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Numero do processo: 13888.901108/2014-39
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Apr 11 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Jul 04 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2009
DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA.
Incumbe ao sujeito passivo a demonstração, acompanhada das provas hábeis, da composição e existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa.
Numero da decisão: 1402-003.070
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de nulidade do Acórdão a quo e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário, mantendo a decisão recorrida, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado.
(assinado digitalmente)
Paulo Mateus Ciccone Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Rogério Borges, Caio Cesar Nader Quintella, Edgar Bragança Bazhuni, Leonardo Luis Pagano Goncalves, Evandro Correa Dias, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei e Paulo Mateus Ciccone (presidente).
Nome do relator: PAULO MATEUS CICCONE
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2009 DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. Incumbe ao sujeito passivo a demonstração, acompanhada das provas hábeis, da composição e existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de nulidade do Acórdão a quo e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário, mantendo a decisão recorrida, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone – Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Rogério Borges, Caio Cesar Nader Quintella, Edgar Bragança Bazhuni, Leonardo Luis Pagano Goncalves, Evandro Correa Dias, Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Demetrius Nichele Macei e Paulo Mateus Ciccone (presidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 88 8. 90 11 08 /2 01 4- 39 Fl. 47DF CARF MF Processo nº 13888.901108/201439 Acórdão n.º 1402003.070 S1C4T2 Fl. 3 2 Relatório A origem do litígio aqui presente remonta ao Despacho Decisório exarado em relação ao pedido original da contribuinte expresso em PER/DCOMP apresentado perante a Autoridade Tributária de sua jurisdição e no qual buscou ver reconhecido seu direito creditório e consequente compensação com débitos de sua responsabilidade. O requerido foi indeferido sob entendimento do DD de que "a partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos relacionados, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos informados no PER/DCOMP". Irresignada, a contribuinte interpôs manifestação de inconformidade que, apreciada em 1ª Instância pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento (fls. nos autos), foi julgada improcedente, não reconhecendo o direito creditório pleiteado. Discordando do r. decisum, a contribuinte interpôs recurso voluntário tempestivo no qual reafirma a correção de seu procedimento e requer a reforma da decisão de 1º Piso de forma a reconhecer o direito creditório buscado e homologar a compensação requerida, aduzindo, em síntese, os seguintes argumentos: PRELIMINARMENTE 1. que, “a r. decisão primitiva sequer detalhou ou especificou por quais razões o contribuinte ora recorrente não possuiria o crédito que alega possuir, eis que haviam vários outros elementos que poderiam, e deveriam, ser analisados, e se os fossem, certamente permitiriam inferirse de modo diverso, análise esta que era condição sine qua non para alicerçar as razões de decidir do despacho decisório”; 2. que, “em outras palavras, foi dificultado ao recorrente repelir, amplamente, a decisão do julgador de primeiro grau, o que é direito constitucionalmente assegurado. A falta destes elementos concretos, fundamentos embasados na legislação, e de dados que pudessem permitir ao contribuinte contra razoar o r. despacho rescisório implicam na anulação do mesmo, pois ao não garantir o amplo direito de defesa à recorrente, o r. despacho decisório avilta também, conseqüentemente, o princípio do devido processo legal”; 3. que, “na falta de elementos que confiram ao contribuinte chance de defenderse amplamente da r. decisão do órgão fiscal originário, o presente processo administrativo não terá seu deslinde normal, razão pela contrariouse o consagrado devido processo legal”; 4. que, “ante à ausência de fundamentos legais imprescindíveis, desde o momento em que foi exarado o r. despacho decisório o curso deste processo administrativo foi atingido por uma nulidade, o que somente poderá ser sanada Fl. 48DF CARF MF Processo nº 13888.901108/201439 Acórdão n.º 1402003.070 S1C4T2 Fl. 4 3 através da integral anulação do processo administrativo desde o início, inclusive do V. Acórdão recorrido que manteve o despacho decisório”; 5. que, “requerse que estes Ínclitos Julgadores em sede prelibatória anulem este processo administrativo desde o r. despacho decisório de origem, determinando o retorno dos autos à origem para que seja preferida decisão compatível com os princípios que norteiam os processos administrativos”. NO MÉRITO Depois de fazer breve histórico da COFINS e do PIS, aponta para decisão prolatada pelo STF acerca da inclusão do ICMS na base de cálculo naquelas contribuições. Literalmente: “Recentemente a matéria foi definitivamente arraigada pelo C. Supremo Tribunal Federal quando do julgamento do Recurso Extraordinário nº 240.7852 MG, onde o contribuinte se consagrou vencedor e foi definitivamente julgada a questão no sentido de que se deve excluir o ICMS da base de cálculo do PIS e COFINS. Oportuno ressaltar os ensinamentos do Min. Marco Aurélio que nos autos do aludido julgamento cravou: (...) Assim, somente se pode concluir que o valor do ICMS não pode ser incluído na base de cálculo da COFINS e do PIS, por não ser incluído no conceito de "faturamento", mas mero "ingresso" na escrituração contábil das empresas, razão pela qual por todas as razões aqui expendidas, bem assim pelo quanto retro sustentado, é que se faz de solar clareza a necessidade de reformar a r. decisão guerreada e homologar as compensações levadas a termo através das PERDCOMPs cotejadas. Reiterese, porque se cuida de decisão recente e nova no mundo tributário, posto que o Supremo Tribunal Federal decidiu definitivamente que o ICMS não entra na base de cálculo da Cofins e do PIS (Recurso Extraordinário nº 240.7852 MG), de modo que a inclusão do ICMS na base de cálculo das Contribuições ao PIS e à Cofins é ilegítima e inconstitucional, pois fere o princípio da estrita legalidade previsto no artigo 150, I da CF/88 e 97 do CTN, o artigo 195, I, “b” da CF/88 e o art. 110 do CTN, porque receita e faturamento são conceitos de direito privado que não podem ser alterados, pois a Constituição Federal os utilizou expressamente para definir competência tributária, pelo que resta evidente o crédito da Recorrente e se requer a reforma do V. Acórdão neste particular para que sejam definitivamente homologadas as compensações levadas a termo pelo contribuinte recorrente”. DO DIREITO DO CONTRIBUINTE À COMPENSAÇÃO Prossegue argumentando ter direito à compensação em face da exclusão do ICMS das bases de cálculo do PIS e da COFINS e que, por este motivo, “caberia à Autoridade recorrida verificar o crédito do Recorrente, para aferir pela sua procedência ou não, sendo certo que se assim o fizesse a autoridade administrativa singular, certamente homologaria a compensação em Fl. 49DF CARF MF Processo nº 13888.901108/201439 Acórdão n.º 1402003.070 S1C4T2 Fl. 5 4 apreço, sendo que de tudo quanto exposto, somente se pode inferir que o V. Acórdão em questão deve mesmo ser reformado, o que se requer adiante”. DO PEDIDO E conclui requerendo “o regular processamento, ulterior apreciação, concessão de efeito suspensivo e PROVIMENTO TOTAL ao presente RECURSO VOLUNTÁRIO, para o fim de reformar o V. Acórdão exarado pela instância a quo, para que, preliminarmente, seja reformado o V. Acórdão recorrido para que seja anulado o vertente processo administrativo, nos moldes da fundamentação supra, tendo em vista a ofensa ao princípio do contraditório e do devido processo legal, e para que, no seu mérito, seja reformado o V. Acórdão recorrido para que sejam homologadas as almejadas compensações e finalmente reconhecido o crédito da Recorrente”. É o relatório do essencial, em apertada síntese. Voto Conselheiro Paulo Mateus Ciccone Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1402003.018, de 11/04/2018, proferido no julgamento do Processo nº 13888.901078/2014 61, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1402003.018): "O Recurso Voluntário é tempestivo e dotado dos pressupostos para sua admissibilidade, pelo que o recebo e dele conheço. Afasto, de plano, a preliminar de nulidade do acórdão a quo, tendo em vista não presentes quaisquer fatos que pudessem levar a esta decisão. De fato, o que se observa é a irresignação da recorrente em razão da decisão de 1º Piso lhe ter sido desfavorável e não porque tenha o aresto qualquer ponto ou item que afronte a legislação ou atos processuais e possa levar à sua anulação. Digase, o acórdão foi prolatado em estrita obediência às normas legais e regimentais, foram apreciadas todas as provas e Fl. 50DF CARF MF Processo nº 13888.901108/201439 Acórdão n.º 1402003.070 S1C4T2 Fl. 6 5 documentos acostados aos autos e analisada a manifestação da contribuinte. Se o decidido lhe foi desfavorável não significa nulidade. Só entendimento da Turma Julgadora. Preliminar rejeitada. Passo ao mérito. Sabidamente, o ônus da prova cabe ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito (Código do Processo Civil – CPC/1973, art. 333, I; atual CPC, artigo 373, I). No caso de pedidos de ressarcimento ou restituição, o interessado deve trazer provas de que possui direito líquido e certo contra a Fazenda Pública e assim deve ser repetido tributariamente para recompor o patrimônio subtraído por pagamento de um tributo de forma indevida. Não o fazendo, suas alegações ficam meramente neste terreno e seu direito se perde. Em outro dizer, a existência de crédito líquido e certo é requisito legal para a concessão da compensação (CTN, art. 170). Pelo princípio da Indisponibilidade do Interesse Público e pela vinculação da função pública, é inadmissível que a RFB aceite a extinção do tributo por compensação com crédito que não seja comprovadamente certo nem possa ser quantificado. Concretamente, se o DARF indicado como crédito foi utilizado para pagamento de um tributo declarado pelo próprio contribuinte, a decisão da RFB de indeferir o pedido de restituição ou de não homologar a compensação está correta. No caso, o DARF foi utilizado para pagamento do tributo confessado na Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), informação da lavra da própria contribuinte. É certo que este quadro pode ser alterado. Mas isso exige prova concreta por parte da contribuinte, afinal é ela a autora e para modificar o ato administrativo cabelhe demonstrar onde está o erro no valor declarado ou nos cálculos efetuados pela RFB. Não o fazendo – como não o fez , o indeferimento permanece. Acresçase que, concretamente, a contribuinte não acostou um documento sequer, nem escrituração contábil ou fiscal que possa mostrar o direito que alega ter. Sua linha de argumento limitase em afirmar que a Suprema Corte (em decisão ainda sem efeito erga omnes) teria decidido pela exclusão do ICMS da base de cálculo das contribuições sociais (PIS e COFINS), sem sequer quantificar o reflexo disso em seus demonstrativos contábeis. Fl. 51DF CARF MF Processo nº 13888.901108/201439 Acórdão n.º 1402003.070 S1C4T2 Fl. 7 6 Ou seja, meras alegações sem que tenham vindo aos autos quaisquer provas, cálculos ou decisão que lhe aproveitasse. Sabidamente, a base de cálculo das Contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS é o faturamento. E que só pode ser mudado por via legislativa ou decisão judicial, esta que aproveite individualmente a recorrente ou que seja prolatada com efeito erga omnes. Não há, no caso, nem um nem outro. Desse modo, especificamente quanto ao Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS, somente podem ser excluídos da receita (base de cálculo do PIS e da COFINS) o ICMS, quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos serviços na condição de substituto tributário, no regime cumulativo, e a receita decorrente da transferência onerosa a outros contribuintes do ICMS de créditos de ICMS originados de operações de exportação em ambos os regimes. Admitir qualquer outra exclusão equivaleria a afastar a aplicação da lei, o que é vedado na esfera administrativa. Portanto, essa discussão é estéril em sede de julgamento administrativo. Finalmente, como bem observado pela decisão de 1º Piso, a recorrente transmitiu inúmeras declarações de compensação informando como crédito passível de compensação um único DARF e nos pedidos de compensação formalizados pela recorrente, os débitos que intenta compensar ultrapassam – e muito o valor desse suposto crédito. Por fim, não se olvide, só se permite compensação com a utilização de créditos dotados de liquidez e certeza (art. 170, do CTN): Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública. (Vide Decreto nº 7.212, de 2010) E valores incomprovados não possuem estes requisitos. A jurisprudência administrativa é pacífica em torno do tema: PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. ÔNUS DA PROVA. A prova do indébito tributário, fato jurídico a dar fundamento ao direito de repetição ou à compensação, compete ao sujeito passivo que teria efetuado o Fl. 52DF CARF MF Processo nº 13888.901108/201439 Acórdão n.º 1402003.070 S1C4T2 Fl. 8 7 pagamento indevido ou maior que o devido. (Acórdão nº 10323579, sessão de 18/09/2008) Por todo o exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário, mantendo a decisão recorrida.' Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, rejeito a preliminar de nulidade do Acórdão a quo e, no mérito, nego provimento ao recurso voluntário mantendo a decisão recorrida. (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Fl. 53DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.928620/2009-25
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu May 17 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Jun 07 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2006
COMPENSAÇÃO. PAGAMENTOS INDEVIDOS DE ESTIMATIVA. AUTO DE INFRAÇÃO. LUCRO ARBITRADO. INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS POR ESTIMATIVA. VALORES RECOLHIDOS COMPENSADOS NA AUTUAÇÃO.
Contatando-se que o período de apuração referente aos créditos solicitados foi objeto de desclassificação da escrita e arbitramento, não mais existem débitos devidos a título de estimativa.
Também não mais existem os créditos decorrentes de pagamentos a maior em razão de todos os pagamentos terem sido utilizados, durante a autuação, no abatimento dos tributos apurados pelo lucro arbitrado.
Numero da decisão: 1401-002.578
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Abel Nunes de Oliveira Neto- Relator.
Participaram do presente Julgamento os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Lívia de Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente)
Nome do relator: ABEL NUNES DE OLIVEIRA NETO
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 2006 COMPENSAÇÃO. PAGAMENTOS INDEVIDOS DE ESTIMATIVA. AUTO DE INFRAÇÃO. LUCRO ARBITRADO. INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS POR ESTIMATIVA. VALORES RECOLHIDOS COMPENSADOS NA AUTUAÇÃO. Contatando-se que o período de apuração referente aos créditos solicitados foi objeto de desclassificação da escrita e arbitramento, não mais existem débitos devidos a título de estimativa. Também não mais existem os créditos decorrentes de pagamentos a maior em razão de todos os pagamentos terem sido utilizados, durante a autuação, no abatimento dos tributos apurados pelo lucro arbitrado.
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PAGAMENTOS INDEVIDOS DE ESTIMATIVA. AUTO DE INFRAÇÃO. LUCRO ARBITRADO. INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS POR ESTIMATIVA. VALORES RECOLHIDOS COMPENSADOS NA AUTUAÇÃO. Contatandose que o período de apuração referente aos créditos solicitados foi objeto de desclassificação da escrita e arbitramento, não mais existem débitos devidos a título de estimativa. Também não mais existem os créditos decorrentes de pagamentos a maior em razão de todos os pagamentos terem sido utilizados, durante a autuação, no abatimento dos tributos apurados pelo lucro arbitrado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Abel Nunes de Oliveira Neto Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 92 86 20 /2 00 9- 25 Fl. 113DF CARF MF 2 Participaram do presente Julgamento os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Lívia de Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga, Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente) Relatório Trata o presente processo de PER/DCOMP apresentado pela empresa no qual solicita a compensação de pretensos créditos relativos a pagamento a maior de CSLL devida por estimativa. A origem dos créditos, consoante informado pelo recorrente desde sua impugnação, baseiase na retificação dos valores de apuração que, após a retificação das DIPJ e DCTF da empresa, resultaram como pagos a maior. Com base nestes créditos a empresa, por meio do PER/DCOMP objeto deste processo, a empresa realizou a compensação com débito da mesma contribuição de períodos subseqüentes. Quando da análise do PER/DCOMP o sistema informatizado reconheceu a existência do crédito mas, no entanto, considerou improcedente a utilização do crédito posto que o art. 10 da IN RFB nº 600/2005, veda a possibilidade de utilização de créditos relativos a pagamentos a maior de estimativa para a quitação dos valores devidos por estimativa de meses subseqüentes. O contribuinte, irresignado apresentou manifestação de inconformidade alegando a existência do crédito. A Delegacia de Julgamento, na análise da manifestação, a considerou improcedente. Ainda inconformado o contribuinte apresentou recurso voluntário no qual entende que não é cabível o indeferimento do crédito com base no art. 10, da IN 600/2005, haja vista que, quando da prolação do despacho decisório de nãohomologação referida norma não mais estava em vigor. É o breve relatório. Voto Conselheiro Abel Nunes de Oliveira Neto Relator A análise do presente processo prendese, em síntese, à verificação da possibilidade de utilização de créditos relativos a pagamentos a maior da CSLL com débitos da Fl. 114DF CARF MF Processo nº 11080.928620/200925 Acórdão n.º 1401002.578 S1C4T1 Fl. 112 3 mesma contribuição de períodos subseqüentes e, ainda, a força impeditiva do art. 10, da IN RFB nº 600/2005. A norma questionada impedia a utilização, por parte do contribuinte, dos valores pagos a maior durante o anocalendário com outros débitos com base na justificativa de que os valores pagos a maior por estimativa deveriam ser levados ao ajuste do exercício, como se pagamentos por estimativas fossem, no sentido de que estes pagamentos a maior compusessem o saldo credor a vir ser apurado no exercício. Ocorre, no entanto, que referida norma impeditiva não encontra respaldo nos ditames da Lei nº 9.430/96, no que trata de restituição/compensação. Assim, se um pagamento foi realizado a maior em um determinado período. A existência do crédito relativo a este pagamento a maior exsurge desde a data do referido recolhimento, na forma do art, 170, do CTN, matriz legal de todas as normas de compensação. A limitação realizada pelo art. 10, da IN 600/2005 desborda dos limites impostos pela normas a ela superiores e, por isso, não pode produzir eficácia contra os direitos nestas inseridos. Em conformidade com este entendimento é que o CARF já se posicionou de forma consolidada, emitindo a Súmula nº 84, conforme abaixo transcrita e consoante os acórdão paradigmas precedentes que a justificaram. Súmula CARF nº 84: Pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação. Acórdão nº 120100.404, de 23/2/2011 Acórdão nº 120200.458, de 24/1/2011 Acórdão nº 110100.330, de 09/7/2010 Acórdão nº 910100.406, de 02/10/2009 Acórdão nº 10515.943, de 17/8/2006. Verificado o teor da Súmula acima apresentada, há de se rever as decisões atacadas pelo recorrente. Assim decorreria este voto, quando da época de sua elaboração. Ocorre, no entanto, que iniciada a sessão de julgamento a representante do contribuinte informou acerca da existência de auto de infração lavrado por meio do processo nº 11080.732426/201161, pela sistemática do lucro arbitrado, no qual os pagamentos a maior de IRPJ e CSLL por estimativa realizados no ano e solicitados pela empresa em PER/DCOMP, para a compensação das estimativas devidas do mês de dezembro/2006. Verificase, pela consulta ao processo de auto de infração que para o ano de 2006 foi desconsiderada a escrituração fiscal da empresa e foi realizado o lançamento pelo lucro arbitrado trimestral. Da realização do lançamento foram utilizados os pagamentos por estimativa que não compuseram os saldos negativos já utilizados pela empresa (fls. 8831/8835 do processo nº 11080.732426/201161). Mais ainda, verificase que, sendo arbitrado o lucro, Fl. 115DF CARF MF 4 deixam de ser existentes os débitos por estimativa do ano de 2006, dada a modificação da sistemática de apuração do lucro. Ainda em consulta ao referido auto de infração constatamos que o mesmo já foi julgado em última instância por este CARF e mantido em definitivo os valores lavrados, já estando em fase de execução judicial (fls. 93232/93241 do processo nº 11080.732426/2011 61). À vista do exposto temos então que o PER/DCOMP objeto do presente processo, no qual são utilizados os pagamentos a maior de estimativas do ano de 2006 para a compensação com débitos de estimativa do mesmo ano, perdeu totalmente seu objeto, tanto pelo desaparecimento dos créditos, quanto dos débitos, em face da lavratura de auto de infração pelo lucro arbitrado já julgado em definitivo na esfera administrativa. Por estas razões, deixo de analisar o presente recurso apenas em relação às limitações que levaram ao indeferimento do pedido e, analisando o caso em vista da verdade material, verificandose que deixaram de existir os débitos declarados no PER/DCOMP objeto deste processo, havemos de julgar no sentido de deixar de reconhecer os créditos em face de sua atual inexistência e determinar o cancelamento dos débitos declarados no PER/DCOMP em razão de igualmente não mais existirem, tudo em razão da lavratura do auto de infração pelo lucro arbitrado que modificou integralmente a situação dos débitos e créditos objeto do presente processo. Neste sentido voto por dar provimento ao recurso para: 1) Deixar de analisar os créditos solicitados, relativos aos pagamentos a maior de estimativa em razão de os créditos terem deixado de existir em face da lavratura do auto de infração do mesmo ano, no qual os referidos pagamentos foram utilizados; 2) Determinar o cancelamento dos débitos compensados no presente processo, tendo em vista trataremse de débitos de estimativa do ano de 2006, em face, também, da lavratura de auto de infração que apurou o IRPJ pelo lucro arbitrado e por consequência desfaz qualquer obrigação de recolhimento por estimativa. (assinado digitalmente) Abel Nunes de Oliveira Neto Relator Fl. 116DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19515.004113/2008-78
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 03 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed May 23 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2003 a 31/12/2005
AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
1. A autuação está baseada no entendimento, da autoridade fiscal, de que o sujeito passivo, ao descumprir os termos da Lei da PLR, não seria "isento" do pagamento das contribuições devidas à seguridade social.
2. A acusação fiscal arrolou de forma clara todos os fatos e fundamentos que ensejaram a desconsideração dos acordos, tais como a alegada ausência de negociação dos planos, a falta de participação do sindicato, a inexistência de acordos prévios, etc, não tendo havido qualquer omissão quanto à busca da verdade real.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A OUTRAS ENTIDADES E FUNDOS. DECADÊNCIA. RECOLHIMENTO ANTECIPADO. EXISTÊNCIA DIANTE DO RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. ART. 150, § 4º, DO CTN.
1. O prazo decadencial para o lançamento é regido pelo art. 150, § 4º, do CTN, se, inexistindo dolo, fraude ou simulação, houver pagamento parcial.
2. O critério de determinação da regra decadencial (art. 150, § 4º ou art. 173, inc. I, do CTN) é a existência de pagamento antecipado do tributo, ainda que parcial, mesmo que não tenha sido incluída na sua base de cálculo a rubrica ou o levantamento específico apurado pela fiscalização.
3. Quanto às contribuições devidas a terceiros, que é o caso em discussão, o § 3º do art. 3º da Lei 11457/07 preleciona que elas se sujeitam aos mesmos prazos, condições e privilégios das contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 da Lei 8212/91, e das contribuições instituídas a título de substituição.
4. As contribuições de terceiros têm o mesmo fato gerador e a mesma base de cálculo das contribuições previdenciárias (o pagamento de remuneração).
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA.
Como se conclui pela leitura do art. 7º, inc. XI, da Constituição Federal, a norma é de eficácia limitada, pois expressamente atribuiu à lei a competência para desvincular, da remuneração, a participação do trabalhador nos lucros ou resultados da empresa.
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS PLR. REQUISITOS DA LEI Nº 10.101/2000. AUSÊNCIA DE FIXAÇÃO PRÉVIA DE CRITÉRIOS PARA RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO. DESCONFORMIDADE COM A LEI REGULAMENTADORA. INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO.
Os valores auferidos por segurados obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social a título de participação nos lucros ou resultados da empresa, quando pagos ou creditados em desconformidade com a lei específica, integram o conceito jurídico de Salário-de-Contribuição para todos os fins previstos na Lei de Custeio da Seguridade Social.
A ausência da estipulação entre as partes trabalhadora e patronal, de metas e objetivos previamente ao início do período aquisitivo do direito ao recebimento de participação nos lucros e resultados da empresa, caracteriza descumprimento da lei que rege a matéria. Decorre disso, a incidência de contribuição previdenciária sobre a verba.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. ACORDOS SEM AUTENTICAÇÃO.
A Lei 10.101/2000 não exige nenhuma outra formalidade especial, senão aquelas arroladas no seu art. 2º, dentre as quais não se encontra a necessidade de autenticação.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. ACORDO VIA COMISSÃO PARITÁRIA. NECESSIDADE DE PARTICIPAÇÃO DO SINDICATO.
A recorrente não demonstrou que a comissão escolhida pelas partes estava realmente integrada por um representante sindical, o que infringe o disposto no inc. I do art. 2ª da Lei 10101/2000, inclusive com a redação anterior à Lei 12823/2013.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. EXISTÊNCIA DE REGRAS CLARAS E OBJETIVAS.
1. A clareza e a objetividade têm que ser das regras, não havendo qualquer vedação quanto ao estabelecimento de critérios comportamentais, cuja avaliação não é necessariamente subjetiva.
2. A psicologia revela que comportamentos podem sim ser mensurados de acordo com critérios objetivos de análise.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. VERIFICAÇÃO DE CUMPRIMENTO DOS ACORDOS COLETIVOS.
O sujeito passivo anexou à sua defesa administrativa as planilhas demonstrativas da mensuração das regras da PLR, o que, em verdade, sequer foi objeto de análise pela Delegacia de Julgamento.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. GRATIFICAÇÕES ESPECIAIS. LANÇAMENTO EM OUTRO AUTO DE INFRAÇÃO.
Como esclarecido no relatório fiscal, as gratificações especiais foram objeto de lançamento em outro Auto de Infração.
Numero da decisão: 2402-006.074
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, afastar a preliminar de nulidade para, pelo voto de qualidade, afastar a decadência e negar provimento recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros João Victor Ribeiro Aldinucci (Relator), Jamed Abdul Nasser Feitoza, Renata Toratti Cassini e Gregorio Rechmann Junior que deram provimento parcial. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho.
(assinado digitalmente)
Mário Pereira de Pinho Filho - Presidente e Redator Designado
(assinado digitalmente)
João Victor Ribeiro Aldinucci - Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mário Pereira de Pinho Filho, Ronnie Soares Anderson, João Victor Ribeiro Aldinucci, Mauricio Nogueira Righetti, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Luis Henrique Dias Lima, Renata Toratti Cassini e Gregorio Rechmann Junior.
Nome do relator: JOAO VICTOR RIBEIRO ALDINUCCI
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NULIDADE. INEXISTÊNCIA. 1. A autuação está baseada no entendimento, da autoridade fiscal, de que o sujeito passivo, ao descumprir os termos da Lei da PLR, não seria "isento" do pagamento das contribuições devidas à seguridade social. 2. A acusação fiscal arrolou de forma clara todos os fatos e fundamentos que ensejaram a desconsideração dos acordos, tais como a alegada ausência de negociação dos planos, a falta de participação do sindicato, a inexistência de acordos prévios, etc, não tendo havido qualquer omissão quanto à busca da verdade real. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A OUTRAS ENTIDADES E FUNDOS. DECADÊNCIA. RECOLHIMENTO ANTECIPADO. EXISTÊNCIA DIANTE DO RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. ART. 150, § 4º, DO CTN. 1. O prazo decadencial para o lançamento é regido pelo art. 150, § 4º, do CTN, se, inexistindo dolo, fraude ou simulação, houver pagamento parcial. 2. O critério de determinação da regra decadencial (art. 150, § 4º ou art. 173, inc. I, do CTN) é a existência de pagamento antecipado do tributo, ainda que parcial, mesmo que não tenha sido incluída na sua base de cálculo a rubrica ou o levantamento específico apurado pela fiscalização. 3. Quanto às contribuições devidas a terceiros, que é o caso em discussão, o § 3º do art. 3º da Lei 11457/07 preleciona que elas se sujeitam aos mesmos prazos, condições e privilégios das contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 da Lei 8212/91, e das contribuições instituídas a título de substituição. 4. As contribuições de terceiros têm o mesmo fato gerador e a mesma base de cálculo das contribuições previdenciárias (o pagamento de remuneração). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 41 13 /2 00 8- 78 Fl. 518DF CARF MF 2 CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA. Como se conclui pela leitura do art. 7º, inc. XI, da Constituição Federal, a norma é de eficácia limitada, pois expressamente atribuiu à lei a competência para desvincular, da remuneração, a participação do trabalhador nos lucros ou resultados da empresa. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS PLR. REQUISITOS DA LEI Nº 10.101/2000. AUSÊNCIA DE FIXAÇÃO PRÉVIA DE CRITÉRIOS PARA RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO. DESCONFORMIDADE COM A LEI REGULAMENTADORA. INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO. Os valores auferidos por segurados obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social a título de participação nos lucros ou resultados da empresa, quando pagos ou creditados em desconformidade com a lei específica, integram o conceito jurídico de SaláriodeContribuição para todos os fins previstos na Lei de Custeio da Seguridade Social. A ausência da estipulação entre as partes trabalhadora e patronal, de metas e objetivos previamente ao início do período aquisitivo do direito ao recebimento de participação nos lucros e resultados da empresa, caracteriza descumprimento da lei que rege a matéria. Decorre disso, a incidência de contribuição previdenciária sobre a verba. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. ACORDOS SEM AUTENTICAÇÃO. A Lei 10.101/2000 não exige nenhuma outra formalidade especial, senão aquelas arroladas no seu art. 2º, dentre as quais não se encontra a necessidade de autenticação. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. ACORDO VIA COMISSÃO PARITÁRIA. NECESSIDADE DE PARTICIPAÇÃO DO SINDICATO. A recorrente não demonstrou que a comissão escolhida pelas partes estava realmente integrada por um representante sindical, o que infringe o disposto no inc. I do art. 2ª da Lei 10101/2000, inclusive com a redação anterior à Lei 12823/2013. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. EXISTÊNCIA DE REGRAS CLARAS E OBJETIVAS. 1. A clareza e a objetividade têm que ser das regras, não havendo qualquer vedação quanto ao estabelecimento de critérios comportamentais, cuja avaliação não é necessariamente subjetiva. 2. A psicologia revela que comportamentos podem sim ser mensurados de acordo com critérios objetivos de análise. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. PLR. VERIFICAÇÃO DE CUMPRIMENTO DOS ACORDOS COLETIVOS. O sujeito passivo anexou à sua defesa administrativa as planilhas demonstrativas da mensuração das regras da PLR, o que, em verdade, sequer foi objeto de análise pela Delegacia de Julgamento. Fl. 519DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 3 3 CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. GRATIFICAÇÕES ESPECIAIS. LANÇAMENTO EM OUTRO AUTO DE INFRAÇÃO. Como esclarecido no relatório fiscal, as gratificações especiais foram objeto de lançamento em outro Auto de Infração. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, afastar a preliminar de nulidade para, pelo voto de qualidade, afastar a decadência e negar provimento recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros João Victor Ribeiro Aldinucci (Relator), Jamed Abdul Nasser Feitoza, Renata Toratti Cassini e Gregorio Rechmann Junior que deram provimento parcial. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho. (assinado digitalmente) Mário Pereira de Pinho Filho Presidente e Redator Designado (assinado digitalmente) João Victor Ribeiro Aldinucci Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mário Pereira de Pinho Filho, Ronnie Soares Anderson, João Victor Ribeiro Aldinucci, Mauricio Nogueira Righetti, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Luis Henrique Dias Lima, Renata Toratti Cassini e Gregorio Rechmann Junior. Fl. 520DF CARF MF 4 Relatório A fiscalização lavrou o seguinte Auto de Infração (AI) DEBCAD em face do sujeito passivo: (a) AI DEBCAD 37.159.2607, para a constituição das contribuições sociais do SalárioEducação, destinadas ao FNDE. O fato gerador das contribuições foi o pagamento de Participação nos Lucros ou Resultados PLR em desacordo com a lei. No transcorrer da fiscalização, o sujeito passivo apresentou dois diferentes acordos para duas categorias distintas: (a) Acordo de Participação nos Resultados Categorias Seniores, Executivos e Dirigentes; (b) Acordo Coletivo de Trabalho Categorias Horistas e Mensalistas. Em resumo, teriam sido descumpridos os seguintes requisitos legais: (a) Acordo de Participação nos Resultados Categorias Seniores, Executivos e Dirigentes não existe acordo para a PLR paga em 2005; o acordo de 2004 só tem as assinaturas de um representante da empresa e de um representante dos empregados; com exceção do acordo de 2003, os demais foram entregues sem autenticação; os acordos não foram objeto de negociação, uma vez que não foram apresentadas as atas de reuniões e de eleições das comissões de empregados; não houve a participação de um representante indicado pelo sindicato; não foi demonstrado que os acordos foram arquivados nos sindicatos, mas apenas que houve requerimento; os acordos foram assinados após o período de aferição dos resultados; os acordos não têm regras claras e objetivas; (b) Acordo Coletivo de Trabalho Categorias Horistas e Mensalistas o único acordo original foi do ano de 2005; o acordo de 2002, apresentado em duas cópias, contém uma versão com a data de julho de 2002, mas sem as assinaturas do sindicato e da comissão; a outra assinada, mas sem data; Fl. 521DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 4 5 o acordo de 2003 não está assinado pelo sindicato; o acordo de 2004 não está assinado pela comissão de negociação; apesar de o acordo ter estipulado regras objetivas, conforme determina a lei, não foi possível a verificação do cumprimento do acordado; alguns empregados receberam quantias acima do estipulado; todos os acordos foram assinados após o período de aferição. Desta forma, a fiscalização concluiu que as parcelas pagas a título de PLR não seriam "isentas". A existência de Gratificação Especial, contabilizada em conta de PLR, foi lançada no Auto de Infração 37.095.5650, que não integra este processo e nem os seus apensos. A contribuinte apresentou sua impugnação tempestivamente (cujos fundamentos são idênticos aos do seu recurso voluntário), a qual foi julgada improcedente pela DRJ em decisão assim ementada: DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. Com o entendimento sumulado da Egrégia Corte (Súmula n° 08/2008) e do Parecer PGFN/CAT n° 1.617/2008, aprovado pelo Sr. Ministro de Estado da Fazenda em 18/08/2008, na contagem do prazo decadencial para constituição do crédito das contribuições devidas Seguridade Social, na hipótese de inexistência de pagamento utilizase a regra geral do art. 173 do CTN. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS: Integram o saláriodecontribuição pelo seu valor total o pagamento de verbas a titulo de participação nos lucros ou resultados, quando pagas em desacordo com a Lei n°10.101/2000. PEDIDO DE PERICIA. A perícia solicitada pela empresa deve expor os motivos que a justifique, com a formulação dos quesitos referente aos exames desejados, considerando não formulado o pedido que não preenche o disposto no art. 16, IV do Decreto 70.235/72. PEDIDO DE JUNTADA DE DOCUMENTOS. PRECLUSÃO TEMPORAL. A prova documental deve ser apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, salvo nas exceções do art.16, §4ºdo Decreto n° 70.235/72. INTIMAÇÃO DIRIGIDA EXCLUSIVAMENTE AO PATRONO DA EMPRESA NO ENDEREÇO DAQUELE. IMPOSSIBILIDADE. Ê descabida a pretensão de intimações, publicações ou notificações dirigidas ao Patrono da Impugnante em endereço diverso do domicilio fiscal do contribuinte tendo em vista o § 4º do art. 23 do Decreto 70.235/72. (como no original) Fl. 522DF CARF MF 6 Intimada da decisão em 08/06/2009, através de aviso de recebimento, a contribuinte interpôs recurso voluntário em 07/07/2009, no qual reafirmou as seguintes teses de defesa: (a) nulidade do Auto de Infração; (b) os PLRs estabelecidos para os períodos de 2002 a 2005 atendem plenamente a norma constitucional; (c) tendo em vista que os pagamentos efetuados a título de PLR gozam de imunidade constitucional, nem mesmo seria necessária a existência de acordo; (d) as empresas e os empregados têm a faculdade de se utilizar dos critérios legais para a confecção do plano (índices de produtividade, qualidade ou lucratividades; programas de metas, resultados e prazos); (e) não obstante, as regras foram devidamente cumpridas; (f) enumerou todos os requisitos legais que teriam sido observados; (g) a fiscalização e a DRJ incorreram em formalismo exacerbado e lesaram o espírito da norma; (h) as regras gerais foram acordadas entre a recorrente e seus empregados, ainda que não tenham sido formalizadas antes dos períodos aquisitivos; (i) os acordos foram firmados previamente aos pagamentos; (j) todos os acordos de PLR tiveram a participação e a anuência do sindicato, conforme doc. 05 da impugnação; (k) os PLRs relativos aos horistas e mensalistas foram firmados em papel timbrado do sindicato; (l) a lei não obriga a confecção de documentos tais como ata de eleição de comissão e ata da reunião de PLR; (m) juntamente com o pagamento de PLR, a recorrente efetuou o adimplemento de gratificação especial a certo empregados. Por equívoco, contabilizou tal procedimento como PLR, mas isso não significa que alguns funcionários tenham recebido valores maiores a título de participação. Alega, ainda, que efetuou o recolhimento de contribuições sobre as gratificações; (n) os pagamentos a título de PLR não se confundem com remuneração; (o) as empresas e os empregados podem tomar livremente por base ou referencial os critérios e elementos que quiserem para estabelecer, nos acordos coletivos, a participação dos empregados; (p) o prazo decadencial aplicável aos tributos sujeitos a lançamento por homologação é de cinco anos contados do fato gerador, de forma que, como o lançamento ocorreu em 25 de agosto de 2008, os créditos tributários Fl. 523DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 5 7 relativos aos fatos geradores compreendidos entre janeiro de 2003 e agosto de 2003 estão decaídos; (q) houve recolhimento parcial das contribuições devidas, o que pode ser facilmente verificado em consulta ao sistema da Receita. Em 29/03/2011, a recorrente requereu a juntada aos autos do Acordo de Participação nos Resultados do ano de 2004, assinado e ratificado pelas partes envolvidas. Em sessão de julgamento realizada em 19 de março de 2014, o julgamento do feito foi convertido em diligência, a fim de que a autoridade administrativa informasse se houve recolhimentos, ainda que parciais, de contribuições nos períodos de apuração em referência, ainda que não relativos às rubricas especificamente exigidas no Auto de Infração. Através de informação fiscal, a autoridade asseverou que não houve recolhimento das contribuições ao FNDE, que é o objeto desse débito. Intimada, a recorrente reafirmou a decadência dos créditos relativos aos fatos geradores anteriores a setembro de 2003. Sem contrarrazões. É o relatório. Fl. 524DF CARF MF 8 Voto Vencido Conselheiro João Victor Ribeiro Aldinucci Relator 1 Conhecimento O recurso voluntário é tempestivo e estão presentes os demais requisitos de admissibilidade, devendo, portanto, ser conhecido. 2 Da nulidade do Auto de Infração A recorrente afirma que o Auto de Infração seria nulo, porque a fiscalização teria falhado em seu dever de busca pela verdade material. Contudo, a autuação está baseada no entendimento, da autoridade fiscal, de que o sujeito passivo, ao descumprir os termos da Lei da PLR, não seria "isento" do pagamento das contribuições devidas à seguridade social. Segundo se depreende do relatório fiscal, a desvinculação da PLR da remuneração estaria atrelada à observância de requisitos específicos traçados na legislação, os quais teriam sido descumpridos, dando azo à exigibilidade das contribuições devidas à seguridade social, incidentes sobre as remunerações pagas àquele título. A acusação fiscal arrolou de forma clara todos os fatos e fundamentos que ensejaram a desconsideração dos acordos, tais como a alegada ausência de negociação dos planos, a falta de participação do sindicato, a inexistência de acordos prévios, etc, não tendo havido qualquer omissão quanto à busca da verdade real. Por outro lado, a ação fiscal foi conduzida por servidor competente, que concedeu à recorrente os prazos legais para a apresentação de documentos e prestação de esclarecimentos; a autuação foi devidamente motivada e foi concedido ao sujeito passivo o prazo legal para a formulação de impugnação; a autuação ainda contém clara descrição do fato gerador da obrigação, da matéria tributável, do montante do tributo devido, da identificação do sujeito passivo e da penalidade aplicável; não houve nenhum prejuízo para os direitos de defesa e do contraditório da recorrente, que puderam ser exercidos na forma e no prazo legal. Ou seja, a fiscalização transcorreu dentro da mais restrita legalidade e não houve qualquer inobservância ao direito de defesa da recorrente, rejeitandose, portanto, a preliminar de nulidade do lançamento. 3 Da decadência Ainda que ao final de seu recurso, a recorrente suscita outra tese de natureza preliminar (decadência parcial), a qual deve ser enfrentada antes do mérito (art. 938 do CPC). O critério de determinação da regra decadencial aplicável (art. 150, § 4º, ou art. 173, inc. I, ambos do Código Tributário Nacional) é a existência de pagamento antecipado do tributo, ainda que parcial, mesmo que não tenha sido incluída na sua base de cálculo a rubrica ou o levantamento específico apurado pela fiscalização. Fl. 525DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 6 9 Se o sujeito passivo antecipa o montante do tributo, mas em valor inferior ao efetivamente devido, o prazo para a autoridade administrativa manifestar se concorda ou não com o recolhimento tem início; em não havendo concordância, deve haver lançamento de ofício no prazo determinado pelo art. 150, § 4º, salvo a existência de dolo, fraude ou simulação, casos em que se aplica o art. 173, inc. I. Expirado o prazo, considerase realizada tacitamente a homologação pelo Fisco, de maneira que essa homologação tácita tem natureza decadencial. Eis o entendimento do STJ, em sede de recurso repetitivo: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontrase regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 163/210). 3. O dies a quo do prazo quinquenal da aludida regra decadencial regese pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos Fl. 526DF CARF MF 10 sujeitos a lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs.. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs.. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 183/199). 5. In casu, consoante assente na origem: (i) cuidase de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deuse em 26.03.2001. 6. Destarte, revelamse caducos os créditos tributários executados, tendo em vista o decurso do prazo decadencial quinquenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo. 7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 973.733/SC, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 18/09/2009) (destacouse) Quanto às contribuições devidas a terceiros, que é o caso em discussão, o § 3º do art. 3º da Lei 11457/07 preleciona que elas se sujeitam aos mesmos prazos, condições e privilégios das contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 da Lei 8212/91, e das contribuições instituídas a título de substituição. Art. 3o As atribuições de que trata o art. 2o desta Lei se estendem às contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, na forma da legislação em vigor, aplicandose em relação a essas contribuições, no que couber, as disposições desta Lei. § 3o As contribuições de que trata o caput deste artigo sujeitam se aos mesmos prazos, condições, sanções e privilégios daquelas referidas no art. 2o desta Lei, inclusive no que diz respeito à cobrança judicial. Desta sorte, e por força de expressa disposição legal, se porventura tiver havido o recolhimento das contribuições devidas à seguridade social, ainda que parcialmente, a contagem do prazo decadencial se dará na forma do art. 150, § 4º. Seria mesmo um contrasenso legal, num determinado caso concreto, fazerse a contagem do prazo decadencial das contribuições previdenciárias na forma do art. 150, § 4º, e a contagem do prazo decadencial das contribuições de terceiros na forma do art. 173, inc. I, na medida em que há disposição legal expressa determinando a uniformidade no tratamento dos prazos, condições, sanções e privilégios. Fl. 527DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 7 11 Lembrese, por outro lado, que as contribuições de terceiros têm o mesmo fato gerador e a mesma base de cálculo das contribuições previdenciárias (o pagamento de remuneração e o seu valor, respectivamente). Nesse sentido, contandose o prazo decadencial das contribuições previdenciárias a partir do fato gerador, igualmente deve se contar o lustro decadencial das contribuições de terceiros desde o fato jurídico tributário, e não do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Por fim, deve ser lembrar que o recolhimento das contribuições previdenciárias propicia que o Fisco inicie a atividade de homologação do recolhimento ou a fiscalização para eventual lançamento de ofício, tanto das eventuais diferenças devidas, quanto das contribuições de terceiros integralmente não adimplidas. Neste caso concreto, e examinandose todos os lançamentos efetuados em face do sujeito passivo, é possível concluir que houve o recolhimento parcial das contribuições incidentes sobre a folha de salários. Logo, como o lançamento ocorreu em 27/08/2008 (vide Auto de Infração), estão decaídas as competências anteriores a agosto de 2003, ante o transcurso de prazo superior a cinco anos do fato gerador até o lançamento. 4 No mérito 4.1 DA NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA Deve ser enfrentada, primeiramente, a tese segundo a qual, como os pagamentos efetuados a título de PLR gozam de imunidade constitucional, nem mesmo seria necessária a existência de acordo. Isso porque tal tese é prejudicial às demais. A não incidência das contribuições sobre a PLR é uma imunidade, vez que é uma norma de não tributação prevista na Constituição Federal. Ao estabelecer que tal verba está desvinculada da remuneração, a Lei Maior criou uma norma negativa de competência, impedindo o próprio exercício de atividade legislativa para criar imposição fiscal a ela atinente: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XI participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; Como se conclui pela leitura do texto, a norma constitucional é de eficácia limitada, pois expressamente atribuiu à lei a competência para estabelecer os pressupostos dessa não vinculação. A própria execução da norma constitucional e o estabelecimento dos requisitos necessários para a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da Fl. 528DF CARF MF 12 empresa, e a sua consequente desvinculação da remuneração, indubitavelmente dependiam da regulamentação mediante lei. O STF e o STJ, a propósito, compartilham de igual entendimento, como se pode ver, respectivamente, no RE 505.597/RS e no AgRg no AREsp 95.339/PA. No plano infraconstitucional, a regulamentação atual está na Lei nº 10.101/2000, que “dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa e dá outras providências”. Em seu art. 2º, a lei prevê que a PLR será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, através, conforme o caso, de comissão paritária escolhida pelas partes, convenção coletiva ou acordo coletivo. É inquestionável, pois, que a lei prevê que essa partipação será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, devendo sim ser objeto de acordo mediante comissão paritária, acordo coletivo ou convenção coletiva. Nesse quadro, equivocouse a recorrente. 4.2 DO ACORDO PRÉVIO Uma das acusações comuns a ambos os acordos (Categorias Seniores, Executivos e Dirigentes e Categorias Horistas e Mensalistas) e em todos os anos é a inexistência de acordo prévio ao período de aquisição. Como dito, em seu art. 2º, a lei prevê que a PLR será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, através, conforme o caso, de comissão paritária escolhida pelas partes, convenção coletiva ou acordo coletivo. É inquestionável, assim, que a lei prevê que essa partipação será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados: Art.2º. A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: Todavia, a legislação realmente não estabeleceu uma data limite para a formalização dessa negociação. É compreensível que não o tenha feito, pois as normas de experiência comum demonstram que tais negociações não raramente levam meses para serem concluídas, sendo por vezes acirradas e conflituosas e envolvendo diversos sindicatos de diversas categorias. É óbvio, contudo, que os trabalhadores têm conhecimento das diretrizes gerais dos planos, pois participam direta ou indiretamente das negociações via comissão paritária ou sindicatos. No caso concreto, os acordos foram formalizados via comissão paritária (na qual há representantes de ambas as partes) e acordo coletivo, sendo falho o raciocínio segundo o qual os trabalhadores não teriam conhecimento das regras necessárias ao direito de participação nos lucros ou resultados. E não compete ao aplicador da lei criar prérequisito não previsto na norma, sobretudo para reduzir a eficácia de regra constitucional. Fl. 529DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 8 13 A interpretação criativa é vedada pela tripartição dos poderesdeveres prevista no art. 2º da Lei Maior, que se constitui em um verdadeiro princípio fundamental da República. Uma interpretação restritiva, com a criação de exigências não previstas legalmente, apenas tem o condão de dificultar a efetiva concretização do direito social do trabalhador à participação nos lucros ou resultados da empresa, inibindo a concessão dos planos, em conflito com as finalidades constitucionais. Como bem destacado pela recorrente, a propósito, a Constituição incentivou e estimulou as empresas a implementarem planos de tal natureza, como se observa textualmente no § 4º do art. 218 da Constituição. Isto é, a par do estímulo constante do art. 7º, a Lei Maior dedicou outro dispositivo ao tema: Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) § 4º A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho. (destacouse) Muito embora a lei regulamentadora pareça ter negligenciado a participação nos lucros ou resultados como um direito social, pois nem mesmo faz qualquer menção a esse respeito, fato é que a Constituição a outorgou como um efetivo direito daquela natureza, o que deve ser levado em consideração pelo aplicador da lei, na busca da máxima eficácia da norma constitucional. Os direitos sociais visam a criar as condições materiais necessárias ao alcance da igualdade real entre o dono do capital e o trabalhador. Segundo José Afonso da Silva, "são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais"1. Buscando igualar o empregador e o trabalhador, a Constituição lhe outorgou o direito à participação nos lucros ou resultados e na própria gestão da empresa. Não fosse a Constituição e a consequente regra imunizante, o trabalhador não teria as condições materiais necessárias para participar dos lucros ou resultados, os quais, por consectário lógico, decorrem do capital do qual ele não é dono. Toda interpretação, portanto, deve ter como norte os direitos sociais. E diante de interpretações plausíveis e alternativas, o exegeta deve adotar aquela que se amolda à Lei Maior. 1 Curso de Direito Constitucional Positivo, 12ª ed., rev., Malheiros Editores, 1996, p. 277. Fl. 530DF CARF MF 14 O ministro Luís Roberto Barroso decompõe o princípio da interpretação conforme a Constituição nos seguintes termos: 1) Tratase da escolha de uma interpretação da norma legal que a mantenha em harmonia com a Constituição, em meio a outra ou outras possibilidades interpretativas que o preceito admita. 2) Tal interpretação busca encontrar um sentido possível para a norma, que não é o que mais evidentemente resulta da leitura de seu texto. 3) Além da eleição de uma linha de interpretação, procedese à exclusão expressa de outra ou outras interpretações possíveis, que conduziriam a resultado contrastante com a Constituição. 4) Por via de conseqüência, a interpretação conforme a Constituição não é mero preceito hermenêutico, mas, também, um mecanismo de controle de constitucionalidade pelo qual se declara ilegítima uma determinada leitura da norma legal. 2 Deve ser abandonado, pois, o rigor interpretativo e o eventual formalismo exacerbado, para compatibilizar a leitura da Lei nº 10.101/2000 com a Constituição, a qual, lembrese, visou a igualar materialmente o trabalhador e o empregador. Ainda que a primeira e rápida compreensão da lei infraconstitucional pudesse sugerir que o acordo devesse ser formalizado antes do início do período aquisitivo, como forma de incentivar a produtividade e o comprometimento dos trabalhadores, fato é que a Constituição trouxe como critério preponderante o direito social do lado mais fraco da relação empregatícia, e não o incremento da produtividade e o seu comprometimento. A interpretação de que o acordo deve ser formalizado antes do início do período aquisitivo, embora fosse até possível diante da Lei nº 10.101/2000, não é a mais legítima, vislumbrandose, ademais, outra interpretação igualmente legítima. Cria, também, um requisito formal não previsto (pois a lei menciona apenas a necessidade de negociação – “será objeto de negociação” –; e programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente, sem indicar previamente a qual marco temporal) e que está em descompasso com a realidade negocial, podendo até mesmo desestimular (como tem desestimulado) a concessão da PLR e, por conseguinte, a realização dos direitos sociais. Como se vê, não há qualquer necessidade de se declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 10.101/2000, mas sim, dentre as várias interpretações possíveis, elegerse aquela mais adequada ao texto constitucional. A Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), antes da atual composição, vinha adotando entendimento semelhante, conforme se infere do acórdão nº 9202003.370: PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS DA EMPRESA PLR. IMUNIDADE. OBSERVÂNCIA À LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA. ACORDO PRÉVIO AO ANO BASE. DESNECESSIDADE. A Participação nos Lucros e Resultados PLR concedida pela empresa aos seus funcionários, como forma de integração entre capital e trabalho e ganho de produtividade, não integra a base de cálculo das contribuições 2 Interpretação e aplicação da constituição : fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. 3. ed. Saraiva, p. 181182. Fl. 531DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 9 15 previdenciárias, por força do disposto no artigo 7º, inciso XI, da CF, sobretudo por não se revestir da natureza salarial, estando ausentes os requisitos da habitualidade e contraprestação pelo trabalho. Somente nas hipóteses em que o pagamento da verba intitulada de PLR não observar os requisitos legais insculpidos na legislação específica, notadamente artigo 28, § 9º, alínea j, da Lei nº 8.212/91, bem como MP nº 794/1994 e reedições, c/c Lei nº 10.101/2000, é que incidirão contribuições previdenciárias sobre tais importâncias, em face de sua descaracterização como Participação nos Lucros e Resultados. A exigência de outros pressupostos, não inscritos objetivamente/literalmente na legislação de regência, como a necessidade de formalização de acordo prévio ao ano base, é de cunho subjetivo do aplicador/intérprete da lei, extrapolando os limites das normas específicas em total afronta à própria essência do benefício, o qual, na condição de verdadeira imunidade, deve ser interpretado de maneira ampla e não restritiva. Recurso especial negado. (CSRF, 2ª Turma, Relator(a) RYCARDO HENRIQUE MAGALHÃES DE OLIVEIRA, sessão de 17 de setembro de 2014) Esta Turma também vinha trilhando esse mesmo caminho, conforme se vê no acórdão nº 2402005.262, de minha relatoria. Logo, entendese que o fato isolado de os acordos terem sido formalizados no transcorrer do período aquisitivo não é suficiente para descaracterizar os planos, mormente porque (i) sendo o produto das negociações entre a empresa e seus empregados, por comissão paritária ou por sindicatos, os planos obviamente são objeto de tratativas diversas, as quais também criam previsibilidade quanto às regras pertinentes ao cumprimento do acordado; (ii) ao imunizar os pagamentos a título de PLR, a Constituição visou a incentivar a sua concessão pelas empresas, propiciando a partipação do trabalhador num crédito (lucros ou resultados) a que ele naturalmente não teria direito; e criando as condições materiais necessárias ao alcance da isonomia entre o dono do capital e o empregado; (iii) a lei ordinária não prevê, de forma extreme de dúvidas, que o plano deve ser formalizado antes do período aquisitivo; (iv) a criação de exigências exacerbadas apenas tem o condão de desestimular a concessão dos planos, o que contraria as finalidades constitucionais. A propósito, caso fosse possível adotarse o raciocínio da fiscalização, terse ia que considerar como irregular o acordo de fls. 251/259 do PAF 19515.004118/200809, o qual, relativo ao ano de 2003, foi assinado já em 02 de janeiro daquele ano, o que indubitavelmente contraria a razoabilidade. Em sendo assim, serão examinados os demais requisitos legais que, no entender do agente autuante, a recorrente teria descumprido. 4.3 DO ACORDO DE PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS CATEGORIAS SENIORES, EXECUTIVOS E DIRIGENTES Serão analisadas abaixo as demais infrações alegadamente cometidas pela empresa, que ensejaram a descaracterização dos planos relativos às categorias seniores, executivos e dirigentes. Fl. 532DF CARF MF 16 4.3.1 Da inexistência de acordo para o ano de 2005 A inexistência de acordo para o ano de 2005 é expressamente admitida pela recorrente em sede de impugnação e recurso (PAF 19515.004118/200809, fls. 463 e 1071), sendo que a tese recursal, nesse ponto, é que a Constituição não teria exigido a apresentação de acordo. Tal tese, todavia, já foi decidida e rechaçada em tópico específico ("Da norma de eficácia limitada"), negandose provimento ao recurso voluntário a esse respeito. 4.3.2 Do acordo de 2004 De acordo com a autoridade fiscal, o acordo de 2004 só tem as assinaturas de um representante da empresa e de um representante dos empregados. Ocorre que, já em sede de impugnação (PAF 19515.004118/200809, fls. 554/561), a recorrente trouxe aos autos o acordo do ano de 2004, idêntico àquele juntado no transcorrer da fiscalização, mas devidamente assinado pelos representantes da empresa e de todos os empregados. Em sendo assim, a acusação fiscal é improcedente neste ponto. 4.3.3 Dos acordos sem autenticação Segundo a autoridade autuante, com exceção do acordo de 2003, os demais foram entregues sem autenticação. Na dicção do art. 212 do Código Civil, salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante confissão, documento, testemunha, presunção ou perícia. A participação nos lucros ou resultados, por expressa previsão da Lei 10101, deve ser provada mediante documento (o que exclui, a princípio, os outros meios probatórios relacionados no Código Civil), uma vez que o seu art. 2º, § 1º, expressamente alude aos "instrumentos decorrentes da negociação", os quais, ainda, deverão contar com regras claras e objetivas quanto aos direitos substantivos e adjetivos. Igualmente se estabelece, demonstrandose a indubitável necessidade de produção documental, que o instrumento de acordo será arquivado na entidade sindical dos trabalhadores. Ocorre que a Lei 10101 não exige nenhuma outra formalidade especial, senão aquelas arroladas no seu art. 2º, dentre as quais não se encontra a necessidade de autenticação. Portanto, é aplicável ao caso a norma do art. 107 do Código Civil, segundo a qual a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Corroborando esse entendimento, o art. 219 do Código preleciona que as declarações constantes de documentos assinados presumemse verdadeiras em relação aos signatários, o que decorre do próprio princípio da boafé objetiva. Significa dizer que os acordos devidamente assinados pelas partes provam, efetivamente, e até demonstração em contrário, a participação dos trabalhadores nos lucros ou Fl. 533DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 10 17 resultados, de maneira que a eventual falta de autenticação dos documentos não poderia prejudicar nem a citada participação e nem os efeitos tributários dela decorrentes. Expressandose de outra forma, e na dicção legal, o fato jurídico participação nos lucros ou resultados foi provado através dos documentos juntados pelo sujeito passivo, para todos os fins e efeitos de direito, de modo que a eventual desclassificação da verba dependeria do eventual descumprimento de outros requisitos legais. De toda forma, os acordos juntados na impugnação (fls. 499 e seguintes) e aquele juntado às fls. 1125/1128 do PAF 19515.004118/200809 estão autenticados. 4.3.4 Da inexistência de negociação No entender do agente fiscal, os acordos não foram objeto de negociação, uma vez que não foram apresentadas as atas de reuniões e de eleições das comissões de empregados. Como anteriormente alegado, entretanto, sendo o produto ou o resultado das negociações entre a empresa e seus empregados, seja por comissão paritária, seja por sindicatos, os planos obviamente são objeto de tratativas, as quais também criam previsibilidade quanto às regras pertinentes ao cumprimento do acordado. Noutro giro verbal, os acordos são as materializações das negociações entre as partes; e a exigência das atas de reuniões e de eleições ignoram a circunstância de que qualquer negócio jurídico é justamente um acordo entre duas ou mais pessoas com o fim de criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica predominantemente patrimonial. Isto é, a manifestação de vontade das partes envolvidas é um pressuposto de existência do próprio negócio jurídico (não é nem requisito de sua validade, pois os requisitos de validade são aqueles estabelecidos no art. 104 do Código Civil), de forma que não se pode alegar que os acordos não foram objeto de negociação. Improcede, pois, a acusação fiscal nesse tocante. 4.3.5 Da participação de um representante indicado pelo sindicato De acordo com o relatório fiscal, não houve a participação de um representante indicado pelo sindicato. A esse respeito, a recorrente se arvora no suposto doc. 5 da defesa, que seria uma declaração firmada pela entidade, confirmando a sua participação. Todavia, e como destacado no acórdão recorrido, não consta a referida declaração nos autos. A par disso, os instrumentos não estão assinados por um representante indicado pelo sindicato e sequer contêm a sua qualificação ou aludem à sua participação. Em sendo assim, a recorrente não demonstrou que a comissão escolhida pelas partes estava realmente integrada por um representante sindical, o que infringe o disposto no inc. I do art. 2ª da Lei, inclusive com a redação anterior à Lei 12823/2013. E a infringência cometida pelo sujeito passivo não é meramente formal, pois, como destacado pelo recorrente, a participação sindical tem a finalidade de proteger os trabalhadores de eventuais negociações desfavoráveis. Fl. 534DF CARF MF 18 Diante disso, deve ser negado provimento ao recurso voluntário, o que implica a manutenção do Auto de Infração quanto ao lançamento das contribuições incidentes sobre os valores pagos às categorias seniores, executivos e dirigentes. Como este relator poderá ser vencido neste ponto, serão enfrentadas as demais teses recursais. 4.3.6 Da inexistência de regras claras e objetivas No entender do agente autuante, os acordos não têm regras claras e objetivas. A DRJ compactuou do mesmo entendimento, afirmando que os documentos anexados pela empresa revelariam que os critérios comportamentais seriam de avaliação subjetiva. No entanto, a clareza e a objetividade têm que ser das regras, não havendo qualquer vedação quanto ao estabelecimento de critérios de comportamento, cuja avaliação não é necessariamente subjetiva. Analisandose o caso concreto, o melhoramento contínuo, a assunção de responsabilidade e risco, o impacto econômico, a integração e mesmo o comprometimento pessoal podem, sim, ser aferidos de forma objetiva, ainda que dependam do sacrifício pessoal do avaliado. Situando a questão fora do caso vertente, vale citar que os famosos testes de avaliação do quoeficiente de inteligência, tais como a Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS Wechsler Adult Intelligence Scale) e a Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC Wechsler Intelligence Scale for Children), consistem justamente numa bateria prédeterminadas de testes e subtestes para a avaliação clínica da capacidade intelectual dos indivíduos, dentro de parâmetros objetivos anteriormente definidos nas escalas. A par das escalas de avaliações cognitivas, também existem, exemplificativamente, escalas de avaliações comportamentais para identificação de habilidades sociais, de dificuldades comportamentais, de sintomas de transtornos psiquiátricos e psicológicos, de competências acadêmicas, etc, que igualmente fornecem dados quantitativos, qualitativos e objetivos a respeito das competências comportamentais das pessoas3. Muitas empresas adotam um sistema de avaliação por competências, havendo inúmeros artigos acadêmicos a esse respeito disponíveis na internet4. Isto é, a psicologia revela que comportamentos podem sim ser mensurados de acordo com critérios objetivos de análise, a exemplo das escalas acima mencionadas e da avaliação por competências. A eventual subjetividade do comportamento não exclui a objetividade de sua mensuração e avaliação, inclusive para efeito de fixação das regras da PLR. Isso equivaleria a ignorar a ampla experiência da psicologia comportamental e da neuropsicologia sobre o assunto, bem como a gestão de recursos humanos no cotidiano das empresas. 3 http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a16v25n2, acesso em 16 de outubro de 2017. 4 https://scholar.google.com.br/scholar?q=avalia%C3%A7%C3%A3o+por+competencias&hl=pt BR&as_sdt=0&as_vis=1&oi=scholart&sa=X&ved=0ahUKEwj64CEifXWAhULIZAKHeZrArcQgQMILjAA, acesso em 16 de outubro de 2017. Fl. 535DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 11 19 Examinandose os documentos anexados aos autos, observase que as regras eram sim claras e objetivas, além de serem simples e de fácil mensuração. Os documentos de fls. 615 e seguintes do PAF 19515.004118/200809 ainda demonstram que tais comportamentos foram constantemente avaliados por um superior, denotando, nesse ponto, a seriedade e o cumprimento das normas do programa. O cumprimento de prazos, a atenção aos custos, a eficiência no trabalho, dentre outras regras ali estabelecidas, são dotadas de objetividade e clareza. E mais, além de critérios comportamentais, igualmente foram adotados outros critérios de mensuração e avaliação, com diferentes atribuições de pesos. Em suma, as regras eram sim claras e objetivas. 4.4 DA CONCLUSÃO SOBRE OS ACORDOS DE PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS CATEGORIAS SENIORES, EXECUTIVOS E DIRIGENTES Em suma, a recorrente não demonstrou que a comissão escolhida pelas partes estaria integrada por um representante sindical, de forma que, muito embora tenham sido cumpridos os demais requisitos legais, deve ser negado provimento ao recurso voluntário, o que implica a manutenção do Auto de Infração quanto ao lançamento das contribuições incidentes sobre os valores pagos a essas categorias. 4.5 DO ACORDO COLETIVO DE TRABALHO CATEGORIAS HORISTAS E MENSALISTAS 4.5.1 Da inexistência de acordo original Tal acusação nem mesmo foi analisada pela DRJ e o fato é que, à exceção do acordo coletivo de 2003, todos os demais estão autenticados. De toda forma, e como afirmado e demonstrado em tópico anterior, a autenticação nem é mesmo necessária, improcedendo a acusação fiscal a esse respeito. 4.5.2 Do acordo de 2002 A acusação fiscal, mantida pela DRJ, é de que o acordo de 2002, apresentado em duas cópias, contém uma versão com a data de julho de 2002, mas sem as assinaturas do sindicato e da comissão; e a outra assinada, mas sem data. Entendese, entretanto, que a inexistência da data de assinatura do acordo coletivo de fls. 271/279 do PAF 19515.004118/200809, o qual está assinado por todas as partes envolvidas, inclusive pelo sindicato e pela comissão, está sanada pela cópia de fls. 281/289, a qual está devidamente datada. Não há nenhuma circunstância nos autos que possa descredibilizar tais documentos, maculandoos, por exemplo, de inidoneidade ou de máfé, de forma que, no entender deste relator, eles devem ser aceitos como prova da pactuação da PLR. Fl. 536DF CARF MF 20 4.5.3 Do acordo de 2003 A acusação de que o acordo coletivo de 2003 não estaria assinado pelo sindicato nem mesmo foi objeto de decisão pela DRJ, uma vez que o acordo juntado na impugnação está sim firmado pela referida entidade, não havendo qualquer infringência nesse tocante. 4.5.4 Do acordo de 2004 Da mesma forma que o acordo de 2003, o acordo de 2004 está firmado por todas as partes legitimadas, não subsistindo qualquer ilegalidade. 4.5.5 Da inexistência de verificação do cumprimento do acordado Nos dizeres do relatório fiscal, apesar de os acordos terem estipulado regras objetivas, conforme determina a lei, não foi possível a verificação do cumprimento do acordado. O mesmo entendimento foi seguido pela instância julgadora de primeira instância. No entanto, vejase que o sujeito passivo anexou à sua defesa administrativa (PAF 19515.004118/200809, fls. 562 e seguintes) as planilhas demonstrativas da mensuração das regras da PLR, o que, em verdade, sequer foi objeto de análise pela Delegacia de Julgamento. Em sendo assim, igualmente improcede a acusação fiscal. 4.5.6 Do recebimento de quantias em valores acima do estipulado Por fim, e segundo o agente autuante, alguns empregados receberam quantias acima do que teria sido estipulado nos acordos. No entender da DRJ, tal circunstância desvirtuaria a PLR. Ocorre que o adimplemento de valores excedentes a alguns empregados não pode desnaturar todos os planos, mas sim implicar a desconsideração, como lucros ou resultados, apenas dos montantes em excesso. Dito de outra forma, as quantias pagas em conformidade com os acordos são lucros ou resultados, não se podendo descaracterizar toda a participação em decorrência de irregularidades isoladas. É óbvio que, se a autoridade administrativa tivesse demonstrado que os programas teriam a finalidade de mascarar o pagamento de remuneração, concluirseia de maneira diversa (vide art. 3º da Lei 10101). Mas afastar toda a participação com base em irregularidades esparsas é um rigorismo incompatível com a Constituição, a qual visa a incentivar a concessão de planos de tal natureza. E nem mesmo a lei regulamentadora contém qualquer disposição que chancele o entendimento da DRJ, devendo ser provido o recurso nesse particular. Fl. 537DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 12 21 4.6 DA CONCLUSÃO SOBRE OS ACORDOS COLETIVOS DE TRABALHO CATEGORIAS HORISTAS E MENSALISTAS Em suma, os pagamentos efetuados em consonância com os acordos coletivos não devem compor a base de cálculo do lançamento, de forma que o recurso deve ser provido nesse tocante. 4.7 DAS GRATIFICAÇÕES ESPECIAIS Segundo a recorrente, ao efetuar os pagamentos das referidas gratificações, ela teria lançado tais valores como PLR, razão pela qual pareceria que alguns funcionários teriam recebido valores maiores do que o previamente acordado a este título. Contudo, e como esclarecido no relatório fiscal, tais gratificações foram objeto de lançamento em outro Auto de Infração. Desta forma, os recebimentos de quantias superiores ao estabelecido a título de PLR não o foram a título de gratificações especiais, as quais, por sua vez, compuseram a base de cálculo de outro lançamento. Não havendo qualquer prova, por parte do sujeito passivo, de que a fiscalização teria feito incidir, neste auto, contribuições sobre as tais rubricas, deve ser negado provimento ao recurso neste tópico. 5 Conclusão Diante do exposto, votase no sentido de CONHECER do recurso voluntário, para REJEITAR as preliminares de nulidade do lançamento e de decadência; e DARLHE PARCIAL provimento, a fim de excluir do lançamento os pagamentos efetuados em consonância com os acordos coletivos de trabalho. (assinado digitalmente) João Victor Ribeiro Aldinucci Fl. 538DF CARF MF 22 Voto Vencedor Conselheiro Mário Pereira de Pinho Filho – Redator designado Não obstante as razões aduzidas no voto do i. Relator, com relação à Participação nos Lucros ou Resultados – PLR, sobretudo no que diz respeito aos acordos coletivos de trabalho das categorias horistas e mensalistas, entendo que a análise da legislação afeta ao tema deve conduzir a conclusão diversa. A respeito das demais matérias objeto da lide, acompanho o entendimento consignado no voto vencido. De se ressalvar que aqui não será feita qualquer análise a respeito das categorias seniores, executivos e dirigentes visto não haver discordância quanto as conclusões advindas do voto vencido que negou provimento ao recurso voluntário, mantendo o lançamento no que se refere à incidência das contribuições lançadas sobre os valores pagos a título de PLR a tais categorias. O exame aqui empreendido se deterá à PLR atribuída às categorias horistas e mensalistas. A alínea “j” do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/1991 excluiu da base de incidência das contribuições previdenciárias as importâncias pagas a título de PLR, desde que em observância ao disposto em norma especificamente editada para regular a matéria. Vejamos: Art. 28 [...] § 9º Não integram o saláriodecontribuição: [...] j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica [...] (Grifouse) Nos termos do caput e do § 1º do art. 1º da Lei nº 10.101/2000, norma que disciplina o pagamento da PLR, temse que: Art. 2º A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: I comissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; II convenção ou acordo coletivo. §1º Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo Fl. 539DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 13 23 ser considerados, entre outros, os seguintes critérios e condições: I índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; II programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. Vale mencionar, de início, que a participação nos lucros ou resultados, como instrumento de integração entre capital e trabalho, tem por escopo o incentivo à produtividade dos trabalhadores. Assim, como forma de incrementar seus resultados, a empresa oferece uma retribuição pecuniária com finalidade de estimular o aumento do desempenho de seus empregados. Nos termos da legislação em espeque, para que os valores pagos a título de PLR não sejam alcançados pelas exações previdenciárias os instrumentos decorrentes das negociações havidas entre patrões e empregados devem, dentre outros, conter: a) regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos dos trabalhadores; b) mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado; c) periodicidade de distribuição; d) período de vigência; e e) prazos para revisão do acordo. De outra parte, da leitura dos incisos I e II do §1º do art. 2º da Lei nº 10.101/2000 constatase que a norma infraconstitucional não buscou detalhar as características dos acordos a serem celebrados, atribuindo essa tarefa às partes envolvidas no processo negocial. Exemplificativamente foram indicados como parâmetros para o pagamento de PLR: a) a estipulação de índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; e b) programas de metas, resultados e prazos. Impende ressaltar que esses parâmetros são facultativos, ou seja, para a definição dos direitos substantivos da PLR e das regras adjetivas há de prevalecer a livre negociação, sendo que as regras estabelecidas devem, de conformidade com a lei, ser claras e objetivas. Vejase que os atores envolvidos gozam de certa liberdade para a estipulação dos critérios e condições para o pagamento da PLR. Contudo, a objetividade e clareza exigida pelo § 1° do art. 2° da Lei n° 10.101/2000 além de se apresentarem como forma de viabilizar a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, garantindo que não haja dúvidas tendentes a dificultar ou impossibilitar cumprimento do que fora acordado, inibem o pagamento de valores denominados inadequadamente de participação nos lucros ou resultados em substituição à remuneração de empregados. Todas essas razões evidenciam a imprescindibilidade de pactuação prévia, visto não se vislumbrar a hipótese de que os trabalhadores possam despender esforços adicionais para alcançar determinados objetivos com vista à percepção da parcela paga a título de PLR sem conhecer os índices de produtividade, qualidade ou lucratividade, os programas de Fl. 540DF CARF MF 24 metas, resultados e prazos ou outros critérios que possam vir a ser estabelecidos para a percepção da dessa vantagem pecuniária. Aliás, é exatamente nesse sentido o entendimento que vem prevalecendo na Câmara Superior de Recursos Fiscais, conforme se pode extrair do Acórdão nº 9202006.218, de 28/11/2017: E por isso, a importância da pactuação prévia, eis que somente ciente do que deve ser alcançado como objetivo para que receba o bônus do seu empenho é que vai implementar o esforço necessário para tanto. A inexistência de regramento claro e objetivo desvirtua a natureza da rubrica. A Lei n° 10.101/2000 exige que do acordo constem os “mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado", de modo a assegurar aos empregados a transparência nas informações por parte da empresa, o fornecimento dos dados necessários à definição das metas, a adoção de indicadores de produtividade, qualidade ou lucratividade que sejam compreendidos por todos, a possibilidade de fiscalização do regular cumprimento das regras pactuadas e o acompanhamento progressivo da constituição do direito em debate por parte do empregado Na seqüência do raciocínio, por óbvio, as condições pertinentes ao plano de PLR, devem estar concluídas e ser cientificadas aos trabalhadores em período prévio à apuração dos objetivos pactuados entre as partes, de maneira que o empregado tenha o conhecimento daquilo que precisa fazer, de como precisa fazer, do quanto e quando precisa fazer, de como serão mensurados e avaliados os objetivos estabelecidos pela empresa e de como o empregado será avaliado para fazer jus ao ganho anunciado na negociação coletiva. (Grifouse) Asseverese que o entendimento aqui exarado nem de longe tem relação com interpretação criativa e muito menos representa a instituição de prérequisito não previsto em lei. Tratase de conclusão por demais evidente de que não há como se despender energia para alcançar um objetivo do qual não se tem conhecimento. Pareceme deveras óbvio que embora a lei não tenha estabelecido uma data limite para a formalização das negociações relacionadas à PLR, não há como se considerar que os instrumentos destinados ao pagamento desse benefício possam ser pactuados após o início do período destinado a aquisição do direito. Do mesmo modo, não é razoável se supor que, por participarem direta ou indiretamente do processo de negociação, os trabalhadores possam ter conhecimento das diretrizes gerais dos planos antes mesmo da celebração dos acordos respectivos. De se observar que, ao possibilitar a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresas, a Constituição Federal não instituiu um direito em detrimento de outros. Admitir a hipótese de pagamento de PLR sem que as regras para tal sequer estejam previamente estabelecidas significaria possibilitar a substituição do salário do trabalhador por valores pagos a esse título em detrimento de inúmeros outros direitos sociais e previdenciários previstos no art. 7º da CF/1988, uma vez que a participação nos lucros ou resultados é desvinculada da remuneração que é a base sobre a qual incidem esses outros direitos constitucionalmente estabelecidos. Quanto a disposição contida no § 4º do art. 218 da CF/1988 sobre o apoio e estimulo legal que se deve dar as empresas que pratiquem “remuneração que assegure[m] ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da Fl. 541DF CARF MF Processo nº 19515.004113/200878 Acórdão n.º 2402006.074 S2C4T2 Fl. 14 25 produtividade de seu trabalho”, cabe ressaltar que referido dispositivo não veicula imunidade de quaisquer espécies tributárias, além de depender de lei para sua regulamentação. E mais, a alínea “j” do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/1991 estimula essa forma de remuneração, desde que o pagamento seja feito de acordo com a lei que trata especificamente da PLR, o que não se observa no caso concreto. Dito isso, entendo que a ausência de pactuação prévia, por si só, afasta a incidência da regra isentiva inserta na Lei de Custeio da Seguridade Social, o que impõe o pagamento de contribuições previdenciárias em relação valores pagos a título de PLR sem a observância desse requisito. No que se refere aos acordos coletivos de trabalho relativos às categorias horistas e mensalistas, o Relatório Fiscal esclarece que todos aqueles abrangidos no lançamento em questão apresentam datas de assinatura muito posterior ao início do período de aferição. Nos termos do relato Fiscal: 30. Outra questão observada foi a data de assinatura dos acordos da PLR. O período de apuração dos resultados está compreendido entre os meses de janeiro e dezembro, mas os acordos foram assinados após o início do período de aferição dos resultados, em data próxima ao estipulado no acordo para pagamento da primeira parcela do PLR, como segue: PLR 2002: assinado em 01/07/2002 – 1ª parcela a ser paga até 30/07/2002 PLR 2003: assinado em 06/06/2003 – 1ª parcela a ser paga até 15/07/2003 PLR 2004: assinado em 22/07/2004 – 1ª parcela a ser paga até 23/07/2004 PLR 2005: assinado em 22/07/2005 – 1ª parcela a ser paga até 29/07/2005 Conforme restou consignado acima, a inobservância desse requisito (pactuação prévia) vai de encontro ao regramento contido na Lei nº 10.101/2000 e impõe a incidência de contribuições previdenciárias sobre as verbas pagas sob a denominação de PLR. Nesse ponto, verificase acertado o entendimento da autoridade autuante segundo o qual: 31 Desta forma fica evidente que os empregados desconheciam as regras para concessão da PLR durante os primeiros meses de vigência do acordo. O pagamento de participação nos lucros ou resultados tem como essência a retribuição pela colaboração do empregado na obtenção de um lucro ou na realização de um resultado previamente pactuado. O seu objetivo é estimular o empenho dos trabalhadores para a geração de resultados previamente estabelecidos. Ora, se o empregado não sabe de antemão se terá direito à participação no lucro ou resultado, desconhece as metas e os mecanismos de aferição, o pagamento destes valores não lhe proporciona comprometimento com a empresa e a percepção de que seu trabalho contribui diretamente para o resultado por ela alcançado. Fl. 542DF CARF MF 26 32. Por todo o exposto, concluímos que as parcelas pagas aos empregados ocupantes das categorias seniores, executivos e dirigentes e para as categorias horistas e mensalistas a título de PLR no período de 01/2003 a 12/2005, não estão isentas do pagamento de contribuições previdenciárias, pois não foram seguidas as exigências da Lei 10.101/2000. CONCLUSÃO Em razão do exposto voto no sentido de afastar as preliminares e, no mérito, NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Mário Pereira de Pinho Filho Fl. 543DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 15586.720036/2011-16
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 20 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue May 08 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007
SUDENE - BENEFÍCIO DE REDUÇÃO DO IRPJ
Conforme Decreto nº 4.213/2002, a revogação do benefício de redução do IRPJ no âmbito da SUDENE não alcança as parcelas reduzidas no período do gozo do incentivo tacitamente deferido pela inércia da administração ao não decidir, em até 120 (cento e vinte) dias, acerca do requerimento formulado.
GLOSA DE EXPURGO INFLACIONÁRIO
Provimento judicial que defere aumento do índice inflacionário resulta o aumento das despesas de baixa de itens do ativo permanente, pois estes mesmos itens terão aumentado de valor. Este aumento pode também resultar em lucro inflacionário, mas um efeito não está necessariamente atrelado ao outro. O que o contribuinte pleiteou na ação judicial foi a atualização do seu balanço para fins de apropriar as despesas com as baixas do ativo permanente nos anos vindouros e isso foi reconhecido pela decisão passada em julgado e mesmo que a decisão tivesse os efeitos pretendidos pela autoridade fazendária, caberia a esta lançar o eventual lucro inflacionário e não glosar as despesas de baixa do ativo. Por outros termos, não é condição para a apropriação das despesas de baixa do ativo que a correção monetária destes tenha sido oferecida à tributação nos anos anteriores.
Numero da decisão: 1401-002.186
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício e dar provimento ao recurso voluntário. Declarou-se impedida a Conselheira Letícia Domingues Costa Braga.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Guilherme Adolfo dos Santos Mendes - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Breno do Carmo Moreira Vieira, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
Nome do relator: GUILHERME ADOLFO DOS SANTOS MENDES
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GLOSA DE EXPURGO INFLACIONÁRIO Provimento judicial que defere aumento do índice inflacionário resulta o aumento das despesas de baixa de itens do ativo permanente, pois estes mesmos itens terão aumentado de valor. Este aumento pode também resultar em lucro inflacionário, mas um efeito não está necessariamente atrelado ao outro. O que o contribuinte pleiteou na ação judicial foi a atualização do seu balanço para fins de apropriar as despesas com as baixas do ativo permanente nos anos vindouros e isso foi reconhecido pela decisão passada em julgado e mesmo que a decisão tivesse os efeitos pretendidos pela autoridade fazendária, caberia a esta lançar o eventual lucro inflacionário e não glosar as despesas de baixa do ativo. Por outros termos, não é condição para a apropriação das despesas de baixa do ativo que a correção monetária destes tenha sido oferecida à tributação nos anos anteriores. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício e dar provimento ao recurso voluntário. Declarouse impedida a Conselheira Letícia Domingues Costa Braga. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 58 6. 72 00 36 /2 01 1- 16 Fl. 1531DF CARF MF 2 (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Daniel Ribeiro Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Breno do Carmo Moreira Vieira, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa. Relatório O presente feito já foi enfrentado neste colegiado, ocasião em que foi baixado em diligência pela resolução nº 1401000.312 – 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária, de 29 de julho de 2014 (fls. 1.2281.234, eprocesso como as demais numerações desta decisão). Naquela oportunidade, assim se relatou: Cuidase de Recursos de Ofício e Voluntário interpostos em face do acórdão de n° 1240.669, da 6ª Turma da DRJ/RJ, proferido em sessão de 21 de setembro de 2011. Tratase de Autos de Infração Complementares para o IRPJ (fls. 556/564) e CSLL (fls. 565/570), para a exigência de supostos débitos dos referidos tributos referentes aos 03 (três) primeiros trimestres do períodobase de 2007, no montante de, respectivamente, R$ 304.989.399,05 e R$ 9.935.374,68, acrescidos de multa de 75% e juros de mora. Em 27 de dezembro de 2007, o contribuinte foi intimado do acórdão de n° 1217.330, da 2ª Turma da DRJ/RJ, nos autos do Processo Administrativo de n° 13770.000305/200301, que cancelou benefício fiscal de que gozava. Como resultado de tal cancelamento, foi lavrado Auto de Infração que deu origem ao Processo Administrativo de n° 15578.000407/200754 para a cobrança de supostos débitos de IRPJ referentes aos períodosbase de 20032006. O presente processo, de n° 15586.720036/2011 16, versa somente sobre o Auto de Infração Complementar, lavrado para a cobrança de IRPJ e CSLL dos 03 (três) primeiros trimestres do período de 2007. As infrações atribuídas à Recorrente foram as seguintes: Utilização indevida do benefício de redução do IRPJ e adicional, calculados sobre o lucro da exploração, concedido a empresas situadas na área da antiga SUDENE; e Redução indevida das bases de cálculo do IRPJ e CSLL. Glosa de Ajustes realizados a título de correção monetária do balanço – diferença IPC/BTNF (Expurgo do Plano Verão de 1989). O contribuinte apresentou Impugnação às fls. 600/673 na qual aduziu em sua defesa, dentre outros, os seguintes pontos em relação à utilização do benefício fiscal: O direito de ter o IRPJ e adicionais não restituíveis reduzidos em 75% sobre os lucros tributáveis decorrentes da modernização total e diversificação de sua unidade produtiva foi reconhecido não somente pela Inventariança da extinta SUDENE, mas também pela Delegacia da Receita Federal em Vitória, por despacho decisório, e posteriormente ratificado pela própria Advocacia Geral da União, em atuação junto à Autarquia. Portanto, não podem prosperar as conclusões e efeitos do acórdão de n° 1217.330, que negou o direito ao benefício. Somente em novembro de 2003 o Consultor Jurídico do Ministério da Integração foi requisitado a se manifestar acerca da possibilidade de concessão de benefícios fiscais no Estado do Espírito Santo, em relação a municípios que não se localizavam originariamente na área da extinta SUDENE. Fl. 1532DF CARF MF Processo nº 15586.720036/201116 Acórdão n.º 1401002.186 S1C4T1 Fl. 1.532 3 Como conseqüência, em dezembro de 2003, foi emitido parecer pelo qual o Sr. Consultor Jurídico do Ministério da Integração Nacional, revendo o seu entendimento anterior e em evidente alteração de critério jurídico (vedada pelo Código Tributário Nacional), formalizou novo entendimento quanto à extensão e alcance da norma que concedia o benefício. Em 20 de janeiro de 2004, por meio do Ofício de n° 1405/2003, o contribuinte foi notificado da cassação de seus laudos constitutivos, em razão de alteração dos critérios interpretativos. Ainda que aplicada a norma geral de correção monetária do balanço, como pretende a fiscalização, em detrimento da norma individual e concreta decorrente da coisa julgada, não é possível ignorar os efeitos que seriam produzidos nos períodos seguintes em função da realização dos encargos de depreciação, amortização e baixas do ativo permanente corrigido, que acabam por anular a suposta falta de tributação da diferença de saldo credor da correção monetária. Eventuais ganhos apurados em decorrência da correção monetária deveriam ter sido lançados conforme legislação aplicável. A existência desses ganhos não legitima a glosa das exclusões realizadas. De acordo com a fiscalização, a dedução dos efeitos do expurgo do Plano Verão sobre as depreciações, amortizações e baixas do ativo permanente deveria gerar prejuízos fiscais, cuja compensação estaria limitada a 30% do lucro real. Ademais, qualquer compensação realizada a maior geraria postergação. Sobreveio o acórdão de n° 1240.669, da 6ª Turma da DRJ/RJ1 que, por unanimidade de votos, deu provimento parcial à impugnação, em decisão que restou assim ementada: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007 MATÉRIA DEFINITIVAMENTE JULGADA. NOVO JULGAMENTO. Na ausência de vícios que justifiquem eventual nulidade, incabível nova análise de matéria já definitivamente julgada na esfera administrativa. ISENÇÃO EM CARÁTER INDIVIDUAL. CANCELAMENTO. DIFERENÇAS DEVIDAS. MULTA DE OFÍCIO. Cancelada a isenção concedida em caráter individual, em virtude de apurarse que a beneficiária não atendia, de fato, às condições impostas, cabível a cobrança das diferenças devidas até então, sem a incidência de multa de ofício. CORREÇÃO MONETÁRIA. PLANO VERÃO. O provimento obtido com o trânsito em julgado é definido pelos limites firmados na decisão que se torna definitiva. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte. O acórdão prolatado, no que tange à 1ª infração utilização indevida do benefício fiscal fundamentouse no fato de que o cancelamento do benefício de que usufruía o contribuinte foi definitivamente apreciado na esfera administrativa, uma vez que do acórdão de n° 1217.330/2007, não mais caberia recurso. Logo, consoante artigos 179 e 155 do Código Tributário Nacional, seriam exigíveis do contribuinte as diferenças devidas pela utilização do benefício, acrescidas dos juros de mora, uma vez que a isenção concedida em caráter individual foi cancelada. Quanto à 2ª infração – indexação pelo IPC fundamentou o acórdão recorrido que o provimento jurisdicional obtido, apesar de garantir à interessada a indexação de suas contas de natureza credora, também lhe obrigava a corrigir as contas de natureza devedora. Considerando a correção das contas devedoras, o resultado de correção monetária do ano de 1989 seria credor, não havendo que se falar em dedução após o trânsito em julgado da ação. Irresignado, o contribuinte apresentou recurso voluntário (fls. 1054/1129), no qual reiterou as razões de sua impugnação quanto à impossibilidade de cobrança do IR e adicionais não restituíveis em período no qual estava em pleno gozo de redução tributária. Quanto à primeira infração, enfatiza que não se está objetivando rever decisão transitada em julgado (AC n° 1217.330/2007), mas sim, os limites da eficácia do julgado que não considerou as disposições do Dec. 4213/02 e da IN n° 267/02, que vedam a exigibilidade retroativa do tributo. Quanto à segunda infração, reafirma o reconhecimento de seu direito de realizar a correção, pelos índices de 42,72% (janeiro de 1989) e 10,14% (fevereiro de 1989) para fins fiscais, e não para fins contábeis, de sorte que não há saldo credor. Ainda, reiterou que os efeitos da aplicação dos índices expurgados sobre o saldo do ativo permanente em janeiro de 1989 concederam ao contribuinte inegável direito à dedução das parcelas de depreciação, amortização e baixas, tanto em consonância com a decisão judicial transitada em julgado (Ação Ordinária 95.0087464), quanto por força das normas gerais de correção monetária de balanço, ignoradas pela fiscalização. A Fazenda Nacional, às fls. 1.202, apresentou contrarrazões ao recurso voluntário, insurgindose apenas quanto à inobservância do requisito geográficoespacial para fruição de benefício fiscal. Fl. 1533DF CARF MF 4 Argumentou que no caso vertente não houve mera revogação de ato concessivo, mas sim, anulação dos laudos em que se fundou o Despacho Decisório que deferiu o benefício, o que em última instância teria levado à anulação deste. Ainda, sustentou que seriam inócuas as alegações do contribuinte ao pleitear o reconhecimento de seu direito à fruição do benefício, uma vez que transitou em julgado a decisão administrativa da DRF de Vitória que cancelou o benefício. Em relação ao relatório acima transcrito, cumpre aditálo para consignar que houve recurso de ofício em razão de a DRJ ter exonerado a multa de ofício relativa à parte da autuação decorrente da revogação do benefício fiscal da SUDENE. O teor da resolução citada pode ser aferido pelo voto condutor, o qual transcrevo na integralidade em face de não ser extenso: O Recurso Voluntário do contribuinte insurgese contra dois pontos: (i) a cobrança de IRPJ e adicionais decorrentes de revogação de benefício fiscal concedido a empresas situadas na área da antiga SUDENE e, (ii) contra a glosa de Ajustes realizados a título de correção monetária do balanço – diferença IPC/BTNF (Expurgo do Plano Verão de 1989). Em sessão, a despeito de ter proferido meu entendimento sobre o Recurso de Ofício e também sobre o primeiro item do Recurso Voluntário (a exigência do IRPJ sobre a revogação do benefício fiscal), quando da discussão do segundo item do Recurso glosa de ajustes realizados a título de correção monetária de balanço – a Turma entendeu que seria necessária a conversão do julgamento em diligência, antes que as demais questões de mérito fossem apreciadas, dada a impossibilidade de segregação do julgamento. Assim, deixo de me manifestar sobre os mencionados itens, para esclarecer a controvérsia sobre a qual deve recair a diligência (glosa de ajustes decorrentes da correção monetária). Quanto à segunda infração, a controvérsia residiu em compreender a extensão do provimento jurisdicional obtido pelo contribuinte na Ação Ordinária 95.0087464. A Delegacia de Julgamento da Receita Federal conclui que o contribuinte jamais teria obtido permissão para corrigir, exclusivamente, as suas despesas com depreciação, amortização e baixas, uma vez que o provimento jurisdicional não teria sido integralmente favorável ao contribuinte. Teria sim sido reconhecido o direito de corrigir a integralidade (e não parte) das demonstrações financeiras pela diferença IPC/BTNF, o que até lhe seria, segundo a fiscalização, desfavorável. Nessa linha, a conclusão alcançada seria de que o saldo de correção monetária do ano de 1989 foi credor, não havendo, portanto, diferenças a serem deduzidas de bases tributáveis posteriores ao trânsito em julgado da ação. Durante o julgamento, o debate se deu quanto aos efeitos da correção monetária das demonstrações e o alcance do provimento jurisdicional, se seria favorável à Recorrente, uma vez que o saldo credor de correção monetária de um ano acresceria o patrimônio da empresa, de forma que o efeito se anularia nos exercícios seguintes. De fato, conforme afirma a fiscalização, da coisa julgada interpretase que “o provimento jurisdicional obtido autorizou a indexar, utilizando os índices referidos na sentença, a integralidade das demonstrações financeiras, e não apenas as contas de natureza credora”. Por essa razão e tendo em vista que o lançamento se reporta a pedido posterior (2007) ao ano referência (1989) para a correção monetária, posto que aguardouse o trânsito em julgado da decisão judicial, a Turma entendeu oportuno averiguar os efeitos do provimento jurisdicional por meio dos seguintes quesitos, formulados à d. fiscalização: Apurar os efeitos da correção monetária de balanço no ano de 1989, conforme decisão do TRF, complementadas pela decisão do STJ, que deferiu a correção da diferença do IPC/BTNF. Projetar os efeitos dessa correção monetária nos anos seguintes até 2007, inclusive considerando a receita de lucro inflacionário diferido em relação a esses expurgos. Limitar a glosa ao montante do reflexo da correção monetária de 1989 em 2007. Após realizada a diligência e elaborado relatório, encaminhar para ciência da Procuradoria e do contribuinte. O resultado da diligência consta das fls. 1.2521.253, cujo teor abaixo transcrevo: Tendo em vista a solicitação de diligência pelo CARF, conforme resolução nº 1401000.312, com o objetivo de elucidar alguns questionamentos, os quais detalhamos abaixo: Fl. 1534DF CARF MF Processo nº 15586.720036/201116 Acórdão n.º 1401002.186 S1C4T1 Fl. 1.533 5 1. Apurar os efeitos da correção monetária de balanço no ano de 1989, conforme decisão do TRF, complementadas pela decisão do STJ, que deferiu a correção da diferença do IPC/BTNF. Resposta: O acórdão do Tribunal Regional da 1a Região Fiscal, informa: “I – Em conformidade com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, em tema relativo a expurgos inflacionários, as demonstrações financeiras de 1990, anobase 1989, devem ser corrigidas de acordo com o IPC de janeiro de 1989, o qual restou definido pelo Superior Tribunal de Justiça em 42,72% II – Apelação da autora parcialmente provida.” O acórdão do Superior Tribunal de Justiça – STJ, informa: “1 – Este tribunal, através da Corte Especial, ao reduzir o IPC de janeiro de 1989 de 70,28% para 42,72%, acolheu o entendimento de que o IPC do mês de fevereiro seguinte deve ser fixado no percentual de 10,41%. 2 – Recurso especial provido.” Da leitura do Balanço Patrimonial consolidado em 31/12/1998 (fls. 341e 342) e da Declaração de Imposto de Renda relativa ao exercício de 1990 (fls. 443 a 536), observase que o Ativo Permanente, cuja correção monetária gera receita passível de tributação, totaliza Cz$ 1.831.511.337.133,60 e o Patrimônio Líquido, cuja correção monetária gera despesa dedutível, totaliza Cz$ 1.581.013.583.114,94. Abaixo apresentamos a tabela com os efeitos da correção monetária pelo IPC/BTNF no ano de 1989: Data Índice (%) Ativo Permanente (1) Patrimônio Líquido (2) Saldo Credor de C.M. (1) – (2) 31.12.1988 Cz$ 1.831.511.337.133,60 Cz$ 1.581.013.583.114,94 Cz$ 250.497.754.018,66 31.01.1989 42,72% NCz$ 2.613.932.980,38 NCz$ 2.256.422.585,82 NCz$ 357.510.394,53 31.02.1989 10,14% NCz$ 2.878.985.784,59 NCz$ 2.485.223.836,02 NCz$ 393.761.948,5 Obs: Em janeiro de 1989 houve alteração da moeda Cruzado (Cz$) para Cruzado Novo (NCz$), dividindoa por 1.000. 2. Projetar os efeitos dessa correção monetária nos anos seguintes até 2007, inclusive considerando a receita de lucro inflacionário em relação a esses expurgos: Resposta: Para correção monetária dos valores do Ativo Permanente, Patrimônio Líquido e Saldo Credor da Correção Monetária (Lucro Inflacionário), utilizamos a tabela “Anexo I – Atualização Monetária”, conforme legislação pertinente descrita no anexo. Resumo da Atualização Monetária: Período Moeda Ativo Permanente Patrimônio Líquido Saldo Credor C.M. Dez/88 Cz$ 1.831.511.337.133,60 1.581.013.583.114,94 250.497.754.018,66 Dez/07 R$ 30.335.527.623,07 26.186.505.237,85 4.149.022.385,22 3. Limitar a glosa ao montante do reflexo da correção monetária de 1989 em 2007 Resposta: A glosa efetuada pela fiscalização se refere aos valores deduzidos como “outras exclusões – Exclusão dos efeitos decorrentes de ação judicial Plano Verão”, informados pelo contribuinte (fls. 40, 44 e 66) em resposta aos Termos de Intimação Fiscal. A glosa realizada está correta segundo, conforme determina o artigo 185 da Lei nº 6.404/76, portanto não há que se falar em limite, pois tratase de exclusões indevidas, tendo em vista que o contribuinte apenas havia realizado a correção monetária do Patrimônio Líquido em 1988, deixando de realizar a mesma para o Ativo Permanente. Diante desta situação, ao considerarmos a correção monetária do Ativo Permanente, chegamos a um saldo credor de correção monetária, em 31.12.1988, no valor de Cz$ 250.497.754.018,66 (cruzados), de forma que o contribuinte não possui direito às exclusões solicitadas. Venho ainda informar que existem processos neste CARF que versam sobre o mesmo assunto, são eles os processos 15578.000407/200757 (IRPJ) e 15578.000406/200718 (CSLL). Ambas as partes foram intimadas e se manifestaram nos autos acerca da diligência. Fl. 1535DF CARF MF 6 O contribuinte apresentou a peça de fls. 1.2621.277, que pode ser assim sintetizada: A fiscalização não teria respondido a contento nenhum dos quesitos da diligência, de modo que se obrigada a tecer suas próprias respostas e apresentar os documentos que as comprovam. Com relação ao primeiro quesito (Apurar os efeitos da correção monetária de balanço no ano de 1989, conforme decisão do TRF, complementadas pela decisão do STJ, que deferiu a correção da diferença do IPC/BTNF), não teria sido respondido pela fiscalização, uma vez que a fiscalização teria recalculado os saldos do ativo permanente e do patrimônio líquido sem se ater a situações específicas. A primeira delas diz respeito a itens do ativo permanente que não se submetiam à correção monetária, como terrenos e ativos diferidos; a segunda é relativa à necessidade de se subtrair do saldo utilizado as contas devedoras (depreciações e amortizações acumuladas em 1988). Ademais, discorreu sobre um suposto equivoco na conversão de valores. Abaixo, reproduzo a parte pertinente: Então apresentou o quadro. Seguiu ao aduzir que tributou (não diferiu, portanto) a tributação do saldo credor da correção monetária original, o que estaria comprovado pela DIPJ e LALUR apresentados (Anexo II). Assim, a fiscalização teria duas opções: (i) apurar o diferimento do novo saldo credor da correção monetária, ou (ii) tributar de imediato, mas respeitandose a decadência e os saldos controlados pelo LALUR na época, especialmente, os prejuízos fiscais. Desse modo, ainda que o índice expurgado alcançasse todo o balanço e não apenas o ativo permanente como pedido na inicial, não haveria tributo a ser pago, uma vez que os prejuízos registrados no LALUR 1989 eram suficientes para compensar a diferença. Apresenta no Anexo IV como entende que se daria a compensação com o saldo de prejuízos fiscais. Fl. 1536DF CARF MF Processo nº 15586.720036/201116 Acórdão n.º 1401002.186 S1C4T1 Fl. 1.534 7 Segue ainda com as considerações abaixo reproduzidas: Com relação ao segundo quesito (Projetar os efeitos dessa correção monetária nos anos seguintes até 2007, inclusive considerando a receita de lucro inflacionário em relação a esses expurgos), aduz que os cálculos apresentados pela autoridade fiscal estão errados pelos seguintes motivos: (i) não aplicou a diferença IPC/BNFF, (ii) aplicou índices posteriores à extinção da UFIR. Passa então a explanar o que deveria ter sido apurado acerca dos efeitos da correção monetária do balanço para 2007: a) se houvesse saldo credor a ser tributado em 1989, este seria compensado com prejuízos fiscais ou seria convertido em lucro inflacionário a ser tributado na medida da realização dos itens do ativo permanente; b) deveria ter sido apurado toda a movimentação (depreciação, por exemplo) dos bens existentes no ativo permanente de 1989 com base na decisão judicial; c) o eventual saldo credor ou lucro inflacionário deveria ser recalculado e deduzido, ano a ano, com direitos e créditos fiscais existentes no LALUR e, posteriormente, com as despesas de depreciação, amortização e baixas decorrentes da decisão judicial transitada em julgado; d) essa movimentação demonstraria se, em 2007, a correção monetária determinada pela decisão passada em julgado produziria efeitos positivos ou negativos; Aduz, então, o valor a que teria direito a depreciar. Com relação ao terceiro quesito (Limitar a glosa ao montante do reflexo da correção monetária de 1989 em 2007), contesta a conclusão da autoridade fiscal e entende que deixou de cumprir o que determinava a resolução de diligência. Passa então a discorrer sobre como apurar o efeito líquido entre a tributação do saldo credor apurado em 1989 e a dedução de despesas de depreciação, amortização e baixas entre 1989 e 2007. A manifestação da PFN foi apresentada na peça de fls. 13771388, cujos razões são as que se seguem. A PFN parte do seguinte pressuposto: Fl. 1537DF CARF MF 8 Não há controvérsia acerca dos índices aplicáveis. Não há tampouco, lide sobre os valores envolvidos na autuação. O interessado não nega que tenha feito, em 2007, as deduções glosadas, referentes a saldo negativo de correção monetária do ano de 1989, confirmando, ainda, que este saldo resultou da indexação, tão somente, de suas contas credoras. Assim, discorre sobre os efeitos da decisão judicial na ação ordinária de nº 95.00087464, cujos principais trechos valem ser colacionados: Portanto, contrariamente ao que afirma todo o tempo o interessado, ele jamais obteve permissão para corrigir, unicamente, suas despesas com depreciação, amortização, baixas e prejuízos fiscais. O que ele conseguiu foi uma decisão que, ao final, lhe foi desfavorável, já que lhe concedeu o direito de corrigir “as demonstrações financeiras” pelo IPC. E daí ele teria, na correção do balanço, saldo credor (RECEITA) a oferecer à tributação, através de adição ao lucro líquido, conforme se pode precisar dos valores do ativo permanente e do patrimônio líquido informados em sua DIRPJ e através das planilhas de folhas 443 a 536 (...) (...) Noutros termos, seja por meio das informações prestadas pelo próprio interessado, seja em virtude da análise dos termos do provimento judicial, seja pela conclusão externada no Relatório Fiscal sob análise, constatase que, em qualquer dos períodos acima (objeto da ação do IPC), ele teria saldos a adicionar ao lucro líquido, e não direito a deduções deste, QUANDO DA APURAÇÃO DO LUCRO REAL, razão pela qual a decisão de primeira instância não merece reparos nesse ponto. É o relatório. Fl. 1538DF CARF MF Processo nº 15586.720036/201116 Acórdão n.º 1401002.186 S1C4T1 Fl. 1.535 9 Voto Conselheiro Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Relator RECURSO DE OFÍCIO A autoridade julgadora de primeiro grau exonerou a multa de ofício relativa à autuação decorrente do benefício fiscal anulado. Assim fundamentou essa parte: Por fim, ressalto que, por força dos arts. 179 e 155 do CTN, não cabe a incidência de multa de ofício relativamente aos fatos geradores anteriores a dezembro de 2007, data da ciência da decisão administrativa final que revogou o benefício. Deve, portanto, ser integralmente exonerada a parcela do lançamento concernente à multa de ofício, já que os fatos geradores tributados correspondem aos três primeiros trimestres do ano de 2007. Os artigos citados possuem a seguinte redação: Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não gera direito adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor, cobrandose o crédito acrescido de juros de mora: I com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele; II sem imposição de penalidade, nos demais casos. Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito o referido direito. (...) Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão. § 1º Tratandose de tributo lançado por período certo de tempo, o despacho referido neste artigo será renovado antes da expiração de cada período, cessando automaticamente os seus efeitos a partir do primeiro dia do período para o qual o interessado deixar de promover a continuidade do reconhecimento da isenção. § 2º O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido, aplicandose, quando cabível, o disposto no artigo 155. De fato, os dispositivos são claros pela exoneração da multa no caso. Deve, pois, ser negado provimento ao recurso de ofício. RECURSO VOLUNTÁRIO Glosa de incentivo fiscal Fl. 1539DF CARF MF 10 O benefício foi cancelado por meio do processo administrativo nº 13770.000305/200301. Houve idêntica autuação para períodos anteriores no processo administrativo nº 15578.000407/200754. Naquele feito, a Primeira Turma da Segunda Câmara deu provimento ao recurso voluntário por meio do Acórdão 1201000.736, em 8 de agosto de 2012. O voto condutor assim se posicionou: A segunda questão diz respeito à retroatividade ou não do despacho que cancelou o benefício da SUDENE. Segundo o entendimento da Receita Federal, o ato jurídico que concedeu o benefício da SUDENE era contrário à lei que o regulamentava. E, por dispor de maneira antagônica, foi corretamente declarado a sua nulidade. Sendo que, uma vez declarado nulo, o ato não pode produzir efeitos no mundo jurídico, desde o momento da sua formação. Dessa forma, os efeitos da nulidade devem retroagir à data da concessão, produzindo efeitos ex tunc. Ocorre que, para o deslinde da questão é indispensável a análise do Decreto 4.213/2002, o qual regulamenta o benefício da redução do imposto de renda para os empreendimentos prioritários nas áreas de atuação da extinta Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE. De acordo com o artigo 3º do decreto supracitado, o direito ao benefício da redução do imposto de renda será reconhecido pela unidade da Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda a que estiver jurisdicionada a pessoa jurídica, sendo que, o chefe da unidade decidirá sobre o pedido no prazo de cento e vinte dias contados da apresentação do requerimento à repartição fiscal competente. Aduz, os parágrafos do artigo 3º que expirado o prazo de cento e vinte dias, sem que a requerente tenha sido notificada de decisão contrária ao seu pedido e enquanto não sobrevier decisão irrecorrível, considerarseá a interessada automaticamente em pleno gozo da redução pretendida. E, em caso de decisão posterior que denegue o pedido, as parcelas correspondentes às reduções feitas durante o período em que a pessoa jurídica interessada esteve em pleno gozo da redução não poderão ser objeto cobrança. Art. 3º O direito à redução do imposto sobre a renda das pessoas jurídicas e adicionais nãorestituíveis incidentes sobre o lucro da exploração, na área de atuação da extinta SUDENE será reconhecido pela unidade da Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda a que estiver jurisdicionada a pessoa jurídica, instruído com o laudo expedido pelo Ministério da Integração Nacional. § 1o O chefe da unidade da Secretaria da Receita Federal decidirá sobre o pedido em cento e vinte dias contados da respectiva apresentação do requerimento à repartição fiscal competente. § 2o Expirado o prazo indicado no § 1o, sem que a requerente tenha sido notificada da decisão contrária ao pedido e enquanto não sobrevier decisão irrecorrível, considerarseá a interessada automaticamente no pleno gozo da redução pretendida. Fl. 1540DF CARF MF Processo nº 15586.720036/201116 Acórdão n.º 1401002.186 S1C4T1 Fl. 1.536 11 § 3o Do despacho que denegar, parcial ou totalmente, o pedido da requerente, caberá impugnação para a Delegacia da Receita Federal de Julgamento, dentro do prazo de trinta dias, a contar da ciência do despacho denegatório. § 4o Tornase irrecorrível, na esfera administrativa, a decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento que denegar o pedido. § 5o Na hipótese do § 4o, a repartição competente procederá ao lançamento das importâncias que, até então, tenham sido reduzidas do imposto devido, efetuandose a cobrança do débito. § 6o A cobrança prevista no § 5o não alcançará as parcelas correspondentes às reduções feitas durante o período em que a pessoa jurídica interessada esteja em pleno gozo da redução de que trata o § 2o. Analisando a legislação acima se verifica que a autoridade fiscal tem o prazo de cento e vinte dias para apreciar o pedido e, caso esse prazo seja extrapolado, a requerente estará em pleno gozo do benefício até decisão contrária irrecorrível de seu pedido. Sendo que, as parcelas dos benefícios que foram utilizadas durante o período de gozo não poderão ser cobradas. No caso em tela, o pedido foi protocolado pela empresa em 27/05/2003, sendo que, em 31/07/2003, foi publicado o despacho decisório fundamentando o parecer SEORT nº 1.007/2003, reconhecendo o direito da empresa usufruir o benefício da redução do IRPJ e adicionais. Em 05/03/2004, foi publicado o despacho decisório nº 342/2004 cancelando a concessão do benefício anteriormente reconhecido pela autoridade fiscal. A empresa foi intimada no dia 12/04/2004, tomando conhecimento do prazo de 10 dias para manifestação. Após todos os trâmites administrativos, em 13/07/2007, sobreveio a decisão irrecorrível da Delegacia da Receita Federal através do Parecer SEORT 714/2007 determinando o cancelamento do despacho Decisório que resultou no Parecer SEORT 1.007/2003. Assim, ainda que se utilizássemos o raciocínio exarado pela própria Receita Federal de que o ato nulo deve ser extraído do mundo jurídico sem produzir efeitos, temos que a empresa enquadrase na regra geral do Decreto 4.213/2002. Ou seja, se a empresa protocolou seu pedido em 27/05/2003, a autoridade administrativa teria que manifestarse contrariamente ao pedido até o dia 24/09/2003 e não o fez. Dessa forma, a partir de 25/09/2003 a empresa legitimou se a utilizar o benefício fiscal pleiteado até a notificação de decisão contrária e irrecorrível. Decisão esta, que ocorreu apenas em 13/07/2007. Dessa forma, temos que a cobrança não se aplica às parcelas de imposto reduzidas até 13/07/2007, data em que sobreveio a decisão definitiva do benefício, pela regra estampada no artigo 3º, §§ 2º e 6º do Decreto 4.213/2002. Concordo com a referida decisão, exceto quanto a um ponto. Como consignou a DRJ em seu voto, a ciência da decisão administrativa que revogou o benefício ocorreu em dezembro de 2007. Logo, a autuação é indevida para os três primeiros trimestres do ano de 2007. Fl. 1541DF CARF MF 12 Glosa de expurgo inflacionário No próprio termo de verificação fiscal (fls. 587), a autoridade fiscal assim consigna: Através da ação ordinária 9500087464, o contribuinte requereu o direito de deduzir fiscalmente as despesas de depreciação, amortização e baixas, computandose a variação de 70,28%, referente ao IPC de janeiro de 1989, substituindose a OTN de Ncz$ 6,92 pela de Ncz$ 10,51 ou outro índice que a juíza julgasse adequado, na base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro, como se fosse ajuste de exercícios anteriores, com todos os efeitos daí decorrentes, tais como a correção dos prejuízos fiscais, ou ainda, como pedido sucessivo, compensar o imposto pago indevidamente nos últimos 5 (cinco) anos, em função do expurgo ocorrido na formação da despesa de depreciação, amortização e baixas, com os efeitos decorrentes de correção de prejuízos fiscais. Depois aduziu que a autora modificou seu pedido inicial no recurso com base no seguinte trecho da apelação: A Autora propôs a presente ação ordinária visando ao reconhecimento de seu direito constitucional de utilizar, em suas demonstrações financeiras e para efeitos de apuração do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro, um índice de correção monetária que efetivamente, correspondesse à realidade da variação econômica no período ...” A seguir reproduziu partes do provimento final do STJ: “Em sua petição inicial a Recorrente pediu a declaração do seu direito de deduzir fiscalmente as despesas de depreciação, amortização e baixas, computandose a variação do IPC ..... ................................... A ação foi julgada improcedente em 1ª instância e parcialmente procedente no Egrégio TRF, que reconheceu o direito da Recorrente apenas à aplicação do índice de 42,72%, de janeiro deste ano.” .................................. ... A Recorrente requer a reforma do r. acórdão recorrido, para que seja reconhecido o seu direito à aplicação, na correção monetária de suas demonstrações financeiras ...” Daí conclui: E daí ele teria, na correção do balanço, saldo credor (RECEITA) a oferecer à tributação, através de adição ao lucro líquido, conforme se pode precisar dos valores do ativo permanente e do patrimônio líquido e através das planilhas, apresentadas quando das respostas aos termos de intimação, (...) O Julgador de primeira instância, a PFN e, pelos termos do voto condutor da diligência que foi baixada seguiram pela mesma linha. Nada obstante e com a devida vênia a todos, as premissas estão equivocadas em função da confusão entre dois itens de resultado. Uma coisa é o resultado da correção monetária do balanço de um determinado ano, que poderá ser credor e, portanto, aumentar o resultado tributável do período em questão (no caso dos autos, o anocalendário de 1989) ou devedor e, assim, reduzir o Fl. 1542DF CARF MF Processo nº 15586.720036/201116 Acórdão n.º 1401002.186 S1C4T1 Fl. 1.537 13 referido resultado. Em termos genéricos, o saldo é credor quando o ativo permanente é maior que o patrimônio líquido, e é devedor quando ocorre o contrário. Outra coisa é a apropriação ao resultado de exercícios posteriores da redução dos itens do ativo permanente por depreciação, amortização, exaustão e simples baixa. Pois bem, ao se aumentar, como foi feito pela decisão judicial, o índice de correção monetária do período em questão (1989), o resultado da correção monetária do balanço e, conseguintemente, do chamado lucro inflacionário pode ser credor ou devedor. Isso dependerá da composição do balanço da interessada. No entanto, o provimento judicial que deferiu o aumento do índice inflacionário sempre resultará num aumento das despesas de baixa de itens do ativo permanente, pois estes mesmos itens terão aumentado de valor. Claro que este aumento poderia resultar num lucro inflacionário, mas um efeito não está necessariamente atrelado ao outro. O que o contribuinte pleiteou na ação judicial foi a atualização do seu balanço para fins de apropriar as despesas com as baixas do ativo permanente nos anos vindouros e isso foi reconhecido pela decisão passada em julgado. Ademais, mesmo que a decisão tivesse os efeitos pretendidos pela autoridade fazendária, caberia a esta lançar o eventual lucro inflacionário e não glosar as despesas de baixa do ativo. Por outros termos, não é condição para a apropriação das despesas de baixa do ativo que a correção monetária destes tenha sido oferecida à tributação nos anos anteriores. A autuação, pois, também não merece prosperar quanto ao presente item. Conclusão Por todo o exposto, voto para negar provimento ao recurso de ofício e para dar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Fl. 1543DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10508.720648/2013-71
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 13 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu May 03 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2008, 2009, 2010
NULIDADE. QUEBRA DE SIGILO PROCESSUAL E BANCÁRIO SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. INOCORRÊNCIA.
Improcedente a alegação de quebra de sigilo processual e bancário do contribuinte quando se verifica que o contribuinte foi regularmente intimado de todos os termos no curso do procedimento fiscal e a autuação lastreou-se em elementos fornecidos pelo próprio contribuinte e que não foram retirados de documentos fornecidos por instituições financeiras.
NULIDADE, FALTA DE INTIMAÇÃO DOS SÓCIOS DA EMPRESA, CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA.
Improcedente a argüição de nulidade por cerceamento de defesa quando o contribuinte é regularmente representado por mandatário, o qual tem ciência de todos os termos do procedimento fiscal e quando o contribuinte apresenta sua impugnação também de forma regular, através de advogado, que exerce plenamente a sua defesa.
INSUBSISTÊNCIA DAS GLOSAS. IMPROCEDÊNCIA.
Comprovando-se que, em sede de julgamento foi determinada a realização de diligência na qual foram analisados os documentos apresentados pelo impugnante e que refletiram na redução da autuação, improcede o pedido de insubsistência das glosas pela não consideração dos documentos apresentados.
ARBITRAMENTO DO LUCRO. INEXISTÊNCIA.
Improcede alegação de improcedência do lançamento quando se comprovada que no procedimento de fiscalização a apuração do lucro foi realizada sob a sistemática do lucro real.
MULTA QUALIFICADA. IMPOSSIBILIDADE.
Não se constatando a existência de fato específico que demonstre a realização de atos caracterizadores das hipóteses dos arts. 72 a 74, da Lei nº 4.502/64, improcede a aplicação da qualificação da multa.
PARTICIPAÇÃO EM GRUPO ECONÔMICO. PROCEDÊNCIA.
Comprovado nos autos que a atuação dos imputados decorria de uma ação de um grupo econômico, com comprovação robusta, mantém-se esta acusação.
Numero da decisão: 1401-002.295
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares suscitadas para, no mérito, dar provimento parcial ao recurso voluntário para reduzir a multa de ofício ao patamar de 75%. Participou do julgamento o Conselheiro Suplente Aílton Neves da Silva. Ausente o Conselheiro Luiz Augusto de Souza Gonçalves.
(assinado digitalmente)
Guilherme Adolfo dos Santos Mendes - Presidente em Exercício.
(assinado digitalmente)
Abel Nunes de Oliveira Neto - Relator.
Participaram sa presente sessão de julgamento os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, (Presidente Em Exercício), Ailton Neves da Silva, Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Abel Nunes de Oliveira Neto, Leticia Domingues Costa Braga, Daniel Ribeiro Silva, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa
Nome do relator: ABEL NUNES DE OLIVEIRA NETO
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QUEBRA DE SIGILO PROCESSUAL E BANCÁRIO SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. INOCORRÊNCIA. Improcedente a alegação de quebra de sigilo processual e bancário do contribuinte quando se verifica que o contribuinte foi regularmente intimado de todos os termos no curso do procedimento fiscal e a autuação lastreouse em elementos fornecidos pelo próprio contribuinte e que não foram retirados de documentos fornecidos por instituições financeiras. NULIDADE, FALTA DE INTIMAÇÃO DOS SÓCIOS DA EMPRESA, CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. Improcedente a argüição de nulidade por cerceamento de defesa quando o contribuinte é regularmente representado por mandatário, o qual tem ciência de todos os termos do procedimento fiscal e quando o contribuinte apresenta sua impugnação também de forma regular, através de advogado, que exerce plenamente a sua defesa. INSUBSISTÊNCIA DAS GLOSAS. IMPROCEDÊNCIA. Comprovandose que, em sede de julgamento foi determinada a realização de diligência na qual foram analisados os documentos apresentados pelo impugnante e que refletiram na redução da autuação, improcede o pedido de insubsistência das glosas pela não consideração dos documentos apresentados. ARBITRAMENTO DO LUCRO. INEXISTÊNCIA. Improcede alegação de improcedência do lançamento quando se comprovada que no procedimento de fiscalização a apuração do lucro foi realizada sob a sistemática do lucro real. MULTA QUALIFICADA. IMPOSSIBILIDADE. Não se constatando a existência de fato específico que demonstre a realização de atos caracterizadores das hipóteses dos arts. 72 a 74, da Lei nº 4.502/64, improcede a aplicação da qualificação da multa. PARTICIPAÇÃO EM GRUPO ECONÔMICO. PROCEDÊNCIA. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 50 8. 72 06 48 /2 01 3- 71 Fl. 18850DF CARF MF 2 Comprovado nos autos que a atuação dos imputados decorria de uma ação de um grupo econômico, com comprovação robusta, mantémse esta acusação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares suscitadas para, no mérito, dar provimento parcial ao recurso voluntário para reduzir a multa de ofício ao patamar de 75%. Participou do julgamento o Conselheiro Suplente Aílton Neves da Silva. Ausente o Conselheiro Luiz Augusto de Souza Gonçalves. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Presidente em Exercício. (assinado digitalmente) Abel Nunes de Oliveira Neto Relator. Participaram sa presente sessão de julgamento os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, (Presidente Em Exercício), Ailton Neves da Silva, Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Abel Nunes de Oliveira Neto, Leticia Domingues Costa Braga, Daniel Ribeiro Silva, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Relatório Iniciemos com a transcrição do relatório da Decisão de Piso. DO PROCEDIMENTO FISCAL 01. Decorrente do trabalho de fiscalização realizado na pessoa jurídica indicada, relativo aos anoscalendário de 2008, 2009 e 2010, foram lavrados em 17/12/2013 (fl. 17649) o Auto de Infração do Imposto de Renda (fls. 17583 a 17586), o Auto de Infração da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (fls. 17596 a 17600), o Auto de Infração da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (fls. 17608 a 17612) e o Auto de Infração da Contribuição para o PIS (fls. 17617 a 17622). O “Enquadramento Legal” encontra se às folhas 17583 a 17627 dos autos. O crédito tributário total lançado foi de R$ 33.473.857,61 (trinta e três milhões, quatrocentos e setenta e três mil, oitocentos e cinqüenta e sete reais e sessenta e um centavos), conforme abaixo demonstrado: Fl. 18851DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.851 3 02. Os fatos apurados pela Autoridade Lançadora estão descritos no “Relatório de Verificação Fiscal – IRPJ, CSLL PIS E COFINS” (fls. 17629 a 17648), a seguir sintetizados. 03. A Autoridade Fiscal informou que foram identificados nos sistemas informatizados da Receita Federal do Brasil fortes indícios do descumprimento da legislação tributária pelo Contribuinte (cruzamento de informações com DMA da SefazBA), motivando a formalização do Mandado de Procedimento Fiscal – MPF. 04. Além disso, o Contribuinte foi alvo de operação conjunta da Polícia Federal com o Ministério Público Federal, onde os documentos apreendidos foram enviados à Receita Federal, sendo objeto de análise no presente processo. 05. A Autoridade Fiscal tentou dar ciência do Termo de Início de Fiscalização ao Contribuinte por via postal, mediante Aviso de Recebimento – AR, mas o AR foi devolvido com o motivo de endereço desconhecido. Em seguida, a Autoridade tentou dar Fl. 18852DF CARF MF 4 ciência do Termo de Início de Fiscalização ao Contribuinte pessoalmente e verificou que o estabelecimento não estava mais em atividade (Termo de Constatação). 06. Em 16/04/2013, o procurador da Contribuinte, Marcelo Silva Bomfim, CPF 349.383.46591, mediante apresentação de procuração, compareceu à Receita Federal e tomou ciência pessoal do Termo de Início de Fiscalização. 07. O Contribuinte solicitou prazo adicional para entrega da documentação solicitada, que foi concedido. 08. A Autoridade elenca no Relatório de Verificação Fiscal a documentação apresentada e reintima o Contribuinte a apresentar documentos, elementos e esclarecimentos considerados pertinentes, solicitados no Termo de Início de Fiscalização, e que ainda não tinham sido entregues. Além disso, foi intimada a entregar os arquivos magnéticos, conforme o Ato Declarativo Cofis n° 25/2010. Foi solicitado prazo adicional para a entrega da documentação, que foi concedido. Devido à falta de entrega dos arquivos anobase 2008, e devido os arquivos entregues, ano base 2009 e 2010, conterem muitos erros, inviabilizando qualquer análise, a contribuinte foi reintimada a corrigir os erros e apresentar os arquivos magnéticos, anosbase 2008, 2009 e 2010. 09. Como não foram apresentados os arquivos magnéticos e a base de dados do sistema Sintegra, da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, foi apresentada incompleta, o Contribuinte foi intimado a apresentar os Livros de Registro de Entrada, Saída e Apuração de ICMS. Foi solicitado e concedido novo prazo para a entrega dos arquivos magnéticos, que foi concedido. Além disso, a Autoridade Fiscal alertou o Contribuinte de que não seria possível outra prorrogação de prazo. 10. Informa a Autoridade Fiscal que o Contribuinte entregou 3 mídias contendo os arquivos magnéticos no formato SINTEGRA, anosbase 2008, 2009 e 2010. Porém, as mídias foram recusadas em virtude de os arquivos estarem protegidos por senha. Nesta ocasião, o Contribuinte entregou novas mídias, mas os arquivos não estavam validados. 11. Da análise dos arquivos entregues, foi constatado que as informações contidas nestas mídias estavam completamente diferentes às contidas nos arquivos no formato Sintegra obtidas junto aos sistemas da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia. 12. Dos fatos até aqui relatados, a Autoridade Fiscal entendeu que o Contribuinte tentou claramente atrapalhar os trabalhos Fiscalização. Em seguida, relatou nova apresentação de documentos, no caso os livros de Entrada, Saída e Apuração de ICMS. Solicitou nova prorrogação de prazo para a entrega da parte faltante, mas esta não foi apresentada. 13. Em seguida, o Contribuinte foi intimado a apresentar justificativas, conforme Termo de Constatação Fiscal e Solicitação de Esclarecimentos, mas foi solicitada nova prorrogação de prazo e até a data da autuação as justificativas solicitadas não tinham sido apresentadas. ANÁLISE DA DOCUMENTAÇÃO 14. Após, a Autoridade Lançadora passou à análise da documentação que tinha em sua posse. Esclareceu que, devido o contribuinte somente ter começado a entregar a documentação solicitada através do Termo de Início de Fiscalização, em 20/06/2013, ou seja, Fl. 18853DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.852 5 60 dias após a sua ciência, foi analisada a base de dados com informações de notas fiscais baixadas do sistema Sintegra, da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, informadas pelo Contribuinte, no período de 2008 a 2010. Essa coleta foi feita por meio de acesso, regulado por convênio entre a Receita Federal do Brasil e a Secretaria de Fazenda do Estado da Bahia. 15. No ano de 2009, a análise ficou prejudicada, pois não havia informações de todos os meses do ano. Em 2008 e 2010, as informações foram coletadas para posterior batimento com as informações contidas nos livros contábeis e fiscais. 16. Através da análise das informações entregues pelo Contribuinte à Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, em Declaração e Apuração Mensal do ICMS DMA, constatouse que as informações contidas na DMA e no Sintegra eram completamente divergentes. 17. Em seguida, narra a Autoridade Fiscal que analisou as demais informações contidas nos Livros Razão e Diário do ano de 2008 e das informações contidas na Escrituração Contábil Digital ECD, relativas aos anos base 2009 e 2010. 18. Novamente, foi constatada uma total divergência das informações, contidas nas diversas bases, declarações, livros e ECDs. São apresentadas tabelas com as divergências encontradas (fl. 17634). 19. A Autoridade Fiscal ressaltou que os arquivos magnéticos não foram entregues pelo Contribuinte; os Livros de Entrada, Saída e Apuração de ICMS foram entregues parcialmente, o que impossibilitou a utilização das informações na apuração da base de cálculo dos tributos objetos da fiscalização. 20. Lembrou que os arquivos de notas fiscais no formato do Sintegra, foram inicialmente, embora validados, entregues com senha; após, foram entregues sem validação e contendo algumas poucas informações de compras nos anos de 2009 e 2010, além de os valores serem totalmente diferentes dos arquivos no formato Sintegra entregues à Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia. À fl. 17635, é apresentada tabela com os valores. 21. Assim, a Autoridade Lançadora, na apuração da base de cálculo do IRPJ, CSLL, PIS e COFINS, utilizou as informações contidas nos Livros Diário e Razão, para o ano base de 2008; e na Escrituração Contábil Digital ECD, para os anosbase 2009 e 2010. Também foi utilizada a base de dados com informações de notas fiscais baixadas do sistema Sintegra, da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, informadas pelo Contribuinte, além das declarações: Declaração de Informações Econômico Fiscais de Pessoa Jurídica DIPJ, Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF e Demonstrativo de Apuração de Contribuições Federais DACON. COMPRAS E VENDAS 22. O Contribuinte foi intimado a apresentar justificativas para as diferenças encontradas entre as compras e as receitas de vendas de mercadorias escrituradas nos livros Razão, Diário e balancetes dos Livros Diário, anoscalendário 2008 a 2010, com as informações prestadas à Secretaria da Receita Federal em DIPJ, DCTF e DACON. Fl. 18854DF CARF MF 6 23. Como as justificativas solicitadas pela Fiscalização não foram apresentadas, os valores apurados conforme livros Razão, Diário e balancetes dos Livros Diário, foram utilizados na apuração da base de cálculo do IRPJ e reflexos (tabela fls. 17635 a 17636 dos autos). GLOSA DE DESPESAS 24. Intimado, o Contribuinte não apresentou justificativas ou comprovação das despesas indicadas no Termo de Intimação. Por esse motivo, as despesas foram glosadas, conforme tabelas de fls. 17636 a 17637. 25. Observou a Autoridade que as despesas estavam escrituradas nos livros Razão, Diário, e balancetes dos Livros Diário. As diferenças entre os valores constantes no Termo de Solicitação de Esclarecimentos e no Relatório de Verificação Fiscal são devidas a alguns dos valores daquela solicitação terem sido baseados nas DIPJs, pois poderia haver outras contas que pudessem justificar a diferença. Como não houve manifestação, foram utilizados apenas os valores escriturados nos livros Razão, Diário, e balancetes dos Livros Diário. 26. Foram confirmados, de acordo com relatório dos sistemas informatizados, pagamentos de ordenados nos valores de R$ 2.527.492,93 e R$ 2.462.113,93, para os anos de 2009 e 2010 respectivamente. Sendo glosados os valores não comprovados na ordem de R$1.899.948,83 em 2009 e R$ 2.493.427,93 em 2010. 27. O total das despesas glosadas foi de R$ 3.177.825,27 em 2008, R$2.605.333,26 em 2009 e R$3.016.365,06 em 2010. OMISSÃO DE RECEITAS Diferença do Estoque Final de 2008 e Estoque Inicial de 2009 28. O Contribuinte foi intimado a justificar o motivo da diferença de R$ 17.011.534,67, apurada entre os valores constantes do estoque final de 2008 e do estoque inicial de 2009 (EF 2008 = R$ 47.297.920,15; EI 2009 = R$ 30.286.385,48). Não houve justificativa para o fato apurado, sendo, então, lançado como omissão de receita de vendas R$ 17.011.534,67, conforme livros Razão, Diário, e balancetes dos Livros Diário (fl. 17638). Crédito da Conta de Mercadoria em Estoque em contrapartida de Débito na Conta Caixa 29. O Contribuinte foi intimado a justificar o motivo pelo qual debitava a conta Caixa em contra partida da conta Mercadorias, quando deveria debitar a conta Custo de Mercadoria Vendida, conforme lançamentos escriturados nos livros Razão e Diário, ano calendário 2008. 30. Não houve apresentação de justificativas, restando, então, caracterizada a omissão de receita de vendas dos valores apurados, no valor de R$ 5.500.000,00, conforme livros Razão, Diário, e balancetes dos Livros Diário (vide fls. 17638 a 17639). DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO APURADA 31. A Autoridade Fiscal informou que o Contribuinte retificou as Declarações de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica DIPJs em 10/06/2013, 04/09/2013 e Fl. 18855DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.853 7 09/09/2013. Nessas declarações, houve prejuízo em todos os anos relativos aos anos fiscalizados. 32. Em decorrência das infrações apuradas, glosas de despesas não comprovadas, omissões de receita, e de acordo com os valores escriturados em DIPJ, exercícios 2009 a 2011, nos livros Razão, Diário, e balancetes dos Livros Diário, anobase de 2008 a 2010, e na Escrituração Contábil Digital ECD, anosbase 2009 e 2010, foram apurados novos valores a título de Lucro Líquido para os anos calendários 2008 a 2010, conforme planilha de fl. 17640. DA UTILIZAÇÃO DE INTERPOSTAS PESSOAS 33. No Processo Administrativo Fiscal n° 10508.000669/201024, foi constatado que os reais proprietários do Contribuinte são o Sr. Herbert Moreira Dias e a Sra. Valdeana Meira Souto E Dias. Esta constatação foi corroborada pelo deferimento da Medida Cautelar Fiscal nº 284023.2011.4.01.3301. 34. Em seguida, a Autoridade Fiscal reúne informações, acerca das pessoas físicas Herbert Moreira Dias e Valdeana Meira Souto e Dias, que levam à conclusão de que são os proprietários da empresa. São fatos que levam a essa conclusão: entrevista prestada por Herbert Moreira Dias; sócios da empresa “laranjas” (por exemplo, pedreiro, empregados de outras empresas do “Grupo Meira”); salário de contribuição dos diversos sócios da empresa em média pouco superior ao salário mínimo vigente na época; fichas cadastrais da pessoa jurídica em instituições financeiras, procurações assinadas pelos sócios, outorgando poderes a terceiros para movimentar as contascorrentes da empresa, dando amplos poderes às pessoas físicas Herbert Moreira Dias, CPF n°: 163.914.54515, e Valdeana Meira Souto e Dias, CPF n° 426.972.12515, inclusive para representálas perante qualquer órgão público e instituições financeiras. 35. As procurações feitas pelos sócios que entravam no quadro societário da empresa apontam fortes indícios da utilização de interpostas pessoas, visando a encobrir a identidade dos reais proprietários da empresa, Herbert e Valdeana, que apesar de não aparecerem como sócios da empresa, tinham amplos poderes para transacionar em nome dela, de forma a prejudicar os interesses da Fazenda Pública, quando da realização financeira do crédito tributário devido. 36. Continuando, a Autoridade Fiscal constatou que a empresa está sediada no mesmo endereço (ou em endereços próximos de outras empresas do Grupo), com o mesmo objeto social (fl. 17643). 37. A sede da empresa Comercial de Estivas Matos Ltda se localizava na Rua Uruguaiana, n° 896, Malhado, IlhéusBA, estando, atualmente fechada. Na Rua Uruguaiana, n° 898, conforme cadastro CNPJ, está localizada a empresa Comercial de Géneros Alimentícios Shauana Ltda ME. Porém, neste mesmo endereço, conforme Termo de Constatação, funciona atualmente o depósito da filial da empresa Dalnorde, CNPJ 04.259.757/000317, localizada nesta mesma rua no n° 220. 38. Segundo a Fiscalização, há indícios de que o Sr. Herbet Moreira Dias e a Sra. Valdeana Meira Souto Dias somente alteraram o número do imóvel junto à Prefeitura, Fl. 18856DF CARF MF 8 sendo que, na realidade, se trata do mesmo imóvel em que havia sido constituída a sede da empresa Comercial de Estivas Matos Ltda. 39. Em seguida, a Fiscalização apresenta a composição do quadro societário do Contribuinte (fl. 17644), com base em informações constantes do Cadastro CNPJ, CNIS, e das DIPJ anoscalendário 2008 a 2010. 40. Conclui, da análise do quadro societário, que a empresa Comercial de Estivas Matos Ltda foi a primeira empresa a ser utilizada pelo Sr. Herbet Moreira Dias e a Sra. Valdeana Meira Souto Dias, sendo que os mesmos nunca figuraram no quadro social da mesma; as antigas sócias da contribuinte, Larissa Dias (sobrinha de Herbert) e Shauana Dias (filha de Herbert), são as atuais sócias da empresa Dalnorde. Este fato demonstra o revezamento dos sócios nas outras empresas de Herbert e Valdeana. 41. Dos fatos acima resumidos, a Fiscalização concluiu não restar dúvidas de que Herbert e Valdeana, desde o início, são os verdadeiros sócios da empresa fiscalizada, sócios de fato, que possuíam amplos poderes para dirigir, controlar e administrar, da forma que bem entendessem, as sociedades do Grupo. DAS PROVAS COLHIDAS PELA DELEGACIA DE POLÍCIA FEDERAL EM ILHÉUS/BA 42. A Autoridade Fiscal informa que o Contribuinte, uma das empresas do Grupo Meira, bem como os seus reais proprietários, o Sr. Herbet Moreira Dias e a Sra. Valdeana Meira Souto Dias, foram objeto de Mandados de Busca e Apreensão n° 138/2012, deferido pelo MM Juízo, nos autos do IPL n° 0420/2009, tombado na Vara Única da Subseção Judiciária de Ilhéus sob o n° 95622.2012.4.01.3301, o qual foi encaminhado à equipe de fiscalização da Autoridade Lançadora. 43. Segundo a Autoridade Fiscal, diversos documentos foram apreendidos, os quais comprovam que os reais proprietários da empresa contribuinte são o Sr. Herbert e a Sra. Valdeana. 44. A seguir, os fatos principais e as conclusões tiradas pela Autoridade Fiscal dos documentos citados. Utilização de duas razões sociais por loja. Indicação das pessoas jurídicas que seriam utilizadas para a exploração das lojas. agenda apreendida com escritos diversos, relativos ao ano de 2008. A partir da análise desenvolvida pela Delegacia da Polícia Federal em Ilhéus constatouse que da referida agenda há algumas páginas com anotações de códigos para cada loja do grupo empresarial investigado, além de relações com os valores associados às empresas do grupo. Dos referidos documentos podese atestar a referência específica à empresa contribuinte, bem como a comprovação de administração, do Sr. Herbert Moreira Dias e da Sra. Valdeana Meira Souto e Dias, em relação à empresa fiscalizada. Comunicação entre Shauana e Luciana Oliveira, para a realização de um depósito autorizado por Beto (Herbert Moreira Dias). Ao analisar o referido documento a Delegacia da Polícia Federal em Ilhéus constatou que se tratava de autorização feita por Herbert Moreira de depósitos mensais automáticos nas Contas Correntes de Mariene Moreira Dias e Larissa Dias Matos, com referência ao pagamento do FGTS. Fl. 18857DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.854 9 Do referido documento, verificase que a gerência da empresa era exercida pelo Sr. Herbert Moreira Dias, na medida em que o mesmo era quem autorizava a realização dos referidos depósitos, se do que a Sra. Mariene Moreira Dias, que constava do Contrato Social, era uma pessoa interposta. A apreensão dos documentos (Auto de Apreensão n° 63/2012) foi efetuada na Rua Uruguaiana, 896, Malhado, Ilhéus/BA. Esse endereço é o da sede das empresas Comercial de Estivas Matos Ltda e Comercial de Gêneros Alimentícios Shauana Ltda, bem como o do depósito de uma das filiais da empresa Dalnorde Comércio Importação e Exportação de Alimentos Ltda. A empresa Comercial de Estivas Matos Ltda (CNPJ 03.751.706/000183) é utilizada de forma fictícia para explorar a Rede de Supermercados Meira. Da análise de outra agenda apreendida (de cores azul marinho e cinza), pode ser constatado que a administração de todas as lojas da Rede de Supermercados Meira é centralizada na pessoa de Herbert Moreira Dias. Também de outra agenda apreendida, na qual consta que seria de propriedade de Shauana Souza Dias, há um discriminativo das razões sociais utilizadas para a exploração da Rede de Supermercados Meira e das procurações outorgadas pelas pessoas físicas interpostas. Das anotações da agenda, extraemse informações referentes as três empresas do Grupo Meira, quais sejam, Comercial de Estivas Matos Ltda, Comercial de Gêneros Alimentícios Shauana Ltda e Dalnorde Comércio Importação e Exportação de Alimentos Ltda. Do Item 54 do Auto de Apreensão n° 65/2012, consta a referência de diversas procurações particulares e públicas em que há transferência de poderes entre as pessoas referidas na fiscalização, existindo preponderância na outorga de poderes para gerir as diversas pessoas jurídicas ao Sr. Herbert Moreira Dias. As procurações se referem à empresa Comercial de Estivas Matos Ltda. Do Item 58 do Auto de Apreensão n° 65/2012, consta a informação de que fora apreendida uma relação de telefones, na qual figura o Sr. Herbert como diretor. Outras procurações foram apreendidas, tendo como outorgante a empresa Comercial de Estivas Matos Ltda e outorgado o Sr. Herbert Moreira Dias. Em outra procuração o Sr. Rafael Alves de Jesus outorga poderes ao Sr. Herbert Moreira Dias. Foram apreendidas fotocópias do documento de Ricardo Domingos Santos e de Rafael Alves de Jesus, os quais foram utilizados como pessoas interpostas para a composição dos quadros societários da empresa Comercial de Estivas Matos Ltda Foram apreendidas 02 (duas) cópias de solicitação de patrocínio para evento recreativo/cultural, sendo que ambas foram direcionadas ao Sr. Herbert Moreira Dias, o que evidencia ser ele o proprietário e diretor das empresas da Rede de Supermercados Meira. 45. Dos documentos aprendidos, em conjunto com os demais documentos obtidos por esta fiscalização e pela fiscalização anterior, a Autoridade Fiscal conclui que houve a utilização de pessoas interpostas no Contribuinte fiscalizado; a empresa Contribuinte é gerida pelo o Sr. Herbet Moreira Dias e pela Sra. Valdeana Meira Souto Dias, os quais são seus reais proprietários. SUJEIÇÃO PASSIVA SOLIDÁRIA 46. Dos fatos reunidos na fiscalização e dos outros elementos acima resumidos, a Autoridade Fiscal elegeu Herbert Moreira Dias e Valdeana Meira Souto e Dias como sujeitos passivos solidários do crédito tributário lançado, de acordo com o art. 124 da Lei n° 5.172, de 1966 (Código Tributário Nacional), aplicandose também a responsabilidade Fl. 18858DF CARF MF 10 prevista no art. 135, incisos II e III da mesma lei, pela prática de atos com excesso de poderes ou infração de lei e contrato social. QUALIFICAÇÃO DA MULTA 47. Para a Autoridade Lançadora, restaram caracterizados o evidente intuito de fraude e a prática reiterada de sonegação fiscal, conforme definido nos arts. 68, 71, 72 e 73 da Lei n°. 4.502, de 30 de novembro de 1964, pelo que foi aplicada a multa prevista no art. 44, § 1º, da Lei n° 9.430/96. DA IMPUGNAÇÃO 48. Cientificado do auto de infração em 17/12/2013 (fl. 17649), o Contribuinte apresentou impugnação às fls. 17653 a 17692 em 14/01/2014. Também foi apresentada em 14/01/2014 (fls. 18069 a 18086) a defesa de Herbert Moreira Dias e Valdeana Meira Souto e Dias. A seguir, a síntese das defesas apresentadas. IMPUGNAÇÃO COMERCIAL DE ESTIVAS MATOS LTDA DA NULIDADE DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL 49. Inicialmente, a Impugnante protestou pela nulidade do procedimento administrativo fiscal contra ela instaurado, em decorrência da utilização de informações protegidas por sigilo processual e bancário sem autorização judicial, o que afronta o art. 5º, X e XII, da Constituição Federal. 50. A impugnante argumenta que os Auditores da Receita Federal receberam documentos apreendidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, sem qualquer autorização para tanto. 51. Trechos do Inquérito Policial nº 0420/2009, instaurado pela Polícia Fedral e a Medida Cautelar Criminal que havia sido distribuída na Justiça Federal – Seção Bahia, Subseção de Ilhéus, sob o nº 95622.2012.4.01.3301, sem que tenha obtido autorização, foram reproduzidos, fazendo julgamento antecipado, afirmando que o Contribuinte faz parte do Grupo Meira e que seus reais proprietários são o Sr. Herbert Moreira Dias e a Sra. Valdeana Meira Souto e Dias. 52. A Impugnante cita o art. 5º, X, da CF, para afirmar que houve, no presente caso, ofensa ao princípio constitucional nele contido, ocorrendo, assim, a nulidade do procedimento fiscal que foi baseado em informações protegidas por sigilo, sem a devida autorização judicial, o que demonstra a ilicitude das provas carreadas ao procedimento fiscal ora combatido. 53. Para ela, também houve ofensa ao art. 5º, LIV, da CF, pois não foi respeitado o devido processo legal. Cita, em sua defesa, entendimento da doutrina e da jurisprudência que julga favoráveis a sua tese. 54. A atividade fiscal encontra limitações que se encontram na Constituição Federal, as quais foram ultrapassadas no presente caso. A impugnante diz que o inquérito policial instaurado contra o Contribuinte está eivado de vícios que estão sendo discutidos por via judicial e que, por isso, representam meros indícios. Fl. 18859DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.855 11 55. Argumenta a Impugnante que o inquérito policial ainda não se findou, o processo cautelar ainda tramita e não houve sentença. Assim, não está comprovado que as alegações lançadas pela Polícia Federal e Ministério Público Federal reproduzem a verdade dos fatos. Assim, não se deve levar em consideração afirmações inconclusivas, valendo a regra da presunção de inocência e idoneidade até prova em contrário. 56. Tanto a Polícia Federal, como o Ministério Público Federal e a Receita Federal não possuem competência para quebrar o sigilo bancário e processual, que somente poderia ser afastada por ordem judicial, sob pena de nulidade de todo o procedimento administrativo fiscal e todos os atos e procedimentos dele derivados, porquanto lastreados em informações obtidas ao arrepio de vedação constitucional. 57. Em seguida, a Impugnante apresentou ementas de julgamentos sobre o tema, que entende favoráveis à tese por ela defendida. 58. Além da nulidade defendida pelos motivos acima indicados, a Impugnante também defendeu a ocorrência de nulidade do procedimento fiscal pela falta de intimação dos sócios da empresa contribuinte. 59. A Impugnante diz que o legislador não pode eleger responsáveis de forma aleatória, sob pena de acarretar uma insegurança jurídica. Também não possui poderes ilimitados para eleger os responsáveis, devendo haver um vínculo entre o sujeito passivo e o fato gerador tributário. 60. No presente procedimento fiscal, não houve qualquer intimação dos sócios do Contribuinte para que se manifestassem acerca do seu teor. Tratandose de crédito tributário, a lei não imputa responsabilidade a todos os sócios da sociedade limitada, mas tão somente àqueles que exerçam poder de gerência. Porém, deve haver, ao menos, intimação destes, para que possam se manifestar acerca do procedimento fiscal, sob pena de nulidade. 61. A Fiscalização deveria ter respeitado a regra do art. 134, VII, do CTN, incluindo os sócios da empresa no presente procedimento fiscal; ao contrário, direcionaram para terceiros, fundado em um julgamento antecipado de informações inconclusivas recebidas. 62. Ao agir assim, a Fiscalização cerceou o direito de defesa dos sócios da empresa, ao considerálos sem capacidade econômica. Nos procedimentos investigatórios da Polícia Federal, assim como na Ação Cautelar, os sócios do Contribuinte foram devidamente citados e apresentaram as suas defesas nos prazos concedidos. A Impugnante entende que no procedimento fiscal não poderia ser diferente. 63. Dos argumentos acima resumidos, a Impugnante requereu a nulidade do procedimento administrativo fiscal, pela ausência de intimação dos sócios para manifestação, bem como o redirecionamento a pessoas estranhas a seu quadro societário. 64. Ainda propugnando pela nulidade do procedimento administrativo fiscal, a Impugnante alegou o não cumprimento do prazo para execução e encerramento dos trabalhos após a citação do Contribuinte. 65. Discorre a Impugnante que a Fiscalização não respeitou os prazos para o encerramento ou prorrogação do Mandado de Procedimento Fiscal. Este se iniciou 16/04/2013, Fl. 18860DF CARF MF 12 com a citação válida do Contribuinte por seu procurador legalmente constituído, conforme documentação acostada ao processo, e teria o seu prazo findo em 16/08/2013, data na qual o Auditor Fiscal deveria efetuar a prorrogação, por quantas vezes necessárias. 66. Portanto, o Auto de Infração é insubsistente, por não observar os requisitos legais previstos na própria legislação da Receita Federal, com base nos arts. 11 a 20 da Portaria RFB nº 4.066/2007, alterada pela Portaria RFB nº 10.382/2007. 67. Como o procedimento fiscal ultrapassou o prazo legal de 120 dias, tendo se iniciado em 16/04/2013 e se encerrado em 12/12/2013 (253 dias), a Impugnante requer a sua nulidade por decurso do prazo. MÉRITO GLOSA INDEVIDA DE DESPESAS DAS ATIVIDADES 68. Quanto ao mérito, a Impugnante iniciou a sua defesa contestando a totalidade dos débitos apurados pela Fiscalização. 69. A documentação referente ao FGTS, juros financeiros, energia elétrica, ordenados e salários, pagos nos anos de 2008, 2009 e 2010, foi glosada pela Fiscalização. Diz a Impugnante que ela havia sido apresentada à Fiscalização, que a desconsiderou, e é novamente apresentada. 70. Às fls. 17673 a 17675, é apresentada tabela com os valores que a Impugnante entende estarem devidamente comprovados. 71. Diz a Impugnante que os valores contidos nas tabelas estão devidamente contabilizados nas respectivas contas, e que foram comprovadas pela documentação apresentada pelo Contribuinte quando da fiscalização. 72. As despesas pagas foram consideradas em conta de resultado pela Fiscalização, o que representa um afronte aos princípios gerais de contabilidade emanados pelo Conselho Federal de Contabilidade, pela Lei nº 6.404/76, pelo art. 1.179 do Código Civil, bem como às normas internacionais de contabilidade. São reproduzidas ementas de julgamentos administrativos que se entende favoráveis à tese defendida. 73. Em decorrência do exposto, afirmou estarem comprovadas “despesas de manutenção e investimentos na atividade comercial”, nos seguintes montantes: R$ 1.333.463,80 em 2008; R$ 2.316.314,91 em 2009; R$ 2.824.958,96 em 2010. DA NÃO OMISSÃO DE RECEITA PELO CONTRIBUINTE 74. Para a Impugnante, não houve omissão de receitas relativas a suposta irregularidade apurada através dos estoques da empresa. Houve confusão da Fiscalização, que considerou como Estoque Final de 2009 o valor do Estoque Inicial, o que teria causado a divergência em relação ao Estoque Final do exercício 2008. 75. Diante da confusão causada pela inversão dos valores, não houve omissão de receita, além de não atender o disposto no art. 10, III e IV, do Decreto 70.235/72, que trata dos requisitos da lavratura do auto de infração. DO NÃO CABIMENTO DO ARBITRAMENTO DE LUCRO Fl. 18861DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.856 13 76. Além do até aqui exposto, foi defendido pela Impugnante que é incabível no caso o arbitramento do lucro feito pela Fiscalização. 77. A legislação tributária relaciona de forma taxativa as hipóteses em que a autoridade administrativa pode desconsiderar a grandeza oferecida à tributação pelo Contribuinte – Lucro Líquido – e passe a mensurar este mesmo lucro pelo método de arbitramento com valores diferentes do apontado pelo contribuinte. 78. A impugnante citou doutrina e jurisprudência administrativa em seu socorro. 79. Como o Contribuinte apresentou toda a documentação válida de sua movimentação financeira (livros contábeis), não há que se falar em arbitramento de lucros pela Autoridade Fiscal, não podendo a imputação que lhe foi atribuída prosperar. DO NÃO CABIMENTO DA QUALIFICAÇÃO DA MULTA 80. Como a Autoridade Fiscal utilizouse de lastro probatório nulo, por vício de ilegalidade, conforme acima relatado, resta prejudicada a sustentação da referida qualificadora da multa prevista no art. 44, § 1º da Lei nº 9.430/96, devendo ser aplicado o percentual de 75% no presente caso. DA NÃO PARTICIPAÇÃO DA EMPRESA EM GRUPO ECONÔMICO 81. Segundo discorreu a Impugnante, grupo econômico pode ser conceituado como uma “concentração de empresas, sob a forma de integração (participações societárias, resultando no controle de uma ou umas sobre as outras), obedecendo todas a uma única direção econômica”. 82. A empresa Contribuinte nunca fez parte de nenhum grupo empresarial, nem de fato nem de direito. Possuía administração própria, patrimônio, sendo que em nenhuma fase de sua vida empresarial sofreram interferência de qualquer outra pessoa jurídica. 83. A Fiscalização, baseada em informações viciadas, tentaram fazer uma relação entre algumas empresas, as quais nunca ocorreram e não demonstram formação de grupo econômico. 84. Diz a Impugnante que a doutrina e a jurisprudência, sobretudo do STJ, têm caminhado na busca de soluções mais consentâneas com os preceitos constitucionais que tratam da ordem econômica e que, em última análise, objetivam a preservação das empresas e de suas unidades produtivas. 85. Entender que a existência de apenas um sócio em comum configura um grupo econômico, afronta o princípio da livre iniciativa, pois impediria que pessoas físicas participantes de uma sociedade adentrassem ou criassem empresa diversa, já que isso acarretaria a responsabilização em cadeia de todas as empresas com as quais tivesse qualquer vínculo. Fl. 18862DF CARF MF 14 86. Dessa forma, para a Impugnante resta evidenciado que a alegação de grupo econômico não merece prosperar, pois é fundada em alegações inconclusivas e viciadas, não estando presentes os requisitos previstos em lei. DO REQUERIMENTO 87. De todo o exposto, a Impugnante requereu o acolhimento das preliminares apresentadas, com as suas conseqüências; se ultrapassadas as preliminares, seja julgada procedente a impugnação, para fins de se reconhecer a improcedência dos autos de infração lavrados. 88. Por fim, requereu que fosse realizado o julgamento simultâneo dos autos de infração do processo nº 10508.720647/201347 e dos autos de infração do processo 10508.720648/201371, em razão da conexão e das provas acostadas ao presente auto de infração, conforme determina o § 1º do art. 9º do Decreto 70.235/72. IMPUGNAÇÃO HERBERT MOREIRA DIAS E VALDEANA MEIRA SOUTO E DIAS DA NULIDADE DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL 89. Inicialmente, os Impugnantes protestaram pela nulidade do procedimento administrativo fiscal, em decorrência da utilização de informações protegidas por sigilo processual e bancário sem autorização judicial, o que afronta o art. 5º, X e XII, da Constituição Federal. 90. Os Impugnantes argumentam que os Auditores da Receita Federal receberam documentos apreendidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, sem qualquer autorização para tanto. 91. Trechos do Inquérito Policial nº 0420/2009, instaurado pela Polícia Federal e a Medida Cautelar Criminal que havia sido distribuída na Justiça Federal – Seção Bahia, Subseção de Ilhéus, sob o nº 95622.2012.4.01.3301, sem que tenha obtido autorização, foram reproduzidos, fazendo julgamento antecipado, afirmando que os Impugnantes são os reais proprietários da empresa Comercial de Estivas Matos Ltda. 92. Os Impugnantes citam o art. 5º, X, da CF, para afirmar que houve, no presente caso, ofensa ao princípio constitucional nele contido, ocorrendo, assim, a nulidade do procedimento fiscal que foi baseado em informações protegidas por sigilo, sem a devida autorização judicial, o que demonstra a ilicitude das provas carreadas ao procedimento fiscal ora combatido. 93. Também houve ofensa ao art. 5º, LIV, da CF, pois não foi respeitado o devido processo legal. Citam, em sua defesa, entendimento da doutrina e da jurisprudência que julgam serem favoráveis a sua tese. 94. A atividade fiscal encontra limitações que se encontram na Constituição Federal, as quais foram ultrapassadas no presente caso. Os Impugnantes dizem que o inquérito policial instaurado contra o Contribuinte está eivado de vícios que estão sendo discutidos por via judicial e que, por isso, representam meros indícios. Fl. 18863DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.857 15 95. Argumentam os Impugnantes que o inquérito policial ainda não se findou, o processo cautelar ainda tramita e não houve sentença. Assim, não está comprovado que as alegações lançadas pela Polícia Federal e Ministério Público Federal reproduzem a verdade dos fatos. Assim, não se deve levar em consideração afirmações inconclusivas, valendo a regra da presunção de inocência e idoneidade até prova em contrário. 96. Tanto a Polícia Federal, como o Ministério Público Federal e a Receita Federal não possuem competência para quebrar o sigilo bancário e processual, que somente poderia ser afastada por ordem judicial, sob pena de nulidade de todo o procedimento administrativo fiscal e todos os atos e procedimentos dele derivados, porquanto lastreados em informações obtidas ao arrepio de vedação constitucional. 97. Em seguida, os Impugnantes apresentaram ementas de julgamentos sobre o tema, que entende favoráveis à tese por ela defendida. DA ILEGITIMIDADE PARA FIGURAR NO PÓLO PASSIVO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL – AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA 98. Os Impugnantes discorrem acerca da questão da responsabilidade tributária, mencionando que o legislador não pode eleger responsáveis de forma aleatória, sob pena de acarretar uma insegurança jurídica. Também não possui poderes ilimitados para eleger os responsáveis, devendo haver um vínculo entre o sujeito passivo e o fato gerador tributário. 99. No presente procedimento fiscal, não foi demonstrada ou comprovada qualquer responsabilidade dos Impugnantes, referente à constituição do crédito tributário objeto deste processo. 100. Os Impugnantes nunca fizeram parte do quadro societário da empresa Contribuinte, não tendo qualquer responsabilidade pelos supostos débitos apurados. Foram incluídos como sujeitos passivos solidários no procedimento fiscal com base em informações sigilosas e parciais, colhidas sem qualquer autorização. 101. A Fiscalização deveria ter respeitado a regra do art. 134, VII, do CTN, incluindo os sócios da empresa no presente procedimento fiscal; ao contrário, direcionaram para terceiros, fundado em um julgamento antecipado de informações inconclusivas recebidas. 102. Ao agir assim, a Fiscalização cerceou o direito de defesa dos sócios da empresa, ao considerálos sem capacidade econômica. 103. Dos argumentos acima resumidos, os Impugnantes requereram as suas exclusões do presente procedimento administrativo fiscal. MÉRITO 104. Quanto ao mérito, os Impugnantes alegam restarem prejudicados quaisquer questionamentos acerca dos supostos tributos apurados, pelos motivos acima resumidos, visto que não têm qualquer ingerência sobre a empresa Contribuinte. Fl. 18864DF CARF MF 16 105. Se ultrapassadas as teses defendidas, requereu que a defesa apresentada por Comercial de Estivas Matos Ltda fizesse parte da sua impugnação. DO REQUERIMENTO 106. De todo o exposto, a Impugnante requereu o acolhimento das preliminares apresentadas, com as suas conseqüências; se ultrapassadas as preliminares, seja julgada procedente a impugnação, para fins de se reconhecer a improcedência dos autos de infração lavrados. DA RESOLUÇÃO Nº 446 DA 3ª TURMA DA DEJ/SP 107. Em 30/04/2014, o julgamento administrativo do presente processo fiscal foi convertido em diligência, através da Resolução nº 446 da 3ª Turma da DRJ/SPO (fls. 18096 a 18120), de forma a serem solucionadas determinadas questões surgidas com a impugnação apresentada pelo Contribuinte. 108. Abaixo, reproduzimos a parte final da Resolução. “RESOLUÇÃO Conforme relatado, a Impugnante (e os responsáveis pelo crédito tributário) concentrou a sua defesa nos seguintes pontos: 1) Nulidade do procedimento fiscal por quebra de sigilo processual e bancário; cerceamento de defesa; falta de intimação dos sócios; desrespeito ao prazo contido no MPF e a sua não prorrogação. 2) Glosa indevida de despesas com juros financeiros, energia elétrica e ordenados, salários, FGTS. Junto com a impugnação, apresentou diversos documentos referentes aos citados gastos, os quais, segundo afirmou, tinham sido apresentados no procedimento fiscal, mas que foram desconsiderados pela Autoridade Fiscal. 3) Apontou a ocorrência de equívoco quanto ao valor considerado como Estoque Final de 2009. 4) Alegou ser incabível o arbitramento do lucro na autuação. 5) Alegou ser incabível a qualificação da multa lançada. 6) Alegou que a empresa não faz parte de grupo econômico. 7) Ilegitimidade dos responsabilizados pelo crédito tributário. Dos pontos acima indicados, dois deles (“2’ e “3”) devem ser destacados: a questão da glosa de despesas e a do suposto equívoco do valor considerado como estoque. A Impugnante afirmou ter apresentado a documentação para a Fiscalização, que a teria desconsiderado. Não há nos autos análise dessa documentação. Ao contrário, a Autoridade Fiscal disse que, intimado, o Contribuinte não apresentou a documentação e as justificativas solicitadas sobre as despesas, restando à Autoridade, conforme prescreve a legislação, a sua glosa. Ocorre que, junto com a impugnação, foi apresentada documentação que não foi apreciada pela Autoridade Fiscal. A simples apresentação pelo Contribuinte de documentação em conjunto com a impugnação não comprova que a glosa (ou parte dela) tenha sido indevida, pois essa documentação deve ser auditada em conjunto com os demais elementos da contabilidade, de forma que se tenha certeza de que os valores contidos nos documentos constituam diminuição do resultado da empresa. Fl. 18865DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.858 17 De qualquer maneira, é fato que foram juntados aos autos pela Impugnante documentos que podem modificar a base de cálculo apurada. O processo, conforme se encontra, não permite a continuidade do julgamento, em respeito ao direito de defesa do Contribuinte e ao princípio da verdade material que norteia o processo administrativo fiscal. As análises que devem ser feitas da documentação apresentada pela Impugnante implicam a realização de tarefas e atos típicos de auditoria, como a verificação da efetividade dos valores, do fluxo financeiro, da habilidade e idoneidade da documentação apresentada, etc. Ao Contribuinte, é seu dever colaborar com a Fiscalização, de modo que o trabalho possa ser realizado de forma efetiva, devendo apresentar todos os elementos que a Autoridade Lançadora entender necessários à realização da auditoria, caso sejam exigidos, conforme previstos na legislação tributária federal. Dessa forma, os autos do presente processo administrativo devem ser encaminhados ao setor de Fiscalização da Delegacia de jurisdição do Contribuinte, para que sejam implementadas as medidas necessárias à análise da documentação juntada aos autos pelo Contribuinte, devendo este, caso haja solicitação, prestar todos os esclarecimentos e apresentar todos os livros e/ou documentos necessários à auditoria solicitados pela Autoridade Fiscal. Caso, após auditoria da documentação apresentada, haja alteração nas bases se cálculo originalmente lançadas, decorrente da comprovação das despesas cuja documentação foi apresentada com a impugnação, deverá ser elaborada tabela com as novas bases de cálculo do imposto e das contribuições lançados. Ao final, deverá ser elaborado relatório conclusivo (i) dos resultados da diligência/auditoria empreendida, incluindo os demonstrativos das bases de cálculo apuradas do IRPJ, da CSLL, do PIS e da COFINS, antes e depois da diligência; (ii) manifestação quanto ao possível equívoco quanto ao valor do estoque da empresa; (iii) bem como quaisquer outros esclarecimentos que a Autoridade Fiscal entenda pertinentes ao caso. Em conclusão, voto no sentido de transformar em diligência o presente julgamento, com o encaminhamento dos autos do presente processo administrativo fiscal à Delegacia de jurisdição do Contribuinte, conforme exposto, para implementação das medidas propostas e outras que se fizerem necessárias, concedendo ao Contribuinte, após realização do trabalho, o prazo de 30 (trinta) dias para manifestação, de acordo com o art. 35, parágrafo único, do Decreto nº 7.574, de 29 de setembro de 2011.” DA DILIGÊNCIA REALIZADA 109. Após intimar o Contribuinte e realizar a diligência, a Autoridade Fiscal elaborou o “Relatório de Diligência” (fls. 18711 a 18718), cujos pontos principais destacamos a seguir. 110. Em 26/06/2014, o procurador do contribuinte, Jacob Bitar Junior, compareceu à Inspetoria da Receita Federal para tomar ciência pessoal do Termo de Início de Diligência, sendo então intimado a apresentar os documentos originais das cópias anexadas na impugnação. Além disso, retificou o endereço para a entrega de futuras intimações. Fl. 18866DF CARF MF 18 111. Como o Contribuinte não apresentou a documentação original das cópias anexadas na impugnação, a Autoridade Fiscal o reintimou em 02/09/2014. Em 11/09/204, o Contribuinte apresentou extratos bancários, planilha de juros e despesas financeiras (ano base 2008), relativos aos Juros e Encargos de Financiamentos. 112. Em 02/10/2014, o Contribuinte compareceu à Inspetoria da Receita Federal e apresentou segundas vias de contas da COELBA dos anos de 2009 e 2010; e extratos do FGTS dos anos de 2008 a 2010. 113. Antes da análise da documentação apresentada pelo Contribuinte no curso da diligência fiscal realizada, a Autoridade Fiscal esclareceu que os documentos anexados juntamente com a impugnação ao Auto de Infração não tinham sido apresentados durante a fiscalização. Além disso, destacou que o Contribuinte comportouse de modo a tentar retardar o curso do processo. 114. Analisada a documentação apresentada, a Autoridade Fiscal concluiu pela aceitação dos valores conforme explicado no Relatório. Assim, os montantes de despesas glosadas antes e depois da realização da diligência são os seguintes: 115. Com relação à omissão de receitas, derivada da diferença de estoque final de 2008 e inicial de 2009, a Autoridade Fiscal disse não ter ocorrido o alegado equívoco. 116. No ano de 2008, foi apurada uma diferença de R$ 17.011.534,67 entre os valores constantes do estoque final de 2008, no montante de R$ 47.297.920,15, e os do estoque inicial de 2009, no montante de R$ 30.286.385,48. Esses valores foram retirados do livro Razão e do Diário. os valores constantes do estoque final de 2008 totalizam R$ 47.297.920,15, os do estoque inicial de 2009 totalizam R$ 30.286.385,48. A diferença totaliza R$ 17.011.534,67. 117. Da mesma forma, não há que se falar em equívoco em relação aos valores de estoque inicial e final de 2009. Os valores de estoque inicial de 2009 totalizam R$ 30.286.385,48, e os do estoque final de 2009 totalizam R$ 29.473.519,34, valores esses também comprovados nos livros Razão, Diário, e balancetes dos Livros Diário. 118. Ressaltou a Autoridade Fiscal, novamente, a intenção do Contribuinte em retardar o processo. Fl. 18867DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.859 19 119. Pelas razões acima expostas, a Autoridade Fiscal manteve a posição inicial sobre a omissão de receitas de vendas, no montante de R$ 17.011.534,67, por estar em harmonia com os livros Razão, Diário, e balancetes dos Livros Diário (fl. 18716). 120. A seguir, reproduzimos o Lucro Líquido apurado pela Autoridade Fiscal antes e depois da diligência realizada (fl. 18717). 121. Dada ciência ao Contribuinte dos resultados da diligência realizada (AR à fl. 18720), foi a ele concedido o prazo legal de 30 dias para manifestação, a qual não foi apresentada, de acordo com o despacho de fl. 18722. Após a análise dos argumentos de acusação e de defesa a Delegacia de Julgamento proferiu acórdão julgando procedente em parte a impugnação apenas para reduzir os valores da autuação de acordo com as informações apresentadas no resultado da diligência, mantendo todos os demais termos da autuação. Cientificado do acórdão da impugnação o contribuinte apresentou recurso voluntário apresentando as seguintes alegações: Nulidades Fl. 18868DF CARF MF 20 1. Ilicitude do Procedimento por Utilização de Informações protegidas por sigilo bancário sem autorização judicial => Argumenta que os documentos utilizados pela fiscalização para a autuação foram apreendidos pela Polícia Federal e Ministério Público e encaminhados sem qualquer autorização judicial. Entende que este procedimento desrespeitou o devido processo legal, sendo causa de nulidade do procedimento de fiscalização. Alega também a quebra do sigilo processual visto que foi transcrito nos autos do processo trechos da peça inicial da Medida Cautelar Penal impetrada contra a empresa. 2. Falta de Intimação aos sócios da empresa => Alega que foram indicados os responsáveis solidários sem nenhum critério. Alega que não houve intimação aos sócios da empresa para se manifestar no curso do procedimento e que foram indicados terceiros como responsáveis sem maiores explicações e fundamentação. Mérito 1. Da insubsistência das Glosas => Alega que apresentou documentos para demonstrar suas despesas e que, por isso, deveriam ser consideradas insubsistentes as glosas tendo em vista a comprovação das despesas e os precedentes do CARF a este respeito. 2. Do não cabimento do arbitramento do lucro => Alega que a escrituração de sua movimentação financeira estava registrada no livro caixa e no livro caixa auxiliar e que assim, descaberia o arbitramento do lucro. Entende que a empresa não deixou de apresentar sua documentação contábil e que, por isso, seria impossível o arbitramento. 3. Do não cabimento da qualificação da multa => Entende que a imposição de multa qualificada ocorreu sem embasamento probatório e fundamentação legal. Entende, também, que não seria moral o estabelecimento de multa em patamar de 150%. 4. Da não participação de grupo econômico => Alega que para se caracterizar a existência de grupo econômico as empresas deveriam estar submetidas a um controle único. Que esta participação foi apenas suposta pela fiscalização, não fazendo a empresa parte de nenhum grupo. A delegacia de origem, verificando que os responsáveis solidários não foram intimados do acórdão da impugnação, solicitou o retorno do processo para suprir a irregularidade. Cumpridas as intimações, não foram apresentados recursos por parte dos responsáveis solidários. É o relatório. Voto Fl. 18869DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.860 21 Conselheiro Abel Nunes de Oliveira Neto Relator O recurso é tempestivo e preenche os requisitos legais, por isso dele tomamos conhecimento. Iniciaremos a análise recursal a partir dos pontos de discordância levantados pelo recorrente. 1. Ilicitude do Procedimento por Utilização de Informações protegidas por sigilo bancário sem autorização judicial Com relação à alegação de utilização de informações protegidas pelo sigilo bancário, este argumento foi apreciado em sede do julgamento da impugnação conforme transcrito abaixo: 129. Sobre o sigilo processual e bancário quebrado sem autorização judicial, a alegação de nulidade igualmente não procede. As informações foram encaminhadas por órgãos competentes para tal, tanto a Polícia Federal como o Ministério Público Federal. Se alguma ilegalidade tivesse ocorrido, caberia à Impugnante ter apresentado alguma tutela judicial, o que não foi o caso. 130. Neste ponto é importante destacar que as informações recebidas da Polícia Federal e do Ministério Público Federal têm relação com as questões da multa qualificada e da responsabilidade tributária atribuída a Herbert Moreira Dias e Valdeana Meira Souto e Dias e não com o crédito tributário lançado. 131. A base de cálculo apurada pela Auditoria Fiscal não utilizou informações recebidas dos órgãos citados, nem de depósitos bancários de extratos obtidos de instituições financeiras. São incabíveis as acusações de quebra de sigilo bancário ou processual apresentadas pela Impugnante. A base de cálculo foi apurada através de livros fiscais, declarações e documentos fornecidos pelo próprio Contribuinte (e não de extratos bancários), o que pode ser facilmente verificado com a simples leitura do Relatório de Verificação Fiscal. No meu entendimento, correta a análise procedida pela Delegacia de Julgamento. Não houve quebra de sigilo bancário conforme alegado pelo recorrente. O que houve, isto sim, foi a utilização de informações decorrentes de inquérito, encaminhadas ao órgão tributário pela Polícia Federal e Ministério Público, para que fossem adotadas medidas de apuração das irregularidades tributárias. Estas informações não serviram de base para a autuação pura e simplesmente. Ao contrário, a partir delas foi realizado todo o procedimento de fiscalização por meio do qual foram apuradas as irregularidades, coletados os documentos, estes fornecidos pela empresa, e quantificadas as irregularidades ora imputadas á empresa. Estas informações e as conclusões dela decorrentes foram cientificadas à empresa e destas esta pode proceder sua defesa. Mais ainda, a jurisprudência deste CARF é tranquila no sentido de não se caracterizar a nulidade a utilização de informações fornecidas por outros órgãos de estado para Fl. 18870DF CARF MF 22 o início de procedimento de fiscalização contra o contribuinte. Vejase precedentes do CARF respeito. PROVA EMPRESTADA. FUNÇÃO AUXILIAR. LICITUDE. Considerar o conteúdo de prova emprestada é conduta lícita e válida, desde que tal instrumento seja auxiliar, ou seja, que sirva como indício para a autuação fiscal, que não enseje, apenas por si, a lavratura do auto de infração. Acórdão nº 1402002.747, de 19/09/2017. PROVA EMPRESTADA. UTILIZAÇÃO. Disponibilizadas às partes as provas chamadas “emprestadas” e tendo sido permitido à fiscalizada e aos sujeitos passivos solidários inteiro acesso a elas, podendo exercer o direito de ampla manifestação sobre as mesmas, improcedente o reclamo sobre uma possível utilização indevida de provas e documentos trazidos de outros processos. Acórdão nº 1301002.561, de 15/08/2017. PROVAS EMPRESTADAS. RESPEITO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. OBSERVÂNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO. A utilização de conjunto probatório produzido por órgão público em processos instaurados por autoridades fiscais de outra esfera de poder, relativo ao mesmo contribuinte, respeitado o contraditório e a ampla defesa, está de acordo com o ordenamento jurídico e não constitui causa de nulidade do lançamento fiscal. Acórdão nº 1301 002.271, de 14/04/2017. PROVA EMPRESTADA. EXISTÊNCIA DE CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE NULIDADE. Instaurado o contencioso administrativo, por meio da impugnação protocolizada, o contribuinte obteve a possibilidade de apresentar argumentos e provas de fato e de direito capazes de afastar a exigência fiscal, em atendimento ao contraditório e à ampla defesa, não havendo que se falar em nulidade. Acórdão nº 3302003.365, de 27/09/2016. Desta forma é que entendo não ter ocorrido a nulidade apontada pelo recorrente e por isso rejeito esta preliminar. 2. Falta de Intimação aos sócios da empresa Esta outra nulidade apontada pelo recorrente prendese à alegação de que os sócios da empresa não foram intimados durante o procedimento de fiscalização e que, além disso, foram apontados como responsáveis solidários terceiros que não os sócios da empresa. Com relação à falta de intimação aos sócios da empresa, assim se pronunciou a delegacia de Julgamento a respeito. 132. A alegação de cerceamento de defesa é igualmente improcedente. O Contribuinte foi representado em todo o procedimento fiscal por seu procurador, indicado por ele próprio. Foi ele regularmente intimado de todos os termos do processo, teve deles plena ciência e oportunidade para apresentar documentos, provas, explicações e justificativas. Exerceu, Fl. 18871DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.861 23 conforme quis, plenamente o seu direito de defesa, sendo incabível agora alegar cerceamento de defesa. 133. Ainda sobre nulidade, a Impugnante também defendeu a ocorrência de nulidade do procedimento fiscal pela falta de intimação dos sócios da empresa contribuinte, os quais não puderam se manifestar quanto ao seu teor. 134. Não procede a tese da Impugnante. Durante o curso do procedimento fiscal, o Contribuinte foi representado por um procurador, o qual foi designado pelo próprio Contribuinte. Uma vez que o contribuinte esteja legalmente representado por um procurador, não há norma que imponha, no curso de um procedimento fiscal, a intimação dos sócios. Logo, o Contribuinte teve, através de seu mandatário, conhecimento de tudo o que ocorria na fiscalização, não havendo qualquer motivo para supor o contrário. 135. Quanto ao “direcionamento para terceiros” atacado pela Impugnante, esta questão está relacionada com a responsabilidade tributária, que será discutida adiante. Mas, desde já, deixamos nosso posicionamento pelo acerto da Fiscalização em atribuir a responsabilidade pelo crédito tributário às pessoas indicadas. Consultando a documentação anexada ao processo verificamos, com base na procuração juntada às fls. 9715/9717, que a empresa foi representada, durante todo o procedimento, pelo Sr. Marcelo Silva Bonfim, devidamente outorgado por meio de instrumento de mandato público para representar a empresa perante os órgãos federais. Ora, se a própria empresa, por meio de seus sócios, fazse representar por procurador, como agora pode apresentar preliminar de nulidade por falta de intimação aos sócios da empresa. Restando evidente que houve intimação ao representante da empresa, não há que se falar em nulidade por falta de intimação aos sócios. Quanto à menção de que a responsabilidade foi atribuída a terceiros que não fazem parte da empresa, analisaremos mais abaixo este tema. Pelo exposto, voto no sentido de igualmente rejeitar esta preliminar. 3. Mérito Da insubsistência das Glosas Com relação à insubsistência das glosas pela alegação de que os documentos apresentados pela empresa não foram analisados a este respeito a Delegacia de Julgamento já se pronunciou determinando a realização de diligência na qual todos os documentos foram objeto de análise e, ao final, foram revistos os valores das glosas de despesas e refeita a apuração do lucro tributável. Assim, não há reparos na decisão de Piso com relação a este ponto. Os documentos apresentados apenas em sede de impugnação foram analisados e aceitos como comprovantes de despesas, levando à redução da autuação. Fl. 18872DF CARF MF 24 Não existindo outros documentos não apreciados anteriormente, e em face dos argumentos, neste ponto, serem os mesmos apresentados na impugnação, não existem outros motivos para se aprofundar esta análise. À vista do exposto, voto, neste ponto, por negar provimento ao recurso. 4. Do não cabimento do arbitramento do lucro Em relação a esta alegação formulada pelo recorrente, não existem motivos para sua apresentação e este fato já foi devidamente constatado pela Decisão de Piso. Equivocase o recorrente ao alegar arbitramento do lucro. Na verdade, toda a autuação foi realizada por meio de apuração do lucro real, até mesmo porque houve glosa de despesas que simplesmente inexistiriam se acaso o lançamento tivesse ocorrido na sistemática do lucro arbitrado. Desta forma, verificandose que a alegação neste ponto carece de qualquer fundamento factual em razão de inexistir arbitramento do lucro, há de se negar provimento ao recurso. 5. Do não cabimento da qualificação da multa Acerca da qualificação da multa vejamos o que informa a fiscalização em sua autuação. Analisandose o lançamento realizado verificase que o lançamento decorreu de glosa de despesas não comprovadas, diferença de estoques de encerramento do ano 2008 e de abertura do ano 2009 e, por fim, lançamentos incorretos a crédito da conta caixa. Pela análise das infrações cometidas podese constatar a existência de infrações à legislação tributária decorrentes de ação intencional tendente a reduzir a imputação tributária. Notese que não se trata de um simples equívoco cometido pela empresa, mas sim atos intencionais de indevida redução da tributação, como, por exemplo os lançamentos realizados a crédito da conta de caixa. No TVF a fiscalização consegue demonstrar cabalmente que os sócios reais da empresa são diferentes dos sócios que constam nos contratos sociais, no entanto este fato não implica, sem maiores comprovações, que os atos praticados por estes estariam caracterizados como atos de fraude ou sonegação, posto que não houve análise da realização dos atos irregulares para benefício específico de alguém. Por estas razões, e por entender a prática dos atos de evidente intuito de redução indevida da tributação, juntamente com a tentativa de ocultar os reais proprietários da Fl. 18873DF CARF MF Processo nº 10508.720648/201371 Acórdão n.º 1401002.295 S1C4T1 Fl. 18.862 25 empresa com vista a não se responsabilizarem pelas intencionais infrações cometidas, voto no sentido de manter a qualificação da multa aplicada. 6. Da não participação de grupo econômico A recorrente, neste ponto, alega que não restou comprovada a sua participação em grupo econômico como fora alegado pela fiscalização. Em verdade este tópico diria mais respeito à responsabilização solidária dos sócios de fato da empresa. De toda forma para evitar a interposição de embargos declaratórios, remetemos, neste ponto à leitura dos itens 6 e 7 do TVF, relatado às fls. 17640/17648, no qual a fiscalização apresente extensa narrativa demonstrando que: 1 – A direção de fato da empresa era exercida pelos sócios de fato Herbert Moreira Dias e Valdeana Meira Souto e Dias, por meio de procurações emitidas pelos sócios de direito da empresa; 2 – Que os sócios que constavam no contrato social eram pessoas que constavam como empregados da empresa, parente dos sócios de fato ou pessoas sem qualificação em administração ou vinculação com a atividade da empresa; 3 – Que os sócios de fato era quem exerciam a movimentação das contas bancárias da empresa; 4 – Que os sócios de fato eram sócios de outras empresas do mesmo grupo conforme verificado na própria página da internet da empresa, onde consta como componente do grupo econômico. Por estas razões é que os sócios de fato foram enquadrados como responsáveis solidários pelas infrações cometidas pela empresa e cuja responsabilização foi mantida em sede de julgamento da impugnação. À vista de todo o demonstrado pela fiscalização e entendendo que estão mais do que comprovadas suas alegações, concordo com a decisão de piso, e entende estar caracterizada a participação da empresa em grupo econômico e, mais ainda, deve ser mantida a responsabilização solidária dos sócios de fato Herbert Moreira Dias e Valdeana Meira Souto e Dias, tendo em vista a prática de atos para não se apresentar como os reais administradores da empresa e participantes de todo um grupo econômico, conforme ficou extensamente comprovado. Por todo o exposto voto no sentido de rejeitar as preliminares suscitadas e, no mérito, DAR PARCIAL PROVIMENTO apenas para excluir a qualificação da multa imposta. Abel Nunes de Oliveira Neto Relator Relator Fl. 18874DF CARF MF 26 Fl. 18875DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19515.000913/2009-09
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 08 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jun 11 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2006
GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO E AQUISIÇÃO DE IMÓVEIS. COMPROVAÇÃO. ESCRITURA PÚBLICA. FORÇA PROBANTE.
Diante da apresentação de documento dotado de fé pública, correto afastar o lançamento, uma vez que as demais provas não tem força suficiente para mantê-lo. Sem apresentação de provas irretocáveis, não é possível afastar importância de documentos lavrados por aquele que tem fé pública.
Numero da decisão: 2402-006.147
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso, vencidos os conselheiros Mauricio Nogueira Righetti, Denny Medeiros da Silveira e Mario Pereira de Pinho Filho, que lhe negaram provimento.
(assinado digitalmente)
Mario Pereira De Pinho Filho - Presidente
(assinado digitalmente)
Jamed Abdul Nasser Feitoza - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Mauricio Nogueira Righetti, João Victor Ribeiro Aldinucci, Denny Medeiros da Silveira, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Luis Henrique Dias Lima, Gregório Rechmann Junior, Renata Toratti Cassini e Mário Pereira de Pinho Filho
Nome do relator: JAMED ABDUL NASSER FEITOZA
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ALIENAÇÃO E AQUISIÇÃO DE IMÓVEIS. COMPROVAÇÃO. ESCRITURA PÚBLICA. FORÇA PROBANTE. Diante da apresentação de documento dotado de fé pública, correto afastar o lançamento, uma vez que as demais provas não tem força suficiente para mantêlo. Sem apresentação de provas irretocáveis, não é possível afastar importância de documentos lavrados por aquele que tem fé pública. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 09 13 /2 00 9- 09 Fl. 154DF CARF MF 2 Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao Recurso, vencidos os conselheiros Mauricio Nogueira Righetti, Denny Medeiros da Silveira e Mario Pereira de Pinho Filho, que lhe negaram provimento. (assinado digitalmente) Mario Pereira De Pinho Filho Presidente (assinado digitalmente) Jamed Abdul Nasser Feitoza Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Mauricio Nogueira Righetti, João Victor Ribeiro Aldinucci, Denny Medeiros da Silveira, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Luis Henrique Dias Lima, Gregório Rechmann Junior, Renata Toratti Cassini e Mário Pereira de Pinho Filho Fl. 155DF CARF MF Processo nº 19515.000913/200909 Acórdão n.º 2402006.147 S2C4T2 Fl. 151 3 Relatório Cuidase de Recurso Voluntário de fls. 132 usque 146, voltado contra Acórdão de fls. 116 a 122, emanado da 9ª Turma de Julgamento da Delegacia da Receita Federal do Brasil em Belo Horizonte, em que se julgou improcedente a Impugnação apresentada pela recorrente, mantendo, in totum, o crédito tributário lançado. Transcrevo, por oportuno, o relatório da decisão recorrida: Contra a contribuinte em epígrafe foi emitido o auto de infração do Imposto de Renda da Pessoa Física – IRPF (fls. 2/55), ano calendário 2005, exercício 2006. A autuada teve ciência do lançamento em 25/03/2009, e o valor do crédito tributário apurado está assim constituído (fl. 01): (em Reais) Imposto 61.223,58 Juros de Mora (cálculo até 02/2009) 25.799,57 Multa Proporcional 45.917,68 Total do Crédito Tributário 132.940,83 Consta da fl. 53 dos autos que, em procedimento de verificação do cumprimento das obrigações tributárias, foi efetuado o seguinte lançamento de ofício, tendo em vista que foram apuradas as infrações abaixo descritas. Omissão parcial de ganhos de capital na alienação de bens e direitos adquiridos em reais – Fato gerador Valor tributável Multa (%) 31/07/2005 R$172.458,00 75,00 31/08/2005 R$150.348,00 75,00 30/09/2005 R$150.348,00 75,00 31/10/2005 R$150.348,00 75,00 30/11/2005 R$150.348,00 75,00 No Termo de Verificação Fiscal (fls. 45/48), a autoridade lançadora consigna os seguintes fatos. Em cumprimento ao Mandado de Procedimento Fiscal, foi solicitada à contribuinte a documentação comprobatória da alienação e aquisição do imóvel da Rua das Mangabeiras, 135, apartamento 20, São Paulo, SP, bem como do respectivo recolhimento do imposto sobre o ganho de capital apurado. Após análise da documentação apresentada, apurouse que a contribuinte alienou o imóvel da Rua das Mangabeiras, 135/20, para Dirce Carvalho Polito, CPF 213.436.82843, conforme Fl. 156DF CARF MF 4 Escritura de Venda e Compra, passada no 1º Tabelionato de Notas de São Paulo, SP, em 07/03/2006 nas seguintes condições: Preço: R$1.410.000,00 Forma de Pagamento: recebido em parcelas nas datas 15/07/2005 – R$390.000,00 15/08/2005 – R$340.000,00 15/12/2005 – R$680.000,00 Houve três recolhimentos de Imposto de Renda sobre Ganho de Capital, (código 4600), nas datas: 31/08/2005 – R$16.534,22 30/09/2005 – R$13.828,50 30/01/2006 – R$27.407,64. Na comparação com os valores informados no documento denominado Dimob Declaração de Informações sobre Atividades Imobiliárias, de responsabilidade da corretora que intermediou a operação, Kauffmann Consultoria de Imóveis S/A, CNPJ 60.563.988/000129, surgiram indícios de divergência em relação ao valor da transação. Efetuouse, então, diligência esclarecedora na empresa corretora, e apurou se que houve, para o referido imóvel, um “Instrumento particular de compromisso de venda e compra de bem imóvel e outras avenças”, onde constam as seguintes condições: Preço: R$ 1.750.000,00 Forma de Pagamento: Parcelado na seguinte forma: 18/07/2005 R$ 390.000,00; 08/08/2005 R$ 340.000,00; 08/09/2005 R$ 340.000,00; 08/10/2005 R$ 340.000,00; 08/11/2005 R$ 340.000,00. Depreendese, então, que houve uma diferença entre o preço efetivo de venda e aquele que serviu de base para recolhimento do imposto de R$340.000,00, acarretando um pagamento de imposto a menor, e por este motivo foi lavrado o Auto de Infração, para cobrança do tributo omitido. O custo do imóvel, conforme apurado na declaração de bens lançado na DIRPF/2005, foi R$593.374,50, havendo portanto um ganho bruto de capital de R$1.156.650,00, que se sujeitará às reduções autorizadas pelo Arts. 40, § 1º, inciso II da Lei 11.196/2005. Para o cálculo do imposto, foram lançados os valores mensais originários e descontadas as parcelas do imposto recolhido, nos respectivos meses. Fl. 157DF CARF MF Processo nº 19515.000913/200909 Acórdão n.º 2402006.147 S2C4T2 Fl. 152 5 Ressalta a fiscalização que o valor pago em 31/01/2006, (R$ 27.407,64), foi alocado para o mês de Novembro/05 em R$ 22.552,20 e para o mês de Outubro/2005 em R$1.939,00 depois de sofrer o reajuste em relação à multa e aos juros tendo em vista o pagamento fora do prazo. Salienta também que a contribuinte, quando apurou o ganho de capital na Declaração de Imposto de Renda, anocalendário de 2005, informou como data de alienação 15/12/2006, quando o correto seria 18/07/2005, (data do Instrumento particular de compromisso de venda e compra de bem imóvel e outras avenças e início de pagamento). Em 22/04/2009, a autuada, por meio de procurador, impugnou o lançamento em petição de fls. 65/78, acompanhada da documentação de fls. 79/112, alegando, em síntese o que se segue. Afirma que a exigência não pode prosperar, uma vez que o valor da operação foi exatamente aquele declarado pela impugnante e constante da escritura pública de venda e compra, firmada no 1º Tabelionato da Capital, que tem fé pública, devendo a divergência apontada decorrer de erro da empresa Kauffmann no preenchimento da Dimob. Destaca que, se considerado a escritura de venda e compra e o aditivo ao compromisso de venda e compra, firmado entre as partes, é possível verificar que os valores pagos foram realmente aqueles por ela indicados na declaração, sobre os quais pagou o imposto devido. Alega que o fiscal verificou apenas o instrumento particular de compra e venda, firmado em 18/07/2005 e desconsiderou o valor real de R$1.410.000,00, conforme a escritura pública do Cartório, firmada na frente de Tabelião juramentado, o que confere presunção de veracidade e certeza de que o valor é o da real operação. Colaciona ementas do Conselho de Contribuintes. Aduz que a alteração nas condições de venda e compra do referido imóvel ocorreu por força de aditamento do contrato, firmado entre as partes no dia 07/09/2005, aqui anexada. Informa que neste documento constam expressamente os motivos pelos quais o aditamento foi firmado em condições mais vantajosas para a compradora do imóvel. Alega que possuía um inquilino no imóvel que não desocupou o apartamento no prazo concedido, além de lhe causar graves problemas com pagamento de condomínios e IPTU do imóvel, bem como deteriorou parte das instalações, que levaram a compradora a quase desistir da compra. Diz que todo este problema com o inquilino foi objeto até de ação cível de "reparação de danos", para cobrança dos impostos, condomínio, taxa do lixo e outros, conforme se verifica das cópias anexas, que comprovam o ocorrido. Fl. 158DF CARF MF 6 Informa que desconhece os motivos que podem ter levado a imobiliária a entregar Dimob com informação incorreta, pois a empresa era representante da Compradora, tendo participado das reuniões sobre o assunto. Tal fato deve ter decorrido por equívoco ou mesmo falta de envio de documentos/arquivo pela Kauffmann, que levaram ao preenchimento da DIMOB com dados incorretos, considerando apenas o compromisso de venda e compra. Informa que enviou carta a essa empresa para que seja feita a correção da Dimob, o que deve ocorrer em breve. Nessas condições, entende que deve ser cancelada a cobrança do IRPF sobre esta suposta parcela de R$340.000,00 a maior, vez que o ganho de capital real foi de R$816.625,50 e não de R$1.156,625,50. Discorda também do recálculo do valor de imposto efetuado pela fiscalização que considerou a data de 15/07/2005 como data da compra, entendendo que a data da real venda do imóvel foi 07/03/2006, quando passada a escritura e transmitida a propriedade. Afirma que se efetuando os cálculos nestes termos, o montante que deveria ser pago é quase idêntico ao dos Darf’s pagos pela impugnante e junta planilhas (fl. 75). Ressalta que, em qualquer hipótese que se faça este cálculo, a legislação aplicável é o art. 40 da Lei n° 11.196/2005, que apesar de ser do mês de Novembro/2005 deve ser aplicada a qualquer autuação que envolve valores a título de ganho de capital, já que veicula vantagem ao contribuinte, por força do princípio da retroatividade benigna, previsto no artigo 106 do CTN. Entende que os valores que poderiam ser exigidos a título de ganho de capital no caso estão integralmente pagos. Requer o acolhimento da impugnação e protesta pela juntada de novos documentos que se entenda necessários, bem como pela produção de sustentação oral, se o caso, quando do julgamento de eventual recurso. Requer ainda que as intimações relativas ao presente feito sejam dirigidas aos advogados Pedro Miranda Roquim, OAB/SP n° 173.481 e Marcelo Guedes Nunes, OAB/SP n° 185.797, ambos com endereço à Avenida Paulista, 509, 14° andar, São Paulo, SP." Irresignada, apela a Contribuinte alegando que, ao contrário do que informado da r. decisão, não seria lícito exigir IR sobre Ganho de Capital relativo a valores que a recorrente não recebeu, uma vez que teria havido erro na DIMOB (Declaração de Informações sobre Atividades Imobiliárias) apresentada pela Kauffman Consultoria. Segue: "Por outro lado, e também ao contrário do que entendeu a r. decisão recorrida, a ausência de assinatura da Kauffman não invalida o aditamento firmado, pois obviamente na condição de intermediária, contratada pela compradora, a mesma não tem ingerência sobre a vontade das partes, sendo certo que o Fl. 159DF CARF MF Processo nº 19515.000913/200909 Acórdão n.º 2402006.147 S2C4T2 Fl. 153 7 instrumento esta datado de 07/05/2005, com efeitos retroativos a 18/07/2005, por ser a data do problema com o inquilino." Em seguida, aduz que, a todo momento trouxe aos autos prova constitutiva do que alegado. Além disso, defende que ter a recorrente recebido em ação de indenização os valores do inquilino, seria prova de que teria havido a redução do valor do imóvel, bem como que tais valores, por ter caráter indenizatório e diferente destinação, não poderia ser considerado para fins de ganho de capital. Advoga no sentido de que a escritura pública e o aditamento provam que a operação foi no valor de R$ 1.410.000,00, como declarado pela contribuinte, de modo que a decisão guerreada estaria ao contrária à prova dos autos. No mérito, alega que há inexistência de omissão de ganho de capital, uma vez que houve repactuação do valor de compra, constando do novo acordo valor menor do que o informado pela corretora Kaufman, com acima descrito. Diz que a cláusula quarta do novo Contrato firmado é clara quanto a isso. Transcrevo: “4.1 O preço total, certo e previamente ajustado, para o presente compromisso de venda e compra é de R$ 1.410.000,00 (um milhão, quatrocentos e dez mil reais), que será pago pela COMPRADORA à VENDEDORA, da seguinte forma: (...)” Aponta que tal modificação de valores foi em decorrência de problemas com o inquilino da vendedora, que quase levaram a ora requerente cancelar a compra. Informa que cópia de tal aditivo foi enviado á Kauffman pela compradora. Assenta que o i. fiscal não está levando em consideração os documentos coligidos pela contribuinte, fundando seu lançamento apenas na DIMOB entregue pela Kauffman que, a seu ver, conteria erro, e que não foi corrigdo por “receio e ser penalizada por prestar informações equivocadas”. Assim, expressa não há dúvidas acerca do verdadeiro valor da transação efetuada, havendo nos documentos coligidos os expressos motivos da alteração dos valores, sendo que a “ausência de assinatura da Kauffman não invalida o aditamento firmado”. Mesmo porque, teria feito prova dos pagamentos realizados, bem como teria tomado “o cuidado de indicar os cheques e as datas em que recebeu os valores remanescentes das parcelas, o que afasta a alegação de que não provou o pagamento”. Além disso, o fato de ter recebido em ação de indenização os valores do inquilino, seria prova suficiente para demonstrar que realmente teria havido o problema ensejador da redução do valor do imóvel – valor este que não poderia ser considerado para fins de ganho de capital, por não ser do valor integral e por destinarse a indenização por ato ilícito. Às fls. 143, resume que: “a) existe o aditamento ao compromisso de venda e compra com assinatura da adquirente e da vendedora, b) a escritura pública itnha o valor correto e que o valor realmente recebido foi de R$ Fl. 160DF CARF MF 8 1.410.00,00, c) DIMOB da Kauffman está equivocada por desconhecimento do aditamento ou por erro que a Kaufmann só não reconhece agora para evitar multa por preenchimento da DIMOB ou para justificar a comissão que recebeu foi paga sobre o valor originário, e d) efetivamente os problemas com o inquilino ocorreram e que existe até mesmo ação judicial contra o mesmo e os valores recebidos foram comprovados; e e) o d. Fiscal autuante tinha obrigação de desconstituir as provas apresentadas pela Recorrente ,mas preferiu desconsiderar os fatos e provas e fundamentar a autuação na DIMOB com erro feita pela Kauffmann.” (sic, grifo do original) Sublinha que a jurisprudência deste e. Conselho coaduna com os interesses postos no recursos, uma vez que, em situação idêntica, foi reconhecido o direito do contribuinte ao não pagamento do tributo, através do Processo nº 10940.000035/9625, do relato de Elizabeto Carreirão Varão. Em seguida, reforça que o imposto no valor devido foi pago pela recorrente. No entanto, alega que, se considerada a data de 15/07/2005 como fato gerador, o valor devido a título e ganho de capital, usandose o mesmo fator de redução do art. 40 da lei nº 11.196/2005, seria de R$ 61.001,92, no caso e quem haveria pequeno valor a ser pago, valor esse que não se opõe a recolher, requerendo apenas que seja aplicado ao caso o artigo de lei acima mencionado, uma vez que veicula vantagem ao contribuinte, por força do princípio da retroatividade benigna previsto no art. 106 do CTN. Desse modo, requer que o recurso seja conhecido e provido a fim de reconhecer a improcedência do v. acordão recorrido, com o cancelamento da autuação. Por derradeiro, requer a intimação do patrono para oferecimento ode sustentação oral na sessão de julgamento. É, no mais, o relatório. Fl. 161DF CARF MF Processo nº 19515.000913/200909 Acórdão n.º 2402006.147 S2C4T2 Fl. 154 9 Voto Conselheiro Jamed Abdul Nasser Feitoza Relator O recurso é tempestivo e preenche todos os demais requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal merecendo, assim, ser conhecido. A irresignação merece provimento. O ponto nodal da questão instalase na veracidade dos valores postos na Escritura Pública de Compra e Venda, em que se constaria os reais valores daquilo que pactuado pelas partes e que fora verdadeiramente recebido pela recorrente, o que injustificaria o presente PAF, uma vez que não teria havido ganho de capital tributável. Na decisão atacada, a d. DRJ afastou as informações contidas em tal documento para acolher as informações que formam a DIMOB apresentada pela corretora Kauffmann, fundamento igualmente importante para alicerçar o lançamento feito pelo i. Fiscal autuante. Vale que se confira, em primeiro momento, as conjunturas que envolvem a prova documental, essencial para o deslinde das controvérsias jurídicas de um modo geral e, também, para formação do pensamento do julgador no caso concreto. Como magistralmente ensina Pontes de Miranda: “o documento provém de pessoa que o fez, que o comôs, alguém que o fez para si, ou o fez para outrem. Não se confunda tal pessoa que o fez para outrem com o autor, figurante do negócio jurídico. Quem o fez pode também ser figurante, porem insere elemento subjetivo e não só objetivo (dito material). A redação do documento pode ser por escrito, ou por datilografia, e até por impressão. Se a pessoa que assim funciona é apenas secretário, ou empregado, não se tem como autor: o autor ou fez e assinou o documento, ou incumbiu alguém de assinálo, ou, tratandose de livros comerciais ou assuntos domésticos, não precisava assinar para que o autor se reputasse. Não há autoria se quem assinou o fez como representante, ou presentante, ou incumbido presenta. Redigir ou datilografar é inconfundível com assinar: quem assina ou o fez por si, ou por outrem. Portanto, signatário que não é figurante autor não é: ou representou ou presentou o autor.” 1 Daí temse que são dois os sujeitos a serem analisados na conduta em deslinde: os autores do documento (aqui, compradora e vendedora) e aquele que o fez (in casu, o 1º Tabelião de Notas da Comarca de São Paulo, Aldo Neves Godinho Filho). 1 Comentários ao Código de Processo Civil cit. T. IV, p.368 Fl. 162DF CARF MF 10 Quanto à vontade das partes, autoras do documento, estão, pelo que se depreende dos autos, justas e seguem o mesmo caminho: a compra e venda do imóvel, não podendo se falar que houve, a qualquer tempo, vício da vontade das partes, o que faria com que o próprio negócio abarcasse sua nulidade total. Quanto à questão do documento em si mesmo, uma análise merece ser feita. Como cediço, a prova tem que conter conteúdo, forma, finalidade e função, para que possa ser, a qualquer momento, verificada e, igualmente, para que albergue o direito nela contido, não podendo ser considerada um fim em si mesma, mas, também, como “instrumento para construir a verdade no processo: a prova é sempre prova de algo. Por isso, não obstante sua função seja persuasiva, essa tarefa de convencer o julgador visa a atingir determinada finalidade, orientada à constituição ou desconstituição do fato jurídico em sentido estrito” (CF. Fabiana Del Padre Tomé – A prova no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2005, p. 176177). No caso em comento, temos que o documento proposto pela requerente para afastar o lançamento é a Escritura Pública de Compra e Venda de Imóvel, juntada ás fls. 96/97, em que consta o valor da venda como sendo de R$ 1.410.000,00 (um milhão, quatrocentos e dez mil reais) e, portanto, o valor do imposto já teria sido pago pelas DARF’s de fls. 112. No entanto, e como já acima nadado, tal prova foi afastada pela d. Delegacia sob o argumento de que “a escritura pública, atendidos os requisitos de validade exigidos, em relação aos atos jurídicos em geral, é o instrumento constitutivo e translativo de direitos reais sobre imóveis, sobrepondose a qualquer outro documento particular. Porém, não se pode perder de vista que se trata de declaração de vontade das partes prestadas perante o escrivão público, representando o documento a verdade que ao tabelião foi declarada. Portanto, é perfeitamente possível, diante da apresentação de provas irrefutáveis, que a operação tenha sido realizada com efeitos jurídicos diferentes daqueles atribuídos à escritura pública” (fls. 121). Argumento esse reagitado no apelo. De tal modo, temos que a fé do documento foi apartada pelo julgamento a quo, por entender que haveria vício no conteúdo da escritura. Confirase escólio de Moacyr Amaral dos Santos: “uma coisa é declarar falso um documento, outra considerálo desmerecedor de fé. Para declarar falso um documento, há de necessariamente haver um pedido nesse sentido, sobre o qual cumpre que o juiz decida. O objeto aí é uma declaração de falsidade documental. Já na apreciação da fé que possa merecer o documento, o juiz é livre como é livre na apreciação de toda e qualquer prova, atento aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pela parte” 2 Também vale que se confira o que explicita Pontes de Miranda: “Se os fatos que se mencionam no documento, mesmo se instrumento público, não correspondem ao que nele se diz, não se pode pensar em falsidade do documento, mas sim em invalidade, se alguma das figuras de nulidade ou de anulabilidade se compõe. Ainda assim, temse de acentuar que 2 grifei Santos, Moacyr Amaral. Prova judiciária no cível e comercial, v. 4, p. 574575 Fl. 163DF CARF MF Processo nº 19515.000913/200909 Acórdão n.º 2402006.147 S2C4T2 Fl. 155 11 se trata de conteúdo do documento, do ato jurídico, e não do documento, que é envolutório” 3 Igualmente, a dogmática de Nelson Hungria: “na falsidade material, o que se falsifica é a materialidade gráfica, visível do documento (e, portanto, simultânea e necessariamente, o seu teor intelectual); na falsidade ideológica, é apenas o seu teor ideativo. Diversamente da primeira, a última não pode ser averiguada por inspeção pericial ou direta, senão por outros elementos de convicção, coligíveis aliunde” 4 Chegase, nesse momento, na iminência do que dito na Lei nº 9.784 , de 29 de Janeiro de 1999, em seu art. 38, §2º, verbis: “Art. 38 (omissis) § 2oSomente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.” De mesmo modo, transcrevo o que contido no art. 215 do Código Civil: “Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena” Com tais premissas bem assentadas e verificando todos os documentos que dos autos contam, temse que não há nada que possa elidir a fé pública da Escritura de Compra e Venda. Ademais, a forma como ocorreu a negociação está claramente expressa na documentação aportada nos autos, especificamente o “Instrumento Particular De Compromisso De Venda E Compra De bem imóvel E Outras avenças” de fls.31/35 e o “Aditivo Ao Instrumento Particular De Compromisso De Venda E Compra De Bem Imóvel”, juntado às fls. 98/100, não deixando nenhuma dúvida sobre a mecânica negocial. Muito embora a DIMOB entregue pela Kauffman conste valor maior que aquele constante no Documento Público, tal declaração não tem valor probante maior do que aquele lavrado por tabelião, que tem, como sabido, presunção juris tantum. Para que a presunção de veracidade do que contido na Escritura Pública fosse banida, haveria necessidade de prova cabal em contrário, como bem denotou a decisão em testilha. No entanto, tal prova inexiste nesses autos. Ora... se como bem diz o v. acórdão recorrido, caso “a operação tenha sido realizada com efeitos jurídicos diferentes daqueles atribuídos à escritura pública”, tal operação diferente tem que ser comprovada. O i. Fiscal baseou todo seu lançamento em apenas um único documento, fiandose no sentido de que se não houve assinatura da Kauffman no aditivo, o valor nele posto e reprisado na Escritura estariam invalidados. 3 Pontes de Miranda, F.C. Tratado das ações, t. II, p. 111 4 Hungria, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 1959. V. 9 Fl. 164DF CARF MF 12 No entanto, vale atentarse que, mesmo notificada acerca da alteração dos valores (fls. 107/110), a Consultora de Imóveis não fez a alteração solicitada ou mesmo consta que houve resposta quando ao requerido. Com efeito, se existe dúvida quando a veracidade do que as provas delimitam, há que se ter em mente o princípio in dubio pro contribuinte, que bem se assenta ao caso, eis que o documento coligido pela parte, tem força suficiente para suplantar a DIMOB apresentada, uma vez que, nela sim, as provas guerreiam no sentido de haver erro. Conclusão Em vista do exposto, dou provimento ao recurso para reconhecer a força probante da Escritura Pública de Compra e Venda e afastar o lançamento perseguido. (assinado digitalmente) Jamed Abdul Nasser Feitoza Fl. 165DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10314.727982/2015-95
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 15 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Jul 04 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 1401-000.568
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, afastar a preliminar de concomitância com processo judicial e converter o julgamento do recurso em diligência nos termos do voto do relator. Votaram pelas conclusões em relação à conversão em diligência as conselheiras Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin e Letícia Domingues Costa Braga.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente
(assinado digitalmente)
Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Livia De Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga.
Nome do relator: 02531833757 - CPF não encontrado.
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Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, afastar a preliminar de concomitância com processo judicial e converter o julgamento do recurso em diligência nos termos do voto do relator. Votaram pelas conclusões em relação à conversão em diligência as conselheiras Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin e Letícia Domingues Costa Braga. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente (assinado digitalmente) Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Livia De Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 03 14 .7 27 98 2/ 20 15 -9 5 Fl. 2714DF CARF MF Erro! A origem da referência não foi encontrada. Fls. 2.714 ___________ Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto em face de decisão proferida pela 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto (DRJ/RPO), que, por meio do Acórdão 1463.710, de 18 de janeiro de 2017, julgou improcedente a impugnação apresentada pela empresa. Reproduzo, por oportuno, o teor do relatório constante no acórdão da DRJ, sendo que apresentarei, mais adiante, algumas observações que são necessárias em razão de mudanças ocorridas entre o acórdão da impugnação e a análise deste recurso voluntário: (início da transcrição do relatório do acórdão da DRJ) Trata o presente processo de autos de infração lavrados contra o contribuinte acima identificado relativos ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) no valor de R$ 233.479.526,97 (fl. 991), à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de R$ 84.061.269,71 (fl. 997) e ao Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) de R$ 170.344.773,25 (fl. 1.002), acrescidos de juros de mora à taxa SELIC, calculados até novembro/2015, e multa de ofício de 75%, sobre todas as infrações, formalizando o crédito tributário de R$ 1.087.936.032,38. Na descrição dos fatos, a autoridade fiscal fundamenta que o sujeito passivo deduziu indevidamente, da apuração do lucro do anocalendário 2010, despesas financeiras a título de JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA. Tais despesas, segundo entendimento da fiscalização, não são necessárias à realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa e, portanto, não são dedutíveis. O procedimento fiscal iniciouse, em 17/04/2014, com a ciência do Termo de Início de Procedimento Fiscal, após autorização concedida para a realização de novo exame em relação ao IRPJ, para o período de apuração do anocalendário 2010. No curso do procedimento fiscal, o sujeito passivo esclareceu que a despesa financeira referese a juros efetivamente devidos pela fiscalizada a Nacional Minérios S/A (doravante NAMISA), relativos a adiantamento feito pela NAMISA a Companhia Siderúrgica Nacional (doravante CSN), nos termos dos contratos de venda de minério de ferro bruto e prestação de serviços portuários, ora existentes entre a CSN e a NAMISA, no valor aproximado de R$ 7.286.154.000,00. O adiantamento efetuado pela NAMISA a CSN já foi objeto dos processos administrativos nº 19515.723039/201279 e 19515.723053/201272. O primeiro processo trata de auto de infração de IRPJ e CSLL, lavrado contra a CSN, decorrente de ganho de capital auferido por ela na alienação de 40% de participação acionária da NAMISA, sua subsidiária integral, para a empresa BIG JUMP ENERGY PARTICIPAÇÕES S/A (doravante Big Jump). O segundo, lavrado contra a NAMISA, trata do reconhecimento do direito a dedutibilidade de despesas de amortização de ágio registrados na contabilidade da Big Jump, quando da incorporação desta por aquela. Registrese que o CARF julgou procedente no mérito o lançamento do auto de infração no primeiro processo, e em relação ao segundo, reconheceu o direito a dedutibilidade da despesa de amortização do ágio decorrente da aquisição da participação acionária da NAMISA. Fl. 2715DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.715 3 A presente ação fiscal, com amparo nas conclusões da fiscalização apresentadas nos processos administrativos retrocitados, não reconheceu os contratos de venda de minério de ferro bruto e prestação de serviços portuários que deram causa as despesas dos JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA, sob o pretexto que tais contratos não expressam a real situação do fato ocorrido. Para aclarar a questão é necessário apresentar as razões que ensejaram as autuações nos retrocitados processos, por descumprimento de disposições da legislação para apuração e pagamento do IRPJ e CSLL, nos anoscalendário 2008, 2009, 2010 e 2011, relatando de forma cronológica os fatos ocorridos, como narrados nos termos de verificação fiscal lavrados no âmbito daqueles processos. Em outubro de 2008, a CSN comunicou, através de relatório de sua administração, e em diversos meios de comunicação, ter concretizado uma parceria estratégica com investidores japoneses e coreanos. A transação consistia na alienação de 40% do capital de sua subsidiária integral NAMISA, por US$ 3,12 bilhões, e a celebração de contratos de venda de minério de ferro e serviços portuários a serem prestados pela CSN a Namisa. A transação foi concretizada em outubro de 2008, quando a CSN celebrou o contrato de compra e venda de ações com a holding brasileira Big Jump, cujo controle era dividido entre a empresa sulcoreana POSCO e o consórcio denominado BRAZIL JAPAN IRON ORE CORPORATION, formado pelas empresas japonesas Itochu Corporation, JFE Steel Corporation, Nippon Steel Corporation, Sumitomo Metal Industries, Ltd., Kobe Steel, Ltd., Nisshin Steel Co, Ltd.. Por meio desse contrato, a Big Jump comprometiase a comprar 0,6584139% do capital acionário da NAMISA, pelo valor de U$ 30 milhões e aportar recursos no capital social da NAMISA, da ordem de U$ 3,047 bilhões, subscrevendo novas ações correspondentes a 39,6023334% do capital. O valor entregue a Namisa seria repassado, ato contínuo, a CSN a título de adiantamento dos seguintes acordos : a) contrato de fornecimento de minério de ferro com alto teor de sílica ROM; b) contrato de fornecimento de minério de ferro com baixo teor de sílica ROM; e c) acordo de serviços operacionais portuários. Ainda em outubro de 2008, a CSN e a NAMISA celebraram os três contratos/acordos acima mencionados, todos de longo prazo. À exceção do contrato de fornecimento de minério de ferro com alto teor de sílica ROM, que apresenta prazo de 30 anos, os demais contratos foram assinados pelo prazo de 34 anos. Cada contrato prevê a quantidade anual de minério de ferro a ser fornecida/embarcada, e, fixouse o preço por tonelada métrica de minério de ferro. Este preço de unidade é obtido através de fórmula matemática (Preço da unidade = P1 + P2) envolvendo duas variáveis P1 e P2. Onde P1 é a parcela variável reajustada inicialmente anualmente e depois trimestralmente pela variação do preço do “minério de referência” e P2 a parcela fixa, reajustável apenas a cada 5 anos e se necessário para manter o equilíbrio contratual e que foi paga antecipadamente. Para a determinação do valor do adiantamento de cada contrato, partiuse de preços que não foram justificados ao longo dos autos. Nos termos dos contratos, utilizouse a taxa de desconto de 8,5% ao ano para trazer os valores adiantados a valor presente, e ficou acordado que o saldo da dívida da CSN, pelo adiantamento, sujeitase a juros determinados com base na taxa de juros de 12,5% ao ano, sendo que 34% desses juros serão pagos em dinheiro e o restante acrescido ao saldo da correspondente dívida. Fl. 2716DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.716 4 Estabelecidos os termos dos contratos, os quatros contratos foram assinados, em 30 de dezembro de 2008, e a BRAZIL JAPAN IRON ORE CORPORATION e a POSCO entregaram recursos em moeda estrangeira, convertidos imediatamente em R$ 7,4 bilhões para a Big Jump. No mesmo dia a Big Jump repassou R$ 86,56 milhões a CSN, alegando se tratar da compra de apenas 0,7907% das ações da NAMISA. O restante do valor, R$ 7,28 bilhões, foi repassado a Namisa, a título de capitalização. Ato contínuo, a NAMISA transferiu a CSN os R$ 7,28 bilhões recebidos, a título de antecipações de pagamentos referentes à aquisição futura de minérios de ferro e de serviços portuários de embarque de minério de ferro para exportação. Ressaltese que o valor repassado a Namisa, pela Big Jump, foi integralmente repassado a CSN, a título de antecipação dos contratos, e que embora a CSN tenha alienado somente 0,7907% das ações houve alteração do percentual de ações inicialmente pactuada de 0,6584139%, ao final do ano de 2008, a Big Jump, pela subscrição de novas ações, detinha 39,99% da NAMISA, enquanto a autuada detinha 59,99% da mineradora. A parcela do preço correspondente a R$ 4,1 bilhões foi registrada pela Big Jump como ágio decorrente da aquisição do investimento, fundamentado em rentabilidade futura. Em meados de 2009 a NAMISA incorporou a Big Jump, e passou a declarar nos anos seguintes à incorporação, vultosas quantias lançadas como despesas de amortização de ágio. Diante do exposto, a fiscalização autuou a CSN nos autos do processo 19515.723039/201279, por omissão de ganho de capital, considerando que, a despeito do informado pelo contribuinte, ocorreu efetivamente a operação de compra e venda, tendo a CSN auferido ganho de capital em face da alienação. A Big Jump, teria por propósito ser uma empresa veículo, e os adiantamentos realizados pela NAMISA representariam mero repasse do pagamento a CSN, estando configurada a simulação no negócio jurídico. Tendo em vista que o sujeito passivo evitou a tributação por meio da realização de negócios simulados, a multa de ofício foi majorada para 150%. A CSN se insurgiu contra o lançamento, alegando inexistência de simulação e improcedência das objeções levantadas pela fiscalização, especialmente quanto à descaracterização da transferência de valores da NAMISA a CSN, a título de pagamento antecipado pela venda de minério e prestação de serviços. Alegou também improcedência da multa qualificada, indevida redução de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas e inexistência de base legal para a exigência de juros sobre os valores lançados a título de multa de ofício. Contestou a tese formulada pela autoridade fiscal acerca da transferência de valores da NAMISA a CSN, que configurou tal transferência como preço pela venda de participação acionária, argumentando em sua impugnação que, de fato, o depósito no valor de R$ 7,28 bilhões, efetuado pela Big Jump, em contacorrente da NAMISA, teve por objetivo a integralização de capital. Em seguida, o montante foi transferido a CSN, como antecipações de pagamento por conta dos contratos de longo prazo firmados para prestação de serviços de porto e fornecimento de minério. Afirma que tais contratos são verdadeiros e vêm sendo regularmente cumpridos pela CSN, e que mensalmente efetua pagamento a Namisa a título de juros, nos termos previstos nos contratos firmados. Acrescenta que sobre os valores antecipadamente recebidos incidem juros, parte dos quais é paga em dinheiro a Namisa e parte mediante acréscimo ao crédito da NAMISA junto a CSN. Fl. 2717DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.717 5 Esclarece que a Big Jump desempenhou funções típicas de uma sociedade holding, e salienta que, do ponto de vista operacional e estratégico, a utilização da holding local foi fundamental para a centralização do interesse dos investidores estrangeiros, de forma a flexibilizar a negociação da aquisição do investimento na NAMISA, não se sustentando a argüição por parte da fiscalização de que a Big Jump era empresa inexistente de fato. Argumenta que a Big Jump não adquiriu participação acionária da CSN, mas sim da NAMISA. Aduz que ao receber o pagamento que lhe foi feito, registrou em contrapartida um passivo correspondente às obrigações contratuais assumidas, e, portanto, não se capitalizou. Ressalta que o valor recebido pela NAMISA a título de antecipação de pagamento por conta dos contratos firmados não se configura como preço pela venda de participação acionária, portanto, o auto de infração não deve subsistir. Ademais, esclarece que antes da capitalização, o patrimônio líquido da NAMISA era de R$ 884.109,087,84, e somados aos R$ 7,28 investidos pela Big Jump, saltou para R$ 8,16 bilhões. Considerando que na transação a Big Jump passou a ser detentora de 40% do capital social, majorado por conta do aporte realizado, esse percentual corresponderia a R$ 3,27 bilhões, o restante, R$ 4 bilhões, foi registrado como ágio. A impugnação foi julgada procedente pela DRJ/SP1, que afastou a argumentação de simulação, fraude e abuso de poder, determinando o cancelamento da autuação. Tendo em vista que o valor total do crédito tributário exonerado excedia R$ 1.000.000,00, coube recurso de ofício ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF, nos termos do art. 34, inciso I, do Decreto nº 70.235/1972, com a redação dada pelo art. 67 da Lei nº 9.532, de 10 de dezembro de 1997, e da Portaria do Ministro da Fazenda nº 3, de 3 de janeiro de 2008. A Procuradoria da Fazenda Nacional, amparada pelo art. 48, parágrafo 2º, do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, apresentou razões ao recurso de ofício, alegando que “não obstante a tentativa do contribuinte de alterar a aparência dos fatos, na realidade houve uma operação de compra e venda entre a CSN e a Big Jump envolvendo 40% da NAMISA, e em face da qual a primeira empresa auferiu acréscimo patrimonial passível de tributação imediata”. O CARF, pelo voto de qualidade, deu provimento parcial ao recurso de ofício, restabelecendo os autos de infração do IRPJ/CSLL. Por unanimidade desqualificou a multa de ofício de 150% para 75%, e pela maioria dos votos manteve os juros sobre a multa de ofício. A Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou recurso especial com a finalidade de reformar o acórdão proferido no recurso de ofício, restabelecendo a qualificação da multa de ofício. Irresignado o sujeito passivo apresentou contrarrazões ao recuso especial argumentando que este não deveria ser conhecido, e se conhecido, não merecia ser provido, posto que as decisões da DRJ e do CARF afastaram, por unanimidade, a aplicação da multa qualificada. Ainda inconformada a autuante opôs embargos de declaração ao acórdão proferido pelo CARF, em sede de recurso de ofício, alegando que a expressão “recorrente” e “recorrida” foram usadas de forma equivocada em alguns trechos do acórdão, dificultando sua compreensão. Argumenta também que, partindo da premissa de que os valores adiantados à impugnante correspondem a pagamento pela aquisição da participação na NAMISA, há no acórdão diversas contradições nas conclusões. Fl. 2718DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.718 6 Exemplifica uma das contradições, evidenciando que se de fato o valor entregue pela NAMISA à autuada não correspondesse a adiantamento, mas a preço pela aquisição de participação societária, como articula a tese encampada no voto vencedor do acórdão, a integralidade do valor deveria permanecer com a fiscalizada, não sendo coerente se cogitar em devolução, e, portanto, deveria estar demonstrado no acórdão que a cláusula contratual que prevê a não obrigação de devolver, quando aplicada aos fatos, resultaria necessariamente na não devolução da totalidade dos adiantamentos. Tendo em vista a seqüência dos recursos, o crédito tributário encontrase na situação de exigibilidade suspensa, aguardando julgamento dos embargos de declaração. A NAMISA, como já mencionado anteriormente foi autuada, nos autos do processo 19515.723053/201272, sob o pretexto de aproveitamento indevido de amortização de ágio, quando da incorporação da Big Jump, posto que o ágio registrado decorre da participação fraudulenta da empresa BIG Jump na aquisição de 40% do capital da NAMISA. Tendo em vista que o sujeito passivo evitou a tributação por meio da realização de negócios simulados, a multa de ofício foi majorada para 150%. Inconformada a NAMISA apresentou impugnação, alegando inexistência de simulação, existência prévia da empresa Big Jump, legitimidade e legalidade do ágio no caso concreto, improcedência da multa qualificada, indevida redução de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas e inexistência de base legal para a exigência de juros sobre os valores lançados a título de multa de ofício. Cabe registrar que a impugnação apresentada pela NAMISA é bastante semelhante à apresentada pela CSN, e já relatada anteriormente. A impugnação foi julgada procedente pela DRJ/SPI, que determinou o cancelamento da autuação. Tendo em vista que o valor total do crédito tributário exonerado excedia R$ 1.000.000,00, coube recurso de ofício ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF. A Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou razões ao recurso de ofício, alegando que o ágio absorvido, amortizado e deduzido pela NAMISA é indedutível porque decorre da participação fraudulenta de uma “empresa de gaveta”. Alega que não houve confusão patrimonial entre investida e investidora, e, portanto, o ágio absorvido pela NAMISA com a incorporação da Big Jump não se encaixa no benefício fiscal previsto no art. 386 do Regulamento do Imposto de Renda/99. O CARF negou provimento ao recurso de ofício, considerando que a fundamentação da autoridade fiscal para qualificar a Big Jump como pessoa jurídica inexistente de fato, estava amparada em falta de capacidade operacional para realizar seu objeto social, diante da ausência de estrutura física, com conta de luz, água e telefone. Todavia, propósito operacional não se confunde com propósito negocial. E a ausência de estrutura física não revela falta de capacidade operacional para a sociedade que tem por objeto a atividade de holding. Ademais os argumentos trazidos pela Procuradoria da Fazenda Nacional, acerca da ausência de confusão patrimonial entre investida e investidora não foram objeto de análise no acórdão, pois que tal argumento não consta no auto de infração. A União interpôs recurso especial contra o acórdão proferido em sede de recurso de ofício, alegando que “as reais adquirentes das ações da NAMISA foram as empresas que formavam o consócio estrangeiro e que a Big Jump serviu apenas como uma ‘ponte’ na concretização dessa operação.”. Argumenta que o ágio amortizado pela NAMISA foi criado artificialmente, não sendo possível, portanto, a sua dedução na conta de resultado da NAMISA. Acrescenta que a aquisição de um investimento por Fl. 2719DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.719 7 meio de mera escrituração artificial, sem a sua real manifestação no mundo econômico, não é hábil a gerar ágio ou deságio. Inconformada, a NAMISA apresentou contrarrazões ao recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, alegando que a inequívoca existência da Big Jump, foi atestada pela DRJ, e o acórdão proferido em sede recurso de ofício também reconheceu expressamente a existência da Big Jump. Sendo assim, segundo argumenta, o recurso especial não deve ser conhecido, e se conhecido, não merece prosperar. O recurso especial está aguardando julgamento, e o crédito tributário apurado encontrase com exigibilidade suspensa. (interrupção da transcrição do relatório do acórdão da DRJ) Neste ponto, cabe uma observação deste relator em relação ao andamento dos processos indicados acima: 1) Com relação ao processo nº 19515.723039/201279, a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), no julgamento de Recurso Especial da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que trata de pedido de restabelecimento da multa de ofício qualificada reduzida pela Câmara Baixa do CARF para o patamar de 75% decidiu baixar o referido processo em diligência. O Recurso Especial outrora apresentado pelo contribuinte, com fins de exonerar a aplicação de juros sobre a multa não foi levado a julgamento pela CSRF em razão de pedido de desistência protocolado pela empresa. 2) Com relação ao processo nº 19515.723053/201272, a CSRF reverteu a decisão da Câmara Baixa do CARF, dando provimento ao Recurso Especial da PGFN, restabelecendo a autuação fiscal. Como não haviam sido enfrentadas às questões referentes à qualificação da multa de ofício e à aplicação de juros sobre a multa de ofício, a turma decidiu baixar o processo para as instâncias inferiores, a fim de que enfrentassem essas 2 (duas matérias). Em continuação à descrição do relatório da DRJ, temse que: (continuação da transcrição do relatório do acórdão da DRJ) Terminada a descrição dos fatos ocorridos nos processos 19515.723039/201279 e 19515.723053/201272, passase a interpretação dos fatos como consta no Termo de Verificação Fiscal do presente processo. No citado Termo, a autoridade fiscal reproduz as razões da fiscalização, constantes do Termo de Verificação Fiscal, processo administrativo nº 19515.723039/201279, assim como trechos do voto vencedor do CARF, e afirma que depreendese desses trechos que os contratos de venda de minério de ferro bruto e prestação de serviços portuários celebrados entre a CSN e a NAMISA não representam a situação fática ocorrida. Salienta que um mesmo numerário não poderia referirse a venda para entrega futura de minério de ferros e serviços portuários, e, ao mesmo tempo, ser fruto da alienação de 40% do capital da NAMISA pela CSN a Big Jump. E conclui que tais contratos não foram conhecidos em sede administrativa pois não retratam a real situação dos fatos, a alienação da participação societária. Sendo assim, fica prejudicado o reconhecimento do direto de dedutibilidade, para fins fiscais, dos JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA, no valor de R$ 934.014.107,89. Fl. 2720DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.720 8 Observa que as alegações do sujeito passivo não estão comprovadas em fatos e provas contundentes de que os juros são encargos constantes dos contratos de venda de minério de ferro bruto e prestação de serviços portuários. A autoridade fiscal ressalta que a autuada invoca os arts. 299 e 374 do RIR/99 para fundamentar legalmente sua pretensão de deduzir os juros incorridos por força dos referidos contratos. Todavia a fundamentação legal não deve prosperar, uma vez que a documentação apresentada não foi reconhecida como prova da real situação dos fatos. Ademais acrescenta que ainda que os contatos estivessem amparados em fatos e provas contundentes, de modo algum, os encargos financeiros previstos nos contratos, por mera liberalidade entre as partes, seriam despesas necessárias. Sublinha que despesas necessárias são despesas usuais, normais e necessárias às atividades da empresa e à manutenção da fonte produtora. No entanto, nos autos não consta prova documental acerca da natureza dessas despesas. Para demonstrar que a despesa financeira JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA, no valor de R$ 934.014.107,89, pagos a Namisa pelo adiantamento recebido dos contratos de venda de minério de ferro bruto e prestação de serviços portuários, no valor de R$ 7.286.153.722,60, em 31/12/2008, não é necessária a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa, salienta que uma parcela desse valor, R$ 1.193.000.000,00, retornou a Namisa via contrato de mútuo com juros inferiores aos cobrados pela Namisa da CSN. Ao final, a autoridade conclui que uma vez não reconhecidos os contratos como venda para entrega futura, os juros, no valor de R$ 934.014.107,89, serão glosados e o IRPJ e a CSLL referentes a esse valor serão objetos de lançamento. Acrescenta que tendo em vista que o sujeito passivo não logrou êxito ao justificar a pertinência da dedutibilidade dos valores pagos a título de JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA, tal pagamento não tem amparo jurídico para sustentar o desembolso financeiro. Dessa forma, tendo em vista o art. 674 do RIR/99, que dispõe que sobre o pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado, assim como sobre os pagamentos efetuados ou recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, quando não comprovada a operação ou a sua causa, incidem imposto exclusivamente na fonte, não restou alternativa à autoridade fiscal, senão lavrar a infração de pagamento sem causa ou operação não comprovada. A base de cálculo foi apurada reajustandose os pagamentos efetuados no ano calendário 2009, conforme disposto no parágrafo 3º do art. 674 do RIR/99. Irresignada, a autuada apresentou, representada por seus procuradores, a impugnação de fls. 1.020 a 1.332, protocolizada em 24/12/2015, alegando que é improcedente a glosa das despesas financeiras, assim como é indevida a exigência do IRRF e improcedente a imposição de juros moratórios sobre a multa de ofício. Argumenta que a operação realizada entre a impugnante e a NAMISA, ao contrário do que supõe a autoridade fiscal, foi de fato aquela contratada, tendo os pagamentos glosados pela fiscalização realmente natureza de juros. Sendo assim, tais despesas são dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, em razão dos art. 299 e 374 do RIR/99. Acrescenta que ainda que os valores glosados não se tratassem de juros, como afirma a fiscalização, ainda assim teriam a natureza de despesas operacionais dedutíveis nos termos da legislação tributária. Fl. 2721DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.721 9 Reconhece que de fato houve o ingresso efetivo no Brasil de capital estrangeiro no valor de R$ 7,40 bilhões. Desse valor, foram depositados em contacorrente da NAMISA, o montante de R$ 7,28 bilhões, a título de integralização de capital, transferidos integralmente à impugnante como antecipações de pagamento por conta dos contratos firmados para : a) prestação de serviços de operação de porto, b) fornecimento de minério de ferro ROM em baixo teor de sílica e c) fornecimento de minério ROM em alto teor de sílica. Afirma que os referidos contratos são verdadeiros e vêm sendo regularmente cumpridos pela CSN. Assevera que os pagamentos antecipados efetuados pela NAMISA referemse a parte do preço pactuada naqueles contratos, e que a NAMISA regularmente efetua pagamentos à autuada, e esta última efetua mensalmente pagamentos a Namisa, a título de juros nos termos previstos nos contratos firmados. Contesta a tese da fiscalização, que sustenta que houve uma operação de compra e venda de participação acionária, alegando que os instrumentos contratuais e societários firmados atestam a ocorrência de capitalização seguida de pagamento antecipado de obrigações contratuais. Argumenta que a existência de contrato de mútuo pelo qual a impugnante transferiu a Namisa o montante de R$ 1.193.000.000,00, mediante previsão do pagamento de juros pela NAMISA, não torna desnecessária a despesa dos juros pagos pela impugnante a Namisa. Elabora comparações das conseqüências da transação financeira/societária pressuposta pela fiscalização e daquela que afirma que realmente ocorreu, intentando evidenciar as diferenças jurídicas, contábeis, financeiras e societárias. Reproduz trechos da decisão da DRJ/SPI que, por unanimidade de votos, acolheu a impugnação apresentada no processo nº 19515.723039/201279, julgando improcedente o lançamento. Transcreve o parecer do Professor Marco Aurélio Greco, elaborado especificamente para o caso em questão, demonstrando a inconsistência dos fundamentos utilizados pelo voto vencedor do CARF para restabelecer o lançamento. No referido parecer, o autor anuncia que o equilíbrio inerente ao negócio jurídico celebrado pode ser visto sob três perspectivas distintas: objetiva, funcional e econômica. Sob a ótica da perspectiva objetiva, o minério de ferro é insumo essencial de uma siderúrgica. Não se trata de um bem que possa ser fabricado, e fisicamente está em determinados locais do globo, enquanto as siderúrgicas que dele necessitam estão espalhadas pelo mundo. Dessa ótica surge a perspectiva funcional, que torna indispensável uma atividade de logística que supra a siderúrgica de sua matériaprima principal, em tempo, hora e local adequados. A perspectiva econômica se manifesta no encontro do ponto de equilíbrio entre prestações e compromissos. Para o comprador é essencial ter a disponibilidade do minério de ferro no local correto e no tempo certo, e para o vendedor, que detém o minério de ferro disponível por um longo período, ter um comprador constante e em dimensão pactuada confere previsibilidade de recebimento e a possibilidade de programar investimentos durante todo o período programado. A antecipação de parte do preço decorre do compromisso assumido pelo vendedor de entregar determinado volume estimado ao comprador, e do conseqüente impedimento de vender este mesmo volume a outro eventual interessado. Tendo em vista a imediata disponibilidade financeira, sobre o valor adiantado incidem juros a Fl. 2722DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.722 10 favor do comprador, para equilibrar internamente a equação “prestações e compromissos”. Ainda, segundo o parecer, se o negócio jurídico tivesse a natureza de preço pela compra das ações, os adiantamentos feitos seriam desprovidos de racionalidade, e a NAMISA não teria registrado em seu ativo os direitos correspondentes a um contrato de fornecimento de minério de ferro e respectivos serviços logísticos e portuários. A autuada prossegue argumentando que a autoridade fiscal, ao transcrever em sua integralidade o termo de verificação Fiscal lavrado no processo 19515.723039/201279, valeuse de considerações irrelevantes constantes daquele processo, como é o caso por exemplo da argumentação sobre a desconsideração da Big Jump, para fundamentar o presente processo. Segundo alega, tal questão não tem relevância, quando o que aqui se discute é a procedência ou não da glosa de despesas relativas a juros pelos valores antecipados pela NAMISA. A impugnante transcreve em grande medida as mesmas alegações apresentadas no processo 19515.723039/201279. Argumenta que os anúncios feitos na imprensa local e na estrangeira, assim como no sítio da BMF&Bovespa, ao contrário do que a fiscalização atesta, não evidenciam uma manifestação de vontade diversa daquela retratada nos contratos e atos societários firmados. Delineia o escopo das transações realizadas e alega que a antecipação de pagamento contratada está restrita à parcela P2 do preço pactuado, razão pela qual a NAMISA, mesmo tendo um crédito contra a impugnante em razão daquela antecipação, continuava obrigada a realizar pagamentos mensais à impugnante por conta dos serviços que lhe são prestados e do minério que lhe é fornecido. Os adiantamentos correspondem simplesmente ao pagamento antecipado de um sinal, sendo que por conta do reajuste anual de P1 somente ao final dos contratos se saberá com exatidão a real proporção do sinal pago antecipadamente em relação ao todo. Alega que a total correspondência entre o que foi contratado e o efetivamente ocorrido, inclusive quanto à realidade da antecipação de pagamento pelos serviços e minérios e dos juros a eles referentes, foi atestada pela DRJ no processo 19515.723039/201279. Argumenta que o Laudo Pericial Contábil Extrajudicial elaborado pela Ernst & Young, e anexado aos autos, evidencia a lógica empresarial dos contratos firmados. A impugnante pretende demonstrar equívocos no voto vencedor proferido pelo CARF. Aduz que inicialmente o voto vencedor afirma que a totalidade dos valores aportados a título de aumento de capital pela Big Jump na Namisa seria na verdade pagamento pela aquisição de participação anteriormente detida pela impugnante, porém mais adiante o prolator do voto vencedor admite que sobrevieram dúvidas, quando do início do julgamento, a respeito da demonstração da devolução dos valores adiantados, mas que essa questão foi devidamente esclarecida pelos memorais e laudos produzidos pela impugnante, sendo assim, admitindo que a fórmula de cálculo adotada demonstrava a ocorrência de tal devolução mediante dedução do preço total devido pela prestação de serviços e fornecimento de minérios, tal conclusão seria incompatível com a premissa de que os valores em questão correspondiam, a pagamento pela aquisição da participação na Namisa. Nessa mesma linha, segundo a impugnante, o prolator do voto vencedor admitiu inicialmente, ao elaborar planilhas para determinar o saldo do pagamento antecipado a Namisa, que o referido saldo continuaria excessivamente alto, todavia, mediante laudo apresentado pela impugnante, tal hipótese ficou afastada. Ainda, segundo o voto Fl. 2723DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.723 11 vencedor, a premissa fiscal derivou de acusação “genérica” formulada “sem um aprofundamento adequado”. Segunda a impugnante, diante de todas as incompatibilidades demonstradas, a premissa em questão deve ser abandonada, conduzindo à total improcedência do lançamento. A autuada afirma que, o prolator do voto vencedor embora sustente que a Namisa teria um “aumento de capital não vivenciado”, admite que, em razão desse repasse de 7,28 bilhões de reais, a impugnante vem fornecendo minério de ferro e serviços portuários em condições favoráveis a Namisa, que abate, do montante a receber por esses bens e serviços, o valor repassado, e paga os juros sobre esse repasse. Sendo assim, prossegue a impugnante, restaria caracterizada a incoerência de sustentar que houve para a Namisa um “aumento de capital não vivenciado”. Segue afirmando que a capitalização na Namisa ocorreu no sentido patrimonial, e que essa capitalização não se confunde com aumento de disponibilidade imediata de caixa. Ratifica esse entendimento transcrevendo parte do parecer do Professor Marco Aurélio Greco, elaborado especificamente para o caso em questão, que prega que os valores recebidos no bojo da atividade empresarial destinamse a ser aplicados no desempenho do objeto social para o qual a pessoa jurídica existe, e que, no caso em concreto, a Namisa ao receber o valor correspondente ao aumento de capital subscrito pela Big Jump aplicou o respectivo valor na confirmação da aquisição dos direitos a obter o fornecimento a longo prazo do minério e dos respectivos serviços. Argumenta que para prevalecer a tese encampada pela fiscalização de que a totalidade dos valores entregues pela Namisa à impugnante não corresponderia a adiantamentos, mas a preço pela aquisição de participação societária, seria necessário que a totalidade desses valores continuasse com a impugnante, nada sendo devolvido a Namisa, mesmo que não fosse fornecido o minério ou prestados os serviços. Todavia, tendo o voto vencedor reconhecido que a fórmula de cálculo adotada demonstra a “devolução” de tais valores mediante abatimento do preço devido, concluise pela incompatibilidade da conclusão de que não há adiantamentos. Observa ainda que o prolator do voto vencedor desconsiderou as explicações da impugnante acerca das cláusulas contratuais 14.6 do contrato de prestação de serviços de operação portuária e 10.7 dos contratos de fornecimento de minério de ferro, que não obrigam a CSN a pagar o saldo final da dívida quando do encerramento dos contratos, enfatizando que segundo o parecer de Marco Aurélio Greco tais cláusulas não desnaturam a antecipação de pagamento, pois constituem tratamento habitual dado aos sinais. A impugnante aponta o que considera outro equívoco contido no voto vencedor, dessa vez quanto à impossibilidade de fornecimento de 110% do total de minérios e serviços contratados pela mesma antecipação de preço. Todavia, esclarece que a cláusula 2.2.1. dos contratos de fornecimento de minério de ferro limita a quantidade total do produto a ser fornecida à quantidade total estabelecida no contrato, não adulterando a natureza da antecipação de pagamento efetuada pela Namisa. Pretende demonstrar que a tese encampada pela fiscalização, na qual o montante da parcela P2 adiantada pela Namisa não corresponderia a um prépagamento pelo minério, mas seria a concessão de um desconto sem qualquer relação com os valores, bens e serviços adiantados e portanto não haveria passivo, não prospera, uma vez que a totalidade dos valores antecipados de P2 será abatida dos pagamentos que a Namisa fará durante o período contratado. Fl. 2724DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.724 12 Sustentando que os pagamentos discutidos neste processo, efetuados pela impugnante a Namisa, têm natureza de juros pagos em decorrência de antecipações, feitas pela Namisa a CSN, a título de prépagamento de parte do preço (P2) referente aos minérios e serviços portuários por ela fornecidos ao longo do prazo contratado, a autuada com fundamento nos arts. 299 e 374 do RIR/99 procedeu a dedutibilidade das despesas de juros que entende ser operacional e dedutível à luz dos contratos firmados. Justifica que tais despesas têm caráter de despesas operacionais, definidas nos dispositivos legais citados como aquelas “necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora”. Informa que para apuração do valor do pagamento antecipado, o valor total devido a título de P2 foi trazido a valor presente utilizandose uma taxa de desconto de 8,25% ao ano, todavia o abatimento deste pagamento antecipado não ocorreria de uma só vez, mas mês a mês na exata proporção da quantidade efetivamente embarcada. Ainda argumenta que os juros em questão foram estabelecidos mediante negociação entre partes não relacionadas. A impugnante além de receber R$ 7,28 bilhões de reais para investir na estrutura necessária à prestação de serviços portuários e ao fornecimento de minérios, também se beneficiou da garantia de fornecer minérios e prestar serviços, com o efetivo ingresso da parcela de preço P1, nos montantes acordados por mais de trinta anos. Por todas essas razões os juros se revestem de caráter operacional. Observa que os juros pagos pela impugnante a Namisa estão sendo regularmente oferecidos à tributação. Quanto ao contrato de mútuo mencionado no Termo de Verificação Fiscal, celebrado entre a CSN, na qualidade de mutuante, e a Namisa, mutuária, a impugnante assevera que o fundamento de juros aplicado a este contrato é totalmente diverso daquele aplicado quanto aos juros glosados, que se pautaram em taxa de desconto para trazer a valor presente o valor devido pela Namisa. Alega que a Namisa contraiu o referido empréstimo, com termo inicial em janeiro de 2009 e vencimento em janeiro de 2012, pois no âmbito do negócio celebrado entre partes independentes utilizou todo o dinheiro do qual então dispunha para efetuar o prépagamento dos serviços e minérios contratados (P2), e necessitava de recursos para cumprir as mais diversas obrigações, inclusive a de pagar, no momento de sua efetiva aquisição, os serviços e minérios fornecidos pela impugnante. Refuta o termo “liberalidade” empregado pela autoridade fiscal ao afirmar que “receber adiantamento de uma controlada pagando juros remuneratórios tratase de mera liberalidade”, pois tal prática é vedada aos administradores das sociedades abertas pelo art. 154 da Lei 6.406/76. Alega que embora a fiscalização não se posicione nos autos do presente processo quanto à natureza dos juros, para guardar coerência com o que restou decidido no processo administrativo 19515.723039/201279, e partindo das mesmas premissas, tais valores se configuram como desconto do preço da participação societária adquirida pela Big Jump. Sendo assim os juros pagos mensalmente a Namisa representariam parcelas redutoras do preço da aquisição de suas ações pela Big Jump, e diminuiriam o pretenso ganho de capital apurado pela impugnante e tributado nos autos do processo retrocitado. Dessa forma estaria sendo exigido imposto de renda sobre um ganho maior do que o efetivamente experimentado pela impugnante. Afirma ainda que a exigência do IRRF é indevida, pois não está caracterizada a hipótese do art. 61 da Lei nº 8.981/95, que dispõe que incide IRRF sobre pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado e sobre pagamentos Fl. 2725DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.725 13 efetuados ou recursos entregues, quando não comprovada a operação ou a sua causa, uma vez que o beneficiário dos pagamentos, NAMISA, é conhecido e a discordância da fiscalização quanto a sua causa, não lhe autoriza a concluir que se trata de pagamento sem causa, assim como não lhe autoriza aplicar o mencionado dispositivo legal. Alega que o dispositivo legal citado acima deve ser interpretado sistematicamente com as demais normas legais e regulamentares que disciplinam a tributação do imposto de renda devido pelas pessoas jurídicas. Transcreve trechos do acórdão 1401001.344, exarado pelo CARF em 26/11/2014, em que, utilizando a interpretação sistemática, está cristalizado o entendimento de que é incompatível a aplicação do citado dispositivo legal às situações que, em tese, podem ensejar a tributação pelo IRPJ em virtude de redução indevida do lucro real, tais como glosas de despesas. Reproduz outros acórdãos que esposam o mesmo entendimento. Ao final o sujeito passivo questiona a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. (término da transcrição do relatório do acórdão da DRJ) A DRJ, por meio do Acórdão 1463.710, de 18 de janeiro de 2017, julgou improcedente a impugnação apresentada pela empresa, conforme a seguinte ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2010 DESPESAS OPERACIONAIS. COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE. EFETIVIDADE. As despesas operacionais somente são dedutíveis quando comprovada a contrapartida de bens ou serviços efetivamente recebidos, necessários, normais e usuais na atividade da empresa. Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte IRRF Anocalendário: 2010 PAGAMENTO SEM CAUSA OU A BENEFICIÁRIO NÃO IDENTIFICADO. Sujeitase à incidência do imposto exclusivamente na fonte, à alíquota de trinta e cinco por cento, todo pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado, ou quando não comprovada a sua causa ou a operação a que se refere. Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2010 JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. LEGALIDADE. A multa de ofício, sendo parte integrante do crédito tributário, está sujeita à incidência dos juros de mora a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao do vencimento. Impugnação Improcedente Fl. 2726DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.726 14 Crédito Tributário Mantido Cientificada eletronicamente da decisão da DRJ na data de 02/02/2017 (efl. 2.428), e não satisfeita com a decisão da delegacia de piso, apresentou recurso voluntário em 24/02/2017 (efls. 2.431 a 2.544), conforme Termo de Análise de Solicitação de Juntada de e fl. 2.430, repetindo basicamente os argumentos apresentados na impugnação. A Procuradoria apresentou contrarrazões ao recurso voluntário (efls. 2.567 a 2.598), pedindo pela manutenção do lançamento fiscal. No CARF, coube a mim a relatoria do processo. Indicado referido processo para pauta, a Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou questão de ordem (efls. 2.602 a 2.606), consubstanciada em pedido de reconhecimento de concomitância entre este processo e o processo judicial nº 5021979 48.2017.4.03.6100, que trata de ação anulatória proposta pela ora recorrente em razão da manutenção parcial, pelo CARF, do lançamento fiscal constante no processo administrativo fiscal nº 19515.723039/201279, que tratou do auto de infração de ganho de capital, apurado pela CSN, ocorrido na venda de 40% das ações da Namisa à Big Jump. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Relator O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. PRELIMINAR Na data de 09/05/2018, a Procuradoria da Fazenda Nacional protocolou pedido de reconhecimento de concomitância entre o objeto do auto de infração constante no processo aqui discutido e da Ação Anulatória levada ao poder judiciário protocolada sob o nº 5021979 48.2017.4.03.6100 , sob responsabilidade da 14ª Vara Cível Federal de São Paulo, anexando ao protocolo da petição inicial e comprovante de andamento do processo judicial. O referido processo judicial foi protocolado em razão da manutenção parcial, pelo CARF, do lançamento fiscal constante no processo administrativo fiscal nº 19515.723039/201279. A Procuradoria, ao perceber que este processo de nº 10314.727982/201595 trata da glosa de juros decorrentes de contratos de adiantamento de minério de ferro e de prestação de serviços, os quais (contratos) justamente foram desnaturados como tais e, por esta razão, motivaram a manutenção parcial do lançamento fiscal constante no processo nº 19515.723039/201279 (a multa de ofício foi reduzida a 75%), requer o reconhecimento da concomitância entre ambos os processos, fundada na aplicação da Súmula CARF nº 1: Fl. 2727DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.727 15 Súmula CARF nº 1: Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. A PFN aduz que a ora recorrente trava as mesmas discussões no judiciário e aqui neste processo administrativo fiscal: de que a operação existente entre CSN e Namisa efetivamente decorreu de alienação de pequena parte das ações da Namisa à Big Jump e de um aporte de capital de Big Jump em Namisa, sucedida por um adiantamento para fornecimento de minério de ferro e de serviços portuários; ao contrário do que afirmou a fiscalização e consignou o CARF no julgamento do processo nº 19515.723039/201279, de que a operação seria tão somente de compra e venda de ações e que o adiantamento efetuado não passava de dissimulação para entrega do montante decorrente da venda de 40% das ações da Namisa à Big Jump. Dentre os argumentos apresentados pela PFN impende destacar o seguinte conforme trecho do pedido da PFN (efls. 2.602 a 2.606): (...) Do exposto, podese dizer que, no presente processo, a discussão imediata envolve a existência dos juros, e a discussão mediata abrange a existência dos contratos de adiantamento celebrados entre a CSN e a NAMISA, mais precisamente, a oponibilidade desses contratos contra o Fisco. E diferente não poderia ser, haja vista a relação de acessoriedade que existe entre os juros e os contratos sobre quais eles foram estipulados. Assim, enquanto no PAF nº 19515.723039/201279 se discutiu a validade dos contratos, no presente se discute a validade dos correspondentes juros. Pois bem. Convém inicialmente estabelecer que a concomitância deve reconhecida a partir da identidade de objetos entre as ações. O objeto, a meu ver, comporta a análise do pedido e da causa de pedir. Caso nenhum dos dois (ou apenas um dos dois) ocorra, não há que se falar em concomitância. O pedido da ação trata da pretensão imediata e mediata. O primeiro versa sobre a providência jurisdicional solicitada: ação anulatória, declaratória, etc.. Já o segundo, trata especificamente do que se espera obter com a sentença, ou seja, o bem material ou imaterial esperado pelo autor da ação. O pedido mediato deste processo consiste na possibilidade de dedução fiscal das despesas de juros decorrentes de contratos de adiantamento para futura entrega de minério de ferro e de serviços portuários. Já o pedido (mediato) constante no processo judicial trata do afastamento da apuração do ganho de capital decorrente da venda de 40% das ações da Namisa. Só esta questão já é suficiente para afastar a pretensão da PFN. Avançando, entretanto, a causa de pedir representa as razões que suscitam a pretensão e a providência que motivam o pedido. Exigese na exordial que se exponha os Fl. 2728DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.728 16 fundamentos jurídicos a natureza do direito controvertido , que se trata da causa próxima, bem como o fato gerador do direito (como surgiu o direito), que trata da causa remota. A causa de pedir também é diferente: no caso deste processo, é a suposta ilegitimidade dos juros; sendo que na ação judicial foi o não oferecimento da tributação do ganho de capital da venda de 40% das ações da Namisa. O que percebo é que a Fazenda Nacional faz crer que a identidade do núcleo de fundamento de ambos os casos despenca no reconhecimento da concomitância. Ora, há de diferenciar o fundamento e o objeto da ação. O fundamento da manutenção da autuação constante no processo nº 19515.723039/201279 a inexistência da operação de venda de ações, seguidas de integralização de capital e de adiantamento para entrega de minério de serviços , que pode, mesmo que tangencialmente, ser o mesmo fundamento deste processo, não requer o reconhecimento da alegada concomitância. O fundamento cingese somente ao próprio processo, e não para além deste. O que extrapola os limites do processo e gera efeitos para além deste é a parte dispositiva ou a pretensa parte dispositiva. Pelo que vejo, pareceme que a PFN intenta aplicar a concomitância com base na similaridade ou acessoriedade dos fundamentos dos dois processos, o que há de convir que não se deve tal pedido se acolher. Em razão disso, afasto o pedido de concomitância entre os processos já citados, e passo a enfrentar as questões de mérito trazidas no recurso voluntário. Trânsito em Julgado Administrativo Coisa Julgada? Outrossim, afasto argumento de que o julgamento do processo nº 19515.723039/201279 tenha criado coisa julgada, que impediria um julgamento diferente do refletido naquele processo. A coisa julgada, conforme preconizam os parágrafos 1º, 2º e 4º do art. 337 do Código de Processo Civil, requer a identidade de partes, pedido e causa de pedir: § 1º Verificase a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada. § 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. § 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso. § 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado. Como já visto anteriormente, o pedido e a causa de pedir de ambos os processos são diferentes. Primeiro porque há uma diferença entre os fatos geradores apurados, apesar de serem decorrentes de uma mesma operação. Este processo julga a possibilidade de dedução de despesas de juros decorrentes de adiantamento de clientes. Já o processo nº 19515.723039/201279, por sua vez, tratou do ganho de capital existente nesta operação. Fl. 2729DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.729 17 Além, como bem trazido pela recorrente, o art. 504 do mesmo codex estabelece as situações em que não se vislumbra a coisa julgada: Art. 504. Não fazem coisa julgada: I os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. Quer dizer, os motivos para a manutenção do lançamento constante no processo nº 19515.723039/201279 que podem ser entendidos (motivos) como a venda de 40% das ações da Namisa não devem servir de valia para o reconhecimento da coisa julgada. Tampouco a verdade dos fatos que no caso é a dissimulação do ganho de capital auferido há de afastar tal mister. A parte dispositiva é que produz a coisa julgada. A justificativa para a manutenção ou não de um lançamento fiscal, como, por exemplo, o emprego da expressão "por causa disso", não representa a coisa julgada. Isso é fundamento, não é parte dispositiva. Desta forma, entendo que o julgamento deste processo está totalmente desvinculado do julgamento do processo nº 19515.723039/201279. E mesmo que se tratasse de mesma parte dispositiva, entendo que ainda assim poderia enfrentar os pontos argumentados pela ora recorrente. Isto porque o cenário visualizado no momento do julgamento do processo nº 19515.723039/201279 pode ter sido alterado, por existirem variáveis que podem (e devem) ser analisadas ao longo de todo o contrato que neste processo se avalia. Como exemplo, poderia elaborar, de plano, a seguinte indagação: será que o saldo devedor decorrente do já citado adiantamento ainda é crescente? ou já entrou em uma escala decrescente, corroborando a tese da recorrente, o que invalidaria um dos principais fundamentos da manutenção do auto de infração constante naquele processo, de nº 19515.723039/201279? Como se observa, são fatos distintos daqueles aqui esposados, razão pela qual afasto tal argumento. Processo baixado em Diligência Convicção do Relator não vincula os demais Conselheiros desta turma ordinária No julgamento deste processo, a turma entendeu que se deveria baixálo em diligência para que a Delegacia de origem analisasse fato novo verificado por este Relator, que trata do encerramento do contrato de venda e compra de minério de ferro e de prestação de serviços portuários, antes da previsão constante no contrato originário. Em discussão, entendeuse que o fato novo poderia prejudicar a recorrente quanto à decisão a ser proferida; isto porque tal fato, a meu ver, corrobora a tese da Fazenda Nacional de que os juros nunca seriam efetivamente quitados pela CSN, e, sendo assim, não seriam dedutíveis da base do IRPJ e da CSLL. Fl. 2730DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.730 18 Porém, em razão da não manifestação da recorrente sobre o conteúdo do fato novo, a turma decidiu baixar o processo em diligência para que a empresa se manifeste e, também, para que a fiscalização busque demais esclarecimentos que entender necessários ao deslinda da causa aqui julgada. Não obstante isso, trarei aqui nesta resolução todas as questões que foram por mim enfrentadas, para posteriormente indicar os pontos que deverão ser avaliados na diligência. Apesar do meu pontodevista sobre o caso que aqui se julga, isto não vincula qualquer conselheiro sobre minha proposta inicial de negar provimento ao recurso voluntário, pois somente no julgamento que será efetuado após o retorno da diligência é que todos emitirão seu voto pela manutenção ou não do lançamento tributário. Assim, passo a expor as razões que me fizeram entender que o lançamento deve ser mantido: MÉRITO Para o enfrentamento das questões trazidas pela recorrente, em cotejo com as imputações feitas pela fiscalização e pela procuradoria da fazenda nacional, necessitamse deslindar alguns pontos relevantes para o esclarecimentos dos fatos e suas subsunções às normas de direito existentes. Assim, são tais questões a serem enfrentadas, que podem ser resumidas da seguinte forma: 1) A operação de venda de parte das ações e sucessiva operação de integralização de capital é permitida (ou não proibida) no ordenamento jurídico? Na essência, foi esta operação que ocorreu no caso concreto? 2) O contrato de mútuo em que a CSN figura como mutuante e Namisa como mutuária, com previsão de juros abaixo daquele previsto no adiantamento de clientes, tem o condão de invalidar por completo a operação de adiantamento de clientes com previsão de juros? 3) O valor de P2 corresponde à parte do valor de venda do minério e da prestação de serviços da CSN à Namisa ou trata do valor da venda de 39,2093% (40% 0,7907%) das ações da Namisa? 4) Se P2 corresponde a desconto ao valor de venda, resultando na redução do ganho de capital, mesmo assim a recorrente tem direito à amortização fiscal do valor deduzido contabilmente? 5) A cláusula de "perdão" da dívida P2 constante no final do contrato de fornecimento de minério e de serviços, desnatura o enquadramento da operação, de adiantamento para futura entrega de mercadorias e serviços para venda de ações? Fl. 2731DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.731 19 6) A ocorrência de evento de reorganização societária em 2015, firmado entre CSN, Namisa e Congonhas Minério, traz informações favoráveis para o discernimento da realidade dos fatos? Fundamentos do auto de infração No enquadramento legal constante no corpo do auto de infração, consta o art. 3º da Lei nº 9.249/95 e os arts. 247, 248, 249, inciso I, 251, 277, 278, 299 e 300 do RIR/99. A fiscalização fundamentou a autuação com base na premissa de que a real situação dos fatos se refere à alienação da participação societária na Namisa, ficando prejudicado o reconhecimento do direito de dedutibilidade dos juros. Traz também argumento subsidiário, na hipótese dos contratos serem faticamente verdadeiros, para alegar que os juros representam despesas não necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, pelo caráter de liberalidade das despesas. Para tanto, utilizou como parâmetro o Termo de Verificação Fiscal constante no processo administrativo fiscal nº 19515.723039/201279, conforme se pode observar abaixo: A fim de facilitar o entendimento da ação fiscal em não reconhecer os contratos de venda de minério de ferro bruto (run of mine) e prestação de serviços portuários que deram causa as despesas DOS JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE NAMISA, bem como a própria despesa dos juros sobre o adiantamento, necessário se faz a reprodução das razões da fiscalização constante do TERMO DE VERIFICAÇÃO FISCAL, processo administrativo fiscal 19515.723039/201279, de fls. 5.067/5.093 abaixo reproduzidas (fls. 05 a 36) (...) Depreende a fiscalização, pelo acima exposto, que os contratos de venda de minério de ferro bruto (run of mine) e prestação de serviços portuários não expressam a real situação do fato ocorrido, qual seja, a alienação de 40% do capital da NAMISA pela CSN à BIG JUMP PARTICIPAÇÕES S/A. Portanto, o valor contabilizado pelo sujeito passivo à título de ADIANT. MINT – LP, conta contábil 22030101, tratase, na realidade, do valor recebido pela venda de 40% do capital da NAMISA pela CSN à BIG JUMP, pois um mesmo numerário não poderia referirse a venda para entrega futura de minério de ferro e serviços portuários, e, ao mesmo tempo, ser fruto da alienação de 40% do capital da NAMISA pela CSN à BIG JUMP. Quanto à decisão do CARF, importante mencionar o mérito do voto vencedor (fls. 5779 a 5.797) com o propósito de embasar o entendimento dessa fiscalização, quanto ao não reconhecimento das despesas DOS JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA: (...) Depreendese do voto vencedor do CARF, acima reproduzido, não em seu inteiro teor, mas pontualmente no que tange aos interesses do presente TERMO, qual seja, demonstrar que os argumentos apresentados pelo sujeito passivo, com o fito de demonstrar a pertinência e dedutibilidade das despesas financeiras relativas aos JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA, juros decorrentes dos contratos de venda de minério de ferro bruto (run of mine) e prestação de serviços portuários Fl. 2732DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.732 20 celebrados entre a CSN e a NAMISA, que os referidos contratos não representam a situação fática ocorrida. Fazse imperioso afirmar que a resposta do sujeito passivo não se baseia em fatos e provas contundentes, que os juros são encargos constantes dos contratos de venda de minério de ferro bruto (run of mine) e prestação de serviços portuários. Os contratos apresentados são peças constantes dos processos administrativos fiscais 19515.723039/201279 e 19515.723053/201272, o primeiro, trata de auto de infração de IRPJ e CSLL decorrente do ganho de capital auferido pela CSN com alienação de 40% de participação acionária da NAMISA, o segundo trata do reconhecimento do direito à amortização de ágio pela NAMISA em face da incorporação reversa da BIG JUMP pela NAMISA. Importante frisar que os referidos contratos não foram conhecidos em sede administrativa, pois não retratam a real situação dos fatos, a alienação de participação societária. Uma vez demonstrado que a real situação dos fatos se refere a alienação de participação societária, fica prejudicado o reconhecimento do direito de dedutibilidade, para fins fiscais, dos JUROS SOBRE ADIANTAMENTO CLIENTE – NAMISA, no valor de R$ 934.014.107,89. Notese que, diante das inconsistências verificadas, as justificativas apresentadas não podem ser admitidas sequer como indício de prova, pois se referem à alienação de 40% do capital da NAMISA pela CSN à BIG JUMP e não ao adiantamento de clientes como quer crer o sujeito passivo. Em face do exposto acima, a afirmativa do sujeito passivo de que a dedutibilidade dos juros incorridos por força dos referidos contratos é autorizada pelos artigos 299 e 374 do Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99, não pode prosperar, uma vez que a documentação apresentada, não foi reconhecida como prova da real situação dos fatos, venda para entrega futura, mas como alienação de participação acionária. Abstraindo da situação fática acima exposta e ainda que os contratos venda de minério de ferro bruto (run of mine) e prestação de serviços portuários se baseassem em fatos e provas contundentes, que não é o caso, de modo algum os encargos financeiros previstos no contrato, por mera liberalidade entre as partes, seriam despesas necessárias. A Procuradoria da Fazenda Nacional, por sua vez, acrescentou argumentos ao lançamento fiscal que intentam corroborar a tese da fazenda de que a real operação firmada entre a CSN e o grupo de investidores estrangeiros foi a de venda e compra de 40% (quarenta por cento) das ações da Namisa. Para tanto, apresenta alguns cenários hipotéticos, considerando inclusive que a operação tenha se dado conforme alegou a recorrente, para, ao fim e ao cabo, concluir que os juros não são dedutíveis, sob qualquer ângulo de que se possam avistar as situações. Operação de venda da Namisa De início, há de se estabelecer os termos da operação que ocasionou na alienação (em sentido amplo) de 40% da ações da Namisa, pela CSN, a um grupo de investidores asiáticos formado por (i) um consórcio de empresas japonesas (quais sejam, JFE Steel Corporation, Nippon Steel Corporation, Sumitomo Metal Industries Ltd, Kobe Steel Ltd, Fl. 2733DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.733 21 Nisshin Steel Co e ITOCHU Corporation), denominado Brazilian Japan Iron Corporation, e (ii) uma empresa sul coreana, denominada Posco. No contrato de alienação das ações da Namisa e no relatório de administração da CSN de 31 de dezembro de 2008, estabeleceuse que a CSN concretizou uma parceria com investidores coreanos e japoneses que adquiriram 40% do capital que a CSN detinha em sua subsidiária (controlada integral) Namisa, pelo valor de US$ 3,12 bilhões. Para consolidar a operação, o grupo estrangeiro criou uma empresa no Brasil chamada Big Jump a fim de receber os recursos necessários à celebração do negócio, no montante total de R$ 7,40 bilhões. O consórcio japonês e a empresa coreana possuíam, respectivamente, 83,80% e 16,20% da empresa Big Jump. Na prática, a aquisição de 40% das ações da Namisa se deu em duas etapas (i) aquisição, pela Big Jump, de 0,7907% das ações da Namisa pelo valor de R$ 87,56 milhões; e (ii) integralização de capital de R$ 7,28 bilhões, pela Big Jump, que resultou no aumento de sua participação Namisa para 40%. Nesta operação de integralização de capital pela Big Jump, a CSN abriu mão de seu direito de aportar capital. No mesmo dia do recebimento do montante total de R$ 7,28 bilhões, em razão do aumento de capital, a Namisa transferiu tal numerário à CSN, a título de "antecipações de pagamentos referentes à aquisição futura de minério de ferro e de serviços portuários de embarque de minério de ferro e de serviços portuários de embarque de minério de ferro para exportação". O gráfico da operação resumese ao seguinte (efl. 2.573): Com relação ao "repasse" de 40% do capital da Namisa à Big Jump, a CSN deixou de tributar o suposto ganho de capital com suporte na previsão legal de exclusão da Fl. 2734DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.734 22 base de cálculo do IRPJ e da CSLL da variação no percentual em participação avaliada pelo patrimônio líquido. Com já amplamente divulgado no relatório deste acórdão, a fiscalização entendeu que a CSN escondeu o verdadeiro objeto do contrato firmado com os investidores estrangeiros: a venda de 40% das ações da Namisa pelo valor de US$ 3,12 bilhões. Em decorrência dessa constatação, lavrou o auto de infração decorrente de ganho de capital, que fez parte do processo nº 19515.723039/201279. Eis o gráfico da operação segundo a fiscalização (efl. 2.574): Além disso, a Big Jump apurou um ágio decorrente da diferença entre o valor total investido na Namisa (US$ 3,12 bilhões) e o valor de patrimônio da empresa adquirida. A fiscalização, entendendo que o ágio não seria 'fiscalmente' amortizável, glosou toda a dedução fiscal decorrente do ágio, cuja discussão faz parte do processo nº 19515.723053/201272. Desta forma, o ponto a ser discutido neste processo é verificar qual de fato foi a operação ocorrida e, se de fato, tal constatação interfere na avaliação da dedutibilidade das despesas de juros. Para se chegar a uma conclusão de quem tem a razão empresa recorrente ou fisco podese avaliar, outrossim, se a empresa Namisa possuía tamanho patrimônio para Fl. 2735DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.735 23 justificar seu preço de venda em 3,12 bilhões de dólares; ou, de outra monta, se o que fez atrair os investidores ao negócio era a aquisição do minério de ferro e dos serviços atinentes à exportação da referida matériaprima, e que a participação na Namisa era só o instrumento necessário ao alcance deste propósito. Contrato celebrado entre CSN e Namisa Pelo que percebi na análise deste tipo de contrato, o interesse dos investidores estrangeiros era de adquirir o minério de ferro e os serviços que circundam tal tipo de operação. Em um primeiro momento, vêse que todos os documentos e elementos acostados no processo conspiram para essa conclusão. O minério de ferro é uma matériaprima que está localizada na natureza, não sendo possível encontrálo e extraílo onde o homem quiser. Sendo assim, há necessidade de se manter um aparato completo, principalmente logístico, para garantir que o minério seja extraído e deslocado até o ponto que seja viável para venda no caso, exportação. Desta forma, fazse necessário colocar à disposição, de quem quer adquirir referido insumo, toda a estrutura necessária que viabilize o negócio que está sendo firmado. E, como dito, os investidores estrangeiros não tinham sequer o interesse em adquirir a Namisa. A Namisa é uma empresa que não tem qualquer ativo, a não ser sua mina de exploração em Congonhas/MG, que é denominada "Casa de Pedra". Desta forma, para contratar o direito à aquisição do minério de ferro, fezse necessário montar todo o modelo com o qual se depara. Entretanto, o que torna o caso bem peculiar, que nos faz situar no liame da convicção entre os dois lados opostos da relação processual, ora acatando os argumentos da recorrente e ora aceitando os contraargumentos da fazenda nacional, cingese à dificuldade para se entender os contratos firmados, cujas cláusulas mais importantes não auxiliam no desenrolar da interpretação da intenção das partes. A meu ver, os contratos que aqui se analisam são definidos por características de um contrato típico (que encontra modelo positivado em lei) e de um contrato atípico (que não se encontra padronizado no ordenamento jurídico), o que me faz crer se tratar de contratos de natureza mista. A tipicidade do contrato é revelada pela intenção de objeto de vender e comprar mercadorias e de fornecer serviços; porém, o principal elemento buscado no contrato fornecimento de minério depende de várias condições que caracterizam a peculiaridade neste tipo de evento, dentre as quais se destacam a indefinição na quantidade de minério que será extraído, a variação do preço no mercado e o prazo do contrato; estas questões é que me conduzem à conclusão de uma indispensável característica de atipicidade no contrato. Desta forma, não é possível tão somente enquadrálo como um típico contrato de venda e compra de mercadorias com adiantamento para entrega futura. O Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/2002) permite a celebração de contratos atípicos. Porém, determina a observância de normas gerais em matéria de contratos estabelecidas naquele código: Fl. 2736DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.736 24 Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. Como normas gerais em matéria de contrato, o Código Civil cita a boafé objetiva, a função social do contrato e a vedação à onerosidade excessiva. É de se dizer, o contrato atípico é permitido no ordenamento jurídico, desde que seja primado pela boa fé das partes e, principalmente para o julgamento da lide, que nenhuma das partes seja beneficiada em detrimento da outra, o que será doravante desvendado. Fatos Relevantes Não entendo que a comunicação, pela CSN, de que estaria vendendo 40% das ações da Namisa tenha necessariamente o condão de comprovar que houve uma efetiva venda e compra de ações com pagamento de preço. Como bem alegou a recorrente, tal divulgação, da forma como foi elaborada, teve o intuito de aclarar a seus acionistas a intenção dos investidores estrangeiros de participar do capital social da empresa Namisa, e que era a única forma de tais investidores adquirirem o minério de ferro. Desta forma, mesmo que a recorrente tenha informado que vendeu 40% das ações da Namisa, os demais atos é que devem ser analisados para saber se houve de fato outra operação. Preço estipulado (P1 + P2) Para a formação do preço, considerouse a necessidade de fornecimento de minério e de prestação de serviços de logística pela CSN, que tem os direitos de exploração da Mina "Casa de Pedra", situada em Minas Gerais. No contrato de serviços portuários, por exemplo, foi consignado o cálculo do preço incidente sobre o serviço, conforme as cláusulas 8.1 e 8.2. Os demais contratos também seguem a mesma lógica de cálculo. "CLAUSULA OITO UNIDADE PREÇO 8.1. Preço de Unidade. O preço para os Serviços cumpridos sob este Contrato deverá ser determinado tendo por base as quantidades do Minério de Ferro em relação a cujos Serviços têm sido efetivamente prestados em cada mês, baseado na seguinte fórmula (com o preço por tonelada métrica em uma base natural resultante da aplicação da fórmula citada sendo doravante denominada com ("Preço de Unidade"): UP=P1 +P2 UP1= significa Preço de Unidade para um mês determinado para o cumprimento dos Serviços; P1= significa, a partir de 1ode abril de 2008, o equivalente à moeda brasileira de US$ 4.00 (quatro dólares americanos) ("Y"), este sendo certamente de que tal 1 Utilizarei neste voto a sigla "PU", quando me referir ao Preço de Unidade, pois representa a tradução para a língua portuguesa Fl. 2737DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.737 25 montante deverá ser reajustado no início da cada Ano de Mineração com base na mesma percentagem de reajuste como do minério de ferro finos do tipo conhecido como suprimento de sedimento calcário padrão SSCP (Itabira Fines), sendo produzido pela Sistema Sul (Sistema Sul) da Companhia Vale do Rio Doce (ou sucessor ao mesmo) (doravante denominado com "VALE") e visado para o embarque através do Porto de Tubarão para o Japão (tal minério sendo doravante denominado como "Minério de Referência"), como exposto (por ordem): (i)no Tex Report, como publicado pelo Tex Report Ltda (ou sucessorao mesmo); (ii)no caso do Tex Report, por qualquer razão, não estiver disponívelou não for mais divulgado o Minério de Referência, o Boletim deMetal, publicado pela Metal Bulletin, plc (ou sucessor ao mesmo); ou (iii)no caso do Boletim de Metal, por qualquer razão, não esteja maisdisponível ou não mais expuser o preço do Minério de Referência,então o website da VALE ou qualquer outra publicação da VALE. (...) P2= significa que o montante nos reais do Brasil equivalentes a US$6.00 (seis dólares norteamericanos), o qual é fixado e não ajustável por um período inteiro que este Contrato permanecer de fato (nenhum montante em dinheiro vivo do preço dos Serviços). Com os fins de converter o P2 na moeda brasileira, a CSN deverá utilizar a PTAX pertinente ao fechamento dos negócios do dia que 2 (dois) Dias Úteis (como definido na Cláusula 9.1.1 abaixo) de antecedência à data do cálculo relevante, cuja data de cálculo relevante com a finalidade de pagamento do Pagamento Antecipado deverá significar que a data na qual tal pagamento efetivamente ocorreu. No caso de, nenhum valor de PTAX estar disponível em tal data, o valor de PT AX na data deverá ser substituída pela taxa de câmbio livremente praticada no mercado financeiro. 8.2. Impostos. As Partes reconhecem e concordam que os montantes atribuídos para "P1" e "P2" na Cláusula 8.1 acima já inclusa no custo relacionado ao Imposto Municipal nos Serviços de Qualquer Tipo ISS a ser incorrida pela CSN, mas não inclui outros impostos de qualquer tipo arrecadado nos Serviços (sujeito ao ajuste de imposto fornecido na Cláusula 12.2, no caso de tal ajuste ocorrer), assim como o Programa Federal de Integração Social PIS e Finança de Seguridade Social Serviços e/ou na prestação dos Serviços assim como na fórmula para a soma daqueles impostos, se pertinente, ao Preço de Unidade que estão publicados no Anexo VI relativo a este instrumento. Como visto, o componente do preço P1 é variável e segue as porcentagens de reajuste praticadas no mercado. Já o componente P2 é fixo e corresponde ao valor antecipado pela Namisa à CSN. A recorrente afirma que a soma de P2 e P1 (= PU) foi baseada em valor inferior ao valor de mercado. Assim, a totalidade antecipada de P2 será certamente abatida dos pagamentos que a Namisa fará à CSN. Assim, devo afastar a premissa da fazenda de que foi concedido apenas um desconto sem qualquer relação entre os serviços e os produtos. O valor de P2 corresponde ao valor adiantado pela Namisa para que tivesse o fornecimento de minério e os serviços conservados ao longo do prazo do contrato. Assim, como efetuou a antecipação do valor por todo o contrato, nada mais justo do que exigir do fornecedor o pagamento de juros sobre esse montante. Fl. 2738DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.738 26 Esta parcela (P2), a meu ver, comportase como uma garantia para que o cliente receba todo o objeto contratado; e por isso correto o argumento da recorrente de que o valor adiantado não deveria ser abatido logo nas primeiras parcelas da vigência do contrato. Até aqui, o contrato estaria em perfeitas condições de ser validado, eis que a vontade real pareceme coincidir com a verdade formal. E, mais uma questão quase me fez render aos argumentos da recorrente. É que, independentemente do reajuste da variável P2, o valor total PU nunca deverá ser acima do mercado, o que demonstra a falta de onerosidade excessiva do contrato (Contrato de Serviços Portuários efl. 894): 9.4. A cada 5 (cinco) anos a partir do início da prestação de Serviços sob este Contrato, as Partes negociarão em boafé um aumento de P2, o Qual (i) nunca resultará em um PU total que seja acima do preço de mercado dos Serviços, e (ii) não resultará em qualquer efeito tributário adverso para qualquer das Partes. Caso as Partes não entrem em um acordo com relação a referido aumento, o P2 atual não deverá variar. (negritei) Agora, quando se avança na interpretação de outras cláusulas do contrato e se vê na prática a realidade ocorrida com o progresso do contrato, percebese que "o filme vai além de sua sinopse". O Laudo contábil A recorrente apresentou Laudo Pericial Contábil Extrajudicial elaborado pela Ernest Young, datado de 27 de maio de 2014, que corrobora as informações prestadas no recurso voluntário, somente citando alguns diferenciais entre a afirmação de alguns pontos apresentados pela empresa e a conclusão da auditoria independente, mas que a meu ver não são dignos de aprofundamento, pois irrisórios. No referido laudo, constam planilhas e gráficos que têm objetivo de demonstrar a projeção dos cálculos de faturamento, a atualização e a amortização do saldo devedor do adiantamento, que, segundo o estudo desenvolvido, seria amortizado integralmente no término do contrato (página 52 de 59 do laudo). Outrossim, houve inserção de planilhas com informações reais consolidadas, que compreende o período de 2008 a 2012 (página 53 a 56 de 59 do referido laudo), cujo resumo de todos os (três) contratos firmados entre CSN e Namisa (página 56 de 59 do laudo) estão reproduzidos na tabela abaixo: Fluxo Real Contratos Operacionais Ref. Anos Saldo Inicial Juros Reconhecidos (12,5% * 66% = 8,25% a.a.) Dedução Pre pagamento (P2) Saldo Final (SI+J D) 1 2009 7.286.153.722,60 592.910.579,33 266.317.745,45 7.612.746.556,47 2 2010 7.612.746.556,47 616.449.311,11 331.787.372,65 7.897.408.494,94 3 2011 7.897.408.494,94 636.276.990,50 384.971.374,76 8.148.714.110,68 Fl. 2739DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.739 27 4 2012 8.148.714.110,68 656.685.625,37 408.298.044,89 8.397.101.691,16 Curioso é que o resumo (acima) de tais informações reais consolidadas somente alcança o período de 2008 a 2012. Digo isto porque o laudo foi preparado em momento em que já poderia também contemplar as informações reais do ano de 2013. E, como se pode extrair das planilhas com as projeções feitas pela empresa em relação ao saldo devedor (páginas 49 a 52 de 59), o referido ano de 2013 era justamente o primeiro período em que o saldo devedor teria um decréscimo. Tal informação poderia fazer prova a favor da recorrente de que a amortização total do saldo devedor poderia de fato ocorrer. Além disso, a recorrente poderia trazer informações para além da data da assinatura do laudo, pois o julgamento deste processo deve ocorrer na sessão de maio de 2018, ou seja, período em que já se poderia trazer informações concretas do andamento dos contratos até o ano de 2017 (inclusive). Entretanto, nada de novo foi trazido pela recorrente. Desta forma, entendo que o referido laudo em nada acrescenta para a conclusão a que chegarei, mormente pelo que doravante será descrito. Questões não justificadas a contento A PFN, nas contrarrazões de recurso voluntário, traça algumas variáveis em relação à eventual possibilidade dos contratos de fornecimento de minério e de serviços portuários serem verdadeiros. Tudo isso para rechaçar os argumentos da empresa autuada de que os juros representavam a verdadeira intenção das partes. Assim, partiu das seguintes proposições para demonstrar a inveracidade das formalidades que se apresentaram no presente caso: que (i) os juros consignados nunca seriam amortizados; que (ii) a cláusula de anistia do saldo devedor final demonstrava que a operação de adiantamento não fazia sentido de existir; e que (iii) o valor de P2 (variável fixa do preço, que foi adiantada pela Namisa à CSN) não correspondia efetivamente a uma parte do preço praticado pelas contratantes, mas sim referiase ao valor da venda de 40% das ações da Namisa. Pois bem. Como já citado, em função do adiantamento recebido, a recorrente deve pagar à Namisa 12,5% de juros ao ano, sendo que 34% desse valor são pagos em dinheiro e 66% são incorporados à dívida. Percebo que a tese da Fazenda Nacional faz sentido em relação ao saldo devedor, de que nunca seria amortizado. Pelo menos em relação aos anos de 2008 a 2012, vê se que o saldo devedor só aumenta. Como já dito pela recorrente, isto é um fato do qual não se pode fugir, pois a realidade é esta mesmo: enquanto estiver no início do contrato, com fornecimento de bens e serviços muito aquém da quantidade total contratada, o saldo devedor revelarseá significante, pois a parcela adiantada (P2) vai ser amortizada ao longo de todo o Fl. 2740DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.740 28 prazo dos contratos. Por outro lado, na medida em que o contrato vai sendo cumprido, a tendência é que o saldo devedor caia, até o momento em que será totalmente amortizado. Entretanto, como alegado pela PFN e fundamentado pelo CARF no voto vencedor constante do processo do ganho de capital, a projeção não se concretizará, eis que da forma como abatido o valor de P2, o saldo devedor será sempre aumentado. Somado isto à cláusula que permite a amortização total do saldo devedor, mesmo sem o devido pagamento pela CSN, é de se concluir que referido adiantamento não tem razão de existir. Por conseguinte, os juros que ali incidem tratam de mera liberalidade da CSN, pois se sabe que 2/3 dos juros nunca serão efetivamente pagos pela CSN. E este é ponto principal que me fez curvar aos fundamentos da autuação: da consignação de que as despesas de juros poderiam não serem pagas pela empresa devedora ora recorrente. Ora, sabese que o regime de competência impõe a contabilização de uma despesa no momento de sua ocorrência, independentemente de ter sido paga ou não. E se sabe também que a quitação de uma dívida, em uma primeira análise, não pode servir de fundamento para glosa fiscal dos juros que ali são contratados. Isto porque o cenário financeiro durante a vigência de um contrato pode consideravelmente variar, mormente pela parte que assume uma dívida por exemplo, há contratos firmados entre pessoas jurídicas com instituições financeiras que qualquer leigo sobre matéria de finanças "enxerga" que tal dívida nunca será paga. Nada obstante, eis uma observação importante em relação à citada inadimplência: a motivação nunca deverá ser pelo acordo entre as partes, mas sim pela incapacidade financeira do devedor. Entretanto, o caso que aqui se julga é diferente. Há uma cláusula expressa no contrato de que eventual saldo devedor será "zerado" caso ao final do contrato a CSN tenha cumprido o contrato. Esta cláusula, a meu ver, contraria todo o fundamento para a dedução fiscal dos juros, mesmo que eventualmente a operação tivesse sido conforme alegado pela recorrente. Cabe um parênteses aqui para dizer que se trata de uma elocubração deste julgador ao pensar que a operação tenha sido conforme disse a empresa, pois o que percebo é que devo avançar na verificação dos juros para poder rebater os argumentos da recorrente quanto à verdadeira operação. É por vezes um contrassenso fundamentar a glosa na simulação da operação que também teve como resultado o pagamento de juros sobre o adiantamento; e por outro lado, para se constatar que a operação é dissimulada, necessitase de verificar se o adiantamento tem efetivamente essa natureza. Todavia, a meu ver, é assim que se deve avaliar o caso completamente peculiar que aqui se julga. Outro ponto que infirma os argumentos da recorrente é que nos anos de 2009 e 2010, a recorrente faturou R$ 1,2 bilhão em relação à operação de fornecimento de minério de ferro e de serviços portuários (resultado de P1 +P2), deduziu a título de juros o montante de R$ 1,8 bilhão e pagou juros no valor de R$ 623 milhões. A Namisa apurou receita financeira de R$ 1,8 bilhão. Com o recebimento de R$ 623 milhões a título de juros, a Namisa obteve exatamente o recurso necessário para pagar o IRPJ e a CSLL (34%) incidentes sobre a receita financeira de R$ 1,8 bilhão. Fl. 2741DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.741 29 A CSN, por sua vez, ao contabilizar a despesa de R$ 1,8 bilhão e a receita de R$ 1,2 bilhão, apresenta um prejuízo nesta operação de R$ 600 milhões. Ou seja, denotase que toda a operação foi criada para permitir que os efeitos fiscais em ambas as empresas fossem consideravelmente reduzidos, somente tendo parte prejudicada o fisco. Como se trata de um planejamento inoponível ao fisco, e sem propósito negocial algum, tenho por convicção afirmar que a despesa de juros não é dedutível. Outro ponto relevante é que a Big Jump, representada pelo grupo asiático, não exigiu nenhuma garantia, fiança bancária ou seguro para o risco de perda sobre o adiantamento a título de fornecimento de minério e serviços de logística, efetuado à CSN, por intermédio da Namisa, mesmo tendo desembolsado o montante de R$ 7.286.154.000,00 (sete bilhões, duzentos e oitenta e seis milhões, cento e cinquenta e quatro mil reais). Na efl. 2.436 do recurso voluntário, a recorrente cita o trecho do TVF, que, por sua vez, cita trechos do TVF do outro processo 19515.723039/201279, de que a Namisa não soube esclarecer como foram apurados os valores que serviram como referência para os adiantamentos vultosos que efetuou para a CSN. Não apresenta laudos, planilhas, relatórios e demonstrativos de cálculo que teriam resultado na apuração da taxa de juros de 12,5%, na taxa de desconto de 8,25% ao ano para trazer os adiantamentos a valor presente e os valores de US$ 1.60 e US$ 3.10 para as transações envolvendo o minério de ferro e de US$ 6.00 para as operações portuárias parcela P2 do preço , limitandose a dizer que este valor foi acordado pelas partes. No TVF (efl. 953), a fiscalização afirma o seguinte: Se os contratos forem rescindidos "por motivo imputável à NAMISA" a CSN será indenizada por ela., sendo a indenização já fixada no valor total remanescente do saldo da "dívida" que a CSN tem com a NAMISA (cláusula 14.5 do CONTRATO DÊ PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE OPERAÇÃO PORTUÁRIA, cláusula 10,6 do CONTRATO DE FORNECIMENTO DE MINÉRIO DE FERRO ROM DE BAIXA SÍLIÍIÀ e cláusula 10.6 do CONTRATO DE FORNECIMENTO DE MINÉRIO DE FERRO ROM DE ALTA SÍLICA). há que destacar que não há, cm nenhum dos contratos, cláusula equivalente em favor da NAMISA, indicando que, se rescindir os contratos, a CSN deverá devolver os "adiantamentos" a sua controlada. Ora, este é mais um indício de que o valor repassado pela Namisa à CSN não trata de adiantamento para entrega futura de minério de ferro e serviços, pois, caso fosse, a Namisa teria direito a alguma indenização por ter adiantado o valor da mercadoria. Ninguém paga antecipadamente por algo sem exigir qualquer garantia, ainda mais se tratando de contrato de tamanha monta e firmado entre partes independentes (Grupo asiático e CSN). Desta forma, inevitável é a conclusão de que os juros foram previstos como forma de reduzir a carga tributária da recorrente em detrimento da Fazenda Nacional. Mas não é só isso! Fl. 2742DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.742 30 Fatos posteriores O provérbio "O tempo mata o erro e faz viver a verdade", aqui transcrito com todo respeito à recorrente, a meu ver, encaixase perfeitamente ao que aqui se trará: Em análise das Demonstrações Financeiras Padronizadas de 31/12/20152, a recorrente fez consignar que o contrato firmado entre ela (CSN) e a Namisa para o fornecimento de minério de ferro e de serviços logísticos foi liquidado, conforme se pode depreender dos trechos abaixo transcritos, com destaques meus: Pág. 28/134 5 PRINCIPAIS EVENTOS SOCIETÁRIOS Reestruturação societária em controladas indiretas Em 11 dezembro de 2014, o Conselho de Administração da CSN aprovou o estabelecimento de uma aliança estratégica com um Consórcio Asiático formado pelas empresas ITOCHU Corporation, JFE Steel Corporation, POSCO, Ltd., Kobe Steel, Ltd., Nisshin Steel Co, Ltd. e China Steel Corp. (“Consórcio Asiático”). A transação foi concluída em 30 de novembro de 2015. A transação consistiu na combinação de negócios de mineração e logística correlata da Companhia e da Namisa em uma nova empresa, a Congonhas Minérios, incluindo o estabelecimento comercial relativo à mina de minério de ferro Casa de Pedra, 18,63% de participação na MRS e direitos de operar o terminal portuário do Tecar, em Itaguaí (RJ). As seguintes etapas foram realizadas para a conclusão da transação: • Pagamento de dividendos pela Namisa no valor de US$1,4 bilhão, equivalentes a R$5,4 bilhões, os quais foram pagos antes do fechamento da transação; • Reestruturação da Congonhas Minérios com a transferência, pela CSN, dos ativos e passivos da CSN relativos à Casa de Pedra, direitos de operar o Tecar, 60% das ações da Namisa, 8,63% de ações da MRS e US$850 milhões em dívidas, equivalentes a R$ 3.370 milhões; • Aquisição pela Congonhas Minérios de 40% das ações da Namisa detidas pelo Consórcio Asiático, com a incorporação desta pela Congonhas Minérios; • Assinatura do novo acordo de acionistas da Congonhas Minérios; • Pagamento pela CSN de US$680 milhões relativos à aquisição de 4% das ações detidas pelo Consórcio Asiático na Congonhas Minérios e US$27 milhões adicionais relativos à aquisição de 0,16% das ações também detidas pelo Consórcio Asiático na Congonhas Minérios, totalizando US$707 milhões, equivalentes a R$2,7 bilhões; e • Liquidação dos contratos preexistentes com a Namisa de fornecimento de ROM (alta e baixa sílica), serviços portuários e beneficiamento de minério. Considerando a posição dos ativos da Congonhas Minérios, os aportes do Consórcio Asiático na transação, bem como ajustes decorrentes das negociações entre as partes, ajustes de dívida, caixa e diferença de capital de giro, a CSN e o Consórcio 2 extraída do site: ri.csn.com.br, na data de 12/05/2018 Fl. 2743DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.743 31 Asiático detiveram, respectivamente, 87,52% e 12,48% do capital social da Congonhas Minérios ao final da transação. A transação também inclui um mecanismo de “earnout”, o qual, no caso de um evento de liquidez qualificado que ocorra dentro de determinados parâmetros de valoração e dentro de um período de tempo acordado após o fechamento da operação poderia diluir, a critério exclusivo da CSN, a participação do Consórcio Asiático na Congonhas Minérios de 12,48% até 8,21%. Esse mecanismo foi considerado como ativo contingente e não foi contabilizado qualquer ativo relacionado. Uma parte da produção de minério de ferro da Congonhas Minérios será vendida para os membros do Consórcio Asiático e para a CSN. Esses direitos estão refletidos em contratos de fornecimento de longo prazo celebrados em 30 de novembro de 2015 cujos termos foram negociados em condições usuais de mercado. A Companhia também assegurou a utilização do TECAR para importação de matérias primas através da celebração de contrato de longo prazo. Pág. 34/134 Mineração: A partir de 30 de novembro de 2015 a Companhia transferiu seus negócios de minério de ferro, que incluem os estabelecimentos da mina e Casa de Pedra e do porto TECAR, para sua controlada Congonhas Minérios S.A. Nessa mesma data, passou a controlar os negócios da Namisa por meio de uma transação de combinação de negócios. O detalhamento da transação está descrito na nota 3. Interessante, e até curioso, é que tal informação sequer foi trazida pela recorrente aos autos de processo, tampouco em sede de Memoriais. Pelo contrário, a pugnante calouse diante de informação de tamanha relevância para o esclarecimento da verdade fática. É de se indagar: por que não trouxe neste momento algum elemento que pudesse infirmar as alegações da Fazenda quanto à dedutibilidade dos juros? Posso até me arriscar a responder: porque a realidade emergida derruba de vez todos os argumentos ventilados pela recorrente. E esta desconfiança de minha parte é confirmada pela análise das obrigações da empresa com terceiros, constante em seu balanço patrimonial (pág. 91/134 das demonstrações financeiras), e conclusão de que as dívidas da recorrente tiveram significativa redução: 14. OUTRAS OBRIGAÇÕES As outras obrigações classificadas no passivo circulante e não circulante possuem a seguinte composição (negritei): Consolidado Controladora Circulante Não Circulante Circulante Não Circulante 31/12/2015 31/12/2014 31/12/2015 31/12/2014 31/12/2015 31/12/2014 31/12/2015 31/12/2014 Passivos com partes relacionadas (Nota 19 b) 6.798 249.758 9.236.716 110.106 339.613 118.653 9.810.648 Fl. 2744DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.744 32 Primeiramente, há de se notar que o valor do passivo retratado no ano de 2014 é maior que o projetado pela recorrente, e que foi objeto de avaliação pela auditoria independente no laudo apresentado pela recorrente. No laudo, o valor da dívida em 31/12/2014 seria de R$ 8.326.992.097,04. Mas, na prática partindo da premissa de que este valor representa a "dívida" que a recorrente tinha perante a Namisa , o saldo devedor real foi de R$ 9,921 bilhões, que é resultante da seguinte expressão: (339.613 + 9.810.648) (110.106 + 118.653). Isto só vem a confirmar a tese da Fazenda de que o saldo devedor decorrente do adiantamento feito pela Namisa à CSN nunca seria integralmente amortizado/quitado. Desta forma, tudo aquilo que foi projetado em relação ao período a partir do qual o saldo devedor supostamente seria diminuído "caiu por terra", pelo que entendo que a recorrente não conseguiu demonstrar que a realidade fática coincidiria com suas projeções. Outra questão de relevo é que a análise da consequência financeira decorrente da liquidação do contrato resulta na conclusão de que o saldo devedor, além de deslocado da CSN para a Congonhas Minérios, foi integralmente amortizado no momento da liquidação do contrato. Digo isto porque, conforme acima explanado, a CSN atribui todos os ativos e passivos relativos à operação da Casa de Pedra à empresa Congonhas Minérios S/A, que, por sua vez, incorporou a Namisa. Desta forma, a dívida que a CSN tinha em razão do adiantamento recebido da Namisa e o crédito que a Namisa tinha em razão do adiantamento feito à CSN, foram transportadas para uma só empresa: a Congonhas Minérios. Assim, credor e devedor tornaramse uma única pessoa, o que inevitavelmente provocou a compensação de débito com crédito, em obediência aos termos do art. 368 do Código Civil: Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguemse, até onde se compensarem. Com essa compensação, a obrigação pelo pagamento da dívida decorrente do adiantamento foi abonada, tornando mais cristalina e verdadeira a tese da Fazenda de que o valor referente ao suposto adiantamento tratavase de pagamento pela venda das ações da Namisa. Desta forma, não há outra conclusão a não ser reconhecer que a fiscalização tem razão ao afirmar que o valor a título de adiantamento teve sua natureza deturpada para fins de esconder a verdadeira causa de tal pagamento: a aquisição de 40% das ações da Namisa. Em continuidade, vejo que o empréstimo da CSN à Namisa, no montante de R$ 1.193.000,00, em que há previsão de juros em porcentagem menor que aquela prevista para os juros que foram glosados neste auto de infração, somente teria servido de fundamento para este voto caso este julgador entendesse que as despesas de juros poderiam ser deduzidas. Se assim fosse a conclusão, restaria ressalvar de que os juros dedutíveis deveriam ser limitados à taxa contratada no empréstimo da CSN à Namisa, dentro da proporção entre os dois contratos de adiantamento e de empréstimo. Entretanto, como proponho manter o lançamento fiscal pelas razões acima aduzidas, tal argumento não precisará ser enfrentado para que seja mantido este lançamento fiscal. Fl. 2745DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.745 33 Apenas reforço que é de se estranhar que uma empresa seja credora e devedora de outra, ao mesmo tempo. Essa questão, a meu ver, vem a corroborar a tese da Fazenda de que o valor adiantado verdadeiramente correspondeu ao pagamento sobre a venda das ações da Namisa e somente o valor de R$ 1.193.000,00 referese verdadeiramente a um empréstimo contratado entre as partes. CSLL Aplico à CSLL tudo o quanto foi fundamentado para a manutenção do lançamento quanto ao IRPJ. Como se viu, a autuação foi fundamentada na dissimulação da operação de venda e compra de 40% das ações da Namisa. Como as despesas foram consideradas inexistentes, tanto o IRPJ quanto à CSLL devem ser mantidos. Acrescento ainda que a despesa de juros, mesmo que fosse considerada realizada, entendo que sua glosa implica também na tributação da CSLL, pelas seguintes razões: O art. 299, do RIR/99, que é a base legal do lançamento fiscal, determina que para ser considerada uma despesa como operacional, para fins fiscais, deve tal despesa ser necessária à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora. Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º). § 3º O disposto neste artigo aplicase também às gratificações pagas aos empregados, seja qual for a designação que tiverem. Como a base de cálculo da CSLL, assim como do IRPJ, partem do lucro líquido para o cálculo dos tributos, a apuração da CSLL deve seguir o disposto no art. 299 do RIR/99. Isto tornase mais patente com a redação proposta pelo art. 13 da Lei 9.249/1995, que apresentou ajustes ao lucro real e à base de cálculo da CSLL, mas fez ressalva de que o art. 47 da Lei 4.506/64, que é a base legal do art. 299 do RIR/99, continua sendo aplicado aos dois tributos aqui discutidos. Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes Fl. 2746DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.746 34 deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506, de 30 de novembro de 1964: Na acepção gramatical, a redação acima representa uma "oração", que é um conjunto linguístico que se estrutura em torno de um verbo ou locução verbal3. Diferentemente de um "período", que é a frase constituída de uma ou mais orações, formando um todo, com sentido completo4. O período pode ser simples ou composto. Período Simples é aquele constituído por apenas uma oração, que recebe o nome de oração absoluta. Período Composto é aquele constituído por duas ou mais orações, as quais podem ser coordenadas ou subordinadas. Como se trata de apenas uma oração, ou período simples, concluise que os signos constantes na redação legal devem ser concatenados entre si para que deem ensejo ao propósito do texto legal. Diferentemente de um período composto em que uma eventual redação legal poderia ter orações que não conversariam, não teriam a obrigatoriedade de concatenar os signos de uma (oração) com os de outra (oração). Esta definição serve para que se perceba a impossibilidade de se dissociar a parte final da parte inicial do artigo acima. Ou seja, fica muito claro que o advérbio de modo "independentemente" faz uma ressalva para ambos os tributos, inseridos na oração como uma finalidade ("para") que busca a norma "Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido" . Logo, a construção de todo o dispositivo legal nos leva a deduzir que a regra contida art. 47 da Lei 4.506/64, que é a base legal do art. 299 do RIR/99, também se aplica à Contribuição Social para o Lucro Líquido. Esse também é o entendimento da 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, no julgamento do Acórdão nº 9101002.396, da sessão de 13 de julho de 2016, de lavra do Conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão, que reproduzo abaixo e adoto como razões de decidir: Com relação à exigência de CSLL, está correto o entendimento da decisão de primeira instância, como descrito pela decisão recorrida, de que: xxxvi) apesar de nem todas as restrições à dedutibilidade de dispêndios, previstas na legislação do Imposto de Renda, serem aplicáveis à CSLL, devese ter em conta que a glosa das despesas em litígio não teria sido motivada por disposições específicas na legislação do IRPJ, posto que comprometeria o resultado do exercício. É dizer: a admissão de determinados valores como despesas operacionais, ou não, afeta a apuração do lucro operacional que é o mesmo, tanto para o IRPJ quanto para a CSLL e, apenas reflexamente, as correspondentes bases de cálculo (lucro real e lucro ajustado). O resultado do exercício, apurado com observância da legislação comercial, é comum a ambos os tributos, cujas respectivas bases de cálculo começam a diferir entre si, pelos ajustes específicos previstos na legislação de cada um deles, somente a partir da apuração daquele resultado. Assim é que o Lucro Líquido Antes do IRPJ, indicado na Linha 06A/53 da Ficha 06A Demonstração do Resultado, é transportado para a Linha 09A/01 da Ficha 09A – Demonstração do Lucro Real [onde será adicionado da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – Linha 09A/04, esclareço], e o Lucro Líquido Antes da CSLL [e do IRPJ, esclareço], apontado na Linha 06A/51 da Ficha 06A Demonstração do Resultado, 3 extraído do site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ora%C3%A7%C3%A3o_(gram%C3%A1tica), em 29/01/2018 4 extraído do site: https://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint4.php, em 29/01/2018 Fl. 2747DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.747 35 é transferido para a Linha 17/01 da Ficha 17 – Cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido conforme se verifica das Declarações de Informações Econômico fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) dos anoscalendário de 2000 a 2003, períodos objeto da autuação em análise. Há também que se concordar com o argumento do recorrente em relação à aplicação do art. 13 da Lei nº 9.249/95, que veda diversas deduções da base de cálculo da CSLL, sem prejuízo do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506/64, ou seja, o referido dispositivo, que segue abaixo transcrito, determinou a adição das "despesas desnecessárias" à base de cálculo da CSLL: Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506, de 30 de novembro de 1964: Veja que o art. 47 da Lei nº 4.506/1964 é o fundamento legal do art. 299 do RIR/1999. Ele dispõe exatamente sobre os requisitos da necessidade, usualidade e normalidade para a dedutibilidade das despesas. Assim, o texto legal acima transcrito evidencia claramente o vínculo entre a apuração da base cálculo da CSLL e os referidos requisitos para a dedutibilidade de despesas, do contrário não faria nenhum sentido a ressalva contida no texto. Com efeito, se o texto diz que para uma determinada situação deve se aplicar "A" independentemente de "B", é porque "B" também é aplicável àquela mesma situação. Permitome fazer uma ressalva de que não sou partidário de que toda a legislação do IRPJ, que se refere a ajustes no lucro real, se aplica à CSLL. Cito como exemplo os ajustes da depreciação acelerada incentivada que, a meu ver, somente são aplicados em relação ao IRPJ. Outro ajuste é a adição da CSLL ao lucro real, que não se aplica à base de cálculo da própria contribuição social. Por outro lado, se há previsão expressa em outro dispositivo legal de que há aplicação também à CSLL, devese aplicar tal dispositivo, como é o caso do art. 299 do RIR/99. Outro ponto que externo aqui neste voto, é que, não só a base de adição, mas a base de exclusão do IRPJ também se assemelha à base de exclusão da CSLL, com algumas exceções, é claro. Diante do exposto, entendo que a CSLL incide sobre as despesas de juros resultantes do contrato de adiantamento de fornecimento de minério e de serviços portuários. IRRF PAGAMENTO SEM CAUSA A recorrente alega inocorrência da subsunção do fato à norma. Outrossim, aduz que infração de glosa e de pagamento sem causa não são compatíveis, afirmando que, se tem a glosa, não tem o IRRF. Fl. 2748DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.748 36 Fundamenta tais argumentos em razão de se tratar de despesas indedutíveis. Se fossem despesas não comprovadas ou inexistentes ou em que se sabe que o beneficiário não é aquele (como o caso de nota fiscal inidônea), aí sim caberia o IRRF. Não concordo com a recorrente. A premissa inicial (e principal) para que se exija o IRRF por pagamento sem causa, por óbvio, é de que o pagamento tenha ocorrido. Conforme se verifica nos documentos e apontamentos efetuados pela fiscalização e pela recorrente nas peças que acompanham o processo, os pagamentos de 1/3 dos juros foram efetivamente efetuados pela recorrente. Vencida a premissa primária, resta verificar se o pagamento foi efetuado sem uma causa, conforme dita a norma do § 3º do art. 674 do RIR/1999: Art. 674. Está sujeito à incidência do imposto, exclusivamente na fonte, à alíquota de trinta e cinco por cento, todo pagamento efetuado pelas pessoas jurídicas a beneficiário não identificado, ressalvado o disposto em normas especiais (Lei nº 8.981, de 1995, art. 61). § 1º A incidência prevista neste artigo aplicase, também, aos pagamentos efetuados ou aos recursos entregues a terceiros ou sócios, acionistas ou titular, contabilizados ou não, quando não for comprovada a operação ou a sua causa (Lei nº 8.981, de 1995, art. 61, § 1º). Mister observar que não estou aqui a tentar aplicar as mesmas normas originárias a ambos os tributos (IRPJ/CSLL e IRRF). Sabese que têm bases legais distintas, por decorrerem de fatos geradores diferentes, quais sejam: um (IRPJ/CSLL) incide sobre a glosa de despesa não comprovada ou comprovada, mas não dedutível; já o outro (IRRF) incide sobre o pagamento que não foi fincado em uma causa fiscalmente justificável. É que, especificamente neste caso, ambos os tributos decorrem do mesmo fato originário: despesas que foram contabilizadas no resultado contábil e tiveram redução no resultado fiscal (IRPJ/CSLL) e pagamentos derivados destas despesas que não tiveram uma causa fiscalmente justificável (IRRF). Como amplamente já demonstrado neste voto, os juros decorrentes do contrato de adiantamento foram desnaturados como tais, em razão da requalificação da operação perpetrada pela CSN, Big Jump e Namisa. Assim sendo, os pagamentos decorrentes dos juros foram foram reenquadrados como pagamentos sem causa, pois não há uma causa justificável para a incidência de juros, mas tão somente de reduzir o resultado tributável. Desta feita, correto o lançamento fiscal do IRRF com base na alíquota de 35%, cabendo o reajustamento de sua base de cálculo, conforme preconiza o §3º do art. 674 do RIR/1999. Juros de Mora sobre Multa de Ofício Fl. 2749DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.749 37 Entendo ser incabível o argumento de não incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. O art. 161 do CTN determina que ao crédito vencido e não pago acrescemse juros de mora: Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. Já a parte final da redação do supra dispositivo legal define que a incidência de juros de mora não prejudica a imposição de penalidades. O art. 142 do CTN, por sua vez, apresenta a definição de crédito tributário: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Conforme se extrai da cláusula legal, o crédito tributário é composto pelo montante do tributo devido e pela penalidade cabível. Da conjugação dos dois dispositivos acima, concluise que ao tributo e à multa de ofício (crédito tributário) incidem os juros de mora. Desta forma, aplicase o art. 30 da Lei 10.522/2002, que determina a incidência da Selic como taxa referencial para a atualização do crédito tributário. Art. 30. Em relação aos débitos referidos no art. 29, bem como aos inscritos em Dívida Ativa da União, passam a incidir, a partir de 1o de janeiro de 1997, juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – Selic para títulos federais, acumulada mensalmente, até o último dia do mês anterior ao do pagamento, e de 1% (um por cento) no mês de pagamento. Desta forma, proponho negar o pedido quanto ao afastamento da incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. Diligência Apesar de tudo que foi por mim exposto (pela manutenção do lançamento fiscal), em razão do fato novo trazido aqui por este relator a partir de consulta feita no próprio site da recorrente, a turma ordinária entendeu por bem baixar o processo em diligência para que a empresa se manifeste sobre o encerramento do contrato firmado entre CSN e Namisa, amplamente enfrentado neste voto, e demais pontos que poderão ser buscados pela fiscalização. Fl. 2750DF CARF MF Processo nº 10314.727982/201595 Resolução nº 1401000.568 S1C4T1 Fl. 2.750 38 Sendo assim, em respeito ao contraditório e ao direito de defesa da recorrente, proponho que a delegacia de fiscalização verifique o seguinte: 1) Verificar e informar os valores da dívida da CSN com a Namisa em momento imediatamente anterior ao encerramento dos contratos, para constatar se houve efetiva compensação dos saldos credor e devedor. 2) Intimar a empresa a informar a participação de todos acionistas (número de ações e valor) na Namisa, na CSN e na Congonhas Minérios, antes e depois da reorganização societária promovida no grupo empresarial. 3) Se na atualidade há um contrato firmado entre a CSN e o Grupo asiático para fornecimento de minério e de serviços portuários. 4) Se a exploração da empresa Congonhas Minérios comporta a extração de minério da mina "Casa de Pedra" e/ou demais minas. 5) Caso entenda pertinente, intimar a empresa Congonhas Minérios e a empresa Big Jump, ou sua sucessora, para que se manifeste sobre a liquidação dos contratos de minério de ferro e de fornecimento de serviços de logística. 6) Concluída a diligência, preparar Informação Fiscal com o resultado da diligência, intimando a empresa para que se manifeste sobre o teor da Informação Fiscal e sobre o fato novo trazido neste processo (constante no título "Fatos Posteriores" deste voto), caso queira, no prazo de 30 (trinta) dias contados da ciência da intimação, nos termos do art. 44 da Lei nº 9.784/1999. 7) Após, favor retornar este processo ao CARF para seguimento de seu julgamento. É como voto! (assinado digitalmente) Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Fl. 2751DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.934311/2009-94
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Apr 18 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri May 11 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Classificação de Mercadorias
Ano-calendário: 2006
Ementa:
SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE.
Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal.
SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES.
A instalação de elevadores amolda-se ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços.
Recurso voluntário provido. Direito creditório reconhecido.
Numero da decisão: 3402-005.197
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário. Os Conselheiros Maria Aparecida Martins de Paula, Pedro Sousa Bispo, Thais De Laurentiis Galkowicz, Carlos Augusto Daniel Neto e Waldir Navarro Bezerra acompanharam o Relator do acórdão paradigma pelas conclusões (art. 63, § 8º do RICARF).
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Waldir Navarro Bezerra, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Pedro Sousa Bispo, Thais De Laurentiis Galkowicz, Vinícius Guimarães (Suplente convocado), Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Ausente justificadamente o Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire, que foi substituído pelo Conselheiro Suplente convocado.
Nome do relator: WALDIR NAVARRO BEZERRA
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ementa_s : Assunto: Classificação de Mercadorias Ano-calendário: 2006 Ementa: SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores amolda-se ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. Recurso voluntário provido. Direito creditório reconhecido.
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ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores amoldase ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. Recurso voluntário provido. Direito creditório reconhecido. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao Recurso Voluntário. Os Conselheiros Maria Aparecida Martins de Paula, Pedro Sousa Bispo, Thais De Laurentiis Galkowicz, Carlos Augusto Daniel Neto e Waldir Navarro Bezerra acompanharam o Relator do acórdão paradigma pelas conclusões (art. 63, § 8º do RICARF). (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Waldir Navarro Bezerra, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Pedro Sousa Bispo, Thais De AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 93 43 11 /2 00 9- 94 Fl. 365DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 2 Laurentiis Galkowicz, Vinícius Guimarães (Suplente convocado), Maysa de Sá Pittondo Deligne e Carlos Augusto Daniel Neto. Ausente justificadamente o Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire, que foi substituído pelo Conselheiro Suplente convocado. Relatório Trata o presente processo de DCOMP transmitida com objetivo de compensar os débitos nela apontados com créditos provenientes de pagamento indevido ou a maior. A matéria foi objeto de decisão proferida por intermédio do Despacho Decisório, no qual a Delegacia de origem, com base em informação fiscal resultante de diligência do Serviço de Fiscalização para apuração do direito creditório informado na DCOMP, onde ficou constatada a improcedência do mesmo, revisou de ofício o reconhecimento do direito creditório automático para não reconhecimento do direito creditório por inexistência do crédito e também de ofício revisou a homologação total da compensação efetuada através da mencionada declaração para compensação não homologada. A autoridade fiscal que proferiu a referida informação tomou por base a Solução de Consulta 446 SRRF/8ª RF/Disit, de 18/08/2007, uma vez que a Solução de Consulta 104 SRRF/10ª RF/Disit, de 18/08/2008, foi anulada pelo Parecer 52 SRRF10/Disit, de 13/09/2011, sob o seguinte argumento: É vedada a coexistência de duas soluções de consulta vigentes e eficazes sobre o mesmo fato, relativas a um mesmo sujeito passivo(...). Por sua vez, a Solução de Consulta vigente tem a seguinte ementa para o PIS: ELEVADORES. NÃOCUMULATIVIDADE. A instalação de elevador por seu produtor não caracteriza obra de construção civil, descabendo a aplicação do art. 10, XX, da Lei nº 10.833, de 2003. Caracterizase como operação de industrialização, na modalidade montagem, a reunião de partes, peças e componentes da qual resulte elevador, inclusive quando realizada fora do estabelecimento do executor, no próprio prédio onde esse equipamento será utilizado. Sofre incidência da contribuição para o PIS/Pasep em regime de apuração não cumulativo o total das receitas decorrentes do fornecimento de elevador por seu produtor, o qual se conclui ao final do processo de montagem. Para a Cofins foi proferida ementa com igual teor. (...). Uma vez intimado o contribuinte apresentou a manifestação de inconformidade, a qual foi julgada improcedente pelo acórdão 09054.913, que entendeu que a compensação pressupõe a existência de direito creditório líquido e certo, não verificado no caso em comento, afastou a preliminar de nulidade do Despacho Decisório e concluiu que "a Fl. 366DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 3 decisão judicial transitada em julgado é, na verdade, a lei aplicada ao caso concreto e, tratandose de exclusão do crédito tributário, deve ser interpretada literalmente". Diante deste quadro, o contribuinte apresentou o recurso voluntário tempestivo, oportunidade em que repisou os fundamentos desenvolvidos em sede de impugnação. É o relatório. Voto Conselheiro Waldir Navarro Bezerra O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3402005.145, de 18 de abril de 2018, proferido no julgamento do processo 11080.729500/201323, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3402005.145): "5. O recurso voluntário é tempestivo e preenche os demais pressupostos formais de admissibilidade, motivo pelo qual dele tomo conhecimento. I. A discussão travada nos autos e o precedente vinculante deste CARF favorável ao contribuinte 6. A questão aqui travada não é nova, uma vez que já foi decidida por este CARF para o mesmíssimo contribuinte de forma paradigmática, i.e., nos termos do art. 47, § 2º do RICARF. Referida decisão foi veiculada por intermédio do acórdão n. 3201002.448 e encontrase assim prescrita: (...). A princípio, temse que o cerne da questão é definir qual a natureza da atividade exercida pela Recorrente (instalação de elevadores): se construção civil ou se industrialização. Tal definição determinará se a Recorrente deveria, à época dos fatos geradores, apurar o recolhimento do PIS e da COFINS pelo regime não cumulativo ou pelo cumulativo. Há peculiar situação no feito, consistente no fato de que a Recorrente teria apresentado duas Consultas Fiscais acerca do tratamento tributário mais adequado, obtendo Soluções conflitantes. Na primeira delas, Solução de Consulta nº 446/2007, da 8ª Região Fiscal, concluiuse que se tratava de industrialização e que, portanto, as receitas estariam Fl. 367DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 4 sujeitas ao regime não cumulativo das citadas contribuições. A segunda, Solução de Consulta nº 104/2008, da 10ª Região Fiscal, afirmou que as receitas estariam sob o regime cumulativo. No caso, o crédito postulado pela Recorrente origina da aplicação do segundo entendimento. Os créditos postulados, portando, decorrem da reapuração do PIS e da COFINS outrora calculados pelo regime não cumulativo e reajustados para o cumulativo. Idêntica questão já foi examinada por esta mesma Turma na sessão de 24 de fevereiro de 2016, em decisão por maioria proferida nos autos do Processo nº 11080.726628/201335, da mesma THYSSENKRUPP ELEVADORES S/A, no qual a Conselheira Doutora Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo foi designada Relatora para o Voto Vencedor. O referido Acórdão nº 3201002.070 recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/06/2008 a 31/12/2009 SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores subsumese ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO No lançamento de ofício, o valor originário do crédito tributário compreende o valor do tributo e da multa por lançamento de ofício. Sobre a multa por lançamento de oficio não paga no vencimento incidem juros de mora. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/06/2008 a 31/12/2009 Fl. 368DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 5 SOLUÇÃO DE CONSULTA DESFAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. ALTERAÇÃO POR DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. VALIDADE. Não há óbice legal para que seja alterado entendimento veiculado em solução de consulta, desfavorável ao contribuinte, por decisão emanada no âmbito do contencioso administrativo fiscal. SERVIÇOS DE INSTALAÇÃO DE ELEVADORES. A instalação de elevadores subsumese ao conceito de "serviço", do que decorre que se submete ao regime cumulativo das contribuições ao PIS e à COFINS. Inteligência do Decreto n.7708/2011, que instituiu a Nomenclatura Brasileira de Serviços. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO No lançamento de ofício, o valor originário do crédito tributário compreende o valor do tributo e da multa por lançamento de ofício. Sobre a multa por lançamento de oficio não paga no vencimento incidem juros de mora. Recurso Voluntário Provido e Recurso de Ofício Negado Vistos,relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de ofício e por maioria de votos, em dar provimento ao recurso voluntário. Vencido o Conselheiro Winderley Morais Pereira, relator. Designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo. Como consta em ata, o voto da i. Conselheira Doutora Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo foi por mim acompanhado integralmente. Por essa razão, peço vênia para transcrevêlo como fundamento do presente julgado: Como se depreende do voto do eminente relator, o mérito da presente demanda não foi conhecido, por se entender que havia solução de consulta, proferida para a situação específica dos autos e proposta pela própria Recorrente. Com efeito, no mérito a Recorrente alega que o regime jurídico de apuração das contribuições sociais, tome a sua atividades de instalação de elevadores como prestação de serviços de construção civil, o que determinaria a aplicação do regime cumulativo. A Recorrente obteve a solução de consulta SRRF/8ªRF/DISIT nº 446, de 18/09/2007, que ao analisar as atividades realizadas pela Recorrente de instalação de elevadores, decidiu não ser atividade de construção civil e portanto, estariam sujeita a apuração do PIS e da COFINS no regime não cumulativo. Fl. 369DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 6 Não obstante, a Recorrente protocolou nova consulta, na Superintendência da Receita Federal do Brasil na 10ª Região Fiscal (Solução de Consulta SRRF/10ªRF/DISIT nº 104, de 18 de agosto de 2008), que considerou a atividade da Recorrente como prestação de serviços de construção civil e portanto, enquadrada nas disposições do art. 10, XX, da Lei nº 10.833/2003, determinando a apuração do PIS e da COFINS no regime cumulativo.(fls. 391 a 397). O entendimento do eminente Conselheiro Winderley Morais Pereira foi no sentido de que, em sendo a solução de consulta instrumento de garantia do contribuinte para esclarecimentos quanto a aplicação da legislação, a possibilidade de consultas do mesmo contribuinte tratando da mesma matéria serem protocoladas em unidades diversas da RFB, poderia mitigar a força normativa das consultas. Por essa razão, a decisão anterior não produziria efeito, nos termos do art. 54, IV do Decreto nº 70.235/72. Contudo, a questão que se põe e da qual se diverge do ilustre relator, é precisamente sobre a possibilidade de a decisão proferida no âmbito do contencioso administrativo fiscal, se sobrepor a decisão em solução de consulta, para o mesmo contribuinte. Ora, embora pelo processo de consulta possa se entender que o contribuinte recorra à Administração para buscar a correta exegese de determinada norma jurídica, verificase o que se busca, invariavelmente, é uma medida protetiva, de cunho preventivo, para a estruturação tributária de suas operações. O fato é que no âmbito do processo de consulta, o contribuinte não comparece na condição de mero consulente, até mesmo porque, já traz em seu pedido o posicionamento que entende cabível, com a respectiva fundamentação legal, o que aliás, é condição para o processamento de sua consulta, de acordo com a legislação em vigor, sob pena de sua ineficácia. Embora o procedimento de consulta não se equipare lógica e juridicamente ao processo administrativo fiscal, o fato é que este também possui conteúdo persuasivo, buscandose convencimento da Administração, acerca de determinada interpretação. E se assim for o caso, a solução em consulta conferelhe medida protetiva, um verdadeiro escudo contra eventuais futuros entendimentos administrativos contrários. Por essa razão, apenas a solução de consulta favorável ao contribuinte tem repercussões no contencioso administrativo fiscal, no sentido de coibir o lançamento. Observese que, nessa toada, dispõe o art. 100 do Decreto n. 7574/2011: (...). Fl. 370DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 7 Acresçase, por fim, que as decisões proferidas em procedimentos de consulta e no processo administrativo fiscal são lógica e juridicamente distintas, de sorte que não se verifica quaisquer relações de hierarquia entre elas. Superadas a questão, partese para o conhecimento do mérito da lide. A atividade de instalação de elevadores deve ser caracterizada como serviço, e não como atividade de industrialização, frisandose que, na hipótese dos autos, a Recorrente aparta a atividade de fabricação dos elevadores, da de sua instalação. Além de todas os fundamentos jurídicos trazidos pela Recorrente, como o fato de que a instalação de elevadores sob encomenda ser complemento da obra de construção civil, esta, indubitavelmente subsumida ao conceito de serviço, por se agregarem ao solo, dentre outras, temse que, para efeitos da legislação federal, que passou a tributar os serviços pelas contribuições sociais, bem como instituir o instrumental necessário para o controle do comércio exterior de serviços, com a edição da Nomenclatura Brasileira de Serviços, Decreto n. 7708/2011, não há mais dúvidas quanto ao enquadramento. Destarte, de acordo com o art. 2o do decreto, a NBS será adotada como nomenclatura única na classificação das transações com serviços, intangíveis e outras operações que produzam variações no patrimônio das pessoas físicas, pessoas jurídicas e entes despersonalizados. Os serviços de instalação de elevadores estão assim dispostos: SEÇÃO I SERVIÇOS DE CONSTRUÇÃO Capítulo 1 Serviços de construção 1.0131 Outros serviços de instalação 1.0131.10.00 Serviços de instalação de elevadores, esteiras e escadas rolantes O direito positivo brasileiro não traz um conceito conotativo de "serviço' nem mesmo para efeitos de incidência do ISSQN, operando sempre com definições denotativas, ou seja, com listas que arrolam o que são considerados os "serviços" para efeitos de tributação. Portanto, não se questiona a validade, vigência e eficácia da Nomenclatura Brasileira de Serviços, para esse fim. Não se olvide, finalmente, que os decretos são de aplicação obrigatória para o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, de maneira que considerada a atividade em questão como serviço, deve ser a aplicação do regime cumulativo das contribuições sociais. Fl. 371DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 8 Por essas razões, entendo que há de ser dado provimento ao recurso voluntário.Com efeito, não vislumbro a possibilidade de uma Solução de Consulta expedida pela Receita Federal do Brasil vincular, ad eternum, uma exigência tributária que se mostre claramente ilegítima. Não se trata aqui de discutir se o contribuinte poderia ou não ter formulado uma segunda Consulta Fiscal, ou mesmo qual das respostas deveria prevalecer. Tratase aqui de reconhecer a legalidade ou ilegalidade de uma exigência tributária, ou, melhor dizendo, de definição acerca do alcance de uma norma tributária. Mesmo se admitisse que, de acordo com as normas procedimentais, a segunda Solução de Consulta deveria ser tida por inexistente, tal constatação, por óbvio, não chancela a legitimidade da primeira Solução de Consulta. Afinal, este não é o meio adequado para se definir fato gerador de obrigação tributária. E, nesse sentido, trago o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça que reconhece o serviço de instalação e montagem de elevadores como obra de engenharia, e não como industrialização (portanto, atraindo a incidência do regime cumulativo do PIS e da COFINS à época dos fatos geradores): TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE ELEVADORES. IPI. NÃO INCIDÊNCIA. 1. A atividade de fornecimento de elevadores, que envolve a produção sob encomenda e a instalação no edifício, encerra, precipuamente, uma obra de engenharia que complementa o serviço de construção civil, não se enquadrando no conceito de montagem industrial, para fins de incidência do IPI. 2. Recurso especial provido. (REsp 1231669/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/11/2013, DJe 16/05/2014) Diante do exposto, voto por CONHECER e DAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário do Contribuinte, exonerando o crédito tributário lançado. 7. Referida decisão apresenta um caráter vinculante, devendo ser seguida por esta Turma julgadora. Neste aspecto, todavia, não concordou o colegiado, que entende que, em tese, o colegiado poderia julgar de forma diferente daquele precedente paradigmático, haja vista que se está diante de outro lote de processos (ainda que referentes aos mesmíssimos fatos e com as mesmíssimas partes litigantes). Deixo tais considerações aqui registradas em razão do disposto no esquizofrênico art. 63, Fl. 372DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 9 §8º do RICARF1, que determina que as conclusões adotadas pelo colegiado seja externada por aquele Conselheiro que divergiu (e continua divergindo) e que foi vencido em relação à tais conclusões. 8. Tais considerações do colegiado, entretanto, não trazem qualquer repercussão no caso prático, até porque, no que tange ao mérito, a Turma julgadora aderiu integralmente com as precisas considerações elaboradas pela então Conselheira Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo e replicadas pela Conselheira Tatiana Josefovicz Belisário (transcritas alhures), motivo pelo qual emprego tais fundamentos para fins de motivação do presente voto, o que faço com amparo no art. 50, § 1o da lei n. 9.784/992. Dispositivo 9. Diante do exposto, voto por dar provimento ao recurso voluntário interposto pelo contribuinte. 10. É como voto." Importa registrar que nos autos ora em apreço, a situação fática e jurídica encontra correspondência com a verificada no paradigma, de tal sorte que o entendimento lá esposado pode ser perfeitamente aqui aplicado. 1 "Art. 63. As decisões dos colegiados, em forma de acórdão ou resolução, serão assinadas pelo presidente, pelo relator, pelo redator designado ou por conselheiro que fizer declaração de voto, devendo constar, ainda, o nome dos conselheiros presentes e dos ausentes, especificandose, se houver, os conselheiros vencidos e a matéria em que o foram, e os impedidos. (...). § 8º Na hipótese em que a decisão por maioria dos conselheiros ou por voto de qualidade acolher apenas a conclusão do relator, caberá ao relator reproduzir, no voto e na ementa do acórdão, os fundamentos adotados pela maioria dos conselheiros." 2 "Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: (...). § 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. (...)." Fl. 373DF CARF MF Processo nº 11080.934311/200994 Acórdão n.º 3402005.197 S3C4T2 Fl. 0 10 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do anexo II do RICARF, o colegiado deu provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra . Fl. 374DF CARF MF
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Numero do processo: 15504.722981/2012-98
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 08 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jun 25 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2007 a 31/12/2008
AÇÃO ORDINÁRIO. TRÂNSITO EM JULGADO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COOPERATIVA DE TRABALHO. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI DECLARADA.
Ação Ordinário com trânsito em julgado. Jurisprudência do STF no Recurso Extraordinário nº 595.838/SP, na sistemática de repercussão geral, que julgou inconstitucional o art. 22, IV, da Lei n.º 8.212/91, sobre a incidência de contribuição previdenciária nos serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho.
Numero da decisão: 2401-005.450
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer dos embargos.
(assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier - Presidente
(assinado digitalmente)
Francisco Ricardo Gouveia Coutinho - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Cleberson Alex Friess, Andrea Viana Arrais Egypto, Francisco Ricardo Gouveia Coutinho, Rayd Santana Ferreira, Jose Luis Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite e Miriam Denise Xavier. Ausente justificadamente a conselheira Luciana Matos Pereira Barbosa.
Nome do relator: FRANCISCO RICARDO GOUVEIA COUTINHO
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/01/2007 a 31/12/2008 AÇÃO ORDINÁRIO. TRÂNSITO EM JULGADO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COOPERATIVA DE TRABALHO. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI DECLARADA. Ação Ordinário com trânsito em julgado. Jurisprudência do STF no Recurso Extraordinário nº 595.838/SP, na sistemática de repercussão geral, que julgou inconstitucional o art. 22, IV, da Lei n.º 8.212/91, sobre a incidência de contribuição previdenciária nos serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer dos embargos. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier - Presidente (assinado digitalmente) Francisco Ricardo Gouveia Coutinho - Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Cleberson Alex Friess, Andrea Viana Arrais Egypto, Francisco Ricardo Gouveia Coutinho, Rayd Santana Ferreira, Jose Luis Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite e Miriam Denise Xavier. Ausente justificadamente a conselheira Luciana Matos Pereira Barbosa.
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TRÂNSITO EM JULGADO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COOPERATIVA DE TRABALHO. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI DECLARADA. Ação Ordinário com trânsito em julgado. Jurisprudência do STF no Recurso Extraordinário nº 595.838/SP, na sistemática de repercussão geral, que julgou inconstitucional o art. 22, IV, da Lei n.º 8.212/91, sobre a incidência de contribuição previdenciária nos serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer dos embargos. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Presidente (assinado digitalmente) Francisco Ricardo Gouveia Coutinho Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Cleberson Alex Friess, Andrea Viana Arrais Egypto, Francisco Ricardo Gouveia Coutinho, Rayd Santana Ferreira, Jose Luis Hentsch Benjamin Pinheiro, Matheus Soares Leite e Miriam Denise Xavier. Ausente justificadamente a conselheira Luciana Matos Pereira Barbosa. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 50 4. 72 29 81 /2 01 2- 98 Fl. 777DF CARF MF Processo nº 15504.722981/201298 Acórdão n.º 2401005.450 S2C4T1 Fl. 329 2 Relatório Cuidase de embargos de declaração da representante da Procuradoria da Fazenda Nacional em face do v. acórdão n. 2401003.628, proferido por este colegiado, o qual restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/2007 a 31/12/2008 DECADÊNCIA. SÚMULA VINCULANTE N. 08 DO STF. É de 05 (cinco) anos o prazo decadencial para o lançamento do crédito tributário relativo a contribuições previdenciárias. LANÇAMENTO PARA PREVENÇÃO DA DECADÊNCIA. CRÉDITO TRIBUTÁRIO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA. DEPÓSITOS JUDICIAIS. POSSIBILIDADE. Não está eivado de ilegalidade o lançamento efetuado quando o crédito tributário está com sua exigibilidade suspensa por força do art. 151 do CTN, mas apenas a cobrança do respectivo crédito até que venha a ser revista tal condição ou exaurida a discussão sobre ele no Poder Judiciário. Precedentes. DEPÓSITO JUDICIAL DO MONTANTE INTEGRAL EM MOMENTO ANTERIOR AO LANÇAMENTO. MULTA E JUROS DE MORA. MULTA DE OFÍCIO. NÃO CABIMENTO. Tendo em vista a realização do depósito judicial integral do montante do crédito tributário devido antes de ter sido efetuado o lançamento com o objetivo de prevenir a Fazenda Pública dos efeitos da decadência, o que veio a ser reconhecido pela própria fiscalização nos presente caso, não são devidos os juros de mora e mesmo as multas de mora e ofício. Precedentes. SÓCIO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INDICAÇÃO NO REPLEG. DOCUMENTO MERAMENTE INFORMATIVO. SÚMULA CARF N 88. O documento REPLEG não atribui responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comporta discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa. Recurso Voluntário Provido em Parte. Às fls. 772/773, consta despacho de admissibilidade da Presidente em exercício com o seguinte teor: Sustenta a embargante encontrarse o acórdão omisso quanto à constituição do crédito tributário pelo depósito judicial. Consoante relata, não poderia ser reconhecida a decadência, pois o depósito judicial do valor questionado, relativo a tributo sujeito a lançamento por homologação, torna dispensável Fl. 778DF CARF MF Processo nº 15504.722981/201298 Acórdão n.º 2401005.450 S2C4T1 Fl. 330 3 o ato formal de lançamento por parte do Fisco, segundo jurisprudência do STJ. Aduz, ainda, obscuridade quanto à exclusão dos juros e da multa de mora. Aponta restar consignado no acórdão que “não são devidos os juros e multa de mora no presente caso até a data em que foram efetuados os depósitos judiciais” enquanto que se entende não serem devidos os juros e multa de mora a partir da data do depósito judicial. Com relação à omissão, tenho que não estão presentes os requisitos ensejadores dos Embargos, sendo que os argumentos trazidos a lume pelo embargante, ao revés, pretendem seja levado a efeito novo julgamento da causa. No caso, não se vislumbra qualquer omissão, mas mero inconformismo com a tese adotada por esta Eg. Turma. Por fim, quanto à obscuridade suscitada, verifico a necessidade de análise da questão. Ante todo o exposto, sugiro o conhecimento parcial dos Embargos e sua inclusão em pauta de julgamentos para que seja sanada apenas a obscuridade apontada. É o relatório. Fl. 779DF CARF MF Processo nº 15504.722981/201298 Acórdão n.º 2401005.450 S2C4T1 Fl. 331 4 Voto Conselheiro Francisco Ricardo Gouveia Coutinho Relator Os embargos de declaração atendem aos requisitos de admissibilidade, devendo portanto ser conhecidos. O crédito tributário controlado neste processo referese aos levantamentos NF (período do débito 01/2007 a 11/2008) e NF1 (período do débito 12/2008 a 11/2008) DEBICAD nº 37.350.0114. O valor das contribuições previdenciárias foi apurado a partir da aplicação do percentual de 15% sobre os valores pagos, mês a mês, a cooperativas de trabalho, por meio de Notas Fiscais. Os embargos foram admitidos apenas em relação à obscuridade quanto à exclusão dos juros e da multa de mora. Está consignado no acórdão que “não são devidos os juros e multa de mora no presente caso até a data em que foram efetuados os depósitos judiciais”, entende a representante da PFN que não serem devidos os juros e multa de mora a partir da data do depósito judicial. Constatase que o sujeito passivo é beneficiário de medida judicial (Ação Cautelar nº 2000.38.00.0190358, datado de 30/06/2000, que asseguralhe o direito de depositar em juízo as contribuições previdenciárias objeto do presente auto de infração. Ainda, em 02/08/2000, a empresa entrou com a Ação Ordinária nº 2000.38.00.0225336 para discutir o mérito da questão, se é devido ou não os 15% sobre os valores pagos, mês a mês, a Cooperativa de Trabalho. Em primeira instância, a Ação Ordinária foi julgada improcedente. Em de sede de recurso de apelação, a pessoa jurídica reverteu o julgamento (TRF1 site: https://arquivo.trf1.jus.br/PesquisaMenuArquivo.asp), cujos fundamentos do Acórdão abaixo são reproduzidos: A aludida contribuição, todavia, foi recentemente declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, por meio da orientação tomada nos autos do RE 595.838/SP, no qual foi reconhecida repercussão geral: Recurso extraordinário. Tributário. Contribuição Previdenciária. Artigo 22, inciso IV, da Lei nº 8.212/91, com a redação dada pela Lei nº 9.876/99. Sujeição passiva. Empresas tomadoras de serviços. Prestação de serviços de cooperados por meio de cooperativas de Trabalho. Base de cálculo. Valor Bruto da nota fiscal ou fatura. Tributação do faturamento. Bis in idem. Nova fonte de custeio. Artigo 195, § 4º, CF. 1. O fato gerador que origina a obrigação de recolher a contribuição previdenciária, na forma do art. 22, inciso IV da Lei nº 8.212/91, na redação da Lei 9.876/99, não se origina nas remunerações pagas ou creditadas ao cooperado, mas na relação contratual estabelecida entre a pessoa jurídica da cooperativa e a do contratante de seus serviços. Fl. 780DF CARF MF Processo nº 15504.722981/201298 Acórdão n.º 2401005.450 S2C4T1 Fl. 332 5 2. A empresa tomadora dos serviços não opera como fonte somente para fins de retenção. A empresa ou entidade a ela equiparada é o próprio sujeito passivo da relação tributária, logo, típico “contribuinte” da contribuição. 3. Os pagamentos efetuados por terceiros às cooperativas de trabalho, em face de serviços prestados por seus cooperados, não se confundem com os valores efetivamente pagos ou creditados aos cooperados. 4. O art. 22, IV da Lei nº 8.212/91, com a redação da Lei nº 9.876/99, ao instituir contribuição previdenciária incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura, extrapolou a norma do art. 195, inciso I, a, da Constituição, descaracterizando a contribuição hipoteticamente incidente sobre os rendimentos do trabalho dos cooperados, tributando o faturamento da cooperativa, com evidente bis in idem. Representa, assim, nova fonte de custeio, a qual somente poderia ser instituída por lei complementar, com base no art. 195, § 4º com a remissão feita ao art. 154, I, da Constituição. 5. Recurso extraordinário provido para declarar a inconstitucionalidade do inciso IV do art. 22 da Lei nº 8.212/91, com a redação dada pela Lei nº 9.876/99. (Relator ministro Dias Tofoli, Plenário do STF, DJE de 8/10/2014). Passo a adotar, com conforto, a declaração de inconstitucionalidade da norma objeto da impetração, ainda que em sede de controle difuso, em homenagem aos princípios da celeridade e da economia processual. Ante o exposto, dou provimento à apelação e inverto o ônus da sucumbência. (grifouse) Conforme pesquisa no site do TRF1, a Ação Ordinária nº 2000.38.00.0225336 (002240174.2000.4.01.380 Processo no TRF1), transitou em julgado em 15/02/2016, com baixa definitiva na mesma data. Conclusão Diante do acima exposto, voto no sentido de não conhecer dos embargos. (assinado digitalmente) Francisco Ricardo Gouveia Coutinho Fl. 781DF CARF MF
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Numero do processo: 15868.720082/2015-74
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu May 24 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Jun 12 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2012
INSUMOS. NÃO-CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. CONCEITO.
O conceito de insumo para fins de creditamento da contribuição em apreço não guarda correspondência com o extraído da legislação do IPI (demasiadamente restritivo) ou do IRPJ (excessivamente alargado). Em atendimento ao comando legal, o insumo deve ser necessário ao processo produtivo (custo de produção) e, consequentemente, à persecução da atividade empresarial desenvolvida pelo contribuinte. Precedentes CARF.
CRÉDITOS. CUSTOS. TRANSPORTE. MATÉRIA PRIMA. COMPROVAÇÃO. GLOSA. REVERSÃO. IMPOSSIBILIDADE.
A reversão de valores glosados, aproveitados sobre os custos de transporte de matéria-prima, depende da comprovação, mediante documento fiscal (Conhecimento de Transporte Rodoviário de Carga e/ ou Nota Fiscal) e contábil (Razão), de que tais custos foram, efetivamente, suportados pelo adquirente e glosados pela Fiscalização.
CRÉDITOS. CUSTOS/DESPESAS. MÁQUINAS. VEÍCULOS. GLOSA. PEÇAS. MANUTENÇÃO.
Mantém-se a glosa dos créditos sobre os custos/despesas incorridas com materiais e peças empregadas na manutenção da frota de veículos agrícolas, inclusive, com óleo diesel para revenda, lubrificantes e combustíveis pelo fato de o interessado não ter exercido atividade agrícola nem ter produzido cana-de-açúcar no período abrangido pelos Autos de Infração.
EQUIPAMENTOS PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI). CUSTOS/DESPESAS. POSSIBILIDADE DE CREDITAMENTO.
Se as despesas com aquisição de Equipamentos de Proteção Individual para os empregados são ocasionadas dentro do processo produtivo, configura-se como custo de produção e, portanto, dá direito ao crédito de PIS a da COFINS.
CRÉDITOS EXTEMPORÂNEOS. APROVEITAMENTO.
O aproveitamento de créditos extemporâneos está condicionado a apresentação dos Demonstrativos de Apuração de Contribuições Sociais (DACON) retificadores dos respectivos trimestres, demonstrando os créditos e os saldos credores trimestrais, bem como das respectivas Declarações de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTFs) retificadoras.
CRÉDITO PRESUMIDO. CÁLCULO. MÉTODO. RATEIO. GLOSA.
A falta de sistema de contabilidade de custo integrada e coordenada com a escrituração contábil para apuração dos custos de produção implica adoção do rateio proporcional da receita bruta em relação à receita decorrente da venda de álcool (etanol) para o cálculo do crédito presumido deste produto; assim, a glosa decorrente da adoção deste método deve ser mantida.
Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010
PIS. LANÇAMENTO DECORRENTE DA MESMA MATÉRIA FÁTICA.
Aplica-se ao lançamento da Contribuição para o PIS/Pasep o decidido em relação à COFINS lançada a partir da mesma matéria fática.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 3402-005.289
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário para reverter as glosas de créditos decorrentes da aquisição dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), nos termos do item 9, letra "c" do voto. Quanto ao item "11": Do Direito aos Créditos Extemporâneos do voto, os Conselheiros Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Maysa de Sá Pittondo Deligne acompanharam o relator pelas conclusões em razão da ausência de provas para verificar a validade do crédito.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os seguintes Conselheiros: Waldir Navarro Bezerra, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Pedro Sousa Bispo, Carlos Augusto Daniel Neto, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais De Laurentiis Galkowicz e Rodrigo Mineiro Fernandes.
Nome do relator: WALDIR NAVARRO BEZERRA
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AÇÚCAR E ÁLCOOL Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2012 INSUMOS. NÃOCUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. CONCEITO. O conceito de insumo para fins de creditamento da contribuição em apreço não guarda correspondência com o extraído da legislação do IPI (demasiadamente restritivo) ou do IRPJ (excessivamente alargado). Em atendimento ao comando legal, o insumo deve ser necessário ao processo produtivo (custo de produção) e, consequentemente, à persecução da atividade empresarial desenvolvida pelo contribuinte. Precedentes CARF. CRÉDITOS. CUSTOS. TRANSPORTE. MATÉRIA PRIMA. COMPROVAÇÃO. GLOSA. REVERSÃO. IMPOSSIBILIDADE. A reversão de valores glosados, aproveitados sobre os custos de transporte de matériaprima, depende da comprovação, mediante documento fiscal (Conhecimento de Transporte Rodoviário de Carga e/ ou Nota Fiscal) e contábil (Razão), de que tais custos foram, efetivamente, suportados pelo adquirente e glosados pela Fiscalização. CRÉDITOS. CUSTOS/DESPESAS. MÁQUINAS. VEÍCULOS. GLOSA. PEÇAS. MANUTENÇÃO. Mantémse a glosa dos créditos sobre os custos/despesas incorridas com materiais e peças empregadas na manutenção da frota de veículos agrícolas, inclusive, com óleo diesel para revenda, lubrificantes e combustíveis pelo fato de o interessado não ter exercido atividade agrícola nem ter produzido canadeaçúcar no período abrangido pelos Autos de Infração. EQUIPAMENTOS PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI). CUSTOS/DESPESAS. POSSIBILIDADE DE CREDITAMENTO. Se as despesas com aquisição de Equipamentos de Proteção Individual para os empregados são ocasionadas dentro do processo produtivo, configurase AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 86 8. 72 00 82 /2 01 5- 74 Fl. 9165DF CARF MF 2 como custo de produção e, portanto, dá direito ao crédito de PIS a da COFINS. CRÉDITOS EXTEMPORÂNEOS. APROVEITAMENTO. O aproveitamento de créditos extemporâneos está condicionado a apresentação dos Demonstrativos de Apuração de Contribuições Sociais (DACON) retificadores dos respectivos trimestres, demonstrando os créditos e os saldos credores trimestrais, bem como das respectivas Declarações de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTFs) retificadoras. CRÉDITO PRESUMIDO. CÁLCULO. MÉTODO. RATEIO. GLOSA. A falta de sistema de contabilidade de custo integrada e coordenada com a escrituração contábil para apuração dos custos de produção implica adoção do rateio proporcional da receita bruta em relação à receita decorrente da venda de álcool (etanol) para o cálculo do crédito presumido deste produto; assim, a glosa decorrente da adoção deste método deve ser mantida. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010 PIS. LANÇAMENTO DECORRENTE DA MESMA MATÉRIA FÁTICA. Aplicase ao lançamento da Contribuição para o PIS/Pasep o decidido em relação à COFINS lançada a partir da mesma matéria fática. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário para reverter as glosas de créditos decorrentes da aquisição dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), nos termos do item 9, letra "c" do voto. Quanto ao item "11": Do Direito aos “Créditos Extemporâneos” do voto, os Conselheiros Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Maysa de Sá Pittondo Deligne acompanharam o relator pelas conclusões em razão da ausência de provas para verificar a validade do crédito. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os seguintes Conselheiros: Waldir Navarro Bezerra, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Pedro Sousa Bispo, Carlos Augusto Daniel Neto, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais De Laurentiis Galkowicz e Rodrigo Mineiro Fernandes. Relatório Tratase de Auto de Infração lavrado contra a empresa REVATI S.A. AÇÚCAR E ÁLCOOL, referente às Contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), ambas sujeitas ao regime não cumulativo, sem exigência de créditos tributários, visando à retificação dos saldos dos Fl. 9166DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.166 3 créditos descontados das respectivas contribuições, nos meses de competência de janeiro a dezembro de 2012. Os lançamentos, conforme a Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal de cada um dos Autos de Infração e "Termo de Verificação de Infração Fiscal à Legislação Tributária Federal (PIS/COFINS) sem Exigência de Crédito Tributário", às fls. 2.834/2.928, decorreram dos seguintes fatos: (i) glosas de créditos constituídos indevidamente sobre aquisições de insumos no mercado interno; (ii) glosas de créditos constituídos indevidamente sobre aquisições de insumos no mercado externo, e (iii) da omissão da receita de venda de energia elétrica. Por bem narrar os fatos e com a devida clareza, valhome do relatório da decisão recorrida, vazada nos seguintes termos (fls. 9.089/9.106): "(...) Intimado dos lançamentos, o interessado impugnouos (fls. 9.036/9.093), requerendo o cancelamento dos autos de infração, alegando, em síntese, que faz jus aos créditos das contribuições apurados sobre todos os custos e despesas incorridas no processo de fabricação dos produtos vendidos por ele, inclusive, sobre despesas não operacionais, nos seguintes termos: i) Do entendimento com relação ao conceito de insumo aplicável na sistemática não cumulativa do PIS e da Cofins Discorreu longamente sobre o conceito de insumos, defendendo o aproveitamento de créditos das contribuições sobre todos os custos e despesas incorridos por ele (interessado), para a obtenção de seus produtos, sem quaisquer restrições ao conceito de insumos, afastandose o conceito da legislação do IPI e adotandose os custos e despesas permitidas para a apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica. Expressamente, defendeu o desconto (aproveitamento) de créditos de ambas as contribuições sobre os custos/despesas apurados sobre: "a) Peças para manutenção da frota que realiza o corte, carregamento e o transporte da matéria prima para abastecer a indústria; b) Óleo Diesel e lubrificantes da frota que realiza o corte, carregamento e o transporte da matéria prima para abastecer a indústria; c) Despesas com a manutenção industrial; d) EPI's Equipamentos de Proteção Individual; e) Serviços de manutenção de máquinas e equipamentos diversos, utilizados direta ou indiretamente no processo produtivo)". ii) Do direito ao crédito de PIS/Pasep e da Cofins oriundo das atividades de transporte da matériaprima para a indústria Os custos oriundos das atividades de transporte de matéria prima para a indústria, dentre eles: combustíveis, lubrificantes, peças e serviços utilizados na manutenção de máquinas e equipamentos utilizados para transporte da canadeaçúcar do Fl. 9167DF CARF MF 4 campo para a indústria, são essências a sua atividade econômica e, portanto, as glosas dos créditos, efetuadas pela Fiscalização devem ser revertidas. iii) Do direito ao crédito de PIS/Pasep e da Cofins oriundo das aquisições de bens aplicados na fase industrial iii.a) Itens que não entram em contato com o produto Defendeu o aproveitamento de créditos sobre aquisições de materiais e peças empregadas na manutenção da frota de veículos automotores e agrícolas, óleos, lubrificantes e combustíveis sob a alegação de que são insumos no sentido amplo, requerendo a reversão dos valores glosados. iii.b) Itens de manutenção de máquinas, veículos e equipamentos não utilizados diretamente no processo produtivo Discordou das glosas sobre despesas com aquisições de válvulas, suportes, mangueiras, graxas, óleo de motor, fluído de freio, óleo hidráulico, diferencial, parafusos, cilindros de oxigênio, adaptadores, reparos, retentores, filtros, juntas, anéis, cabeçotes, extintores, filtros de óleo, amortecedores, etc., sob o fundamento de que, embora não utilizados diretamente no seu processo produtivo, estão ligados a sua atividade econômica, devendo ser revertida a glosa realizada pela Fiscalização. iii.c) Glosa de EPI's equipamentos de proteção individual Contestou a glosa sobre os custos/despesas com óculos de segurança, botas, e protetores auriculares, sob os argumentos de que se trata de equipamentos especiais de proteção e segurança, imprescindíveis para os seus trabalhadores exercerem suas atividades na produção de álcool e açúcar; reclama a reversão da glosa, sob o argumento de que, por força de lei, tais equipamentos devem ser fornecidos aos seus trabalhadores. iii.d) Produtos químicos antibióticos Reclamou créditos sobre as despesas com o produto descrito em sua contabilidade como "ANTIBIOTICO NAT. EXTRATO LUPULO BETAACIDO ET.1012 STATUS Q" sob o argumento de que é utilizados no caldo de cana para o tratamento de infecções nocivas ao produto fabricado. iv) Do direito ao crédito de PIS/Pasep e da Cofins oriundos dos fretes das aquisições de insumos e fretes de transporte de cana deaçúcar Alegou que tais despesas/custos integram o custo do produto fabricado, nos termos do art. 289, § 1º, do Decreto nº 3.000, de 1999 (Regulamento do Imposto de Renda) e, portanto, geram créditos conforme previsto nas Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003, art. 3º, devendo as glosas sobre tais custos ser revertidas. O frete na aquisição de insumos, inclusive da canadeaçúcar, quando contratado com pessoa jurídica domiciliada no País e suportado pelo adquirente, gera créditos das contribuições, por integrarem o custo dos produtos fabricados e vendidos. Fl. 9168DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.167 5 v) Do direito aos créditos extemporâneos Defendeu o aproveitamento de créditos extemporâneos sob o argumento de que as Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003, não vedam tal aproveitamento, conforme consta do § 4º do art. 3º, desde que não atingidos pela prescrição quinquenal. vi) Do direito aos créditos decorrentes da locação de máquinas e equipamentos Insurgiu contra as glosas de créditos sobre despesas incorridas com locação de guindastes, de máquinas de solda sem operador e de andaimepeça sob o argumento de que não há motivo para suas glosas, assim como não há para a glosa sobre "Locação de Carreta" utilizada no armazém da fábrica; apesar de todos não serem utilizados diretamente no seu processo produtivo, são essenciais a ele, não havendo motivo para as glosas dos créditos aproveitados sobre tais despesas. vii) Do direito ao crédito presumido Contestou o critério de cálculo utilizado pela Fiscalização para o rateio do crédito presumido sobre as aquisições da canade açúcar, com base no faturamento (venda), sob o argumento de que não tem respaldo legal, defendendo o rateio utilizado por ele (interessado), com base na destinação (utilização) daquela matériaprima, sob o fundamente de que a legislação determina este rateio. viii) Da cisão parcial e da atividade de geração de energia elétrica Alegou que as "glosas realizadas pela ilustre fiscalização motivadas, segundo o seu entendimento, por falta de dados dos documentos e também nos lançamentos contábeis, o que não justifica, conforme abaixo demonstrado": viii.1) Da consolidação de arquivos e bens relacionados à cisão Durante o procedimento fiscal, informou à Fiscalização que alguns bens relacionados ao centro de custo "COGERAÇÃO E DISTR. DE ENERGIA ELETRICA" não foram objeto da cisão. Tais bens pertencem ao interessado (Revati S.A. Açúcar e Álcool) e são utilizados na sua atividade produtiva, uma vez que possui um setor de geração de energia, imprescindível a sua atividade. Assim, não houve qualquer falha na apuração dos créditos, conforme pode ser constatado da análise da farta documentação constante dos autos. viii.2) Da comprovação da conclusão da obra Reconheceu que ". . . a impugnante se apropriou incorretamente , em 1 e 4 parcelas, dos créditos sobre os bens relacionados as obras 'CONJUNTOS DE MOENDAS 'A' EXTRAÇÃO DO CALDO' e 'FÁBRICA DE LEVEDURA INDÚSTRIA' listados na planilha de origem 'Item 6 Memória Fl. 9169DF CARF MF 6 de calculo Aquisição". Assim, ajustou o critério de apropriação para 24 (vinte e quatro) parcelas com base no art. 6º da Lei nº 11.488, de 15/6/2007, o que demonstra a sua boafé e desejo de agir dentro dos princípios legais. viii.3) Das notas fiscais de prestação de serviços Neste item, simplesmente, alegou que apresentou as notas fiscais originais referentes às prestações de serviços e laudos técnicos relacionados na planilha "Revati Ativo Imobilizado 2009 a 2013, esclarecendo que, quanto às notas fiscais nºs. 148; 1133; e 15361, não as localizou em seus arquivos. Contudo, visando comprovar a realização dos serviços, apresentou os comprovantes de pagamento e o razão contábil. ix) Da alegada omissão de receita de energia elétrica A Fiscalização não encontrou bens no ativo permanente que, segundo sua interpretação, pudessem dar suporte a receitas de geração de energia elétrica antes da cisão ocorrida em 1º de novembro de 2012, afirmando expressamente "(...) que qualquer receita e despesa anterior à cisão (31/10/2012) pertence única e exclusivamente à Revati S/A Açúcar e Álcool. Entretanto, após a cisão (01/11/2012) qualquer creditamento, despesas, receitas relacionadas aos bens vertidos para a Revati Geradora de Energia Elétrica Ltda. Apenas a ela pertencem, não cabendo a Revati S/A Açúcar E Álcool se apropriar dos mesmos (em especial das depreciações / aquisições como créditos)". Assim, faz jus a exclusão da tributação da energia elétrica no período considerado no auto de infração. Além disto, houve débito na Revati Geradora de Energia Elétrica Ltda. Ao final, requereu (i) o cancelamento dos autos de infração, (ii) a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do art. 151, inciso III, do CTN, e (iii) a oportunidade para a produção das provas apontadas e justificadas na impugnação. No entanto, os argumentos aduzidos pela Recorrente, foram parcialmente acolhidos pela primeira instância de julgamento administrativo fiscal, conforme ementa do Acórdão DRJ em Ribeirão Preto (SP) nº 1463.187, de 30/09/2016, abaixo transcrito (fls. 9.089/9.091): ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2012 INSUMOS. CUSTOS DE PRODUÇÃO. CLASSIFICAÇÃO. Classificamse como insumos, para efeito de aproveitamento de créditos descontáveis do valor da contribuição calculada sobre o faturamento mensal, os custos/despesas incorridos com bens e serviços que compõem o custo do produto industrializado destinado à venda, exceto a mãodeobra paga a pessoa física. CRÉDITOS. CUSTOS. TRANSPORTE. MATÉRIA PRIMA.COMPROVAÇÃO. GLOSA. REVERSÃO. IMPOSSIBILIDADE. Fl. 9170DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.168 7 A reversão de valores glosados, aproveitados sobre os custos de transporte de matériaprima, depende da comprovação, mediante documento fiscal (Conhecimento de Transporte Rodoviário de Carga e/ ou Nota Fiscal) e contábil (Razão), de que tais custos foram, efetivamente, suportados pelo adquirente e glosados pela Fiscalização. CRÉDITOS. CUSTOS/DESPESAS. VEÍCULOS. GLOSA.MANUTENÇÃO. Mantémse a glosa dos créditos sobre os custos/despesas incorridas com materiais e peças empregadas na manutenção da frota de veículos agrícolas, inclusive, com óleo diesel, lubrificantes e combustíveis pelo fato de o interessado não ter exercido atividade agrícola nem ter produzido canadeaçúcar no período abrangido pelos autos de infração. CUSTOS/DESPESAS. PEÇAS. MÁQUINAS, VEÍCULOS E EQUIPAMENTOS NÃO UTILIZADOS DIRETAMENTE NO PROCESSO PRODUTIVO. GLOSA. MANUTENÇÃO. Os custos/despesas com válvulas, suportes, mangueiras, graxas, óleo de motor, fluído de freio, óleo hidráulico, parafusos, reparos, retentores, filtros, juntas, filtros de óleo, amortecedores, não geram créditos da contribuição. CUSTOS/DESPESAS. MATERIAL DE MANUTENÇÃO. PROCESSO PRODUTIVO. UTILIZAÇÃO INDIRETA. GLOSA. MANUTENÇÃO. Os custos/despesas com chapa de aço carbono, vigas e cantoneiras, correias, taliscas, eletrodos e peças para moenda, motores elétricos, abraçadeiras, redutores, correias, chapa de aço inox, não constituem insumos e, portanto, não geram créditos da contribuição. CUSTOS/DESPESAS. MATERIAL. MANUTENÇÃO FERRAMENTA. GLOSA. REVERSÃO. IMPOSSIBILIDADE. Mantémse a glosa sobre as despesas com material de manutenção e ferramentas não identificadas e cujas aplicações no processo produtivo não foram demonstradas pelo interessado. CUSTOS/DESPESAS. EQUIPAMENTOS. PROTEÇÃO INDIVIDUAL. GLOSA. MANUTENÇÃO. Inexiste amparo legal para se aproveitar (descontar) créditos sobre custos com equipamentos de proteção individual para os empregados ainda que lotados na produção industrial. Fl. 9171DF CARF MF 8 CUSTOS/DESPESAS. PRODUTOS QUÍMICOS. LOCAÇÃO. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS. GLOSA. REVERSÃO. Os custos/despesas com produtos químicos, inclusive, antibióticos utilizados no processo produtivo do interessado geram créditos da contribuição, passíveis de aproveitamento, bem como os incorridos com locação de máquinas e equipamentos pagos a pessoas jurídicas, utilizados nas atividades da empresa. CRÉDITOS. FRETE. INSUMOS. GLOSA. PROVA. REVERSÃO. IMPOSSIBILIDADE. A reversão de glosa de créditos aproveitados (descontados) sobre frete na aquisição de insumo, depende da demonstração e comprovação, mediante documento fiscal (Conhecimento de Transporte Rodoviário de Carga e/ ou Nota Fiscal) e contábil (Razão), que Fiscalização efetuou tal glosa. CRÉDITOS EXTEMPORÂNEOS. APROVEITAMENTO. O aproveitamento de créditos extemporâneos está condicionado a apresentação dos Demonstrativos de Apuração de Contribuições Sociais (Dacons) retificadores dos respectivos trimestres, demonstrando os créditos e os saldos credores trimestrais, bem como das respectivas Declarações de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTFs) retificadoras. CRÉDITO PRESUMIDO. CÁLCULO. MÉTODO. RATEIO. GLOSA. A falta de sistema de contabilidade de custo integrada e coordenada com a escrituração contábil para apuração dos custos de produção implica adoção do rateio proporcional da receita bruta em relação à receita decorrente da venda de álcool (etanol) para o cálculo do crédito presumido deste produto; assim, a glosa decorrente da adoção deste método deve ser mantida. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2012 Ementas:Aplicamse, na íntegra, as mesmas do PIS. Impugnação Procedente em Parte / Sem Crédito em Litígio Em 07/02/2017 (fl. 9.124) a Recorrente foi devidamente cientificada por meio de sua Caixa Postal, considerada seu Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) perante a RFB e não resignada com a decisão, a empresa em 23/02/2017 (fl. 9.126), interpôs o presente recurso voluntário, (fls. 9.128/9.157) no qual, repisa os argumentos de sua impugnação que em suma, alega as seguintes razões: Fl. 9172DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.169 9 3.1.1. Do Entendimento com Relação ao Conceito de INSUMO Aplicável na Sistemática Não Cumulativa do PIS e da COFINS: Discorre que no caso dos autos, além dos insumos glosados estarem plenamente de acordo com a legislação aplicável, gerando o direito aos créditos de PIS e COFINS na modalidade não cumulativa, tal situação fica ainda mais evidenciada, levando em consideração o conceito de insumo proposto pelo CARF e reconhecido pelo TRF da 4ª Região, visto que também existem custos e despesas estritamente vinculados e essenciais à atividade produtiva e econômica da Recorrente, cujo creditamento deve ser reconhecido. 3.1.2. Do Direito ao Crédito de PIS/Pasep e da COFINS Oriundo das Atividades de Transporte da MatériaPrima para a Indústria e Custos/Despesas com Combustível: Neste ponto, a decisão recorrida deixou de acatar o creditamento de todos os insumos por entender que seria necessário a comprovação de que os custos foram efetivamente suportados. Com o devido respeito, há uma impropriedade nos argumentos esposados pela Delegacia de Julgamento, uma vez que se deve levar em consideração à atividade agroindustrial da Recorrente. 3.1.3. Do Direito ao Crédito de PIS/Pasep e da COFINS Oriundo das Aquisições de Peças, Máquinas, Veículos e Equipamentos Aplicados na Fase Industrial; Equivocase ao proceder a glosa de insumos que são indispensáveis ao processo produtivo e, principalmente, essenciais na produção do álcool e açúcar destinados à venda, ainda, que ausente informações documentais de mero controle de produção. 3.1.4. Do Direito ao Crédito de PIS/Pasep e da COFINS Oriundo dos Fretes das Aquisições de Insumos, Fretes de Transporte de CanadeAçúcar; a) . Fretes das Aquisições de Insumos e Frete de Transporte de CanadeAçúcar Segundo determina o art. 289, § 1º, do Decreto nº 3.000/99 (RIR/99), e de acordo com a boa técnica contábil, o frete e o seguro pagos na aquisição de insumos e de mercadorias destinadas à revenda integram o custo de aquisição das mercadorias. 3.1.5. Do Direito aos “Créditos Extemporâneos”. A Fiscalização entendeu equivocadas a apuração dos chamados “Créditos Extemporâneos”, sob a alegação de que a norma que trata da apropriação de créditos em meses subsequentes ao mês da aquisição, apenas tem validade para os créditos existentes da sistemática da não cumulatividade. 3.1.6 Do Direito ao Crédito Presumido A Fiscalização não acatou o critério de rateio utilizado pela Recorrente para os cálculos do crédito presumido aplicado na aquisição da canadeaçúcar sob a alegação de que este não teria respaldo na legislação, uma vez que o rateio deve se dar em função do faturamento (venda) e não da produção, a não ser que a empresa utilizasse o critério de aproveitamento do custo direto. Fl. 9173DF CARF MF 10 3.1.7 Da Cisão Parcial e da Atividade de Geração de Energia Elétrica. Existiram glosas realizadas pela ilustre fiscalização motivadas, segundo o seu entendimento, por falta de dados dos documentos e também nos lançamentos contábeis, o que não se justifica, conforme abaixo demonstrado: 3.1.8 Da Consolidação de Arquivos e Bens Relacionados à Cisão A Recorrente informou durante o curso da fiscalização (resposta MPF protocolada em 29.09.2015), que alguns bens relacionados ao centro de custo “COGERACAO E DISTR. DE ENERGIA ELETRICA” não foram objeto da cisão. Tais bens pertencem a Revati S/A Açúcar e Álcool e são utilizados na atividade produtiva da empresa, uma vez que todas as usinas, não sendo diferente do caso da Recorrente, possuem um setor de geração de energia, sem o qual suas atividades industriais seriam impossibilitadas. 3.1.9 Da Comprovação da Conclusão da Obra Em relação à comprovação documental da conclusão da obra, a Recorrente apresentou o Razão Contábil da conta “1.3.2.01.50.010 IMOBILIZAÇÕES EM ANDAMENTO”, em meio magnético, a fim de evidenciar a transferência dos bens de imobilizações em andamento para as contas de Instalações Industriais, Edificações, entre outras. 3.1.10 Das Notas Fiscais de Prestação de Serviço A Recorrente apresentou à fiscalização as notas fiscais originais referente as prestações de serviços e laudos técnicos relacionados na planilha “Revati – Ativo Imobilizado 2009 a 2013”. 3.1.11 Da Alegada Omissão de Receita de Energia Elétrica A ilustre fiscalização esclareceu ter recebido a informação da existência de uma cisão parcial em 01.11.2012, com a pessoa jurídica Revati Geradora de Energia Elétrica Ltda., CNPJ 10.651.227/000150. 4. Do Prequestionamento Cumpre à Recorrente prequestionar a presente matéria, para fins de eventual interposição de Recurso Especial, nos termos do art. 67, § 3º, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais6 (Portaria MF nº 256/2009). Logo, toda matéria aqui defendida deve ser considerada prequestionada para fins de eventual Recurso Especial, tendo em vista que a questão da prescrição sobreveio apenas na decisão da DRJ/CTA, motivo pelo qual os presentes argumentos estão na órbita do prequestionamento. 5. Dos Pedidos Ante todo o exposto, pede a Recorrente conhecer o presente Recurso Voluntário, dandolhe total provimento, para o fim de reformar o Acórdão proferido e, consequentemente, o cancelamento integral da exigência fiscal. 6. Dos Requerimentos Fl. 9174DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.170 11 REQUER a suspensão da exigibilidade do Crédito Tributário, conforme determina o art. 151, inciso III, do Código Tributário Nacional e oportunidade para a produção das provas apontadas e justificadas na presente Impugnação, inclusive complementarmente. É o relatório. Voto Conselheiro Waldir Navarro Bezerra, Relator 1. Da admissibilidade do Recurso O Recurso Voluntário é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, devendo ser conhecido pelo Colegiado. 2. Objeto da lide Em 23/10/2015, a Recorrente foi cientificada do “Termo de Verificação de Infração Fiscal à Legislação Tributária Federal (PIS/COFINS), Sem a Exigência de Crédito Tributário Ano 2012”, e do Encerramento da Ação Fiscal realizada. O Fisco fundamentou o lançamento do Auto de Infração na medida em que apurou que “o direito do sujeito passivo é menor do que peticionou” glosas de créditos, sendo este o motivo para a lavratura do referido Auto de Infração. Consta dos autos, que a Recorrente atua, preponderantemente, no ramo de fabricação e a comercialização de álcool e do açúcar do mercado interno e externo. Assim, toda a celeuma instaurada cingese em torno da validade do aproveitamentos de créditos de PIS e da COFINS (apurados no regime não cumulativo) na fabricação dos seguintes produtos: de álcool (etanol), do açúcar e bioeletrecidade. 3. Conceito de Insumos No que se refere ao desconto de créditos, o núcleo da questão em combate, concentrase sobre a subsunção no conceito de insumos bens e serviços adquiridos, que geram direito aos créditos do PIS e da COFINS. É pertinente, portanto, que, antes do exame das questões fáticas objeto da controvérsia sejam feitas breves considerações acerca do referido regime de incidência, nas quais abordaremos, em conjunto, questões atinentes aos regimes da nãocumulatividade do PIS e da COFINS, dada a similitude existente entre os mesmos. O regime de incidência nãocumulativa das contribuições para o PIS/Pasep e para a COFINS foi instituído, respectivamente, pelas leis nº 10.637, de 30/12/2002 (conversão da Medida Provisória no 66, de 2002), e 10.833, de 29/12/2003 (conversão da medida Provisória no 135, de 2003), tendo passado a produzir efeitos, em relação à nãocumulatividade dessas contribuições – na mesma ordem a partir de 1o de dezembro de 2002 e de 1o de fevereiro de 2004. Atualmente, este Conselho Administrativo (CARF), na maior parte de suas decisões, não tem adotado, para fins de aproveitamento de créditos do PIS/Pasep e da Cofins, a Fl. 9175DF CARF MF 12 interpretação do conceito de insumos segundo a legislação do Imposto de Renda, nem aquela veiculada pelas Instruções Normativas SRF nºs 247/2002 e 404/2004, conforme bem esclarece o Acórdão nº 3403002.656, julgado em 28/11/2013, Relator Conselheiro Rosaldo Trevisan, cuja ementa ora se transcreve: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/04/2004 a 30/06/2004 CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP. NÃO CUMULATIVIDADE. INSUMO. CONCEITO. O conceito de insumo na legislação referente à Contribuição para o PIS/PASEP e à COFINS não guarda correspondência com o extraído da legislação do IPI (demasiadamente restritivo) ou do IR (excessivamente alargado). Em atendimento ao comando legal, o insumo deve ser necessário ao processo produtivo/fabril, e, consequentemente, à obtenção do produto final. Acórdão nº 3402003.169, julgado em 20/07/2016, Relator Conselheiro Antonio Carlos Atulim: REGIME NÃO CUMULATIVO. INSUMOS. CONCEITO. No regime não cumulativo das contribuições o conteúdo semântico de “insumo” é mais amplo do que aquele da legislação do IPI e mais restrito do que aquele da legislação do imposto de renda, abrangendo apenas os “bens e serviços” que integram o custo de produção. Filiome ao entendimento deste CARF que tem aceitado os créditos relativos a bens e serviços utilizados como insumos que são pertinentes e essenciais ao processo produtivo ou à prestação de serviços, ainda que neles sejam empregados indiretamente, conforme ilustra a ementa abaixo do Acórdão nº 3403003.052, julgado em 23/07/2014, por voto condutor do Relator Conselheiro Alexandre Kern: (...) ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2007 a 31/03/2007 NÃO CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. INSUMOS. CONCEITO. Insumos, para fins de creditamento da Contribuição Social não cumulativa, são todos aqueles bens e serviços pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade empresária, ou implica em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes (...). Como vimos acima, concluímos que geram direito de crédito todos os insumos bens ou serviços que sejam aplicados na produção de bens ou serviços, cuja receita esteja sujeita à incidência sob o regime nãocumulativo. Fl. 9176DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.171 13 No entanto, não é toda e qualquer aquisição que gera direito de crédito, mas apenas aquelas que se enquadrem nas hipóteses de crédito previstas nas Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003. São estas Leis a fonte primária de definição dos critérios para o direito de crédito. Em suma, o entendimento deste Conselho, com efeito, é de que: “O conceito de insumo previsto no inciso II do art. 3° da Lei n° 10.637/02 e normalizado pela IN SRF n° 247/02, art. 66, § 5°, inciso I, na apuração de créditos a descontar do PIS não cumulativo, não pode ser interpretado como todo e qualquer bem ou serviço que gera despesa necessária à atividade da empresa, mas tão somente aqueles adquiridos de pessoa jurídica, intrínsecos à atividade, que efetivamente sejam aplicados ou consumidos na produção de bens destinados à venda ou na prestação do serviço, desde que não estejam incluídos no ativo imobilizado. (…) (Acórdão 330100.423, Processo 11080.003383/200483, Rel. Cons. Maurício Taveira e Silva, j. 03/02/2010). Em resumo, especificamente falando, são os custos de produção, gastos incorridos no processo direto propriamente dito de obtenção de produtos e de serviços colocados à venda, não se incluindo nesse grupo, como exemplo, as despesas financeiras, as despesas de venda e as de administração, as quais constituem, do ponto de vista contábil, as despesas gerais de uma empresa. Nesse escopo, para decidir quanto ao direito ao crédito de PIS e da COFINS nãocumulativo é imprescindível que primeiro se confiram as características da atividade produtiva desenvolvida pela empresa para, então, analisar neste caso sob exame, quais as aquisições que configuram insumo para os bens e serviços por ela produzidos (que integram o custo de produção). Do Crédito dos insumos Atividade Agrícola É fato que, conforme já decidido por este CARF (inclusive nesta TO), mediante o Acórdão nº 3403002.824, de 24/02/2014, a fase agrícola da agroindústria também integra o seu processo produtivo para fins de aproveitamento de crédito das contribuições sociais não cumulativas, como se vê no voto condutor do Conselheiro Antonio Carlos Atulim, abaixo transcrito: (...) Os referidos dispositivos legais, ao tratarem do direito de crédito das contribuições no regime não cumulativo, se referem a bens e serviços utilizados na "produção ou fabricação "de bens ou produtos destinados à venda. Uma breve consulta ao Dicionário Aurélio permite constatar que os verbos "produzir" e "fabricar" possuem significados distintos. "Produzir" significa "gerar","dar lugar ao aparecimento de algo", "criar". Por seu turno, o verbo "fabricar" denota" transformar matérias em objetos de uso corrente", "manufaturar", "construir". Ao utilizar verbos com significados diferentes ligados pelo conectivo "ou", os arts. 3º, II, das Leis nº 10.637/02 e 10.833/03 asseguraram o direito de crédito em relação aos processos de fabricação; aos processos de produção, que englobam Fl. 9177DF CARF MF 14 atividades não industriais, e também aos processos produtivos mistos que envolvam aquelas duas atividades das quais resultem um bem ou um serviço que seja destinado à venda. Isto porque a partícula "ou" foi empregada com valor semântico inclusivo. Quisesse o legislador excluir de forma deliberada a atividade mista (produção e fabricação), teria empregado no art. 3º, II, a expressão "ou...ou" ("ou produção ou fabricação"). No caso concreto, o contribuinte exerce as duas atividades: produz sua própria matériaprima (produção de madeira) e extrai a celulose da matériaprima (fabricação) por meio do processo industrial descrito nos recursos apresentados neste processo. Tendo em vista que a lei contemplou com o direito de crédito os contribuintes que exerçam as duas atividades, concluise, a partir da interpretação literal dos textos dos arts. 3º, II, das Leis nº 10.637/02 e 10.833/03, que não há respaldo legal para expurgar dos cálculos do crédito os custos incorridos na fase agrícola (produção da madeira), sob argumento de que esta fase culmina na produção de bem para consumo próprio. Em outra linha de argumentação, é bom lembrar que o art. 22A da Lei nº 8.212/91, introduzido pelo art.1º da Lei nº 10.256/01, estabeleceu que para o fim de incidência da contribuição previdenciária,"agroindústria" é definida como sendo o produtor rural pessoa jurídica cuja atividade econômica seja a industrialização de produção própria ou de produção própria e adquirida de terceiros. Versando este processo sobre créditos de contribuições devidas ao sistema da seguridade social, forçoso concluir que a "industrialização de produção própria" foi contemplada pela legislação tributária como sendo uma atividade única, fato que também desautoriza a secção da atividade do contribuinte, tal como foi feito pela autoridade administrativa. Portanto, com base nos dispositivos legais acima, tanto em relação ao cumprimento de obrigações tributárias, quanto para o fim de aproveitamento de créditos das contribuições, o processo produtivo da recorrente deve ser visto como um todo único, iniciandose com a criação das mudas de eucalipto e terminando com o corte e o enfardamento das folhas de celulose, conforme descrito nos recursos apresentados. (...) (Grifei) Por outro lado, o voto vencido do Conselheiro Henrique Pinheiro Torres no Recurso Especial 9303003.477, em julgamento de 25/02/2016, ao discorrer sobre o conceito de insumo para fins de creditamento de PIS/COFINS, conseguindo que: Nessa linha, não vejo como, em nome da alegada diretriz constitucional, empreender interpretação que alargue o conceito de insumo para além do inciso II do art. 3º, tanto da Lei nº 10.637, de2002 quanto da Lei nº 10.833, de 2003. (...) Como é possível perceber, apesar da grande discussão acerca do tema, é extreme de dúvidas que só serão admitidos como insumo, para efeito da lei, os bens que possuam ligação intrínseca com o processo produtivo, que, evidentemente, não se confunde com a atividade empresarial (Grifei). Também como bem destacado pelo Conselheiro Diego Diniz Ribeiro no Acórdão nº 3402003.817, de 26/02/2017, componente deste Colegiado, haja vista a adoção do conceito de insumo, onde destaca que "(...) é natural que, em se tratando de uma Fl. 9178DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.172 15 agroindústria, exatamente como ocorre no caso decidendo, a fase agrícola da atividade empresarial e, por conseguinte, os insumos ali consumidos, também seja levada em consideração para fins de creditamento de PIS e COFINS." Se faz necessário trazer a baila que esta matéria restou pacificada no STJ, com o julgamento no Recurso Repetitivo nº 1.221.170/PR, concluso, com a seguinte interpretação: "O conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, vale dizer, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de determinado item, bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte." (Grifei) Afinal, sendo rechaçada a aproximação do conceito de insumo de IPI para fins do direito ao crédito, cai por terra a separação normalmente feita pela Fiscalização entre a fase agrícola e a industrial das agroindustrial, sendo que somente a segunda fase (industria propriamente dita) seria capaz de possuir insumos com o respectivo direito ao crédito de PIS e da COFINS. O mesmo entendimento foi compartilhado por essa Turma Ordinária (TO), como se observa da ementa abaixo transcrita e extraída do voto da Conselheira Maria Aparecida Martins de Paula o qual, digase de passagem, tratou de questão afeta a empresa com a mesmíssima atividade da Recorrente (produção de açúcar e álcool): Ementa Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Período de apuração: 01/01/2009 a 31/12/2009 CONTRIBUIÇÕES. NÃO CUMULATIVIDADE. INSUMO. CONCEITO. AGROINDÚSTRIA. FASE AGRÍCOLA. Insumos, para fins de creditamento da contribuição social não cumulativa do PIS/Pasep ou da Cofins, são todos aqueles bens e serviços que são pertinentes e essenciais ao processo produtivo ou à prestação de serviços, ainda que sejam neles empregados indiretamente. No caso da agroindústria, admitese o creditamento não só dos bens e serviços qualificados como insumos na própria industrialização, mas também daqueles insumos utilizados na fase agrícola que lhe precede. (...). (CARF; 2a Turma da 4a da 3a Seção; Processo nº 16004.720550/201371; Acórdão nº 3402003.041. j. em 27/04/2016.) (Grifei). Retornandose ao caso em concreto, verificase nos autos que a Recorrente informa que é uma tradicional e importante empresa do ramo agroindustrial, tendo por objeto social a atividade preponderantemente, dentre outras, a fabricação e a comercialização de álcool e açúcar no mercado interno e externo. Desta forma, é com enfoque nas premissas acima expostas, que passaremos a examinar os argumentos apresentados pela Recorrente frente os elementos e constatações presentes nos autos sob exame. Fl. 9179DF CARF MF 16 4 Da Cadeia Produtiva Industria SUCROENERGÉTICA Consta dos autos que a Recorrente produz açúcar e álcool, o produto final do estabelecimento industrial, sendo que em área agrícola própria cultiva a canadeaçúcar que alimentará suas usinas para produção de açúcar e álcool. A fiscalização entendeu que as despesas, incluindo aí os insumos, necessariamente despendidas nessa atividade agrícola, não podem compor a base de cálculos dos créditos da nãocumulatividade, mas a Recorrente argumenta que não seria lógico que as empresas produtoras de canadeaçúcar destinada a venda tenham o direito de apurar créditos em relação aos insumos aplicados em sua atividade agrícola, enquanto as pessoas jurídicas agroindustriais que produzem a sua própria matéria prima não tenham o mesmo direito. Cumpre então passando à aferição dos itens glosados pela Fiscalização, cotejandoos com o objeto social da Recorrente, e, portanto, às atividades que pratica e lhe geram receita, para aferir quais se amoldam ao conceito de insumo (custo de produção) para fins de tomada de crédito na sistemática não cumulativa da Contribuição ao PIS e da COFINS. 5. Dos Créditos GLOSADOS Alega a Recorrente que a etapa agrícola consiste em uma fase importante da produção do açúcar e do álcool. Por isso, o critério que se mostra consentâneo com a noção de receita é o adotado pela legislação do Imposto de Renda, em que todos os custos e despesas necessárias para a realização das atividades operacionais da empresa podem ser deduzidos. Desse modo, devem ser considerados como INSUMOS os gastos que, ligados inseparavelmente aos elementos produtivos, proporcionam a existência do produto ou serviço, o seu funcionamento, a sua manutenção ou o seu aprimoramento. Sob essa ótica, o insumo pode integrar as etapas que resultem no produto ou serviço, ou até mesmo as posteriores, desde que sejam imprescindíveis e essenciais ao funcionamento do fator de produção Com esse entendimento, aduz em seu recurso que, (...) No entanto, a Fiscalização, entendeu por não acatar a mais balizada doutrina e jurisprudência sobre o tema, interpretando a legislação do Pis/Pasep e Cofins de forma equivocada, afastando todos créditos relacionados à colheita e ao transporte da matéria prima (canadeaçúcar) da Recorrente, alegando que apenas aqueles relacionados diretamente a fase industrial de produção do açúcar e do álcool é que podem gerar direito a crédito". Como se vê, a Recorrente enfatiza que a atividade agroindustrial desenvolvida, posto que os produtos fabricados e comercializados (açúcar e o etanol) são transformação do açúcar acumulado na cana plantada, são consideradas essenciais, sendo inadmissível que esta etapa seja extirpada do processo produtivo. Desta forma, entendo natural que, em se tratando de uma agroindústria, exatamente como ocorre neste caso, a fase agrícola da atividade empresarial e, por conseguinte, os insumos ali consumidos, muitos destes insumos, também seja levado em consideração para fins de creditamento de PIS e COFINS. Essa questão não é nova para este Colegiado, no qual, como já exposto em tópico anterior, está sedimentada a idéia de que os insumos empregados na fase agrícola (não são todos) também podem ser considerados para fins creditamento de PIS e COFINS não cumulativo. Fl. 9180DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.173 17 Como relatado, o Fisco afirma que a maioria dos itens glosados foram dispêndios ocorridos com a lavoura da cana de açúcar, não podendo ser considerados bens ou serviços utilizados como insumo na produção do açúcar e do álcool. Em seu Relatório, a Fiscalização esclareceu a sua concepção para o que seriam insumos e conforme consignado nos autos, não foram aceitos os créditos de alguns itens, tais como exemplo: (a) Peças para manutenção da frota que realiza o corte, carregamento e o transporte da matéria prima para abastecer a indústria; (b) Óleo Diesel e lubrificantes da frota que realiza o corte, carregamento e o transporte da matéria prima para abastecer a indústria; (c) Despesas com a manutenção industrial; (d) EPI’s – Equipamentos de Proteção Individual; e (e) Serviços de manutenção de máquinas e equipamentos diversos, utilizados direta ou indiretamente no processo produtivo. Frisese que as leis (10.637/2002 e 10.833/2003) que regulam o PIS e a COFINS, pretendem vir ao encontro daquela previsão constitucional de um regime de não cumulatividade. Nesse sentido, elas trazem as regras para a determinação do valor devido dessas contribuições, e, para tanto, prevêem que o cálculo considere a redução por créditos apurados para fatores que concorreram para a obtenção dessa receita ou faturamento. Ao meu sentir, essas duas leis informam que dão direito a crédito os bens e serviços, utilizados como insumos na prestação de serviços e na produção de bens ou produtos destinados a venda. Quando designam insumos, tenho como certo que se referem a fatores de produção, os fatos necessários para que os serviços possam estar em condições de serem prestados ou para que os bens e produtos possam ser obtidos em condições de serem destinados a venda. E quando afirma que são os utilizados na prestação de serviços e na produção, depreendese que: (i) são os utilizados na ação de prestar serviços ou, (ii) na ação de produzir ou na ação de fabricar. Nesse passo entendo que as possibilidades para se caracterizar insumos não se restringem a: (i) quando se tratar de matéria prima, produto intermediário ou material de embalagem, bens esses que efetivamente compõem ou se agregam ao bem final da etapa de industrialização; (ii) quando se tratar de outros bens quaisquer, os quais não se agregam ao bem final, desde que sofram alterações, como desgaste, dano ou perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em industrialização, e (iii) aos bens obtidos por processo industrial. No caso sob exame, em alguns pontos apresento entendimento divergente da fiscalização e dos julgadores a quo, uma vez que o plantio e preparo da cana de açúcar e, por ser ela um insumo da industrialização do açúcar e do álcool é, sim, etapa do processo de produção do açúcar e do álcool. E, sendo assim, há que se identificar exatamente quais despesas e custos se referem aos fatores que se ligam comprovadamente a esse processo de produção e aos produtos açúcar e álcool vendidos. E, para se decidir que um bem ou serviço possa gerar crédito com relação a determinada receita tributada, há que se perquirir em que medida esse bem ou serviço é fator necessário para a prestação do serviço ou para o processo de produção do produto ou bem destinado a venda, e geradores, em última instância, da receita tributada. Fl. 9181DF CARF MF 18 Portanto, para se justificar o creditamento, não basta demonstrar que os bens e serviços concorreram para o processo de produção, ou de fabricação, ou de prestação do serviço, mas é necessário em adição demonstrar para qual produto ou serviço aqueles fatores de produção ou insumos concorreram. E é diante deste quadro que analisaremos a possibilidade de creditamento de PIS e COFINS daqueles insumos empregados na produção agrícola de empresas que exploram atividades agroindustriais (como é o caso da Recorrente), o qual passaremos a demonstrar separadamente, por tópicos a seguir. 6. Do ônus da Prova Muito embora trata o presente processo de Auto de Infração, por envolver a fruição de créditos de PIS e da COFINS, cabe à postulante o ônus da comprovação da sua existência. Tratase de postulado do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), adotado de forma subsidiária na esfera administrativotributária. O art. 373 do CPC (Código de Processo Civil) disciplina a distribuição do ônus probatório da seguinte forma: Art. 373. O ônus da prova incumbe: I ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Como se vê, estatuiuse por meio desta norma que o ônus da prova no processo civil incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito e ao réu quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Ou seja, cada interessado, portanto, tem o ônus de provar os pressupostos fáticos do direito que pretenda seja aplicado pelo julgador na solução do litígio. Tratase de matéria de extremada importância em sede processual no que se refere à repartição do ônus da prova nas questões litigiosas. Com efeito, da delimitação do ônus probandi depende a definição de grande parte das responsabilidades processuais. Assim é nas relações de direito privado e, igualmente, nas relações de direito público, dentre as quais as relacionadas à imposição tributária. Neste campo, a legislação processual administrativotributária inclui disposições que, em regra, reproduzem aquele que, por assim dizer, o principio fundamental do direito probatório, qual seja o de que quem acusa e/ou alega deve provar. Assim é que, nos casos de lançamentos de oficio, não basta a afirmação, por parte da autoridade fiscal, de que ocorreu o ilícito tributário; pelo contrário, é fundamental que a infração seja devidamente comprovada, como se depreende da parte final do caput do artigo 9.° do Decreto n.° 70.235/1972, que determina que os autos de infração e notificações de lançamento "deverão estar instruídos com todos os termos, depoimentos, laudos e demais elementos de prova indispensáveis à comprovação do ilícito". De outro lado, ao contribuinte a legislação impõe o ônus de provar o que alega em face das provas carreadas pela autoridade fiscal, como expresso no inciso III do artigo 16 do mesmo Decreto n.° 70.235/1972, que determina que a impugnação conterá "os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir". Fl. 9182DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.174 19 No mesmo sentido se depreende da parte final do caput do art. 38, § 1º, do Decreto nº 7.574, de 2011, que determina que os autos de infração e notificações de lançamento deverão estar instruídos com todos os termos, depoimentos, laudos e demais elementos de prova indispensáveis à comprovação do fato motivador da exigência. De outro lado, ao contribuinte a legislação impõe o ônus de provar o que alega em face das provas carreadas pela autoridade fiscal, como expresso no inciso III do art. 57 do mesmo Decreto, que determina que a impugnação conterá os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir. Esse, portanto, o quadro nos lançamentos de oficio: à autoridade fiscal incumbe provar, pelos meios de prova admitidos pelo direito, a ocorrência do ilícito; ao contribuinte, cabe o ônus de provar o teor das alegações que contrapõe as provas encenadoras do lançamento. A distribuição do ônus da prova possui ainda certas características quando se trata de lançamentos tributários decorrentes de glosa de créditos de PIS/COFINS no regime da nãocumulatividade (possibilidade de dedução, do valor a ser recolhido, de créditos calculados sobre bens e serviços). No que se refere aos créditos, todavia, diante das particularidades deste regime tributário, verificase que eles se encontram na esfera do dever probatório dos contribuintes. Tal afirmação decorre da simples aplicação da regra geral, qual seja, de que àquele que pleiteia um direito tem o dever de provar os fatos que geram este direito. Sendo os créditos deste regime tributário um benefício que permite ao contribuinte diminuir o valor do tributo a ser recolhido, cumpre ao contribuinte que quer usufruir deste benefício o ônus de provar que possui este direito. Exigese a apresentação de documentos comprobatórios da existência do direito creditório, ou seja, documentos que atestem, de forma inequívoca, a origem e a natureza do crédito pleiteado. Não comprovado possuir este direito, seus créditos devem ser cancelados, sendo exigida a contribuição devida que estava acobertada por estes créditos. No caso sob análise, a Fiscalização sustenta suas glosas com base nas informações buscadas pelos Termos de Intimação lavrados, documentos disponibilizados pela empresa, planos de contas, Livros contábeis e fiscais verificados durante o procedimento fiscal. Já a Recorrente, em regra, não apensou aos autos elementos necessários à comprovação de suas alegações de seu recurso voluntário, limitandose, em muito, a protestar pela validade de créditos glosados e afirmando (sem anexar provas) que todos os custos e despesas se referem aos insumos intrinsecamente e essencialmente ligados à prestação dos serviços da Recorrente e que podem ser deduzidos como créditos na apuração do PIS e da COFINS, no termos do art. 3º, II, das Leis 10.637/02 e 10.833/03. 7. Fato relevante a ser considerado no exame deste processo Para o melhor deslinde das glosas efetuado pelo Fisco, neste período fiscalizado (AC de 2012), fazse importante ressaltar o que restou consignado no item 56 do Termo de Verificação de Infração Fiscal (fl. 2.863), para a aplicação da melhor interpretação do conceito de insumos, especificamente no presente caso. Vejase trecho: Fl. 9183DF CARF MF 20 "(...) 56. Apenas no intuito de reforçar os conceitos e fatos expostos acima, e em especial nas soluções de consultas juntadas adiante, o contribuinte não possui atividade agrícola, portanto não exerce atividade agropecuária, não produz canadeaçúcar, e quaisquer insumos desta produção (por exemplo óleo diesel, fertilizante, adubos, gastos com maquinários, etc) não geram crédito ao mesmo, mas em seu lugar é permitido se utilizar (e ele utiliza) de créditos presumidos na aquisição da canadeaçúcar adquirida de pessoa física ou jurídica, que SE TRATA DE UM PERMISSIVO LEGAL EM SUBSTITUIÇÃO A TODOS OS OUTROS INSUMOS RELACIONADOS À AQUISIÇÃO DA REFERIDA CANA. Da mesma forma ocorre quando aos gastos com os veículos que produzem (tratores e outras máquinas) e transportam a canadeaçúcar (vide planilha 30, tabela “D”), que em sua maioria é de propriedade de terceiros (94,39 % “D.2” e “D.3”) e em especial a maior parte pertence a outras pessoas jurídicas do grupo Renuka, sendo que mais de 93% do óleo diesel consumido se deu na área de produção agrícola, da qual o sujeito passivo sequer exerce essa atividade ou a gerencia". 8. Do Direito ao Crédito Oriundo das Atividades de Transporte da MatériaPrima para a Indústria e Custos/Despesas com Combustível Alega a Recorrente que, não há como negar que a atividade agroindustrial é integrada, ou seja, fase agrícola e fase industrial, demandando espaços territoriais, motivo pelo qual existe uma movimentação grande de máquinas e veículos, seja na colheita e nos transporte de matériaprima dos fundos agrícolas para a indústria, seja no transporte de máquinas, equipamentos e, sobretudo, adubos e produtos químicos aos diversos fundos agrícolas onde são aplicados. "(...) Nesse contexto, foram glosados todos os gastos com a aquisição de combustíveis, lubrificantes, peças e serviços utilizados na manutenção de máquinas e equipamentos utilizados para transporte da canadeaçúcar do campo para a indústria". Desta forma, entende estar demonstrada a essencialidade dos gastos realizados pela Recorrente nos itens acima. Conforme observado nas explanações anteriores, os custos com transporte de matériaprima (fretes nos transportes de canadeaçucar, etc) suportados pelo adquirente geram créditos de PIS e COFINS. No entanto, verificase no Termo de Verificação que tais custos não foram glosados pela Fiscalização. Segundo consta, a fiscalização glosou créditos sobre os custos/despesas com óleo diesel destinado à atividade e, principalmente, à revenda, inclusive, com o estorno dos débitos das contribuições que foram apurados indevidamente pela Recorrente sobre as receitas decorrentes da revenda deste produto (óleo diesel). Vejase o que informa a Recorrente em seu recurso (fl. 9.145), (...) Da mesma forma como foram glosados todos os itens utilizados em máquinas, veículos e equipamentos diversos que atuam desde o transporte da matéria prima do campo para a indústria, quanto aos que se destinam ao transporte de pessoal técnico para as áreas em que são necessários, tais como mecânicos, engenheiros e etc., profissionais de extrema importância e que atuam em áreas críticas do processo produtivo da empresa, sem os quais o processo produtivo torna se inviável". Quanto aos fretes, entendo que, de fato os custos/despesas com transporte de pessoal técnico especializado não constituem insumos e, portanto, não geram créditos das contribuições, passiveis de aproveitamento (desconto). Fl. 9184DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.175 21 Já para os demais fretes que foram glosados, a Recorrente não demonstrou nem provou que a Fiscalização glosou créditos sobre fretes suportados por ele, na aquisição de matériaprima (canadeaçúcar), para a industrialização. Nenhum documento fiscal (Conhecimento de Transporte Rodoviário de Carga e/ ou Nota Fiscal) e contábil (Razão) foi apresentado por ele, em sua impugnação ou agora em fase de recurso voluntário, identificando os bens transportados e os respectivos custos (fretes) glosados. Como dito, verificase que quando de sua Impugnação e agora nesta fase de Recurso, as alegações da Recorrente não foram acompanhadas de qualquer prova, ainda que indiciária, que pudesse corroborar a versão apresentada pela empresa, tais como Notas Fiscais, Conhecimentos, cópia Livros Contábeis (Diário ou Razão), etc. No caso sob exame, o ônus da prova de tais fatos competiria à Recorrente, dado que não seria lícito atribuir à fiscalização o controle que as normas de escrituração contábil e fiscal exigem das sociedades empresárias. E, nesse contexto, é cediço que para a apresentação oportuna das provas, de acordo com o art. 16, inciso III, do Decreto nº 70.235, de 1972, aquelas devem ser apresentadas juntamente com a impugnação dos Autos de Infração. Assim, quanto aos fretes glosados, voto no sentido de se manter as glosas perpetradas pelo Fisco, uma vez que não foi juntada provas em seu recurso do alegado pela Recorrente. Quanto aos custos com aquisição de óleo diesel para revenda, os mesmos foram glosados pela fiscalização, motivado por, uma vez que não geram créditos de PIS e da COFINS na aquisição, e consequentemente, não geram débitos quando da revenda. Afirma a Fiscalização no Termo de Verificação que fls. 2.852/2.853, que "(...) Constatamos que o contribuinte também cometeu equívocos quanto ao óleo diesel, ao incluir como valor de contribuições a revenda de óleo diesel, da mesma forma que calcular créditos sobre a aquisição total do mesmo, o que foi corrigido pela fiscalização, conforme planilha 30. Em sua planilha (vide item seguinte) ficou evidente que parte do óleo diesel que não foi vendido não foi aplicado no processo produtivo do sujeito passivo, mas sim em processo de outras pessoas jurídicas do grupo e que também foi um equívoco calcular créditos sobre eles, sem contar que em outros casos sequer o óleo diesel adquirido foi aplicado no processo produtivo algum (...)". Explica que da mesma forma como ocorreu para o ano de 2009 (erros cometidos pelo sujeito passivo), e através do Termo de Constatação e Intimação Fiscal datado de 27/03/2015, a empresa foi intimada a apresentar arquivo digital em relação aos gastos com óleo diesel dos anos de 2010, 2011, 2012 e 2013 (similarmente ao que já havia apresentado para o ano de 2009) e em resposta datada de 09/04/2015 (acompanhado do 11º CD), apresentou a planilha solicitada onde discrimina o consumo do óleo diesel e o local de sua aplicação. Através do arquivo “Revati SA Consumo de diesel 2010 a 2013” apresentado em 09/04/2015 (11º CD), a Fiscalização elaborou a “Planilha 30 – óleo diesel”, que trata apenas dos valores referentes ao ano de 2012, para demonstrar por quem, onde e como foi consumido, e quem adquiriu o óleo diesel vendido, bem como segregar o produto utilizado na indústria e em seu parque industrial que pode ser considerado como insumo. Destaca que com relação ao consumo de óleo diesel (área agrícola), consta os dados da área agrícola do grupo, de que as várias empresas agrícolas do grupo possuem direção centralizada e formam um único cluster (aglomerados) em volta das duas usinas, de que a Fl. 9185DF CARF MF 22 produção agrícola é responsável pela coordenação da entrega da cana e em muitos casos da colheita e transporte de mais de 350 fornecedores, bem como relaciona o quantitativo de veículos da área agrícola próprios e sua manutenção é feita nas oficinas da empresa. Quanto a esse fato fica evidente que o crédito presumido da canadeaçúcar adquirida é o único crédito que pode ser peticionado e deferido em relação aos insumos que fazem parte área agrícola do grupo, não cabendo quaisquer outros gastos com veículos pertencentes a outras pessoas jurídicas do grupo, que não sejam aplicados diretamente no processo produtivo da pessoa jurídica fiscalizada, nem mesmo em imobilizações". Por fim, informa que em 09/04/2015 a Recorrente apresentou outra resposta ao nosso Termo de Intimação Fiscal de 01/04/2015, relacionado agora ao óleo diesel dos anos 2010 a 2013:" E, o Fisco prossegue às fls. 2.906/2.907, informando que: "Nota 2 – Óleo diesel Antes de entrarmos nas próximas tabelas, uma informação importante: O sujeito passivo solicitou créditos de TODAS as aquisições de óleo diesel (do ano 2012), entendendo que a sua compra, de forma geral, daria direito a crédito, porque no seu modo de entender isso era um tipo de insumo. De posse de uma planilha, fornecida pelo próprio contribuinte, verificamos que ele demonstra, de forma clara e precisa, quando a utilização desse é um insumo e quando não é, e o setor em que tal produto foi consumido (o que também denota se trata ou não de insumo). Entendemos que somente a utilização no centro de custo INDUSTRIAL e gasto na sede da pessoa jurídica é que dá direito ao crédito (e mesmo quando ele classifica como produção industrial, o óleo diesel não é gasto na indústria e sim em outras pessoas jurídicas ou propriedades). A utilização do óleo diesel consumido nas fazendas, mantidas pela Revati Agropecuária Ltda. ou outras pessoas jurídicas do grupo Renuka (que fornece ou não canadeaçúcar) não dá direito ao crédito. Ainda com relação ao ÓLEO DIESEL, o sujeito passivo “revende” o que, segundo ele mesmo em respostas apresentadas, se tornou excedente (R$ 18.362.465,67). Na verdade, a venda corresponde a 75,07% (vide tabela E, coluna % da Planilha 30) do total do crédito calculado (R$ 24.461.631,52), ou seja, se refere a revenda de combustíveis adquiridos, que não geram direito ao crédito, e a venda também não gera débito, porque se trata de operação sujeita a tributação no início da cadeia. Desta forma, excluímos tanto os créditos, quanto os débitos. Á título de orientação o contribuinte deveria evitar toda e qualquer forma de aquisição de óleo diesel que não fosse utilizado no processo produtivo, que de fato é de quantidade ínfima, perto do que se calculou. Desta forma na “Planilha 30 – Óleo Diesel”, seus totais por mês foram transferidos para esta “Planilha 32...”, e constam de suas linhas 12.156 a 12.167, da coluna “C = Seq. Fisco”. Fl. 9186DF CARF MF Processo nº 15868.720082/201574 Acórdão n.º 3402005.289 S3C4T2 Fl. 9.176 23 É importante salientar que as planilhas com os cálculos indicadas acima, foram confeccionadas a partir de dados e informações elaboradas pela própria Recorrente, seguindo de forma semelhante à sua formatação original, com algumas alterações introduzidas pela fiscalização. Portanto, entendo correto o procedimento fiscal. Como bem pontuado pela decisão recorrida, os custos com aquisição de óleo diesel para revenda não geram créditos de PIS e de Cofins, na aquisição, e, consequentemente, não geram débitos na revenda. Tratase de produto sujeito ao regime monofásico cujas contribuições são exigidas de forma concentrada do produtor (refinaria de petróleo) e/ ou do importador desse produto. Na sua revenda, as receitas auferidas pelos distribuidores e comerciantes varejistas estão sujeitas à alíquota de 0,00 % (zero por cento). Desta forma, a Fiscalização glosou os créditos aproveitados (descontados) indevidamente sobre os custos com aquisição de óleo diesel que foi revendido e estornou os débitos apurados pela Recorrente na revenda. É importante ressaltar que, conforme demonstrados no Termo de Verificação, as glosas sobre os custos com aquisições de óleo diesel se restringiram exclusivamente à revenda e ao consumo (na atividade agrícola) que não foi aplicado no processo produtivo do interessado e sim consumido por outras pessoas jurídicas do seu mesmo grupo empresarial. Ressaltando que no item 7 deste voto, a Fiscalização consignou que "sendo que mais de 93% do óleo diesel consumido se deu na área de produção agrícola, da qual o sujeito passivo sequer exerce essa atividade ou a gerencia", no ano de 2012. Assim, voto no sentido de se manter as glosas perpetradas pelo Fisco nas aquisições de Óleo diesel para revenda. 9) Do direito ao crédito de PIS/Pasep e da Cofins oriundo das aquisições de bens aplicados na fase industrial. (Peças, Máquinas, Veículos e Equipamentos) Aduz a empresa em seu recurso que equivocase a fiscalização ao proceder a glosa de insumos que são indispensáveis ao processo produtivo da Recorrente e, principalmente, essenciais na produção do álcool e açúcar destinados à venda, ainda, que ausente informações documentais de mero controle de produção. a) Itens que não Entram em Contato com o Produto: Material de Manutenção Chapa de Aço de Carbono Motores Elétricos Terno de Moenda Chapa de Aço Inox Peças do Parque Industrial Afirma a Fiscalização que os bens que, por não entrarem em contato diretamente com o produto fabricado não geram direito ao crédito, pois não se configuram matériaprima, produtos intermediários e material de embalagem. Por outro giro, a Recorrente aduz que os custos e despesas enquadramse na acepção ampla do termo "insumos" dentro da legislação do PIS e da COFINS, pela sua direta relação com o faturamento, devendose, então, admitir que todos os custos de produção e despesas operacionais incorridos pelo contribuinte com a fabricação de produtos destinados à venda, inclusive as despesas com materiais e peças empregadas na manutenção da frota de veículos automotores e agrícolas, óleos, lubrificantes e combustíveis, são "insumos no sentido amplo". Fl. 9187DF CARF MF 24 Pois bem. Percebese que tais itens glosados neste tópico (Material de Manutenção Chapa de Aço de Carbono Motores Elétricos Terno de Moenda Chapa de Aço Inox Peças do Parque Industrial), se fizermos uma análise apurada de sua utilização no processo industrial da empresa, permiti verificar que todos os itens se tratam de bens utilizados no maquinário agrícola ou industrial da Recorrente. A legislação do PIS e da COFINS prevê créditos sobre bens e serviços utilizados como insumos na produção e fabricação de bens ou produtos destinados à venda. No presente caso, o interessado reclama crédito sobre custos/despesas com veículos utilizados em atividade agrícolas. Conforme relatado pelo Fisco no item 7 deste voto, o interessado não tem, dentre de seus objetivos econômicos, atividades agrícolas, e, no ano calendário de 2012, que foi objeto dos Autos de Infração em discussão, não produziu canadeaçúcar. Toda a cana deaçúcar processada por ele foi adquirida de terceiros. Também podese verificar, que os bens glosados, que tratase de créditos decorrentes da aquisição dos variados tipos de equipamentos, partes, peças que foram creditados pela Recorrente, não como bens do ativo imobilizado, mas sim como insumo. No entanto, entendo que todos os itens relacionados neste tópico não são dispêndios/custos empregados na produção de açúcar e álcool, mas sim, BENS eventualmente passíveis de ativação e que, por conseguinte, apresentam uma sistemática própria para fins de creditamento de PIS e COFINS. Neste caso, entendo que os maquinários, motores, implementos, materiais, componentes, peças, equipamentos adquiridos para utilização em máquinas agrícolas e caminhões, motores, etc. (de utilização na fase agrícola ou na fase industrial), devam integrar o Ativo Imobilizado (permanente) da empresa, por representarem acréscimo de vida útil superior a um ano ao bem no qual ocorrer a sua aplicação, como definido pelo art. 346 do Decreto nº 3.000, de 1999 (RIR/99), passando a gerar os créditos com base na Depreciação, conforme prevista no inciso III, do art. 8º da IN SRF nº 404, de 2004. Desta forma, neste tópico em particular, NEGO provimento ao recurso. b) Itens de manutenção de máquinas e veículos e equipamentos não utilizados diretamente no processo produtivo Argumenta a Recorrente que, (...) Foram incluídos equivocadamente na glosa, válvulas, suportes, mangueiras, graxas, óleo de motor, fluído de freio, óleo hidráulico, parafusos, parafusos, reparos, retentores, filtros, juntas, filtros de óleo, mangueiras, amortecedores, etc. Afirma que devem ser considerados como INSUMOS os gastos que, ligados inseparavelmente aos elementos produtivos, proporcionam a existência do produto ou serviço, o seu funcionamento, a sua manutenção ou o seu aprimoramento. Sob essa ótica, o insumo pode integrar as etapas que resultem no produto ou serviço, ou até mesmo as posteriores, desde que sejam imprescindíveis ao funcionamento do fator de produção. "Nessa senda, nada obstante o produto final do processo produtivo da Recorrente seja o álcool e o açúcar, o direito de crédito não fica restrito aos insumos utili