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Numero do processo: 10380.720577/2016-33
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Feb 13 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Mar 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/10/2011 a 31/12/2014
NULIDADE. LANÇAMENTO.
Estando devidamente circunstanciado no lançamento fiscal as razões de fato e de direito que o amparam, e não verificado cerceamento de defesa, carecem motivos para decretação de sua nulidade.
RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO DE SEGURADO EMPREGADO. COMPETÊNCIA DA FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA.
Insere-se no âmbito da competência da autoridade fiscal o reconhecimento da condição de segurado empregado, para fins de incidência de contribuições previdenciárias, não se consubstanciando tal feito em desconsideração de interpostas pessoas jurídicas envolvidas.
PAGAMENTOS A TÍTULO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE SUA NATUREZA.
É necessária a comprovação da existência de efetiva criação intelectual para fins de que os pagamentos realizados a título de contraprestação por cessão de direitos autorais sejam assim reconhecidos, para fins fiscais.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. NÃO CONFIGURAÇÃO.
A imputação de responsabilidade solidária por interesse comum na situação de fato que constitui fatos geradores de contribuições carece de demonstração do benefício concreto, da pessoa jurídica apontada como solidária, decorrente do atuação infringente das normas tributárias, por parte do contribuinte.
MULTA QUALIFICADA. SIMULAÇÃO.
Constatada a interposição meramente formal de pessoas jurídicas com vistas a dissimular os vínculos jurídicos materialmente estabelecidos, e pagamentos a título de cessão de direitos autorais sem o devido respaldo fático, impõe-se a aplicação de multa de ofício qualificada.
Numero da decisão: 2202-004.959
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento integral ao recurso voluntário da Fundação CPqD, afastando sua condição de responsável solidária pelo crédito tributário, e em dar provimento parcial ao recurso voluntário do contribuinte, para excluir da base de cálculo do lançamento os valores associados à pessoa jurídica Ivia Ltda., discriminados na fl. 834 dos autos. Votou pelas conclusões o conselheiro Virgílio Cansino Gil.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, Virgílio Cansino Gil (suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Ausente a conselheira Andrea de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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LANÇAMENTO. Estando devidamente circunstanciado no lançamento fiscal as razões de fato e de direito que o amparam, e não verificado cerceamento de defesa, carecem motivos para decretação de sua nulidade. RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO DE SEGURADO EMPREGADO. COMPETÊNCIA DA FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA. Inserese no âmbito da competência da autoridade fiscal o reconhecimento da condição de segurado empregado, para fins de incidência de contribuições previdenciárias, não se consubstanciando tal feito em desconsideração de interpostas pessoas jurídicas envolvidas. PAGAMENTOS A TÍTULO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE SUA NATUREZA. É necessária a comprovação da existência de efetiva criação intelectual para fins de que os pagamentos realizados a título de contraprestação por cessão de direitos autorais sejam assim reconhecidos, para fins fiscais. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. NÃO CONFIGURAÇÃO. A imputação de responsabilidade solidária por interesse comum na situação de fato que constitui fatos geradores de contribuições carece de demonstração do benefício concreto, da pessoa jurídica apontada como solidária, decorrente do atuação infringente das normas tributárias, por parte do contribuinte. MULTA QUALIFICADA. SIMULAÇÃO. Constatada a interposição meramente formal de pessoas jurídicas com vistas a dissimular os vínculos jurídicos materialmente estabelecidos, e pagamentos AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 38 0. 72 05 77 /2 01 6- 33 Fl. 2503DF CARF MF 2 a título de cessão de direitos autorais sem o devido respaldo fático, impõese a aplicação de multa de ofício qualificada. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento integral ao recurso voluntário da Fundação CPqD, afastando sua condição de responsável solidária pelo crédito tributário, e em dar provimento parcial ao recurso voluntário do contribuinte, para excluir da base de cálculo do lançamento os valores associados à pessoa jurídica Ivia Ltda., discriminados na fl. 834 dos autos. Votou pelas conclusões o conselheiro Virgílio Cansino Gil. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, Virgílio Cansino Gil (suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Ausente a conselheira Andrea de Moraes Chieregatto. Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Brasília (DF) DRJ/BSB, que julgou procedente autos de infração lavrados contra o epigrafado (fls. 02/283), correspondendo a contribuições referentes a segurados e à parte patronal, isto é, contribuição da empresa, do financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa e de outras entidades — terceiros (INCRA, SALÁRIO EDUCAÇÃO, SESI, SENAI e SEBRAE), bem como à multa por descumprimento de obrigação acessória, face à apresentação de GFIP com informações incorretas ou omissas. A decisão de piso assim sintetizou (fls. 2320/2325) o Relatório Fiscal (fls. 92/121): De acordo com o Relatório Fiscal, as situações que constituem os fatos geradores das obrigações principais são as prestações de serviços realizadas por pessoas naturais cujos vínculos trabalhistas foram demonstrados nos itens 4.1 e 4.2. Da Contratação de Serviços Prestados por Pessoas Jurídicas Pela análise dos contratos de prestação de serviços apresentados pela empresa, a fiscalização conclui que embora a prestação de serviço fosse intermediada por uma outra pessoa jurídica, quem o Instituto Atlântico verdadeiramente contratava eram as pessoas naturais que prestavam o serviço e que o objeto do contrato está previsto no contrato firmado entre o Instituto Atlântico e seus clientes, ou seja, as pessoas naturais foram contratadas para desempenhar as mesmas funções que os empregados do Instituto realizam em sua atividade fim. O item 4.1 do Relatório Fiscal relaciona várias informações extraídas dos contratos e de seus anexos, as quais corroboram essas afirmações. Fl. 2504DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.504 3 Além das informações extraídas dos contratos e de seus anexos, foram anexadas comunicações internas do Instituto Atlântico, presentes no mesmo arquivo "Contratos", que comprovam o vínculo empregatício das pessoas naturais com o Instituto Atlântico, essas também listadas no item 4.1 do Relatório Fiscal. Destaca ainda a fiscalização que, além disso, todas as pessoas naturais que foram remuneradas por pessoas jurídicas trabalhavam na atividade fim da empresa e que é vedada à terceirização na atividade fim de uma empresa, segundo Súmula 331 do TST, além de desenvolverem as atividades previstas nos contratos que o Instituto Atlântico celebrou com seus clientes. Segue o esclarecendo que não desconsiderou a existência das pessoas jurídicas relacionadas no Relatório Fiscal (documento “PF por PJ”), apenas considerou que elas foram usadas para dissimular o real vínculo empregatício que o Instituto Atlântico mantinha com as pessoas naturais prestadoras dos serviços. O documento "PF por PJ" demonstra os beneficiários de cada uma das pessoas jurídicas citadas, enquanto que consulta nos sistemas informatizados da Receita Federal do Brasil (GFIPWEB, Portal DIPJ, Portal IRPF e Portal DIRF) demonstram que os profissionais citados não eram empregados nem sócios das empresas para as quais prestaram serviços. Este documento foi elaborado pelo próprio contribuinte e continha algumas omissões, estas omissões foram completadas com informações provenientes das notas fiscais emitidas. Foi constatado, nos casos nos quais mais de uma pessoa é relacionada como prestador do serviço que essas pessoas não mantêm nenhum tipo de vínculo com a pessoa jurídica contratada, ou seja, não são empregados, tampouco sócios das empresas, demonstrando que seu vínculo se dá na verdade diretamente com o Instituto Atlântico, sendo usada uma ou mais pessoas jurídicas contratadas apenas para disfarçar a verdadeira relação. Ainda conforme o relato fiscal, muitas destas pessoas foram remuneradas por mais de uma empresa em diferentes meses em um curto período de tempo, não mantendo vínculo com nenhuma delas. Em outros casos, a empresa somente foi utilizada até que o profissional pudesse abrir uma empresa em seu próprio nome. Esta alta rotatividade de empregadores, aliada ao fato de prestarem serviços sempre ao mesmo tomador demonstra que este é o verdadeiro empregador. Da Contratação de Pessoas Naturais através de Cessão de Direitos Autorais Também foi constatado pela fiscalização, pelo exame da contabilidade da empresa e dos contratos de cessão de direitos autorais e outros documentos apresentados, que a empresa mantinha a contratação de pessoas naturais através de Cessão de Direitos AutoraisCDA. Informa o relato fiscal que os cargos e as funções que várias pessoas que recebiam através de contratos de cessão de direitos autorais desempenhavam no Instituto Atlântico são incompatíveis com essa forma de remuneração, seja porque representam o Instituto Atlântico perante terceiros, seja por assumirem funções de direção, chefia, gerência ou liderança, demonstrando que o real vínculo é estabelecido entre o Instituto Atlântico e as pessoas naturais relacionadas no item 4.2 do Relatório Fiscal. Segue acrescentando que isso vem confirmar que todas essas pessoas, tanto aquelas que foram contratadas somente na modalidade de cessão de Fl. 2505DF CARF MF 4 direitos autorais, quanto àquelas que também possuíam vínculo empregatício, são empregadas da empresa e suas remunerações são fatos geradores de contribuições previdenciárias. Analisando as Atas de Reunião de Diretoria, a fiscalização verificou que o Instituto Atlântico tinha o objetivo de reduzir seus encargos, através da adoção de cesta flexível de benefícios e remuneração por cessão de direitos autorais CDA. Na exposição realizada, foram sugeridas "formas alternativas de remuneração", entre elas a "CLT Flex: modalidade mais utilizada é 30% na carteira e 70% “por fora” e "CDA modelo de Cessão de Direitos Autorais é dissociado do contrato de trabalho e tem validade de 5 anos". Esclarece que a expressão CLT Flex é conhecido jargão do mundo jurídico e constitui, de forma resumida, no pagamento de parte dos salários sob a forma de utilidades ou de uma maneira mais clara, "por fora". Neste tipo de contratação as empresas "dividem parte do salário 'por dentro' (CLT) e o restante entre benefícios, como alimentação, vestuário, moradia, educação, assistência médica, reembolso transporte, direitos autorais, propriedade intelectual etc. é pago” por fora “. Adverte que "a contratação flex é apenas uma entre as várias fraudes utilizadas atualmente para fugir das imposições legais e direitos dos trabalhadores, como exigir que o colaborador emita notas como PJ (pessoa jurídica), se associe a uma cooperativa ou, ainda, que emita RPA (Recibo de Pagamento a Autônomo), por exemplo. Afirma que restou claramente caracterizada a contratações de pessoas naturais como prestadores de serviços Pessoas Jurídicas (PJ) e por meio de cessão de direitos autorais (CDA), sendo que esses prestadores de serviços (PJ e CDA) são de fato empregados da empresa. Conclui a autoridade lançadora que estas foram as práticas elisivas adotadas pela empresa. Essas constatações irregulares levam à conclusão de que o Instituto Atlântico agiu de forma premeditada e estava ciente da real natureza das contratações realizadas e sua única motivação foi financeira, visando unicamente à redução de seus custos, independentemente da adequação da forma com a realidade fática. Dos Fatos Geradores Lançados Constituem fatos geradores as remunerações pagas às pessoas naturais intermediadas por pessoas jurídicas (PJ) e as remunerações pagas a pessoas naturais através de cessão de direitos autorais (CDA), no estabelecimento matriz e na filial 0003. A fiscalização demonstrou nos subitens 4.1 e 4.2 do Relatório Fiscal que se tratam de remunerações pagas a empregados. Os Anexos I, II e III detalham os beneficiários, suas remunerações e as contribuições a cargo dos próprios segurados. Para as competências de 03/2012 a 07/2013, as contribuições apuradas foram apenas às previstas na Lei 8.212/1991, artigos 20 e 22, inciso II e as destinadas a outras entidades ou fundos, uma vez que as contribuições previstas no art. 22, I da Lei 8.212/1991 foram substituídas pelas contribuições previstas no art. 7° da Lei 12.546/2011, nesse período. Para o período de 01/2011 a 02/2012 e de 08/2013 a 12/2014, as contribuições apuradas foram às previstas na Lei 8.212/1991, artigos 20 e 22, incisos I e II, assim como as destinadas a outras entidades ou fundos. Do Reenquadramento do CNAE Fl. 2506DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.505 5 A fiscalização efetuou o reenquadramento do Instituto Atlântico no CNAE correto da empresa, qual seja: CNAE 62.015/00 Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda. O Instituto Atlântico utilizou em seu cadastro junto à Receita Federal do Brasil o CNAE "72.10000 Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais", condizente com o seu Estatuto Social. Também foi utilizado este CNAE no preenchimento da GFIP. Todavia, analisando os contratos firmados entre o Instituto Atlântico e seus clientes, restou comprovado que a atividade majoritariamente desenvolvida pelo Instituto Atlântico e na qual estão empregados quase todos os seus profissionais é a produção de programas de computador sob encomenda, assim como manutenção e aplicação de testes sob os mesmos, cujo fato restou demonstrado nos diversos contratos anexados pela fiscalização, aos autos. Da Substituição das Contribuições Previdenciárias A empresa teve as contribuições previdenciárias previstas no art. 22, incisos I e III da Lei 8.212/1991 substituídas pela contribuição incidente sobre a receita bruta total, à alíquota de 2,5%, de 03/2012 a 06/2012, e de 2,0%, de 07/2012 em diante, de acordo com o art. 7°, I da Lei 12.546/2011. Pela análise do SPED Contribuições da empresa e sua DCTF, a fiscalização verificou que o Instituto Atlântico agiu de acordo com a lei somente até julho de 2013, considerandose submetida à substituição tributária prevista na Lei 12.546/2011. Contudo, segundo a memória de cálculo das contribuições incidentes sobre a receita bruta e a DCTF da empresa, esta deixou de informar em DCTF e de recolher em DARF parte destas contribuições, consoante detalhado no item 7.2 do Relatório Fiscal. Da Apresentação de GFIP com Informações Incorretas A empresa informou incorretamente o campo CNAE na GFIP de todos os estabelecimentos em todas as competências, conforme relatado no item 5 do Relatório Fiscal. Também o FAP foi informado erroneamente na GFIP em todos os estabelecimentos como "1", quando o correto seria "0,5", de 01/2011 a 02/2013. Além destes erros, a empresa preencheu incorretamente os campos relativos à compensação indevida no período de 12/2011 a 02/2012: valor solicitado, valor compensado, valor a compensar, competência inicial da compensação e competência final da compensação. Em decorrência dessa infração, foi aplicada a multa no valor de R$ 500,00 por cada competência (valor mínimo). Como os erros foram observados em todas as 48 competências, a multa totalizou R$ 24.000,00. Da Multa de Ofício Qualificada A multa de ofício foi duplicada (150%) na forma prevista no art. 44, §1° da Lei n° 9.430/1996, em virtude da conduta dolosa da empresa, na figura de seu superintendente que, autorizado por seu Presidente e Diretores, propôs a adoção da chamada "CLT Flex", bem assim como pela contratação de pessoal por meio de Fl. 2507DF CARF MF 6 cessão de direitos autoraisCDA, quando os fatos demonstraram que se tratam de pessoas naturais com vínculos empregatícios, fatos estes que se amoldam perfeitamente na definição de fraude prevista no art. 72 da Lei n° 4.502/1964. Da Responsabilidade Solidária Tributária A fiscalização atribuiu à Fundação CPqD, CNPJ 02.641.663/000110 responsabilidade solidária pelos créditos constituídos no presente lançamento, com base art. 124, I do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172, de 1966). Tal responsabilidade decorreu da caracterização da existência de interesse comum nos casos nos quais a Fundação CPqD foi contratada juntamente com o Instituto Atlântico, tendo em vista que ambas as empresas conjugaram esforços (mãodeobra) para a execução dos serviços, conforme relatado no item 9 do Relatório Fiscal. Conforme relato fiscal, foi constatado que existe verdadeira confusão entre as duas empresas, além dos membros da diretoria e superintendente possuírem vínculo com ambas empresas, várias propostas comerciais foram assinadas por pessoas que não são ligadas ao Instituto Atlântico e fornecem email de contato da Fundação CPqD, além do que a contratação de prestadores de serviço conta com a participação do CPqD, e as reuniões da assembleia geral e da diretoria são realizadas no domicílio do CPqD, além de outros fatos relatados no Relatório fiscal. As situações que constituem os fatos geradores das obrigações principais são as prestações de serviços realizadas por pessoas naturais cujos vínculos trabalhistas foram caracterizados nos itens 4.1 e 4.2 do Relatório Fiscal. Demonstrada a existência de interesse comum na situação que constitui o fato gerador das contribuições previdenciárias, atraise a norma do art. 124, I do Código Tributário Nacional, razão pela qual a Fundação CPqD tornase responsável solidária pelos créditos constituídos no presente processo. O recorrente e a responsável solidária Fundação CPqD Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações apresentaram impugnações (fls. 2190/2244 e 2247/2281, respectivamente), porém a exigência foi mantida no julgamento de primeiro grau (fls. 2318/361). O contribuinte interpôs recurso voluntário (fls. 2401/2430) em 20/10/2016, reiterando as alegações da impugnação, que sintetiza da seguinte maneira: a) Presença de vício quanto ao motivo do ato administrativo de lançamento, pois não se observaram todos os elementos conformadores do art.142 do CTN, notadamente a descrição do fato gerador e a determinação da matéria tributável, considerandose que a autoridade administrativa fiscal sequer juntou os elementos probatórios suficientes à demonstração da caracterização do ilícito. b) A inexistência de "pejotização". A regular contratação de empresas prestadoras de serviços. c) Esclarecimentos sobre cessão de direitos autorais (CDA). Peculiaridades do setor em que o contribuinte atua. Procedimento regular. d) O descabimento da alegada necessidade de reenquadramento do CNAE, além da não apresentação de GFIP com informações corretas. e) Em ad argumantandum tantum, tratouse sobre o despropósito da multa qualificada, sobretudo pela falta de comprovação de dolo. Fl. 2508DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.506 7 f) A inexistência de responsabilidade solidária entre o Instituto Atlântico e a Fundação CPq D. Além disso, aduziu terem sido ignoradas razões de impugnação pela decisão a quo, havendo violação aos princípios da ampla defesa, do contraditório e da não surpresa, considerando a fundamentação daquela omissa e genérica quanto à "pejotização", à contratação das prestadoras de serviços, à cessão de direitos autorais, às peculiaridades do setor, à apresentação de GFIPs com informações incorretas, à multa qualificada e à responsabilidade solidária. Irresignase, ainda, com relação ao indeferimento da perícia e ao que entende ser a não aplicação de precedentes, pleiteando, ao final, a reforma do julgado de modo a desconstituir o crédito tributário. Já a responsável solidária postou seu recurso voluntário (fls. 2450/2462) em 27/10/2016, defendendo que ela não pertence ao mesmo grupo econômico que o autuado, havendo mera parceria entre ambos em algumas vendas e que não há provas do interesse comum na situação configuradora de fato gerador. Por seu turno, a PGFN apresentou suas contrarrazões às fls. 2469/2499. É o relatório. Voto Conselheiro Ronnie Soares Anderson, Relator O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. No que tange ao entendimento de que as razões de impugnação foram ignoradas pela decisão de primeira instância, não prospera a inconformidade do recorrente. O contribuinte imputa à decisão, bem como ao lançamento, uma série de adjetivos que evidenciariam estarem eles imbuídos de inaceitável nível de generalismo, sustentando que não foram analisados seus argumentos a contento. Não obstante, como verseá ao longo desta fundamentação, as peças eivadas de "generalismos" com as quais se defronta nestes autos são na verdade de lavra do recorrente, ou seja, sua impugnação e recurso voluntário. Com efeito, o acórdão contestado abordou todas as principais questões levantadas na impugnação, ou seja, a nulidade do lançamento, a irregular contratação de serviços prestados por pessoas jurídicas, a análise individualizada da presença de relação de emprego, a existência de simulação, a cessão de direitos autorais, o reenquadramento do CNAE, o descumprimento de obrigação acessória, a existência de responsabilidade solidária, a qualificação da multa e os efeitos da jurisprudência. Eventual irresignação do autuado quanto à avaliação das provas constantes no processo, ou com a suficiência dessas provas para alcançar as conclusões do Fisco, é nítida e incontestavelmente matéria de mérito, em nada se confundindo com matéria de nulidade. Fl. 2509DF CARF MF 8 Ademais, o julgador não está obrigado a refutar, um a um, todos os argumentos deduzidos pelo recorrente, basta apreciar com clareza, ainda que de forma sucinta, as questões essenciais e suficientes ao julgamento, conforme jurisprudência consolidada nas Cortes Superiores (EDcl no AgRg no REsp nº 1.338.133/MG, REsp nº 1.264.897/PE, AgRg no Ag 1.299.462/AL, EDcl no REsp nº 811.416/SP). Anotese que tal posicionamento não foi alterado com o advento do CPC/2015, consoante precedentes daquele sodalício, tais como os EDcl no REsp nº 1.322.791/DF (j. 15/12/2016). Melhor sorte não favorece aos argumentos de que o auto de infração conteria nulidade, por "inobservância dos pressupostos intrínsecos do lançamento". Ora, não é apontado qual dos elementos do procedimento administrativo do lançamento, delineados no art. 142 do CTN ocorrência do fato gerador, apuração da matéria tributável, cálculo do montante devido, identificação do sujeito passivo que teria sido não devidamente caracterizado, tampouco denotado descumprimento dos requisitos formais constantes dos arts. 10 e 11 do Decreto nº 70.235/72. De fato, o foco das alegações vertidas pelo recorrente contra a autuação parece ser similar ao contido em seu arrazoado questionando o acórdão da DRJ, ou seja, o de que o enfrentamento do caso concreto foi genérico. Reiterese, mais uma vez, que tal gênero de linha argumentativa, a aventar sutilmente a insuficiência de prova ou das razões de convencimento, diz respeito à questão de fundo, não se consubstanciando em nulidade. Ademais, compulsando os autos, e frente às milhares de páginas de elementos de prova carreados no curso do procedimento fiscal e o detalhado relatório fiscal de fls. 92/121, fica deveras difícil concluir que dito procedimento padece de generalidade tal a ponto de dar azo a declaração de sua nulidade. Impende registrar, como remate, que não se vislumbra na espécie qualquer das hipóteses ensejadoras da decretação de nulidade do lançamento consignadas no art. 59 do Decreto nº 70.235/72, havendo sido todos os atos do procedimento lavrados por autoridade competente, sem qualquer prejuízo ao direito de defesa do contribuinte, o qual recorre evidenciando pleno conhecimento das exigências que lhe são imputadas. Superando as questões de nulidade, tenho que os tópicos de mérito relativos à irregular contratação de serviços prestados por pessoas jurídicas, e à cessão de direitos autorais foram muito bem enfrentados no julgamento a quo, e, não divergindo das razões lá ventiladas, transcrevo, em sua essência, os respectivos trechos da fundamentação, de modo a que integrem este voto, devendo ser ressalvado, que, ao final, serão feitas observações adicionais sobre o caso em apreço, por parte deste relator: Da Irregular Contratação de Serviços Prestados por Pessoas Jurídicas. O contribuinte nega a existência de pejotização e afirma que foi regular a contratação de empresas prestadoras de serviços. Sustenta que o lançamento fundou se em situação fáticojurídica inexistente, quais sejam: a existência de segurados empregados prestando serviços, de forma fraudulenta, como se pessoas jurídicas fossem. O cerne da autuação consistiu na desqualificação de negócios jurídicos firmados pelo autuado com pessoas jurídicas regularmente constituídas (prestação de Fl. 2510DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.507 9 serviços). De acordo com o relato fiscal, tais negócios constituem autêntica relação de emprego, na forma do art. 12, inciso I, da Lei n° 8.212/91, impondose a incidência imperativa das normas previdenciárias. A fiscalização constatou, da análise dos contratos de prestação de serviços, notas fiscais e esclarecimentos prestados pela empresa autuada e pelos prestadores, a existência de relação de emprego entre o contribuinte e os profissionais que lhe prestaram serviços por meio dessas empresas contratadas. Observou que os serviços prestados são inerentes à atividade fim da empresa contratante e que, em muitos casos, as contratadas prestaram serviços exclusivamente ao contribuinte. Além dos empregados registrados no próprio Instituto Atlântico, este apresentou diversos prestadores de serviço contratados através de outras pessoas jurídicas (PJ), e prestadores de serviços cuja contratação se deu através de "Contrato de Cessão de Direitos Autorais de Obras Futuras” (CDA). A chamada "Pejotizacão" é um artifício jurídico utilizado por certos empregadores, que exigem do empregado à constituição de uma pessoa jurídica, a fim de alterar a natureza do contrato e, assim, exonerarse dos encargos fiscais e previdenciários, bem como dos direitos inerentes às relações empregatícias. O artigo 9° da CLT dispõe que serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na legislação trabalhista. Extraise do Relatório Fiscal que, pela análise dos contratos de prestação de serviços apresentados pela impugnante no decorrer do procedimento fiscal, a fiscalização constatou que, na verdade os contratos eram feitos com as pessoas naturais. Vejase excerto do Relatório Fiscal: (...) Embora o contrato previsse que o objeto da contratação estaria descrito e caracterizado no próprio contrato, em uma seção chamada de "Adendo", observase que esta seção também é idêntica entre todos os contratados, e informa apenas que "o objetivo da prestação de serviço é o Apoio Operacional para o desenvolvimento de sistemas pela CONTRATADA à CONTRATANTE, para atendimento do CLIENTE CONTRATANTE, de acordo com as especializações profissionais descritas no item II deste Adendo". Vale esclarecer que o item II do Adendo não descreve nada do serviço, porém apresenta duas importantes informações: o preço do serviço por hora, e a mais importante, o prestador do serviço, que é quase sempre o mesmo durante toda a prestação. Os documentos intitulados "Adendos I", "Adendos II", "Adendos III" e "Adendos IV" foram extraídos dos contratos firmados e comprovam o que alegamos. (...) Diante dessas informações, cabe concluir que embora a prestação de serviço fosse intermediada por uma outra pessoa jurídica, quem o Instituto Atlântico verdadeiramente contratava eram as pessoas naturais que prestavam o serviço e que a atividade fim é objeto do contrato firmado entre o Instituto Atlântico e seus clientes. Fl. 2511DF CARF MF 10 O que a fiscalização constatou foi que pessoas naturais foram contratadas para desempenhar as mesmas funções que os empregados do Instituto realizam em sua atividade fim. Algumas informações presentes nos contratos foram citadas pela fiscalização e corroboram esta conclusão, conforme excerto do Refisc: (...) os documentos elaborados quando do reajuste dos contratos se referiam ao prestador pelo nome da pessoa natural e sua matrícula e não pelo nome da pessoa jurídica, além do que a justificativa para o reajuste se referia a qualidades pessoais do prestador e não da empresa. Documento intitulado "Alteração da Situação PJ" comprova o alegado; os contratos mais antigos previam o pagamento de horasextras benefício restrito aos empregados. O documento "HE em contratos de PJ" comprova este fato; condições de segurança e jornada diária de trabalho contratualmente idênticas às dos empregados do Instituto, fato demonstrado pelo documento "Condições de Trabalho" em anexo. (...) O Instituto Atlântico alega que a fiscalização fez menção genérica às relações jurídicas mantidas pelo contribuinte, sem qualquer análise individual e casuística dos contratos firmados. Ao contrário do que afirma o impugnante, o Relatório Fiscal (item 4.1) demonstra a análise individualizada de cada uma das empresas contratadas e dos respectivos beneficiários pessoas naturais. Vejamse excertos do Relatório Fiscal: (...) Outra importante informação pode ser observada justamente nos casos nos quais mais de uma pessoa é relacionada como prestador do serviço: estas pessoas não mantêm nenhum tipo de vínculo com a pessoa jurídica contratada, ou seja, não são empregados, tampouco sócios das empresas, demonstrando que seu vínculo se dá na verdade diretamente com o Instituto Atlântico, sendo usada uma ou mais pessoas jurídicas contratadas apenas para disfarçar a verdadeira relação. E mais, muitas destas pessoas foram remuneradas por mais de uma empresa em diferentes meses em um curto período de tempo, não mantendo vínculo com nenhuma delas. Em outros casos, a empresa somente foi utilizada até que o profissional pudesse abrir uma empresa em seu próprio nome. Esta alta rotatividade de empregadores, aliada ao fato de prestarem serviços sempre ao mesmo tomador demonstra que este é o verdadeiro empregador. Os fatos a seguir demonstram o alegado: a empresa A.J.Ferreira foi utilizada para remunerar o senhor Aurindo Jorge Ferreira de 01/2011 a 12/2014. Porém em 06/2012, a senhora Vanessa Alexandra da Silva foi remunerada por esta empresa sem nunca ter sido sócia dela ou sua empregada. Mais ainda, em 03/2013, a empresa remunerou os senhores Rondineli Moura Machado e Vandewilly Oliveira da Silva, senhores estes que nunca foram nem empregados nem sócios da A.J.Ferreira. O mais interessante é que estes dois senhores no mês seguinte passaram a ser remunerados por suas próprias empresas, suas homônimas e criadas justamente em 18/03/2013 e 04/03/2013, respectivamente. Disto se conclui que estes senhores já trabalhavam para o Instituto Atlântico, mas para evitar a incidência de tributos previdenciários e trabalhistas, foi Fl. 2512DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.508 11 utilizada uma pessoa jurídica encobrir o real vínculo, contudo, como as suas próprias empresas ainda não estavam regulares, eles foram remunerados durante o primeiro mês por outra pessoa jurídica. (...) O senhor Alexander Pimentel de Lima foi remunerado pela empresa Alleasy Consultoria em Informática até 01/2013, mesmo sem possuir vínculo com ela, quando passou a ser remunerado por sua própria empresa a AZPL Consultoria em TI, criada em 16/10/2012. Já o senhor Raphael Mendes de Oliveira foi remunerado pela Alleasy até 09/2012, mesmo sem possuir vínculo com a empresa, e a partir de 10/2012 passou a ser remunerado através de sua recém criada empresa (17/09/2012) hômonima (…)O senhor Jeferson Mendes Lopes recebeu em 03/2011 e 04/2011 pela empresa APPIS.com mesmo sem possuir vínculo com a mesma, passando a receber a partir de 05/2011 por empresa de sua titularidade, chamada JML Sys Serviços de Informática, constituída em 30/03/2011. (...)A senhora Maria Lidalva Daniel Barbosa foi remunerada pela empresa Tecnocuca Informática de 09/2012 a 03/2013 e em 06/2013, mesmo sem possuir vínculo com esta empresa. Passou a receber pela empresa Techminds de 04/2013 a 03/2014, empresa da qual é sócia desde 08/03/2013. (...) Assim, resta demonstrado que as empresas, assim como os beneficiários encontramse todos identificados no item 4.1 do relatório fiscal e na planilha denominada “PF por PJ” anexa aos autos. O documento "PF por PJ" demonstra os beneficiários de cada uma das pessoas jurídicas citadas, enquanto que consulta nos sistemas informatizados da Receita Federal do Brasil (GFIPWEB, Portal DIPJ, Portal IRPF e Portal DIRF) demonstram que os profissionais citados não eram empregados nem sócios das empresas para as quais prestaram serviços. Este documento foi elaborado pelo próprio contribuinte e continha algumas omissões, estas omissões foram completadas com informações provenientes das notas fiscais emitidas, de acordo com informações extraídas do Relatório Fiscal. No caso da empresa IVIA, questionado na defesa, verificase que a fiscalização relacionou na planilha “PF por PJ” cada pessoa física beneficiária da empresa IVIA na prestação de serviços de desenvolvimento de software, indicando os nomes e os respectivos valores. Sem razão à impugnante em seus argumentos. Outro questionamento do Instituto Atlântico consiste na alegação de que o agente fiscal acusou a presença de seguradosempregados sem demonstrar, com clareza e de forma individualizada, a presença dos requisitos exigidos pela legislação de regência para que tal figura seja identificada. Examinando o Refisc, verificase que além das informações extraídas dos contratos e de seus anexos, foram anexadas comunicações internas do Instituto Atlântico, destacandose: (...) analisando a relação de destinatários dos benefícios mantidos pelo Instituto Atlântico aos seus empregados, foram encontrados os Fl. 2513DF CARF MF 12 nomes de diversas pessoas que não mantinham vínculo com o mesmo e eram remuneradas por outras pessoas jurídicas: o senhor Alexander Molinari Teixeira foi reembolsado pela participação em curso em 04/2013, quando teria sido remunerado pela empresa Dados Transporte e Serviços; a senhora Aline Chaves Freitas foi reembolsada pela participação em curso em 06/2014, quando teria sido remunerada pela empresa Techminds; o senhor Amaurilo Santos da Silva foi reembolsado por despesas realizadas devido a deslocamento a serviço em 02/2012, sendo sempre tratado por seu nome e chamado de colaborador, nunca se referindo à empresa da qual ele era titular, a Appis.com; a senhora Ana Sofia Cysneiros Marçal foi reembolsada por despesas realizadas em 06/2012, sendo sempre tratada por seu nome e chamada de colaboradora, nunca se referindo à empresa da qual ela era titular, a Softi Consultoria. Além disto, foi beneficiada com o pagamento de curso; o senhor Arthur Landim Carvalho Costa foi beneficiado com o reembolso de telefone celular em 02/2011, quando era titular da empresa A.L.C Costa; o senhor Aurindo Jorge Ferreira teve custeada sua viagem a serviço em 12/2011, sendo sempre tratado por seu nome e chamado de funcionário, nunca se referindo à empresa da qual ele era titular, a A.J.Ferreira; o senhor Edson Ricardo de Andrade Silva foi beneficiado com o reembolso de telefone celular em 10/2011, quando era titular da empresa Edson Ricardo de Andrade Silva; o Instituto Atlântico pagou telefones celulares para as empresas L.K. Lima Carvalho, A.L.C Costa, Factory Technologies; o senhor Filipe Bastos Machado foi beneficiado com o reembolso de telefone celular em 03/2011, quando era titular da empresa M&M Tecnologia; a senhora Germana Gladys Marques de Almeida teve custeada sua viagem a serviço em 12/2011, sendo sempre tratada por seu nome e chamada de funcionário, nunca se referindo à empresa da qual ele era titular, a Germana Gladys Marques de Almeida. Além disto, esta senhora teve o pagamento de hospedagem e de telefonia celular efetuado pelo Instituto Atlântico; o senhor Gilson Roberto Sousa Moura foi beneficiado com o reembolso de cursos, com seguro de vida, planos de saúde e odontológico, previdência privada (SISTEL) quando teria sido remunerado pela empresa Soft Work; o senhor Hildenilson Andrade Albano teve custeada sua viagem a serviço em 12/2011, sendo sempre tratado por seu nome e chamado de funcionário, nunca se referindo à empresa da qual ele era titular, a HS Informática; o senhor José Lobo de Brito Junior teve custeada sua viagem a serviço em 03/2011, sendo sempre tratado por seu nome e chamado de funcionário, nunca se referindo à empresa da qual era sócio, a Think Works; Fl. 2514DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.509 13 a senhora Juliane Castro Oliveira foi beneficiada com o reembolso de curso em 03/2012, com planos de saúde e odontológico, previdência privada (SISTEL) quando teria sido remunerada pela empresa Soft Work; a senhora Luísa Karinne Lima Carvalho foi beneficiada com pagamento de celular, custeio de viagens, custeio de treinamentos, plano odontológico mesmo sendo titular da empresa Tech Solutions. Além disto, o Instituto Atlântico reconhece o pagamento de alimentação durante "horário extra de trabalho"; Como prova dessas alegações, foram anexados pela fiscalização os comprovantes fornecidos pela empresa com os gastos relativos a plano de saúde, plano odontológico, seguro de vida, previdência privada, telefonia móvel, fornecimento de cursos e treinamentos e os diversos reembolsos de viagens. Ademais, os cargos e as funções que várias pessoas que teriam recebido por outras pessoas jurídicas desempenhavam no Instituto Atlântico são incompatíveis com a terceirização, seja por demonstrarem que representam o Instituto Atlântico perante terceiros, seja por assumirem funções de direção, chefia, gerência ou liderança, demonstrando que o real vínculo é estabelecido entre o Instituto Atlântico e as pessoas naturais. Os fatos citados demonstram vínculo direto de subordinação, caso em que haverá relação de emprego com o contratante (Instituto Atlântico), servindo as empresas contratadas de mero disfarce na tentativa de afastar a vinculação empregatícia. Diante disso, temse que os negócios praticados pelo Instituto Atlântico constituem autêntica relação de emprego, na forma do art. 12, inciso I, da Lei n° 8.212/91, impondose a incidência imperativa das normas previdenciárias. De acordo com o art. 142 do Código Tributário Nacional, compete à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível, dispondo seu parágrafo único que a atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Da análise dos fatos apresentados, verificase a existência de uma simulação no procedimento de terceirização adotado pela autuada em relação às empresas apontadas no REFISC. (...) Na definição de Clóvis Beviláqua, a simulação é uma declaração enganosa da vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado (Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado – 15ª Edição). O Código Civil Brasileiro de 2002 traz, no § 1o, do art. 167, as hipóteses em que fica configurada a ocorrência de simulação: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: Fl. 2515DF CARF MF 14 I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós datados E, conforme demonstrado nos autos, a situação verificada pela auditoria fiscal se enquadra perfeitamente no dispositivo legal antes transcrito. Segundo Orlando Gomes, ocorre simulação quando em um negócio jurídico se verifica intencional divergência entre a vontade real e a vontade declarada, com o fim de enganar terceiro (Introdução ao Estudo do Direito – 7ª Edição). A teor do art. 118, inciso I do CTN, a definição legal do fato gerador é interpretada abstraindose da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Em respeito ao Princípio da Verdade Material e pelo poderdever de buscar o ato efetivamente praticado pelas partes, a Administração, ao verificar a ocorrência de simulação, pode superar o negócio jurídico simulado para aplicar a lei tributária aos verdadeiros participantes do negócio. A desconsideração de atos jurídicos não é ato privativo do Poder Judiciário. Esse é o entendimento fixado na jurisprudência do Conselho de Contribuintes e de nossos tribunais, conforme julgados cujos trechos transcrevo abaixo: (...) Restou demonstrado, pela fiscalização, que as contratações utilizados pela impugnante apontadas no Relatório Fiscal e seus anexos, tinham por objetivo simular negócio jurídico, no qual a intenção das partes é uma, a forma jurídica adotada é outra. A fiscalização discorre, em seu relatório fiscal, sobre cada empresa prestadora, apontando os motivos pelos quais entendeu que houve simulação na forma da prestação dos serviços. Observase, nos contratos firmados, a existência de cláusula que garante ao contratado utilizarse das instalações do contratante para a execução dos serviços, inclusive arquivos, telefones, material de consumo, hardware e softwares, por exemplo. Os fatos narrados pela autoridade lançadora reforçam a convicção de que a impugnante se utilizou de empresa interposta para atingir seus objetivos, pois não é crível que ela cederia suas instalações, sem qualquer ônus, para uma empresa independente. Em muitos casos o serviço é prestado exclusivamente à impugnante, conforme comprovam as notas fiscais sequenciais e em alguns contratos não consta o valor dos serviços a serem prestados. Já em outros consta o valor fixo, a ser pago mensalmente. Demonstra o relatório fiscal que as pessoas naturais relacionadas no REFISC, eram beneficiadas com reembolsos de cursos, seguro de vida, planos de saúde e odontológico, previdência privada (SISTEL) com pagamentos de celulares, custeio de viagens, custeio de treinamentos, pagamentos de horas extras, dentre outros. Fl. 2516DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.510 15 A autuada não nega essas constatações fiscais, apenas se defende tentando demonstrar que a terceirização é lícita. Entretanto, o que foi constatado na ação fiscal foi uma simulação nos serviços de terceirização, e isso não é lícito, não encontrando amparo legal. A simulação, no caso em apreço, está clara quando muitos dos sócios das empresas contratadas já trabalham para a contratante como empregados, prestam serviços exclusivos à impugnante, utilizandose das instalações da contratante, para executar serviços relacionados com a atividade fim da autuada. (...) Cabe concluir, portanto, que as pessoas físicas que prestaram serviços à autuada por meio de pessoas jurídicas interpostas são segurados empregados do Instituto Atlântico. O inconformismo da impugnante não procede, já que restou comprovado que os empresários das empresas citadas são, na verdade, empregados da autuada. Restou comprovada, nos autos, a ocorrência de todos os requisitos necessários para a caracterização da relação de emprego, exigidos pelo art. 12, I, "a" da Lei n º 8.212/91 c/c art. 9º, I, "a", do RPS, aprovado pelo Decreto n º 3.048/99, quais sejam, a nãoeventualidade (habitualidade), a remuneração e a subordinação. Assim, verificada a ocorrência dos requisitos da relação de emprego, agiu a fiscalização em conformidade com ditames legais e enquadrou corretamente os trabalhadores na categoria de segurado empregado para efeitos da legislação previdenciária. Nas relações trabalhistas deve prevalecer a situação fática e não a incorretamente formalizada: o denominado princípio da primazia da realidade sobre a forma. Por esse princípio a realidade fática prevalece sobre qualquer instrumento formal utilizado para documentar o contrato, pois as circunstâncias e o cotidiano na relação empregatícia podem ser diversas daquilo que ficou documentado, podendo por isso gerar mais obrigações e direitos entre as partes. A essência do ato jurídico é o fato e não a forma. (...) Da Cessão de Direitos Autorais – CDA Acerca da cessão de direitos autorais, alega o contribuinte que o procedimento foi regular e que a fiscalização não observou as particularidades do setor em que o contribuinte atua. A legislação aplicável aos direitos autorais permite expressamente que empregado e empregador, ou pessoas que não mantenham tal vínculo, entabulem contratos dessa natureza, inexistindo qualquer dúvida quanto à sua legalidade. A lei que regulamenta a propriedade intelectual dos programas de computadores (Lei 9609/98), em seu artigo 4° dispõe: Salvo estipulação em contrário, pertencerão exclusivamente ao empregador, contratante de serviços ou órgão público, os direitos relativos ao programa de computador, desenvolvido e elaborado durante a vigência de contrato ou de vinculo estatutário, expressamente destinado à pesquisa e desenvolvimento, ou em que a atividade do empregado, Fl. 2517DF CARF MF 16 contratado de serviço ou servidor seja prevista, ou ainda, que decorra da própria natureza dos encargos concernentes a esses vínculos. Assim, se um empregado foi contratado por uma empresa com a função de desenvolver um software e usou de ferramentas, conhecimento, tecnologia dessa empresa, não teria direito algum sobre os programas desenvolvidos em suas atividades na empresa. Entendese que a sua remuneração já é tida como a retribuição pelo trabalho prestado. A propriedade intelectual somente será do empregado quando ele desenvolver um projeto que não tenha ligação com o contrato de trabalho, utilizando recursos próprios. Há que se dizer, então, que pertence à empresa contratante os direitos autorais relativos aos softwares desenvolvidos por seus empregados, contratados ou não para a função de programador, desde que usando recursos da empresa contratante. Caso contrário, se a criação do empregado não tiver vinculo algum com a empresa que o contratou, a propriedade intelectual será do criador. No caso de empresas especializadas na criação e desenvolvimento de softwares o assunto tem que ser tratado já na contratação, com a elaboração de um claro e objetivo contrato de trabalho, que observe as peculiaridades da atividade. (...) Contudo, em um caso ou no outro, é necessária a demonstração da existência de uma obra realizada, que sua realização não se desenvolveu no âmbito do contrato de trabalho, ou seja, que as atribuições do contrato de trabalho são diferentes das necessárias ao desenvolvimento da obra e que a remuneração está intrinsecamente ligada à obra realizada. Analisando os contratos de cessão de direitos autorais e outros documentos, a fiscalização demonstrou que todas as pessoas envolvidas no lançamento, tanto aquelas que foram contratadas somente nesta modalidade, quanto àquelas que também possuíam vínculo empregatício, são empregadas da empresa e suas remunerações são fatos geradores de contribuições previdenciárias, como segue: existem dois tipos de contrato: o primeiro, que previa o pagamento da remuneração de acordo com a produção de cada pessoa e o segundo no qual a remuneração mensal era uniforme. Embora houvesse esta diferença formal, na essência os contratos eram iguais, pois na verdade não havia nenhuma prestação de contas, além do que a remuneração era uniforme ao longo da prestação, independente da produção supostamente realizada. Além do que todos os contratos são iguais em sua essência, demonstrando que todas as pessoas estão em situações idênticas; observouse na planilha "obras_cda_2011_2014", elaborada pela própria empresa, que diversas pessoas com as quais a empresa firmou contrato de CDA trabalharam simultaneamente em diversos projetos, contudo, sua remuneração foi sempre uniforme e vinculada a apenas um dos projetos, demonstrando que a remuneração era fixa e não dependia da produção realizada, mas do serviço prestado, característica da remuneração dos empregados; comparandose as duas planilhas elaboradas pela empresa, "obras_cda_2011_2014" e "alocações", a primeira informando a remuneração de cada CDA e o projeto no qual trabalhou por mês, e a segunda informando as horas alocadas a cada CDA por Fl. 2518DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.511 17 projeto, percebese que a remuneração de todos eles foi uniforme, não havendo prestação de contas da produção realizada, demonstrando que apenas importou se o serviço foi ou não prestado, característica dos contratos empregatícios; consoante demonstra o arquivo elaborado pela empresa "obras_cda_2011_2014", com exceção dos senhores Antônio Afonso Lolegi Junior, Débora Lopes dos Santos, Érika da Silva Lhamas, Mônica Becari Pelegrini das Chagas, Róbson Domingos Carneiro e Róbson Moura, todos as demais pessoas trabalhavam nos projetos dos clientes do Instituto Atlântico, desempenhando funções e ocupando cargos típicos de seus empregados e na atividade fim da empresa; mesmo as pessoas antes citadas, desempenhavam funções e ocupavam cargos típicos dos empregados, com a única diferença de que trabalhavam desenvolvendo projetos a serem usados na área administrativa do próprio Atlântico, mas mesmo assim se tratava de atividade própria dos empregados e dentro das competências para as quais foram contratados; observase que diversos profissionais foram contratados com o projeto já em andamento, ao passo que outros tiveram seus contratos encerrados antes da conclusão do projeto demonstrando que o que fora contratado não foi uma obra, mas apenas o serviço; Além destes fatos, os cargos e as funções que várias pessoas que recebiam através de contratos de cessão de direitos autorais desempenhavam no Instituto Atlântico são incompatíveis com esta forma de remuneração, seja porque representam o Instituto Atlântico perante terceiros, seja por assumirem funções de direção, chefia, gerência ou liderança, demonstrando que o real vínculo é estabelecido entre o Instituto Atlântico e as pessoas naturais. As pessoas citadas no Relatório Fiscal desempenhavam funções e ocupavam cargos típicos dos empregados, com a única diferença de que trabalhavam desenvolvendo projetos a serem usados na área administrativa do próprio Atlântico, mas mesmo assim se tratava de atividade própria dos empregados e dentro das competências para as quais foram contratados. A fiscalização verificou, ainda, que diversos profissionais foram contratados com o projeto já em andamento, ao passo que outros tiveram seus contratos encerrados antes da conclusão do projeto, demonstrando que o que fora contratado não foi uma obra, mas apenas o serviço; que a própria empresa confundiuse diversas vezes, ora remunerando as pessoas através de CDA, ora através de PJ, mas sempre exercendo as mesmas funções e ocupando os mesmos cargos, demonstrando que o vínculo é sempre o mesmo, o de empregado. Além do que, no caso sob exame, não restou comprovada a existência de obra realizada pelas pessoas naturais contratadas mediante CDA. Ainda, de acordo com o Relatório fiscal, analisando os objetos de criação relacionados pela empresa, a fiscalização verificou que todos se encontram nas atribuições e competências relativas ao contrato de trabalho e são idênticas aos objetos contratados pelo Instituto Atlântico com seus clientes. Vejamse excertos do Relatório fiscal: Fl. 2519DF CARF MF 18 Analisando as Atas de Reunião de Diretoria, mais precisamente a 3a Reunião da Diretoria do Ano de 2009, realizada nos dias 10 e 11 de agosto de 2009, percebese claramente que o Instituto Atlântico tinha o objetivo de reduzir seus encargos, através da adoção de "cesta flexível de benefícios e remuneração por cessão de direitos autorais". Segundo a agenda da reunião, tal assunto seria discutido na gestão de RH: CDA e modelos flexíveis de remuneração “. Na exposição realizada, foram “sugeridas”formas alternativas de remuneração", entre elas a "CLT Flex: modalidade mais utilizada é 30% na carteira e 70% 'por fora'" e "CDA modelo de Cessão de Direitos Autorais é dissociado do contrato de trabalho e tem validade de 5 anos". A expressão CLT Flex é conhecido jargão do mundo jurídico e constitui, de forma resumida, no pagamento de parte dos salários sob a forma de utilidades ou, de uma maneira mais clara, "por fora". Artigo publicado na revista Exame ("Artigo Exame") estabelece que neste tipo de contratação as empresas "dividem parte do salário 'por dentro' (CLT) e o restante entre benefícios, como alimentação, vestuário, moradia, educação, assistência médica, reembolso transporte, direitos autorais, propriedade intelectual etc. é pago por fora". Este mesmo artigo adverte que "a contratação flex é apenas uma entre as várias fraudes utilizadas atualmente para fugir das imposições legais e direitos dos trabalhadores, como exigir que o colaborador emita notas como PJ (pessoa jurídica), se associe a uma cooperativa ou, ainda, que emita RPA, por exemplo". Estas foram práticas elisivas adotadas pelo Instituto Atlântico. Do exposto, percebese que o Instituto Atlântico agiu de forma premeditada e estava ciente da real natureza das contratações realizadas e sua única motivação foi financeira, visando unicamente à redução de seus custos, independentemente da adequação da forma com a realidade. Vejamse excertos do Relatório Fiscal: (...)Analisando primeiramente os ensinamentos de Godinho, percebese claramente a existência de subordinação jurídica entre o Instituto Atlântico e seus prestadores de serviços CDA e PJ através de suas três manifestações: a clássica pode ser verificada na análise do organograma da empresa e nas funções desempenhadas pelas pessoas naturais. Todas elas desempenhavam funções (desde analistas, programadores, engenheiros, arquitetos de software, designers) alocadas a determinados projetos os quais sempre eram administrados por gerentes, aos quais obrigatoriamente se reportavam. Conforme visto, vários destes prestadores eram eles próprios os gerentes técnicos ou mesmo gerentes dos projetos, apresentando superioridade hierárquica aos outros prestadores e a muitos empregados; a manifestação objetiva é identificada nas atividades desenvolvidas por cada um de seus prestadores, todas dentro das atividadesfim da empresa, colaborando decisivamente para a consecução de seus objetivos institucionais; já a manifestação estrutural é identificada na segregação funcional que cada prestador tinha, desempenhando dentro de cada projeto um papel bem definido e vinculado à dinâmica operativa da atividade do tomador de serviços. Fl. 2520DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.512 19 Dessa forma, entendemos que os serviços prestados (CDA e PJ) foram realizados por empregados da empresa e todos se encontram nas atribuições e competências relativas ao contrato de trabalho e são idênticas aos objetos contratados pelo Instituto Atlântico com seus clientes, de modo que toda retribuição pelos serviços prestados integra o salário e constitui base de cálculo das contribuições destinadas à Seguridade Social. Todos os rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, via de regra, são considerados salários de contribuição, somente ficando afastada a incidência de contribuições nas hipóteses previstas no parágrafo 9º do artigo 28 da Lei 8.212/91. Uma vez presentes os requisitos da relação de emprego (pessoalidade, subordinação, não eventualidade, onerosidade (art. 12, inciso I, alínea “a”, da Lei 8.212/1991, e artigos 2º e 3º da CLT), a remuneração pelos serviços prestados constituise em base de cálculo das contribuições destinadas à Seguridade Social). A análise supra é cuidadosa e revela a superficialidade das repetidas qualificações de generalidade tanto do lançamento, com relação ao qual foram acima transcritos trechos demonstrando o detalhamento da ação fiscal, quanto da decisão atacada, articulada e bem fundamentada, como visto. Impende observar que o principal mote ao qual o contribuinte parece aterse, é, na realidade, a compreensão de que a fiscalização deveria ter efetuado análise individualizada e pormenorizada, por prestador de serviço, da existência de vínculo empregatício. A respeito, cabe esclarecer ser amplamente aceita na jurisprudência administrativa, como técnica usual de análise de ampla quantidade de informações por parte da fiscalização, a metodologia da amostragem, pela qual são selecionados grupos com vistas a delinear as características de um conjunto maior, vide, ilustrativamente, os Acórdãos de nos 20177693 (j. 16/06/2004), 110100.008 (j. 11/03/2009), 330200079 (j. 132/08/2009), 1801 00.413 (j. 14/12/2010), 1402000.462 (j. 25/02/2012) e 1803000.915 (j. 26/06/2011). Desse modo, ainda que o Fisco tivesse coletado as informações relativas a apenas uma parte das pessoas físicas que foram pagas via pessoas jurídicas interpostas, ou tivessem recebido verbas a título de cessão de direitos autorais, isso por si só não seria motivo suficiente a macular suas conclusões, se coerentes, representativas e não contestadas de modo hábil pelo autuado. Porém o que se verifica no particular é que sequer de amostragem se trata. De fato, foram reunidos amplos e sólidos elementos probatórios, todos consistentes em corroborar a percepção dos fatos tal como apreendida pela autoridade fazendária. Nessa senda, basta compulsar os autos para verificar a presença, dentre outros, dos seguintes documentos comprobatórios de pagamentos efetuados pelo autuado, relativos a pessoas físicas reconhecidas como seus empregados: pagamentos de despesas odontológicas fls. 787 e ss; listagem de reembolso de mestrados, cursos de aperfeiçoamento, etc. fls. 1008 e ss; reembolsos de despesas de viagem fls. 1021 e ss; seguro coletivo fls. 1095 e ss; planos de telefonia, fls. 1112 e ss. Fl. 2521DF CARF MF 20 Por sua vez, várias das pessoas físicas que, em tese ou formalmente, seriam titulares ou colaboradoras de pessoas jurídicas prestadoras de serviços, divulgavam nas redes sociais e em seus currículos Lattes possuírem vínculo laboral efetivo com o recorrente (ver fls. 403 e ss). Sintomática, aliás, é a correspondência eletrônica colacionada à fl. 677, direcionada a funcionário da empresa autuada, que exemplifica a prática simulatória por ela adotada para furtarse ao cumprimento dos encargos sociais, trabalhistas e tributários: (...) Conforme solicitado, abri uma empresa (Softwork) apenas para cadastrar os colaboradores do Ia, como sócios, atendendo todas as nossas necessidades legais [sic]. Com isso tive de obedecer todos os trâmites legais junto aos órgãos para liberação de talão de nota fiscal. (...) Estou terminando toda a documentação da Softwork, para que você tenha uma empresa "chave" onde possa contar e ficar despreocupado em suas futuras contratações. Ou seja, confessadamente, a abertura da empresa foi destituída de intento negocial, visando apenas cadastrar pessoas físicas empregadas e ocupantes de cargo gerencial do recorrente como "sócios" de pessoas jurídicas aparentes. Tal exemplo é apenas um dentre outros tantos, presentes na documentação carreada pela fiscalização, da conduta sistemática do recorrente quanto à política remuneratória e fiscal. Abrase parênteses para afastar a incidência do art. 129 da Lei nº 11.196/05, pois esta, consoante reiteradas decisões judiciais e precedentes administrativos ver, exemplificativamente, TST, AIRR 98161.2010.5.10.0006 (j. 29/10/2012) , e CARF, Acórdãos nº 2401003.146 (j. 13/08/2013) e nº 2402005.270 (j. 11/05/2016) sujeita o prestador de serviços intelectuais à legislação fiscal aplicável às pessoas jurídicas, tãosomente quando a pessoa física que passa a exerce atividade do gênero sob aquele manto o faz não apenas sob o ponto de vista formal, como simulacro, mas sim materialmente, com autonomia que a distingue, de maneira incisiva, da relação de cunho laboral, o que não se verifica no particular, de acordo com o já exposto. E deve ser reforçado que a possibilidade de prestação desse gênero de serviços via pessoas jurídicas encontra limites na observância do princípio da primazia da realidade, segundo o qual deve ser priorizada a verdade material observada no contexto das prestação de serviços, e não os seus aspectos formais. Nesse sentido, impõe trazer à colação a redação do parágrafo único do art. 129 da Lei nº 11.196/05, e respectivos motivos para o veto: Parágrafo único.O disposto neste artigo não se aplica quando configurada relação de emprego entre o prestador de serviço e a pessoa jurídica contratante, em virtude de sentença judicial definitiva decorrente de reclamação trabalhista. Razões do veto Fl. 2522DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.513 21 O parágrafo único do dispositivo em comento ressalva da regra estabelecida no caput a hipótese de ficar configurada relação de emprego entre o prestador de serviço e a pessoa jurídica contratante, em virtude de sentença judicial definitiva decorrente de reclamação trabalhista. Entretanto, as legislações tributária e previdenciária, para incidirem sobre o fato gerador o cominado em lei, independem da existência de relação trabalhista entre o tomador do serviço e o prestador do serviço. Ademais, a condicionante da ocorrência do fato gerador à existência de sentença judicial trabalhista definitiva não atende ao princípio da razoabilidade. Vêse então que a verificação da realidade material da relação jurídica regrada formalmente pela norma em evidência não carece de exame do poder judicante para ser submetida aos ditames da legislação tributária, bem como à análise das autoridades fazendárias competentes, estas com base no art. 142 do Código Tributário Nacional (CTN), no art. 2º da Lei nº 11.457/07, e no § 2º do art. 229 do Decreto nº 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social RPS), o qual regra que "Se o Auditor Fiscal da Previdência Social constatar que o segurado contratado como contribuinte individual, trabalhador avulso, ou sob qualquer outra denominação, preenche as condições referidas no inciso I do caput do art. 9º, deverá desconsiderar o vínculo pactuado e efetuar o enquadramento como segurado empregado". Mencionese sobre tal competência, por oportuno, as sucessivas decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ), tais como as prolatadas nos REsp de nos 236.279, 515.521, 575.086 e 894.571/SP, restando então claro não haver falar, no particular, de necessidade de desconsideração da pessoa jurídica. Não é demasiado lembrar, ainda, que em caso de constatação de fraudes nas relações trabalhistas, o art. 9º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) regra que são nulos de pleno direito os atos praticados para viabilizálos, havendo, por outra via, amparo normativo no inciso VII do art. 149 do CTN para a imputação do gravame tributário nessas situações. Inexiste, em decorrência, qualquer mácula na ação fiscal no que tange à competência para o reconhecimento, seja da existência de relações jurídicas aptas a atrair a incidência das contribuições previdenciárias, seja de eventual fraude envolvendo tais relações. Noutro giro, causa espécie que, a despeito das várias dezenas de pessoas jurídicas caracterizadas minuciosamente como veículos para terceirização da prestação de serviços por pessoas físicas diretamente ao autuado (ver fls. 97/101 do Relatório Fiscal), ele apeguese, com o mínimo de qualidade, unicamente ao caso da empresa Ivia Ltda., mediante o qual busca apontar pretensos erros na análise da fiscalização. Com esse objetivo, cingese a colacionar em seu recurso informações do sítio dessa empresa na internet, a qual, aparentemente, possui outros clientes e atua no mercado há certo tempo. Cumpre esclarecer que foram considerados como componentes da base de cálculo de contribuições previdenciárias apenas três pagamentos a tal empresa (fl. 834), sendo que dois deles associados a Emanuel Santos Lima, pessoa não citada no Relatório Fiscal, e um a Antônio Heinz, o qual, conforme esse documento, foi remunerado por outras pessoas jurídicas, sem ter nenhum vínculo com elas. Fl. 2523DF CARF MF 22 Sem embargo, consulta ao dito sítio da empresa IVIA na internet (www.ivia.com.br), efetuada em 26/09/2018, dá respaldo às alegações do autuado no sentido de que se trata de empresa formalizada e ativa no mercado de informática desde 1996, sendo difícil com esteio em apenas três pagamentos, e à míngua de comprovação adicional devidamente circunstanciada nos autos, vinculálos à pagamento laboral por parte do recorrente. Cabe então, excluir tais pagamentos, com relação aos quais o recorrente trouxe elementos, ainda que indiciários, de equívoco na imputação fiscal. Fazse isso, contudo, sem que resulte tal feito em sombra de dúvida sobre o lançamento em sua parcela amplamente majoritária, pois, como já enfatizado, está bem amparado nas provas constantes do processo. Quanto às empresas Tecnocuca e Techminds, citadas de passagem na peça recursal, temse como bem caracterizada a sua utilização como empresas de fachada para acobertar o verdadeiro vínculo com o tomador de serviço, conforme elucida o seguinte trecho do relatório fiscal (fl. 94): as empresas Tecnocuca e Techminds foram utilizadas sucessiva e alternadamente para remunerar as seguintes pessoas: Aline Chaves Freitas, David Bandeira de Melo, Francisco Raphael Bezerra Ribeiro, Francisco Thiago de Araújo Costa Mota, Guilherme Leite Amaral Falcão, Joaquim Pedro Matias Neto, Jocélio Otávio Araújo da Cunha, Maria Lidalva Daniel Barbosa, Paulo Pessoa de Carvalho Filho. Enquanto a Tecnocuca foi utilizada até 03/2013 e exatamente em 06/2013, a Techminds foi utilizada em 04/2013, 05/2013 e a partir de 07/2013, fato cuja estranheza salta aos olhos, se não vejamos: um grupo, não apenas uma pessoa, trabalha em uma determinada empresa, este grupo passa a trabalhar em outra empresa nos dois meses seguintes, no terceiro mês, retorna à empresa original, para a partir do quarto voltar à segunda empresa. E o mais curioso, sempre prestando serviços para o mesmo tomador. Para nós está claro que este grupo na verdade trabalha para o tomador do serviço, sendo as duas empresas prestadoras utilizadas para encobrir os vínculos verdadeiros; Vejase a respeito, também, as explicações contidas às fls. 98/99 do precitado relatório, e os pagamentos discriminados às fls. 860/867, tudo em consonância com o modus operandi do recorrente amplamente descrito pela autoridade fiscal. Nesse diapasão, e voltando o foco para as pretensas cessões de direitos autorais, é preciso destacar que não foi apresentada pelo epigrafado qualquer evidência de que as pessoas físicas destinatárias de pagamentos a tal título tenham desenvolvido criação intelectual sistema ou código fonte de programa de computador, dada a atividade da empresa que os justificasse. Vale lembrar que, nos termos da legislação aplicável, pertencem exclusivamente ao empregador os direitos relativos ao software desenvolvido e elaborado no curso da vigência do contrato de trabalho, com recursos, equipamentos e suporte de informações tecnológicas daquele. E, ainda que haja estipulação contratual em sentido diverso, frisese que, sendo situação que foge ao padrão no âmbito de empresas que atuam na área de informática, deve estar bem circunstanciada a existência efetiva da criação ou aprimoramento intelectual a embasar os direitos autorais pagos, sob pena de sobressair o caráter remuneratório. E repitase, o contribuinte não traz prova de qualquer cunho apta respaldar o entendimento de que teriam havido criações do gênero, apenas ilações, digase agora, assaz genéricas. Fl. 2524DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.514 23 O que se conclui é que não seria difícil ao recorrente fazer prova de suas alegações, seja juntando aos autos elementos mínimos de prova das criações intelectuais dos beneficiários de pagamentos de direitos autorais, seja demonstrando, de modo circunstanciado, eventuais equívocos argumentativos ou nas valorações dos documentos levados a efeito pela fiscalização quanto à condição de segurados empregados, sendo que aquela, repitase, devidamente analisou, de modo específico e detalhado, o caso concreto. No tocante ao tema enquadramento do CNAE, não foi trazida adução específica no recurso voluntário, só mera remissão a ter sido impugnado tal aspecto do procedimento fiscal. Desse modo, apenas por cautela, cabe referir que são abundantes as provas constantes nos autos, tais como contratos do recorrente com terceiras pessoas jurídicas (fls. 1302 e ss, 1454 e ss), natureza do trabalho desenvolvido pelos contratados, e até mesmo publicações internas da própria empresa (fls. 388 e ss), a corroborar o entendimento de que seu real CNAE em nada guarda similaridade com o declarado em GFIP (72.10000 Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais), mas sim com o de nº 62.015/00 Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda. Daí, correto o procedimento da fiscalização realizando o correspondente reenquadramento. Não prospera também, a irresignação do autuado quanto à multa por descumprimento de obrigação acessória, tendo em vista a apresentação de GFIP com informações incorretas. Poderia ter ele evidenciado erro nos cálculos da fiscalização, porém resumiu se a lançar dúvidas sobre a análise da GFIP pelo Fisco a qual concluiu haver CNAE, FAPs e compensações incorretas em todos os meses sem qualquer detalhamento, parecendo esquecer se que, na medida em que o lançamento foi amparado nas GFIP por ele entregues, teria toda a facilidade de demonstrar a correção das informações prestadas nesse documento, e contestar eficazmente a autuação. Mais uma vez, entretanto, quedouse inerte em providência do gênero. Quanto ao cálculo, parece ter dificuldade em compreender que o valor mínimo de multa aplicada, de R$ 500,00, é associado a cada GFIP com incorreções, forte no art. 32A, inciso I, c/c o § 3º, inciso II da Lei de Custeio. As GFIPs são transmitidas mensalmente, então se o período sujeito ao lançamento abrange 48 meses, como é o caso, e em todos eles se verificaram incorreções, como constatado pela fiscalização e não contestado habilmente pelo recorrente, a multa consequente alcança o total de R$ 24.000,00. Sem reparos, portanto, o lançamento relativo à multa por descumprimento de obrigação acessória. Na mesma trilha, há que se reconhecer ter sido bem aplicada a qualificação da multa de ofício. A fiscalização logrou demonstrar ter sido conduta deliberada da empresa conforme, dentre outros variados elementos de prova, ata de reunião de diretoria e correspondências eletrônicas constantes nos autos mascarar a existência de relação de emprego perante as pessoas físicas, por meio de empresas interpostas, nas quais aquelas constavam formalmente como sócios ou empregados. E, curiosamente, na espécie, haviam casos em que as pessoas que tinham vínculo material de natureza empregatícia com o Fl. 2525DF CARF MF 24 recorrente, mas acabavam por ser remuneradas por várias pessoas jurídicas sequencialmente, sequer mantendo liame formalizado com elas. Isso, sem falar no procedimento também intencional de efetuar pagamentos a título de direitos autorais, sem qualquer respaldo fático para tanto, com vistas a diminuir a parcela remuneratória sobre a qual incidiriam as contribuições previdenciárias. Observese que, por se tratar de conduta objetivando dissimular os vínculos efetivamente estabelecidos, os elementos de prova, ainda que indiciários e há elementos de natureza mais contundente na espécie, que reste registrado devem ser avaliados em seu conjunto, o qual corrobora as conclusões da autoridade lançadora. Assim, constatada a divergência entre os atos jurídicos formais praticados e os fatos realmente ocorridos, há que se reconhecer a existência de simulação com intuito de fraudar as relações de trabalho e obstar o conhecimento do fisco do fato gerador das precitadas contribuições. Prevalece, por conseguinte, o convencimento de que o recorrente incidiu em fraude, nos termos delineados no art. 72 da Lei nº 4.502/64. Justificada, então, a qualificação da multa de ofício levada a efeito no lançamento. dado o disposto no art. 44 da Lei nº 9.430/96 Já no que concerne à responsabilização solidária da Fundação CPqD, entendo assistir razão aos recorrentes. É inegável que a fiscalização se esmerou em buscar elementos com vistas a fortalecer a convicção de que a mencionada fundação teria interesse comum na situação de fato que constitui os fatos geradores das obrigações, objetivando dar supedâneo à aplicação do art. 124, inciso I, do CTN, afirmando que "as decisões estratégicas e executivas são tomadas por empregados da Fundação CPqD, ainda que neste último caso os seus contratos estejam suspensos", "existe verdadeira confusão entre as empresas, conforme visto, além dos membros da diretoria e superintendente possuírem vínculo com ambas as empresas", etc. Além disso, ressaltou haver o desenvolvimento de contratos em conjunto/parceria pelas mencionadas empresas, tais como os acertados com a CAESB, CHESF, ISBAN, OI, etc. Contudo, deixou de mencionar que em vários dos contratos estabelecidos entre o Instituto Atlântico e seus tomadores de serviço (fls. 1302 e ss), não há qualquer referência à mencionada fundação, devendo ser ressaltado que eventual participação em grupo econômico, de fato ou de direito comum, não foi suporte normativo para a imputação de responsabilidade solidária no lançamento. Vide nesse sentido, os contratos firmados com o Banco Fibra S/A., Toyota Leasing do Brasil S/A., LG Eletronics do Brasil, Gnatus Equipamentos MédicoOdontológicos Ltda., etc. Cabe admitirse que as empresas estão ligados por laços históricos, que aparentemente atuam de maneira estratégica em conjunto, mas além de não estarem vinculadas formalmente, o interesse econômico comum na dissimulação da relação de emprego com os terceirizados não se vislumbra nesses casos bem caracterizado, na medida em que não há ou melhor, não restou suficientemente demonstrado benefícios mais concretos ou diretos desse procedimento da autuada, nas atividades ou mesmo no incremento do patrimônio da fundação. Nessa esteira, tenho que a imputação da responsabilidade solidária de maneira ampla, tal como levada a efeito pela fiscalização, não reflete de maneira adequada o conjunto de provas contidas nos autos, motivo pelo qual deve ser afastada. Fl. 2526DF CARF MF Processo nº 10380.720577/201633 Acórdão n.º 2202004.959 S2C2T2 Fl. 2.515 25 Necessário explicar ainda que este Colegiado observa os arts. 62 e 72 do Anexo II do RICARF para fins de vinculação a eventuais precedentes, sejam eles administrativos ou judiciais, salvo, é claro, a existência de decisões provenientes da seara judicante, envolvendo as mesmas partes e aplicáveis à controvérsia específica analisada nos autos. Como fecho, deve ser anotado que a rejeição do pedido de realização de diligência e/ou perícia foi devidamente fundamentada pela DRJ, consoante se depreende da leitura do tópico correspondente à fl. 2359/2360. Despicienda de todo, aliás, a realização de diligência, pois os elementos de prova constantes nos autos são suficientes o bastante para a adequada compreensão da lide por parte do julgador, incidindo, no caso, o comando do caput do art. 18 do Decreto nº 70.235/72 E, no que se refere especificamente ao pedido de perícia, para cogitarse de seu acatamento, ele requer, dado o disposto no art. 16, inciso IV, § 1º do Decreto nº 70.235/72, a indicação do endereço e qualificação profissional do perito por parte do recorrente, o que não se verificou. Ante o exposto, voto por dar provimento integral ao recurso voluntário da Fundação CPqD, afastando sua condição de responsável solidária pelo crédito tributário, e por dar provimento parcial ao recurso voluntário do contribuinte, para excluir da base de cálculo do lançamento os valores associados à pessoa jurídica Ivia Ltda., discriminados na fl. 834 dos autos. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 2527DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10920.907489/2012-66
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Feb 14 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Apr 12 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2008
DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. IRRF. ONUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO.
A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona-se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor.
Numero da decisão: 2202-005.002
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
RONNIE SOARES ANDERSON - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente).
Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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IRRF. ONUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO. A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 0. 90 74 89 /2 01 2- 66 Fl. 103DF CARF MF Processo nº 10920.907489/201266 Acórdão n.º 2202005.002 S2C2T2 Fl. 3 2 Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "Tratase de recurso voluntário interposto contra Acórdão de Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Florianópolis / SC – DRJ/FNS, que considerou improcedente, por unanimidade de votos, manifestação de inconformidade do contribuinte em face de Despacho Decisório eletrônico que não homologou compensação informada em PER/DCOMP. 2. A seguir reproduzse o relatório do Acórdão da DRJ/FNS , o qual retrata adequadamente os fatos ocorridos. Relatório (...) Por intermédio de DESPACHO DECISÓRIO eletrônico a autoridade administrativa assim se manifestou: "Diante da inexistência do crédito, INDEFIRO o Pedido de Restituição. Enquadramento legal: Art. 165 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (CTN)." A Contribuinte – em sua contestação – alega ter efetuado “pagamento indevido ou a maior”, em recolhimento operado com o código de arrecadação 0481 – JUROS E COMISSÕES EM GERAL. Diz que, desde sua fundação, em 2000, “foi obtendo de sua sócia majoritária italiana, remessas para sua ampliação, os quais foram sendo tratados como dívida em aberto e com incidência de juros, sem prefixação de data para devolução do principal e juros incidentes.”. Mais adiante afirma que os valores devidos foram convertidos em “aumento de capital da sociedade Marcegaglia do Brasil Ltda.” Aduz que o Banco Central do Brasil exigiu a prova do pagamento do imposto de renda na fonte incidente sobre remessas ao exterior, nos termos do art. 9º da Lei nº 4.131, de 3 de setembro de 1962: Fl. 104DF CARF MF Processo nº 10920.907489/201266 Acórdão n.º 2202005.002 S2C2T2 Fl. 4 3 Art. 9º As pessoas físicas e jurídicas que desejarem fazer transferências para o exterior a título de lucros, dividendos, juros, amortizações, royalties assistência técnica científica, administrativa e semelhantes, deverão submeter aos órgãos competentes da SUMOC e da Divisão do Impôsto sôbre a Renda, os contratos e documentos que forem considerados necessários para justificar a remessa.(Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)(Vide Decreto nº § 1º As remessas para o exterior dependem do registro da emprêsa na SUMOC e d eprova de pagamento do impôsto de renda que fôr devido.(Renumerado pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) (...) § 3º No caso previsto pelo parágrafo anterior, as transferências sempre dependerão de prova de quitação do Impôsto de Renda.(Incluído pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) Diz que operou o recolhimento do IRRF “sem questionar a existência ou não do fato gerador para a incidência da tributação do imposto de renda, na espécie, são: ‘as remessas para o exterior’.” Entende que, se não houve remessa ao exterior, em razão de haver sido convertida em capital a dívida então existente, não há fato gerador do referido tributo. Em razão disso requer o reconhecimento do indébito e o deferimento de “ressarcimento” dos valores pagos. 3. A DRJ/FNS considerou improcedente a Manifestação de Inconformidade, nos termos da Ementa da decisão abaixo transcrita: IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. FATO GERADOR. OCORRÊNCIA. A conversão dos juros de empréstimos em participação no capital social de empresa brasileira por pessoa jurídica com sede no exterior constitui fato gerador do IRRF, art. 702 do RIR/99, na medida em que configura quitação da dívida por compensação de maneira equivalente, o que também pode ser definido como pagamento 4. Destaquemse também alguns trechos relevantes do voto do Acórdão proferido pela DRJ/FNS: (...) De início, para esclarecimento, é bom que se diga que o Despacho Decisório eletrônico considerou a inexistência do crédito em razão de haver a vinculação na DCTF, do pagamento com o respectivo débito. (...) Quanto a este fato – exigência do Banco Central do Brasil – da prova do pagamento do IRRF, é prevista no art. 880, do Regulamento do Imposto de Renda, Decreto nº 3.000, de 1999: Fl. 105DF CARF MF Processo nº 10920.907489/201266 Acórdão n.º 2202005.002 S2C2T2 Fl. 5 4 Art.880. O Banco Central do Brasil não autorizará qualquer remessa de rendimentos para fora do País, sem a prova de pagamento do imposto (DecretoLei nº5.844, de 1943, art. 125, parágrafo único, alínea "c", e Lei nº4.595, de 31 de dezembro de 1964, art. 57, parágrafo único). Parágrafo único.Nos casos de isenção, dispensa ou não incidência do referido tributo deverá ser apresentada declaração que comprove tal fato. Como se vê, o parágrafo único vem relativizar tal exigência, autorizando a entrega de declaração que comprove a isenção, dispensa ou não incidência. Não há nos autos prova de apresentação de tal declaração ao BCB. (...) Ocorre que em 19 de junho de 2008, em reunião na sede da quotista majoritária, Marcegaglia S.p.A, na cidade de Gazoldo Degli Ippoliti – Itália, restou decidido que os empréstimos então concedidos seriam convertidos em participação societária. A Contribuinte entende que em não havendo remessa – dos juros – ao exterior não teria ocorrido hipótese de incidência do IRRF, pois, subentende que a remessa ao exterior é elementar da hipótese de incidência, e, portanto, razão pela qual não teria emergido o fato gerador. Em análise ao texto legal que veicula a norma de incidência tributária em questão, há que se discordar da Impugnante: Art. 702. Estão sujeitas à incidência do imposto na fonte, à alíquota de quinze por cento, as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior, por fonte situada no País, a título de juros, comissões, descontos, despesas financeiras e assemelhadas. Primeiro registro a fazer referese à multiplicidade de ações que o legislador empregou para expressar a tipicidade tributária. Percebese que a remessa ao exterior é uma das hipóteses. Pagar, creditar, entregar ou empregar importâncias ao exterior, a título de juros, também constituem fatos imponíveis da obrigação tributária em exame. Portanto, em conformidade com o art. 702 do RIR/99, o imposto deve ser retido por ocasião do pagamento,crédito, entrega, emprego ou remessa, desses fatos, o que ocorrer primeiro. (...) Pagar juros ao exterior, neste contexto legal, significa adimplir a obrigação de pagar juros a pessoa domiciliada no exterior, independentemente da forma de pagamento, de modo que pode haver incidência do imposto, inclusive, sem que em nenhum momento haja a efetiva remessa de recursos ao exterior. Além disso, não se pode perder de vista o interesse jurídico tributário subjacente à norma de incidência do IRRF. O interesse jurídico em questão é o rendimento de pessoa jurídica domiciliada no exterior, oriundo de fonte situada no País, independentemente de esse rendimento auferido ter sido, ou não, remetido ao exterior. A remessa ao exterior não é a única elementar da incidência tributária em exame. (...) Fl. 106DF CARF MF Processo nº 10920.907489/201266 Acórdão n.º 2202005.002 S2C2T2 Fl. 6 5 No presente caso, a pessoa jurídica credora dos empréstimos optou por empregálos – incluídos aí dos juros – no aumento de sua participação do capital a empresa brasileira. A capitalização dos empréstimos pode ser entendida como quitação ou pagamento da dívida, com juros. O ato de pagar pode ser também compreendido como compensação de maneira equivalente de benefícios econômicos. (...) Posto isto, podese afirmar que houve sim a ocorrência de fato gerador [pagamento de juros] para a incidência do Imposto de Renda Retido na Fonte e que, desta forma, eram sim devidas as importâncias cuja restituição era pleiteada pela Contribuinte. Manifestome pela improcedência da Manifestação de Inconformidade. 5. Cientificado da decisão a quo, o contribuinte repisa as questões trazidas na Manifestação de Inconformidade e infere ter comprovado do direito creditório pleiteado, uma vez que à época realizou o recolhimento integralmente, de forma equivocada. 6. Requer, por fim, que seja acolhido o recurso com o reconhecimento do indébito, e o deferimento de ressarcimento pelos meios disponíveis. 7. É o relatório." Fl. 107DF CARF MF Processo nº 10920.907489/201266 Acórdão n.º 2202005.002 S2C2T2 Fl. 7 6 Voto Conselheiro RONNIE SOARES ANDERSON – Relator Este processo foi julgado na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido na susodita decisão paradigma, a saber, Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária: Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "8. O Recurso Voluntário atende aos pressupostos de admissibilidade intrínsecos, uma vez que é cabível, há interesse recursal, a recorrente detém legitimidade e inexiste fato impeditivo, modificativo ou extintivo do poder de recorrer. Além disso, atende aos pressupostos de admissibilidade extrínsecos, pois há regularidade formal e apresentase tempestivo. Portanto dele conheço. 9. Ressalto que a recorrente não levanta questões preliminares. 10. Quanto ao Mérito, entendo que não existe razão ao pleito da recorrente e não há motivos que justifiquem uma eventual reforma da decisão proferida pela DRJ, que não homologou a compensação. 12. Não obstante a contribuinte argüir no sentido de que o recolhimento do imposto de renda retido na fonte foi equivocado, por apenas ter aplicado valores de empréstimos no aumento de seu capital, que a seu ver não seria equiparável às remessas ao exterior, para comprovação do alegado deveria ter juntado elementos mínimos de prova documental que fundamentassem plenamente suas alegações sobre as operações. Seria necessário que tivessem sido colacionados aos autos, no momento oportuno, documentos hábeis à comprovação dos registros contábeis relativos à operação, e não apenas Ata de Reunião de Sócios Quotistas e Alteração e Consolidação do Contrato Social, conforme realizado. 13 No caso de pedido de compensação, a liquidez do direito há de ser provada pela comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O art. 373, inciso I, do novo Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo administrativo fiscal, dispõe que o ônus da prova incumbe ao autor, enquanto que o art. 36 da Lei nº 9.784, de 29/01/99, impõe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. Em idêntico sentido atua o Decreto nº 70.235, de 1972, Fl. 108DF CARF MF Processo nº 10920.907489/201266 Acórdão n.º 2202005.002 S2C2T2 Fl. 8 7 que, regendo as compensações por força do art. 74, § 11, da Lei 9.430/96, determina em seu art. 15 que os recursos administrativos devem trazer os elementos de prova. 14. Dessa forma, como cumpria exclusivamente ao contribuinte o ônus de provar a liquidez e certeza de seu alegado crédito, como não o fez, como não resta o crédito devidamente comprovado nestes autos, entendo por não haver motivos para a reforma do Acórdão da DRJ e por não reconhecer o indébito. Conclusão 15. Isso posto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) Ricardo Chiavegatto de Lima." Pelo exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON– Relator Fl. 109DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10920.907488/2012-11
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Feb 14 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Apr 12 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2008
DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. IRRF. ONUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO.
A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona-se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor.
Numero da decisão: 2202-005.001
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
RONNIE SOARES ANDERSON - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente).
Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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IRRF. ONUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO. A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 0. 90 74 88 /2 01 2- 11 Fl. 102DF CARF MF Processo nº 10920.907488/201211 Acórdão n.º 2202005.001 S2C2T2 Fl. 3 2 Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "Tratase de recurso voluntário interposto contra Acórdão de Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Florianópolis / SC – DRJ/FNS, que considerou improcedente, por unanimidade de votos, manifestação de inconformidade do contribuinte em face de Despacho Decisório eletrônico que não homologou compensação informada em PER/DCOMP. 2. A seguir reproduzse o relatório do Acórdão da DRJ/FNS , o qual retrata adequadamente os fatos ocorridos. Relatório (...) Por intermédio de DESPACHO DECISÓRIO eletrônico a autoridade administrativa assim se manifestou: "Diante da inexistência do crédito, INDEFIRO o Pedido de Restituição. Enquadramento legal: Art. 165 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (CTN)." A Contribuinte – em sua contestação – alega ter efetuado “pagamento indevido ou a maior”, em recolhimento operado com o código de arrecadação 0481 – JUROS E COMISSÕES EM GERAL. Diz que, desde sua fundação, em 2000, “foi obtendo de sua sócia majoritária italiana, remessas para sua ampliação, os quais foram sendo tratados como dívida em aberto e com incidência de juros, sem prefixação de data para devolução do principal e juros incidentes.”. Mais adiante afirma que os valores devidos foram convertidos em “aumento de capital da sociedade Marcegaglia do Brasil Ltda.” Aduz que o Banco Central do Brasil exigiu a prova do pagamento do imposto de renda na fonte incidente sobre remessas ao exterior, nos termos do art. 9º da Lei nº 4.131, de 3 de setembro de 1962: Fl. 103DF CARF MF Processo nº 10920.907488/201211 Acórdão n.º 2202005.001 S2C2T2 Fl. 4 3 Art. 9º As pessoas físicas e jurídicas que desejarem fazer transferências para o exterior a título de lucros, dividendos, juros, amortizações, royalties assistência técnica científica, administrativa e semelhantes, deverão submeter aos órgãos competentes da SUMOC e da Divisão do Impôsto sôbre a Renda, os contratos e documentos que forem considerados necessários para justificar a remessa.(Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)(Vide Decreto nº § 1º As remessas para o exterior dependem do registro da emprêsa na SUMOC e d eprova de pagamento do impôsto de renda que fôr devido.(Renumerado pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) (...) § 3º No caso previsto pelo parágrafo anterior, as transferências sempre dependerão de prova de quitação do Impôsto de Renda.(Incluído pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) Diz que operou o recolhimento do IRRF “sem questionar a existência ou não do fato gerador para a incidência da tributação do imposto de renda, na espécie, são: ‘as remessas para o exterior’.” Entende que, se não houve remessa ao exterior, em razão de haver sido convertida em capital a dívida então existente, não há fato gerador do referido tributo. Em razão disso requer o reconhecimento do indébito e o deferimento de “ressarcimento” dos valores pagos. 3. A DRJ/FNS considerou improcedente a Manifestação de Inconformidade, nos termos da Ementa da decisão abaixo transcrita: IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. FATO GERADOR. OCORRÊNCIA. A conversão dos juros de empréstimos em participação no capital social de empresa brasileira por pessoa jurídica com sede no exterior constitui fato gerador do IRRF, art. 702 do RIR/99, na medida em que configura quitação da dívida por compensação de maneira equivalente, o que também pode ser definido como pagamento 4. Destaquemse também alguns trechos relevantes do voto do Acórdão proferido pela DRJ/FNS: (...) De início, para esclarecimento, é bom que se diga que o Despacho Decisório eletrônico considerou a inexistência do crédito em razão de haver a vinculação na DCTF, do pagamento com o respectivo débito. (...) Quanto a este fato – exigência do Banco Central do Brasil – da prova do pagamento do IRRF, é prevista no art. 880, do Regulamento do Imposto de Renda, Decreto nº 3.000, de 1999: Fl. 104DF CARF MF Processo nº 10920.907488/201211 Acórdão n.º 2202005.001 S2C2T2 Fl. 5 4 Art.880. O Banco Central do Brasil não autorizará qualquer remessa de rendimentos para fora do País, sem a prova de pagamento do imposto (DecretoLei nº5.844, de 1943, art. 125, parágrafo único, alínea "c", e Lei nº4.595, de 31 de dezembro de 1964, art. 57, parágrafo único). Parágrafo único.Nos casos de isenção, dispensa ou não incidência do referido tributo deverá ser apresentada declaração que comprove tal fato. Como se vê, o parágrafo único vem relativizar tal exigência, autorizando a entrega de declaração que comprove a isenção, dispensa ou não incidência. Não há nos autos prova de apresentação de tal declaração ao BCB. (...) Ocorre que em 19 de junho de 2008, em reunião na sede da quotista majoritária, Marcegaglia S.p.A, na cidade de Gazoldo Degli Ippoliti – Itália, restou decidido que os empréstimos então concedidos seriam convertidos em participação societária. A Contribuinte entende que em não havendo remessa – dos juros – ao exterior não teria ocorrido hipótese de incidência do IRRF, pois, subentende que a remessa ao exterior é elementar da hipótese de incidência, e, portanto, razão pela qual não teria emergido o fato gerador. Em análise ao texto legal que veicula a norma de incidência tributária em questão, há que se discordar da Impugnante: Art. 702. Estão sujeitas à incidência do imposto na fonte, à alíquota de quinze por cento, as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior, por fonte situada no País, a título de juros, comissões, descontos, despesas financeiras e assemelhadas. Primeiro registro a fazer referese à multiplicidade de ações que o legislador empregou para expressar a tipicidade tributária. Percebese que a remessa ao exterior é uma das hipóteses. Pagar, creditar, entregar ou empregar importâncias ao exterior, a título de juros, também constituem fatos imponíveis da obrigação tributária em exame. Portanto, em conformidade com o art. 702 do RIR/99, o imposto deve ser retido por ocasião do pagamento,crédito, entrega, emprego ou remessa, desses fatos, o que ocorrer primeiro. (...) Pagar juros ao exterior, neste contexto legal, significa adimplir a obrigação de pagar juros a pessoa domiciliada no exterior, independentemente da forma de pagamento, de modo que pode haver incidência do imposto, inclusive, sem que em nenhum momento haja a efetiva remessa de recursos ao exterior. Além disso, não se pode perder de vista o interesse jurídico tributário subjacente à norma de incidência do IRRF. O interesse jurídico em questão é o rendimento de pessoa jurídica domiciliada no exterior, oriundo de fonte situada no País, independentemente de esse rendimento auferido ter sido, ou não, remetido ao exterior. A remessa ao exterior não é a única elementar da incidência tributária em exame. (...) Fl. 105DF CARF MF Processo nº 10920.907488/201211 Acórdão n.º 2202005.001 S2C2T2 Fl. 6 5 No presente caso, a pessoa jurídica credora dos empréstimos optou por empregálos – incluídos aí dos juros – no aumento de sua participação do capital a empresa brasileira. A capitalização dos empréstimos pode ser entendida como quitação ou pagamento da dívida, com juros. O ato de pagar pode ser também compreendido como compensação de maneira equivalente de benefícios econômicos. (...) Posto isto, podese afirmar que houve sim a ocorrência de fato gerador [pagamento de juros] para a incidência do Imposto de Renda Retido na Fonte e que, desta forma, eram sim devidas as importâncias cuja restituição era pleiteada pela Contribuinte. Manifestome pela improcedência da Manifestação de Inconformidade. 5. Cientificado da decisão a quo, o contribuinte repisa as questões trazidas na Manifestação de Inconformidade e infere ter comprovado do direito creditório pleiteado, uma vez que à época realizou o recolhimento integralmente, de forma equivocada. 6. Requer, por fim, que seja acolhido o recurso com o reconhecimento do indébito, e o deferimento de ressarcimento pelos meios disponíveis. 7. É o relatório." Fl. 106DF CARF MF Processo nº 10920.907488/201211 Acórdão n.º 2202005.001 S2C2T2 Fl. 7 6 Voto Conselheiro RONNIE SOARES ANDERSON – Relator Este processo foi julgado na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido na susodita decisão paradigma, a saber, Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária: Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "8. O Recurso Voluntário atende aos pressupostos de admissibilidade intrínsecos, uma vez que é cabível, há interesse recursal, a recorrente detém legitimidade e inexiste fato impeditivo, modificativo ou extintivo do poder de recorrer. Além disso, atende aos pressupostos de admissibilidade extrínsecos, pois há regularidade formal e apresentase tempestivo. Portanto dele conheço. 9. Ressalto que a recorrente não levanta questões preliminares. 10. Quanto ao Mérito, entendo que não existe razão ao pleito da recorrente e não há motivos que justifiquem uma eventual reforma da decisão proferida pela DRJ, que não homologou a compensação. 12. Não obstante a contribuinte argüir no sentido de que o recolhimento do imposto de renda retido na fonte foi equivocado, por apenas ter aplicado valores de empréstimos no aumento de seu capital, que a seu ver não seria equiparável às remessas ao exterior, para comprovação do alegado deveria ter juntado elementos mínimos de prova documental que fundamentassem plenamente suas alegações sobre as operações. Seria necessário que tivessem sido colacionados aos autos, no momento oportuno, documentos hábeis à comprovação dos registros contábeis relativos à operação, e não apenas Ata de Reunião de Sócios Quotistas e Alteração e Consolidação do Contrato Social, conforme realizado. 13 No caso de pedido de compensação, a liquidez do direito há de ser provada pela comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O art. 373, inciso I, do novo Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo administrativo fiscal, dispõe que o ônus da prova incumbe ao autor, enquanto que o art. 36 da Lei nº 9.784, de 29/01/99, impõe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. Em idêntico sentido atua o Decreto nº 70.235, de 1972, Fl. 107DF CARF MF Processo nº 10920.907488/201211 Acórdão n.º 2202005.001 S2C2T2 Fl. 8 7 que, regendo as compensações por força do art. 74, § 11, da Lei 9.430/96, determina em seu art. 15 que os recursos administrativos devem trazer os elementos de prova. 14. Dessa forma, como cumpria exclusivamente ao contribuinte o ônus de provar a liquidez e certeza de seu alegado crédito, como não o fez, como não resta o crédito devidamente comprovado nestes autos, entendo por não haver motivos para a reforma do Acórdão da DRJ e por não reconhecer o indébito. Conclusão 15. Isso posto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) Ricardo Chiavegatto de Lima." Pelo exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON– Relator Fl. 108DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10920.907479/2012-21
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Feb 14 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Apr 12 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2008
DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. IRRF. ONUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO.
A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona-se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor.
Numero da decisão: 2202-004.992
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
RONNIE SOARES ANDERSON - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente).
Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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IRRF. ONUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO. A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 0. 90 74 79 /2 01 2- 21 Fl. 102DF CARF MF Processo nº 10920.907479/201221 Acórdão n.º 2202004.992 S2C2T2 Fl. 3 2 Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "Tratase de recurso voluntário interposto contra Acórdão de Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Florianópolis / SC – DRJ/FNS, que considerou improcedente, por unanimidade de votos, manifestação de inconformidade do contribuinte em face de Despacho Decisório eletrônico que não homologou compensação informada em PER/DCOMP. 2. A seguir reproduzse o relatório do Acórdão da DRJ/FNS , o qual retrata adequadamente os fatos ocorridos. Relatório (...) Por intermédio de DESPACHO DECISÓRIO eletrônico a autoridade administrativa assim se manifestou: "Diante da inexistência do crédito, INDEFIRO o Pedido de Restituição. Enquadramento legal: Art. 165 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (CTN)." A Contribuinte – em sua contestação – alega ter efetuado “pagamento indevido ou a maior”, em recolhimento operado com o código de arrecadação 0481 – JUROS E COMISSÕES EM GERAL. Diz que, desde sua fundação, em 2000, “foi obtendo de sua sócia majoritária italiana, remessas para sua ampliação, os quais foram sendo tratados como dívida em aberto e com incidência de juros, sem prefixação de data para devolução do principal e juros incidentes.”. Mais adiante afirma que os valores devidos foram convertidos em “aumento de capital da sociedade Marcegaglia do Brasil Ltda.” Aduz que o Banco Central do Brasil exigiu a prova do pagamento do imposto de renda na fonte incidente sobre remessas ao exterior, nos termos do art. 9º da Lei nº 4.131, de 3 de setembro de 1962: Fl. 103DF CARF MF Processo nº 10920.907479/201221 Acórdão n.º 2202004.992 S2C2T2 Fl. 4 3 Art. 9º As pessoas físicas e jurídicas que desejarem fazer transferências para o exterior a título de lucros, dividendos, juros, amortizações, royalties assistência técnica científica, administrativa e semelhantes, deverão submeter aos órgãos competentes da SUMOC e da Divisão do Impôsto sôbre a Renda, os contratos e documentos que forem considerados necessários para justificar a remessa.(Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)(Vide Decreto nº § 1º As remessas para o exterior dependem do registro da emprêsa na SUMOC e d eprova de pagamento do impôsto de renda que fôr devido.(Renumerado pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) (...) § 3º No caso previsto pelo parágrafo anterior, as transferências sempre dependerão de prova de quitação do Impôsto de Renda.(Incluído pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) Diz que operou o recolhimento do IRRF “sem questionar a existência ou não do fato gerador para a incidência da tributação do imposto de renda, na espécie, são: ‘as remessas para o exterior’.” Entende que, se não houve remessa ao exterior, em razão de haver sido convertida em capital a dívida então existente, não há fato gerador do referido tributo. Em razão disso requer o reconhecimento do indébito e o deferimento de “ressarcimento” dos valores pagos. 3. A DRJ/FNS considerou improcedente a Manifestação de Inconformidade, nos termos da Ementa da decisão abaixo transcrita: IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. FATO GERADOR. OCORRÊNCIA. A conversão dos juros de empréstimos em participação no capital social de empresa brasileira por pessoa jurídica com sede no exterior constitui fato gerador do IRRF, art. 702 do RIR/99, na medida em que configura quitação da dívida por compensação de maneira equivalente, o que também pode ser definido como pagamento 4. Destaquemse também alguns trechos relevantes do voto do Acórdão proferido pela DRJ/FNS: (...) De início, para esclarecimento, é bom que se diga que o Despacho Decisório eletrônico considerou a inexistência do crédito em razão de haver a vinculação na DCTF, do pagamento com o respectivo débito. (...) Quanto a este fato – exigência do Banco Central do Brasil – da prova do pagamento do IRRF, é prevista no art. 880, do Regulamento do Imposto de Renda, Decreto nº 3.000, de 1999: Fl. 104DF CARF MF Processo nº 10920.907479/201221 Acórdão n.º 2202004.992 S2C2T2 Fl. 5 4 Art.880. O Banco Central do Brasil não autorizará qualquer remessa de rendimentos para fora do País, sem a prova de pagamento do imposto (DecretoLei nº5.844, de 1943, art. 125, parágrafo único, alínea "c", e Lei nº4.595, de 31 de dezembro de 1964, art. 57, parágrafo único). Parágrafo único.Nos casos de isenção, dispensa ou não incidência do referido tributo deverá ser apresentada declaração que comprove tal fato. Como se vê, o parágrafo único vem relativizar tal exigência, autorizando a entrega de declaração que comprove a isenção, dispensa ou não incidência. Não há nos autos prova de apresentação de tal declaração ao BCB. (...) Ocorre que em 19 de junho de 2008, em reunião na sede da quotista majoritária, Marcegaglia S.p.A, na cidade de Gazoldo Degli Ippoliti – Itália, restou decidido que os empréstimos então concedidos seriam convertidos em participação societária. A Contribuinte entende que em não havendo remessa – dos juros – ao exterior não teria ocorrido hipótese de incidência do IRRF, pois, subentende que a remessa ao exterior é elementar da hipótese de incidência, e, portanto, razão pela qual não teria emergido o fato gerador. Em análise ao texto legal que veicula a norma de incidência tributária em questão, há que se discordar da Impugnante: Art. 702. Estão sujeitas à incidência do imposto na fonte, à alíquota de quinze por cento, as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior, por fonte situada no País, a título de juros, comissões, descontos, despesas financeiras e assemelhadas. Primeiro registro a fazer referese à multiplicidade de ações que o legislador empregou para expressar a tipicidade tributária. Percebese que a remessa ao exterior é uma das hipóteses. Pagar, creditar, entregar ou empregar importâncias ao exterior, a título de juros, também constituem fatos imponíveis da obrigação tributária em exame. Portanto, em conformidade com o art. 702 do RIR/99, o imposto deve ser retido por ocasião do pagamento,crédito, entrega, emprego ou remessa, desses fatos, o que ocorrer primeiro. (...) Pagar juros ao exterior, neste contexto legal, significa adimplir a obrigação de pagar juros a pessoa domiciliada no exterior, independentemente da forma de pagamento, de modo que pode haver incidência do imposto, inclusive, sem que em nenhum momento haja a efetiva remessa de recursos ao exterior. Além disso, não se pode perder de vista o interesse jurídico tributário subjacente à norma de incidência do IRRF. O interesse jurídico em questão é o rendimento de pessoa jurídica domiciliada no exterior, oriundo de fonte situada no País, independentemente de esse rendimento auferido ter sido, ou não, remetido ao exterior. A remessa ao exterior não é a única elementar da incidência tributária em exame. (...) Fl. 105DF CARF MF Processo nº 10920.907479/201221 Acórdão n.º 2202004.992 S2C2T2 Fl. 6 5 No presente caso, a pessoa jurídica credora dos empréstimos optou por empregálos – incluídos aí dos juros – no aumento de sua participação do capital a empresa brasileira. A capitalização dos empréstimos pode ser entendida como quitação ou pagamento da dívida, com juros. O ato de pagar pode ser também compreendido como compensação de maneira equivalente de benefícios econômicos. (...) Posto isto, podese afirmar que houve sim a ocorrência de fato gerador [pagamento de juros] para a incidência do Imposto de Renda Retido na Fonte e que, desta forma, eram sim devidas as importâncias cuja restituição era pleiteada pela Contribuinte. Manifestome pela improcedência da Manifestação de Inconformidade. 5. Cientificado da decisão a quo, o contribuinte repisa as questões trazidas na Manifestação de Inconformidade e infere ter comprovado do direito creditório pleiteado, uma vez que à época realizou o recolhimento integralmente, de forma equivocada. 6. Requer, por fim, que seja acolhido o recurso com o reconhecimento do indébito, e o deferimento de ressarcimento pelos meios disponíveis. 7. É o relatório." Fl. 106DF CARF MF Processo nº 10920.907479/201221 Acórdão n.º 2202004.992 S2C2T2 Fl. 7 6 Voto Conselheiro RONNIE SOARES ANDERSON – Relator Este processo foi julgado na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido na susodita decisão paradigma, a saber, Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária: Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "8. O Recurso Voluntário atende aos pressupostos de admissibilidade intrínsecos, uma vez que é cabível, há interesse recursal, a recorrente detém legitimidade e inexiste fato impeditivo, modificativo ou extintivo do poder de recorrer. Além disso, atende aos pressupostos de admissibilidade extrínsecos, pois há regularidade formal e apresentase tempestivo. Portanto dele conheço. 9. Ressalto que a recorrente não levanta questões preliminares. 10. Quanto ao Mérito, entendo que não existe razão ao pleito da recorrente e não há motivos que justifiquem uma eventual reforma da decisão proferida pela DRJ, que não homologou a compensação. 12. Não obstante a contribuinte argüir no sentido de que o recolhimento do imposto de renda retido na fonte foi equivocado, por apenas ter aplicado valores de empréstimos no aumento de seu capital, que a seu ver não seria equiparável às remessas ao exterior, para comprovação do alegado deveria ter juntado elementos mínimos de prova documental que fundamentassem plenamente suas alegações sobre as operações. Seria necessário que tivessem sido colacionados aos autos, no momento oportuno, documentos hábeis à comprovação dos registros contábeis relativos à operação, e não apenas Ata de Reunião de Sócios Quotistas e Alteração e Consolidação do Contrato Social, conforme realizado. 13 No caso de pedido de compensação, a liquidez do direito há de ser provada pela comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O art. 373, inciso I, do novo Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo administrativo fiscal, dispõe que o ônus da prova incumbe ao autor, enquanto que o art. 36 da Lei nº 9.784, de 29/01/99, impõe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. Em idêntico sentido atua o Decreto nº 70.235, de 1972, Fl. 107DF CARF MF Processo nº 10920.907479/201221 Acórdão n.º 2202004.992 S2C2T2 Fl. 8 7 que, regendo as compensações por força do art. 74, § 11, da Lei 9.430/96, determina em seu art. 15 que os recursos administrativos devem trazer os elementos de prova. 14. Dessa forma, como cumpria exclusivamente ao contribuinte o ônus de provar a liquidez e certeza de seu alegado crédito, como não o fez, como não resta o crédito devidamente comprovado nestes autos, entendo por não haver motivos para a reforma do Acórdão da DRJ e por não reconhecer o indébito. Conclusão 15. Isso posto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) Ricardo Chiavegatto de Lima." Pelo exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON– Relator Fl. 108DF CARF MF
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Numero do processo: 10920.907487/2012-77
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Feb 14 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Apr 12 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Ano-calendário: 2008
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A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona-se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor.
Numero da decisão: 2202-005.000
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(Assinado digitalmente)
RONNIE SOARES ANDERSON - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente).
Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 7; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1389; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S2C2T2 Fl. 2 1 1 S2C2T2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 10920.907487/201277 Recurso nº 1 Voluntário Acórdão nº 2202005.000 – 2ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 14 de fevereiro de 2019 Matéria IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE Recorrente MARCEGAGLIA DO BRASIL LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE IRRF Anocalendário: 2008 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. IRRF. ONUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO. A homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo condiciona se à liquidez do direito, através da comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O ônus da prova incumbe ao autor. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correia, Virgílio Cansino Gil (Suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Ausente a Conselheira Andréa de Moraes Chieregatto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 0. 90 74 87 /2 01 2- 77 Fl. 102DF CARF MF Processo nº 10920.907487/201277 Acórdão n.º 2202005.000 S2C2T2 Fl. 3 2 Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "Tratase de recurso voluntário interposto contra Acórdão de Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Florianópolis / SC – DRJ/FNS, que considerou improcedente, por unanimidade de votos, manifestação de inconformidade do contribuinte em face de Despacho Decisório eletrônico que não homologou compensação informada em PER/DCOMP. 2. A seguir reproduzse o relatório do Acórdão da DRJ/FNS , o qual retrata adequadamente os fatos ocorridos. Relatório (...) Por intermédio de DESPACHO DECISÓRIO eletrônico a autoridade administrativa assim se manifestou: "Diante da inexistência do crédito, INDEFIRO o Pedido de Restituição. Enquadramento legal: Art. 165 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (CTN)." A Contribuinte – em sua contestação – alega ter efetuado “pagamento indevido ou a maior”, em recolhimento operado com o código de arrecadação 0481 – JUROS E COMISSÕES EM GERAL. Diz que, desde sua fundação, em 2000, “foi obtendo de sua sócia majoritária italiana, remessas para sua ampliação, os quais foram sendo tratados como dívida em aberto e com incidência de juros, sem prefixação de data para devolução do principal e juros incidentes.”. Mais adiante afirma que os valores devidos foram convertidos em “aumento de capital da sociedade Marcegaglia do Brasil Ltda.” Aduz que o Banco Central do Brasil exigiu a prova do pagamento do imposto de renda na fonte incidente sobre remessas ao exterior, nos termos do art. 9º da Lei nº 4.131, de 3 de setembro de 1962: Fl. 103DF CARF MF Processo nº 10920.907487/201277 Acórdão n.º 2202005.000 S2C2T2 Fl. 4 3 Art. 9º As pessoas físicas e jurídicas que desejarem fazer transferências para o exterior a título de lucros, dividendos, juros, amortizações, royalties assistência técnica científica, administrativa e semelhantes, deverão submeter aos órgãos competentes da SUMOC e da Divisão do Impôsto sôbre a Renda, os contratos e documentos que forem considerados necessários para justificar a remessa.(Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)(Vide Decreto nº § 1º As remessas para o exterior dependem do registro da emprêsa na SUMOC e d eprova de pagamento do impôsto de renda que fôr devido.(Renumerado pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) (...) § 3º No caso previsto pelo parágrafo anterior, as transferências sempre dependerão de prova de quitação do Impôsto de Renda.(Incluído pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964) Diz que operou o recolhimento do IRRF “sem questionar a existência ou não do fato gerador para a incidência da tributação do imposto de renda, na espécie, são: ‘as remessas para o exterior’.” Entende que, se não houve remessa ao exterior, em razão de haver sido convertida em capital a dívida então existente, não há fato gerador do referido tributo. Em razão disso requer o reconhecimento do indébito e o deferimento de “ressarcimento” dos valores pagos. 3. A DRJ/FNS considerou improcedente a Manifestação de Inconformidade, nos termos da Ementa da decisão abaixo transcrita: IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. FATO GERADOR. OCORRÊNCIA. A conversão dos juros de empréstimos em participação no capital social de empresa brasileira por pessoa jurídica com sede no exterior constitui fato gerador do IRRF, art. 702 do RIR/99, na medida em que configura quitação da dívida por compensação de maneira equivalente, o que também pode ser definido como pagamento 4. Destaquemse também alguns trechos relevantes do voto do Acórdão proferido pela DRJ/FNS: (...) De início, para esclarecimento, é bom que se diga que o Despacho Decisório eletrônico considerou a inexistência do crédito em razão de haver a vinculação na DCTF, do pagamento com o respectivo débito. (...) Quanto a este fato – exigência do Banco Central do Brasil – da prova do pagamento do IRRF, é prevista no art. 880, do Regulamento do Imposto de Renda, Decreto nº 3.000, de 1999: Fl. 104DF CARF MF Processo nº 10920.907487/201277 Acórdão n.º 2202005.000 S2C2T2 Fl. 5 4 Art.880. O Banco Central do Brasil não autorizará qualquer remessa de rendimentos para fora do País, sem a prova de pagamento do imposto (DecretoLei nº5.844, de 1943, art. 125, parágrafo único, alínea "c", e Lei nº4.595, de 31 de dezembro de 1964, art. 57, parágrafo único). Parágrafo único.Nos casos de isenção, dispensa ou não incidência do referido tributo deverá ser apresentada declaração que comprove tal fato. Como se vê, o parágrafo único vem relativizar tal exigência, autorizando a entrega de declaração que comprove a isenção, dispensa ou não incidência. Não há nos autos prova de apresentação de tal declaração ao BCB. (...) Ocorre que em 19 de junho de 2008, em reunião na sede da quotista majoritária, Marcegaglia S.p.A, na cidade de Gazoldo Degli Ippoliti – Itália, restou decidido que os empréstimos então concedidos seriam convertidos em participação societária. A Contribuinte entende que em não havendo remessa – dos juros – ao exterior não teria ocorrido hipótese de incidência do IRRF, pois, subentende que a remessa ao exterior é elementar da hipótese de incidência, e, portanto, razão pela qual não teria emergido o fato gerador. Em análise ao texto legal que veicula a norma de incidência tributária em questão, há que se discordar da Impugnante: Art. 702. Estão sujeitas à incidência do imposto na fonte, à alíquota de quinze por cento, as importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior, por fonte situada no País, a título de juros, comissões, descontos, despesas financeiras e assemelhadas. Primeiro registro a fazer referese à multiplicidade de ações que o legislador empregou para expressar a tipicidade tributária. Percebese que a remessa ao exterior é uma das hipóteses. Pagar, creditar, entregar ou empregar importâncias ao exterior, a título de juros, também constituem fatos imponíveis da obrigação tributária em exame. Portanto, em conformidade com o art. 702 do RIR/99, o imposto deve ser retido por ocasião do pagamento,crédito, entrega, emprego ou remessa, desses fatos, o que ocorrer primeiro. (...) Pagar juros ao exterior, neste contexto legal, significa adimplir a obrigação de pagar juros a pessoa domiciliada no exterior, independentemente da forma de pagamento, de modo que pode haver incidência do imposto, inclusive, sem que em nenhum momento haja a efetiva remessa de recursos ao exterior. Além disso, não se pode perder de vista o interesse jurídico tributário subjacente à norma de incidência do IRRF. O interesse jurídico em questão é o rendimento de pessoa jurídica domiciliada no exterior, oriundo de fonte situada no País, independentemente de esse rendimento auferido ter sido, ou não, remetido ao exterior. A remessa ao exterior não é a única elementar da incidência tributária em exame. (...) Fl. 105DF CARF MF Processo nº 10920.907487/201277 Acórdão n.º 2202005.000 S2C2T2 Fl. 6 5 No presente caso, a pessoa jurídica credora dos empréstimos optou por empregálos – incluídos aí dos juros – no aumento de sua participação do capital a empresa brasileira. A capitalização dos empréstimos pode ser entendida como quitação ou pagamento da dívida, com juros. O ato de pagar pode ser também compreendido como compensação de maneira equivalente de benefícios econômicos. (...) Posto isto, podese afirmar que houve sim a ocorrência de fato gerador [pagamento de juros] para a incidência do Imposto de Renda Retido na Fonte e que, desta forma, eram sim devidas as importâncias cuja restituição era pleiteada pela Contribuinte. Manifestome pela improcedência da Manifestação de Inconformidade. 5. Cientificado da decisão a quo, o contribuinte repisa as questões trazidas na Manifestação de Inconformidade e infere ter comprovado do direito creditório pleiteado, uma vez que à época realizou o recolhimento integralmente, de forma equivocada. 6. Requer, por fim, que seja acolhido o recurso com o reconhecimento do indébito, e o deferimento de ressarcimento pelos meios disponíveis. 7. É o relatório." Fl. 106DF CARF MF Processo nº 10920.907487/201277 Acórdão n.º 2202005.000 S2C2T2 Fl. 7 6 Voto Conselheiro RONNIE SOARES ANDERSON – Relator Este processo foi julgado na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.907456/201216, paradigma deste julgamento. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido na susodita decisão paradigma, a saber, Acórdão nº 2202004.969, de 14 de fevereiro de 2019 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária: Acórdão nº 2202004.969 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária "8. O Recurso Voluntário atende aos pressupostos de admissibilidade intrínsecos, uma vez que é cabível, há interesse recursal, a recorrente detém legitimidade e inexiste fato impeditivo, modificativo ou extintivo do poder de recorrer. Além disso, atende aos pressupostos de admissibilidade extrínsecos, pois há regularidade formal e apresentase tempestivo. Portanto dele conheço. 9. Ressalto que a recorrente não levanta questões preliminares. 10. Quanto ao Mérito, entendo que não existe razão ao pleito da recorrente e não há motivos que justifiquem uma eventual reforma da decisão proferida pela DRJ, que não homologou a compensação. 12. Não obstante a contribuinte argüir no sentido de que o recolhimento do imposto de renda retido na fonte foi equivocado, por apenas ter aplicado valores de empréstimos no aumento de seu capital, que a seu ver não seria equiparável às remessas ao exterior, para comprovação do alegado deveria ter juntado elementos mínimos de prova documental que fundamentassem plenamente suas alegações sobre as operações. Seria necessário que tivessem sido colacionados aos autos, no momento oportuno, documentos hábeis à comprovação dos registros contábeis relativos à operação, e não apenas Ata de Reunião de Sócios Quotistas e Alteração e Consolidação do Contrato Social, conforme realizado. 13 No caso de pedido de compensação, a liquidez do direito há de ser provada pela comprovação documental do quantum compensável pelo contribuinte. O art. 373, inciso I, do novo Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo administrativo fiscal, dispõe que o ônus da prova incumbe ao autor, enquanto que o art. 36 da Lei nº 9.784, de 29/01/99, impõe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. Em idêntico sentido atua o Decreto nº 70.235, de 1972, Fl. 107DF CARF MF Processo nº 10920.907487/201277 Acórdão n.º 2202005.000 S2C2T2 Fl. 8 7 que, regendo as compensações por força do art. 74, § 11, da Lei 9.430/96, determina em seu art. 15 que os recursos administrativos devem trazer os elementos de prova. 14. Dessa forma, como cumpria exclusivamente ao contribuinte o ônus de provar a liquidez e certeza de seu alegado crédito, como não o fez, como não resta o crédito devidamente comprovado nestes autos, entendo por não haver motivos para a reforma do Acórdão da DRJ e por não reconhecer o indébito. Conclusão 15. Isso posto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) Ricardo Chiavegatto de Lima." Pelo exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. (assinado digitalmente) RONNIE SOARES ANDERSON– Relator Fl. 108DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13855.721146/2016-59
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 10 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Aug 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/08/2012 a 31/08/2013
PRECLUSÃO. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO QUANTO À INOVAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR.
É vedado à parte inovar no pedido ou na causa de pedir em sede de julgamento de segundo grau, salvo nas circunstâncias excepcionais referidas nas normas que regem o processo administrativo tributário federal.
Numero da decisão: 2202-005.311
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, Thiago Duca Amoni (suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Ausente a conselheira Andrea de Moraes Chieregatto.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO QUANTO À INOVAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR. É vedado à parte inovar no pedido ou na causa de pedir em sede de julgamento de segundo grau, salvo nas circunstâncias excepcionais referidas nas normas que regem o processo administrativo tributário federal. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, Thiago Duca Amoni (suplente convocado), Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Ausente a conselheira Andrea de Moraes Chieregatto. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 85 5. 72 11 46 /2 01 6- 59 Fl. 260DF CARF MF 2 Tratase de recurso voluntário interposto contra acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Ribeirão Preto (SP) DRJ/RPO, que julgou procedente lançamento de contribuição previdenciária devida pela empresa, incidente sobre a receita bruta (CPRB), conforme previsto na Lei 12.546/11. Conforme o Termo de Verificação Fiscal (fls. 09/13), a fiscalização constatou que a autuada que atua no ramo de fabricação de máquinas e equipamentos para agricultura – deixou de apurar e recolher a contribuição em tela a partir de 08/2012, como é exigido pela legislação para empresas que atuam no segmento industrial em questão, iniciando os recolhimentos apenas a partir de 09/2013. A base de cálculo foi apurada a partir dos livros contábeis da contribuinte. Em sede de impugnação a empresa arguiu que o agente não descreveu qual artigo da Lei 12.546/11 foi infringido, citando o artigo 9º da referida lei, que trata dos casos de exclusão, nada mencionando sobre a data de inclusão no sistema de empresas que desenvolvem as atividades em questão. Citou artigos das Instruções Normativas RFB 1.436/13 e 1.523/14 afirmando que não está correto o entendimento fiscal de que a CPRB seria devida a partir de 08/2012. A exigência foi mantida no julgamento de primeiro grau (fls. 220/221), sendo prolatado acórdão cuja ementa teve a seguinte redação: CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA CPRB. Para as empresas com as atividades contempladas na Lei 12.546/2011, as contribuições previdenciárias previstas no artigo 22, I e III da Lei n° 8.212/91, incidentes sobre a folha de pagamento, foram substituídas pela contribuição incidente sobre a receita bruta, nos períodos estabelecidos na legislação. A contribuinte interpôs recurso voluntário em 19/09/2017 (fls. 229/234), aduzindo, em síntese, que há faculdade sua de efetuar o recolhimento da contribuição da "melhor forma que lhe aprouver". Nessa linha, alega que foi prejudicada pela desoneração da folha promovida pelo advento da CPRB em 2011, pois terceiriza parte de suas atividades, o que contrariaria os intentos da instituição de tal contribuição, evidenciados pela exposição de motivos da MP nº 582/12. Então, a "opção" por recolher a contribuição nos patamares exigidos lhe seria prejudicial, em concreto, conduzindo à antinomia e lacuna a ser solvida por métodos hermenêuticos. Ao final, ressalta que não deixou de efetuar o recolhimento da contribuição previdenciária patronal, "apenas mantevese no regime que não lhe prejudicaria", e pede o cancelamento do débito fiscal. É o relatório. Voto Conselheiro Ronnie Soares Anderson, Relator O recurso é tempestivo, porém seu conhecimento não deve ser admitido. Fl. 261DF CARF MF Processo nº 13855.721146/201659 Acórdão n.º 2202005.311 S2C2T2 Fl. 261 3 Isso porque o cotejo entre a impugnação (fls. 172/184) e o recurso voluntário (fls. 229/234) revela que o contribuinte não levantou, naquela oportunidade, argumentos sequer próximos dos contidos na linha argumentativa do recurso ora analisado. Com efeito, cingiuse, àquela ocasião, a questionar a impossibilidade de exigência da CPRB desde agosto/2019, o que foi devidamente afastado pela decisão de piso, nos seguintes termos (fl. 222): A fiscalização indicou o diploma legal que dá embasamento à contribuição lançada (Lei 12.546/2011), sendo que, nos termos do artigo 8o, caput, da referida lei, com a redação que lhe foi conferida pelo artigo 45 da Medida Provisória 563/2012, (com vigência a partir de 08/2012, conforme seu artigo 54, § 2o), é devida a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta CPRB pelas empresas enquadradas nos códigos 84.32 e 84.33 da NCM –Nomenclatura Comum do Mercosul. Art. 8º Até 31 de dezembro de 2014, contribuirão sobre o valor da receita bruta, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos, à alíquota de um por cento, em substituição às contribuições previstas nos incisos I e III do art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991, as empresas que fabricam os produtos classificados na TIPI, aprovada pelo Decreto no 7.660, de 23 de dezembro de 2011, nos códigos referidos no Anexo a esta Lei. (Redação dada pela Medida Provisória nº 563, de 2012) Tal informação consta também no Anexo II da Instrução Normativa RFB 1.436/2013, o qual não representa inovação em relação à lei em sentido estrito, a medida que está de acordo com o texto original do seu artigo 1o da Lei 12.546/2011, não havendo dúvidas de que as atividades desenvolvidas pela autuada sujeitaramna à CPRB a partir de 08/2012. Assim afastado o fundamento da impugnação, envereda a contribuinte no recurso voluntário por senda completamente distinta, a aventar uma incompatibilidade entre o intento do legislador de desonerar a folha de pagamentos e sua situação particular, a qual restaria mais gravosa com a incidência da CPRB nos termos previstos na lei. Ora, necessário frisar que a recorrente não pode modificar o pedido ou invocar outra causa petendi (causa de pedir) nesta fase do contencioso, sob pena de violação dos princípios da congruência, estabilização da demanda e do duplo grau de jurisdição administrativa, em ofensa aos arts. 14 a 17 do Decreto nº 70.235/72 (em especial o § 4º do art. 16), bem como aos arts. 141, 223, 329 e 492 do Código de Processo Civil (CPC), mormente quando não há motivo para só agora aduzir os questionamentos referidos. Nesse sentido, vide os Acórdãos de nos 2402005.971 (j. 12/09/2017), 3802 004.118 (j. 25/02/2015), 1802001.150 (j. 15/03/2012), 3401002.142 (j. 26/02/2013), 3201 001794 (j. 15/10/2014), 2202003.577 (j. 21/09/2016), e 1803000.777 (j. 27/01/2011). Cumpre, destarte, não conhecer do recurso, pois de acordo com a sistemática processual vigente, é vedado à recorrente inovar nas razões recursais, haja vista ter ocorrido preclusão consumativa. Fl. 262DF CARF MF 4 Vale esclarecer, de todo modo, que suposta incompatibilidade entre o mens legislatoris (vontade do criador) e a situação de fato acarretada pela incidência de uma norma jurídica em um caso concreto não viabiliza, por si só, socorro pelos métodos hermenêuticos, haja vista a falta de cogência normativa da manifestação do legislador contida em exposição de motivos, a qual, salientese, não passa pelo processo legislativo. E, ainda, cabe recordar que, em que pese eventual resultado gravoso para uma situação particular decorrente da aplicação das normas em apreço, o art. § 2º do art. 108 do CTN é expresso em vedar a dispensa de tributo por considerações de equidade. Ante o exposto, voto por não conhecer do recurso. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 263DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19515.720787/2016-23
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 10 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Sep 25 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2011
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS SEM ORIGEM COMPROVADA. DECADÊNCIA. SÚMULA CARF Nº 38.
Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
Súmula CARF nº 38: O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário.
Numero da decisão: 2202-005.503
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 2011 OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS SEM ORIGEM COMPROVADA. DECADÊNCIA. SÚMULA CARF Nº 38. Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Súmula CARF nº 38: O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário.
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DEPÓSITOS BANCÁRIOS SEM ORIGEM COMPROVADA. DECADÊNCIA. SÚMULA CARF Nº 38. Caracterizamse como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Súmula CARF nº 38: O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano calendário. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 72 07 87 /2 01 6- 23 Fl. 211DF CARF MF 2 Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Fortaleza (CE) DRJ/FOR, que julgou procedente lançamento de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) relativo ao exercício 2012 (fls. 82/93), face à apuração de omissão de rendimentos, caracterizados por depósitos de origem não comprovada. Relata o Termo de Verificação Fiscal (fls. 82/86) que durante a fiscalização de outro sujeito passivo, Cleber Martins Costa (empresa individual de responsabilidade limitada — EIRELI), CNPJ 08.330.150/000175 (nome fantasia Alunobre), foi constatado que o contribuinte recebeu recursos dessa pessoa jurídica, sendo então fiscalizado e intimado a esclarecer a natureza das operações bancárias discriminadas no termo, onde consta como beneficiário de recursos pagos pela Alunobre. Não respondendo o contribuinte à fiscalização, os recursos recebidos (cheques sacados de Cleber Martins Costa, Banco Itaú, e depósitos efetuados pelo referido em sua conta no Bradesco S/A.) caracterizaramse como omissão de rendimentos, ensejando o lançamento de ofício. Apesar de impugnada (fls. 161/172), a exigência foi mantida pela instância de piso, em acórdão cuja ementa a seguir se transcreve (fls. 181/191): OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS COM ORIGEM NÃO COMPROVADA. PRESUNÇÃO LEGAL. A existência de depósitos bancários cuja origem não foi justificada e comprovada pela contribuinte permite presumir a ocorrência de omissão de rendimentos à tributação, cabendo à contribuinte o ônus de provar a irrealidade das imputações feitas. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. O direito da autoridade administrativa de cobrar o crédito tributário prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da constituição definitiva do crédito tributário. In casu, tendo havido a interposição de impugnação, a constituição definitiva do crédito tributário só ocorrerá quando o contribuinte for cientificado da decisão administrativa da qual não caiba mais recurso. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. Apenas os créditos já satisfeitos, ainda que parcialmente, por via de pagamento se sujeitam às normas aplicáveis ao lançamento por homologação. Na falta de antecipação de pagamento não há de se falar em fato homologável, Fl. 212DF CARF MF Processo nº 19515.720787/201623 Acórdão n.º 2202005.503 S2C2T2 Fl. 212 3 aplicandose no caso a forma de contagem do prazo decadencial prevista no art. 173, I, do CTN. LANÇAMENTO. NULIDADE. PROVAS. ILICITUDE. INOCORRÊNCIA. São lícitas as provas obtidas em bancos de dados administrados pela Receita Federal do Brasil, bem como fornecidas pelo interessado e/ou terceiros obrigados a prestarem esclarecimentos às autoridades fiscais, sendo improcedente a alegação de nulidade de lançamento lastreada em tais provas. Nenhuma pessoa física ou jurídica, contribuinte ou não, poderá eximirse de fornecer, nos prazos marcados, as informações ou esclarecimentos solicitados pelos órgãos da Secretaria da Receita Federal DECISÕES ADMINISTRATIVAS E JUDICIAIS. DOUTRINA. EFEITOS. As decisões administrativas, mesmo as proferidas por Conselhos de Contribuintes, e as judiciais, à exceção das decisões do STF sobre inconstitucionalidade da legislação e daquelas objeto de Súmula vinculante, nos termos da Lei nº 11.417 de 19 de dezembro de 2006, não se constituem em normas gerais, razão pela qual seus julgados não se aproveitam em relação a qualquer outra ocorrência, senão àquela objeto da decisão. A doutrina transcrita não pode ser oposta ao texto explícito do direito positivo, mormente em se tratando do direito tributário brasileiro, por sua estrita subordinação à legalidade. O contribuinte interpôs recurso voluntário em 27/09/2017 (fls. 200/208), repisando os termos da impugnação, de forma a alegar que; ocorreu prescrição/decadência com relação aos fatos geradores agosto, setembro, outubro e novembro de 2011; a Súmula 182 do antigo TFR está em vigor, e o STF já decidiu que não cabe à Receita Federal a violação do sigilo bancário do contribuinte. assim, deve ser cancelado o débito fiscal reclamado. É o relatório. Voto Conselheiro Ronnie Soares Anderson, Relator Fl. 213DF CARF MF 4 O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Padece de certa confusão conceitual a peça recursal, pois, como é cediço, o art. 174 do CTN regra que a prescrição da cobrança do crédito tributário tem como termo inicial a sua constituição definitiva, o que não ocorreu ainda, pois está pendente contencioso administrativo. De todo modo, também entendido a argumentação vertida como sendo referência à decadência, melhor sorte não lhe assiste. No dia em que o contribuinte foi cientificado do auto de infração, 15/12/2016 (fls. 94/95), ainda não haviam decorridos mais de cinco anos desde 31/12/2011, data em que se completou o fato gerador do imposto de renda incidente sobre os rendimentos auferidos no decorrer do anocalendário 2011. Constatase, assim, que à ocasião dessa ciência ainda não havia se extinguido o direito do Fisco de constituir crédito tributário de imposto de renda pessoa física por meio de lançamento de ofício, no tocante ao fato gerador do anocalendário 2011, inexistindo decadência a decretar, portanto. Acrescentese, posto que necessário, estar sedimentado na doutrina e jurisprudência, ao menos desde o advento dos arts. 2º e 9º da Lei nº 8.130/90, c/c o art. 2º da Lei nº 7.713/88, que o fato gerador do imposto de renda pessoa física é anual, havendo sido inclusive aprovada Súmula pela Segunda Turma da CSRF em sessão de 08/12/2009 a respeito do tema, voltada especificamente à omissão de rendimentos lastreada em depósitos bancários não comprovados: Súmula CARF nº 38: O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do anocalendário. Adentrando nas questões de mérito propriamente dito, mister frisar que parte das infrações objeto da insurgência recursal foi apurada tendo como base legal o art. 42 da Lei nº 9.430/96, sendo que desde o início da vigência desse preceito a existência de depósitos bancários sem comprovação da origem, após a regular intimação do sujeito passivo, passou a constituir hipótese legal de omissão de rendimentos e ou/receita. Portanto, cabe ao Fisco demonstrar a existência de depósitos bancários de origem não comprovada para que se presuma, até prova em contrário, a cargo do contribuinte, a ocorrência de omissão de rendimentos. Tratase de presunção legal relativa, bastando assim que a autoridade lançadora comprove o fato definido em lei como necessário e suficiente ao estabelecimento da presunção, para que fique evidenciada a referida omissão, e o consequente fato gerador do imposto de renda pessoa física, a despeito do entendimento em sentido diverso trazido na peça recursal. E apesar de não haver previsão legal para que a justificação da origem se dê com coincidência de datas e valores, o § 3º do art. 42 da Lei nº 9.430/96 exige que a comprovação demandada aconteça de maneira individualizada. Destarte, intimado o recorrente a comprovar a origem dos recursos depositados/creditados, devidamente discriminados pela fiscalização, e não se desincumbindo desse ônus probatório que lhe foi legalmente transferido, ficou caracterizada a omissão de rendimentos. Fl. 214DF CARF MF Processo nº 19515.720787/201623 Acórdão n.º 2202005.503 S2C2T2 Fl. 213 5 De outra parte, cabe esclarecer ao referido que o STJ vem reiteradamente afastando, forte nas Lei nº 8.021/90 e nº 9.430/96, e na LC nº 105/01, a aplicação da Súmula TFR nº 182 nos casos em que tenha havido regular processo administrativo e conferida oportunidade ao contribuinte de comprovar a origem dos depósitos bancários, como ocorreu na espécie. Não socorre o recorrente, portanto, os antigos precedentes colacionados na peça recursal. Ver nesse sentido, a título de ilustração, o decidido no AgInt no REsp nº 1.638.268/MG (j. 21/02/2017): PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE AUTORIZATIVO LEGAL. IMPOSTO DE RENDA. ARBITRAMENTO. DEPÓSITOS BANCÁRIO DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. POSSIBILIDADE. REVISÃO DA COMPROVAÇÃO DA ORIGEM. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DO STJ. JUROS DE MORA DEVIDOS DURANTE O TRÂMITE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL. INCIDÊNCIA. ARTS. 161 DO CTN E 5º DO DECRETOLEI Nº 1.736/1979. (...) 4. A jurisprudência deste STJ já se manifestou no sentido da inaplicabilidade da Súmula 182/TFR e da possibilidade de autuação do Fisco com base em demonstrativos de movimentação bancária, em decorrência da aplicação imediata da Lei n. 8.021/90 e Lei Complementar n. 105/2001. É que a Lei n. 8.021/90 já albergava a hipótese de lançamento do imposto de renda por arbitramento com base em depósitos ou aplicações bancárias, quando o contribuinte não comprovar a origem dos recursos utilizados nessas operações. Outrossim, revisar a ocorrência ou não de comprovação da origem dos recursos em questão é providência incompatível com este apelo extremo, haja vista o óbice da Súmula nº 7 do STJ. 5. Agravo interno não provido. (grifei) Anotese, ainda, que o argumento de que restou violado o seu sigilo bancário também não prospera, por ingressar na análise da constitucionalidade de seu suporte legal, o artigo 6º da Lei Complementar nº 105/2001, o que atrai a incidência no caso do art. 26A do Decreto nº 70.235/72, e da Súmula CARF nº 2, esta por força do art. 72 do RICARF: Súmula CARF nº 2: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Fl. 215DF CARF MF 6 Não bastasse, não é demasiado lembrar que a constitucionalidade dos arts. 5º e 6º da LC nº 105/01, que tratam desse tema, já foi assentada no julgamento em 24/02/2016 pelo STF, sob o rito de repercussão geral, do RE nº 603.314/SP. Ante o exposto, voto por negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 216DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10280.720859/2008-59
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Dec 03 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Mon Jan 06 00:00:00 UTC 2020
Ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA (IRPF)
Ano-calendário: 2003
OMISSÃO DE RENDIMENTOS CARACTERIZADA POR DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. FATO GERADOR ANUAL. SÚMULA CARF Nº 38.
O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA.
Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
Numero da decisão: 2202-005.788
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso para excluir da base de cálculo do lançamento os depósitos efetuados na conta do Banco Rural de nº 880012345 nos valores de R$ 199.491,60 (em 12/11/2003) e R$ 208.178,89 (30/12/2003), bem como os depósitos realizados na conta do Banco Bradesco de nº 10014, discriminados na Tabela 01.
(documento assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Mário Hermes Soares Campos, Leonam Rocha de Medeiros, Juliano Fernandes Ayres e Ronnie Soares Anderson.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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ementa_s : ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA (IRPF) Ano-calendário: 2003 OMISSÃO DE RENDIMENTOS CARACTERIZADA POR DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. FATO GERADOR ANUAL. SÚMULA CARF Nº 38. O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
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FATO GERADOR ANUAL. SÚMULA CARF Nº 38. O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso para excluir da base de cálculo do lançamento os depósitos efetuados na conta do Banco Rural de nº 880012345 nos valores de R$ 199.491,60 (em 12/11/2003) e R$ 208.178,89 (30/12/2003), bem como os depósitos realizados na conta do Banco Bradesco de nº 10014, discriminados na Tabela 01. (documento assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson – Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Mário Hermes Soares Campos, Leonam Rocha de Medeiros, Juliano Fernandes Ayres e Ronnie Soares Anderson. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 0. 72 08 59 /2 00 8- 59 Fl. 2150DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 2202-005.788 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.720859/2008-59 Trata-se de recurso voluntário interposto contra acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Belém (PA) - DRJ/BEL, que julgou procedente em parte lançamento de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) relativo ao exercício 2004, decorrente da apuração de omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada (fls. 713/756). O contribuinte impugnou a exigência (fls. 766 e ss), a qual foi parcialmente mantida no julgamento de primeiro grau, que admitiu as comprovações de origem relacionadas com a conta garantida HSBC, com o financiamento rural do Banco do Brasil, bem como parte das transferências entre contas de mesma titularidade, que ainda constavam da autuação. O acórdão exarado (fls. 2058/2095) teve a seguinte ementa: DEPÓSITOS BANCÁRIOS. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. PRESUNÇÃO LEGAL. A Lei nº 9.430, de 1996, estabeleceu uma presunção legal de omissão de rendimentos que autoriza lançar o imposto correspondente sempre que o titular da conta bancária, regularmente intimado, não comprovar, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos creditados em sua conta depósito ou de investimento. O contribuinte interpôs recurso voluntário em 21/02/2011 (fls. 2058 e ss), nos termos a seguir sintetizados, e que serão detalhados, no que necessário, na fundamentação do voto: - o lançamento sujeita-se a fato gerador mensal, portanto está decaído; - o princípio da motivação foi infringido porque o Fisco não avaliou de forma individualizada as provas e os créditos bancários supostamente omitidos, tendo ora utilizado metodologia individualizada, ora admitido toda a receita da atividade rural para diminuir dos créditos não comprovados; - seu pedido de diligência foi devidamente embasado na busca da verdade material, cabendo reiterá-lo; - o mútuo entre o recorrente e a empresa Benedito Mutran e Cia Ltda. não foi contemplado pela fiscalização, ao contrário do afirmado pela DRJ, até porque "o valor de R$ 755.558,56 só foi apresentado na impugnação"; - os créditos bancários do Banco Rural no valor de R$ 407.670,49 estão comprovados por documentos que ora apresenta como 'DOCS. X e XI', que se referem a operação de cédula de crédito bancário; - o fomento mercantil no valor de R$ 98.816,06 encontra-se atestado pelo 'DOC. XII' ora apresentado; - vários valores relativos à transferência entre contas de mesma titularidade, que discrimina, constam da lista de créditos não comprovados, diversamente do que entendeu a instância recorrida; - os recursos da atividade rural no valor de R$ 10.624.595,95, poderiam ser comprovados mediante a diligência requerida, e, caso se entendesse não estarem individualizados os créditos, deveria ser arbitrado o resultado da atividade à razão de 20%; - as parcelas do FNO BASA no valor de R$ 543.765,00 correspondem a crédito em favor do recorrente, conforme DOC. XIII que anexa ao auto de infração, cabendo protestar, ainda, por tempo adicional para apresentar documento complementar. Fl. 2151DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 2202-005.788 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.720859/2008-59 Nessa toada, peticiona, em 22/02/2011, "complementação ao item VI-5 do Recurso Voluntário protocolizado em 21.02.2011", item esse que corresponde aos créditos vinculados ao FNO. É o relatório. Voto Conselheiro Ronnie Soares Anderson, Relator O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Ainda que o contribuinte defenda ter havido decadência do lançamento por ser o fato gerador do imposto de renda mensal, a matéria já se encontra pacificada no âmbito do CARF, devendo ser refutada tal tese sem maiores delongas, com respaldo na seguinte Súmula, de observância obrigatória para os membros deste Colegiado, forte no art. 72 do RICARF: Súmula CARF nº 38: O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário. (Vinculante, conforme Portaria MF nº 383, de 12/07/2010, DOU de 14/07/2010). Sendo a infração apurada atinente ao ano-calendário 2003, e havendo o recorrente sido cientificado da autuação em 18/12/2008, não há falar em decadência, nos termos do art. 150, § 4º, do CTN. Tampouco há que se cogitar de falta de motivação da autuação; os fundamentos de fato e de direito estão devidamente circunstanciados no Relatório Fiscal de fls. 717 e ss, devendo ser ponderado que a infração combatida foi apurada tendo como base legal o art. 42 da Lei nº 9.430/96, sendo que desde o início da vigência desse preceito a existência de depósitos bancários sem comprovação da origem, após a regular intimação do sujeito passivo, passou a constituir hipótese legal de omissão de rendimentos e ou/receita. Portanto, cabe ao Fisco demonstrar a existência de depósitos bancários de origem não comprovada para que se presuma, até prova em contrário, a cargo do contribuinte, a ocorrência de omissão de rendimentos. Trata-se de presunção legal relativa, bastando assim que a autoridade lançadora comprove o fato definido em lei como necessário e suficiente ao estabelecimento da presunção, para que fique evidenciada a referida omissão, e o consequente fato gerador do imposto de renda pessoa física, a despeito do entendimento em sentido diverso trazido na peça recursal. E apesar de não haver previsão legal para que a justificação da origem se dê com coincidência de datas e valores, o § 3º do art. 42 da Lei nº 9.430/96 exige que a comprovação demandada aconteça de maneira individualizada. Destarte, intimado o recorrente a comprovar a origem dos recursos depositados/creditados, devidamente discriminados pela fiscalização, e não se desincumbindo desse ônus probatório que lhe foi legalmente transferido, ficou caracterizada a omissão de rendimentos. Por oportuno, explique-se que o abatimento das receitas da atividade rural do total de créditos sujeitos à comprovação de origem, promovido pela fiscalização, é medida que veio Fl. 2152DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 2202-005.788 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.720859/2008-59 em benefício do autuado, haja vista que traz em seu bojo o entendimento de que tais receitas transitaram pelas suas contas-correntes bancárias. Alguma mácula houvesse em tal proceder - já aceito pela jurisprudência do CARF, vide, ilustrativamente, o decidido no acórdão 9202-002.453 (j. 08/11/2012) - seria o caso não de se cogitar de nulidade por falta de discriminação, mas sim de providenciar a exclusão de tal abatimento, o que importaria em majoração do crédito tributário - situação a que se alude apenas a título argumentativo, tendo em vista o princípio de vedação ao 'reformatio in pejus'. Também sobressai como descabido o pedido de diligência formulado na decisão de primeira instância, então rejeitado, e renovado nesta segunda instância, pois os elementos para o esclarecimento e correta apreciação da causa já estão reunidos no processo, o qual se apresenta perante o julgador de segunda instância adequadamente instruído. Convém lembrar que a produção de provas com vistas a comprovar a origem dos créditos depositados em suas contas bancárias é ônus do contribuinte, tendo em vista a presunção legal estabelecida no art. 42 da lei nº 9.430/96, c/c art. 373, inciso I do CPC, cabendo-lhe sustentar a defesa de seu pedido com documentação hábil a fundamentar suas razões. No caso, caberia ao interessado, na qualidade de titular de conta corrente, ter procurado buscar, junto às correspondentes instituições financeiras em etapas anteriores do procedimento fiscal ou mesmo do contencioso, os borderôs de cobrança, documentos de parcelamento, etc., que agora demanda sejam obtidos em sede de diligência. Ressalte-se que o princípio da verdade material não serve de escusa para a inversão do ônus de prova firmado legalmente, tanto mais, repita-se, quando o momento processual apropriado já está precluso. De se rejeitar, portanto, o malfadado pedido de diligência. Passando ao mérito, o recorrente principia por alegar que parte dos mútuos que efetuou junto à empresa Benedito Mutran e Cia Ltda., e que comprovou quando da impugnação como 'DOC XIV', deveriam ter sido expurgados pela instância de piso. Trata-se de adução sem qualquer respaldo, pois pode ser verificado sem maiores dificuldades que os documentos que colacionou à impugnação como 'DOC XIV' (fls. 812 e ss ) tratam de empréstimos e movimentações que não compuseram, ao contrário do que diz o contribuinte, o montante dos depósitos sujeitos à comprovação de origem - Anexo I do auto, fls. 723 e ss. Na mesma linha, tem-se que os documentos 'DOC. XVI' da impugnação (fls. 905/907) e os documentos 'DOC. XII', anexo ao recurso voluntário (fls. 2024/2026), não possuem o condão de atestar que o valor de R$ 98.816,06 tem origem em operação de fomento mercantil com a DM Factoring. O 'DOC XVI' apenas indica terem vindo os valores em questão da factoring, mas não há documentação sobre a causa negocial que respaldou tais ingressos; e o 'DOC. XII' constitui-se apenas em cópia de página da internet que discorre sobre os serviços pretensamente prestados pela factoring, nada elucidando sobre as operações específicas sob análise. Diferentemente, tem-se que os documentos autenticados carreados às fls. 2117/2123 mostram-se hábeis a justificar a origem dos depósitos efetuados na conta do Banco Rural de nº 880012345 nas datas de 12/11/2003 (R$ 199.491,60) e 30/12/2003 (R$ 208.178,89) como sendo de liquidação de operações de empréstimo/desconto bancário, firmados com a Fl. 2153DF CARF MF Fl. 5 do Acórdão n.º 2202-005.788 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.720859/2008-59 indigitada instituição - Cédulas de Crédito Bancário com vencimento em 13/01/2004 e 07/01/2004. Anote-se que, em que pese terem sido os documentos trazidos apenas em sede de recurso voluntário, como do seu exame é possível, com grau elevado de confiabilidade, comprovar a origem dos depósitos - sem adicional dilação probatória - admite-se, excepcionalmente, o seu reconhecimento para fins de justificação dos créditos questionados. Já no pertinente às alegadas transferências entre contas corrente de mesma titularidade, o reexame dos documentos coligidos quando da impugnação confere parcial razão à irresignação do contribuinte. Aparentemente, a decisão de primeiro grau não se deu conta que os depósitos discriminados às fls. 916 e ss, referentes a transferências do Banco Rural para a conta 10014 do Banco Bradesco, deram-se entre contas de mesma titularidade, e, ainda assim, compuseram a relação de créditos não comprovados no Anexo I do auto de infração, relação da qual deveriam ter sido expurgados pela autoridade lançadora. Sendo assim, deve ser reformado o acórdão combatido também nesse ponto, para fins de excluir do lançamento os créditos discriminados na Tabela 01 abaixo, efetuados no Banco Bradesco agência nº 02195, conta nº 10014: Tabela 01 - Transferências de mesma titularidade Data Valor (em reais) 21/10/2003 46.000,00 29/10/2003 23.500,00 11/11/2003 39.200,00 14/11/2003 12.000,00 21/11/2003 18.000,00 19/12/2003 89.000,00 22/12/2003 30.000,00 Requer o recorrente, ainda, sejam considerados os recursos da atividade rural que desenvolve, "que representa 99,5% de seus rendimentos tributários", considerando restarem comprovados R$ 10.624.595,95 com os documentos que anexou ("planilhas, contratos de leilão, notas e recibos de gado", etc). Não obstante, e conforme já bem explanado pela DRJ, caberia ao recorrente trazer a comprovação individualizada de cada depósito sujeito à justificação de origem, associando-os com a documentação que apresenta. Além de não o fazer, ao arrepio das claras prescrições do art. 42 da Lei nº 9.430/96, insiste em procurar imputar à fiscalização e às instâncias julgadoras ônus probatório que é de seu encargo, mediante a proposta reiterada de diligências, mais acima já refutadas. Fl. 2154DF CARF MF Fl. 6 do Acórdão n.º 2202-005.788 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.720859/2008-59 Em outro giro, cogita ser aplicável ao seu caso, ainda que subsidiariamente, o art. 18 da Lei nº 9.250/95, que prevê o arbitramento da base de cálculo do imposto de renda à razão de 20% da receita bruta da atividade rural no ano, em caso de falta de escrituração do livro-caixa. Nessa esteira, vislumbra poder aplicar tal percentual às receitas omitidas no ano-calendário, consoante cálculo que refere. Surpreende, pelo descabimento, tal pleito. Como repetido à saciedade, a infração imputada ao contribuinte tem seu fulcro legal no art. 42 da Lei nº 9.430/96, constituindo-se todos os depósitos não comprovados individualizadamente em omissão de rendimentos por presunção legal. Quando muito, é admitido o abatimento dos rendimentos ou receitas já declaradas ao Fisco, procedimento o qual, como mais acima narrado, já foi realizado pela autoridade lançadora. O contribuinte, em seu afã de minimizar o gravame fiscal que lhe onera, buscar 'fundir' duas prescrições legais com hipóteses de incidência bastante distintas, sem qualquer respaldo normativo. O precedente administrativo que cita, à guisa de exemplo da "farta jurisprudência a respeito", trata situação completamente diversa, na qual não havia sido comprovada a totalidade das receitas da atividade rural declaradas, e estava ausente livro-caixa. Sem razão, mais uma vez, o recorrente. Ao final, refere-se às "Parcelas do FNO BASA", que seriam vinculadas a liberações de recursos da Banco da Amazônia "em função de uma contrato de empréstimo sob a forma de FNO". No fito de assim o comprovar, trouxe o 'doc. XVIII' da impugnação (fls. 934 e ss), no qual consta como mutuário, conforme bem alertou a decisão hostilizada, pessoa física diversa do autuado, não se prestando, portanto, para os fins almejados pelo então impugnante. Em sede de recurso voluntário, anexa o DOC. XIII, no qual agência do BASA refere que mais tempo será necessário para reunir os comprovantes solicitados pelo recorrente. Expirado o prazo para interposição do recurso voluntário, o contribuinte junta a título de "complementação" do recurso (fls. 2128 e ss), consoante já mencionado no relatório, uma série de documentos que a seu ver, comprovam que os depósitos em questão teriam sido efetuados por pessoas físicas que teriam adquirido em leilão produção sua, e obtiveram financiamento FNO rural no BASA para essa compra, que teria sido paga ao recorrente. Ora, há que se firmar de pronto que a apresentação desses documentos revela-se completamente intempestiva, não havendo quaisquer motivos para que só quando da interposição do recurso voluntário o contribuinte tomasse iniciativa junto à instituição financeira de buscar os documentos comprobatórios de seu pretenso direito. Vale dizer que o rito do Decreto nº 70.235/72 não prevê a figura da "complementação" do recurso voluntário. Ademais, além de vários desses documentos serem de difícil leitura tendo em vista as cópias juntadas, não restam discriminadas e devidamente comprovadas as operações de venda em leilão referidas pelo recorrente, não se podendo tecer, com o mínimo de segurança, o liame entre a receita de atividade rural já declarada à RFB, e os depósitos em apreço, o que parece ser o intento do contribuinte. Inepta é assim a documentação anexada, ao menos para os fins que ele pretende. Quanto ao estorno aludido nessa manifestação extemporânea, não se conhece de tal adução por há muito tempo preclusa, nos termos já explicados. Ante o exposto, voto por dar provimento parcial ao recurso para excluir da base de cálculo do lançamento os depósitos efetuados na conta do Banco Rural de nº 880012345 nos Fl. 2155DF CARF MF Fl. 7 do Acórdão n.º 2202-005.788 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.720859/2008-59 valores de R$ 199.491,60 (em 12/11/2003) e R$ 208.178,89 (30/12/2003), bem como os depósitos realizados na conta do Banco Bradesco de nº 10014, discriminados na Tabela 01. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 2156DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10280.722051/2014-54
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Oct 10 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Thu Oct 17 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA (IRPF)
Ano-calendário: 2009
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA.
Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INAPLICABILIDADE NO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. SÚMULA CARF 11.
Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal.
MULTA DE OFÍCIO. PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO. CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. SÚMULA CARF Nº 2.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
Numero da decisão: 2202-005.663
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(documento assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INAPLICABILIDADE NO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. SÚMULA CARF 11. Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. MULTA DE OFÍCIO. PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO. CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. SÚMULA CARF Nº 2. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (documento assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson – Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Marcelo de Sousa Sáteles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Leonam Rocha de Medeiros e Ronnie Soares Anderson. Relatório Trata-se de recurso voluntário interposto contra acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Fortaleza (CE) - DRJ/FOR, que julgou procedente em parte lançamento de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) relativo ao exercício 2010, decorrente da AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 0. 72 20 51 /2 01 4- 54 Fl. 445DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 2202-005.663 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.722051/2014-54 apuração de omissão de rendimentos caracterizados por depósitos bancários de origem não comprovada (fls. 334/345). A instância de piso relatou os termos da autuação, nos termos a seguir transcritos, no essencial (fls. 418/419): (...) Em análise dos extratos bancários, recebidos dos bancos, concernente à operação movimentação financeira incompatível com os rendimentos declarados calendário 2009, procedemos ao saneamento, destes, através da conciliação bancária, excluindo as baixa de poupanças empréstimos, resgates, etc., emitindo um Termo de Intimação, solicitando que o contribuinte comprovasse a origem dos recursos utilizados nas operações de crédito, conforme relação anexa, destacando que a não comprovação na forma e prazo estabelecido, "ensejará o lançamento de ofício, a título de omissão de receita, nos termos do art. 42, da Lei n° 9.430/96, sem prejuízo de outras sanções que couberem; transcorrido o prazo, o contribuinte solicitou prorrogação de prazo 30(trinta ) dias e depois mais 20(vinte) para poder comprovar a origem dos créditos, em razão de que, visando proporcionar ao fiscalizado a oportunidade de melhor desenvolver o exercício do ônus probatório, atribuído-lhe em face da presunção relativa inserida no art. 42 da Lei n° 9.430/96, concedemos o prazo solicitado. Atendida a solicitação, efetuamos a conferência por amostragem da documentação apresentada, efetuamos o levantamento dos não comprovados que serviram de Base de Cálculo do Crédito Tributário Apurado. Para definir o montante dos depósitos sujeito à tributação, a autoridade lançadora, após conciliação bancária, elaborou planilha detalhando os lançamentos justificados nas contas do contribuinte, conforme planilhas dos créditos, parte integrante deste Auto de Infração; Restaram não comprovados os créditos bancários , constantes da planilhas e não comprovação da origem dos mesmos, efetuamos o lançamento, apurando um crédito tributário, no valor de R$ 507.512,27 (QUINHENTOS E SE MIL QUINHENTOS E DOZE REAIS E VINTE E SETE CENTAVOS), referente ao ano calendário 2009, decorrente da infração: Omissão de Receitas Caracterizado por Valores Creditados em Conta de Depósito ou de Investimento Mantida junto a Instituição Financeira, em Relação aos quais o Titular, Pessoa Física, Regularmente Intimado, não Comprovou, Mediante Documentação Hábil e Idônea, a Origem dos Recursos Utilizados nessas Operações (art. 287, RIR/99; Lei n° 9.430, de 1996, art. 42). O contribuinte impugnou a exigência (fls. 349/405), a qual foi parcialmente mantida no julgamento de primeiro grau (fls. 416/429), sendo acatadas como comprovação de parte dos depósitos "Notas de Leilão", conforme discriminado à fl. 426. O acórdão exarado teve a seguinte ementa: DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. Incabível a alegação de decadência nas hipóteses em que a ciência do lançamento se deu antes de transcorrido o prazo de cinco anos contados da data do fato gerador do IRPF, a saber, 31 de dezembro do ano-calendário correspondente. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. PRESUNÇÃO DE OMISSÃO DE RENDIMENTOS. Para os fatos geradores ocorridos a partir de 01/01/97, a Lei nº 9.430, de 1996, em seu art. 42, autoriza a presunção de omissão de rendimentos com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. Fl. 446DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 2202-005.663 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.722051/2014-54 A presunção legal de omissão de rendimentos autoriza o lançamento do imposto correspondente, sempre que o titular e/ou o co-titular das contas bancárias ou o real beneficiário dos depósitos, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos creditados em suas contas de depósitos ou de investimentos. Face à documentação acostada aos autos, excluem-se da tributação os créditos bancários cujas origens foram comprovadas, bem como aqueles indevidamente autuados. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. RECEITA DA ATIVIDADE RURAL. Para que seja aceita como origem de depósito bancário, a receita da atividade rural deve apresentar correlação de data e valor com os depósitos existentes em conta corrente e estar comprovada por documentação hábil e idônea. Por tratar-se de tributação mais benéfica ao contribuinte, as receitas advindas da atividade rural devem ser comprovadas. MULTA DE OFÍCIO. VEDAÇÃO AO CONFISCO. Incabível a discussão do princípio constitucional que trata da vedação ao confisco, por força de exigência tributária, o qual deverá ser observado pelo legislador no momento da criação da lei. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano-calendário: 2009 DECISÕES JUDICIAIS. EFEITOS. As decisões judiciais não se constituem em normas gerais, razão pela qual seus julgados não se aplicam a qualquer outra ocorrência, senão àquela objeto da decisão. O contribuinte interpôs recurso voluntário em 28/02/2019 (fls. 435/442), cingindo-se a postular a "prescrição intercorrente do exercício de ação punitiva pela administração pública federal Lei nº 9.873/99", e a redução da multa de ofício para o percentual de 20%, por afrontar os princípios constitucionais de vedação ao confisco e de capacidade contributiva. É o relatório. Voto Conselheiro Ronnie Soares Anderson, Relator O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. A infração combatida foi apurada tendo como base legal o art. 42 da Lei nº 9.430/96, sendo que desde o início da vigência desse preceito a existência de depósitos bancários sem comprovação da origem, após a regular intimação do sujeito passivo, passou a constituir hipótese legal de omissão de rendimentos e ou/receita. Portanto, cabe ao Fisco demonstrar a existência de depósitos bancários de origem não comprovada para que se presuma, até prova em contrário, a cargo do contribuinte, a ocorrência de omissão de rendimentos. Trata-se de presunção legal relativa, bastando assim que a autoridade lançadora comprove o fato definido em lei como necessário e suficiente ao estabelecimento da presunção, para que fique evidenciada a referida omissão, e o consequente fato gerador do imposto de renda pessoa física, a despeito do entendimento em sentido diverso trazido na peça recursal. Fl. 447DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 2202-005.663 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10280.722051/2014-54 E apesar de não haver previsão legal para que a justificação da origem se dê com coincidência de datas e valores, o § 3º do art. 42 da Lei nº 9.430/96 exige que a comprovação demandada aconteça de maneira individualizada. Destarte, intimado o recorrente a comprovar a origem dos recursos depositados/creditados, devidamente discriminados pela fiscalização, e não se desincumbindo desse ônus probatório que lhe foi legalmente transferido, ficou caracterizada a omissão de rendimentos. O autuado não apresenta qualquer justificativa para justificar a origem dos depósitos que restaram não comprovados após a decisão de primeiro grau. Requer apenas, de início, a aplicação da "prescrição intercorrente do exercício de ação punitiva pela administração pública federal Lei nº 9.873/99". No entanto, o reconhecimento de prescrição intercorrente no caso concreto encontra óbice no enunciado da Súmula CARF nº 11, de observância obrigatória pelos membros deste Colegiado, nos termos do art. 72 do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF - Portaria MF nº 343/15): Súmula CARF nº 11: Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. Por seu turno, a imputação da multa de 75% advém da constituição do crédito tributário via procedimento conduzido de ofício pela fiscalização, visto que o contribuinte não cumpriu suas obrigações tributárias, e está prevista no inciso I do art. 44 da Lei nº 9.430/96. Sua aplicação, portanto, é mera decorrência da legislação, e coerente com a constatação da autoridade fiscal no particular, ou seja, não haver sido pago o tributo devido. Desse modo, no tocante às alegações de que a multa de ofício de 75% é confiscatória e viola o princípio da capacidade contributiva, e consequente prevalência do percentual de 20%, não devem elas prosperar, por ingressarem na trilha da suposta inconstitucionalidade de seu suporte legal, o art. 44 da Lei nº 9.430/96, o que atrai a incidência no caso do art. 26-A do Decreto nº 70.235/72, e da Súmula CARF nº 2, esta por força do já mencionado art. 72 do Anexo II do RICARF: Súmula CARF nº 2: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Ante o exposto, voto por negar provimento ao recurso. (documento assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 448DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10920.721168/2011-95
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 10 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Oct 18 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL (ITR)
Exercício: 2008
VALOR DA TERRA NUA
O lançamento que tenha alterado o VTN declarado, utilizando valores de terras constantes do Sistema de Preços de Terras da Secretaria da Receita Federal - SIPT, nos termos da legislação, é passível de modificação, somente, se na contestação forem oferecidos elementos de convicção, como solicitados na intimação para tal, embasados em Laudo Técnico, elaborado em consonância com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
Numero da decisão: 2202-005.447
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplica-se o decidido no julgamento do processo 10920.721160/2011-29, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. A relatoria foi atribuída ao presidente do colegiado, apenas como uma formalidade exigida para a inclusão dos recursos em pauta, podendo ser formalizado por quem o substituir na sessão.
(documento assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Leonam Rocha de Medeiros, Marcelo de Sousa Sáteles (Relator), Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima e Ronnie Soares Anderson (Presidente).
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplica-se o decidido no julgamento do processo 10920.721160/2011-29, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. A relatoria foi atribuída ao presidente do colegiado, apenas como uma formalidade exigida para a inclusão dos recursos em pauta, podendo ser formalizado por quem o substituir na sessão. (documento assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson – Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Leonam Rocha de Medeiros, Marcelo de Sousa Sáteles (Relator), Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima e Ronnie Soares Anderson (Presidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 0. 72 11 68 /2 01 1- 95 Fl. 74DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 2202-005.447 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10920.721168/2011-95 Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do Acórdão nº 2202-005.445, de 10 de setembro de 2019 - 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.721160/2011-29, paradigma deste julgamento. “Trata-se de recurso voluntário interposto contra o acórdão da 1a Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Campo Grande - MS (DRJ/CGE) que julgou improcedente a impugnação, mantendo a cobrança do crédito tributário. Segundo consta na Notificação de Lançamento, autoridade fiscal desconsiderou o Valor da Terra Nua (VTN) declarado pelo contribuinte, arbitrando o seu valor no Sistema de Preços de Terra (SIPT) da RFB, uma vez que o sujeito passivo não comprovou por meio de Laudo de Avaliação do Imóvel, conforme estabelecido na NBR 14.653-3 da ABNT, o valor da terra nua declarado. A impugnação foi julgada improcedente pela DRJ/CGE. A decisão teve a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL - ITR Exercício: 2006 Contribuinte do Imposto É considerado contnbuuite do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR. o proprietário de imóvel rural o titular de seu domínio útil ou o possuidor a qualquer título. Condomínio. A responsabilidade do recolhimento do crédito tributário lançado sobre um bem em condomínio, tendo em vista o princípio da solidariedade, cabe a qualquer um dos condôminos. Valor da Terra Nua. O lançamento que tenha alterado o VTN declarado, utilizando valores de terras constantes do Sistema de Preços de Terras da Secretaria da Receita Federal - SIPT, nos termos da legislação, é passível de modificação, somente, se na contestação forem oferecidos elementos de convicção, como solicitados na intimação] para tal, embasados em Laudo Técnico, elaborado em consonância com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. Multa de Oficio Lançada. Juros de mora. É cabível a cobrança de juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), e da multa de ofício por expressa previsão legal. Fl. 75DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 2202-005.447 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10920.721168/2011-95 O contribuinte interpôs recurso voluntário, alegando, em síntese: - que seja arbitrado o valor justo da terra nua, e não média do Município, uma vez que o imóvel em questão fica em área de difícil acesso, sem frente para via pública e com área de mata atlântica de topografia muito acidentada; - apresentou anteriormente duas avaliações de duas imobiliárias, as quais não foram aceitas, sendo que solicitou que um engenheiro florestal fizesse uma avaliação dentro dos padrões exigidos pela RFB; - solicita um prazo de 15 dias para a anexação do devido Laudo de Avaliação, com o respectivo ART do engenheiro florestal; - na posse do Laudo de Avaliação seja considerado o valor justo do imóvel, por parte do Conselho de Contribuinte; - anexa declaração do engenheiro florestal Jean Fábio Biancocini declarando a impossibilidade do cumprimento da norma técnica citada na decisão da DRJ, uma vez que não houve nenhuma transação imobiliária na região que se situa o imóvel; - que seja considerado pelo Conselho de Contribuintes as avaliações feitas por profissionais habilitados para a devida comercialização de imóveis da região. É o relatório.” Fl. 76DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 2202-005.447 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10920.721168/2011-95 Voto Conselheiro Ronnie Soares Anderson, Relator. Este processo foi julgado na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplica-se o decidido no Acórdão nº 2202-005.445, de 10 de setembro de 2019 - 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária, proferido no âmbito do processo n° 10920.721160/2011-29, paradigma deste julgamento. Transcreve-se, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido na susodita decisão paradigma, a saber, Acórdão nº 2202-005.445, de 10 de setembro de 2019 - 2ª Câmara/2ª Turma Ordinária: “O recurso foi apresentada tempestivamente, atendendo também aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. Antes, ainda, da análise dos argumentos de mérito é importante lembrar que, com base na Lei n° 9.393/1996, o ITR passou a ser lançado por homologação, cabendo ao contribuinte apurar o imposto, através de declaração, e proceder ao seu recolhimento sem o exame prévio da autoridade fiscal e sem a necessária comprovação, também prévia, dos dados declarados, conforme disposto no artigo 150, da Lei n° 5.172/1966, o Código Tributário Nacional - CTN. Por outro lado o fato de haver dispensa da prévia comprovação do declarado, ou seja, de apresentar documentos comprobatórios no ato da entrega das declarações, não exclui do contribuinte a responsabilidade de manter em sua guarda, no prazo legal, os documentos que devem ser apresentados ao fisco quando solicitado ou, dependendo das características da prova, providenciar sua elaboração, como no caso do laudo técnico. Desta forma, fica clara a existência de legislação que obriga o contribuinte a fazer prova do declarado, fato que corrobora que o ônus da prova cabe ao declarante, estando correto o procedimento fiscal. O artigo 14, da mencionada Lei 9.393/1996, embasa o lançamento de ofício no caso de informações inexatas ou não comprovadas, constatadas, posteriormente, quando do procedimento fiscal de análise dos dados declarados. Relativamente ao VTN, quando da análise das DITR o fiscal verificar que o valor atribuído ao imóvel está aquém dos valores médios informados nas declarações da região, bem como dos valores constantes da tabela SIPT, o procedimento deve ser de intimação do declarante para comprovar a origem dos valores declarados e a forma de cálculo utilizada, entre outros. Para tal, o documento eficaz que possibilita essa comprovação é o laudo técnico, elaborado em atenção às normas constantes da ABNT, órgão orientador e controlador dos trabalhos de profissionais da área, acompanhado dos documentos que comprovam a caracterização do imóvel, as fontes idôneas de pesquisa, a similitude da propriedade em relação às amostras levantadas, entre outros. Fl. 77DF CARF MF Fl. 5 do Acórdão n.º 2202-005.447 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10920.721168/2011-95 Assim, com base nos referidos dispositivos legais, para verificar a correição da declaração, como já dito, o contribuinte foi intimado a apresentar os documentos comprobatórios do Valor da Terra Nua (VTN), qual seja: - Laudo de avaliação do Valor da Terra Nua do imóvel emitido por engenheiro agrônomo ou florestal, conforme estabelecido na NBR 14.653 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT com grau de fundamentação e precisão II, com anotação de responsabilidade técnica - ART registrada no CREA, contendo todos os elementos de pesquisa identificados e planilhas de cálculo e preferivelmente pelo método comparativo direto de dados de mercado. Alternativamente o contribuinte poderá se valer de avaliação efetuada pelas Fazendas Públicas Estaduais (exatorias) ou Municipais, assim como aquelas efetuadas pela Emater, apresentando os métodos de avaliação e as fontes pesquisadas que levaram á convicção do valor atribuído ao imóvel. Como não houve o envio dos documentos comprobatórios solicitados, o Fisco procedeu o arbitramento do VTN com base no SIPT de forma escoreita. O arbitramento do VTN, com base no SIPT - Sistema Integrado de Preços de Terras, está previsto no art. 14, da Lei n° 9.393, de 1.996 e Portaria SRF n. 447/2002: Lei n. 9393/1996 Art. 14. No caso de falta de entrega do DIAC ou do DIAT, bem como de subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas, a Secretaria da Receita Federal procederá à determinação e ao lançamento de oficio do imposto, considerando informações sobre preços de terras, constantes de sistema a ser por ela instituído, e os dados de área total, área tributável e grau de utilização do imóvel, apurados em procedimentos de fiscalização. §1° As informações sobre preços de terra observarão os critérios estabelecidos no art. 12, § 1º inciso II da Lei n° 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, e considerarão levantamentos realizados pelas Secretarias de Agricultura das Unidades Federadas ou dos Municípios. Portaria SRF n. 447/2002 Art. 1º Fica aprovado o Sistema de Preços de Terras (SIPT) em atendimento ao disposto no art. 14 da Lei nº 9.393, de 1996, que tem como objetivo fornecer informações relativas a valores de terras para o cálculo e lançamento do Imposto Territorial Rural (ITR). (...) Art. 3º A alimentação do SIPT com os valores de terras e demais dados recebidos das Secretarias de Agricultura ou entidades correlatas, e com os valores de terra nua da base de declarações do ITR, será efetuada pela Cofis e pelas Superintendências Regionais da Receita Federal. Portanto, o arbitramento com base no SIPT tem previsão legal. Em sua impugnação/recurso, caberia ao contribuinte demonstrar por meio do Laudo de Avaliação, nos padrões estabelcidos pela NBR 14.653 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT com grau de fundamentação e precisão II, com anotação de responsabilidade técnica - ART registrada no CREA, contendo todos os elementos de pesquisa identificados e planilhas de cálculo e preferivelmente pelo Fl. 78DF CARF MF Fl. 6 do Acórdão n.º 2202-005.447 - 2ª Sejul/2ª Câmara/2ª Turma Ordinária Processo nº 10920.721168/2011-95 método comparativo direto de dados de mercado, o valor equívocado do VTN com base no SIPT efetuado pela fiscalização, o que não ocorreu no presente caso. Como bem demonstrou a decisão de origem, as Avaliações apresentadas nos autos não são adequadas para contestar o VTN com base no SIPT da Receita Federal do Brasil, por não possuir o rigor de Laudo Técnico elaborado por profissional habilitado, não consta a especificação da metodologia aplicada para apurar a avaliação atribuída ao imóvel, memória de cálculo e as fontes pesquisadas. Esclareço ainda que as supostas dificuldades alegadas pelo Recorrente em elaborar um Laudo de Avaliação, nos padrões estabelcidos pela NBR 14.653 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, não são suficientes para que sejam aceitas avaliações feitas por corretores de imóveis, em detrimento do arbitramento pelo SIPT. Com isso, concluo por manter VTN com base no SIPT efetuado pela fiscalização. Conclusão Ante o exposto, voto em negar provimento ao recurso.” Ante o exposto, voto em negar provimento ao recurso. (documento assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 79DF CARF MF
score : 1.0