autoridade Fiscal está proibida por lei (art. 83 da Lei nº 9.430/96) de encaminhar a representação ao Ministério Público, razão porque o Inquérito Policial decorrente de tal representação está inquinado pelo vício da ilegalidade. A empresa apresentou, ao longo do seu recurso e, com o objetivo de fundamentar sua contestação, acórdãos de decisões judiciais (fls. 401/409). Do Pedido Ao final, a Recorrente requer o seguinte: a) a atribuição de efeito suspensivo á presente impugnação; Fl. 538DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 539 9 b) o reconhecimento de que Ilmo. Auditor Fiscal não esgotou as possibilidades para identificar a base tributável sujeita à imposição do arbitramento do valor das contribuições previdenciárias objeto da autuação, condição essencial para o lançamento do crédito tributário. c) que seja declarada a nulidade e o respectivo cancelamento do auto de infração e imposição de multa, tendo em vista o enorme número de irregularidades nele apresentado afronta aos princípios administrativos bem como não representa com segurança e liquidez o valor do crédito tributário nele contido. d) a inclusão das empresas Telesp Telecomunicações de São Paulo S/A., Telemar Norte Leste S/A e Brasil Telecom S/A. no pólo passivo do presente processo administrativo, tendo em vista sua indiscutível responsabilidade solidária em relação aos eventuais débitos tributários que vierem a ser lançados. e) o reconhecimento da decadência do lançamento referentes às contribuições previdenciárias anteriores à 31 de outubro de 2002. f) a suspensão da emissão da Representação Fiscal para fins penais enquanto não complementado o Processo Administrativo Fiscal para fins penais, uma vez não caracterizada a ocorrência de qualquer infração. É o relatório. Voto Conselheiro Rorildo Barbosa Correia Relator O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. Preliminar de Nulidade A recorrente afirmou que "fica claramente evidenciada a nulidade do Auto de Infração uma vez que para sua lavratura, fica claramente demonstrado que não foram observadas as disposições contidas na legislação tributária." (fl. 393). Neste caso, ao analisar o pedido de nulidade, verificouse que os motivos alegados pela Impugnante se referem também à questão de mérito, por isso, os argumentos aqui apresentados serão devidamente apreciados no decorrer do voto, quando da análise do mérito. Todavia, notase que a empresa cogitou a ocorrência de nulidade, por isso, fezse necessário compulsar os elementos contidos nos autos para verificar se houve alguns dos motivos que pudessem ensejar nulidade. Então, após compulsar os autos, percebeuse que o Auto de Infração AI e seus anexos cumprem a exigência legal de descrever de modo claro e preciso os motivos Fl. 539DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 540 10 fáticos e jurídicos que justificaram a lavratura do referido auto de infração (fls. 03/08), bem como verificouse que o Relatório Fiscal da Infração e Relatório Fiscal da Aplicação da Multa contém planilhas que discriminam a base de cálculo com a exposição dos fundamentos jurídicos da autuação (fls. 24/44 e 45/51). No mesmo sentido, notase que o procedimento fiscal adotado foi realizado observando as normas legais pertinentes à matéria e respeitando o direito da contribuinte, como: a) a empresa foi devidamente intimada (fls. 09/21); b) o Auto de Infração está acompanhado de anexos explicativos (fls. 03/08 e 24/51); c) apresentação da fundamentação legal da lavratura do Auto de Infração (fls. 03 e 45 ); d) informações para o exercício da defesa (fls. 05/06) e e) ciência da contribuinte (fl. 384). Ou seja, houve, por parte da Autoridade Fiscal, a apresentação das informações necessárias para propiciar à contribuinte uma análise adequada do Auto de Infração, como também exercer o direito à ampla defesa e ao contraditório, como de fato está exercendo no recurso voluntário, como foi na impugnação. Do mesmo modo, notase que Auto de Infração e o Relatório Fiscal permitiram à Recorrente compreender exatamente como foi apurada a base de cálculo para efetuar o lançamento com a discriminação dos fatos geradores, das contribuições devidas, dos períodos a que se referem, além dos acréscimos moratórios e da multa aplicada. Por fim, entendo que a empresa pode até contestar a interpretação dada aos fatos pela Fiscalização, mas é inegável que a Auto de Infração cumpriu os requisitos previstos no art. 10 do Decreto nº 70.235 de 06/03/1972, permitindo à Recorrente o exercício pleno do seu direito à ampla defesa e ao contraditório bem como não houve violação de algum dos requisitos elencados no artigo 59 do mesmo Decreto: Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente: I a qualificação do autuado; II o local, a data e a hora da lavratura; III a descrição do fato; IV a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; V a determinação da exigência e a intimação para cumprila ou impugnála no prazo de trinta dias; VI a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. Art. 59. São nulos: I os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. § 1º A nulidade de qualquer ato só prejudica os posteriores que dele diretamente dependam ou sejam conseqüência. Fl. 540DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 541 11 § 2º Na declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos alcançados, e determinará as providências necessárias ao prosseguimento ou solução do processo. § 3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. (Incluído pela Lei nº 8.748, de 1993) Com base no exposto, rejeitase a preliminar de nulidade arguída pela empresa, bem como entendo que inexistiu ofensa ao direito de defesa da Recorrente. Da Contradição entre as Conclusões da Relatora e a Decisão do Acórdão Proferido Pela DRJ De acordo com as conclusões da relatora proferidas no voto do acórdão nº 1729.470 da DRJ/SPOII, percebese que o dispositivo foi no sentido de reconhecer a decadência em relação as competências 01/2000 a 12/2001, considerando o lançamento procedente em parte, com a exoneração de parte do crédito (fl. 365): Em face de todo o exposto, voto pela procedência em parte do lançamento, com a alteração do valor da multa, conforme discriminado pelo auditorfiscal, resultando na seguinte modificação do valor do crédito tributário: Valor lançado (R$) Valor exonerado (R$) Valor mantido (R$) RS 1.463.436,49 R$ 896.347,30 RS 567.089,10 Entretanto, quando a 10ª Turma da DRJ/SPOII apreciou o caso, proferiu o acórdão mantendo o crédito na integralidade, nos seguintes termos (fl. 485): "Acordam os membros da 10ª Turma de Julgamento, por unanimidade de votos, considerar procedente o lançamento, mantendo o crédito tributário exigido, nos termos do relatório e voto, que integram o presente julgado." que em síntese, assim relatado (fls. 357/365): Diante da contradição entre o acórdão e as conclusões do voto da relatora, entendo que ocorreu erro material, que no meu sentir não prejudica o resultado do julgamento, uma vez que, fica claro que a decisão da relatora foi no sentido de reconhecer a decadência e não iria votar contrariamente quando da apreciação do caso pela Turma. Além disso, observo que a decadência também será objeto de apreciação neste julgamento pelo Colegiado e a contradição registrada entre o texto do acórdão da DRJ/SPOII e as conclusões do voto da Relatora, poderá ser aqui sanada, não necessitando o retorno do processo àquela Unidade para retificar tal erro. Acrescento ainda que nada impede que os autos sejam analisados por este Colegiado, uma vez que se trata de um processo maduro e devidamente instruído, bem como em nome da economia processual e da verdade material, que por analogia, fundamento nos termos do inciso III, § 3º, art. 1.013, da Lei 13.105 de 16 de março de 2015 (CPC). Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. (...) Fl. 541DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 542 12 § 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: (...) III constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgálo; Da Decadência O Supremo Tribunal Federal aprovou a Súmula Vinculante nº 8, de 12 de junho de 2008, publicada no Diário Oficial da União de 20 de junho de 2008, declarando inconstitucionais os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 2008, in verbis: São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decretolei 1569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário. Por força do artigo 146, III, b, da Constituição Federal de 1988, cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre prescrição e decadência tributária. Destarte, aplicamse às contribuições sociais as regras de decadência e prescrição da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, Código Tributário Nacional (CTN), recepcionado pela Constituição Federal com força de lei complementar. Assim, o prazo decadencial para o lançamento de ofício de contribuições sociais é de 5 anos, na forma dos arts. 150, §4º, e 173, inciso I, do CTN. Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. (...) § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considerase homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. (...) Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Fl. 542DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 543 13 Neste aspecto, considerando o fato de que a contribuição previdenciária é um tributo sujeito a lançamento por homologação e, por conseqüência, nos termos do art. 150, § 4º do CTN, caso exista pagamento parcial, o crédito é definitivamente extinto cinco anos a contar da ocorrência do fato gerador. Por outro lado, naquelas competências em que não há o pagamento parcial, o prazo decadencial somente se inicia no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que a contribuição poderia ser lançada. Neste contexto, cabe observar que o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais já se manifestou neste sentido, conforme o teor da súmula nº 99: Súmula nº 99 – Para fins de aplicação da regra decadencial prevista no art. 150, § 4°, do CTN, para as contribuições previdenciárias, caracteriza pagamento antecipado o recolhimento, ainda que parcial, do valor considerado como devido pelo contribuinte na competência do fato gerador a que se referir a autuação, mesmo que não tenha sido incluída, na base de cálculo deste recolhimento, parcela relativa a rubrica especificamente exigida no auto de infração. No presente caso, em consulta ao Relatório de Apropriação de Documentos Apresentados RADA (fls. 37 e 43) constatouse a existência de pagamentos parciais de contribuições nas competências 01 a 09 de 2002. Desse modo, devido ao transcurso do prazo superior cinco anos contado da ocorrência do fato gerador até a data da ciência do débito em 31/10/2007, foi alcançado pela decadência, o crédito consignado nas competências 01 a 09 de 2002 (Códigos de pagamento 2100), consoante o art. 150, §4°, do Código Tributário Nacional (CTN). No tocante as competências 01/2000 a 12/2001, o crédito consignado foi alcançado pela decadência nos termos do art. 173, inciso I, do CTN. Inclusive, a decadência, em relação a estas competências, já foi reconhecida pelo voto da relatora no acórdão proferido pela DRJ/SPOII (fl. 363, item 28) . Contudo, devido a contradição entre as conclusões do voto (fl. 365) e o Acórdão (fl. 357), fazse necessário reconhecer neste julgamento a decadência do referido período 01/2000 a 12/2001, para que se afaste qualquer dúvida quanto ao resultado do julgamento. Da Suspensão da Exigibilidade do Crédito Neste caso, como a empresa contestou o Acórdão da Decisão proferida pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento, conforme recurso voluntário (fls. 385/413), ocorreu a suspensão da exigência do credito tributário nos termos do inciso III, do art. 151, da Lei nº 5.172/66 (CTN). Assim, com a suspensão da exigibilidade do crédito, ora em análise, entendo que foi contemplado o pedido da empresa, enquanto estiver sob recurso administrativo. Da Responsabilidade Solidária No tocante ao pedido da contribuinte, em sede de recurso, para incluir no polo passivo as empresas tomadoras de serviços, não procede, tendo em vista que não é competência do CARF atribuir responsabilidade solidária, sendo que tal atribuição, no âmbito da ação fiscal, se for o caso, caberia a Autoridade lançadora. Fl. 543DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 544 14 Da Representação Fiscal Para Fins Penais A Recorrente, pelas suas razões, pleiteia a suspensão da emissão da Representação Fiscal para Fins Penais. Contudo, cabe esclarecer não compete ao CARF se pronunciar sobre controvérsias referentes a citada representação, no caso, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais já se manifestou uniforme e reiteradamente tendo, inclusive, emitido Súmula de observância obrigatória, a seguir transcrita: Súmula CARF nº 28: O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais. Da Jurisprudência Em relação a jurisprudência apresentada pela empresa, cabe esclarecer que os efeitos das decisões judiciais, conforme art. 503 do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015), somente obrigam as partes envolvidas, uma vez que a sentença judicial tem força de lei nos limites das questões expressamente decididas. Além disso, cabe ao conselheiro do CARF o dever de observância obrigatória de decisões definitivas proferidas pelo STF e STJ, após o trânsito em julgado do recurso afetado para julgamento como representativo da controvérsia. Isto posto, entendo que a jurisprudência apresentada nos autos pela Recorrente não vincula este julgamento na esfera administrativa. Mérito Quanto ao mérito, passo a apreciálo na sequência: Do Lançamento por Aferição Indireta A Recorrente contestou o lançamento argumentando que a técnica implementada pela Auditoria Fiscal para fundamentar o arbitramento da base tributável foi utilizada ao arrepio das disposições legais, que o auto de infração deve ser pautado pelos princípios da legalidade e segurança jurídicas, que não foram respeitados os princípios da liquidez e certeza, reserva legal, prova segura e tipicidade e ainda que o lançamento é duvidoso. Argumentou também que a falta de apresentação das folhas de pagamento, documentos ou mesmo a escrituração contábil e fiscal do período fiscalizado, por si só, não autoriza o fiscal a utilizarse da constituição de crédito tributário como instrumento punitivo, transferindo ao contribuinte o ônus da prova. De plano, observase que os argumentos apresentados pela recorrente na sua essência, além de não merecer acolhida, carece de fundamentação legal para se sustentar. Pois a empresa foi intimada diversas vezes para apresentar seus documentos fiscais, trabalhistas bem como sua escrituração contábil (livros diário e razão e demais documentos) e não os apresentou (fls. 09/21), descumprindo os comandos legais previstos no art. 195 da Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966 (CTN) e no art. 32, III, da Lei nº 8.212 de 24 de julho de 1991, os quais determinam que a empresa está obrigada a prestar todas as informações cadastrais, Fl. 544DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 545 15 financeiras e contábeis na forma da lei, bem como os esclarecimentos necessários à Fiscalização. Por este motivo, o AuditorFiscal aplicou a multa por descumprimento de obrigação acessória por meio do Auto de Infração DEBCAD n° 37.130.0959, exigido em processo próprio, nos termos do § 2º, art. 33, da Lei n.º 8.212/91 (fl. 24, item 1). Assim, ao deixar de atender a Fiscalização, recusando a fornecer as informações, os documentos solicitados e a sua escrituração contábil, a contribuinte praticamente inviabilizou a identificação e a individualização dos elementos sujeitos à verificação do fato gerador das contribuição sociais. Por isso, não restou outra alternativa à auditoria fiscal, senão constituir os créditos tributários por aferição indireta, nos termos do § 3, artigo 33 da Lei nº 8.212/91. Contudo, cabe esclarecer que o lançamento de ofício, por meio da aferição indireta, com fundamento no § 3, artigo 33 da Lei nº 8.212/91, é um procedimento excepcional que se aplica quando o sujeito passivo deixa de apresentar os documentos necessários à fiscalização bem como a sua escrituração contábil, impedindo a apuração regular das contribuições devidas. No mesmo sentido, esclarecese ainda que o lançamento por aferição indireta (arbitramento) é um procedimento juris tantum, sujeito a prova em contrário. Todavia, como pode ser observado nos autos, a Recorrente não apresentou as provas para contestar o lançamento, ficando os seus argumentos desprovidos de qualquer elemento probatório. Além disso, entendo que caberia à contribuinte, caso não concordasse com o procedimento adotado pela fiscalização, apresentar junto com os motivos de fato e de direito que fundamentaram sua pretensão, os documentos que respaldassem suas afirmações, a fim de comprovar o seu pleito, conforme disciplina os dispositivos legais pertinentes à matéria, os artigos 15 e 16 do Decreto nº 70.235/72, Assim, sem apresentar os documentos e os elementos probatórios, o lançamento não pode ser modificado, pois, a modificação do crédito lançado se processa mediante comprovação inequívoca, por meio de documentos hábeis e idôneos, de que o lançamento não foi realizado corretamente. Nesta mesma linha de pensamento, cabe citar o Acórdão nº 2202004.572, proferido pela 2ª Turma Ordinária da 2ª Câmara do CARF, em 03 de julho de 2018, no qual se decidiu como correto a aplicação do arbitramento (aferição indireta) quando o contribuinte recusar ou apresentar elementos deficientes para verificação do fato gerador do tributo: AFERIÇÃO INDIRETA. PRERROGATIVA LEGAL DA AUDITORIA FISCAL. Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou informação, ou sua apresentação deficiente, o Fisco pode, sem prejuízo da penalidade cabível, lançar de ofício a importância que reputar devida, cabendo à empresa ou ao segurado o ônus da prova em contrário. Diante do exposto, rejeitase os argumentos da contribuinte de que o lançamento foi realizado ao arrepio das disposições legais, que não foi pautado pelos princípios Fl. 545DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 546 16 da legalidade, segurança jurídicas, que não foram respeitados os princípios da liquidez e certeza, reserva legal, prova segura e tipicidade e que o lançamento é duvidoso. Da Regularidade dos Procedimentos Para o Lançamento por Aferição Indireta Neste caso, em relação à técnica para realizar a aferição indireta, entendo que compete a Autoridade Fiscal estabelecer procedimentos capazes de verificar a ocorrência dos fatos geradores dentro da realidade da empresa, sem contudo se tornar uma presunção absoluta, cabendo prova ao contrário. Assim, para efeito de apurar a contribuição devida, a Fiscalização utilizou elementos informativos registrados no sistema CNIS Cadastro Nacional de Informações Sociais, RAIS Relação Anual de Informações Sociais, GFIP Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social e Declaração de Imposto de Renda Pessoa Jurídica, que se constituem meio probatório consistente e que foram apresentadas de forma circunstanciada no Relatório da Notificação Fiscal de Lançamento de Débito (fls. 24/44). Diante do exposto, considerase corretos as técnicas e os procedimentos utilizados pela Fiscalização com o objetivo de apurar o quantum devido, por meio de aferição indireta. Assim sendo, rejeitase o argumento da contribuinte de que a técnica implementada pela Auditoria Fiscal foi utilizada ao arrepio das disposições legais e que não foram esgotadas as possibilidades para identificar a base tributável. Do Auto de Infração / Obrigações Acessórias (CFL 68) De acordo com os autos, notase que a Autoridade Tributária constatou que a empresa apresentou as GFIP sem informar os dados correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições previdenciárias, conforme previsto na Lei nº 8.212, de 24/07/91, art. 32, IV e parágrafo 5, acrescentado pela Lei nº 9.528, de 10/12/97, combinado com o art. 225, IV e parágrafo 4º, do Regulamento da Previdência Social RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048/99 (redação vigente à época). Assim, o fato de apresentar as GFIP sem informar os dados correspondentes aos fatos geradores todas as contribuições previdenciárias, configura infração ao disposto no artigo 32, parágrafo 5º, da Lei nº 8.212, de 24/07/91, acrescentados pela Lei nº 9.528, de 10/12/97 e Regulamento da Previdência Social RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 06/05/99, art. 284, inciso II (com a redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 09.06.03) e art. 373. Diante desta constatação, nos termos do art. 293 do Decreto nº 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social RPS), o Auditor Fiscal lavrou o Auto de Infração com a aplicação da multa pelo dispositivo legal infringido. Em sua defesa, a contribuinte não apresentou nenhum elemento capaz de modificar o Auto de Infração lavrado, pelo contrário, apenas reforçou os motivos da aplicação da multa, quando reconheceu que não apresentou a documentação solicitada (fl. 391): Deixamos muito claro que a impugnante não está discutindo o fato do Ilmo. AFRFB ter aplicado o arbitramento dos valores, uma vez que não lhe foram apresentados as folhas de Fl. 546DF CARF MF Processo nº 18108.002166/200711 Acórdão n.º 2202005.248 S2C2T2 Fl. 547 17 pagamento, documentos e livros fiscais e contábeis solicitados, mas sim a forma superficial utilizada na condução do procedimento administrativo destinado à definição da do crédito tributário. Diante do exposto, entendo como correta a aplicação da multa pela infração ao dispositivo legal (CFL 68), por ter apresentando GFIP sem informar os dados correspondentes aos fatos geradores de todas as contribuições previdenciárias. Contudo, fazse necessário recalcular o valor da multa, considerando o reconhecimento da decadência neste processo referente ao período de janeiro de 2000 a setembro de 2002 bem como do resultado do julgamento, nesta sessão, dos processos 18108.002144/200742, 18108.002090/200715, 18108.002132/200718 e 18108.002196/200719, referentes às obrigações principais. Decisão Diante do exposto, voto por dar provimento parcial ao recurso, para que o lançamento seja recalculado considerandose o resultado do julgamento, nesta sessão, dos processos nos 18108.002144/200742, 18108.002090/200715, 18108.002132/200718 e 18108.002196/200719, referentes às obrigações principais. (assinado digitalmente) Rorildo Barbosa Correia Fl. 547DF CARF MF
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